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04/02/22 Entrevista Psiquiátrica


Aula 04/02/22
ANDREA PONTES LIMA 03/02/22, 02:07 HS

Transtorno mental está essencialmente ligado a


1. INTRODUÇÃO sofrimento e perda de funcionalidade.
Deve‐se distinguir o transtorno mental do sofrimento
Introdução normal ou esperado.
Não se devem transformar hábitos culturais atípicos em
Efeitos dos transtornos mentais na vida das pessoas: transtornos mentais.
Sofrimento emocional Conflitos sociais devem ser tema de estudo
Perda de liberdade de agir
Prejuízos no funcionamento social e no trabalho
Insatisfação nas relações interpessoais...
3. ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA
Sofrimento emocional e mudanças de comportamento não são
sinônimos de doença mental (Ex: luto) A entrevista psiquiátrica
Um dos recursos mais efetivos para avaliar o paciente e
estabelecer diagnóstico
O diagnóstico deve considerar os aspectos subjetivos e as Acesso a uma grande quantidade de informações:
características individuais do paciente, como: funcionamento mental
sua personalidade grau de comprometimento provocado pela doença
sua forma de reagir aos problemas enfrentados
o meio sociocultural de relações onde está inserido, aspectos sadios da personalidade
para só assim ser estabelecido o plano de tratamento É necessária para formação da aliança terapêutica

Extensa variabilidade de manifestações:


A habilidade da entrevista é, em parte, aprendida e, em
Transtornos leves (ex: reação de ajustamento/estresse; parte, intuitiva, atributo da personalidade do
depressão leve) -> podem melhor sem nenhuma profissional, de sua sensibilidade nas relações pessoais.
intervenção médica
Casos mais graves (ex: esquizofrenia) -> o tratamento
reduz os sintomas, mas o paciente mantém prejuízos
graves na socialização
Objetivos da entrevista psiquiátrica
Obtenção de dados mediante a realização da anamnese
psiquiátrica

