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Práticas pedagógicas na

educação básica do Brasil:


o que evidenciam as pesquisas em educação
Práticas pedagógicas na
educação básica do Brasil:
o que evidenciam as pesquisas em educação

Patrícia Albieri Almeida


Gisela Lobo Tartuce
Bernardete A. Gatti
Liliane Bordignon de Souza
Setor de Educação da UNESCO Agenda Mundial da Educação 2030
A educação é a prioridade número 1 da UNESCO, porque A UNESCO, no papel de agência especializada das
se trata de um direito humano básico e é o alicerce para Nações Unidas para a educação, está encarregada de
a construção da paz e a impulsão do desenvolvimento liderar e coordenar a Agenda 2030 para a Educação, a
sustentável. A UNESCO é a agência especializada das qual faz parte de um movimento global para erradicar a
Nações Unidas para a educação, e seu Setor de Educação pobreza por meio de 17 Objetivos de Desenvolvimento
assume liderança global e regional em educação, fortalece Sustentável (ODS) até 2030. A educação, essencial
sistemas educacionais nacionais e responde a desafios para o cumprimento de todos esses objetivos, tem
globais contemporâneos por meio da educação com foco seu próprio ODS, o de número 4, que visa a “assegurar
especial na igualdade de gênero e na África. a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da
vida para todas e todos”. O Marco de Ação da Educação
2030 fornece orientações para a implementação desses
ambiciosos objetivos e compromissos.

Publicado em 2021 pela Organização das Nações Unidas para a Coordenação técnica da Representação da UNESCO no Brasil:
Educação, a Ciência e a Cultura, 7, place de Fontenoy, 75352 Paris Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante
07 SP, França, e pela Representação da UNESCO no Brasil, em Maria Rebeca Otero Gomes, coordenadora do Setor de Educação
cooperação com o Ministério da Educação (MEC) e a Fundação
Carlos Chagas (FCC). Revisão técnica: Wagner Santana e Setor de Educação
da Representação da UNESCO no Brasil
© UNESCO 2021
Revisão gramatical e ortográfica: Marina Mendes
Revisão editorial: Unidade de Publicações da
Representação da UNESCO no Brasil
Diagramação: Raruti Comunicação e Design Ltda.
ISBN: 978-65-86603-20-0 Imagem de capa: © Shutterstock
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deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por
parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país,
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delimitação de suas fronteiras ou limites.

As ideias e opiniões expressas nesta publicação são as dos


autores e não refletem obrigatoriamente as da UNESCO nem
comprometem a Organização.

BR/2021/PI/H/9
Esclarecimento: a UNESCO mantém, no cerne de suas prioridades, a promoção da igualdade de gênero, em todas as suas atividades
e ações. Devido à especificidade da língua portuguesa, adotam-se, nesta publicação, os termos no gênero masculino, para facilitar a
leitura, considerando as inúmeras menções ao longo do texto. Assim, embora alguns termos sejam escritos no masculino, eles referem-
se igualmente ao gênero feminino.
A Marli André (in memoriam), que participou
da idealização desta pesquisa e contribuiu
com as discussões iniciais. Ela fez uma falta
enorme no processo de análise e discussão
dos dados. Agradecimentos e saudades.
Agradecimentos

Expressamos nossos agradecimentos a Luciana Palhares de Souza, pela colaboração no processo de


levantamento dos dados, a Wagner Santana e ao prof. dr. Célio da Cunha, pela leitura atenta do documento
final. Agradecemos também o Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, pelo
apoio constante durante a realização da pesquisa.

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Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

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Resumo
O objetivo deste estudo é investigar como as pesquisas científicas produzidas e publicadas no
Brasil, no período 2008-2018, abordam e descrevem práticas pedagógicas relativas à educação
básica. A intenção é evidenciar práticas que mostraram alternativas pedagógicas diferenciadas e
que têm potencial para se tornarem referência na formação inicial e continuada de professores(as)
que atuam ou atuarão nesse nível de ensino. Para tanto, a metodologia da pesquisa incorpora
pressupostos de elaboração de um estado do conhecimento sobre práticas pedagógicas, ainda que
não o seja estritamente, sendo complementado por procedimentos de construção de metanálise.
O levantamento bibliográfico foi feito com os descritores “práticas pedagógicas” e “boas práticas”,
na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e no Scientific Eletronic Library Online
(SciELO). O corpus de análise constituiu-se de 28 teses e 24 artigos, evidenciando que há poucos
estudos no país que abordam a temática com detalhamento concreto, o que justifica sua relevância.
Os resultados apontam que são poucas as pesquisas, no Brasil, que apresentam alguma conceituação
de prática pedagógica, bem como relatos detalhados e comentados de práticas docentes encontradas
nas escolas. Tanto a conceituação quanto o relato de práticas, em vários estudos, aparecem de forma
implícita ou subjacente. No conjunto das pesquisas foram identificadas duas modalidades de práticas:
(i) aquelas relativas à atuação do professor com os seus alunos; e (ii) aquelas que dizem respeito ao
trabalho com os seus pares e ao seu próprio desenvolvimento profissional. As práticas relativas à
atuação do professor com os seus alunos foram as mais estudadas, especialmente aquelas que dizem
respeito à gestão dos aprendizados e da classe, porém com maior ênfase na primeira. Há achados
derivados das análises realizadas nesta pesquisa que podem ser considerados por parte das políticas,
dos gestores, instituições formadoras e seus docentes, no que se refere ao seu papel em relação à
formação inicial e continuada em geral, e às práticas pedagógicas em particular.

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Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

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Lista de quadros

Quadro 1: Grupo 1 – Descritor mestre práticas pedagógicas e descritores secundários 29


Quadro 2: Grupo 2 – Descritor mestre boas práticas e descritores secundários boas práticas 29
Quadro 3: Processo de triagem das teses 30
Quadro 4: Relação das teses selecionadas por data com identificação da revista, autores,
instituição de vínculo do(s) autor(es), região, título e temática 30
Quadro 5: Processo de triagem dos artigos 34
Quadro 6: Relação dos artigos selecionados por ano, com identificação da revista, autores,
instituição de vínculo do(s) autor(es), região, título e temática 34
Quadro 7: Dados dos artigos em relação à metodologia de pesquisa 42
Quadro 8: Dados das teses em relação à metodologia de pesquisa 48

Lista de figura

Figura 1: Dimensões e categorias de análise 66

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Sumário

Apresentação ..........................................................................................................................12

I. Introdução.............................................................................................................................15

1. Por que pensar nas práticas pedagógicas.....................................................................15

2. Formação para a docência e a prática pedagógica......................................................18

II. Objetivos da pesquisa e metodologia...............................................................................25

1. Procedimentos da investigação....................................................................................25

2. Delimitação do campo de estudo e descritores...........................................................26

3. Seleção das teses de doutorado e dos artigos.............................................................29

4. Processo de análise do corpus constituído...................................................................37

III. Apresentação e análise dos resultados............................................................................39

1. Descrição das características dos artigos.....................................................................39

2. Descrição das características das teses de doutorado................................................46

3. Objetivos de pesquisa dos artigos analisados e referencial teórico..........................53

4. Objetivos de pesquisa das teses de doutorado analisadas e referencial teórico.........57

5. Práticas pedagógicas e seu conceito no conjunto dos artigos e


das teses analisados.......................................................................................................60

6. Sistematização das práticas que ressaltam dos artigos e das teses de doutorado...65

6.1. Atuação do professor com os seus alunos.................................................................................65

6.1.1. O que dizem as pesquisas sobre a prática do planejamento....................................................67

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6.1.2. A gestão dos aprendizados ..........................................................................................................................71

• Construção de sentidos e motivação .........................................................................................................72

• Valorização dos conhecimentos prévios e contribuições dos alunos ..................................79

• Estímulo ao pensamento criativo...................................................................................................................85

• Problematização, elaboração e consolidação de conceitos científicos ................................90

• Atenção aos ritmos de aprendizagem e às necessidades dos alunos ..................................96

• Avaliação e consolidação da aprendizagem ..................................................................................... 103

6.1.3. A gestão da classe ............................................................................................................................................ 113

• Promoção de um clima de aula pautado em relações de confiança e respeito ................113

• Organização do espaço da classe e das interações ....................................................................... 121

• Criação de uma rede comunicativa na sala de aula ...................................................................... 125

6.2. Atuação com os pares e o desenvolvimento profissional.................................................. 128

6.2.1. Saberes profissionais........................................................................................................................................ 129

6.2.2. Reflexão sobre a prática................................................................................................................................. 132

6.2.3. Trabalho colaborativo...................................................................................................................................... 134

7. Entrelaçando fios: didática e práticas pedagógicas...................................................138

IV. Conclusões e recomendações..........................................................................................143

Referências bibliográficas....................................................................................................151

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Apresentação

Enquanto, em 2015, o Brasil e um conjunto expres- toda espécie e a um elevado custo emocional, em
sivo de países assumiram o compromisso de ga- um ambiente cercado de incertezas.
rantir uma educação inclusiva, equitativa e de qua-
lidade para todos até 2030, tal como expresso no Assim, esse grupo profissional, que é alvo frequente
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (ODS de tantas críticas, muitas vezes sem que lhe sejam
4), em 2020, o mundo foi profundamente abalado garantidas as condições adequadas para a sua
pela pandemia da COVID-19. A promessa e a espe- formação inicial e continuada, carreira, valorização
rança que, juntos, abraçamos em 2015, se viram, e exercício da profissão, demonstrou mais uma vez
assim, seriamente ameaçadas. Bilhões de estudan- que não é substituível por máquinas eficientes,
tes e milhões de professoras e professores foram aparatos tecnológicos de última geração ou
subitamente afastados de seus ambientes de en- familiares muito bem-intencionados e amorosos,
sino e aprendizagem, ao mesmo tempo em que mas sem a formação pedagógica adequada.
desigualdades se aprofundaram e oportunidades
e sonhos foram ceifados. Os impasses e as deman- A UNESCO, desde a sua criação, em 1945, nunca
das colocados à garantia do direito à educação teve dúvidas em relação à importância da ga-
cederam lugar a um novo e inesperado capítulo, rantia do direito à educação para a construção
que talvez poderia ser chamado de “os desafios da de um mundo mais justo e solidário, da mesma
educação escolar sem escolas”. forma como nunca teve dúvidas quanto ao pa-
pel central e basilar dos docentes para a efetiva-
Em meio ao colapso sanitário, econômico e social ção desse direito. Assim, a agenda das políticas
que se seguiu à pandemia, ainda que as escolas docentes sempre ocupou um lugar proeminen-
permanecessem fechadas, estudantes e famílias te nas ações da UNESCO no campo educacional
não estavam sem professoras e professores. Ao em todo o mundo, por meio da produção de
menos naqueles lugares em que a pobreza e a estudos e pesquisas, da elaboração e discussão
vulnerabilidade extrema não inviabilizaram por em âmbito global de documentos referenciais
completo a construção de alternativas de ensino e normativos, apoio à formulação e à imple-
remoto, os docentes reinventaram suas práticas mentação de políticas voltadas aos docentes e
pedagógicas, improvisaram de forma criativa, inúmeras outras iniciativas de valorização e re-
estenderam suas jornadas laborais e reforçaram os conhecimento desses profissionais.
laços com as famílias e as comunidades. Tudo isso
foi possível somente porque esses profissionais É nesse contexto que se insere esta publicação, que
assumiram novas responsabilidades e reafirmaram é a quarta que desenvolvemos junto à Fundação
o compromisso de fazer o possível para não deixar Carlos Chagas (FCC), parceiro fundamental e que
ninguém para trás, mesmo em meio a perdas de também é responsável pela gestão e pelas ativida-

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des da Cátedra UNESCO sobre Profissionalização Ou seja, o conhecimento sobre as práticas
Docente. Essa parceria é fruto do reconhecimento, pedagógicas é um elemento basilar da formação
pela Representação da UNESCO no Brasil, da contri- inicial e continuada dos docentes na sua tarefa
buição relevante e destacada da FCC para os estu- cotidiana e, ao mesmo tempo, civilizatória, de
dos educacionais no Brasil e, em particular, sobre a contribuir para a formação de cidadãos em uma
condição docente no nosso país. perspectiva humanista e democrática.

Enquanto a primeira publicação desta parce- Com esta publicação, mais uma vez, a UNES-
ria se dedicou à formação inicial e continuada CO reforça o seu compromisso com a educação
dos docentes brasileiros, e a segunda buscou brasileira. Neste momento em que atravessamos
construir um estado da arte para as políticas mais uma crise global e vamos desenhando e im-
docentes no Brasil 1, a terceira publicação re- plementando os caminhos para não abandonar a
tomou os desafios da formação inicial e con- projeto de uma educação inclusiva, equitativa e
tinuada dos docentes.2 Nesse esforço comum de qualidade para todos, novamente escolhemos
de adensar o campo das políticas docentes e estar ao lado das professoras e dos professores,
contribuir para processos de formação inicial contribuindo para a sua formação e para o seu fa-
e continuada de professores, esta nova publi- zer profissional, em reconhecimento à sua impor-
cação que agora estudantes, pesquisadores tância, à sua dedicação e ao seu compromisso.
do campo da educação, gestores e leitores
em geral tem nas mãos, se dedica a contribuir
para o fortalecimento das práticas pedagógi-
cas na educação básica. Como esclarecem as
autoras da publicação, com base em ampla
literatura a respeito, a formação de docentes
qualificados supõe

a necessidade do domínio de uma compreensão inte-


grada no que se refere aos: conhecimentos acumulados
e considerados socialmente relevantes; conhecimentos
das áreas disciplinares a serem trabalhados na escola;
conhecimentos sobre o contexto sociocultural da escola
em que se vai atuar; conhecimentos sobre as crianças e
adolescentes; e meios para levar esse conhecimento às
novas gerações, consi-derando a formação da cidadania,
com valores e princípios éticos (página 13).

1 GATTI, Bernardete Angelina; BARRETO, Elba Siqueira de Sá. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. Disponível em: <https://
unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000184682?posInSet=4&queryId=1e6e4e4d-bbd7-4c19-92db-d9637997ca73>.
GATTI, Bernardete Angelina; BARRETTO, Elba Siqueira de Sá; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de;. Políticas docentes no Brasil: um estado da arte.
Brasília: UNESCO, 2011. Disponível em: <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000212183?posInSet=1&queryId=e9ed1501-06a7-46c5-a204-
0ce19aa0b374>.
2 GATTI, Bernadete Angelina; BARRETTO, Elba Siqueira de Sá; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de; ALMEIDA, Patrícia Cristina Albieri de. Professores
do Brasil: novos cenários de formação. Brasília: UNESCO, 2019. Disponível em: < https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000367919?posInSet=1&
queryId=615cb52d-0744-419a-af5b-6132dcafde3f>.

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Foto: © Stephen Luke_Creative commons
O que evidenciam as pesquisas em educação

I. Introdução

Este texto trata de aspectos que as pesquisas na conhecimento às novas gerações, considerando a
área de educação no Brasil evidenciam como ca- formação da cidadania, com valores e princípios
racterísticas relevantes para a prática da docência éticos (ALTENFELDER, 2015; SILVA; ALMEIDA, 2015;
na educação básica.3 Retrata a busca realizada CUNHA, 2006; SCHEIBE; BAZZO, 2001; MELLO,
para detectar de que maneira são ressaltados ele- 2000; BRASIL, 2015, 2020).
mentos formativos que se destacam para a ação
pedagógica na educação escolar, em pesquisas Tais propósitos e dinâmicas da educação básica
socializadas em teses de doutorado e periódicos geram demandas tanto para as instituições forma-
científicos nacionais. doras nos cursos, pesquisas e ações que desenvol-
vem, quanto para as próprias escolas e as redes
1. Por que pensar nas escolares. Assim, especialmente a partir da déca-
práticas pedagógicas da de 1980, muitos estudos foram desenvolvidos
com a intenção de compreender e melhorar a for-
A docência na educação básica é um trabalho mação de professores e iniciar um processo que
que exige formação não só filosófica, sociológica favorecesse a legitimidade da profissão e, dessa
e histórica, que constitui sua cultura de contexto maneira, ultrapassasse a concepção da docência
e perspectivas educacionais, mas demanda tam- ligada a um fazer apenas vocacionado. Dessa for-
bém formação em áreas do conhecimento e em ma, emergiu a interdependência entre dois aspec-
práticas escolares, que visam ao desenvolvimento tos: a necessidade de melhorar a formação dos fu-
das aprendizagens dos alunos, em seus variados turos professores e de profissionalizar o magistério
momentos de desenvolvimento cognitivo, afeti- (GAUTHIER et al., 1998; POPKEWITZ, 1992). Isso está
vo, relacional e de vida social. Assim, em estudos bem configurado no Plano Nacional de Educação
que tratam do papel de professores da educa- 2014-2024, em sua Meta 13 (BRASIL, 2014).
ção básica, aponta-se a necessidade do domínio
de uma compreensão integrada no que se refe- Levando-se em consideração que essas situações
re aos: conhecimentos acumulados e considera- se transformam no tempo, criando desafios
dos socialmente relevantes; conhecimentos das formativos que devem ser ponderados, pode-se
áreas disciplinares a serem trabalhados na escola; dizer que o exercício da docência na educação
conhecimentos sobre o contexto sociocultural da básica nos contextos de sua realização e dentro
escola em que se vai atuar; conhecimentos sobre dos propósitos que o fundamentam requer
as crianças e adolescentes; e meios para levar esse capacidades relativas às escolhas de caminhos e

3 Para verificar a definição de educação básica e a equivalência dos níveis educacionais no Brasil e nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
(Palops), consulte o “Glossário de terminologia curricular” do UNESCO-IBE, que apresenta a Classificação Internacional Normalizada da Educação
(International Standard Classification of Education – ISCED), disponível em: <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000223059_por>.

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Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

meios para criar as possibilidades de aprendizagens filosófico-científicos é um caminho em construção,


para as novas gerações. importante para a profissão docente e seu valor
social. A literatura disponível tem retratado, nas
A escolha desses caminhos e meios está relacio- últimas décadas, a busca por uma nova dinâmica
nada com a prática pedagógica. de formação e de concepção da natureza da
docência na educação básica, mobilizando
pesquisas com base em muitas correntes, enfoques
A noção de prática pedagógica4 é polis- ou teorias oriundas das ciências sociais e humanas
sêmica, não há uma definição única ou (BORGES; TARDIF, 2001). Nos estudos, reconhece-se
uma definição clássica predominante no que as práticas no exercício da docência também
âmbito das ciências da educação. Em ge- criam conhecimentos, e eles se alteram em função
ral, os estudos sobre “profissão docente”, das experiências vividas pelos docentes em suas
“prática docente” ou “trabalho docente” relações com os alunos em sua diversidade e em
tratam, em alguma medida, dessa noção, situações que variam em contextos comunitários
mas poucos pesquisadores brasileiros se diversos. Assim, teorizações se apoiam em estudos
colocaram o desafio de estabelecer uma sobre essas práticas e alimentam-se desses
definição tipo-ideal5 da referida noção. conhecimentos criados nas práticas pedagógicas
nas escolas, ou naquelas experimentadas em
outros ambientes.
Quando se fala em prática pedagógica, está-
se referindo a um ato social em contexto. As Por outro lado, há muito conhecimento esparso
práticas docentes são atos culturais “realizados em estudos mais recentes de diferentes áreas
em um coletivo, portanto associadas a alguma curriculares. A construção de conhecimentos
teorização, elaborada ou não, mais consciente sobre as práticas pesquisadas, e sua discussão,
ou não, e embebidas de sentido” (GATTI, é imprescindível às formações para o exercício
2020, p. 17). Seu valor é intrínseco. Por isso a da docência, pois é ela que permite constituir,
importância de estudá-las. mesmo que por tempo determinado, referenciais
para as ações pedagógicas intencionais na direção
Tratar das práticas pedagógicas, que são os meios de possibilitar ambiências de aprendizagem
pelos quais futuros professores desenvolverão frutíferas para as novas gerações.
seu trabalho educacional no ambiente escolar,
demanda lembrar que essas práticas concretas,
situadas e realizadas no cotidiano educacional, Assim, pergunta-se: como as questões
não são abstratas, e há conhecimento acumulado das práticas pedagógicas estão sendo
sobre elas, sua efetividade, porque podem ser investigadas no Brasil e o que sinalizam
reconhecidas por observações, estudos e reflexões, para as ações docentes na vida escolar?
e seus aspectos fundantes podem ser teorizados e Que contribuições trazem para a formação
socializados. O reconhecimento de que as ações inicial e continuada de professores?
pedagógicas escolares têm seus fundamentos

4 Este trabalho considerou “práticas pedagógicas” como sinônimo de “práticas docentes” e “práticas de ensino”.
5 A construção de tipos ideais, aqui colocada, dialoga com o constructo teórico proposto por Max Weber (1979). 

16
O que evidenciam as pesquisas em educação

Nessa esteira, vem sendo destacada a importância A intenção aqui não é analisar as possíveis
das práticas pedagógicas concretamente desenvol- causas que possam explicar a resistência de
vidas nas salas de aula, ou seja, nas relações educa- pesquisadores e formadores de professores ao
cionais construídas na atividade cotidiana das esco- uso desses dados, mas ressaltar que convidar
las, como prática que tem lastro em pesquisas e co- os futuros professores a desenvolver sua própria
nhecimentos estruturados (SILVA JÚNIOR et al., 2015; “filosofia pessoal” de gestão de sala de aula e dos
MARTINS; ZAPPONE, 2018; BASTOS; NARDI, 2018). aprendizados não é uma atitude prudente, como
bem ressaltam os autores citados. Quando se lida
Desse modo, com gerações de crianças e jovens vulneráveis,
“é necessário ter um maior cuidado antes de
propor aos alunos em formação de professores
o caminho da investigação neste trabalho intervenções pedagógicas que não são fundadas
tem base no conhecimento produzido e em evidências” (BISSONNETTE; GAUTHIER;
publicado sobre práticas pedagógicas que se BOCQUILLON, 2020, p. 7).
mostrem efetivas para a criação de relações
pedagógicas que favoreçam aprendizagens Há um problema de fundo, segundo os autores:
relevantes na educação básica. “o desconforto crônico dos formadores de
professores na universidade face às exigências
Um aspecto silenciado quando se discute técnicas requeridas para assegurar que seus
prática pedagógica diz respeito ao uso de estudantes exerçam com competência a
“evidências” na formação de professores, o tarefa ao qual eles se destinam” (BISSONNETTE;
que pressupõe que melhorias são possíveis na GAUTHIER; BOCQUILLON, 2020, p. 6). O trabalho
educação quando as intervenções propostas docente não se reduz à técnica, no entanto, inclui
são fundadas em estudos. componentes técnicos essenciais que precisam
ser aprendidos. Segundos esses três autores,

Aqui “evidências” são concebidas em seu sentido Uma atitude de prudência na formação de professores
amplo: são a comprovação empírica de uma dada é, portanto, essencial, pois permite:
hipótese, mas não apenas e necessariamente 1. evitar a promoção de estratégias educativas que
aquela proveniente de estudos quantitativos, não tenham sido testadas;
ou experimentais e quase-experimentais. 2. combater o efeito de pêndulo tão frequente na
educação e realizar assim importantes economias,
Bissonnette, Gauthier e Bocquillon (2020, p. 3) não somente no plano financeiro, mas, também, no
questionam “qual lugar é dado às práticas de ensino plano de energia que os atores terão que empregar
cuja eficiência tem sido mostrada rigorosamente para implantar essas ideias pedagógicas, porque,
no final das contas, são sempre os professores que
na formação dos professores?”. Segundo os autores,
carregam o ônus do risco;
“a resposta é simples: pouco ou nada!”. Também
indagam “como podemos ser professores em 3. construir pacientemente uma base de conheci-
uma instituição que produz a ciência e, ao mesmo mento profissional baseada na pesquisa (research-
-supported professional knowledge base);
tempo, contraria o uso de intervenções baseadas
em evidências?” (2020, p. 5).

17
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

4. assegurar, no plano ético, que abordagens cujos aprendizagem, na pesquisa sobre o ensino e na
efeitos não tenham sido seriamente verificados formação de professores.
não sejam implementadas, levando-nos a perceber
tardiamente, ou seja, somente depois de sacrificar Esse movimento requer, dentre outros aspectos, o
gerações de cobaias, que seu impacto era fraco,
uso de evidências de pesquisas para dar suporte
ou mesmo negativo (BISSONNETTE; GAUTHIER;
aos programas de formação de professores
BOCQUILLON, 2020, p. 7).
como, por exemplo: as pesquisas básicas sobre
aprendizagem, tanto de modo geral como em
Logo, áreas específicas, como matemática, linguagem
etc.; os estudos que exploram como práticas
pedagógicas específicas promovem certos tipos
o uso de evidências na formação de profes- de aprendizagem; as pesquisas sobre a relação
sores é importante para que se evite que o entre a formação de professores, as práticas de
aprendizado da docência ocorra por tenta- ensino e o desempenho dos alunos; as pesquisas
tivas e erros. sobre como os professores aprendem.

2. Formação para a docência e


Os autores concluem suas análises com a a prática pedagógica
seguinte retórica: “utilizemos o que funciona.
Nossas crianças têm direito aos programas Nos últimos anos, no Brasil, adensou-se a discus-
educativos baseados em pesquisa. Quem pode são relativa à formação para a docência e novas
ser contra isso?” (BISSONNETTE; GAUTHIER; disposições normativas e políticas governamen-
BOCQUILLON, 2020, p. 7). tais foram consolidadas tendo em vista, em últi-
ma instância, melhor qualificar as aprendizagens
Darling-Hammond e Bransford (2019, p. 19) de crianças, adolescentes e jovens no país. Essas
argumentam igualmente que o “que sabemos disposições se colocam como um desafio na di-
sobre como os alunos aprendem deve influenciar reção do desenvolvimento de ações que propi-
as práticas de ensino, e o que sabemos sobre ciem sua concreta realização nas práticas socioe-
práticas de ensino eficazes, bem como sobre a ducacionais nas diferentes redes de ensino, e, na
aprendizagem de professores, deve influenciar formação de professores, na direção de atingir-
a formação de professores”. Esse movimento e mos uma melhor qualidade na educação escolar
articulação entre as pesquisas parece ser uma brasileira. Busca-se atingir mudanças na educa-
prática necessária para o aperfeiçoamento da ção oferecida nas escolas à vista dos complexos
formação dos professores. Assim, compreender e cenários socioculturais que emergem contem-
definir o que é próprio da ação docente vai além poraneamente. O conteúdo desses documentos
de estabelecer uma tipologia de conhecimentos sinaliza, direta ou indiretamente, a importância
que estão na base da docência. Darling- de se considerar a formação dos professores que
Hammond e Bransford (2019) oferecem sólidos atuam ou irão atuar na educação básica, e para a
argumentos e muitos exemplos para analisar a necessidade de uma reconceitualização das prá-
importância de se investir no campo da formação ticas pedagógicas, que também se fundamentam
docente, na articulação da pesquisa básica sobre em perspectivas filosóficas e históricas (BRASIL,

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O que evidenciam as pesquisas em educação

2015, 2020; SILVA JÚNIOR et al., 2015: GATTI et al., propiciar a aprendizagem escolar de crianças,
2019; VASCONCELOS; ANDRADE, 2019). adolescentes e jovens, o que pressupõe
lidar com conceitos preexistentes relativos
É importante reiterar que os currículos de às práticas docentes. É o momento em que
formação inicial para a docência na educação conceitos e práticas podem ser refletidos,
básica e as formações continuadas recebem questionados, aprimorados, remodelados,
influxos de políticas gestadas por diferentes apreendidos e/ou refutados, seja por meio
governos, com perspectivas traduzidas por dos conhecimentos que são veiculados nos
documentos e programas. No Brasil, políticas cursos de formação, seja pelas experiências,
de gestão educacional vêm se constituindo interações e vivências variadas às quais, em
e imprimindo referências para as instituições situações de aprendizagem, os estudantes
formativas que vivenciam, desde o advento da nas licenciaturas são expostos. A formação
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional inicial nas graduações tem, assim, um peso
– Lei n. 9.394/1996 (BRASIL, 1996) –, processos considerável na construção da profissionalidade
de reformulação curricular decorrentes das e da profissionalização docente, ou seja, na
normatizações sobrevenientes e, também, de reconversão de saberes do senso comum em
demandas institucionais e do próprio corpo conhecimentos fundamentados, na criação
docente. Nesse processo, as instituições de ensino de possibilidades de desenvolvimento de
superior (IES) vêm sendo desafiadas a reestruturar saberes, habilidades, atitudes e valores que
suas práticas de formação inicial e continuada constituem a especificidade do ser professor.
tendo em vista, dentre outros aspectos, promover É preciso lembrar que a postura e a didática dos
a articulação entre a prática profissional e a formadores de professores também têm papel
formação teórica, entre a experiência concreta nas marcante nessa formação.
salas de aula e a pesquisa, entre os professores e os
formadores universitários. Imbernón (2001, p. 63) argumenta que “os
modelos com os quais o futuro professor ou
Os cursos de licenciatura, responsáveis pela professora aprende perpetuam-se com o exercício
formação de professores para as diferentes áreas de sua profissão docente já que esses modelos se
curriculares da educação básica, têm um papel convertem, até de maneira involuntária, em pauta
fundamental não só na construção da identidade de sua atuação”. Por essa razão é que Altet e Guibert
dos professores e na sua socialização profissional (2014) insistem na ideia de que desenvolver a
mas, também, na aproximação das relações formação de professores é propiciar a construção
entre o conhecimento universitário e a atividade de mudanças conceituais e de práticas.
profissional, considerada como um espaço
prático de produção, de transformação e de Já a formação continuada ajuda o docente
mobilização de saberes e, consequentemente, a avançar nesses aspectos e contribui com
de teorias, de conhecimentos e de saber-fazer aprofundamentos, reavaliações de práticas e
específicos do ofício de professor (TARDIF, 2002). perspectivas, reconfiguração de representações
e ideias que vão se configurando no tempo por
Durante a formação inicial, o futuro professor meio da atualização constante de conhecimentos,
forma-se para constituir modos de atuar para da reflexão individual e coletiva sobre a própria

19
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

prática e sobre sua cultura, suas experiências em geral. A formação de docentes integrando
pessoais e profissionais. teorias e práticas se mostra como caminho in-
contornável, e, neste diapasão, entra em foco
Na perspectiva das formações e considerando outro aspecto: o profissionalismo docente que
a dialeticidade do binômio teoria-prática, e a envolve valores e compromissos que se conju-
imbricação conceitual de ambos os termos, gam às formas de ação nas escolas e salas de
coloca-se como fundamental tanto mudar a aula. Como reflete Dourado:
concepção mais vigente sobre “prática” e “teoria”
como opostos, quanto mudar a concepção de
é fundamental romper com propostas político-peda-
prática como mera aplicação direta de teorias
gógicas para a formação de profissionais do magisté-
aprendidas ou mediadas por técnicas, ou como
rio que tenham por foco apenas o saber fazer, o mu-
mero uso mecânico de receituário de técnicas. As niciamento prático, bem como com concepções que
práticas pedagógicas são atos culturais, como já advogam a teoria como elemento fundante para a
colocado, portanto fundamentados em teoria, mais formação, ignorando, em muitos casos, a importância
ou menos elaboradas, e embebidos de sentido. As da produção de práticas pedagógicas, o estágio su-
práticas são ações educacionais com fundamentos pervisionado, dentre outros (DOURADO, 2016, p. 29).
e escolhas. Trata-se de trabalhar conceitualmente
em um plano de superação de uma concepção
meramente técnica sobre o ensino, avançando Uma perspectiva educacional associada às práti-
para uma compreensão da unidade teoria e prática, cas de formação com ênfase no desenvolvimento
bem como para o entendimento de que o trabalho do conhecimento profissional constitui elemento
docente possui, em sua natureza, uma dimensão essencial para formar um pensamento educativo,
teórico-prática integrada (GATTI, 2020). uma imagem do trabalho no magistério, tendo
em vista preparar profissionais que lidarão com a
Nessas condições, as questões da autonomia, socialização e a humanização de semelhantes por
das responsabilidades e da profissionalização meio da mediação com a cultura, com processos
dos professores são aspectos que há anos ocu- deontológicos e com o conhecimento. Trata-se,
pam as discussões acadêmicas e as preocupa- portanto, de preparar profissionais para um tra-
ções de gestores educacionais, bem como dos balho complexo que envolve conhecimentos
próprios docentes. Como explicita Perrenoud específicos, advindos de várias áreas, que se en-
(1997), são questões de primeira importância, trecruzam. Reportando-nos às análises de Altet
uma vez que não se pode esperar dos profes- e Guibert (2014), sinaliza-se a complexidade in-
sores resultados idênticos, dada a variedade trínseca dos processos formativos de professores
de contextos e condições em que atuam, suas que envolvem uma lógica socioprofissional, uma
diferenças formativas e a diversidade do aluna- lógica didática e uma lógica psicológica, ao que
do. Além disso, resultados idênticos não podem se acrescenta o desenvolvimento da necessária
ser esperados quando se propõe um trabalho sensibilidade ao contexto de vida dos alunos e
educacional ativo e participativo, diferenciado e aos movimentos societários em geral.
problematizante, em que estudantes construirão
tanto seus caminhos cognitivos como os signi- Desde os anos de 1990, as questões relativas
ficados para os conhecimentos e para a vida ao conhecimento profissional docente estão

20
O que evidenciam as pesquisas em educação

na agenda da formação e da profissionalização pedagógica da escola, bem como as particula-


dos professores por serem “o saber que se ridades sociais e culturais da comunidade onde
associa ao ser professor [...] o ‘elo mais fraco’ estão inseridos a escola e os estudantes.
da sua profissionalidade” (ROLDÃO, 2005,
p. 113). Autores como Clermont Gauthier, O PCK não se constitui simplesmente do conhe-
Maurice Tardif, Lee Shulman, Linda Darling- cimento de cada uma das categorias que estão
Hammond, dentre outros, vêm contribuindo na base da docência, e sim da transformação,
para as discussões em torno de uma estrutura integração e combinação entre elas, ou seja, é
conceitual que possa oferecer subsídios influenciado e influencia os demais domínios do
teóricos e práticos para programas de conhecimento (SHULMAN, 1987; GROSSMAN,
formação inicial e continuada de professores. 1990). Trata-se de um constructo complexo, que
abarca um conjunto de conhecimentos que são
Apesar das diferenças de concepções e tipologias implícitos, dinâmicos e que envolvem uma mo-
entre esses autores, há similaridades e pontos bilização coesa e articulada. O desenvolvimento
de intersecção na compreensão que se tem do PCK ocorre em um continuum, em uma pers-
em relação aos conhecimentos profissionais pectiva de transformação.
(ALMEIDA; BIAJONE, 2007).
Roldão (2017, p. 1141) explica que, “na esteira
As categorias do conhecimento docente pro- de Shulman, outros autores têm acentuado
postas por Shulman (1987), por exemplo, para o facto de ser essencial ler as categorias do
explicar e descrever os conhecimentos que conhecimento docente por ele propostas duma
estão na base da docência e, posteriormente, forma integrada”. E é na prática da sala de aula,
redefinidas por Pamela Grossman, em 1990, co- nas situações em que o professor reflete sobre
locam em evidência o conhecimento pedagó- sua prática tendo em vista o aprendizado dos
gico do conteúdo (Pedagogical Content Knowle- alunos, que o conhecimento pessoal do PCK é
dge – PCK6), tido como conhecimento nuclear, constituído e transformado.
aquele que interage com todos os outros que
são: (i) conhecimento pedagógico geral, que Logo, a ação reflexiva sobre a prática, na perspecti-
congrega o conhecimento dos estudantes e va de Schön, “é essencial na construção, renovação
de sua aprendizagem, bem como das habili- e desenvolvimento do conhecimento profissional”
dades relacionadas à gestão da sala de aula e (ROLDÃO, 2017, p. 1142) e, nesse processo, os ele-
ao conhecimento do currículo tanto horizontal mentos integradores do conhecimento propostos
quanto vertical; (ii) conhecimento do conteú- inicialmente por Shuman são mobilizados e anali-
do específico constituído pelo conteúdo que é sados de forma integrada.
objeto de ensino, tendo uma influência direta
nas decisões curriculares; (iii) conhecimento do Darling-Hammond e Bransford (2019) apresen-
contexto referente à compreensão aprofunda- tam uma estrutura para compreender o ensino
da do contexto no qual o docente irá atuar, o como profissão que encontra muitos pontos de
que requer conhecer os alunos, individualmen- intersecção com os elementos integradores do
te e em grupo, a organização administrativa e conhecimento docente propostos por Shulman

6 O uso da sigla em inglês PCK tem sido recorrente na literatura para se referir ao conceito.

21
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

para explicar e descrever os conhecimentos que dos a adquirirem os aprendizados fundamentais.


estão na base da docência. Os autores destacam Assim sendo, o papel educacional e social da es-
três áreas gerais de conhecimentos, habilidades e cola para os tempos vigentes, em termos simples,
disposições que se considera que os professores se traduz em garantir aprendizagens em áreas de
precisam adquirir para o exercício da docência, a conhecimento relevantes à vida social e humana
saber: (i) conhecimento dos alunos e como eles e propiciar o desenvolvimento social, psicológico
aprendem e se desenvolvem dentro dos contex- e cultural de crianças e adolescentes. Ampliando
tos sociais; (ii) concepções de matriz e objetivos o alcance da educação escolar hoje, é fundamen-
curriculares, uma compreensão do assunto e ha- tal lembrar seu papel na construção de equidade
bilidades a serem ensinadas à luz dos propósitos social, sendo necessária uma profunda compreen-
sociais da educação; (iii) compreensão do ensino são do princípio de equidade na educação escolar,
à luz do conteúdo e dos alunos a serem ensina- ou seja, o lugar da escola enquanto um lugar de
dos, embasados pela avaliação e pela gestão da progressão para todas as crianças e adolescentes,
sala de aula. A integração entre essas três áreas, assumindo-se o sucesso destes em sua trajetória
segundo os autores, proporciona uma visão da como a meta mais valiosa.
prática profissional.
O desenvolvimento de formações para a docên-
Independentemente de como se compreendem cia na educação básica é compromisso ético e
os elementos estruturantes dos conhecimentos político com a melhoria da qualidade das apren-
que estão na base da profissão docente, busca- dizagens dos alunos, que são ou serão o foco de
se uma mediação e articulação entre esses seu trabalho, e os princípios norteadores dessas
conhecimentos. E esse processo requer substituir ações, hoje, são integração, cooperação, copar-
visões didáticas “tecnicistas e instrumentais ticipação, transparência, gradatividade, cumula-
por uma visão analítica e reflexiva por parte tividade e continuidade. Logo, a construção do
do profissional acerca da prática que exerce” compromisso para com o desenvolvimento dos
(ROLDÃO, 2017, p. 1146). alunos, a aprendizagem colaborativa e as formas
motivadoras de comunicação no trabalho educa-
Um aspecto especialmente importante nessa dis- tivo é condição necessária ao trabalho docente.
cussão sobre os conhecimentos profissionais dos
professores é a compreensão da docência como Em 2018, o Escritório Regional de Educação para
uma profissão que serve a propósitos democráti- a América Latina e Caribe (UNESCO-OREALC), em
cos e, portanto, sublinha a necessidade de se al- Santiago do Chile, desenvolveu uma pesquisa
cançar uma educação de qualidade para todos, que abordou, dentre outros aspectos, a formação
centrada no respeito e na valorização das diferen- inicial docente para as pedagogias de inclusão
ças. Nessa perspectiva, os sistemas educativos têm em sete países: Argentina, Brasil, Colômbia, Chile,
o desafio de atender às características e necessi- Guatemala, México e Peru. O estudo apresentou
dades da diversidade dos estudantes, levando to- um diagnóstico e uma análise comparativa7 sobre

7 Em cada um dos países em que o estudo foi realizado, a metodologia contemplou: a) políticas referentes à formação inicial docente dos sete
países nas últimas duas décadas; b) currículos de 22 instituições formadoras (três por país, mas houve casos em que se estudaram quatro);
c) entrevistas com acadêmicos e autoridades das respectivas instituições para se conhecer suas percepções sobre as oportunidades formativas
oferecidas, aqui, em relação às pedagogias de inclusão; d) entrevistas grupais com estudantes que se encontravam em fase final de sua formação.

22
O que evidenciam as pesquisas em educação

a situação da formação de professores dos anos Inserir os conhecimentos provenientes dessas


iniciais do ensino fundamental em pedagogias pesquisas nos programas de formação de pro-
para a inclusão. fessores pode contribuir para que as concepções
dos docentes – em formação inicial ou continu-
Todos os sete países contam com uma política ada – passem de “perspectivas simplistas sobre
de formação que valoriza a inclusão e a as causas dos eventos em sala de aula para um
diversidade e prevê a necessidade de acesso entendimento mais especializado sobre como
equitativo às oportunidades de aprendizagem, aspectos do ensino e dos alunos influenciam o
incluindo fatores socioeconômicos e culturais, desenvolvimento da aprendizagem” (DARLING-
necessidades especiais, bem como fatores de -HAMMOND; BRANSFORD, 2019, p. 27).
raça, gênero e orientação sexual. Todavia, essa
conscientização política sobre a relevância da
Em outras palavras, cabe levar os docentes a saber o
inclusão educacional não tem seu equivalente
que fazer para que, por meio da ação docente, o co-
no nível pedagógico, no desenvolvimento de nhecimento seja aprendido e apreendido pelo aluno.
conhecimentos e habilidades mais próximos ao Isso exige a consolidação de um ‘repertório de conheci-
ensino em sala de aula que devem ser adquiridos mentos’ coerente e pertinente que corresponda aos sa-
na formação. Logo, o aprendizado de práticas beres profissionais próprios do professor, considerando
pedagógicas que contribuam para viabilizar um as especificidades de cada área (ALMEIDA et al., 2019).
ensino equitativo não tem uma presença clara
ou proeminente nos currículos ou nas práticas
das instituições estudadas. Considerando que esse movimento tem refle-
xos na escola, é esperado que ela continue se
A fraca presença na formação inicial de opor- transformando para criar as condições dentro
tunidades de aprendizado sobre metodologias das quais o ensino equitativo possa ocorrer. A
relevantes de trabalho em sala de aula para con- expectativa é que os professores possam tra-
textos desfavorecidos e de modelos de trabalho balhar em escolas que lhes possibilitem não só
baseados em colaboração revela as mazelas do usar o que sabem, mas, sobretudo, que possam
sistema educacional de países da América Latina. aprender e se desenvolver com os seus pares.
Nesses países, parte das crianças, adolescentes
e jovens não tem aprendido o que os currículos
sinalizam como o mínimo necessário para o seu
desenvolvimento. Assim, nota-se uma profun-
da desigualdade de natureza socioeconômica e
cultural nesses sistemas, refletida nas diferenças
entre as escolas e o rendimento dos alunos, es-
pecialmente quando se considera o tipo de po-
pulação escolar atendida. Pesa sobre as políticas
públicas e sobre os cursos de formação inicial a
construção de propostas mais orgânicas e com
potencial para transpor essas dificuldades.

23
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:
Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

24
O que evidenciam as pesquisas em educação

II. Objetivos da pesquisa e metodologia

o desafio de mapear e de discutir uma certa produção


O objetivo principal deste estudo foi o de acadêmica em diferentes campos do conhecimento,
investigar, nas pesquisas de campo reali- tentando responder que aspectos e dimensões vêm
zadas e publicadas no Brasil sobre práticas sendo destacados e privilegiados [...] Também são
docentes na educação básica, as caracterís- reconhecidas por realizarem uma metodologia de
ticas das práticas pedagógicas que se mos- caráter inventariante e descritiva da produção acadêmica
tram relevantes para as aprendizagens de e científica sobre o tema que busca investigar, à luz de
crianças, adolescentes e jovens. categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais
em cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o
fenômeno passa a ser analisado (FERREIRA, 2002, p. 257).

Buscou-se caracterizar as práticas reveladoras


de ações pedagógicas que propiciam a criação Conforme colocam Romanowski e Ens (2006, p.
de ambiências que favorecem aprendizagens – 38-39), esse tipo de estudo mostra os “caminhos
cognitivas e relacionais – na educação básica e que vêm sendo tomados e aspectos que são
identificar suas características e as concepções abordados em detrimento a outros, pois procu-
que as fundamentam. ram identificar aportes significativos da constru-
ção da teoria e práticas pedagógicas”. O presen-
Como objetivo derivado, procurou-se captar te trabalho não pretende ser propriamente um
referenciais importantes para a formação de estado da arte em sua acepção completa, mas
professores que irão atuar nesse nível de ensino sim utilizar procedimentos próprios dessa meto-
e gerar contribuições para políticas, programas e dologia dentro dos propósitos desta pesquisa e
marcos normativos relativos à formação docente. dos limites relativos à disponibilização de aces-
so ao produzido. Trata-se de compreender signi-
1. Procedimentos da investigação ficações que permitam identificar características
A metodologia para este trabalho incorporou os e concepções relativas à prática pedagógica em
princípios de construção de um estado da arte, escolas de educação básica e que possam fun-
contemplando procedimentos de metanálise nas damentar formações para a docência. Para esse
etapas finais dos procedimentos de levantamento fim, todas as áreas curriculares da educação bá-
de dados e análises abaixo indicados. Um sica foram consideradas. Assim, procedimentos
estado da arte, segundo Soares (1989, p. 39) de metanálise são utilizados para chegar-se,
propõe “inventariar e sistematizar a produção com base nas pesquisas, a fatores, condições
em determinada área do conhecimento”. Para e características que se associam e permeiam
Ferreira (2002), as pesquisas configuradas como condições de efetividade em práticas docentes
um estado da arte são concebidas como estudos e que merecem consideração nos processos for-
bibliográficos que têm em comum mativos de professores.

25
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Cabe esclarecer em que sentido se fala de meta- 4. Organização de um acervo de referências


nálise neste estudo, uma vez que sua conceitua- preliminar, por meio dos títulos e palavras-
ção é variada. Críticas foram feitas por pesquisa- chave.
dores de diferentes áreas com relação à maneira 5. Leitura e análise dos resumos das teses e
como revisões bibliográficas são realizadas nas artigos com vistas à adequação da seleção.
ciências sociais e humanas, que em geral assu- 6. Seleção dos trabalhos de pesquisa que
mem forma narrativa-literária com fundamen- aderiam com maior pertinência ao escopo
tos vagos e que se apresentam com pretensões deste estudo, em leitura prévia.
de metanálises. Grupos de investigadores pro- 7. Finalização e tratamento do banco de teses
põem metodologias de metanálise com utiliza- e artigos.
ção de modelos estatísticos visando a sintetizar 8. Análise dos trabalhos selecionados, estudo
achados em pesquisas diversas sobre um mes- de sua consistência e seleção final dos
mo problema, permitindo integração de resul- validados.
tados e evidenciando padrões recorrentes de 9. Elaboração de metanálise com base nessas
relações e/ou resultados. Muitos dos trabalhos análises preliminares das teses e artigos
que discutem esse conceito tratam metanálise com síntese das características que se
nessa direção (MEDEIROS; CRANTSCHANINOV; mostram relevantes à formação para o
SILVA, 2013; PINTO, 2013). exercício da docência.
10. Elaboração de sugestões para ações em
O encaminhamento metodológico, ao propor políticas, programas, marcos normativos
metanálise dos achados nas pesquisas e docu- e gestão institucional no que se refere
mentos de referência neste trabalho, será mais à formação inicial ou continuada de
próximo do que sinalizam Bicudo (2014) e Zim- professores.
mer (2006) no que diz respeito à metanálise em
pesquisas qualitativas. A metanálise em pesquisa 2. Delimitação do campo de
qualitativa busca a construção de sínteses inter- estudo e descritores
pretativas de achados de vários estudos, que dão
base para responder ao tema investigado, pro- Considerando que a popularização do acesso
pondo outro nível de abstração, mais integrativa à internet e a construção de bancos de dados
do que o apresentado em estudos em separado. por instituições de pesquisa científica são
cada vez mais consistentes, disponibilizando
Para o alcance dos objetivos elencados, dissertações, teses, artigos científicos etc.
os procedimentos realizados foram: ao grande público, estabeleceram-se alguns
critérios de busca diante do montante difuso
1. Delimitação temporal e espacial do objeto de material disponível nos mais diferentes
de estudo. bancos de dados.
2. Escolha das bases de dados a serem utiliza-
das, considerado o objetivo do estudo.
3. Construção e escolha do rol de descritores
para o levantamento das pesquisas, consi-
derado o objetivo do estudo.

26
O que evidenciam as pesquisas em educação

pública. Já a decisão pelo SciELO advém do fato


Para a seleção dos artigos e das teses, foram
de que essa plataforma congrega boa parte dos
estabelecidos os seguintes passos:
artigos científicos publicados em periódicos
1. Definição temporal e espacial do ob- Qualis11 A1, A2 e B1 na área de educação e
jeto de estudo – pesquisas científicas de ensino, além de possuir critérios rigorosos
produzidas e publicadas no Brasil, no de admissão e permanência dos periódicos
período 2008-2018. validados pela comunidade acadêmica. Por fim,
2. Definição das bases de dados – BDTD o terceiro passo foi a definição dos descritores
e SciELO. que seriam utilizados: quais palavras-chave
3. Definição de descritores mestres, poderiam auxiliar no processo de busca?
divididos em dois grupos – “práticas Quais nos levariam às pesquisas sobre práticas
pedagógicas” (grupo 1) e “boas práti- pedagógicas relevantes? Como definir os
cas” (grupo 2) – ver Quadros 1 e 2. descritores que poderiam nos conduzir a
encontrar os trabalhos mais consistentes?
Foram realizados vários ensaios sucessivos, com
O primeiro passo foi a definição temporal uso de variados termos e análise dos efeitos das
e espacial do objeto de estudo: pesquisas escolhas iniciais das palavras-chaves e filtros,
científicas produzidas e publicadas no Brasil, no até se chegar ao conjunto de termos que foi
período 2008-2018. Decidiu-se que dissertações considerado suficientemente satisfatório pelas
de mestrado não entrariam na seleção; apenas pesquisadoras, com base nos parâmetros
teses de doutorado e artigos científicos, teórico-metodológicos do estudo.
como possibilidade de acessar trabalhos mais
originais, rigorosos e de longo prazo. O segundo Com esse processo, chegou-se ao que se
movimento foi, então, a definição de quais bases denominou descritores mestres, divididos
de dados seriam utilizadas para a busca de em dois grupos: “práticas pedagógicas”
teses e artigos. Foram consultadas a Biblioteca (grupo 1) e “boas práticas” (grupo 2), que seriam
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)8 combinados com vários outros descritores
e a Scientific Eletronic Library Online (SciELO)9. A secundários, de modo a abarcar diversas
decisão pela BDTD se justifica pelo fato de esse combinações que nos permitissem apreender
banco de dados reunir trabalhos de diferentes as referências centrais para nosso propósito. Os
instituições10 e ser atualizado periodicamente, Quadros 1 e 2, a seguir, mostram o conjunto
congregando material consolidado para consulta dos descritores utilizados.

8 “O BDTD integra e dissemina, em um só portal de busca, os textos completos das teses e dissertações defendidas nas instituições brasileiras de
ensino e pesquisa. O acesso a essa produção científica é livre de quaisquer custos. A BDTD contribui para o aumento de conteúdos de teses e
dissertações brasileiras na internet, o que significa a maior visibilidade da produção científica nacional e a difusão de informações de interesse
científico e tecnológico para a sociedade em geral”. Disponível em: <http://bdtd.ibict.br/vufind/Content/whatIs>. Acesso em: out. 2019.
9 Disponível em: <https://scielo.org/>. Acesso em: out. 2019.
10 As instituições que integram o banco podem ser consultadas em: <http://bdtd.ibict.br/vufind/Institutions>. Acesso em: out. 2019.
11 “O Qualis-Periódicos é uma ferramenta usada para classificar a produção científica dos programas de pós-graduação no que se refere aos artigos
publicados em periódicos científicos. Tal processo foi concebido para atender as necessidades específicas do sistema de avaliação da produção
científica e é baseado nas informações fornecidas por meio do módulo Coleta de Dados da Plataforma Sucupira. Como resultado, disponibiliza uma
lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção”. Disponível em: <http://www.
capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-apoio/qualis-periodicos-e-classificacao-de-producao-intelectual>. Acesso em: out. 2019.

