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Os universais são aquilo que fazem com que alguma coisa seja o que é, enquanto os
acidentes apenas a qualificam ou modificam, mas não definem sua natureza. Os acidentes são
conhecidos através dos sentidos. Por exemplo: os sentidos me informam que um cão é grande
ou pequeno, bravo ou dócil, mas a natureza canina, presente em todos os cães, somente é
acessível pela inteligência.
“São as coisas da natureza, das quais a nossa inteligência haure o seu conhecimento,
que constituem a medida do nosso intelecto (...) Estas, porém, derivam a sua medida da
inteligência de Deus, no qual tudo está encerrado (...) Assim, pois, a inteligência de Deus
constitui a medida de tudo, não podendo, porém, ser medida ou mensurada. ”
“A verdade é para o intelecto o critério à luz do qual deve julgar tudo, visto que a
inteligência não pode tomar-se como critério para julgar acerca das coisas. Logo, a verdade só
pode ser o próprio Deus. “ (Questões discutidas sobre a Verdade).
Esse pensador francês acredita que o bom senso é a coisa mais bem partilhada do
mundo, estando presente em todos os seres humanos. As divergências nascem por que as
pessoas não se valem de um método, que Descartes se encarregou de nos oferecer. Após ser
educado segundo o conhecimento tradicional, viu-se envolvido em dúvidas, e procurou na
Matemática a inspiração para um método adequado à busca e à obtenção do conhecimento.
Viveu no momento em que o pensamento científico se desenvolveu, e procurou conciliar as
verdades metafísicas tradicionais do Cristianismo, nas quais foi educado, com a visão
matematizante da realidade, inaugurada por Galileu e tomada como fundamento do método
científico.
Os passos recomendados para ele na busca do conhecimento são: nada acolher que
não seja evidente, que não se apresente de forma clara e distinta; dividir cada um das
dificuldades em tantas parcelas quantas possíveis e necessárias para melhor resolvê-las;
organizar o pensamento e iniciar pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, e,
gradativamente, como que através de degraus, alcançar os objetos mais complexos;
finalmente, fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais que permitam que
nada seja omitido. Assim, seguindo uma metodologia oriunda do raciocínio matemático,
podemos alcançar a verdade.
As coisas que podemos conceber como claras e distintas são verdadeiras, porque tudo
o que existe em nós, de forma clara e distinta, vem de Deus; assim, se nossas ideias são claras
e distintas, são verdadeiras porque provém de Deus, e Deus não nos poderia enganar.
(Discurso do Método).
De acordo com esse filósofo escocês, o pensamento humano nada mais faz do que
combinar, transpor, aumentar ou diminuir os materiais fornecidos pelos sentidos e pela
experiência. Mesmo as relações de causa e efeito são descobertas apenas pela experiência;
por mais inteligente que fosse, um homem não descobriria que o fogo queima pela simples
contemplação da chama, mas a partir do momento que a toca. Um cego, por exemplo, não
pode imaginar as cores, nem um surdo conhecer os sons. Espera-se, de causas semelhantes,
efeitos semelhantes, mas essa expectativa se assenta numa crença psicológica, no costume e
no hábito, que nos faz esperar que determinadas situações já conhecidas venham a se repetir.
Pela crença, saltamos do presente, conhecido, para o futuro ignorado, que imaginamos venha
a ser semelhante ao presente. Também a ciência se funda nesse processo, supondo que
existem leis naturais que sejam necessárias, quando, na verdade, essas leis são produto da
imaginação, que supõe necessária uma situação, pelo fato de que a mesma seja repetitiva até
então. Assim, o que entendemos como leis naturais são ficções que a inteligência humana
produz, com base no mecanismo psicológico do hábito. Se Deus existe ou não, é algo que a
inteligência humana, sempre dependente da experiência, é incapaz de resolver. Logo, o
critério da verdade não pode se apoiar na ordem da mente divina, à qual não temos acesso. O
máximo que se pode esperar é que, de situações semelhantes, tenhamos efeitos semelhantes,
de forma provável, mas não de forma necessária.
O conhecimento nasce de impressões fornecidas pelos sentidos; as ideias são as
impressões organizadas pela memória e pela imaginação, e não traduzem uma possível
realidade última do mundo, mas, antes, revelam a forma de ser do espírito humano. Assim,
não é possível um conhecimento metafísico, porque objetos ou realidades metafisicas não nos
são dados de forma sensível; a metafísica, para ele, não passa de um grandioso jogo de
palavras.
As relações matemáticas são necessárias e seguras, mas não se aplicam ao mundo. São
construções da mente, enquanto o mundo, sempre contingente e mutável, não pode ser dito
fundamentado nessas relações de ordem e necessidade. Os fatos sempre podem ser
diferentes do que são; um objeto vermelho poderia ser de outra cor, sem que isso viole uma
pretensa ordem universal. Assim, o conhecimento e a ciência são uma forma que o ser
humano encontra para organizar os fenômenos do mundo, de modo a facilitar a sua
existência. Hume não nega a utilidade do conhecimento, mas o insere numa dimensão
humana, não mais o justificando a partir de Deus. Mesmo a moral não é, para ele, a apreensão
do Bem universal, mas um conjunto de qualidades aprovadas pela maioria das pessoas, por
sua utilidade e conveniência, tanto para as demais pessoas quanto para si mesmo.