2. DIAGNÓSTICO EM Realização do exame do estado mental


Estabelecimento do diagnóstico psiquiátrico
PSIQUIATRIA Indicação (e negociação) de um plano de tratamento
Estabelecimento de uma aliança terapêutica
Como recurso terapêutico (psicoterapia)
Diagnóstico em psiquiatria Realização de perícias (constatação de incapacidade para
Risco de ser estigmatizado o trabalho, ou incapacidade legal)
x Obtenção de dados para pesquisa
Tratamento ajudará o paciente a entender o que está acontecendo Ensino
e a buscar a melhor forma de recuperar sua autoestima e
funcionalidade
Forma
Estruturada ou padronizada
Conceitos fundamentais para o diagnóstico Semi-estruturada
em psiquiatria Minimamente estruturada
Todas têm alguma estrutura (no mínimo um tempo Indicação e negociação do tratamento
limitado e um determinado objetivo). Os dados obtidos são essenciais para a tomada de
A entrevista de avaliação costuma ser mais aberta e decisões imediatas envolvendo o paciente e
menos estruturada no início da avaliação, e mais dirigida muitas vezes sua família
ao final. Além de estabelecer um diagnóstico e definir a
necessidade ou não de tratamento
Saber se o paciente oferece risco para si ou para
Adaptações para a entrevista seus familiares, para o seu patrimônio ou da
família; se apresenta risco moral e, sobretudo, se
Necessário adaptar a entrevista às características do tem ou não risco de suicídio
entrevistado Decidir sobre a necessidade de internação
Personalidade hospitalar ou não, ou se o tratamento pode ser
Estado mental e emocional no momento feito a nível ambulatorial
Capacidades cognitivas, etc.
Às vezes, o entrevistador precisa ouvir muito, outras
vezes, o entrevistador deve falar mais para que o paciente Informe sobre a natureza do problema que motivou a
não se sinta muito tenso ou retraído. consulta, sobre a necessidade ou não de tratamento, sobre
qual o mais adequado, em que contexto poderá ser realizado
Do local onde a entrevista foi realizada
(internação, ambulatório, hospital dia, domicílio), com que
Dos objetivos da entrevista frequência (número de sessões semanais), duração
Diagnóstico clínico
Estabelecimento de vínculo terapêutico inicial
Psicoterapia
A entrevista como recurso terapêutico
Tratamento farmacológico Possibilita o compartilhamento e a ventilação de
Orientação familiar, conjugal emoções muitas vezes perturbadoras e,
Pesquisa consequentemente, o alívio da angústia
Forenses Oferecer conforto ao paciente possibilita que ele
Trabalhistas. se vincule à pessoa do médico, fortaleça sua
Da personalidade do entrevistador.
confiança e sua disposição para colaborar no
plano terapêutico que for proposto (aliança
terapêutica)
4. PARTICULARIDADES DA
Realização de perícias
ANAMNESE PSIQUIÁTRICA Verificar se o paciente está apto a exercer uma
determinada atividade profissional, dirigir
automóveis, para administrar seus bens, ou se está
Particularidades temporariamente ou definitivamente incapacitado
Estabelece um contato emocional e cria um clima para o trabalho em função de doença mental, etc.
favorável para a comunicação de emoções perturbadoras
Ouve e compreende o paciente em sua relação com o Obtenção de dados em pesquisa
meio ambiente (família) no qual cresceu e se desenvolveu Geralmente a entrevista de pesquisa é
e com as pessoas significativas de sua vida estruturada, com roteiros e questionários a serem
Atenção preferencial por emoções e sentimentos preenchidos
Valoriza a história pregressa procurando identificar
períodos críticos, vivências, vulnerabilidades que possam A entrevista destinada ao ensino
ter contribuído para sua saúde, sua doença
Procura identificar vulnerabilidades biológicas,
antecedentes familiares
Preocupa-se em definir as características pessoais do
6. A ENTREVISTA INICIAL
paciente como temperamento, caráter, traços
predominantes da personalidade suas forças e fraquezas, A entrevista inicial
formas de reagir diante de estresses ou períodos críticos
da vida O próprio paciente quem tomou a iniciativa de marcar a
Estabelece os aspectos sadios e adaptativos da consulta?
personalidade Os pacientes de uma maneira geral resistem a buscar
ajuda do psiquiatra

5. ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA - Iniciando a entrevista


PARA QUE SERVE? Deixar que o paciente comece espontaneamente a falar.
Caso isso não ocorra, poderá iniciar a entrevista com uma Posturas rígidas, estereotipadas, fórmulas que o
pergunta aberta: profissional acha que funcionaram bem com alguns
"Porque motivo veio à consulta...." pacientes e, portanto, devem funcionar com todos
"Por onde vamos começar..." Buscar uma atitude flexível, que seja adequada à
Ouvir o paciente com atenção, com um mínimo de personalidade do doente, aos sintomas que
interrupções, especialmente nos primeiros 5-10 minutos apresenta no momento, a sua bagagem cultural,
iniciais. aos seus valores e a sua linguagem
No início fazer perguntas apenas para clarificar algo que Atitude excessivamente neutra ou fria, que, muito
tenha ficado obscuro, evitando que mude de assunto frequentemente, em nossa cultura, transmite ao paciente
enquanto o que está sendo explorado não foi sensação de distância e desprezo
esclarecido. Reações exageradamente emotivas ou artificialmente
Se o relato está confuso, interromper, solicitando que o calorosas, que produzem, na maioria das vezes, uma falsa
paciente esclareça os detalhes que faltam. intimidade
Pode-se começar esclarecendo a natureza dos sintomas Uma atitude receptiva e calorosa, mas discreta, de
atuais, seu início, o grau de interferência nas atividades respeito e consideração pelo paciente, é o ideal
diárias e de desconforto que provocam. para a primeira entrevista
Se algum tópico não ficou bem claro solicitar ao paciente Criar um clima de confiança para que a história do
que fale um pouco mais sobre o tema com um doente surja em sua plenitude tem grande
comentário do tipo: "Fale-me mais sobre isso…". utilidade tanto diagnóstica como terapêutica
Caso não tenha sido possível obter todas estas Comentários valorativos ou julgamentos sobre o que o
informações poderá comentar com o paciente que faltam paciente relata ou apresenta
dados relevantes e que necessitará marcar mais uma Reações emocionais intensas de pena ou compaixão. O
entrevista para completar sua avaliação. Como regra, a paciente desesperadamente transtornado, aos prantos,
avaliação não é completada no primeiro encontro. em uma situação existencial dramática, beneficia-se mais
de um profissional que acolhe tal sofrimento de forma
empática, mas discreta, que de um profissional que se
Tempo de duração desespera junto com ele
Responder com hostilidade ou agressão às investidas
Em situações excepcionais, com pacientes à beira do hostis ou agressivas de alguns pacientes
leito, agitados, psicóticos, deprimidos graves, não O profissional deve se esforçar por demonstrar
cooperativos ou em serviços de emergência, a entrevista serenidade e firmeza diante de um doente
pode ser curta (10-20 minutos). agressivo ou muito hostil
O usual é que dure em média de 45 a 90 minutos, tempo Deve ficar claro que, na entrevista, há limites
suficiente para o paciente vencer suas resistências e O clínico procura responder, ao paciente que
poder falar de temas sobre os quais tem eleva a voz e se exalta, sempre em voz mais baixa
constrangimento. que a dele
Em algumas situações, apesar de não revidar às
agressões, o profissional deve mostrar ao paciente

