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Ler para transgredir

No livro "Ensinando a Transgredir" de bell hooks, somos apresentados a ações e novas metodologias
para atuar em grupos, buscando criar uma comunidade pedagógica. A partir dessa perspectiva,
levando em consideração o trabalho entre educadores e visitantes de exposições, é evidente a
necessidade de revisar, entre outras coisas, o vocabulário e os conceitos tradicionalmente utilizados,
adaptando-os aos contextos locais e específicos de cada comunidade, seja ela educacional ou não.

Nesse sentido, Elaine Fontana convidou Leonardo Araújo e Janaína Machado para liderar o
programa chamado "Ler para Transgredir." O objetivo era convidar públicos ligados à educação e
curadoria a examinar quais textos de referência na área da educação eram empregados em museus
e instituições culturais na cidade de São Paulo. O grupo formado para esse trabalho realizou leituras,
análises e debates de textos com perspectivas diversas, com o intuito de rever a tradição
educacional e as novas pedagogias, colocando-as em um contexto de desconstrução e
ressignificação.

Foi possível discutir coletivamente termos, conceitos e práticas presentes na bibliografia institucional,
que muitas vezes são destacados nos diálogos com o público. Realizamos encontros consecutivos
para fomentar a diversidade de ideias e o dissenso, promovendo um espaço propício para a
expressão de visões políticas diversas.

O programa "Ler para Transgredir" foi apoiado pelo Museu Lasar Segall, em São Paulo, com a
participação de sua equipe na divulgação do programa e na coleta de textos para debate. O grupo de
trabalho formou uma agenda de leituras e promoveu discussões sobre os textos, gerando relatos e
críticas atualizadas com base nas experiências e conhecimentos do grupo, composto por 10
pessoas. Este artigo integra os registros desse grupo de leitura crítica.

A metodologia empregada no texto incluiu:

​ Revisar vocabulários e conceitos tradicionalmente utilizados, adaptando-os aos contextos


locais.
​ Convidar grupos para examinar e debater textos de referência usados em seu ambiente de
trabalho.
​ Criar uma agenda de conversas, análises e revisitas aos textos, com base nas experiências
individuais dos participantes.
​ Promover debates coletivos sobre termos, conceitos e ideias presentes na bibliografia
institucional.
​ Realizar encontros consecutivos para incentivar a diversidade de ideias e o dissenso.
​ Registrar as discussões de forma a tornar o conteúdo acessível a pessoas que não
participaram do grupo, evitando jargões exclusivos.
O trabalho de bell hooks em "Ensinando a Transgredir" serviu de inspiração para essa abordagem. A
autora enfatiza a importância de integrar teoria e prática na educação, bem como de criar uma
comunidade pedagógica que valorize a diversidade de vozes e a luta por poder e liberdade. Seu livro
contribuiu para a reflexão sobre a pedagogia engajada adotada neste programa.

Nossa pesquisa foi incorporada ao método de pesquisa-ação, que envolve a cooperação de


pesquisadores, membros da situação-problema e outros atores para abordar questões sociais e
técnicas relevantes. Observamos de que forma os textos utilizados na área de arte-educação, sob o
termo brasileiro "arte-educação," influenciavam e, por vezes, legitimam estruturas sociais
hegemônicas. Procuramos tornar palpáveis outros vocabulários e visões políticas que desafiam as
normas estabelecidas.

O ambiente público, suas formas de comunicação e a linguagem compartilhada por


educadores e profissionais da curadoria foram essenciais para nossa metodologia. "Ler para
Transgredir" surgiu a partir do levantamento de textos utilizados na área de arte-educação e se
expandiu para além da educação tradicional, incluindo grupos diversos que trabalham com o objeto
artístico e o público.

Nossa pesquisa-ação nos permitiu examinar textos de mediação não estritamente


educacionais. A partir dessa percepção, buscamos textos que fossem mais abertos à interpretação e
não se limitassem à simples observação, contextualização, análise e prática.

