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Tribunal de Justiça do Estado do Pará

TJ-PA
Analista Judiciário – Área/Especialidade: Direito

Volume I

OT035-N9-A
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OBRA

Tribunal de Justiça do Estado do Pará- TJ-PA

Analista Judiciário – Área/Especialidade: Direito

Edital Nº 1 – TJ/PA, de 15 de Outubro de 2019

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Ética no Serviço Público - Profª Bruna Pinotti
Administração Pública e Poder Judiciário - Profª Silvana Guimarães
Legislação - Profº Fernando Zantedeschi
Atualidades - Profº Heitor Ferreira
Direito Administrativo - Profº Fernando Zantedeschi
Direito Constitucional - Profº Ricardo Razaboni
Direito Civil - ProfªMariela Cardoso
Direito Processual Civil - Profª Mariela Cardoso
Direito Penal - Profº Rodrigo Gonçalves
Direito Processual Penal - Profº Rodrigo Gonçalves

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Leandro Filho
Christine Liber

DIAGRAMAÇÃO
Renato Vilela
Thais Regis

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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SUMÁRIO
LÍNGUA PORTUGUESA
Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados...................................................................................................... 01
Reconhecimento de tipos e gêneros textuais......................................................................................................................................... 06
Domínio da ortografia oficial...................................................................................................................................................................... 07
Domínio dos mecanismos de coesão textual. Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição,
de conectores e de outros elementos de sequenciação textual................................................................................................. 10
Emprego de tempos e modos verbais. Domínio da estrutura morfossintática do período. Emprego das classes
de palavras........................................................................................................................................................................................................ 12
Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. Relações de subordinação entre orações e
entre termos da oração................................................................................................................................................................................ 52
Emprego dos sinais de pontuação.......................................................................................................................................................... 62
Concordância verbal e nominal................................................................................................................................................................. 66
Regência verbal e nominal.......................................................................................................................................................................... 73
Emprego do sinal indicativo de crase..................................................................................................................................................... 79
Colocação dos pronomes átonos............................................................................................................................................................ 83
Reescrita de frases e parágrafos do texto. Significação das palavras. Substituição de palavras ou de trechos de
texto. Reorganização da estrutura de orações e de períodos do texto. Reescrita de textos de diferentes gêneros
e níveis de formalidade................................................................................................................................................................................ 83

ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Ética e moral..................................................................................................................................................................................................... 01
Ética, princípios e valores............................................................................................................................................................................ 04
Ética e democracia: exercício da cidadania........................................................................................................................................... 06
Ética e função pública................................................................................................................................................................................... 09
Ética no setor público................................................................................................................................................................................... 12
Lei nº 8.429/1992 e suas alterações. Disposições gerais.................................................................................................................. 14
Atos de improbidade administrativa...................................................................................................................................................... 14
Lei nº 12.846/2013 e suas alterações..................................................................................................................................................... 25
Lei nº 16.309/2018......................................................................................................................................................................................... 27
Resolução TJPA nº 14/2016 (Código de Ética do Tribunal de Justiça do Pará)........................................................................ 30
SUMÁRIO

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO


Comportamento organizacional. Teorias da motivação. Motivação e recompensas intrínsecas e extrínsecas.
Motivação e contrato psicológico. Percepção, atitudes e diferenças individuais. Comunicação interpessoal.
Barreiras à comunicação. Comunicação formal e informal na organização. Comportamento grupal e
intergrupal. Processo de desenvolvimento de grupos. Administração de conflitos. Liderança e poder. Teorias da
liderança. Gestão de equipes. Gestão participativa. Desempenho e suporte organizacional. Desenvolvimento
organizacional. Qualidade de vida no trabalho. Clima organizacional. Cultura organizacional. Modelos de
gestão de pessoas........................................................................................................................................................................................ 01
Empreendedorismo governamental e novas lideranças no setor público. Processos participativos de gestão
pública. Conselhos de gestão, orçamento participativo, parceria entre governo e sociedade.......................................... 62
Transparência da administração pública. Controle social e cidadania. Accountability. Excelência nos serviços
públicos. Gestão por resultados na produção de serviços públicos....................................................................................... 95
Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais....................................................................................... 124
Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo). 125
O ciclo do planejamento em organizações (PDCA)......................................................................................................................... 133
Balanced Scorecard (BSC). Principais conceitos, aplicações, mapa estratégico, perspectivas, temas estratégicos,
objetivos estratégicos, relações de causa e efeito, indicadores, metas, iniciativas estratégicas....................................... 134
Referencial estratégico das organizações. Análise de ambiente interno e externo. Ferramentas de análise de
ambiente. Análise swot, análise de cenários, matriz GUT. Negócio, missão, visão de futuro, valores......................... 145
Indicadores de desempenho. Tipos de indicadores. Variáveis componentes dos indicadores....................................... 149
Estratégia Nacional do Poder Judiciário para o período de 2 de 2015 a 2020, estabelecida pela Resolução CNJ
nº 198/2014. Missão, visão e valores do Poder Judiciário. Os macrodesafios do Poder Judiciário aplicáveis a
Justiça Estadual. Metas nacionais. Definição e correlação com os macrodesafios do Poder Judiciário..................... 155
Planejamento estratégico do Poder Judiciário do Estado do Pará para o período de 2015 a 2020, revisada pela
Resolução TJPA nº 25/2018. Missão, visão, valores e macrodesafios do Tribunal de Justiça do Estado do Pará.... 170
Índice de Eficiência Judiciária do Poder Judiciário do Estado do Pará previsto na Portaria nº 2005/2019.
Definição, objetivo e indicadores............................................................................................................................................................ 174

LEGISLAÇÃO

Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. 1.1 Título I (Capítulo I, II e III), Título II (Capítulo I,
III, IV, V e VI) e Título VI (Capítulo I, II e III).......................................................................................................................................... 01
Lei nº 5.810/1994 e suas alterações (Regime Jurídico Único dos servidores públicos do Estado do Pará)............... 07
Lei nº 6.969/2007 e suas alterações (Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações)................................................................ 11

ATUALIDADES

Tópicos relevantes e atuais de diversas áreas, tais como segurança, transportes, política, economia,
sociedade, educação, saúde, cultura, tecnologia, energia, relações internacionais, desenvolvimento
sustentável e ecologia, suas inter-relações e suas vinculações históricas....................................................................... 01
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO

Estado, governo e administração pública. Conceitos.......................................................................................................... 01


Direito administrativo. Conceito. Objeto. Fontes.................................................................................................................. 02
Ato administrativo. Conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies. Extinção do ato administrativo.
Cassação, anulação, revogação e convalidação. Decadência administrativa............................................................ 04
Agentes públicos. Conceito. Espécies. Cargo, emprego e função pública. Provimento. Vacância.
Efetividade, estabilidade e vitaliciedade. Remuneração. Direitos e deveres. Responsabilidade. Processo
administrativo disciplinar. Lei nº 5.810/1994 e suas alterações (Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos Civis da Administração Direta, das Autarquias e das Fundações Públicas do Estado do Pará).
Disposições constitucionais aplicáveis...................................................................................................................................... 10
Poderes da administração pública. Hierárquico, disciplinar, regulamentar e de polícia. Uso e abuso de poder.. 16
Regime jurídico-administrativo. Conceito. Princípios expressos e implícitos da administração pública........ 20
Responsabilidade civil do Estado. Evolução histórica. Responsabilidade por ato comissivo do Estado.
Responsabilidade por omissão do Estado. Requisitos para a demonstração da responsabilidade do Estado.
Causas excludentes e atenuantes da responsabilidade do Estado. Reparação do dano. Direito de regresso... 22
Serviços públicos. Conceito. Elementos constitutivos. Formas de prestação e meios de execução.
Delegação. Concessão, permissão e autorização. Classificação. Princípios............................................................... 25
Organização administrativa. Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.
Entidades paraestatais e terceiro setor. Serviços sociais autônomos, entidades de apoio, organizações
sociais, organizações da sociedade civil de interesse público......................................................................................... 30
Controle da administração pública. Controle exercido pela administração pública. Controle judicial.
Controle legislativo. 10.4 Lei nº 8.429/1992 e suas alterações (improbidade administrativa)............................ 38
Lei nº 9.784/1999 e suas alterações (processo administrativo)....................................................................................... 43
Licitações e contratos administrativos. Lei nº 8.666/1993 e suas alterações. Lei nº 10.520/2002 e demais
disposições normativas relativas ao pregão. Decreto nº 7.892/2013 e suas alterações (sistema de registro
de preços). Lei nº 12.462/2011 e suas alterações (Regime Diferenciado de Contratações Públicas). Decreto
nº 6.170/2007 e suas alterações, Portaria Interministerial nº 424/2016 e suas alterações. Fundamentos
constitucionais.................................................................................................................................................................................... 45
Lei nº 13.019/2014 e suas alterações......................................................................................................................................... 55
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA

Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados............................................................................................................. 01


Reconhecimento de tipos e gêneros textuais............................................................................................................................................. 06
Domínio da ortografia oficial............................................................................................................................................................................. 07
Domínio dos mecanismos de coesão textual. Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição, de
conectores e de outros elementos de sequenciação textual................................................................................................................ 10
Emprego de tempos e modos verbais. Domínio da estrutura morfossintática do período. Emprego das classes de
palavras...................................................................................................................................................................................................................... 12
Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. Relações de subordinação entre orações e entre
termos da oração................................................................................................................................................................................................... 52
Emprego dos sinais de pontuação.................................................................................................................................................................. 62
Concordância verbal e nominal......................................................................................................................................................................... 66
Regência verbal e nominal................................................................................................................................................................................. 73
Emprego do sinal indicativo de crase............................................................................................................................................................ 79
Colocação dos pronomes átonos.................................................................................................................................................................... 83
Reescrita de frases e parágrafos do texto. Significação das palavras. Substituição de palavras ou de trechos de texto.
Reorganização da estrutura de orações e de períodos do texto. Reescrita de textos de diferentes gêneros e níveis de
formalidade.............................................................................................................................................................................................................. 83
Compreender significa
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
TEXTOS DE GÊNEROS VARIADOS O texto diz que...
É sugerido pelo autor que...
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
Interpretação Textual O narrador afirma...

Texto – é um conjunto de ideias organizadas e Erros de interpretação


relacionadas entre si, formando um todo significativo
capaz de produzir interação comunicativa (capacidade • Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
de codificar e decodificar). contexto, acrescentando ideias que não estão no
texto, quer por conhecimento prévio do tema quer
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. pela imaginação.
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com • Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para atenção apenas a um aspecto (esquecendo que
a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa um texto é um conjunto de ideias), o que pode
interligação dá-se o nome de contexto. O relacionamento ser insuficiente para o entendimento do tema
entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada desenvolvido.
de seu contexto original e analisada separadamente, • Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
poderá ter um significado diferente daquele inicial. contrárias às do candidato, fazendo-o tirar
conclusões equivocadas e, consequentemente,
Intertexto - comumente, os textos apresentam errar a questão.
referências diretas ou indiretas a outros autores através
de citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. Observação: Muitos pensam que existem a ótica do
escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação em uma prova de concurso, o que deve ser levado em
de um texto é a identificação de sua ideia principal. consideração é o que o autor diz e nada mais.
A partir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou
fundamentações), as argumentações (ou explicações), Coesão e Coerência
que levam ao esclarecimento das questões apresentadas
na prova. Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de
• Identificar os elementos fundamentais de uma um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um
argumentação, de um processo, de uma época pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o
(neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios, que se vai dizer e o que já foi dito.
os quais definem o tempo). São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre
• Comparar as relações de semelhança ou de eles, está o mau uso do pronome relativo e do pronome
diferenças entre as situações do texto. oblíquo átono. Este depende da regência do verbo;
• Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer
uma realidade. também de que os pronomes relativos têm, cada um,
• Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. valor semântico, por isso a necessidade de adequação
• Parafrasear = reescrever o texto com outras ao antecedente.
palavras. Os pronomes relativos são muito importantes na
interpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros
Condições básicas para interpretar de coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração
que existe um pronome relativo adequado a cada
Fazem-se necessários: conhecimento histórico- circunstância, a saber:
literário (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
leitura e prática; conhecimento gramatical, estilístico mas depende das condições da frase.
(qualidades do texto) e semântico; capacidade de qual (neutro) idem ao anterior.
observação e de síntese; capacidade de raciocínio. quem (pessoa)
cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
Interpretar/Compreender o objeto possuído.
LÍNGUA PORTUGUESA

como (modo)
Interpretar significa: onde (lugar)
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. quando (tempo)
Através do texto, infere-se que... quanto (montante)
É possível deduzir que... Exemplo:
O autor permite concluir que... Falou tudo QUANTO queria (correto)
Qual é a intenção do autor ao afirmar que... Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
aparecer o demonstrativo O).

1
Dicas para melhorar a interpretação de textos

• Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral EXERCÍCIOS COMENTADOS
do assunto. Se ele for longo, não desista! Há
muitos candidatos na disputa, portanto, quanto
mais informação você absorver com a leitura, mais 1. (PCJ-MT – DELEGADO SUBSTITUTO – CESPE – 2017)
chances terá de resolver as questões.
• Se encontrar palavras desconhecidas, não Texto CG1A1AAA
interrompa a leitura.
• Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas A valorização do direito à vida digna preserva as duas
forem necessárias. faces do homem: a do indivíduo e a do ser político; a
• Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma do ser em si e a do ser com o outro. O homem é inteiro
conclusão). em sua dimensão plural e faz-se único em sua condição
• Volte ao texto quantas vezes precisar. social. Igual em sua humanidade, o homem desiguala-
• Não permita que prevaleçam suas ideias sobre se, singulariza-se em sua individualidade. O direito é o
as do autor. instrumento da fraternização racional e rigorosa.
• Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor O direito à vida é a substância em torno da qual todos
compreensão. os direitos se conjugam, se desdobram, se somam
• Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de para que o sistema fique mais e mais próximo da ideia
cada questão. concretizável de justiça social.
• O autor defende ideias e você deve percebê-las. Mais valeria que a vida atravessasse as páginas da Lei
• Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo Maior a se traduzir em palavras que fossem apenas
geralmente mantém com outro uma relação a revelação da justiça. Quando os descaminhos não
de continuação, conclusão ou falsa oposição. conduzirem a isso, competirá ao homem transformar a
Identifique muito bem essas relações. lei na vida mais digna para que a convivência política seja
• Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja, mais fecunda e humana.
a ideia mais importante. Cármen Lúcia Antunes Rocha. Comentário ao artigo
• Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou 3.º. In: 50 anos da Declaração Universal dos Direitos
“incorreto”, evitando, assim, uma confusão na Humanos 1948-1998: conquistas e desafios. Brasília:
hora da resposta – o que vale não somente para OAB, Comissão Nacional de Direitos Humanos, 1998, p.
Interpretação de Texto, mas para todas as demais 50-1 (com adaptações).
questões!
Compreende-se do texto CG1A1AAA que o ser humano
• Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia
tem direito
principal, leia com atenção a introdução e/ou a
conclusão.
a) de agir de forma autônoma, em nome da lei da sobre-
• Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
vivência das espécies.
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos,
b) de ignorar o direito do outro se isso lhe for necessário
etc., chamados vocábulos relatores, porque
para defender seus interesses.
remetem a outros vocábulos do texto. c) de demandar ao sistema judicial a concretização de
seus direitos.
SITES d) à institucionalização do seu direito em detrimento dos
Disponível em: <http://www.tudosobreconcursos. direitos de outros.
com/materiais/portugues/como-interpretar-textos> e) a uma vida plena e adequada, direito esse que está na
Disponível em: <http://portuguesemfoco.com/pf/09- essência de todos os direitos.
dicas-para-melhorar-a-interpretacao-de-textos-em-
provas> Em “a”, de agir de forma autônoma, em nome da lei da
Disponível em: <http://www.portuguesnarede. sobrevivência das espécies = incorreta
com/2014/03/dicas-para-voce-interpretar-melhor-um. Em “b”, de ignorar o direito do outro se isso lhe for
html> necessário para defender seus interesses = incorreta
Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/ Em “c”, de demandar ao sistema judicial a concretiza-
cursinho/questoes/questao-117-portugues.htm> ção de seus direitos = incorreta
Em “d”, à institucionalização do seu direito em detri-
mento dos direitos de outros = incorreta
Em “e”, a uma vida plena e adequada, direito esse que
LÍNGUA PORTUGUESA

está na essência de todos os direitos.


O ser humano tem direito a uma vida digna, adequa-
da, para que consiga gozar de seus direitos – saúde,
educação, segurança – e exercer seus deveres plena-
mente, como prescrevem todos os direitos: (...) O di-
reito à vida é a substância em torno da qual todos os
direitos se conjugam (...).
GABARITO OFICIAL: E

2
2. (PCJ-MT - DELEGADO SUBSTITUTO – CESPE-2017) 3. (PCJ-MT – DELEGADO SUBSTITUTO – CESPE – 2017)

Texto CG1A1BBB Texto CG1A1CCC

Segundo o parágrafo único do art. 1.º da Constituição da A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade,
República Federativa do Brasil, “Todo o poder emana do o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos coração das gerações que vêm nascendo a semente da
ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Em podridão, habitua os homens a não acreditar senão na
virtude desse comando, afirma-se que o poder dos juízes estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte; promove
emana do povo e em seu nome é exercido. A forma de a desonestidade, a venalidade, a relaxação; insufla a
sua investidura é legitimada pela compatibilidade com as cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.
regras do Estado de direito e eles são, assim, autênticos De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar
agentes do poder popular, que o Estado polariza e exerce. a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto
Na Itália, isso é constantemente lembrado, porque toda ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o
sentença é dedicada (intestata) ao povo italiano, em homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a
nome do qual é pronunciada. ter vergonha de ser honesto. E, nessa destruição geral das
Cândido Rangel Dinamarco. A instrumentalidade do nossas instituições, a maior de todas as ruínas, Senhores,
processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 195 é a ruína da justiça, corroborada pela ação dos homens
(com adaptações). públicos. E, nesse esboroamento da justiça, a mais grave
de todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos
Conforme as ideias do texto CG1A1BBB, confessos, é a falta de punição quando ocorre um crime
de autoria incontroversa, mas ninguém tem coragem de
a) o Poder Judiciário brasileiro desempenha seu papel apontá-la à opinião pública, de modo que a justiça possa
com fundamento no princípio da soberania popular. exercer a sua ação saneadora e benfazeja.
b) os magistrados do Brasil deveriam ser escolhidos pelo Rui Barbosa. Obras completas de Rui Barbosa. Vol. XLI.
voto popular, como ocorre com os representantes dos 1914. Internet: <www.casaruibarbosa.gov.br> (com
demais poderes. adaptações).
c) os magistrados italianos, ao contrário dos brasileiros,
exercem o poder que lhes é conferido em nome de Infere-se do texto CG1A1CCC que
seus nacionais.
d) há incompatibilidade entre o autogoverno da magis- I - a injustiça faz que as “gerações que vêm nascendo”
tratura e o sistema democrático. sejam mais desonestas e rudes que as gerações passadas.
e) os magistrados brasileiros exercem o poder consti- II - a injustiça é considerada um empecilho à atuação
tucional que lhes é atribuído em nome do governo íntegra e idônea das gerações futuras.
federal. III - a injustiça é responsável pela degradação dos
homens, que, desanimados, ficam à mercê do destino.
Em “a”, o Poder Judiciário brasileiro desempenha seu
papel com fundamento no princípio da soberania po- Assinale a opção correta.
pular.
Em “b”, os magistrados do Brasil deveriam ser escolhi- a) Apenas o item I está certo.
dos pelo voto popular, como ocorre com os represen- b) Apenas o item II está certo.
tantes dos demais poderes = incorreta c) Apenas os itens I e III estão certos.
Em “c”, os magistrados italianos, ao contrário dos d) Apenas os itens II e III estão certos.
brasileiros, exercem o poder que lhes é conferido em e) Todos os itens estão certos.
nome de seus nacionais = incorreta
Em “d”, há incompatibilidade entre o autogoverno da
magistratura e o sistema democrático = incorreta I - a injustiça faz que as “gerações que vêm nascendo”
Em “e”, os magistrados brasileiros exercem o poder sejam mais desonestas e rudes que as gerações pas-
constitucional que lhes é atribuído em nome do go- sadas = incorreta
verno federal = incorreta II - a injustiça é considerada um empecilho à atuação
A questão deve ser respondida segundo o texto: (...) íntegra e idônea das gerações futuras.
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio III - a injustiça é responsável pela degradação dos ho-
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos mens, que, desanimados, ficam à mercê do destino =
desta Constituição.” Em virtude desse comando, afir- incorreta
LÍNGUA PORTUGUESA

ma-se que o poder dos juízes emana do povo e em Com base na leitura do texto, a única afirmação cor-
seu nome é exercido (...). reta é a de que a injustiça impede a atuação honesta,
GABARITO OFICIAL: A idônea das gerações futuras, pois (...) semeia no co-
ração das gerações que vêm nascendo a semente da
podridão (...).
GABARITO OFICIAL: B

3
4. (SERES-PE – AGENTE DE SEGURANÇA Em “e”, o medo nas metrópoles provocado pelo
PENITENCIÁRIA – CESPE – 2017) aumento da violência urbana e do desemprego =
incorreta
Texto 1A1AAA Ao texto: Após o processo de redemocratização,
com o fim da ditadura militar, em meados da década
Após o processo de redemocratização, com o fim da de 80 do século passado, era de se esperar que a
ditadura militar, em meados da década de 80 do século democratização das instituições tivesse como resultado
passado, era de se esperar que a democratização das direto a consolidação da cidadania — compreendida
instituições tivesse como resultado direto a consolidação de modo amplo, abrangendo as três categorias de
da cidadania — compreendida de modo amplo, direitos: civis, políticos e sociais. Sobressaem, porém,
abrangendo as três categorias de direitos: civis, políticos problemas que configuram mais desafios para a
e sociais. Sobressaem, porém, problemas que configuram cidadania brasileira, como a violência urbana — que
mais desafios para a cidadania brasileira, como a violência ameaça os direitos individuais — e o desemprego —
urbana — que ameaça os direitos individuais — e o que ameaça os direitos sociais (...). = problemas sociais
desemprego — que ameaça os direitos sociais.
que dificultam a consolidação da cidadania.
No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir de
GABARITO OFICIAL: C
1980, impacto do processo de modernização pelo qual o
país passou. Isso sugere que o boom do consumo colocou
5. (PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – CONHECIMENTOS
em circulação bens de alto valor e, consequentemente,
aumentou as oportunidades para o crime, inclusive BÁSICOS – CARGOS DE TÉCNICO MUNICIPAL – NÍVEL
porque a maior mobilidade de pessoas torna o espaço MÉDIO – CESPE – 2017)
social mais anônimo, menos supervisionado.
Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais Texto CB3A2AAA
dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade.
O objetivo em relação à criminalidade torna-se bem Tinha chegado o tempo da colheita, era uma manhã
menos ambicioso: o controle. A prisão ganha mais risonha, e bela, como o rosto de um infante, entretanto eu
importância na modernidade tardia, porque satisfaz uma tinha um peso enorme no coração. Sim, eu estava triste,
dupla necessidade dessa nova cultura: castigo e controle e não sabia a que atribuir minha tristeza. Era a primeira
do risco. Essa postura às vezes proporciona controle, vez que me afligia tão incompreensível pesar. Minha filha
porém não segurança, pois o Estado tem o poder limitado sorria para mim, era ela gentilzinha, e em sua inocência
de manter a ordem por meio da polícia, sendo necessário semelhava um anjo. Desgraçada de mim! Deixei-a nos
dividir as tarefas de controle com organizações locais e braços de minha mãe e fui-me à roça colher milho. Ah!
com a comunidade. Nunca mais devia eu vê-la...
Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem Ainda não tinha vencido cem braças de caminho, quando
pública e garantia dos direitos individuais: os desafios um assobio, que repercutiu nas matas, me veio orientar
da polícia em sociedades democráticas. In: Revista acerca do perigo iminente que aí me aguardava. E logo
Brasileira de Segurança Pública. São Paulo, ano 5, 8.ª ed., dois homens apareceram e me amarraram com cordas.
fev. – mar./2011, p. 84-5 (com adaptações). Era uma prisioneira — era uma escrava! Foi embalde que
supliquei, em nome de minha filha, que me restituíssem
De acordo com o texto 1A1AAA, a restauração da a liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas
democracia no Brasil evidenciou e me olhavam sem compaixão. Julguei enlouquecer,
julguei morrer, mas não me foi possível... a sorte me
a) a diminuição do controle social decorrente do aumen- reservava ainda longos caminhos.
to da mobilidade de pessoas.
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros
b) o crescimento da produção de bens de alto valor de-
de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão
corrente do aumento do poder de consumo.
de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta
c) a existência de problemas sociais que dificultam a con-
absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida
solidação da cidadania.
d) a modernidade do mercado interno e das instituições passamos nessa sepultura, até que aportamos nas praias
públicas brasileiras. brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão,
e) o medo nas metrópoles provocado pelo aumento da fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio
violência urbana e do desemprego. de revolta, acorrentados como os animais ferozes das
nossas matas, que se levam para recreio dos potentados
Em “a”, a diminuição do controle social decorrente do da Europa. Davam-nos a água imunda, podre e dada
aumento da mobilidade de pessoas = incorreta com mesquinhez; a comida má e ainda mais porca: vimos
LÍNGUA PORTUGUESA

Em “b”, o crescimento da produção de bens de alto morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar,
valor decorrente do aumento do poder de consumo de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas
= incorreta humanas tratem a seus semelhantes assim e que não
Em “c”, a existência de problemas sociais que dificultam lhes doa a consciência de levá-los à sepultura, asfixiados
a consolidação da cidadania. e famintos.
Em “d”, a modernidade do mercado interno e das Maria Firmina dos Reis. Úrsula. Florianópolis: Ed.
instituições públicas brasileiras = incorreta Mulheres, 2004, p. 116-7 (com adaptações)

4
No texto CB3A2AAA, o trecho “como o rosto de um De acordo com o texto CB3A2BBB, a condição necessária
infante” introduz uma ideia de para que os direitos humanos sejam reconhecidos e
efetivamente protegidos nos Estados é a
a) comparação.
b) contraste. a) soberania.
c) adição. b) lei.
d) compensação. c) democracia.
e) intensidade. d) cidadania.
e) paz.
(..) era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de
um infante. A conjunção estabelece uma comparação Ao texto: A paz, por sua vez, é o pressuposto
– manhã risonha e bela como (igual ao) rosto de um necessário para o reconhecimento e a efetiva proteção
infante. dos direitos humanos em cada Estado e no sistema
GABARITO OFICIAL: A internacional.
GABARITO OFICIAL: E
6. (PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – CONHECIMENTOS
BÁSICOS – CARGOS DE TÉCNICO MUNICIPAL – NÍVEL 8. (PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – CONHECIMENTOS
MÉDIO – CESPE – 2017) No texto CB3A2AAA, ao utilizar a BÁSICOS – CARGOS DE TÉCNICO MUNICIPAL –
expressão “Ah! Nunca mais devia eu vê-la...”, a narradora NÍVEL MÉDIO – CESPE – 2017) Depreende-se do texto
manifesta CB3A2BBB que o avanço do processo de democratização
a) uma surpresa. do sistema internacional depende da
b) um lamento. a) flexibilização das fronteiras dos Estados.
c) um desejo. b) eliminação de regimes autoritários.
d) uma recomendação. c) manutenção de mecanismos que preservem interesses
e) uma dúvida. ideológicos e materiais dos Estados.
d) sobreposição dos direitos humanos aos interesses
No contexto: (...) Desgraçada de mim! Deixei-a nos individuais dos Estados.
braços de minha mãe e fui-me à roça colher milho. e) existência, em todos os Estados, de condições mínimas
Ah! Nunca mais devia eu vê-la... = representa tristeza, para a solução pacífica de conflitos.
lamento.
GABARITO OFICIAL: B Em “a”, flexibilização das fronteiras dos Estados =
incorreta
7. (PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – CONHECIMENTOS Em “b”, eliminação de regimes autoritários = incorreta
BÁSICOS – CARGOS DE TÉCNICO MUNICIPAL – NÍVEL Em “c”, manutenção de mecanismos que preservem
MÉDIO – CESPE – 2017) interesses ideológicos e materiais dos Estados =
incorreta
Texto CB3A2BBB Em “d”, sobreposição dos direitos humanos aos
interesses individuais dos Estados.
O reconhecimento e a proteção dos direitos humanos Em “e”, existência, em todos os Estados, de condições
estão na base das Constituições democráticas modernas. mínimas para a solução pacífica de conflitos = incorreta
A paz, por sua vez, é o pressuposto necessário para Texto! (...) o processo de democratização do sistema
o reconhecimento e a efetiva proteção dos direitos internacional, que é o caminho obrigatório para a
humanos em cada Estado e no sistema internacional. busca do ideal da paz perpétua, não pode avançar
Ao mesmo tempo, o processo de democratização do sem uma gradativa ampliação do reconhecimento
sistema internacional, que é o caminho obrigatório para e da proteção dos direitos humanos, acima de cada
a busca do ideal da paz perpétua, não pode avançar Estado.
sem uma gradativa ampliação do reconhecimento e da As questões de Interpretação/compreensão textual,
proteção dos direitos humanos, acima de cada Estado. muitas vezes, apresentam as respostas “explícitas”,
Direitos humanos, democracia e paz são três elementos bastando à (ao) candidata(o) voltar ao texto quando
fundamentais do mesmo movimento histórico: sem precisar - ou, então, destacar as ideias principais
direitos humanos reconhecidos e protegidos, não há durante a leitura.
democracia; sem democracia, não existem as condições GABARITO OFICIAL: D
mínimas para a solução pacífica dos conflitos. Em outras
palavras, a democracia é a sociedade dos cidadãos, e os
LÍNGUA PORTUGUESA

súditos se tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos


alguns direitos fundamentais; haverá paz estável, uma
paz que não tenha a guerra como alternativa, somente
quando existirem cidadãos não mais apenas deste ou
daquele Estado, mas do mundo.
Norberto Bobbio. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 1 (com
adaptações).

5
E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar-
RECONHECIMENTO DE TIPOS E GÊNEROS cam-se pelo predomínio de operadores argumen-
tativos, revelados por uma carga ideológica cons-
TEXTUAIS
tituída de argumentos e contra-argumentos que
justificam a posição assumida acerca de um deter-
minado assunto: A mulher do mundo contemporâ-
TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL neo luta cada vez mais para conquistar seu espaço
no mercado de trabalho, o que significa que os gê-
A todo o momento nos deparamos com vários textos, neros estão em complementação, não em disputa.
sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo Gêneros Textuais
que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
interlocutores são as peças principais em um diálogo ou São os textos materializados que encontramos em
nosso cotidiano; tais textos apresentam características
em um texto escrito.
sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função,
É de fundamental importância sabermos classificar composição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos:
os textos com os quais travamos convivência no nosso receita culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema,
dia a dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos editorial, piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum,
textuais e gêneros textuais. blog, etc.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um A escolha de um determinado gênero discursivo
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa depende, em grande parte, da situação de produção,
opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum ou seja, a finalidade do texto a ser produzido, quem são
lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre os locutores e os interlocutores, o meio disponível para
alguém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente veicular o texto, etc.
nessas situações corriqueiras que classificamos os Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a
nossos textos naquela tradicional tipologia: Narração, esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por
Descrição e Dissertação. exemplo, são comuns gêneros como notícias, reportagens,
editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação
científica são comuns gêneros como verbete de dicionário
As tipologias textuais se caracterizam pelos
ou de enciclopédia, artigo ou ensaio científico, seminário,
aspectos de ordem linguística conferência.
Os tipos textuais designam uma sequência definida
pela natureza linguística de sua composição. São REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
relações logicas. Os tipos textuais são o narrativo, char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
descritivo, argumentativo/dissertativo, injuntivo e – São Paulo: Saraiva, 2010.
expositivo. CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa.
A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática –
ação demarcados no tempo do universo narrado, volume único – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
como também de advérbios, como é o caso de an-
tes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu SITE
carro quando ele apareceu. Depois de muita conver- Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
redacao/tipologia-textual.htm>
sa, resolveram...
B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
descrevem características tanto físicas quanto psi-
cológicas acerca de um determinado indivíduo ou EXERCÍCIO COMENTADO
objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados
no presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os 1. (TJ-DFT – CONHECIMENTOS BÁSICOS – TÉCNICO
cabelos mais negros como a asa da graúna...” JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – CESPE –
C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar 2015)
um assunto ou uma determinada situação que se
almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das ra- Ouro em Fios
zões de ela acontecer, como em: O cadastramento
irá se prorrogar até o dia 02 de dezembro, portan- A natureza é capaz de produzir materiais preciosos,
to, não se esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o como o ouro e o cobre - condutor de ENERGIA ELÉTRICA.
LÍNGUA PORTUGUESA

O ouro já é escasso. A energia elétrica caminha para isso.


benefício.
Enquanto cientistas e governos buscam novas fontes de
D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de energia sustentáveis, faça sua parte aqui no TJDFT:
uma modalidade na qual as ações são prescritas de - Desligue as luzes nos ambientes onde é possível usar a
forma sequencial, utilizando-se de verbos expres- iluminação natural.
sos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente: - Feche as janelas ao ligar o ar-condicionado.
Misture todos os ingrediente e bata no liquidificador - Sempre desligue os aparelhos elétricos ao sair do am-
até criar uma massa homogênea. biente.

6
- Utilize o computador no modo espera. São escritos com C ou Ç e não S e SS
Fique ligado! Evite desperdícios. • Vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.
Energia elétrica. • Vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó,
A natureza cobra o preço do desperdício. Juçara, caçula, cachaça, cacique.
Internet: <www.tjdft.jus.br> (com adaptações) • Sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça,
Há no texto elementos característicos das tipologias ex- caniço, esperança, carapuça, dentuço.
positiva e injuntiva. • Nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção /
deter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
( ) CERTO ( ) ERRADO • Após ditongos: foice, coice, traição.
• Palavras derivadas de outras terminadas em -te,
Resposta: Certo. Texto injuntivo – ou instrucional – é to(r): marte - marciano / infrator - infração /
aquele que passa instruções ao leitor. O texto acima absorto – absorção.
apresenta tal característica.
B) O fonema z

São escritos com S e não Z


DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL • Sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical
é substantivo, ou em gentílicos e títulos
nobiliárquicos: freguês, freguesa, freguesia, poetisa,
ORTOGRAFIA baronesa, princesa.
• Sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese,
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da metamorfose.
correta grafia das palavras. É ela quem ordena qual som • Formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis,
devem ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma quiseste.
• Nomes derivados de verbos com radicais terminados
língua são grafados segundo acordos ortográficos.
em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão /
A maneira mais simples, prática e objetiva de aprender
empreender - empresa / difundir – difusão.
ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras,
• Diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís -
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras
Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
é necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções
• Após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa.
e, em alguns casos, há necessidade de conhecimento de
• Verbos derivados de nomes cujo radical termina
etimologia (origem da palavra).
com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar
– pesquisar.
Regras ortográficas
São escritos com Z e não S
A) O fonema S • Sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de
adjetivo: macio - maciez / rico – riqueza / belo –
São escritas com S e não C/Ç beleza.
• Palavras substantivadas derivadas de verbos com • Sufixos “izar” (desde que o radical da palavra
radicais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender de origem não termine com s): final - finalizar /
- pretensão / expandir - expansão / ascender - concreto – concretizar.
ascensão / inverter - inversão / aspergir - aspersão / • Consoante de ligação se o radical não terminar com
submergir - submersão / divertir - diversão / impelir “s”: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal
- impulsivo / compelir - compulsório / repelir - Exceção: lápis + inho – lapisinho.
repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
sentir - sensível / consentir – consensual. C) O fonema j

São escritos com SS e não C e Ç São escritas com G e não J


• Nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem • Palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa,
em gred, ced, prim ou com verbos terminados gesso.
por tir ou -meter: agredir - agressivo / imprimir - • Estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento,
impressão / admitir - admissão / ceder - cessão / gim.
exceder - excesso / percutir - percussão / regredir • Terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com
- regressão / oprimir - opressão / comprometer -
LÍNGUA PORTUGUESA

poucas exceções): imagem, vertigem, penugem,


compromisso / submeter – submissão. bege, foge.
• Quando o prefixo termina com vogal que se junta Exceção: pajem.
com a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a +
simétrico - assimétrico / re + surgir – ressurgir. • Terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio,
• No pretérito imperfeito simples do subjuntivo. litígio, relógio, refúgio.
Exemplos: ficasse, falasse. • Verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir,
mugir.

7
• Depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, Os símbolos das unidades de medida são escritos
surgir. sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar
• Depois da letra “a”, desde que não seja radical plural, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg,
terminado com j: ágil, agente. 20km, 120km/h.
Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
São escritas com J e não G
• Palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. Na indicação de horas, minutos e segundos, não
• Palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, deve haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h,
manjerona. 22h30min, 14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três
• Palavras terminadas com aje: ultraje. minutos e trinta e quatro segundos).
O símbolo do real antecede o número sem espaço:
R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma
D) O fonema ch
barra vertical ($).
São escritas com X e não CH Alguns Usos Ortográficos Especiais
• Palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi,
xucro. POR QUE / POR QUÊ / PORQUÊ / PORQUE
• Palavras de origem inglesa e espanhola: xampu,
lagartixa. POR QUE (separado e sem acento)
• Depois de ditongo: frouxo, feixe.
• Depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval. É usado em:
Exceção: quando a palavra de origem não derive de 1. interrogações diretas (longe do ponto de
outra iniciada com ch - Cheio - (enchente) interrogação) = Por que você não veio ontem?
2. interrogações indiretas, nas quais o “que” equivale
São escritas com CH e não X a “qual razão” ou “qual motivo” = Perguntei-lhe por
que faltara à aula ontem.
 Palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, 3. equivalências a “pelo(a) qual” / “pelos(as) quais” =
chassi, mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha. Ignoro o motivo por que ele se demitiu.

E) As letras “e” e “i” POR QUÊ (separado e com acento)

Usos:
• Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem.
1. como pronome interrogativo, quando colocado no
Com “i”, só o ditongo interno cãibra. fim da frase (perto do ponto de interrogação) =
• Verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar Você faltou. Por quê?
são escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. 2. quando isolado, em uma frase interrogativa = Por
Escrevemos com “i”, os verbos com infinitivo em quê?
-air, -oer e -uir: trai, dói, possui, contribui.
PORQUE (uma só palavra, sem acento gráfico)
Há palavras que mudam de sentido quando
substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (superfície), Usos:
ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir) 1. como conjunção coordenativa explicativa (equivale
/ emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de a “pois”, “porquanto”), precedida de pausa na
estância, que anda a pé), pião (brinquedo). escrita (pode ser vírgula, ponto-e-vírgula e até
Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à ponto final) = Compre agora, porque há poucas
ortografia de uma palavra, há a possibilidade de consultar peças.
o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), 2. como conjunção subordinativa causal, substituível
elaborado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra por “pela causa”, “razão de que” = Você perdeu
de referência até mesmo para a criação de dicionários, porque se antecipou.
pois traz a grafia atualizada das palavras (sem o
PORQUÊ (uma só palavra, com acento gráfico)
significado). Na Internet, o endereço é www.academia.
org.br. Usos:
1. como substantivo, com o sentido de “causa”,
Informações importantes “razão” ou “motivo”, admitindo pluralização
LÍNGUA PORTUGUESA

(porquês). Geralmente é precedido por artigo =


Formas variantes são as que admitem grafias ou Não sei o porquê da discussão. É uma pessoa cheia
pronúncias diferentes para palavras com a mesma de porquês.
significação: aluguel/aluguer, assobiar/assoviar, catorze/
quatorze, dependurar/pendurar, flecha/frecha, germe/ ONDE / AONDE
gérmen, infarto/enfarte, louro/loiro, percentagem/
porcentagem, relampejar/relampear/relampar/ Onde = empregado com verbos que não expressam
relampadar. a ideia de movimento = Onde você está?

8
Aonde = equivale a “para onde”. É usado com verbos 5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte
que expressam movimento = Aonde você vai? Rio-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas
combinações históricas ou ocasionais: Áustria-
MAU / MAL Hungria, Angola-Brasil, etc.
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e
Mau = é um adjetivo, antônimo de “bom”. Usa-se super- quando associados com outro termo que é
como qualificação = O mau tempo passou. / Ele é um iniciado por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-
mau elemento. racional, etc.
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-
Mal = pode ser usado como diretor, ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito.
1. conjunção temporal, equivalente a “assim que”, 8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-:
“logo que”, “quando” = Mal se levantou, já saiu. pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação,
2. advérbio de modo (antônimo de “bem”) = Você foi etc.
mal na prova? 9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se,
3. substantivo, podendo estar precedido de artigo ou abraça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc.
pronome = Há males que vêm pra bem! / O mal 10. Nas formações em que o prefixo tem como
não compensa. segundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-
hepático, geo-história, neo-helênico, extra-humano,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS semi-hospitalar, super-homem.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa 11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. termina com a mesma vogal do segundo elemento:
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza micro-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-
Cochar - Português linguagens: volume 1. – 7.ª ed. Reform. observação, etc.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.] Português: novas palavras: O hífen é suprimido quando para formar outros
literatura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000. termos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
Produção de Textos & Gramática. Volume único / Samira
Yousseff, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – São Paulo: #FicaDica
Saraiva, 2002.
Ao separar palavras na translineação
SITE (mudança de linha), caso a última palavra a
Disponível em: <http://www.pciconcursos.com.br/ ser escrita seja formada por hífen, repita-o
aulas/portugues/ortografia> na próxima linha. Exemplo: escreverei anti-
inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”.
Hífen Na próxima linha escreverei: “-inflamatório”
(hífen em ambas as linhas). Devido à
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado diagramação, pode ser que a repetição do
para ligar os elementos de palavras compostas (como ex-
hífen na translineação não ocorra em meus
presidente, por exemplo) e para unir pronomes átonos
conteúdos, mas saiba que a regra é esta!
a verbos (ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente
para fazer a translineação de palavras, isto é, no fim de
uma linha, separar uma palavra em duas partes (ca-/sa;
compa-/nheiro). B) Não se emprega o hífen:
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
A) Uso do hífen que continua depois da Reforma termina em vogal e o segundo termo inicia-se em
Ortográfica: “r” ou “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas
1. Em palavras compostas por justaposição que consoantes: antirreligioso, contrarregra, infrassom,
formam uma unidade semântica, ou seja, nos termos microssistema, minissaia, microrradiografia, etc.
que se unem para formam um novo significado: 2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudoprefixo
tio-avô, porto-alegrense, luso-brasileiro, tenente- termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
coronel, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação,
arco-íris, primeiro-ministro, azul-escuro. autoestrada, autoaprendizagem, hidroelétrico,
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
abóbora-menina, erva-doce, feijão-verde. “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h”
LÍNGUA PORTUGUESA

3. Nos compostos com elementos além, aquém, inicial: desumano, inábil, desabilitar, etc.
recém e sem: além-mar, recém-nascido, sem- 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando
número, recém-casado. o segundo elemento começar com “o”: cooperação,
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas coobrigação, coordenar, coocupante, coautor,
algumas exceções continuam por já estarem coedição, coexistir, etc.
consagradas pelo uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram
mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de-colônia, noção de composição: pontapé, girassol,
queima-roupa, deus-dará. paraquedas, paraquedista, etc.

9
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”:
benfeito, benquerer, benquerido, etc. DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE COESÃO
TEXTUAL. EMPREGO DE ELEMENTOS
Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas
DE REFERENCIAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E
correspondentes átonas, aglutinam-se com o elemento
seguinte, não havendo hífen: pospor, predeterminar, REPETIÇÃO, DE CONECTORES E DE OUTROS
predeterminado, pressuposto, propor. ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL.
Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccioso,
auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
humano, super-realista, alto-mar. COESÃO E COERÊNCIA
Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante, Na construção de um texto, assim como na fala,
ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi. compreensão do que é dito, ou lido. Estes mecanismos
linguísticos que estabelecem a coesão e retomada do
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA que foi escrito - ou falado - são os referentes textuais,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa que buscam garantir a coesão textual para que haja
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. coerência, não só entre os elementos que compõem
a oração, como também entre a sequência de orações
SITE dentro do texto. Essa coesão também pode muitas vezes
Disponível em: <http://www.pciconcursos.com.br/ se dar de modo implícito, baseado em conhecimentos
aulas/portugues/ortografia> anteriores que os participantes do processo têm com o
tema.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha
imaginária - composta de termos e expressões - que
une os diversos elementos do texto e busca estabelecer
EXERCÍCIOS COMENTADOS relações de sentido entre eles. Dessa forma, com o
emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais
1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal – Cespe (repetição, substituição, associação), sejam gramaticais
– 2013 – adaptada) (emprego de pronomes, conjunções, numerais, elipses),
constroem-se frases, orações, períodos, que irão
A fim de solucionar o litígio, atos sucessivos e concatenados apresentar o contexto – decorre daí a coerência textual.
são praticados pelo escrivão. Entre eles, estão os atos Um texto incoerente é o que carece de sentido ou
de comunicação, os quais são indispensáveis para que o apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa
os sujeitos do processo tomem conhecimento dos atos incoerência é resultado do mau uso dos elementos
acontecidos no correr do procedimento e se habilitem a de coesão textual. Na organização de períodos e de
exercer os direitos que lhes cabem e a suportar os ônus parágrafos, um erro no emprego dos mecanismos
que a lei lhes impõe. gramaticais e lexicais prejudica o entendimento do texto.
Disponível em: <http://jus.com.br> (com adaptações). Construído com os elementos corretos, confere-se a ele
uma unidade formal.
No que se refere ao texto acima, julgue os itens seguintes. Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o
Não haveria prejuízo para a correção gramatical do enunciado não se constrói com um amontoado de
texto nem para seu sentido caso o trecho “A fim de palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios
solucionar o litígio” fosse substituído por Afim de dar gerais de dependência e independência sintática e
solução à demanda e o trecho “tomem conhecimento semântica, recobertos por unidades melódicas e rítmicas
dos atos acontecidos no correr do procedimento” fosse, que sedimentam estes princípios”.
por sua vez, substituído por conheçam os atos havidos no Não se deve escrever frases ou textos desconexos
transcurso do acontecimento. – é imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que
as frases estejam coesas e coerentes formando o texto.
( ) CERTO ( ) ERRADO Relembre-se de que, por coesão, entende-se ligação,
relação, nexo entre os elementos que compõem a
Resposta: Errado. “A fim” tem o sentido de “com a estrutura textual.
intenção de”; já “afim”, “semelhança, afinidade”. Se
a primeira substituição fosse feita, o trecho estaria Formas de se garantir a coesão entre os elementos
incorreto gramatical e coerentemente. Portanto, nem de uma frase ou de um texto:
LÍNGUA PORTUGUESA

há a necessidade de avaliar a segunda substituição.


• Substituição de palavras com o emprego de
sinônimos - palavras ou expressões do mesmo
campo associativo.
• Nominalização – emprego alternativo entre um
verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente
(desgastar / desgaste / desgastante).

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• Emprego adequado de tempos e modos verbais: REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Embora não gostassem de estudar, participaram da CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa.
aula. Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática –
• Emprego adequado de pronomes, conjunções, volume único – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
preposições, artigos:
SITE
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira, Disponível em: <http://www.mundovestibular.com.
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presidente br/articles/2586/1/COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/
Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as Paacutegina1.html>
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
por elas.
• Uso de hipônimos – relação que se estabelece com
base na maior especificidade do significado de um EXERCÍCIOS COMENTADOS
deles. Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel
(mais genérico).
1. (MPU – ANALISTA – ANTROPOLOGIA – CESPE-2010)
• Emprego de hiperônimos - relações de um termo
Inovar é recriar de modo a agregar valor e incrementar
de sentido mais amplo com outros de sentido mais
específico. Por exemplo, felino está numa relação a eficiência, a produtividade e a competitividade nos
de hiperonímia com gato. processos gerenciais e nos produtos e serviços das
• Substitutos universais, como os verbos vicários. organizações. Ou seja, é o fermento do crescimento
econômico e social de um país. Para isso, é preciso
Verbo vicário é aquele que substitui outro já utilizado criatividade, capacidade de inventar e coragem para
no período, evitando repetições. Geralmente é o verbo sair dos esquemas tradicionais. Inovador é o indivíduo
fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. Faço porque que procura respostas originais e pertinentes em
preciso. O “faço” foi empregado no lugar de “estudo”, situações com as quais ele se defronta. É preciso uma
evitando repetição desnecessária. atitude de abertura para as coisas novas, pois a novidade
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de é catastrófica para os mais céticos. Pode-se dizer
conectivos, como pronomes, advérbios e expressões que o caminho da inovação é um percurso de difícil
adverbiais, conjunções, elipses, entre outros. A elipse travessia para a maioria das instituições. Inovar significa
justifica-se quando, ao remeter a um enunciado anterior, transformar os pontos frágeis de um empreendimento
a palavra elidida é facilmente identificável (Exemplo.: O em uma realidade duradoura e lucrativa. A inovação
jovem recolheu-se cedo. Sabia que ia necessitar de todas estimula a comercialização de produtos ou serviços
as suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, e também permite avanços importantes para toda a
assim, estabelece a relação entre as duas orações). sociedade. Porém, a inovação é verdadeira somente
quando está fundamentada no conhecimento. A
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a capacidade de inovação depende da pesquisa, da geração
propriedade de fazer referência ao contexto situacional de conhecimento. É necessário investir em pesquisa
ou ao próprio discurso. Exercem, por excelência, essa para devolver resultados satisfatórios à sociedade. No
função de progressão textual, dada sua característica: são entanto, os resultados desse tipo de investimento não
elementos que não significam, apenas indicam, remetem são necessariamente recursos financeiros ou valores
aos componentes da situação comunicativa. econômicos, podem ser também a qualidade de vida
Já os componentes concentram em si a significação.
com justiça social.
Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito:
Luís Afonso Bermúdez. O fermento tecnológico. In:
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais
Darcy. Revista de jornalismo científico e cultural da
indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes
demonstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, Universidade de Brasília, novembro e dezembro de
bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento 2009, p. 37 (com adaptações).
da enunciação, podendo indicar simultaneidade,
anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, Subentende-se da argumentação do texto que o pronome
neste momento (presente); ultimamente, recentemente, demonstrativo, no trecho “desse tipo de investimento”,
ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em refere-se à ideia de “fermento do crescimento econômico
diante, no próximo ano, depois de (futuro).” e social de um país”.

A coerência de um texto está ligada: ( ) CERTO ( ) ERRADO


1. à sua organização como um todo, em que devem
estar assegurados o início, o meio e o fim; Resposta: Errado
LÍNGUA PORTUGUESA

2. à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um Ao trecho: (...) É necessário investir em pesquisa


texto técnico, por exemplo, tem a sua coerência para devolver resultados satisfatórios à sociedade. No
fundamentada em comprovações, apresentação entanto, os resultados desse tipo de investimento =
de estatísticas, relato de experiências; um texto investir em pesquisa / desse tipo de investimento.
informativo apresenta coerência se trabalhar com
linguagem objetiva, denotativa; textos poéticos, por
outro lado, trabalham com a linguagem figurada,
livre associação de ideias, palavras conotativas.

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2. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE-2015)
EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS.
Texto I DOMÍNIO DA ESTRUTURA
MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO EMPREGO
Na organização do poder político no Estado moderno,
DAS CLASSES DE PALAVRAS.
à luz da tradição iluminista, o direito tem por função a
preservação da liberdade humana, de maneira a coibir a
desordem do estado de natureza, que, em virtude do risco
da dominação dos mais fracos pelos mais fortes, exige ESTRUTURA DAS PALAVRAS
a existência de um poder institucional. Mas a conquista
da liberdade humana também reclama a distribuição do As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vista
poder em ramos diversos, com a disposição de meios de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividimos
que assegurem o controle recíproco entre eles para o em seus menores elementos (partes) possuidores de
advento de um cenário de equilíbrio e harmonia nas sentido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituída
sociedades estatais. A concentração do poder em um só por três elementos significativos:
órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exercício In = elemento indicador de negação
da liberdade. É que, como observou Montesquieu, “todo Explic – elemento que contém o significado básico da
homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai até palavra
onde encontra limites. Para que não se possa abusar do Ável = elemento indicador de possibilidade
poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o poder
limite o poder”. Estes elementos formadores da palavra recebem o
Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza nome de morfemas. Através da união das informações
as esferas de abrangência dos poderes políticos: “só se contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se
concebia sua união nas mãos de um só ou, então, sua entender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que
separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a forma não tem possibilidade de ser explicado, que não é possível
de sistema coerente, as consequências de conceitos tornar claro”.
diversos”. Pensador francês do século XVIII, Montesquieu Morfemas = são as menores unidades significativas
situa-se entre o racionalismo cartesiano e o empirismo que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
de origem baconiana, não abandonando o rigor das
certezas matemáticas em suas certezas morais. Porém, Classificação dos morfemas
refugindo às especulações metafísicas que, no plano da
idealidade, serviram aos filósofos do pacto social para a A) Radical, lexema ou semantema – é o elemento
explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade portador de significado. É através do radical que
civil, ele procurou ingressar no terreno dos fatos. podemos formar outras palavras comuns a um
Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do grupo de palavras da mesma família. Exemplo:
Ministério Público em função da proteção dos direitos pequeno, pequenininho, pequenez. O conjunto de
humanos. palavras que se agrupam em torno de um mesmo
Tese de doutorado. São Paulo: USP, 2010, p. 18-9. radical denomina-se família de palavras.
Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações).
B) Afixos – elementos que se juntam ao radical antes
No trecho “controle recíproco entre”, o pronome “eles” faz (os prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo:
referência a “ramos diversos”. beleza (sufixo), prever (prefixo), infiel (prefixo).

C) Desinências - Quando se conjuga o verbo amar,


( ) CERTO ( ) ERRADO
obtêm-se formas como amava, amavas, amava,
amávamos, amáveis, amavam. Estas modificações
Resposta: Certo
ocorrem à medida que o verbo vai sendo
Ao período: (...) reclama a distribuição do poder
flexionado em número (singular e plural) e pessoa
em ramos diversos, com a disposição de meios que
(primeira, segunda ou terceira). Também ocorrem
assegurem o controle recíproco entre eles para o
se modificarmos o tempo e o modo do verbo
advento de um cenário de equilíbrio e harmonia.
(amava, amara, amasse, por exemplo). Assim,
podemos concluir que existem morfemas que
indicam as flexões das palavras. Estes morfemas
sempre surgem no fim das palavras variáveis e
LÍNGUA PORTUGUESA

recebem o nome de desinências. Há desinências


nominais e desinências verbais.

C.1 Desinências nominais: indicam o gênero e o


número dos nomes. Para a indicação de gênero,
o português costuma opor as desinências -o/-a:
garoto/garota; menino/menina. Para a indicação
de número, costuma-se utilizar o morfema –s,

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que indica o plural em oposição à ausência de Por exemplo:
morfema, que indica o singular: garoto/garotos; Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro.
garota/garotas; menino/meninos; menina/meninas. Consoantes: cafezal, sonolento, friorento.
No caso dos nomes terminados em –r e –z, a
desinência de plural assume a forma -es: mar/ Formação das Palavras
mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes. Há em Português palavras primitivas, palavras
derivadas, palavras simples, palavras compostas.
C.2 Desinências verbais: em nossa língua, as A) Palavras primitivas: aquelas que, na língua
desinências verbais pertencem a dois tipos portuguesa, não provêm de outra palavra: pedra,
distintos. Há desinências que indicam o modo e flor.
o tempo (desinências modo-temporais) e outras B) Palavras derivadas: aquelas que, na língua
que indicam o número e a pessoa dos verbos portuguesa, provêm de outra palavra: pedreiro,
(desinência número-pessoais):
floricultura.
C) Palavras simples: aquelas que possuem um só
cant-á-va-mos:
radical: azeite, cavalo.
cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência
D) Palavras compostas: aquelas que possuem mais
modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do
indicativo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza de um radical: couve-flor, planalto.
a primeira pessoa do plural)
As palavras compostas podem ou não ter seus
cant-á-sse-is: elementos ligados por hífen.
cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência
modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do Processos de Formação de Palavras
subjuntivo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza Na Língua Portuguesa há muitos processos de
a segunda pessoa do plural) formação de palavras. Entre eles, os mais comuns são a
derivação, a composição, a onomatopeia, a abreviação e
D) Vogal temática o hibridismo.
Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga Derivação por Acréscimo de Afixos
o radical às desinências, é chamado de vogal É o processo pelo qual se obtêm palavras novas
temática. Sua função é ligar-se ao radical, (derivadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A
constituindo o chamado tema. É ao tema (radical + derivação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética.
vogal temática) que se acrescentam as desinências.
Tanto os verbos como os nomes apresentam vogais A) Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida
temáticas. No caso dos verbos, a vogal temática por acréscimo de prefixo.
indica as conjugações: -a (da 1.ª conjugação = In feliz / des leal
cantar), -e (da 2.ª conjugação = escrever) e –i (3.ª Prefixo radical prefixo radical
conjugação = partir).
B) Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida
D.1 Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, por acréscimo de sufixo.
quando átonas finais, como em mesa, artista,
Feliz mente / leal dade
perda, escola, base, combate. Nestes casos, não
Radical sufixo radical sufixo
poderíamos pensar que essas terminações são
desinências indicadoras de gênero, pois mesa e
C) Parassintética: a palavra nova é obtida pelo
escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão.
É a estas vogais temáticas que se liga a desinência acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo. Por
indicadora de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os parassíntese formam-se principalmente verbos.
nomes terminados em vogais tônicas (sofá, café,
cipó, caqui, por exemplo) não apresentam vogal En trist ecer
temática. Prefixo radical sufixo

D.2 Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que En tard ecer
caracterizam três grupos de verbos a que se dá o prefixo radical sufixo
nome de conjugações. Assim, os verbos cuja vogal
temática é -a pertencem à primeira conjugação; Há dois casos em que a palavra derivada é formada
sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação
LÍNGUA PORTUGUESA

aqueles cuja vogal temática é -e pertencem à


segunda conjugação e os que têm vogal temática regressiva e a derivação imprópria.
-i pertencem à terceira conjugação.
Derivação
E) Interfixos
São os elementos (vogais ou consoantes) que se • Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por
intercalam entre o radical e o sufixo, para facilitar ou redução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo,
mesmo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. na formação de substantivos derivados de verbos.

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janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca
(substantivo) – deriva de pescar (verbo) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
• Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
obtida pela mudança de categoria gramatical da CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
palavra primitiva. Não ocorre, pois, alteração na Cochar. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
forma, mas somente na classe gramatical. – São Paulo: Saraiva, 2010.
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo AMARAL, Emília... [et al.] Português: novas palavras:
“porquê” deriva da conjunção porque) literatura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000.
Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva
do verbo olhar). SITE
Disponível em: http://www.brasilescola.com/
gramatica/estrutura-e-formacao-de-palavras-i.htm
#FicaDica
CLASSES DE PALAVRAS
A derivação regressiva “mexe” na estrutura
da palavra, geralmente transforma verbos 1. ADJETIVO
em substantivos: caça = deriva de caçar,
saque = deriva de sacar É a palavra que expressa uma qualidade ou
característica do ser e se relaciona com o substantivo,
concordando com este em gênero e número.
A derivação imprópria não “mexe” com a palavra, As praias brasileiras estão poluídas.
apenas faz com que ela pertença a uma classe Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos
gramatical “imprópria” da qual ela realmente, ou melhor, (plural e feminino, pois concordam com “praias”).
costumeiramente faz parte. A alteração acontece devido
à presença de outros termos, como artigos, por exemplo: Locução adjetiva
O verde das matas! (o adjetivo “verde” passou a
funcionar como substantivo devido à presença do artigo Locução = reunião de palavras. Sempre que são
“o”) necessárias duas ou mais palavras para falar sobre a
mesma coisa, tem-se locução. Às vezes, uma preposição
Composição
+ substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a
Haverá composição quando se juntarem dois ou mais
Locução Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo).
radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de
Por exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem
composição: justaposição e aglutinação.
freio (paixão desenfreada).
A) Justaposição: ocorre quando os elementos que
formam o composto são postos lado a lado, ou
Observe outros exemplos:
seja, justapostos: para-raios, corre-corre, guarda-
roupa, segunda-feira, girassol.
B) Composição por aglutinação: ocorre quando os de águia aquilino
elementos que formam o composto aglutinam- de aluno discente
se e pelo menos um deles perde sua integridade
sonora: aguardente (água + ardente), planalto de anjo angelical
(plano + alto), pernalta (perna + alta), vinagre de ano anual
(vinho + acre).
de aranha aracnídeo
Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir de boi bovino
certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom. de cabelo capilar
Abreviação – é a redução de palavras até o limite
permitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu de cabra caprino
(pneumático), metrô (metropolitano), foto (fotografia). de campo campestre ou rural
Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras, de chuva pluvial
limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras
iniciais: p. ou pág. (para página), Sr. (para senhor). de criança pueril
Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual de dedo digital
se reduzem locuções substantivas próprias às suas
de estômago estomacal ou gástrico
LÍNGUA PORTUGUESA

letras iniciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais


(siglas impuras), que se grafam de duas formas: IBGE, de falcão falconídeo
MEC (siglas puras); DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou de farinha farináceo
Petrobras (siglas impuras).
Hibridismo: é a palavra formada com elementos de fera ferino
oriundos de línguas diferentes: automóvel (auto: grego; de ferro férreo
móvel: latim); sociologia (socio: latim; logia: grego); de fogo ígneo
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego).

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de garganta gutural Brasília brasiliense
de gelo glacial Cabo Frio cabo-friense
de guerra bélico Campinas campineiro ou campinense
de homem viril ou humano
Adjetivo Pátrio Composto
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro
de lago lacustre elemento aparece na forma reduzida e, normalmente,
erudita. Observe alguns exemplos:
de leão leonino
de lebre leporino
África afro- / Cultura afro-americana
de lua lunar ou selênico
germano- ou teuto-/Competições
de madeira lígneo Alemanha
teuto-inglesas
de mestre magistral américo- / Companhia américo-
América
de ouro áureo africana
de paixão passional belgo- / Acampamentos belgo-
Bélgica
franceses
de pâncreas pancreático
China sino- / Acordos sino-japoneses
de porco suíno ou porcino
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
dos quadris ciático
Europa euro- / Negociações euro-americanas
de rio fluvial
franco- ou galo- / Reuniões franco-
de sonho onírico França
italianas
de velho senil Grécia greco- / Filmes greco-romanos
de vento eólico Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
de vidro vítreo ou hialino Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
de virilha inguinal Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
de visão óptico ou ótico Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros
Observação: Flexão dos adjetivos
Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo
correspondente, com o mesmo significado: Vi as alunas O adjetivo varia em gênero, número e grau.
da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
Gênero dos Adjetivos
Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
Os adjetivos concordam com o substantivo a que se
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função referem (masculino e feminino). De forma semelhante
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, aos substantivos, classificam-se em:
atuando como adjunto adnominal ou como predicativo
(do sujeito ou do objeto). A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o
masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau
Adjetivo Pátrio (ou gentílico) e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. feminino somente o último elemento: o moço norte-
Observe alguns deles: americano, a moça norte-americana.
Exceção: surdo-mudo e surda-muda.
Estados e cidades brasileiras:
B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o
masculino como para o feminino: homem feliz e
LÍNGUA PORTUGUESA

Alagoas alagoano
mulher feliz.
Amapá amapaense Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável
Aracaju aracajuano ou aracajuense no feminino: conflito político-social e desavença político-
social.
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino

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Número dos Adjetivos Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de
Superioridade
A) Plural dos adjetivos simples
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de
com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos Inferioridade
substantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e
ruins, boa e boas. Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de
Caso o adjetivo seja uma palavra que também superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim.
exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, São eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/
se a palavra que estiver qualificando um elemento for, superior, grande/maior, baixo/inferior.
originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma
primitiva. Exemplo: a palavra cinza é, originalmente, um Observe que:
substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, • As formas menor e pior são comparativos de
funcionará como adjetivo. Ficará, então, invariável. Logo: superioridade, pois equivalem a mais pequeno e
camisas cinza, ternos cinza. mais mau, respectivamente.
Motos vinho (mas: motos verdes) • Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
Paredes musgo (mas: paredes brancas). (melhor, pior, maior e menor), porém, em
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). comparações feitas entre duas qualidades de um
mesmo elemento, deve-se usar as formas analíticas
B) Adjetivo Composto mais bom, mais mau,mais grande e mais pequeno.
É aquele formado por dois ou mais elementos. Por exemplo:
Normalmente, esses elementos são ligados por hífen. Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois
Apenas o último elemento concorda com o substantivo elementos.
a que se refere; os demais ficam na forma masculina, Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
singular. Caso um dos elementos que formam o adjetivo duas qualidades de um mesmo elemento.
composto seja um substantivo adjetivado, todo o adjetivo Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de
composto ficará invariável. Por exemplo: a palavra “rosa” Inferioridade
é, originalmente, um substantivo, porém, se estiver Sou menos passivo (do) que tolerante.
qualificando um elemento, funcionará como adjetivo.
Caso se ligue a outra palavra por hífen, formará um
B) Superlativo
adjetivo composto; como é um substantivo adjetivado, o
O superlativo expressa qualidades num grau muito
adjetivo composto inteiro ficará invariável. Veja:
elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou
Camisas rosa-claro.
relativo e apresenta as seguintes modalidades:
Ternos rosa-claro.
Olhos verde-claros.
B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. qualidade de um ser é intensificada, sem relação com
outros seres. Apresenta-se nas formas:
Observação: • Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer palavras que dão ideia de intensidade (advérbios).
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
invariáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, • Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por
vestidos cor-de-rosa. exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois
elementos flexionados: crianças surdas-mudas. Observe alguns superlativos sintéticos:

Grau do Adjetivo benéfico beneficentíssimo


bom boníssimo ou ótimo
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a
intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do comum comuníssimo
adjetivo: o comparativo e o superlativo. cruel crudelíssimo
difícil dificílimo
A) Comparativo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica doce dulcíssimo
atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais fácil facílimo
LÍNGUA PORTUGUESA

características atribuídas ao mesmo ser. O comparativo


fiel fidelíssimo
pode ser de igualdade, de superioridade ou de
inferioridade.
B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade de um ser é intensificada em relação a um conjunto de
No comparativo de igualdade, o segundo termo da seres. Essa relação pode ser:
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto • De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
ou quão. todas.

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• De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de A) Grau Comparativo
todas. Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo
modo que o comparativo do adjetivo:
O superlativo absoluto analítico é expresso por meio • de igualdade: tão + advérbio + quanto (como):
dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, Renato fala tão alto quanto João.
antepostos ao adjetivo. • de inferioridade: menos + advérbio + que (do
O superlativo absoluto sintético se apresenta sob duas que): Renato fala menos alto do que João.
formas: uma erudita - de origem latina – e outra popular • de superioridade:
- de origem vernácula. A forma erudita é constituída pelo
radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, -imo A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo; a popular é fala mais alto do que João.
constituída do radical do adjetivo português + o sufixo A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato
-íssimo: pobríssimo, agilíssimo. fala melhor que João.
Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os B) Grau Superlativo
terminados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, O superlativo pode ser analítico ou sintético:
cheio – cheíssimo. B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio:
Renato fala muito alto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza de modo
Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala
– São Paulo: Saraiva, 2010. altíssimo.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Observação:
Português: novas palavras: literatura, gramática, As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são
redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. comuns na língua popular.
Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
A criança levantou cedinho. (muito cedo)
SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
Classificação dos Advérbios
secoes/morf/morf32.php>
De acordo com a circunstância que exprime, o
2. ADVÉRBIO
advérbio pode ser de:
A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá,
Compare estes exemplos:
atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto,
O ônibus chegou.
aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte,
O ônibus chegou ontem. nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures, aquém,
embaixo, externamente, a distância, à distância de,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda,
sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de ao lado, em volta.
tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
do próprio advérbio. amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei antes, doravante, nunca, então, ora, jamais,
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio agora, sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve,
(bem) constantemente, entrementes, imediatamente,
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um primeiramente, provisoriamente, sucessivamente,
adjetivo (claros) às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de
vez em quando, de quando em quando, a qualquer
Quando modifica um verbo, o advérbio pode momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em
acrescentar ideia de: dia.
Tempo: Ela chegou tarde. C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior,
Lugar: Ele mora aqui. depressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às
Modo: Eles agiram mal. claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos
Negação: Ela não saiu de casa. poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em
Dúvida: Talvez ele volte.
LÍNGUA PORTUGUESA

geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em


vão e a maior parte dos que terminam em “-mente”:
Flexão do Advérbio calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente,
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não escandalosamente, bondosamente, generosamente.
apresentam variação em gênero e número. Alguns D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto,
advérbios, porém, admitem a variação em grau. Observe: efetivamente, certo, decididamente, deveras,
indubitavelmente.

17
E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, Interrogação Direta Interrogação Indireta
de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, Como aprendeu? Perguntei como aprendeu
provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por Onde mora? Indaguei onde morava
certo, quem sabe.
Por que choras? Não sei por que choras
G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em
excesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto, Aonde vai? Perguntei aonde ia
quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo, Donde vens? Pergunto donde vens
nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,
Quando voltas? Pergunto quando voltas
extremamente, intensamente, grandemente, bem
(quando aplicado a propriedades graduáveis).
Locução Adverbial
H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão,
somente, simplesmente, só, unicamente. Por
exemplo: Brando, o vento apenas move a copa das Quando há duas ou mais palavras que exercem
árvores. função de advérbio, temos a locução adverbial, que
I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, pode expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam
também. Por exemplo: O indivíduo também ordinariamente por uma preposição. Veja:
amadurece durante a adolescência. A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto,
J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por para dentro, por aqui, etc.
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
aos meus amigos por comparecerem à festa. C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão,
em geral, frente a frente, etc.
Saiba que: D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se hoje em dia, nunca mais, etc.
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei
o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo,
tarde possível. o adjetivo e outro advérbio:
Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, Chegou muito cedo. (advérbio)
em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu Joana é muito bela. (adjetivo)
calma e respeitosamente. De repente correram para a rua. (verbo)

Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Há palavras como muito, bastante, que podem Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
aparecer como advérbio e como pronome indefinido. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
advérbio: Cheguei primeiro.
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo
e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
Quanto a sua função sintática: o advérbio e a
locução adverbial desempenham na oração a função
de adjunto adverbial, classificando-se de acordo com as
#FicaDica circunstâncias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou
ao advérbio. Exemplo:
Como saber se a palavra bastante é
advérbio (não varia, não se flexiona) ou Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto
pronome indefinido (varia, sofre flexão)? Se adverbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
der, na frase, para substituir o “bastante” por Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de
“muito”, estamos diante de um advérbio; se intensidade e de tempo, respectivamente.
der para substituir por “muitos” (ou muitas),
é um pronome. Veja: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
2. Estudei bastantes capítulos para o concurso. – São Paulo: Saraiva, 2010.
(estudei muitos capítulos) = pronome AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
LÍNGUA PORTUGUESA

indefinido literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Advérbios Interrogativos
SITE
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes secoes/morf/morf75.php>
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja:

18
3. ARTIGO Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria
sairá agora?
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo- Exceção: O senhor vai à festa?
se como o termo variável que serve para individualizar ou
generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero Após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
(masculino/feminino) e o número (singular/plural). Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as candidato cuja nota foi a mais alta.
variações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns]). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
A) Artigos definidos – São usados para indicar seres Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
determinados, expressos de forma individual: O – São Paulo: Saraiva, 2010.
concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
muito. literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
de modo vago, impreciso: Uma candidata foi Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
aprovada! Umas candidatas foram aprovadas! CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
Cochar - Português linguagens: volume 1– 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
SITE
Considera-se obrigatório o uso do artigo depois Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
do numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal gramatica/artigo.htm>
conteúdo.
Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos) 4. CONJUNÇÃO
admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
Janeiro, Veneza, A Bahia... Além da preposição, há outra palavra também
Quando indicado no singular, o artigo definido pode invariável que, na frase, é usada como elemento de
indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem. ligação: a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou
No caso de nomes próprios personativos, denotando duas palavras de mesma função em uma oração:
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O São Paulo.
Pedro é o xodó da família. A prova não será fácil, por isso estou estudando muito.
No caso de os nomes próprios personativos estarem
no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias, Morfossintaxe da Conjunção
os Incas, Os Astecas...
As conjunções, a exemplo das preposições, não
Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) exercem propriamente uma função sintática: são
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do conectivos.
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) Classificação da Conjunção
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados.
(qualquer classe) De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
facultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma isolamento, no entanto, não acarreta perda da unidade
ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve de sentido que cada um dos elementos possui. Já no
ter é uns vinte anos. segundo caso, cada um dos elementos ligados pela
O artigo também é usado para substantivar palavras conjunção depende da existência do outro. Veja:
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
porquê de tudo isso. / O bem vence o mal. Podemos separá-las por ponto:
Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
Há casos em que o artigo definido não pode ser
LÍNGUA PORTUGUESA

usado: Temos acima um exemplo de conjunção (e,


consequentemente, orações coordenadas) coordenativa
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas – “mas”. Já em:
conhecidas: O professor visitará Roma. Espero que eu seja aprovada no concurso!
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a
presença do artigo será obrigatória: O professor visitará Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
a bela Roma. a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período

19
temos uma oração subordinada substantiva objetiva Quero que você volte. (Quero sua volta)
direta (ela exerce a função de objeto direto do verbo da
oração principal). Adverbiais - Indicam que a oração subordinada
exerce a função de adjunto adverbial da principal. De
Conjunções Coordenativas acordo com a circunstância que expressam, classificam-
se em:
São aquelas que ligam orações de sentido completo
e independente ou termos da oração que têm a mesma A) Causais: introduzem uma oração que é causa da
função gramatical. Subdividem-se em: ocorrência da oração principal. São elas: porque,
que, como (= porque, no início da frase), pois que,
A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e que, etc.
não), não só... mas também, não só... como também, Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
bem como, não só... mas ainda.
A sua pesquisa é clara e objetiva. B) Concessivas: introduzem uma oração que expressa
Não só dança, mas também canta. ideia contrária à da principal, sem, no entanto,
impedir sua realização. São elas: embora, ainda
B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por
expressando ideia de contraste ou compensação. mais que, posto que, conquanto, etc.
São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
no entanto, não obstante.
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui. C) Condicionais: introduzem uma oração que indica
a hipótese ou a condição para ocorrência da
C) Alternativas: ligam orações ou palavras, principal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se,
expressando ideia de alternância ou escolha, a não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc.
indicando fatos que se realizam separadamente. Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
São elas: ou, ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer,
seja... seja, talvez... talvez.
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
#FicaDica
D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
que expressa ideia de conclusão ou consequência. Você deve ter percebido que a conjunção
São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por condicional “se” também é conjunção
conseguinte, por isso, assim. integrante. A diferença é clara ao ler as
Marta estava bem preparada para o teste, portanto orações que são introduzidas por ela. Acima,
não ficou nervosa. ela nos dá a ideia da condição para que
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão. recebamos um telefonema (se for preciso
ajuda). Já na oração: Não sei se farei o
E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração concurso. = Não há ideia de condição
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São alguma, há? Outra coisa: o verbo da oração
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. principal (sei) pede complemento (objeto
Não demore, que o filme já vai começar. direto, já que “quem não sabe, não sabe
Falei muito, pois não gosto do silêncio! algo”). Portanto, a oração em destaque
exerce a função de objeto direto da oração
Conjunções Subordinativas principal, sendo classificada como oração
subordinada substantiva objetiva direta.
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma
delas dependente da outra. A oração dependente,
introduzida pelas conjunções subordinativas, recebe o D) Conformativas: introduzem uma oração que
nome de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já exprime a conformidade de um fato com outro.
tinha começado quando ela chegou. São elas: conforme, como (= conforme), segundo,
O baile já tinha começado: oração principal consoante, etc.
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal) O passeio ocorreu como havíamos planejado.
ela chegou: oração subordinada
E) Finais: introduzem uma oração que expressa
a finalidade ou o objetivo com que se realiza a
LÍNGUA PORTUGUESA

As conjunções subordinativas subdividem-se em


integrantes e adverbiais: oração principal. São elas: para que, a fim de que,
que, porque (= para que), que, etc.
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por Toque o sinal para que todos entrem no salão.
elas introduzida completa ou integra o sentido da prin-
cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos, F) Proporcionais: introduzem uma oração que
ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas: expressa um fato relacionado proporcionalmente
que, se. à ocorrência do expresso na principal. São elas: à

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medida que, à proporção que, ao passo que e as de maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas
combinações quanto mais... (mais), quanto menos... sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma
(menos), quanto menos... (mais), quanto menos... decorrente de uma situação particular, um momento ou
(menos), etc. um contexto específico. Exemplos:
O preço fica mais caro à medida que os produtos Ah, como eu queria voltar a ser criança!
escasseiam. ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
Observação: hum: expressão de um pensamento súbito =
São incorretas as locuções proporcionais à medida interjeição
em que, na medida que e na medida em que.
O significado das interjeições está vinculado à maneira
G) Temporais: introduzem uma oração que como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o
acrescenta uma circunstância de tempo ao fato sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto
expresso na oração principal. São elas: quando, em que for utilizada. Exemplos:
enquanto, antes que, depois que, logo que, todas as
vezes que, desde que, sempre que, assim que, agora Psiu!
que, mal (= assim que), etc. contexto: alguém pronunciando esta expressão
A briga começou assim que saímos da festa. na rua ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te
chamando! Ei, espere!”
H) Comparativas: introduzem uma oração que
expressa ideia de comparação com referência à Psiu!
oração principal. São elas: como, assim como, tal contexto: alguém pronunciando em um hospital;
como, como se, (tão)... como, tanto como, tanto significado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça
quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, silêncio!”
que (combinado com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem. Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
puxa: interjeição; tom da fala: euforia
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa
a consequência da principal. São elas: de sorte que, Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
de modo que, sem que (= que não), de forma que, de puxa: interjeição; tom da fala: decepção
jeito que, que (tendo como antecedente na oração
principal uma palavra como tal, tão, cada, tanto, As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
tamanho), etc. A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do alegria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito
exame. interessante!
B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da
minha frente.
FIQUE ATENTO!
Muitas conjunções não têm classificação As interjeições podem ser formadas por:
única, imutável, devendo, portanto, ser • simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
classificadas de acordo com o sentido que • palavras: Oba! Olá! Claro!
apresentam no contexto (destaque da Zê!). • grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu
Deus! Ora bolas!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Classificação das Interjeições


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Comumente, as interjeições expressam sentido de:
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. Atenção! Olha! Alerta!
– São Paulo: Saraiva, 2010. B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
SITE Ânimo! Adiante!
LÍNGUA PORTUGUESA

Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!


secoes/morf/morf84.php> G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih!
5. INTERJEIÇÃO Francamente! Essa não! Chega! Basta!
I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá!
Interjeição é a palavra invariável que exprime Queira Deus!
emoções, sensações, estados de espírito. É um recurso da J) Desculpa: Perdão!
linguagem afetiva, em que não há uma ideia organizada K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!

21
L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! 6. NUMERAL
M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! Numeral é a palavra variável que indica quantidade
N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de
Puxa! Pô! Ora! pessoas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa
O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade! determinada sequência.
P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Os numerais traduzem, em palavras, o que os números
Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, indicam em relação aos seres. Assim, quando a expressão
Deus! é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se trata de
Q) Silêncio: Psiu! Silêncio! numerais, mas sim de algarismos.
R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa! Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem
a ideia expressa pelos números, existem mais algumas
Saiba que: palavras consideradas numerais porque denotam
As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não quantidade, proporção ou ordenação. São alguns
sofrem variação em gênero, número e grau como os exemplos: década, dúzia, par, ambos(as), novena.
nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto
e voz como os verbos. No entanto, em uso específico, Classificação dos Numerais
algumas interjeições sofrem variação em grau. Não se
trata de um processo natural desta classe de palavra, mas A) Cardinais: indicam quantidade exata ou
tão só uma variação que a linguagem afetiva permite. determinada de seres: um, dois, cem mil, etc.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho. Alguns cardinais têm sentido coletivo, como por
exemplo: século, par, dúzia, década, bimestre.
Locução Interjetiva B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém
ou alguma coisa ocupa numa determinada
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma sequência: primeiro, segundo, centésimo, etc.
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus! As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
Toda frase mais ou menos breve dita em tom final e penúltimo também indicam posição dos seres,
exclamativo torna-se uma locução interjetiva, mas são classificadas como adjetivos, não ordinais.
dispensando análise dos termos que a compõem:
Macacos me mordam!, Valha-me Deus!, Quem me dera! C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade,
1. As interjeições são como frases resumidas, ou seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois
sintéticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava quintos, etc.
por essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe) D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição dos seres, indicando quantas vezes a quantidade
é o seu tom exclamativo; por isso, palavras de foi aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
outras classes gramaticais podem aparecer como
interjeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Flexão dos numerais
Fora! Francamente! (Advérbios)
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra- Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
frase” porque sozinha pode constituir uma uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/
mensagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! duzentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/
Silêncio! Fique quieto! quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão,
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou variam em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais
imitativas, que exprimem ruídos e vozes. Por cardinais são invariáveis.
exemplo: Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba!
Tique-taque! Quá-quá-quá!, etc. Os numerais ordinais variam em gênero e número:
5. Não se deve confundir a interjeição de apelo
«ó» com a sua homônima «oh!», que exprime
primeiro segundo milésimo
admiração, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa
depois do «oh!» exclamativo e não a fazemos primeira segunda milésima
depois do «ó» vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! primeiros segundos milésimos
ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
primeiras segundas milésimas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do
LÍNGUA PORTUGUESA

CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa esforço e conseguiram o triplo de produção.
- Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
– volume único – 3.ª Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
triplas do medicamento.
SITE Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
secoes/morf/morf89.php> duas terças partes.

22
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como:
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda divisão de futebol)

Emprego e Leitura dos Numerais

Os numerais são escritos em conjunto de três algarismos, contados da direita para a esquerda, em forma de
centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma separação através de ponto ou espaço correspondente a um
ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.
Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos
e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos
reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)

#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por associação. Ficará mais fácil!

Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua
utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.

Quadro de alguns numerais


LÍNGUA PORTUGUESA

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


Um Primeiro -
Dois Segundo Dobro, Duplo Meio
Três Terceiro Triplo, Tríplice Terço
Quatro Quarto Quádruplo Quarto

23
Cinco Quinto Quíntuplo Quinto
Seis Sexto Sêxtuplo Sexto
Sete Sétimo Sétuplo Sétimo
Oito Oitavo Óctuplo Oitavo
Nove Nono Nônuplo Nono
Dez Décimo Décuplo Décimo
Onze Décimo Primeiro - Onze Avos
Doze Décimo Segundo - Doze Avos
Treze Décimo Terceiro - Treze Avos
Catorze Décimo Quarto - Catorze Avos
Quinze Décimo Quinto - Quinze Avos
Dezesseis Décimo Sexto - Dezesseis Avos
Dezessete Décimo Sétimo - Dezessete Avos
Dezoito Décimo Oitavo - Dezoito Avos
Dezenove Décimo Nono - Dezenove Avos
Vinte Vigésimo - Vinte Avos
Trinta Trigésimo - Trinta Avos
Quarenta Quadragésimo - Quarenta Avos
Cinqüenta Quinquagésimo - Cinquenta Avos
Sessenta Sexagésimo - Sessenta Avos
Setenta Septuagésimo - Setenta Avos
Oitenta Octogésimo - Oitenta Avos
Noventa Nonagésimo - Noventa Avos
Cem Centésimo Cêntuplo Centésimo
Duzentos Ducentésimo - Ducentésimo
Trezentos Trecentésimo - Trecentésimo
Quatrocentos Quadringentésimo - Quadringentésimo
Quinhentos Quingentésimo - Quingentésimo
Seiscentos Sexcentésimo - Sexcentésimo
Setecentos Septingentésimo Septingentésimo
Oitocentos Octingentésimo Octingentésimo
Nongentésimo ou
Novecentos Nongentésimo
Noningentésimo
Mil Milésimo Milésimo
Milhão Milionésimo Milionésimo
Milhão Bilionésimo Bilionésimo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
LÍNGUA PORTUGUESA

SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php>

24
7. PREPOSIÇÃO Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a
Preposição é uma palavra invariável que serve para apostila. = Nós a trouxemos.
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece,
normalmente há uma subordinação do segundo termo Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas
em relação ao primeiro. As preposições são muito por meio das preposições:
importantes na estrutura da língua, pois estabelecem
a coesão textual e possuem valores semânticos Destino = Irei a Salvador.
indispensáveis para a compreensão do texto. Modo = Saiu aos prantos.
Lugar = Sempre a seu lado.
Tipos de Preposição Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
A) Preposições essenciais: palavras que atuam Causa = Chorei de saudade.
exclusivamente como preposições: a, ante, perante, Fim ou finalidade = Vim para ficar.
após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, Instrumento = Escreveu a lápis.
por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para Posse = Vi as roupas da mamãe.
com. Autoria = livro de Machado de Assis
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes Companhia = Estarei com ele amanhã.
gramaticais que podem atuar como preposições, Matéria = copo de cristal.
ou seja, formadas por uma derivação imprópria: Meio = passeio de barco.
como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, Origem = Nós somos do Nordeste.
segundo, senão, visto. Conteúdo = frascos de perfume.
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
valendo como uma preposição, sendo que a última Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
palavra é uma (preposição): abaixo de, acerca de,
acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas
em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, locuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução
graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por prepositiva por trás de.
cima de, por trás de.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
gênero ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por +
Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
a = pela.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
Essa concordância não é característica da preposição,
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
mas das palavras às quais ela se une.
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
Esse processo de junção de uma preposição com
outra palavra pode se dar a partir dos processos de: SITE
 • Combinação: união da preposição “a” com o Disponível em: <http://www.infoescola.com/
artigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. portugues/preposicao/>
Os vocábulos não sofrem alteração.
 • Contração: união de uma preposição com 8. PRONOME
outra palavra, ocorrendo perda ou transformação de
fonema: de + o = do, em + a = na, per + os = pelos, de + Pronome é a palavra variável que substitui ou
aquele = daquele, em + isso = nisso. acompanha um substantivo (nome), qualificando-o de
 • Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” alguma forma.
preposição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª O homem julga que é superior à natureza, por isso o
vogal do pronome “aquilo”). homem destrói a natureza...
Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é
O “a” pode funcionar como preposição, pronome superior à natureza, por isso ele a destrói...
pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a” Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de
seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo termos (homem e natureza).
para determiná-lo como um substantivo singular e
feminino: A matéria que estudei é fácil!
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Grande parte dos pronomes não possuem significados


fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação
Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar
termos e estabelece relação de subordinação entre eles. a referência exata daquilo que está sendo colocado
Irei à festa sozinha. por meio dos pronomes no ato da comunicação. Com
Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é exceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os
artigo; o segundo, preposição. demais pronomes têm por função principal apontar para
as pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando-

25
lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem
dessa característica, os pronomes apresentam uma forma ser evitadas na língua formal escrita ou falada. Na
específica para cada pessoa do discurso. língua formal, devem ser usados os pronomes oblíquos
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”,
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] “Trouxeram-me até aqui”.
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se Frequentemente observamos a omissão do pronome
fala] reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. formas verbais marcam, através de suas desinências, as
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
se fala] boa viagem. (Nós)

Em termos morfológicos, os pronomes são palavras B) Pronome Oblíquo


variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
número (singular ou plural). Assim, espera-se que a sentença, exerce a função de complemento verbal
referência através do pronome seja coerente em termos (objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores.
de gênero e número (fenômeno da concordância) com (objeto indireto)
o seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente
no enunciado. Observação:
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da O pronome oblíquo é uma forma variante do
nossa escola neste ano. pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância a função diversa que eles desempenham na oração:
adequada] pronome reto marca o sujeito da oração; pronome
[neste: pronome que determina “ano” = concordância oblíquo marca o complemento da oração. Os pronomes
adequada] oblíquos sofrem variação de acordo com a acentuação
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.
concordância inadequada]
B.1 Pronome Oblíquo Átono
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, São chamados átonos os pronomes oblíquos que
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. não são precedidos de preposição. Possuem acentuação
tônica fraca: Ele me deu um presente.
Pronomes Pessoais Lista dos pronomes oblíquos átonos
1.ª pessoa do singular (eu): me
São aqueles que substituem os substantivos, 2.ª pessoa do singular (tu): te
indicando diretamente as pessoas do discurso. Quem fala 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ou escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os 1.ª pessoa do plural (nós): nos
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a 2.ª pessoa do plural (vós): vos
quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala.
Os pronomes pessoais variam de acordo com as
funções que exercem nas orações, podendo ser do caso FIQUE ATENTO!
reto ou do caso oblíquo. Os pronomes o, os, a, as assumem formas
especiais depois de certas terminações
A) Pronome Reto verbais:
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na
sentença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos 1. Quando o verbo termina em -z, -s ou
flores. -r, o pronome assume a forma lo, los, la
Os pronomes retos apresentam flexão de número, ou las, ao mesmo tempo que a terminação
gênero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa verbal é suprimida. Por exemplo:
última a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do fiz + o = fi-lo
discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é fazeis + o = fazei-lo
assim configurado: dizer + a = dizê-la
1.ª pessoa do singular: eu
2.ª pessoa do singular: tu 2. Quando o verbo termina em som nasal,
3.ª pessoa do singular: ele, ela o pronome assume as formas no, nos, na,
LÍNGUA PORTUGUESA

1.ª pessoa do plural: nós nas. Por exemplo:


2.ª pessoa do plural: vós viram + o: viram-no
3.ª pessoa do plural: eles, elas repõe + os = repõe-nos
retém + a: retém-na
Esses pronomes não costumam ser usados como tem + as = tem-nas
complementos verbais na língua-padrão. Frases como
“Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu

26
B.2 Pronome Oblíquo Tônico B.3 Pronome Reflexivo
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre São pronomes pessoais oblíquos que, embora
precedidos por preposições, em geral as preposições a, funcionem como objetos direto ou indireto, referem-
para, de e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos se ao sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e
exercem a função de objeto indireto da oração. Possuem recebe a ação expressa pelo verbo.
acentuação tônica forte.
Lista dos pronomes oblíquos tônicos: Lista dos pronomes reflexivos:
1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me
2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo lembro disso.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo =
2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Guilherme já se preparou.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas Ela deu a si um presente.
Antônio conversou consigo mesmo.
Observe que as únicas formas próprias do pronome
tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa 1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.
(ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do 2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
caso reto. com esta conquista.
As preposições essenciais introduzem sempre 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se
pronomes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome conheceram. / Elas deram a si um dia de folga.
do caso reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o
uso da língua formal, os pronomes costumam ser usados
desta forma:
Não há mais nada entre mim e ti. #FicaDica
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
O pronome é reflexivo quando se refere
Não há nenhuma acusação contra mim.
à mesma pessoa do pronome subjetivo
Não vá sem mim.
(sujeito): Eu me arrumei e saí.
É pronome recíproco quando indica
Há construções em que a preposição, apesar de
reciprocidade de ação: Nós nos amamos. /
surgir anteposta a um pronome, serve para introduzir
Olhamo-nos calados.
uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos,
O “se” pode ser usado como palavra
o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um
expletiva ou partícula de realce, sem ser
pronome, deverá ser do caso reto.
rigorosamente necessária e sem função
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
sintática: Os exploradores riam-se de suas
Não vá sem eu mandar.
tentativas. / Será que eles se foram?
A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil C) Pronomes de Tratamento
para mim! São pronomes utilizados no tratamento formal,
cerimonioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor
A combinação da preposição “com” e alguns (portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na
pronomes originou as formas especiais comigo, contigo, terceira pessoa. Alguns exemplos:
consigo, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
tônicos frequentemente exercem a função de adjunto Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
adverbial de companhia: Ele carregava o documento Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e
consigo. religiosos em geral
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas: à de coronel, senadores, deputados, embaixadores,
Ela veio até mim, mas nada falou. professores de curso superior, ministros de Estado e de
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de Tribunais, governadores, secretários de Estado, presidente
inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na da República (sempre por extenso)
prova, até eu! (= inclusive eu) Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de
universidades
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
LÍNGUA PORTUGUESA

As formas “conosco” e “convosco” são substituídas


por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários
próprios, todos, ambos ou algum numeral. de igual categoria
Você terá de viajar com nós todos. Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes
Estávamos com vós outros quando chegaram as más de direito
notícias. Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento
Ele disse que iria com nós três. cerimonioso

27
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus Pronomes Possessivos

Também são pronomes de tratamento o senhor, São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
a senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
são empregados no tratamento cerimonioso; “você” (coisa possuída).
e “vocês”, no tratamento familiar. Você e vocês são Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do
largamente empregados no português do Brasil; em singular)
algumas regiões, a forma tu é de uso frequente; em
outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito Número Pessoa Pronome
à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária.
Singular Primeira Meu(s), minha(s)
Observações: Singular Segunda Teu(s), tua(s)
Singular Terceira Seu(s), sua(s)
1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes
de tratamento que possuem “Vossa(s)” são Plural Primeira Nosso(s), nossa(s)
empregados em relação à pessoa com quem Plural Segunda Vosso(s), vossa(s)
falamos: Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro,
Plural Terceira Seu(s), sua(s)
compareça a este encontro.

2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito Note que:


da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram A forma do possessivo depende da pessoa gramatical
que Sua Excelência, o Senhor Presidente da a que se refere; o gênero e o número concordam com o
República, agiu com propriedade. objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição
naquele momento difícil.
3. Os pronomes de tratamento representam uma
forma indireta de nos dirigirmos aos nossos Observações:
interlocutores. Ao tratarmos um deputado por
Vossa Excelência, por exemplo, estamos nos 1. A forma “seu” não é um possessivo quando resultar
endereçando à excelência que esse deputado da alteração fonética da palavra senhor: Muito
supostamente tem para poder ocupar o cargo que obrigado, seu José.
ocupa.
2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à posse. Podem ter outros empregos, como:
2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
possessivos e os pronomes oblíquos empregados anos.
em relação a eles devem ficar na 3.ª pessoa. C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
suas promessas, para que seus eleitores lhe fiquem
reconhecidos. 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa
5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos Excelência trouxe sua mensagem?
ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar,
ao longo do texto, a pessoa do tratamento escolhida 4. Referindo-se a mais de um substantivo, o
inicialmente. Assim, por exemplo, se começamos possessivo concorda com o mais próximo: Trouxe-
a chamar alguém de “você”, não poderemos usar me seus livros e anotações.
“te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na
terceira pessoa. 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
teus cabelos. (errado)
6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu,
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos próprio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-
seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular lo, para que não ocorra redundância: Coloque tudo
nos respectivos lugares.
LÍNGUA PORTUGUESA

ou
Pronomes Demonstrativos
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular São utilizados para explicitar a posição de certa
palavra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação
pode ser de espaço, de tempo ou em relação ao discurso.

28
A) Em relação ao espaço: Também aparecem como pronomes demonstrativos:
Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
pessoa que fala: • o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
Este material é meu. puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s),
aquilo.
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
pessoa com quem se fala: Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
Esse material em sua carteira é seu? indiquei.)

Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está • mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s):
distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com variam em gênero quando têm caráter reforçativo:
quem se fala: Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
Aquele material não é nosso. Eu mesma refiz os exercícios.
Vejam aquele prédio! Elas mesmas fizeram isso.
Eles próprios cozinharam.
B) Em relação ao tempo: Os próprios alunos resolveram o problema.
Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
relação à pessoa que fala: • semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.
Esta manhã farei a prova do concurso!
• tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado,
porém relativamente próximo à época em que se situa 1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
a pessoa que fala: eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este.
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! (ou então: este solteiro, aquele casado) - este se
refere à pessoa mencionada em último lugar;
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um aquele, à mencionada em primeiro lugar.
afastamento no tempo, referido de modo vago ou como 2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
tempo remoto: irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
Naquele tempo, os professores eram valorizados. 3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de,
em com pronome demonstrativo: àquele, àquela,
C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se falará deste, desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no
ou escreverá): que estava vendo. (no = naquilo)
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se Pronomes Indefinidos
falará:
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso,
ortografia, concordância. dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
quantidade indeterminada.
Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: plantadas.
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais
desejamos! Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
Este e aquele são empregados quando se quer fazer imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao humano que seguramente existe, mas cuja identidade é
termo referido em primeiro lugar e este para o referido desconhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
por último:
A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres
Paulo; este está mais bem colocado que aquele. (= este na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano,
[São Paulo], aquele [Palmeiras]) beltrano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
ou Algo o incomoda?
Quem avisa amigo é.
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São
LÍNGUA PORTUGUESA

Paulo; aquele está mais bem colocado que este. (= este B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um
[São Paulo], aquele [Palmeiras]) ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de
quantidade aproximada. São eles: cada, certo(s),
Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou certa(s).
invariáveis, observe: Cada povo tem seus costumes.
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), Certas pessoas exercem várias profissões.
aquela(s).
Invariáveis: isto, isso, aquilo.

29
Note que: Observe:
Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
pronomes indefinidos adjetivos: quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, quantas.
muitos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
nenhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s),
qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, Note que:
tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego,
vários, várias. sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser
Menos palavras e mais ações. substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando
Alguns se contentam pouco. seu antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (=
variáveis e invariáveis. Observe: a qual)
• Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
vário, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, quais)
muita, pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (=
quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, as quais)
vários, tantos, outros, quantos, algumas, nenhumas,
todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas. O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
• Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente
algo, cada. para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde”
(que podem ter várias classificações) são pronomes
*Qualquer é composto de qual + quer (do verbo relativos. Todos eles são usados com referência à
querer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra pessoa ou coisa por motivo de clareza ou depois de
cujo plural é feito em seu interior). determinadas preposições: Regressando de São Paulo,
visitei o sítio de minha tia, o qual me deixou encantado.
Todo e toda no singular e junto de artigo significa
O uso de “que”, neste caso, geraria ambiguidade. Veja:
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
me deixou encantado (quem me deixou encantado: o
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
sítio ou minha tia?).
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas
Trabalho todo dia. (= todos os dias)
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas
utiliza-se o qual / a qual)
São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que,
(que), seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas
qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural.
ou outra, etc. O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda
Cada um escolheu o vinho desejado. com o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o
consequente (o ser possuído, com o qual concorda
Pronomes Relativos em gênero e número); não se usa artigo depois deste
São aqueles que representam nomes já mencionados pronome; “cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais,
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem das quais.
as orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Existem pessoas cujas ações são nobres.
um grupo racial sobre outros. (antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre
outros = oração subordinada adjetiva). Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do
pronome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui!
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” (referiu-se a)
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra
“sistema” é antecedente do pronome relativo que. “Quanto” é pronome relativo quando tem por
O antecedente do pronome relativo pode ser o antecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações)
pronome demonstrativo o, a, os, as. e tudo:
LÍNGUA PORTUGUESA

Não sei o que você está querendo dizer.


Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem Emprestei tantos quantos foram necessários.
expresso. (antecedente)
Quem casa, quer casa.
Ele fez tudo quanto havia falado.
(antecedente)

30
O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
precedido de preposição. tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
É um professor a quem muito devemos. diferentemente dos segundos, que são sempre
(preposição) precedidos de preposição.
A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o
“Onde”, como pronome relativo, sempre possui que eu estava fazendo.
antecedente e só pode ser utilizado na indicação de B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para
lugar: A casa onde morava foi assaltada. mim o que eu estava fazendo.

Na indicação de tempo, deve-se empregar quando REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ou em que: Sinto saudades da época em que (quando) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
morávamos no exterior. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
Podem ser utilizadas como pronomes relativos as Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
palavras: – São Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
• como (= pelo qual) – desde que precedida das literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
palavras modo, maneira ou forma: CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
Não me parece correto o modo como você agiu semana Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
passada. Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
São Paulo: Saraiva, 2002.
• quando (= em que) – desde que tenha como
antecedente um nome que dê ideia de tempo: SITE
Bons eram os tempos quando podíamos jogar Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
videogame. secoes/morf/morf42.php>

Os pronomes relativos permitem reunir duas orações Colocação Pronominal


numa só frase.
O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
esporte. pronomes oblíquos átonos na frase.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode #FicaDica


ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de
gente que conversava, (que) ria, observava. Pronome Oblíquo é aquele que exerce a
função de complemento verbal (objeto). Por
Pronomes Interrogativos isso, memorize:
São usados na formulação de perguntas, sejam OBlíquo = OBjeto!
elas diretas ou indiretas. Assim como os pronomes
indefinidos, referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo
impreciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual Embora na linguagem falada a colocação dos
(e variações), quanto (e variações). pronomes não seja rigorosamente seguida, algumas
Com quem andas? normas devem ser observadas na linguagem escrita.
Qual seu nome?
Diz-me com quem andas, que te direi quem és. Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo.
A próclise é usada:
O pronome pessoal é do caso reto quando tem
função de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso • Quando o verbo estiver precedido de palavras que
oblíquo quando desempenha função de complemento. atraem o pronome para antes do verbo. São elas:
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia jamais, etc.: Não se desespere!
lhe ajudar. B) Advérbios: Agora se negam a depor.
C) Conjunções subordinativas: Espero que me
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” expliquem tudo!
LÍNGUA PORTUGUESA

exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se
caso reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce esforçou.
função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. oportunidade.
O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito.
para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não
sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe). • Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
lhe disse isso?

31
• Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto Emprego de o, a, os, as
se ofendem!
• Orações que exprimem desejo (orações optativas): • Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os
Que Deus o ajude. pronomes: o, a, os, as não se alteram.
• A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome Chame-o agora.
reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o Deixei-a mais tranquila.
material amanhã. / Tu sabes cantar?
• Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
verbo. A mesóclise é usada: (Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.
Quando o verbo estiver no futuro do presente ou • Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em,
futuro do pretérito, contanto que esses verbos não ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para
estejam precedidos de palavras que exijam a próclise. no, na, nos, nas.
Exemplos: Realizar-se-á, na próxima semana, um grande Chamem-no agora.
evento em prol da paz no mundo. Põe-na sobre a mesa.
Repare que o pronome está “no meio” do verbo
“realizará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração
alguma palavra que justificasse o uso da próclise, esta #FicaDica
prevaleceria. Veja: Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que
nessa viagem. significa “antes”! Pronome antes do verbo!
(com presença de palavra que justifique o uso de Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/
próclise: Não fossem os meus compromissos, EU te (end, em Inglês – que significa “fim, final!).
acompanharia nessa viagem). Pronome depois do verbo!
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. verbo
A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
forem possíveis:
• Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Quando eu avisar, silenciem-se todos. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
• Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
era minha intenção machucá-la. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
• Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se Cochar - Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform.
inicia período com pronome oblíquo). – São Paulo: Saraiva, 2010.
Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h. SITE
Disponível em: <http://www.portugues.com.br/
• Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo gramatica/colocacao-pronominal-.html>
no concurso, mudo-me hoje mesmo!
• Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a 9. SUBSTANTIVO
proposta fazendo-se de desentendida.
Substantivo é a classe gramatical de palavras
Colocação pronominal nas locuções verbais variáveis, as quais denominam todos os seres que existem,
sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e
• Após verbo no particípio = pronome depois do fenômenos, os substantivos também nomeiam:
verbo auxiliar (e não depois do particípio): • lugares: Alemanha, Portugal
Tenho me deliciado com a leitura! • sentimentos: amor, saudade
Eu tenho me deliciado com a leitura! • estados: alegria, tristeza
Eu me tenho deliciado com a leitura! • qualidades: honestidade, sinceridade
• ações: corrida, pescaria
• Não convém usar hífen nos tempos compostos e
nas locuções verbais: Morfossintaxe do substantivo
Vamos nos unir!
Iremos nos manifestar. Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções
LÍNGUA PORTUGUESA

diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo


• Quando há um fator para próclise nos tempos do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto
compostos ou locuções verbais: opção pelo uso ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda,
do pronome oblíquo “solto” entre os verbos = funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
Não vamos nos preocupar (e não: “não nos vamos aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto
preocupar”). ou como núcleo do vocativo. Também encontramos
substantivos como núcleos de adjuntos adnominais

32
e de adjuntos adverbiais - quando essas funções são Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi
desempenhadas por grupos de palavras. necessário repetir o substantivo: uma abelha, outra
abelha, mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-
Classificação dos Substantivos se duas palavras no plural. No terceiro, empregou-se
um substantivo no singular (enxame) para designar um
A) Substantivos Comuns e Próprios conjunto de seres da mesma espécie (abelhas).
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Observe a definição: Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
mesmo estando no singular, designa um conjunto de
Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas seres da mesma espécie.
casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil,
toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma Substantivo coletivo Conjunto de:
cidade (em oposição aos bairros).
assembleia pessoas reunidas
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas alcateia lobos
casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será
acervo livros
chamada cidade. Isso significa que a palavra cidade é um
substantivo comum. trechos literários
antologia
selecionados
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de arquipélago ilhas
uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
banda músicos
homem, mulher, país, cachorro.
Estamos voando para Barcelona. desordeiros ou
bando
malfeitores
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da banca examinadores
espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio –
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de batalhão soldados
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
B) Substantivos Concretos e Abstratos
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa cacho frutas
o ser que existe, independentemente de outros cancioneiro canções, poesias líricas
seres. colmeia abelhas
Observação: concílio bispos
Os substantivos concretos designam seres do mundo congresso parlamentares, cientistas
real e do mundo imaginário. atores de uma peça ou
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, elenco
filme
Brasília.
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, esquadra navios de guerra
fantasma. enxoval roupas
falange soldados, anjos
B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres
que dependem de outros para se manifestarem ou fauna animais de uma região
existirem. Por exemplo: a beleza não existe por si feixe lenha, capim
só, não pode ser observada. Só podemos observar
flora vegetais de uma região
a beleza numa pessoa ou coisa que seja bela. A
beleza depende de outro ser para se manifestar. frota navios mercantes, ônibus
Portanto, a palavra beleza é um substantivo girândola fogos de artifício
abstrato.
Os substantivos abstratos designam estados, horda bandidos, invasores
qualidades, ações e sentimentos dos seres, dos quais médicos, bois, credores,
junta
podem ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: examinadores
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade júri jurados
LÍNGUA PORTUGUESA

(sentimento).
legião soldados, anjos, demônios
• Substantivos Coletivos leva presos, recrutas
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, malfeitores ou
outra abelha, mais outra abelha. malta
desordeiros
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame. manada búfalos, bois, elefantes,

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matilha cães de raça A) Flexão de Gênero
Gênero é um princípio puramente linguístico, não
molho chaves, verduras devendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz
multidão pessoas em geral respeito a todos os substantivos de nossa língua, quer se
insetos (gafanhotos, refiram a seres animais providos de sexo, quer designem
nuvem apenas “coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
mosquitos, etc.)
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
penca bananas, chaves feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos
pinacoteca pinturas, quadros que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja
quadrilha ladrões, bandidos estes títulos de filmes:
O velho e o mar
ramalhete flores Um Natal inesquecível
rebanho ovelhas Os reis da praia
peças teatrais, obras
repertório Pertencem ao gênero feminino os substantivos que
musicais
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
réstia alhos ou cebolas A história sem fim
romanceiro poesias narrativas Uma cidade sem passado
revoada pássaros As tartarugas ninjas
sínodo párocos Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
talha lenha
tropa muares, soldados 1. Substantivos Biformes (= duas formas):
apresentam uma forma para cada gênero: gato –
turma estudantes, trabalhadores gata, homem – mulher, poeta – poetisa, prefeito -
vara porcos prefeita
2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única
Formação dos Substantivos forma, que serve tanto para o masculino quanto
para o feminino. Classificam-se em:
A) Substantivos Simples e Compostos
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
terra. se faz mediante a utilização das palavras “macho”
O substantivo chuva é formado por um único e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré
elemento ou radical. É um substantivo simples. macho e o jacaré fêmea.
B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um a pessoas de ambos os sexos: a criança, a
único elemento. testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo,
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. o indivíduo.
Veja agora: O substantivo guarda-chuva é formado por C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros:
dois elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o
composto. colega e a colega, o doente e a doente, o artista e
a artista.
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija- Substantivos de origem grega terminados em ema
flor, passatempo. ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o
sintoma, o teorema.
B) Substantivos Primitivos e Derivados
B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva • Existem certos substantivos que, variando de gênero,
de nenhuma outra palavra da própria língua variam em seu significado:
portuguesa. O substantivo limoeiro, por exemplo, é o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça
derivado, pois se originou a partir da palavra limão. (líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro)
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origina e a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma
de outra palavra.
(cabeleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de
aumento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética;
LÍNGUA PORTUGUESA

Flexão dos substantivos


conclusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública);
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora).
O substantivo é uma classe variável. A palavra é
variável quando sofre flexão (variação). A palavra menino,
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
por exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo:
meninão / Diminutivo: menininho Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
- aluna.

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• Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
ao masculino: freguês - freguesa É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
• Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
de três formas: A distinção de gênero pode ser feita através da
1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa análise do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o
2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã substantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante;
3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa;
Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão - repórter francês - repórter francesa
sultana
A palavra personagem é usada indistintamente
• Substantivos terminados em -or: nos dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora se acentuada preferência pelo masculino: O menino
troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz descobriu nas nuvens os personagens dos contos de
carochinha.
• Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino:
cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta O problema está nas mulheres de mais idade, que não
- poetisa / duque - duquesa / conde - condessa / aceitam a personagem.
profeta - profetisa
• Substantivos que formam o feminino trocando o -e Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
final por -a: elefante - elefanta fotográfico Ana Belmonte.
• Substantivos que têm radicais diferentes no
masculino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó
• Substantivos que formam o feminino de maneira (pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o
anteriores: czar – czarina, réu - ré proclama, o pernoite, o púbis.

Formação do Feminino dos Substantivos Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata,


Uniformes a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a
libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Epicenos:
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. São geralmente masculinos os substantivos de origem
grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilograma,
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema,
forma para indicar o masculino e o feminino. o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma tracoma, o hematoma.
para designar os dois sexos. Esses substantivos são Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando
houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exceções,
palavras macho e fêmea. nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro Preto. /
A cobra macho picou o marinheiro. A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Alegre. / Uma
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Londres imensa e triste.
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
Sobrecomuns:
Entregue as crianças à natureza. Gênero e Significação

A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo Muitos substantivos têm uma significação no
masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse masculino e outra no feminino. Observe:
caso, nem o artigo nem um possível adjetivo permitem o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
identificar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
A criança chorona chamava-se João. frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão),
A criança chorona chamava-se Maria. a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou
proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do
Outros substantivos sobrecomuns: corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma
LÍNGUA PORTUGUESA

a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta),
boa criatura. a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro),
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma
Marcela faleceu (cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado
Comuns de Dois Gêneros: na administração da crisma e de outros sacramentos),
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. a crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco),
a cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a

35
estepe (vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos ancião –
guia outras), a guia (documento, pena grande das asas anciões/anciães/anciãos
das aves), o grama (unidade de peso), a grama (relva), charlatão – charlatões/charlatães corrimão –
o caixa (funcionário da caixa), a caixa (recipiente, setor corrimãos/corrimões
de pagamentos), o lente (professor), a lente (vidro de guardião – guardiões/guardiães vilão – vilãos/
aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade, bons vilões/vilães
costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o o látex - os látex.
pala (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe,
anteparo), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora),
Plural dos Substantivos Compostos
o voga (remador), a voga (moda).
A formação do plural dos substantivos compostos
B) Flexão de Número do Substantivo
Em português, há dois números gramaticais: o depende da forma como são grafados, do tipo de
singular, que indica um ser ou um grupo de seres, e o palavras que formam o composto e da relação que
plural, que indica mais de um ser ou grupo de seres. A estabelecem entre si. Aqueles que são grafados sem
característica do plural é o “s” final. hífen comportam-se como os substantivos simples:
aguardente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/
Plural dos Substantivos Simples pontapés, malmequer/malmequeres.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos
Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – e discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural).
Exceção: cânon - cânones. A) Flexionam-se os dois elementos, quando
formados de:
Os substantivos terminados em “m” fazem o plural substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
em “ns”: homem - homens. substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-
Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural perfeitos
pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes.
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-
homens
Atenção:
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
O plural de caráter é caracteres.

Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam- B) Flexiona-se somente o segundo elemento,
se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; quando formados de:
caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
cônsul e cônsules. palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de alto-falantes
duas maneiras: palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-
1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis recos
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
C) Flexiona-se somente o primeiro elemento,
Observação: quando formados de:
A palavra réptil pode formar seu plural de duas substantivo + preposição clara + substantivo = água-
maneiras: répteis ou reptis (pouco usada). de-colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo =
Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de cavalo-vapor e cavalos-vapor
duas maneiras:
substantivo + substantivo que funciona como
1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
determinante do primeiro, ou seja, especifica a função ou
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
o tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave,
2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam
invariáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã,
peixe-espada - peixes-espada.
Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural
D) Permanecem invariáveis, quando formados de:
LÍNGUA PORTUGUESA

de três maneiras.
1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos saca-rolhas

Observação:
Muitos substantivos terminados em “ão” apresentam
dois – e até três – plurais:

36
Casos Especiais Substantivos já aportuguesados flexionam-se de
acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os
o louva-a-deus e os louva-a-deus chopes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os
garçons, os réquiens.
o bem-te-vi e os bem-te-vis Observe o exemplo: Este jogador faz gols toda vez que
o bem-me-quer e os bem-me-queres joga.
o joão-ninguém e os joões-ninguém. O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.

Plural das Palavras Substantivadas Plural com Mudança de Timbre

As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras Certos substantivos formam o plural com mudança
classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam, de timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um
no plural, as flexões próprias dos substantivos. fato fonético chamado metafonia (plural metafônico).
Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves. Singular Plural
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
Corpo (ô) Corpos (ó)
Observação: Esforço Esforços
Numerais substantivados terminados em “s” ou “z”
não variam no plural: Nas provas mensais consegui muitos Fogo Fogos
seis e alguns dez. Forno Fornos
Fosso Fossos
Plural dos Diminutivos
Imposto Impostos
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” Olho Olhos
final e acrescenta-se o sufixo diminutivo.
Osso (ô) Ossos (ó)

pãe(s) + zinhos = pãezinhos Ovo Ovos

animai(s) + zinhos = animaizinhos Poço Poços

botõe(s) + zinhos = botõezinhos Porto Portos

chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos Posto Postos

farói(s) + zinhos = faroizinhos Tijolo Tijolos

tren(s) + zinhos = trenzinhos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços,
colhere(s) + zinhas = colherezinhas bolsos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros,
flore(s) + zinhas = florezinhas etc.

mão(s) + zinhas = mãozinhas Observação:


papéi(s) + zinhos = papeizinhos Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas molho (ó) = feixe (molho de lenha).

funi(s) + zinhos = funizinhos Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o


túnei(s) + zinhos = tuneizinhos norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
pai(s) + zinhos = paizinhos Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
pé(s) + zinhos = pezinhos Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
pé(s) + zitos = pezitos singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Plural dos Nomes Próprios Personativos Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas
com sentido de plural: Aqui morreu muito negro.
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
sempre que a terminação preste-se à flexão. improvisadas.
Os Napoleões também são derrotados.
LÍNGUA PORTUGUESA

As Raquéis e Esteres. C) Flexão de Grau do Substantivo


Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
Plural dos Substantivos Estrangeiros
as variações de tamanho dos seres.
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser
escritos como na língua original, acrescentando-se “s” Classifica-se em:
(exceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os 1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho
shorts, os jazz. considerado normal. Por exemplo: casa

37
2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
do ser. Classifica-se em: FIQUE ATENTO!
Analítico = o substantivo é acompanhado de um O verbo pôr, assim como seus derivados
adjetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande. (compor, repor, depor), pertencem à 2.ª
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo conjugação, pois a forma arcaica do verbo
indicador de aumento. Por exemplo: casarão. pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver
desaparecido do infinitivo, revela-se em
3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho algumas formas do verbo: põe, pões,
do ser. Pode ser: põem, etc.
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
indicador de diminuição. Por exemplo: casinha.
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS dos verbos com o conceito de acentuação tônica,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa percebemos com facilidade que nas formas rizotônicas o
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. acento tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam,
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza amo, por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento
Cochar. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. tônico não cai no radical, mas sim na terminação verbal
– São Paulo: Saraiva, 2010. (fora do radical): opinei, aprenderão, amaríamos.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Classificação dos Verbos
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
São Paulo: Saraiva, 2002.
Classificam-se em:
SITE
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ A) Regulares: são aqueles que apresentam o radical
secoes/morf/morf12.php> inalterado durante a conjugação e desinências
idênticas às de todos os verbos regulares da
10. VERBO mesma conjugação. Por exemplo: comparemos os
verbos “cantar” e “falar”, conjugados no presente
Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número, do Modo Indicativo:
tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo Canto Falo
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno Cantas Falas
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer). Canta Falas
Cantamos Falamos
Estrutura das Formas Verbais
Cantais Falais
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
os seguintes elementos:
#FicaDica
A) Radical: é a parte invariável, que expressa o
significado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; Observe que, retirando os radicais, as
fal-ava; fal-am. (radical fal-) desinências modo-temporal e número-
pessoal mantiveram-se idênticas. Tente fazer
B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que com outro verbo e perceberá que se repetirá
indica a conjugação a que pertence o verbo. Por o fato (desde que o verbo seja da primeira
exemplo: fala-r. São três as conjugações: conjugação e regular!). Faça com o verbo
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática “andar”, por exemplo. Substitua o radical
- E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir). “cant” e coloque o “and” (radical do verbo
andar). Viu? Fácil!
C) Desinência modo-temporal: é o elemento que
designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
LÍNGUA PORTUGUESA

falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo) B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) alterações no radical ou nas desinências: faço, fiz,
farei, fizesse.
D) Desinência número-pessoal: é o elemento que
designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o
Observação:
número (singular ou plural):
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas
(indica a 3.ª pessoa do plural.) para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/

38
corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais Os verbos unipessoais podem ser usados como
alterações não caracterizam irregularidade, porque o verbos pessoais na linguagem figurada:
fonema permanece inalterado. Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam
conjugação completa. Os principais são adequar, Principais verbos unipessoais:
precaver, computar, reaver, abolir, falir.
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito • Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
e, normalmente, são usados na terceira pessoa do ser (preciso, necessário):
singular. Os principais verbos impessoais são: Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos
bastante)
1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
realizar-se ou fazer (em orações temporais). É preciso que chova. (Sujeito: que chova)
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia =
Existiam) • Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo,
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) seguidos da conjunção que.
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão) Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz) à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a
2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo) vejo. (Sujeito: que não a vejo)
Faz invernos rigorosos na Europa.
Era primavera quando o conheci. F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou
Estava frio naquele dia. mais formas equivalentes, geralmente no particípio,
em que, além das formas regulares terminadas em
3. Todos os verbos que indicam fenômenos da -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas
natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, (particípio irregular).
trovejar, amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém, O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado
se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular
“amanhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo é empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser,
impessoal, empregado em sentido figurado, deixa ficar e estar. Observe:
de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá
conjugação completa. Particípio Particípio
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu) Infinitivo
Regular Irregular
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu) Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando
Anexar Anexado Anexo
tempo: Já passa das seis.
Benzer Benzido Bento
5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição Corrigir Corrigido Correto
“de”, indicando suficiência:
Dispersar Dispersado Disperso
Basta de tolices.
Chega de promessas. Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem,
Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem Imprimir Imprimido Impresso
referência a sujeito expresso anteriormente (por Inserir Inserido Inserto
exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, Limpar Limpado Limpo
classificar o sujeito como hipotético, tornando-se,
tais verbos, pessoais. Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente Morrer Morrido Morto
de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo. Murchar Murchado Murcho
LÍNGUA PORTUGUESA

Dá para me arrumar uma apostila? Pegar Pegado Pego


Romper Rompido Roto
E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito,
conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do Soltar Soltado Solto
singular e do plural. São unipessoais os verbos Suspender Suspendido Suspenso
constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os
Tingir Tingido Tinto
que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar,
miar, latir, piar). Vagar Vagado Vago

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Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito,
escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).

H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo
principal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Pret. mais-que- Fut. do


Presente Pret. Perfeito Pret. Imp. Fut.do Pres.
perf. Pretérito
Sou Fui Era Fora Serei Seria
És Foste Eras Foras Serás Serias
É Foi Era Fora Será Seria
Somos Fomos Éramos Fôramos Seremos Seríamos
Sois Fostes Éreis Fôreis Sereis Seríeis
São Foram Eram Foram Serão Seriam

SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
LÍNGUA PORTUGUESA

sede vós não sejais vós


sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

40
Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres Fut.do Preté
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR Modo Subjuntivo – Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
LÍNGUA PORTUGUESA

há houve havia houvera haverá haveria


havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

41
HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
LÍNGUA PORTUGUESA

• Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a
reflexibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de
reforço da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e
respectivos pronomes):

42
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às
Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do
arrependem singular, não apresenta desinências, assumindo a
mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-
• Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos se da seguinte maneira:
em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre 2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
o objeto representado por pronome oblíquo da 1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma 2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os 3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.
indiretos podem ser conjugados com os pronomes
mencionados, formando o que se chama voz B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como
reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava. adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de
pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota advérbio)
penteou-me. Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação
oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
função sintática. Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Há verbos que também são acompanhados Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.
de pronomes oblíquos átonos, mas que não são
essencialmente pronominais - são os verbos reflexivos. Quando o gerúndio é vício de linguagem
Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do
encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito, exercem gerúndio:
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando
funções sintáticas. Por exemplo:
futebol.
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!
(objeto direto) – 1.ª pessoa do singular
Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada,
Modos Verbais
pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no
momento da outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas
a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um
pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro.
futuro em andamento, exigindo, no caso, a construção
Existem três modos: “verificarei” ou “vou verificar”.
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu
estudo para o concurso. C) Particípio: quando não é empregado na formação
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: dos tempos compostos, o particípio indica,
Talvez eu estude amanhã. geralmente, o resultado de uma ação terminada,
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: flexionando-se em gênero, número e grau. Por
Estude, colega! exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.
Formas Nominais Quando o particípio exprime somente estado, sem
nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda função de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida
formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, pela turma.
adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas
nominais. Observe:

A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de
modo vago e indefinido, podendo ter valor e
função de substantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
LÍNGUA PORTUGUESA

(Ziraldo)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente Tempos Verbais


(forma simples) ou no passado (forma composta). Por
exemplo: Tomando-se como referência o momento em que
É preciso ler este livro. se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em
Era preciso ter lido este livro. diversos tempos.

43
A) Tempos do Modo Indicativo
Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado:
Ele estudou as lições ontem à noite.
Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse
o jogo.
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para
indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)
No próximo final de semana, faço a prova!
faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Tabelas das Conjugações Verbais

Modo Indicativo

Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
LÍNGUA PORTUGUESA

canteI vendI partI I


cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

44
Pretérito mais-que-perfeito

3.ª conjugação
1.ª conjugação 2.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
LÍNGUA PORTUGUESA

cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS


cantarIAM venderIAM partirIAM

45
Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

Desinên. Pessoal Des. tem


1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.poral
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
LÍNGUA PORTUGUESA

cantaREM vendeREM partiREM R EM

46
C) Modo Imperativo Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito
oracional, correspondendo à construção: parece gostarem
Imperativo Afirmativo de você).

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do • O verbo pegar possui dois particípios (regular e
presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a irregular):
segunda pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. Elvis tinha pegado minhas apostilas.
As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do Minhas apostilas foram pegas.
subjuntivo. Veja:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Presente do Imperativo Presente do SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Indicativo Afirmativo Subjuntivo Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
Eu canto - Que eu cante Cochar - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform.
Tu cantas CantA tu Que tu cantes – São Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.] - Português: novas palavras:
Ele canta Cante você Que ele cante
literatura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000.
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis SITE
Disponível em: http://www.soportugues.com.br/
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem
secoes/morf/morf54.php
Imperativo Negativo
Vozes do Verbo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
a negação às formas do presente do subjuntivo.
ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
Que eu cante - as vozes verbais:
Que tu cantes Não cantes tu A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
Que ele cante Não cante você ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
Que nós cantemos Não cantemos nós sujeito agente ação objeto (paciente)
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo
a ação expressa pelo verbo:
• No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª O trabalho foi feito por ele.
pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois sujeito paciente ação agente da passiva
uma ordem, pedido ou conselho só se aplicam
diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
razão, utiliza-se você/vocês. agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
• O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: O menino feriu-se.
sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal #FicaDica


Não confundir o emprego reflexivo do verbo
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação com a noção de reciprocidade:
CANTAR VENDER PARTIR Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro)
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir Formação da Voz Passiva
LÍNGUA PORTUGUESA

cantarMOS venderMOS partirMOS


A voz passiva pode ser formada por dois processos:
cantarDES venderDES partirDES analítico e sintético.
cantarEM venderEM partirEM
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte
• O verbo parecer admite duas construções: maneira:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução Verbo SER + particípio do verbo principal. Por
verbal) exemplo:

47
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva;
os alunos pintarão a escola) o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo
tempo.
Observações: Os mestres têm constantemente aconselhado os
alunos.
• O agente da passiva geralmente é acompanhado Os alunos têm sido constantemente aconselhados
da preposição por, mas pode ocorrer a construção pelos mestres.
com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cer- Eu o acompanharei.
cada de soldados. Ele será acompanhado por mim.

• Pode acontecer de o agente da passiva não estar Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã. haverá complemento agente na passiva. Por exemplo:
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
• A variação temporal é indicada pelo verbo auxi-
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
liar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a
porque o sujeito não pode ser visto como agente,
transformação das frases seguintes:
paciente ou agente paciente.
Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
perfeito do Indicativo, assim como o verbo principal da Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
voz ativa) CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
char - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform.
Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) – São Paulo: Saraiva, 2010.
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
indicativo) literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.

Ele fará o trabalho. (futuro do presente) SITE


O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
secoes/morf/morf54.php>
• Nas frases com locuções verbais, o verbo SER as-
sume o mesmo tempo e modo do verbo principal
da voz ativa. Observe a transformação da frase se-
guinte:
EXERCÍCIOS COMENTADOS
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) 1. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
CESGRANRIO-2018)
B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética -
ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª O ano da esperança
pessoa, seguido do pronome apassivador “se”. Por
exemplo: O ano de 2017 foi difícil. Avalio pelo número de amigos
desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás
Abriram-se as inscrições para o concurso.
do outro. Nunca fui de botar dinheiro nas relações
Destruiu-se o velho prédio da escola.
de amizade. Como afirmou Shakespeare, perde-se o
dinheiro e o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava,
Observação:
com a consciência de que era uma doação. A situação
O agente não costuma vir expresso na voz passiva foi piorando. Os argumentos também. No início era para
sintética. pagar a escola do filho. Depois vieram as mães e avós
doentes. Lamentavelmente, aprendi a não ser generoso.
Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva Ajudava um rapaz, que não conheço pessoalmente.
Mas que sofreu um acidente e não tinha como pagar a
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar fisioterapia. Comecei pagando a físio. Vieram sucessivas
substancialmente o sentido da frase. internações, remédios. A situação piorando, eu já estava
LÍNGUA PORTUGUESA

encomendando missa de sétimo dia. Falei com um amigo


O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) médico, no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso
Sujeito da Ativa objeto Direto gratuitamente. Surpresa! O doente não aparecia para
a consulta. Até que o coloquei contra a parede. Ou se
A apostila foi comprada pelo concurseiro. consultava ou eu não ajudava mais.
(Voz Passiva) Cheio de saúde, ele foi ao consultório. Pediu uma receita
Sujeito da Passiva Agente da Passiva de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca
conheci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter

48
caído na história. Só que esse rapaz havia perdido o d) Uma nova lei contra as fake news promulgada na
emprego após o suposto acidente. Foi por isso que me Alemanha não aplica-se aos sites e redes sociais com
deixei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde menos de 2 milhões de membros.
também a vergonha. Pior ainda. A violência aumenta. As e) Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo mais
pessoas buscam vagas nos mercados em expansão. Se a eficaz para que adote-se a conduta correta em relação
indústria automobilística vai bem, é lá que vão trabalhar. à reputação das celebridades.
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos
aguarda é mais descrédito? Novos candidatos vão surgir. Resposta: Letra C
Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça Em “a”: Os jornais noticiaram que alguns países
de velhos? Todos pedem que a gente tenha uma nova mobilizam-se = se mobilizam
consciência para votar. Como? Num mundo em que as Em “b”: Para criar leis eficientes no combate aos
notícias são plantadas pela internet, em que muitos sites boatos, sempre deve-se = sempre se deve
servem a qualquer mentira. Digo por mim. Já contaram Em “c”: Entre os numerosos usuários da internet,
cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. constata-se um sentimento = correta
Já inventaram casos de amor, tramas nas novelas que Em “d”: Uma nova lei contra as fake news promulgada
na Alemanha não aplica-se = não se aplica
escrevo. Pior. Depois todo mundo me pergunta por
Em “e”: Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo
que isso ou aquilo não aconteceu na novela. Se mudei
mais eficaz para que adote-se = que se adote
a trama. Respondo: — Nunca foi para acontecer. Era
mentira da internet.
3. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – ARQUI-
Duvidam. Acham que estou mentindo. TETURA – FGV-2017-ADAPTADA) Se substituíssemos
CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez. os complementos dos verbos abaixo por pronomes pes-
2017, p.97. Adaptado. soais oblíquos enclíticos, a única forma INADEQUADA
seria:
No trecho “perde-se o dinheiro e o amigo”, a colocação
do pronome átono em destaque está de acordo com a a) impregna a vida cotidiana / impregna-a;
norma-padrão da língua portuguesa. O mesmo ocorre b) entender os debates / entendê-los;
em: c) ganha destaque / ganha-o;
d) supõe um conhecimento / supõe-lo;
a) Não se perde nem o dinheiro nem o amigo. e) marcaram sua história / marcaram-na.
b) Perderia-se o dinheiro e o amigo.
c) O dinheiro e o amigo tinham perdido-se. Resposta: Letra D
d) Se perdeu o dinheiro, mas não o amigo. Em “a”: impregna a vida cotidiana / impregna-a =
e) Se o amigo que perdeu-se voltasse, ficaria feliz. correta
Em “b”: entender os debates / entendê-los = correta
Resposta: Letra A Em “c”: ganha destaque / ganha-o = correta
Em “a”: Não se perde = correta (advérbio atrai o Em “d”: supõe um conhecimento / supõe-lo = supõe-
pronome = próclise) no
Em “b”: Perderia-se = verbo no futuro do pretérito: Em “e”: marcaram sua história / marcaram-na = correta
perder-se-ia (mesóclise)
Em “c”: O dinheiro e o amigo tinham perdido-se = 4. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL –
tinham se perdido VUNESP-2014) Considerando-se o uso do pronome e
Em “d”: Se perdeu = não se inicia período com a colocação pronominal, a expressão em destaque no
pronome oblíquo/partícula apassivadora (Perdeu-se) trecho – ... que cercam o sentido da existência humana...
– está corretamente substituída pelo pronome, de
Em “e”: Se o amigo que perdeu-se = o “que” atrai o
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, na
pronome (próclise): que se perdeu
alternativa:
2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR –
a) ... que cercam-lo...
CESGRANRIO-2018) Segundo as exigências da norma- b) ... que cercam-no...
padrão da língua portuguesa, o pronome destacado foi c)... que o cercam...
utilizado na posição correta em: d) ... que lhe cercam...
e) ... que cercam-lhe...
a) Os jornais noticiaram que alguns países mobilizam-se
para combater a disseminação de notícias falsas nas
LÍNGUA PORTUGUESA

Resposta: Letra C
redes sociais. Correções à frente:
b) Para criar leis eficientes no combate aos boatos, Em “a”: que cercam-lo = o “que” atrai o pronome (que
sempre deve-se ter em mente que o problema de o cercam)
divulgação de notícias falsas é grave e muito atual. Em “b”: que cercam-no = que o cercam (“no” está
c) Entre os numerosos usuários da internet, constata-se correta – caso não tivéssemos o “que”, pois, devido a
um sentimento generalizado de reprovação à prática sua presença, teremos próclise, não ênclise)
de divulgação de inverdades. Em “c”: que o cercam = correta

49
Em “d”: que lhe cercam = a posição está correta, mas Resposta: Letra D
o pronome está errado (“lhe” é para objeto indireto = Contudo é uma conjunção adversativa (expressa
a ele/ela) oposição). A substituição deve utilizar outra de mesma
Em “e”: que cercam-lhe = que o cercam classificação, para que se mantenha a ideia do período.
A correta é entretanto.
5. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2014)
Considerando apenas as regras de regência e de colocação 8. (TRT 23.ª REGIÃO-MT - ANALISTA JUDICIÁRIO -
pronominal da norma-padrão da língua portuguesa, a ÁREA ADMINISTRATIVA- FCC-2016)
expressão destacada em – Ainda assim, 60% afirmam que ... para quem Manoel de Barros era comparável a São
raramente ou nunca têm informações sobre o impacto Francisco de Assis...
ambiental do produto ou do comportamento da empresa.
– pode ser corretamente substituída por O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da
frase acima está em:
a) ... nunca informam-se sob o impacto...
b)... nunca se informam o impacto... a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
c) ... nunca informam-se ao impacto... b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no
d) ... nunca se informam do impacto... espaço...
e)... nunca informam-se no impacto... c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e
Charles Baudelaire.
Resposta: Letra D d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de
Por eliminação: o advérbio “nunca” atrai o pronome, Barros na literatura...
teremos próclise (nunca se). Ficamos com B e D. Agora e) ... para depois casá-las...
vamos ao verbo: quem se informa, informa-se sobre
algo = precisa de preposição. A alternativa que tem Resposta: Letra A
preposição presente é a D (do = de+o). Teremos: “Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do
nunca se informam do impacto. Indicativo. Procuremos nos itens:
Em “a”, Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo
6. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL Em “b”, Porque não seria = futuro do pretérito do
– VUNESP-2013) Considerando a substituição da Indicativo
expressão em destaque por um pronome e as normas da Em “c”, Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfeito
colocação pronominal, a oração – … que abrem a cabeça do Indicativo
… – equivale, na norma-padrão da língua, a: Em “d”, Quase meio século separa = presente do
a) que abrem-a. Indicativo
b) que abrem-na. Em “e”, para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar
c) que a abrem. elas)
d) que lhe abrem.
e) que abrem-lhe. 9. (TRT 20.ª REGIÃO-SE - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC-
2016)
Resposta: Letra C Precisamos de um treinador que nos ajude a comer...
Primeiramente: o “que” atrai o pronome oblíquo, O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o
então teremos que + pronome. Resta-nos identificar sublinhado acima está também sublinhado em:
se o pronome é objeto direto (a) ou indireto (lhe).
Voltemos ao verbo: abrir. Quem abre, abre algo... abre a) ... assim que conseguissem se virar sem as mães ou as
o quê? Sem preposição! Portanto: objeto direto = que amas...
a abrem. b) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
c) ... país que transformou a infância numa bilionária
7. (TST - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA APOIO indústria de consumo...
ESPECIALIZADO - ESPECIALIDADE MEDICINA DO d) E, mesmo que se esforcem muito...
TRABALHO – FCC/2012) Aos poucos, contudo, fui e) Hoje há algo novo nesse cenário.
chegando à constatação de que todo perfil de rede
social é um retrato ideal de nós mesmos. Resposta: Letra D
Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra que nos ajude = presente do Subjuntivo
alteração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser Em “a”, que conseguissem = pretérito do Subjuntivo
substituído por: Em “b”, que proliferaram = pretérito perfeito (e
LÍNGUA PORTUGUESA

também mais-que-perfeito) do Indicativo


a) ademais. Em “c”, que transformou = pretérito perfeito do
b) conquanto. Indicativo
c) porquanto. Em “d”, que se esforcem = presente do Subjuntivo
d) entretanto. Em “e”, há algo novo nesse cenário = presente do
e) apesar. Indicativo

50
10. (TRT 23.ª REGIÃO-MT - Técnico Judiciário – FCC- Em “c”, ... após discar e fazer a ligação, não precisamos
2016) Empregam-se todas as formas verbais de acordo = presente do Indicativo
com a norma culta na seguinte frase: Em “d”, Pense rápido: = Imperativo
Em “e”, É o que mostra também uma pesquisa =
a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento presente do Indicativo
não poderia receber qualquer tipo de retificação.
b) Os documentos com assinatura digital disporam de
algoritmos de criptografia que os protegeram. 12. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL –
c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam VUNESP-2014) Assinale a alternativa em que a palavra
contar com a proteção de uma assinatura digital. em destaque na frase pertence à classe dos adjetivos
d) Quem se propor a alterar um documento criptografado (palavra que qualifica um substantivo).
deve saber que comprometerá sua integridade.
e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de
comprometer a integridade dos documentos. eutanásia...
b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
Resposta: Letra E c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar
Em “a”, Para que se mantesse (mantivesse) sua a morte.
autenticidade, o documento não poderia receber d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
qualquer tipo de retificação. e) E como seria a verdadeira boa morte?
Em “b”, Os documentos com assinatura digital
disporam (dispuseram) de algoritmos de criptografia Resposta: Letra E
que os protegeram. Em “a”, Existe grande confusão = substantivo
Em “c”, Arquivados eletronicamente, os documentos Em “b”, o médico ou alguém causa ativamente a
poderam (puderam) contar com a proteção de uma morte = pronome
assinatura digital. Em “c”, prolonga o processo de morrer procurando
Em “d”, Quem se propor (propuser) a alterar distanciar a morte = substantivo
um documento criptografado deve saber que Em “d”, Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
comprometerá sua integridade. Em “e”, E como seria a verdadeira boa morte? =
Em “e”, Não é possível fazer as alterações que adjetivo
convierem sem comprometer a integridade dos
documentos = correta 13. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA
DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO-PE
11. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO - – SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010)
SOLDADO PM 2.ª CLASSE – VUNESP/2017) Considere
as seguintes frases:
Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos.
Segundo, não memorize apenas por repetição.
Terceiro, rabisque!

Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos


empregados nessas frases está em destaque em:

a) ... o acesso rápido e a quantidade de textos fazem


com que o cérebro humano não considere útil gravar
esses dados...
b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem-
número de informações.
c) ... após discar e fazer a ligação, não precisamos mais
dele...
d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em
que morou quando era criança? Disponível em: http://www.acharge.com.br/index.htm
e) É o que mostra também uma pesquisa recente (acesso: 03/03/2010)
conduzida pela empresa de segurança digital
Kaspersky... A palavra “oposição”, da charge, é classificada
LÍNGUA PORTUGUESA

morfologicamente como:
Resposta: Letra D
Os verbos das frases citadas estão no Modo Imperativo a) Substantivo concreto.
(expressam ordem). Vamos aos itens: b) Substantivo abstrato.
Em “a”, ... o acesso rápido e a quantidade de textos c) Substantivo coletivo.
fazem = presente do Indicativo d) Substantivo próprio.
Em “b”, Na internet, basta um clique = presente do e) Adjetivo.
Indicativo

51
Resposta: Letra B Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
O termo “oposição” é classificado – morfologicamente por uma ou mais orações, formando um todo, com
– como substantivo abstrato, pois não existe por si só sentido completo. O período pode ser simples ou
– depende de outro ser para “se concretizar”. composto.

Período simples é aquele constituído por apenas


RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE uma oração, que recebe o nome de oração absoluta.
ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO. Chove.
A existência é frágil.
RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO ENTRE
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO.
Período composto é aquele constituído por duas ou
mais orações:
FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO Cantei, dancei e depois dormi.
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO Quero que você estude mais.
TERMOS DA ORAÇÃO
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO Termos da Oração

Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para Termos essenciais


estabelecer comunicação. Normalmente é composta
por dois termos – o sujeito e o predicado – mas não O sujeito e o predicado são considerados termos
obrigatoriamente, pois há orações ou frases sem sujeito: essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis
Trovejou muito ontem à noite. para a formação das orações. No entanto, existem
orações formadas exclusivamente pelo predicado. O
Quanto aos tipos de frases, além da classificação que define a oração é a presença do verbo. O sujeito é o
em verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e termo que estabelece concordância com o verbo.
nominais (sem a presença de verbos), feita a partir de seus O candidato está preparado.
elementos constituintes, elas podem ser classificadas a Os candidatos estão preparados.
partir de seu sentido global:
A) frases interrogativas = o emissor da mensagem Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”.
“Candidato” é a principal palavra do sujeito, sendo, por
formula uma pergunta: Que dia é hoje?
isso, denominada núcleo do sujeito. Este se relaciona
B) frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou
com o verbo, estabelecendo a concordância (núcleo no
faz um pedido: Dê-me uma luz!
singular, verbo no singular: candidato = está).
C) frases exclamativas = o emissor exterioriza um
A função do sujeito é basicamente desempenhada
estado afetivo: Que dia abençoado! por substantivos, o que a torna uma função substantiva
D) frases declarativas = o emissor constata um fato: A da oração. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer
prova será amanhã. outras palavras substantivadas (derivação imprópria)
também podem exercer a função de sujeito.
Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo,
(oração) são estruturadas por dois elementos essenciais: substantivo)
sujeito e predicado. Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no
O sujeito é o termo da frase que concorda com o exemplo: substantivo)
verbo em número e pessoa. É o “ser de quem se declara
algo”, “o tema do que se vai comunicar”; o predicado é Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos:
a parte da frase que contém “a informação nova para o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do
o ouvinte”, é o que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao sujeito.
tema, constituindo a declaração do que se atribui ao
sujeito. Um sujeito é determinado quando é facilmente
Quando o núcleo da declaração está no verbo (que identificado pela concordância verbal. O sujeito
indique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo determinado pode ser simples ou composto.
significativo), temos o predicado verbal. Mas, se o A indeterminação do sujeito ocorre quando não
núcleo estiver em um nome (geralmente um adjetivo), é possível identificar claramente a que se refere a
teremos um predicado nominal (os verbos deste tipo de concordância verbal. Isso ocorre quando não se pode
LÍNGUA PORTUGUESA

predicado são os que indicam estado, conhecidos como ou não interessa indicar precisamente o sujeito de uma
verbos de ligação): oração.
O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação Estão gritando seu nome lá fora.
(predicado verbal) Trabalha-se demais neste lugar.
A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o
O sujeito simples é o sujeito determinado que
núcleo é “fácil” (predicado nominal)
apresenta um único núcleo, que pode estar no singular
ou no plural; pode também ser um pronome indefinido.

52
Abaixo, sublinhei os núcleos dos sujeitos: O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice
Nós estudaremso juntos. de indeterminação do sujeito.
A humanidade é frágil.
Ninguém se move. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma predicado, articulam-se a partir de um verbo impessoal.
derivação imprópria, tranformando-o em substantivo) A mensagem está centrada no processo verbal. Os
As crianças precisam de alimentos saudáveis. principais casos de orações sem sujeito com:

O sujeito composto é o sujeito determinado que • os verbos que indicam fenômenos da natureza:
apresenta mais de um núcleo. Amanheceu.
Alimentos e roupas custam caro. Está trovejando.
Ela e eu sabemos o conteúdo.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda. • os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a tempo em geral:
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o Está tarde.
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo Já são dez horas.
do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido Faz frio nesta época do ano.
pela desinência verbal ou pelo contexto. Há muitos concursos com inscrições abertas.
Abolimos todas as regras. = (nós)
Falaste o recado à sala? = (tu) Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
primeira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado
segunda do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os é aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com
pronomes não estejam explícitos. exceção do vocativo - que é um termo à parte - tudo
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito o que difere do sujeito numa oração é o seu predicado.
na desinência verbal “-mos” Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na
desinência verbal “-ais”
Em ambas as orações não há sujeito, apenas
predicado. Na segunda oração, “problemas” funciona
Mas:
como objeto direto.
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós
As questões estavam fáceis!
Sujeito simples = as questões
O sujeito indeterminado surge quando não se quer - Predicado = estavam fáceis
ou não se pode - identificar a que o predicado da oração
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
contrário, teríamos uma oração sem sujeito. Sujeito = uma ideia estranha
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser Predicado = passou-me pelo pensamento
indeterminado de duas maneiras:
Para o estudo do predicado, é necessário verificar
A) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que se seu núcleo é um nome (então teremos um predicado
o sujeito não tenha sido identificado anteriormente: nominal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se
Bateram à porta; considerar também se as palavras que formam o
Andam espalhando boatos a respeito da queda do predicado referem-se apenas ao verbo ou também ao
ministro. sujeito da oração.

Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres
ou composto: de opinião.
Os meninos bateram à porta. (simples) Predicado
Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
O predicado acima apresenta apenas uma palavra
B) com o verbo na terceira pessoa do singular, que se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras se
LÍNGUA PORTUGUESA

acrescido do pronome “se”. Esta é uma ligam direta ou indiretamente ao verbo.


construção típica dos verbos que não apresentam A cidade está deserta.
complemento direto:
Precisa-se de mentes criativas. O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-
Vivia-se bem naqueles tempos. se ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como
Trata-se de casos delicados. elemento de ligação (por isso verbo de ligação) entre o
Sempre se está sujeito a erros. sujeito e a palavra a ele relacionada (no caso: deserta =
predicativo do sujeito).

53
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo Houve muita confusão na partida final.
significativo um verbo: Queremos sua ajuda.
Chove muito nesta época do ano.
Estudei muito hoje! O objeto direto preposicionado ocorre
Compraste a apostila? principalmente:

Os verbos acima são significativos, isto é, não servem A) com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam referentes a pessoas:
processos. Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
(o objeto é direto, mas como há preposição,
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo denomina-se: objeto direto preposicionado)
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou
estado ao sujeito, por isso é chamado de predicativo B) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
do sujeito. O predicativo é um nome que se liga a outro de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero
nome da oração por meio de um verbo (o verbo de cansar a Vossa Senhoria.
ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, C) para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao (sem preposição, o sentido seria outro: O povo
predicativo, indicando circunstâncias referentes ao prejudica a crise)
estado do sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, O objeto indireto é o complemento que se liga
andar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como indiretamente ao verbo, ou seja, através de uma
elemento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele preposição.
relacionadas. Gosto de música popular brasileira.
Necessito de ajuda.
A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. Objeto Pleonástico
O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta É a repetição de objetos, tanto diretos como indiretos.
dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No
Normalmente, as frases em que ocorrem objetos
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir
pleonásticos obedecem à estrutura: primeiro aparece o
ao sujeito ou ao complemento verbal (objeto).
objeto, antecipado para o início da oração; em seguida,
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre
ele é repetido através de um pronome oblíquo. É à
significativo, indicando processos. É também sempre por
repetição que se dá o nome de objeto pleonástico.
intermédio do verbo que o predicativo se relaciona com
o termo a que se refere.
“Aos fracos, não os posso proteger, jamais.” (Gonçalves
O dia amanheceu ensolarado;
Dias)
As mulheres julgam os homens inconstantes.