7. ATITUDES DO MÉDICO que ele está sendo inadequadamente hostil e que


não será aceita agressão física ou verbal
exagerada
Atitudes do médico - O que fazer Querelas e discussões acirradas costumam ser
inúteis no contato com os pacientes
Demonstrar cordialidade, autenticidade, sensibilidade,
Entrevistas excessivamente prolixas, nas quais o paciente
interesse, calor humano, proximidade, espontaneidade e
fala, fala, fala, mas, no fundo, não diz nada de substancial
empatia
sobre seu sofrimento
Criar um clima favorável para a difícil tarefa de expor
Fala, às vezes, para se esconder, para dissuadir a si
seus problemas diante de uma pessoa desconhecida
mesmo e ao entrevistador
Deve usar uma linguagem a mais simples possível,
O profissional deve ter a habilidade de conduzir a
adequada ao nível social e cultural do paciente
entrevista para termos e pontos mais
Evitar o uso de jargões médicos
significativos, interrompendo o discurso do
Caso o paciente os utilize, solicitar que esclareça, com
paciente quando julgar necessário
exemplos, se possível o que está desejando informar
Fazer muitas anotações durante a entrevista
Pode transmitir ao paciente que as anotações são
mais importantes que a própria entrevista
Impedem o entrevistador de observar as
8. O QUE NÃO FAZER expressões faciais do paciente
Quebram um importante canal de comunicação
que é o contato visual
Evitar! Inibem o fluxo de ideias entre o paciente e o
médico
O ideal é tomar notas imediatamente depois da Anamnese + exame do estado mental --> permitem ao
entrevista clínico formular hipóteses diagnósticas
Posteriormente poderão ser confirmadas com a
realização de exames complementares ou
obtenção de outras informações que se fizerem
9. ETAPAS DA ENTREVISTA necessárias.

Etapas da entrevista psiquiátrica Prever um prognóstico e indicar o tratamento mais


adequado.
Ela se inicia pelo esclarecimento dos sintomas atuais que
motivaram a busca de tratamento:
Quais são, como se manifestam, seu início e seu
curso 11. DANDO PROSSEGUIMENTO
Grau de interferência na vida pessoal, profissional
e pessoal
À ENTREVISTA
Relação com eventos desencadeantes, ou outros
fatores associados (ex: interrupção de O que se deve fazer – algumas dicas
medicamento em uso, presença de estressores)
Existência de episódios semelhantes , tratamentos Iniciar a exploração por temas mais neutros
realizados e resultados obtidos. A maioria dos pacientes pode ter dificuldades de falar

História pregressa do paciente: sobre de determinados tópicos como, por exemplo, sobre
Desenvolvimento neuropsicomotor, seu histórico a sexualidade, com alguém com quem não tem maior
intimidade.
escolar e desempenho acadêmico, seus
relacionamentos interpessoais, particularmente Pode-se iniciar a abordagem deste tema, depois
com as pessoas mais significativas de sua vida que foi estabelecido um clima de confiança

como os pais e irmãos Ficar atento, reconhecendo mudanças bruscas de humor


Eventos vitais de grande impacto ao longo da vida que ocorram durante a entrevista.

