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PRIMEIRAS PALAVRAS
‘A QUESTÃO DA FORMAÇÂO DOCENTE ao lado da reflexão sobre a prática educativo-
progressiva em favor da autonomia do ser dos educandos é a temática central em torno de que
gira este texto’
O autor pontua sobretudo que o rigor metódico não diz respeito aos processos educacionais
bancários, mas sim concerne no incentivo à apropriação e análise crítica embasada por parte
dos educandos. Tendo isto dito, também reforça que educadores repetidores não são capazes
de construir ou instigar uma perspectiva de curiosidade e crítica em seus educandos, posto que
não apresenta criticidade a respeito do que está sendo apresentado.
-Paulo Freire faz apontamentos a respeito de professores mecanizados que, apesar de
devorarem seus livros, artigos de pesquisa e teses, apresentam tais conhecimentos com um
vácuo de vivência, incapazes de associar o conteúdo à forma ou mais precisamente, a realidade
atual e seus desdobramentos. Também disserta sobre a necessidade de flexibilizar as certezas,
obviamente não relativizando ou ignorando o rigor científico das coisas, mas precisamente a
respeito de absorver os conhecimentos e manter as convicções em aberto, passíveis de
reflexões e discussões outras, evitando a delimitação de saberes e galgando a construção do
aprendizado essencialmente crítico.
Por isso é que o pensar certo, ao lado sempre da pureza e necessariamente distante do
puritanismo, rigorosamente ético e gerador de boniteza, me parece inconciliável com a
desvergonha da arrogância de quem se acha cheia ou cheio de si mesmo.
Aqui, Paulo Freire aponta como imprescindível na formação permanente dos professores uma
reflexão crítica sobre sua prática docente. A análise epistemológica da teoria deve estar cada
vez mais próxima da possibilidade de prática.
Está errada a educação que não reconhece na justa raiva,10 na raiva que protesta contra as
injustiças, contra a deslealdade, contra o desamor, contra a exploração e a violência um papel
altamente formador. O que a raiva não pode é, perdendo os limites que a confirmam, perder-se
em raivosidade que corre sempre o risco de se alongar em odiosidade.
Na introdução do segundo capítulo, Paulo Freire reitera seu compromisso em firmar o ato de
ensinar como algo além de um mero repasse de conteúdos já analisados e exaustivamente
repetidos. Ensinar exige que o conteúdo possa se alicerçar naquilo que educador e educando
vivenciam, uma construção progressiva a partir de uma ótica progressista.
O ato de pensar o certo como educador não se torna difícil por galgar um ideal de perfeição,
mas porque tal ato demanda que nós vigiemos nossas consistências e inconsistências, que nos
aproximemos de uma raiva cega pelo ego, que não permite enxergar o outro enquanto ser
igualmente dotado de convicções que, por não serem iguais às nossas, não podemos
simplesmente trata-los como incompetentes. Tratar o outro como ser inerte e incapaz de
entender nossas perspectivas pode nos tolher da capacidade discursiva, de dialogar, de
construir e desconstruir, agregar e reestruturar perspectivas outras. E para que pensemos
certo, não podemos abrir mão do rigor metódico, no qual devemos estruturar nossos
pensamentos e papéis acerca do futuro da educação. Criticidade e bagagem científica devem
estar lado a lado na construção do saber e do ensinar.
O autor nos relembra de que nossas ações e quem somos não é algo dado, mas sim construído,
podendo sempre ser reinterpretado, somado, repensado. Não sermos seres determinados é o
que nos permite mudar e compreender ao que estamos condicionados. E quando percebemos
que o sistema é estruturado por pessoas igualmente inacabadas e não pré-determinadas,
compreendemos que esse sistema também pode mudar, o que fomenta a possibilidade de
esperanças para o sistema atual. Os obstáculos podem ser os mesos por um longo tempo,
porém não podem eles serem eternizados. A inconclusão necessita ser vista como um processo
contínuo de busca de construção de saberes, questionamentos novos, reflexões novas.
É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo
permanente. E justamente por isso ensinamos, aprendemos, compartilhamos e construímos
novos saberes oriundos dos antigos, os questionamos, somamos com nossas vivências e com
as vivências de nossos mestres e aprendizes até que no fim, somos ambos. É na inconclusão
que reside a possibilidade e a necessidade humana de aprender e nela devemos nos debruçar.
O autor não abre mão de fazer justo apontamento crítico aos professores que podam
desrespeitosamente a curiosidade de seus alunos, suas inquietudes e radicalidades comuns de
quem está no processo de aprendizado, seja esse aluno uma criança, um jovem ou um adulto.
A curiosidade humana reside em diversas dinâmicas e sobretudo no aprendizado. Cabe ao
professor saber bem orientar as inquietudes do educando para que ele possa evoluir
Paulo Freire também aborda o equilíbrio das relações autoridade-liberdade e sobre o uso do
bom senso para considerar diversas situações no espaço de ensino, quais os momentos nos
quais devemos, enquanto educadores, apresentar compreensão ao passo que também
reafirmamos nosso papel em instigar o comprometimento do educando com o que precisa ser
aprendido. Para além disso, o autor volta a levantar questões sociais sob a luz do bom senso,
no qual ele incisivamente aponta a miséria do brasil como responsabilidade da ‘minoria
insaciável’, esta que responsabiliza as classes marginalizadas como responsáveis por sua
própria miséria e a pobreza como uma consequência irrefreável da economia. Também conclui
ressaltando que o bom senso também se faz necessário no macro, ou seja, na estrutura
ofertada para que o processo educacional ocorra de maneira plena, considerando as limitações
que ocorrem nas instituições e afetando do educador ao educando.
2.5 ENSINAR EXIGE HUMILDADE, TOLERÂNCIA E LUTA EM DEFESA DOS DIREITOS DOS
EDUCADORES
O combate em favor da dignidade da prática docente é tão parte dela mesma quanto dela faz
parte o respeito que o professor deve ter à identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito
de ser
O combate à precarização do ensino também é posta em questão e alçada como uma
problemática de igual valor às situações anteriormente citadas. E não fica apenas nisso como
também elucida sobre o dever do educador em se comprometer de maneira justa com o seu
trabalho. Um professor responsável por construir o conhecimento de tantos alunos não pode
se dar o luxo de trabalhar desleixadamente como se sua teoria e prática não fossem um fator
crucial no desenvolvimento e interesse no aprendizado dos sujeitos que educa.