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Marilza Mestre1
UFPR
Neuza Corassa 2
Psicóloga clínica - UTP
RESUMO
1 Psicóloga clínica (UFPR/1981); mestre em Psicologia Experimental (USP – SP/1996); doutoranda em História (UFPR/ término
provável 2003); sócia fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM/Curitiba); professora de Psicologia na
graduação e pós – graduação da PUC- PR e UTP (Tuiuti).
2 Psicóloga clínica (UTP/1989); sócia fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos (CPEM/Curitiba); profesora
de Psicologia na pós-graduação (capacitação de psicólogos do trânsito) da PUC-PR.
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ABSTRACT
The present article treats of a clinical research accomplished with
customers of CPEM (Center of Psychology Speciliazed in Fears –
Curitiba/PR), that sought psychological attendance in search of the
fear of driving (Syndrome of the car in the Garage, SGC). That
upset causes social problems those that introduce him/it and that
only come in search of help when the escape strategy/it avoids for
them developed it provides high cost in relation to the obtained
eamings 124 clinical cases were analyzed in the period of
September from 1997 to September of 2000. The objectives of the
study were: 1. To identify the psychological profile of the person
bearer of phobia of driving; 2. Verify the data, found at the
psychological clinic, of typical characteristics of the fobico of
driving, the other phobia types are applied. The used procedure
was the analysis case to I, married of the the answers given to
2 inventories: Historical of life and Inventory of Fears; the
answers suffered treatment through the mathematical correlation
of the percentile of your answers. As results obtained-if: 1)
the delineamento of the profile of fobico of driving (Syndrome of
the car in Garage); 2) indications of evident perfectionism
characteristcs describes as the authors they accomplish the
functional analysis of those cases and they propose therapeutic
plan.
Key words: phobias, perfection, traffic
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Segundo Watson (conforme citado por Millenson, 1975), o medo é uma das três
emoções básicas do ser humano. Trata-se de um estado corporal, uma reação
automática, que não necessita de aprendizagem e que visa gerar energia à
evitação ou afastamento de estimulação nociva ao ser (Ross, 1979). Seguir pela
vida requer sentir medo, e esse é um amigo precioso que mantém os animais
longe do perigo. A diferença entre os outros animais e o homem é que os
primeiros sentem, basicamente, medo de morrer e daquilo que ponha sua vida em
risco imediato. Quando vivem longe do ser humano, não se encontra no animal
medo do futuro.
Dois historiadores, Delumeau, 1996 e Duby, 1995, fazem uma análise dos medos
no ocidente entre os anos 1000 até o ano 2000 e apresentam um panorama
muito parecido, nesta virada de milênio, ao que ocorreu na virada do milênio
anterior. Os mesmos medos afetam o homem de agora em relação ao homem do
passado: medo da miséria, do outro, das epidemias, da violência, do além. Hoje,
acrescentamos um grande medo ao montante já existente: o medo da solidão. O
homem do passado acreditava em seus pares e sabia que podia contar com sua
família, seus amigos, seus “patrícios”. Nos períodos de fome, ficavam solidários;
na doença, se ajudavam; e mesmo quando segregados, isso ocorria em bando, e
dentro desse se auto-ajudavam. Hoje, esse medo de ficar só gera outros medos, tão
diversos quanto a história de cada homem.
O homem é o único ser que tem “medo do medo” e quando fica sob o
controle dessa emoção antecipatória de contingências prováveis (e temidas) ele
pode estar (e assim o é normalmente) agindo de forma adaptativa; porém, esse
novo sentimento, a ansiedade, pode ser geradora de um sofrimento sem medida.
Então, ansiedade seria o nome dado pela comunidade verbal para a emoção que
segue a percepção de que há ameaça de alguma punição. Ela antecede a perda e
tenta prevenir a frustração. Se tal perda já ocorreu, se já perdermos algo (ou
alguém) o que sentimos chama-se tristeza (Graeff, Guimarães e Deakin, 1993). A
ansiedade pode então surgir como sub-produto que visa alertar o organismo e
tentar evitar novas perdas.
