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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: Metodologia do Ensino de História - MEN 7005
PROFESSORA: Luíza Vieira Maciel
ALUNO: Victor Wollinger da Cunha

OFICINA 1:
Análise de documento de proposta curricular (Parâmetros Curriculares
Nacionais – História- anos finais do Ensino Fundamental)

1. Documento para análise:

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. ​Parâmetros curriculares nacionais :


história /Secretaria de Educação Fundamental​. Brasília : MEC /SEF, 1998. 108 p.

2. Escrevam um texto breve tendo por base os três eixos de análise propostos
por Sônia Kramer (1997) para a análise de um currículo (sobre os autores/as da
proposta; sobre o texto da proposta; sobre os/as leitores/as a que se destina);

Kramer, em seu texto “Subsídios para uma leitura crítica das propostas
pedagógicas”1, aponta a necessidade de análise crítica dos currículos escolares para
que se objetive efetivamente a construção de parâmetros curriculares que levem em
conta a complexidade social que este deve abarcar em seu horizonte de
transformação. Para tal, aponta três principais critérios que devem ser observados para
efetivar a análise: o autor, os leitores objetivados e a obra em si.
Sobre os autores, deve-se observar sempre os sujeitos e categorias sociais que
participaram da produção - e aquelas/os que não foram convidadas/os a participar. Isso
envolve pensar se profissionais da educação básica, cientistas, pedagogas/os e outras
categorias fundamentais da educação participaram do processo de criação do texto, e
se foi respeitada a trajetória de construção de propostas curriculares construídas até
então - considerando que a educação e as propostas curriculares devem ser

1
KRAMER, Sonia. ​Subsídios para uma leitura crítica das propostas pedagógicas​. Educação &
Sociedade, ano XVIII, nº 60, p. 15 – 35, 1997.
historicizadas, analisadas através do tempo, e ponderadas com as novidades trazidas
sem um pensamento mecânico de “superação pela superação”.
Sobre o texto da proposta de currículo, a autora afirma que o mais importante é
compreender que a proposta curricular não é um fim em si e nem um lugar
pré-determinado: ela é um caminho, uma orientação geral que deve levar em conta as
condições de aplicabilidade no ensino básico regular, seu referencial teórico, político e
pedagógico, seus objetivos e sua maneira de lidar com as problemáticas das
realidades escolares, além de questionar as formas de inclusão da criança ao universo
escolar.
Por fim, Kramer traz ao centro do debate sobre os leitores que se busca
alcançar na construção de uma proposta de currículo: considerando que a escola é
feita de todos os sujeitos que a constroem e a vivem diariamente (estudantes,
professores, funcionários, pais), deve-se cuidar com a apresentação do conteúdo. É
fácil, segundo a autora, trazer uma proposta mecânica de fora para dentro da escola,
com vocabulário rebuscado e pouco acessível (ou “pedagogês”, como denomina), mas
pouca serventia tem; o difícil é levar em conta os anseios, os sonhos dos sujeitos
sociais que constroem o ambiente escolar em questão, apresentar caminhos para
estes sonhos e propostas de inclusão da própria comunidade no debate sobre o
currículo escolar. É este desafio que Kramer aponta, ele se mostra grande ao
apresentar questionamentos basilares para que os educadores pensem a educação
como projeto em constante construção, aliada às complexidades presentes na
totalidade social que envolve as realidades escolares nos mais diferentes locais do
Brasil.

