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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O meu ponto de vista é o dos “condenados da Terra”, o


dos excluídos. Não aceito, porém, em nome de nada, ações
FREIRE, PAULO. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA:
terroristas, pois que delas resultam a morte de inocentes
SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA EDUCATIVA.
e a insegurança de seres humanos. O terrorismo nega o
43. ED., SÃO PAULO: PAZ E TERRA, 2011. CRE que venho chamando de ética universal do ser humano.
MARIO COVAS Estou com os árabes na luta por seus direitos, mas não
pude aceitar a malvadez do ato terrorista nas Olimpíadas
de Munique.
Palavras do Autor Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos,
professores e professoras, a nossa responsabilidade ética
A questão da formação docente ao lado da reflexão no exercício de nossa tarefa docente. Sublinhar esta res-
sobre a prática educativo- progressiva em favor da autono- ponsabilidade igualmente àquelas e àqueles que se acham
mia do ser dos educandos é a temática central em torno de
em formação para exercê-la. Este pequeno livro se encon-
que gira este texto. Temática a que se incorpora a análise
tra cortado ou permeado em sua totalidade pelo sentido
de saberes fundamentais àquela prática e aos quais espero
da necessária eticidade que conota expressivamente a na-
que o leitor crítico acrescente alguns que me tenham esca-
tureza da prática educativa, enquanto prática formadora.
pado ou cuja importância não tenha percebido.
Devo esclarecer aos prováveis leitores e leitoras o se- Educadores e educandos não podemos, na verdade, esca-
guinte: na medida mesma em que esta vem sendo uma par à rigorosidade ética. Mas, é preciso deixar claro que a
temática sempre presente às minhas preocupações de edu- ética de que falo não é a ética menor, restrita, do mercado,
cador, alguns dos aspectos aqui discutidos não têm sido que se curva obediente aos interesses do lucro.
estranhos a análises feitas em livros meus anteriores. Não Em nível internacional começa a aparecer uma tendên-
creio, porém, que a retomada de problemas entre um livro cia em acertar os reflexos cruciais da ‘nova ordem mundial’,
e outro e no corpo de um mesmo livro enfade o leitor. como naturais e inevitáveis. Num encontro internacional
Sobretudo quando a retomada do tema não é pura re- de ONGs, um dos expositores afirmou estar ouvindo com
petição do que já foi dito. No meu caso pessoal retomar certa frequência em países do Primeiro Mundo a ideia de
um assunto ou tema tem que ver principalmente com a que crianças do Terceiro Mundo, acometidas por doenças
marca oral de minha escrita. Mas tem que ver também com como diarreia aguda, não deveriam ser salvas, pois tal re-
a relevância que o tema de que falo e a que volto tem no curso só prolongaria uma vida já destinada à miséria e ao
conjunto de objetos a que direciono minha curiosidade. sofrimento.”
Tem que ver também com a relação que certa matéria tem Não falo, obviamente, desta ética. Falo, pelo contrário,
com outras que vêm emergindo no desenvolvimento de da ética universal do ser humano. Da ética que condena o
minha reflexão. É neste sentido, por exemplo, que me apro- cinismo do discurso citado acima, que condena a explo-
ximo de novo da questão da inconclusão do ser humano, ração da força de trabalho do ser humano, que condena
de sua inserção num permanente movimento de procura, acusar por ouvir dizer, afirmar que alguém falou A sabendo
que rediscuto a curiosidade ingênua e a crítica, virando que foi dito B, falsear a verdade, iludir o incauto, golpear
epistemológica. o fraco e indefeso, soterrar o sonho e a utopia, prometer
É nesse sentido que reinsisto em que formar é muito sabendo que não cumprirá a promessa, testemunhar men-
mais do que puramente treinar o educando no desempe- tirosamente, falar mal dos outros pelo gosto de falar mal. A
nho de destrezas e por que não dizer também da quase ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos com-
obstinação com que falo de meu interesse por tudo o que portamentos grosseiramente imorais como na perversão
diz respeito aos homens e às mulheres, assunto de que saio
hipócrita da pureza em puritanismo. A ética de que falo é a
e a que volto com o gosto de quem a ele se dá pela primei-
que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de
ra vez. Daí a crítica permanentemente presente em mim à
raça, de gênero, de classe.
malvadez neoliberal, ao cinismo de sua ideologia fatalista e
É por esta ética inseparável da prática educativa, não
a sua recusa inflexível ao sonho e à utopia.
Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve o meu importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adul-
discurso quando me refiro às injustiças a que são subme- tos, que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lu-
tidos os esfarrapados do mundo. Daí o meu nenhum inte- tar é vivê-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos
resse de, não importa que ordem, assumir um ar de obser- educandos em nossas relações com eles. Na maneira como
vador imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos aconteci- lidamos com os conteúdos que ensinamos, no modo como
mentos. Em tempo algum pude ser um observador “acizen- citamos autores de cuja obra discordamos ou com cuja
tadamente” imparcial, o que, porém, jamais me afastou de obra concordamos. Não podemos basear nossa crítica a
uma posição rigorosamente ética. Quem observa o faz de um autor na leitura feita por cima de uma ou outra de suas
um certo ponto de vista, o que não situa o observador em obras. Pior ainda, tendo lido apenas a crítica de quem só
erro. O erro na verdade não é ter um certo ponto de vista, leu a contracapa de um de seus livros.
mas absolutizá-la e desconhecer que, mesmo do acerto de
seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre
esteja com ele.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Posso não aceitar a concepção pedagógica deste ou mundo, com o mundo e com os outros. Presença que, re-
daquela autora e devo inclusive expor aos alunos as razões conhecendo a outra presença como um “não- eu” se reco-
por que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha nhece como “si própria”. Presença que se pensa a si mesma,
crítica, é mentir. É dizer inverdades em torno deles. O pre- que se sabe presença, que intervém, que transforma, que
paro científico do professor ou da professora deve coincidir fala do que faz, mas também do que sonha, que constata,
com sua retidão ética. É uma lástima qualquer descompas- compara, avalia, valora, que decide, que rompe. E é no do-
so entre àquela e esta. Formação científica, correção ética, mínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da
respeito aos outros, coerência, capacidade de viver e de opção, que se instaura a necessidade da ética e se impõe
aprender com o diferente, não permitir que o nosso mal- a responsabilidade. A ética se torna inevitável e sua trans-
-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro gressão possível é um desvalor, jamais uma virtude.
nos façam acusá-lo do que não fez são obrigações a cujo Na verdade, seria incompreensível se a consciência de
cumprimento devemos humilde, mas perseverantemente minha presença no mundo não significasse já a impossibi-
nos dedicar. lidade de minha ausência na construção da própria presen-
É não só interessante, mas profundamente importante ça. Como presença consciente no mundo não posso esca-
que os estudantes percebam as diferenças de compreensão par à responsabilidade ética no meu mover-me no mundo.
dos Faros, as posições às vezes antagônicas entre professo- Se sou puro produto da determinação genética ou cultural
res na apreciação dos problemas e no equacionamento de ou de classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-
soluções. Mas é fundamental que percebam o respeito e a -me no mundo e se careço de responsabilidade não posso
lealdade com que um professor analisa e critica as posturas falar em ética. Isto não significa negar os condicionamen-
dos outros. tos genéticos, culturais, sociais a que estamos submetidos.
De quando em vez, ao longo deste texto, volto a este Significa reconhecer que somos seres condicionados, mas
tema. É que me acho absolutamente convencido da natu- não determinados. Reconhecer que a História é tempo de
reza ética da prática educativa, enquanto prática especifi- possibilidade e não de determinismo, que o futuro, permi-
camente humana. É que, por outro lado, nós achamos, ao ta-se me reiterar, é problemático e não inexorável.
nível do mundo e não apenas do Brasil, de tal maneira sub- Devo enfatizar também que este é um livro esperan-
metidos ao comando da malvadez da ética do mercado, çoso, um livro otimista, mas não ingenuamente construído
que me parece ser pouco tudo o que façamos na defesa e de otimismo falso e de esperança vã. As pessoas, porém,
na prática da ética universal do ser humano. Não podemos inclusive de esquerda, para quem o futuro perdeu sua pro-
nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da rup- blematicidade – o futuro é um dado – dirão que ele é mais
tura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, um devaneio de sonhador inveterado. Não tenho raiva
a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos. Neste senti- de quem assim pensa. Lamento apenas sua posição: a de
do, a transgressão dos princípios éticos é uma possibilida- quem perdeu seu endereço na História.
de, mas não é uma virtude. Não podemos aceitá-la. A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso
Não é possível ao sujeito ético viver sem estar perma- neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós- moder-
nentemente exposto à transgressão da ética. Uma de nos- nidade, insiste em convencer-nos de que nada podemos
sas brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta: contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa
fazer tudo o que possamos em favor da eticidade, sem cair a ser ou a virar “quase natural”. Frases como “a realidade
no moralismo hipócrita, ao gosto reconhecidamente fari- é assim mesmo, que podemos fazer?” ou “o desemprego
saico. Mas, faz parte igualmente desta luta pela eticidade no mundo é uma fatalidade do fim do século” expressam
recusar, com segurança, as críticas que veem na defesa da bem o fatalismo desta ideologia e sua indiscutível vontade
ética, precisamente a expressão daquele moralismo critica- imobilizadora.
do. Em mim a defesa da ética jamais significou sua distor- Do ponto de vista de tal ideologia, só há uma saída
ção ou negação. para a prática educativa: adaptar o educando a esta reali-
Quando, porém, falo da ética universal do ser humano dade que não pode ser mudada. O de que se precisa, por
estou falando da ética enquanto marca da natureza huma- isso mesmo, é o treino técnico indispensável à adaptação
na, enquanto algo absolutamente indispensável à convi- do educando, à sua sobrevivência. O livro com que volto
vência humana. Ao fazê-lo estou advertido das possíveis aos leitores é um decisivo não a esta ideologia que nos
críticas que, infiéis a meu pensamento, me apontarão como nega e amesquinha como gente. De uma coisa, qualquer
ingênuo e idealista. Na verdade, falo da ética universal do texto necessita: que o leitor ou a leitora a ele se entregue
ser humano da mesma forma como falo de sua vocação de forma crítica, crescentemente curiosa. É isto o que este
ontológica para o ser mais, como falo de sua natureza texto espera de você, que acabou de ler estas “Primeiras
constituindo-se social e historicamente não como um “a Palavras”.
priori” da História. A natureza que a ontologia cuida se ges- Paulo Freire
ta socialmente na História. São Paulo
É uma natureza em processo de estar sendo com algu- Setembro de 1996
mas conotações fundamentais sem as quais não teria sido
possível reconhecer a própria presença humana no mundo
como algo original e singular. Quer dizer, mais do que um
ser no mundo, o ser humano se tornou uma Presença no

