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Key words: Housing. Minha Casa Minha Vida Program. Russas - Ceará.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figuras:
Gráficos:
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 93
13
1 INTRODUÇÃO
1
Neste trabalho os termos sócio-espacial e socioespacial são considerados de acordo com as
proposições de Souza (2013). Para esse autor, em socioespacial (sem hífen) “o ‘social’ meramente
qualifica o espacial.” Não fazendo “referência direta às relações sociais.”. Já em sócio-espacial “o
‘sócio’, longe de apenas qualificar o ‘espacial’, é, para além de uma redução do adjetivo ‘social’, um
indicativo de que se está falando, direta e plenamente, também das relações sociais.”. (p. 15/16).
14
limite da zona urbana do município, pois esses são essenciais para o alcance dos
objetivos traçados e para pensarmos a cidade e o urbano em continua produção e
expansão.
Já o recorte temporal da pesquisa tem o foco na delimitação entre o início
da utilização do financiamento habitacional do PMCMV em Russas, qual seja o ano
de 2009, e os dias atuais, o ano de 2015. No entanto, ressalva-se que os dados
disponibilizados pelo Ministério das Cidades quanto aos contratos realizados pelo
PMCMV na cidade de Russas referem-se ao período entre 2009 e 2014. Assim, as
formulações sobre o ano de 2015 têm como base os trabalhos de campo e as
entrevistas e conversas que realizamos com alguns sujeitos diretamente envolvidos
com o mercado imobiliário e com o PMCMV na cidade de Russas, especificamente
com promotores imobiliários e moradores de residências adquiridas através do
Programa.
Quanto a escolha da metodologia utilizada para alcançarmos os objetivos
definidos, tivemos como base as reflexões teóricas oportunizadas ao longo da nossa
formação acadêmica e mais precisamente nos estudos realizados para a elaboração
deste trabalho. Assim, se faz necessário apresentarmos algumas ponderações sobre
os pressupostos metodológicos que tomamos como norteadores da pesquisa.
Inicialmente é preciso expor que a nossa filiação metodológica faz juízo
da diferenciação entre o método (ou método de interpretação, método de
abordagem, método filosófico) e os procedimentos metodológicos (ou método de
pesquisa, métodos de procedimentos). O método se referiria as questões político-
filosóficas que norteiam os posicionamentos do pesquisador. Já os procedimentos
metodológicos dizem respeito ao conjunto de técnicas, elementos e dados utilizados
para se construir a pesquisa. Nas palavras de Morais e Costa (1987):
dialético nas suas análises, mesmo quando essa não é claramente dita ou
defendida. Tem-se então a preferência pelas teorias que conferem o sujeito
pesquisador como membro vivo e construtor da realidade que estuda, podendo a
partir de sua vivência e experiência, conferir sentidos e justificativas aos processos
econômicos, sociais e espaciais, sobretudo por meio da correlação entre estes como
manifesto e concretização da realidade.
Completando a metodologia traçada para alcançarmos os objetivos da
pesquisa, utilizamos dos seguintes procedimentos metodológicos: levantamento
bibliográfico; pesquisas e interpretação de dados e documentos; e trabalhos de
campo. Esses procedimentos serão detalhados a seguir.
Levantamento bibliográfico: foi realizado por meio de pesquisas utilizando
variados materiais (livros, teses, dissertações, monografias, artigos científicos,
jornais e revistas). Após a catalogação desses escritos, os dividimos em 05 grupos
definidos pelos temas centrais para a realização da pesquisa (1: (re)produção do
espaço urbano e da cidade; 2: Baixo Jaguaribe e Russas; 3: especulação e
mercado imobiliário; 4: segregação sócio-espacial; 5: políticas habitacionais e o
“Programa Minha Casa, Minha Vida”.). Essa organização dos referenciais
bibliográficos facilitou a nossa compreensão sobre os processos estudados e a
escrita do trabalho com a devida correlação entre a teoria e a realidade.
