Você está na página 1de 7

Professora Jessica Ferraz – Conhecimentos Pedagógicos/Fundamentos da Educação

CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS/TENDÊNCIAS
PEDAGÓGICAS/TEORIAS PEDAGÓGICAS
As tendências/concepções pedagógicas são um conjunto de
pensamentos de filósofos e autores que falam de como educação é
compartilhada (PITÁGORAS, 2020).
Elas estão divididas em dois grupos, de acordo com os seus objetivos e
crenças, principalmente no que tange ao comportamento do professor e do aluno
e na maneira que se comprometem com a sociedade. O primeiro grupo, não
crítico, chamado também de liberal. O segundo grupo, crítico, chamado
também de progressista.
As concepções não críticas ou liberais não tem um compromisso de
mudança social, a maioria inclusive visa uma educação que mantém a sociedade
do jeito que está, há reprodução de conhecimento, repetição na prática
educativa. Fazem parte das tendências liberais: o tecnicismo, o ensino
tradicional e a escola nova (progressivista/diretiva e não-diretiva). Para essas
abordagens o professor transmitia conhecimento aos alunos, ele deveria agir de
maneira que os alunos pensassem como ele. O aluno era visto como um sujeito
passivo, que ao receber o conhecimento na escola iria adaptar-se à sociedade.
Já as teorias pedagógicas críticas ou progressistas pensam em uma
educação como meio de transformar a sociedade. Fazem parte desse grupo a
Pedagogia Libertadora, a Pedagogia Libertária e Pedagogia Crítico Social dos
Conteúdos/Histórico Cultural.

TENDÊNCIA TRADICIONAL
A tendência tradicional, de acordo com Saviani (1989), seria um antídoto
contra a ignorância e integraria as pessoas à sociedade capitalista com a
transmissão de conhecimentos que as moldassem a ela.
Essa tendência acredita que a aprendizagem é inata, que todos nascemos
com aptidões e dons que podem ser desenvolvidos naturalmente ao longo da
vida. A educação e o ensino apenas aprimorariam o que o indivíduo já trouxe
consigo no nascimento. A avaliação, através da memorização, valorizava os
aspectos cognitivos, cobrando dos alunos a reprodução do que o professor havia
transmitido a eles. Punições, notas baixas, competição, eram meios utilizados
para estimular a aprendizagem (reforço negativo) (SUHR, 2012).

1
Professora Jessica Ferraz – Conhecimentos Pedagógicos/Fundamentos da Educação

De acordo com Libâneo, para a pedagogia tradicional “Os conteúdos


eram conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e
repassados ao aluno com verdades” (1990, p. 23-24).
Contudo, a tendência tradicional a compreendia a escola como
instrumento para adaptação dos sujeitos à sociedade capitalista, o aluno era visto
com uma tábula rasa que precisava ser preenchido com os conhecimentos
transmitidos como verdades absolutas pelo educador. O objetivo principal desse
modelo de escola era preparar intelectual e moralmente, de maneira rígida, os
alunos.

TENDÊNCIA TECNICISTA
No Brasil essa tendência ganhou força durante a ditadura militar e visava
uma escola “com lógica de empresa, tornando-a mais eficaz e produtiva”
(SUHR, 2012, p. 103). Além disso, o principal papel da escola seria formar mão
de obra necessitada para o mercado de trabalho.
Essa tendência visa a formação dos indivíduos em “profissionais
desejados e aptos para produzir de maneira eficiente numa sociedade industrial
e tecnológica” (SUHR, 2012, p. 103).
De acordo com Libâneo, o condicionamento operante de Skinner foi um
caminho escolhido por essa tendência.
Os conteúdos desenvolvidos seguiam princípios, leis, informações,
organizados em uma sequência lógica e psicológica, ordenada e estabelecida
por especialistas (GAZIM, et. al, 2005, p. 44). O professor era um técnico que
transmitia e administrava os conteúdos que eram determinados fora do ambiente
escolar.
No ensino dessa concepção pedagógica era precisa ter o controle dos
resultados, então aulas dialogadas, reflexões eram desnecessárias, porque não
se vislumbrava a formação crítica.
A avaliação era de cunho quantitativo, por meio de testes e provas e ao
final do período. As respostas deviam reproduzir as falas dos professores, livros
e apostilas.
A relação entre professor e aluno era vertical. O professor transmitia o
conteúdo segundo as técnicas e os especialistas, os alunos eram seres passivos
que deviam assimilar o que era ensinado sem questionar.

