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FREIRE, Paulo.

Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

Carolina Luiza Feldkircher Gonzaga1

Nascido em 1921, no Recife, Paulo Freire foi um educador brasileiro de


grande prestígio, formou-se advogado em 1959, mas nunca exerceu a profissão. O
Ensino era a sua única paixão. Apesar de ter falecido em 1997, ainda é referência
quando o assunto é educação. Trabalhou no Ministério da Educação, foi professor
na Unicamp, palestrante e talvez tenha sido o pensador mais influente em questões
educacionais do final do século XX e um dos mais populares em questões
relacionadas a educadores informais, a necessidade de diálogo e as demandas dos
setores menos favorecidos.
Em “Pedagogia da Autonomia”, Paulo Freire discorre sobre como os
professores devem ensinar os alunos, criando uma ação transformadora,
incentivando sempre a autonomia do aluno. Para isso, explica sobre a ética crítica, a
competência científica e a amorosidade autêntica, com base em engajamento
político.
O objetivo e finalidade principal do livro Pedagogia da Autonomia é levantar
uma nova ótica para educadores quanto ao ensino dos alunos. Em seu livro, o autor
apresenta orientações a respeito da compreensão da prática docente enquanto
dimensão social da formação do ser humano. Orienta para a necessidade do
educador em assumir uma postura vigilante contra todas as práticas de
desumanização. Para isso, a auto-reflexão crítica e o saber-ser da sabedoria
exercitados podem ajudar a realizar a leitura crítica das reais causas da degradação
humana. Paulo Freire anuncia a solidariedade enquanto compromisso histórico de
homens e mulheres, como uma das formas de luta capazes de propiciar e instaurar
a ética universal do ser humano. A sensibilidade com que problematiza e
conscientiza o educador aponta para a dimensão estética de sua prática. Segundo o
educador e filósofo, a educação parte de uma concepção problematizadora, na qual
o conhecimento resultante é crítico e reflexivo. Nesta perspectiva, a educação é um

1 Acadêmico(a) do 5º período do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.


Resenha apresentada como requisito parcial de avaliação da Nota 1 da disciplina de Organização do
Trabalho Pedagógico, ministrada pela Professora Dra. Alessandra Bertasi Nascimento.
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ato político; sendo o ensino muito mais que uma profissão, que exige comprovados
saberes em seu processo.

O livro é separado em três partes, cada separada por capítulos menores,


sendo: Prática docente: primeira reflexão; Ensinar não é transferir conhecimento e
Ensinar é uma especificidade humana.

Na primeira parte do livro, o autor fala que, ensinar não é transferir


conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou para a sua
construção. É feita uma crítica aberta em relação à mecanicidade do ensino
tradicional. Ou seja, a burocracia formal com que o ensino foi passado sob formas
rígidas e rigorosas. Neste capítulo, o educador chama a necessidade de os
professores refletirem e avaliarem seus métodos de ensino, com o objetivo, é claro,
de se livrar do modelo burocrático de ensino, possibilitando exercer a prática
docente em benefício da autonomia discente, relacionando a teoria junto à prática
para a construção de uma reflexão crítica. Enfatiza, o autor, que na relação entre
professor e aluno, ambos aprendem juntos, pois ao ensinar o professor aprende,
assim como o aluno, ao aprender também ensina.

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos,


apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de
objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender. Quem ensina ensina alguma coisa a alguém. (FREIRE,
1996, p.12).

Na segunda parte, o autor inicia reforçando: “Saber que ensinar não é


transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou
a sua construção” (FREIRE, 1996). Reforça-se que o professor precisa estar aberto
às curiosidades e indagações dos alunos, considerando a experiência e vivência do
discente, com situações práticas e concretas do cotidiano, agindo de acordo com o
que fala, em constante respeito mútuo, criticidade e rigorosidade metódica.

Aborda também que a autonomia, a dignidade e a identidade do educando


precisa ser respeitada, independente de sua idade, sendo um dever ético exercer a
prática docente sem discriminação, conforme relata o autor: “saber que devo
respeito à autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em tudo
coerente com este saber” (FREIRE, 1996).

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Freire aponta que a contribuição positiva para a formação discente é
fundamental no processo de aprendizado, visto a prática educativa com alegria e
esperança, fazendo parte da natureza humana, sendo necessárias e indispensáveis
à experiência histórica. Eis que a educação é humana, diretiva, moral e política, por
isso não pode ser neutra, nem mesmo o sujeito posicionar-se de tal forma, devendo
opor-se às injustiças, pois a mudança é possível através da ação político-
pedagógica. Paulo Freire ainda aponta a necessidade do professor se envolver com
o que está ensinando. Trata também da importância de estimular o aluno a pensar e
aprender por si mesmo. O autor traz uma reflexão sobre como a mudança, apesar
de difícil, é necessária. Diz ainda que, como educador,

meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre mas


também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas
objeto da História mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da
cultura, da política, constato não para me adaptar mas para mudar..
(FREIRE, 1996, p.30).

O livro mostra um dos saberes fundamentais à prática crítico-educativa que


segundo Freire é o que adverte da necessária promoção da curiosidade espontânea
para a curiosidade epistemológica. O conhecimento acontece através do exercício
da curiosidade, de questionar, indagar, conforme o autor é necessário estimular a
pergunta, a reflexão crítica, pois a curiosidade discente não pode ser impedida por
procedimentos autoritários, eis que o processo de aprender e ensinar move-se por
meio da curiosidade, que quanto mais praticada, fortalece o conhecimento.