- particularmente na infância (perdas, abuso) Elas podem indicar questões importantes, e


Envolvimentos afetivos, sexualidade, amizades e emocionalmente carregadas.
Se eventualmente ao relatar um fato o paciente mareja os
lazer
Aptidões, habilidades, deficiências ou limitações olhos com lágrimas (por exemplo, ao relembrar a morte
Influências culturais, sociais e familiares da mãe ocorrida a vários anos), pode empatizar com um

Formas predominantes de se relacionar com as comentário do tipo:


pessoas e que caracterizam sua personalidade - "Percebo que está evitando de chorar..." ou "Noto

traços ou padrões adaptativos ou desadaptados que relembrar este fato ainda o entristece
Historia familiar: muito...".
Da mesma forma se o paciente deixa transparecer uma
Investigar se existem outros membros da família
com problemas semelhantes ou com outros súbita irritação ao abordar um tema definido. Com tais
problemas psiquiátricos comentários o médico demonstra empatia para com o

Existe ou não algum grau de vulnerabilidade paciente e sinaliza que gostaria de compreender melhor
biológica tais reações.
Algumas questões como as que se destinam a esclarecer
sentimentos ou cognições exigem perguntas diretas tais
como: "O que sentiu naquele momento..." ou "o que lhe
10. EXAME DO ESTADO MENTAL passou pela cabeça..."
Questões fechadas (com resposta do tipo "sim" ou "não"),
podem ser utilizadas, mesmo no início da entrevista,
O exame do estado mental e o como por exemplo para avaliar a extensão dos sintomas,
estabelecimento do diagnóstico embora, como regra devam ser evitadas.
Ex: "quantos quilos de peso perdeu neste último
O exame do estado mental:
mês..."ou “está com falta de apetite..".
É um sumário transversal das alterações
observadas diretamente, relatadas pelo paciente
Como regra,no início da entrevista em geral as questões
ou informadas pelos familiares, abertas com esclarecimentos são as mais utilizadas.
Algumas alterações são obtidas mediante testes
Envolvem a aparência, conduta, e diversas áreas
do funcionamento mental:
Consciência, atenção, sensopercepção, 11. SILÊNCIO
memória, pensamento, afetividade,
julgamento, etc.
Manejo do silêncio
Geradores de ansiedade tanto no médico quanto no causa?”. Estas últimas estimulam o paciente a fechar e
paciente. encerrar sua fala.
Permitem uma reflexão sobre o que foi falado. O entrevistador deve buscar para cada paciente em
Para avaliar o grau de ansiedade que, em geral, é particular o tipo de intervenção que facilite a
proporcional ao fluxo da fala. continuidade de sua fala.
Por outro lado, o silêncio pode ser um indício de que o
paciente esteja com dificuldades de abordar algum tema
que lhe é difícil, por culpa ou medo ou simplesmente
resistência.
11. SITUAÇÕES CLÍNICAS
Pode significar ainda:
- uma quebra na comunicação com o terapeuta. O paciente deprimido
- dificuldade em confiar no terapeuta e em estabelecer um
vínculo; Particularmente se a depressão for grave, em razão da
- ressentimento por alguma atitude ou intervenção do baixa capacidade de concentração, da falta de energia,
terapeuta; prostração, informando muito pouco a seu respeito, a
- manifestação transferencial negativa. entrevista em geral é curta.
Com tais pacientes fazer perguntas específicas e diretas.
Silêncios prolongados devem ser evitados pois podem Procurar fazer intervenções com a finalidade de
determinar um aumento ainda maior do grau dificuldade, empatizar com os sentimentos de desvalia, desesperança,
e provocar mais ressentimento, caso esteja existindo. de baixa autoestima, com a visão pessimista e distorcida
Deve tentar empatizar com o paciente questionando ou de si mesmo, das pessoas e da realidade à sua volta e em
sugerindo, o que deve estar ocorrendo na comunicação, relação ao futuro.
com um comentário do tipo: "Percebo que está difícil Um dos pontos mais importantes é a avaliação do risco
falar...". de suicídio com perguntas diretas sobre ideação,
Uma outra forma de retomar o curso da entrevista é tentativas prévias, e eventuais planos para tal fim.
realizando um breve sumário do que foi falado até aquele
momento, relembrando ao paciente a questão ou o
problema sobre o qual estava falando e do qual se O paciente violento
desviou.
Se o paciente está francamente agitado, é importante que
É importante salientar que em algumas patologias (por
na sala de entrevista não existam objetos que possam ser
exemplo: esquizofrenia, depressão, transtornos mentais
removidos, ou que exista acesso direto para a porta de
orgânicos) o paciente pode apresentar-se estuporoso, ou
saída.
até mesmo, em mutismo absoluto. Nestes casos o silêncio
Em pacientes com risco de agressão, o médico deve se
pode representar um sintoma do próprio quadro
fazer acompanhar de pessoal para-médico ou de colegas,
psicopatológico que o paciente apresenta.
mantendo a porta aberta.
Evitar confrontos diretos e de reagir com raiva às
provocações ou desafios.