Pesquisas e interpretação de dados e documentos: se deram por meio do
levantamento de dados oficiais extraídos nos sites de órgãos como Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Caixa Econômica Federal (CEF),
através de documentos da Prefeitura Municipal de Russas e de contratos de compra
e venda de casas por meio do PMCMV. O levantamento desses dados nos
possibilitou relacionar o processo de (re)produção do espaço com as características
socioeconômicas da cidade e traçar as temporalidades das mudanças ocorridas no
mercado imobiliário a partir do PMCMV, como o total de unidades construídas
anualmente, a localização e o aumento dos preços dos empreendimentos.
Trabalhos de campo: Realizados em períodos distintos e desde o início do
nosso interesse pelo objeto de estudo, os trabalhos de campo tiveram como principal
objetivo oportunizar um contato direto com o objeto e a área de estudo, gerando
uma melhor compreensão dos processos em andamento e das mudanças ocorridas
na cidade ao longo do tempo. Com as anotações do caderno de campo e com os
registros imagéticos produzidos e coletados nos trabalhos de campo e em pesquisas
21
2
A perspectiva de “sociedade capitalista industrial” seguida por Lencioni (2008) refere-se às
formulações de Lefebvre e Castells.
25
Por isso acreditamos que o urbano deve ser pensado com base nas
relações sociais e nos elementos espaciais e culturais que o caracteriza,
entendendo-o como processo historicamente indissociável da cidade, no entanto
atentando para o fato de que cada vez mais, como enfatizou Milton Santos (2009, p.
13), “o urbano tanto pode ser mais, como pode ser menos que a cidade.”.
Dentro desse ponto de vista nos identificamos com proposições como as
de Santos (1993, p. 19) que, discorrendo sobre a “urbanização pretérita” do Brasil,
afirma que “[...] é a partir do século XVIII que a urbanização se desenvolve [...]. Mas
foi necessário ainda mais um século para que a urbanização atingisse sua
maturidade, no século XIX, e ainda mais um século para adquirir as características
com as quais a conhecemos hoje.”.
Ermínia Maricato (1997, p. 8) parece concordar com essa perspectiva,
pois mesmo reafirmando que “o processo de urbanização brasileiro se inicia mais
decisivamente apenas no século XX”, compreende como sendo “incorreto desprezar
a importância dos centros urbanos durante os períodos colonial e imperial, quando o
Brasil teve cidades de grande porte.”. Em publicação mais recente a autora reafirma
esse ponto de vista afirmando que,
26
No entanto, é preciso frisar que o espaço urbano pode ser apreendido por
pelo menos seis características. Além de ser fragmentado ele é simultaneamente
articulado, reflexo e condicionante social, espaço simbólico e um campo de lutas.
(CORRÊA, 1997; 2000)
Outra ressalva importante é a de que o espaço urbano é “consequência
da ação de agentes sociais concretos, históricos, dotados de interesses, estratégias
e práticas próprias, portadores de contradições e geradores de conflitos entre eles
mesmos e com outros segmentos da sociedade.”. (CORRÊA, 2011, p. 43). Esses
agentes sociais são também conhecidos como os agentes produtores do espaço e
são os seguintes: proprietários de meios de produção, proprietários fundiários,
promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos. (CORRÊA, 2000;
2011).
Entre esses agentes produtores do espaço urbano, o Estado tem papel
fundamental, pois além de atuar diretamente na produção do espaço, aparece como
mediador dos conflitos que surgem entre os demais agentes, incluindo os que
envolvem ele próprio. O Estado também parece atuar em conjunto com os demais
atores, oferecendo-lhes condições favoráveis para as suas ações. Seria assim um
ator, mediador e influenciador das ações e conflitos produtores e produzidos no
espaço urbano.
Como são as ações concretas dos agentes sociais que determinam a
organização do espaço urbano, essa organização apresenta uma sequência de
processos espaciais que, segundo Corrêa (1997, p. 122) “constituem-se em um
conjunto de forças que atuam ao longo do tempo e que permitem localizações,
relocalizações e permanência de atividades e população sobre o espaço urbano.”.