2
Professora Jessica Ferraz – Conhecimentos Pedagógicos/Fundamentos da Educação

ESCOLA NOVA
A concepção Escola Novista surge para resolver problemas que são da
sociedade como um todo e que não estavam sendo sanados pelo ensino
tradicional. De acordo com Saviani, essa concepção vem “da crença no poder
da escola e em sua função de equalização social” 1989, p. 19).
Todavia, ela não surge em uma única vertente, mas em duas: uma
diretiva (progressivista) e uma não diretiva.
A vertente diretiva/progressivista continua vendo a escola como um
meio de adequar as pessoas à sociedade instaurada. O que muda de acordo com
Libâneo é que a escola deve “adequar as necessidades individuais ao meio social
e, para isso, ela deve se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida”
(1990, p. 25).
Na concepção diretiva, o aluno trazia conhecimentos consigo à escola e
ela deveria estimulá-lo através de práticas diversas a construir conhecimento.
Essas práticas deveriam estar relacionadas com a vida social para que o aluno
fosse incorporando os interesses sociais vigentes. Viver democraticamente na
sala de aula ajudaria a construir uma sociedade pautada na democracia.
Os conteúdos, na vertente diretiva, deveriam partir do que interessava os
alunos e das vivências deles. Montessori foi uma estudiosa dessa vertente e, de
acordo com ela, os conteúdos deveriam ser problematizados pelo professor
junto aos alunos para que eles resolvessem coletivamente os problemas (dessa
maneira despertaria o trabalho grupal, o aprendizado pela prática dele).
O método de ensino diretivo compreende “a pesquisa, a descoberta, o
estudo do meio natural e social, a solução de problemas” (LIBÂNEO, 1990, p.
25). Era necessário diversificar os recursos didáticos.
A relação professor e aluno na concepção diretiva mudou. O professor
organiza o trabalho pedagógico ao mesmo tempo que dá condições aos alunos
de aprender, aprendizado esse que será construído pelo aluno através das
relações com os outros colegas e da vivência grupal.
Não há rigidez disciplinar, mas uma negociação em grupo sobre como
devem ser as regras para que o ambiente se mantenha em harmonia.
Na pedagogia diretiva a concepção de aprendizagem é o interacionismo
construtivista de Piaget. Assim, a avaliação servia para acompanhar o processo

3
Professora Jessica Ferraz – Conhecimentos Pedagógicos/Fundamentos da Educação

de aprendizagem e os aspectos qualitativos começaram a ser levados em


consideração (atitudes, comportamento, responsabilidade, participação).
A vertente não-diretiva vê a escola como um meio de preparo dos
indivíduos para a vida em sociedade, porém isso aconteceria através do
“autodesenvolvimento e da realização pessoal” (SUHR, 2012, p. 99).
Na concepção não-diretiva o professor deve sensibilizar os alunos,
ajudá-los na sua organização, sem cerceá-los. Por isso que se diz não-diretiva,
tendo em vista que o processo pedagógico (o ensino) não era o principal, mas
sim valorizar e respeitar aspectos psicológicos dos sujeitos (LIBÂNEO, 1990,
p. 227).
Um dos principais estudiosos dessa tendência é Carl Rogers, que
defendia a ideia de que educar bem seria desenvolver integralmente o aluno, seu
autodesenvolvimento, sua realização pessoal. Educação de qualidade era como
uma boa sessão de terapia para Rogers.
Na tendência não-diretiva os conteúdos não eram relevantes. Era
necessário que os alunos tivessem a oportunidade de estudar por si próprios,
pensando sempre que o autodesenvolvimento é uma de suas crenças.
O método de ensino deveria facilitar a aprendizagem do aluno. O
professor não transmitia conhecimento, mas deveria compreender sobre as
relações humanas e interpessoais.
Aprender é algo pessoal, depende do que o sujeito compreende de si e
do mundo, e vai ser construído através do que vive e experiencia.
Autoavaliar-se é o meio mais adequado nessa vertente. Instrumentos
como pesquisas, trabalhos em grupo e que possibilitem ao aluno o aprender
fazendo.

TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA


Talvez a mais conhecida e importante da educação brasileira, tem em
Paulo Freire seu maior autor e disseminador. Acredita que a educação serve para
a transformação da sociedade, libertar oprimidos, é um meio de ampliar a visão
de mundo dos sujeitos e de permitir que todos possam dizer a sua palavra.
Para essa vertente a educação é um ato político, tendo em vista que visa
a conscientização e a autonomia das pessoas para que juntas modifiquem a
realidade, tornando-a mais justa e igualitária.

4
Professora Jessica Ferraz – Conhecimentos Pedagógicos/Fundamentos da Educação

Educador e educando mantém uma relação próxima e ambos aprendem


um com o outro. É importante que o professor estimule a problematização da
realidade, tendo em vista o papel social da escola.
Paulo Freire traz que a educação deve envolver problematização e ser
um ato dialógico entre professores e alunos. Por isso grupos de discussão,
debates permeiam o ato pedagógico.
Os conteúdos na tendência libertadora são temas geradores que vêm da
vivência dos alunos. A avaliação vem das observações, da autoavaliação e de
produções escritas. A aprendizagem muda o comportamento e a ação das
pessoas.