Também nestas condições usualmente a entrevista é
mais curta.
Silêncio Se o paciente está sob contenção mecânica, procurar
Nos primeiros encontros, o entrevistador deve evitar primeiramente fazer contato com ele, avaliando as
pausas e silêncios prolongados, que possam aumentar possibilidades de removê-la.
muito o nível de ansiedade do paciente e deixar a Caso perceba que isto ainda não é seguro, avisá-lo de que a
entrevista muito tensa e improdutiva. contenção será mantida, pois há o risco de novamente agitar-se.
Nestas circunstancias fazer a entrevista mesmo com o paciente
Alguns procedimentos podem facilitar a entrevista no contido.
momento em que o entrevistador lida com o silêncio do
paciente:
O profissional deve fazer perguntas e colocações breves
que assinalem sua presença efetiva e mostrem ao O paciente delirante
paciente que ele está atento e tranquilo para ouvi-lo.
O primeiro passo é conquistar a confiança do paciente
O entrevistador deve evitar perguntas muito
não pondo em dúvidas suas convicções por mais
direcionadas, fechadas, que possam ser respondidas com
irracionais e absurdas que possam parecer.
um sim ou um não categóricos; também deve evitar
Evitar fazer confrontações com base em argumentos
perguntas muito longas e complexas, difíceis de serem
lógicos, embora o entrevistados possa inquirir sobre as
compreendidas pelo paciente.
eventuais evidências ou fatos que poderiam fundamentá-
É sempre melhor fazer intervenções do tipo “Como foi
las.
isso?”, “Explique melhor”, “Conte um pouco mais sobre
Evitar fitá-lo diretamente nos olhos por períodos
isso”, do que questões como “Por quê?” ou “Qual a
prolongados, o que pode aumentar a desconfiança.
O paciente com queixas somáticas 13. COMPLETANDO O EXAME DO
As queixas físicas devem ser ouvidas com atenção e
avaliando-se detalhadamente suas características
ESTADO MENTAL
clínicas, as circunstâncias em que surgem e
desaparecem, a relação com estressores ou conflitos de Completando o exame do estado mental
natureza emocional, ou com ganho secundário, sempre
com a preocupação de descartar algum problema físico A maior parte do exame do estado mental é feito durante
real. a própria entrevista através da observação direta da
Pacientes com transtornos de sintomas somáticos ou atitude, comportamento, aparência, contato com o
transtorno de ansiedade de doença também podem ter examinador, atenção, consciência, pensamento,
problemas físicos reais, que devem ser cuidadosamente linguagem etc. do paciente.
descartados. Algumas funções, entretanto, poderão exigir perguntas
Uma vez realizados os exames necessários e descartada a específicas (por exemplo para avaliar sensopercepção,
existência de algum problema físico, o paciente deve ser presença de delírios, obsessões, compulsões, uso de
reassegurado, no sentido de que não é portador de álcool ou drogas, etc.) e eventualmente testes, como por
nenhum problema grave. exemplo para avaliar memória, nível intelectual, etc..
O reasseguramento que deve ser refeito sempre que Neste último caso pode-se fazer uma transição na
venha a ter novas crises, não sendo adequado afirmar que entrevista com um comentário do tipo: "Vou lhe fazer
não tem problema nenhum. algumas perguntas que podem parecer óbvias, mas que
Deve ser informado que é portador de um transtorno são importantes...". Em pacientes mais graves é
caracterizado pelo temor de doença grave, ou por importante interrogar também os familiares sobre a
perceber de forma exagerada ou distorcida, sintomas presença de tais alterações.
físicos, etc. indicando os tratamentos disponíveis para
este tipo de transtorno (p. ex. terapia cognitivo-
comportamental, além de manter uma relação estável
com um mesmo profissional em quem confia).
14. ENTREVISTA COM
FAMILIARES
12. REGRAS DE OURO ENTREVISTAS COM FAMILIARES
Em várias situações a entrevista com os familiares é
As três regras “de ouro” da entrevista em necessária e eventualmente indispensável: pacientes
saúde mental psicóticos, agitados, deficientes mentais, em mutismo
que em razão do quadro psicopatológico não têm
Pacientes organizados (mentalmente), com inteligência condições de informar adequadamente.
normal, com escolaridade boa ou razoável, fora de um Também é necessária a entrevista com familiares quando
“estado psicótico”, devem ser entrevistados de forma mais se trata de uma criança ou eventualmente um
aberta, permitindo que falem e se expressem de maneira adolescente na fase inicial da adolescência, ou uma
mais fluente e espontânea. O entrevistador fala pouco, pessoa idosa com sintomas demenciais.
fazendo algumas pontuações para que o indivíduo “conte Como regra geral o médico deve sempre entrevistar
a sua história”. primeiro o paciente, para depois informá-lo de que
ouvirá também os familiares.
Pacientes desorganizados, com nível intelectual baixo, Com pacientes psicóticos ou agitados é usual que a
em estado psicótico ou paranoide, “travados” por alto entrevista seja feita em separado. Com pacientes