27
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Quadro 1: Grupo 1 – Descritor mestre práticas Quadro 2: Grupo 2 – Descritor mestre boas
pedagógicas e descritores secundários práticas e descritores secundários boas práticas

Exitosas Educação
eficazes exitosas
inovadoras eficazes
evidências inovadoras
bem-sucedidas evidências
saberes bem-sucedidas
saberes docentes saberes
saberes curriculares saberes docentes
saberes curriculares
conteúdo
conteúdo
ensino
conhecimentos
didática
conhecimentos docentes
metodologias
conhecimentos curriculares
formação de professores
conhecimentos educação
escola
ensino
sala de aula
didática
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

educação básica
metodologias
BOAS PRÁTICAS

ensino médio formação de professores


ensino fundamental escola
alfabetização sala de aula
língua portuguesa educação básica
linguagens ensino fundamental
português ensino médio
matemática alfabetização
ciências língua portuguesa
geografia linguagens
história português
inglês matemática
educação física ciências
alfabetização geografia
língua portuguesa história
linguagens inglês
português educação física
alfabetização
matemática
ENSINO língua portuguesa
ciências
geografia linguagens
português
história
matemática
inglês ENSINO
ciências
educação física
geografia
Fonte: Quadros 1 e 2 elaborados pelas autoras história
inglês
educação física

28
O que evidenciam as pesquisas em educação

É importante destacar que todos os descritores 1) palavras no singular e no plural;


secundários são os mesmos para os dois descritores 2) termos com ou sem aspas;
mestres. Além de palavras ligadas a níveis, 3) termos vinculados pelo sinal “+”;
modalidades de ensino, espaços da educação 4) busca por assunto;
básica e conteúdos disciplinares presentes nos 5) busca por palavras no resumo; e
cursos de licenciatura, vinculou-se aos descritores 6) busca somente por teses.
mestres os adjetivos que, no âmbito da educação,
são utilizados recorrentemente para qualificar as No caso dos itens 1 e 2, verificou-se que o uso
práticas. São eles: exitosas, eficazes, inovadoras e de singular e plural e das aspas não determinou
bem-sucedidas. Por fim, associou-se aos descritores variação nos resultados e, assim, dispensou-se a
mestres a palavra “ensino” acrescida das disciplinas sua utilização nas buscas. Em suma, realizou-se
da educação básica, de modo a garantir o acesso a combinação dos descritores pelo sinal de “+”,
a referências/pesquisas sobre práticas pedagógicas restringida pelo período de dez anos, somente
vinculadas diretamente às áreas do conhecimento. teses, utilizando os campos “assunto” e “palavras
no resumo”, disponíveis no BDTD.
3. Seleção das teses de
doutorado e dos artigos No primeiro grupo, foram registradas inicialmente
865 ocorrências de teses e, no segundo, 665 teses
a) Teses de doutorado foram encontradas. Localizado esse conjunto
Tratar-se-á, aqui, do levantamento de teses rea- de trabalhos, organizaram-se os registros em
lizado na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e planilha Excel e excluíram-se as repetições de
Dissertações (BDTD)12 utilizando as expressões trabalhos. Com isso, ficaram 302 teses no grupo
“práticas pedagógicas” e “boas práticas pedagógi- 1 e 225 no grupo 2. Analisaram-se os títulos e
cas” associadas a outros 42 descritores diferentes, palavras-chave de todas as 527 teses e foram
conforme indicado nos Quadros 1 e 2. O recorte excluídas todas aquelas que:
espacial e temporal de trabalhos selecionados na
busca foi de teses defendidas no país, na área de • eram ensaios teóricos;
educação, entre 2008-2018. O objetivo da busca • não tinham como objeto as
era reunir um conjunto de teses recentes que práticas pedagógicas;
trouxessem evidências científicas de práticas pe- • se referiam a práticas pedagógicas no
dagógicas exitosas e/ou boas práticas pedagógi- ensino superior (licenciaturas inclusas);
cas na educação básica. • se referiam a práticas pedagógicas
no ensino técnico;
Inicialmente, foram inseridas no comando de • se referiam a práticas pedagógicas
busca todas as combinações de descritores, específicas da educação infantil;
divididas nos dois grupos: “práticas pedagógicas” • se referiam a práticas pedagógicas
e “boas práticas pedagógicas”. Além do filtro específicas da educação especial; e
espacial e temporal, utilizou-se como restrições • se referiam a práticas pedagógicas
de seleção os seguintes itens: na educação indígena.

12 Disponível em: <http://bdtd.ibict.br.>. Acesso em: nov. 2019.

29
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Ou seja, selecionaram-se apenas teses e artigos Ficou-se, assim, com 97 teses para a leitura do
que tratavam explicitamente de práticas resumo. Após essa triagem, restaram 74 teses
pedagógicas no ensino fundamental e ensino que foram objeto de análise mais detalhada,
médio, em sua modalidade regular. Esse recorte incluindo leitura transversal da introdução,
tem também uma justificativa pragmática: o metodologia dos trabalhos e resultados. Desse
tempo da pesquisa não permitiria aprofundar último conjunto, foram selecionadas 28 teses
as especificidades que outros níveis e/ou que apresentavam dados suficientemente
modalidades de ensino demandariam. detalhados para as análises pretendidas, e que
compuseram, portanto, o corpus de análise. Esse
processo está explicitado no Quadro 3, a seguir:

Quadro 3: Processo de triagem das teses Fonte: elaborado pelas autoras

Nº de
Nº de Nº de Nº de
Base Número teses
teses teses teses
selecionadas
de dados de remanescentes selecionadas selecionadas
após leitura
BDTD ocorrências excluídas as após leitura após triagem
do título e
repetições dos resumos final
palavras-chave

Grupo 1 865 302

Grupo 2 665 225


97 74 28
1.530 527

A relação com as 28 teses selecionadas por data com identificação da revista, autores, instituição de
vínculo do(s) autor(es), região, título e temática estão no Quadro 4, a seguir:

Quadro 4: Relação das teses selecionadas por data com identificação da revista, autores, instituição
de vínculo do(s) autor(es), região, título e temática

ANO AUTOR INSTITUIÇÃO REGIÃO TÍTULO TEMÁTICA

Prática pedagógica nos processos


Linguagens; alfabetização;
de alfabetização e de letramento:
2009 PICOLLI, Luciana UFRGS S letramento; oralidade; leitura;
análises a partir dos campos da
escrita; prática pedagógica
sociologia e da linguagem

As práticas pedagógicas das Prática pedagógica;


SILVA, Maria do
2009 UFPE NE escolas do campo: a escola na vida educação do campo;
Socorro
e a vida como escola currículo
Práticas pedagógicas de
professoras em classes
ARAÚJO, Nilza Unesp- Linguagens; alfabetização;
2010 SE multisseriadas: uma contribuição
Cristina Gomes de Araraquara classes multiseriadas
para a atuação docente nos Ciclos
de Alfabetização

30
O que evidenciam as pesquisas em educação

Alunos e professores fazendo Ciências humanas; geografia;


GOULART, Ligia
2011 UFRGS S geografia: a rede ressignificando pedagogia de projetos;
Beatriz
informações ensino; aprendizagem
BRAGA, Maria Prática pedagógica docente- Linguagens; língua
Margarete discente e humanização: portuguesa; leitura; práticas
2012 UFPE NE
Sampaio de contribuição de Paulo Freire para a pedagógicas; práticas
Carvalho escola pública participativas

O esporte como conteúdo da


educação física escolar: um Linguagens; educação física
2012 CARLAN, Paulo UFSC S
estudo de caso de uma prática escolar; esporte; prática
pedagógica

A prática pedagógica como o


diferencial para um desempenho
Linguagens; língua
LOPES, Elaine escolar efetivo – um estudo
2013 UFRGS S portuguesa; prática
Ferreira da Silva abordando as séries finais do
pedagógica; currículo
ensino fundamental em escolas da
periferia urbana de Porto Alegre

Indicadores de mudanças nas


Linguagens e matemática;
WECKELMANN, práticas pedagógicas com o uso de
2012 PUC-SP SE currículo; práticas
Valéria Faria computador portátil em escolas do
pedagógicas; TIC
Brasil e de Portugal

Do produto ao processo:
MORAIS,
contribuições da Provinha Brasil
2014 Georgyanna UFCE NE Linguagens; alfabetização
na reorganização da prática
Andréa Silva
pedagógica alfabetizadora
Linguagens, matemática e
ALMEIDA,
Programa Um Computador por ciências da natureza; TIC;
Alisandra
2014 PUC-SP SE Aluno: as práticas pedagógicas web currículo; práticas
Cavalcante
desenvolvidas com o uso do laptop pedagógicas; formação de
Fernandes de
professores

Cartografia e contexto: a
BRIGUENTI, linguagem simbólica e as múltiplas Ciências humanas; geografia;
2014 Unicamp SE
Éderson Costa relações cotidianas mediando o mediação docente; currículo
ensino de geografia

Os desafios de definir um
bom professor e a herança das
HORTA, Patrícia escolas alternativas paulistanas: Formação de professores;
2014 USP SE
Rossi Torralba perspectivas de coordenadoras escolas alternativas
pedagógicas e professoras do
ensino fundamental I

Eficácia docente: um estudo com Matemática; eficácia docente;


RODRIGUES, Suely
2014 PUC-Rio SE professores de matemática da rede boas práticas docentes;
da Silva
estadual de São Paulo avaliação de desempenho

31
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Produção de textos escritos nos


ANDRADE, Renata
anos iniciais do ensino fundamental: Linguagens; língua
2015 Maria Barros UFPE NE
a ação docente no Brasil e portuguesa
Lessa de
em Portugal

O clima motivacional nas Linguagens; educação física;


CHAVES, Aline
2015 USP SE práticas pedagógicas do esporte esporte educacional; clima
Dessupoio
educacional motivacional

Formação continuada e prática Ciências da natureza; ciências;


docente de professores de ciências práticas pedagógicas;
2015 SILVA, Gilson PUC-SP SE
naturais nos anos iniciais do ensino saberes docentes; formação
fundamental continuada

Inovações pedagógicas em
MELGAÇO, Iria Ciências; inovações
2015 UFMG SE contextos de ensino de ciências
Luiza de Castro pedagógicas; PCNs
naturais no ensino fundamental

Desenvolvimento do conhecimento
pedagógico do conteúdo para
MOREIRA, Wagner Ciências da natureza;
2015 USP SE argumentação (PCKarg) de um
Alves química; CPC; argumentação
professor de química recém-
formado
Unesp- Professoras iniciantes e o aprender Matemática; prática
CIRÍACO, Klinger
2016 Presidente SE a ensinar matemática em um grupo pedagógica; formação de
Teodoro
Prudente colaborativo professores
Arquiteturas pedagógicas
Linguagens;
SANTOS, Karen como dispositivos de formação
língua portuguesa;
2016 Christina Pinheiro UFRN NE de professores em práticas
multiletramentos; formação
dos multiletradas por meio das
de professores
tecnologias digitais

Tecnologias digitais: a apropriação


pelos professores dos anos iniciais
do ensino fundamental na prática Linguagens; alfabetização;
BELLOTTI, Andreia
2017 UCP SE pedagógica e a relação com a tecnologias digitais; prática
Alvim
proposta curricular de língua pedagógica
portuguesa do município de Juiz
de Fora

Práticas pedagógicas de
professores no ensino de Matemática; práticas
LIMA, Simone
2017 Unesp-Marília SE matemática nos anos iniciais pedagógicas; resolução de
Marques
do ensino fundamental e a problemas
resolução de problemas
Interdisciplinar; tecnologia
SILVA, Ana Elisa
Redes móveis de produções: os educacional; conteúdos
2017 Drummond UFBA NE
tablets na prática pedagógica digitais; práticas
Celestino
pedagógicas

32
O que evidenciam as pesquisas em educação

Um método e suas práticas


TIC; ambiente virtual;
2017 HANNEL, Kelly UFRGS S pedagógicas para atingir a
ensino personalizado
aprendizagem significativa
Cenários de práticas
pedagógicas no 5º ano
RESENDE,
2017 Mackenzie SE do ensino fundamental: Práticas pedagógicas
Adriana Torquato
professores, alunos e
pesquisadora
Professores iniciantes de
geografia: processos de Ciências humanas;
ROSA, Claudia do
2017 UFG CO recontextualização da formação geografia; formação inicial;
Carmo
inicial no contexto da prática prática pedagógica;
pedagógica
Recontextualizações
curriculares: uma análise sobre
SANTOS, Graziella os processos curriculares no
2017 UFRGS S Currículo; efeito-território
Souza dos âmbito do planejamento e
das práticas pedagógicas dos
professores
Conectividade e dodiscência
Linguagens; artes;
no ensino com audiovisual –
STEFANELLI, comunicação; tecnologia;
2018 Uninove SE um estudo das percepções de
Ricardo audiovisual; práticas
estudantes e professores da
pedagógicas
escola básica
Fonte: elaborado pelas autoras

O levantamento realizado mostra que, embora seis, que foram facilmente identificados como
a referência a práticas pedagógicas apareça em repetidos. Todos os artigos foram reunidos em
muitos trabalhos, sejam teses de doutorado ou uma única tabela com eliminação dos artigos
artigos, os procedimentos e processos envolvidos repetidos, que apareciam na busca de diferentes
na sua concretização e estudo nem sempre são descritores. Assim, restaram 363 artigos que
tratados nas análises encontradas. poderiam apresentar informações relevantes
sobre práticas pedagógicas. Na sequência, por
b) Artigos científicos
meio dos títulos, palavras-chave e dos critérios
O desenho do levantamento bibliográfico de de corte já referidos, restaram 99 artigos para
artigos científicos foi bastante semelhante ao leitura. A análise dos resumos levou à exclusão de
empregado para a busca das teses na BDTD. Com mais 56 trabalhos, restando 43, e, na triagem final,
base nessa experiência, foi realizada a busca de 24 artigos apresentavam dados, procedimentos
artigos com todos os descritores apresentados e processos que permitiriam a realização das
nos Quadros 1 e 2, com os filtros 2002-2018, análises aqui pretendidas.
produção brasileira.
Observa-se que, no conjunto de revistas
No grupo 1, registraram-se inicialmente 1.419 consideradas para este estudo, muitos artigos
ocorrências de artigos e, no grupo 2, apenas apresentam nas suas palavras-chave aquelas

33
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Quadro 5: Processo de triagem dos artigos

Nº de Nº de artigos
Base de artigos selecionados Nº de artigos Nº de artigos
dados Número de remanescentes após leitura selecionados selecionados
ocorrências do título e após leitura após triagem
BDTD excluídas palavras- dos resumos final
as repetições chave

Grupo 1 1.419 363


99 43 24
Grupo 2 5 –

Fonte: elaborado pelas autoras

tomadas como referência de nossa busca. No entanto, exame mais detalhado dos textos mostrou que
só uma pequena parte apresenta a descrição de práticas pedagógicas encontradas nas escolas, ou
exemplos dessas práticas, as quais foram objeto das interpretações dos autores das pesquisas. Por essa
razão, apenas 24 dos artigos foram tomados como objeto para análise.

A relação dos artigos selecionados por data com identificação da revista, autores, instituição de
vínculo do(s) autor(es), região, título e temática estão no Quadro 6, a seguir:

Quadro 6: Relação dos artigos selecionados por ano, com identificação da revista, autores,
instituição de vínculo do(s) autor(es), região, título e temática

INSTITUIÇÃO
ANO AUTOR(ES) REVISTA REGIÃO TÍTULO TEMÁTICA
DE VÍNCULO

ALBUQUERQUE, Eliana
Revista As práticas cotidianas
Borges Correia de; MORAIS, Linguagens;
2008 Brasileira de UFPE; UFRPE NE de alfabetização: o que
Artur Gomes de; FERREIRA, alfabetização
Educação fazem as professoras?
Andréa Tereza Brito

Psicologia A atividade lúdica, a Atividade


ROCHA, Maria Silvia Pinto de
2009 Escolar e PUC-Campinas SE criança de 6 anos e o lúdica;
Moura Librandi da
Educacional ensino fundamental transição

Prática docente:
THOMAZI, Áurea Regina considerações sobre Linguagens;
Educar em
2009 Guimarães; ASINELLI, Thania UFMG SE o planejamento leitura;
Revista
Mara Teixeira das atividades planejamento
pedagógicas
Instituto de
Ensino Superior
ALMEIDA, Janaina Maria Criatividade no ensino
Cenecist;
2010 Oliveira; ALENCAR, Eunice Paidéia SE/CO médio segundo seus Criatividade
Universidade
Maria Lima Soriano de estudantes
Católica de
Brasília
A dimensão criadora
Linguagens;
ZIBETTI, Marli Lúcia Tonatto; no trabalho docente:
Educação e alfabetização;
2010 SOUZA, Marilene Proença UNIR; USP SE/N subsídios para a
Pesquisa saberes
Rebello de formação de professores
docentes
alfabetizadores

34
O que evidenciam as pesquisas em educação

QUADROS, Ana Luiza de;


SILVA, Dayse Carvalho da; Ensinar e aprender
Ciências da
ANDRADE, Frank Pereira Educar em química: a percepção
2011 UFMG; UFBA SE/NE natureza;
de; ALEME, Helga Gabriela; Revista dos professores do
química
OLIVEIRA, Sheila Rodrigues; ensino médio
SILVA, Gilson de Freitas.

Avaliação por
Ensaio:
diferentes olhares:
Avaliação
CARDELLI, Douglas Teixeira; Fundação fatores que explicam
2012 e Políticas SE Avaliação
ELLIOT, Ligia Gomes Cesgranrio o sucesso de escola
Públicas em
carioca em área de
Educação
risco

OTAVIANO, Alessandra Estímulo à criatividade


Psicologia Universidade Matemática;
Barbosa Nunes; ALENCAR, por professores
2012 Escolar e Católica de CO criatividade;
Eunice Maria Lima Soriano de matemática e
Educacional Brasília motivação
de; FUKUDA, Cláudia Cristina motivação do aluno

O papel do professor
Ensaio: na escolarização dos
Ciências da
Pesquisa em saberes: produção
2013 FREITAS, Cláudia Avellar UFMG SE natureza;
Educação e reprodução de
biologia
em Ciências discursos sobre a
genética mendeliana

Grupos colaborativos
Ciências da
SANTOS JÚNIOR, João como ferramenta na
Ciência & natureza;
2013 Batista dos; MARCONDES, UFSCar; USP SE reestruturação do
Educação química; grupo
Maria Eunice Ribeiro modelo didático do
colaborativo
professor de química

Perfil, concepções e
práticas pedagógicas
Revista
de professores que Educação
PARENTE, Cláudia da Mota Brasileira
2014 Unesp-Marília SE atuam em turmas do campo;
Darós de Estudos
multisseriadas de multisseriação
Pedagógicos
escolas públicas de
Sergipe

Interações discursivas
Ensaio: Universidade
SANTOS, Bruno Ferreira dos; em aulas de química Ciências da
Pesquisa em Estadual do
2014 SANTOS, Karina Novaes dos; NE ao redor de atividades natureza;
Educação Sudoeste da
SILVA, Eliana Sardinha da experimentais: uma química
em Ciências Bahia
análise sociológica

Um enfoque
etnobiológico na
Ciências da
BAPTISTA, Geilsa Costa Ciência & formação do professor
2015 UFBA NE natureza;
Santos Educação de ciências sensível à
biologia
diversidade cultural:
estudo de caso

Ensaio: Efeitos diferenciados


OLIVEIRA, Lúcia Helena Avaliação de práticas
Linguagens;
2015 Gazólis de; BONAMINO, e Políticas PUC-Rio SE pedagógicas no
leitura
Alicia Públicas em aprendizado das
Educação habilidades de leitura

35
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Revista Uma atividade


Brasileira de experimental sobre Ciências da
2015 RIBEIRO, Jair Lúcio Prados UnB CO
Ensino de sombras inspirada em natureza; física
Física um cartum

As práticas
Revista pedagógicas e o Linguagens;
SANTOS, Tatiana Cristina;
Brasileira material didático leitura-escrita;
2015 TASSONI, Elvira Cristina PUC-Campinas SE
de Estudos do Programa Ler e material
Martins
Pedagógicos Escrever no 1º ano do didático
ensino fundamental

Práticas escolares
SALGADO JUNIOR, e desempenho
Alexandre Pereira; NOVI, Educação & USP-Ribeirão dos alunos: uso
2016 SE Avaliação
Juliana Chiaretti; FERREIRA, Sociedade Preto das abordagens
Jonas quantitativa e
qualitativa

Obstáculos e
dificuldades
apresentados por
professores de
Bolema:
Universidade matemática Matemática;
CEOLIM, Amauri Jersi; Boletim de
2017 Estadual do S/SE recém-formados educação
CALDEIRA, Ademir Donizeti Educação
Paraná; UFSCar ao utilizarem matemática
Matemática
modelagem
matemática em
suas aulas na
educação básica

Formação continuada
de professores:
GEMENTE, Flórence Rosana
Educar em UFG; Unesp- construindo Linguagens;
2017 Faganello; MATTHIESEN, CO/SE
Revista Rio Claro possibilidades para o educação física
Sara Quenzer
ensino do atletismo na
educação física escolar

STAREPRAVO, Ana Ruth; Autorregulação e Matemática;


Psicologia Universidade
BIANCHINI, Luciana situação problema no jogo;
2017 Escolar e Norte do S
G.B.; MACEDO, Lino de; jogo: estratégias para
Educacional Paraná autorregulação
VASCONCELOS, Mário Sérgio ensinar multiplicação

BARBOSA, Jonei Cerqueira; Materiais curriculares Matemática;


Estudos
2018 OLIVEIRA, Andréia Maria UFBA NE e professores que material
Avançados
Pereira de ensinam matemática curricular

Concepções de
LIMA, Maria Consuelo Alves; UFMA; professores de São
Ciência & Ciências da
2018 LIMA, Raysa Myrelle Soares; Universidade NE/Portugal Luís e de Coimbra em
Educação natureza; física
DAMIÃO, Maria Helena de Coimbra planejamento de aulas
de física

A exigência conceitual
Universidade
na prática pedagógica Ciências da
SOUZA, Rosilene Ventura de; Ciência & Estadual do
2018 NE de dois professores de natureza;
SANTOS, Bruno Ferreira dos Educação Sudoeste da
química que ensinam química
Bahia
química e física

Fonte: elaborado pelas autoras

36
O que evidenciam as pesquisas em educação

4. Processo de análise do
corpus constituído

Os textos foram lidos e discutidos pela equipe e, Com base nisso, realizou-se uma leitura “vertical”
posteriormente, foram criados critérios comuns do observado nas pesquisas e, depois, uma
que orientaram a leitura e registros em relação leitura “horizontal” de cada um dos tópicos
a cada artigo ou tese. Elaborou-se, então, um acima descritos, de modo a se ter uma análise
quadro para anotação de dados que permitiu preliminar sobre as práticas pedagógicas
a descrição do conjunto dos trabalhos quanto evidenciadas. Em seguida às leituras referidas,
a algumas características referenciais, por meio novas categorias analíticas foram elaboradas a
dos seguintes tópicos abaixo citados: posteriori, a saber:

• Título • Construção de sentidos e motivação


• Objetivo geral • Valorização dos conhecimentos prévios
• Referencial teórico e das contribuições dos alunos
• Define prática pedagógica? Sim ou não? • Estímulo ao pensamento criativo
Como define? • Problematização, elaboração e
• Tem como objetivo trazer evidências de consolidação de conceitos
práticas pedagógicas? • Atenção aos ritmos de aprendizagem
• Tem evidências de práticas eficazes? e às necessidades dos alunos
• Práticas relevantes que ressaltam do texto • Avaliação e consolidação da aprendizagem
• Exemplos • Promoção de um clima de aula pautado
em relações de confiança e respeito
• Organização do espaço da
24 artigos científicos e 28 teses de doutorado classe e das interações
constituíram o corpus de análise. • Criação de uma rede comunicativa
na sala de aula
Embora a referência a práticas pedagógicas
apareça em muitos trabalhos, sejam teses Assim, a análise permitiu um olhar sobre o tema
de doutorado ou artigos, os procedimentos das práticas pedagógicas inferindo aproximações
e processos envolvidos na concretização entre os aparentemente diferentes achados,
deles, bem como seu estudo, nem sempre agrupando-os em conjuntos que evidenciam
são tratados nas análises encontradas. comunalidades, e que teoricamente podem se
traduzir por fatores subjacentes estruturantes.

A seguir, será apresentada uma breve exposição


descritiva dos artigos e teses pesquisados.

37
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

38
O que evidenciam as pesquisas em educação

III. Apresentação e análise dos resultados

1. Descrição das características da própria área de conhecimento, todos os


dos artigos outros foram publicados em periódicos da
área da educação (como tema geral), ou, em
Dos 24 artigos que qualificaram esta análise menor número, da psicologia.
(ver Quadro 6) e que ofereciam sinalizadores
de práticas pedagógicas na educação básica Apenas cinco textos são escritos individual-
observados na realidade escolar, publicados no mente: um sobre ludicidade na transição para
período 2008-2018 no Brasil, mais da metade os anos iniciais do ensino fundamental, um de
foi publicada depois de 2013. Porém, há relativo educação no campo com foco na multisseria-
equilíbrio quanto ao período de publicação, ção, um de física e dois na área de biologia.
com leve predomínio nos últimos cinco anos. A autoria coletiva dos demais indica que são
Isso pode estar sinalizando um aumento de fruto de equipes de pesquisa que investigam a
interesse na área pelos estudos sobre práticas temática em questão. As mulheres são a maio-
pedagógicas. Os artigos foram produzidos em ria, mas chama a atenção que a presença de
instituições situadas nas várias regiões do país: homens se concentra na matemática e nas
quatro no Centro-Oeste; sete no Nordeste; 15 no exatas, corroborando o que estudos sobre gê-
Sudeste; dois no Sul13. As instituições a que os nero e docência têm mostrado há tempos. Nos
autores se vinculam mostram colaboração entre seis artigos que versam sobre alfabetização e/
universidades de regiões diferentes, bem como ou leitura, por exemplo, há apenas um homem
colaboração de autores na mesma região, porém, dentre 14 autoras. A maioria dos trabalhos é
de instituições diversas. Isso é um sinalizador oriunda de pesquisadores de universidades
interessante, pois mostra trabalho em rede em públicas, mas há produções em que há pes-
temas semelhantes, configurando integração quisadores vinculados a instituições públicas e
de pesquisadores dentro de várias áreas de confessionais. Três dos trabalhos têm seus au-
conhecimento. Esforços investigativos conjuntos tores vinculados a instituições privadas. Isso é
propiciam fortalecimento de conhecimentos compreensível, uma vez que a carreira nas ins-
com compartilhamentos teóricos que fortalecem tituições públicas é a que estimula e propicia
perspectivas pedagógicas. espaço para a pesquisa.

Com exceção de um artigo da área de ensino No que tange às temáticas, as linguagens e a


da matemática e seis da de ciências da matemática concentram boa parte da produção,
natureza publicados em revistas específicas com sete e quatro artigos respectivamente.

13 A soma ultrapassa 24 porque há artigos vinculados a duas instituições de ensino.

39
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Dos oito artigos na área de linguagens, um é


da educação física, um trata da atividade lúdica As linguagens e a matemática são temáticas
e não há nenhum de artes. Tal fato não causa predominantes nos artigos.
espanto, já que leitura/escrita e matemática Mais da metade adota a metodologia
são os conteúdos prioritários dos currículos qualitativa.
e das avaliações nacionais, e são áreas com
tradição de pesquisa em questões de práticas A entrevista é a técnica mais utilizada, e pou-
pedagógicas, remontando seus primeiros cos são os estudos que se utilizam da obser-
estudos no Brasil ao início do século passado vação do cotidiano da sala aula.
(GATTI, 2002). Ao mesmo tempo, as ciências A produção analisada envolve estudos em
da natureza aparecem com número expressivo toda a educação básica, com predominância
no conjunto: oito artigos. Interessante notar no ensino fundamental e na escola pública.
– e, também, não é de se estranhar – que, no
primeiro grupo (linguagens e matemática), os
artigos se originaram de pesquisas realizadas Entre os 20 artigos de base qualitativa ou quali-
no ensino fundamental, nível de ensino no -quanti, há dez que se valem da observação como
qual há preocupação com o desenvolvimento um dos instrumentos de coleta de dados. Tal abor-
das habilidades básicas de ler, escrever e dagem é a que melhor se aproxima da realidade
calcular. Mesmo os dois artigos de avaliação se das práticas, dado que a apreensão e compreensão
referem a esse segmento. Já no segundo grupo de práticas pedagógicas requer mais do que ape-
mencionado (ciências da natureza), há maior nas o discurso sobre elas. No entanto, a técnica da
destaque para o ensino médio, já que disciplinas entrevista, também utilizada em vários dos estudos,
como biologia, física e química são ministradas revela-se com bom potencial para a compreensão
somente aí. Destaca-se a pouca presença das de práticas quando especificações e reflexões mais
ciências sociais e humanas, sem nenhum artigo detalhadas aparecem nas narrativas, não ficando
sobre prática pedagógica. Os demais artigos apenas em aspectos genéricos. No Brasil, a obser-
dividem-se em: dois sobre avaliação, como já vação do cotidiano escolar e, mais especificamente,
dito; um dedicado à criatividade; e um sobre a da sala de aula, é ainda uma metodologia pouco uti-
modalidade educação no campo. lizada, seja porque exige formação adequada para
tanto, seja pelas dificuldades que se encontram nas
No que se refere à metodologia (ver Quadro 7), escolas por motivos diversos. No que se refere aos
mais da metade dos artigos selecionados adota três textos com abordagem quantitativa, um deles
a metodologia qualitativa de pesquisa: são é dedicado à avalição, um à leitura e um à mate-
16, sendo que três anunciam ter um enfoque mática. São estudos que buscam de algum modo
aplicado ou de pesquisa-ação. verificar se há associação entre a prática docente e
o desempenho do estudante com a definição de
Cinco textos trazem perspectiva quali-quanti, e vetores intervenientes traduzidos em quantidades.
três se utilizam da perspectiva quantitativa.
Outras características levantadas sobre as pesquisas
analisadas, e que delineiam seu contexto, oferecem
informações sobre a variedade de níveis escolares

40
O que evidenciam as pesquisas em educação

Foto: © UNESCO/Edson Fogaça


em que foram desenvolvidas, sobre os participantes
do estudo e sobre a dependência administrativa
das escolas.

Há 13 artigos em que a prática pedagógica se si-


tua no nível do ensino fundamental, sendo dois
deles realizados também na educação infantil.
Sete trazem práticas no ensino médio, dois no
ensino fundamental e no médio, e dois não es-
pecificam o segmento.

No que se refere aos sujeitos da pesquisa, 18


estudos têm os professores como foco, sendo
11 exclusivamente e sete que também incluem
estudantes. Somados a outros três artigos que
têm público exclusivo de alunos, tem-se um total
de dez pesquisas que incluem alunos no estudo.
O predomínio do foco nos docentes é esperado,
dado que a prática pedagógica é um tema em
geral relacionado à sua formação, em um primeiro
momento. Isso não quer dizer que os alunos sejam
desconsiderados. A relação pedagógica é tratada,
mas o foco é a prática do professor. A presença de
estudantes se dá muitas vezes para se verificar o
efeito das práticas pedagógicas – e/ou de outros
fatores associados – em seu aprendizado. Já em
relação ao número de escolas envolvidas nos
estudos empíricos, 11 desenvolvem a pesquisa
em uma ou duas instituições, e cinco pesquisas se
realizam em cinco ou mais. Oito não especificam.

Em termos de dependência administrativa, a


maioria das investigações foi realizada em escolas
públicas, estaduais ou municipais. Apenas duas
pesquisas tiveram exclusivamente instituições
escolares privadas como locus, e seis mesclaram
públicas e particulares. As cidades das instituições
onde os dados foram coletados seguem, em geral,
a mesma distribuição regional das instituições de
vínculo dos autores, o que traz preponderância
da região Sudeste, seguida da Nordeste.

41
42
Quadro 7: Dados dos artigos em relação à metodologia de pesquisa

CIDADE DA QUANTIDADE QUANTIDADE


DEPENDÊNCIA QUANTIDADE
INSTRUMENTOS DE COLETA INSTITUIÇÃO DE DE
ANO AUTOR/ES MÉTODO ADMINISTRATIVA DA DE ESCOLAS SEGMENTO
DE DADOS COLETA DE ESTUDANTES PROFESSORES
ESCOLA PESQUISADA ENVOLVIDAS
DADOS ENVOLVIDOS ENVOLVIDOS

ALBUQUERQUE, Eliana Etnografia: observação


9 professoras 1º ano do
Borges Correia de; MORAIS, de aulas, análise de livro Rede pública
2008 Qualitativo Recife (PE) Não especifica _ de primeiro
Artur Gomes de; FERREIRA, didático e de cadernos dos municipal
alfabetização ciclo EF
Andréa Tereza Brito alunos
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Quali-quanti Professoras;
ROCHA, Maria Silvia Pinto de (categorização Observação participante; Interior do coordenação
2009 Pública municipal 5 8 turmas 1º ano EF
Moura Librandi da da atividade entrevistas; questionários estado de SP pedagógica; 6
lúdica pelo ESAR) pais e mães

ALMEIDA, Janaina Maria Escala de avaliação do


Noroeste de
2010 Oliveira; ALENCAR, Eunice Quali-quanti nível de criatividade; Privada 1 217 alunos _ EM
MG
Maria Lima Soriano de questionário

Pública (não
ZIBETTI, Marli Lúcia Tonatto;
Rondônia especifica se
2010 SOUZA, Marilene Proença Qualitativo Etnografia 1 _ 1 professora EF
(RO) municipal ou
Rebello de
estadual)

KRAMER, Sonia; NUNES,


2011 Maria Fernanda R.; CORSINO, Ensaio teórico Análise documental _ _ _ _ _ _
Patrícia
Várias
QUADROS, Ana Luiza de;
cidades do
SILVA, Dayse Carvalho da;
estado de Estudantes da
ANDRADE, Frank Pereira Questionário para
2011 Quali-quanti MG: Belo Pública e privada 98 Olimpíada de 93 professores EM
de; ALEME, Helga Gabriela; professores
Horizonte e Química
OLIVEIRA, Sheila Rodrigues;
as demais
SILVA, Gilson de Freitas
não referidas

CARDELLI, Douglas Teixeira; Rio de


2012 Quantitativo Questionários Pública municipal 1 Não especifica Não especifica EF I e II
ELLIOT, Ligia Gomes Janeiro (RJ)

Escala – inventário de
OTAVIANO, Alessandra práticas docentes para
Barbosa Nunes; ALENCAR, criatividade; escala de Distrito
2012 Quantitativo Pública e privada 2 396 alunos _ 2º ano EF
Eunice Maria Lima Soriano motivação em matemática; Federal (DF)
de; FUKUDA, Cláudia Cristina notas alcançadas em
matemática

Interior de Não
2013 FREITAS, Cláudia Avellar Qualitativo Etnografia; sociolinguística Pública estadual 1 _ 1 professor
MG especifica

Inventário do Modelo
SANTOS JÚNIOR, João Batista Qualitativo: Didático (IMD);
São Paulo
2013 dos; MARCONDES, Maria Pesquisa registros sobre a forma Pública estadual Não especifica _ 4 professores EM
(SP)
Eunice Ribeiro intervenção de participação dos
professores no grupo

Municípios Rede pública


PARENTE, Cláudia da Mota Questionário; análise de 127 Educação
2014 Quali-quanti de Sergipe (estadual e municipal Não especifica _
Darós dados do Inep professores infantil e EF
(SE) – escola do campo)

43
O que evidenciam as pesquisas em educação
44
36 alunos
SANTOS, Bruno Ferreira dos; Observação e registro das
pública –
2014 SANTOS, Karina Novaes dos; Qualitativo aulas – escrito e gravação Jequié (BA) Pública e privada 2 2 professores EM
38 alunos
SILVA, Eliana Sardinha da em áudio
particular

Pública (não
Entrevistas
BAPTISTA, Geilsa Costa Cidade na especifica se
2015 Qualitativo semiestruturadas; curso de Não especifica _ 9 professoras EF e EM
Santos Bahia (BA) municipal ou
formação de professores
estadual)

Rio de
Janeiro
(RJ), Belo
Quantitativo: Estudo Longitudinal da Rede pública (federal,
OLIVEIRA, Lúcia Helena Horizonte 600 2º e 3º anos
2015 modelo lineares Geração Escolar 2005 estadual, municipal) e Não especifica 17 mil alunos
Gazólis de; BONAMINO, Alicia (MG), professores EF
hierárquicos (Geres) privada
Campinas
(SP) e Campo
Grande (MT)

Observações em sala de
aula; entrevista com a
professora e entrevistas
com os alunos. Alguns
SANTOS, Tatiana Cristina;
recursos auxiliares, como Campinas
2015 TASSONI, Elvira Cristina Qualitativo Pública estadual 1 1 turma 1 professora 1º ano EF
microfone, câmera (SP)
Martins
fotográfica e uma boneca-
personagem foram
utilizados durante as
entrevistas com as crianças

Atividade
2015 RIBEIRO, Jair Lúcio Prados Brasília (DF) Privada 1 2 turmas _ 2º ano EM
experimental

SALGADO JUNIOR, Alexandre Observação; entrevistas


Não
2016 Pereira; NOVI, Juliana Quali-quanti semiestruturadas; grupo Pública municipal 10 Não especifica Não especifica EF
especificado
Chiaretti; FERREIRA, Jonas focal; análise dados do Ideb
Escolas de
CEOLIM, Amauri Jersi; educação Não
2017 Qualitativo Análise textual discursiva Não especifica Não especifica _ 26 professores
CALDEIRA, Ademir Donizeti básica do especifica
Paraná (PR)

Qualitativo: Entrevistas; questionário;


GEMENTE, Flórence Rosana
Pesquisa-ação discussão durante a Rede pública Ciclos I, II, III
2017 Faganello; MATTHIESEN, Sara Goiânia (GO) Não especifica _ 21 professores
(curso formação formação; gravação e diário municipal e EJA
Quenzer
continuada) de campo

STAREPRAVO, Ana Ruth; Pública (não


BIANCHINI, Luciana Qualitativo Observação; entrevistas; especifica se
2017 Curitiba (PR) 1 30 alunos 1 professora 4º ano EF
G.B.; MACEDO, Lino de; aplicado relatórios municipal ou
VASCONCELOS, Mário Sérgio estadual)

Observação de
BARBOSA, Jonei Cerqueira; aulas; registros dos 2 salas (não
1 professora e
2018 OLIVEIRA, Andréia Maria Qualitativo procedimentos e processos Salvador (BA) Pública estadual 2 especifica 9º ano EF
1 professor
Pereira de na relação professor-alunos; quantidade)
entrevista

LIMA, Maria Consuelo Alves; São Luís (MA)


Entrevista – análise de Rede pública (Brasil e
2018 LIMA, Raysa Myrelle Soares; Qualitativo e Coimbra Não especifica _ 16 professores EM
discurso Portugal)
DAMIÃO, Maria Helena (Portugal)

Observação participante;
SOUZA, Rosilene Ventura de; entrevista semiestruturada;
2018 Qualitativo Jequié (BA) Pública estadual 2 _ 2 professores EM
SANTOS, Bruno Ferreira dos diário de campo; gravação
de áudio

45
O que evidenciam as pesquisas em educação

Fonte: elaborado pelas autoras


Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

2. Descrição das características região Sudeste. Na sequência, observa-se que seis


das teses de doutorado delas foram elaboradas na região Nordeste, e outras
seis na região Sul. O Centro-Oeste esteve represen-
Analisando o ano de produção dos trabalhos, ob- tado com uma tese. Somente a região Norte não
serva-se que há teses, dentro dos descritores sele- teve nenhuma representação. Interessante obser-
cionados, publicadas em quase todos os anos entre var que as teses da região Sul foram produzidas
2008 e 2018, com exceção dos anos de 2009 e 2013. no Rio Grande do Sul, na UFRGS, exceto uma delas
Foram localizadas sete teses produzidas em 2017, elaborada em Florianópolis, na UFSC. É importante
nenhuma delas na mesma instituição de ensino ressaltar aqui que a maioria das universidades bra-
superior, todas com temáticas distintas. Em 2014 e sileiras com programas de pós-graduação consoli-
2015, foram localizadas cinco teses em cada ano, a dados, ou seja, que possuem produção de teses de
maioria delas produzidas na região Sudeste do país. doutorado, estão localizados na região Sudeste do
Com isso, verifica-se que há uma concentração des- país, o que pode contribuir para explicar a concen-
sas teses nos anos de 2014, 2015 e 2017. tração de trabalhos nessa região.

As 28 teses selecionadas foram produzidas em di- Observando a composição de gênero dos autores
ferentes regiões do Brasil, a maioria delas (15) na das teses selecionadas, verifica-se pelos nomes que

Foto: © Flickr/fsse8info CC BY-SA 2.0

46
O que evidenciam as pesquisas em educação

seis eram homens e 22 mulheres. Considerando Os pesquisadores coletaram dados em diferentes


que a maioria dos estudantes de graduação e pós- cidades do país: 12 cidades do Sudeste; nove do
graduação na área da educação e licenciaturas são Nordeste; seis do Sul; e cinco do Centro Oeste.
mulheres, o dado não causa estranhamento. Diferentes estados estão assim representados
nessas coletas de dados.
Observa-se que a maioria dos trabalhos foi ela-
borada por mulheres da região Sudeste do país. Observando especificamente a dependência ad-
Analisando a dependência administrativa das uni- ministrativa das escolas nas quais foram coletados
versidades nas quais as teses foram produzidas, ve- dados pelas pesquisas, verifica-se que 18 dessas ins-
rifica-se que 14 delas foram elaboradas em progra- tituições são escolas municipais de ensino funda-
mas de pós-graduação de universidades federais; mental; nove são escolas estaduais; duas federais; e
sete estaduais; uma privada; e seis confessionais. A três privadas. A maioria dos pesquisadores coletou
instituição privada e as confessionais estão locali- dados em uma ou duas turmas.
zadas na região Sudeste.

As linguagens e a matemática são temáticas


As 28 teses selecionadas para este estudo foram clas-
predominantes nas teses.
sificadas em temáticas, tal como se procedeu com os
artigos: verifica-se que 11 delas se localizam na área Todas as teses apresentam abordagem me-
de linguagens; três delas em matemática; duas na todológica qualitativa, sendo que uma delas
intersecção entre linguagens, matemática e ciências também se vale da metodologia quantitativa.
naturais; três na área de ciências naturais; três na área As teses se utilizam tanto de entrevistas quan-
de ciências humanas, todas em geografia; e uma é to de observação em campo.
interdisciplinar. As sete teses restantes trazem temas
A produção analisada envolve estudos em
como currículo, formação de professores, tecnologias
toda a educação básica, com predominância
da informação e da comunicação (TIC) e modalida-
no ensino fundamental (especialmente anos
de de ensino (educação no campo). Verifica-se assim
iniciais) e na escola pública.
que, quando articuladas às práticas pedagógicas, as
áreas que sobressaem são linguagens, notadamente
língua portuguesa, e matemática. Dentre as 28 teses, a maioria analisou a relação
entre professores e estudantes na realização
Todas as teses possuem abordagem metodoló- das práticas pedagógicas com foco no apren-
gica qualitativa, sendo que uma delas também dizado do alunado. Três teses analisaram espe-
se vale da metodologia quantitativa. Seis adotam cificamente as práticas pedagógicas com foco
uma abordagem etnográfica, e cinco se autode- no trabalho docente desenvolvido. Ainda assim,
finem como pesquisa-ação. A maioria dos pes- todas as pesquisas consideraram o trabalho dos
quisadores realizou entrevistas e observação em professores, algumas delas envolvendo profis-
campo, mas se encontrou também a utilização sionais de diferentes áreas. Além disso, verifi-
de questionários, grupo focal, análise de docu- cou-se que a maioria delas envolveu a coleta de
mentos e portfólio. dados nos anos iniciais do ensino fundamental;
os anos finais aparecem em menor número, se-
guidos do ensino médio.

47
48
Quadro 8: Dados das teses em relação à metodologia de pesquisa

DEPENDÊNCIA QUANTIDADE
INSTRUMENTOS CIDADE DE QUANTIDADE QUANTIDADE
ADMINISTRATIVA DE
ANO AUTOR MÉTODO DE COLETA COLETA DE DE ESCOLAS DE ESTUDANTES SEGMENTO
DA ESCOLA PROFESSORES
DE DADOS DADOS ENVOLVIDAS ENVOLVIDOS
PESQUISADA ENVOLVIDOS

Observação
PICCOLLI, participante; Porto Pública
2009 Qualitativo 1 _ 1 EFI
Luciana diário de campo; Alegre (RS) municipal
gravação

Pesquisa
2 familiares,
documental; Santa Maria da Boa
SILVA, Qualitativo 1 funcionária
observação Vista (PE); Juazeiro Pública
2009 Maria do (abordagem 5 3 da escola, 2 EFI e II, EJA
participante; diário (BA); Orizona (GO); municipal
Socorro etnográfica) professores e
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

de campo; Soledade (PB)


dois gestores
entrevistas

8 professoras
(4 professoras EF1 – classe
2 escolas
ARAÚJO, Grupo focal; Várzea 88 (multisseriada) – 111 de classes multisseriada
Pública (3º. ano); 4
2010 Nilza Cristina Qualitativo entrevistas; Grande (3º ano). Total de 199 multisseriadas (Escola do
municipal escolas (classe
Gomes de observação (MT) alunos e 4 professoras Campo) e 3º
multisseriada)
com classes ano EFI
cicladas)
Análise
GOULART, documental
Santo Antônio Pública Não
2011 Ligia Qualitativo (análise de 1 19 (6ª série) EFII
da Patrulha (RS) municipal especifica
Beatriz portfólio);
observação; portfólio

Análise documental;
BRAGA, Qualitativo
entrevistas; observação
Maria (fenomenologia Duas salas de aula: 3º e
como participante; Pública
2012 Margarete dialética – Ipueiras (CE) 1 5º anos: 21 alunos/25 5 EFI
relatórios descritivos das estadual
Sampaio de estudo de caso alunos
observações em sala de
Carvalho etnográfico)
aula
Qualitativo Não especificou,
CARLAN, Pública
2012 (estudo de caso Entrevistas Ijuí (RS) 1 observou aulas em 1 EFII
Paulo estadual
etnográfico) turmas de 5ª a 8ª série

Escola A: 5ª série – 51
Observação; alunos/6ª série – 61
caderno de alunos/7ª série – 71
LOPES,
Qualitativo campo; entrevista. alunos (T = 183).
Elaine Porto Pública
2013 (abordagem Escala de valores 2 Escola B: 6ª série – 62 4 EFII
Ferreira Alegre (RS) estadual
etnográfica) nominais para alunos/8ª série – 81
da Silva
as práticas alunos (T = 143) (uma
(C+; C-, E++ etc.) professora para as duas
séries) T = 326

Observação;
diário de campo;
Qualitativo Campo Limpo Pública
entrevistas Brasil –
(pesquisa-ação; Paulista (SP); municipal 1 Brasil
WECKELMANN, com 21 alunos; Não
2012 método da Mosteiro e Cávado (Brasil); EFI (4º ano)
Valéria Faria professores 1 Portugal Portugal – especificado
interpretação (Conselho de Pública
e alunos; 17 alunos
de sentidos) Braga, Portugal) (Portugal)
questionário
para o professor

ALMEIDA, Checklist; observação; Estado do Ceará


Alisandra diário de campo; (não identifica o EFI (2º; 3º; 4º; 5º
2014 Qualitativo Pública estadual 1 _ 6
Cavalcante entrevistas; questionário; município onde se ano)
Fernandes de análise documental situa a escola)

Não apresenta o
Observação participante;
BRIGUENTI, número, comenta
2014 Qualitativo elaboração de sequência Campinas (SP) Pública 1 2 turmas EM
Éderson Costa apenas que trabalhou
didática; cartografia
com 2 salas de aulas

49
O que evidenciam as pesquisas em educação
50
6 professoras
HORTA, Patrícia Entrevistas e7
2014 Qualitativo São Paulo (SP) Particular 4 _ EFI
Rossi Torralba semiestruturadas coordenadoras
pedagógicas

MORAIS, Observação; pesquisa-


2 professoras
2014 Georgyanna Qualitativo ação; formação; Caxias (MA) Pública municipal 2 _ EFI
alfabetizadoras
Andréa Silva entrevistas

18.664 alunos nas 53 professores


RODRIGUES, Observação; gravação de Não
2014 Qualitativo Estado de SP Pública estadual salas dos professores observados em EF e EM
Suely da Silva aulas; questionário especificado
observados sala de aula
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

ANDRADE,
Observação; entrevistas; Recife (PE); Aveiro Turma 1 – 14 alunos;
2015 Renata Maria Qualitativo Pública municipal 2 2 professores EFI
gravação das aulas (Portugal) turma 2 – 20 alunos
Barros Lessa de

Questionário do esporte
de orientação para
tarefa ou Ego traduzido;
entrevista com os 1 turma (30 alunos) 1 professor de Não especifica;
CHAVES, Aline
2015 Quali-quanti professores do Proeti Uberaba (MG) Pública municipal 1 para cada uma das 5 cada uma das 5 Programa de
Dessupoio
(Programa de Tempo modalidades de esporte modalidades tempo integral
Integral); observação
das aulas, utilizando o
instrumento Target

Observação não
Alunos observados na
MELGAÇO, Iria participante; Belo Horizonte
2015 Qualitativo Pública 1 sala de aula, mas o foco 1 EFII (9º ano)
Luiza de Castro questionários; entrevistas (MG)
é a professora
semiestruturadas
Entrevistas; registros
audiovisuais das aulas;
registros em vídeo
das intervenções e
MOREIRA, São Caetano do
2015 Qualitativo discussões em grupo; Particular 1 6 _ EFI (3º ano)
Wagner Alves Sul (SP)
material didático escrito;
produção de texto e
representações pictóricas;
elaboração de mapas

Questionários;
Francisco Morato
2015 SILVA, Gilson Qualitativo oficinas; entrevistas Pública municipal 1 _ 9 EFI
(grande São Paulo)
semiestruturadas

Qualitativo
Observação participante;
SANTOS, Karen (pesquisa-
caderno de campo;
2016 Christina formação. Natal (RN) Pública municipal 1 _ 16 EFI
análise de documentos;
Pinheiro dos abordagem
questionários; entrevistas
etnográfica)

Constituição de um
grupo de trabalho
colaborativo com Pública municipal,
CIRÍACO, Klinger Qualitativo
2016 encontros quinzenais e Naviraí (MS) pública estadual e _ _ 5 EI e EF
Teodoro (pesquisa-ação)
depois mensais (2 anos); privada
entrevistas por meio de
narrativas recorrentes

10 professores;
1 CP do NTM; 1
prof. de língua
Entrevista dialógica; portuguesa
BELLOTTI, Alunos do 2º ao 5º ano
2017 Qualitativo observação; análise Juiz de Fora (MG) Pública municipal 1 em cargo EFI
Andreia Alvim (não especifica)
documental técnico na SME.
Observação
de aula de 2
professores

51
O que evidenciam as pesquisas em educação
52
Observação; análise
2017 HANNEL, Kelly Qualitativo Porto Alegre (RS) Pública federal 13 256 estudantes _ EFII
documental

8 salas de aula
Observação; entrevistas;
– 4 professores
documentos (PPP;
de 4º ano; 4
caderno de campo;
LIMA, Simone de 5º ano. Em
2017 Qualitativo fotografias do que foi Marília (SP) Pública municipal 2 _ EFI (4º e 5º anos)
Marques cada escola
desenvolvido na lousa;
4 professores
cadernos dos alunos e as
foram
avaliações)
observados

8 professores
RESENDE, entrevistados;
2017 Adriana Qualitativo Observação; entrevistas Osasco (SP) Pública municipal 1 27 3 professores EFI
Torquato acompanhado;
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

27 estudantes

Não se aplica
50 professores
(os professores
responderam
Região são de
ao questionário;
ROSA, Claudia Questionário; entrevistas; Metropolitana de Pública municipal e diferentes
2017 Qualitativo _ 9 professores EFII, EM e EJA
do Carmo observação de aulas Goiânia (RMG) e estadual escolas, o que
entrevistados;
Anápolis (GO) os caracteriza é
2 professores
estar em início
observados
de carreira)

33 estudantes
SANTOS, Qualitativo observados na 1ª turma Docentes;
Observação; entrevistas
2017 Graziella Souza (abordagem Porto Alegre (RS) Pública municipal 2 9º ano; 33 estudantes diretores; EFII
semiestruturadas
dos etnográfica) observados na 2ª turma supervisores
9º ano

Observação participante;
SILVA, Ana Elisa questionários; análise 60 alunos. 4º ano = 27
2017 Drummond Qualitativo de documentos e de Salvador (BA) Pública municipal 1 alunos; 5º ano = 33 3 EFI (4º e 5º anos)
Celestino conteúdos digitais; alunos
entrevistas; grupo focal

Análise documental;
STEFANELLI, Brasília (DF) e BH Pública estadual e
2018 Qualitativo entrevistas em 4 26 4 EFII e EM
Ricardo (MG) federal
profundidade
O que evidenciam as pesquisas em educação

Postas essas características das pesquisas selecio- ensino fundamental, foi classificado na área de
nadas, serão apresentados os objetivos a que se dedi- linguagens, uma vez que trata de movimentos,
cam e os referenciais teóricos que utilizam. gestos, expressões.

