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1 - Das causas do comportamento humano em geral

O que é a Psicologia?

A psicologia é a ciência que compreende as causas do comportamento humano.

O que é o ser humano?

O homem é uma criatura espiritual unida a um corpo animal.

O que é um comportamento?

Um comportamento é qualquer ato ou movimento de um ser vivo.

Quais são as causas do comportamento?

As causas do comportamento de todo ser vivo se resume em três: as potências da alma, as disposições
do corpo e do próprio ambiente externo.

Dê alguns exemplos.

O ato da visão necessita não apenas da própria potência visual, mas da boa disposição dos olhos, a
presença da coisa percebida e a luz que transmite as suas qualidades visuais. O ato da alimentação
depende não apenas da potência nutritiva, mas da boa disposição do estômago e a presença do próprio
alimento. O ato da locomoção depende não apenas da potência locomotora, mas dos próprios membros
da locomoção e o ambiente onde o movimento se dá.

O que é a alma?

A alma não é algo que pode ser visto ou tocado, e na falta de uma palavra melhor, podemos dizer que a
alma é uma espécie de “energia” que informa o corpo do ser vivo. E é desta energia que vem suas
potências vitais, e não do próprio corpo.

Quais são as potências da alma?

As potências da alma se dividem em cinco gêneros: vegetativas, sensitivas, apetitivas, locomotivas e


intelectuais.
Todos os seres vivos possuem todas as potências?

Evidentemente não. A hierarquia cosmica se dispõe de modo que os seres superiores incluem e
transcendem as potências dos inferiores, numa ordem gradual de semelhança com o próprio princípio
divino. Assim os seres inanimados possuem a matéria; as plantas possuem a matéria e a vida; os
animais possuem a matéria, a vida, a sensibilidade e a locomoção; enquanto o homem possui tudo isso,
mais a inteligência e a vontade.

Apenas o homem possui todos os gêneros de potências da alma?

Sim, por isso ele também é chamado de microcosmos: pelo seu corpo, ele possui a perfeição da
matéria; pela vida, ele têm a perfeição das plantas; pela sensibilidade e o movimento, ele têm a
perfeição dos animais; e pela inteligência e a vontade, ele têm a perfeição das criaturas espirituais, e
por isso também é chamado a imagem e semelhança do próprio Deus.

O homem é semelhante a Deus apenas na sua alma, ou também no seu corpo?

Tudo o que vem de Deus precisa ter algum grau de semelhança com Deus, como a natureza do efeito
deve ser semelhante à sua causa. Assim o corpo e a matéria possuem um grau inferior de semelhança
com Deus porque existem de forma limitada, enquanto Deus é a própria Existência Ilimitada. De modo
superior, as substâncias animadas se assemelham mais a Deus porque possuem uma vida finita, a qual
pressupõe a Vida Infinita de Deus. Mas se diz que a alma humana tem um grau especial de semelhança
com Deus – a ponto de ser chamada de sua “imagem” – porque possui as potências espirituais da
inteligência e da vontade livre, que são dádivas da própria Inteligência e da Vontade Onipotente de
Deus.

2 - Das pontências superiores: o intelecto e a vontade

Por que a inteligência e a vontade são chamadas de potências espirituais?

Porque elas não dependem de nenhum órgão corpóreo e nem tem por objeto a própria realidade
material.

Por que o intelecto é espiritual?

Uma coisa só pode agir conforme a sua própria natureza. Ora, o ato próprio do intelecto é a abstração,
pela qual ele separa da coisa individual, material e mutável, o seu conceito universal, imaterial e
imutável. Logo, como o ato do intelecto absorve a forma que transcende a matéria, a sua própria
potência deve transcender a matéria ou qualquer órgão corpóreo.

O ato do intelecto é melhor compreendido por comparação com as outras potências da alma?

Sim: pois do contraste entre as potências corporais e o intelecto se evidencia a natureza espiritual do
intelecto.
Algumas potências da alma tem uma função de absorção, mas de modos diferentes. Pela potência
nutritiva o ser vivo busca absorver a própria matéria da substância externa, de modo que a substância é
realmente destruída e transformada no próprio organismo do ser vivo. Por outro lado, a potência
sensitiva tem um modo de absorção superior, pois os olhos, por exemplo, não absorvem a pŕopria
matéria dos corpos, e sim as formas sensíveis vinculadas à sua matéria. Mas enquanto os sentidos se
limitam às formas individualizadas pela matéria, o intelecto abstrai a essência universal que transcende
o ser individual: assim o animal pode enchergar este quadrado, mas o homem abstrai e reconhece que
este quadrado é um exemplar individual da ideia universal do quadrado. Do ponto de vista sensível, um
filme, por exemplo, é uma sequencia de imagens e sons que podem ser captados pelo animal, mas ele
não consegue abstrair a própria ideia do filme em função da qual essa sequencia de imagens existe.