No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta objeto pleonástico
duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de
ligação. Este predicado poderia ser desdobrado em dois:
um verbal e outro nominal. Ao traidor, nada lhe devemos.
O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.
O termo que integra o sentido de um nome chama-
No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona o se complemento nominal, que se liga ao nome que
complemento homens com o predicativo “inconstantes”. completa por intermédio de preposição:
A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a
Termos integrantes da oração palavra “necessária”
Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
complemento nominal são chamados termos integrantes Termos acessórios da oração e vocativo
da oração.
Os complementos verbais integram o sentido Os termos acessórios recebem este nome por serem
dos verbos transitivos, com eles formando unidades explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o
LÍNGUA PORTUGUESA

significativas. Estes verbos podem se relacionar com adjunto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o
seus complementos diretamente, sem a presença vocativo – este, sem relação sintática com outros temos
de preposição, ou indiretamente, por intermédio de da oração.
preposição.
O adjunto adverbial é o termo da oração que indica
O objeto direto é o complemento que se liga uma circunstância do processo verbal ou intensifica o
diretamente ao verbo. sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função

54
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei Períodos Compostos
a pé àquela velha praça.
Período Composto por Coordenação
O adjunto adnominal é o termo acessório que
determina, especifica ou explica um substantivo. É uma O período composto se caracteriza por possuir mais
função adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções de uma oração em sua composição. Sendo assim:
adjetivas que exercem o papel de adjunto adnominal na Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
oração. Também atuam como adjuntos adnominais os oração)
artigos, os numerais e os pronomes adjetivos. Estou comprando um protetor solar, depois irei à
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas
amigo de infância. orações)
Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar
O adjunto adnominal se liga diretamente ao um protetor solar. (Período Composto = três verbos, três
substantivo a que se refere, sem participação do verbo. orações).
Já o predicativo do objeto se liga ao objeto por meio de
um verbo. Há dois tipos de relações que podem se estabelecer
O poeta português deixou uma obra originalíssima. entre as orações de um período composto: uma relação
O poeta deixou-a. de coordenação ou uma relação de subordinação.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: Duas orações são coordenadas quando estão juntas
adjunto adnominal) em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco
de informações, marcado pela pontuação final), mas têm,
O poeta português deixou uma obra inacabada. ambas, estruturas individuais, como é o exemplo de:
O poeta deixou-a inacabada. Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo (Período Composto)
do objeto) Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar.
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um 2. Irei à praia.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto nominal se
relaciona apenas ao substantivo. Separando as duas, vemos que elas são independentes.
Tal período é classificado como Período Composto por
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, Coordenação.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um Quanto à classificação das orações coordenadas,
termo que exerça qualquer função sintática: Ontem, temos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas
segunda-feira, passei o dia mal-humorado. Sindéticas.
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de
tempo “ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente A) Coordenadas Assindéticas
ao termo que se relaciona porque poderia substituí-lo: São orações coordenadas entre si e que não são
Segunda-feira passei o dia mal-humorado. ligadas através de nenhum conectivo. Estão apenas
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu justapostas.
valor na oração, em: Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
A) explicativo: A linguística, ciência das línguas
humanas, permite-nos interpretar melhor nossa B) Coordenadas Sindéticas
relação com o mundo. Ao contrário da anterior, são orações coordenadas
B) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas entre si, mas que são ligadas através de uma conjunção
coisas: amor, arte, ação. coordenativa, que dará à oração uma classificação. As
C) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e orações coordenadas sindéticas são classificadas em
sonho, tudo forma o carnaval. cinco tipos: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas
D) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, e explicativas.
fixaram-se por muito tempo na baía anoitecida.
Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
O vocativo é um termo que serve para chamar,
invocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, • Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas
não mantendo relação sintática com outro termo da principais conjunções são: e, nem, não só... mas
LÍNGUA PORTUGUESA

oração. A função de vocativo é substantiva, cabendo também, não só... como, assim... como.
a substantivos, pronomes substantivos, numerais e Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
palavras substantivadas esse papel na linguagem. Comprei o protetor solar e fui à praia.
João, venha comigo!
Traga-me doces, minha menina! • Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas:
suas principais conjunções são: mas, contudo,
todavia, entretanto, porém, no entanto, ainda,
assim, senão.

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Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante. Temos medo de que não sejamos aprovados.
Li tudo, porém não entendi! Oração Subordinada Substantiva

• Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também
suas principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; introduzem as orações subordinadas substantivas, bem
quer...quer; seja...seja. como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde,
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador. como).

• Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: O garoto perguntou qual seu nome.


suas principais conjunções são: logo, portanto, Oração Subordinada Substantiva
por fim, por conseguinte, consequentemente, pois
(posposto ao verbo). Não sabemos quando ele virá.
Passei no concurso, portanto comemorarei! Oração Subordinada Substantiva
A situação é delicada; devemos, pois, agir.
Classificação das Orações Subordinadas
• Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: Substantivas
suas principais conjunções são: isto é, ou seja, a
saber, na verdade, pois (anteposto ao verbo). Conforme a função que exerce no período, a oração
Não fui à praia, pois queria descansar durante o subordinada substantiva pode ser:
Domingo.
Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos. 1. Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
verbo da oração principal:
Período Composto Por Subordinação
É fundamental o seu comparecimento à reunião.
Quero que você seja aprovado!
Sujeito
Oração principal oração subordinada

É fundamental que você compareça à reunião.
Observe que na oração subordinada temos o verbo
Oração Principal Oração Subordinada
“seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
Substantiva Subjetiva
do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
conjunção. As orações subordinadas que apresentam
verbo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo
do indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas FIQUE ATENTO!
por conjunção, chamam-se orações desenvolvidas ou
explícitas. Observe que a oração subordinada
substantiva pode ser substituída pelo
Podemos modificar o período acima. Veja: pronome “isso”. Assim, temos um período
simples:
Quero ser aprovado. É fundamental isso ou Isso é
Oração Principal Oração Subordinada fundamental.

A análise das orações continua sendo a mesma: Desta forma, a oração correspondente a
“Quero” é a oração principal, cujo objeto direto é a “isso” exercerá a função de sujeito.
oração subordinada “ser aprovado”. Observe que a
oração subordinada apresenta agora verbo no infinitivo
(ser). Além disso, a conjunção “que”, conectivo que unia
as duas orações, desapareceu. As orações subordinadas Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na
cujo verbo surge numa das formas nominais (infinitivo, oração principal:
gerúndio ou particípio) são chamadas de orações
reduzidas ou implícitas (como no exemplo acima). • Verbos de ligação + predicativo, em construções
do tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece
Observação: certo - É claro - Está evidente - Está comprovado
As orações reduzidas não são introduzidas por É bom que você compareça à minha festa.
conjunções nem pronomes relativos. Podem ser,
eventualmente, introduzidas por preposição. • Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-
se, Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi
LÍNGUA PORTUGUESA

A) Orações Subordinadas Substantivas anunciado, Ficou provado.


A oração subordinada substantiva tem valor de Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
substantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção
integrante (que, se). • Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
importar - ocorrer - acontecer
Não sei se sairemos hoje. Convém que não se atrase na entrevista.
Oração Subordinada Substantiva

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Observação: integram o sentido de um nome. Para distinguir uma da
Quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
o verbo da oração principal está sempre na 3.ª pessoa do tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
singular. plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
segundo, um nome.
2. Objetiva Direta = exerce função de objeto direto
do verbo da oração principal:
5. Predicativa = exerce papel de predicativo do
Todos querem sua aprovação no concurso. sujeito do verbo da oração principal e vem sempre
Objeto Direto depois do verbo ser.
Nosso desejo era sua desistência.
Todos querem que você seja aprovado. (Todos Predicativo do Sujeito
querem isso)
Oração Principal Oração Subordinada Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso
Substantiva Objetiva Direta desejo era isso)
Oração Subordinada
As orações subordinadas substantivas objetivas Substantiva Predicativa
diretas (desenvolvidas) são iniciadas por:
• Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e 6. Apositiva = exerce função de aposto de algum
“se”: A professora verificou se os alunos estavam termo da oração principal.
presentes. Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
• Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às Aposto
vezes regidos de preposição), nas interrogações
indiretas: O pessoal queria saber quem era o dono Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!
do carro importado. Oração subordinada
• Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às substantiva apositiva reduzida de infinitivo
vezes regidos de preposição), nas interrogações
indiretas: Eu não sei por que ela fez isso.
(Fernanda tinha um grande sonho: isso)
3. Objetiva Indireta = atua como objeto indireto
Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )
do verbo da oração principal. Vem precedida de
preposição.
B) Orações Subordinadas Adjetivas
Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
Meu pai insiste em meu estudo.
Objeto Indireto valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale.
As orações vêm introduzidas por pronome relativo e
Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste exercem a função de adjunto adnominal do antecedente.
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Esta foi uma redação bem-sucedida.
Objetiva Indireta Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)

Observação: O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo


Em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
oração. construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
Oração Subordinada Esta foi uma redação que fez sucesso.
Substantiva Objetiva Indireta Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva

4. Completiva Nominal = completa um nome Perceba que a conexão entre a oração subordinada
que pertence à oração principal e também vem adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
marcada por preposição. feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha
Sentimos orgulho de seu comportamento. uma função sintática na oração subordinada: ocupa o
Complemento Nominal papel que seria exercido pelo termo que o antecede (no
caso, “redação” é sujeito, então o “que” também funciona
LÍNGUA PORTUGUESA

Sentimos orgulho de que você se comportou. (= como sujeito).


Sentimos orgulho disso.)
Oração Subordinada
Substantiva Completiva Nominal

As orações subordinadas substantivas objetivas in-


diretas integram o sentido de um verbo, enquanto que
orações subordinadas substantivas completivas nominais

57
Agora, a oração em destaque não tem sentido
FIQUE ATENTO! restritivo em relação à palavra “homem”; na verdade,
Vale lembrar um recurso didático para apenas explicita uma ideia que já sabemos estar contida
reconhecer o pronome relativo “que”: ele no conceito de “homem”.
sempre pode ser substituído por: o qual -
a qual - os quais - as quais Saiba que:
Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta A oração subordinada adjetiva explicativa é separada
oração é equivalente a: Refiro-me ao aluno da oração principal por uma pausa que, na escrita,
o qual estuda. é representada pela vírgula. É comum, por isso, que a
pontuação seja indicada como forma de diferenciar as
orações explicativas das restritivas; de fato, as explicativas
Forma das Orações Subordinadas Adjetivas vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não.

Quando são introduzidas por um pronome C) Orações Subordinadas Adverbiais


relativo e apresentam verbo no modo indicativo ou Uma oração subordinada adverbial é aquela que
subjuntivo, as orações subordinadas adjetivas são exerce a função de adjunto adverbial do verbo da oração
chamadas desenvolvidas. Além delas, existem as principal. Assim, pode exprimir circunstância de tempo,
orações subordinadas adjetivas reduzidas, que não modo, fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando
são introduzidas por pronome relativo (podem ser desenvolvida, vem introduzida por uma das conjunções
introduzidas por preposição) e apresentam o verbo numa subordinativas (com exclusão das integrantes, que
das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio). introduzem orações subordinadas substantivas).
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou. Classifica-se de acordo com a conjunção ou locução
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar. conjuntiva que a introduz (assim como acontece com as
coordenadas sindéticas).
No primeiro período, há uma oração subordinada
adjetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome Durante a madrugada, eu olhei você dormindo.
relativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito Oração Subordinada Adverbial
perfeito do indicativo. No segundo, há uma oração
subordinada adjetiva reduzida de infinitivo: não há A oração em destaque agrega uma circunstância de
pronome relativo e seu verbo está no infinitivo. tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada
adverbial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas acessórios que indicam uma circunstância referente, via
de regra, a um verbo. A classificação do adjunto adverbial
Na relação que estabelecem com o termo que depende da exata compreensão da circunstância que
caracterizam, as orações subordinadas adjetivas podem exprime.
atuar de duas maneiras diferentes. Há aquelas que Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
restringem ou especificam o sentido do termo a que minha vida.
se referem, individualizando-o. Nestas orações não Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
há marcação de pausa, sendo chamadas subordinadas minha vida.
adjetivas restritivas. Existem também orações que realçam
um detalhe ou amplificam dados sobre o antecedente, No primeiro período, “naquele momento” é um
que já se encontra suficientemente definido. Estas orações adjunto adverbial de tempo, que modifica a forma verbal
denominam-se subordinadas adjetivas explicativas. “senti”. No segundo período, este papel é exercido
pela oração “Quando vi o mar”, que é, portanto, uma
Exemplo 1: oração subordinada adverbial temporal. Esta oração é
desenvolvida, pois é introduzida por uma conjunção
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que subordinativa (quando) e apresenta uma forma verbal do
passava naquele momento. modo indicativo (“vi”, do pretérito perfeito do indicativo).
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva Seria possível reduzi-la, obtendo-se:
Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de
No período acima, observe que a oração em destaque minha vida.
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”:
trata-se de um homem específico, único. A oração limita A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
o universo de homens, isto é, não se refere a todos os das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não
homens, mas sim àquele que estava passando naquele é introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por
LÍNGUA PORTUGUESA

momento. uma preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Exemplo 2: Observação:
A classificação das orações subordinadas adverbiais
O homem, que se considera racional, muitas vezes é feita do mesmo modo que a classificação dos adjuntos
age animalescamente. adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa oração.

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Classificação das Orações Subordinadas Adverbiais Só irei se ele for.
A oração acima expressa uma condição: o fato de
A) Causal = A ideia de causa está diretamente “eu” ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
ligada àquilo que provoca um determinado fato, Compare agora com:
ao motivo do que se declara na oração principal. Irei mesmo que ele não vá.
Principal conjunção subordinativa causal: porque.
Outras conjunções e locuções causais: como A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
(sempre introduzido na oração anteposta à oração irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida.
principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto A oração destacada é, portanto, subordinada adverbial
que. concessiva.
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito Observe outros exemplos:
forte. Embora fizesse calor, levei agasalho.
Já que você não vai, eu também não vou.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse /
embora não estudasse). (reduzida de infinitivo)
A diferença entre a subordinada adverbial causal e
a sindética explicativa é que esta “explica” o fato que
aconteceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela E) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais
apresenta a “causa” do acontecimento expresso na comparativas estabelecem uma comparação com
oração à qual ela se subordina. Repare: a ação indicada pelo verbo da oração principal.
1. Faltei à aula porque estava doente. Principal conjunção subordinativa comparativa:
2. Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. como.
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme)
Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro (causa) Você age como criança. (age como uma criança age)
que o fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de
estar doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a • geralmente há omissão do verbo.
oração sublinhada relata um fato que aconteceu depois,
já que primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram F) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou
vermelhos. seja, apresenta uma regra, um modelo adotado
para a execução do que se declara na oração
B) Consecutiva = exprime um fato que é consequência, principal. Principal conjunção subordinativa
é efeito do que se declara na oração principal. São conformativa: conforme. Outras conjunções
introduzidas pelas conjunções e locuções: que, conformativas: como, consoante e segundo (todas
de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas com o mesmo valor de conforme).
estruturas tão...que, tanto...que, tamanho...que. Fiz o bolo conforme ensina a receita.
Principal conjunção subordinativa consecutiva: que Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm
(precedido de tal, tanto, tão, tamanho) direitos iguais.
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou
concretizando-os. G) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração se declara na oração principal. Principal conjunção
Reduzida de Infinitivo) subordinativa final: a fim de. Outras conjunções
finais: que, porque (= para que) e a locução
C) Condicional = Condição é aquilo que se impõe
conjuntiva para que.
como necessário para a realização ou não de
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
um fato. As orações subordinadas adverbiais
condicionais exprimem o que deve ou não ocorrer Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
para que se realize - ou deixe de se realizar - o fato
expresso na oração principal. H) Proporcional = exprime ideia de proporção,
Principal conjunção subordinativa condicional: se. ou seja, um fato simultâneo ao expresso na
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, oração principal. Principal locução conjuntiva
desde que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, subordinativa proporcional: à proporção que.
sem que, uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). Outras locuções conjuntivas proporcionais: à
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas:
certamente o melhor time será campeão. quanto maior...(maior), quanto maior...(menor),
Caso você saia, convide-me. quanto menor...(maior), quanto menor...(menor),
quanto mais...(mais), quanto mais...(menos), quanto
D) Concessiva = indica concessão às ações do menos...(mais), quanto menos...(menos).
LÍNGUA PORTUGUESA

verbo da oração principal, isto é, admitem uma À proporção que estudávamos mais questões
contradição ou um fato inesperado. A ideia de acertávamos.
concessão está diretamente ligada ao contraste, À medida que lia mais culto ficava.
à quebra de expectativa. Principal conjunção
subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se I) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
também a conjunção: conquanto e as locuções expresso na oração principal, podendo exprimir
ainda que, ainda quando, mesmo que, se bem que, noções de simultaneidade, anterioridade ou
posto que, apesar de que. posterioridade. Principal conjunção subordinativa

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temporal: quando. Outras conjunções Resposta: Letra C
subordinativas temporais: enquanto, mal e Em “c”: que relembremos este dia;
locuções conjuntivas: assim que, logo que, todas as Em “d”: que relembrássemos este dia;
vezes que, antes que, depois que, sempre que, desde Em uma oração desenvolvida há a presença de
que, etc. conjunção. Ambos os itens têm, mas temos que fazer
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou. a correlação verbal com o período da oração reduzida
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando (o verbo nos dá uma hipótese – talvez seja bom
terminou a festa) (Oração Reduzida de Particípio) relembrar). Portanto, a forma correta é: Talvez um dia
seja bom que relembremos este dia.
Orações Reduzidas
2. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE
As orações subordinadas podem vir expressas como LEGISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Ou seja,
reduzidas, ou seja, com o verbo em uma de suas formas foi usada para criar uma desigualdade social...”; se
nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio) e sem modificarmos a oração reduzida de infinitivo por uma
conectivo subordinativo que as introduza. oração desenvolvida, a forma adequada seria:
É preciso estudar! = reduzida de infinitivo
É preciso que se estude = oração desenvolvida a) para a criação de uma desigualdade social;
(presença do conectivo) b) para que se criasse uma desigualdade social;
c) para que se crie uma desigualdade social;
Para classificá-las, precisamos imaginar como seriam d) para a criatividade de uma desigualdade social;
“desenvolvidas” – como no exemplo acima. e) para criarem uma desigualdade social.
É preciso estudar = oração subordinada substantiva
subjetiva reduzida de infinitivo Resposta: Letra B
É preciso que se estude = oração subordinada Em “b”: para que se criasse uma desigualdade social;
substantiva subjetiva
Em “c”: para que se crie uma desigualdade social;
Desenvolvida = tem conjunção. Ambas têm. A
Orações Intercaladas
diferença é o tempo verbal. A ação aconteceu (foi
usada para criar): Ou seja, foi usada para que se criasse
São orações independentes encaixadas na sequência
uma desigualdade social.
do período, utilizadas para um esclarecimento, um
aparte, uma citação. Elas vêm separadas por vírgulas ou
3. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO
travessões.
– FGV-2017) Uma manchete do Estado de São Paulo,
Nós – continuava o relator – já abordamos este
assunto. 10/04/2017, dizia o seguinte: “Atentados contra cristãos
matam 44 no Egito e país decreta emergência”. As duas
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA orações desse período mantêm entre si a seguinte
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa relação lógica:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, a) causa e consequência;
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira b) informação e comprovação;
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – c) fato e exemplificação;
São Paulo: Saraiva, 2002. d) afirmação e explicação;
e) tese e argumentação.
SITE
Disponível em: <http://www.pciconcursos.com.br/ Resposta: Letra A
aulas/portugues/frase-periodo-e-oracao> Atentados contra cristãos matam 44 no Egito e país
decreta emergência = devido aos atentados (causa),
o país decretou emergência (consequência).

EXERCÍCIOS COMENTADOS 4. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO


– FGV-2017) “Com as novas medidas para evitar a
1. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) abstenção, o governo espera uma economia vultosa no
“Talvez um dia seja bom relembrar este dia”. (Virgílio) A Enem”. A oração reduzida “para evitar a abstenção” pode
forma de oração desenvolvida adequada correspondente ser adequadamente substituída pela seguinte oração
à oração sublinhada acima é: desenvolvida:
LÍNGUA PORTUGUESA

a) relembrarmos este dia; a) para que se evitasse a abstenção;


b) a relembrança deste dia; b) a fim de que a abstenção fosse evitada;
c) que relembremos este dia; c) para que se evite a abstenção;
d) que relembrássemos este dia; d) a fim de evitar-se a abstenção;
e) uma nova lembrança deste dia. e) evitando-se a abstenção.

60
Resposta: Letra C c) exerce função de aposto e não pode ser excluída da
Em “a”: para que se evitasse a abstenção; oração por tratar-se de um termo essencial.
Em “b”: a fim de que a abstenção fosse evitada; d) exerce função de adjunto adnominal, portanto é um
Em “c”: para que se evite a abstenção; termo acessório.
Desenvolvida tem conjunção. O período traz “para e) exerce função de adjunto adverbial, portanto é um
evitar a abstenção” = hipótese. A forma correta é: “com termo acessório.
as novas medidas para que se evite a abstenção”.
Resposta: Letra B
5. (MPE-AL – ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – A expressão destacada exerce a função de aposto
ÁREA JURÍDICA – FGV-2018) Assinale a opção em que – uma informação a mais sobre o termo citado
o termo sublinhado funciona como sujeito. anteriormente (no caso, Minas Gerais). É um termo
acessório, podendo ser retirado do período sem
a) “Em um regime de liberdades, há sempre o risco de prejudicar a coerência.
excessos”.
8. (TRF-1.ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
b) “Sempre há, também, o oportunismo político-
INFORMÁTICA – FCC-2014)
ideológico para se aproveitar da crise”.
Em 1980, um gigabyte de dados armazenados ocupava
c) “Não faltam, também, os arautos do quanto pior, uma sala...
melhor, ...”. O verbo que exige complemento tal como o sublinhado
d) “A greve atravessou vários sinais ao estrangular as acima está em:
vias de suprimento que mantêm o sistema produtivo
funcionando”. a) A capacidade de computação duplicou a cada 18
e) “Numa democracia, é livre a expressão”. meses nos últimos 20 anos ...
b) ... que deriva da informação.
Resposta: Letra C c) ... que reduz as barreiras ao acesso.
Em “a”: há sempre o risco de excessos = objeto direto d) ... do que era nos anos 70.
Em “b”: “Sempre há, também, o oportunismo político- e) ... atualmente, 200 gigabytes cabem no bolso de uma
ideológico = objeto direto camisa.
Em “c”: “Não faltam, também, os arautos do quanto
pior, melhor = sujeito Resposta: Letra C
Em “d”: que mantêm o sistema produtivo funcionando “Ocupava uma sala” = transitivo direto
= objeto direto Em “a”: A capacidade de computação duplicou =
Em “e”: é livre a expressão = predicativo do sujeito verbo intransitivo
Em “b”: que deriva da informação = transitivo indireto
6. (TJ-PE – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FUNÇÃO Em “c”: que reduz as barreiras = transitivo direto
JUDICIÁRIA – IBFC-2017 - ADAPTADA) “A resposta que Em “d”: do que era nos anos 70 = verbo de ligação
lhe daria seria: ‘Essa estória não aconteceu nunca para Em “e”: atualmente, 200 gigabytes cabem = verbo
que aconteça sempre... ’” O pronome destacado cumpre intransitivo
papel coesivo, mas também sintático na oração. Assim,
sintaticamente, ele deve ser classificado como: 9. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018) “Tenho
comentado aqui na Folha em diversas crônicas, os usos da
internet, que se ressente ainda da falta de uma legislação
a) adjunto adnominal.
específica que coíba não somente os usos mas os abusos
b) objeto direto.
deste importante e eficaz veículo de comunicação”. Sobre
c) complemento nominal.
as ocorrências do vocábulo que, nesse segmento do
d) objeto indireto. texto, é correto afirmar que:
e) predicativo.
a) são pronomes relativos com o mesmo antecedente;
Resposta: Letra D b) exemplificam classes gramaticais diferentes;
O verbo “dar” é bitransitivo (transitivo direto e indireto): c) mostram diferentes funções sintáticas;
Quem dá, dá algo (direto) a alguém (indireto). No d) são da mesma classe gramatical e da mesma função
caso: resposta (objeto direto) / lhe (objeto indireto = sintática;
a ele[a]) e) iniciam o mesmo tipo de oração subordinada.
GABARITO OFICIAL: D
Resposta: Letra D
7. (TRE-AC – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA “Tenho comentado aqui na Folha em diversas crônicas,
LÍNGUA PORTUGUESA

ADMINISTRATIVA – AOCP-2015) Em “Ele diz que vota os usos da internet, que (= a qual) se ressente ainda da
desde os 18, quando ainda era jovem e morava em Minas falta de uma legislação específica que (= a qual) coíba
Gerais, sua terra natal...”, a expressão em destaque não somente os usos mas os abusos deste importante
e eficaz veículo de comunicação” = ambos podem
a) exerce função de vocativo e não pode ser excluída da ser substituídos por “a qual”, portanto são pronomes
oração por tratar-se de um termo essencial. relativos (pertencem à mesma classe gramatical); o 1.º
b) exerce função de aposto e pode ser excluída da oração inicia uma oração subordinada adjetiva explicativa; o
por tratar-se de um termo acessório. 2.º, adjetiva restritiva.

61
10. (TRE-RJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- • Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia.
TRATIVA – CONSULPLAN-2017) Analise as afirmações (Companhia). Se a palavra abreviada aparecer em
apresentadas a seguir. final de período, este não receberá outro ponto;
I. Em “Existe alguma hora que não seja de relógio?”, a neste caso, o ponto de abreviatura marca, também,
oração sublinhada é uma oração subordinada adjetiva o fim de período. Exemplo: Estudei português,
explicativa. matemárica, constitucional, etc. (e não “etc..”)
II. Em “[...] tem surgido, cada vez mais frequente, o
diminutivo do gerúndio.”, a expressão destacada atua • Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do
como sujeito da locução verbal “ter surgido”. ponto, assim como após o nome do autor de uma
III. “Não pense que para por aí [...]”, a oração sublinhada citação:
é uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Haverá eleições em outubro
IV. Em “[...] se te chamarem de ‘queridinho’, querem é O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão
que você exploda.”, a oração destacada é uma oração Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
subordinada adverbial causal.
• Os números que identificam o ano não utilizam pon-
Estão corretas apenas as afirmativas to nem devem ter espaço a separá-los, bem como
os números de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250.
a) I e II.
b) II e III. B) Ponto e Vírgula (;)
c) III e IV.
d) I, II e IV. • Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho;
Resposta: Letra B os ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos
Em “I” - “Existe alguma hora que não seja de relógio?”, generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum
a oração sublinhada é uma oração subordinada espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
adjetiva explicativa = substituindo “que” por “a qual”,
continua com sentido, então é pronome relativo –
• Separa partes de frases que já estão separadas
presente nas adjetivas, mas no período em questão
por vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor;
temos uma restritiva = incorreta
outros, montanhas, frio e cobertor.
Em “II” - tem surgido, cada vez mais frequente, o
diminutivo do gerúndio.”, a expressão destacada
• Separa itens de uma enumeração, exposição de
atua como sujeito da locução verbal “ter surgido” =
motivos, decreto de lei, etc.
correta
Ir ao supermercado;
Em “III” - “Não pense que para por aí [...]”, a oração
sublinhada é uma oração subordinada substantiva Pegar as crianças na escola;
objetiva direta = correta Caminhada na praia;
Em “IV” - se te chamarem de ‘queridinho’, a oração Reunião com amigos.
destacada é uma oração subordinada adverbial causal
= adverbial condicional (“se”) = incorreta C) Dois pontos (:)

• Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio


Coutinho trata este assunto:
EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO • Antes de um aposto = Três coisas não me agradam:
chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
• Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá
PONTUAÇÃO estava a deplorável família: triste, cabisbaixa,
vivendo a rotina de sempre.
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
servem para compor a coesão e a coerência textual, além • Em frases de estilo direto
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Maria perguntou:
Um texto escrito adquire diferentes significados quando - Por que você não toma uma decisão?
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
depende, em certos momentos, da intenção do autor do D) Ponto de Exclamação (!)
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamente
relacionados ao contexto e ao interlocutor. • Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
LÍNGUA PORTUGUESA

susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me


Principais funções dos sinais de pontuação casar com você!

A) Ponto (.) • Depois de interjeições ou vocativos


Ai! Que susto!
• Indica o término do discurso ou de parte dele, João! Há quanto tempo!
encerrando o período.

62
E) Ponto de Interrogação (?) 5. Para isolar:
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole
• Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres. brasileira, possui um trânsito caótico.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.
Azevedo)
Observações:
F) Reticências (...) Considerando-se que “etc.” é abreviatura da
expressão latina et coetera, que significa “e outras coisas”,
• Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis, seria dispensável o emprego da vírgula antes dele.
canetas, cadernos... Porém, o acordo ortográfico em vigor no Brasil exige
• Indica interrupção violenta da frase: “- Não... quero que empreguemos etc. predecido de vírgula: Falamos de
dizer... é verdad... Ah!” política, futebol, lazer, etc.
• Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este As perguntas que denotam surpresa podem ter
mal... pega doutor? combinados o ponto de interrogação e o de exclamação:
• Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa, Você falou isso para ela?!
depois, o coração falar...
Temos, ainda, sinais distintivos:
• a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014),
G) Vírgula (,)
separação de siglas (IOF/UPC);
• os colchetes ([ ]) = usados em transcrições
Não se usa vírgula feitas pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como
Separando termos que, do ponto de vista sintático, primeira opção aos parênteses, principalmente na
ligam-se diretamente entre si: matemática;
• o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a uma
1. Entre sujeito e predicado: nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir
Todos os alunos da sala foram advertidos. um nome que não se quer mencionar.
Sujeito predicado
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. Entre o verbo e seus objetos: CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
O trabalho custou sacrifício aos realizadores. Cochar - Português linguagens: volume 3. – 7.ª ed. Reform.
V.T.D.I. O.D. O.I. – São Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Usa-se a vírgula: Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

1. Para marcar intercalação: SITE


A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua Disponível em: <http://www.infoescola.com/
abundância, vem caindo de preço. portugues/pontuacao/>
B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
Estão produzindo, todavia, altas quantidades de gramatica/uso-da-virgula.htm>
alimentos.
C) das expressões explicativas ou corretivas: As
indústrias não querem abrir mão de suas vantagens,
isto é, não querem abrir mão dos lucros altos. EXERCÍCIOS COMENTADOS
2. Para marcar inversão:
A) do adjunto adverbial (colocado no início da
1. (STJ – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O
oração): Depois das sete horas, todo o comércio está CARGO 1 – CESPE – 2018 – ADAPTADA)
de portas fechadas.
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos Texto CB1A1CCC
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes
maio de 1982. revelaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram
relatos de sofrimento, dor, angústia que se transportavam
3. Para separar entre si elementos coordenados da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para minha
(dispostos em enumeração):
LÍNGUA PORTUGUESA

cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles relatos


Era um garoto de 15 anos, alto, magro. sofridos, aflitos. As angústias dos que se sentavam à
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e minha frente, por diversas vezes, me escoltaram até
animais. minha casa e passaram a ser companheiras de noites de
insônia. Não havia outra solução a não ser escrever. Era
4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós preciso colocar no papel e compartilhar a dor daquelas
queremos comer pizza; e vocês, churrasco. pessoas que, mesmo ao fim do processo e com a sentença
prolatada, não me deixavam esquecê-las.

63
Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas, risco. Essa postura às vezes proporciona controle, porém
esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em não segurança, pois o Estado tem o poder limitado de
comum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de manter a ordem por meio da polícia, sendo necessário
casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para essas dividir as tarefas de controle com organizações locais e
mulheres, havia se transformado no pior dos mundos. com a comunidade.
Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sentavam Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem
à minha frente, os relatos se transformavam em desabafos pública e garantia dos direitos individuais: os desafios da
de uma vida inteira. Era preciso explicar, justificar e muitas polícia em sociedades democráticas. In: Revista Brasileira
vezes se culpar por terem sido agredidas. A culpa por ter de Segurança Pública. São
sido vítima, a culpa por ter permitido, a culpa por não Paulo, ano 5, 8.ª ed., fev. – mar./2011, p. 84-5 (com
ter sido boa o suficiente, a culpa por não ter conseguido adaptações).
manter a família. Sempre a culpa. No primeiro parágrafo do texto 1A1AAA, os dois-pontos
Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma introduzem
força externa como se somente nós, juízes, promotores e
advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo a) uma enumeração das “categorias de direitos”.
de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela b) resultados da “consolidação da cidadania”.
violência invisível. c) um contra-argumento para a ideia de cidadania como
Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias algo “amplo”.
além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com d) uma generalização do termo “direitos”.
adaptações). e) objetivos do “processo de redemocratização”.

O trecho “juízes, promotores e advogados” explica o Em “a”, uma enumeração das “categorias de direitos”.
sentido de “nós”. Em “b”, resultados da “consolidação da cidadania” =
incorreta
( ) CERTO ( ) ERRADO Em “c”, um contra-argumento para a ideia de cidadania
como algo “amplo” = incorreta
Resposta: Certo. Ao trecho: (...) Aquelas mulheres Em “d”, uma generalização do termo “direitos” =
chegavam à Justiça buscando uma força externa incorreta
como se somente nós, juízes, promotores e advogados, Em “e”, objetivos do “processo de redemocratização”
pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo de violência = incorreta
(...). Os termos entre vírgulas servem para exemplificar Recorramos ao texto (faça isso SEMPRE durante seu
quem são os “nós” citados pela autora (juízes, concurso. O texto é a base para encontrar as respostas
promotores, advogados). para as questões!): (...) abrangendo as três categorias
de direitos: civis, políticos e sociais = os dois-pontos
2. (SERES-PE – AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁ- introduzem a enumeração dos direitos; apresenta-os.
RIA – CESPE – 2017) GABARITO OFICIAL: A

Texto 1A1AAA 3. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016)


Bibliotecas sempre deram muito o que falar. Grandes
Após o processo de redemocratização, com o fim da di- monarquias jamais deixaram de possuir as suas, e cui-
tadura militar, em meados da década de 80 do século davam delas estrategicamente. Afinal, dotes de prin-
passado, era de se esperar que a democratização das cesas foram negociados tendo livros como objetos de
instituições tivesse como resultado direto a consolidação barganha; tratados diplomáticos versaram sobre essas
da cidadania — compreendida de modo amplo, abran- coleções. Os monarcas portugueses, após o terremoto
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e que dizimou Lisboa, se orgulhavam de, a despeito dos
sociais. Sobressaem, porém, problemas que configuram destroços, terem erguido uma grande biblioteca: a Real
mais desafios para a cidadania brasileira, como a violên- Livraria. D. José chamava-a de joia maior do tesouro real.
cia urbana — que ameaça os direitos individuais — e o D. João VI, mesmo na correria da partida para o Brasil,
desemprego — que ameaça os direitos sociais. não se esqueceu dos livros. Em três diferentes levas, a
No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir Real Biblioteca aportou nos trópicos, e foi até mesmo
de 1980, impacto do processo de modernização pelo tema de disputa.
qual o país passou. Isso sugere que o boom do consumo Internet: <http://observatoriodaimprensa.com.
colocou em circulação bens de alto valor e, consequente- br> (com adaptações).
mente, aumentou as oportunidades para o crime, inclusi-
ve porque a maior mobilidade de pessoas torna o espaço O sinal de dois-pontos empregado imediatamente após
LÍNGUA PORTUGUESA

social mais anônimo, menos supervisionado. “biblioteca” introduz um termo de natureza explicativa.
Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais
dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade. ( ) CERTO ( ) ERRADO
O objetivo em relação à criminalidade torna-se bem me-
nos ambicioso: o controle. A prisão ganha mais impor- (...) terem erguido uma grande biblioteca: a Real Livraria
tância na modernidade tardia, porque satisfaz uma dupla = os dois-pontos antecedem um termo explicativo.
necessidade dessa nova cultura: castigo e controle do GABARITO OFICIAL: CERTO

64
4. (INSS – TÉCNICO PREVIDENCIÁRIO – CESPE – 2003) rar ganha casa do governo. Quando as pernas fraquejam,
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em seu a condução da prefeitura leva os velhinhos para qualquer
discurso na reabertura do Congresso que o “vírus da in- lugar. E, se já não der mais para sair de casa, um assisten-
flação voltou a ser uma ameaça real”. Em sua fala de 21 te social entrega comida na porta.
minutos aos senadores e deputados, o presidente aler- Internet: <http://jornalnacional.globo.com/semana>.
tou também para a piora do cenário econômico interna- Acesso em 22 fev. 2003. (Com adaptações.)
cional e afirmou que o aperto fiscal de seu governo dura-
rá o “tempo necessário”. Segundo Lula, “teremos tempos O sétimo parágrafo do texto pode ser reescrito da se-
difíceis pela frente. O mundo entrou em um período de guinte forma, mantendo-se correta a pontuação: As van-
maiores incertezas”. tagens da modernização do sistema, todos os aposen-
Folha de S. Paulo, 18/2/2003, capa (Com adaptações.) tados britânicos percebem: quem não tem onde morar,
No texto, o uso de aspas serve para alertar o leitor de que ganha casa do governo; quando as pernas fraquejam, a
as expressões destacadas têm duplo sentido. condução da prefeitura leva os velhinhos para qualquer
lugar; e, se já não der mais para sair de casa, um assisten-
(  ) CERTO  (  ) ERRADO te social entrega comida na porta.

No texto, o uso de aspas serve para transcrever a fala (  ) CERTO  (  ) ERRADO


do presidente, relatando o que realmente foi dito por
ele O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em As pontuações estão corretas.
seu discurso na reabertura do Congresso que o “vírus GABARITO OFICIAL: CERTO
da inflação voltou a ser uma ameaça real”.
GABARITO OFICIAL: ERRADO 6. (INSS – PERITO MÉDICO PREVIDENCIÁRIO – CESPE
– 2010)
5. (INSS – TÉCNICO PREVIDENCIÁRIO – CESPE – 2003)
Há 40 anos nos Estados Unidos da América (EUA), os A Revolta da Vacina
gaúchos Cláudio e Lourdes aposentaram-se pelo sistema
de previdência norte-americano e recebem do governo o O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o sécu-
chamado seguro social. Cláudio recebe US$ 900 por mês lo XX, era ainda uma cidade de ruas estreitas e sujas, sa-
e Lourdes, US$ 450, benefícios que garantem as necessi- neamento precário e foco de doenças como febre ama-
dades básicas. rela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros
Assim como o casal de brasileiros, 44 milhões de apo- faziam questão de anunciar que não parariam no porto
sentados recebem um seguro social nos EUA. Para se carioca e os imigrantes recém-chegados da Europa mor-
aposentar, trabalhadores dos setores público e privado riam às dezenas de doenças infecciosas.
seguem basicamente as mesmas regras. O benefício é Ao assumir a presidência da República, Francisco de Pau-
calculado de acordo com a contribuição do trabalhador la Rodrigues Alves instituiu como meta governamental
ao longo da vida ativa. É preciso contribuir durante 35 o saneamento e reurbanização da capital da República.
anos, com 6,2% do salário. Para assumir a frente das reformas, nomeou Francisco
A maioria dos trabalhadores se aposenta aos 62 anos. O Pereira Passos para o governo municipal. Este, por sua
valor médio do benefício mensal é de US$ 750. vez, chamou os engenheiros Francisco Bicalho para a re-
Mas o que garante uma aposentadoria tranquila não é forma do porto e Paulo de Frontin para as reformas no
apenas o seguro social, explica um especialista em pre- centro. Rodrigues Alves nomeou ainda o médico Oswal-
vidência. O norte-americano tem que ter suas próprias do Cruz para o saneamento.
economias ou um fundo de pensão complementar. O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças,
Já na Inglaterra, se fosse uma trabalhadora qualquer, a com a derrubada de casarões e cortiços e o consequen-
rainha Elizabeth II, de 76 anos de idade, poderia estar te despejo de seus moradores. A população apelidou o
aposentada há 16 anos. Em um país onde os chefes de movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura
Estado costumam permanecer no trono até a morte, as de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com
súditas têm o direito de se aposentar com 60 anos de prédios de cinco ou seis andares.
vida. Os súditos, com 65 anos. Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamen-
Funcionários públicos e trabalhadores comuns recebem to de Oswaldo Cruz. Para combater a peste, ele criou
350 libras de pensão por mês, metade do salário mínimo brigadas sanitárias que cruzavam a cidade espalhando
na Inglaterra. Para ter direito a esse benefício, os britâni- raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos.
cos descontam em média 10% do que recebem. Em seguida o alvo foram os mosquitos transmissores da
LÍNGUA PORTUGUESA

Além disso, todos são obrigados a pagar um plano de febre amarela.


aposentadoria particular, para complementar a pensão Finalmente, restava o combate à varíola. Autoritariamen-
que o Estado garante. O desconto médio é de 8% sobre te, foi instituída a lei de vacinação obrigatória. A popula-
os vencimentos. Assim fica assegurado um rendimento ção, humilhada pelo poder público autoritário e violento,
de metade do salário da ativa. não acreditava na eficácia da vacina. Os pais de família
As vantagens da modernização do sistema todos os apo- rejeitavam a exposição das partes do corpo a agentes
sentados britânicos percebem. Quem não tem onde mo- sanitários do governo.

65
A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já A) Quando o sujeito é formado por uma expressão
profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insu- partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de,
flado pela imprensa, se revoltasse. Durante uma semana, metade de, a maioria de, a maior parte de, grande
enfrentou as forças da polícia e do exército até ser repri- parte de...) seguida de um substantivo ou pronome
mido com violência. O episódio transformou, no período no plural, o verbo pode ficar no singular ou no
de 10 a 16 de novembro de 1904, a recém-reconstruída plural.
cidade do Rio de Janeiro em uma praça de guerra, onde A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos gene- Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram
ralizados. proposta.
Internet: <www.ccs.saude.gov.br>. (Com adaptações.)
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
Mantém-se o sentido do texto e a correção gramatical dos coletivos, quando especificados: Um bando de
caso se retire a vírgula que vem logo depois de “Este”. vândalos destruiu / destruíram o monumento.

(  ) CERTO  (  ) ERRADO Observação:


Ao trecho: (...) nomeou Francisco Pereira Passos para Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a
o governo municipal. Este, por sua vez, chamou os unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque
engenheiros Francisco Bicalho. “Este” se refere a aos elementos que formam esse conjunto.
Francisco Passos, o qual nomeou outros. O termo
“por sua vez” serve para explicar o que será descrito B) Quando o sujeito é formado por expressão que
posteriormente, portanto deve estar entre vírgulas. indica quantidade aproximada (cerca de, mais
GABARITO OFICIAL: ERRADO de, menos de, perto de...) seguida de numeral e
substantivo, o verbo concorda com o substantivo.
Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Perto de quinhentos alunos compareceram à
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
solenidade.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas
últimas Olimpíadas.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Observação:
Os concurseiros estão apreensivos. Quando a expressão “mais de um” se associar a verbos
Concurseiros apreensivos. que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: Mais
de um colega se ofenderam na discussão. (ofenderam um
No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra ao outro)
na terceira pessoa do plural, concordando com o seu
sujeito, os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo C) Quando se trata de nomes que só existem no
“apreensivos” está concordando em gênero (masculino) plural, a concordância deve ser feita levando-se
e número (plural) com o substantivo a que se refere: em conta a ausência ou presença de artigo. Sem
concurseiros. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo
número e gênero se correspondem. A correspondência no plural, o verbo deve ficar o plural.
de flexão entre dois termos é a concordância, que pode Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
ser verbal ou nominal. Estados Unidos possui grandes universidades.
Alagoas impressiona pela beleza das praias.
Concordância Verbal As Minas Gerais são inesquecíveis.
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.
É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
seu sujeito. D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos,
Sujeito Simples - Regra Geral muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou
“de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro
O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o
em número e pessoa. Veja os exemplos: pronome pessoal.
Quais de nós são / somos capazes?
A prova para ambos os cargos será aplicada às 13h. Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
LÍNGUA PORTUGUESA

3.ª p. Singular 3.ª p. Singular Vários de nós propuseram / propusemos sugestões


inovadoras.
Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural Observação:
Veja que a opção por uma ou outra forma indica a
Casos Particulares inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém
diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada

66
fizemos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se
não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de de acordo com o numeral.
tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. Deu uma hora no relógio da sala.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido Deram cinco horas no relógio da sala.
estiver no singular, o verbo ficará no singular. Soam dezenove horas no relógio da praça.
Qual de nós é capaz? Baterão doze horas daqui a pouco.
Algum de vós fez isso.
Observação:
E) Quando o sujeito é formado por uma expressão Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino,
que indica porcentagem seguida de substantivo, o torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
verbo deve concordar com o substantivo. O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
25% do orçamento do país será destinado à Educação. Soa quinze horas o relógio da matriz.
85% dos entrevistados não aprovam a administração
do prefeito. J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
1% do eleitorado aceita a mudança. sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do
1% dos alunos faltaram à prova. singular. São verbos impessoais: Haver no sentido
de existir; Fazer indicando tempo; Aqueles que
• Quando a expressão que indica porcentagem não indicam fenômenos da natureza. Exemplos:
é seguida de substantivo, o verbo deve concordar Havia muitas garotas na festa.
com o número. Faz dois meses que não vejo meu pai.
25% querem a mudança. Chovia ontem à tarde.
1% conhece o assunto.
Sujeito Composto
• Se o número percentual estiver determinado por
artigo ou pronome adjetivo, a concordância far- A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao
se-á com eles: verbo, a concordância se faz no plural:
Os 30% da produção de soja serão exportados.
Esses 2% da prova serão questionados. Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito
F) O pronome “que” não interfere na concordância;
já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
Pais e filhos devem conversar com frequência.
do singular.
Sujeito
Fui eu que paguei a conta.
Fomos nós que pintamos o muro.
B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas
És tu que me fazes ver o sentido da vida.
gramaticais diferentes, a concordância ocorre da
Sou eu quem faz a prova.
seguinte maneira: a primeira pessoa do plural (nós)
Não serão eles quem será aprovado.
prevalece sobre a segunda pessoa (vós) que, por
G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve sua vez, prevalece sobre a terceira (eles). Veja:
assumir a forma plural. Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais Primeira Pessoa do Plural (Nós)
encantaram os poetas.
Este candidato é um dos que mais estudaram! Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
• Se a expressão for de sentido contrário – nenhum
dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no Pais e filhos precisam respeitar-se.
singular: Terceira Pessoa do Plural (Eles)
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
Nem uma das que me escreveram mora aqui. Observação:
Quando o sujeito é composto, formado por um
• Quando “um dos que” vem entremeada de elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele),
substantivo, o verbo pode: é possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural
1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar
o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que de “tomaríeis”.
faça o mesmo).
LÍNGUA PORTUGUESA

2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão C) No caso do sujeito composto posposto ao
poluídos (noção de que existem outros rios na verbo, passa a existir uma nova possibilidade de
mesma condição). concordância: em vez de concordar no plural com
a totalidade do sujeito, o verbo pode estabelecer
H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o concordância com o núcleo do sujeito mais
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural. próximo.
Vossa Excelência está cansado? Faltaram coragem e competência.
Vossas Excelências renunciarão? Faltou coragem e competência.

67
Compareceram todos os candidatos e o banca. Com o verbo no singular, não se pode falar em
Compareceu o banca e todos os candidatos. sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez que as
expressões “com o filho” e “com o secretariado” são
D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como
concordância é feita no plural. Observe: se houvesse uma inversão da ordem. Veja:
Abraçaram-se vencedor e vencido. “O pai montou o brinquedo com o filho.”
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. “O governador traçou os planos para o próximo
semestre com o secretariado.”
Casos Particulares “O professor questionou as regras com o aluno.”

• Quando o sujeito composto é formado por núcleos Casos em que se usa o verbo no singular:
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no
singular. Café com leite é uma delícia!
Descaso e desprezo marca seu comportamento. O frango com quiabo foi receita da vovó.
A coragem e o destemor fez dele um herói.
Quando os núcleos do sujeito são unidos por
• Quando o sujeito composto é formado por núcleos expressões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não
dispostos em gradação, verbo no singular: somente”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”,
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um o verbo ficará no plural.
segundo me satisfaz. Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
Nordeste.
• Quando os núcleos do sujeito composto são unidos Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, notícia.
de acordo com o valor semântico das conjunções:
Drummond ou Bandeira representam a essência da Quando os elementos de um sujeito composto são
poesia brasileira. resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. é feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de apatia.
“adição”. Já em: Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Juca ou Pedro será contratado. na vida das pessoas.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima
Olimpíada. Outros Casos

Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam O Verbo e a Palavra “SE”
no singular.
Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há
• Com as expressões “um ou outro” e “nem um duas de particular interesse para a concordância verbal:
nem outro”, a concordância costuma ser feita no A) quando é índice de indeterminação do sujeito;
singular. B) quando é partícula apassivadora.
Um ou outro compareceu à festa.
Nem um nem outro saiu do colégio. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos
• Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na
no singular: Um e outro farão/fará a prova. terceira pessoa do singular:
Precisa-se de funcionários.
• Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”, Confia-se em teses absurdas.
o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos
recebem um mesmo grau de importância e a Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
palavra “com” tem sentido muito próximo ao de verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e
“e”. indiretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética.
O pai com o filho montaram o brinquedo. Nesse caso, o verbo deve concordar com o sujeito da
O governador com o secretariado traçaram os planos oração. Exemplos:
para o próximo semestre. Construiu-se um posto de saúde.
O professor com o aluno questionaram as regras. Construíram-se novos postos de saúde.
LÍNGUA PORTUGUESA

Aqui não se cometem equívocos


Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se Alugam-se casas.
a ideia é enfatizar o primeiro elemento.
O pai com o filho montou o brinquedo.
O governador com o secretariado traçou os planos
para o próximo semestre.
O professor com o aluno questionou as regras.

68
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
#FicaDica Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
Duas semanas de férias é muito para mim.
Para saber se o “se” é partícula apassivadora
ou índice de indeterminação do sujeito, ten- • Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
te transformar a frase para a voz passiva. Se for pronome pessoal do caso reto, com este
a frase construída for “compreensível”, esta- concordará o verbo.
remos diante de uma partícula apassivadora; No meu setor, eu sou a única mulher.
se não, o “se” será índice de indeterminação. Aqui os adultos somos nós.
Veja:
Precisa-se de funcionários qualificados. Observação:
Tentemos a voz passiva: Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo)
Funcionários qualificados são precisados (ou representados por pronomes pessoais, o verbo concorda
precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se” com o pronome sujeito.
destacado é índice de indeterminação do Eu não sou ela.
sujeito. Ela não é eu.
Agora:
Vendem-se casas. • Quando o sujeito for uma expressão de sentido
Voz passiva: Casas são vendidas. Constru- partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no
ção correta! Então, aqui, o “se” é partícula plural, o verbo SER concordará com o predicativo.
apassivadora. (Dá para eu passar para a voz A grande maioria no protesto eram jovens.
passiva. Repare em meu destaque. Percebeu O resto foram atitudes imaturas.
semelhança? Agora é só memorizar!).
O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma
O Verbo “Ser” locução verbal (é seguido de infinitivo), admite duas
concordâncias:
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo
e o sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa • Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
concordância pode ocorrer também entre o verbo e o o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
predicativo do sujeito.
• A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
Quando o sujeito ou o predicativo for: sofre flexão:
As crianças parece gostarem do desenho.
A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho
SER concorda com a pessoa gramatical:
Ele é forte, mas não é dois. aas crianças)
Fernando Pessoa era vários poetas.
A esperança dos pais são eles, os filhos. Com orações desenvolvidas, o verbo PARECER fica no
singular. Por exemplo: As paredes parece que têm ouvidos.
B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro no (Parece que as paredes têm ouvidos = oração subordinada
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, substantiva subjetiva).
com o que estiver no plural:
Os livros são minha paixão! Concordância Nominal
Minha paixão são os livros!
A concordância nominal se baseia na relação entre
Quando o verbo SER indicar nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
• horas e distâncias, concordará com a expressão adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
numérica: normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
É uma hora. termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
São quatro horas. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois
seguintes regras gerais:
quilômetros.
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
• datas, concordará com a palavra dia(s), que pode se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
LÍNGUA PORTUGUESA

estar expressa ou subentendida: denunciavam o que sentia.


Hoje é dia 26 de agosto. B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos,
Hoje são 26 de agosto. a concordância pode variar. Podemos sistematizar
essa flexão nos seguintes casos:
• Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade
e for seguido de palavras ou expressões como • Adjetivo anteposto aos substantivos:
pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER O adjetivo concorda em gênero e número com o
fica no singular: substantivo mais próximo.

69
Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
Encontramos caída a roupa e os prendedores. #FicaDica
Encontramos caído o prendedor e a roupa.
Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”.
Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de Se a frase ficar coerente com o primeiro,
parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. trata-se de advérbio, portanto, invariável; se
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. houver coerência com o segundo, função de
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. adjetivo, então varia:
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
• Adjetivo posposto aos substantivos: Ele está só descansando. (apenas
O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo descansando) - advérbio
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural
se houver substantivo feminino e masculino).
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. descansando)

Observação: G) Quando um único substantivo é modificado por


Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza, dois ou mais adjetivos no singular, podem ser
pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos usadas as construções:
dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado • O substantivo permanece no singular e coloca-se o
no plural masculino, que é o gênero predominante artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura
quando há substantivos de gêneros diferentes. espanhola e a portuguesa.
Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o • O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
adjetivo fica no singular ou plural. antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e
A beleza e a inteligência feminina(s). portuguesa.
O carro e o iate novo(s).
Casos Particulares
C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:
O adjetivo fica no masculino singular, se o substantivo É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É
não for acompanhado de nenhum modificador: Água é permitido
bom para saúde.
O adjetivo concorda com o substantivo, se este • Estas expressões, formadas por um verbo mais
for modificado por um artigo ou qualquer outro um adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a
determinativo: Esta água é boa para saúde. que se referem possuir sentido genérico (não vier
precedido de artigo).
D) O adjetivo concorda em gênero e número com
É proibido entrada de crianças.
os pronomes pessoais a que se refere: Juliana
Em certos momentos, é necessário atenção.
encontrou-as muito felizes.
No verão, melancia é bom.
É preciso cidadania.
E) Nas expressões formadas por pronome indefinido
Não é permitido saída pelas portas laterais.
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição
DE + adjetivo, este último geralmente é usado
• Quando o sujeito destas expressões estiver
no masculino singular: Os jovens tinham algo de
misterioso. determinado por artigos, pronomes ou adjetivos,
tanto o verbo como o adjetivo concordam com ele.
F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem É proibida a entrada de crianças.
função adjetiva e concorda normalmente com o Esta salada é ótima.
nome a que se refere: A educação é necessária.
Cristina saiu só. São precisas várias medidas na educação.
Cristina e Débora saíram sós.
Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
Observação: Quite
Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou Estas palavras adjetivas concordam em gênero e
LÍNGUA PORTUGUESA

“apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto, número com o substantivo ou pronome a que se referem.
invariável: Eles só desejam ganhar presentes. Seguem anexas as documentações requeridas.
A menina agradeceu: - Muito obrigada.
Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Seguem inclusos os papéis solicitados.
Estamos quites com nossos credores.

70
Bastante - Caro - Barato - Longe em cada Estado e no sistema internacional. Ao mesmo
Estas palavras são invariáveis quando funcionam tempo, o processo de democratização do sistema in-
como advérbios. Concordam com o nome a que se ternacional, que é o caminho obrigatório para a busca
referem quando funcionam como adjetivos, pronomes do ideal da paz perpétua, não pode avançar sem uma
adjetivos, ou numerais. gradativa ampliação do reconhecimento e da proteção
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) dos direitos humanos, acima de cada Estado. Direitos
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. humanos, democracia e paz são três elementos funda-
(pronome adjetivo) mentais do mesmo movimento histórico: sem direitos
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) humanos reconhecidos e protegidos, não há democra-
As casas estão caras. (adjetivo) cia; sem democracia, não existem as condições mínimas
Achei barato este casaco. (advérbio) para a solução pacífica dos conflitos. Em outras palavras,
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) a democracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se
tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns
Meio - Meia direitos fundamentais; haverá paz estável, uma paz que
A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, não tenha a guerra como alternativa, somente quando
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi existirem cidadãos não mais apenas deste ou daquele
meia porção de polentas. Estado, mas do mundo.
Quando empregada como advérbio permanece Norberto Bobbio. A era dos direitos. Trad. Carlos
invariável: A candidata está meio nervosa. Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 1 (com
adaptações).

#FicaDica Preservando-se a correção gramatical do texto


CB3A2BBB, os termos “não há” e “não existem” poderiam
Dá para eu substituir por “um pouco”, assim ser substituídos, respectivamente, por
saberei que se trata de um advérbio, não
de adjetivo: “A candidata está um pouco a) não existe e não têm.
nervosa”. b) não existe e inexiste.
c) inexiste e não há.
d) inexiste e não acontece.
Alerta - Menos e) não tem e não têm.
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
sempre invariáveis. Busquemos o contexto:
Os concurseiros estão sempre alerta. - sem direitos humanos reconhecidos e protegidos,
Não queira menos matéria! não há democracia = poderíamos substituir por “não
existe”, inexiste (verbo “haver” empregado com o
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS sentido de “existir”)
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza - sem democracia, não existem as condições mínimas
Cochar. Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform. para a solução pacífica dos conflitos = sentido de
– São Paulo: Saraiva, 2010. “existir”. Poderíamos substituir por inexiste, mas no
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa plural, já que devemos concordar com “as condições
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. mínimas”. A única “troca” adequada seria o verbo
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: “haver” – que pode ser utilizado com o sentido de
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. “existir”. Teríamos: sem direitos humanos reconhecidos
e protegidos, inexiste democracia; sem democracia,
SITE não há as condições mínimas para a solução pacífica
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ dos conflitos.
secoes/sint/sint49.php> GABARITO OFICIAL: C

2. (INSS – TÉCNICO DO SEGURO SOCIAL – CESPE –


2008)
EXERCÍCIOS COMENTADOS Como nasce uma história
(fragmento)
1. (PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – CONHECIMENTOS
LÍNGUA PORTUGUESA

BÁSICOS – CARGOS DE TÉCNICO MUNICIPAL – NÍVEL Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve
MÉDIO – CESPE – 2017) do primeiro ao décimo quarto andar. Era pelo menos o
que dizia a tabuleta no alto da porta.
Texto CB3A2BBB — Sétimo — pedi.
O reconhecimento e a proteção dos direitos humanos A porta se fechou e começamos a subir. Minha atenção
estão na base das Constituições democráticas modernas. se fixou num aviso que dizia:
A paz, por sua vez, é o pressuposto necessário para o re- É expressamente proibido os funcionários, no ato da subi-
conhecimento e a efetiva proteção dos direitos humanos da, utilizarem os elevadores para descerem.

71
Desde o meu tempo de ginásio sei que se trata de pro- O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças,
blema complicado, este do infinito pessoal. Prevaleciam com a derrubada de casarões e cortiços e o consequen-
então duas regras mestras que deveriam ser rigorosa- te despejo de seus moradores. A população apelidou o
mente obedecidas. Uma afirmava que o sujeito, sendo movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura
o mesmo, impedia que o verbo se flexionasse. Da outra de grandes bulevares, largas e modernas avenidas com
infelizmente já não me lembrava. prédios de cinco ou seis andares.
Mas não foi o emprego pouco castiço do infinito pessoal Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamen-
que me intrigou no tal aviso: foi estar ele concebido de to de Oswaldo Cruz. Para combater a peste, ele criou
maneira chocante aos delicados ouvidos de um escritor brigadas sanitárias que cruzavam a cidade espalhando
que se preza. raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos.
Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro, en- Em seguida o alvo foram os mosquitos transmissores da
tenderia o que se pretende dizer neste aviso. Pois um ti- febre amarela.
jolo de burrice me baixou na compreensão, fazendo com Finalmente, restava o combate à varíola. Autoritariamen-
que eu ficasse revirando a frase na cabeça: descerem, no te, foi instituída a lei de vacinação obrigatória. A popula-
ato da subida? Que quer dizer isto? E buscava uma forma ção, humilhada pelo poder público autoritário e violento,
simples e correta de formular a proibição: não acreditava na eficácia da vacina. Os pais de família
É proibido subir para depois descer. rejeitavam a exposição das partes do corpo a agentes
É proibido subir no elevador com intenção de descer. sanitários do governo.
É proibido ficar no elevador com intenção de descer, quan-
A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já
do ele estiver subindo.
profundamente insatisfeito com o “bota-abaixo” e insu-
Se quiser descer, não tome o elevador que esteja subindo.
flado pela imprensa, se revoltasse. Durante uma semana,
Mais simples ainda:
Se quiser descer, só tome o elevador que estiver descendo. enfrentou as forças da polícia e do exército até ser repri-
De tanta simplicidade, atingi a síntese perfeita do que mido com violência. O episódio transformou, no período
Nelson Rodrigues chamava de óbvio ululante, ou seja, a de 10 a 16 de novembro de 1904, a recém-reconstruída
enunciação de algo que não quer dizer absolutamente cidade do Rio de Janeiro em uma praça de guerra, onde
nada: Se quiser descer, não suba. foram erguidas barricadas e ocorreram confrontos gene-
Fernando Sabino. A volta por cima. Rio de Janeiro: ralizados.
Record, Internet: <www.ccs.saude.gov.br>. (Com adaptações.)
1995, p. 137-140. (Com adaptações.)
A população do Rio fez uma revolta por causa da vacina-
O trecho das linhas 5 e 6 pode ser reescrito, com cor- ção obrigatória, uma vez que já estava insatisfeita com o
reção gramatical, da seguinte maneira: É expressamente “bota-abaixo” e insufladas pela imprensa.
proibido a utilização dos elevadores que tiverem subindo
pelos funcionários que desejarem descer. (  ) CERTO  (  ) ERRADO

(  ) CERTO  (  ) ERRADO O termo “insufladas” deveria estar no singular, já que


se refere à “população”.
Quanto à correção gramatical haveria um erro, pois, GABARITO OFICIAL: ERRADO
devido à presença do artigo “a”, a forma correta de
escrever é: “É expressamente proibida a utilização...” 4. (INSS – ANALISTA DO SEGURO SOCIAL – SERVIÇO
GABARITO OFICIAL: ERRADO SOCIAL – CESPE – 2016)
3. (INSS – PERITO MÉDICO PREVIDENCIÁRIO – CESPE Levantou-se da cama o pobre namorado sem ter conse-
– 2010) guido dormir. Vinha nascendo o Sol.
Quis ler os jornais e pediu-os.
A Revolta da Vacina
Já os ia pondo de lado, por haver acabado de ler, quan-
do repentinamente viu seu nome impresso no Jornal do
O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o sécu-
Comércio.
lo XX, era ainda uma cidade de ruas estreitas e sujas, sa-
neamento precário e foco de doenças como febre ama- Era um artigo a pedido com o título de Uma Obra-Prima.
rela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros Dizia o artigo:
faziam questão de anunciar que não parariam no porto Temos o prazer de anunciar ao país o próximo apareci-
carioca e os imigrantes recém-chegados da Europa mor- mento de uma excelente comédia, estreia de um jovem
riam às dezenas de doenças infecciosas. literato fluminense, de nome Antônio Carlos de Oliveira.
Ao assumir a presidência da República, Francisco de Pau- Este robusto talento, por muito tempo incógnito, vai en-
fim entrar nos mares da publicidade, e para isso procu-
LÍNGUA PORTUGUESA

la Rodrigues Alves instituiu como meta governamental


o saneamento e reurbanização da capital da República. rou logo ensaiar-se em uma obra de certo vulto.
Para assumir a frente das reformas, nomeou Francisco Consta-nos que o autor, solicitado por seus numerosos
Pereira Passos para o governo municipal. Este, por sua amigos, leu há dias a comédia em casa do Sr. Dr. Estêvão
vez, chamou os engenheiros Francisco Bicalho para a re- Soares, diante de um luzido auditório, que aplaudiu mui-
forma do porto e Paulo de Frontin para as reformas no to e profetizou no Sr. Oliveira um futuro Shakespeare.
centro. Rodrigues Alves nomeou ainda o médico Oswal- O Sr. Dr. Estêvão Soares levou a sua amabilidade ao pon-
do Cruz para o saneamento. to de pedir a comédia para ler segunda vez, e ontem ao

72
encontrar-se na rua com o Sr. Oliveira, de tal entusiasmo No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no
vinha possuído que o abraçou estreitamente, com gran- segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado.
de pasmo dos numerosos transeuntes.
Da parte de um juiz tão competente em matérias literá- A voluntária distribuía leite às crianças.
rias este ato é honroso para o Sr. Oliveira. A voluntária distribuía leite com as crianças.
Estamos ansiosos por ler a peça do Sr. Oliveira, e ficamos
certos de que ela fará a fortuna de qualquer teatro. Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado
O amigo das letras. como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto
Machado de Assis. A mulher de preto. In: Contos (objeto indireto: às crianças); na segunda, como transitivo
fluminenses. direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto
São Paulo: Globo, 1997. (Com adaptações.) adverbial).
Para estudar a regência verbal, agruparemos os
A oração introduzida pela preposição “por” remete a verbos de acordo com sua transitividade. Esta, porém,
uma ação anterior ao estado descrito na oração “Esta- não é um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de
mos ansiosos”. diferentes formas em frases distintas.

(  ) CERTO  (  ) ERRADO A) Verbos Intransitivos


Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
Quem está ansioso está ansioso por algo (concordân- importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
cia nominal), remete a uma ação posterior (estamos aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
ansiosos por ler a peça).
GABARITO OFICIAL: ERRADO Chegar, Ir
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos
adverbiais de lugar. Na língua culta, as preposições
usadas para indicar destino ou direção são: a, para.
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
Fui ao teatro.
Adjunto Adverbial de Lugar
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
Ricardo foi para a Espanha.
Adjunto Adverbial de Lugar
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome
Comparecer
(regência nominal) e seus complementos. O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
por em ou a.
Regência Verbal = Termo Regente: VERBO Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
último jogo.
A regência verbal estuda a relação que se estabelece
entre os verbos e os termos que os complementam B) Verbos Transitivos Diretos
(objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam Os verbos transitivos diretos são complementados por
(adjuntos adverbiais). Há verbos que admitem mais objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
de uma regência, o que corresponde à diversidade para o estabelecimento da relação de regência. Ao
de significados que estes verbos podem adquirir empregar esses verbos, lembre-se de que os pronomes
dependendo do contexto em que forem empregados. oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses
pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos,
contentar. nas (após formas verbais terminadas em sons nasais),
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar enquanto lhe e lhes são, quando complementos verbais,
agrado ou prazer”, satisfazer. objetos indiretos.
São verbos transitivos diretos, dentre outros:
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de abandonar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar,
“agradar a alguém”. acusar, admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar,
auxiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar,
O conhecimento do uso adequado das preposições defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir,
é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência
LÍNGUA PORTUGUESA

prejudicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar,


verbal (e também nominal). As preposições são capazes ver, visitar.
de modificar completamente o sentido daquilo que está Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
sendo dito. como o verbo amar:
Amo aquele rapaz. / Amo-o.
Cheguei ao metrô. Amo aquela moça. / Amo-a.
Cheguei no metrô. Amam aquele rapaz. / Amam-no.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.

73
Observação: Agradeço aos ouvintes a audiência.
Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos Objeto Indireto Objeto Direto
para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos
adnominais): Paguei o débito ao cobrador.
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) Objeto Direto Objeto Indireto
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua
carreira) O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau com particular cuidado:
humor) Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
C) Verbos Transitivos Indiretos Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
Os verbos transitivos indiretos são complementados Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos Paguei minhas contas. / Paguei-as.
exigem uma preposição para o estabelecimento da Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
relação de regência. Os pronomes pessoais do caso
oblíquo de terceira pessoa que podem atuar como Informar
objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
complementos de verbos transitivos indiretos. Com os Informe os novos preços aos clientes.
objetos indiretos que não representam pessoas, usam-se Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os
pronomes oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) novos preços)
em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes.
Na utilização de pronomes como complementos, veja
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: as construções:
Consistir - Tem complemento introduzido pela Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos
preposição “em”: A modernidade verdadeira consiste em preços.
direitos iguais para todos. Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou
sobre eles)
Obedecer e Desobedecer - Possuem seus
complementos introduzidos pela preposição “a”: Observação:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. A mesma regência do verbo informar é usada para os
Eles desobedeceram às leis do trânsito. seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.

Responder - Tem complemento introduzido pela Comparar


preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
indicar “a quem” ou “ao que” se responde. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondi ao meu patrão. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondemos às perguntas. uma criança.
Respondeu-lhe à altura.
Pedir
Observação: Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente
O verbo responder, apesar de transitivo indireto na forma de oração subordinada substantiva) e indireto
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz de pessoa.
passiva analítica:
O questionário foi respondido corretamente. Pedi-lhe favores.
Todas as perguntas foram respondidas Objeto Indireto Objeto Direto
satisfatoriamente.
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus Objeto Indireto Oração Subordinada
complementos introduzidos pela preposição “com”. Substantiva Objetiva Direta
Antipatizo com aquela apresentadora.
Simpatizo com os que condenam os políticos que A construção “pedir para”, muito comum na
governam para uma minoria privilegiada. linguagem cotidiana, deve ter emprego muito limitado
na língua culta. No entanto, é considerada correta
D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos quando a palavra licença estiver subentendida.
LÍNGUA PORTUGUESA

Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em


Os verbos transitivos diretos e indiretos são casa.
acompanhados de um objeto direto e um indireto.
Merecem destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
e pagar. São verbos que apresentam objeto direto uma oração subordinada adverbial final reduzida de
relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a infinitivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
pessoas.

74
Preferir No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial
indireto introduzido pela preposição “a”: de lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. numa conturbada cidade.
Prefiro trem a ônibus.
Chamar
Observação: Chamar é transitivo direto no sentido de convocar,
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado solicitar a atenção ou a presença de.
sem termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá
vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo chamá-la.
prefixo existente no próprio verbo (pre). Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
Mudança de Transitividade - Mudança de Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
Significado
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere
Há verbos que, de acordo com a mudança de
predicativo preposicionado ou não.
transitividade, apresentam mudança de significado. O
A torcida chamou o jogador mercenário.
conhecimento das diferentes regências desses verbos é
A torcida chamou ao jogador mercenário.
um recurso linguístico muito importante, pois além de
permitir a correta interpretação de passagens escritas, A torcida chamou o jogador de mercenário.
oferece possibilidades expressivas a quem fala ou A torcida chamou ao jogador de mercenário.
escreve. Dentre os principais, estão:
Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Agradar Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
Agradar é transitivo direto no sentido de fazer
carinhos, acariciar, fazer as vontades de. Custar
Sempre agrada o filho quando. Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
Aquele comerciante agrada os clientes. valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
Frutas e verduras não deveriam custar muito.
Agradar é transitivo indireto no sentido de causar
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
introduzido pela preposição “a”. ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração
O cantor não agradou aos presentes. reduzida de infinitivo.
O cantor não lhes agradou.
Muito custa viver tão longe da família.
O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: Verbo Intransitivo Oração Subordinada
O cantor desagradou à plateia. Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

Aspirar Custou-me (a mim) crer nisso.


Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar Objeto Indireto Oração Subordinada
(o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, A Gramática Normativa condena as construções que
ter como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor.
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
(Aspirávamos a ele)
pessoa: Custei para entender o problema.
= Forma correta: Custou-me entender o problema.
Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa,
as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. Implicar
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
Aspiravam a ela) A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
implicavam um firme propósito.
Assistir B) ter como consequência, trazer como consequência,
Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, prestar acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
assistência a, auxiliar.
Como transitivo direto e indireto, significa
LÍNGUA PORTUGUESA

As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.


As empresas de saúde negam-se a assisti-los. comprometer, envolver: Implicaram aquele jornalista em
questões econômicas.
Assistir é transitivo indireto no sentido de ver,
presenciar, estar presente, caber, pertencer. No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Assistimos ao documentário. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
Não assisti às últimas sessões. quem não trabalhasse arduamente.
Essa lei assiste ao inquilino.

75
Namorar
Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois anos.

Obedecer - Desobedecer
Sempre transitivo indireto:
Todos obedeceram às regras.
Ninguém desobedece às leis.

Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.

Proceder
Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial de modo.
As afirmações da testemunha procediam, não havia como refutá-las.
Você procede muito mal.

Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido pela
preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
Procedeu-se aos exames.
O delegado procederá ao inquérito.

Querer
Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter vontade de, cobiçar.
Querem melhor atendimento.
Queremos um país melhor.

Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.

Visar
Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo.
O gerente não quis visar o cheque.

No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar público.

Esquecer – Lembrar
Lembrar algo – esquecer algo
Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto,
transitivos indiretos:
Ele se esqueceu do caderno.
Eu me esqueci da chave.
Eles se esqueceram da prova.
Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
alteração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
LÍNGUA PORTUGUESA

Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)

Simpatizar - Antipatizar
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

76
Importante:
A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
completiva nominal (subordinada substantiva).

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
LÍNGUA PORTUGUESA

Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
paralelamente a; relativa a; relativamente a.

77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Duvidam. Acham que estou mentindo.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez.
Cochar - Português linguagens: volume 3. – 7.ª ed. Reform. 2017, p.97. Adaptado.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Considere o trecho “Podemos esperar por um futuro me-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. lhor”. Respeitando-se as regras da norma-padrão e con-
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: servando-se o conteúdo informacional, o trecho acima
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. está corretamente reescrito em:

SITE a) Podemos esperar para um futuro melhor


Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ b) Podemos esperar com um futuro melhor
secoes/sint/sint61.php> c) Podemos esperar um futuro melhor
d) Podemos esperar porquanto um futuro melhor
e) Podemos esperar todavia um futuro melhor

Resposta: Letra C
EXERCÍCIOS COMENTADOS Em “a”: Podemos esperar para um futuro melhor = po-
demos esperar o quê?
1. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CES- Em “b”: Podemos esperar com um futuro melhor = po-
GRANRIO-2018) demos esperar o quê?
Em “c”: Podemos esperar um futuro melhor = correta
O ano da esperança Em “d”: Podemos esperar porquanto um futuro me-
lhor = sentido de “porque”
O ano de 2017 foi difícil. Avalio pelo número de amigos Em “e”: Podemos esperar todavia um futuro melhor =
desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás conjunção adversativa (ideia contrária à apresentada
do outro. Nunca fui de botar dinheiro nas relações de anteriormente)
amizade. Como afirmou Shakespeare, perde-se o dinhei- A única frase correta – e coerente - é podemos esperar
ro e o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava, com a um futuro melhor.
consciência de que era uma doação. A situação foi pio-
rando. Os argumentos também. No início era para pagar 2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
a escola do filho. Depois vieram as mães e avós doentes. GRANRIO-2018) Considere a seguinte frase: “Os lança-
Lamentavelmente, aprendi a não ser generoso. Ajudava mentos tecnológicos a que o autor se refere podem re-
um rapaz, que não conheço pessoalmente. Mas que so- sultar em comportamentos impulsivos nos consumidores
freu um acidente e não tinha como pagar a fisioterapia. desses produtos”. A utilização da preposição destacada
Comecei pagando a físio. Vieram sucessivas internações, a é obrigatória para atender às exigências da regência
remédios. A situação piorando, eu já estava encomen- do verbo “referir-se”, de acordo com a norma-padrão da
dando missa de sétimo dia. Falei com um amigo médico, língua portuguesa. É também obrigatório o uso de uma
no Rio de Janeiro. Ele aceitou tratar o caso gratuitamen- preposição antecedendo o pronome que destacado em:
te. Surpresa! O doente não aparecia para a consulta. Até
que o coloquei contra a parede. Ou se consultava ou eu a) Os consumidores, ao adquirirem um produto que qua-
não ajudava mais. se ninguém possui, recém-lançado no mercado, pas-
Cheio de saúde, ele foi ao consultório. Pediu uma receita sam a ter uma sensação de superioridade.
de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca b) Muitos aparelhos difundidos no mercado nem sempre
conheci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter trazem novidades que justifiquem seu preço elevado
caído na história. Só que esse rapaz havia perdido o em- em relação ao modelo anterior.
prego após o suposto acidente. Foi por isso que me dei- c) O estudo de mapeamento cerebral que o pesquisador
xei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde realizou foi importante para mostrar que o vício em
também a vergonha. Pior ainda. A violência aumenta. As novidades tecnológicas cresce cada vez mais.
pessoas buscam vagas nos mercados em expansão. Se a d) O hormônio chamado dopamina é responsável por
indústria automobilística vai bem, é lá que vão trabalhar. causar sensações de prazer que levam as pessoas a se
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos sentirem recompensadas.
aguarda é mais descrédito? Novos candidatos vão sur- e) As pessoas, na maioria das vezes, gastam muito mais
gir. Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça do que o seu orçamento permite em aparelhos que
de velhos? Todos pedem que a gente tenha uma nova elas não necessitam.
consciência para votar. Como? Num mundo em que as
LÍNGUA PORTUGUESA

notícias são plantadas pela internet, em que muitos sites Resposta: Letra E
servem a qualquer mentira. Digo por mim. Já contaram Em “a”: Os consumidores, ao adquirirem um produto
cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. Já que (= o qual) quase ninguém possui, recém-lançado
inventaram casos de amor, tramas nas novelas que escre- no mercado, passam a ter uma sensação de superio-
vo. Pior. Depois todo mundo me pergunta por que isso ridade.
ou aquilo não aconteceu na novela. Se mudei a trama. Em “b”: Muitos aparelhos difundidos no mercado nem
Respondo: — Nunca foi para acontecer. Era mentira da sempre trazem novidades que (= as quais) justifiquem
internet. seu preço elevado em relação ao modelo anterior.

78
Em “c”: O estudo de mapeamento cerebral que (= o O uso do acento indicativo de crase está condicionado
qual) o pesquisador realizou foi importante para mos- aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e
trar que o vício em novidades tecnológicas cresce nominal, mais precisamente ao termo regente e termo
cada vez mais. regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome -
Em “d”: O hormônio chamado dopamina é responsá- que exige complemento regido pela preposição “a”, e o
vel por causar sensações de prazer que (= as quais) termo regido é aquele que completa o sentido do termo
levam as pessoas a se sentirem recompensadas. regente, admitindo a anteposição do artigo a(s).
Em “e”: As pessoas, na maioria das vezes, gastam mui- Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela
to mais do que o seu orçamento permite em apare- contratada recentemente.
lhos de que (= das quais) elas não necessitam. Após a junção da preposição com o artigo (destacados
GABARITO OFICIAL: E entre parênteses), temos:
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela
contratada recentemente.
3. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010)
O verbo referir, de acordo com sua transitividade,
A pobreza é um dos fatores mais comumente respon-
classifica-se como transitivo indireto, pois sempre
sáveis pelo baixo nível de desenvolvimento humano
nos referimos a alguém ou a algo. Houve a fusão da
e pela origem de uma série de mazelas, algumas das
preposição a + o artigo feminino (à) e com o artigo
quais proibidas por lei ou consideradas crimes. É o caso feminino a + o pronome demonstrativo aquela (àquela).
do trabalho infantil. A chaga encontra terreno fértil nas
sociedades subdesenvolvidas, mas também viceja onde Observações importantes:
o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, obriga Alguns recursos servem de ajuda para que possamos
crianças e adolescentes a participarem do processo de confirmar a ocorrência ou não da crase. Eis alguns:
produção. Foi assim na Revolução Industrial de ontem
e nas economias ditas avançadas. E ainda é, nos dias de • Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
hoje, nas manufaturas da Ásia ou em diversas regiões do equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a
Brasil. Enquanto, entre as nações ricas, o trabalho infantil crase está confirmada.
foi minimizado, já que nunca se pode dizer erradicado, Os dados foram solicitados à diretora.
ele continua sendo grave problema nos países mais po- Os dados foram solicitados ao diretor.
bres.
Jornal do Brasil, Editorial, 1.º/7/2010 (com adaptações). • No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na
O emprego de preposição em “a participarem” é exigido expressão “voltar da”, há a confirmação da crase.
pela regência da forma verbal “obriga”. Faremos uma visita à Bahia.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada)
( ) CERTO ( ) ERRADO
Não me esqueço da viagem a Roma.
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos
Resposta: Certo jamais vividos.
(...) o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem,
obriga crianças e adolescentes a participarem = FIQUE ATENTO!
quem obriga, obriga alguém (crianças e adolescentes – Nas situações em que o nome geográfico
objeto direto) a algo (a participarem – objeto indireto: se apresentar modificado por um adjunto
com preposição – no caso, uma oração com a função adnominal, a crase está confirmada.
de objeto indireto). Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades
de suas praias.
Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ;
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE vou A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo:
Vou a Campinas. = Volto de Campinas.
(crase pra quê?)
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!)

CRASE
Quando o nome de lugar estiver especificado,
A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
LÍNGUA PORTUGUESA

ocorrerá crase. Veja:


idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
com o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
aos pronomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), Irei à Salvador de Jorge Amado.
aquilo e com o “a” pertencente ao pronome relativo a
qual (as quais). Casos estes em que tal fusão encontra-se A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s),
demarcada pelo acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo
àquilo, à qual, às quais. regente exigir complemento regido da preposição “a”.

79
Entregamos a encomenda àquela menina. Antes de verbos no infinitivo.
(preposição + pronome demonstrativo) Ele estava a cantar.
Começou a chover.
Iremos àquela reunião.
(preposição + pronome demonstrativo) Antes de numeral.
O número de aprovados chegou a cem.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando Faremos uma visita a dez países.
criança. (àquelas que eu ouvia quando criança)
(preposição + pronome demonstrativo) Observações:
• Nos casos em que o numeral indicar horas –
A letra “a” que acompanha locuções femininas funcionando como uma locução adverbial
(adverbiais, prepositivas e conjuntivas) recebem o acento feminina – ocorrerá crase: Os passageiros partirão
grave: às dezenove horas.
• locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às • Diante de numerais ordinais femininos a crase
pressas, à vontade... está confirmada, visto que estes não podem ser
• locuções prepositivas: à frente, à espera de, à empregados sem o artigo: As saudações foram
procura de... direcionadas à primeira aluna da classe.
• locuções conjuntivas: à proporção que, à medida • Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando
que. essa não se apresentar determinada: Chegamos
todos exaustos a casa.
Cuidado: quando as expressões acima não exercerem Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto
a função de locuções não ocorrerá crase. Repare: adnominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos
Eu adoro a noite! exaustos à casa de Marcela.
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não • Não há crase antes da palavra “terra”, quando
preposição.
essa indicar chão firme: Quando os navegantes
regressaram a terra, já era noite.
Casos passíveis de nota:
Contudo, se o termo estiver precedido por um
determinante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá
• A crase é facultativa diante de nomes próprios
crase.
femininos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
Paulo viajou rumo à sua terra natal.
• Também é facultativa diante de pronomes
O astronauta voltou à Terra.
possessivos femininos: O diretor fez referência a
(à) sua empresa.
• Facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja • Não ocorre crase antes de pronomes que requerem
ficará aberta até as (às) dezoito horas. o uso do artigo.
• Constata-se o uso da crase se as locuções prepositivas Os livros foram entregues a mim.
à moda de, à maneira de apresentarem-se Dei a ela a merecida recompensa.
implícitas, mesmo diante de nomes masculinos:
Tenho compulsão por comprar sapatos à Luis XV. (à • Pelo fato de os pronomes de tratamento relativos
moda de Luís XV) à senhora, senhorita e madame admitirem artigo,
• Não se efetiva o uso da crase diante da locução o uso da crase está confirmado no “a” que os
adverbial “a distância”: Na praia de Copacabana, antecede, no caso de o termo regente exigir a
observamos a queima de fogos a distância. preposição.
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia.
uma locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O
pedestre foi arremessado à distância de cem metros. • Não ocorre crase antes de nome feminino utilizado
em sentido genérico ou indeterminado:
• De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade Estamos sujeitos a críticas.
-, faz-se necessário o emprego da crase. Refiro-me a conversas paralelas.
Ensino à distância.
Ensino a distância. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
• Em locuções adverbiais formadas por palavras Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
repetidas, não há ocorrência da crase. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
Cochar. Português linguagens: volume 3 – 7.ª ed. Reform.
LÍNGUA PORTUGUESA

Ela ficou frente a frente com o agressor.


Eu o seguirei passo a passo. – São Paulo: Saraiva, 2010.

Casos em que não se admite o emprego da crase: SITE


Disponível em: <http://www.portugues.com.br/
Antes de vocábulos masculinos. gramatica/o-uso-crase-.html>
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Esta caneta pertence a Pedro.

80
Resposta: CERTO
Adequar o quê? – os objetivos (objeto direto) – adequar
EXERCÍCIOS COMENTADOS o quê a quê? – a + as (=às) necessidades – objeto
indireto. A explicação do enunciado está correta.
1. (TCE-PA - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 18,
19, 37 e 38 – Cespe-2016) 3. (EMPLASA/SP – Analista Jurídico – Direito – VU-
NESP/2014)
Texto CB1A1BBB A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de traba-
lho para proceder _____ medidas necessárias _____ exu-
Estranhamente, governos estaduais cujas despesas mação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
com o funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exumação
que estouraram o limite de gastos com pessoal fixado de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presidente
pela Lei Complementar n.º 101/2000, denominada Lei morreu de causas naturais, ou seja, devido ____ uma pa-
de Responsabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando rada cardíaca – que tem sido a versão considerada oficial
sua própria legislação destinada a assegurar, como até hoje –, ou se sua morte se deve ______ envenenamen-
alegam, maior rigor na gestão de suas finanças. Querem to.
uma nova lei de responsabilidade fiscal para, segundo (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,governo-
argumentam, fortalecer a estrutura legal que protege o cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jango,1094178,0.
dinheiro público do mau uso por gestores irresponsáveis. htm 07. 11.2013. Adaptado)
Examinando-se a situação financeira dos estados
que preparam sua versão da lei de responsabilidade Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as
fiscal, fica difícil aceitar a argumentação. Desde maio lacunas da frase devem ser completadas, correta e
de 2000, quando entrou em vigor a LRF, esses estados, respectivamente, por
como os demais, estão sujeitos a regras precisas para a
gestão do dinheiro público, para a criação de despesas A. a ... à ... a ... a
e, em particular, para os gastos com pessoal. Por que, B. as ... à ... a ... à
tendo descumprido algumas dessas regras, estariam C. às ... a ... à ... a
interessados em torná-las ainda mais rigorosas? D. à ... à ... à ... a
Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis E. a ... a ... a ... à
pelo dinheiro público que, por alguma razão, não a
cumpriram. De que adiantaria, então, tornar a lei mais Resposta: Letra A
rigorosa, se nem nas condições atuais esses responsáveis A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de
estão sendo capazes de cumpri-la? O problema não está trabalho para proceder a medidas (palavra no plural,
na lei. Mudá-la pode ser o pretexto não para torná-la generalizando) necessárias à (regência nominal pede
mais rigorosa, mas para atribuir-lhe alguma flexibilidade preposição) exumação dos restos mortais do ex-
que a desfigure. O verdadeiro problema é a dificuldade presidente João Goulart, sepultado em São Borja
do setor público de adaptar suas despesas às receitas em (RS), em 1976. Com a exumação de Jango, o governo
queda por causa da crise. visa esclarecer se o ex-presidente morreu de causas
Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com naturais, ou seja, devido a uma (artigo indefinido)
adaptações). parada cardíaca – que tem sido a versão considerada
oficial até hoje –, ou se sua morte se deve a (regência
O emprego do acento grave em “às receitas” decorre verbal) envenenamento. A / à / a / a
da regência do verbo “adaptar” e da presença do artigo
definido feminino determinando o substantivo “receitas”. 4. (Tribunal de Justiça/SE – Técnico Judiciário –
CESPE/2014 - adaptada) No trecho “deu início à sua
( ) CERTO ( ) ERRADO caminhada cósmica”, o emprego do acento grave
indicativo de crase é obrigatório.
Resposta: CERTO
Texto: O verdadeiro problema é a dificuldade do setor ( ) CERTO ( ) ERRADO
público de adaptar suas despesas às receitas em queda
por causa da crise = quem adapta, adapta algo/alguém Resposta: Errado
A algo/alguém. “deu início à sua caminhada cósmica” – o uso do
acento indicativo de crase, neste caso, é facultativo
2. (FNDE – Técnico em Financiamento e Execução de (antes de pronome possessivo).
Programas e Projetos Educacionais – CESPE/2012)
LÍNGUA PORTUGUESA

O emprego do sinal indicativo de crase em “adequando


os objetivos às necessidades” justifica-se pela regência
do verbo adequar, que exige complemento regido
pela preposição “a”, e pela presença de artigo definido
feminino antes de “necessidades”.

( ) CERTO ( ) ERRADO

81
5. (TCE-PA – CONHECIMENTOS BÁSICOS – AUDITOR com a defensoria ocorrido quando ela precisou de novos
DE CONTROLE EXTERNO – ÁREA ADMINISTRATIVA – documentos para substituir os que haviam sido perdidos
CESPE – 2016) no período em que esteve nas ruas.
O objetivo do referido projeto é o de ir até a população
Texto CB1A1BBB que normalmente não tem acesso à Defensoria Pública.
“Nós chegamos de forma humanizada até essas pessoas
Estranhamente, governos estaduais cujas despesas com em situação de rua. Com esse trabalho nós estamos ga-
o funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou que rantindo seu acesso à justiça e aos direitos para que con-
estouraram o limite de gastos com pessoal fixado pela sigam se beneficiar de outras políticas públicas”, explica
Lei Complementar n.º 101/2000, denominada Lei de Res- a coordenadora do Departamento de Atividade Psicos-
ponsabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando sua própria social.
legislação destinada a assegurar, como alegam, maior ri- A mais recente visita de participantes de outro projeto, o
gor na gestão de suas finanças. Querem uma nova lei de Atenção à População de Rua do Assentamento Noroeste,
responsabilidade fiscal para, segundo argumentam, for- levou respostas às demandas solicitadas pelos morado-
talecer a estrutura legal que protege o dinheiro público res. O foco foram soluções e retornos de casos como o
do mau uso por gestores irresponsáveis. de um morador que tem problemas com a justiça e que
Examinando-se a situação financeira dos estados que está sendo assistido por um defensor público e o de uma
preparam sua versão da lei de responsabilidade fiscal, senhora que estava internada em um hospital público e
fica difícil aceitar a argumentação. Desde maio de 2000, conseguiu uma cirurgia por meio dos serviços da defen-
quando entrou em vigor a LRF, esses estados, como os soria.
demais, estão sujeitos a regras precisas para a gestão do As visitas acontecem mensalmente, sendo a maior de-
dinheiro público, para a criação de despesas e, em par- manda a solicitação de registro civil. “As certidões de
ticular, para os gastos com pessoal. Por que, tendo des- nascimento figuram entre as demandas porque essas
cumprido algumas dessas regras, estariam interessados pessoas não as conseguiram por outros serviços, e a de-
em torná-las ainda mais rigorosas? fensoria teve que intervir. Nós entramos para solucionar
Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis problemas: vamos até as ruas para informar sobre o tra-
pelo dinheiro público que, por alguma razão, não a cum- balho da defensoria, para que seus direitos sejam garan-
priram. De que adiantaria, então, tornar a lei mais rigoro- tidos”, afirma a coordenadora.
sa, se nem nas condições atuais esses responsáveis estão Internet: <www.defensoria.df.gov.br.> (com
sendo capazes de cumpri-la? O problema não está na adaptações).
lei. Mudá-la pode ser o pretexto não para torná-la mais
rigorosa, mas para atribuir-lhe alguma flexibilidade que No trecho “respostas às demandas”, o emprego do sinal
a desfigure. O verdadeiro problema é a dificuldade do indicativo de crase justifica-se pela regência do substan-
setor público de adaptar suas despesas às receitas em tivo “respostas”, que exige complemento antecedido da
queda por causa da crise. preposição a, e pela presença de artigo feminino plural
Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com que determina “demandas”.
adaptações).
( ) CERTO ( ) ERRADO
O emprego do acento grave em “às receitas”
decorre da regência do verbo “adaptar” e da presença No trecho “respostas às demandas”, o emprego do
do artigo definido feminino determinando o substantivo sinal indicativo de crase justifica-se pela regência
“receitas”. do substantivo “respostas”, que exige complemento
antecedido da preposição a, e pela presença de artigo
( ) CERTO ( ) ERRADO feminino plural que determina “demandas”.
Não há o que explicar! A afirmação faz isso!
Texto: O verdadeiro problema é a dificuldade do setor GABARITO OFICIAL: CERTO
público de adaptar suas despesas às receitas em
queda por causa da crise = quem adapta, adapta algo/
alguém A algo/alguém.
GABARITO OFICIAL: CERTO

6. (DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CONHECI-


MENTOS BÁSICOS – CESPE –2016)

Maria Silva é moradora do Assentamento Noroeste, onde


LÍNGUA PORTUGUESA

moram cerca de cem pessoas cuja principal forma de


renda é o trabalho com reciclagem. Ela é uma das líde-
res que lutam pelos direitos daquela comunidade. Vinda
do estado do Ceará, Maria chegou a Brasília em 2002 e
conheceu o trabalho da Defensoria Pública por meio do
projeto Monitoramento da Política Nacional para a Po-
pulação em Situação de Rua, tendo seu primeiro contato

82
Homônimos e Parônimos
COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS
• Homônimos = palavras que possuem a mesma
grafia ou a mesma pronúncia, mas significados
diferentes. Podem ser
“Prezado Candidato, o tópico acima foi abordado na
íntegra em: Emprego de tempos e modos verbais. Domí- A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e
nio da estrutura morfossintática do período. Emprego das diferentes na pronúncia:
classes de palavras.” rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.)
e denuncia (verbo); providência (subst.) e providencia
(verbo).
REESCRITA DE FRASES E PARÁGRAFOS DO
TEXTO. SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS. B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e
SUBSTITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE diferentes na escrita:
TRECHOS DE TEXTO. REORGANIZAÇÃO DA acender (atear) e ascender (subir); concertar
ESTRUTURA DE ORAÇÕES E DE PERÍODOS (harmonizar) e consertar (reparar); cela (compartimento)
DO TEXTO. REESCRITA DE TEXTOS DE e sela (arreio); censo (recenseamento) e senso ( juízo); paço
(palácio) e passo (andar).
DIFERENTES GÊNEROS E NÍVEIS DE
FORMALIDADE.
C) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou
perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pro-
núncia:
SIGNIFICADO DAS PALAVRAS
caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e
cedo (adv.); livre (adj.) e livre (verbo).
Semântica é o estudo da significação das palavras
e das suas mudanças de significação através do tempo
• Parônimos = palavras com sentidos diferentes,
ou em determinada época. A maior importância está em
porém de formas relativamente próximas. São
distinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia)
e homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). palavras parecidas na escrita e na pronúncia: cesta
(receptáculo de vime; cesta de basquete/esporte)
Sinônimos e sesta (descanso após o almoço), eminente
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto (ilustre) e iminente (que está para ocorrer), osso
- abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo
abolir. e/ou verbo “ser” no imperativo) e cede (verbo),
Duas palavras são totalmente sinônimas quando comprimento (medida) e cumprimento (saudação),
são substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto autuar (processar) e atuar (agir), infligir (aplicar
(cara e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas pena) e infringir (violar), deferir (atender a) e
quando, ocasionalmente, podem ser substituídas, diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emitir
uma pela outra, em deteminado enunciado (aguadar e som), aprender (conhecer) e apreender (assimilar;
esperar). apropriar-se de), tráfico (comércio ilegal) e
tráfego (relativo a movimento, trânsito), mandato
Observação: (procuração) e mandado (ordem), emergir (subir à
A contribuição greco-latina é responsável pela superfície) e imergir (mergulhar, afundar).
existência de numerosos pares de sinônimos: adversário e
antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemiciclo; Hiperonímia e Hiponímia
contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diálogo; Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem
transformação e metamorfose; oposição e antítese. a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo
o hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o
Antônimos hiperônimo, mais abrangente.
São palavras que se opõem através de seu significado: O hiperônimo impõe as suas propriedades ao
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar; hipônimo, criando, assim, uma relação de dependência
mal - bem. semântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de
hiperonímia com carros, já que veículos é uma palavra de
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões.


A antonímia pode se originar de um prefixo de Veículos é um hiperônimo de carros.
sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia e quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A
discórdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista utilização correta dos hiperônimos, ao redigir um texto,
e anticomunista; simétrico e assimétrico. evita a repetição desnecessária de termos.

83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Polissemia e ambiguidade
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. na interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza pode ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma
Cochar - Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. interpretação. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à
– São Paulo: Saraiva, 2010. colocação específica de uma palavra (por exemplo, um
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: advérbio) em uma frase. Vejamos a seguinte frase:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. Pessoas que têm uma alimentação equilibrada
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua frequentemente são felizes.
Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000. Neste caso podem existir duas interpretações
diferentes:
SITE As pessoas têm alimentação equilibrada porque
Disponível em: <http://www.coladaweb.com/ são felizes ou são felizes porque têm uma alimentação
portugues/sinonimos,-antonimos,-homonimos-e- equilibrada.
paronimos>
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica,
Polissemia ela pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma
interpretação. Para fazer a interpretação correta é muito
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
importante saber qual o contexto em que a frase é
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
proferida.
um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção
mas que abarca um grande número de significados
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo,
dentro de seu próprio campo semântico. comicidade. Repare na figura abaixo:
Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo
percebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade
de algo. Possibilidades de várias interpretações levando-
se em consideração as situações de aplicabilidade. Há
uma infinidade de exemplos em que podemos verificar a
ocorrência da polissemia:
O rapaz é um tremendo gato.
O gato do vizinho é peralta.
Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
sobrevivência
O passarinho foi atingido no bico.

Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de (http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto-


computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014).
comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido
de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”, Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras,
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” mas duas seriam:
ou “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões
é o formato quadriculado que têm. Corte e coloração capilar
ou
Polissemia e homonímia Faço corte e pintura capilar
A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
comum. Quando a mesma palavra apresenta vários
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza
significados, estamos na presença da polissemia. Por
Cochar. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
outro lado, quando duas ou mais palavras com origens
– São Paulo: Saraiva, 2010.
e significados distintos têm a mesma grafia e fonologia,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
temos uma homonímia. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não SITE
é polissemia porque os diferentes significados para a
LÍNGUA PORTUGUESA

Disponível em: <http://www.brasilescola.com/


palavra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma gramatica/polissemia.htm>
palavra polissêmica: pode significar o elemento básico
do alfabeto, o texto de uma canção ou a caligrafia de Denotação e Conotação
um determinado indivíduo. Neste caso, os diferentes
significados estão interligados porque remetem para o Exemplos de variação no significado das palavras:
mesmo conceito, o da escrita. Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido
literal)

84
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido SITE
figurado) http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado) denotacao/

As variações nos significados das palavras ocasionam


o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
(conotação) das palavras.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
A) Denotação
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando 1. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) Um
apresenta seu significado original, independentemente ex-governador do estado do Amazonas disse o seguinte:
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado “Defenda a ecologia, mas não encha o saco”. (Gilberto
mais objetivo e comum, aquele imediatamente Mestrinho) O vocábulo sublinhado, composto do radical-
reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro logia (“estudo”), se refere aos estudos de defesa do meio
significado que aparece nos dicionários, sendo o ambiente; o vocábulo abaixo, com esse mesmo radical,
significado mais literal da palavra. que tem seu significado corretamente indicado é:
A denotação tem como finalidade informar o receptor
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um
a) Antropologia: estudo do homem como representante
caráter prático. É utilizada em textos informativos, como
do sexo masculino;
jornais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de
b) Etimologia: estudo das raças humanas;
medicamentos, textos científicos, entre outros. A palavra
“pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas c) Meteorologia: estudo dos impactos de meteoros sobre
um pedaço de madeira. Outros exemplos: a Terra;
O elefante é um mamífero. d) Ginecologia: estudo das doenças privativas das
As estrelas deixam o céu mais bonito! mulheres;
e) Fisiologia: estudo das forças atuantes na natureza.
B) Conotação
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando Resposta: Letra D
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes Em “a”: Antropologia: Ciência que se dedica ao estudo
interpretações, dependendo do contexto em que esteja do homem (espécie humana) em sua totalidade
inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que Em “b”: Etimologia: Ciência que investiga a origem
vão além do sentido original da palavra, ampliando sua das palavras procurando determinar as causas e
significação mediante a circunstância em que a mesma circunstâncias de seu processo evolutivo
é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico. Em “c”: Meteorologia: Estudo dos fenômenos
Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido atmosféricos e das suas leis, principalmente com a
conotativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau), intenção de prever as variações do tempo.
reprovação (tomei pau no concurso). Em “d”: Ginecologia: estudo das doenças privativas das
A conotação tem como finalidade provocar mulheres = correta
sentimentos no receptor da mensagem, através da Em “e”: Fisiologia: Ciência que trata das funções
expressividade e afetividade que transmite. É utilizada orgânicas pelas quais a vida se manifesta
principalmente numa linguagem poética e na literatura,
mas também ocorre em conversas cotidianas, em letras 2. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE
de música, em anúncios publicitários, entre outros. LEGISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Na verdade,
Exemplos: todos os anos a imprensa nacional destaca os inaceitáveis
Você é o meu sol! números da violência no país”. O vocábulo “inaceitáveis”
Minha vida é um mar de tristezas.
equivale ao “que não se aceita”. A equivalência correta
Você tem um coração de pedra!
abaixo indicada é:

#FicaDica a) tinta indelével / que não se apaga;


b) ação impossível / que não se possui;
Procure associar Denotação com Dicionário: c) trabalho inexequível / que não se exemplifica;
trata-se de definição literal, quando o termo d) carro invisível / que não tem vistoria;
é utilizado com o sentido que consta no e) voz inaudível / que não possui audiência.
dicionário.
LÍNGUA PORTUGUESA

Resposta: Letra A
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Em “a”: tinta indelével / que não se apaga = correta
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Em “b”: ação impossível = que não é possível
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Em “c”: trabalho inexequível = que não se executa
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Em “d”: carro invisível = que não se vê
Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – Em “e”: voz inaudível = que não se ouve
São Paulo: Saraiva, 2010.

85
3. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010) Resposta: Errado
A pobreza é um dos fatores mais comumente responsáveis (...) Permite-se a interdição de registros de época, em
pelo baixo nível de desenvolvimento humano e pela prejuízo dos historiadores e pesquisadores do futuro.
origem de uma série de mazelas, algumas das quais Dessa forma, tem sido sonegado, por exemplo, o
proibidas por lei ou consideradas crimes. É o caso do relato da vida do poeta Manoel Bandeira e dos
trabalho infantil. A chaga encontra terreno fértil nas escritores Mário de Andrade e Guimarães Rosa = o
sociedades subdesenvolvidas, mas também viceja onde sentido é o de “impedido”.
o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, obriga
crianças e adolescentes a participarem do processo de 5. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2014) O
produção. Foi assim na Revolução Industrial de ontem termo destacado na passagem do primeiro parágrafo –
e nas economias ditas avançadas. E ainda é, nos dias de Mesmo com tantas opções, ainda há resistência na hora
hoje, nas manufaturas da Ásia ou em diversas regiões do da compra. – tem sentido equivalente a
Brasil. Enquanto, entre as nações ricas, o trabalho infantil
foi minimizado, já que nunca se pode dizer erradicado, a) impetuosidade.
ele continua sendo grave problema nos países mais b) empatia.
c) relutância.
pobres.
d) consentimento.
Jornal do Brasil, Editorial, 1.º/7/2010 (com
e) segurança.
adaptações).
Resposta: Letra C
A palavra “chaga”, empregada com o sentido de ferida Mesmo com tantas opções, ainda há resistência na
social, refere-se, na estrutura sintática do parágrafo, a hora da compra.
“pobreza”. Em “a”: impetuosidade (força) = incorreto
Em “b”: empatia = incorreto
( ) CERTO ( ) ERRADO Em “c”: relutância (resistência).
Em “d”: consentimento (aceitação) = incorreto
Resposta: Errado Em “e”: segurança = incorreto
(...) É o caso do trabalho infantil. A chaga encontra A substituição que manteria o sentido do período é
terreno = refere-se a “trabalho infantil”. “ainda há relutância”.

4. (MPU – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CARGO


33 – TÉCNICO ADMINISTRATIVO - Nível Médio –
CESPE-2013)
Há um dispositivo no Código Civil que condiciona a FIGURA DE LINGUAGEM, PENSAMENTO E CONS-
edição de biografias à autorização do biografado ou TRUÇÃO
descendentes. As consequências da norma são negativas.
Uma delas é a impossibilidade de se registrar e deixar
para a posteridade a vida de personagens importantes
na formação do país, em qualquer ramo de atividade.
Permite-se a interdição de registros de época, em
prejuízo dos historiadores e pesquisadores do futuro.
Dessa forma, tem sido sonegado, por exemplo, o relato da
vida do poeta Manoel Bandeira e dos escritores Mário de
Andrade e Guimarães Rosa. Tanto no jornalismo quanto
na literatura não pode haver censura prévia. Publicada a
Disponível em: <http://www.terapiadapalavra.com.
reportagem (ou biografia), os que se sentirem atingidos
br/figuras-de-linguagem-na-escrita-literaria/> Acesso
que recorram à justiça. É preciso seguir o padrão existente abr, 2018.
em muitos países, em que há biografias “autorizadas” e
“não autorizadas”. A figura de palavra consiste na substituição de uma
Reclamações posteriores, quando existem, são palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico,
encaminhadas ao foro devido, os tribunais. seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja
O alegado “direito à privacidade” é argumento frágil por uma associação, uma comparação, uma similaridade.
para justificar o veto a que a historiografia do país seja São construções que transformam o significado das
enriquecida, como se não bastasse o fato de o poder palavras para tirar delas maior efeito ou para construir
de censura concedido a biografados e herdeiros ser um uma mensagem nova.
atentado à Constituição.
LÍNGUA PORTUGUESA

O Globo, 23/9/2013 (com adaptações). Tipos de Figuras de Linguagem

A palavra “sonegado” está sendo empregada com o Figuras de Som


sentido de reduzido, diminuído.
Aliteração - Consiste na repetição de consoantes
( ) CERTO ( ) ERRADO como recurso para intensificação do ritmo ou como
efeito sonoro significativo.

86
Três pratos de trigo para três tigres tristes. Metonímia (ou sinédoque)
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa) É a substituição de um nome por outro, em virtude de
Quem com ferro fere com ferro será ferido. existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição
pode acontecer dos seguintes modos:
Assonância - Consiste na repetição ordenada de Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
sons vocálicos idênticos: “Sou um mulato nato no sentido Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
lato mulato democrático do litoral.” Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (=
As lâmpadas iluminam o mundo).
Onomatopeia - Ocorre quando se tentam reproduzir Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da
na forma de palavras os sons da realidade: Os sinos cruz. (= Não te afastes da religião).
faziam blem, blem, blem. Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso
Havana. (= Fumei um saboroso charuto).
Paranomásia – é o uso de sons semelhantes em Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Sócrates
palavras próximas: “A fossa, a bossa, a nossa grande tomou veneno).
dor...” (Carlos Lyra) Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu
trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que
Figuras de Palavras ou de Pensamento produzo).
Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Metáfora Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfones
em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás
em virtude da circunstância de que o nosso espírito as dos jogadores).
associa e percebe entre elas certas semelhanças. É o Parte pelo todo: Várias pernas passavam
emprego da palavra fora de seu sentido normal. apressadamente. (= Várias pessoas passavam
apressadamente).
Observação: Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem
Toda metáfora é uma espécie de comparação nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse
implícita, em que o elemento comparativo não aparece. mundo).
Seus olhos são como luzes brilhantes. Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir
às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram
O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
chamadas, não apenas uma mulher).
através do emprego da palavra como.
Marca pelo produto: Minha filha adora danone. (=
Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone).
Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Alguns
Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
astronautas foram à Lua).
ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá
qualidade do que é semelhante.
para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado).
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Catacrese
Esta é a verdadeira metáfora. Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo,
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por
Outros exemplos: falta de um termo específico para designar um conceito,
“Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a
Pessoa) empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que Exemplos: “asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio rosto”, “pé da mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando
a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.). Perífrase ou Antonomásia
Trata-se de uma expressão que designa um ser
Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar através de alguma de suas características ou atributos,
algum. ou de um fato que o celebrizou. É a substituição de um
Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, nome por outro ou por uma expressão que facilmente o
na frase acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa identifique:
expressão que indica uma alma rústica e abandonada A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua
(e angustiadamente inútil), há uma comparação atraindo visitantes do mundo todo.
LÍNGUA PORTUGUESA

subentendida: Minha alma é tão rústica, abandonada A Cidade-Luz (=Paris)


(e inútil) quanto uma estrada de terra que leva a lugar O rei das selvas (=o leão)
algum.
Observação:
A Amazônia é o pulmão do mundo. Quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o
Em sua mente povoa só inveja. nome de antonomásia. Exemplos:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida
praticando o bem.

87
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito Prosopopeia ou Personificação
jovem. É a atribuição de ações ou qualidades de seres
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. animados a seres inanimados, ou características humanas
a seres não humanos. Observe os exemplos:
Sinestesia As pedras andam vagarosamente.
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um
sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. cego que guia.
É o cruzamento de sensações distintas. A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = Chora, violão.
auditivo; áspero = tátil)
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os Figuras de Construção ou de Sintaxe
acontecimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual)
Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil) Apóstrofe
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa
Antítese personificada, de acordo com o objetivo do discurso,
Consiste no emprego de palavras que se opõem que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-
quanto ao sentido. O contraste que se estabelece serve, se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele
essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe
envolvidos que não se conseguiria com a exposição a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim
isolada dos mesmos. Observe os exemplos: a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr
“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa) em evidência com tal invocação. Realiza-se por meio do
O corpo é grande e a alma é pequena. vocativo. Exemplos:
“Quando um muro separa, uma ponte une.” Moça, que fazes aí parada?
Não há gosto sem desgosto. “Pai Nosso, que estais no céu”
Deus, ó Deus! Onde estás?
Paradoxo ou oximoro
É a associação de ideias, além de contrastantes, Gradação (ou clímax)
contraditórias. Seria a antítese ao extremo. Apresentação de ideias por meio de palavras,
Era dor, sim, mas uma dor deliciosa. sinônimas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou
Ouvimos as vozes do silêncio. descendente (anticlímax). Observe este exemplo:
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
Eufemismo com seus olhos claros e brincalhões...
É o emprego de uma expressão mais suave, mais
nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa O objetivo do narrador é mostrar a expressividade
áspera, desagradável ou chocante. dos olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e
Senhor. (= morreu) seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou) ordem decrescente de intensidade. Outros exemplos:
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu) “Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu
Faltar à verdade. (= mentir) amor”. (Olavo Bilac)
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu,
Ironia colheu-se.” (Padre Antônio Vieira)
É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário
do que as palavras ou frases expressam, geralmente Elipse
apresentando intenção sarcástica. A ironia deve ser muito Consiste na omissão de um ou mais termos numa
bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal oração e que podem ser facilmente identificados, tanto
construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à por elementos gramaticais presentes na própria oração,
desejada pelo emissor. quanto pelo contexto.
Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota A catedral da Sé. (a igreja catedral)
mínima. Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos estádio)
que estão por perto.
O governador foi sutil como um elefante. Zeugma
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
LÍNGUA PORTUGUESA

Hipérbole a omissão de um termo já mencionado anteriormente.


É a expressão intencionalmente exagerada com o Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
intuito de realçar uma ideia. português)
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso. Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só
“Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac) modernos. (só havia móveis)
O concurseiro quase morre de tanto estudar! Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)

88
Silepse assindéticas. A oração coordenada ligada por uma
A silepse é a concordância que se faz com o termo conjunção (conectivo) é sindética; a oração que não
que não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. apresenta conectivo é assindética. Recordado esse
É uma concordância anormal, psicológica, porque se faz conceito, podemos definir as duas figuras de construção:
com um termo oculto, facilmente identificado. Há três A) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela
tipos de silepse: de gênero, número e pessoa. repetição enfática dos conectivos. Observe o
exemplo: O menino resmunga, e chora, e grita, e
Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino ninguém faz nada.
e feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a B) Assíndeto - É uma figura caracterizada
concordância se faz com a ideia que o termo comporta. pela ausência, pela omissão das conjunções
Exemplos: coordenativas, resultando no uso de orações
coordenadas assindéticas. Exemplos:
A) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família.
calor intenso. “Vim, vi, venci.” (Júlio César)
Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence Pleonasmo
ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
(a cidade de Porto Velho). mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é
realçar a ideia, torná-la mais expressiva.
B) Vossa Excelência está preocupado. O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo.
O adjetivo preocupado concorda com o sexo da
pessoa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Nesta oração, os termos “o problema da violência”
Vossa Excelência. e “lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto.
Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o
Silepse de Número - Os números são singular e pronome “lo” classificado como objeto direto pleonástico.
plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da Outro exemplo:
oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos: Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
de Salvador. Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto,
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto. e o pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto
pleonástico.
Note que nos exemplos acima, os verbos andaram
e gritavam não concordam gramaticalmente com os Observação:
sujeitos das orações (que se encontram no singular, O pleonasmo só tem razão de ser quando confere
procissão e povo, respectivamente), mas com a ideia que mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um pleonasmo
neles está contida. Procissão e povo dão a ideia de muita vicioso:
gente, por isso que os verbos estão no plural. Vi aquela cena com meus próprios olhos.
Vamos subir para cima.
Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais: Ele desceu pra baixo.
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles
(as três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há Anáfora
um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não É a repetição de uma ou mais palavras no início
concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa de várias frases, criando, assim, um efeito de reforço
que está inscrita no sujeito. Exemplos: e de coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão
O que não compreendo é como os brasileiros em causa é posta em destaque, permitindo ao escritor
persistamos em aceitar essa situação. valorizar determinado elemento textual. Os termos
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho. anafóricos podem muitas vezes ser substituídos por
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins pronomes.
públicos.” (Machado de Assis) Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te
conhecia.
Observe que os verbos persistamos, temos e somos “Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo
não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos acaba.” (Padre Vieira)
(brasileiros, agricultores e cariocas, que estão na terceira
LÍNGUA PORTUGUESA

pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os Anacoluto
brasileiros, os agricultores e os cariocas). Consiste na mudança da construção sintática no meio
da frase, ficando alguns termos desligados do resto do
Polissíndeto / Assíndeto período. É a quebra da estrutura normal da frase para a
Para estudarmos as duas figuras de construção é introdução de uma palavra ou expressão sem nenhuma
necessário recordar um conceito estudado em sintaxe ligação sintática com as demais.
sobre período composto. No período composto por Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
coordenação, podemos ter orações sindéticas ou Morrer, todo haveremos de morrer.

89
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?

A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo, EXERCÍCIOS COMENTADOS


deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há
uma interrupção da frase e esta expressão fica à 1. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – FUNRIO
parte, não exercendo nenhuma função sintática. O – 2009) Observe o trecho de “O Cortiço”, de Aluísio
anacoluto também é chamado de “frase quebrada”, pois de Azevedo: “Eram cinco horas da manhã e o cortiço
corresponde a uma interrupção na sequência lógica do acordava, [...]. Um acordar alegre e farto de quem dormiu
pensamento. de uma assentada sete horas de chumbo.” Seu autor
utiliza o seguinte recurso estilístico:
Observação:
O anacoluto deve ser usado com finalidade expressiva a) eufemismo.
em casos muito especiais. Em geral, evite-o. b) gradação.
c) comparação.
Hipérbato / Inversão d) antítese.
É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da e) personificação.
ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
sujeito venha depois do predicado: Resposta: Letra E
Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, [...].
amor venceu ao ódio) Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: assentada sete horas de chumbo = dar características
Eu cuido dos meus problemas) humanas a seres inanimados é a figura de
pensamento da Personificação – também conhecida
por Prosopopeia.
GABARITO OFICIAL: E
#FicaDica
2. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – FUNRIO
O nosso Hino Nacional é um exemplo de – 2009) O hino do América F.C., composto por Lamartine
hipérbato, já que, na ordem direta, teríamos: Babo, diz: “Hei de torcer, torcer, torcer... Hei de torcer
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o até morrer, morrer, morrer... Pois a torcida americana é
brado retumbante de um povo heroico”. toda assim, a começar por mim.” O recurso linguístico
que enfatiza o compromisso entoado pelo hino é

a) o uso das reticências.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS b) a repetição da estrutura sintática.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa c) o emprego do verbo auxiliar “haver”.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. d) a presença da palavra “torcida”.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza e) a autorreferência do pronome “mim”.
Cochar. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, Resposta: Letra C
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira Em “a”, o uso das reticências = incorreta
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – Em “b”, a repetição da estrutura sintática = incorreta
São Paulo: Saraiva, 2002. Em “c”, o emprego do verbo auxiliar “haver”.
Em “d”, a presença da palavra “torcida” = incorreta
SITES Em “e”, a autorreferência do pronome “mim” =
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ incorreta
secoes/estil/estil8.php> O uso do verbo “haver” (hei de ... hei de ...) reforça o
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/ compromisso do torcedor com o time.
secoes/estil/estil5.php>
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/
secoes/estil/estil2.php>
LÍNGUA PORTUGUESA

90
ESTRUTURA TEXTUAL que está sendo discutido, não conseguindo estruturá-
las. Surge também a dificuldade de organizar seus
Primeiramente, o que nos faz produzir um texto pensamentos e definir uma linha lógica de raciocínio.
é a capacidade que temos de pensar. Por meio do
pensamento, elaboramos todas as informações que Conclusão
recebemos e orientamos as ações que interferem na Considerada como a parte mais importante do texto,
realidade e organização de nossos escritos. O que lemos é o ponto de chegada de todas as argumentações
é produto de um pensamento transformado em texto. elaboradas. As ideias e os dados utilizados convergem
Logo, como cada um de nós tem seu modo de pensar, para essa parte, em que a exposição ou discussão se
quando escrevemos sempre procuramos uma maneira fecha.
organizada do leitor compreender as nossas ideias. A Em uma estrutura normal, ela não deve deixar uma
finalidade da escrita é direcionar totalmente o que você brecha para uma possível continuidade do assunto;
quer dizer, por meio da comunicação. ou seja, possui atributos de síntese. A discussão não
Para isso, os elementos que compõem o texto deve ser encerrada com argumentos repetitivos, como
se subdividem em: introdução, desenvolvimento e
por exemplo: “Portanto, como já dissemos antes...”,
conclusão. Todos eles devem ser organizados de maneira
“Concluindo...”, “Em conclusão...”.
equilibrada.
Sua proporção em relação à totalidade do texto deve
ser equivalente ao da introdução: de 1/5. Essa é uma das
Introdução
Caracterizada pela entrada no assunto e a características de textos bem redigidos.
argumentação inicial. A ideia central do texto é Os seguintes erros aparecem quando as conclusões
apresentada nessa etapa. Essa apresentação deve ser ficam muito longas:
direta, sem rodeios. O seu tamanho raramente excede a • O problema aparece quando não ocorre uma
1/5 de todo o texto. Porém, em textos mais curtos, essa exploração devida do desenvolvimento, o que
proporção não é equivalente. Neles, a introdução pode gera uma invasão das ideias de desenvolvimento
ser o próprio título. Já nos textos mais longos, em que na conclusão.
o assunto é exposto em várias páginas, ela pode ter o • Outro fator consequente da insuficiência de
tamanho de um capítulo ou de uma parte precedida por fundamentação do desenvolvimento está na
subtítulo. Nessa situação, pode ter vários parágrafos. Em conclusão precisar de maiores explicações, ficando
redações mais comuns, que em média têm de 25 a 80 bastante vazia.
linhas, a introdução será o primeiro parágrafo. • Enrolar e “encher linguiça” são muito comuns no
texto em que o autor fica girando em torno de
Desenvolvimento ideias redundantes ou paralelas.
A maior parte do texto está inserida no • Uso de frases vazias que, por vezes, são perfeitamente
desenvolvimento, que é responsável por estabelecer uma dispensáveis.
ligação entre a introdução e a conclusão. É nessa etapa • Quando não tem clareza de qual é a melhor conclusão,
que são elaboradas as ideias, os dados e os argumentos o autor acaba se perdendo na argumentação final.
que sustentam e dão base às explicações e posições do
autor. É caracterizado por uma “ponte” formada pela Em relação à abertura para novas discussões, a
organização das ideias em uma sequência que permite conclusão não pode ter esse formato, exceto pelos
formar uma relação equilibrada entre os dois lados. seguintes fatores:
O autor do texto revela sua capacidade de discutir • Para não influenciar a conclusão do leitor sobre
um determinado tema no desenvolvimento, e é através temas polêmicos, o autor deixa a conclusão em
desse que o autor mostra sua capacidade de defender
aberto.
seus pontos de vista, além de dirigir a atenção do leitor
• Para estimular o leitor a ler uma possível continuidade
para a conclusão. As conclusões são fundamentadas a
do texto, o autor não fecha a discussão de
partir daqui.
propósito.
Para que o desenvolvimento cumpra seu objetivo,
o escritor já deve ter uma ideia clara de como será a • Por apenas apresentar dados e informações sobre
conclusão. Daí a importância em planejar o texto. o tema a ser desenvolvido, o autor não deseja
Em média, o desenvolvimento ocupa 3/5 do texto, no concluir o assunto.
mínimo. Já nos textos mais longos, pode estar inserido • Para que o leitor tire suas próprias conclusões, o
em capítulos ou trechos destacados por subtítulos. autor enumera algumas perguntas no final do
Apresentar-se-á no formato de parágrafos medianos e texto.
LÍNGUA PORTUGUESA

curtos.
Os principais erros cometidos no desenvolvimento A maioria dessas falhas pode ser evitada se antes o
são o desvio e a desconexão da argumentação. O autor fizer um esboço de todas as suas ideias. Essa técnica
primeiro está relacionado ao autor tomar um argumento é um roteiro, em que estão presentes os planejamentos.
secundário que se distancia da discussão inicial, ou Naquele devem estar indicadas as melhores sequências
quando se concentra em apenas um aspecto do tema e a serem utilizadas na redação; ele deve ser o mais enxuto
esquece o seu todo. O segundo caso acontece quando possível.
quem redige tem muitas ideias ou informações sobre o

91
SITE Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma,
Disponível em: apenas mudamos a ordem das palavras para dar ênfase
<http://producao-de-textos.info/mos/view/ a alguns termos (neste caso: No Brasil e na A. L.). Repare
Caracter%C3%ADsticas_e_Estruturas_do_Texto/> que, para obter a clareza tivemos que fazer o uso de
vírgulas.
Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado
REESCRITA DE TEXTOS/EQUIVALÊNCIA DE ESTRU- e o que mais nos auxilia na organização de um período,
TURAS pois facilita as boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja,
a vírgula ajuda-nos a não “embolar” o sentido quando
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase produzimos frases complexas. Com isto, “entregamos”
leva-nos a refletir sobre a organização das ideias em um frases bem organizadas aos nossos leitores.
texto. Significa dizer que, antes da redação, naturalmente O básico para a organização sintática das frases é
devemos dominar o assunto sobre o qual iremos tratar e, a ordem direta dos termos da oração. Os gramáticos
posteriormente, planejar o modo como iremos expô-lo, estruturam tal ordem da seguinte maneira:
do contrário haverá dificuldade em transmitir ideias bem
acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação de textos e SUJEITO + VERBO+ COMPLEMENTO VERBAL+
a experiência de vida antecedem o ato de escrever. CIRCUNSTÂNCIAS
Obtido um razoável conhecimento sobre o que A globalização + está causando+ desemprego + no
iremos escrever, feito o esquema de exposição da Brasil nos dias de hoje.
matéria, é necessário saber ordenar as ideias em frases
bem estruturadas. Logo, não basta conhecer bem um Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem
determinado assunto, temos que o transmitir de maneira todas contêm todos estes elementos, portanto cabem
clara aos leitores. algumas observações:
O estudo da pontuação pode se tornar um valioso
aliado para organizarmos as ideias de maneira clara A) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.)
em frases. Para tanto, é necessário ter alguma noção normalmente são representadas por adjuntos
de sintaxe. “Sintaxe”, conforme o dicionário Aurélio, é a
adverbiais de tempo, lugar, etc. Note que, no mais
“parte da gramática que estuda a disposição das palavras
das vezes, quando queremos recordar algo ou
na frase e a das frases no discurso, bem como a relação
narrar uma história, existe a tendência a colocar os
lógica das frases entre si”; ou em outras palavras, sintaxe
adjuntos nos começos das frases:
quer dizer “mistura”, isto é, saber misturar as palavras
“No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas
de maneira a produzirem um sentido evidente para os
minhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos
receptores das nossas mensagens. Observe:
e outros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil
1. A desemprego globalização no Brasil e no na está
existe…”
Latina América causando.
2. A globalização está causando desemprego no Brasil
e na América Latina. Observações:
Tais construções não estão erradas, mas rompem com
Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma a ordem direta;
frase, as palavras estão amontoadas sem a realização É preciso notar que em Língua Portuguesa, há muitas
de “uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem frases que não têm sujeito, somente predicado. Por
relação inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe exemplo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em
ocorreu de maneira perfeita e o sentido está claro para Friburgo. São quatro horas agora;
receptores de língua portuguesa inteirados da situação Outras frases são construídas com verbos intransitivos,
econômica e cultural do mundo atual. que não têm complemento:
O menino morreu na Alemanha. (sujeito +verbo+
A Ordem dos Termos na Frase adjunto adverbial)
Leia novamente a frase contida no item 2. Note
que ela é organizada de maneira clara para produzir A globalização nasceu no século XX. (idem)
sentido. Todavia, há diferentes maneiras de se organizar Há ainda frases nominais que não possuem verbos:
gramaticalmente tal frase, tudo depende da necessidade cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a
ou da vontade do redator em manter o sentido, ou ordem direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os
mantê-lo, porém, acrescentado ênfase a algum dos seus termos existentes nelas.
termos. Significa dizer que, ao escrever, podemos fazer
uma série de inversões e intercalações em nossas frases, Levando em consideração a ordem direta, podemos
LÍNGUA PORTUGUESA

conforme a nossa vontade e estilo. Tudo depende da estabelecer três regras básicas para o uso da vírgula:
maneira como queremos transmitir uma ideia, do nosso Se os termos estão colocados na ordem direta não
estilo. Por exemplo, podemos expressar a mensagem da haverá a necessidade de vírgulas. A frase 2 é um exemplo
frase 2 da seguinte maneira: disto:
No Brasil e na América Latina, a globalização está A globalização está causando desemprego no Brasil e
causando desemprego. na América Latina.

92
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração C) Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a,
por três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula, tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra
mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta é a n.º 3 da colocação da vírgula.
regra básica n.º1 para a colocação da vírgula. Veja: No Brasil e na América Latina, a globalização está
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” causando desemprego…
causam desemprego… No fim do século XX, a globalização causou desemprego
(três núcleos do sujeito) no Brasil…

A globalização causa desemprego no Brasil, na América Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente
Latina e na África. se dá com a colocação das circunstâncias antes do
(três adjuntos adverbiais) sujeito. Trata-se da ordem inversa. Estas circunstâncias,
em gramática, são representadas pelos adjuntos
A globalização está causando desemprego, insatisfação adverbiais. Muitas vezes, elas são colocadas em orações
e sucateamento industrial no Brasil e na América Latina. chamadas adverbiais que têm uma função semelhante a
(três complementos verbais) dos adjuntos adverbiais, isto é, denotam tempo, lugar,
etc. Exemplos:
B) Em princípio, não devemos, na ordem direta, Quando o século XX estava terminando, a globalização
separar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o começou a causar desemprego.
verbo e o seu complemento, nem o complemento Enquanto os países portadores de alta tecnologia
e as circunstâncias, ou seja, não devemos separar desenvolvem-se, a globalização causa desemprego nos
com vírgula os termos da oração. Veja exemplos de países pobres.
tal incorreção: Durante o século XX, a Globalização causou
O Brasil, será feliz. desemprego no Brasil.
A globalização causa, o desemprego.
Observação:
Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre Quanto à equivalência e transformação de estruturas,
os termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, um exemplo muito comum cobrado em provas é
assim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é o enunciado trazer uma frase no singular e pedir a
a regra básica n.º 2 para a colocação da vírgula. Dito em passagem para o plural, mantendo o sentido. Outro
outras palavras: quando intercalamos expressões e frases exemplo é a mudança de tempos verbais.
entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos
com vírgulas. Vejamos: SITE
A globalização, fenômeno econômico deste fim de Disponível em: <http://ricardovigna.wordpress.
século XX, causa desemprego no Brasil. com/2009/02/02/estudos-de-linguagem-1-estrutura-
Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o frasal-e-pontuacao/>
sujeito e o verbo.

Outros exemplos:
A globalização, que é um fenômeno econômico e
cultural, está causando desemprego no Brasil e na América
Latina.
Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
As orações adjetivas explicativas desempenham
frequentemente um papel semelhante ao do aposto
explicativo, por isto são também isoladas por vírgula.
A globalização causa, caro leitor, desemprego no
Brasil…
Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o
seu complemento.

A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,


no Brasil…
Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não
pertence ao assunto: globalização, da frase principal,
LÍNGUA PORTUGUESA

tal oração é apenas um comentário à parte entre o


complemento verbal e os adjuntos).

Observação:
A simples negação em uma frase não exige vírgula:
A globalização não causou desemprego no Brasil e na
América Latina.

93
4. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016)

HORA DE PRATICAR! Bibliotecas sempre deram muito o que falar. Grandes


monarquias jamais deixaram de possuir as suas, e cui-
davam delas estrategicamente. Afinal, dotes de prin-
1. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016) cesas foram negociados tendo livros como objetos de
barganha; tratados diplomáticos versaram sobre essas
Texto I coleções. Os monarcas portugueses, após o terremoto
que dizimou Lisboa, se orgulhavam de, a despeito dos
Naquele novo apartamento da rua Visconde de Pirajá destroços, terem erguido uma grande biblioteca: a Real
pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não Livraria. D. José chamava-a de joia maior do tesouro real.
era um cômodo muito grande, mas dava para armar ali a D. João VI, mesmo na correria da partida para o Brasil,
minha tenda de reflexões e leitura: uma escrivaninha, um não se esqueceu dos livros. Em três diferentes levas, a
sofá e os livros. Na parede da esquerda ficaria a grande Real Biblioteca aportou nos trópicos, e foi até mesmo
e sonhada estante onde caberiam todos os meus livros. tema de disputa.
Tratei de encomendá-la a seu Joaquim, um marceneiro Internet: <http://observatoriodaimprensa.com.br>
que tinha oficina na rua Garcia D’Ávila com Barão da Tor- (com adaptações).
re.
O apartamento não ficava tão perto da oficina. Era quase A Real Livraria foi erguida com os destroços resultantes
em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre a do terremoto que atingiu Lisboa, como símbolo da força
Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius de Portugal na superação da tragédia que acabava de
de Moraes. Estava ali havia uma semana e nem decorara assolar o país.
ainda o número do prédio. Tanto que, quando seu Joa-
quim, ao preencher a nota de encomenda, perguntou-
-me onde seria entregue a estante, tive um momento de ( ) CERTO ( ) ERRADO
hesitação. Mas foi só um momento. Pensei rápido: “Se o
prédio do Mário é 228, o meu, que fica quase em frente,
5. (PREFEITURA DE SÃO PAULO-SP – ASSISTENTE DE
deve ser 227”. Mas lembrei-me de que, ao ir ali pela pri-
GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – CESPE – 2016)
meira vez, observara que, apesar de ficar em frente ao do
Mário, havia uma diferença na numeração.
Texto I
― Visconde de Pirajá, 127 ― respondi, e seu Joaquim
desenhou o endereço na nota.
O Brasil é um país de cidades novas. A maior parte de
― Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará lá
seus núcleos urbanos surgiu no século passado. Há ci-
sua estante.
dades, entretanto, que já existem há bastante tempo.
― Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz esse
Contemporâneas dos primeiros tempos da coloniza-
prazo.
ção, algumas delas já ultrapassaram inclusive a marca
― A estante é grande, dá muito trabalho... Digamos, três
do quarto centenário. Poucas são as cidades brasileiras,
semanas.
contudo, que ainda apresentam vestígios materiais con-
Ferreira Gullar. A estante. In: A estranha vida banal. Rio de
sideráveis do passado.
Janeiro: José Olympio, 1989 (com adaptações)
Se hoje o Rio de Janeiro, fundado em 1565, vangloria-se
de seu “corredor cultural”, que preserva edificações da
De acordo com as informações do texto, é correto inferir
área central construídas na virada do século XIX para o
que seu Joaquim era analfabeto, uma vez que ele “dese-
XX, é importante lembrar que as edificações aí situadas
nhou o endereço na nota”.
substituíram inúmeras outras antes existentes no mes-
mo local. Nem mesmo o berço histórico da cidade existe
( ) CERTO ( ) ERRADO mais, arrasado devido à destruição do Morro do Castelo
em 1922. E o que falar de São Paulo, fundada em 1554?
Da pauliceia colonial e imperial quase mais nada existe,
2. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016) e, se ainda temos uma boa noção do que foi a cidade da
De acordo com as informações do texto, Vinicius de Mo- primeira metade do século XX, é porque contamos com a
raes passou a morar no apartamento onde antes residia paisagem eternizada das fotografias e com os belíssimos
Mário Pedrosa. trabalhos realizados pelos geógrafos paulistas por oca-
sião do quarto centenário da cidade.
( ) CERTO ( ) ERRADO Há outros exemplos. Olinda, fundada em 1537, orgulha-
LÍNGUA PORTUGUESA

-se de ser patrimônio cultural da humanidade, mas esse


título não lhe foi conferido em razão dos testemunhos
3. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016) que sobraram da cidade antiga, em grande parte subs-
O “momento de hesitação” vivido pelo narrador deveu- tituída por construções em estilo eclético ou art déco
-se ao medo de informar o endereço a um desconhecido. do início do século passado. E se Salvador, criada em
1549, e Ouro Preto, fundada em 1711, podem gabar-se
( ) CERTO ( ) ERRADO de manter ainda um patrimônio histórico-arquitetônico
apreciável, isso se deve muito mais à longa decadência

94
econômica pela qual passaram, que atenuou os ataques 7. (PREFEITURA DE SÃO PAULO-SP – ASSISTENTE DE
ao parque construído, do que a qualquer veleidade pre- GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – CESPE – 2016) En-
servacionista local. tre as cidades citadas no texto I, a cidade brasileira mais
Em suma, não é muito comum encontrarem-se vestígios antiga na qual existe patrimônio histórico-arquitetônico
materiais do passado nas cidades brasileiras, mesmo na- apreciável é
quelas que já existem há bastante tempo. Há, entretanto,
algo novo acontecendo em todas elas. Independente- a) Rio de Janeiro.
mente de qual tenha sido o estoque de materialidades b) Salvador.
históricas que tenham conseguido salvar da destruição, c) São Paulo.
as cidades do país vêm hoje engajando-se decisivamente d) Olinda.
em um movimento de preservação do que sobrou de seu e) Ouro Preto.
passado, em uma indicação flagrante de que muita coisa
mudou na forma como a sociedade brasileira se relacio-
na com as suas memórias. 8. (PREFEITURA DE SÃO PAULO-SP – ASSISTENTE DE
Mauricio Abreu. Sobre a memória das cidades. In: Ana GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – CESPE – 2016)
Fani Alessandri Carlos et al (Orgs.). A produção do espaço
urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Texto III
Paulo: Editora Contexto, 2013, p. 21-2 (com adaptações).
A história do grafite no Brasil iniciou-se na década de
De acordo com as informações presentes no texto I, 70 do século XX, precisamente na cidade de São Paulo,
em uma época conturbada da história do Brasil, época
essa silenciada pela censura resultante da chegada dos
a) as cidades brasileiras não guardam vestígios materiais militares ao poder.
relevantes de seu passado. Paralelamente ao movimento que despontava em Nova
b) a forma como a sociedade brasileira se relaciona com York, o grafite surgiu no cenário da metrópole brasilei-
suas memórias mantém-se inalterada desde a funda- ra como uma arte transgressora, a linguagem da rua, da
ção das cidades mais antigas do país. marginalidade, que não pedia licença e que gritava nas
c) observa-se nas cidades brasileiras um movimento no paredes da cidade os incômodos de uma geração.
sentido da preservação dos vestígios que sobraram de A partir disso, a arte de grafitar se transformou em um
sua história. importante veículo de comunicação urbano, corrobo-
d) as cidades brasileiras mais antigas tendem a conservar rando, de alguma maneira, a existência de outras vozes,
menos vestígios materiais de seu passado. de outros sujeitos históricos e ativos que participam da
e) as cidades brasileiras fundadas recentemente, por se- cidade.
rem novas, conservam poucos vestígios materiais de É importante ressaltar que o grafite, inicialmente, foi uma
sua história. arte caracterizada pela autoria anônima, por meio da
qual o grafiteiro transformava a cidade em um importan-
6. (PREFEITURA DE SÃO PAULO-SP – ASSISTENTE DE te suporte de comunicação artística sem delimitação de
GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – CESPE – 2016) espaço, de mensagem ou de mensageiro.
Considerando as informações apresentadas no texto I, Portanto, o que importava naquele momento era a arte
assinale a opção correta. em si e não o nome de seu autor. Por esse motivo, os
ditos “cânones” são retirados de sua posição central e
a) O patrimônio histórico-arquitetônico existente em Sal- imperativa para dar lugar a uma arte de todos e para
vador foi preservado graças a um movimento antigo e todos; arte da rua, na rua e para a rua; arte da cidade, na
consciente de valorização, preservação e restauração cidade e para a cidade: o grafite. Nesse sentido, a arte se
dos vestígios materiais de sua história. funde com a vida do cidadão da metrópole por meio do
b) O título de patrimônio cultural da humanidade foi movimento mútuo de transformação e de identificação
concedido à cidade de Olinda como reconhecimen- de seus sujeitos.
to pelo seu esforço de preservação e de valorização Internet: <www.todamateria.com.br> (com
do que sobrou de suas paisagens urbanas do período adaptações).
colonial.
c) O Morro do Castelo e algumas construções da pas- De acordo com o texto III, o grafite
sagem do século XIX para o XX são exemplos de ma-
terialidades históricas que foram sacrificadas para a a) faz denúncias sociais, usando uma forma de lingua-
construção do ‘corredor cultural’ do Rio de Janeiro. gem padronizada.
d) O período de longa decadência econômica por que b) caracterizou-se pela clara marca de autoria.
LÍNGUA PORTUGUESA

passaram Salvador e Ouro Preto serviu para minimizar c) materializa-se nas paredes e muros das cidades.
as agressões ao patrimônio histórico-arquitetônico d) nasceu desvinculado da realidade, com foco na arte
dessas cidades. em si.
e) O papel dos fotógrafos e dos geógrafos foi fundamen- e) constitui um importante meio de comunicação que
tal para a preservação de inúmeros registros da histó- conecta diversas pessoas em lugares públicos e pri-
ria colonial e imperial da cidade de São Paulo, assim vados.
como de sua história mais recente.

95
9. (PREFEITURA DE SÃO PAULO-SP – ASSISTENTE DE Em todos os casos, a Defensoria Pública fez intervenção
GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS – CESPE – 2016) judicial para suprir a negativa ou a má prestação do ser-
viço público de saúde na localidade.
Texto IV Em um dos casos, atendeu uma gestante com histórico
de abortos decorrentes de doença trombofílica e que ne-
A metrópole de São Paulo vem se tornando mais hetero- cessitava de uma medicação diária de alto custo. A me-
gênea econômica, social e espacialmente e menos desi- dicação, única opção na manutenção da gestação, havia
gual quanto à renda, inserção no mercado de trabalho e sido negada pelo município e pelo estado, o que colo-
condições de vida de seus habitantes, mesmo nas áreas cava a gestante em sério risco de sofrer mais um aborto.
mais precárias. A imagem emerge dos treze ensaios que Em mais uma intervenção judiciária do defensor público,
compõem o livro A Metrópole de São Paulo no Século foi deferida liminar em favor da assistida, tendo o estado
XXI – Espaços, Heterogeneidades e Desigualdades, os e o município sido obrigados a fornecer o medicamento
quais abordam temas específicos, a partir de um diag- necessário durante toda a sua gestação e enquanto hou-
nóstico comum, para construir um panorama atual da re- ver prescrição médica, sob pena de multa diária.
gião metropolitana. Tal retrato resulta das mudanças de Internet: <www.defensoriapublica.pr.gov.br> (com
diversas dimensões pelas quais a metrópole passou na adaptações).
última década, do perfil da pobreza às dinâmicas migra-
tórias e ligadas ao crescimento demográfico, dos moldes Conclui-se do texto que, a despeito do que prevê a Cons-
de segregação social à produção habitacional e à mobi- tituição Federal, muitos cidadãos encontram dificuldades
lidade urbana. em conseguir atendimento na rede pública de saúde e
A fisionomia da metrópole, central na economia do país, acabam por recorrer à Defensoria Pública para que seus
reflete a conjuntura de modo especial, segundo o orga- direitos sejam respeitados e garantidos.
nizador. Assim, tiveram impactos particulares na região
metropolitana a redemocratização, na década de 80 do ( ) CERTO ( ) ERRADO
século XX (com a volta das eleições regulares e com a
constituição de sistemas nacionais de políticas públicas),
a estabilização econômica, a abertura do mercado inter- 11. (DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CONHECI-
no da década de 90 e o crescimento econômico vigoroso MENTOS BÁSICOS – CESPE –2016)
da primeira década do século XXI.
Maria Silva é moradora do Assentamento Noroeste, onde
Internet: <www.fflch.usp.br> (com adaptações).
moram cerca de cem pessoas cuja principal forma de
renda é o trabalho com reciclagem. Ela é uma das líde-
De acordo com o texto IV, res que lutam pelos direitos daquela comunidade. Vinda
do estado do Ceará, Maria chegou a Brasília em 2002 e
a) a transformação da sociedade brasileira atinge a re- conheceu o trabalho da Defensoria Pública por meio do
gião metropolitana de São Paulo com um atraso de projeto Monitoramento da Política Nacional para a Po-
cerca de uma década. pulação em Situação de Rua, tendo seu primeiro contato
b) a transformação urbana da metrópole de São Paulo com a defensoria ocorrido quando ela precisou de novos
está relacionada à conjuntura econômica brasileira. documentos para substituir os que haviam sido perdidos
c) a cidade de São Paulo é especial por refletir as trans- no período em que esteve nas ruas.
formações do Brasil. O objetivo do referido projeto é o de ir até a população
d) não há relação entre as transformações ocorridas na que normalmente não tem acesso à Defensoria Pública.
metrópole paulistana e as transformações ocorridas “Nós chegamos de forma humanizada até essas pessoas
no Brasil. em situação de rua. Com esse trabalho nós estamos ga-
e) a capital paulista determinou as transformações so- rantindo seu acesso à justiça e aos direitos para que con-
ciais do Brasil, dada a sua importância política. sigam se beneficiar de outras políticas públicas”, explica
a coordenadora do Departamento de Atividade Psicos-
10. (DPU-AGENTE ADMINISTRATIVO – CONHECI- social.
MENTOS BÁSICOS – CESPE – 2016) A mais recente visita de participantes de outro projeto, o
Atenção à População de Rua do Assentamento Noroeste,
Saúde: direito de todos e dever do Estado. É assim que levou respostas às demandas solicitadas pelos morado-
a Constituição Federal de 1988 inicia a sua seção sobre res. O foco foram soluções e retornos de casos como o
o tema. Uma vez que muitas ações ou omissões vão de de um morador que tem problemas com a justiça e que
encontro a essa previsão, cotidianamente é possível ob- está sendo assistido por um defensor público e o de uma
LÍNGUA PORTUGUESA

servar graves desrespeitos à Carta Magna. A Defensoria senhora que estava internada em um hospital público e
Pública, importante instituição garantida por lei assim conseguiu uma cirurgia por meio dos serviços da defen-
como a saúde, busca sanar o problema por meio da via soria.
judicial quando a mediação não produz resultados. Re- As visitas acontecem mensalmente, sendo a maior de-
centemente, a Defensoria Pública em Foz do Iguaçu, por manda a solicitação de registro civil. “As certidões de
exemplo, obteve três decisões liminares garantindo o di- nascimento figuram entre as demandas porque essas
reito à saúde a três pessoas por ela assistidas. pessoas não as conseguiram por outros serviços, e a de-
fensoria teve que intervir. Nós entramos para solucionar

96
problemas: vamos até as ruas para informar sobre o tra- 14. (INSS – PERITO MÉDICO PREVIDENCIÁRIO – CES-
balho da defensoria, para que seus direitos sejam garan- PE – 2010) O povo por estar insatisfeito com o “bota-
tidos”, afirma a coordenadora. -abaixo” e influenciado pela imprensa se revoltou contra
Internet: <www.defensoria.df.gov.br.> (com a vacina.
adaptações).
Conforme o texto, a Defensoria Pública deve atuar sem-
pre que direitos dos cidadãos são negligenciados, por (  ) CERTO  (  ) ERRADO
isso atua na defesa das pessoas em situação de rua.
15. (INSS – PERITO MÉDICO PREVIDENCIÁRIO – CES-
PE – 2010) A vacinação obrigatória foi o elemento es-
( ) CERTO ( ) ERRADO sencial para que ocorresse a Revolta da Vacina, embora
a população já estivesse muito insatisfeita com o “bota-
-abaixo” e sendo insuflada pela imprensa.

12. (TJ-DFT – CONHECIMENTOS BÁSICOS – TÉCNI-


CO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – CESPE – (  ) CERTO  (  ) ERRADO
2015)
16. (INSS – PERITO MÉDICO PREVIDENCIÁRIO – CES-
Ouro em Fios PE – 2010) O fato de a vacinação contra a varíola ser
obrigatória levou o povo a se revoltar, embora houvesse
A natureza é capaz de produzir materiais preciosos, outros motivos, tais como o “bota-abaixo”, além da mo-
como o ouro e o cobre - condutor de ENERGIA ELÉTRICA. tivação da imprensa.
O ouro já é escasso. A energia elétrica caminha para isso.
Enquanto cientistas e governos buscam novas fontes de (  ) CERTO  (  ) ERRADO
energia sustentáveis, faça sua parte aqui no TJDFT:
- Desligue as luzes nos ambientes onde é possível usar a
iluminação natural.
- Feche as janelas ao ligar o ar-condicionado. 17. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016)
- Sempre desligue os aparelhos elétricos ao sair do am- Bibliotecas: Sempre deram muito o que falar. Grandes
biente. monarquias jamais deixaram de possuir as suas, e cui-
- Utilize o computador no modo espera. davam delas estrategicamente. Afinal, dotes de prin-
Fique ligado! Evite desperdícios. cesas foram negociados tendo livros como objetos de
Energia elétrica. barganha; tratados diplomáticos versaram sobre essas
A natureza cobra o preço do desperdício. coleções. Os monarcas portugueses, após o terremoto
Internet: <www.tjdft.jus.br> (com adaptações) que dizimou Lisboa, se orgulhavam de, a despeito dos
destroços, terem erguido uma grande biblioteca: a Real
A expressão “Fique ligado”, típica da oralidade, é empre- Livraria. D. José chamava-a de joia maior do tesouro real.
gada no texto com o significado de fique atento e fun- D. João VI, mesmo na correria da partida para o Brasil,
ciona como uma estratégia para estabelecer uma relação não se esqueceu dos livros. Em três diferentes levas, a
de proximidade com o interlocutor. Real Biblioteca aportou nos trópicos, e foi até mesmo
tema de disputa.
Internet: <http://observatoriodaimprensa.com.br>.
( ) CERTO ( ) ERRADO (Com adaptações.)