Na definição deste autor, esses processos espaciais são os seguintes: centralização,
descentralização, coesão, segregação, invasão-sucessão e inércia.
Dois desses seis processos acontecem de forma bem evidente na cidade
de Russas, quais sejam os de centralização e segregação. Neste trabalho o
processo de segregação social/residencial será percebido.
O processo de segregação é um reflexo das contradições sociais e
econômicas da sociedade capitalista, especificamente uma externalização da
propriedade privada e da comercialização da terra, o que destaca o papel dos
proprietários fundiários, dos promotores imobiliários e do Estado na sobreposição da
terra como valor de troca pela terra como valor de uso.
28
3
Série de conflitos entre colonizadores e povos indígenas que se deu no interior do nordeste.
4
Segundo Rocha (1976, p. 39) “O Forte do Jaguaribe chamou-se também ‘Presídio do Jaguaribe’,
‘Presídio de São Francisco Xavier’ e ‘Sítio Igreja’, sendo esse último uma referencia ao povoado que
se formara em sua adjacência.”. Acreditamos que esta ultima nomenclatura tenha maior relação com
a capela construída pós a demolição do forte e não a ele.
5
“Esse forte foi duas vezes tomado pelos índios rebelados, e em 1705, incendiado. Reconstruído,
teve, porém curta duração, quando em 20 de dezembro de 1705, o Governador de Pernambuco,
Francisco de Castro Morais, propôs à metrópole, a sua extinção, considerando o estado de paz,
existente na região. Assim o Forte perdia a sua finalidade que era de defender os moradores e
pacificar os índios.” (Idem: 38).
30
6
“A criação de um curato consistia, em direito eclesiástico, na preparação de uma comunidade para
uma futura paróquia ou freguesia, na acepção antiga, com pároco ou vigário estável.” (ARAÚJO,
1986, p. 37).
7
“A Estrada Geral do Jaguaribe partia de Aracati, principal porto da Capitania, descia o rio Jaguaribe,
passava em Russas e Icó e seguindo o rio Salgado ultrapassava a chapada do Araripe para alcançar
os sertões do Pernambuco em direção à Bahia. Foi a mais importante via de circulação do Ceará no
século XVIII, por onde eram levadas as mercadorias para o sertão, vindas de Aracati, provenientes
das demais capitanias. Por ela também eram carregados os produtos das salinas cearenses para as
regiões do rio São Francisco. Em direção ao Aracati seguia toda a produção do vale do Jaguaribe.”
(JUCÁ NETO, 2009).
8
A ordem para a elevação à vila ocorreu em 1799, quando o governador da Capitania de
Pernambuco atendeu a solicitação feita pelo Padre José Bernardo da Fonseca Galvão,
representando os moradores da freguesia em 1798, sendo a Vila de São Bernardo do Governador
inaugurada em 06 de agosto de 1801. (ROCHA, 1976, p. 84).
31
9
Cf. Os primórdios da organização do espaço territorial e da vila cearense - algumas notas. Anais do
Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.20. n.1. p. 133-163. jan.-jun.: 2012.
32
10
Logo após sua criação, a vila de São Bernardo do Governador
destacava-se na região por apresentar uma organização político-administrativa
regida pelo Código de Obras e Posturas, que garantia a regulamentação da
ocupação e uso do solo, a cobrança de tributos e a organização das ruas e das
casas. A aplicação das normas previstas pelo Código de Obras e Posturas era
garantida pelos Inspetores de Quarteirões. (ROCHA, 1976; SILVA, 2006; CHAVES,
2010).
Até o século XVIII a pecuária se constituiu como a atividade econômica
mais vigorosa da região e entrou em declínio nas primeiras décadas do século XIX
dando maior espaço à produção agrícola do algodão, o que viera a configurar o
binômio gado-algodão, que se estendeu até o início do século XX, e, como aponta
Chaves (2010), contribui fortemente para a criação da cidade de São Bernardo das
Russas, aos 09 de agosto de 1859:
10
Com a acessão à categoria de cidade, o nome mudou para São Bernardo das Russas. Já a
mudança do nome para somente Russas ocorreu em 1938.