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Desde a fundação do CPEM3 , suas psicólogas vêm atendendo aos mais diversos
tipos de queixas em que o medo aparece como relato principal. Entre eles, o de
maior ocorrência é a Fobia de Dirigir, conhecido como SÍNDROME do CARRO
na GARAGEM (SCG), pois os seus portadores já possuem carro e carteira de
habilitação, mas fogem de dirigir deixando-o na garagem. Quando pensam em
fazê-lo, passam a sentir tremores nas pernas e mãos, perdem o fôlego, ficam
com placas vermelhas pelo corpo, suas mãos ficam geladas e pegajosas de suor,
dormem mal na noite anterior a dirigir e, mesmo sendo pessoas muito honestas,
se obrigam a “ inventar” desculpas que justifiquem o não dirigir, sofrem por não
fazê-lo e sofrem mais ainda se tentam fazê-lo.
Corassa (1996 a e b) ao longo de sua prática clínica foi registrando um padrão
típico do comportamento desses clientes. Eles se classificam basicamente em
dois grupos:
1. Grupo menor: é constituído de pessoas que já passaram por uma experiência
com acidente (em relação a elas mesmas, um familiar ou amigo);
2. Grupo maior: simplesmente o que aparece é um grau elevadíssimo de
ansiedade só de pensar em sair com o carro. As pessoas evitam, inclusive,
realizar coisas muito pequenas como abrir porta- malas do carro ou apanhar
qualquer objeto que tenham esquecido dentro do mesmo.
A hipótese clínica era de que as causas prováveis de tal padrão comportamental
fossem: a) histórico-culturais , com padrões de educação diferenciadas para os
gêneros: como a “direção” da vida era dada ao masculino e à mulher cabia
dependência desse ‘saber’; desta mesma forma, a mulher ficava exposta a regras
sociais onde só homens dirigiam e a ela era a passageira; outro padrão cultural
diferenciado era o referente à forma de brincar , em que as meninas se expunham às
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1997 é a data da fundação do CPEM, no entanto Mestre vem tratando de fobias desde 1981 e Corassa
desde 1989.
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Dos 124, a maioria é constituída por mulheres; apenas 4 são do sexo masculino.
Todos são adultos, com idade variando de 21 a 76 anos, mas cuja média fica
por volta dos 40 anos. Desses, 66,6% são casados (entendendo-se por casado
qualquer relação em que o casal coabite debaixo do mesmo teto). A profissão e
a escolaridade também têm ampla diversidade , desde faxineira, salgadeira e babás
(com 1o grau) a advogados, jornalistas, professores universitários, médicos ; desde
aquelas que se formaram e deixaram de exercer a profissão após o casamento e
que se intitulam “donas de casa” até aqueles que têm pós-graduação e o
reconhecimento do mercado de trabalho. Noventa e cinco por cento deles têm o
carro e os que ainda não, já providenciaram poupança ou consórcio para fazê-lo.
Quanto à habilitação, 88% já a possuem e o tempo decorrido entre tirar a
habilitação e deixar de dirigir varia de 2 a 31 anos.
No inventário de Medos, os resultados mostram que para essas 124 pessoas, além
de se queixarem de temer dirigir, sentem aversão por: falar em público, 69,2%; ser
dominado, caçoado, ignorado, cheirar mal, rir ou chorar sem controle, 76,9%; ser
desaprovado, fracassar, parecer bobo, 85,3%; sentir-se rejeitado, pessoas que
maltratam outros, 92,4 % e perder o controle, cometer erros ou ser criticados ,
100%.
Do Histórico de Vida extraíram-se os seguintes dados em relação às alterações
autonômicas ou cognitivas: dores de cabeça, problemas estomacais e ou intestinais,
sentimento de covardia, 38,4%; aceleração cardíaca, tristeza, insônia, fadiga,
sentimento de inferioridade, 53,8%; solidão, timidez, terrores, sensação de
incompetência, suor excessivo nas mãos, conflito e culpa em relação ao dirigir,
61,5%; raiva e tremores nas mãos e pernas, 69,2%; ansiedade geral, 92,2% e
tensão muscular, 100%.
Os dados obtidos na pesquisa podem servir de auxílio na elaboração da análise
funcional (ou diagnóstico clínico) que irão permitir o sucesso na intervenção
terapêutica.
2. Análise Funcional
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Quando a pessoa procura o CPEM , via de regra o faz porque acredita que sua
queixa, de algum modo, está relacionada com medos. Mas qualquer que seja a
queixa, faz-se indispensável a operacionalização daquilo que essa pessoa relata.
