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TÓPICOS DE HISTÓRIA GERAL

AULA 6

Prof. Osvaldo Luís Meza Siqueira


CONVERSA INICIAL

Ao longo desta disciplina, fizemos uma longa viagem pela História,


conversando sobre os diferentes temas, essenciais para o entendimento de
quem somos e de como compreendemos a realidade e a diversidade do mundo
atual.
Como vimos anteriormente, o objetivo da História é estudar o ser
humano no tempo, por intermédio dos vestígios disponíveis (fontes históricas).
Nesse sentido, o ofício do historiador se moldou ao longo dos anos a partir de
diferentes teorias e metodologias, que nortearam seu trabalho e os
procedimentos de pesquisa e análise de dados.
Nesta aula, vamos ampliar nossos conhecimentos sobre historiografia,
elucidando como o fazer História foi pensado ao longo do tempo e na atualidade.

TEMA 1 – PENSANDO A HISTÓRIA

Pensar a história nos faz olhar para trás e investigar os vestígios que
sobreviveram ao tempo, e que chegaram até nós como indícios do passado,
como já comentamos em aula anterior. Tais indícios são a matéria-prima do
historiador. É na compilação e na interpretação desses vestígios que o
historiador irá buscar o conhecimento e o entendimento do passado, o que
denominamos de “ofício do historiador”.
Por mais obtuso que isso possa ser, talvez o maior sonho de um
historiador seja a possibilidade de uma viagem no tempo – poder, como H. G.
Wells fez na literatura, fabricar uma máquina que possa levar ao mais distante
passado, a fim de que conhecimentos e vivências se unam numa só experiência.
Infinitas vezes poderíamos reviver um mesmo momento da história, um mesmo
sentimento, uma mesma dor, uma mesma alegria, uma mesma paixão. Como
quem aperta o botão do replay, inúmeras vezes poderíamos assassinar César
entre os senadores romanos, entregar o pincel para que Leonardo da Vinci desse
o último retoque no quadro da Monalisa, invadir a Bastilha com o povo francês,
e acompanhar o desembarque de Colombo. A história deixaria de ser "história",
para se tornar "reportagem no local, ao vivo". Será que encontraríamos o Olimpo
de Zeus, o rei dos deuses gregos? Será que encontraríamos Iavé, deus dos
judeus? Será que encontraríamos um Cristo pregado a uma cruz?

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Quantos mitos cairiam ou se confirmariam ao longo de nossas viagens no
tempo! Mas será que o objetivo de um historiador é derrubar mitos, ou a partir
deles entender a mentalidade de um tempo, a maneira de pensar, sentir e agir
de uma época?

Figura 1 – H. G. Wells, escritor de ficção-científica

Crédito: Delcarmat/Shutterstock.

Que admirável seria se tudo isso fosse possível! Porém, se H. G. Wells


realmente inventou uma máquina do tempo, a levou com ele e não ensinou a
ninguém como fazer outra. Portanto, ainda estamos aqui, presos em nossa "cela"
de tempo, e sem chaves para sair. Assim, devemos continuar a analisar os
envelhecidos documentos e a escavar as antigas ruínas, em busca de
conhecimento e de uma aproximação com o passado.
De forma inescapável, todo o historiador é um homem de seu tempo, que
respira ares de outras épocas. Para ele, o passado é vivo e falante, tão presente
quanto o próprio presente.

