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do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando.
Educar é substantivamente formar.
Divinizar ou diabolizar a tecnologia é uma forma negativa e perigosa de ensinar a pensar
errado. Pensar certo demanda profundidade na compreensão e interpretação dos fatos. Supõe a
disponibilidade à revisão dos achados, reconhece a possibilidade e o direito de mudar de opção.
Cabe entretanto a quem muda assumir a mudança operada. Do ponto de vista do pensar certo não é
possível mudar e fazer de conta que não mudou. Todo pensar certo é radicalmente coerente.
1.7- Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação .
É próprio do pensar certo, a disponibilidade ao risco de aceitação do novo, que não pode ser
negado ou aceito só porque é novo do mesmo modo que a recusa ao velho não é só cronológica.
Não faz parte do pensar certo qualquer forma de discriminação. Qualquer prática preconceituosa
ofende a substantividade do ser humano e nega a democracia.
Pensar e fazer errado não tem nada a ver com a humildade que o pensar certo exige. Nada
têm a ver com o bom senso que regula nossos exageros e evita nossas caminhadas até ao ridículo e
a insensatez. O ensinar a pensar certo é uma experiência onde o pensar certo é algo que se faz e que
se vive enquanto dele se fala com a força do testemunho.
Pensar certo implica na existência de sujeitos que pensam mediados por objetos sobre os
quais incide o próprio pensar dos sujeitos. Pensar certo é um ato comunicante, onde há
entendimento e co-participação. Todo entendimento implica em comunicabilidade, a menos que
seja submetido a uma mente “burocratizada” .
Não há inteligência que não seja também comunicação do inteligido. A tarefa do educador
que pensa certo é exercer como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando
com quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo
comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se
funda na dialogicidade. O pensar certo é dialógico e não polêmico.
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profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, transformador,
realizador, capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque é capaz de reconhecer-se como objeto.
A assunção de nós mesmos não significa exclusão dos outros.
A solidariedade social e política de que precisamos para construir a sociedade menos feia e
menos arestosa tem na formação democrática uma prática de real importância. A aprendizagem da
assunção do sujeito é incompatível com o treinamento pragmático ou com o elitismo autoritário dos
que se pensam donos da verdade e do saber articulado.
Não se imagina muitas vezes o que pode representar na vida de um aluno um simples gesto
do professor. É pena que o caráter socializante da escola de formação ou deformação seja
negligenciado. Fala-se apenas de ensino aos conteúdos, ensino quase sempre entendido como
transferência do saber. Uma das razões que explicam esses descasos do que ocorre no espaço-tempo
da escola é a compreensão estreita do que é educação e do que é aprender.
Passa desapercebido a todos nós, que homens e mulheres descobriram socialmente que é
possível ensinar. Se fosse claro que foi aprendendo que percebemos ser possível ensinar,
entenderíamos a importância das experiências informais. Há uma natureza testemunhal nos espaços
tão lamentavelmente relegados das escolas. Há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade
do espaço. Pormenores da cotidianeidade do professor e do aluno tem peso significativo na
avaliação da experiência docente.
Nenhuma formação docente se faz alheia ao exercício da criticidade que eleva a promoção
da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica e também sem o reconhecido valor das
emoções, da sensibilidade, da objetividade, da intuição ou adivinhação.
Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a
sua construção. Quando entra em sala de aula, o professor deve estar aberto a indagações, às
curiosidades, às perguntas dos alunos, um ser crítico e inquiridor face a tarefa que tem: a de ensinar
e não de transmitir conhecimento.
Saber que ensinar não é transmitir conhecimento precisa ser aprendido tanto pelo professor
como pelo aluno e também vivido por eles. Pensar certo e saber que ensinar não é transferir
conhecimento, é fundamentalmente pensar certo, o que é difícil pela vigilância constante que temos
de exercer sobre nós mesmos para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências grosseiras.
É cansativo viver a humildade, condição “sine qua“ ao pensar certo, que nos faz proclamar o
nosso próprio equívoco, que nos faz reconhecer e anunciar a superação que sofremos. Sem
rigorosidade metódica não há pensar certo.
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No momento em que os seres humanos intervindo no suporte, foram criando o mundo,
inventando a linguagem com que passaram a dar nomes às coisas que faziam com esta ação sobre o
mundo, na medida em que se foram habilitando a inteligir o mundo e criaram a comunicabilidade
do inteligido, já não foi possível existir sem assumir o direito e o dever de optar, de decidir, de lutar,
de fazer política.
