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AULA 12
SARLO, Beatriz.
Tempo passado
: cultura da memória e guinada subjetiva. Trad. de Rosa Freire dAguiar. S!o "aulo: #om$an%ia das Letras& Belo 'orizonte: (F)*, +-.
1.Tempo passado
O $assado / sem$re con0lituoso. A ele se re0erem, em concorr1ncia, a memória e a %istória, $or2ue nem sem$re a %istória consegue acreditar na memória, e a memória descon0ia de umareconstitui3!o 2ue n!o colo2ue em seu centro os direitos da lembran3a 4direitos de vida, de justi3a,de subjetividade56 4$.75.Sem$re %8 algo de inabord8vel no $assado. 9le n!o / convocado eclusivamente $or um ato devontade, tam$ouco / sem$re um momento libertador da lembran3a, mas um advento e uma ca$turado $resente. A lembran3a acomete mesmo 2uando n!o / convocada e, al/m disso, nunca est8com$leta. "or meio da lembran3a o $assado se 0az $resente& al/m disso, o tem$o $ró$rio da lembran3a / o $resente, isto /, o $resente / o ;nico tem$o
apropriado
 $ara se lembrar. "ara Sarlo, vigora atualmente um lugar<comum de 2ue o $assado se en0ra2uece diante doinstante6. A autora re0uta essa vis!o, lembrando 2ue as ;ltimas d/cadas tamb/m 0oram as d/cadasde musei0ica3!o, do $assado<es$et8culo, das
heritages
, da mania $reservacionista6
=
, dosur$reendente renascer do romance %istórico, dos 0ilmes, das %istórias da vida $rivada, etc. #%arles)aier c%amou esse 0en>meno de auto<ar2ueologiza3!o6
+
 das sociedades ocidentais. 9sse neo<%istoricismo6 indica 2ue as o$era3?es com a %istória entraram no mercado simbólicodo ca$italismo tardio com tanta e0ici1ncia como 2uando 0oram objeto $rivilegiado das institui3?esescolares desde o 0im do s/culo @@6 4$.==5. Outras lin%as de 0or3a residem no interior do $ró$rio cam$o %istoriogr80ico nas ;ltimas d/cadas.e um lado, a %istória social e cultural deslocou seu estudo $ara as margens das sociedadesmodernas, alterando a no3!o de sujeito e a %ierar2uia dos 0atos ao destacar os $ormenorescotidianos, numa $o/tica do detal%e e do concreto. "or outro lado, a %istória de grande circula3!o,n!o acad1mica, tamb/m adota um 0oco $róimo dos atores acreditando assim $oder reconstituir uma vida de 0orma verdadeira6. Tudo isso acom$an%ado de uma varia3!o nas 0ontes: o lugar cadavez mais im$ortante da %istória oral, e as %istórias do $assado mais recente, a$oiadas 2uaseinteiramente em o$era3?es de memória, e 2ue atravessa v8rias disci$linas e se estende C es0era $;blica e C $olDtica.
=
 9$ress!o de Ra$%ael Samuel,
Theatres of memory
.
+
 #%arles )aier,
The unmasterable past: History, Holocaust and German national identity
.
=
 
9m toda vis!o de $assado6 2ue se constrói discursivamente, est!o $resentes determinadosas$ectos ideológicos 2ue evidenciam um
continuum
signi0icativo e inter$ret8vel do tem$o. 9ssesdiscursos 4narra3?es5 do $assado im$licam uma conce$3!o do social e introduzem um tomdominante nas vis?es de $assado6. Eo caso das narra3?es %istóricas de grande circula3!o, est8 $resente um 0ec%ado cDrculo%ermen1utico 2ueG une a reconstitui3!o dos 0atos C inter$reta3!o de seus sentidos e garante vis?esglobais, a2uelas 2ue, na ambi3!o dos grandes %istoriadores do s/culo @@, 0oram as sDnteses %ojeconsideradas ora im$ossDveis, ora indesej8veis e, em geral, conceitualmente err>neas6 4$.=+<=H5. 9ssas %istórias n!o acad1micas $ressu$?em sem$re uma sDntese, e s!o sensDveis ao 2ue ao$ini!o $;blica $resente demanda em rela3!o ao $assado. Ao contr8rio, nas %istórias escritas $or e $ara es$ecialistas, as regras do m/todo da disci$lina %istórica su$ervisionam os modos dereconstitui3!o do $assado. Eelas tamb/m a discuss!o das modalidades reconstitutivas / e$lDcita.9ssa di0eren3a n!o torna as %istórias n!o acad1micas $ura e sim$lesmente 0alsas, mas sim 2ue est8mais ligada ao imagin8rio social contem$orIneo, cujas $ress?es ela recebe e aceita mais comovantagem do 2ue como limite6 4=H5.  Eas %istórias de massa, um $rincD$io teleológico garante origem e causalidade a 2ual2uer 0ragmento do $assado, algo 2ue a %istória acad1mica considera a $artir de $rincD$ios m;lti$los.9ssa redu3!o do cam$o das %iteses sustenta o interesse $;blico e $roduz uma nitidezargumentativa e narrativa 2ue 0alta C %istória acad1mica6 4=J5. As modalidades n!o acad1micas de teto encaram a investida do $assado de modo menosregulado $elo o0Dcio e $elo m/todo, em 0un3!o de necessidades $resentes, intelectuais, a0etivas,morais ou $olDticas6 4=J5. 9sse / o estilo a 2ue $ertencem as reconstitui3?es baseadas em 0ontestestemun%ais. Eelas, ao contr8rio da boa %istória acad1mica, n!o o0erecem um sistema de%i$óteses, mas certezas6 4=K5.  Eesse concorr1ncia, as modalidades comerciais sem$re tendem a derrotar a %istória acad1mica, $or motivos de m/todo e tamb/m $elas $ró$rias restri3?es 0ormais e institucionais desta ;ltima, 2uea tornam mais $reocu$ada com regras internas do 2ue a busca de legitima3!o eterna, sob risco degerar a descon0ian3a de seus $ares. As %istórias de grande circula3!o, em contra$artida,recon%ecem na re$ercuss!o $;blica de mercado sua legitimidade6 4=K5.
 A guinada subjetiva
'8 d/cadas, tem crescido o interesse dos %istoriadores e cientistas sociais ao detal%eece$cional, C2uilo 2ue se o$?e C normaliza3!o e as subjetividades 2ue se distinguem $or umaanomalia 4o louco, o criminoso, a brua, etc.5. Tamb/m se acentuou o interesse $elos sujeitosnormais6. )ic%el de #erteau, em
 A invenção do cotidiano
, 0oi $ioneiro ao destacar os desvios da+
 