nível de ansiedade, devem ser entrevistados de forma portadores de outros transtornos (por exemplo: bipolares
mais estruturada. Nesse caso, o entrevistador fala mais, não psicóticos) a entrevista pode ser assistida pelo
faz perguntas mais simples e dirigidas (perguntas fáceis paciente se ele assim o desejar.
de serem compreendidas e respondidas). Nenhuma informação obtida do paciente será repassada
aos familiares sem o seu conhecimento. A exceção desta
Nos primeiros contatos com pacientes muito tímidos, regra é a circunstância em que o médico toma
ansiosos ou paranoides, deve-se fazer primeiro perguntas conhecimento de um plano suicida ou de que o paciente
neutras (nome, onde mora, profissão, estado civil, nome apresenta perigo para si ou para terceiros.
de familiares, etc.), para apenas então, gradativamente, Se no curso de um tratamento os familiares solicitam
começar a formular perguntas “mais quentes” (às vezes, para ter uma entrevista com o médico, este deve solicitar
constrangedoras para o indivíduo), como: Qual o seu sua permissão para realizar tal entrevista.
problema?, Por que foi trazido ao hospital?, O que Se os familiares fizeram algum contato telefônico no
aconteceu para que você agredisse seus familiares?, etc. intervalo entre as entrevistas, informá-lo na primeira
oportunidade, e aos familiares de que será feita tal
comunicação.
Nas entrevistas com o paciente evitar usar informações ou se necessita de entrevistas adicionais para completar
obtidas através dos familiares. a avaliação.
Entretanto com pacientes que não cooperam de forma Se já possui os dados suficientes para um diagnóstico,
alguma, ou que mentem ou omitem dados, poderá informá-lo em termos simples e em linguagem
eventualmente o médico, com a devida permissão dos compreensível, ao próprio paciente, quando ele tem
informantes, poderá usá-las como um último recurso, condições de receber este tipo de informação, evitando o
com um comentário do tipo: “Seu familiar informou uso do jargão dos sistemas classificatórios.
que..... gostaria que me falasse sobre isso". Dependendo das circunstancias tal informação deverá
Este tipo de intervenção, sem a presença do informante, ser transmitida aos familiares (pacientes psicóticos,
poderá eventualmente acarretar ressentimentos e demenciados), e mais tarde, ao paciente se ele
dificuldades nas relações familiares, que posteriormente demonstrar alguma capacidade de insight.
poderão ser compreendidas e sanadas, caso tenha sido Deverá informar ainda sobre as alternativas terapêuticas
feita com o objetivo de auxiliar o paciente. disponíveis, custos, necessidade ou não de internação,
De qualquer forma deve-se sempre pesar a relação entre uso de medicamentos, efeitos colaterais, prognóstico,
os riscos e os benefícios. etc. reservando os minutos finais para que o paciente
possa dirimir suas dúvidas, expressar sua concordância
ou não com as medidas propostas, seu desejo de voltar
Entrevista e dados fornecidos por um para completar a avaliação ou de seguir o tratamento
proposto.
“informante”
Muitas vezes, para a avaliação adequada do indivíduo,
faz-se necessária a informação de familiares, amigos,
conhecidos e outros.
16. AVALIAÇÃO
Os dados fornecidos pelo “informante” também padecem PSICOPATOLÓGICA
de certo subjetivismo, que o entrevistador deve levar em
conta.
A mãe, o pai ou o cônjuge do paciente, por exemplo, têm A avaliação psicopatológica como um todo:
sua visão do caso, e não a visão (correta e absoluta) do anamnese, exame psíquico, exames
caso.
somáticos e exames complementares
De qualquer forma, muitas vezes, as informações
fornecidas pelos acompanhantes podem revelar dados Na entrevista inicial, realiza-se a anamnese, ou seja, o
mais confiáveis, claros e significativos. recolhimento de todos os dados necessários para um
Cabe a quem está avaliando o paciente decidir quem é o diagnóstico pluridimensional do paciente, o que inclui os
informante mais confiável, de quem vêm as informações dados sociodemográficos, a queixa ou o problema
mais seguras e úteis para a história e o trabalho clínico. principal e a história dessa queixa, os antecedentes
Essa decisão é fundamental e nem sempre é tarefa mórbidos somáticos e psíquicos pessoais, da pessoa.
simples e fácil. A anamnese contém, ainda, os hábitos e o uso de
Pacientes com quadro demencial, déficit cognitivo, em substâncias químicas, os antecedentes mórbidos
estado psicótico grave e em mutismo geralmente não familiares, a história de vida do indivíduo, englobando as
conseguem informar dados sobre sua história, sendo, várias etapas do desenvolvimento somático, neurológico,
nesses casos, fundamental a contribuição do psicológico e psicossocial, e, por fim, a avaliação das
acompanhante/informante. interações familiares e sociais do paciente.
O exame psíquico é o exame do estado mental atual,
realizado com cuidado e minúcia pelo entrevistador