O sinal de dois-pontos empregado imediatamente após


Instrução: Cada um dos itens a seguir apresenta uma
“biblioteca” introduz um termo de natureza explicativa.
proposta de reescritura do período “A vacinação obri-
gatória foi o estopim para que o povo, já profundamente
insatisfeito com o ‘bota-abaixo’ e insuflado pela imprensa, (  ) CERTO  (  ) ERRADO
se revoltasse.”. Julgue-os quanto à correção gramatical e
à coerência com as ideias do texto.
18. (INSS – ATIVIDADE TÉCNICA DE SUPORTE: ENGE-
13. (INSS – PERITO MÉDICO PREVIDENCIÁRIO – CES- NHARIA ELÉTRICA – CESPE – 2010) Entre os principais
PE – 2010) O fato de haver vacinação compulsória, foi benefícios que o carro elétrico trará aos consumidores,
apenas mais um dos elementos para que a população está o financeiro, uma vez que o novo veículo será mais
LÍNGUA PORTUGUESA

do Rio, insatisfeita com o “bota-abaixo” e insuflada pela econômico e com valor de mercado menor que o dos
imprensa, se revoltasse. automóveis convencionais.

(  ) CERTO  (  ) ERRADO (  ) CERTO  (  ) ERRADO

97
19. (INSS – ANALISTA DO SEGURO SOCIAL – SERVIÇO criticamente nossa cultura, com as restrições que o con-
SOCIAL – CESPE – 2016) texto impunha ao trabalho intelectual, desvencilhando-
Levantou-se da cama o pobre namorado sem ter conse- -se da tradição clássica, das comédias francesas, do tea-
guido dormir. Vinha nascendo o Sol. tro lírico e do melodrama, para criar uma nova comédia
Quis ler os jornais e pediu-os. com traços muito pessoais, o que lhe garantiu sucesso
Já os ia pondo de lado, por haver acabado de ler, quan- imediato em seu tempo e um significado ímpar na histó-
do repentinamente viu seu nome impresso no Jornal do ria do teatro brasileiro.
Comércio. Internet: <www.questaodecritica.com.br>. (Com
Era um artigo a pedido com o título de Uma Obra-Prima. adaptações.)
Dizia o artigo: Depreende-se do texto que Martins Pena começou a fa-
Temos o prazer de anunciar ao país o próximo apareci- zer sucesso imediatamente após começar a escrever para
mento de uma excelente comédia, estreia de um jovem o Jornal do Comércio.
literato fluminense, de nome Antônio Carlos de Oliveira.
Este robusto talento, por muito tempo incógnito, vai en-
fim entrar nos mares da publicidade, e para isso procu- (  ) CERTO  (  ) ERRADO
rou logo ensaiar-se em uma obra de certo vulto.
Consta-nos que o autor, solicitado por seus numerosos
21. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016)
amigos, leu há dias a comédia em casa do Sr. Dr. Estêvão
Soares, diante de um luzido auditório, que aplaudiu mui-
Texto I
to e profetizou no Sr. Oliveira um futuro Shakespeare.
O Sr. Dr. Estêvão Soares levou a sua amabilidade ao pon-
Naquele novo apartamento da rua Visconde de Pirajá
to de pedir a comédia para ler segunda vez, e ontem ao
pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não
encontrar-se na rua com o Sr. Oliveira, de tal entusiasmo
era um cômodo muito grande, mas dava para armar ali a
vinha possuído que o abraçou estreitamente, com gran-
minha tenda de reflexões e leitura: uma escrivaninha, um
de pasmo dos numerosos transeuntes.
sofá e os livros. Na parede da esquerda ficaria a grande
Da parte de um juiz tão competente em matérias literá-
e sonhada estante onde caberiam todos os meus livros.
rias este ato é honroso para o Sr. Oliveira.
Tratei de encomendá-la a seu Joaquim, um marceneiro
Estamos ansiosos por ler a peça do Sr. Oliveira, e ficamos
que tinha oficina na rua Garcia D’Ávila com Barão da Tor-
certos de que ela fará a fortuna de qualquer teatro.
re.
O amigo das letras.
O apartamento não ficava tão perto da oficina. Era quase
Machado de Assis. A mulher de preto. In: Contos
em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre a
fluminenses.
Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius
São Paulo: Globo, 1997. (Com adaptações.)
de Moraes. Estava ali havia uma semana e nem decorara
ainda o número do prédio. Tanto que, quando seu Joa-
Depreende-se do texto que Antônio Carlos de Oliveira quim, ao preencher a nota de encomenda, perguntou-
vai iniciar uma atividade profissional ligada à propagan- -me onde seria entregue a estante, tive um momento de
da, para a qual tem muito talento. hesitação. Mas foi só um momento. Pensei rápido: “Se o
prédio do Mário é 228, o meu, que fica quase em frente,
deve ser 227”. Mas lembrei-me de que, ao ir ali pela pri-
(  ) CERTO  (  ) ERRADO meira vez, observara que, apesar de ficar em frente ao do
Mário, havia uma diferença na numeração.
― Visconde de Pirajá, 127 ― respondi, e seu Joaquim
desenhou o endereço na nota.
20. (INSS – ANALISTA DO SEGURO SOCIAL – SERVIÇO
― Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará lá
SOCIAL – CESPE – 2016)
sua estante.
Designado para fazer a crítica dos espetáculos líricos de
― Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz esse
setembro de 1846 a outubro do ano seguinte no Jornal
prazo.
do Comércio, Martins Pena se revelou um profundo co-
― A estante é grande, dá muito trabalho... Digamos, três
nhecedor da arte cênica, tanto no que se refere à prática
semanas.
teatral (cenário, representação, maquinarias) quanto a
Ferreira Gullar. A estante. In: A estranha vida banal.
sua história, sendo não raro seus incisivos argumentos
Rio de Janeiro:
a causa de grandes polêmicas no teatro representado na
José Olympio, 1989. (Com adaptações.)
corte brasileira.
Pena ganhou evidência como comediógrafo a partir de
LÍNGUA PORTUGUESA

1838, ano em que foi encenada sua peça O Juiz de Paz O trecho “dá muito trabalho” constitui uma referência de
na Roça. Embora tenha produzido alguns dramas (que seu Joaquim à confecção da estante, tarefa que, segundo
lhe renderam duras críticas), destacou-se de fato pelas ele, seria trabalhosa.
suas comédias e farsas, nas quais retratou a cultura e os
costumes da sociedade do seu tempo.
Nas suas obras, Pena buscou uma tomada de consciência (  ) CERTO  (  ) ERRADO
de um momento da história de nosso país, que recém
adquiria uma limitada independência, e tentou pensar

98
22. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016) 25. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016)
De acordo com as informações do texto, é correto inferir Bibliotecas sempre deram muito o que falar. Grandes
que seu Joaquim era analfabeto, uma vez que ele “dese- monarquias jamais deixaram de possuir as suas, e cui-
nhou o endereço na nota”. davam delas estrategicamente. Afinal, dotes de prin-
cesas foram negociados tendo livros como objetos de
barganha; tratados diplomáticos versaram sobre essas
(  ) CERTO  (  ) ERRADO coleções. Os monarcas portugueses, após o terremoto
que dizimou Lisboa, se orgulhavam de, a despeito dos
destroços, terem erguido uma grande biblioteca: a Real
23. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016) Livraria. D. José chamava-a de joia maior do tesouro real.
D. João VI, mesmo na correria da partida para o Brasil,
Texto I não se esqueceu dos livros. Em três diferentes levas, a
Real Biblioteca aportou nos trópicos, e foi até mesmo
Naquele novo apartamento da rua Visconde de Pirajá tema de disputa.
pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não Internet: <http://observatoriodaimprensa.com.br>.
era um cômodo muito grande, mas dava para armar ali a (Com adaptações.)
minha tenda de reflexões e leitura: uma escrivaninha, um
sofá e os livros. Na parede da esquerda ficaria a grande
e sonhada estante onde caberiam todos os meus livros. A Real Livraria foi erguida com os destroços resultantes
Tratei de encomendá-la a seu Joaquim, um marceneiro do terremoto que atingiu Lisboa, como símbolo da força
que tinha oficina na rua Garcia D’Ávila com Barão da Tor- de Portugal na superação da tragédia que acabava de
re. assolar o país.
O apartamento não ficava tão perto da oficina. Era quase
em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre a (  ) CERTO  (  ) ERRADO
Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius
de Moraes. Estava ali havia uma semana e nem decorara
ainda o número do prédio. Tanto que, quando seu Joa-
quim, ao preencher a nota de encomenda, perguntou- 26. (INSS – ANALISTA DO SEGURO SOCIAL – SERVIÇO
-me onde seria entregue a estante, tive um momento de SOCIAL – CESPE – 2016)
hesitação. Mas foi só um momento. Pensei rápido: “Se o
prédio do Mário é 228, o meu, que fica quase em frente, Levantou-se da cama o pobre namorado sem ter conse-
deve ser 227”. Mas lembrei-me de que, ao ir ali pela pri- guido dormir. Vinha nascendo o Sol.
meira vez, observara que, apesar de ficar em frente ao do Quis ler os jornais e pediu-os.
Mário, havia uma diferença na numeração. Já os ia pondo de lado, por haver acabado de ler, quan-
― Visconde de Pirajá, 127 ― respondi, e seu Joaquim do repentinamente viu seu nome impresso no Jornal do
desenhou o endereço na nota. Comércio.
― Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará lá Era um artigo a pedido com o título de Uma Obra-Prima.
sua estante. Dizia o artigo:
― Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz esse Temos o prazer de anunciar ao país o próximo apareci-
prazo. mento de uma excelente comédia, estreia de um jovem
― A estante é grande, dá muito trabalho... Digamos, três literato fluminense, de nome Antônio Carlos de Oliveira.
semanas. Este robusto talento, por muito tempo incógnito, vai en-
Ferreira Gullar. A estante. In: A estranha vida banal. fim entrar nos mares da publicidade, e para isso procu-
Rio de Janeiro: rou logo ensaiar-se em uma obra de certo vulto.
José Olympio, 1989. (Com adaptações.) Consta-nos que o autor, solicitado por seus numerosos
amigos, leu há dias a comédia em casa do Sr. Dr. Estêvão
De acordo com as informações do texto, Vinicius de Mo- Soares, diante de um luzido auditório, que aplaudiu mui-
raes passou a morar no apartamento onde antes residia to e profetizou no Sr. Oliveira um futuro Shakespeare.
Mário Pedrosa. O Sr. Dr. Estêvão Soares levou a sua amabilidade ao pon-
to de pedir a comédia para ler segunda vez, e ontem ao
encontrar-se na rua com o Sr. Oliveira, de tal entusiasmo
(  ) CERTO  (  ) ERRADO vinha possuído que o abraçou estreitamente, com gran-
de pasmo dos numerosos transeuntes.
Da parte de um juiz tão competente em matérias literá-
LÍNGUA PORTUGUESA

24. (INSS – TÉCNICO SEGURO SOCIAL – CESPE – 2016) rias este ato é honroso para o Sr. Oliveira.
O “momento de hesitação” vivido pelo narrador deveu-se Estamos ansiosos por ler a peça do Sr. Oliveira, e ficamos
ao medo de informar o endereço a um desconhecido. certos de que ela fará a fortuna de qualquer teatro.
O amigo das letras.
Machado de Assis. A mulher de preto. In: Contos flumi-
(  ) CERTO  (  ) ERRADO nenses.
São Paulo: Globo, 1997. (Com adaptações.)

99
O termo introduzido pela preposição “para” em “levou Modernamente, o IP deixou de ser o procedimento ab-
a sua amabilidade ao ponto de pedir a comédia para ler solutamente inquisitorial e discricionário de outrora. A
segunda vez” exerce a função de complemento do verbo participação das partes, pessoalmente ou por seus ad-
“pedir”. vogados ou defensores públicos, vem ganhando espaço
a cada dia, com o objetivo de garantir que o IP seja um
(  ) CERTO  (  ) ERRADO instrumento imparcial de investigação em busca da ver-
dade dos fatos.
Acrescente-se que o estigma provocado por uma ação
27. (INSS – ANALISTA DO SEGURO SOCIAL – SERVIÇO penal pode perdurar por toda a vida e, por isso, para ser
SOCIAL – CESPE – 2016) promovida, a acusação deve conter fundamentos fáticos
e jurídicos suficientes, o que, em regra, se consegue por
Levantou-se da cama o pobre namorado sem ter conse- meio do IP.
guido dormir. Vinha nascendo o Sol.
Carlos Alberto Marchi de Queiroz (Coord.). Manual de
Quis ler os jornais e pediu-os.
polícia judiciária: doutrina, modelos, legislação. 6.ª ed.
Já os ia pondo de lado, por haver acabado de ler, quan-
São Paulo:
do repentinamente viu seu nome impresso no Jornal do
Delegacia Geral de Polícia, 2010 (com adaptações).
Comércio.
Era um artigo a pedido com o título de Uma Obra-Prima.
Nas orações em que ocorrem no texto CB1A1BBB, os
Dizia o artigo:
elementos “assim” (R.4) e “por isso” (R.15) expressam,
Temos o prazer de anunciar ao país o próximo apareci-
respectivamente, as ideias de
mento de uma excelente comédia, estreia de um jovem
literato fluminense, de nome Antônio Carlos de Oliveira.
Este robusto talento, por muito tempo incógnito, vai en- a) consequência e consequência.
fim entrar nos mares da publicidade, e para isso procu- b) finalidade e proporcionalidade.
rou logo ensaiar-se em uma obra de certo vulto. c) causa e consequência.
Consta-nos que o autor, solicitado por seus numerosos d) conclusão e conclusão.
amigos, leu há dias a comédia em casa do Sr. Dr. Estêvão e) restrição e conformidade.
Soares, diante de um luzido auditório, que aplaudiu mui-
to e profetizou no Sr. Oliveira um futuro Shakespeare. 29. (PC/GO – DELEGADO – CESPE – 2017)
O Sr. Dr. Estêvão Soares levou a sua amabilidade ao pon- No texto CB1A1BBB, uma ação que se desenvolve
to de pedir a comédia para ler segunda vez, e ontem ao gradualmente é introduzida pela
encontrar-se na rua com o Sr. Oliveira, de tal entusiasmo
vinha possuído que o abraçou estreitamente, com gran- a) forma verbal “implicam” (R.5).
de pasmo dos numerosos transeuntes. b) locução “vem ganhando” (R.11).
Da parte de um juiz tão competente em matérias literá- c) forma verbal “garantir” (R.12).
rias este ato é honroso para o Sr. Oliveira. d) locução “pode perdurar” (R.15).
Estamos ansiosos por ler a peça do Sr. Oliveira, e ficamos e) forma verbal “reunir” (R.2).
certos de que ela fará a fortuna de qualquer teatro.
O amigo das letras. 30. (PC/GO – Delegado – CESPE – 2017)
Machado de Assis. A mulher de preto. In: Contos
fluminenses. Texto CB1A2AAA
São Paulo: Globo, 1997. (Com adaptações.)
O termo nude é do inglês e vem sendo utilizado na Inter-
net por usuários de redes sociais para designar fotos ínti-
O vocábulo “que” classifica-se como conjunção e intro- mas que retratam a pessoa sem roupa. O envio e a troca
duz o sujeito da oração “Consta-nos”. de nudes são facilitados em aplicativos de celular, o que
torna essa prática popular entre seus usuários, incluin-
do-se menores de idade, e facilita o compartilhamento
(  ) CERTO  (  ) ERRADO
das fotos.
Havendo vazamento de fotos íntimas, há violação do di-
28. (PC/GO – Delegado – CESPE – 2017) reito de imagem da pessoa prejudicada, que, por isso,
terá ainda pode ser considerada branda, sendo um pou-
Texto CB1A1BBB co mais severa quando se trata de um crime contra a
infância. “Quando se trata de crianças e adolescentes,
LÍNGUA PORTUGUESA

A principal finalidade da investigação criminal, materia- há um agravante, pois, no art. 241 do Estatuto da Crian-
lizada no inquérito policial (IP), é a de reunir elementos ça e do Adolescente, é qualificada como crime grave a
mínimos de materialidade e autoria delitiva antes de se divulgação de fotos, gravações ou imagens de crianças
instaurar o processo criminal, de modo a evitarem-se, ou adolescentes, sendo prevista a pena de três a seis 16
assim, ações infundadas, as quais certamente implicam anos de prisão, além de pagamento de multa, para os
grande transtorno para quem se vê acusado por um cri- que cometem esse crime”, diz a advogada presidente da
me que não cometeu. Comissão de Direitos Humanos da OAB/AC.

100
Para combater o compartilhamento de fotos íntimas por 36. (SEDUC/AL - Professor de Português – CESPE-2018)
terceiros, são necessárias ações preventivas, afirma a ad- Tanto em “recebeu Camilo este bilhete de Vilela” (R. 1 e 2)
vogada. Jovens e adolescentes devem ser educados, de quanto em “tirou um cacho destas” (R.7), os pronomes
forma que tenham dimensão do problema que a divul- demonstrativos foram empregados para retomar termos
gação desse tipo de imagem pode acarretar. antecedentes.
Internet: <https://jornaldosdez.wordpress.com> (com
adaptações) ( ) CERTO ( ) ERRADO

No texto CB1A2AAA, a oração “Para combater o 37. (SEDUC/AL - Professor de Português – CESPE-2018)
compartilhamento de fotos íntimas por terceiros” (R. 19 e Na linha 4, o verbo advertir foi empregado como
20) expressa ideia de sinônimo de concluir.

a) finalidade. ( ) CERTO ( ) ERRADO


b) explicação.
c) consequência. 38. (TCM/BA - AUDITOR ESTADUAL DE CONTROLE
d) conformidade. EXTERNO – CESPE-2018)
e) causa.
Texto 1A1AAA
31. (PC/GO – Delegado – CESPE – 2017) Mantendo-
se a correção gramatical e o sentido original do texto Ainda existem pessoas para as quais a greve é um “es-
CB1A2AAA, a forma verbal “afirma” (R.20) poderia ser cândalo”: isto é, não só um erro, uma desordem ou um
substituída por delito, mas também um crime moral, uma ação intolerá-
vel que perturba a própria natureza. “Inadmissível”, “es-
a) prescreve. candalosa”, “revoltante”, dizem alguns leitores do Figaro,
b) propõe. comentando uma greve recente. Para dizer a verdade,
c) destaca. trata-se de uma linguagem do tempo da Restauração,
d) participa. que exprime a sua mentalidade profunda. É a época
e) assevera. em que a burguesia, que assumira o poder havia pouco
tempo, executa uma espécie de junção entre a moral e a
natureza, oferecendo a uma a garantia da outra. Temen-
32. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência –
do-se a naturalização da moral, moraliza-se a natureza;
CESPE-2018) No trecho “para testar possíveis soluções”
finge-se confundir a ordem política e a ordem natural, e
(R. 16 e 17), o emprego da preposição “para”, além de
decreta-se imoral tudo o que conteste as leis estruturais
contribuir para a coesão sequencial do texto, introduz,
da sociedade que se quer defender. Para os prefeitos de
no período, uma ideia de finalidade.
Carlos X, assim como para os leitores do Figaro de hoje,
a greve constitui, em primeiro lugar, um desafio às pres-
( ) CERTO ( ) ERRADO
crições da razão moralizada: “fazer greve é zombar de
todos nós”, isto é, mais do que infringir uma legalidade
33. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência – cívica, é infringir uma legalidade “natural”, atentar contra
CESPE-2018) A vírgula logo após o termo “máquina” o bom senso, misto de moral e lógica, fundamento filo-
(R.12) poderia ser eliminada sem prejuízo para a correção sófico da sociedade burguesa.
gramatical do período no qual ela aparece. Nesse caso, o escândalo provém de uma ausência de ló-
gica: a greve é escandalosa porque incomoda precisa-
( ) CERTO ( ) ERRADO mente aqueles a quem ela não diz respeito. É a razão
que sofre e se revolta: a causalidade direta, mecânica,
34. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência – essa causalidade é perturbada; o efeito se dispersa in-
CESPE-2018) A correção gramatical e o sentido do compreensivelmente longe da causa, escapa-lhe, o que
texto seriam preservados caso o período “Após quatro é intolerável e chocante. Ao contrário do que se poderia
anos de trabalho, Turing conseguiu quebrar a Enigma, pensar sobre os sonhos da burguesia, essa classe tem
ao perceber que as mensagens alemãs criptografadas uma concepção tirânica, infinitamente suscetível, da cau-
continham palavras previsíveis, como nomes e títulos dos salidade: o fundamento da moral que professa não é de
militares” (R. 17 a 20) fosse reescrito da seguinte forma: modo algum mágico, mas, sim, racional. Simplesmente,
Turing conseguiu quebrar a Enigma, depois de quatro anos trata-se de uma racionalidade linear, estreita, fundada,
de trabalho, quando notou que haviam, nas mensagens por assim dizer, numa correspondência numérica entre
alemãs criptografadas, palavras previsíveis, tais como, as causas e os efeitos. O que falta a essa racionalidade
nomes e títulos dos militares. é, evidentemente, a ideia das funções complexas, a ima-
LÍNGUA PORTUGUESA

ginação de um desdobramento longínquo dos determi-


( ) CERTO ( ) ERRADO nismos, de uma solidariedade entre os acontecimentos,
que a tradição materialista sistematizou sob o nome de
35. (SEDUC/AL - Professor de Português – CESPE-2018) totalidade.
Infere-se do terceiro verso do poema que o eu lírico Roland Barthes. O usuário da greve. In: R. Barthes.
considera-se um homem incompleto. Mitologias. Tradução de Rita Buongermino, Pedro de
Souza e Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007, p.
( ) CERTO ( ) ERRADO 135-6 (com adaptações).

101
Seriam mantidos os sentidos e a correção gramatical do rigorosa, mas para atribuir-lhe alguma flexibilidade que
texto 1A1AAA caso se substituísse o trecho a desfigure. O verdadeiro problema é a dificuldade do
setor público de adaptar suas despesas às receitas em
a) “Temendo-se” (R.11) por Se temendo. queda por causa da crise.
b) “finge-se confundir” (R.12) por finge confundir-se. Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com
c) “decreta-se” (R.13) por se decreta. adaptações).
d) “que se quer defender” (R.14) por que quer defender-
-se. O emprego do acento grave em “às receitas” decorre da
e) “se poderia pensar” (R.27) por poderia-se pensar. regência do verbo “adaptar” e da presença do artigo de-
finido feminino determinando o substantivo “receitas”.
39. (TCM/BA - Auditor Estadual de Controle Externo –
CESPE-2018) Sem prejuízo para a correção gramatical e ( ) CERTO ( ) ERRADO
para as informações veiculadas no texto 1A1AAA, poderia
ser suprimida a vírgula empregada imediatamente após 42. (INSS - Técnico Seguro Social – CESPE-2016)

a) ‘revoltante’ (R.5). Texto I


b) “Carlos X” (R.15).
c) “sim” (R.30). Naquele novo apartamento da rua Visconde de Pirajá
d) “fundada” (R.31). pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não
e) “acontecimentos” (R.36). era um cômodo muito grande, mas dava para armar ali a
minha tenda de reflexões e leitura: uma escrivaninha, um
40. (TCM/BA - Auditor Estadual de Controle Externo – sofá e os livros. Na parede da esquerda ficaria a grande
CESPE-2018) Assinale a opção que apresenta trecho do e sonhada estante onde caberiam todos os meus livros.
texto 1A1AAA que expressa uma ideia de comparação. Tratei de encomendá-la a seu Joaquim, um marceneiro
que tinha oficina na rua Garcia D’Ávila com Barão da Tor-
a) “mas também um crime moral” (R.3) re.
b) “mais do que infringir uma legalidade cívica” (R.18) O apartamento não ficava tão perto da oficina. Era quase
c) “a quem ela não diz respeito” (R.23) em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre a
d) “o que é intolerável e chocante” (R.26) Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius
e) “que a tradição materialista sistematizou sob o nome de Moraes. Estava ali havia uma semana e nem decorara
de totalidade” (R. 36 e 37) ainda o número do prédio. Tanto que, quando seu Joa-
quim, ao preencher a nota de encomenda, perguntou-
41. (TCE-PA - Conhecimentos Básicos - Cargos 1, 18, -me onde seria entregue a estante, tive um momento de
19, 37 E 38 – CESPE – 2016) hesitação. Mas foi só um momento. Pensei rápido: “Se o
prédio do Mário é 228, o meu, que fica quase em frente,
Texto CB1A1BBB deve ser 227”. Mas lembrei-me de que, ao ir ali pela pri-
meira vez, observara que, apesar de ficar em frente ao do
Estranhamente, governos estaduais cujas despesas com Mário, havia uma diferença na numeração.
o funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou que ― Visconde de Pirajá, 127 ― respondi, e seu Joaquim
estouraram o limite de gastos com pessoal fixado pela desenhou o endereço na nota.
Lei Complementar n.º 101/2000, denominada Lei de Res- ― Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará lá
ponsabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando sua própria sua estante.
legislação destinada a assegurar, como alegam, maior ri- ― Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz esse
gor na gestão de suas finanças. Querem uma nova lei de prazo.
responsabilidade fiscal para, segundo argumentam, for- ― A estante é grande, dá muito trabalho... Digamos, três
talecer a estrutura legal que protege o dinheiro público semanas.
do mau uso por gestores irresponsáveis. Ferreira Gullar. A estante. In: A estranha vida banal.
Examinando-se a situação financeira dos estados que Rio de Janeiro: José Olympio, 1989 (com adaptações)
preparam sua versão da lei de responsabilidade fiscal,
fica difícil aceitar a argumentação. Desde maio de 2000, A expressão “armar ali a minha tenda” foi empregada no
quando entrou em vigor a LRF, esses estados, como os texto em sentido figurado.
demais, estão sujeitos a regras precisas para a gestão do
dinheiro público, para a criação de despesas e, em par- ( ) CERTO ( ) ERRADO
ticular, para os gastos com pessoal. Por que, tendo des-
43. (DPU - Agente Administrativo - Conhecimentos
LÍNGUA PORTUGUESA

cumprido algumas dessas regras, estariam interessados


em torná-las ainda mais rigorosas? Básicos – CESPE-2016)
Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis
pelo dinheiro público que, por alguma razão, não a cum- Maria Silva é moradora do Assentamento Noroeste,
priram. De que adiantaria, então, tornar a lei mais rigoro- onde moram cerca de cem pessoas cuja principal forma
sa, se nem nas condições atuais esses responsáveis estão de renda é o trabalho com reciclagem. Ela é uma das
sendo capazes de cumpri-la? O problema não está na líderes que lutam pelos direitos daquela comunidade.
lei. Mudá-la pode ser o pretexto não para torná-la mais Vinda do estado do Ceará, Maria chegou a Brasília em

102
2002 e conheceu o trabalho da Defensoria Pública por
meio do projeto Monitoramento da Política Nacional
para a População em Situação de Rua, tendo seu primeiro GABARITO
contato com a defensoria ocorrido quando ela precisou
de novos documentos para substituir os que haviam sido 1 Errado
perdidos no período em que esteve nas ruas.
O objetivo do referido projeto é o de ir até a população 2 Errado
que normalmente não tem acesso à Defensoria Pública. 3 Errado
“Nós chegamos de forma humanizada até essas pessoas
4 Errado
em situação de rua. Com esse trabalho nós estamos
garantindo seu acesso à justiça e aos direitos para que 5 C
consigam se beneficiar de outras políticas públicas”, 6 D
explica a coordenadora do Departamento de Atividade
7 B
Psicossocial.
A mais recente visita de participantes de outro projeto, 8 C
o Atenção à População de Rua do Assentamento 9 B
Noroeste, levou respostas às demandas solicitadas pelos
moradores. O foco foram soluções e retornos de casos 10 Certo
como o de um morador que tem problemas com a justiça 11 Errado
e que está sendo assistido por um defensor público e o 12 Certo
de uma senhora que estava internada em um hospital
público e conseguiu uma cirurgia por meio dos serviços 13 ERRADO
da defensoria. 14 Errado
As visitas acontecem mensalmente, sendo a maior 15 CERTO
demanda a solicitação de registro civil. “As certidões
de nascimento figuram entre as demandas porque 16 CERTO
essas pessoas não as conseguiram por outros serviços, 17 CERTO
e a defensoria teve que intervir. Nós entramos para 18 Errado
solucionar problemas: vamos até as ruas para informar
sobre o trabalho da defensoria, para que seus direitos 19 Errado
sejam garantidos”, afirma a coordenadora. 20 Errado
Internet: <www.defensoria.df.gov.br.> (com
21 Certo
adaptações).
Acerca dos aspectos linguísticos e das ideias do texto 22 Errado
acima, julgue os itens seguintes. 23 Errado
No trecho “respostas às demandas”, o emprego do
24 Errado
sinal indicativo de crase justifica-se pela regência
do substantivo “respostas”, que exige complemento 25 Errado
antecedido da preposição a, e pela presença de artigo 26 Errado
feminino plural que determina “demandas”.
27 Certo
( ) CERTO ( ) ERRADO 28 D
29 B
44. (DPU - Agente Administrativo - Conhecimentos
Básicos – CESPE-2016) Seria mantida a correção do texto 30 A
caso o trecho ‘para que seus direitos sejam garantidos’ 31 E
fosse reescrito da seguinte forma: visando à garantia de 32 Certo
seus direitos.
33 Errado
( ) CERTO ( ) ERRADO 34 Errado
35 Certo
36 Errado
37 Certo
LÍNGUA PORTUGUESA

38 C
39 B
40 B
41 Certo
42 Certo

103
43 Certo ANOTAÇÕES
44 Certo

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LÍNGUA PORTUGUESA

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104
ÍNDICE

ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Ética e moral..................................................................................................................................................................................................... 01
Ética, princípios e valores............................................................................................................................................................................ 04
Ética e democracia: exercício da cidadania........................................................................................................................................... 06
Ética e função pública................................................................................................................................................................................... 09
Ética no setor público................................................................................................................................................................................... 12
Lei nº 8.429/1992 e suas alterações. Disposições gerais.................................................................................................................. 14
Atos de improbidade administrativa...................................................................................................................................................... 14
Lei nº 12.846/2013 e suas alterações..................................................................................................................................................... 25
Lei nº 16.309/2018......................................................................................................................................................................................... 27
Resolução TJPA nº 14/2016 (Código de Ética do Tribunal de Justiça do Pará)........................................................................ 30
É difícil estabelecer um único significado para a pala-
ÉTICA E MORAL. vra ética, mas os conceitos acima contribuem para uma
compreensão geral de seus fundamentos, de seu objeto
de estudo.
A ética é composta por valores reais e presentes na Quanto à etimologia da palavra ética: No grego exis-
sociedade, a partir do momento em que, por mais que às tem duas vogais para pronunciar e grafar a vogal e, uma
vezes tais valores apareçam deturpados no contexto so- breve, chamada épsilon, e uma longa, denominada eta.
cial, não é possível falar em convivência humana se esses Éthos, escrita com a vogal longa, significa costume; po-
forem desconsiderados. Entre tais valores, destacam-se rém, se escrita com a vogal breve, éthos, significa caráter,
os preceitos da Moral e o valor do justo (componente índole natural, temperamento, conjunto das disposições
ético do Direito). físicas e psíquicas de uma pessoa. Nesse segundo sen-
Se, por um lado, podemos constatar que as bruscas tido, éthos se refere às características pessoais de cada
transformações sofridas pela sociedade através dos tem- um, as quais determinam que virtudes e que vícios cada
pos provocaram uma variação no conceito de ética, por indivíduo é capaz de praticar (aquele que possuir todas
outro, não é possível negar que as questões que envol- as virtudes possuirá uma virtude plena, agindo estrita-
vem o agir ético sempre estiveram presentes no pensa- mente de maneira conforme à moral)3.
mento filosófico e social. A ética passa por certa evolução natural através da
Aliás, uma característica da ética é a sua imutabili- história, mas uma breve observação do ideário de alguns
dade: a mesma ética de séculos atrás está vigente hoje. pensadores do passado permite perceber que ela é com-
Por exemplo, respeitar o próximo nunca será considerada posta por valores comuns desde sempre consagrados.
uma atitude antiética. Outra característica da ética é a sua Entre os elementos que compõem a Ética, destacam-
validade universal, no sentido de delimitar a diretriz do -se a Moral e o Direito. Assim, a Moral não é a Ética, mas
agir humano para todos os que vivem no mundo. Não há apenas parte dela. Neste sentido, Moral vem do grego
uma ética conforme cada época, cultura ou civilização. A Mos ou Morus, referindo-se exclusivamente ao regra-
ética é uma só, válida para todos eternamente, de forma mento que determina a ação do indivíduo.
imutável e definitiva, por mais que possam surgir novas Assim, Moral e Ética não são sinônimos, não apenas
perspectivas a respeito de sua aplicação prática. pela Moral ser apenas uma parte da Ética, mas princi-
É possível dizer que as diretrizes éticas dirigem o palmente porque enquanto a Moral é entendida como a
comportamento humano e delimitam os abusos à liber- prática, como a realização efetiva e cotidiana dos valores;
dade, estabelecendo deveres e direitos de ordem moral, a Ética é entendida como uma “filosofia moral”, ou seja,
sendo exemplos destas leis o respeito à dignidade das como a reflexão sobre a moral. Moral é ação, Ética é re-
pessoas e aos princípios do direito natural, bem como a flexão.
exigência de solidariedade e a prática da justiça1.

Conceitos alternativos de ética: ÉTICA MORAL


• Mais ampla • Parte da ética
• Ciência do comportamento adequado dos homens • Teoria • Prática
em sociedade, em consonância com a virtude.
• Disciplina normativa, não por criar normas, mas por • Reflexão • Ação
descobri-las e elucidá-las. Seu conteúdo mostra às • Filosofia moral/ • Realização efetiva e
pessoas os valores e princípios que devem nortear Doutrina cotidiana dos valores
sua existência.
• Doutrina do valor do bem e da conduta humana No início do pensamento filosófico não prevalecia
que tem por objetivo realizar este valor. real distinção entre Direito e Moral, as discussões sobre o
• Saber discernir entre o devido e o indevido, o bom agir ético envolviam essencialmente as noções de virtude
e o mau, o bem e o mal, o correto e o incorreto, o e de justiça, constituindo
certo e o errado. uma das dimensões da virtude. Por exemplo, na Gré-
• Fornece as regras fundamentais da conduta huma- cia antiga, berço do pensamento filosófico, embora com
na. Delimita o exercício da atividade livre. Fixa os variações de abordagem, o conceito de ética aparece
usos e abusos da liberdade. sempre ligado ao de virtude.
• Doutrina do valor do bem e da conduta humana Aristóteles4, um dos principais filósofos deste mo-
que o visa realizar. mento histórico, concentra seus pensamentos em algu-
mas bases:
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

“Em seu sentido de maior amplitude, a Ética tem sido


a) definição do bem supremo como sendo a felicida-
entendida como a ciência da conduta humana perante
de, que necessariamente ocorrerá por uma ativida-
o ser e seus semelhantes. Envolve, pois, os estudos de
de da alma que leva ao princípio racional, de modo
aprovação ou desaprovação da ação dos homens e a
que a felicidade está ligada à virtude;
consideração de valor como equivalente de uma medi-
b) crença na bondade humana e na prevalência da
ção do que é real e voluntarioso no campo das ações
virtude sobre o apetite;
virtuosas”2.
1 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. 26. 3 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática,
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 2005.
2 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas, 4 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Pietro Nassetti. São
2010. Paulo: Martin Claret, 2006.

1
c) reconhecimento da possibilidade de aquisição das a atitude ética deve ser considerada de maneira coletiva,
virtudes pela experiência e pelo hábito, isto é, pela como impulsora da sociedade justa, embora partindo da
prática constante; pessoa humana individualmente considerada como um
d) afastamento da ideia de que um fim pudesse ser ser capaz de agir conforme os valores morais.
bom se utilizado um meio ruim. Já a discussão sobre o conceito de justiça, intrínse-
ca a do conceito de ética, embora sempre tenha estado
Já na Idade Média, os ideais éticos se identificaram presente, com maior ou menor intensidade dependendo
com os religiosos. O homem viveria para conhecer, amar do momento, possuiu diversos enfoques ao longo dos
e servir a Deus, diretamente e em seus irmãos. Santo To- tempos.
más de Aquino5, um dos principais filósofos do período, Pode-se considerar que, do pensamento grego até
lançou bases que até hoje são invocadas quando o tópi- o Renascimento, a justiça foi vista como uma virtude e
co em questão é a Ética: não como uma característica do Direito. Por sua vez, no
a) consideração do hábito como uma qualidade que Renascimento, o conceito de Ética foi bifurcado, reme-
deverá determinar as potências para o bem; tendo-se a Moral para o espaço privado e remanescendo
b) estabelecimento da virtude como um hábito que a justiça como elemento ético do espaço público. No en-
sozinho é capaz de produzir a potência perfeita, tanto, como se denota pela teoria de Maquiavel8, o justo
podendo ser intelectual, moral ou teologal – três naquele tempo era tido como o que o soberano impu-
virtudes que se relacionam porque não basta nha (o rei poderia fazer o que bem entendesse e utilizar
possuir uma virtude intelectual, capaz de levar ao quaisquer meios, desde que visasse um único fim, qual
conhecimento do bem, sem que exista a virtude seja o da manutenção do poder).
moral, que irá controlar a faculdade apetitiva e Posteriormente, no Iluminismo, retomou-se a discus-
quebrar a resistência para que se obedeça à razão são da justiça como um elemento similar à Moral, mas
(da mesma forma que somente existirá plenitude inerente ao Direito, por exemplo, Kant9 defendeu que a
virtuosa com a existência das virtudes teologais); ciência do direito justo é aquela que se preocupa com o
c) presença da mediania como critério de determina- conhecimento da legislação e com o contexto social em
ção do agir virtuoso; que ela está inserida, sendo que sob o aspecto do con-
d) crença na existência de quatro virtudes cardeais – a teúdo seria inconcebível que o Direito prescrevesse algo
prudência, a justiça, a temperança e a fortaleza. contrário ao imperativo categórico da Moral kantiana.
Ainda, Locke, Montesquieu e Rousseau, em comum
No Iluminismo, Kant6 definiu a lei fundamental da ra- defendiam que o Estado era um mal necessário, mas que
zão pura prática, que se resume no seguinte postulado: o soberano não possuía poder divino/absoluto, sendo
“age de tal modo que a máxima de tua vontade possa va- suas ações limitadas pelos direitos dos cidadãos subme-
ler-te sempre como princípio de uma legislação univer- tidos ao regime estatal.
sal”. Mais do que não fazer ao outro o que não gostaria Tais pensamentos iluministas não foram plenamente
que fosse feito a você, a máxima prescreve que o homem seguidos, de forma que se firmou a teoria jurídica do po-
deve agir de tal modo que cada uma de suas atitudes re- sitivismo, pela qual Direito é apenas o que a lei impõe
flita aquilo que se espera de todas as pessoas que vivem (de modo que se uma lei for injusta nem por isso será
em sociedade. O filósofo não nega que o homem poderá inválida), que somente foi abalada após o fim trágico da
ter alguma vontade ruim, mas defende que ele racional- 2ª Guerra Mundial e a consolidação de um sistema glo-
mente irá agir bem, pela prevalência de uma lei prática bal de proteção de direitos humanos (criação da ONU
máxima da razão que é o imperativo categórico. Por isso, + declaração universal de 1948). Com o ideário huma-
o prazer ou a dor, fatores geralmente relacionados ao nista consolidou-se o Pós-positivismo, que junto consigo
apetite, não são aptos para determinar uma lei prática, trouxe uma valorização das normas principiológicas
mas apenas uma máxima, de modo que é a razão pura do ordenamento jurídico, conferindo-as normativida-
prática que determina o agir ético. Ou seja, se a razão de.
prevalecer, a escolha ética sempre será algo natural. Assim, a concepção de uma base ética objetiva no
Quando acabou a Segunda Guerra Mundial, perce- comportamento das pessoas e nas múltiplas modalida-
beu-se o quão graves haviam sido as suas consequências. des da vida social foi esquecida ou contestada por fortes
O pensamento filosófico ganhou novos rumos, retoman- correntes do pensamento moderno. Concepções de ins-
do aspectos do passado, mas reforçando a dimensão co- piração positivista, relativista ou cética e políticas volta-
letiva da ética. Maritain7, um dos redatores da Declaração das para o homo economicus passaram a desconsiderar a
Universal de Direitos Humanos de 1948, defendeu que o importância e a validade das normas de ordem ética no
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

homem ético é aquele que compõe a sociedade e busca campo da ciência e do comportamento dos homens, da
torná-la mais justa e adequada ao ideário cristão. Assim, sociedade da economia e do Estado.
No campo do Direito, as teorias positivistas que pre-
5 AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica. Tradução Aldo Van-
nucchi e Outros. Direção Gabriel C. Galache e Fidel García Rodrí-
valeceram a partir do final do século XIX sustentavam
guez. Coordenação Geral Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira. Edição que só é direito aquilo que o poder dominante deter-
Joaquim Pereira. São Paulo: Loyola, 2005. v. IV, parte II, seção I, mina. Ética, valores humanos, justiça eram considerados
questões 49 a 114.
6 KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. Tradução Paulo Barre- 8 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nassetti. São
ra. São Paulo: Ícone, 2005. Paulo: Martin Claret, 2007.
7 MARITAIN, Jacques. Humanismo integral. Tradução Afrânio Cou- 9 KANT, Immanuel. Doutrina do Direito. Tradução Edson Bini. São
tinho. 4. ed. São Paulo: Dominus Editora S/A, 1962. Paulo: Ícone, 1993.

2
elementos estranhos ao Direito, extrajurídicos. Pensavam Direito Moral
com isso em construir uma ciência pura do direito e ga-
rantir a segurança das sociedades.10 Comportamento Comportamento
Exterioridade
Atualmente, entretanto, é quase universal a retoma- exterior interior
da dos estudos e exigências da ética na vida pública e Pode se exigir Não pode se exigir
na vida privada, na administração e nos negócios, nas Exigibilidade a obrigação o cumprimento de
empresas e na escola, no esporte, na política, na justiça, derivada da lei obrigações morais
na comunicação. Neste contexto, é relevante destacar
Sanções não
que ainda há uma divisão entre a Moral e o Direito, que
Sanções aplicadas organizadas (ex.:
constituem dimensões do conceito de Ética, embora a Coação
pelo Estado exclusão de um
tendência seja que cada vez mais estas dimensões se jun-
grupo social)
tem, caminhando lado a lado.
Dentro desta distinção pode-se dizer que alguns au-
tores, entre eles Radbruch e Del Vechio são partidários de
uma dicotomia rigorosa, na qual a Ética abrange apenas #FicaDica
a Moral e o Direito. Contudo, para autores como Miguel
Reale, as normas dos costumes e da etiqueta compõem a Os critérios que distinguem Moral e Direito
dimensão ética, não possuindo apenas caráter secundá- são:
rio por existirem de forma autônoma, já que fazem parte - Exterioridade – Ética é exterior, Moral é
do nosso viver comum.11 interior;
- Exigibilidade – Direito é exigível, Moral
não;
- Coação – Direito é coativo, Moral não –
#FicaDica o Direito exerce sua pressão social a partir
do centro ativo do Poder, a moral pressiona
• Posição 1 - Radbruch e Del Vechio - Ética
pelo grupo social não organizado. Tanto no
= Moral + Direito
Direito quanto na Moral existem sanções.
• Posição 2 - Miguel Reale - Ética = Moral +
Elas somente são aplicadas de forma diver-
Direito + Costumes
sa, sendo que somente o Direito aceita a
coação, que é a sanção aplicada pelo Es-
tado.
Para os fins da presente exposição, basta atentar
para o binômio Moral-Direito como fator pacífico de
O descumprimento das diretivas morais gera sanção,
composição da Ética. Assim, nas duas posições adota-
e caso ele se encontre transposto para uma norma jurídi-
das, uma das vertentes da Ética é a Moral, e a outra é o
ca, gera coação (espécie de sanção aplicada pelo Estado).
Direito.
Assim, violar uma lei ética não significa excluir a sua va-
Tradicionalmente, os estudos consagrados às relações
lidade. Por exemplo, matar alguém não torna matar uma
entre o Direito e a Moral se esforçam em distingui-los,
ação correta, apenas gera a punição daquele que come-
nos seguintes termos: o direito rege o comportamento
teu a violação. Neste sentido, explica Reale13: “No plano
exterior, a moral enfatiza a intenção; o direito estabelece
das normas éticas, a contradição dos fatos não anula a
uma correlação entre os direitos e as obrigações, a moral
validez dos preceitos: ao contrário, exatamente porque
prescreve deveres que não dão origem a direitos subje-
a normatividade não se compreende sem fins de validez
tivos; o direito estabelece obrigações sancionadas pelo
objetiva e estes têm sua fonte na liberdade espiritual, os
Poder, a moral escapa às sanções organizadas. Assim, as
insucessos e as violações das normas conduzem à res-
principais notas que distinguem a Moral do Direito não
ponsabilidade e à sanção, ou seja, à concreta afirmação
se referem propriamente ao conteúdo, pois é comum
da ordenação normativa”.
que diretrizes morais sejam disciplinadas como normas
Como se percebe, Ética e Moral são conceitos interli-
jurídicas.12
gados, mas a primeira é mais abrangente que a segunda,
Com efeito, a partir da segunda metade do século XX
porque pode abarcar outros elementos, como o Direito
(pós-guerra), a razão jurídica é uma razão ética, funda-
e os costumes. Todas as regras éticas são passíveis de
da na garantia da intangibilidade da dignidade da pessoa
alguma sanção, sendo que as incorporadas pelo Direito
humana, na aquisição da igualdade entre as pessoas, na
aceitam a coação, que é a sanção aplicada pelo Estado.
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

busca da efetiva liberdade, na realização da justiça e na


Sob o aspecto do conteúdo, muitas das regras jurídicas
construção de uma consciência que preserve integral-
são compostas por postulados morais, isto é, envolvem
mente esses princípios.
os mesmos valores e exteriorizam os mesmos princípios.
Assim, as principais notas que distinguem Moral e Di-
reito são:
10 KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 6. ed. Tradução João Bap-
tista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
11 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
2002.
12 PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. Tradução Maria Ermantina 13 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva,
Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 2002.

3
ÉTICA, PRINCÍPIOS E VALORES.
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (MPU – ANALISTA DO MPU – CONHECIMENTOS A área da filosofia do direito que estuda a ética é co-
BÁSICOS – CESPE – 2015) Com base nas disposições da nhecida como axiologia, do grego “valor” + “estudo, tra-
Lei nº 8.429/1992 e nos preceitos de ética, moral e cida- tado”. Por isso, a axiologia também é chamada de teoria
dania, julgue o item seguinte. dos valores. Daí valores e princípios serem componentes
Uma vez que a moral se reveste de conteúdo mais dou- da ética sob o aspecto da exteriorização de suas diretri-
trinário e normativo que a ética, é correto afirmar que um zes. Em outras palavras, a mensagem que a ética pre-
dos fundamentos de existência da noção de moral seria tende passar se encontra consubstanciada num conjunto
a formação de uma base teórica para o estudo da ética. de valores, para cada qual corresponde um postulado
chamado princípio.
( ) CERTO ( ) ERRADO De uma maneira geral, a axiologia proporciona um
estudo dos padrões de valores dominantes na sociedade
Resposta: Errado. A moral não se reveste de con- que revelam princípios básicos. Valores e princípios, por
teúdo mais doutrinário e normativo do que a ética, serem elementos que permitem a compreensão da ética,
pelo contrário. Além disso, a moral não se fundamenta também se encontram presentes no estudo do Direito,
na necessidade de se formar uma base teórica para notadamente quando a posição dos juristas passou a ser
o estudo da ética, embora isso tenha ocorrido inva- mais humanista e menos positivista (se preocupar mais
riavelmente, quando se observa a evolução histórica com os valores inerentes à dignidade da pessoa humana
do conceito de ética e sua normalização através dos do que com o que a lei específica determina).
tempos. Os juristas, descontentes com uma concepção positi-
vista, estadística e formalista do Direito, insistem na im-
2. (MPU – TÉCNICO DO MPU – SEGURANÇA INSTITU- portância do elemento moral em seu funcionamento, no
CIONAL E TRANSPORTE – CESPE – 2015) Com relação papel que nele desempenham a boa e a má-fé, a inten-
a moral e ética, julgue o item a seguir. ção maldosa, os bons costumes e tantas outras noções
A ética é um ramo da filosofia que estuda a moral, os di- cujo aspecto ético não pode ser desprezado. Algumas
ferentes sistemas públicos de regras, seus fundamentos dessas regras foram promovidas à categoria de princí-
e suas características. pios gerais do direito e alguns juristas não hesitam em
considerá-las obrigatórias, mesmo na ausência de uma
( ) CERTO ( ) ERRADO legislação que lhes concedesse o estatuto formal de lei
positiva, tal como o princípio que afirma os direitos da
defesa. No entanto, a Lei de Introdução às Normas do
Resposta: Certo. A ética é ramo da filosofia e subdi-
Direito Brasileiro é expressa no sentido de aceitar a apli-
vide-se classicamente em Moral e Direito. Estuda não
cação dos princípios gerais do Direito (artigo 4°).14
apenas a moral, mas os sistemas de regras, seus fun-
É inegável que o Direito possui forte cunho axiológi-
damentos e suas características.
co, diante da existência de valores éticos e morais como
diretrizes do ordenamento jurídico, e até mesmo como
3. (MPU – TÉCNICO DO MPU – SEGURANÇA INSTITU- meio de aplicação da norma. Assim, perante a Axiologia,
CIONAL E TRANSPORTE – CESPE – 2015) Com relação o Direito não deve ser interpretado somente sob uma
a moral e ética, julgue o item a seguir. concepção formalista e positivista, sob pena de provocar
Moral pode ser definida como todo o sistema público de violações ao princípio que justifica a sua criação e estru-
regras próprio de diferentes grupos sociais, que abrange turação: a justiça.
normas e valores que são aceitos e praticados, como cer- Neste sentido, Montoro15 entende que o Direito é
tos e errados. uma ciência normativa ética: “A finalidade do direito
é dirigir a conduta humana na vida social. É ordenar a
( ) CERTO ( ) ERRADO convivência de pessoas humanas. É dar normas ao agir,
para que cada pessoa tenha o que lhe é devido. É, em
Resposta: Certo. A moral é responsável por criar re- suma, dirigir a liberdade, no sentido da justiça. Insere-se,
gras internas a um grupo social, que correspondem a portanto, na categoria das ciências normativas do agir,
normas e valores. Estas normas e valores são aceitos também denominadas ciências éticas ou morais, em sen-
como certos e errados de forma genérica e abstrata, tido amplo. Mas o Direito se ocupa dessa matéria sob um
de maneira consistente no grupo social. Assim, a mo-
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

aspecto especial: o da justiça”.


ral é interna, mas não significa que não possa ser ge- A formação da ordem jurídica, visando a conservação
neralizada, criando a moral de um grupo social. e o progresso da sociedade, se dá à luz de postulados
éticos. O Direito criado não apenas é irradiação de prin-
cípios morais como também força aliciada para a propa-
gação e respeitos desses princípios.

14 PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. Tradução Maria Ermantina


Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
15 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. 26.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

4
Um dos principais conceitos que tradicionalmente buscam sempre a realização do Bem - ou da Justiça, da
se relaciona à dimensão do justo no Direito é o de lei Verdade etc., enfim valores positivos; b) a possibilidade
natural. Lei natural é aquela inerente à humanidade, de transformação do ser - comportamento repetido e
independentemente da norma imposta, e que deve ser durável, aceito amplamente por todos (consenso) - em
respeitada acima de tudo. O conceito de lei natural foi dever ser, pela verificação de certa tendência normativa
fundamental para a estruturação dos direitos dos ho- do real”.
mens, ficando reconhecido que a pessoa humana possui Quando se fala em Direito, notadamente no direito
direitos inalienáveis e imprescritíveis, válidos em qual- constitucional e nas normas ordinárias que disciplinam
quer tempo e lugar, que devem ser respeitados por to- as atitudes esperadas da pessoa humana, percebem-se
dos os Estados e membros da sociedade.16 os principais valores morais consolidados, na forma de
O Direito natural, na sua formulação clássica, não é princípios e regras expressos. Por exemplo, quando eu
um conjunto de normas paralelas e semelhantes às do proíbo que um funcionário público receba uma vanta-
Direito positivo, mas é o fundamento do Direito positivo. gem indevida para deixar de praticar um ato de interesse
É constituído por aquelas normas que servem de fun- do Estado, consolido os valores morais da bondade, da
damento a este, tais como: “deve se fazer o bem”, “dar justiça e do respeito ao bem comum, prescrevendo a res-
a cada um o que lhe é devido”, “a vida social deve ser pectiva norma.
conservada”, “os contratos devem ser observados” etc., Uma norma, conforme seu conteúdo mais ou me-
normas essas que são de outra natureza e de estrutura nos amplo, pode refletir um valor moral por meio de um
diferente das do Direito positivo, mas cujo conteúdo é a princípio ou de uma regra. Quando digo que “todos são
ele transposto, notadamente na Constituição Federal.17 iguais perante a lei [...]” (art. 5°, caput, CF) exteriorizo o
Importa fundamentalmente ao Direito que, nas rela- valor moral do tratamento digno a todos os homens, na
ções sociais, uma ordem seja observada: que seja asse- forma de um princípio constitucional (princípio da igual-
gurada individualmente cada coisa que for devida, isto é, dade). Por sua vez, quando proíbo um servidor público
que a justiça seja realizada. Podemos dizer que o objeto de “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
formal, isto é, o valor essencial, do direito é a justiça. indiretamente, ainda que fora da função ou antes de as-
No sistema jurídico brasileiro, estes princípios jurí-
sumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou acei-
dicos fundamentais de cunho ético estão instituídos no
tar promessa de tal vantagem” (art. 317, CP), estabeleço
sistema constitucional, isto é, firmados no texto da Cons-
uma regra que traduz os valores morais da solidariedade
tituição Federal. São os princípios constitucionais os mais
e do respeito ao interesse coletivo. No entanto, sempre
importantes do arcabouço jurídico nacional, muitos deles
por trás de uma regra infraconstitucional haverá um prin-
se referindo de forma específica à ética no setor público.
cípio constitucional. No caso do exemplo do art. 317 do
O mais relevante princípio da ordem jurídica brasileira é
CP, pode-se mencionar o princípio do bem comum (ob-
o da dignidade da pessoa humana, que embasa todos
os demais princípios jurídico-constitucionais (artigo 1°, jetivo da República segundo o art. 3º, IV, CF – “promover
III, CF). o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
Claro, o Direito não é composto exclusivamente por cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”)
postulados éticos, já que muitas de suas normas não e o princípio da moralidade (art. 37, caput, CF, no que
possuem qualquer cunho valorativo (por exemplo, uma tange à Administração Pública).
norma que estabelece um prazo de 10 ou 15 dias não Conforme Alexy19, a distinção entre regras e princí-
tem um valor que a acoberta). Contudo, o é em boa par- pios é uma distinção entre dois tipos de normas, for-
te. necendo juízos concretos para o dever ser. A diferença
A Moral é composta por diversos valores - bom, essencial é que princípios são normas de otimização, ao
correto, prudente, razoável, temperante, enfim, todas passo que regras são normas que são sempre satisfeitas
as qualidades esperadas daqueles que possam se dizer ou não. Se as regras se conflitam, uma será válida e outra
cumpridores da moral. É impossível esgotar um rol de não. Se princípios colidem, um deles deve ceder, embo-
valores morais, mas nem ao menos é preciso: basta um ra não perca sua validade e nem exista fundamento em
olhar subjetivo para compreender o que se espera, num uma cláusula de exceção, ou seja, haverá razões suficien-
caso concreto, para que se consolide o agir moral - bom tes para que em um juízo de sopesamento (ponderação)
senso que todos os homens possuem (mesmo o corrupto um princípio prevaleça. Enquanto adepto da adoção de
sabe que está contrariando o agir esperado pela socieda- tal critério de equiparação normativa entre regras e prin-
de, tanto que esconde e nega sua conduta, geralmente). cípios, o jurista alemão Robert Alexy é colocado entre os
Todos estes valores morais se consolidam em princípios, nomes do pós-positivismo.
isto é, princípios são postulados determinantes dos valo- Em resumo, valor é a característica genérica que com-
res morais consagrados. põe de alguma forma a ética (bondade, solidariedade,
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Segundo Rizzatto Nunes18, “a importância da existên- respeito...) ao passo que princípio é a diretiva de ação es-
cia e do cumprimento de imperativos morais está rela- perada daquele que atende certo valor ético (por exem-
cionada a duas questões: a) a de que tais imperativos plo, não fazer ao outro o que não gostaria que fosse feito
a você é um postulado que exterioriza o valor do respei-
16 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálo-
go com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Cia. das Letras,
to; tratar a todos igualmente na medida de sua igualdade
2009. é o postulado do princípio da igualdade que reflete os
17 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. 26. valores da solidariedade e da justiça social). Por sua vez,
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. virtude é a característica que a pessoa possui coligada a
18 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Manual de introdução ao estu- 19 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução Vir-
do do direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. gílio Afonso da Silva. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

5
algum valor ético, ou seja, é a aptidão para agir conforme Resposta: Letra C. A alternativa correta é a “c”, pois
algum dos valores morais (ser bondoso, ser solidário, ser descreve de forma clara a função das regras de tra-
temperante, ser magnânimo). zer comandos definitivos (com baixa margem de in-
Ética, Moral, Direito, princípios, virtudes e valores são terpretação, teor claro e preciso) e dos princípios de
elementos constantemente correlatos, que se comple- trazerem mandamentos de otimização (ou seja, são o
mentam e estruturam, delimitando o modo de agir es- fundamento para a melhor interpretação das regras) e
perado de todas as pessoas na vida social, bem como que podem ser graduados (colisões de princípios são
preconizando quais os nortes para a atuação das insti- resolvidas por critérios de ponderação, diferente do
tuições públicas e privadas. Basicamente, a ética é com- conflito de normas, em que uma norma anula a outra
posta pela Moral e pelo Direito (ao menos em sua par- – nos princípios, busca-se o equilíbrio).
te principal), sendo que virtudes são características que A alternativa “a” está errada porque no conflito entre
aqueles que agem conforme a ética (notadamente sob regras e princípios, prevalecem os princípios, justa-
o aspecto Moral) possuem, as quais exteriorizam valores mente porque eles dão fundamento às regras.
éticos, a partir dos quais é possível extrair postulados que As alternativas “b” e “d” estão erradas porque é possí-
são princípios. vel a aplicação parcial de um princípio.
A alternativa “e” está errada porque os princípios são
essencialmente gerais, não são formados em juízo in-
#FicaDica dividual.

Regras são comandos definitivos, com teor


claro e preciso. ÉTICA E DEMOCRACIA: EXERCÍCIO DA
Princípios são normas amplas, trazem man- CIDADANIA.
damentos de otimização.
Havendo conflito entre regras, a resolução
se dá por critérios de especialidade ou an- Historicamente, nota-se que por volta de 800 a.C.
terioridade. as comunidades de aldeias começaram a ceder lugar
Havendo conflito entre princípios, a reso- para unidades políticas maiores, surgindo as chamadas
lução se dá por ponderação à luz dos prin- cidade-estado ou polis, como Tebas, Esparta e Atenas.
cípios da razoabilidade e da proporciona- Inicialmente eram monarquias, transformaram-se em
lidade. oligarquias e, por volta dos séculos V e VI a.C., tornaram-
-se democracias. As origens da chamada democracia se
encontram na Grécia antiga, sendo permitida a partici-
pação direta daqueles poucos que eram considerados
cidadãos, por meio da discussão na polis.
EXERCÍCIO COMENTADO Democracia (do grego, “demo” + “kratos”) é um regi-
me de governo em que o poder de tomar decisões polí-
1.(PRF – AGENTE ADMINISTRATIVO – FUNCAB – ticas está com os cidadãos, de forma direta (quando um
2014) É certo que os princípios se distinguem de valo- cidadão se reúne com os demais e, juntos, eles tomam a
res e regras. Sobre os princípios e sua função, é correto decisão política) ou indireta (quando ao cidadão é dado
afirmar: o poder de eleger um representante). Com efeito, é um
regime de governo em que se garante a soberania po-
a) Nem sempre os princípios devem ser aplicados em sua pular, que pode ser conceituada como “a qualidade má-
inteireza, pois, em caso de conflito entre regra e prin- xima do poder extraída da soma dos atributos de cada
cípio, as regras predominam, em razão de sua supe- membro da sociedade estatal, encarregado de escolher
rioridade normativa. os seus representantes no governo por meio do sufrágio
b) Os princípios são comandos definitivos que se aplicam universal e do voto direto, secreto e igualitário”20.
ou não se aplicam em uma determinada situação, se- Uma democracia pode existir num sistema presiden-
gundo um parâmetro de “tudo ou nada”. cialista ou parlamentarista, republicano ou monárquico
c) Enquanto as regras são comandos definitivos, os prin- - somente importa que seja dado aos cidadãos o poder
cípios são normas de otimização, que comportam uma de tomar decisões políticas (por si só ou por seu repre-
ideia de gradação capaz de permitir sua aplicação de sentante eleito).
forma ponderada.
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

d) A noção de validade é essencial ao reconhecimento


dos princípios porque estes devem ser sempre aplica-
dos de modo que seja feito o que preveem na íntegra,
em todas as situações.
e) Os princípios são valores individuais oriundos de juízos
internos formulados por cada cidadão, valores estes
que serão tolerados se estiverem de acordo com os
valores sociais.
20 BULOS, Uadi Lammêngo. Constituição federal anotada. São
Paulo: Saraiva, 2000.

6
Ninguém é obrigado a suportar desonestidades. A
#FicaDica cidadania tem um compromisso com a efetivação da
democracia participativa. E participar não é votar a cada
A principal classificação das democracias é eleição, não se interessar pelo andamento da política e
a que distingue a direta da indireta: até se esquecer de quem mereceu seu sufrágio.
a) direta, também chamada de pura, na Com efeito, participar é um direito de todo aquele
qual o cidadão expressa sua vontade por que é cidadão, consolidando o conceito de democracia
voto direto e individual em casa questão e reforçando os valores éticos de preservação do justo e
relevante; garantia do bem comum.
b) indireta, também chamada representa-
tiva, em que os cidadãos exercem indivi-
dualmente o direito de voto para escolher #FicaDica
representante(s) e aquele(s) que for(em) Quem é cidadão? Cidadão, por sua vez, é
mais escolhido(s) representa(m) todos os o nacional, isto é, aquele que possui o vín-
eleitores; culo político-jurídico da nacionalidade com
c) semidireta, também conhecida como o Estado, que goza de direitos políticos, ou
participativa, em que se tem uma demo- seja, que pode votar e ser votado.
cracia representativa mesclada com pecu- • Nacionalidade: é o vínculo jurídico-políti-
liaridades e atributos da democracia direta co que liga um indivíduo a determinado Es-
(sistema híbrido). tado, fazendo com que ele passe a integrar
o povo daquele Estado, desfrutando assim
de direitos e obrigações.
A democracia direta tornou-se cada vez mais difícil, • Povo: conjunto de pessoas que compõem
considerado o grande número de cidadãos, de modo o Estado, unidas pelo vínculo da naciona-
que a regra é a democracia indireta. Na Grécia Antiga, lidade.
encontra-se um raro exemplo de democracia direta, que • População: conjunto de pessoas residen-
somente era possível porque, embora a população fosse tes no Estado, nacionais ou não.
grande, a maioria não era composta de pessoas conside- • Direitos políticos: instrumentos por meio
radas como cidadãs, como mulheres, escravos e crianças, dos quais a Constituição Federal permite o
e somente os cidadãos tinham direito de participar do exercício da soberania popular, atribuindo
processo democrático. poderes aos cidadãos para que eles pos-
Contemporaneamente, o regime que mais se aproxi- sam interferir na condução da coisa pública
ma dos ideais de uma democracia direta é a democracia de forma direta ou indireta1.
semidireta da Suíça. Uma democracia semidireta é um
regime de democracia em que existe a combinação de
1 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
representação política com formas de democracia direta. esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Democracia é um conceito interligado à Ética no
que tange ao elemento da justiça, valor do Direito. Po-
de-se afirmar isto se considerados os três conceitos de Na disciplina constitucional, os direitos políticos ga-
Aristóteles sobre as dimensões da justiça (distributiva, rantidos àquele que é cidadão encontram-se disciplina-
comutativa e social), dos quais se origina a dimensão da dos nos artigos 14 e 15. O cidadão detém direitos políti-
justiça participativa. cos e, em regra, não poderá perdê-los, sofrendo apenas
Por esta dimensão da justiça participativa, resta desper- eventualmente com suspensão.
tada a consciência das pessoas para uma atitude de agir,
de falar, de atuar, de entrar na vida da comunidade em que
se vive ou trabalha. Enfim, busca despertar esta consciência #FicaDica
de que há uma obrigação de cada um para com a socieda-
de de participar de forma consciente e livre e de se inteirar Os direitos políticos somente são perdidos
total e habitualmente na vida social que pertence. em dois casos, quais sejam cancelamento
Quem deve participar é quem vive na sociedade, é de naturalização por sentença transitada
o cidadão, aquele que pode ter direitos. Participar é ao em julgado (o indivíduo naturalizado volta
mesmo tempo um direito e um dever. O cidadão deve à condição de estrangeiro) e perda da na-
cionalidade brasileira em virtude da aqui-
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

participar, esta é uma obrigação de todo aquele que vive


em sociedade. E o cidadão deve ter espaço para partici- sição de outra (brasileiro se naturaliza em
par, o fato de não participar em si já é uma injustiça. Com outro país e assim deixa de ser considerado
a ampliação do conceito de soberania e cidadania e, con- um cidadão brasileiro, perdendo direitos
sequentemente, da responsabilidade do cidadão, torna- políticos). Nota-se que não há perda de di-
-se ainda mais evidente esta necessidade de participar. reitos políticos pela prática de atos atenta-
A referência à justiça participativa, corolário do con- tórios contra a Administração Pública por
ceito de cidadania, é de fundamental importância para o parte do servidor, mas apenas suspensão.
elemento moral da noção de ética, no sentido de possi-
bilitar um agir voltado para o bem da sociedade.

7
A democracia brasileira adota a modalidade semi- Além da já mencionada ação popular – prevista no
direta, porque possibilita a participação popular direta artigo 5o, LXXIII, CF, segundo a qual “qualquer cidadão é
no poder por intermédio de processos como o plebiscito, parte legítima para propor ação popular que vise a anular
o referendo e a iniciativa popular. Contudo, a democra- ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que
cia indireta que é predominantemente adotada no Brasil, o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
por meio do sufrágio universal (direito de todos de votar ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
e de ser votado) e do voto direto e secreto com igual autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais
valor para todos. e do ônus da sucumbência” – merecem destaque as au-
A respeito da democracia brasileira, expõe Lenza21: diências e as consultas públicas.
“estamos diante da democracia semidireta ou participa- “O objetivo maior das audiências é incentivar os pre-
tiva, um ‘sistema híbrido’, uma democracia representati- sentes na busca de soluções de problemas públicos. Po-
va, com peculiaridades e atributos da democracia direta. dem servir como forma de coleta de mais informações ou
Pode-se falar, então, em participação popular no poder provas (depoimentos, pareceres de especialistas, docu-
por intermédio de um processo, no caso, o exercício da mentos etc.) sobre determinados fatos. Também são rea-
soberania que se instrumentaliza por meio do plebiscito, lizadas na definição de políticas públicas, bem como para
referendo, iniciativa popular, bem como outras formas, elaboração de projetos de lei, a realização de empreen-
como a ação popular”. dimentos que podem gerar impactos à cidade, à vida das
pessoas e ao meio ambiente. Além disso, as audiências
Destaca-se o caput do artigo 14: também podem ser feitas depois da implantação de po-
líticas, para discussão e avaliação de seus resultados e
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrá- impactos. Geralmente, a audiência é uma reunião com
gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor duração de um período (manhã, tarde ou noite), coor-
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: denada pelo órgão competente ou em conjunto com
I - plebiscito; entidades da sociedade civil que a demandaram”23. As
II - referendo; consultas públicas possuem o mesmo objetivo, mas cos-
III - iniciativa popular. tumam ser feitas por outros veículos que não reuniões
O que diferencia o plebiscito do referendo é o mo- presenciais, por exemplo, páginas oficiais de internet.
mento da consulta à população: no plebiscito, primeiro Há que se denotar, ainda, uma ampliação da pers-
se consulta a população e depois se toma a decisão po- pectiva de cidadania, vista não apenas como a partici-
lítica; no referendo, primeiro se toma a decisão política pação política nas vias tradicionais de poder como tam-
e depois se consulta a população. Embora os dois par- bém a participação na comunidade em que a pessoa está
tam do Congresso Nacional, o plebiscito é convocado, inserida. Neste foco, impõe-se a cada indivíduo que se
ao passo que o referendo é autorizado (art. 49, XV, CF), inclua socialmente e traga contribuições para a comu-
ambos por meio de decreto legislativo. O que os asseme- nidade em que está inserido, nos aspectos ambientais
lha é que os dois são “formas de consulta ao povo para e sociais. Se inserem neste campo os projetos sociais
que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de desenvolvidos internamente em cada comunidade, bus-
natureza constitucional, legislativa ou administrativa”22. cando contribuir para o desenvolvimento de seus mem-
Na iniciativa popular, confere-se à população o poder bros, como crianças, adolescentes, idosos, dependentes
de apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, químicos, mulheres, famílias, trabalhadores desemprega-
mediante assinatura de 1% do eleitorado nacional, distri- dos, etc.
buído por 5 Estados no mínimo, com não menos de 0,3%
dos eleitores de cada um deles. Em complemento, prevê #FicaDica
o artigo 61, §2°, CF:
Democracia – pode ser direta (exercida
pelos cidadãos), indireta (exercida por re-
Art. 61, § 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
presentantes) ou semidireta (mesclando os
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de
dois, como no Brasil).
lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitora-
Cidadão – É direito e dever participar. A
do nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados,
cidadania tem uma dimensão ética, sen-
com não menos de três décimos por cento dos eleito- do incumbência de cada um se integrar na
res de cada um deles. vida da comunidade em que se insere. Não
Entretanto, os mecanismos enumerados no artigo basta votar ou exercer as vias legais da par-
14, CF não são os únicos que contemplam possibilida-
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

ticipação direta. É preciso se integrar na co-


des de participação direta no poder político por parte munidade e contribuir para que ela avance,
do cidadão brasileiro. Ao longo do texto constitucional e garantindo o bem a todos.
de legislações infraconstitucionais despontam inúmeros
outros mecanismos que exteriorizam uma relação cada
vez mais próxima entre o Estado e a sociedade civil.

21 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado.


15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
22 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 23 https://www.politize.com.br/audiencias-publicas-como-partici-
15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. par/

8
que possui a maior necessidade de respeito à ética. Por
isso, o servidor além de poder incidir em ato de improbi-
EXERCÍCIOS COMENTADOS dade administrativa (cível), poderá praticar crime contra
a Administração Pública (penal). Então, a ética profissio-
1. (ANTAQ – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE – nal daquele que serve algum interesse estatal deve ser
2014) No que diz respeito à democracia, julgue o item ainda mais consolidada.
abaixo. Se a Ética, num sentido amplo, é composta por ao
Em uma sociedade democrática, permite-se a criação de menos dois elementos - a Moral e o Direito (justo); no
novos direitos e considera-se legítimo o conflito. caso da disciplina da Ética no Setor Público a expressão é
adotada num sentido estrito - ética corresponde ao valor
( ) CERTO ( ) ERRADO do justo, previsto no Direito vigente, o qual é estabeleci-
do com um olhar atento às prescrições da Moral para a
Resposta: Certo. A criação e a emergência de novos vida social. Em outras palavras, quando se fala em ética
direitos num processo histórico fazem parte da vivên- no âmbito dos interesses do Estado não se deve pensar
cia de uma sociedade democrática, aberta à alteração apenas na Moral, mas sim em efetivas normas jurídicas
de suas normas, inclusive para a ampliação de direi- que a regulamentam, o que permite a aplicação de san-
tos fundamentais. É da essência da democracia, ainda, ções. Veja o organograma:
a possibilidade de conflitos ideológicos, garantido o
pluralismo do pensamento, inclusive e notadamente
o político.

2. (MPU – ANALISTA DO MPU – CONHECIMENTOS


BÁSICOS – CESPE – 2015) Com base nas disposições da
Lei nº 8.429/1992 e nos preceitos de ética, moral e cida-
dania, julgue o item seguinte.
O exercício da cidadania sofre influência das questões
éticas e morais que moldam o comportamento individual
do cidadão. Isso porque o conjunto das condutas indivi-
duais compõe o comportamento de determinado grupo
social, do qual são extraídas as demandas que subsidiam
a adoção de políticas públicas e a concretização de direi-
tos sociais.
As regras éticas do setor público são mais do que
( ) CERTO ( ) ERRADO regulamentos morais, são normas jurídicas e, como tais,
passíveis de coação. A desobediência ao princípio da
Resposta: Certo. Cidadania é um conceito estri- moralidade caracteriza ato de improbidade administra-
tamente relacionado à ética, no sentido de impor a tiva, sujeitando o servidor às penas previstas em lei. Da
cada indivíduo que se inclua socialmente e traga con- mesma forma, o seu comportamento em relação ao Có-
tribuições para a comunidade em que está inserido. digo de Ética pode gerar benefícios, como promoções, e
Assim, na relação entre ética e cidadania pensa-se prejuízos, como censura e outras penas administrativas.
no indivíduo como parte de um todo. Suas condutas A disciplina constitucional é expressa no sentido de pres-
pertencem ao grupo social, pois nele está inserido. A crever a moralidade como um dos princípios fundadores
observação das necessidades dos coletivos, que são da atuação da administração pública direta e indireta,
os grupos sociais, permite delimitar políticas públicas bem como outros princípios correlatos. Logo, o Estado
e concretizar direitos sociais para além da perspectiva brasileiro deve se conduzir moralmente por vontade ex-
individual. pressa do constituinte, sendo que à imoralidade adminis-
trativa aplicam-se sanções.
Assim, tem-se que a obediência à ética não deve se
ÉTICA E FUNÇÃO PÚBLICA. dar somente no âmbito da vida particular, mas também
na atuação profissional, principalmente se tal atuação se
der no âmbito estatal, caso em que haverá coação. O Es-
Quando se fala em ética na função pública, não se tado é a forma social mais abrangente, a sociedade de
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

trata do simples respeito à moral social: a obrigação ética fins gerais que permite o desenvolvimento, em seu seio,
no setor público vai além e encontra-se disciplinada em das individualidades e das demais sociedades, chamadas
detalhes na legislação, tanto na esfera constitucional (no- de fins particulares. O Estado, como pessoa, é uma ficção,
tadamente no artigo 37) quanto na ordinária (em que se é um arranjo formulado pelos homens para organizar a
destaca a Lei n° 8.429/92 - Lei de Improbidade Adminis- sociedade de disciplinar o poder visando que todos pos-
trativa, a qual traz um amplo conceito de funcionário pú- sam se realizar em plenitude, atingindo suas finalidades
blico no qual podem ser incluídos os servidores do Banco particulares.24
do Brasil). Ocorre que o funcionário de uma instituição
financeira da qual o Estado participe de certo modo ex-
24 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
terioriza os valores estatais, sendo que o Estado é o ente
Método, 2011.

9
O Estado tem um valor ético, de modo que sua Em geral, as diretivas a respeito do comportamento
atuação deve se guiar pela moral idônea. Mas não é pro- profissional ético podem ser bem resumidas em alguns
priamente o Estado que é aético, porque ele é composto princípios basilares.
por homens. Assim, falta ética ou não aos homens que Segundo Nalini26, o princípio fundamental seria o de
o compõe. Ou seja, o bom comportamento profissional agir de acordo com a ciência, se mantendo sempre atua-
do funcionário público é uma questão ligada à ética no lizado, e de acordo com a consciência, sabendo de seu
serviço público, pois se os homens que compõe a estru- dever ético; tomando-se como princípios específicos:
tura do Estado tomam uma atitude correta perante os • Princípio da conduta ilibada - conduta irrepreensível
ditames éticos há uma ampliação e uma consolidação do na vida pública e na vida particular.
valor ético do Estado. • Princípio da dignidade e do decoro profissional - agir
Alguns cidadãos recebem poderes e funções espe- da melhor maneira esperada em sua profissão e
cíficas dentro da administração pública, passando a de- fora dela, com técnica, justiça e discrição.
sempenhar um papel de fundamental interesse para o • Princípio da incompatibilidade - não se deve acumu-
Estado. Quando estiver nesta condição, mais ainda, será lar funções incompatíveis.
exigido o respeito à ética. Afinal, o Estado é responsá- • Princípio da correção profissional - atuação com
vel pela manutenção da sociedade, que espera dele uma transparência e em prol da justiça.
conduta ilibada e transparente. • Princípio do coleguismo - ciência de que você e to-
Quando uma pessoa é nomeada como servidor pú- dos os demais operadores do Direito querem a
blico, passa a ser uma extensão daquilo que o Estado mesma coisa, realizar a justiça.
representa na sociedade, devendo, por isso, respeitar ao • Princípio da diligência - agir com zelo e escrúpulo
máximo todos os consagrados preceitos éticos. em todas funções.
Todas as profissões reclamam um agir ético dos que • Princípio do desinteresse - relegar a ambição pessoal
a exercem, o qual geralmente se encontra consubstan- para buscar o interesse da justiça.
ciado em Códigos de Ética diversos atribuídos a cada • Princípio da confiança - cada profissional de Direito
categoria profissional. No caso das profissões na esfera é dotado de atributos personalíssimos e intransfe-
pública, esta exigência se amplia. ríveis, sendo escolhido por causa deles, de forma
Não se trata do simples respeito à moral social: a que a relação estabelecida entre aquele que busca
obrigação ética no setor público vai além e encontra-se o serviço e o profissional é de confiança.
disciplinada em detalhes na legislação, tanto na esfera • Princípio da fidelidade - Fidelidade à causa da justi-
constitucional (notadamente no artigo 37) quanto na ça, aos valores constitucionais, à verdade, à trans-
ordinária (em que se destacam o Decreto n° 1.171/94 - parência.
Código de Ética - a Lei n° 8.429/92 - Lei de Improbidade • Princípio da independência profissional - a maior au-
Administrativa - e a Lei n° 8.112/90 - regime jurídico dos tonomia no exercício da profissão do operador do
servidores públicos civis na esfera federal). Direito não deve impedir o caráter ético.
Em verdade, “[...] a profissão, como exercício habitual • Princípio da reserva - deve-se guardar segredo so-
de uma tarefa, a serviço de outras pessoas, insere-se no bre as informações que acessa no exercício da pro-
complexo da sociedade como uma atividade específica. fissão.
Trazendo tal prática benefícios recíprocos a quem a pra- • Princípio da lealdade e da verdade - agir com boa-fé
tica e a quem recebe o fruto do trabalho, também exige, e de forma correta, com lealdade processual.
nessas relações, a preservação de uma conduta condi- • Princípio da discricionariedade - geralmente, o pro-
zente com os princípios éticos específicos. O grupamen- fissional do Direito é liberal, exercendo com boa
to de profissionais que exercem o mesmo ofício termina autonomia sua profissão.
por criar as distintas classes profissionais e também a • Outros princípios éticos, como informação, solida-
conduta pertinente. Existem aspectos claros de observa- riedade, cidadania, residência, localização, conti-
ção do comportamento, nas diversas esferas em que ele nuidade da profissão, liberdade profissional, fun-
se processa: perante o conhecimento, perante o cliente, ção social da profissão, severidade consigo mesmo,
perante o colega, perante a classe, perante a sociedade, defesa das prerrogativas, moderação e tolerância.
perante a pátria, perante a própria humanidade como
conceito global”25. Todos estes aspectos serão considera- O rol acima é apenas um pequeno exemplo de atitu-
dos em termos de conduta ética esperada. des que podem ser esperadas do profissional, mas assim
como é difícil delimitar um conceito de ética, é complica-
do estabelecer exatamente quais as condutas esperadas
#FicaDica
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

de um servidor: melhor mesmo é observar o caso concre-


to e ponderar com razoabilidade.
O agente público é uma extensão do Es- Em suma, respeitar a ética profissional é ter em mente
tado e representa a sua vontade. Por isso os princípios éticos consagrados em sociedade, fazendo
mesmo, deve se guiar pelos mesmos prin- com que cada atividade desempenhada no exercício da
cípios que ele se guia, conforme o manda- profissão exteriorize tais postulados, inclusive direcio-
mento constitucional. nando os rumos da ética empresarial na escolha de dire-
trizes e políticas institucionais.
25 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas, 26 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 8. ed. São Paulo:
2010. Revista dos Tribunais, 2011.

10
O funcionário que busca efetuar uma gestão ética se ser obedecidas, caso em que a medida cabível é levar a
guia por determinados mandamentos de ação, os quais questão para as autoridades responsáveis pelo controle
valem tanto para a esfera pública quanto para a privada, da ética da instituição. Cada atividade deve ser desem-
embora a punição dos que violam ditames éticos no âm- penhada da melhor maneira possível, isto é, não se pode
bito do interesse estatal seja mais rigorosa. deixar de praticá-la corretamente por ser mais trabalho-
Neste sentido, destacam-se os dez mandamentos da so (por negligência entende-se uma omissão perigosa).
gestão ética nas empresas públicas: No tratamento dos demais colegas e do público, o fun-
cionário deve ser cordial e ético, embora somente assim
PRIMEIRO: “Amar a verdade, a lealdade, a probidade e estará contribuindo para a gestão ética da empresa.
a responsabilidade como fundamentos de dignidade pes-
soal”. SEXTO: “Agir, na vida pessoal e funcional, com dignida-
Significa desempenhar suas funções com transparên- de, decoro, zelo, eficácia e moralidade”.
cia, de forma honesta e responsável, sendo leal à institui- O bom comportamento não deve se fazer presente
ção. O funcionário deve se portar de forma digna, exte- somente no exercício das funções. Cabe ao funcionário
riorizando virtudes em suas ações. se portar bem quando estiver em sua vida privada, na
convivência com seus amigos e familiares, bem como
SEGUNDO: “Respeitar a dignidade da pessoa humana”. nos momentos de lazer. Por melhor que seja como fun-
A expressão “dignidade da pessoa humana” está esta- cionário, não será aceito aquele que, por exemplo, for
belecida na Constituição Federal Brasileira, em seu art. 3º, visto frequentemente embriagado ou for sempre denun-
III, como um dos fundamentos da República Federativa ciado por violência doméstica.
do Brasil. Ao adotar um significado mínimo apreendido Dignidade é a característica que incorpora todas as de-
no discurso antropocentrista do humanismo, a expres- mais, significando o bom comportamento enquanto pes-
são valoriza o ser humano, considerando este o centro soa humana, tratando os outros como gosta de ser tratado.
da criação, o ser mais elevado que habita o planeta, o Decoro significa discrição, aparecer o mínimo possível, não
se vangloriar com base em feitos institucionais. Zelo quer
que justifica a grande consideração pelo Estado e pelos
dizer cuidado, cautela, para que as atividades sempre se-
outros seres humanos na sua generalidade em relação
jam desempenhadas do melhor modo. Eficácia remete ao
a ele. Respeitar a dignidade da pessoa humana significa
dever de fazer com que suas atividades atinjam o fim para
tomar o homem como valor-fonte para todas as ações e
o qual foram praticadas, isto é, que não sejam abandona-
escolhas, inclusive na atuação empresarial.
das pela metade. Moralidade significa respeitar os ditames
morais, mais que jurídicos, que exteriorizam os valores tra-
TERCEIRO: “Ser justo e imparcial no julgamento dos
dicionais consolidados na sociedade através dos tempos.
atos e na apreciação do mérito dos subordinados”.
Retoma-se a questão dos planos de carreira, que ex- SÉTIMO: “Jamais tratar mal ou deixar à espera de solu-
teriorizam a imparcialidade e a impessoalidade na es- ção uma pessoa que busca perante a Administração Públi-
colha dos que deverão ser promovidos, a qual se fará ca satisfazer um direito que acredita ser legítimo”.
exclusivamente com base no mérito. Não se pode to- O bom atendimento do público é necessário para que
mar questões pessoais, como desavenças ou afinidades, uma gestão possa ser considerada ética. Aquele que tem
quando o julgamento se faz sobre a ação de um funcio- um direito merece ser ouvido, não pode ser deixado de
nário - se agiu bem, merece ser recompensado; se agiu lado pelo funcionário, esperando por horas uma solução.
mal, deve ser punido. Mesmo que a pessoa esteja errada, isto deve ser escla-
recido, de forma que a confiabilidade na instituição não
QUARTO: “Zelar pelo preparo próprio, moral, intelec- fique abalada.
tual e, também, pelo dos subordinados, tendo em vista o OITAVO: “Cumprir e fazer cumprir as leis, os regula-
cumprimento da missão institucional”. mentos, as instruções e as ordens das autoridades a que
A missão institucional envolve a obtenção de lucros, estiver subordinado”.
em regra, mas sempre aliada à promoção da ética. Na O Direito é uma das facetas mais relevantes da Ética
missão institucional serão estabelecidas determinadas porque exterioriza o valor do justo e o seu cumprimento
metas para a empresa, que deverão ser buscadas pe- é essencial para que a gestão ética seja efetiva.
los funcionários. Para tanto, cada um deve se preocupar
com o aperfeiçoamento de suas capacidades, tornando- NONO: “Agir dentro da lei e da sua competência, aten-
-se paulatinamente um melhor funcionário, por exemplo, to à finalidade do serviço público”.
buscando cursos e estudando técnicas. Não basta cumprir o Direito, é preciso respeitar a di-
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

visão de funções feitas com o objetivo de otimizar as ati-


QUINTO: “Acatar as ordens legais, não ser negligente e vidades desempenhadas.
trabalhar em harmonia com a estrutura do órgão, respei-
tando a hierarquia, seus colegas e cada concidadão, cola- DÉCIMO: “Buscar o bem-comum, extraído do equilíbrio
borando e aceitando colaboração”. entre a legalidade e finalidade do ato administrativo a ser
Existe uma hierarquia para que as funções sejam de- praticado”.
sempenhadas da melhor maneira possível, pois a desor- Bem comum é o bem de toda a coletividade e não
dem não permite que as atividades se encadeiem e se de um só indivíduo. Este conceito exterioriza a dimensão
enlacem, gerando perda de tempo e desperdício de re- coletiva da ética. Maritain27 apontou as características es-
cursos. Não significa que ordens contrárias à ética devam
27 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei natural. 3. ed.

11
senciais do bem comum: redistribuição, pela qual o bem 3. (MPU – TÉCNICO DO MPU – SEGURANÇA INSTI-
comum deve ser redistribuído às pessoas e colaborar TUCIONAL E TRANSPORTE – CESPE – 2015) Acerca de
para o desenvolvimento delas; respeito à autoridade na ética deontológica e de ética e democracia, julgue o pró-
sociedade, pois a autoridade é necessária para conduzir ximo item.
a comunidade de pessoas humanas para o bem comum; Ser honesto e verdadeiro e cumprir promessas são con-
moralidade, que constitui a retidão de vida, sendo a jus- siderados princípios éticos.
tiça e a retidão moral elementos essenciais do bem co-
mum. ( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. Não pode ser considerada conduta


#FicaDica ética ser desonesto e mentir, ou então deixar de cum-
prir promessas feitas licitamente. Assim, honestidade
A partir da consagração do princípio da e seriedade são primados éticos que devem ser cum-
moralidade, é possível afirmar que agir de pridos no exercício da função pública.
forma ética no desempenho de funções
públicas não é questão de mera morali-
dade, mas verdadeiramente jurídica, com ÉTICA NO SETOR PÚBLICO.
arcabouço legal, notadamente, Decreto
nº 1.171/1994, Lei nº 8.112/1990, Lei nº
8.429/1992. Obedecer aos ditames da ética O paradigma da Ética Pública parte da noção de liber-
é verdadeiro dever funcional do servidor, dade social, envolta nos valores da segurança, igualdade
o qual, se desobedecido, pode gerar puni- e solidariedade. Neste sentido, cada pessoa deve ter es-
ções. paço para exercer individualmente sua liberdade moral,
cabendo à ética pública garantir que os indivíduos que
vivem em sociedade realizem projetos morais individuais.
A Ética Pública pode ser vista sob o aspecto da mo-
EXERCÍCIOS COMENTADOS ralidade crítica e sob o aspecto da moralidade legaliza-
da: quando se estuda a lei posta ou a ausência de lei e
questiona-se a falta de justiça, há uma moralidade crítica;
1. (TRT 5ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – PSICO- quando a regra justa é incorporada ao Direito, há mora-
LOGIA – CESPE – 2008) Com relação à ética nas organi- lidade legalizada ou positivada.
zações, julgue os itens a seguir. Sobre a Ética Pública, explica Nalini28: “Ética é sempre
As escolhas dos dirigentes, perante dilemas éticos, são
ética, poder-se-ia afirmar. Ser ético é obrigação de to-
influenciadas por fatores de ordem individual, como ida-
dos. Seja no exercício de alguma atividade estatal, seja
de, grau de instrução, valores morais, que são parâme-
no comportamento individual. Mas pode-se falar em éti-
tros decisivos no processo de tomada de decisão.
ca realçada quando se atua num universo mais amplo,
( ) CERTO ( ) ERRADO de interesse de todos. Existe, pois, uma Ética Pública, e
apura-se o seu sentido em contraposição com o de Ética
Privada. Um nome pelo qual a Ética Pública tem sido co-
Resposta: Certo. As escolhas dos gestores, quando
enfrentam dilemas éticos, são também influenciadas nhecida é o da justiça”.
por fatores de ordem individual, que podem ser deci- Assim, ética pública seria a moral incorporada ao Di-
sivos no processo de tomada de decisão e são válidos, reito, consolidando o valor do justo. Diante da relevância
cabendo na margem de discricionariedade dos atos social de que a Ética se faça presente no exercício das ati-
administrativos, podendo abranger aspectos como vidades públicas, as regras éticas para a vida pública são
gênero, idade, grau de instrução, orientações filosófi- mais do que regras morais, são regras jurídicas estabe-
cas ou valores morais. lecidas em diversos diplomas do ordenamento, possibi-
litando a coação em caso de infração por parte daqueles
2. (TRT 5ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – PSICO- que desempenham a função pública.
LOGIA – CESPE – 2008) Com relação à ética nas organi- Os valores éticos inerentes ao Estado, os quais permi-
zações, julgue os itens a seguir. tem que ele consolide o bem comum e garanta a preser-
O comportamento ético da organização independe da vação dos interesses da coletividade, se encontram exte-
filosofia pessoal e dos processos cognitivos de decisão riorizados em princípios e regras. Estes, por sua vez, são
estabelecidos na Constituição Federal e em legislações
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

de seus dirigentes.
infraconstitucionais, a exemplo das que serão estudadas
( ) CERTO ( ) ERRADO neste tópico, quais sejam: Decreto n° 1.171/94, Lei n°
8.112/90 e Lei n° 8.429/92.
Resposta: Errado. A cultura estabelecida no âmbito Todas as diretivas de leis específicas sobre a ética no
de uma empresa e a forma como o dirigente lida com setor público partem da Constituição Federal, que esta-
seus funcionários interfere no comportamento da or- belece alguns princípios fundamentais para a ética no se-
ganização. Tudo isso é matéria da cultura organizacio- tor público. Em outras palavras, é o texto constitucional
nal, em seu aspecto ético.
28 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 8. ed. São Paulo:
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967. Revista dos Tribunais, 2011.

12
do artigo 37, especialmente o caput, que permite a com- no âmbito interno. Está indissociavelmente ligado
preensão de boa parte do conteúdo das leis específicas, à noção de bom administrador, que não somente
porque possui um caráter amplo ao preconizar os princí- deve ser conhecedor da lei, mas também dos prin-
pios fundamentais da administração pública. Estabelece cípios éticos regentes da função administrativa.
a Constituição Federal: TODO ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE ILEGAL
OU AO MENOS IMPESSOAL, daí a intrínseca liga-
Art. 37. A administração pública direta e indireta de ção com os dois princípios anteriores.
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis- d) Princípio da publicidade: A administração pública
trito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios é obrigada a manter transparência em relação a to-
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicida- dos seus atos e a todas informações armazenadas
de e eficiência e, também, ao seguinte: [...] nos seus bancos de dados. Daí a publicação em
É de fundamental importância um olhar atento ao órgãos da imprensa e a afixação de portarias. Por
significado de cada um destes princípios, posto que eles exemplo, a própria expressão “concurso público”
estruturam todas as regras éticas prescritas no Código de (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que todos de-
Ética e na Lei de Improbidade Administrativa, tomando vem tomar conhecimento do processo seletivo de
como base os ensinamentos de Carvalho Filho29 e Spit- servidores do Estado. Diante disso, como será vis-
zcovsky30: to, se negar indevidamente a fornecer informações
a) Princípio da legalidade: Para o particular, legali- ao administrado caracteriza ato de improbidade
dade significa a permissão de fazer tudo o que a lei administrativa. Somente pela publicidade os indi-
não proíbe. Contudo, como a administração públi- víduos controlarão a legalidade e a eficiência dos
ca representa os interesses da coletividade, ela se atos administrativos. Os instrumentos para prote-
sujeita a uma relação de subordinação, pela qual ção são o direito de petição e as certidões (art. 5°,
só poderá fazer o que a lei expressamente deter- XXXIV, CF), além do habeas data e - residualmente
mina (assim, na esfera estatal, é preciso lei ante- - do mandado de segurança.
rior editando a matéria para que seja preservado o e) Princípio da eficiência: A administração pública
princípio da legalidade). A origem deste princípio deve manter o ampliar a qualidade de seus servi-
está na criação do Estado de Direito, no sentido ços com controle de gastos. Isso envolve eficiência
de que o próprio Estado deve respeitar as leis que ao contratar pessoas (o concurso público selecio-
dita. na os mais qualificados ao exercício do cargo), ao
b) Princípio da impessoalidade: Por força dos in- manter tais pessoas em seus cargos (pois é possí-
teresses que representa, a administração pública vel exonerar um servidor público por ineficiência)
está proibida de promover discriminações gratui- e ao controlar gastos (limitando o teto de remu-
tas. Discriminar é tratar alguém de forma diferente neração), por exemplo. O núcleo deste princípio
dos demais, privilegiando ou prejudicando. Segun- é a procura por produtividade e economicidade.
do este princípio, a administração pública deve tra- Alcança os serviços públicos e os serviços adminis-
tar igualmente todos aqueles que se encontrem na trativos internos, se referindo diretamente à con-
mesma situação jurídica (princípio da isonomia ou duta dos agentes.
igualdade). Por exemplo, a licitação reflete a im-
pessoalidade no que tange à contratação de servi- Além destes cinco princípios administrativo-constitu-
ços. O princípio da impessoalidade correlaciona-se cionais diretamente selecionados pelo constituinte, po-
ao princípio da finalidade, pelo qual o alvo a ser dem ser apontados como princípios de natureza ética re-
alcançado pela administração pública é somente o lacionados à função pública a probidade e a motivação:
interesse público. Com efeito, o interesse particular a) Princípio da probidade:  um princípio constitucio-
não pode influenciar no tratamento das pessoas, nal incluído dentro dos princípios específicos da
já que se deve buscar somente a preservação do licitação, é o dever de todo o administrador pú-
interesse coletivo. blico, o dever de honestidade e fidelidade com o
c) Princípio da moralidade: A posição deste princí- Estado, com a população, no desempenho de suas
pio no artigo 37 da CF representa o reconhecimen- funções. Possui contornos mais definidos do que
to de uma espécie de moralidade administrativa, a moralidade. Diógenes Gasparini31 alerta que al-
intimamente relacionada ao poder público. A ad- guns autores tratam como distintos os princípios
ministração pública não atua como um particular, da moralidade e da probidade administrativa, mas
de modo que enquanto o descumprimento dos não há  características que permitam tratar os
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

preceitos morais por parte deste particular não é mesmos como procedimentos distintos, sendo no
punido pelo Direito (a priori), o ordenamento jurí- máximo possível afirmar que a probidade admi-
dico adota tratamento rigoroso do comportamen- nistrativa é um aspecto particular da moralidade
to imoral por parte dos representantes do Estado. administrativa.
O princípio da moralidade deve se fazer presente b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida
não só para com os administrados, mas também ao administrador de motivar todos os atos que
edita, gerais ou de efeitos concretos. É considera-
29 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis- do, entre os demais princípios, um dos mais impor-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
30 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: 31 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo:
Método, 2011. Saraiva, 2004.

13
tantes, uma vez que sem a motivação não há o de- 2. (FUB – Conhecimentos Básicos – CESPE – 2016) Com
vido processo legal, uma vez que a fundamentação referência à Constituição Federal de 1988 e às disposi-
surge como meio interpretativo da decisão que le- ções nela inscritas relativamente a direitos sociais e polí-
vou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro ticos, administração pública e servidores públicos, julgue
meio de viabilização do controle da legalidade dos o item subsequente.
atos da Administração. Motivar significa mencio- Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
nar o dispositivo legal aplicável ao caso concreto eficiência são princípios aplicáveis exclusivamente à ad-
e relacionar os fatos que concretamente levaram à ministração pública federal: eles não se aplicam à admi-
aplicação daquele dispositivo legal. Todos os atos nistração pública dos estados, do Distrito Federal nem
administrativos devem ser motivados para que o dos municípios.
Judiciário possa controlar o mérito do ato adminis-
trativo quanto à sua legalidade. Para efetuar esse ( ) CERTO ( ) ERRADO
controle, devem ser observados os motivos dos
atos administrativos. Resposta: Errado. Nos termos do artigo 37, caput, CF:
“A administração pública direta e indireta de qualquer
#FicaDica dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Fe-
deral e dos Municípios obedecerá aos princípios de
São princípios da administração pública, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
nesta ordem: eficiência e, também, ao seguinte: [...]”.
Legalidade
Impessoalidade 3. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE – 2015)
Moralidade No que diz respeito à organização dos poderes, ao prin-
Publicidade cípio da legalidade e ao controle dos atos administrati-
Eficiência vos, julgue (C ou E) o seguinte item.
Para memorizar: veja que as iniciais das pa- O princípio da legalidade consiste em estatuir que a re-
lavras formam o vocábulo LIMPE, que re- gulamentação de determinadas matérias há de fazer-se
mete à limpeza esperada da Administração necessariamente por lei formal, e não por quaisquer ou-
Pública. tras fontes normativas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

EXERCÍCIOS COMENTADOS Resposta: Errado. A legalidade pode emanar de di-


versas fontes de regulação, por exemplo, Decretos,
1. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE – 2017) Regulamentos, Portarias.
Com relação à classificação da Constituição Federal de
1988, ao controle de constitucionalidade e à atividade
administrativa do Estado brasileiro, julgue (C ou E) o item LEI Nº 8.429/1992 E SUAS ALTERAÇÕES.
que se segue. DISPOSIÇÕES GERAIS.
O princípio da impessoalidade, que consagra a ideia de ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
que o poder público deve dispensar tratamento isonô-
mico e impessoal aos particulares, deve ser entendido de
forma absoluta, já que não comporta exceções ou trata- A Lei n° 8.429/92 trata da improbidade administra-
mentos diferenciados pela administração. tiva, que é uma espécie qualificada de imoralidade, si-
nônimo de desonestidade administrativa. A improbidade
( ) CERTO ( ) ERRADO é uma lesão ao princípio da moralidade, que deve ser
respeitado estritamente pelo servidor público. O agente
Resposta: Errado. Em alguns casos, o desigual deve ímprobo sempre será um violador do princípio da mo-
ser tratado de forma desigual, pois o contrário que ralidade, pelo qual “a Administração Pública deve agir
não seria isonômico. É o caso da fila preferencial para com boa-fé, sinceridade, probidade, lhaneza, lealdade e
gestantes e idosos nas repartições públicas, típico tra- ética”32.
tamento diferenciado lícito e ético. A Lei nº 8.429/92 reforça os princípios da administra-
ção consagrados no artigo 37, caput, CF em seu artigo 4o,
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

dentre eles o da moralidade:

Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hie-


rarquia são obrigados a velar pela estrita observância
dos princípios de legalidade, impessoalidade, morali-
dade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são
afetos.
32
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2011.

14
Com o advento da Lei nº 8.429/92, os agentes públi- • o exercício pode se dar na administração direta,
cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos indireta ou fundacional. A administração públi-
atos de improbidade administrativa descritos nos artigos ca apresenta uma estrutura direta e outra indire-
9º a 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A existência ta, com seus respectivos órgãos. Por exemplo, são
de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal e ad- órgãos da administração direta os ministérios e
ministrativa) impede falar-se em bis in idem, já que, onto- secretarias, isto é, os órgãos que compõem a es-
logicamente, não se trata de punições idênticas, embora trutura do Executivo, Legislativo ou Judiciário; são
baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização em integrantes da administração indireta as autar-
esferas distintas do Direito. quias, fundações públicas, empresas públicas e so-
A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de ciedades de economia mista.
improbidade administrativa em quatro categorias:
• Ato de improbidade administrativa que importe 1. Sujeito passivo
enriquecimento ilícito;
• Ato de improbidade administrativa que importe Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qual-
lesão ao erário; quer agente público, servidor ou não, contra a admi-
• Ato de improbidade administrativa decorrente de nistração direta, indireta ou fundacional de qualquer
concessão ou aplicação indevida de benefício fi- dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal,
nanceiro ou tributário; dos Municípios, de Território, de empresa incorporada
• Ato de improbidade administrativa que atente ao patrimônio público ou de entidade para cuja cria-
contra os princípios da administração pública. ção ou custeio o erário haja concorrido ou concorra
com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, serão punidos na forma desta lei.
#FicaDica Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalida-
des desta lei os atos de improbidade praticados con-
Os atos de improbidade administrativa não
tra o patrimônio de entidade que receba subvenção,
são crimes de responsabilidade. Trata-se de
benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão
punição na esfera cível, não criminal. Por
público bem como daquelas para cuja criação ou cus-
isso, caso o ato configure simultaneamente
teio o erário haja concorrido ou concorra com menos
um ato de improbidade administrativa desta
de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita
lei e um crime previsto na legislação penal, o
anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimo-
que é comum no caso do artigo 9°, respon-
nial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos
derá o agente por ambos, nas duas esferas.
cofres públicos.
“Sujeito passivo é a pessoa que a lei indica como ví-
Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte tima do ato de improbidade administrativa”. A lei adota
forma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito uma noção ampla, pela qual são abrangidas entidades
passivo) e daqueles que podem praticar os atos de im- que, sem integrarem a Administração, possuem alguma
probidade administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a espécie de conexão com ela.33
reparação do dano ao lesionado e o ressarcimento ao O agente público pode ser ou não um servidor públi-
patrimônio público; após, traz a tipologia dos atos de im- co. O conceito de agente público é melhor delimitado no
probidade administrativa, isto é, enumera condutas de artigo seguinte.
tal natureza; seguindo-se à definição das sanções aplicá- Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição
veis; e, finalmente, descreve os procedimentos adminis- ou órgão que desempenhe diretamente o interesse do
trativo e judicial. Estado. Assim, estão incluídos todos os integrantes da
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públi- administração direta, indireta e fundacional, conforme o
cos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de preâmbulo da legislação. Pode até mesmo ser uma en-
mandato, cargo, emprego ou função na administração tidade privada que desempenhe tais fins, desde que a
pública direta, indireta ou fundacional e dá outras pro- verba de criação ou custeio tenha sido ou seja pública
vidências. em mais de 50% do patrimônio ou receita anual.
O preâmbulo da lei em estudo já traz alguns elemen- Caso a verba pública que tenha auxiliado uma entida-
tos importantes para a sua boa compreensão: de privada a qual o Estado não tenha concorrido para
• o agente público pode estar exercendo mandato, criação ou custeio, também haverá sujeição às penali-
quando for eleito para tanto; cargo, no caso de dades da lei. Em caso de custeio/criação pelo Estado
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

um conjunto de atribuições e responsabilidades que seja inferior a 50% do patrimônio ou receita anual,
conferido a um servidor submetido a regime esta- a legislação ainda se aplica. Entretanto, nestes dois ca-
tutário (é o caso do ingresso por concurso); em- sos, a sanção patrimonial se limitará ao que o ilícito
prego público, se o servidor se submeter a regime repercutiu sobre a contribuição dos cofres públicos. Sig-
celetista (CLT); função pública, que corresponde nifica que se o prejuízo causado for maior que a efetiva
à categoria residual, valendo para o servidor que contribuição por parte do poder público, o ressarcimento
tenha tais atribuições e responsabilidades mas não terá que ser buscado por outra via que não a ação de
exerça cargo ou emprego público. Percebe-se que improbidade administrativa.
o conceito de agente público que se sujeita à lei é 33
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed.
o mais amplo possível. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

15
Basicamente, o dispositivo enumera os principais su- 3. Ressarcimento do dano
jeitos passivos do ato de improbidade administrativa, di-
vidindo-os em três grupos: Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por
a) pessoas da administração direta, diretamente vin- ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de
culados a União, Estados, Distrito Federal ou Mu- terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.
nicípios; Integral ressarcimento do dano é a devolução corrigi-
b) pessoas da administração indireta, isto é, autar- da monetariamente de todos os valores que foram retira-
quias, fundações públicas, empresas públicas e so- dos do patrimônio público. No entanto, destaca-se que a
ciedades de economia mista; lei garante não só o integral ressarcimento, mas também
c) pessoa cuja criação ou custeio o erário tenha con- a devolução do enriquecimento ilícito: mesmo que a pes-
tribuído com mais de 50% do patrimônio ou recei- soa não cause prejuízo direto ao erário, mas lucre com
ta naquele ano. um ato de improbidade administrativa, os valores devem
ir para os cofres públicos.
No parágrafo único, a lei enumera os sujeitos passivos
secundários, que são: a) entidades que recebam subven- Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o
ção, benefício ou incentivo creditício pelo Estado; b) pes- agente público ou terceiro beneficiário os bens ou va-
soa cuja criação ou custeio o erário tenha contribuído com lores acrescidos ao seu patrimônio.
menos de 50% do patrimônio ou receita naquele ano. Estabelece o artigo 186 do Código Civil: “aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou impru-
2. Sujeito ativo dência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos des- central do instituto denominado responsabilidade civil,
ta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoria- que tem como elementos: ação ou omissão voluntária
mente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, (agir como não se deve ou deixar de agir como se deve),
designação, contratação ou qualquer outra forma de culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de come-
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou ter uma violação de direito e culpa é a falta de diligên-
função nas entidades mencionadas no artigo anterior. cia), nexo causal (relação de causa e efeito entre a ação/
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que omissão e o dano causado) e dano (prejuízo sofrido pelo
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
agente, que pode ser individual ou coletivo, moral ou
induza ou concorra para a prática do ato de improbi-
material, econômico e não econômico). É a este instituto
dade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
que se relacionam as sanções da perda de bens e valores
indireta.
e de ressarcimento integral do dano.
Os sujeitos ativos do ato de improbidade administra-
O tipo de dano que é causado pelo agente ao Estado
tiva se dividem em duas categorias: os agentes públicos,
é o material. No caso, há um correspondente financeiro
definidos no art. 2°, e os terceiros, enumerados no art. 3°.
direto, de modo que a condenação será no sentido de
“Denomina-se sujeito ativo aquele que pratica o ato
de improbidade, concorre para sua prática ou dele extrai pagar ao Estado o equivalente ao prejuízo causado.
vantagens indevidas. É o autor ímprobo da conduta. Em O agente público e o terceiro que com ele concor-
alguns casos, não pratica o ato em si, mas oferece sua ra responderão pelos danos causados ao erário público
colaboração, ciente da desonestidade do comportamen- com seu patrimônio. Inclusive, perderão os valores patri-
to, Em outros, obtém benefícios do ato de improbidade, moniais acrescidos devido à prática do ato ilícito. O dano
muito embora sabedor de sua origem escusa”34. causado deverá ser ressarcido em sua totalidade.
A ampla denominação de agentes públicos conferida
pela lei de improbidade administrativa apenas tem efeito Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patri-
para os fins desta lei, ou seja, visando a imputação dos mônio público ou se enriquecer ilicitamente está su-
atos de improbidade administrativa. Percebe-se a ampli- jeito às cominações desta lei até o limite do valor da
tude pelos elementos do conceito: herança.
• Tempo: exercício transitório ou definitivo; Caso o sujeito ativo faleça no curso da ação de impro-
• Remuneração: existente ou não; bidade administrativa, os herdeiros arcarão com o dever
• Espécie de vínculo: por eleição, nomeação, designa- de ressarcir o dano, claro, nos limites dos bens que ele
ção, contratação ou qualquer outra forma de investi- deixar como herança.
dura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função;
• Local do exercício: em qualquer entidade que pos- 4. Indisponibilidade de bens
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

sa ser sujeito passivo. Por exemplo, o funcionário


de uma ONG criada pelo Estado é considerado Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao
agente público para os efeitos desta lei. patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,
caberá a autoridade administrativa responsável pelo
O terceiro, por sua vez, é aquele que pratica as con- inquérito representar ao Ministério Público, para a in-
dutas de induzir ou concorrer em relação ao agente pú- disponibilidade dos bens do indiciado.
blico, ou seja, incentivando-o ou mesmo participando Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
diretamente do ilícito. Este terceiro jamais será pessoa caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o
jurídica, deve necessariamente ser pessoa física. integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
34
Ibid.

16
Será oferecida representação ao Ministério Público indevida + em razão do exercício de cargo, mandato,
para que ele postule a indisponibilidade dos bens do in- emprego, função ou outra atividade nas entidades do
diciado, de modo a garantir que ele não aliene seu pa- artigo 1°:
trimônio para não reparar o ilícito. Por indisponibilidade • O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado
entende-se bloquear os bens para que não sejam vendi- não se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que
dos ou deteriorados, garantindo que o dano possa ser obedeça aos ditames morais, notadamente no de-
reparado quando da condenação judicial. sempenho de função de interesse estatal.
A indisponibilidade será suficiente para dar integral • Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimo-
ressarcimento ao dano ou retirar todo o acréscimo patri- nial ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamen-
monial resultante do ilícito. te tenha ocorrido dano aos cofres públicos (por
exemplo, quando um policial recebe propina pra-
5. Atos de Improbidade Administrativa tica ato de improbidade administrativa, mas não
atinge diretamente os cofres públicos).
Como não é possível ser desonesto sem saber que se • É preciso que a conduta se consume, ou seja, que
está agindo desta forma, o elemento comum a todas as realmente exista o enriquecimento ilícito decor-
hipóteses de improbidade administrativa é o dolo, que rente de uma vantagem patrimonial indevida.
consiste na intenção do agente em praticar o ato deso- • Como fica difícil imaginar que alguém possa se en-
nesto (alguns entendem como inconstitucionais todas as riquecer ilicitamente por negligência, imprudência
referências a condutas culposas - inclusive parte do STJ). ou imperícia, todas as condutas configuram atos
Os atos de improbidade administrativa foram dividi- dolosos (com intenção).
dos, originalmente, em três grupos, nos artigos 9°, 10 e • Não cabe prática por omissão.36
11, conforme a gravidade do ato, indo do grupo mais
grave ao menos grave. Em seguida, foi inserido um novo Entende Carvalho Filho37 que no caso do art. 9° o re-
grupo no artigo 10-A. A cada grupo é aplicada uma es- quisito é o enriquecimento ilícito, ao passo que “o pres-
pécie diferente de sanção no caso de confirmação da suposto exigível do tipo é a percepção de vantagem pa-
prática do ato apurada na esfera administrativa. trimonial ilícita obtida pelo exercício da função pública
Nos três grupos originais do capítulo II, enquanto o em geral. Pressuposto dispensável é o dano ao erário”. O
caput traz as condutas genéricas, os incisos delimitam elemento subjetivo é o dolo, pois fica difícil imaginar que
condutas específicas, que nada mais são do que exem- um servidor obtenha vantagem indevida por negligência,
plos de situações do caput, logo, os incisos são uma re- imprudência ou imperícia (culpa). Da mesma forma, é in-
lação meramente exemplificativa35, sendo suficiente bem compatível com a conduta omissiva, aceitando apenas a
compreender como encontrar os requisitos genéricos comissiva (ação).
para fins de provas. No grupo acrescido posteriormen- Todas as condutas descritas abaixo são meros exem-
te, o legislador não discriminou em incisos as condutas plos de condutas compostas pelos elementos genéricos
praticáveis. da cabeça do artigo. Com efeito, estando eles presentes,
não importa a ausência de dispositivo expresso no rol
abaixo.
#FicaDica
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem mó-
Todos os atos de improbidade descritos nos vel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica,
artigos 9o, 10 e 11 contam com um rol de direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
condutas que se enquadram nos elementos gratificação ou presente de quem tenha interesse, dire-
do caput. Contudo, basta o enquadramento to ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por
no caput para se caracterizar o ato de im- ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
probidade administrativa. Significa dizer que público;
o rol é apenas exemplificativo em cada um Significa receber qualquer vantagem econômica, in-
dos artigos. clusive presentes, de pessoas que tenham interesse di-
reto ou indireto em que o agente público faça ou deixe
de fazer alguma coisa.
5.1 Atos de Improbidade Administrativa que Im- II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
portam Enriquecimento Ilícito para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

entidades referidas no art. 1° por preço superior ao


importando enriquecimento ilícito auferir qualquer valor de mercado;
tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou ati- para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem
vidade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, público ou o fornecimento de serviço por ente estatal
e notadamente: por preço inferior ao valor de mercado;
O grupo mais grave de atos de improbidade adminis-
trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento
+ ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial 36
SPITZCOVSKY, Celso. Direito administrativo. 13. ed. São Paulo: Método,
2011.
35
Ibid. 37 CARVALHO FILHO, José dos Santos... Op. Cit.

17
Tratam-se de espécies da conduta do inciso anterior, Este artigo admite expressamente a variante culposa,
na qual o fim visado é permitir a aquisição, alienação, tro- o que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no
ca ou locação de bem móvel ou imóvel por preço diverso REsp n° 939.142/RJ, apontou alguns aspectos da incons-
ao de mercado. Percebe-se um ato de improbidade que titucionalidade do artigo. Contudo, “a jurisprudência do
causa prejuízo direto ao erário. STJ consolidou a tese de que é indispensável a existência
No inciso II, o Estado que compra, troca ou aluga bem de dolo nas condutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao
móvel ou imóvel para sua utilização acima do preço de menos de culpa nas hipóteses do artigo 10, nas quais o
mercado; no inciso III, um bem móvel ou imóvel perten- dano ao erário precisa ser comprovado. De acordo com o
cente ao Estado é vendido, trocado ou alugado em preço ministro Castro Meira, a conduta culposa ocorre quando
inferior ao de mercado. o agente não pretende atingir o resultado danoso, mas
atua com negligência, imprudência ou imperícia (REsp
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, n° 1.127.143)”38. Para Carvalho Filho39, não há inconsti-
máquinas, equipamentos ou material de qualquer na- tucionalidade na modalidade culposa, lembrando que é
tureza, de propriedade ou à disposição de qualquer possível dosar a pena conforme o agente aja com dolo
das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem ou culpa.
como o trabalho de servidores públicos, empregados O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi-
ou terceiros contratados por essas entidades; ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevi-
Todo aparato dos órgãos públicos serve para atender das, basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem
ao Estado e, consequentemente, à preservação do bem indevida, incide no artigo anterior. Exceto pela não per-
comum na sociedade. Logo, quando um servidor públi- cepção da vantagem indevida, os tipos exemplificados
co utiliza esta estrutura material ou pessoal para atender se aproximam muito dos previstos nos incisos do art. 9°.
aos seus próprios interesses, causa prejuízo direto aos
cofres públicos e obtém uma vantagem indevida (a na- I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a in-
tural vantagem decorrente do uso de algo que não lhe corporação ao patrimônio particular, de pessoa física
pertence). ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores inte-
grantes do acervo patrimonial das entidades mencio-
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, nadas no art. 1º desta lei;
direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prá- II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou
tica de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valo-
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade res integrantes do acervo patrimonial das entidades
ilícita, mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância
Nenhum ato administrativo pode ser praticado ou omiti- das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
do para facilitar condutas como lenocínio (explorar, estimu- à espécie;
lar ou facilitar a prostituição), narcotráfico (envolver-se em III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente
atividades no mundo das drogas, como venda e distribui- despersonalizado, ainda que de fins educativos ou as-
ção), contrabando (importar ou exportar mercadoria proi- sistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimô-
bida), usura (agiotagem, fornecer dinheiro a juros absurdos) nio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º
ou qualquer outra atividade ilícita. Se, ainda por cima, se ob- desta lei, sem observância das formalidades legais e
ter vantagem indevida pela tolerância da prática do ilícito, regulamentares aplicáveis à espécie;
resta caracterizado um ato de improbidade administrativa Todos os bens, rendas, verbas e valores que integram
da espécie mais grave, ora descrita neste art. 9° em estudo. a estrutura da administração pública somente devem ser
utilizados por ela. Por isso, não cabe a incorporação de
VI - receber vantagem econômica de qualquer nature- seu patrimônio ao acervo de qualquer pessoa física ou
za, direta ou indireta, para fazer declaração falsa so- jurídica e mesmo a simples utilização deve obedecer aos
bre medição ou avaliação em obras públicas ou qual- ditames legais. Quem agir, aproveitando da função pú-
quer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, blica, de modo a permitir tais situações, incide em ato
qualidade ou característica de mercadorias ou bens de improbidade administrativa, ainda que não receba
fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no nenhuma vantagem por seu ato (havendo enriquecimen-
art. 1º desta lei; to ilícito, está presente um ato do art. 9°, categoria mais
Da mesma forma, é vedado o recebimento de vanta- grave).
gens para fazer declarações falsas na avaliação de obras Aliás, nem ao menos importa se o ato é benéfico, por
e serviços em geral. exemplo, uma doação. O patrimônio público deve ser
preservado e sua transmissão/utilização deve obedecer
a legislação vigente.
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de


mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de
qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou lo-
evolução do patrimônio ou à renda do agente público; cação de bem integrante do patrimônio de qualquer
A desproporção entre e pode ser praticado por ação das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a
ou omissão. prestação de serviço por parte delas, por preço inferior
O objeto da tutela é a preservação do patrimônio pú- ao de mercado;
blico, em todos seus bens e valores. O pressuposto exi- 38
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Improbidade administrativa: desones-
gível é a ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos tidade na gestão dos recursos públicos. Disponível em: <http://www.stj.gov.
passivos. br>. Acesso em: 26 mar. 2013.
39
CARVALHO FILHO, José dos Santos... Op. Cit.

18
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou loca- XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro
ção de bem ou serviço por preço superior ao de mer- se enriqueça ilicitamente;
cado; Como visto, quanto o agente público obtém vanta-
Incisos diretamente correlatos aos incisos II e III do gem própria, direta ou indireta, incide nas hipóteses mais
artigo anterior, exceto pelo fato do sujeito ativo não per- graves do artigo anterior. Caso concorde com o enri-
ceber vantagem indevida pela sua conduta. Aliás, é exa- quecimento ilícito de terceiro, por exemplo, seu superior
tamente pela falta deste elemento que o ato se enquadra hierárquico, ou colabore para que ele ocorra, também
na categoria intermediária, e não mais grave, dentro da cometerá ato de improbidade administrativa, embora de
classificação das improbidades. menor gravidade.

VI - realizar operação financeira sem observância das XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço par-
normas legais e regulamentares ou aceitar garantia ticular, veículos, máquinas, equipamentos ou material
insuficiente ou inidônea; de qualquer natureza, de propriedade ou à disposi-
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a ção de qualquer das entidades mencionadas no art.
observância das formalidades legais ou regulamenta- 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
res aplicáveis à espécie; empregados ou terceiros contratados por essas enti-
dades.
A realização de operações financeiras, como a libe- Não se deve permitir que terceiros utilizem do apa-
ração de verbas e o investimento destas, e a concessão
rato da máquina estatal, tanto material quanto pessoal,
de benefícios são papéis muito importantes desempe-
mesmo que não se obtenha vantagem alguma com tal
nhados pelo agente público, que deverá cumprir estrita-
concessão.
mente a lei.
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que te-
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de
nha por objeto a prestação de serviços públicos por
processo seletivo para celebração de parcerias com
meio da gestão associada sem observar as formalida-
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevi-
des previstas na lei;
damente;
Processo licitatório é aquele em que se realiza a li- XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público
citação, procedimento detalhado prescrito em lei pelo sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem
qual o Estado contrata serviços, adquire produtos, aliena observar as formalidades previstas na lei.
bens, etc. A finalidade de cumprir o procedimento legal A celebração de contratos de qualquer natureza com-
de forma estrita é garantir a preservação do interesse da promete diretamente o orçamento público, causando
sociedade, não cabendo ao agente público passar por prejuízo ao erário. Por isso, deve-se obedecer às pres-
cima destas regras (Lei n° 8.666/93). crições legais que disciplinam a celebração de contra-
tos administrativos, deliberando com responsabilidade
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não a respeito das contratações necessárias e úteis ao bem
autorizadas em lei ou regulamento; comum.
Todas as despesas que podem ser assumidas pelo Po-
der Público encontram respectiva previsão em alguma lei XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para
ou diretriz orçamentária. a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa
física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou públicos transferidos pela administração pública a
renda, bem como no que diz respeito à conservação entidades privadas mediante celebração de parcerias,
do patrimônio público; sem a observância das formalidades legais ou regula-
A arrecadação de tributos é essencial para a manu- mentares aplicáveis à espécie;
tenção da máquina estatal, não podendo o agente públi- XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou
co ser negligente (se omitir, deixar de ser zeloso) no que jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores
tange ao levantamento desta renda. públicos transferidos pela administração pública a en-
tidade privada mediante celebração de parcerias, sem
XI - liberar verba pública sem a estrita observância a observância das formalidades legais ou regulamen-
das normas pertinentes ou influir de qualquer forma tares aplicáveis à espécie;
para a sua aplicação irregular;
Para que as verbas públicas sejam aplicadas é preciso XVIII - celebrar parcerias da administração pública
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

obedecer o procedimento previsto em lei, preservando o com entidades privadas sem a observância das forma-
interesse estatal. lidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
Dos incisos VI a XI resta clara a marca desta catego- XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para ce-
ria intermediária de atos de improbidade administrativa: lebração de parcerias da administração pública com
que seja causado prejuízo ao erário, sem que o agen- entidades privadas ou dispensá-lo indevidamente;
te responsável pelo dano receba vantagem indevida. A XX - agir negligentemente na celebração, fiscaliza-
questão é preservar o interesse estatal, garantindo que ção e análise das prestações de contas de parcerias
os bens e verbas públicas sejam corretamente utilizados, firmadas pela administração pública com entidades
arrecadados e investidos. privadas;

19
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela ad- Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalida-
ministração pública com entidades privadas sem a es- de para não permitir a caracterização de abuso de poder,
trita observância das normas pertinentes ou influir de diante do conteúdo aberto do dispositivo.
qualquer forma para a sua aplicação irregular. Na verdade, trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que se
aplica quando o ato de improbidade administrativa não tiver
5.3 Atos de Improbidade Administrativa Decor- gerado obtenção de vantagem indevida ou dano ao erário.
rentes de Concessão ou Aplicação Indevida de Bene-
fício Financeiro ou Tributário I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regula-
mento ou diverso daquele previsto, na regra de com-
Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrati- petência;
va qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato
ou manter benefício financeiro ou tributário contrário de ofício;
ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. em razão das atribuições e que deva permanecer em
segredo;
Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Ser- IV - negar publicidade aos atos oficiais;
viços de Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento). V - frustrar a licitude de concurso público;
§ 1º O imposto não será objeto de concessão de isen- VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado
ções, incentivos ou benefícios tributários ou financei- a fazê-lo;
ros, inclusive de redução de base de cálculo ou de cré- VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento
dito presumido ou outorgado, ou sob qualquer outra de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor
forma que resulte, direta ou indiretamente, em carga de medida política ou econômica capaz de afetar o
tributária menor que a decorrente da aplicação da alí- preço de mercadoria, bem ou serviço.
quota mínima estabelecida no caput, exceto para os VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fis-
calização e aprovação de contas de parcerias firmadas
serviços a que se referem os subitens 7.02, 7.05 e 16.01
pela administração pública com entidades privadas.
da lista anexa a esta Lei Complementar.
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de
Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou
acessibilidade previstos na legislação.
evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municí-
X - transferir recurso a entidade privada, em razão da
pios, fixando-se a alíquota mínima em 2%.
prestação de serviços na área de saúde sem a prévia
Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro
celebração de contrato, convênio ou instrumento con-
de sua competência constitucional alíquotas inferiores a
gênere, nos termos do parágrafo único do art. 24 da
2% para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 (Lei do SUS).
fiscal), prejudicando os municípios vizinhos. É possível perceber, no rol exemplificativo de condu-
Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade tas do artigo 11, que o agente público que pratique qual-
administrativa a eventual concessão do benefício abaixo quer ato contrário aos ditames da ética, notadamente os
da alíquota mínima. originários nos princípios administrativos constitucionais,
pratica ato de improbidade administrativa.
5.4 Atos de Improbidade Administrativa que Aten- Com efeito, são deveres funcionais: praticar atos vi-
tam Contra os Princípios da Administração Pública sando o bem comum, agir com efetividade e rapidez,
manter sigilo a respeito dos fatos que tenha conheci-
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa mento devido a sua função, tornar públicos os atos ofi-
que atenta contra os princípios da administração pública ciais, zelar pela boa realização de atos administrativos em
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de hones- geral (como a realização de concurso público), prestar
tidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às institui- contas, entre outros.
ções, e notadamente:
O grupo mais ameno de atos de improbidade admi- 6. Das Penas
nistrativa se caracteriza pela simples violação a prin-
cípios da administração pública, ou seja, aplica-se a Art. 12.  Independentemente das sanções penais, civis
qualquer atitude do sujeito ativo que viole os ditames e administrativas previstas na legislação específica, está o
éticos do serviço público. Isto é, o legislador pretende a responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
preservação dos princípios gerais da administração pú- cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumu-
blica.40 lativamente, de acordo com a gravidade do fato:
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

• O objeto de tutela são os princípios constitucio- I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores
nais; acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento
• Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dis- integral do dano, quando houver, perda da função
pensáveis o enriquecimento ilícito e o dano ao erá- pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez
rio; anos, pagamento de multa civil de até três vezes o va-
• Somente é possível a prática de algum destes atos lor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar
com dolo (intenção); com o Poder Público ou receber benefícios ou incenti-
• Cabe a prática por ação ou omissão. vos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ain-
da que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
40
SPITZCOVSKY, Celso... Op. Cit.

20
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patri-
mônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos,
pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo
agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta
ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito)
anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Com-
plementar nº 157, de 2016)
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim
como o proveito patrimonial obtido pelo agente.
As sanções da Lei de Improbidade Administrativa são de natureza extrapenal e, portanto, têm caráter civil.
Como visto, no caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente obtém um enriquecimento ilícito (vantagem econô-
mica indevida) e pode ainda causar dano ao erário, por isso, deverá não só reparar eventual dano causado mas também
colocar nos cofres públicos tudo o que adquiriu indevidamente. Ou seja, poderá pagar somente o que enriqueceu
indevidamente ou este valor acrescido do valor do prejuízo causado aos cofres públicos (quanto o Estado perdeu ou
deixou de ganhar). No caso do artigo 10, não haverá enriquecimento ilícito, mas sempre existirá dano ao erário, o qual
será reparado (eventualmente, ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o valor adquirido ser tomado pelo Estado). Já
no artigo 11, o máximo que pode ocorrer é o dano ao erário, com o devido ressarcimento. Na hipótese do artigo 10-A,
não se denota nem enriquecimento ilícito e nem dano ao erário, pois no máximo a prática de guerra fiscal pode gerar.
Em todos os casos há perda da função pública.
Nas três categorias iniciais, são estabelecidas sanções de suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de contra-
tação ou percepção de vantagem, graduadas conforme a gravidade do ato, enquanto que na quarta categoria apenas se
prevê a suspensão de direitos políticos e a multa.
Vale lembrar a disciplina constitucional das sanções por atos de improbidade administrativa, que se encontra no
art. 37, § 4º, CF:
Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
cabível.

#FicaDica
A única sanção que se encontra prevista na LIA mas não na CF é a de multa. (art. 37, §4°, CF). Não há
nenhuma inconstitucionalidade disto, pois nada impediria de o legislador infraconstitucional ampliasse a
relação mínima de penalidades da Constituição, pois esta não limitou tal possibilidade e porque a lei é o
instrumento adequado para tanto1.
1
Ibid.

Carvalho Filho41 tece considerações a respeito de algumas das sanções:


• Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se
alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve
derivar de origem ilícita”.
• Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção mone-
tária e juros de mora.
• Perda de função pública: “se o agente é titular de mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassação.
Sendo servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servido-
res trabalhistas e temporários), a perda da função pública se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

do empregado. No caso de exercer apenas uma função pública, fora de tais situações, a perda se dará pela revo-
gação da designação”. Lembra-se que determinadas autoridades se sujeitam a procedimento especial para perda
da função pública, ponto em que não se aplica a Lei de Improbidade Administrativa.
• Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados
nesta margem optar pela mais adequada. Há ainda variabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato de
improbidade (a base será o valor do enriquecimento ou o valor do dano ou o valor da remuneração do agente).
A natureza da multa é de sanção civil, não possuindo caráter indenizatório, mas punitivo.
• Proibição de receber benefícios: não se incluem as imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao menos
sócio majoritário da instituição vitimada.
41
Ibid.

21
• Proibição de contratar: o agente punido não pode participar de processos licitatórios.

Artigo 9° Artigo 10 Artigo 10-A Artigo 11


Suspensão de direitos 8 a 9 anos 5 a 8 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
políticos
Multa Até 3X o enriquecimen- Até 2X o dano Até 3X o valor do Até 100X o valor
to experimentado causado. benefício finan- da remuneração
ceiro ou tributá- do agente
rio concedido
Vedação de contrata- 10 anos 5 anos – 3 anos
ção ou vantagem

7. Declaração de Bens

Nos termos do artigo 13, LIA, para que uma pessoa tome posse e exerça o cargo de agente público deve apresentar
declaração de bens que deverá ser renovada anualmente (§2°) sob pena de demissão (§3°). Assim, trata-se de condição
para o exercício das atribuições de agente público.
A finalidade é a de assegurar que o agente público não receba vantagens indevidas, possuindo instrumento para
fiscalizá-lo caso o faça.
Os bens abrangidos pela declaração não são apenas os do agente público, mas também os de seus dependentes.
Por isso, não adiantará nada o agente colocar os bens decorrentes do enriquecimento ilícito em nome de pessoas que
dele dependam, e não em seu nome.

8. Procedimento Administrativo e Processo Judicial

Desde logo, destaca-se que o procedimento na via administrativa não tem idoneidade para ensejar a aplicação de
sanções de improbidade. Após o encerramento do processo administrativo, deverá ser ajuizada ação de improbidade
administrativa. Na sentença judicial será possível aplicar as sanções da lei de improbidade administrativa.42
Legitimidade ativa: qualquer pessoa (artigo 14, caput).
Requisitos da representação: escrita ou reduzida a termo e assinada; qualificação do representante; informações
sobre o fato e sua autoria e indicação das provas de que tenha conhecimento. Ausentes, haverá rejeição, mas ainda
assim o MP poderá apurar o fato (artigo 14, §§ 1o e 2o).
Comissão processante no procedimento administrativo:
– Dá ciência do processo administrativo ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas, que poderão designar re-
presentante para acompanhá-lo (artigo 15). O objetivo da lei foi contribuiu para a formação da convicção dos repre-
sentantes destes órgãos desde logo.
– Pode representar ao MP para requerer o sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicita-
mente ou causado dano ao patrimônio público.

Ação de improbidade administrativa:


Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica inte-
ressada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
“Ação de improbidade administrativa é aquela que pretende o reconhecimento judicial de condutas de improbi-
dade da Administração, perpetradas por administradores públicos e terceiros, e a consequente aplicação das sanções
legais, com o escopo de preservar o princípio da moralidade administrativa. Sem dúvida, cuida-se de poderoso instru-
mentos de controle judicial sobre atos que a lei caracteriza como de improbidade”43.
Caso tenha sido postulada alguma medida cautelar, o prazo para que seja ajuizada a ação de improbidade adminis-
trativa é de 30 dias, sob pena de perda da eficácia da medida (bens e verbas são desbloqueados).
A legitimidade ativa é concorrente, porque a ação pode ser proposta tanto pelo Ministério Público quanto pela
pessoa jurídica interessada.
A legitimidade passiva é daquele que cometeu o ato de improbidade.
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

No pedido, se postulará, primeiro, o reconhecimento do ato de improbidade administrativa, depois, a aplicação das
sanções cabíveis.
§ 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput.
Não é permitido fazer acordos porque a apuração do ato de improbidade administrativa é de interesse público, so-
bre o qual não se pode transacionar. Seria absurdo alguém prejudicar o erário e se livrar da condenação judicial apenas
por ter aceitado um acordo quando descoberto seu ato.
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações necessárias à complementação do ressarcimento do
patrimônio público.
42
Ibid.
43
Ibid.

22
Caso não tenha sido totalmente recomposto o patri- Se a petição inicial preencher os requisitos do pará-
mônio com a ação de improbidade, a Fazenda Pública grafo anterior e os demais requisitos processuais civis, o
ajuizará ação própria. requerido será notificado para se manifestar por escrito
e, se quiser, apresentar documentos.
§ 3° No caso de a ação principal ter sido proposta pelo
Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto § 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trin-
no § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de ta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação,
1965. se convencido da inexistência do ato de improbidade,
Dispõe o art. 6°, §3° da Lei n° 4.717/65: “A pessoa jurí- da improcedência da ação ou da inadequação da via
dica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja eleita.
objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o § 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para
pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso apresentar contestação.
se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo Se o juiz se convencer com as informações da mani-
representante legal ou dirigente”. Significa que é possí- festação do requerido, rejeitará a ação; se não, receberá
vel inverter a legitimidade, sendo que a pessoa jurídica definitivamente a petição inicial e determinará a citação
inicia o processo como legitimado passivo, mas, como do réu para contestar a ação.
é invertido o interesse processual, passa para o polo ati-
vo. No entanto, como pessoa jurídica não figura como ré § 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá
de ação de improbidade administrativa, somente cabe a agravo de instrumento.
aplicação do dispositivo no sentido de autorizar que a Agravo de instrumento é o recurso interposto contra
pessoa jurídica reforce o pedido de reconhecimento de decisões que não colocam fim no processo.
improbidade e de aplicação de sanções ao lado do Mi-
nistério Público. § 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a ina-
dequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo processo sem julgamento do mérito.
como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da Durante o processo o juiz pode perceber que a ação
de improbidade administrativa não deveria ter sido acei-
lei, sob pena de nulidade.
ta, caso em que a extinguirá.
A atuação do Ministério Público nos processos judi-
ciais pode ser como parte, quando ajuizar a ação, e como
§ 12.  Aplica-se aos depoimentos ou inquirições rea-
fiscal da lei, quando outro legitimado o fizer. No caso,
lizadas nos processos regidos por esta Lei o disposto
como também a pessoa jurídica de direito público preju-
no art. 221, caput e § 1o, do Código de Processo Penal.
dicada pode ajuizar a ação, se o fizer, o Ministério Público
Estes dispositivos tratam da tomada de depoimentos
atuará como fiscal da lei, sob pena de nulidade.
de determinados agentes públicos.
§ 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do § 13. Para os efeitos deste artigo, também se consi-
juízo para todas as ações posteriormente intentadas dera pessoa jurídica interessada o ente tributante que
que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo figurar no polo ativo da obrigação tributária de que
objeto. tratam o § 4º do art. 3º e o art. 8º-A da Lei Comple-
Tornar o juízo prevento é assegurar que todas as mentar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela
ações que sejam propostas com mesma causa de pedir Lei Complementar nº 157, de 2016)
(fatos e fundamentos jurídicos) ou mesmo objeto sejam O §4º do artigo 3º mencionado foi vetado. Interpre-
julgadas pelo mesmo juízo. Será prevento o juízo em que tando o artigo 8º-A, entende-se ser legitimada para pro-
primeiro for proposta a ação. positura da ação a pessoa jurídica de direito público que
seria beneficiada pela alíquota que deveria ter sido reco-
§ 6o A ação será instruída com documentos ou justifi- lhida na esfera de seu município pois nele que o presta-
cação que contenham indícios suficientes da existên- dor se encontrava.
cia do ato de improbidade ou com razões fundamen-
tadas da impossibilidade de apresentação de qualquer Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil
dessas provas, observada a legislação vigente, inclusi- de reparação de dano ou decretar a perda dos bens
ve as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a
de Processo Civil. reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pes-
A ação de improbidade administrativa será instruída com soa jurídica prejudicada pelo ilícito.
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

provas do ato de improbidade administrativa praticado, ge- Na verdade, este dispositivo apenas lembra algumas
ralmente o processo administrativo que tramitou anterior- das sanções que poderão ser aplicadas na sentença da
mente. Todas estas provas serão explicadas, fundamentando ação de improbidade administrativa. Não significa que as
porque restou caracterizado o ato de improbidade. demais sanções previstas nesta lei não sejam aplicáveis.

§ 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz man- 9. Disposições penais


dará autuá-la e ordenará a notificação do requerido,
para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser Art. 19. Constitui crime a representação por ato de
instruída com documentos e justificações, dentro do improbidade contra agente público ou terceiro bene-
prazo de quinze dias. ficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.

23
Pena: detenção de seis a dez meses e multa. I - até cinco anos após o término do exercício de man-
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denuncian- dato, de cargo em comissão ou de função de confian-
te está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos ça;
materiais, morais ou à imagem que houver provocado. II - dentro do prazo prescricional previsto em lei espe-
A legislação pretende que as denúncias de atos de cífica para faltas disciplinares puníveis com demissão
improbidade administrativas sejam sérias e fundamen- a bem do serviço público, nos casos de exercício de
tadas, não levianas. O art. 19 introduz um tipo penal, ele cargo efetivo ou emprego.
não faz parte exatamente das outras penalidades da lei, Prescrição é um instituto que visa regular a perda do
por isso exatamente que está apartado das demais. direito de acionar judicialmente.
Este crime será denunciado e apurado perante um A ação de improbidade administrativa não poderá ser
juízo criminal, fora da ação de improbidade administra- proposta se:
tiva. O artigo 19 é um crime a ser denunciado em ação a) prescrição no caso de cargo provisório - passados
penal pública proposta pelo Ministério Público, único le- 5 anos após o término do exercício de mandato,
gitimado. cargo em comissão ou função de confiança pelo
Na verdade, ele não passa de uma forma específica da réu;
denunciação caluniosa do Código Penal (artigo 339, CP). b) prescrição no caso de cargo definitivo - dentro do
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos prazo prescricional previsto em lei específica para
direitos políticos só se efetivam com o trânsito em jul- faltas disciplinares puníveis com demissão a bem
gado da sentença condenatória. do serviço público (por exemplo, na esfera federal,
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administra- o prazo é de 5 anos a contar da data em que o fato
tiva competente poderá determinar o afastamento do se tornou conhecido).
agente público do exercício do cargo, emprego ou fun-
ção, sem prejuízo da remuneração, quando a medida
se fizer necessária à instrução processual. EXERCÍCIO COMENTADO
Não cabe, em regra, tomar medida cautelar para sus-
pender direitos políticos e determinar a perda da função
pública. O máximo que é possível, visando garantir a ins- 1. (AL-RO – ANALISTA LEGISLATIVO (PROCESSO LE-
trução processual, é afastar o agente público do exercício GISLATIVO) – FGV – 2018) Determinado gestor público,
do cargo sem prejuízo da remuneração enquanto tramita no exercício de suas funções, não obstante provocado
a ação de improbidade administrativa. pelo Ministério Público, deixou de cumprir a exigência de
requisitos de acessibilidade previstos na legislação. De
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei in- acordo com a Lei nº 8.429/92, em tese, o agente público:
depende:
a) não cometeu ato de improbidade administrativa, por
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio públi-
falta de tipicidade legal, mas está incurso em crime de
co, salvo quanto à pena de ressarcimento;
responsabilidade.
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão
b) não cometeu ato de improbidade administrativa, por
de controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de
falta de dano ao erário, mas está sujeito à punição na
Contas.
esfera disciplinar.
Não importa se o ato praticado pelo agente não cau-
c) não cometeu ato de improbidade administrativa, por
sou dano ao erário, tanto que existem os atos da catego-
falta de repercussão criminal da conduta, mas está su-
ria mais leve (artigo 11).
jeito à multa administrativa.
Também é irrelevante se o Tribunal de Contas apro- d) cometeu ato de improbidade administrativa e está su-
vou ou rejeitou as contas prestadas pelo agente, embora jeito, dentre outras, à perda da função pública e sus-
isto sirva de elemento de prova. pensão dos direitos políticos de três a cinco anos.
e) cometeu ato de improbidade administrativa e está su-
Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, jeito, dentre outras, à pena privativa de liberdade e
o Ministério Público, de ofício, a requerimento de au- pagamento de multa de até vinte salários mínimos.
toridade administrativa ou mediante representação
formulada de acordo com o disposto no art. 14, po- Resposta: Letra D.
derá requisitar a instauração de inquérito policial ou Em “a”, “b” e “c”, houve ato de improbidade adminis-
procedimento administrativo. trativa.
O Ministério Público poderá requisitar a instauração
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Em “d”, nos termos do artigo 11, IX, Lei nº 8.429/1992:


de inquérito policial ou procedimento administrativo de “Constitui ato de improbidade administrativa que
ofício, a pedido da autoridade administrativa ou median- atenta contra os princípios da administração pública
te representação. qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
10. Prescrição instituições, e notadamente: [...]
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as san- acessibilidade previstos na legislação”. Quanto às pe-
ções previstas nesta lei podem ser propostas: nalidades, disciplina o artigo 12, III, lei nº 8.429/1992:
“na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do

24
dano, se houver, perda da função pública, suspensão deve manifestar o interesse de fazer o acordo, com a
dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento obrigação de identificar os demais envolvidos na infra-
de multa civil de até cem vezes o valor da remunera- ção e ceder informações (provas) que comprovem o ilíci-
ção percebida pelo agente e proibição de contratar to. Além disso, a empresa deve reparar o dano financeiro
com o Poder Público ou receber benefícios ou incenti- ao Erário e se comprometer a implementar ou melhorar
vos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ain- mecanismos internos de integridade.
da que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja O acordo isentará ou atenuará a empresa nos casos
sócio majoritário, pelo prazo de três anos”. de multas e penas mais graves, como a proibição de con-
Em “e”, não se aplica pena privativa de liberdade, pois tratar com a Administração Pública (declaração de inido-
a natureza do ato de improbidade é civil, e a multa é neidade). As negociações devem acontecer num período
de 100 vezes a remuneração do agente (artigo 11, III, de 180 dias, prorrogáveis. Em caso de descumprimento
Lei nº 8.429/1992). há a perda dos benefícios acordados e a pessoa jurídica
ficará impedida de celebrar novo acordo pelo prazo de
três anos.
Os requisitos para o acordo são:
LEI Nº 12.846/2013 E SUAS ALTERAÇÕES. - Manifestar interesse em cooperar para a apuração
de ato lesivo específico, quando tal circunstância
for relevante;
“A Lei nº 12.846/2013, também conhecida como Lei - Cessar a prática da irregularidade investigada;
Anticorrupção, representa importante avanço ao prever - Cooperar com as investigações, em face de sua res-
a responsabilização objetiva, no âmbito civil e adminis- ponsabilidade objetiva, identificando os demais
trativo, de empresas que praticam atos lesivos contra a envolvidos na infração, quando couber;
administração pública nacional ou estrangeira. - Fornecer informações e documentos que compro-
Além de atender a compromissos internacionais as- vem a infração;
sumidos pelo Brasil, a lei fecha uma lacuna no ordena- - Se comprometer a implementar ou a melhorar os
mento jurídico do país ao tratar diretamente da condu- mecanismos internos de integridade (compliance),
ta dos corruptores. A Lei Anticorrupção prevê punições auditoria, incentivo às denúncias de irregularida-
como multa administrativa – de até 20% do faturamento des e à aplicação efetiva de código de ética e de
bruto da empresa – e o instrumento do acordo de leniên- conduta no âmbito organizacional.
cia, que permite o ressarcimento de danos de forma mais Os benefícios do acordo são:
célere, além da alavancagem investigativa. - Isenção da obrigatoriedade de publicar a decisão
O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral punitiva;
da União (CGU) é responsável grande parte dos proce- - Isenção da proibição de receber de órgãos ou enti-
dimentos como instauração e julgamento dos processos dades públicos (inclusive bancos) incentivos, subsí-
administrativos de responsabilização e celebração dos dios, empréstimos, subvenções, doações, etc;
acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo Fe- - Redução de até dois terços do valor da multa admi-
deral”44. nistrativa;
O inteiro teor da legislação está disponível no seguin- - Isenção ou atenuação da proibição de contratar
te link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- com a Administração Pública (declaração de inido-
2014/2013/lei/l12846.htm neidade).

