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A relação sujeito-objeto
Conhecer é o ato que acontece quando um sujeito apreende um objeto. O sujeito é aquele que
conhece (sujeito cognoscente), e apreende um objeto. O objeto é aquilo que é conhecido
(objeto cognoscível). A apreensão consiste na reprodução da imagem do objeto no sujeito.
Fenomenologia
Podem haver crenças verdadeiras justificadas sem que tais equivalham a um efetivo
conhecimento. É possível que alguém não possua conhecimento, ainda que sejam realizadas as
três condições. Podem haver crenças verdadeiras que são justificadas em resultado da sorte.
Justificação falível e infalível - Podemos dizer que uma crença só estará adequadamente
justificada se não houver a menor hipótese de esta ser falsa (infalivelmente justificada). A maior
parte dos filósofos crê que a just. das crenças deve ser falível (crenças falivelmente justificadas).
Como o cético, Descartes parte da dúvida, mas ao contrário deste, não permanece nela.
A estratégia de Descartes – só vamos considerar verdadeiro o que for impossível declarar falso
(regra da evidência). Devemos considerar falsa qualquer opinião ou crença em que detetarmos
qualquer fragilidade (tudo o que possa parecer duvidoso). Todas as nossas crenças, opiniões e
possibilidades de erro, até as mais remotas, vão ser submetidas a este teste.
• Regra da evidência/clareza e distinção (não tomar como verdadeiro o que eu não puder
provar como tal);
• Regra da análise (dividir um problema em quantas partes for possível);
• Regra da síntese/ordem (conduzir os pensamentos: mais fácil → mais complexo);
• Regra da enumeração (enum. de modo completo para não perder nada do que se quer
conhecer).
O argumento do Deus enganador/Génio maligno
Um ser omnipotente será uma entidade que tudo pode fazer. Deus pode ter-nos criado, por
exemplo, de modo a que nos enganemos sempre que somamos 2 + 3. Este Deus enganador ou
génio maligno diverte-se à custa dos nossos erros e ilude-nos a respeito da verdade, fazendo
com que estejamos sempre enganados.
Somos completamente incapazes de mostrar que não existe um Deus que nos tenha criado
destinados a confundir o verdadeiro com o falso. É suficiente supor que um ta Deus existe para
que duvidemos do que julgávamos impensável duvidar.
A dúvida é:
Argumento da regressão infinita: Todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças;
se todas as nossas crenças são justificadas com outras crenças, então há uma regressão infinita;
se há uma regressão infinita, então as nossas crenças não estão justificadas; se as nossas crenças
não estão justificadas, então não há conhecimento; logo, não há conhecimento.
Descartes procura responder a este argumento mostrado que a primeira premissa é falsa
(mostrando que não é verdade que todas as nossas crenças são justificadas com outras); e desse
problema surge o cogito, a primeira crença que não é justificada com outra.
O Cogito (penso, logo existo)
A dúvida conduzirá a razão a uma primeira verdade incontestável, indubitável e evidente, obtida
por intuição (ato puramente intelectual ou racional de apreensão direta), de modo inteiramente
racional e a priori. Mesmo que se duvide ao máximo, não se pode duvidar da existência daquele
que duvida. Esta crença não precisa que outra a justifique.
Duvido de tudo, mas poderei duvidar de que duvido de tudo? Não. Duvido, logo existo. Como
duvidar é um ato de pensamento, posso dizer: penso, logo, existo.
Toda a mente humana sabe de forma clara que, para duvidar, tem que existir. Este
conhecimento servirá de modelo para todas as verdades que a razão possa alcançar. A partir da
ideia de cogito estabelece-se um critério: todas as ideias evidentes que se mostrarem claras e
distintas serão indubitáveis.
A clareza diz respeito à presença da ideia à mente que a considera com atenção. A distinção
equivale à separação de uma ideia relativamente a outras, de tal modo que não contenha
elementos que não lhe pertençam.
• Como primeira crença que resiste à dúvida, será o alicerce do sistema do saber.
• Revela a natureza do sujeito: o pensamento.
• É uma verdade autoevidente, e porque é conhecida exclusivamente pela razão.
• É uma verdade puramente racional conhecida por intuição, e uma verdade inata.
• É um modelo e um critério de verdade.
• É o pensamento que se reconhece a si mesmo pelo ato de pensar.
• Apresenta uma condição necessária da dúvida e impõe uma exceção à universalidade
desta dúvida.
Apesar se evidente, o cogito é uma certeza subjetiva. Torna-se necessário averiguar o que se
encontra na base do pensamento e na origem da existência do sujeito pensante.
O solipsismo de Descartes
Tipos de ideias
Adventícias Têm origem na experiência sensível, nas impressões que as coisas causam nos
sentidos (ideias de barco, copo, cão).
Factícias São fabricadas pela imaginação, a partir de outras ideias (ideias de centauro,
sereia).