33
[...] foi a passagem da rodovia federal BR-13 (hoje BR-116) pela [...]
Avenida Dom Lino, que mais influência teve na sua ocupação, funcionando
como fator de maior força em sua expansão, adensando áreas ao longo
dela e de vias paralelas, que se interligaram, nos trechos mais centrais, por
uma sequência de pequenas e estreitas travessas. (PDP, 2008, p. 24).
Segundo Silva (2006, p. 35), foi a partir da década de 1940 que áreas
como as das ruas Dr. José Ramalho, Benjamim Constant e Coronel Araújo Lima se
integraram ao centro da cidade. Conforme o mesmo autor essas ruas eram
predominantemente residenciais e habitadas “por pessoas que enriqueceram com o
dinheiro oriundo do comércio do pó cerífero, do algodão e do seu beneficiamento.”.
Ainda de acordo com Silva (2006, p. 35), nesse período a periferia de
Russas “não se constituía geograficamente num espaço distante do centro da
12
Quando na sua criação essa rua fora nomeada como “Rua de Traz”, em um referencia a sua
localização a traz de uma das ruas principais dá época, a Rua do Poente (hoje Avenida Dom Lino) e
passou a ser denominada “Rua do Comercio” a partir de 1904, quando foi construído o Mercado
Público. (LIMA, 2006, p. 33). Hoje, esse logradouro recebe o nome de “Rua Padre Raul Vieira”, mas
ainda permanece sendo popularmente conhecida e chamada de “Rua do Comercio”. Isso mostra que,
embora tenha crescido e se expandido para outras ruas, o comercio permanece concentrado na área
central da cidade e principalmente na mesma rua onde outrora se dava sua expansão.
36
cidade, mas numa área que se formava no seu entorno” e a sua formação se deu
“principalmente com o surgimento de residências nas margens do Riacho Araibu”.
Posteriormente essa região passaria a constituir os atuais bairros Vila Gonçalves e
Nossa Senhora de Fátima.
A Figura 02 mostra uma representação da provável periodização da
expansão urbana de Russas. É possível observar que até a década de 1960 o
adensamento populacional se deu quase totalmente no entorno do núcleo primitivo
da cidade. Foi a partir dessa mesma década que a cidade apresentou uma
expansão mais significativa, inclusive atingindo áreas distantes do centro urbano,
como as que configuram hoje os bairros Tabuleiro do Catavento, Tabuleiro da
Vaquejada e mais intensamente no bairro Planalto da Bela Vista.
37
áreas mais distantes do centro e que ainda possuíam características rurais, como
criação de animais e a falta de estruturas e serviços públicos como pavimentação,
abastecimento d’água, rede de esgoto e coleta de lixo.
Como se pode observar no gráfico a seguir, foi justamente a partir da
década de 1980 que a população urbana desse município superou sua população
rural. A migração campo-cidade nesse período foi estimulada pela decadência das
atividades no campo (algodão e cera da carnaúba) e a crescente oferta de trabalho
na cidade.
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
1970 1980 1991 2000 2010 2014*
Total 34.239 38.513 46.566 57.320 69.833 74.243
Urbana 11.374 18.558 27.055 35.323 44.952
Rural 22.865 19.955 19.511 21.997 24.881
*Estimativa populacional (IBGE, 2014) não conta com valores para população urbana e rural.
Fonte: Adaptado do Censo Demográfico – IBGE. Organizado pelo Autor.
13
O nome da vila é uma referência ao senhor Scipião Maia Scipião. Pioneiro da atividade ceramista
na cidade, esse senhor doava pequenos lotes de terras próximos a sua cerâmica para alguns dos
seus funcionários e pessoas necessitadas, para que construíssem suas residências, logo formando a
tal vila.
40
14
Atualmente funciona neste mesmo galpão a Indústria Santa Rita de Urnas.