Acordo de Leniência O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da


obrigação de reparar integralmente o dano causado”45.
“Compete à CGU celebrar acordos de leniência no
âmbito do Executivo Federal. Empresa deve ajudar a Processo Administrativo de Responsabilização
identificar os envolvidos na infração, reparar o dano fi-
nanceiro e se comprometer a implementar ou melhorar “A CGU tem competência concorrente para instaurar
mecanismos internos de integridade. e julgar o processo administrativo, além de competência
O acordo de leniência pode ser celebrado com as exclusiva para avocar e examinar sua regularidade.
pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos le- A apuração da responsabilidade administrativa de
sivos previstos na Lei Anticorrupção, e dos ilícitos admi- pessoa jurídica que possa resultar na aplicação das san-
nistrativos previstos na Lei de Licitações e Contratos, com ções previstas no art. 6o da Lei no 12.846, de 2013, será
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

vistas à isenção ou à atenuação das respectivas sanções, efetuada por meio de Processo Administrativo de Res-
desde que colaborem efetivamente com as investigações ponsabilização (PAR). Confira em tópicos, as principais
e o processo administrativo. informações do processo.
De acordo com a Lei Anticorrupção, compete ao Mi- Competência para instaurar e julgar o processo:
nistério da Transparência e Controladoria-Geral da União - Administração Direta - Ministro de Estado
(CGU) celebrar acordos de leniência no âmbito do Poder - Administração Indireta - Autoridade máxima da en-
Executivo Federal e nos casos de atos lesivos contra a tidade
administração pública estrangeira. Para isso, a empresa
44 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empre- 45 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empre-
sas/lei-anticorrupcao sas/lei-anticorrupcao/acordo-leniencia/acordo-de-leniencia

25
A CGU tem competência concorrente para instaurar dimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à
e julgar o processo administrativo, além de competên- denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de có-
cia exclusiva para avocar os processos instaurados para digos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica.
exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o anda- A Lei tem um parâmetro muito importante: a punição
mento, inclusive promovendo a aplicação da penalidade nunca será menor do que o valor da vantagem auferida
administrativa cabível. de forma ilícita pela empresa. Dessa forma, o decreto es-
Prazo: Conclusão do processo em 180 dias, prorro- pecifica o cálculo da multa a partir do resultado da soma
gáveis. e subtração de percentuais incidentes sobre o fatura-
Processo único que apura as violações da Lei Anticor- mento bruto da empresa.
rupção, a declaração de inidoneidade da Lei nº 8.666/93, O cálculo da multa se inicia com a soma dos valores
além de outras penalidades em normativos similares correspondentes aos seguintes percentuais do fatura-
(Regime Diferenciado de Contratações Públicas -RDC e mento bruto da pessoa jurídica do último exercício an-
Pregão). Eventual pedido de Reconsideração tem efeito terior ao da instauração do Processo Administrativo de
suspensivo sem recurso ao Presidente da República. Responsabilização (PAR), excluídos os tributos:
Sanções: Multa de 0,1% a 20% do faturamento bruto a) 1% (um por cento) a 2,5% (dois e meio por cento)
do exercício anterior ao PAR, excluídos os tributos, além havendo continuidade dos atos lesivos no tempo;
de publicação extraordinária da decisão administrativa b) 1% (um por cento) a 2,5% (dois e meio por cento)
para tolerância ou ciência de pessoas do corpo di-
sancionadora e proibição de contratação”46.
retivo ou gerencial da pessoa jurídica;
c) 1% (um por cento) a 4% (quatro por cento) no caso
Sanções e cálculo da multa
de interrupção no fornecimento de serviço público
ou na execução de obra contratada;
“A Lei Anticorrupção inova ao responsabilizar a pes- d) 1% (um por cento) para a situação econômica do
soa jurídica, que será alvo de processo administrativo e infrator com base na apresentação de índice de
civil para reparar danos relacionados à corrupção. Solvência Geral (SG) e de Liquidez Geral (LG) supe-
Essa responsabilidade das empresas é objetiva, isto é, riores a 1 (um) e de lucro líquido no último exercí-
a condenação independe da comprovação de culpa do cio anterior ao da ocorrência do ato lesivo;
agente que praticou o ato ou da própria pessoa jurídica. e) 5% (cinco por cento) no caso de reincidência, assim
Saiba mais sobre as penas que podem ser aplicadas, de definida a ocorrência de nova infração, idêntica ou
acordo com a esfera legal. não à anterior, tipificada como ato lesivo pelo art.
5º da Lei nº 12.846, de 2013, em menos de cinco
Esfera Administrativa: anos, contados da publicação do julgamento da
- Pena de multa de até 20% do faturamento bruto da infração anterior;
empresa, ou até 60 milhões de reais, quando não for pos-
sível calcular o faturamento bruto. As penas serão apli- No caso de os contratos mantidos ou pretendidos
cadas pelo órgão ou entidade que sofreu a lesão, e, no com o órgão ou entidade lesado serão considerados, na
caso de suborno transnacional, pela Controladoria-Geral data da prática do ato lesivo, os seguintes percentuais:
da União. a) 1% (um por cento) em contratos acima de R$
- Publicação extraordinária da decisão condenatória 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais);
em meios de grande circulação, a expensas da pes- b) 2% (dois por cento) em contratos acima de R$
soa jurídica. 10.000.000,00 (dez milhões de reais);
c) 3% (três por cento) em contratos acima de R$
Esfera Judicial: 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais);
- Perdimento de bens d) 4% (quatro por cento) em contratos acima de R$
- Suspensão de atividades e dissolução compulsória. 250.000.000,00 (duzentos e cinquenta milhões de
reais);
- Proibição de recebimento de incentivos, subsídios,
e) 5% (cinco por cento) em contratos acima de R$
subvenções, doações ou empréstimos de órgãos
1.000.000.000,00 (um bilhão de reais).
ou entidades públicas e de instituições financeiras
públicas ou controladas pelo poder público, por
Atenuantes: Do resultado da soma dos fatores de
prazo determinado. agravamento, serão subtraídos os valores corresponden-
tes aos seguintes percentuais do faturamento bruto da
A Lei estabelece, também, os critérios de gradação pessoa jurídica do último exercício anterior ao da instau-
da multa. Serão levados em consideração na aplicação
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

ração do PAR, excluídos os tributos:


da multa diversos critérios, por exemplo, gravidade da a) 1% (um por cento) no caso de não consumação da
infração, vantagem ilícita auferida ou pretendida pelo infração;
infrator, consumação ou não da infração, situação eco- b) 1,5% (um e meio por cento) no caso de compro-
nômica do infrator, cooperação da pessoa jurídica para a vação de ressarcimento pela pessoa jurídica dos
apuração das infrações (Acordo de Leniência), existência danos a que tenha dado causa;
de Programas de Compliance, com mecanismos e proce- c) 1% (um por cento) a 1,5% (um e meio por cento)
para o grau de colaboração da pessoa jurídica com
46 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empre- a investigação ou a apuração do ato lesivo, inde-
sas/lei-anticorrupcao/processo-administrativo-de-responsabiliza-
cao
pendentemente do acordo de leniência;

26
d) 2% (dois por cento) no caso de comunicação es-
pontânea pela pessoa jurídica antes da instauração LEI Nº 16.309/2018.
do PAR acerca da ocorrência do ato lesivo;
e) 1% (um por cento) a 4% (quatro por cento) para
comprovação de a pessoa jurídica possuir e aplicar Prezado candidato, levando em conta um possível
um programa de integridade, conforme os parâ- erro no edital, a lei indicada neste tópico diz respeito
metros estabelecidos no Capítulo IV”47. ao estado de Pernambuco, e pensando nisso selecio-
namos a lei equivalente ao estado do Pará.
#FicaDica
As principais inovações da Lei Anticorrup- Decreto Estadual nº 2.889/2018
ção são:
- Responsabilidade Objetiva: empresas A responsabilização administrativa e civil de pessoas
podem ser responsabilizadas em casos de jurídicas pela prática de atos contra a administração pú-
corrupção, independentemente da com- blica, nacional ou estrangeira, é parte essencial da ética
provação de culpa. na administração pública, promovendo o combate à cor-
- Penas mais rígidas: valor das multas pode rupção. Em 2013, foi promulgada a Lei nº 12.846/2013,
chegar até a 20% do faturamento bruto também conhecida como Lei Anticorrupção. A partir
anual da empresa, ou até 60 milhões de dela, diversos Estados brasileiros promulgaram leis e/
reais, quando não for possível calcular o ou decretos semelhantes no âmbito estadual, inclusive
faturamento bruto. Na esfera judicial, pode o Estado do Pará. Neste sentido, o Decreto Estadual nº
ser aplicada até mesmo a dissolução com- 2.289/2018. Antes de estudar alguns de seus pontos, vale
pulsória da pessoa jurídica. analisar a lei federal que ele regulamenta.
- Acordo de Leniência: Se uma empresa co- “A Lei nº 12.846/2013 [...] representa importante
operar com as investigações, ela pode con- avanço ao prever a responsabilização objetiva, no âm-
seguir uma redução das penalidades. bito civil e administrativo, de empresas que praticam
- Abrangência: Lei pode ser aplicada pela atos lesivos contra a administração pública nacional ou
União, estados e municípios e tem compe- estrangeira.
tência inclusive sobre as empresas brasileiras Além de atender a compromissos internacionais as-
atuando no exterior. sumidos pelo Brasil, a lei fecha uma lacuna no ordena-
mento jurídico do país ao tratar diretamente da condu-
ta dos corruptores. A Lei Anticorrupção prevê punições
como multa administrativa – de até 20% do faturamento
bruto da empresa – e o instrumento do acordo de leniên-
EXERCÍCIO COMENTADO cia, que permite o ressarcimento de danos de forma mais
célere, além da alavancagem investigativa.
1. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Conhecimen- O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da
tos Gerais - CESPE - 2018) A empresa e-Gráfica Ltda. ma- União (CGU) é responsável grande parte dos procedimen-
nifestou interesse em formalizar acordo de leniência com o tos como instauração e julgamento dos processos admi-
Ministério Público, comprometendo-se a entregar os docu- nistrativos de responsabilização e celebração dos acordos
mentos comprobatórios, no prazo de trinta dias, de prática de leniência no âmbito do Poder Executivo Federal”48.
de ato ilícito ocorrido durante licitação no estado X. O inteiro teor da legislação está disponível no seguin-
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subse- te link:
quente à luz da Lei nº 12.846/2013. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
Na situação descrita, o Ministério Público poderá des- 2014/2013/lei/l12846.htm
considerar, no acordo de leniência que vier a ser firmado,
o perigo de lesão e a vantagem pretendida pelo infrator, Acordo de Leniência
limitando-se a observar, no estabelecimento da sanção a
ser aplicada, a situação econômica do infrator e o valor “Compete à CGU celebrar acordos de leniência no
dos contratos mantidos com a entidade pública lesada. âmbito do Executivo Federal. Empresa deve ajudar a
identificar os envolvidos na infração, reparar o dano fi-
( ) CERTO ( ) ERRADO nanceiro e se comprometer a implementar ou melhorar
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

mecanismos internos de integridade.


Resposta: Errado. De acordo com a Lei nº 12.846/2013 O acordo de leniência pode ser celebrado com as
(Lei Anticorrupção), serão levados em consideração na pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos le-
aplicação das sanções, nos termos do artigo 7º, a van- sivos previstos na Lei Anticorrupção, e dos ilícitos admi-
tagem auferida ou pretendida pelo infrator e o grau nistrativos previstos na Lei de Licitações e Contratos, com
de lesão ou perigo de lesão, entre outros aspectos. vistas à isenção ou à atenuação das respectivas sanções,
Sendo assim, estes fatores não podem ser desconsi- desde que colaborem efetivamente com as investigações
derados pelo Ministério Público. e o processo administrativo.
47 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de- 48 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empre-
-empresas/lei-anticorrupcao/sancoes sas/lei-anticorrupcao

27
De acordo com a Lei Anticorrupção, compete ao Mi- Competência para instaurar e julgar o processo:
nistério da Transparência e Controladoria-Geral da União - Administração Direta - Ministro de Estado
(CGU) celebrar acordos de leniência no âmbito do Poder - Administração Indireta - Autoridade máxima da en-
Executivo Federal e nos casos de atos lesivos contra a tidade
administração pública estrangeira. Para isso, a empresa
deve manifestar o interesse de fazer o acordo, com a A CGU tem competência concorrente para instaurar
obrigação de identificar os demais envolvidos na infra- e julgar o processo administrativo, além de competên-
ção e ceder informações (provas) que comprovem o ilíci- cia exclusiva para avocar os processos instaurados para
to. Além disso, a empresa deve reparar o dano financeiro exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o anda-
ao Erário e se comprometer a implementar ou melhorar mento, inclusive promovendo a aplicação da penalidade
mecanismos internos de integridade. administrativa cabível.
O acordo isentará ou atenuará a empresa nos casos Prazo: Conclusão do processo em 180 dias, prorro-
de multas e penas mais graves, como a proibição de con- gáveis.
tratar com a Administração Pública (declaração de inido- Processo único que apura as violações da Lei Anticor-
neidade). As negociações devem acontecer num período rupção, a declaração de inidoneidade da Lei nº 8.666/93,
de 180 dias, prorrogáveis. Em caso de descumprimento além de outras penalidades em normativos similares
há a perda dos benefícios acordados e a pessoa jurídica (Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC e
ficará impedida de celebrar novo acordo pelo prazo de Pregão). Eventual pedido de Reconsideração tem efeito
três anos. suspensivo sem recurso ao Presidente da República.
Os requisitos para o acordo são: Sanções: Multa de 0,1% a 20% do faturamento bruto
- Manifestar interesse em cooperar para a apuração do exercício anterior ao PAR, excluídos os tributos, além
de ato lesivo específico, quando tal circunstância de publicação extraordinária da decisão administrativa
for relevante; sancionadora e proibição de contratação”50.
- Cessar a prática da irregularidade investigada;
- Cooperar com as investigações, em face de sua res- Sanções e cálculo da multa
ponsabilidade objetiva, identificando os demais
envolvidos na infração, quando couber; “A Lei Anticorrupção inova ao responsabilizar a pes-
- Fornecer informações e documentos que compro- soa jurídica, que será alvo de processo administrativo e
vem a infração; civil para reparar danos relacionados à corrupção.
- Se comprometer a implementar ou a melhorar os Essa responsabilidade das empresas é objetiva, isto é,
mecanismos internos de integridade (compliance), a condenação independe da comprovação de culpa do
auditoria, incentivo às denúncias de irregularida- agente que praticou o ato ou da própria pessoa jurídica.
des e à aplicação efetiva de código de ética e de Saiba mais sobre as penas que podem ser aplicadas, de
conduta no âmbito organizacional. acordo com a esfera legal.

Os benefícios do acordo são: Esfera Administrativa:


- Isenção da obrigatoriedade de publicar a decisão - Pena de multa de até 20% do faturamento bruto da
punitiva; empresa, ou até 60 milhões de reais, quando não
- Isenção da proibição de receber de órgãos ou enti- for possível calcular o faturamento bruto. As penas
dades públicos (inclusive bancos) incentivos, subsí- serão aplicadas pelo órgão ou entidade que sofreu
dios, empréstimos, subvenções, doações, etc; a lesão, e, no caso de suborno transnacional, pela
- Redução de até dois terços do valor da multa admi- Controladoria-Geral da União.
nistrativa; - Publicação extraordinária da decisão condenatória
- Isenção ou atenuação da proibição de contratar em meios de grande circulação, a expensas da pes-
com a Administração Pública (declaração de inido- soa jurídica.
neidade).
Esfera Judicial:
O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da - Perdimento de bens
obrigação de reparar integralmente o dano causado”49. - Suspensão de atividades e dissolução compulsória.
- Proibição de recebimento de incentivos, subsídios,
Processo Administrativo de Responsabilização subvenções, doações ou empréstimos de órgãos
ou entidades públicas e de instituições financeiras
“A CGU tem competência concorrente para instaurar públicas ou controladas pelo poder público, por
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

e julgar o processo administrativo, além de competência prazo determinado.


exclusiva para avocar e examinar sua regularidade.
A apuração da responsabilidade administrativa de
A Lei estabelece, também, os critérios de gradação
pessoa jurídica que possa resultar na aplicação das san-
da multa. Serão levados em consideração na aplicação
ções previstas no art. 6o da Lei nº 12.846, de 2013, será
da multa diversos critérios, por exemplo, gravidade da
efetuada por meio de Processo Administrativo de Res-
infração, vantagem ilícita auferida ou pretendida pelo
ponsabilização (PAR).
infrator, consumação ou não da infração, situação eco-
50 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empre-
49 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empre- sas/lei-anticorrupcao/processo-administrativo-de-responsabiliza-
sas/lei-anticorrupcao/acordo-leniencia/acordo-de-leniencia cao

28
nômica do infrator, cooperação da pessoa jurídica para a c) 1% (um por cento) a 1,5% (um e meio por cento)
apuração das infrações (Acordo de Leniência), existência para o grau de colaboração da pessoa jurídica com
de Programas de Compliance, com mecanismos e proce- a investigação ou a apuração do ato lesivo, inde-
dimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à pendentemente do acordo de leniência;
denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de có- d) 2% (dois por cento) no caso de comunicação es-
digos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica. pontânea pela pessoa jurídica antes da instauração
A Lei tem um parâmetro muito importante: a punição do PAR acerca da ocorrência do ato lesivo;
nunca será menor do que o valor da vantagem auferida e) 1% (um por cento) a 4% (quatro por cento) para
de forma ilícita pela empresa. Dessa forma, o decreto es- comprovação de a pessoa jurídica possuir e aplicar
pecifica o cálculo da multa a partir do resultado da soma um programa de integridade, conforme os parâ-
e subtração de percentuais incidentes sobre o fatura- metros estabelecidos no Capítulo IV”51.
mento bruto da empresa.
O cálculo da multa se inicia com a soma dos valores
correspondentes aos seguintes percentuais do fatura-
mento bruto da pessoa jurídica do último exercício an- #FicaDica
terior ao da instauração do Processo Administrativo de As principais inovações da Lei Anticorrup-
Responsabilização (PAR), excluídos os tributos: ção são:
a) 1% (um por cento) a 2,5% (dois e meio por cento) - Responsabilidade Objetiva: empresas
havendo continuidade dos atos lesivos no tempo; podem ser responsabilizadas em casos de
b) 1% (um por cento) a 2,5% (dois e meio por cento) corrupção, independentemente da com-
para tolerância ou ciência de pessoas do corpo di- provação de culpa.
retivo ou gerencial da pessoa jurídica; - Penas mais rígidas: valor das multas pode
c) 1% (um por cento) a 4% (quatro por cento) no caso chegar até a 20% do faturamento bruto
de interrupção no fornecimento de serviço público anual da empresa, ou até 60 milhões de
ou na execução de obra contratada; reais, quando não for possível calcular o
d) 1% (um por cento) para a situação econômica do faturamento bruto. Na esfera judicial, pode
infrator com base na apresentação de índice de ser aplicada até mesmo a dissolução com-
Solvência Geral (SG) e de Liquidez Geral (LG) supe- pulsória da pessoa jurídica.
riores a 1 (um) e de lucro líquido no último exercí- - Acordo de Leniência: Se uma empresa co-
cio anterior ao da ocorrência do ato lesivo; operar com as investigações, ela pode con-
e) 5% (cinco por cento) no caso de reincidência, assim seguir uma redução das penalidades.
definida a ocorrência de nova infração, idêntica ou - Abrangência: Lei pode ser aplicada pela
não à anterior, tipificada como ato lesivo pelo art. União, estados e municípios e tem compe-
5º da Lei nº 12.846, de 2013, em menos de cinco tência inclusive sobre as empresas brasilei-
anos, contados da publicação do julgamento da ras atuando no exterior.
infração anterior;

No caso de os contratos mantidos ou pretendidos


com o órgão ou entidade lesado serão considerados, na Interação entre a Lei Federal e o Decreto Estadual
data da prática do ato lesivo, os seguintes percentuais:
a) 1% (um por cento) em contratos acima de R$ Art. 1o, Parágrafo único, Decreto nº 2.289/2018. As
1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais); sanções previstas na Lei nº 8.666, de 21 de junho de
b) 2% (dois por cento) em contratos acima de R$ 1993 e/ou em outras normas de licitações e contratos
10.000.000,00 (dez milhões de reais); da Administração Pública Estadual, cujas respectivas
c) 3% (três por cento) em contratos acima de R$ infrações administrativas guardem subsunção com
50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais); os atos lesivos previstos na Lei Federal nº 12.846, de
d) 4% (quatro por cento) em contratos acima de R$ 1º de agosto de 2013, serão aplicadas conjuntamen-
250.000.000,00 (duzentos e cinquenta milhões de te, nos mesmos autos, observando-se o procedimen-
reais); to previsto neste Decreto, desde que ainda não tenha
e) 5% (cinco por cento) em contratos acima de R$ havido o devido sancionamento por outros órgãos da
1.000.000.000,00 (um bilhão de reais). Administração Pública.
Neste sentido, não se poderá ocorrer em bis in idem,
aplicando a punição na esfera federal e estadual pelo
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Atenuantes: Do resultado da soma dos fatores de


agravamento, serão subtraídos os valores corresponden- mesmo ato.
tes aos seguintes percentuais do faturamento bruto da A competência para aplicação da lei é da Autoridade
pessoa jurídica do último exercício anterior ao da instau- Máxima de cada Órgão ou Entidade Estadual ou da AGE,
ração do PAR, excluídos os tributos: que instaurarão o procedimento de investigação (artigos
a) 1% (um por cento) no caso de não consumação da 3o e 4o). São aceitos todos meios de provas (artigo 5o) e
infração; a investigação deverá ser concluída em 90 (noventa) dias
b) 1,5% (um e meio por cento) no caso de compro- (artigo 6o), elaborando-se relatório conclusivo (artigo 7o).
vação de ressarcimento pela pessoa jurídica dos
51 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empre-
danos a que tenha dado causa;
sas/lei-anticorrupcao/sancoes

29
Após tal relatório, será determinado se haverá ou não Na situação descrita, o Ministério Público poderá des-
abertura de processo administrativo de responsabiliza- considerar, no acordo de leniência que vier a ser firmado,
ção. o perigo de lesão e a vantagem pretendida pelo infrator,
limitando-se a observar, no estabelecimento da sanção a
ser aplicada, a situação econômica do infrator e o valor
#FicaDica dos contratos mantidos com a entidade pública lesada.
Nos termos do artigo 9o, no âmbito do Po-
der Executivo Estadual, a Autoridade Má- ( ) CERTO ( ) ERRADO
xima da Auditoria Geral do Estado (AGE),
Órgão Central do Sistema de Controle In- Resposta: Errado. De acordo com a Lei nº 12.846/2013
terno, tem competência concorrente com (Lei Anticorrupção), serão levados em consideração na
as Autoridades Máximas dos Órgãos ou aplicação das sanções, nos termos do artigo 7º, a van-
Entidades lesadas. tagem auferida ou pretendida pelo infrator e o grau
de lesão ou perigo de lesão, entre outros aspectos.
Sendo assim, estes fatores não podem ser desconsi-
O processo administrativo de responsabilização tra- derados pelo Ministério Público.
mitará perante Comissão composta por pelo menos 2
servidores estáveis, exercendo suas funções com inde-
pendência e imparcialidade, devendo ser concluído em
RESOLUÇÃO TJPA Nº 14/2016 (CÓDIGO DE
no máximo 180 dias (artigos 10 a 12). Serão produzidas
provas (artigos 13 a 16) e, tipificado o ato lesivo, será
ÉTICA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARÁ).
promovida a indiciação (artigo 17) e será elaborado o
relatório final da Comissão (artigo 19), tomando-se pro-
vidências de publicação e comunicação (artigos 20 a 24). RESOLUÇÃO TJPA Nº 14/2016 (CÓDIGO DE ÉTI-
É possível que, responsabilizando-se pessoa jurídica, CA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARÁ).
promova-se a desconsideração da personalidade, atin-
gindo o patrimônio dos sócios (artigo 25). A respeito dos motivos que ensejam a criação de um
As sanções aplicáveis às pessoas jurídicas são multa e Código de Ética, tem-se que “as relações de valor que
publicação extraordinária da decisão administrativa san- existem entre o ideal moral traçado e os diversos campos
cionadora (artigos 27 a 37). A responsabilização na esfera da conduta humana podem ser reunidas em um instru-
administrativa não exclui a da esfera judicial, conforme mento regulador. Tal conjunto racional, com o propósi-
artigos 38 a 41. to de estabelecer linhas ideais éticas, já é uma aplicação
Dos artigos 42 a 56 aborda-se o acordo de leniência, desta ciência que se consubstancia em uma peça magna,
em conteúdo semelhante ao da lei federal, conforme es- como se uma lei fosse entre partes pertencentes a grupa-
tudado acima. mentos sociais. Uma espécie de contrato de classe gera
Entre o artigo 57 e 61, disciplina-se o programa de o Código de Ética Profissional e os órgãos de fiscalização
integridade, que consiste, no âmbito de uma pessoa jurí- do exercício passam a controlar a execução de tal peça
dica, no conjunto de mecanismos e procedimentos inter- magna. Tudo deriva, pois, de critérios de condutas de um
nos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de indivíduo perante seu grupo e o todo social. O interesse
irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética no cumprimento do aludido código passa, entretanto, a
e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de de- ser de todos. O exercício de uma virtude obrigatória tor-
na-se exigível de cada profissional [...], mas com proveito
tectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilí-
geral. Cria-se a necessidade de uma mentalidade ética
citos praticados contra a Administração Pública Estadual.
e de uma educação pertinente que conduza à vontade
Ao fim, se encontram disposições finais, entre o arti-
de agir, de acordo com o estabelecido. Essa disciplina
go 62 e 70.
da atividade é antiga, já encontrada nas provas históricas
O inteiro teor da normativa pode ser acessado em:
mais remotas, e é uma tendência natural na vida das co-
https://www.sistemas.pa.gov.br/sisleis/
munidades. É inequívoco que o ser tenha sua individuali-
legislacao/4571
dade, sua forma de realizar seu trabalho, mas também o
é que uma norma comportamental deva reger a prática
profissional no que concerne a sua conduta, em relação
EXERCÍCIO COMENTADO a seus semelhantes” 52. Logo, embora se reconheça que o
indivíduo tem particularidades no desempenho de suas
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

funções, isto é, que emprega algo de sua personalida-


1. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Conheci- de no exercício delas, cabe o estabelecimento de um rol
mentos Gerais - CESPE - 2018) A empresa e-Gráfica de condutas padronizadas genericamente, as quais cor-
Ltda. manifestou interesse em formalizar acordo de le- respondem ao melhor desempenho profissional que se
niência com o Ministério Público, comprometendo-se a pode ter, um desempenho ético.
entregar os documentos comprobatórios, no prazo de “Para que um Código de Ética Profissional seja organi-
trinta dias, de prática de ato ilícito ocorrido durante lici- zado, é preciso, preliminarmente, que se trace a sua base
tação no estado X. filosófica. Tal base deve estribar-se nas virtudes exigíveis
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subse-
52 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
quente à luz da Lei nº 12.846/2013.
2010.

30
a serem respeitadas no exercício da profissão, e em geral § 2º No ato de posse do servidor deverá ser prestado
abrange as relações com os utentes dos serviços, os co- compromisso de cumprimento das normas de conduta
legas, a classe e a nação. As virtudes básicas são comuns ética contidas neste Código.
a todos os códigos. As virtudes específicas de cada pro-
fissão representam as variações entre os diversos estatu- Art. 3º As normas de conduta estabelecidas neste Có-
tos éticos. O zelo, por exemplo, é exigível em qualquer digo também se aplicam a todas e quaisquer pessoas
profissão, pois representa uma qualidade imprescindível que, mesmo pertencendo a outra instituição, prestem
a qualquer execução de trabalho, em qualquer lugar. O estágio ou desenvolvam quaisquer atividades junto ao
sigilo, todavia, deixa de ser necessário em profissões que TJPA de natureza permanente, temporária ou excep-
não lidam com confidências e resguardos de direitos” 53. cional, ainda que não remunerada.
Por exemplo, o servidor público tem o dever de zelo, ge- Parágrafo único. O presente Código integrará todos os
nérico, e o dever de sigilo, específico, já que tem acesso a contratos de estágio e de prestação de serviços de for-
informações privilegiadas no exercício do cargo. ma a assegurar o alinhamento de conduta entre todos
Devido ao conteúdo puramente normativo e de alta os colaboradores do Tribunal.
importância do Decreto, segue seu texto integral com
grifos: Art. 4º Cabe aos gestores, em todos os níveis, aplicar
e garantir que seus subordinados - servidores, estagi-
RESOLUÇÃO nº 14 de 1º de junho de 2016. ários e prestadores de serviço - apliquem os preceitos
estabelecidos neste Código, como um exemplo de con-
Institui o Código de Ética dos Servidores do Tribunal de duta a ser seguido.
Justiça do Estado do Pará.
O Tribunal de Justiça do Estado do Pará, no uso de CAPÍTULO II
suas atribuições legais, por deliberação de seus membros DOS OBJETIVOS
na 19ª Sessão Ordinária do Tribunal Pleno, realizada hoje,
CONSIDERANDO o poder regulamentador garantido Art. 5º O Código de Ética dos Servidores do TJPA tem
pela autonomia administrativa prevista no artigo 99 da o objetivo de:
Constituição da República e no artigo 148 da Constituição I - tornar explícitos os princípios éticos e as normas
Estadual; que regem a conduta dos servidores, fornecendo pa-
CONSIDERANDO que entre os princípios básicos râmetros para que a sociedade possa aferir a integri-
da Administração Pública estão a legalidade, a dade e a lisura das ações adotadas neste Tribunal para
impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência, cumprimento de seus objetivos institucionais;
conforme dispõe o caput do artigo 37, da Constituição da II - contribuir para transformar a Visão, a Missão, os
República; Objetivos e os Valores Institucionais do Tribunal em
CONSIDERANDO as disposições contidas no artigo 177, atitudes, comportamentos, regras de atuação e práti-
inciso VI, da Lei nº 5.810, de 24 de janeiro de 1994 (Regime cas organizacionais, orientados segundo elevado pa-
Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis do Estado do drão de conduta ético-profissional;
Pará), determinando ao servidor público estadual o dever III - reduzir a subjetividade das interpretações pessoais
de observância aos princípios éticos, morais, às leis e sobre os princípios e normas éticos adotados no Tribu-
regulamentos no exercício do cargo ou função; nal, facilitando a compatibilização dos valores indivi-
CONSIDERANDO que a disseminação de valores éticos duais de cada servidor com os valores da instituição;
e morais na conduta dos servidores são temas estratégicos IV - assegurar ao servidor a preservação de sua ima-
de pleno interesse e consecução do Poder Judiciário, gem e de sua reputação, quando sua conduta estiver
conforme disposto na Resolução nº 70 de 18 de março de de acordo com as normas éticas estabelecidas neste
2009, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Código;
RESOLVE: V - oferecer uma instância de consulta, por meio das
Corregedorias de Justiça, visando a esclarecer dúvidas
CAPÍTULO I acerca da conformidade da conduta do servidor com
DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS os princípios e normas tratados neste Código.

Art. 1º Instituir o Código de Ética dos Servidores do CAPÍTULO III


Tribunal de Justiça do Estado do Pará – TJPA. DOS PRINCÍPIOS E REGRAS DE CONDUTA ÉTICA

Art. 2º Este Código de Ética estabelece os princípios e Seção I


ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

normas de conduta ética aplicáveis aos servidores do Dos Princípios e Valores Fundamentais
TJPA, sem prejuízo da observância dos demais deveres
e proibições legais e regulamentares. Art. 6º São princípios e valores fundamentais a serem
§ 1º Para os fins de aplicação deste Código, considera- observados pelos servidores no exercício de cargo ou
-se servidor quem exerça cargo efetivo ou cargo co- função:
missionado neste Tribunal, inclusive como temporário, I - a supremacia do interesse público, a preservação
requisitado e cedido. e a defesa do patrimônio público, de acordo com as
normas da ética, da cidadania e da responsabilidade
53 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
social e ambiental;
2010.

31
II - a legalidade, a impessoalidade, a moralidade e a IV - tratar autoridades, colegas de trabalho, superio-
transparência; res, subordinados e demais pessoas com que se rela-
III - a honestidade, a dignidade, o respeito, o decoro cionar em função do trabalho, com cortesia e respeito,
e a boa-fé; inclusive quanto à condição e às limitações pessoais,
IV - o reconhecimento e o respeito à diversidade indi- sem qualquer espécie de preconceito ou distinção de
vidual e cultural; raça, sexo, nacionalidade, cor, idade, religião, cunho
V - a qualidade, a eficiência e a equidade dos serviços político e posição social;
públicos; V - levar imediatamente ao conhecimento da chefia
VI - a independência, a objetividade e a imparciali- competente todo e qualquer ato ou fato que seja con-
dade; trário ao interesse público, prejudicial a este Tribunal
VII - o sigilo profissional; ou à sua missão institucional, de que tenha tomado
VIII - a competência; e conhecimento em razão do cargo ou função;
IX - o desenvolvimento profissional. VI - resistir a pressões de superiores hierárquicos, de
Parágrafo único. Os atos, comportamentos e atitudes contratantes e de outros que visem a obter favores,
dos servidores serão pautados por avaliação de natu- benesses ou vantagens indevidas em decorrência de
reza ética, de modo a harmonizar as práticas pessoais ações imorais, ilegais ou aéticas, e denunciá-las;
com os valores institucionais. VII - evitar assumir posição de intransigência perante
a chefia ou colegas de trabalho, respeitando os posi-
Seção II cionamentos e as ideias divergentes, sem prejuízo de
Dos Direitos representar contra qualquer ato irregular;
VIII - não utilizar o cargo ou função em situações que
Art. 7º É direito de todos os servidores do TJPA: configurem abuso de poder ou práticas autoritárias;
I - trabalhar em ambiente saudável, que preserve sua IX - apresentar-se ao trabalho com vestimentas ade-
integridade física, moral, mental e psicológica; quadas ao exercício do cargo ou função, evitando o
II - ser tratado com equidade nos sistemas de avalia- uso de vestuário e adereços que comprometam a boa
ção, desempenho individual, remuneração, promoção apresentação pessoal, a imagem institucional e a neu-
e movimentação, bem como ter acesso às informações tralidade profissional;
a eles inerentes; X - conhecer e cumprir as normas legais, bem como as
III - participar das atividades de capacitação e treina- boas práticas formalmente descritas e recomendadas
mento necessárias ao desenvolvimento profissional; por autoridade competente do Tribunal, visando a de-
IV - estabelecer interlocução livre com colegas e supe- sempenhar suas responsabilidades com competência
riores, podendo expor ideias, pensamentos e opiniões na e obter elevados níveis de profissionalismo na realiza-
unidade judicial ou administrativa em que estiver lotado; ção dos trabalhos;
V - ter respeitado o sigilo das informações de ordem XI - ser assíduo e pontual ao serviço;
pessoal, que somente a ele digam respeito, inclusive
XII - empenhar-se em seu desenvolvimento profissio-
médicas, ficando restritas ao próprio servidor e ao
nal, mantendo-se atualizado quanto à legislação, às
pessoal responsável pela guarda, manutenção e trata-
normas e instruções de serviço e aos novos métodos e
mento dessas informações;
às técnicas de trabalho aplicáveis à sua área de atu-
VI - obter das unidades administrativas e judiciais in-
ação;
formações precisas e corretas para o exercício regular
XIII – divulgar no ambiente de trabalho informações e
de direito, ressalvando-se aquelas amparadas pelo si-
conhecimentos obtidos em razão de treinamentos ou
gilo, nos termos da lei e regulamentos aplicáveis.
VII - receber, em situações jurídicas rigorosamente de exercício profissional e que possam contribuir para
idênticas, igualdade de tratamento com outros servi- a eficiência dos trabalhos realizados pelos demais ser-
dores, de acordo com as manifestações hodiernas e vidores;
reiteradas da autoridade administrativa máxima deste XIV - manter-se afastado de quaisquer atividades,
Tribunal. laborativas ou não, que reduzam ou denotem redu-
zir sua autonomia e independência profissional, bem
Seção III como sejam conflitantes, ou potencialmente conflitan-
Dos deveres tes, com suas responsabilidades funcionais;
XV - manter neutralidade político-partidária, religiosa
Art. 8º São deveres do servidor, sem prejuízo das de- e ideológica no exercício de suas atividades;
mais obrigações legais e regulamentares: XVI - apresentar prestação de contas sob sua respon-
sabilidade no prazo determinado, sempre que solici-
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

I - resguardar, em sua conduta pessoal, a integridade,


a honra e a dignidade de sua função pública, agindo tado;
em harmonia com os compromissos éticos assumidos XVII - facilitar a fiscalização de todos os atos ou servi-
neste Código e os valores institucionais; ços por quem de direito, prestando toda colaboração
II - desempenhar, com zelo e eficácia, as atribuições do ao seu alcance;
cargo ou função de que seja titular; XVIII - adotar atitudes e procedimentos objetivos e im-
III - proceder com honestidade, probidade, lealdade e parciais, em especial nas instruções e relatórios, que
retidão, escolhendo sempre, quando estiver diante de deverão ser tecnicamente fundamentados e baseados
mais de uma opção, a que melhor se coadune com a exclusivamente nas evidências obtidas e organizadas
ética e com o interesse público; de acordo com as normas do Tribunal;

32
XIX - declarar seu impedimento ou suspeição nas situ- vantagens indevidas em benefício próprio, de outrem,
ações que possam afetar o desempenho de suas fun- de grupos de interesses ou de entidades públicas ou
ções com independência e imparcialidade; privadas;
XX - manter sob sigilo dados e informações de na- X - utilizar servidor do Tribunal para atendimento a
tureza confidencial obtidos no exercício de suas ati- interesse particular;
vidades ou, ainda, de natureza pessoal de colegas e XI - manter sob subordinação hierárquica direta, em
subordinados que só a eles digam respeito, aos quais, cargo ou função de confiança, afim ou parente, até o
porventura, tenha acesso em decorrência do exercício terceiro grau, companheiro ou cônjuge;
profissional, informando à chefia imediata ou à au- XII - fazer ou extrair cópias de relatórios ou de quais-
toridade responsável quando tomar conhecimento de quer outros trabalhos ou documentos ainda não pu-
que assuntos sigilosos estejam ou venham a ser reve- blicados, pertencentes ao Tribunal, para utilização em
lados; fins estranhos aos seus objetivos ou à execução dos
XXI - informar à chefia imediata ou ao superior hie- trabalhos a seu encargo, sem prévia autorização da
rárquico, caso a chefia imediata esteja envolvida, a autoridade competente;
notificação ou a intimação para prestar depoimento XIII - divulgar ou facilitar a divulgação de informações
em juízo sobre atos ou fatos de que tenha tomado co- sigilosas obtidas em razão do cargo ou função e, ain-
nhecimento em razão do exercício das atribuições do da, de relatórios, instruções e informações de proces-
cargo que ocupa, com vistas ao exame do assunto; sos cujos objetos ainda não tenham sido apreciados,
XXII - desempenhar suas atividades com responsabi- sem prévia autorização da autoridade competente;
lidade social, privilegiando a adoção de práticas que XIV - publicar, sem prévia e expressa autorização,
favoreçam a inclusão social, bem como a sustentabi- estudos, pesquisas e pareceres realizados no desem-
lidade ambiental, combatendo o desperdício de recur- penho de suas atividades no cargo ou função cujos
sos materiais e evitando danos ao meio ambiente. objetos ainda não tenham sido apreciados;
Parágrafo único. A publicidade dos atos judiciais e ad- XV - alterar ou deturpar, por qualquer forma, o exato
ministrativos constitui requisito de eficácia e morali- teor de documentos, informações, citação de obra, lei
dade, e sua omissão dolosa enseja comprometimento
ou decisão administrativa ou judicial;
ético, salvo quando o sigilo for previsto em lei.
XVI - solicitar, sugerir, provocar ou receber, para si ou
para outrem, qualquer tipo de ajuda financeira, gra-
Seção IV
tificação, prêmio, comissão, doação, presentes, vanta-
Das vedações
gem econômica, financeira ou de qualquer natureza,
Art. 9º É vedado ao servidor, sem prejuízo das demais de pessoa física ou jurídica;
obrigações legais e regulamentares: XVII - solicitar, sugerir, provocar ou receber, para si ou
I - praticar qualquer ato que atente contra a honra e a para outrem, mesmo em ocasiões de festividade, qual-
dignidade de sua função pública, os compromissos éti- quer tipo de transporte, hospedagem ou favores parti-
cos assumidos neste Código e os valores institucionais; culares, de forma a permitir situação que possa gerar
II - exercer a advocacia ou atuar como procurador no dúvida sobre a sua probidade ou honorabilidade;
exercício do cargo ou função, de forma direta ou me- XVIII - usar de artifícios para procrastinar ou dificultar
diante a prestação de auxílio, em defesa de interesse o exercício de direito por qualquer pessoa;
alheio de qualquer espécie, exceto nos casos previstos XIX - ausentar-se injustificadamente de seu local de
em lei e regulamentos aplicáveis; trabalho ou sem autorização do superior hierárquico;
III - adotar qualquer conduta que interfira no desem- XX - apresentar-se embriagado ou sob efeito de quais-
penho do trabalho ou que crie ambiente hostil, ofen- quer drogas ilegais no ambiente de trabalho;
sivo ou com intimidação, tal como ações tendenciosas XXI - receber salário ou qualquer outra remuneração
geradas por simpatias, antipatias ou interesses de or- de fonte vedada ou ilegal;
dem pessoal; XXII - cooperar com qualquer organização ou insti-
IV - cometer ou permitir assédio sexual ou moral; tuição que atente contra a moral, a honestidade ou a
V - opinar publicamente a respeito da honorabilidade dignidade da pessoa;
e do desempenho funcional de outro servidor ou ma- XXIII - exercer atividade incompatível com o afasta-
gistrado do TJPA; mento concedido pelo Tribunal;
VI - atribuir a outrem erro próprio ou dificultar sua XXIV - utilizar sistemas e canais de comunicação do
apuração; TJPA para a propagação e divulgação de trotes, bo-
VII - apresentar como de sua autoria ideias ou traba- atos, pornografia, propaganda comercial, político-
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

lhos de outrem;
-partidária, atividade terrorista, incitação à violência
VIII - discriminar colegas de trabalho, superiores, su-
ou consumo de substância entorpecente, e qualquer
bordinados e demais pessoas com quem se relacionar
forma de discriminação;
em função do trabalho, em razão de preconceito ou
XXV - manifestar-se em nome do Tribunal quando
distinção de raça, sexo, orientação sexual, nacionali-
dade, cor, idade, religião, tendência política, posição não autorizado e habilitado para tal;
social ou quaisquer outras formas de discriminação; XXVI - deixar, injustificadamente, qualquer pessoa à
IX - fazer uso do cargo ou da função, bem como de espera de solução na unidade em que exerça suas fun-
informações privilegiadas obtidas em razão do cargo ções, permitindo a formação de longas filas ou outra
ou função, para obter quaisquer favores, benesses ou espécie de atraso na prestação do serviço;

33
§ 1º Não se incluem nas vedações deste artigo, os brin- quem detiver igual direito perante o órgão ou entida-
des que não tenham valor comercial e os distribuídos de originariamente encarregado da sua guarda.
por pessoas ou entidades de qualquer natureza a títu-
lo de cortesia, propaganda, divulgação habitual ou por Art. 13. A violação das normas estipuladas neste Có-
ocasião de eventos especiais ou datas comemorativas. digo acarretará as sanções previstas na Lei nº 5.810,
§ 2º Os presentes que, por alguma razão, não possam de 24 de janeiro de 1994 (Regime Jurídico Único dos
ser recusados ou devolvidos sem ônus para o servidor Servidores Públicos Civis do Estado do Pará), podendo
ou para a Administração Pública serão doados a en- cumular-se, se couber, com outra penalidade discipli-
tidades de caráter filantrópico ou setores do Tribunal nar, quando a infração for assim capitulada pela le-
que tratem de aspectos históricos ou culturais, a crité- gislação própria.
rio da Presidência. § 1º As penalidades aplicadas deverão ser expressas e
anotadas na ficha funcional do servidor para todos os
Seção V efeitos legais.
Das Situações de Impedimento e Suspeição § 2º É vedada a expedição de certidão da penalidade
aplicada, salvo quando requerida pelo próprio interes-
Art. 10. O servidor deverá declarar seu impedimento
sado ou, devidamente justificada, por autoridade pú-
ou suspeição nas situações que possam afetar o de-
blica para instrução de processo.
sempenho de suas funções com independência impar-
§ 3º Se a Comissão Disciplinar Permanente, ou quem
cialidade, especialmente nas seguintes hipóteses:
I - participar de instrução de processo ou que esteja for delegado pelas Corregedorias de Justiça concluir,
litigando judicial, ou administrativamente: durante a apuração dos fatos, que não houve descum-
a) de interesse próprio, de cônjuge ou companheiro, primento aos preceitos deste Código, recomendará,
de parente consanguíneo ou afim, em linha reta ou em seu relatório, arquivamento do procedimento ad-
colateral, até terceiro grau; ministrativo.
b) em relação ao qual haja amizade íntima ou inimi-
zade notória com algum dos interessados ou com os CAPÍTULO V
respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
até o terceiro grau;
c) que envolva órgão ou entidade com quem tenha Art. 14. Compete às Corregedorias de Justiça promo-
mantido vínculo profissional nos últimos dois anos, ver permanente aplicação, orientação, revisão e pro-
ressalvada, neste último caso, atuação consultiva; por atualização do presente Código.
d) que tenha funcionado ou venha a funcionar como
advogado, perito, testemunha, representante ou servi- Art. 15. Os casos não previstos neste Código serão de-
dor do sistema de controle interno, ou se tais situações cididos pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Esta-
ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente do do Pará.
e afins até o terceiro grau;
Art. 16. Este Código de Ética integrará o conteúdo pro-
CAPÍTULO IV gramático de edital de concurso público para provi-
DOS PROCEDIMENTOS APURATÓRIOS mento de cargos neste Poder Judiciário.
Art. 11. A autoridade que tiver ciência de irregulari- Art. 17. Esta Resolução entra em vigor na data de sua
dade no serviço público é obrigada a promover a sua publicação.
apuração imediata, mediante sindicância ou processo
administrativo disciplinar, no âmbito de suas atribui-
Plenário Desembargador “Oswaldo Pojucan Tavares”,
ções, diretamente ou por delegação, nos termos da lei
ao 1º dia do mês de junho de 2016.
e regulamentos aplicáveis, em razão do descumpri-
mento ao previsto neste Código de Ética.

Art. 12. Os fatos que configurem infrações aos dispo- EXERCÍCIO COMENTADO
sitivos deste Código serão apurados por meio de Sin-
dicância e/ou Processo Administrativo Disciplinar, pela
Comissão Disciplinar Permanente ou por quem for de- 1. (CESPE/2015 - MPU - Técnico do MPU - Segurança
legado pelas Corregedorias de Justiça, respeitando-se, Institucional e Transporte) Acerca de ética deontológi-
sempre, as garantias do contraditório e da ampla defesa. ca e de ética e democracia, julgue o próximo item.
Ser honesto e verdadeiro e cumprir promessas são con-
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

§ 1º Os procedimentos instaurados para apuração de


prática em desrespeito às normas éticas são sigilosos, siderados princípios éticos.
mantendo-se a chancela de “reservado”, até que esteja
concluído. ( ) CERTO ( ) ERRADO
§ 2º A instrução processual deverá seguir, além dos
princípios do contraditório e da ampla defesa, os ritos Resposta: Certo. Não pode ser considerada conduta
previstos em lei e regulamentos aplicáveis. ética ser desonesto e mentir, ou então deixar de cum-
§ 3° Na hipótese de os autos estarem instruídos com prir promessas feitas licitamente. Assim, honestidade
documentos acobertados por sigilo legal, o acesso e seriedade são primados éticos que devem ser cum-
a esse tipo de documento somente será permitido a pridos no exercício da função pública.

34
7. (FUB – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE – 2016)
Com relação à ética no setor público, julgue o item sub-
HORA DE PRATICAR! secutivo.
Não são considerados servidores públicos, para fins de
1. (ANVISA – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE – apuração de comportamento ético pela Comissão de Éti-
2016) Acerca da ética no serviço público, julgue o item ca, aqueles que prestem serviços de natureza excepcio-
a seguir. nal à administração, com ou sem remuneração.
Por ser o Brasil um Estado democrático de direito, princí-
pios éticos não podem ser utilizados como instrumento ( ) CERTO ( ) ERRADO
de interpretação da CF e das leis.
8. (FUB – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE – 2016)
( ) CERTO ( ) ERRADO Com relação à ética no setor público, julgue o item sub-
secutivo.
2. (ANVISA – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE – O servidor não poderá omitir a verdade, ainda que possa
2016) Acerca da ética no serviço público, julgue o item contrariar interesses de pessoa interessada ou da admi-
a seguir. nistração pública.
O princípio da moralidade expresso na CF é reflexo da
ciência da ética, na medida em que esta trata de uma ( ) CERTO ( ) ERRADO
dimensão geral daquilo que é bom.
9. (FUB – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE – 2016)
( ) CERTO ( ) ERRADO Eduardo, servidor público em estágio probatório, fre-
quentemente se ausentava de seu local de trabalho sem
3. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE justificativa e, quando voltava, se apresentava nitidamen-
– 2018) Julgue o seguinte item, a respeito da ética no te embriagado. Em razão desses fatos, a comissão de éti-
serviço público. ca, tendo apreciado a conduta do servidor, decidiu apli-
O uso do cargo ou função pública para obter favoreci- car a ele a penalidade de advertência. Eduardo foi, então,
mento, desde que não haja prejuízo a outrem, não cons- reprovado no estágio probatório e, por isso, foi demitido,
titui afronta à ética e à moral do serviço público. sem que a administração pública tenha observado o con-
traditório e a ampla defesa.
( ) CERTO ( ) ERRADO Considerando essa situação hipotética, julgue o item a
seguir.
4. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE A penalidade de advertência aplicada pela comissão de
– 2018) Julgue o seguinte item, a respeito da ética no ética encontra-se prevista no Código de Ética Profissional
serviço público. do Servidor Público.
Apesar de a função pública ser tida como exercício pro-
fissional, ela não se integra à vida particular do indivíduo ( ) CERTO ( ) ERRADO
e, portanto, os atos praticados em sua vida privada não
poderão acrescer ou diminuir o seu conceito na vida fun- 10. (FUB – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE –
cional. 2016) Eduardo, servidor público em estágio probatório,
frequentemente se ausentava de seu local de trabalho
( ) CERTO ( ) ERRADO sem justificativa e, quando voltava, se apresentava niti-
damente embriagado. Em razão desses fatos, a comissão
5. (SUFRAMA – NÍVEL SUPERIOR – CESPE – 2014) Jul- de ética, tendo apreciado a conduta do servidor, decidiu
gue o item a seguir, acerca da organização político-ad- aplicar a ele a penalidade de advertência. Eduardo foi,
ministrativa do Estado, da administração pública e dos então, reprovado no estágio probatório e, por isso, foi
servidores públicos. demitido, sem que a administração pública tenha obser-
Em decorrência da regra constitucional que prevê o tra- vado o contraditório e a ampla defesa.
tamento isonômico e segundo a qual todos são iguais Considerando essa situação hipotética, julgue o item a
perante a lei, a administração pública deve atuar sem fa- seguir.
voritismo ou perseguição e tratar todos de modo igual, A conduta de Eduardo – que se ausentava do trabalho e,
sem fazer qualquer tipo de discriminação. quando comparecia, estava embriagado – violou deveres
e vedações impostas ao servidor público pelo Código de
( ) CERTO ( ) ERRADO
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Ética Profissional do Servidor Público.

6. (FUB – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE – 2016) ( ) CERTO ( ) ERRADO


Com relação à ética no setor público, julgue o item sub-
secutivo.
É dever fundamental do servidor comunicar a seus supe-
riores ato ou fato contrário ao interesse público.

( ) CERTO ( ) ERRADO

35
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 Errado ________________________________________________
2 Certo _________________________________________________
3 Errado _________________________________________________
4 Errado
_________________________________________________
5 Errado
6 Certo _________________________________________________
7 Errado _________________________________________________
8 Certo _________________________________________________
9 Errado
_________________________________________________
10 Certo
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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

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ÍNDICE

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Comportamento organizacional. Teorias da motivação. Motivação e recompensas intrínsecas e extrínsecas.


Motivação e contrato psicológico. Percepção, atitudes e diferenças individuais. Comunicação interpessoal.
Barreiras à comunicação. Comunicação formal e informal na organização. Comportamento grupal e
intergrupal. Processo de desenvolvimento de grupos. Administração de conflitos. Liderança e poder. Teorias da
liderança. Gestão de equipes. Gestão participativa. Desempenho e suporte organizacional. Desenvolvimento
organizacional. Qualidade de vida no trabalho. Clima organizacional. Cultura organizacional. Modelos de
gestão de pessoas........................................................................................................................................................................................ 01
Empreendedorismo governamental e novas lideranças no setor público. Processos participativos de gestão
pública. Conselhos de gestão, orçamento participativo, parceria entre governo e sociedade.......................................... 62
Transparência da administração pública. Controle social e cidadania. Accountability. Excelência nos serviços
públicos. Gestão por resultados na produção de serviços públicos....................................................................................... 95
Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais....................................................................................... 124
Governabilidade e governança. Intermediação de interesses (clientelismo, corporativismo e neocorporativismo). 125
O ciclo do planejamento em organizações (PDCA)......................................................................................................................... 133
Balanced Scorecard (BSC). Principais conceitos, aplicações, mapa estratégico, perspectivas, temas estratégicos,
objetivos estratégicos, relações de causa e efeito, indicadores, metas, iniciativas estratégicas....................................... 134
Referencial estratégico das organizações. Análise de ambiente interno e externo. Ferramentas de análise de
ambiente. Análise swot, análise de cenários, matriz GUT. Negócio, missão, visão de futuro, valores......................... 145
Indicadores de desempenho. Tipos de indicadores. Variáveis componentes dos indicadores....................................... 149
Estratégia Nacional do Poder Judiciário para o período de 2 de 2015 a 2020, estabelecida pela Resolução CNJ
nº 198/2014. Missão, visão e valores do Poder Judiciário. Os macrodesafios do Poder Judiciário aplicáveis a
Justiça Estadual. Metas nacionais. Definição e correlação com os macrodesafios do Poder Judiciário..................... 155
Planejamento estratégico do Poder Judiciário do Estado do Pará para o período de 2015 a 2020, revisada pela
Resolução TJPA nº 25/2018. Missão, visão, valores e macrodesafios do Tribunal de Justiça do Estado do Pará.... 170
Índice de Eficiência Judiciária do Poder Judiciário do Estado do Pará previsto na Portaria nº 2005/2019.
Definição, objetivo e indicadores............................................................................................................................................................ 174
COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL. TEORIAS DA MOTIVAÇÃO. MOTIVAÇÃO E
RECOMPENSAS INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS. MOTIVAÇÃO E CONTRATO PSICOLÓGICO.
PERCEPÇÃO, ATITUDES E DIFERENÇAS INDIVIDUAIS. COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL.
BARREIRAS À COMUNICAÇÃO. COMUNICAÇÃO FORMAL E INFORMAL NA ORGANIZAÇÃO.
COMPORTAMENTO GRUPAL E INTERGRUPAL. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
DE GRUPOS. ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS. LIDERANÇA E PODER. TEORIAS DA
LIDERANÇA. GESTÃO DE EQUIPES. GESTÃO PARTICIPATIVA. DESEMPENHO E SUPORTE
ORGANIZACIONAL. DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL. QUALIDADE DE VIDA NO
TRABALHO. CLIMA ORGANIZACIONAL. CULTURA ORGANIZACIONAL. MODELOS DE
GESTÃO DE PESSOAS.

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

Comportamento Organizacional “é um campo de estudo que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a es-
trutura têm sobre o comportamento dentro das organizações com o propósito de aplicar este conhecimento em prol
do aprimoramento da eficácia de uma organização”.
Tem por finalidade compreender os “espaços vazios” da organização de forma que estes não prejudiquem o desen-
volvimento da organização, possibilitando, assim, reter talentos, evitar o turnover e promover engajamento e harmonia
entre os stakeholders.
Ter uma compreensão quanto ao comportamento organizacional é extremamente importante para que as lideran-
ças possam prever, e especialmente evitar, problemas individuais ou coletivos entre os colaboradores.
O comportamento organizacional refere-se a comportamentos relacionados a cargos, trabalho, absenteísmo, rota-
tividade no emprego, produtividade, desempenho humano e gerenciamento.
Refere-se ainda à motivação, liderança, poder, comunicação interpessoal, estrutura e processos de grupo, aprendi-
zagem, desenvolvimento e percepção de atitude, processo de mudanças, conflitos.
Considerando que, diferentemente das organizações, que possuem uma certa formalidade em sua essência, as pes-
soas são mais complexas, mais influenciáveis por variáveis diversas e, muitas vezes, são pouco previsíveis.
Ao apresentar aos funcionários os ritos, crenças, valores, rituais, normas, rotinas e tabus da organização, o que
se pretende é buscar a sua identificação com os padrões a serem seguidos na empresa. Dessa forma, se fornece um
senso de direção para todas as pessoas que compartilham desse meio. As definições do que é desejável e indesejável
são introjetadas pelos indivíduos atuantes no sistema, orientando suas ações nas diversas interações que executam no
cotidiano.
Reconhecer os significados e a própria razão de ser da empresa, bem como se familiarizar com as percepções
e comportamentos mais aceitos e valorizados na organização, conduz os funcionários a uma uniformidade de
atitudes, o que é positivo no sentido de possibilitar maior coesão. No entanto, pode levar a uma perda de indivi-
dualidade, pois o comportamento dos indivíduos passa a ser uma extensão do grupo, muitas vezes se estendendo
para ambientes externos da organização, quando passam a adotar comportamentos padronizados nas mais diversas
situações.
Entre os Níveis de Estudos dos Comportamentos Organizacionais, destacamos:
• Nível Individual – Estuda as expectativas, motivações, habilidades e competências que cada colaborador demonstra
individualmente por meio de seu trabalho.
• Nível Grupal – Estuda a formação das equipes, dos grupos, as funções desempenhadas por estes e a comunicação
e interação uns com os outros, além de estudar a influência e o poder do líder neste contexto.
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Ao ingressar em uma organização, indivíduos com características diversas se unem para atuar dentro de um mesmo
sistema sociocultural na busca de objetivos determinados. Essa união provoca um compartilhamento de crenças, va-
lores, hábitos, entre outros, que irão orientar suas ações dentro de um contexto preexistente, definindo assim as suas
identidades.
Segundo Dupuis (1996), são os indivíduos que, por meio de suas ações, contribuem para a construção de sua socie-
dade. Entretanto, os indivíduos agem sempre dentro de contextos que lhes são preexistentes e orientam o sentido de
suas ações. A construção do mundo social é assim mais a reprodução e a transformação do mundo existente do que
sua reconstrução total. Para Berger e Luckmann (1983), a vida cotidiana apresenta-se para os homens como realidade
ordenada. Os fenômenos estão pré-arranjados em padrões que parecem ser independentes da apreensão que cada
pessoa faz deles, individualmente.
Dentro dessa perspectiva, a ação humana, em nível do indivíduo e do grupo, mediada pelos processos cognitivos,
e interdependente do contexto, varia conforme a inserção ambiental e o tipo de organização, tanto quanto também
varia internamente em suas subunidades. É importante salientar que o universo simbólico integra um conjunto de sig-
nificados, atribuindo-lhes consistência, justificativa e legitimidade. Em outras palavras, o universo simbólico possibilita
aos membros integrantes de um grupo uma forma consensual de apreender a realidade, integrando os significados e
viabilizando a comunicação.

1
É por meio desse compartilhar da realidade que as • Agressividade: o grau em que as pessoas são com-
identidades dos indivíduos nas organizações são cons- petitivas e agressivas em vez de dóceis e acomo-
truídas, ao se comunicar aos membros, de forma tan- dadas.
gível, um conjunto de normas, valores e concepções • Estabilidade: o grau em que as atividades organi-
que são tidas como certas no contexto organizacional. zacionais enfatizam a manutenção do status quo
Ao definir a identidade social dos indivíduos, o que se em contraste com o crescimento.
pretende é garantir a produtividade, pela harmonia e
manutenção do que foi aprendido na convivência. É TIPOS DE CULTURA
importante ressaltar que muitas vezes essas identida-
des precisam ser reconstruídas quando a empresa se vê • Culturas adaptativas: caracterizam-se pela sua
diante de situações que exigem mudanças. maleabilidade e flexibilidade e são voltadas para
 Daí vem o papel principal da análise do comporta- a inovação e a mudança. São organizações que
mento organizacional, que é o de permitir fazer uma lei- adotam e fazem constantes revisões e atualiza-
tura da dinâmica existente na organização e como essa ções, suas culturas adaptativas evidenciam-se
interfere e influencia o comportamento das pessoas en- pela criatividade, inovação e mudanças. De um
volvidas. lado, a necessidade de mudança e a adaptação
Considerando que nas relações entre indivíduo e or- para garantir a atualização e modernização; e de
ganização existe uma troca de interesses, de conteúdo, outro, a necessidade de estabilidade e perma-
de aporte, entre tantos outros aspectos, gerir essa troca nência para garantir a identidade da organização.
é papel da área de gestão de pessoa, que garante que, O Japão, por exemplo, é um país que convive com
nessa troca, ambas as partes fiquem satisfeitas. tradições milenares ao mesmo tempo em que cul-
tua e incentiva a mudança e a inovação constantes.
CULTURA ORGANIZACIONAL • Culturas conservadoras: caracterizam-se pela ma-
nutenção de ideias, valores, costumes e tradições
A  cultura organizacional  tem por finalidade concei- que permanecem arraigados e que não mudam ao
tuar os valores e as crenças de uma organização, geran- longo do tempo. São organizações conservadoras
do um entendimento consciente e coletivo sobre a mais
que se mantêm inalteradas como se nada tivesse
indicada e adequada forma de se comportar dentro da
mudado no mundo ao seu redor.
organização. Assim como também gera um ajuste quase
• Culturas fortes: seus valores são compartilhados
que automático na interação entre os indivíduos, ressal-
intensamente pela maioria dos funcionários e in-
tando-se que não necessariamente essa cultura esteja
fluenciam comportamentos e expectativas.
formalmente instituída, pois, em alguns casos, esses va-
• Culturas fracas: são culturas mais facilmente mu-
lores são compartilhados entre as pessoas, habitualmen-
dadas. Como exemplo, uma empresa pequena e
te, sem que haja um regra formal que a leve a agir dessa
forma. jovem, a qual, por estar no início, torna mais fácil
Entre os benefícios que a cultura organizacional pode para a administração comunicar os novos valores.
trazer à organização, podemos citar: Isso explica a dificuldade que as grandes corpora-
• Vantagem competitiva derivada de inovação e ser- ções têm para mudar sua cultura.
viço ao cliente;
• Maior desempenho dos empregados; 1. Componentes da cultura
• Coesão da equipe;
• Alto nível de alinhamento na busca da realização A cultura representa a maneira como a organização
de objetivos. visualiza a si própria e seu ambiente. Seus principais
componentes são os artefatos, valores compartilhados e
A cultura organizacional tem como base algumas ca- pressuposições básicas.
racterísticas básicas que, em conjunto, capturam a essên- Vejamos os níveis dos componentes da Cultura Or-
cia de uma organização:  ganizacional de acordo com o nível de superficialidade,
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• Inovação e assunção de riscos: o grau em que os sendo do mais superficial ao mais profundo.
funcionários são estimulados a inovar e assumir • Artefatos: o mais superficial, visível e perceptível. 
riscos. • Padrões de comportamento: as regras que criam
• Atenção aos detalhes: o grau em que se espera um comportamento linear e padronizado
que os funcionários demonstrem precisão, análise • Valores compartilhados: não são visíveis, estão
e atenção aos detalhes. enraizados nas pessoas, pois esses valores têm re-
• Orientação para os resultados: o grau em que os levância tal que definem as razões pelas quais as
dirigentes focam mais os resultados do que as téc- pessoas fazem ou deixam de fazer algo.
nicas e os processos empregados para seu alcance. • Pressuposições básicas: trata-se de crenças incons-
• Orientação para as pessoas: o grau em que as deci- cientes, pressuposições e sentimentos básicos que
sões dos dirigentes levam em consideração o efeito regem o pensamento e o comportamento das pes-
dos resultados sobre as pessoas dentro da organiza- soas. Este é o nível mais profundo da cultura orga-
ção. nizacional.
• Orientação para as equipes: o grau em que as ati-
vidades de trabalho são mais organizadas em ter-
mos de equipes do que de indivíduos.

2
Diante do exposto, temos que a cultura organizacio- crenças. Essas diferenças culturais devem ser reconheci-
nal representa a compreensão que as pessoas envolvidas das como importantes nas organizações, pois mostram
na organização têm das características da cultura desta, a visão de cada um em relação ao ambiente de trabalho.
gerando uma sinergia que potencializa a boa convivência
interpessoal. O conceito de clima organizacional é muito abran-
gente e complexo, pois busca sintetizar numerosas per-
CLIMA ORGANIZACIONAL cepções, atitudes e sentimentos em um número limitado
de dimensões, numa tentativa de mensuração.
Segundo Chiavenato (1994), o clima organizacional
influencia a motivação, o desempenho humano e a sa- 1. Avaliação do clima organizacional
tisfação no trabalho. Ele cria certos tipos de expectativas
cujas consequências se seguem em decorrência de dife- A avaliação do clima organizacional é necessária a fim
rentes ações. As pessoas esperam certas recompensas, de que a organização tenha parâmetros para buscar me-
satisfações e frustrações na base de suas percepções do lhorias no ambiente interno corrigindo problemas que
clima organizacional. Essas expectativas tendem a con- possam estar causando insatisfação dos colaboradores e
duzir à motivação. prejudicando a tanto produtividade dos mesmos quan-
O clima organizacional pode ser visto, também, to os resultados da organização. O clima organizacional
como um conjunto de fatores que interferem na satis- reflete, também, a capacidade da empresa para atrair e
fação ou descontentamento no trabalho. Entende-se reter colaboradores competentes que contribuam com
por fatores de satisfação aqueles que demonstram os os resultados desejados (CAMPELLO; OLIVEIRA, 2004).
sentimentos mais positivos do colaborador em relação Daí a preocupação das empresas em avaliar o clima or-
ao trabalho, tais como: a realização, o reconhecimento, ganizacional.
o trabalho em si, a responsabilidade e o progresso. Por Os profissionais de recursos humanos juntamente
fatores de descontentamento, temos aqueles que con- com os líderes da organização devem sempre analisar
tribuem com uma conotação negativa, do ponto de vista o clima organizacional buscando todas as informações
do colaborador, tais como: as políticas, a administração, possíveis que possam estar influenciando no resultado
a supervisão, o salário e as condições de trabalho. dos colaboradores, tais como preocupações, insatisfa-
Quando existe um bom clima organizacional, a ten- ções, sugestões, dúvidas e inseguranças. Com base nes-
dência é que a satisfação das necessidades pessoais e sas informações, pode-se fazer um planejamento volta-
profissionais sejam realizadas, no entanto, quando o cli- do para a melhoria das condições de trabalho tendo em
ma é tenso, ocorre frustração dessas necessidades, pro- vista, além da satisfação do colaborador, o aumento da
vocando insegurança, desconfiança e descontentamento produtividade do mesmo.
entre os colaboradores. Avaliar o clima organizacional não compete apenas
Na opinião de Chiavenato (1994, p.53), “o clima or- aos profissionais de recursos humanos, mas sim a todas
ganizacional é favorável quando proporciona satisfação as pessoas engajadas no processo. Pode-se fazer essa
das necessidades pessoais dos participantes, produzindo constatação, pois pessoas que estão diretamente liga-
elevação do moral interno. É desfavorável quando pro- das às áreas ou setores a serem avaliados podem anali-
porciona frustração daquelas necessidades.” sar com uma margem mais segura como é e como pode
Clima organizacional pode ser definido também ser melhorado o desempenho dos colaboradores para o
como um conjunto de variáveis que busca identificar os cumprimento dos objetivos da organização.
aspectos que precisam ser melhorados, visando à satis- Muitas empresas fazem pesquisa de clima interno
fação e ao bem-estar dos colaboradores com o objetivo de levantar e atuar nos aspectos mais
Para Bennis (1996, p.6), “clima significa um conjunto significativos identificados na pesquisa, em que são de-
de valores ou atitudes que afetam a maneira pela qual finidas quatro frentes de ação para análise, descritas a
as pessoas se relacionam umas com as outras, tais como seguir:
sinceridade, padrões de autoridade, relações sociais, etc.” • Desempenho e avaliação: critérios claros de avalia-
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Clima organizacional é um conjunto de causas que ção dos funcionários;


interferem no ambiente de trabalho. As causas podem • Desenvolvimento de pessoas: recrutamento inter-
variar de acordo com os níveis culturais, de comunicação, no, treinamento mais alinhado às metas;
econômicos e psicológicos dos indivíduos. • Integração: forma de maior integração entre as pes-
Pode-se, ainda, definir clima organizacional como soas, áreas, unidades, com o propósito de maior
sendo uma visão fotográfica que retrata as percepções entrosamento e fortalecimento do banco como um
mais negativas ou positivas dos indivíduos, que pode ser todo;
afetada por fatores internos ou externos. • Processo decisório: tornar o processo decisório mais
O clima é em geral influenciado pela cultura da orga- ágil, deixando-o menos burocrático em alguns mo-
nização, embora alguns fatores como políticas organiza- mentos, facilitando decisões e realização de negó-
cionais, formas de gerenciamento, lideranças formais e cios.
informais, atuação da concorrência e influências gover-
namentais também possam alterá-lo. Esses itens mostram como um bom clima de trabalho
Pode-se também definir clima organizacional como influencia diretamente nos negócios e resultados de uma
um conjunto de valores, ou seja, aquilo que identifica os organização.
colaboradores como seres humanos, suas raças, culturas,

3
2. Clima organizacional, motivação e comprome- estilos gerenciais presentes na empresa. O clima interno
timento é o combustível para a melhora ou a piora dos resultados
do negócio. Hoje, as empresas querem e precisam olhar
De acordo com Davis & Newstrom (1998), o compor- de frente para essa relevante variável e atuar na gestão
tamento organizacional integra quatro elementos distin- do clima.
tos: pessoas, estrutura, tecnologia e ambiente. Isso en- A primeira etapa, após se conhecer a percepção das
volve conceitos fundamentais sobre a natureza das pes- pessoas, é a elaboração de uma pesquisa para se saber
soas e das organizações, ou seja, como os colaboradores em quais aspectos pode-se melhorar. A partir de então,
estão preparados para o desempenho de suas funções, criam-se ações em busca de um ambiente melhor e com
seu crescimento e desenvolvimento para atingirem níveis mais qualidade, o que naturalmente levará a melhores re-
mais altos de competência, criatividade e realização, face sultados.
à importância dos mesmos serem os recursos centrais Realizar uma pesquisa de clima organizacional é
em qualquer organização e qualquer sociedade. trabalhoso, além de demandar alguns cuidados funda-
Então, o comportamento organizacional deve criar mentais para o sucesso, como metodologia de pesqui-
produtividade nas organizações. Aí se inclui conhecimen- sa, confidencialidade de informações etc. Na opinião de
to, habilidade, atitude e motivação. A motivação faz, se- Leal (2001), alguns fatores que costumam impactar de
gundo Davis & Newstrom (1998), o colaborador adquirir forma positiva ou negativa são: estrutura, remuneração,
capacidade. imagem da empresa, estilo gerencial, clareza de objeti-
É importante, para todo o esse processo ocorrer de vos e saúde financeira da empresa.
forma normal, que as empresas gerem condições que A área de recursos humanos costuma conduzir essas
motivem os colaboradores a um melhor desempenho, pesquisas e, em geral, elas são validadas e “apadrinha-
ou seja, criem um clima organizacional que facilite o tra- das” pelo principal executivo, que tem nos resultados
balho para alcançar os resultados pretendidos. uma ferramenta de diagnóstico e de marketing para o
Motivação, segundo Ferreira (1999, p. 1371), é o “con- planejamento da empresa.
junto de fatores psicológicos (conscientes ou inconscien-
Os resultados de uma pesquisa de clima podem ser
tes) de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais
colocados no mercado como uma forte ferramenta para
agem entre si e determinam a conduta de um indivíduo”.
atrair profissionais, como mostram, por exemplo, algu-
Logo, o comportamento organizacional deve prover
mas publicações especializadas no setor.
condições para criar produtividade nas organizações, fa-
Se a empresa não tem uma filosofia para tratar o cli-
zer com que os fatores que atuam sobre a motivação dos
ma de forma corporativa e coordenada, o gestor pode
colaboradores estejam presentes.
fazê-lo em seu grupo, prestando atenção às reações das
Mattar & Ferraz (2004) citam que as empresas sabem
pessoas, “medindo a temperatura” e analisando cons-
o valor e a importância de obter e manter o compro-
metimento de seus colaboradores, pois colaboradores tantemente os fatores de impacto do negócio com seu
comprometidos propiciam maior eficiência e eficácia. próprio estilo de gestão. Dentro de uma empresa que
Porém, os autores comentam que nem sempre é fácil não cuida institucionalmente de seu ambiente interno,
conseguir esse comprometimento por parte dos cola- uma área que atue com esses aspectos terá certamente
boradores. O mercado atualmente exige das empresas índices mais altos de satisfação, menor rotatividade e ob-
uma alta competitividade, e estas desejariam o compro- terá melhores resultados. No entanto, isso pode não ser
metimento de seus colaboradores para atingirem essa suficiente para mudar toda a empresa.
maior produtividade com qualidade nos serviços e, as- Leal (2001) afirma que a empresa pode definir seu
sim, obterem um crescimento sustentável. clima ideal se levar em consideração fatores como es-
Na era da informação, o maior patrimônio de uma tratégias, valores e processos internos. O gestor também
empresa é o seu contingente intelectual, ou seja, as pes- pode fazer de sua área um ambiente melhor ou pior para
soas, e o grande diferencial está na capacidade que ela se trabalhar, se comparado com outras áreas da empre-
tem de atrair, motivar e manter esse patrimônio para ob- sa. Para isso, outro conjunto de fatores que deve estar
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ter melhores resultados (MATTAR; FERRAZ, 2004). sempre em pauta e sendo bem administrado, o qual in-
Entretanto, considerando que as pessoas têm neces- clui: desenvolvimento da equipe, construção e divulga-
sidades específicas de autorrealização profissional e pes- ção dos objetivos da área, qualidade e rapidez de de-
soal, essa tarefa torna-se cada vez mais difícil. cisões, integração e comunicação, autonomia e suporte
A necessidade de incentivar e manter o comprometi- para a realização das atividades, administração dos con-
mento das pessoas levou as empresas a desenvolver pes- flitos, informações sobre a empresa, perspectiva de cres-
quisas sobre perfil dos colaboradores, forma de gestão, cimento profissional e imagem da sua área para outras
liderança, motivação, entre outras, analisando que ações da empresa.
devem ser implantadas para obtenção de maiores resul- Para Chiavenato (1994), o gerente pode criar e de-
tados, conforme Mattar & Ferraz (2004). senvolver um melhor clima organizacional por meio de
intervenções no seu estilo gerencial, no sistema de admi-
3. O papel do gestor no clima organizacional nistrar pessoas, na questão da reciprocidade, na escolha
do seu pessoal, no projeto de trabalho de sua equipe, no
Para Leal (2001), o ambiente organizacional é a percep- treinamento de sua equipe, no seu estilo de liderança,
ção que os funcionários têm da empresa. É o resultado do nos esquemas de motivação, na avaliação da equipe e,
conjunto das políticas, sistemas, processos, valores e dos sobretudo, nos sistemas de recompensas e remuneração.

4
A outra fase para a manutenção do clima organiza- Como explica Shiosawa,
cional é um trabalho mais localizado e focado, em que Nós observamos 3 itens que podem explicar esse su-
o gestor compõe um plano em conjunto com seus pro- cesso.
fissionais, cumprindo-o com o envolvimento e a parti- O primeiro é o sentimento de orgulho que os funcioná-
cipação de todos. A gestão de clima, em síntese, é uma rios sentem do lugar onde trabalham. Profissionais sentem
gerência dos fatores ambientais, de relacionamento e orgulho da empresa quando são respeitadas e percebem
resultados, em que devem ser cuidados os aspectos de que não são apenas mais um número. Elas trabalham para
comunicação e valores para que a área e a empresa te- continuar nesses ambientes e recomendam para outros pro-
nham visibilidade, atratividade e um grande poder de re- fissionais conhecidos. Isso quer dizer um ”turnover” menor e
tenção. A manutenção e a atração de bons profissionais a atração de mais talentos (profissionais gabaritados).
e de talentos potenciais são um dos grandes prêmios das
empresas que cuidam e se atêm às questões ambientais Em segundo lugar, completa o especialista, está o “ní-
do trabalho. vel de camaradagem” dentro da empresa. Isso é um indi-
cador de que os times formados no ambiente de traba-
4. Ambiência organizacional lho se complementam (um local mais colaborativo). Além
disso, a camaradagem é sinônimo de chefias e gerências
A Gestão da Ambiência contempla a identificação dos equilibradas e respeitosas com os funcionários.
fatores que influenciam a cultura organizacional, desen- “Outro indicador é o de confiança. Ambientes confiá-
volvimento e implementação de planos de ação que es- veis são aqueles onde os indivíduos se sentem respeita-
timulem o comprometimento dos colaboradores, assim dos, creem nos valores da empresa e têm maior sensação
como a quantificação do valor percebido pela empresa. de imparcialidade dos processos implementados no am-
Ruy Shiosawa, presidente do Great Place to Work biente de trabalho”, aponta.
(GPTW), responsável pela pesquisa “100 melhores em- De acordo com Chiavenato (2015), o clima organiza-
presas para se trabalhar”, diz que: “um melhor ambiente cional varia ao longo de um continuum, que vai desde
de trabalho atrai talentos e, mais importante, retêm es- um clima favorável e saudável até um clima desfavorável
ses talentos no longo prazo. Uma maior da preocupa- e negativo. Entre esses dois extremos, existe um ponto
ção com as pessoas dentro da empresa – e a percepção intermediário: o clima neutro.
desse cuidado da empresa por parte dos funcionários – É necessário ter uma visão sistêmica dos extremos
não apenas se reverte em um bom ambiente de trabalho, desse fenômeno, e uma das mais importantes inter-
mas também em melhores indicadores de saúde econô- venções para levantamento de dados destas variáveis é
mica da empresa”. a pesquisa de Clima Organizacional, na qual podemos
Um bom ambiente de trabalho não se reflete apenas identificar pontos importantes para obtenção de diag-
em uma maior felicidade interna da empresa e em um nósticos mais precisos de pesquisa de clima. São eles: di-
maior comprometimento (ou engajamento) do profissio- vulgar amplamente o público-alvo que haverá pesquisa
nal. Impacta a saúde mental e física do trabalhador e os de clima; aplicar as amostras em fontes confiáveis, livres
ambientes externos ao trabalho (como no ambiente fa- de vícios de procedimento, ou articulações internas; uti-
miliar). Os resultados dos números mais “frios” também lizar consultorias externas ou independentes, aumentan-
são positivos, claro. Empresas com boa ambiência labo- do a credibilidade e confiabilidade dos dados; alinhar o
ral, ao que tudo comprova, são mais rentáveis. processo ao nível gerencial e executivo, imprescindível o
acompanhamento destas lideranças; focar em objetivos
5. O valor da qualidade factuais, após a identificação do público para a amostra,
ter objetivos claros e segmentos; aplicar questionários
“Empresas onde os indicadores de Clima Organiza- reduzidos, concisos, ter o foco em atributos importantes,
cional são superiores aos 80% de suporte organizacional desenvolvido no projeto principal; divulgar amplamente
e 70% de engajamento têm uma produtividade até 20% os resultados, manter clareza nos procedimento; desen-
superior em comparação com outras empresas com in- volver um plano de ação, planejando novas etapas utili-
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dicadores menores. As vendas essas empresas também zando dados obtidos; desenvolver periodicamente os es-
caminham em par com os indicadores. Uma tendência tudos, fenômenos como Clima Organizacional são cíclicos.
positiva no clima ambiente profissional pode quadrupli- Os gestores contemporâneos compreenderão que
car as vendas de uma empresa”, aponta Moraes. tratar do fenômeno clima interno como estratégia de
Observando-se o ranking das “100 melhores empre- gestão torna-se fundamental para o alcance de grandes
sas” e seus resultados na Bolsa de Valores, aponta Shio- resultados, market share, diferencial competitivo, sobre-
sawa, é possível ver a mesma tendência: elas são até 3 vivência em cenário de retração e depressão econômica,
vezes mais rentáveis que empresas com piores indica- resiliência organizacional, sinergia, alinhamento executi-
dores de ambiente de trabalho. O “turnover” – compara- vo e grande gerador de satisfação interna.
tivo entre contratações e demissões – nessas empresas Em ambientes organizacionais ruins, predomina-se a
também é menor. Levando-se em conta que toda con- desmotivação, alta rotatividade de funcionários, ausência
tratação de um funcionário tem como reflexo um investi- de integração, absenteísmo, conflitos, falta de objetivos
mento por parte da empresa com cursos e treinamentos, coletivos, falta de comprometimento das pessoas com
por exemplo, um menor “turnover” é garantia de maior negócio da empresa, ausência de transparências na ges-
manutenção desse investimento no profissional. tão, comunicação deficiente, custos financeiros imensu-
ráveis e falta de respeito ao ser humano.

5
A felicidade em um ambiente empresarial resulta em pessoas produtivas, geradoras de resultados, buscando me-
lhores posições hierárquicas, comunicando ao público externo o lado positivo da organização. O resultado financeiro
do empreendimento está totalmente conectado ao clima organizacional, e faz-se necessário que seus fatores estejam
incorporados aos princípios modernos da gestão estratégica da empresa e que todos dentro da organização tenham
a responsabilidade de sua implementação, desde a alta administração, gerentes, líderes, supervisores, enfim, todos os
integrantes deste time.

MOTIVAÇÃO

Trata-se de processos psíquicos que a pessoa tem que a impulsionam à ação. Existe uma influência tanto individual
como pelo contexto em que essa pessoa se encontre. Indivíduos motivados tendem a ter um melhor desempenho, o
que faz com que a organização invista em estímulos para promover essa motivação.
A ideia de hierarquizar os motivos humanos foi, sem dúvida, a solução inovadora para que se pudesse compreen-
der melhor o comportamento humano na sua variedade. Um mesmo indivíduo ora persegue objetivos que atendem
a uma necessidade, ora busca satisfazer outras. Tudo depende da sua carência naquele momento. Duas pessoas não
perseguem necessariamente o mesmo objetivo ao mesmo tempo. O problema das diferenças individuais assume im-
portância preponderante quando falamos de motivação.
1. Razões da Motivação
1.1 Razões empresariais 
• Concorrência; 
• Produtos e preços;
• Fidelização.

1.2 Razões Pessoais


• Empregabilidade;
• Motivos para servir:
• (ordem material = cliente =lucro)
• (ordem intelectual = interação / troca / oportunidade)
• (ordem espiritual = crescimento pessoal)

O indivíduo precisa suprir suas necessidades para motivar-se e alcançar seus objetivos.
Podemos identificar os seguintes tipos de motivação:
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O ideal seria o alinhamento de todos esses tipos de motivação; pessoas automotivadas atuando em grupos coesos,
com orientação clara, sólida e coerente.
Afinal, o que é motivação? É ser feliz? É enxergar o mundo com outros olhos? É conquistar resultados, é superar
obstáculos, é ser persistente, é acreditar nos seus sonhos, é o quê? 

6
Motivação, segundo o dicionário, é o ato de moti- acima ou abaixo das que está executando, o que quer
var; exposição de motivos ou causas; conjunto de fatores dizer que o processo não é engessado, e sim flexível.
psicológicos, conscientes ou não, de ordem fisiológica, Teoria dos Dois Fatores – Para Frederick Herzberg, a
intelectual ou afetiva, que determinam um certo tipo de motivação é alcançada por meio de dois fatores:
conduta em alguém. Sendo assim, motivação está inti- • Fatores higiênicos, que são estímulos externos que
mamente ligada aos motivos que, segundo o dicionário, melhoram o desempenho e a ação de indivíduos,
é fato que leva uma pessoa a algum estado ou atividade.  mas que não conseguem motivá-los.
Motivação vem de motivos que estão ligados sim- • Fatores motivacionais, que são internos, ou seja, são
plesmente ao que você quer da vida, e seus motivos são sentimentos gerados dentro de cada indivíduo a
pessoais, intransferíveis e estão dentro da sua cabeça (e partir do reconhecimento e da autorrealização ge-
do coração). Logo, seus motivos são abstratos e só têm rada por meio de seus atos.
significado pra você, por isso motivação é algo tão pes-
soal, porque vem de dentro. Por outro lado, David McClelland identificou três ne-
A motivação é uma força interior que se modifica a cessidades que seriam pontos chave para a motivação:
cada momento durante toda a vida, a qual direciona e poder, afiliação e realização.
intensifica os objetivos de um indivíduo. Dessa forma, Para McClelland, tais necessidades são “secundárias”,
quando dizemos que a motivação é algo interior, ou seja, são adquiridas ao longo da vida, mas que trazem prestí-
que está dentro de cada pessoa de forma particular, er- gio, status e outras sensações que o ser humano gosta
ramos em dizer que alguém nos motiva ou desmotiva, de sentir.
pois ninguém é capaz de fazê-lo. Existem pessoas que Em relação às teorias, podemos ainda citar as linhas
pregam a automotivação, mas tal termo é erroneamente teóricas, que se dividem em Teorias de Conteúdo e Teo-
empregado, já que a motivação é uma força intrínseca, rias de Processo, nas quais, em cada uma delas, identifi-
ou seja, interior e o emprego desse prefixo deve ser des- camos as correntes pertencentes.
cartado.

Disponível em: <gpparaconcursos.blogspot.com.br>.

Existem algumas teorias mais clássicas sobre motiva-


ção que veremos abaixo:
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Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow:


Segundo Abraham Maslow, o homem se motiva Organiza as necessidades humanas em cinco catego-
quando suas necessidades são todas supridas de forma rias hierárquicas: necessidades fisiológicas, necessidades
hierárquica. Maslow organiza tais necessidades da se- de segurança, necessidades sociais, necessidades de au-
guinte forma: toestima e necessidades de autorrealização.

• Autorrealização; Teoria ERC de Alderfer:


• Autoestima; Tentou aperfeiçoar a hierarquia das necessidades de
• Sociais; Maslow, criando três categorias: Existência (necessidades
• Segurança; fisiológicas e de segurança), Relacionamento (dividiu a
• Fisiológicas. estima em duas partes: o componente externo da estima
(social) e o componente interno da estima (autoestima),
Tais necessidades devem ser supridas primeiramente incluindo nessa categoria as necessidades sociais e o
no alicerce das necessidades escritas, ou seja, as necessi- componente externo da estima) e Crescimento (incluin-
dades fisiológicas são as iniciantes do processo motiva- do aqui autoestima e a necessidade de autorrealização).
cional, porém, cada indivíduo pode sentir necessidades

7
Teoria dos dois fatores de Herzberg:
Herzberg descobriu que há dois grandes blocos de necessidade humanas: os fatores de higiene (extrínsecos) e
os fatores motivacionais (intrínsecos). Os fatores de Higiene são fatores extrínsecos ou exteriores ao trabalho. Para
Herzberg, eles podem causar a insatisfação e desmotivação se não atendidos, mas, se atendidos, não necessariamente
causarão a motivação. Exemplos: segurança, status, relações de poder, vida pessoal, salário, condições de trabalho, su-
pervisão, política e administração da empresa. Os fatores motivadores são os fatores intrínsecos, internos ao trabalho.
Estes fatores podem causar a satisfação e a motivação. Exemplos: crescimento, progresso, responsabilidade, o próprio
trabalho, o reconhecimento e a realização.

Teoria da determinação de metas:


Considera que a determinação de metas motiva os trabalhadores. A equipe deve participar na definição das metas
(construção conjunta), que devem ser claras, desafiadoras, mas alcançáveis.

Teoria da equidade:
Também conhecida como teoria da comparação social. A motivação seria influenciada fortemente pela percepção
de igualdade e justiça existente no ambiente profissional.

Teoria da expectativa (ou expectância) de Victor Vroom:


Construída em função da relação entre três variáveis: Valência, força (instrumentalidade) e expectativa, referentes
a um determinado objetivo. Valência, ou valor, é a orientação afetiva em direção a resultados particulares. Pode-se
traduzi-la como a preferência em direção, ou não, a determinados objetivos. Valência positiva atrai o comportamento
em sua direção, valência zero é indiferente e valência negativa é algo que o indivíduo prefere não buscar. Força, ou
instrumentalidade, por sua vez, é o grau de energia que o indivíduo irá ter que gastar em sua ação para alcançar o
objetivo. Expectativa é o grau de probabilidade que o indivíduo atribui a determinado evento, em função da relação
entre o esforço que vai ser despendido no evento e o resultado que se busca alcançar.

Teorias X e Y:
McGregor afirmava que havia duas abordagens principais de motivação e liderança: as teorias X e Y. A teoria X
apresentava uma visão negativa da natureza humana: pressupunha que os indivíduos são naturalmente preguiçosos,
não gostam de trabalhar, precisam ser guiados, orientados e controlados para realizarem a contento os trabalhos. A
teoria Y é o oposto: diz que os indivíduos são automotivados, gostam de assumir desafios e responsabilidades e irão
contribuir criativamente para o processo se tiverem suficientes oportunidades de participação.

Dentre as teorias citadas, a mais difundida é a da Hierarquia das Necessidades, abaixo mais detalhes sobre ela:
Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow: necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessi-
dades sociais, necessidades de autoestima e necessidades de auto realização.
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2. Quanto às implicações dessas teorias
Implicações aos Administradores:
As implicações para os administradores estão relacionadas quanto à forma de motivar os subordinados:

• Determinar recompensas que são valorizadas por cada subordinado. Ao serem motivadoras, devem ser adequa-
das aos indivíduos, observando suas reações em diferentes situações e perguntando que tipos de recompensas
desejam;
• Determinar o desempenho que você deseja e qual o nível de desempenho que os subordinados têm que ter para
serem recompensados;
• Fazer com que o nível de desempenho seja alcançável – a motivação poderá ser baixa se os subordinados acharem
que o que foi determinado é difícil ou impossível;
• Ligar as recompensas ao desempenho;
• Certificar se a recompensa e adequada - recompensas pequenas significam motivações fracas.

Implicações para a Organização:


A expectativa da motivação também traz várias implicações para a organização:

• Geralmente, as organizações recebem o equivalente a recompensa e não o que desejam – o sistema de recom-
pensas deve ser projetado para motivar os comportamentos desejados; ex.: segurança e aumento de produção.
• O trabalho em si pode tornar-se intrinsicamente recompensador – se forem projetados para atender as neces-
sidades mais elevadas dos empregados, como ex.: independência, criatividade e o trabalho pode ser motivador
por si mesmo.
• Portanto, a tarefa mais importante para os administradores e organizações é garantir que os subordinados te-
nham os recursos necessários para dar o melhor de si em prol do planejamento da organização.
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• Ainda sobre motivação, precisamos entender o processo que leva o indivíduo a tomar uma ação em busca de um
objetivo, conforme mostra o Ciclo Motivacional.

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3. O Ciclo Motivacional O conceito de motivação – ao nível individual – conduz ao
de clima organizacional – ao nível da organização. Os seres
O ciclo motivacional percorre as seguintes etapas: humanos estão continuamente engajados no ajustamento
a uma variedade de situações, no sentido de satisfazer suas
necessidades e manter um equilíbrio emocional. Isto pode
ser definido com um estado de ajustamento. Tal ajustamen-
to não se refere somente à satisfação das necessidades de
pertencer a um grupo social de estima e de autorrealização.
É a frustração dessas necessidades que causa muitos dos
problemas de ajustamento. Como a satisfação dessas neces-
sidades superiores depende muito de outras pessoas, parti-
cularmente daquelas que estão em posições de autoridade,
torna-se importante para a administração compreender a
natureza do ajustamento e do desajustamento das pessoas.
O ajustamento – assim como a inteligência ou as ap-
tidões – varia de uma pessoa para outra e dentro do
mesmo indivíduo de um momento para outro. Varia
dentro de um continuum e pode ser definido em vários
graus. Um bom ajustamento denota “saúde mental”.
Uma das maneiras de se definir saúde mental é descre-
ver as características de pessoas mentalmente sadias. As
características básicas de saúde mental são:
• Uma necessidade rompe o estado de equilíbrio • As pessoas sentem-se bem consigo mesmas;
do organismo; • As pessoas sentem-se bem em relação às outras
• Causando um estado de tensão, insatisfação, des- pessoas;
conforto e desequilíbrio; • As pessoas são capazes de enfrentar por si as de-
• Esse estado de tensão leva o indivíduo a um com- mandas da vida.
portamento ou ação capaz de descarregar a ten-
são ou livrá-lo do desconforto e do desequilíbrio. Diante disso tudo, importante é a postura da área de
gestão de pessoas frente a esses aspectos, devendo estar
Se o comportamento for eficaz, o indivíduo encontra- sempre atenta, oferecendo ferramentas que proporcio-
rá a satisfação da necessidade e, satisfeita essa necessi- nem a motivação constante dos colaboradores e equipes
dade, o organismo volta ao estado de equilíbrio anterior no dia a dia de trabalho.
e à sua forma de ajustamento ao ambiente.
As necessidades ou motivos não são estáticos, pelo LIDERANÇA
contrário, são forças dinâmicas e persistentes que provo-
cam comportamentos. Uma característica essencial das organizações é que
Com a aprendizagem e a repetição (reforço positivo), elas são sistemas sociais, com divisão de tarefas. É aí que
os comportamentos tornam-se gradativamente mais efi- entra o conceito de Gestão de Pessoas! Gestão de Pes-
cazes na satisfação de certas necessidades. Quando uma soas é um modelo geral de como as organizações se re-
lacionam com as pessoas.
necessidade é satisfeita, ela não é mais motivadora de
Profissionais capazes de liderar, de exercer poder e in-
comportamento já que não causa tensão ou desconforto.
fluência sobre as pessoas, fazem a diferença para muitas
O ciclo motivacional pode alcançar vários níveis de re-
organizações. É uma atividade que, se bem feita, mantém a
solução da tensão: uma necessidade pode ser satisfeita, saúde das relações entre os indivíduos. Por isso, é muito im-
frustrada (quando a satisfação é impedida ou bloqueada) portante essa atenção dada aos fundamentos da psicologia.
ou compensada (a satisfação é transferida para objeto). Segundo Chiavenato,
Muitas vezes a tensão provocada pelo surgimento da Liderança é uma influência interpessoal exercida em
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necessidade encontra uma barreira ou obstáculo para a uma dada situação e dirigida por meio do processo de
sua liberação. Não encontrando a saída normal, a tensão comunicação humana para a consecução de um ou mais
represada no organismo procura um meio indireto de saí- objetivos específicos. Os elementos que caracterizam são,
da, seja por via psicológica (agressividade, descontenta- portanto, quatro: a influência, a situação, o processo de
mento, tensão emocional, apatia, indiferença etc.) seja por comunicação e os objetivos a alcançar.
via fisiológica (tensão nervosa, insônia, repercussões car-
díacas ou digestivas etc.). Outras vezes, a necessidade não A liderança não deve ser confundida com direção nem
é satisfeita nem frustrada, mas é transferida ou compen- com gerência. Um bom administrador deve ser necessaria-
sada. Isto se dá quando a satisfação de outra necessidade mente um bom líder. Por outro lado, nem sempre um líder é
reduz ou aplaca a intensidade de uma necessidade que um administrador. Na verdade, os líderes devem estar pre-
não pode ser satisfeita. sentes no nível institucional, intermediário e operacional das
A satisfação de alguma necessidade é temporal e organizações. Todas as organizações precisam de líderes em
passageira, ou seja, a motivação humana é cíclica e orien- todos os seus níveis e em todas as suas áreas de atuação.
tada pelas diferentes necessidades. O comportamento é A liderança envolve o uso da influência e todas as re-
quase um processo de resolução de problemas, de satis- lações interpessoais podem envolver liderança. Todas as
fação de necessidade, à medida que elas vão surgindo. relações dentro de uma organização envolvem líderes e

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liderados: as comissões, os grupos de trabalho, as relações entre linha e assessoria, supervisores e subordinados etc.
Outro elemento importante no conceito de liderança é a comunicação. A clareza e a exatidão da comunicação afetam o
comportamento e o desempenho dos liderados. A dificuldade de comunicar é uma deficiência que prejudica a lideran-
ça. O terceiro elemento é a consecução de metas. O líder eficaz terá de lidar com indivíduos, grupos e metas. A eficácia
do líder é geralmente considerada em termos de grau de realização de uma meta ou combinação de metas. Mas, por
outro lado, os indivíduos podem considerar o líder como eficaz ou ineficaz, em termos de satisfação decorrente da ex-
periência total do trabalho. De fato, a aceitação das diretrizes e comandos de um líder apoia-se muito nas expectativas
dos liderados de que suas respostas favoráveis os levarão a bons resultados. Nesse caso, o líder serve ao grupo como
um instrumento para ajudar a alcançar objetivos.

1. Papel do líder

Alcançar eficiência concreta e constante para a organização, por meio de métodos avaliativos, controle e mensura-
ção dos resultados.

2. Estilo de Liderança

3. Teorias sobre Liderança

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11
É claro que a teoria e o estilo de liderança têm sua importância no contexto, mas o que vale mesmo é que as orga-
nizações compreendam definitivamente o papel do líder, a relevância que esse elemento tem na gestão organizacional,
instigando a equipe a ser melhor a cada dia.
Compete à organização dar o suporte que esse agente motivador precisa para potencializar o desenvolvimento
humano, por meio dos desafios colocados à equipe, provocando alto desempenho, estimulando-os a assumir cada vez
mais o compromisso de atingirem um nível de competência de excelência.
Ao líder compete compreender como fazer isso tudo, por meio de críticas construtivas que visam a melhorar o
desempenho, por meio de decisões que resolvam os conflitos existentes e por meio de um olhar atento para descobrir
talentos, aos quais deve dar feedback e dos quais deve receber, estando disposto a aprender, assim como ensinar.
O papel do líder é o de criar vínculos de confiança, a partir de relações éticas, de postura comprometida com os
liderados em harmonia com os objetivos da organização.
Quando esse papel é notado dentro das organizações, a pessoas nelas envolvidas se sentem respeitadas e valori-
zadas, o clima organizacional é de harmonia e sinergia e, com isso, as organizações atingem não apenas um nível de
competitividade no mercado, mas conseguem firmar seu diferencial de maturidade organizacional.

GESTÃO POR COMPETÊNCIA

A lógica da Gestão por Competências tem como base a obtenção das competências organizacionais, das áreas e das
pessoas, necessárias para que a organização atinja seus objetivos estratégicos.
Os subprocessos (recrutamento e seleção, o planejamento e a alocação da força de trabalho e a capacitação de
pessoal) de gestão de recursos humanos, assim como o plano de carreira e de Remuneração serão balizados pelas
necessidades de suprimento dessas competências.

1. Por que mapear as competências?

O Sistema de Gestão por Competências, no bojo da Gestão Estratégica Organizacional e de Pessoas, permite geren-
ciar as competências e propicia a inovação, a aprendizagem e o desenvolvimento individual e de grupo.
Por meio do mapeamento das competências, a organização consegue identificar a lacuna entre as competências
existentes e as necessárias. Com base nesse mapeamento, ela planeja as formas de preencher essas lacunas por meio
de contratação, capacitação, treinamento e realocação.

2. Principais etapas do processo de gestão por competências

A organização define suas necessidades, em termos de perfis de competências, por meio da formulação da Estra-
tégia Organizacional e do Mapeamento de Competências. Este último, realizado não só por levantamentos, mas por
meio de instrumentos como a Avaliação de Desempenho.
Quanto aos perfis profissionais, as necessidades da organização poderão ser satisfeitas por ações de:
• Captação – incluindo recrutamento, seleção, contratação e realocação.
• Desenvolvimento – incluindo capacitação e treinamento.

Esses processos devem ser avaliados permanentemente e serão os realimentadores da formulação da estratégia
organizacional e do mapeamento de competências.
Por fim, os resultados da aplicação desses mecanismos deverão ser traduzidos em retribuição aos servidores, por
meio do reconhecimento e da premiação pelo desempenho ou até pela remuneração por competências.
Vejamos a dinâmica desses elementos:
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BRANDÃO, Hugo Pena; BAHRY, Carla Patricia. Gestão por competências: métodos e técnicas para mapeamento de
competências. Revista do Serviço Público. Brasília 56 (2): pp.179-194. Abr./Jun. 2005.

Num mundo onde as decisões, os processos e as atitudes devem ser rápidas e agressivas, o diferencial de uma or-
ganização são as pessoas que lá trabalham com seus talentos e ideias. Não importa o ramo da organização, se quiser
prosperar, ela precisará de pessoas bem formadas, empreendedoras, visionárias, inovadoras e entusiasmadas. Pessoas
que possam resolver problemas, com muito talento e alto poder de realização, flexíveis e capazes de enfrentar novos
desafios. São elas que ajudarão novos negócios a atravessar os obstáculos da nova economia.
Para atrair e reter talentos em uma organização é fundamental, também, que a organização mantenha um clima de
trabalho sadio, amistoso, motivador, voltado ao progresso. A gestão por competências, ao viabilizar o contínuo desen-
volvimento das pessoas, pode contribuir para o alcance desse objetivo.
A gestão por competências deve ser um processo contínuo e estar alinhada com as estratégias organizacionais. Sua
adoção implica em redirecionamento das ações tradicionais da área de gestão de pessoas, tais como: recrutamento
e seleção, treinamento, gestão de carreira e avaliação de desempenho. Também implica na formalização de alianças
estratégicas para capacitação e desenvolvimento das competências necessárias ao alcance de seus objetivos.
As competências técnicas são sempre mais fáceis de serem gerenciadas, uma vez que são avaliadas de forma mais
objetiva. Exemplos de competência técnica: fluência em inglês, habilidade com o Excel, técnicas de redação, matemá-
tica financeira etc. É possível “medir” o quanto o colaborador possui dessas competências no dia a dia e a capacitação
técnica acaba sendo sempre uma tarefa mais fácil de ser administrada pelo RH das empresas, uma vez que o mercado
de treinamento está repleto de boas soluções para esse fim.
Competência técnica é pré-requisito de qualquer colaborador. Ele simplesmente precisa conhecer o seu negócio.
Para o exercício da sua função, ele deve carregar consigo essa capacitação e estar constantemente atualizado sobre
novas técnicas que o mercado demanda.

Então por que colaboradores altamente capacitados tecnicamente podem não apresentar bons indicadores de per-
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formance? Porque o diferencial está na atitude, não na técnica. A gestão das ações está contemplada nas competências
comportamentais. Mais difícil de ser avaliada por ser um tanto quanto subjetiva, uma boa competência comportamen-
tal deve ser elaborada de tal forma que traga alto grau de objetividade. Assim, são criadas as evidências de comporta-
mento para cada competência, que nos dizem como ela deve ser avaliada e desenvolvida.

Exemplo de competência comportamental:


Desenvolvimento de pessoas e da organização.
Mas como medir se o colaborador entrega ou não esse comportamento? Por meio das evidências que são espera-
das para essa competência. Por exemplo:

• Busca feedbacks constantemente?


• Desenvolve planos de ação para seus pontos de melhoria?
• Auxilia o gestor a identificar potenciais/talentos na equipe?
• Assume responsabilidade pelo autodesenvolvimento?

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Zarifian define a competência como sendo a inteli- formação para atender às necessidades. Essa for-
gência prática aplicada na solução dos problemas que mação poderá ser de caráter comportamental ou
surgem. Essa inteligência precisa apoiar-se nos conhe- técnico, tendo sempre como objetivo permitir que
cimentos adquiridos, procurando constantemente revê- os colaboradores da empresa alcancem as compe-
-los e atualizá-los, de modo a adaptá-los aos desafios tências pretendidas.
cotidianos. • No entanto, é bem provável que não se consiga
Uma das mais conhecidas definições é a que diz ser obter todas as competências necessárias por meio
competência um conjunto de conhecimentos, habilida- da formação, assim sendo, devemos procurar pes-
des e atitudes que credenciam um indivíduo a exercer soas com as competências necessárias, ou seja,
uma determinada função, que podemos resumir pela si- implementar processos de recrutamento e seleção
gla: CHA. Veja a imagem a seguir. por competências.
• Treinamento: torna-se necessário implantar e rea-
lizar ações de capacitação e de desenvolvimento
conforme as necessidades identificadas.
• Avaliações de qualificações: verificar a eficácia das
ações de capacitação e de desenvolvimento que
foram implantadas.
• Avaliações de desempenho: verificar se as lacunas de
competências e de desempenho foram superadas.

Segundo Maria Odete Rabaglio, Gestão por Compe-


tências é um conjunto de ferramentas práticas, consisten-
tes e objetivas que torna possível para as empresas instru-
mentalizar RH e Gestores para fazer Gestão e Desenvol-
vimento de pessoas com foco, critério e clareza. Isso por
meio de ferramentas mensuráveis, personalizadas e cons-
truídas com base nas atribuições dos cargos e funções.
A Gestão por Competências é composta por alguns
subsistemas, como:

Agora vamos analisar as etapas que envolvem a ges- • Mapeamento e Mensuração por Competências; 
tão por competências, conforme figura abaixo. • Avaliação por Competências (Avaliação de Desempe-
nho);
• Plano de Desenvolvimento por Competências;
• Seleção por Competências; 
• Remuneração por Competências.
 
2.1 Mapeamento e Mensuração por Competências

O Mapeamento e Mensuração por Competências é


a base de toda a Gestão por Competências. A partir da
Descrição de Cargo, isto é, das atividades que o cargo
executa no dia a dia, é realizado o mapeamento das
competências técnicas e comportamentais (CHA) para
cada uma das atividades. Depois disso, é feita a men-
suração do grau ideal para o cargo, isto é, o quanto o
cargo precisa de cada uma das competências para atingir
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• Sensibilização: Devemos integrar e informar toda a os objetivos da empresa. O resultado do Mapeamento e


empresa de uma forma clara e inequívoca, estan- Mensuração é a identificação do perfil comportamental e
do os responsáveis sempre abertos a questões ou técnico ideal para cada cargo ou função.
sugestões. Somente com toda a empresa focada Deve-se tomar muito CUIDADO com as metodolo-
neste tipo de gestão e reconhecendo a importância gias subjetivas existentes no mercado, baseadas no acho
da mesma se consegue alcançar os objetivos pre- e não acho, gosto e não gosto, pode e não pode, o ideal
tendidos. seria etc. Essas metodologias promovem grandes equí-
• Identificação das competências: após a definição vocos na obtenção do perfil ideal do cargo.
do rumo que delineamos para a nossa empresa,
devemos então analisar quais as competências 2.2 Avaliação por Competências
existentes. Antes de qualquer ação dentro da em-
presa, devemos analisar o que já existe para saber- A partir da Avaliação por Competências, também cha-
mos de que ponto partimos. mada de Avaliação de Desempenho, será identificado se
• Reavaliação dos cargos: Após analisarmos quais o perfil comportamental e técnico dos colaboradores de
as competências existentes e necessárias para ob- uma corporação estão alinhados ao perfil ideal exigido
termos o sucesso pretendido, devemos procurar pelos cargos.

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A Avaliação por Competências é uma maneira de es- TRABALHO EM EQUIPE
timar o aproveitamento do potencial individual de cada
colaborador dentro das organizações. Trabalho em equipe pode ser definido como os es-
O resultado da Avaliação será a identificação das forços conjuntos de um grupo ou sociedade visando à
competências comportamentais e técnicas que precisam solução de um problema. Ou seja, um grupo ou conjunto
ser aperfeiçoadas. de pessoas que se dedicam a realizar determinada tarefa
estão trabalhando em equipe.
2.3 Plano de Desenvolvimento por Competências Essa denominação se origina da época logo após
a Primeira Guerra Mundial. O trabalho em equipe, por
Baseado no resultado da Avaliação por Competên- meio da ação conjunta, possibilita a troca de conheci-
cias, será criado um Plano de Desenvolvimento para os mentos entre especialistas de diversas áreas.
colaboradores, cujo objetivo será aperfeiçoar e potencia- Como cada pessoa é responsável por uma parte da
lizar o perfil individual de cada colaborador. tarefa, o trabalho em equipe oferece também maior agi-
• O uso de software na Gestão por Competências lidade e dinamismo.
• Um projeto de implantação de gestão por compe- Para que o trabalho em equipe funcione bem, é es-
tências em uma empresa demanda grande trabalho sencial que o grupo possua metas ou objetivos compar-
e dedicação da área de Recursos Humanos e gesto- tilhados. Também é necessário que haja comunicação
res. eficiente e clareza na delegação de cada tarefa.
• A utilização de um sistema informatizado desde o A diferença de pensamento e visão entre pessoas dis-
início do processo facilita grandemente o geren- tintas é fundamental para uma resolução de problemas
ciamento e as chances de sucesso do projeto. eficiente. Quanto mais perspectivas uma equipe tiver so-
• Alguns benefícios da Gestão por Competências bre um único problema, mais fácil é encontrar a melhor
• Melhora o desempenho dos colaboradores;  solução possível.
• Identifica as necessidades de treinamentos; 
• Alinha os objetivos e metas da organização e da equi- 1. Diferença entre Grupo e Equipe
pe; 
• Reduz a subjetividade na Seleção e Avaliação de pes- Grupo e equipe não são a mesma coisa. Grupo é de-
soas;  finido como dois ou mais indivíduos, em interação e in-
• Analisa o desenvolvimento dos colaboradores;  terdependência, que se juntam para atingir um objetivo.
• Enriquece o perfil dos colaboradores, potenciali- Um grupo de trabalho é aquele que interage basicamen-
zando seus resultados;  te para compartilhar informações e tomar decisões para
• Melhora o relacionamento entre gestores e lidera- ajudar cada membro em seu desempenho na sua área de
dos;  responsabilidade.
• Mantém a motivação e o compromisso;  Os grupos de trabalho não têm necessidade nem
• Extrai o máximo de produtividade de cada colabora- oportunidade de se engajar em um trabalho coletivo
dor.  que requeira esforço conjunto. Assim, seu desempe-
nho é apenas a somatória das contribuições individuais
2.4 Vantagens na adoção do sistema de gestão por de seus membros. Não existe uma sinergia positiva que
competências possa criar um nível geral de desempenho maior do que
a soma das contribuições individuais.
A adoção do sistema de gestão por competências Uma equipe de trabalho gera uma sinergia positiva
apresenta diversas vantagens, entre as quais se desta- por meio do esforço coordenado. Os esforços individuais
cam: resultam em um nível de desempenho maior do que a
• Clara visualização das disponibilidades e necessi- soma daquelas contribuições individuais. Veja a seguir as
dades em termos de competências; diferenças entre grupos de trabalho e equipes de traba-
• Maior flexibilidade para alocar as pessoas confor- lho.
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me as competências necessárias;
• Desenvolvimento de competências para a agre-
gação de valor à organização e ao indivíduo, com #FicaDica
foco em resultados;
• Sistematização do plano de desenvolvimento dos Distinguir equipe e grupo é um aspecto
servidores a partir das necessidades reais; muito importante para soluções de exer-
• Atendimento às demandas organizacionais com a cícios que tratem de trabalho em equipe.
utilização das competências adequadas; O ponto principal é o objetivo em comum
• Planejamento de carreira do servidor vinculado às existente quando as pessoas compõem
demandas organizacionais; uma equipe.
• Melhor aproveitamento dos talentos existentes na
instituição;
• Abertura de espaço para a negociação entre os ge-
rentes e seus subordinados.

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2. Comparação entre Grupos de Trabalho e Equi- Contudo, essas capacidades determinam parâmetros
pes de Trabalho do que os membros podem fazer e de quão eficientes
eles serão dentro da equipe. Para funcionar eficazmente,
2.1 Transformando indivíduos em membros de uma equipe precisa de três tipos diferentes de capacida-
equipe des. Primeiro, ela precisa de pessoas com conhecimen-
tos técnicos. Segundo, pessoas com habilidades para
▪ Partilham suas ideias para a melhoria do que fazem solução de problemas e tomada de decisões que se-
e de todos os processos do grupo; jam capazes de identificar problemas, gerar alternativas,
▪ Respeitam as individualidades e sabem ouvir; avalia-las e fazer escolhas competentes. Finalmente, as
▪ Comunicam-se ativamente; equipes precisam de pessoas que saibam ouvir, deem
▪ Desenvolvem respostas coordenadas em benefí- feedback, solucionem conflitos e possuam outras ha-
cios dos propósitos definidos; bilidades interpessoais.
▪ Constroem respeito, confiança mútua e afetividade
nas relações; 3. Tipos de Equipe
▪ Participam do estabelecimento de objetivos co-
muns; As equipes podem realizar uma grande variedade de
▪ Desenvolvem a cooperação e a integração entre os coisas. Elas podem fazer produtos, prestar serviços, ne-
membros. gociar acordos, coordenar projetos, oferecer aconselha-
mentos ou tomar decisões.
2.2 Fatores que interferem no trabalho em equipe ▪ Equipe de solução de problemas: neste tipo de
equipe, os membros trocam ideias ou oferecem
▪ Estrelismo; sugestões sobre os processos e métodos de tra-
▪ Ausência de comunicação e de liderança; balho que podem ser melhorados. Raramente, en-
▪ Posturas autoritárias; tretanto, estas equipes têm autoridade para imple-
▪ Incapacidade de ouvir; mentar unilateralmente suas sugestões.
▪ Falta de treinamento e de objetivos; ▪ Equipes de trabalho autogerenciadas: são equipes
▪ Não saber “quem é quem” na equipe. autônomas, que podem não apenas solucionar os
problemas, mas também implementar as soluções
2.3 São características das equipes eficazes: e assumir total responsabilidade pelos resultados.
▪ Comprometimento dos membros com um propó- São grupos de funcionários que realizam trabalhos
sito comum e significativo; muito relacionados ou interdependentes e assuem
▪ O estabelecimento de metas específicas para a muitas das responsabilidades que antes eram de
equipe que conduzam os indivíduos a um melhor seus antigos supervisores.
desempenho e também energizem as equipes. ▪ Normalmente, isso inclui o planejamento e o crono-
Metas específicas ajudam a tornar a comunicação grama de trabalho, a delegação de tarefas aos mem-
mais clara, além de manter a equipe focada na ob- bros, o controle coletivo sobre o ritmo de trabalho, a
tenção de resultados; tomada de decisões operacionais e a implementação
▪ Os membros defendem suas ideias, sem radicalis- de ações para solucionar problemas. As equipes de
mo; trabalho totalmente autogerenciadas até escolhem
▪ Grande habilidade para ouvir; seus membros e avaliam o desempenho uns dos ou-
▪ Liderança é situacional; ou seja, o líder age de tros.
acordo com o grau de maturidade da equipe; de ▪ Consequentemente, as posições de supervisão
acordo com a contingência; perdem a sua importância e até podem ser elimi-
▪ Questões comportamentais são discutidas aberta- nadas.
mente, principalmente as que podem comprome- ▪ Equipes multifuncionais: São equipes formadas por
ter a imagem da equipe ou organização funcionários do mesmo nível hierárquico, mas de
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▪ O nível de confiança entre os membros é elevado; diferentes setores da empresa, que se juntam para
▪ Demonstram confiança em seus líderes, tornando cumprir uma tarefa. As equipes desempenham vá-
a equipe disposta a aceitar e a se comprometer rias funções (multifunções), ao mesmo tempo, ou
com as metas e as decisões do líder; seja, não há especificação para cada membro. O
▪ Flexibilidade permitindo que os membros da equi- sentido de equipe é exatamente esse, os membros
pe possam completar as tarefas uns dos outros. compensam entre si as competências e as carên-
Isso deixa a equipe menos dependente de um úni- cias, num aprendizado contínuo.
co membro; ▪ As equipes multifuncionais representam uma for-
▪ Conflitos são analisados e resolvidos; ma eficaz de permitir que pessoas de diferentes
áreas de uma empresa (ou até de diferentes em-
Há uma preocupação / ação contínua em busca do presas) possam trocar informações, desenvolver
autodesenvolvimento. novas ideias e solucionar problemas, bem como
coordenar projetos complexos. Evidentemente,
O desempenho de uma equipe não é apenas a soma- não é fácil administrar essas equipes. Seus pri-
tória das capacidades individuais de seus membros. meiros estágios de desenvolvimento, enquanto as
pessoas aprendem a lidar com a diversidade e a

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complexidade, costumam ser muito trabalhosos e principalmente nos processos de comunicação, no rela-
demorados. Demora algum tempo até que se de- cionamento interpessoal, no comportamento organiza-
senvolva a confiança e o espírito de equipe, espe- cional e na produtividade.
cialmente entre pessoas com diferentes históricos, Valores: Representa convicções básicas de que um
experiências e perspectivas. modo específico de conduta ou de condição de existên-
▪ Equipes Virtuais: Os tipos de equipes analisados cia é individualmente ou socialmente preferível ao modo
até agora realizam seu trabalho face a face. As contrário ou oposto de conduta ou de existência. Eles con-
equipes virtuais usam a tecnologia da informática têm um elemento de julgamento, baseado naquilo que o
para reunir seus membros, fisicamente dispersos, e indivíduo acredita ser correto, bom ou desejável. Os valo-
permitir que eles atinjam um objetivo comum. Elas res costumam ser relativamente estáveis e duradouros.
permitem que as pessoas colaborem on-line utili- Atitudes: As atitudes são afirmações avaliadoras – fa-
zando meios de comunicação como redes internas voráveis ou desfavoráveis – em relação a objetos, pes-
e externas, videoconferências ou correio eletrônico soas ou eventos. Refletem como um indivíduo se sente
– quando estão separadas apenas por uma parede em relação a alguma coisa. Quando digo “gosto do meu
ou em outro continente. São criadas para durar al- trabalho” estou expressando minha atitude em relação
guns dias para a solução de um problema ou mes- ao trabalho. As atitudes não são o mesmo que os valo-
mo alguns meses para conclusão de um projeto. res, mas ambos estão inter-relacionados e envolvem três
Não são muito adequadas para tarefas rotineiras e componentes: cognitivo, afetivo e comportamental.
cíclicas. A convicção de que “discriminar é errado” é uma afir-
mativa avaliadora. Essa opinião é o componente cogni-
Em todo processo em que haja interação entre as tivo de uma atitude. Ela estabelece a base para a parte
pessoas vamos desenvolver relações interpessoais. mais crítica de uma atitude: o seu componente afetivo. O
Ao pensarmos em ambiente de trabalho, onde as ati- afeto é o segmento da atitude que se refere ao sentimen-
vidades são predeterminadas, alguns comportamentos to e às emoções e se traduz na afirmação “Não gosto de
são precisam ser alinhados a outros, e isso sofre influên- João porque ele discrimina os outros”. Finalmente, o sen-
timento pode provocar resultados no comportamento. O
cia do aspecto emocional de cada envolvido, tais como:
componente comportamental de uma atitude se refere
comunicação, cooperação, respeito, amizade. À medida
à intenção de se comportar de determinada maneira em
que as atividades e interações prosseguem, os senti-
relação a alguém ou alguma coisa. Então, para continuar
mentos despertados podem ser diferentes dos indicados
no exemplo, posso decidir evitar a presença de João por
inicialmente e então – inevitavelmente – os sentimentos
causa dos meus sentimentos em relação a ele.
influenciarão as interações e as próprias atividades. As-
Encarar a atitude como composta por três compo-
sim, sentimentos positivos de simpatia e atração provo-
nentes – cognição, afeto e comportamento – é algo mui-
carão aumento de interação e cooperação, repercutindo to útil para compreender sua complexidade e as relações
favoravelmente nas atividades e ensejando maior produ- potenciais entre atitudes e comportamento. Ao contrário
tividade. Por outro lado, sentimentos negativos de an- dos valores, as atitudes são menos estáveis.
tipatia e rejeição tenderão à diminuição das interações,
ao afastamento nas atividades, com provável queda de COMPETÊNCIA INTERPESSOAL
produtividade.
Esse ciclo “atividade-interação-sentimentos” não se A competência interpessoal é habilidade de lidar efi-
relaciona diretamente com a competência técnica de cazmente com relações interpessoais, de lidar com ou-
cada pessoa. Profissionais competentes individualmente tras pessoas de forma adequada à necessidade de cada
podem render muito abaixo de sua capacidade por in- uma delas e às exigências da situação. Segundo C. Ar-
fluência do grupo e da situação de trabalho. gyris (1968), é a habilidade de lidar eficazmente com re-
Quando uma pessoa começa a participar de um gru- lações interpessoais de acordo com três critérios:
po, há uma base interna de diferenças que englobam ▪ Percepção acurada da situação interpessoal, de
valores, atitudes, conhecimentos, informações, precon- suas variáveis relevantes e respectiva inter-relação;
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ceitos, experiência anterior, gostos, crenças e estilo com- ▪ Habilidade de resolver realmente os problemas de
portamental, o que traz inevitáveis diferenças de percep- tal modo que não haja regressões;
ções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação ▪ Soluções alcançadas de tal forma que as pessoas
compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um envolvidas continuem trabalhando juntas tão efi-
repertório novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como cientemente, pelo menos, como quando começa-
essas diferenças são encaradas e tratadas determina a ram a resolver seus problemas.
modalidade de relacionamento entre membros do gru-
po, colegas de trabalho, superiores e subordinados. Por Dois componentes da competência interpessoal as-
exemplo: se no grupo há respeito pela opinião do outro, sumem importância capital: a percepção e a habilidade
se a ideia de cada um é ouvida, e discutida, estabelece-se propriamente dita. O processo da percepção precisa ser
uma modalidade de relacionamento diferente daquela treinado para uma visão acurada da situação interpes-
em que não há respeito pela opinião do outro, quan- soal.
do ideias e sentimentos não são ouvidos, ou ignorados, ▪ Percepção seletiva: é um processo que aparece na
quando não há troca de informações. A maneira de lidar comunicação, pois os receptores vêm e ouvem se-
com diferenças individuais cria certo clima entre as pes- letivamente com base em suas necessidades, expe-
soas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, riências, formação, interesses, valores etc.

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▪ Percepção social: é o meio pelo qual a pessoa 3. Elementos básicos da inteligência emocional
forma impressões de uma outra na esperança de
compreendê-la. ▪ Autoconhecimento: conhecer a si próprio, gerar
autoconfiança, conhecer pontos positivos e nega-
Novas competências começam a ser exigidas pelas tivos.
organizações, que reinventam sua dinâmica produtiva, ▪ Controle Emocional: capacidade de gerenciar as
desenvolvendo novas formas de trabalho e de resolução próprias emoções e impulsos.
de conflitos. Surgem novos paradigmas de relações das ▪ Automotivação: capacidade de gerenciar as pró-
organizações com fornecedores, clientes e colaborado- prias emoções com vistas a uma meta a ser alcan-
res. Nesse contexto, as relações humanas no ambiente çada. Persistir diante de fracassos e dificuldades.
de trabalho têm sido foco da atenção dos gestores, para ▪ Reconhecer emoções nos outros: empatia.
que sejam desenvolvidas habilidades e atitudes neces- ▪ Habilidade em relacionamentos interpessoais: ap-
sárias ao manejo inteligente das relações interpessoais. tidão social.

1. Definição de competência 4. Autoconhecimento

Chamamos de competência a integração e a coorde- De acordo com estudos psicológicos, autoconheci-


nação de um conjunto de conhecimentos, habilidades e mento significa o conhecimento que a pessoa tem de si
atitudes (C.H.A.) que na sua manifestação produzem uma próprio. Ao nos conhecermos, temos condições de domi-
atuação diferenciada. nar nossas emoções, controlar nossos impulsos, estimu-
C – Conhecimento – SABER lar nossas potencialidades, controlar nossas fraquezas,
H – Habilidade – SABER FAZER impedir que sentimentos negativos e destrutivos, como
A – Atitude – QUERER FAZER ansiedade, baixa autoestima, instabilidade emocional
entre outras sensações negativas nos afete, resultando
A competência técnica: envolve o C.H.A em áreas téc- em falta de produtividade e um desenvolvimento pessoal
nicas específicas. prejudicado.
A competência interpessoal: envolve o C.H.A nas rela- A busca pelo equilíbrio depende de sabermos quais
ções interpessoais. são nossas necessidades e nossos interesses, por isso a
importância que se deve dar às experiências que passamos
2. Inteligência emocional e ao que elas nos agrega, mostrando-nos as situações em
que somos mais positivos, produtivos e nos sentimos com
Qualquer um pode zangar-se. Isso é fácil. mais potencial e também aquelas nas quais nos abatemos
Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, ou nos sentimos mais fragilizados ou impotentes, além da
na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não busca pelo processo de melhora interno, em que, como
é fácil. indivíduos, conseguimos atingir um nível de evolução sa-
Aristóteles tisfatório.

Como trabalhar bem com os outros? Como entender 5. Diferenças individuais


os outros e fazer-se entender?
A inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida O processo de autoconhecimento acima comentado
emocional. As pessoas mais brilhantes podem afogar-se é fundamental para lidarmos com as diferenças existen-
nos recifes das paixões e dos impulsos desenfreados, tes entre as pessoas. Saber como sou, porque sou assim
pessoas com alto nível de QI podem ser pilotos incom- e me aceitar dessa forma facilita a compreensão e a acei-
petentes de sua vida particular. tação do próximo tal qual ele é.
A aptidão emocional é uma capacidade que determi- Essas diferenças existem em decorrência de nossas ca-
na até onde podemos usar bem quaisquer outras apti- racterísticas, sendo que essas podem ser inatas ou adqui-
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dões que tenhamos, incluindo o intelecto bruto. ridas.


Inteligência emocional: é a habilidade de lidar efi- Entende-se por características inatas tudo aquilo que
cazmente com relações interpessoais, de lidar com ou- trazemos conosco desde nosso nascimento, isto é, nossa
tras pessoas de forma adequada às necessidades de cada carga hereditária.
uma e às exigências da situação, observando as emoções Já as características adquiridas são todas aquelas que
e reações evidenciadas no comportamento do outro e no vamos agregando no nosso processo de crescimento,
seu próprio comportamento. amadurecimento, são as experiências pelas quais passa-
Inteligência intrapessoal: é a habilidade de lidar mos e que nos deixam marcas, nos dão forma.
com o seu próprio comportamento. Exige autoconheci- A junção dessas duas características é responsável
mento, controle emocional, automotivação e reconheci- pela formação de nossa personalidade, ou seja, fatores
mento dos sentimentos quando eles ocorrem. internos e externos vão se moldando em nossa vivência e
Inteligência interpessoal: é a habilidade de lidar efi- nos tornando seres únicos e extremamente interessantes
cazmente com outras pessoas de forma adequada. no contexto do que podemos fazer com o que acumu-
lamos de informação e experiência ao longo do tempo.
No campo organizacional isso é muito válido, porque
se tem uma rica rede de características que, somadas,

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podem atingir resultados incríveis para essas organiza- tre estes e os objetivos da organização, as políticas de
ções, visto que a presença de algumas características em Gestão de Pessoas precisam ser flexíveis e adaptáveis à
algumas pessoas supre a ausência delas em outras e vi- realidade e à necessidade de cada indivíduo para assim
ce-versa, tornando essa rede mais valiosa, na qual as di- conseguir tirar o máximo de proveito do conjunto exis-
ferenças se encaixam e se completam formando um qua- tente no corpo de colaboradores focando nos objetivos
dro de talentos e potencialidades administráveis quando organizacionais e no desenvolvimento individual de cada
esses indivíduos, por se conhecerem, são capazes de ad- colaborador.
ministrar suas qualidades e deficiências, proporcionando
crescimento coletivo. 7. Empatia

6. Personalidade Colocar-se no lugar do outro, mediante sentimentos


e situações vivenciadas.
Ao estudar a personalidade, compreendemos o com- “Sentir com o outro é envolver-se”. A empatia leva ao
portamento e a atitude das pessoas. envolvimento, ao altruísmo e a piedade. Ver as coisas da
Como vimos acima, a personalidade é a resultante de perspectiva dos outros quebra estereótipos tendencio-
um conjunto de características que integradas, estabe- sos e assim leva à tolerância e à aceitação das diferenças.
lece a forma única como ele se comporta ou reage ao A empatia é um ato de compreensão tão seguro quanto
meio. A personalidade demonstra a essência da pessoa. à apreensão do sentido das palavras contidas numa pá-
Temos também a persona (latim) que, em alguns mo- gina impressa.
mentos, é como se adotássemos algum personagem, ou A empatia é o primeiro inibidor da crueldade huma-
seja, é como se fosse uma máscara que cada um de nós na: reprimir a inclinação natural de sentir com o outro
usa conforme a circunstância ou as conveniências e, por nos faz tratar o outro como um objeto.
meio dessas facetas, causamos impressões aos outros. O ser humano é capaz de encobrir intencionalmente
Anteriormente falamos sobre as características inatas a empatia, é capaz de fechar os olhos e os ouvidos aos
e as adquiridas, vejamos alguns desses exemplos. apelos dos outros. Suprimir essa inclinação natural de
sentir com outro desencadeia a crueldade.
6.1 Inatas Empatia implica certo grau de compartilhamento
emocional – um pré-requisito para realmente compreen-
▪ A genética determina a aparência externa da pes- der o mundo interior do outro.
soa;
▪ A genética determina a estrutura da espécie, co- 8. A empatia nas empresas
mum a todos os indivíduos;
▪ A genética determina traços individuais e únicos QUAL A RELAÇÃO ENTRE EMPATIA E PRODUTI-
de cada indivíduo particular. VIDADE?
O conceito de empatia está relacionado à capacidade
6.2 Adquiridas de ouvir o outro de tal forma a compreender o mundo a
partir de seu ponto de vista. Não pressupõe concordância
▪ Ambiente físico: nutrição, temperatura, altitude; ou discordância, mas o entendimento da forma de pen-
▪ Ambiente social: cultura, relações interpessoais; sar, sentir e agir do interlocutor. No momento em que isso
▪ As experiências da vida de uma pessoa são deter- ocorre de forma coletiva, a organização dialoga e conhece
minantes para a constituição de sua personalidade; saltos de produtividade e de satisfação das pessoas. (Silvia
▪ Dentre os aspectos importantes da personalidade, Dias – Diretora de RH da Alcoa)
citamos o temperamento e o caráter. A empatia é primordial para o desenvolvimento de
lideranças e o aperfeiçoamento da gestão de pessoas, pois
O temperamento é uma característica inata, que re- pressupõe o respeito ao outro; em uma dinâmica que fa-
cebemos em nossa carga genética, determinando nossas vorece o aumento da produtividade. (Olga Lofredi – Presi-
reações, principalmente quando se envolve emoção, por dente da Landmark )
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exemplo, tolerância, otimismo, paciência, agressividade,


enfim, é a forma como vamos lidar com todas as emo- É quando desenvolvemos a compreensão mútua, ou
ções que podem aflorar quando estamos em uma deter- seja, um tipo de relacionamento em que as partes com-
minada situação. preendem bem os valores, deficiências e virtudes do ou-
Já o caráter é o resultado moral do que agregamos de tro. No contexto das relações humanas, pode-se afirmar
princípios e valores ao longo de nosso desenvolvimento. que o sucesso dos relacionamentos interpessoais depen-
A base sobre a qual agimos e decidimos. de do grau de compreensão entre os indivíduos. Quando
No campo organizacional, o estudo da personalidade há compreensão mútua, as pessoas comunicam-se me-
permite compreender o conjunto que se tem, as carac- lhor e conseguem resolver conflitos de modo saudável.
terísticas presentes na equipe, o que permite o gestor
aproveitar todas as potencialidades e estimular o desen- COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL
volvimento das competências e a melhoria do desem-
penho. Conduzir eficientemente processos de comunicação
Visto que grande parte dos conflitos nas organizações interpessoal e trocar feedback de forma motivadora têm
ocorre por diferenças e discordâncias entre as caracterís- sido um grande desafio na liderança de equipes e grupos
ticas e os interesses entre colaboradores e também en- de trabalho em geral.

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Sendo assim, o profissional precisa aprender a admi- 3. Objetivos
nistrar:
▪ A correta utilização da comunicação verbal e não Podem ser caracterizados como os estímulos que le-
verbal; vam o emissor a transmitir a mensagem. Como a Comu-
▪ A comunicação como elemento de integração e nicação é um processo de interação, na qual as pessoas
motivação na empresa; integram-se umas com as outras, os objetivos podem ser
▪ Competências técnicas e humanas; considerados como “os interesses” que levaram o emis-
▪ Como o ouvinte percebe a sua comunicação; sor a interagir com o receptor. Alguns exemplos de ob-
▪ Gerenciamento de relações; jetivos: ouvir opiniões a respeito de algo ou dar um aviso
▪ Resolução de conflitos; sobre o churrasco do final de semana.
▪ Como ouvir melhor: a arte de esclarecer e confir- Além dos objetivos serem um interesse que o emissor
mar; tem em relação ao receptor, alguns autores lançam uma
▪ Como especificar méritos e sugerir mudanças; reflexão intrínseca de que os objetivos também devem
▪ A importância de argumentar para os valores do ou- chamar a atenção de quem recebe a mensagem, por-
tro. que senão o receptor não se sentirá atraído e também
não verá utilidade alguma na mensagem. Desta forma,
1. Processo comunicacional para que o receptor perceba a utilidade da mensagem,
o emissor deve conhecer as necessidades, os gostos,
O processo comunicacional tem como maior objeti- ações, pensamentos, crenças e valores de quem vai rece-
vo a interação humana, buscando o estabelecimento das ber a mensagem, pois só assim a Comunicação valerá a
relações e o entendimento entre os indivíduos. pena. É imprescindível a clareza dos objetivos, pois sem
Desde os tempos antigos, Aristóteles já dizia que: isso, o processo não ocorre eficazmente.
(...) devemos olhar para três ingredientes na comunica-
ção: quem fala, o discurso e a audiência. Ele quis dizer que 4. Emissor
cada um destes elementos é necessário à Comunicação e
É o agente do processo de Comunicação, ou seja, é
que podemos organizar nosso estudo do processo sob estes
a pessoa que tem uma mensagem para comunicar. Ele é
três títulos: 1) a pessoa que fala; 2) o discurso que faz; 3) a
a fonte ou a origem do processo de Comunicação. Além
pessoa que ouve.
disso, é quem vai tomar a iniciativa de se comunicar e
buscar a interação com as outras pessoas, a fim de alcan-
É interessante notar que praticamente todos os mo-
çar o seu objetivo.
delos atuais de processos comunicacionais são parecidos
Para alcançar a eficácia da Comunicação, o emissor
com o de Aristóteles, sendo que o que mudou foi a com- tem que ter como requisitos fundamentais:
plexidade com que eles estão sendo abordados. ▪ Habilidades: para que possa falar, ler, ouvir e racioci-
As primeiras abordagens da Comunicação defendiam nar.
um processo comunicacional constituído por apenas ▪ Atitudes: por influenciar o comportamento e por
quatro elementos fundamentais: emissor, receptor, men- estarem relacionadas a ideias pré-concebidas,
sagem e meio. Já as abordagens mais recentes da Comu- quanto a vários assuntos, as comunicações são
nicação, defendem que o processo é desencadeado por influenciadas por determinados tipos de atitudes
oito elementos, são eles: objetivos, emissor, mensagem, que as pessoas tomam.
meio, receptor, significado, resposta e situação. ▪ Conhecimento: a extensão e profundidade do co-
Todos os elementos do processo são interdependen- nhecimento das pessoas sobre um assunto pode
tes e devem seguir uma ordem para que haja uma inte- restringir (se o assunto não é de conhecimento do
gração lógica entre esses elementos e o próprio proces- emissor) ou ampliar (quando o receptor não com-
so comunicacional. preende a mensagem que está sendo transmitida)
A seguir, os componentes do processo serão especi- o campo comunicacional.
ficados um a um: ▪ Sistema sociocultural: a situação cultural em que o
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emissor se situa, com suas crenças, valores e atitudes


2. Situação influencia o tempo todo a sua função de comunica-
dor.
A situação pode ser considerada a circunstância na
qual as mensagens são passadas do emissor ao receptor. Um requisito significativo no contexto organizacio-
“Todos os processos de Comunicação acontecem em de- nal é a representatividade do emissor, ou seja, a posição
terminada situação, seja ela favorável ou desfavorável. A hierárquica exercida pelo emissor, que é de fundamental
situação real que deve ser considerada, no processo de importância para a credibilidade da mensagem a ser co-
Comunicação, é aquela percebida e sentida pelo recep- municada.
tor e não aquela vivida ou sentida pelo emissor”. Para
que a transmissão da mensagem seja considerada efi- 5. Mensagem
caz, deve-se procurar a situação mais favorável, pois, se
o emissor procurar comunicar-se em uma situação des- É o que vai ser comunicado pelo emissor. Deve estar
favorável, poderá acontecer que o receptor não lhe dará adequada ao nível cultural, técnico e hierárquico do re-
a atenção devida e, consequentemente, não entenderá a ceptor. É composta por conteúdo e forma.
mensagem que lhe foi transmitida.

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O conteúdo representa o que será transmitido e de- Sem o receptor, não há Comunicação, pois, se o re-
pende dos objetivos do processo comunicacional. Não ceptor não faz parte do processo, o emissor não tem para
deve ser insuficiente ou excessivo, deve comunicar o quem comunicar a sua mensagem e, consequentemente,
essencial, frente aos objetivos a serem alcançados pelo não terá uma resposta.
emissor. O conteúdo também “deve ter uma sequencia Sendo assim, pode-se dizer que todo o processo de
lógica, ou seja, um início (objetivos), um meio e um fim Comunicação deve ser direcionado de acordo com as ca-
(conclusões)”. A forma é a maneira pela qual a mensa- racterísticas do receptor. A seguir algumas características
gem é transmitida. As formas básicas são as verbais e as que, assim como o emissor, o receptor necessita ter, para
não verbais. As verbais podem ser orais e escritas (pala- que a Comunicação seja eficaz:
vras, letras, símbolos). Já as não verbais, podem ser ges- (...) assim como o emissor foi limitado por suas ha-
tuais (mímicas, movimentos corporais), vocais (timbre de bilidades, atitudes, conhecimento e sistema sociocultural,
voz e entonação) e espaciais (local físico e layout). o receptor é restringido da mesma maneira. Assim como
(...) não há uma forma melhor do que a outra. A es- o emissor deve ter habilidades de escrever ou falar, ore-
colha da forma depende de um conjunto de fatores, den- ceptor deve ser hábil em ler ou ouvir, e ambos devem ser
tre os quais os mais relevantes são: rapidez requerida (na capazes de raciocinar. O conhecimento, atitudes e forma-
transmissão da mensagem, na obtenção das respostas); ção cultural de alguém influenciama sua capacidade de
quantidade de receptores; localização geográfica dos re- receber, assim como o fazem com a capacidade de enviar
ceptores; necessidade de formalizar a mensagem; neces- mensagens.
sidade de consultas posteriores sobre a mensagem; com-
plexidade do assunto tratado; facilidade de retenção da 8. Significado
mensagem (lembrança)
É a compreensão da mensagem, no seu sentido cor-
Além disso, também se destaca que um único proces- reto. É o “entendimento comum” da mensagem entre o
so pode utilizar mais de uma forma de Comunicação. Um emissor e o receptor. Isso ocorre quando o emissor e o
exemplo de conteúdo e formas diferentes de se transmi- receptor entendem da mesma forma a mensagem.
tir a mensagem pode ser: demissão de um colaborador Portanto, quando o receptor interpreta a mensagem
da Organização (conteúdo) – comunicada por e-mail a da mesma forma que o emissor quis transmiti-la, pode-se
todos os outros colaboradores (forma não verbal) ou na dizer que o receptor captou o significado da mensagem.
reunião pelo gerente (forma verbal). Quando a mensagem é transmitida pelo emissor, ela
é codificada e quando é recebida pelo receptor, ela é
6. Meio decodificada. As codificações e decodificações são com-
postas por um conjunto de signos, utilizados pelas pes-
Pode ser chamado, também, de canal ou veículo de soas para representar seus pensamentos, a realidade em
transmissão. Como a própria denominação já diz, o meio que vivem etc.
é o recurso utilizado pelo emissor para transmitir a men- Os signos devem expressar a mesma coisa para o
emissor e para o receptor, ou seja, o significado que o
sagem. O meio “é determinado pelos requisitos de for-
objeto porta para o emissor deve ser o mesmo que o
ma da mensagem a ser transmitida e da resposta a ser
do receptor. Caso isso não ocorra, a mensagem não será
obtida.” Ou seja, o meio de Comunicação está associado
transmitida eficazmente, já que a interpretação do recep-
à forma verbal ou não verbal de transmissão da men-
tor não é a correta ou a esperada pelo emissor.
sagem, isso quer dizer que, dependendo das situações
Mas, mesmo que o significado seja o mesmo, para
específicas de cada mensagem, o meio pode ser caracte-
o emissor e para o receptor, não se pode dizer que as
rizado de várias formas, desde a voz humana à televisão
questões referentes ao processo de comunicação foram
e até pelo fax ou pelo e-mail. resolvidas, pois, “a compreensão, através da comunhão
Vale ressaltar que não existe um meio ou uma forma do significado, não quer dizer, necessariamente, acordo.
melhor que o outro, existe, sim, um mais adequado, de Posso compreender uma ideia, sem concordar com ela.”
acordo com as características da mensagem a ser trans- Portanto, não é apenas o entendimento do significado,
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mitida. “O requisito fundamental na escolha do meio é por ambas as partes que assegura a eficácia da comuni-
que ele não provoque ruído” nas mensagens, pois o ruído cação. Em relação a isso, podemos dizer que “ainda que
é uma interferência que prejudica a transmissão da men- o significado comum não assegure sozinho, a eficácia do
sagem, comprometendo a recepção da mesma, ou seja, processo de comunicação como um todo, é um requisito
a decodificação da mensagem pelo receptor. Para que fundamental para promover o entendimento.”
haja um melhor entendimento do significado de ruído,
vale a pena exemplificar: uma linha cruzada do telefone, 9. Resposta
um documento sujo ou borrado, alguém que fale muito
baixo, um ambiente de trabalho desconfortável etc. Pode ser chamada, também, de feedback ou compor-
tamento esperado, pois é a reação do receptor à mensa-
7. Receptor gem recebida. É o último objetivo do processo, pois é o
desejado pelo emissor ao emitir uma mensagem.
É quem recebe a Comunicação, ou seja, é o foco da A resposta pode ser considerada como a efetivação
comunicação. É ele quem vai reagir ao estímulo promo- do recebimento da mensagem, determinando, ou não,
vido pelo emissor. o sucesso da mesma. Por meio da comunicação oral, as
pessoas conseguem personificar seu ser.

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Comunicação é tornar algo comum, compartilhar, di- 4. Movimento corporal: certos movimentos podem
vidir, trocar. ser favoráveis ou não para um processo eficaz.
Enfim, é o processo de transmitir uma informação a Podemos citar o livro “O corpo fala”, que aborda
outra pessoa, no entanto, o que caracteriza a comuni- a questão de que o corpo também se comunica,
cação é a compreensão e não simplesmente o informar. as expressões corporais manifestam a ansiedade, a
Daí a diferença de comunicação (que é a informação atração, o nervosismo, a tristeza etc.
sendo transmitida) e comunicabilidade (que é o ato co- 5. Contato visual: a forma como as pessoas se olham
municativo otimizado). demonstra como uma está se sentindo em relação
Barreiras à comunicação eficaz – alguns elementos à outra, além de informar o grau de atenção que
prejudicam a transmissão e a compreensão da comuni- está sendo dirigida à pessoa que está falando. “O
cação, entre eles podemos citar: direcionamento, o tempo, o contexto, a oportuni-
▪ Ruídos; dade, a intensidade, o status de quem olha ou de
▪ Sobrecarga de informações; quem é olhado impõem um quadro interpretativo
▪ Tipos de informações; que cada cultura se encarrega de transmitir aos
▪ Fonte de informações; seus membros pelo processo de socialização.”
▪ Localização Física;
6. Expressão facial: é determinante, pois é uma forma
▪ Defensidade.
de demonstrar o interesse das pessoas pela men-
sagem que está sendo transmitida.
Além desses, as barreiras são um conjunto de fatores
que impedem ou dificultam a recepção da mensagem, 7. Fluência: a articulação das palavras, a modulação
no processo comunicacional. (intensidade dos sons), o ritmo e o timbre da voz
A seguir, serão abordadas as teorias da Sociologia e fazem diferença em termos da maneira como são
da Administração, em relação às barreiras, especifican- utilizados para a eficácia da transmissão da men-
do-as: sagem.