15. ENCERRANDO A desde o início da entrevista até a fase final, quando são
feitas outras perguntas.
ENTREVISTA O exame físico geral e neurológico deve ser mais ou
menos detalhado a partir das hipóteses diagnósticas que
se formam com os dados da anamnese e do exame do
ENCERRANDO A ENTREVISTA estado mental do paciente.
Caso o profissional suspeite de doença física, deverá
É conveniente informá-lo do tempo disponível
examinar o indivíduo somaticamente em detalhes; caso
aproximadamente 10 ou 15 minutos antes do término da
suspeite de transtorno neurológico ou neuropsiquiátrico,
entrevista com um comentário do tipo:
o exame neurológico deverá ser completo e detalhado.
"Temos mais 10 (ou 15) minutos e eu gostaria de
reservar algum tempo para lhe transmitir a minha
impressão inicial….".
Ao final da entrevista o médico deve fazer uma síntese do Avaliação psicológica/psicodiagnóstico e
que observou, de sua impressão inicial sobre o que se avaliação neuropsicológica
trata, se são ou não necessários exames complementares
Feitas por meio de testes da personalidade, da inteligência, da mental, algo diferente do normal, no sentido de estar doente,
atenção, da memória, etc. com alteração em sua saúde.

Exames complementares (semiotécnica Esses dois aspectos são fundamentais no processo de insight
(pacientes em psicose aguda ou mania aguda quase nunca têm
armada) insight, muitas vezes nem reconhecem que têm algum
problema; já aqueles fora do estado agudo costumam ter
Exames laboratoriais (p. ex., exame bioquímico, citológico relativamente um pouco mais de insight).
e imunológico do líquido cerebrospinal, hemograma,
eletrólitos, TSH, dosagem de vitaminas B12 e D,
metabólitos, hormônios, etc.), Modo de nomear ou renomear os sintomas:
Neuroimagem (tomografia computadorizada do cérebro, Não é raro que pessoas com delírios, alucinações ou
ressonância magnética do cérebro, tomografia alterações marcantes do humor atribuam significados às
computadorizada por emissão de fóton único [SPECT], suas experiências que diferem em maior ou menor grau
etc.) e das noções da psicopatologia, mas que são formas de
Neurofisiológicos (eletrencefalograma [EEG], potenciais significar suas mais íntimas experiências. Isso é
evocados, etc.). considerado ausência de insight.
"O que tenho não é doença, transtorno mental, é
influência do demônio, de espíritos, de coisas que
Alguns pontos adicionais sobre a anamnese fizeram contra mim, etc".

