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Casa da ISSN 0100-6541

Ano 16 - N.º 3
jul./ago./set. 2013

Agricultura
Plantas Medicinais e
Aromáticas
Plantas Medicinais e

Editorial
Aromáticas:

Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI


Opção de renda para o produtor e de vida
saudável para a população

Desde os primórdios da civilização existem relatos de utilização das plantas como alimento e para fins tera-
pêuticos. No Ocidente, principalmente no período pós-Segunda Gerra Mundial, a utilização das plantas medici-
nais deu lugar ao uso de medicamentos com compostos sintéticos, frutos dos avanços nas pequisas científicas
dos grandes laboratórios químicos. Isso aconteceu também no setor alimentício.
No entanto, nos últimos anos vem ocorrendo o resgate de um estilo de vida mais saudável e a busca pelo
Governador do Estado natural tem aumentado, propiciando a diversificação da oferta de produtos com ativos ou ingredientes naturais,
Geraldo Alckmin nos mais diversos segmentos: alimentício, farmacológico, cosmético, perfumaria, agropecuário, artesanato, en-
tre outros. Nesse contexto, a CATI como órgão público de extensão rural, o qual tem um compromisso de difusão
Secretária de Agricultura e Abastecimento de conhecimento e de políticas públicas que levem opções de renda aos produtores rurais paulistas, identificou
Mônika Bergamaschi o potencial pouco explorado da cadeia produtiva de plantas medicinais e aromáticas, bem como visualizou a
oportunidade de agregação de valor para os agricultores familiares e as comunidades tradicionais, principal-
Secretário-Adjunto mente aqueles que já atuam nos sistemas agroecológicos.
Alberto José Macedo
Apesar de o Brasil não ter uma base de dados consolidados sobre o cultivo, a extração e a comercialização
Chefe de Gabinete dessas plantas, é certo afirmar que São Paulo é o maior consumidor do País. Porém, apesar de sua rica biodiver-
Silvio Manginelli sidade, o Estado não é um grande produtor dessas espécies. Desde o final da década de 1930, a Secretaria de
Agricultura e Abastecimento incluiu no rol de seus trabalhos de pesquisa e extensão rural estudos sobre as plan-
Coordenador/Assistência Técnica Integral tas medicinais e aromáticas. Em 1968, a CATI publicou estudos sobre as tendências de exploração e comercializa-
José Carlos Rossetti ção de óleos essenciais, que demonstraram o potencial brasileiro para se tornar um grande produtor mundial, o
que ainda não se estabeleceu. Na década de 1990 deu início ao Projeto Farmácia Viva, que incentiva não apenas
Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento a produção comercial, mas a adoção das plantas para a elaboração de fitoterápicos que possam ser inclusos nas
Ypujucan Caramuru Pinto Redes Públicas de Saúde.
Para que os produtores tenham sucesso nessa cadeia e o extrativismo seja feito de forma sustentável, o funda-
Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes mental é a difusão de conhecimento e orientação técnica, tanto para a produção quanto para a comercialização.
Edson Luiz Coutinho É necessário que eles entendam o mercado e a sua responsabilidade de produzir com qualidade e garantia de
quantidade necessárias.
Diretor/Divisão de Extensão Rural
Escolástica Ramos de Freitas (substituta) Por isso, nesta edição selecionamos artigos que demonstram as novas tecnologias empregadas para o de-
senvolvimento sustentável dessa cadeia produtiva; abordamos a legislação e comercialização, que atualmente
são gargalos do setor, além de fatores preponderantes para o sucesso na atividade. As reportagens mostram
exemplos de produtores e empresas que encontraram nas plantas medicinais e aromáticas oportunidades de
diversificação de renda e emprego na área rural, bem como instrumento de sustentabilidade ambiental.
Você está convidado a aguçar os sentidos e visualizar a riqueza da nossa flora e as possibilidades de saúde e
bem-estar que ela pode proporcionar.

Boa Leitura! José Carlos Rossetti


Coordenador da CATI
Lilian Cerveira – Cecor/CATI
Expediente Sumário
Edição e Publicação - CECOR/CATI 4 Entrevista
7 Panorama e perspectivas da cadeia produtiva de plantas medicinais e
aromáticas
Departamento de Comunicação e Treinamento - DCT
Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto 9 Como iniciar o cultivo comercial de plantas medicinais e aromáticas
Centro de Comunicação Rural - Cecor
Diretora: Roberta Lage
11 Boas Práticas Agrícolas (BPAs) de plantas medicinais, aromáticas e
condimentares
Editora responsável: Jorn. Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP)
Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo 13 Domesticação e melhoramento genético de plantas nativas
Foto capa e contracapa: Lilian Cerveira
Reportagens: Jornalistas Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP), 15 Plantas medicinais e aromáticas como defensivos naturais
Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ), Roberta Lage (MTB 43.382-
SP). 17 Cultivo caseiro de plantas aromáticas e medicinais
Colaboração: Cristiane Hungria – Jornalista – CATI Regional
Pindamonhangaba
19 Uso terapêutico e culinário das plantas aromáticas
21 Aspectos importantes na produção de plantas medicinais e aromáticas
22 Casa da Agricultura de Pindamonhangaba
Supervisão técnica dos textos: Engenheira Agrônoma
Maria Cláudia S. G. Blanco
Designer gráfica: Lilian Cerveira
Distribuição: Centro de Comunicação Rural – Cecor 25 Produção e comercialização de plantas medicinais
Impressão e acabamento: Windgraf Gráfica e Editora Ltda.
28 Morada das Nascentes: o eldorado da família Leite de Oliveira
30 Plantas medicinais e aromáticas: experiências no Vale do Paraíba
Os artigos técnicos são de inteira responsabilidade dos autores.
É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. 33 Centroflora: parceria com produtores e compromisso com a qualidade na
A reprodução total depende de autorização expressa da CATI. produção de extratos vegetais
35 Fitoterapia: plantas medicinais como aliadas da saúde
Assista aos videos das reportagens na versão 38 Cooplantas: mulheres comandam cooperativa dedicada ao cultivo de
virtual da Revista Casa da Agricultura no site plantas medicinais e aliam sustentabilidade à garantia de uma vida mais
www.cati.sp.gov.br saudável no assentamento Pirituba II
40 Plantas medicinais e comunidades tradicionais: patrimônio cultural e
genético passado de geração em geração
Não deixe de nos escrever, por carta ou e-mail 42 Plantas medicinais e aromáticas: um pouco de história e a atuação da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento

Fotos: Lilian Cerveira – Cecor/CATI


Nosso endereço: CATI – Centro de Comunicação Rural
Av. Brasil, 2.340 – CEP 13070-178 – C.P. 960 – CEP 13012-970
44
Lilian Cerveira – Cecor/CATI

Campinas, SP – Tel.: (19) 3743-3870 Aconteceu


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cimento ancestral a partir de diferentes tradições: a sociedade quer consumir seus produtos tradicionais e

Plantas medicinais
Medicina Tradicional Chinesa e a Medicina Ayurveda também quer acesso a serviços adequados de saúde,
Entrevista
possuem registros do uso de plantas em períodos mas existem poucas informações sobre esta deman-
muito remotos. Outros registros do uso de plantas da. O desafio do Brasil é aliar esta realidade ao poten-

e aromáticas como
ocorreram juntamente com a racionalização sobre os cial latente e inexplorado das plantas medicinais e
fenômenos naturais, o nascimento da Medicina Oci- construir a competência necessária para transformar
dental, baseada na tradição hipocrática. Existem ain- em benefícios para a sociedade.
da conhecimentos que nunca foram escritos, como é

novas opções para


o caso dos indígenas americanos, que mantiveram a RCA - Estudos afirmam que o Brasil é considerado
tradição oral, absorvida posteriormente pelos colo- um dos países com maior biodiversidade, e conta
nizadores europeus. O uso de plantas medicinais no com cerca de 50 mil espécies de plantas distribuí-

a saude e para a
Brasil é uma mistura de todas estas tradições, com das nos grandes biomas. Deste total, a Amazônia
predomínio de uma ou outra, dependendo da região participa com aproximadamente 30 mil espécies,
e da influência dos componentes africano, europeu a Mata Atlântica com 16 mil, o Cerrado com sete
Foto: arquivo pessoal

agricultura
ou indígena. Não podemos esquecer também que mil e as demais espécies estão distribuídas na Ca-
o país foi descoberto em função da procura de uma atinga e na Floresta Subtropical. Pesquisadores já
rota comercial para as especiarias (plantas medicinais conseguiram estudar cerca de quantas espécies?
e condimentares) e que muitas espécies nativas da E quais os maiores desafios para se preservar este
América revolucionaram a terapêutica ocidental, nes- patrimônio genético brasileiro?
Roberta Lage – Jornalista – Cecor/CATI
Euclides Lara Cardozo Junior se sentido nossa identidade nacional está fortemente
ligada ao uso terapêutico das plantas. EC - Não tenho estatísticas precisas quanto ao núme-
Entre em contato com o entrevistado pelo e-mail euclideslc@unipar.br - No passado, nosso país foi palco de importantes ex- ro de espécies pesquisadas, independente dos núme-
pedições científicas para estudo de plantas medicinais ros nós temos o maior patrimônio genético vegetal
Os primeiros contatos com as plantas medicinais e aromáticas se deram pela tradição familiar. A mãe e a avó eram e, no inicio do século XX, tínhamos um conhecimento do planeta. Pelo número de espécies presentes em
“benzedeiras” conhecidas na comunidade por benzer todo recém-nascido com “quebranto”. Mas, foi ao cursar Farmácia tradicional sendo usado como base para a construção nossos biomas, e pelos desafios intrínsecos à prote-
que o interesse pelo assunto aumentou e, para entender mais sobre plantas, decidiu investir em novos conhecimentos de uma terapêutica baseada em plantas. A primeira ção desta diversidade, as estratégias convencionais
e estudar Agronomia. Desde então, não parou mais. edição da Farmacopeia Brasileira é deste período e de preservação provavelmente não trarão resultados
Euclides Lara Cardozo Junior, o entrevistado desta edição da Revista Casa da Agricultura, é farmacêutico pela ainda é o livro oficial que cita o maior número de es- satisfatórios. Estratégias convencionais (criação de re-
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR), engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras (Ufla/ pécies medicinais nativas. No passado recente (últi- servas, coleções de germoplasma etc.) precisam ser
MG), mestre em Química e Farmacologia de Produtos Naturais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB/ PB), doutor mos 50 anos) as plantas medicinais foram esquecidas complementadas com outras soluções inovadoras,
em Agronomia - Produção Vegetal - pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/PR) e pós-doutorando pelo Institut nos serviços oficiais de saúde, mas em minha opinião entre as quais a inserção de espécies nativas em ca-
National de la Recherche Agronomique (Inra/França). sempre tiveram seu lugar de destaque na sociedade, deias produtivas sustentáveis. Espécies nativas que
Com experiências internacionais na África e em países como Itália, Paraguai e outros, Euclides atua na área principalmente nas camadas que não têm acesso aos possuam interesse na exploração econômica (medi-
acadêmica onde é professor titular do curso de Farmácia da Universidade Paranaense (Unipar/Toledo) e coordenador serviços formais de saúde. Não possuo informações cinais, aromáticas, ornamentais) podem sofrer preda-
do Mestrado em Farmacologia. Também é presidente da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) científicas para comprovar, mas em muitos lugares a ção desenfreada se não houver incentivo à uma pro-
Sustentec - Produtores Associados para Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis, em que coordena projetos de “comadre, o raizeiro e a benzedeira” ainda são a pri- dução racional.
desenvolvimento da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos. meira opção de escolha para resolver um problema - Algumas espécies medicinais nativas ainda são obje-
Euclides Cardozo aborda, nesta entrevista, desde as origens das plantas medicinais e aromáticas até as políticas corriqueiro de saúde, depois vem a farmácia e só en- to de extrativismo, neste aspecto o incentivo ao culti-
públicas voltadas a este segmento. tão ocorre a procura por um posto de saúde. vo racional é uma das soluções possíveis e a agricul-
- No limiar da mudança de milênio, tem-se o início de tura tem um papel importante na preservação deste
um movimento pelo natural, reforçado pelos proble- patrimônio.
RCA - O emprego de plantas medicinais para o tra- perde nas origens da espécie humana, interessante mas ambientais e a percepção por parte da socieda-
tamento de doenças ou na culinária é uma prática verificar que as pesquisas recentes sobre a evolução de de que é preciso mudar os rumos do desenvolvi- RCA - As plantas medicinais sempre foram objetos
bastante antiga. Nossos antepassados já busca- do Homo sapiens, desde as savanas da África até seu mento e do consumo. Nos dias atuais, temos no País de estudo, no entanto, do ponto de vista científico,
vam as espécies vegetais mais apropriadas para domínio nos cinco continentes, vem sempre acompa- duas diferentes demandas sociais por medicamentos ainda é um campo pouco estudado e difundido no
sua alimentação ou para cura de seus males. Até nhada do uso de plantas como recurso terapêutico derivados de plantas. Uma demanda de parte da so- País. A que se deve isso?
hoje, as comunidades tradicionais, como os indí- e ritualístico. Nossa espécie tornou-se sapiens, con- ciedade com acesso a bens de consumo, que quer
genas, têm conhecimento sobre as propriedades sumindo plantas para aliviar os males do corpo e da medicamentos e produtos para a saúde. Esta parte EC - Este é um tema bastante complexo, de uma ma-
terapêuticas das plantas e fazem uso constante alma. Nesse sentido, é possível dizer que no processo da sociedade tem informações, quer produtos de neira geral, o país aumentou a produtividade cien-
das mesmas. No Brasil, quando e por que as plan- evolutivo, assim como as espécies alimentícias, espé- fácil consumo (formulações) e existem estatísticas e tífica nas últimas décadas e a pesquisa com plantas
tas medicinais e aromáticas passaram a ter mais cies medicinais foram selecionadas em diferentes pe- estudos que caracterizam este movimento. Mas exis- medicinais na área de química e farmacologia acom-
destaque na sociedade? ríodos e o conhecimento foi transmitido de geração a te uma outra demanda de parte da sociedade que panhou este aumento. Dentro dos limites impostos a
geração, primeiro de forma oral e depois em registros historicamente não teve acesso ou o teve limitado comunidade científica que trabalha com plantas me-
EC - O uso de plantas como recurso terapêutico se escritos. Nos dias de hoje temos o eco deste conhe- a serviços básicos e bens de consumo. Esta parte da dicinais respondeu ao esforço por conhecer melhor a
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das para a validação de plantas medicinais, sem per- RCA - É necessário o acompanhamento médico
der de vista os critérios de segurança e eficácia, e que mesmo as plantas sendo naturais?
poderiam otimizar o processo. A legislação brasileira
prevê diferentes metodologias de validação, mas infe- EC - Eu diria que sempre é necessário acompanha-
lizmente a aplicabilidade destas metodologias ainda mento profissional, e que plantas não são isentas de
Lilian Cerveira - Cecor/CATI

é pequena. efeitos indesejáveis, o fato de ser natural não isenta de


efeitos colaterais ou tóxicos. Existem diferentes situa-
RCA - Falta investimento na pesquisa de fitoterá- ções para se usar uma planta medicinal ou um produ-
picos? to fitoterápico e todo produto usado com finalidade
EC - Pelo número de espécies disponíveis, pela neces- de tratamento ou alívio de sintomas deve ter orien-
sidade urgente de desenvolvimento de tecnologias, tação profissional. Porém, existem níveis de comple-
pela dependência que o Brasil tem da pesquisa e de- xidade na utilização e na complexidade do problema
senvolvimento de medicamentos em outros países e a ser tratado. Primeiramente a população deve ter
pelas necessidade de saúde pública, acredito que fal- acesso a orientação profissional para utilizar corre-
tam investimentos sólidos em todos os elos da cadeia tamente plantas para situações corriqueiras, incluin-
de produção e de serviços relacionados a plantas me- do informações sobre os benefícios e sobre os riscos
dicinais e fitoterápicos. do consumo irracional. A população deve ter acesso
a produtos fitoterápicos em diferentes formas com
RCA - Quais as descobertas mais significativas com orientação profissional, e outros profissionais como
eficácia comprovada? nutricionistas, farmacêuticos e enfermeiras, devem
ser preparados para prescrever dentro do seu âmbito
de responsabilidade profissional.
EC - Das plantas nativas é importante citar os estudos
da Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia), que auxilia
RCA - Qual a definição de fitoterapia? Qual a dife-
no tratamento de gastrite e úlcera duodenal e sinto-
rença para comparada à homeopatia?
mas de dispepsias; o Guaco (Mikania glomerata) que
flora medicinal nativa. O que acontece no Brasil é que EC - Todo produto usado para a saúde deve ser valida- apresenta ação expectorante e broncodilatadora;
não existe uma associação entre pesquisa e inovação, do dentro dos conceitos científicos disponíveis, cha- EC - Fitoterapia e homeopatia são coisas distintas. A
a Aroeira (Schinus terebenthifolius), que apresenta
ou seja, pesquisas são realizadas sem um objetivo cla- mamos isso de conhecer a eficácia e a segurança de fitoterapia é o tratamento com produtos derivados
ação cicatrizante, anti-inflamatória e antisséptica tó-
ro de desenvolver um novo produto. Muitos trabalhos um produto. Esta é uma característica intrínseca aos de plantas medicinais e que mantém o conjunto de
pica para uso ginecológico. Também são importantes
são desenvolvidos nos laboratórios das Universidades medicamentos modernos e separa a crendice da ciên- compostos químicos (fitocomplexo) oriundos destas
os estudos da Erva Baleeira (Cordia verbenacea), reali-
e Institutos de Pesquisas, mas poucos produtos são cia como você coloca na questão. Estudos científicos plantas. Porém, o princípio da cura dos fitoterápicos
zados no desenvolvimento de um medicamento anti-
desenvolvidos a partir destas informações. Neste sen- normalmente utilizam o conhecimento tradicional é da cura pelo contrário (alos), nesse sentido, temos
-inflamatório.
tido as pesquisas acabam restritas ao meio acadêmico como ponto de partida, e a partir desta informação plantas antiúlcera, antirreumáticas. Da forma como
e fica para a sociedade a impressão de ser um tema buscam evidências sobre a segurança e a eficácia de é praticada no Brasil, a fitoterapia é um tratamento
pouco estudado ou difundido. uma planta em animais e posteriormente em huma- RCA - O uso popular de medicamentos naturais alopático. O que diferencia um fitoterápico dos me-
No século passado, o país veio gradativamente dimi- nos. Então a validação de uma planta ou produto de- está avançando? Em quantos por cento, compara- dicamentos alopáticos convencionais é a presença do
nuindo o número de plantas oficiais nativas que po- rivado segue os mesmos procedimentos e a mesma do há 10 anos? Qual a explicação para este com- fitocomplexo. A homeopatia utiliza outro princípio de
dem ser utilizadas dentro do sistema formal de saúde. lógica de medicamentos convencionais. portamento? cura, a cura pelo semelhante (homois), que é comple-
Foram opções equivocadas, que resultaram na atual A questão importante é que a validação de plantas mentar ao primeiro. Além de outras características es-
realidade em que o País é dependente de tecnolo- medicinais e produtos fitoterápicos possui caracterís- EC - O mercado de medicamentos fitoterápicos e de pecíficas, a homeopatia também pode utilizar plantas
gia externa na área de fármacos e medicamentos. As ticas específicas e existem diferentes estratégias para produtos para a saúde cresce mais que o mercado de medicinais para preparar seus medicamentos.
plantas medicinais nunca foram consideradas seria- a validação, que podem incluir em maior ou menor medicamentos convencionais no Brasil e no Mundo.
mente como uma fonte de medicamentos e isso tam- grau a experiência tradicional. Existem muitas con- As estatísticas atribuem um crescimento próximo de RCA - Alguns profissionais da área médica criti-
bém aprofunda a referida dependência. trovérsias sobre esta questão, num extremo há os 20% para o setor de fitoterápicos no Brasil. No entan- cam a falta de sólidas evidências científicas que
que defendem a validação diretamente da experiên- to, o consumo de produtos “populares” e “tradicionais”, podem justificar o uso de fitoterápicos, por exem-
RCA - Provar o benefício de uma planta exige mui- cia tradicional e no outro extremo os que defendem ou seja, de produtos do mercado informal é difícil de plo. Como o uso dessas ervas é visto pelos profis-
ta pesquisa. É um longo processo que separa a processos de validação convencionais, que incluem ser mensurado. O principal fator de crescimento do sionais da medicina e da farmacêutica? Ainda há
crendice da ciência. Como se chega a esse tipo de estudos de caracterização química, testes pré-clínicos mercado formal é a onda do produto natural. Também preconceito para com os medicamentos naturais?
comprovação? Como são realizados os principais em diferentes modelos animais, testes clínicos em hu- há um esgotamento do modelo de desenvolvimento A indústria farmacêutica, com suas patentes e po-
estudos dessas plantas? Além das propriedades manos em diferentes fases. Ao utilizar apenas este ou de medicamentos, a cada ano o risco e os custos na deres comerciais, é uma barreira?
avaliadas, são relevantes testes em animais e pes- aquele modelo, corre-se o risco de perder de vista as pesquisa de novos produtos é cada vez maior. Recen-
soas? Fitoterápicos passam pelos mesmos testes necessidades reais do País, pois todos estes estudos temente, a política pública que possibilita a distribui- EC - Concordo que todo profissional deve exercer sua
científicos das drogas alopáticas? Qual a impor- exigem recursos financeiros, humanos, institucionais. ção de fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS) prática a partir de evidências científicas, e o uso dos
tância desses procedimentos? Existem estratégias diferentes que podem ser utiliza- tem influenciado o consumo de forma favorável. fitoterápicos não deve fugir a esta regra. O que ocorre
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na atualidade, é que o sistema de produção de evi- melhorou muito, mas as mudanças recentes não per-
dências científicas para se validar um medicamento mitiram ainda visualizar um impacto consistente na
está viciado. A produção de evidências para a valida- produção e na comercialização. O setor de fármacos
ção de medicamentos exige recurso para pesquisa e medicamentos é extremamente regulado, e as mu-
em todos os níveis, publicações científicas, eventos danças ocorrem a longo prazo, mas o contexto é ani-
científicos de divulgação, estruturas de distribuição mador.
de amostras, convencimento dos profissionais pres-
critores. Este sistema é majoritariamente financiado RCA - Avalie as políticas públicas voltadas a este
pelo setor privado, o que provocou no decorrer dos tema, desde a produção das plantas até o uso do
anos enormes distorções. Mesmo pesquisas com me- fitoterápico no SUS.
dicamentos alopáticos convencionais são questio-
nadas devido à influência econômica, e existe uma EC - A existência de políticas públicas para o setor é
corrente denominada “medicina baseada em evidên- uma experiência recente, desde 2006 foram edita-
cias” que busca minimizar esta influência. A questão das as duas principais políticas (Politica Nacional de
é como tornar o sistema de produção de evidências Plantas Medicinais e Fitoterápicas - PNPMF e Política
adequado a produtos com características específicas Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
como os fitoterápicos. - PNPIC), ambas são extremamente positivas para o
Existe preconceito para com produtos originados de País e possuem objetivos ambiciosos. As políticas se