10. Abordagem sociológica 10.2 Barreiras sociais

As barreiras podem ser divididas em seis grupos: 1. Educação: os princípios e valores adquiridos pelos
• Barreiras pessoais; indivíduos também fazem parte do processo co-
• Barreiras sociais; municacional.
• Barreiras fisiológicas; 2. Cultura: a comunicação, como já foi visto, muda de
• Barreiras da personalidade; cultura para cultura. Por conseguinte, se as pessoas
• Barreiras da linguagem; têm culturas muito distintas, a comunicação ficará
• Barreiras psicológicas. prejudicada.
3. Crenças, normas sociais e dogmas religiosos: assim
10.1 Barreiras pessoais como em relação à cultura, se as pessoas que estão
se comunicando divergem com muita intensidade
1. Nível de conhecimento: está ligado à profundidade nessas questões, os processos comunicacionais se-
de conhecimento que as pessoas têm e revelam no rão prejudicados ou a mensagem não será trans-
decorrer do processo comunicacional. Pode tam- mitida adequadamente.
bém ser atribuído pelas outras pessoas que fazem
parte do processo, por perceberem o conhecimen- 10.3 Barreiras fisiológicas
to e o reconhecerem. “Este aspecto pode conduzir
à maior ou menor credibilidade ao emissor e tra-
As deficiências do aparelho fonoaudiológico e do
zer-lhe um estatuto que pode marcar o desempe-
aparelho visual criam dificuldades na Comunicação.
nho do seu papel enquanto comunicador.” Algu-
mas pessoas, por conhecerem profundamente um
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assunto, não gostam ou se incomodam em conver- 10.4 Barreiras da personalidade


sar com alguém que não tem o mesmo domínio do
assunto e vice-versa. 1. Autossuficiência: ocorre quando a pessoa acha que
2. Aparência: a forma de se vestir e se cuidar pode de- sabe tudo, ou seja, a pessoa acha que o que ela
terminar o jeito com que as pessoas se comunicarão sabe e conhece é o suficiente. Esta barreira ocorre
umas com as outras. Dias (2001) coloca que, tanto as de duas maneiras: “julgamento do todo pela parte”
expectativas provocadas, como as primeiras impres- – acontece quando a pessoa julga outras pessoas
sões, são determinantes para um processo comuni- e/o coisas pelo que ela conhece; e intolerância, a
cacional eficaz. Por exemplo, um homem de terno e qual acontece quando a pessoa não aceita o ponto
gravata tem muito mais facilidade de receber aten- de vista das outras pessoas, pois julga que o único
ção do que um homem de bermuda e tênis. ponto de vista correto é o seu próprio.
3. Postura corporal: deve ser estabelecida de acordo 2. Congelamento das avaliações: acontece quando
com o que se quer comunicar. Alguns teóricos da a pessoa acredita que as pessoas e as coisas não
Sociologia dizem que a postura também deve ser mudam, ou seja, quando a pessoa supõe que as
adequada de acordo com o grupo com o qual se circunstâncias sempre serão as mesmas, indepen-
está comunicando. dente das mudanças que surgirem com as pessoas

22
e coisas. Fazem parte dessas avaliações os precon- que sua suposição realmente aconteceu, ela perde
ceitos e a insegurança que as pessoas têm frente a a noção dos verdadeiros acontecimentos e divulga
algumas situações e frente às outras pessoas para outras pessoas as suas opiniões sobre os fatos,
3. Comportamento Humano: aspectos objetivos e como sendo os próprios acontecimentos, causando
subjetivos: está no conflito personalidade subjetiva distorções na realidade. Exemplificando: o gerente
(interior de cada pessoa ou as opiniões próprias) X de departamento chegou duas horas atrasado no
personalidade objetiva (o que é exteriorizado para trabalho (fato). Patrícia diz que foi porque ele acor-
as outras pessoas ou a realidade concreta). Quan- dou atrasado; já Fabíola diz que foi por razão de al-
do se diz personalidade, toma-se como princípio gum problema pessoal (opiniões).
a caracterização da personalidade por processos b) Inferências X Observações: trata-se de conside-
comportamentais, que são estabelecidos pela in- rar as inferências como observações e vice-ver-
teração das reações individuais com o meio social. sa. Inferir é deduzir e observar é prestar atenção,
“A Comunicação Humana baseia-se na concepção olhar algo que está acontecendo. “As inferências
da personalidade projetiva, na evidência de que, são menos prováveis do que as observações; (...)
na sociedade humana, o homem precisa ‘vender’ a as inferências nos oferecem certezas relativas; as
sua personalidade.” Para tanto, ele precisa torná-la observações nos oferecem certezas absolutas.” O
socialmente aceitável, e aí está o conflito, pois a tempo todo as pessoas fazem inferências. Quando
pessoa tem que estar o tempo todo tornando a leem um jornal, por exemplo, inferem o que real-
sua personalidade vendível, para que o outro pos- mente ocorreu. O problema desta barreira está no
sa aceitar se comunicar com ela. Exemplificando, fato das pessoas tomarem sempre como lei as in-
ocorre quando alguém tem uma determinada opi- ferências e não se utilizarem mais de observações.
nião negativa sobre o aborto, mas, ao conversar
com alguém que acabou de conhecer e que é a 2. Descuidos nas palavras abstratas:
favor do aborto, deixa de expressar a sua opinião e “Atrás de uma palavra nem sempre está uma coisa.
Palavras não são coisas; são representações de coi-
conversa com a outra pessoa como se não tivesse
sas, quase sempre específicas, e por isso, difíceis
uma opinião bem formada a respeito do assunto.
de serem transmitidas, com fidelidade, de uma
4. Geografite: está relacionada com as atitudes das
cabeça para outra.” E como as palavras abstratas
pessoas que se comovem mais com os “mapas”
fazem parte do repertório específico de cada um,
do que com os “territórios”. Mapas são os senti-
fica difícil um processo comunicativo eficaz, sem
mentos, imaginações, palpites, hipóteses, pres-
uma predefinição dessas palavras, já que elas pos-
sentimentos, preconceitos, inferências etc. Já os
sibilitam muitos equívocos.
territórios são os objetos, as pessoas, as coisas, os
acontecimentos etc. Isso é relevado devido ao fato
3. Desencontros:
de que, atualmente, as pessoas têm se envolvido,
Esta barreira pode ser caracterizada como a diferença
constantemente, com quaisquer tipos de sugestio-
de percepção de cada indivíduo, ou seja, a sub-
nabilidades, tornando-se exageradamente crédu-
jetividade de cada um. Uma determinada palavra,
las; ou pela forma como as pessoas vêm distorcen-
para um indivíduo, tem um significado A; já para
do a realidade, como por exemplo, por meio dos
outro indivíduo, um significado B, e isso ocorrerá
horóscopos, das coisas sobrenaturais, das profe-
com todos os indivíduos, pois ninguém percebe as
cias etc. Essas questões ocasionam uma certa falta
coisas da mesma forma, cada um tem a sua for-
de civilização, ou seja, falta de equilíbrio racional
ma de perceber e significar as coisas, palavras etc.
para lidar com os acontecimentos e com as coisas
Caso não aconteça um consenso e/ou esclareci-
e pessoas.
mento das questões a serem comunicadas, o pro-
5. Tendência à complicação: essa é uma das barreiras
cesso ficará comprometido e cheio de equívocos
mais comuns, pois está concebida no fato de que
de compreensão.
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as pessoas têm o hábito de restringir e complicar


coisas e acontecimentos simples, o tempo todo,
4. Indiscriminação:
até mesmo quando se trata de sistematização e
Ocorre quando há uma rotulação das coisas, pessoas
pensamento lógico.
e acontecimentos, quando a percepção está fo-
cada, apenas, nas semelhanças ou em alguns pa-
10.5 Barreiras da linguagem
drões (ou clichês) criados por cada indivíduo, não
havendo um discernimento entre as diferenças. Em
1. Confusões entre:
relação à indiscriminação, a Comunicação Humana
a) Fatos X Opiniões: As pessoas estão o tempo todo
é prejudicada por alguns fatores, são eles: abuso
se referindo a fatos, como se estivessem emitin-
dos ditados populares e a crença de que “a voz do
do opiniões e vice-versa. “Fato é acontecimento;
povo é a voz de Deus”.
é coisa ou ação feita. Opinião é modo de ver, é
conjectura”. Pode-se dizer que uma das coisas
5. Polarização:
mais ameaçadoras do processo comunicacional é a
“Há polarização quando tratamos os contrários como
transformação de uma opinião em fato, pois, a par-
se fossem contraditórios. Polarização é a tendência
tir do momento em que a pessoa se convence de
a reconhecer apenas os extremos, negligenciando

23
as posições intermediárias.” O processo comunica- inserido. Acontece quando uma decisão é sim-
cional fica bastante prejudicado quando os pontos plesmente comunicada, sem que se expliquem os
de vistas são extremistas, pois dificilmente encon- porquês e motivos em questão.
tra-se um meio termo, sem causar grandes discus- ▪ Filtragem: ocorre quando o emissor manipula a
sões ou fugir aos objetivos do processo. mensagem, de acordo com os seus objetivos e in-
teresses, de forma que a mensagem favoreça o seu
6. Falsa identidade baseada em palavras: ponto de vista ou o que ele deseja que o receptor
Acontece quando uma pessoa percebe coisas em co- decodifique.
mum entre duas ou mais coisas e conclui que essas ▪ Percepção seletiva: o emissor vê e ouve, apenas, ou
coisas são idênticas. Um exemplo claro disso é: os mais acuradamente, aquilo que lhe interessa, ou
cariocas são flamenguistas. Camila é flamenguista. seja, faz uma seleção das mensagens relacionadas
Por conseguinte, Camila é carioca. A palavra tem com suas necessidades, motivações, referências etc.
uma força fora do comum, podendo beneficiar ou As pessoas “não veem a realidade; em vez disso,
prejudicar alguém por meio dessas conclusões das interpretam o que veem e chamam de realidade.”
semelhanças entre as coisas. Pode ser prejudicial, à medida que a pessoa tende a
perceber só aquilo que lhe convém e isso não per-
7. Polissemia: mite uma percepção neutra dos acontecimentos,
É a reunião de vários sentidos em apenas uma pa- coisas e pessoas.
lavra. Cada um tem um repertório de palavras e ▪ Defensiva: “Quando as pessoas se sentem amea-
significados e uma mesma palavra pode ter vários çadas, geralmente respondem de forma que atra-
significados para um mesmo indivíduo. Então, já palha a Comunicação.” A partir do momento em
que o processo comunicacional precisa de no mí- que a pessoa se sente ameaçada, ela não consegue
nimo duas pessoas para acontecer, pode-se ima- decodificar e nem transmitir as mensagens com
ginar o quão complexo é a Comunicação entre eficácia.
diversas pessoas. ▪ Uso inadequado dos meios: como já foi falado
“A palavra é a maneira de traduzir ideias ou pensa- anteriormente, não existe um meio mais adequa-
mentos.” Portanto, cada indivíduo tende a trans- do para ser utilizado na transmissão de diferentes
mitir as mensagens “carregadas” de palavras com tipos de mensagem, sendo que o que vai deter-
suas percepções das coisas. Essa barreira está minar se o meio é o mais adequado, ou não, é a
lado a lado com a barreira de desencontros, pois situação específica de cada mensagem. ▪ A Comu-
as duas abordam as diferenças de percepções de nicação Oral tem a tendência de aumentar a eficá-
cada indivíduo. cia da Comunicação, quando bem utilizada, pois
Tem uma palavra que serve de exemplo desta bar- proporciona uma resposta imediata, além de esti-
mular o pensamento do receptor, no momento em
reira, qual seja: abacaxi pode ser uma fruta ou um
que a mensagem está sendo transmitida e por dar
problema que dá muito trabalho para ser resolvi-
um toque mais pessoal à mensagem e ao processo
do.
como um todo. Deve ser mais usada quando se
quer comunicar mensagens mais complexas e difí-
7. Barreiras verbais:
ceis de serem transmitidas. Já a comunicação escri-
São aquelas provocadas por palavras e expressões
ta, tem a tendência de ser mal-entendida, porque
causadoras de antagonismos, ou seja, são as cau-
quem escreveu pode não ter sido suficientemente
sadoras de oposições de ideias.
claro ou não ter expressado o que queria correta-
mente.
11. Abordagem da Administração ▪ Linguagem: pode ser considerada uma das barreiras
mais comuns, pois ocorre o tempo todo, no dia a dia
As barreiras mais destacadas neste campo de estudos das pessoas em uma Organização. Como as pessoas
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são: tendem a achar que os significados que as palavras


▪ Falta de comunicação: “é um dos problemas mais têm para elas são os mesmos significados que outras
frequentes nas empresas e que gera as consequên- pessoas atribuem, uma barreira acaba surgindo no
cias mais graves.” Pode ser causada por: interpre- processo.
tações distorcidas dos fatos; falta de adesão a uma ▪ Efeito status: A hierarquia dentro das organizações
decisão e às mudanças; desmotivação das pessoas pode criar barreiras nas comunicações. Esta barreira
pela não participação e pelo desconhecimento do está ligada a outra barreira, a filtragem, que já foi cita-
que se passa na Organização; conflitos entre pes- da anteriormente. Quando os colaboradores têm que
soas e departamentos etc. comunicar algo aos gerentes das Organizações, eles
▪ Falta de clareza de objetivos: ocorre quando a tendem a filtrar a mensagem, de forma que ela seja
mensagem não tem conteúdo e forma bem defini- transmitida e decodificada, no intuito de agradar os
dos. Exemplo: uma reunião em que ninguém con- gerentes.
segue entender o porquê de estar acontecendo. ▪ Impertinência da mensagem: quando as mensa-
▪ Texto fora do contexto: quando a comunicação gens são transmitidas em momentos inoportunos
é feita, apenas, sobre um determinado aconte- e desagradáveis, o processo se prejudica pela ina-
cimento, sem dizer o contexto no qual ele está dequação da situação escolhida.

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12. Como melhorar a comunicação interpessoal Alguns itens são vitais na linguagem não verbal e de-
vem ser compreendidos para a sua melhor utilização:
▪ Habilidades de transmissão; ▪ Gestos;
▪ Linguagem apropriada; ▪ Postura; 
▪ Informações claras; ▪ Movimentos do corpo;
▪ Canais múltiplos; ▪ Tom da voz e velocidade da fala; 
▪ Comunicação face a face sempre que possível. ▪ Movimentação entre receptor /emissor.

É notório que problemas de comunicação são de di- A linguagem não verbal é considerada vital para o
fícil intervenção e por isso demandam do emissor um processo de comunicação, tendo em vista que esta não
enorme cuidado ao transmitir a mensagem necessária de ocorre apenas por meio de palavras, sendo um processo
forma clara e objetiva. muito mais complexo do que se imagina.
No momento da comunicação, é necessário decodi-
Existem três fontes de sinais de comunicação e cada ficar as mensagens não verbais, pois, quando isso não
uma representa um percentual deste processo: ocorre, estima-se que há uma perda de 65% do que é
▪ Comunicação verbal: palavras expressas 7%; comunicado.
▪ Comunicação vocal: entonação, o tom e timbre de No momento em que o profissional domina as mensa-
voz 38%;  gens não verbais, ele passa a conduzir o processo de co-
▪ Expressão facial e corporal 55%; municação de forma eficaz e consegue atingir os objetivos
propostos.
A falta de comunicação adequada pode gerar pro- Em suma, é necessário para o profissional aprender
blemas de diversos tipos e com consequências variadas, a utilizar sinais não verbais no processo de comunica-
entre as quais podemos citar: ção, bem como dominar a linguagem verbal. Na ausência
▪ Confusão entre os envolvidos;  destas habilidades, existirá um desnível significativo no
▪ Perda na prestação do serviço ou na confecção do processo de comunicação entre emissor /receptor.
produto; 
▪ Comprometer a imagem da empresa;  14. Eficácia na comunicação
▪ Desmotivação; 
▪ Retrabalho;  Comunicar-se eficazmente é proporcionar transfor-
▪ Falta de procedimentos e ordens claras;  mação e mudança na atitude das pessoas. Se a comuni-
▪ Insatisfação de uma forma geral. cação apenas muda as ideias das pessoas, mas não muda
suas atitudes, então a comunicação não atingiu seu re-
Um princípio fundamental para a boa comunicação é sultado. Ela não foi eficaz.
a disposição e a sabedoria em ouvir. A clareza e a certeza de que se foi entendido represen-
Toda a eficácia do processo depende, essencialmente, tam um dos pilares de um projeto bem sucedido e essa
de saber ouvir e entender a mensagem que foi transmi-
sempre foi uma das principais preocupações de todas as
tida inicialmente, para então começar um processo de
empresas. Várias são as vezes que apenas informamos e
comunicação.
não formamos a ideia do que queremos que a outra parte
faça.
13. Formas de comunicação
Existem algumas ferramentas e regras que ajudam na
conscientização sobre o próprio nível de comunicação.
A comunicação vem sofrendo evoluções ao longo do
Abaixo, o “Modelo de Quatro Elementos”, comprova-
tempo, assim como todo o processo que sofre influência
do mundo globalizado. As formas mais tradicionais de do e aplicado por Philip Walser, como uma das ferramen-
comunicação englobam: tas das quais podemos dispor.
▪ Manual; Os quatro elementos são: “Framing” – “Advocating” –
▪ Revista;  “Inquiring” –“Illustrating”:
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▪ Jornal; 
▪ Boletim;  ▪ Framing: é definir o tema a ser abordado durante
▪ Quadro de aviso. uma conversa logo no começo. Pode ser necessá-
rio redefinir o tema durante o andamento (“Re-fra-
Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, ming”), mas deve-se evitar que a conversa vá para
figuram novos métodos efetivos para desenvolvê-la, tais lugares distantes que não têm nada a ver com o
como: assunto.
▪ Intranet;  ▪ Advocating: é explicar o seu próprio ponto de vista
▪ Correio eletrônico;  de forma clara e objetiva, não deixando de lado os
▪ Comunicação face a face;  porquês desse ponto de vista, ou seja, não engolir
▪ Telão. sapos, mas mencionar os valores que são a base
deste seu ponto de vista.
Em linhas gerais, torna-se necessário que o profissio- ▪ Inquiring: até mais importante do que esclarecer o
nal exercite tanto a linguagem verbal como a linguagem seu, é importante entender o ponto de vista do ou-
não verbal, que forçam o tempo todo as habilidades de tro. Isto se faz através de perguntas benevolentes
comunicação. que não tem o objetivo de interrogar.

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▪ Illustrating:  é resumir os diversos pontos de vis- tos de insegurança no seu relacionamento interpessoal.
ta, procurar pontos em comum, colocar assuntos Alguém que tenha a seu próprio respeito uma impressão
polêmicos na mesa, visando a uma solução sendo negativa poderá encontrar dificuldades em conversar
flexível e contando com a flexibilidade do outro, com outros, em admitir que esteja errado, em expressar
diminuir complexidade para focar o que realmente seus sentimentos, em aceitar críticas construtivas que lhe
está no centro da conversa. forem feitas ou em apresentar ideias diferentes das dos
outros. Sua insegurança o leva a temer que os outros dei-
Observar, ouvir e dar importância para o outro é de- xem de apreciá-lo se discordar deles.
terminante para a eficácia da comunicação. Pelo fato de sentir-se desvalorizado, inadequado e
De qualquer forma, a comunicação começa pelos inferior, ele não tem confiança e pensa que suas ideias
sentidos (visão, audição, tato, olfação e gustação). Uma não interessam aos outros e que não vale a pena comu-
maneira prática de identificar a forma como uma pessoa nicá-las. Ele pode tornar-se arredio e defensivo em sua
está pensando é prestar atenção às palavras que ela uti- comunicação, renegando suas próprias ideias.
liza, pois nossa linguagem está repleta de sinais, gestos,
posturas e palavras baseados nos sentidos. Observar, ou- b) Formação da autoimagem
vir e dar importância para o outro é determinante para a Da mesma forma que o autoconceito de alguém afe-
eficácia da comunicação. ta sua capacidade de se comunicar, a comunicação que
É preciso abandonar a ilusão de que há solução fácil trava com outros modela também sua autoimagem. Uma
ou improvisada na construção de métricas que avaliem vez que o homem é, antes de tudo, um animal social, ele
nosso trabalho. Não se deve supor que a outra parte forma os mais relevantes conceitos acerca do seu pró-
entendeu, ou julgar que já deveria entender a mensa- prio eu a partir de suas experiências com outros seres
gem. O que deve ser feito para que a comunicação seja humanos.
adequada é investigar se a outra parte compreendeu a Os indivíduos aprendem a se reconhecer pela manei-
mensagem. ra como são tratados pelas pessoas importantes de sua
vida pessoas estas às vezes denominadas os outros sig-
15. Comunicação interpessoal eficaz: cinco ele- nificativos Mediante a comunicação verbal e não verbal
mentos críticos com esses outros significativos, cada um passa a reco-
nhecer se é apreciado ou não, se é aceito ou rejeitado,
Há cinco componentes que distinguem claramente se é merecedor de respeito ou desdém, se é um sucesso
os bons dos maus comunicadores. Tais componentes são ou um fracasso.
Autoimagem, Saber Ouvir, Clareza de Expressão, Capaci- Para que um indivíduo venha a ter uma sólida au-
dade para lidar com sentimentos de contrariedade (irri- toimagem, ele precisa de amor, respeito e aceitação dos
tação) e autoabertura. outros significativos de sua vida.
O autoconceito, portanto, constitui um fator crítico
14.1 Autoimagem (ou autoconceito) para que alguém seja um comunicador eficaz. Em es-
sência, a autoimagem de um indivíduo é delineada por
O fator isolado mais importante que afeta a comu- aqueles que o tiverem amado ou pelos que não o tive-
nicação entre pessoas é a sua autoimagem: a imagem rem amado.
que têm de si mesmas e das situações que vivenciam.
Enquanto as situações podem variar em função do mo- 14.2 Saber ouvir
mento ou do lugar, as crenças que as pessoas possuem
acerca de si próprias estão sempre determinando seus Toda a aprendizagem relativa à comunicação tem fo-
comportamentos na comunicação. O “eu” é a estrela em calizado as habilidades de expressão oral e de persua-
todo ato de comunicação. são; até há bem pouco tempo dava-se pouca atenção à
Cada um tem, literalmente, milhares de conceitos a capacidade de ouvir. Esta ênfase exagerada dirigida para
respeito de si mesmo: quem é, o que significa, onde exis- a habilidade de expressão levou a maioria das pessoas a
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te, o que faz e não faz, o que valoriza, no que acredita. subestimarem a importância da capacidade de ouvir em
Estas autopercepções variam em clareza, precisão e im- suas atividades diárias de comunicação.
portância de pessoa para pessoa. O ouvir, naturalmente, é algo muito mais intrincado
e complicado do que o processo físico da audição, ou
a) A importância da autoimagem de escutar. A audição se dá através do ouvido, enquan-
A autoimagem de alguém é quem ele é. É o centro do to que o ouvir implica num processo intelectual e emo-
seu universo, seu quadro referencial, sua realidade pes- cional que integra dados (inputs) físicos, emocionais e
soal, o seu ponto de vista particular. É um visor através intelectuais na busca de significados e de compreensão.
do qual ele percebe, ouve, avalia a compreende todas as O ouvir eficaz ocorre quando o “destinatário” é capaz de
coisas. É o seu filtro individual do mundo que o cerca. discernir e compreender o significado da mensagem do
A autoimagem de uma pessoa afeta sua maneira de remetente. O objetivo da comunicação só assim é atin-
se comunicar com os outros. Um autoconceito forte, po- gido.
sitivo, é necessário para haver interações hígidas e satis- O “Terceiro Ouvido”: Reik refere-se ao processo de
fatórias. Por outro lado, uma autoimagem fraca, inferior, ouvir eficazmente como sendo “ouvir com o terceiro
frequentemente distorce a percepção do indivíduo relati- ouvido”. O ouvinte eficaz escuta não só as palavras em
vamente a como os outros o veem, o que gera sentimen- si, como também seus significados subjacentes. Seu ter-

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ceiro ouvido, diz Reik, ouve aquilo que é dito entre as b) Capacidade para lidar com sentimentos de con-
sentenças e sem palavras, aquilo que se expressa silen- trariedade (irritação)
ciosamente, o que o emissor fala e pensa. A incapacidade de alguém para lidar com manifesta-
Logicamente, o ouvir com eficácia não é um proces- ções de irritação e contrariedade resulta, com fre-
so passivo. Ele desempenha um papel ativo na comuni- quência, em curtos-circuitos na comunicação.
cação. O ouvinte eficaz interage com o interlocutor no Expressão. A exteriorização das emoções é impor-
sentido de desenvolver os significados e chegar à com- tante para construir bons relacionamentos com os
preensão. outros. As pessoas precisam expressar seus senti-
Diversos princípios podem servir de auxílio para o mentos de tal modo que elas influenciem, remode-
aprimoramento das habilidades essenciais para saber lem e modifiquem a si próprias e aos outros. Elas
ouvir: precisam aprender a expressar sentimentos de ira
1. O ouvinte deve ter uma razão ou propósito de ou- de forma construtiva e não destrutivamente. As se-
vir; guintes orientações podem ser úteis:
2. O ouvinte deve suspender julgamentos; 1. Esteja alerta para suas emoções;
3. O ouvinte deve resistir a distrações – barulhos, pes- 2. Admita suas emoções. Não as ignore ou renegue;
soas, olhares – e focalizar o interlocutor; 3. Seja dono de suas emoções. Assuma responsabili-
4. O ouvinte deve esperar antes de responder ao seu dade por aquilo que fizer;
interlocutor. As respostas imediatas reduzem a efi- 4. Investigue suas emoções. Não procure “vencer”
cácia do ouvir; uma discussão na base do revide, ou de “dar o tro-
5. O ouvinte deve repetir palavra por palavra aquilo co”;
que o interlocutor está dizendo; 5. Relate suas emoções. A comunicação congruente
6. O ouvinte deve recolocar em suas próprias palavras significa uma combinação satisfatória entre o que
o conteúdo e o sentimento daquilo que o outro você está dizendo e aquilo que está vivenciando;
está dizendo, para que o interlocutor confirme se a 6. Integre suas emoções, o seu intelecto e a sua von-
mensagem que transmitiu foi realmente recebida; tade. Dê uma oportunidade a você mesmo de
7. O ouvinte deve buscar os temas, os pontos centrais aprender e crescer como pessoa. As emoções não
daquilo que o interlocutor está dizendo, ouvindo podem ser reprimidas. Elas devem ser identifica-
“através” das palavras para atingir sua real signifi- das, observadas, relatadas e integradas. Aí então
cação; as pessoas podem fazer instintivamente os ajusta-
8. O ouvinte deve utilizar o tempo diferencial entre a mentos necessários, à luz de seus próprios concei-
velocidade do pensamento (400 a 500 palavras por tos de crescimento. Eles podem acompanhar a vida
minuto) para “refletir” sobre o conteúdo e “buscar” e mudar com ela.
o seu significado;
9. O ouvinte deve estar pronto para reagir aos co- 14.3 Autoabertura
mentários do interlocutor.
A capacidade de falar total e francamente a respeito
a) Clareza de expressão de si mesmo – é necessária à comunicação eficaz. O in-
Ouvir eficazmente é uma habilidade necessária e ne- divíduo não pode se comunicar com outro ou chegar a
gligenciada na comunicação, porém muitas pes- conhecê-lo a menos que se esforce pela autoabertura.
soas consideram igualmente difícil dizer aquilo que A capacidade de alguém para se autorrevelar é um
querem dizer ou expressar aquilo que sentem. É sintoma de personalidade sadia.
que com frequência elas presumem simplesmente Pode-se dizer que um indivíduo compreenderá tanto
que o outro compreende a sua mensagem, mes- a respeito de si próprio quanto ele estiver disposto a co-
mo que sejam descuidadas ou confusas em sua municar a outra pessoa.
fala. Parecem achar que as pessoas deveriam ser Obstáculos à autorrevelação: para que se conheçam
capazes de ler as mentes uns dos outros: “Se está a si próprias e para que consigam relações interpessoais
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claro para mim, deve estar claro para você tam- satisfatórias, as pessoas precisam revelar-se aos outros.
bém”. Essa suposição é uma das maiores barreiras Ainda assim, a autorrevelação é obstruída por muitos.
ao êxito da comunicação humana. O comunicador A comunicação eficaz, então, tem por base estes cin-
deficiente deixa que o ouvinte adivinhe o que ele co componentes: uma autoimagem adequada; capaci-
quer dizer, partindo da premissa de que está, de dade de ser bom ouvinte; habilidade de expressar clara-
fato, comunicando. Por sua vez, o ouvinte age de mente os próprios pensamentos e ideias; capacidade de
acordo com suas adivinhações. O resultado óbvio lidar com emoções, tais como a ira, de maneira funcional
disto é um mal-entendido recíproco. e a disposição para se expor, para se revelar aos outros.
Para se chegar a resultados objetivos planejados
– desde a execução da rotina diária de trabalho, ATENDIMENTO AO PÚBLICO
até a comunhão mais profunda com alguém – as
pessoas precisam ter um meio de se comunicarem A qualidade do atendimento ao público apresenta-
satisfatoriamente. -se como um desafio institucional e deve ter como meta
aprimorar e uniformizar o serviço oferecido tanto ao pú-
blico externo como ao público interno.

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Vale ressaltar que o agente responsável por realizar da cultura da empresa/ instituição e conforme os
o atendimento, ao fazê-lo, não o faz por si mesmo, mas interesses institucionais, mas, ainda sim, atingindo
pela instituição, ou seja, ele representa a organização o resultado desejado de atender com excelência o
naquele momento, é a imagem da organização que se cliente, resolvendo sua necessidade ou atendendo
apresenta na figura desse agente. seu desejo.
Quando falamos em atendimento de qualidade, pen- ▪ Objetividade, clareza e concisão: ser direto, obje-
samos em excelência na forma com que nossos clientes tivo e claro em suas respostas para o cliente e se
(internos ou externos) são tratados. Lidar com pessoas, ater ao foco do que está sendo perguntado, forne-
como ocorre em um atendimento, exige uma postura cendo informações precisas e sucintas com aten-
comportamental comprometida com o outro, com suas ção e clareza.
necessidades, seus anseios, mas também com a organi-
zação, suas regras, ou seja, exige responsabilidade, co- 1. Postura de atendimento
nhecimento de funções, uso adequado de ferramentas
para se enquadrar ao sistema de funcionamento da or- Aqui, falamos em fatores pessoais que influenciam o
ganização, agilidade, cordialidade, eficiência e, principal- atendimento: apresentação pessoal, cortesia (personalizar
mente, empatia para realizar um atendimento de exce- o atendimento), atenção, tolerância (grau de aceitação de
lência junto ao público. diferente modo de pensar), discrição, conduta, objetivida-
Atendimento corresponde ao ato de atender, ou seja, de.
ao ato de prestar atenção às pessoas com as quais man- A postura pode ser entendida como a junção de to-
temos contato. dos esses aspectos relacionados com a nossa expressão
A qualidade do atendimento prestado depende da corporal na sua totalidade e nossa condição emocional.
capacidade de se comunicar com o público e da mensa- Podemos destacar 3 pontos necessários para falar-
gem transmitida. mos de postura. São eles:

O edital cita características que são imprescindíveis ▪ Ter uma postura de abertura: caracteriza-se por
quando se almeja alcançar um nível de excelência em um posicionamento de humildade, mostrando-se
qualidade no atendimento. Vejamos: sempre disponível para atender e interagir pron-
▪ Atenção: o cliente precisa ser o foco de suas ações. tamente com o cliente. Esta postura de abertura
É necessário fazer com que ele se sinta realmente o do atendente suscita alguns sentimentos positivos
elemento de maior importância nessa relação, e isso nos clientes, como por exemplo:
será possível quando o atende dispender a atenção ▪ Postura do atendente de manter os ombros aber-
necessária nesse contato, criando empatia para tos e o peito aberto, passa ao cliente um sentimen-
identificar de fato qual a melhor forma de atender to de receptividade e acolhimento;
esse cliente. ▪ A cabeça meio curva e o corpo ligeiramente incli-
▪ Cortesia: ser cortês significa usar de gentileza, edu- nado transmitem ao cliente a humildade do aten-
cação, lidar as pessoas com amabilidade, generosi- dente;
dade e delicadeza no trato. ▪ O olhar nos olhos e o aperto de mão firme tradu-
▪ Interesse: como dissemos acima, desenvolver em- zem respeito e segurança;
patia, ou seja, quando se coloca no lugar da pessoa ▪ A fisionomia amistosa alenta um sentimento de
e demonstra interesse naquilo que é importante afetividade e calorosidade.
para ela, consequentemente, realiza-se um trabalho ▪ Ter sintonia entre fala e expressão corporal: ca-
melhor. racteriza-se pela existência de uma unidade entre
▪ Presteza: está relacionado com a boa vontade e o que dizemos e o que expressamos no nosso
pré-disposição em servir. corpo. Quando fazemos isso, nos sentimos mais
▪ Eficiência: eficiência é a capacidade de “fazer as harmônicos e confortáveis. Não precisamos fingir,
coisas direito”, um administrador é considerado mentir ou encobrir os nossos sentimentos e eles
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eficiente quando minimiza o custo dos recursos fluem livremente. Dessa forma, nos sentimos mais
usados para atingir determinado fim. livres do stress, das doenças, dos medos.
▪ Tolerância: representa a capacidade de uma pes- ▪ As expressões faciais: podemos extrair dois aspec-
soa ou grupo de aceitar, em outra pessoa ou grupo tos: o expressivo, ligado aos estados emocionais
uma atitude diferente das que são a norma de seu que elas traduzem e a identificação desses estados
grupo. pelas pessoas; e a sua função social, que diz em
▪ Discrição: envolve zelo, respeito, prudência, discer- que condições ocorreu a expressão, seus efeitos
nimento e sensatez quando fornece uma informa- sobre o observador e quem a expressa.
ção ao cliente. É necessário manter-se reservado
sobre o que o cliente lhe diz. Assim, estará trans- Podemos concluir, entendendo que qualquer com-
mitindo confiabilidade e seriedade no trabalho de- portamento inclui posturas e é sempre fruto da interação
senvolvido. complexa entre o organismo e o seu meio ambiente.
▪ Conduta: espera-se que o atendente conheça e Observando essas condições principais que causam a
respeite as normas internas, afinal, ele é um canal vinculação ou o afastamento do cliente da empresa, po-
de transmissão da imagem da organização e, como demos separar a estrutura de uma empresa de serviços
tal, deve manter postura profissional, agir dentro em dois itens:

28
2. Os serviços e, para isso, cultiva o estado de espírito antes da chegada
do cliente. O primeiro passo de cada dia é iniciar o tra-
O serviço assume uma dimensão macro nas organi- balho com a consciência de que o seu principal papel é o
zações e, como tal, está diretamente relacionado ao pró- de ajudar os clientes a solucionarem suas necessidades.
prio negócio. A postura é de realizar serviços para o cliente.
Nesta visão mais global, estão incluídas as políticas
de serviços, a sua própria definição e filosofia. Aqui, tam- 5. A fuga dos clientes
bém são tratados os aspectos gerais da organização que
dão peso ao negócio, como: o ambiente físico, as cores As pesquisas revelam que 68% dos clientes das em-
(pintura), os jardins. Este item, portanto, depende mais presas fogem delas por problemas relacionados à postu-
diretamente da empresa e está mais relacionado com as ra de atendimento.
condições sistêmicas. Numa escala decrescente de importância, podemos
observar os seguintes percentuais:
3. Pontos e políticas do atendimento
▪ 68% dos clientes fogem das empresas por proble-
É o tratamento dispensado às pessoas, está mais rela- mas de postura no atendimento;
cionado com o funcionário em si, com as suas atitudes e ▪ 14% fogem por não terem suas reclamações atendi-
o seu modo de agir com os clientes. Portanto, está ligado das;
às condições individuais. ▪ 9% fogem pelo preço;
É necessário unir esses dois pontos e estabelecer nas ▪ 9% fogem por competição, mudança de ende-
políticas das empresas o treinamento e a definição de reço, morte.
um padrão de atendimento e de um perfil básico para A origem dos problemas está nos sistemas implan-
o profissional de atendimento, como forma de avançar tados nas organizações, muitas vezes obsoletos. Esses
no próprio negócio. Dessa maneira, esses dois itens se sistemas não definem uma política clara de serviços, não
tornam complementares e inter-relacionados, com de- definem o que é o próprio serviço e qual é o seu produto.
pendência recíproca para terem peso. Sem isso, existe muita dificuldade em satisfazer plena-
mente o cliente.
4. O profissional do atendimento Essas empresas que perdem 68% dos seus clientes
não contratam profissionais com características básicas
Para conhecermos melhor a postura de atendimen- para atender o público, não treinam esses profissionais
to, faz-se necessário falar do verdadeiro profissional do na postura adequada, não criam um padrão de atendi-
atendimento. mento e este passa a ser realizado de acordo com as ca-
Os três passos do verdadeiro profissional de atendi- racterísticas individuais e o bom senso de cada um.
mento: A falta de noção clara da causa primária da perda de
clientes faz com que as empresas demitem os funcio-
4.1 Entender o seu verdadeiro papel: que é o de nários “porque eles não sabem nem atender o cliente”.
compreender e atender as necessidades dos clientes, fa- Parece até que o atendimento é a tarefa mais simples da
zer com que ele seja bem recebido, ajudá-lo a se sentir empresa e que menos merece preocupação. Ao contrá-
importante e proporcioná-lo um ambiente agradável. rio, é a mais complexa e recheada de nuances que per-
Este profissional é voltado completamente para a intera- passam pela condição individual e por condições sistê-
ção com o cliente, estando sempre com as suas antenas micas.
ligadas neste, para perceber constantemente as suas ne- Essas condições sistêmicas estão relacionadas a:
cessidades. Para o profissional, não basta apenas conhe-
cer o produto ou serviço, o mais importante é demons- 1. Falta de uma política clara de serviços;
trar interesse em relação às necessidades dos clientes e 2. Indefinição do conceito de serviços;
atendê-las. 3. Falta de um perfil adequado para o profissional de
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atendimento;
4.2 Entender o lado humano: conhecendo as neces- 4. Falta de um padrão de atendimento;
sidades dos clientes, aguçando a capacidade de perce- 5. Inexistência do follow up;
ber o cliente. Para entender o lado humano, é necessário 6. Falta de treinamento e qualificação de pessoal.
que este profissional tenha uma formação voltada para
as pessoas e goste de lidar com gente. Espera-se que ele Nas condições individuais, podemos encontrar a con-
fique feliz em fazer o outro feliz, pois, para este profissio- tratação de pessoas com características opostas ao ne-
nal, a felicidade de uma pessoa começa no mesmo ins- cessário para atender ao público, como: timidez, avareza,
tante em que ela cessa a busca de sua própria felicidade rebeldia...
para buscar a felicidade do outro.
6. Os requisitos para contratação deste profissio-
4.3 Entender a necessidade de manter um estado nal
de espírito positivo: cultiva-se pensamentos e senti- Para trabalhar com atendimento ao público, alguns
mentos positivos para ter atitudes adequadas no mo- requisitos são essenciais ao atendente. São eles:
mento do atendimento. Ele sabe que é fundamental se-
parar os problemas particulares do dia a dia do trabalho ▪ Gostar de servir, de fazer o outro feliz;

29
▪ Gostar de lidar com gente; Essa interação pode se caracterizar por um cumpri-
▪ Ser extrovertido; mento verbal, uma saudação, um aceno de cabeça ou
▪ Ter humildade; apenas por um aceno de mão. O objetivo com isso é
▪ Cultivar um estado de espírito positivo; fazer o cliente sentir-se acolhido e certo de estar rece-
▪ Satisfazer as necessidades do cliente; bendo toda a atenção necessária para satisfazer os seus
▪ Cuidar da aparência. anseios.
Alguns exemplos são:
Com esses requisitos, o sinal fica verde para o aten- 1. No hotel, a arrumadeira está no corredor com o
dimento. carrinho de limpeza e o hóspede sai do seu apartamen-
to. Ela prontamente olha para ele e diz com um sorriso:
7. Outros fatores importantes no atendimento “bom dia!”
2. O caixa de uma loja cumprimenta o cliente no mo-
7.1 O olhar mento do pagamento;
3. O frentista do posto de gasolina aproxima-se ao
Os olhos transmitem o que está na nossa alma. Através ver o carro entrando no posto e faz uma sudação.
do olhar, podemos passar para as pessoas os nossos senti-
mentos mais profundos, pois ele reflete o nosso estado de 7.3 A invasão
espírito.
Porém, interagir no raio de ação não tem nada a ver
Ao analisar a expressão do olhar, não vamos nos com invasão de território.
prender somente a ele, mas à fisionomia como um todo Vamos entender melhor isso.
para entendermos o real sentido dos olhos. Todo ser humano sente necessidade de definir um
Um olhar brilhante transmite ao cliente a sensação de território, que é um certo espaço entre si e os estranhos.
acolhimento, de interesse no atendimento das suas ne- Esse território não se configura apenas em um espaço
cessidades, de vontade de ajudar. Ao contrário, um olhar físico demarcado, mas principalmente num espaço pes-
apático, traduz fraqueza e desinteresse, dando ao cliente, soal e social, o que podemos traduzir como a necessida-
a impressão de desgosto e dissabor pelo atendimento. de de privacidade, de respeito, de manter uma distância
Mas, você deve estar se perguntando: a que causa ideal entre si e os outros de acordo com cada situação.
este brilho nos nossos olhos? A resposta é simples: Gos- Quando esses territórios são invadidos, ocorrem cor-
tar do que faz, gostar de prestar serviços ao outro, gostar tes na privacidade, o que normalmente traz consequên-
de ajudar ao próximo. cias negativas. Podemos exemplificar essas invasões com
Para atender ao público, é preciso que haja interesse algumas situações corriqueiras: uma piada muito picante
e gosto, pois só assim conseguimos repassar uma sensa- contada na presença de pessoas estranhas a um grupo
ção agradável para o cliente. Gostar de atender o público social; ficar muito próximo do outro, quase se encostan-
significa gostar de atender as necessidades dos clientes, do nele; dar um tapinha nas costas etc.
querer ver o cliente feliz e satisfeito. Nas situações de atendimento, são bastante comuns
Como o olhar revela a atitude da mente, ele pode as invasões de território pelos atendentes. Estas, na sua
transmitir: maioria, causam mal-estar aos clientes, pois são traduzi-
a). Interesse quando: das por eles como atitudes grosseiras e pouco sensíveis.
▪ Brilha; Alguns são os exemplos destas atitudes e situações mais
▪ Tem atenção; comuns:
▪ Vem acompanhado de aceno de cabeça. ▪ Insistência para o cliente levar um item ou adquirir
um bem;
b) Desinteresse quando: ▪ Seguir o cliente por toda a loja;
▪ É apático; ▪ O motorista de taxi que não para de falar com o
▪ É imóvel, rígido; passageiro;
▪ Não tem expressão. ▪ O garçom que fica de pé ao lado da mesa sugerin-
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do pratos sem ser solicitado;


O olhar desbloqueia o atendimento, pois quebra o ▪ O funcionário que cumprimenta o cliente com dois
gelo. O olhar nos olhos dá credibilidade e não há como beijinhos e tapinhas nas costas;
dissimular com o olhar. ▪ O funcionário que transfere a ligação ou desliga o
telefone sem avisar.
7.2 A aproximação – raio de ação
Essas situações não cabem na postura do verdadeiro
A aproximação do cliente está relacionada ao concei- profissional do atendimento.
to de raio de ação, que significa interagir com o público,
independentemente deste ser cliente ou não. 7.4 O sorriso
Essa interação ocorre dentro de um espaço físico de 3
metros de distância do público e de um tempo imediato, O sorriso abre portas e é considerado uma linguagem
ou seja, prontamente. universal.
Além do mais, deve ocorrer independentemente de o Imagine que você tem um exame de saúde muito im-
funcionário estar ou não na sua área de trabalho. Esses portante para receber e está apreensivo com o resultado.
requisitos para a interação tornam-na mais eficaz. Você chega à clínica e é recebido por uma recepcionis-

30
ta que apresenta um sorriso caloroso. Com certeza você 7.7 Apresentação pessoal
se sentirá mais seguro e mais confiante, diminuindo um
pouco a tensão inicial. Neste caso, o sorriso foi interpre- Que imagem você acha que transmitimos ao cliente
tado como um ato de apaziguamento. quando o atendemos com unhas sujas, os cabelos des-
O sorriso tem a capacidade de mudar o estado de es- penteados, as roupas mal cuidadas... ?
pírito das pessoas e as pesquisas revelam que as pessoas O atendente está na linha de frente e é responsável
sorridentes são avaliadas mais favoravelmente do que as pelo contato, além de representar a empresa neste mo-
não sorridentes. mento. Para transmitir confiabilidade, segurança, bons
O sorriso é um tipo de linguagem corporal, um tipo serviços e cuidado, faz-se necessário, também, ter uma
de comunicação não-verbal. Como tal, expressa as emo- boa apresentação pessoal.
ções e geralmente informa mais do que a linguagem Alguns cuidados são essenciais para tornar este item
falada e a escrita. Dessa forma, podemos passar vários mais completo. São eles:
tipos de sentimentos e acarretar as mais diversas emo-
ções no outro. a) Tomar um banho antes do trabalho diário: além da
função higiênica, também é revigorante e espanta
7.5 Ir ao encontro do cliente a preguiça;
b) Cuidar sempre da higiene pessoal: unhas limpas,
Ir ao encontro do cliente é um forte sinal de com- cabelos cortados e penteados, dentes cuidados,
promisso no atendimento por parte do atendente. Este hálito agradável, axilas asseadas, barba feita;
item traduz a importância dada ao cliente no momen- c) Roupas limpas e conservadas;
to de atendimento, no qual o atendente faz tudo o que d) Sapatos limpos;
é possível para atender as suas necessidades, pois ele e) Usar o crachá de identificação em local visível
compreende que satisfazê-las é fundamental. Indo ao pelo cliente.
encontro do cliente, o atendente demonstra o seu inte-
resse para com ele. Quando esses cuidados básicos não são tomados, o
cliente se questiona: puxa, se ele não cuida nem dele,
7.6 A primeira impressão da sua aparência pessoal, como é que vai cuidar de me
prestar um bom serviço ?
Você já deve ter ouvido milhares de vezes esta frase: A apresentação pessoal, a aparência, é um aspecto
a primeira impressão é a que fica. importante para criar uma relação de proximidade e con-
Você concorda com ela? fiança entre o cliente e o atendente.
No mínimo seremos obrigados a dizer que será difícil
a empresa ter uma segunda chance para tentar mudar a 7.8 Cumprimento caloroso
impressão inicial se ela foi negativa, pois dificilmente o
O que você sente quando alguém aperta a sua mão
cliente irá voltar.
sem firmeza?
É muito mais difícil e também mais caro trazer de
Às vezes ouvimos as pessoas comentando que é
volta o cliente perdido, aquele que foi mal atendido ou
possível conhecer alguém, a sua integridade moral, pela
que não teve os seus desejos satisfeitos. Estes clientes
qualidade do seu aperto de mão.
perdem a confiança na empresa e normalmente os cus-
O aperto de mão “frouxo” transmite apatia, passivida-
tos para resgatá-los são altos. Alguns mecanismos que
de, baixa energia, desinteresse, pouca interação, falta de
as empresas adotam são os contatos via telemarketing, compromisso com o contato.
mala-direta, visitas, mas nem sempre são eficazes. Ao contrário, o cumprimento muito forte, do tipo
que machuca a mão, ao invés de trazer uma mensagem
A maioria das empresas não tem noção da quanti- positiva, causa um mal-estar, traduzindo hiperatividade,
dade de clientes perdidos durante a sua existência, pois agressividade, invasão e desrespeito. O ideal é ter um
elas não adotam mecanismos de identificação de recla- cumprimento firme, que prenda toda a mão, mas que a
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mações e/ou insatisfações de clientes. Assim, elas deixam deixe livre, sem sufocá-la. Este aperto de mão demonstra
escapar as armas que teriam para reforçar os seus pro- interesse pelo outro, firmeza, bom nível de energia, ativi-
cessos internos e o seu sistema de trabalho. dade e compromisso com o contato.
Quando as organizações atentam para essa impor- É importante lembrar que o cumprimento deve estar
tância, elas passam a aplicar instrumentos de medição, associado ao olhar nos olhos, à cabeça erguida, aos om-
porém, esses coletores de dados nem sempre traduzem bros e ao peito abertos, totalizando uma sintonia entre
a realidade, pois muitas vezes trazem perguntas vagas, fala e expressão corporal.
subjetivas ou pedem a opinião aberta sobre o assunto. Não se esqueça: apesar de haver uma forma adequada de
Dessa forma, fica difícil mensurar e acaba-se por não cumprimentar, esta jamais deverá ser mecânica e automática.
colher as informações reais.
A saída seria criar medidores que traduzissem com 7.9 Tom de voz
fatos e dados, as verdadeiras opiniões do cliente sobre o
serviço e o produto adquiridos da empresa. A voz é carregada de magnetismo e, como tal, traz
uma onda de intensa vibração. O tom de voz e a maneira
como dizemos as palavras são mais importantes do que
as próprias palavras.

31
Podemos dizer ao cliente: “a sua televisão deveria sair 7.11 Agilidade
hoje do conserto, mas, por falta de uma peça, ela só esta-
rá pronta na próxima semana”. De acordo com a maneira Atender com agilidade significa ter rapidez sem per-
que dizemos e de acordo com o tom de voz que usamos, der a qualidade do serviço prestado.
vamos perceber reações diferentes do cliente. A agilidade no atendimento transmite ao cliente a
Se dissermos isso com simpatia, naturalmente nos ideia de respeito. Sendo ágil, o atendente reconhece a
desculpando pela falha e assumindo uma postura de necessidade do cliente em relação à utilização adequada
humildade, falando com calma e num tom amistoso e do seu tempo.
agradável, percebemos que a reação do cliente será de Quando há agilidade, podemos destacar:
compreensão. ▪ O atendimento personalizado;
Por outro lado, se a mesma frase é dita de forma me- ▪ A atenção ao assunto;
cânica, estudada, artificial, ríspida, fria e com arrogância, ▪ O saber escutar o cliente;
poderemos ter um cliente reagindo com raiva, procuran- ▪ O cuidar das solicitações e o acompanhar o cliente
do o gerente, gritando etc. durante todo o seu percurso na empresa.
As palavras são símbolos com significados próprios.
A forma como elas são utilizadas também traz o seu sig- 7.12 O calor no atendimento
nificado e, com isso, cada palavra tem a sua vibração es-
pecial. O atendimento caloroso evita dissabores e situações
constrangedoras, além de ser a comunhão de todos os
7.10 Saber escutar pontos estudados sobre postura.
O atendente escolhe a condição de atender o clien-
Você acha que existe diferença entre ouvir e escutar? te e, para isso, é preciso sempre lembrar que o cliente
Se você respondeu que não, você errou. deseja se sentir importante e respeitado. Na situação de
Escutar é muito mais do que ouvir, pois é captar o atendimento, o cliente busca ser reconhecido e, transmi-
verdadeiro sentido, compreendendo e interpretando a tindo calorosidade nas atitudes, o atendente satisfaz as
essência, o conteúdo da comunicação. necessidades do cliente de estima e consideração.
O ato de escutar está diretamente relacionado com a Ao contrário, o atendimento áspero transmite ao
nossa capacidade de perceber o outro. E, para perceber- cliente a sensação de desagrado, descaso e desrespeito,
mos o outro, o cliente que está diante de nós, precisamos além de retornar ao atendente como um bumerangue.
nos despojar das barreiras que atrapalham e empobre- O efeito bumerangue é bastante comum em situações
cem o processo de comunicação. São elas: de atendimento, pois ele reflete o nível de satisfação, ou
▪ Os preconceitos; não, do cliente em relação ao atendente. Com esse efeito,
▪ As distrações; as atitudes batem e voltam, ou seja, se você atende bem,
▪ Os julgamentos prévios; o cliente se sente bem e trata o atendente com respeito.
▪ As antipatias. Se este atende mal, o cliente reage de forma negativa e
hostil. O cliente não está na esteira da linha de produção,
Para interagirmos e nos comunicarmos a contento, merecendo ser tratado com diferenciação e apreço.
precisamos compreender o todo, captando os estímulos Precisamos ter em atendimento pessoas descontraí-
que vêm do outro, fazendo uma leitura completa da si- das, que façam do ato de atender o seu verdadeiro sen-
tuação. tido de vida, que é servir ao próximo.
Atitudes de apatia, frieza, desconsideração e hostili-
Precisamos querer escutar, assumindo uma postura dade retratam bem a falta de calor do atendente. Com
de receptividade e simpatia, afinal, nós temos dois ouvi- essas atitudes, o atendente parece estar pedindo ao
dos e uma boca, o que nos sugere que é preciso escutar cliente que este se afaste, vá embora, desapareça da sua
mais do que falar. frente, pois ele não é bem-vindo. Assim, o atendente es-
Quando não sabemos escutar o cliente – interrom- quece que a sua missão é servir e fazer o cliente feliz.
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pendo-o, falando mais que ele, dividindo a atenção com


outras situações – tiramos dele a oportunidade de ex- 8. As gafes no atendimento
pressar os seus verdadeiros anseios e necessidades e
corremos o risco de aborrecê-lo, pois não iremos conse- Depois de conhecermos a postura correta de aten-
guir atendê-los. dimento, também é importante sabermos quais são as
A mais poderosa forma de escutar é a empatia (que formas erradas, para jamais praticá-las. Quem as pratica
vamos conhecer mais na frente). Ela nos permite escutar, com certeza não é um verdadeiro profissional de aten-
de fato, os sentimentos por trás do que está sendo dito, dimento. A seguir, alguns pontos que são considerados
mas, para isso, é preciso que o atendente esteja sintoni- postura inadequada:
zado emocionalmente com o cliente. Essa sintonia se dá
por meio do despojamento das barreiras que já falamos 8.1 Postura inadequada
antes.
A postura inadequada é abrangente, indo desde a
postura física ao mais sutil comentário negativo sobre a
empresa na presença do cliente.

32
Em relação à postura física, podemos destacar como inadequado o atendente:
▪ Escorar-se nas paredes da loja ou debruçar a cabeça no seu birô por não estar com o cliente (esta atitude impede
que ele interaja no raio de ação);
▪ Mascar chicletes durante o atendimento;
▪ Cuspir, pôr o dedo no nariz ou no ouvido quando estiver falando pessoalmente com o cliente. O asseamento
deve ser feito apenas no banheiro;
▪ Comer enquanto atende o cliente (comum nas empresas que oferecem lanches ou têm cantina);
▪ Vociferar um pedido a alguém da empresa. Pedir com gentileza seria o correto porque o grito além de ser algo
deselegante é uma forma de agressão;
▪ Coçar-se na frente do cliente;
▪ Bocejar. O atendente tem de conter o bocejo, que é um sinal de cansaço. O cliente pode entender que sua pre-
sença é desinteressante.

Em relação aos itens mais sutis, podemos destacar:


▪ Achar-se íntimo do cliente a ponto de lhe pedir carona, por exemplo;
▪ Receber presentes do cliente em troca de um bom serviço;
▪ Fazer críticas a outros setores, pessoas, produtos ou serviços na frente do cliente;
▪ Desmerecer ou criticar o fabricante do produto que vende, o parceiro da empresa, denegrindo a sua imagem
para o cliente;
▪ Falar mal de pessoas ausentes na presença do cliente;
▪ Usar o cliente como desabafo dos problemas pessoais;
▪ Lamentar;
▪ Colocar problemas salariais;
▪ Reclamar de outrem ou da própria vida na frente do cliente.
▪ Lembre-se: a ética do trabalho é servir aos outros e não se servir dos outros.

8.2 Usar chavões

O mau profissional utiliza-se de alguns chavões como forma de fugir à sua responsabilidade no atendimento ao
cliente. Citamos aqui os mais comuns:
Pare e reflita: você gostaria de ser comparado a este atendente?
▪ O senhor como cliente tem que entender;
▪ O senhor deveria agradecer o que a empresa faz pelo senhor;
▪ O cliente é um chato que sempre quer mais;
▪ Aí vem ele de novo.

Essas frases geram um bloqueio mental, dificultando a liberação do lado bom da pessoa que atende o cliente.
Aqui, podemos ter o efeito bumerangue, que torna um círculo vicioso na postura inadequada, pois o atendente usa
os chavões (pensa dessa forma em relação ao cliente e à situação de atendimento), o cliente se aborrece e descarrega
no atendente ou simplesmente não volta mais.

Para quebrar esse ciclo, é preciso haver uma mudança radical no pensamento e postura do atendente.

8.3 Impressões finais do cliente

Toda a postura e comportamento do atendente vai levar o cliente a criar uma impressão sobre o atendimento e,
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consequentemente, sobre a empresa.


Duas são as formas de impressões finais mais comuns do cliente:
a) Momento da verdade: por meio do contato direto (pessoal) e/ou telefônico com o atendente;
b) Teleimagem: por meio do contato telefônico. (Vamos conhecê-la com mais detalhes.)

8.4 Momentos da verdade

Segundo Karl Albrecht, Momento da Verdade é qualquer episódio no qual o cliente entra em contato com qualquer
aspecto da organização e obtém uma impressão da qualidade do seu serviço.
O funcionário tem poucos minutos para fixar na mente do cliente a imagem da empresa e do próprio serviço pres-
tado. Este é o momento que separa o grande profissional dos demais.

33
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (o que)
» MOVIMENTO DA VERDADE (MV’s)
» encantado
»desencantado
»Apático
Características de MV’s
• MV’s não são apenas os primeiros contatos
• MV’s acontecem por meio de múltiplos canais
• Ter MV’s com os Clientes não é exclusividade de ningém na empresa
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (o que)
» pelo Cliente depende do...CICLO DE SERVIÇOS
Um único MV desastroso compromete todo ciclo.
» SATISFAÇÃO DAS PESSOAS
» pelo Cliente depende da...CICLO DE SERVIÇOS
Satisfação Percepção (P)
do = ________________________
Cliente (S) Expectativa (E)
Atendimento
de Excelência O atendimento percebido
— Necessidade momentânea do Cliente
— Personalidade do Cliente
— Experiência do Cliente
— Estado de Espírito do Cliente
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA (o que)
» SATISFAÇÃO DAS PESSOAS
1º não desencantar
2º satisfazer
3º surpreender
É tirar dele a expressão:
Ah! Eu não acredito!!!

#FicaDica
É muito comum cair questões que exigem conhecimento sobre a questão que envolva a relação percep-
ção e expectativa ao tratar de satisfação do cliente.

Este verdadeiro profissional trabalha em cada momento da verdade, considerando-o único e fundamental para de-
finir a satisfação do cliente. Ele se fundamenta na chamada Tríade Do Atendimento ou Triângulo Do Atendimento, que
é composto de elementos básicos do processo de interação, que são:
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a) A pessoa
A pessoa mais importante é aquela que está na sua frente. Então, podemos entender que a pessoa mais importante
é o cliente que está na frente e precisa de atenção.
No Momento da Verdade, o atendente se relaciona diretamente com o cliente, tentando atender a todas as suas
necessidades. Não existe outra forma de atender, a não ser pelo contato direto e, portanto, a pessoa fundamental
neste momento é o cliente.

b) A hora
A hora mais importante das nossas vidas é o agora, o presente, pois somente nele podemos atuar.
O passado ficou para atrás, não podendo ser mudado e o futuro não cabe a nós conhecer. Então, só nos resta o
presente como fonte de atuação. Nele, podemos agir e transformar. O aqui e agora são os únicos momentos nos
quais podemos interagir e precisamos fazer isto da melhor forma.

c) A tarefa
Para finalizar, falamos da tarefa. A nossa tarefa mais importante, diante da pessoa mais importante para nós, na hora
mais importante, que é o aqui e o agora, é fazer o cliente feliz, atendendo as suas necessidades.

34
Essa tríade se configura no fundamento dos Momen- 9.2 Percepção
tos da Verdade e, para que estes sejam plenos, é
necessário que os funcionários de linha de frente, Percepção é a capacidade que temos de compreen-
ou seja, que atendem os clientes, tenham poder de der e captar as situações, o que exige sintonia e é fun-
decisão. É necessário que os chefes concedam au- damental no processo de atendimento ao público. Para
tonomia aos seus subordinados para atuarem com percebermos melhor, precisamos passar pela “escravi-
precisão nos Momentos da Verdade. dão” de nós mesmos, ficando, assim, mais próximos do
outro. Mas, como é isso? Vamos ficar vazios? É isso mes-
8.5 Teleimagem mo. Vamos ficar vazios dos nossos preconceitos, das nos-
sas antipatias, dos nossos medos, dos nossos bloqueios,
Pelo telefone, o atendente transmite a teleimagem da vamos observar as situações na sua totalidade, para en-
empresa e dele mesmo. tendermos melhor o que o cliente deseja. Vamos ilustrar
Teleimagem, então, é a imagem que o cliente forma com um exemplo real: certa vez, em uma loja de carros,
na sua mente (imagem mental) sobre quem o está aten- entra um senhor de aproximadamente 65 anos, usando
dendo e, consequentemente, sobre a empresa ( que é um chapéu de palha, camiseta rasgada e calça amarrada
representada pelo atendente). na cintura por um barbante. Ele entrou na sala do ge-
Quando a teleimagem é positiva, a facilidade do clien- rente, que imediatamente se levantou pedindo para ele
te encaminhar os seus negócios é maior, pois ele supõe se retirar, pois não era permitido “pedir esmolas ali “. O
que a empresa é comprometida com o cliente. No entan- senhor, com muita paciência, retirou, de um saco plástico
to, se a imagem é negativa, vemos normalmente o clien- que carregava, um “bolo“ de dinheiro e disse: “eu quero
te fugindo da empresa. Como exemplo, no atendimento comprar aquele carro ali”.
telefônico, o único meio de interação com o cliente é por Esse exemplo, apesar de extremo, é real e retrata cla-
meio da palavra e, sendo a palavra o instrumento, faz-se ramente o que podemos fazer com o outro quando pré-
necessário usá-la de forma adequada para satisfazer as -julgamos as situações.
exigências do cliente. Dessa forma, classificamos 03 itens Precisamos ver o todo, não só as partes, pois o todo é
básicos ligados à palavra e às atitudes como fundamen- muito mais do que a soma das partes. Ele nos diz o que é
tais na formação da teleimagem. e não é harmônico e com ele percebemos a essência dos
fatos e situações.
São eles: Ainda falando em percepção, devemos ter cuidado
▪ O tom de voz: é através dele que transmitimos in- com a percepção seletiva, que é uma distorção de percep-
teresse e atenção ao cliente. Ao usarmos um tom ção, na qual vemos, escutamos e sentimos apenas aquilo
frio e distante, passamos ao cliente a ideia de de- que nos interessa. Essa seleção age como um filtro, que
satenção e desinteresse. Ao contrário, se falamos deixa passar apenas o que convém. Essa filtragem está
com entusiasmo, de forma decidida e atenciosa- diretamente relacionada com a nossa condição física-
mente, satisfazemos as necessidades do cliente de -psíquica-emocional. Como é isso? Vamos entender:
sentir-se assistido, valorizado, respeitado, impor- a) Se estou com medo de passar em rua deserta e
tante. escura, a sombra do galho de uma árvore pode me
▪ O uso de palavras adequadas: pois com elas o assustar, pois eu posso percebê-lo como um braço
atendente passa a ideia de respeito pelo cliente. com uma faca para me apunhalar;
Aqui fica expressamente proibido o uso de termos b) Se estou com muita fome, posso ter a sensação de
como: amor, bem, benzinho, chuchu, mulherzinha,
um cheiro agradável de comida;
queridinha, colega etc.
c) Se fiz algo errado e sou repreendida, posso ou-
▪ As atitudes corretas: dar ao cliente a impressão de
vir a parte mais amena da repreensão e reprimir
educação e respeito. São incorretas as atitudes de
a mais severa.
transferir a ligação antes do cliente concluir o que
iniciou a falar; passar a ligação para a pessoa ou
Em alguns casos, a percepção seletiva age como me-
ramal errado (demostrando, assim, que não ou-
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canismo de defesa.
viu o que ele disse), desligar sem cumprimento ou
saudação, dividir a atenção com outras conversas,
deixar o telefone tocar muitas vezes sem atender, 9.3 O estado interior
dar risadas no telefone etc.
O estado interior, como o próprio nome sugere, é a
9. Aspectos psicológicos do atendente condição interna, o estado de espírito diante das situa-
ções.
Nós falamos sobre a importância da postura de aten- A atitude de quem atende o público está diretamente
dimento. Porém, a base dela está nos aspectos psicológi- relacionada ao seu estado interior. Ou seja, se o atenden-
cos do atendimento. Vamos a eles. te mantém um equilíbrio interno, sem tensões ou preo-
cupações excessivas, as suas atitudes serão mais positi-
9.1 Empatia vas frente ao cliente.
Dessa forma, o estado interior está ligado aos pensa-
Capacidade humana de se colocar no lugar do outro. mentos e sentimentos cultivados pelo atendente. E estes,
Como esse é um assunto cobrado no tópico seguinte, dão suporte às atitudes frente ao cliente.
vamos abordá-lo mais detalhadamente a seguir.

35
Se o estado de espírito supõe sentimentos e pensa- 9.5 Atendimento e qualidade
mentos negativos, relacionados ao orgulho, egoísmo e
vaidade, as atitudes advindas deste estado sofrerão as A globalização, os desafios do desenvolvimento tec-
suas influências e serão: nológico e cultural e a competição entre as organizações
▪ Atitudes preconceituosas; trazem como consequência o interesse pela qualidade de
▪ Atitudes de exclusão e repulsa; seus produtos e serviços.
▪ Atitudes de fechamento; Esse interesse não se restringe às empresas privadas
▪ Atitudes de rejeição. e se estende, também, ao setor público.
Assim, vemos que:
É necessário haver um equilíbrio interno, uma estabi- ▪ Os empresários buscam aperfeiçoar o desempe-
lidade, para que o atendente consiga manter uma atitu- nho em suas áreas de atuação (produtos ou servi-
de positiva com os clientes e as situações. ços) e o relacionamento com os seus clientes.
▪ O setor público enfrenta os desafios de melhorar
9.4 O envolvimento (1) a qualidade de seus serviços, (2) aumentar a sa-
tisfação dos usuários e (3) instituir um atendimento
A demonstração de interesse, prestando atenção ao de excelência ao público.
cliente e voltando-se inteiramente ao seu atendimento, é ▪ Os clientes e usuários das organizações públicas
o caminho para o verdadeiro sentido de atender. e privadas também se mostram mais exigentes na
Na área de serviços, o produto é o próprio serviço escolha de serviços e produtos de melhor qualida-
prestado, que se traduz na interação do funcionário com de. Assim, a relação com os clientes e usuários pas-
o cliente. Um serviço é, então, um resultado psicológico e sa ser um novo foco de preocupação e demanda
pessoal que depende de fatores relacionados com a in- esforços para sua melhoria.
teração com o outro. Quando o atendente tem um en-
volvimento baixo com o cliente, este percebe com clareza 9.6 Qualidade
a sua falta de compromisso. As preocupações excessivas,
O conceito de qualidade é amplo e suscita várias
o trabalho estafante, as pressões exacerbadas, a falta de
interpretações. As mais expressivas se referem, por um
liderança e o nível de burocracia são fatores que contri-
lado, à definição de qualidade como busca da satisfação
buem para uma interação fraca com o cliente. Essa fra-
do cliente, e, por outro, à busca da excelência para todas
queza de envolvimento não permite captar a essência dos
as atividades de um processo.
desejos do cliente, o que se traduz em insatisfação. Um
Na mesma vertente, a qualidade é também consi-
exemplo simples disso é a divisão de atenção por parte do
derada como fator de transformação no modo como a
atendente. Quando este divide a atenção no atendimento organização se relaciona com seus clientes, agregando
entre o cliente e os colegas ou outras situações, o cliente valor aos serviços a ele destinados.
sente-se desrespeitado, diminuído e ressentido. A sua im- Em face dessa diversidade de significados, cabe às
pressão sobre a empresa é de fraqueza e o momento da organizações identificar os atributos ou indicadores de
verdade é pobre. qualidade dos seus produtos e serviços do ponto de vista
Essa ação traz consequências negativas como: impos- dos seus usuários. Entre eles, podem ser destacados a
sibilidade de escutar o cliente, falta de empatia, desres- eficiência, a eficácia, a ética profissional, a agilidade no
peito com o seu tempo, pouca agilidade e baixo compro- atendimento, entre outros.
misso com o atendimento. No Brasil, a questão da qualidade na área pública
Às vezes, a própria empresa não oferece uma estrutu- vem sendo abordada pelo Programa de Qualidade no
ra adequada para o atendimento ao público, obrigando Serviço Público que tem por objetivo elevar o padrão dos
o atendente a dividir o seu trabalho entre atendimento serviços prestados e tornar o cidadão mais exigente em
pessoal e telefônico, quando normalmente há um fluxo relação a esses serviços. Para tanto, o Programa visa à
grande de ambos no setor. Neste caso, o ideal seria se- transformação das organizações e entidades públicas no
parar os dois tipos de atendimento, evitando problemas sentido de valorizar a qualidade na prestação de serviços
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desta espécie. ao público, retirando o foco dos processos burocráticos.


Alguns exemplos comuns de divisão de atenção são: O programa estabelece o cidadão como principal
▪ Atender pessoalmente e interromper com o telefo- foco de atenção de qualquer órgão público federal, defi-
ne; ne padrões de qualidade do atendimento e prevê a ava-
▪ Atender o telefone e interromper com o contato di- liação de satisfação do usuário por todos os órgãos e
reto; entidades da Administração Pública Federal direta, indi-
▪ Sair para tomar café ou lanchar; reta e fundacional que atendem diretamente ao cidadão.
▪ Conversar com o colega do lado sobre o final de Nesse sentido, considera-se que o serviço público
semana, férias, namorado, tudo isso no momento deve ter as seguintes características:
de atendimento ao cliente. ▪ Adequado: realizado na forma prevista em lei de-
vendo atender ao interesse público.
Esses exemplos, muitas vezes, soam ao cliente como ▪ Eficiente: alcança o melhor resultado com menor
um exibicionismo funcional, o que não agrega valor ao consumo de recursos.
trabalho. O cliente deve ser poupado dele. ▪ Seguro: não coloca em risco a vida, a saúde, a se-
gurança, o patrimônio ou os direitos materiais e
imateriais do cidadão-usuário.

36
▪ Contínuo: oferecido sem risco de interrupção, sen- ▪ Desenvolver produtos e/ou serviços de qualidade;
do obrigatório o planejamento e a adoção de me- ▪ Divulgar os diferenciais da organização;
didas de prevenção para evitar a descontinuidade. ▪ Imprimir qualidade à relação atendente/usuário;
▪ Fazer uso da empatia;
9.7 Usuários/Clientes ▪ Analisar as reclamações;
▪ Acatar as boas sugestões.
Existem dois tipos de usuários ou clientes de uma or-
ganização: Essas ações estão relacionadas a indicadores que po-
▪ Externos – recebem serviços ou produtos na sua dem ser percebidos e avaliados de forma positiva pelos
versão final. usuários, entre eles: competência, presteza, cortesia, pa-
▪ Internos – fazem parte da organização, de seus se- ciência, respeito.
tores, grupos e atividades. Por outro lado, arrogância, desonestidade, impaciên-
cia, desrespeito, imposição de normas ou exibição de
Para identificar esses tipos de usuários, as pessoas da poder tornam o atendente intolerável, na percepção dos
organização devem responder o seguinte: usuários.
▪ Com que pessoas mantenho contato enquanto No conjunto dessas ações, deve ainda ser ressaltada a
trabalho? empatia como um fator crucial para a excelência no aten-
▪ Quem recebe o resultado do meu trabalho? dimento ao público. A utilização adequada dessa ferra-
▪ Qual o nível de satisfação das pessoas que de- menta no momento em que as pessoas estão interagin-
pendem do resultado dos serviços executados por do é fundamental. No bom atendimento, é importante a
mim? utilização de frases como “Bom dia”, “Boa tarde”, “Sente-
-se por favor”, ou “Aguarde um instante, por favor”, que,
9.8 Princípios para o bom atendimento na gestão
ditas com suavidade e cordialidade, podem levar o usuá-
da qualidade
rio a perceber o tratamento diferenciado que algumas
organizações já conseguem oferecer ao seu público-alvo.
Foco no cliente. Nas empresas privadas, a importân-
cia dada a esse princípio se deve principalmente ao fato
Fonte e texto adaptado de: Mônica Larissa Pereira,
de que o sucesso da venda (lucro financeiro) depende
Camila Lopes Ramos, Andreia Ribas, Marcelo Rodrigues,
da satisfação do cliente com a qualidade do produto e
Gustavo Periard,Wagner Siqueira, Marcos Thadeu Ro-
também com o tratamento recebido e com o resultado
drigues, Daniel Martins, Luis Araújos, Ana França, Vera
da própria negociação.
No setor público, este princípio se relaciona sobretu- Souza, Inacio Stoffel, Idalberto Ciavenato, Wagner Ap.
do aos conceitos de cidadania, participação, transparên- Ramos de Oliveira, Roseane de Queiroz Santos. Dispo-
cia e controle social. nível em: <www.portal.tcu.gov.br/www.sbcoaching.com.
Para cumprir este princípio, é necessário ter atenção br>/<www.paulorodrigues.pro.br>/<www.administrado-
com dois aspectos: res.com.br>/<www.gestaodepessoasmba.com.br>
▪ Verificar se o que é estabelecido como qualidade
atende a todos os usuários, inclusive aos mais exi-
gentes; ESCOLHA DAS TÉCNICAS DE SELEÇÃO
▪ Fazer bem feito o serviço e, depois, checar os pas-
sos necessários para a sua execução. 1. Triagem

Deve-se lembrar que tais atitudes levam em conta A atração de candidatos com potencial pelo perfil de
tanto o atendimento do usuário quanto as atividades e competências e os candidatos que atendem os requisitos
rotinas que envolvem o serviço. se apresentam com maior probabilidade de possuírem as
O serviço ou produto deve atender a uma real ne- competências procuradas. Inicia-se por análise curricular
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cessidade do usuário. Este princípio se relaciona à di- e posteriormente entrevista para confirmação dos dados.
mensão da validade, isto é, o serviço ou produto deve ser A análise de um currículo se deve inicialmente a partir
exatamente como o usuário espera, deseja ou necessita de uma triagem (filtro), que dá uma primeira impressão
que ele seja. das qualificações dos candidatos ao perfil. Nesta triagem
Manutenção da qualidade. O padrão de qualidade é necessário ao selecionador concentrar-se em realiza-
mantido ao longo do tempo é que leva à conquista da ções, resultados que o indivíduo gerou para as organi-
confiabilidade. zações que já trabalhou. O desenvolvimento de carreira
é considerável, ela não se torna a partir de vários cargos
A atuação com base nesses princípios deve ser orien- mais segundo Dutra (2004), “a ampliação do espaço ocu-
tada por algumas ações que imprimem qualidade ao pacional, entendido como o nível de complexidade das
atendimento, tais como: atribuições e das responsabilidades de um empregado.”
▪ Identificar as necessidades dos usuários; O passo seguinte é a entrevista breve e que mostrará
▪ Cuidar da comunicação (verbal e escrita); pontos que poderão ser aprofundados ao longo da sele-
▪ Evitar informações conflitantes; ção. Para Almeida (2004), “tem como objetivo esclarecer
▪ Atenuar a burocracia; alguns aspectos do currículo do profissional e estabele-
▪ Cumprir prazos e horários; cer as primeiras impressões sobre algumas características

37
do candidato.” Características tais como: apresentação As entrevistas não-estruturadas, as perguntas serão
pessoal, atitudes, capacidade de expressão e comporta- feitas de acordo com a entrevista, tornando-se menos
mento serão observados. objetiva.
Almeida (2004) diz: ”Estudos empíricos, conduzidos
2. Análise do Perfil de Competências por vários pesquisadores, são unânimes em apontar a
superioridade das entrevistas estruturadas sobre as en-
O conhecimento sobre requisitos e competências; trevistas não-estruturadas.”
quanto maior volume de informações, melhor será a se-
leção do melhor candidato para a posição. 1.1. Entrevista técnica
A descrição do cargo com suas tarefas, deveres, res-
ponsabilidades e requisitos são apenas alguns dos aspec- Obtém e aprofunda informações técnicas, experiência
tos levantados para análise. Outro aspecto de relevância profissional e habilidades do candidato, realizadas pelo
para análise é a cultura organizacional, pois constitui colaborador que o candidato se reportará. Fundamenta a
aspectos como crenças, valores constituídos a partir de decisão de qual candidato será escolhido, portanto é de
práticas macrossociais, integração de práticas sociais, o caráter decisivo (MENDONÇA, 2002).
que determinam nossas atitudes. Gramigna (2002), diz
que “a atitude é o principal componente da competência, 1.2. Entrevista psicológica
estando relacionada ao querer ser e ao querer agir.”
Ou seja, um candidato pode ter todos os requisitos Busca a personalidade da pessoa, aspectos, vida pes-
para um bom desempenho profissional, mas se suas soal, em família, lazer, sua história. Tem como objetivo
crenças e valores não estiverem alinhadas com a organi- investigar vários aspectos da vida do candidato como
zação, ele pode não se tornar o que a organização deseja analisar perfil psicológico adequado ao perfil de compe-
(GRAMIGNA, 2002). tências que se procura (PASSOS, 2005).
Este tipo de entrevista está cada vez mais raro uma
3. Avaliação dos candidatos vez que, a profundidade das informações colhidas, dado
ao tempo disponível para os processos e as entrevistas,
Os meios utilizados que permitem avaliar os candi- deve ser conduzida por psicólogos (PASSOS, 2005).
datos são distribuídos em testes, dinâmicas de grupo,
entrevistas. Essas técnicas supõem que há uma corres- 1.3. Entrevista tradicional
pondência com o desempenho no futuro trabalho (PAI-
VA, 2010).
Com perguntas abertas, envolvem assuntos técnicos
A responsabilidade da avaliação, não é apenas res-
e psicológicos tais como:
ponsabilidade do recrutador mais também do requisi-
- Interesse em trabalhar na empresa;
tante da vaga que elaborou, participou de testes, dinâ-
- Habilidades que você julga essenciais para o bom
micas de grupos. A participação do requisitante amplia o
desempenho do cargo;
compromisso nos resultados (VIEIRA,1994).
-Quais os motivos levaram a deixar o último empre-
go;
TÉCNICAS DE SELEÇÃO
- Pontos fortes e pontos fracos.
1. Entrevistas Essas entrevistas possibilitam ao candidato a forma-
ção do seu perfil, permitem avaliar as competên-
Pontes (1996) diz: “A entrevista é uma técnica univer- cias contidas no candidato que estão sendo procu-
sal, sendo em muitos casos a única forma de seleção”. radas (PASSOS, 2005).
As entrevistas podem ser individuais e coletivas, em
forma de comitê, podendo ser dirigidas (com roteiro),
semi dirigidas e não dirigidas ou livres (sem roteiros), 1.4. Entrevista situacional
busca fundamentar as decisões relativas à contratação de
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um novo colaborador. São perguntas objetivando ava- É uma variação da entrevista tradicional. Perguntas
liar determinadas competências como perfil profissional, abertas enfocam características do trabalho. Sua vanta-
competências não vistas por meio de outras técnicas, in- gem é focalizar situações de trabalho especificas. Elas
vestigar competências não exploradas e esclarecer fatos, remetem no candidato a idealização em situação hipo-
impressões, confirmar ou rejeitar hipóteses que surgem tética (PASSOS, 2005).
ao longo do processo seletivo. Sendo um dos meios mais
importantes para selecionadores, é um dos instrumentos 1.5. Entrevista comportamental
mais usados, onde os testes psicológicos eram predo-
minantes. No entanto com o passar do tempo, os testes Para Reis (2003), esse tipo de entrevista específica
psicológicos estão cedendo lugar às entrevistas. mostra experiências do passado, essa situação possibili-
Existem dois tipos de entrevistas: ta prever o comportamento no futuro do candidato. Ao
As entrevistas podem ser estruturadas, quando é so- invés de submeter os candidatos a perguntas que reme-
licitado ao candidato responder questões padronizadas, tem ao hipotético, o entrevistador solicita ao candidato
onde as informações coletadas são as principais vanta- descrever uma situação concreta, onde demonstre fatos
gens é descobrir um provável sucesso no cargo preten- específicos do passado buscando prever um comporta-
dido. mento futuro, ilustrando a competência que se pretende

38
analisar. As competências podem ser de capacidades em comportamento, onde é possível fazer predições a res-
administração de tempo, planejamento, organização e peito de outro comportamento, sendo importante que
negociação. aja uma descrição do cargo e das competências exigidas.
As diferentes formas de aplicar os testes podem ser
Para Reis (2003) as perguntas devem ser abertas e consideradas variantes de padrão básico sendo eles:
especificas, usando verbos em ação, mas no passado, fo-
cando competências, ou seja, o principal objetivo deve 2.2. Testes de conhecimento
ser obter descrições de fatos específicos da vida que po-
dem ser usados como evidências. São provas que apuram conhecimentos ou habilida-
O candidato interrompe o contato visual com o en- des sendo elas: Idiomas, matemática financeira entre ou-
trevistador, pára por alguns segundos enquanto pensa tros, podendo ser aplicadas via internet e muito utilizado
ou visualiza um exemplo, e então retoma o contato vi- em concursos públicos (ALMEIDA, 2004).
sual e descreve um acontecimento especifico de sua vida. Segundo Almeida (2004), “. O teste objetivo utiliza
Essas descrições das experiências são acompanhadas de questões com respostas diretas, usando teste de múlti-
descrição de tempo, datas, números, locais e quaisquer pla escolha”. Nos testes objetivos exigem como caracte-
outras particularidades que evidenciam que o fato real- rística avaliar o candidato em habilidades como leitura,
mente ocorreu (REIS, 2003). interpretação e crítica, pois cobre vários conhecimentos
necessários para desempenho do cargo. Nele o julga-
Abaixo no Quadro estão listadas as técnicas com per- mento se torna mais objetivo através das respostas do
centagens mais utilizadas na seleção de pessoas em al- candidato, usando gabaritos de respostas como apoio
gumas organizações brasileiras: busca-se a subjetividade, as questões têm uma opção
correta; difícil de ser elaborado, é um teste que trata as
QUADRO - Técnicas de Seleção. questões de forma direta, desenvolvido para cargos mais
específicos (FAISSAL, 2004).

O teste discursivo as questões são abertas para co-


nhecer os conhecimentos necessários para o cargo em
questão. Usa-se leitura e redação, sua elaboração é mais
rápida em relação aos testes objetivos e é recomenda-
da para um número reduzido de candidatos (ALMEIDA,
2004).

2.3. Testes Psicológicos

“Os testes psicológicos, objetivam avaliar o desenvol-


vimento intelectual geral, aptidões especificas e a perso-
nalidade dos candidatos” (Anastasi, 1977)
O objetivo e avaliar o intelecto, aptidões específicas e
personalidade dos candidatos (FORMIGA e MELLO 2000).

2.4. Testes de inteligência

Contém tarefas de funções intelectuais, onde o re-


sultado gera o quociente intelectual (QI). Esses testes
2. Provas de Conhecimento ou de Capacidade acabaram privilegiando certas funções e negligenciando
outras. A partir de 1930 este teste passou a ter aptidões
Segundo Chiavenato (2004), as provas de conheci- diferenciais como: cálculos, memória, raciocínio mecâni-
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mento são instrumentos para avaliar o nível de conhe- co, espacial e abstrato, atenção concentrada e difusa, pla-
cimentos gerais e específicos dos candidatos, exigidos nejamento e organização (FAISSAL; MENDONÇA, 2006).
pelo cargo a ser preenchido. Procura medir o grau de Já os testes de personalidade identificam traços da
conhecimentos dos profissionais ou técnicos, como no- personalidade, aspectos motivacionais e de interesses.
ções de informática, contabilidade, redação entre outros. Propõe identificar aspectos da dinâmica da personali-
As provas de conhecimentos gerais medem o grau dade do candidato tais como introversão e extroversão
de cultura do candidato, já as provas específicas avaliam apresentando níveis necessários para o selecionador
os conhecimentos profissionais do candidato (CHIAVE- avaliar as características em compatibilidade com a com-
NATO, 1999). petência que está buscando (CUNHA, 2000).

2.1. Teste 2.5. Principais Testes

Instrumento padronizado, de seriedade, garantindo - Wartegg


objetividade e cientificidade, visa medir pontos da perso- No teste de personalidade, são usados desenhos, de-
nalidade, refletindo diferenças individuais de cada pessoa senvolvidos pelo indivíduo. Idealizado por Ehrig
testada. Os testes podem ser considerados amostras de Wartegg em 1930 na Alemanha Oriental. Destaca-

39
do como um dos testes mais utilizados no Brasil 2.5. Teste Grafológico
para seleção de pessoal (CHIAVENATO; CUNHA,
2000). Analisa a grafia individual, onde conclui-se dezenas
- Rorscharch de traços da personalidade. Para isso os grafólogos soli-
Criado por Hermmam Rorscharch em 1921 em Zuri- citam que os candidatos escrevam alguma coisa em folha
que, Suíça. Esse teste é feito de forma individual branca (uma redação de 20 linhas ou mais) para análise
com apresentação de lâminas e tintas onde o can- do tamanho de letra, inclinação, direção, altura, pres-
didato será avaliado dentro de um processo psí- são, velocidade; o conteúdo da redação não é analisado.
quico, afetivo-emocional, motor-conativo e cog- Apresenta baixo custo, detecta traços da personalidade
nição, funções e sistemas cerebrais entre outros não identificados em outros métodos (SINGER, 1999).
envolvidos na construção das imagens (CHIAVE-
NATO, 1999). 2.6. Técnicas de Simulação
- PMK
Idealizado por Emilio Mira Y Lopez em Londres, mos- São criadas situações para os candidatos interagirem
tra como a pessoa realmente é na sua personalida- e participarem em grupo visando seu comportamento
de; na sua estrutura, dinâmica e reação em contato social. Para isso estão citados abaixo os processos mais
com meio ambiente como: depressão, agressivida- conhecidos:
de, emotividade (CHIAVENATO, 1999).
- Machover 2.7. Provas (técnicas) situacionais
O teste da figura humana (1949) usada para perceber
a imagem que o próprio candidato faz de si mes- Elaboradas a partir das características ou peculiarida-
mo, uma vez que o desenho representa a si mesmo des do cargo ou área de atuação. Bueno (1995) propõe
e o papel o ambiente. Esse teste proporciona uma passos para elaboração de um teste.
série de informações descritivas e significativas a - Objetivo claro: perfil do cargo, resultados espera-
respeito da personalidade (TELLES, 1997). dos, processo que se delineou, participação do re-
- Casa-árvore-pessoa quisitante;
Idealizado por John N. Buck, em 1948, trata-se de um - Identificar situações mais comuns, repercussão dos
teste que, projeta experiências internas, pois inves- resultados, contexto empresarial e local, tecnologia
tiga o fluxo da personalidade invadindo a área da envolvida, abrangência de tarefas a serem focadas;
criatividade artística. É possível fazer uma análise - Definir a tarefa a ser desenvolvida e a forma de ava-
quantitativa e qualitativa (CAMPOS, 1999). liação;
- Testes psicométricos/aptidões: teste P.M.A. - Orientar o requisitante quanto à forma de elabora-
A “PMA” (Primary Mental Abilities) é um conjunto de ção de prova e definir quem fará a aplicação e a
testes que avaliam conteúdos e situações especí- avaliação, que costuma ser mais qualitativa do que
ficas (verbais, numéricas, mecânicas, espaciais, ou quantitativa;
então, tomando a percepção, a memória, a criati-
vidade) (PASQUALI, 2002). Realizado com papel e Se a atividade escolhida para prova situacional aten-
lápis, de aplicação individual ou coletiva, com limi- de a dois requisitos básicos:
te de tempo. Elaborada por LL Thurstone, mede 5 - Essencialidade: Importância do desempenho.
fatores. - Abrangência: Volume de atividades relevantes que
a prova avaliará.
Cada um desses fatores é medido por um teste, des- - Logística adequada: local da aplicação, clareza de
critos abaixo: provas, orientações, tempo para sua realização,
O fator V refere-se à compreensão verbal, sendo me- material de apoio.
dido por uma prova de vocabulário; o fator E refere-se à
visualização espacial, onde há 6 figuras e o sujeito apre- 2.8. Dinâmica de Grupo
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senta as figuras com a mesma forma sendo elas dispos-


tas em posições diferentes; o fator R refere-se ao racio- A dinâmica de grupo pode ser conduzida. Em 1939,
cínio lógico, sendo medido por uma prova que consiste Kurt Lewin, definiu como:
em séries de letras colocadas numa determinada ordem, - Um campo específico de pesquisa da psicologia;
seguindo uma certa lógica, onde o examinado indica a - Uma pessoa ou mais se reúne, há um conjunto de
continuação dessa lógica; o fator N refere-se ao cálculo fenômenos;
numérico, sendo avaliado por uma prova em que o indi- - Refere-se a um conjunto de métodos práticos de
víduo tem de indicar se a soma de 4 números e 2 alga- trabalho com grupos.
rismos está certa ou errada; o fator F refere-se à fluência
verbal, sendo avaliado por uma prova em que o sujeito Quando utilizada na seleção de pessoas propõe a um
tem de escrever, dentro do tempo determinado, o maior grupo de candidatos um conjunto de vivências, jogos,
número de palavras iniciadas por uma letra. simulações, testes situacionais, estudos de caso ou de-
Para a aplicação de cada um destes testes é necessária bates, estimulando a interação dos participantes promo-
a respectiva folha de teste, um lápis preto e cronometro. vendo uma dinâmica onde é possível a observação direta
do comportamento dos candidatos.

40
Através da dinâmica de grupo é possível avaliar habilidades interpessoais e atitudes.
Uma das funções do Recursos Humanos é ter disponível instrumentos que acompanhem a variável do tempo em
relação à posição que o candidato for ocupar, sendo ele contratado ou promovido, dando assim mais confiança ao
recrutamento e seleção.
A importância de um departamento de Recrutamento e Seleção estratégico agregando resultados viabiliza negó-
cios e aumenta a responsabilidade em aspectos como:
Informações reservadas, pessoais, não podem ser abertas e nem utilizadas. Um ponto de relevância dentro da ética
e a valorização das diferenças entre os candidatos é respeitar as pessoas. A diversidade diz respeito ao grau de diferen-
ças humanas básicas em uma determinada população, ela realça e contrapõe à homogeneidade, que procura tratar as
pessoas como se fossem padronizadas e despersonalizadas.
A partir do exposto, observa-se o quadro abaixo demonstrando o tipo de seleção:

Fontes:
CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico – V. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
FORMIGA, N. S., & MELLO, I. (2000). Testes psicológicos e técnicas projetivas: uma integração para um desenvolvi-
mento da interação interpretativa indivíduo-psicólogo. Psicologia: Ciência e Profissão, 20, 8-11.
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e gênese dos grupos. 3. ed. São Paulo: Livraria duas cidades, 1976
PASSOS, Antonio E.V.M, Atração e seleção de pessoas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
REIS, Valéria dos. A entrevista de seleção com foco em competências comportamentais. Rio de Janeiro: Qualitymark,
2003.
TELLES, V. S. A Leitura cognitiva da psicanálise: problemas e transformações de conceitos., São Paulo, v. 8, n. 1, p.
157-182, 1997.
Disponível em: http://monografias.brasilescola.uol.com.br/administracao-financas/recrutamento-selecao-uma-re-
visao-bibliografica.htm
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AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

Cabe ao próprio psicólogo a tarefa de correção dos instrumentos psicológicos, seguindo os critérios apropriados
de cada instrumento de modo a contextualizar os dados quantitativos obtidos, integrando-os com uma avaliação qua-
litativa (Wechsler, 1999).
Ao considerar a instabilidade dos sistemas, o psicólogo também considera que o desempenho apresentado pelo
indivíduo está relacionado à situação em que foi avaliado, ao momento de vida e tantas outras variáveis inter-relacio-
nadas, podendo se alterar à medida que muda a relação do indivíduo com o ambiente (ao iniciar a atuação na organi-
zação, após passar por um processo de treinamento, quando concluir os estudos etc.).
A instabilidade também se faz presente nas constantes mudanças das relações de trabalho, sendo oportuno que tal
fato seja levado em conta na avaliação dos resultados, bem como a cultura da organização e o perfil do cargo pleiteado.
Dessa forma, o psicólogo, ao adotar uma epistemologia sistêmica, estará adotando efetivamente o caminho da
objetividade entre parênteses. Então, as questões que irão nortear as suas decisões no processo seletivo devem ser as
seguintes: “minha ação está condizente com minhas crenças em que o sistema é auto organizador, em que não posso
dirigi-lo, nem instrui-lo e em que o sistema está criando para si uma realidade da qual inevitavelmente participo? Estou

41
levando em consideração as conexões intersistêmicas e DECISÃO FINAL
as possíveis repercussões de minha ação em outros pon-
tos da rede ou do sistema de sistemas? É claro que essas Neste momento a decisão cabe ao requisitante e não
respostas ele só terá por meio de sua constante interação ao selecionador. Serão consolidados uma série de infor-
conversacional com o sistema”. mações coletadas do perfil do candidato durante o pro-
cesso, pontos favoráveis e desfavoráveis que levam a uma
1. Devolutiva decisão. Monta-se um relatório onde o requisitante terá
acesso, mas é necessário observar que a decisão cabe a
A entrevista devolutiva com o candidato avaliado se um grupo, mesmo porque poderá haver distorções, dú-
caracteriza como etapa legítima do processo de avalia- vidas que poderão ser eliminadas, onde os requisitantes
ção psicológica, pois reafirma o cuidado com os indiví- podem não ter tanta experiência (MENDONÇA, 2006).
duos e confere seriedade e credibilidade ao trabalho do O próximo passo é seguir para exames médicos e
psicólogo. É o momento em que o psicólogo expõe ao referencias dos candidatos. Pode acontecer que algum
avaliando suas análises e interpretações (Goulart Júnior, candidato venha a negligenciar alguma informação. O
2003). melhor meio é procurar organizações que os candidatos
Ao realizar a entrevista devolutiva, o profissional con- já tenham trabalhado. Essa coleta pode ser feita por tele-
textualiza seu trabalho, não abstraindo uma parte impor- fone, internet. É importante ter cuidado com informações
tante do todo maior que foi a avaliação psicológica, a recebidas, não apenas à vínculos de trabalho, mas vida
saber: o candidato. Com isso, ele está também focando acadêmica, registros de trânsito, verificações de créditos.
para as relações do processo. Tal relação é estendida ain-
da à própria organização que, assim como o profissional 1. Exame Médico
psicólogo, está expressando seu cuidado para com o in-
divíduo. Indispensável para segurança da organização e do
Quando bem conduzida, uma entrevista devolutiva colaborador. O exame físico é compatível em relação
pode trazer importantes contribuições ao candidato que as atividades que serão exercidas, onde o resultado irá
tem a oportunidade de aprimorar seu autoconhecimento apontar se o colaborador já tem algum problema de
e autopercepção, favorecendo seu autodesenvolvimento saúde, se é hereditário ou mesmo problemas adquiridos
(Goulart Júnior, 2003). em trabalhos anteriores. Essa prática é determinante em
Não é conveniente, no entanto, que se forneçam re- pagamentos de indenizações trabalhistas, quando impli-
sultados em forma de respostas certas e esperadas aos que risco de morte. Por outro lado, quando as condições
instrumentos psicológicos utilizados, visto que tal com- físicas são compatíveis as atividades que serão exercidas,
portamento pode inviabilizar o uso futuro desses instru- o processo está concluído (FAISSAL, 2005).
mentos. Além de estar em relação com o sistema da or-
ganização da qual faz parte ou para a qual presta serviço 2. Organização dos Traços do Candidato
e em relação com os indivíduos que avalia, o psicólogo
também está em relação com sua própria categoria pro- Cada afirmação e resposta examinada identifica traços
fissional, devendo considerações a ela e a todo o conhe- positivos que indicam as características requeridas pelo o car-
cimento construído. go.
Em relação à devolutiva para o empregador solicitan- Após esta etapa, é hora de iniciar o processo de se-
te, é importante que o psicólogo se paute em uma visão leção dos candidatos. É importante ressaltar que, assim
dinâmica do indivíduo naquele momento (quando foi como os métodos de recrutamento, cada organização
feita a avaliação). Logo, não se colocam inferências sobre desenvolve os seus métodos seletivos particulares, que
o sujeito, sendo todos seus comentários feitos com base podem ainda variar conforme o cargo e os interesses de
nos dados obtidos. Assim, seu relatório focará a relação e cada momento em específico (BOHLANDER, 2003).
não fatores isolados, ou seja, a apresentação dos resulta- Os pontos mais comuns são:
dos abrangerá uma visão integrada dos dados, os quais - Desenvolver estratégias que visam levantar o perfil
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estão em constante processo de mudança. dos candidatos e comparar com um “ideal” previa-
Não é apropriado, no entanto, que a devolutiva para mente determinado para ocupar a vaga em dispo-
o empregador contenha informações ou interpretações sição.
sobre o sujeito que não digam respeito à avaliação sobre - Identificar um conjunto de habilidades e de com-
o cargo solicitado. Apesar de o todo ser maior do que petências que caracterizam os profissionais como
a soma das partes, também é menor que ela: nem tudo sendo um diferencial para o mercado, se encarre-
que abrange um indivíduo está diretamente relacionado gando de passar o know how adquirido pela insti-
a sua atuação na organização; há nele aspectos outros tuição após a suposta contratação.
que não necessariamente estarão contemplados em sua - Encontrar os candidatos que apresentam as caracte-
ação profissional e que, portanto, não precisam ser re- rísticas mais próximas dos executivos que se desta-
velados ao empregador sob o risco de favorecer vieses. cam na própria empresa, funcionando como uma
espécie de método de clonagem.
Fonte: PARPINELLI, R. F.; LUNARDELLI, M. C. F. Avalia- - Avaliar os candidatos dando ênfase ao que se cha-
ção psicológica em processos seletivos: contribuições da ma incidente crítico da função. Trata-se de iden-
abordagem sistêmica. Estudos de Psicologia. Campinas, tificar no cargo os possíveis acontecimentos que
2006 demandem do profissional um determinado com-

42
portamento que será considerado pelo contra-
tante como desejável ou indesejável, ou seja, que
produziriam um desempenho melhor ou pior no EXERCÍCIOS COMENTADOS
dia-a-dia de trabalho de um profissional.
Instrução: Na questão a seguir, preencha o campo de-
Para George (2003), nem sempre após a escolha do signado com o código C, caso julgue o item CERTO; ou
candidato e a negociação ter ocorrido verbalmente, a o campo designado com o código E, caso julgue o item
contratação é realizada. Muitas vezes o candidato recebe ERRADO.
outra proposta mais atraente, então podemos:
- reduzir o máximo de tempo entre a proposta verbal 1. (STM – CESPE – 2018) Uma pesquisa de qualidade
da escrita; no atendimento em um órgão da administração públi-
- acreditar que o candidato está esperando apenas a ca demonstrou discrepância entre as avaliações quando
sua proposta; foram comparados os atendimentos prestados por ser-
- aguardar um tempo para o candidato estudar sua vidores mais experientes e por servidores mais novos. A
proposta, mas não deve perder contato com ele; análise dos motivos mostrou que os mais novos conside-
- estar preparado para a recusa, e se ocorrer, retomar ravam-se autossuficientes e ignoravam o conhecimento
o processo de seleção. dos mais experientes. Por outro lado, os mais experientes
consideravam que os mais novos eram arrogantes e omi-
O processo de avaliação demonstra-se complexo tiam informações importantes sobre o atendimento.
diante da quantidade de informações fornecidas pelo Nessa situação hipotética, percebe-se que a comunica-
candidato, porém deverão ser observadas para que a bilidade no órgão em questão ocorre de maneira fluida,
melhor escolha seja feita. em decorrência de os integrantes de um mesmo grupo
Ao finalizar esse processo de interpretação, segue a pactuarem a adoção de comportamentos similares.
montagem do laudo, nela constam todas as informações
recebidas durante todo o processo e objetiva confirmá- ( ) CERTO ( ) ERRADO
-las, podendo também ser pesquisadas através de SERA-
SA, SPC entre outras instituições (FAISSAL, 2006). Resposta: Errado. Quando analisamos o texto, obser-
vamos que não existe um equilíbrio na comunicação
O laudo finalizado é um poderoso instrumento para a entre os servidores, há pontos de discordância entre
tomada de decisão (BARBOSA e DALPOZZO, 2006) eles, o que que gera uma comunicação truncada, sem
A tomada de decisão é uma tarefa de grande res- canal de compreensão, portanto, fluidez não é um as-
ponsabilidade, Chiavenato (2004), diz “Após todos os pecto que faça parte da comunicação no cenário apre-
aspectos preliminares do processo de seleção, estabele- sentado.
cimento de critérios adequados, recrutamento, seleção e
entrevistas não podem dar a certeza absoluta de ter sido 2. (TRF 1ª REGIÃO – CESPE – 2017) Acerca da qualidade
feita a escolha certa. Os gerentes não falham porque to- no atendimento ao público, julgue o item seguinte:
maram decisões erradas, mas sim porque usam os estilos Eficácia no atendimento ao público significa atender às
errados para a decisão, sendo decidido muito depressa e necessidades do cliente, fazendo o melhor uso dos recur-
impulsivamente, reúnem informações excessivas ou pro- sos disponíveis na organização.
telando informações”.
Sendo assim é importante perceber os seguintes pon- ( ) CERTO ( ) ERRADO
tos:
- Considerar as realizações e não credenciais do can- Resposta: Errado. Mais uma questão que exige co-
didato; nhecimento de conceitos. Vejamos:
- Preconceitos devem ser excluídos; ▪ Eficácia: fazer o que foi proposto, atingir a meta. Está
- Candidatos fortes ameaçam gerentes fracos; relacionado ao resultado.
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- Candidatos super qualificados sentem-se desmoti- ▪ Eficiência: atingir a meta considerando os recursos,
vados; os custos, ou seja, fazer o proposto com baixo custo.
- Candidatos finalistas não devem ser dispensados Está relacionado ao recurso.
até o escolhido aceitar o cargo. ▪ Efetividade: aquilo que causa impacto, ou seja, o re-
sultado tem que ser relevante, fazer diferença, positi-
Aos candidatos que foram reprovados, recomenda-se vamente, para quem receber a ação. Está relacionado
dar um retorno o mais rápido possível, principalmente ao impacto provocado.
aqueles que ficaram no processo final da seleção. Procu-
rar sempre passar uma resposta construtiva para motivar 3. (TRF 1ª REGIÃO – CESPE – 2017) Acerca da qualidade
os candidatos na procura de um próximo emprego. no atendimento ao público, julgue o item seguinte.
Toda a documentação dos candidatos reprovados Atendente que compartilha informações de um cliente
pode ser arquivada de forma a serem úteis para o preen- com um colega atendente na frente de outras pessoas
chimento de um cargo onde o mesmo possa ser ade- não atende aos parâmetros conduta e discrição e, por
quado. conseguinte, compromete a qualidade do atendimento.

( ) CERTO ( ) ERRADO

43
Resposta: Errado. Entre os Atributos da Qualidade no 6. (DPU – CESPE – 2016) Acerca da gestão de pessoas,
Atendimento temos: função da área de gestão de pessoas, políticas e sistemas
a) Discrição: envolve zelo, respeito, prudência, discer- de informações gerenciais, gestão de pessoas baseada
nimento e sensatez quando fornece uma informação em competências e aprendizagem organizacional, julgue
ao cliente. É necessário manter-se reservado sobre o o item a seguir:
que o cliente lhe diz. Assim, estará transmitindo con- Os processos, as políticas e as práticas de gestão de pes-
fiabilidade e seriedade no trabalho desenvolvido. soas alicerçam as decisões de organizações contemporâ-
b) Conduta: espera-se que atendente conheça e res- neas no desenvolvimento da aprendizagem contínua das
peite as normas internas, afinal, ele é um canal de pessoas a fim de contribuir para o alcance da estratégia
transmissão da imagem da organização e, como tal, organizacional.
deve manter postura profissional e agir dentro da cul-
tura da empresa/ instituição, conforme os interesses ( ) CERTO ( ) ERRADO
institucionais, mas, ainda assim, atingindo o resultado
desejado de atender com excelência o cliente resol- Resposta: Certo. Para obter bons resultados, a or-
vendo sua necessidade ou atendendo seu desejo. ganização precisa abrir mão de alguns paradigmas e
Conforme os conceitos acima, temos que a assertiva criar um cenário no qual o colaborador possa pôr em
não confere com os conceitos. prática toda uma experiência profissional já vivenciada
ou praticada em outras ocasiões e, nesse momento,
4. (ABIN – CESPE – 2018) Julgue o próximo item, refe- o gestor de pessoas (liderança), precisa atuar no sen-
rente ao conceito de gestão de pessoas e à função do tido de capacitar, estimular e principalmente motivar
órgão responsável pela gestão de pessoas nas organi- as pessoas a adquirirem cada vez mais habilidades e
zações. atitudes vencedoras para que toda a proposta de ne-
Do ponto de vista de gestão de pessoas, os empregados gócios atinja grandes resultados e, com isso. tudo que
vinculados à organização compõem o patrimônio físico ficou determinado pelas organizações seja cumprido.
da organização. Aliado a essa liderança e política de valorização, tam-
bém temos, como ferramenta utilizada pela área de
( ) CERTO ( ) ERRADO gestão de pessoas para facilitar a administração das
informações pertinentes às pessoas envolvidas nos
Resposta: Errado. Como vimos em nosso conteúdo processos organizacionais, o Sistema de Informação
acima, a Gestão de Pessoas tem sido a responsável Gerencial, no qual, por meio de um banco de dados, é
pela excelência das organizações bem-sucedidas e possível fazer o registro de informações que possam
pelo aporte de capital intelectual que simboliza, mais auxiliar o gestor e os lideres nos processos decisórios.
do que tudo, a importância do fator humano em plena Como podemos ver, a gestão de pessoas e demais
Era da Informação e do Conhecimento. setores das organizações representam um elo entre
As pessoas deixam de ser vistas como recursos (valo- metas organizacionais e individuais, permitindo a co-
rização da mão de obra) e passam a ser vistas como laboração e participação eficaz de todas as pessoas
parceiros (valorização do intelecto). envolvidas no alcance do objetivo da organização.

5. (ABIN – 2018 – CESPE) Julgue o próximo item, refe- 7. (SEDF – CESPE – 2017) Com relação ao equilíbrio or-
rente ao conceito de gestão de pessoas e à função do ganizacional, liderança, motivação e objetivos da gestão
órgão responsável pela gestão de pessoas nas organi- de pessoas, julgue o seguinte item:
zações. A área de recursos humanos (RH) deve articular-se com
É recomendado que os órgãos responsáveis pela gestão as demais áreas da organização para a elaboração de
de pessoas implementem políticas para aumentar a qua- planos estratégicos.
lidade de vida no trabalho e garantir que as condições de ( ) CERTO ( ) ERRADO
trabalho sejam excelentes para os empregados.
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Resposta: Certo. Algumas pessoas consideram que a


( ) CERTO ( ) ERRADO área de recursos humanos faça parte no nível tático
de planejamento por se tratar de um departamento,
Resposta: Certo. Como vimos no conteúdo acima, é no entanto, com a leitura do conteúdo acima, perce-
primordial que as organizações estabeleçam alguns bemos que a evolução da área de RH trouxe algumas
critérios para que a gestão de pessoas tenha impor- características menos setorizadas quanto ao papel das
tância significativa, sendo que esses critérios foram pessoas na organização, consequentemente, da área
organizados em seis processos de gestão de pessoas que trabalha com essas pessoas, passando a ter um
(vide quadro demonstrativo acima). papel mais dinâmico e integrado às outras áreas.
A afirmativa dessa questão enquadra-se no processo Quando falamos em RH como função mais ligada a
de manter pessoas, que são os processos utilizados departamento pessoal, até podemos considerar ali
para criar condições ambientais e psicológicas satis- um papel tático, mas, quando o RH assume, dentro
fatórias para as atividades das pessoas. Incluem admi- da nova postura de Gestão de Pessoa, uma função de
nistração da disciplina, higiene, segurança e qualidade apoio, de staff, ele passa a se relacionar com os outros
de vida e manutenção de relações sindicais. departamentos a fim de alinhar os objetivos organi-
zacionais com os objetivos pessoais, potencializando

44
assim os recursos existentes, inclusive o recurso inte- 10. (PREFEITURA DE SÃO LUÍS-MA – CESPE – 2017) O
lectual agora visto nas pessoas. fato de os indivíduos estabelecerem conexões humanas
Isso tudo traz a área de gestão de pessoas, junto com uns com os outros favorece o trabalho coletivo, o que,
todos os demais setores organizacionais, para um por sua vez, implica maior desempenho na execução das
importante papel estratégico, tanto para despertar e atividades das organizações. Considerando-se essas in-
desenvolver talentos organizacionais, como para po- formações, é correto afirmar que a unidade de trabalho
tencializar a elaboração e a execução de planos estra- fundamentada na sinergia denomina-se:
tégicos que a organização adotar para alcançar seus
objetivos. a) repartição.
b) equipe. 
8. (STM – CESPE – 2018) Julgue o item seguinte, relativo c) grupo.
à gestão e estrutura de organizações. d) setor.
Líderes liberais são aqueles que adotam postura con- e) diretoria.
sultiva, compartilhando com suas equipes a tomada de
decisão.  Resposta: Letra B. Quando falamos em repartição,
setores ou diretoria, estamos falando em divisões da
( ) CERTO ( ) ERRADO estrutura organizacional, sendo que seus membros
fazem parte da equipe, a qual, por meio da sinergia,
Resposta: Certo. O enunciado se refere ao líder de- consegue obter melhor desempenho da execução das
mocrático. atividades propostas.
Como características do líder liberal temos: ocupa o Destaca-se que o diferencial entre equipe e grupo é
papel de passividade, permitindo total liberdade para o objetivo final de ambas, o grupo, grosso modo, re-
a tomada de decisões individuais ou grupais, partici- presenta uma reunião de pessoas, mas não quer dizer,
pando delas apenas quando solicitado pelo grupo; são necessariamente, que todos nesse grupo tenham o
os membros do grupo que treinam a si mesmos e pro- mesmo objetivo, fato que já é característico da equipe.
movem suas próprias motivações. O líder tem apenas
um papel secundário. A decisão parte da equipe e não
do líder. MOTIVAÇÃO E CONTRATO PSICOLÓGICO.

9. (TRT 7ª Região-CE – CESPE – 2017) “A motivação Segundo Davel e Vergara (2001), vem crescendo
depende do esforço despendido pelo empregado para conscientização dos gestores de que a subjetividade
atingir um resultado e do valor atribuído por ele a esse tem importância fundamental para o entendimento das
resultado.” Essa premissa se refere à teoria motivacional relações humanas, e estas não estão submetidas a con-
denominada teoria tratos formais e regulamentos internos, tão-somente. A
subjetividade é apresentada por esses autores como um
a) das necessidades de Maslow. aspecto que precisa necessariamente ser admitido pela
b) da expectativa.  gestão de pessoas. A subjetividade passa pelos aspectos
c) da equidade. religioso, político, econômico e moral dos indivíduos; é
d) behaviorista. expressa, dentre outros elementos, pelos pensamentos,
sentimentos, condutas, emoções e ações de cada um.
Resposta: Letra B. O que vemos aqui é a relação Para Rousseau (1995), as organizações enviam men-
entre o quanto o empregado se esforça para realizar sagens aos empregados, que seriam entendidas como
algo e como ele é valorizado por tal esforço, aumen- promessas, sendo essa ou não a intenção da empresa.
tando ou diminuindo sua motivação, de acordo como Por meio de palavras, ações e sinais as organizações co-
essa valorização. municam promessas aos trabalhadores todo o tempo. A
Essa relação já descarta a alternativa “a”, que defende autora explica que os contratos psicológicos são acordos
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que, a cada nível de necessidade suprida, o indivíduo não escritos, que atuam como estruturantes do compor-
se dedica ao nível seguinte, sem nenhuma correlação tamento humano e de suas atitudes.
com ser valorizado pelo que fez. A compreensão dos contratos psicológicos poderá
A teoria da equidade defende que as recompensas de- permitir uma comunicação mais eficaz na organização
vem ser proporcionais ao esforço e iguais para todos. e, assim, o entendimento da contradição entre necessi-
Já de acordo com a teoria behaviorista, a motivação dades do indivíduo e exigências da organização. Poderá,
tem caráter apenas impulsivo, já que as respostas aos dessa forma, embasar melhor os acordos societários e os
estímulos seriam automáticas e motivadas pelo am- de entendimento, muitas vezes restritos a questões de
biente. ordem legal e jurídica, insuficientes para dar conta do fe-
Visto isso, temos como assertiva a alternativa B, que nômeno em suas interfaces com as exigências de ordem
trata da teoria da expectativa, na qual a crença do empresarial.
funcionário está no fato de que seu esforço gerará o Faremos aqui uma revisão do tema “contratos psico-
desempenho esperado e que esse resultado será per- lógicos” e de sua importância, tendo como objetivo geral
cebido pela organização em sua avaliação de desem- analisar a formação do contrato psicológico nas organi-
penho. zações, ou seja, identificar os atores que influenciam a
sua construção. A relevância do tema consiste na pos-

45
sibilidade de propiciar maior compreensão do compor- -se à expectativa de “ser cuidado” pelo empregador). Es-
tamento humano nas organizações, de tal forma que se ses autores também reconhecem o aspecto dinâmico do
ultrapasse o racionalismo funcional e legal, insuficiente contrato psicológico: os contratos evoluem ou mudam
para explicar a complexa teia de relações humanas que freqüentemente em conseqüência das alterações nas ne-
se constroem no interior das organizações, cada vez mais cessidades do empregado e do empregador.
desafiadas a conciliar exigências organizacionais e neces- A concepção de Morrison e Robinson (1997) sobre
sidades individuais da força trabalhadora. contratos psicológicos é a de que seriam crenças acerca
Na esfera organizacional, Argyris (1960) foi o primeiro das obrigações recíprocas entre empregados e organiza-
que tomou como objeto de análise e explicitou o ter- ção. Essa definição soma-se à de Nicholson e Johns (1985
mo “contrato psicológico”, para referir-se às expectativas apud ROBINSON, KRAATZ e ROUSSEAU, 1994), segundo
existentes no relacionamento organizacional, isto é, às a qual os empregados acreditam que têm contribuições
obrigações, valores, aspirações mútuas do empregador específicas a dar à organização em troca dos benefícios
e do empregado que estão dentro e acima do contrato oferecidos – explicitamente ou não – pelo empregador.
de emprego formal. Argyris (1960) usou o conceito para
descrever um acordo implícito entre um grupo de em- Smithson e Lewis (2003) mencionam que todas as
pregados e seu supervisor. definições do contrato psicológico incluem os seguintes
Atualmente, o conceito de contratos psicológicos uti- elementos:
lizado pelos autores que abordam o tema, como Rous- • Opiniões, valores, expectativas e aspirações do em-
seau (1995), difere da visão de Argyris (1960) em vários pregador e do empregado em relação a promessas
aspectos. e obrigações implícitas no relacionamento.
De acordo com Handy (1978), o contrato psicológi- • Confiança nos termos do relacionamento. Como
co é, essencialmente, um conjunto de expectativas. Ele essas promessas e obrigações não são necessaria-
entende que há acordo implícito de troca: de um lado, mente explícitas, há necessidade de partilhamento
o empregado dá sua energia e talento; de outro lado, a de confiança no relacionamento. Portanto, expec-
empresa paga e oferece resultados para satisfação das tativas dependem de interpretações interpessoais.
necessidades do empregado. • A noção de que o contrato psicológico pode ser
“O contrato psicológico difere do contrato legal por- continuamente renegociado, mudando com as
que define um relacionamento dinâmico, mutável e que expectativas do indivíduo e da organização. É fe-
está continuamente sendo renegociado”, segundo Kolb nômeno dinâmico e mutável. Entretanto, a maioria
(1978:26). Para o autor, o contrato psicológico lida com das pesquisas fornece somente a visão de um mo-
as expectativas da organização sobre o indivíduo e suas mento estático do processo.
contribuições para satisfazê-la de forma dinâmica, num • Por serem baseados nas percepções individuais,
processo de influência mútua e contínua. podem-se encontrar em uma mesma organização
Schein (1982) referiu-se ao conceito de contrato psi- contratos psicológicos diferentes, que, por sua vez,
cológico: “A idéia de contrato psicológico denota que há influenciarão de maneiras distintas nas formas per-
um conjunto não explícito de expectativas atuando em cebidas dos eventos organizacionais.
todos os momentos entre todos os membros de uma
organização e os diversos dirigentes e outras pessoas Percepção de reciprocidade organizacional seria, se-
dessa organização” (SCHEIN, 1982:18). Essas expectati- gundo Siqueira (2002:5), “um conjunto de crenças rela-
vas dizem respeito ao conjunto de direitos, privilégios e cionadas à maneira como os empregados percebem a
obrigações entre trabalhador e organização. Para o au- disposição da organização para emitir atos recíprocos”.
tor, são expectativas implícitas que envolvem o senso de No mesmo sentido, a compreensão dos contratos
dignidade e valor da pessoa. psicológicos está vinculada à concepção de acordo de
A teoria do contrato psicológico – como é apresen- obrigações mútuas. Robinson, Kraatz e Rousseau (1994)
tada atualmente – encontra em Denise Rousseau1 uma expõem a importância do entendimento da natureza e
das mais relevantes pesquisadoras do assunto. Rousseau do dinamismo do conceito de obrigações.
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(1995) afirma que o contrato psicológico é baseado em Segundo as autoras, obrigações mútuas trazem a
promessas e pode ser descrito como um modelo ou percepção de dívida em relação à outra parte. Tal crença
esquema mental. Rousseau (1995) vê o contrato psico- pode derivar de promessas de reciprocidade explícitas
lógico no trabalho, atualmente, como o entendimento ou implícitas, dependendo do ambiente social envolvido.
subjetivo do indivíduo sobre a reciprocidade existente As abordagens de Siqueira (2002, 2003), assim como
no relacionamento de troca entre ele e um terceiro, ba- as de Robinson, Kraatz e Rousseau (1994), apontam a
seado nas promessas feitas explícita ou implicitamente existência da relação de troca entre indivíduo e organi-
nessa relação. zação, e analisam e conceituam as percepções do em-
Levinson et al. (1962 apud MORRISON e ROBINSON, pregado sobre as relações existentes entre as partes, as
1997:228, tradução nossa) definem o conceito como “um quais se complementam mutuamente.
conjunto de expectativas sobre o que cada parte deve Segundo Millward e Brewerton (2000), o contrato
dar e receber, em troca das contribuições da outra par- psicológico pode ser comparado ao Princípio de Reci-
te”. Esses autores identificaram dois tipos diferentes de procidade de Gouldner (1960), uma vez que envolve
expectativas do empregado: conscientes (referem-se a obrigações recíprocas; porém, o contrato sofre grande
expectativas sobre o desempenho, segurança e recom- interferência do componente emocional da relação. Os
pensas financeiras no trabalho) e inconscientes (referem- autores acrescentam que o contrato psicológico envolve

46
forte aspecto cognitivo e subjetivo, por se tratar daquilo que cada um acredita ser a obrigação das partes. Da mesma
forma, as expectativas recíprocas são subjetivas e dependem de vários aspectos, como o histórico entre as partes e a
personalidade do indivíduo.
Assim como Kolb (1978), Schein (1982) enfatiza que o contrato psicológico mudará ao longo do tempo, à medida
que as necessidades e forças externas mudarem, o que o torna dinâmico, a ser renegociado constantemente. O relacio-
namento entre as organizações e seus membros evolui continuamente, seja por razões internas, como mudanças nos
titulares de cargos, seja por motivos externos, como novos desafios e oportunidades ambientais.
Na visão de Rousseau (1995), o contrato psicológico é modelo mental, além de prática social, e depende de fatores
como confiança e aceitação. Por isso, é entendido pelas pessoas de diversas formas.
A figura a seguir apresenta o modelo esquemático de construção do contrato psicológico.

Guzzo e Noonan (1994) complementam o pensamento de Rousseau (1995) afirmando que a maioria dos empre-
gados recebe superficialmente as mensagens transmitidas pelas práticas de recursos humanos. Algumas mensagens,
porém, recebem atenção maior do trabalhador em razão de fatores como a visibilidade do fato ou fatores pessoais.
A interpretação das mensagens por pessoas recémcontratadas será diferente da das demais, da mesma forma como
empregados que trabalham sob pressão farão interpretações diferenciadas.
Aceita a premissa de que o “contrato psicológico” depende das interpretações subjetivas, o processo de comunica-
ção assume importância como componente estruturante do contrato. O conceito de comunicação organizacional aqui
abordado dará ênfase à comunicação entre chefe e subordinado, para que se verifique se as mensagens enviadas pela
organização, a forma como são divulgadas pelas chefias e como elas são interpretadas pelos funcionários atuam sobre
o desempenho destes últimos.
As intenções podem ser transmitidas de forma explícita, mediante documentos escritos, políticas e práticas organi-
zacionais, ou de forma implícita, por meio de ações que beneficiam ou prejudicam os funcionários e que são interpreta-
das e comparadas por outros empregados. Os fatores externos que contribuem na construção do contrato psicológico
podem incluir termos escritos (acordos sindicais, anúncio de vaga), comunicados orais (promessas de treinamentos,
suporte), assim como outras expressões de comprometimento e intenções futuras (tradições, costumes). Segundo Han-
dy (1978), contrato psicológico não considerado de forma idêntica por ambas as partes torna-se fonte de problemas,
conflito ou litígio. Na perspectiva do indivíduo, quando se requer dele mais do que se possa supor ser o seu papel, o
sentimento decorrente pode ser de “exploração”. Na perspectiva da organização, o mesmo comportamento pode ser
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interpretado como falta de cooperação ou de envolvimento do indivíduo. A busca de homogeneidade na interpretação


dos contratos psicológicos inscreve-se, pois, como importante competência das lideranças, que propicia alinhamentos
de desempenho e previne a ocorrência de conflitos entre as partes.
Kolb (1978) propõe entender como os contratos psicológicos têm implicações na produtividade e na satisfação
individual. Quando a pessoa espera mais do que obtém, ela se sente enganada e a relação caminha em direção a pro-
blemas. Essa frustração também pode sufocar a criatividade individual. Da mesma forma, o indivíduo que não atende
às expectativas-chave da organização torna-se obstáculo. É preciso, então, qualificar a importância da percepção do
superior imediato sobre o desempenho do empregado, uma vez que a carreira do segundo, na maioria dos segmentos
organizacionais, depende da avaliação do primeiro. Para Millward e Brewerton (2000), falar em violação do contrato
psicológico é complicado porque a noção exata do que foi violado ou do que foi cumprido não é de fácil mensuração.
Guest (1998) argumenta que violação do contrato nada mais é que insatisfação no trabalho, particularmente pelo fato
de ser fenômeno de natureza afetiva.
Sintetizando a análise, apresenta-se a seguir quadro com os fatores que influenciam na construção do contrato psi-
cológico, divididos em três categorias: características e predisposições individuais, aspectos organizacionais e relação
chefe-subordinado.

47
EXERCÍCIO COMENTADO

1. (Ed. Nova) A respeito do contrato psicológico julgue o item a seguir.


Baseando-se em percepções coletivas, os contratos psicológicos representam um conjunto de expectativas, demons-
trando um acordo de troca entre as parte, de um lado o empregado que despende seu tempo e energia e do outro a
empresa que proporciona ao empregado a satisfação de suas necessidades pagando-lhe um salário.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Quanto ao conceito e ao acordo implícito de troca a afirmativa está correta, no entanto, apresenta
um erro ao afirmar que o contrato psicológico se baseia em percepções coletivas, quando na verdade, ele se baseia em
percepções individuais.

PERCEPÇÃO, ATITUDES E DIFERENÇAS INDIVIDUAIS


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Esse tema trata da mais relevante aplicação do conceito sobre percepção no estudo do comportamento organi-
zacional . Ao julgarmos um colaborador, um colega de trabalho, líder ou qualquer pessoa, iniciamos um processo em
que estamos analisando, avaliando, interpretando seu comportamento de formas diferentes, isso de acordo com os
acontecimentos. Podemos analisar neste estudo diversas maneiras porque cada pessoa possui um tipo de percepção.
Ao analisarmos um indivíduo, tentamos determinar a causa do seu comportamento, desejamos descobrir se a “cau-
sa” é interna ou externa.
Percepção significa atribuir interpretações a partir da captação e organização das informações, sejam elas relacio-
nadas a pessoas, fatos ou situações. Quando aplicada no âmbito organizacional, percepção se refere a um senso de
observação e análise do ambiente da empresa.
A partir da percepção organizacional, é possível identificar as necessidades de melhoria dentro do ambiente de
trabalho, bem como fatores positivos que podem ser fortalecidos. Desse modo, é estimulada uma cultura de alta per-
fomance.
Existe dois tipos de percepção no âmbito organizacional : a interna e a externa. Percepção externa, são identifica-
dos comportamentos provocados por situações ou pelo ambiente em que o indivíduo está inserido e geralmente são
atitudes forçadas. Na percepção interna, são comportamentos realizados por estímulo pessoais, como sentimento,
emoções, experiências passadas e expectativa do observado. Geralmente são atitudes do próprio interesse.

48
De acordo com Robbins( 2005 pag. 6) há uma evi- Vamos analisar agora o perfil individual no con-
dência de que, quando julgamos o comportamento de texto da equipe.
outras pessoas, tendemos a subestimar a influência dos
fatores externos e superestimar a influência dos fatores O ser humano é único em sua essência. Ele tem per-
internos ou pessoais. Sendo assim, mais fácil atribuir o sonalidade própria, necessidades que o motivam e o
problema a causas internas do que a causas externas. medo das mudanças repentinas. E é justamente isso que
Quando possa existir um problema que cause algum nos faz tão diferentes um do outro e com uma visão de
tipo de dano a organização da empresa, algumas cultu- mundo totalmente diversificada que atrai o desejo de
ras atribuem a “culpa” pelo baixo desempenho dos co- desvendá-lo, de conhecê-lo. Alguns pesquisadores se in-
laboradores. Já em outras culturas o líder assume total teressaram em estudar o ser humano para entender um
responsabilidade pelo fracasso do grupo. pouco melhor essa diversidade. Um desses estudiosos foi
Robbis(2005) apresentou diversas formas de enten- Abraham Maslow que desenvolveu a Teoria da Hierar-
dermos as percepções, as quais podemos atribuir técni- quia e das Necessidades Humanas. Ele explica em suas
cas que permitem administrar as tomadas de decisões de pesquisas que os aspectos motivacionais das pessoas
uma forma mais precisa e dados válidos para previsões. A estão diretamente ligados ao entendimento das neces-
compreensão pode ser útil para reconhecermos quando sidades humanas. Portanto, motivação é o resultado dos
elas podem resultar em distorções significativas. estímulos que agem sobre as pessoas levando-as a ação.
Ou seja, Para que haja ação ou reação é preciso que um
Conceitos Importantes estímulo seja implementado, seja decorrente de coisa ex-
terna ou proveniente do próprio organismo. Por isso, o
- PERCEPÇÃO SELETIVA: ser humano tem a necessidade de ser aceito socialmen-
Como não podemos assimilar tudo o que observa- te (trabalho, escola/faculdade, grupos de amigos etc.),
mos, nós percebemos um pouco de cada vez. Este pouco de ser amado, reconhecido, de pertencer e fazer parte
é escolhido seletivamente, de acordo com os nossos in- de algo, de ser notado positivamente, de ser útil etc, de
teresses, experiências passadas ou atitudes. Ela nos per- atender suas necessidades fisiológicas, de segurança, de
mite uma breve “leitura rápida” dos outros, mas com o autoestima e de autorrealização.
risco de obtermos uma figura imprecisa. Como sempre   Outro fator gerador de motivação é o que Viktor
vemos aquilo que queremos ver, e com isso tirar conclu- Frankl (1991), médico e psiquiatra austríaco, chamou de
sões erradas. “vontade de sentido”. Segundo Frankl, o ser humano vive
motivado, fundamentalmente, pela vontade de realizar
- EFEITO HALO: sentido na vida, mas para isso o homem deve se empe-
Quando construímos uma impressão geral de alguém nhar na realização de valores na forma de criações, vi-
com base em uma única característica - como sua inteli- vências e atitudes. Já Stoner e Freeman (1994) afirmam
gência, sociabilidade ou aparência que motivação são os fatores que provocam, canalizam
e sustentam o comportamento de um indivíduo. Ou seja,
- EFEITO CONTRASTE: a motivação no trabalho manifesta-se pela orientação do
O efeito contraste nós não avaliamos a pessoa iso- empregado para realizar com presteza e precisão as ta-
ladamente. A nossa reação a uma pessoa sempre será refas e persistir na sua execução até atingir o resultado
influenciada pelas outras pessoas que encontramos e/ou previsto ou esperado (TAMAYO; PASCHOAL, 2003).
relacionamos frequentemente.  Para Bergamini (1997) cada pessoa tem suas próprias
orientações motivacionais. O sentido que cada um atri-
- PROJEÇÃO: bui àquilo que faz e lhe da satisfação é próprio apenas
Julgamos em base que são parecidos conosco. As daquela pessoa, isto fornece sentido a maneira pela qual
pessoas que fazem projeção tendem a ver as outras de cada um se sente motivado. Portando, deve-se levar em
acordo com o que são elas mesmas, em vez de observar consideração a existência das diferenças individuais e
como as pessoas realmente são. culturais quando se fala em motivação. Estes fatores po-
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dem afetar o entendimento de uma necessidade assim


- ESTEREOTIPAGEM: como a maneira particular que as pessoas agem na busca
Quando julgamos alguém com base em nossa per- de seus objetivos. São essas diferenças individuais que
cepção do grupo a qual a pessoa faz parte, estamos nos faz querer desvendar a personalidade humana que
usando uma forma de simplificação chamada de este- vem sendo objeto de estudo devido a sua presença em
reotipagem. Em termos de percepção, se as pessoas es- toda história da filosofia, psicologia, sociologia, antropo-
peram ver estes estereotipos, será o que elas perceberão, logia e medicina geral. Segundo os estudos, a ocorrência
mesmo que estes estereotipos não fazem parte da rea- das diferenças individuais seria interpretada como uma
lidade. Isso significa que esse tipo observação sobre a decisiva influência ambiental sobre o desenvolvimento
pessoa pode causar uma percepção errada com base em da personalidade humana. A personalidade determina as
uma falsa premissa sobre o grupo. maneiras do indivíduo se relacionar com o mundo com
Concluimos que, as pessoas dentro das organizações seu temperamento, seus traços afetivos etc. Portanto,
estão sempre julgando uma ás outras. Muitas vezes, esse desvendar a personalidade das pessoas que nos cercam
julgamento têm consequencias importantes para a or- é cada vez mais importante, pois nos ajuda a entender
ganização. seu comportamento, bem como a prever as atitudes
que delas podemos esperar e também nos ajuda a pre-

49
cavermo-nos de certas situações embaraçosas que sur- dança é favorecido à medida que estes elementos
gem no convívio social. Sigmund Freud, após inúmeros são claramente percebidos como realmente preo-
estudos demonstrou que parte da consciência humana cupantes;
é inconsciente porque se refere a um processo psíqui-  - Percepção dos benefícios produzidos pela mudan-
co cuja existência somos obrigados a supor em razão de ça: quanto maiores forem os benefícios percebi-
seus efeitos, porém, do qual quase nada sabemos. E, é dos, maior será a sua aceitação;
neste inconsciente que estão os principais determinantes  - Disseminação da informação e entendimento da
da personalidade, as fontes de energia psíquica, as pul- mudança: quanto mais compreensível e comuni-
sões e os instintos. O indivíduo tem o direito de ser ele cável for a mudança, mais fácil será para começar
mesmo, que respeitem todo o conteúdo de suas expe- a aceitá-la;
riências pessoais, as suas ideologias, e as suas crenças. O  - Apoio da direção da organização: a mudança é fa-
indivíduo tem direito de viver a vida de acordo com suas vorecida quando a direção apoia e preocupa-se
escolhas, razão pela qual, a personalidade tem a prote- com seus objetivos, formas de implementação e
ção integral, porque é o elemento da essência que torna consequências;
o ser humano único. Mas o envolvimento de pessoas de  - Congruência entre as necessidades de mudança e
culturas diferentes na realização de um trabalho colabo- a cultura: quanto maior a distância entre a cultu-
rativo, sempre será um grande desafio para liderança na ra organizacional e a mudança desejada, menor a
busca por soluções integradoras. Normalmente quanto chance de sucesso na implementação;
mais heterogênea for a cultura de um grupo, mais difícil  - Clima de apoio: a mudança tem maior receptivi-
e mais tempo se leva para formar uma equipe com um dade quando ocorre em um ambiente de relações
bom desempenho. Uma das principais atitudes para so- interpessoais efetivas, no qual o clima geral é de
lucionar um possível conflito que pode ocorrer por conta respeito e apoio aos indivíduos;
dessa heterogeneidade é saber lidar com as diferenças - Identificação e gestão dos stakeholders (principais
de personalidade no ambiente de trabalho. envolvidos): considere os grupos de interesses, sua
 Assim como os estudos sobre necessidades, motiva-
importância e o que pode afetar a viabilidade do
ção têm ligação com a personalidade humana, também
processo de mudança, possibilitando diminuir os
o processo de mudança tem um papel importante que
riscos no desenvolvimento do processo;
também pode influência no contexto organizacional e
- Desenvolver as pessoas: comprometa-se com o
pessoal de qualquer indivíduo. As mudanças estão pre-
desenvolvimento de seu pessoal por meio do in-
sentes em toda à parte: na tecnologia, na ciência, no am-
centivo à aquisição de habilidades e do cultivo do
biente de trabalho, nas estruturas organizacionais, nos
aprendizado mútuo; e,
valores e costumes sociais etc. E, as pressões do mercado
- Recompensa: reconhecer os méritos e incentivar a
têm feito com que as empresas mudem constantemente
de estratégias promovendo ajustes nos seus processos equipe durante o processo. Recompensar esforços
ou mesmo acelerando seu crescimento por meio de fu- e não apenas resultados.
sões ou aquisições para que tenham condições de com-
petir com suas concorrentes e se manterem viva e produ- Como trabalhar as diferenças individuais em uma
tiva nesse ambiente. Mas cada individuo reage diferente equipe
a todo esse processo que pode causar estresse, senti-
mento de instabilidade, perda, medo do desconhecido, O homem é um indivíduo complexo com relação
exigência de adaptações rápidas. Porém, cabe aos gesto- à sua natureza, às suas características, às suas múltiplas
res terem cautela nesse momento delicado e darem todo necessidades e potencialidades, como também é singu-
suporte e informações claras aos seus funcionários para larmente diferente de seus semelhantes. Além do mais,
que esses não se sintam tão ameaçados, pois quando é diferente de si mesmo em relação ao tempo, à medi-
os funcionários estão por dentro destas mudanças, nova da que, através da experiência e da aprendizagem, sua
cultura, novos valores, eles se sentem mais satisfeitos em personalidade e seu comportamento sofrem profundas
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trabalhar nesta empresa, se sentem parte dela, e muito modificações.


mais valorizados e importantes para a organização, isso A grande variabilidade de experiências faz com que
reflete nas atitudes do colaborador e consequentemente cada pessoa se desenvolva diferentemente de outras.
na melhora dos resultados do seu trabalho. Os papéis desempenhados pelos membros da equipe
 Segundo BAPTISTA, são determinados pelas características de cada um e
  A mudança é um processo constante dentro das or- pela estrutura da organização. Cada papel abrange dois
ganizações e para se atingir as metas de transformação tipos de componentes: os primeiros, determinados pela
organizacional é preciso inserir a comunicação estraté- organização, valem para todos os ocupantes das posi-
gica no sistema de planejamento e desenvolvimento da ções ordenadas na estrutura organizacional.
empresa, levando-se em conta a análise do clima e da Os segundos componentes constituem a parte livre,
cultura organizacional. subjetiva e pessoal do papel, a ser preenchida de acor-
do com as características de personalidade, experiência e
Enfim, para que o processo de mudança tenha suces- maturidade de cada indivíduo. As diferenças individuais
so é importante se atentar aos seguintes itens: são determinantes na atuação das pessoas dentro dos
 - Identificação clara da ameaça, tensão ou insatisfa- seus papéis sociais e nas posições que ocupam, ainda
ção com a situação vigente: o impulso para a mu- que estejam cercadas de variáveis externas similares.

50
Esse elemento da formação do papel é o responsável quando juntas, o grupo por si só estabelece um valor co-
pelas diferenças encontradas na forma de condução de letivo dentro de uma cultura organizacional. O papel das
problemas. organizações que pretendem desenvolver equipes de
Muitas dificuldades surgidas no processo de desen- alta performance é dispor de capital intelectual que pos-
volvimento das equipes decorrem da falta de preparo sa coordenar esta(s) equipe(s). É preciso focar o “líder”
das pessoas para conviver com as diferenças indivi- neste contexto como a chave para um bom relaciona-
duais. Contudo, a diversidade humana é considerada mento em equipe. Então, as estratégias das organizações
como fonte de enriquecimento do trabalho. para lidarem com as diferenças individuais no desenvol-
A ausência de empatia pode atrapalhar qualquer in- vimento de equipes começam desde cedo, oferecendo
teração, criando uma distância emocional que leva o in- uma ótima estrutura, benefícios que vão ao encontro dos
divíduo a olhar a outra pessoa através das lentes de um objetivos de todos, exercer a transparência e prezar pela
estereótipo, do rótulo de grupo, em vez de vê-lo como ética profissional, constituindo assim uma cultura orga-
um indivíduo. nizacional que impulsiona a todos a um objetivo comum.
Os preconceitos se estendem ao longo da existência Dessa forma, teremos pessoas comprometidas e bem
humana, como parte integrante de seu sistema de valo- relacionadas, mesmo havendo diferenças entre si, mas
res. Eles entravam o crescimento, formando obstáculos saberão lidar com isso no cotidiano e logo os talentos se
capazes de estimular o isolamento, a exclusão e senti- destacam formando assim bons líderes e ótimas equipes.
mentos de desrespeito para com as outras pessoas. O indivíduo ao ingressar em uma organização, traz
consigo costumes e posturas que, muitas vezes, se des-
Diferenças individuais no desenvolvimento de viam da missão, valores e cultura desta organização. Por
equipes isso a figura do líder é essencial, pois ele irá extrair o me-
lhor de seus companheiros, identificando os que agre-
Todos os dias nos deparamos com pessoas fisicamen- gam valor à organização.
te e psicologicamente diferentes. Cada qual tem seus Uma estratégia que partiria de cada um, desde que
gostos e manias particulares, que podem até ter algo todos estejam interessados, seria o autoconhecimento.
idêntico ou similar a de uma outra pessoa, mas com cer- Saber até onde vai o limite de nossas emoções quando
teza o todo é diferente. somos postos em determinadas situações de pressões e
A filosofia hindu prega que devemos expressar nos- agressões no ambiente de trabalho, mostra-nos como li-
sas vontades, mas que hoje esta vontade está ameaçada dar com as adversidades no contexto empresarial.
por uma massificação artificial, que aproveita das propa- O campo dos sentimentos mostra que muitas vezes
gandas de massas propiciando a uma plutocracia, e aca- somos frágeis deixamo-nos atrasar por conta do medo,
ba por arrancar-nos nosso verdadeiro ser interior. Jorge da dúvida e da fragilidade. Beatriz Diez, em seu texto Um
Angel menciona em um de seus textos, Os sete caminhos presente para alma, nos diz que o medo nos paralisa e
para a realização espiritual, o seguinte trecho quanto à nos retém. O medo de tomar decisões, medo de errar,
Vontade: “...devemos robustecer o caminho da realização medo do desconhecido, medo da morte e muitas vezes
da vontade através do indivíduo interior. Não falamos de medo da vida. A dúvida por sua vez nos paralisa também,
individualismo no sentido de um egoísmo que nos separe pois sempre estamos no dilema do faço ou não faço. Há
dos demais, mas de ser quem somos, não por orgulho, mas coisas que não fazemos por sempre estarmos um pouco
por amor à verdade. Mesmo com nossos defeitos, nossas ali, um pouco aqui.
picuinhas, nossos medos e dúvidas, cada um de nós é uma O outro ponto é a fragilidade, que nos torna dema-
peça autêntica e única da Natureza. Somos diferentes e siadamente sensíveis ou, ao outro extremo, nos torna
precisamente nessa singularidade está nosso valor. Como demasiadamente irritáveis. A fragilidade nos deixa susce-
pequenas obras feitas à mão (pela mão de Deus), temos tível, então aceitamos tudo que os outros falam, quando
uma marca particular que nos indica que não saímos de dizem que somos fracos, que não conseguiremos, que
uma linha de montagem.” somos aquém de tudo e de todos, então isso nos fere
Sendo assim, como lidar com isso no âmbito profis- e nos deixa para baixo. Líder com estes sentimentos no
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sional? No dia a dia entre amigos e companheiros sabe- intuito de obter controle sobre eles nos fará pessoas sen-
mos respeitar as diferenças por que muitas vezes segui- satas, que sabe o que quer e aonde quer chegar.
mos caminhos distintos, então o que ele faz ou pensa A comunicação eficiente também gera bons resul-
não vai interferir no meu trajeto. Mas e quando tem-se tados no desenvolvimento de equipes. A informação é
um grupo, que tende a um mesmo objetivo? Como con- pré-requisito no processo de comunicação, portanto as
ciliar as diferenças de cada um para um objetivo único,
organizações que gerem bem as informações captadas,
da equipe?
filtrando e disseminando da melhor forma possível todo
É essencial a busca desta harmonia dentro das equi-
o conteúdo, estarão contribuindo para a formação de in-
pes em uma organização, buscando a satisfação do gru-
divíduos e equipes.
po e o comprometimento de todos, cada um no seu grau
Devemos antes de tudo buscar o primor, prezando
de intensidade, mas sem exceção. Claro que tudo isso
pela ética e respeitando uns aos outros. O autoconheci-
não é fácil, e para tal necessita-se de um líder, de alguém
mento nos fornece condições de saber até onde pode-
que tome as rédeas do grupo e force a busca por estes
objetivos. mos ir e como fazer para alcançarmos o ápice profissio-
Sabemos que equipes devem buscar a excelência, nal. A organização por sua vez, representada por seus
mas para que isso ocorra as pessoas individualmente de- líderes, deve dispor das melhores condições de trabalho
vem buscá-la. Pessoas possuem valores diferentes, mas propiciando o aprendizado e bem estar, gerando assim

51
comprometimento e satisfação entre todos os colabora- O comportamento de todos os seres humanos sofre
dores. Isso inclui todos os processos e rotinas no contex- a influência da percepção. Para entender esse processo
to organizacional. é necessário que se distinga dois conceitos: sensação e
Com tudo isso tenderá ao equilíbrio, que rege toda a percepção.
natureza. A corda do violão se muito apertada tora, mas A sensação é a resposta dos sentidos. Nosso orga-
se muito frouxa não toca, portanto deve estar jutos, e nismo é equipado com sistemas especiais de captação
isso é o equilíbrio necessário para desenvolver equipes de informações, que denominamos Sentidos ou Sistemas
excelentes utilizando mentes diferentes. Sensoriais. São eles que nos capacitam a colher dados de
maneira a podermos planejar e controlar nosso compor-
Personalidade: classificando as diferenças indivi- tamento e nos movimentar.
duais Os sentidos detectam, realizam transdução (conver-
são) e transmitem informações sensoriais. Cada sentido
Ter ou não ter personalidade? Esta expressão não tem um elemento de detecção denominado Receptor,
pode existir, é completamente equivocada. Todos temos que é composto por uma única célula ou um grupo de
personalidade, pois ela é um “conjunto de características células especificamente responsável por um determina-
afetivas, emocionais e dinâmicas relativamente estáveis, do tipo de energia.
e habituais da maneira de ser de uma pessoa em seu Para Samara e Morsch (2005, p. 123), a “percepção
modo de reagir às situações nas quais se encontra” (MO- é a maneira como as pessoas coletam e interpretam os
RIN; AUBÉ, 2009, p. 13). estímulos provindos do seu meio ambiente. Cada um de
A definição anterior pode incluir habilidades, atitudes, nós usa a percepção para criar sua própria ‘realidade’”.
crenças, desejos, o modo de comportar-se e, inclusive, os As pessoas variam um pouco quanto à maneira de
aspectos físicos do indivíduo. O que engloba também o ver as cores, distinguir os tons, assim como de cheirar e
modo como todos esses aspectos se integram, se organi- provar. As experiências, expectativas, motivação e emo-
zam, conferindo peculiaridade e singularidade ao indivíduo. ções também influenciam o que é percebido. Em suma,
a percepção é um processo muito mais individualista do
As diversas teorias da personalidade que se crê comumente.
Definimos a percepção como o processo de organizar
Existem várias teorias da personalidade. Cada uma
e interpretar dados sensoriais recebidos (sensação) para
delas enfatiza aspectos diferentes, sem se oporem. A se-
desenvolvermos a consciência do ambiente que nos cer-
guir, apresento as três teorias mais popularizadas:
ca e de nós mesmos. A percepção implica interpretação.
- A teoria psicanalítica enfatiza os aspectos psicos-
A percepção é uma operação ativa e complicada, al-
sexuais.
gumas aptidões são necessárias à percepção, sobretudo,
- A teoria Rogeriana enfatiza a necessidade funda-
a atenção. Às vezes, supõe-se que a percepção forneça
mental de autorrealização de todo indivíduo.
- A teoria behaviorista enfatiza a aprendizagem em um reflexo perfeitamente exato da realidade. A percep-
que os aspectos duradouros do comportamento ção não é um espelho.
do indivíduo são os hábitos. Em primeiro lugar, os nossos sentidos humanos não
respondem a muitos aspectos do ambiente que nos cer-
A medida que se desenvolvem longitudinalmente, os ca. Não temos a capacidade de ouvir sons de alta fre-
indivíduos desenvolvem padrões de hábitos ou respostas quência registrados pelos morcegos. Não reagimos a
condicionadas a vários estímulos. A soma desses padrões forças magnéticas ou elétricas como certos insetos, pei-
de hábitos, enquanto percebida pelos outros constitui xes e pássaros. As percepções humanas dependem de
sua personalidade. expectativas, motivações e experiências anteriores.
Para Robbins (2005), a personalidade de um indivíduo Existe grande quantidade de estudos sobre o que di-
é a combinação dos traços psicológicos que usamos para rige a atenção das pessoas. Necessidades, interesses e
classificá-lo: por exemplo, calma, eloquência, agressivi- valores têm sido citados como influências importantes
dade, ambição ou persistência. sobre a atenção.
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Quando uma pessoa se comporta de maneira seme- Esta forma de compreender o processo mental não é
lhante em condições semelhantes é esse comportamen- recente. Aproximadamente, em 1870, pesquisadores ale-
to que a torna reconhecida como personalidade distinta mães já pesquisavam a percepção humana, em especial
pelos outros. Com base nisso, podemos esperar ou até a visão. As obras de arte eram o seu material de estudo,
prever certos tipos de comportamento dessa pessoa. ao procurar compreender como se atingia os efeitos pic-
tóricos. Estas pesquisas deram origem à Psicologia da
Percepção e Atribuições: Interpretando o Mundo Gestalt ou Psicologia da Boa Forma. Seus mais famosos
a Nossa Volta praticantes foram Kurt Koffka, Wolfgang Köhler e Max
Werteimer, que desenvolveram as Leis da Gestalt.
Você já se deparou com uma pessoa relatando sobre
um filme ou um acidente e logo depois houve outra ver- A Escola Gestalt
são da mesma situação? Vem a pergunta: quem está fa-
lando a verdade? Não é uma questão de falar a verdade O termo alemão Gestalt quer dizer forma ou confi-
ou mentir sobre um fato, mas sim a maneira como cada guração. A Gestalt estudou a organização do processo
um interpreta este fato. Cada pessoa usa seus “planos mental.
pessoais” ao se deparar com uma realidade.

52
Ao visualizar este texto, ele é a figura (o foco da aten- Ele é dividido em três fases: atenção, organização e
ção), os outros eventos ou percepções, como fome, mú- recordação” (WAGNER; HOLLENBECK, 2009, p. 58).
sica e ruídos passam a ser fundo.
Quando você está assistindo uma aula, mas ausente Fase de atenção
dela e a configuração do seu pensamento está em um
jogo de vôlei da noite anterior, e o fundo é a aula do A maior parte das informações disponíveis é filtrada
professor. de forma que algumas entrem no sistema e outras não.
De acordo com os pesquisadores da Teoria da Gestalt, Isso é necessário porque os cinco sentidos são bombar-
nossa experiência depende dos modelos (estruturas) que deados com muito mais informação do que conseguem
os estímulos despertam na organização da nossa expe- processar. Qualquer parcela de informação que for igno-
riência. rada nessa fase não irá fazer parte de nossa tomada de
O que nós vemos ou percebemos está relacionado decisão.
com a totalidade (Gestalt) do campo de observação. A 1. A atenção é mais facilmente atraída para objetos ou
totalidade do que a gente percebe de um fato, de um informações que confirmam nossas expectativas.
evento, de uma paisagem é diferente da soma das par- 2. A atenção é atraída para objetos ou informações
tes. O todo consiste nas partes relacionadas entre si. que satisfazem nossas necessidades ou interesses.
Esse fenômeno foi pesquisado por Kurt Lewin e de-
nominado de campo psicológico, que é entendido como Fase de Organização
um campo de forças que atua na percepção, nos levando
a procurar a boa forma. De forma ilustrativa podemos As informações restantes (depois de filtradas na fase
relacioná-lo a um campo magnético criado por um imã de atenção) ainda são muito abundantes e complexas
(força de atração e repulsão). Esse campo psicológico para serem facilmente entendidas e armazenadas. Nessa
proporciona a busca da melhor forma possível em situa- fase, simplificamos e organizamos mais os dados senso-
ções que não estão ordenadamente estruturadas. riais acessados.
Um dos métodos é agrupar diversas informações em
Esse processo ocorre de acordo com os seguintes
uma única peça que possa ser processada mais facilmen-
princípios:
te. São os Esquemas, ou seja, estruturas cognitivas que
- Proximidade: quanto mais próximos dois elemen-
agrupam unidades discretas de informação perceptiva
tos estiverem, maior a probabilidade de serem vis-
de um modo organizado. Existem basicamente dois tipos
tos como grupo ou padrão. A proximidade facilita
de esquemas:
a compreensão por comparação.
- Semelhança: eventos semelhantes tendem a agru-
Scripts: que envolvem sequências bem conhecidas de
par entre si. Essa semelhança é elucidada pela cor, ação. Esse tipo de simplificação é vital para o processa-
odor, peso, forma, tamanho etc., em igualdade de mento eficiente das informações. Ex.: “levar o cliente para
condições. almoçar”, “disciplinar um funcionário”.
- Figura/Fundo: tendemos a organizar nossa atenção Não devemos perder de vista o fato de que ao ro-
no objeto observado (a figura) e o segundo o pla- teirizar sequências, podemos estar acrescentando coisas
no contra o qual ela se destaca (o fundo). a eventos que nunca aconteceram ou apagando coisas
que realmente aconteceram. Para uma eficiência organi-
Processos Perceptivos no contexto organizacional zacional é importante esclarecer os scripts.
Ficou claro para você que as pessoas reagem àquilo Protótipos: são esquemas que nos habilitam a amon-
que percebem e suas percepções nem sempre refletem a toar informações sobre características das pessoas. Os
realidade objetiva. Esse é um problema importante, por- estereótipos são generalizações amplamente dissemi-
que à medida que aumenta a diferença entre a realidade nadas sobre um grupo de pessoas. São geralmente or-
percebida e a objetiva, aumenta também a possibilidade ganizados em torno de idade, raça, sexo, origem étnica,
de incompreensão, frustração e conflito. grupo socioeconômico ou outras características socio-
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Ocorre assim, a distorção perceptiva, em que temos culturais. Em geral, os estereótipos são negativos e atre-
uma falsa percepção das coisas, seja em tamanho, forma lados à raça, etnia, gênero e idade.
ou comprimento. Se isso acontece com aquilo que é ob-
jetivo, imagine o que pode ocorrer com os fenômenos Recordação
subjetivos do dia a dia, como os pensamentos e inten-
ções de nossos colegas de trabalho. Da mesma maneira que as informações brutas às ve-
O comportamento de um gerente pode ser percebi- zes se perdem no processo de sua organização em scripts
do por seus funcionários de maneira individualizada. O e protótipos, também é possível perder informações no
que para o gestor representa ser uma demonstração de processo de armazenagem e recuperação. Nem toda a
reconhecimento, para o seu liderado pode não ter a mes- informação que é recebida e organizada é armazenada
ma representação. Essa distorção perceptiva pode gerar e nem toda a informação que é armazenada pode ser
aborrecimento e frustração, tanto para o gestor quanto recuperada. Isso pode criar ilusões e erros nas decisões.
para os subordinados.
“O processo perceptivo é o processo pelo qual parte Viés da disponibilidade: as pessoas têm a tendência
das informações existentes no ambiente são processadas de julgar a probabilidade de que alguma coisa aconteça
pelo indivíduo para tomada de decisões. pela facilidade com que podem se lembrar de exemplos.