Nesse momento, já se iniciou uma ANÁLISE FUNCIONAL, como a proposta por
Skinner. Há várias formas de proceder tal análise. Mestre (1991) descreve um
modelo por ela adaptado, em que obedece ao paradigma:
S +/-
SD/∆∆ R K C S +/-
S a
A contingência de três termos (Skinner, 1978) foi proposta como explicação para o
controle da emissão do comportamento humano. Bernardes e Mayer (1982)
apresentam esse tipo de controle como as causas de manutenção de
comportamento. Mestre (1991) diz que o primeiro passo é descobrir de qual
comportamento se fala, antes de se poder saber o que o controla, e R é o
comportamento que trouxe o cliente até a clínica, é sua queixa, o seu mando , seu
pedido de ajuda que vem tateado de “n” formas. Nem sempre o repertório verbal
do cliente é claro a ponto de ao relatar se fazer compreender, nem sempre (ou
quase nunca) o repertório verbal do cliente é o mesmo do terapeuta, portanto
requer-se que o terapeuta operacionalize a fala do cliente de modo a entender
seu mando, que pode ocorrer por déficit ou por excesso comportamental. No caso
da SCG, quase sempre ela vem explícita , isto é, a pessoa chega se queixando de
que não consegue dirigir e isso é dito de uma forma que vem com muito
sofrimento, com uma autocrítica que anula toda sua competência no restante de
seu repertório e que só enxerga aquilo de que não é capaz, embora desde a
primeira sessão evidenciem-se fatos em que se destacaram ou pela profissão ou
pelo desempenho social. A análise continua com investigação do contexto onde a
queixa (não dirigir) se insere.
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Mestre enquanto aluna de Psicologia fez adaptação como trabalho exigido para avaliação na disciplina
de Psicoterapia Comportamental, a partir daí vêm aperfeiçoando tal adaptação a partir dos resultados
relatados por seus clientes.
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Relaxamento
1ª Parte: Respiração: imagine que seu pulmão contém um balão de “gás”, desses
de festa, e que ele vai até a barriga, você vai inspirar tentando encher o balão que
está na barriga para só depois encher o pulmão. (Ajuda se você colocar a mão
sobre a barriga, sentirá o “balão” encher e, ao suspirar, ajuda se você fizer
“barulho” com a boca como se fosse o esvaziar de um pneu).
A respiração deve acompanhar cada exercício, quando você inspirar, contrair;
quando expirar, relaxar. Inspirar. Expirar lentamente “até que o pulmão fique sem ar =
suspiro.”
2ª PARTE: fazer 3 x cada exercício
I. Mãos: Fechar fortemente ambas as mãos.Tencionar.
Abrir lentamente. Relaxar. Suspirar .
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VII . Tórax/Costas:
A) Dê um grande abraço em você mesmo .Tencionar. soltar lentamente. Suspirar .
B) “Estufe” o peito. Tencionar. Soltar lentamente. Suspirar .
VIII. Abdômen: Estufar a barriga o máximo que puder. Soltar lentamente. Suspirar .
IX Nádegas: Contrair as nádegas fortemente. Tencionar. Soltar lentamente. Suspirar .
X. Pernas/Pés:
A) Esticar suas pernas para a frente, apontar os pés p/ cima e contrair.
Soltar lentamente. Suspirar.
B) Esticar as pernas p/ a frente, aponte os pés p/ a frente ( pés de bailarina).
Soltar lentamente. Suspirar .
3a parte:
XI. Pensar num lugar seguro e/ou agradável. (cena segura) Suspirar.
A cena segura adequada ao cliente nem sempre é fácil de detectar, nem sempre
o que a pessoa julga agradável é seguro e vice-versa. É aconselhável pedir ao
cliente que a descreva com detalhes. Alguns chegam a trazer fotos, outros a
desenham (não esquecer que são detalhistas e se você apresenta uma descrição
que não corresponda ao que ele imaginou, isso pode ser um entrave ao invés de
ajuda).