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Se o bom senso não bastou para orientar a avaliação moral que faço de algo é necessário que
na tomada de decisão não falte a ética. A tarefa da ciência sem o bom senso do cientista pode se
desviar ou perder.
É o meu bom senso que deixa ver que não é possível à escola engajada na formação de
educandos/educadores alhear-se das condições sociais, culturais, econômicas de seus alunos,
famílias e vizinhos. Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade se não se levar em
consideração as condições em que vêm existindo, se não se reconhecer a importância dos
“conhecimentos de experiência feitos” com que chegam à escola.
O respeito à dignidade do educando não permite subestimar o saber que ele traz consigo. O
professor em sua prática educativa deve respeitar a dignidade do aluno, isso é feito através de uma
reflexão crítica permanente sobre a prática através da qual vou fazendo a avaliação do meu próprio
fazer com os educandos.
É preciso que se inverta uma forma pela qual os educandos possam participar da avaliação,
pois o trabalho do professor é com os alunos e não do professor consigo mesmo. Essa avaliação
crítica da prática revela a necessidade de uma série de virtudes e qualificações sem as quais não é
possível nem a avaliação nem o respeito ao educando.
Essas qualidades e virtudes são construídas por nós no esforço de diminuir a distância entre
o que dizemos e o que fazemos, entre o discurso e a prática. A prática docente é profundamente
formadora e ética e dos seus agentes deve-se exigir seriedade e retidão.
A responsabilidade do professor é sempre grande. A natureza de sua prática formadora,
sublinha a maneira como a realiza. Sua presença em sala é tão exemplar que nenhum professor
escapa do juízo que os alunos fazem dele. O pior juízo feito de um professor é o de sua “ausência”
na sala.
Qualquer que seja o estilo do professor (autoritário, amoroso, frio, burocrático) sempre deixa
marcas nos seus alunos, daí a importância do exemplo que ele oferece de sua lucidez, engajamento
em defesa dos seus direitos e exigência das condições para exercício dos seus deveres.
O professor tem o dever de dar aulas, de realizar a tarefa docente. Para isso precisa de
condições favoráveis, higiênicas, espaciais, estéticas sem as quais se move menos eficazmente no
espaço pedagógico. O desrespeito a esse espaço é uma ofensa aos educandos, aos educadores e à
prática pedagógica.
2.5- Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores.
É preciso que os educandos brasileiros saibam que a luta em favor do respeito aos
educadores e à educação inclui a briga por melhores salários, que é dever e um direito deles. A luta
dos professores em defesa dos seus direitos e dignidade deve ser entendida como um momento de
sua prática docente enquanto prática ética.
Uma das formas de luta contra o desrespeito dos poderes públicos pela educação é a nossa
recusa de transformar a atividade docente em puro “bico” e a rejeição de entendê-la e exercê-la
como prática afetiva de “tias” e “tios” .
É como profissionais idôneos que os docentes devem ver-se a si mesmos.
Os docentes e os órgãos de classe não devem parar de lutar por seus direitos, mas,
reconhecendo que a luta é uma categoria histórica, reinventar a forma histórica de lutar.
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Devido à habilidade de apreender a substantividade do objeto é que é possível reconstruir
um mau aprendizado, aquele onde o aprendiz foi puro paciente de transferência do conhecimento
feita pelo educador. Mulheres e homens são os únicos seres que, social e historicamente se tornaram
capazes de aprender. Somos os únicos para quem aprender é uma aventura criadora, algo mais rico
do que apenas repetir a lição dada.
Aprender é construir, reconstruir, constatar para mudar o que não se faz sem abertura ao
risco e à aventura do espírito. A prática educativa demanda a existência de sujeitos, em que, um,
ensinando, aprende, e outro, aprendendo, ensina; daí o seu cunho gnosiológico.
A prática educativa tem a qualidade de ser política, daí sua politicidade e não neutralidade.
Especificamente humana, a educação é gnosiológica, diretiva (política, portanto), artística e moral;
serve-se de meios e técnicas, envolve frustrações, medos e desejos. Exige do professor uma
competência geral, um saber de sua natureza e saberes especiais ligados à atividade docente.
