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SANTO AGOSTINHO

E
SÃO TOMÁS DE
AQUINO

Faculdade Nova Roma


Alunos: Curso de Direito – 1º Período
Ana Lacerda Disciplina: Filosofia
Diego Henrique Professora: Maria Carmem
1. A FILOSOFIA GREGA E A TEOLOGIA CRISTÃ

Os primeiros teóricos da filosofia cristã – os patrísticas – tiveram que ajustar a fé


ao legado filosófico, e tão enraizado, existente nas províncias romanas, onde a
doutrina cristã teve início. Estes estudiosos precisaram ser um misto de clérigos
e filósofos, mas esta combinação, muitas vezes, era difícil, o que os fez
atravessar um árduo caminho para se expressar dentro da linguagem e da
cultura gregas. É fato que os ensinamentos de Jesus nada tem a ver com a
filosofia grega da antiguidade, mas, pela região onde nasceram tais
ensinamentos, foi necessário que se utilizassem de aspectos da filosofia para
tratar da fé e da teologia cristãs.

Sendo assim, partes das obras de Platão, Aristóteles, Sêneca e outros, foram
adaptadas e utilizadas para descrever e analisar temas (e problemas) teológicos.
Platão foi colocado como um visionário. Viveu cerca de 350 anos antes de Jesus,
mas falava sobre vida digna, ética e moralidade, e tudo isso deveria buscar
atingir a Forma Ideal ou Ideia. Este foi um dos importantes pontos analisados e
traduzidos pelos teólogos: a Forma Ideal trazida por Platão era, nada menos,
que a busca pelo ideal divino, a busca por Deus, pregada por Jesus.

Os teólogos cristãos dos primeiros séculos tiveram certo trabalho com esta
transição e prepararam o caminho para que o processo fosse, finalmente,
concluído por Santo Agostinho e mantido por Santo Tomás de Aquino.
2. SANTO AGOSTINHO

“Sem justiça, uma associação de homens unidos pela lei não tem como
progredir.” – Santo Agostinho

Agostinho de Hipona, o Santo Agostinho, foi um grande filósofo e um retórico de


grande habilidade. Após ter passado pelo maniqueísmo (e sua doutrina
dualística entre O Bom e O Mau), converteu-se ao cristianismo. Muito cedo foi
ordenado sacerdote e, em seguida, bispo, tendo sobre si grande parte da
responsabilidade da Igreja.

Como filósofo da igreja católica, foi da época patrística e acreditava que tudo
surgiu em Deus, incluindo as noções de justiça e bondade. Daí vem o caráter
divino do direito natural, a ideia de que as leis e o direito são criações de Deus
para os homens. E como tudo que é divino, é certo e inquestionável, é ideal.

Seguindo este raciocínio, Santo Agostinho interpreta Platão e consegue transpor


praticamente toda a filosofia platônica (Luz e Trevas, Caverna e Ideia, a Forma
Ideal) para sua linha filosófico-cristã: Criatura e Deus. Segundo ele, o ideal e o
perfeito estão em Deus, mas o livre arbítrio, muitas vezes, faz com que o homem
se afaste do divino, fazendo nascer o Mal. E deste Mal, o homem precisa
distanciar-se, buscando sempre a verdade divina, ideal, perfeita.

2.1 Justiça para Agostinho

O conceito de justiça tem definições diversas, assim como diferentes foram os


contextos históricos vivenciados pelos vários pensadores. Para Platão, o homem
justo é aquele que consegue harmonizar as três virtudes (temperança, coragem
e sabedoria). Para Aristóteles, justiça é a união de todas as virtudes. Já a
tradição judaica, dá à justiça um conceito essencialmente moral, através da
busca da imitação da divindade e do cumprimento das lei. A definição
agostiniana de justiça vem dessas correntes de pensamento.

Para Santo Agostinho, o homem deve estar em constante busca pela verdade
em Cristo. E o que o move incessantemente nesta busca é o amor. Não um amor
irracional e voluntário, mas um amor que vem da fé. E esta fé nos faz entender.
E entender, por sua vez, nos leva a crer. Assim, forma-se o ciclo que nos mantém
próximos a Deus, à verdade divina, que é constante e inalterável. Ao contrário
da verdade terrena, que é mutável e volúvel, conforme os acontecimentos, as
necessidades, as sensações e as escolhas humanas.

2.1.1 Justiça Humana e Justiça Divina

Tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano não é mal na
essência. Mas por ser semelhante e não igual, é passível de corrupção. Para
Santo Agostinho, é pela própria vontade que os homens promovem o mal. Este
direcionamento da vontade pela busca do que é inferior a Deus traz à justiça
humana um valor relativo, porque o homem pode amar o que não deveria ser
amado e valorizar aquilo que não deveria ser valorizado. Por outro lado, a busca
pelo Sumo Bem é o caminho para uma vida correta, que se dá pela fé e pela
inteligência. Assim, pode-se ascender a justiça humana, fazendo com que se
aproxime da justiça absoluta. Neste caminho, os homens também ascenderão,
podendo cumprir a lei por amor à justiça, e não por temor.

Neste sentido, é pela alma (animus) que é possível definir o que é ser justo, pois
somente o espírito permite atingir as razões e verdades eternas, divinas. Em De
Trinitate, Santo Agostinho (VIII, VI, 9 apud Mattos, 2016, p. 106) afirma: “É justa
a alma que segundo os ditames da ciência e da razão dá a cada um o que a
cada um pertence, na vida e nos costumes”. Há, então, uma priorização do senso
de justiça para uma questão interior, do ser humano consigo mesmo, para só
depois chegar às relações exteriores e ser vista como uma virtude social.