%istória, as tretas do 0raco6 2ue $or muito tem$o 0icaram invisDveis $ara uma vis!o do $assado6dominante 2ue n!o tin%a interesse $ela inventividade subalterna. As %istórias da vida cotidiana tem atingido um $;blico $ara al/m do es$a3o acad1mico, justamente $elo interesse romanesco6 de seus objetos. Eelas, o $assado volta como 2uadro decostumes em 2ue se valorizam os detal%es, as originalidades, a ece3!o C regra, as curiosidades 2ue j8 n!o se encontram no $resente6 4=-5. Os sujeitos marginais, %8 muito ignorados em outros modos de narra3!o do $assado, demandamnovas eig1ncias de m/todo e tendem C escuta sistem8tica dos discursos de memóriaM: di8rios,cartas, consel%os, ora3?es6 4=-5. Sarlo tamb/m cita a obra
The uses of literacy
4=7K-5, estudo de sociologia da cultura $ioneira deRic%ard 'oggart.  Eeste livro, 'oggart constrói uma nova 0orma de abordar um objeto 2ue aindan!o estabelecera de vez sua legitimidade 4cultura cotidiana da classe o$er8ria inglesa5 N trabal%andocom suas lembran3as e e$eri1ncias de in0Incia e adolesc1ncia, utilizando a $rimeira $essoa. 9msuma, o autor sustenta seu $rojeto desde uma $ers$ectiva autobiogr80ica, embora n!o ten%a seocu$ado em 0undamentar essa abordagem subjetiva. 9ssas lin%as de 0or3a convergem numa viragem com rela3!o C legitimidade das narra3?es do $assado:Tomando<se em conjunto essas inova3?es, a atual tend1ncia acad1mica e do mercado de benssimbólicos 2ue se $ro$?e a reconstituir a tetura da vida e a verdade abrigadas na rememora3!o dae$eri1ncia, a revaloriza3!o da $rimeira $essoa como $onto de vista, a reivindica3!o de umadimens!o subjetiva, 2ue %oje se e$ande sobre os estudos do $assado e os estudos culturais do $resente, n!o s!o sur$reendentes. S!o $assos de um $rograma 2ue se torna e$lDcito, $or2ue %8condi3?es ideológicas 2ue o sustentam. #ontem$orInea do 2ue se c%amou nos anos =7- e =7 deguinada linguDsticaM ou muitas vezes acom$an%ando<a como sua sombra, im$>s<se a
 guinada subjetiva
6 4$.=, gri0os da autora5.9ssa guinada subjetiva acom$an%a tamb/m as recentes renova3?es no cam$o da sociologia, em2ue a identidade dos sujeitos voltou a tomar o lugar ocu$ado $elas estruturas. Restaurou<se a
razão do sujeito
, 2ue 0oi, %8 d/cadas, mera ideologiaM ou 0alsa consci1nciaM6 4$.=7, gri0os daautora5. "or conseguinte, a %istória oral e o testemun%o restituDram a con0ian3a nessa $rimeira $essoa 2ue narra sua vida $ara conservar a lembran3a ou $ara re$arar uma identidade 0erida.
Tema e objetivo do livro
:9ste livro trata do $assado e da memória das ;ltimas d/cadas. Reage n!o aos usos jurDdicos emorais do testemun%o, mas a seus outros usos $;blicos. Analisa a trans0orma3!o do testemun%o emum Dcone da Perdade ou no recurso mais im$ortante $ara a reconstitui3!o do $assado& discute aH

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