A etimologia da palavra inteligência está ligada à capacidade de “ler dentro”: assim o intelecto vai
muito além dos sentidos, como que penetrando e absorvendo a própria essência das coisas.

O objeto do intelecto é a verdade?

Sim. Evidentemente o que separa o homem dos animais irracionais é a sua capacidade de conhecer a
verdade pela potência intelectual.

O que é a verdade?

De forma geral, o conceito de “verdade” evidentemente se converte ao conceito do próprio “ser”: tudo
aquilo que existe é verdadeiro na medida mesma em que existe. Mas a verdade pode ser considerada
enquanto se encontra na própria coisa ou no intelecto do qual ela depende.

Assim a verdade das coisas artificiais se encontra primeiramente no intelecto humano, e posteriormente
nas coisas: por exemplo, o projeto arquitetônico de uma casa se encontra primeiramente no intelecto do
arquiteto, e posteriormente na matéria que será usada para construir a casa, que é chamada de
verdadeira na medida em que se adequa ao projeto arquitetônico. Mas enquanto as coisas artificiais se
adequam ao intelecto humano, o contrário acontece com as coisas naturais. Para o intelecto conhecer as
coisas naturais é ele que deve se adequar a elas, de modo a abstrair a verdade do próprio intelecto
divino do qual elas dependem.

Assim o intelecto divino é imensurável e mensurador de todas as coisas; as coisas naturais são
mensuradas pelo intelecto divino e mensuradoras do intelecto humano; e o intelecto humano é
mensurado pelas coisas naturais e mensurador das coisas artificiais que ele mesmo produz.

Em todo caso, a verdade é sempre uma relação de adequação entre o intelecto e a coisa.

O homem pode conhecer Deus?

Sim. O homem pode conhecer Deus de forma indireta, como se conhece uma causa pelos seus efeitos.
Por exemplo: se uma pessoa observar uma casa, ela necessariamente deve concluir que a casa tem um
arquiteto mesmo que ela não conheça efetivamente quem é esse arquiteto. De modo análogo,
observando a ordem admirável da natureza o homem pode concluir que a natureza deve possuir um
Criador, que é o que chamamos de Deus, mesmo que dessa forma não seja possível conhecê-lo em sua
essência.

Em uma linguagem metafísica, a causa de uma coisa superior não pode ser inferior à causa de uma
coisa inferior. Ora, a ordem das coisas artificiais, que são inferiores às naturais, são causadas pelo
intelecto humano. Logo, sendo as coisas naturais superiores às artificiais, elas necessitam de um
intelecto superior, que é o Intelecto Divino.

Em resumo, o homem pode conhecer a existência do Criador através das criaturas.

A potência da vontade é espiritual?

Sim. Porque ela tem sua origem no intelecto, que é espiritual, como demonstrado.

A vontade é realmente diferente do intelecto?

Sim, tanto no seu objeto quanto no seu ato. Como explicado acima, o objeto do intelecto é a verdade e
o seu ato é a abstração, pelo qual ele distingue entre as coisas mutáveis e os conceitos imutáveis. Mas o
objeto da vontade é o bem, e o seu ato não é a abstração, mas a união com o bem.

O bem é diferente da verdade?

O conceito de “bem”, assim como o conceito de “verdade”, se converte, em última instância, ao


conceito do próprio “ser”: tudo aquilo que existe é verdadeiro, e tudo o que é verdadeiro é “bom”. Mas
nem tudo o que é verdadeiro e existe foi ordenado para satisfazer a alma ou o corpo humano: por
exemplo, o veneno da cobra é verdadeiro, mas não é “bom” para o corpo. Nesse sentido, o intelecto
apreende o ser não apenas como verdadeiro mas como um “bem”, na medida em que ele é conveniente
para se unir ao corpo ou à alma: e é dessa apreensão que emana a potência da vontade. Com efeito,
enquanto o ato do intelecto se completa quando a verdade da coisa está no próprio intelecto, o ato da
vontade só se completa quando aquele que deseja se une efetivamente ao ser desejado.