TEMA 2 – O NASCIMENTO DA HISTÓRIA NA BUSCA PELO CONHECIMENTO

A história nasceu unida à filosofia. E em seu princípio, a filosofia abrangia


todas as áreas que mais tarde iriam se firmar sozinhas, como a matemática, a
biologia, a astronomia, a política, a psicologia e outras.
Foi a filosofia que nos apresentou a importância de buscar o
conhecimento. Para o grande filosofo grego Sócrates, a virtude se identificaria
com o saber: o homem só agiria mal por ignorância. De acordo com ele, quando
agimos erradamente, é porque não sabemos o que está em jogo. Sócrates
estava interessado em formular definições claras e universalmente válidas para
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o certo e o errado. Salientando a importância da dúvida, e de não aceitar o
conhecimento considerado pronto e acabado, declarou: "Só sei que nada sei”.
Sócrates sentia a necessidade de estabelecer uma base sólida para o
conhecimento, um alicerce que, segundo ele, estaria na razão do homem.
Contam que, certa vez, um amigo de Sócrates perguntou ao oráculo de Delfos
quem era o homem mais sábio de Atenas. O oráculo respondeu que, dentre
todos os mortais, Sócrates era o mais sábio, já que apenas ele tinha plena
percepção de sua ignorância diante das coisas do mundo.
Muitos e muitos séculos depois, René Descartes (1596-1650) retomaria a
dúvida e a não aceitação do saber considerado pronto, afirmando que, para se
chegar ao conhecimento, deve-se usar a dúvida como método. Descartes
chegou à conclusão de que a dúvida é uma importante aliada intelectual, pois
ela garante a existência do pensamento. Foi considerado o precursor do
movimento Iluminista, que carregava o intuito de trazer as "luzes" da razão e do
conhecimento e as sobrepor às "trevas" da ignorância e do misticismo. Só o
conhecimento traz a verdadeira felicidade, acreditavam os filósofos iluministas.
Ainda na Grécia Antiga, Platão, discípulo de Sócrates, no livro VII da
República, elaborou uma importante metáfora, o chamado “Mito da Caverna”.
Para Platão, todos nós estaríamos presos desde a infância no fundo de uma
caverna, imobilizados, condenados pelas correntes que nos trancafiam a olhar
sempre a parede em frente, e a considerar as sombras que vemos do mundo
exterior da caverna como verdades. Somente rompendo os grilhões e saindo da
caverna, para a luz, para o conhecimento, veremos que as sombras
fantasmagóricas que nos aterrorizaram por muito tempo não passavam de
sombras.
Foram os gregos que descobriram, a partir de sua busca pelo
entendimento das coisas, a importância da explicação histórica. Foi Heródoto,
chamado de “pai da História”, o primeiro a fazer investigações nesse sentido e a
procurar a "verdade", propondo indagações entre seus contemporâneos, e
também aproveitando para escrever História, a partir de tradições orais e
registros escritos. Preocupados em conhecer a organização de suas
cidades-Estado, e as transformações sofridas por elas, os gregos buscaram
explicações para as situações que viviam, espelhando a preocupação do
historiador com as questões de seu tempo. Mais tarde, os romanos
acrescentaram a isso uma noção utilitária e pragmática, isto é, mais objetiva e

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prática à história, passando então a exaltar o papel e a importância de Roma,
como centro do mundo e como medida de civilização, legando à condição de
rudes bárbaros todos que não fossem romanos.

Figura 2 – Heródoto, o primeiro historiador

Crédito: Naci Yavuz/Shutterstock.

TEMA 3 – O CONHECIMENTO NÃO É PERMITIDO

Voltando a Sócrates: em 399 a.C., ele foi acusado de corromper os jovens


com seu pensamento, considerado subversivo. Por conta disso, foi condenado
à morte. Ele poderia ter pedido clemência. Poderia ter salvado a própria vida se
tivesse concordado em deixar Atenas, aceitando a pena de ostracismo (exílio);
mas, se agisse dessa forma, não teria sido coerente consigo mesmo. Para ele,
a consciência e a verdade eram mais importantes que a vida. Assegurou ao júri
que agira apenas pelo melhor dos interesses do Estado, e preferiu cumprir a
sentença e tomar o veneno que lhe foi destinado. A morte de Sócrates significou
o fracasso para a propalada democracia ateniense, tão alicerçada em princípios
de cidadania e participação. Certamente, essa foi a intenção de Sócrates ao
evidenciar com sua execução os desvios da política em Atenas.
De forma geral, todos aqueles que detiveram poder ao longo da História
ocultaram ou proibiram o conhecimento e os questionamentos que poderiam
colocar em dúvida o status quo. No Egito Antigo, os escribas mantinham o
monopólio de um conhecimento específico, distante de toda a massa da
população, colocando-se como os únicos que sabiam ler os hieróglifos (que era
uma escrita sagrada). Também a Igreja Católica, durante a Idade Média,

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concentrou toda a cultura. O clero falava o latim, língua em que eram redigidos
os documentos da época. O uso da escrita havia quase desaparecido. O ensino
era privilégio da Igreja, de modo que acontecia geralmente nas escolas dos
mosteiros, sendo destinado quase que exclusivamente aos seus membros.
Mais tarde, a Inquisição estabelecida a partir do século XIII teve como
objetivo defender a Igreja Católica, julgando e punindo as heresias, isto é, as
supostas faltas contra Deus e contra a Igreja, sua pretensa representante na
Terra. A Igreja se encarregava de perseguir e destruir toda sabedoria que
pudesse ameaçar seu domínio; para tanto, chegou a criar o index librorum
prohibitorum, uma relação de livros proibidos a todo cristão. Para buscar
conhecimento, era necessário desafiar, arriscar-se a condenações e punições.