Ora, se o amor é o preceito divino, e é pela alma (nossa ligação com Deus) que
entendemos o conceito de justiça, então este conceito identifica-se com o próprio
Deus, tornando-o transcendente. Esta transcendência divina ultrapassa os
limites da razão humana, fazendo com que o homem seja incapaz de apreender
a essência de Deus. Mas esta impossibilidade de compreensão não pode
confundir-se com impossibilidade de conhecimento. Para o homem, é plausível
buscar graus de perfeição quando se conhece a Deus, mesmo sem o seu total
entendimento. Cabe à razão estabelecer elos entre o Criador e a criatura. Do
mesmo modo, pode-se conhecer a Justiça Plena, ou seja, a justiça divina
transcendente, mesmo que esta seja incompreensível.
3. SÃO TOMÁS DE AQUINO

Tomás de Aquino foi filósofo e teólogo que influenciou e continua influenciando


de forma espetacular o cristianismo. Mesmo sendo um filósofo com bases
racionalistas herdadas de Aristóteles, não fechou os olhos para o cristianismo e
as experiências com Deus.

FILOSOFIA GREGA

A filosofia grega deu distinções entre ''natureza'' (physis) e o ''direito'', ''costume''


ou ''convenção'' (nomos), por isso para os gregos a natureza era única e em
qualquer lugar, enquanto o direito poderia mudar dependendo do lugar.

JUSTIÇA PARA TOMÁS DE AQUINO

Para Tomás de Aquino, justiça é uma virtude, ou seja, é uma constante e


perpétua vontade de dar a cada um o seu direito.

3.1 Dimensões da Lei

Tomás de Aquino ao observar a exteriorização da virtude da justiça, relacionada


ao direito, passa admitir várias dimensões de leis: eterna, natural, divina e
humana.

3.1.1 Lei Eterna

A lei eterna, que é de natureza divina, é conhecida parcialmente pelos homens


por suas manifestações. “A ordem universal é dada pela lei eterna. Trata-se de
uma lei eterna, porque promulgada por Deus, e, assim, não está sujeita às
vicissitudes a que as leis humanas estão”.
A lei eterna é a lei universal, a que todos os seres humanos estão sujeitos, e
apesar de ser de natureza divina, não é lei divina.

Embora nenhum mortal comum possa conhecer a lei eterna na sua inteira
verdade, pode ele ter dela uma noção parcial, mediante a faculdade da razão,
de que foi dotado por Deus.

3.1.2 Lei Natural

Seria praticamente uma participação racional da lei eterna, a lei natural


conhecida pelos homens através da razão.

A formação da lex naturalis não é declarada pelo legislador porque já pré-existe


na natureza.

O jusnaturalismo de Tomás de Aquino, ante a mutabilidade da natureza humana,


entende que não há um código incondicionado ou absoluto de uma justiça
invariável, tendo em vista que a razão humana é variável.

3.1.3 Lei Divina

A lei divina está relacionada com o “faz” (verbo fazer) enquanto que as demais
leis estão relacionadas ao ius.

O direito natural, como um corpo de princípios gerais e abstratos, é


complementado na filosofia tomista por diretrizes mais particulares, emanadas
de Deus, sobre a maneira de conduzirem os homens a suas vidas. Essa função
é exercida pela lei divina (Lex divina), a Lei revelada através das Sagradas
Escrituras e registrada no Velho e no Novo Testamento.

3.1.4 Lei Humana

A lei humana não existe por si só, é fruto de convenções, e somente produzirá
força a partir do momento em que for instituída. Seria a concretização e
institucionalização da lei natural, assim, Tomás de Aquino afirma que a Lei
Humana não pode derrogar as disposições de direito natural e divino.
4. CONCLUSÃO

É notório que tanto Santo Agostinho como São Tomás de Aquino seguiram
princípios religiosos que ajudaram as suas correntes filosóficas. O primeiro,
interpretou Platão, e defendia que a fé estaria acima de qualquer coisa. E que
só pela alma, se conseguiria conhecer a justiça, que surge de dentro para fora
do homem, permitindo atingir a virtude. Já São Tomás de Aquino bebeu da fonte
de Aristóteles, se fazendo acreditar que tudo vinha da moral e do
aperfeiçoamento da natureza do ser humano. Defendia que através da razão é
que se podia alcançar a fé e se preocupar muito mais com o lado espiritual do
que com o material.
5. REFERÊNCIAS

MATTOS, José Roberto Abreu de. O conceito de Justiça no pensamento de


Santo Agostinho: algumas reflexões. Revista Coletânea. Rio de Janeiro: p. 104-
112, Jan/Jun 2016.

SILVA, Aline de Fátima Sales. Idade Média por uma Fé Raciocinada: Uma
Leitura em Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Itinerarius Reflectionis.
Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus Jataí – UFG, Jul/Dez
2009.

DACOMBE, Rod; FARDON, John; JOHNSON, Jesper et al. O livro da política.


São Paulo: Globo, 2013.

WOLKMER, Antônio Carlos. O Pensamento Político Medieval: Santo Agostinho


e Santo Tomás de Aquino. Revista Crítica Jurídica, Jul/Dez 2001.

REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1962.

TELLES Jr., Goffredo. Filosofia do direito. São Paulo: Max Limonad, 1915.

BITTAR, Eduardo C.B. e ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do


direito. São Paulo: Atlas, 2002.

MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 20ª. São Paulo:


Revista dos Tribunais, 1991.

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