Inatas São constitutivas da nossa própria razão e nascem connosco (ideias de
pensamento, existência, ideias matemáticas).
Entre as ideias inatas que possuímos encontra-se a noção de um ser perfeito, um ser
omnisciente, omnipotente e sumamente bom. A ideia de perfeição servirá de ponto de partida
para a investigação relativa à existência do ser divino.
A existência de Deus é apresentada como garantia de verdade (é mais certa do que a existência
de seres corpóreos). Descartes admite a existência de Deus como princípio do ser e do
conhecimento criador das ideias inatas e garantia de que a razão humana alcança conhecimento
indubitável.
Uma das ideias inatas que todos nós temos é a ideia da perfeição, e Descartes vai usar essa ideia
como ponto de partida para provar a existência de Deus. A causa da ideia de perfeição não pode
ser o ser pensante porque este é imperfeito, nem pode ter surgido do mundo exterior, porque
nada é perfeito (só pode ter sido criada por algo perfeito: Deus – argumento da marca impressa).
Um ser perfeito tem todas as perfeições → a existência é uma perfeição → se Deus é um ser
absolutamente perfeito, então necessariamente existe (argumento ontológico).
A causa da existência do ser pensante, finito e imperfeito, não é o próprio sujeito pensante, mas
sim o criador, tando do ser como da realidade, ou seja, Deus (que é a causa de si mesmo).
Deus, sendo perfeito, não pode ser enganador, e se é o criador do Homem e da realidade, então
também é o criador das verdades incontestáveis.
Críticas a Descartes
• Alguns filósofos pensam que Descartes foi longe demais ao afirmar “eu penso”, e que a
ideia de um “eu” como sujeito do pensamento é abusiva. Se devemos levar a sério a
hipótese do génio maligno, então não temos razões para acreditar no “eu” físico e social.
Possível argumento de Descartes: não posso duvidar da minha existência, mas posso duvidar da
existência de corpos, logo não sou um corpo.
• O círculo cartesiano – o cogito, só por si, não poderia constituir um fundamento sólido
para o conhecimento. Existe um argumento circular: para saber que as ideias claras e
distintas são verdadeiras, tenho primeiro de saber que Deus existe; mas, para saber que
Deus existe, tenho primeiro de saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras.
• Será que da ideia da perfeição se segue que existe um ser perfeito? – Descartes
argumenta que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito. Mas
quem nos garante que não é ainda o génio maligno a enganar-nos e levar-nos a pensar
dessa forma? E que razões temos para acreditar que essa ideia tem de ser causada?
Tipos de conhecimento
O valor de verdade das questões de facto só podem ser determinadas recorrendo à experiência.
Ex.: conhecimentos das ciências naturais.
O problema da causalidade
O nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões atuais e passadas. Só com base
nessas impressões e recordações podemos justificar as nossas crenças. No entanto, há muitas
afirmações que fazemos e que não podemos justificar se nos basearmos apenas no testemunho
da memória ou na experiência imediata dos sentidos.
Estamos diante de proposições cujas eventuais verdades são contingentes (relativas a questões
de facto). Mas aquilo que estamos a dizer ainda não foi observado/apenas foi parcialmente/não
chega a ser obs. As questões de facto baseiam-se no raciocínio indutivo e na relação causa-efeito
Relação de causalidade (ou relação de causa e efeito) – uma conexão necessária entre
conhecimentos. Neste sentido, o conhecimento da relação de causa e efeito não é obtido por
raciocínios a priori, mas deriva totalmente da experiência. Acreditamos que o efeito não pode
ocorrer sem a causa, e a causa produzirá necessariamente um efeito.
Mas não há nenhuma impressão sensível da qual derive a ideia de causa. Ninguém vê ou
perceciona uma conexão necessária.
Contudo, observamos que entre dois fenómenos se verifica sempre uma sucessão temporal e
uma conjunção constante: um deles (efeito) ocorreu sempre a seguir ao outro (causa).
Concluímos então que existe entre eles uma relação de causalidade e que esta constitui uma
conexão necessária.
Esta ideia de conexão necessária tem apenas um fundamento psicológico: o hábito. Ao observar
que algum evento A tem sido sempre seguido do evento B, acreditamos que da próxima vez que
ocorrer A, sucederá B, ou seja, acreditamos que o futuro será igual ao passado.
Hume considera que não se deve recorrer a qualquer tipo de intuição para justificar a existência
do eu como substância, pois só dispomos da intuição de ideias e impressões, e estas impressões
não são invariáveis.
É a aparente constância das coisas que nos leva a acreditar que têm existência
independentemente das nossas perceções. Mas o facto de não se justificar racionalmente a
existência do mundo, não significa que ele não exista. Não há forma de saber se as impressões
ou ideias correspondem a alguma realidade fora de nós.
