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Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire

Ensinar requer uma série de quesitos para haver reciprocidade de sucesso.


Nos cursos de licenciaturas, é comum ver, durante as aulas, vários
comentários sobre a relação professor/aluno e como ela é realizada nas
escolas do Brasil. Também são considerados fatores histórico-sociais da
educação para se chegar às concepções do conteúdo programático das
licenciaturas e da formação continuada de professores. A educação brasileira
passou (e ainda passa) por várias mudanças principalmente no ensino básico,
o que envolve não apenas o alunado, mas também o profissional da educação,
pois é através dele que os caminhos da vida são traçados pelo conhecimento
que proporciona na sala de aula.

Paulo Freire, através do que viu e vivenciou nas escolas, escreve este livro de
análises para ajudar na orientação dos (futuros) professores sobre como
lecionar e haver resultados positivos de todos que compõem a escola,
principalmente os alunos. Essas análises e sugestões são seguidas por mu itos
professores e até mesmo por escolas de todo o Brasil, mas ainda não são a
maioria quantitativa. No livro, todo capítulo possui “subcapítulos” nos quais
todos são intitulados inicialmente por “ensinar exige...”, pois ensinar não é
apenas compartilhar conhecimentos, é muito além disso, como será visto a
seguir.

A autonomia dos alunos é tema central do livro, em que isso será fornecido
através da formação docente conjunta a uma reflexão sobre a prática
educativo-progressiva. Freire enfatiza a ética universal humana e que ela deve
ser seguida por todos, pois um indivíduo não pode se assumir como sujeito
histórico e transformador sem ter ética, e sua transgressão é inaceitável. O
autor também esclarece que os saberes da prática docente são voltados aos
professores progressistas, mas que é necessário que alguns conservadores
possuam esses saberes. Os (futuros) professores devem saber que ensinar
não é sinônimo de transferência de conhecimento, e sim da criação de
possibilidades para a sua construção, ou seja, ensinar abre a mente do al uno
para que ele veja a diversidade de certezas e incertezas do que está sendo
ensinado. Não existe professor sem aluno e nem aluno sem professor, pois
“quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma
ao ser formado.” (Freire, 1996). Através dessa reciprocidade, o professor, ao
ensinar, também aprende, e o aluno ao aprender, também será capaz de
ensinar. O processo de aprender desperta a curiosidade no aluno e isso pode
torná-lo mais criativo, Freire nomeou de “curiosidade epistemológica”, e a falta
dela acarreta o chamado ensino bancário, que é o mais utilizado nas escolas,
também conhecido como ensino conteudista.
O educador progressista deve reforçar a capacidade crítica do aluno, sua
curiosidade e sua insubmissão. Para isso, o docente e o discente devem ser
curiosos, criadores, indivíduos humildes e persistentes; e o educador também
faz o seu papel de ensinar seus alunos a pensarem certo, e não conteúdos.
Para que o ato de pensar certo ocorra, o indivíduo deve ter a mente aberta, não
achar que está certo de suas certezas, e, consequentemente, um
conhecimento novo será bem-vindo e o conhecimento existente continuará
absolvido, além de pensar em um conhecimento ainda não existente, ou seja,
em possibilidades (ciclo gnosiológico). Esse ciclo, junto com a curiosidade
epistemológica, gera no educador e no educando o interesse em pesquisar;
não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino; ao pesquisar algo, obterá
novas informações e serão compartilhadas.

O educador deve considerar todo o aprendizado obtido pelo aluno em sua


prática comunitária e utilizar essas informações para auxiliar o processo de
ensino/aprendizagem, para que assim o aluno se sinta mais próximo do
professor e mais acolhido, o trazendo mais autoconfiança.

Para Freire, não há ruptura entre o saber de pura experiência e o saber


metodicamente rigoroso, o que há é uma superação, dada quando a
curiosidade ingênua se criticiza, tornando-se uma curiosidade epistemológica.
Essa ingenuidade se dá pelo desenvolvimento da curiosidade crítica e
insatisfeita. A tecnologia e a ciência são necessárias, mas não devem ser
utilizadas sempre, e sim de forma criticamente curiosa.

O professor progressista sempre ignora a frase “faça o que eu mando, não o


que eu faço”, a substituindo pela concepção de que pensar certo é fazer certo.
Pensar certo implica a existência de dois sujeitos mediados por objetos ou
objetos sobre que incide o pensar dos sujeitos. A tarefa do educador que pensa
certo é exercer prática do inteligir, desafiar o educan do a produzir sua
compreensão do que vem sendo comunicado. A comunicabilidade deve ser
praticada constantemente. Esse educador também nega a prática de
discriminação, pois ela nega a democracia; o pensar certo é diálogo. Não é o
“pensar certo” que forma a prática docente crítica, mas a existência de um
docente que se baseie nessas concepções. A prática docente crítica envolve o
movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre fazer, a reflexão.

Paulo Freire comenta que condições materiais econ ômicas, sociais, políticas e
ideológicas são quase sempre barreiras difíceis de superar na transformação
do mundo; ele nomeou essas barreiras de “conscientização”, o esforço de
conhecimento crítico dos obstáculos. A conscientização é uma exigência
humana e um dos caminhos para a prática da curiosidade epistemológica, ela é
natural ao homem inacabado que sabe que é inacabado. A consciência do
inacabamento fez os indivíduos responsáveis, compromissados com a ética, a
qual pode ser traída nesse mundo de opção, decisão e possibilidades. Devido
a isso, o ensino de saberes instrumentais jamais dispensa a formação ética. O
ser consciente de sua inconclusão se funda com a educação como processo
permanente.

