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RESENHA CRÍTICA DA OBRA PEDAGOGIA DA AUTONOMIA

A obra Pedagogia da Autonomia é apresentada em três capítulos: Não há docência sem


discência, Ensinar não é transferir conhecimento e Ensinar é uma especificidade humana. O jogo
filosófico torna este livro extraordinário devendo ser considerado como texto essencial de leitura
e reflexão pelos educadores, haja vista que aponta para vários ‘pontos cardeais’. Dentre eles,
podemos citar a rigorosidade metódica, a pesquisa, o respeito aos saberes dos educandos, a
criticidade, a ética/estética, a corporeificação por meio de exemplos, a rejeição a qualquer forma
de discriminação, o reconhecimento da identidade cultural, o querer bem aos educandos, o ter
alegria/esperança, o ter liberdade/autoridade, a curiosidade e, sobretudo a consciência do
inacabamento.
No que diz respeito à prática pedagógica, o autor enfatiza que o docente deve estar voltado
para a amplificação e diversificação do conhecimento por meio de duas chaves, o saber ser e o
saber fazer. A aquisição desses elementos confere um exercício contínuo de reflexão crítica
diante dos fatos. Assim, a autoridade concedida pela via do poder do conhecimento faz com que
tenhamos a consciência de que, embora sejamos condicionados pela sociedade, não devemos
aceitar o determinismo, pois a história é tempo de possibilidades, de problematizações e que,
portanto, é propícia a mudanças.

que o educador abandone o conservadorismo e passe a assumir uma postura progressista


ou crítico-reflexivo. Para que ocorra esta modificação é necessária uma conciliação entre teoria e
prática, porque caso contrário esta poderá tornar-se um ato mecânico e aquela virar ‘blá-blá-blá’,
ou seja, todos os conhecimentos técnico-científicos são perdidos deixando de ter aplicabilidade e
gerando no alunado numerosas preocupações, dentre elas a sensação de tempo perdido. Um
outro aspecto a ser levado em conta, é que os professores se convençam definitivamente que
ensinar não é transferir o saber, mas criar possibilidade para sua produção e/ou construção.
Desmitificar a idéia de que o educador é sujeito e o educando objeto, faz-se necessário,
uma vez que, ambos são ativos no processo ensino-aprendizagem, conforme demonstrado na
reciprocidade da frase: Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. É
preciso ainda que aos poucos reformule (remodele) a qualidade do aprendiz bancário para o
problematizador, que passa a ter uma curiosidade ingênua, a priori, mas que com a critização ela
vai tornando-se epistemológica e gnosiológica por meio da pesquisa.
Partindo dessa premissa, jamais assumir uma posição de neutralidade/passividade. Na
condição de seres sociais e históricos devemos ser formados e não domesticados, pois isto
castra o que há de mais precioso no ser humano: a capacidade de aventurarse com o universo
multifacetado que a leitura, experiências e vivência proporciona. Diante dessa visão de mundo
que vai alargando-se progressivamente

A questão dramatizadora que deve ser focalizada é o adágio popular que diz: Não importa a
quantidade de conhecimento, o que importa é o que fazemos com ele. A resolutividade para os
problemas mundanos está em saber moldar o saber e readaptá-lo para um contexto especifico,
ou melhor, é preciso conhecer as artimanhas com que os grupos humanos produzem sua própria
sobrevivência, isso para qualquer realidade em que se queira trabalhar, seja na área das
relações humanas, da propriedade, do direito do trabalho, da educação ou da saúde. A
dificuldade dessa tarefa é inegável, além de árdua, requer paciência e, sobretudo,
disponibilidade, bom senso, coerência, segurança e competência de quem vai prestar
esclarecimentos porque nos deparamos com o seguinte impasse: Se de um lado, não podemos
aceitar o senso comum, de outro lado, não podemos chegar como donos da verdade e
simplesmente cuspir arrogantemente o nosso saber como o único caminho a ser seguido, até
mesmo porque a atitude de algumas pessoas é resistente.
A válvula de escape é tentar propor soluções para que o indivíduo chegue a um consenso e
escolha a melhor saída para resolver o seu dilema. Fora a dualidade citada, existe ainda um
atrito a ser vencido – a ideologia, que por distorcer a verdade, oculta fatos, torna o indivíduo
anestesiado, surdo, míope e servo, só aceitando os acontecimentos como um destino que não
pode ser evitado, o que é notório pela sobrepujança da ética de mercado – visando ao lucro
sobre a ética universal do ser humano e da solidariedade – sensível aos reclames da população.
Paulo Freire comenta que condições materiais econômicas, sociais, políticas e ideológicas
são quase sempre barreiras difíceis de superar na transformação do mundo; ele nomeou essas
barreiras de “conscientização”, o esforço de conhecimento crítico dos obstáculos. A
conscientização é uma exigência humana e um dos caminhos para a prática da curiosidade
epistemológica, ela é natural ao homem inacabado que sabe que é inacabado. A consciência do
inacabamento fez os indivíduos responsáveis, compromissados com a ética, a qual pode ser
traída nesse mundo de opção, decisão e possibilidades. Devido a isso, o ensino de saberes
instrumentais jamais dispensa a formação ética. O ser consciente de sua inconclusão se funda
com a educação como processo permanente.