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

RESUMO Muda de qualidade, mas não de essência, e essa mu-


dança não se dá automaticamente. Essa é uma das princi-
Capítulo l - Não Há Docência Sem Discência pais tarefas do educador progressista - o desenvolvimen-
to da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil. Ensinar exige
Ensinar não é transferir conhecimentos e conteúdos, estética e ética. A necessária promoção da ingenuidade à
nem formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, criticidade não pode ser feita sem uma rigorosa formação
estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há ética e estética. Decência e boniteza andam de mãos dadas.
docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujei- Mulheres e homens, seres histórico-sociais, tornamo-nos
tos, apesar das diferenças, não se reduzem à condição de capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de
objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e decidir, de romper. Por tudo isso nós fizemos seres éticos.
quem aprende ensina ao aprender. Ensinar exige rigorosi- Só somos porque estamos sendo. Estar sendo é a condição,
dade metodológica. Ensinar não se esgota no tratamento entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres humanos
longe da ética. Quanto mais fora dela, maior a transgres-
do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se
são. Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exem-
alonga à produção das condições em que aprender criti-
plo. Quem pensa certo está cansado de saber que palavras
camente é possível. E estas condições exigem a presença
sem exemplo pouco ou nada valem. Pensar certo é fazer
de educadores e de educandos criadores, investigadores,
certo (agir de acordo com o que pensa).
inquietos, curiosos, humildes e persistentes. Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal,
Faz parte das condições em que aprender criticamente que o re-diz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao pro-
é possível a pressuposição, por parte dos educandos, de fessor pensar que pensa certo (de forma progressista), e,
que o educador já teve ou continua tendo experiência da ao mesmo tempo, perguntar ao aluno se “sabe com quem
produção de saberes, e que estes, não podem ser simples- está falando”. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejei-
mente transferidos a eles. Pelo contrário, nas condições de ção a qualquer forma de discriminação. É próprio do pen-
verdadeira aprendizagem, tanto educandos quanto educa- sar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo
dores transformam-se em sujeitos do processo de aprendi- que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo,
zagem. Só assim podemos falar realmente de saber ensina- assim como critério de recusa ao velho não é o cronológi-
do, em que o objeto ensinado é aprendido na sua razão de co. O velho que preserva sua validade encarna uma tradi-
ser. Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, ção ou marca uma presença no tempo continua novo. Faz
com a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida
apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pen- a qualquer forma de discriminação.
sar certo - um professor desafiador, crítico. Ensinar exige A prática preconceituosa de raças, de classes, de gêne-
pesquisa. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem en- ro ofende a substantividade do ser humano e nega radical-
sino. Hoje se fala muito no professor pesquisador, mas isto mente a democracia. Ensinar exige reflexão crítica sobre a
não é uma qualidade, pois faz parte da natureza da prática prática. A prática docente crítica, implicante do pensar cer-
docente a indagação, a busca, a pesquisa. to, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer
Precisamos que o professor se perceba e se assuma e o pensar sobre o fazer. É fundamental que, na prática da
como pesquisador. Pensar certo é uma exigência que os formação docente, o aprendiz de educador assuma que o
momentos do ciclo gnosiológico impõem à curiosidade indispensável pensar certo não é presente dos deuses nem
que, tornando-se mais e mais metodologicamente rigoro- se acha nos guias de professores que, iluminados intelec-
sa, transforma-se no que Paulo Freire chama de “curiosida- tuais, escrevem desde o centro do poder. Pelo contrário,
de epistemológica”. Ensinar exige respeito aos saberes dos o pensar certo que supera o ingênuo tem de ser produzi-
do pelo próprio aprendiz, em comunhão com o professor
educandos. A escola deve respeitar os saberes dos educan-
formador. É preciso possibilitar que a curiosidade ingênua,
dos – socialmente construídos na prática comunitária - dis-
através da reflexão sobre a prática, vá tornando-se crítica.
cutindo, também, com os alunos, a razão de ser de alguns
Na formação permanente dos professores, o momento
deles em relação ao ensino dos conteúdos.
fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pen-
Por que não aproveitar a experiência dos alunos que vi- sando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se
vem em áreas descuidadas pelo poder público para discutir pode melhorar a próxima prática. O discurso teórico, ne-
a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de cessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto
bem-estar das populações, os lixões e os riscos que ofere- que quase se confunda com a prática. Ensinar exige o re-
cem à saúde? Por que não associar as disciplinas estudadas conhecimento e a assunção da identidade cultural. A ques-
à realidade concreta, em que a violência é a constante e a tão da identidade cultural, com sua dimensão individual e
convivência das pessoas com a morte é muito maior do que da classe dos educandos, cujo respeito é absolutamente
com a vida? Ensinar exige criticidade. A superação, ao invés fundamental na prática educativa progressista, é problema
da ruptura, se dá na medida em que a curiosidade ingênua, que não pode ser desprezado. Tem a ver diretamente com
associada ao saber comum, se criticiza, aproximando-se de a assunção de nós por nós mesmos. É isto que o puro trei-
forma cada vez mais metodologicamente rigorosa do ob- namento do professor não faz, perdendo-se na estreita e
jeto cognoscível, tornando-se curiosidade epistemológica. pragmática visão do processo.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Capítulo 2 – Ensinar Não É Transferir Conhecimento O ideal é que, na experiência educativa, educandos
e educadores, juntos, transformem este e outros saberes
Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as em sabedoria. Algo que não é estranho a nós, educado-
possibilidades para a sua própria construção. Quando o res. Ensinar exige respeito à autonomia do ser educando.
educador entra em uma sala de aula, deve estar aberto a O professor, ao desrespeitar a curiosidade do educando, o
indagações, curiosidade e inibições dos alunos: um ser crí- seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, ao
tico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tem - a de ironizar o aluno, minimizá-lo, mandar que “ele se ponha em
ensinar e não a de transferir conhecimento. Pensar certo é seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, ao
uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos se eximir do cumprimento de seu dever de propor limites
de assumir diante dos outros e com os outros, em face do à liberdade do aluno, ao se furtar do dever de ensinar, de
mundo e dos fatos, ante nós mesmos. É difícil, entre outras estar respeitosamente presente à experiência formadora
coisas, pela vigilância constante que temos de exercer so- do educando, transgride os princípios fundamentalmente
éticos de nossa existência. É neste sentido que o professor
bre nós mesmos para evitar os simplismos, as facilidades,
autoritário afoga a liberdade do educando, amesquinhan-
as incoerências grosseiras.
do o seu direito de ser curioso e inquieto.
É difícil porque nem sempre temos o valor indispen-
Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é
sável para não permitir que a raiva que podemos ter de
um dever, por mais que se reconheça a força dos condi-
alguém vire raivosidade, gerando um pensar errado e falso. cionamentos a enfrentar. A beleza de ser gente se acha,
É cansativo, por exemplo, viver a humildade, condição sine entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de
qua non do pensar certo, que nos faz proclamar o nosso brigar. Saber que devo respeito à autonomia e à identidade
próprio equívoco, que nos faz reconhecer e anunciar a su- do educando exige de mim uma prática em tudo coerente
peração que sofremos. Sem rigorosidade metódica não há com este saber. Ensinar exige bom senso O exercício do
pensar certo. Ensinar exige consciência do inacabamento. bom senso, com o qual só temos a ganhar, se faz no corpo
Na verdade, a inconclusão do ser é própria de sua expe- da curiosidade. Neste sentido, quanto mais colocamos em
riência vital. Onde há vida, há inconclusão, embora esta só prática, de forma metódica, a nossa capacidade de indagar,
seja consciente entre homens e mulheres. de comparar, de duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente
A invenção da existência envolve necessariamente a curiosos nos podemos tornar e mais crítico se torna o nos-
linguagem, a cultura, a comunicação em níveis mais pro- so bom senso.
fundos e complexos do que ocorria e ocorre no domínio O exercício do bom senso vai superando o que há nele