3. Objetivos de pesquisa dos artigos Dentre os oito artigos que compõem a área de
analisados e referencial teórico linguagens, três objetivam explicitar e analisar as
práticas adotadas pelos professores no processo
Serão sumarizados os objetivos das pesquisas de aquisição e desenvolvimento da leitura e/ou
relatadas nos artigos selecionados para este estudo, escrita. Os artigos de Thomazi e Asinelli (2009),
a fim de situar o foco dessas investigações, o que Oliveira e Bonamino (2015) e de Albuquerque,
auxiliará posteriormente a construir reflexões Morais e Ferreira (2008) focaram sua atenção
sobre a arquitetura de sustentação de práticas sobre as práticas adotadas pelos professores para
que contribuem para a criação de ambiências ensinar, no primeiro e segundo caso, leitura e, no
educacionais favoráveis ao desenvolvimento das terceiro, leitura e escrita. O artigo de Thomazi e
aprendizagens dos alunos. O amplo espectro de Asinelli (2009) buscou conhecer os mecanismos
abordagem dessas pesquisas, quanto a áreas de de elaboração do currículo de leitura, partindo
conhecimento, enfoques, objetivos, objetos e meios da etapa do planejamento, para verificar se os
de investigação – como se verá adiante – permite professores planejam e de que forma o fazem
considerá-las como uma amostra adequada para as – coletiva ou individualmente, se discutem, se
análises a serem desenvolvidas neste trabalho. estudam, se preparam e em que se apoiam, se
elaboram um documento, um programa etc. – e,
Os interesses de pesquisa dos 24 artigos depois, sua aplicação efetiva junto aos alunos. O
selecionados não só são diversos mas, sobretudo, artigo de Albuquerque, Morais e Ferreira (2008)
permitem múltiplas classificações. Assim, optou- analisou os conteúdos e atividades que os
se por apresentar esse dado agrupando os artigos professores costumavam priorizar para ensinar
pelas temáticas linguagens (oito), matemática a notação alfabética, o que incluiu identificar
(quatro) e ciências da natureza (oito), tendo em que práticas de leitura e produção de textos
vista explicitar as similaridades e especificidades escritos os docentes costumavam desenvolver
dessas produções em relação à área. Dos cinco e como vinculavam esses diferentes domínios
artigos que não se inserem em uma área de de conhecimento. Já o trabalho de Oliveira e
conhecimento específica, dois foram agrupados Bonamino (2015), de natureza quantitativa, que
por terem como interesse comum o campo da envolveu 17 mil alunos e 600 professores do
avaliação educacional, abordando também a 2º e do 3º ano do ensino fundamental, com o
avaliação de sistema. Nesse caso, os artigos foram uso de escalas de habilidades dos alunos e de
retidos para este estudo porque relacionam as práticas pedagógicas dos professores, discute a
questões de avaliação a práticas pedagógicas. Os associação entre práticas pedagógicas declaradas
dois artigos restantes tratam, respectivamente, pelos professores e o aprendizado de diferentes
da criatividade e da multisseriação na educação habilidades de leitura pelos alunos.
do campo, como já se explicitou anteriormente.
Como o artigo sobre ludicidade trata da transição A prática pedagógica de professores alfabeti-
da educação infantil para os anos iniciais do zadores foi pesquisada no estudo apresentado

53
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

no artigo de Zibetti e Souza (2010). As autoras mental com base nas práticas e interações entre
analisaram duas cenas recortadas do cotidiano crianças e adultos observadas em instituições
escolar, protagonizadas por uma professora al- públicas – creches, escolas de educação infantil
fabetizadora, para exemplificar como os saberes e escolas de ensino fundamental. Já o artigo de
docentes são alterados e recriados no enfrenta- Rocha (2009) teve como objeto de análise as prá-
mento dos desafios decorrentes do desenrolar ticas pedagógicas mais típicas realizadas nesses
das aulas no cotidiano da sala de aula. Um estu- espaços educacionais, com especial destaque às
do sobre as práticas desenvolvidas com o apoio condições oferecidas pela atividade lúdica.
do material didático do Programa Ler e Escrever,
sobre como a proposta foi vivenciada pelos alu- Os quatro artigos da área de matemática abordam
nos e pela professora de uma sala de 1º ano do questões relativas ao uso de estratégias didáticas
ensino fundamental, é apresentado no artigo de utilizadas por professores de matemática, porém
Santos e Tassoni (2015). As autoras observaram com enfoques diferentes. Starepravo e outros
como os alunos desenvolvem as atividades con- (2017) analisam as contribuições do Jogo do
tidas nas propostas do material e analisaram as Resto para a compreensão do conceito de
impressões da professora e dos alunos sobre esse multiplicação em crianças do 4º ano do ensino
material, pondo em evidência questões da práti- fundamental, e Barbosa e Oliveira (2018) estudam
ca pedagógica no contexto do seu uso. o uso de materiais curriculares por professores
que ensinam matemática. Há, no artigo de Ceolim
Ainda nesse grupo das linguagens, uma pesquisa e Caldeira (2017), um estudo sobre a aplicação da
com professores de educação física (GEMENTE; modelagem matemática em turmas da educação
MATTHIESEN, 2017) teve como objetivo verificar as básica, tendo em vista identificar obstáculos e
possíveis contribuições para práticas pedagógicas dificuldades apontados por professores recém-
favorecidas pela oferta de um curso de formação egressos de cursos de licenciatura em matemática
continuada, fundamentado nas necessidades e di- e que cursaram, na graduação, a disciplina de
ficuldades dos próprios professores em trabalhar modelagem matemática. Estratégias utilizadas
com o atletismo na educação física escolar. por professores de matemática em sala de aula
para desenvolver a criatividade discente e a
Dois artigos, o de Kramer, Nunes e Corsino (2011) motivação na disciplina são analisadas no artigo
e o de Rocha (2009), tratam da transição da edu- de Otaviano, Alencar e Fukuda (2012).
cação infantil para os anos iniciais do ensino fun-
damental. Como bem ressaltam Kramer, Nunes Os artigos da área de ciências da natureza
e Corsino (2011), a inserção das crianças de seis também apresentam diversidade em relação aos
anos no ensino fundamental levanta questões objetivos de investigação. Seis se debruçam sobre
tanto para os profissionais da educação infantil a prática do professor com enfoque no processo
quanto para os do ensino fundamental, especial- de ensino e aprendizagem nas disciplinas de
mente no que diz respeito aos espaços e práti- física, química e biologia. Lima, Lima e Damião
cas pedagógicas e sua adequação à faixa etária (2018), por exemplo, investigam as concepções
das crianças. Tendo em vista as implicações des- de ensino utilizadas por professores para tomadas
sa transição, esse artigo problematiza o trabalho de decisões no planejamento de aulas de física.
com as crianças de seis anos no ensino funda- Os artigos de Ribeiro (2015) e o de Santos,

54
O que evidenciam as pesquisas em educação

Santos e Silva (2014) colocam em evidência ensinar. Alguns têm interesse pelo processo
o papel das atividades experimentais nas que antecede a aula, o planejamento, o que
aulas de física e de química, respectivamente, inclui as concepções de ensino utilizadas por
sendo que o primeiro busca descontextualizá- professores para tomadas de decisões, a escolha
las em oposição à apresentação estática dos das estratégias para o ensino de um determinado
conteúdos, e o segundo coloca em destaque as conteúdo ou para desenvolver a criatividade
contribuições das atividades experimentais para e a motivação. Há aqueles que estudam a ação
o êxito dos aprendizes na realização de seus didática com análise das interações promovidas
trabalhos, especialmente aquelas que envolvem em sala de aula, e, ainda, outros estudos que
interações discursivas. investigam o uso de materiais didáticos e
curriculares em seu emprego na aula.
Como a prática do professor pode contribuir
para que os alunos compreendam os códigos, Observa-se que os dois trabalhos sobre avaliação
conceitos e métodos particulares das ciências educacional foram selecionados neste estudo
biológicas é o objetivo do artigo de Freitas porque relacionam as práticas administrativas
(2013), partindo da linguagem cotidiana. O artigo e/ou pedagógicas com os resultados em
de Souza e Santos (2018) aborda a exigência avaliações de sistema, levantando aspectos
conceitual na prática pedagógica de professores relativos às ações educacionais. O objetivo
de química que ensinam química e física. Já o do artigo de Salgado Junior, Novi e Ferreira
estudo apresentado por Quadros e outros (2011) (2016) consistiu em inter-relacionar práticas
versa sobre as percepções dos professores sobre administrativas e pedagógicas identificadas em
as práticas pedagógicas em sala de aula e na escolas municipais do ensino fundamental que
escola, incluindo as dificuldades enfrentadas e podem contribuir para o desempenho dos alunos
as possíveis maneiras de solucioná-las. na Prova Brasil. Já Cardelli e Elliot (2012) realizam
estudo avaliativo das relações estabelecidas
Outras perspectivas se mostram em dois trabalhos entre alunos, gestores, comunidade do entorno,
que abordam a questão da prática pedagógica familiares, professores e técnicos pedagógicos
do professor da área de Ciências da Natureza. de uma escola pública inserida em uma área de
Santos e Marcondes (2013) investigam um projeto risco, que vem apresentando, ao longo dos anos,
colaborativo envolvendo professores de química, resultados positivos em suas avaliações. Buscou-
projeto que é colocado como instrumento para a -se, assim, avaliar que fatores levam essa escola a
reflexão dos docentes sobre as suas concepções apresentar tais resultados.
e práticas pedagógicas. Baptista (2015) toma a
etnobiologia – ciência que estuda as inúmeras Dos dois artigos restantes, o de Almeida e Alencar
relações entre os seres humanos e a natureza ao seu
(2010) versa sobre criatividade e teve por objetivo
redor – para problematizar como esse campo podeinvestigar a percepção de estudantes do ensino
contribuir com a formação do professor de ciências
médio em relação ao nível de sua criatividade,
para que seja sensível à diversidade cultural. de seus professores e dos colegas, bem como
identificar a extensão em que seus professores
A maioria desses artigos tem como eixo comum implementam práticas que promovem a
a prática pedagógica adotada por docentes para expressão e o desenvolvimento da criatividade.

55
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

O estudo de Parente (2014) tem como foco a a regras ideologicamente configuradas, mas
educação do campo com foco na multisseriação, que variam com o contexto. Santos, Santos e
tendo em vista analisar, dentre outros aspectos, Silva (2014) recorrem à aplicação da teoria do
as concepções e as práticas pedagógicas de discurso pedagógico de Bernstein e ao estudo
professores que atuam em turmas multisseriadas dos processos de escolarização na área de
de escolas públicas. ciências para analisar as interações discursivas de
professores de química durante a definição de
O embasamento teórico utilizado nos artigos atividades experimentais. Já Souza e Santos (2018)
para criar um plano de sustentação argumen- também se apoiam nessa teoria para analisar e
tativo sobre o estudo realizado é muito disper- contrastar o nível de exigência conceitual da
so. Dos 24 artigos selecionados, sete recorrem prática pedagógica de professores que atuam na
a autores diversos sem especificar o uso de um docência nas disciplinas de química e física no
referencial teórico que tenha embasado as aná- ensino médio.
lises, e os demais nomeiam e justificam o uso do
seu referencial. Porém, há dispersão em cinco Barbosa e Oliveira (2018) utilizam as noções de
deles, e os demais (12) têm alguma convergên- voz e mensagem elaboradas por Bernstein (2000)
cia teórica, a saber: cinco utilizam a perspecti- para analisar as diferenças entre a mensagem
va sociológica de Basil Bernstein; três recorrem dos materiais curriculares para professores que
à perspectiva sócio-histórica-cultural e utilizam ensinam matemática e a mensagem (voz) da
Vygotsky, Bakhtin e Leontiev; um apoia-se nos prática pedagógica escolar de quem os utilizou.
estudos baseados no construtivismo piagetia- Já o artigo Thomazi e Asinelli (2009), sobre
no; um toma como referência estudos sobre leitura, que teve a intenção de compreender o
efeito-escola e efeito-professor com forte influ- que se passa durante as ações de planejamento
ência das pesquisas realizadas no contexto es- das atividades de leitura que antecedem sua
tadunidense; e dois utilizam os constructos de aplicação efetiva junto aos alunos, apoia-se na
motivação e criatividade. É sobre esses 12 que construção conceitual sobre código seriado e
será feita análise a seguir. código integrado de Bernstein, que estabelece
as diferenças entre esses dois modelos na
Dentre os cinco artigos que recorreram à transmissão do “saber escolar”.
perspectiva sociológica de Basil Bernstein,
cuja obra está centrada nas relações entre Entre os três artigos que recorrem à perspectiva
linguagem e educação, três são da área de sócio-histórica-cultural e utilizam Vygotsky,
ciências da natureza, um de matemática e um Bakhtin e Leontiev, dois são da área de linguagens,
de linguagens. e um relativo às atividades lúdicas nos anos
iniciais. Um dos textos sobre alfabetização,
Freitas (2013) utiliza-se da ideia de estruturação de Zibetti e Souza (2010), estuda a dimensão
dos discursos, de Bernstein, para investigar criadora dos saberes docentes mobilizados por
o processo de escolarização de conteúdos uma professora alfabetizadora, com base nas
imagéticos em aulas de biologia. Ele considera a contribuições de Lev Vygotsky sobre o conceito
aula como mediada por um discurso pedagógico de atividade criadora.
oficial, analisado como multimodal, sujeito

56
O que evidenciam as pesquisas em educação

O outro, que investigou práticas e interações a estratégias utilizadas por seus professores de
entre crianças e adultos em creches, escolas matemática em sala de aula para desenvolver
de educação infantil e escolas de ensino a criatividade discente e sua motivação na
fundamental do setor público, apoia-se em disciplina. Já o artigo de Almeida e Alencar (2010)
Bakhtin e Vygotsky para falar das crianças como diz respeito à criatividade no ensino médio com
produtoras de cultura, constituídas por meio de foco nas práticas docentes que promovem a
sua classe social, etnia, gênero e com diferenças expressão e o desenvolvimento da criatividade.
físicas, psicológicas e culturais (KRAMER; NUNES; Ambos os artigos utilizam estudos desenvolvidos
CORSINO, 2011). Já o artigo de Rocha (2009), por Eunice Alencar e Denise de Souza Fleith,
que teve como objeto de análise as atividades que destacam os fatores que influenciam o
lúdicas mais utilizadas para crianças do primeiro desenvolvimento e expressão da criatividade no
ano do ensino fundamental, concentra-se nas contexto educacional.
formulações feitas na abordagem histórico-
cultural, apropriando-se, especialmente, das 4. Objetivos de pesquisa das
colaborações de Vygotsky, Leontiev e Elkonin. teses de doutorado analisadas
e referencial teórico
O artigo que se apoia nos estudos baseados
no construtivismo piagetiano é da área de Analisando-se os objetivos das 28 teses selecio-
matemática: Starepravo e outros (2017) utilizam nadas, verifica-se que elas buscam compreender
o conceito de autorregulação compreendida os processos pelos quais é construída a prática
com base em Jean Piaget e Barbel Inhelder para pedagógica e como ela é vivenciada por um ou
analisar as contribuições do Jogo do Resto para a mais docentes, em várias áreas temáticas.
compreensão do conceito de multiplicação.
Oito teses investigam as práticas de um conjun-
O artigo, que toma como referência estudos to de professores. Resende (2017) e Araújo (2010)
sobre efeito-escola e efeito-professor com forte investigam, respectivamente, as práticas pedagó-
influência das pesquisas realizadas no contexto gicas de professores do 5º ano e de classes mul-
estadunidense, é fruto de uma pesquisa tisseriadas, esta última tese indicando como tais
quantitativa. Focado na leitura, o artigo de práticas podem contribuir com a dinâmica de
Oliveira e Bonamino (2015) teve como objetivo trabalho das professoras de classes cicladas. A lín-
compreender processos de aprendizagem e de gua portuguesa e a matemática são representa-
ensino de forma a identificar feitos diferenciados das pelas teses de Andrade (2015) e Lima (2017),
de práticas pedagógicas no aprendizado das ambas pesquisando os anos iniciais do ensino
habilidades de leitura. fundamental: enquanto a primeira busca analisar
práticas docentes em situações de produção de
Há dois artigos que utilizam os constructos de textos, a última o faz no contexto didático da re-
motivação e criatividade. O trabalho de Otaviano, solução de problemas.
Alencar e Fukuda (2012) investiga, dentre
outros aspectos, as diferenças entre estudantes Três teses da geografia (GOULART, 2011; BRIGUENTI,
de escola pública e particular e do gênero 2014; ROSA, 2017) trazem, nessa ordem, a peda-
masculino e feminino em sua percepção quanto gogia de projetos, a mediação cartográfica e os

57
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

fundamentos didático-pedagógicos da geografia leitura e de escrita, já que a professora assumiu a seleção


escolar como aspectos importantes que interferem do conhecimento e tornou explícitos os critérios de
na aprendizagem dos alunos e se manifestam no avaliação (PICOLLI, 2009, p. 197).
contexto da prática pedagógica dos professores.
A tese de Rosa (2017), com vários objetivos es- Levando em consideração tendências e modelos
pecíficos, traz também a particularidade de com- educacionais baseados em concepções de ciên-
preender como ocorre a prática pedagógica dos cias, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA), no
professores iniciantes de geografia, tendo por re- construtivismo educacional, na mudança concei-
ferência sua formação inicial e os processos de re- tual, no conflito cognitivo, nas concepções alter-
contextualização em sala de aula. Já a tese de Silva nativas e, posteriormente, no perfil conceitual e
(2009), sobre a modalidade educação no campo, na evolução conceitual, a prática pedagógica da
analisa as propostas e práticas pedagógicas de um professora de ciências foi analisada por meio de
conjunto de escolas para identificar semelhanças inovações externamente induzidas (pelos Parâme-
e singularidades entre elas. tros Curriculares Nacionais – PCNs) que pudessem
promover possíveis rupturas com o modelo edu-
Três teses fazem um estudo de caso com base em cativo convencional (MELGAÇO, 2015).
entrevistas e observação com um único docente:
Picolli (2009) (alfabetização – 2º ano); Melgaço O tema das tecnologias digitais é abordado
(2015) (ciências – ensino fundamental); e Carlan por sete teses, que o conciliam com a análise
(2012) (educação física – 5ª a 8ª série). As duas das práticas docentes: duas são da língua
primeiras selecionaram para análise a prática da portuguesa (SANTOS, 2016; BELLOTTI, 2017), três
professora que mais “produziu aprendizagem trazem mais de uma disciplina (WECKELMANN,
entre os alunos, no sentido de tornarem-se 2012; ALMEIDA, 2014; SILVA, 2017) e duas não
capazes de elaborar o texto considerado legítimo especificam áreas de conhecimento, e sim se
no contexto escolar” (PICOLLI, 2009, p. 16) ou anunciam como das temáticas audiovisual
que interagiu com abordagens e estratégias de (STEFANELLI, 2018) ou TIC (HANNEL, 2017). Alguns
ensino consideradas inovações pela comunidade dos trabalhos investigam como os professores se
escolar (MELGAÇO, 2015). Embora partam de apropriam dos recursos digitais e se tal vivência
referenciais teóricos distintos, pode-se dizer que traz mudanças/inovações em suas práticas
a prática pedagógica investigada nessas três pedagógicas na sala de aula; outros vão além,
teses tem como característica forte e comum o analisando também os efeitos desse processo no
investimento pedagógico, isto é, a intervenção engajamento dos alunos. Stefanelli (2018, p. 25),
objetiva-intencional que se nutre de diferentes por exemplo, conclui que “práticas pedagógicas
perspectivas e/ou orientações externas, como é escolares com uso de audiovisual propiciam um
possível observar no trecho a seguir: processo ensino aprendizagem que potencializa
a autonomia e a criatividade significativa entre
professores e estudantes”. Já a tese de Hannel
Evidenciou-se a importância da intervenção pedagógica
explícita no que se refere à organização do ensino (2017) diferencia-se um pouco das demais dado
da alfabetização e do letramento para possibilitar a seu caráter aplicado, ao propor “um método de
aprendizagem dos alunos, partindo dos conhecimentos uso das ferramentas disponíveis de ambientes
das crianças para chegar à forma convencional de virtuais, principalmente do Moodle, para alcançar

58
O que evidenciam as pesquisas em educação

a personalização do ensino e conduzir o aluno Por fim, há cinco teses que trazem objetivos
em sua própria trajetória individual rumo ao variados: Braga (2012) busca analisar as ações
aprendizado significativo, sanando dificuldades e as relações que expressam os elementos
de conteúdo” (HANNEL, 2017, p. 6). constituidores da dimensão humanizadora da
pedagogia de Paulo Freire na prática pedagógica
Saindo da perspectiva da vivência e construção docente-discente; a tese de Chaves (2015), única
da prática pedagógica, três teses a tomam na quali-quanti, trata do clima motivacional no
sua relação com a aprendizagem dos alunos, esporte educacional; Moreira (2015) investiga o
ou seja, buscam vincular a prática do professor desenvolvimento do conhecimento pedagógico
ao desempenho dos estudantes. Duas delas do conteúdo para o ensino de argumentação
são da área de linguagens: a de Lopes (2013), científica (PCKarg) de um professor de química;
focada na língua portuguesa, busca identificar Horta (2014) trabalha com as percepções do que
“práticas pedagógicas do ensino fundamental seja um “bom professor”; e Santos (2017) procura
que tenham possibilitado aos alunos, durante compreender os processos de recontextualização
o percurso escolar, aprenderem o que lhes é curricular no âmbito do planejamento docente e
proposto” (LOPES, 2013, p. 16). A tese de Morais de suas práticas pedagógicas de ensino.
(2014) relaciona a avaliação externa (no caso,
a Provinha Brasil) às práticas pedagógicas de Em relação ao referencial teórico, embora haja
professoras alfabetizadoras “com vistas a garantir alguns autores comuns, não se pode dizer que a
a aprendizagem dos alunos” (MORAIS, 2014, p. 16). referência a um dado conjunto esteja associada a
A terceira tese, de Rodrigues (2014), situada no determinada área do conhecimento. Até porque
campo dos estudos sobre eficácia docente, tem muitos desses autores comuns são relacionados
por objetivo associar os perfis e características ao processo de aprendizagem. Assim é que se
de práticas pedagógicas de professores de tem Lev Vygotsky e John Dewey em teses de
matemática considerados eficazes com o língua portuguesa, geografia e matemática,
desempenho dos alunos. e Basil Bernstein nas duas primeiras; Lee
Shulmann em matemática, ciências, química e
Há dois trabalhos que analisam as práticas geografia; Maurice Tardif em língua portuguesa,
pedagógicas no contexto da formação de matemática e ciências; e Antonio Nóvoa na
professores: Silva (2015) objetiva investigar como primeira e na última; e Paulo Freire também
programas de formação continuada em serviço, em língua portuguesa, matemática, ciências e
baseados em metodologias de oficinas de em uma tese sobre audiovisual. Enfim, cada um
experimentação em Ciências, podem contribuir desses autores aparece em aproximadamente
com as práticas pedagógicas dos professores três das 28 teses. A maioria delas, por sua
dos anos iniciais do ensino fundamental. Ciríaco vez, compila várias referências tanto na área
(2016) busca “retratar o movimento do aprender do ensino quanto na área específica do
a ensinar matemática com base na ação conhecimento em questão. São poucos aqueles
colaborativa de um grupo de professoras em trabalhos que partem basicamente de um só
início de carreira, tendo em vista compreender as autor e teoria e, quando isso acontece, é Paulo
dimensões envolvidas neste processo” (CIRÍACO, Freire a referência única (BRAGA, 2012; ALMEIDA,
2016, p. 61). 2014; STEFANELLI, 2018).

59
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Tal dispersão leva a pensar que as teses sobre práticas


Há posições diversificadas quanto a conceituações
pedagógicas se nutrem de um rol de teóricos que e fatores associados às práticas pedagógicas.
tratam do processo de ensino e aprendizagem, mas Algumas posições representativas de diferentes
não há nenhum autor predominante. perspectivas são destacadas – sem esgotar todas
as referências apresentadas nos artigos e teses –, as
Por outro lado, a área de língua portuguesa (aí quais também devem ser consideradas dentro dos
incluída a alfabetização), até por concentrar maior objetivos da pesquisa e seu delineamento teórico.
número de teses, é a única em que se encontram
referências específicas da área, citadas em mais
De maneira bem sintética, a ideia básica que
de uma tese: Mikhail Bakhtin; Emília Ferreiro e Ana
perpassa os artigos é que a prática pedagógi-
Teberosky; e Ana Maria Moraes e Isabel Pestana
ca diz respeito à atuação do professor no âm-
Neves aparecem em pelo menos duas teses.
bito da sala de aula como parte do processo
de ensino e aprendizagem. Embora ela seja
afetada por inúmeros fatores externos, falar
5. Práticas pedagógicas e seu
de prática sugere falar das formas de comuni-
conceito no conjunto dos
cação, atitudes e movimentos empreendidos
artigos e das teses analisados
pelo docente na sua relação com os alunos no
locus específico e concreto da sala de aula. Já
Essa análise implicou, em um primeiro momento,
nas teses, ao lado dessa concepção, também é
verificar quantos artigos e teses definiam o que os
fortemente enfatizada a questão da intencio-
autores entendem por “prática pedagógica” e, em
nalidade associada ao ato pedagógico.
segundo lugar, se incorporavam em seus objetivos
a pretensão de trazer algum tipo de evidência sobre
a contribuição dessas práticas para a formação de Um dos artigos sobre alfabetização, tendo por mote
professores e/ou aprendizado dos alunos. que a prática pedagógica associa-se à ideia de “fa-
bricação” do cotidiano escolar pelos professores,
invoca Roger Chartier (2000) para falar de mudan-
Dos 24 artigos e 28 teses selecionados, apenas
ças nas práticas de ensino, as quais poderiam ser de
oito e 13, respectivamente, trazem alguma
dois tipos: as de natureza didática, que são relativas
definição sobre prática pedagógica – às vezes
às definições dos conteúdos para ensinar; e aque-
sob a nomenclatura “prática de ensino”, “prática
las “relativas à organização do trabalho pedagógico
docente”, “prática educacional/educativa”.
(modalidades de organização dos alunos na sala de
aula, emprego do tempo, formas de avaliação etc.),
Esses oito artigos e 13 teses são menos da metade que se caracterizam como mudanças de natureza
da produção analisada, mas estão representados pedagógica” (ALBUQUERQUE; MORAIS; FERREIRA,
em todas as áreas do conhecimento. Nos demais 2008, p. 252). Todas as ações referidas são práticas
trabalhos, essa conceituação fica implícita ou docentes para atuação na sala de aula.
subjacente a comentários apresentados sobre
a questão segundo vários autores, porém, sem Uma das teses na área da matemática adota o
apresentar concepção articulada ou sem assumir conceito de Maria Amélia Santoro Franco (2015)
a de algum teórico ou teóricos. para a prática pedagógica, como um conjunto

60
O que evidenciam as pesquisas em educação

intencional de ações que visam à consolidação mas dão destaque à relação professor-aluno. Tal
do ensino e da aprendizagem: perspectiva, trazida por um artigo da área de
matemática (BARBOSA; OLIVEIRA, 2018), assume
As práticas pedagógicas incluem desde planejar e que prática pedagógica é a relação entre quem
sistematizar a dinâmica dos processos de aprendizagem ensina e quem aprende, aquela que toma
até caminhar no meio de processos que ocorrem para lugar na instituição escola. Baseada em Paulo
além dela, de forma a garantir o ensino de conteúdos e Freire, a tese de Braga (2012, p. 43), da área das
de atividades que são considerados fundamentais para linguagens, destaca a relação dialógica da prática
aquele estágio de formação do aluno, e, através desse pedagógica como forma de superar a prática
processo, criar nos alunos mecanismos de mobilização da “transferência de quem sabe para quem não
de seus saberes anteriores construídos em outros espaços
sabe”, já que ambos – docente e estudante – são
educativos (FRANCO, 2015, apud LIMA, 2017, p. 19).
sujeitos do ato de conhecer. Assim concebida,

A tese de Araújo (2010), que se baseia em José


[A prática] é o espaço-tempo em que professor(a) e
Gimeno Sacristán para definir prática pedagógica, estudantes têm a possibilidade de desenvolver ações
remetendo-a ao processo de ensino e aprendizagem criadoras, com valorização do pensamento divergente,
e à ação didática, vai nessa mesma direção: a partir do estímulo à elaboração de respostas que
superem as expectativas, o convencional [...] através
do respeito aos saberes, gostos, linguagem dos/as
Sugerem usos metodológicos, avaliações psicológicas
estudantes e investimento do professor na superação
de diferentes processos de aprendizagem, partilha
dos mesmos, em busca dos saberes eruditos, mediados
de competências; tem a ver com o que os professores
pela materialidade do homem e do mundo. Visa
consideram útil ensinar aos alunos de um determinado
o exercício da autonomia, atrelado à ética, com
grupo social; exprime avaliações epistemológicas do
vistas à compreensão do papel desumanizador da
professor sobre a importância de um conteúdo; demarca
licenciosidade, com a escuta sensível do professor
normas de comportamento na aula; reflete valores
como incentivo ao exercício da fala do/a estudante
sociais sobre a importância das línguas e pressões de
(BRAGA, 2012, p. 43, 48).
grupos de especialistas etc. Tudo isto configura a prática,
que é tudo isto ao mesmo tempo (GIMENO, 2003, apud
ARAÚJO, 2010, p. 141).
Outros trabalhos ampliam ainda mais o conceito
para ressaltar que a relação professor-aluno
Nesses casos, está-se no ambiente específico da sempre se dá dentro de um contexto social e
sala de aula. Poucos são os artigos e as teses que cultural. A tese de Almeida (2014), por exemplo,
concebem a prática pedagógica explicitamente dialoga também com Paulo Freire e com Ilma
dessa maneira. Todavia, embora não haja Passos Veiga para destacar a prática como um
consenso nos referenciais teóricos utilizados, processo de interação que ocorre em sala de
pode-se dizer que essa concepção de prática aula, mas que não pode ser alienado de seu
como sinônimo das ações docentes no ambiente contexto exterior:
da classe está implícita nos trabalhos.
No entendimento de Passos e Veiga (1989), a prática
Ampliando essa visão, há autores que colocam pedagógica deve ser entendida como uma prática social
ênfase não apenas na atuação do professor, orientada por objetivos, finalidades e conhecimentos,

61
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

e inserida no contexto dessa prática social. [...] A construção de posturas, atitudes, valores, significado
prática pedagógica é uma dimensão da prática social, social dos conhecimentos, responsabilidade social
portanto imbuída de contradições e de características e para consigo mesmo, entre outras condições.
socioculturais. [...] Expressa atividades rotineiras que são É assim que duas teses (uma de geografia e outra
desenvolvidas no cenário escolar, podendo vir a serem
que trata das escolas do campo) destacam, além do
atividades planejadas com o intuito de possibilitar
aspecto sociocultural e relacional das práticas, seu
a transformação colaborando para a redução das
desigualdades sociais, ou, pelo contrário, reforçar esta
caráter coletivo, institucional e intencional, tal como
por meio do que Freire (1987) denominou a educação se vê nos excertos abaixo:
bancária (ALMEIDA, 2014, p. 26, p. 111-112, p. 163).

A prática pedagógica trata de um processo individual,


particular e, ao mesmo instante, coletivo. A reflexão dos
Duas teses de língua portuguesa (LOPES, 2013 conhecimentos e das experiências docentes permite uma
BELLOTTI, 2017) destacam de modo similar esse compreensão de si mesmo, da equipe escolar, assim como
aspecto sociocultural, apoiando-se, respecti- dos contextos (macro e micro) em que atuam. Melhor
vamente, em Basil Bernstein, e Bill Cope e Mary dizendo, a prática pedagógica pode ser entendida como um
Kalantzis: no primeiro caso, a prática é entendi- processo de conhecimentos, sentidos, ações e significados
da como “um condutor cultural: um dispositivo implicados num contexto de ser e estar em contínuo
desenvolvimento de formação pessoal e profissional, diante
singularmente humano tanto para a reprodução
de relações educacionais, sociais, econômicas e políticas,
como para a produção da cultura” (BERSNTEIN,
realizadas dentro e fora da escola (ROSA, 2017, p. 56).
1996, apud LOPES, 2013, p. 33). No segundo caso,
Em João Francisco de Souza (2009), buscamos a
categoria analítica prática pedagógica entendida como
Pelo fato de a cognição humana ser socioculturalmente
uma ação coletiva institucional e intencional, dentro
situada, essa prática [pratica situada (experienciamento)]
de um fenômeno social mais amplo que é a educação,
representa a imersão em práticas significativas em
portanto, permeada por uma teoria da educação pela
uma comunidade de aprendizes, considerando-se as
interação entre os sujeitos e o conhecimento. [...] Para
necessidades socioculturais e suas identidades. Leva
este autor, a prática pedagógica supõe uma teoria da
em conta aquilo que já é conhecido pelos aprendizes
educação que oriente suas finalidades e objetivos para
e aquilo que é novo (COPE; KALANTZIS, 2009, apud
a formação humana na perspectiva da transformação da
BELLOTTI, 2017, p. 85-86).
sociedade. Portanto, uma ação coletiva e institucional
é composta por quatro polos: prática docente, prática
Em todos esses casos, está implícita a ideia de discente e prática gestora que se inter-relacionam para
que a prática pedagógica requer – como pontua garantir o quarto polo, que é o epistemológico ou dos
Roger Chartier – conhecimento do conteúdo a conteúdos educativos (SILVA, 2009, p. 74).

ser ensinado, estratégias e recursos para ensiná-lo


e, além disso, conhecimento de como o professor É nesse sentido que a prática pedagógica não
ensina e o estudante aprende, em um certo contexto pode ser alheia aos processos curriculares
social. Essa é uma discussão que tem ocupado vários que são gestados exteriormente à escola, mas
autores na área educacional, na qual cada vez mais internamente reapropriados pelo coletivo dos
é presente a concepção de que é preciso considerar professores e por cada um deles individualmente,
a relação prática pedagógica/desenvolvimento dos que concretizam o currículo em ação. É a essa
alunos em perspectiva mais integradora, agregando relação que se dedica a tese de Santos:

62
O que evidenciam as pesquisas em educação

O currículo praticado não será mais exatamente o professores têm sobre as atividades que eles
mesmo do nível do planejamento dos professores, nem propõem aos alunos” (FAVRE; PERREDOUD, 1985,
o mesmo do nível curricular institucional, tampouco o apud THOMAZI; ASINELLI, 2009, p. 184). Implícita
mesmo do currículo previsto pelas instâncias oficiais. e de forma bastante simples está aqui a ideia de
Por esta razão, as práticas pedagógicas de ensino
que a prática pedagógica diz respeito justamente
também são entendidas como um processo de
às “atividades que os professores propõem aos
recontextualização curricular, uma vez que o currículo
é novamente remodelado e ajustado pelos professores
alunos”. Ao mesmo tempo, os autores invocados
nesta etapa (SANTOS, 2017, p. 206). salientam que, nesse discurso, “o ponto de vista
é parcial porque trata-se de uma reconstrução
da realidade”. Todavia, ele é válido e se justifica
O tema das mudanças na prática pedagógica – poder-se-ia acrescentar: como uma evidência
está presente na discussão do conceito de – porque “compreender as práticas passa por
inovação, trazido por apenas um trabalho dentre uma parte não negligente de apreensão das
o conjunto de teses e artigos. A tese de Melgaço significações dos atores” (FAVRE; PERREDOUD,
(2015), na área de ciências naturais, adota a 1985, apud THOMAZI; ASINELLI, 2009, p. 184).
concepção de Fernando Hernandez (2000) para
inovações pedagógicas: são “estratégias que Em direção análoga, há, ainda, a perspectiva
expressam dinâmicas explícitas com intenção de daqueles trabalhos que incorporam em suas
alterar ideias, concepções, conteúdos e práticas análises o processo pelo qual os conhecimentos
em alguma direção renovadora em relação e saberes que compõem as práticas pedagógicas
à existente” (HERNÁNDEZ, 2000, p. 58, apud foram sendo constituídos ao logo da vida e da
MELGAÇO, 2015, p. 27). Trata-se de novos modos formação do professor. Um dos artigos sobre
de ensinar que são introduzidos e consolidados química afirma que “práticas educacionais
na prática educativa do professor por meio da seriam os fazeres pedagógicos de um professor,
articulação entre as orientações curriculares e o impregnadas por suas crenças e saberes tácitos”
nível micro da escola e da sala de aula. (SANTOS JÚNIOR; MARCONDES, 2013, p. 697).
É preciso destacar o conceito adotado no outro
Os aspectos transformadores da prática artigo de química, referido a Lelis (2001), porque
pedagógica – mais propriamente as dificuldades a concepção utilizada expande a concepção de
de mudanças – aparecem no artigo de Thomazi prática pedagógica para variados ambientes, além
e Asinelli: o texto traz uma citação interessante dos espaços estritamente escolares; ressalta-se
com base na qual se pode refletir não apenas que “prática pedagógica envolve uma expressão
sobre o conceito de prática pedagógica, como de múltiplos saberes incorporados em âmbitos,
também sobre as evidências de práticas efetivas, tempos e espaços de socialização diversos” (LELIS,
item que será discutido a seguir. Inspirando-se apud QUADROS et al., 2011, p. 162). Infere-se
em Bernard Favre e Philippe Perrenoud para falar que práticas pedagógicas podem ser realizadas
de currículo, as autoras mencionam que ambos também, por exemplo, em ambientes de lazer
refletem sobre as “dificuldades de introduzir ou do trabalho, em socializações comunitárias
novas práticas pedagógicas”, com base em e outras situações e locais. Isso denota um
pesquisas realizadas por meio dos discursos dos diferencial conceitual em relação aos demais
professores, ou seja, “através do discurso que os conceitos propostos.

63
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Nessa linha dos saberes e espaços construídos vistas ou outros instrumentos. Há estudos que
em diferentes tempos e lugares, o artigo de Tho- inferem aspectos ligados às práticas docentes
mazi e Azinelli cita Eric Plaisance para “definir as pelas respostas dos professores a questionários,
práticas não como práticas ditadas por esta ou sem observação de campo, o que ainda assim é
aquela instituição, mas como práticas sobre as válido como evidência, tal como proposto por
quais se exerce ao mesmo tempo as imposições Bernard Favre e Philippe Perrenoud (1985, apud
das instituições e as iniciativas dos indivíduos ou THOMAZI; ASINELLI, 2009).
dos grupos” (PLAISANCE, 1988, apud THOMAZI;
ASINELLI, 2009, p. 190). Essas iniciativas são mui-
Evidência aqui é tomada em seu sentido am-
tas vezes feitas “sobre esquemas de ação, de per-
plo: é comprovação empírica de uma dada
cepção e de decisão parcialmente inconscientes”
hipótese, mas não apenas e necessariamente
(PERRENOUD, 1994, apud THOMAZI; ASINELLI,
aquela proveniente de estudos quantitativos
2009, p. 193) ou, em outras ocasiões, por meio de
ou experimentais e quase-experimentais.
estratégias reflexivas, importantes para a prática
pedagógica e para eventuais mudanças, nem
sempre fáceis de serem implementadas. Esse É interessante notar que um dos quatro artigos
aspecto também é destacado pela tese de Silva, de natureza quantitativa – que buscam mostrar
a qual, apoiando-se em Kenneth Zeichner, põe efeitos diferenciados de práticas docentes sobre a
foco no coletivo e nos ambientes colaborativos proficiência dos alunos em determinada disciplina
de formação e atuação, as chamadas comunida- – releva, ao mesmo tempo, os limites de pesquisas
des de aprendizagem, para que os professores desse tipo para se apreender um conjunto de
reflitam e se apoiem mutuamente (SILVA, 2015). características não observáveis ou de traço latente,
devido à própria limitação dos instrumentos de
coleta de dados, como os questionários. E isso
E como as teses e artigos analisados se apre-
não porque os questionários captem apenas
sentam em relação às evidências? Aqui, tem-se
informações sobre a percepção dos atores sobre
uma situação contrária àquela exposta ante-
suas práticas, mas porque essas práticas são
riormente sobre a definição de prática peda-
complexas. Assim, “na medida em que raramente
gógica: a maioria dos trabalhos (17 dentre os
é possível se chegar a uma variável complexa
24 artigos e 22 das 28 teses) traz algum tipo de
por meio apenas de uma pergunta efetuada aos
evidência que mostra a relevância ou eficácia
respondentes” (OLIVEIRA; BONAMINO, 2015, p. 420),
de uma dada ação desenvolvida em sala de
tais estudos buscam compor um indicador com
aula. A maioria das evidências trazidas por es-
base em vários itens de um questionário ou de
ses trabalhos é proveniente de estudos quali-
uma escala, de modo a tornar possível captar e
tativos, que buscam características de práticas
sintetizar os conceitos, os construtos ou os traços
desenvolvidas concretamente no ambiente
latentes. E chega-se à conclusão de que “há efeitos
escolar que favorecem a formação docente
diferenciados das práticas docentes, conforme
e/ou o desenvolvimento dos estudantes.
o ano escolar e a habilidade avaliada” (OLIVEIRA;
BONAMINO, 2015, p. 432). Ou seja, as relações de
Utilizam a observação como meio de coleta de ensino-aprendizagem são complexas e dependem
dados, agregada ou não a questionários, entre- também de contextos e situações específicos

64
O que evidenciam as pesquisas em educação

cuja dinâmica é local, evidenciando a importância criação de relações pedagógicas que favoreçam
do papel do professor, de suas práticas e da aprendizagens relevantes na educação básica.
interação professor-aluno no processo de ensino e
aprendizagem que se dá no interior da sala de aula. Do processo de análise das pesquisas científicas
produzidas e publicadas no Brasil, no período
2008-2018, foi possível identificar fatores, condi-
Todos os aspectos destacados no que se refere
ções e características que se associam e tornam
à definição de prática pedagógica e à constru-
possível a execução de práticas pedagógicas rele-
ção de evidências são importantes, pois, como
vantes e que podem lograr consideração no âmbi-
se disse na Introdução desta pesquisa, poucos
to dos processos de formação de professores.
pesquisadores brasileiros se colocaram o desa-
fio de estabelecer uma definição tipo-ideal da
referida noção. Conceber a prática pedagógica Com base na análise dos artigos e teses, per-
na educação básica como sendo aquilo que é cebe-se que há duas modalidades de práticas
desenvolvido no interior da sala de aula, onde pedagógicas: (i) aquelas relativas à atuação do
se dá a interação professor-aluno e onde fica o professor com os seus alunos; e (ii) aquelas que
locus do aprendizado, não significa desprezar dizem respeito ao trabalho com os seus pares
os múltiplos fatores que nela interferem e que e ao seu próprio desenvolvimento profissional.
poderiam participar de um conceito mais am-
pliado. Entretanto, o que os autores das teses e
Com isso, optou-se por apresentar o texto que se
artigos aqui selecionados enfatizam é a impor-
segue considerando essas duas modalidades.
tância de se olhar justamente para o miúdo
desse cotidiano concreto do ambiente escolar,
6.1. Atuação do professor com os seus alunos
o qual por muito tempo foi renegado, e asso-
ciado a uma perspectiva meramente técnica,
É consenso nas pesquisas analisadas a ideia
não sendo, portanto, valorizado na formação
de que o professor deve buscar, de modo
docente no país.
intencional, apoiar o aprendizado dos alunos
por meio de uma série de ações. No processo
Na sequência, serão analisadas as características de análise do conjunto dos artigos e teses, o que
de práticas pedagógicas destacadas pelo conjun- sobressaiu foram as práticas relativas à gestão
to dos artigos e teses como propiciadoras para a dos aprendizados e à gestão da classe.
criação de relações pedagógicas que favoreçam
aprendizagens relevantes na educação básica.
No processo de análise do conjunto dos arti-
gos e teses, no que se refere à atuação do pro-
6. Sistematização das práticas
fessor com os seus alunos, o que sobressaiu
que ressaltam dos artigos
foram as práticas relativas à gestão dos apren-
e das teses de doutorado
dizados e à gestão da classe.
Agora, serão analisadas as características de
práticas pedagógicas destacadas pelo conjunto
dos artigos e teses como propiciadoras para a

65
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

A gestão dos aprendizados diz respeito, segundo têm início com a elaboração do planejamento que,
Gauthier, Bissonnette e Richard (2014), ao ensino durante o processo, se constitui em documento vivo
dos conteúdos, o que alude o professor a certifi- que orienta, adequa e se modifica, quando necessá-
car-se de que os diversos elementos da matéria rio, visando a promover os aprendizados dos alunos.
sejam aprendidos e dominados pelos alunos. Já a Permite, inclusive, a avaliação das práticas docentes
gestão da classe envolve a organização da convi- e o replanejamento da intervenção em situações
vência em sala de aula, uma vez que não é possível futuras. O planejamento tem, ainda, o objetivo de
colocar os alunos em situação de aprendizagem articular as duas funções que estão no cerne do tra-
de conteúdos se não houver um ambiente favo- balho educativo e que correspondem às dimensões
rável. Qualquer professor em situação de trabalho de análise: gestão dos aprendizados e gestão da classe.
com os alunos na sala de aula desempenha essas Essas, por sua vez, foram subdivididas em categorias,
duas grandes ações, que são complementares e descritas na Figura 1.
necessárias para o trabalho na sala de aula.
A gestão dos aprendizados diz respeito ao
A descrição das práticas provenientes das ensino dos conteúdos, o que significa que o
produções foi organizada considerando essas professor deve se certificar de que os diver-
duas dimensões, que têm como elemento sos elementos da matéria sejam aprendidos
comum o planejamento. Observou-se que, no e dominados pelos alunos.
conjunto das pesquisas, não há uma distinção
clara dos momentos que dizem respeito
especificamente ao planejamento ou ao A gestão da classe envolve a organização da
ensino propriamente dito. convivência em sala de aula, uma vez que
não é possível colocar os alunos em situação
de aprendizagem de conteúdos se não hou-
O que há é o reconhecimento de que a gestão dos
ver um ambiente favorável.
aprendizados e da classe demandam etapas que

Figura 1: Dimensões e categorias de análise

Gestão dos aprendizados


• Construção de sentidos e motivação
Gestão dos • Valorização dos conhecimentos prévios e das contribuições dos alunos
aprendizados
TO

• Estímulo ao pensamento criativo


• Problematização, elaboração e consolidação de conceitos
EN

• Atenção aos ritmos de aprendizagem e as necessidades dos alunos


AM

• Avaliação e consolidação da aprendizagem


EJ
AN

Gestão da Gestão da classe


PL

classe • Promoção de um clima de aula pautado em relações de confiança e respeito


• Organização do espaço da classe e das interações
• Criação de uma rede comunicativa na sala de aula

Fonte: elaborada pelas autoras

66
O que evidenciam as pesquisas em educação

No estudo desenvolvido por Melgaço (2015), o processo, é fundamental que os alunos estejam
relato de uma professora de ciências coloca em receptivos e que haja um clima e um ambiente
evidência elementos da gestão dos aprendizados constituído por relações interativas em que predo-
e da gestão da classe, funções do ensino que mine a aceitação, a confiança e o respeito mútuo.
estão inter-relacionadas:
Logo,
eu consegui um jeito diferente de organizar minhas
aulas, usando algumas estratégias. Eu coloco os meninos
a gestão da aprendizagem e a gestão da clas-
em grupos, para investigar situações do dia a dia
se são dimensões complementares, interliga-
relacionadas ao conteúdo. Para explicar eles conversam,
das e indispensáveis ao trabalho docente. No
escutam, reelaboram e socializam suas ideias sobre
as questões que eu trouxe e assim faço o diagnóstico entanto, apesar de guardarem uma relação
do que os meninos pensam. Depois vou ensinando a intrínseca e de interdependência, cada dimen-
selecionar ideias comuns e com elas vou dialogando, são apresenta características próprias e, desse
introduzindo, avaliando e sistematizando as ideias modo, serão apresentadas separadamente.
científicas relacionadas ao conteúdo. Uso esquemas,
quadros, resumos, exercícios, vários livros e vou colocando
a meninada para repensar e reorganizar as ideias que Antes, porém, de apresentar os aspectos que se
eles tinham, incorporando as científicas. Eles dialogam, destacaram nas pesquisas analisadas em relação
participam sem indisciplina e compreendem muito mais à gestão dos aprendizados e à gestão da classe,
conteúdo, porque o reconhecem na vida deles. Essa é necessário compartilhar a compreensão de al-
organização eu não inventei, eu adaptei juntando tudo guns trabalhos analisados sobre o planejamento,
e selecionando o que dava certo. Assim, eu consegui momento em que se delineia as intervenções pe-
um jeito novo de organizar as aulas que funciona e os dagógicas tendo em vista obter êxito no proces-
meninos gostam (MELGAÇO, 2015, p. 123-124).
so de ensino-aprendizagem.

Observa-se que a professora explicita tanto as 6.1.1. O que dizem as pesquisas sobre
ações que adota para promover a aprendizagem a prática do planejamento
dos alunos em relação a determinados conheci-
mentos científicos, considerando o processo de
Planejar dá trabalho, mas, depois, tudo fica mais
apropriação desses conceitos pelos estudantes,
fácil, a gente sabe por onde tem que ir. Todos os
como, também, organiza atividades articuladas conteúdos estão antecipadamente planejados e o
e situações que favorecem diferentes formas de mais significativo é que os alunos têm conhecimento
os alunos se relacionarem e interagirem. de cada etapa do processo educativo, como: o quê?
Como? Quando? E por quê? de cada unidade didática
Como bem ressaltam Gauthier, Bissonnette e Ri- a ser trabalhada (CARLAN, 2012, p. 309).
chard (2014), as possibilidades de o professor ter
sucesso na gestão da classe dependem, em boa Essa frase, extraída da tese desenvolvida por
medida, de como ele apresenta os conhecimen- Carlan (2012), que analisa a prática pedagógica
tos e das ações e estratégias que mobiliza para de um professor de educação física, evidencia o
acompanhar e favorecer a apropriação dos conte- valor da prática do planejamento para favorecer
údos pelos alunos. E, para se beneficiarem desse os aprendizados dos alunos.

67
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Esse processo de preparação inclui explicitar modificações e adaptações no decorrer do pro-


as intenções educativas, definir os objetivos cesso de ensino. Ou seja, guardar um certo grau
de aprendizado, e delimitar e integrar os de flexibilidade.
conteúdos que serão objeto de estudo, bem
como os conhecimentos prévios necessários ao No estudo de Horta (2014), em que analisou
aprendizado dos alunos. Também faz parte desse relatos de coordenadoras e de professoras que
momento planejar as estratégias didáticas, a atuam no ensino fundamental sobre como
organização do espaço da classe e das interações, definem um excelente professor, um aspecto
os mecanismos de apoio ao aprendizado e abordado, especialmente pelas coordenadoras,
revisões para que seja possível desenvolver foi a clareza que os docentes precisam ter sobre
sequências didáticas de aula e/ou projetos. as suas intenções educativas quando estão
delineando seus planejamentos tendo em vista
No conjunto das produções analisadas, o planeja- os condicionantes da realidade educativa. A
mento, seja o de curso, o de unidade, o de aula ou autora relata que, na descrição de um bom
de projeto, é uma atividade essencial para que os professor, as coordenadoras que participaram
alunos aprendam, ou seja, planejar exerce uma influ- do estudo destacam a importância de o docente
ência positiva na aprendizagem dos alunos, o que é não só ter uma escuta sensível, uma postura
amplamente referendado pela literatura (GAUTHIER; democrática, reconhecendo como a criança
BISSONNETTE; RICHARD, 2014; VASCONCELLOS, constrói conhecimento, mas, sobretudo, que o
2000; ZABALA, 1998; LIBÂNEO, 1994). uso do planejamento não seja burocrático, com
temas fixos e alheio aos interesses dos alunos, dos
É consenso nessas pesquisas a relevância dada ritmos e peculiaridades de cada grupo. E, para
ao planejamento, no entanto, nem todas se de- tanto, é essencial o professor ter clareza das suas
dicaram a analisar essa prática mais detidamente. intenções no trabalho, o que pressupõe mapear
As pesquisas que o fizeram ressaltaram, dentre os conhecimentos dos alunos para incidir mais
outros aspectos, que o planejamento possibilita efetivamente no que pretende ensinar, de forma
pensar mais sistematicamente sobre a realidade, a ser mais eficiente.
sobre a proposta de trabalho, sobre a prática, ten-
do em vista organizar as atividades pedagógicas Em estudos como o de Goulart (2011) e Silva
de modo adequado ao contexto dos alunos, para (2009), há depoimentos de professores que
estabelecer sua comunicação e participação e, retratam não só a importância e necessidade
sobretudo, para não desperdiçar oportunidades do planejamento, mas, também, do quanto
de aprendizagem. Algumas pesquisas também essa prática é demandante e exige diferentes
abordaram que, além de ser importante o profes- movimentos:
sor contar com um planejamento suficientemen-
te elaborado, é essencial que a sua aplicação seja
Ensinar geografia a esses alunos nunca foi uma tarefa
plástica e livre de rigidez, ou seja, ao mesmo tem-
fácil. Implicou planejar e replanejar as ações que
po em que o ensino não pode ser o resultado da pudessem ter a participação de todos. Significou
improvisação, é preciso adaptar o planejamento despender tempo, tanto para reflexões, quanto para
às diferentes situações da aula, o que inclui con- a construção das práticas pedagógicas. Pensar em
siderar as contribuições dos alunos e introduzir trabalhos que usassem pouco a linguagem escrita,

68
O que evidenciam as pesquisas em educação

mas que, ao mesmo tempo, a exercitassem exigia e conteúdo precisam ser explicitados. [...], mas o
revisar leituras e práticas, refazer as trajetórias de jogo não pode ser, quando intencional, apenas um
aprendizagem dos alunos, dialogar com colegas procedimento inicial da aula sem relação com o
especialistas em leitura e escrita, disponibilidade para processo de ensino daquele conteúdo abordado
criar novas práticas e estar aberta para a possibilidade e por isso precisa ser bem planejado por parte do
de frustração. O tempo usado para o planejamento era docente (CIRÍACO, 2016, p. 233).
inversamente proporcional aos resultados (GOULART,
2011, p. 142).
Um outro aspecto a ser considerado é o fato de as
Esse relato mostra a complexa tarefa do ensino, que escolhas dos professores terem como referência
tem início no planejamento e exige do professor as características e necessidades dos alunos, o
um processo que envolve, segundo Shulman que inclui o contexto em que estão inseridos. Isso
(1987), compreensão e raciocínio, transformação indica que é importante o professor conhecer
e reflexão, o que sugere uma vigorosa interação os alunos individualmente e como grupo, a
de ideias e de premissas a serem analisadas por organização da escola, as particularidades sociais
meio de diferentes perspectivas. Esse processo e culturais da comunidade onde está a escola
de preparação, segundo o autor, envolve uma e as de seus alunos. Esse entendimento requer,
interpretação crítica e especializada de textos por sua vez, conhecimento da compreensão que
e materiais, tendo em vista criar as condições os estudantes têm dos conteúdos propostos,
necessárias para que os alunos aprendam. Faz parte abrangendo suas experiências e concepções,
desse processo a construção de pontes entre as seus modos de raciocínio, suas possibilidades
muitas compreensões do professor e aquelas que se e dificuldades, bem como outras variáveis que
deseja que os alunos elaborem. Para isso, o professor podem influenciar o conhecimento dos alunos
precisará criar modos alternativos de apresentar os sobre os conteúdos apresentados pelo docente
conteúdos aos estudantes, empregando analogias, nas situações de ensino. Logo, é essencial
metáforas, exemplos, explicações, dramatizações, que o professor estruture as experiências de
músicas, filmes, demonstrações, diferentes tipos de aprendizagem, o que pressupõe conceber formas
mídia, dentre outros. de representar e explicar o conteúdo.