Lilian Cerveira - Cecor/CATI


plantas, e assim como todo preconceito, este vem da transformaram em programas e recentemente con-
desinformação por parte dos profissionais. Acredito tam com recursos para a implementação de diretri-
que disponibilizar informações adequadas para os zes. Como envolvem diferentes setores da sociedade,
profissionais de saúde, estes poderão decidir melhor o debate e a implantação de ações práticas é um pro-
quando o uso de uma planta medicinal ou de um fito- cesso lento. O esforço do setor público foi grande nos
terápico é adequado. últimos anos e digno de louvor, porém, a impressão
Não acredito que a indústria e o sistema de patentes ainda é de que pouca coisa foi feita, é difícil trabalhar Brasil. Cuba também evoluiu muito no uso de plan- núcleos consolidados de produção, cooperativas e as-
seja uma barreira, a barreira é a submissão dos inte- estas questões, pois existem inúmeros gargalos. tas medicinais no sistema formal de saúde, devido a sociações organizadas de agricultores, que produzem
resses da saúde da população aos interesses comer- Em 2012, foi publicado o primeiro edital do Ministério boicote comercial. O exemplo da Alemanha também em escala e com continuidade.
ciais da grande indústria farmacêutica multinacional. da Saúde de apoio à implantação e consolidação de é frequentemente citado pelos especialistas do setor,
O Brasil precisa definir suas prioridades com sobe- cadeias produtivas de plantas medicinais, com a libe- este país possui as maiores indústrias de medicamen- RCA - A qualidade da matéria-prima é tida como
rania e colocar o interesse da saúde da população à ração de recursos. Três experiências do oeste do Para- to do mundo, esta entre as maiores economias do um dos principais problemas para a consolidação
frente de outros interesses. Precisa elaborar políticas ná, nas quais estamos envolvidos, foram contempla- planeta, e o consumo de produtos de origem natural da cadeia produtiva de plantas medicinais e aro-
e estratégias para melhor aproveitar as plantas como das com recursos e estamos conseguindo avançar na está na casa dos 40 a 50%. A maioria das plantas utili- máticas no Brasil. Até que ponto isso é real e qual
recurso terapêutico e desenvolver o setor de produ- implantação de Arranjos Produtivos Locais de plantas zadas na Alemanha foi validada a partir da experiên- seria a maior dificuldade para os produtores al-
ção nacional a partir dos esforços de suas instituições medicinais e fitoterápicos. Acredito neste modelo de cia registrada nos protocolos clínicos dos “médicos de cançarem essa qualidade exigida pelo mercado?
públicas e privadas. A partir dessa mudança de pa- desenvolvimento da cadeia produtiva de plantas me- família”. O país soube aliar tradição e conhecimento
radigmas, a indústria nacional passará a ser um alia- dicinais e fitoterápicos, que inclui a produção da ma- científico de forma a validar medicamentos fitoterápi- EC - Esta questão remete àquela campanha publici-
do ao desenvolvimento do setor de fitoterápicos. As téria-prima pela agricultura familiar, a transformação cos e beneficiar a saúde da população. tária do produto que “...vende mais por que é fresqui-
grandes indústrias multinacionais têm seu papel em e industrialização em iniciativas locais e/ou regionais, No Brasil, o consumo de produtos fitoterápicos esta nho ou é fresquinho porque vende mais...”. Em relação
outros segmentos. e o consumo dos medicamentos pelos usuários do na faixa de 11 a 16%, sendo o setor privado o prin- às plantas medicinais e fitoterápicos, nós temos um
sistema de saúde. Este modelo beneficia a agricultu- cipal caminho de consumo. O setor público (SUS) re- círculo negativo no Brasil, ao contrário da campanha
RCA - Qual a sua opinião sobre os aspectos legais ra familiar, as indústrias nacionais, as universidades e, centemente incluiu fitoterápicos na Relação Nacional publicitária, em que a cadeia produtiva não se con-
da utilização de plantas aromáticas e medicinais? acima de tudo, garante produtos com eficácia e segu- de Medicamentos Essenciais (Rename) e, a cada ano, solida porque um mercado não consolidado é cheio
A legislação é favorável à produção e à comercia- rança aos usuários do SUS. É um projeto ambicioso, aumenta a importância desta via de consumo. Consi- de incertezas, então o agricultor não investe em infra-
lização? com muitos desafios pela frente, do qual tenho muito derando que o SUS é o maior comprador de medica- estrutura e produz matéria-prima de baixa qualidade,
orgulho de fazer parte. mentos do mundo, é possível imaginar os benefícios a qualidade compromete os resultados dos produ-
EC - A primeira legislação sobre fitoterápicos surgiu que podem ocorrer se o nível de utilização de fitoterá- tos, que passam a comprometer a consolidação do
no Brasil nos anos de 1980, antes disso, não existiam RCA - Quais os países e estados que se destacam picos no SUS chegar ao patamar do consumo privado. mercado. Este círculo negativo é real, mas de forma
regras específicas e os anos de 1990 foram comple- na produção e uso de plantas medicinais e aromá- E se chegar ao patamar de consumo da Alemanha, te- nenhuma a culpa recai sobre os agricultores, mesmo
tamente negativos para o setor em termos de regu- ticas? Como o Brasil e o Estado de São Paulo estão remos uma verdadeira revolução com benefícios para porque é difícil sobreviver num mercado onde não
lamentação. No início deste século, acompanhamos inseridos neste contexto? todos os setores da sociedade. existe padronização, preços estáveis e regularidade
uma mudança gradativa do entendimento sobre os O Estado de São Paulo é, de longe, o maior mercado na demanda.
aspectos legais dos fitoterápicos e uma adequação EC - A China tem uma experiência fabulosa de uso consumidor por ser a locomotiva econômica do País. Como nunca existiu uma cadeia produtiva de plantas
da legislação às especificidades desses produtos e de plantas medicinais a partir de sua Medicina Tradi- Quanto à produção agrícola de plantas medicinais e medicinais e fitoterápicos, e a maior parte da maté-
à realidade nacional. Na minha opinião, a legislação cional, porém, tem um contexto cultural diferente do aromáticas, o Paraná se destaca por possuir diferentes ria-prima nativa vem do extrativismo, não existe um
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Panorama e perspectivas da cadeia


ambiente seguro que proporcione investimentos em nativas a partir dos estoques naturais. Então, temos
infraestrutura para a produção agrícola. Existem ex- que construir uma nova realidade, uma das formas é a

produtiva de plantas medicinais e aromáticas


periências positivas mas pontuais, que não refletem organização de Arranjos Produtivos Locais (APLs), que
a grandeza das possibilidades existentes na área. O podem criar oportunidades de produção em diferen-
setor depende somente do mercado privado e é res- tes regiões do Brasil. Um programa bem estruturado
trito a um pequeno número de produtos, passível de produção de medicamentos fitoterápicos pode
de inconstâncias de demanda, que fazem os preços criar a experiência necessária para o País se transfor- Maria Cláudia Silva Garcia Blanco – Engenheira Agrônoma – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI)
flutuarem. Neste contexto, duas ações são importan- mar em potência internacional nessa área. claudia@cati.sp.gov.br
Sandra Maria Pereira da Silva – Pesquisadora Científica – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta)
tes para proporcionar a consolidação do mercado de
Polo Regional Vale do Paraíba – sandrasilva@apta.sp.gov.br
plantas medicinais e fitoterápicos, com a estabilidade RCA - Quais os desafios do setor?

A
necessária para consolidar a cadeia produtiva e possi-
bilitar a inserção de agricultores. A primeira, é o poder EC - Existe muita desinformação na sociedade, e es- complexidade da cadeia ser obtidas por meio de cultivo ou roxo, fáfia, espinheira santa, erva-de-
produtiva de plantas me- importação. Hungria, Polônia, Índia, -bicho, pedra-ume-caá, chapéu-de-
público utilizar seu poder de compra para aquisição pecificamente no setor da saúde, devido a décadas
dicinais e aromáticas é China, Espanha, Argentina e Alemanha -couro e outras. Entretanto, não há
de plantas aromáticas e medicinais nos programas de disseminação de ideias equivocadas sobre plantas o primeiro ponto a ser observado são exemplos de países que cultivam registro de áreas de cultivo dessas es-
de segurança alimentar (espécies aromáticas e condi- medicinais e medicamentos fitoterápicos. O maior de- quando se questiona o porquê de ela em grande escala, sendo este último pécies, com exceção da espinheira san-
mentares) e de saúde pública (espécies medicinais), safio é transmitir à sociedade que este é um setor que ainda não se encontrar estabelecida o principal atacadista mundial. Porém, ta e do chapéu-de-couro, podendo-se
diretamente da agricultura familiar. Esta ação abriria pode trazer inúmeros benefícios sociais. Além de au- como ocorre com outras culturas, tais no caso das plantas nativas, nos depa- concluir que as demais provêm do ex-
um mercado regular para inúmeros produtores terem mentar as opções terapêuticas no sistema de saúde, como café, cana-de-açúcar e tomate. ramos com o extrativismo, cuja inten- trativismo, ou seja, são coletadas, acar-
condições de estruturar sua produção, investir em in- pode gerar empregos, gerar tecnologia, e viabilizar Primeiramente, não se trata de uma sidade de coleta sem a devida preo- retando uma preocupação ambiental
fraestrutura e capacitação e, enfim, produzir matéria- a sobrevivência de espécies nativas. Não é somente única espécie vegetal, mas sim de mui- cupação com a reposição das plantas com a conservação dos diferentes bio-
-prima de qualidade. Nós fizemos isso no oeste do uma alternativa terapêutica, mas sim uma opção de tas espécies entre nativas e exóticas, pode levar à extinção de uma espécie mas brasileiros (Amazônia, Caatinga,
Parana com excelentes resultados, pois quando há desenvolvimento econômico. O setor precisa vencer herbáceas e arbóreas, coletadas e cul- em determinada região, como ocor- Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e
estabilidade de demanda e preço, o agricultor investe décadas de atraso em pesquisa e desenvolvimento, tivadas. Outro ponto, são os diversos reu com a catuaba em localidades de Pampa). É importante ressaltar que
e planeja melhor sua produção e os resultados finan- precisa consolidar a cadeia produtiva de espécies na- tipos de mercado que essas plantas Santa Catarina. As poucas espécies nesses locais estão as mais relevantes
abastecem: alimentos e bebidas, pro- nativas cultivadas estão associadas ao plantas medicinais e/ou aromáticas
ceiros são compensadores. Uma cadeia produtiva de tivas e desenvolver medicamentos de alta tecnologia
dutos promotores da saúde, fitoterá- uso industrial, como o jaborandi no em fase avançada de estudos e algu-
plantas medicinais forte só existirá se a base produtiva a partir do conhecimento tradicional. Eu acredito que picos, higiene e limpeza, cosmética e Piauí; o guaraná, o chapéu-de-couro mas até com mercado constituído.
for consolidada. A segunda ação, é o SUS aprofundar o País pode ser uma potência econômica no setor ex- perfumaria, produtos agropecuários. (este em escala menor), a espinheira
a aquisição de medicamentos fitoterápicos ao menos portando produtos, conhecimento e tecnologia, para Apesar de existir legislação que
Também contam as diferentes formas santa, a fáfia e o guaco no Paraná; e a
para patamares próximos aos do consumo privado no isso, é preciso sensibilizar a sociedade para o tema. Se regulamenta as atividades de explo-
pelas quais são comercializadas: planta erva baleeira, em São Paulo.
Brasil. Para isso, precisa adequar a legislação, investir existe um País que pode ser uma potência em plantas ração e comércio em alguns biomas
fresca, desidratada, extratos vegetais,
Em levantamento do Instituto brasileiros, os planos de manejo re-
em formação dos profissionais de saúde, investir em medicinais e fitoterápicos, este País é o Brasil. óleos essenciais etc.
Brasileiro do Meio Ambiente e dos queridos são muitas vezes empíricos,
desenvolvimento de inovações a partir da biodiversi- O mercado das espécies exóticas é Recursos Naturais Renováveis (Ibama), sem critérios técnicos específicos e
dade. Num ambiente favorável, os agricultores teriam RCA - Qual a sua mensagem para os produtores o mais estabelecido, pois elas podem as espécies mais exportadas são ipê não ajustados à realidade local, o que
mais confiança em planejar a produção, buscar a as- paulistas que pensam em investir nesse segmen- pode acarretar falhas para a conserva-
sistência técnica, investir em infraestrutura, que resul- to? ção das espécies manejadas. Também
tariam em melhoria da qualidade da matéria-prima não há clareza sobre as medidas de
para o mercado. EC - Buscar informações claras sobre demanda, pre- monitoramento e fiscalização desses
ços, infraestrutura e tecnologia, porém, no momento planos de manejo. O Brasil ainda ne-
RCA - A produção de plantas medicinais e aromá- atual de transformação, é preciso também contribuir cessita avançar muito nas pesquisas
ticas pode ser uma opção de diversificação da cul- no processo de sensibilização da sociedade. Os agri- referentes ao manejo e cultivo de es-
tura para o agricultor familiar ou pequeno agricul- cultores precisam entender a dimensão deste merca- pécies nativas. Porém, a legislação so-
tor? do e as possibilidades existentes e fazer valer seus in- bre o Acesso aos Recursos Genéticos
teresses por meio das suas lideranças políticas. O Brasil e ao Conhecimento Tradicional
EC - Eu acredito que deve ser uma opção, pois a agri- importa hoje mais de 80% dos insumos farmacêuticos Associado, que rege a permissão des-
cultura brasileira já demonstrou sua competência na (matéria-prima) para a produção de medicamentos, ses estudos, desestimula o avanço
produção de alimentos, fibras e energia. Está na hora com um efeito devastador sobre a balança comercial. devido especialmente às exigências
e ao tempo de análise para aprova-
de apostar nesta nova opção, que pelas características Esses insumos estão baseados em tecnologias desen-
ção dos projetos. As autorizações são
de escala, se encaixa perfeitamente na produção pela volvidas em outros países e, enquanto isso, nós temos
concedidas pelo Conselho Nacional
agricultura familiar. Eu digo nova opção porque, até o recursos naturais, conhecimento tradicional, pesqui- de Desenvolvimento Científico e
momento, não considero que tivemos a organização sadores, capacidade de produção. Fitoterápicos não Tecnológico (CNPq); Ibama; e Instituto
Amira Rachid

de uma cadeia produtiva de plantas medicinais e aro- são a solução para todos os problemas de saúde, po- do Patrimônio Histórico e Artístico
máticas em escala nacional. Temos experiências pon- rém, se o consumo for ao menos semelhante ao de Nacional (Iphan), principalmente para
tuais de produção racional, a maioria delas centradas países desenvolvidos, teremos benefícios para toda a pesquisas científicas, ou pelo Conselho
em espécies adaptadas e o extrativismo de espécies sociedade. de Gestão do Patrimônio Genético
14 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬15

Como iniciar o cultivo comercial de


que existe um consumo desses óleos Sorocabana (urucum) e Vale do Ribeira,
como aromatizantes de ambiente e Sudoeste Paulista, Mogi das Cruzes e
como princípio terapêutico na aroma- Litoral Norte (gengibre e derivados).

plantas medicinais e aromáticas


terapia. Nosso País é bastante compe-
Cabe ressaltar que é difícil mensu-
titivo em óleos essenciais de citrus (la-
rar o volume da produção paulista, por
ranja, limão, mandarina e tangerina),
causa da variabilidade de produtos e
eucalipto citriodora, palma-rosa, ve-
de tipos de mercado, bem como a au-
tiver, citronela, lemon grass ou capim- Cláudio Hagime Funai – Engenheiro Agrônomo – Diretor do Centro de Produção de Sementes
sência de estatísticas específicas para
-limão, pau-rosa e bálsamo de copaíba. Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes(DSMM/CATI) – claudio.funai@cati.sp.gov.br
este setor.
Porém, a preferência pela importação
e o alto custo da produção nos torna O sistema produtivo no Brasil preci-
pouco competitivos com países de cul- sa de ajustes para atender ao mercado,
tivo tradicional de espécies aromáticas principalmente em relação à produção
como a Índia, a China, o Sri-Lanka e o de fitoterápicos, a qual requer qualida-
Egito. de fitoquímica específica. Para isso, há
necessidade de desenvolvimento de
O mercado das espécies aromáti-
Maria Cláudia S. G. Blanco

pesquisas agronômicas, domesticação


cas desidratadas utilizadas como tem-
e melhoramento genético das espé-
pero também é muito relevante, uma
cies, processos de extração eficientes e
vez que o Brasil importa cerca de 80% de baixo custo, e políticas de acesso ao
do que consome, o que evidencia a mercado e de preços que garantam o
Erva baleeira
necessidade do aumento da produção escoamento e o valor justo para a ma-
(CGEN), quando há acesso ao patrimô- dessas espécies para o abastecimento téria-prima produzida com qualidade.
nio genético e ao conhecimento tradi- interno. Levando em conta a sua via-
cional associado para qualquer finali- bilidade e rentabilidade, torna-se uma Empresas do setor têm demanda-
dade, ou ao conhecimento tradicional alternativa interessante para a diversi- do produtos com certificação orgâ-
associado para fins de bioprospecção ficação de produção e geração de ren- nica. Nesse sentido, é necessário que
e/ou desenvolvimento tecnológico. da, desde que integrada a um arranjo os produtores se atentem às diretri-
Isso tem gerado entraves inclusive produtivo com a comercialização ga- zes do Programa Nacional de Plantas
para o desenvolvimento de fitoterápi- rantida. Medicinais e Fitoterápicos, se organi-
cos pela indústria nacional com plan- zem na forma de cooperativas ou asso-
tas brasileiras, apesar do grande po- O principal Estado brasileiro pro- ciações para viabilizarem a certificação
tencial medicinal da nossa flora. dutor de plantas medicinais e aromá- orgânica, os custos de produção e de
ticas é o Paraná. São Paulo se destaca beneficiamento em conjunto e, para
Em relação às perspectivas de mer-
como consumidor e comprador devi- definirem negócios com empresas,
cado para as plantas medicinais, o
do à concentração de atacadistas e in- por meio de contratos de compra, ga-
Brasil é o 7.° mercado consumidor de
dústrias do setor. A produção em São rantindo preços justos, imprescindíveis
medicamentos, sendo que nas últimas
Paulo está distribuída nos cinturões para a estabilização dessa cadeia pro-
décadas houve aumento de 15% no
dutiva.
mercado de fitoterápicos e apenas 3 verdes de hortaliças, especialmente na
a 4% no mercado de medicamentos região de Mogi das Cruzes, com condi-
sintéticos, provando que os fitoterá- mentares e aromáticas destinadas às Principais plantas medicinais dos
picos encontram-se em plena expan- biomas brasileiros:

Graça D'Auria – Cecor/CATI


Centrais Estaduais de Abastecimento
são. Como as plantas medicinais estão (Ceasas) e à rede varejista (maços fres- Psychotria ipecacuanha (ipecacuanha);
associadas a valores culturais e de uso cos e vasos); em Cabreúva, Itapira, São
Pilocarpus microphyllus (jaborandi);
tradicional, em tese, o desenvolvimen- Arrabidaea chica (crajirú);
Paulo e entorno (plantas em vasos);
to de fitoterápicos requer menor in- Varronia verbenaceae (erva baleeira);
vestimento do que o necessário para em Botucatu, Jaú, Barra Bonita para Bauhinia forficata (pata-de-vaca);
medicamentos sintéticos. o complexo agroindustrial (extratos, Mikania sp (guaco);

C
óleos essenciais e rasuras); região do Maytenus ilicifolia (espinheira santa);
A exemplo das plantas medicinais, Vale do Ribeira, com espécies nativas ultivar plantas medicinais e aromáticas é conservar a biodiversidade, a saúde humana, o resgate do
Baccharis trimera (carqueja);
o mercado das plantas aromáticas tem e cultivadas (chás e extratos); nas re- Pfaffia sp (ginseng brasileiro);
conhecimento popular das culturas indígena, africana, europeia, entre outras. O cultivo sustentável tem
crescido, acompanhando o aumento vantagens como a oferta de matéria-prima de qualidade, a agregação de valor aos produtos, pois o
giões do Vale do Paraíba, Pontal do Dimorphandra mollis (fava d'anta);
da procura por corantes e aromatizan- extrativismo vegetal é considerado uma prática de obtenção de matéria-prima pouco eficiente em relação à qua-
Paranapanema e Sudoeste Paulista, Stryphnodendron adstringens (barbatimão);
tes naturais pela indústria de alimentos lidade desta, assim como causadora de degradação ambiental.
com plantas aromáticas e medicinais Handroanthus avellanedae (ipê roxo, pau
e bebidas e a expansão da indústria de d'arco);
cosméticos e perfumes, destacando- advindas principalmente da agricultu- As principais perguntas antes de iniciar o plantio comercial dessas plantas são: Quem compra? O que compra?
Achyrocline satureoides (marcela);
-se, portanto, o comércio de óleos ra familiar e de pequenos produtores Quanto paga? Que quantidade deseja comprar? Qual a periodicidade de entrega? As respostas serão obtidas
Operculina macrocarpa (batata de purga);
essenciais como matéria-prima para (chás, óleos essenciais e outros deriva- com pesquisa do mercado e na capacidade de produção, com base nos custos de produção e atendimento das
Lippia sidoides (alecrim pimenta).
essas indústrias, lembrando também dos); região da Alta Paulista e da Alta exigências de qualidade do comprador.
16 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬17

Medidas Gerais Boas Práticas Agrícolas (BPAs) de Plantas


Medicinais, Aromáticas e Condimentares
Para iniciar um cultivo medicinal ou aromático é preciso selecionar as
plantas matrizes, usar sementes e estacas de plantas sadias, com identifica-
ção correta e boa procedência, bem como mudas com qualidade fitossani-
tária, livres de pragas e doenças. Cirino Corrêa Júnior – Engenheiro Agrônomo – Coordenador Estadual de Plantas Potenciais, Medicinais e Aromáticas
O clima (temperatura, luz e umidade) tem influência sobre o desenvol- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Paraná) – plamed@emater.pr.gov.br
vimento das espécies, tendo em vista que a produção de princípios ativos Marianne Christina Scheffer – Engenheira Agrônoma, Pesquisadora e Consultora
Secretaria da Associação Paranaense de Plantas Medicinais – mcscheffer@terra.com.br
pode diminuir sob condições, por exemplo, de pouca luminosidade.
Deve ser feita a seleção de área de cultivo, escolhendo um local com
água de boa qualidade e exposto ao sol. Evitar áreas sujeitas à poluição e às existente e que estão sendo feitos
contaminações ambientais. esforços para manter e aumentar a
biodiversidade em suas proprieda-
O solo deve ter drenagem da água, sem encharcamentos, e ser fértil. O des. Em caso de coleta de plantas
seu manejo correto melhora a fertilidade, sendo as principais práticas para medicinais em áreas de ocorrência
isso a rotação de culturas, o uso de adubos verdes e de cobertura morta natural, recomenda-se que sejam
(restos de vegetais). observadas diretrizes específicas,
O manejo do mato deve ser feito com roçadas altas no entorno e nas elaboradas em conformidade com
entrelinhas, pois essa prática reduz os problemas com pragas e doenças, a legislação ambiental vigente.
aumentando a atividade de inimigos naturais das pragas, reduzindo a ero- As BPAs não fornecem orien-
são e o aquecimento superficial. As plantas espontâneas são fontes de bio- tação técnica específica sobre o
massa, produzem flores que atraem insetos predadores e podem servir de cultivo de uma determinada es-
alimento preferencial para as pragas das culturas. pécie e sim orientações gerais que