da vida, a espiritualização do mundo, a possibilidade não de instintivo na avaliação que fazemos dos fatos e dos
só de embelezar, mas também de enfear o mundo; tudo acontecimentos em que nos envolvemos. O meu bom sen-
isso inscreveria mulheres e homens como seres éticos. Só so não me diz o que é, mas deixa claro que há algo que
os seres que se tornaram éticos podem romper com a ética. precisa ser sabido. É ele que, em primeiro lugar, me diz não
É necessário insistir na problematização do futuro e recusar ser possível o respeito aos educandos, se não se levar em
sua inexorabilidade. Ensinar exige o reconhecimento de ser consideração as condições em que eles vêm existindo, e
condicionado “Gosto de ser gente, inacabado, sei que sou os conhecimentos experienciais com que chegam à escola.
um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, Isto exige de mim uma reflexão crítica permanente sobre
sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda minha prática. O ideal é que se invente uma forma pela
entre o ser condicionado e o ser determinado... Afinal, mi- qual os educandos possam participar da avaliação. E que o
nha presença no mundo não é a de quem se adapta, mas a trabalho do professor deve ser com os alunos e não consi-
de quem nele se insere”. go mesmo. O professor tem o dever de realizar sua tarefa
docente.
E a posição de quem luta para não ser apenas objeto,
Para isso, precisa de condições favoráveis, sem as quais
mas também sujeito da história. Histórico-sócio-culturais,
se move menos eficazmente no espaço pedagógico. O des-
tornamo-nos seres em quem a curiosidade, ultrapassando
respeito a este espaço é uma ofensa aos educandos, aos
os limites que lhe são peculiares no domínio vital, torna-
educadores e à prática pedagógica. Ensinar exige humilda-
-se fundante da produção do conhecimento. Mais ainda, a de, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores.
curiosidade é já o conhecimento. Como a linguagem que Como ser educador sem aprender a conviver com os dife-
anima a curiosidade e com ela se anima, é também conhe- rentes? Como posso respeitar a curiosidade do educando
cimento e não só expressão dele. Na verdade, seria uma se, carente de humildade e da real compreensão do papel
contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, da ignorância na busca do saber, temo revelar o meu des-
o ser humano não se inserisse em tal movimento. É neste conhecimento? A luta dos professores em defesa de seus
sentido que, para mulheres e homens, estar no mundo ne- direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um
cessariamente significa estar com o mundo e com os ou- momento importante de sua prática docente, enquanto
tros. É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se prática ética. Ainda que a prática pedagógica seja tratada
funda a educação como processo permanente. Mulheres e com desprezo, não tenho por que desamá-la e aos edu-
homens se tornaram educáveis na medida em que se reco- candos. Não tenho por que exercê-la mal. Minha resposta
nheceram inacabados. à ofensa à educação é a luta política consciente, crítica e
organizada dos professores.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de Constato, não para me adaptar, mas para mudar. No fundo, as
formação permanente dos quadros do magistério como resistências orgânicas e culturais são manhas necessárias à sobrevi-
tarefa altamente política, e reinventar a forma de lutar. En- vência física e cultural dos oprimidos. É preciso, porém, que tenha-
sinar exige apreensão da realidade. Como professor, pre- mos na resistência fundamentos para a nossa rebeldia e não para
ciso conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a a nossa resignação em face das ofensas. Não é na resignação que
essência da minha prática. O melhor ponto de partida para nos afirmamos, mas na rebeldia em face das injustiças. A rebeldia
estas reflexões é a inconclusão do ser humano. Aí radica é ponto de partida, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente.
a nossa educabilidade, bem como a nossa inserção num A rebeldia, enquanto denúncia, precisa se alongar até uma
permanente movimento de busca. A nossa capacidade posição mais radical e crítica, a revolucionária, fundamental-
de aprender, de que decorre a de ensinar, implica a nossa mente anunciadora. Mudar é difícil, mas é possível. Ensinar exi-
habilidade de apreender a substantividade de um objeto. ge curiosidade. Como professor, devo saber que, sem a curiosi-
Somos os únicos seres que, social e historicamente, nos dade que me move, não aprendo nem ensino. A construção do
conhecimento implica o exercício da curiosidade, o estímulo à
tornamos capazes de aprender.
pergunta, a reflexão crítica sobre a própria pergunta.
Por isso aprender é uma aventura criadora, muito mais
O fundamental é que professor e alunos saibam que a
rica do que meramente repetir a lição dada. Aprender é
postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não
construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se
apassivada. A dialogicidade, no entanto, não nega a validade
faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. Toda de momentos explicativos, narrativos. O bom professor faz da
prática educativa demanda: aula um desafio. Seus alunos cansam, não dormem. Um dos
- a existência de sujeitos saberes fundamentais à prática educativo-crítica é o que me
- um que, ensinando, aprende, e outro que, aprenden- adverte da necessária promoção da curiosidade espontânea
do, ensina (daí seu cunho gnosiológico); para a curiosidade epistemológica. Resultado do equilíbrio en-
- a existência de objetos, conteúdos a serem ensinados tre autoridade e liberdade, a disciplina implica o respeito de
e aprendidos; uma pela outra, expresso na assunção que ambas fazem de
- o uso de métodos, de técnicas, de materiais. Esta prá- limites que não podem ser transgredidos.
tica também implica, em função de seu caráter diretivo, ob-
jetivos, sonhos, utopias, ideais. Daí sua politicidade, daí não Capítulo 3 - Ensinar É Uma Especificidade Humana
ser neutra, ser artística e moral.
Creio que uma das qualidades essenciais que a autorida-
Exige uma competência geral, um saber de sua nature- de docente democrática deve revelar em suas relações com as
za e saberes especiais, ligados à atividade docente. Como liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É a seguran-
professor, se a minha opção é progressista e sou coerente ça que se expressa na firmeza com que atua, com que decide,
com ela, meu papel é contribuir para que o educando, seja com que respeita as liberdades, com que discute suas próprias
o, artífice de sua formação. Devo estar atento à difícil cami- posições, com que aceita rever-se. Ensinar exige segurança,
nhada da heteronomia para a autonomia. “É assim que ve- competência profissional e generosidade - A segurança com
nho tentando ser professor, assumindo minhas convicções, que a autoridade docente se move implica uma outra, fundada
disponível ao saber, sensível à boniteza da prática educa- na sua competência profissional.
tiva, instigado por seus desafios...” Ensinar exige alegria e Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta com-
esperança. petência. O professor que não leva a sério sua formação, que não
O meu envolvimento com a prática educativa jamais estuda, que não se esforça para estar à altura de sua tarefa não
deixou de ser feito com alegria, o que não significa dizer tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. A in-
competência profissional desqualifica a autoridade do professor.
que tenha podido criá-la nos educandos. Parece-me uma
Outra qualidade indispensável à autoridade, em suas relações com
contradição que uma pessoa que não teme a novidade,
a liberdade, é a generosidade. Não há nada que inferiorize mais a
que se sente mal com as injustiças, que se ofende com as
tarefa formadora da autoridade do que a mesquinhez, a arrogância
discriminações, que luta contra a impunidade, que recusa
ao julgar os outros e a indulgência ao se julgar, ou aos seus.
o fatalismo cínico e imobilizante não seja criticamente es- A arrogância que nega a generosidade nega também a
perançosa. Ensinar exige a convicção de que a mudança é humildade. O clima de respeito que nasce de relações justas,
possível. sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e
A realidade não é inexoravelmente esta. E esta agora, e as liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o
para que seja outra, precisamos lutar, viver a história como caráter formador do espaço pedagógico. A autoridade, coeren-
tempo de possibilidade, e não de determinação. O amanhã temente democrática, está convicta de que a disciplina verda-
não é algo pré-dado, mas um desafio. Não posso, por isso, deira não existe na estagnação, no silêncio dos silenciados, mas
cruzar os braços. Esse é, aliás, um dos saberes primeiros, no alvoroço dos inquietos, na dúvida que instiga, na esperança
indispensáveis a quem pretende que sua presença se tor- que desperta. Um esforço sempre presente à prática da autori-
ne convivência. O mundo não é. O mundo está sendo. O dade coerentemente democrática é o que a torna quase escra-
meu papel no mundo não é só o de quem constata o que va de um sonho fundamental - o de persuadir ou convencer a
ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de liberdade para a construção da própria autonomia, ainda que
ocorrências. reelaborando materiais vindos de fora de si.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