O respeito à autonomia e à dignidade do aluno é um caráter ético, não um


favor. O educador que humilha o aluno de alguma forma, seja criticando o
modo de falar, de vestir, religião, o que for, é um transgressor da ética. Essa
transgressão não é uma virtude, e sim uma ruptura com a decência. Qualquer
tipo de discriminação é imoral. O uso do bom senso é de grande importância
na prática docente e na sua avaliação; de nada serve o professor falar sobre
democracia e liberdade em sua aula se o mesmo proíbe isso dos alunos. A luta
dos professores contra os diversos problemas existentes deve ser visto como
momento importante na prática docente; os educadores sofrem bastante com
sua desvalorização, seja pelo governo ou pela sociedade, com salários baixos,
más condições de trabalho e humilhação de diretores, alunos e pais de alunos.
A luta deve ser reinventada de forma histórica.

O ato de aprender é construir e reconstruir; toda prática educativa demanda a


existência de sujeitos que ensinando, aprendem e os que aprendem, ensin am.
O professor deve estar atento no quanto seu trabalho influencia na passagem
da heteronomia para a autonomia da criança. O educador progressista leciona
com esperança, para que ele e seus alunos possam passar por obstáculos qu e
impedem a alegria; essa esperança é histórica, com tantos problemas que a
classe dos professores vem sofrendo até hoje, tantas perseguições, censuras
nas informações, entre outros, o professor não desistiu do seu papel de abrir
portas e mentes. Foram através dessas lutas que muitas mudanças
aconteceram na educação brasileira, mudanças que tiveram seus lados
positivos e negativos, mas que os educadores progressistas tentam fazê-las da
melhor forma possível. O bom clima pedagógico-democrático é o que o aluno
vai aprendendo na prática que sua curiosidade e liberdade devem estar
sujeitas a limites, mas em permanente exercício. A curiosidade domesticada
leva a memorização mecânica do objeto, mas não ao aprendizado real. A
postura do docente e dos discentes deve ser dialógica, aberta, curiosa e que se
assumam epistemologicamente curiosos. Outra função importante do educador
é lidar com a relação de autoridade/liberdade, havendo um equilíbrio
necessário.

O professor deve ter segurança de si mesmo, crer que possui total capacidade
de estar na sala de aula e fazer o que planejou e de improvisar, se for o caso.
Um profissional inseguro demonstra desleixo em seu serviço, sendo perceptível
pelos outros e alguns podem se aproveitar da situação para fazer algo
indecente. No caso do professor, sua insegurança fará com que os alunos n ão
prestem atenção na aula e não o obedeçam, por exemplo; sua incompetência
profissional desqualifica sua autoridade. A presença do professor não pode
passar despercebida pelos alunos, pois é uma presença política. A educação é
uma intervenção, é através dela que o mundo muda, com novas ideias, novos
pensamentos, novas concepções e descobertas; por conta disso, a educação
nunca foi e jamais será neutra.

Freire afirma que a liberdade não está acima de qualquer limite, mas que sua
existência é necessária. Liberdade não deve ser confundida com
vagabundagem, pois liberdade sem limite é tão negativa e negadora quanto a
liberdade asfixiada. O desafio então é trabalhar o limite da liberdade. Ela
amadurece no confronto com outras liberdades. Deve ser trabalhada não
apenas pelo professor, mas também pelos pais ou responsáveis do aluno,
através do diálogo e compreensão.

A educação é ideológica; ideologia tem a ver com a ocultação da verdade dos


fatos, usando a linguagem para ocultar a realidade. Todo professor deve estar
atento ao discurso ideológico que proclama a “morte às ideologias”. O melhor
caminho para despertar a capacidade de pensar certo é ver com acuidade,
ouvir com respeito, respeitar as diferenças, recusar posições dogmáticas,
perguntar e responder, concordar e discordar, estar sempre disponível para a
vida. O diálogo é um fator fundamental para tais atos, pois é através dele que
há a relação professor-aluno. Um exemplo para o sucesso dessa relação é o
debate nas aulas, onde os alunos expõem suas opiniões e todos se respeitam.
Toda comunicação docente/discente é válida e importante, junto com a
afetividade, que não significa apenas desejar o bem dos alunos, mas não ter
medo de demonstrar esse sentimento e que ele não afeta o educador.

Prática educativa é: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico


a serviço da mudança ou da manutenção do hoje. O educador progressista
precisa estar convencido de que seu trabalho é uma especificidade humana,
realizado com pessoas em constante processo de busca, se formando,
mudando, crescendo, melhorando e se reorientando.
Através da leitura desse livro, pode-se confirmar que o ato de ensinar abarca
vários conceitos, a fim de haver sucesso em sua feição tanto para o professor
quanto para os alunos, pois eles dependem um do outro para que a escola
exista. O professor possui papéis fundamentais no ensino, tendo
principalmente a ética; é através dela que os bons resultados dos educandos
são extraídos, pois é através da ética que o professor tem bom diálogo,
respeito, é a favor da democracia em sala de aula, entre outros fatores que
auxiliam em classe. Mas, além dos educadores, os pais e responsáveis dos
alunos também devem ajudar na vida acadêmica, não só auxiliando no estudo
de disciplinas, mas na questão ética do aluno: ensiná-lo a respeitar, a
obedecer, a tolerar, a dialogar, entre outros.

Atualmente, há (poucas) escolas que utilizam métodos freirianos em sua


didática, mas sabe-se que não é fácil aplicá-los devido a uma séria de fatores
histórico-sociais; porém, muitos profissionais da educação lutam para melhorar
a qualidade de ensino em conjunto com o bem-estar do alunado, pois a escola
só existe por causa do discente. A luta docente nunca deve ser ignorada,
porque é a educação que transforma os jovens, e os jovens que transformam o
mundo.

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