TENDÊNCIA LIBERTÁRIA
Tem ligação com o anarquismo que visava um processo de emancipação
dos indivíduos e a necessidade de um movimento revolucionário que
combatesse as formas de poder instituído (SUHR, 2012, p. 141).
Essa concepção pensa numa escola que transforma personalidades para
a autogestão e o sentimento libertário. Não aceita mandos e desmando do Estado
na educação.
Não há uma cobrança de conteúdo, apesar de os mesmos ficarem
disponíveis aos alunos. O que importa na concepção libertária são os
aprendizados conquistados a partir das vivências e atividades grupais e da
participação crítica (LIBÂNEO, 1990).
O método da tendência libertária está baseado na autogestão, vivência
grupal e na tomada de iniciativa dos sujeitos. Atividades como reuniões,
debates, eleições, são algumas maneiras de desenvolver o método.
A relação entre aluno e professor é livre. Professor orienta e catalisa as
informações junto com os alunos e participa com eles durante de todos os
processos. Não é desejável que o professor interfira no processo de maneira que
coaja, iniba, ameace os alunos.
Não há uma avaliação formal estabelecida, acredita-se na resolução de
problemas e situações concretas. A aprendizagem constrói-se a partir da
motivação individual e do crescimento com as vivências em grupo.

PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA

5
Professora Jessica Ferraz – Conhecimentos Pedagógicos/Fundamentos da Educação

Compreende a realidade como dialética: a educação pode favorecer a


conscientização como pode contribuir com a manutenção das relações sociais
existentes.
Para essa vertente, a escola precisa disseminar os conhecimentos e
saberes estabelecidos, principalmente para os mais pobres. Os conteúdos são
muitos importantes, porque são “aqueles historicamente acumulados pela
humanidade e reavaliados em face das realidades sociais” (difere da tradicional
que reproduz conteúdos de livros e enciclopédias) (SUHR, 2012, p. 155). Os
conteúdos são escolhidos de acordo com sua importância para a prática social.
A relação entre professor e aluno deve manter a interatividade, porque
ambos participam do processo de ensino e de aprendizagem. O professor precisa
de uma capacidade técnica para que consiga ensinar, avaliar, ao mesmo tempo
que tem um compromisso político. Já o aluno é ativo e participativo na
aprendizagem, deve demonstrar interesse.
A metodologia estabelece relação entre os conhecimentos prévios do
aluno e o conhecimento teórico, sendo que o professor faz a mediação do
processo de aprendizagem. Esse método segue alguns passos (SUHR, 2012):
• Prática social: onde tudo inicia, o professor por ter um
conhecimento mais elaborado media o processo de
aprendizagem levando em consideração aquilo que o aluno já
sabe. Ambos aprendem, tendo em vista que o professor não sabe
tudo e refina seus conceitos.
• Problematização: Identificar os problemas da realidade e que
conhecimentos serão utilizados para solucioná-los. Aqui o aluno
vai detectar o que ainda não construiu de aprendizados e que fará
falta para resolução dos problemas.
• Instrumentalização: Chegada do novo conhecimento, em que os
alunos podem verificar o que ainda não sabiam a partir dos
conceitos e teorias. Esses conhecimentos vão contribuir com as
práticas sociais.
• Catarse: momento em que o aluno se apropria do novo
conhecimento e leva consigo para suas interpretações e
vivências.

6
Professora Jessica Ferraz – Conhecimentos Pedagógicos/Fundamentos da Educação

• Prática social: o aluno leva os conteúdos aprendidos, o


conhecimento construído para a prática, buscando transformar a
realidade.
A avaliação na concepção histórico-crítica é contínua, permanente e
diagnóstica. Diz para o professor os aprendizados dos alunos, o que ainda não
foi construído e o que precisa ser alterado na prática docente.

LIBERAIS PROGRESSISTAS

TRADICIONAL
LIBERTADORA
TECNICISTA
LIBERTÁRIA
DIRETIVA/PREGRESSIVISTA
HISTÓRICO-CRÍTICA
NÃO-DIRETIVA

REFERÊNCIAS
GAZIM, E. C. B. B. et. al. Tendências pedagógicas brasileiras: contribuições
para o debate. Revista Charão da Escola, Curitiba, n. 4, p. 41-52, out. 2005.

LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social


dos conteúdos. 9 ed. São Paulo: Loyola, 1990

SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara,


onze teses sobre educação e política. Campinas: Autores Associados, 1989.

SUHR, I. R. F. Teorias do conhecimento pedagógico. Curitiba: InterSaberes,


2012.

Você também pode gostar