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PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS À PRÁTICA EDUCATIVA

PRIMEIRAS PALAVRAS
‘A QUESTÃO DA FORMAÇÂO DOCENTE ao lado da reflexão sobre a prática educativo-
progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos é a temática central em torno de que
gira este texto’

1.PRÁTICA DOCENTE: PRIMEIRA REFLEXÃO


‘E é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a
necessidade da ética e se impõe a responsabilidade. A ética se torna inevitável e sua
transgressão possível é um desvalor, jamais uma virtude.’
-Abordagem do conceito de ética como construção ao longo do tempo, percepção do outro
enquanto ‘não eu’ e ainda assim reconhece-lo como ‘si mesmo’
‘Na verdade, seria incompreensível se a consciência de minha presença no mundo não
significasse já a impossibilidade de minha ausência na construção da própria presença. Como
presença consciente no mundo não posso escapar à responsabilidade ética no meu mover-me
no mundo.’
-Paulo Freire aponta nas primeiras reflexões que, apesar do conteúdo estar voltado à
construção de educadores críticos, as informações também podem agregar positivamente para
educadores mais conservadores, ainda que firme seu compromisso de analisar com a devida
criticidade o processo educativo. Para além disso, reitera a necessidade de que o professor não
considere o ato de educar como transferência de conhecimento, mas sim um processo de
preparação para a construção dos saberes.
-A partir do momento que descobrimos a capacidade de ensinar e de aprender, aqueles que
educam podem observar padrões de dinâmicas que viabilizam o aprendizado, assim como
aqueles que aprendem afirmam, através da prática pautada no aprendizado que a tal dinâmica
produz resultados ou não. E assim, ao longo do tempo, construímos metodologias e dinâmicas
de ensino.
Não temo dizer que inexiste validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o
aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não
foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz.
O autor pontua que, apesar dos dissabores de ser um educando sujeito a um sistema
educacional bancário, é importante que o mesmo permaneça crítico, curioso, instigado,
adjetivos esses capazes de imuniza-lo dos malefícios causados pelo ‘bancarismo’.

1.1 – ENSINAR EXIGE RIGOROSIDADE METÓDICA

nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais


sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente
sujeito do processo. Só assim podemos falar realmente de saber ensinado, em que o objeto
ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos.

O autor pontua sobretudo que o rigor metódico não diz respeito aos processos educacionais
bancários, mas sim concerne no incentivo à apropriação e análise crítica embasada por parte
dos educandos. Tendo isto dito, também reforça que educadores repetidores não são capazes
de construir ou instigar uma perspectiva de curiosidade e crítica em seus educandos, posto que
não apresenta criticidade a respeito do que está sendo apresentado.
-Paulo Freire faz apontamentos a respeito de professores mecanizados que, apesar de
devorarem seus livros, artigos de pesquisa e teses, apresentam tais conhecimentos com um
vácuo de vivência, incapazes de associar o conteúdo à forma ou mais precisamente, a realidade
atual e seus desdobramentos. Também disserta sobre a necessidade de flexibilizar as certezas,
obviamente não relativizando ou ignorando o rigor científico das coisas, mas precisamente a
respeito de absorver os conhecimentos e manter as convicções em aberto, passíveis de
reflexões e discussões outras, evitando a delimitação de saberes e galgando a construção do
aprendizado essencialmente crítico.
Por isso é que o pensar certo, ao lado sempre da pureza e necessariamente distante do
puritanismo, rigorosamente ético e gerador de boniteza, me parece inconciliável com a
desvergonha da arrogância de quem se acha cheia ou cheio de si mesmo.

1.2 – ENSINAR EXIGE PESQUISA


Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.6 Esses quefazeres se encontram um no
corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco,
porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando,
intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e
comunicar ou anunciar a novidade

1.3 – ENSINAR EXIGE RESPEITO AOS SABERES DOS EDUCANDOS


No recorte acerca da construção de respeito no que concerne aos saberes dos educandos,
Paulo Freire aponta algumas possibilidades de pautas a serem discutidas e sobre como, por
vezes, abordar determinadas problemáticas acabam sendo postas como comportamento
subversivo da parte de educadores e educandos críticos. Levantar pautas que podem ser
associadas à realidade do aluno permitem que o mesmo construa intimidade e identificação
com o que é ensinado.

1.4 – ENSINAR EXIGE CRITICIDADE


Conceito de criticidade epistemológica, uma curiosidade não ingênua, que busca observar e
questionar o que está sendo ensinado em seu âmago.
A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como
pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que
sugere alerta, faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a
curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não
fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos.

