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UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Discente: Ithana Maria Oliveira de Souza

Docente: Gabriel Ávila

Disciplina: Seminário de Teoria de História I

RESENHA

REFERÊNCIA: FOUCAULT, Michel. II- Nietzsche, a genealogia e a história. In.:


Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. P. 15-37.

No capítulo II do livro a microfísica do poder, escrito por Michel Foucault, em que está
dividido em tópicos enumerados; se inicia sua fala sobre a genealogia, e criticando Paul Rée e
por descrever sua ideia de uma linearidade e conformidade utilitária da moral. Na genealogia,
pelo seu caráter minucioso, acaba que por dando destaque as demasiadas reviravoltas e pontos
de mudanças, a eventos que podem passar despercebidos para tal história do período de
Nietzsche. A genealogia seria uma disciplina que requer paciência e erudição, onde se oporia
as ideias de “origem” ligadas a uma metafísica.

Foucault logo mostra que foi empregado por Nietzsche o termo Ursprung (Origem) em
conjunto com os termos, Entestehung (Destruição), e Herkunft (Origem) Bkunft e Geburt
(Nascimento) obtendo uma variável significância, uma era sobre a falta do mesmo ou “a
propósito do dever moral” (Foucault, 1979, p. 12), na Genealogia da Moral. Na Gaia Ciência
seria do que se constitui a origem, sua lógica. Outra forma empregada por Nietzsche do termo
Ursprung é de forma irônica e em contraponto a ideia de uma origem metafísica idealizada, e
de uma filosofia que prega o estudo de começos, pois em certas ocasiões, como acentua
Foucault, procurar por uma origem estática e imutável e ver nela a “essência exata da
coisa”(Foucault, 1979, p. 17), é ignorar uma grande parcela de eventos e características, que
também contribuíram para a constituição desse objeto, escondidas por essa “origem”. Podemos
aprender através da história, que não há de fato uma essência mas um conjunto de acasos. Para
o autor, os metafísicos exageram, ao achar que existia um plano onde tudo tinha sua essência
em perfeição, antes de tudo, enquanto a o limiar da história do homem que se achava divino,
está seu ancestral primata.
Então trabalhar com a genealogia é usar da história para desmistificar as origens,
meticulosamente, em busca de verdades, de chegar o mais próximo dela, pois a “ a verdade e
seu reino originário tiveram sua história na história. ” (Idem, p. 19), onde a verdade é imutável,
mas passível de analises, e de questionamentos, para que se aproxime dela. Numa analogia com
o corpo humano, conhecer os detalhes da história é como um médico deve conhecer o corpo
humano afim de diagnosticar seus problemas, assim é o papel do genealogista afim de conhecer
as demasiadas origens.

Os termos Entestehung ou Herkunft, são para Foucault, melhores empregados para a


genealogia do que Ursprung. Herkunft, é a proveniências das características e as diferenças que
se fazem evento, afim de discernir em qual ponto se está o da mudança, o acidente que de
alguma forma irá reverberar no presente, e assim, “A genealogia, como análise da proveniência,
está, portanto, no ponto de articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo
inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo. ” (Idem, p. 20). Num embate
entre as forças em atuação, Entestehung vem como a emergência, surgimento, um resultado de
tais forças, como a sobrevivência de uma espécie depende das condições para tal. Este, vem
como efeitos não de homens, mas de um conjunto de reverberações, geradas pelo conflito entre
quem domina e quem é dominado, que constrói inúmeras obrigações e procedimentos. “A regra
é o prazer calculado da obstinação, é o sangue prometido. Ela permite reativar sem cessar o
jogo da dominação; ela põe em cena uma violência meticulosamente repetida. ” (Idem, p. 22)
essas regras vão ajudar a manter as dominações mesmo que aparentemente tenha se modificado
o social, e tudo isso deve ser apresentado como parte dos processos históricos.