Como professor não devo negar que o meu papel fundamental é contribuir positivamente
para que o educando vá sendo artífice de sua formação com a ajuda do educador.
O professor deve ter respeito à pessoa que queira mudar ou não, ele deve mostrar sua
postura e respeitar o direito da pessoa de rejeitá-la. Em nome do respeito ao aluno o professor não
pode omitir-se, assumindo uma neutralidade inexistente.
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Independente do campo de trabalho realizado com grupos populares é preciso fazer com que
eles percebam a violência e a profunda injustiça que caracterizam sua situação concreta e que esta
pode ser mudada, que não é destino certo ou vontade de Deus.
Como educador é preciso ir “lendo" melhor a leitura do mundo que os grupos populares com
quem trabalho fazem de seu contexto imediato e do maior do qual o seu é parte. Não é possível
desconsiderar o saber de experiência, a explicação do mundo que os grupos populares possuem.
É a "leitura do mundo” que precede sempre a “leitura da palavra”.
O educador não pode se adaptar ou converter-se ao saber ingênuo dos grupos populares mas
também não pode impor o seu saber como verdadeiro. O novo momento na compreensão da vida
social não é exclusivo de uma pessoa.
Uma das tarefas do educador progressista, que é sensível à leitura e à releitura do mundo, é
provocar e estimular a generalização da nova forma de compreensão do contexto porque faz parte
do poder ideológico dominante a inculcação nos dominados da responsabilidade por sua situação.
Daí a culpa que sentem em determinado momento de suas relações com o seu contexto, por estarem
nesta ou naquela situação desvantajosa. Agindo dessa forma tornam-se coniventes e reforçam o
poder do sistema.
A alfabetização, em uma área de miséria, só ganha sentido na dimensão humana se com ela
se realize uma espécie de psicanálise-social que resulte na extrojeção da culpa indevida. Seria a
“expulsão” do opressor de dentro do oprimido, como uma sombra, que precisa ser substituída pela
autonomia e responsabilidade do oprimido.
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Nas práticas onde a liberdade e o autoritarismo se afirmam e se preservam enquanto elas
mesmas no respeito mútuo, é que se pode falar em práticas disciplinares.
A autoridade docente democrática precisa ter algumas qualidades para encarnar em suas
relações com a liberdade dos alunos. É fundamental observar a minha experiência discente,
vivenciar criticamente minha liberdade de aluno para assumir ou refazer o exercício de minha
autoridade de professor.
O aluno que pensa ser professor deve se preocupar não apenas com os conteúdos
programáticos que são expostos por seus professores, mas também com a forma mais dialógica ou
autoritária como cada professor ensina.
Uma qualidade essencial que a autoridade docente democrática deve mostrar em suas
relações com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. Essa segurança é expressa na
firmeza com que atua, decide, respeita as liberdades, com que discute suas próprias posições e
aceita rever-se.
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3.2- Ensinar exige comprometimento
Não podemos exercer a autoridade de magistério como se nada ocorresse conosco. Daí a
necessidade de haver uma aproximação cada vez maior entre o que eu digo e o que eu faço, entre o
que pareço e o que realmente estou sendo.
Assumir a ignorância frente a uma questão e não mentir, abre junto aos alunos um crédito
que deve ser preservado. Eticamente impossível seria dar uma resposta falsa.
A percepção que o aluno tem do professor não resulta apenas de como atua mas também de
como o aluno entende como ele atua. O professor deve estar atento à leitura que os alunos fazem de
sua atividade com eles. O espaço pedagógico é um texto para ser constantemente lido, interpretado,
escrito e reescrito. Logo, quanto mais solidariedade exista entre o educador e os educandos no trato
desse espaço, mais possibilidades de aprendizagem democrática se abrem na escola.
O professor deve estar atento em face da ideologia dominante que insinua a neutralidade da
educação, pois o espaço pedagógico neutro seria aquele onde os alunos são treinados para práticas
apolíticas. A presença do professor em sala de aula deve ser uma presença política, não uma
omissão mas um sujeito de opções.
3.3- Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Outro saber da prática educativo-crítica é que a educação é uma forma de intervenção no
mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou
aprendidos implica também no esforço de reprodução da ideologia dominante e no seu
desmascaramento.