É com a autonomia, penosamente construída e funda- Sou professor a favor da esperança que me anima, ape-
da na responsabilidade, que a liberdade vai preenchendo o sar de tudo. Contra o desengano que consome e imobiliza e
espaço antes habitado pela dependência. O fundamental no a favor da boniteza de minha própria prática. Tão importante
aprendizado do conteúdo é a construção da responsabili- quanto o ensino dos conteúdos é a minha coerência na classe.
dade da liberdade que se assume. O essencial nas relações A coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. En-
entre autoridade e liberdade é a reinvenção do ser humano sinar exige liberdade e autoridade. O problema que se coloca
no aprendizado de sua autonomia. Nunca me foi possível se- para o educador democrático é como trabalhar no sentido de
parar dois momentos - o ensino dos conteúdos da formação fazer possível que a necessidade do limite seja assumida etica-
ética dos educandos. O saber desta impossibilidade é funda- mente pela liberdade. Sem os limites, a liberdade se perverte
mental à prática docente. em licença e a autoridade em autoritarismo. Por outro lado,
Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhe- faz parte do aprendizado a assunção das consequências do
cendo a responsabilidade que ela exige de nós, mais me con- ato de decidir.
venço do nosso dever de lutar para que ela seja realmente Não há decisão que não seja seguida de efeitos esperados,
respeitada: Ensinar exige comprometimento. Não posso ser pouco esperados ou inesperados. Por isso a decisão é um pro-
professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com cesso responsável. É decidindo que se aprende a decidir. Não
facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar po- posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca, porque
liticamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E há sempre a sabedoria e a sensatez de meu pai e de minha
a maneira como eles me percebem tem importância capital mãe a decidir por mim. Ninguém é autônomo primeiro para
para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas depois decidir. A autonomia vai se construindo na experiência.
preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado,
cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que ninguém amadurece de repente. A gente vai amadurecendo
pareço ser e o que realmente estou sendo. Isto aumenta em todo dia, ou não. A autonomia é um processo, não ocorre em
mim os cuidados com o meu desempenho. data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autono-
Se a minha opção é democrática, progressista, não pos- mia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da
so ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Minha pre-
decisão e da responsabilidade, ou seja, que respeitam a liber-
sença de professor é, em si, política. Enquanto presença, não
dade. Ensinar exige tomada consciente de decisões. Voltemos
posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo re-
à questão central desta parte do texto - a educação, especifici-
velar aos alunos a minha capacidade de analisar, de decidir,
dade humana, como um ato de intervenção no mundo.
de optar e de romper, minha capacidade de fazer justiça, de
Quando falo em educação como intervenção me refi-
não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o
ro tanto a que aspira a mudanças radicais na sociedade, no
meu testemunho. Ensinar exige compreender que a educa-
campo da economia, das relações humanas, da propriedade,
ção é uma forma de intervenção no mundo. Outro saber de
que ‘não posso duvidar na minha prática educativo-crítica é do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a
que, como experiência especificamente humana, a educação que, reacionariamente, pretende imobilizar a História e manter
é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção esta a ordem injusta. E que dizer de educadores que se dizem pro-
que, além do conhecimento dos conteúdos, bem ou mal en- gressistas, mas de prática pedagógica-política eminentemente
sinados e/ou aprendidos, implica tanto o esforço da reprodu- autoritária? A raiz mais profunda da politicidade da educação
ção da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. se acha na educabilidade do ser humano, que se funda em sua
Nem somos seres simplesmente determinados nem natureza inacabada e da qual se tornou consciente. Inacabado
tampouco livres de condicionamentos genéticos, culturais, e consciente disso, necessariamente o ser humano se faria um
sociais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e ser ético, um ser de opção, de decisão. Um ser ligado a inte-
a que nos achamos referidos. Continuo aberto à advertência resses e em relação aos quais tanto pode manter-se fiel à éti-
de Marx, a da necessária radicalidade, que me faz sempre ca quanto pode transgredi-la. Se a educação não pode tudo,
desperto a tudo o que diz respeito à defesa dos interesses pode alguma coisa fundamental. Se a educação não é a chave
humanos. Interesses superiores aos de grupos ou de classes das mudanças, não é também simplesmente reprodutora da
de pessoas. Não posso ser professor se não percebo cada vez ideologia dominante.
melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de O que quero dizer é que a educação nem é uma força
mim uma definição, uma tomada de posição, uma ruptura. imbatível a serviço da transformação da sociedade nem tam-
Exige que eu escolha entre isto e aquilo. pouco é a perpetuação do status quo.
Não posso ser professor a favor de quem quer que seja Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e
e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, so-
favor simplesmente da Humanidade, frase de uma vaguidade bretudo, como se fôssemos os portadores da Verdade a ser
demasiado contrastante com a concretude da prática edu- transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é es-
cativa. Sou professor a favor da decência contra o despudor, cutando que aprendemos & falar com eles. Os sistemas de
a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se as-
contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura. Sou sumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima para
professor a favor da luta constante contra qualquer forma baixo, mas insistindo em passar por democráticos. A questão
de discriminação, contra a dominação econômica dos indi- que se coloca a nós é lutar em favor da compreensão e da prá-
víduos ou das classes sociais, contra a ordem vigente que tica da avaliação, enquanto instrumento de apreciação do que
inventou a aberração da miséria na fartura. fazer, de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo, da liber-