O mal é um ser?

Não. Se metafisicamente o bem é convertível ao próprio ser, o mal não pode existir no nível metafísico,
mas apenas no nível psicológico e moral. No nível psicológico, a criatura sensitiva interpreta como
“mal” a privação do bem e tudo aquilo que objetivamente ameaça ou fere à sua própria natureza. No
nível espiritual, se diz que alguém é mal quando age voluntariamente contra a ordem da razão.

O animal pode buscar o seu próprio mal?

Não. As paixões do animal sempre o direcionam a buscar o bem da própria natureza. No entanto, ele
pode sofrer o mal no sentido psicológico, como quando é privado de alimento ou sofre algum acidente.
Mas como não é dotado de inteligência e livre-arbítrio, não pode praticar o bem ou o mal no sentido
moral, pois a moralidade consiste na adequação da criatura espiritual à ordem divina. Nesse sentido, os
animais se adequam à ordem divina por uma necessidade irracional que o próprio Deus programou em
suas naturezas, enquanto apenas o homem pode se adequar voluntariamente a essa ordem.

O mal é um estado ou um ato do ser humano?

Ambos. Como toda criatura, o homem é bom no seu próprio ser, mas apenas ele tem a capacidade de
ordenar a própria natureza para conhecer e amar a Deus voluntariamente. Assim dizemos que o mal é
um estado do homem na medida em que suas potências se encontram desordenadas, e consideramos o
mal como um ato enquanto ele efetivamente utiliza essas potências contra a ordem da razão.

Como as potências da alma humana devem ser ordenadas?

O intelecto deve estar submisso a Deus, a vontade submissa ao intelecto, e as paixões irracionais devem
se submeter à vontade racional. Pelo contrário, no estado de desequilíbrio as paixões se rebelam contra
a vontade, a vontade se rebela contra o intelecto, e o próprio intelecto se rebela contra Deus.

O intelecto precede a vontade?

Sim: pois só podemos amar aquilo que conhecemos. Não é possível amar o que se ignora
absolutamente.

A vontade impera sobre o intelecto?

O intelecto age sobre a vontade fornecendo a cognição do seu objeto, que é o bem. Mas à potência da
vontade pertence não apenas o ato de amar, mas o ato de imperar sobre as outras potências: pois o
único modo da vontade se unir ao seu objeto é justamente direcionando a própria alma e o corpo em
relação ao objeto, e para isso ela precisa controlar as outras potências. Assim é próprio da vontade a
capacidade de direcionar cada potência para o seu bem respectivo, e o bem da potência intelectual é
justamente a verdade. Desse modo, enquanto o intelecto apreende o bem da vontade, a própria vontade
quer que o intelecto conheça a verdade.

A vontade controla todo o comportamento humano?

Evidentemente não. A vontade não controla diretamente as próprias disposições do corpo, os


movimentos reflexos das potências vegetativas, os sentidos externos e as paixões do apetite sensível.
Mas cabe a ela controlar os sentidos internos da imaginação e da memória, as potências locomotoras e
o próprio intelecto.

A vontade é livre?

Sim, e isso é evidente: todos nós naturalmente experimentamos a liberdade na medida mesma em que
agimos voluntariamente. De forma geral, o conceito de “liberdade” se associa ao conceito do
“movimento”. Assim, por exemplo, dizemos que a planta permanece “presa” no solo, enquanto o
animal é mais “livre” pelo seu corpo e as potências locomotoras que a planta não têm. Mas o animal
permanece cognitivamente “preso” na dimensão do mundo sensível e dos bens materiais, enquanto o
intelecto é livre para penetrar no mundo das essências e se elevar aos bens espirituais.

Dizemos ainda que o ser humano é “livre” porque as suas potências locomotoras não estão presas ao
domínio das paixões, mas da própria vontade.

3 - Da felicidade humana e a ordem do amor

O sentido da vida humana

O objeto da vontade humana é o próprio Deus?

Sim. Na medida em que a vontade depende do intelecto, e o objeto do intelecto é a verdade universal, o
objeto último da vontade só pode ser o bem universal, que é Deus.