As relações entre os termos Entestehung e Herkunft da genealogia e a história, explana


Foucault que, devemos voltar a quando Nietzsche renegava a história, e quando ele fala da
genealogia como “sentido histórico”, que a genealogia poderia fazer uma análise objetiva do
passado, sem precisar tornar a história como do homem afim de que essa continuaria a falar
somente dos que dominam, os vencedores, enquanto que em um ponto de vista supra histórico
a história deveria ver além dos homens, se opondo a história tradicionalista ao revelar as
singularidades de um evento, onde nelas podem conter e ainda fala sobre a quantidade de acasos
que torna o estudo do assado algo complexo, onde “ [...] o verdadeiro sentido histórico
reconhece que nós vivemos sem referências ou sem coordenadas originárias, em miríades de
acontecimentos perdidos.” (Idem, p. 23). Ao falar da história “efetiva” Nietzsche, vê nela uma
forma de se enxergar o que está próximo, sem muito aprofundamento, como um médico analisa
o corpo, e a história “efetiva” viria a ir a fundo no diagnóstico, sem medo de mudar as
perspectivas, dando a possibilidade de fazer sua então genealogia.

Nietzsche, vê no sentido histórico, a história, com origens comuns e Foucault mostra


como. O historiador tenta compreender tudo ao máximo e consegue pôr em perspectiva o
tamanho de cada evento, mostrando sua pequenez, pois nada é superior ao presente. Porém é
hipócrita tal afirmação pois há uma “vontade superior” que domina o historiador a ponto de
anular sua individualidade e ser objetivo perante os fatos, assim então o historiador para
Nietzsche, faz parte da família dos ascetas, dos demagogos e religiosos. A história então para
deixar de ser ascética, deve se voltar a si mesma, afim de que seus mestres a desmantelem e a
fundem novamente.

O autor afirma que existem três formas uso do sentido histórico, se opondo umas aos
outros:

“Um é o uso paródico e destruidor da realidade que se opõe ao tema


da história−reminiscência, reconhecimento; outro é o uso dissociativo
e destruidor da identidade que se opõe à história−continuidade ou
tradição; o terceiro é o uso sacrificial e destruidor da verdade que se
opõe à história−conhecimento. ” (Idem, p. 24)

Assim ele implica que a primeira seria como um carnaval organizado, onde se brinca
com as identidades, parodiando a história monumental. O segundo, no sentido de que uma
identidade coletiva se sobrepõe a complexidade existente em cada indivíduo, e que é variante a
cada temporalidade e localidade e tende a demarcar suas diferenças de outras épocas e
sociedades, além disso essa identidade é acumulativa, se desenvolve se modifica com o tempo,
numa genealogia. O terceiro, é sobre o saber histórico ser neutro, despojado de idiossincrasias,
mesmo partindo de um objetivo pessoal e enxergar as injustiças nos processos históricos, se
deve separar seus sentimentos pessoais afim de um conhecimento tido como “absoluto”.
Citando Nietzsche em Aurora:

"O conhecimento se transformou em nós em uma paixão que não se


aterroriza com nenhum sacrifício, e tem no fundo apenas um único
temor, de se extinguir a si próprio... A paixão do conhecimento talvez
até mate a humanidade... Se a paixão do conhecimento não matar a
humanidade ela morrerá de fraqueza. Que é preferível? Eis a questão
principal. Queremos que a humanidade se acabe no fogo e na luz, ou
na areia? (Nietzsche; A.§ 501)
Sacrificar a si mesmo, a sua humanidade, na busca por verdades, conhecimentos
absolutos, é necessário isso? Era a questão filosófica, do século XIX. As considerações
extemporâneas, para Foucault, mostram para o homem que a sua origem é aquela em que o
mesmo deve se reconhecer. Nietzsche também se mostra contra a história crítica mas volta
atrás, então vê na mesma não só uma ferramenta para entendimento do presente, mas uma fonte
de conhecimento em si, e útil. A genealogia serve como redenção para o filosofo alemão, que
vê agora na História uma forma de conhecimento importante.

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