160
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tação e não da domesticação. Avaliação em que se estimule Como educadores progressistas não apenas não po-
o falar a como caminho para o falar com. Quem tem o que demos desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, so-
dizer, tem igualmente o direito e o dever de dizê-lo. É preciso, bretudo, discuti-la. Não podemos nos pôr diante de um
porém, que o sujeito saiba não ser o único a ter algo a dizer. aparelho de televisão entregues ou disponíveis ao que vier.
Mais ainda, que esse algo, por mais importante que seja, não é Ensinar exige querer bem aos educandos. O que dizer e
a verdade alvissareira por todos esperada. o que esperar de mim, se, como professor, não me acho
Por isso é que acrescento, quem tem o que dizer deve as- tomado por este outro saber, o de que preciso estar aberto
sumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, para que ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de querer
este diga, fale, responda. É preciso enfatizar - ensinar não é bem aos educandos e à própria prática educativa de que
transferir a inteligência do objeto ao educando, mas instigá-lo participo. Na verdade, preciso descartar como falsa a se-
no sentido de que, como sujeito cognoscente, torne-se capaz paração radical entre seriedade docente e afetividade. A
de inteligir e comunicar o inteligido. É neste sentido que se afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade.
impõe a mim escutar o educando em suas dúvidas, em seus O que não posso, obviamente, permitir é que minha
receios, em sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever
aprendo a falar com ele. Aceitar e respeitar a diferença é uma de professor no exercício de minha autoridade. Não posso
das virtudes sem a qual a escuta não pode acontecer. Tarefa condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao
essencial da escola, como centro de produção sistemática de maior ou menor bem querer que tenha por ele. É preciso,
conhecimento, é trabalhar criticamente a i das coisas e dos fa- por outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática
tos e a sua comunicabilidade. Ensinar exige reconhecer que a educativa vivida com afetividade e alegria prescinda da for-
educação é ideológica Saber igualmente fundamental à práti- mação científica séria e da clareza política dos educadores.
ca educativa do professor é o que diz respeito à força, às vezes, Nunca idealizei a prática educativa. Em tempo algum a vi
maior do que pensamos da ideologia. É o que nos adverte de como algo que, pelo menos, parecesse com um que-fazer
suas manhas, das armadilhas em que nos faz cair. de anjos. Jamais foi fraca em mim a certeza de que vale a
A ideologia tem a ver diretamente com a ocultação da pena lutar contra os descaminhos que nos obstaculizam
verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penumbrar de ser mais.
ou opacizar a realidade, ao mesmo tempo em que nos tor- Como prática estritamente humana, jamais pude en-
na míopes. No exercício crítico de minha resistência ao poder tender a educação como uma experiência fria, sem alma,
da ideologia, vou gerando certas qualidades que vão virando em que os sentimentos e as emoções, os desejos e os so-
sabedoria indispensável à minha prática docente. A necessi- nhos devessem ser reprimidos por uma espécie de dita-
dade desta resistência crítica, por exemplo, me predispõe, de dura reacionalista. Jamais compreendi a prática educativa
um lado, a uma atitude sempre aberta aos demais, aos dados como uma experiência a que faltasse o rigor em que se
da realidade; de outro, a uma desconfiança metódica que me gera a necessária disciplina intelectual. Estou convencido
defende de tornar-me absolutamente certo das certezas. Para de que a rigorosidade, a séria disciplina intelectual, o exer-
me resguardar das artimanhas da ideologia não posso nem cício da curiosidade epistemológica não me fazem neces-
devo me fechar aos outros, nem tampouco me enclausurar no sariamente um ser mal-amado, arrogante, cheio de mim
ciclo de minha verdade. Pelo contrário, o melhor caminho para mesmo. Nem a arrogância é sinal de competência nem
guardar viva e desperta a minha capacidade de pensar certo, a competência é causa de arrogância. Certos arrogantes,
de ver com acuidade, de ouvir com respeito, por isso de forma pela simplicidade, se fariam gente melhor.
exigente, é me deixar exposto às diferenças, é recusar posições Texto adaptado: Carlos R. Paiva.
dogmáticas, em que me admita como dono da verdade.
Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. Nas minhas 3.1- Ensinar exige segurança, competência profis-
relações com os outros, que não fizeram necessariamente as sional e generosidade (p.91 a 96)
mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da estéti-
ca, da pedagogia, nem posso partir do pressuposto que devo O professor que não leve a sério sua formação, que
conquistá-los, não importa a que custo, nem tampouco temer não estuda, que não se esforce para estar à altura de sua
que pretendam conquistar-me. É no respeito às diferenças en- tarefa não tem força moral para coordenar as atividades
tre mim e eles, na coerência entre o que faço e o que digo, que de sua classe. (...). Há professoras cientificamente prepara-
me encontro com eles. O sujeito que se abre ao mundo e aos dos mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que
outros inaugura, com seu gesto, a relação dialógica em que se a incompetência profissional desqualifica a autoridade do
confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão professor. (p.92)
em permanente movimento na história. Como ensinar, como Outra qualidade indispensável à autoridade em suas
formar sem estar aberto ao contorno geográfico, social, dos relações com as liberdades é a generosidade. (...). A arro-
educandos? Com relação a meus alunos, diminuo a distância gância que nega a generosidade nega também a humilda-
que me separa de suas condições negativas de vida na medi- de. (...) (p.92)
da em que os ajudo a aprender não importa que saber, o do A autoridade docente mandonista, rígida, não conta
torneio ou do cirurgião, com vistas à mudança do mundo, à com nenhuma criatividade do educando. Não faz parte de
superação das estruturas injustas, jamais com vistas à sua imo- sua forma de ser, esperar, sequer, que o educando revele o
bilização. Debater o que se diz e o que se mostra e como se gosto de aventurar-se. (p.92-93)
mostra na televisão me parece algo cada vez mais importante.

161
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

(...)O educando que exercita sua liberdade ficará tão mais 3.4 - Ensinar exige liberdade e autoridade (p.104 a 108)
livre quanto mais eticamente vá assumindo a responsabilida-
de de suas ações. Decidir é romper e, para isso, preciso correr O que sempre deliberadamente recusei, em nome do pró-
o risco. (...) (p.93) prio respeito à liberdade, foi sua distorção em licenciosidade.
Me movo como educador porque, primeiro, me movo O que sempre procurei foi viver em plenitude a relação tensa,
como gente. (p.94) contraditória e não mecânica, entre autoridade e liberdade, no
Ensinar e, enquanto ensino, testemunhar aos alunos o sentido de assegurar o respeito entre ambas, cuja ruptura pro-
quanto me é fundamental respeitá-los e respeitar-me são ta- voca a hipertrofia de uma ou de outra. (p.108)
refas que jamais dicotomizei. (p.94) A posição mais difícil, indiscutivelmente correta, é a de-
Como professor, tanto lido com minha liberdade quanto mocrata, coerente com seu sonho solidário e igualitário, para
com minha autoridade em exercício, mas também diretamen- quem não é possível autoridade sem liberdade e esta sem
te com a liberdade dos educandos, que devo respeitar, e com aquela. (p.108)
a criação de sua autonomia bem como com os anseios de
construção da autoridade dos educandos. (p.95) 3.5 - Ensinar exige tomada consciente de decisões
(p.109 a 113)
3.2 - Ensinar exige comprometimento (p.96 a 98)
Voltemos à questão central que venho discutindo nesta
Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, parte do texto: a educação, especificidade humana, como um
e que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda ato de intervenção não está sendo usado com nenhuma res-
no cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em trição semântica. Quando falo em educação como intervenção
mim os cuidados com meu desempenho. Se a minha opção é me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na sociedade,
democrática, progressista, não posso ter uma prática reacio- no campo da economia, das relações humanas, da proprieda-
nária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o aluno em de, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto
nome de nenhum motivo. (p.97) à que, pelo contrário, reacionariamente pretende imobilizar a
Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, História e manter o ordem injusta. (p.109)
de comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha A educação não vira política por causa da decisão deste ou
capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por daquele educador. Ela é política. (p.110)
isso mesmo, tem que ser o meu testemunho. (p.98) O que devo pretender não é a neutralidade da educação
mas a respeito, a toda prova, aos educandos, aos educadores
3.3 - Ensinar exige compreender que a educação é e às educadoras. O respeito aos educadores e educadoras por
uma forma de intervenção no mundo. (p.98 a 104) parte da administração pública ou privada das escolas; o res-
peito aos educandos assumido e praticado pelos educadores
Outro saber de que não posso duvidar um momento se- não importa de que escola, particular ou pública. É por isto que
quer na minha prática educativo-crítica é o de que, como ex- devo lutar sem cansaço. Lutar pelo direito que tenho de ser res-
periência especificamente humana, a educação é uma forma peitado e pelo dever que tenho de reagir a que me destratem .
de intervenção no mundo. (p.98) Lutar pelo direito que você, que me lê, professora ou aluna, tem
Continuo bem aberto à advertência de Marx, a da neces- de ser você mesma e nunca, jamais, lutar por essa coisa impos-
sária radicalidade que me faz sempre desperto a tudo o que sível, acinzentada e insossa que é a neutralidade. (p.111-112)
diz respeito à defesa dos interesses humanos. Interesses su- (...) O educador e a educadora críticos não podem pensar
periores aos de puros grupos ou de classes de gente. (p.100) que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que li-
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor deram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar que
que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de
uma definição. (...). Sou professor a favor da decência contra o sua tarefa político-pedagógica. (p.112)
despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da au-
toridade contra a licenciosidade, da democracia contra a dita- 3.6 - Ensinar exige saber escutar (p.113 a 125)
dura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta
constante contra qualquer forma de discriminação, contra a Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me
dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. confirma como gente e que jamais deixou de provar que o ser
Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou humano é maior do que mecanismos que o minimizam. (p.115)
esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de pro-
esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor con- fessores vêm se assumindo cada vez mais como discursos ver-
tra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a ticais, de cima para baixo, mais insistindo em passar por demo-
favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela cráticos. A questão que se coloca a nós, enquanto professores
some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo e alunos críticos e amorosos da liberdade, não é, naturalmente,
por este saber, se não luto pelas condições materiais necessá- ficar contra a avaliação, de resto necessária, mas resistir aos mé-
rias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se todos silenciadores com que ela vem sendo às vezes realizada.
amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de luta- A questão que se coloca a nós é lutar em favor da compreen-
dor pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai são e da prática da avaliação enquanto instrumento de aprecia-
de minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e des- ção do que fazer de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo,
denhoso dos alunos, não canso de me admirar. (p.102-103) da libertação e não da domesticação. (...) (p.116)