O respeito à autonomia e à dignidade do aluno é um caráter ético, não um favor. O


educador que humilha o aluno de alguma forma, seja criticando o modo de falar, de vestir,
religião, o que for, é um transgressor da ética. Essa transgressão não é uma virtude, e sim uma
ruptura com a decência. Qualquer tipo de discriminação é imoral. O uso do bom senso é de
grande importância na prática docente e na sua avaliação; de nada serve o professor falar sobre
democracia e liberdade em sua aula se o mesmo proíbe isso dos alunos. A luta dos professores
contra os diversos problemas existentes deve ser visto como momento importante na prática
docente; os educadores sofrem bastante com sua desvalorização, seja pelo governo ou pela
sociedade, com salários baixos, más condições de trabalho e humilhação de diretores, alunos e
pais de alunos. A luta deve ser reinventada de forma histórica.

O ato de aprender é construir e reconstruir; toda prática educativa demanda a existência de


sujeitos que ensinando, aprendem e os que aprendem, ensinam. O professor deve estar atento
no quanto seu trabalho influencia na passagem da heteronomia para a autonomia da criança. O
educador progressista leciona com esperança, para que ele e seus alunos possam passar por
obstáculos que impedem a alegria; essa esperança é histórica, com tantos problemas que a
classe dos professores vem sofrendo até hoje, tantas perseguições, censuras nas informações,
entre outros, o professor não desistiu do seu papel de abrir portas e mentes. Foram através
dessas lutas que muitas mudanças aconteceram na educação brasileira, mudanças que tiveram
seus lados positivos e negativos, mas que os educadores progressistas tentam fazê-las da
melhor forma possível. O bom clima pedagógico-democrático é o que o aluno vai aprendendo na
prática que sua curiosidade e liberdade devem estar sujeitas a limites, mas em permanente
exercício. A curiosidade domesticada leva a memorização mecânica do objeto, mas não ao
aprendizado real. A postura do docente e dos discentes deve ser dialógica, aberta, curiosa e que
se assumam epistemologicamente curiosos. Outra função importante do educador é lidar com a
relação de autoridade/liberdade, havendo um equilíbrio necessário.

O professor deve ter segurança de si mesmo, crer que possui total capacidade de estar na
sala de aula e fazer o que planejou e de improvisar, se for o caso. Um profissional inseguro
demonstra desleixo em seu serviço, sendo perceptível pelos outros e alguns podem se aproveitar
da situação para fazer algo indecente. No caso do professor, sua insegurança fará com que os
alunos não prestem atenção na aula e não o obedeçam, por exemplo; sua incompetência
profissional desqualifica sua autoridade. A presença do professor não pode passar despercebida
pelos alunos, pois é uma presença política. A educação é uma intervenção, é através dela que o
mundo muda, com novas ideias, novos pensamentos, novas concepções e descobertas; por
conta disso, a educação nunca foi e jamais será neutra.

Freire afirma que a liberdade não está acima de qualquer limite, mas que sua existência é
necessária. Liberdade não deve ser confundida com vagabundagem, pois liberdade sem limite é
tão negativa e negadora quanto a liberdade asfixiada. O desafio então é trabalhar o limite da
liberdade. Ela amadurece no confronto com outras liberdades. Deve ser trabalhada não apenas
pelo professor, mas também pelos pais ou responsáveis do aluno, através do diálogo e
compreensão.

A educação é ideológica; ideologia tem a ver com a ocultação da verdade dos fatos, usando
a linguagem para ocultar a realidade. Todo professor deve estar atento ao discurso ideológico
que proclama a “morte às ideologias”. O melhor caminho para despertar a capacidade de pensar
certo é ver com acuidade, ouvir com respeito, respeitar as diferenças, recusar posições
dogmáticas, perguntar e responder, concordar e discordar, estar sempre disponível para a vida.
O diálogo é um fator fundamental para tais atos, pois é através dele que há a relação professor-
aluno. Um exemplo para o sucesso dessa relação é o debate nas aulas, onde os alunos expõem
suas opiniões e todos se respeitam. Toda comunicação docente/discente é válida e importante,
junto com a afetividade, que não significa apenas desejar o bem dos alunos, mas não ter medo
de demonstrar esse sentimento e que ele não afeta o educador.

Prática educativa é: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da


mudança ou da manutenção do hoje. O educador progressista precisa estar convencido de que
seu trabalho é uma especificidade humana, realizado com pessoas em constante processo de
busca, se formando, mudando, crescendo, melhorando e se reorientando.

Conclusão
Através da leitura desse livro, pode-se confirmar que o ato de ensinar abarca vários
conceitos, a fim de haver sucesso em sua feição tanto para o professor quanto para os alunos,
pois eles dependem um do outro para que a escola exista. O professor possui papéis
fundamentais no ensino, tendo principalmente a ética; é através dela que os bons resultados dos
educandos são extraídos, pois é através da ética que o professor tem bom diálogo, respeito, é a
favor da democracia em sala de aula, entre outros fatores que auxiliam em classe. Mas, além dos
educadores, os pais e responsáveis dos alunos também devem ajudar na vida acadêmica, não
só auxiliando no estudo de disciplinas, mas na questão ética do aluno: ensiná-lo a respeitar, a
obedecer, a tolerar, a dialogar, entre outros.

Atualmente, há (poucas) escolas que utilizam métodos freirianos em sua didática, mas
sabe-se que não é fácil aplicá-los devido a uma séria de fatores histórico-sociais; porém, muitos
profissionais da educação lutam para melhorar a qualidade de ensino em conjunto com o bem-
estar do alunado, pois a escola só existe por causa do discente. A luta docente nunca deve ser
ignorada, porque é a educação que transforma os jovens, e os jovens que transformam o mundo.

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