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Ato Institucional.”
Capa do jornal Última Hora, 14 de dezembro de 1968, um dia depois da instauração do AI-5
INTRODUÇÃO
Não foi fácil fazer este trabalho. Precisei encontrar fontes que jamais imaginei
que consultaria, e em lugares que jamais pensei que as encontraria. São apresentados,
aqui, documentos que tratam de algumas das últimas manifestações estudantis antes da
instauração do Ato Institucional Nº 5, que cerceou o direito à liberdade de forma brutal
no Brasil, e representou um retrocesso que jamais havia sido visto na história recente de
nosso país - e que, espera-se, jamais torne a acontecer.
A pergunta que eu quis responder com este trabalho foi: o que aconteceu
ANTES do AI-5? O povo ficou quieto? Deixou que os primeiros quatro anos de regime
militar ocorressem sem resistência? A resposta, obviamente, é não. Diversos setores da
sociedade brasileira se revoltaram de forma veemente contra o terrorismo de estado que
se desenvolvia, até o momento, a passos mais lentos, embora igualmente pesados. Mas,
dentro do movimento estudantil – ao qual eu, Victor Cunha, pertenço ativamente nos
dias de hoje -, como se deu essa resistência?
Para encontrar a resposta a estas perguntas, foi necessária ampla bibliografia
digital e impressa: arquivos de jornais, relatos jornalísticos de antigos militantes, artigos
acadêmicos sobre o ano de 1968 e até artigos panfletários de partidos políticos de
esquerda.
Meu objetivo maior com este trabalho é oferecer uma leve lembrança das lutas
que a juventude brasileira precisou travar diante de uma ditadura militar para que
tivesse, também, um espaço para sua revolução cultural, como ocorria, ao mesmo
tempo, na Europa. O 1968 brasileiro foi, assim como o francês, conturbado e explosivo
para as juventudes universitárias e secundaristas. A diferença é que estávamos em uma
América Latina pobre, assolada por ditaduras militares e pela hegemonia norte-
americana.
Por fim, àqueles que se atreverem a ler esse breve artigo, só peço uma coisa:
NÃO ESQUEÇAM. A liberdade e o direito à manifestação devem ser protegidos a todo
o custo, pois, como as páginas a seguir mostrarão, pessoas lutaram aguerridamente por
esses direitos. E pessoas morreram por eles. Às vezes sem nem saber que estavam
lutando.
CONJUNTURA INTERNACIONAL DOS PROTESTOS ESTUDANTIS DE 1968
ACABOU A GRAÇA
Dias depois, na missa de sétimo dia pelo estudante, ficou mais claro o processo
de radicalização política pelo qual estavam passando os confrontos entre estudantes e
forças policiais, quando, na missa da tarde, os pelotões de cavalarias atropelaram os
presentes, e os soldados montados partiam para cima dos estudantes com sabres
desembainhados. A repressão sintetizou a atitude de Costa e Silva diante de
manifestações estudantis. Gradativamente, a violência foi aumentando, culminando no
dia 19 de julho, a chamada “quarta-feira sangrenta”.
***
... o CCC se utilizava de fuzis e armas exclusivas das Forças Armadas contra a massa estudantil.
Com essa oratória José Dirceu conseguiu pôr a maioria dos assistentes em
posição de passeata. Estavam todos atordoados, não sabiam nem ao menos o nome da
vítima. Às 3 horas e meia da tarde, uma janela se abriu no prédio da USP, e através dela
um aluno gritou: "Estão contentes? Vocês já mataram um". Logo a atenção tornou a
voltar-se para a pontaria das pedradas, que continuaram mesmo depois de oitocentos
estudantes e apoiadores da USP saírem em passeata pela cidade.
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Capa da revista Veja de 09 de outubro de 1968, que fez matéria cronológica sobre os ocorridos
na Rua Maria Antônia