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Nietzsche, a genealogia e a história

Mario Bernardo de Oliveira Alves

Trata-se de uma reflexão de Foucault acerca da genealogia e história fundamentada por


algumas reflexões de Nietzsche. O filósofo delimita as noções de genealogia e história e como cada
uma desempenha seu papel crucial na produção do saber.

Inicialmente, a genealogia é definida de caráter documental, ela demanda um grande


número de materiais acumulados, paciência e a minúcia do saber, portanto, esse percurso da
genealogia é marcado por acontecimentos cujo o objetivo é reencontrar diferentes cenas no qual
desempenharam papeis distintos. No que concerne aos acontecimentos, não se trata da genealogia
se opor à história, mas é o desdobramento a partir da história para reflexões filosóficas, contudo, ela
se opõe ao conceito de “origem”.

Nietzsche utiliza dois conceitos diferentes para a mesma palavra “Ursprung”. Um dos
conceitos é a alternância com os termos Entestehung, Herkunft. Ursprung pode ser utilizado no
contexto de origem miraculosa (Wunder-Ursprung), assim como também de maneira irônica e
depreciativa. Por sua vez, Herkunft é definido como origem dos preconceitos morais, desse modo,
serve para categorizar a origem da moralidade, da justiça e do castigo.

A problemática acerca da origem para Nietzsche é o ponto no qual busca se reencontrar com
o “aquilo mesmo” adequada de si, é, em determinado momento entender que a “origem” foi
acidental, é buscar a identidade primeira. Desse modo, a origem das coisas não parte do começo
histórico preservado, mas da discórdia entre as coisas, é o contrassenso.

O conceito acerca da origem está ligado ao lugar da verdade, todo o começo está ligado e
articulado a ela, contudo, a verdade e a origem foram circunscritas na história e, o genealogista
precisa da história para conjurar a “origem”, assim, é necessário saber e reconhecer os
acontecimentos da história, suas tensões, surpresas para avaliar o que é um discurso filosófico a
partir dela.

Os termos Entestehung ou Herkunft delimitam melhor que Ursprung para a genealogia, pois
ambos são traduzidos por “origem”, mas possuem articulação própria. Herkunft, por exemplo, é o
tronco de uma raça, é a proveniência, ou seja, coloca em jogo de análise o tipo social, visa descobrir
as marcas sutis, singulares, formando uma rede difícil de desembaraçar que permite ordenar as
marcas diferente da origem.

A proveniência também reencontra o conceito a proliferação dos acontecimentos dos quais


eles se formaram, mas não no intuito da genealogia retomar esse momento para dar continuidade,
mas ao contrário, é manter esse acontecimento para demarcar o acidente, os erros e descobrir na
raiz o que somos. O caráter da proveniência não é fundamento, ela mostra a heterogeneidade. A
noção de Herkunft é ainda mais profunda, ela está ligada ao corpo e tudo que diz a respeito dele, é
no corpo que se encontra as marcas dos acontecimentos. Portanto, a genealogia como análise da
proveniência é a articulação do corpo com a história.

Entestehung, no entanto, designa o papel da emergência, o ponto de surgimento. A


emergência não é o ponto final, ela produz um determinado estado de força, a exemplo disto, o olho
não apareceu para a contemplação e o castigo não foi destinado para torna-se um modelo, o olho foi
primeiramente submetido à caça e a guerra, assim como o castigo era um dispositivo de dominação.
Dessa maneira, a genealogia restabelece os sistemas de submissão, ou seja, a emergência evoca um
lugar de afrontamento.

A humanidade não progride em uma reciprocidade universal, é necessário esse ponto de


tensão para desenvolvimento da humanidade. Homens dominam outros homens, então fomenta a
diferença de valores, classes dominam classes e a ideia de liberdade surge, ou seja, em cada
momento da história a dominação é fixa, impõe obrigações, direitos, estabelece marcas e grava
lembranças. Por esse motivo que o sentido histórico dos historiadores constrói um ponto diferente
do que é trabalhado na genealogia, a história “efetiva” não se apoia em constância, ela reintroduz a
o descontinuo, a fragmentação do saber histórico linear.

Foucault se aproxima da genealogia da história para compreender o sentido histórico. Uma


das características da história é colocar compreender tudo e, tudo aceitar. O historiador, por sua vez
é a relação do querer saber. Nesse contexto, o sentido histórico tem três usos que se opõem, o
primeiro é o uso destruidor da realidade que se coloca contra história/passado, o outro é destruidor
da identidade que se opõe à tradição/continuidade e o terceiro corresponde ao distribuidor da
verdade que se coloca contra história-conhecimento.

Por fim, esse capítulo testemunha o travamento da história e seus sentidos para se tornar
verdade/origem, porém. Nietzche retorna aos acontecimentos, para não só mostrar que a produção
de verdade seja dita ali naquele saber histórico, para se opor a ideia de origem, mas que dentro
desse acontecimento, reencontrando cenas que desempenharam papéis destintos na produção do
saber/verdade/origem.

Com essa concepção de Herkunft é possível compreender a marca da história e a história


arruinando o corpo a partir do meu objeto de pesquisa estar relacionado à aids. Indo de encontro
com a perspectiva histórica da síndrome no mundo, acredito que esse conceito de H

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