Figura 3 – Inquisição

Crédito: Everett Historical/Shutterstock.

Durante o período colonial no Brasil, os portugueses tentaram impedir o


acesso à cultura, como forma de evitar rebeliões e revoltas contra o domínio
lusitano. Novos ideais de liberdade, igualdade e autodeterminação poderiam ser,
supostamente, prejudiciais ao bom andamento da colônia. Em seu livro Raízes
do Brasil, considerado um clássico da historiografia brasileira, Sergio Buarque
de Holanda nos mostra como os portugueses se voltaram ao propósito único de
exploração de sua colônia, como um grande empreendimento comercial.
Já no século XX, os membros do partido nazista na Alemanha queimaram
livros considerados perniciosos, em maio de 1933, menos de quatro meses
depois da chegada de Adolf Hitler ao poder. Em Berlim, estudantes nazistas
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acompanharam, brandindo archotes, dois caminhões repletos de livros, da Porta
de Brandemburgo até a Praça da Ópera, onde obras de intelectuais como
Sigmund Freud, Heinrich Mann, Karl Marx e Kurt Tucholsky foram reduzidas a
cinzas em ato público, realizado ali e em mais 21 cidades do país. Pinturas de
artistas considerados “degenerados” pelos nazistas, como Van Gogh, Picasso,
Matisse, Cézanne e Chagall, foram banidas dos museus. Tudo o que fosse
crítico ou que significasse um desvio dos padrões impostos pelo regime foi
destruído.
De Sócrates até os iluministas, como Descartes, vimos a importância do
conhecimento como forma de entendimento do mundo e da realidade que nos
rodeia. Sem o conhecimento, continuaríamos numa caverna, como no mito de
Platão, sem consciência de nossa própria ignorância.
Ao tentar proibir o conhecimento, muitos também se voltaram ao passado,
pois o conhecimento sobre o que foi também pode se mostrar perigoso. Afinal,
o conhecimento histórico proporciona um alargamento da compreensão do ser
humano sobre si mesmo e sobre a sociedade, enquanto ser que constrói sua
trajetória no mundo. Dizem que o historiador tem o péssimo hábito de nos
lembrar daquilo que gostaríamos de esquecer. Como vimos com os gregos,
através do conhecimento e da compreensão do passado, podemos entender o
nosso presente, o que às vezes não é desejado.
O conhecimento é uma forma de estar no mundo, e o processo do
conhecimento mostra aos homens que eles não são seres prontos com
formulações absolutas sobre a realidade que os rodeia. Em verdade, a relação
com o conhecimento, seja do passado e/ou do presente, implica uma
transformação do sujeito mediante o novo saber. Pode-se dizer também que
implica uma transformação do que foi o objeto do conhecimento, já que ele passa
a ter sentido. Podemos dizer, assim, que conhecer é decifrar os códigos ocultos
no mundo ao nosso redor, códigos que às vezes nem conhecíamos.

TEMA 4 – HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA

A interpretação de algum fato está ligada diretamente a uma teoria e a um


método. Uma mesma história pode ser contada de formas diferentes,
dependendo de como a estamos analisando. O que está por trás das diferentes
formas de explicação é a teoria que aceitamos, e que se apresenta estreitamente
ligada à nossa forma de encarar o mundo e sua realidade.
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Um historiador é um indivíduo em sociedade que faz parte da história que
está vivendo e das concepções de seu tempo. Portanto, escreve "historicamente
situado", ou seja, numa determinada época, dentro de condições concretas de
sua classe, da linha de sua instituição de ensino e pesquisa. Seu trabalho estará
condicionado ao nível de conhecimento existente e às suas concepções, ainda
que de forma inconsciente. De acordo com o historiador francês Fernand
Braudel, "a história é filha de seu tempo”.
A historiografia, isto é, a escrita da história, passou por um longo trajeto
desde os antigos gregos. Durante a Idade Média, a maior parte da história escrita
não apresentava um rigor crítico de investigação, pois era composta, sobretudo,
das chamadas crônicas ou anais, em que eram relatados fatos compilados por
cronistas contratados por alguma casa real, para contar sua história, enobrecer
seus feitos e exaltar seu poder.
Muitos desses cronistas eram homens da Igreja, religiosos que colocavam
em seus relatos uma visão providencialista, que propunha a história e os
acontecimentos como resultantes da ação divina. Foi o caso de Isidoro de
Sevilha, que viveu no século VI. Em sua obra de teor ufanista, acerca dos
visigodos na península Ibérica, idealizou-os como portadores de honradez e
bravura, herdeiros da dignidade da Roma cristã.

