FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 92p (digitalizado).
Resumo / Conteúdo de Interesse:
Quando se é professor, não se pode pensar que é o “dono” do conhecimento e
que está num patamar superior. Para praticar o ato de ensinar é necessário que se leve em conta o saber do educando e respeitá-lo, que pratique o que fala promovendo gestos e não exigindo que se faça o que fala e não o que se faz. O educador deve promover a criticidade nos educandos e não apenas transferir dados que não façam sentido a eles. Ele deve pesquisar, mas não som ente em sua área de atuação, mas o contexto dos alunos para promover neles uma reflexão crítica sobre a prática. É importante perceber a identidade cultural, respeitá-la, porém não é necessário que se faça dela a sua verdade. Ensinar exige reconhecer a autonomia do educando e respeitá-la com bom senso. Mas também se deve atentar que suas atitudes marcam positiva ou negativamente o ser educando. Por isso a importância de se valorizar enquanto profissional, mesmo que essa valorização não seja dada pelos órgãos governamentais. Ao mesmo tempo em que se ensina se aprende. E todos acabam não permanecendo acomodados; passam de seres ouvintes a interventivos. E esse é o objetivo de se ensinar. É praticar o conhecimento que foi aprendido de maneira crítica, significativa. Por fim, é preciso saber como trabalhar com o educando. Saber que não é necessário somente o conhecimento em suas diversas formas, mas sim humildade para trabalhar com simplicidade e saber promover criticidade e construção significativa do conhecimento no ser educando. Citações: Página : 1 Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos 27 alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e não a de transferir conhecimento. 2 Educador que, ensinando geografia, "castra" a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a 33 liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica. 3 Como posso continuar falando em meu respeito ao educando se o testemunho que a ele dou é o da irresponsabilidade, o de quem não cumpre o seu dever, o de 38 quem não se prepara ou se organiza para a sua prática, o de quem não luta por seus direitos e não protesta contra as injustiças? 4 Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. 46 Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade. 5 [...] o educador que, entregue a procedimentos autoritários ou paternalistas que impedem ou dificultam o exercício da curiosidade do educando, termina por 51 igualmente tolher sua própria curiosidade. 6 O fundamental é que o professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. Neste sentido, o bom professor é o que 52 consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma "cantiga de ninar". Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. 7 [...] a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. 56 8 Nunca me foi possível separar em dois momentos o ensino dos conteúdos da 58 formação ética dos educandos. 9 Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, tanto mais me convenço do dever nosso de lutar no sentido de que ela seja realmente respeitada. O respeito que devemos como professores 59 aos educandos dificilmente se cumpre, se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou pública da educação. 10 Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade pedagógica. Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensina-los. É a decência com que o faço. 64 É a preparação científica revelada sem arrogância, pelo contrário, com humildade. É o respeito jamais negado ao educando, a seu saber de experiência feito que busco superar com ele. Tão importante quanto o ensino dos conteúdos é a minha coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. 11 A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido 67 que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade. 12 É a maneira correta que tem o educador de, com o educando e não sobre ele, tentar a superação de uma maneira mais ingênua por outra mais crítica de inteligir o mundo. Respeitar a leitura de mundo do educando significa tomá-la 77 como ponto de partida para a compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos impulsos fundantes da produção do conhecimento. 13 Estou convencido, porém de que a rigosidade, a séria disciplina intelectual, o exercício da curiosidade epistemológica não me faz necessariamente um ser mal- amado, arrogante, cheio de mim mesmo. Ou, em outras palavras, não é a minha arrogância intelectual a que fala de minha rigorosidade científica. Nem a 92 arrogância é sinal de competência nem a competência é causa de arrogância. Não nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que, não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente. Considerações do pesquisador (aluno): o livro aborda de maneira prazerosa como o professor deve se portar para uma atitude educadora que trata o. aluno com um ser único, porém cheio de contexto. Humildade, igualdade, respeito são valores tratados ao longo do texto. E reforça que enquanto se ensina, se aprende, não havendo docência sem discência. Indicação da obra: professores de todas as áreas, pedagogos, acadêmicos de cursos ligados a educação, pós-graduandos em ensino. Local: arquivo em PDF disponível em http://www.geledes.org.br/areas-de- atuacao/educacao/noticias-de-educacao/18221-acervo-digital-disponibiliza-toda- a-obra-de-paulo-freire