Quando o intelecto conhece um efeito, ele só pode se satisfazer ao conhecer a causa em sua essência.
Assim, por exemplo, se alguém observa a fumaça, deduz a existência de um incêndio; mas não se
satisfaz enquanto não saber o que está sendo incendiado e qual é a sua causa. De forma análoga, o
intelecto não pode se satisfazer apenas sabendo que Deus existe através dos efeitos que são as criaturas,
mas quer ainda conhecer a própria essência de Deus. Portanto a vontade humana só pode encontrar sua
satisfação absoluta na contemplação da essência divina.

O homem deve amar apenas Deus?

Não. O homem deve amar a Deus e tudo aquilo que vem de Deus, que são as criaturas.

O homem deve amar Deus mais que as criaturas?

É óbvio. Deus deve ser amado acima de todas as criaturas, e as próprias criaturas devem ser amadas por
causa de Deus. Pelo contrário, todo sofrimento humano tem sua raiz no amor desordenado pelas
criaturas e no desprezo por Deus.

O homem deve amar todas as criaturas da mesma forma?

Não. Além de amar a Deus como o Criador, o homem primeiramente deve amar a si mesmo e depois as
outras pessoas. Pelo contrário, toda desordem da alma se dá quando o homem se coloca acima ou
idependente de Deus, ou quando ama outras pessoas mais do que a si mesmo.

O homem deve amar todas as pessoas do mesmo modo e com a mesma intensidade?

É óbvio que não. Como a vontade depende do intelecto, o amor depende da proximidade: naturalmente
amamos com maior intensidade aqueles com quem temos mais intimidade. Assim é evidente que
devemos amar em primeiro lugar a nossa família, depois nossos amigos, e assim por diante.
O homem deve amar todos os seus familiares com a mesma intensidade?

É evidente que não. Amamos com maior intensidade os nossos conjuges, depois nossos filhos e depois
nossos pais.

O amor conjugal é superior ao amor paternal e filial?

Sim. O amor conjugal entre o homem e a mulher é a relação humana mais elevada que existe, pois é a
origem de todas as outras relações. Pelo intelecto e a vontade o ser humano não busca apenas conhecer
e amar, mas ser conhecido e amado: e não existe nenhuma outra relação de intimidade superior à
relação conjugal. Os pais não conhecem os filhos e nem os filhos conhecem os pais com o mesmo grau
de intimidade que os conjuges se conhecem.

O amor paternal é superior ao filial?

É evidente que sim. Quanto maior o conhecimento, maior o amor: e os pais conhecem os filhos desde a
sua origem, enquanto os filhos não podem fazer o mesmo.

Quais são as potências vegetativas?

As três principais são a nutrição, o crescimento e a reprodução, comuns a todos os seres vivos, pelas
quais o homem naturalmente busca o alimento, a própria sobrevivência e o sexo. A nutrição consiste
em absorver a matéria externa e integrá-la ao próprio organismo, que resulta no crescimento e
manutenção do corpo. Enquanto a reprodução consiste em gerar um outro ser vivo da mesma espécie.

Quais são as potências da sensibilidade?

As potências sensitivas se dividem entre os sentidos externos e os sentidos internos.

Quais são os sentidos externos?

Os sentidos externos são a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato.

Quais são os sentidos internos?

Os principais sentidos internos são: o senso comum, a memória, a imaginação.


O que é o senso comum?

O senso comum é a potência interna pela qual nós percebemos e distinguimos entre os diversos
sentidos externos. Como o nome indica, os sentidos externos só aprendem o que é exterior a eles, como
a visão apreende as imagens, a audição capta o sons, o olfato sente o odor, etc: portanto eles não
percebem o seu próprio ato e nem diferenciam os demais sentidos. A visão distingue entre o preto e o
branco, mas não entre a cor e o som; se pelos olhos você vê e pelos ouvidos você ouve, é pelo senso
comum que você percebe que vê e ouve. Portanto, “o senso comum opera uma espécie de
discernimento e síntese entre as sensações”, como diz o comentador da Suma Teológica.

Qual é a diferença entre a memória e a imaginação?

De forma geral, a memória é a simples capacidade de reter a informação apreendida pela experiência.
Enquanto imaginar nada mais é do que a capacidade de formar uma imagem mental de algo
armazenado na memória. A imaginação, portanto, depende da memória.

A verdade e a falsidade encontram-se nos sentidos?