15
Cf. ALENCAR, João Vitor Oliveira de. A indústria e o urbano: o papel da Dakota Nordeste S/A em
Russas no Ceará. 2014. 237 p. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Geografia) – Programa de Pós-
Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2014.
42
16
Essa interpretação será melhor apresentada no capítulo 4.
46
17
Em alusão ao então Prefeito da cidade, o Engenheiro Francisco Franco Pereira Passos.
49
diante das críticas e poucos resultados apresentados pelo Banco, foi a de extingui-lo
em 1986, passando suas atribuições e a inadimplência de Cz$ 4,5 bilhões para a
Caixa Econômica Federal. É válido destacar que a maior parte dessa dívida advinha
de planos de desenvolvimento urbano e não diretamente da produção de habitação.
(RODRIGUES, 1997).
Pós o fim do BNH houve uma grande sucessão de órgãos responsáveis
pela gestão da política habitacional do Governo Federal18. Esse período é marcado
pela descentralização da atuação pública no campo da habitação social, uma vez
que, diante da inoperância do Governo Federal, muitos Estados e Municípios
produziram suas próprias iniciativas nesse setor. Apenas no governo FHC se
apresentariam algumas inovações como a criação das Cartas de Crédito, do
Programa de Arrendamento Residencial (PAR) e do Sistema de Financiamento
Imobiliário (SFI). Com o PAR os valores dos financiamentos eram reduzidos por
meio da oferta de subsídios extraídos do FGTS e sua atuação destinava-se à faixa
de renda 3 a 6 salários mínimos. (CARDOSO; ARAGÃO, 2013).
Segundo Cardoso e Aragão (2013, p. 28), “com a eleição de Luiz Inácio
Lula da Silva para Presidência da República, em 2002, abrem-se novas expectativas
para a institucionalização da política habitacional.”. Tal expectativa se fez por conta
da relação que Lula mantinha com os movimentos populares e mais precisamente
de seu envolvimento com o Projeto Moradia19. A criação do Ministério das Cidades e
suas secretarias 20 , em 2003, logo após a eleição de Lula, sinalizava novas e
melhores mudanças na condução da política habitacional, principalmente no que diz
respeito ao atendimento as camadas populares e à participação dos Estados e dos
Municípios na política habitacional, o que se confirmaria nos anos seguintes.
A primeira alternativa para o atendimento da demanda popular foi lançada
em 2004, com a criação do Programa Crédito Solidário, que fornecia financiamentos
à população de baixa renda e para cooperativas e/ou associações. Em 2005 criou-
18
Conforme Cardoso e Aragão (2013, p. 17) “Após a extinção do BNH a política habitacional foi
subordinada à diversos órgãos: Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente – MHU (1987),
Ministério de Habitação e do Bem-Estar Social – MBES (1988), Secretaria Especial de Habitação e
Ação Comunitária – SEAC (1989), Ministério da Ação Social – MAS (1990), Ministério do Bem-Estar
Social – MBES (1992), Secretaria de Política Urbana – SEPURB (1995) e Secretaria de
Desenvolvimento Urbano – SEDUR/PR (1999-2003).”
19
O Projeto Moradia foi elaborado pelo Instituto Cidadania, do qual Lula era Coordenador, e foi
lançado em 2009. (BONDUKI, 2009).
20
O Ministério se organiza em quatro secretarias: Acessibilidade e Programas Urbanos, Habitação,
Saneamento e Transporte e Mobilidade.
57
21
Cf. ANDRADE, Eliana Santos Junqueira de. Política habitacional no Brasil (1964 a 2011): do sonho
da casa própria à minha casa, minha vida. Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação
em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
Fluminense. Niterói, 2011.
58
A divisão total das UHs entre essas Faixas se daria da seguinte maneira:
400 mil para a Faixa 1, 400 mil para Faixa 2 e 200 mil unidades para a Faixa 3. Essa
divisão foi foco de criticas pois, a estimativa do déficit habitacional, utilizada como
norteadora no Programa, indica uma maior concentração da carência habitacional
no grupo referente a Faixa 1 do Programa, que no entanto, recebe a mesma
quantidade de unidades que a Faixa 2, onde o déficit é mais ameno.