Figura 4 – Manuscritos medievais

Crédito: Mara Fribus/Shutterstock.

Foi apenas no século XVIII que os estudiosos humanistas, que se


voltavam ao homem, sua sociedade e sua produção cultural, fizeram reviver o
pensamento crítico dos filósofos e historiadores da antiguidade clássica. Surgiu
então a preocupação com a sociedade em seu sentido mais amplo, com uma

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"história da civilização", interessada em mostrar a história como sendo um
desenvolvimento linear, progressivo e ininterrupto. Os historiadores passaram a
se voltar à ação política e a seus grandes eventos e personagens.
Foi na Alemanha do século XIX que surgiu a preocupação em transformar
a história em uma ciência, de modo que o critério da prova documental passa a
ter um peso cada vez mais significativo na narrativa historiográfica. A máxima de
de Leopold von Ranke segundo o qual a história deveria narrar os fatos "como
eles realmente se passaram". Nessa perspectiva, a escrita da História deveria
estar condicionada especificamente aos olhares institucionais, cabendo ao
historiador compreender um leque de fontes documentais (pois estas teriam
validade para uma produção científica sobre o passado, de acordo com a visão
rankeana). A compreensão da História como uma ciência que junta retalhos que
se encaixam linearmente, como uma grande sucessão de acontecimentos, é
uma visão que possui expressividade no campo historiográfico e se faz muito
presente, principalmente nos moldes da disciplina na Educação Básica (ainda
que críticas sobre essa perspectiva sejam muito fortes em outras vertentes
teóricas).
Ainda no século XIX, Karl Marx e Friedrich Engels, ao fazerem a crítica da
sociedade em que viviam, e apresentarem propostas para sua transformação,
elaboraram uma nova concepção filosófica de mundo, que mudou
definitivamente a forma de pensar e produzir história. Os referidos pensadores
estudaram, por intermédio do materialismo histórico (categoria de análise
desenvolvida por ambos), as características políticas e econômicas do projeto
social dominante na modernidade: o capitalismo.

Figura 5 – Karl Marx e Friedrich Engels

Crédito: Maykova Galina/Shutterstock.

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Apesar da concepção marxista não ter sido adotada integralmente, aos
poucos foram aparecendo influências dessa teoria de história, sobretudo na
França, em trabalhos publicados na revista Annales, lançada em 1929 por Marc
Bloch e Lucien Febvre. Esses historiadores abriram um campo mais amplo de
análise e produção historiográfica. Sem desejar que suas teorias e hipóteses
fossem consideradas verdades absolutas, queriam, pelo contrário, a prática de
uma história questionadora e sem respostas prontas. Ao invés do estudo dos
fatos singulares, procuraram chamar a atenção para a análise das estruturas
sociais, estudando seu funcionamento e evolução, e considerando os grupos
humanos sob todos os seus aspectos, de modo que a História estivesse aberta
a outras áreas do conhecimento humano, como a geografia, a antropologia e a
sociologia. Foi sem dúvida a precursora dos campos de interesse da chamada
Nova História, com sua história das mentalidades, do cotidiano, da vida privada,
do cinema e outros. Os objetos de investigação da História se multiplicaram a
partir de então, fazendo surgir uma enorme variedade de temas e de
possibilidades de fontes.
Como se vê, a análise histórica oscilou constantemente ao longo do
tempo, interferindo e imprimindo diferentes ritmos sobre as formas de fazer sua
escrita até a atualidade.

TEMA 5 – NOVA HISTÓRIA

Como vimos, foi desde o século XIX que a história tomou novos
direcionamentos, encaminhando-se para se tornar uma ciência em busca de
método próprio. Nesse contexto, surgiu a chamada “escola metódica”, que
buscava fugir da subjetividade e do comprometimento de antigos cronistas.
O historiador deveria, assim, zelar pela objetividade, a fim de apresentar
seus escritos sem qualquer traço da estética literária. Seu discurso deveria ser
frio, duro e sem quaisquer resquícios de “paixões” pessoais. Deveria, tão
somente, descrever o que estava contido na fonte, buscando apenas pesquisar
os documentos, reuni-los, classificá-los, para a construção de sua narrativa,
agrupando e ordenando os fatos numa sequência de causa e efeito.
No entanto, como vimos, a virada do século trouxe à baila intensos
debates, que punham em evidência a maneira como tal “escola historiográfica”
pensava e produzia conhecimento, principalmente a partir de 1929, com Marc
Bloch e Lucien Febvre, na École des Annales. A Nova História que começava a
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dar seus primeiros passos se apresentava como uma reação contra o paradigma
tradicional.
Peter Burke salienta que a crítica à história tradicional pode ser resumida
em seis pontos principais:

1. Na visão de uma História relacionada essencialmente à política, sem


considerar outros campos de estudo da atividade humana.
2. Na produção de uma História tradicional, voltada apenas à narrativa nua
e crua de acontecimentos.
3. Na visão personalista, concentrada em feitos de grandes homens,
estadistas, generais, considerados os vultos da História.
4. No paradigma de que a história deveria ser baseada apenas em
documentos e registros oficiais preservados em arquivos do governo.
5. No paradigma tradicional de causa e efeito, sem considerar as inúmeras
varáveis através das quais um determinado acontecimento pode ser
elucidado e compreendido dentro de seu contexto histórico.
6. Na visão de uma História objetiva, que apresenta, supostamente, o fato
como ele efetivamente aconteceu.

Diferentemente da visão tradicional, a Nova História tem por premissa a


ideia de que a realidade é social e culturalmente construída, já que o homem é
um ser social e culturalmente localizado. Como disse o historiador da
contemporaneidade, Eric Hobsbawn, “não há povo sem história ou que possa
ser compreendido sem ela.” Portanto, todo o ser humano produz história
individualmente e em sociedade. Desde a Pré-História e das chamadas
comunidades primitivas, o homem vive em agrupamentos e produz sua história
em sociedade e a partir dela.
Neste sentido, sem dúvida, a aliança com a antropologia social e a cultural
ampliou o quadro de referências dos historiadores, contribuindo para a
construção de novos paradigmas e para a ampliação de objetos possíveis de
estudo em consonância com outras ciências sociais, assim como com outras
áreas do conhecimento.
Pode-se dizer que a Nova História é representada pela terceira geração
dos Annales, com historiadores como Jacques Le Goff, Pierre Nora, George
Duby e Jean Delumeau, que se centraram em pesquisas norteadas por uma
perspectiva interdisciplinar, buscando diversidade de abordagens históricas.
Mais tarde, surgiram nomes como Giovanni Levi e Carlo Ginzburg.
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NA PRÁTICA

Normalmente, a História é pensada como uma "narração das coisas que


aconteceram", ou seja, seria “o passado como tal”, como aconteceu “realmente”,
ou sua reconstrução ou narrativa por um especialista (o historiador). Porém, os
historiadores não narram ou reconstroem o passado, pela simples razão de que
o passado nos é inacessível, não existe mais e não pode ser reavivado ou
recuperado como realmente foi. O único acesso que temos ao passado é pelo
presente, por objetos, textos ou recordações de indivíduos vivos que existem, e
que os historiadores, com seu olhar treinado, identificam como restos de um
passado que não existe, como sobrevivências que podem ser tratadas como
documentos:
Com base no texto, explique a noção de fonte histórica subjacente às
reflexões do autor.

GUARINELLO, N. L. Uma morfologia da História. Politeia, Vitória da Conquista,


v. 3, n. 1, p. 41-61, 2003.

FINALIZANDO

Nesta, nosso objetivo foi encerrar o caminho que iniciamos há alguns


encontros. Buscamos compreender a História enquanto ciência, com a
importância da busca por conhecimento, e como a História foi feita ao longo do
tempo, de Heródoto, considerado o primeiro historiador, passando pelos
cronistas medievais e chegando à atualidade.
Como vimos em nossa primeira aula, o objetivo da História é estudar o
homem no tempo. Nesse sentido, viajamos, ao longo de nossa disciplina, através
de diferentes épocas, estudando os acontecimentos mais marcantes e
significativos da História humana.
Esta disciplina teve por função, como comentamos no início de nosso
caminho, ajudá-lo a aproveitar da melhor forma tudo o que o curso de História
tem para oferecer.

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REFERÊNCIAS

BLOCH, M. Introdução à Histórica. Lisboa: Europa-América, 1997.

BOUTIER, J.; JULIA, D. (Org.). Passados recompostos: campos e canteiros da


História. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV, 1998.

BURKE, P. A escrita da História. São Paulo: UNESP, 1992.

CARR, E. H. O que é História? Lisboa: Gradiva, 1986.

COLLINGWOOD, R. G. A ideia de História. Lisboa: Presença,1981.

FONSECA, S. G. Caminhos da História ensinada. Campinas: Papirus, 2001.

VEYNE, P. Como se escreve a História. Brasília: UNB, 1995.

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