Cirino Corrêa Júnior


Uma área grande de plantas da mesma espécie pode facilitar o surgi- visam limitar os efeitos negativos
mento e o rápido desenvolvimento de pragas e doenças específicas. A con- nas plantas no decorrer do cultivo,
sorciação de duas ou mais espécies reduz este risco. processamento e armazenamento,

A
bem como aspectos relacionados
A colheita no momento certo é importante para garantir a qualidade das s Boas Práticas Agrícolas os rendimentos por área relativa- com a higiene durante a produção
plantas, na produção de substâncias com atividade terapêutica. O ponto de (BPAs) têm por objetivo mente elevados, o cultivo de plan- para reduzir a carga microbiana ao
colheita sofre variação, conforme a parte da planta a ser colhida, o estádio realizar uma agricultura tas medicinais pode constituir-se mínimo.
de desenvolvimento, a época do ano e até a hora do dia: que seja sustentável dos pontos em uma alternativa de renda para
– no caso de sementes, recomenda-se esperar até o completo amadureci- de vista técnico, ambiental, social e unidades de agricultura familiar Sementes e material de
mento; econômico. A preocupação com os por ser uma atividade pouco me- propagação
– os frutos carnosos, com finalidade medicinal, devem ser coletados com- componentes ambiental e social foi canizada e geradora de oportuni- A importância da certificação
pletamente maduros; agregada mais recentemente dian- dades de trabalho que podem ser da identidade botânica da espé-
– as folhas podem ser colhidas antes de a planta florescer. Escolher as folhas te de uma maior conscientização planejadas e distribuídas ao longo cie a ser cultivada é fundamental.
sadias, sem sujeiras, sem doenças e que não tenham contato direto com o da sociedade civil sobre o impacto do ano. Além disso, as sementes utilizadas
solo; que um modelo agrícola que faz devem indicar, quando for o caso,
– as flores podem ser colhidas logo após abrirem e secar a umidade do or- uso intensivo de máquinas e insu- As diretrizes aplicam-se ao cul- a variedade da planta, a cultivar, o
valho; mos químicos provoca no ambien- tivo e beneficiamento primário de quimiotipo e a origem. O material
– as raízes de plantas adultas podem ser colhidas no outono, quando acu- te e na estrutura social rural. todas as plantas comercializadas e usado deve ser 100% rastreável, ou
mulam reservas de nutrientes. utilizadas como plantas medicinais, seja, deve-se ter inclusive o nome
A inviabilização econômica de mesmo quando estas são emprega-
A secagem, quando bem conduzida, melhora a conservação. A maioria pequenas propriedades (agriculto- da empresa fornecedora. O mesmo
das plantas medicinais é comercializada na forma dessecada, o que torna das em alimentos, como nutrientes se aplica ao material para propaga-
res familiares) é mais um fator que ou para fins aromatizantes, coran-
o processo de secagem fundamental para a qualidade final do produto. A ameaça a integridade ambiental e ção vegetativa, por exemplo, esta-
redução do teor de água durante a secagem impede a ação enzimática e a tes, nas indústrias de perfumaria e cas. As matrizes usadas em produ-
social no meio rural. Com obser-
consequente deterioração. outras. ção no sistema orgânico devem ter
vância das particularidades das
plantas medicinais, aromáticas e As diretrizes são específicas para certificado de origem orgânica.
O local de armazenagem deve ser escuro, arejado e seco, para reduzir as
Cláudio Hagime Funai

perdas de princípios ativos. As embalagens precisam ser identificadas com condimentares, estas espécies po- o cultivo de plantas medicinais, Cultivo
etiquetas nas quais constem: nome popular, nome científico, parte da plan- dem representar um componente pois se pressupõe que os agricul- Os produtores devem seguir as
ta, folha (pedaços) ou flores, nome do produtor, propriedade, nome do sítio importante no sistema produtivo tores já adotam medidas para mi- recomendações técnicas previstas
ou fazenda, data da colheita, data da secagem e data de validade. destas propriedades. Considerando nimizar os danos ao ecossistema para cada espécie, que podem ser
18 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬19

Domesticação e melhoramento
encontradas em outras publica- . beneficiamento adequado; flutuações diárias de temperatura
ções técnicas de diversos órgãos de . armazenagem apropriada. são limitadas. Para manter o am-
pesquisa e de extensão. Beneficiamento primário biente arejado podem-se utilizar,

genético de plantas nativas


O beneficiamento primário refe- por exemplo, exaustores eólicos. O
De modo geral, estas recomen-
re-se às operações executadas ain- armazém deve ter piso de concreto
dações visam à obtenção de um
da na propriedade, para distingui- ou similar, de fácil limpeza, e estar
produto de boa qualidade com o
-las do beneficiamento industrial livre de insetos, roedores ou poeira.
menor impacto ambiental possível.
subsequente. As etapas do bene- Qualquer local com essas caracte- Walter José Siqueira – Pesquisador Científico – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais do
Recomendam-se, assim, todas as
ficiamento primário mais frequen- rísticas é adequado. Instituto Agronômico de Campinas (IAC) – siqueirajs@iac.sp.gov.br
práticas que visam preservar o solo
e as águas, prevenir pragas e doen- tes são a pré-limpeza, a secagem, Equipamento

D
ças e manter o equilíbrio ecológico as operações de pós-secagem e, Os equipamentos utilizados no iante da riqueza da sua di- óleo essencial por planta, o qual é

Fotos: Walter José Siqueira


da área. Todas as informações rela- quando for o caso, a extração de cultivo das plantas e no beneficia- versidade vegetal, o Brasil formado por centenas de compo-
tivas à condução da lavoura devem óleos essenciais. mento devem ser fáceis de limpar, assume extrema respon- nentes que podem ser isolados pela
constar da Ficha de Informações Embalagem a fim de eliminar o risco de conta- sabilidade na sua preservação e ex- indústria, como é o caso do linalol,
Agronômicas. ploração sustentável, especialmente que é usado na perfumaria e extraí-
Depois de repetidos controles minação. Todas as superfícies que
em relação às plantas medicinais e do do óleo essencial de várias plan-
Colheita e eliminação de eventuais mate- entram em contato com as plantas tas como o pau-rosa e o manjericão.
aromáticas que, devido ao extrati-
Todo esforço despendido no riais de baixa qualidade e qualquer devem ser de fácil limpeza e desin- vismo, contribui para a redução da Processo de melhoramento
cultivo das plantas pode ser posto corpo estranho, o produto deve ser fecção (plástico, aço inoxidável, fór- variabilidade natural, levando gra- genético: o exemplo da Lippia
a perder quando não damos a de- empacotado. As embalagens mais mica, cimento etc.). Deve-se evitar dativamente à extinção de muitas alba no IAC
vida atenção às etapas de colheita, utilizadas são: fardos, sacos de pa- o uso de equipamentos de madeira espécies. Por isso, torna-se estratégi- O Instituto Agronômico de
beneficiamento e armazenagem. pel ou plástico, sacos de papel + pela dificuldade de limpeza. co para o País, o cultivo comercial de Campinas (IAC) foi responsável pelo
O valor comercial das plantas me- plástico e caixas de papelão. Pessoal e instalações plantas que possuem potencial para desenvolvimento da variedade IAC
dicinais é determinado por sua Armazenamento e transporte o agronegócio. 701 de menta (Mentha arvensis), o
Todos os funcionários devem
qualidade. A qualidade das drogas O produto deve ser armazenado ser devidamente treinados para as Para o cultivo, há a necessidade que contribuiu para o Brasil ser o
vegetais depende, entre outros, de: durante o menor tempo possível, da domesticação, ou seja, identi- maior produtor mundial de mentol
funções que desempenharão. Este
ficação de plantas promissoras no (composto majoritário do óleo es-
. colheita no estágio de maior teor pois, em geral, ocorre uma diminui- treinamento deve incluir desde
seu habitat natural e, a partir daí, sencial desta menta) até a introdução
de princípios ativos; ção e alteração dos princípios ati- aspectos botânicos – para evitar do sintético. Recentemente, retomou
. correto manuseio durante e após vos. O local de armazenagem deve mistura de plantas e rotulagens iniciar estudos sobre tecnologia de
produção. Para isso, é preciso reunir essa linha de pesquisa, agora com a
a colheita; ser seco, escuro e arejado, onde as erradas – até aspectos relacionados espécie Lippia alba – erva-cidreira
conhecimentos fundamentais sobre
com a higiene na manipu- a genética, adaptação às situações brasileira ou falsa erva-cidreira, vi-
lação do material vegetal. variadas de condições de clima, solo, sando explorar outros princípios ati-
Graça D'Auria – Cecor/CATI

Garantia de qualidade pragas, doenças, espaçamento e ou- vos (aromas ou essências) naturais.
O produtor deve ga- tros. Essas informações resultam em O gênero Lippia sp foi primei-
práticas rotineiras para sua correta ramente descrito, em 1753, por ses compostos possuem aplicações
rantir que o produto for-
inserção no elenco de plantas culti- Linnaeu e reúne cerca de 200 espé- na área de fármacos, biodefensivos,
necido está conforme as aromas, cosméticos etc. Trata-se de
vadas. cies e três centros de diversidade,
especificações acerca da uma espécie ainda não domesticada,
qualidade previamente Com esta inclusão no restrito nú- sendo o Brasil o maior deles com 111
espécies. De ocorrência generalizada porém muito conhecida e dissemina-
acordadas com o com- mero de plantas cultivadas, face às da no Brasil, pelo uso consagrado na
riquezas de plantas presentes nos na Mata Atlântica é encontrada em
prador e registradas no forma de chás.
diversos biomas terrestres, de certa solos arenosos, nas margens dos rios,
contrato. açudes, lagos e lagoas. O interesse comercial nessa plan-
forma, durante o processo de me-
Comercialização lhoramento haverá uma contribui- ta é grande, pois o componente ci-
A Lippia alba pertence a esse gê-
O mercado de plantas ção para a sua manutenção e preser- tral do seu óleo essencial (obtido do
nero e possui ampla variação quí-
medicinais apresenta pe- vação como coleção de trabalho ou quimiotipo geranial/neral) é muito
mica presente nos óleos essenciais, usado em alimentos, aromatizan-
culiaridades que fazem banco de germoplasma da espécie. especialmente nas folhas, cujos com- tes de sorvetes e doces, cosméticos,
com que seja necessário O melhoramento genético, com ponentes predominantes conferem matéria-prima na síntese de vita-
um conhecimento deta- a manipulação do homem nos cru- o nome do grupo químico da planta mina A e caroteno. Além disso, tem
lhado do mesmo, para zamentos e na seleção, busca po- ou clone. São denominados generi- preços compensadores no mercados
que se possa ser bem- tencializar nas plantas o rendimento camente de quimiotipos. Dessa for- nacional e internacional, pois pode
sucedido na comerciali- da matéria-prima comercial, que no ma, já foram identificados na Lippia ser transformado na indústria, adqui-
zação das espécies que o caso de plantas medicinais e aromá- alba os quimiotipos linalol, geranial/ rindo odor de rosa e laranja, o que
produtor escolheu para ticas é, no final de todo o processo, neral, mirceno, limomeno, carvona, possibilita o seu uso na fabricação de
cultivar. a quantidade de princípio ativo ou germacreno e outros. Cada um des- perfumes finos.
20 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬21

Plantas Medicinais e Aromáticas


aos componentes geranial/neral que
compõem um novo quimiotipo rico
em citral para chás.

como Defensivos Naturais


É importante complementar que
o componente citral tem inúmeras
propriedades farmacológicas com-
provadas cientificamente: analgé-
sico, sedativo, antiespasmódico, Lilia Aparecida Salgado de Morais – Doutora em Plantas Medicinais – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Meio
diurético, bactericida, fungicida, an- Ambiente) – Laboratório de Produtos Naturais – lilia.salgado@embrapa.br
ticonvulsante, depressor do Sistema
Nervoso Central, antisséptico, carmi-
nativo e estomáquico. Como desinfe-
tante foi eficiente contra bactérias e
fungos, como Stafhilococcus aureus,
Bacillus sp, Enterococcus faecalis,
Proteus mirabilis, Pseudomonas ae-
ruginosa, Eschericcia coli e Candida
albicans.
Linhas de pesquisas atuais
Todo processo de melhoramento colônias e até sabonetes. Hoje, esse a) Realização de experimentos em
genético se inicia com a formação composto é retirado principalmente pelo menos mais de um local, com
de uma coleção de trabalho (germo- do pau-rosa (Aniba roseodora), que colheitas nas quatro estações do
plasma), de onde se espera ter uma se encontra em extinção na Floresta ano, dos 11 clones de Lippia alba se-
variação de tipos de plantas quanto Amazônica. lecionados nos períodos anteriores
a ramificações, porte, forma e tama- Fase 3: Estimativas inéditas de pa- quanto ao rendimento de biomassa,
nho de folhas, flores e frutos, respos- râmetros genéticos, em progênies rendimento de óleo total e teor do

Maria Cláudia S. G. Blanco


tas genético-fisiológicas às condi- de meios irmãos. Essa metodologia componente linalol (%) e produção
ções do meio ambiente, capacidade é muito importante, pois fornece de linalol por planta.
de enraizamento e colonização, e no subsídios para se planejar qual a es- b) Seleção de quimiotipo citral como
caso específico das plantas aromáti- tratégia ideal que o melhorista deve nova opção para chás, combinando
cas e medicinais a qualidade e quan- aplicar na sua população de trabalho sabor e rendimento de óleos essen-

O
tidade de óleos essenciais, além de para obter ganhos genéticos mais ciais. termo agrotóxico passou a de controle de pragas e doenças de Com a popularização do uso dos
outros. elevados quanto às características c) Seleção de princípios ativos para ser oficialmente utilizado plantas que sejam mais seguras que agrotóxicos, pela sua praticidade e
desejadas (em geral rendimento) e controle de pragas e doenças de no Brasil a partir de 1989 os agrotóxicos. pelo efeito mais rápido, essas téc-
No caso da Lippia alba, o trabalho
de forma mais rápida e segura. Fo- plantas (biodefensivos). (Lei n.º 7.802/89) para substituir o nicas foram quase que totalmente
consta de várias fases. Mas por que resgate?
ram selecionados por meio desta Conclusão termo defensivo agrícola, utilizado abandonadas e hoje, muitas delas
Fase 1: Obtenção de população de estratégia 29 clones superiores de Anteriormente à descoberta e ao
O trabalho relatado irá gerar cul- para designar os venenos emprega- são chamadas “alternativas”. Dessa
ampla base genética (296 plantas), quimiotipo linalol. desenvolvimento dos agrotóxicos
tivar ou cultivares de Lippia alba (es- dos na agricultura, porém, em alguns forma, a pesquisa vem testando os
após a recombinação em polinização Fase 4: Todas as seleções (41) de para proteção das lavouras, os agri-
pecialmente para agricultura familiar Estados como o Rio Grande do Sul, mais diversos produtos para utiliza-
livre (insetos e vento) de 20 plantas clones linalol identificadas nas três cultores utilizavam espécies vegetais
e orgânica) na produção de matérias- este termo já era adotado oficial- ção agrícola, sendo que muitos já
diferentes quanto à morfologia de primeiras fases foram colocadas em
obtidas em suas propriedades ou
-primas com fins de processamento mente desde 1982 (Lei n.º 7.747/82). foram utilizados pelos agricultores
folhas e com cinco princípios ati- nas proximidades, como por exem-
experimento no Centro Experimen- industrial. Para isso, é preciso que Esta mudança ocorreu após uma em décadas passadas. Há uma ten-
vos também distintos. As quase 300 plo o crisântemo (piretro), utilizado
tal de Campinas/IAC e, após três co- haja disponibilidade de amostras grande mobilização da sociedade, dência mundial em explorar novos
para o controle de pulgões, alguns
plantas obtidas na população men- lheitas de parte aérea, selecionaram- dos óleos essenciais (quantidades evidenciando o efeito tóxico que es- métodos de controle, dando-se prio-
tes produtos causam ao ambiente e à coleópteros, percevejo do cafeeiro e ridade à utilização de substâncias na-
cionada se constituiu num Banco -se 11 clones superiores quanto ao menores) para que as empresas de
saúde, tanto animal quanto humana, lagartas desfolhadoras, bem como turais, biologicamente ativas, contra
Inédito de Aromas e/ou Fragrâncias. rendimento de biomassa de folhas, áreas diversas do agronegócio pos-
ocasionada pela aplicação contínua, o timbó (rotenona), utilizado para os diferentes patógenos, conhecidos
Fase 2: Identificação de 63 novos de óleo essencial por planta e de li- sam avaliar o potencial dos compos- controlar de besouros a lagartas
clones de quimiotipo linalol, que ge- nalol por planta. tos obtidos derivados do melhora- abusiva, muitas vezes não recomen- como defensivos naturais.
dada e desnecessária dos mesmos. mastigadoras, além de usarem ou-
rou três experimentos em dois locais Fase 5: Utilizou-se de outra estra- mento genético. Em termos práticos, tros produtos e técnicas (cinzas, água Defensivos naturais são produ-
com seleção de 10 novos clones (30% tégia igualmente inédita para a o objetivo da pesquisa é implantar Nos dias atuais, novamente, a so- quente, dentre outros). Alguns países tos biológicos, orgânicos ou naturais
maior em massa seca e variação no espécie: a realização de cruzamen- no IAC um Banco de Aromas ou de ciedade vem exercendo seu papel, se destacavam na produção destas (provenientes de plantas), pouco tó-
teor de linalol de 69,45% a 87,02%). tos dirigidos ou controlados entre Princípios Ativos, com a identificação buscando alimentos mais seguros, espécies e estas eram exportadas em xicos, de baixa ou nenhuma agres-
O composto linalol foi o escolhido diferentes princípios ativos, sendo dos perfis cromatográficos que são, livres de contaminantes químicos, grande quantidade, não apenas para sividade ao homem e à natureza,
pela equipe em função de ser o prin- identificados 40 novos clones de di- na verdade, as descrições dos com- pressionando o mercado, geran- proteção de culturas, mas também eficientes no controle de insetos e
cipal constituinte do perfume Chanel ferentes combinações de fragrâncias, postos presentes nas amostras dos do a necessidade de um resgate da para controle de vetores de doenças micro-organismos nocivos, e de ma-
N.º 5 e de outras formulações como incluindo alguns inéditos quanto óleos essenciais. pesquisa para buscar outras formas humanas. nejo simplificado.
22 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬23

Cultivo caseiro de plantas


Diversos estudos utilizando óleos no controle fitossanitário das lavou- nas condições ecológicas de uso do
essenciais e extratos provenientes de ras. O plantio do tomate juntamen- produto (que ainda são em número
plantas medicinais, condimentares te com cravo-de-defunto (Tagetes reduzido quando comparados com a

aromáticas e medicinais
e aromáticas vêm sendo realizados erecta) reduz significativamente os quantidade de ensaios in vitro publi-
no controle de insetos e doenças de danos causados pela pinta-preta cados anualmente). Os vegetais são
plantas, visando ao desenvolvimen- (Alternaria solani) na cultura. O cra- uma fonte inesgotável de moléculas,
to destes defensivos, o que represen- vo-de-defunto também é muito muitas destas desconhecidas, que
ta mais uma opção na proteção das utilizado para o controle de nema- podem servir de modelo para síntese
Maria Cláudia S. G. Blanco – Engenheira Agrônoma – Divisão de Extensão Rural (Dextru/CATI)- claudia@cati.sp.gov.br
lavouras, principalmente no intuito toides, mosca-branca e afídeos. O química, gerando produtos de bai-

N
de suprir as necessidades dos produ- consórcio do manjericão (Ocimum xo custo, eficazes, ambientalmente
tores de base ecológica e o desejo da basilicum) com o tomate auxilia na seguros, padronizados, registrados, ada melhor do que, na hora do preparo do ali- gem, utilizando cerca de 3 a 5Kg/m² de húmus para adubar
sociedade em reduzir o uso/consu- repelência de pragas. A urtiga (Urtica com controle de qualidade, visando mento, usar um cheiro-verde ou outro tempero e proporcionar uma boa textura do solo.
mo de agrotóxicos. spp.) é repelente do percevejo-do- à reprodutibilidade e constância de recém-colhido, ou ter aquela erva digestiva fres-
Após colocar a mistura de terra, faz-se a semeadura que
-tomate (Phthia picta). A mucuna- componentes químicos e, principal- ca bem à mão para preparar o chá que pode acabar com o
Resultados promissores são re- deve ser realizada na profundidade exigida, quanto menor
-preta (Mucuna sp.), em consórcio mente, que atendam às necessida- mal-estar que surge de repente. Fora a alegria que as cores e
latados no manejo de doenças e a semente, mais superficial é a semeadura. No caso de mu-
com o milho, reduz em mais de 90% des dos produtores. os aromas destas plantas proporcionam ao ambiente.
pragas em plantas cultivadas, trata- das, retire-as do saco plástico e as coloque em buracos na
a instalação dos gorgulhos nas espi- Mas, é possível cultivar em casa? Sim, muitas plantas que terra, apertando levemente com as mãos ao seu redor, fi-
mento de sementes, pós-colheita e É importante ressaltar que os de-
gas. O alecrim (Rosmarinus officinalis) usamos para temperar ou para fazer chás aromáticos ou xando assim a muda, mas tendo cuidado em não "chegar
armazenamento de grãos e semen- fensivos naturais, apesar de serem
é utilizado como repelente para o medicinais podem ser cultivadas em casa ou apartamento, terra" acima do colo (base) da planta, pois pode ocorrer o
tes. Folhas de louro (Laurus nobilis) provenientes de princípios ativos de
curuquerê-da-couve (Ascia monuste utilizando-se canteiros, vasos ou outros recipientes, confor- apodrecimento da muda, ocasionando sua morte. As mu-
e de eucalipto (Eucaliptus spp.) são plantas, devem ser utilizados com
orseis) e moscas da cenoura. A hor- me o tamanho e disponibilidade do espaço residencial que das podem ser adquiridas no mercado ou produzidas em
utilizadas para controlar caruncho critério e não meramente como
telã (Mentha spp.) é utilizada como recebe a luz do sol. copinhos ou sacos plásticos em local sombreado (viveiro),
(Callosobruchus sp.) em grãos e se- substitutos aos agrotóxicos. Não é
repelente de formigas e curuquerê- por meio de estacas de galhos ou de raízes, ou a partir de
mentes de feijão, armazenados em isto que se busca. A incidência de Para o cultivo da horta de temperos e de plantas medici-
-da-couve. Já o consórcio com a erva- outras estruturas propagativas como os rizomas e os reben-
recipientes fechados, como por insetos e patógenos nas culturas é nais, devemos nos preocupar primeiramente em conhecer
-de-santa-maria (Chenopodium am- tos.
exemplo garrafas PET. O pó das fo- indicativo de desequilíbrio ecológico um pouco de cada planta:
brosioides) repele pulgões e outros
lhas e os talos de alecrim-pimenta e/ou nutricional. Deve-se procurar • Seu hábito de crescimento: herbácea, arbustiva ou trepa- Para completar, regue bem sem encharcar e cubra o solo
insetos. O coentro atrai as joaninhas,
(Lippia sidoides) apresentam ação deira; do canteiro ou do vaso com capim seco, casca de arroz ou
que são inimigas naturais de vários corrigir as causas dos problemas fi-
inibidora da oviposição do caruncho • Sua necessidade de luz: pleno sol, meia sombra ou som- outra cobertura, evitando erosão e respingos de terra nas
insetos predadores e de alguns áca- tossanitários das lavouras, utilizando
em feijão caupi. O óleo essencial de bra; plantas quando forem irrigadas.
ros de relevância agronômica. estes produtos quando realmente
capim limão (Cymbopogon citratus) • Sua necessidade de água: regas abundantes, regas mode- • Adube com composto ou torta de mamona a cada dois
inibe a incidência de fungo de arma- A pesquisa na área de plantas me- forem necessários. A observação da
presença de plantas indicadoras no radas e frequentes ou pouca água. meses, para o bom desenvolvimento das plantas;
zenamento (Aspergillus flavus) em dicinais em geral, como defensivos • Você pode acrescentar borra de café que é rica em fósforo;
sementes de milho, sendo esta ativi- naturais, é promissora, vislumbrando ambiente de cultivo, a correção do Com estas informações, escolhemos o tipo e tamanho
solo com adubos orgânicos, a pre- do recipiente (quanto maior o porte, maior o recipiente) e • Evite o contato de animais domésticos em sua horta casei-
dade atribuída ao seu composto ma- possibilidades de novas e relevantes ra, seja esta cultivada em canteiros ou em vasos;
joritário (citral), permanecendo ativo descobertas, porém, deve ser alicer- servação dos inimigos naturais e a se a planta precisará de um tutor (planta trepadeira – ex:
guaco). Também é preciso observar o local adequado de in- • Colha sempre usando instrumentos limpos e afiados, na
por até 210 dias após a aplicação. çada em estudos interdisciplinares, diversificação das culturas devem
cidência solar e o modo e a frequência das regas, para que época certa e do modo adequado:
para que se obtenham resultados ser práticas constantes para termos
Já é possível encontrar alguns elas tenham um bom e sadio desenvolvimento. Folhas e plantas inteiras – na pré-floração;
conclusivos. Soma-se a estes, a ne- realmente um controle fitossanitário
produtos comerciais à base de com- Flores: quando recém-abertas;
cessidade de implantação de ensaios eficiente e alimentos saudáveis. Após isso, devemos preparar o solo para receber as se- Frutos: quando maduros.
ponentes naturais. Dentre estes,
encontram-se o óleo de alho e o mentes ou mudas que devem ser sadias e de boa procedên-
nim (Azadirachta indica). O óleo de cia. Utilizamos uma mistura de terra e adubo orgânico como