No site do Ministério das Cidades, uma publicação atualizada em 28 de
julho de 2014 mostra uma nova divisão para as Faixas do Programa e os valores
máximos a elas referentes. Conforme a notícia: “A segunda faixa, que ia de R$
1.600,01 a R$ 2,325 mil passa para R$ 2,455; a terceira faixa de ganhos - até R$ 3,1
mil - sobe para R$ 3,275 mil; e o teto da quarta faixa continua em R$ 5 mil.”22.
Esquematizamos essa informação na tabela seguinte:
22
As referidas informações estão disponíveis no endereço eletrônico: <
http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/10/valores-de-imoveis-adquiridos-por-programa-
de-habitacao-sao-reajustados >. Acesso realizado em 15 de outubro de 2015.
60
23
Diante da não comprovação institucional dessa nova divisão e tendo em conta que as referências
por nós utilizadas trabalham com a divisão em apenas três faixas, essa será mantida neste trabalho,
como exposto na Tabela 01.
61
Tabela 03 - Valores máximos das UHs da Faixa 1 por características dos municípios cearenses
Valores máximos para Faixa 1
UF Localidade Fase 1 Fase 2
Apartamento Casa Apartamento Casa
Capital e reg.
R$ 45.000,00 R$ 41.000,00 R$ 56.000,00 R$ 54.000,00
metropolitana
Demais
R$ 41.000,00 R$ 37.000,00 R$ 49.000,00 R$ 49.000,00
CE Municípios
Municípios
entre 20 e 50 Não se aplica Não se aplica Não se aplica R$ 45.000,00
mil habitantes
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Cardoso e Aragão (2013) e na Portaria Nº 325, de 7 de
julho de 2011.
62
Tabela 04 - Valores máximos das UHs das Faixas 2 e 3 para municípios com população entre
50 e 250 mil habitantes
Valores máximos para as Faixas 2 e 3
Localidade
Fase 1 (2009) Fase 2 (2012)
Municípios entre 50 e 250
R$ 80.000,00 R$ 115.000,00
mil habitantes
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Santo Amore (2015).
24
Shimbo (2010) utiliza o termo “produção da habitação social de mercado” para se referir as novas
configurações e estratégias do setor imobiliário na produção de habitação para o segmento
econômico.
64
25
Como explicado na introdução deste trabalho, os dados conseguidos junto ao Ministério das
Cidades referem-se ao período de 2009 a 2014. Assim, as formulações sobre o ano de 2015 têm
como base os trabalhos de campo e as conversas que realizamos com alguns sujeitos diretamente
envolvidos com o mercado imobiliário e com o PMCMV na cidade de Russas, especificamente com
promotores imobiliários e moradores das UHs financiadas e subsidiadas pelo Programa.
65
173
UHs Contradas
72 71
54 59
Tabela 05 - Soma dos valores dos contratos realizados entre 2009 e 2014
Ano UHs contratadas Soma dos valores dos contratos
2009 9 R$ 682.826,00
2010 54 R$ 2.805.779,00
2011 72 R$ 5.871.027,00
2012 59 R$ 4.979.537,00
2013 71 R$ 6.993.759,00
2014 173 R$ 15.967.654,00
Totais: 438 R$ 37.300.582,00
Fonte: Ministério das Cidades (dados não publicados). Organizado pelo Autor.
66
Figura 05 – Exemplo de imóvel vendido através do PMCMV com valor acima do teto máximo
26
Disponível em: < http://www.camararussas.ce.gov.br/painel/uploads/946976f354f6fa53e4b1.pdf >.
Acesso em: 09 de outubro de 2015.
27
Posteriormente esse número foi corrigido para 497.
28
Informações extraídas de notícias disponibilizadas no site da Prefeitura Municipal de Russas
(russas.ce.gov.br/) e no site RussasNews.com (russasnews.com.br/).