Nos estudos do ensino de matemática, por Um exemplo que ilustra essa ideia foi localizado
exemplo, destaca-se o uso de jogos e a importância na tese de Melgaço (2015), que teve por objetivo
de serem utilizados de forma intencional e descrever e analisar de que maneira uma
planejada. Ciríaco (2016) explica que o professor é professora de ciências, em sua prática pedagógica,
um agente importante na mediação entre o jogo, interage com abordagens e estratégias de ensino
o aluno e o conhecimento matemático. Destaca a consideradas inovadoras. A professora relata:
importância de planejar

Tanta coisa eu mudei! Eu dava aulas teóricas-práticas


a forma pela qual será feita a análise do e mesmo assim via a dificuldade dos meninos em
desencadeamento, organização e coordenação aprender. Eu sempre trabalhei com os meninos
da atividade lúdica, quando do momento da em grupos colaborativos e problematizando, mas
conceitualização matemática no espaço da sala de percebia que eram aulas expositivas. Dinâmicas, mas
aula, ou seja, os pontos de interlocução entre jogo expositivas! Quando eu comecei a organizar um

69
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

outro jeito de trabalhar, [...] percebi que o conteúdo necessidades de seus alunos à prática docente,
passou a interessar porque fazia parte da vida deles. influenciam significativamente o que os alunos
Eles falam com segurança do que conhecem. Aprendi
aprendem e a qualidade de suas oportunidades
a juntar tudo e virou um roteiro de trabalho, um
de aprendizagem” (BANKS et al., 2019, p. 207). Isso
plano geral de aula. Eu acho que é isso aí! À medida
que fui experimentando, usando as estratégias e
significa que um trabalho importante do professor
atividades, articulando tudo, errando e acertando, “é aprender sobre seus alunos: quem eles são, o
fui aprendendo como mudar. Minhas aulas ficaram que sabem e quais significados e pontos fortes
dialogadas (MELGAÇO, 2015, p. 124). trazem para a escola” (BANKS et al., 2019, p. 210).
Com esse conhecimento, é menos provável que
Melgaço (2015) explica que as estratégias se- o professor faça suposições rápidas sobre os
lecionadas por essa professora passam por alunos e o planejamento ganha em qualidade,
um criterioso processo de análise, estudo, se- uma vez que poderá adaptar o currículo e o
leção, aplicação, adequação, articulação, inte- ensino para que os alunos participem de um
gração e avaliação em sala de aula. Segundo trabalho significativo.
a pesquisadora, a professora em tela recorre
apenas àquelas estratégias de ensino que ela Por outro lado, é importante considerar que
avalia como funcionais, aplicáveis e que, so- o desenvolvimento de uma prática mais
bretudo, favorecem e contribuem para a me- equitativa não é de responsabilidade exclusiva
lhoria da aprendizagem dos estudantes. do professor, mas de toda a comunidade escolar.
A pesquisa de Thomazi e Asinelli (2009) coloca
Conhecer o aluno e seu contexto na elaboração em evidência a relação entre o individual e o
do planejamento é um aspecto abordado coletivo no processo de planejamento. Nesse
nas pesquisas; no entanto, a explicitação da estudo, as autoras analisaram como um grupo
elaboração de atividades variadas e diferenciadas de professoras do ensino fundamental, das redes
para um mesmo grupo de alunos tendo em vista pública e privada, planeja as atividades de leitura
um ensino equitativo não é um ponto de atenção que desenvolvem em sala de aula. Está implícito
das pesquisas analisadas. na discussão dos resultados que a ideia de que
o planejamento realizado de forma coletiva e
Nas escolas de hoje, os professores precisam com apoio da equipe da escola oferece melhores
estar preparados para ensinar alunos com condições para atuação do professor. Thomazi
características, experiências e necessidades e Asinelli (2009) explicam que faz parte de um
muito diversas. Banks e outros (2019, p. 197) planejamento coletivo:
baseiam-se em pesquisas para sugerir que,
quando os professores “utilizam o conhecimento • planejar conjuntamente com colegas, contando
sobre as origens sociais, culturais e linguísticas com apoio da supervisão/direção da escola;
de seus alunos ao planejarem e colocarem o • ter reuniões de planejamento periodicamente,
ensino em prática, o desempenho acadêmico durante o semestre, com o conjunto de profes-
dos alunos aumenta”. Isso significa dizer que não sores e a supervisão ou com colegas do mesmo
só as atitudes e as expectativas dos docentes, nível de ensino;
mas, sobretudo, o seu “conhecimento de como • elaborar o plano individual para o cotidiano,
incorporar as culturas, as experiências e as posteriormente ao planejamento coletivo; e

70
O que evidenciam as pesquisas em educação

• avaliar a prática realizada em reuniões, para em-


basar melhor o planejamento. As experiências • planejar as estratégias didáticas, a or-
bem-sucedidas são retomadas, enquanto ou- ganização do espaço da classe e das
tras consideradas fracassadas são deixadas de interações, os mecanismos de apoio ao
lado, além da introdução de novas atividades. aprendizado e revisões para que seja
possível desenvolver sequências didáti-
O planejamento é, pois, um tempo e espaço cas de aula e/ou projetos;
de reflexão e socialização das experiências que • contar com um planejamento suficien-
garante maior segurança ao docente, que se temente elaborado, porém com uma
sente, assim, mais à vontade e mais consciente aplicação plástica e livre de rigidez para
de sua prática. Os professores trabalham com um adaptar o planejamento às diferentes si-
espírito de equipe e, ao mesmo tempo, têm certa tuações da aula; e
liberdade e autonomia dentro da sala de aula • planejar conjuntamente com colegas,
(THOMAZI; ASINELLI, 2009). contando com apoio da equipe da escola.

O estudo desenvolvido por Bellotti (2017), com pro-


fessores dos anos iniciais do ensino fundamental,
também reforça o potencial do planejamento co-
letivo. Os participantes da pesquisa colocam em 6.1.2. A gestão dos aprendizados
evidência os ganhos quando o grupo se reúne, re-
avalia e repensa o que pode ser feito para melhorar Planejar e conduzir a gestão dos aprendizados
o trabalho. Juntos, os docentes reorganizam as ativi- requer mobilizar práticas que promovam a apro-
dades pedagógicas de acordo com as necessidades priação dos conteúdos pelos alunos. Nesse pro-
que emergem no processo ensino-aprendizagem. cesso, a intenção do professor é promover a rela-
ção do estudante com o objeto de conhecimen-
to, o que implica uma análise intencional e siste-
Em síntese, o valor da prática do planeja- mática dos conteúdos de aprendizagem, sejam
mento, tendo em vista favorecer o aprendi- eles conceituais, procedimentais ou atitudinais.
zado dos alunos, pressupõe:
É desejável nesse processo que os professores
• pensar mais sistematicamente sobre a re- recorram a um conjunto de atividades ordenadas,
alidade, a proposta de trabalho e a prática, estruturadas e articuladas tendo em vista a
tendo em vista organizar as atividades pe- realização de determinados objetivos educacionais,
dagógicas de modo adequado ao contex- que, como bem destaca Zabala (1998, p. 18), “têm
to dos alunos e, sobretudo, a não desper- um princípio e um fim conhecidos tanto pelos
diçar oportunidades de aprendizagem; professores como pelos alunos”.
• definir os objetivos de aprendizado,
delimitar e integrar os conteúdos que Os resultados das pesquisas analisadas colocam em
serão objeto de estudo, bem como os evidência algumas das práticas que contribuem
conhecimentos prévios necessários ao para o aprendizado dos alunos e que foram
aprendizado dos alunos; organizadas nas seguintes categorias, a saber:

71
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

• Construção de sentidos e motivação; escolhas de práticas que podem promover


• Valorização dos conhecimentos prévios e das esse movimento. É recorrente nas pesquisas a
contribuições dos alunos; importância de o professor compartilhar com
• Estímulo ao pensamento criativo; os estudantes o que se pretende, ou seja, é
• Problematização, elaboração e consolidação mais provável que os alunos vejam sentido no
de conceitos; trabalho que irão realizar quando conhecem
• Atenção aos ritmos de aprendizagem e às previamente o motivo pelo qual vão estudar
necessidades dos alunos; determinado conteúdo, bem como as atividades
• Avaliação e consolidação da aprendizagem. que devem desenvolver. A esse respeito, Zabala
(1998) acrescenta que é importante que os
Essas práticas não esgotam todas as possibilida- alunos também sintam que o trabalho que lhes
des de promover a gestão dos aprendizados, mas é proposto está ao alcance deles e que seja
foram destacadas pelas pesquisas de forma mais interessante fazê-lo.
recorrente e incisiva nas diferentes áreas e temá-
ticas em que os estudos foram desenvolvidos. Cabe aqui destacar que a definição dos objetivos
imprime uma direção clara às atividades de
Construção de sentidos e motivação
aprendizado que se realizam em sala de aula.
“Com os alunos aprendi que não adianta querer ensinar Gauthier, Bissonnette e Richard (2014) explicam
quando o aluno não tem interesse em aprender”. que o objetivo dá sentido às atividades organizadas
durante a fase da prática guiada, e defini-lo não
Essa frase da professora de ciências, que fez par- só facilita a avaliação dos aprendizados como
te da tese de Resende (2017), elucida que, de permite que o professor selecione as atividades
fato, o engajamento do aluno é essencial para mais adequadas.
que o aprendizado ocorra, e que “transformar
os conteúdos escolares de maneira a torná-los Chamou a atenção que as pesquisas na área de
atraentes aos alunos, levando em conta suas alfabetização e de linguagens foram aquelas que
motivações, interesses, habilidades e peculiari- mais destacaram a importância da construção
dades certamente não é uma tarefa fácil, mas de sentidos e da motivação no processo de
necessária” (RESENDE, 2017, p. 121). aprendizagem.

A construção de sentidos e motivação é abordada No artigo de Zibetti e Souza (2010), que teve por
por 29 dos 52 trabalhados analisados. É consenso en-
objetivo evidenciar a dimensão criadora dos sa-
tre elas de que é preciso desafiar, estimular, provocar
beres docentes mobilizados por uma professora
e sensibilizar os alunos na construção da relação que
alfabetizadora, há um estudo detalhado sobre a
ele precisará estabelecer com o objeto de aprendiza-
prática dessa profissional, destacando uma série
gem; no entanto, promover esse engajamento não é de ações consideradas cruciais e relevantes para o
uma prática trivial, e é inevitável questionar: que prá-
desenvolvimento de um ensino capaz de levar a
ticas podem favorecer esse movimento? uma aprendizagem efetiva. Chama a atenção nos
resultados do estudo as práticas a que a professora
Construir com os alunos sentidos para o trabalho recorre para a construção de sentidos e de motiva-
de estudar é um princípio que direciona as ção pelos alunos. Segundo as autoras, a professora:

72
O que evidenciam as pesquisas em educação

• apresenta o roteiro de atividades previstas para o sua atenção constante aos interesses dos alunos permite
dia de aula (pauta). Às vezes, é apenas lido, mas na que ela modifique a atividade no momento em que
maior parte do tempo é escrito na lousa e ali per- esta não atendeu as expectativas ou não desencadeou
manece durante toda a aula. Várias vezes, a pau- o desempenho esperado nas crianças. Com esse tipo
de procedimentos, dificilmente a professora enfrenta
ta serve de orientadora da sequência das tarefas:
problemas com as crianças em relação à realização das
quando a professora alerta os alunos para que se
atividades (ZIBETTI; SOUZA, 2010, p. 471).
apressem, pois há muito por fazer; ou quando um
aluno interessado em alguma atividade específica
prevista na pauta apressa-se em cumprir as ante- As autoras destacam que a análise da prática
riores para poder acompanhar os colegas na refe- dessa professora articula-se com o resultado de
rida atividade (assistir a um vídeo, por exemplo); outras pesquisas na área do ensino analisadas por
• dá atenção especial à forma como as crianças Gauthier e outros (1998), as quais indicam que
se relacionam com a tarefa, sendo esse um os professores mais bem-sucedidos no que diz
elemento decisivo na maneira como conduz respeito à gestão da classe e dos aprendizados
a aula. Sua atuação está centrada nas crianças: são aqueles que dão instruções claras, explícitas,
nas suas necessidades de aprendizagem, no redundantes (repetidas mais de uma vez) e
interesse e desempenho desses durante a tarefa, compreendidas por todos os alunos.
nos resultados obtidos com o trabalho. Todo
o encaminhamento do trabalho pedagógico Dedicado a investigar como a proposta do ma-
obedece a uma análise constante, por parte terial didático do Programa Ler e Escrever (PLE)
dela, dos indícios dados pelos alunos de como foi vivenciada pelos alunos e pela professora de
estão se relacionando com as atividades; e uma sala de 1º ano do ensino fundamental, em
• certifica-se de que todos os alunos e alunas te- uma escola estadual de Campinas, no estado de
nham compreendido o que devem fazer. Para São Paulo, o artigo de Santos e Tassoni (2015)
isso, ao encaminhar as atividades, apresenta ressalta a importância de um estilo de prática
apenas uma de cada vez, explica-a com clare- que considere a vivência e o interesse dos alu-
za para a sala toda e, se necessário, explica no- nos, bem como o uso de textos significativos. As
vamente para as duplas nas carteiras ou para autoras ressaltam a importância de atividades
algum aluno individualmente. Em muitas situ- diversificadas e contextualizadas no 1º ano do
ações, dá exemplos para que possam entender ensino fundamental, com textos que possibili-
melhor o que está sendo solicitado. tem ao aluno articular o apreendido na sala de
aula com sua vivência na sociedade, de modo
Zibetti e Souza (2010) relatam que o cuidado a explorar em seu conteúdo elementos que
da professora em garantir não só a participação possam ser discutidos e compreendidos. Assim,
dos alunos, mas, sobretudo, o envolvimento e promove-se a aprendizagem da criança: as pro-
o prazer durante a realização das atividades foi postas devem ser “engajadas tanto ao contexto
uma constante. dos alunos quanto a uma concepção de leitu-
ra e escrita reais que se transporte para a com-
Sua atitude em relação às crianças sempre foi de preensão sobre o sentido e a função social da
convencimento com base em argumentos ou estímulos, linguagem escrita, contribuindo para a reflexão
nunca por meio de imposição ou punição. Além disso, sobre a língua” (SANTOS; TASSONI, 2015, p. 89).

73
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Piccoli (2009), em sua tese, descreve e analisa a com a linguagem, a leitura e a escrita, e que lhes
prática pedagógica de uma professora alfabe- seja produzido o desejo de aprender a ler e a
tizadora da rede municipal de ensino de Porto escrever”. As autoras acrescentam, ainda, que é de
Alegre e destaca o uso contextualizado que a fundamental importância o professor estimular as
professora faz da escrita, para um fim específi- crianças a aprenderem a gostar de ouvir a leitura.
co e comunicativo. A pesquisadora observou “a
prevalência de uma proposta pedagógica que A tese de Lopes (2013) também ilustra posturas
contemple a língua, através de seus usos sociais, e práticas que ajudam os alunos a encontrarem
e o sistema de escrita, através de atividades que sentido no que fazem. A autora analisou práticas
estimulem a aprendizagem das correspondên- pedagógicas de cinco professores dos anos
cias entre fonemas e grafemas” (PICCOLI, 2009, finais do ensino fundamental, da disciplina de
p. 197). O que indica, segundo Piccoli (2009), a língua portuguesa, em duas escolas estaduais
simultaneidade dos processos de alfabetização da periferia urbana da cidade de Porto Alegre,
e de letramento. que haviam atingido as metas de 2009 propostas
pelo Índice de Desenvolvimento da Educação
A autora explica que, na prática pedagógica Básica (Ideb). Segundo a autora, predominou,
da professora, predomina a precedência do nas práticas de cinco professoras, o uso de
letramento à alfabetização, uma vez que “as diferentes estratégias para desenvolver os temas
palavras que compõem os diferentes universos previstos, acolhendo, em alguns momentos, os
vocabulares são selecionadas a partir de temáticas comentários e sugestões vindos dos alunos. Os
decorrentes de histórias lidas, filmes assistidos, professores sempre informavam a sequência das
músicas cantaroladas”, havendo um cuidado por atividades aos alunos para que tivessem clareza
parte dela na seleção das leituras que privilegiam da proposta de trabalho, o que possibilitava
a captação dos interesses e das motivações dos que acompanhassem, de forma participativa,
alunos. Relata que, durante as observações das o desenvolvimento das aulas. Observou-
aulas da docente, chama a atenção a “postura das -se que os docentes buscavam, também,
crianças durante a longa exploração proposta contextualizar os conteúdos relacionando-
pela professora, que permaneceram motivadas, os a situações conhecidas e do cotidiano dos
escutando com atenção as interações ocorridas alunos. A pesquisadora relata a prática de uma
na turma e manifestando-se quando acharam das professoras, destacando que sempre que
oportuno fazê-lo” (PICCOLI, 2009, p. 122). os estudantes eram questionados por ela,
participavam respondendo e trazendo fatos do
Outro exemplo foi extraído do artigo de Kramer, seu cotidiano. O conteúdo era introduzido por
Nunes e Corsino (2011), que pesquisaram meio de uma exposição oral, na qual a professora
práticas desenvolvidas na educação infantil para contextualizava-o, utilizando exemplos de
problematizar o trabalho com as crianças de seis situações ocorridas, o que despertava o interesse
anos no ensino fundamental, tendo em vista dos alunos. A fala de um dos professores ilustra o
analisar e discutir questões que atravessam essas cuidado em considerar, na proposta da disciplina,
etapas. Ao problematizarem as práticas de leitura os interesses dos alunos: “Muitas vezes, partilho
e escrita observadas, ressaltaram que é preciso com os alunos os seus interesses. Eles gostam
que “as crianças estabeleçam relações positivas de funk, me trazem letras de músicas onde eu

74
O que evidenciam as pesquisas em educação

aproveito para resgatar a questão da escrita da os estudantes retomam os objetivos das aulas, tanto
língua portuguesa, apontando e mostrando o exemplificando o que fizeram (objetivos), quanto
conteúdo a partir do material que eles trazem” justificando (metodologia) o porquê fizeram, bem
como explicitando conceitos trabalhados nas aulas[...]
(LOPES, 2013, p. 132). Essa é uma prática que
Esse processo produz introspecção da concepção nos
pode ajudar os alunos, segundo Zabala (1998),
alunos de que a aula tem um planejamento, tem uma
a tomar consciência dos próprios interesses e lógica, tem uma sequência, tem uma organização,
buscar o interesse geral, bem como valer-se da tem um sentido, portanto, que todo o fazer dos
participação e do envolvimento no planejamento alunos está articulado e foi pensado para uma melhor
das atividades que se desenvolvem em sala, como aprendizagem (CARLAN, 2012, p. 271).
meio de assegurar que o que fazem responda a
uma necessidade.
A tese de Chaves vai na mesma linha, ao postular
Outra tese que apresenta práticas que favorecem que o esporte trabalhado no contexto escolar
a construção de sentidos e a motivação é a de um deve ter por objetivo a formação e socialização
professor de educação física que atua nos anos fi- do educando, pelas quais são priorizados valores
nais do ensino fundamental. Trata-se de um estu- como a cooperação, a autonomia, a criatividade
do de caso que compõe a tese de Carlan (2012). O e a participação de todos, em contraponto à
autor analisa a atuação do professor, denominado competição exacerbada e à seleção de poucos
no estudo de Gilmar, destacando, dentre outros habilidosos (CHAVES, 2015).
aspectos, o seu cuidado em realizar um planeja-
mento detalhado e compartilhado com alunos Na tese de Lima (2017, p. 54) há uma interessante
que reconhecem o valor do trabalho desenvolvido análise sobre a atividade do aluno associada ao
pelo docente. Carlan (2012, p. 271) explica que o interesse e motivação com base nos estudos de
professor utiliza a “Apostila do estudante”, material Leontiev (1978, 2006) e de Davidov (1999). A autora
didático-metodológico por ele elaborado, que in- buscou investigar e analisar como se configuram
corpora os objetivos e conteúdos para cada uni- as práticas pedagógicas de professores no ensino
dade didática, definidos antecipadamente e apre- da matemática nos anos escolares iniciais no
sentados e discutidos com os estudantes. Sema- contexto didático da resolução de problemas.
nalmente os alunos têm a tarefa/responsabilidade Participaram da pesquisa oito professores que
de fazer um breve registro da aula, o que, segundo atuam no ensino de matemática no 4º e 5º ano
o professor Gilmar, além de favorecer o hábito da do ensino fundamental, em duas escolas da
escrita, potencializa no educando a capacidade de rede municipal de Marília (SP). A autora explica
síntese, em que relaciona a experiência corporal que, quando o aluno é posto em atividade, ele
com a escrita. Carlan (2012) relata que é perceptí- aprende e se desenvolve; no entanto, ressalta
vel nas observações e no depoimento dos alunos que essa atividade deve sempre estar associada
a sua evolução em relação à participação nos trei- com um motivo, um objetivo que normalmente
nos e nos jogos do campeonato. Percebe-se, tam- está relacionado com a necessidade do aluno. A
bém, o quanto os alunos “demonstram que apren- autora defende o ensino centrado na resolução
deram conteúdos novos, diferentes, portanto, de problemas, pois compreende que ele “põe o
motivadores, e que produziram muitos sentidos e aluno em atividade, porque o problema contém
significados diferentes”. Também observou que elementos motivadores para a aprendizagem

75
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

e coloca diante do aluno a necessidade do o aluno como participante ativo do processo


conceito” (LIMA, 2017, p. 151). Ela cita Davidov de ensino e de aprendizagem, e que o interesse
(1988) para explicar que “uma atitude consciente tem relação com a estrutura da atividade e seu
das crianças em relação ao estudo se apoia em motivo. Logo, “cria-se o interesse modificando a
sua necessidade, desejo e capacidade de estudar, estrutura da atividade, em particular modificando
os quais surgem no processo de realização real o seu motivo”. Há evidências no estudo da autora
da atividade de estudo” (LIMA, 2017, p. 151). Logo, de que é possível superar “aquela maneira de
para que as crianças estudem e se apropriem dos ensinar a matemática mecânica, destituída de
conteúdos sob a forma de uma plena interação significado e sentido, voltada, sobretudo, para os
com o objeto de aprendizagem, é necessário procedimentos algorítmicos”. Segundo o autor,
considerar que “a criança assimila certo material a perspectiva metodológica da resolução de
de estudo sob a forma de atividade de estudo problemas intensifica a comunicação e a produção
somente quando ela tem uma necessidade e de sentidos.
motivação interior. Sem isto não há uma plena
atividade humana” (DAVIDOV, 1999, p. 2, apud No estudo de Ceolim e Caldeira (2017) sobre o uso
LIMA, 2017, p. 52). da modelagem matemática na educação básica,
há o relato de professores sobre a resistência
Lima (2017) recorre à fala de uma das professoras dos estudantes a práticas pedagógicas a que
que participaram do estudo para problematizar não estão familiarizados e que exigem sua maior
que é comum os professores entenderem que o atuação e envolvimento. Os próprios professores
sucesso nas aprendizagens depende da atenção reconhecem que os alunos“estavam acostumados
e do interesse do aluno: “É muito difícil conseguir com práticas escolares de cunho tradicional,
que as crianças prestem atenção; elas conversam tais como aplicar fórmulas, resolver listas de
muito, o tempo todo e não se interessam em exercícios de acordo com o modelo, dentre
aprender”. A autora problematiza esta fala da outras” (CEOLIM; CALDEIRA, 2017, p. 771). Diante
docente argumentando que o interesse não é inato de uma proposta em que eles são colocados
ao sujeito, e sim provocado por meio das “relações para resolver situações-problema que, embora
sociais, na interação do sujeito com o meio social, tenham interesse em solucionar, não possuem,
por meio da mediação do outro e dos conteúdos necessariamente, as ideias e ferramentas para
da cultura” (LIMA, 2017, p. 151). Para a autora, no isso, exige-se que eles saiam “da zona de conforto
contexto da sala de aula, o professor é o principal a que estavam acostumados para enfrentar
organizador do processo de aprendizagem e, situações de risco e lidar com o desconhecido
portanto, “o parceiro mais experiente e que tem – e isso gera resistência” (CEOLIM; CALDEIRA,
conhecimento da importância do conteúdo 2017, p. 772). Para os autores, o enfrentamento
matemático para o desenvolvimento pleno do do medo do novo se dará, principalmente, pelo
estudante” (LIMA, 2017, p. 152). fortalecimento da importância de uma maior
participação dos alunos no desenvolvimento de
Reconhecendo que, tanto o problema do interesse, seus aprendizados da matemática.
como o da atenção estão entre os condicionantes
mais importantes para a prática pedagógica, Lima A queixa pelos professores de que o sucesso
(2017, p. 151) lembra que nem sempre percebemos nas aprendizagens depende da atenção, do

76
O que evidenciam as pesquisas em educação

interesse e do esforço dos alunos foi abordada professores em sala de aula como, por exemplo,
nos resultados da tese de Rodrigues (2014), que aquelas típicas “do método tradicional de ensino,
buscou traçar o perfil de bons professores de como uso de formas de avaliação que exigem
matemática nas escolas estaduais de São Paulo. do aluno apenas a reprodução de conteúdo,
Nos resultados da pesquisa a motivação para poucas oportunidades de escolha com relação
o estudo aparece como fator de significativa aos trabalhos a serem desenvolvidos e mesma
importância para a melhora do desempenho metodologia de ensino utilizada em todas as
dos alunos. Rodrigues (2014) relata que a maioria aulas” (OTAVIANO; ALENCAR; FUKUDA, 2012,
dos 53 professores que participaram do estudo p. 65) são alguns dos fatores que cooperam para
entendem que o desinteresse e a falta de “reduzir a motivação do aluno para aprender e a
esforço dos estudantes trazem dificuldades para expressão do seu potencial para criar”. Tendo em
promover a aprendizagem. A autora problematiza vista as dificuldades para aprender matemática,
que o desinteresse pode estar relacionado ao que os autores consideram fundamental o professor
os próprios professores atribuíram como “falta de “não apenas auxiliar o aluno a dominar os
habilidade”, ou seja, os alunos teriam dificuldades conteúdos dessa disciplina, como também
de compreensão de um novo conteúdo pela falta motivá-los, levando-os a ter prazer em estudar
de conhecimento de uma matéria anterior. Ela e aprender matemática” (OTAVIANO; ALENCAR;
também observou que a ausência de um objetivo FUKUDA, 2012, p. 67).
claro nas atividades propostas, mesmo aquelas
que envolvem a utilização de jogos, softwares No estudo de Starepravo e outros (2017), também
educativos ou até mesmo de trabalhos em grupo, na disciplina de matemática, o jogo, tendo em
podem “levar à dispersão da atenção dos alunos vista o seu potencial cognitivo e afetivo, foi cenário
ou até mesmo ao completo desinteresse pela de engajamento dos alunos à ação. Os autores
atividade por não se atribuir nenhum sentido a tiveram por objetivo analisar as contribuições
ela” (RODRIGUES, 2014, p. 103). do Jogo do Resto para a compreensão do
conceito de multiplicação com alunos do 4º ano
Os procedimentos didáticos utilizados pelos do ensino fundamental. Baseados em Piaget,
professores de matemática em sala de aula Starepravo e outros (2017), defendem que o
também foram abordados no artigo de Otaviano, jogo promove o engajamento do aluno nas
Alencar e Fukuda (2012), que investigaram a ações propostas independentemente de ele
percepção de alunos do ensino médio quanto à saber ou não jogar. Os autores explicam que “o
utilização, por seu professor de matemática, de aspecto afetivo motivador como interesse pelo
práticas docentes favoráveis ao desenvolvimento jogo, seja pela competição, seja até mesmo pelo
da criatividade e motivação na matéria. Os estar junto com o colega, desloca os alunos de
resultados do estudo indicaram relação positiva um posicionamento passivo para atuar no jogo
entre a percepção dos alunos em relação ao uso com interesse e esforço” (STAREPRAVO et al., 2017,
de estratégias em sala de aula para desenvolver p. 22). Explicam que os conceitos matemáticos
a criatividade pelos professores e a motivação se tornam significativos para os alunos quando
dos alunos em matemática. Fundamentados em são utilizados como ferramentas para solucionar
Fleith e Alencar (2010), Otaviano, Alencar e Fukuda problemas, devendo ser esse o ponto de partida
(2012) explicam que as práticas mobilizadas pelos no ensino dos conteúdos escolares.

77
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

A investigação desenvolvida pelos autores partiu destaque, também, para a necessidade de se


da pressuposição de que “as situações de desequi- comunicar essas expectativas aos estudantes
líbrio e autorregulação no processo de construção e de oferecer incentivos positivos, quer seja
do conhecimento, como o de multiplicação na em padrões de disciplina (desenvolvimento
matemática, são de fundamental importância para de sentimentos de pertencer e participar) ou
práticas pedagógicas, nas quais o conhecimento é de feedback (reconhecimento do sucesso).
concebido como uma construção ativa do aluno” • Clareza dos objetivos – o objetivo imprime uma
(STAREPRAVO et al., 2017, p. 28). Eles sugerem que direção clara às atividades de aprendizado que
o professor pode encontrar no jogo um recurso se realizam em sala de aula e possibilita não só
“para a realização de sua tarefa de ensinar mate- a avaliação dos aprendizados como, também,
mática, uma vez que ele conjuga desafios novos que o professor selecione as atividades mais
a cada partida” (STAREPRAVO et al., 2017, p. 28) e adequadas às necessidades dos alunos. Tendo
as crianças podem se divertir jogando. Recorrem a em vista que os estudantes são diferentes,
Brousseau (2008) para denominar como uma situ- possuem ritmos e formas diferenciadas de
ação adidática ocorre, por exemplo, quando o pro- aprender, o professor precisa fazer uso de
fessor observa os alunos jogando. Nessas ocasiões, estratégias de ensino apropriadas, o que
há a oportunidade de o docente avaliar como eles requer flexibilidade para modificar e adaptar
organizam suas ações e se são capazes de avaliar seus estilos de aula.
os seus resultados, bem como a quais conheci- • Aulas bem estruturadas – a promoção de situa-
mentos e estratégias recorrem. Com base nessas ções de aprendizagem significativas requer um
informações, o professor pode planejar suas inter- planejamento que englobe o uso de atividades
venções e o jogo, nesse caso, não é escolhido ao diversificadas para atender às diferenças indivi-
acaso, faz parte de um projeto de ensino. duais dos alunos e com perguntas abertas, per-
tinentes e desafiadoras. Também é importante
Há um artigo do campo da avaliação educacional explicitar o que se pretende com o aprendiza-
que foca em fatores pedagógicos que favorecem do de determinado conteúdo, ofertar materiais
(ou não) o desempenho dos alunos. A pesquisa diversificados e fornecer feedbacks.
desenvolvida por Cardelli e Elliot (2012) teve
como objetivo avaliar que fatores levam uma A clareza de objetivos e aulas bem estruturadas
escola pública da região metropolitana do Rio de são fatores recorrentemente explicitados nas
Janeiro, inserida em uma área de risco, a apresentar pesquisas, já o papel das altas expectativas em
resultados positivos em suas avaliações. Nos relação ao desempenho dos alunos como um
resultados do estudo, há características-chave dos fatores que afetam os resultados e as atitudes
das práticas docentes que são associadas a bons dos estudantes é um aspecto pouquíssimo
desempenhos escolares. Três delas favorecem a mencionado nos estudos analisados.
construção de sentidos e a motivação, a saber:
Zabala (1998) ressalta, a esse respeito, a importância
• Altas expectativas em relação ao aprendizado de o professor confiar no aluno e, ao mesmo tempo,
– importância da confiança do professor na oferecer condições para que ele aprenda a confiar
capacidade dos alunos, o que leva a altas em si próprio. Para o autor, dada a relevância das
expectativas com relação à aprendizagem. Há expectativas do professor para com os estudantes,

78
O que evidenciam as pesquisas em educação

será preciso que o docente encontre em todos


• propõe questões ou situações desafiadoras;
os alunos aspectos positivos e que expresse
• incentiva e estimula os alunos a aprenderem; e
convenientemente suas expectativas. O autor
• dá atenção especial à forma como os alunos
explica que “os alunos respondem e se adaptam
se relacionam com a tarefa.
de maneira diversa às propostas educacionais,
mostrando maior ou menor interesse e dedicação
nas tarefas, entre outros motivos, em função do
que se espera, o que influi na intervenção do Valorização dos conhecimentos
professor” (ZABALA, 1998, p. 95). prévios e contribuições dos alunos
“Faço perguntas sobre o cotidiano dos alunos,
Isso significa que “aqueles que sentem que relacionando com o conteúdo. Exponho o
se espera deles um bom rendimento e que conteúdo, fazendo uma inter-relação com os
receberam ajuda e atenção por parte do professor, conceitos anteriores”.
provavelmente confirmarão as expectativas gerais”;
por outro lado, quando se espera pouco êxito do Esta fala de um professor de física de São Luís,
aluno e a ajuda oferecida é de menor qualidade, Maranhão, retrata a preocupação do docente
eles “responderão às expectativas geradas ao não em iniciar a aula identificando os conhecimentos
encontrar as condições apropriadas para melhorar prévios dos alunos, bem como em fazer
seu rendimento” (ZABALA, 1998, p. 95). Assim conexões entre o conhecimento prévio e o
sendo, altas expectativas são fundamentais para os conteúdo proposto. Esse professor fez parte da
alunos se engajarem não só com a aprendizagem, pesquisa desenvolvida por Lima, Lima e Damião
mas com a escola. (2018, p. 922), que também observaram que
os professores que realizam o registro do
plano e do acompanhamento do progresso
Em síntese, a construção de sentidos e a dos alunos parecem ter maior domínio sobre
motivação podem ser favorecidas quando os conhecimentos adquiridos por eles, o que
o professor: não só ajuda a refletir sobre suas ações, mas,
sobretudo, sobre a elaboração dos próximos
• planeja aulas bem estruturadas; planos de aula e/ou sequências didáticas, uma
• tem altas expectativas em relação ao vez que o professor precisa determinar que
aprendizado; conhecimentos constituem pré-requisitos para o
• explicita aos alunos que o trabalho que novo aprendizado, bem como a compreensão de
lhes é proposto está ao alcance deles e conhecimentos novos mais complexos. As autoras
que é interessante fazê-lo; falam da importância de encorajar os alunos a
• certifica-se de que as instruções sejam construir os conceitos da física com suas próprias
claras, explícitas e que todos os alunos palavras e afirmam tratar-se da repetição histórica:
tenham compreendido o que devem “aquela em que o aluno, relacionando o conceito
fazer; apresentado pelo professor e/ou pelos livros
• contextualiza os conteúdos relacionando- com os seus conhecimentos prévios, constrói um
os a situações conhecidas e do cotidiano conceito que tem sentido próprio” (LIMA; LIMA;
dos alunos; DAMIÃO, 2018, p. 919). É preciso considerar que

79
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

os estudantes trazem consigo conhecimentos descreve no artigo uma atividade pedagógica


espontâneos, ideias, preconceitos, habilidades, diferenciada que relaciona os temas da ótica
crenças, opiniões, interpretações, conceitos e das artes visuais de maneira interdisciplinar.
prévios etc. que interferem nos processos de Para revitalizar a temática “sombras”, o professor
aprendizagem e que podem tanto ajudar quanto sugere uma atividade experimental por meio do
prejudicar sua compreensão. desenho de um cartum14:

A valorização dos conhecimentos prévios e das


O desenho que deu origem a esse trabalho se inspira
contribuições dos alunos foi objeto de atenção
nessa capacidade de avaliação de uma representação da
de 17 das pesquisas analisadas. Observou-se realidade, criando complicações em um fenômeno que
que determinar os conhecimentos prévios, é aparentemente simples e permitindo uma reflexão
como bem ressaltam Gauthier, Bissonnette e sobre o papel que as reproduções gráficas possuem na
Richard (2014, p. 128), permite, em um primeiro nossa cognição (RIBEIRO, 2015, p. 3507-3515).
momento, que o docente “escolha com o
máximo de exatidão possível os conhecimentos
e habilidades necessários para efetuar um novo A atividade experimental descrita no artigo
aprendizado”, podendo, inclusive, listá-los para se adequa à tríade abaixo reproduzida, que
certificar-se de que os alunos os possuam antes corresponde às várias etapas do método
de ensinar um novo conceito. Em um segundo científico, permitindo aos estudantes uma visão
momento, o professor poderá “prever estratégias contextualizada da ciência, de sua natureza e de
para reativar na memória dos alunos o que eles suas práticas:
aprenderam anteriormente” (p. 128). E, por fim,
o professor poderá “constatar a adequação e • a discussão sobre a viabilidade física de uma
a acessibilidade do conhecimento adquirido situação, partindo da situação apresentada no
pelo aluno. Caso contrário, ele pode ou ensinar cartum;
o novo conteúdo, ou ensinar mais uma vez os • a criação de um protótipo experimental para
conhecimentos prévios” (p. 128). testar essa possibilidade, usando materiais
cotidianos; e
A intenção e a tentativa de aproximar a disciplina/o • o teste de um modelo mais elaborado (o mo-
tema do conhecimento prévio do aluno e da sua delo experimental definitivo) e a comparação
realidade aparecem nas produções das áreas do aparato experimental construído com a
de física e química, algumas das quais buscam figura original e com a formulação algébrica
situações do cotidiano para fazer essa ponte. (apresentada a posteriori, ao contrário da se-
O artigo de Ribeiro (2015), por exemplo, busca quência didática tradicional).
se contrapor ao que denomina apresentação
estática de um conteúdo em salas do ensino O autor enfatiza que a aula expositiva seguinte
médio, com a repetição de esquemas e problemas ao teste se revelou mais interativa que o usual
didáticos tradicionais. Assim, o autor propõe e e ele credita o maior interesse pela explicação

14 Foi utilizado na pesquisa um desenho de Gervasio Troche, representando um pai e uma filha caminhando, com a sombra da menina sendo maior
que a projetada pelo pai. O desenho foi utilizado em uma proposta de reconceitualização de atividades experimentais, conforme conceituado
por D. Hodson em “Enseñanza de las ciencias” (HODSON, 1994, p. 299). A imagem foi apresentada a estudantes de óptica no ensino médio, que
deveriam discutir sua possibilidade física, além de construir e testar um modelo experimental baseado na figura.

80
O que evidenciam as pesquisas em educação

geométrica “à manipulação dos modelos pelos para que interpretem e aprendam conceitos e
próprios estudantes” (RIBEIRO, 2015, p. 3507-3515), fenômenos do conhecimento científico” (p. 953).
além da possibilidade de comparar os modelos
construídos pelos diferentes grupos de alunos. Na tese de Melgaço (2015), algumas das práticas
da professora de ciências ilustram o cuidado e a
Vê-se assim que, longe de ser um barateamento preocupação em ter como ponto de partida os
do ensino, o objetivo é justamente levar a uma conhecimentos prévios dos estudantes. Ao propor
maior compreensão da ciência e de seus mé- para os alunos o tema “mudanças de estados
todos. Não se trata de negar a importância dos físicos”, por exemplo, explora, com base em uma
exercícios, que permitem aprofundar o aprendi- situação cotidiana, os conhecimentos prévios dos
do, mas a tônica está em modificar a forma de estudantes a respeito da evaporação da água. Faz
explicar conceitos abstratos e complexos. referência às roupas molhadas penduradas no
varal que secam ao sol e pergunta “cadê a água
Por outro lado, no estudo de Souza e Santos que estava aqui?”. O questionamento tem por
(2018), que teve por objetivo analisar e objetivo estimular a discussão entre alunos e, na
contrastar o nível de exigência conceitual da sequência, ela propõe outra pergunta, tendo em
prática pedagógica de professores que atuam vista propiciar o relato de experiências pessoais
na docência nas disciplinas de química e física e familiares sobre o modo de secar roupas: “Qual
no ensino médio, há relato das dificuldades é a diferença, no processo de evaporação, entre
dos docentes que participaram do estudo pendurar a roupa molhada, totalmente estendida
em considerar os conhecimentos prévios dos ou dobrada?”. Melgaço (2015, p. 93) explica que
alunos e da baixa complexidade e abstração do com “essa pergunta, a professora desafia os
conhecimento científico nas atividades e nas estudantes a refletirem e dialogarem, a partir de
avaliações da aprendizagem. suas vivências cotidianas, sobre a importância da
superfície de contato das roupas molhadas com
Os autores observaram que, nas aulas de o ar no processo de evaporação”.
química e física, os discursos acadêmicos
prevaleciam durante a explicação e a discussão A autora observou que a professora dedica um
de conceitos. Os professores pouco exploravam tempo significativo de aula para as atividades
o que os alunos já sabiam sobre os fenômenos de identificação e registro de conhecimentos
estudados. Souza e Santos (2018, p. 953) prévios dos estudantes e relata que, durante a
argumentam que “a aquisição da linguagem entrevista, ela contou
científica pelos alunos é facilitada quando
se permite que o conhecimento científico
haver aprendido pela experiência de trabalho, que ‘ou-
e teórico se desenvolva com a utilização de
vir os estudantes’ possibilita orientações e intervenções
uma linguagem próxima àquela dos alunos”. pedagógicas direcionadas para um ensino de ciências
Acrescentam, ainda, que é importante o mais dialogado e menos transmissivo. [...] Esse tempo
professor relacionar o “conhecimento científico prolongado para as trocas de ideias possibilita aos es-
com problemas e fenômenos conhecidos tudantes ‘tempo para pensarem, discutirem, reformu-
pelos alunos, respeitando os conhecimentos larem análises e registrarem interpretações desenvolvi-
que adquirem na comunidade em que vivem, das’ (MELGAÇO, 2015 p. 90-91).

81
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Hannel (2017), em sua tese, problematizou Nas primeiras semanas de aula, nos primeiros dez dias de
como personalizar o ensino para conduzir o aula, são realizadas atividades avaliativas para se verificar
aluno em sua trajetória pessoal rumo ao apren- de onde vamos partir. Então, eu converso com os alunos,
dizado significativo, sanando dificuldades de eu uso uma ou duas avaliações, e muita atividade oral.
Eu pergunto diretamente: ‘O que vocês viram no ano
conteúdo, colocando em evidência a necessi-
passado? Até onde foram?’ E a partir daí começo o
dade de o professor conhecê-lo e identificar
trabalho com a turma (LOPES, 2013, p. 100).
aquilo que ele sabe ou não para promover uma
aprendizagem significativa. Recorre à teoria da
aprendizagem significativa de Ausubel (1968), A autora explicou que os professores, ao iniciarem
que considera a existência de conhecimentos o ano letivo, realizam um período de sondagem,
prévios nos quais o estudante possa ancorar levantando dados que apontam o perfil da turma
as novas ideias, o que pressupõe a quantida- e as suas reais necessidades. As informações ob-
de e qualidade de subsunçores, como o fator tidas nesse processo permitem que os docentes
de maior relevância para o aprendizado signi- reorganizem seu planejamento considerando “a
ficativo. Subsunçor é o nome dado por Ausu- aproximação entre os conteúdos escolares e os
bel a “um conhecimento específico, existente não escolares, o que possibilita aos alunos o aces-
na estrutura de conhecimentos do indivíduo, so aos dois contextos, atribuindo significado ao
que permite dar significado a um novo conhe- conteúdo escolar” (LOPES, 2013, p. 151). A pesqui-
cimento que lhe é apresentado ou por ele des- sadora observou algumas situações que exempli-
coberto” (MOREIRA, 2012, p. 2, apud HANNEL, ficam a aproximação do conteúdo escolar com
2017). Logo, para o aluno atribuir significados o não escolar. Relata o caso de uma professora
a novos conhecimentos, é preciso contar com que utiliza exemplos de fatos vivenciados pelos
conhecimentos prévios especificamente rele- alunos como forma de introduzir e explorar os
vantes e com a interação entre conhecimentos conteúdos da disciplina de língua portuguesa. A
prévios e conhecimentos novos. Nesse proces- professora explica para a pesquisadora:
so interativo, aquilo que o aluno já sabe serve
de ideia-âncora para um novo conhecimento.
Com relação ao conteúdo que os alunos trazem, isso
se faz no cotidiano da sala de aula. Quando se trabalha
Lopes (2013, p. 72), que analisou práticas pe- leitura e compreensão de texto, normalmente, a gente
dagógicas de professores dos anos finais do sempre traz o que se chama introdução ao tema, este
ensino fundamental da disciplina de língua é um momento que eles gostam muito e em que
portuguesa, verificou, nas observações realiza- participam trazendo exemplos de situações vivenciadas
das em sala de aula, situações em que os pro- por eles (LOPES, 2013, p. 73).
fessores se valem “dos conhecimentos trazidos
pelos alunos, levando-os, assim, a uma maior Lopes (2013) também identificou em sua pesquisa
compreensão dos conceitos trabalhados na sé- a preocupação dos professores em fazer os alunos
rie, tornando a aprendizagem mais significati- perceberem a ligação entre um conteúdo e outro,
va e enriquecedora”. Uma das professoras que tanto para retomadas de assuntos de anos anterio-
participou do estudo busca conhecer os alu- res tendo em vista dar continuidade ao conteúdo
nos já nas primeiras semanas de aula, a partir da série, como também para os estudantes com-
de exercícios e dinâmicas propostas: preenderem que um determinado conteúdo já foi

82
O que evidenciam as pesquisas em educação

trabalhado em anos anteriores e, com a sequência porém de geografia. A autora teve por objetivo
das séries, os conceitos vão sendo ampliados e exi- compreender como ocorre a prática pedagógica
gem novos desafios para a sua compreensão. desses professores, tendo por referência sua for-
mação inicial e os processos de recontextualização
Vimos até aqui que, com o conhecimento da na sala de aula. A autora também discutiu a impor-
compreensão dos estudantes, o professor é tância de o professor dominar sua disciplina para
capaz de identificar concepções alternativas, que possa identificar os conhecimentos prévios
avaliar os argumentos de seus estudantes e assim dos alunos tendo em vista definir uma proposta
desencadear um processo de aprendizagem. No de intervenção que promova uma aprendizagem
entanto, é preciso ressaltar que esse processo significativa. A autora fundamenta-se em Basil
não é trivial, ou seja, identificar os conhecimentos Bernstein para analisar os dados da pesquisa com
prévios dos estudantes e saber fazer uso deles base na estrutura do conhecimento pelo discurso
exige que o docente tenha conhecimento do vertical e o discurso horizontal e suas contribui-
conteúdo específico que é objeto de ensino. ções na construção do conhecimento geográfico.
Nas teses de Moreira (2015) e Rosa (2017) essa Ela explica que Basil Bernstein fundamenta-se em
questão é abordada. uma constelação de conceitos e/ou categorias de
análise que deram suporte à sua teorização.
Moreira (2015, p. 196) investigou o desenvolvi-
mento do conhecimento pedagógico do conteú- Na análise sobre como a professora considerou
do, também conhecido pela sigla PCK, para o en- os conhecimentos prévios dos alunos em suas
sino de argumentação científica (PCKarg) de um práticas, aborda o uso do discurso vertical e ho-
professor de química recém-formado. O PCK é um rizontal nesse processo. Rosa (2017) explica que
constructo formulado por Lee Shuman e diz res- o discurso horizontal diz respeito à aquisição de
peito aos modos de o professor formular e apre- uma competência comum que ocorre por meio
sentar o conteúdo de maneira compreensível aos das práticas cotidianas e/ou do senso comum,
alunos, o que engloba o entendimento, por par- normalmente organizadas de forma segmenta-
te do docente, daquilo que facilita ou dificulta o da e dependente de um contexto específico. Já
aprendizado de um conteúdo específico, além das o discurso vertical tem relação com o discurso
concepções errôneas dos alunos e suas implica- de natureza acadêmica, também intitulado co-
ções para a aprendizagem (SHULMAN, 1987). Em nhecimento escolar ou oficial. Diferentemente
sua pesquisa, Moreira (2015, p. 196) observou que, do discurso horizontal, o vertical se apresenta
quando o professor não tem um conhecimento em forma de uma estrutura coerente, explícita
robusto do conteúdo específico, a identificação e com princípios sistemáticos. A autora explica
das concepções alternativas dos alunos torna-se que se espera que o professor de geografia pro-
inviável, uma vez que o docente pode não ser “ca- blematize conteúdos com exemplos de situa-
paz de identificar quais concepções dos estudan- ções do cotidiano para, então, explicá-los com
tes podem ser aceitas e quais estão desalinhadas base no conhecimento escolar. Isso significa
com as concepções científicas”. promover o acesso simultâneo aos dois tipos de
discursos – vertical e horizontal – e, assim, in-
Assim como Moreira (2015), Rosa (2017) desen- troduzir os princípios que permitem a distinção
volveu uma pesquisa com professores iniciantes, entre eles. Para Rosa,

83
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

o que não pode acontecer é que o discurso horizontal A autora explica que são essas diversas ativida-
seja valorizado e se torne o estatuto da escola. Pois, o des que acontecem fora da sala de aula que dão
discurso da escola é vertical. Não se pode correr o risco corpo à outra face do projeto da escola, que é
de ensinar geografia, considerando o conhecimento formar para a cidadania, preparando os alunos
do dia a dia como o contexto privilegiado de referência.
para atuarem no mundo em que vivem e serem
Esse é um notório desafio para os professores: estreitar
sujeitos de sua transformação. Nas escolas do
o fosso entre a visão empírica que o aluno tem do
mundo à sua volta e as variadas explicações científicas
campo analisadas por Silva (2009, p. 385), a “valo-
para os fenômenos desse mesmo mundo. Porém, o rização dos saberes populares num diálogo com
discurso vertical não suprime o horizontal, uma vez que os conhecimentos científicos produziram muitos
cada um tem sua legitimidade/validade nos contextos frutos, desencadeando mudanças significativas
específicos em que se realizam (ROSA, 2017, p. 82-83). nos processos administrativos e pedagógicos
das escolas”. A autora observou que o respeito
à cultura dos sujeitos, em um diálogo com a
A discussão sobre o discurso vertical e horizontal cultura científica e com a cultura midiática, foi
coloca em destaque o papel dos conhecimentos trabalhado nas escolas como conteúdo educa-
prévios em relação aos seus limites e possibilidades tivo. Nesse caso, “o conhecimento passa a ser
no processo de aquisição do conhecimento pelo entendido como proveniente de diferentes
aluno. Desse modo, recorrer aos conhecimentos fontes e sujeitos, o que faz da escola um espa-
prévios dos alunos provenientes de suas práticas ço de diálogo e de múltiplas conexões, já que
cotidianas é uma forma de facilitar o acesso ao ele não está em um único lugar, nem em um
discurso vertical da escola. Porém, como bem único sujeito” (SILVA, 2009, p. 383).
adverte Rosa (2017), é preciso cuidar para que
o discurso horizontal não tenha maior destaque Ela argumenta, assim, que se trata de um movi-
que o discurso vertical. A autora explica que mento de mão dupla na produção do conheci-
é importante promover o acesso simultâneo mento, uma vez que a escola se modifica com os
aos dois tipos de discurso e, ao mesmo tempo, conhecimentos provenientes da realidade e, con-
introduzir “os princípios que permitem a distinção sequentemente, as comunidades se modificam
entre eles” (ROSA, 2017, p. 82). por meio dos novos conhecimentos ampliados e
sistematizados pela escola.
Na tese de Silva (2009), que trata das práticas
pedagógicas que se desenvolvem em escolas Há ainda o artigo de Baptista (2015), que mostra
do campo, não só o resgate dos conhecimentos como um curso de formação continuada
prévios das crianças sobre as temáticas envolvendo etnobiologia pode contribuir para
estudadas é uma atitude constante, como que os professores sejam mais sensíveis, não
também a interação entre professores, alunos e apenas aos conhecimentos dos alunos, mas
conhecimento abrange a escola como um todo também à diversidade cultural. O curso apoiou
e as atividades planejadas podem acontecer em os profissionais na investigação e compreensão
outros espaços (na comunidade, nas visitas a dos conhecimentos culturais dos estudantes
espaços públicos, nas aulas de campo, atividades com relação à natureza, e, do mesmo modo, da
esportivas e recreativas etc.), não se limitando, própria prática pedagógica voltada ao diálogo
assim, à sala de aula. entre saberes culturais. Com base nisso, os