Fotos: Lilian Cerveira - Cecor/CATI


alho tem aplicabilidade no contro- húmus ou torta de mamona nas seguintes proporções:
le do míldio, brusone, mancha de • Terra : húmus = 1 : 1;
Alternaria, ferrugem, mancha de • Terra : torta de mamona = 3 : 1;
Helminthosporium. O nim tem como • E quando a terra é muito argilosa, usamos: Terra : areia :
principal ingrediente ativo a azadi- húmus = 1: 1: 1.
ractina, que possui ações repelente, Ao montar os vasos, devemos colocar no fundo pedris-
ovicida, larvicida, inibe a alimenta- cos, cacos ou argila expandida para drenar o excesso de
ção causando atraso no crescimento,
água. Pode-se colocar também um pedaço de manta para
dentre outros. Seu extrato tem ações
jardim, a qual evita que o excesso de água saia com a terra.
nematicida, bactericida e fungicida.
Se usar recipientes recicláveis como garrafa PET, lata e ou-
Além do uso de extratos e óleos tros, não esqueça de furar o fundo para saída da água, pois
Lilian Cerveira - Cecor/CATI

essenciais, relatos da literatura vêm as raízes das plantas precisam de ar, não tolerando solos en-
comprovando que o uso de plantas charcados.
medicinais como espécies compa-
nheiras em consorciação com outras Quando o cultivo for direto na terra, fazemos canteiros
culturas também podem auxiliar com cerca de 30cm de altura para proporcionar a drena-
24 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬25

Uso Terapêutico e Culinário


Consulte a tabela apresentada para garantir um bom Para fazer o seu vaso caseiro
cultivo e uso adequado das plantas medicinais de sua você vai precisar de:
horta ou “Farmácia Viva”.

das Plantas Aromáticas


1 garrafa de plástico Terra

Cultura 1. Necessidade de luz Valor medicinal 1 prego ou objeto pontiagudo Húmus de minhoca
2. Necessidade de água
1 tesoura ou estilete 1 muda
Alecrim 1. Pleno sol Contra problemas
Rosmarinus 2. Pouca água respiratórios, de Denise Baldan – nutricionista – Núcleo de Atividades Complementares (NAC/ CATI) – denise.baldan@cati.sp.gov.br
officinalis circulação e digestivos; Manta de jardim Palha (opcional)
estimulante e

O
antioxidante
Etapas: uso terapêutico de plantas é um dos traços
Camomila 1. Pleno sol Antiespasmódica,
Chamomila recutita 2. Regas moderadas e anti-inflamatória e contra mais característicos da espécie humana, tão
frequentes insônia
1. Recorte o recipiente na parte antigo quanto o Homo sapiens e utilizado por
Capim cidreira 1. Pleno sol Calmante, superior e faça vários furos no fundo. praticamente todas as civilizações e/ou grupos culturais.
Cymbopogon 2. Regas moderadas e descongestionante e
citratus frequentes digestivo Desde os primórdios da humanidade, o homem de-
pendeu do uso de plantas em forma de alimento, me-
Cebolinha 1. Pleno sol Rica em vitaminas A e C dicamento, para proteção na construção de abrigo e/ou
Allium fistulosum 2. Regas moderadas e
frequentes
aquecimento. Havia crenças que imperavam na utiliza-
ção de plantas, assim, as aromáticas eram associadas aos
Coentro 1. Pleno sol Digestivo, antioxidante e
Coriandrum sativum 2. Regas moderadas e depurativo do sangue
rituais sagrados, pelo fato de exalarem odores marcan-
frequentes tes ao serem queimadas. Com o passar dos anos, come-
Erva cidreira 1. Meia sombra Calmante,
çaram a ser usadas no tratamento de doenças, feridas e
Melissa officinalis 2. Regas moderadas e antiespasmódica 2. Coloque a manta no contusões. Nas civilizações orientais, eram utilizadas, por
frequentes fundo e depois os pedriscos. intermédio de fumigação, na prevenção de doenças e,
Guaco 1. Pleno sol ou meia Broncodilatador ainda hoje, a medicina chinesa as emprega com bons
Mikania sp sombra resultados. Nas civilizações Grega e Romana, os banhos
2. Regas moderadas e
frequentes aromáticos com anis, cominho, mirra e tomilho eram in-
dicados no tratamento de doenças da mulher.
Hortelã comum 1. Pleno sol ou meia Antiespasmódica,
Mentha crispa sombra antisséptica A natureza proporciona aos homens uma infinidade
2. Regas moderadas e e vermífuga
frequentes de plantas com valores medicinal, nutricional e funcio-
Manjericão 1. Pleno sol Contra inflamações na
nal e as pesquisas científicas têm comprovado e atesta-
Ocimum basilicum 2. Regas moderadas e boca e garganta, feridas do essas propriedades.
frequentes e úlceras
As ervas aromáticas possuem um valor energético
Manjerona 1. Pleno sol Contra resfriados e
Origanum majorana 2. Regas moderadas e cólicas; calmante
desprezível, e uma quantidade relevante em antioxi-
frequentes dantes, por isso se enquadram na família dos alimentos
Orégano 1. Pleno sol Digestivo, antioxidante,
funcionais, que são aqueles capazes de produzir efeitos
Origanum vulgare 2. Regas moderadas e antibacteriano, protetores e de defesa no organismo, gerados por diver-

Fotos: Lilian Cerveira - Cecor/CATI


frequentes antibiótico sos fatores externos, como corantes e conservantes de
3. Coloque a mistura de terra
Poejo 1. Pleno sol ou meia Expectorante e húmus. alimentos industrializados, agrotóxicos, baixo consumo

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


Mentha pulegium sombra de frutas, verduras e legumes, consumo excessivo de fri-
2. Regas moderadas e
4. Retire a muda da
frequentes embalagem e coloque-a na turas, alto consumo de açúcares, carboidratos refinados,
Salsa 1. Pleno sol Contra febre, diurética,
terra apertando levemente temperos industrializados, embutidos, entre outros.
ao redor.
Petroselinum 2. Regas moderadas e anti-inflamatória, Benefícios
crispum frequentes equilíbrio hormonal
5. Se desejar, finalize com
Como as plantas aromáticas possuem compostos
Sálvia 1. Pleno sol Tônica, digestiva, palha por cima da terra. bioativos, podem auxiliar na redução de risco ou na pre- como “água na boca”, que facilita a digestão, a mastiga-
Salvia officinalis 2. Regas moderadas e antioxidante, diurética e venção de doenças como câncer, hipertensão, doenças ção, a deglutição e a degradação dos nutrientes, melho-
frequentes contra gases intestinais Está pronto o seu vaso! coronarianas, diabetes, doenças autoimunes e osteopo- rando a absorção e o aproveitamento pelo organismo.
Segurelha 1. Pleno sol Digestiva e tônica rose.
Satureja hortensis 2. Regas moderadas e Assista à vídeoaula sobre As ervas aromáticas possuem vitaminas A, C, do com-
frequentes como fazer este vaso na O olfato, a visão e o paladar são sentidos fundamen- plexo B e fibras, porém, elas não podem ser considera-
Tomilho 1. Pleno sol Digestivo, contra tosse, Revista Casa da Agricultura tais para apreciação e consumo dos alimentos. Os pra- das fontes desses nutrientes, uma vez que a quantida-
Thymus vulgaris 2. Pouca água cicatrizante, vermífugo virtual, que pode ser tos que contêm ervas exalam um aroma especialmente de consumida é pequena. Contudo, o consumo diário,
acessada no site agradável que provoca aumento na salivação, conhecido associado a uma dieta saudável e equilibrada, auxilia na
www.cati.sp.gov.br
26 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬27

Aspectos importantes na produção


reposição de alguns nutrientes, mesmo que em pe-
quenas quantidades.

de plantas medicinais e aromáticas


Como e por que utilizá-las?
As plantas aromáticas e medicinais podem ser utiliza-
das frescas ou secas, lembrando que as frescas contêm
mais vitaminas e minerais do que as secas. Como o ca-
lor faz a erva liberar a molécula responsável pelo aroma, Glyn Mara Figueira – Pesquisadora do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da
recomenda-se o uso das ervas frescas no final do cozi- Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – glyn@cpqba.unicamp.br
mento. Ana Paula Artimonte Vaz – Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Produtos e Mercado)
ana.vaz@embrapa.br
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS)

O
recomenda no máximo 2.000mg (2g) de sódio por dia/ Com folhas arredondadas e muito perfumadas, a termo plantas medicinais Decreto n.º 5.153 de 23/7/2004 do to uma legislação que incentive tal
por pessoa, o que equivale a 5g de sal, mas segundo as hortelã (Mentha crispa) é muito utilizada em sucos, chás, serve para agrupar espé- Ministério da Agricultura, Pecuária atividade em áreas de produção de
pesquisas, os brasileiros consomem mais do que o do- saladas, molhos e cozidos. No Nordeste do Brasil ela é cies botânicas que apre- e Abastecimento (MAPA) e diz que propriedades agrícolas, por exemplo,
muito empregada no combate a parasitas intestinais em sentam tanto o uso medicinal so- toda e qualquer cultivar destinada à em substituição a culturas tradicio-
bro da quantidade recomendada. As ervas aromáticas
crianças. Também é estimulante e digestiva. mente, como usos múltiplos, alimen- produção de sementes e mudas para nais e que poderiam ser uma alterna-
são aliadas na diminuição do consumo exagerado, pois tício ou ornamental, dentre outros. comercialização no País deve constar tiva ao produtor.
ao misturá-las ao sal, proporcionalmente, é possível re- O tomilho (Thymus vulgaris) é inserido nas prepara- O grupo tem espécies anuais e pe- no Registro Nacional de Cultivares
duzir pela metade seu uso. Essa substituição por ervas ções à base de tomate, e também enriquece o sabor de renes; de portes variados como her- (RNC), assim como todo produtor de Antes da coleta de material pro-
aromáticas acentuará o sabor das preparações, conferin- sopas, peixes, carnes, saladas e vinagres. Possui ação ex- báceas, arbustos e árvores. As partes sementes e mudas para comerciali- pagativo para sua produção como
do um paladar mais agradável aos alimentos. pectorante, desinfetante e antisséptica, além de ser di- das plantas de interesse variam de zação deve estar inscrito no Registro matéria-prima de uso medicinal é
folhas, frutos, sementes, cascas ou Nacional de Sementes e Mudas preciso confirmar sua correta iden-
gestivo, auxilia na limpeza do intestino.
Algumas sugestões raízes, fatores estes que dificultam (Renasem). Estas disposições valem tificação botânica. Para isso, devem-
O açafrão da terra (Curcuma longa), é uma preciosa sua abordagem de maneira única. É tanto para espécies ou cultivares de -se coletar amostras da espécie no
O manjericão (Ocimum basilicum), que é muito utili- especiaria. Tem sido muito estudado pelos seus possí- importante também diferenciar as plantas nativas, assim como de plan- momento de sua floração e secá-la
zado na culinária italiana no preparo de molho de toma- veis benefícios na prevenção e no tratamento do Mal de plantas quanto à sua origem: com- tas exóticas introduzidas no País, via entre jornais e papelão prensando-o,
te, pesto, tempero de carnes, saladas, omeletes e como Alzheimer. Suspeita-se que seja mais eficaz se associado parativamente às espécies nativas, importação. a fim de retirar a umidade da plan-
aromatizador de azeites, também é conhecido por ter com a vitamina D3. Seus benefícios seriam decorrentes as exóticas têm tecnologia de produ- ta preservando suas características,
A coleta de partes propagativas
propriedades antioxidantes muito potentes. Os antioxi- da ação anti-inflamatória e antioxidante pela remoção ção mais desenvolvida, desde a dis- anotando informações relativas ao
de nativas (estacas, mudas ou se-
dantes naturais encontrados no manjericão podem pro- das placas b-amiloides do cérebro, características da do- ponibilização de sementes e mudas local e época de coleta, porte etc.
mentes) destinadas ao início de uma
teger o corpo contra os danos causados pelos radicais ença. Outras ações benéficas da planta estão ligadas à no mercado, até a padronização exi- Este material conhecido como exsi-
produção agrícola, por sua vez, está
livres, prevenindo o envelhecimento celular, doenças de gida pelo mercado para o produto cata, deve ser encaminhado a her-
prevenção do desenvolvimento de cânceres gástricos, regulamentada sob os órgãos es-
pele comuns, além de acalmar os espasmos digestivos. final. bários oficiais existentes tanto em
de cólon, oral, esofágico, de mama e pele, segundo o taduais responsáveis pela emissão
American Institute for Cancer Research. Na culinária, po- Na área agrícola existe grande de licença ambiental, conforme um universidades como institutos de
O alecrim (Rosmarinus officinalis), planta originária do
dem ser utilizados seus próprios rizomas ou em pó para demanda por produção de semen- plano de manejo pré-elaborado. No pesquisas, que fazem a identificação
Mediterrâneo, é muito utilizado em temperos de carnes,
colorir laticínios, bebidas, em sopas, risotos, ensopados, tes e mudas para abastecer esta ca- Estado de São Paulo, atualmente, tal botânica. Podemos citar o Instituto
aves, peixes, além de ser um excelente aromatizador de
deia produtiva, quando falamos de processo está afeito à Coordenadoria de Botânica de São Paulo, que realiza
água de cozimento. É também conhecido como “erva da massas, frango, batatas e até em pães.
espécies nativas. Embora com um de Biodiversidade e Recursos esta identificação como uma presta-
lembrança”, pois revigora a memória e melhora o humor. Muito utilizado e conhecido por todos, o orégano mercado comprador diverso e em Naturais (CBRN) da Secretaria do ção de serviços, atendendo à legis-
Além de melhorar a circulação, tem efeito antidepressi- (Origanum vulgare) tem ação no processo digestivo, é expansão, o cultivo para substituição Meio Ambiente (SMA), que nos con- lação vigente (Resolução-RDC n.º 14
vo, antisséptico e estimula a digestão. analgésico, auxilia no tratamento de gripes e resfria- ao extrativismo de plantas nativas firmou a atual vigência da Portaria n.º de 31/3/2010, da Anvisa), segundo a
A salsa (Petroselinum crispum) é um alimento riquíssi- dos, pois possui ação antimicrobiana semelhante ao ainda necessita de adequações à le- 52 de 28/12/1998 do Departamento qual, matéria-prima obtida de espé-
ácido acetilsalicílico, assim como o tomilho e o alecrim. gislação. Estadual de Proteção de Recursos cies nativas destinadas ao mercado
mo em nutrientes como as vitaminas A e dos complexos
Naturais (DEPRN), instruindo sobre nacional de fitoterápicos deve estar
B e C, e sais minerais. Pode ser empregada em molhos, Tipicamente utilizado como finalizador em pizzas, tam- No Brasil, a produção de semen-
este plano de manejo. acompanhada da nomenclatura bo-
patês, saladas, legumes, peixes, sopas e guisados. Seu bém é empregado em molhos, massas e ensopados. tes e mudas para comercialização
consumo alivia os sintomas de bronquite, asma, cólicas está afeita à Legislação Brasileira Esta legislação não é apropriada tânica oficial completa (gênero, es-
Considerando a relevância dos compostos benéficos de Sementes e Mudas, segundo à produção por cultivo de espécies pécie, variedade, autor do binômio,
menstruais e cistite, além de auxiliar no tratamento de à saúde associados às plantas, ervas aromáticas e a Lei n.º 10.711 de 5/8/2003 e o nativas e não temos até o momen- família).
cálculos renais e cólicas. medicinais, é bom saber que essa riqueza é palpável e
A sálvia (Salvia officinalis) é muito usada para aroma- muito simples de ser utilizada na culinária convencional, Acesse os sites abaixo para melhor conhecer as legislações:
tizar carnes, aves, peixes, vegetais e queijos. Possui sabor desmistificando seu uso somente por grandes chefs de Decreto n.º 5.153 de 23/7/2004, do MAPA (www.agricultura.gov.br/vegetal/sementes-mudas)
e aroma muito característicos, portanto, a mistura com cozinha em pratos mais elaborados, além de ser muito Registro Nacional de Cultivares RNC (www.agricultura.gov.br/vegetal/registros-autorizacoes/registro/registro-nacional-cultivares)
outras ervas deverá ser cautelosa a fim de evitar a perda simples o cultivo doméstico. E é sempre bom lembrar Renasem (www.sistemasweb.agricultura.gov.br/pages/renasem.html)
desse aroma. Tem ação antioxidante, é digestiva, auxilia o que foi dito por Hipócrates, considerado pai da Portaria n.º 52 de 28/12/1998, DEPRN (www.ambiente.sp.gov.br/legislacao/portaria/portaria-deprn-n-52-4/)
no tratamento de problemas do fígado, de ansiedade, Medicina: “Adoecemos à medida que nos distanciamos Instituto de Botânica de São Paulo (www.ibot.sp.gov.br/index.php)
depressão e nos sintomas da menopausa. da natureza”. Resolução-RDC n.º 14 de 31/3/2010, da Anvisa (www.brasilsus.com.br/legislacoes/rdc/103507-14.html)
28 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬29

Agricultura de
Para alavancar as atividades do projeto em recebesse um kit básico com enxada, mangueira, raste-
Pindamonhangaba, em 2006, a Agência Paulista lo, regador, carrinho de mão e outras ferramentas que
Casa da
de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) – Polo Vale possibilitassem os cuidados de jardinagem e pudesse

Pindamonhangaba
do Paraíba, órgão da Secretaria de Agricultura e assim oferecer as plantas medicinais para a população.
Abastecimento, em parceria com a Prefeitura Municipal, O trabalho de capacitação deu tão certo, que atualmen-

Fotos: Roberta Lage – Cecor/CATI


conseguiu apoio financeiro da Fundação de Amparo te as equipes cuidam sozinhas das hortas e nós da Casa
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O apoio da Agricultura damos apoio com as mudas e com a terra,
aconteceu justamente no momento em que foram pu- fornecidas pela Apta, e em qualquer dificuldade agro-
blicadas, pelo Ministério da Saúde, as Políticas Nacionais nômica que surja”, conta Antônio Fernando Mourão. As
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e das Práticas hortas são personalizadas para cada comunidade. “As
Roberta Lage – Jornalista – Cecor/CATI Integrativas e Complementares. “O projeto surgiu da plantas utilizadas atendem especificamente às necessi-
necessidade de transformar um Programa em Política dades do perfil das pessoas da região onde o posto está