Não. A verdade e a falsidade encontram-se apenas no julgamento intelectual. As potências sensitivas


sempre apreendem as qualidades sensíveis que lhes correspondem, a não ser que haja algum dano no
próprio órgão corpóreo do qual cada potência depende: assim um sujeito com catarata tem dificuldade
de ver, e a língua de um doente não distingue entre o doce e o amargo. Mas as potências sensitivas não
julgam sobre a veracidade das coisas, pois se assim fosse os animais conheceriam a verdade, uma vez
que, em muitos aspectos, possuem a sensibilidade superior à nossa.

O que é a potência apetitiva?

É a potência pela qual a criatura sensitiva busca o seu próprio bem e foge daquilo que lhe é nocivo.

O apetite é o mesmo que a nutrição?

Não. Como explicado acima, a nutrição é a potência vegetativa pela qual o ser vivo busca a matéria
externa necessária à sua sobrevivência. Mas isso pode acontecer por processo automático, como nas
plantas, ou por um processo cognitivo, como nos animais. A planta precisa de água mas não sente sede
e nem saciedade quando é privada ou abastecida pela água. Mas como o animal tem a vida sensível, a
mesma necessidade nutritiva é internamente percebida como o estado negativo da fome, quando ele é
privado do alimento, ou o estado positivo do prazer e da saciedade quando ele obtém o alimento.
Portanto, a potência apetitiva depende diretamente da sensibilidade e não se confunde com a própria
potência da nutrição.

O apetite e a sensibilidade são a mesma potência?


Não. Embora o apetite dependa da sensibilidade, eles não são a mesma potência, pois se diferenciam
pelos seus atos. O ato da cognição se completa quando o objeto conhecido está na mente daquele que
conhece, enquanto o ato do apetite só se completa quando aquele que deseja se une ao objeto desejado:
como o animal só se sacia quando come o alimento, e não quando simplesmente o apreende pelos
sentidos ou a imaginação.

O apetite se diferencia de acordo com as diversas potências sensíveis?

Sim. Do mesmo modo que na criatura sensitiva o apetite nutricional e sexual correspondem às funções
vegetativas da nutrição e rerodução, cada potência sensível é acompanhada por um apetite
correspondente: a visão é acompanhada pelo desejo de ver coisas belas, a audição pelo desejo de ouvir
sons prazeirosos, o tato pelo desejo de tocar coisas agradáveis, o paladar pelo desejo de degustar bons
sabores, etc.

É correto dizer que os animais se movem pelo apetite?

De forma geral, sim: basicamente os animais se movem para satisfazer os seus apetites. A satisfação do
apetite é como que a causa eficiente do comportamento animal. Os movimentos do apetite também são
chamados de paixões, e assim também se diz que os animais vivem para satisfazer suas paixões.

A paixão é a mesma coisa que o amor?

De forma geral, sim: o amor nada mais é do que apetite natural pelo bem. Assim todo ser dotado de
apetite naturalmente ama o bem do seu próprio ser, e consequentemente detesta o mal.

O que é o bem?

No sentido metafísico, o “bem” é convertível ao conceito do próprio “ser”: tudo aquilo existe é bom na
medida mesma em que existe – todo ser é um “bem”. Por outro lado, no sentido psicológico, o bem é o
ser apreendido enquanto conveniente ou necessário ao apetite. Assim se diz, por exemplo, que a água é
um bem, porque é necessária ao apetite: o animal instintivamente procura a água, e ao ingerí-la
naturalmente experimenta uma sensação boa e prazeirosa, que objetivamente corresponde ao bem do
próprio organismo. E o mesmo serve para todos os outros prazeres das potências sensíveis, com seus
respectivos apetites e objetos. Além disso, no sentido moral ou espiritual, se diz que a ação humana é
boa ou má conforme se adeque ou não à ordem racional.

O homem pode buscar o seu próprio mal?


O amor é a única paixão?

Não. Mas todas as outras paixões derivam do amor como a paixão primeira e fundamental da alma.
Depois do amor, a paixão mais importante é o ódio: pois assim como a criatura sensitiva naturalmente
ama os bens que lhe são conaturais, a começar pela própria vida, ela naturalmente odeia tudo aquilo
que seja um obstáculo à aquisição dos bens ou à preservação da vida. Assim o amor e o ódio são as
paixões fundamentais de onde derivam todas as outras paixões da alma.

Quais são as outras paixões da alma?

O desejo, a repulsa, a esperança, o medo, a ousadia, o desespero, a alegria, a tristeza e a ira.

As paixões dividem a potência apetitiva entre o concupiscível e o irascível?