53
Tendemos a superestimar a quantidade de mortes de- Resposta: Letra B.
vido a eventos como desastres aéreos e a subestimar o Em “a”, errado - As pessoas que fazem projeção tendem
número de mortes causadas por acidentes de trânsito ou a ver as outras de acordo com o que são elas mesmas.
por doenças. Os exemplos de desastres são mais inten- Em “c”, errado – Trata-se da percepção seletiva do todo
sos. que tentamos assimilar, sendo essa seleção alinhada aos
nossos interesses, experiencias, etc.
Reduzindo os Problemas de Percepção Em “d”, errado – impressão geral com base em um úni-
co aspecto.
Não resta dúvidas de que podemos ser imprecisos Em “e”, errado – trata-se da avaliação feita de uma
ao retratar fatos e acontecimentos. Mas sempre existem pessoa com base na influência que se recebe daqueles com
medidas que podem ser tomadas com a finalidade de quem convive-se.
evitar os problemas da distorção perceptiva.
1. Aumentar a frequência de observações: ao fazer
mais observações, o observador pode coletar mais Gestão participativa.
informações e com isso elevar a eficiência das per-
cepções. As empresas procuram pela melhor forma de gerir
2. Garantir a representatividade das informações por seus colaboradores. Em meio aos diferentes tipos de
meio do cuidado com o modo e o momento da pessoas, há aquelas que optem por uma forma de gestão
observação: se obtivermos observações por amos- para cada setor. Alguns das mais populares são:
tragem aleatória e utilização dos métodos mais - Gestão Democrática;
isentos possíveis, aumentaremos a probabilidade - Gestão Meritocrática;
de que essas observações sejam acuradas. - Gestão Autoritária;
3. Obter observações de pessoas diferentes e de dife- - Gestão por Cadeia de Valor;
rentes perspectivas. - Gestão do Ciclo de Inovação;
4. Empenhar-se em obter informações que não sejam - Gestão com Foco em processos;
condizentes ou que contradigam nossas convic- - Gestão com Foco em resultados.
ções correntes.
5. Assegurar a precisão dos scripts e protótipos. Tra- Em meio às mudanças organizacionais e a presença
balhar sobre os protótipos e estereótipos, ou seja, da horizontalidade nas empresas, houve a necessidade
alertar as pessoas acerca dos protótipos e estere- criar um modelo novo de gestão: a participativa. As fer-
ótipos que eles sustentam em relação às demais. ramentas de gestão participativa (gestão participativa
Levar os observadores a abandonar determinados escolar, gestão participativa sus, gestão participativa em-
protótipos ou scripts que pareçam induzi-los a er- presarial)  foram desenvolvidas na busca de solucionar
ros e, se possível, que os substituam por outros problemas motivacionais e estruturais das organizações.
mais acurados, mas ainda úteis na simplificação Ainda há diversas dúvidas das empresas e dos indiví-
dos dados. Procurar ativamente pela informação duos quanto à eficácia e importância da gestão partici-
que conteste é particularmente útil a esse propósi- pativa para a organização, mas fazer uma busca (gestão
to. Aumentar a exposição dos observadores a gru- participativa scielo, gestão participativa wikipedia,  ges-
pos sociais diferentes em um esforço de ajudá-los tão participativa livro) pode ajudar a compreendê-la me-
a desenvolver protótipos mais acurados. lhor. Por isso, separamos algumas informações impor-
tantes.

O que é gestão participativa?


EXERCÍCIO COMENTADO
A gestão participativa é um processo de liderança
1. (Marinha/2019) Segundo Robbins (2010), costuma- estruturado na confiança entre os profissionais de dife-
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mos utilizar diversas simplificações quando julgamos rentes níveis hierárquicos. Por meio dela as pessoas são
outras pessoas. Tais simplificações nos permitem chegar estimuladas a participar do processo decisório. Com isso,
rapidamente a percepções precisas e oferecem dados há um cultivo da livre interação dos colaboradores nos
válidos para previsões, entretanto, não estão livres de objetivos da organização.
erros e podem resultar em distorções significativas. De Os exemplos de gestão participativa eficazes fizeram
acordo com o autor, o julgamento de uma pessoa com com que esse tipo de gestão ganhasse notoriedade no
base na percepção sobre o grupo ao qual ela pertence, processo de fortalecimento do capital humano dentro
diz respeito a qual forma de simplificação? das empresas. Visando a valorização dos colaboradores,
ela tem o poder de evidenciar os grandes responsáveis
a) Projeção. pelo sucesso da gestão e dos negócios.
b) Estereotipagem. Por meio da gestão participativa todos os níveis hie-
c) Percepção seletiva. rárquicos ganharam voz. A implementação dela nas em-
d) Efeito de Halo. presas passou a mostrar que não basta ter um bom pro-
e) Efeito de contraste. jeto de produto ou serviço, é importante ter pessoas para
produzi-lo e comercializá-lo com excelência.

54
Qual a importância da gestão participativa para a Benefícios da Gestão participativa
organização?
Caso tenha dúvidas da eficácia desse modelo de ges-
O mercado exige que as empresas tenham proces- tão. Ou, antes de girar a chave e realizar a implementa-
sos mais rápidos e eficazes. Para aumentar a efetividade ção da gestão participativa. Confira os benefícios que ela
organizacional é necessário ter uma boa equipe de tra- pode levar para as organizações
balho. O capital humano é a parte mais valiosa que as
organizações possuem, mas para que ele seja eficiente é 1- Comprometimento dos colaboradores
necessário que haja uma boa gestão. A grande luta das organizaçõe é entender como des-
Diantes dos inúmeros modelos de gestão e tipos de pertar o comprometimento espontâneo do colaborador.
liderança, é notório que há uma busca constante na as- Não apenas por barganha, ou por meio de benefícios,
sertividade da gestão. Encontrar o modelo perfeito para é possível que o indivíduo colabore para o bem da or-
gerir uma equipe é a maior dificuldade enfrentada pela ganização apenas pelo fato de acreditar na empresa e
organização. participar das decisões. Por isso, a gestão participativa é
Composta por equipes com pessoas que possuem também incentivadora.
personalidades, capacidades, estímulos e motivações di- Por meio da gestão participativa os funcionários se
ferentes, as organizações sofrem para conseguir desen- sentem parte dos processos do início ao fim, o que ajuda
volver um processo comum a todos que gere motivação a motivá-los, gerando comprometimento e entrega de
e efetividade. cada um deles. Com participação na tomada de decisão,
Além da otimização dos resultados, já que tudo cami- os colaboradores passam a sentir o peso do processo
nha com maior agilidade, a gestão participativa estimula decisório e a importância que a sua opinião tem para o
as equipes a serem mais eficazes, unidas e funcionais. desenvolvimento da organização.
Com isso, esse modelo tem ganhado cada vez mais des-
taque nas organizações, sendo um dos mais utilizados 2- Crescimento constante dos negócios
nas empresas modernas. O capital humano é o bem mais precioso que a em-
presa possui. A valorização das pessoas gera inúmeros
Histórico positivo que envolve a gestão participativa benefícios para a organização. Por isso, com o compro-
metimento dos funcionários o crescimento constante
A gestão participativa é importantíssima para a orga- dos negócios passa a ser uma consequência.
nização. Se formos compará-la ao modelo de gestão ba- A gestão participativa tem o poder de mudar as pes-
seado na administração burocrática (comum na década soas e o clima organizacional. E, é o impacto dessas mu-
de 1950), por exemplo, é possível podemos observar que danças na organização que geram o crescimento dos ne-
as empresas se tornaram mais humanas. Essa humaniza- gócios. Além disso, quando mais pessoas são ouvidas no
ção gera benefícios mútuos, pois tanto empresa quanto processo de tomada de decisão, a resposta tende a ser
colaborador são beneficiados. mais assertiva. Com isso, a democratização do processo
As mudanças na gestão organizacional fizeram com decisório ajuda a melhorar a eficácia das ações empre-
que as organizações ganhassem maior dinamismo com sariais.
o passar do tempo. Pois nos modelos de gestão tradi-
cional, que foi utilizado até 1930, havia um caráter auto- 3- Comunicação integrativa entre as áreas
ritário e hierárquico, com foco nas tarefas e na estrutura A comunicação entre as áreas sofre diversas influên-
organizacional, o que ainda pode ser encontrado em pe- cias da gestão. Em um modelo de gestão autoritária, por
quenas empresa, mas não funcionam de forma nenhuma exemplo, essa troca é interrompida pelo receio que os
nas grandes empresas, que são as que realmente fazem colaboradores passam a ter do líder. Por isso, a escolha
a diferença na sociedade. do modelo de gestão a ser empregado na organização é
A gestão moderna, acabou ganhando popularização, tão importante. Não apenas para o crescimento e desen-
pois era um modelo completamente diferente e eficaz. Esse volvimento organizacional, ele impacta diretamente no
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modelo sugeria que houvesse a um processo de migração comportamento e clima presentes na organização.
da centralização no dono para o foco no colaborador, o que O bom líder procura estabelecer uma equipe onde
foi se moldando até chegar a forma que encontramos hoje, haja comunicação e troca, mas para que isso aconteça é
e a gestão participativa é um grande exemplo disso. importante gerenciá-los da melhor forma. A gestão par-
ticipativa não apenas permite, mas exige a comunicação
integrada entre as áreas. Não é possível implementar e
#FicaDica sustentar esse modelo de gestão se não houver essa in-
O foco humanístico, presente na gestão mo- tegração.
derna, que teve como influência a teoria das A comunicação integrativa entre as áreas é a conse-
relações humanas, é o principal pilar da ges- quência da participação da equipe na tomada de deci-
tão participativa. Ele possibilita que as em- são. Pois, isso acaba despertando o interesse e necessi-
presas deixem de ser entendidas como má- dade do trabalho em equipe e, da troca de informações
quinas e passem a ser percebidas como um para a formação de soluções mais eficazes para o bem
grupo de pessoas que tem voz e importância da organização.
para a tomada de decisão.

55
4- Crescimento dos profissionais - Envolva os colaboradores na geração e implantação
O crescimento e desenvolvimento profissional é a de ideias – uma vez que a informação está dispo-
meta de todo colaborador. Poder ajudar a equipe e além nível, estimule a troca de ideias. Refaça sua analise
disso, alcançar cargos melhores é um objetivo comum SWOT  (pergunte quais as forças, fraquezas, ame-
entre os indivíduos. Mas, muitos modelos de gestão aca- aças e oportunidades que visualizam para o negó-
bam barrando essa motivação e busca por crescimento. cio).
Existem empresas que não desenvolvem os colabora- - De feedback individual – defina junto com os cola-
dores e não criam programas de crescimento. Com isso, boradores suas metas pessoais;
os funcionários vivem desmotivados, criando certa resis- - Realize reuniões periódicas para acompanhamento
tência e queda de produtividade. Para produzir mais e das metas da organização;
melhor o colaborador precisa ter uma motivação. - Realize reuniões para discussão de ideias;
Com a gestão participativa a motivação e transfor- - Envolva diferentes áreas. Das lacunas institucionais
mação do clima organizacional é evidente. Os colabora- saem as grandes inovações;
dores ganham força e motivo para exercer seu trabalho
com confiança e eficiência. Esse modelo de gestão visa Para a gestão participativa funcionar é preciso ter um
não apenas a participação dos colaboradores na tomada funcionamento coerente entre:
de decisão, mas a gratificação dos mesmos pelo desen- 1. Sistemas e processos da empresa;
volvimento e assertividade no processo decisório. Com 2. Condições organizacionais;
isso, o crescimento dos profissionais passa a ser gradual 3. Comportamentos gerenciais.
e inevitável.
Este tipo de gestão pode exigir um esforço maior na
Como implementar a gestão participativa? sua implementação. Pois, para implementá-la é preciso:
1. Resolver possíveis conflitos: de diferentes estilos de
A gestão participativa pode envolver 3 dimensões da gestão entre as equipes;
organização: 2. Flexibilizar a estrutura organizacional: com um me-
nor número de classes hierárquicas;
1. Comportamental 3. Desenvolver lideranças representativas.
É nessa dimensão que ocorre a substituição do estilo
tradicional de administrar pessoas – autoritário, indife-
O desenvolvimento de uma liderança representativa
rente, impositivo, paternalista – pelo da liderança, auto-
é a chave do sucesso para a implementação do modelo
nomia, cooperação e comprometimento.  Envolver, infor-
de gestão. Pois, para que haja participação de todos é
mar, delegar e perguntar em vez de mandar. Não cobrar
necessário que os gestores, responsáveis pelas equipes,
e sim obter! Essas são as palavras-chaves para o com-
motivem os seus profissionais. Com isso, é possível que
portamento dos administradores na gestão participativa.
haja engajamento nas causas da empresa.
2. Estrutural Para que a implementação funcione com eficácia é
Talvez a mais difícil de ser implantada pois pode im- importante estabelecer dois pilares:
plicar no redesenho de estruturas, cargos e grupos de 1. Participação de todos;
trabalho. A hierarquia muitas vezes deve ser repensada, 2. Comprometimento com os resultados.
pois nas organizações tradicionais os regulamentos, as
carreiras, a divisão do trabalho e o próprio organograma Para que a efetivação da gestão participativa seja fei-
são estruturados de maneira que o poder fique concen- ta com sucesso, nenhum profissional deve ser excluído
trado no topo da pirâmide. do processo decisório. Porém, para evitar que o processo
decisório da empresa se torne um engano e gire em tor-
3. Interfaces no de pequenas decisões que geram grandes mobiliza-
Uma organização está ligada ao mercado e a socieda- ções, é preciso otimizar o sistema decisório fazendo com
de por diversas interfaces – clientes, fornecedores, comu- que cada colaborador tenha consciência de suas capaci-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

nidade – e não apenas com os funcionários. Os clientes dades e responsabilidades individuais.


devem ser consultados sobre decisões e evoluções de Antes de decidir implementar a gestão participativa é
produtos e serviços. Fornecedores, distribuidores e ter- preciso considerar que:
ceirizados devem criar parcerias e desenvolver projetos 1. Esse é um processo irreversível;
em conjunto, criar sinergias na cadeia de valor. Junto a 2. Uma vez iniciado, não pode ser desfeito;
comunidade, deve-se criar um ambiente favorável a con- 3. Retomar ao modelo antigo de gestão será dema-
vivência e desenvolvimento local. A organização deve siadamente traumático para os envolvidos.
estar aberta para o ambiente externo, buscando infor-
mações para sempre melhorar sua administração. Após considerar os prós e contras, avalie as condições
da sua empresa e se realmente há espaço, estrutura e
Primeiros passos necessidade dessa mudança.

- Compartilhe informações sobre a atuação da em-


presa – deixe as informações sobre objetivos, me-
tas, evolução da empresa e projetos disponíveis a
todos.

56
Concepção de suporte organizacional
EXERCÍCIO COMENTADO As crenças e as expectativas dos indivíduos sobre o
reconhecimento oferecido pela organização como forma
1. (Ed. Nova) As dimensões envolvidas na gestão parti- de retribuição pelo trabalho realizado são fatores ligados
cipativa tem como características: diretamente à percepção do suporte organizacional. Para
Siqueira e Gomide (2004), qualquer indivíduo é capaz de
I. É na dimensão comportamental que ocorre a substi- desenvolver percepções muito particulares acerca do
tuição do estilo tradicional de administração autoritário trabalho que desenvolve, seja como um todo ou sobre
pelo da liderança, autonomia e comprometimento. algum aspecto específico.
II. É na dimensão estrutural envolve a informação, a de- A percepção do suporte organizacional, conforme Ei-
legação e o questionamento ao invés de comandos já senberger et al. (1986, p. 501), pode ser definida como
pré-determinados, como se fossem palavras chaves na um conjunto de “crenças globais desenvolvidas pelo em-
orientação das pessoas. pregado sobre a extensão em que a organização valoriza
III. É na dimensão interfaces que se encontra a maior di- suas contribuições e cuida de seu bem-estar”. É a percep-
ficuldade de implantação da gestão participativa, pois ção dos empregados acerca da qualidade do tratamento
pode implicar redesenho de estruturas, cargos e grupos recebido, ou seja, o quanto a organização cuida de seu
de trabalho. bem-estar e como seus esforços são valorizados e retri-
IV. Uma organização está ligada ao mercado e à socie- buídos.
dade por diversas interfaces; clientes, fornecedores e co- Para Oliveira-Castro, Pilati e Borges-Andrade (1999), a
munidade devem ser consultados sobre decisões e evo- organização tem obrigações legais, morais e financeiras
luções de produtos e serviços. com seus trabalhadores e, como consequência, o traba-
lhador tem o dever de apresentar bom desempenho e
a) Estão corretas APENAS as afirmativas I e III. comprometimento com a instituição. Para esses autores,
b) Estão corretas APENAS as afirmativas I, II e III. as percepções desenvolvidas pelo indivíduo são basea-
c) Estão corretas APENAS as afirmativas II, III e IV. das na frequência, intensidade e sinceridade das mani-
d) Estão corretas APENAS as afirmativas III e IV. festações organizacionais dispensadas em retribuição ao
e) Estão corretas APENAS as afirmativas I e IV. esforço de seus funcionários. Uma percepção favorável
do suporte organizacional permite fortalecer o esforço
Resposta: Letra E. do empregado com a organização. Nesse caso, o traba-
Em “II”, errado – trata-se da dimensão comportamental lhador somente desenvolve percepções favoráveis do
Em “III”, errado – trata-se da dimensão estrutural. suporte organizacional quando entende que as retribui-
ções organizacionais são sinceras, bem intencionadas e
não manipuláveis (Oliveira-Castro; Pilati; Borges-Andra-
DESEMPENHO E SUPORTE ORGANIZACIONAL de, 1999).
Eisenberger et al. (1986) consideram que as interações
Desenvolvimento organizacional dos trabalhadores com a organização são caracterizadas
por meio das trocas relacionadas pelas expectativas de
As aceleradas transformações sociais, demográficas, reciprocidade. Nesse caso, a reciprocidade explica o re-
culturais e tecnológicas pelas quais o mundo passa nos lacionamento entre o trabalhador e a organização, uma
últimos anos, faz com que seja necessário que as orga- vez que os empregados formam percepções genéricas
nizações repensem e reorganizem sua estrutura, proces- acerca das intenções e dos atos a eles direcionados. Isso
sos, organização e condições de trabalho de modo que ocorre, a partir do entendimento de como seus dirigen-
sejam definidos novos formatos organizacionais. tes praticam as políticas e procedimentos relacionados
Para Harman e Horman (1992) a organização, me- à gestão de pessoas, atribuindo características humanas
diante um ambiente de competitividade, precisa atrair com a organização e acreditando manter relações sociais
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e manter os profissionais mais criativos e competentes com ela (Siqueira, 2005).


para garantir sua prosperidade. Isso ocorre devido ao Siqueira (2005) sugere que para que a reciprocidade
consenso de que os trabalhadores que pertencem à or- seja corretamente utilizada como base na compreensão
ganização possuem poder direto nos resultados de pro- da percepção do suporte organizacional, o trabalhador
dutividade alcançados pela empresa. deve ser posicionado como receptor e a organização
Para que as organizações possam contar com profis- como doadora. A relação de troca entre doador e recep-
sionais satisfeitos, motivados e preparados para assumir tor passaria a ser utilizada na organização a partir de um
diferentes tarefas do dia a dia do trabalho, é cada vez esquema mental, conforme representado na Figura 1.
mais necessário a preocupação com o bem-estar desses
profissionais. Desse modo, identificar e compreender as
percepções, os comportamentos e as intenções de com-
portamentos dos trabalhadores, tem se revelado uma
demanda central e de grande relevância e necessidade
para a atuação dos gestores.

57
A partir da percepção deste suporte, o empregado passa a possuir o sentimento de devedor, passando a ver a
organização como credora e merecedora de esforços, além do contrato formal (Silva; Cappellozza; Costa, 2014). Da
mesma forma, o empregado também enxerga a organização como devedora quando oferece a ela, favores voluntários.
O sentimento de que a organização oferece cuidados, reconhecimento e respeito para com seus funcionários pode
fazê-los satisfazer necessidades socioemocionais, uma vez que passam a sentirem-se membros da organização (Siquei-
ra; Padovam, 2008).
Siqueira e Gomide (2004) classificam os antecedentes de percepção de suporte organizacional em três fatores: jus-
tiça na distribuição de recursos; suporte oferecido pelas chefias; e retornos organizacionais.
O desenvolvimento da percepção do suporte organizacional é motivado pela tendência dos trabalhadores em atribuir à
organização características humanas (Einsenberg et al., 1986). Para Tamayo e Tróccoli (2002), a organização atua por meio do
comportamento individual de seus membros-chave, ocupantes de posições de gerência ou de liderança e não de maneira
abstrata. Sendo assim, para Levinson (1965), a personificação da organização pode acontecer devido a diversos fatores. Primei-
ro, porque a organização possui responsabilidades legais, morais e financeiras pelas ações de seus agentes; segundo, pois a
permanência ou a extinção de determinados papéis comportamentais devem-se aos precedentes, tradições, políticas e normas
organizacionais; e, por último, porque a organização por meio de seus agentes exerce poder sobre seus colaboradores.
A influência da percepção do suporte organizacional em alto nível pode trazer diversos benefícios para a organi-
zação, desde a redução do absenteísmo até a intenção de sair da empresa, além disso, traz aumento do desempenho,
maior comprometimento e satisfação com o trabalho, conforme demonstrado na Figura 2.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Com base nos estudos de suporte organizacional, Eisenberger et al. (1986) com o objetivo de medir as variáveis que
afetam diretamente o desempenho e o comprometimento dos trabalhadores com a organização e com base na abor-
dagem teórica que traz conceitos como reciprocidade, ideologia da troca e modelo motivacional de esforço-resultado,
desenvolveram o instrumento Survey of perceived organizational support – SPOS (Oliveira-Castro; Pilati; Borges-Andra-
de, 1999). Para Eisenberg et al. (1986), tal instrumento tem como finalidade medir a avaliação realizada pelos trabalha-
dores a respeito das retribuições e dos benefícios oferecidos pela organização em troca do seu esforço no trabalho.
O instrumento desenvolvido por Einseberg et al. (1986), possui duas formas, uma completa (composta por 36 itens)
e outra reduzida (com 17 itens), nas quais os empregados assinalam em escala positiva ou negativa sua visão sobre
as contribuições e o bem-estar organizacional. Os itens são classificados em uma escala tipo Likert, em que 1 significa
“Discordo Totalmente” e 7, “Concordo Totalmente”.
Na tentativa de analisar e sistematizar os estudos realizados nessa temática, Eisenberger et al. (2002), realizaram
uma metanálise com mais de 70 pesquisas estabelecendo como critério de seleção aquelas que foram realizadas com
o instrumento SPSS. Foram levantadas as variáveis já estudadas e as principais hipóteses, antecedentes, consequentes,
bem como a correlação entre elas. O resultado dessa análise mostrou que, basicamente, a área apresenta três impor-
tantes antecedentes da percepção do suporte organizacional, incluindo procedimentos justos da organização, suporte
e recompensas do gerente e condições de trabalho.

58
Para Oliveira-Castro, Pilati e Borges-Andrade (1999), material e ascensão e salários como influenciadores na
apesar da importância de estudos relacionados a essa percepção do suporte organizacional dos trabalhadores.
temática, escalas de suporte organizacional ainda são Além dessas dimensões, os autores identificaram ainda
pouco difundidas no Brasil. Para os autores, a tese de fatores relacionados aos estilos de gestão da chefia e su-
Siqueira (1995) pode ser citada como exceção. Siqueira porte social no trabalho.
(1995) validou uma escala reduzida de percepção de su- O fator estilos de gestão de chefia refere-se à per-
porte organizacional, adaptando o SPOS, desenvolvido cepção que o trabalhador possui acerca das formas utili-
por Einsenberg et al. (1986), de acordo com as caracte- zadas pela chefia para colocar em prática políticas orga-
rísticas brasileiras. nizacionais, enquanto que o suporte social no trabalho
Com o objetivo de construir um instrumento mais está ligado à percepção do trabalhador quanto ao apoio
completo e adaptado às necessidades nacionais, Olivei- social e a qualidade do relacionamento interpessoal.
ra-Castro, Pilati e Borges Andrade (1999), investigaram Tamayo e Tróccoli (2002) realizaram um estudo com
a estrutura do suporte organizacional e desenvolveram 369 trabalhadores ocupantes de diferentes cargos em
um questionário denominado de Percepção de Suporte empresas públicas e privadas dos setores bancário, de
Organizacional. Tal questionário foi produzido e validado pesquisa e serviços com o objetivo de avaliar sob o pon-
a partir de uma amostra de trabalhadores de empresas to de vista da exaustão emocional, a percepção do su-
tanto privadas como de órgãos públicos, e estruturado porte organizacional e o coping no trabalho. Os autores
em torno de quatro dimensões: gestão de desempenho, identificaram que os fatores gestão de desempenho, so-
carga de trabalho, suporte material ao desempenho e as- brecarga de trabalho, suporte social e ascensão e salários
censão, promoção e salários. pertencentes à Escala de Suporte Organizacional Perce-
A primeira dimensão, caracterizada como gestão de bido revelaram-se preditores significativos da exaustão
desempenho, diz respeito à maneira como os trabalha- emocional.
dores enxergam as práticas organizacionais de gerencia- Paschoal, Torres e Porto (2010), testaram o impacto
mento do desempenho e produtividade do trabalhador. do suporte organizacional e do suporte social das dis-
Consiste na avaliação de aspectos de valorização de no- tintas dimensões relacionadas ao bem-estar no trabalho,
vas ideias, conhecimento das dificuldades relacionadas com 403 servidores de uma organização pública. Como
à execução das tarefas e ao esforço organizacional de resultado, se identificou que o suporte organizacional e
treinamento e capacitação de seus trabalhadores diante o suporte social possuem impacto direto no bem-estar
das novas tecnologias e processos de trabalho. dos trabalhadores. Neste caso, a gestão de desempenho
A segunda dimensão consiste na carga de trabalho e apresentou-se como principal efeito de afeto positivo e
está relacionada à sobrecarga e ao excesso de exigências realização no trabalho, enquanto que a carga de trabalho
atribuídas aos funcionários quando há um aumento na foi o principal efeito de afeto negativo.
produção, a obrigatoriedade de realizar horas extras, a Com o objetivo de compreender a influência dos va-
transferência para locais não compatíveis com suas ca- lores organizacionais na percepção de suporte organi-
racterísticas e a desconsideração em decisões adminis- zacional, Estivalete e Andrade (2012), realizaram estudo
trativas que o envolva. com 332 trabalhadores do setor bancário público e pri-
O suporte material, terceira dimensão, consiste na vado. O resultado demonstrou que o suporte organiza-
percepção do trabalhador acerca da disponibilidade, cional apresentou um nível moderado de incidência. Para
adequação, suficiência e qualidade dos recursos mate- os autores, o resultado obtido pode estar relacionado à
riais e financeiros disponibilizados pela organização para atribuição de menores índices de prioridade das orga-
realização das tarefas. Consiste também, na moderniza- nizações estudadas aos valores organizacionais, como
ção dos processos de trabalho e na qualificação dos tra- bem-estar, autonomia e realização. Para Estivalete e
balhadores. Andrade (2012) esses valores estão relacionados com a
Por fim, a última dimensão, refere-se a como o indi- qualidade de vida, satisfação e reconhecimento dos tra-
víduo percebe as práticas organizacionais de retribuição balhadores, o que resulta em menor incidência de supor-
financeira, promoções e ascensão funcional, é denomi- te organizacional.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

nada de práticas organizacionais de ascensão, promoção Brandão, Borges-Andrade e Guimarães (2012) pes-
e salários. quisaram a relação entre as competências expressas pe-
Oliveira-Castro, Pilati e Borges Andrade (1999) veri- los gerentes de agências bancárias e a percepção deles
ficaram que além das dimensões propostas, o suporte sobre o suporte organizacional. A pesquisa foi realizada
organizacional refere-se às crenças do trabalhador acer- com 186 gerentes de agências e 77 superintendentes
ca do quanto a organização valoriza suas contribuições regionais de uma instituição bancária brasileira. Neste
e cuida de seu bem-estar como um todo, não diferen- caso, apenas o fator práticas de gestão de desempenho
ciando o comportamento de trabalhadores específicos, apresentou efeito significante sobre o desempenho das
como chefes e líderes. agências pesquisadas. Os demais resultados apresenta-
Ainda no Brasil, Tamayo et al (2002, apud Tamayo; dos demonstram que quanto melhor a percepção de su-
Tróccoli, 2000), desenvolveram e validaram a Escala de porte organizacional, melhor o resultado econômico da
Suporte Organizacional Percebido – ESOP. Esta escala instituição.
é composta por 42 itens divididos em seis dimensões. Sant’anna, Paschoal e Gosendo (2012) testaram a re-
Assim como Oliveira-Castro, Pilati e Borges- Andrade lação do suporte organizacional para a ascensão, pro-
(1999), Tamayo e Tróccoli (2002), identificaram os fato- moção e salários, e os estilos gerenciais com o bem-estar
res gestão do desempenho, carga de trabalho, suporte no trabalho. Tal pesquisa foi realizada com 157 trabalha-

59
dores de duas organizações privadas e identificou que Desenvolvimento organizacional (DO) é uma expres-
tanto os estilos gerenciais quanto o suporte organiza- são que já existe há algum tempo e pode ter mais de
cional para a ascensão, promoção e salários apresentam um sentido. Aqui, você vai entender alguns dos seus sig-
relações significativas com o bem-estar no trabalho. O nificados e saber qual é a função desse fator em uma
suporte organizacional obteve as relações mais signifi- empresa.
cativas com os fatores de bem-estar e foi seu principal Antes de tudo, vale esclarecer que essa ideia, enquan-
causador. Desse modo, os autores concluíram que quan- to campo de estudo, faz parte da área de comportamen-
to maior a percepção de suporte, maiores são o afeto to organizacional e, com isso, tem total relação com o ca-
positivo e a realização do empregado. pital humano de uma empresa, ainda que a preocupação
Silva, Cappellozza e Costa (2014) analisaram o impac- seja para o funcionamento como um todo. Prossiga com
to da percepção de suporte organizacional e compro- a leitura e saiba mais sobre o assunto.
metimento organizacional afetivo na intenção de rota-
tividade de 132 trabalhadores do estado de São Paulo. Algumas definições para desenvolvimento organi-
Os autores verificaram que tanto a percepção de suporte zacional
quanto o comprometimento organizacional tiveram im-
pacto negativo significante na intenção de rotatividade Um primeiro olhar para esse conceito é o de que ele
dos empregados, entretanto, o comprometimento afe- representa qualquer iniciativa de uma empresa para au-
tivo teve mais impacto que o suporte organizacional no mentar a participação de colaboradores nos assuntos or-
que se refere à retenção de funcionários. ganizacionais.
Assim como Silva, Cappellozza e Costa (2014), Dió- Outra visão diz respeito a um modelo normativo que
genes et al. (2016) realizaram estudo a fim de verificar estabelece determinados tipos de comportamento como
a influência da percepção de suporte organizacional na mais adequados para o contexto de trabalho como um
intenção de rotatividade de servidores públicos de um todo, refletindo em melhores desempenhos.
órgão da administração pública federal. Neste caso, a Nos últimos 10 anos, porém, uma visão mais avançada
pesquisa foi aplicada a 112 participantes e revelou que os sobre o desenvolvimento organizacional vem ganhando
servidores possuem um elevado desejo em sair da orga- espaço. Ao dar mais ênfase às relações interpessoais e
nização pesquisada e avaliam negativamente o suporte aos processos grupais, o Desenvolvimento Organizacio-
organizacional, principalmente, o fator relacionado à as- nal pode ser definido como uma estratégia educacional
censão, promoção e salários. Além disso, o fator voltado que visa trabalhar crenças, valores e estruturas organi-
para a gestão de desempenho também possui grande zacionais para melhorar a adaptação da empresa ao
influência na intenção de sair da instituição. processo de inovação (incluindo novas tecnologias) e ao
Os resultados apresentados mostram que as crenças mercado como um todo.
nutridas pelos empregados com relação ao quanto a orga- Sendo assim, podemos dizer que uma empresa que
nização se preocupa e cuida do bem-estar de seus trabalha- esteja passando por mudanças internas mais profundas
dores pode influenciar desde a satisfação, envolvimento e e pretenda alinhar sua cultura aos objetivos do negócio,
comprometimento, como também no absenteísmo, desem- de forma que a força de trabalho seja vista em toda a sua
penho e intenção de rotatividade (Siqueira; Gomide, 2004). complexidade, está colocando em prática o desenvolvi-
mento organizacional.
percebe-se que uma baixa percepção de suporte or-
ganizacional por parte dos trabalhadores, aliada a outros A teoria do desenvolvimento organizacional por
fatores podem despertar a intenção de rotatividade. En- Chiavenato
tretanto, conforme pontua Vanderberg e Nelson (1999), Idalberto Chiavenato é um dos nomes mais influentes
a intenção elevada de rotatividade não deve ser conside- no Brasil e no mundo quando o assunto é administração
rada como uma saída inevitável de um empregado. e recursos humanos. Com mais de 30 livros publicados, o
Os resultados das pesquisas analisadas podem servir autor coleciona os best sellers mais populares do mundo
como instrumento de diagnóstico e avaliação organiza- dos negócios, como:
cionais no planejamento estratégico das organizações. - Teoria Geral da Administração;
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Além disso, também podem ser utilizados como indica- - Gestão de Pessoas;
dores na identificação de necessidades de se repensar - Planejamento Estratégico.
as políticas organizacionais voltadas para o trabalhador.
De acordo com o especialista, a origem do desen-
Desenvolvimento Organizacional volvimento organizacional se deu pela necessidade das
empresas de realizar transformações que as atingissem
Falamos acima sobre como o desempenho e o supor- como um todo.
te organizacional interferem e repercutem no comporta- O problema é que os objetivos dos colaboradores
mento e no desenvolvimento individual, potencializando nem sempre estão alinhados aos do negócio, fazendo
assim os resultados por esses produzidos. com que as equipes se distanciem da organização, ge-
A partir de agora, vamos abordar o desenvolvimento rando conflitos relacionados ao engajamento e prejudi-
da organização. cando o alcance de bons resultados.
Costumamos ver o termo desenvolvimento associado
a pessoas. No entanto, neste material, você vai conhe- Chiavenato acredita que toda organização funciona
cer outro tipo de uso para esse conceito que, embora como um sistema, que detém suas próprias caracterís-
inclua pessoas, diz respeito ao ambiente organizacional. ticas, de acordo com sua cultura organizacional. No en-

60
tanto, para que possa estar em sintonia com seus co- Em sua biografia, Chiavenato escreve que são neces-
laboradores, precisa apresentar alguns dos seguintes sárias 8 etapas para que um programa de desenvolvi-
elementos: mento organizacional possa ser executado:
- senso de identidade; 1. decidir que está na hora de implementar o De-
- integração; senvolvimento Organizacional  e definir quem
- capacidade de adaptação. vai coordenar o processo;
2. realizar um diagnóstico inicial com o objetivo de
A partir daí, a transformação pode acontecer e deve estabelecer o modelo mais adequado;
passar por 4 tipos de aprendizagem: 3. levantamento de dados sobre a empresa;
1. conhecimento; 4. análise dessas informações;
2. motivação; 5. planejamento das ações;
3. ideologia; 6. desenvolvimento das equipes;
4. controle dos movimentos corporais. 7. integração entre os grupos;
8. avaliação e acompanhamento dos resultados.
A função do Desenvolvimento Organizacional em
uma empresa Dentro dessa perspectiva, é importante salientar que,
uma vez que exige que as estruturas da organização se-
Por que uma empresa resolve analisar seu próprio jam modificadas, existem três modelos de desenvolvi-
funcionamento? Qual a função do desenvolvimento or- mento organizacional que podem ser aplicados dentro
ganizacional numa perspectiva global sobre um negócio? de uma empresa:
Bom, respondendo à primeira pergunta, as empresas
se analisam quando percebem que há problemas a se- Modelos com alterações estruturais
rem resolvidos – os quais sempre vão afetar os resulta-
dos de uma maneira global. Mas por que sempre? Está relacionado ao ambiente de trabalho, estrutura
Porque tudo numa organização é interdependente – física ou tecnologia utilizada pela empresa. As principais
cada pessoa, cada processo e ação está inter-relaciona- mudanças que podem ocorrer são:
do. Geralmente, essa busca por respostas se deve a uma - em métodos de operação;
baixa lucratividade ou outras questões concretas que re- - nos produtos utilizados como insumos;
presentam apenas a ponta do iceberg. - na organização como um todo;
Diante disso, como possível resposta ao segundo - no ambiente de trabalho.
questionamento, a função do Desenvolvimento Organi-
zacional dentro de uma empresa é justamente de trazer Modelos com alterações comportamentais
o autoconhecimento para o negócio e, com ele, agir de
acordo com o que foi analisado e planejado como solu- Esse é um dos mais comuns, já que tem como princi-
ção e também com as diretrizes de mercado. pal objetivo promover a comunicação interna e fomentar
Para melhorar a visualização dos possíveis territórios a participação e o engajamento dos colaboradores com
de mudança em que o Desenvolvimento Organizacio- os objetivos da empresa.
nal atua, veja como se configuram, segundo teóricos: Esses modelos visam atender com exclusividade as
- conhecimento, valores, atitudes e comportamentos variáveis comportamentais dos indivíduos por meio do
das pessoas e grupos que fazem parte da organi- desenvolvimento de equipes, reuniões e solução de con-
zação; flitos.
- hábitos, valores e filosofia da organização;
- estruturas, layout, centralização/descentralização, Modelos relacionados a questões externas
sistemas de controle etc. na organização formal;
- tecnologia, processo unitário/contínuo, mecaniza- Globalização, tendências comportamentais e estrutu-
ção/manualização etc. rais também influenciam no desenvolvimento organiza-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

cional. Geralmente, esses modelos são mais complexos.


O intuito é sempre aumentar a adaptabilidade do Como lidam com fatores externos, são compostos por
negócio diante das condições externas, aliando a esse uma gama de abordagens que envolvem conceitos, es-
processo uma dinâmica interpessoal favorável para o tratégias e uma sequência de ações destinada a cada al-
desenvolvimento individual e coletivo da equipe de tra- teração.
balho. Isso inclui metas como relações cooperativas, con-
senso, integração, criatividade, flexibilidade, inovação, O desenvolvimento organizacional permite que uma
entre outras. organização esteja constantemente adaptada às mu-
Como funciona o processo de Desenvolvimento Or- danças do mercado, superando desafios e valorizando
ganizacional nas empresas o ativo humano da empresa. O esforço muda atitudes,
Se as principais funções do desenvolvimento or- valores e até mesmo a estrutura do negócio.
ganizacional são priorizar as relações interpessoais, a
confiança entre contratante e contratados, a resolução
de conflitos e promover a descentralização do controle
organizacional, a sua implementação demanda um pro-
cesso a ser seguido.

61
resultados, a busca da qualidade total como método ad-
ministrativo, a ênfase no cliente, a transferência do poder
EXERCÍCIO COMENTADO aos cidadãos, e tentar garantir a equidade.
Osborne e Gaebler propõem uma redefinição da ati-
1. (FUNIVERSA/CEB-DISTRIBUIÇÃO S/A) A literatura vidade governamental. “Nosso problema fundamental é
especializada em comportamento organizacional tem o fato de termos o tipo inadequado de governo. Não
considerado o conceito de suporte organizacional muito necessitamos de mais ou menos governo: precisamos de
importante na compreensão do desempenho no traba- melhor governo. Para sermos mais precisos, precisamos
lho, do comprometimento, da cidadania e da rotativida- de uma melhor atividade governamental”. A atividade
de. Com base na temática suporte organizacional, assina- governamental é entendida como algo com uma natu-
le a alternativa correta. reza específica, que não pode ser reduzida ao padrão de
atuação do setor privado.
a) Suporte organizacional refere-se às percepções do Entre as grandes diferenças, a motivação principal
trabalhador acerca das relações estabelecidas com os dos comandantes do setor público é a reeleição, enquan-
clientes/usuários de dado serviço. to os empresários têm como fim último a busca do lucro;
b) A frequência, a intensidade e a sinceridade das mani- os recursos do governo provêm do contribuinte — que
festações organizacionais de aprovação, elogio, retri- exigem a realização de determinados gastos —, e na ini-
buição material e social ao esforço dos empregados ciativa privada os recursos são originados das compras
não podem ser consideradas modalidades de suporte efetuadas pelos clientes; as decisões governamentais são
organizacional. tomadas democraticamente e o empresário decide so-
c) Os conceitos de suporte organizacional, de clima, de zinho ou no máximo com os acionistas da empresa — a
cultura e de qualidade de vida no trabalho são seme- portas fechadas; por fim, o objetivo de ambos é diverso,
lhantes no estudo do comportamento organizacional. isto é, o governo procura fazer “o bem” e a empresa “fa-
d) Desenvolvimento e carreira constituem uma moda- zer dinheiro”.
lidade de suporte organizacional, pois se referem às Estas diferenças implicam, necessariamente, em pro-
ações organizacionais que indicam preocupação or- curar novos caminhos para o setor público, tornando-o
ganizacional com o futuro profissional dos funcioná- sim mais empreendedor, mas não transformando-o em
rios. uma empresa.
Ao contrário também da epidemia generalizada con-
e) Pesquisas vêm mostrando que não existem correla-
tra a burocracia que vigorou nos EUA no começo da
ções positivas entre percepções favoráveis de suporte
década de 80 o “Reinventando o governo” não coloca a
organizacional e medidas de desempenho no traba-
culpa dos problemas governamentais em seus funcioná-
lho, comportamentos de cidadania organizacional,
rios; o problema não está nas pessoas, mas no sistema. É
criatividade e inovação.
a reforma das instituições e dos incentivos que tornará a
burocracia apta a responder novas demandas.
Resposta: Letra D. Ao falar de suporte organizacional,
A reforma do sistema significa, ao mesmo tempo, a
nos referimos à percepção dos empregados acerca da introdução de métodos voltados para a produção qua-
qualidade do tratamento recebido, ou seja, o quanto a litativa de serviços públicos com a prioridade dada aos
organização cuida de seu bem-estar e como seus esfor- clientes e cidadãos como razões últimas do setor público,
ços são valorizados e retribuídos, e isso se dá através do o que quer dizer não só que eles devem ser bem atendi-
desenvolvimento individual e de carreira que é despen- dos, mas que devem ser também chamados a participar
dido para e por esses funcionários. do governo, definindo os destinos de suas comunidades.
A maioria dos exemplos do livro de Osborne e Gae-
bler mostra que a melhor resposta para tornar melhor
um serviço público é chamar a comunidade a participar
EMPREENDEDORISMO GOVERNAMENTAL
de sua gestão, seja fiscalizando, seja trabalhando volun-
E NOVAS LIDERANÇAS NO SETOR PÚBLI- tariamente na prestação de serviços— constituindo-se
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

CO. PROCESSOS PARTICIPATIVOS DE GES- numa resposta adequada tanto para a questão da efi-
TÃO PÚBLICA. CONSELHOS DE GESTÃO, ciência como para o problema da transparência. Portan-
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO, PARCERIA to, a modernização do setor público deve caminhar lado
ENTRE GOVERNO E SOCIEDADE. a lado com o aumento da accountability.
Mas a reinvenção do governo deve ser realizada ain-
da garantindo o princípio da equidade. Desta maneira,
A obra de David Osborne e Ted Gaebler, “Reinventan- a introdução de mecanismos gerenciais, tais como são
do o governo”, é um dos marcos na literatura interna- propostos no livro, não é incompatível com a busca de
cional sobre a nova administração pública, notadamente justiça redistributiva, um conceito que por muito tempo
com relação aos seus reflexos na administração pública foi abandonado no debate sobre reforma administrativa.
norte-americana.
Os autores propõem um modelo que incorpora con- Osborne e Gaebler propõem dez princípios básicos
ceitos que estiveram separados no desenvolvimento do para reinventar o governo, listados a seguir:
modelo gerencial inglês, tais como a implantação de 1. Competição entre os prestadores de serviço;
uma administração por objetivos — ou por missões —, 2. Poder aos cidadãos, transferindo o controle das ati-
a mensuração do desempenho das agências através dos vidades à comunidade;

62
3. Medir a atuação das agências governamentais atra- bler tentam definir a relação entre eficiência e efetividade
vés dos resultados; a partir dos objetivos do governo. E concluem: “Não há
4. Orientar-se por objetivos, e não por regras e regu- dúvida de que o público quer um governo mais eficiente,
lamentos; mas ele deseja ainda mais um governo efetivo”.
5. Redefinir os usuários como clientes;
6. Atuar na prevenção dos problemas mais do que no As Novas Lideranças Do Setor Público
tratamento;
7. Priorizar o investimento na produção de recursos, e Dentro do novo paradigma de gestão disposto, des-
não em seu gasto; taca-se a necessidade do surgimento de novas lideran-
8. Descentralização da autoridade; ças no setor público. Esses novos dirigentes, que muitas
9. Preferir os mecanismos de mercado às soluções bu- vezes serão os gerentes de programas do próprio PPA,
rocráticas; deverão ter a capacidade de lidar com diversos temas
10. Catalisar a ação dos setores público, privado e vo- que estão hoje na agenda do Governo. Por exemplo:
luntário. 1. Entender a Gestão Pública Contemporânea: a Nova
Gestão Pública, suas variantes e dilemas. O Brasil e
Não se trata aqui de comentar ponto por ponto a lis- suas opções. Entender como se relacionam Patri-
ta exposta acima, mas de discutir, rapidamente, algumas monialismo, clientelismo e Weberianismo na admi-
das ideias do “Reinventando o governo”. nistração pública atual.
A primeira refere-se ao conceito de governo catali- 2. Entender e manejar os processos de Regulação: ser
sador, que “navega em vez de remar”. O intuito desse capaz de entender a Reforma do Estado, privatiza-
conceito não é tornar o Estado mínimo, mas redirecionar ção e regulação e a Ascensão do Estado Regulador.
a atividade governamental. Inclusive, os autores renegam Quais são as figuras que surgem com o novo Esta-
o conceitual privatista, típico do neoliberalismo. “A priva- do, os Arranjos Institucionais, o Marco Regulatório
tização é uma resposta, não a resposta”, afirmam Osbor- e as Políticas regulatórias. O papel do TCU no Con-
ne e Gaebler. trole da Regulação.
O sentido do governo catalisador é reformular as re- 3. Recursos Humanos: aqui os desafios são relativos
lações Estado/mercado e governo/sociedade. Neste sen- (também) ao Clientelismo e Patrimonialismo na
tido, o governo empreendedor, catalisador, se aproxima ocupação de cargos. Burocracias Weberianas - Crí-
das ideias de Pollitt, que conceitualiza a relação públi- ticas a burocracia tradicional. A questão do mérito
ca entre cidadãos e governo como uma parceria e não e do desempenho, com a ascensão do gerencialis-
como uma dependência. mo. Novas formas de contratação de servidores: a
Indo para outra discussão do Reinventando o gover- flexibilização.
no, encontramos um referencia interligada ao anterior, 4. Descentralização: as oportunidades aqui estão em
qual seja, o tratamento da população como cliente e conhecer e implementar formas de descentraliza-
como cidadão. Cliente dos serviços públicos, que deseja ção (política, espacial, mercado e administrativa).
a melhor qualidade possível dos equipamentos sociais. E Quais são os tipos de descentralização aplicáveis
cidadão que quer e tem como dever participar das de- a cada caso: desconcentração, devolução, delega-
cisões da comunidade, e por isso a descentralização da ção. O federalismo. Conhecer as vantagens, mas
autoridade é um objetivo fundamental para alcançar esse também os riscos da descentralização.
grau de accountability. 5. Processos participativos de gestão pública: conse-
No que tange à gestão da burocracia, propõe-se a lhos de gestão, orçamento participativo, parceria
orientação administrativa por missões. A partir dela, o entre governo e sociedade.
governo pode ser mais flexível, como também torna-se 6. Público e Privado: Governança e Accountability,
mais fácil a avaliação de cada agência, comparando-se o Relações entre os diversos entes federativos. Par-
objetivo inicialmente formulado com o resultado efetiva- cerias e Consórcios e sua implementação. Políticas
mente alcançado. Sociais (Quase Mercados) Compradores, Provedo-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

A orientação por missões, portanto, é um mecanismo res e Financiadores Eficiência e Equidade - As no-
que congrega os ideais do Consumerism (flexibilidade) vas formas de organização da prestação dos servi-
com os da corrente gerencial mais preocupada com a ços públicos- Politícas Sociais e Gestão de Redes.
avaliação de resultados. 7. Contratualização: a gestão de contratos hoje é fun-
Entretanto, a discussão em torno da avaliação de re- damental na AP, por dois motivos:
sultados na obra de Osborne e Gaebler toma um rumo - A complexidade e;
diferenciado daquele proposto pelo gerencialismo puro. - A cobrança por resultados.
Para os dois autores, a avaliação da eficiência não pode - A Contratualização e Planejamento Governamental
ser dissociada da avaliação da efetividade. e
Pois, se a eficiência mede o custo do que foi produzi- - os Contratos de Gestão.
do, a efetividade mede a qualidade dos resultados. Desta 8. Gestão de Desempenho e Governo Eletrônico: a
maneira, “quando medimos a eficiência, podemos saber gestão baseada em regras versus a gestão orien-
quanto nos custa alcançar uma produção determinada; tada para resultados: Burocracia X NGP. A Gestão
ao medir a efetividade, sabemos se nosso investimento de mudanças e gestão de resultados. - Cultura de
valeu a pena. Nada mais tolo do que fazer com eficiência resultados e transformação organizacional, com a
o que não deveria continuar a ser feito”. Osborne e Gae- implantação de avaliações de desempenho. Trans-

63
parência - Inovações tecnológicas e organização
governamental. O Atendimento ao Cidadão e Tec- #FicaDica
nologias de informação e comunicação.
Não se trata de descartar a administração
9. Insumos, produtos e resultados - Auditoria de de-
racional-legal, mas de manter as caracte-
sempenho. Desempenho e conformidade - Con-
rísticas que ainda se mantém válidas para
trole orientado para resultados e Políticas Públicas.
garantir efetividade à administração e tra-
10. Prospecção e Tendências - Hibridismos - Valor
zer novas ações e ferramentas que aprimo-
público - Gestão e Desenvolvimento - Dilemas de
rem essa administração, permitindo que
Coordenação Executiva - Accountability.
ela fique mais atualizada, mais atenta às
mudanças comportamentais da sociedade
Há tempo o empreendedorismo, que tem como foco
e também às mudanças que o próprio mer-
uma postura na gestão de inovação, busca por alterna-
cado privado sobre e que de certa forma
tivas, e principalmente excelência em resultados se faz
afeta a gestão pública.
presente na Administração Publica, isso percebe-se atra-
vés de alguma iniciativas
Parcerias com o setor privado e com as (ONGs); Portanto, cabe às novas lideranças (líderes públicos)
estarem se inserindo nesse modelo e desenvolver ações
- Avaliação de desempenho individual e de resultados políticas baseadas em objetivos e comportamentos que:
organizacionais, atrelados a indicadores de quali-
dade e produtividade; - Melhorem a eficiência, eficácia e efetividade na pro-
- Autonomia às agências governamentais, horizonta- dução de bens e serviços públicos,
lizando a estrutura; - Minimizem esforços, custos, maximizando e buscan-
- Descentralização política: poder de decisão próximo do novas fontes de receitas, através de aplicações
ao cidadão, melhoria da qualidade e da accounta- financeiras;
bility; - Criem uma gestão baseada na avaliação pela socie-
- Estabelecimento do conceito de planejamento es- dade, mensuração do desempenho e dos resulta-
tratégico; dos;
- Flexibilização das regras que regem a burocracia - Sejam inovador, pró-ativo; criativo; que corram ris-
pública; cos calculados, que sejam mobilizadores de ação
- Profissionalização do servidor público, através de conjunta voluntária privada e pública, que sejam
políticas de motivação, de desenvolvimento pes- intraempreendedores.1
soal e revalorização a questão da ética no serviço
público;
- Desenvolvimento das habilidades gerenciais dos
funcionários; EXERCÍCIO COMENTADO
- Competição administrada;
- Princípio da subsidiariedade, como base do concei- 1. (FCC/2016 – PGE/MT) O empreendedorismo gover-
to de descentralização. namental tem, entre suas fontes de inspiração, a obra de
- Ênfase e orientação da ação do Estado para o cida- David Osborne e Ted Gaebler intitulada Reinventando o
dão-cliente; Governo, a qual preconiza uma série de princípios que
- Controle social com mecanismo de prestação de orientam a ação empreendedora, entre os quais se inse-
contas e avaliação de desempenho; re(m) o(s) conceito(s) de governo:
- Vê o cidadão como contribuinte de impostos e
como cliente de se seus serviços; I. catalizador: que coordena, regula e fomenta, deixando
- Resultados são considerados bons não porque os a maior parte da execução aos demais atores.
processos administrativos estão sob controle e são II. competitivo: introduzindo a competição na prestação
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

seguros (APB), mas porque as necessidades do de serviços públicos, com a finalidade de aumentar a efi-
cidadão-cliente estão sendo atendidas (interesse ciência.
público – diferenças do significado; III. centralizado: criando núcleos estratégicos para execu-
- Confiança, descentralização das decisões e de fun- ção de serviços de alta complexidade técnica.
ções. Está correto o que se afirma APENAS em

a) I e II.
b) I.
c) I e III.
d) II.
e) II e III.

Resposta: Letra A. Como vimos acima, uma das pro-


postas da gestão empreendedora é a descentralização
da autoridade.
1 Por Carlos Ramos/www.passeidireto.com

64
CONVERGÊNCIAS E DIFERENÇAS ENTRE A GES- cente necessidade de atender uma demanda irrefreável
TÃO PÚBLICA E A GESTÃO PRIVADA. de bens públicos de boa qualidade, típica do Estado de
Bem-Estar, porém hoje acompanhada da exigência de di-
A gestão privada prioriza o econômico-mercantil e minuir a pressão fiscal – inclusive naqueles casos em que
desenvolve seus instrumentos e processos de gestão ainda persiste um modelo de estado anterior ao de bem-
sempre dando prioridade às finalidades de ordem -estar. Esta substituição de missão trouxe muitos desa-
econômica, sobretudo mercadológica. A gestão pública fios ao Estado, entre os quais a redefinição dos conceitos
tem como atribuição a gestão de necessidades do social, de administração, gestão pública e valor público.
principalmente por meio das chamadas políticas públicas Além disso, essas transformações têm afetado pro-
e políticas sociais. fundamente as práticas dos dirigentes públicos (políti-
Gestão pública refere-se às funções de gerência cos e gerentes) e a teoria na qual fundamentavam suas
pública dos negócios do governo. ações.
De uma maneira sucinta, pode-se classificar o agir do Da mesma forma, esta mudança afetou o sistema de
administrador público em três níveis distintos: controle da ação do Estado; está-se migrando da exigên-
a) atos de governo, que situam-se na órbita política; cia de rigor nos procedimentos para a exigência de re-
b) atos de administração, atividade neutra, vinculada sultados – inerente a um Estado que se apresenta como
à lei; e provedor de serviços, capacitador de desenvolvimento e
c) atos de gestão, que compreendem os seguintes fornecedor de bem-estar. Desta troca de missão se deri-
parâmetro básicos: va uma variação na posição do cidadão perante o Estado.
I - tradução da missão; O cidadão comum se preocupa em assegurar-se uma
II - realização de planejamento e controle; correta e burocrática (homogênea, idêntica e não discri-
III - administração de recursos humanos, materiais, cionária) aplicação da lei e da norma. O cidadão-usuário
se interessa por conseguir o melhor retorno fiscal – en-
tecnológicos e financeiros;
quanto bens coletivos.
IV - inserção de cada unidade organizacional no foco
Vê-se, pois, que o Estado deve deslocar sua atenção,
da organização; e
antes colocada no procedimento como produto princi-
V - tomada de decisão diante de conflitos internos e
pal de sua atividade, agora voltada para o de serviços e
externos.
bem-estar. A gestão por resultados é um dos lemas que
melhor representa o novo desafio. Isto não significa que
Portanto, fica clara a importância da gestão pública
não interessa o modo de fazer as coisas, apenas exprime
na realização do interesse público, porque é ela que vai que agora é muito mais relevante o quê se faz pelo bem
viabilizar o controle da eficiência do Estado na realização da comunidade.
do bem comum estabelecido politicamente e normatiza- Nestes últimos tempos, a Gestão Pública – como
do administrativamente.  disciplina – tem abordado estes desafios novos com o
No que tange a gestão por resultados, temos que a auxílio da lógica gerencial, isto é, pela racionalidade eco-
sociedade demanda – de modo insistente – a necessida- nômica que procura conseguir eficácia e eficiência. Esta
de de promover um crescimento constante da produtivi- lógica compartilha, mais ou menos explicitamente, três
dade no ambiente público, exigindo a redução da pres- propósitos fundamentais:
são fiscal e o incremento, ao mesmo tempo, da produção - Assegurar a constante otimização do uso dos re-
de bens públicos. O resultado se transforma, assim, em cursos públicos na produção e distribuição de
um instrumento-chave para a valorização da ação públi- bens públicos como resposta às exigências de mais
ca; e a gestão para resultados e do resultado surge como serviços e menos impostos, mais eficácia e mais
instrumento e objetivo da melhoria e modernização da eficiência, mais equidade e mais qualidade.
administração pública. - Assegurar que o processo de produção de bens e
As especificidades nacionais, a natureza abrangente serviços públicos (incluindo a concessão, a distri-
do conceito gestão para resultados – derivada da pró- buição e a melhoria da produtividade) seja trans-
pria lógica integradora do processo de gestão – e a enor- parente, equitativo e controlável.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

me quantidade de produção teórica, conceitual, opera- - Promover e desenvolver mecanismos internos que
cional e experimental existente sobre o tema, convidam melhorem o desempenho dos dirigentes e servi-
e obrigam à mais absoluta humildade em qualquer ten- dores públicos, e, com isso, fomentar a efetividade
tativa de aproximação ao tema. dos organismos governamentais, visando a con-
O Estado tem passado a desempenhar um papel-cha- cretização dos objetivos anteriores.
ve como produtor de valor público, e como tal tem prio-
rizado a criação de condições para o desenvolvimento e Nesse momento, vamos abordar diversos aspectos
o bem-estar social, além da produção de serviços e da das Organizações, sempre tentando colocar em cada um
oferta de infraestrutura. deles as diferenças entre a gestão privada e a pública, em
Esta mudança na função do Estado tem transformado relação a essa última, sempre com o olhar mais voltado
várias frentes da administração pública, pela exigência para a Nova Gestão Pública.
cada vez mais contundente dos cidadãos que exercem Como se trata de um capítulo voltado para aspectos
também o papel de usuários dos serviços. gerais de administração, indicamos para os que quiserem
A crise fiscal do modelo anterior, uma vez esgotado se aprofundar no tema, que, aliás, tem sido cada vez mais
o período de esplendor do Estado do Bem-Estar, tem cobrado em concursos públicos, o livro do Prof. Carlos
trazido novos problemas. Dentre eles, destaca-se a cres- Amaro Maximiano, que dá suporte a este trabalho.

65
Olhando rapidamente, podem-se identificar três diferenças substanciais entre a gestão pública e a gestão privada:
a) o administrador público deve seguir os princípios da administração pública, principalmente o da legalidade;
b) a empresa privada busca o lucro, algo que não faz parte dos objetivos do gestor público;
c) na administração pública, o cliente e o “dono” é o cidadão.

De fato, há diferenças notáveis entre essas duas modalidades de administrar as organizações. Mas essas diferenças
são pouco substantivas quando se levam em consideração dois fatores:
1. Os princípios da administração aplicam-se a ambos os tipos de gestão;
2. As diferenças entre público e privado seguem se reduzindo notavelmente.

Não há dúvida de que os problemas de administração ocorrem em todo o agrupamento humano. Na solução des-
ses problemas, surgem certos princípios de aplicação geral.
Nas comparações entre a administração pública e a administração privada, geralmente se tomam certas atividades
específicas de uma e de outra por pontos de referência, omitindo-se as características essenciais de cada uma.
Em primeiro lugar, o governo existe para servir aos interesses gerais da sociedade, ao passo que a empresa privada
serve aos interesses de um indivíduo ou um grupo. Em segundo lugar, entre todas as instituições, o governo é aquela
que detém a autoridade política suprema. Em terceiro lugar, a autoridade do governo e sancionada pelo monopólio
da violência. Finalmente, em quarto lugar, a responsabilidade do governo deve responder à natureza e à dimensão de
seu poder.

#FicaDica
Qual o objetivo de urna organização privada?
O lucro. Mas também a função social, o que a sociedade espera como retorno para permitir aquela espécie
de acumulação. Assim, o social também é um objetivo de urna empresa privada. Também é um objetivo
de urna empresa privada a manutenção de meio ambiente saudável, pois e dele que a organização tira seu
próprio sustento.

Qual o objetivo de urna organização pública?


Só pode ser um: servir, da melhor forma possível, ao conjunto da sociedade.

Em suma, afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/
ou/ organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins).
A administração pública gerencial inspira-se na administração privada, mas não pode ser confundida com essa
última.
1. Enquanto a receita das empresas depende dos pagamentos que os clientes fazem livremente na compra de seus
produtos e serviços, a receita do Estado deriva de impostos, ou seja, de contribuições obrigatórias, sem contra-
partida direta.
2. Enquanto o mercado controla a administração das empresas, a sociedade - por meio de políticos eleitos controla
a administração pública.
3. Enquanto a administração de empresas está voltada para o lucro privado, para a maximização dos interesses dos
acionistas, esperando-se que, por meio do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administração pública
gerencial está explicita e diretamente voltada para o interesse público.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

“O governo não pode ser urna empresa, mas pode se tomar mais empresarial”
O setor público não está numa situação em que as velhas verdades possam ser reafirmadas. É uma situação que
requer o desenvolvimento de novos princípios. A administração pública deve enfrentar o desafio da inovação mais do
que confiar na imitação. A melhora da gerência pública não e só uma questão de pôr-se em dia com o que está ocor-
rendo na iniciativa privada: significa também abrir novos caminhos.
Embora com focos diferentes, observamos que a Administração Pública traz para sua forma de gestão cada vez
mais conceitos utilizados na Administração Privada, visto que, mesmo em cenários diferentes os desafios e problemas
organizacionais, são de certo modo, muito semelhantes em alguns aspectos.
Apesar dessa tendência, alguns aspectos ainda apresentam diferenças, conforme colocaremos no quadro compara-
tivo abaixo para melhor visualização.2

2 Por Carlos Ramos/Adeilson Nogueira/www.passeidireto.com

66
#FicaDica

ASPECTO ADM. PÚBLICA ADM. PRIVADA


Atender necessidades Atender Interesses Individuais
Objetivo
coletivas (sociedade) (Lucro)
Investimento privado e receitas
Obtenção de recursos Receitas derivadas de Tributos
advindas dos negócios praticados
Controle pelo Mercado, através
Mecanismo de controle Controle Político através das
da concorrência com outras
do desempenho eleições
organizações.
Tudo o que não está
Tudo o que não está
juridicamente determinado
juridicamente proibido está
está juridicamente proibido.
Subordinação ao juridicamente facultado.
Preponderância de
ordenamento jurídico Preponderância de normas de
normas de direito público
direito privado (contratual; direito
(direito constitucional e
civil e direito comercial)
administrativo).
Sobrevivência depende da
Tempo de existência
Garantia da eficiência organizacional;
indeterminado: o Estado não
sobrevivência competitividade acirrada no
vai à falência.
mercado
Decisões mais lentas,
Decisões mais rápidas, buscando
influenciadas por variáveis
Processo de Tomada de a racionalidade. Políticas
de ordem política. Políticas
decisão Empresariais voltadas para
Públicas de acordo com os
objetivos de mercado.
programas de Governo
Modo de criação, Através de instrumento contratual
Através da Lei
alteração ou extinção ou societário
Tendencialmente inexistente Outras empresas ou profissionais
Concorrência
ou limita do segmento no mercado

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (FCC/2016 – PGE/MT) As organizações públicas, assim como as privadas, vêm enfrentando, nas últimas décadas,
grandes desafios de adaptação e busca da excelência na atuação e satisfação das expectativas dos consumidores e
dos cidadãos. Nesse contexto, emergem convergências e, também, importantes diferenças entre a gestão pública e a
privada, eis que
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

a) o modelo de administração gerencial somente é passível de aplicação no setor privado, considerando a supremacia
do interesse público sobre o particular.
b) eficiência é um conceito próprio das instituições privadas, não aplicável ao âmbito público, eis que a ação governa-
mental é pautada pela legalidade.
c) os princípios aplicáveis à Administração pública e o regime jurídico a que se submete inviabilizam a administração
por resultados.
d) a Administração pública pode melhorar suas práticas utilizando metodologias desenvolvidas pelo setor privado com
foco no cidadão-cliente.
e) o objetivo da gestão pública é proporcionar o bem-estar à coletividade, enquanto o da iniciativa privada é o lucro,
razão pela qual não se aplicam ao setor público os instrumentos de remuneração por resultados.

Resposta: Letra D.
Em “a”, errado – Surge como resposta à expansão das funções econômicas e sociais do Estado e ao desenvolvimento
tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados
à adoção do modelo de gestão anterior. Importou-se da administração privada alguns conceitos que agregasse valor à
administração pública.

67
Em “b”, errado - O paradigma gerencial contemporâ- primeiro lugar - é um modelo exemplar. Os profissionais
neo, fundamentado nos princípios da confiança e da de Recursos Humanos, dos órgãos públicos, têm a gra-
descentralização da decisão, exige formas flexíveis de tificante missão de dinamizar os programas de capacita-
gestão, de estruturas, descentralização de funções, in- ção funcional, focando a excelência organizacional.
centivos à criatividade. Contrapõe-se à ideologia do for- Enquanto as organizações privadas são custeadas
malismo e do rigor técnico da burocracia tradicional. À pela comercialização de produtos e serviços, as orga-
avaliação sistemática, à recompensa pelo desempenho, nizações públicas são criadas por lei e custeadas pelos
e à capacitação permanente, que já eram característi- impostos e taxas pagas pelos cidadãos, ai se incluem to-
cas da boa administração burocrática, acrescentam-se dos os órgãos e suas diversas unidades organizacionais,
os princípios da orientação para o cidadão-cliente, do em todos os poderes e níveis de governo. Espera-se que
controle por resultados, e da competição administrada, elas sejam bem administradas e possam cumprir as suas
sendo assim, impossível não considerar que tudo con- finalidades, pois representam os interesses da coletivida-
tribua, inclusive, para cumprir com um dos princípios des e exercem ações decorrentes das funções do Estado.
constitucionais - EFICIÊNCIA - a boa gestão dos recur- Num mundo globalizado ampliam-se as exigências de
sos e serviços públicos. uma administração de qualidade e refinada, no sentido
Em “c” e “e”, errado – como vimos na explicação da al- do uso de técnicas e metodologias que contribuam para
ternativa anterior, a administração por resultados e a a implantação do desenvolvimento social baseado em
recompensa pelo desempenho é uma característica da resultados efetivos.
administração gerencial. A busca da excelência organizacional deve nortear a
administração pública, por meio do desempenho apri-
morado das funções administrativas. Pensar no apri-
EXCELÊNCIA NOS SERVIÇOS PÚBLICOS. GESTÃO moramento dessas funções é pensar no conjunto das
DA QUALIDADE. organizações do Setor Público e de forma sistêmica.
Reconhecer que ações de aprimoramento deve envol-
Um dos fatores que mais provoca perda de produti- ver todos os níveis organizacionais, todas as unidades
vidade nos serviços públicos é o excesso de burocracia, administrativas de modo a obter um comprometimento
que além de não impedir corrupções e fraudes, tem inibi- estratégico.
do o desempenho das empresas, motivado a sonegação Sob o ponto de vista formal, uma organização empre-
fiscal e incentivado a informalidade. sarial consiste em um conjunto de encargos funcionais e
Um dos maiores entraves para a melhoria dos ser- hierárquicos, orientados para o objetivo econômico de
viços públicos no Brasil era a maneira secundária com produzir bens ou serviços. A estrutura orgânico deste
que a administração pública encarava a necessidade da conjunto de encargos está condicionada à natureza do
formação de quadros e de uma profissionalização mui- ramo de atividade, aos meios de trabalho, às circunstân-
to mais intensa. Enquanto o Brasil não fizesse a reforma cias sócio-econômicas da comunidade e à maneira de
administrativa para modernizar a administração pública. conceber a atividade empresarial. As principais caracte-
Baseado nos princípios constitucionais que regem a rísticas da organização formal são:
administração pública (legalidade, impessoalidade, pu-
blicidade, moralidade e eficiência), é dever do servidor 1. Divisão do Trabalho
prezar pela prestação de serviços de qualidade. Para a O objetivo imediato e fundamental de todo e qual-
excelência pode ser atingida por meio de avaliação de quer tipo de organização é a produção. Para ser eficiente,
desempenho e produtividade. Esse modelo foi implan- a produção deve basear-se na divisão do trabalho, que
tado pelo governo de São Paulo e pode ser usado como nada mais é do que a maneira pela qual um processo
ferramenta na busca da excelência do serviço público. complexo pode ser decomposto em uma série de peque-
Agregar valor na gestão pública significa investir em nas tarefas. O procedimento de dividir o trabalho come-
projetos que aumentem a produtividade oferecendo à çou a ser praticado mais intensamente com o advento da
população um dos mais valiosos bens da atualidade - a Revolução Industrial, provocando uma mudança radical
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

praticidade. Os ganhos em produtividade passam por no conceito de produção, principalmente no fabrico ma-
uma revisão de cada detalhe dos processos operacionais, ciço de grandes quantidades através do uso da máquina,
objetivando a redução de etapas, inovação em cada uma substituindo o artesanato, e o uso do trabalho especiali-
delas, minimizando tempo e, melhor ainda, a eliminação zado na linha de montagem. O importante era que cada
de normas de procedimento. pessoa pudesse produzir o máximo de unidades dentro
Os prestadores de serviços devem ter consciência que de um padrão aceitável, objetivo que somente poderia
usam a mais valiosa das matérias-primas - o tempo - a ser atingido automatizando a atividade humana ao repe-
única que não tem reposição. A excelência dos serviços tir a mesma tarefa várias vezes. Essa divisão do trabalho
públicos, especialmente em educação e saúde, é a me- foi iniciada ao nível dos operários com a Administração
lhor das estratégias para reduzir a desigualdade social. Científica no começo deste século.
A chave da eficácia também pode ser encontrada na
redução das atividades-meios e na eliminação das for- 2. Especialização
malidades que não agregam valores às atividades-fins. O A especialização do trabalho proposta pela Adminis-
maior desafio da classe política e dos gestores públicos é tração Científica constitui uma maneira de aumentar a
transformar uma instituição mecânica, em orgânica. Ges- eficiência e de diminuir os custos de produção. Simpli-
tão transparente, interativa e que coloque o cidadão em ficando as tarefas, atribuindo a cada posto de trabalho

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tarefas simples e repetitivas que requeiram pouca expe- lógico de encargos funcionais e hierárquicos está basea-
riência do executor e escassos conhecimentos prévios, da no princípio de que os homens vão funcionar efetiva-
reduzem-se os períodos de aprendizagem, facilitando mente de acordo com tal sistema racional.
substituições de uns indivíduos por outros, permitindo De qualquer forma, via de regra, toda organização se
melhorias de métodos de incentivos no trabalho e, con- estrutura a fim de atingir os seus objetivos, procurando
sequentemente, aumentando o rendimento de produ- com a sua estrutura organizacional a minimização de es-
ção. forços e a maximização do rendimento. Em outras pala-
vras, o maior lucro, pelo menor custo, dentro de um certo
3. Hierarquia padrão de qualidade. A organização, portanto, não é um
Uma das consequências do princípio da divisão do fim, mas um meio de permitir à empresa atingir adequa-
trabalho é a diversificação funcional dentro da organi- damente determinados objetivos.
zação. Porém, uma pluralidade de funções desarticula-
das entre si não forma uma organização eficiente. Como Departamentalização
decorrência das funções especializadas, surge inevitavel-
mente a de comando, para dirigir e controlar todas as Quando uma empresa é pequena e constituída de
atividades para que sejam cumpridas harmoniosamente. poucas pessoas, nenhum arranjo formal para definir e
Portanto, a organização precisa, além de uma estrutura agrupar as suas atividades é necessário. As pequenas
de funções, de uma estrutura hierárquica, cuja missão é empresas não requerem diferenciação ou especialização
dirigir as operações dos níveis que lhes estão subordina- para distinguir o trabalho de uma pessoa ou unidade
dos. Em toda organização formal existe uma hierarquia. dos demais. Mas, à medida que as empresas se tornam
Esta divide a organização em camadas ou escalas ou ní- maiores e envolvem atividades mais diversificadas, elas
veis de autoridade, tendo os superiores autoridade sobre são forçadas a dividir as principais tarefas empresariais e
os inferiores. À medida que se sobe na escala hierárquica, transformá-las em responsabilidades departamentais ou
aumenta a autoridade do ocupante do cargo. divisionais.
Departamento designa uma área, divisão ou um seg-
4. Distribuição da Autoridade e da Responsabili- mento distinto de uma empresa sobre o qual um admi-
dade nistrador (seja diretor, gerente, chefe, supervisor etc) tem
A hierarquia na organização formal representa a au- autoridade para o desempenho de atividades específi-
toridade e a responsabilidade em cada nível da estrutura. cas. Assim, um departamento ou divisão é empregado
Por toda a organização, existem pessoas cumprindo or- com um significado genérico e aproximativo: pode ser
dens de outras situadas em níveis mais elevados, o que um órgão de produção, uma divisão de vendas, a seção
denota suas posições relativas, bem como o grau de au- de contabilidade, a unidade de pesquisa e desenvolvi-
toridade em relação às demais. A autoridade é, pois, o mento ou o setor de compras. Em algumas empresas,
fundamento da responsabilidade, dentro da organização a terminologia departamental é levada a sério e indica
relações hierárquicas bem definidas: um superintendente
formal, ela deve ser delimitada explicitamente. De um
cuida de uma divisão; um gerente de um departamento;
modo geral, a generalidade do direito de comandar di-
um chefe de uma seção; um supervisor de um setor. Em
minui à medida que se vai do alto para baixo na estrutura
outras empresas, a terminologia é simplesmente casual e
hierárquica.
pouco ordenada. Daí a dificuldade de uma terminologia
Fayol dizia que a “autoridade” é o direito de dar or-
universal.
dens e o poder de exigir obediência, conceituando-a, ao
O desenho departamental decorre da diferenciação
mesmo tempo, como poder formal e poder legitimado.
de atividades dentro da empresa. À medida que ocor-
Assim, como a condição básica para a tarefa adminis-
re a especialização com o trabalho e o aparecimento de
trativa, a autoridade investe o administrador do direito funções especializadas, a empresa passa a necessitar de
reconhecido de dirigir subordinados, para que desempe- coordenação dessas diferentes atividades, agrupando-as
nhem atividades dirigidas pra a obtenção dos objetivos em unidades maiores. Daí o princípio da homogeneidade:
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

da empresa. A autoridade formal é sempre um poder, as funções devem ser atribuídas a unidades organizacio-
uma faculdade, concedidos pela organização ao indiví- nais na base da homogeneidade de conteúdo, no sentido
duo que nela ocupe uma posição determinada em rela- de alcançar operações mais eficientes e econômicas. As
ção aos outros. funções são homogêneas na medida em que o seu con-
teúdo apresente semelhanças entre si. O desenho depar-
5. Racionalismo da Organização Formal tamental é mais conhecido como departamentalização
Uma das características básicas da organização formal ou divisionalização. A departamentalização é uma carac-
é o racionalismo. Uma organização é substancialmen- terística típica das grandes empresas e está relacionada
te um conjunto de encargos funcionais e hierárquicos com o tamanho da empresa e com a natureza de suas
a cujas prescrições e normas de comportamento todos operações. Quando a empresa cresce, as suas atividades
os seus membros se devem sujeitar. O princípio básico não podem ser supervisionadas diretamente pelo pro-
desta forma de conceber uma organização é que, dentro prietário ou pelo diretor. Essa tarefa de supervisão pode
de limites toleráveis, os seus membros se comportarão ser facilitada atribuindo-se a diferentes departamentos a
racionalmente, isto é, de acordo com as normas lógicas responsabilidade pelas diferentes fases ou aspectos des-
de comportamento prescritas para cada um deles. Dito sa atividade.
de outra forma, a formulação orgânica de um conjunto

69
O desenho departamental ou departamentalização Esta mudança na função do Estado tem transformado
apresenta uma variedade de tipos.Os principais tipos de várias frentes da administração pública, pela exigência
departamentalização são: cada vez mais contundente dos cidadãos que exercem
a)funcional; também o papel de usuários dos serviços.
b)por produtos e serviços; A crise fiscal do modelo anterior, uma vez esgotado
c)por base territorial; o período de esplendor do Estado do Bem-Estar, tem
d) por clientela: trazido novos problemas. Dentre eles, destaca-se a cres-
e) por processo; cente necessidade de atender uma demanda irrefreável
f) por projeto; de bens públicos de boa qualidade, típica do Estado de
g) matricial. Bem-Estar, porém hoje acompanhada da exigência de di-
minuir a pressão fiscal – inclusive naqueles casos em que
A gestão privada prioriza o econômico-mercantil e ainda persiste um modelo de estado anterior ao de bem-
desenvolve seus instrumentos e processos de gestão -estar. Esta substituição de missão trouxe muitos desa-
sempre dando prioridade às finalidades de ordem fios ao Estado, entre os quais a redefinição dos conceitos
econômica, sobretudo mercadológica. A gestão pública de administração, gestão pública e valor público.
tem como atribuição a gestão de necessidades do social, Além disso, essas transformações têm afetado pro-
principalmente por meio das chamadas políticas públicas fundamente as práticas dos dirigentes públicos (políti-
e políticas sociais. cos e gerentes) e a teoria na qual fundamentavam suas
Gestão pública refere-se às funções de gerência ações.
pública dos negócios do governo. Da mesma forma, esta mudança afetou o sistema de
De uma maneira sucinta, pode-se classificar o agir do controle da ação do Estado; está-se migrando da exigên-
administrador público em três níveis distintos: cia de rigor nos procedimentos para a exigência de re-
a) atos de governo, que situam-se na órbita política; sultados – inerente a um Estado que se apresenta como
b) atos de administração, atividade neutra, vinculada provedor de serviços, capacitador de desenvolvimento e
à lei; e fornecedor de bem-estar. Desta troca de missão se deri-
c) atos de gestão, que compreendem os seguintes va uma variação na posição do cidadão perante o Estado.
parâmetro básicos: O cidadão comum se preocupa em assegurar-se uma
I - tradução da missão; correta e burocrática (homogênea, idêntica e não discri-
II - realização de planejamento e controle; cionária) aplicação da lei e da norma. O cidadão-usuário
III - administração de recursos humanos, materiais, se interessa por conseguir o melhor retorno fiscal – en-
tecnológicos e financeiros; quanto bens coletivos.
IV - inserção de cada unidade organizacional no foco Vê-se, pois, que o Estado deve deslocar sua atenção,
da organização; e antes colocada no procedimento como produto princi-
V - tomada de decisão diante de conflitos internos e pal de sua atividade, agora voltada para o de serviços e
externos. bem-estar. A gestão por resultados é um dos lemas que
melhor representa o novo desafio. Isto não significa que
Portanto, fica clara a importância da gestão pública não interessa o modo de fazer as coisas, apenas exprime
na realização do interesse público, porque é ela que vai que agora é muito mais relevante o quê se faz pelo bem
viabilizar o controle da eficiência do Estado na realização da comunidade.
do bem comum estabelecido politicamente e normatiza- Nestes últimos tempos, a Gestão Pública – como
do administrativamente.  disciplina – tem abordado estes desafios novos com o
No que tange a gestão por resultados, temos que a auxílio da lógica gerencial, isto é, pela racionalidade eco-
sociedade demanda – de modo insistente – a necessida- nômica que procura conseguir eficácia e eficiência. Esta
de de promover um crescimento constante da produtivi- lógica compartilha, mais ou menos explicitamente, três
dade no ambiente público, exigindo a redução da pres- propósitos fundamentais:
são fiscal e o incremento, ao mesmo tempo, da produção - Assegurar a constante otimização do uso dos re-
de bens públicos. O resultado se transforma, assim, em cursos públicos na produção e distribuição de
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

um instrumento-chave para a valorização da ação públi- bens públicos como resposta às exigências de mais
ca; e a gestão para resultados e do resultado surge como serviços e menos impostos, mais eficácia e mais
instrumento e objetivo da melhoria e modernização da eficiência, mais equidade e mais qualidade.
administração pública. - Assegurar que o processo de produção de bens e
As especificidades nacionais, a natureza abrangente serviços públicos (incluindo a concessão, a distri-
do conceito gestão para resultados – derivada da pró- buição e a melhoria da produtividade) seja trans-
pria lógica integradora do processo de gestão – e a enor- parente, equitativo e controlável.
me quantidade de produção teórica, conceitual, opera- - Promover e desenvolver mecanismos internos que
cional e experimental existente sobre o tema, convidam melhorem o desempenho dos dirigentes e servi-
e obrigam à mais absoluta humildade em qualquer ten- dores públicos, e, com isso, fomentar a efetividade
tativa de aproximação ao tema. dos organismos governamentais, visando a con-
O Estado tem passado a desempenhar um papel-cha- cretização dos objetivos anteriores.
ve como produtor de valor público, e como tal tem prio-
rizado a criação de condições para o desenvolvimento e Estes objetivos, presentes nas atuais demandas ci-
o bem-estar social, além da produção de serviços e da dadãs e aos quais se orienta a Gestão por Resultados
oferta de infraestrutura. (GpR), são, conjuntamente com a democracia, o princi-

70
pal pilar de legitimidade do Estado atual. Desta forma, a mente: rentabilidade, benefícios, quotas de mercado etc.
Nova Gestão Pública fornece os elementos necessários à Muitos autores destacam a dificuldade de determinar e
melhoria da capacidade de gerenciamento da adminis- avaliar os resultados da ação estatal como uma das ca-
tração pública bem como à elevação do grau de gover- racterísticas que diferenciam a gestão do setor público
nabilidade do sistema político. do privado.
O conceito e a prática da GpR no setor público têm um Pode-se observar que a GpR possui as seguintes di-
grau de desenvolvimento e consolidação relativamente mensões:
baixo. Inicialmente, a GpR se utilizou principalmente no - É um marco conceitual de gestão organizacional,
setor privado, mesmo quando o governo federal dos Es- pública ou privada, em que o fator resultado se
tados Unidos da América começou a usar algumas de converte na referência-chave quando aplicado a
suas propostas no gerenciamento de diferentes órgãos todo o processo de gestão.
públicos. Somente durante o governo do presidente Ni- - É um marco de assunção de responsabilidade de
xon é que se começou a implantar no conjunto da admi- gestão, por causa da vinculação dos dirigentes ao
nistração pública o que passou a ser conhecida como a resultado obtido.
Nova Gestão Pública. - É um marco de referência capaz de integrar os di-
Esta moderna filosofia sugere a passagem de uma versos componentes do processo de gestão, pois
gestão burocrática a uma de tipo gerencial. se propõe interconectá-los para otimizar o seu
Na base destas novas ideias se encontrava uma preo- funcionamento.
cupação generalizada sobre as mudanças que o entor- - Finalmente, e especialmente na esfera pública, a
no exigia e sobre a imperiosa necessidade de repensar GpR se apresenta como uma proposta de cultura
o papel do Estado; de melhorar a eficiência, a eficácia e a organizadora, diretora, de gestão, mediante a qual
qualidade dos serviços públicos; de otimizar o desempe- se põe ênfase nos resultados e não nos processos
nho dos servidores públicos e das organizações em que e procedimentos.
trabalhavam.
Vários estudiosos e especialistas em gestão públi- Todas estas dimensões situam a GpR como uma ferra-
ca alertaram para os benefícios que o enfoque da GpR menta cultural, conceitual e operacional, que se orienta a
poderia trazer para este novo cenário. De acordo com priorizar o resultado em todas as ações, e que é capaz de
Emery, a GpR acarreta três tipos de considerações para a otimizar o desempenho governamental. Assim, se trata
administração do setor público: de um exercício de direção dos organismos públicos que
- Constitucionais: a maioria das constituições regula o procura conhecer e atuar sobre todos aqueles aspectos
uso dos fundos públicos por parte das autoridades que afetem ou modelem os resultados da organização.
em cumprimento de mandato.
- Políticas: as autoridades devem responder pelas A GpR tem, portanto, uma dimensão de controle or-
suas ações e pelo conteúdo dos seus programas ganizacional que convém esclarecer, pois o conceito de
eleitorais, por respeito ao princípio da responsabi- controle no setor público possui conotações particulares
lidade do cargo. derivadas, fundamentalmente, do sistema de auditoria
- Cidadãs: por obediência ao princípio de delegação externa que domina nesse Estado. A ferramenta GpR não
democrática, os cidadãos confiam nas autoridades faz parte dessa concepção de controle, mas de outro
eleitas, delegando-lhes a gestão dos fundos públi- universo: o de gestão e direção estratégico/operacional,
cos – produto da coleta de seus impostos. porque permite e facilita aos gerentes da administração
pública melhor conhecimento, maior capacidade de aná-
Apesar de existirem muitos documentos que tratem lise, desenho de alternativas e tomada de decisões para
da GpR, não existe uma definição única para ela. A maio- que sejam alcançados os melhores resultados possíveis,
afinados com os objetivos pré-fixados.
ria dos textos usa este termo como uma noção “guar-
É importante assinalar esta diferença porque, muito
da-chuvas”, por assim dizer. Na literatura em língua es-
embora a GpR seja uma boa base para uma melhor pres-
panhola é comum achar um uso indistinto de conceitos:
tação de contas (e uma maior transparência), sua função
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

controle de gestão, gestão do desempenho, gestão por


principal não é a de servir como instrumento de controle
resultados, gestão por objetivos, avaliação do desempe-
da atuação dos gerentes públicos, mas a de proporcionar
nho, avaliação de resultados, sem uma clara diferencia-
a eles um meio de monitoramento e regulação que lhes
ção.
garanta o exercício de suas
Trata-se, portanto, de um conceito muito amplo
quanto ao seu uso, interpretação e definição. A hetero- A Gestão por Resultados ( GpR) está caracterizada por:
geneidade da expressão e do conceito também se ob- - Uma estratégia na qual se definam os resultados
serva na sua aplicação operacional: os países põem em esperados por um organismo público no que se
prática a GpR segundo suas próprias perspectivas. refere à mudança social e à produção de bens e
Um estudo para identificar o significado que lhe serviços;
atribuem os gestores públicos de diferentes nações de- - Uma cultura e um conjunto de ferramentas de ges-
monstrou que frequentemente eles empregam os mes- tão orientado à melhoria da eficácia, da eficiência,
mo termos com sentido diferente. É assim como o con- da produtividade e da efetividade no uso dos re-
ceito “resultados” varia notavelmente entre as distintas cursos do Estado para uma melhora dos resulta-
instituições públicas. Isto não ocorre na empresa privada, dos no desempenho das organizações públicas e
onde os indicadores-chave do êxito se conhecem nitida- de seus funcionários;

71
- Sistemas de informação que permitam monitorar a ação pública, informar à sociedade e identificar o serviço rea-
lizado, avaliando-o;
- Promoção da qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, mediante um processo de melhoramento contínuo;
- Sistemas de contratação de funcionários de gerência pública, visando aprofundar a responsabilidade, o compro-
misso e a capacidade de ação dos mesmos;
- Sistemas de informação que favoreçam a tomada de decisões dos que participam destes processos.

Implantação da Gestão por Resultados

Após a tomada de decisão referente adoção da gestão por resultados e também às alternativas para atingir os
objetivos, a etapa seguinte é a implantação do modelo. Nessa etapa, compete ao gestor coordenar a implantação, pro-
curando vincular dinamicamente os recursos aos objetivos. Para tanto, a função de coordenação pode ser empreendida
por outro conjunto de mecanismos, que segundo Mintzberg (2001) são os seguintes:
- Ajustamento mútuo - típico de tarefas que envolvem grupos pequenos, a coordenação é obtida pelo simples
processo de comunicação informal. São realizadas reuniões com o objetivo de discutir os processos de trabalho,
ajustando-os quando necessário;
- Supervisão direta - segundo este mecanismo, uma pessoa ou organização coordena o processo, por meio de ins-
truções, cobranças, alocação de recursos, etc;
- Padronização de normas - significa que os funcionários compartilham um conjunto de crenças e valores; é exposta
a compreensão de cada um em relação às normas, com o objetivo de criar uma ideia coletiva de conduta, obten-
do, informalmente, a coordenação a partir delas;
- Padronização de processos - refere-se à prescrição do conteúdo do trabalho por meio de procedimentos, nor-
malmente escritos, a serem seguidos. Trata-se do mapeamento dos processos e da manualização dos procedi-
mentos. Na iniciativa privada, é muito comum em programas de qualidade, como aqueles promovidos pela In-
ternational Organization for Standardization com a série ISO-9000. No caso das organizações públicas, podemos
associar esta padronização às regras formais burocráticas ou à própria legislação;
- Padronização de resultados - trata-se da especificação dos resultados a serem atingidos, em substituição à espe-
cificação dos meios como os procedimentos ou habilidades;
- Padronização de habilidades - refere-se à designação de pessoal qualificado, já possuidor de determinada habili-
dade adequada ao trabalho a ser feito. Não é o trabalho, mas o funcionário que é padronizado. A coordenação
é obtida em razão do funcionário já possuir determinado conhecimento. No setor público, podemos entender
os requisitos dos concursos públicos como um esforço nesse sentido, particularmente para contratação de espe-
cialistas como médicos ou dentistas.
Por conseguinte, com base nestes elementos, sugere-se a seguinte definição para a GpR:
A Gestão para Resultados é um marco conceitual cuja função é a de facilitar às organizações públicas a direção efetiva
e integrada de seu processo de criação de valor público, a fim de otimizá-lo, assegurando a máxima eficácia, eficiência
e efetividade de desempenho, além da consecução dos objetivos de governo e a melhora contínua de suas instituições.

Fundamentos de Excelência Gerencial

Os fundamentos da excelência são conceitos que definem o entendimento contemporâneo de uma gestão de exce-
lência na administração pública e que, orientados pelos princípios constitucionais, compõem a estrutura de sustentação
do Modelo de Excelência em Gestão Pública.

#FicaDica
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Caros alunos fiquem muito atentos, pois, o novo MEG da FNQ (21ª edição do MEG ) traz alterações quanto
aos seus conteúdos e, nesse modelo, consta apenas OITO FUNDAMENTOS (vide link Fonte: http://www.
fnq.org.br/aprenda/metodologia-meg/modelo-de-excelencia-da-gestao/fundamentos)

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Os oito Fundamentos da Excelência, na 21ª edição do MEG, são: 

PENSAMENTO SISTÊMICO - Reconhecimento das relações de interdependência e consequências entre os diversos com-
ponentes que formam a organização, bem como entre estes e o ambiente com o qual interagem.

COMPROMISSO COM AS PARTES INTERESSADAS


Gerenciamento das relações com as partes interessadas e sua inter-relação com as estratégias e processos. 

APRENDIZADO ORGANIZACIONAL E INOVAÇÃO


Busca e alcance de novos patamares de competência para a organização e sua força de trabalho, por meio da percep-
ção, reflexão, avaliação e compartilhamento de conhecimentos, promovendo um ambiente favorável à novas identifica-
ções. 

ADAPTABILIDADE
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Flexibilidade e capacidade de mudança para atender as atuais demandas.

LIDERANÇA TRANSFORMADORA
Atuação dos líderes de forma ética e comprometida com a excelência e mobilizando as pessoas em torno de valores,
princípios e objetivos da organização e gerando interação com as partes interessadas. 

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Compromisso da organização em responder pelos impactos de suas decisões e atividades, na sociedade e no meio
ambiente, e de contribuir para a melhoria das condições de vida.

ORIENTAÇÃO POR PROCESSOS


Busca da eficiência e eficácia através das ações de forma que essas agreguem valor para as partes interessadas.

GERAÇÃO DE VALOR
Alcance de resultados econômicos, sociais e ambientais e que atendam as necessidades e expectativas das partes in-
teressadas.

73
Em suma, temos aqui uma natureza gerencial da ad- nistradores de que seus desempenhos podem ser
ministração que busca pela qualidade na prestação do melhorados. Isso requer uma paciente abordagem
serviço ao público de forma imperativa, sendo o cida- e apresentação de evidências de melhores méto-
dão o foco sempre, proporcionando a ele atendimento dos utilizados por outras organizações.
de excelência, que coloque os serviços e as rotinas de
maneira transparente, participativa e que permita o con- Brainstorming
trole social.
O brainstorming, desenvolvido em 1930 por Alex F.
Abaixo, algumas ferramentas utilizadas para de- Osborn, busca, a partir da criatividade de um grupo, a
senvolver processos que busquem a excelência em geração de ideias para um determinado fim.
qualidade nos resultados da prestação e execução dos A técnica propõe que um grupo de pessoas (de duas
serviços públicos. até dez pessoas) se reúna e se utilize das diferenças em
seus pensamentos e ideias para que possa chegar a um
Ferramentas de Gestão da Qualidade denominador comum eficaz e com qualidade.
É preferível que as pessoas que se envolvam nesse
A utilização de metodologias de trabalho e a aplica- método sejam de setores e competências diferentes e
ção de ferramentas conhecidas de todos na organização, nenhuma ideia é descartada ou julgada como errada ou
dentro da mesma filosofia, permitem uma maior rapidez absurda. O ambiente deve ser encorajador e sem críticas
e transparência nas comunicações internas e a conse- para os participantes ficarem a vontade e deve ser incen-
quente agilização na tomada de decisões. tivado o trabalho em grupo. Pegar carona nas ideias dos
As ferramentas da Qualidade não são uma invenção outros deve ser incentivado.
nova. Algumas delas já existem desde a II Guerra Mundial
e, combinadas a outras mais recentes, formam o atual As quatro principais regras do brainstorming são:
conjunto de que se dispõe para o desenvolvimento de • Críticas são rejeitadas, pois a crítica pode inibir a
ações de melhoria. participação das pessoas;
Podemos citar: • Criatividade é bem-vinda. Vale qualquer ideia que
lhe venha a mente, sem preconceitos e sem medo
Benchmarking que isso irá prejudicar. Uma ideia esdrúxula pode
desencadear ideias inovadoras;
O benchmarking, introduzido em 1970 na empresa • Quantidade é necessária. Quanto mais ideias forem
Xerox, é caracterizado como um processo contínuo e geradas, maior é a chance de se encontrar uma
sistemático de pesquisa para avaliar produtos, serviços, boa ideia;
processos de trabalho de ouras empresas, a fim de iden- • Combinação e aperfeiçoamento são necessários.
tificar quais são as melhores práticas adotadas por elas.
A partir dessa análise, a instituição verifica seus próprios O brainstorming pode ser feito de duas formas: estru-
processos e realiza o aprimoramento organizacional, turado ou não estruturado.
desenvolvendo a habilidade dos administradores de vi- • No brainstorming ESTRUTURADO - os participan-
sualizar no mercado as melhores práticas administrativas tes lançam ideias seguindo uma sequência inicial-
das empresas consideradas excelentes (benchmarks) em mente estabelecida. Quando chega a sua vez, você
certos aspectos. lança a sua ideia. A vantagem desta forma é que
A meta é definir objetivos de gestão e legitimá-los por propicia oportunidades iguais a todos os partici-
meio de comparações externas. A comparação costuma pantes, gerando maior envolvimento.
ser um saudável método didático, pois desperta para as • No brainstorming NÃO ESTRUTURADO - as ideias
ações que as empresas excelentes estão desenvolvendo são lançadas aleatoriamente, sem uma sequencia
e que servem de lição. A base do benchmarking é não inicialmente definida. Isso cria um ambiente mais
fechar-se em si mesma, no caso da empresa, mas sim informal, porém com risco dos mais falantes domi-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

observar e avaliar constantemente o mundo exterior. narem a cena.


Segundo Chiavenato, o benchmarking exige três ob-
jetivos que a organização precisa definir: Brainwriting
• Conhecer suas operações e avaliar seus pontos for-
tes e fracos. Deve documentar os passos e práticas É uma variação do brainstorming, em que as ideias
de processos de trabalho, definir medidas de de- são escritas, trazendo ordem e calma ao processo. Evi-
sempenho e diagnosticar suas fragilidades. ta efeitos negativos de reuniões, como a influência da
• Localizar e conhecer os concorrentes ou organiza- opinião de coordenadores e chefes, ou a dificuldade em
ções líderes do mercado, para poder definir as ha- verbalizar rapidamente as ideias.
bilidades, conhecendo seus pontos fortes e fracos
e compará-los com seus próprios pontos fortes e
fracos.
• Incorporar o melhor do melhor adotando os pon-
tos fortes dos concorrentes e, se possível, exce-
dendo-os e ultrapassando-os. A principal barreira
à adoção dessa ferramenta é convencer os admi-

74
Programa 5S Na pesquisa SERVQUAL, então, há três instantes dis-
tintos e sequenciais:
O Programa 5S, originário no Japão, é considerado 1. o cliente é perguntado, primeiramente, como ele
um pré-requisito para qualquer programa de Gestão da imagina, como cliente, a sua empresa ideal, em um
Qualidade Total. O 5S foca o ambiente de trabalho da dado ramo de atividade;
organização a fim de simplificar o ambiente de trabalho 2. a seguir o cliente é perguntado como está o de-
e reduzir o desperdício. Como resultado, ocorre melho- sempenho da empresa real a ser analisada;
ria no aspecto de qualidade e segurança. O ambiente se 3. é feita a comparação entre a empresa ideal e a em-
torna limpo, organizado, evitando a perda de tempo e o presa real.
desperdício de material.
Assim, o resultado da implantação dessa ferramenta O modelo SERVQUAL, instrumento de pesquisa de-
será o menor desperdício, melhor qualidade e ganhos senvolvido para medir a qualidade de serviços, consiste
expressivos na administração do tempo. de 22 itens.
A sigla 5S refere-se na realidade a 5 letras iniciais de A primeira parte do questionário (22 itens) foi desen-
palavras japonesas: volvida para medir o nível desejado – ou ideal - do servi-
• Seiri - Descartar ço de uma determinada empresa ideal.
• Seiton - Organizar Já a segunda parte (novamente os mesmos 22 itens)
• Seiso - Limpar mede a percepção – esta é a real, objetiva - do cliente
• Seiketsu - Saudável e seguro sobre o serviço oferecido por uma determinada empresa.
• Shitsuke – Autodisciplina Então a qualidade do serviço é avaliada subtraindo-
-se a qualidade esperada da empresa ideal da qualidade
Servqual percebida na determinada empresa.
Este modelo de pesquisa é utilizado para avaliar a
A pesquisa SERVQUAL tem como ideia comparar a qualidade dos serviços prestados por uma determinada
performance ou o desempenho de uma empresa frente empresa. Baseado nos resultados da pesquisa as áreas
a um ideal. consideradas fracas podem ser localizadas e corrigidas.
Foi desenvolvida com o intuito de mensurar as cinco Essa pesquisa aponta também as áreas fortes da empre-
dimensões da qualidade em serviços, sendo elas: sa, que podem ser usadas como vantagens competitivas.

Reengenharia
Refere-se ao desempenho e re-
sultado do serviço, avaliando se
Confiabilidade A reengenharia pode ser considerada uma reação às
está de acordo com a expectativa,
mudanças ambientais velozes e intensas e à total inabili-
eficiente e confiável.
dade das organizações em ajustar-se a essas mudanças.
Está ligada a vontade de prestar Significa fazer uma nova engenharia da estrutura orga-
o serviço dos operadores no que nizacional.
Responsabilidade
se refere a ajudar ou realizar a Representa uma reconstrução e não simplesmente
tarefa. uma reforma parcial da empresa. Não se trata de fazer
reparos rápidos ou mudanças cosméticas na engenha-
Analisa a confiança e segurança
ria atual, mas de fazer um desenho organizacional total-
do serviçoe do seu prestador, en-
Segurança mente novo e diferente.
volvendo conhecimento, cortesia
A reengenharia se baseia nos processos empresariais
e credibilidade.
e considera que eles devem fundamentar o formato or-
Avalia a interação com o clien- ganizacional. Não se pretende melhorar os processos já
te, demonstrando atenção e se existentes, mas a sua total substituição por processos
Empatia
preocupando com o entendimen- inteiramente novos. Nem se pretende automatizar os
to dos consumidores. processos já existentes. Não se confunde com a me-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Mensura tudo o que é tangível na lhoria contínua, pois a reengenharia pretende criar um
processo inteiramente novo e baseado na tecnologia da
prestação do serviço, instalações
informação e não o aperfeiçoamento gradativo e lento
Tangibilidade físicas, localidade, aparência dos
do processo atual.
atendentes, meios de comunica-
Segundo Chiavenato, a reengenharia se fundamenta
ção, etc.
em quatro palavras chave:
• Fundamental – busca reduzir a organização ao es-
Segundo Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005), a ferra-
sencial e fundamental.
menta foi projetada e validada para um uso em diversos
• Radical – impõe uma renovação radical, desconside-
serviços, com a função mais importante de identificar as
rando as estruturas e os procedimentos atuais para
tendências da qualidade dos mesmos por meio de pes-
inventar novas maneiras de fazer o trabalho.
quisas periódicas com os clientes. O uso adequado desse
• Drástica – destrói o antigo e busca sua substituição
modelo pode contribuir na correção de fontes causado-
por algo inteiramente novo.
ras de percepção insatisfatória dos clientes e também
• Processos – orienta o foco para os processos e não
comparar o nível de qualidade dos serviços oferecidos
mais para as tarefas ou serviços, nem para pessoas
com os de possíveis concorrentes (FITZSIMMONS; FITZ-
ou para a estrutura organizacional.
SIMMONS, 2005)

75
Além dessas citadas acima, temos outras ferramentas comumente utilizadas nesse processo de busca de qualidade na
gestão.
É comum classificá-las em ferramentas estatísticas e não estatísticas. Há quem as subdivida em ferramentas geren-
ciais e estatísticas ou em antigas e novas ferramentas. Há quem selecione apenas sete. Essas são denominadas «as sete
ferramentas da qualidade».
As ferramentas conhecidas como “as sete ferramentas da qualidade” são estratificação, folha de verificação, gráfico
de Pareto, diagrama de causa e efeito, histograma, diagrama de dispersão e gráfico de controle.
As ferramentas não-estatísticas, como o fluxograma, folhas de verificação, cartas de tendências etc., são relativa-
mente simples e podem ser utilizadas tanto pelo nível gerencial quanto operacional da organização. O uso dessas
ferramentas exige pouco treinamento.
As ferramentas estatísticas, como o histograma, diagrama de Pareto, estratificação etc., são de complexidade média.
Essas, em geral, são utilizadas pela gerência intermediária e por técnicos, desde que sejam submetidos a treinamento
específico e tenham alguma facilidade para trabalhar com dados numéricos.
Não há limites para a quantidade de ferramentas que podem ser utilizadas na análise e melhoria de processos. No
entanto, para o uso eficaz de todas as ferramentas, é necessário conhecimento e prática.

Ferramentas Não-Estatísticas

Vejamos abaixo as ferramentas não-estatísticas mais utilizadas, seus conceitos e exemplos:

Folha de verificação

As folhas de verificação são ferramentas de fácil compreensão, usadas para responder à pergunta: “Com que fre-
quência certos eventos acontecem?” Ela inicia o processo transformando “opiniões” em “fatos”.
Na preparação de uma Folha de Verificação devem ser incluídos, sempre que possível, os seguintes itens:
· o objetivo da verificação (por que);
· os itens a serem verificados (o que);
· os métodos de verificação (como);
· a data e a hora das verificações (quando);
· o nome da pessoa que faz a verificação (quem);
· os locais e processos das verificações (onde);
· os resultados das verificações;
· a sequência das verificações.

Além disso, é necessário:


· definir o período para a coleta de dados;
· elaborar um formulário simples e fácil de ser preenchido;
· verificar se os dados podem ser colhidos consistente e oportunamente.
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76
Carta de tendência

São representações gráficas de dados coletados em um determinado período para identificar tendências ou outros
padrões que ocorrem ao longo deste período.
São utilizadas para monitorar um sistema, a fim de se observar ao longo do tempo a existência de alterações na
média esperada.
A carta de tendência, como qualquer outro gráfico, deve ser usada para chamar atenção para mudanças realmente
vitais no sistema.
Por exemplo, quando monitoramos qualquer processo, é esperado que encontremos certa quantidade de pontos
acima e abaixo da média. Porém quando muitos pontos aparecem em apenas um lado da média, isto indica um evento
estatístico não usual e que houve variação na média. Estas mudanças devem ser sempre investigadas. Se a causa da
variação é favorável, deve ser incorporada ao processo. Se não deve ser eliminada.

Checklist de aderência

Checklist (ou lista de verificação) é um formulário, previamente elaborado, para coleta de opiniões sobre o quanto
pessoas ou organizações conhecem, aceitam ou praticam as ações, os princípios ou os comportamentos que estão
sendo avaliados.

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Diagrama de causa e efeito

É uma ferramenta utilizada para:


· apresentar a relação existente entre o resultado de um processo (efeito) e os fatores (causas) que possam afetar
este resultado;

77
· estudar processos e situações;
· planejamento.

É, também, conhecido como diagrama de espinha de peixe ou diagrama de Ishikawa.


Desenvolvido no Japão, em 1943, por Kooru Ishikawa, permite, ainda, representar a relação entre problema e todas
as possibilidades de causas que podem implicar neste efeito.
Para facilitar a construção do diagrama, Ishikawa idealizou quatro categorias de causas conhecidas como 4M. Ou-
tras categorias foram propostas e nada impede que cada pessoa proponha suas próprias categorias. Todavia, não deve
esquecer que a simplicidade é o segredo para o bom funcionamento desta ferramenta.
As categorias mais comuns para agrupamento das causas são:
· 4M: Mão-de-obra, Máquina, Método do Processo ou da Medida e Materiais;
· 5M: Mão-de-obra, Máquina, Método, Materiais e Manager (Gerenciamento);
· 6M: Mão-de-obra, Máquina, Método, Materiais, Manager (Gerenciamento) e Meio
Ambiente;
· 7M: Mão-de-obra, Máquina, Método, Materiais, Manager (Gerenciamento), Meio Ambiente e Money (Dinheiro).

4Q1POC (5W2H)

É uma técnica de levantamento global recomendada para todas as etapas da análise e melhoria de processos. O
nome da técnica deriva-se de cinco perguntas em inglês. São elas: Who, Where, Why, What, When, How much and
How. Por isso, ela também é conhecida como 5W2H. Em português, 4Q1POC refere-se às perguntas Quem, O Que,
Quando, Quanto, Por que, Onde e Como. Esta técnica pode ser utilizada tanto para análise de processos quanto para o
planejamento de melhorias. É a forma mais simples do Plano de Ação.
Quem
· Quem são os clientes e os fornecedores?
· Quem planeja, executa e avalia?
O Que
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· O que é feito?
· O que é consumido?
Quando
· Quando a atividade é executada?
· Quando o cliente precisa do produto ou serviço?
Quanto
· Quanto custará a implementação das atividades?
Onde
· Onde a atividade é planejada, executada e avaliada?
· Onde o produto ou serviço deve ser entregue?
Por que
· Por que o processo segue esta rotina?
· Por que esta solução será implementada?
Como
· Como a atividade é planejada, executada e avaliada?
· Como esta solução será implementada?

78
5 Por quês

É uma técnica de análise que permite, através da formulação de uma única pergunta, Por que, aprofundar o co-
nhecimento sobre determinado assunto. Como se trata de uma sequencia de perguntas ordenadas, de forma que a
pergunta seguinte incida sempre sobre a resposta dada à questão anterior, a tendência é a identificação de uma grande
variedade de causas afins ao tema que está sendo questionado. Cabe observar que o número 5, colocado no nome
da técnica, não é impositivo, apenas sugere a reincidência da pergunta e o não conformismo com a primeira resposta

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Matriz GUT

É uma matriz de priorização de problemas a partir da análise feita, considerando três critérios (Gravidade - Urgência
– Tendência):
· Gravidade: impacto do problema sobre coisas, pessoas, resultados, processos ou organizações e efeitos que surgi-
rão a longo prazo, caso o problema não seja resolvido.
· Urgência: relação com o tempo disponível ou necessário para resolver o problema.
· Tendência: potencial de crescimento do problema, avaliação da tendência de crescimento, redução ou desapare-
cimento do problema.

79
Técnica nominal de grupo

É uma técnica de priorização que se aplica a situações diversas, tais como: problemas, soluções, processos, ativida-
des, etc. Diferentemente de outras técnicas, o critério de priorização é absolutamente subjetivo, o que torna recomen-
dável que sua utilização seja precedida de ampla discussão sobre os assuntos a serem priorizados.
Na Técnica Nominal de Grupo, os valores a serem atribuídos no preenchimento da matriz não são estabelecidos “a
priori”, sendo que o maior valor é sempre igual ao número de itens a serem priorizados. No preenchimento da matriz,
cada avaliador começa atribuindo o maior valor ao item que considera mais prioritário. Não é permitido, a um único
avaliador, atribuir o mesmo valor a dois ou mais itens.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

80
Votação de Pareto

É uma técnica de priorização baseada no «Princípio de Pareto» dos poucos pontos vitais e muitos pontos triviais
sendo, neste caso, utilizado o procedimento de votação.
Juran adaptou aos problemas da Qualidade a teoria da desigualdade da distribuição de renda desenvolvida pelo
economista italiano Vilfredo Pareto. O princípio de Pareto estabelece que, na maioria dos processos, uma pequena
quantidade de causas (cerca de 20%) contribui de forma preponderante para a maior parte dos problemas (cerca de
80%), e que uma grande quantidade de causas (cerca de 80%) contribui muito pouco para os efeitos observados (cerca
de 20%). Ao primeiro grupo de causas, ele chamou de “pouco vitais” e ao segundo de “muito triviais”.
O procedimento utilizado consiste em que o coordenador, após a geração de uma série de ideias por um grupo,
solicita que os participantes votem naquelas que consideram as mais importantes, de acordo com as seguintes regras:
· o número de votos por participante é limitado a 20%, do total de ideias;
· todos os votos permitidos devem ser usados;
· não é permitido dedicar mais de um voto para uma mesma ideia por participante.

As ideias mais votadas, que devem estar na faixa dos 20% do total de ideias geradas, são as consideradas prioritárias.

Diagrama de árvore

Relaciona o objetivo mais geral com passos de implementação prática. Na sua versão original japonesa, o diagrama
da árvore é utilizado para descrever os métodos pelos quais um propósito pode ser alcançado. Além disso, é utilizado
também, para explorar todas as causas possíveis de um problema, assemelhando-se ao diagrama de causa e efeito,
para mapear características de um produto ou serviço e para identificar atividades a serem acompanhadas tendo em
vista um objetivo organizacional geral, como no exemplo prático apresentado na tela seguinte.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

81
Diagrama de matriz

Apresenta graficamente o relacionamento entre dois ou mais elementos, tais como: atividades de pessoas com
funções, tarefas com tarefas, problemas com problemas, problemas com causas e soluções, etc. As matrizes podem ter
vários formatos, dependendo da quantidade de elementos a serem combinados.

Fluxograma

É a representação esquemática da sequencia (setas) das etapas (caixas) de um processo e tem por objetivo ajudar a
perceber sua lógica. O fluxograma serve para compreender e melhorar o processo de trabalho, criar um procedimento
padrão de operação e mostrar como o trabalho deve ser feito.
É utilizado também como ferramenta de comunicação, de compreensão, aprendizado e auxílio à memória. Essa
ferramenta possibilita identificar instruções incompletas e serve como roteiro de controle e padronização. É muito útil
na identificação e resolução de problemas e na operacionalização, no controle e na melhoria de um processo.
Na construção de um fluxograma são utilizados símbolos variados, e os mais comuns são os apresentados a seguir:
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82
Ferramentas Estísticas

Vejamos abaixo as ferramentas estatísticas mais utilizadas, seus conceitos e exemplos.

Diagrama de Pareto

São gráficos de barras verticais que permitem classificar e priorizar problemas em duas categorias: “Pouco vitais” e
“Muito triviais”.
Segundo o princípio de Pareto, os processos podem ser melhorados se houver uma atuação sistemática sobre as
causas do primeiro grupo. Se existir o hábito da priorização, muitos problemas simplesmente desaparecem por serem
pouco relevantes.
Por outro lado, os problemas mais graves passam a ter o tratamento devido e também desaparecem.
Outro ponto importante sobre o diagrama de Pareto é a possibilidade de desdobramento das causas principais em
outros Paretos, permitindo análises sucessivas, como ilustrado a seguir.

Estratificação

A estratificação consiste em dividir um conjunto de dados em grupos que possuem características que os tornam
peculiares, podendo agrupá-los de diversas maneiras. Ela ajuda na análise dos casos cujos dados mascaram os fatos reais.
Isto geralmente ocorre quando os dados registrados provêm de diferentes fontes, mas são tratados sem distinção.
Permite também identificar fontes de variação, analisar dados, pesquisar oportunidades de melhoria e avaliar de
forma mais eficaz as situações. Uma forma prática de fazer estratificação é utilizar os 4M ou 5M ou 6M ou 7M.

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

83
Histograma

São gráficos de barras construídos a partir de uma tabela de frequência de determinadas ocorrências. O eixo hori-
zontal apresenta os valores assumidos por uma variável de interesse.
Subdivide-se o eixo horizontal em vários pequenos intervalos, construindo-se para cada um destes intervalos uma
barra vertical.
Os histogramas, assim como os processos, podem ter as mais variadas formas, indicando se o processo está “está-
vel” ou apresenta algum desvio. A construção de histogramas exige alguns conhecimentos de estatística que permitam,
após a coleta de dados, a determinação da amplitude, do número, do intervalo e dos limites de classe e a preparação
de uma tabela de frequência.
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84
Escolhendo o processo

A escolha do processo a ser analisado é de grande importância para o sucesso dos trabalhos a serem desenvolvidos
no âmbito de uma organização.
A seguir são listadas algumas dicas para seleção de processos:
· impacto direto sobre clientes externos;
· ciclo de execução rápido;
· não esteja passando por importantes transições;
· seja relativamente simples;
· tenha potencial para gerar benefícios;
· ofereça integração com visão e missão.

A Metodologia de Análise e Solução de Problemas (MASP) consiste em um conjunto de procedimentos sistema-


ticamente ordenados, baseado em fatos e dados, que visa a identificação e a eliminação de problemas que afetam os
processos, bem como a identificação e o aproveitamento de oportunidades para a melhoria contínua.
O gerenciamento de processos organizacionais envolve tanto a aplicação da MASP como a compreensão do ciclo
PDCA (Planejar, Desenvolver, Checar, Agir corretivamente), estudado anteriormente. Ambos os métodos, assim como
o uso de ferramentas, são úteis no gerenciamento da Qualidade de processos. Entender a relação existente entre estes
deve, pois, ser considerada. Vejamos a seguir como essas metodologias se relacionam.

Compreendendo a Masp – Etapas e Procedimentos e a Relação com o PDCA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

85
Relação entre Ciclo PDCA, etapas da MASP e Ferramentas Utilizadas

Metodologia para Implantação da MASP


FASE 1 - Planejamento e Organização
Atividade 1: Elaboração do Projeto
· definição de objetivos e produtos;
· definição das áreas envolvidas e seus representantes;
· definição dos patrocinadores;
· definição do Comitê Gestor de Redesenho;
· definição das Equipes de Redesenho;
· definição dos Grupos de Contato;
· definição do Coordenador do Projeto;
· definição dos recursos necessários;
· definição das estratégias de comunicação e responsáveis;
· definição da metodologia de análise a ser empregada;
· definição das técnicas de documentação a serem utilizadas;
· definição dos resultados a serem atingidos;
· elaboração do Plano de Ação (descrição da tarefas, responsáveis e cronograma).
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Atividade 2: Validação
Atividade 3: Divulgação
Atividade 4: Alocação de Recursos
Atividade 5: Formalização dos Grupos de Trabalho (Comitê Gestor, Equipes de Redesenho, Grupos de Contato e
Coordenação)
Atividade 6: Capacitação da Equipe de Redesenho

FASE 2 – Identificação
Atividade 01: Identificação do Contexto Institucional do Processo
· missão da organização e competências das áreas;
· diagrama da estrutura organizacional (com o quantitativo de pessoal).

Atividade 02: Identificação do Processo


· nome do processo; descrição e objetivos;
· unidade responsável;

86
· responsável (cargo, nome, telefone e e-mail); · definição da estratégia de implementação;
· recursos alocados (humanos, tecnológicos e materiais); · elaboração do plano de implementação (tarefas, res-
· produtos intermediários e finais; ponsáveis e cronograma);
· clientes internos e externos e seus requisitos; · elaboração do plano de capacitação;
· fornecedores e insumos (e requisitos); · capacitação das equipes executoras.
· fluxograma geral do processo;
· documentação existente (legislação, normas, siste- FASE 7 – Acompanhamento da Implementação
mas, etc); Atividades
· indicadores existentes [tipo, nome, descrição/fór- · Reuniões de acompanhamento, avaliação e tomada
mula, periodicidade, insumos, responsável, históri- de decisão (correções ou modificações no proces-
co (financeiro/custos; processo eficiência; eficácia; so).
efetividade; qualidade; prazos; metas; capacidade;
satisfação dos clientes; critérios PNGP – liderança, FASE 8 – Relatório Final de Avaliação do Projeto
planejamento, cidadão e sociedade, informação e Atividades
análise, processos, pessoas, resultados); · elaboração de relatório.3
· mapa de atividades;
· fluxograma detalhado do processo.

FASE 3 – Análise EXERCÍCIOS COMENTADOS


Atividade 1: Identificação e Priorização dos Problemas
· ambiente interno: fatores restritivos e fatores incen- 1. (TRT/7ª Região/CE – 2017 - CESPE) O objetivo da
tivadores (condições de trabalho, documentação, nova gestão pública é
recursos humanos, recursos tecnológicos e recur-
sos materiais); a) assegurar a impessoalidade e a racionalidade técni-
· ambiente externo: ameaças e oportunidades; ca na gestão pública por meio da burocratização dos
· definição dos fatores críticos de sucesso e subpro- processos.
cessos essenciais; b) fomentar a eficiência da administração por meio da
· identificação e priorização dos problemas; redução de custos e da melhora na qualidade dos ser-
· descrição dos principais problemas; viços.
· forma com que os problemas são percebidos; mo- c) promover o poder racional-legal como estratégia de
mento e providências adotadas. combate à corrupção e ao nepotismo.
d) garantir o acesso à propriedade privada para o gestor
e os seus servidores.
Atividade 2: Análise dos Problemas
· identificação das causas dos problemas (Diagrama Resposta: Letra B. A nova gestão pública, também
de Ishikawa); conhecida como modelo gerencial de gestão possui
· priorização das causas (Matriz GUT, Votação de Pa- foco nos procedimentos, com controle voltado para os
reto, etc). resultados, com características de multifuncionalidade,
flexibilização das relações de trabalho, busca atender
FASE 4 – Proposição de Melhorias ao cidadão através do alcance de resultados.
Atividades
· definição das possíveis soluções e respectivas alter- 2. (STM – 2018 – CESPE) A respeito da reforma do Esta-
nativas, com descrição das vantagens e desvanta- do, da excelência na gestão dos serviços públicos e das
gens; diferenças entre a gestão pública e a gestão privada, jul-
· identificação dos sistemas a serem modificados ou gue o seguinte item.
desenvolvidos; Por conta da emergência de órgãos de responsabilidade
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· mapeamento dos riscos envolvidos. social corporativa nas empresas privadas, estas passaram
a ter como principal objetivo atender aos interesses co-
FASE 5 – Elaboração dos Manuais dos Processos letivos da sociedade como um todo, principalmente em
Atividades suas áreas de influência.
· novos fluxogramas (geral e detalhado);
· redação dos manuais; ( ) CERTO ( ) ERRADO
· revisão dos conteúdos;
· revisão ortográfica. Resposta: Errado. Atender aos interesses coletivos da
sociedade é o objetivo maior da gestão pública, e não
FASE 6 – Planejamento da Implementação das empresas privadas conforme consta na afirmativa,
Atividades afinal, o objetivo central das empresas privadas é a ob-
· definição da equipe responsável em cada área; tenção de lucros.
· definição dos patrocinadores;
· definição do processo de monitoramento dos resul-
tados (indicadores, itens de verificação e de con-
3 Fonte: www.anpad.org.br/www.adapar.pr.gov.br/Carlos Ramos/
trole, e metas a serem atingidas);
Francisco Carlos da Cruz Silva e Cláudio Fernando Macedo

87
O PARADIGMA DO CLIENTE NA GESTÃO PÚBLI- 3. Treinar os servidores no atendimento ao cliente e
CA organizar adequadamente os processos de traba-
lho.
É tema de debate constante entre os gestores o que 4. Desenvolver ações pró-ativas, isto é, que previnam
deve ser priorizado como foco na gestão. Sabemos de os problemas antes que ocorram. (educação dos
toda a trajetória onde o foco principal da administra- clientes com folhetos ou comunicação planejada.
ção era a gestão em si, no entanto, com a evolução que Ex: os guardas de trânsito).
acompanhamos ao longo do tempo, notamos que esse
foco direcionou-se para a satisfação do cliente, ou seja, Essa mudança de paradigma do cliente na gestão pú-
saber exatamente quem é esse personagem nas relações blica se dá no momento onde o gerencialismo passa a
comerciais, qual o perfil que ele apresenta, o que ele bus- ser aplicado, mas antes de falarmos sobre o gerencialis-
ca, como ele pensa, enfim, saber qual a real participação mo, vamos falar sobre os dois momentos anteriores: ad-
que esse personagem exerce no conceito de valor que a ministração patrimonialista e administração burocrática,
organização defende. que representam tentativas de superação das limitações
Isso fez com que alguns paradigmas tivessem que ser intrínsecas do modelo weberiano, ou seja, vamos fazer
revistos. um breve relato sobre a evolução da administração pú-
blica.

#FicaDica Vejamos um pouco da evolução desse conceito na


gestão pública.
Então, partamos do princípio dos concei-
tos. O significado da prestação de serviços com foco no
Paradigma: é a representação do padrão de cidadão nas transformações da administração públi-
modelos a serem seguidos ca brasileira no período pós-redemocratização
Paradigma do cliente: o que faço pensando
ser o melhor, é realmente bom para o meu As últimas décadas do Século XX apresentaram mu-
cliente? danças nos paradigmas da Administração Pública (MEZ-
Essa mudança de foco no cliente modifica ZOMO KEINERT, 1998), com a emergência de um novo
toda a Administração Pública; no paradig- modelo com ênfase na eficiência e no controle dos resul-
ma do cliente, somos ao mesmo tempo, tados, em substituição à tradicional focalização no con-
fornecedores e clientes e todos vivemos trole das atividades-meio das organizações burocráticas.
em uma sociedade de serviço. Comumente chamado de Modelo Gerencial (BRES-
SER PEREIRA, 1996), este novo modelo traz à agenda da
gestão pública novos temas, que ABRUCIO (1997, p. 8)
destaca como sendo: a preocupação com a avaliação
A maioria dos serviços públicos prestados à popula-
de desempenho, o controle sobre os gastos públicos e
ção depende, em grande parte, da qualificação e da va-
a orientação dos serviços públicos para a satisfação dos
lorização dos funcionários. O treinamento para a atuação
cidadãos. CAIDEN (1991) destaca o aumento da pro-
eficiente voltada para o cidadão deve abranger além da
dutividade, a ampliação da capacidade de resposta do
capacitação técnica, a incorporação de comportamentos setor público, a criação de mecanismos de controle e a
e atitudes compatíveis com a função de acolher e orien- reestruturação das organizações públicas. CLAD (1999, p.
tar o público. 129) também aponta como “ingredientes básicos” desse
As disfunções de atendimento ao cliente por parte do novo paradigma a eficiência, a democratização do ser-
servidor público, até um passado recente, eram consi- viço público, o aumento da autonomia gerencial, a re-
deradas como parte constitutiva da cultura organizacio- dução dos níveis hierárquicos e o desenvolvimento de
nal pública, no entanto, a democratização política com a mecanismos de transparência da administração pública.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Constituição Cidadã de 1988 e a disseminação de novas TROSA (2001) destaca a orientação para resultados, con-
ferramentas de gestão, aliadas à pressão cada vez maior trapondo-se à orientação para os controles, como dife-
por parte da sociedade organizada por seus direitos têm rencial desse novo modelo.
provocado uma intensa preocupação com um atendi- No Brasil, esse movimento encontra maior eco nos
mento de qualidade. primeiros anos do governo de Fernando Henrique Car-
Isso nos leva a pensar em uma maior eficiência no doso, no período compreendido entre 1995 e 1998. Du-
serviço, que significa dar atenção ao cidadão e aumentar rante a gestão de Luiz Carlos Bresser Pereira à frente do
a qualidade dos serviços. Ministério da Administração e Reforma do Estado, uma
série de iniciativas do governo federal implantam propo-
Como adotar o paradigma do cliente? sições do chamado “Modelo Gerencial”, como também
disseminam seus princípios entre a opinião pública e os
1. Identificar quem são eles. servidores federais. A partir de 1999, a extinção do citado
2. Obter feedback sobre serviços, produtos e infor- ministério materializa a retirada da “Reforma do Estado”
mações prestados, por meio de pesquisas, entre- da agenda prioritária do governo federal. Entretanto,
vistas, formulários, visitas, telefonemas ou técnicas temas como redesenho de processos, foco no cidadão,
grupais; orientação gerencial para resultados, flexibilização das

88
estruturas estatais e parcerias público-privado, entre ou- - mudanças organizacionais;
tros, mantiveram-se nas discussões sobre a administra- - mudanças nos processos de trabalho;
ção pública no Brasil. - substituição do aparato tecnológico; e
Essas mudanças no pensamento em Administração - mudanças culturais.
Pública não ocorreram por acaso, nem se tratam de um
fenômeno brasileiro. SOARES (2002, p. 86) aponta que Essas tendências refletiram-se em novas abordagens
“o desenvolvimento do modelo gerencial de adminis- da administração que influenciaram o pensamento so-
tração foi inspirado na iniciativa privada, apresentando bre Administração Pública. KETTL (2000) observa que a
ainda muitos elementos dessa forma de gestão”. emergência do comércio eletrônico gerou nas empresas
De fato, o período compreendido pelas décadas de transformações nos modelos de negócios as quais o se-
1980 e 1990 foi marcado pelo florescimento de uma tor público passou a tentar emular. CAIDEN (1991, p. 88)
profusão de experiências de novas técnicas de gestão defende uma atuação “mais empresarial” dos governos.
no setor privado. As mudanças que pautaram os estu-
GUERRERO (2001) defende que os serviços públicos de-
dos e também a prática da administração de empresas
vem perder sua forma burocrática e orientar-se para as
no período destinaram-se a adaptar a gestão empresa-
práticas mercantis, transformando o cidadão em consu-
rial a um novo ambiente caracterizado pelo acirramento
midor.
da competitividade internacional, pela concentração da
competição em grandes conglomerados transnacionais Em paralelo a esse processo de influência da Admi-
e pela profunda transformação motivada pela dissemina- nistração de Empresas sobre a Administração Pública,
ção da tecnologia da informação no campo da produção outras influências manifestaram-se no ambiente deste
de bens e serviços e na gestão das empresas (TAPSCOTT, campo do conhecimento.
1999). Novos temas emergiram, sob marcada influência Não se pode descartar a influência dos processos
das transformações operadas na Administração de Em- ocorridos ao longo da década de 1980 e primeiros anos
presas, como o tratamento de informações em grandes da década de 1990, nos países de capitalismo avançado
volumes e profundidade, a busca da excelência no aten- de tradição anglo-saxônica. Marcados por uma orienta-
dimento aos clientes, a redução de desperdícios e retra- ção neoliberal, especialmente preocupada com questões
balhos, a automatização da produção de bens e serviços, de eficiência e redução de gastos públicos, os governos
a utilização da internet para a prestação de serviços, a desses países promoveram profundas reformas nos res-
redução das organizações ao seu porte “mínimo”. Neste pectivos aparelhos estatais. Essas experiências foram de-
tópico em particular, técnicas como downsizing e reen- cisivas para a construção teórica do “modelo gerencial”,
genharia foram popularizadas e, no senso comum, tor- e suas práticas e conceitos resistiram a descontinuida-
naram-se sinônimo note-se que equivocado de moder- des administrativas nos países de origem, mantendo-se
nização gerencial. como orientações prevalecentes nas práticas de governo,
COELHO (2001a, p. 131) destaca entre as tendências sendo incorporados à agenda pública de diversos outros
emergentes nas organizações públicas que caracterizam países. Tanto as experiências quanto a produção teórica
um novo modelo de organização do trabalho: tiveram influência marcante sobre o processo brasileiro
- formas mais flexíveis e menos regulamentadas de de “Reforma do Estado”, que nelas buscou, deliberada-
emprego público; mente, um quadro de referência, e também sobre o pen-
- maior flexibilidade gerencial; samento em Administração Pública no país.
- maior compromisso com desempenho e resultados; A partir da redemocratização da década de 1980, três
- elevados padrões de conduta, comportamento e forças direcionaram a evolução do serviço público brasi-
ética profissional; leiro, segundo VAZ (2006):
- oferecimento de oportunidades a minorias e porta- • a racionalização do uso de recursos crescentemen-
dores de deficiências; te escassos;
- associação de remuneração a desempenho; • a demanda por um novo patamar de qualidade
- capacitação de gerentes para liderança de equipes; dos serviços; e
- postura ativa em relação a parcerias e novos negó-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

• a pressão da sociedade por participação, transpa-


cios. rência e controle social sobre as ações dos agentes
públicos.
FRESNEDA (1998) destaca a relação entre tecnolo-
gia da informação e transformações radicais nas orga- Essas forças apresentam-se em posição central do de-
nizações públicas, atingindo estruturas organizacionais, bate e do imaginário dos gestores e pesquisadores sobre
processos de trabalho e perfil do servidor público. A a Administração Pública no Brasil. Entre convergências e
crescente utilização de recursos tecnológicos pelo setor tensões, o significado a elas atribuído varia de acordo
público contribui positivamente para a criação de novas com os interesses e visões dos agentes públicos: ocorrem
estruturas, com menos níveis hierárquicos, orientadas disputas em torno das interpretações dessas forças e das
pelos valores da qualidade, eficiência, foco no cidadão, estratégias para reagir a seus imperativos.
trabalho colaborativo e horizontalidade. A primeira destas três forças tem motivação evidente.
SOARES (2002) identifica quatro categorias de trans- Por uma série de fatores ligados à dinâmica interna do
formações interligadas e com influências recíprocas, que Estado e à forma como foi conduzida a inserção subor-
presidiram as ações de transformação das organizações dinada do Brasil nas novas formas do capitalismo inter-
públicas. nacional, tornou-se imperativo um ajuste fiscal no Estado
brasileiro. A necessidade de racionalização no uso dos

89
recursos, tornados mais escassos, facilitou que o cha- tar serviços públicos com democracia e eficiência, com
mado “modelo gerencial” encontrasse eco no Brasil, ao qualidade e produtividade”. Os dois autores citados, em
tratar das questões ligadas à eficiência e à redução de concepções bastante próximas, apontam que os progra-
gastos públicos, justificando muitas iniciativas no âmbito mas de modernização administrativa podem incorporar
da “reforma do Estado” e da “responsabilidade fiscal”. instrumentos como:
A redemocratização alimentou uma forte demanda - elaboração de indicadores de desempenho da ad-
da sociedade por melhoria da qualidade dos serviços pú- ministração municipal, tornados públicos;
blicos. Ampliou as possibilidades de reivindicação, crítica - instituição de padrões de qualidade do atendimento
e cobrança da sociedade sobre a ação dos governos. Esta ao cidadão;
segunda força também pode ser associada ao surgimen- - alterações na estrutura organizacional;
to de novas expectativas influenciadas pelos padrões de - mudanças no desenho dos processos de trabalho,
qualidade do atendimento ao cliente implantados pelas com foco na forma de prestação de serviços pú-
empresas privadas no período.
blicos;
Ao mesmo tempo, a redemocratização estimulou
- intervenções voltadas à promoção de mudanças na
uma pressão da sociedade por participação cidadã,
cultura organizacional;
transparência e controle social dos governos. Esta pres-
- valorização do servidor público e melhoria de suas
são constitui a terceira força que tem direcionado o
serviço público brasileiro. A Constituição de 1988 abriu condições de trabalho;
espaço para mecanismos de democracia participativa, - capacitação profissional dos servidores públicos; e
por vezes apropriados por setores organizados, mas em - incorporação de tecnologia da informação, espe-
muitos casos também sub-aproveitados pela sociedade cialmente a Internet, aos processos de trabalho e
civil. Neste período, vários setores da sociedade valeram- atendimento ao cidadão.
-se do marco constitucional para pressionar para obter
a criação de novos espaços. Outras vezes, foram criados O foco no cidadão como chave das transforma-
pelos governos para legitimar suas decisões. Logicamen- ções na administração pública
te, a natureza e a ocupação desses espaços será sempre
objeto de disputa. Os autores que propõem o modelo gerencial de ad-
A coexistência dessas forças direcionadoras não ga- ministração pública contrapõem-no ao chamado mo-
rante que atuem de forma complementar. Muitas ve- delo burocrático. BRESSER PEREIRA (1999) defende que
zes, atuam em oposição, e os gestores públicos fazem o modelo gerencial resolve uma limitação do modelo
escolhas ou cedem a pressões mais fortes dentre elas. burocrático: a falta de focalização nas necessidades dos
Como exemplo, temos a utilização de novas formas or- cidadãos-usuários dos serviços públicos. Em sua crítica,
ganizacionais para a contratualização da execução das afirma que o modelo burocrático tem um efeito inibi-
políticas públicas, como as “organizações sociais” (OS). A dor sobre o processo decisório, por sua base na regu-
necessidade de racionalização do uso de recursos e a de- lamentação intensiva das ações dos agentes públicos
manda por serviços de melhor qualidade são apontadas com vistas à garantia da impessoalidade no acesso aos
como motivação para a criação dessa nova forma orga- serviços. Com isso, o aparato estatal assume uma postu-
nizacional. Por outro lado, seus opositores criticam-nas ra auto-referida e perde agilidade para atendimento das
pelo aspecto da insuficiência da participação cidadã, da demandas.
transparência e do controle social. Constitui-se a inversão de propósitos apontada por
Outras vezes, a tensão manifesta-se entre a pressão KETTL (2001), em que a “máquina pública” dedica-se a
por racionalização de recursos e a demanda por quali- atender prioritariamente os seus interesses e apenas sub-
dade dos serviços. Os aumentos de custos unitários de sidiariamente os da população. Ou, dito de outra forma:
serviços de centrais integradas de atendimento ao cida-
dão são um exemplo deste fenômeno, assim como a de- “O modelo tradicional de atendimento ao público nos
gradação do nível de serviços em políticas públicas pela órgãos governamentais é marcado pela fragmentação
redução de recursos disponíveis.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

e pela falta de conexão ágil e racional entre os diversos


  serviços e informações. Os vícios burocráticos e compor-
Mais forte no âmbito da União e dos estados, mas tamentais foram se acumulando ao longo dos anos, trans-
também presente nas prefeituras, esse processo redundou formando cada setor da máquina pública em algo com
nas chamadas ações de “modernização administrativa”, início e fim em si mesmo. Dessa forma, os serviços ofereci-
voltadas à redução de custos e aumento da capacidade dos não se apresentam como soluções aos problemas dos
operativa da administração pública. VAZ (2001) caracteriza cidadãos e, sim, como soluções administrativas internas
os processos de modernização administrativa como uma aos próprios setores.” (PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO
forma de mudança organizacional e identifica como prin- ANDRÉ, 2001).
cipais transformações geradas por esses processos o esta-
belecimento de novas formas de atendimento ao cidadão, De acordo com FALCO (2000), esta situação vincula-
novos processos e práticas de trabalho e o surgimento de -se à fragilidade do controle social sobre o aparato esta-
novas formas de tratamento da informação. tal, explicada pela assimetria de informação presente nas
DANIEL (2001), opondo-se à visão de Estado mínimo relações entre governo e sociedade, nas quais esta últi-
defendido pelo discurso de inspiração neoliberal, propõe ma não dispõe de informações suficientes para efetivar o
a modernização administrativa como caminho para a controle sobre as ações do Estado.
construção de um “Estado local forte”, capaz de “pres-

90
Segundo SOARES (2002, p. 48), a colocação do cidadão no centro das ações do setor público é a “resposta que o modelo
gerencial pretende dar para combater as distorções da administração auto-referida.” A mesma autora prossegue afirmando
que, com o deslocamento do foco da administração pública em direção aos resultados, “o quesito dos padrões de qualidade
na provisão dos serviços públicos destacou-se como um aspecto essencial para as práticas de administração pública”.

O modelo gerencial, a despeito de suas várias nuances e linhas distintas, consistentemente direciona esforços em
termos do atendimento ao cidadão. Cunha-se a expressão “foco no cidadão” como síntese de princípios que SOA-
RES (2002, p.47) destaca:
- velocidade e agilidade de resposta do prestador de serviços;
- utilização de sistemas flexíveis de atendimento ao cidadão, com maiores condições de atendimento segmentado
ou personalizado, em substituição à prestação de serviços padronizada;
- busca da excelência dos serviços, inclusive com o estabelecimento de padrões e metas de qualidade de atendimento;
- manutenção de canais de comunicação com os usuários, e
- avaliação da qualidade dos serviços prestados.

A adoção do “foco no cidadão” situa-se como um princípio central de reorganização do Estado, entre os prin-
cípios do modelo gerencial. Não somente a prestação de serviços em si é reestruturada, mas se pretende que todo
o funcionamento do aparelho estatal redirecione-se e mude suas prioridades a partir das demandas entendidas como
aquelas prioritárias dos cidadãos. É um Estado para o cidadão.
Para que o Estado possa desempenhar esse papel, é necessário acompanhar a evolução da satisfação dos usuários
dos serviços públicos. A qualidade é entendida fundamentalmente como sendo aquela percebida pelo usuário do ser-
viço (ZEITHALM, PARASURAMAN e BERRY, 1990). A partir deste postulado, desenvolveu-se o modelo do Service Gap
Model (BLYTHE e MARSON, 1999), que busca relacionar a satisfação dos usuários à diferença (gap) entre a expectativa
dos usuários sobre os serviços públicos e o serviço efetivamente obtido.
A figura 1, a seguir, apresenta os principais elementos do Service Gap Model:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Figura 1 – Serviçe Gap Model (MACARIO, 2005)

O modelo propõe a obtenção de informações sobre as expectativas dos cidadãos, a reestruturação das organiza-
ções públicas para o atendimento dessas expectativas, a construção de instrumentos de monitoramento da satisfação
dos usuários, a estruturação de um sistema de “feed-back” e melhoria contínua para a redução das diferenças entre
expectativas e resultados.
 
Os riscos do foco no cidadão e a substituição do cidadão pelo cliente

A despeito das inovações geradas pela orientação ao cidadão, todo esse movimento trouxe, entre seus efeitos, uma
redução do conteúdo de cidadania atribuído ao usuário de serviços públicos. Transformado em cliente-consumidor, o
cidadão vê o direito ao acesso ao serviço público e sua possibilidade de participar de sua gestão substituídos por uma
relação que, se não completa e verdadeiramente presidida pela lógica de mercado, tenta emulá-la. Nesse contexto,
como aponta SOARES (2002), os cidadãos aparecem como usuários dos serviços públicos, mas não como seus titulares.

91
Segundo POLITT (1990) o termo cliente ou consumi- demanda do cidadão como justificativa para iniciativas
dor, usado pelo modelo gerencial, parte de um ponto de destinadas a mudar o padrão de dispêndio público, mais
vista individualizante, que prioriza os direitos individuais do que ampliar a qualidade dos serviços prestados.
e o mercado em detrimento dos direitos coletivos e da   
participação na esfera pública. O foco no cidadão e a reoganização dos serviços
A equiparação (ou redução) de cidadão-usuário a de atendimento 
cliente é criticada como uma visão frágil, por limitar o
alcance do conceito de cidadania. Entender o cidadão- A orientação para o cidadão levou à disseminação de
-usuário como cliente dos serviços públicos significa, em uma série de instrumentos de atendimento ao cidadão.
última instância, eleger o mercado como mediador da Esses instrumentos buscam atender às necessidades de
cidadania. O exercício da cidadania passa, no caso dos simplificação dos procedimentos, como expresso por
serviços públicos, a remeter às práticas, princípios e va- OSBORNE e GAEBLER (1994, p. 210):
lores de mercado, o que não necessariamente se coadu- “um sistema dirigido ao cliente deve ser “descomplicado”
na com o princípio da universalidade dos direitos. para o cliente, que não deve ser confrontado com um fabulo-
POLITT (1990, p. 183) manifesta a inadequação dessa so labirinto de programas fragmentados, (...) e uma infinidade
transposição conceitual, assinalando que: de formulários para preencher. O sistema deve ser transparente
“não basta tratar os usuários de serviços públicos para que os clientes sejam capazes de transitar por entre as mui-
como meros consumidores, ignorando a dimensão da ci- tas opções disponíveis, sem necessariamente ter que transitar
dadania envolvida. Em que pesem as contribuições do uso pelas burocracias que se ocultam por trás de cada uma delas.”
de mecanismos do mercado para o governo, [...] não se Esses requisitos, evidentemente, encontram suporte
pode fazer uma transposição pura e direta de um setor na aplicação de recursos de tecnologia da informação,
para o outro. Em outras palavras, a eficiência e a eficácia especialmente naqueles que permitem a integração dde
não podem corresponder exatamente aos mesmos valores processos e o acesso remoto a sistemas e bases de da-
e significados no setor público e no setor privado”. dos. Ainda que se valendo de intensidades distintas do
uso dessas tecnologias, os principais instrumentos de
Por conta disto, o autor estabeleceu uma distinção atendimento ao cidadão de alguma forma a utilizam.
entre as duas visões: consumidor de serviços públicos e O desenvolvimento de soluções de atendimento
cidadão. Enquanto a relação de consumo é uma relação orientado ao cidadão pode ser classificado em duas cate-
de atendimento a demandas individualizadas e desco- gorias, de acordo com o nível de integração de processos
nectadas entre si, a relação entre o cidadão-usuário dos e o formato do atendimento oferecido:
serviços públicos e os órgãos provedores dos serviços - atendimento setorial: oferecimento de soluções
necessariamente inclui vinculações que ultrapassam os obedecendo a estrutura setorial existente na ad-
limites do atendimento individualizado, como “justiça, ministração pública (ou uma estrutura já fruto de
representação, participação e igualdade de oportunida- uma revisão organizacional), incorporando recur-
des” (POLITT, 1990, p.129). sos tecnológicos e redesenho de processos. Neste
Não é sem motivo, portanto, que a partir do modelo modelo, a principal preocupação se encontra na
gerencial tenham surgido novas abordagens que bus- revisão dos processos com foco nas necessidades
do cidadão. A inovação concentra-se no back-offi-
cam retomar a cidadania como categoria relevante na
ce, ou seja, na realização pelas tarefas pelos órgãos
prestação de serviços públicos. ABRUCIO (2001) indica
públicos, e requer maior nível de integração inter-
que a abordagem denominada Public Service Orienta-
na na execução de tarefas entre os vários departa-
tion surge como nova corrente com esta preocupacão,
mentos de um mesmo órgão, mas requer menor
vendo o usuário dos serviços públicos como cidadão,
grau de integração entre distintos órgãos;
portanto portador de direitos, não mais como cliente de
- atendimento integrado: utilização de recursos úni-
serviços providos sob lógica que tentava copiar a lógica de
cos para o atendimento ao cidadão, independen-
mercado. Segundo o autor, a Public Service Orientation re-
temente da natureza de sua demanda. Neste mo-
toma os temas do republicanismo e democracia a partir
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

delo, o foco está na redução do deslocamento e


da valorização de conceitos como accountability, transpa-
do gasto de tempo do cidadão. A inovação con-
rência, participação política, eqüidade e justiça, “questões
centra-se no modelo de contato do cidadão com
praticamente ausentes” no modelo gerencial puro. Tam-
a administração pública, que requer maior integra-
bém valoriza a participação em nível local e a descentra- ção entre órgãos distintos e a implantação de es-
lização, não somente como meio mais eficiente de prestar truturas comuns.
serviços, mas como meios mais eficazes para capacitar os
cidadãos para a participação nas decisões públicas (HAM- Evidentemente, esses dois tipos são tipos básicos, po-
BLETON, 1992, p. 11, citado por ABRUCIO, 2001, p. 190). dendo existir combinações entre eles (por exemplo, uma
Ainda segundo Abrucio, a visão do cidadão na Public Ser- central de atendimento integrado de um órgão específico,
vice Orientation tem uma conotação coletiva, pensando-se que integra o atendimento dos vários departamentos que
a cidadania como um conjunto de cidadãos portadores de o constituem).
direitos e deveres.
Na verdade, poder-se-ia afirmar que, quando o BENT et al. (1999) desenvolveram uma tipologia para
foco no cidadão é usado como argumento para a pri- o modelo de atendimento integrado (single window ser-
vatização, na verdade está sendo capturado pela força vice). Classificam as possibilidades de atendimento por
de racionalização do uso de recursos, empacotando a este modelo nas três categorias tratadas abaixo.

92
- Centrais de informação: equipamentos que promovem melhorias no atendimento ao cidadão através da cen-
tralização da oferta de informação e orientações para o acesso a serviços públicos, como guias de serviços na
Internet, centrais de atendimento telefônico e centrais de informação com atendimento presencial. A utilização
de recursos telefônicos e de Internet permite que as informações encontrem-se disponíveis inclusive fora dos
horário comercial ou para cidadãos com dificuldade de locomoção ou que se encontrem fora da localidade.
SOARES (2002), aponta a dependência que este tipo de instrumento tem em relação aos recursos tecnológicos.
- Centrais de atendimento único: facultam aos cidadãos o acesso a um conjunto abrangente de serviços através em
um único equipamento público. O atendimento centralizado, reunindo serviços de vários órgãos, vem significar
economia de tempo e deslocamento para os cidadãos.
- Centrais de atendimento específico: são centrais de atendimento destinadas a atender uma região ou tipo de público
específico, que por suas características (localização, vulnerabilidade social, concentração de demandas) necessitam
de procedimentos especiais. Estas centrais podem, inclusive, operar de maneira itinerante (SOARES e VAZ, 2000).
 