L
Pública no âmbito municipal, por meio de parceria en- inserido”, explica Lígia Cristina Berthou, agente comuni-
ocalizada na região central orgânica e explorações animais, bem como sobre linhas de financiamento.
tre uma Instituição de Pesquisa e a Prefeitura Municipal, tária de saúde.
do Vale do Paraíba e distan- De acordo com a equipe, foi na década de 1990 que as plantas medicinais
considerando sua importância para a manutenção da
te 140km da capital paulista, e aromáticas começaram a ganhar espaço nas hortas locais. “Grande parte
saúde e prevenção de doenças. Além de resgatar histori-
Pindamonhangaba, nome indígena das Casas da Agricultura da região desenvolvia projetos didáticos de hortas
camente e incentivar o uso das plantas medicinais, outro
que significa "lugar onde se fazem nas escolas, incluindo de plantas medicinais, visando à correta identificação
objetivo é promover a correta identificação botânica das
anzóis", começou a ser ocupada no da planta e o resgate do conhecimento popular. Uma grande incentivadora
mesmas”, explica Sandra Maria Pereira da Silva, pesqui-
final do século XVI. Conta a história desta atividade foi a engenheira agrônoma da CATI, Maria Márcia Souza,
sadora científica do Polo Apta – Vale do Paraíba, institui-
que o primeiro morador, que ganhou que ministrava cursos para as comunidades interessadas. Apesar da grande
ção responsável, no projeto, por desenvolver pesquisas
terras no local e implantou sítio com participação do público, percebeu-se a necessidade de prescritores para as
em estufas de experimentos agronômicos e fornecer as
ranchos e pastaria, foi João do Prado indicações de uso e, por esta dificuldade, o trabalho foi perdendo a força. Em
plantas com identificação botânica aos postos de saúde
Martins, em 1643. Pindamonhangaba, graças a um grupo de profissionais da área de saúde, o
do município.
trabalho teve continuidade, sendo que a CA, então municipalizada, passou
Mas, apesar de o nome da cida-
a dar apoio logístico para a implantação de hortas medicinais nos postos de Desde 2006, com a aprovação do financiamento do
de estar relacionado a anzóis, não
saúde interessados”, conta Telma Souza. projeto no Programa de Pesquisa em Políticas Públicas
é a piscicultura o ponto forte da
da Fapesp, foram realizadas várias ações, que auxilia-
economia do município. Depois do O Município de Pindamonhangaba começou a se destacar pelas Práticas
ram o fortalecimento deste projeto enquanto política
término do ciclo do café, no fim da Integrativas de Saúde, projeto iniciado em 1985, com a implantação da
década de 1920, onde foi um gran- Homeopatia no Sistema Único de Saúde (SUS) e, em 1990, com o projeto pública, destacando-se a criação do Centro de Práticas
de centro cafeeiro, a economia de de Plantas Medicinais e Fitoterapia. A iniciativa foi do Grupo de Estudo de Integrativas e Complementares (CPIC). Esta unidade
Pindamonhangaba passou a se Práticas Alternativas em Saúde (Gepas), atual Grupo de Estudo e Trabalho faz parte da Secretaria de Saúde e Promoção Social da
apoiar na constituição de uma im- Interinstitucional (Geti), integrante da Secretaria Municipal de Saúde e Prefeitura de Pindamonhangaba e oferece, aos usuá-
portante bacia leiteira, em extensas Promoção Social de Pindamonhangaba, que tinham como objetivos o res- rios do SUS, atendimentos com homeopatia, fitoterapia, E é em uma dessas unidades, que a dentista Ticiana
culturas de arroz e na produção de gate cultural das plantas bem como oferecer orientação à população sobre práticas da medicina tradicional chinesa, terapia co- Gama utiliza e recomenda aos seus pacientes a tintura
hortigranjeiros. Hoje, além dessas plantas medicinais e sua utilização. Foram construídos hortos didáticos, ofe- munitária, arteterapia, orientações para uma alimenta- de tansagem, planta que tem ação anti-inflamatória,
culturas, têm espaço a olericultura recidos treinamentos para profissionais e para a comunidade, atendimento ção saudável, rodas de estudo de plantas e tratamento antibactericida e cicatrizante, para aliviar sintomas de
e a fruticultura, no entanto, o que médico e, em 2000, houve a introdução, no SUS, dos fitoterápicos creme de com plantas medicinais. “Fizemos um levantamento na aftas, gengivites, estomatites, traumas provocados por
faz com o município se destaque é a calêndula (usado para tratar de úlceras, escaras, queimaduras, assaduras de região e cerca de 90% da população já utiliza plantas próteses e outros desconfortos bucais, medicamento
parceria entre a agricultura e a saúde, pele e acne); creme de babosa (para o tratamento de queimaduras, úlceras e medicinais, ou seja, já é uma prática na região. Na área este que desde 2010 também passou a ser distribuído
que resultaram em um projeto com escaras) e o xarope de guaco (expectorante e broncodilatador). da saúde elas têm uma ação medicamentosa; planta é pelo SUS do município. “Percebemos em nossos estudos
plantas medicinais que é referência remédio e, portanto, integra o sistema de saúde”, ava- que não havia, em nossa rede, nenhum medicamento
em várias regiões do País. lia Iracélis Fátima de Moraes, assistente social do CPIC, alopático ou fitoterápico, voltado ao tratamento odon-
que complementa: “Apresentar aos que não conhecem, tológico disponibilizado aos pacientes do SUS. Fizemos
A Casa da Agricultura (CA) de os benefícios das plantas medicinais é fazer com que os pesquisas e experimentos e comprovamos a eficácia da
Pindamonhangaba tem grande mesmos apoderem-se de conhecimento para tratar da tansagem. Dentistas e pacientes estão satisfeitos. Temos
importância neste trabalho. Criada própria saúde com informações claras, de forma natural um ganho excelente ao aproveitar o que a agricultura
em 7 de novembro de 1983, conta e com apoio de profissionais”. nos oferece”, explica Ticiana, que cultiva a planta, com
atualmente com três funcionários do
apoio dos agentes de saúde, no posto em que atua.
quadro, Telma Souza, engenheira O Programa Saúde da Família de Pindamonhangaba
agrônoma responsável pela CA, o conta atualmente com 21 postos de atendimento e vem Usuários das plantas medicinais e pacientes do CPIC
biólogo José Fernando Rodrigues, se estruturando no município por meio da implantação atestam a eficácia de seus tratamentos. Maria Aparecida
oficial de apoio agropecuário e de hortos didáticos, capacitação para profissionais e Santos, sofria com a pressão alta e com desconfortos
Antônio Fernando Mourão, auxiliar comunidade e atendimento médico. A CATI foi respon- estomacais e, após tomar vários medicamentos alopáti-
de apoio agropecuário e estudante sável por dar apoio logístico à implantação dos hortos. cos, resolveu testar um tratamento mais natural. “Desde
de Gestão Pública, que orientam “Distribuímos as mudas, levamos a terra às unidades de que passei a tomar chás e a me tratar com a fitoterapia,
os produtores nas diversificadas saúde e capacitamos os agentes a como fazer as hortas comecei a me sentir bem melhor e a ter resultados sig-
demandas, sendo mais presentes com garrafas plásticas. Além disso, fizemos um projeto, nificativos. Retomei contato com plantas que conheci
os temas voltados à agricultura também financiado pela Fapesp, para que cada unidade na infância, quando morava na roça, e era tratada com
30 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬31

Produção e Comercialização
o que a natureza oferecia”, avalia. Rosa Póla de Araújo já teve problemas numa referência ao folclore, foi proposta
com rinite alérgica, níveis inadequados de colesterol e infecção urinária. pela Associação de Plantas Medicinais e
Todos foram tratados com o auxílio das plantas medicinais. “Usei carque- Fitoterapia Nova Essência, uma organi-

de Plantas Medicinais
ja, cavalinha e outros chás e medicamentos e consegui equilibrar meu zação não governamental que surgiu em
colesterol bem como solucionar a alergia e a infecção. Apesar do efeito 1993 como um movimento popular em
ser mais lento que a alopatia, não tive problemas com os efeitos colate- apoio ao Programa de Plantas Medicinais
rais e percebi que os resultados são mais duradouros”. e Fitoterapia do município. “A associação
foi fundada para trabalhar o científico
e o popular, para organizar e apoiar to-
das as iniciativas voltadas ao estudo e à Ílio Montanari Junior – Engenheiro Agrônomo – Divisão de Agrotecnologia do Centro Pluridisciplinar de
divulgação deste tema. Também parti- Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp) – iliomontanarijr@gmail.com
cipamos de cursos, inclusive oferecidos

N
pela CATI, para aperfeiçoarmos cada vez as duas últimas décadas, farmacopeias de cada país, criando das plantas exportadas é feito pelo
mais nosso trabalho”, conta Maria Neide houve uma acentuada re- condições legais para que possam nome popular e não pelo científico,
Duran, secretária e sócia-fundadora da valorização mundial do ser oficialmente transformadas em o que pode gerar duplicidade nos
Associação. uso de plantas medicinais. Este fenô- medicamentos e receitadas por mé- registros, haja vista que uma mesma
E a CATI pretende colaborar com a meno pode ser explicado, principal- dicos. planta pode ter vários nomes popu-
ampliação deste projeto e incentivar mente, por três fatores: Apesar da crescente importân- lares, nas diferentes regiões do País.
os produtores da região a enxergar nas a) a crescente aceitação do consumi- cia econômica dessas plantas, in- Informações sobre números
plantas aromáticas e medicinais um novo dor por medicamentos feitos a partir formações sobre a demanda atual e do mercado internacional de
nicho de mercado. “Aliar, principalmente, de plantas; suas estimativas futuras não estão fitoterápicos podem ser encontradas
as aromáticas no artesanato pode ser um b) um renovado interesse da sistematizadas em nenhum banco em www.mshealth.com
caminho interessante para as esposas indústria farmacêutica na busca de de dados. Falta transparência à ca-
dos produtores”, avalia Telma Souza, da compostos naturais que possuam deia produtiva e rastreabilidade da Tipos de mercado
De acordo com Maria Tereza Suarez, médica homeopata do CATI. atividade farmacológica, por causa matéria-prima. Alguns sistemas de
CPIC e uma das idealizadoras do Programa de Plantas Medicinais de Por conta da quantidade de plan-
De acordo com o engenheiro de sua aceitação pelos usuários e informações como os que existem
Pindamonhangaba, é fundamental o acompanhamento de um profissio- tas usadas para fins medicinais, os
agrônomo Paulo Henrique Salgado pelos menores custos envolvidos na Secretaria de Comércio Exterior
nal para o tratamento fitoterápico. “Não é porque os medicamentos têm aspectos de sua comercialização po-
de Queiroz, diretor da CATI Regional na pesquisa e desenvolvimento de (Secex) e no Instituto Brasileiro do
propriedades naturais, que os pacientes podem se automedicar. É preci- dem ser melhor compreendidos se o
Pindamonhangaba, a atuação da Casa um novo produto obtido a partir de Meio Ambiente e dos Recursos
so conhecer o histórico do paciente, a evolução das doenças e indicar as mercado for dividido em três: merca-
da Agricultura no envolvimento com os plantas; Naturais Renováveis (Ibama) ainda
dosagens adequadas”, avalia ela que ainda completa: “Entendemos que a do de plantas nativas, de exóticas e
trabalhos de plantas medicinais e fitote- c) o aumento das pesquisas científi- são insuficientes para uma avaliação
difusão do conhecimento e do uso adequado das plantas medicinais só de uso industrial.
rapia, dentro de suas responsabilidades, cas que validam o uso de inúmeras segura da demanda e da comercia-
é possível se realizados com todos os atores envolvidos neste processo plantas usadas tradicionalmente, lização de plantas medicinais. Uma O mercado das plantas nativas
está sendo cumprida. “Há apoio com as-
– do plantio à elaboração de fórmulas farmacêuticas. Garantir a preser- que estão sendo incorporadas às das razões para isso, é que o registro tem um potencial muito grande, tan-
sistência técnica e há intenção de ampliar
vação das espécies e a melhor forma de cultivá-las é essencial para que a to dentro do País, como para fins de
esse trabalho, principalmente em relação
cultura do nosso povo se fortaleça”. exportação. Apesar disso, esse seg-
aos produtores rurais. Nossa região é re-
Para Isael Domingues, secretário de Saúde Municipal e médico, o su- conhecida como um berço de conheci- mento tem se expandido lentamente
cesso do programa em Pindamonhangaba se deve, entre outros fatores, mentos em plantas medicinais, pela sua e, provavelmente, o motivo esteja na
à gestão integrada de várias entidades. “Há uma parceria entre a saúde, a vegetação e também pela riqueza dessas sua base legal, pois poucas plantas
educação, a pesquisa e a agricultura, que consolida o trabalho com plan- matérias-primas. Acreditamos que este brasileiras fazem parte da nossa ou
tas medicinais. As plantas têm uma atividade bem definida na natureza potencial do Vale do Paraíba pode se de farmacopeias estrangeiras, o que
e poder usar a medicina convencional em harmonia com a alternativa só transformar em alternativa de renda para inviabiliza a indicação no receituário
traz benefícios para a população. Informar a sociedade por meio de fó- o produtor rural”. médico. Essa situação faz com que a
runs, debates, informativos e demais produtos de comunicação também demanda por plantas medicinais bra-
é estratégia importante para que haja bons resultados”. sileiras seja pequena. Contribui ain-
Casa da Agricultura de da, para essa lentidão, o fato de que
E é o que acontece no município. Em 2008, a Câmara de Vereadores de Pindamonhangaba: a matéria-prima não tem conseguido
Pindamonhangaba aprovou por meio de lei o Dia Municipal das Plantas ca.pindamonhangaba@cati.sp.gov.br chegar às empresas que a transfor-
Medicinais, sendo escolhida a data de 22 de agosto. A data comemorativa, (12) 3643-2022 marão em medicamento, com o pa-
drão, a quantidade e a regularidade
requeridos. Isso ocorre porque, com
algumas exceções, não existem es-
pécies medicinais da flora brasileira
Graça D'Auria - Cecor/CATI

que sejam obtidas por cultivo, o que


faz com que o mercado seja abaste-
cido quase que exclusivamente por
medicamentos vegetais, obtidos por
meio do extrativismo.
32 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬33

As plantas obtidas por coleta difi- que o cultivo de espécies medicinais é preciso estabelecer parcerias, criar o agricultor deve optar entre se es- Claviceps paspali, Datura suaveolens, de, prática que agrega valor ao pro-
cilmente alcançarão a qualidade de- exóticas depende, principalmente, associações e/ou cooperativas entre pecializar na produção de algumas Erytroxylum coca, Lophophora willia- duto.
sejada pelas empresas, porque nelas do investimento financeiro a ser feito seus pares. espécies em grandes quantidades e, msii e Prestonia amazonica, porque
não é possível controlar os quatro fa- pelo produtor. neste caso, comercializar sua produ- podem originar substâncias entorpe- Como agregar valor ao produto
O mercado está estruturado de
tores responsáveis pela qualidade da ção com atacadistas e indústrias, ou centes ou psicotrópicas. Por sua vez, Em relação à tecnologia de pro-
A comercialização das plantas maneira que o produtor negocia
matéria-prima: genético, ambiental, produzir pouca quantidade de cada o MMA, por meio do Ibama, exerce dução e ao valor agregado à ma-
de uso industrial é bastante difícil, sua produção com o atacadista de
fase fenológica e pós-colheita. Além uma das muitas espécies que pre- uma ação de fiscalização sobre a téria-prima, o produtor de plantas
porque as indústrias que fazem uso ervas o qual, por trabalhar com gran-
do padrão químico, pelo extrativis- tende cultivar, comercializando seus produção e o comércio. Segundo medicinais pode, no mínimo, comer-
de plantas medicinais como, por de número de itens e quantidades,
mo não se consegue prever as quan- produtos em pontos de varejo como esse órgão, para que o produtor
exemplo, a Duboisia myoporoides, tem condições mais propícias para cializar plantas in natura (secas ou
tidades e a regularidade do forneci- lojas e farmácias. possa produzir, transportar e comer-
a Digitalis lanata (dedaleira) ou a analisar e processar a matéria-prima, não) e, no máximo, extratos e óleos
mento da matéria-prima. Forma-se cializar, é necessário que seja regis-
Cataranthus roseus (vinca rósea) para essenciais. Entre esses dois extremos

Lilian Cerveira - Cecor/CATI


aí um círculo vicioso em que a falta trado no Cadastro Técnico Federal
extração dos princípios ativos: esco- existe um conjunto de ações que
de qualidade justifica os baixos pre- de Atividades Potencialmente
polamina, digitalina e vincristina res- pode agregar valor à produção. Para
ços e esses, por sua vez, alimentam o Poluidoras ou Utilizadoras de
pectivamente, cultivam variedades o produtor, a seleção adequada da
desinteresse pelo cultivo de plantas Recursos Ambientais (CTFAPP) e
que elas mesmas desenvolveram por matéria-prima e algumas etapas de
nativas. Apenas algumas espécies apresente plano de manejo aprova-
meio de programas de melhoramen- pré-processamento, como triturar,
cultivadas já conseguiram quebrar do pelo Ibama ou pelo órgão estadu-
to genético e, por isso, essas empre- moer ou rasurar são oportunidades
esse ciclo, como é o caso da espi- al competente. Para o transporte da
sas acabam sendo responsáveis pelo para agregar valor ao produto. O uso
nheira santa (Maytenus ilicifolia), do sua produção é necessário que ele
cultivo. de embalagens adequadas e de uma
guaco (Mikania glomerata e M. laevi- apresente uma guia de Autorização
gata) e da fáfia (Pfaffia glomerata e P. para Transporte de Produto Florestal marca também representam oportu-
Produção e comercialização nidades.
paniculata). (ATPF), emitida pelo Ibama. Este ór-
Deve-se considerar que as plan- gão não reconhece que a produção
Pode-se dizer que o principal tas medicinais podem ter múltiplos Porém, em termos econômicos,
de plantas medicinais obtida por cul- o mercado de matéria seca é menos
fator de restrição para o cultivo de usos. Em termos de volume comer- tivo está subordinada ao MAPA e não importante. Os verdadeiros insumos
plantas medicinais nativas não é fi- cializado, a matéria-prima obtida a ao MMA. Esse fato gera problemas na
nanceiro, mas a falta de conhecimen- para a fabricação de um produto
partir desse tipo de planta destina-se produção e comercialização de plan-
to do aspecto fitotécnico (espaça- acabado são os óleos essenciais e
não para fins medicinais, mas para tas medicinais cultivadas, pois obri-
mento, solo, clima, adubação etc.) e, os extratos vegetais, por isso têm o
cosméticos, corantes, aromatizantes ga o produtor rural a se registrar no
também, a inexistência de cultivares. maior valor agregado para a comer-
e/ou alimentícios. Além desses usos, CTFAPP, apresentar plano de manejo
e obter a guia ATPF, exigências que cialização. A destilação desses óleos
No mercado de plantas medici- também podem ser utilizadas na fa-
não são aplicáveis ao agricultor. e a obtenção de extratos vegetais re-
nais exóticas, a produção brasileira bricação de repelentes de insetos, presentam as mais refinadas etapas
não é suficiente para atender a de- produtos de uso agrícola e veteriná- Indiretamente, o agricultor é
manda interna. Para atendê-la, o País da cadeia de valor que podem ser al-
rio, e protetores solares. afetado também por decisões do cançadas pelos produtores, sem que
recorre à importação, por isso, um
Outras vezes, o interesse por elas Ministério da Saúde (MS). Como o haja conflitos legais.
eventual crescimento na produção
reside em alguma propriedade física emprego que se fará dos recursos
interna encontraria colocação garan-
que possuem, como espessante ou naturais tem implicações na saúde Como encontrar o comprador
tida. Por diversas razões, o mercado Ao fazer a escolha das plantas
entregando-a nas especificações de- pública, o uso dessas plantas é regu- Os compradores de ervas medici-
das plantas exóticas está melhor es- tensoativo. Por essas razões, o mer- a cultivar, o produtor deve lembrar
sejadas pelo comprador. Por isso, os lamentado pelas autoridades sani- nais podem ser encontrados de vá-
tabelecido, uma delas é o fato de que cado expandido dessas plantas não que aquelas que possuem usos si-
atacadistas não são apenas reven- tárias, especificamente pela Agência rias maneiras. Visitas às lojas de pro-
as espécies mais conhecidas fazem deve ser visto como nichos, mas sim multâneos diversos e são farmaco-
dedores, mas também processam a Nacional de Vigilância Sanitária
parte de várias farmacopeias. Cria-se como principal área a ser atingida. peicas, são mais facilmente comer- dutos naturais, farmácias e até mes-
planta, moendo, triturando e limpan- (Anvisa).
assim, condições legais para que os Mercados que poderiam ser melhor cializadas. Assim, além dos laborató- mo supermercados podem fornecer
do, bem como emitindo laudos de
medicamentos feitos à base dessas explorados são o de produtos artesa- rios e das farmácias de manipulação, A responsabilidade legal de con- endereços úteis, pois na embalagem
análises químicas e microbiológicas,
plantas possam ser receitados por nais, como sabonetes, xampus, velas outros possíveis compradores de trolar a qualidade do produto é de dos produtos consta o contato do
além de fazer a distribuição dos pro-
médicos e fabricados por laborató- aromáticas, travesseiros aromáticos plantas medicinais são as indústrias quem atinge o consumidor final. Para fabricante. Por meio da internet, tam-
dutos.
rios ou aviados por farmacêuticos, o cosméticas, alimentícias e químicas. a matéria-prima ou insumo, não há bém se consegue chegar a empresas
etc., que encontram no público con-
que move toda a cadeia de produ- Existe uma relação inversa entre ainda requerimentos legais impostos compradoras. Outra fonte de consul-
sumidor de produtos naturais uma o número de espécies que um agri- Aspectos legais
ção. Outra razão para esse segmento
clientela em potencial. ao produtor em relação à qualida- ta são as páginas amarelas da lista te-
estar mais estabelecido é o fato de cultor cultiva e a área cultivada com Uma vez que as plantas medicinais
cada espécie. O problema está em de do que produz, a não ser para as lefônica, principalmente de grandes
que essas espécies estão domestica- Embora seja desejável para o agri- podem ser obtidas de duas manei-
das e possuem tecnologia de cultivo se conseguir sincronizar as etapas plantas farmacopeicas e apenas no centros urbanos, sob os títulos “pro-
cultor obter melhores preços, comer- ras (manejo/extrativismo e cultivo),
desenvolvidas. O agricultor encontra cializando sua safra diretamente com da produção, como o feitio de mu- caso de serem comercializadas espe- dutos farmacêuticos”, “condimentos”,
a produção é regulamentada pelo
sementes de variedades seleciona- o consumidor final, é uma operação das, o plantio, o manejo da cultura, Ministério do Meio Ambiente (MMA) cificamente para a fabricação de me- “ervas medicinais”, “produtos natu-
das (cultivares) e as técnicas de cul- difícil, pois a distribuição das ervas a colheita, a secagem e o armazena- e pelo Ministério da Agricultura, dicamentos. Isso não quer dizer que rais”, “farmácias” etc. Visitas às feiras
tivo são conhecidas, embora muitas é uma tarefa que exige organização mento, sem que haja sobreposição Pecuária e Abastecimento (MAPA). não seja desejável (e relativamente de produtos naturais também au-
vezes devam ser adaptadas para as comercial complexa e exclusiva. Para de operações entre as diferentes O MAPA apenas proíbe o cultivo simples) comercializar a produção mentam a lista de possíveis interes-
condições brasileiras. Pode-se dizer comercializar grandes quantidades espécies cultivadas. Por essa razão, de seis espécies: Cannabis sativa, com laudos de controle de qualida- sados.
34 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬35

Morada das Nascentes: o eldorado da


do exterior já deixaram sua assina-
tura no livro de presença que César
vem organizando.

família Leite de Oliveira Das discussões sobre a melhor


forma de trabalhar com as plantas
Graça D’Auria – Jornalista – Cecor/CATI medicinais, surgiu o manejo susten-
tável da mata que foi dividida em