162
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Por isso é que, acrescento, quem tem o que dizer deve “É isso, você vai se meter com gentinha, é o que dá.”
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no “Quando negro não suja na entrada, suja na saída.”
sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. É intole- “O governo tem que investir mesmo é nas áreas onde
rável o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário mora gente que paga imposto.”
de comportar-se como proprietário da verdade(...). (p.117) “Você não precisa pensar. Vote em fulano, que pensa por
Que me seja perdoada a reiteração, mas é preciso en- você.”
fatizar, mais uma vez: ensinar não é transferir a inteligência “Você, desempregado, seja grato. Vote em quem ajudou
do objeto ao educando mas instigá-lo no sentido de que, você. Vote em fulano de tal.”
como sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e co- “Está se vendo, pela cara, que se trata de gente fina, de
municar o inteligido. É nesse sentido que se impõe a mim trato, que tomou chá em pequeno e não de um pé-rapado
escutar o educando em suas dúvidas, em seus receios, em qualquer.”
sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a fa- “O professor falou sobre a Inconfidência Mineira.”
lar com ele. (p.119) “O Brasil foi descoberto por Cabral.” (p.133)
Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes
sem o que a escuta não se pode dar. (p.120) (...) o melhor caminho para guardar viva e desperta a
Ninguém pode conhecer por mim assim como não minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade,
posso conhecer pelo aluno. (p.124) de ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me
deixar exposto às diferenças, é recusar posições dogmáti-
3.7 - Ensinar exige reconhecer que a educação é cas, em que me admita como proprietário da verdade. (...)
ideológica. (p.125 a 134) (p.134)

Há um século e meio Marx e Engels gritavam em favor 3.8 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. (p.
da união das classes trabalhadoras do mundo contra sua 135 a 140)
espoliação. Agora, necessária e urgente se fazem a união
e a rebelião das gentes contra a ameaça que nos atinge, a Como professor não devo poupar oportunidade para
dos à “fereza” da ética do mercado. (p.128) testemunhar aos alunos a segurança com que me compor-
Prefiro ser criticado como idealista e sonhador invete- to ao discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor minha
rado por continuar, sem relutar, a aposta no ser humano, posição em face de uma decisão governamental. (p.135)
a me bater por uma legislação que o defenda contra as Me sinto seguro porque não há razão para me enver-
arrancadas agressivas e injustas de que transgride a própria gonhar por desconhecer algo. (p.135)
ética. (p.129) O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora;
É exatamente por causa de tudo isso que como profes- o amanhã já está feito. Tudo muito rápido. Debater o que
sor, devo estar advertido do poder do discurso ideológico, se diz e o que se mostra e como se mostra na televisão me
começando pelo que proclama a morte das ideologias. Na parece algo cada vez mais importante. (p.139)
verdade, só ideologicamente posso matar as ideologias, Como educadores e educadoras progressistas não
mas é possível que não perceba a natureza ideológica do apenas não podemos desconhecer a televisão mas deve-
discurso que fala de sua morte. No fundo, a ideologia tem mos usá-la, sobretudo, discuti-la.(p.139)
um poder de persuasão indiscutível. O discurso ideológico O poder dominante, entre muitas, leva mais uma van-
nos ameaça de anestesiar a mente, de confundir, das coi- tagem sobre nós. É que, para enfrentar o ardil ideológico
sas, dos acontecimentos. Não podemos escutar, sem um de que se acha envolvida a sua mensagem na mídia, seja
mínimo de reação crítica, discursos como estes: (p.132) nos noticiários, nos comentários aos acontecimentos ou na
linha de certos programas, para não falar na propaganda
“O negro é geneticamente inferior ao branco. É uma comercial, nossa mente ou nossa curiosidade teria de fun-
pena, mas é isso o que a ciência nos diz.” cionar epistemologicamente todo o tempo. E isso não é
“Em defesa de sua honra, o marido matou a mulher.” fácil. (p.140)
“Que poderíamos esperar deles, uns baderneiros, inva-
sores de terra?” 3.9- Ensinar exige querer bem aos educandos (p.141
“Essa gente é sempre assim: damos-lhe os pés e logo a 146)
quer as mãos.”
“Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa. (...) A afetividade não se acha excluída da cognoscibili-
Perguntar-lhe seria uma perda de tempo.” dade. O que não posso obviamente permitir é que minha
“O saber erudito a ser entregue às massas incultas é a afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever
sua salvação.” de professor no exercício de minha autoridade. Não posso
“Maria é negra, mas é bondosa e competente.” condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno
“Esse sujeito é um bom cara. É nordestino, mas é sério e ao maior ou menor bem querer que tenha por ele. (p.141)
prestimoso”. (...) A alegria não chega apenas no encontro do achado
“Você sabe com quem está falando?” mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender
“Que vergonha, homem se casar com homem, mulher se não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da
casar com mulher.” alegria. (...). (p.142)

163
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

(...) É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, Trabalhar com gente, nunca foi tarefa fácil, mas de certo
que explica a quase devoção com que a grande maioria do é uma experiência incrível. Que se valha da esperança nos
magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos sa- momentos de angústia e olhando adiante, vejamos que é
lários. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode, possível prosseguir um pouco mais e sempre mais. Desistir
seu dever. Amorosamente, acrescento. (p.142) não faz parte do perfil vencedor. A leitura foi de grande
(...) A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria, valia, certamente contribuiu muito em meu conhecimento.
capacidade científica, domínio técnico a serviço da mu-
dança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje.(...). TRECHOS IMPORTANTES DO LIVRO
(p.143)
(...) Se não posso, de um lado, estimular os sonhos im- “Ensinar não e transferir conhecimento, mas criar pos-
possíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito sibilidades para a sua produção ou a sua construção.” (p.22)
de sonhar. Lido com gente e não com coisas. (...).(p.144)
(...) Como prática estritamente humana jamais pude “Quem forma-se forma é reforma ao formar e quem é
entender a educação como uma experiência fria, sem alma. formado forma-se e forma ao ser formado. (...). Não há do-
(...). (p.145) cência sem decência, as duas se explicam. (...). Quem ensina
Estou convencido, porém de que a rigosidade, a sé- aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”
ria disciplina intelectual, o exercício da curiosidade episte- (p.23)
mológica não me faz necessariamente um ser mal-amado,
arrogante, cheio de mim mesmo. Ou, em outras palavras, “Ensinar não se esgota no ‘tratamento’ do objeto ou
não é a minha arrogância intelectual a que fala de minha do conteúdo, superficialmente feita, mas se alonga à pro-
rigorosidade científica. Nem a arrogância é sinal de com- dução das condições em que aprender criticamente e pos-
petência nem a competência é causa de arrogância. Não sível.” (p.26)
nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes,
mas lamento neles a ausência de simplicidade que, não di- “Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às ve-
minuindo em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente zes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo.”
mais gente. (p.146) (p.27)