84
O que evidenciam as pesquisas em educação

docentes puderam ressignificar suas práticas Estímulo ao pensamento criativo


para realizar um diálogo mais profícuo entre os
saberes dos alunos e os conteúdos científicos a
Uma análise das respostas apresentadas pelos alunos
serem estudados, ou seja, para contextualizar o
indicou que vários deles associaram criatividade
ensino e a aprendizagem (BAPTISTA, 2015). à realização de algo novo ou praticado de forma
diferenciada, com valor para este grupo de pessoas
(ALMEIDA; ALENCAR, 2010, p. 331).
Em síntese, a valorização dos conhecimen-
tos prévios e contribuições dos alunos
pode se constituir em pré-requisito para o
Este excerto extraído do artigo de Almeida e Alencar
novo aprendizado quando o professor:
(2010) é uma das duas produções que têm como
• considera que os estudantes trazem consi- temática comum a criatividade. Ambos os artigos –
go conhecimentos prévios que interferem de Almeida e Alencar (2010) e de Otaviano, Alencar
na compreensão dos novos aprendizados; e Fukuda (2012) –, mesmo que sob perspectivas
• escolhe com o máximo de exatidão diferentes, investigaram práticas docentes favoráveis
possível os conhecimentos e habilida- ao desenvolvimento da criatividade no ensino
des necessários para efetuar um novo médio por meio da perspectiva dos estudantes.
aprendizado; O artigo de Otaviano, Alencar e Fukuda (2012)
• constata a adequação e a acessibilidade investigou a criatividade relacionada ao ensino de
do conhecimento adquirido pelo aluno; matemática, e o artigo Almeida e Alencar (2010)
• conduz o aluno a realizar conexões en- engloba todo o ensino médio, sem especificação
tre o conhecimento prévio e o conteú- de áreas do conhecimento.
do proposto;
• recorre a práticas pedagógicas diver- É importante registrar que o estímulo ao
sificadas, mais dialogadas e menos pensamento criativo foi muito pouco abordado
transmissivas; pelas produções analisadas. Além desses dois
• dá atenção à diversidade cultural e ao artigos, que têm a criatividade como temática
diálogo entre saberes culturais; central, apenas um artigo e três teses fizeram
algum tipo de referência a práticas com potencial
• registra o acompanhamento do progres-
para estimular a criatividade.
so dos alunos para ter maior domínio so-
bre os conhecimentos adquiridos por eles;
Nos estudos de Almeida e Alencar (2010) e de
• promove o acesso simultâneo ao discur-
Otaviano, Alencar e Fukuda (2012), que tomam
so horizontal e vertical e, ao mesmo tem-
a criatividade como objeto de estudo, há o
po, introduz os princípios que permitem
relato de práticas docentes favorecedoras (ou
a distinção entre eles facilitando, assim, o
não) da criatividade, com base na percepção de
acesso ao discurso vertical da escola; e
estudantes do ensino médio.
• domina a sua disciplina para que possa
identificar quais concepções dos estudan-
No estudo desenvolvido por Almeida e Alencar
tes podem ser aceitas e quais estão desali-
(2010), os estudantes que participaram da
nhadas com as concepções científicas.
pesquisa associaram criatividade à realização de

85
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

algo novo ou praticado de forma diferenciada médio “esteja também atento à criatividade como
pelo professor. Os resultados da pesquisa um processo a ser cultivado e desenvolvido em
sugerem que as possibilidades oferecidas ao sala de aula” (p. 332).
desenvolvimento e expressão da capacidade de
criar dos estudantes nas disciplinas do ensino Os resultados da pesquisa desenvolvida por
médio na escola investigada são limitadas. Otaviano, Alencar e Fukuda (2012) com alunos de
Almeida e Alencar relatam que escolas públicas e particulares do ensino médio
convergem com os dados obtidos no estudo de
Almeida e Alencar (2010). Os resultados também
há alguns professores empenhados em construir um
apontaram relação positiva da percepção dos
ambiente de aprendizagem de excelência e promotor
da criatividade, enquanto outros precisam rever várias alunos quanto ao uso de estratégias em sala
de suas práticas no sentido de fomentar a expressão de aula para desenvolver a criatividade pelos
criativa (ALMEIDA; ALENCAR, 2010, p. 331). professores. Logo, as práticas de ensino centradas
no professor contribuem para reduzir a expressão
do potencial criador do aluno, bem como a sua
Entre os estudantes que discordaram da ideia de motivação para aprender. No caso do ensino
que a criatividade seja desenvolvida em sala de da matemática, o incentivo do professor para o
aula, vários deles compreendem que os docentes aluno fazer perguntas, bem como a criação de
variam pouco as metodologias de ensino e um ambiente amigável, caracterizam um clima
as aulas facilmente se tornam monótonas e propício à expressão da criatividade (OTAVIANO;
cansativas, o que prejudica o interesse não só pela ALENCAR; FUKUDA, 2012).
aprendizagem, mas pela escola como um todo.
Na tese de Stefanelli (2018), a questão da
Os resultados do estudo revelaram ainda criatividade foi observada nas práticas
que a ênfase exagerada no conteúdo e em pedagógicas de ensino-aprendizagem com
sua reprodução, bem como a falta de tempo audiovisuais desenvolvidas na escola básica. A
para expressão e incremento de ideias novas, intenção do autor foi destacar a sua condição
são fatores que atrapalham a expressão e o de método ativo e colaborativo, explicitado
desenvolvimento da criatividade. Por outro teoricamente com as categorias conectividade
lado, as práticas docentes favorecedoras da e dodiscência, conforme teorizações de base
criatividade são o estímulo à análise de diferentes freiriana. O autor recorre à definição do próprio
aspectos de um problema, além da percepção e Freire para explicar essas categorias: “quem ensina
conhecimento dos pontos de vista divergentes aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
sobre o mesmo problema ou tema em estudo. aprender” (FREIRE, 1996, p. 25, apud SFANELLI,
Os autores advertem, ainda, para a importância 2018, p. 89). O autor explica que, no ato educativo,
da criatividade em uma sociedade em constante o que de fato ocorre “é a simultaneidade da
transformação, que tem exigido, cada vez aprendizagem e do ensino na docência e na
mais, “indivíduos com competência para lidar discência, portanto, na dodiscência. Por isso, a
criativamente com problemas e desafios” conectividade é o ato de ensinar do professor
(ALMEIDA; ALENCAR, 2010, p. 332). Assim, e a ação de aprender dos alunos – ou vice-versa
recomendam que o professor que atua no ensino – em meio à interação, à intersubjetividade”

86
O que evidenciam as pesquisas em educação

(STEFANELLI, 2018, p. 89). Segundo Stefanelli Acho-me um professor pioneiro, em que busco conectar
(2018), na perspectiva freiriana, a dodiscência é com as tecnologias para a educação, particularmente,
procuro aperfeiçoar uma metodologia que explore
um processo, fundamentalmente,
o uso da ferramenta “filmar/gravar” existente nos
aparelhos celulares para estimular meus alunos
de conectividade ensino-aprendizagem que significa: à criatividade, à pesquisa, à organização. Por isso,
ato ou ação de aprender ensinando; envolve em ação busco me aprofundar na dinâmica e novidades dos
comunicativa (dialógica) e em práticas colaborativas recursos audiovisuais. Tenho, além das observações e
que unem teoria e prática (práxis), educandos e experiências em sala de aula, realizado cursos que me
educadores, que se motivam uns aos outros, que capacitem para a direção de filmes, para o trabalho de
ensinam a si mesmos e a outros; é a ação pedagógica edição, efeitos e sonoplastia. É algo que a gente está
de quem ensina, ao mesmo tempo em que aprende, construindo (STEFANELLI, 2018, p. 185).
sobre um determinado conhecimento; ou aquele que
organiza a produção dos conhecimentos preexistentes Para o professor Zaldo, o processo de estimular a
(docente) coparticipando da aprendizagem dos
dodiscência conectiva em sala de aula tem como
aprendizes (discentes) e do seu próprio processo de
base a criatividade, a pesquisa e a organização
aprender (STEFANELLI, 2018, p. 90-91).
didático-metodológica. Stefanelli (2018, p. 189)
argumenta a favor de transformar o audiovisual
Na pesquisa desenvolvida por Stefanelli (2018), em um conteúdo indispensável para potencializar
que contou com a participação de professores, “a criatividade, a generosidade e a dialogicidade
alunos e ex-alunos para compreender as do saber aprender e ensinar (dodiscência) na
interações de suas percepções sobre as práticas cultura escolar”. Na tese há vários outros relatos de
escolares com audiovisual vividas em seu professores e alunos que evidenciam que o ensino
processo de escolarização, ficou evidente que com audiovisual, na perspectiva da dodiscência
metodologias que se utilizam fortemente do conectiva, é promissor para promover a experiência
ensino com audiovisual transformam de modo estética e a criação artística e comunicativa no
significativo as inter-relações pedagógicas espaço escolar.
(dodiscência) nos ambientes escolares. Esse
tipo de prática possibilita ao professor orientar Assim como Stefanelli (2018), Braga (2012) recorreu
a curiosidade e a criatividade dos alunos na a Paulo Freire para analisar a prática pedagógica
produção de conhecimento. E por meio de docente-discente vivenciada em duas turmas dos
atividades de ensino com audiovisual, “os anos iniciais do ensino fundamental de uma escola
estudantes aprendem a escutar e a utilizar seus da rede pública municipal. Dentre os dados obtidos
potenciais na aprendizagem e no desempenho no estudo, o estímulo ao pensamento criativo e
dos diferentes trabalhos escolares” (STEFANELLI, à imaginação foi utilizado pelas professoras em
2018, p. 123). O desenvolvimento do conteúdo diferentes situações. Braga (2012) relata várias
curricular de audiovisual na sala de aula favorece a passagens das aulas observadas em que verificou
realização de práticas pedagógicas mais flexíveis, que a ativação da curiosidade, da imaginação
uma vez que oportuniza a liberdade de escolha, e da criatividade foi o meio encontrado pelas
a criatividade e o protagonismo dos estudantes. professoras, que se apoiaram no aporte freireano
Um dos professores que participou do estudo, para promover a participação ativa dos alunos
com o codinome Zaldo, relata: e, assim, sedimentar o prazer por aprender, por

87
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

conhecer. A busca pela criação de condições para querer “saber fazer” podem provocar “momen-
que todos os alunos aprendessem expressava-se tos de pausa, momentos de reflexão, ou mesmo,
nas atividades propostas pelas professoras que de debates críticos e criativos entre os colegas”
demandavam dos alunos criatividade na resolução (BRIGUENTI, 2014, p. 162). E são nessas ocasiões
de problemas, por exemplo. que o professor tem a possibilidade de “introdu-
zir questionamentos, relembrar ideias e concei-
A autora explica que a “diversificação na forma de tos, dar exemplos que contribuam e estimulem
solucionar um problema, seja na aula de matemá- os alunos a buscarem alternativas, diante das
tica, seja na vida cotidiana, é um princípio ineren- incertezas e das dificuldades do processo de
te ao respeito à autenticidade das ações criadoras aprendizagem e síntese do conhecimento que
do ser humano” (BRAGA, 2012, p. 174). Acrescenta, se defrontam” (p. 162).
ainda, que “em situações de escolarização, a prá-
tica pedagógica docente-discente se faz criativa Trata-se de um momento propício de mediação
quando o acolhimento à diversidade de formas de pedagógica em que “o professor encontra maior
aprender pressupõe a diversidade de formas de abertura dos alunos e melhores condições de
ensinar, pelo estímulo ao raciocínio lógico, à ima- retomar explicações, transformar dúvidas em
ginação, à intuição, à fantasia” (p. 174). Para Braga questões motivadoras e desafiadoras para o
(2012), ensinar a perguntar, bem como aguçar a aluno e estabelecer diálogos ricos no processo
curiosidade e, ainda, reconhecer no ser humano de aprendizagem e na construção de saberes”
a sua integralidade, são meios para o exercício (BRIGUENTI, 2014, p. 162). E, nesse processo, o
da criatividade. Nessa compreensão, o autor dife- autor adverte que a intervenção pedagógica
rencia a “pedagogia humanizadora das pedago- deve ser cautelosa para não ocultar processos
gias tradicionais, por reconhecer os seres huma- psicológicos espontâneos e dificultar, ou até
nos como seres históricos, que se desenvolvem, mesmo impossibilitar e descaracterizar, possíveis
se transformam, seres autobiográficos, criativos” resultados autênticos, decorrentes de esforços
(BRAGA, 2012, p. 40). criativos. Para o autor, o uso da cartografia
evidenciou a possibilidade de construir caminhos
A importância do estímulo ao pensamento cria- dinâmicos, criativos na sala de aula e, sobretudo,
tivo também tem presença no estudo desenvol- possibilitou que o ensino de geografia fosse mais
vido por Briguenti (2014), em que discute a me- afetivo, “permitindo ao aluno vivenciar desafios,
diação cartográfica de processos de aprendiza- definir critérios, generalizar e detalhar, conceituar,
gem em práticas escolares na disciplina de Geo- buscar alternativas criativas e socializar
grafia no ensino médio. Como contribuições do subjetividades” (BRIGUENTI, 2014, p. 226).
seu estudo, apresenta, dentre outros aspectos, o
esforço criativo como um importante momen- O artigo de Gemente e Matthiesen (2017) faz uma
to pedagógico. O esforço criativo “caracteriza-se discussão interessante sobre a possibilidade de a
num momento de intensificação na busca do educação física escolar estimular o pensamento
saber, no desejo em demonstrar para si, colegas criativo dos docentes e, também, o dos alunos.
e professor, capacidade, criatividade e autentici- O estudo foi uma pesquisa-ação que teve
dade” (BRIGUENTI, 2014, p. 161). O autor explica por objetivo oferecer um curso de formação
que momentos de ansiedade no processo de continuada de professores, com base em suas

88
O que evidenciam as pesquisas em educação

dificuldades e necessidades em trabalhar com o técnicas dos alunos para realizar determinados
atletismo na educação física escolar, verificando movimentos, e passa a ser o prazer e a satisfação
as possíveis contribuições para a sua prática em se movimentar, que está acessível a todos
pedagógica. O pressuposto era combater a os estudantes, que podem participar efetiva e
concepção de que o atletismo é uma modalidade atrativamente das atividades.
exclusivamente competitiva, para atribuir-lhe
um valor pedagógico-educacional, visando à Tendo em vista que a criatividade não deve ser um
formação de todos os alunos como cidadãos via luxo extracurricular, como bem adverte Cavallo
atletismo, para além da dimensão puramente e outros (2016, p. 144), é muito importante que
técnica/procedimental. atividades e práticas com potencial para promover
o desenvolvimento da criatividade ocupem mais
Para tanto, o curso possibilitou que todos os os espaços nos currículos da educação básica.
professores confeccionassem e/ou utilizassem
materiais alternativos para a realização de suas
Nos estudos analisados, o desenvolvimen-
propostas pedagógicas nos locais disponíveis
to do potencial criativo foi associado:
nas escolas (como a quadra esportiva/pátios),
favorecendo sua criatividade até para suprir a • à diversidade nas metodologias de ensino
falta de estrutura das instituições. Essa prática utilizadas pelos professores;
também estimulou a criatividade, a motivação • à abordagem de assuntos atuais que
e a autonomia dos alunos, já que eles também acontecem no país e no mundo, causan-
podiam participar da criação dos materiais e do boas discussões e trazendo curiosida-
vivenciá-los em outros espaços fora da escola. des para a sala de aula;
Como relatam as autoras: • ao uso de ferramentas e materiais peda-
gógicos diversificados para promover a
experiência estética e a criação artística e
O modo como o atletismo foi trabalhado na formação
inicial, a falta de vivência na modalidade de forma mais
comunicativa do espaço escolar.
lúdica e pedagógica ocasionou, a esses professores, • à receptividade e estímulo à expressão de
dificuldades no desenvolvimento desse conteúdo em novas ideias, aceitando-as e ajudando a
suas aulas [...] Devido às lacunas da formação inicial, elaborá-las;
os professores não se sentiam capazes de superar • ao estímulo à análise de diferentes aspec-
a falta de estrutura das escolas, não encontrando
tos de um problema, além da percepção e
muitas possibilidades para a utilização e confecção
conhecimento dos pontos de vista diver-
de materiais que pudessem proporcionar a vivência
gentes sobre o mesmo problema ou tema
e a construção de conhecimentos em torno do
em estudo; e
atletismo [...] Era preciso instigá-los a pensar sobre
diferentes possibilidades de saltar, lançar e arremessar, • à criação de clima propício à expressão do
fazendo uma aproximação com as provas do atletismo aluno.
(GEMENTE; MATTHIENSE, 2017, p. 189-191).

O foco deixa de ser, assim, as dificuldades


estruturais das escolas e limitações físicas e

89
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Trago sempre problemas relacionados com a vida


Problematização, elaboração e consolidação deles, para estimular e desencadear a socialização e
de conceitos científicos as trocas de ideias entre eles. Eles discutem, falam,
ouvem e vão aprendendo a resumir, associar e
registrar explicações. Vão reorganizando ideias e
Respondemos juntas as perguntas 5, 6 e 7, porque
ampliando os conhecimentos pela compreensão das
agora já sabemos que o cheiro pode ser qualquer um –
ideias científicas que vou introduzindo aos poucos,
chulé, perfume, peido, cheiro de comida, de fruta e até
nas discussões com eles. Eu incluo e destrincho as
de bicho morto, é tudo igual! As partículas de cheiro
ideias científicas a serem trabalhadas, contando sobre
espalham no ar entre as moléculas de gás que ficam
a história da ciência, como a humanidade pensava no
soltas, longe das outras, porque a força de união é
passado e o que foi investigado e descoberto. Assim
fraca nos gases, e quanto maior for a temperatura do
consigo que se envolvam de verdade (MELGAÇO,
ambiente (dia quente), mais rápido as partículas de gás
2015, p. 95).
se movimentam e agitam, devido à energia aumentada,
e o cheiro também se espalha rápido e chega até
o nariz de quem estiver no ambiente, e ele sentirá,
Melgaço (2015), em diversas passagens do
porque o nariz tem células que percebem cheiros. O
estudo, retrata que a professora Ana promove
calor, que é energia, aumenta o movimento, a agitação
das partículas mais ainda e no frio as partículas de gás a ressignificação de conhecimentos cotidianos
ficam normais, ou mais juntas, diminuindo a agitação, e acompanha a transformação progressiva do
se aproximando das outras, e não tão agitadas como conteúdo e a reorganização das concepções
nos dias quentes; carregam o cheiro também, mas dos estudantes durante o processo de ensino
não tão depressa, nem tão rápido, e o cheiro fica mais e aprendizagem. É interessante observar que
concentrado no ambiente perto daquilo que causa o a docente sistematicamente recorre à aula
bom ou mau cheiro (MELGAÇO, 2015, p. 134). dialogada, ao trabalho em grupo por meio da
problematização do conteúdo. O autor observou
Esta resposta de um grupo de estudantes elucida que a docente, quando propõe a formação de
a compreensão dos fenômenos em estudo na grupos colaborativos, busca identificar formas
disciplina de ciências ministrada pela professora de raciocínio e interpretação dos conteúdos
Ana, que participou do estudo desenvolvido propostos como objeto de estudo. Destaca, ainda,
por Melgaço (2015). Observa-se que eles que, durante as aulas, ao mesmo tempo em que
foram capazes, como bem analisou a autora, problematiza e sistematiza as ideias científicas,
de “reconhecer e associar diversas situações consolida as ideias dos estudantes sobre os
cotidianas problematizadas pela professora, conceitos estudados. Sua intenção, segundo
formulando, de forma clara, uma explicação Melgaço (2015), é “deflagrar e estabelecer vínculos
coerente através da incorporação de ideias entre conhecimentos cotidianos e científicos,
científicas” (MELGAÇO, 2015 p. 135). Para que estimular o pensamento reflexivo e dedutivo dos
fossem capazes de elaborar e expressar como estudantes e avançar em direção às ideias e à
compreenderam o fenômeno, a professora Ana linguagem científica, com vistas à aprendizagem
oportunizou “espaços e tempos” para o diálogo de conceitos” (MELGAÇO, 2015, p. 96-97).
entre os estudantes e, consequentemente, a
consolidação de ideias comuns. A docente Esse exemplo ilustra alguns dos elementos
conduziu e desenvolveu o conhecimento que envolvem o processo de elaboração e
científico com os estudantes. Em suas palavras: consolidação de conceitos pelos alunos e de

90
O que evidenciam as pesquisas em educação

como o professor pode, por meio de situações as dúvidas do grupo, supostas pelo professor, o
problematizadoras, favorecer o confronto dos fizeram modificar o design tradicional da aula”
conceitos espontâneos com os conceitos (FREITAS, 2003, p. 110).
sistematizados. É preciso dizer que a formação
de conceitos é considerada a base para a A tese de Silva (2015), com professoras dos
aprendizagem escolar, e é o resultado de uma anos iniciais do ensino fundamental, aborda a
atividade complexa, em que todas as funções importância de os conteúdos de ciências serem
intelectuais básicas (atenção, percepção, trabalhados com base na problematização de
memória, abstração, análise) tomam parte. E, temas com o objetivo de causar mudanças
como resultado da elaboração conceitual, tem-se conceituais. Explica que
o desenvolvimento das capacidades de análise
ou abstração e de síntese ou generalização dos
os alunos possuem conhecimentos prévios sobre
dados da realidade.
fenômenos naturais e os recursos tecnológicos,
muitos deles adquiridos do chamado conhecimento
No conjunto das produções analisadas, 20 de senso comum; ao trazê-los para o ambiente escolar
pesquisas fizeram referência ao papel das práticas cabe ao professor estruturá-los e sistematizá-los. À
de problematização no processo de aprendizagem medida que esses conhecimentos vão se tornando
e, sobretudo, na elaboração e consolidação de insuficientes para explicar determinado fenômeno,
conceitos científicos. Quando abordada nas ambos, professor e alunos, devem procurar buscar
produções analisadas, a problematização dos novas informações para resolvê-los, reconstruí-los e
até ampliá-los (SILVA, 2015, p. 75).
conteúdos é utilizada por professores não só como
disparadora do processo de ensino-aprendizagem,
mas, também, no processo de apropriação do A tese teve por objetivo investigar como a
conhecimento pelo aluno. formação continuada em serviço, por intermédio
de oficinas de experimentação em ciências
Freitas (2003) observa a prática de um professor de como metodologia de ensino, pode contribuir
biologia para compreender as formas pelas quais com as práticas pedagógicas dos professores
os conteúdos da disciplina são transformados de ciências. Durante a realização do curso e
durante o processo de escolarização, e mostra dos relatos das professoras sobre as práticas
a importância de se compreender o papel do desenvolvidas com os seus alunos, inspiradas nas
professor na construção do discurso pedagógico. oficinas de experimentação, Silva (2015) ressaltou
Quando percebe que “o significado para a importância de as professoras, durante as
homozigoto e heterozigoto que ele possui e quer experimentações, incentivarem os alunos a
ensinar, regulado pelas regras distributivas, não é problematizar, observar, levantar hipóteses,
conhecido por seus alunos” (FREITAS, 2003, p. 109), pesquisar, realizar relações etc. Todas essas ações,
o docente constrói um desenho, usa um novo segundo o autor, são necessárias para transformar
meio semiótico para fazer com que os alunos os conceitos adquiridos em aprendizagens.
compreendam os conceitos. Assim, “este trabalho
possibilitou evidenciar [...] que a orientação para O mesmo autor afirma que o trabalho com expe-
o trabalho criativo e significativo do professor foi rimentação é importante para o desenvolvimento
dada pela interação com os alunos, sendo que do aluno, uma vez “que é a partir das formulações

91
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

de hipóteses e (re)construção de conhecimentos Entretanto, nos estudos de Ciríaco (2016) e Lima


anteriores que é possível compreender fenôme- (2017), há exemplos de práticas no ensino de
nos naturais e ampliar sua maneira de ver o mun- matemática não recomendadas que incorrem
do” (SILVA, 2015, p. 110). Logo, o processo de am-nesse erro. Na tese de Ciríaco (2016), que teve
pliação da capacidade de compreensão do aluno por objetivo analisar o movimento do aprender
sobre o mundo, bem como o seu protagonismo a ensinar matemática entre um grupo de
sobre a realidade em que está inserido, colocam professoras iniciantes, nos seus primeiros anos
o estudante em um papel ativo. A busca por re- de carreira, o autor coloca em evidência algumas
solver situações-problema exigirá uma postura in- das situações vivenciadas pelas docentes
vestigativa para a sua resolução e, ao contrário das
em processos de problematização nas aulas.
práticas educativas individuais, a problematizaçãoDiscute também as dificuldades das docentes
em situações de experimentação no ensino de iniciantes em recorrer à história da matemática
ciências concebe a educação como um exercício e incorporar em suas práticas a metodologia de
social, uma vez que é desejável que esse processo resolução de problemas. O autor explica que
seja realizado colaborativamente na mesma pers- parte das dificuldades em relação à matemática
pectiva que trabalha a professora Ana, também de tem origem nas experiências negativas de
ciências, do estudo de Melgaço (2015). “um processo de escolarização mecanizado
do ensino, baseado em cópia, reprodução de
Segundo Moreira (2015), esse tipo de intervenção regras e procedimentos matemáticos que pouco
que se espera do professor que trabalha com valorizam a investigação, problematização e
experimentação e/ou argumentação científica, comunicação nas aulas” (CIRÍACO, 2016, p. 187).
em sala de aula, requer “o conhecimento
das estratégias instrucionais relacionadas ao Com base em algumas cenas de aulas gravadas e
favorecimento tanto da investigação científica analisadas com as professoras iniciantes foi possí-
quanto do processo argumentativo que se vel que o pesquisador e as docentes identificas-
desenvolve nessa” (MOREIRA, 2015, p. 164). Ao sem os limites e as possibilidades das interven-
investigar o desenvolvimento do conhecimento ções realizadas por elas em aulas de matemática.
pedagógico do conteúdo para o ensino de A tarefa socializada por uma das professoras, com
argumentação científica (PCKarg) de um o codinome Paula, diz respeito a uma coleta de
professor de química recém-formado, o autor dados, feita no contexto de uma turma de 3º ano
afirma que é importante que o professor domine do ensino fundamental, em que a professora
“estratégias instrucionais relacionadas a saber propôs uma pesquisa sobre “aniversariantes do
como lidar com as perguntas dos estudantes, mês”. Foi realizada uma procura por respostas,
além de saber formular questões e criar situações por meio de questionamentos coletivos susci-
que favoreçam a argumentação sem dar a tados pela indagação de Paula e sistematizados
resposta” (MOREIRA, 2015, p. 164-165). no quadro da sala de aula, na tentativa de explo-
rar dados referentes ao bloco de conteúdo, no
Pode parecer simplório dizer que o professor caso o tratamento da informação. Ciríaco (2016)
precisa saber formular questões e que respostas explica que, apesar do esforço considerável da
“prontas” não contribuem para o processo professora Paula em envolver os seus alunos, por
de elaboração e consolidação de conceitos. meio de questionamentos desencadeados para

92
O que evidenciam as pesquisas em educação

sistematizar os dados estatísticos da recolha feita, atenção na sua explicação, o que é confirmado
com o número de aniversariantes de cada mês, em seu depoimento: “eu entendo que meu aluno
ela não conseguiu efetivamente contribuir para aprende: prestando atenção; fazendo e tirando
o desenvolvimento de um ciclo de investigação as dúvidas. Quando eles trazem as dúvidas eu
estatística com os alunos. O autor explica que, se explico para eles aprenderem” (LIMA, 2017,
o tema é “aniversariantes do mês”, p. 135). A autora argumenta que é essencial que
o professor, no ensino da matemática, considere
alguns dos aspectos que constituem o processo
seria importante a professora, antes de recolher os
de elaboração de conceitos, a saber:
dados, elaborar junto com a turma quais seriam os
conjuntos de questões que se pretende responder com
essa mesma recolha, pois neste sentido, a estatística a criação de um ambiente de interações e mediações
seria um processo construído para analisar uma questão que sendo dialógico e problematizador possibilite
e não apenas se apresentaria como uma técnica para o desenvolvimento de tarefas que promovam a
justificar os dados coletados, pressuposto último, que elaboração conceitual; os processos de significação
ocorreu na proposta de Paula (CIRÍACO, 2016, p. 245). compreendidos na relação com a linguagem e
pensamento e, neste bojo, a comunicação das ideias
A percepção do grupo de professores iniciantes na sala de aula (tradução da língua materna para a
e de Ciríaco (2016) sobre a aula é de que a linguagem matemática); e, sobretudo, a correlação
técnica se sobrepôs ao significado das análises existente entre os conceitos espontâneos e os
científicos (LIMA, 2017, p. 107).
do contexto, comprometendo, assim, o potencial
da proposta. A discussão desses aspectos levou
à problematização, no espaço do grupo, de A autora acrescenta, ainda, em relação à prática
que seria desejável que as tarefas propostas aos realizada pela professora, que “as possíveis
alunos fossem congruentes em alguns aspectos, heurísticas dos alunos não foram nem geradas,
como, por exemplo, a importância de definir um nem tampouco conhecidas, comunicadas e
tema que parta da realidade dos alunos, que problematizadas, como propõe a perspectiva
oportunize uma problematização efetiva com a metodológica da resolução de problemas”.
turma e que seja desafiador do ponto de vista Como bem destaca a autora, o aluno precisa
da mobilização para a coleta dos dados e a sua ser concebido como “sujeito ativo e autônomo,
interpretação posterior. autor de descobertas, pois a descoberta é a mola
propulsora do conhecimento científico” (LIMA,
Lima (2017), durante a observação das aulas de 2017, p. 141).
uma das professoras que ensinam matemática
nos anos iniciais, com foco na resolução de Nos artigos de Otaviano, Alencar e Fukuda (2012),
problemas, notou que raras vezes os alunos eram de Starepravo e outros (2017) e de Barbosa e
instigados a desenvolver diferentes estratégias de Oliveira (2018), todos do campo da matemática,
resolução e, quando isso ocorria, elas não eram também se discute que o ensino de conceitos
problematizadas pela professora junto à turma. matemáticos tem sido um desafio para os profes-
Lima (2017) narra uma prática de ensino centrada sores, uma vez que ainda é recorrente o uso de
na professora, que entende que a aprendizagem práticas que consistem em apenas levar o aluno a
acontece quando a sala está em silêncio, prestando reproduzir o que lhe foi ensinado. Discute-se nes-

93
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

ses artigos a importância de estimular os estudan- poderá “planejar suas intervenções, escolher pro-
tes a visualizarem um problema matemático de blemas que mobilizem os conhecimentos que os
distintos ângulos, envolvendo-os nesse processo alunos já possuem, mas que os façam melhorá-
no sentido de criar hipóteses e investigá-las com -los, ampliá-los, aperfeiçoá-los” (p. 29). Logo, ad-
base na situação-problema proposta. É consenso vertem os autores, o jogo não deve ser escolhido
nesses estudos que a resolução de problemas é ao acaso, ele deve “fazer parte de um projeto de
essencial para o processo de elaboração de con- ensino do professor, com a intencionalidade de
ceitos matemáticos, que se tornam significativos participar, de fato, do processo de construção do
quando são utilizados pelos alunos como ferra- conhecimento pelo aluno” (p. 29).
mentas para solucionar problemas.
Nas teses de Goulart (2011), de Briguenti (2014)
Starepravo e outros (2017), por exemplo, e de Rosa (2017) sobre o ensino de geografia, a
defendem que situações ativas, promotoras discussão relativa ao processo de apropriação
de autorregulação por meio da resolução de de conceitos geográficos pelos alunos é pauta
problemas presentes nos jogos, podem ser uma presente. Todos os três defendem a construção
proposta efetiva na construção de conceitos de conceitos e o desenvolvimento de habilidades
matemáticos. Por meio de um estudo empírico, geográficas como necessários e fundamentais
analisam as contribuições do Jogo do Resto para a para que o aluno realize leituras do mundo.
compreensão do conceito de multiplicação. Para
os autores, o jogo tem “um papel desencadeador Goulart (2011) investigou como a pedagogia de
do processo de autorregulação por meio das projetos interfere na aprendizagem dos alunos
situações problematizadoras que oferecem e professores e nas práticas pedagógicas de
ferramentas essenciais e necessárias para a geografia. Briguenti (2014) desenvolveu um
construção do conhecimento” (STAREPRAVO et estudo em que o principal objetivo foi discutir
al., 2017, p. 22). Logo, quando o jogo é intencional, a mediação cartográfica de processos de
propõem que a preocupação do professor aprendizagem em práticas escolares. E a pesquisa
esteja centrada no processo de construção dos de Rosa (2017), centrada na formação e atuação
conceitos envolvidos na proposta, tornando- docente realizada por professores iniciantes
se um agente importante na mediação entre o de geografia, buscou, dentre outros aspectos,
jogo, o aluno e o conhecimento matemático. compreender a prática pedagógica desses
Assim, a sua intervenção com questionamentos professores com destaque aos fundamentos
que levem à reflexão quanto aos procedimentos didático-pedagógicos da geografia escolar.
adotados pelos alunos é pertinente.
Nas discussões sobre o processo de elaboração e
Starepravo e outros (2017) explicam que o jogo consolidação dos conceitos geográficos, por meio
é uma rica oportunidade para os professores ob- de estratégias didáticas que exigem participação
servarem, por exemplo, “como os alunos organi- ativa dos alunos, como pedagogia de projetos
zam suas ações e se são capazes de avaliar os seus ou a adoção de uma didática que envolve o
resultados, quais conhecimentos mobilizam e a uso da cartografia escolar, os três pesquisadores
que tipo de estratégias recorrem” (STAREPRAVO et recorreram a Vygotsky para fundamentar a análise
al., 2017, p. 29). Com essas informações o docente dos dados.

94
O que evidenciam as pesquisas em educação

No estudo desenvolvido por Briguenti (2014, tratégia metodológica, a linguagem cartográfica


p. 225), por exemplo, a experiência cotidiana, por permitiu ressaltar e valorizar as particularidades
intermédio da linguagem cartográfica, favoreceu a de múltiplos conhecimentos, inclusive na rela-
internalização de conceitos e conhecimentos pe- ção com as outras áreas, permitindo ao aluno
los estudantes. O autor explica que “a internaliza- vivenciar desafios, definir critérios, generalizar e
ção de conhecimentos pelos alunos foi favorecida detalhar, conceituar, buscar alternativas criativas
na adoção de uma didática que envolveu o estrei- e socializar subjetividades.
tamento das relações entre cartografia, geografia e
cotidiano, proporcionando conhecimento escolar Para finalizar os elementos identificados nos arti-
materializado pelos mapas”, que foram produzidos gos e teses sobre a problematização, elaboração
pelos próprios alunos. Para a autora, esses mapas e consolidação de conceitos científicos, vale des-
possibilitam não só que as temáticas sejam pro- tacar o estudo desenvolvido por Braga (2012), que
blematizadas, mas, sobretudo, contribuem para o analisa a prática de professoras dos anos iniciais do
aprendizado de conceitos e categorias, do campo ensino fundamental, com ênfase nos elementos
da geografia, que são fundamentais na formação constituidores da dimensão humanizadora da pe-
social e intelectual do aluno, com destaque ao viésdagogia de Paulo Freire. A compreensão de uma
histórico-espacial do conhecimento. professora e de seus alunos é que o conhecimento
é uma construção, um processo que exige a ação
As atividades cartográficas propostas pela profes- do sujeito, como retratado no exemplo que segue:
sora requereram, inicialmente, um “conjunto de
atividades que buscou introduzir suportes con-
A professora Creusa pergunta:
ceituais, metodológicos e linguísticos em torno
— Quando alguém for ensinar a tarefa de vocês só
da reflexão espacial, de modo a envolver leitura e
dando a resposta, vocês aceitam?
elaboração de mapas, com a possibilidade de se
— Não! Respondem os/as estudantes em coro.
mapear, além de espaços físicos, aspectos temá-
— A pessoa que aceita a resposta pronta não
ticos desses espaços” (BRIGUENTI, 2014, p. 133), o
aprende. Assim se coloca o Ulisses.
que se constituiu no principal objetivo pedagó-
— Ninguém pode aprender com alguém dizendo
gico da proposta. Briguenti (2014) relata que, nas
as respostas prontas. Reitera a professora (BRAGA,
aulas de geografia, os alunos foram orientados a
2012, p. 166).
elaborar três mapas com base em roteiros dispo-
nibilizados pela professora. O processo de cons-
trução se deu em sala de aula, proporcionando Esse relato coloca em evidência que os profes-
momentos de elaboração individual e participa- sores podem alertar seus alunos sobre a impor-
tiva, com a mediação da docente. A autora anali- tância de problematizar os conteúdos. No lugar
sou que, pedagogicamente, o uso da cartografia de respostas prontas, é possível encontrar meios
possibilitou, dentre outros aspectos, “caminhos para que os estudantes encontrem a resposta:
dinâmicos e criativos na construção do conheci-
mento escolar, permitindo estabelecer nos pro-
instigando-os/as a desejarem apreender o conteúdo
cessos cognitivos do aluno relações dialéticas/ em foco; deixando claro com palavras e gestos que
pedagógicas entre conhecimento cotidiano e eles/as seriam capazes de fazer aquela descoberta;
científico” (BRIGUENTI, 2014, p. 226). Como es- quando perguntavam, duvidavam, instigavam-nos a

95
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

pensar, problematizavam o conhecimento; investiam Atenção aos ritmos de aprendizagem e às


na habilidade que os/as estudantes desenvolvem necessidades dos alunos
de comparar, de perguntar, de refletir sobre a própria
pergunta que faziam (BRAGA, 2012, p. 202).
A professora Creusa envolvia o conjunto dos/as
estudantes na correção da atividade: fazia alternância
Logo, para Braga (2012), o exercício da autonomia
de estudantes na colocação das respostas de cada
dos alunos se constituiu por decorrência da item, o que favorecia a que, em média, a cada correção
problematização dos conhecimentos que surge feita, cerca de 12 dos 25 estudantes pudessem ir até
na dialeticidade entre conhecimento popular e a lousa. Aqueles/as que iam à lousa, mesmo quando
conhecimento escolar. erravam, sentiam-se valorizados em suas tentativas, e,
costumeiramente, eram ajudados/as pelos/as demais
colegas. Nesses momentos, a professora aproveitava
Em síntese, o processo de elaboração e
para percorrer as carteiras dos demais estudantes
consolidação de conceitos pelos alunos,
para se dar conta da dificuldade de cada um/a; para
com base em situações problematizadoras,
identificar onde ‘eles/as estavam enganchando’,
é favorecido quando o professor:
identificando as dificuldades, colaborando com a busca
• percebe o aluno como sujeito ativo e au- de superação delas, levando-nos a compreender que
tônomo, autor de descobertas; é papel do/a professor/a envidar esforços para que os/
as estudantes venham a aprender, envolver-se nos seus
• incentiva os alunos a problematizarem,
processos singulares de construção da aprendizagem.
observarem, levantarem hipóteses, pes-
É algo entre eles – professor-estudante, estudante-
quisarem, realizarem relações etc.;
estudante –, por tratar-se de um trabalho coletivo que
• observa como os alunos organizam suas se dá em um espaço-tempo de intimidade pedagógica,
ações e se são capazes de avaliar os seus re- que é a sala de aula (BRAGA, 2012, p. 150).
sultados, quais conhecimentos mobilizam e
a que tipo de estratégias recorrem para que
seja possível planejar suas intervenções; Ao relatar a prática da professora Creusa em
• identifica formas de raciocínio e interpre- sua tese, que atua nos anos iniciais do ensino
tação dos conteúdos propostos como ob- fundamental, Braga coloca em relevo o cuidado
jeto de estudo; da docente em atender aos diferentes ritmos de
• recorre à aula dialogada e oportuniza es- aprendizagem e às necessidades dos alunos no
paços e tempos para o diálogo entre os processo de aprendizagem, buscando planejar e
estudantes e, consequentemente, a con- oferecer mecanismos de apoio ao aprendizado
solidação de ideias comuns; dos estudantes.
• promove tarefas e/ou atividades que requei-
ram a elaboração conceitual pelos alunos; e Mesmo que pareça óbvio, é preciso dizer que,
• deflagra e estabelece vínculos entre conhe- dada a diversidade dos alunos, o ensino não pode
cimentos cotidianos e científicos, estimu- submeter estudantes com diferentes ritmos a
lando o pensamento reflexivo e dedutivo um mesmo tempo de aprendizagem e nem
dos estudantes, avançando em direção às se limitar a oferecer sempre o mesmo tipo de
ideias e à linguagem científica, com vistas à ajuda e intervenção (ZABALA, 1998; FREITAS,
aprendizagem de conceitos. 2013). Logo, “é preciso permitir que cada um
avance a seu ritmo usando todo tempo que

96
O que evidenciam as pesquisas em educação

lhe seja necessário” (FREITAS, 2013, p. 19). Para dos processos individuais, relatando os eventos em
tanto, é imprescindível diversificar o tempo que a docente realiza testagens com as crianças e
de aprendizagem para que todos tenham um identifica as hipóteses formuladas por elas sobre
bom desempenho. como o sistema de escrita se constitui e, com base
nisso, propõe situações de conflito produtivas para
Essa questão é abordada em 12 das pesquisas cada aluno, de acordo com seus conhecimentos.
analisadas. Do mesmo modo que na categoria A pesquisadora observou diferentes situações em
sobre a construção de sentidos e a motivação que a professora demostrou preocupação em
no processo de aprendizagem, as pesquisas contemplar todos os alunos, como, por exemplo:
na área de alfabetização e de linguagens ao deslocar-se pela sala tendo em vista atender as
foram aquelas que mais abordaram práticas crianças, sem privilegiar determinado grupo; ou ao
relacionadas aos ritmos de aprendizagem e às diminuir o ritmo da leitura coletiva das palavras-
necessidades dos alunos. chave do painel para que mais crianças pudessem
acompanhá-la (PICCOLI, 2009, p. 131).
A atenção aos ritmos de aprendizagem e aos
tempos escolares ganha relevância nos estudos Piccoli (2009) relata que a professora é
sobre as práticas de letramento e alfabetização, relativamente flexível na sequência de atividades
uma vez que há um ciclo da alfabetização de, que propõe para o período de aula para que seja
no mínimo, três anos, que deve considerar os possível atender à progressão de aprendizagem
diferentes ritmos das crianças e assegurar que dos alunos, seus interesses e necessidades. Em
todos estejam alfabetizados ao final dele. O diferentes momentos, a pesquisadora observou
desafio é trabalhar com práticas que respeitem um enfraquecimento na ritmagem da aula
o ritmo de cada criança considerando as para que os diferentes tempos requeridos pelas
particularidades etárias, sociais e psicológicas, crianças durante a realização de cada proposta
além do tempo de descobertas e de construção fossem respeitados. Segundo o autor, o controle
de hipóteses de escrita por cada criança. do tempo exercido pelo aluno não significa
“o aceite e a concordância passiva da professora em
A tese de Piccoli (2009), por exemplo, que relação ao tempo utilizado e à produção realizada,
descreve a prática pedagógica de uma já que procura auxiliar as crianças, por meio de
professora alfabetizadora da rede municipal de intervenções pedagógicas, na compreensão e
ensino de Porto Alegre, retrata a importância conclusão das atividades no tempo hábil por ela
de se recorrer a estratégias diversificadas para definido” (PICCOLI, 2009, p. 179).
alfabetizar contemplando atividades organizadas
de tal modo que a leitura e a escrita tenham A pesquisa desenvolvida por Braga (2012) traz
diferentes formas de representação infantil tanto relatos de professoras que tinham como princípio
lúdica como textual. Piccoli (2009) observou orientador de sua prática o respeito aos alunos, o
que a professora alfabetizadora que participou que as levava“a exercitar a escuta das/os estudantes
da pesquisa realizava intervenções específicas como uma possibilidade de reconhecimento das
para auxiliar cada criança, cuidando para atender diferenças individuais em termos dos ritmos de
cada uma de forma equitativa. A autora realça o aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo
domínio da professora sobre as especificidades e social dos/as estudantes” (BRAGA, 2012, p. 198).

97
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

O exercício de escuta, segundo a autora, se constitui língua portuguesa, lidam com os diferentes
em ponto de partida das ações a serem efetivadas na ritmos de aprendizagem apresentados pelas
relação com as crianças que têm como mediação o turmas. A autora explica que esses professores
conhecimento. Ela descreve uma cena que ilustra a valorizam e consideram as especificidades
possibilidade de acompanhamento individualizado culturais dos alunos levando em conta as suas
da professora a cada aluno: diversidades e singularidades, construindo uma
pedagogia diferenciada e responsiva. Lopes
(2013) relata que, nas atividades desenvolvidas
Seis estudantes sentaram-se ao chão para resolver a
em sala de aula, duas professoras estabeleciam
tarefa de geometria – Cl., J., Jo., Ce., M. e Cr.. Depois,
se achegaram a C. e a Clr.. Enquanto isso, a professora um tempo para a realização das tarefas, porém
percorria todas as carteiras, dedicando maior flexibilizavam esse tempo quando necessário
atenção àqueles/as estudantes que ela percebia para atender todos os alunos. As docentes
que apresentavam maior dificuldade em relação ao também acompanhavam a tarefa proposta,
conteúdo trabalhado – D., Ca., U.. Sentou-se ao lado circulavam entre os grupos e realizavam
deles/as e orientou-os/as na realização da tarefa, tirando intervenções individualizadas junto àqueles
dúvidas (BRAGA, 2012). alunos que precisam de algum tipo de ajuda.
Uma das professoras narra que, quando percebe
A autora também ressalta que a desenvoltura a dificuldade de algum aluno na compreensão
manifesta das docentes diante de diferentes ritmos dos conteúdos que são objeto de estudo,
de aprendizagem dos alunos revelava, dentre realiza intervenções individualizadas e propõe,
outros aspectos, “flexibilidade, conhecimento do paralelamente, atividades complementares aos
assunto trabalhado, respeito e compromisso com demais alunos:
cada um/a que ali se encontrava” (BRAGA, 2012,
p. 203). Também é uma prática democrática, que
A gente vai trabalhando sempre revendo e repetindo
tem início no planejamento das aulas quando as
atividades. Por exemplo, eles estavam fazendo a
professoras “levam em consideração os interesses, descrição dos ambientes, então o aluno faz uma
as curiosidades, as limitações, os pontos de vista descrição do ambiente e não fica tão boa, passa uns dois
e os ritmos de aprendizagem dos/as estudantes” dias, volto para lá. Como têm os alunos que realmente
(BRAGA, 2012, p. 124). A autora explica que, na sempre estão à frente, eu tenho tentado incentivar
perspectiva de Shör e Freire (1986), esses alunos a utilizarem este tempo com leituras.
Então, em um período em que esses alunos terminam a
tarefa, vinte minutos antes dos outros, ou eu proponho
o reconhecimento das diferenças individuais em termos algum texto do próprio livro didático para eles irem
dos ritmos de aprendizagem e do desenvolvimento lendo, ou eu peço para eles trazerem um livro de casa.
cognitivo e social dos/as estudantes se constitui no Assim, eles não precisam ler somente aqueles livros que
trabalho pedagógico coordenado pelas professoras como eu tenho na caixa. Com este encaminhamento, consigo
traço da rigorosidade metodológica (BRAGA, 2012, p. 150). organizar um tempo para atender mais individualmente
alunos que apresentam um pouco de dificuldade na
realização das tarefas propostas. É um tempo pequeno,
Já Lopes (2013) dedica várias passagens da tese mas considero necessário, faz a diferença e percebo
para relatar como cinco professores dos anos que há retorno (LOPES, 2013, p. 88).
finais do ensino fundamental, da disciplina de

98
O que evidenciam as pesquisas em educação

A flexibilidade no ritmo de aula, tendo em vista Uma das professoras relata a preocupação de
atender ao tempo de aprendizagem demandado não enfatizar as diferenças entre os alunos em
pelos alunos, também foi observada nas aulas do sala de aula para que não haja rótulos. Cuida para
professor Bruno. organizar suas aulas pensando sempre no melhor
para os alunos:
Na entrevista, ele comenta:

Eu nunca faço uma aula pensando no pior ou pensando


Há conteúdos que muitas vezes tem que dar uma parada, no meu melhor aluno. Eu vou variando; eu não faço
para a gente resgatar, então tem que sentir onde é que nunca alguma coisa num nível muito alto ou muito
há deficiência, onde que o aluno não está conseguindo baixo; eu procuro ir variando essa dinâmica; eu vou
acompanhar, então às vezes isso atrasa um pouquinho; variando porque eu acho que é uma forma que eu tenho
um conteúdo que estava previsto para se trabalhar uma de mostrar para quem pensa que não sabe nada, que ele
semana ou duas se estende um pouco mais. [...] Não pode chegar lá, e para quem acha que sabe tudo que
adianta querer simplesmente passar pelo conteúdo ainda tem muito que aprender (LOPES, 2013, p. 104).
porque os alunos não vão conseguir acompanhar. Os
alunos precisam se apropriar e dominar esses conteúdos
Acrescenta que costuma organizar atividades
agora, nesta etapa do ensino fundamental; portanto,
que sejam mais direcionadas a um determinado
não adianta apenas passar os conteúdos que estão
grupo, porém, cuida para que o restante da
programados para a série sem garantir que os alunos de
turma também possa se sentir contemplado.
fato aprendam (LOPES, 2013, p. 157).
A tomada de medidas de organização dos
conteúdos, dos tempos e das atividades para
Observa-se que ele não avança no planejamento atender às necessidades individuais torna-se mais
enquanto os alunos não se apropriam dos complexa quando, na mesma turma, os alunos se
conteúdos, mesmo que seja necessário flexibilizar encontravam em diferentes faixas etárias.
os conteúdos de aprendizagem previstos para a
série/ano.
Percebo também que a forma como é abordada a gramática
pelos livros, em alguns casos, é mais interessante, mais
A flexibilização também foi observada para re- viável e mais adequada para uma determinada turma, mas,
tomar conceitos já trabalhados que não tenham outras vezes, os textos, por exemplo, não estão de acordo,
sido, ainda, apreendidos pelos estudantes. Lopes então eu tenho que buscar isso fora. Nós temos, hoje em
(2013) ressalta que essa prática é fundamental dia, alunos que estão com idade inadequada para a série
não só para a continuidade do trabalho, mas, so- que frequentam. O ensino fundamental é dos seis aos
bretudo, é significativa para o desenvolvimento catorze anos, o ensino médio é dos quinze aos dezessete,
da aprendizagem dos alunos. Enfim, a flexibiliza- e eu tenho alunos com quinze anos na 6ª série junto com
outros de onze anos. Então, são realidades bem diferentes.
ção do tempo no planejamento da aula “em re-
O texto que o livro de 6ª série traz não está adequado para
lação ao ritmo da turma possibilitou aos alunos
esse aluno de quinze anos, e isso é um jogo de cintura que
um maior envolvimento na proposta trazida pelo
se deve ter em sala de aula (LOPES, 2013, p. 93).
professor, estabelecendo-se assim uma relação
mais eficaz no processo ensino aprendizagem”
(LOPES, 2013, p. 139-140). Infelizmente, a distorção idade-série é uma realidade
enfrentada pelas escolas públicas brasileiras que vem

99
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

comprometendo o sucesso escolar de muitos estu- Essas questões e dificuldades abordadas pelos
dantes e das instituições escolares como um todo. professores que participaram do estudo de
É esperado que esses alunos fiquem desmotivados Lopes (2013) remetem às discussões sobre a
com a escola e que seja mais difícil para o professor simultaneidade – garantir que um professor
atender às suas necessidades e favorecer o seu pro- ensine a muitos alunos, a um só tempo – e sobre
gresso. Entretanto, mesmo em situações adversas, o o tempo escolar e a complexa relação entre
professor e a escola não podem se furtar de lançar tempo e diferença.
mão de práticas que favoreçam o ensino equitativo.
Pinho e Souza (2015) explicam que “a relação entre
Além de turmas com diferentes faixas etárias, ou- tempo e diferença tornou possível a identificação
tro aspecto apontado pelos professores como do problema do tempo escolar reduzido a um
dificultoso no atendimento aos ritmos e necessi- ritmo padronizado. Ora compreendido como
dades dos alunos é o fato de as turmas serem nu- uma propriedade individual, ora como uma
merosas: “o número de alunos em sala é terrível imposição de um tempo hegemônico, o do
não só para mim, mas para todos os professores. relógio” (p. 667). Os autores explicam que o ritmo
Ter uma sala de aula com trinta e cinco alunos, uniforme sempre foi uma preocupação, e que a
não se consegue, não existe como dar atenção e heterogeneidade de ritmos foi enfrentada, pela
garantir um mínimo de entendimento numa tur- pedagogia tradicional, “com a criação do ritmo
ma tão grande” (LOPES, 2013, p. 110). As diferen- médio, a fim de que todos os alunos pudessem,
ças de faixa etária e o número de alunos em sala supostamente, acompanhar ou se adaptar ao
são exemplos de dificuldades que os professores tempo da escola” (PINHO; SOUZA, 2015, p. 669).
enfrentam para garantir, em sua ação pedagógi-
ca, um atendimento mais individualizado às ne- Os professores do estudo de Lopes (2013) se veem
cessidades apresentadas pelos estudantes. diante da dificuldade de adequar os ritmos dos
sujeitos e das turmas ao ritmo do tempo escolar, o
Outro aspecto abordado pelos professores em mesmo movimento observado por Pinho e Souza
relação aos ritmos de aprendizagem diz respeito (2015) no estudo que desenvolveram em duas
às diferenças de ritmos entre as turmas: escolas públicas, ambas localizadas na Ilha de
Maré. Os autores problematizam os modos como
Olha, esse tempo todo que eu leciono eu ainda não o tempo escolar se constituiu historicamente
consegui ter duas turmas com o mesmo ritmo. Eu até, a partir da modernidade, questionam a ideia
entre aspas, invejo os professores que conseguem dar de aluno médio e apontam a necessidade de
o mesmo conteúdo ao mesmo tempo em todas as
superação do tempo como ritmo padronizado,
turmas. Eu não consigo fazer isso. Eu não lembro de ter
propondo outra concepção de tempo, a de
conseguido fazer isso porque numa turma eu levo duas
simultaneidade. Para Pinho e Souza (2015), a
semanas, noutra levo quatro, noutra uma. Eu não consigo
ter o mesmo ritmo. O conteúdo que trabalho com uma
compreensão do tempo escolar depende não só
turma, às vezes, se diferencia da outra em termos de de um olhar atento para os outros tempos sociais
compreensão e consequentemente de tempo. Muitas que atravessam a escola como, também, de uma
vezes, é necessário impor um certo ritmo para que eles atenção especial às interações realizadas entre os
avancem, mas no final do ano, geralmente, consigo dar sujeitos no interior da sala de aula: “o tempo escolar
conta de todo o programa (LOPES, 2013, p. 104). é acontecimento que se dá no encontro com o

100
O que evidenciam as pesquisas em educação

outro. Tudo isso aponta para se pensar o tempo Essas estratégias parecem exigir agilidade do
escolar como simultaneidade, que pressupõe professor tanto na preparação do planejamento
não a imposição, mas a coexistência de múltiplos como durante o ensino propriamente dito,
tempos e temporalidades, sejam eles individuais, já que é preciso modular as estratégias
sociais ou naturais” (PINHO; SOUZA, 2015, p. 676). pedagógicas em função dos conteúdos, das
habilidades e necessidades dos alunos de faixa
As pesquisas desenvolvidas com professores que etária diferentes.
atuam em turmas multisseriadas também trazem
relatos de práticas que visam a atender aos ritmos Mesmo em uma turma de mesma faixa etária,
de aprendizagem e às necessidades dos alunos. A Gauthier, Bissonnette e Richard (2014) explicam
tese de Araújo (2010), por exemplo, que objetivou, que é importante o professor modular as
dentre outros aspectos, descrever e analisar as estratégias e o tipo de apoio pedagógico
práticas pedagógicas de professoras que atuam (scaffolding15) que será oferecido aos alunos
em classes multisseriadas da escola do campo e em função de três elementos: do nível de
em classes cicladas da escola urbana, traz exemplos competência dos alunos, do tempo disponível
de como lidar com a heterogeneidade de alunos e da complexidade da tarefa a ser realizada.
presentes e atender aos seus diferentes ritmos de Levar em conta esses elementos e adaptá-
aprendizagem. A pesquisadora observou que as los às necessidades dos alunos e da turma
práticas das docentes das classes multisseriadas durante o planejamento pode não só favorecer
são “marcadas por uma rotina de trabalho que o atendimento aos diferentes ritmos de
as obriga a adotarem uma dinâmica polivalente aprendizagem, como também contribui para
de serviço e atitude, um fazer pedagógico ativo definir o tipo de apoio pedagógico, ou seja, se o
dentro de sala, bem como um planejamento diário aprendizado será dirigido, guiado ou autônomo
que viabilize tanto a elaboração como a aplicação ou, ainda, se haverá variações nas formas de
de várias atividades diferenciadas” (ARAÚJO, 2010, apoio ao aprendizado.
p. 110). As principais estratégias observadas foram:
Ainda em relação aos tipos de apoio pedagógico
que o professor pode oferecer aos alunos,
a) divisão dos alunos em grupos de trabalho; b) atividades
tendo em vista atender às diferenças de
diferenciadas para cada grupo, baseando-se nos níveis
de aprendizagem de cada grupo formado em sala; ritmos e necessidades, a tese de Hannel (2017)
c) elaboração de atividades específicas para crianças em apresenta uma discussão sobre estratégias
sala de aula com dificuldades pontuais; d) atividades de personalização na sala de aula recorrendo
espontâneas de acordo com o ritmo da aula, quando há aos recursos de aprendizagem sociais, como,
necessidade de elaboração de atividades no momento por exemplo, pequenos grupos e tutoria entre
em que a aula acontece; e) ajuda mútua entre os alunos pares. A pesquisa de Hannel (2017) teve por
dos diferentes anos escolares presentes em sala de objetivo investigar os modos de personalizar o
aula; f ) elaboração de 15 a 20 atividades diárias para a sua
ensino para conduzir o aluno ao aprendizado
classe (ARAÚJO, 2010, p. 159).
significativo, sanando dificuldades de conteúdo.