E
m 1994, por um revés finan- mais significativa era ter o Índice de medicinais da Dextru/CATI, Maria quadrantes. A cada época do ano
ceiro, o funcionário públi- Desenvolvimento Humano (IDH) Cláudia Silva Garcia Blanco. Pouco é feita a colheita sem prejuízos às
co César Augusto Leite de mais baixo do Estado de São Paulo. tempo depois, já inteirado da rique- plantas. Outras são adquiridas de as-
Oliveira trocou uma casa no Litoral za que tinha em mãos, conseguiu sociações de produtores que tem a
Mas foi ali que a família Leite de
Norte paulista, por uma fazenda no reunir em um Seminário no Vale do mesma preocupação ambiental e de
Oliveira começou uma mudança ra-
Vale do Ribeira. “No dia 8 de dezem- Ribeira mais de 50 pesquisadores de qualidade de produtos. Na agroin-
dical em suas vidas. Sem entender
bro, eu me vi com 140 hectares, a vários estados brasileiros, médicos, dústria de chás, montada com ma-
de fazenda, César contratou Carlos
maior parte de Mata Atlântica nativa, farmacêuticos, extensionistas, para teriais reciclados, como pranchas e
Nove, um “mateiro”, como é conheci-
um pasto abandonado há mais de 10 discutir a implantação de um projeto tubos de aço inoxidável, as ervas são
da a pessoa que entende de plantas
anos, um quartinho e três vacas, uma nacional de uso de fitoterápicos nas picadas, desidratadas e embaladas
medicinais, que em um breve pas-
terra não-legalizada, mas uma posse redes públicas. Com pouco mais de para venda. A maior parte é entregue a
seio pela mata achou vários “cifrões”. uma conhecida marca de fitoterápicos
centenária”, conta César. Depois de 50 anos de idade e quase 30 como
Cifrão não era o nome de uma planta que têm distribuição nacional e outra
três meses sem dormir direito, pe- executivo de empresa pública, César
como César pensou a princípio, mas passou a ser processada com a marca
gou os dois filhos, então pré-adoles- dava início a um novo projeto, um
a possibilidade de tirar da mata o sus- Vitta Verva. Guilherme, que se formou
centes e seguiu madrugada adentro projeto de qualidade de vida que
tento da fazenda e, mais importante, em Direito, é quem comanda a parte
para Eldorado. Até aquele momen- ele e o filho Guilherme pretendem
manter todo aquele patrimônio pre- industrial e comercial. “Optei por dar
to, pouco sabiam sobre o Vale do levar a todos por meio da Vitta Verva prosseguimento ao sonho do meu pai,
servado. “Eu percebi que ali poderia
Ribeira, região onde a Mata Atlântica Produtos Naturais. que se tornou realidade com muitos
estar a cura para muitas doenças”,
ainda é exuberante, e a informação sacrifícios pessoais. O que tínhamos
afirma César, que se tornou um de- O caminho até a Vitta Verva – que
fensor aguerrido não só da de propriedades e bens materiais foi
nasceu há apenas um ano, depois
fitoterapia, mas do Vale do investido aqui, mais do que dinheiro,
que Guilherme decidiu lançar uma

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


são quase duas décadas de dedicação
Ribeira, sua gente, seus costu- marca própria de chás – foi longo a uma causa. Hoje, a propriedade vale
mes, sua riqueza. e árduo. Toda semana percorriam bem mais que um milhão de reais; o
Hoje, estão catalogadas mais de 600km de ida e volta até o registro após estes longos anos de
na área 180 espécies de plan- Sítio Morrinhos, que logo passou a posse está para sair, mas para mim o
tas medicinais, um estudo ser chamado “Fazenda Morada das que vale é a realização na marca Vitta
que vem sendo realizado em Nascentes”, com a incorporação de Verva, uma união de vida, verde e erva”,
mais uma área, além disso, muito diz Guilherme. árvores de onde saem os chás verde, arte do comércio e quero conquistar
parceria com as universida-
des paulistas (Unesp, USP, mais sugestivo, já que até o mês pas- Para dar origem à empresa, foi branco e vermelho, e tantas outras es- novos clientes no Rio de Janeiro e
Unicamp); com a Agência sado foram contabilizadas 19 nas- preciso reunir profissionais da área de pécies que vão sendo incorporadas à Espírito Santo”, afirma Guilherme. Ele
Paulista de Tecnologia dos centes nos domínios da propriedade. publicidade e contabilidade, capacitar, paisagem de uma forma mais ou me- já sabe que os diferenciais estão no
Guilherme invariavelmente acompa- otimizar a agroindústria, que atual- nos aleatória, mas que garantem diver- sabor e aroma dos chás: “quem toma
Agronegócios (Apta), por
nhava estas viagens e a transforma- mente conta com vários protocolos de sidade em cada pequeno espaço. uma vez nota a diferença, é um pro-
meio do Polo Regional de
funcionamento e tem capacidade para duto que vende por si próprio”. Nessa
Pariquera-Açú e do Instituto ção do lugar. De um simples quarti- É assim que a vida segue seu rumo
embalar 140 tipos de chás desidrata- mesma linha, esses empreendedores
Agronômico de Campinas nho, hoje são 1.000m² de construção na Fazenda Morada das Nascentes, for-
dos. Na manufatura são dois funcioná- já estão fazendo experiências com fru-
(IAC), e com a extensão ru- que abrigam a agroindústria e a casa necendo ervas naturais, abrindo espa-
rios, o casal Lauro e Maria Aparecida de tas, como banana chips e passa.
ral da CATI, via Divisão de da fazenda feita para hospedar não ço para a pesquisa catalogar cerca de
Souza, que há 12 anos trabalham na três mil espécies de medicinais, aromá- As instalações e maquinários já
Extensão Rural (Dextru). só visitantes e amigos da família, mas
fazenda onde aprenderam a fazer a ex- ticas e condimentares já identificadas existem, a mão de obra qualificada
César, que tem residência em alunos das universidades que fazem
Graça D'Auria – Cecor/CATI

tração via manejo da mata, encontrar entre pelo menos 55 mil plantas que a também, a mata centenária está pre-
Campinas, chegou até estes os estudos botânicos acompanhados e reconhecer as ervas, fazer o preparo pesquisa calcula que existam em solo servada para as próximas gerações,
órgãos buscando conheci- pelo professor Lindolpho Capellari no tempo certo e nas condições ade- nacional. Mas este é um trabalho de não só da família Leite de Oliveira, mas
mento e o primeiro contato Júnior, do Departamento de Ciências quadas. Ainda cuidam da manutenção várias gerações, por enquanto os chás das famílias que investem e acreditam
foi feito em um curso de fi- Biológicas da Escola Superior de da área e dos novos cultivos, como as Vitta Verva podem ser encontrados na que no bioma Mata Atlântica, preser-
toterapia organizado pela Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq/ espinheiras santas que crescem pela região de Campinas, em redes de su- vado no Vale do Ribeira, estão o po-
Guilherme e o pai, César Augusto: ideal da família deu engenheira agrônoma res- USP). Ele não é o único, pesquisado- encosta, o campo de citronelas mar- permercados e varejões de hortifruti- tencial e as soluções para o desenvol-
origem à Vitta Verva
ponsável pela área de plantas res de vários locais do País e também geando a pastagem, as amoreiras, as granjeiros. “Estou aprendendo a difícil vimento da região.
36 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬37

Plantas Medicinais e Aromáticas


ervas medicinais e aromáticas. Também será iniciada a de uma cooperativa, para que eles tenham êxito, pois é

Fotos: Cleusa Pinheiro - Cecor/CATI


divulgação do projeto com um canal de comercializa- preciso ter uma infraestrutura mínima para agregar va-
ção via um site, que está em fase de construção. Para o lor à produção. É preciso conhecer o mercado e estudar

Experiências no Vale do Paraíba


fortalecimento das ações, o Projeto conta com o apoio o pós-colheita para tomar a decisão sobre qual o seg-
da pesquisadora Amira Rachid, da CATI e da Prefeitura mento é o melhor para cada produtor”.
Municipal.
Com este conhecimento na bagagem, adquirido em
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Cecor/CATI Para José Manoel da Silva, produtor de banana, li- um longo caminho sedimentado por erros e acertos, o
mão, café e plantas medicinais, o Projeto está indo de- grupo de produtores pretende continuar aromatizando
O Vale do Paraíba carrega em sua paisagem
vagar, mas com grande potencial. Além de cultivar as a vida de muitas famílias com um futuro melhor.
as tintas da Mata Atlântica que, entre vales e
plantas medicinais e aromáticas para a produção de óle-
montanhas, guarda uma rica biodiversidade. João, José Manoel, Alice, Solange e
os, o produtor também as utiliza na prevenção a pragas
Em meio a esse cenário, produtores dos Sandra: parcerias são o segredo do
e doenças nas outras culturas e está investindo em um
municípios de São Bento do Sapucaí e sucesso do Aromas do Vale
viveiro de mudas de gerânio. “Atualmente tenho 500 pés
de Natividade da Serra encontraram nas
de capim cidreira e o mesmo tanto de alecrim. A primei-
plantas medicinais e aromáticas renda com
ra destilação foi feita em casa, no ano passado, e rendeu
sustentabilidade ambiental.
um litro de óleo. E também já estou usufruindo de ou-
tros benefícios desse tipo de plantio que faço consorcia-
da com a banana”.
Segundo a agrônoma Silvana, esse fato se explica
tecnicamente, pois uma grande parte das plantas me-
Aromas do Vale : óleos essenciais para o bem-estar e renda para produtores dicinais e aromáticas são refúgios naturais para inimigos
naturais de pragas que atacam, principalmente as frutas.

A
“Muitas plantas também repelem os insetos. Além disso,
paisagem exuberante da Serra da Mantiqueira noma Alice Arcocha, coordenadora técnica do Projeto e
o cultivo consorciado é rentável para o fruticultor, princi-
e do Vale do Paraíba é um convite à integra- produtora associada da Frutificar, acrescentando que os palmente no início do pomar, quando ele está esperan-
ção de corpo, alma e natureza. Neste cenário óleos essenciais podem ser comercializados com valo- do o retorno do investimento”.
entrecortado por vales e montanhas e detentor de uma res 40% superiores aos obtidos com a venda da planta
rica biodiversidade, um grupo de produtores do muni- in natura. Sandra Maria Pereira da Silva, pesquisadora da
cípio de São Bento do Sapucaí se propôs a diversificar Agência Paulista de Tecnologias do Agronegócio (Apta
Com o slogan “A essência do campo em gotas de luz”, - Polo Vale do Paraíba), que apoia o projeto desde sua
atividades com sustentabilidade ambiental. “Em 2006,
frase cunhada por uma das produtoras, a terapeuta ho- implantação, afirma que o Aromas do Vale tem tudo para
cursos ministrados por meio da parceria entre o Serviço
lística Sandra Abel, o grupo aposta na qualidade de seu ser um grande exemplo de que as plantas medicinais e
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e a CATI, sobre
produto para alcançar cada vez mais o mercado, que até aromáticas podem ser uma atividade complementar de
diversos temas como fruticultura, olericultura e agricul-
o momento é voltado apenas para o segmento de aro- renda aos produtores familiares, mas faz um alerta: “O
tura orgânica, se tornaram o elo entre produtores já es-
materapia. “Todo o processo é feito de forma artesanal maior gargalo da atividade é a comercialização, por isso
tabelecidos e outros interessados na produção agrícola
em dois destiladores e que têm capacidade para 20kg de enfatizamos a organização voltada para a constituição
com respeito aos recursos naturais da região. A partir daí,
plantas cada um. A cada extração, que dura aproximada-

Aloe vera :
um grupo manifestou interesse em se organizar para ter
mente duas horas, obtemos cerca de 40mL de óleo puro,
maior poder de compra e comercialização, bem como
sem nenhuma mistura, que tem sido comercializado em na essência da planta, produtor encontra o sucesso
articular meios para ampliar a renda das famílias envol-
feiras e exposições em frascos de 10 e 100mL, algumas

N
vidas. Nasceu então, a Associação de Produtores Rurais ascido e criado em Mato Grosso, Edson Leite do, uma propriedade em Natividade da Serra, município
inclusive com o apoio da CATI, como foi o caso da Feira
Frutificar, que atualmente congrega 70 produtores, di- de Moraes veio para São Paulo há 11 anos, localizado a cerca de 130km da capital, e deu início às
do Empreendedor Rural no Parque da Água Branca”, es-
vididos em grupos por cadeias produtivas”, esclarecem mas nunca esqueceu as raízes rurais. Com o pesquisas para encontrar a cultura certa. “Tive muitas
clarece Alice.
Solange Barbosa, coordenadora do Senar no município, objetivo de ter novamente a produção agrícola como experiências com diversos tipos de cultivo. Mas sem-
e Silvana Catarina Sales Bueno, engenheira agrônoma Passados quatro anos da implementação do Projeto, atividade principal, adquiriu, juntamente com o cunha- pre quis investir em uma atividade que desse retorno
do Núcleo de Produção de Mudas da CATI, que atuou os produtores contabilizam dificuldades e aprendizados. financeiro, com sustentabilidade ambiental e difusão de
como instrutora nos cursos. “Começamos com um grupo de cerca de 15 pessoas. bem-estar para as pessoas”, conta ele.
Atualmente, após dificuldades iniciais, principalmente
O frutificar de ideias da associação resultou, no ano Produtor Edson Moraes A resposta foi encontrada há seis anos, quando co-
na área de comercialização, seis se mantiveram firmes e
de 2009, em uma nova alternativa de renda para o gru- projeta grandes perspectivas nheceu o potencial da Aloe vera, a tradicional babosa,
começam a colher os primeiros resultados. Nestes qua- para o mercado de gel de
po de produtores orgânicos, que visualizou nas plantas planta conhecida pela população da maioria dos Esta-
tro anos de ações descobrimos que, como em outras Aloe vera
medicinais e aromáticas a essência de uma vida com dos brasileiros. “Em pesquisas na internet e contato com
áreas do agronegócio, os resultados não são imediatos,
mais saúde e renda. “Foram feitos cursos na área e ela- especialistas vi que o gel da planta tem múltiplas fun-
mas no caso dos óleos essenciais são promissores”, conta
borado o Projeto Aromas do Vale para obtenção de óle- ções seja na indústria cosmética, farmacêutica e como
Alice.
os essenciais que garantem maior agregação de valor à alimento funcional. Descobri que os efeitos da planta
produção, oriunda de pequenas áreas nas propriedades Entre os desafios para ampliar e diversificar a produ- são amplamente conhecidos e valorizados em países
onde são instalados canteiros nos quais são cultivados ção de plantas e de óleos essenciais, o grupo de produ- europeus e nos Estados Unidos, que têm a maior pro-
alecrim, capim cidreira ou capim limão, capim tailandês, tores do Aromas do Vale almeja ampliar a área de culti- dução mundial. Apesar do saber popular e de que a
gerânio e hortelã pimenta”, explica a engenheira agrô- vo e incentivar interessados a começarem plantios das maioria das famílias têm um pé de babosa no quintal,
38 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬39

Centroflora:
Catarina e vi a importância de que elas tenham proce-
Adilson Moraes: babosa é de fácil
manejo, resistente e tem múltiplos
benefícios
dência e qualidade garantidas para iniciar bem na ativi-
dade”. Além desses investimentos, o produtor está de- parceria com produtores e
senvolvendo uma máquina específica para a otimização
da retirada da mucilagem. “As existentes são importadas
e com custo muito alto. Estamos em fase de testes muito
compromisso com a qualidade na produção de
animadores”.
Apesar de estar no rumo certo quanto ao que deve
extratos vegetais
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Cecor/CATI
ser feito para obter sucesso, o caminho até o momento

E
foi árduo e com muitas dificuldades. “O que eu mais senti ntendendo que incentivar a produção e a uti- em determinada planta. “Os agricultores são visitados
falta foi de orientação técnica e informações sobre a cul- lização das plantas medicinais é resgatar a cul- constantemente pelos técnicos da empresa e tem um
tura. O produtor do qual eu adquiri as mudas, foi quem tura tradicional, bem como contribuir com a plano de ação para a produção. Utilizamos o fair trade
me prestou as orientações básicas, também fiz algumas sustentabilidade ambiental e um estilo de vida mais sau- (comércio justo) como política nas relações com eles.
viagens para locais onde ela é mais difundida. Por ser dável para a população, o Grupo Centroflora, fundado Riscos de mercado existem para determinadas espécies,
uma planta pouco cultivada comercialmente no Brasil, em 1957, na capital paulista e com sede atualmente em mas garantimos a compra do que foi planejado”.
não há muitas pesquisas ou elas não estão chegando Botucatu, atua no desenvolvimento e na comercializa-
ao produtor. Apesar disso, quero enaltecer o apoio da Genilson Nilbert Pohl, proprietário da Chácara Nossa
ção de extratos vegetais para os segmentos de cuidados
pesquisadora Sandra Maria Pereira da Silva, da Agência Senhora de Fátima, é um dos produtores de Botucatu
pessoais, nutrição e saúde. Segundo Marilda Petreche,
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), que que migrou de outras atividades agropecuárias para o
devido ao conhecimento de suas propriedades hidra- engenheira agrônoma que coordena o Instituto Flora
atua com plantas medicinais e aromáticas, e o acompa- cultivo de plantas medicinais, após firmar contrato com
tantes, anti-inflamatórias, cicatrizantes, antibacterianas Vida, braço social e ambiental do Grupo, a empresa pos-
nhamento da Casa da Agricultura de Natividade da Serra a empresa. “Produzimos Passiflora incarnata (maracujá)
e antivirais, o cultivo comercial dessa planta se restringe sui tecnologias e processos que permitem o isolamento,
na elaboração de documentos necessários para colocar em uma área de um hectare, mas pretendemos aumen-
a pouco mais de 100 hectares no Brasil”, relata Edson. a extração, a concentração e a secagem de ativos natu-
em prática o projeto. Esse acompanhamento também tá-la. Estamos muito satisfeitos, mas sabemos que esse
Sendo assim, o projeto Aloe vera teve início no ano rais diferenciados, com qualidade e rastreabilidade asse-
tem sido importante no aspecto da divulgação da cultu- mercado pode oscilar, pois matérias-primas que são
de 2007, na Fazenda do Sertão, com o plantio certifi- guradas.
ra, pois tem promovido visitas de produtores interessa- demandadas agora podem não ser em outro período.
cado orgânico de dois hectares, com aproximadamen- dos, o que pode resultar em um aumento do plantio na Com os produtores, a empresa tem uma relação di- Por isso, é importante que os interessados nesse tipo de
te 22 mil pés da espécie barbadensis Miller. “A planta é região”, avalia Edson. Quanto aos custos de implementa- ferenciada por meio do Programa Parcerias para um produção busquem informações consistentes, tenham
bem rústica e o manejo é fácil, desde que observados ção da produção e de uma agroindústria, ele reconhece Mundo Melhor. “Temos um contato direto com os pro- mais de um comprador e façam o planejamento correto
alguns cuidados como a escolha do local que deve ter que são elevados, por isso aos produtores familiares re- dutores da nossa matéria-prima. Os apoiamos com as- da produção. É uma atividade que tem se mostrado boa,
uma inclinação para que água da chuva escorra bem, comenda a organização em associações e/ou cooperati- sistência técnica multidisciplinar e mantemos estufas de mas é preciso ser profissional e ter a venda garantida
não plantar em áreas sombreados e úmidas. Além disso, vas. “É preciso dedicação, profissionalismo, tecnologia e mudas para que a produção tenha garantia de qualida- com dois ou mais canais de comercialização”.
é uma planta que quase não sofre com o ataque de pra- disposição em aprender, mas as expectativas para este de. As espécies botânicas que adquirimos são cultivadas
gas e doenças. Como optamos pelo sistema orgânico, o Além da produção de mudas, a empresa mantém
mercado são promissoras”. por meio de práticas orgânicas e manejo sustentável,
maior trabalho é com a roçada e as capinas para limpar por isso existe o acompanhamento em todas as etapas também uma coleção, um banco de sementes e de ma-
as plantas daninhas. Estou encantado em trabalhar com Ao lado da produção e da industrialização, o projeto da produção. Além disso, os técnicos dos laboratórios terial genético de mais de 300 espécies para observação
a babosa e ver o quanto ela pode fazer bem para as pes- Aloe vera irá desenvolver ações voltadas à sustentabili- promovem testes constantes para acompanhar o teor e produção de estacas de multiplicação. “A nossa co-
soas”, explica Adilson Leite de Moraes, irmão de Edson, dade ambiental e social em suas áreas de atuação. “Para de princípio ativo nas plantas, o que permite ajustar o leção está disposta em um jardim sensorial e tem sido
que é o responsável pela produção, enfatizando que a que esse objetivo seja alcançado iremos buscar parce- manejo das lavouras de forma correta”, ressalta Marilda, fonte de conhecimento para as pessoas que o visitam.
condução pode ser feita por poucas pessoas, mas tanto rias”, finaliza o produtor, com os olhos fitos no futuro, explicando que o gargalo para a maioria dos produtores Nele, podem conhecer in loco as plantas e/ou árvores
no plantio quanto na colheita é necessário um número mas com os pés e as mãos fincados no presente e na ter- é a secagem das plantas. “Por isso, mantemos um seca- que dão origem a muitos produtos que consomem,
maior de pessoas, o que coloca a cultura como um polo ra da qual o sustento de muitos pode advir. dor móvel que percorre as propriedades”. Dessa forma, a como é o caso do Ginko biloba, espécie exótica pouco
gerador de empregos. empresa viabiliza o fornecimento de matérias-primas de encontrada no Estado. Além disso, por estar situado em
Para alcançar o mercado de forma consistente, pa- qualidade, rastreadas em sua origem e lastreadas pela uma propriedade localizada em dois biomas (resquícios
Aloe vera responsabilidade socioambiental.
ralelo ao plantio, o produtor já está investindo na cons- de Mata Atlântica e de Cerrado), o jardim possibilita aos
trução de uma agroindústria. “A planta pode ser comer- A palavra Aloe é derivada do árabe “alloeh” que signi- De acordo com Marilda, a produção é planejada pois visitantes uma vivência que muitos não teriam”, salienta
cializada in natura, porém, o retorno financeiro é muito fica “substância amarga e brilhante”. A conhecida babosa são levados em conta o interesse comercial do mercado Marilda.
maior com a agregação de valor pelo processamento e pertence à família Asphodelaceae, sendo a Aloe vera uma
extração do gel. A nossa agroindústria, cuja inaugura- de suas espécies mais conhecidas. Desde a civilização
ção deve acontecer no primeiro semestre de 2014, terá egípcia antiga, os produtos de Aloe são fontes medici-
capacidade de produção de 41.600 litros/mês, que será nais importantes. Pesquisas apontam que o gel de Aloe
comercializada em parceria com uma empresa cosméti- vera, para que contenha todos os nutrientes que o com-
Fotos: Cleusa Pinheiro - Cecor/CATI

ca para vários países. O Brasil conta hoje com apenas três põem, deve ser produzido em áreas secas, as folhas co-
empresas que comercializam gel de Aloe vera. Queremos lhidas entre 3 a 7 anos, sem a utilização de agrotóxicos.
fazer parte desse nicho de mercado que vem crescendo A mucilagem, gel no interior da folha, deve ser retirada
substancialmente, oferecendo um produto totalmente sem ter sua casca espremida, esmagada e muito menos
orgânico e de alta qualidade”, informa Edson, que tam- moída.
bém investe na produção e comercialização de mudas.
“Para começar o plantio adquiri as mudas em Santa
40 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬41

Fitoterapia : Plantas medicinais como


A agrônoma reconhece que para obter sucesso em
qualquer área, um dos pontos fundamentais são as par-
cerias. “Acreditamos que só por meio de parcerias é pos-
sível desenvolver ações que sejam sustentáveis e benéfi-
cas para todos os integrantes de uma cadeia produtiva e
aliadas da saúde Roberta Lage – Jornalista – Cecor/CATI
da sociedade em geral. No cotidiano de nosso trabalho