A pesquisa-ação "Ler para transgredir" foi realizada como um piloto no Museu Lasar Segall e
ela compreendeu algumas etapas para a metodologia: Primeiramente para elucidar a razão de
ocorrer neste museu, Museu Lasar Segall é uma instituição localizada em São Paulo, Brasil,
inaugurado em 21 de setembro de 1967, centraliza a pesquisa da obra do artista Lasar Segall, de
origem lituana e judaica, naturalizado brasileiro.
O museu foi criado dentro de bases políticas contra o racismo e qualquer forma política
totalitária. Nele trabalhei por cerca de treze anos, e também da Bienal de São Paulo, em que pude
exercer os mesmos cargos por outros treze anos, gostaria de pensar aqui justamente o caso de
museus que se tornam modelos para as instituições de arte.
Pareceu-me relevante ter o museu como local para essa iniciativa, tendo em vista a
influência que exercem sobre as práticas das instituições culturais, especialmente no que diz respeito
aos formatos de recepção de públicos e à reprodutibilidade de conteúdos históricos e no caso do
Segall a sua missão política correspondia aos desafios da proposta.
Os museus são instituições que possuem, na sua grande maioria, órgãos de regulação
nacionais e internacionais de suas práticas, e essa organização em rede de amplo espectro e
bastante poder favorece a difusão de seus modelos, imprimindo a primeira forma de como as
instituições de arte aprendem.
A chamada propôs a formação de um grupo para coletar, ler, analisar e debater textos,
considerando que o museu seria aquele que recepcionaria estes conteúdos. Foi direcionada a
educadores, curadores, mediadores, professores e interessados em revisitar a tradição educacional.
O intuito mencionado apresentava a ideia de transgressão como metodologia para encarar
os textos que circulavam nas instituições culturais. O público foi convidado a encaminhar textos para
leitura coletiva que poderiam ser de autoria dos participantes. Com os participantes que enviaram os
textos definimos uma agenda de leitura.
Os textos enviados foram informados publicamente em 16 de julho de 2017 para que outras
pessoas pudessem se interessar pelo grupo de leitura. Avalio, atualmente, que a chamada motivou o
envio de textos já na contramão da tradição.
O primeiro encontro contou com uma lista de termos que mereciam atenção na prática diária
de trabalho nas instituições culturais: São estas: transformação do outro, educação para a liberdade,
alfabetização do olhar, arte traz encantamento, visitas guiadas, visitas como única condição de
encontro com a obra, contextualização histórica.
Na primeira leitura levantamos coletivamente termos, conceitos, revisões de vocabulários
não só para tentarmos constituir uma colagem de pensamento e linguagem como exercer uma
possível rede, compartilhando interesses, discordâncias, confrontos e possibilidades. Nesse dia,
diante da seleção estabelecida no encontro anterior, optamos por começar pelo livro de bell hooks,
ativista negra e feminista, nascida nos EUA.
A discussão avançou para além do debate sobre educação como prática libertária, e abordou
as questões acerca do conceito de autoatualização, utilizado por hooks e fundado na noção de
confissão. Também foi levantada a questão do “espiritual” como parte do desenvolvimento de
aprendizagem, em detrimento do saber acadêmico tradicional.

O texto de divulgação pretendeu dizer: Vocês estão convidados a oferecerem ao grupo:


excertos, capítulos de livros, artigos ou ensaios sobre o assunto de educação não formal utilizados
por vocês nas instituições em que trabalham e também práticas pedagógicas revolucionárias da
atualidade de até 15 páginas.
Aqueles que enviarem os textos poderão optar em participar de uma reunião junto da equipe
de trabalho para a pré-seleção dos textos que serão lidos e discutidos publicamente. A partir dos
textos escolhidos, será feita divulgação ao público, informando os textos selecionados e o dia do
encontro. Continua…

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