Editora
FGV, 2006.
FICHAMENTO
Capítulo 2: Prática e estilos de pesquisa na história oral contemporânea. Jorge Eduardo Aceves
Lozano.
“Eu partiria da ideia de que a ‘historia oral’ é mais do que uma decisão técnica ou de
procedimento; que não é a depuração técnica da entrevista gravada; nem pretende exclusivamente
formar arquivos orais; tampouco é apenas um roteiro para o processo detalhado e preciso de transcrição
da oralidade; nem abandona a análise à iniciativa dos historiadores do futuro.
Diria que é antes um espaço de contato e influencia interdisciplinares; sociais, em escalas e
níveis locais e regionais; com ênfase nos fenômenos e eventos que permitam, através da oralidade,
oferecer interpretações qualitativas de processos histórico-sociais. Para isso, conta com métodos e
técnicas precisas, em que a constituição de fontes e arquivos orais desempenha um papel importante.
Dessa forma, a história oral ao se interessar pela oralidade, procura destacar e centrar sua análise na
visão e versão que dimanam do interior e do maia profundo da experiencia dos atores sociais.
A consideração do âmbito subjetivo da experiência humana é a parte central do trabalho desse
método de pesquisa histórica, cujo propósito incluiu a ampliação, no nível social, da categoria de
produção dos conhecimentos históricos, pelo que também se identifica e solidariza com muitos dos
princípios da tão discutida ‘história popular’”. Página 16.
Não fazer da “informação oral somente uma ilustração dramatizada dos argumentos teóricos e
das categorias abstratas; o oral se transfigura num andaime ou suporte interessante da evidência e das
séries quantitativas tradicionais.” página 23.
A subjetividade dos depoimentos não deve ser um empecilho, mas ela própria passível de
análise.
Não considerar a “história oral como mera técnica do arquivista qualificado, nem como a
‘nova’ alternativa na tarefa do historiador comprometido com sua gente e seu tempo, mas sim como
uma renovação das concepções sobre o envolvimento do historiador com seus sujeitos e problemas de
pesquisa”, o que vai de encontro com um quantitativismo positivista. Página 23 e 24.
“A versão da história da sociedade que se constrói é tão válida quanto aquela que deriva da
consulta de fontes documentais como arquivos e registros fiscais ou policiais, por exemplo. Não
obstante, a evidência oral também exige e deve ter a mesma receptividade e os mesmos controles
críticos que se aplicam aos artigos de jornal, a um relatório político ou a um documento lavrado em
cartório” Página 24.
“O historiador oral que tende a integrar todas essas práticas está em busca do seu passado e ao
mesmo tempo de sua identidade. Nesse estilo de trabalho, a tarefa de produzir conhecimentos históricos
se torna válida, especialmente rica e atual, já que implica: reflexão teórica, trabalho empírico e de
campo; maior ligação e vínculo pessoal com os sujeitos estudados; um processo de constituição de uma
fonte e um processo de produção de conhecimentos científicos, isto é, um processo que permite ao
pesquisador se transformar no que sempre pretendeu ser, um historiador” Página 24.
“Arquivos provocados”: “Qualquer que seja a forma do arquivo provocado, ele tem sempre o
mesmo inconveniente: foi sempre constituído depois do acontecimento e, portanto, é responsável por
tudo o que foi dito e escrito a posteriori; ele pode resgatar lembranças involuntariamente equivocadas,
lembranças transformadas em função dos acontecimentos posteriores, lembranças sobrepostas,
lembranças transformadas deliberadamente para ‘coincidir’ com o que é pensado muitos anos mais
tarde, lembranças transformadas simplesmente para justificar posições e atitudes posteriores”. Página
28.
“A história oral tem por natureza um caráter individual”, “não é difícil retificar o erro material
que escapa num depoimento, mas é impossível retificar as transformações de sentimentos ou de
atitudes que podem ser expressas.” Página 29.
Intervenção de François Bédarida: “Do depoimento no tempo, pois não há depoimento sem
temporalidade. Em segundo lugar, o processo de constituição do depoimento, sua gênese, suas
condições de elaboração, em suma, a construção do documento. Em terceiro lugar, coloca-se a questão
da validade do depoimento, em particular as condições de utilização do documento. Finalmente, a
interpretação do depoimento: que sentido tem ele para o historiador e para a história?” Página 30.