O
temos contado com parceiros importantes em vários tratamento e a cura de enfermidades por meio das plantas medi-
setores. A CATI tem sido uma grande parceira, que nos cinais é uma prática antiga utilizada ao longo da história da huma-
auxilia com relevantes informações e apoio no contato nidade. No Brasil, o tratamento com plantas medicinais também
com os produtores”. é antigo, mas ganhou força em 2006 quando foi criada a Política Nacional de
Aos produtores que desejam iniciar na atividade, a Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que teve como objetivo garantir à popula-
agrônoma faz um alerta e um convite. “É preciso fazer ção brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitote-
parcerias e se organizar para atender ao mercado com rápicos.
qualidade e volume adequados. Nos procurem, estamos A Fitoterapia é uma palavra que une dois radicais gregos: phyton que sig-
abertos a todos os interessados em descobrir as plantas nifica planta, e therapia, tratamento. É a terapêutica caracterizada pelo uso de
medicinais como fonte de sabedoria, bem-estar e renda”. plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, como infusão,
Centroflora: Marilda Petreche apresenta o Jardim Medicinal aos visitantes tintura, extratos fluidos, pomadas, cremes, xaropes, inalação, compressa, gar-
garejo, bochecho, entre outros, que devem ter sua eficácia comprovada por
meio de estudos clínicos e outros testes.
Parceria entre Prefeitura Municipal, Centroflora, de fitoterápicos e, por isso, lançaram um edital para as

Lilian Cerveira – Cecor/CATI


produtores e a CATI resulta em projeto que prefeituras enviarem projetos e receberem recursos Mesmo os medicamentos sendo produzidos tendo como base plantas
amplia a produção de plantas medicinais em para implantação desses Arranjos. O de Botucatu foi naturais, e alguns sendo vendidos sem exigência de prescrição, é necessário
Botucatu escolhido entre os 12 projetos aprovados em todo o acompanhamento médico. “É preciso avaliar uma série de fatores como his-
País. O objetivo é implementar o Programa Municipal tórico do paciente, idade, fatores de risco, entre outros, que fazem com que o
O município de Botucatu, cidade localizada há pouco de Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Saúde Pública profissional indique com segurança a forma de tratamento mais adequada e
mais de 200km da capital paulista, reúne características aliado a processos de pesquisas, ensino superior e as doses corretas”, alerta Eloísa Cavassani Pimentel de Magalhães, médica com
favoráveis à produção de plantas medicinais e aromá- produção industrial de fitoterápicos, que poderão ser Uso com orientação médica formação em fitoterapia e especialista em homeopatia e acupuntura. De acor-
ticas. Além de condições edafoclimáticas adequadas, irradiados aos 60 municípios atendidos diariamente pelo do com a profissional, a utilização de plantas medicinais não é isenta de efei-
o município conta com diferentes elos da cadeia pro- O fitoterápico deve ser utilizado tos colaterais ou contraindicações. “A fitoteparia pode ser utilizada por pesso-
Hospital Universitário da Unesp”, explica o engenheiro
dutiva, reunindo produtores orgânicos, segmentos e conforme orientação médica. O as de todas as idades, no entanto, alguns grupos como o de gestantes devem
agrônomo Marcelo Leonardo, responsável pela Casa da
entidades vinculadas ao estudo dessas espécies. Além usuário deve procurar um profissional evitar o uso de alguns medicamentos e algumas pessoas podem apresentar
Agricultura de Botucatu, que é parceira no projeto.
disso, em 2001 sediou a 4.ª Jornada Paulista de Plantas legalmente habilitado em prescrever alterações, por isso é sempre importante o acompanhamento médico. "
Medicinais e Fitoterápicos. Segundo Marilda Petreche, o Grupo Centroflora par- fitoterápicos.
ticipa do Arranjo para apoiar o município e para que Para a médica homeopata Maria Tereza Rodriguez Suarez, profissional que
Diante desse cenário, a Prefeitura Municipal A fitoterapia é reconhecida pela atua no Centro de Práticas Integrativas e Complementares (CPIC), unidade da
haja maior prescrição de fitoterápicos, o que favorece a
apresentou um projeto para implementar um Arranjo saúde das pessoas, bem como promove o aumento da Organização Mundial de Saúde Secretaria de Saúde e Assistência Social da Prefeitura de Pindamonhangaba, é
Produtivo Local de Plantas Medicinais e Aromáticas. “No produção e comercialização, o que resulta em círculo Desde 1978, a Organização Mundial possível aliar a medicina alternativa com a tradicional. “Normalmente, as pes-
Ministério da Saúde há um interesse em ampliar a oferta de benefícios mútuos. “Acredito que os fitoterápicos são da Saúde (OMS) reconhece o uso de soas vêm procurar um tratamento com base em plantas, quando não tiveram
importantes instrumentos de prevenção e cura, por isso, fitoterápicos mas, no Brasil, a política de resultados com a medicina convencional. As causas mais comuns são as do-
todo projeto que amplia a oferta e trabalha para cons- uso de plantas medicinais teve início em enças alérgicas, rinite, amidalites, bronquites, diabetes, hipertensão, depres-
cientizar os prescritores (classe médica) é bem-vindo”. 1981. O Decreto n.º 5.813/2006 instituiu são, entre outras. No entanto, há possibilidades de interação medicamentosa
a Política Nacional de Plantas Medicinais. entre a fitoterapia e o uso de alopáticos, tornando ainda mais necessária a
“Esse projeto ampliará as opções de renda para os conscientização da população e o cuidado com a automedicação”.
produtores orgânicos do município. Até o momento, Manipulação
cerca de seis já aderiram e estão implementando lavou- Maria Tereza explica ainda as diferenças entre alopatia, homeopatia e fi-
Um fitoterápico pode ser manipulado toterapia. “A fitoterapia é o tratamento com produtos derivados de plantas
ras com as espécies recomendadas e demandadas pelo se for prescrito em uma receita ou se
Sistema Único de Saúde (SUS), que no momento são: medicinais e que mantém o conjunto de compostos químicos oriundos des-
sua fórmula constar na Farmacopeia tas plantas. Já a homeopatia, utiliza a cura pelo semelhante (homois), ou seja,
maracujá, fáfia, capim limão, guaco, erva cidreira, car- Brasileira, no Formulário Nacional ou em
queja, curcuma, hortelã e alcachofra. A CATI atua como aquilo que provocou a doença é aquilo que cura também. A homeopatia, que
obras equivalentes. também pode utilizar plantas medicinais, estimula o sistema imunológico do
fonte de mobilização e orientação técnica aos produto-
res”, pondera Marcelo, acrescentando que o resultado
Fonte: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
indivíduo a se curar enquanto que na alopatia (alos-cura pelo contrário), que
esperado do Programa é a estruturação de uma política Registro é a medicina convencional, o medicamento provoca efeitos contrários aos
pública de produção de plantas medicinais e estímulo sintomas provocados pela doença, buscando eliminá-la: são usados medica-
Os fitoterápicos industrializados devem mentos antiúlcera, antirreumáticos, antifebril”.
à prescrição médica de fitoterápicos, proporcionando ser registrados na Anvisa/Ministério da
vínculos de articulação, interação, cooperação e inova- Saúde. Segundo Eloísa e Maria Tereza, é cada vez mais constante a busca por te-
ção entre as instituições locais por meio do Arranjo com rapias mais naturais, menos agressivas e com menos efeitos colaterais. Por
Marcelo Leonardo, engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura de
a participação do governo, associações de produtores, Contatos: Dra. Eloísa Pimentel – (19) 3234-0357 isso, são necessárias medidas de conscientização da população e educação
Botucatu, e o produtor Genilson Pohl comemoram o aumento do empresas, laboratórios e instituições de ensino, pesquisa Dra. Maria Tereza – (12) 3642-2420 dos profissionais de saúde para que o uso racional das plantas medicinais seja
cultivo de plantas medicinais e o início do projeto e extensão rural. disseminado.
42 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬43

Fotos: Graça D'Auria – Cecor/CATI


bém tem ajudado a difundir o co-
CATI apoia anualmente Semana de Fitoterapia nhecimento e uso de plantas medi-
cinais. Rosivaldo Pereira dos Santos
A Semana de Fitoterapia de Campinas foi instituída pela Lei Municipal n.º 11.385/02 e, desde 2002, vem sendo é descendente dos índios Caetés e
realizada anualmente na cidade. Com o apoio da CATI, da Prefeitura de Campinas e de outras entidades e insti- tem aberto o Sítio N. Sra. Aparecida,
tuições, a Semana tem como principal objetivo promover atividades que divulguem a importância e o valor das no Bairro Rural Cruzeiro do Sul, para
plantas medicinais e da fitoterapia, sempre aliando os saberes populares com os científicos. palestras e visitas em sua mata de
Nomeada de “Semana de Fitoterapia Prof. Walter Radamés Accorsi - Saberes à luz do sol”, em homenagem a onde extrai várias plantas para uso
um dos maiores conhecedores de fitoterapia no Brasil, a Semana promove inúmeras ações como palestras com medicinal. Já tem catalogadas, com
profissionais renomados; oficinas e minicursos práticos; visitas técnicas que apresentam trabalhos realizados por o suporte do professor Lindolpho
instituições da região de Campinas e outras atividades culturais e corporais como coral, dança circular, lian gong, Capellari Júnior, do Departamento
entre outras.
de Ciências Biológicas da Escola
"Eventos Com uma média de público de 400 participantes por edição, a semana de fitoterapia Superior de Agronomia Luiz de
gratuitos, como conta com um público bastante diversificado: donas de casa, estudantes, agricultores, Queiroz (Esalq/USP), mais de 200
a Semana de pesquisadores, profissionais de várias áreas da saúde, da agricultura e da educação. “A espécies de plantas medicinais.
Fitoterapia, são Semana de Fitoterapia, a cada ano vem conquistando um público maior, sendo que há Para uso potencial, foi escolhida a
oportunidades um grupo cativo que participa sempre, comparecendo em todas as edições. Nos seus 11
para a população erva baleeira devido às suas pro-
anos, ofereceu gratuitamente informações técnicas e científicas de altíssima qualidade,
ter acesso aos por meio de renomados profissionais das áreas de produção de plantas medicinais e da priedades que acalmam as dores
conhecimentos fitoterapia, bem como divulgou conhecimentos tradicionais e populares os quais balizam articulares e musculares causadas
verificados pela a fitoterapia mundial e brasileira. Tanto conhecimento compartilhado gratuitamente para Nair e Rosivaldo promovem o conhecimento e o uso de plantas medicinais por artrite, artrose e outras nevral-
ciência" a população que usa, cultiva, estuda, pesquisa ou simplesmente gosta do assunto, é a gias. Rosivaldo plantou 220 pés da
Maria Cláudia Blanco grande marca desse evento”, avalia Maria Cláudia Blanco, engenheira agrônoma da CATI Junto com nossa reportagem uso de plantas medicinais, levan- erva e prepara óleos para massa-
e uma das organizadoras do evento. chega de Aracaju a fruta noni, do do mais saúde à população. Para gem, que distribui à população e
caroço Marilene tentará fazer no- isso, contou com o apoio de al- visitantes, 80% de tudo é doado.
vas mudas para aliviar, com o sumo guns órgãos da Prefeitura de Santa “Meu intuito é melhorar a qualida-
da fruta, as dores da fibromialgia. Bárbara d’Oeste, principalmente de de vida das pessoas e preservar

Plantas Medicinais: a solidariedade é lema de


Essa imensa variedade de espécies do viveiro municipal da Secretaria a tradição dos meus antepassados”,
começou a ser cultivada há pouco do Meio Ambiente, que passou a afirma enquanto recebe os gru-
mais de quatro anos, quando che- produzir mudas para doação, pre- pos da terceira idade que chegam
um projeto socioambiental em Santa Bárbara d’Oeste gou à cidade um projeto socioam-
biental voltado à fitoterapia. A ideia
paração de canteiros e insumos
e das Secretarias de Educação e
para mais uma visita e caminhada
pela trilha na mata. Esta estraté-
(o motor do processo) era implantar um horto medicinal
comunitário, capacitar produtores
Promoção Social. Logo o município
passará a contar também com uma
gia conta com o apoio da Rede
de Municípios Potencialmente
Graça D'Auria – Jornalista – Cecor/CATI em potencial, formar um grupo de secretaria de agricultura para que Saudáveis/Unicamp, coordenada
estudo para promover a fitoterapia, todos, juntos, façam um trabalho

O
pela Dra. Ana Maria Sperandio.
endereço é Rua do em frente ao portão 419 não conse- identificar cientificamente e in- mais coordenado. “Apesar dos cur-
Amor, no Bairro Vista gue imaginar a riqueza que há por centivar o plantio e o consumo de sos de capacitação, da disposição Rosivaldo, Marilene, Nair com
Alegre, e não poderia detrás daquela casa de 10 metros plantas medicinais na população, funcionários da Prefeitura e de vo- estas ações voluntárias estão con-
ser mais apropriado para Marilene de frente. Ali, num terreno de pou- principalmente entre a terceira ida- luntários que abraçaram a causa, quistando espaço para que hajam
Soares Pimenta. Moradora do lo- co mais de 12 mil metros quadra- de, recuperando os conhecimentos ainda não há um política de saúde políticas públicas voltadas ao uso
cal há mais de 30 anos, a família dos, além de uma variada horta de tradicionais. em fitoterapia no município, afirma de plantas medicinais como uma
de produtores rurais produtos naturais, existem cerca de Nair. Entre as ações, tem sido apli- prática sustentável, que atravesse
Uma das pessoas que tomou
vivia do plantio de 230 espécies de plantas aromáticas cado um questionário que está aju- gerações, preserve tradições e se
a frente desse processo foi a mé-
milho, além de outros e medicinais. Elas vieram de todos dando a levantar os principais ma- transforme em qualidade de vida.
dica sanitarista Nair Nobuyasu,
cultivos de subsis- os cantos, por intermédio daque- les que afligem a população e es- Eles e a quem eles vêm conquis-
Guimarães, que já tinha a experi-
tência. Isso quan- les que conhecem a dedicação de tão sendo cruzadas as informações tando, praticam a solidariedade e
ência de ter sido gestora em saúde
do o Vista Alegre Marilene ao aprendizado constan- para a produção das mudas certas. ensinam que o conhecimento não
de dois municípios e que optou por
ainda era um te sobre as plantas medicinais e o É o caso da melissa, um ansiolítico pode trazer em seu bojo um empo-
trabalhar “do outro lado”, ou seja,
bairro da zona que elas podem fazer para ajudar natural, que tem sido distribuída deramento sobre o saber, mas que
do lado da comunidade, sentindo
rural, mas Santa as pessoas a terem mais saúde e a para que as pessoas possam ter em deve oferecer uma opção de vida,
as dificuldades e procurando ca-
Bárbara d’Oeste prevenirem e tratarem os mais di- casa. afinal eles consideram as plantas
minhos alternativos para atingir
foi crescendo e, versos sintomas e até mesmo algu- o objetivo de preservar várias es- O trabalho com grupos da ter- medicinais e o saber sobre elas um
hoje, quem passa mas doenças. pécies quase extintas e resgatar o ceira idade e com as crianças tam- patrimônio da humanidade.
44 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬45

Cooplantas:
Bergamini é uma das mais novas cooperadas, tem
mulheres comandam cooperativa dedicada apenas 17 anos e é responsável pela parte adminis-
trativa, além de secretariar a coordenadora executiva,
ao cultivo de plantas medicinais e aliam sustentabilidade à fala com propriedade sobre cada ação e também cum-
pre as suas horas de campo. “Tudo aqui é discutido e
garantia de uma vida mais saudável no assentamento Pirituba II a opinião de todas é levada em consideração. Somos
muito unidas, na hora de cultivar uma gleba, todas
vão, se é para capinar outra, estamos lá, a organização
Graça D’Auria – Jornalista – Cecor/CATI
para a contagem das horas trabalhadas também é sé-
ria, quem trabalha mais, ganha mais”, conta Myllena.
As mulheres também se organizaram para cuidar das
crianças nas Cirandas e todas se reve-
zam, nesse dia quem cuida das
crianças não trabalha na roça
e, assim, todas também
têm a oportunidade de
cionada e orgulhosa Maria Lúcia de ficar com os filhos e es-
Oliveira: “eu nem sei ler, mas sei que sas horas também são
nessa terra que trabalhamos, nessas contabilizadas.
Fotos: Rodrigo Di Carlo - Cecor/CATI

plantas que cultivamos, estão além


da cura para várias doenças, o auxílio “É um associativis-
no sustento das nossas famílias”. Com o mo verdadeiro, o assen-
contrato a ser firmado com o SUS, elas terão tamento Pirituba tem esse
garantidos mais R$ 400,00 na renda mensal de diferencial e talvez seja por esta
cada um dos 32 associados. razão que aqui as gerações vão se suce-
dendo no cultivo da terra, quase não há êxodo rural

A
O maior entrave ainda é a burocracia e a falta de fi- e as conquistas das cooperativas são maiores e mais
s plantas medicinais são conhecidas pelos parceiras e como força de trabalho. No início eles não nanciamentos específicos para o cultivo e preparo das
mais diversos povos, sempre tem alguém acreditavam, mas hoje somos cada vez mais respeita- consistentes”, argumenta a analista de desenvolvi-
plantas medicinais. Como a escala de produção ainda mento agrário do Itesp, Ana Carolina Garcia, transferi-
que conhece uma receita caseira de erva das pela seriedade de nossas ações”, conta uma das é pequena, elas também não conseguiram participar
para curar ou aliviar algum mal. Tempos atrás, inclu- mais antigas cooperadas, Maria Nasaré Silva Carvalho. da há pouco tempo do Pontal do Paranapanema para
de projetos como o Projeto Microbacias II – Acesso ao o escritório de Itapeva comandado por Midori Silmara
sive, era comum encontrá-las em hortas caseiras ou Mercado. Por outro lado, estão entusiasmadas com a
“Desde 2004, quando criamos a Cooperativa de Tsumore, supervisora do Grupo Técnico de Campo de
qualquer cantinho de quintal. Mas em Itapeva, um legislação federal que prevê que até 2014 os pacien-
Produtores de Plantas Medicinais (Cooplantas), es- Itapeva.
grupo de mulheres resolveu levar a sério esse co- tes atendidos pelo SUS possam optar pelo tratamen-
tamos crescendo. Ganhamos a área para construir
nhecimento tradicional e usar as plantas medicinais to com fitoterápicos. “Infelizmente, os médicos ainda
um viveiro, firmamos um contrato para fornecer er-
e os alimentos em geral para ter uma alimentação não estão preparados para atender a essa nova de-
vas medicinais ao Sistema Único de Saúde (SUS), te-
mais equilibrada e uma vida mais saudável, além de manda”, explica Paulo Gomes Rodrigues, técnico de
mos projetos junto à Universidade do Oeste Paulista
aumentarem a renda no campo. Para isso, foram co- desenvolvimento agrário da Fundação Itesp, que vem
(Unoeste), iniciamos um processo de certificação junto
nhecer mais a fundo as propriedades de cada planta, acompanhando a luta dessas aguerridas mulheres, e
à Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro (Fiocruz)
resgatar as receitas, comprovar junto aos pesquisado- fala com entusiasmo sobre a nova área de cultivo que
e à Associação Biodinâmica (ABO) de Botucatu e es-
res a eficácia e fazer da atividade um negócio rentável. elas conquistaram. “Era uma antiga pastagem e por
peramos transformar as nossas experiências com
As primeiras reuniões para discutir estas ideias tinturas, pomadas e xaropes, em fitoterápicos certifi- estar ao lado de uma mata nativa será cultivada em
surgiram com o Grupo Coletivo de Mulheres, as cados”, conta Patrícia Apolinário, coordenadora exe- Sistema Agroflorestal (SAF)”, conta o técnico.
quais já participavam da Cooperativa Agropecuária cutiva da Cooperativa. Por enquanto, as mulheres da Para isso e para atender ao viveiro que também
Vó Aparecida (Coopava). Aos poucos elas foram ga- Cooplantas querem continuar vendendo para a clien-
fornecerá mudas de florestais nativas para reflores-
nhando espaços para cultivo de babosa, camomila, tela já conquistada e fornecer ervas para parceiros
tamento das áreas de preservação permanente (APP)
alcachofra, gengibre, erva-doce, hortelã, calêndula, que precisem de uma produção de alta qualidade, li-
do próprio assentamento, elas participaram de um
entre várias outras, nas seis glebas do assentamento vre de agrotóxicos. Serão trabalhadas as 28 espécies já
curso na Demétria, em Botucatu, onde o sistema é o
que reúne mais de 500 famílias em seis mil hectares cadastradas pelo SUS, mas elas têm 128 espécies em
biodinâmico. Será uma forma de angariar mais renda
administrados pela Fundação Instituto de Terras do uma área que é considerada uma matrizeira. Trata-se
e todas estão animadas com o trabalho, dedicando
Estado de São Paulo (Itesp). A Coopava é reconhecida de um relógio de plantas onde cada hora correspon-
mais horas no preparo das novas áreas.
em todo Estado de São Paulo como uma das maiores de a um órgão do corpo humano, ali elas trabalham
produtoras de grãos. Na safra 2012/13 ficou em 1.º lu- com um carinho ainda maior, pois é dessa inspiração A contagem das horas é feita pelas coordenado-
gar na produção de milho. “Nós não queremos com- e do correr dessas horas que elas tiram a força e a ins- ras das glebas. Cada uma atua numa função, embora
petir com nossos homens, mas estar ao lado, como piração para o seu trabalho diário. Como afirma emo- todas façam de tudo um pouco. Myllena Serqueira
46 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬47

Plantas Medicinais e Comunidades Tradicionais : Aldeias Pindo Ty e Araça Mirim: resgate cultural e alternativa de renda se completam em projeto
de cultivo de plantas medicinais
Aos 95 anos e com disposição de menino para percorrer a mata que recobre o solo da aldeia incrustada na Mata
patrimônio cultural e genético passado de geração em geração Atlântica do município de Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, Luiz Silveira, pagé da Aldeia Pindo Ty, comunidade que
abriga cerca de 60 pessoas da etnia guarani, dá uma aula de saúde e bem-estar. Com as poucas palavras conhecidas em
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Cecor/CATI português, o ancião revela que um dos segredos de sua longevidade é o uso de plantas medicinais e uma alimentação
saudável. “Em nosso redor existem plantas que servem para tudo. Desde pequeno aprendi o valor delas e a função de