15 O termo scaffolding pode ser traduzido como “andaime” e é frequentemente usado para descrever o suporte que pode ajudar o aluno no processo
de aprendizagem. Refere-se a uma variedade de estratégias usadas pelo professor para mover os alunos progressivamente em direção a uma
melhor compreensão e, consequentemente, uma maior independência no processo de aprendizagem.

101
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Para tanto, fez uso do ambiente virtual (Moodle16), colagens e trabalhos manuais. Nessa ocasião, a
entendendo que esse espaço é uma ferramenta professora atendia às necessidades individuais.
que não só apoia o professor no atendimento Buscou-se também que o aprendiz fosse mais
mais personalizado, como permite que o aluno responsável pelo seu aprendizado, tendo certo
interaja no seu próprio ritmo de estudo, acesse controle sobre seu ritmo.
os conteúdos necessários ou aprofunde-se em
algum conteúdo. A pesquisa foi desenvolvida Utilizou como subsídio teórico para o desenvol-
com a participação de 256 alunos dos anos finais vimento das práticas a teoria da aprendizagem
do ensino fundamental do Colégio Militar de significativa de Ausubel. No processo de perso-
Porto Alegre. No ensino personalizado usando nalização, o professor buscava apoiar a constru-
TIC, o papel do professor, segundo Hannel (2017), ção de novos conceitos com base naquilo que
é de criador de caminhos, de atividades tanto em o aluno já conhecia. Hannel (2017) explica que
grupo como individuais. O docente passa a ser o professor procurava identificar os subsun-
um gestor e orientador de trajetórias, sejam elas çores comuns em grupos de alunos de acordo
previsíveis e/ou imprevisíveis. A autora se apoiou com suas dificuldades de conteúdo, e que esses
em Bloom (1984) para definir a personalização do grupos de alunos realizavam atividades no Am-
ensino entendida por ele como biente Virtual de Aprendizagem (AVA). Uma vez
identificadas as dificuldades, o aluno recebia ma-
terial direcionado às suas dificuldades, o que, se-
a diferenciação da instrução e fornecimento de feedback
gundo a autora, aumentava as oportunidades de
corretivo regular, com base nas necessidades de cada
aluno. Isto incluiu personalizar tanto o caminho como acerto, estimulando e incentivando o seu pros-
o ritmo – identificar e abordar falta de conhecimento seguimento nos estudos. Além disso, o ensino
pré-requisito, e passar mais tempo, quando necessário, personalizado auxiliava o trabalho do professor,
para garantir que os alunos tenham o domínio de temas “pois a tarefa de identificar o tempo, as dificulda-
alcançados antes de prosseguir (HANNEL, 2017, p. 15). des e o melhor caminho/trajetória de aprendiza-
do de cada aluno é um processo custoso. Com
A autora explica que a tecnologia possibilita uma um ambiente personalizado, o aluno chegará aos
integração, entre o mundo físico e digital, de todos objetivos seguindo o seu ritmo de estudos, em
os espaços e tempos. Espera-se que o professor paralelo às atividades de sala de aula” (HANNEL,
se comunique com os alunos presencialmente e 2017, p. 17-18).
que a comunicação também ocorra digitalmente.
No projeto-piloto desenvolvido e analisado, o Os resultados do estudo demonstraram a
ensino foi híbrido, houve atividades pelo Moodle, viabilidade do ensino personalizado com uso do
como sala de aula invertida, exercício de redação Moodle. Os alunos que participaram da pesquisa
colaborativa e atividades em sala. Nas atividades conseguiriam atingir melhores resultados
presenciais, enquanto um grupo trabalhava no quando participaram de um ensino voltado
computador preparando uma apresentação, às suas necessidades particulares. Hannel
outro trabalhava lendo um livro e outro fazia (2017), fundamentada em Schneider (2015),

16 O Modular Object Oriented Dynamic Learning Environment (Moodle) – é um sistema de código aberto para a criação de cursos online. Também
conhecido como Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), a plataforma é utilizada por alunos e professores como ferramenta de apoio ao ensino a
distância. Funciona como uma sala de aula online onde professores podem disponibilizar material didático e propor tarefas interativas, como testes
e discussões em fóruns.

102
O que evidenciam as pesquisas em educação

afirma que um dos principais benefícios para o


• modula as estratégias e o tipo de apoio
estudante, ao interagir com Ambientes Virtuais
pedagógico (scaffolding) que será ofereci-
de Aprendizagem, é a motivação:
do aos alunos;
• acompanha a tarefa proposta, circula entre
Para o estudante, os benefícios da personalização são, os grupos e realiza intervenções individua-
sobretudo, a motivação – que substitui a frustração por lizadas junto àqueles alunos ou grupos que
não aprender e não acompanhar o ritmo, ditado, muitas precisam de algum tipo de ajuda; e
vezes, pelo professor – e a maximização do aprendizado,
• não enfatiza as diferenças entre os alunos
no sentido de que o aluno tem oportunidade de aprender
de forma individual, com o grupo, com o uso das
em sala de aula para que não haja rótulos.
tecnologias e, efetivamente, com o professor (SCHNEIDER,
2015, p. 71, apud HANNEL, 2017, p. 119).
Avaliação e consolidação da aprendizagem
Hannel (2017) explica que ferramentas como
“Quando eles apresentam um trabalho eu não
o Moodle, quando utilizadas adequadamente, digo: ‘tirastes dois, tirastes sete, tirastes um’. Eu
possibilitam que o aluno aprenda em seu próprio digo: ‘foi muito bem por isto, isto, isto; não foi
ritmo, tendo o devido acompanhamento de suas bem por isto, isto, isto’. [...] na recuperação dos
dificuldades de conteúdo para poder saná-las. trabalhos falo para eles: ‘Neste trabalho tem
Também auxiliam o professor a personalizar o algumas partes que tu não foste muito bem,
atendimento dos alunos, o que contribui não só quem sabe tu refazes?”
para diminuir o fracasso escolar, como também
para favorecer aqueles que já sabem o conteúdo e Este depoimento da professora Cláudia, que
possam ser desafiados para avançar no aprendizado. leciona língua portuguesa nos anos finais do
ensino fundamental, participante da pesquisa
de Lopes (2013), revela o cuidado de fazer
Em síntese, a atenção aos ritmos de apren-
da avaliação das produções dos alunos um
dizagem e às necessidades dos alunos po-
momento de aprendizagem, o que favorece a
dem ser favorecidas quando o professor:
consolidação dos conteúdos que estão sendo
• exercita a escuta dos estudantes como aprendidos e apreendidos pelos estudantes. Na
uma possibilidade de reconhecimento correção das produções escritas, por exemplo,
das diferenças individuais em termos dos tanto a professora Cláudia, como os outros
ritmos de aprendizagem e do desenvolvi- quatro docentes que participaram do estudo,
mento cognitivo e social; deixavam claro para os alunos o que precisava
• domina as especificidades dos proces- ser modificado para que o texto produzido fosse
sos individuais e realiza intervenções adequado ao objetivo proposto, explicitando o
equitativas; que precisava ser revisto e reformulado.
• valoriza e considera as especificidades
culturais dos alunos levando em conta as Viu-se, até aqui, que a gestão dos aprendizados
suas diversidades e singularidades; envolve a mobilização de um conjunto de
• diversifica o tempo de aprendizagem para práticas pedagógicas que permitam, dentre
que todos tenham um bom desempenho; outros aspectos, que os alunos sejam partícipes

103
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

do próprio processo de aprendizagem, que as teúdos que estavam demandando por maior
ajudas oferecidas pelo professor aos estudantes atenção, por parte da professora e/ou dos/as
sejam adequadas às suas possibilidades reais estudantes” (BRAGA, 2012, p. 148). A autora re-
e que sejam incentivados a realizar o esforço lata que o erro era assumido pelas professoras
que lhes permita continuar progredindo. como possibilidade e busca do acerto, e traz
Logo, a função básica da avaliação é a de um excerto de uma das aulas que observou
impulsionar a aprendizagem do aluno na para ilustrar como a professora Creusa conduz
medida em que tem o potencial de propiciar uma situação de correção coletiva que tinha
a autocompreensão, motivar o crescimento e como finalidade identificar as dificuldades de
aprofundar a aprendizagem. compreensão dos alunos em relação ao conte-
údo trabalhado.
No conjunto das produções analisadas, 17
estudos trazem em seus resultados algum tipo
Antes de proceder à correção de matemática a professora
de consideração sobre as práticas de avaliação
Creusa dirige-se aos/as estudantes:
em sala de aula. A maioria conta com exemplos
— Quem não conseguiu concluir a atividade em casa?
e análises de práticas de avaliação, sejam elas
Poucos/as estudantes levantam a mão.
convencionais ou baseadas em uma perspectiva
formativa. Também há estudos que abordam Logo depois, segue com a correção coletiva, na lousa,
que é, também, um momento de revisão, de ver quem
o papel do erro e da correção das atividades,
não está acompanhando o conteúdo. Há estudantes que
tarefas, trabalhos e provas. Apenas duas pesquisas
permanecem silenciosos, como a Débora, o Ulisses e a Maria
abordam explicitamente a autoavaliação da
aprendizagem, e apenas uma trata do portfólio — Quem acertou? A partir das respostas do grupo, ao
percorrer com o olhar atento todo o semicírculo formado
como instrumento de avaliação.
pelos/as estudantes, tem clareza de quem está, ou não,
com dificuldades naquele assunto. Reitera essa conduta
A tese de Braga (2012) é um exemplo de pes-
perguntando:
quisa que aborda o papel do erro e da corre-
— Quem errou? Quem respondeu de outra forma?
ção na gestão dos aprendizados. A autora, que
analisa a prática de cinco professoras dos anos Diante da pronúncia dos/as estudantes, por palavras,
iniciais do ensino fundamental, com ênfase gestos ou expressões, ela disse:
nos elementos constituidores da dimensão hu- — A gente erra para poder acertar, não é? (BRAGA, 2012).
manizadora da pedagogia de Paulo Freire, traz
análises sobre o olhar avaliativo diferenciado e
formativo das docentes. A autora relata que a Braga (2012) explica que a professora estava
avaliação dos conteúdos tratados em sala de sempre atenta a cada aluno e buscava solu-
aula, nas diferentes áreas do conhecimento, “se cionar as questões em seu caderno individu-
dava a partir da concepção de erro como pos- almente. E, quando um estudante relatava que
sibilidade circunstanciada de cada estudante” não acertara a tarefa ou atividade, de imediato
(BRAGA, 2012, p. 148). O erro era identificado retomava a explicação e se dirigia a ele para
pelas docentes por “diferentes instrumentos e se assegurar de que estava compreendendo.
situações avaliativas, em que tanto a professora Segundo a autora, “não havia postergação de
quanto os/as estudantes identificavam os con- suporte ao estudante em seus ‘erros-tentativas

104
O que evidenciam as pesquisas em educação

de acerto’. O erro se apresentava como tenta- A tarefa iniciada na aula anterior [...] foi continuada em
tiva de acerto, como a oportunidade para a total silêncio e concentração, afinal, tratava-se de uma
professora pensar sobre as possibilidades, para avaliação de matemática. Nem por se tratar de uma
mobilizar situações de aprendizagem” (BRAGA, atividade avaliativa, os/as estudantes são fiscalizados/
as pela professora, que os/as deixa sentados/as em
2012, p. 149). A autora relata que a professora
semicírculo, uns/umas bem próximos/as dos/as outros/
Creusa envolvia toda a turma na correção da
as. Muitos/as vão até a professora para saber se estão
atividade, conforme o trecho já citado nesta fazendo corretamente e ela, prontamente, diz que
publicação (BRAGA, 2012, p. 150). sim ou não [...]. É grande o nível de concentração da
professora e dos/as estudantes em desempenhar suas
A pesquisadora observou que o respeito funções: ela de oferecer suporte, esclarecer dúvidas,
como elemento constituidor da rigorosidade corrigir em tempo real as questões; eles/as, de responder
metodológica das professoras também se com cuidado cada item, fazendo o melhor que podem,
manifestava na correção imediata das produções esgotando todas as possibilidades que possuem. Débora
dos alunos, não só aquelas feitas e corrigidas em entregou a tarefa, foi sentar-se na carteira. Em seguida,
a professora a chama e faz ponderações sobre uma de
sala de aula, como também as que as docentes
suas respostas, levando-a a refazê-la. A sineta tocou
levavam para fazer a correção em casa. Era
dez minutos antes das 17h, mas a professora disse que
uma prática que evidenciava o respeito pelas os/as meninos/as que ainda não tivessem concluído
produções das crianças e, sobretudo, o “incentivo a avaliação, continuassem, pois ela esperaria. Nesse
às elaborações dos/as estudantes, que ao momento, havia, ainda, dezesseis estudantes realizando
obterem retorno em tempo real se apercebem a atividade avaliativa (BRAGA, 2012, p. 152).
de quais investimentos devem fazer para superar
suas próprias dificuldades” (BRAGA, 2012, p. 198).
A pesquisadora analisa que esse e outros
A autora relata que o acompanhamento das momentos de avaliação individual ocorriam sem
singularidades de cada criança no que diz fiscalização acirrada, e que o clima em sala de
respeito aos percursos realizados no processo aula não se modificava “mesmo num momento
de aprendizagem foi sistemático e contínuo, que supostamente deveria ser de tensão, pelo
seguido, inclusive, “de uma reflexão, por parte caráter de ‘prestação de contas’ com a professora.
das professoras, acerca da prática pedagógica, Ao contrário, se configura como o momento
acompanhada da criação de novos desafios de prestação de contas a si próprio/a, para
que levassem os/as estudantes a superarem os dimensionar se o investimento realizado fora, ou
estágios cognitivos em que se encontravam” não, suficiente” (BRAGA, 2012, p. 152).
(BRAGA, 2012, p. 151). Observa-se, aqui, que as
professoras avaliam com o objetivo de auxiliar o Os dados da tese de Braga (2012) corroboram com
aprendizado dos alunos e, portanto, promovem pesquisas sobre o ensino analisadas por Gauthier,
uma avaliação formativa. Bissonnette e Richard (2014). Os autores explicam
que esses estudos observam que o fato de avaliar
Inclusive nas situações de prova, denominada os alunos frequentemente e por meio de estraté-
pelas professoras de tarefa, a condução era gias variadas favorece o aprendizado. Ressaltam o
descolada do mérito e da competitividade como valor de se aplicar avaliações frequentes, inclusive
retratado no relato que segue: em forma de tarefas, brincadeiras, pelo fato de elas

105
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

estimularem o aprendizado dos alunos na medida aula, tendo em vista conhecer como integram
em que exigem deles um esforço. Acrescentam, o equipamento ao cotidiano escolar e quais
ainda, que quando o professor fornece feedbacks práticas pedagógicas surgem com o uso do
frequentes e específicos relacionados aos objeti- laptop educacional. Participaram da pesquisa
vos de aprendizagem, indicando aos alunos o que seis professoras dos anos iniciais do ensino
devem fazer para melhorar, influencia positiva- fundamental de uma escola do Ceará.
mente o desempenho dos estudantes.

Dentre as práticas analisadas pela pesquisadora,


A tese de Rodrigues (2014), que envolveu
tiveram destaque as formas como algumas professoras
professores de matemática dos anos finais do trabalharam o erro e a autocorreção pelos alunos
ensino fundamental e do ensino médio, também fazendo uso do laptop. Almeida (2014) observou,
coloca em evidência o uso do erro a favor da por exemplo, que a professora identificada como
aprendizagem como uma das boas práticas P6 aborda o erro de forma flexível. Nas situações de
docentes no ensino da matemática. Para a autora, observação das aulas, a pesquisadora identificou que
errar é intrínseco ao processo de aprendizagem, a docente se favorece da tecnologia para promover
e “os erros podem ser fontes de progresso desde uma abordagem questionadora, para possibilitar aos
alunos uma diversidade de informações e possibilidades
que problematizados pelos professores. O papel
de autocorreção e feedback. A professora entende
do professor, portanto, é levar os alunos a refletirem
que as crianças têm condições, ao longo da atividade,
sobre o que não sabem ainda e assim aproximá-
de perceber seus erros e realizar a própria correção.
los do nível esperado” (p. 65). Fundamentada no Nas palavras da professora: “Peço para que realizem a
estudo de Bressoux (2003), Rodrigues (2014) explica autocorreção da atividade; desenvolvo estratégias para
que turmas em que os professores possibilitam que eles percebam o próprio erro e refaçam a atividade.
aos alunos mais tempo para buscarem a resposta [...] Eles aprendem quando percebem onde erraram e só
correta para as atividades propostas ou para poderão avançar depois de saber que podem acertar
reformularem uma resposta, e que fornecem (ALMEIDA, 2014, p. 131).
feedbacks imediatos quando identificam os erros
dos alunos, apresentam melhor desempenho. Almeida (2014) observou que a professora
Rodrigues (2014) relata que, em sua pesquisa, os P6 faz perguntas provocadoras para que os
professores procuraram oferecer condições para alunos reflitam sobre a resolução de problemas,
que o aluno chegasse à resposta correta e, em conseguindo desafiá-los com questões para que
alguns casos, utilizavam o erro como uma fonte de reajustem os processos desenvolvidos, analisando
novas propostas didáticas. Observou-se, também, e socializando os resultados obtidos entre os
que a maioria dos docentes não fornecia respostas alunos. Para a autora, além de o professor mobilizar
imediatas às dúvidas dos alunos. a reflexão das crianças, é importante

A tese de Almeida (2014), que investigou o


observar e conhecer, com os erros dos alunos, a sua
projeto Um Computador por Aluno (UCA),
maneira de pensar e articular respostas aos desafios
analisou as práticas pedagógicas desenvolvidas propostos. [...] mesmo utilizando recursos que indiquem
por professores com o uso do laptop17 em sala de

17 O Ministério da Educação e Cultura, em ação conjunta com universidades brasileiras e com as redes de ensino municipais e estaduais, implementou,
nos anos de 2010, o uso pedagógico do laptop em sala de aula por meio do projeto Um Computador por Aluno (UCA). O projeto UCA visa à
distribuição de laptops para os alunos de escolas públicas brasileiras.

106
O que evidenciam as pesquisas em educação

os acertos, é necessário que o professor os acompanhe a resultou em uma perspectiva do uso do laptop
fim de entender os processos de construção e articulação totalmente diferente. Explica que é importante
do pensamento dos alunos (ALMEIDA, 2014, p. 137). o professor compreender que “o laptop deve
agregar alternativas que favoreçam aos alunos o
A professora denominada como P2 também uso de seus recursos, com o objetivo de avançar
trabalha com a autocorreção e acompanha de em sua aprendizagem e não apenas como um
perto as dificuldades dos alunos, oferecendo recurso para realizar as atividades” (ALMEIDA,
apoio quando necessário. Sobre a autocorreção, 2014, p. 137).
explica: “Eu uso o exercício de autocorreção. Nas
atividades, eu percebia que a criança não achava Almeida (2014) conclui em sua tese que a
que errava, eu percebi também que isso ocorria abordagem do erro construtivo se torna
devido à falta da autocorreção por parte da própria possível com o uso do laptop desde que o
criança” (ALMEIDA, 2014, p. 135). A professora P2 feedback seja reflexivo e questionador, em vez
também faz uso da correção coletiva: “Ao trabalhar de simplesmente indicar a quantidade de erros.
com ordem alfabética, fiz uma lista de nomes, Segundo a autora, ao longo da pesquisa foram
escrevi os nomes de todos os alunos na lousa e várias as situações, relacionadas ao uso do laptop,
solicitei que organizassem em ordem alfabética. que proporcionaram um ambiente adequado
Colocamos em ordem alfabética coletivamente, à abordagem do erro construtivo. Relata que,
no laptop!” (ALMEIDA, 2014, p. 135). ao usar o laptop, as docentes articularam novas
estratégias no acompanhamento pedagógico
Para Almeida (2014), a professora mostra dos estudantes:
as possibilidades de se agregar o uso do
laptop a atividades de correção coletiva e
utilizaram a internet para motivá-los, estimulando a
autocorreção. Ressalta que a professora faz essa
correção; chamaram a atenção para a necessidade de
mediação recorrendo a perguntas, reflexões mostrar um texto apresentável devido à publicação da
e questionamentos. A professora P2, segundo atividade na internet. Usaram o diálogo e a flexibilidade;
a pesquisadora, entende e consegue agregar deram oportunidades aos alunos para retornar à
o laptop às atividades de produção textual atividade, repensar e mudar as respostas (ALMEIDA,
desenvolvidas em sala de aula. A autora relata 2014, p. 216).
que, diferentemente das professoras P2 e P6,
Processo semelhante foi observado na
pesquisa desenvolvida por Weckelmann (2012),
a professora P1 faz uma abordagem tradicional do erro,
que buscou apreender se a integração do
apontando e mostrando ao aluno, sem dar oportunidade
para que perceba e avance [...]. Quando o aluno não computador portátil nas práticas pedagógicas
tem consciência desse erro, eu procuro mostrar! Pego implicaria mudanças no relacionamento entre
a máquina, aí eu vou fazer e mostrar para eles que alunos, e destes para com suas professoras, bem
seria melhor fazer dessa forma. Eu mesma fazendo na como se ocorreriam alterações nas estratégias
máquina e mostrando para eles! (ALMEIDA, 2014, p. 137). didáticas. Trata-se de uma pesquisa-ação que
se desenvolveu em processo de recíproca
A pesquisadora explica que a mesma atividade colaboração entre pesquisadora, professores e
realizada pela professora P2, por exemplo, alunos do 4º ano da educação básica portuguesa

107
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

e brasileira. O estudo identificou mudanças nas sobre o aproveitamento pedagógico do erro


práticas pedagógicas com uso do computador colocando em evidência o seu papel nas situações
portátil em ambos os contextos, como a de aprendizagem. Compreende-se que, ao avaliar
reorganização da gestão do tempo e do espaço o erro do aluno, se está proporcionando a ele
da aula, a horizontalização das relações entre oportunidades de progresso, por isso é importante
professores e alunos, bem como a percepção do deixar que o aluno erre, pense, questione, tente e,
erro como hipótese de reflexão. sobretudo, reflita sobre seu erro, buscando o acerto.
E, nesse processo, a correção das tarefas, trabalhos,
A autora identificou que compartilhar conteúdos atividades, provas, bem como a comunicação dos
e analisar os erros passaram a ser compreendidos resultados obtidos, são de significativa importância
como naturais, indicando “mudanças em relação a para o processo e consolidação da aprendizagem.
uma antiga tradição no ensino, a cultura do indivi-
dualismo, por meio da qual cada criança na maior A correção sugere um processo de análise das
parte do tempo permanecia sentada, com os seus produções dos alunos que requer estabelecer
materiais, sem partilhar com colegas dúvidas e critérios claros e coerentes aos objetivos de
descobertas” (WECKELMANN, 2012, p. 341). A pes- aprendizagem. E, no processo de análise, é
quisadora explica que, quando o aluno errava nas importante o docente estar aberto a diferentes
atividades que realiza com o uso do computador caminhos de resolução e raciocínio utilizados
portátil, o professor o incentivava a reformular o pelo estudante e, sempre que necessário,
caminho percorrido, e tais mudanças conduziam orientá-lo na reelaboração de suas respostas até
ao aprimoramento das atividades realizadas pe- que apreenda o conceito ou domínio de uma
los alunos. Isso se dá “uma vez que nas situações determinada regra ou algoritmo.
em que erros acontecem, os alunos retomam
sua produção, refletem sobre o processo de re- Já as teses de Santos (2017), Morais (2014) e
presentação, percebem seus equívocos, fazem as Resende (2017) trazem algumas situações que
necessárias correções e aperfeiçoam a atividade” retratam as dificuldades de alguns professores
(WECKELMANN, 2012, p. 342). Para a pesquisado- em relação às práticas de avaliação, visando a
ra, há um ganho importante quando o aluno se favorecer o aprendizado dos alunos.
“beneficia por meio da exercitação do processo
reflexivo, e também emocional, a partir do mo- Santos (2017), por exemplo, verificou em
mento que o aprendiz percebe a construção do sua pesquisa a ausência de avaliações no
conhecimento como uma elaboração, um proces- planejamento e nas práticas de ensino de
so humano, da qual o erro é uma etapa a ser ana- diversos professores dos anos finais do ensino
lisada e superada e não destacada de forma nega- fundamental de uma escola municipal de
tiva” (p. 342). A autora recorre aos estudos de Jean Porto Alegre. Sua tese teve como objetivo
Piaget para fazer essa discussão, destacando que analisar os processos de recontextualização
o conhecimento se constrói progressivamente por curricular protagonizados por esses professores
ações que são interiorizadas e se transformam. no âmbito dos seus planejamentos e práticas
pedagógicas de ensino. A pesquisadora
Os dados das pesquisas apresentadas até aqui observou nas práticas e nos depoimentos dos
trazem elementos para se refletir criticamente professores algumas controvérsias. Relata que

108
O que evidenciam as pesquisas em educação

os professores pareciam já saber que os alunos instrumentos avaliativos, considerando seus objetivos
não alcançariam um desempenho satisfatório e adequações aos conteúdos avaliados, bem como as
e, “para evitar a frustração e o constrangimento diferentes finalidades da avaliação (MORAIS, 2014, p. 79).
de ambos, passam a avaliar mais as questões
comportamentais e a disposição dos alunos No estudo desenvolvido por Resende (2017) com
em relação às atividades propostas” do que o três docentes no 5º ano do ensino fundamental,
processo de aprendizagem propriamente dito. as práticas de avaliação também se mostraram
Desse modo, avaliam os alunos principalmente pouco favorecedoras dos processos de
“pelo seu esforço e envolvimento nas propostas, aprendizagem. Na análise da autora, as formas de
pois os professores parecem entender que talvez avaliação utilizadas pelos professores “estavam
estes sejam os únicos meios para que os alunos mais voltadas à reprodução dos conteúdos
sejam bem avaliados” (SANTOS, 2017, p. 267). estudados e à memorização mecânica do que
à aprendizagem propriamente dita” (p. 127).
A avaliação com ênfase no comportamento e dis- Também chamou a atenção da pesquisadora que
posição dos alunos também emerge na tese da os professores pareciam mais preocupados com
Morais (2014), que teve por objetivo analisar as con- os resultados das atividades avaliativas do que os
tribuições da Provinha Brasil para a reorganização alunos. Resende relata que alguns professores
das práticas pedagógicas alfabetizadoras, com vis-
tas a garantir a aprendizagem dos alunos. A auto-
afirmaram que eram cobrados pelos pais dos alunos e
ra observou que as lacunas formativas dos alunos
pela direção da escola quando os alunos não alcançavam
eram avaliadas pelo seu comportamento em sala boas notas, o que pode explicar em parte seu empenho
de aula, evidenciando a informalidade da avaliação. para que os estudantes obtivessem bons resultados. Os
A autora explica que, na escola em que o estudo alunos pareciam acomodados com essa situação, pois
foi realizado, é comum os professores associarem de certa forma os professores sempre ‘davam um jeito’ de
avaliação com prova, compreendendo o erro como aprová-los. Suas palavras podem esclarecer essas ideias:
lacuna e não como possibilidade do acerto. Logo, ‘Antes da prova sempre faço perguntas oralmente’ (P1);
as práticas avaliativas reforçam o binômio certo- ‘Se eu sei que o aluno é aplicado, mas naquela prova
tirou nota baixa por algum motivo, dou nova chance’
-errado, demarcando lugares de saber e não saber
(P2); ‘Considero tudo o que dá pra considerar’ (RESENDE,
com pouca implicação das docentes no processo
2017, p. 127).
de produção do sucesso/fracasso escolar dos alu-
nos. Morais (2014) argumenta “que o modo como
os professores avaliam deveria estar intimamente Para Resende (2017), há uma incongruência entre
relacionado com o modo como desenvolvem o en- as práticas de avaliação adotadas pelos professores
sino, compreendendo a avaliação como ponto de e o modo como desenvolviam os conteúdos,
partida e de chegada da ação docente” (p. 79). Para segundo seus próprios relatos. Nesse sentido, “a
a autora, a avaliação deve ser utilizada preocupação com os resultados parecia impedir
que aprendessem sobre o real conhecimento
adquirido pelos alunos e sobre o seu ensino”
como elemento mediador para replanejar a ação e
(p. 127). A pesquisadora relata que a aplicação
refletir acerca dos níveis de construção do conhecimento
do aluno. [...] há que se considerar não somente os de prova escrita era o principal instrumento de
conteúdos a serem avaliados, mas ainda os próprios verificação da aprendizagem, no entanto, outras

109
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

atividades realizadas pelas crianças, bem como diferentes estratégias avaliativas, no que diz res-
a sua participação em sala de aula, ajudavam a peito aos processos vivenciados, aos conteúdos
compor a nota final. Resende (2017) analisa que ensinados e aprendidos e às metodologias utili-
as docentes “mostraram suas limitações quanto a zadas. Tudo isso foi balizado por critérios de ava-
aliar avaliação e aprendizagem, preocupando-se liação construídos coletivamente em situações
mais com os resultados do que com os processos ede assembleia. Silva (2009) explica que a defini-
acrescentando pontos para que as notas ficassem ção das instâncias de avaliação, dos critérios e
num nível elevado, embora não representassem o instrumentos a serem utilizados para a avaliação
conhecimento dos alunos” (p. 131). dos educandos são estabelecidos coletivamente.
Busca-se avaliar, inclusive, o processo de ensino
O desafio das professoras, segundo Resende vivenciado com a família e a escola.
(2017), era desenvolver uma avaliação que fosse
além de atribuir nota, aprovar ou reprovar me- A autora explica que a avaliação envolve
diante provas escritas ou orais. Uma avaliação todos os momentos e, também, os recursos
que promova a aprendizagem do estudante na que o professor utiliza durante o processo de
medida em que “considera o ritmo de aprendiza- ensino-aprendizagem, e o principal objetivo é
gem do aluno, seu progresso em relação à aqui- “o acompanhamento do processo formativo
sição dos conteúdos e o desenvolvimento de ha- dos educandos, verificando como a proposta
bilidades, considerando as contingências que o pedagógica vai sendo desenvolvida ou se
cercam e o esforço despendido”. Segundo a pes- processando, na tentativa da sua melhoria, ao
quisadora, os professores entrevistados demos- longo do próprio percurso” (SILVA, 2009, p. 223).
travam pouca familiaridade “com a necessidade São consideradas as seguintes dimensões de
de avaliar de forma a contemplar o modo como aprendizagem: “a avaliação dos conteúdos,
desenvolviam suas aulas. Afirmaram que faziam o a avaliação da participação dos sujeitos no
possível para que todos os alunos aprendessem e processo ensino-aprendizagem, a avaliação das
obtivessem boas notas, apresentando uma pos- metodologias e dinâmicas utilizadas durante o
tura de quem estava ao lado do aluno” (p. 131). trabalho” (SILVA, 2009, p. 223).

A maioria das produções que abordaram a No que toca a avaliação da participação dos en-
avaliação da aprendizagem fazem referência volvidos no processo ensino-aprendizagem, bus-
a prova, atividades, tarefas e trabalhos como ca-se “verificar os níveis de motivação, interesse,
instrumentos de avaliação. Apenas as teses de iniciativa, criatividade do grupo, o envolvimento
Silva (2009) e Stefanelli (2018) abordaram mais nas atividades, as atitudes com relação aos com-
especificamente a realização de autoavaliação promissos e as tarefas individuais e coletivas”
pelos alunos. (SILVA, 2009, p. 224). Para tanto, uma das estraté-
gias utilizadas é a autoavaliação, em que os es-
As escolas de campo investigadas por Silva tudantes consideram “a sua participação e com-
(2009) têm em comum a interação da escola com promisso nas diferentes atividades desenvolvidas
a comunidade, o que redimensionou os espaços no tempo escola e no tempo família” (SILVA, 2009,
educativos, o tempo curricular e o trabalho do- p. 257). A pesquisadora relata a tranquilidade e
cente. A pesquisadora observou nessas escolas seriedade com que os alunos realizam a autoa-

110
O que evidenciam as pesquisas em educação

valiação, o que expressa a construção da autono- segurar o controle pessoal da aprendizagem, ou


mia no coletivo de estudantes. seja, dispor de estratégias que permitam planejar,
regular, revisar e avaliar a efetividade das ações
Na pesquisa desenvolvida por Stefanelli (2018), desenvolvidas no processo de aprendizagem
que teve por objetivo analisar os fundamentos (ZABALA, 1998).
teórico-metodológicos que dão suporte às
práticas pedagógicas de ensino-aprendizagem O portfólio como instrumento de avaliação é
com audiovisuais desenvolvidas na escola básica, analisado por Goulart (2011) na prática do trabalho
a estratégia da autoavaliação é utilizada para com pedagogia de projetos. Ele foi utilizado com
promover a aprendizagem com liberdade e uma dupla possibilidade: avaliação dos alunos e
responsabilidade. A pesquisadora relata que, no reflexão da professora. A autora explica:
caso da experiência analisada, o intuito é avaliar
ou reavaliar os progressos alcançados com os
No primeiro caso, retrata os percursos de aprendizagem
projetos de ensino envolvendo a arte audiovisual.
dos alunos e as possibilidades de intervenção do
Para Stefanelli (2018, p. 144), esse tipo de postura professor. No segundo caso, encaminha a análise do
é possibilitada pelo trabalho coletivo, o que trabalho, transportando a professora para o contexto
favorece “a dodiscência conectiva, na medida do ensinar e suas idiossincrasias. Exerce, também,
em que estabelece relações horizontais e não importante papel na formação dos sujeitos professores
hierarquizadas. Em outras palavras, este tipo porque os mantêm atentos às peculiaridades daquilo que
de postura exige o ‘fazer junto’ (em equipe) tão é ser professor na dinâmica do processo, produzindo-se,
debatido por Freire”. E nessa lógica os alunos produzindo outros (GOULART, 2011, p. 13).

avaliam os próprios colegas no processo de


produção coletiva, como também avaliam o Para Goulart (2011, p. 17), o portfólio é um
curso do professor. instrumento de avaliação diferenciado e
consistente na medida em que possibilita um
A prática da autoavaliação integra a avaliação olhar singular sobre o processo de cada aluno,
formativa e pressupõe que a relação pedagógica que é visto em sua totalidade. Também são
seja baseada na reciprocidade e na partilha. Nes- considerados “seus saberes empíricos e teóricos,
se caso, a avaliação não recai exclusivamente so- as soluções que produz para os problemas,
bre o professor, e o aluno tem a oportunidade de as relações que estabelece com as diferentes
regular a própria aprendizagem sob o acompa- informações, as contextualizações que faz e como
nhamento do docente, o que favorecerá a aqui- integra as diferentes áreas do conhecimento”.
sição de autonomia de forma progressiva. Entre-
tanto, é imprescindível que esse processo seja A pesquisadora relata que o portfólio foi, no projeto
sistemático, reflexivo e com o acompanhamento e na pesquisa, um instrumento fundamental para
constante do professor. A autoavaliação tem rela- análise dos processos de constituição dos sujeitos
ção intrínseca com a metacognição, uma vez que na condição de aprendentes. Isso significa dizer
aprender significa elaborar uma representação que os registros, além de fornecerem indicativos da
pessoal do conteúdo que é objeto de aprendi- aprendizagem individual de cada aluno, auxiliavam
zagem e, para tanto, os alunos precisam recorrer no processo de planejar e redimensionar as ações
a estratégias metacognitivas que possibilitem as- do projeto que estava sendo desenvolvido com

111
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

os eles. Goulart (2011) relata que os portfólios poderiam “expressar, sem constrangimento,
produzidos pelos alunos, durante 15 encontros, especificidades do processo de aprendizagem,
foram fonte de avaliação, pela professora, das conhecimentos construídos, ansiedades em
aprendizagens dos alunos que, individualmente, relação às dificuldades de compreensão das
recebiam bilhetes que lhes permitiam acompanhar leituras, comentários, sentimentos, dificuldades
a própria trajetória. “Os conhecimentos produzidos de relacionamento com a professora, necessidade
e aqueles que necessitavam adquirir (conceitos de auxílio” (GOULART, 2011, p. 145).
geográficos e habilidades de leitura e escrita) eram
referidos por meio de bilhetes, linguagem por Para Goulart (2011), o portfólio coloca em evidên-
meio da qual efetivava a conversação” (GOULART, cia as características de uma avaliação de proces-
2011, p. 144). A pesquisadora explica que essa so, o que significa que as dificuldades podem ser
interlocução sistemática permitiu à professora não identificadas, trabalhadas e superadas. Logo, “esse
só compreender o processo de aprendizagem, mas, acompanhamento da trajetória da aprendizagem
sobretudo, fazê-los compreender o conhecimento permite que professor e aluno compartilhem cada
como algo que se adquire na convivência com etapa da aprendizagem e planejem ações mais
o outro. Segue o relato de como o portfólio foi condizentes com as demandas” (p. 148).
proposto aos alunos:

Os resultados das pesquisas analisadas co-


O portfólio foi apresentado aos alunos no primeiro locam em evidência algumas das práticas
encontro. Como já o conheciam, retomei o seu que contribuem para a construção de uma
significado destacando seu papel como lugar do avaliação formativa que favoreça a consoli-
registro de aprendizagens, mas também de inquietações dação das aprendizagens. São elas:
produzidas e manifestas nas aulas, não só nas de
geografia. Expliquei as implicações de sua escolha e o • fazer da avaliação das produções dos alu-
desafio que representava sua construção. Comentei nos um momento de aprendizagem, o
sobre a disposição para refletir sobre o cotidiano das aulas que favorece a consolidação dos conteú-
de Geografia e destaquei a necessidade de escreverem dos que estão sendo aprendidos e apre-
sobre as relações produzidas no convívio com o outro. endidos pelos estudantes;
Esclarecidas suas demandas, acordaram em construí-lo
• aplicar avaliações frequentes e por meio
(GOULART, 2011, p. 145).
de estratégias variadas pelo fato de elas
estimularem e consolidarem os aprendi-
A pesquisadora analisa que permitir que os zados dos alunos;
alunos escrevessem sobre assuntos de natureza • utilizar o erro de forma construtiva, dei-
pessoal foi uma maneira de envolvê-los fora xando que o aluno erre, pense, questione,
e dentro da escola, tendo em vista ampliar a tente e, sobretudo, reflita sobre seu erro,
compreensão da professora sobre o contexto em buscando o acerto;
que viviam e sobre como a geografia daquele • fornecer feedbacks frequentes e específi-
lugar os constituía. E, na tentativa de fortalecer cos relacionados aos objetivos de apren-
o papel do portfólio como um instrumento dizagem, indicando aos alunos o que
tanto de interação como de aprendizagem, devem fazer para melhorar e/ou superar
a professora enfatizou que os estudantes suas próprias dificuldades;

112
O que evidenciam as pesquisas em educação

• transmitir aos alunos a avaliação dos resul- mico, desenvolvimento social e emocional, cola-
tados com relação às suas capacidades e boração” (LEPAGE; DARLING-HAMMOND; AKAR,
ao esforço realizado; e 2019, p. 280) e, ainda, a construção de atitudes.
• promover práticas de autoavaliação para
que o aluno tenha a oportunidade de Os resultados das pesquisas analisadas co-
regular a própria aprendizagem, o que locam em evidência algumas das práticas
favorecerá a aquisição de autonomia de que contribuem para a gestão da classe e
forma progressiva. que foram agrupadas nas seguintes cate-
gorias, a saber:

6.1.3 A gestão da classe • promoção de um clima de aula pautado


em relações de confiança e respeito;
O planejamento das aulas oferece oportunidades • organização do espaço da classe e das
comunicativas e de organização das situações que interações; e
podem (ou não) favorecer as interações pedagó- • criação de uma rede comunicativa na sala
gicas; no entanto, as relações que se estabelecem de aula.
efetivamente em sala de aula entre os professores,
os alunos e os conteúdos de aprendizagem terão
um ou outro efeito educativo em função das carac- Essas foram as práticas identificadas pelas pesqui-
terísticas específicas das relações em situações de sas de forma mais recorrente nas diferentes áreas
interação (ZABALA, 1998). e temáticas em que os estudos foram desenvolvi-
dos e, claro, não esgotam todas as possibilidades
Logo, a interação diz respeito à conduta da aula de promover a gestão da classe.
propriamente dita, às formas de manejo a que o
professor recorre para promover diferentes tipos Promoção de um clima de aula pautado
de socialização, bem como a um clima favorável em relações de confiança e respeito
às relações de confiança e respeito. Destaca-se,
“No primeiro dia de aula sempre organizo o período
ainda, o cuidado em estimular o crescimento letivo com os alunos. Digo como vou trabalhar os
emocional e social da turma e em criar, conjun- instrumentos de avaliação (trabalhos em grupo e
tamente com os alunos, normas de convivência. individuais, testes, seminários, painéis etc.), também
Também inclui a comunicação de regras e os falo da importância das normas para estabelecer
procedimentos a serem desenvolvidos e requi- um convívio produtivo entre professor e alunos:
sitados durante o trabalho escolar. respeito, regras escolares, datas de entrega de
trabalhos, responsabilidades, uso de celulares etc.
Para LePage, Darling-Hammond e Akar (2019) é Fico constantemente lembrando com a turma o
contrato feito. Na 6ª série é necessária sempre uma
comum as pessoas minimizarem essas ações e
intervenção mais rígida. É preciso pedir silêncio
acharem que a gestão da classe é simplesmente
com mais frequência; provocar a participação dos
organizar as mesas ou recompensar o bom com- alunos, que tragam material para as aulas”.
portamento e punir a má conduta. Entretanto, ges-
tão de sala de aula abarca várias ações integradas Neste breve relato do professor Bruno, que atua
à prática docente e “incluem desempenho acadê- no 6º ano dos anos finais do ensino fundamental,

113
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

participante da pesquisa de Lopes (2013, Apesar das combinações realizadas, no dia a dia os alunos
p. 159), três aspectos podem ser destacados: apresentam alguns comportamentos que requerem
(i) a necessidade de estabelecer com as turmas uma ação bem pontual por parte do professor [...].
normas de convivência e que as relações sejam Essas combinações são resgatadas no dia a dia, conforme
de respeito; (ii) a importância de que as normas/ surge a situação já vou pontuando, não deixo passar
(LOPES, 2013, p. 123, 129).
combinados sejam recorrentemente lembrados/
retomados; (iii) o imperativo de cuidar para que
os alunos tenham uma participação ativa nas Vê-se que o contrato pedagógico por si só não
aulas e estejam sempre com os seus materiais. garante que o que foi acordado seja cumprido
por todos, é preciso cuidar diariamente das
Os outros quatro professores que participaram condições de funcionamento das relações que
da pesquisa de Lopes (2013, p. 123), que analisou se estabelecem em sala de aula no âmbito
práticas pedagógicas de professores de língua acadêmico, relacional e afetivo, lembrando que o
portuguesa de escolas da cidade de Porto Alegre, contrato não opera em uma dimensão proibitiva.
que haviam atingido as metas de 2009 propostas Como bem destaca Aquino (2002), ao contrário,
pelo Ideb, reiteram esses mesmos aspectos. os combinados permitem aos professores e
alunos conhecer o que é necessário para que se
Todos eles abordam o cuidado em estabelecer possa dar conta da efetivação do processo de
normas de convivência e combinados relativos ensino-aprendizagem.
à dinâmica das aulas e do desenvolvimento do
programa da disciplina. Relatam que a organização Lopes (2013) analisa variadas situações viven-
das normas acontece no primeiro dia de aula e, ciadas pelos professores que participaram do
nessa ocasião, conversam com os alunos sobre estudo, destacando o cuidado e empenho em
a importância de se estabelecer normas para promover um clima de aula pautado em rela-
um convívio mais produtivo entre professor e ções de confiança e respeito e, também, as di-
alunos e entre os alunos. De modo geral, são ficuldades por eles vivenciadas em relação ao
destacados os seguintes pontos: atitudes de comportamento de alguns alunos, como, por
respeito, educação e cortesia; respeito às regras exemplo: desrespeito com colegas e professo-
escolares; responsabilidade para com os estudos; res, uso de palavras de baixo calão e, pontu-
e pontualidade nas entregas de trabalhos. almente, roubo de materiais e agressão física.
Pelos relatos dos professores e situações de ob-
Também é unânime entre os professores a ne- servação da pesquisadora, esses eventos têm
cessidade de os alunos terem de ser lembrados e sido conduzidos pelos professores com certa
cobrados diariamente de que existe um contrato tranquilidade e, normalmente, contam com o
pedagógico. Nas palavras dos professores Adria- apoio da equipe gestora.
na, Bruno e Daniela, respectivamente:
LePage, Darling-Hammond e Akar (2019)
Sempre que eu vejo que tem mais de três ou quatro que descrevem pesquisas que retratam que o
estão saindo fora do que foi pensado, do combinado, comportamento do professor exerce efeito
eu retomo [...] faço uma fala reforçando a importância significativo sobre o comportamento e a
do que combinamos e logo tenho o retorno dos alunos
aprendizagem dos alunos. Isso significa dizer
(LOPES, 2013, p. 120).