Do ponto de vista dos interesses dominantes, a educação deve ser uma prática imobilizadora
e ocultadora de verdades. As forças dominantes estimulam e materializam avanços técnicos
compreendidos e realizados de maneira neutra.
Por nos tornarmos capazes de observar, comparar, avaliar nos fizemos seres éticos e se abriu
a probabilidade de transgredir a ética. Não podemos aceitar a transgressão como um direito mas
como uma possibilidade. Possibilidade contra a qual devemos lutar.
O empresário moderno aceita, estimula e até patrocina o treino técnico do seu operário, mas
recusa a sua formação que envolve saber técnico e científico indispensável, que fala de sua presença
no mundo.
Ser professor exige na prática uma tomada de posição, uma decisão, uma ruptura. Não pode
ser o professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. A prática docente não
deve se reduzir ao puro ensino de conteúdos, este é apenas um momento de atividade pedagógica
tão importante quanto o testemunho ético ao ensinar esses conteúdos. Tão importante quanto ao
ensino dos conteúdos é a coerência do professor na classe. Coerência entre o que diz, escreve e faz.
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O filho deve assumir eticamente sua decisão, fundamento de sua autonomia. A autonomia
vai sendo constituída na experiência de várias decisões que vão sendo tomadas. A autonomia
enquanto amadurecimento do ser por si é um processo, é vir a ser.
A pedagogia da autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras de decisão e
responsabilidade, respeitosas de liberdade. Os autoritários consideram o respeito à liberdade como
expressão de espontaneísmo e os licenciosos descobrem autoritarismo em toda manifestação
legítima de autoridade. Para o democrata não é possível autoridade sem liberdade e esta sem aquela.
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la. Quem tem o que dizer tem o direito e o dever de dizê-lo. É preciso que quem tem o que dizer
saiba que, sem escutar o que quem escuta tem a dizer termina por esgotar sua capacidade de dizer.
Quem tem o que dizer deve assumir o dever de motivar, desafiar quem escuta, no sentido de
que quem escuta diga, fale, responda. A fala de um educador autoritário se dá num espaço
silenciado e não em um espaço com ou em silêncio.
O educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio de quem,
falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala. O silêncio no espaço da
comunicação é fundamental. De um lado proporciona que, ao escutar como sujeito a fala de alguém,
o indivíduo procure entrar no movimento interno de seu pensamento; de outro torna possível a
quem fala, escutar a indagação, a dúvida de quem escutou.
O ser humano criou a capacidade de inteligir o mundo sobre o qual e em que atua, o que se
deu também com a comunicabilidade do inteligido. A comunicabilidade do inteligido é a
possibilidade que o mundo tem de ser comunicado mas não é a sua comunicação.
O papel fundamental do professor ao falar com clareza sobre os conteúdos é incitar o aluno a
fim de que ele, com os materiais oferecidos, produza a compreensão dos conteúdos e não apenas os
receba na íntegra do professor... Ele precisa se apropriar da inteligência do conteúdo para que a
verdadeira relação de comunicação entre o professor e o aluno se estabeleça. Ensinar não é
transferir conteúdos e aprender não é memorizar o perfil do conteúdo transferido.
Ensinar é instigar o educando, como sujeito cognoscente que é, a se tornar capaz de inteligir
e comunicar o inteligido. O professor deve escutar o educando em suas dúvidas, seus receios, em
sua incompetência provisória e ao escutá-lo aprende a falar com ele. Escutar é a disponibilidade por
parte do sujeito para a abertura à fala do outro, às diferenças do outro. Escutando, o indivíduo se
prepara para melhor se colocar ou melhor situar seu ponto de vista.
Aceitar e respeitar as diferenças são virtudes sem as quais não se dá à escuta. O respeito às
diferenças exige de nós humildade que nos adverte dos riscos de ultrapassagem dos limites. A falta
de humildade expressa na arrogância e na falsa superioridade, é uma transgressão da vocação
humana do ser mais. Sem agressões físicas o professor pode agredir seu aluno, impondo-lhe
desgostos prejudicando assim seu processo de aprendizagem.
O respeito do educador pela leitura do mundo do educando é a forma correta de tentar mudar
a maneira mais ingênua por outra mais crítica de intelegir o mundo. É tomar a leitura do mundo
feita pelo educando como ponto de partida para a compreensão do papel da curiosidade como um
dos impulsos fundamentais para a produção do conhecimento. O educador que respeita a leitura do
mundo do educando reconhece a história do saber, o caráter histórico da curiosidade e recusa a
arrogância cientificista.