SOARES (2002) observa que a utilização de recursos da tecnologia de informação é imprescindível para este tipo de
atendimento. Da mesma forma, aponta a necessidade de reorganização das instituições envolvidas, o que significa que
devem atuar de forma articulada, propiciando uma rede de serviços integrada.
Entretanto, essa integração não é automática, nem simples de ser obtida. Na verdade, é preciso levar em conta
que, sob o rótulo de single window services ou one-stop service shops, ou seja, pontos únicos de atendimento ao cida-
dão-usuário, podem ser enquadrados serviços com muitas diferenças entre si. A diferença fundamental é o nível de
integração entre os órgãos envolvidos. Este pode se comportar de acordo com a seguinte escala:
- ausência de integração: não são utilizadas centrais de atendimento. Cada órgão organiza o atendimento em suas
instalações, de acordo com seus processos;
- compartilhamento de instalações e protocolo: como na categoria anterior, as organizações compartilham um es-
paço, nele reproduzindo uma lógica setorial. Entretanto, existe um protocolo mínimo de atendimento utilizado
por todas as organizações ou departamentos que compartilham o equipamento. Este protocolo pode envolver
disposição de instalações, organização do atendimento e fluxo de usuários, papelaria e identidade visual, padro-
nização de mobiliário, vestuário de atendentes e procedimentos de atendimento;
- interface única de atendimento: as organizações se relacionam compartilhando os recursos de contato com o
cidadão. Este recebe um atendimento único, preferencialmente por um único funcionário, ficando a cargo da
integração entre os órgãos o encaminhamento da resolução do problema do cidadão para o órgão competente,
utilizando cada um seus processos individuais; e
- integração de atendimento e processos: não somente a interface é única, como as organizações compartilham siste-
mas e bases de dados, a partir de processos integrados. Assim, não somente o cidadão tem economia de tempo
e deslocamento, como se produzem ganhos de eficiência na operação dos processos.

Quadro 1 - Níveis de integração em centrais de atendimento integrado

 CATEGORIA  CARACTERÍSTICAS DO ATENDIMENTO PRESENCIAL


Inexistência de integração. Organizado por cada órgão ou departamento em suas instalações.
Compartilhamento de Realizado em um equipamento comum, mas cada órgão ou departamento
instalações. organiza seu atendimento de acordo com seus próprios critérios.
Compartilhamento de
Realizado em um equipamento comum, sob responsabilidade de cada órgão,
instalações e protocolo de
mas seguindo normas comuns.
atendimento.
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Realizado em um equipamento comum, com uma interface única de


Interface única de
atendimento (guichê único), preservando-se os procedimentos internos
atendimento.
estruturados setorialmente.
Integração de atendimento
Realizado através de interface única, estruturado por processos integrados.
e processos.

O receituário da orientação ao cidadão no atendimento propõe, também, que esta não utilize apenas os recursos
da tecnologia da informação, a reorganização de processos e a reestruturação dos modelos de atendimento. O investi-
mento na produção e divulgação da informação sobre os serviços é vista como elemento indispensável para a garantia
da efetivação do foco no cidadão (OSBORNE e PLASTRICK, 1997; RUA, 1999), uma vez que garante uma resposta a
problemas clássicos no acesso aos serviços:
- desconhecimento do público sobre os serviços e procedimentos para obtê-los, porque as informações não exis-
tem ou são de difícil acesso;
- desconhecimento sobre as características dos serviços oferecidos e dos padrões de qualidade que podem ser
exigidos pelos cidadão; e
- linguagem cifrada e inacessível dos órgãos públicos.

93
O fornecimento de informações ao cidadão sobre os serviços públicos tem como instrumentos mais presentes na
literatura os guias de serviços públicos e as cartas de serviços (ENAP, 2001). Os primeiros são documentos que apresen-
tam em um só recurso (impresso ou publicado na Internet) as informações necessárias para que os cidadãos possam
ter acesso aos serviços (como endereços e telefones, critérios de elegibilidade, documentos a apresentar). As segundas
são documentos que apresentam não somente informações sobre o acesso de serviços, como estabelecem padrões
de qualidade exigíveis, como tempos de espera e atendimento, tempo de solução de problemas, níveis de soluções de
problemas e tipo de atendimento a ser oferecido.
Por fim, os autores que defendem a orientação ao cidadão recomendam, também, a utilização de recursos de as-
culta de opiniões e avaliação dos serviços pelos usuários, uma vez que a qualidade dos serviços é vista em função das
expectativas destes e de sua satisfação (PARASURAMAN, 1991; BLYTHE e MARSON, 1999; DINSDALE e MARSON, 2000).
 
A importância da tecnologia da informação na orientação ao cidadão 

Quer seja pela influência das várias produções do modelo gerencial, quer seja pelo impacto da Public Service Orien-
tation, ou, ainda, pela absorção de conteúdos de múltiplas fontes nesse campo, a introdução do “foco no cidadão”
como categoria central de organização das ações do Estado influenciou o pensamento em administração pública e a
prática de gestores públicos. SOARES (2002) identifica três grandes categorias de estratégias de intervenção no apare-
lho de Estado para a adequação das operações às necessidades e demandas do cidadão-usuário:
- reestruturação da “máquina pública”, no sentido de conferir maior agilidade e qualidade de atendimento;
- controle do desempenho pela implantação de padrões e indicadores de desempenho para monitoramento da
qualidade do serviço público;
- interação e comunicação com o cidadão, em termos de fornecimento de informações sobre os serviços públicos,
participação dos usuários em processos de avaliação dos serviços e criação de mecanismos de asculta.

Fica evidente que estas três estratégias demandam o emprego de recursos da tecnologia da informação, não se
podendo deixar de dar valor às novas possibilidades abertas pelo seu desenvolvimento (FRESNEDA, 1998) e, mais parti-
cularmente, pela Internet. Autores como HEEKS e DAVIES (1999) e JOIA (2002) identificam uma indissociabilidade entre
os processos de reforma do Estado e a intensificação do uso da tecnologia da informação pelos governos.
COELHO (2001, p. 127) vê na expansão dos recursos da tecnologia da informação a possibilidade de emergência
de um “novo paradigma” para a atuação dos governos na chamada “Era da Informação”. Vale registrar as perspectivas
apontadas pelo autor para o futuro dos governos, como “ideal a ser atingido”:
“os governos funcionam 24 horas por dia, divulgando informações e prestando serviços de maneira mais rápida, com
menores custos e melhor qualidade, promovendo um controle social mais eficiente, incrementando o compartilhamento
de informações e a integração de serviços e adotando o uso de transações eletrônicas de forma abrangente” (COELHO,
2001, p. 127).
Assim como apontado por SOARES (2002), a visão do autor recorre aos recursos da tecnologia da informação para
sua efetivação, especificamente à Internet e à integração de dados, sistemas e aplicações. A idéia de que a tecnologia
da informação oferece a capacidade de materizalizar altos níveis de integração de serviços e aplicações como seu prin-
cipal aporte ao foco no cidadão nos processos de prestação de atendimento aos cidadãos.
Observe-se que é possível empregar a mesma categorização dos níveis de integração dos serviços de atendimento ao
cidadão pode ser aplicada à utilização da Internet para o atendimento ao cidadão, conforme apresentado no quadro abaixo.
 
Quadro 2 - Níveis de integração em recursos de atendimento ao cidadão através da Internet

CATEGORIA  CARACTERÍSTICAS DO ATENDIMENTO PELA INTERNET


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Cada órgão ou departamento dispõe do próprio website, sem relação com os


Inexistência de integração.
demais.
Compartilhamento de Cada órgão ou departamento dispõe do próprio website, mas compartilham
instalações. uma página inicial comum.
Compartilhamento de
Cada órgão ou departamento dispõe do próprio website, mas compartilham
instalações e protocolo de
uma página inicial comum e alguns elementos visuais e links.
atendimento.
Os websites dos órgãos são componentes de um portal único, compartilhando
Interface única de atendimento. estrutura de navegacão, padrões visuais e uma interface única de atendimento
ao usuário com baixo nível de integração com as aplicações setoriais.
O portal governamental dispõe de uma interface única de atendimento ao
Integração de atendimento e
cidadão que permite alto nível de integração com os processos de trabalho e
processos.
sistemas de informação.
 

94
Em verdade, em que pese a disseminação do uso de portais ou websites de órgãos públicos, e resultados bem suce-
didos na prestação de serviços através da Internet, esse quadro ainda está distante de ser completamente atingido pela
administração pública brasileira. Como se constatou em pesquisas anteriores (VAZ, 2003), fatores extra-tecnológicos
têm uma grande responsabilidade sobre este relativo atraso. A evolução da tecnologia de portais, por sua vez, também
não superou a totalidade dos desafios colocados à materialização dessa visão.4

 
EXERCÍCIO COMENTADO

1. (CESPE/2019 – SLU/DF) A respeito de processos participativos e de gestão da qualidade na administração pública


brasileira, julgue o item seguinte.
O poder público é considerado um cliente dos serviços públicos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo”. Aqui temos a seguinte reflexão a fazer, quando falamos em cliente temos, tanto o cliente externo,
no caso da administração pública, o cidadão, como o cliente interno, no caso da administração pública, os próprios
órgãos, fundações, autarquias, enfim, entidades públicas que, podem sim, eventualmente, utilizar de serviços prestados
por outros órgãos públicos, como é o caso dos Correios por exemplo.
Considerando que os aspectos que zelam pelo interesse do cidadão-cliente, tem seus embasamentos no tocante à agi-
lidade, eficiência, velocidade, qualidade entre outros, naturalmente isso se aplica quando o próprio poder público se
encontra na posição de cliente.

TRANSPARÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONTROLE SOCIAL E CIDADANIA.


ACCOUNTABILITY. EXCELÊNCIA NOS SERVIÇOS PÚBLICOS. GESTÃO POR RESULTADOS NA
PRODUÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS.

Como bem definiu Houaiss, a Administração é o “conjunto de normas e funções cujo objetivo é disciplinar os elemen-
tos de produção e submeter a produtividade a um controle de qualidade, para a obtenção de um resultado eficaz, bem
como uma satisfação financeira”.
O papel profissional do administrador surgiu na gestão das companhias de navegação inglesa a partir do século
XVII, e envolve ações elaborar planos, pareceres, relatórios, desenvolvimento de projetos, fazer uso de indicadores,
medir resultados e desempenhos, sempre com a aplicação dos conhecimentos e técnicas que norteia a Administração.
Segundo Jonh W. Riegel,

“O êxito do desenvolvimento de executivos em uma empresa é resultado, em grande parte, da atuação e da capacida-
de dos seus gerentes no seu papel de educadores. Cada superior assume este papel quando ele procura orientar e facilitar
os esforços dos seus subordinados para se desenvolverem”

Administração – Objetivos, decisões e recursos são as palavras-chaves na definição do conceito de administra-


ção. Administração é o processo de tomar e colocar em prática decisões sobre objetivos e utilização de recursos.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

4 Fonte: www.josecarlosvaz.pbworks.com

95
Segundo CHIAVENATO, as variáveis que representa o desenvolvimento da TGA são: tarefas, estrutura, pessoas,
ambiente, tecnologia e competitividade.
Na ocorrência de novas situações as teorias administrativas se adaptam a fim de continuarem aplicáveis.

Dentre tantas definições já apresentadas sobre o conceito de administração, podemos destacar que:

“Administração é um conjunto de atividades dirigidas à utilização eficiente e eficaz dos recursos, no sentido de alcançar
um ou mais objetivos ou metas organizacionais.”
Reinaldo Oliveira da SILVA – 2001)

Como percebe-se, a Administração extrapola a ideia limitada de “gerir uma empresa”.


A administração representa uma habilidade capaz de, através da utilização adequada e inteligente dos diversos
recursos existentes na organização, alcançar os objetivos definidos via planejamento, organização, direção e controle.

“O ato de administrar é trabalhar com e por intermédio de outras pessoas na busca de realizar objetivos da organi-
zação bem como de seus membros.”
Montana e Charnov

  A Administração compreende um conjunto de características que envolvem atividades interligadas, busca por
resultados, uso de recursos disponíveis, processos administrativos e, para isso necessário se faz o uso de mais de uma
habilidade, conforme vemos abaixo:
• Habilidades Técnicas: aquelas que fazem uso de conhecimento especializado e procedimentos específicos e pode
ser obtida através de instrução.
• Habilidades Humanas: trata-se de aspectos pessoais observados no CHA, envolvem também aptidão, pois inte-
rage com as pessoas e suas atitudes, exige compreensão para liderar com eficiência.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

• Habilidades Conceituais: englobam um conhecimento geral das organizações, o gestor precisa conhecer cada
setor, como ele trabalha e para que ele existe.

1.ABORDAGENS DA ADMINISTRAÇÃO -

1.1. Abordagens clássica, burocrática e sistêmica da administração.

O pensamento administrativo caracteriza um ponto de vista em relação à organização e sua gestão.


Quando temos vários pontos de vista sobre isso temos então o conceito de Teorias Administrativas, que são agru-
padas por correntes ou escolas, sendo que essas, conforme definição de Maximiano (2006), trata-se da mesma linha de
pensamento ou conjunto de autores que utilizam o mesmo enfoque.

PORTANTO:
Diferentes pensamentos administrativos = teorias administrativas = mesma linha de pensamento ou conjunto de
autores com mesmo enfoque.

96
1.2. As teorias administrativas Henri Fayol, enfatizou a estrutura organizacional e de-
fendia que: [...] a eficiência da empresa é muito mais do
As principais teorias ou abordagens sobre adminis- que a soma da eficiência dos seus trabalhadores, e que
tração estão classificadas de acordo com as variáveis pri- ela deve ser alcançada por meio da racionalidade, isto é,
vilegiadas, sendo essas, na ordem, “ênfase em tarefas”, da adequação dos meios (órgãos e cargos) aos fins que
“ênfase em estruturas”, “ênfase nas pessoas”, “ênfase no se deseja alcançar. (CHIAVENATO, 2000, p. 11).
ambiente”, “ênfase na tecnologia”, sendo que, cada uma Fayol traz em sua teoria funcionalista a abordagem
delas tem seu pano de fundo com seus contextos histó- prescritiva e normativa, uma vez que a ciência adminis-
ricos, enfatizando os problemas frequentes e destacáveis trativa, como toda ciência, deve basear-se em leis ou
à época de sua fundamentação, além de, ao focar um princípios globalmente aplicáveis. Sua maior contribui-
aspecto, omitia ou relegava os demais a um plano se- ção para a administração geral são as funções adminis-
cundário. trativas – prever, organizar, comandar, coordenar e con-
Dentre as razões que contribuíram para o surgimento trolar – que são as próprias funções do administrador
das teorias da administração podemos destacar: ainda nos dias atuais.
- Consolidação do capitalismo (lógica de mercado) Nesse modelo, a função administrativa difunde-se
e de novos modos de produção e organização de proporcionalmente a todos os níveis hierárquicos, dei-
trabalho, que levou ao processo de modernização xando portanto de ser algo inerente à alta gerência.
da sociedade (substituição da autoridade tradicio-
nal pela autoridade racional-legal); 1. Administração Científica - Pressupostos de Fre-
- Crescimento acelerado da produção e força de tra- derick Taylor
balho desqualificada;
- Ausência de sistematização de conhecimentos em • Organização Formal.
gestão. • Visão de baixo para cima; das partes para o todo.
• Estudo das Tarefas, Métodos, Tempo padrão.
Vejamos alguns aspectos de cada uma delas, inician- • Salário, incentivos materiais e prêmios de produção.
do pela TEORIA CLÁSSICA, considerada a base de todas • Sistema fechado: foco nos processos internos e
as teorias posteriores.
operacionais.
• Padrão de Produção: eficiência, racionalidade.
A primeira Escola foi a Clássica, responsável pela ên-
• Divisão equitativa de trabalho e responsabilidade
fase nas tarefas por Frederick Taylor e Henry Ford e fonte
entre direção e operário.
de embasamento de todas as outras teorias posteriores.
• Ser humano egoísta, racional e material: homo eco-
As mudanças ocorridas no início do Séc. XX, em de-
nomicus;
corrência da Revolução Industrial, exigiram métodos que
• Estudo de Tempos e Movimentos e Métodos;
aumentassem a produtividade fabril e economizassem
mão-de-obra evitando desperdícios, ou seja, “a impro- • Desenho de Cargos e Tarefas;
visação deve ceder lugar ao planejamento e o empiris- • Seleção Científica do Trabalhador (eliminação de to-
mo à ciência: a Ciência da Administração.” (CHIAVENATO, dos que não adotem os métodos);
2004, p. 43). • Preocupação com Fadiga e com as condições de
trabalho;
A abordagem clássica da administração se divide em: • Padronização de instrumentos de trabalho;
Administração Científica – defendida por Frederick • Divisão do Trabalho e Especialização;
Taylor • Supervisão funcional: autoridade relativa e dividida
Teoria Clássica – defendida por Henry Fayol a depender da especialização e da divisão de tra-
balho.
Os dois autores acima citados partiram de pontos dis-
tintos com a preocupação de aumentar a eficiência na 2. Princípios da Administração Científica
empresa.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Taylor se preocupava basicamente com a execução • Desenvolvimento de uma ciência de Trabalho:


das tarefas enquanto Fayol se preocupava com a estrutu- uma investigação científica poderá dizer qual a ca-
ra da organização. pacidade total de um dia de trabalho, para que os
chefes saibam a capacidade de seus operários;
Frederick Taylor buscou o aumento produtivo to- • Seleção e Desenvolvimento Científicos do Empre-
mando como base a eficiência dos trabalhadores. Atra- gado: para atingir o nível de remuneração prevista
vés da observação do comportamento dos trabalhadores o operário precisa preencher requisitos;
e dos modos de produção, identificou falhas no processo • Combinação da Ciência do trabalho com a Se-
produtivo responsáveis pela baixa produtividade, des- leção do Pessoal: os operários estão dispostos a
pertando-o para a necessidade de criação de um méto- fazer um bom trabalho, mas os velhos hábitos da
do racional padrão de produção. À esse modelo deu-se administração resistem à inovação de métodos;
o nome de Administração Cientifica, “devido à tentati- • Cooperação entre Administração e Empregados:
va de aplicação dos métodos da ciência aos trabalhos uma constante e íntima cooperação possibilitará
operacionais a fim de aumentar a eficiência industrial. Os a observação e medida sistemática do trabalho e
principais métodos científicos são a observação e men- permitirá fixar níveis de produção e incentivos fi-
suração.” (CHIAVENATO, 2004, p. 41). nanceiros

97
2.1. Princípios de Taylor 3. Abordagem burocrática

• Princípio da separação entre o planejamento e a Defendida por Max Weber, que é considerado o “pai
execução; da burocracia”, também tem como base a estrutura or-
• Princípio do preparo; ganizacional.
• Princípio do controle;
• Princípio da exceção. Weber distingue três tipos de sociedade e autorida-
des legítimas:
Teoria Clássica – Pressupostos de Henry Fayol • Tradicional: patrimonial, patriarcal, hereditário e de-
• Anatomia – estrutura. legável.
• Fisiologia – funcionamento. • Carismática: personalística, mística.
• Visão de cima para baixo; do todo para as partes. • Legal, racional ou burocrática: impessoal, formal,
• Funções da Empresa: Técnica, Comercial, Financeira, meritocrática.
Segurança, Contábil, Administrativa (coordena as
demais). Outro ponto destacado por Weber é a distinção entre
• Abordagem Prescritiva e Normativa. Autoridade e Poder.
• Autoridade: probabilidade de que um comando ou or-
Funções da Administração Clássica - processo or- dem específica seja obedecido – poder oficializado.
ganizacional • Poder: potencial de exercer influência sobre outros,
• Prever: adiantar-se ao futuro e traçar plano de ação; imposição de arbítrio de uma pessoa sobre outras.
• Organizar: constituir o organismo material e social
da empresa; A Burocracia surge na década de 40 em razão da fra-
• Comandar: dirigir o pessoal; gilidade da teoria clássica e relações humanas, buscando
• Coordenar: ligar, unir e harmonizar os esforços; organizar de forma estável, duradoura e especializada a
• Controlar: tudo corra de acordo com as regras. cooperação de indivíduos, apresentando uma aborda-
gem descritiva e explicativa, mantendo foco interno e
2.2. Princípios Gerais da Administração Clássica estudando a organização como um todo.

• Divisão do Trabalho: especializar funções; Principais características:


• Autoridade e Responsabilidade: direito de mandar e • Caráter legal das normas;
poder de se fazer obedecer; • Caráter formal das comunicações;
• Disciplina: estabelecer convenções, formais e infor- • Divisão do trabalho e racionalidade;
mais com seus agentes, para trazer obediência e • Impessoalidade do relacionamento;
respeito; • Hierarquização da autoridade;
• Unidade de comando: recebimento de ordens de • Rotinas e procedimentos padronizados;
apenas um superior – princípio escalar; • Competência técnica e mérito;
• Unidade de direção: um só chefe e um só progra- • Especialização da administração – separação do pú-
ma para um conjunto de operações que tenham o blico e privado;
mesmo objetivo; • Profissionalização: especialista, assalariado; segue
• Subordinação do particular ao geral: O interesse da carreira.
empresa deve prevalecer ao interesse individual;
• Remuneração do pessoal: premiar e recompensar; Vantagens Principais:
• Centralização: concentrar autoridade no topo; • Racionalidade
• Cadeia escalar ou linha de comando: linha de autori- • Precisão na definição do cargo
dade que vai do topo ao mais baixo escalão; • Rapidez nas decisões
• Ordem: um lugar para cada coisa e cada coisa em • Univocidade de interpretação
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

seu lugar; • Continuidade da organização:


• Equidade: tratar de forma benevolente e justa; • Redução do atrito entre pessoas
• Estabilidade: manter as pessoas em suas funções • Constância
para que possam desempenhar bem; • Confiabilidade
• Iniciativa: liberdade de propor, conceber e executar; • Benefícios para as pessoas
• Espírito de equipe: harmonia e união entre as pes- • O nepotismo é evitado, dificulta a corrupção.
soas.
A maior vantagem é a democracia: em razão da im-
Comparativo entre Administração Científica e Es- pessoalidade e das regras legais, que permitem igualda-
cola Clássica de de acesso.

Enquanto a administração científica preocupava-se Desvantagens


na melhoria da produtividade no nível operacional a ges- • Internalização das normas;
tão administrativa preocupava-se com a organização em • Excesso de formalismo e papelório;
geral e a busca da efetividade. • Resistência a mudanças;
• Despersonalização do relacionamento;

98
• Categorização do relacionamento; onde vemos o modelo burocrático e na segunda metade
• Superconformidade às rotinas e procedimentos; da década de 90, deu início a implementação do modelo
• Exibição de sinais de autoridade; gerencial.
• Dificuldades com clientes.
Podemos dividir essa estruturação em sete etapas,
4. Abordagem sistêmica quais sejam:

Defendida por Ludwig Von Bertalanffy, a Teoria de 1) 1930 a 1945 – Burocratização da Era Vargas:
Sistemas defende que os sistemas existem dentro de sis- Nessa primeira etapa, em decorrência do Estado
temas; apresenta a Teoria da forma ou Gestalt; os Siste- patrimonial, da falta de qualificação técnica dos
mas abertos; tem um objetivo ou propósito; e as partes servidores, da crise econômica mundial e da di-
são interdependentes, provocando globalismo. fusão da teoria keynesiana, que pregava a inter-
venção do Estado na Economia, o governo auto-
Características: ritário de Vargas resolve modernizar a máquina
• Sistema é um conjunto ou combinação de partes, administrativa brasileira através dos paradigmas
formando um todo complexo ou unitário; burocráticos difundidos por Max Weber. O auge
• Organização como sistema vivo: orgânico dessas mudanças ocorre em 1936 com a criação
• Comportamento não determinístico e probabilístico; do Departamento Administrativo do Serviço Públi-
• Interdependência entre as partes; co (DASP), que tinha como atribuição modernizar
• Entropia: característico dos sistemas fechados e or- a máquina administrativa utilizando como instru-
gânicos, estabelece que todas as formas de orga- mentos a afirmação dos princípios do mérito, a
nização tendem à desordem ou à morte; centralização, a separação entre público e privado,
• Negentropia ou Entropia negativa: os sistemas so- a hierarquia, a impessoalidade, a rigidez e univer-
ciais se reabastecem de energia, assegurando su- salidade das regras e a especialização e qualifica-
primento contínuo de materiais e pessoas; ção dos servidores.
• Homeostase dinâmica ou Estado Firme: regula o sis-
tema interno para manter uma condição estável, 2) 1956 a 1960 – A administração paralela de JK:
mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico A administração paralela foi um artifício utilizado
de ruptura e inovação; pelo governo JK para atingir o seu Plano de Me-
• Fronteiras ou limites: define a área da ação do siste- tas e seguir seu projeto desenvolvimentista. Surgiu
ma e o grau de abertura em relação ao meio am- com a criação de estruturas alheias à Administra-
biente; ção Direta.
• Diferenciação: os sistemas tendem a criar funções
especializadas – Integração (coordenação); 3) 1967 – A reforma militar: Durante a ditadura
• Equifinalidade: um sistema pode alcançar o mesmo militar, a administração pública passa por novas
estado final a partir de diferentes condições ini- transformações, tais como: A ampliação da fun-
ciais; ção econômica do Estado com a criação de várias
• Resiliência: determina o grau de defesa ou vulnera- empresas estatais, a facilidade de implantação de
bilidade do sistema a pressões ambientais exter- políticas – em decorrência da natureza autoritária
nas. do regime, e o aprofundamento da divisão da ad-
ministração pública, mais especificamente através
• Holismo: o sistema só pode ser explicado em sua
do Decreto-Lei 200/67, que distinguiu claramente
globalidade;
a Administração Direta (exercida por órgãos dire-
• Sinergia: o todo é maior que a soma das partes;
tamente subordinados aos ministérios) da indireta
• Morfogênese: capacidade das organizações de mo-
(formada por autarquias, fundações, empresas pú-
dificar a si mesmo e a estrutura;
blicas e sociedades de economia mista). Essa refor-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

• Fluxos: componentes que entram e saem do sistema


ma trouxe modernização, padronização e norma-
(informação, energia, material);
tização nas áreas de pessoal, compras e execução
• Feedback: é a retroalimentação, como controle do
orçamentária, estabelecendo ainda, cinco princí-
sistema, no qual os resultados retornam ao indiví- pios estruturais da administração pública: planeja-
duo, para que os procedimentos sejam analisados mento, coordenação, descentralização, delegação
e corrigidos; de competências e controle.
• Homem Funcional: desempenha um papel específi-
co nas organizações, inter-relacionando-se com os 4) 1988 – A administração pública na nova Cons-
demais indivíduos. tituição: A nova Constituição da República Fede-
rativa do Brasil voltou a fortalecer a Administração
4.1. Evolução da administração e reformas admi- Direta instituindo regras iguais as que deveriam ser
nistrativas seguidas pela administração pública indireta, prin-
cipalmente em relação à obrigatoriedade de con-
A estruturação da Máquina Administrativa passou por cursos públicos para investidura na carreira e aos
sete períodos, vindo de um modelo patrimonial perce- procedimentos de compras públicas.
bida até década de 30, na sequencia veio a Era Vargas,

99
5) 1990 – O governo Collor e o desmonte da má- 5.1. Administração Pública Burocrática
quina pública : Essa etapa da administração públi-
ca brasileira é marcada pelo retrocesso da máquina Surge como forma de combater a corrupção e o ne-
administrativa, o governo promoveu a extinção de potismo patrimonialista.
milhares de cargos de confiança, a reestruturação Como princípios de sua proposta temos a profissiona-
e a extinção de vários órgãos, a demissão de outras lização, a ideia de carreira, a hierarquia funcional, a impes-
dezenas de milhares de servidores sem estabilida- soalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional legal.
de e tantos outros foram colocados em disponi- A forma de controle é sempre a priori, ou seja, con-
bilidade. Segundo estimativas, foram retirados do trole dos procedimentos, das rotinas que devem nortear
serviço público, num curto período e sem qualquer a realização das tarefas, porem, como a historia anterior
planejamento, cerca de 100 mil servidores. gerava desconfiança prévia nos administradores públicos
e nos cidadãos que a eles dirigem suas diversas deman-
6) 1995/2002 – O gerencialismo da Era FHC: A re- das sociais, esses controles rígidos de processos como,
forma administrativa foi o ícone do governo Fer- por exemplo, na admissão de pessoal, nas compras e no
nando Henrique Cardoso em relação à adminis- atendimento aos cidadãos, passa a ser o foco principal,
tração pública brasileira. A reforma gerencial teve descaracterizando a missão básica do modelo, que é ser-
como instrumento básico o Plano Diretor da Re- vir à sociedade.
forma do Aparelho do Estado (PDRAE), que visava A principal qualidade da administração pública bu-
à reestruturação do aparelho do Estado para com- rocrática é o controle dos abusos contra o patrimônio
bater, principalmente, a cultura burocrática. público; o principal defeito, a ineficiência, a incapacida-
de de voltar-se para o serviço aos cidadãos vistos como
7) Nova Administração Pública: O movimento “re- “clientes”.
inventando o governo” difundido nos EUA e a re- Vale aqui destacar alguns comentários adicionais
forma administrativa de 95, introduziram no Brasil sobre o termo “Burocracia”, trazidos por Max Weber,
a cultura do management, trazendo técnicas do que na década de 20, publicou estudos sobre o que ele
setor privado para o setor público e tendo como chamou o tipo ideal de burocracia, ou seja, um esque-
características básicas: ma que procura sintetizar os pontos comuns à maioria
das organizações formais modernas, que ele contrastou
● O foco no cliente com as sociedades primitivas e feudais. As organizações
● A reengenharia burocráticas seriam máquinas totalmente impessoais,
● Governo empreendedor que funcionam de acordo com regras que ele chamou
● Administração da qualidade total de racionais – regras que dependem de lógica e não de
interesses pessoais.
Assim, partindo-se de uma perspectiva histórica, ve- Weber estudou e procurou descrever o alicerce for-
rifica-se que a administração pública evoluiu através de mal-legal em que as organizações reais se assentam. Sua
três modelos básicos, que representam três reformas ad- atenção estava dirigida para o processo de autoridade
ministrativas que se destacam, quais sejam, a administra- obediência (ou processo de dominação) que, no caso das
ção pública patrimonialista, a burocrática e a gerencial. organizações modernas, depende de leis. No modelo de
Essas três formas se sucedem no tempo, sem que, no Weber, as expressões “organização formal” e “organiza-
entanto, qualquer uma delas seja inteiramente abando- ção burocrática” são sinônimas.
nada. “Dominação” ou autoridade, segundo Weber, é a
probabilidade de haver obediência dentro de um grupo
5. Administração Pública Patrimonialista determinado. Há três tipos puros de autoridade ou do-
minação legítima (aquela que conta com o acordo dos
Na sociedade anterior ao capitalismo, o Estado apa- dominados):
recia como um ente “privatizado”, no sentido de que não Dominação de caráter carismático
havia uma distinção clara, por parte dos governantes, Repousa na crença da santidade ou heroísmo de
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

entre o patrimônio público e o seu próprio patrimônio uma pessoa. A obediência é devida ao líder pela
privado, não definia-se limites entre a res publica e a res confiança pessoal em sua revelação, heroísmo ou
principis, ou seja, a “coisa pública” se confundia com o exemplaridade, dentro do círculo em que se acre-
patrimônio particular dos governantes, pois não havia dita em seu carisma.
uma fronteira muito bem definida entre ambas. A atitude dos seguidores em relação ao dominador
A corrupção e o nepotismo eram extremamente ca- carismático é marcada pela devoção. Exemplos são
racterísticos nesse tipo de administração, tendo como líderes religiosos, sociais ou políticos, condutores
foco atender o interesse particular dos soberanos e de de multidões de adeptos. O carisma está associado
seus auxiliares, ao invés de priorizar as necessidades co- a um tipo de influência que depende de qualida-
letivas. des pessoais.
Quando surge o capitalismo e a democracia, o cená-
rio acima perde espaço, passando a existir uma distinção Dominação de caráter tradicional
entre Estado e particular, não havendo mais espaço para Deriva da crença quotidiana na santidade das tradi-
a administração patrimonialista, ou seja, não cabe mais ções que vigoram desde tempos distantes e na
uma administração que privilegiava uns poucos em de- legitimidade daqueles que são indicados por essa
trimento de muitos. tradição para exercer a autoridade.

100
A obediência é devida à pessoa do “senhor”, indica- • Profissionalismo: os cargos de uma burocracia ofe-
do pela tradição. A obediência dentro da família, recem a seus ocupantes uma carreira profissional e
dos feudos e das tribos é do tipo tradicional. Nos meios de vida. A participação nas burocracias tem
sistemas em que vigora a dominação tradicional, caráter ocupacional.
as pessoas têm autoridade não por causa de suas Apesar das vantagens inerentes nessa forma de orga-
qualidades intrínsecas, como acontece no caso ca- nização, as burocracias podem muitas vezes apre-
rismático, mas por causa das instituições tradicio- sentar também uma série de disfunções, conforme
nais que representam. É o caso dos sacerdotes e a seguir:
das lideranças, no âmbito das instituições, como os • Particularismo – Defender dentro da organização
partidos políticos e as corporações militares. interesses de grupos internos, por motivos de con-
vicção, amizade ou interesse material.
Dominação de caráter racional • Satisfação de Interesses Pessoais – Defender inte-
Decorre da legalidade de normas instituídas racio- resses pessoais dentro da organização.
nalmente e dos direitos de mando das pessoas a • Excesso de Regras – Multiplicidade de regras e exi-
quem essas normas responsabilizam pelo exercício gências para a obtenção de determinado serviço.
da autoridade. A autoridade, portanto, é a contra- • Hierarquia e individualismo – A hierarquia divi-
partida da responsabilidade. de responsabilidades e atravanca o processo de-
No caso da autoridade legal, a obediência é devida às
cisório. Realça vaidades e estimula disputas pelo
normas impessoais e objetivas, legalmente instituí-
poder.
das, e às pessoas por elas designadas, que agem
• Mecanicismo – Burocracias são sistemas de cargos
dentro de uma jurisdição. A autoridade racional
limitados, que colocam pessoas em situações alie-
fundamenta-se em leis que estabelecem direitos
e deveres para os integrantes de uma sociedade nantes.
ou organização. Por isso, a autoridade que Weber
chamou de racional é sinônimo de autoridade for- Portanto, as burocracias apresentam dois grandes
mal. “problemas” ou dificuldades: em primeiro lugar, certas
disfunções, que as descaracterizam e as desviam de seus
Uma sociedade, organização ou grupo que depen- objetivos; em segundo lugar, ainda que as burocracias
de de leis racionais tem estrutura do tipo legal-racio- não apresentassem distorções, sua estrutura rígida é
nal ou burocrática. É uma burocracia. adequada a certo tipo de ambiente externo, no qual não
A autoridade legal-racional ou autoridade burocrá- há grandes mudanças. A estrutura burocrática é, por na-
tica substituiu as fórmulas tradicionais e carismáticas tureza, conservadora, avessa a inovações; o principal é a
nas quais se baseavam as antigas sociedades. A admi- estabilidade da organização.
nistração burocrática é a forma mais racional de exercer Mas, como vimos, as mudanças no ambiente exter-
a dominação. A burocracia, ou organização burocrática, no determinam a necessidade de mudanças internas, e
possibilita o exercício da autoridade e a obtenção da nesse ponto o paradigma burocrático torna-se superado.
obediência com precisão, continuidade, disciplina, rigor
e confiança. 6. Administração Pública gerencial
Portanto, todas as organizações formais são buro-
cracias. A palavra burocracia identifica precisamente as Surge na segunda metade do século XX, como res-
organizações que se baseiam em regulamentos. A so- posta à expansão das funções econômicas e sociais do
ciedade organizacional é, também, uma sociedade bu- Estado e ao desenvolvimento tecnológico e à globaliza-
rocratizada. A burocracia é um estágio na evolução das ção da economia mundial, uma vez que ambos deixaram
organizações. à mostra os problemas associados à adoção do modelo
De acordo com Weber, as organizações formais mo- anterior.
dernas baseiam-se em leis, que as pessoas aceitam por
Torna-se essencial a necessidade de reduzir custos
acreditarem que são racionais, isto é, definidas em fun-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

e aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão


ção do interesse das próprias pessoas e não para satisfa-
como beneficiário, resultando numa maior eficiência da
zer aos caprichos arbitrários de um dirigente.
administração pública. A reforma do aparelho do Estado
O tipo ideal de burocracia, formulado por Weber,
apresenta três características principais que diferenciam passa a ser orientada predominantemente pelos valores
estas organizações formais dos demais grupos sociais: da eficiência e qualidade na prestação de serviços públi-
• Formalidade: significa que as organizações são cos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas
constituídas com base em normas e regulamentos organizações.
explícitos, chamadas leis, que estipulam os direitos A administração pública gerencial constitui um avan-
e deveres dos participantes. ço, e até certo ponto um rompimento com a adminis-
• Impessoalidade: as relações entre as pessoas que tração pública burocrática. Isso não significa, entretanto,
integram as organizações burocráticas são gover- que negue todos os seus princípios. Pelo contrário, a ad-
nadas pelos cargos que elas ocupam e pelos di- ministração pública gerencial está apoiada na anterior,
reitos e deveres investidos nesses cargos. Assim, o da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos seus
que conta é o cargo e não a pessoa. A formalidade princípios fundamentais, como:
e a impessoalidade, combinadas, fazem a burocra- • A admissão segundo rígidos critérios de mérito
cia permanecer, a despeito das pessoas. (concurso público);

101
• A existência de um sistema estruturado e universal Contrapõe-se à ideologia do formalismo e do rigor téc-
de remuneração (planos de carreira); nico da burocracia tradicional. À avaliação sistemática, à
• A avaliação constante de desempenho (dos funcio- recompensa pelo desempenho, e à capacitação perma-
nários e de suas equipes de trabalho); nente, que já eram características da boa administração
• O treinamento e a capacitação contínua do corpo burocrática, acrescentam-se os princípios da orientação
funcional. para o cidadão-cliente, do controle por resultados, e da
competição administrada.
A diferença fundamental está na forma de controle,
que deixa de basear-se nos processos para concentrar-se 7. A nova gestão pública.
nos resultados. A rigorosa profissionalização da adminis-
tração pública continua sendo um princípio fundamental. Nas últimas décadas, a administração pública brasilei-
ra passou por grandes transformações, sobretudo como
Na administração pública gerencial a estratégia vol- parte do trânsito para a democracia. Desenvolveram-se
ta-se para: novas práticas e expectativas de modernização, mas mui-
1. A definição precisa dos objetivos que o administra- tas de suas características tradicionais não foram remo-
dor público deverá atingir sua unidade; vidas.
2. A garantia de autonomia do administrador na ges- A Revista de Administração Pública (RAP) surgiu numa
tão dos recursos humanos, materiais e financeiros época em que a administração pública possuía forte
que lhe forem colocados à disposição para que presença na sociedade, não só por causa das funções
possa atingir os objetivos contratados; de controle não-democrático, mas também porque se
3. O controle ou cobrança posterior dos resultados. procurava o desenvolvimento com base em projetos
públicos de grande escala. Pensava-se que a própria ex-
Adicionalmente, pratica-se a competição administra- pansão do Estado fosse suficiente para garantir mais e
da no interior do próprio Estado, quando há a possibili- melhores serviços, bem como maior acesso comunitário
dade de estabelecer concorrência entre unidades inter- e equidade nas decisões distributivas. Nesse sentido, nos
nas. primeiros 20 anos da RAP, a administração pública teve
No plano da estrutura organizacional, a descentrali- crescimento considerável.
zação e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se es- No entanto, a experiência histórica revelou que sim-
senciais. Em suma, afirma-se que a administração pública plesmente expandir as atividades do Estado e as funções
deve ser permeável à maior participação dos agentes serviu menos ao propósito de alcançar maior equidade
privados e/ou das organizações da sociedade civil e des- e eficácia na administração pública do que ao desenvol-
locar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resul- vimento de formas de inserção de novos grupos prefe-
tados (fins). renciais.
A administração pública gerencial inspira-se na ad- Nessa época descrevia-se a administração pública
ministração de empresas, mas não pode ser confundida brasileira pelos seus aspectos mais patrimonialistas e
com esta última. Enquanto a administração de empresas paternalistas. Viam-se as suas relações com a sociedade
está voltada para o lucro privado, para a maximização como extremamente frágeis. Na verdade, a administra-
dos interesses dos acionistas, esperando-se que, através ção pública desenvolveu-se como um dos grandes ins-
do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a admi- trumentos para a manutenção do poder tradicional, e
nistração pública gerencial está explícita e diretamente carregava fortes características desse poder. A forma de
voltada para o interesse público. organização e gestão obedecia menos a critérios técni-
Neste último ponto, como em muitos outros (pro- cos racionais e democráticos para a prestação de servi-
fissionalismo, impessoalidade), a administração pública ços e mais a sistemas de loteamento político, para man-
gerencial não se diferencia da administração pública bu- ter coalizões de poder e atender a grupos preferenciais.
rocrática. Na burocracia pública clássica existe uma no- Em grande parte, a expansão do Estado se fez sem
ção muito clara e forte do interesse público. A diferença, alterar substancialmente suas relações com a sociedade.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

porém, está no entendimento do significado do interesse Por ter ainda alicerces frágeis na sociedade, o Estado bra-
público, que não pode ser confundido com o interesse sileiro, como organização, consiste ainda em uma supe-
do próprio Estado. Para a administração pública burocrá- restrutura que flutua sobre os cidadãos.
tica, o interesse público é frequentemente identificado  
com a afirmação do poder do Estado. A formalidade institucional possui limites para ex-
A administração pública gerencial vê o cidadão como plicar a evolução da administração pública brasileira. Fa-
contribuinte de impostos e como uma espécie de “clien- tores de informalidade prevalecem e determinam muito
te” dos seus serviços. Os resultados da ação do Estado do que se decide e se executa na administração brasilei-
são considerados bons não porque os processos admi- ra, compreendendo seus três níveis de governo: federal,
nistrativos estão sob controle estão seguros, como quer estadual e municipal. Por estarem inseridos na cultura
a administração pública burocrática, mas porque as ne- sociopolítica do país, esses fatores não são facilmente
cessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas. removíveis ou contornados por meio de reformas admi-
O paradigma gerencial contemporâneo, fundamenta- nistrativas de lógica racional burocrática.
do nos princípios da confiança e da descentralização da Fatores de informalidade continuam a chamar a aten-
decisão, exige formas flexíveis de gestão, de estruturas, ção dos estudiosos e analistas da gestão pública, além
descentralização de funções, incentivos à criatividade. de ser retratados cotidianamente na mídia como práticas

102
comuns de gestão. São exemplos marcantes o persona- do é uma concessão pessoal do líder, e não um direito
lismo paternalista e a presença de grupos preferenciais individual ou um valor de cidadania. O resultado final é o
que se organizam por fora das instituições, mas que pro- reforço do poder e da liderança tradicionais.
curam manter fortes relações com o Estado. Esses fatores Vale ressaltar que esses grupos que se inserem e do-
distanciam os cidadãos da gestão pública, desenvolven- minam setores da administração pública não são peque-
do a síndrome nós-eles. nos grupos de aproveitadores ou perturbadores margi-
No entanto, o personalismo elitista concorre para en- nais da ordem administrativa; são grupos organizados
fraquecer substancialmente as instituições. Estas existem e institucionalizados dentro do sistema político. Trans-
em função das pessoas que as dirigem, e a mudança da formam o Estado num campo minado de lutas políticas,
pessoa no topo muda profundamente políticas e com- mas mantidas nos limites das estruturas formais para não
promissos institucionais. ferir a estabilidade e legitimidade do sistema. Por esse
Na administração pública, dirigentes, normalmen- motivo, as discórdias são bem toleradas e, de preferên-
te prepostos de líderes políticos, tendem a inserir suas cia, confinadas à arena política predeterminada, que é o
opções pessoais como fator diferenciador. Desprezam, Estado.
assim, não só o racionalmente instituído como também Visto segundo uma lógica da gestão moderna, o sis-
opções e conquistas de seus antecessores. A desconti- tema administrativo pode parecer altamente irracional,
nuidade é justificada como necessária à inovação. Na mas para os grupos preferenciais que dele se servem
verdade, resulta mais em garantir acesso a novos grupos representa um sistema lógico e altamente racional. Ba-
de poder e ressaltar a liderança de uma pessoa e menos seia-se em valores e práticas tradicionais: assenta grande
em modernizar a gestão. Compromissos formais institu- parte do poder político no distanciamento autoritário, no
cionalmente estabelecidos necessitam ser renegociados paternalismo e no exercício da bondade.
a cada novo dirigente. Na verdade, não há contratos com E esses grupos não criam rupturas nas dimensões for-
instituições, mas com pessoas. O personalismo fragiliza mais da administração pública. Procuram seguir os pas-
as instituições públicas, deixando-as altamente vulnerá- sos formais, mas repletos de acomodação, concessões
veis e dependentes da pessoa de um único dirigente. e opções de natureza paternalista. Por terem lealdade
A administração pública era em grande parte do- quase nula à instituição pública, circulam facilmente en-
tre as repartições, procurando obter melhores benefícios,
minada por grupos preferenciais que visavam garantir
indiferentes aos danos que causam, tanto ao interesse
seus interesses e a proteção mútua de seus membros.
quanto ao orçamento público.
Apesar da modernização, muitos desses grupos ainda se
Os cidadãos passam a ser receptores passivos da
aglutinam no aparato estatal em busca de recursos para
bondade. Ao receber benefícios, veem seus líderes e di-
garantir sua sobrevivência. Inserem-se em órgãos admi-
rigentes como os mais bondosos e por isso merecedores
nistrativos por meios formais — ocupação de cargos de
de reconhecimento e apoio político.
direção —, mas também informalmente, por meio de re-
des de apoio e de interação ligadas por laços de lealda- 8. A era pós-Constituição: a redemocratização e as
de. Procuram o acesso a recursos públicos para reforçar novas conquistas constitucionais
a lealdade política de base e preservar a liderança sobre
determinados setores da comunidade. Esses recursos são Com a redemocratização, a inspiração neoliberal e as
utilizados para satisfazer não somente interesses políti- referências das inovações oriundas de países mais avan-
cos de poder como também interesses sociais e parti- çados, os movimentos de reforma procuravam centrar-se
culares. Tais grupos dominam máquinas partidárias para nas especificidades das diversas organizações públicas, à
evitar que alternativas de política pública, contrárias aos semelhança das mudanças na área privada. A perspectiva
seus interesses, sejam consideradas no processo decisó- básica era a eficiência e capacidade de resposta da admi-
rio governamental. Controlam estruturas burocráticas de nistração pública e melhora da gerência pública. Passou-
governo para garantir, durante longos períodos, o uso -se a questionar o tradicionalismo da administração pú-
preferencial de grandes fatias do orçamento público. blica, mas incorporando os fundamentos democráticos
O uso de recursos públicos é o mecanismo básico de implantados na nova Constituição, como a subordinação
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preservação do poder: são utilizados menos para atender da administração pública a mandatos políticos conquis-
a demandas e necessidades reais da comunidade e mais tados em eleições democráticas.
para a troca de favores e os interesses particulares do Em períodos não-democráticos, as tentativas de apa-
grupo. Como a lealdade aos membros do grupo é maior rência tecnocrática ofuscaram muitos dos problemas de
do que à instituição pública, tais grupos são capazes de embates políticos, não porque deixassem de existir, mas
manter a coalizão a qualquer custo, inclusive às expensas porque havia sempre um lado repressor.
do aumento dos gastos governamentais. Com as novas inspirações ideológicas, começou-se a
Normalmente, esses grupos preferem dominar as delinear a ideia de que os governos não poderiam so-
áreas sociais por serem mais diretamente ligadas às zinhos conduzir ao progresso. O desenvolvimento pas-
maiores demandas da população. Setores sociais são pri- sou a ser visto como algo complexo e gigantesco, e as
vilegiados para o exercício do assistencialismo paterna- máquinas administrativas tradicionais não como fator de
lista; propiciam ao líder do grupo o exercício da “bonda- modernização, mas obstáculos ao progresso. Surgiram
de” por meio da concessão de benefícios e favores com movimentos significativos, em muitos países e apoiados
o dinheiro público. Assim, os líderes políticos e dirigentes por entidades internacionais, para proclamar a descrença
públicos podem favorecer segmentos da população sob nas possibilidades da administração pública de conduzir
sua influência, fazendo-os crer que o benefício concedi- o desenvolvimento.

103
Reduzir o tamanho do Estado e modernizar a admi- Essa ideologia veio contaminada e reforçada pelos
nistração pública tornaram-se pontos importantes de valores dos países mais avançados, onde o individua-
uma nova agenda política. Ao contrário das experiências lismo fundamentado na igualdade das oportunidades
anteriores, essa modernização se inspirou fortemente constitui uma prática social comum. Por isso esses mo-
nos modelos de gestão privada, considerados superiores delos centram-se mais no indivíduo (clientes e funcioná-
e mais eficazes. rios) e menos no contexto. A ideologia liberal centrada
Assim, as principais mudanças seriam transferir fun- no indivíduo valoriza a iniciativa, o espírito empreende-
ções estatais para a área privada e as restantes seriam dor e o desempenho e realização individuais. As pessoas
administradas com formas o mais próximo possível das se singularizam perante os outros pelo seu desempenho
praticadas nas empresas privadas. e merecem ser tratadas diferentemente pelas desigual-
Tendo a representação democrática como premissa, dades conquistadas. Assim, métodos de avaliação de
tentou-se valorizar as técnicas administrativas e a com- desempenho individual e organizacional passaram a ser
petência neutra dos servidores, presumindo sempre a propostos com maior vigor.
sua ação por delegação política e não por autonomia
própria. A administração eficiente seria consequência Tais ideias de reforma não progrediram com a ênfase
natural de instrumentos gerenciais, como estruturas e desejada porque esbarraram em fatores históricos tradi-
códigos de procedimentos adequados e boas regras or- cionais ainda prevalecentes e que não se coadunam com
çamentárias e gestão de pessoal. Pela falta de eficiência, práticas neoliberais.
culpavam-se a inadequação das estruturas e dos proce- Ainda prevalece e se reforça a visão de ser a admi-
dimentos e a inabilidade dos próprios servidores. Ajustes nistração pública responsável por reduzir a desigualda-
administrativos seriam feitos de acordo com novos pro- de social tanto por medidas desenvolvimentistas quanto
pósitos políticos, adquiridos em eleições, ou com novas por programas sociais compensatórios.
tecnologias administrativas. As reformas preservavam as Na prática neoliberal de países mais avançados, a
estruturas organizacionais, favoreciam a rigidez dos có- gestão pública deve agir no sentido de manter a igualda-
digos administrativos, e algumas propostas mais auda- de perante a lei e de garantir oportunidades iguais, salvo
ciosas propunham maior descentralização e autonomia nos casos em que as chances não são claramente iguais.
Programas sociais se justificam mais facilmente pela de-
organizacional. Entretanto, não se questionava funda-
sigualdade de oportunidades do que pela compensação
mentalmente a administração pública, senão sua inefi-
de diferenças de desempenho.
ciência ou iniquidade.
 
Em grande parte, essas reformas colocavam em cau-
A permanência de fortes relações com grupos prefe-
sa a própria viabilidade da administração pública como
renciais faz a administração brasileira ser retratada ainda
condutora de eficiência ou de eficácia na gestão de servi-
como de grande base patrimonialista. As relações patri-
ços e na ação redistributiva. Os novos modelos procuram
moniais contradizem não somente as possibilidades de
transformar e introduzir na gestão pública o estilo priva- uma administração modernizada no sentido mais amplo
do. Além de ampliarem a importação de técnicas típicas do interesse público como também as práticas liberais
da área privada, propõem sempre com grande ênfase tão proclamadas como a opção política dos últimos anos.
eliminação, privatização e terceirização de serviços. Como a administração pública e a cultura tradicional
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, as são ainda bastante interligadas, apesar dos progressos
ideias sobre reformar a administração, com premissas na modernização institucional, os relatos cotidianos na
de radicalismo e promessas de eficiência imediata, são mídia ainda demonstram forte ligação da coisa pública
sempre atraentes, dadas as dificuldades que os cidadãos com interesses privados de grupos preferenciais.
enfrentam em tratar de seus interesses em qualquer or- O mundo das relações informais é fundamentalmente
ganização pública. Ao entrar em contato com uma repar- baseado no aspecto político tradicional, mas se ampliou
tição pública, a maioria dos cidadãos experimenta uma pelo reforço de aspectos psicológicos culturais, como a
história de relativo descaso e má qualidade no atendi- maior descrença dos cidadãos na representação política
mento, sobretudo na área social. Para essas pessoas, a e, em decorrência, nos órgãos da administração pública.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

ineficiência no serviço é um sintoma de iniquidade social, Com a crença reduzida nas instituições e na formalidade
já que os mais afortunados normalmente dispõem de burocrática, buscam-se o informal e novas instituições
outros meios. da sociedade, como associações de usuários, cidadãos
Ao imitar a gestão privada, as propostas contemporâ- e ONGs, para proteger interesses e direitos. Essas orga-
neas assumem a singularidade do cliente e suas deman- nizações e associações comunitárias diversas procuram
das como fundamentais na gestão pública. Por presu- contornar as instituições públicas existentes tentando
mirem a validade universal do management e, portanto, assumir tarefas antes vistas como exclusivas do Estado e
sua aplicabilidade igualmente às organizações públicas e mesmo influenciar a gestão de órgãos públicos e a repre-
privadas, veem a reforma como uma simples questão de sentatividade política.
modernização gerencial. Antes de planejar suas ações ou Favorecidas pela consciência popular sobre a inefi-
oferta de serviços, as organizações públicas devem co- cácia da administração pública em relação à equidade
nhecer as demandas de sua clientela. A organização pú- política, econômica e social, essas novas associações e
blica existe para servir o indivíduo: deve centralizar suas organizações agregam um espírito de proteção de inte-
ações na demanda do cliente e na sua escolha. Como no resses da maioria para contrapor-se à crença de que as
mercado, cliente é categoria primordial, e deve ser consi- instituições formais defendem e protegem interesses de
derado em todas as instâncias. uns poucos.

104
Na verdade, essas novas instâncias também agem no formas de obter benefícios. Destrói-se grande parte dos
sentido de penetrar nas organizações públicas para de- sistemas locais de acesso ao poder burocrático repondo-
fender interesses de suas clientelas, por serem esses in- -os com novas lideranças. Pode-se arguir ser apenas uma
teresses julgados legítimos, mas desprezados pelas elites troca de liderança, apenas a mudança de uma pessoa no
administrativas. Praticam também a informalidade nas poder, mantendo-se porém o mesmo caráter paterna-
relações pessoais para atingir seus objetivos. Mesmo se lista. De fato, parte das condições e formas tradicionais
aceitando uma contraposição legítima de fazer prevale- de distribuição, troca e lealdade se mantém. No entan-
cerem direitos não-reconhecidos, a prática da informali- to, vale notar a troca de liderança feita fora dos grupos
dade excessiva, inclusive nesses casos, concorre para en- tradicionais de poder. Há novas dimensões de lealdade
fraquecer as instituições democráticas de representação fora do caciquismo tradicional. Há mais dificuldades de
política e de ação administrativa. acesso e domínio dos cargos públicos locais e mais plu-
Assim, a administração pública brasileira ainda car- ralidade nas pelejas políticas.
rega tradições seculares de características semifeudais Ademais, a nova lealdade aos provedores da ação
e age como um instrumento de manutenção do poder distributiva se transfere para líderes maiores não presen-
tradicional. Apesar do progresso em muitas instâncias de tes na localidade e, portanto, não mais facilmente destru-
governo, as formas de ação obedecem menos a razões tíveis por novos ou antigos caciques locais. Somente no-
técnico-racionais e mais a critérios de loteamento políti- vos líderes nacionais ou regionais, de igual credibilidade,
co, para manter coalizões de poder e para atender a ob- poderiam, em princípio, repor essas lideranças.
jetivos de grupos preferenciais. A modernização efetiva do Estado somente pode-
No Brasil contemporâneo, a democratização e os no- rá advir de formas que alterem o sistema de poder e o
vos processos eleitorais e os dispositivos constitucionais aglomerado político que o constitui; em outras palavras,
ajudam a levantar ou reacender expectativas sobre mais
reformas que redistribuam os recursos de poder e alte-
e melhores serviços, o que, aos poucos, provoca rupturas
rem os canais de comunicação entre o público e sua ad-
nas estruturas políticas tradicionais e o surgimento de
ministração.
novas formas de gestão.
Em países em desenvolvimento, com experiências si-
No entanto, a crescente descrença nos mecanismos
milares à brasileira, tem se verificado que as forças polí-
políticos tradicionais de representação e nas instituições
ticas emergentes não chegam ao poder por retração vo-
especializadas, como os partidos políticos, para apresen-
luntária dos grupos preferenciais. Novos espaços, regras
tar novas alternativas de ação pública tem dificultado
e estruturas políticas que repartam e unam novos recur-
esse progresso. Pode ser mais lenta a reversão da idéia
de que os governos agem, prioritariamente, para benefi- sos de poder são necessários para garantir a representa-
ciar grupos preferenciais e ajudar a manter a coalizão de ção de novos grupos sociais.
poder. Mas já é notável o reconhecimento da quebra de Essa modernização da administração publica nos leva
algumas barreiras burocráticas tanto para a obtenção de à analise da nova gestão pública, que passa pela reforma
serviços rotineiros quanto para o recebimento de aten- do Estado, que se tornou tema central nos anos 90 em
ção social, como saúde e educação. todo o mundo, é uma resposta ao processo de globaliza-
Ultimamente parece se ter reforçado a ilusão tradi- ção em curso, que reduziu a autonomia dos Estados de
cional de que uma nova qualidade da decisão ou uma formular e implementar políticas e principalmente à crise
nova legitimidade da política pública seriam suficientes do Estado, que começa a se delinear em quase todo o
para produzir maior eficiência na administração pública. mundo nos anos 70, mas que só assume plena definição
Dessa forma, não seria necessário pensar em grandes re- nos anos 80. No Brasil, a reforma do Estado começou
formas administrativas porque a nova direção faria natu- nesse momento, em meio a uma grande crise econômi-
ralmente a máquina administrativa responder com maior ca, que chega ao auge em 1990 com um episódio hipe-
produtividade e qualidade. Presume-se, assim, que difi- rinflacionário. A partir de então ela se torna imperiosa. O
culdades administrativas anteriores são simples produto ajuste fiscal, a privatização e a abertura comercial, que
de falta de legitimidade e de apoio político mais amplo. vinham sendo ensaiados nos anos anteriores são então
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Resolvidas essas questões por vitórias eleitorais, o resto atacados de frente (MARE, 1997).
seria decorrência natural. No entanto, a reforma administrativa, só se efetivou
Portanto, muitos novos dirigentes chegam às posi- como tema central no Brasil em 1995, após a eleição e a
ções de direção político-administrativas para se frustrar posse de Fernando Henrique Cardoso. Nesse ano ficou
rapidamente com a máquina burocrática: redescobrem claro para a sociedade brasileira que essa reforma tor-
que formas tradicionais de agir e de se comportar, culti- nara-se condição, de um lado, da consolidação do ajuste
vadas secularmente, não mudam por simples reposição fiscal do Estado brasileiro e, de outro, da existência no
da liderança administrativa. país de um serviço público moderno, profissional e efi-
Não resta dúvida de que houve no país uma amplia- ciente, voltado para o atendimento das necessidades dos
ção da legitimação política: novos programas sociais cidadãos.
rompem laços de grupos preferenciais tradicionais que Outra consideração foi na área da desregulamenta-
dominavam paternalisticamente a redistribuição de be- ção, quando a proposta era a de reduzir as regras e in-
nefícios. Novos canais de distribuição de recursos sociais tervenção do Estado aos aspectos onde ela é absoluta-
retiram de grupos locais tradicionais o seu poder de pro- mente necessária. Na reforma administrativa, toda uma
vedor único ou canal privilegiado de acesso ao poder. série de medidas contribuíram para diminuir o chamado
Reconhecem-se nas comunidades novas lideranças e “entulho burocrático” - disposições normativas excessi-

105
vamente detalhadas, que só contribuem para o engessa- zida no princípio da unidade de comando, os Dois Ob-
mento da máquina e muitas vezes à sua intransparência jetivos e os Setores do Estado na estrutura piramidal do
(BERETTA, 2007). poder, nas rotinas rígidas, no controle passo a passo dos
A maior contribuição da reforma administrativa está processos administrativos.
voltada à governança, entendida como o aumento da ca- Também surge a burocracia estatal formada por ad-
pacidade de governo, através da adoção dos princípios ministradores profissionais especialmente recrutados e
da administração gerencial: treinados, que respondem de forma neutra aos políticos
Orientação da ação do Estado para o cidadão-usuário (MARE, 1997 – CADERNO 3).
de seus serviços; ênfase no controle de resultados atra- Como a administração pública burocrática vinha
vés dos contratos de gestão; fortalecimento e autonomia combater o patrimonialismo e foi implantada no século
da burocracia no core das atividades típicas de Estado, XIX, no momento em que a democracia dava seus pri-
em seu papel político e técnico de participar, junto com meiros passos, era natural que desconfiasse de tudo e
os políticos e a sociedade, da formulação e gestão de po- de todos - dos políticos, dos funcionários, dos cidadãos
líticas públicas; separação entre as secretarias formula- (MARE, 1997).
doras de políticas e as unidades executoras dessas políti- Segundo o MARE (1997), a administração pública ge-
cas, e contratualização da relação entre elas, baseada no rencial parte do pressuposto de que já se chegou a um
desempenho de resultados; adoção cumulativa de três nível cultural e político em que o patrimonialismo está
formas de controle sobre as unidades executoras de po- condenado e a democracia é um regime político conso-
líticas públicas: controle social direto (através da transpa- lidado.
rência das informações, e da participação em conselhos); Segundo Beretta (2007), são grandes os impactos
controle hierárquico gerencial sobre resultados (através pretendidos com a administração gerencial, no grau de
do contrato de gestão); controle pela competição admi- accountability (entendida como responsabilidade ou
nistrada, via formação de quase-mercados (BRESSER PE- intuito de prestar contas a sociedade) das instituições
REIRA, 1997, p. 42). públicas, e aqui se abrem a ligações entre governança e
Dessa forma, a reforma administrativa distingue-se governabilidade democrática.
das propostas de total ‘insulamento burocrático’, apro- Na concepção da atual reforma administrativa, a go-
ximando-se mais do conceito de ‘autonomia inserida’ de vernabilidade depende de várias dimensões políticas,
Peter Evans (1995, apud BERETTA, 2007). dentre elas a qualidade das instituições políticas quanto
à intermediação de interesses; a existência de mecanis-
9. Da Administração Burocrática à Gerencial mos de responsabilização (accountability) dos políticos e
burocratas perante a sociedade, a qualidade do contra-
A administração burocrática clássica, baseada nos to social básico. Essas dimensões remetem lato sensu à
princípios de administração do exército prussiano, foi reforma política, essencial à reforma do Estado no Brasil
implantada nos principais países europeus no final do sé- (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 36).
culo passado e no Brasil, em 1936, com a reforma admi- A reforma gerencial da administração pública, ao
nistrativa promovida por Maurício Nabuco e Luís Simões modificar de maneira essencial as formas de controle no
Lopes. É a burocracia que Max Weber descreveu, basea- interior do aparato estatal, ao se referir sobre a alta buro-
da no princípio do mérito profissional (MARE, 1997).
cracia e sobre as instituições públicas, dando ao mesmo
No texto do MARE (1997), ainda se considera que,
tempo maior transparência às decisões administrativas,
embora tenham sido valorizados instrumentos impor-
mostrando-as à sociedade, e não apenas da própria bu-
tantes à época, tais como o instituto do concurso público
rocracia, pode contribuir para o aumento da responsabi-
e do treinamento sistemático, não se chegou a adotar
lização dos administradores públicos. Para isto, a infor-
consistentemente uma política de recursos humanos que
mação é insumo fundamental. E não há, aí, contraposição
respondesse às necessidades do Estado. O patrimonialis-
entre aumento de eficiência e aumento de responsabili-
mo, contra o qual a administração pública burocrática se
instalara, embora em processo de transformação, manti- dade (BERETTA, 2007).
nha ainda sua própria força no quadro político brasileiro. Em síntese, a administração pública gerencial está
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

A expressão local do patrimonialismo - o coronelismo - baseada em uma concepção de Estado e de sociedade


dava lugar ao clientelismo e ao fisiologismo e continuava democrática e plural, enquanto que a administração pú-
a permear a administração do Estado brasileiro. blica burocrática tem um vezo centralizador e autoritário.
A administração pública burocrática foi adotada para O fato é que a reforma administrativa em curso não
substituir a administração patrimonialista, que caracteri- é suficiente para superar as responsabilidades existentes
zou as monarquias absolutas, na qual o patrimônio pú- no país. Não pode, nem pretende de imediato, alterar
blico e o privado eram confundidos. significativamente a composição do gasto público, ou a
O nepotismo e o empreguismo, senão a corrupção lógica orçamentária.
era a norma. Tornou-se assim necessário desenvolver um Mas pode contribuir pelo menos quanto a um dos
tipo de administração que partisse não apenas da cla- lados perversos das políticas sociais: o mau uso dos re-
ra distinção entre o público e o privado, mas também cursos disponíveis. Pode também favorecer a construção
da separação entre o político e o administrador público da governabilidade democrática, via maior transparência
(MARE, 1997). e responsabilidade do aparelho de Estado.
Surge assim a administração burocrática moderna,
racional-legal; a organização burocrática capitalista, ba-
seada na centralização das decisões, na hierarquia tradu-

106
10. Conceitos de gestão pública ce de todas as demandas sociais, conforme conceituam.
Neste sentido, Garde (2001, apud Marques, 2003, p. 221),
Muito se fala sobre gestão pública, mas poucas pes- conceitua que:
soas conhecem o significado da expressão, e este assun- A nova Gestão Pública trata de renovar e inovar o fun-
to é de muita importância ao administrador público, pois cionamento da Administração, incorporando técnicas do
delimita, com absoluta clareza, o campo de sua atuação, setor privado, adaptadas às suas características próprias,
indicando-lhe o caminho certo no trato da coisa pública. assim como desenvolver novas iniciativas para o logro da
Para Santos, (2006) “gestão pública refere-se às fun- eficiência econômica e a eficácia social, subjaz nela a filo-
ções de gerência pública dos negócios do governo”. sofia de que a administração pública oferece oportunida-
des singulares, para melhorar as condições econômicas e
Assim, de acordo com Silva (2007) pode-se classificar, sociais dos povos.
de maneira resumida, o agir do administrador público Essa nova gestão se baseia na informação, cuja es-
em três níveis distintos: sência assume o caráter do conteúdo da ação de ter que
a) atos de governo, que se situam na órbita política; ser transmitida, depois de analisada e armazenada, bem
b) atos de administração, atividade neutra, vinculada como ser liberada, para que possa servir para as futuras
à lei; tomadas de decisões, para novo controle e para a subse-
c) atos de gestão, que compreendem os seguintes quente avaliação.
parâmetros básicos: Assim, resume-se que a gestão pública moderna tem
I- tradução da missão; como fundamento um conteúdo ético, moral e legal por
II- realização de planejamento e controle; parte daqueles que dela participam, tendo como objeti-
III- administração de R. H., materiais, tecnológicos e vo a crença no resultado positivo da política pública a ser
financeiros; implementada e na credibilidade na administração públi-
IV- inserção de cada unidade organizacional no foco ca exercida pelos mesmos. É igualmente um componente
da organização; e dela a existência de um conteúdo pleno de elementos
V- tomada de decisão diante de conflitos internos e tecnológicos que facilitem a utilização destes para ad-
externos. ministrar com potencial de eficácia e eficiência que se
espera da Administração dos bens públicos.
Portanto, fica clara a importância da gestão pública
na realização do interesse público porque é ela que vai A Nova Gestão Pública…
possibilitar o controle da eficiência do Estado na realiza-
ção do bem comum estabelecido politicamente e dentro FERLIE et al. (1999)
das normas administrativas.
• A partir de uma revisão bibliográfica sobre a reforma
Infelizmente, a grande maioria dos agentes políticos
administrativa em diferentes países nas décadas de
desconhece totalmente esta importante ferramenta que
80 e 90, os autores evidenciam a existência de 4
está à sua disposição, resultando em gastos públicos ina-
(quatro) modelos da NPM que foram introduzidos
dequados ou equivocados, ineficiências na prestação de
no setor público.
serviços públicos e, sobretudo, no prejuízo financeiro e
• Utilizando-se do construto do tipo ideal weberiano,
moral da sociedade.
esses autores descrevem esses modelos, denomi-
Portanto, o gestor público não precisa temer a ges-
nados de Impulso para a Eficiência, Downsizing e
tão pública, por receio de perda de poder político, mas
ao contrário, deve conhecê-la e utilizá-la como forma in- Descentralização, Em Busca da Excelência e Orien-
teligente de aumento de seu prestígio político porque tação para o Serviço Público.
somente através dela será possível dirigir política e admi-
nistrativamente uma pessoa ou organização estatal com Modelo de Impulso para a Eficiência
objetividade, racionalidade e eficiência (SILVA, 2007). Baseado na Economia Política do Tatcherismo (public
A gestão pública, portanto, considerando o princípio choice)
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econômico da escassez, em que as demandas sociais são • Exacerbação dos controles financeiros
ilimitadas e os recursos financeiros para satisfazê-las são • Parametrização dos serviços públicos
escassos, deve priorizar a administração adequada, eficaz • Foco na capacidade de resposta
e eficiente de tudo aquilo que for gerado no seio social, • Incremento de produtividade
sempre tendo em vista o interesse do coletivo.
Somados ao conceito de gestão pública, é relevante Modelo Downsizing e Descentralização
entender o que vem a ser o moderno dentro dessa aná- Associado a crise do paradigma das mega organiza-
lise, portanto, usam-se as concepções de alguns auto- ções públicas
res como Bueno e Oliveira (2002), que conceituam ser a • Processos de Privatização
modernização da administração carregada de objetivos • Redução de Hierarquia
a serem cumpridos, como: combater o patrimonialismo • Busca de formas flexíveis na prestação do serviço
e o clientelismo vigentes durante tantos anos; melhorar público
a qualidade da sua prestação de serviços à sociedade; • Gerenciamento em redes e parcerias (gestão de
aprimorar o controle social; fazer mais ao menor custo contratos)
possível, aumentando substancialmente a sua eficiência,
pois não há recursos infinitos disponíveis para o alcan-

107
Em Busca da Excelência
Rejeita o economicismo e adota a vertente gerencialista
• Cultura Organizacional (visão, liderança, comunicação)
• Gestão de Mudança
• Busca da Qualidade (TQM)
• Cidadão = Cliente (OSBORNE, GABLER, 1992).

Orientação para o Serviço Público


Propõe a criação de valor público (gerencialismo + democracia)
• Foco no usuário-cidadão (e não no cliente)
• Incorporação substantiva da participação política
• Transparência administrativa
• Desconcentração do poder e aprendizagem social
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As Narrativas Político-Administrativas da Atualidade

Estado ativo Planejamento Estratégico e Provedor de Serviços Diversos

Estado eficiente e eficaz Administração pública como “negócio“, foco na melhoria


da prestação de serviços públicos, discurso anti burocra-
cia, orientação para o desempenho e o usuário, transfe-
rência de ações (Estado Rede)
Estado ativador e efetivo Criação de valor público, geração de capital social, engaja-
mento cívico capital social, engajamento cívico, coordena-
ção de atores público e privados, inclusão social, compar-
tilhamento de reponsabilidades

108
11. Pressupostos da Nova Gestão Pública

A prestação de serviços públicos e a provisão de políticas públicas deve orientar-se, complementarmente, pela
eficiência, eficácia e a efetividade.

Ex.: Vertente Gerencial

- Respeitando os Ditames Legais


- Articulando os interesses políticos
- Focando a Obtenção de Resultados
Aperfeiçoando a Gestão Pública

Ex.: Vertente Gerencial

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

109
Fonte: Coelho & Olenscki, 2005.

A (Re)configuração da Gestão Pública no Brasil (pós-90)


• Abertura comercial (Globalização)
• Organismos Internacionais
• (Re)definição do Quadro Fiscal
• Avanço da Redemocratização
• Controle Social (e Político) do Executivo
• Reforma do Estado
• Constituição de 1988

Num contexto de edificação de uma Nova Gestão Pública (teoria, práxis)


• Dimensão econômico-financeira
• Dimensão administrativa-institucional
• Dimensão sociopolítica

Gestão Pública (Gerencial) no Brasil - Experiência de reforma do Estado do MARE (1995) - Diagnóstico Ins-
titucional
• Centralização
• Controles Formais (legalidade)
• Falta de indicadores
• Ausência de informações
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

• Ausência de Controle Social

Objetivos da Reforma
• Aumentar a governança do Estado
• Limitar as funções do Estado
• Transferir da União para estados e municípios as ações de caráter local
• Reverter a crise de eficiência e confiabilidade
• Voltar a AP para o cidadão
• Fazer melhor e custar menos

Desafios imediatos do setor público brasileiro


_ o combate à corrupção
_ a superação do formalismo
_ a diminuição do clientelismo
_ o pacto federativo
_ a redução de desigualdades

110
_ aumento da eficiência sistêmica e da eficácia dos produção, vendas, logística e mudanças na parte contábil
serviços públicos e da efetividade das políticas e financeira as teorias assim como a prática precisaram
públicas (importância da gestão) adaptar-se a uma nova realidade administrativa.

12. Processo administrativo Das funções da administração de Henri Fayol (pre-


cursor dessa teoria), podemos encontrar as seguintes
Como vimos acima, a Administração é o ato de ad- que são demonstradas como PO3C: A primeira delas é:
ministrar ou gerenciar negócios,  pessoas ou recursos, Planejar, isso significa que você terá que criar pla-
com o objetivo de alcançar metas definidas. nos para o futuro de sua organização. Nesse momento
A gestão de uma empresa ou organização se faz de começamos a programar o que estava no planejamento
forma que as atividades sejam administradas com plane- com o objetivo, claro, de colocar em prática o que está
jamento, organização, direção, e controle. no papel, e é durante esse passo da programação que
Segundo alguns autores (Montana e Charnov) o ato vemos a estrutura organizacional, a situação da empresa
de administrar é trabalhar com e por intermédio de ou- e das pessoas que compõe ela.
tras pessoas na busca de realizar objetivos da organiza- A segunda função da administração é Organizar.
ção bem como de seus membros. Afinal, qual o sentido de ser uma pessoa organizada? é
O processo administrativo apresenta-se como uma aquela que sabe onde, fisicamente, se encontra o que
sucessão de atos, juridicamente ordenados, destinados é necessário no momento certo, que transforma o am-
todos à obtenção de um resultado final. O procedimento biente/local de trabalho dela em um ambiente de fácil
é, pois, composto de um conjunto de atos, interligados e entendimento para qualquer um encontrar o que preci-
progressivamente ordenados em vista da produção des- sa? Também, mas no sentido que Fayol define é que as
se resultado. empresas são feitas de pessoas e estrutura física, essa
O devido processo legal simboliza a obediência às função administrativa utiliza da parte material e social da
normas processuais estipuladas em lei; é uma garantia empresa.
constitucional concedida a todos os administrados, as- A terceira função é Comandar. Essa função serve para
segurando um julgamento justo e igualitário, assegu- orientar a organização, dirigir também. Se a empresa está
rando a expedição de atos administrativos devidamente rumo a um caminho e encontra obstáculos, caberá ao
motivados bem como a aplicação de sanções em que se administrador dirigir, se for preciso, ou orientar a orga-
tenha oferecido a dialeticidade necessária para carac- nização para traçar o objetivo, às vezes é preciso intervir
terização da justiça. Decisões proferidas pelos tribunais e tomar as rédeas da organização e orientá-la e dirigi-la.
já tem demonstrado essa posição no sistema brasileiro, A quarta função é Coordenar. Sem dúvidas, essa é
qual seja, de defesa das garantias constitucionais proces- uma função primordial para motivar as pessoas que es-
suais no sentido de conceder ao cidadão a efetividade tão em um ambiente de trabalho, tanto para aprender
de seus direitos. cada vez mais quanto ao que tem relação em se esfor-
Seria insuficiente se a Constituição garantisse aos çarem com o objetivo de cumprirem metas e, de forma
cidadãos inúmeros direitos se não garantisse a eficácia coletiva, alcançar objetivos traçados pelo administrador
destes. Nesse desiderato, o princípio do devido processo da empresa.
legal ou, também, princípio do processo justo, garante a E por último, a quinta função administrativa é Con-
regularidade do processo, a forma pela qual o processo trolar. Uma organização sem normas e regras, certamen-
deverá tramitar, a forma pela qual deverão ser praticados te, terá menos desempenho que uma. Segundo Fayol,
os atos processuais e administrativos. essas cinco funções administrativas conduzem a uma
Cabe ressaltar que o princípio do devido processo le- administração eficaz das atividades da organização. Mas,
gal resguarda as partes de atos arbitrários das autorida- com o passar do tempo, as funções Comando e Coorde-
des jurisdicionais e executivas. nação formaram uma só função, a de Direção. Então as
O processo é composto de fases e atos processuais funções de POCCC passaram para PODC (Planejar, Orga-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

rigorosamente seguidos, viabilizando as partes a efetivi- nizar, Dirigir e Controlar).


dade do processo, não somente em seu aspecto jurídico- Em síntese, dentro do modelo atual temos:
-procedimental, mas também em seu escopo social, ético
e econômico, assegurando o cumprimento dos princí-
pios constitucionais processuais, somente aí, ter-se-á a
efetivação de um Estado Democrático de Direito.
Toda atuação do Estado há de ser exercida em prol do
público, mediante processo justo, e mediante a seguran-
ça dos trâmites legais do processo.

13. Funções da administração: planejamento,


organização, direção e controle

A administração assim como suas funções sofreram


constantes mudanças, muito visíveis no último século.
Com a chegada de novas tecnologias, novas formas de

111
Fonte e texto adaptado de: www.al.sp.gov.br/www.escoladegoverno.pr.gov.br/Fernando Coelho/ Carlos Alberto
Bonezzi/Luci Léia De Oliveira Pedraça/ Paulo Roberto Motta/Carlos Ramos
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

EXCELÊNCIA E GESTÃO POR QUALIDADE

Um dos fatores que mais provoca perda de produtividade nos serviços públicos é o excesso de burocracia, que,
além de não impedir corrupções e fraudes, tem inibido o desempenho das empresas, motivado a sonegação fiscal e
incentivado a informalidade.
Um dos maiores entraves para a melhoria dos serviços públicos no Brasil era a maneira secundária com que a ad-
ministração pública encarava a necessidade da formação de quadros e de uma profissionalização muito mais intensa
enquanto o Brasil não fizesse a reforma administrativa para modernizar a administração pública.
Com base nos princípios constitucionais que regem a administração pública (legalidade, impessoalidade, publicida-
de, moralidade e eficiência), é dever do servidor prezar pela prestação de serviços de qualidade para a excelência poder
ser atingida por meio de avaliação de desempenho e produtividade. Esse modelo foi implantado pelo governo de São
Paulo e pode ser usado como ferramenta na busca da excelência do serviço público.
Agregar valor na gestão pública significa investir em projetos que aumentem a produtividade oferecendo à popula-
ção um dos mais valiosos bens da atualidade - a praticidade. Os ganhos em produtividade passam por uma revisão de
cada detalhe dos processos operacionais, objetivando a redução de etapas, inovação em cada uma delas, minimizando
tempo e, melhor ainda, a eliminação de normas de procedimento.

112
Os prestadores de serviços devem ter consciência que vento da Revolução Industrial, provocando uma mudan-
usam a mais valiosa das matérias-primas – o tempo –, a ça radical no conceito de produção, principalmente no
única que não tem reposição. A excelência dos serviços fabrico maciço de grandes quantidades por meio do uso
públicos, especialmente em educação e saúde, é a me- da máquina, substituindo o artesanato, e o uso do tra-
lhor das estratégias para reduzir a desigualdade social. balho especializado na linha de montagem. O importan-
A chave da eficácia também pode ser encontrada na te era que cada pessoa pudesse produzir o máximo de
redução das atividades-meios e na eliminação das for- unidades dentro de um padrão aceitável, objetivo que
malidades que não agregam valores às atividades-fim. O somente poderia ser atingido automatizando a atividade
maior desafio da classe política e dos gestores públicos é humana ao repetir a mesma tarefa várias vezes. Essa divi-
transformar uma instituição mecânica em orgânica. Ges- são do trabalho foi iniciada ao nível dos operários com a
tão transparente, interativa e que coloque o cidadão em Administração Científica no começo deste século.
primeiro lugar é um modelo exemplar. Os profissionais
de Recursos Humanos, dos órgãos públicos, têm a gra- Especialização
tificante missão de dinamizar os programas de capacita-
ção funcional, focando a excelência organizacional. A especialização do trabalho proposta pela Adminis-
Enquanto as organizações privadas são custeadas pela tração Científica constitui uma maneira de aumentar a
comercialização de produtos e serviços, as organizações eficiência e de diminuir os custos de produção. Simpli-
públicas são criadas por lei e custeadas pelos impostos ficando as tarefas, atribuindo a cada posto de trabalho
e taxas pagas pelos cidadãos, aí se incluem todos os ór- tarefas simples e repetitivas que requeiram pouca expe-
gãos e suas diversas unidades organizacionais, em todos riência do executor e escassos conhecimentos prévios,
os poderes e níveis de governo. Espera-se que elas sejam reduzem-se os períodos de aprendizagem, facilitando
bem administradas e possam cumprir as suas finalidades, substituições de uns indivíduos por outros, permitindo
pois representam os interesses da coletividade e exercem melhorias de métodos de incentivos no trabalho e, con-
ações decorrentes das funções do Estado. Num mundo sequentemente, aumentando o rendimento de produ-
globalizado, ampliam-se as exigências de uma administra- ção.
ção de qualidade e refinada, no sentido do uso de técnicas
e metodologias que contribuam para a implantação do HIERARQUIA
desenvolvimento social baseado em resultados efetivos.
A busca da excelência organizacional deve nortear a Uma das consequências do princípio da divisão do
administração pública, por meio do desempenho apri- trabalho é a diversificação funcional dentro da organi-
morado das funções administrativas. Pensar no apri- zação. Porém, uma pluralidade de funções desarticula-
moramento dessas funções é pensar no conjunto das das entre si não forma uma organização eficiente. Como
organizações do Setor Público e de forma sistêmica. Re- decorrência das funções especializadas, surge inevitavel-
conhecer que ações de aprimoramento devem envolver mente a de comando, para dirigir e controlar todas as
todos os níveis organizacionais, todas as unidades ad- atividades para que sejam cumpridas harmoniosamente.
ministrativas de modo a obter um comprometimento Portanto, a organização precisa, além de uma estrutura
estratégico. de funções, de uma estrutura hierárquica, cuja missão é
Sob o ponto de vista formal, uma organização empre- dirigir as operações dos níveis que lhes estão subordina-
sarial consiste em um conjunto de encargos funcionais e dos. Em toda organização formal existe uma hierarquia.
hierárquicos, orientados para o objetivo econômico de Esta divide a organização em camadas ou escalas ou ní-
produzir bens ou serviços. A estrutura orgânica desse veis de autoridade, tendo os superiores autoridade sobre
conjunto de encargos está condicionada à natureza do os inferiores. À medida que se sobe na escala hierárquica,
ramo de atividade, aos meios de trabalho, às circuns- aumenta a autoridade do ocupante do cargo.
tâncias socioeconômicas da comunidade e à maneira de
conceber a atividade empresarial. As principais caracte- DISTRIBUIÇÃO DA AUTORIDADE E DA RESPONSA-
rísticas da organização formal são: BILIDADE
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

1. Divisão do Trabalho; A hierarquia na organização formal representa a au-


2. Especialização; toridade e a responsabilidade em cada nível da estrutura.
3. Hierarquia; Por toda a organização, existem pessoas cumprindo or-
4. Distribuição da autoridade e da responsabilidade; dens de outras situadas em níveis mais elevados, o que
5. Racionalismo. denota suas posições relativas, bem como o grau de au-
toridade em relação às demais. A autoridade é, pois, o
Divisão do Trabalho fundamento da responsabilidade, dentro da organização
formal, ela deve ser delimitada explicitamente. De um
O objetivo imediato e fundamental de todo e qual- modo geral, a generalidade do direito de comandar di-
quer tipo de organização é a produção. Para ser eficiente, minui à medida que se vai do alto para baixo na estrutura
a produção deve basear-se na divisão do trabalho, que hierárquica.
nada mais é do que a maneira pela qual um processo Fayol dizia que a “autoridade” é o direito de dar or-
complexo pode ser decomposto em uma série de pe- dens e o poder de exigir obediência, conceituando-a, ao
quenas tarefas. O procedimento de dividir o trabalho mesmo tempo, como poder formal e poder legitimado.
começou a ser praticado mais intensamente com o ad- Assim, como a condição básica para a tarefa adminis-

113
trativa, a autoridade investe o administrador do direito preocupação generalizada sobre as mudanças que o en-
reconhecido de dirigir subordinados, para que desempe- torno exigia e sobre a imperiosa necessidade de repensar
nhem atividades dirigidas para a obtenção dos objetivos o papel do Estado; de melhorar a eficiência, a eficácia e a
da empresa. A autoridade formal é sempre um poder, qualidade dos serviços públicos; de otimizar o desempe-
uma faculdade, concedidos pela organização ao indiví- nho dos servidores públicos e das organizações em que
duo que nela ocupe uma posição determinada em rela- trabalhavam.
ção aos outros. Vários estudiosos e especialistas em gestão públi-
ca alertaram para os benefícios que o enfoque da GpR
RACIONALISMO DA ORGANIZAÇÃO FORMAL poderia trazer para este novo cenário. De acordo com
Emery, a GpR acarreta três tipos de considerações para a
Uma das características básicas da organização formal administração do setor público:
é o racionalismo. Uma organização é substancialmen- • Constitucionais: a maioria das constituições regula o
te um conjunto de encargos funcionais e hierárquicos uso dos fundos públicos por parte das autoridades
a cujas prescrições e normas de comportamento todos em cumprimento de mandato.
os seus membros se devem sujeitar. O princípio básico • Políticas: as autoridades devem responder pelas
desta forma de conceber uma organização é que, dentro suas ações e pelo conteúdo dos seus programas
de limites toleráveis, os seus membros se comportarão eleitorais, por respeito ao princípio da responsabi-
racionalmente, isto é, de acordo com as normas lógicas lidade do cargo.
de comportamento prescritas para cada um deles. Dito • Cidadãs: por obediência ao princípio de delegação
de outra forma, a formulação orgânica de um conjunto democrática, os cidadãos confiam nas autoridades
lógico de encargos funcionais e hierárquicos está basea- eleitas, delegando-lhes a gestão dos fundos públi-
da no princípio de que os homens vão funcionar efetiva- cos – produto da coleta de seus impostos.
mente de acordo com tal sistema racional.
De qualquer forma, via de regra, toda organização Apesar de existirem muitos documentos que tratem
estrutura-se a fim de atingir os seus objetivos, procu- da GpR, não existe uma definição única para ela. A maio-
rando com a sua estrutura organizacional a minimização ria dos textos usa esse termo como uma noção “guar-
de esforços e a maximização do rendimento. Em outras da-chuvas”, por assim dizer. Na literatura em língua es-
palavras, o maior lucro, pelo menor custo, dentro de um panhola é comum achar um uso indistinto de conceitos:
certo padrão de qualidade. A organização, portanto, não controle de gestão, gestão do desempenho, gestão por
é um fim, mas um meio de permitir à empresa atingir resultados, gestão por objetivos, avaliação do desempe-
adequadamente determinados objetivos. nho, avaliação de resultados, sem uma clara diferencia-
ção.
GESTÃO POR RESULTADO Trata-se, portanto, de um conceito muito amplo
quanto ao seu uso, interpretação e definição. A hetero-
Diferente do modelo mais conhecido de gestão, que geneidade da expressão e do conceito também se ob-
foca nos processos, a gestão de resultados direciona-se serva na sua aplicação operacional: os países põem em
para o cumprimento de objetivos e metas, que são ba- prática a GpR segundo suas próprias perspectivas.
seados nos valores definidos pela empresa. A gestão por Um estudo para identificar o significado que lhe
resultados tem como fundamento o comprometimento atribuem os gestores públicos de diferentes nações de-
real da equipe e o empenho de todos, inclusive dos ges- monstrou que frequentemente eles empregam os mes-
tores, para o cumprimento da meta. mos termos com sentido diferente. É assim como o con-
Os objetivos presentes nas atuais demandas cidadãs e ceito “resultados” varia notavelmente entre as distintas
aos quais se orienta a Gestão por Resultados (GpR) são, instituições públicas. Isto não ocorre na empresa privada,
conjuntamente com a democracia, o principal pilar de le- nas quais os indicadores-chave do êxito se conhecem ni-
gitimidade do Estado atual. Desta forma, a Nova Gestão tidamente: rentabilidade, benefícios, quotas de mercado
Pública fornece os elementos necessários à melhoria da etc. Muitos autores destacam a dificuldade de determi-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

capacidade de gerenciamento da administração pública, nar e avaliar os resultados da ação estatal como uma das
bem como à elevação do grau de governabilidade do sis- características que diferenciam a gestão do setor público
tema político. do privado.
O conceito e a prática da GpR no setor público têm um Pode-se observar que a GpR possui as seguintes di-
grau de desenvolvimento e consolidação relativamente mensões:
baixo. Inicialmente, a GpR se utilizou principalmente no • É um marco conceitual de gestão organizacional,
setor privado, mesmo quando o governo federal dos Es- pública ou privada, em que o fator resultado se con-
tados Unidos da América começou a usar algumas de verte na referência-chave quando aplicado a todo o
suas propostas no gerenciamento de diferentes órgãos processo de gestão.
públicos. Somente durante o governo do presidente Ni- • É um marco de assunção de responsabilidade de
xon é que se começou a implantar no conjunto da admi- gestão, por causa da vinculação dos dirigentes ao
nistração pública o que passou a ser conhecida como a resultado obtido.
Nova Gestão Pública. • É um marco de referência capaz de integrar os di-
Essa moderna filosofia sugere a passagem de uma versos componentes do processo de gestão, pois se
gestão burocrática a uma de tipo gerencial. propõe interconectá-los para otimizar o seu funcio-
Na base dessas novas ideias encontrava-se uma namento.

114
• Finalmente, e especialmente na esfera pública, a lo. Nessa etapa, compete ao gestor coordenar a implan-
GpR apresenta-se como uma proposta de cultura tação, procurando vincular dinamicamente os recursos
organizadora, diretora, de gestão, mediante a qual aos objetivos. Para tanto, a função de coordenação pode
se põe ênfase nos resultados e não nos processos e ser empreendida por outro conjunto de mecanismos,
procedimentos. que segundo Mintzberg (2001), são os seguintes:
• Ajustamento mútuo: típico de tarefa que envolvem
Todas essas dimensões situam a GpR como uma ferra- grupos pequenos, a coordenação é obtida pelo sim-
menta cultural, conceitual e operacional, que se orienta a ples processo de comunicação informal. São realiza-
priorizar o resultado em todas as ações, e que é capaz de das reuniões com o objetivo de discutir os proces-
otimizar o desempenho governamental. Assim, se trata sos de trabalho, ajustando-os quando necessário.
de um exercício de direção dos organismos públicos que • Supervisão direta: segundo este mecanismo, uma
procura conhecer e atuar sobre todos aqueles aspectos pessoa ou organização coordena o processo, por
que afetem ou modelem os resultados da organização. meio de instruções, cobranças, alocação de recur-
A GpR tem, portanto, uma dimensão de controle or- sos etc.
ganizacional que convém esclarecer, pois o conceito de • Padronização de normas: significa que os funcioná-
controle no setor público possui conotações particulares rios compartilham um conjunto de crenças e valo-
derivadas, fundamentalmente, do sistema de auditoria res; é exposta a compreensão de cada um em rela-
externa que domina nesse Estado. A ferramenta GpR não ção às normas, com o objetivo de criar uma ideia
faz parte dessa concepção de controle, mas de outro coletiva de conduta, obtendo, informalmente, a
universo: o de gestão e direção estratégico/operacional, coordenação a partir delas.
porque permite e facilita aos gerentes da administração • Padronização de processos: refere-se à prescrição
pública melhor conhecimento, maior capacidade de aná- do conteúdo do trabalho por meio de procedimen-
lise, desenho de alternativas e tomada de decisões para tos, normalmente escritos, a serem seguidos. Trata-
que sejam alcançados os melhores resultados possíveis, -se do mapeamento dos processos e da manuali-
afinados com os objetivos pré-fixados. zação dos procedimentos. Na iniciativa privada, é
É importante assinalar essa diferença porque, muito muito comum em programas de qualidade, como
embora a GpR seja uma boa base para uma melhor pres- aqueles promovidos pela International Organization
tação de contas (e uma maior transparência), sua função for Standardization com a série ISO-9000. No caso
principal não é a de servir como instrumento de controle das organizações públicas, podemos associar esta
da atuação dos gerentes públicos, mas a de proporcionar padronização às regras formais burocráticas ou à
a eles um meio de monitoramento e regulação que lhes própria legislação.
garanta o exercício de suas • Padronização de resultados: trata-se da especifica-
A Gestão por Resultados (GPR) está caracterizada por: ção dos resultados a serem atingidos, em substi-
• Uma estratégia na qual se definam os resultados es- tuição à especificação dos meios como os procedi-
perados por um organismo público no que se refere mentos ou habilidades.
à mudança social e à produção de bens e serviços; • Padronização de habilidades: refere-se à designação
• Uma cultura e um conjunto de ferramentas de ges- de pessoal qualificado, já possuidor de determinada
tão orientado à melhoria da eficácia, da eficiência, habilidade adequada ao trabalho a ser feito. Não é
da produtividade e da efetividade no uso dos recur- o trabalho, mas o funcionário que é padronizado. A
sos do Estado para uma melhora dos resultados no coordenação é obtida em razão do funcionário já
desempenho das organizações públicas e de seus possuir determinado conhecimento. No setor públi-
funcionários; co, podemos entender os requisitos dos concursos
• Sistemas de informação que permitam monitorar a públicos como um esforço nesse sentido, particu-
ação pública, informar à sociedade e identificar o larmente para contratação de especialistas como
serviço realizado, avaliando-o; médicos ou dentistas.
• Promoção da qualidade dos serviços prestados aos
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

cidadãos, mediante um processo de melhoramento Por conseguinte, com base nestes elementos, sugere-
contínuo; -se a seguinte definição para a GpR:
• Sistemas de contratação de funcionários de gerên-
cia pública, visando aprofundar a responsabilidade, A Gestão para Resultados é um marco conceitual cuja
o compromisso e a capacidade de ação dos mes- função é a de facilitar às organizações públicas a di-
mos; reção efetiva e integrada de seu processo de criação
• Sistemas de informação que favoreçam a tomada de valor público, a fim de otimizá-lo, assegurando a
de decisões dos que participam destes processos. máxima eficácia, eficiência e efetividade de desempe-
Disponível em: <https://bit.ly/2Rc2sTo>. (Com adap- nho, além da consecução dos objetivos de governo e a
tação.) melhora contínua de suas instituições.

1. Implantação da Gestão por Resultados FUNDAMENTOS DE EXCELÊNCIA GERENCIAL

Após a tomada de decisão referente à adoção da ges- A Fundação Nacional Da Qualidade, muito conheci-
tão por resultados e também às alternativas para atingir da pela sigla FNQ, é uma entidade privada e sem fins
os objetivos, a etapa seguinte é a implantação do mode- lucrativos que foi criada em 1991 por representantes de

115
organizações brasileiras dos setores público e privado. • Critérios: liderança; estratégias e planos; clientes;
Sua principal função era administrar o Prêmio Nacional sociedade; informações e conhecimento; pessoas;
da Qualidade (PNQ) e as atividades decorrentes do pro- processos e resultados.
cesso de premiação em todo o território nacional, bem
como fazer a representação institucional externa do PNQ A figura representativa do MEG simboliza a organiza-
nos fóruns internacionais. É importante compreender ção, considerada como um sistema orgânico e adaptável
que o PNQ é um prêmio que reconhece à excelência da ao ambiente externo. O MEG é representado pelo dia-
gestão das organizações. grama mostrado, que utiliza o conceito de aprendizado
Em 2004, ao completar 13 ciclos de premiação, a até segundo o ciclo de PDCA (Plan, Do, Check, Action).
então chamada de FPNQ – Fundação para o Prêmio Na- O sucesso de uma organização está diretamente re-
cional da Qualidade – havia cumprido seu papel inicial, lacionado à sua capacidade de atender às necessidades
voltado ao estabelecimento do PNQ, seguindo as melho- e expectativas de seus clientes. Elas devem ser identifi-
res práticas internacionais. Em 2005, a FPNQ lançou pro- cadas, entendidas e utilizadas para que se crie o valor
jeto a fim de se tornar um dos principais centros mun- necessário para conquistar e reter esses clientes.
diais de estudo, debate e irradiação de conhecimento Para que haja continuidade em suas operações, a em-
sobre Excelência em Gestão. Nesse sentido, passou a se presa também deve identificar, entender e satisfazer as
chamar FNQ – Fundação Nacional da Qualidade, nomen- necessidades e expectativas da sociedade e das comu-
clatura que mantém até hoje. nidades com as quais interage sempre de forma ética,
A retirada da palavra “Prêmio” do nome evidencia cumprindo as leis e preservando o ambiente.
uma nova etapa da FNQ, que antes tinha como principal De posse de todas essas informações, a liderança es-
foco de atuação o PNQ. Essa mudança também passa, tabelece os princípios da organização, pratica e vivencia
necessariamente, pela missão da instituição de disse- os fundamentos da excelência, impulsionando, com seu
minar os Fundamentos da Excelência em gestão para o exemplo, a cultura da excelência na organização. Os lí-
aumento da competitividade das organizações e do Bra- deres analisam o desempenho e executam, sempre que
sil. Para isso, a FNQ propõe difundir amplamente esse necessário, as ações requeridas, consolidando o aprendi-
conceito em organizações de todos os setores e portes, zado organizacional.
contribuindo para o aperfeiçoamento da gestão nas em- As estratégias são formuladas pelos líderes para di-
presas. recionar a organização e o seu desempenho, determi-
Também foram estabelecidos quatro eixos estratégi- nando sua posição competitiva. Elas são desdobradas em
cos com o intuito de pôr a FNQ à frente de suas congê- todos os níveis da organização, com planos de ação de
neres mundiais: curto e longo prazos. Recursos adequados são alocados
• Efetividade no cumprimento da missão; para assegurar sua implementação. A organização ava-
• Sustentabilidade financeira; lia permanentemente a implementação das estratégias e
• Capacidade de promover a evolução do Modelo de
monitora os respectivos planos e responde rapidamente
Excelência de Gestão (MEG);
às mudanças nos ambientes interno e externo.
• Reconhecimento pela sociedade.
No dia 18/10/2016 entrou em vigor a 21ª edição do
Modelo de Excelência da Gestão (MEG), principal publi-
Os processos de transformação da FNQ contaram
cação da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), um dos
com três etapas:
principais centros de referência para melhoria da produ-
• De 1991 a 1996 – desenvolver estrutura e conquistar
tividade das organizações e da competitividade no Brasil.
credibilidade baseada em sólidos conceitos e crité-
rios de avaliação da gestão das organizações; As duas principais mudanças propostas pela 21ª edi-
• De 1997 a 2003 – consolidar o PNQ como marco ção consistem em:
referencial para a Excelência em Gestão no País; • Apresentação do novo Diagrama do MEG, baseado
• Desde 2004 – conscientizar profissionais e empresá- no Tangram, quebra cabeça de sete peças de ori-
rios de todo o Brasil da importância de uma gestão gem chinesa e em seus oito Fundamentos da Ges-
eficaz e disseminar os conceitos e fundamentos da tão para Excelência, que substituem os antigos Cri-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

excelência que fazem parte do Modelo de Excelên- térios de Excelência.


cia da Gestão. • Inovação na metodologia para avaliação e autoa-
valiação do nível de maturidade de gestão das or-
O Modelo De Excelência da Gestão (MEG) da FNQ ganizações.
possui uma visão sistêmica da gestão organizacional.
É um modelo baseado em 11 fundamentos e 8 crité- A FNQ considera o MEG como um modelo de refe-
rios. Podemos definir os fundamentos como os pilares, a rência em gestão organizacional, que tem como principal
base teórica de uma boa gestão. Esses fundamentos são característica a de ser um modelo integrador. A evolução
colocados em prática por meio dos oito critérios. do diagrama do MEG de uma mandala (20ª edição) para
• Fundamentos: pensamento sistêmico; aprendiza- o tangram (21ª edição) e a substituição dos Critérios de
do organizacional; cultura de inovação; liderança e Excelência pelos Fundamentos da Gestão para Excelên-
constância de propósitos; orientação por processos cia reforça essa ideia, visto que a FNQ considera que os
e informações; visão de futuro; geração de valor; va- Fundamentos não são aspectos isolados, pois possuem
lorização de pessoas; conhecimento sobre o cliente inter-relações que caracterizam o MEG como um modelo
e o mercado; desenvolvimento de parcerias e res- verdadeiramente holístico.
ponsabilidade social.

116
Segundo a FNQ, ao utilizar como referência os oito quando os cidadãos reunidos em lugar público, apresen-
Fundamentos da Gestão para Excelência apresentados a tavam proposta, votavam orçamento e determinavam
seguir, a organização pode realizar uma autoavaliação e o quanto de tributos deveriam pagar para financiar as
obter um diagnóstico da maturidade da gestão. despesas públicas.
Na Administração Pública brasileira, a transparência,
• Pensamento Sistêmico: reconhecimento das rela- que é decorrência do Estado Democrático de Direito,
ções de interdependência e consequências entre este concebido pela Constituição Federal de 1988, visa
os diversos componentes que formam a organiza- objetivar e legitimar as ações praticadas pela Adminis-
ção, bem como entre estes e o ambiente com o tração Pública por meio da redução do distanciamento
qual interagem. que a separa dos administrados; se concretiza segundo
• Compromisso com as partes Interessadas: geren- Martins Júnior (2010, p. 40) “pela publicidade, pela mo-
ciamento das relações com as partes interessadas tivação, e pela participação popular nas quais os direitos
e sua inter-relação com as estratégias e processos. de acesso, de informação, de um devido processo legal
• Aprendizado Organizacional e Inovação: busca e articulam-se como formas de atuação”.
alcance de novos patamares de competência para Nos dias atuais, podemos afirmar, com certa segu-
a organização e sua força de trabalho, por meio da rança, que não existe plena democracia, sem que haja
percepção, reflexão, avaliação e compartilhamento o rompimento da opacidade administrativa, pois não há
de conhecimentos, promovendo um ambiente fa- como a primeira ser realizada, pelo menos em sua ple-
vorável a novas identificações. nitude, sem que a segunda seja superada. A opacidade
• Adaptabilidade: flexibilidade e capacidade de mu- proporciona a corrupção[2], compromete a eficiência e
dança para atender as atuais demandas. a moralidade, das decisões tomadas pela administração,
• Liderança Transformadora: atuação dos líderes de segundo Martins Júnior (2010, p. 25) “o caráter público
forma ética e comprometida com a excelência e da gestão administrativa leva em consideração, além da
mobilizando as pessoas em torno de valores, prin- supremacia do público sobre o privado, a visibilidade e
cípios e objetivos da organização e gerando inte- as perspectivas informativas e participativas, na medida
ração com as partes interessadas. em que o destinatário final é o público”.
• Desenvolvimento Sustentável: compromisso da or- O público não deve ser visto apenas como um contra
ganização em responder pelos impactos de suas ponto ao privado, mas sobre tudo, deve ser visto como
decisões e atividades, na sociedade e no meio am- oposição ao reservado e ao secreto, nos limites legais.
biente, e de contribuir para a melhoria das condi- O texto constitucional não promoveu a explicitação
ções de vida. da transparência no rol dos princípios constitucionais, o
• Orientação por Processos: busca da eficiência e que, segundo Maffini (2006, p. 9-10) “não lhe retira o sta-
eficácia por meio das ações de forma que essas tus aqui pugnado, como já sustentado por Jesús Gonzá-
agreguem valor para as partes interessadas. les Pérez ‘os princípios gerais do direito, por sua própria
• Geração de Valor: alcance de resultados econômi- natureza, existem com independência de sua consagra-
cos, sociais e ambientais e que atendam às neces- ção em uma norma jurídica positiva’”.
sidades e expectativas das partes interessadas. A transparência administrativa tem como um de seus
maiores expoentes e núcleo jurídico, o princípio da pu-
Transparência na administração blicidade, estampado no caput art. 37 da Constituição
Federal, reforçado pelo art. 5º, incisos XXXIII[3], e XXXIV,
Quando se pensa em transparência administrativa, a b)[4], LXXII[5] restringindo-se a intimidade e o interesse
ideia primeira que nos vêm é a de publicidade das ações social, tal como estabelecido no inciso LX[6] do art. 5º da
dos governos, no entanto, são necessárias outras me- nossa Carta Maior.
didas que vão além da simples divulgação dos serviços A participação popular (interligada com o princípio
públicos realizados ou prestados à sociedade. Transpa- da publicidade) é outro importante princípio ou instru-
rência não é apenas disponibilizar dados, mas fazê-lo em mento para forçar que se dê transparência aos atos ad-
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linguagem clara e acessível a toda a sociedade interessa- ministrativos. Os incisos de I a IIIdo § 3º do art. 37, da
da. Dessa forma, dar transparência é chamar a sociedade Constituição Federal, estabelece que a lei disciplinará a
para participar dos rumos do Estado, é motivar a decisão participação do usuário na Administração Pública direta
tomada e também divulgar todos os atos, salvo as exce- e indireta, para regular o direito de representação quanto
ções normativas. à qualidade do serviço e a negligência e o abuso no exer-
Neste artigo vamos enfocar o princípio da transpa- cício de função pública, bem como o acesso a registros
rência na Administração Pública e para atingir o objetivo administrativos e a informações sobre atos de governo.
proposto, deslocamos o princípio da publicidade e o co- Na esfera infraconstitucional, a lei nº 9.784, de 29 de
locamos como um subitem deste tema, por entendermos janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no
que este é um subprincípio, do princípio da transparên- âmbito da Administração Pública Federal, em seu art. 9º,
cia, assim como da motivação e o da participação popu- abre a possibilidade de intervir no processo administra-
lar. tivo os portadores de interesses indiretos e aos titulares
A transparência é um princípio basilar da ideia de de- de interesses difusos e coletivos; prevê também a con-
mocracia, esta, surgida no curso da modernidade como vocação facultativa de audiências e consultas públicas
meio de superar os obstáculos impostos pelo então Esta- (arts. 31 e 32), bem como outros meios de participação
do absolutista, nos moldes idealizados na Grécia clássica, dos administrados (art. 33). Por seu turno, a Lei Comple-

117
mentar nº 101, de 04 de maio de 2000, veio estabelecer Esses poderes são considerados instrumentos de
instrumento de transparência da gestão fiscal, determi- trabalho. Significa dizer que esses poderes-deveres
nando ampla divulgação, inclusive em meios eletrôni- são instrumentais, utilizados pela Administração com o
cos (internet) de acesso público. Tal lei acrescenta que a objetivo maior de promover a supremacia do interesse
transparência será assegurada também mediante incen- público.
tivo à participação popular e a realização de audiências
públicas, durante os processos de elaboração e de dis- 1. Poderes da Administração
cussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orça-
mentos (art. 48, parágrafo único). O estudo dos poderes da Administração Pública,
Na mesma senda, a Lei nº 10.257, de 10 de julho de assim, é de extrema importância para verificar quais
2001 (art. 2º, II e XIII, 4º, III, f, e V, s, 40, § 4º, 43 e 44), des- são os seus limites de atuação. Para tanto, a doutrina
creve entre os meios de gestão democrática das cidades costuma dividir esse poder conferido à Administração
o referendo popular e o plebiscito, os órgãos colegiados, em seis vertentes: poder vinculado; poder discricionário;
a iniciativa popular de projeto de lei de desenvolvimento poder disciplinar; poder hierárquico; poder de polícia; e
urbano, a audiência e a consulta públicas, a publicidade poder regulamentar.
e o acesso de qualquer interessado aos documentos e
informações no processo de elaboração do plano diretor 1.1 Poder vinculado e Poder discricionário
e sua fiscalização e na gestão orçamentária participativa.
Segundo Martins Júnior (2010, p. 42) “a transparência, Poder vinculado é aquele em que a lei atribui
então, se instrumentaliza pelo subprincípio da partici- determinada competência ao administrador,
pação popular”, e segundo o mesmo autor “o Estado e delimitando todos os aspectos de sua conduta, o qual
seus Poderes só são realmente democráticos se visíveis e deve compulsoriamente seguir a forma prevista na lei,
abertos ao povo forem suas ações e o processo de toma- não havendo qualquer margem de liberdade para que
da de decisões”. o agente público escolha a melhor forma de cumprir
Outra contribuição para a formação do conteúdo suas funções. Os atos praticados no exercício do poder
jurídico do princípio da transparência é o princípio da vinculado são denominados atos vinculados.
motivação, pela qual se impõe que toda a atividade da Poder discricionário, por sua vez, é o poder que o
Administração Pública deva vir acompanhada dos fun- legislador, ao delimitar a competência da Administração
damentos que ensejaram a decisão, não bastando à di- Pública, confere também uma margem de liberdade para
vulgação apenas do ato em si, mas as razões que deter- que o agente público possa escolher, diante da situação
minaram a sua prática, segundo Furtado (2010, p. 125) jurídica, qual o caminho mais adequado, ou qual a melhor
“ao motivar seus atos, deve o administrador explicitar as forma de solução daquela desavença. A lei não impõe
razões que o levam a decidir, os fins buscados por meio um único comportamento como no poder vinculado: ela
daquela solução administrativa e a fundamentação legal delega ao administrador a faculdade de avaliar a melhor
adotada”. solução para cada caso. Garantir margem de liberdade
A motivação, além de garantir a validade do ato, ex- não significa que o administrador deve agir fora da lei,
terna as razões da atuação da administração proporcio- pois a discricionariedade não o permite estar acima da
nando aos administrados conhecer, de forma transpa- legislação. Além disso, o poder discricionário também
rente, os fins que a administração deseja alcançar, como pode sofrer controle pelo Poder Judiciário, exceto quando
bem coloca Martins Júnior (2010, p. 43-44): a questão for referente ao mérito dos atos discricionários,
Como meio de externação dos motivos condutores cuja competência é exclusiva da própria Administração.
do ato e requisito de validade do ato, a motivação garan-
te aos administrados o conhecimento da razões e fun-
damentos e serve como parâmetro para o diagnóstico #FicaDica
da fidelidade aos princípios da Administração Pública e Atualmente muito se questiona sobre a
para mensuração da materialidade, qualificação jurídica e legalidade administrativa, que fundamenta
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adequação dos fato e da decisão tomada, considerados a vinculação de seus atos. Dizer que a
o objeto e a finalidade. vinculação é uma simples obediência a
O princípio da transparência, embora não explicito legislação é uma noção muito restrita e aquém
entre os princípios do artigo 37 da Constituição Federal, da realidade social. A legalidade, enquanto
é uma norma de normas jurídicas, pois assim são os prin- vazia ou formal (noção de fazer um checklist
cípios, norma de normas, e que por seu turno tem caráter do ato), desvinculada do cumprimento de
vinculante, constituindo um dever de quem esteja à fren- direitos fundamentais, não se sustenta.
te da Administração Pública e, concomitantemente, um Doutrinariamente se sustenta uma revisão da
direito subjetivo público do indivíduo e da comunidade. legalidade, de modo que os administradores,
agora, se vinculam não somente à Lei, e
PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA sim à Constituição (constitucionalidade
administrativa). Assim, um comando oriundo
A Administração Pública deve cumprir suas de uma lei manifestamente inconstitucional
atribuições constitucionais, por imposição legal. Para pode não ser cumprida pelos agentes públicos.
tanto, o exercício de suas funções depende de certas
prerrogativas, ou Poderes, conferidos pela legislação.

118
1.2 Poder regulamentar atribuiu sua disciplina ao Poder Executivo. A EC
nº 32/2001 elenca dois temas que só podem ser
O poder regulamentar (algumas questões disciplinados por decreto expedido pelo Presidente
costumam denomina-lo “poder normativo”) consiste da República: a organização da administração
na possibilidade do Chefe do Poder Executivo de cada federal; e a extinção de funções e cargos vagos e
entidade da Federação de editar atos administrativos não ocupados.
gerais, abstratos ou concretos, expedidos para dar fiel
cumprimento à lei. Seu fundamento legal encontra- 1.3 Poder hierárquico
se disposto no art. 84, IV, da CF/1988: “Compete
privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar, Poder hierárquico é o poder que dispõe o Executivo
promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir para organizar e distribuir as funções de seus órgãos,
decretos e regulamentos para sua fiel execução”. Por ser bem como ordenar e rever a atuação de seus agentes,
de competência exclusiva do Chefe do Poder Executivo, estabelecendo uma relação de subordinação entre o
é indelegável a qualquer subordinado. Embora o texto servidores do seu quadro de pessoas. As relações de
constitucional faça menção somente ao Presidente hierarquia são características únicas, existem somente no
da República, o referido poder pode ser exercido, por âmbito do Poder Executivo, isso é, não existe hierarquia
simetria, pelos Governadores e Prefeitos. entre órgãos do Poder Legislativo e do Judiciário. Além
Uma das palavras chave do poder regulamentar é disso, importante frisar que não existe poder hierárquico
“regulamento”. Trata-se de ato administrativo que tem entre membros da Administração Indireta, pois estes
por escopo estabelecer detalhes e diretrizes quanto ao são entidades autônomas, que não se subordinam aos
modo de aplicação dos dispositivos legais, dando maior entes que o criaram. Pela hierarquia, há a imposição ao
concretude aos comandos gerais e abstratos presentes subalterno da estrita obediência às ordens e instruções
na legislação. Não se confunde com o decreto, que é legais superiores, além de definir a responsabilidade de
outro ato administrativo que introduz o regulamento cada um de seus agentes e órgãos públicos.
em si. Decreto representa a forma do ato administrativo, Quanto às suas características, diz-se que o poder
enquanto o regulamento representa seu conteúdo. hierárquico é interno e permanente. Interno é o
Ambos os decretos e regulamentos são atos em poder que atinge apenas os próprios membros da
Administração, não tem o condão de atingir as relações
posição de inferioridade em relação as leis e, por isso, não
dos particulares. É também um poder permanente,
são capazes de criar direitos e obrigações aos particulares
porque não é exercido de modo esporádico e episódico,
sem fundamento legal. Suas funções primordiais, no
como o que acontece no poder disciplinar.
entanto, são a redução da margem de interpretação das
Do poder hierárquico são decorrentes certas
normas, pois se um decreto dispõe qual é a forma mais
faculdades implícitas ao superior, tais como dar ordens
correta de aplicação da lei, esta perde um pouco de seu
e fiscalizar o seu cumprimento, delegar e avocar
caráter geral e abstrato, seu campo de discricionariedade
atribuições, bem como rever atos de seus inferiores.
é reduzido a uma única forma válida de aplicação A delegação é a transferência temporária de
no âmbito jurídico. Por isso, o poder regulamentar competência administrativa de seu titular, a outro órgão
apresenta natureza vinculada. ou agente público subordinado à autoridade outorgante
Existem diversas espécies de regulamentos (delegação vertical), ou fora da sua linha hierárquica
administrativo: (delegação horizontal). O art. 12 da Lei nº 9.784/1999
A) Regulamentos administrativos ou de dispõe do mesmo modo: “Um órgão administrativo e
organização: são aqueles que disciplinam seu titular poderão, se não houver impedimento legal,
questões internas de estruturação e funcionamento delegar parte da sua competência a outros órgãos ou
da Administração Pública, bem como as relações titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
jurídicas de sujeição especial do Poder Público subordinados, quando for conveniente, em razão de
perante particulares. Exemplo: regulamento circunstâncias de índole técnica, social, econômica,
que disciplina organização e funcionamento da jurídica ou territorial”. Essa transferência de competência
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administração federal (art. 84, VI, a, da CF/1988). é sempre provisória, o que significa que pode ser
B) Regulamentos habilitados ou delegados: revogada a qualquer tempo.
em alguns países, há a possibilidade do Poder A regra geral é sempre a delegabilidade das
Legislativo delegar ao Executivo a disciplina de competências. Todavia, a própria legislação (art. 13 da Lei
matérias reservadas privativamente à lei, havendo nº 9.784/1999) assevera três matérias que não podem
uma transferência de competência legislativa. ser delegadas. Assim, são indelegáveis: a edição de ato
Tais regulamentos não são admitidos no direito de caráter normativo, pois constituem-se em regras
administrativo brasileiro. gerais aplicáveis a todos os órgãos, incompatível com a
C) Regulamentos executivos: são os regulamentos delegação; a decisão em recursos administrativos, para
comuns, expedidos sobre matéria disciplinada pela evitar que a mesma autoridade possa julgar o mesmo
legislação, permitindo a fiel execução da norma processo mais de uma vez pela delegação; e as matérias
legal. É a hipótese do art. 84, IV, da CF/1988. que forem consideradas de competência exclusiva do
D) Regulamentos autônomos: são os que dispõem órgão ou autoridade.
sobre tema não disciplinado pela legislação. Há A avocação encontra-se disposta no art. 15 da Lei
um conjunto de temas que a norma constitucional nº 9.784/1999. Consiste na possibilidade da autoridade
retirou da competência do Poder Legislativo e competente de chamar para si a competência de um

119
agente ou órgão subordinado. Trata-se de medida aplicação de qualquer uma dessas penalidades depende
excepcional e temporária, e somente pode ser realizada de prévio processo administrativo, respeitada a garantia
dentro da mesma linha hierárquica, o que significa que a de contraditório e ampla defesa, sob pena de nulidade
avocação só pode ser vertical, não se admite a avocação da sanção.
horizontal. Esquematicamente, temos:
1.5 Poder de polícia
Delegação Avocação
A expressão “poder de polícia” pode ser interpretada
Distribuição de Absorção de de duas maneiras: em um sentido amplo, corresponde
competências competências a qualquer limitação estatal à liberdade e propriedade
Admite horizontal e Admite apenas horizontal privada, de origem administrativa ou legislativa. Há
vertical (mesma linha hierárquica) também o poder de polícia em sentido restrito, mais
utilizado pela doutrina, que engloba apenas as restrições
Por fim, a revisão é a capacidade de rever os impostas pelas limitações administrativas, excluindo
atos dos inferiores hierárquicos, apreciando todos as limitações de ordem legal. Em sentido restrito,
os seus aspectos para a análise de sua manutenção envolve atividades administrativas de fiscalização e
ou invalidação. É somente possível a revisão de atos condicionamento da esfera privada de interesses, em prol
praticados pelos órgãos públicos e agentes subordinados da coletividade.
hierarquicamente. O poder de polícia tem grande destaque no exercício
Para as entidades da Administração Indireta, existe das funções da Administração moderna, junto com a
apenas uma forma de controle fiscalizatório e finalístico prestação de serviços públicos e o fomento à iniciativa
de seus atos, o qual denomina-se supervisão ministerial privada. Porém, essas duas funções representam uma
ou tutela administrativa, que não tem relação com o atuação estatal ampliativa, enquanto que o poder de
poder hierárquico. A supervisão ministerial não admite a polícia representa uma atuação restritiva do Estado,
revisão dos atos praticados pelas autarquias, fundações, e limitando a liberdade e a propriedade individual em
demais entidades da Administração Indireta. favor do interesse público.
O art. 78 do Código Tributário Nacional (CTN) tem seu
1.4 Poder disciplinar conceito legal de poder de polícia:

O poder disciplinar consiste na faculdade da Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
Administração de punir seus agentes, nas hipóteses em administração pública que, limitando ou disciplinan-
que estes tenham cometido alguma infração de ordem do direito, interesse ou liberdade, regula a prática de
funcional. Correlato com o poder hierárquico, mas não ato ou abstenção de fato, em razão de interesse públi-
se confunde com o mesmo. No poder hierárquico, a co concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
Administração Pública distribui e escalona as suas funções costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
executivas. Já no uso do poder disciplinar, a Administração exercício de atividades econômicas dependentes de
simplesmente controla o desempenho de funções e a concessão ou autorização do Poder Público, à tran-
conduta de seus servidores, responsabilizando-os pelas quilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos
faltas porventura cometidas. direitos individuais ou coletivos.
Em relação as suas características, o poder disciplinar Diante de tudo que foi exposto, podemos conceituar
é interno, não-permanente ou temporário, e poder de polícia como a atividade da Administração
discricionário. Assim como o poder hierárquico, a Pública, com fundamento na lei e na supremacia geral,
imposição de sanções pela Administração não se aplica que consiste na imposição de limites à liberdade e à
aos particulares, somente a seus próprios servidores, salvo propriedade dos particulares, regulando a prática desses
as hipóteses destes serem contratados pela Administração atos, ou a abstenção dos mesmos, manifestando-se por
Pública. Todavia, distingue-se do poder hierárquico meio de atos normativos ou concretos, tudo isso em
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na medida em que é não-permanente, isso é, só será benefício do interesse público.


aplicado apenas se e quando o servidor cometer infração Ao dizer que trata-se de atividade da Administração
funcional. Percebe-se, então, que o poder disciplinar Pública, procuramos enfatizar a concepção stricto
apresenta caráter punitivo e sancionador, enquanto o sensu do poder de polícia, que não se confunde com
poder hierárquico advém da simples obediência dos as limitações à liberdade e ao direito de propriedade
subalternos para com a entidade detentora deste poder. impostas pelo legislador. Por ser atividade da
A discricionariedade do poder disciplinar traduz-se na Administração, deve ser exercido, respeitando a
possibilidade da Administração em poder escolher qual a razoabilidade e a proporcionalidade.
punição mais apropriada para cada caso, isso é, ela possui A fundamentação legal é outro aspecto importante
certa margem de liberdade para o seu exercício. do poder de polícia, advém do próprio princípio da
Os servidores públicos que cometerem qualquer legalidade, uma vez que a lei condiciona o exercício
infração no exercício de suas funções estão sujeitos às de determinadas atividades à obtenção de licenças ou
seguintes penalidades, dispostas no art. 127 da Lei nº concessões pelo Poder Público. O legislador deve, então,
8.112/1990: advertência; suspensão; demissão; cassação elaborar os requisitos necessários para o exercício do
de aposentadoria ou disponibilidade; destituição de cargo poder de polícia pelo Estado.
em comissão; e destituição de função comissionada. A

120
O poder de polícia tem por objeto a imposição de limitações à liberdade e propriedade dos particulares,
instituindo condições capazes de compatibilizar seu exercício às necessidades de interesse público. Tais imposições
também podem ser aplicadas ao Estado. Isso significa que até mesmo o Poder Público pode ter suas liberdades e
propriedades sofrerem limitações em face das necessidades do interesse público.
Para o seu exercício, a Administração Pública deve regular a prática dos atos ou a abstenção de fatos. Em regra,
o poder de polícia manifesta-se em obrigações negativas, ou de não fazer, impostas aos particulares, limitando a esfera
de atuação dos seus direitos. Excepcionalmente, pode também manifestar-se mediante obrigações positivas ou de
fazer, como é o caso da imposição da função social da propriedade ao dono do imóvel, disposta no art. 5º, XXII, da
CF/1988.
O poder de polícia se manifesta pela expedição de atos normativos, como é o caso das regras sobre o direito de
construir, ou por meio de atos concretos, como a obtenção de licença para a reforma de um imóvel, cujo interesse é
exclusivo do particular (proprietário do imóvel, no caso).

Por fim, convém ressaltar a finalidade do poder de polícia, qual seja, agir em prol do interesse público. Por isso, o
Estado deve conciliar os direitos individuais, com o interesse da coletividade. Tal finalidade é típica da Administração
Pública, pois tem como fundamento o princípio sistêmico da primazia do interesse público sobre o privado.

1.5.1 Natureza jurídica do poder de polícia

Quanto a sua natureza jurídica, é entendimento majoritário que o poder de polícia é discricionário. Na doutrina,
muitos autores costumam definir poder de polícia, utilizando-se a expressão “faculdade que o Estado possui de impor
limites...”. Isso quer dizer que não apresenta características de obrigação legal, mas de uma permissão. A escolha sobre
qual método utilizar para o exercício do referido poder, e quando, compete somente à própria Administração Pública.
Porém, vale ressaltar as hipóteses de obtenção de licença. A licença é ato administrativo relacionado ao poder de
polícia, que apresenta previsão legal para a sua obtenção, tratando-se por isso, de ato vinculado. Com isso, podemos
afirmar que a manifestação do poder de polícia pode ocorrer mediante a expedição de atos no exercício da competência
discricionária da Administração, ou por meio de atos vinculados, com a devida previsão legal. O poder de polícia
também é indelegável, uma vez que pressupõe a posição de superioridade de quem o exerce, não podendo ser
transferido a particulares (art. 4º, III, da Lei nº 11.079/2004).

1.5.2 Polícia Administrativa e Polícia Judiciária

A concepção do poder de polícia abrange muito mais do que a simples promoção de segurança pública. Todavia,
imprescindível destacar as atividades estatais de prevenção e repressão da criminalidade sob a ótica do poder de
polícia. Assim, costuma-se dividir a atuação do Estado para promoção da segurança pública em duas categorias de
“polícias” distintas: a polícia administrativa, e a polícia judicial.
A polícia administrativa tem um caráter preventivo. Isso significa que a sua atuação deve ocorrer antes da prática
do delito, tendo por finalidade evitar a sua ocorrência. Submete-se às regras de Direito Administrativo. No Brasil, a
polícia administrativa é exercida por vários órgãos de fiscalização de diversas áreas, como saúde, educação, trabalho,
previdência e assistência social. A polícia administrativa protege os interesses primordiais da sociedade ao impedir
comportamentos individuais que possam causar prejuízos maiores à coletividade.
A polícia judiciária, por sua vez, apresenta caráter repressivo. Sua atuação ocorre após a constatação do crime. Após
a ocorrência do crime, deve a polícia judiciária abrir um processo de investigação em busca da autoria e materialidade
do crime. Sua razão de ser é a punição dos infratores. Rege-se pelas regras de Direito Processual Penal. Ela incide sobre
pessoas, ao contrário da polícia administrativa, que age sobre a atividade das pessoas. A polícia judiciária é exercida
pelas corporações especializadas, denominadas Polícia Civil e Polícia Federal. Esquematicamente, temos:
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Polícia Administrativa Polícia Judiciária


Diversos órgãos fiscalizadores administrativos Corporações de polícia especializadas (PC, PM, etc)
Atuação preventiva, Atuação repressiva,
Incide sobre bens, direitos e atividades Incide sobre pessoas
Apura delitos administrativos Apura delitos penais (crime)

2. Uso e Abuso de Poder

Quando o agente público exerce adequadamente suas competências, atuando em conformidade com a legislação,
sem excessos ou desvios, diz-se que ele faz uso regular do poder. Entretanto, havendo hipóteses de exercício de
competências fora dos limites legais, visando apenas interesses alheios, trata-se de clara hipótese de uso irregular do
poder, também denominado abuso de poder. O abuso de poder, além de causar a invalidade do ato, constitui em
ilícito ensejador de responsabilidade pela autoridade competente que causou danos com seu uso irregular.

121
Abuso de poder pode se manifestar no exercício das sa posição, o cidadão se torna um dos principais agentes
funções administrativas sob duas formas: pelo excesso de responsáveis pela fiscalização das ações do Estado. Esse
poder, e pelo desvio de finalidade. Excesso de poder é novo papel levanta uma questão: como posso atuar, no
a hipótese de uso irregular dos poderes administrativos dia a dia, para controlar/fiscalizar os atos praticados por
pelo qual a autoridade competente ou não, pratica algum nossos representantes? É isso que o Politize! vai te res-
ato desrespeitando os limites impostos, exorbitando ponder neste texto!
o uso de suas faculdades administrativas. Ao exceder
sua competência legal, o agente responsável age com DEMOCRACIA E CONTROLE SOCIAL
exageros e desproporcionalidade, o que torna o ato
praticado por ele absolutamente inválido. Mas o excesso “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio
de poder admite convalidação, ou seja, há hipóteses em de seus representantes eleitos ou diretamente, nos
que se pode corrigir vício cometido no ato preservando termos desta Constituição”. A redação do artigo 1º da
sua eficácia, dependendo do caso concreto. Constituiçãorepresenta o regime político adotado pelo
Desvio de finalidade, por sua vez, é vício do ato Brasil: a democracia semidireta ou participativa. Assim,
administrativo, praticado sempre por autoridade além de participar da vida política do país por meio de
competente, que tem por fim diverso daquele previsto, representantes eleitos, também é possível atuar direta-
explícita ou implicitamente, nas regras de competência mente. Isso pode ser feito utilizando os instrumentos
da legislação (art. 2º, par. único, e, da Lei nº 4.717/1965). do plebiscito, referendo, iniciativa popular de leis e ação
A finalidade diversa não macula os requisitos essenciais popular. Desse modo, o povo pode atuar no controle e
dos atos administrativos (competência, objeto, forma, fiscalização das ações de governo, garantindo a aplica-
motivo), mas tende a macular o ato, tornando-o nulo. ção correta dos recursos públicos e corrigindo falhas da
O único caminho possível para esse ato é a anulação, ou gestão pública.
seja, não há possibilidade de convalidação. O desvio de
finalidade pode ocorrer tanto nas condutas comissivas, Como podemos definir controle e fiscalização?
em seu campo de atuação, quanto nas condutas
omissivas, isso é, quando o agente público se abstém de O termo controle, por si só, remete ao ato de moni-
realizar tarefa legalmente imposta. torar atividades. Com esse monitoramento, objetiva-se
Exemplos de desvio de finalidade são bastante garantir que as tarefas sejam realizadas de acordo com o
comuns na Administração Pública brasileira: a construção planejado e corrigir quaisquer desvios. Um bom exemplo
de estrada cujo trajeto foi elaborado com objetivo é a construção de uma casa. Na prática, nós acompa-
de valorizar a propriedade rural de um governador; nhamos a execução da obra para que ela saia de acordo
a transferência de servidor público para outro Estado com o que foi planejado no projeto original, sem falhas
apenas para ficar longe da filha do delegado de polícia ou desvios. A mesma ideia pode ser adotada na esfera
da cidade, a nomeação de réu em ação penal a cargo pública, mas com a seguinte diferença: se antes o objeto
público para obter foro privilegiado e transferir seu de controle era a construção da nossa casa, agora passa
processo para o STF, etc. Percebe-se que, em todos a ser as ações do poder público. Nessa perspectiva, o
os casos, há a sobreposição de um interesse particular controle é realizado por diferentes órgãos, em diferentes
sobre o interesse da coletividade: os agentes estatais, momentos e com alcances distintos.
dessa forma, praticam atos visando obter alguma Quanto ao posicionamento do órgão controlador em
vantagem pessoal, para eles mesmos ou para outrem, relação ao controlado, o controle é classificado em exter-
concretizando, assim, o desvio de finalidade. no e interno. Quando o controle é realizado por um ente
que não faz parte da estrutura do órgão fiscalizado, es-
CONTROLE SOCIAL tamos diante do controle externo. Isso ocorre quando o
Congresso Nacional – com auxílio do Tribunal de Contas
Ao longo do tempo, os modelos teóricos de adminis- da União – avalia as contas prestadas anualmente pelo
tração pública passaram por um processo de evolução, Presidente da República. Por sua vez, quando o controle
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em que o formato seguinte procurou corrigir as falhas é feito por um ente que faz parte da mesma estrutura
do anterior. De modo resumido, a sequência de evolução da unidade controlada, temos o controle interno. A Con-
segue a seguinte ordem: (i) administração pública patri- troladoria-Geral da União (CGU), por exemplo, é órgão
monialista, (ii) administração pública burocrática e (iii) especializado que exerce controle interno de todos os
administração pública gerencial ou nova gestão pública. órgãos e entidades do Poder Executivo Federal.
Ao fim desse processo, o cidadão se deparou com uma Mas será que o controle interno e externo são capazes
nova perspectiva, a qual abriu caminho para construção de controlar – sozinhos – os atos dos gestores públicos?
do chamado “controle social”. Devido a complexidade das estruturas político-sociais do
Enquanto nos dois primeiros modelos não havia Brasil, o controle da Administração Pública não deve ser
consideração pelo cidadão quanto sua participação nas apenas responsabilidade dessas instituições. Assim, sur-
decisões públicas, o modelo gerencial representa uma ge a necessidade da participação popular e da sociedade
mudança. Na administração patrimonialista, o cidadão organizadano controle do gasto público, exigindo o uso
era visto inicialmente como mero financiador dos servi- adequado dos recursos arrecadados. É o que chamamos
ços públicos. Em seguida, passa a ser considerado como de “controle social”.
“cliente-usuário”desses serviços. Hoje, tem-se uma di-
mensão da população como titular da coisa pública. Nes-

122
CONTROLE SOCIAL: CONCEITO E FORMAS DE
ATUAÇÃO
EXERCÍCIOS COMENTADOS
O controle social é a participação do cidadão na ges-
tão pública. O termo inclui fiscalização, monitoramento e 1. (TRT/7ª Região/CE – 2017 - CESPE) Na abordagem
controle das ações da Administração Pública que a po- científica da organização do trabalho preconizada por
pulação realiza. É um importante mecanismo de forta- Taylor, destaca-se a variável distintiva  
lecimento da cidadania que contribui para aproximar a
sociedade do Estado. Assim, surge a oportunidade de os a) adaptação das máquinas ao trabalhador.
cidadãos acompanharem as ações dos governos e co- b) controle da saúde dos trabalhadores.
brarem uma boa gestão pública. Além disso, o controle c) especialização do trabalho.
social representa uma ferramenta indispensável quanto a d) conforto dos trabalhadores.
prevenção da corrupção e mau uso do dinheiro público.
O controle social é um complemento indispensável ao Resposta: “Letra C” O que vale é realmente conhe-
controle institucional realizado pelos órgãos que fiscali- cer o pensamento dos autores. Abaixo, uma lista com
zam os recursos públicos. Essa participação é importante alguns dos autores mais recorrentes nas provas e suas
pois contribui para a boa e correta aplicação dos recur- teorias.
sos públicos, fazendo com que as necessidades da so- Parte inferior do formulário
ciedade sejam atendidas de forma eficiente. No entanto, Taylor - considerado o “Pai da Administração Científi-
para que os cidadãos possam desempenhar de maneira ca”. Seu foco era a eficiência e eficácia operacional na
eficaz o controle social, é necessário que se mobilizem e administração industrial.
recebam orientações sobre como podem ser fiscais dos Fayol - racionalização da estrutura administrativa
gastos públicos. Nesse caso, o controle social poderá ser Weber - divisão do trabalho baseada na especialização
exercido de duas formas: direta e indireta. funcional
Descubra como acompanhar e fiscalizar o governador! Maslow – Hierarquia das necessidades
Alderfer – E(Existencial) R(Relacionamento) C(Cresci-
Controle social direto mento)
Vroom – Valor da recompensa (Valência; instrumenta-
A forma direta representa a atuação do cidadão ou lidade; expectativa)
grupo social sem a participação ou intermédio de órgão Skinner – Reforços e Punições
ou entidade pública, que atuaria como um “canal” entre McClelland – Realização Pessoal; Afiliação (relaciona-
a população e os governantes. Aqui, o controle é feito mento); Poder (influência)
diretamente pelo povo. Você, por exemplo, pode verificar Herbert Simon – Decisões programadas e não-progra-
se a sua cidade realiza as obras das escolas conforme o madas
prometido no plano de governo. Armand Feigenbaum – Total Quality Control ou Con-
trole da Qualidade Total.
Controle social indireto Walter Stewan – Ciclo PDCA (plan-do-check-act).
Kaoru Ishikawa – sete ferramentas do controle esta-
A forma indireta representa a participação do povo tístico da qualidade (diagrama de causa e efeito; folhas
por meio de mecanismos ou instituições colocados à de verificação; histograma; cartas ou folllas de controle;
sua disposição. Aqui, o controle é feito por intermédio fluxograma; diagrama de Pareto; diagrama de disper-
de organizações. Um exemplo de controle social indireto são e diagrama de lshikawa).
são os Conselhos Municipais de Políticas Públicas, cria- Garvin – Abordagens gerais de qualidade
dos para acompanhar a execução dos recursos federais Joseph Juran – trilogia da qualidade: planejamento,
repassados ao município. controle e melhoria.
Philip Crosby – Defeito Zero
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Edwards Deming – Kaizen, melhoria contínua


REFERÊNCIA Charles H. Kepner – Matriz GUT
https://ralmeidasgc.jusbrasil.com.br/arti- Ford – linha de produção; princípios de intensificação,
gos/113024627/principio-da-transparencia-na-adminis- economicidade e produtividade
tracao-publica Porter – Teoria das 5 forças
https://www.politize.com.br/controle-social-o-que- Alternativa A: ERRADA – o processo era o de adap-
-voce-tem-a-ver/ tação do trabalhador às maquinas.
Alternativa B: ERRADA – o foco era na tarefa, no
processo produtivo.
Alternativa D: ERRADA – o foco era na tarefa e não

123
2. (TRT/7ª Região/CE – 2017 - CESPE) O objetivo dos exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, os órgãos
estudos de Hawthorne, que deram origem à Escola das públicos utilizam a comunicação para inserir o cidadão
Relações Humanas, era no contexto político-econômico tanto das cidades, como
do estado ou mesmo da federação. Tal mudança somen-
a) determinar, por meio de métodos científicos, a tarefa te foi impulsionada durante a redemocratização do país,
ideal a ser desempenhada pelo operário conforme o somado aos grandes avanços de tecnologias da infor-
seu perfil. mação, como a internet e a criação de espaços de mídias
b) promover melhores condições de trabalho para os sociais.
operários nas fábricas. Com o foco voltado para a gestão pública, o papel
c) demonstrar o impacto das condições físicas do local de da comunicação social na administração pública empre-
trabalho na produtividade dos operários. ga valores éticos e formadores de conceito da opinião
d) identificar o tipo de estrutura formal da empresa capaz pública que permeiam a maneira como é tratada a divul-
de contribuir para a qualidade de vida dos trabalha- gação das ações dos órgãos e indiretamente dos gesto-
dores. res públicos que têm o interesse próprio condicionado à
mesma importância do que julga ser o interesse público.
Resposta: “Letra C” Hawthorne pretendia demons- O art. 37 da Constituição Federal garante que o uso da
trar a influencia do ambiente de trabalho (condições comunicação para os órgãos governamentais “deverá
físicas, de estrutura, de suoorte) no desempenho e ter caráter educativo, informativo e de orientação so-
produtividade dos trabalhadores. Quanto melhores cial”, sendo bastante utilizada na divulgação de políticas
as condições no espaço de trabalho, mais produtivos públicas, que são instrumentos criados pelo Executivo
seriam os trabalhadores, por exemplo, uma boa ilumi- como forma de dar maior cumprimento aos objetivos
nação favorece um trabalho mais rápido e de melhor fundamentais previstos na própria Constituição, quais
qualidade. sejam, a erradicação da pobreza, o enfrentamento das
desigualdades, etc.
A Comunicação Governamental pode ser entendida
3. (TRT/7ª Região/CE – 2017 - CESPE) O objetivo da
como Comunicação Pública, na medida que ela é ins-
nova gestão pública é
trumento de construção da agenda pública e direciona
seu trabalho para a prestação de contas, o estímulo para
a) assegurar a impessoalidade e a racionalidade técni-
o engajamento da população nas políticas adotadas, o
ca na gestão pública por meio da burocratização dos
reconhecimento das ações promovidas nos campos po-
processos.
líticos, econômico e social, em suma provocar o debate
b) fomentar a eficiência da administração por meio da
político. Trata-se de uma forma legítima de um governo
redução de custos e da melhora na qualidade dos ser- prestar contas e levar ao conhecimento da opinião públi-
viços. ca os projetos, ações, atividades e políticas que realiza e
c) promover o poder racional-legal como estratégia de que são de interesse público.
combate à corrupção e ao nepotismo. As mudanças no cenário global, contudo, não ense-
d) garantir o acesso à propriedade privada para o gestor jaram apenas uma maior comunicação governamental.
e os seus servidores. Para que os gestores pudessem melhor se adaptar aos
acontecimentos dinâmicos e céleres da era contempo-
Resposta: “Letra C” A nova gestão pública, também rânea, surge novas modalidades de gestão, dentre as
conhecida como modelo gerencial de gestão possui quais destacamos a gestão por redes organizacionais.
foco nos procedimentos, com controle voltado para os Desenvolver a gestão em redes, ao mesmo tempo que
resultados, com características de multifuncionalidade, possibilita articular vários saberes e habilidades em torno
flexibilização das relações de trabalho, busca atender de uma atividade de forma dinâmica, estimula a iniciati-
ao cidadão através do alcance de resultados. va, a flexibilidade e a participação dos integrantes, dire-
cionados ao incremento da conectividade. Isso faz com
que as pessoas sejam o instrumento principal de geração
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

de informação e conhecimento.
COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA E Redes são sistemas organizacionais capazes de reunir
GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS. indivíduos, de forma democrática e participativa, em tor-
no de causas afins. As estruturas flexíveis e estabelecidas
horizontalmente, bem como as dinâmicas de trabalho
O processo de comunicação implica o compartilha- das redes supõem atuações colaborativas e se sustentam
mento de informações entre duas ou mais pessoas, e que pela vontade e afinidade de seus integrantes, caracteri-
tem por escopo alcançar um entendimento comum so- zando-se como um significativo recurso organizacional
bre um objeto ou uma situação. para a estruturação técnico e social. Participar de uma
Como parte integrante da máquina pública, a co- rede organizacional envolve, portanto, algo mais do que
municação cumpre um fundamental e decisivo papel apenas trocar informações a respeito dos trabalhos que
no processo eleitoral, como também na exposição do um grupo de organizações realiza isoladamente. Sig-
trabalho efetuado em uma gestão. Divulgar a eficiência nifica comprometer-se a realizar conjuntamente ações
de políticas públicas e transparência na utilização de re- concretas, compartilhando valores e atuando de forma
cursos está em constante ascensão na gestão governa- flexível, transpondo, assim, fronteiras geográficas, hierár-
mental brasileira. Com a intenção eleitoral futura ou pela quicas, sociais ou políticas.

124
Para que uma rede organizacional exerça todo o seu potencial, é preciso que sejam criados Times de Trabalho que
atendam a alguns princípios:
A) Existência de um propósito unificador, que pode ser definido como o espírito da rede. Pode ser expresso como
um alvo e um conjunto de valores compartilhados pelos participantes, de forma esclarecedora, democrática e
explícita.
B) Participantes independentes, não limitados por hierarquias. Deve haver um equilíbrio entre a independência de
cada participante e a interdependência cooperativa do grupo que dá força motriz a uma rede.
C) Multiplicidade de líderes, que podem ser caracterizados como pessoas que assumem e mantêm compromissos,
mas que também sabem atuar como seguidores. Descentralização, independência, diversidade e fluidez de lide-
ranças são características autênticas de uma rede que visa à transposição de fronteiras.
D) Interligação e transposição de fronteiras, sejam elas geográficas, hierárquicas, sociais ou políticas. O alcance dos
objetivos e propósitos deve ser a maior prioridade de tais times.

Como uma nova forma de gestão, as redes organizacionais apresentam maior flexibilidade, trabalho em time, agili-
dade na distribuição de informações etc. Tudo isso culmina para que esse tipo de modelo seja cada vez mais utilizado
pelos gestores, uma vez que ele melhor se adequa as rápidas mudanças do cenário tecnológico e econômico da atual
sociedade.

GOVERNABILIDADE E GOVERNANÇA. INTERMEDIAÇÃO DE INTERESSES (CLIENTELISMO,


CORPORATIVISMO E NEOCORPORATIVISMO).

Governar significa “deter uma posição de força a partir da qual seja possível desempenhar uma função imediata-
mente associada ao poder de decidir e implementar decisões ou, ainda, de comandar e mandar nas pessoas”.
Já as expressões governabilidade e governança são muito mais qualificativas.

Representam:

a) A governabilidade refere-se mais à dimensão estatal do exercício do poder. Diz respeito às “condições sistêmi-
cas institucionais sob as quais se dá o exercício do poder, tais como as características do sistema político, a forma
de governo, as relações entre os Poderes, o sistema de intermediação de interesses” (Santos, 1997).
Ainda segundo Luciano Martins, o termo  governabilidade refere-se à arquitetura institucional, distinto, portanto
de governança, basicamente ligada à performance dos atores e sua capacidade no exercício da autoridade polí-
tica (apud Santos, 1997, p. 342).

1. Dimensões da governabilidade (Diniz, 1995): ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

#FicaDica
Governabilidade:
- Está situada no plano do Estado.
- Trata-se de um conjunto de atributos essencial ao exercício do governo, sem os quais nenhum poder
será exercido;

125
b) Já a governança tem um caráter mais amplo. Pode englobar dimensões presentes na governabilidade, mas vai
além.
Segundo Melo (apud Santos, 1997): “refere-se ao modus operandi das políticas governamentais – que inclui, dentre
outras, questões ligadas ao formato político institucional do processo decisório, à definição do mix apropriado
de financiamento de políticas e ao alcance geral dos programas”.
Santos (1997) destaca que “o conceito (de governança) não se restringe, contudo, aos aspectos gerenciais e admi-
nistrativos do Estado, tampouco ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado”.
Sendo assim, governança refere-se a

Ou seja, enquanto a governabilidade tem uma dimensão essencialmente estatal, vinculada ao sistema político-ins-
titucional, a governança opera num plano mais amplo, englobando a sociedade como um todo.

O Sistema de Intermediação é uma das características da governabilidade e se refere a grupos que se associam em
redes com a intenção de manifestar suas preferencias frente à atividade estatal.
Temos como formas de sistemas de intermediação:
 Clientelismo – podemos considera-lo como uma relação entre classes sociais diferentes, onde percebe-se uma
dependência entre as partes e uma relação de lealdade e necessidade. Outra coisa que percebemos nessa forma
de intermediação é que esta apresenta muito mais um aspecto politico, do que cultural ou social, envolvendo
lealdades pessoais e troca de vantagens através da estrutura pública que controlam.
 Corporativismo – trata-se de um sistema representativo de interesses econômicos e profissionais nos âmbitos
políticos, organizados através de entidades singulares, compulsórias, que seguem ordenação hierárquica, não
competitivas entre si, e à elas é concedido monopólio de representação dentro de sua categoria ou segmento,
sem nenhum tipo de participação no processo decisório da gestão publica, sendo na verdade muito mais uma
forma de controle do próprio Estado. Ex.: Câmaras Setoriais.
 Neocorporativismo: forma de intermediação de interesses entre sociedade e Estado. Como característica des-
tacável temos a existência de corporações de interesse privado na intermediação publica, surgido dentro da so-
ciedade e indo para o cenário estatal através de negociações diretas com a gestão publica. Nesse sistema, o que
temos é a criação de um canal participativo dessas corporações na tomada de decisão publica, atuando como
parceiros, que como contrapartida, poderá oferecer apoio para criação e execução de politicas governamentais.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

2. Acconuntability

O termo accountability refere-se a ideia de responsabilização, refere-se ao controle e à fiscalização dos agentes
públicos. Porém ainda não possuímos um consenso em relação ao seu conceito.
Alguns autores defendem a noção menos abrangente do termo, que não compreende em seus limites as relações
informais de fiscalização e controle, não considerando assim como agentes de accountability, a imprensa e organi-
zações da sociedade civil que comumente se incumbem de monitorar e denunciar abusos e condutas sem ética de
agentes públicos no exercício do poder.
Outros autores admitam um rol de relações bem mais abrangente, estipulando que tais relações devem necessaria-
mente incluir a capacidade de sanção aos agentes públicos. 
Em que se pese, accountability implica não apenas responsabilização do governante ou burocrata, mas também a
capacidade de o agente fiscalizador demandar justificação do governante ou burocrata por seus atos ou omissões. En-
tende-se que accountability significa manter indivíduos e organizações passíveis de serem responsabilizadas pelo seu
desempenho, sendo portanto um conjunto de abordagens, mecanismos e práticas usados pelos atores interessados
em garantir um nível e um tipo desejados de desempenho dos serviços públicos. 

