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A teoria de John Swales

As contribuições teórico-metodológicas de John Swales na área de


Análise de Gêneros oferecem subsídios para pesquisas voltadas à análise
retórica de gêneros textuais no contexto acadêmico. A aplicação de sua teoria
permite aos alunos e pesquisadores a identificação dos diferentes gêneros
textuais e facilita a sua produção de acordo com seus propósitos comunicativos.

Swales parte do pressuposto de que apenas os elementos linguísticos não são


suficientes para o reconhecimento de um gênero, sendo o contexto um elemento
fundamental nesse reconhecimento. Para melhor compreender o fenômeno,
Swales elaborou uma série de características para definir o gênero, assim como
desenvolveu os conceitos de comunidade discursiva e propósito comunicativo,
que estão intrinsicamente ligados ao gênero.

Para formular sua definição de gênero, Swales se apoiou em quatro campos de


estudos. Primeiro, no campo dos estudos folclóricos encontrou a importância de
fazer uma classificação de gêneros como ferramenta de pesquisa, agrupando
exemplares pertencentes ao mesmo gênero. Esse campo também considera as
formas, que podem sofrer mudanças no seu uso pela sociedade. Outra
abordagem desse campo diz respeito ao valor sociocultural dos gêneros, uma
vez que atendem a necessidades de grupos sociais.

No campos dos estudos literários, os teóricos destacam a instabilidade da forma.


Nesse campo evidencia-se a quebra das normas para imprimir originalidade à
obra. Um outro campo de estudos que influenciou Swales é o da linguística,
onde os linguistas que seguem uma base etnográfica vêm somar bastante nos
estudos de gêneros.

(elaborar)

O quarto campo é o da retórica, que classifica os diversos tipos de discursos nas


categorias expressivo, persuasivo, literário e referencial. Citando Motta-Roth et
al (2005, p. 112-113), Swales entende que um texto que ilustra um tipo de
discurso é categorizado de acordo com o elemento que recebe maior destaque
no processo comunicativo. Por exemplo, seo discurso estiver centrado no
receptor (leitor), é classificado como persuasivo. No entanto, reconhecendo as
falhas dessa classificação, Swales se alinha com os estudiosos que levam em
consideração o contexto do discurso.

Inspirado nesses quatro campos de estudo, Swales elabora sua própria


definição de gênero com base em cinco características. A primeira é a ideia de
classe, categoria na qual se encaixam os textos pertencentes ao mesmo gênero,
sendo o gênero uma classe de eventos constituídos de discurso, participantes
do discurso, função do discurso e ambiente onde o discurso é produzido e
recebido. A linguagem verbal tem papel fundamental e indispensável nessa
classe de eventos comunicativos.

A segunda característica diz respeito ao propósito comunicativo. Cada gênero


tem a função de realizar um objetivo ou objetivos.

Uma terceira característica é a prototipicidade. Um texto será considerado de


determinado gênero se possuir as características específicas que definem o
gênero. O texto que possuir todas as características ou a maioria delas é
considerado protótipo daquele gênero.

A razão ou lógica subjacente ao gênero é a quarta característica. Razão


subjacente significa a lógica do gênero. A partir dessa lógica, os membros da
comunidade reconhecem o gênero. De acordo com seu entendimento do
propósito comunicativo, os membros experientes utilizam convenções que
realizam adequadamente o gênero de modo que cumpra com eficácia seu
propósito comunicativo.