70
Esses apartamentos são organizados por blocos, sendo que cada bloco é
composto por oito apartamentos, todos compostos por dois quartos, um banheiro,
sala e cozinha americana, e que são distribuídos em quatro tipos plantas com área
total variando entre 47,69 m² e 49,73 m². Conforme os dados que constam nos
contratos de compra e venda, os apartamentos de planta Tipo B, com 49,73 m²,
eram vendidos pelo valor de R$ 42.000,00. (Ver Figura 06).
fato de muitas pessoas trabalharem o dia todo e por isso passarem pouco tempo em
casa, aumentando a “necessidade” de ter um equipamento que tende a aumentar a
segurança da residência.
Além disso, como veremos em outras imagens mais adiante, esses
elementos indicam que arquitetura do padrão de habitação disseminado pelas
construtoras compreende a habitação apenas como local de moradia, negando sua
relação com o seu entorno imediato e com a cidade.
Quanto aos valores das UHs, esses variam de acordo com a área (total e
construída), os tipos e padrões das unidades (podendo ser duplex ou térreo e ter
acabamento “diferenciado”), a faixa a que se destinam e a localização. Com base
nos valores dos contratos que tivemos acesso os valores da UHs vêm apresentando
um aumento considerável ao longo dos anos.
Para termos de exemplificação da variação e elevação dos preços dos
empreendimentos, comparamos 29 os valores que constam nos contratos de duas
30
unidades com características semelhantes , porém localizadas em bairros
diferentes, uma no bairro Tabuleiro do Catavento e outra no bairro Planalto da
Catumbela, e adquiridas também em anos diferentes, 2014 e 2015, respectivamente.
A casa localizada no bairro Tabuleiro do Catavento e adquirida no ano de 2014 foi
comercializada pelo valor de R$ 83.000,00. Já a unidade localizada no bairro
Planalto da Catumbela foi comercializada por R$ 112.000,00. Uma diferença de R$
29.000,00.
Muito embora estejam em áreas diferentes, no entanto ambas com
grande valorização atualmente, esse acréscimo de aproximadamente 30 mil reais no
valor de imóveis com características semelhantes no intervalo de um ano mostra o
quanto o mercado de habitação está aquecido na cidade de Russas. Informações
repassadas por famílias que adquiriram suas casas recentemente dão conta da
existência inclusive de uma “lista de espera” que, dependendo da localização, valor
e características da unidade, pode levar meses para ser atendida. O que aponta a
ausência de um “estoque” de habitação no mercado, revelando que a procura e o
acesso à moradia continua crescendo.
29
A comparação foi realizada utilizando os valores de compra e venda dos imóveis especificados nos
contratos fornecidos pelos compradores das unidades.
30
A única diferença entre as unidades decorre de que a adquirida em 2015 possui dois banheiros, no
mais, ambas possuem os mesmos cômodos.
74
31
Uma discussão sobre a relação entre o lançamento e a localização desse empreendimento e sua
proximidade com o Campus da UFC-Russas foi realizada no segundo capítulo.
32
Valor em 2014.
76
33
Disponível em: http://tvrussas.com.br/noticia/9312/ms-construcoes-lanca-em-russas-o-condominio-
village-catumbela/ .
77
34
Os limites são os estabelecidos na Base Cartográfica e Setores Censitários do IBGE (2010).
80
que tem suas unidades vendidas por meio da Faixa 3 do PMCMV, e alguns
apartamentos duplex, que são vendidos na Faixa 2. (Figura 14).
Fonte: Base Cartográfica IBGE (2010); Google Earth. Elaborado pelo Autor.
84
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Sérgio de. Vinte e Dois Anos de Política Habitacional Popular (1964-86):
criação, trajetória e extinção do BNH. Revista de Administração Pública, Rio de
Janeiro, 22(4), p. 107-119, out.- dez. 1988.
_____. Do Projeto Moradia ao programa Minha Casa, Minha Vida. Teoria e Debate,
nº 82, maio/junho. 2009.
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