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Amparados por Bezerra (2009), compreendemos que, embora os trabalhos produzidos sobre
esse tema não nos apontem uma definição explícita do que de fato vem a ser propósito
comunicativo, certamente devem sinalizar pistas importantes que poderão contribuir e nos
ajudar a elencar traços para uma possível definição e descrição dos propósitos comunicativos
do gênero textual.
Sousa (2005, p. 25) sobre a organização textual-discursiva dos anúncios de turismo no Ceará,
dentre outras características do gênero, analisou o propósito comunicativo, que conforme
defende “o propósito comunicativo é uma questão prioritária, decisiva na hora do
reconhecimento do gênero”. Araújo (2006), com o objetivo de desenvolver um conceito para
agrupamentos genéricos designado por ele de constelação de gêneros, dentre aspectos como a
hipertextualidade e a transmutação do gênero, elegeu o propósito comunicativo como uma
das categorias para caracterização da constelação de gêneros chats.
Partindo desse pressuposto, desenvolvemos esta pesquisa sobre o gênero textual homepage
institucional com base na análise dos propósitos comunicativos relacionados aos princípios
composicionais (valor informacional, saliência e enquadramento/framing) e aos elementos
hipertextuais do gênero, no ambiente digital. Nesse sentido, importa destacar que não
compreendemos o uso dos propósitos comunicativos como critério imediato e único na
identificação e na caracterização do gênero textual, mas como resultados de ações de
produção/elaboração que se somam para alcançar determinadas intenções, algumas mais
facilmente identificáveis e gerais, outras mais específicas, que carecem de um olhar mais
atento e analítico para que possam ser identificadas, consoante as idéias de Askehave e
Swales (2001).
Chamamos a atenção para o fato de que, conforme evidencia Biasi-Rodrigues (2007, p. 733),
os propósitos comunicativos não podem constituir-se de uma “tarefa limitada à observação do
analista”, pois de uma forma ou de outra eles sempre se farão presentes, ainda que não sejam
facilmente observáveis. E acrescentamos o fato de que, na análise dos diversos propósitos
comunicativos dos gêneros textuais digitais, diversos fatores deverão ser considerados, dentre
eles, os recursos composicionais e os elementos hipertextuais, circunscritos ao ambiente
digital.
Nesta tese, defendemos que o gênero textual é social e multimodal por natureza. Por isso,
procuramos não arredar da concepção de que o reconhecimento do propósito comunicativo
geral nos gêneros vincula-se também à identificação da funcionalidade mais geral de um
gênero. Desse modo, esse reconhecimento está diretamente relacionado à ocorrência de um
gênero em meio social, ou seja, os indivíduos identificam-no de forma sócio
comunicativamente.
Para nós, o estudo dos propósitos comunicativos gerais dos gêneros é necessário, porém não
podemos considerá-lo um critério exclusivo e suficiente de investigação e entendimento de
determinado gênero. Askehave e Swales (2001) e Swales (2004), alertam para o fato de que
se o foco da análise de um gênero for somente o propósito comunicativo geral, haverá a
exclusão de todas as outras intenções comunicativas que o produtor pretende repassar por
meio desse gênero, acarretando em uma compreensão, por sua vez, restrita e, por
conseguinte, a construção de sentido desse(s) gênero(s) analisado(s) será comprometida.
Askehave e Swales (2001; 2009) apontam que o estudo do propósito comunicativo geral
como ponto de partida para a análise de um gênero se faz importante e necessário, ainda que
não seja um critério suficiente para comportar uma identificação ampla e complexa de
gêneros. Araújo (2012) também compartilha esse pensamento. Os autores ressaltam ainda
que, na literatura linguística sobre o estudo dessa categoria linguística, há o apontamento de
que esse critério se mostra como evasivo, multifacetado e complexo.
Em outras palavras, não restam dúvidas de que esse aspecto dos propósitos comunicativos
específicos não tem ainda a prioridade necessária na identificação e análise de gêneros. O que
verificamos em relação a essas análises, seguindo a afirmação de Bisasi-Rodrigues e Bezerra
(2012, p. 232), “é que, muitas vezes, se reconhece à primeira vista um propósito do gênero,
de caráter mais geral, que permite reunir um conjunto de práticas desse gênero numa mesma
classe” e terminamos por não buscar as ações mais específicas desse gênero, pela dificuldade
de identificá-las, pela forte associação às intenções particulares de seus autores, produtores do
gênero ou os controladores de sua produção e circulação.
Reivindicamos que, para a análise do gênero, sejam analisados não somente os propósitos
gerais, mas os de ordem mais específica, que entendemos aqui como sendo aqueles que
diretamente estão relacionados ao propósito comunicativo geral, mas por sua especificidade
podem permitir ao pesquisador elencar ou esquadrinhar as ações de um gênero ou de uma
amostra de gêneros em um contexto de comunicação social e assim compreendermos o
gênero de forma mais aprofundada.
Destacamos que os propósitos comunicativos específicos não se dão aleatoriamente nem sem
a tentativa de atingir uma determinada pretensão do produtor de gêneros, apesar de
constatarmos que há pesquisadores que abordam o estudo do propósito comunicativo geral
como sendo central para a análise de gêneros, como afirmam Askehave e Swales (2009, p.
228).
Em relação a esse fenômeno aqui tratado, ressaltamos também a nossa opção pelo uso da
Nesse sentido, utilizar propósitos comunicativos específicos em nossa análise sobre o gênero
textual homepage nos parece englobar, de forma mais particular, a cadeia de propósitos
diversos que os gêneros manifestam, em vez de somente reafirmarmos os propósitos
comunicativos gerais. Compreendemos essa cadeia de propósitos com base em uma
hierarquização de intenções do gênero, em que alguns desses propósitos se tornam mais
evidentes que outros, ou seja, mais facilmente perceptíveis e explícitos.
Outro fato a ser destacado é que não podemos confundir a noção de propósitos comunicativos
específicos de um gênero, com a de intenções particulares de seus autores, embora
concordemos com os apontamentos de Biasi Rodrigues e Bezerra (2012, p. 236), ao
esclarecer que as intenções “particulares” não correspondem univocamente ao conceito de
propósito comunicativo. Cabe destacarmos que na concepção do autor os propósitos
comunicativos específicos existem, de fato “lado a lado com os propósitos “socialmente
reconhecidos”, e poderão ser mais ou menos bem sucedidas na realização de um dado
exemplar de gênero, mas diversos outros fatores deverão ser considerados”.
Em relação ao estudo das homepages institucionais, esses fatores a serem considerados vão
desde o ambiente digital, à composição textual aos elementos hipertextuais, categorias
importantes na análise desse gênero que se somam às de propósitos comunicativos. As
incursões aqui apresentadas foram necessárias na tentativa de esclarecermos que, mesmo
cientes da árdua tarefa de estabelecer os propósitos comunicativos de um gênero textual, estes
revelam-se como um critério significativo, de grande valia e que, mesmo diante de tamanhas
críticas, pode colaborar para excelentes resultados de investigação genérica da
homepage institucional ou de outros gêneros a que se pretenda.