A quinta característica é a terminologia utilizada pela comunidade discursiva


para nomear os gêneros por ela produzidos. Os nomes atribuídos aos gêneros
indicam como os membros mais experientes, que nomeiam os gêneros,
entendem a ação retórica das classes de eventos comunicativos.
Essas cinco características delimitadas por Swales levam a uma concepção de
gênero proposta pelo autor:

Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos cujos


exemplares compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Esses
propósitos são reconhecidos pelos membros mais experientes da
comunidade discursiva original e constituem a razão do gênero. A razão
subjacente dá o contorno da estrutura esquemática do discurso e
influencia e restringe as escolhas de conteúdo e estilo. O propósito
comunicativo é o critério que é privilegiado e que faz com que o escopo
do gênero se mantenha enfocado estreitamente em determinada ação
retórica compatível com o gênero. Além do propósito, os exemplares do
gênero demonstram padrões semelhantes, mas com variações em
termos de estrutura, estilo, conteúdo e público-alvo. Se forem realizadas
todas as expectativas em relação àquilo que é altamente provável para o
gênero, o exemplar será visto pela comunidade discursiva original como
um protótipo. Os gêneros têm nomes que são herdados e produzidos
pelas comunidades discursivas e importados por outras comunidades.
Esses nomes constituem uma comunicação etnográfica valiosa, porém
tipicamente precisam de validação adicional. (Swales, 1990, p.58 apud
Biasi-Rodrigues, Hemais e Araújo, 2009)

Por essa definição, percebe-se que a concepção de comunidade discursiva está


intrisicamente ligada à concepção de gênero. Para Swales (1990, apud Biasi-
Rodrigues, Hemais e Araújo, 2009), as comunidades são verdadeiras redes
sociorretóricas que atuam em torno de um conjunto de objetivos comuns , e os
seus membros detêm uma familiridade com gêneros particulares que lhes
permite usá-los em causas comunicativas para atender a certos objetivos. Ou
seja, o gênero não é uma ação individual, mas sim uma prática de grupos
sociais.

O conceito de comunidade discursiva:

Comunidade discursiva é um conceito intrinsicamente ligado ao conceito de


gênero. Swales (1990 apud Biasi- Rodrigues, Hemais e Araújo, 2009) destaca
que a definição de comunidade discursiva está relacionada à produção de textos
como uma atividade social que se realiza de acordo com convenções
discursivas específicas e revela o comportamento social e o conhecimento dos
membros do grupo. No entanto, não é fácil reconhecer uma comunidade
discursiva e determinar quais critérios são válidos para identificá-la.

Conforme cita (Biasi-Rodrigues, Hemais e Araújo, 2009), uma comunidade


acadêmica, por exemplo, poderia ser reconhecida pelo objetivo das pesquisas
da comunidade, pela metodologia de pesquisa, pela frequência de comunicação
ou ainda pelas convenções discursivas compartilhadas.

Para melhor esclarecer o conceito de comunidade discursiva, Swales propôes


seis características que podem definir uma comunidade discursiva.

1. Uma CD apresenta um conjunto de objetivos comuns.

2. Os membros devem se comunicar e ter mecanismos próprios para essa


comunicação.

3. Esses mecanismos têm a finalidade de viabilizar a troca de informação e


facilitar a interação entre os membros.

4. Uma CD tem a capacidade de criar seu próprio elenco de gêneros.

5. Cada CD possui um lírico específico com termos que têm significados


específicos.

6. Uma CD possui membros mais experientes, que têm maior domínio do


discurso e do conteúdo usados pela comunidade. E possui os membros novatos
que não possuem tanto domínio do discurso e do conteúdo, mas são
estimulados a adquirir esse domínio para participarem plenamente das
atividades da comunidade.

Posteriormente, esse conceiro foi revisado devido a alguns pontos fracos na


conceituação inicial enxergados a partir de ponderações de outros autores e do
próprio Swales.

A revisão do conceito mostrou que um sujeito não pertence a uma única


comunidade, implicando em variadas práticas sociais e relacionamentos com
outras comunidades. Já que é possível essa interação entre as comunidades, os
mecanismos de participação na comunidade se abrem à possibildade de
inserção do novo na comunidade.

Devido a essa possibildade de inovação, os gêneros também se diversificam,


sem descaracterizar a comunidade, mantendo os sistemas de crenças e de
valores.

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