A
s plantas medicinais e os povos tradicionais têm a importância dos conhecimentos tradicionais de povos in- cada uma”, explica o sr. Luiz.
sua história interligadas. Estudiosos apontam que dígenas e de comunidades locais para o alcance desses ob- Apesar da grande sabedoria e de ser muito respeitado, o sr. Luis, como outros de comunidades espalhadas pelo Estado,
a agricultura familiar, sobretudo a representada jetivos, delegando aos seus signatários o dever de garantir a não tem encontrado muito eco na juventude, para transferir seus conhecimentos. “A pagelança é difícil, pois não envolve
pelas comunidades indígenas e quilombolas, tem a vocação esses povos o direito de decidir sobre os usos desses saberes apenas o físico, mas também o espiritual, além de muito conhecimento das plantas, que na nossa tradição é passado na
para desenvolver o importante e necessário trabalho de zelar e de também perceber os benefícios decorrentes de seu uso. convivência entre pais e filhos. Antes não tínhamos muito contato com a cidade, por isso usávamos as plantas para tudo;
pelo patrimônio genético, administrando a sua biodiversida- hoje isso mudou”, avalia Aparício da Silva, pagé da aldeia Araçá Mirim.
Em seu trabalho “O reconhecimento do papel das po-
de agrícola e cultivando as espécies que curam e alimentam.
pulações tradicionais no melhoramento e conservação de Nesse contexto, Antonio Eduardo Sodrzeieski, diretor da CATI Regional Registro, ressalta a importância de se desen-
"O conhecimento etnobotânico presente nas comunidades
espécies vegetais”, Lin afirma que grande parte das comu- volver projetos nessas comunidades. “Estamos implementando projetos , por meio do Projeto de Microbacias II. Nosso
que trabalham com as plantas medicinais é muito rico e vas-
nidades tradicionais encaram seus conhecimentos acerca objetivo, em primeiro lugar, é resgatar culturalmente o uso dessas plantas pelos membros da comunidade, inclusive
tamente diversificado, compondo assim uma verdadeira
do uso, melhoramento e conservação dos recursos genéti- melhorando a alimentação, com a inclusão de ervas aromáticas e hortaliças não convencionais que deixaram de ser utili-
enciclopédia de ensinamentos”, avalia Osmar Mosca Diz, en-
cos como um bem a ser compartilhado e que esta postura zadas. Durante muito tempo, o conhecimento tradicional foi marginalizado, às vezes tido como curandeirismo. Hoje, isso
genheiro agrônomo da Divisão de Extensão Rural (Dextru),
tem sido aproveitada historicamente por outros povos e, está mudando, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido, por isso não descartamos a possibilidade de que para
da CATI, que atua com estratégias que gerem renda com sus-
mais recentemente, pelas indústrias. “Esta situação, aliada algumas famílias, além do resgate cultural, o projeto possa se tornar uma opção de renda, tirando-os do extrativismo para
tentabilidade para estas comunidades.
às dificuldades de fiscalização da saída ilegal do patrimônio o cultivo, pois a região tem grande potencial”.
O saber empírico das comunidades tradicionais é reco- genético nacional tem favorecido a chamada “biopirataria”,
nhecido oficialmente no Brasil. No texto da Política Nacional reconhece. “Obtivemos um grande avanço com as legisla- Um desses projetos está sendo desenvolvido nas aldeias Pindo Ty e Araçá Mirim, e teve início com um curso. “Estamos
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, o Ministério da Saúde ções sobre o uso de plantas medicinais e a utilização da sa- organizando uma associação na aldeia. Nas reuniões, surgiu a demanda da comunidade por cursos, principalmente esse
reconhece que o Brasil tem a maior biodiversidade do mun- bedoria tradicional. Em São Paulo, a legislação fornece uma de plantas medicinais. Procuramos valorizar as plantas nativas, mas também divulgar o uso de algumas exóticas, am-
do, mas que apenas com a associação à diversidade étnica base para o manejo sustentável com boas práticas que ga- pliando o conhecimento deles. Na aldeia Araça Mirim, existe o desejo de se construir um viveiro de mudas”, explica João
e cultural que detém um valioso conhecimento tradicional rantam material em quantidade e qualidade necessárias das José da Silva Neto, técnico agropecuário da Casa da Agricultura de Pariquera-Açu, que acompanha o projeto nas aldeias.
sobre o uso de plantas medicinais, terá potencial necessá- plantas extraídas. Como ainda não existem técnicas de ma- Além de informações sobre as plantas, durante o curso na Pindo Ty foi implementada uma horta com mais de 30 espé-
rio para desenvolvimento de pesquisas com resultados em nejo para o cultivo de um número muito grande de espécies, cies, com o envolvimento dos alunos da escola da aldeia, que prepararam os canteiros e fizeram o plantio. Outra atividade
tecnologias e terapêuticas apropriadas. Lin Chau Ming, haja vista a enormidade de espécies nos biomas brasileiros, foi uma caminhada com o pagé, para reconhecimento de plantas medicinais locais e de uso ritualístico pelos guaranis.
pesquisador e professor de etnobotânica da Universidade a Academia tem incorporado informações técnicas das co- “A partir desse trabalho, em parceria com as lideranças das aldeias, começamos a elaborar uma cartilha sobre as plantas
Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Botucatu, munidades tradicionais, fazendo o casamento do saber po- mais tradicionais, com informações básicas e técnicas, priorizando aquelas apresentadas no curso. Depois este documen-
corrobora com esse empoderamento das comunidades tra- pular com o científico”, explica Lin, acrescentando que essas to será repassado para os professores da aldeia, que farão a tradução para o guarani. Nosso desejo é disponibilizar um
dicionais, ressaltando que as plantas medicinais comerciali- comunidades têm tudo para ter nas plantas medicinais uma exemplar para cada aluno das aldeias da etnia, no Vale do Ribeira”, explica o diretor da Regional CATI.
zadas no País são oriundas do extrativismo e se encontram opção de renda, desde que se organizem em associações e/
em abundância nas áreas remanescentes de florestas, locais ou cooperativas e passem a cultivar as plantas, agregando O cacique da aldeia Pindo Ty, Basílio Silveira, se mostra confiante com o projeto. “Ao longo dos anos, foi se perdendo
onde habitam os povos tradicionais. “Quem faz a coleta des- valor com a aquisição de equipamentos como secadores de o interesse entre os mais jovens em consumir e aprender sobre o poder das plantas. O curso foi muito bom e atraiu o
sas plantas são eles, pois têm o conhecimento natural das uso multifamiliar. interesse de grande parte da comunidade, principalmente das crianças, o que nos encheu de esperança quanto à conti-
potencialidades de cada planta”. nuidade dessa sabedoria milenar da nossa etnia. Acredito que esse projeto proporcionará uma volta às nossas origens e
Outro fator que deve ser levado em consideração para uma oportunidade de trabalhar a terra, ter renda, continuando com a nossa cultura”.
O País também é signatário da Convenção sobre a continuidade dos conhecimentos tradicionais que histori-
Diversidade Biológica, acordo estabelecido no âmbito da camente são transmitidos de geração em geração, é a difi- Curso despertou o interesse
Organização das Nações Unidas (ONU) e integrado por 188 culdade em manter o interesse dos jovens no aprendizado das crianças para as plantas
países, cujos objetivos são a conservação da diversidade medicinais
sobre as plantas. Morador do Quilombo Peropava, localiza-
biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a do em Registro, município do Vale do Ribeira, Jefferson Silva
repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da uti- Cabral, revela que poucos moradores, a maioria com idade
lização dos recursos genéticos. A mesma Convenção ressalta avançada, conhecem as funções medicinais das plantas.
“Tem uma senhora bem idosa que faz remédios caseiros. A
maioria aceita e gosta, mas são raros os mais jovens que que-
rem aprender sobre o poder das plantas”.

Fotos: Cleusa Pinheiro - Cecor/CATI


Segundo Osmar, para manutenção desse patrimônio
oral, as comunidades devem ser apoiadas para sistematizar
seus conhecimentos relacionados à identificação botânica
das plantas, seus aspectos produtivos (produção, colheita,
secagem e armazenamento) e, principalmente, aos meios
de utilizá-las como medidas coadjuvantes no tratamento de
diversas doenças.
48 ‫ ׀‬Casa da Agricultura Casa da Agricultura ‫ ׀‬49

Plantas Medicinais e Aromáticas :


Exemplo de trabalho no Walter Accorsi: vida dedicada ao estudo das plantas medicinais
Vale do Paraíba O sorriso doce e as mãos
Engenheira agrônoma formada em 1975, sempre prontas para ajudar e
Um pouco de história e a atuação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento Maria Márcia Santos Souza ingressou na CATI abraçar, eram um convite a um
dedo de prosa e o desejo de
em 1995 e levou para as Casas da Agricultura
pelas quais passou no Vale do Paraíba, o seu sentar aos pés para absorver
Cleusa Pinheiro – Jornalista – Cecor/CATI conceito de vida: as plantas são fontes de ali- o conhecimento, que genero-
Em 1968, o engenheiro agrônomo mento e cura para o corpo e a alma. Desde o samente compartilhava com

Arquivo Seção de Plantas Medicinais e Aromáticas/IAC


Roberto Côrte Brilho, do Departamento início, se interessou pelos projetos ligados à todos que se achegassem a
de Orientação Técnica da CATI, lançou produção artesanal de alimentos e à produção ele. Walter Radamés Accorsi foi
a publicação Exploração dos Óleos de plantas medicinais e aromáticas, segmento professor da Escola Superior
Essenciais, na qual fez um diagnóstico no qual foi responsável pela replicação de di- de Agricultura Luiz de Queiroz

Bamco de Imagens CATI


da situação e apontou o potencial do versas espécies na região, por seu trabalho de (Esalq) por mais de 50 anos, e
País para a exploração desse mercado. coleta em várias partes do Estado. só deixou o posto, como ele
Em seus relatos, demonstra que a atua- costumava dizer, na “expulsó-
Além dos muitos produtores que iniciaram
ção da extensão rural aliadas às pesqui- ria”, aos 70 anos, mas até o seu
na atividade por meio de seus cursos, grupos
sas do IAC, foi uma das molas propulso- falecimento em 2006, aos 93
e entidades passaram a produzir, agregar valor
ras no setor produtivo desse segmento anos, não se cansava de estudar e partilhar a experiência adquirida em mais de
e comercializar produtos, com o seu incentivo.
Produção de Mentha arvensis na década de 1950 em São Paulo. 70 anos de pesquisas e encantamento com as plantas medicinais. “Meu pai tinha
Em reconhecimento ao seu trabalho, foi desig-
quatro pilares na vida: Deus, a família, a pátria e as plantas medicinais”, rememora

A
utilização de plantas como Agronômico de Campinas foi criada em Entre as décadas de 1970 e 1980, nada como delegada da extensão rural de São
Walterly Accorsi, a filha farmacêutica que dá prosseguimento ao legado do profes-
recurso terapêutico se perde 1935, sob o nome de Seção de Fumo, os trabalhos de extensão rural nesse Paulo para participar da elaboração da Política
sor, com a expansão da farmácia de fitoterápicos, localizada no centro de Piracicaba,
nas origens da espécie huma- por trabalhar apenas com essa espécie, tema foi realizado de forma pontual em Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
cidade que ele adotou em 1928.
na. No Brasil, seu uso é uma mistura de mas existem documentos datados des- algumas Casas da Agricultura. De acor- Também teve um papel importante no pro-
do com Maria Cláudia S. G. Blanco, es- jeto que resultou na introdução dos fitote- Filho de imigrantes italianos, nascido em 1912 no município de Taquaritinga,
tradições indígenas, europeias e africa- de 1931 que apontam que pesquisas
pecialista da Divisão de Extensão Rural, rápicos nas Unidades Básicas de Saúde de herdou do pai – produtor de café - o gosto pela agronomia, profissão na qual se
nas. “Muitas espécies nativas da América já eram feitas. A diversificação de espé-
da CATI, a década de 1990 trouxe no- Pindamonhangaba e na instalação de farmá- formou em 1933, na Escola Prática de Piracicaba, que recebeu o nome de Esalq,
revolucionaram a terapêutica ocidental. cies estudadas provocou a alteração do
vamente essas plantas para a pauta da cias fitoterápicas municipais, em cidades como em 1931. “Os anos passados nela foram motivo de orgulho por toda a vida do meu
Nesse sentido, nossa identidade nacio- nome”, relatam Nilson B. Maia, Eliane G.
extensão rural em São Paulo, na forma Cruzeiro. pai”, relata Walterly. Além de professor de Botânica Geral e Descritiva por mais de 48
nal está fortemente ligada ao uso me- Fabri e Juliana R. S. Teramoto, pesquisa-
de um projeto mais amplo. “O professor anos, ocupou cargos de direção na Esalq, recebeu o título de professor emérito e
dicinal das plantas. No início do século dores do Centro de Horticultura, citando Aos 57 anos, convalescendo de um AVC,
cearense Francisco Matos desenvolvia responsável pela Seção de Plantas Medicinais. Em reconhecimento ao seu trabalho,
XX, o conhecimento tradicional foi base que, ao longo de sua trajetória, a Seção apesar da momentânea imobilidade física, con-
um projeto de nome Farmácia Viva, que os organizadores da Semana de Fitoterapia de Campinas, batizaram o evento com
para a construção de uma terapêutica foi a responsável pela introdução, do- tinua com a mente fervilhando de ideias, incen-
preconizava o incentivo à implantação o seu nome.
baseada em plantas”, esclarece Euclides mesticação, técnicas de cultivo e colheita tivando os técnicos da Secretaria a continuar
Lara Cardozo, professor da Universidade de diversas espécies, que têm alto valor de hortas em centros de saúde para com os projetos. Relatando uma experiência re- Seu amor pela fitoterapia deriva do reconhecimento de que as plantas usadas
Paranaense. no mercado, como vetiver, camomila, viabililizar a produção de espécies para cente, ela demonstra que este período também pelo povo realmente possuiam funções terapêuticas. “Por isso, sua dedicação às
patchouli, citronela, capim limão, entre atender a demanda por fitoterápicos. tem sido de ensinamentos. “Tive problemas de pesquisas de espécies nativas e exóticas. Uma das meninas dos olhos do professor
Quanto às pesquisas com óleos es-
outras. Em 1996, pedimos licença para usar o pele por ficar muito tempo deitada. A equipe Accorsi era o horto instalado no campus da faculdade, que possui centenas de es-
senciais extraídos das plantas medicinais
nome e idealizamos o Projeto Farmácia médica e de enfermagem só queriam me tra- pécies identificadas e catalogadas”, reconhece o professor e pesquisador Lindolpho
e aromáticas, a história brasileira remon- Um dos grandes exemplos do traba-
Viva em São Paulo, capacitando os téc- tar com pomadas industrializadas de alto cus- Capellari Júnior, da cadeira de botânica, responsável atualmente pela manutenção
ta aos trabalhos de Theodor Peckolt, lho aconteceu na década de 1940, com os
nicos da Rede para apoiar os produto- to. Depois de muita insistência, consegui que do horto formado pelo professor Accorsi. “Ele costumava dizer que a natureza é o
farmacêutico originário da Silésia alemã estudos do óleo essencial da Mentha ar-
res interessados neste segmento”. Além eles utilizassem o gel da babosa. Os resultados laboratório mais perfeito do planeta”.
(atual Polônia), que chegou ao Brasil em vensis, produtora do mentol. Relatos his-
dessas ações, foram editadas publica- foram tão impressionantes, que a pessoa mais
1847, estudou e publicou vasta literatura tóricos contam que imigrantes japone- Ao longo de sua trajetória profissional, o professor Accorsi fez história e mudou
ções voltadas para os produtores e o cética da equipe se rendeu aos poderes tera-
sobre a flora brasileira. Em 1918, foi cria- ses trouxeram mudas para o Brasil. Neste a história das plantas medicinais no Brasil, com reflexos em muitos países. Entre
público em geral, bem como implemen- pêuticos das plantas”, conta bem-humorada,
do o Instituto de Química, que em 1934 período, o Japão era o maior produtor de as pesquisas realizadas, que comprovaram a eficácia e potencial de muitas plan-
tados projetos-pilotos em municípios demonstrando que o seu conhecimento foi for-
passou a ser denominado Instituto de óleos essenciais do mundo, posição con- tas conhecidas no País, uma de suas iniciativas, na década de 1960, levou equipes
como Socorro e Pindamonhangaba. “Os jado na prática e continua a serviço de todos os
Química Agrícola, ligado ao Ministério solidada até o início da Segunda Guerra multidisciplinares a reproduzirem e acelerarem, dentro e fora de universidades, as
resultados foram muito bons e o proje- que desejarem.
da Agricultura, Indústria e Comércio, ao Mundial. “Com a eclosão do conflito hou- pesquisas sobre os ipês. Os resultados dessas pesquisas os quais indicaram que os
to foi abraçado pelo poder público mu-
qual foi vinculado o Instituto de Óleos. A ve uma grande demanda desse óleo que elementos fitoquímicos dessa planta atuam nos sistemas respiratório e gástrico, se
nicipal”.
partir daí, os estudos de fitoquímica fo- era utilizado pelos Estados Unidos em tornaram conhecidos e reconhecidos até hoje. “No final da década de 1960, houve
ram expandidos e diversificados no País. suas aeronaves. Esse contexto levou pes- Para apoiar ainda mais o setor, a uma "corrida" atrás do ipê roxo, por suas funções medicinais, que acabaram colo-
quisadores e produtores brasileiros a in- Secretaria de Agricultura instituiu, nos cando a planta quase que em estado de extinção. Hoje ninguém mais precisa des-
O papel da Secretaria de Agricultura e

Foto Cleusa Pinheiro - Cecor/CATI


vestirem na produção e comercialização anos 2000, a Comissão Técnica das cascar a árvore. Basta ir a uma farmácia onde o fitoterápico está pronto, em forma
Abastecimento em São Paulo desse óleo”, relembra Nilson, avaliando Plantas Medicinais e Aromáticas, que se de chá, tintura, extrato, xarope e pomada”, explica Walterly.
Nos anais da Secretaria de Agricultura que, as pesquisas do IAC, que culmina- tornou um espaço para trocas de expe-
Graças ao empenho e amor do professor Walter Accorsi, muito da sabedoria
e Abastecimento constam, desde a dé- ram no lançamento da cultivar IAC-701, riências, informações e formulação de
popular e do conhecimento das comunidades tradicionais, não se perdeu; pelo
cada de 1930, pesquisas no segmen- foram primordiais na chegada do Brasil diretrizes para atuação com os produ-
contrário, poderá continuar passando de geração em geração, com comprovação
to. “Oficialmente, a Seção de Plantas à liderança no fornecimento mundial de tores familiares e as comunidades tra-
científica.
Medicinais e Aromáticas do Instituto mentol. dicionais.
Publicações CATI: conhecimento
50 ‫ ׀‬Casa da Agricultura

Aconteceu A instituição colocou à disposição


técnicos da Rede para elucidar ques-
trou que as práticas desenvolvidas
no município abrem perspectivas

para o desenvolvimento rural


CATI comemora o Dia do tionamentos e dúvidas sobre todos para a ampliação e o fortalecimento
os produtos e serviços disponibili- das parcerias entre as instituições
Agricultor em diversas regiões
zados ao agricultor nos municípios e as comunidades organizadas na
do Estado paulistas, que visam agregar renda à construção de projetos sobre plantas

sustentável
Em comemoração ao Dia do produção e gerar empregos, diretos medicinais e fitoterapia e são discu-
Agricultor, celebrado no dia 28 de e indiretos, que envolvem as cadeias tidas as diretrizes para fundamentar
julho, a Secretaria de Agricultura e produtivas. Também foi feita a co- o Programa Municipal de Plantas
Abastecimento, por meio da CATI, mercialização de publicações técni- Medicinais.
realizou eventos, entre os meses de cas para a difusão de conhecimento CATI participa da Feiratur 2013 Desde a sua fundação, a CATI tem o compromisso de difundir conhecimento para
julho, agosto e setembro, em diver- ao setor.
sas regiões do Estado de São Paulo, Entre os dias 26 e 29 de setembro o desenvolvimento da agropecuária paulista e de promover a capacitação de seu corpo
que reuniram as populações rural e Neste ano, a instituição realizou foi realizada a 10.ª Feira Nacional do
a 4.ª edição da Feira das Associações Turismo Rural (Feiratur), com parti- técnico.
urbana em exposições, palestras, fei-
ras, missas, entre outras atividades. de Produtores Rurais, demonstrando cipação de expositores e produtores
Instituída em 1960, pelo presidente a agregação de valor obtida com a de diversos estados, demonstrando Para isso, o Centro de Comunicação Rural (Cecor) edita publicações técnicas e
confecção artesanal de diversos pro- a força do turismo rural no Brasil.
Juscelino Kubitschek, que considera-
dutos.
material de divulgação com informações relevantes para os públicos das mais variadas
va o trabalho do agricultor o respon- Dividida por regiões, áreas temáti-
cas, produtos e serviços para o setor, cadeias produtivas, como é o caso do segmento das plantas medicinais e aromáticas.
sável pelo crescimento econômico Plantas Medicinais e Fitoterapia
do Brasil, a data valoriza os milhões são temas de Fórum no Vale do a Feiratur é um espaço de oportuni-
de brasileiros que trabalham todos os Paraíba dades para o conhecimento e inter-
dias para que o alimento esteja pre- seção do público com o segmento.
Pindamonhangaba sediou, de Além do parque de exposições, os
sente na mesa da população. 21 a 23 de agosto, o 4.º Fórum do visitantes tiveram à disposição even-
Para conhecer e/ou adquirir as publicações,
No Parque da Água Branca, lo- Centro de Práticas Integrativas e tos paralelos e simultâneos que agre- acesse: www.cati.sp.gov.br ou ligue para
calizado na capital paulista, dois Complementares (CPIC). O evento,
pavilhões foram ocupados nos dias realizado pela prefeitura contou com
gam valor à sua participação, como o (19) 3743-3858
Encontro Nacional do Turismo Rural,
27 e 28 de julho, com estandes da o apoio da CATI, da Agência Paulista palestras, apresentações culturais e
CATI, e de outras coordenadorias e de Tecnologia dos Agronegócios artísticas.
institutos da Pasta. A CATI levou as- (Apta) e da Organização Não-
sociações para exposição e venda Governamental Nova Essência. A CATI esteve presente com um
de produtos e artesanatos da agri- Dezenas de profissionais de diferen- estande de exposição e comerciali-
cultura familiar, como doces, licores, tes áreas, como saúde, educação, zação de produtos de agricultores
artesanato em madeira, entre outros. meio ambiente e agricultura parti- familiares paulistas. A instituição
A Coordenadoria também expôs es- ciparam do Fórum na Câmara dos também levou informações sobre
pécies de mudas florestais, frutíferas Vereadores de Pindamonhangaba. seus produtos e serviços, bem como
silvestres e para arborização e mais promoveu a divulgação de informa-
Durante o evento, houve a apre- ções sobre políticas públicas e cré-
de 20 variedades de sementes. sentação do projeto de fitoterapia dito rural para o turismo rural, em
Agrifam 2013 atrai grande da Sociedade Terra de Ismael de palestra ministrada pelo engenheiro
público e marca os 10 anos de Jardinópolis e debates sobre o vídeo agrônomo Moisés Magalhães Júnior,
participação da CATI “Muito Além do Peso”, que aborda a da Casa da Agricultura de São Paulo.
Ao completar 10 anos, a Feira da importância da alimentação saudá-
Agricultura Familiar e do Trabalho vel. Nos intervalos das ati-
Fórum de plantas medicinais
Rural (Agrifam), realizada entre os vidades os participantes
dias 2 e 4 de agosto, no município desfrutaram do chá cultu-
de Lençóis Paulista, atraiu um públi- ral e da arte-acolhimento
co de 28,5 mil pessoas e teve uma com apresentações de
Cristiane Hungria – CATI Regional Pindamonhangaba

movimentação financeira de R$ 19 canto, dança e expressão


milhões, de acordo com informações plástica. No último dia
da Federação dos Trabalhadores na foram propostas práticas
Agricultura do Estado de São Paulo corporais, atividades de
(Fetaesp), entidade organizadora e arte-integração, além da
realizadora da Feira. montagem de uma expo-
sição na praça central da
Participando desde a 1.ª edição, a
cidade.
CATI apresentou uma série de ações,
programas e projetos direcionados Segundo os organiza-
aos pequenos e médios agricultores. dores, o evento demons-

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