1.6 – ENSINAR EXIGE A CORPORIFICAÇÃO DAS PALAVRAS PELO EXEMPLO


O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro da
rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que mando e
não o que eu faço”. Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta a
corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo

1.7 ENSINAR EXIGE RISCO, ACEITAÇÃO DO NOVO E REJEIÇÃO A QUALQUER FORMA DE


DISCRIMINAÇÃO
Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de
discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade
do ser humano e nega radicalmente a democracia
Nesse capítulo Paulo Freire faz críticas diretas às problemáticas ocasionadas pela discriminação
seja ela de classe, cor ou gênero. Ainda traz um recorte de como parcelas ignorantes da
branquitude demonizam e não tratam pessoas pretas como iguais e merecedoras do direito de
expressão cultural e religiosa. Embora eu discorde de suas opiniões sobre não sentir pena e
não raiva desse tipo de atitude mas isso é um assunto a ser aprofundado em outras
oportunidades com o devido cuidado.

1.8 ENSINAR EXIGE REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA

é fundamental que, na prática da formação docente, o aprendiz de educador assuma que o


indispensável pensar certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de professores
que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do poder, mas, pelo contrário, o pensar
certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o
professor formador.

Aqui, Paulo Freire aponta como imprescindível na formação permanente dos professores uma
reflexão crítica sobre sua prática docente. A análise epistemológica da teoria deve estar cada
vez mais próxima da possibilidade de prática.

Está errada a educação que não reconhece na justa raiva,10 na raiva que protesta contra as
injustiças, contra a deslealdade, contra o desamor, contra a exploração e a violência um papel
altamente formador. O que a raiva não pode é, perdendo os limites que a confirmam, perder-se
em raivosidade que corre sempre o risco de se alongar em odiosidade.

1.9 ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO E A ASSUNÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL


Paulo Freire declara a importância do educador de se assumir enquanto agente crítico, que
transforma, que questiona, que reformula, que debate sobre os conhecimentos a serem
ensinados.
O escritor ainda pontua acerca de pequenas ações por parte do educador que constroem
positivamente a autopercepção de seus educandos, ainda citando uma experiência pessoal por
ele vivenciada.
Se estivesse claro para nós que foi aprendendo que percebemos ser possível ensinar, teríamos
entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no
trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios,11 em que variados gestos de
alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se cruzam cheios de significação.

2: ENSINAR NÃO É TRANSFERIR CONCHECIMENTO

Na introdução do segundo capítulo, Paulo Freire reitera seu compromisso em firmar o ato de
ensinar como algo além de um mero repasse de conteúdos já analisados e exaustivamente
repetidos. Ensinar exige que o conteúdo possa se alicerçar naquilo que educador e educando
vivenciam, uma construção progressiva a partir de uma ótica progressista.
O ato de pensar o certo como educador não se torna difícil por galgar um ideal de perfeição,
mas porque tal ato demanda que nós vigiemos nossas consistências e inconsistências, que nos
aproximemos de uma raiva cega pelo ego, que não permite enxergar o outro enquanto ser
igualmente dotado de convicções que, por não serem iguais às nossas, não podemos
simplesmente trata-los como incompetentes. Tratar o outro como ser inerte e incapaz de
entender nossas perspectivas pode nos tolher da capacidade discursiva, de dialogar, de
construir e desconstruir, agregar e reestruturar perspectivas outras. E para que pensemos
certo, não podemos abrir mão do rigor metódico, no qual devemos estruturar nossos
pensamentos e papéis acerca do futuro da educação. Criticidade e bagagem científica devem
estar lado a lado na construção do saber e do ensinar.

2.1- ENSINAR EXIGE CONSCIÊNCIA DO INACABAMENTO

O Inacabamento aqui se refere sobre a inconclusão da experiência humana. E ‘onde há vida, há


inacabamento’. E aqui, o conceito de suporte diz respeito ao espaço no qual o ser é capaz de se
estruturar além do afetivo, mas também no que concerne aos aprendizados. Quanto mais
cultural for o ser humano, mais longa será sua ‘infância’ e por consequente, sua necessidade
de suporte, o que nos difere dos outros animais. A partir do momento em que a humanidade
passou a intervir no suporte, criamos dinâmicas dicotômicas e por consequente, somos
obrigados a tomar partidos, vez ou outra enaltecidos ou demonizados.