Realmente ler a obra de Freire (especificamente o capí- “O professor que pensa certo deixa transparecer aos
tulo 3), nos faz refletir acerca de questões no qual estamos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de
inseridas e por vezes não percebemos. Seguimos numa in- estar no mundo e com o mundo (...), e a capacidade de
genuidade imperdoável, enquanto isso os manipuladores intervindo no mundo conhecer o mundo.” (p.28)
permanecem como tais. Perceber a postura do professor
nesta visão é lamentar o quão longe estamos de algo dito “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino
há anos. Infelizmente, os docentes, abatidos pelo desres- (...). Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e
peito do sistema arcaico e preferem trilhar o caminho mais comunicar ou anunciar a novidade” (p.29)
fácil, porque afinal ouvir o outro requer tempo, sensibilida-
de, criticidade e afinal eles “não são pagos para isso”. “Não há para mim, na diferença e na “distancia” en-
Um professor que tem vocação, é uma arma perigo- tre a ingenuidade e a praticidade (...). A superação e não a
sa, pois ele pode trabalhar não apenas com os conteúdos, ruptura se da na medida em que a curiosidade ingênua se
como também levar o indivíduo a pensar. Pensar sobre coi- criticiza.” (p.31)
sas simples e acreditar que é possível mudar. Fazemos par-
te da transformação e ela pode começar por nós. A educa- “Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos
ção é a chave da mudança! move e que nos põe pacientemente em pacientes diante
Freire fala sobre a importância que existe na afetivida- do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que
de relacionada a discente- docente, pois de fato é arbitrá- fazemos. A necessária promoção da ingenuidade à critici-
rio estabelecer uma construção de saber, dado por troca, dade não pode ou não deve ser feita a distância de uma
sem que haja alegria, vivacidade, competência, respeito e rigorosa formação ética ao lado sempre da estética.” (p.32)
capacidade. O modo como o aluno vê o educador, é outro
ponto que me chamou atenção, pois a postura apresen- “O professor que realmente ensina nega como falca, a
tada deve estar em harmonia com o discurso ético deste formula farisaica do ‘faço o que eu mando e não o que eu
profissional. faço’ (...). Pensar certo e fazer certo. (...). Não há pensar cer-
Vale ressaltar que o grau de comprometimento com o to fora de uma pratica testemunhal que o re-diz no lugar
trabalho define seu resultado, isto vale para todas as par- de desdizê-lo.” (p.34)
tes envolvidas no processo de aprendizagem, o preparo é
primordial. Estabelecer limites não implica em ser sisudo, a “Faz parte do pensar certo o gosto da generosidade
liberdade é tão importante quanto o respeito, muito em- que, não negando a quem o tem o direito à raiva, a distin-
bora essas linhas tênues se percam, não é válido assumir o gue da raivosidade irrefreada.” (p.35)
modo silenciador, fazendo do educando mero receptador.

164
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

“Faz parte igualmente do pensar certa a rejeição mais “Estar no mundo sem fazer história sem por ela ser fei-
decidida a qualquer forma de descriminação. A pratica pre- ta (...) sem politizar não e possível. Mulheres e homens se
conceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a subs- tornaram educáveis na medida em que se reconheceram
tantividade do ser humano e nega radicalmente a demo- inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e ho-
cracia.” (p.36) mens educáveis, mas a consciência de sua de sua inclusão
é que gerou sua educabilidade.” (p.58)
“Às vezes, mal se imagina o que pode se passar ao re-
presentar na vida de um aluno um simples gesto do pro- “O inacabamento de que nos tornamos consciente
fessor.” (p.42) nos fez seres éticos (...) a possibilidade do desvio ético não
pode receber outra designação se não a de transgressão.
“Este saber, o da importância desses gestos que se O professor que desrespeita a curiosidade do educando.”
multiplicam diariamente nas tramas do espaço escolar, e (p.59)
algo sobre o que teríamos de refletir seriamente.” (p.43)
“Transgride os princípios fundamentalmente éticos de
“Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se
nossa existência.” (p.60)
aliado, de um lado, do exercício da criticidade que implica
a promoção da curiosidade ingênua à curiosidade espite-
mológica, e de outro, sem o reconhecimento do valor das “O exercício do bom senso com o qual só temos o que
emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou ganhar se faz do ‘corpo’ da curiosidade.” (p.62)
adivinhação.” (p.45)
“Como na verdade posso eu continuar falando no res-
“Quando entra em uma sala de aula devo estar sendo peito à dignidade do educando se o ironizo (...). Se o teste-
um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas munho que a ele dou e da irresponsabilidade (...). A respon-
dos alunos, as suas inibições (...). Como professor no cur- sabilidade do professor, de que às vezes não nos damos
so de formação docente não posso esgotar minha prática conta, e sempre grande.” (p.65)
discursando sobre a Teoria da não extensão do conheci-
mento.” (p.47) “Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa
dos direitos dos educadores.” (p.66)
“O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo
concreto, pratico, da teoria. Sua encarnação.” (p.48) “Em nome do respeito que devo ao aluno não tenho
por que me omitir, por que me ocultar a minha opção po-
“Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo e a lítica assumindo uma neutralidade que não existe. Esta, a
maneira radical como me experimento enquanto ser cultu- omissão do professor em nome do respeito ao aluno, tal-
ral, histórico, inacabado e consciente do inacabamento. (...) vez seja a melhor maneira de desrespeitá-lo.” (p.71)
Onde a vida há inacabamento.” (p.50)
“O meu envolvimento com a pratica educativa, sabida-
“Só os seres que se tornaram éticos podem romper mente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser
com a ética. (...) Não foi possível existir sem assumir o direi- feito com alegria. (...) Há uma relação entre a alegria neces-
to e o dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. sária à atividade educativa e a esperança. (...) A esperança
E tudo isso nos traz de novo a imperiosidade da pratica é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário, a
formadora, de natureza eminentemente ética.” (p.52) desesperança é o aborto deste ímpeto.” (p.72)
“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um
“O mundo não é. O mundo está sendo.” (p.76)
ser condicionado, mas, consciente do inacabamento (ina-
cabado), sei que posso ir além dele.” (p.53)
“A mudança do mundo implica a dialetização entre a
“Minha presença no mundo não e de quem a ele se denúncia da situação desumanizante e o anuncio de sua
adapta, mas e de quem nele se insere. E a posição de quem superação, no fundo, o nosso sonho. (...) mudar é difícil,
luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da mas é possível (p.79)
história.” (p.54)
“Como professor devo saber que sem a curiosidade
“A inconsciência do inacabamento entre nos, mulheres que me move, que me inquieta, que me insere na busca,
e homens, nos fez seres responsáveis, daí a eticidade de não aprendo nem ensino.” (p.85)
nossa presença no mundo.” (p.56)
“O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a
“A consciência do mundo e a consciência de si como intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de com-
ser inacabado necessariamente inscreve o ser consciente parar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de
de sua inclusão num permanente conhecimento de busca.” sua razão de ser.” (p.88)
(p.57)