Uma das tarefas da escola é trabalhar criticamente a intelegibilidade das coisas e dos fatos e
sua comunicabilidade. A escola deve então instigar constantemente a curiosidade do educando. O
educando deve ir assumindo o papel de sujeito da produção de sua inteligência no mundo e não
apenas o de recebedor do que lhe é transferido pelo professor.
O papel do professor progressista é ajudar o educando a reconhecer-se como arquiteto de sua
própria prática cognoscitiva. Todo ensino de conteúdos demanda de quem está na posição de
aprendiz, que a partir de certo momento, vá assumindo a autoria também do conhecimento do
objeto. O ensino dos conteúdos criticamente realizado envolve a abertura total do educador à
tentativa legítima do educando para tomar em suas próprias mãos a responsabilidade de sujeito que
conhece.
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Nenhuma teoria de transformação político-social do mundo é válida, se não parte de uma
compreensão do homem e da mulher enquanto seres fazedores de História e por eles feitos seres de
decisão, de rupturas e de opção. A liberdade do comércio não pode estar acima da liberdade do ser
humano. A liberdade do comércio sem limites é a licenciosidade do lucro. O desemprego no mundo
é o resultado de uma globalização da economia e de avanços tecnológicos a que vem faltando o
dever ser de uma ética realmente a serviço do ser humano e não do lucro.
O progresso científico e tecnológico que não responde aos interesses humanos e as
necessidades de sua existência, não tem significação. Isso não quer dizer que se deve inibir a
pesquisa ou frear os avanços mas sim pô-los a serviço dos seres humanos.
O professor deve estar advertido do poder do discurso ideológico, começando pelo que
proclama a morte das ideologias. A ideologia tem poder de persuasão indiscutível. O discurso
ideológico nos ameaça de anestesiar a mente, de confundir a curiosidade, de distorcer a percepção
dos fatos. O exercício de minha resistência ao poder da ideologia, vai gerando qualidades que
se tornam sabedoria indispensável à minha prática docente.
Essa resistência crítica predispõe o educador a uma atitude sempre aberta aos demais e
também a uma desconfiança metódica. Uma das formas de manter viva a capacidade de pensar
certo é deixar-se exposto às diferenças, e recusar posições dogmáticas.
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A atividade docente é uma experiência da qual a discente não se separa é uma experiência
alegre por natureza. É falso tomar como inconciliáveis a seriedade docente e alegria. A alegria não
chega apenas ao encontro do achado mas faz parte do processo de busca. Ensinar e aprender não
podem dar-se fora da procura e da alegria. O desrespeito à educação, aos educandos e aos
educadores deteriora em nós a sensibilidade ao bem querer da própria prática educativa e também a
alegria necessária ao que fazer docente.
É preciso que os educadores permanecendo e amorosamente cumprindo seus deveres não
deixem de lutar politicamente, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de sua tarefa, zelando
pelo espaço pedagógico onde atuam. A prática educativa vivida com afetividade e alegria não deve
prescindir de formação científica séria e de clareza política dos educadores. A prática educativa é
tudo isso: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança ou da
permanência do hoje. A permanência do hoje se reduz a um futuro desproblematizado, daí o caráter
que forja uma educação fria, tecnicista. Um educador com muito pouco de formador, com muito
mais de treinador, de transferidor de saberes, de exercitador de destrezas.
Nada que diga respeito ao ser humano deve passar desapercebido para o educador
progressista. O seu trabalho é realizado com gente em permanente processo de busca. É o fato de
lidar com gente que não permite que o educador se entregue à reflexão teórica e crítica em torno da
própria prática docente e discente e recuse sua atenção dedicada e amorosa à problemática pessoal
dos alunos. O que não se deve, por questão ética e de respeito profissional, é passar o educador ao
papel de terapeuta.
A percepção do ser humano como ser “ programado, mas para aprender ” e portanto para
ensinar, para conhecer, para intervir, faz entender a prática educativa como um exercício constante
em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos.
Como prática estritamente humana a educação não pode ser entendida como uma
experiência fria sem sentido. Do mesmo modo a prática educativa não pode ser vista como uma
experiência em que falte o rigor onde se gera a necessária disciplina intelectual.
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