3. Comentem o que o texto selecionado coloca para o ensino de História


(exemplo: definição de História; de conhecimento histórico escolar; dos
objetivos do ensino de História; da seleção e organização do conteúdo; das
metodologias sugeridas; etc)
O texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de história é
dividido em duas partes: na primeira, fazem-se presentes diferentes caracterizações e
concepções do ensino de História no Brasil através do tempo - ou seja, historiciza-se o
conceito trazido para dentro do ensino escolar - e diferentes abordagens
teórico-metodológicas em volta de sua aplicação. Na segunda parte são trazidas
problemáticas fundamentais para se pensar o ensino de História no Brasil
considerando-se a gama de possibilidades e a alta complexidade da sociedade
brasileira, levando-se em conta as condições sociais e culturais do país e dos
diferentes locais dentro deste.
A primeira parte do texto traz um levantamento historiográfico do tema e
importantes questionamentos sobre academia, escola e sociedade, levando em conta
os diferentes saberes, o uso da História como catalisador de mudanças sociais (e
também potencial perpetuador de estruturas de poder e preconceitos), além da
interdisciplinaridade. Pensar diferentes abordagens da História, incentivar o
pensamento crítico, trabalhar com as fontes - e aprender a questioná-las - , perceber as
diferentes formas de se pensar o tempo e a sociedade levando em conta costumes,
valores culturais, religiosidade e classe social são algumas das finalidades tidas como
fundamentais para o ensino escolar dessa área.
O texto traz, portanto, uma grande variedade de temas e abordagens para
serem trabalhados, e não fecha as portas para novas possibilidades: é, na verdade, um
texto que trata o ofício do historiador com grande respeito, levando em conta as
diversas formas de se apresentar os conteúdos e de fazer com que os alunos
percebam-se como sujeitos históricos em uma sociedade em movimento.

4. Identifiquem quais as concepções a respeito dos saberes docentes ali


implicadas, destacando se estão baseadas em uma perspectiva na qual os
professores são compreendidos como transmissores de saberes, tal qual
implícito no conceito de transposição didática (Chevalard, 1991) ou como
produtores/mediadores de saberes, tal qual proposto no conceito de mediação
didática (Lopes, 1997);

De acordo com os PCNs, o professor deve ser o agente possibilitador das trocas
de conhecimento, mediador entre o estudante, o conteúdo estudado e o mundo à sua
volta, garantindo assim que os alunos se apropriem de conceitos, noções e métodos de
forma que possam utilizá-los em sua realidade. Esta compreensão passa por perceber
que o historiador está sempre em construção e em movimento junto ao mundo, e que
pensar o mundo historicamente passar por perceber-se enquanto sujeito histórico e
capaz de transformá-lo. A tarefa do professor é, portanto, transmitir saberes críticos e
formas de articular e organizar a análise, para então atuar como mediador na tarefa de
autopercepção e de percepção do outro que o estudante assume ao se apropriar dos
conhecimentos, métodos e conceitos.

5. Pontuem e analisem as perspectivas de trabalho em torno das questões


étnico-raciais propostas pelo documento, tendo atenção especial ao uso do
termo “diversidade” e “tolerância”.

Os PCNs trazem, em seu texto, perspectivas de trabalho sobre questões


étnico-raciais que se iniciam já na importante caracterização da chamada “teoria da
democracia racial” como construção utilizada para a manutenção das estruturas de
poder social e racial no Brasil, alimentando uma noção de que o Brasil não seria um
país racista. Esta caracterização é fundamental para que percebamos a História (como
grande área e como disciplina escolar) com o produto de seu tempo e das relações de
poder e disputas de narrativa. O termo “diversidade” por sua vez, é utilizado de forma
ampla, abarcando cultura, gênero, sexualidade, etnia, raça e religião, compreendendo
as grandes diferenças que existem no Brasil e no mundo para cada uma destas
características.
Junto à diversidade encontra-se a “tolerância”, termo remetente ao respeito às
diferenças e à aceitação do outro como diferente. Tal exercício está diretamente
relacionado a pensar a escola como ambiente de separação e de diferenciação dos
conceitos, algo ligado à compreensão de que a sociedade não é estanque, é dinâmica
e contraditória - e tais contradições transparecem, é claro, em sala de aula.
O professor deve estar preparado para trazer para a sala de aula temas que
envolvem o cotidiano dos estudantes, que os fazem questionar sua própria realidade e
não naturalizar relações de desigualdade e injustiça social, racial, sexual, etc. A
promoção da tolerância, portanto, não passa por apresentar o mundo como “local de
iguais e da igualdade”, mas mostrar a grande variedade de formas de ser, pensar e
agir, e ensinar a importância da convivência com o diferente, o ​outro​, e de perceber
que todas as pessoas possuem história e historicidade.

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