165
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

“A segurança com que a autoridade docente se move “A liberdade sem limite e tão negada quanto a liber-
implica outra, a que se funda na sua competência profis- dade asfixiada ou castrada. (...) Quanto mais criticamente a
sional” (p.91) liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade
tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu
“A segurança com que a autoridade docente se move nome. (p. 105)
implica outra, a que se funda na sua competência profis-
sional” (p.91) “Ninguém e autônomo primeiro para depois decidir.
A autonomia vai se construindo na experiência de várias,
“Há professores e professoras cientificamente depara- inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. (...) A gente
dos, mas autoritários a toda prova. (...) ”Outra qualidade vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia enquan-
indispensável à autoridade em suas relações com as liber- to amadurecimento do ser para si, e processo, e vir a ser.”
dades e a generosidade.” (p.92) (p.107)
“A autoridade coerentemente democrática, fundando-
“Ensinar exige saber escutar. (...) O educador que escuta
-se na certeza da importância, quer de si mesma, quer da
aprende a difícil missão de transformar o seu discurso, às
liberdade dos educandos para construção de um clima de
vezes e necessário, ao aluno, em fala com ele.” (p.113)
real disciplina, jamais minimiza a liberdade. (...) O educando
que exercita sua liberdade ficará tão mais livre quanto mais
eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas “No processo da fala e da escuta a disciplina do silen-
ações.” (p.93) cio a ser assumida com rigor e a seu tempo pelos sujeitos
que falam e escutam e um ‘sine Qua’ [sem o qual não pode
“No fundo, o essencial nas relações entre o educador ser] da comunicação dialógica. (...) É preciso, porém, que
e o educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, quem tem o que dizer saiba sem sombra de duvidas, não
mães, filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no ser o único ou a única a ter o que dizer.” (p.116)
aprendizado de sua autonomia.” (p.94)
“A importância do silencio no espaço da educação e
“O ensino dos conteúdos implica o testemunho ético fundamental.” (p.117)
do professor (...) não há lugar para puritanismo. Só há lugar
para pureza. (...) A minha pura fala sobre estes direitos a “Escutar e obviamente algo que vai mais além da possi-
que não corresponda a suas concretizações não tem sen- bilidade auditiva de cada um. Escutar significa (...) abertura
tido.” (p.95) a fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro.”
(p.119)
“Não e possível exercer a atividade do magistério como
se nada ocorresse conosco. (...) Não posso escapar à apre- “Uma das tarefas essenciais da escola, como centro de
ciação dos alunos.” (p.96) produção sistemática de conhecimento, é trabalhar critica-
mente a inteligibilidade das coisas e dos fatos e sua comu-
“Saber que não posso passar despercebido pelos alu- nicabilidade.” (p.123)
nos, e que a maneira como me percebam me ajuda ou
desajuda no cumprimento de minha tarefa de professor, “Ninguém pode conhecer por mim assim como não
aumenta em mim os cuidados com meu desempenho. (...) posso conhecer pelo aluno.” (p.124)
Não posso discriminar o aluno em nome de nenhum mo-
tivo.” (p.97)
“Ensinar exige reconhecer que a educação e ideológi-
ca. Saber igualmente é fundamental à pratica educativa do
“Nada justifica a minimização dos seres humanos, no
professor ou da professora é o que diz respeito à força as
caso das maiorias composta de minorias que não perce-
vezes maior do que pensamos, da ideologia.” (p.125)
beram ainda que juntas seriam a maioria. (...) Falo da resis-
tência, da indignação, da “justa ira” dos traídos e dos enga-
nados. Do seu direito e do seu dever de rebelar-se contra “A capacidade de nos amaciar que tem a ideologia nos
as transgressões éticas de que são vitimas cada vez mais faz às vezes mansamente aceitar que a globalização da
sofridas. (p.101) economia e uma invenção dela mesma ou de um destino
que não poderia se evitar.” (p.126)
“Não posso ser professor sem me achar capacitado
para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina. “O discurso da globalização que fala da ética esconde,
(...) É importante que os alunos percebam o esforço que faz porém, que a sua é a ética do mercado e não a ética univer-
o professor ou a professora procurando a sua coerência.” sal do ser humano, pela qual devemos lutar.” (p.127)
(p.103)
“A liberdade do comercio não pode estar a cima da li-
“Ensinar exige liberdade e autoridade.” (p.104) berdade do ser humano.” (p.129)

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

“O desemprego do mundo não é, (...) uma fatalidade.”


(p.130) GARCIA, LENISE APARECIDA
MARTINS. TRANSVERSALIDADE E
“Ensinar exige uma disponibilidade para dialogo. (...) INTERDISCIPLINARIDADE.
Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e
de que ignoro algo a que se junta a certeza de que posso
saber melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei.
(...) não há razão para me envergonhar por desconhecer TRANSVERSALIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE.
algo.” (p.135)
A transversalidade e a interdisciplinaridade são modos
“Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao de se trabalhar o conhecimento que buscam uma reintegra-
mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas ção de aspectos que ficaram isolados uns dos outros pelo
tratamento disciplinar. Com isso, busca-se conseguir uma
a múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos ou-
visão mais ampla e adequada da realidade, que tantas ve-
tros se tornam transgressão ao impulso natural da incom-
zes aparece fragmentada pelos meios de que dispomos para
pletude.” (p.136) conhecê-la e não porque o seja em si mesma.
“O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira ago- Vamos exemplificar lançando mão de uma comparação:
ra; o amanhã já este feito. Tudo muda rápido.” (p.139) Quando a luz branca passa por um prisma, divide-se
em diferentes cores (as cores do arco-íris). Ao estudarmos
“Ensinar exige querer bem aos educandos. (...) preciso alguma realidade a fim de conhecê-la muitas vezes torna-se
estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem necessário fazer um trabalho semelhante. Enfocamos por di-
de querer bem aos educandos e à própria pratica educa- ferentes ângulos, com a metodologia e os objetivos próprios
tiva de que participo. (...) Não e certo, sobre tudo do pon- das Ciências Naturais, da História, da Geografia... Podemos
to de vista democrático, que serei tão melhor professor assim aprofundar em diferentes parcelas, fazendo um traba-
quanto mais severo, mais frio, mais distante e ‘cinzento’. lho de análise. Esse aprofundamento é rico e muitas vezes
(...) O que não posso obviamente permitir e que minha necessário, mas é preciso ter consciência de que estamos fa-
afetividade interfira no cumprimento ético do meu dever zendo um “recorte” do nosso objeto de estudo. A visão obti-
de professor no exercício de minha autoridade. Não posso da é necessariamente fragmentada
condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno Com a interdisciplinaridade questiona-se essa segmen-
ao maior ou menos bem querer que tenha por ele.” (p.141) tação dos diferentes campos de conhecimento. Buscam-se,
por isso, os possíveis pontos de convergência entre as várias
áreas e a sua abordagem conjunta, propiciando uma rela-
“E esta força misteriosa, às vezes chamada vocação
ção epistemológica entre as disciplinas. Com ela aproxima-
que explica a quase devoção com que a grande maioria mo-nos com mais propriedade dos fenômenos naturais e
do ministério nele permanece, apesar da imoralidade dos sociais, que são normalmente complexos e irredutíveis ao
salários. (...) Mas e preciso, sublime, que, permanecendo e conhecimento obtido quando são estudados por meio de
amorosamente cumprindo seu dever, não deixe de lutar uma única disciplina. As interconexões que acontecem nas
politicamente, por seus direitos e pelo respeito à dignida- disciplinas são causa e efeito da interdisciplinaridade.
de de sua tarefa, assim como pelos erros devido ao espaço Existem temas cujo estudo exige uma abordagem parti-
pedagógico em que atua com seus alunos.” (p.142) cularmente ampla e diversificada. Alguns deles foram inseri-
dos nos parâmetros curriculares nacionais, que os denomina
“Como pratica estreitamente humana jamais pude Temas Transversais e os caracteriza como temas que “tratam
entender a educação como experiência fria, sem alma em de processos que estão sendo intensamente vividos pela
que os sentimentos (...) devessem ser reprimidos por uma sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos
espécie de ditadura racionalista.” (p.145) e educadores em seu cotidiano. São debatidos em diferen-
tes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas,
“Não nego a competência, por outro lado, de certos confrontando posicionamentos diversos tanto em relação a
arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade intervenção no âmbito social mais amplo quanto a atuação
que, não diminuindo em nada seu saber, os faria gente pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida
humana, sobre a realidade que está sendo construída e que
melhor. Gente mais gente.” (p.146)
demandam transformações macrossociais e também de ati-
tudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem
de conteúdos relativos a essas duas dimensões”. Estes temas
envolvem um aprender sobre a realidade, na realidade e da
realidade, destinando-se também a um intervir na realidade
para transformá-la. Outra de suas características é que abrem
espaço para saberes extraescolares. Na verdade, os temas
transversais prestam-se de modo muito especial para levar à
prática a concepção de formação integral da pessoa.

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