A existência de Deus
Hume considera que não existe um ser cuja não existência implique contradição. Como tal, o
argumento oncológico é desde logo excluído.
Os limites do conhecimento, o ceticismo de Hume
A noção de causalidade é fundamental para o conhecimento. Mas a causalidade não pode ser
diretamente observada, nem pode ser inferida com base na razão. A ideia de causa é
empiricamente injustificável (é uma crença subjetiva que resulta de um hábito).
São apenas projeções da mente humana, não sabemos se existe. Logo, não podemos ter a
certeza no conhecimento.
Dado que só conhecemos as perceções, a realidade acaba por se reduzir aos fenómenos
(fenomenismo). Se todas as nossas ideias provêm dos sentidos, e não há impressões acerca de
leis universais ou de relações necessárias entre fenómenos, não podemos considerar o
conhecimento como absolutamente verdadeiro.
Por isso, Hume assume um ceticismo moderado (admite a possibilidade de conhecer, mas não
de forma absoluta), rejeitando a atitude dogmática.
• Uma pessoa a quem sejam apresentados vários tons de azul, exceto um, que também nunca
viu, pode formar uma ideia deste tom desconhecido. Segundo Hume, isto seria impossível,
já que a pessoa nunca teve uma impressão à qual pudesse corresponder essa ideia.
• Hume considera que uma crença só se encontra rac. just. se existir uma prova irrefutável
da sua verdade. Mas alguns admitem que pode não existir uma prova irrefutável da verdade
de uma crença e esta estar rac. just. Assim, a crença na existência de conexões casuais
(injust.) parece constituir a melhor explicação para a ocorrência das conjunções constantes.
Descartes Hume
Projeto Encontrar princípios racionais Efetuar uma análise da
indubitáveis que componham um mente que revele quais as
sistema de conhecimentos absolutos. capacidades e os limites do
conhecimento humano.
Origem do A razão ou pensamento. Valorização A experiência. Valorização do
conhecimento do conhecimento a priori. conhecimento a posteriori.
Os conteúdos do Nem todas as ideias são inatas, mas o Todas as nossas ideias têm
entendimento conhecimento funda-se em ideias uma origem empírica. Não há
inatas ou puramente racionais. ideias inatas.
As operações do É possível obter o conhecimento As operações da mente
entendimento através das operações fundamentais baseiam-se nos princípios de
da mente: intuição (a partir daí associação de ideias: a
descobrimos o primeiro princípio) e semelhança, a contiguidade
dedução (a partir do primeiro no espaço e tempo e a
deduzem-se outras verdades). causalidade.
A possibilidade de O conhecimento é possível, sendo O conhecimento de facto não
conhecimento um conjunto de verdades é possível. Nem a razão nem
indubitáveis a existência de 3 a experiência nos dão
substâncias (pensante, extensa e verdades absolutas sobre o
divina). mundo. As únicas verdades
indubitáveis são as da
matemática e lógica.
O fundamento do Encontra-se na razão (cogito), mas Encontra-se na experiência
conhecimento este fundamento depende daquele (impressões dos sentidos). O
que é o princípio de toda a realidade: conhecimento é um produto
Deus. do hábito e não da razão.
Os limites do Aplicando corretamente a faculdade Do que não há experiência
conhecimento de conhecer podemos alcançar não pode haver
verdades indubitáveis. A metafísica é conhecimento. Por isso não
a ciência fundamental. há realidades metafísicas
(Deus e alma).
O nosso conhecimento da realidade é O nosso conhecimento do
constituído por verdades mundo não é constituído por
indubitáveis. verdades indubitáveis nem
por verdades prováveis.
O apriorismo de Kant
Kant defende que o conhecimento resulta da aplicação de uma forma (conceitos a priori),
produzida pelo entendimento, a uma matéria (fenómeno a posteriori que resulta do modo como
a sensibilidade organiza as sensações). O conhecimento tem duas fontes independentes, uma
racional e outra empírica.
Nota: embora se pressuponha a existência do objeto externo, o conhecimento depende das estruturas do
sujeito.
As fontes do conhecimento
Conceito de apriorismo
Númeno e fenómeno
O númeno é o real tal como existe em si mesmo, não dependendo do sujeito para existir (por
definição é um objeto incognoscível). O conceito de númeno opõe-se ao conceito de fenômeno,
ou seja, aquilo que conseguimos captar do objeto. Equivale à realidade objetiva, à qual nossos
sentidos e razão fazem apenas uma representação.
númeno
fenómeno
Racionalismo Empirismo
Concorda A razão é o elemento Não existe conhecimento sem o contributo
determinante no processo de da experiência.
conhecer.
Discorda Sem o contributo da O conhecimento exige que o sujeito possua
experiência, a razão não pode duas formas para organizar dados sensíveis
conhecer o mundo. e construir o objeto do conhecimento.