Por fim, na terceira parte, Paulo Freire fala de outra qualidade indispensável à
autoridade em suas relações com as liberdades é a generosidade. Para ele, a
democracia coerente é respeitar a relação possível entre autoridade e liberdade, que
ambas são essenciais no exercício da cidadania. Porém, é necessário, eticamente, o
limite da liberdade, mas com autoridade, sem autoritarismo, pois a liberdade precisa
de limites, mas com respeito ético. Enfatiza quanto a importância de o jovem ter
liberdade para decidir seu futuro, pois tomando suas próprias decisões, o sujeito, vai
construindo sua autonomia.

Outro saber mostrado no livro é o da impossibilidade de desunir o ensino dos


conteúdos de formação ética dos educadores. De separar prática da teoria,
autoridade de liberdade, ignorância de saber, respeito ao professor de respeito aos
alunos, ensinar de aprender. O autor se coloca em favor da compreensão e da
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prática, da avaliação enquanto instrumento de apreciação do que fazer de sujeitos
críticos a serviço, por isso, mesmo, da libertação e não da domesticação. A
avaliação em que se estimule o falar a como caminho do falar com.

O autor considera relevante saber escutar o aluno, pois na comunicação,


através da fala e da escuta o silêncio é fundamental no processo de comunicação
dialógica, pois os sujeitos do diálogo têm os mesmos direitos de serem ouvidos e
expressarem suas falas, tendo a compreensão que a fala de ambos tem a mesma
importância, por isso deve-se respeitar o momento de ouvir e de falar. Freire ressalta
que o educador democrático deve motivar quem escuta, colocando-se à disposição
para ouvir, sempre com palavras incentivadoras, provocando a curiosidade crítica no
educando para sua compreensão, pois ao saber escutar, o docente desenvolve
melhor seu posicionamento.

O autor enfatiza ser importante querer bem aos alunos, quando diz que deve
fazer parte da experiência pedagógica “o gosto de querer bem e o gosto da alegria
sem a qual a prática educativa perde o sentido” (FREIRE, 1996). Para o autor a
afetividade deve fazer parte da relação com os alunos, porém, ressalta que esse
sentimento não pode interferir no dever ético e na autoridade docente, e que a
prática do professor precisa ser alegre, respeitosa, mas com seriedade e
rigorosidade, ou seja, pode ser praticada sem arrogância intelectual, com
solidariedade. Mesmo agindo amorosamente, o educador democrático deve, em sua
prática educativa, desenvolver uma prática em constante exercício para o
aperfeiçoamento da autonomia discente. Deve continuar lutando politicamente para
o respeito da dignidade das tarefas e pelos direitos Orienta que:

permanecendo e amorosamente cumprindo o seu dever, não deixe de lutar


politicamente, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de sua tarefa,
assim como pelo zelo devido ao espaço pedagógico em que atua com seus
alunos (FREIRE, 1996, p.53).

O conceito de autonomia em Paulo Freire está caracterizado na construção


de uma sociedade mais justa, democrática, que pulsa vida. Para tal, se faz
necessário fortalecer as relações interpessoais, compreendendo que todos
necessitam uns dos outros para conseguir fomentar a construção de um novo
espaço social, no qual todos reconheçam seus direitos e deveres. A autonomia
implica na conscientização, na qual se coloca a serviço da transformação em que o

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educando está inserido, na construção de sua conscientização, indo contra toda e
qualquer forma de opressão.

A autonomia é resultante de um processo formativo que se dá no tempo que


é próprio do educando, o que exige uma formação comprometida com as condições
históricas do tempo de cada um. Este é, sem qualquer dúvida, um dos grandes
desafios que o educador precisa superar para que a educação seja, de fato, uma
educação libertadora.

Considera-se que Freire, em seu livro, Pedagogia da Autonomia, traz grandes


contribuições para o exercício da prática docente, possibilitando facilitar o
aprendizado discente, resgatando a dignidade e autonomia do aluno, através de
uma relação mútua de respeito e empatia. Todas as concepções do livro mostram
claramente, que a prática do professor está relacionada a mudanças, e que o
professor não pode apenas priorizar o ensinar os conteúdos, e sim, de como os
educando os aprenda. A prática pedagógica mostrada no livro começa a partir do
ser do professor, seu bom senso, sua generosidade, suas experiências,
fundamentada numa ética pedagógica.

Sua maior contribuição nessa obra envolve uma concepção de conhecimento


como algo que não se encontra pronto e acabado e que também está na busca por
novo conhecimento, como também, uma prática pedagógica para além da
transmissão de conteúdos, memorização e regras prontas, que dificulta o raciocínio
do ser humano.

Através da leitura desse livro, pode-se confirmar que o ato de ensinar abarca
vários conceitos, a fim de haver sucesso em sua feição tanto para o professor
quanto para os alunos, pois eles dependem um do outro para que a escola exista. O
professor possui papéis fundamentais no ensino, tendo principalmente a ética; é
através dela que os bons resultados dos educandos são extraídos, pois é através da
ética que o professor tem bom diálogo, respeito, é a favor da democracia em sala de
aula, entre outros fatores que auxiliam em classe. Mas, além dos educadores, os
pais e responsáveis dos alunos também devem ajudar na vida acadêmica, não só
auxiliando no estudo de disciplinas, mas na questão ética do aluno: ensiná-lo a
respeitar, a obedecer, a tolerar, a dialogar, entre outros.

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Infelizmente, na realidade social atual, há (poucas) escolas que utilizam
métodos freirianos em sua didática, mas sabe-se que não é fácil aplicá-los devido a
uma séria de fatores histórico-sociais; porém, muitos profissionais da educação
lutam para melhorar a qualidade de ensino em conjunto com o bem-estar do
alunado, pois a escola só existe por causa do discente. A luta docente nunca deve
ser ignorada, porque é a educação que transforma os jovens, e os jovens que
transformam o mundo.

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