2.2 – ENSINAR EXIGE O CONHECIMENTO DE SER CONDICIONADO


Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do
inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser
condicionado e o ser determinado.

O autor nos relembra de que nossas ações e quem somos não é algo dado, mas sim construído,
podendo sempre ser reinterpretado, somado, repensado. Não sermos seres determinados é o
que nos permite mudar e compreender ao que estamos condicionados. E quando percebemos
que o sistema é estruturado por pessoas igualmente inacabadas e não pré-determinadas,
compreendemos que esse sistema também pode mudar, o que fomenta a possibilidade de
esperanças para o sistema atual. Os obstáculos podem ser os mesos por um longo tempo,
porém não podem eles serem eternizados. A inconclusão necessita ser vista como um processo
contínuo de busca de construção de saberes, questionamentos novos, reflexões novas.

É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo
permanente. E justamente por isso ensinamos, aprendemos, compartilhamos e construímos
novos saberes oriundos dos antigos, os questionamos, somamos com nossas vivências e com
as vivências de nossos mestres e aprendizes até que no fim, somos ambos. É na inconclusão
que reside a possibilidade e a necessidade humana de aprender e nela devemos nos debruçar.

2.3 – ENSINAR EXIGE AUTONOMIA E RESPEITO DO SER DO EDUCANDO

O autor não abre mão de fazer justo apontamento crítico aos professores que podam
desrespeitosamente a curiosidade de seus alunos, suas inquietudes e radicalidades comuns de
quem está no processo de aprendizado, seja esse aluno uma criança, um jovem ou um adulto.
A curiosidade humana reside em diversas dinâmicas e sobretudo no aprendizado. Cabe ao
professor saber bem orientar as inquietudes do educando para que ele possa evoluir

2.4 – ENSINAR EXIGE BOM SENSO

Paulo Freire também aborda o equilíbrio das relações autoridade-liberdade e sobre o uso do
bom senso para considerar diversas situações no espaço de ensino, quais os momentos nos
quais devemos, enquanto educadores, apresentar compreensão ao passo que também
reafirmamos nosso papel em instigar o comprometimento do educando com o que precisa ser
aprendido. Para além disso, o autor volta a levantar questões sociais sob a luz do bom senso,
no qual ele incisivamente aponta a miséria do brasil como responsabilidade da ‘minoria
insaciável’, esta que responsabiliza as classes marginalizadas como responsáveis por sua
própria miséria e a pobreza como uma consequência irrefreável da economia. Também conclui
ressaltando que o bom senso também se faz necessário no macro, ou seja, na estrutura
ofertada para que o processo educacional ocorra de maneira plena, considerando as limitações
que ocorrem nas instituições e afetando do educador ao educando.

2.5 ENSINAR EXIGE HUMILDADE, TOLERÂNCIA E LUTA EM DEFESA DOS DIREITOS DOS
EDUCADORES

O combate em favor da dignidade da prática docente é tão parte dela mesma quanto dela faz
parte o respeito que o professor deve ter à identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito
de ser
O combate à precarização do ensino também é posta em questão e alçada como uma
problemática de igual valor às situações anteriormente citadas. E não fica apenas nisso como
também elucida sobre o dever do educador em se comprometer de maneira justa com o seu
trabalho. Um professor responsável por construir o conhecimento de tantos alunos não pode
se dar o luxo de trabalhar desleixadamente como se sua teoria e prática não fossem um fator
crucial no desenvolvimento e interesse no aprendizado dos sujeitos que educa.

2.6 – ENSINAR EXIGE APREENSÃO DA REALIDADE


É precisamente por causa desta habilidade de apreender a substantividade do objeto que nos é
possível reconstruir um mal aprendizado, o em que o aprendiz foi puro paciente da
transferência do conhecimento feita pelo educador
No tocante ao ensino de jovens e adultos, Paulo freire também conversa a respeito do cuidado
que devemos ter com os educandos, menos preocupado em consertar um ensino
supostamente defeituoso e mais centrado em compreender a intencionalidade do educando
de estar ali.

2.7 – ENSINAR EXIGE ALEGRIA E ESPERANÇA


Só há história onde há tempo problematizado e não pré-dado. A inexorabilidade do futuro é a
negação da história.
Aqui a desesperança é observada como um comportamento não natural do ser. A
desproblematização do futuro derroca na morte e no fim de uma perspectiva otimista no que
tange as condições do atual sistema

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