114
O que evidenciam as pesquisas em educação

que o professor que está sempre em estado diálogo da professora com as crianças sobre o
de alerta em sala de aula, ou seja, atento aos conceito de regras e registradas em um cartaz
comportamentos e às interações, tem maior que ficou afixado na sala de aula, ao longo do ano
possibilidade de intervir e lidar com situações letivo. Em outro momento, quando a professora
novas/inusitadas ou possíveis problemas. retoma as regras da turma por meio da leitura
coletiva do cartaz, tendo em vista validar as
O estudo de Piccoli (2009) também analisou normas, conversa com as crianças sobre as suas
situações relacionadas à prática pedagógica atitudes em relação a cada regra estabelecida
de uma professora alfabetizadora no que diz anteriormente, registrando, inclusive, a realização
respeito à sua atuação em sala de aula para de novos acordos.
promover relações de cooperação, respeito,
responsabilidade e autonomia, especialmente O clima harmonioso de ensino e de aprendizagem
no que se refere aos princípios de convivência foi observado pela pesquisadora nas aulas que, se-
presentes na sala de aula. gundo Piccoli (2009, p. 158), têm origem nos “acor-
dos explícitos entre os alunos e a professora e, so-
A análise dos dados se deu na perspectiva da bretudo, na sua própria postura pedagógica, carac-
teoria bernsteiniana e da noção de dispositivo terizada pelo equilíbrio entre a afetividade e o limite
pedagógico. A autora discute as relações entre necessários, mostrando-se compreensiva e sensível
o discurso instrucional e o discurso regulador no diante das situações difíceis de vida” vivenciadas por
que se refere às regras do dispositivo pedagógico. algumas crianças, mas também tinha uma postura
O primeiro diz respeito aos conhecimentos, “firme quando era preciso (sobretudo nas situações
competências cognitivas e processos científicos, de desrespeito entre colegas)”.
chamados de “conteúdos” instrucionais. O segundo
contempla atitudes, valores, regras de conduta Piccoli (2009) explica que foi o equilíbrio no dis-
e princípios de ordem social, denominados de curso regulador, em primeiro lugar, que possibi-
“conteúdos” do discurso regulador (PICCOLI, 2009). litou que todas as outras dimensões da prática
A autora explica que, segundo Bernstein (1998), pedagógica, especialmente as que se referem ao
o discurso regulador é o dominante, uma vez discurso instrucional, fossem desenvolvidas de
que, como discurso moral, “regula os critérios que modo a proporcionar a aprendizagem dos alu-
produzem o caráter, a maneira de ser, a conduta e nos. A autora destacou que a ênfase na conside-
a postura dos sujeitos. Ele cria as regras de ordem ração que a professora tem por todas as crianças
social, uma vez que estabelece, na escola, o que as nas situações de aprendizagem, retratada na ma-
crianças devem/podem fazer, onde podem ir, como neira como valoriza a participação de cada uma
devem agir, que ideal formar” (PICCOLI, 2009, p. 28). de acordo com suas possibilidades, respeitando
as diferenças individuais, é um dos princípios que
Piccoli (2009) relata o evento em que a professora regula a sua ação pedagógica. Acrescenta, ainda,
alfabetizadora estabeleceu, com as crianças, que a solidariedade entre os alunos é outro valor
os princípios de convivência, privilegiando promovido e estimulado pela professora “tanto
“competências sociais, tais como cooperação, pelo incentivo ao auxílio mútuo no momento de
respeito, responsabilidade e autonomia” (p. 156). realização de atividades quanto pelo empréstimo
As normas foram estabelecidas após um longo de material escolar” (PICCOLI, 2009, p. 157).

115
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Zibetti e Souza (2010) também relatam a prática mantê-los(as) ocupados(as) enquanto auxilia as
de uma professora alfabetizadora que guarda al- crianças mais lentas” (ZIBETTI; SOUZA, 2010, p. 467).
gumas semelhanças com o estudo de caso de-
senvolvido por Piccoli (2009). A análise da gestão Ainda em relação à gestão da classe da professo-
da classe dessa professora evidenciou que ela ra alfabetizadora, as autoras também observaram
atua com base em um amplo conjunto de infor- que ela dialoga com cada um dos alunos, possi-
mações sobre as crianças e sobre as possibilida- bilitando a adequação da intervenção às necessi-
des didáticas de sua atuação pedagógica. Rela- dades das crianças, além de colocar-se como uma
tam algumas das práticas mobilizadas pela pro- participante do grupo. Zibetti e Souza (2010) ob-
fessora que favorecem a criação de um clima de servaram um episódio em que a professora está
aula pautado em relações de confiança e respei- sentada em roda com crianças e uma das alunas
to. Destacam, por exemplo, que a professora va- demonstra “intenção de compartilhar com os co-
loriza os combinados na gestão da aula e procura legas aquilo que ouviu de sua mãe, mas, ao fazê-
deixar claro seu papel de gestora da classe. As -lo, sente-se intimidada e a professora vem em seu
pesquisadoras observaram um episódio em que auxílio com perguntas que garantem à aluna sua
um dos alunos desafiou as regras estabelecidas, participação na atividade” (p. 467).
quando as crianças se preparavam para mudar
de ambiente e observaram que, diante da reação As autoras falam da complexidade do trabalho
do aluno, a docente, imediatamente, retoma os com crianças pequenas e ressaltam que, entre
combinados que devem guiar o comportamento aquilo que o professor planeja e a realização
da turma e chama a atenção das crianças para as da intervenção, há situações que não podem
consequências decorrentes da violação das re- ser antecipadas. Nessas ocasiões, os docentes
gras já explicitadas. “precisam lançar mão dos saberes disponíveis,
mobilizando-os em favor dos objetivos traçados
Para Zibetti e Souza (2010, p. 467), uma situação e modificando-os nas circunstâncias de atuação”
como essa requer que se mobilize uma série (ZIBETTI; SOUZA, 2010, p. 466). As autoras recorrem
de saberes que permitam ao docente atuar, “ao a Erickson (1982) para chamar a atenção para o
mesmo tempo, com a sala toda e com cada componente de improviso presente em situações
um(a) dos(as) alunos(as)”. Essa mobilização e de interação em sala de aula. Explicam que
movimento também ocorrem quando os alunos
estão realizando atividades e a professora precisa
as lições escolares podem ser definidas como ‘encontros
estar atenta não só ao desempenho do grupo,
educacionais’, pois são situações em que professores
mas, também, das duplas e de cada criança. Para e alunos seguem regras normativas, culturalmente
tanto, ao mesmo tempo atende as duplas ou cada aprendidas, mas também inovam juntos, dando novos
aluno em suas carteiras. Sempre que percebe sentidos a circunstâncias do momento. Nesse processo,
que uma criança concluiu a atividade, acrescenta os alunos são considerados participantes ativos e não
mais um exercício ou propõe outra atividade. apenas destinatários da ação do professor (ZIBETTI;
As autoras explicam que “o oferecimento de SOUZA, 2010, p. 468).
tarefas extras para as crianças que concluem
o exercício, tais como leitura de livros, revistas, A improvisação na gestão da classe é abordada
fichas ou a realização de desenhos, contribui para na tese de Resende (2017), que investigou

116
O que evidenciam as pesquisas em educação

práticas de três docentes no 5º ano do ensino A autora recorre a Rego (1996) para analisar a
fundamental sob a perspectiva dos alunos, das questão da indisciplina, que normalmente é
próprias professoras e da pesquisadora. No que vista pelos próprios professores como um fator
diz respeito à gestão da classe, a autora relata que dificulta o aproveitamento dos alunos. Isso
que as docentes afirmaram que aprenderam, no significa dizer que uma condição necessária para
exercício do trabalho, a improvisar, a ter paciência o bom aproveitamento escolar está ligada ao
e a ter cuidado com o que falavam em sala de cumprimento de regras que possibilitam uma
aula e, ainda, que algumas estratégias de ensino e convivência harmoniosa nesse espaço. Entretanto,
de manejo de sala de aula às vezes funcionavam como bem destaca Resende (2017, p. 191), os
e outras vezes não. Falaram da importância de conceitos de disciplina e indisciplina “não são
ter controle sobre o trabalho desenvolvido em estáticos e se relacionam a um conjunto de valores
sala de aula e, sobretudo, de saber conduzir uma que vão se transformando ao longo do tempo e
classe em seu aprendizado. de diferentes formas em diversas culturas”. Ainda
fundamentada em Rego (1996), a autora reforça
A pesquisadora explica que a improvisação a importância de as normas na escola deixarem
também fazia parte da rotina docente. Embora de ser vistas como prescrições inibidoras de
todos os três professores tenham afirmado que determinados tipos de comportamento, e
suas aulas são planejadas, essa preparação nem passarem a ser compreendidas como condição
sempre correspondia às necessidades ou à necessária ao convívio social.
realidade da turma. Para Resende (2017, p. 122),
“as incertezas do cotidiano, as flutuações de É importante considerar que as respostas para
humor dos alunos, a falta de tempo para planejar a melhor maneira de lidar com a indisciplina
e a escassez de recursos para desenvolver o na sala de aula podem estar no tipo de vínculo
trabalho em sala de aula podem levar a situações pedagógico que o professor estabelece com os
em que a improvisação se torna inevitável e até alunos, o que inclui a maneira como conduz a
mesmo bem-vinda”. gestão dos aprendizados e a gestão da classe.

Resende (2017) observou que as professoras ti- É importante ressaltar que, diante de compor-
nham a preocupação em criar um clima de cola- tamentos disruptivos em sala de aula, há muitas
boração e respeito na sala de aula, incentivando estratégias e possibilidades a que o professor
os alunos a ajudar uns aos outros. No entanto, de pode recorrer. Entretanto, as escolhas, segundo
modo geral, a pesquisadora percebeu que a difi- LePage, Darling-Hammond e Akar (2019, p. 293),
culdade de gerir a indisciplina de algumas crian- devem ser “baseadas em vários fatores, que in-
ças se apresentava como um ponto de tensão cluem a situação e as necessidades particulares
que “os professores parecem enfrentar todos os de aprendizagem do aluno, a história compor-
dias: o desafio de manter a turma atenta aos con- tamental dele, o contexto da turma, a gravidade
teúdos estudados, evitando conversas paralelas do problema e a política escolar”. Para os auto-
que não estejam relacionadas à aula, especial- res, em situações de gestão do comportamento
mente durante as explicações sobre a matéria, dos alunos, também é necessário analisar a cau-
desenvolvendo um clima de respeito e coopera- sa subjacente e a gravidade, o que inclui avaliar
ção na escola” (RESENDE, 2017, p. 116). a frequência e duração do comportamento.

117
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

LePage, Darling-Hammond e Akar (2019) mencio- grupo de professores e alunos do 4º e 5º anos do


nam estudos empíricos para argumentar que os ensino fundamental.
professores que compreendem a gestão da sala
de aula como um processo em desenvolvimento Um dado que chama a atenção nos resultados da
em que se busca criar um ambiente favorável à pesquisa é o lugar de destaque que o trabalho
aprendizagem têm mais êxito do que docentes colaborativo ocupou. Segundo a autora, as
que enfatizam seu papel como figuras de auto- práticas pedagógicas desenvolvidas tanto
ridade ou disciplinadores. Ressaltam, ainda, que, no espaço escolar como fora dele – nas aulas
no primeiro caso, os professores tendem a ser realizadas nos arredores da escola ou em outros
mais humanitários, estabelecendo uma relação espaços de aprendizagens – eram pautadas no
de confiança, aceitação, amizade, respeito, clima trabalho colaborativo em que professores e alunos
democrático, flexibilidade, atitudes não punitivas realizavam ações com o objetivo de ampliar as
e não moralistas. trocas na produção de novos conhecimentos e
conteúdos digitais.
Essa perspectiva é, de certo modo, percebida pelas
crianças que participaram do estudo de Resende Silva (2017) explica que a pesquisa fornece indícios
(2017). Para elas, a habilidade do professor de de que o uso das tecnologias tem o potencial de
manter um ambiente tranquilo e produtivo em “abrir novos espaços para as trocas, aprendizagens
sala de aula tem relação “com as características e produções entre professores e alunos e
pessoais dos professores como, por exemplo, viabilizou uma prática pedagógica que ultrapassa
‘ter paciência’, ‘não agredir as crianças’, ‘ser calmo’, os limites da sala de aula” (p. 91). Acrescenta, ainda,
‘saber ficar com as crianças’, ‘amar o que faz e amar que os aplicativos e os ambientes informáticos
os alunos’” (p. 191). Essas características pessoais digitais – e-mails, blogs, redes sociais, sites
“se referem ao estilo próprio do professor e seu colaborativos – potencializaram a interação e
jeito de ser no relacionamento com os alunos” a sociabilidade em todos os espaços. A autora
(RESENDE, 2017, p. 192). ressalta que, para a colaboração ser efetiva nos
processos de produção dos conteúdos digitais, é
A promoção da colaboração em sala de aula importante que o professor mobilize habilidades
permeada por relações em que predominam que envolvam o diálogo, o apoio mútuo, a
a aceitação, a confiança e o respeito mútuo liderança, a coordenação de ações, bem como
também é abordada nas teses de Silva (2017) relações horizontais. Além disso, nesse processo,
e Stefanelli (2018), que trazem bons exemplos é importante que as decisões sejam conjuntas
de práticas docentes que valorizam o trabalho e as responsabilidades compartilhadas. Assim
colaborativo entre os alunos. sendo, ao participar das produções de conteúdos
digitais, os alunos vivenciam diferentes maneiras
O estudo de Silva (2017) buscou compreender de ampliar o exercício da colaboração e da
em que medida as atividades de produção de construção de conhecimentos.
conteúdos digitais, construídos por meio dos
tablets, possibilitam inovações nas práticas A tese de Stefanelli (2017, p. 149) também coloca
pedagógicas no contexto da cibercultura. A em evidência a importância “do papel da colabo-
pesquisa contou com a participação de um ração nas atividades práticas e nos diálogos em

118
O que evidenciam as pesquisas em educação

sala de aula, mostrando como esse saber pode colaboração se dá em ambientes e processos
favorecer a aprendizagem, a convivência e a sa- democráticos, pelos quais professor e alunos
tisfação no âmbito escolar”. O autor buscou ana- entendem que ambos aprendem e ensinam, ou
lisar os fundamentos teórico-metodológicos que seja, que existe conectividade na relação profes-
dão suporte às práticas pedagógicas de ensino- sor/aluno (dodiscência), que deve ser estimu-
-aprendizagem com audiovisuais desenvolvidas lada e que pode ser fortemente facilitada pela
na escola básica, destacando sua condição de linguagem contemporânea do audiovisual. Os
método ativo e colaborativo, tomando como re- estudantes também relataram as dificuldades
ferência teórica Paulo Freire para discutir as cate- de vivenciar processos colaborativos, ressaltan-
gorias conectividade e dodiscência. do que eles próprios têm pouca vivência social
por meio de uma perspectiva cooperativa e co-
Para Stefanelli (2018, p. 149), saber colaborar, é a letiva. Avaliam que, fora dos muros da escola, as
pessoas estão sendo formadas em um viés mais
competitivo do que cooperativo.
condição essencial para que haja conectividade nas
atividades dodiscentes de ensino-aprendizagem,
Para Stefanelli (2018, p. 165), o bom professor
conseguindo diminuir inclusive o famoso antagonismo
que ocorre entre professores e alunos na maioria“é aquele que possui uma prática de ensinar
que tende a desenvolver a conectividade
das escolas brasileiras [...] fruto de relações estáticas
com os discentes, para que, juntos, adquiram
preconizadas por muitos: o professor manda e ensina;
o aluno obedece, escuta e, se conseguir, aprendea capacidade crítica de aprender”. Acrescenta
(STEFANELLI, 2018, p. 149). ainda, que na prática dodiscente a conectividade
se dá pelo debate, em que se busca superar a
A autora analisou várias falas de ex-alunos que ambiguidade vivida entre autoridade e liberdade
participaram de uma proposta de trabalho em no processo pedagógico, constituindo, assim,
sala de aula em que a colaboração era condição ambientes democráticos.
sine qua non. Sua análise das verbalizações con-
siderou alguns aspectos a esse respeito: (i) que Um aspecto transversal nas pesquisas que
para existir colaboração, é indispensável viven- abordaram a importância de as relações na
ciar experiências “em” e “com” o grupo, o que sala de aula serem pautadas na confiança e no
implica a dialogicidade de tanto saber aceitar, respeito, construindo assim um clima amistoso e
como fazer críticas construtivas; (ii) que a cola- favorável à aprendizagem, é o de os professores
boração contribui para ampliar a estrutura cog- criarem vínculos com os alunos, o que pressupõe
nitiva dos aprendentes, por meio do diálogo, o conhecê-los e, mais especificamente, saber o
que favorece a conectividade e a dodiscência; que eles pensam, o que sentem, quais as suas
(iii) que o saber colaborar perpassa pelo ato de condições de vida, necessidades e expectativas.
o professor saber aprender-ensinar com outros,
o que significa criar um ambiente propício, sem A tese de Santos (2017), por exemplo, desenvol-
abreviar os processos de construção de conhe- vida com professores dos anos finais do ensino
cimentos pelos alunos à medida que expõe fundamental, discorre sobre esse aspecto com
unicamente suas próprias ideias para acelerar destaque ao lugar (ou não) da cultura juvenil na
a produção do grupo de educandos; (iv) que a sala de aula e na escola. A autora teve por obje-

119
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

tivo analisar os processos de recontextualização de aula, na verdade englobam todos os atores


curricular protagonizados por docentes da rede envolvidos no âmbito escolar. Salgado Junior,
municipal de ensino de Porto Alegre no âmbito Novi e Ferreira (2016), que investigaram as
dos seus planejamentos e práticas pedagógicas inter-relações entre práticas administrativas e
de ensino. pedagógicas em escolas municipais do ensino
fundamental que pudessem contribuir para
A autora verificou que o vínculo estabelecido o desempenho dos alunos na Prova Brasil,
entre professores e alunos dos anos finais do observaram que, nas escolas com melhores
ensino fundamental, por si só, não garante que resultados, o respeito recíproco entre os atores
eles se engajem nas propostas e atividades envolvidos é uma prática que se destaca. Os
sugeridas. Na visão dos professores que pesquisadores observaram que as regras,
participaram do estudo, é comum os alunos normas e valores são disponibilizados aos alunos
comprometerem e dificultarem suas práticas ingressantes nas escolas de forma clara e estão
de ensino, mesmo possuindo bons vínculos expostos nos corredores e nas salas de aula.
com eles. Santos (2017) relata que, apesar Em entrevista realizada em uma das escolas, “a
de a categoria aluno ser identificada pelos diretora destacou que preza pela disciplina de
professores “como a mais relevante para o todos os atores envolvidos no ambiente escolar,
campo do currículo em ação, os jovens e principalmente, pelo respeito dos alunos. Os
suas características ou necessidades não são valores são implícitos, não há discussões ou
categorias que aparecem como atuantes sobre imposições, mas os valores e posições são
os planejamentos curriculares” (SANTOS, 2017, respeitados por todos” (SALGADO JUNIOR;
p. 248). Isso quer dizer que, dentre os diversos NOVI; FERREIRA, 2016, p. 232). Nessas escolas
elementos mapeados que influenciam na investigadas praticamente não há problemas
construção do currículo pelos professores, com questões envolvendo indisciplina.
nenhum leva em conta os alunos e suas
culturas juvenis.
Em síntese, a promoção de um clima de aula
pautado em relações de confiança e respei-
Para Santos (2017, p. 248), esse é um paradoxo,
to pode ser favorecido quando o professor:
pois se “são os alunos e suas juventudes que
mais afetam o campo das práticas pedagógicas • estabelece com as turmas normas de con-
de ensino, não seria, então, necessário que estes vivência que precisam ser recorrentemen-
sujeitos participassem ou fossem considerados te lembradas/retomadas;
nos processos de construção e planejamento • valoriza em sala de aula atitudes de respei-
do currículo?”. Dito isso, a autora explica que to, solidariedade, aceitação, amizade, con-
“reconhecer as juventudes presentes na escola fiança etc.;
não é suficiente para que as aulas se traduzam de • promove um clima democrático, sem ati-
fato em ambientes de aprendizagem”, é preciso tudes punitivas e moralistas, compreen-
“trabalhar com elas, sobre elas e para elas”. dendo as normas de convivência como
condição necessária ao convívio social;
A importância de relações pautadas na • promove práticas que valorizam o traba-
confiança e no respeito não são restritas à sala lho colaborativo entre os alunos; e

120
O que evidenciam as pesquisas em educação

• cuida para que os alunos sejam ativos nas Zabala (1998) explica que reunir um grupo de
aulas, valorizando a participação de cada alunos da mesma idade, em uma mesma aula,
um deles de acordo com suas possibilida- e dependentes de um professor ou de diversos
des, respeitando as diferenças individuais. professores é a forma mais habitual de organizar
os alunos, que teve início no século XVI. Apesar
de terem surgido, no final do século XIX e início
Organização do espaço da classe e do século XX, outras formas de organização
das interações que rompem com esse modelo único (como,
por exemplo, grupos fixos e móveis, equipes de
“A professora organiza o espaço da sala de aula
conforme sua ação e intenção pedagógica. Durante as
trabalho, grupos homogêneos e heterogêneos,
aulas acompanhadas, percebemos a preferência pela estudos individualizados), o que predominou
disposição das mesas em forma de U, privilegiando, nas escolas foram os processos individuais de
por um lado, o trabalho coletivo em grande grupo, mas aprendizagem. A afirmação do autor, nos anos de
também possibilitando a realização de intervenções 1990, de que dificilmente as escolas realizam uma
individuais. Também houve o agrupamento das reflexão fundamentada das opções disponíveis
crianças em duplas, trios ou quartetos, para motivar para a organização do espaço da classe e das
a interação e o auxílio mútuo entre elas [...]. Outra interações ainda é verdadeira.
forma recorrente de organização do espaço, na prática
pedagógica examinada, são as rodas para conversa
Apenas cinco dos estudos analisados trataram,
ou para leitura”.
de uma forma mais detida, a organização do
Este relato, extraído da tese de Piccoli (2009, espaço da classe e das interações e sua relação
p. 159), retrata diferentes formas de organização com o aprendizado dos alunos. Outros cinco
do espaço da classe e das interações a depender fazem referência principalmente ao uso ou não
da intenção pedagógica do docente. Isso significa do trabalho em grupo, sem uma análise das
dizer que as escolhas em relação às formas formas de agrupamento como parte da gestão
possíveis de agrupamento dependem de vários da classe pelo professor.
aspectos, como, por exemplo, os objetivos de
aprendizagem, as necessidades formativas dos Nas teses de Rodrigues (2014) e Lima (2017), da
alunos, os tempos, os espaços, as caraterísticas área da matemática, por exemplo, as autoras
dos estudantes, dentre outros. Para Zabala (1998), relatam que a orientação para o trabalho em
em uma mesma sequência didática, é desejável equipe foi presenciada poucas vezes nas aulas
que se recorra “a formas diversas e sucessivas de observadas e, portanto, o trabalho individual
agrupamentos dos alunos e de organização das foi soberano. Ambas as pesquisadoras relatam
atividades que serão mais adequadas do que o cenário de ensino frontal, do professor
outras para os objetivos que se quer alcançar” trabalhando com toda a turma ao mesmo tempo
(ZABALA, 1998, p. 135). Logo, a forma de agrupar e os alunos sentados em fila.
os estudantes não é simplesmente uma decisão
técnica definida previamente pelo professor, Rodrigues (2014) menciona um estudo de
bem como não é independente do que se quer revisão de literatura sobre o efeito-escola e o
ensinar ou do aluno que se deseja formar. efeito-professor, de Bressoux (2003), em que já se
observava que

121
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

os alunos da escola elementar até os primeiros anos do entre colegas, conversação, diálogo, autonomia,
collège – equivalente ao nosso ensino médio, passavam corresponsabilidade” (LIMA, 2017, p. 63).
mais tempo fazendo exercícios individuais do que em
qualquer outra atividade e que, embora o objetivo dos Santos (2017), que desenvolveu um estudo com
professores considerados eficazes fosse levar os alunos a
professores que atuam nos anos finais do ensino
dominarem a resolução dos exercícios, o nível de atenção
fundamental da rede municipal de ensino de Por-
e envolvimento dos alunos nessa atividade individual era
to Alegre com o objetivo de analisar os processos
menos elevado (RODRIGUES, 2014, p. 110).
de recontextualização curricular protagonizados
por eles, traz um exemplo de uma professora de
Nesse caso, um dos desafios do professor é saber matemática que adotou o trabalho em grupo ao
como manter os alunos engajados na tarefa, o “identificar que a presença dos alunos era muito
que “envolveria uma sólida compreensão dos oscilante e que isso provocava níveis distintos de
conceitos pelos alunos, além da supervisão direta aprendizagem, uma vez que os alunos acabavam
do trabalho do aluno pelo professor, circulando não participando de forma homogênea das au-
pela classe e fornecendo explicações breves aos las” (SANTOS, 2017, p. 264). Observou, portanto,
que tivessem necessidade” (RODRIGUES, 2014, no trabalho em grupo, uma estratégia profícua
p. 110). Ao contrário do que alguns professores para evitar situações de indisciplina e para pro-
céticos podem pensar, é possível o professor mover aprendizagens mais equitativas. A autora
introduzir formas de agrupamento que facilitem relata que essa professora
a aprendizagem, como, por exemplo, organizar
os alunos em grupos ou duplas, em equipes
reconhece ser muito difícil atingir e atender a todos, por
móveis ou fixas.
isso o trabalho colaborativo entre os alunos tornou-se para
ela uma estratégia importante. Assim, com postura firme
Lima (2017), fundamentada em Zabala (1998), e rigorosa, ela passava boa parte da aula atendendo os
explica que essas formas de organização do grupos e alunos de maneira bastante personalizada, tirando
espaço da classe e das interações favorecem dúvidas, esclarecendo a matéria. Além disso, ela realizava
atividades avaliativas com muita frequência e deixava isso
bastante explícito para os estudantes. Em quase todas as
o atendimento às características diferenciais da aulas os alunos precisavam produzir algo para entregar
aprendizagem dos alunos porque permite distribuir para a professora. Os alunos se envolviam muito nas
trabalhos em pequenos grupos; permite ao professor atividades, porque sabiam que estavam sendo avaliados.
atender aqueles grupos ou alunos que mais necessitam; Ela providenciava as correções muito rapidamente, o
permite distribuir tarefas conforme possibilidades e que deixava os alunos muito envolvidos com os retornos
interesses ou que exijam diferentes níveis de elaboração; das atividades. Quando o resultado não era satisfatório, a
permite um atendimento personalizado por parte do professora em geral solicitava correções, que permitiam aos
professor; possibilita que os próprios alunos se ajudem alunos melhorarem suas ‘notas’. Tais dinâmicas tornavam a
entre si (LIMA, 2017, p. 63). aula de matemática geralmente os momentos nos quais
os alunos mais se envolviam e apresentavam menos
A autora acrescenta, ainda, que trabalhos em problemas disciplinares (SANTOS, 2017, p. 264).
duplas e grupos permitem ter como “conteúdo
de aprendizagem saber trabalhar em equipe, Como bem argumentam Cohen e Lotan (2017, p. 7),
que implica distribuição de trabalho, colaboração o trabalho em grupo, quando bem empregado e

122
O que evidenciam as pesquisas em educação

conduzido, é excelente tanto para o aprendizado de dificuldades na gestão desse tipo de


conceitual como para a resolução criativa de agrupamento. Na tese de Goulart (2011), em
problemas e, também, para o desenvolvimento que a autora analisou a prática do trabalho
de proficiência em linguagem acadêmica. Para com a pedagogia de projetos, um dos aspectos
as autoras, há, ainda, outros ganhos, como a evidenciados diz respeito aos desafios de
melhora das “relações intergrupais, aumentando a promover, em sala de aula, o trabalho em grupo:
confiança e a cordialidade” e o desenvolvimento de
habilidades para atuar em equipe. O trabalho em
O trabalho em grupo é uma aprendizagem que ainda
grupo, para Cohen e Lotan (2017, p. 7), é também
precisa ser consolidada. A escola propõe trabalhar em
uma estratégia para enfrentar um dilema comum grupo, mas não ensina como isso deve acontecer; então,
na gestão da sala de aula: ajudar os alunos que têm não acontece. Os alunos se agrupam para produzirem
maior dificuldade ao mesmo tempo mantendo o as tarefas, como papéis predefinidos, como numa linha
resto da turma em atividades produtivas. Há ainda de montagem fordista. Nesse contexto, não há espaço
que se considerar que “o trabalho em grupo torna para aprender por meio da troca de informações, das
mais acessíveis as tarefas de aprendizagem para discussões de pontos de vista, de ações, da reflexão sobre
um número maior de alunos em sala de aula com as ideias e experiências de cada um. Há muito pouca
interação porque o grupo se organiza em torno de um
grande diversidade de competências acadêmicas e
objetivo, normalmente um produto a ser entregue ao
proficiência linguística” (COHEN; LOTAN, 2017, p. 7).
professor. Para tanto, estabelecem a divisão de tarefas,
quase sempre desarticuladas, que visa à produção de uma
As autoras argumentam que o trabalho em ‘mercadoria’ a ser entregue ao professor em troca de uma
grupo tem maior potencial para estimular nota. As aprendizagens produzidas nesses momentos são
comportamentos ativos e voltados à atividade do de outra ordem, nem sempre relacionadas ao conteúdo
que as situações de trabalho individual. Explicam (GOULART, 2011, p. 114-115).
que as situações de interatividade tendem a
fornecer mais feedback aos alunos com maior
dificuldade, proporcionando, inclusive, mais Este relato ilustra uma prática comum de
oportunidades para que os alunos, de qualquer organização de grupo nas salas de aula e coloca
nível acadêmico, reelaborem novos conceitos. em evidência a importância de se conhecer bem
Cohen e Lotan (2017) esclarecem que, quando os alunos e de estabelecer tarefas estruturadas
se deixa frequentemente sozinhos os alunos para esse tipo de trabalho. Goulart (2011), mesmo
com dificuldades, aumenta a probabilidade diante das dificuldades enfrentadas na gestão dos
de desengajamento. Para as autoras, esses agrupamentos, concluiu que é nos processos de
estudantes normalmente “recebem muito pouca interação desencadeados nos grupos que se criam
informação sobre os objetivos das atividades e de as condições para o diálogo com o conhecimento.
como ela pode ser realizada com êxito, a respeito Relata que trabalhar em grupo demanda que os
de como eles a estão desempenhando ou como alunos tenham algum entendimento das razões
poderiam desempenhá-la de uma maneira de estarem juntos e de como isso pode favorecer
melhor” (COHEN; LOTAN, 2017, p. 21). as aprendizagens. Em suas palavras:

Apesar das vantagens do trabalho em grupo, é Era preciso que os alunos entendessem o real sentido do
comum professores relatarem o enfrentamento trabalho em grupo, o que não poderia ser feito através de

123
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

aulas expositivas, mas discutindo as ações produzidas a cisarão para o trabalho proposto. As autoras tam-
partir do momento em que escolhessem os colegas com bém chamam a atenção para o comportamento
quem iriam trabalhar. Encaminhar o trabalho em grupo de grupos orientados por tarefas. Há, segundo as
com aqueles alunos significava ensiná-los a produzir co-
autoras, problema de status, que se baseia em di-
nhecimento, orientá-los para que compreendessem o
ferentes expectativas de competência, e de hostili-
sentido dessa atividade e o que ela demandaria. Estavam
dade, indiferença ou falta de confiança: “um grupo
reunidos para aprender não só informações geográfi-
cas. Era um exercício de organização, de autonomia, de pode ser amigável e confiável e ainda assim apre-
respeito às diferenças, a colaboração. Essas eram carac- sentar uma hierarquia de status acentuada, com
terísticas fundamentais para que houvesse produção de alguns membros sendo percebidos como muito
conhecimentos (GOULART, 2011, p. 117). mais competentes do que outros” (COHEN; LOTAN,
2017, p. 27). São vários, portanto, os aspectos que
envolvem a condução de trabalhos em grupo, que
A autora avalia que parte das dificuldades vão desde preparar os alunos para a cooperação,
encontradas pelos alunos no trabalho em grupo definir papéis e responsabilidades, passando pelo
diz respeito às fragilidades e às dificuldades que planejamento do professor e pelo seu papel na
tinham para ler e escrever. Relata que em todos os gestão dos grupos, até as ferramentas para avaliar
grupos foi preciso uma ação diretiva da professora o trabalho em grupo na sala de aula.
para concretizar a organização dos materiais, bem
como a produção do trabalho final. Considera A professora de ciências que participou do estudo
que as interações indispensáveis à configuração de Melgaço (2015) organiza, recorrentemente, os
dos grupos tinham alguns limitantes – alunos no que denominou de grupos colaborati-
vos. Para ela, quando os alunos estão organizados
nesses grupos, eles têm a oportunidade de inte-
entre eles, aqueles ligados à participação. Trabalhar em
ragir, trocar ideais, refletir e formular explicações
grupo requer colaboração. Isso significava desprender-se
de algumas posições em relação à liderança e assumir consensuais sobre os fenômenos em estudo.
fragilidades cognitivas, o que nem todos estavam Para tanto, os estudantes precisam se apropriar
dispostos a fazer (GOULART, 2011, p. 129). das ideias científicas que, nesse caso, são gradu-
almente inseridas pela professora nos momentos
de discussão coletiva. A pesquisadora observou
A pesquisadora esclarece que a professora in- que a professora não só envolve os estudantes,
sistiu em criar situações de trocas, de colabora- como se envolve também durante todo o traba-
ção e de participação, porém obteve êxito em lho. Ela conduz e orienta a gestão da classe de
poucas situações. forma planejada, consciente e intencional, e não
deixa de observar ações individuais e específicas
Cohen e Lotan (2017) explicam que alguns dos dos estudantes, pois por mais que o aprendiza-
problemas motivacionais, disciplinares e de par- do possa se apoiar em um processo interpessoal
ticipação desigual podem estar associados ao e compartilhado, é sempre, em última instância,
“insucesso do professor em escolher e definir a uma apropriação pessoal.
tarefa mais adequada para a situação do trabalho
em grupo” (p. 26), bem como a falta de clareza de Recorrer a diferentes formas de agrupamento dos
como preparar os alunos nas habilidades que pre- alunos é uma prática que pode permitir ao professor

124
O que evidenciam as pesquisas em educação

desafiar todos intelectualmente, em vez de “ensinar Criação de uma rede


para a média”, como ressaltam Cohen e Lotan comunicativa na sala de aula
(2017). Para as autoras, “se a cada membro do grupo
“Custei para entender que eu tinha que aprender a
for requisitado que demonstre sua compreensão e, ‘ouvir os meninos’ e deixar que falassem entre eles,
para isso, possa usar os recursos do próprio grupo, organizando os diálogos para entender o que eles
o aluno que ainda não domina todas as habilidades já sabiam. Para diagnosticar os conhecimentos
acadêmicas requisitadas não será excluído, ele dos meninos eu passei a trazer questões do dia
irá avançar com o grupo” (COHEN; LOTAN, 2017, a dia e percebi que avançando nos diálogos
p. 22). Acrescentam, ainda, que se a atividade for desenvolvia o conteúdo de forma integrada. Fui
interessante e desafiadora, o aluno estará ativamente reunindo as ideias deles com as ideias científicas
envolvido e pedirá ajuda e explicação aos pares. de cada conteúdo para ampliar conhecimentos e
deu certo”.
E para os alunos que têm domínio de habilidades
acadêmicas mais avançadas, “o ato de explicar aos
outros representa uma das maneiras mais efetivas Este depoimento da professora de ciências,
de solidificar seu próprio conhecimento” (COHEN; que participou do estudo de Melgaço (2015,
LOTAN, 2017, p. 22). p. 124), retrata a gestão da sala de aula como
um processo de participação orientado e de
Logo, quando bem empregado, o trabalho em construção conjunta que, segundo Zabala (1998,
duplas ou grupos, seja recorrendo a equipes p. 101), leva alunos e professor a negociar e
fixas ou móveis, tem o potencial de formar salas compartilhar significados. Isso significa dizer que
de aula equitativas, pois aumenta e aprofunda “a rede comunicativa que se estabelece na aula
a oportunidade de aprender conteúdos e de tem uma importância crucial”. O autor explica
desenvolver a linguagem (COHEN; LOTAN, 2017). que para construir uma rede comunicativa
em sala de aula é importante, dentre outros
aspectos, “compartilhar uma linguagem comum,
Nos estudos analisados, a organização do
entender-se, estabelecer canais fluentes de
espaço da classe e das interações pelo pro-
comunicação e poder intervir quando estes
fessor favorece:
canais não funcionam” (ZABALA, 1998, p. 101).
• o aprendizado conceitual, a resolução cria- Também cabe ao professor potencializar o maior
tiva de problemas e o desenvolvimento número de intercâmbios em todas as direções,
de proficiência em linguagem acadêmica; como no relato a seguir:
• o desenvolvimento de habilidades para
atuar em equipe (colaboração, conversa-
Eu acho que só há aprendizagem, quando há diálogo.
ção, diálogo, autonomia, corresponsabili-
Eu coloco que os meninos têm que ter vontade de se
dade etc.); expressar. Eu deixo bem à vontade para eles conversarem e
• o atendimento àqueles grupos ou alunos trocarem ideias [...]. Eu acompanho, oriento, escuto muito,
que mais necessitam de apoio; fico atenta para manter os meninos articulando as ideias
• o engajamento dos alunos nas aulas; e e eu vou incluindo ideias novas para avançar [...]. Aprendi
a direcionar os diálogos dos meninos para as ideias
• as aprendizagens em sala de aula mais
científicas que precisam compreender. Dou liberdade
equitativas.
para que perguntem, solicitem novas explicações [...]. Eu

125
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

verifico se aprenderam o ‘processo’ para prosseguirem e Os autores explicam que o estudo das interações
busco desenvolver uma relação em sala onde todos dão o discursivas parte do pressuposto de que a
seu melhor. Eles participam, gostam das aulas de ciências linguagem é um artefato cultural mediador entre
e se envolvem com o conteúdo para aprender (MELGAÇO, o conhecimento e os aprendizes, e a ênfase recai
2015, p. 132).
sobre os intercâmbios que se estabelecem entre
os alunos, o professor e a aquisição da linguagem
Esta fala retrata a preocupação da professora em científica. Explicam, fundamentados em Altet
desenvolver um ensino mais dialogado com os (2000), que o êxito das estratégias de ensino
estudantes, promovendo o debate de opiniões mobilizadas pelo professor mantém relação
e ideias, escutando e respeitando os alunos. A intrínseca com as interações verbais promovidas
professora, segundo Melgaço (2015, p. 96), cuida em sala de aula, constituindo, assim, um dos
para usar uma linguagem clara e, também, se fatores determinantes do processo ensino-
preocupa em promover, por meio de interações aprendizagem. A investigação da linguagem
dialógicas, “o desempenho comunicativo e e das interações discursivas no ensino de
a apropriação da linguagem científica pelos ciências, segundo os autores, pode contribuir
estudantes” (MELGAÇO, 2015, p. 96). É nesse “para a compreensão de como professores
contexto que, segundo a autora, “as estratégias oportunizam a seus alunos os espaços e tempos
de ensino atuam também como mecanismos para sua participação ao redor da construção
reguladores e direcionadores da ação docente” do conhecimento científico em sala de aula”
(MELGAÇO, 2015, p. 132). (SANTOS; SANTOS; SILVA, 2014, p. 244).

A gestão da rede comunicativa que se estabelece Santos, Santos e Silva (2014) relatam que os
na aula é tratada em apenas quatro pesquisas resultados obtidos na pesquisa indicaram que
de forma um pouco mais aprofundada e, os alunos submetidos à prática do professor
normalmente, relacionada à discussão sobre que exerce maior controle sobre a comunicação
as formas de agrupamento na sala de aula, à tiveram menos oportunidade de intervir nas
valorização dos conhecimentos prévios e às atividades. Logo, as situações que se mostraram
contribuições dos alunos e, ainda, à construção mais favoráveis para a consecução das tarefas
de sentidos e motivação e à elaboração e pelos alunos foram aquelas em que os alunos não
consolidação de conceitos. apenas contaram com um canal de comunicação
com o docente, como sentiram maior liberdade
A pesquisa desenvolvida por Santos, Santos e para interferir nas definições e na organização das
Silva (2014) é a única que tomou como objeto atividades que seriam produzidas por eles com
de estudo as interações verbais entre professores base nas instruções do professor.
e alunos envolvendo atividades experimentais.
O estudo foi realizado com dois professores de É importante ressaltar que a qualidade da rede
química do ensino médio e que ensinam em comunicativa está muito atrelada ao papel que o
escolas pertencentes a diferentes contextos professor outorga aos alunos. Há estruturas mui-
socioeconômicos, e os dados foram analisados to lineares, cujas relações são unilaterais e os ní-
sob a perspectiva da sociologia da educação veis de comunicação se limitam à aceitação das
desenvolvida por Basil Bernstein. exposições e critérios estabelecidos pelo profes-

126
O que evidenciam as pesquisas em educação

sor. Por outro lado, os canais comunicativos po- Observa-se que nos três estudos até aqui
dem se ampliar quando a estrutura organizativa apresentados, o de Melgaço (2015), da área de
implica todos os alunos a se sentirem correspon- ciências biológicas, o de Santos, Santos e Silva
sáveis no processo de conviver e aprender. Assim (2014), da área de química e o de Rodrigues (2014),
sendo, atividades comunicativas que fomentam da matemática, destacam a importância de os
a bidirecionalidade das mensagens favorecem a alunos se apropriarem da linguagem científica
aprendizagem entre iguais (ZABALA, 1998). nas redes comunicativas que se estabelecem na
sala de aula.
A tese de Rodrigues (2014) confirma essa discussão
ao estabelecer associações entre diferentes Na tese de Andrade (2015), que teve como ob-
características de gestão de sala de aula com as jetivo analisar práticas docentes em situações de
práticas específicas do ensino da matemática, produção de textos com crianças dos anos iniciais
tendo em vista o desempenho dos alunos. Para do ensino fundamental, também há destaque na
a autora, a maneira como o docente incentiva importância de se promover um ambiente propí-
e organiza a comunicação entre os alunos, cio à interação e ao desenvolvimento da lingua-
negociando os padrões de comportamento gem. Para a autora, a produção de texto coletivo
e estabelecendo o tempo empregado nas exige que o professor tenha uma postura de me-
atividades propostas etc., por exemplo, pode diador na sala de aula, promovendo as condições
influenciar positiva ou negativamente os para que ocorra uma rede comunicativa entre
resultados de seus alunos. Desse modo, “a forma todos os participantes e para que a colaboração
como se estabelece a interação e a comunicação seja uma prática constante.
entre alunos e professores é essencial para que a
sala de aula se constitua em um ambiente com o A autora argumenta que “se concordamos que
clima propício e adequado para a implementação todas as atividades humanas ocorrem a partir
e manutenção de um ritmo de aprendizagem da cooperação entre várias pessoas e que a
profícuo” (RODRIGUES, 2014, p. 59). linguagem é certamente a principal forma de
colaboração entre os seres humanos, pode-se
Rodrigues (2014, p. 50) também avalia a impor- estabelecer uma relação entre seres humanos,
tância de propiciar aos alunos situações em que linguagem e trabalho” (ANDRADE, 2015, p. 53).
eles possam não só “expor suas ideias e validar Para defender essa premissa, a autora recorre
suas hipóteses, mas também para instigar a re- à “perspectiva bakhtiniana que define a lín-
flexão e comunicação sobre os diferentes pro- gua como atividade dialógica, sócio-históri-
cedimentos que eles adotaram na resolução das ca e ideologicamente construída” (ANDRADE,
tarefas matemáticas, e contribuir para o domínio 2015, p. 51). Fundamentada em Bakhtin (2000),
e aprimoramento da linguagem matemática”. A Andrade (2015) explica, “que o ouvinte ou o lei-
autora explica que o professor, ao solicitar que os tor, ao perceber e compreender o significado
alunos expliquem o procedimento por eles usado (linguístico) do discurso, ocupa simultanea-
na resolução de um determinado problema ou mente em relação a ele uma compreensão res-
o porquê de determinada resposta, solicitando ponsiva ativa” (ANDRADE, 2015, p. 52). É com
explicações matemáticas, favorece o desenvolvi- base nessa ideia que Bakhtin (2000) defende
mento da linguagem matemática pelos alunos. a concepção dialógica da linguagem. Logo,

127
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

“aprender um gênero não é aprender um con- • promover o debate de opiniões e ideias,


junto de padrões formais para atingir certos escutando e respeitando os alunos;
objetivos, e sim, formas de interação sociocul- • possibilitar que os alunos participem das
tural” (ANDRADE, 2015, p. 53). definições e da organização das ativida-
des que serão produzidas por eles por
Um dado apontado pela pesquisa de Andrade meio das instruções do professor;
(2015) é a gestão das professoras durante o
• incentivar os alunos a se apropriarem da
processo de escrita com os alunos. Segundo a linguagem científica nas redes comunica-
autora, o estímulo à participação das crianças tivas que se estabelecem na sala de aula; e
nas atividades foi bastante evidente nas aulas
• aceitar as contribuições dos alunos, mes-
das duas professoras que participaram do
mo quando se expressam de forma pou-
estudo. Andrade (2015) explica que o incentivo
co clara ou parcialmente incorreta, bem
à participação das crianças ocorre “de diferentes
como estimular o envolvimento dos alu-
formas, seja no trabalho coletivo ou noutra forma nos com menor tendência espontânea a
de agrupamento dos alunos. As docentes assim participar das discussões.
conseguiam que os alunos ficassem atentos e
envolvidos nas atividades, sempre buscando
valorizar o que era dito pelos estudantes” 6.2. Atuação com os pares e o
(ANDRADE, 2015, p. 150). desenvolvimento profissional

A pesquisadora observou que as professoras incen- Foram criadas categorias para a modalidade
tivavam a participação das crianças nas atividades que diz respeito às práticas que os docentes
de produção textual coletiva: faziam questiona- realizam não diretamente com seus alunos
mentos aos alunos sobre o que deveria ser escrito na sala de aula, mas em seu desenvolvimento
no texto; não davam respostas prontas; formulavam profissional, individual ou coletivamente, prévia
questões que faziam com que as crianças refletis- ou paralelamente à docência. São elas:
sem para elaborar as respostas. Havia a preocupa-
ção em promover uma rede comunicativa, e cuida-
Categorias de análise da atuação do pro-
vam para dirigir questionamentos às crianças que
fessor com seus pares e com o próprio de-
não estavam participando da aula, seja por motivo
senvolvimento profissional: saberes profis-
de timidez ou por falta de iniciativa.
sionais, reflexão sobre a prática e sobre o
trabalho colaborativo. Essas categorias estão
Para construir uma rede comunicativa em profundamente imbricadas e foram separa-
sala de aula é importante ao professor: das para efeito de análise.

• compartilhar uma linguagem comum e


clara; • Saberes profissionais
• estabelecer canais fluentes de comunica- • Reflexão sobre a prática
ção, potencializando o maior número de • Trabalho colaborativo
intercâmbios em todas as direções, e in-
tervir quando esses canais não funcionam;

128
O que evidenciam as pesquisas em educação

6.2.1. Saberes profissionais e, portanto, ter segurança em relação aos


conhecimentos que serão objeto de seu ensino
Esta categoria refere-se aos saberes ou é uma condição sine qua non para o magistério,
conhecimentos profissionais específicos e embora não suficiente. Rosa (2017), autora de
indispensáveis ao exercício da docência – e essa uma tese que teve como objetivo principal
base de conhecimento é o primeiro aspecto que analisar a prática pedagógica de professores
a caracteriza como uma profissão no sentido iniciantes de geografia, afirma que:
sociológico do termo. Várias teses destacam os
muitos saberes profissionais que são necessários
Para os conteúdos geográficos se tornarem significativos
ao professor para que ele possa desenvolver uma
para a vida do aluno, é preciso que o professor domine sua
prática efetiva que leve ao aprendizado de seus disciplina e os conhecimentos científicos fundamentais,
alunos. Para respaldar essa visão, a maioria delas saiba como trabalhar os conteúdos, reconheça o contexto
se apoia principalmente no educador canadense da escola e os conhecimentos prévios a fim de desenvolver
Maurice Tardif e/ou no pesquisador americano habilidades para a própria aprendizagem, numa estreita
Lee Shulman. relação entre o sujeito do conhecimento e sua prática
social de vida (ROSA, 2017, p. 123).
Ambos os autores reconhecem a pluralidade de
saberes/conhecimentos que conformam a prática Analisando como um professor de educação
dos docentes nas escolas. São saberes adquiridos física aprendeu a ensinar, a tese de Carlan (2012)
ao longo da história de vida de cada professor, mostra a contribuição da formação inicial no
provenientes de sua convivência com suas que se refere aos componentes disciplinares,
famílias, professores e estudantes, da formação pedagógicos e práticos:
profissional e continuada, da experiência em sala
de aula etc.
O presente estudo mostrou que o professor colaborador
considerou fundamental em sua formação inicial a
Para Tardif (2002), o saber docente é um saber presença dos componentes curriculares pautados na
plural, que não é inato, mas antes produzido nas filosofia, filosofia da educação, sociologia, psicologia. Relata
diferentes socializações dos indivíduos (famílias, que em muitos momentos da sua prática pedagógica,
grupos, amigos, escolas etc.). O autor ressalta antes mesmo da conclusão da graduação, quando
que há mais continuidades do que rupturas participava de projetos da Universidade, bem como
entre o conhecimento profissional do professor das Práticas de Ensino e dos Estágios Supervisionados,
e as experiências pré-profissionais, sejam aquelas foi possível articular os conhecimentos das ciências da
educação com o contexto no qual estava intervindo.
vividas na socialização primária (família e ambiente
Argumentou que essas disciplinas lhe deram uma base/
de vida) ou na socialização escolar enquanto aluno.
formação geral em termos de concepção de mundo, de
Por outro lado, a formação inicial e continuada
sujeito, de educação, de sociedade, de conhecimento,
para a docência provê os saberes disciplinares entre outros (CARLAN, 2012, p. 310).
e curriculares necessários ao ensino, que serão
complementados pelos saberes experenciais.
Por outro lado, com o passar do tempo, esse
É assim que muitas teses ressaltam que ter professor foi elaborando críticas a essa formação
domínio do conteúdo curricular de sua área inicial, que foram elas mesmas se modificando

129
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

com base em sua experiência com leituras, tais temas, se esforçam para fazer o melhor. É certo que
palestras, eventos, grupos de estudos e troca tais evidências somente reforçam a ideia que temos sobre
suas inseguranças no momento de ensinar tais conteúdos
com outros docentes na formação continuada.
(SILVA, 2015, p. 98).
Como diz o autor, é um “sujeito que não está
estático, mas sim que procura entrar em sintonia
com as mudanças, sem abrir mão de um ensino Na mesma direção vai Resende (2017), em
de qualidade. Pode-se afirmar, então, que está sua análise sobre o percurso do aprender a ser
permanentemente reinventando a tradição da professor. Depois de entrevistar oito docentes,
educação física escolar” (CARLAN, 2012, p. 93-94). a autora concluiu que as principais fontes de
aprendizagem foram: a) a experiência em sala
A tese de Ciríaco (2016), que reflete sobre o de aula, na voz deles, a aprendizagem na prática
processo de construção do início da docência (62,5% das respostas), que incluía aprender com
entre professoras de matemática, também os próprios alunos; b) o curso de magistério
traz dados críticos sobre as licenciaturas: “os (37,5%); c) com outros professores (enquanto
programas de formação de professores pouco eram alunos) (6,2%); d) em outros cursos, como
têm contribuído para a aquisição dos saberes especializações e mestrado (6,2%)18 (RESENDE,
profissionais para o exercício da docência e 2017, p. 226).
que os professores vão aprendendo os ofícios
da carreira, quando ingressam na profissão” Analisando as dificuldades atribuídas por profes-
(CIRÍACO, 2016, p. 100-101). sores para ensinar química, o artigo de Quadros e
outros destaca as deficiências da formação inicial e
Outro trabalho, que analisa a formação a importância da formação constante:
continuada e a prática docente de professoras
de ciências naturais nos anos iniciais do ensino
Os professores de química, cuja formação foi centrada
fundamental, evidencia justamente – por meio
em disciplinas científicas, sem que o conhecimento
das falas das docentes – a sua falta de domínio fosse problematizado, baseiam-se nestas para realizar
de conteúdo da disciplina de ciências. Apoiando- sua atividade. Nesse caso, os professores podem ter
se em Shulman, Gilson Silva pondera: dificuldade em modelar esse conhecimento, situá-lo no
mundo de vida dos estudantes e voltá-lo para a solução de
situações problemáticas concretas. Considerando que os
Muito do que o professor possui de conhecimento é
conhecimentos profissionais exigem sempre uma parcela
adquirido durante a sua formação, mas vai se modelando
de improvisação do profissional, num processo constante
à medida que se mescla com outros conhecimentos que
de reflexão e discernimento dele, para além da formação
vai adquirindo durante suas práticas. No caso específico
universitária, torna-se necessário que o professor esteja
dessas professoras que ensinam para os anos iniciais,
em constante processo de ‘reciclagem’ ou atualização
isso fica demonstrado quando observamos que, na
(QUADROS et al., 2011, p. 161-162).
maioria das vezes, os conhecimentos que possuem sobre
ciências são incipientes; seus conhecimentos advêm
de suas práticas realizadas durante o período que estão A análise dos dados da pesquisa revelou fatores
ministrando suas aulas. É importante salientar que, embora
de diversas ordens que dificultam o ensino
possuam essa dificuldade, quando necessitam abordar

18 Percentual de respostas (professores responderam livremente e a mais de uma alternativa) e não de respondentes, por isso a soma é maior do que 100%.