em psicopatologia
Adesão a tratamentos propostos:
Na anamnese, o entrevistador se interessa tanto pelos De modo geral, mas não sempre, pessoas que têm insight
sintomas objetivos como pela vivência subjetiva do sobre sua condição psicopatológica aceitam seguir os
paciente em relação àqueles sintomas, pela cronologia tratamentos, inclusive o uso de psicofármacos.
dos fenômenos e pelos dados pessoais e familiares.
Além disso, o profissional permanece atento às reações A ausência total de insight (de admitir que tem algum problema,
do paciente ao fazer seus relatos. que suas dificuldades são na área da saúde):
Em alguns casos, o indivíduo consegue formular com Relaciona-se frequentemente com a recusa de usar
certa clareza e precisão a queixa principal, que, ao psicofármacos prescritos ou mesmo de seguir
entrevistador, parece consistente e central no sofrimento acompanhamento em serviço de saúde.
do paciente e para seu diagnóstico. Isso pode ajudar o
clínico a limitar o “campo de procura” a ser investigado.
Muitas vezes, entretanto, a pessoa não tem qualquer
queixa a fazer; ou simplesmente não tem crítica ou 18. RELATO DE CASO
insight de sua situação, de seu sofrimento. Outras vezes,
ainda recusa-se defensivamente a admitir que tenha um
Relato do caso por escrito
problema mental, comportamental, emocional ou
psicológico e que esteja sofrendo por ele. O relato do caso por escrito deve conter, de preferência,
as próprias palavras que o paciente e os informantes
usaram ao descrever os sintomas mais relevantes.
O uso de termos técnicos deve ser sóbrio e proporcional
17. INSIGHT ao grau de conhecimento que o profissional obteve do
caso.
Deve-se evitar terminologia por demais tecnicista
Crítica do paciente e insight em relação a
Além disso, o profissional deve evitar a interpretação
sintomas e transtornos precoce dos dados, seja ela psicológica, psicanalítica, seja
Crítica de que tem um problema: ela sociológica ou biológica.
É a consciência de que algo não vai bem, que pode se Uma interpretação precoce pode impedir que se
estar doente, apresentando um transtorno mental ou enxergue o paciente que está a sua frente.
uma alteração emocional patológica. O relato deve ser organizado e coerente, facilitando o
estabelecimento de hipóteses diagnósticas e o
Esse estágio pode ser dividido em dois: planejamento terapêutico adequado.
1) consciência de que tem um problema, em geral, que algo vai
mal;
2) consciência de que tal problema pode ser um transtorno

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