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AULA 6
Pensar a história nos faz olhar para trás e investigar os vestígios que
sobreviveram ao tempo, e que chegaram até nós como indícios do passado,
como já comentamos em aula anterior. Tais indícios são a matéria-prima do
historiador. É na compilação e na interpretação desses vestígios que o
historiador irá buscar o conhecimento e o entendimento do passado, o que
denominamos de “ofício do historiador”.
Por mais obtuso que isso possa ser, talvez o maior sonho de um
historiador seja a possibilidade de uma viagem no tempo – poder, como H. G.
Wells fez na literatura, fabricar uma máquina que possa levar ao mais distante
passado, a fim de que conhecimentos e vivências se unam numa só experiência.
Infinitas vezes poderíamos reviver um mesmo momento da história, um mesmo
sentimento, uma mesma dor, uma mesma alegria, uma mesma paixão. Como
quem aperta o botão do replay, inúmeras vezes poderíamos assassinar César
entre os senadores romanos, entregar o pincel para que Leonardo da Vinci desse
o último retoque no quadro da Monalisa, invadir a Bastilha com o povo francês,
e acompanhar o desembarque de Colombo. A história deixaria de ser "história",
para se tornar "reportagem no local, ao vivo". Será que encontraríamos o Olimpo
de Zeus, o rei dos deuses gregos? Será que encontraríamos Iavé, deus dos
judeus? Será que encontraríamos um Cristo pregado a uma cruz?
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Quantos mitos cairiam ou se confirmariam ao longo de nossas viagens no
tempo! Mas será que o objetivo de um historiador é derrubar mitos, ou a partir
deles entender a mentalidade de um tempo, a maneira de pensar, sentir e agir
de uma época?
Crédito: Delcarmat/Shutterstock.
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prática à história, passando então a exaltar o papel e a importância de Roma,
como centro do mundo e como medida de civilização, legando à condição de
rudes bárbaros todos que não fossem romanos.
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concentrou toda a cultura. O clero falava o latim, língua em que eram redigidos
os documentos da época. O uso da escrita havia quase desaparecido. O ensino
era privilégio da Igreja, de modo que acontecia geralmente nas escolas dos
mosteiros, sendo destinado quase que exclusivamente aos seus membros.
Mais tarde, a Inquisição estabelecida a partir do século XIII teve como
objetivo defender a Igreja Católica, julgando e punindo as heresias, isto é, as
supostas faltas contra Deus e contra a Igreja, sua pretensa representante na
Terra. A Igreja se encarregava de perseguir e destruir toda sabedoria que
pudesse ameaçar seu domínio; para tanto, chegou a criar o index librorum
prohibitorum, uma relação de livros proibidos a todo cristão. Para buscar
conhecimento, era necessário desafiar, arriscar-se a condenações e punições.
Figura 3 – Inquisição
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"história da civilização", interessada em mostrar a história como sendo um
desenvolvimento linear, progressivo e ininterrupto. Os historiadores passaram a
se voltar à ação política e a seus grandes eventos e personagens.
Foi na Alemanha do século XIX que surgiu a preocupação em transformar
a história em uma ciência, de modo que o critério da prova documental passa a
ter um peso cada vez mais significativo na narrativa historiográfica. A máxima de
de Leopold von Ranke segundo o qual a história deveria narrar os fatos "como
eles realmente se passaram". Nessa perspectiva, a escrita da História deveria
estar condicionada especificamente aos olhares institucionais, cabendo ao
historiador compreender um leque de fontes documentais (pois estas teriam
validade para uma produção científica sobre o passado, de acordo com a visão
rankeana). A compreensão da História como uma ciência que junta retalhos que
se encaixam linearmente, como uma grande sucessão de acontecimentos, é
uma visão que possui expressividade no campo historiográfico e se faz muito
presente, principalmente nos moldes da disciplina na Educação Básica (ainda
que críticas sobre essa perspectiva sejam muito fortes em outras vertentes
teóricas).
Ainda no século XIX, Karl Marx e Friedrich Engels, ao fazerem a crítica da
sociedade em que viviam, e apresentarem propostas para sua transformação,
elaboraram uma nova concepção filosófica de mundo, que mudou
definitivamente a forma de pensar e produzir história. Os referidos pensadores
estudaram, por intermédio do materialismo histórico (categoria de análise
desenvolvida por ambos), as características políticas e econômicas do projeto
social dominante na modernidade: o capitalismo.
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Apesar da concepção marxista não ter sido adotada integralmente, aos
poucos foram aparecendo influências dessa teoria de história, sobretudo na
França, em trabalhos publicados na revista Annales, lançada em 1929 por Marc
Bloch e Lucien Febvre. Esses historiadores abriram um campo mais amplo de
análise e produção historiográfica. Sem desejar que suas teorias e hipóteses
fossem consideradas verdades absolutas, queriam, pelo contrário, a prática de
uma história questionadora e sem respostas prontas. Ao invés do estudo dos
fatos singulares, procuraram chamar a atenção para a análise das estruturas
sociais, estudando seu funcionamento e evolução, e considerando os grupos
humanos sob todos os seus aspectos, de modo que a História estivesse aberta
a outras áreas do conhecimento humano, como a geografia, a antropologia e a
sociologia. Foi sem dúvida a precursora dos campos de interesse da chamada
Nova História, com sua história das mentalidades, do cotidiano, da vida privada,
do cinema e outros. Os objetos de investigação da História se multiplicaram a
partir de então, fazendo surgir uma enorme variedade de temas e de
possibilidades de fontes.
Como se vê, a análise histórica oscilou constantemente ao longo do
tempo, interferindo e imprimindo diferentes ritmos sobre as formas de fazer sua
escrita até a atualidade.
Como vimos, foi desde o século XIX que a história tomou novos
direcionamentos, encaminhando-se para se tornar uma ciência em busca de
método próprio. Nesse contexto, surgiu a chamada “escola metódica”, que
buscava fugir da subjetividade e do comprometimento de antigos cronistas.
O historiador deveria, assim, zelar pela objetividade, a fim de apresentar
seus escritos sem qualquer traço da estética literária. Seu discurso deveria ser
frio, duro e sem quaisquer resquícios de “paixões” pessoais. Deveria, tão
somente, descrever o que estava contido na fonte, buscando apenas pesquisar
os documentos, reuni-los, classificá-los, para a construção de sua narrativa,
agrupando e ordenando os fatos numa sequência de causa e efeito.
No entanto, como vimos, a virada do século trouxe à baila intensos
debates, que punham em evidência a maneira como tal “escola historiográfica”
pensava e produzia conhecimento, principalmente a partir de 1929, com Marc
Bloch e Lucien Febvre, na École des Annales. A Nova História que começava a
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dar seus primeiros passos se apresentava como uma reação contra o paradigma
tradicional.
Peter Burke salienta que a crítica à história tradicional pode ser resumida
em seis pontos principais:
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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