130
O que evidenciam as pesquisas em educação

dessa disciplina: aqueles relacionados à escola; cursos de formação continuada, em leituras,


às condições externas a ela; ao aluno; ao próprio grupos de estudos etc. Como diz Resende, “os
professor. Os autores centram sua atenção nessa dados recolhidos mostraram que, na opinião
última variável, mostrando que a maior parte dos dos entrevistados, a aprendizagem da docência
professores coloca as dificuldades no trabalho é desenvolvimental, pois em diversas ocasiões os
centradas no “outro”. Com base no depoimento professores afirmaram que era preciso aprender
de um docente, “entre as dificuldades no meu sempre ou continuar aprendendo” (RESENDE,
trabalho está a falta de conhecimento de como 2017, p. 226).
diversificar as aulas”, os autores trazem uma
reflexão bem interessante: O segundo aspecto refere-se à importância do
saber experiencial, aquele que é aprendido na
prática da sala de aula, nas situações cotidianas,
Esse professor demonstra entender que diversificar as
no diálogo com os educandos, e que contribui
aulas pode ser uma maneira de melhorar o ensino de
química e aumentar o engajamento dos estudantes. para a produção de novos conhecimentos e
Mas, ao colocar isso como dificuldade, está assumindo aprimoramento da formação docente. Renata
que não tem os instrumentos necessários para fazê-lo ou Andrade (2015), que analisa a ação docente na
não conhece suficientemente outras formas de ensino produção de textos escritos nos anos iniciais
que o permitam diversificar. [...] Podemos inferir que, se as do ensino fundamental, mostra como uma das
dificuldades em ensinar e aprender química são externas professoras entrevistadas salienta a importância
a ele, não haverá preocupação em mudar sua prática e, da experiência:
por isso, provavelmente ficará aguardando melhorias
que cheguem até ele, mas não o envolvam diretamente
(QUADROS et al., 2011, p. 166-167). É muita. Nós aprendemos sempre com a prática. Eu acho
que a prática nos ajuda a perceber as dificuldades que os
alunos vão tendo e às vezes são as mesmas, apesar dos
Independentemente da percepção de docentes alunos serem outros, dos grupos serem outros, mas, nós
sobre a suficiência ou não da formação inicial tomamos consciência delas, pois se repetem. A prática e
– percepção que varia conforme os contextos o ensino da produção de textos vão nos dando algumas
temporais e espaciais – o fato é que há um ferramentas, alguma experiência em trabalhar e uma
reconhecimento de que a formação profissional consciência do trabalho que fazemos e do que se pode
deve ser constantemente aprimorada. Os fazer melhor ainda do que aquilo que já se realizou, já se fez.
Se calhar, é assim que acontece, quanto mais eu praticar
achados desses quatro trabalhos revelam, assim,
esse aspecto mais eu vou ser capaz, até inconscientemente
dois aspectos que estão presentes em muitas das
vou construindo meu próprio conhecimento e a minha
outras teses analisadas: a importância de que o
própria maneira de trabalhar (ANDRADE, 2015, p. 114).
professor tenha abertura para aprender novas
teorias e práticas de ensino, seja em torno de um
tópico curricular, de procedimentos didáticos Com base nessa fala, a autora pontua que esse
(como, por exemplo, práticas pedagógicas reconhecimento das semelhanças nas diferenças
relacionadas ao emprego de TIC) ou avaliativos. entre os educandos permite que a professora
Enfim, que seja efetivamente aberto para antecipe estratégias de ação. Destaca-se aqui
mudanças, por meio de análises e reflexões a reflexão na ação – próxima categoria a ser
sobre novas possibilidades para o ensino, em analisada –, pois é por meio dos conhecimentos

131
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

cotidianos e da prática diária que a professora simultaneamente, produz novos conhecimentos.


pode decidir quais caminhos, procedimentos e Não é a prática per se que gera novos aprendizados,
estratégias são viáveis. mas sim a reflexão sobre ela. A citação de Almeida
(2014) reflete bem a interconexão entre os saberes
Quadros et al. (2011) vão na mesma direção, ao afir- profissionais e a reflexão sobre a prática, e a
marem sua convicção de que o professor deve ter necessidade de o professor “recompor o equilíbrio
autonomia e independência para tornar-se o autor entre os esquemas práticos e os esquemas teóricos
de suas próprias aulas, trazendo a ideia do profes- que sustentam a prática educativa” (IMBERNON,
sor-pesquisador: “o professor precisa produzir co- 2000, apud ALMEIDA, 2014, p. 45). Ainda segundo
nhecimentos profissionais na ação que lhe permi- a autora,
tam fazer uma intervenção positiva” (MALDANER,
1999, apud QUADROS et al., 2011, p. 171).
os professores e alunos são sujeitos da prática pedagógi-
ca. O professor é o agente da prática e os alunos sujeitos
Em relação aos saberes profissionais, as pro- da atividade pedagógica, embora a intencionalidade seja
duções destacam que: proposta previamente pelo professor. É dele a responsa-
bilidade em preparar e realizar as atividades, os saberes
e conhecimentos ensinados na escola. A formação é ne-
• é necessário um conjunto de conheci-
cessária para apoiar o professor, despertando nele uma
mentos para que o professor possa de- prática pedagógica reflexiva, tornando-o capaz de rea-
senvolver uma prática efetiva que leve ao lizar a auto-observação, autoavaliação e autorregulação
aprendizado de seus alunos, com ênfase (PERRENOUD, 2000, apud ALMEIDA, 2014, p. 45).
no domínio do conteúdo que é objeto de
ensino e do saber experiencial, aquele que
é aprendido na prática da sala de aula, nas Por outro lado, essa reflexão será mais produtiva,
situações cotidianas e no diálogo com os no contexto da docência, se for realizada em
educandos; conjunto com outros professores, no diálogo e na
troca sobre situações vividas no contexto da sala
• o professor é um produtor de saberes em
constante processo de evolução e aperfei- de aula. É assim que a maioria das teses e artigos
çoamento de sua prática; e analisados traz essa dimensão sobre a reflexão
sobre a prática, corroborando o que a literatura
• o professor deve exercer a autonomia e a
nacional e internacional tem evidenciado: o
independência para se tornar o autor de
professor precisa ter abertura para analisar suas
suas próprias aulas.
próprias práticas, individual e coletivamente.
Lee Shulman, Donald Schön e Maria da Graça
Misukami são as principais referências utilizadas
6.2.2. Reflexão sobre a prática nas teses para falar sobre a reflexividade.

Essa categoria está profundamente imbricada A tese de Karen dos Santos (2016) traz uma pers-
com a anterior – os saberes profissionais – e com pectiva mais sociológica para tratar desse assun-
a próxima – o trabalho coletivo –, e só foi separada to: apoia-se em Margareth Archer para trazer a re-
para efeitos de análise. Isso porque a reflexão sobre lação entre estrutura e agência, que “se traduzem
a prática alimenta-se dos saberes profissionais e, na relação entre hábito – como estrutura já ali

132
O que evidenciam as pesquisas em educação

Mais do que descrever e expor os problemas e perspec-


presente, rotineira, sedimentada – e reflexividade tivas de atuação, a atividade de assistir ao vídeo de aula
– o pensar reflexivo sobre as circunstâncias que e analisar cenas do processo de ensino e aprendizagem
envolvem os agentes (individuais ou coletivos)” permitiu com que o grupo pudesse propor e tentar
(SANTOS, 2016, p. 91). Ou seja, a reflexividade, procurar caminhos teórico-metodológicos de forma re-
no caso, o pensar sobre sua prática docente, só é flexiva ‘com’ as professoras, que pudesse contribuir para
possível se se concebe o caráter ativo do sujeito, a constituição do ser educadora matemática (CIRÍACO,
inserido em relações permeadas pelo hábito. É 2016, p. 241).
por meio da participação no que o autor denomi-
na “comunidade de formação” que os professores A colaboração é o segundo ponto enfatizado por
dialogam sobre suas práticas e passam a tomar Ciríaco (2016) ao discutir a reflexão sobre a prática.
consciência delas e das possibilidades abertas de Ele se apoia em Nacarato, que defende o trabalho
estratégias pedagógicas. em grupo como um espaço de aprendizagem
docente – no caso, em relação à matemática
Tendo realizado uma pesquisa-ação com o ob- – e para quem a prática reflexiva “é central ao
jetivo de investigar o aprender a ensinar mate- desenvolvimento profissional, mas não pode ser
mática entre professoras iniciantes em um gru- um ato isolado – ela é uma prática social coletiva.
po colaborativo (embora de escolas diferentes), É no diálogo com pares que o professor questiona
Ciríaco (2016) destaca dois pontos importantes e problematiza sua prática e, portanto, reflete e faz
e interligados para a reflexão sobre a prática. O projeções para outras práticas” (NACARATO, 2013,
primeiro refere-se ao valor da gravação de aulas apud CIRÍACO, 2016, p. 282).
como meio de propiciar uma discussão baseada
na observação e não apenas no discurso. O au- Já a tese de Resende (2017) enfatiza as narrativas
tor destaca que, inicialmente, a ideia era que as pessoais como instrumento para a prática
professoras iniciantes compartilhassem oralmen- reflexiva: “as narrativas pessoais podem evidenciar
te as dificuldades vivenciadas nas aulas no grupo valores, crenças, conhecimentos, dificuldades e
colaborativo: elas relatavam seus planejamentos experiências dos professores, sendo um meio
e, depois, contavam como as atividades haviam importante para aprimorar a capacidade reflexiva
sido desenvolvidas de fato nas turmas em que acerca da profissão, contribuindo assim para o
atuavam. Em dado momento, porém, elas ultra- desenvolvimento pessoal e profissional docente”
passaram o nível do discurso e passaram para (RESENDE, 2017, p. 47).
a ação por iniciativa própria, pois começaram a
gravar fragmentos de suas aulas e a trazer as ce- O artigo de Kramer, Nunes e Corsino (2011) de algum
nas para análise dos integrantes, o que aumen- modo sintetiza os elementos apresentados pelas
tou o nível de colaboração entre todos. Ciríaco teses já destacadas como parte da prática reflexiva
(2016) conclui que a tematização da prática, po- para uma boa atuação docente, planejamento e
tencializada pela gravação das aulas e posterior avaliação eficazes: pensar e observar a própria prática,
discussão, constituiu-se em aspecto que contri- de modo a conhecê-la; observar e fazer registro
buiu não apenas para mudanças de concepções diário das crianças, seus processos e relações, a fim
e atitudes, mas também para uma trajetória refle- de conhecê-las no conjunto e individualmente;
xiva promissora para ações futuras, que rompe o observar e ser observado por outros professores,
isolamento docente e aposta na colaboração. para que se aprenda uns com os outros; e identificar

133
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

problemas e dificuldades enfrentadas no cotidiano, propriamente dito, da avaliação no contexto


no sentido de compartilhar experiências. O artigo escolar e/ou da formação continuada, intra ou
ainda destaca que a leitura de textos científicos e entre escolas.
livros literários pelos docentes tem forte potencial
para ajudá-los a pensar a prática, a criar e a imaginar. Por exemplo, a tese de Graziela Souza dos Santos
A escrita livre e/ou a escrita sistematizada sobre as (2017) – que tem por objetivo analisar processos
atividades realizadas, dúvidas e conhecimentos de recontextualização curricular protagonizados
é igualmente uma aliada importante para o por professores de uma rede municipal no âmbito
aprimoramento do ensino (KRAMER; NUNES; dos seus planejamentos e práticas pedagógicas
CORSINO, 2011). de ensino – destaca a importância do planejamen-
to coletivo para expressar as diretrizes e valores de
uma dada comunidade educativa. Quando o do-
No que diz respeito à reflexão sobre a práti-
cumento é produzido por todos os educadores,
ca, os artigos e teses destacam que:
eles se sentem autores e corresponsáveis por esse
processo e, mais ainda, comprometidos em in-
• não é a prática per se que gera novos apren-
corporá-los em seus planejamentos de aula. Com
dizados, mas, sim, a reflexão sobre ela;
base na pesquisa em duas escolas de Porto Alegre,
• o professor precisa ter abertura para anali-
a autora afirma que os documentos têm força e le-
sar suas próprias práticas e para ser obser-
gitimidade, provavelmente em função
vado por outros professores;
• a reflexão será mais produtiva se for re-
alizada em conjunto com outros pro- da ampla participação dos educadores em todas as eta-
fessores, no diálogo e na troca sobre as pas do processo de sua elaboração. Isso é corroborado
inclusive pela forma como as educadoras referem o pro-
situações vividas no contexto da sala de
cesso de criação do mesmo: ‘nós fizemos todos juntos’. O
aula e da escola; e
processo colaborativo de definições acerca do que é va-
• é importante valorizar o registro das prá- lioso para este grupo confere mais segurança aos proces-
ticas pedagógicas como objeto privilegia- sos individuais das educadoras (SANTOS, 2017, p. 150-1).
do de análise e reflexão.
Segundo Santos (2017), essa colaboração
materializada na elaboração do documento
6.2.3. Trabalho colaborativo curricular fornece aos professores “uma maior
firmeza no caminhar coletivo da escola rumo aos
A colaboração por meio do trabalho em grupo seus objetivos, bem como uma robustez mais
é a última categoria da prática pedagógica que expressiva para o enfrentamento das questões
está nesse nível não diretamente inserido na sala práticas e urgentes que também se manifestam
de aula, mas que se refere ao desenvolvimento na escola” (p. 153-154). O artigo de Cardelli e
profissional do docente, como aspectos prévios Elliot (2012) corrobora essa visão ao afirmar que a
e paralelos à sua atuação na escola que lhe construção e execução de abordagens comuns,
permitem realizar um bom ensino. O trabalho definidas coletivamente com uma unidade
colaborativo entre pares pode se dar nos de propósitos, torna a prática dos professores
momentos do planejamento curricular, do ensino mais integrada e mais consistente, o que pode

134
O que evidenciam as pesquisas em educação

contribuir positivamente para o desempenho que defendem o trabalho colaborativo quase


dos estudantes. Santos (2017) acrescenta, que exclusivamente. Carlan (2012) refere-se a
ainda, que o planejamento coletivo favorece Antônio Nóvoa, para quem as
o trabalho interdisciplinar das diferentes áreas,
já que os docentes se organizam em torno de
as práticas de formação continuada organizadas indivi-
saberes que passam a ser vistos como comuns,
dualmente em torno dos professores podem ser úteis
estabelecendo parcerias. Tal cultura profissional para aquisição de conhecimentos e de técnicas, mas
colaborativa também contribui para a construção favorecem o isolamento e reforçam uma imagem dos
de uma identidade coletiva institucional. E, por professores como transmissores de um saber produzido
fim, o trabalho conjunto facilita que a escola no exterior da profissão. Para o autor, apenas as práticas
reúna mais condições para desafiar a lógica do de formação que tomem como referência as dimensões
efeito-território, que impõe aos alunos de classes coletivas contribuem para a emancipação profissional
populares maiores obstáculos para os avanços (NÓVOA, apud CARLAN, 2012, p. 229).

sociais e acadêmicos.
Certamente, não se trata de negar a importância
Por outro lado, a autora também destaca que, em de momentos individuais de estudo, leitura
uma das escolas, o esforço coletivo para definir os e reflexão, mas o que os artigos e teses sobre
conhecimentos que precisam ser desenvolvidos práticas pedagógicas apontam é que, sendo
com os alunos parecem ocupar menor espaço na a aprendizagem e o ensino atividades sociais e
agenda da escola vis a vis a ações de caráter mais interativas, o trabalho em equipe é imprescindível
cultural ou integrador (SANTOS, 2017), revelando em todos os momentos da atividade docente,
que o trabalho colaborativo entre os professores, prévia, posterior ou durante as aulas. Apesar
voltados especificamente para os processos de desse consenso, muitos dos trabalhos analisados
ensino e aprendizagem, nem sempre são fáceis de revelam a dificuldade que é romper com a cultura
serem concretizados, ainda mais continuamente. do isolamento docente. Santos (2017) apoia-se
Como indica Resende (2017), esse modo de em Giméno Sacristán para ratificar que
colaboração entre pares geralmente não é visto
e apoiado pelos professores de ensino.
o individualismo profissional tem sido uma particulari-
dade da forma social de exercer o trabalho docente. [...]
Essa mesma pesquisadora recorre a Shulman O professor que atua individualmente não tem controle
para mostrar como a colaboração pode favorecer sobre certas variáveis de organização escolar, que são
os processos de ação, reflexão e emoção: competência da coletividade [...]. Um estilo individualista
“colaboração é um casamento de insuficiências circunscrito à aula como espaço “natural” de trabalho se
[...]; há dificuldades intelectuais e desafios desenvolve e se firma dentro de um espaço estrito de
profissionais que são quase impossíveis de problemas possíveis no qual só cabem alguns temas,
serem superados por um único professor, mas algumas decisões, algumas opções pedagógicas e não
outras (SACRISTÁN, 2000, apud SANTOS, 2017, p. 164).
são facilmente compreendidos e solucionados
com a ajuda de outros” (SHULMAN, 2004, apud
RESENDE, 2017, p. 51). Na esteira do que algumas Em sua pesquisa-ação com quatro professoras
teses já apontavam no que diz respeito à reflexão iniciantes de matemática, Ciríaco (2016) mostra
sobre a prática, há estudos que trazem autores que muitas das dificuldades que elas enfrentam

135
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

decorrem da falta de assistência e apoio das e dificuldades, realizar atividades conjuntas,


instituições escolares. Daí a ênfase de algumas ajudar-se uns aos outros; essas ações não só
teses em trazer teoricamente e/ou por meios de fortalecem os integrantes em suas tomadas
suas investigações empíricas a importância das de decisões, como também promovem neles
“comunidades profissionais de aprendizagem” o senso de pertencimento e a partilha de uma
ou “comunidades de prática”, as quais têm identidade grupal, com normas acordadas.
Shulman, Jean Lave e Étienne Wenger como Por outro lado, as descobertas ou resultados
autores inspiradores. positivos também devem ser partilhados, tal
como mostra a autora:
Para ressaltar a importância de se trabalhar por
meio de processos colaborativos – no caso de
Quando um professor descobre maneiras diferenciadas
sua tese, especialmente no que se refere ao
de fazer com que seus alunos aprendam determinados
uso e aprendizado de tecnologias móveis – conteúdos ou de superar dificuldades de aprendizagem
Santos (2016) apoia-se em Lave e Wenger: para numa dada situação, esses conhecimentos podem ser
esse autor, uma comunidade de prática é um registrados, discutidos e compartilhados, para que sejam
grupo de pessoas que se unem em torno de aplicados pela comunidade docente em outros contex-
objetivos, preocupações ou interesses comuns, tos, fazendo as adaptações necessárias (SHULMAN, 2004,
compartilhando problemas e interagindo a fim apud RESENDE, 2017, p. 72).
de enfrentarem tais questões e aprimorarem suas
ações. O princípio é o de que a aprendizagem é Santos aponta, ainda segundo Lave e Wenger,
social e ocorre mútua e colaborativamente, por que essa aprendizagem social se dá na interação
meio da partilha de saberes e experiências de entre experiência e competência, em um
seus integrantes19; a reflexão coletiva sobre a movimento constante e tenso de negociação e
experiência contribui renegociação dos significados.

para a resolução de conflitos e construção


Experiência sem competência fica confinada a uma
de conhecimento. O que diferencia uma
vivência e competência sem experiência se reduz a
comunidade de uma comunidade de prática é uma função meramente técnica e, por consequência,
o foco em aprender juntos e trocar ideias sobre retarda a aprendizagem e torna a prática obsoleta. [...]
o que lhes desafia e dá motivação para aprimorar As reflexões das experiências ocorrem na participação
suas práticas. social dos membros de uma comunidade de prática,
que têm como competências critérios que permitam a
Resende (2017, p. 53) apoia-se em Shulman para cada membro se reconhecer como protagonista de suas
mostrar que a comunidade de aprendizagem ações empreendidas na participação com outros, utili-
zando repertório de recursos acumulados pela comu-
“deverá sustentar, legitimar e nutrir os processos
nidade nessa trajetória social de aprendizagem para dar
de ação, reflexão, emoção e colaboração”. É
sentido a novos significados (WENGER, apud SANTOS,
preciso reunir-se, compartilhar informações,
2016, p. 93).
discutir em grupos as dúvidas, ansiedades

19 Importante ressaltar que essa aprendizagem colaborativa, construída coletivamente na interação, pode estar presente também na relação professor-
aluno: “os professores juntamente com seus alunos engajam-se em seus projetos na busca de uma resolução de um problema, na criação e produção
de novos saberes que façam sentidos e que os façam viver esses conhecimentos” (SANTOS, 2016, p. 90). De fato, em muitas teses e artigos analisados
está presente a ideia de que os docentes devem incentivar que seus alunos aprendam igualmente a trabalhar de maneira colaborativa.

136
O que evidenciam as pesquisas em educação

Santos (2016) salienta, ainda segundo Wenger, pesquisa na internet do assunto trabalhado na sala, su-
que as comunidades genuinamente de prática geriram a participação dos alunos na atualização do blog
ocorrem mais na informalidade do que em e nas atividades de uso do podcast, participaram na dis-
espaços institucionalizados: são pessoas que cussão e sugestões do roteiro de programação (SANTOS,
2016, p. 171).
buscam interagir com outras para resolver um
problema local, ampliar seu conhecimento
de mundo e melhorar sua prática. Visando à O artigo de Santos Júnior e Marcondes (2013)
esfera das práticas pedagógicas em ambientes também traz estudo que se refere às comunidades
formais, a autora empreendeu uma pesquisa- de prática, tendo por referência Lave e Wenger.
formação na qual propôs o termo e concretizou Trazendo elementos de pesquisa-intervenção,
uma “comunidade de formAção”, o espaço de o trabalho teve por objetivo analisar como um
aprendizagem em que os professores aprendem projeto colaborativo envolvendo professores
juntos práticas multiletradas: de química pode servir de instrumento para a
reflexão dos docentes sobre as suas concepções
e práticas pedagógicas. Na mesma linha das teses
A comunidade de formAção de professores de práticas
citadas, os autores ressaltam que
multiletradas é compreendida como espaço de aprendi-
zagem coparticipativa dos diferentes modos de significar
a linguagem: para si, lendo, ouvindo e vendo (problema- os ganhos obtidos pelos docentes que participaram
tizando); e para o mundo, escrevendo, falando, fotogra- desse projeto colaborativo não se restringiram apenas
fando (atualizando), tecendo ideias uns com outros, com- aos conhecimentos específicos para o exercício da do-
partilhando experiências, aprendendo e desenvolvendo cência. Ao participar do grupo, cada docente desenvol-
arquiteturas pedagógicas possibilitadas pelas tecnologias veu-se no que diz respeito às relações pessoais, como:
móveis (SANTOS, 2016, p. 94). maior tolerância, maior capacidade em lidar com ten-
sões, ponderação em administrar objetivos individuais
E a autora conclui que o trabalho colaborativo e coletivos. Tais capacidades são, sem dúvida, importan-
presente nessa comunidade de formAção tes para os profissionais que exercem atividades sociais,
como a docência, por exemplo. Também foi perceptível
fortaleceu o vínculo profissional entre colegas
o desenvolvimento da argumentação; essa competên-
que trocavam ideias e sugestões e criou diversas
cia pode não ser bem desenvolvida nas licenciaturas e
formas de significar a linguagem digital nas
é outro atributo importante para o professor (SANTOS
relações pedagógicas, concebendo a tecnologia JÚNIOR; MARCONDES, 2013, p. 709).
não apenas como recurso didático para ensinar
e aprender, “mas como dispositivo que amplia as
possibilidades comunicativas entre os professores Mas, ainda apoiando-se em Lave e Wenger, os
que estão juntos aprendendo a compartilhar autores (2013, p. 710) enfatizam que, “se o grupo
ideias” (SANTOS, 2016, p. 142). foi importante no sentido de propiciar a reflexão,
de todos os docentes, das suas concepções
sobre o processo de ensino aprendizagem”, os
Nesse processo de negociação de significados, pode-
resultados obtidos em um projeto colaborativo
mos observar práticas multiletradas dos professores que
juntos discutiram, compartilharam e planejaram ativida- dependem do “grau de engajamento de cada
des para o blog; aprenderam a postar textos, imagens, participante no grupo”.
vídeos, links e a fazer comentários. Mais que isso, fizeram

137
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Por fim, há uma tese que se apoia na teoria da ou “comunidades de prática”, pois profes-
ação dialógica de Paulo Freire para mostrar a sores que aprendem a refletir juntamente
importância da colaboração (STEFANELLI, 2018). com seus pares colaboram para o desen-
Embora parta de referenciais diferentes, essa volvimento profissional dos outros e se en-
concepção aproxima-se do que foi descrito para riquecem mutuamente.
as comunidades de aprendizagem ou de prática:

7. Entrelaçando fios: didática


Podemos afirmar que ser colaborativo envolve mais do
que apenas compartilhar práticas educativas ou peda-
e práticas pedagógicas
gógicas e/ou ainda estar presente em sala de aula – isso
é cooperação. A colaboração acontece, de fato, quando O que inspira tantos trabalhos que se preocu-
todos os docentes-discentes protagonistas e o gestor pam em lançar luz sobre as práticas pedagó-
escolar estão envolvidos no processo de criação de um gicas no cotidiano escolar em seus diferentes
produto educativo, melhoria de um processo ou solução níveis e modalidades? Ao examinar as teses e
de um problema, compartilhando seus pontos de vista, os artigos que com profundidade fundamen-
conhecimentos, culturas, mais importante, se preocu- tam, mesmo que em variadas vertentes epis-
pando com o resultado do aprendizado como um todo
têmicas, uma perspectiva de aproximação
[...]. O projeto educativo, para ser realmente colaborativo,
teórica que permite construir práticas educa-
é aquele que não pertence a um gestor, professor e alu-
tivas, ou os que estudando práticas revelam
no, e, sim, é de responsabilidade de todos na transforma-
ção da cultura escolar (STEFANELLI, 2018, p. 78). seus referentes de sustentação, observa-se
que estão presentes a motivação e o interesse
no sentido de buscar meios e formas culturais
Em síntese, as produções destacam que: para qualificar melhor as ações que visam à
formação das novas gerações – das crianças
• o trabalho colaborativo é imprescindível pequenas aos jovens, das matemáticas às ar-
em todos os momentos da atividade do- tes, perpassando os variados conhecimentos
cente, antes, durante ou após as aulas; que compõem o currículo escolar. São sinali-
• o planejamento coletivo favorece o zações sutis ou mais diretas que se expressam
trabalho interdisciplinar das diferentes nos relatos e análises, muitas vezes nas suas
áreas, uma vez que os docentes se orga- entrelinhas, em seu cuidado com os procedi-
nizam em torno de saberes que passam mentos de investigação e em seu modo aca-
a ser vistos como comuns, o que os faz dêmico de expressar-se.
estabelecer parcerias;
• a cultura profissional colaborativa contribui
Dar sentido e significados às ações pedagógi-
para a construção de uma identidade cole-
cas é o traço comum aos estudos analisados.
tiva institucional;
• a cultura do isolamento docente é um as-
pecto difícil de ser superado; e As perspectivas e atitudes, que subjazem aos
• é importante valorizar a construção de “co- trabalhos dando-lhes significado, evidenciam
munidades profissionais de aprendizagem” preocupação com o papel educacional da esco-
la que se traduz pelo ensinar-aprender mútuo

138
O que evidenciam as pesquisas em educação

de docentes e alunos, garantindo aprendiza- – sua e dos estudantes – e do compromisso


gens de natureza variada e o desenvolvimento com uma comunicação clara e a transparên-
de crianças, adolescentes e jovens, propiciando- cia na organização do trabalho conjunto, nos
-lhes formação humana e cidadã, e, ao mesmo diferentes formatos que são viáveis dentro e
tempo, aperfeiçoando os docentes em seu trato fora da sala de aula. Desponta, para o exercício
com as relações pedagógicas em seu campo do papel do professor na educação básica, a
de trabalho pela construção/reconstrução de necessidade de uma compreensão integrada
conceitos e formas de agir. Propiciam aprendi- no que se refere: aos conhecimentos acumu-
zagens aos pesquisadores que também são for- lados e considerados relevantes socialmente,
madores de professores. aos conhecimentos a serem trabalhados na
escola, aos meios para levar esse conhecimen-
O esforço em construir, revisitar, rever, pesquisar to às novas gerações, ao conhecimento sobre
e compreender relações pedagógicas e suas as crianças e adolescentes, ao conhecimento
alternativas é revelador da preocupação com sobre o contexto sociocultural em que a esco-
a equidade na educação escolar e de uma la se move, ao conhecimento sobre a própria
percepção da escola enquanto um lugar de escola em sua inserção social e sobre as redes
progressão para todas as crianças e adolescentes, escolares em sua arquitetura e dinâmicas pró-
assumindo-se o sucesso destes em sua trajetória prias. Então, planejar com flexibilidade entra no
como meta importante. horizonte do trabalho docente como uma bús-
sola para orientação no dia a dia, ajudando na
articulação das condições que serão constru-
Infere-se das pesquisas e seus relatos
ídas para favorecer as aprendizagens visadas
princípios importantes para o trabalho
e a gestão da sala de aula em seus aspectos
docente: o domínio de conhecimentos,
espaciais e interacionais. Não só para a sala de
a integridade nos atos de educar, a valo-
aula, mas, eventualmente, para outros espaços,
rização da cooperação, coparticipação e
como museus, o bairro, espaços do campo etc.,
transparência nas comunicações e orien-
tações, a consideração da gradação na onde a educação escolar vai ao encontro de
abordagem dos conhecimentos e sua experiências diversificadas que expandem os
cumulatividade, e a atenção ao sequen- horizontes dos conhecimentos e de valores.
ciamento e à continuidade na condução
dos processos educativos e motivação As vivências encontradas nas pesquisas estuda-
dos professores e estudantes. das evocam o que é terreno exclusivo do profes-
sor, que é a indissociabilidade entre conteúdos
e perspectivas didáticas e suas práticas pedagó-
Assim, sugerem a ideia de que esse trabalho gicas, o que pressupõe, também, saber que os
é formado por vários elos que se juntam, não conhecimentos que dizem respeito ao seu tra-
apenas como elos de uma corrente, mas como balho têm diferentes patamares de complexida-
elos de uma rede de relações e saberes – cien- de em consonância com o contínuo processo
tíficos, técnicos e pedagógicos – que se com- de desenvolvimento integral das crianças, ado-
põem como uma unidade interdisciplinar. Des- lescente e jovens, e com as experiências de vida
velam, também, a importância da motivação que trazem para a escola.

139
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

como a articulação dos tempos e disponibilidade


A reflexão sobre a prática aflora nos estudos
e condições dos espaços, o excesso de foco
como necessidade, e ela pode adquirir outra
em temas administrativos e, também, aspectos
dimensão quando realizada em ambiente co-
que derivam de políticas mais gerais de gestão
laborativo pelo coletivo de professores, com a
das redes escolares. Não são obstáculos
possível contribuição de gestores ou outros,
necessariamente intransponíveis, pois é possível,
em situação de trocas e confiança mútua.
com sensibilidade, lidar com as diferenças,
uma vez que se encontra entre educadores
Trocas de ideias permitem tomadas de consci- a atribuição de valor à colaboração que se
ência de situações, contextos e modos de agir, manifesta em níveis cotidianos de interação,
ajudam com a emergência de eventuais suges- como no compartilhamento de materiais nos
tões quanto a questões pedagógicas ou com a intervalos de aulas ou em conversas informais no
solução de impasses. Também a reflexão pela momento de um café, entre outros. O que não se
formação de grupos de estudos cria um campo pode é ignorar que, nas dinâmicas colaborativas,
intelectual de interlocução que permite superar percalços existem, mas se existe minimamente
o senso comum, colocando em outro patamar a a crença de que compartilhamentos ajudam
colaboração mútua. São formas que permitem na melhoria de abordagens pedagógicas e na
qualificar as reflexões e as ações docentes, dando melhor aprendizagem dos alunos, lidar com
significado ao trabalho pedagógico como algo algumas dificuldades para o trabalho coletivo,
compartilhado, bem como ajudam a superar a projetá-lo e realizá-lo é uma oportunidade de
sensação de isolamento e falta de apoio que tan- aprendizagens sociorrelacionais e profissionais
tas vezes docentes revelam sentir. para todos. Esforço conjunto, lideranças variadas,
situacionais e sensíveis podem ajudar nesse
Ampliando para além dos estudos apresentados processo, tornando-o significativo e não uma
a questão do compartilhamento de reflexões reunião por obrigação e rotina que acaba por
sobre as práticas no ambiente escolar – a não ter sentido para ninguém.
cooperação mútua, a abertura às contribuições
dos pares –, é importante lembrar que esse Adentrando o aspecto do trabalho dos docentes
ambiente é atravessado por formas de relação com seus alunos, muitas ideias emergem dos
que se estruturaram nas vivências institucionais textos, contribuindo para lembrar que as ações
e por sentimentos próprios a cada um dos que visam a criar possibilidade de construção de
participantes nesse contexto. Ou seja, nem aprendizagens no ambiente escolar mostram-
sempre participar de um coletivo e compartilhar se complexas e interseccionadas, exigindo dos
ideias, problemas ou necessidades é simples, sem professores concentração de atenção constante,
empecilhos. Eles existem. De um lado, há fatores o que lhes é possível pelo domínio da lida com o
pessoais, como, por exemplo, a falta de crença coletivo da sala de aula.
na colaboração com os pares, a desconfiança na
ajuda de outrem, o choque de personalidades e
de visões sobre como ensinar, o estilo de atuar da Em síntese, as pesquisas estudadas mostram
equipe gestora etc. De outro lado, há os aspectos o valor de atuar para criar um clima favorável
que decorrem de condições do contexto escolar, ao trabalho escolar, um clima de confiança

140
O que evidenciam as pesquisas em educação

e de respeito mútuos, e uma rede comuni- O objetivo deste trabalho foi investigar, nas
cativa fluente. Destacam a relevância de dar pesquisas de campo realizadas e publicadas no
atenção à construção de sentidos e à motiva- Brasil sobre práticas docentes na educação básica,
ção dos alunos em relação ao conhecimento as características das práticas pedagógicas que
e ao processo de aprendizagem. Ressaltam se mostram relevantes para as aprendizagens
os cuidados que o professor precisa ter para de crianças, adolescentes e jovens. Buscou-se
promover conexões entre o conhecimento caracterizar as práticas reveladoras de ações
prévio e os conteúdos propostos, o que re- pedagógicas que propiciam a criação de
quer entender e valorizar os conhecimentos ambiências que favorecem aprendizagens –
trazidos pelos alunos e suas vivências cultu- cognitivas e relacionais – na educação básica e
rais, partindo do que sabem ou não, com a identificar suas características e as concepções
preocupação de problematizar questões re- que as fundamentam.
lativas aos conhecimentos curriculares.
Dado tudo o que foi exposto, é possível notar
que são poucas as pesquisas, no Brasil, que
Observam, ainda, a importância de se estimular apresentam alguma conceituação de “prática
buscas, e cuidar dos conceitos e soluções pedagógica”, bem como relatos detalhados e
valorizando a criatividade dos estudantes. E, nessecomentados de práticas docentes encontradas
movimento, sinalizam a necessidade de se estar nas escolas. Tanto a conceituação quanto o relato
atento aos ritmos de aprendizagem e à construção de práticas, em vários estudos, aparecem de
de momentos avaliativos que ajudam a perceber forma implícita ou subjacente.
dificuldades e facilidades que, trabalhadas com os
alunos, favorecem a continuidade do processo de É preciso reiterar que a maioria dos estudos se
seu desenvolvimento cognitivo. utiliza da abordagem qualitativa de pesquisa, e
muitos são estudos de caso. Assim, as práticas
investigadas circunscrevem-se a contextos que
A diversidade de metodologias e de ativida-
não podem necessariamente ser generalizados,
des, o uso de atividades lúdicas, a modulação
mas podem se constituir em inspiração para
de apoios a alunos em momentos específicos,
outros docentes. Este estudo mostra, portanto, a
a facilitação das interações alunos-professor e
quase ausência no país de pesquisas publicadas
alunos-alunos, em que a escuta mútua tem
em artigos de revistas qualificadas e teses de
lugar, e a criação do respeito às diversidades e
às diferenças nas ideias são meios para a cria- doutorado, com relato e análise mais completos,
ção de ambiência na qual o aprender pode como também pesquisas em larga escala (ou
fluir com gosto e ter significado. mesmo uma única pesquisa com vários casos)
sobre práticas docentes, que permitam inferir
Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

com maior alcance quais ações se mostram


Enfim, visa-se a construir a autonomia dos mais constantes e quais são eventualmente
aprendentes no situar-se em um contexto com mais relevantes.
seus desafios, saber fazer escolhas, tomar decisões,
ter responsabilidade e solidariedade.

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Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

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O que evidenciam as pesquisas em educação

IV. Conclusões e recomendações

O objetivo deste trabalho foi investigar, nas mesmo uma única pesquisa com vários casos)
pesquisas de campo realizadas e publicadas no sobre práticas docentes, que permitam inferir
Brasil sobre práticas docentes na educação básica, com maior alcance quais ações se mostram
as características das práticas pedagógicas que mais constantes e quais são eventualmente
se mostram relevantes para as aprendizagens mais relevantes.
de crianças, adolescentes e jovens. Buscou-se
caracterizar as práticas reveladoras de ações A maioria dos trabalhos analisados investigam
pedagógicas que propiciam a criação de práticas consideradas exitosas, eficazes ou
ambiências que favorecem aprendizagens – reveladoras, por meio do acompanhamento e
cognitivas e relacionais – na educação básica e observação de docentes. Em outras palavras, os
identificar suas características e as concepções estudos que investigam práticas pedagógicas
que as fundamentam. buscam, em geral, explicitar “boas práticas”,
trazendo também contraexemplos de ações
Dado tudo o que foi exposto, é possível notar pedagógicas pouco efetivas.
que são poucas as pesquisas, no Brasil, que
apresentam alguma conceituação de “prática No conjunto das pesquisas, as práticas relativas
pedagógica”, bem como relatos detalhados e à atuação do professor diretamente com os seus
comentados de práticas docentes encontradas alunos foram as mais estudadas, especialmente
nas escolas. Tanto a conceituação quanto o relato aquelas que dizem respeito à gestão dos
de práticas, em vários estudos, aparecem de aprendizados e da classe, porém com maior ênfase
forma implícita ou subjacente. na primeira. É preciso observar que o corpus de
dados analisado reuniu pesquisas desenvolvidas
É preciso reiterar que a maioria dos estudos se no ensino fundamental I com crianças, no ensino
utiliza da abordagem qualitativa de pesquisa, e fundamental II com adolescentes e no ensino
muitos são estudos de caso. Assim, as práticas médio com jovens. Mesmo considerando que os
investigadas circunscrevem-se a contextos que segmentos de ensino possuem especificidades,
não podem necessariamente ser generalizados, optou-se por apreender as práticas pedagógicas
mas podem se constituir em inspiração para retratadas nas pesquisas, independente da
outros docentes. Este estudo mostra, portanto, a faixa etária/segmento em que o estudo foi
quase ausência no país de pesquisas publicadas desenvolvido, por entender-se que há princípios
em artigos de revistas qualificadas e teses de e práticas pedagógicas universais. Essa escolha
doutorado, com relato e análise mais completos, pode significar uma limitação deste estudo e,
como também pesquisas em larga escala (ou também, sinalizar para a necessidade de novas

143
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

pesquisas que considerem as especificidades que inclui momentos de observação do processo


das práticas pedagógicas não só por segmento e dos caminhos que os estudantes seguem.
de ensino, mas também por modalidades e áreas Mesmo que com menor frequência, as pesquisas
curriculares da educação básica. também discutem a importância do estímulo ao
pensamento criativo e a atenção aos ritmos de
No processo de sistematização e análise desses aprendizagem dos alunos e às suas necessidades.
dados, em que foi dada especial atenção aos relatos
dos pesquisadores e dos próprios professores Mesmo que em menor número, quando compa-
que participaram das pesquisas sobre as práticas rado com a gestão dos aprendizados, as pesquisas
docentes, fica evidenciado que a análise das analisadas também trazem relatos que retratam
práticas não se restringe às estratégias utilizadas o cuidado de alguns professores em prever a re-
pelos docentes em determinadas situações, alização de atividades individuais e em grupo, e
mas, sobretudo, busca-se compreender o que de promover espaços de debate e comunicação,
dá sentido a elas, o que direciona e fundamenta buscando favorecer uma interação substancial
determinadas escolhas. Um aspecto comum é a entre todos os partícipes do processo de ensino
importância de o professor ter um delineamento e aprendizagem. Há um destaque nas pesquisas à
claro das ações a serem desenvolvidas, o que promoção de um clima de aula pautado em rela-
exige contar com uma proposta de intervenção ções de confiança e respeito.
elaborada com passos ou etapas bem delineados
que articulem diagnóstico, planejamento e Um aspecto que merece atenção é o fato de que
intervenção, e, ao mesmo tempo, com uma poucos artigos e teses abordam a importância da
aplicação plástica, possibilitando adequações no diversidade de atividades e de recursos didáticos
percurso realizado. que devem ser contemplados nas propostas
de intervenção. Há um consenso implícito nas
Na maioria das pesquisas, os autores analisam e pesquisas de que é desejável diversificar as
problematizam os desafios que se colocam ao formas de trabalhar um conteúdo, uma vez que
docente para combinar e ordenar sequências a aprendizagem não é consolidada em um único
didáticas ou etapas que possam construir pontes momento, sendo necessário propor estratégias
entre as compreensões dos professores e as que que possibilitem aos alunos novas reflexões sobre
eles desejam que os alunos desenvolvam. Faz a mesma temática. No entanto, poucos exploram
parte desse desafio a qualidade do entendimento de forma mais detida a elaboração de atividades
que o professor tem sobre os conteúdos que variadas e diferenciadas para um mesmo grupo
são objeto de ensino e o cuidado em adequar de alunos tendo em vista um ensino equitativo.
os aspectos básicos de organização e gestão
dos aprendizados em relação às necessidades Talvez isso se deva ao fato de as pesquisas que
formativas dos alunos. Daí a ênfase dada pelos compuseram o estudo terem analisado práticas
estudos às práticas relativas à construção de pedagógicas desenvolvidas dentro de um modelo
sentidos e motivação, problematização, elaboração de ensino padronizado com base na lógica dos
e consolidação de conceitos, à valorização dos conteúdos, com tempos e espaços pouco flexíveis.
conhecimentos prévios/contribuições dos alunos Assim, em geral, as práticas destacadas são de um
e à avaliação e consolidação da aprendizagem, o ou alguns docentes no contexto da sala de aula,

144
O que evidenciam as pesquisas em educação

sem que se discutam transformações significativas primeiro lugar, sugestões específicas sobre
da escola como um todo e/ou do próprio sistema as práticas docentes que emergiram desta
de ensino. Em outras palavras, foram poucos os pesquisa e se mostraram efetivas, podendo
artigos e teses que se debruçaram sobre modelos servir como referenciais inspiradores para as
disruptivos de currículo e de organização dos práticas pedagógicas do professor da educação
tempos e espaços. básica. Em seguida, serão apontadas aquelas
recomendações de âmbito mais macro, das
Por fim, as práticas evidenciadas pelas pes- formações para a docência na educação básica,
quisas analisadas confirmam que os proces- algumas das quais já foram inclusive indicadas
sos formativos, como bem ressalta Shulman por vários outros estudos.
(1987), não devem treinar professores para que
se tornem seguidores de um manual, mas sim I – Recomendações na esfera micro
promover uma formação que os prepare para
refletir profundamente sobre seu ensino, o que A) Conceber a prática do planejamento como
acena para que a formação docente opere com um tempo e espaço de reflexão e socialização
concepções e premissas que guiem as ações das experiências em que é desejável:
do futuro docente que precisa aprender a usar
sua base de conhecimento para as suas esco- • planejar e avaliar as práticas já realizadas
lhas e ações didáticas. Assim, é no processo com os pares, contando com o apoio da
de desenvolvimento profissional, pela prática equipe da escola;
refletida, que o professor adquire consciência
das suas crenças, teorias e saberes, e, ao mes- • pensar mais sistematicamente sobre a rea-
mo tempo, ressignifica conceitos, proposições lidade, a proposta de trabalho e as práticas,
e princípios sobre as diferentes fontes do co- tendo em vista organizar as atividades pe-
nhecimento que estão na base da profissão dagógicas de modo adequado ao contexto
docente. A reflexão sobre a prática adquire dos alunos e, sobretudo, para não desper-
substância quando amparada em referentes diçar oportunidades de aprendizagem; e
teóricos e éticos, que fazem parte do repertó-
rio intelectual e cultural do professor. São es- • planejar de modo suficientemente elabo-
ses referentes que permitem saltar do senso rado, porém com uma aplicação plástica e
comum para compreensões mais elaboradas livre de rigidez, ou seja, adaptar o planeja-
e fundamentadas, que dão sentido e estofo às mento às diferentes situações da aula, o que
aprendizagens profissionais pela experiência. inclui considerar as contribuições dos alu-
nos, introduzir modificações e adaptações.
Há achados derivados das análises realizadas
nesta pesquisa que podem ser considerados B) Planejar e conduzir a gestão dos aprendi-
por parte das políticas, dos gestores, instituições zados mobilizando práticas que promovam
formadoras e seus docentes, no que se refere a compreensão aprofundada dos conteú-
ao seu papel em relação à formação inicial e dos pelos alunos. Esse processo é favorecido
continuada em geral e às práticas pedagógicas quando o professor:
em particular. Assim, serão aqui indicadas, em

145
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

• promove a construção de sentidos e a mo- • transmite aos estudantes a avaliação dos


tivação para o trabalho de estudar, desafian- resultados com relação às suas capacidades
do, estimulando, provocando e sensibilizan- e ao esforço realizado, bem como promove
do para a relação que os alunos precisarão práticas de autoavaliação para que o aluno
estabelecer com o objeto de aprendizagem; tenha a oportunidade de regular a própria
aprendizagem, o que favorecerá a aquisição
• considera que os estudantes trazem consi- de autonomia de forma progressiva.
go conhecimentos prévios que interferem
na compreensão dos novos aprendizados, C) Planejar e conduzir a gestão da classe ofe-
conduzindo-os a realizar conexões entre os recendo oportunidades comunicativas e de
conhecimentos que já possuem e o conte- organização das situações em sala de aula que
údo proposto; podem promover as interações pedagógicas.
Esse processo é favorecido quando o professor:
• valoriza e promove o pensamento criativo,
ativando a curiosidade e a imaginação por • cria um clima democrático, compreenden-
meio do uso de metodologias de ensino e do as normas de convivência como condi-
materiais pedagógicos diversificados que ção necessária ao convívio social e promo-
estimulem a expressão de novas ideias vendo um clima de aula pautado em rela-
ou a manifestação de pontos de vista ções de confiança, respeito, solidariedade,
divergentes sobre o mesmo problema ou aceitação, amizade, confiança etc.;
tema em estudo;
• organiza o espaço da classe e das intera-
• cuida do processo de elaboração e conso- ções por meio de agrupamentos diversos,
lidação de conceitos pelos alunos, estimu- proporcionando aos alunos o desenvolvi-
lando o pensamento reflexivo e dedutivo mento de habilidades para atuar em equi-
com vistas à aprendizagem de conceitos e pe, como, por exemplo, colaboração, con-
à aquisição da linguagem científica; versação, diálogo, autonomia, corresponsa-
bilidade etc.;
• exercita a escuta dos estudantes como uma
possibilidade de reconhecimento das dife- • constrói uma rede comunicativa em sala de
renças individuais em termos dos ritmos de aula, compartilhando não só uma lingua-
aprendizagem, das necessidades de desenvol- gem comum e clara, mas, sobretudo, esta-
vimento cognitivo e social, bem como das es- belecendo canais fluentes de comunicação
pecificidades culturais dos alunos, levando em e incentivando os alunos a se apropriarem
conta as suas pluralidades e singularidades; da linguagem científica nas redes comuni-
cativas que se estabelecem na sala de aula; e
• promove situações para que ocorra a con-
solidação das aprendizagens utilizando • promove o debate de opiniões e ideias, es-
o erro de forma construtiva e fornecendo cutando e respeitando os alunos e possibi-
feedbacks frequentes e específicos relacio- litando que eles participem das definições
nados aos objetivos de aprendizagem; e e da organização das atividades.

146
O que evidenciam as pesquisas em educação

II – Recomendações na esfera macro excluídos dos processos escolares e aos de-


safios para a sua inclusão (negros, indígenas,
1 – No âmbito da formação inicial, cuja res- com deficiência, imigrantes etc.).
ponsabilidade é das IES federais, estaduais,
municipais ou privadas. D) Incentivar ações que apostem no trabalho
colaborativo.
A) Levar em conta as necessidades e dificulda-
des que se vinculam ao nível de preparação E) Fortalecer a parceria entre instituições de
dos estudantes que escolhem os cursos de li- ensino superior (IES) e escolas da educação básica,
cenciatura e estimular as instituições de ensino por meio dos estágios e de outros componentes
superior (IES) que os recebem a desenvolver curriculares, no intuito de oferecer experiências
propostas pedagógicas que permitam a supe- reais, nas redes escolares, aos futuros docentes.
ração dessas barreiras, como ações sociais di- Todas as ações mencionadas se beneficiam da
versas, por exemplo. parceria IES-escola.

B) Identificar, analisar e refletir sobre os conhe- 2 – No âmbito da formação continuada,


cimentos, que estão na base da docência, de cuja responsabilidade é majoritariamente
modo a fortalecer a profissionalização e dotar das secretarias estaduais e municipais de
de significado e sentido o trabalho realizado educação.
em uma dada instituição escolar.
A) Coordenar a oferta de formação continuada
C) Fortalecer as didáticas e/ou metodologias com as etapas da vida profissional dos docentes,
específicas, com foco na relação entre teoria e mediante a oferta de programas:
prática, propiciando:
• dirigidos especificamente ao professor in-
• incremento de novas práticas pedagógicas; gressante na carreira, nos primeiros três anos
de sua vida profissional, que lhe permitam
• oportunidades para a realização de discus- receber subsídios e acompanhamento para
sões pedagógicas por área de conhecimento; aprimorar a sua prática pedagógica;

• uso das tecnologias digitais; • direcionados a estimular a autonomia pro-


gressiva e responsável do professor, de
• discussão de casos de ensino, que retratem modo que ele alcance a desenvoltura ne-
a realidade escolar; e cessária para participar ativamente do pla-
nejamento escolar e continuar aprimoran-
• fortalecimento das discussões sobre como o do suas práticas pedagógicas.
aluno aprende, diante da perspectiva plural
da escola para todos, o que implica o prepa- B) Desenvolver programas de longa duração que
ro para o trabalho com grupos heterogêneos fortaleçam, em conjunto, a equipe gestora (dire-
do ponto de vista social, cultural e econômi- tores e coordenadores pedagógicos) e o corpo
co, além de atenção a grupos historicamente docente das escolas de educação básica, para:

147
Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

• propiciar encontros que não se restrinjam D) Investir na sistematização de experiências


apenas às reuniões pedagógicas coletivas bem-sucedidas na educação básica, estimulan-
na escola, de modo a partilhar experiências do o registro, a reflexão sobre as práticas peda-
e promover o trabalho colaborativo; gógicas, a sua articulação com a teoria e o seu
compartilhamento.
• permitir encontros entre escolas, de modo
a partilhar experiências e promover o tra- E) Investir no registro e na socialização de ex-
balho colaborativo; periências bem-sucedidas de formação inicial e
continuada de professores, de modo que do-
• aumentar o capital cultural das equipes e centes possam nelas inspirar-se para desenvol-
docentes; ver ou aprimorar suas práticas pedagógicas.

• incentivar discussões por áreas de conhe- F) Fortalecer a parceria entre instituições de en-
cimento; sino superior (IES) e escolas da educação básica,
com intermediação das secretarias municipais
• desenvolver e experimentar novas práticas e estaduais de educação.
pedagógicas, submetendo-as ao debate
crítico no âmbito das redes de ensino; G) Avaliar os resultados dos programas
de formação continuada e, portanto, sua
• propiciar o uso das tecnologias digitais; qualidade, por meio da apropriação, por
parte dos professores, dos conteúdos e
• discutir casos de ensino que retratem a das habilidades neles oferecidos, sempre
realidade escolar; diversificando as modalidades de avaliação.
Isso envolve observar a atuação docente
• aprofundar a discussão sobre como o aluno em sala de aula, visitar as escolas de forma
aprende; sistemática para discutir a prática pedagógica
e os problemas enfrentados pelos docentes,
• apoiar a interpretação e o uso pedagógi- e coadunar esforços entre equipes centrais e
co dos resultados das avaliações, especial- equipes escolares etc., que são ricas fontes de
mente aquelas que não foram desenvolvi- informação sobre a qualidade das ações de
das pelos professores, como as avaliações formação continuada e sobre a implementação
em larga escala; e de mudanças nas práticas pedagógicas.

• discutir as possíveis relações entre referen- Ainda, é necessário destacar a importância de


ciais curriculares e práticas pedagógicas. estimular estudos e pesquisas, incentivando
a constituição de linhas de investigação que
C) Incentivar e propiciar formação aos profis- coloquem foco nas práticas pedagógicas como
sionais das secretarias de educação (técnicos, objeto de estudo e na escola pública como seu
supervisores e pedagogos) que atuam na for- contexto principal.
mação de professores para a educação básica,
levando em consideração os itens já elencados.

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O que evidenciam as pesquisas em educação

Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

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Práticas pedagógicas na educação básica do Brasil:

Foto: © UNESCO/Edson Fogaça

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O que evidenciam as pesquisas em educação

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Foto: UNESCO/Mila Petrillo

159
EDUCAÇÃO DE
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