Enquanto o treino no relaxamento prossegue, o terapeuta e o cliente começam
a focar o mando do cliente, fazendo-o relatar situações ligadas à fobia que
despertam o medo, e atribuindo valores a quanto de ansiedade elas provocam no
cliente. Aqui também o CPEM fez adaptações e se percebe a extrema importância
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3. 3. “Treino Psicomotor”
Como essas pessoas de modo geral não submetem-se a contingências geradoras
de repertório comportamental, é comum apresentarem algum tipo de déficit motor,
não por algum tipo de deficiência perceptual ou habilidade motora, mas por falta de
treino, puro e simples. No caso da Síndrome do Carro na Garagem algumas
estratégias são necessárias: orientação temporo-espacial, dissociação de membros,
atenção diferencial a estímulos do trânsito ao invés do “olhar” do outro. Aí cabe à
criatividade do terapeuta montar estratégias específicas para cada cliente.
3. 4. Contra-condicionamento
Quando o relaxamento já está fazendo efeito (e isso pode ser medido pelo relato
de um sono melhor; de mais calma em situações de stresse de ordem diferente da
queixa; de melhor capacidade de raciocínio; de diminuição de tensão muscular;
de um melhor conhecimento de seu próprio corpo), e a construção hierárquica já
foi concluída, pode-se pensar em começar a quarta fase, que é subdividida em 3
etapas:
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c2. Sozinho, com meia independência: a pessoa de segurança está por perto mas
não junto;
c3. Sozinho.
A alta ocorre quando a pessoa considera ter atingido seus objetivos, mas
sempre deverá ter um acompanhamento por parte do terapeuta após a alta. O
CPEM tenta fazê-lo de modo sistemático pelo prazo de dois anos.
4. Conclusão
mesmas, necessitam se fazerem fortes através de algo, geralmente para compensar uma
insegurança ou um sentimento de inferioridade. Agora imaginem-se os horários de
pico, como levar os filhos para a escola ou ir para o trabalho, em que vão junto
consigo os valores de sua família de origem , vão também suas preocupações com
a família atual. Seu lado profissional também estará aqui presente: é ele (a)
alguém que sente prazer ou tédio naquilo que exerce como ganha-pão? Como
está ele(a) administrando sua casa dentro da pós-modernidade em que os papéis e
funções masculina-feminina passam por transformações que geram crise, nem
sempre percebidas como crescimento? Sobra tempo na correria da vida, para
esse(a) motorista cuidar de si ? Do ponto de vista estético e da saúde? Não é
ele(a) alguém estressado por tantos afazeres? Onde anda o tempo para o lazer?
E o afetivo? Como anda a expressão das emoções pela pessoa amada (filhos,
namorados, pais, amigos)? O motorista ou o pedestre é alguém com todas essas
áreas do “ser pessoa” funcionando enquanto o trânsito corre.
Ao realizar a pesquisa, as autoras tinham como hipótese, baseadas em suas
observações clínicas, de que tais pessoas tenham desenvolvido tais características
ao longo de uma aprendizagem de fuga e ou esquiva do imprevisível e
incontrolável, através de uma auto-exigência que modelou um repertório de
comportamentos com desempenho dentro de padrões de perfeição. Os
comportamentos em que se percebem como fora desse padrão de aprovação,
tornam-se foco de evitação (é o caso do dirigir). À medida que o custo da fuga-
esquiva torna-se socialmente inviável, elas entram em conflito e buscam formas de
adaptação.
A hipótese então é a de um perfeccionismo antecedendo a fobia e ambos como
parte de uma cadeia de comportamentos modelados.
Ter presente esse padrão comportamental na análise funcional permite a
construção de plano terapêutico mais eficaz e personalizado. E os achados do CPEM
têm sido de ajuda também para entender o trânsito e colaborar para torná-lo melhor.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bernardes , A P. e Meyer, E. (1982). Terapia Comportamental.
Introdução: breve histórico da Teoria Comportamental.
Cadernos de Enfoques Profissionais em Psicologia. UFPR.
Bernick, M. A (1989). Ansiedade. Revista Brasileira de Medicina.
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Viver Bem da Gazeta do Povo. Ano XIII, nº 661, p. 24.
___________ (1996) Medo pede carona. Revista Veja. Ano 29 , no
44, p. 100
____________ (2000). Vença o medo de dirigir – como superar-se
e conduzir o volante da própria vida. São Paulo: Gente.
___________& Mestre , M.B. A . (1998) Síndrome do Carro na
Garagem, Fobia de Dirigir. Pôster apresentado no VII
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Delumeau, J. (1996). História do medo no ocidente –1300-1800-
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