De tudo isso resulta que devemos evitar conclusões apressadas, e não fazer
especulações que escapem ao domínio da experiência. A própria natureza, que nos ensinou o
uso de nossos membros sem nos dar o conhecimento dos músculos e nervos que os acionam,
também nos permite dispor de um instinto que faz avançar o nosso pensamento segundo uma
ordem semelhante à que existe entre os objetos, ainda que não saibamos de que forma isso
acontece. Nos animais também encontramos esse instinto, que nos permite associar
impressões sensíveis; alguns homens se diferenciam por que são mais atentos, mais capazes
de encadear ideias, de refletir longamente e de forma menos apaixonada. Mas, nos homens e
nos animais o processo do conhecimento é o mesmo, ainda que nos seres humanos seja mais
bem elaborado. (Investigação sobre o Entendimento Humano).
Segundo esse filósofo alemão, que combina as ideias kantianas com a biologia então
nascente, o conhecimento é uma atividade específica do animal humano, ligado às suas
necessidades de conservação e expansão vital. Instrumento antropomórfico, que humaniza o
mundo assimilando-o à nossa perspectiva e à nossa necessidade de sobrevivência.
A verdade aparece, inicialmente, como uma necessidade para o convívio social mais
civilizado. Para instaurar a paz, evitar a guerra e tornar possível a convivência entre os seres
humanos, a inteligência humana designa de maneira uniforme aquilo que lhe parece estável,
organizando a realidade de acordo com as regras da linguagem. Através da linguagem, a
verdade se torna uma função operativa, que consiste em atribuir a cada coisa o nome que a
convenção lhe destinou. O conhecimento se apoia nessa ficção, que supõe a regularidade da
natureza, o que torna possível a calculabilidade e a instrumentalização do mundo, que tornam
possível o exercício do poder e da dominação sobre as coisas e sobre os demais humanos.
Essa tese nietzschiana se opõe a duas posições:
O conhecimento principia a partir de problemas, que são situações que conflitam com
expectativas prévias. Se tudo funciona bem, não há conhecimento. Portanto, sem ERROS não
há conhecimento; o intelecto trabalha pelo método de conjecturas e ensaios, por meio das
quais tenta encontrar alguma forma de ordem ou regularidade no mundo; as teorias são como
que órgãos exossomáticos; assim como as teorias os órgãos e suas funções são adaptações
experimentais ao mundo em que vivemos. Animais altamente adaptados não experimentam
problemas e, quando experimentam, desaparecem; animais flexíveis e menos programados
instintivamente, como os humanos, podem aprender com seus erros. Assim, conhecer é
eliminar teorias e conjecturas inadequadas, em um processo darwiniano de expansão.
Conforme ensinou Nietzsche, convicções são prisões, que dificultam ou até impedem a
expansão do conhecimento.
Em busca de uma resposta segura, pode-se consultar a Filosofia. Mas a Filosofia só nos
oferece uma multiplicidade de sistemas, concepções e atitudes, que se anatematizam e se
combatem umas às outras. Cada sistema filosófico cria seu próprio universo, que se instaura
negando todos os demais; ao buscar critérios válidos e objetivos para resolver esse
interminável conflito, descobre-se que cada filosofia propõe seus próprios critérios de
validade, solidários com sua própria estruturação. Todas as respostas são respondidas pelas
diferentes filosofias, embora estas respostas não sejam conciliáveis. Toda crítica pode ser
respondida, desde que se aceitem as premissas de uma escola filosófica determinada. Mas
nenhuma se fundamenta de forma absoluta, sendo possível concluir que o discurso filosófico
em geral é não-demonstrativo. Ainda que do ponto de vista lógico possam produzir
argumentos válidos, esses argumentos só vigoram no mundo da lógica, sendo problemática
sua aplicação ao mundo cotidiano. Portanto, Oswaldo Porchat considera que a pretensão dos
grandes sistemas filosóficos a uma fundamentação definitiva testemunha sua religiosidade
essencial e profunda, disfarçada sob uma linguagem laicizada. Como ele escreveu, os filósofos
se pretendem sacerdotes leigos de Zeus, intérpretes do verbo divino, que desprezam as
opiniões banais dos leigos mortais. No período socrático, o sofista Protágoras já ensinava que
os homens se deixam persuadir com frequência pelos discursos, e que, a cada discurso, se
pode opor um discurso contrário, igualmente convincente. Ou seja, se pode provar tudo o que
se quer, todas as teses são demonstráveis, desde que se domine a técnica da retórica.
BIBLIOGRAFIA
AQUINO, Tomás. Questões discutidas sobre a Verdade. Tradução de Luiz João Baraúna.
São Paulo, Editora Abril Cultural, 1973.
BRUM, José Thomas. Nietzsche, as artes do intelecto. Porto Alegre, Editora L&PM,
1986.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur
Moosburger. São Paulo, Abril Cultural, 1983.
LESSA, Renato. Veneno Pirrônico, Ensaios sobre o Ceticismo. Rio de Janeiro, Francisco
Alves, 1997.
PEREIRA, Oswaldo Porchat. Vida Comum e Ceticismo. São Paulo, Editora Brasiliense,
1993.