Sim. O bem amado pode ser percebido como fácil ou difícil de se adquirir, e o mesmo se refere ao mal
odiado. Nesse sentido, pelo apetite concupiscível o animal simplesmente deseja ou evita o bem e o mal
fáceis de serem alcançados ou evitados. Mas se o bem e o mal são difíceis, o animal precisa do apetite
irascível pelo qual ele resiste aos obstáculos ou foge daquilo que pode lhe destruir.

Quais paixões pertencem ao apetite concupiscível?

O desejo e a repulsa, a alegria e a tristeza.

O que é o desejo e a repulsa?

Enquanto a amor é o apetite geral pelo bem, o desejo é o amor pelo bem fácil que não se possui. E
enquanto o ódio é a aversão geral ao mal, a repulsa é o ódio pelo mal fácil que não nos atinge. Assim,
por exemplo, é o desejo despertado por uma boa comida e o nojo provocado por um alimento
estragado.

O que é a alegria e a tristeza?

A alegria é a paixão positiva provocada pela aquisição do bem desejado, enquanto a tristeza é a paixão
negativa provocada pelo bem perdido ou não alcançado, que é experimentado como mal.

Quais são as paixões do apetite irascível?

A esperança, o desespero, a ousadia, o medo e a ira.

O que é a esperança e o desespero?


A esperança é uma paixão positiva que nos move a buscar o bem difícil, quando este é percebido como
possível de se alcançar. O desespero é uma paixão negativa que nos faz desistir do bem difícil, quando
este é percebido como impossível de se alcançar.

O que é a ousadia e o medo?

A ousadia ou agressividade é a paixão positiva pela qual nós enfrentamos o mal difícil, quando ele é
percebido como possível de ser superado. Enquanto o medo é a paixão negativa que nos impele a fugir
do mal difícil, quando percebido como impossível de ser superado.

A ousadia é diferente da ira?

Sim. Pois a ousadia deriva do ódio e busca simplesmente evitar o mal, enquanto a ira deriva da tristeza
e busca se vingar de um mal que já foi sofrido.

As paixões do apetite irascível dependem do concupiscível?

Sim, tanto do ponto de vista do seu princípio quanto da finalidade do movimento passional. Com
efeito, toda paixão se inicia no amor pelo bem e tende a terminar na alegria, caso o bem seja alcançado,
ou na tristeza, caso o mal não possa ser evitado.

Todas as potências da alma são espirituais?

Não. As potências da alma se dividem em cinco gêneros: vegetativas, sensitivas, apetitivas,


locomotivas e intelectuais. As quatro primeiras dependem absolutamente do corpo, enquanto apenas a
inteligência e a vontade são espirituais.

O simples modo de reprodução dos seres vivos refuta a teoria evolucionista?

Sim: porque é simplesmente um fato da natureza que todo ser vivo só pode reproduzir um outro da
própria espécie. Nenhum ser pode dar aquilo que não têm: assim não é possível que um ser de uma
espécie produza uma espécie diferente ou superior à sua própria.

As potências sensitivas são cognitivas?

Sim: a sensibilidade é um modo de cognição, porém inferior e análoga ao conhecimento propriamente


espiritual do intelecto. Enquanto pela nutrição o ser vivo absorve a própria matéria das coisas, pela
sensibilidade ele absorve as próprias formas sensíveis vinculadas à matéria. O intelecto abstrai a forma
espiritual que transcende a matéria.

A felicidade do homem se resume na satisfação das paixões?

Não. Pois além do apetite sensível o homem possui o apetite intelectual, e este só pode ser satisfeito
com a verdade e o bem espiritual.

Qual é a felicidade última do homem?

Depois da morte, a felicidade última do homem é contemplar o próprio Deus em sua essência, caso ele
mereça.

É possível ser feliz nessa vida?

O hábito é diferente da potência?

Sim: o hábito é uma espécie de intermediário entre a potência e o ato. Enquanto a potência é uma
qualidade inata da alma, o hábito é uma qualidade adquirida pela repetição dos atos. Assim todo ser
humano tem a potência para tocar um instrumento, mas apenas aqueles que praticam os atos associados
a essa arte podem realmente transformar a potência em um hábito. Portanto, o hábito é essa qualidade
adquirida, pela qual a alma se torna bem disposta para realizar uma determinada potência.

Os hábitos também são chamados de virtudes e vícios?

Sim.

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