126
2.1. Accountability e democracia participativa

Em primeira instância, entende-se que o desenvolvimento de uma cultura política e da consciência popular são
os primeiros passos para uma democracia verdadeiramente participativa e para a accountability do serviço público. A
medida que a democracia vai amadurecendo, o cidadão, individualmente passa do papel de consumidor de serviços
públicos e objeto de decisões públicas a um papel ativo de sujeito. A mudança do papel passivo para o de ativo guar-
dião de seus direitos individuais constitui um avanço pessoal, mas, para alcançar resultados, há outro pré-requisito: o
sentimento de comunidade. A cidadania organizada pode influenciar não apenas o processo de identificação de neces-
sidades e canalização de demandas, como também cobrar melhor desempenho do serviço público. Destaca-se aqui o
caminho ideal para a accountability.
A atual realidade exige um novo padrão de deliberação que considere o cidadão como o foco da ação pública. O proces-
so institucional de diferenciação e de complementaridade de funções entre Estado, mercado e sociedade civil organizada é
um processo essencialmente político, que tem reflexo nas competências constitucionais, nos grandes objetivos de governos
legitimados pelas urnas e nas demandas identificadas pelo sistema político e pela burocracia governamental.
Neste contexto, nas sociedades democráticas mais modernas aceita-se como natural e espera-se que os governos
e o serviço público sejam responsáveis perante os cidadãos. Acredita-se que o fortalecimento da accountability e o
aperfeiçoamento das práticas administrativas caminham juntos. 
Vale destacar que Accountability não é apenas uma questão de desenvolvimento organizacional ou de reforma ad-
ministrativa. Entende-se que a accountability deve ser compreendida como uma questão de democracia, pois quanto
mais avançado o estágio democrático, maior o interesse pela accountability. E a accountability tende a acompanhar o
avanço de valores democráticos, tais como igualdade, dignidade humana, participação, representatividade. A inevitável
necessidade o desenvolvimento de estruturas burocráticas para o atendimento das responsabilidades do Estado traz
consigo a necessidade de proteção dos direitos do cidadão contra os usos (e abusos) do poder pelo governo como um
todo, ou qualquer indivíduo investido em função pública.

O accountability possui três planos:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Pode ser classificado como:

Horizontal: não há hierarquia, pois corresponde a uma mútua fiscalização e controle existente entre os poderes.
Exemplos: prefeitura recebe recursos do governo e a CGU faz uma auditoria; atuação dos Tribunais de Contas, do Mi-
nistério Público;
Vertical: trata do controle da população sobre o governo. É uma relação entre desiguais, pois o povo pode
fiscalizar e punir as más gestões, principalmente através do voto em eleições livres e justas. “É algo que depende de
mecanismos institucionais, sobretudo da existência de eleições competitivas periódicas, e que é exercido pelo povo”
(Miguel, 2005).

127
Portanto, podemos concluir que governabilidade, 2. (TRT/12ª Região/SC – 2017 - FGV) Uma entidade da
a governança e a accountability constituem diferentes administração pública iniciou uma série de ações com
conceitos, mas que trabalhados conjuntamente corres- vistas a adotar boas práticas de governança pública, en-
pondem a fatores essenciais para a boa gestão de um tre elas criar instâncias na estrutura da entidade para im-
Estado, onde, a governança se relaciona com capacidade plantar e disseminar as boas práticas.
de execução e competência técnica, ou seja, é a capaci- De acordo com o Referencial Básico de Governança Pública
dade do governo de praticar as decisões tomadas, a go- (TCU, 2014), as instâncias internas de governança são res-
vernabilidade está relacionada com a legitimidade, isto ponsáveis por definir ou avaliar a estratégia e as políticas,
é, são as condições necessárias que o governo precisa bem como monitorar a conformidade e o desempenho
para exercer o poder, a capacidade do governo de imple- destas.
mentar suas políticas e, para finalizar, a accontability está Essas instâncias podem ser exemplificadas por: 
relacionada ao uso do poder e dos recursos públicos, isto
é, trata-se da prestação de contas. a) auditoria interna; 
b) conselhos de administração; 
Texto adaptado de Rejane Esther Vieira Mattei/Alcindo c) conselho fiscal;
Goncalves d) controladorias; 
e) ouvidoria. 

EXERCÍCIOS COMENTADOS Resposta: Letra B. Primeiramente é importante lem-


brar que o sistema de governança pública tem por
1. (TRT/21ª Região/RN – 2017 - FCC) Os conceitos de finalidade demonstrar de que forma os agentes en-
governança e governabilidade, embora não coinciden- volvidos na organização pública se comportam para
tes, são indissociáveis e complementares, sendo aplica- alcançar o que foi proposto como resultado objetiva-
dos, cada qual, em diferentes contextos. Nesse sentido, do.
considere: As alternativas A, C, D e E atuam como instâncias de
I. Governança, em uma de suas acepções, representa o apoio à governança, portanto, estão ERRADAS.
modo como as organizações são administradas e con- Já os conselhos de administração sim, são responsá-
troladas e como interagem com as partes interessadas. veis por definir ou avaliar a estratégia e as políticas,
II. Governabilidade refere-se às condições substantivas bem como monitorar a conformidade e o desempe-
do exercício do poder e legitimidade do governo, deriva- nho destas são responsáveis por definir ou avaliar a
da da relação com a sociedade. estratégia e as políticas, bem como monitorar a con-
III. Governança e governabilidade podem ser fundidas formidade e o desempenho destas, lembrando ainda
em um único metaconceito, correspondente a accounta- que, na falta desses conselhos, ou de outros equiva-
bility, própria dos governos democráticos. lentes, essa função compete à alta administração. ​
Está correto o que consta APENAS em 
3. (TRT/24ª REGIÃO/MS – 2017 - FCC) Nos últimos
a) I e II.  anos, diferentes conceitos, alguns oriundos da iniciativa
b) III.  privada, passaram a permear a atuação da Administração
c) I e III.  Pública, entre eles:
d) II e III. 
e) II.  I. Governança, que é sinônimo de governabilidade, e cor-
responde à legitimidade política.
Resposta: Letra A. Primeiramente, vamos relembrar II. Eficiência, relacionada com o uso racional e econômico
os conceitos: dos insumos na produção de bens e serviços.
GOVERNABILIDADE : legitimidade III. Efetividade, que diz respeito ao impacto final das
GOVERNANÇA : implementação de politicas públicas ações e ao grau em que atinge os resultados almejados
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

ACCOUNTABILITY : prestar contas. pela sociedade.


Portanto, podemos automaticamente eliminar a afir- Está correto o que se afirma APENAS em 
mativa III, afinal, são conceitos que, embora interliga-
dos, são distintos. a) II e III. 
O outro ponto a ser analisado e que fez com que muitos b) I e II. 
considerassem a afirmativa I como errada, é o fato de c) I e III. 
não considerar que a governança pode ser analisada d) III. 
no campo público e no campo corporativo, sendo este e) II. 
último o pertinente à afirmativa, portanto, ela está cor-
reta. Resposta: Letra A. Primeiramente vamos aos concei-
Dessa forma temos como CERTAS as afirmativas I e II tos:
GOVERNABILIDADE : legitimidade
GOVERNANÇA : implementação de politicas públicas
ACCOUNTABILITY : prestar contas.
Eficácia: fazer o que foi proposto, atingir a meta, dire-
cionar-se para o resultado.

128
Eficiência: atingir a meta considerando os recursos, os custos, ou seja, fazer o proposto com baixo custo.
Efetividade: aquilo que causa impacto, ou seja, o resultado tem que ser relevante, fazer diferença, positivamente,
para quem receber a ação.
Agora que já vimos o que cada conceito representa, fica fácil porque já podemos eliminar as alternativas que apon-
tam a primeria afirmativa como correta, visto que sabemos que conceitos diferentes, embora interligados, restando-
-nos portanto, conforme conceitos acima, corretas as demais afirmativas.

As mudanças que ocorrem relativas às novas tecnologias de informações e de comunicação (TIC) afetam a socie-
dade de forma geral, assim como os governos nos processos de tomada de decisões. Com vista desta realidade, os
governantes de distintos países estão se preparando para utilizar estas ferramentas na construção de governos mais
democráticos, estreitando o relacionamento do setor público com a sociedade civil.
A ideia de e-governo surge para suprir esta necessidade, utilizando asTICs de forma a alcançar o objetivo de demo-
cratizar os governos e haver maior transparência e controle social.
Acredita-se que a utilização da Internet e de Web Sites governamentais para prestação de serviços públicos on-line
e para disponibilização das mais variadas informações acerca das atividades públicas representa um caminho para
melhorar a eficácia e a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos bem como do processo democrático. Por meio
desses expedientes, julga-se ser possível atender demandas mais específicas da população e que a mesma possa ter
uma participação mais efetiva na gestão pública, tanto definindo prioridades quanto fiscalizando e controlando as
ações do governo. (FERREIRA e ARAUJO, 2000, p.1).
Segundo Silva e Lima (2007, p.5), a democracia eletrônica é o caminho para dinamizar a relação entre governo e
cidadão e promover a democratização do século XXI.
Alguns autores igualam o governo eletrônico ao governo digital, onde pode denominá-lo através da aplicação da
TI no provimento de acesso a informação e serviços. O conceito usual de governo eletrônico, segundo Gartner Group
(2000) apud Santos e Honorífica (2002, p.6), é: “a contínua otimização de oferta de serviço, participação do eleitorado
e governança mediante transformação de relacionamentos internos e externos com uso da tecnologia, da internet e
da nova mídia”.
No entanto, cabe ressaltar que o governo eletrônico não está vinculado somente à utilização das TICs, que em
conformidade com Prado (2009, p.32), “os governos sempre fizeram uso, em maior ou menor escala, das tecnologias
disponíveis em seus processos internos ou na interação com a sociedade”, transformando o conceito de governo ele-
trônico muito mais extenso, como o aumento da eficiência, monitoramento das políticas públicas, transparência, busca
da melhor governança, aplicação das TICs para melhorar os processos da administração pública, dentre outros.

#FicaDica
Governo Eletrônico não significa apenas uso de tecnologia da informação, trata-se de um processo que
engloba outros fatores.
Em verdade, ele deve ser encarado como a transição entre uma forma de governar fortemente segmen-
tada, hierarquizada e burocrática, que ainda caracteriza o dia-a-dia da imensa maioria das organizações
públicas e privadas, para um Estado mais horizontal, colaborativo, flexível e inovador, seguindo um figurino
mais coerente com a chegada da sociedade do conhecimento, fenômeno que começou a ganhar contor-
nos mais visíveis no último quarto do século passado. Agune e Carlos (2005, p.1)

Diante das principais definições constantes na literatura quanto a governo eletrônico, podemos destacar algo em
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

comum nelas, que se traduzem em três objetivos que essas abordam:


- Promoção de um governo mais eficiente;
- Provimento de melhores serviços aos cidadãos e
- Melhoria do processo democrático”.

Com a tecnologia da informação é possível transmitir as informações com maior rapidez e com precisão a todos
os usuários, podendo estes participar de forma ativa no acompanhamento e no controle das ações governamentais.
A figura a seguir apresenta o papel estratégico que a tecnologia da informação e comunicação tem no governo,
apontando os principais temas que o governo, ao focalizar seus esforços, pode gerar de positivo à sociedade.

129
O governo eletrônico engloba, três atores institucionais (Goes e Damasceno, 2004, p.3), sendo eles identificados
como:
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

A maioria dos governos que têm empreendido esforços para construir o governo eletrônico visa, segundo Silva Fi-
lho (2004, p.1): “ação pública direcionada ao cidadão; oferta de meios de acesso a informações e serviços; organização
das informações dentro dos órgãos do governo; troca de informações entre as várias esferas do governo e suporte a
interoperabilidade”.

Conforme Ferreira e Araújo (2000, p.1), as funções que os governos estão explorando, a fim de obter uma gestão
pública mais participativa e eficiente, através do governo eletrônico, são:
a) A de propiciar maior transparência no modus operandis da gestão pública, facilitando o exercício do que tem
se convencionado chamar de accountability, que compreende em grande parte a obrigatoriedade do gestor de
prestação de contas ao cidadão (votante, consumidor e financiador dos bens públicos); e

130
b) A de permitir a troca rápida de informações entre governantes e diminuindo a corrupção no setor público.
membros do governo, como, por exemplo, preços Além de que, através da informação, há maiores chances
cotados em licitações, divulgação de experiências e oportunidades para implantar e ajustar as políticas pú-
bem sucedidas de gestão, dentre outras atividades blicas, a fim de ganhar maior efetividade.
que intensifiquem o aumento da eficiência na má- Outro benefício percebido por Ferreira e Araujo
quina pública. (2000, p.2) quanto à transparência da gestão pública é
sua contribuição “para melhorar o acesso ao mercado
Outro beneficio alcançado através do governo eletrô- internacional de crédito”, que ocorre devido ao compro-
nico é a diminuição dos gastos da administração pública metimento das autoridades públicas com a responsabili-
e a melhor utilização dos recursos, pois muitos serviços dade de prestação de contas, estando sujeita ao controle
passam a ser realizados por meio eletrônico, pela própria externo.
sociedade e a qualquer hora. Isso gera diminuição no O controle social permite a fiscalização e o controle
número de servidores e/ou terceirizados que até então dos gastos públicos, bem como a avaliação dos resulta-
realizavam atividades burocráticas. dos alcançados pela ação governamental, podendo ser
As prestações de serviços, informações e comunica- exercido pelos conselhos e pelos cidadãos. Em confor-
ções entre cidadãos e seus governos são realizados atra- midade com Brasil (2008, p.56) “a efetividade dos me-
vés dos portais, que beneficiam tanto a sociedade como canismos de controle social depende essencialmente da
o governo. A sociedade tem disponível as informações capacidade de mobilização da sociedade e do seu desejo
e os serviços em tempo integral, sem a necessidade de de contribuir, o que permitirá uma utilização mais ade-
deslocamento, ganhando rapidez no acesso e no tempo quada dos recursos financeiros disponíveis”.
de execução, além de qualidade. O governo ganha maior Para que haja o controle social é necessário haver a
capacidade de atendimento, custo reduzido e mais trans- transparência das ações governamentais, com troca de
parência. (SILVA e LIMA, 2007, p.8). informação entre governo-sociedade e co-responsabili-
zação entre a ação de ambos. O governo deve levar a
3. O acesso à informação e à democratização informação à sociedade e este deve buscar de forma
consciente essa informação para influenciar no processo
O debate sobre a importância da informação para a de tomada de decisões.
eficiência da gestão pública, sendo ela insumo para o Alguns problemas que há para a eficácia do controle
aperfeiçoamento da ação governamental e das relações social é a capacidade de processamento das informa-
entre Estado e sociedade é algo constante no cenário ções disponibilizadas pela administração pública, sendo
atual. excessivamente técnicas e especializadas, dificultando o
O fluxo contínuo de informações passa a ser o vetor entendimento da população.
do processo de transformação da sociedade, de caracte- Segundo Brasil (2008, p.58), a transparência da gestão
rísticas industriais para uma sociedade do conhecimento, pública e das ações do governo depende:
que tem a informação como insumo básico e seu acesso - Da publicação de informações, de forma clara e
potencializado pelas tecnologias da informação e comu- compreensível ao público a que se destinam;
nicação. (SILVA e LIMA, 2007, p.1). - De espaços para a participação popular na busca de
O princípio da eficiência exige transparência na admi- soluções para problemas na gestão pública;
nistração pública, para se ter maior controle da máqui- - Da construção de canais de comunicação e de diálo-
na administrativa e combate à ineficiência formal, sendo go entre a sociedade civil e o governante;
possível uma maior participação do cidadão na adminis- - Do funcionamento dos conselhos, órgãos coletivos
tração pública, inclusive, criando condições para que a do poder público e da sociedade civil, como papel
sociedade possa avaliar os serviços públicos e denunciar de participar da elaboração, execução e fiscaliza-
possíveis irregularidades. (RAMOS JUNIOR, 2009, p.147). ção das políticas públicas;
Quanto aos benefícios que o governo eletrônico - Da modernização dos processos administrativos,
pode trazer para o governo e a sociedade referente à que, muitas vezes, dificultam a fiscalização e o con-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

transparência e eficiência, Vaz (2008, p.1) afirma: trole por parte da sociedade civil;
Processos redesenhados, com implantação de ins- - Da simplificação da estrutura de apresentação do
trumentos de governo eletrônico, podem gerar além de orçamento público, e do processo de execução
maiores recursos e ampliação dos serviços, uma maior desse orçamento, assim entendida a arrecadação
transparência que proporcionará maior integração e ao e o gasto dos recursos públicos.
mesmo tempo maior possibilidade de acesso as decisões
governamentais. Silva e Lima (2007, p.6) ao abordarem sobre a impor-
tância da interação entre a sociedade e o governo para
Através da transparência das informações o gover- a construção de um Estado democrático, defendem: “na
no cria confiança entre os governantes e governados, medida em que o Estado amplia os mecanismos de parti-
permitindo o direito ao controle social. De acordo com cipação popular, torna transparente suas ações, propicia
Torres (2004, p.42), a transparência vem como solução maior controle social, melhora a prestação de serviços
para o problema da corrupção e visa propiciar o aperfei- e os estende a todos cidadãos, tem-se um Estado mais
çoamento constante das ações estatais. Com o aumento democrático”.
da transparência das ações, o controle social também au-
menta, gerando impactos sobre a responsabilidade dos

131
A democracia conforme Brasil (2008, p.33), “nutre-se da autonomia dos indivíduos e da liberdade de opinião e de
expressão”, com esta autonomia a sociedade pode livremente escolher seus agentes políticos, interferir nos processos
de governo, promovendo o controle social da ação pública ou participando da construção de políticas públicas.
O governo eletrônico é um sistema de inter-relação, do governo com a sociedade, sendo um mecanismo importan-
te para a transparência, a cidadania e a democracia. Conforme Vieira (2008, p.2), “entende-se que governo eletrônico
tem entre seus objetivos contribuir com o aumento da transparência e participação da sociedade nas ações governa-
mentais”.
A figura a seguir demonstra como as ações do governo eletrônico podem contribuir para a democratização e efi-
ciência das ações governamentais.

O governo eletrônico é um governo ágil, que visa à prestação de serviços e informações de qualidade para os cida-
dão, conforme Chahin et al. (2004, p.58) o governo eletrônico “deve usar as tecnologias da informação e da telecomu-
nicação para ampliar a cidadania, aumentar a transparência da gestão e participação dos cidadãos na fiscalização do
poder público e democratizar o acesso aos meios eletrônicos”.
O governo eletrônico é composto por vários componentes que de forma geral auxiliam na boa gestão pública, no
entanto, estes componentes não devem ser desenvolvidos de forma isolada, pois de nada adianta ter transparência de
informação sem a participação popular. A democracia só existe a partir da relação governo e cidadão, e o Estado com
estes novos conceitos caminha para se tornar mais flexível, colaborador e transparente.

Texto adaptado de Flávia Monaco Vieira/Vando Vieira Batista dos Santos

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (Câmara de Belo Horizonte/MG – 2018 - CONSULPLAN) “No Brasil, a política de Governo Eletrônico segue um
conjunto de diretrizes que atuam em três frentes fundamentais: junto ao cidadão; na melhoria da sua própria gestão
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

interna; na integração com parceiros e fornecedores.”


(Disponível em: https://www.governoeletronico.gov.br/sobre-o-programa/diretrizes.)
Partindo desses objetivos fundamentais, pode-se deduzir que tais diretrizes abrangem, EXCETO: 

a) Priorização do uso de softwares livres.


b) Prescindibilidade de políticas de inclusão digital.
c) Integrabilidade de dados, programas e sistemas.
d) Acessibilidade e usabilidade dos sítios eletrônicos.

Resposta: Letra B. De acordo como o relatório Consolidado, das oficinas de Planejamento estratégico, o governo
eletrônico será implementado segundo sete princípios. Estes devem servir como referência geral para estruturar as
estratégias de intervenção, adotadas como orientações para todas as ações de governo eletrônico, gestão do co-
nhecimento e gestão da TI no governo federal. São eles (BRASIL, 2004, p. 8):
“1. Promoção da cidadania como prioridade;
2. Indissociabilidade entre inclusão digital e o governo eletrônico;
3. Utilização do software livre como recurso estratégico;

132
4. Gestão do Conhecimento como instrumento estra- c) O Programa Sociedade da Informação, do governo fe-
tégico de articulação e gestão das políticas públicas; deral, relacionado ao governo eletrônico, visava pro-
5. Racionalização dos recursos; mover o accountability governamental e a transparên-
6. Adoção de políticas, normas e padrões comuns; cia das contas públicas.
7. Integração com outros níveis de governo e com os d) A adoção do accountability governamental minimiza
demais poderes.” a responsabilização dos governantes, devido à efi-
ciência das tecnologias utilizadas para sistematizar os
2. (FUNAI – 2016 - ESAF) Conforme Diniz (2015, pág. meios de prestação de contas. 
50), “(...) o e-gov é, hoje, uma realidade em construção e, e) O uso de tecnologias da informação e comunicação,
apesar de possuir crescimento distinto dependendo do especialmente após a ampliação do acesso à Inter-
país ou região, é considerado um dos principais instru- net, dificulta a transparência da administração públi-
mentos governamentais para melhora da gestão públi- ca devido ao excesso de informações cuja avaliação,
ca”. em termos de veracidade, depende de conhecimentos
(DINIZ, E. H. Governo na web: reflexões teóricas e práticas. técnicos.
2015, pág. 50)
Sobre o desenvolvimento do governo eletrônico no con- Resposta: Letra B a) ERRADA. O erro está em afirmar
texto brasileiro, é correto afirmar que: que há limitação quanto à participação do cidadão,
pois, a proposta é exatamente aumentar a participação
a) governo aberto em distintas bases de dados e a inte- social.
roperabilidade entre os sistemas de informações go- c) ERRADA. O Programa Sociedade da Informação tem
vernamentais estão amplamente difundidos na gestão como objetivo geral integrar, coordenar e fomentar
pública brasileira, sem diferenças significativas entre ações para a utilização de tecnologias de informação e
os níveis de governo. comunicação, de forma a contribuir para que a econo-
b) a sociedade brasileira tem pleno acesso às tecnologias mia do país tenha condições de competir no mercado
da informação, o que oportuniza o amplo desenvol- global e, ao mesmo tempo, contribuir para a inclusão
vimento de ações relacionadas à democracia digital. social de todos os brasileiros na nova sociedade (TA-
c) a Lei de Acesso à Informação (LAI) representa um KAHASHI, 2000, p. 5).
grande avanço normativo para a relação entre Estado d) ERRADA. Não ocorre minimização de responsabilida-
e sociedade no Brasil e busca garantir o direito funda- de, afinal, os conceitos Transparência, Governo Eletrô-
mental de acesso à informação dos cidadãos no âmbi- nico e Accountability são diretamente proporcionais.
to do setor público e) ERRADA. A ciberdemocracia (que pode ser entendida
d) a disponibilização, em tempo real, de informações como a capacidade dos novos ambientes de comuni-
pormenorizadas sobre a execução orçamentária e fi- cação em ampliar o grau e a qualidade da participa-
nanceira atrapalha a gestão governamental e é facul- ção pública no governo.” Destarte, Pierre Lévy (2003, p.
tada aos entes governamentais. 123-124) ) encontra-se, no maior acesso à informação
e) o Portal da Transparência do Governo Federal caracte- governamental e a interação entre o Estado e sociedade
riza-se como um mecanismo de transparência passiva civil, através dos meios eletrônicos. Um dos mecanismos
e fortalece a governança eletrônica e a aproximação relacionados a efetivação desta nova fase da democra-
com o cidadão. cia é o governo eletrônico (e-gov). Este é, hodiernamen-
te, compreendido como um dos principais mecanismos
Resposta: Letra C. Alternativa A: Está errada por afir- de modernização do Estado. 
mar que não há diferenças entre os níveis de governo.
Alternativa B: Está errada por desconsiderar aquela
fração da sociedade que não possui acesso à Internet.
Alternativa D: trata-se de aspectos favoráveis à gestão O CICLO DO PLANEJAMENTO EM ORGANI-
governamental. ZAÇÕES (PDCA)
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Alternativa E: trata-se de transparência passiva.

3. (TRE/PI – 2016 - CESPE) A respeito de desenvolvi-


mento e disponibilização de novas tecnologias, celerida- “Prezado Candidato, o tópico acima foi abordado
de dos meios de comunicação e transparência das in- na íntegra em: Empreendedorismo governamental e
formações, tanto no âmbito privado quanto no público, novas lideranças no setor público. Processos partici-
assinale a opção correta. pativos de gestão pública. Conselhos de gestão, or-
çamento participativo, parceria entre governo e so-
a) As ações do governo eletrônico, relacionadas especial- ciedade.”
mente ao e-governança, e-democracia e e-governo,
embora favoreçam a transparência, limitam a partici-
pação do cidadão e o fortalecimento da cidadania. 
b) O uso de tecnologias da informação, que possibilita a
elevação da eficiência administrativa e a melhoria tan-
to dos serviços internos como daqueles prestados ao
cidadão, deu origem ao chamado governo eletrônico. 

133
interdependente, com seus objetivos e indicadores se
BALANCED SCORECARD (BSC). PRINCIPAIS inter-relacionando e formando um fluxo ou diagrama de
CONCEITOS, APLICAÇÕES, MAPA ESTRA- causa e efeito que se inicia na perspectiva do aprendi-
TÉGICO, PERSPECTIVAS, TEMAS ESTRATÉ- zado e crescimento e termina na perspectiva financeira.
GICOS, OBJETIVOS ESTRATÉGICOS, RELA- Apresenta-se como uma medida bastante atual para a
ÇÕES DE CAUSA E EFEITO, INDICADORES, gestão estratégica, por permitir integração com as atuais
pratica de qualidade e mensuração de custos adotados
METAS, INICIATIVAS ESTRATÉGICAS.
pelas empresas de excelência de classe mundial que ob-
jetivam manter-se no mercado.
O Balanced Scorecard é uma nova ferramenta de me- Mapas Estratégicos
dição de desempenho, desenvolvida por David Norton
e Robert Kaplan, baseado em dados financeiros e não O novo contexto organizacional caracterizado pelo
financeiros, que proporciona uma gestão estratégica nos crescente processo de mudanças, flexibilidade, rapidez e
diversos setores de uma organização, que busque a rea- desenvolvimento de aptidões, exige das empresas e dos
lização de metas estratégicas de longo prazo. funcionários uma serie de competências e habilidades
O uso do Balanced Scorecard no planejamento es- estratégicas para que permaneçam atuando de forma
tratégico atua diretamente na organização. É uma téc- satisfatória e competitiva.
nica que visa à integração e balanceamento de todos A estratégia surge como fator primordial para atuar
os principais indicadores de desempenho existentes em sobre essas mudanças proporcionando uma melhor e
uma empresa, desde os financeiros/administrativos até mais eficiente redefinição dos objetivos das empresas,
os relativos aos processos internos, estabelecendo obje- além de ações favoráveis a serem implementadas, ou
tivos da qualidade (indicadores) para funções e níveis re- seja, caracteriza-se como o conjunto dos meios que uma
levantes dentro da organização, ou seja, desdobramento organização utiliza para alcançar seus objetivos. Tal pro-
dos indicadores corporativos em setores, com metas cla-
cesso envolve as decisões que definem os produtos e os
ramente definidas.
serviços para determinados clientes e a posição da em-
Assim, esse modelo traduz a missão e a estratégia
presa em relação a seus concorrentes e etc.
de uma empresa em objetivos e medidas tangíveis. As
Dessa forma, a viabilização para traduzir a estratégia
medidas representam o equilíbrio entre os diversos indi-
em termos gerenciais, alinhar a organização à estratégia,
cadores externos (voltados para acionistas e clientes), e
transformar a mesma em tarefa de todos, converter a es-
as medidas internas dos processos críticos de negócios
tratégia em princípio contínuo, e mobilizar a mudança
(como a inovação, o aprendizado e o crescimento).
por meio de lideranças, será alcançada através da adoção
Através da observação dos resultados obtidos em e implementação de um mapa estratégico.
outras empresas, Kaplan e Norton concluíram que o Ba- Mapas estratégicos têm a função de equilibrar ideias
lanced Scorecard deixara de ser um sistema de medição contraditórias, baseando-se em proposições diferencia-
para se tornar rapidamente um sistema de gestão, com das de valores para os clientes, fornecer as reais estraté-
o qual os executivos estavam não somente comunicando gias do negócio, auxiliando ainda na viabilização de unir
a estratégia, mas também efetuando a sua gerência. O forças para superação de problemas e dificuldades refe-
Balanced Scorecard emergiu porque é um sistema capaz rente as a mudanças do cenário global.
de compreender a estratégia empresarial e comunicá-la O Balanced Scorecard é uma ferramenta de avaliação
a toda a organização. que está sendo cada vez mais usada para medir desem-
O Balanced Scorecard sinaliza em quais segmentos penho. A estratégia da organização é avaliada segundo
de mercado se deve competir e que clientes conquistar. perspectiva financeira, perspectiva de cliente e medidas
Oferece uma visão do futuro e um caminho para chegar operacionais (WILLYERD, 1997).
até ele. Deve ser utilizado pelos executivos que precisam Cabe ressaltar que o Scorecard não deve apenas de-
tomar uma série de decisões: a respeito de suas opera- rivar da estratégia organizacional, mas tem que deixar
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

ções, de seus processos de produção, de seus objetivos, transparecer essa estratégia aos observadores possibili-
produtos e clientes, ou seja, visando atingir o Planeja- tando, também, a visualização dos seus objetivos e medi-
mento Estratégico da organização. Os indicadores devem das. Quando atinge esse grau de transparência, o Balan-
traduzir a estratégia da empresa e devem ser utilizadas ced Scorecard conseguiu traduzir a visão e a estratégia
para auxiliar qualquer um na organização e tentar atingir num conjunto integrado de medidas de desempenho
as prioridades estratégicas. Somente assim as empresas (KAPLAN e NORTON, 2004).
serão capazes de não apenas criar estratégia, mas tam- O Balanced Scorecard oferece um método simples
bém implementá-las. para articular a estratégia e monitorar o progresso das
Por contemplar medidas não financeiras pode auxiliar metas estabelecidas. Possibilita traduzir a estratégia de
as empresas frente às mudanças do meio ambiente onde longo prazo da organização em termos de específico, ou
os ativos intangíveis da organização ganharam maior im- seja, metas em áreas diferentes da organização (finan-
portância como fonte de vantagem competitiva no final ceiro, cliente, negócio interno, inovação e aprendizado)
do século XX. (GENDRON, 1997).
O Balanced Scorecard é baseado em quatro perspec- Mapa Estratégico é considerado uma outra ferramen-
tivas (financeira, clientes, processos internos e apren- ta, que utiliza as mesmas perspectivas do Balanced Sco-
dizado/crescimento), formando um conjunto coeso e recard. O mesmo tem o intuito de fornecer um modelo

134
para uma representação simples da organização, das relações de causa e efeito entre os objetivos tanto das dimensões
aprendizado/crescimento e processos internos (vetores do desempenho), quanto das dimensões mercadológica e eco-
nômico-financeira (resultados) da estratégia.
KAPLAN E NORTON (2004) explicam que o mapa estratégico acrescenta uma segunda camada de detalhes ao Ba-
lanced Scorecard, ilustrando a dinâmica temporal da estratégia, e também adiciona um nível de detalhe que melhora
a clareza e o foco, ao mesmo tempo em que o Balanced Scorecard traduz os objetivos do mapa estratégico em indi-
cadores e metas. Porém, as organizações devem lançar um conjunto de programas que criarão valor e condições para
que se realizem as metas e os objetivos de todos os indicadores.
De acordo com os mesmos autores, existem alguns princípios que norteiam o mapa estratégico, são eles:
• A estratégia equilibra forças contraditórias;
• A estratégia baseia-se em proposição de valor diferenciada para os clientes;
• Cria-se valor por meio dos processos internos;
• A estratégia compõe-se de temas complementares e simultâneos;
• Alinhamento estratégico determina o valor dos ativos intangíveis.

O mapa estratégico tanto é viável para o setor privado, quanto para o setor público e entidades sem fins lucrativos.

Perspectiva Financeira

KAPLAN e NORTON (2004) definem que o Balanced Scorecard é uma técnica que avalia o desempenho sob quatro
perspectivas: financeira, do cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento. São definidos objetivos estra-
tégicos para cada uma das perspectivas e tarefas para o atendimento da meta em cada objetivo estratégico.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Perspectiva financeira

Descreve os resultados tangíveis da empresa em ternos financeiros tradicionais. Nessa perspectiva torna-se neces-
sário o balanceamento entre duas forças contraditórias: que são as de longo prazo, que abrange a profundidade; e
as de curto prazo que tem como foco apenas a lucratividade, e este equilíbrio entre estas forças de crescimento e da
produtividade é que irá indicar se está existindo a conexão com a estratégia.

Perspectiva do cliente

Segundo o mesmo autor, a perspectiva do cliente geralmente inclui vários indicadores para o acompanhamento de
resultados de uma estratégia bem formulada e bem implementada, esses são:
• Satisfação do cliente;
• Retenção dos clientes;
• Rentabilidade dos clientes;
• Participação de mercado;
• Participação nas compras dos clientes.

135
Perspectiva Interna

Os processos internos cumprem dois componentes vitais da estratégia da organização:


• Valor para o cliente;
• Melhoram os processos e reduz os custos para a dimensão produtividade da perspectiva financeira.

Essa perspectiva organiza os vários processos da organização em quatro agrupamentos:


• Processos de gestão operacional – São os processos básicos, realizados todos os dias pelas empresas, através dos
quais elas produzem seus produtos e serviços e entregam a seus clientes.
• Processos de gestão de clientes – São os processos que visão a ampliação e o aprofundamento das relações com
os clientes-alvo.
• Processos de inovação – identificam as oportunidades para novos produtos e serviços, desenhando e desenvol-
vendo com o objetivo de lançar no mercado.
• Processos regulatórios e sociais – São normas e padrões relacionados a o meio-ambiente, a segurança e saúde,
as práticas trabalhistas e aos investimentos na comunidade.

Perspectiva de Aprendizado e Crescimento

A perspectiva de aprendizado e crescimento descreve os ativos intangíveis da organização e seu papel na estratégia.
Esta perspectiva possui objetivos que indicam como conectar de forma coerente os ativos intangíveis que são classifi-
cados em três categorias:
• O capital humano – dispor de habilidades, talento e know-how entre os empregados, tornando-os capazes de
resolver os processos internos críticos.
• O capital da informação – Situa-se no núcleo de estratégias de aprisionamento. Os recursos de informação for-
necem a plataforma utilizada pelos clientes, complementadores e concorrentes. Idealmente, a plataforma de in-
formação deve ser complexa para que os concorrentes não possam imitá-la com facilidade, mas que os clientes e
complementadores considerem de fácil acesso e uso. Fornecer recursos de informação complexos com interface
fácil de usar é um desafio para a tecnologia da informação da empresa.
• O capital organizacional – Toda organização deve manter-se focada em aumentar os custos de mudança de
seus clientes e complementadores atuais e em reduzir os custos de mudanças dos clientes e complementadores
potenciais que hoje são atendidos pelos concorrentes. Tal cultura deve ser difusa entre todos os empregados,
pois afeta os processos de gestão da inovação, os processos de gestão de clientes e de complementadores, os
processos de gestão de operações e os processos regulatórios e sociais.

Em resumo, Balanced Scorecard  “É um modelo de gestão que auxilia as organizações na tradução de sua estratégia
em objetivos operacionais. Isso ajuda a direcionar o comportamento das pessoas na empresa e influencia o comporta-
mento da mesma”. Em seus artigos, Kaplan e Norton apresentam a medição do desempenho organizacional abrangen-
do quatro dimensões críticas - financeira, clientes, processos internos e aprendizagem e crescimento - denominadas
de perspectivas, para a gestão estratégica da organização.

A figura abaixo, apresentada no livro a Estratégia em Ação, ilustra o conceito das perspectivas vinculadas à estra-
tégia.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Figura 1. Relações entre as perspectivas e a estratégia no Balanced Scorecard.

136
Na nossa visão, podemos analisar essas perspectivas quase sempre as decisões gerenciais são de rotina.
hierarquicamente, partindo do aprendizado e crescimen- No entanto, é o conjunto dessas decisões que per-
to até as finanças, ou seja, se investimos nas pessoas, mite à organização resolver problemas, aproveitar
melhoramos nossos processos internos, se melhoramos oportunidades e, com isso, alcançar seus objeti-
nossos processos internos, satisfazemos nossos clientes vos.” (Sobral)
e então, consequentemente, nós ganhamos dinheiro.
Não é simples, mas entendemos ser o caminho, alertan- Administrar é, em última análise, tomar decisões.
do que “ganhar dinheiro” não precisa ser levado ao pé Para atingir os resultados organizacionais de forma
da letra, pois organizações vão além e, principalmente, eficiente e eficaz, é preciso fazer escolhas.
devem contribuir com a sociedade. Qual o negócio da organização? Qual estratégia vai
ser utilizada? Qual tecnologia vai ser empregada? Que
Processo Decisório fonte de recursos financeiros vai ser utilizada? A máqui-
na será comprada ou alugada? Estas e inúmeras outras
Nos dias de hoje, com a competitividade cada vez perguntas precisam ser respondidas durante a gestão de
mais acirrada entre as organizações, a todo momento uma organização. Para respondê-las é preciso fazer esco-
necessitamos tomar decisões sempre que estamos dian- lhas, é preciso decidir!
te de um problema que apresenta mais de uma alterna-
tiva de solução. Mesmo quando possuímos uma única TÉCNICAS DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLE-
opção para solucioná-lo, poderemos ter a alternativa de MAS
adotar ou não essa opção.
O processo de escolher o caminho mais adequado O MASP — Método de Análise e Solução de Proble-
para a empresa, naquela circunstância, também é conhe- mas é um método gerencial que é utilizado para a cria-
cido como tomada de decisão. ção, manutenção ou melhoria de padrões. É uma meto-
Os administradores devem ter como objetivo em suas dologia para se manter e controlar a qualidade, e deve
tomadas de decisão: ser de amplo conhecimento de todos, ou seja, deve ser
• minimizar perdas; dominada por todas as partes envolvidas dentro de uma
• maximizar ganhos; e organização.
• alcançar uma situação em que, comparativamente, Esse método apresenta duas grandes vantagens:
o gestor julgue que haverá um ganho entre o es- • permite a solução de problemas de modo eficaz;
tado em que se encontra a organização e o estado • permite que os indivíduos de uma organização se
em que irá se encontrar depois de implementada capacitem de maneira a solucionar os problemas
a decisão. que sejam de sua responsabilidade.

Para que se tome a melhor decisão em determinadas O MASP é um caminho ordenado, composto de pas-
situações de problema, cabe à pessoa que vai tomar a sos e subpassos pré-definidos para a escolha de um
decisão elaborar todas as alternativas possíveis sobre o problema, análise de suas causas, determinação e pla-
problema em questão, visando escolher o melhor cami- nejamento de um conjunto de ações que consistem uma
nho para otimizar a opção pela qual se decidiu, possibili- solução, verificação do resultado da solução e realimen-
tando à empresa crescer e desenvolver-se nesse contex- tação do processo para a melhoria do aprendizado e da
to de competitividade tão agressiva. própria forma de aplicação em ciclos posteriores.
Partindo também do pressuposto de que em toda so-
O que significa decidir lução há um custo associado, a solução que se pretende
descobrir é aquela que maximize os resultados, minimi-
• “Tomar decisões é o processo de escolher uma den- zando os custos envolvidos. Há, portanto, um ponto ideal
tre um conjunto de alternativas.”(Caravantes) para a solução, em que se pode obter o maior benefício
• “Uma decisão pode ser descrita, de forma simplista, para o menor esforço, o que pode ser definido como de-
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como uma escolha entre alternativas ou possibili- cisão ótima (BAZERMAN).


dades com o objetivo de resolver um problema ou A construção do MASP como método destinado a so-
aproveitar uma oportunidade.” (Sobral). lucionar problemas dentro das organizações passou pela
• “A tomada de decisão ocorre em reação a um pro- idealização de um conceito, o ciclo PDCA, para incorpo-
blema, isto é, existe uma discrepância entre o esta- rar um conjunto de ideias inter-relacionadas que envolve
do atual das coisas e o estado desejável que exige a tomada de decisões, a formulação e comprovação de
uma consideração sobre cursos de ação alternati- hipóteses, a objetivação da análise dos fenômenos, den-
vos. (...) O conhecimento sobre a existência de um tre outros, o que lhe confere um caráter sistêmico.
problema e sobre a necessidade de uma decisão Embora o MASP derive do ciclo PDCA, é importan-
depende da percepção da pessoa.” (Robbins). te que não se confunda os dois métodos, pois: O MASP
• “(...) Embora tudo aquilo que um administrador faz é um método eficaz, ele procura resolver problemas de
envolva a tomada de decisões, isso não significa forma rápida e objetiva e com menor custo a empresa,
que todas as decisões sejam complexas e demo- ou seja, é um método que tem como característica a ra-
radas. Naturalmente, as decisões estratégicas têm cionalidade utilizando lógica e dados.
mais visibilidade, mas os administradores tomam
muitas pequenas decisões todos os dias. Aliás,

137
O MASP é formado por oito etapas:

1. Identificação do problema

A identificação do problema é a primeira etapa do processo de melhoria em que o MASP é empregado. Se feita de forma
clara e criteriosa pode facilitar o desenvolvimento do trabalho e encurtar o tempo necessário à obtenção do resultado.
A identificação do problema tem pelo menos duas finalidades: (a) selecionar um tópico dentre uma série de possibi-
lidades, concentrando o esforço para a obtenção do maior resultado possível; e (b) aplicar critérios para que a escolha
recaia sobre um problema que mereça ser resolvido.
O que é um problema?
Não é fácil explicar precisamente o que é um problema, mas, de maneira geral, podemos dizer que é uma questão
que nos propomos resolver. Perceba que solucionar um problema não significa, necessariamente, ter-se um método
para solucioná-lo.
Exemplo:
– Uma pessoa enfrenta problemas para alcançar certos objetivos e não sabe que ações deve tomar para conseguir
solucioná-los.
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Então, ao resolver um problema identificamos os seguintes componentes:


• um objetivo a ser alcançado;
• um conjunto de ações pré-pensadas para resolvê-lo; e
• a situação inicial do problema.

Outro exemplo:
Imaginemos uma produção de parafusos. Considera-se normal a existência de 10 defeitos por milhão de parafusos
fabricados. Admite-se a ocorrência de um problema apenas quando for constatado um número de defeitos que ultra-
passe a razão de mais de 10 parafusos defeituosos por milhão produzido.

Nesse sentido, um problema é sempre um resultado indesejável (Falconi), mas geralmente a solução implica o re-
torno a um desempenho anterior aceitável.
Na abordagem do autor Maximiano, “um problema é uma situação que exige uma decisão ou solução, e para tanto
oferece um conjunto de possibilidades, entre as quais é necessário escolher uma ou mais”. Na abordagem desse autor, os
problemas podem ser caracterizados por: (a) diferença entre situação real e ideal; (b) situação adversa; (c) missões e obje-
tivos; (d) situação que oferece escolhas; (e) obstáculos ao tentar atingir metas; e (f) desvios do comportamento esperado.

138
Passos da Etapa 1 – 4. Plano de Ação
Identificação do problema
• Identificação dos problemas mais comuns Uma vez que as verdadeiras causas do problema fo-
• Levantamento do histórico dos problemas ram identificadas, ou pelo menos as causas mais relevantes
• Evidência das perdas existentes e ganhos possíveis entre várias, as formas de eliminá-las devem então ser en-
• Escolha do problema contradas Para Hosotani esta etapa consiste em definir es-
• Formar a equipe e definir responsabilidades tratégias para eliminar as verdadeiras causas do problema
• Definir o problema e a meta identificadas pela análise e então transformar essas estra-
tégias em ação. Conforme a complexidade do processo em
2. Observação que o problema se apresenta, é possível que possa existir
um conjunto de possíveis soluções. As ações que eliminam
A observação do problema é a segunda etapa do as causas devem, portanto, ser priorizadas, pois somente
MASP e consiste averiguar as condições em que o pro- elas podem evitar que o problema se repita novamente.
blema ocorre e suas características específicas do proble- Passos da Etapa 4:
ma sob uma ampla gama de pontos de vista. Plano de ação
O ponto preponderante da etapa de Observação é • Definir estratégia de ação.
coletar informações que podem ser úteis para direcionar • Elaborar plano de ação.
um processo de análise que será feito na etapa posterior.
Kume compara esta etapa com uma investigação crimi- Essa fase consiste no estabelecimento de metas a
nal observando que “os detetives comparecem ao local atingir, isto é, elas devem ser alcançadas com o método
do crime e investigam cuidadosamente o local procuran- MASP. Na maioria dos MASPs de manutenção, o objetivo
do evidências” o que se assemelha a um pesquisador ou é, de maneira geral, o retorno às condições ideais ante-
equipe que buscam a solução para um problema. riores à ocorrência do problema.

3. Análise 5. Ação

A etapa de análise é aquela em que serão determinadas Na sequência da elaboração do plano de ação, está
as principais causas do problema. Se não identificamos cla- o desenvolvimento das tarefas e atividades previstas no
ramente as causas provavelmente serão perdidos tempo e plano. Esta etapa do MASP consiste em nomear os res-
dinheiro em várias tentativas infrutíferas de solução. Por isso ponsáveis pela sua execução, iniciando-se por meio da
ela é a etapa mais importante do processo de solução de comunicação do plano com as pessoas envolvidas, pas-
problemas. Para Kume a análise se compõe de duas grandes sando pela execução propriamente dita, e terminando
partes que é a identificação de hipóteses e o teste dessas com o acompanhamento dessas ações para verificar se
hipóteses para confirmação das causas. A identificação das sua execução foi feita de forma correta e conforme pla-
nejado.
causas deve ser feita de maneira “científica” o que consiste
Passos da Etapa 5 –
da utilização de ferramentas da qualidade, informações, fa-
Ação
tos e dados que deem ao processo um caráter objetivo.
• Divulgação e alinhamento
Essa etapa consiste em fazer uma análise das perdas
• Execução das ações
que estão ocorrendo, que estão sendo causadas pelo
• Acompanhamento das ações
problema em questão, assim como os potenciais ganhos
que o MASP pode trazer. O item “quanto” da fase ante- 6. Verificação
rior pode subsidiar a presente. Falconi afirma que nesta
fase se deve responder, basicamente, a duas coisas: o Essa etapa do MASP representa a fase de check do
que se está perdendo e o que é possível ganhar. ciclo PDCA e consiste na coleta de dados sobre as causas,
Lembramos que quando nos referirmos a perdas de sobre o efeito final (problema) e outros aspectos para
natureza qualitativa temos grande dificuldade para me- analisar as variações positivas e negativas possibilitando
dir seu custo para a organização ou até mesmo podemos concluir pela efetividade ou não das ações de melhoria
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

dizer que isso seja impossível. (contramedidas). É nesta etapa que se verifica se as ex-
Quais podem ser os custos do aumento do número pectativas foram satisfeitas, possibilitando aumento da
de ocorrências de reclamações dos clientes? Quais serão autoestima, crescimento pessoal e a descoberta do pra-
os custos para a imagem da organização, provocados zer e excitação que a solução de problemas pode pro-
pela perda de credibilidade em decorrência de algum porcionar às pessoas (HOSOTANI).
defeito existente em um determinado produto? Parker observa que “nenhum problema pode ser consi-
Passos da Etapa 3 – derado resolvido até que as ações estejam completamen-
Análise te implantadas, ela esteja sob controle e apresente uma
• Levantamento das variáveis que influenciam no melhoria em performance”. Assim, o monitoramento e
problema medição da efetividade da solução implantada são essen-
• Escolha das causas mais prováveis (hipóteses) ciais por um período de tempo para que haja confiança na
• Coleta de dados nos processos solução adotada. Hosotani também enfatiza este ponto ao
• Análise das causas mais prováveis; confirmação afirmar que os resultados devem ser medidos em termos
das hipóteses numéricos, comparados com os valores definidos e ana-
• Teste de consistência da causa fundamental lisados usando ferramentas da qualidade para ver se as
• Foi descoberta a causa fundamental? melhorias prescritas foram ou não atingidas.

139
Passos da Etapa 6 –
Verificação
• Comparar resultados obtidos com os previstos.
• Listar efeitos colaterais não previstos.
• Verificar nível do bloqueio observado (grau de eficácia do plano de ação)

7. Padronização

Uma vez que as ações de bloqueio ou contramedidas tenham sido aprovadas e satisfatórias para o alcance dos ob-
jetivos ela podem ser instituídas como novos métodos de trabalho. De acordo com Kume existem dois objetivos para
a padronização. Primeiro, afirma o autor, sem padrões o problema irá gradativamente retornar à condição anterior, o
que levaria à reincidência. Segundo, o problema provavelmente acontecerá novamente quando novas pessoas (em-
pregados, transferidos ou temporários) se envolverem com o trabalho. A preocupação neste momento é, portanto, a
reincidência do problema, que pode ocorrer pela ação ou pela falta da ação humana. A padronização não se faz apenas
por meio de documentos. Os padrões devem ser incorporados para se tornar “uma dos pensamentos e hábitos dos
trabalhadores” (KUME), o que inclui a educação e o treinamento.
Passos da Etapa 7 –
Padronização
• Elaboração ou alteração de documentos
• Registro e comunicação
• Definir mudanças que devem ser incorporadas ao Procedimento Padrão Operacional — PPO.
• Revisar padrão (Modificar / Comunicar).
• Treinar pessoal (no PPO revisado).
• Comunicação clara e adequada dos motivos do treinamento.
• Auditar cumprimento do padrão

8. Conclusão

A etapa de Conclusão fecha o método de análise e solução de problemas. Os objetivos da conclusão são basica-
mente rever todo o processo de solução de problemas e planejar os trabalhos futuros. Parker reconhece a importância
de fazer um balanço do aprendizado, aplicar a lições aprendidas em novas oportunidades de melhoria.
Passos da Etapa 8 –
Conclusão
• Identificação dos problemas remanescentes
• Planejamento das ações antirreincidência
• Balanço do aprendizado
• Concluir MASP e elaborar relatório sobre o mesmo.

Apesar de muitos outros métodos terem surgido com o passar do tempo, o MASP mantem-se atual em seu uso,
atendendo às organizações regularmente, independente de seu porte.

1.2 FATORES QUE AFETAM A DECISÃO


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

140
Uma decisão sofre influência de diversos fatores, que vão desde objetivos, custos, fatores internos e externos, tem-
po disponível para decidir, quantidade de informações disponíveis, viabilidade das soluções, autoridade e responsabi-
lidade do tomador de decisão, estrutura de poder da organização, entre outros.

De acordo com Chiavenato, a decisão pode ser tomada tendo como base três bases condicionais, que são:

Certeza: É a situação em que temos sob controle todos os fatores que afetam a tomada de decisão. Sabemos quais
são os riscos e probabilidades de ocorrência de eventos, temos informações sobre custos, sabemos quais são os fatores
potencializadores e restritores, temos estudos de viabilidade das alternativas etc.
Risco: É a situação em que sabemos a probabilidade de ocorrência de um evento, mas que tomamos diferentes
decisões, de acordo com os riscos que estamos dispostos a assumir.
Incerteza: Situação em que o tomador de decisão tem pouca ou nenhuma informação a respeito da probabilidade
de ocorrência de cada evento futuro.

TIPOS DE DECISÕES

Maximiano ensina que uma decisão é uma escolha entre alternativas ou possibilidades.
As decisões são escolhas necessárias para a resolução de problemas ou aproveitamento de oportunidades, sejam
elas relativas a aspectos operacionais, como comprar ou alugar uma máquina, ou estratégicos, como entrar ou não no
mercado internacional.
Todos sabemos que o tipo e a qualidade de decisões tomadas nas organizações afetam todo o seu contexto, po-
dendo influenciar estratégias organizacionais, políticas ou até mesmo uma determinada parcela da sociedade onde
elas estejam inseridas.
Por essa razão, ao longo do tempo, os gestores vêm se apoiando em diversos fatores para que a tomada de decisão
seja o mais assertiva possível e o tomador de decisão possa estar mais seguro diante de possíveis e prováveis proble-
mas que possam surgir.
De maneira geral, podemos dizer que os gestores, no momento da tomada de decisão, poderão se defrontar com
dois tipos de situação que, de acordo com sua natureza, terão e abordagem diferente para se alcançar as soluções
adequadas.
O processo de tomar decisões, ou processo decisório, se compõe de uma sequência de etapas, que vão da identifi-
cação da questão a ser resolvida até a ação, quando uma alternativa de solução é colocada em prática.

As decisões nas organizações se dividem em duas categorias principais: as programadas e as não programa-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

das.

Podemos considerar DECISÕES PROGRAMADAS aquelas que tomamos quando percebemos os problemas como
bem compreendidos, altamente estruturados, rotineiros, repetitivos e para cuja solução podemos utilizar procedimen-
tos e regras sistemáticos. Essas decisões são sempre semelhantes.
As decisões programadas ou estruturadas compõem o acervo, o estoque de soluções armazenadas pela organiza-
ção, com base nas experiências anteriores por que passou.
São utilizadas, portanto, para resolver problemas que já foram enfrentados antes e que possuem um comporta-
mento semelhante.
Para estes tipos de problemas, não há necessidade de criação de alternativas de solução e escolha da mais adequa-
da. Basta seguir as ações que já foram exercidas com sucesso nas ocasiões anteriores. Por este motivo, são mais comuns
no nível operacional, na base da pirâmide hierárquica.
Como exemplo, podemos citar uma situação de incêndio, onde já há um roteiro de etapas a serem seguidas, já se
sabe qual caminho os ocupantes de cada andar do prédio devem seguir, pois todo o estudo da melhor rota de fuga já
foi feito com antecedência. Esses são exemplos de decisões programadas, pois são repetitivas e rotineiras.
Por este motivo, são mais comuns no nível operacional, na base da pirâmide hierárquica.

141
As decisões não programadas ou não estruturadas características marcantes, tais como o debate, participa-
são necessárias em situações em que as decisões pro- ção e busca de consenso.Podem ser consultivas, quan-
gramadas não conseguem resolver. do a decisão é tomada após a consulta,ou participativa,
Quando nos referimos a DECISÕES NÃO PROGRA- quando a decisão é tomada de forma conjunta.
MADAS nos referimos àquelas que resultam de proble- Decisões delegadas: “São tomadas pela equipe ou
mas que não são bem compreendidos, são “pobres” de pessoa que recebeu poderes para isso. As decisões de-
estruturação, tendem a ser singulares e não se prestam legadas não precisam ser aprovadas ou revistas pela ad-
aos procedimentos sistêmicos ou rotineiros. ministração. A pessoa ou grupo assume plena respon-
São situações inesperadas, que a organização está sabilidade pelas decisões, tendo para isso a informação,
enfrentando pela primeira vez e que admitem diferentes a maturidade, as qualificações e as atitudes suficientes
formas de resolução, cada uma com suas vantagens e para decidir da melhor maneira possível”.
desvantagens.
Estas situações exigem uma análise mais profunda, Identificamos ainda, dentro do conceito de elementos
um diagnóstico para o perfeito entendimento do proble- da decisão o item de: Certeza, risco e incerteza - Pode-
ma até a tomada de decisão que vai levar à ação. Por este mos chamar de incerteza aquela situação que, muitas ve-
motivo são mais comuns no nível institucional ou estra- zes, se configura por existirem informações insuficientes
tégico da organização, no topo da pirâmide hierárquica. e dúbias para os tomadores de decisão. Isso certamente
inviabiliza a clareza das alternativas e traz consigo riscos
Os problemas que exigem esse tipo de decisões se- inerentes, fazendo com que a decisão tomada se torne
rão solucionados a partir da habilidade dos gerentes em mais difícil de ser operacionalizada.
tomar decisões, já que não existem soluções rotineiras. Mas, para escolher a alternativa mais eficaz, além de
Como exemplo, podemos citar os gerentes, principal- ser necessário identificar claramente qual é o problema
mente nos níveis mais altos da organização, que mui- e de se ter em mãos informações de qualidade, o gestor
tas vezes necessitam tomar decisões não programadas precisa possuir também um conhecimento aprofundado
durante o curso de definição de metas e estratégias de do mercado em que atua, conhecendo seus concorrentes
uma empresa e em suas atividades diárias. Em muitas e a capacidade organizacional deles. É assim que são ge-
ocasiões eles utilizam sua própria experiência na solução ridas empresas bem estruturadas e administradas. Esse
desse tipo de problema, procurando princípios e solu- grupo é composto especialmente pelas organizações de
ções que possam ser aplicados à situação, mas sempre grande porte.
levando em consideração que as metodologias de solu- É importante que o gestor decida com rapidez e que
ção de problemas passados podem não ser aplicáveis no reduza a incerteza. Agindo assim poderá planejar de ma-
caso em questão. neira estratégica possíveis ações futuras que poderão
Pelo fato de as decisões não programadas serem dar à sua empresa vantagem competitiva em relação às
tão importantes para as empresas e tão comuns para a concorrentes.
gerência, a eficiência de um gerente muitas vezes será
julgada de acordo com a qualidade de sua tomada de Uma decisão, segundo Gomes e Almeida (2002), pode
decisão. ser tomada nas seguintes condições:
- decisão em condições de certeza – ocorre quando
Também há tipos de decisão quanto ao nível orga- há total conhecimento de todos os estados da na-
nizacional em que ela é tomada. tureza do processo decisório.
Assim, decisões estratégicas são aquelas mais amplas,
referentes à organização como um todo e sua relação Chamamos de certeza saber 100% sobre a situação
com o ambiente. São tomadas nos níveis mais altos da que está ocorrendo no instante em que se está tomando
hierarquia e possuem consequências de longo prazo. a decisão.
As decisões táticas ou administrativas são tomadas - decisão em condições de risco – ocorre quando
nos níveis das unidades organizacionais ou departamen- não são conhecidas as probabilidades associadas
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

tos. a cada um dos estados da natureza do processo


Decisões operacionais, por sua vez, são aquelas toma- decisório.
das no dia-a-dia, relacionadas a tarefas e aspectos coti-
dianos da realidade organizacional. A situação é pouco conhecida. Para a tomada de de-
cisão em condições de risco, a certeza irá variar entre 0%
Vimos, nos elementos da decisão, a definição de to- e 100%. Sob condições de risco, o gestor utiliza a expe-
mador da decisão. Maximiano nos ensina uma outra ti- riência pessoal, sua intuição ou informações secundárias
pologia, quanto a quem é o tomador de decisões: para mensurar as chances de acerto de alternativas ou
Decisões autocráticas: São decisões tomadas sem resultados.
discussões, acordos e debates. O tomador de decisão
deve ser um gerente ou alguém com responsabilidade - decisão em condições de incerteza ou em condi-
e autoridade para tal. É uma forma rápida de tomada de ções de ignorância – ocorre quando não se obti-
decisão e não deve ser questionada. Muitas vezes, são veram informações e dados sobre as circunstân-
decisões de cunho estritamente técnico. cias do processo decisório ou em relação à parcela
Decisões compartilhadas: São aquelas decisões toma- dessa situação. Para decidir numa situação dessas
das de forma compartilhada, entre gerente e equipe. Têm deve-se recorrer à intuição e à criatividade.

142
- decisão em condições de competição ou em condições de conflito – ocorre quando a estratégia e a situação
em si do processo de tomada de decisão são determinadas pela ação de competidores. Quando ocorre de um
gestor, ao tomar uma decisão, prever que não haverá nenhum resultado não previsto, classificamos essa decisão
como uma decisão programada.5

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (PGE/MT 2016 - FCC) O quadro a seguir apresenta as fases elementares para elaboração e implementação do pla-
nejamento estratégico: 

A correta correlação entre as colunas A e B está descrita em 

a) 1-Z; 2-X; 3-W; 4-Y.


b) 1-Z; 2-W; 3-X; 4-Y. 
c) 1-Y; 2-X; 3-W; 4-Z. 
d) 1-W; 2-Z; 3-Y; 4-X. 
e) 1-Y; 2-W; 3-X; 4-Z. 

Resposta: Letra E. Metodologia para a elaboração do planejamento estratégico proposta por Djalma de Oliveira:
Vale lembrar que a banca tem uma tendência a explorar a linha de pensamento desse autor.
Fase I - diagnóstico estratégico: a) Identificação da Visão; b) Identificação dos valores; c) Análise externa; d) Análise
interna; e) Análise dos concorrentes.
Fase II - Missão da empresa: a) Estabelecimento da missão da empresa; b) Estabelecimento dos propósitos atuais e
potenciais; c) Estruturação e debate de cenários; d) Estabelecimento da postura estratégica; e) Estabelecimento das
macroestratégias e macropolíticas.
Fase III - instrumentos prescritivos e quantitativos: a) Estabelecimento de objetivos, desafios e metas; b) Estabelecimento
de estratégias e políticas; c) Estabelecimento de projetos programas e planos de ação.
Fase IV - Controle e avaliação: Em sentido amplo, esta etapa envolve processos de:  Estabelecimento de padrões de
medida e de avaliação; Medida dos desempenhos apresentados; Comparação do realizado com o planejado; Avaliação
dos profissionais envolvidos no processo; Comparação do desempenho real com os objetivos, desafios, metas, projetos e
planos de ação estabelecidos; Análise dos desvios observados em relação ao planejado; Tomada de ações corretivas; e
Feedback de informações para uso em futuros processos de planejamento.

2. (TRT/21ª Região/ RN – 2017 - FCC) Os conceitos de missão e visão de uma organização, comumente utilizados na
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

etapa de diagnóstico institucional em diferentes metodologias de planejamento estratégico e de gestão, correspon-


dem, respectivamente, 

a) ao cenário externo, consistente em ameaças e oportunidades;


ao cenário interno, consistente nas forças e fraquezas da organização. 
b) à percepção interna, dos integrantes da organização, sobre seus principais atributos;
à percepção externa, dos clientes e da sociedade, sobre as características da organização.  
c) às metas de curto prazo estabelecidas para a organização;
às metas e objetivos de longo prazo, ligados à perenidade da organização.  
d) aos objetivos estratégicos da organização, representados por indicadores;
às metas representativas dos resultados pretendidos pela organização. 
e) à razão de existir da organização, contemplando sua essência e seus propósitos;
ao futuro almejado pela organização, contemplando a forma como pretende ser reconhecida. 

5 Fonte e textos adaptados de: www periodicos.uniformg.edu.b/ www.blogdaqualidade.com.br /Jussara Maria Silva Rodrigues Oliveira/Denise
Grzybovski/Ricardo de Souza Sette/Jaime Crozatti/Carlos Xavier/ Maria Ester Domingues de Oliveira/ Antônio Francisco Ribeiro Neto/Flávio
Sposto Pompêo

143
Resposta: Letra E. Missão: é a razão de existir da or-
ganização, bem como seu posicionamento estratégico. REFERENCIAL ESTRATÉGICO DAS OR-
Visão: é a visão de futuro, como a organização deverá GANIZAÇÕES. ANÁLISE DE AMBIENTE
estar no futuro. INTERNO E EXTERNO. FERRAMENTAS DE
ANÁLISE DE AMBIENTE. ANÁLISE SWOT,
3. (TCE/PR – 2016 -CESPE) Assinale a opção correta ANÁLISE DE CENÁRIOS, MATRIZ GUT.
acerca do método de administração BSC (balanced sco- NEGÓCIO, MISSÃO, VISÃO DE FUTURO,
recard).
VALORES.
a) O BSC deve ser usado para criar organizações focadas
no controle sobre os ambientes interno e externo.
Planejamento Estratégico
b) A ênfase excessiva do BSC em indicadores de desem-
penho prejudica o espírito de equipe e a motivação.
O conceito de estratégia é realmente amplo, e seu
c) O objetivo do BSC é fazer que as operações de uma
uso corrente permite associá-lo desde a um curso de
organização estejam em consonância com a visão es-
ação bastante preciso até ao posicionamento organiza-
tratégica.
cional, em última análise, a toda razão de ser da empresa.
d) Os indicadores utilizados pelo BSC devem restringir-
A estratégia pode ser considerada um instrumento: o
-se às medidas financeiras  e contábeis geradas pela
planejamento estratégico. Essa parte do planejamento es-
empresa.
tratégico corresponderia aos caminhos selecionados para
e) Os comportamentos detectados pelos indicadores são
serem trilhados primeiro pela identificação dos pontos for-
determinantes para a política a ser adotada pela ad-
tes e fracos da organização, e das empresas e oportunidades
ministração.
diagnosticadas em seu ambiente de atuação. Da porta para
fora, o planejamento cumpriria a função de orientar as ações
Resposta: Letra C. Balanced Scorecard  “É um modelo
da organização para que ela possa buscar oportunidades e a
de gestão que auxilia as organizações na tradução de
própria sobrevivência.
sua estratégia em objetivos operacionais. Isso ajuda a
Assim, a estratégia é fruto de processos racionais de
direcionar o comportamento das pessoas na empresa
reflexão, aprendizagem, elaboração, pensamento e inter-
e influencia o comportamento da mesma”. Em seus ar-
venção, além de processos não racionais e simbólicos,
tigos, Kaplan e Norton apresentam a medição do de-
construídos a partir da “vivência” cotidiana da organiza-
sempenho organizacional abrangendo quatro dimen-
ção em seus embates internos e com o ambiente.
sões críticas - financeira, clientes, processos internos e
aprendizagem e crescimento - denominadas de pers-
Planejamento Estratégico - Conceitos, métodos e
pectivas, para a gestão estratégica da organização.
técnicas
4. (TRT/11ª Região/AM e RR – 2017 - FCC) A tomada
O planejamento estratégico poderia ser definido
de decisão é uma das atividades mais típicas do admi-
como um processo de gestão que apresenta, de maneira
nistrador. Existem diferentes tipos de decisão, sendo que
integrada, o aspecto futuro das decisões institucionais,
algumas delas se realizam por meio de um conjunto de
a partir da formulação da filosofia, da instituição, sua
normas preestabelecidas, com base em um acervo de so-
missão, sua orientação, seus objetivos, suas metas, seus
luções da organização. Tais decisões são as denominadas 
programas e as estratégias a serem utilizadas para as-
segurar sua implementação. É a identificação de fatores
a) Programadas. 
competitivos de mercado e potencial interno, para atin-
b) Padronizadas. 
gir metas e planos de ação que resultem em vantagem
c) Recorrentes. 
competitiva, com base na análise sistemática de mudan-
d) Impróprias. 
ças ambientais previstas para um determinado período.
e) Consultivas. 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Portanto, o planejamento estratégico não deve ser con-


siderado apenas como uma afirmação das aspirações de
Resposta: Letra A. A teoria da decisão nasceu de Her-
uma empresa, pois inclui também o que deve ser feito
bert Simon, que a utilizou para explicar o comporta-
para transformar essas aspirações em realidade. Quan-
mento humano na organização. Ele distingue dois tipos:
do se considera a metodologia para o desenvolvimento
Decisão programadas: aquelas repetitivas, comuns na
do planejamento estratégico nas empresas, têm-se duas
rotina e que são tomadas de forma automática, por
possibilidades, que se definem:
exemplo, tudo aquilo que se torna hábito, que segue
• em termos da empresa como um todo, “aonde se
um manual de padrão, entre outros.
quer chegar e depois se estabelece “como a em-
Decisão não programadas: são decisões que de fato
presa está para se chegar à situação desejada”; ou
dependem do decisor, não é alto rotineira, automático,
• em termos da empresa como um todo “como se
ou seja, são aquelas decisões que exigem uma análise
está” e depois se estabelece “aonde se quer che-
mais completa, como por exemplo, alterar uma linha
gar”. Pode-se considerar uma terceira possibilidade
de produção, fazer mudanças quanto à estrutura da
que é definir “aonde se quer chegar” juntamente
organização, ou quanto ao quadro de funcionários, en-
com “como se está para chegar lá”. Cada uma des-
fim, são decisões que fogem de um conceito rotineiro,
sas possibilidades tem a sua principal vantagem.
mecanizado.

144
No primeiro caso, é a possibilidade de maior criati- - Visão de futuro: É considerada como os limites que
vidade no processo pela não existência de grandes os principais responsáveis pela empresa conse-
restrições. A segunda possibilidade apresenta a guem enxergar dentro de um período de tempo
grande vantagem de colocar o executivo com o pé mais longo e uma abordagem mais ampla. Repre-
no chão quando inicia o processo de planejamento senta o que a empresa quer ser em um futuro pró-
estratégico. ximo ou distante

O planejamento estratégico é o processo por meio do A visão deve ser:


qual a estratégia organizacional será explicitada. • Compartilhada e apoiada por todos na organiza-
Podemos identificar, como características do planeja- ção
mento estratégico: • Abrangente e detalhada
- É responsabilidade da cúpula da organização; • Positiva e inovadora
- Envolve a organização como um todo; • Desafiadora mas viável
- Planejamento de longo prazo; • Transmitir uma promessa de novos tempos
- Outros níveis do planejamento (tático e operacional) • Agregar um aspecto emocional
serão desdobrados dele.
Exemplos de visão:
Um bom planejamento estratégico deve, em seu iní- Receita Federal: “Ser uma instituição de excelência em
cio, incluir a definição do referencial estratégico da or- administração tributária e aduaneira, referência nacional
ganização. Este referencial é o grande guia das organi- e internacional”.
zações, são as diretrizes que norteiam a sua atuação e o TCU: “Ser instituição de excelência no controle e con-
seu posicionamento frente ao mercado. Representam o tribuir para o aperfeiçoamento da administração pública”.
planejamento estratégico no seu nível mais amplo e são
as bases para que a organização possua uma estratégia - Valores: Representam o conjunto dos princípios,
sólida e sustentável. crenças e questões éticas fundamentais de uma
empresa, bem como fornecem sustentação a todas
Esse referencial inclui o negócio, a missão, a visão de as suas principais decisões.
futuro e os valores organizacionais. Influencia na qualidade do desenvolvimento e opera-
cionalização do planejamento estratégico.
- Missão: pode ser entendida como o papel que a Os valores da empresa devem ter forte interação com
empresa terá perante a sociedade, enfim, quais são as questões éticas e morais da empresa
os benefícios que a sua atividade produtiva - seja
ela industrial, comercial ou prestação de serviços -
trará para a coletividade ou, pelo menos, aos seus #FicaDica
clientes. Missão é, portanto, a função social da ati- Por mais simples que pareçam estes con-
vidade da empresa dentro de um contexto global. ceitos, comumente são cobrados de forma
Vejamos quatro exemplos de missão organizacional: que gerem dúvidas, portanto, é muito im-
Receita Federal do Brasil: “Exercer a administração
portante que consiga identificar não só o
tributária e o controle aduaneiro, com justiça fiscal e res-
conceito, mas como diferenciá-lo em uma
peito ao cidadão, em benefício da sociedade”.
situação prática.
A empresa bem-sucedida tem uma visão
MPOG – “Promover o planejamento participativo e a
do que pretende, e esta visão trabalhada
melhoria da gestão pública para o desenvolvimento sus-
em consonância com seus valores, tendo
tentável e socialmente includente do País”.
TCU – “Assegurar a efetiva e regular gestão dos recur- como base em seu modelo de gestão a
sos públicos, em benefício da sociedade”. missão que fornece à empresa o seu im-
Petrobrás – “Atuar de forma segura e rentável nas ati- pulso e sua direção.
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vidades de indústria de óleo, gás e energia, nos mercados


nacional e internacional, fornecendo produtos e serviços Desenvolver a visão estratégica e a missão do ne-
de qualidade, respeitando o meio ambiente, consideran- gócio.
do os interesses dos seus acionistas e contribuindo para
o desenvolvimento do país”. - Através da visão é possível identificar quais são as
expectativas e os desejos dos acionistas, conselhei-
- Negócio: É o ramo de atuação da organização, de- ros e elementos da alta administração da empresa,
limita o campo em que ela estará desenvolvendo tendo em vista que esses aspectos proporcionam
suas atividades. Está muito ligado ao tipo de pro- o grande delineamento do planejamento estraté-
duto ou serviço que a organização oferece e nem gico a ser desenvolvido e implementado. A gerên-
sempre é tão óbvio. Por exemplo, o negócio da Co- cia deve definir: “quem são”, “o que fazem” e “para
penhagen não é chocolates e sim presentes finos. onde estão direcionados”, estabelecendo um curso
Para exemplificar com uma organização pública, o para a organização.
negócio do TCU é o “controle externo da adminis- A visão pode ser considerada como os limites que os
tração pública e da gestão dos recursos públicos principais responsáveis pela empresa conseguem enxer-
federais”. gar dentro de um período de tempo mais longo e uma

145
abordagem mais ampla. Ela deve ser resultante do con- precisa ser direcionada para conquistar oportuni-
senso e do bom senso de um grupo de líderes e não da dades de crescimento. Do mesmo modo a estra-
vontade de uma pessoa. tégia deve ser equipada para proporcionar defesa
A missão é a razão de ser da empresa. Neste ponto do bem-estar da empresa e do seu desempenho
procura-se determinar qual o negócio da empresa, por futuro contra ameaças externas.
que ela existe, ou ainda em que tipos de atividades a
empresa deverá concentrar-se no futuro. Aqui se procura Analisar fatores internos da empresa
responder à pergunta básica: “Aonde se quer chegar com
a empresa?” “Na realidade, a missão da empresa repre- • pontos fortes e pontos fracos da empresa e capaci-
senta um horizonte no qual a empresa decide atuar e dades competitivas;
vai realmente entrar em cada um dos negócios que apa- • ambições pessoais, filosofia de negócio e princípios
recem neste horizonte, desde que seja viável sobre os éticos dos executivos;
vários aspectos considerados”. • valores compartilhados e cultura da empresa. A es-
tratégia deve ser muito bem combinada com os
Esses negócios identificados no horizonte, uma vez pontos fortes, os pontos fracos e com as capaci-
considerados viáveis e interessantes para a empresa, dades competitivas da empresa, ou seja, deve ser
passam a ser denominados propósitos da empresa. baseada naquilo que ela faz bem e deve evitar
aquilo que ela não faz bem. Os pontos fortes bá-
Os objetivos correspondem à explicitação dos seto- sicos de uma organização constituem uma impor-
res de atuação dentro da missão que a empresa já atua tante consideração estratégia pelas habilidades e
ou está analisando a possibilidade de entrada no setor, capacidades que fornecem para aproveitar deter-
ainda que esteja numa situação de possibilidade reduzi- minada oportunidade, aonde podem proporcionar
da. As empresas precisam de objetivos estratégicos e ob- vantagem competitiva para a empresa no merca-
jetivos financeiros. Os objetivos estratégicos referem-se do e potencialidade que tem para se tornar a base
da estratégia. As ambições, valores, filosofias de
à competitividade da empresa e as perspectivas de longo
negócio, atitudes perante o risco e crenças éticas
prazo do negócio. Os objetivos financeiros relacionam-se
dos gerentes têm influências importantes sobre a
com medidas como o crescimento das receitas, retorno
estratégia e são impregnadas nas estratégias que
sobre o investimento, poder de empréstimo, fluxo de cai-
eles elaboram. Os valores gerenciais também mo-
xa e retorno dos acionistas.
delam a qualidade ética da estratégia de uma em-
presa, quando os gerentes têm fortes convicções
Elaborar uma estratégia para atingir os objetivos.
éticas, exigem que sua empresa observe um estrito
código de ética em todos os aspectos do negócio,
Estabelecer estratégia significa definir de que maneira como por exemplo, falar mal dos produtos rivais.
pode se atingir os objetivos de desempenho da empre- As políticas, práticas, tradições e crenças filosóficas
sa. A estratégia é concebida como uma combinação de da organização são combinadas para estabelecer
ações planejadas e reações adaptáveis para a indústria uma cultura distinta. Em alguns casos as crenças e
em desenvolvimento e eventos competitivos. Raramente cultura da empresa chegam a dominar a escolha
a estratégia da empresa resiste ao tempo sem ser alte- das mudanças estratégicas.
rada. Há necessidade de adaptação de acordo com as
variáveis do mercado, necessidades e preferências do O planejamento estratégico deve estar alinhado a
consumidor, manobras estratégias de empresas concor- este referencial.
rentes.
Etapas do Planejamento Estratégico: vamos abaixo
Analisar fatores externos da empresa analisar alguns dos apontamentos sobre essas etapas
conforme seus autores.
• considerações políticas, legais de cidadania da co-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

munidade; Segundo Maximiano, o planejamento estratégico com-


• atratividade da indústria, mudanças da indústria e preende quatro etapas principais:
condições competitivas;
• oportunidades e ameaças da empresa. A tarefa de A) Análise da situação estratégica presente. Esta eta-
fazer com que a estratégia de uma empresa seja pa busca compreender a situação atual da empre-
socialmente responsável, significa conduzir as sa, e as decisões que foram tomadas e levaram a
atividades organizacionais eticamente e no inte- tal posição. Deve considerar o referencial estraté-
resse público geral, responder positivamente às gico, os produtos e mercados atuais ou potenciais
prioridades e expectativas sociais emergentes, de- da organização, as vantagens competitivas (ele-
monstrar boa vontade de executar as ações antes mentos capazes de diferenciar a organização de
que ocorra um confronto legal, equilibrar os in- outras no mercado), o desempenho atual e o uso
teresses dos acionistas com os interesses da so- de recursos.
ciedade como um todo e comportar-se como um B) Análise do ambiente. Na classificação do Maximia-
bom cidadão na comunidade. A estratégia de uma no, esta etapa abrange apenas o ambiente externo.
empresa deve fazer uma combinação perfeita da C) Análise interna. É a análise do ambiente interno.
indústria com as condições competitivas e ainda D) Elaboração do plano estratégico.

146
A análise de ambiente corresponde à avaliação de Segundo classificação de Porter temos no Planejamen-
variáveis do ambiente interno (pontos fortes e pontos to estratégico, 3 grupos:
fracos) e variáveis do ambiente externo (oportunidades - Diferenciação: Consiste em “procurar projetar uma
e ameaças) relevantes para a organização. As variáveis forte identidade própria para o serviço ou produto,
do ambiente interno normalmente são controláveis, en- que o torne nitidamente distinto dos produtos e
quanto as variáveis do ambiente externo estão fora da serviços dos concorrentes. Isso significa enfatizar
governabilidade da organização. uma ou mais vantagens competitivas, como qua-
lidade, serviço, prestígio para o consumidor, estilo
Segundo Djalma de Oliveira o Planejamento Estratégi- do produto ou aspecto das instalações.
co apresenta estas etapas: - Liderança de custo: consiste em oferecer produtos
a) Diagnóstico estratégico: abrange a definição da vi- ou serviços mais baratos do que os concorrentes.
são, a análise externa, análise interna e análise dos - Estratégias de foco: concentração ou nicho: Consiste
concorrentes; em escolher um segmento do mercado e concen-
b) Definição da missão: esta nós já vimos: é a defini- trar-se nele. Por exemplo, produtores de alimentos
ção da razão de ser da empresa e as consequências orgânicos oferecem um alimento mais caro, mas
de tal definição; concentrado em um nicho específico de clientes.
c) Definição dos instrumentos prescritivos e quantitati-
vos: instrumentos prescritivos são aqueles que irão Planejamento Estratégico Situacional
dizer como a organização deve atuar para alcançar
os objetivos definidos. Instrumentos quantitativos, O QUE É PES?
basicamente, são aqueles ligados ao planejamento O Planejamento Estratégico Situacional (PES) é um
orçamentário; método de planejamento criado, na década de 1970,
d) Controle e avaliação: são verificações, etapas em pelo economista chileno Carlos.
que se avalia se o que está sendo feito correspon-
de ao que foi planejado Qual o fundamento do PES
.
Modelo ou matriz de Ansoff Segundo Carlus Matos, o PES propõe um jogo semi-
controlado onde os “Os jogadores escolhem seu plano
de jogo, mas não as circunstâncias em que devem rea-
lizá-lo”.

#FicaDica
O Planejamento Estratégico Situacional (PES)
permite adaptar ou reformular os planos de
acordo com as variáveis situacionais

Por isso, é importante que o “jogador” seja capaz de:


a) explicar a realidade do jogo;
b) traçar propostas de ação sob incertezas;
c) elaborar estratégias não só para lidar com jogado-
Temos dois componentes principais no modelo: Mer- res e circunstâncias, mas também para calcular o
cados e Produtos. Cada um deles pode ser classificado que fazer em cada momento;
quando a existentes e novos, gerando quatro estratégias d) agir de modo eficaz no momento oportuno, recal-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

empresariais possíveis: culando o plano diante de improvisações neces-


Penetração no mercado: Esta estratégia consiste em sárias.
explorar produtos tradicionais em um mercado tradicio-
nal. Como o PES de divide?
Desenvolvimento de mercado: “É a estratégia de ex-
plorar um mercado novo com produtos tradicionais. Por Estruturalmente, o Planejamento Estratégico Situa-
exemplo: uma operadora de cartões de crédito que lança cional (PES) se divide nas seguintes etapas:
o produto para um público específico, como os torcedo- a) Momento explicativo: etapa em que os problemas
res de um time”. são identificados, descritos e explicados. Para isso,
Desenvolvimento de produto: consiste em oferecer os problemas precisam ser classificados de acordo
produtos novos a mercados tradicionais. com os seguintes critérios: problemas cuja solução
Diversificação: É uma estratégia mais arrojada, que ajudará na resolução de outros problemas e pro-
consiste em explorar novos produtos em novos merca- blemas que podem ser resolvidos com os recursos
dos. Por exemplo, uma empresa de produção de alimen- técnico/administrativos disponíveis.
tos que lança um refrigerante está adotando uma estra-
tégia de diversificação.

147
b) Momento normativo: etapa onde o planejamento
é definido segundo condições ideias. Nesse mo- FIQUE ATENTO!
mento é importante se perguntar: Que resultados As variáveis fora de controle podem ser clas-
seriam alcançados se o plano se desenvolvesse nas sificadas em três tipos:
situações ideias? a) Invariantes: variáveis cujos comportamen-
c) Momento estratégico: etapa importante para pre- tos são conhecidos pelo jogador.
ver possíveis adversidades ao longo da execução b) Variantes: variáveis cujas leis de mudança
do plano definido. Nesse momento é necessário: não são conhecidas pelo jogador.
verificar a existência de contradições entre os ob- c) Surpresas: variáveis que podem causar im-
jetivos do plano; confirmar a disponibilidade de re- pactos nos objetivos do plano. São menos
cursos para atingir cada objetivo proposto; e ava- frequentes.
liar se o projeto como um todo é viável.
d) Momento tático operacional: etapa em que o pla-
no definido é executado. Envolve a organização Planejamento Tático
do trabalho, o controle das ações empregadas,
a prestação de contas e a avaliação contínua da Relaciona-se a objetivos de curto prazo, e com ma-
ação-resultado. neiras e ações que, geralmente, afetam somente uma
parte da empresa.
Tem como eixo central otimizar determinadas áreas
#FicaDica de resultados, e não a empresa como um todo. Portanto,
trabalha com decomposição dos objetivos e políticas es-
A avaliação contínua no momento tático tabelecidas no planejamento estratégico.
operacional permite não só monitorar os re- O planejamento tático é desenvolvido em níveis or-
sultados obtidos com a implementação das ganizacionais inferiores, ou seja, é realizado no nível ge-
ações planejadas, mas também fazer altera- rencial ou departamental, tendo como principal finalida-
ções no plano se necessário. de a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a
consecução de objetivos previamente fixados, segundo
uma estratégia predeterminada, bem como as políticas
Quais as principais diferenças entre o PES e o Pla- orientadoras para o processo decisório organizacional.
nejamento Tradicional?
Características Principais:
As principais diferenças existentes entre o Planeja- - Processo permanente e contínuo;
mento Estratégico Situacional (PES) e o Planejamento - Aproxima o estratégico do operacional;
Tradicional, são: - Aproxima os aspectos incertos da realidade;
a) Capacidade de improvisação: no PES é possível fa-
zer improvisações ao longo da execução do plano - É executado pelos níveis intermediários da organi-
definido, empregando ações não planejadas ini- zação;
cialmente. Já no Planejamento Tradicional, a im- - Pode ser considerado uma forma de alocação de
provisação ou mudança de estratégia quase nunca recursos;
é possível. - Tem alcance mais limitado do que o planejamento
b) Conceito de plano modular: o PES é composto por estratégico, ou seja, é de médio prazo;
um plano de ação e um plano de demandas e de- - Produz planos mais bem direcionados às atividades
núncias. No plano de ação, o agente formulador organizacionais.
fica responsável por atacar os problemas identifi-
cados. Já no plano de demandas e denúncias, ele Questões essenciais:
pode solicitar a ajuda de outros atores ou denun- - O quê fazer?
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

ciar qualquer atividade de oposição aos objetivos - Dá para fazer?


propostos. - Vale a pena fazer?
c) Condicionantes de resultados: a elaboração do - Quem faz?
PES leva em conta as variáveis controladas (variá- - Como fazer bem?
veis escolhidas para um agente, importantes para - Funciona?
atingir os objetivos do plano) e as variáveis fora - Quando fazer?
de controle (variáveis que o jogador não controla).
Planejamento Operacional

Pode ser considerado como a formalização, principal-


mente através de documentos escrito das metodologias
de desenvolvimento e implantações estabelecidas.
Portanto, nesta situação, tem-se basicamente os pla-
nos de ação, ou planos operacionais.
Os planejamentos operacionais correspondem a um
conjunto de partes homogêneas do planejamento tático,

148
e devem conter com detalhes: os recursos necessários a 2. (TRT – 2ª Região/SP – Analista judiciário/Enfermei-
seu desenvolvimento e implantação; os procedimentos ro - Superior – FCC/2018) O planejamento e o proces-
básicos a serem adotados; os produtos ou resultados fi- so decisório são instrumentos do processo gerencial. O
nais esperados; os prazos estabelecidos e os responsá- planejamento estratégico situacional descrito por Matus
veis pela sua execução e implantação. em 1996 é composto por quatro momentos que se inter-
-relacionam, buscando responder às indagações do pro-
• Preocupa-se com os métodos operacionais e alo- cesso decisório. O momento denominado de Estratégico
cação de recursos: diz respeito a como:
- Detalhamento das etapas do projeto;
- Métodos, processos e sistemas aplicados; a) explicar a realidade.
- Pessoas: responsabilidade, função, atividades/tare- b) tornar viável o plano.
fas; c) agir no cotidiano de forma planejada.
- Equipamentos necessários; d) conceber o plano.
- Prazos e cronograma e) coletar os dados.

• Planos que especificam os detalhes de como de- Resposta: Letra B. No momento denominado estra-
vem ser alcançados os objetivos organizacionais tégico, é feita:
globais; a) a verificação da existência de contradições entre os
• Detalhado e analítico; objetivos do plano;
• Curto prazo; b) a confirmação da disponibilidade de recursos para
• Microorientado; atingir cada objetivo proposto;
c) a avaliação da viabilidade do plano como um todo.
• Como fazer:
- Procedimento (método); 3. (EBSERH – Analista administrativo - Superior – Ins-
- Orçamento (recursos); tituto AOCP/2016) Assinale a alternativa que apresenta
- Programação (tempo); os quatro momentos para o processamento técnico-po-
- Regulamento (comportamento). lítico dos problemas, previstos no Planejamento Estraté-
gico Situacional – PES.

EXERCÍCIOS COMENTADOS a) Distributivo, normativo, tático, operacional.


b) Quantitativo, qualitativo, estratégico, gerencial.
c) Explicativo, qualitativo, tático, gerencial.
1. (SEGEP/MA – Pedagogo - Superior – FCC/2016) O
d) Distributivo, quantitativo, estratégico, tático.
Planejamento Estratégico Situacional (PES) é uma abor-
e) Explicativo, normativo, estratégico, tático-operacional.
dagem do planejamento que pressupõe:
Resposta: Letra E. O Planejamento Estratégico Situa-
a) o planejador como um estrategista que usa seu conhe-
cional (PES) se divide em quatro momentos:
cimento e as informações do ambiente para dominar
a) Momento explicativo;
o futuro.
b) Momento normativo;
b) a elaboração do diagnóstico estratégico, objetivo e
único, estabelecendo uma hierarquia entre planos de c) Momento estratégico;
níveis diferentes. d) Momento tático-operacional.
c) que o objeto planejado segue leis e regras, sendo re-
dutível a comportamentos sociais que podem ser mo-
delados.
d) a solução para os problemas baseada no conhecimen- INDICADORES DE DESEMPENHO. TIPOS
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to científico e na racionalidade técnica. DE INDICADORES. VARIÁVEIS COMPO-


e) que o sujeito que planeja está dentro da realidade, NENTES DOS INDICADORES.
fazendo parte de um contexto no qual outros atores
também planejam.
GESTÃO DE DESEMPENHO
Resposta: Letra E. No Planejamento Estratégico Si-
tuacional o sujeito que planeja (“jogador”) está dentro A maneira mais eficaz do gestor demonstrar que está
da realidade, sujeito à diversas variáveis situacionais a par dos resultados apresentados por seus colaborado-
(outros atores) que, podem ou não, exigir a adaptação res é acompanhando de perto as atividades que esses
ou reformulação do plano inicialmente definido. realizam. E o método mais eficaz de demonstrar esse
acompanhamento é por meio da Avaliação de Desempe-
nho do colaborador. A avaliação de desempenho é uma
ferramenta da gestão de pessoas que visa a analisar o
desempenho individual ou de um grupo de funcionários
em uma determinada empresa. É um processo de identi-
ficação, diagnóstico e análise do comportamento de um

149
colaborador durante um intervalo de tempo, analisando • Escolha e distribuição forçada: consiste na avalia-
sua postura profissional, seu conhecimento técnico, sua ção dos indivíduos através de frases descritivas de
relação com os parceiros de trabalho etc. determinado tipo de desempenho em relação às
Esse método tem por objetivo analisar as melhores tarefas que lhe foram atribuídas, entre as quais o
práticas dos funcionários, proporcionando um cresci- avaliador é forçado a escolher a mais adequada
mento profissional e pessoal, visando a um melhor de- para descrever os comportamentos do avaliado.
sempenho de suas funções no ambiente de trabalho. Este método busca minimizar a subjetividade do
Além disso, é uma importante ferramenta de auxílio à processo de avaliação de desempenho.
administração de recursos humanos da empresa, alimen- • Pesquisa de campo: tem base na realização de
tando-a com informações que auxiliam a tomada de de- reuniões entre um especialista em avaliação de
cisão sobre práticas de bonificação, aumento de salários, desempenho da área de Recursos Humanos e
demissões, necessidades de treinamento etc. cada  líder, para avaliação do desempenho de cada
um dos subordinados, levantando-se os motivos
Segundo Wagner Siqueira, o processo de avaliação de tal desempenho por meio de análise de fatos
de desempenho de um colaborador inclui, dentre outras, e situações. Este método permite um diagnóstico
as expectativas desejadas e os resultados reais, sendo di- padronizado do desempenho, minimizando a sub-
vidida em algumas etapas: jetividade da avaliação. Ainda possibilita o planeja-
• Apreciação diária do comportamento do colabora- mento, conjuntamente com o líder, do desenvolvi-
dor, seus progressos e limitações, êxitos e insuces- mento profissional de cada um.
sos, com oferecimento permanente de feedback • Incidentes críticos: enfoca as atitudes que repre-
instantâneo; sentam desempenhos altamente positivos (suces-
• Identificação e equacionamento imediato dos pro- so), que devem ser realçados e estimulados, ou
blemas emergentes, procurando manter continua- altamente negativos (fracassos), que devem ser
mente um alto padrão de motivação e de obten- corrigidos através de orientação constante. O mé-
ção de resultados; todo não se preocupa em avaliar as situações nor-
• Entrevistas formais periódicas de avaliação de de- mais. No entanto, para haver sucesso na utilização
sempenho, em que avaliador e avaliado analisam desse método, é necessário o registro constante
os resultados obtidos no período considerado e dos fatos para que estes não passem despercebi-
redefinem novas orientações, compromissos recí- dos.
procos e ações corretivas, se for o caso. • Comparação de pares: também conhecida como
comparação binária, faz uma comparação entre
Neste processo, o gestor precisa avaliar as fraquezas e o desempenho de dois colaboradores ou entre o
limitações dos funcionários, buscando identificar pontos desempenho de um colaborador e sua equipe, po-
de melhoria, necessidade de treinamento, ou até mes- dendo fazer o uso de fatores para isso. É um pro-
mo remanejamento do indivíduo para outras funções em cesso muito simples e pouco eficiente, mas que se
que poderia render melhor. torna muito difícil de ser realizado quanto maior
Assim, o papel principal da avaliação de desempenho for o número de pessoas avaliadas.
• Auto avaliação: é a avaliação feita pelo próprio
é identificar e trabalhar de forma sistêmica as diferenças
avaliado com relação a sua performance. O ideal
de desempenho entre os muitos funcionários da organi-
é que esse sistema seja utilizado conjuntamente a
zação. Tendo sempre como base a interação constante
outros sistemas para minimizar o forte viés e a falta
entre avaliador e avaliado.
de sinceridade que podem ocorrer.
• Relatório de performance: também chamada de
Disponível em: <http://www.sobreadministracao.
avaliação por escrito ou avaliação da experiência,
com/avaliacao-de-desempenho-o-que-e-e-como-fun-
trata-se de uma descrição mais livre acerca das ca-
ciona/>. Acesso em: 14 jul. 2018.
racterísticas do avaliado, seus pontos fortes, fracos,
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potencialidades e dimensões de comportamento,


1. Formas de avaliação de desempenho entre outros aspectos. Sua desvantagem está na
dificuldade de se combinar ou comparar as classifi-
Listamos abaixo os métodos mais tradicionais de ava- cações atribuídas e por isso exige a suplementação
liação: de um outro método, mais formal.
• Avaliação por resultados: é um método de avalia-
• Escalas gráficas de classificação: é o método mais ção baseado na comparação entre os resultados
utilizado nas empresas. Avalia o desempenho por previstos e realizados. É um método prático, mas
meio de indicadores definidos, graduados através que depende somente do ponto de vista do super-
da descrição de desempenho numa variação de visor a respeito do desempenho avaliado.
ruim a excepcional. Para cada graduação pode ha- • Avaliação por objetivos: baseia-se numa avaliação
ver exemplos de comportamentos esperados para do alcance de objetivos específicos, mensuráveis,
facilitar a observação da existência ou não do indi- alinhados aos objetivos organizacionais e nego-
cador. Permite a elaboração de gráficos que facili- ciados previamente entre cada colaborador e seu
tarão a avaliação e o acompanhamento do desem- superior. É importante ressaltar que, durante a
penho histórico do avaliado. avaliação, não devem ser levados em consideração

150
aspectos que não estavam previstos nos objetivos, feedback faz com que os avaliados queiram investir ain-
ou não tinham sido comunicados ao colaborador. da mais em seu desenvolvimento, melhorando seu de-
E ainda, deve-se permitir ao colaborador sua au- sempenho e trazendo vantagens para a empresa.
toavaliação para discussão com seu gestor. Este método é importante, também, para eliminar
• Padrões de desempenho: também chamado de pa- “achismos” e palpites quanto à avaliação de um funcio-
drões de trabalho, é quando há estabelecimento de nário. É um meio de obter informações reais e avaliar de
metas somente por parte da organização, mas que perto as implicações de uma possível mudança na gestão
devem ser comunicadas às pessoas que serão ava- de recursos humanos da empresa.
liadas.
• Frases descritivas: trata-se de uma avaliação através Por isso, manter esse tipo de avaliação pode trazer
de comportamentos descritos como ideais ou nega- muitos benefícios e mudanças positivas na gestão de
tivos. Assim, assinala-se “sim” quando o comporta- pessoas de uma organização, seja qual for o seu tama-
mento do colaborador corresponde ao comporta- nho. Com ela, o gestor pode avaliar melhor seus subor-
mento descrito, e “não” quando não corresponde. É dinados, melhorar o clima de trabalho, investir no treina-
diferente do método da Escolha e distribuição força- mento de seus pares, melhorar a produtividade, desen-
da no sentido da não obrigatoriedade na escolha volver os métodos de remuneração, fazê-los trabalhar
das frases. de forma mais eficiente etc. Todos ganham quando uma
• Avaliação 360 graus: neste método, o avaliado equipe é avaliada de forma satisfatória pelos gerentes.
recebe  feedbacks  (retornos) de todas as pessoas
com quem ele tem relação, também chamados 3. Aplicações
de  stakeholders, como pares, superior imediato,
subordinados, clientes, entre outros. A avaliação de desempenho presta-se ao exercício de
• Avaliação de competências: trata-se da identificação diferentes funções administrativas, motivacionais e de
de competências conceituais (conhecimento teóri- comunicação, como citadas a seguir:
co), técnicas (habilidades) e interpessoais (atitudes)
necessárias para que determinado desempenho seja • Identificação de pontos fortes e fracos dos colabo-
obtido. radores e, consequentemente, da organização;
• Avaliação de competências e resultados: é a con- • Identificação de diferenças individuais;
jugação das avaliações de competências e resulta- • Estímulo à comunicação interpessoal;
dos, ou seja, é a verificação da existência ou não • Desenvolvimento do conceito “equipe de dois”,
das competências necessárias de acordo com o formada por chefe e subordinado;
desempenho apresentado. • Informação ao colaborador de como o seu desem-
• Avaliação de potencial: com ênfase no desempe- penho é percebido;
nho futuro, identifica as potencialidades do ava- • Estímulo ao desenvolvimento individual do avalia-
liado que facilitarão o desenvolvimento de tarefas dor e do avaliado;
• Indicações de promoções e de aumentos salariais
e atividades que lhe serão atribuídas. Possibilita a
por mérito;
identificação de talentos que estejam trabalhando
• Indicações de necessidade de treinamento;
aquém de suas capacidades, fornecendo base para
• Gestão de crises nas equipes e nos processos ope-
a recolocação dessas pessoas.
racionais (sistemas técnicos e sociais);
• Balanced Scorecard: sistema desenvolvido por Ro-
• Auxílio na verificação de aprendizagens;
bert S. Kaplan e David P. Norton na década de 90,
• Identificação de problemas de trabalho em geral, no
avalia o desempenho sob quatro perspectivas: fi-
relacionamento individual, intraequipe ou interequi-
nanceira, do cliente, dos processos internos e do
pes;
aprendizado e crescimento. São definidos objeti- • Registro histórico suplementar para ações admi-
vos estratégicos para cada uma das perspectivas e nistrativas de gestão;
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tarefas para o atendimento da meta em cada obje- • Apoio às pesquisas de clima organizacional.
tivo estratégico.
4. Indicadores de Desempenho
2. Vantagens da Avaliação de desempenho
O que não é medido não é gerenciado....
Por meio da avaliação de desempenho é possível Robert Kaplan
identificar novos talentos dentro da própria organização,
mediante análise do comportamento e das qualidades Se você não mede algo, você não pode entender o pro-
de cada indivíduo, gerando, assim, novas possibilidades cesso.
para remanejamento interno de colaboradores. Além Se você não entende o processo, você não consegue
disso, pode oferecer bonificações e premiações aos fun- aperfeiçoá-lo.
cionários que mais se destacarem na avaliação. Peter Druker
Outra vantagem é a possibilidade de gerar um fee-
dback mais fácil aos funcionários analisados e gestores, A utilização de indicadores de desempenho para
uma vez que tem como resultado informações relevan- aferir os resultados alcançados pelos administradores é
tes, sólidas e tangíveis para um resultado eficiente. Esse uma metodologia que está relacionada ao conceito de

151
gerenciamento voltado para resultados (result oriented • Possibilita a avaliação qualitativa e quantitativa do
management – ROM). Esse conceito tem sido adotado desempenho global da instituição, por meio da ava-
nas administrações públicas de diversos países, espe- liação de seus principais programas e/ou departa-
cialmente nos de cultura anglo-saxônica (EUA, Austrália, mentos;
Reino Unido). • Permite o acompanhamento e a avaliação do desem-
Para alguns estudiosos/autores da literatura especia- penho ao longo do tempo e ainda a comparação en-
lizada, o conceito de indicador de desempenho pode ser tre:
definido como um instrumento de mensuração quanti- • Desempenho anterior x desempenho corrente;
tativa ou qualitativa de aspectos do desempenho. Neste • Desempenho corrente x padrão de comparação;
material, vamos adotar a seguinte definição: • Desempenho planejado x desempenho real;
Um indicador de desempenho é um número, per- • Possibilita enfocar as áreas relevantes do desem-
centagem ou razão que mede um aspecto do desem- penho e expressá-las de forma clara, induzindo um
penho, com o objetivo de comparar esta medida com processo de transformações estruturais e funcionais
metas pré-estabelecidas. que permite eliminar inconsistências entre a missão
da instituição, sua estrutura e seus objetivos priori-
5. Medição de desempenho e indicador de desem- tários;
penho • Ajuda o processo de desenvolvimento organizacio-
nal e de formulação de políticas a médio e longo
A expressão indicador de desempenho é também prazos;
normalmente utilizada no sentido de medição de de- • Melhora o processo de coordenação organizacio-
sempenho. Entretanto, é possível estabelecer-se uma nal, a partir da discussão fundamentada dos resul-
distinção entre ambas. Medições de desempenho são tados e o estabelecimento de compromissos entre
efetuadas quando os aspectos do desempenho podem os diversos setores da instituição;
ser mensurados diretamente e quantificados com faci- • Possibilita a incorporação de sistemas de reconhe-
lidade. Exemplos: quilometragem de estradas conserva- cimento pelo bom desempenho, tanto institucio-
das; número de alunos matriculados no 1º grau. nais quanto individuais.
Indicadores de desempenho são utilizados quando
não é possível efetuar tais mensurações de forma direta. 9. Qualidades desejáveis em um indicador de de-
Atuam como uma alternativa para a medição do desem- sempenho
penho, embora não forneçam uma mensuração direta
dos resultados. Exemplo: a utilização do índice de repe-
Tanto na análise de indicadores de desempenho já
tência na 1ª série do 1º grau, como um dos fatores a
existentes, quanto na elaboração de novos, deve-se veri-
serem considerados na formação de um indicador de de-
ficar as seguintes características:
sempenho para medir a efetividade do ensino de 1º grau.
O que se deseja ressaltar com essa diferenciação é
I. Representatividade: o indicador deve ser a expressão
que os indicadores de desempenho podem fornecer uma
dos produtos essenciais de uma atividade ou função;
boa visão acerca do resultado que se deseja medir, mas
o enfoque deve ser no produto: medir aquilo que é
são apenas aproximações do que realmente está ocor-
rendo, necessitando, sempre, de interpretação no con- produzido, identificando produtos intermediários e fi-
texto em que estão inseridos. nais, além dos impactos desses produtos (outcomes).
Este atributo merece certa atenção, pois indicadores
6. Natureza comparativa dos indicadores de de- muito representativos tendem a ser mais difíceis de ser
sempenho obtidos.
II. Homogeneidade: na construção de indicadores
Informações sobre desempenho são essencialmente devem ser consideradas apenas variáveis homogê-
comparativas. Um conjunto de dados isolado mostrando neas. Por exemplo, ao estabelecer o custo médio
os resultados atingidos por uma instituição não diz nada por auditoria, devem-se identificar os diversos tipos
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a respeito do desempenho da mesma, a menos que seja de auditoria, já que para cada tipo tem-se uma com-
confrontado com metas ou padrões preestabelecidos, ou posição de custo diversa.
realizada uma comparação com os resultados atingidos III. Praticidade: garantia de que o indicador realmente
em períodos anteriores, obtendo-se assim uma série his- funciona na prática e permite a tomada de decisões
tórica para análise. gerenciais. Para tanto, deve ser testado, modificado
ou excluído quando não atender a essa condição.
7. Variáveis empregadas na construção de indicadores IV. Validade: o indicador deve refletir o fenômeno a
ser monitorado.
Os indicadores quase sempre são compostos por va- V. Independência: o indicador deve medir os resul-
riáveis provenientes de um dos seguintes grupos: custo, tados atribuíveis às ações que se quer monitorar,
tempo, quantidade e qualidade. devendo ser evitados indicadores que possam ser
influenciados por fatores externos.
8. Principais usos de indicadores de desempenho VI. Confiabilidade: a fonte de dados utilizada para o
cálculo do indicador deve ser confiável, de tal forma
A utilização de indicadores de desempenho pela ins- que diferentes avaliadores possam chegar aos mes-
tituição: mos resultados.

152
VII. Seletividade: deve-se estabelecer um número equilibrado de indicadores que enfoquem os aspectos essenciais
do que se quer monitorar.
VIII. Simplicidade: o indicador deve ser de fácil compreensão e não envolver dificuldades de cálculo ou de uso.
IX. Cobertura: os indicadores devem representar adequadamente a amplitude e a diversidade de características do
fenômeno monitorado, resguardado o princípio da seletividade e da simplicidade.
X. Economicidade: as informações necessárias ao cálculo do indicador devem ser coletadas e atualizadas a um
custo razoável, em outras palavras, a manutenção da base de dados não pode ser dispendiosa.
XI. Acessibilidade: deve haver facilidade de acesso às informações primárias bem como de registro e manutenção
para o cálculo dos indicadores.
XII. Estabilidade: a estabilidade conceitual das variáveis componentes e do próprio indicador bem como a estabi-
lidade dos procedimentos para sua elaboração são condições necessárias ao emprego de indicadores para avaliar
o desempenho ao longo do tempo.

10. Aspectos do desempenho medidos pelos indicadores

O desempenho na obtenção de um determinado resultado pode ser medido segundo as seguintes dimensões de
análise: economicidade, eficiência, eficácia e efetividade. Para cada dimensão de análise podem existir um ou mais
indicadores.

11. Tipos de indicadores

12. Requisitos dos indicadores

• Disponibilidade – Facilidade de acesso para coleta, estando disponível a tempo;


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• Simplicidade – Facilidade de ser compreendido;


• Baixo custo de obtenção;
• Adaptabilidade – Capacidade de resposta às mudanças;
• Estabilidade – Permanência no tempo, permitindo a formação de série histórica;
• Rastreabilidade – Facilidade de identificação da origem dos dados, seu registro e manutenção;
• Representatividade – Atender às etapas críticas dos processos, estes sendo importantes e abrangentes.

153
13. Exemplo de Indicadores de Desempenho

PROCESSOS MÉTRICAS
Estratégia Corpo- ▪ A posição competitiva na indústria
rativa ▪ Custo, tempo de desenvolvimento, tempo de entrega, quantidade, preço e canais dos
produtos oferecidos
▪ Quantidade, complexidade e tamanho dos concorrentes, clientes, parceiros e forne-
cedores
▪ Valor dos recursos disponíveis
Estrutura Corpo- ▪ Número de unidades estratégicas de negócio (UEN)
rativa ▪ Diversidade geográfica de produção e vendas
▪ Nível de capacitação para cada (UEN) e gerentes
Sistemas Corpora- ▪ Índice de retenção de clientes e funcionários
tivos ▪ Produtos e índices de qualidade de processos
▪ Investimento na formação de equipes
Recursos ▪ Recursos financeiros disponíveis para investimento no negócio
▪ Avaliação de competências dos funcionários existentes
▪ Avaliação da qualidade da tecnologia atual e dos processos
Ambiente externo ▪ Avaliação dos investimentos dos concorrentes
▪ Avaliação das necessidades do cliente
▪ das necessidades de fornecedores e recursos
Liderança ▪ Tempo dedicado ao negócio
▪ Orçamento por cento atribuído às iniciativas no segmento
▪ Porcentagem de desempenho vinculados ao sucesso do negócio no mercado
▪ Objetivos do negócio claramente comunicados aos administradores e funcionários
▪ Percentagem de gerentes preparados para o negócio
Criar e executar es- ▪ Número, preço de custo e a percepção dos produtos e serviços oferecidos pela empresa
tratégias adequadas para Disponibilidade e planejamento de recursos de segurança do segmento
o negócio ▪ Percepção da marca
▪ Quantidade e qualidade das informações disponíveis sobre a empresa
▪ Os níveis de qualidade, opções de entrega, taxas de cumprimento e satisfação do clien-
te de encomendas personalizadas
▪ Rentabilidade das operações para o segmento
Suporte e estrutura ▪ Quantidade de produtos terceirizados
externa ao negócio ▪ Qualidade das parcerias estratégicas formadas
▪ Variação do custo e da qualidade de contratos de fornecedores
▪ Integração ante unidades fornecedoras e funções internas
▪ Número de produtos, canais e serviços específicos
Desenvolver e im- ▪ Quantidade, qualidade, habilidades e conhecimentos dos funcionários da empresa
plementar sistemas apro- ▪ Quantidade e qualidade de treinamentos específicos
priados ao negócio ▪ Porcentagem de medidas de desempenho e recompensas alinhados e ligados à ativi-
dade do negócio
▪ Quantidade e qualidade dos dados dos clientes através de sistemas promocionais
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

▪ Tempo necessário para atender aos pedidos do cliente e solicitações de serviços feitas
pessoalmente ou por outros meios
▪ Nível de integração interdepartamental por via eletrônica
▪ Qualidade de vendas e performance de entrega
Otimização de ca- ▪ Valores em R$ das atividades realizadas pelo segmento concorrente
nal ▪ Número de clientes atendidos pela concorrência
▪ Tempo de inatividade médio por unidade
▪ Nível de satisfação com a cadeia de fornecedores
▪ Melhoria de vendas juntos aos clientes já existentes
Redução de custos ▪ R$ economizados em despesas com pessoal, aquisição de produtos e materiais, arma-
zenamento etc.
▪ R$ economizados no desenvolvimento de novos produtos e a introdução no mercado
▪ Os custos trabalhistas por unidade vendida

154
Aquisição de novos ▪ Novos clientes adquiridos através de promoções
clientes ▪ Percentagem de clientes por novo produto
▪ Percentagem de novos clientes específicos
▪ Número de novos clientes por meio de outros canais
▪ Novos clientes que se convertem em clientes fidelizados (taxa de conversão)
Fidelização e reten- ▪ Frequência de visitas e retorno de cliente
ção de cliente ▪ Vendas médias, anual por cliente
▪ A satisfação do cliente com o atendimento
▪ Compras do cliente versus a taxa de desistência
▪ Percentagem de atritos com clientes
▪ Relação de novos clientes versus os costumeiros
Geração de valor ▪ Custo e preço dos produtos e serviços oferecidos aos clientes
▪ Média dos preços pagos pelos consumidores
▪ Número de novos produtos e linhas de serviços introduzidos
▪ Rentabilidade das operações do negócio
▪ As receitas geradas através da iniciativa (receita total, receita por cliente)
▪ Rentabilidade por cliente
Rentabilidade da ▪ Preço do estoque
empresa a longo prazo ▪ Evolução do capital
▪ O crescimento das vendas

Vale reforçar que, mesmo adotando-se todos os cuidados na elaboração de indicadores de desempenho, o aperfei-
çoamento sempre será possível, à medida em que forem sendo colocados em prática.
Criar um canal para críticas e sugestões dos usuários dos serviços públicos, organizações governamentais, entida-
des de classe, entidades governamentais fiscalizadoras, enfim, de todos os que, de certa forma, estão interessados no
desempenho do serviço da entidade pública é outra forma de aperfeiçoar o uso de indicadores, buscando sempre um
processo de melhoria que traga o serviço o mais próximo possível do desejado e necessário.

ESTRATÉGIA NACIONAL DO PODER JUDICIÁRIO PARA O PERÍODO DE 2 DE 2015 A 2020,


ESTABELECIDA PELA RESOLUÇÃO CNJ Nº 198/2014. MISSÃO, VISÃO E VALORES DO PO-
DER JUDICIÁRIO. OS MACRODESAFIOS DO PODER JUDICIÁRIO APLICÁVEIS A JUSTIÇA
ESTADUAL. METAS NACIONAIS. DEFINIÇÃO E CORRELAÇÃO COM OS MACRODESAFIOS
DO PODER JUDICIÁRIO.

Estratégia é a palavra-chave da modernidade.

Faremos uma abordagem quanto ao conceito estratégia, sua aplicação no planejamento e na sequencia, a gestão
estratégica do Poder Judiciário.
Nos dias atuais, estratégia diz respeito à condução de organizações no contexto da competição. A sua operacionali-
zação inclui a seleção de objetivos para delimitar e guiar as ações de manutenção ou de melhoria da posição alcançada
no mercado, a reunião dos recursos disponíveis, a avaliação de contingências ambientais tais como os interesses de
determinados grupos, inovações tecnológicas, medidas governamentais, entre outras tarefas (Hatch, 1997). Conforme
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

observa Quinn (1992), atividades ainda muito similares àquelas desempenhadas na remota Grécia pelos conquistado-
res em tempos de luta.
O conceito de estratégia é encontrado com diferentes conotações em diferentes contextos, seja na esfera teórica
da academia, ou seja na vida real de organizações. Além disto, este é um conceito que ao ser incorporado ao vocabu-
lário da ciência da administração, veio evoluindo ao longo das últimas décadas a partir de contribuições de diversos
pesquisadores na área, portanto, uma definição exata, precisa e única para estratégia não será encontrada, mas sim
uma miríade de definições que foram surgindo ao longo das últimas décadas, principalmente na academia, sendo que
várias delas tem sido validadas e utilizadas por muitas empresas da vida real, enquanto, muitas outras definições tem
se constituído em modismo passageiro e não se consolidaram.. A este respeito, Mintzberg e Quinn (1995) se mani-
festam afirmando “que não há uma definição única, universalmente aceita, mas, que entretanto, abundam definições
reconhecidamente válidas”.
A respeito das diversas definições atribuídas ao termo estratégia, apresenta-se algumas dentro desta vasta literatu-
ra, de acordo com a visão dos autores abaixo relacionados.
Para Andrews, Christensen, Bower, Hamermesh e Porter (citados por Mintzberg et al.,2000:28), a estratégia é vista
como: “a união entre qualificações e oportunidades que posiciona uma empresa em seu ambiente”.

155
Ansoff (1965) explica a estratégia de forma mais técnica, como sendo: “o negócio em que estamos; as tendências
que se verificam; decisões heurísticas de primeira ordem; nicho competitivo; e características de portfólio”.
Porter (1996) e Mintzberg et al. (2000), afirmam que a estratégia “é a escolha de uma posição única e valiosa basea-
da em sistemas de atividades que são difíceis de copiar e que agregam valor.”
Para Shumpeter (apudMintzberg et al, 2000) e Drucker (1980), a estratégia pode ser vista “como novas combinações
que visam explorar oportunidades novas e diferentes no futuro”.
De acordo com Bruner, (apudMintzberg etal., 2000), a estratégia é vista como um conceito, assim a realização da es-
tratégia é a concretização de um conceito. Outros autores, como Simon e March (citados pelo mesmo autor), acreditam
que a estratégia tem lugar na mente do estrategista e este é um conceito de difícil realização.
Senge (1990) e Quinn (apudMintzberg et al., 2000), afirmam que a estratégia “é um processo de aprendizado, tanto
individual como coletivo, ou seja, a estratégia pode fazer com que a organização aprenda ao longo do tempo.”

AS ESCOLAS DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO

Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) escreveram “Safári de Estratégia”, após uma grande revisão da literatura
existente sobre Estratégia e Planejamento Estratégico. Este livro traz uma síntese dos pensamentos solidificados sobre
o assunto nas últimas décadas.
Para os autores, as mais relevantes contribuições do assunto puderam ser classificadas em dez pontos de vista
distintos, a maioria do qual, na opinião deles, de uma forma ou de outra foram validadas na prática gerencial ao longo
dos anos. Os autores as denominaram como: as dez escolas de pensamento estratégico.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

1) Escola do Design
A formulação da estratégia como um processo de concepção, pautado pela Análise SWOT para a criação da estraté-
gia. A escola considera estratégia racional e lógica, feita pelo executivo principal. O processo de implementação apre-
senta separação estanque da fase de formulação, somente possível quando a estratégia for única, simples e explícita.
A principal crítica a escola do design é a inflexibilidade da estratégia.

2) Escola de Planejamento
A formulação da estratégia como um processo que formaliza o planejamento estratégico e fixa objetivos, desta-
cando: forte presença de auditoria interna e externa para a avaliação da estratégia; separação entre o planejamento e
a execução e a presença de assessorias externas.

3) Escola de Posicionamento
A formulação da estratégia como um processo analítico. A base da escola do posicionamento esta na teoria econô-
mica de organização industrial.

156
A partir da estrutura de mercado, constroem-se estratégia na busca de vantagens competitivas. Surgem as estraté-
gias genéricas de Porter, liderança em custo de diferenciação, identificadas a partir do modelo das cinco forças compe-
titivas: I) poder de barganha dos fornecedores, II) poder de barganha dos clientes; III) barreiras à entrada ; IV) ameaças
de produtos substitutos e V) rivalidade interna da indústria.

4) Escola Empreendedora
A formulação da estratégia como um processo visionário, pautado na mente do líder por meio de tentativas, o que
gera uma destruição criativa. O crescimento é dado como meta, e a visão substitui a formulação de um plano esque-
matizado, sendo emergente.

5) Escola Cognitiva
A formulação da estratégia como um processo mental, que tem como base a psicologia cognitiva das décadas de
oitenta e noventa. O processo cognitivo como: confusão na identificação de tendências, processamento de informa-
ções, mapeamento, realização de conceito e construção.

6) Escola do Aprendizado
A formulação da estratégia como um processo emergente. A complexidade e imprevisibilidade das organizações
impedem o controle deliberado e a formulação precisa da estratégia. A formulação e a implementação de estratégias
são indissociáveis. Não só o líder aprende, mas todo o sistema coletivo aprende a formular e implementar estratégias.
O aprendizado é emergente, surgindo de todos os tipos de lugares. O papel da liderança é gerenciar o processo de
aprendizado estratégico, não de deliberar estratégias. As estratégias nascem do passado, para serem transformadas
em planos futuros.

7) Escola do Poder
A formulação da estratégia como um processo de negociação em função do poder e da política. As estratégias são
emergentes. O micropoder visualiza a estratégia como interação, barganha, confronto direto entre interesses estreitos
e coalizão inconstante. Já o macropoder vê a organização como promotora do próprio bem-estar por meio de controle
ou cooperação com outras organizações, definindo estratégias coletivas.

8) Escola Cultural
A formulação da estratégia ocorre como um processo coletivo de integração social, baseado nas crenças e nas in-
terpretações comum dos membros das organizações. Os indivíduos adquirem as crenças por meio de um processo de
aculturação e socialização, sendo este tácito.

9) Escola Ambiental
A formulação da estratégia como um processo reativo. O ambiente é um conjunto de forças gerais, responsável pela
geração de estratégias. As organizações necessitam se adequar a estas forças, ou elas morrerão.

10) Escola de Configuração


A formulação da estratégia como um processo de transformação. As organizações podem ser descritas em termos
de algum tipo de configuração estável em um período de tempo, que dá origem ás estratégias. Os períodos de estabi-
lidade são interrompidos, dando origem a novas configurações. Os ciclos de interrupções e mudanças são estáveis, e o
sucesso está na administração destes ciclos. As estratégias necessitam ser adequadas ao contexto.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

157
A gestão estratégica é uma “metodologia” importante que visa assegurar o sucesso da empresa no momento atual,
bem como principalmente o seu sucesso no futuro.
é um processo contínuo e interativo que visa auxiliar a Administração no gerenciamento da organização e se baseia
em 3 pilares fundamentais:
 o planejamento estratégico,
 a execução e
 o controle.

Planejamento Estratégico
Estabelecimento da diretriz organizacional: A Missão, que define a razão de ser da organização; A Visão de Futuro,
que define o que a instituição aspira a ser ou a se tornar; e OS Objetivos Estratégicos, que são os desafios estabelecidos
pela organização. Definido o foco, estabelecem-se as metas.

Execução da estratégia
Conversão do curso de ação escolhido para o alcance dos objetivos em resultados e ações concretas, por meio da
execução dos projetos e melhoria dos processos de trabalho.

Acompanhamento estratégico
Monitoramento e avaliação da estratégica, para melhorá-lo e assegurar que tudo acontecerá conforme o planejado,
checando o alcance das metas e o andamento dos projetos e o aprimoramento dos processos de trabalho.

Os elementos principais da gestão estratégica


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Declaração de missão
– a missão é o elemento que traduz as responsabilidades e pretensões da organização junto ao ambiente e define
o negócio, delimitando o seu ambiente de atuação. A missão da organização representa sua razão de ser, o seu papel
na sociedade.

Visão de negócios
– mostra uma imagem da organização no momento da realização de seus propósitos no futuro. Trata-se não de
predizer o futuro, mas de assegurá-lo no presente. A visão de negócios cria um “estado de tensão” positivo entre o
mundo como ele é e como gostaríamos que fosse (sonho). A visão de negócios associada a uma declaração de missão
compõe a intenção estratégica da organização.

Diagnóstico estratégico externo


– procura antecipar oportunidades e ameaças para a concretização da visão, da missão e dos objetivos empresa-
riais. Corresponde à análise de diferentes dimensões do ambiente que influenciam as organizações. Estuda também as
dimensões setoriais e competitivas.

158
Diagnóstico estratégico interno As principais vantagens da Gestão (Planejamento) Es-
– corresponde ao diagnóstico da situação da organi- tratégico são:
zação diante das dinâmicas ambientais, relacionando- a - Fornece uma visão sistêmica, pois aprofunda o co-
às suas forças e fraquezas e criando as condições para nhecimento sobre a organização, mercado/clien-
a formulação de estratégias que representam o melhor tes, concorrentes, parceiros e fornecedores;
ajustamento da organização no ambiente em que atua. - Agiliza e fundamenta decisões, pois cria um consen-
O alinhamento dos diagnósticos externos e internos pro- so natural entre os líderes da organização sobre o
duz as premissas que alicerçam a construção de cenários. que realmente é importante;
- Estabelece uma direção única, pois alinha os esfor-
Fatores críticos de sucesso ços de todos na organização para o atendimento
- esse recurso metodológico é uma etapa do pro- de objetivos comuns;
cesso inserida entre o diagnóstico e a formulação das - Melhora a capacidade de adaptação, pois facilita a
estratégias. Ele procura evidenciar questões realmente reestruturação organizacional frente ás mudanças
críticas para a organização, emergindo dos problemas de cenários externo e de competição;
apontados na análise realizada com a aplicação do mo- - Melhora a alocação de recursos;
delo SWOT, de cuja solução dependerá a consecução da - Reforça a motivação;
missão. Os determinantes de sucesso também são de- - Melhora o controle;
nominados fatores críticos de sucesso e encaminham as - Sistematiza ciclos de melhoria contínua da organi-
políticas de negócios. zação
Definição dos objetivos Para Oliveira (1999), a Gestão Estratégica compreen-
– a organização persegue simultaneamente diferen- de:
tes objetivos em uma hierarquia de importância, de prio- - Planejamento Estratégico
ridades ou de urgência. - Organização Estratégica
- Direção Estratégica
Análise dos públicos de interesse (stakeholderes) - Controle Estratégico
– quando foi definida a estratégia, já se observou que - Desenvolvimento Estratégico
só se tem sucesso na estratégia elaborada ao atender às
necessidades dos públicos de interesse. Um stakeholder PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
consiste em uma pessoa, um grupo de pessoas ou uma
organização que pode influenciar ou ser influenciado O planejamento estratégico veio surgir em meados
pela organização, como consumidores, usuários, em- da década de 60, através das metodologias de planeja-
pregados, proprietários, dirigentes, governo, instituições mento propostas pelo professor Igor Ansoff e dos pes-
financeiras, opinião pública ou acionistas. A análise con- quisadores do Stanford Research Institute (Taylor, 1975).
siste na identificação dos grupos e de seus interesses e Segundo Kotler, “o planejamento estratégico se trata
poderes de influência no que diz respeito à missão da de uma metodologia gerencial que permite estabelecer
organização. a direção a ser seguida pela organização, visando um
maior grau de interação com o ambiente”. A direção es-
Formalização do plano colhida pela empresa engloba de forma significativa as
– um plano estratégico é um plano para a ação, mas questões de macro política, macro estratégias e dos ob-
não basta somente a formulação das estratégias dessa jetivos funcionais. Já em relação à interação da organiza-
ação. É necessário implementá-las por meio de progra- ção com seu ambiente, esta pode variar de acordo com
mas e projetos específicos. Requer um grande esforço de o alinhamento dos objetivos com o mesmo, podendo ser
pessoal e emprego de modelos analíticos para a avalia- positiva, neutro ou negativa.
ção, a alocação e o controle de recursos. Esse elemento Em resumo, podemos dizer que o planejamento es-
metodológico exige uma abrangência completa de todas tratégico é o processo de analisar uma organização sob
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

as áreas de tomada de decisão da organização; uma ra- diversos ângulos, direcionando seus rumos e monitoran-
cionalidade formal no processo de tomada de decisão e do suas ações de forma concreta. O monitoramento e
um firme controle sobre o trabalho. controle são resultados práticos da utilização do que co-
nhecemos como Plano Estratégico. Segundo Peter Druc-
Auditoria de desempenho e resultados (reavalia- ker, o planejamento estratégico é um processo contínuo
ção estratégica) e sistemático, que possui o maior conhecimento possível
– trata-se de rever o que foi implementado para deci- acerca do futuro. Tomar decisões que envolvem riscos,
dir os novos rumos do processo, mantendo as estratégias organizar sistematicamente as ações necessárias para
implantadas com sucesso e revendo as más estratégias. uma boa execução das decisões e retroalimentar e medir
A reavaliação das estratégias aparece como resultado de os efeitos dessas decisões são tarefas que fazem parte do
um processo de medição de diversos grupos de influên- planejamento estratégico de uma organização.
cias associados a cada estratégia.
O planejamento estratégico poderia ser definido
como um processo de gestão que apresenta, de maneira
integrada, o aspecto futuro das decisões institucionais,
a partir da formulação da filosofia, da instituição, sua

159
missão, sua orientação, seus objetivos, suas metas, seus TCU – “Assegurar a efetiva e regular gestão dos recur-
programas e as estratégias a serem utilizadas para as- sos públicos, em benefício da sociedade”.
segurar sua implementação. É a identificação de fatores Petrobrás – “Atuar de forma segura e rentável nas ati-
competitivos de mercado e potencial interno, para atin- vidades de indústria de óleo, gás e energia, nos mercados
gir metas e planos de ação que resultem em vantagem nacional e internacional, fornecendo produtos e serviços
competitiva, com base na análise sistemática de mudan- de qualidade, respeitando o meio ambiente, consideran-
ças ambientais previstas para um determinado período. do os interesses dos seus acionistas e contribuindo para
Portanto, o planejamento estratégico não deve ser con- o desenvolvimento do país”.
siderado apenas como uma afirmação das aspirações de
uma empresa, pois inclui também o que deve ser feito Negócio: É o ramo de atuação da organização, deli-
para transformar essas aspirações em realidade. Quan- mita o campo em que ela estará desenvolvendo suas ati-
do se considera a metodologia para o desenvolvimento vidades. Está muito ligado ao tipo de produto ou serviço
do planejamento estratégico nas empresas, têm-se duas que a organização oferece e nem sempre é tão óbvio. Por
possibilidades, que se definem: exemplo, o negócio da Copenhagen não é chocolates e
• em termos da empresa como um todo, “aonde se sim presentes finos. Para exemplificar com uma organi-
quer chegar e depois se estabelece “como a em- zação pública, o negócio do TCU é o “controle externo da
presa está para se chegar à situação desejada”; ou administração pública e da gestão dos recursos públicos
• em termos da empresa como um todo “como se federais”.
está” e depois se estabelece “aonde se quer che-
gar”. Pode-se considerar uma terceira possibilidade Visão de futuro: É considerada como os limites que
que é definir “aonde se quer chegar” juntamente os principais responsáveis pela empresa conseguem en-
com “como se está para chegar lá”. Cada uma des- xergar dentro de um período de tempo mais longo e
sas possibilidades tem a sua principal vantagem. uma abordagem mais ampla. Representa o que a empre-
No primeiro caso, é a possibilidade de maior criati- sa quer ser em um futuro próximo ou distante
vidade no processo pela não existência de grandes A visão deve ser:
restrições. A segunda possibilidade apresenta a - Compartilhada e apoiada por todos na organização
grande vantagem de colocar o executivo com o pé - Abrangente e detalhada
no chão quando inicia o processo de planejamento - Positiva e inovadora
estratégico. - Desafiadora mas viável
- Transmitir uma promessa de novos tempos
O planejamento estratégico é o processo por meio do
- Agregar um aspecto emocional
qual a estratégia organizacional será explicitada.
Podemos identificar, como características do planeja-
Exemplos de visão:
mento estratégico:
Receita Federal: “Ser uma instituição de excelência em
- É responsabilidade da cúpula da organização;
administração tributária e aduaneira, referência nacional
- Envolve a organização como um todo;
e internacional”.
- Planejamento de longo prazo;
TCU: “Ser instituição de excelência no controle e con-
- Outros níveis do planejamento (tático e operacional)
serão desdobrados dele. tribuir para o aperfeiçoamento da administração públi-
ca”.
Um bom planejamento estratégico deve, em seu iní-
cio, incluir a definição do referencial estratégico da or- Valores: Representam o conjunto dos princípios,
ganização. Este referencial é o grande guia das organi- crenças e questões éticas fundamentais de uma empresa,
zações, são as diretrizes que norteiam a sua atuação e o bem como fornecem sustentação a todas as suas princi-
seu posicionamento frente ao mercado. Representam o pais decisões.
planejamento estratégico no seu nível mais amplo e são Influencia na qualidade do desenvolvimento e opera-
as bases para que a organização possua uma estratégia cionalização do planejamento estratégico.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

sólida e sustentável. Os valores da empresa devem ter forte interação com


as questões éticas e morais da empresa
Esse referencial inclui o negócio, a missão, a visão de
futuro e os valores organizacionais. O planejamento estratégico deve estar alinhado a
este referencial.
Missão: pode ser entendida como o papel que a
empresa terá perante a sociedade, enfim, quais são os Etapas do Planejamento Estratégico: vamos abai-
benefícios que a sua atividade produtiva - seja ela indus- xo analisar alguns dos apontamentos sobre essas etapas
trial, comercial ou prestação de serviços - trará para a conforme seus autores.
coletividade ou, pelo menos, aos seus clientes. Missão é,
portanto, a função social da atividade da empresa dentro
de um contexto global.
Vejamos quatro exemplos de missão organizacional:
Receita Federal do Brasil: “Exercer a administração tri-
butária e o controle aduaneiro, com justiça fiscal e res-
peito ao cidadão, em benefício da sociedade”.

160
d) Controle e avaliação: são verificações, etapas em
que se avalia se o que está sendo feito correspon-
de ao que foi planejado.

Modelo ou matriz de Ansoff

Temos dois componentes principais no modelo: Mer-


cados e Produtos. Cada um deles pode ser classificado
Segundo Maximiano, o planejamento estratégico com- quando a existentes e novos, gerando quatro estratégias
preende quatro etapas principais: empresariais possíveis:
A) Análise da situação estratégica presente. Esta eta- Penetração no mercado: Esta estratégia consiste em
pa busca compreender a situação atual da empre- explorar produtos tradicionais em um mercado tradicio-
sa, e as decisões que foram tomadas e levaram a nal.
tal posição. Deve considerar o referencial estraté- Desenvolvimento de mercado: “É a estratégia de ex-
gico, os produtos e mercados atuais ou potenciais plorar um mercado novo com produtos tradicionais. Por
da organização, as vantagens competitivas (ele- exemplo: uma operadora de cartões de crédito que lança
mentos capazes de diferenciar a organização de o produto para um público específico, como os torcedo-
outras no mercado), o desempenho atual e o uso res de um time”.
de recursos. Desenvolvimento de produto: consiste em oferecer
B) Análise do ambiente. Na classificação do Maximia- produtos novos a mercados tradicionais.
no, esta etapa abrange apenas o ambiente externo. Diversificação: É uma estratégia mais arrojada, que
C) Análise interna. É a análise do ambiente interno. consiste em explorar novos produtos em novos merca-
D) Elaboração do plano estratégico. dos. Por exemplo, uma empresa de produção de alimen-
tos que lança um refrigerante está adotando uma estra-
A análise de ambiente corresponde à avaliação de tégia de diversificação.
variáveis do ambiente interno (pontos fortes e pontos
fracos) e variáveis do ambiente externo (oportunidades Segundo classificação de Porter temos no Planejamen-
e ameaças) relevantes para a organização. As variáveis to estratégico, 3 grupos:
do ambiente interno normalmente são controláveis, en- - Diferenciação: Consiste em “procurar projetar uma
quanto as variáveis do ambiente externo estão fora da forte identidade própria para o serviço ou produto,
governabilidade da organização. que o torne nitidamente distinto dos produtos e
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

serviços dos concorrentes. Isso significa enfatizar


Segundo Djalma de Oliveira o Planejamento Estratégi- uma ou mais vantagens competitivas, como qua-
co apresenta estas etapas: lidade, serviço, prestígio para o consumidor, estilo
a) Diagnóstico estratégico: abrange a definição da do produto ou aspecto das instalações.
visão, a análise externa, análise interna e análise - Liderança de custo: consiste em oferecer produtos
dos concorrentes; ou serviços mais baratos do que os concorrentes.
b) Definição da missão: esta nós já vimos: é a defini- - Estratégias de foco: concentração ou nicho: Con-
ção da razão de ser da empresa e as consequências siste em escolher um segmento do mercado e
de tal definição; concentrar-se nele. Por exemplo, produtores de
c) Definição dos instrumentos prescritivos e quan- alimentos orgânicos oferecem um alimento mais
titativos: instrumentos prescritivos são aqueles caro, mas concentrado em um nicho específico de
que irão dizer como a organização deve atuar clientes.
para alcançar os objetivos definidos. Instrumentos
quantitativos, basicamente, são aqueles ligados ao
planejamento orçamentário;

161
Planejamento Estratégico Situacional (PES) microempresa, que presta serviços de assistência técnica
em informática, inaugurada há um ano. Como se trata
O PES foi sintetizado pelo economista chileno Car- de uma empresa jovem, percebeu-se o quão importante
los Matus, para pensar a arte de governar. Este méto- é construir o seu futuro, discutindo o Planejamento
do “pressupõe constante adaptação do planejamento a Estratégico, a fim de auxiliar no processo de gestão.
cada situação concreta onde é aplicado”. Além disso, o Ao se construir o cenário futuro de uma empresa,
PES leva em consideração, em suas formulações teóricas, obtém-se o direcionamento a ser seguido pela mesma.
as interferências dos campos político, econômico e social Todavia, o Planejamento Estratégico está longe de ser uma
nos planos de governo. fórmula mágica, onde tudo ocorre conforme o planejado.
Definição de planejamento segundo Matus: “Planejar Ele diz respeito, sim, à formulação de objetivos para a
significa pensar antes de agir, pensar sistematicamen- seleção de programas de ação e execução, levando em
te, com método; explicar cada uma das possibilidades e conta as condições internas e externas à empresa, bem
analisar suas respectivas vantagens e desvantagens; pro- como sua evolução esperada. A ênfase do Planejamento
por-se objetivos”. Estratégico está em direcionar, identificar e desenvolver,
Outro ponto importante deste conteúdo são os mo- muito mais do que estabelecer objetivos concretos ou
mentos do PES: em predizer o futuro (SILVA, 2003). Ainda, considera
• Momento explicativo: compreende-se a realida- premissas básicas que a empresa deve respeitar para que
de, identificando-se os problemas que os atores todo o processo tenha coerência e sustentação.
sociais declaram. Abandona o conceito de setor, Para muitos empresários, Planejamento Estratégico
utilizado no planejamento tradicional, e passa a é ferramenta exclusiva das grandes organizações.
trabalhar com o conceito de problemas. “Na expli- Ainda não se tem o saudável hábito de planejar, prever,
cação da realidade temos que admitir e processar antecipar-se aos fatos e aos cenários. Todavia, faz-se de
informação relativa a outras explicações de outros fundamental importância, diante do cenário atual, que as
atores sobre os mesmos problemas, isto é, a abor- empresas promovam mudanças e que busquem meios
dagem deve ser sempre situacional, posicionada e condições de anteverem situações relevantes ao seu
no contexto”. core business.
• Momento normativo: como se formula o plano. Pro-
duzir as respostas de ação em um contexto de in- O diagnóstico estratégico é o primeiro passo do
certeza. Definir a situação ideal. “O central neste processo de planejamento e é através dele que a orga-
modelo de planejamento é discutir a eficácia de nização irá se municiar das informações que irão nortear
cada ação e qual a situação objetivo que sua re- o seu direcionamento estratégico. O diagnóstico estra-
alização objetiva, cada projeto e isso só pode ser tégico pode ser comparado a um radar digital liga-
feito relacionando os resultados desejados com os do 24 horas por dia, sempre pronto a captar e manter
recursos necessários e os produtos de cada ação” atualizado o conhecimento da empresa em relação ao
• Momento estratégico: examinar a viabilidade política ambiente e a si própria, visando identificar e monitorar
do plano e do processo de construção de viabilida- permanentemente as variáveis competitivas que afetam
de política das operações não viáveis na situação a sua performance. É com base no diagnóstico estratégi-
inicial. Adequa o “deve ser” ao “pode ser”. Busca co que a empresa irá se antecipar às mudanças e prepa-
desenhar as melhores estratégias para viabilizar a rar-se para agir em seus ambientes internos e externos.
máxima eficácia do plano.
• Momento tático-operacional: o momento do fazer. A análise externa: ambiente geral e o ambiente de
“Neste momento é importante debater o sistema negócio
de gestão da organização e até que ponto ele está
pronto para sustentar o plano e executar as estra- Toda organização consiste em um sistema aberto, em
tégias propostas”. constante interação com o meio ambiente. Para sobrevi-
ver, as organizações precisam de insumos (recursos hu-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Os principais pressupostos teóricos do método PES manos, recursos financeiros e materiais), que são trans-
são resumidos em quatro perguntas, segundo Matus, formados em bens e serviços, os quais são colocados no
que apontam as diferenças entre o PES e os demais mé- mercado, visando o atendimento de uma determinada
todos de planejamento estratégico: necessidade. O atendimento dessa necessidade produz
1) como explicar a realidade? resultados que retroalimentam as organizações (receitas
2) como conceber um plano? e lucro, no caso da empresa; reconhecimento e efetivida-
3) como tornar viável o plano necessário? de social na promoção do bem comum, no caso do Esta-
4) como agir a cada dia de forma planejada? do e de entidades do Terceiro Setor). Portanto, a relação
com o meio externo constitui um fator-chave da própria
Diagnóstico estratégico existência das organizações. Por esse motivo, entender
de que se compõe esse ambiente e como ele se organiza
O cenário atual brasileiro aponta para a necessidade torna-se essencial para a gestão das empresas.
das organizações construírem uma gestão eficaz, além
de manterem acesos o compromisso e a paixão que as
movem. Assim, o presente trabalho abordará o tema
Planejamento Estratégico, no estudo de caso de uma

162
Para analisar o ambiente geral, é importante que sas forças, maior será a competitividade da indústria e
o gestor levante informações sobre os seguintes as- menor a lucratividade coletiva das empresas participan-
pectos: tes.
- socioculturais: preferências, tendências populacio- Analisados os aspectos do macro e do microambien-
nais, cultura, tes, deve-se partir para uma síntese, visando identificar
- nível educacional, estilo de vida, distribuição etária e as principais oportunidades e ameaças encontradas, du-
geográfica da população-alvo da empresa; rante a análise do ambiente externo.
- legais: leis, impostos, taxas aplicáveis ao setor; As oportunidades são fatores do ambiente geral ou
- políticos/governamentais: políticas governamentais da indústria que, se bem aproveitados, podem fornecer
de incentivo e/ou restrição, influências políticas e uma vantagem competitiva para a empresa. Como exem-
de demais grupos de interesse; plo, podemos citar as falhas apresentadas pelo concor-
- econômicos: juros, câmbio, renda, nível de emprego, rente, que podem ser aproveitadas pela empresa como
inflação, índices de preços; uma oportunidade para melhorar o seu produto e ganhar
- tecnológicos: pesquisa e desenvolvimento de pro- em diferencial. Já as ameaças, por sua vez, são fatores
dutos na área, avanços tecnológicos e custos en- que podem vir a perturbar o funcionamento da empresa,
volvidos. causando dificuldades para a sua gestão e desempenho.
A entrada de um novo concorrente forte no mercado, a
Apesar das diferenças existentes de uma organização implementação de restrições tarifárias por parte de um
para outra, o estado de competição em uma organização país importador dos produtos da empresa, a diminuição
é sempre formado por cinco forças competitivas: da demanda, todos esses são aspectos que podem ser
- a rivalidade entre vendedores concorrentes na in- definidos como ameaças para a empresa.
dústria, que é determinada pelo número de concorrentes, Entretanto, é importante ressaltar que o planejamen-
seu tamanho e as condições de competição existentes to não deve ser definido com base em todas as opor-
(demanda, integração das empresas, armas competitivas tunidades e ameaças identificadas. É necessário que o
utilizadas); gestor faça uma triagem das oportunidades e ameaças
- as tentativas que as empresas de outras indústrias mais relevantes em relação à sua empresa. Essa seleção
fazem no mercado para conquistar os clientes com deve priorizar as oportunidades do ambiente que a em-
seus produtos substitutos. Os produtos substitutos presa pode aproveitar com reais chances de sucesso, ou
podem ser considerados todos aqueles de outras seja, as oportunidades para as quais a empresa possui as
indústrias que atendem à mesma necessidade; competências necessárias. Já, no caso das ameaças, de-
- o potencial de entrada de novos concorrentes, que vem ser selecionadas aquelas que consistirem em maior
é determinado pela quantidade e intensidade das preocupação para a gerência, ou seja, aquelas que afe-
barreiras à entrada existentes do mercado, assim tam mais diretamente a empresa e a indústria em que ela
como pela reação dos concorrentes existentes; atua. Para tanto, a análise externa deve ser então acom-
- o poder de barganha dos fornecedores, que é defini- panhada da análise interna, onde o gestor irá avaliar as
do, dentre outros fatores, pelo tamanho do forne- competências e as falhas da empresa, o que servirá como
cedor, a importância do seu insumo e as vantagens referência e complemento na realização do diagnóstico.
que ele oferece para a empresa cliente;
PLANEJAMENTO TÁTICO 
- o poder de barganha dos compradores do produto,
que é maior quando os consumidores têm mais
Refere-se á objetivos de curto prazo, e com maneiras
opções de compra e possibilidade de trocar de
e ações que, geralmente, afetam somente uma parte da
marcas, sem maiores custos.
empresa.
Tem como eixo central otimizar determinadas áreas
de resultados, e não a empresa como um todo. Portanto,
trabalha com decomposição dos objetivos e políticas es-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

tabelecidas no planejamento estratégico.


O planejamento tático é desenvolvido em níveis or-
ganizacionais inferiores, ou seja, é realizado no nível ge-
rencial ou departamental, tendo como principal finalida-
de a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a
consecução de objetivos previamente fixados, segundo
uma estratégia predeterminada, bem como as políticas
orientadoras para o processo decisório organizacional.

Características Principais:
- Processo permanente e contínuo;
- Aproxima o estratégico do operacional;
É fundamental que o gestor conheça bem o perfil das - Aproxima os aspectos incertos da realidade;
forças competitivas presentes em sua indústria, pois ele - É executado pelos níveis intermediários da orga-
será determinante em termos de lucratividade do setor. nização;
Em outras palavras, quanto maior for a intensidade des-

163
- Pode ser considerado uma forma de alocação de recursos;
- Tem alcance mais limitado do que o planejamento estratégico, ou seja, é de médio prazo;
- Produz planos mais bem direcionados às atividades organizacionais.

Questões essenciais:
- O quê fazer?
- Dá para fazer?
- Vale a pena fazer?
- Quem faz?
- Como fazer bem?
- Funciona?
- Quando fazer?

Desenvolvimento de planejamentos táticos

Planejamentos
táticos

Mercadológico

Resultados Resultados
Planejamento Planejamentos esperados pelas apresentados pelas
estratégico Financeiro operacionais unidades unidades
organizacionais organizacionais

Recursos
humanos

Produção

Organizacional

R et roalimentaç ão e avaliação

PLANEJAMENTO OPERACIONAL
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Pode ser considerado como a formalização, principalmente através de documentos escrito das metodologias de
desenvolvimento e implantações estabelecidas.
Portanto, nesta situação, tem-se basicamente os planos de ação, ou planos operacionais.
Os planejamentos operacionais correspondem a um conjunto de partes homogêneas do planejamento tático, e
devem conter com detalhes: os recursos necessários a seu desenvolvimento e implantação; os procedimentos básicos
a serem adotados; os produtos ou resultados finais esperados; os prazos estabelecidos e os responsáveis pela sua
execução e implantação.

164
Ciclo básico dos três tipos de planejamento

Planejamento Análise e Planejamento


estratégico da controle de tático da
empresa resultados empresa

Consolidação e
interligação dos Análise e
resultados controle de
resultados

Análise e Planejamentos
controle de operacionais das unidades
resultados organizacionais

Planejamento Estratégico do Poder Judiciário

O planejamento Estratégico do Poder Judiciário, consolidado no Plano Estratégico Nacional, foi instituído em 2009,
por meio da Resolução CNJ nº 70/2009, com o objetivo de implementar um sistema integrado de diretrizes para orien-
tar a atuação de todos os órgãos do judiciário, por meio da convergência de ações para o aperfeiçoamento e moder-
nização dos serviços judiciais.

Acesse o link a seguir e veja o conteúdo do Planejamento Estratégico Nacional do Poder Judiciário –2015/2020:
http://www.cjf.jus.br/observatorio/arq/plano_estrategico_poder_judiciario.pdf

E veja também o link http://www.cnj.jus.br/gestao-e-planejamento, que trata na íntegra da Estratégia Nacional do


Poder Judiciário.

ESTRATÉGIA NACIONAL DO PODER JUDICIÁRIO 2015 - 2020

A Estratégia Nacional do Poder Judiciário 2015-2020, formulada com a contribuição de magistrados e servidores e
instituída pela Resolução n. 198/2014 de 1º de julho de 2014, reflete premissas importantes para o processo estra-
tégico de todo o Poder Judiciário.

São componentes da Estratégia Nacional do Poder Judiciário:

- Missão do Poder Judiciário - Realizar Justiça.


Descrição - Fortalecer o Estado Democrático e fomentar a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, por
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

meio de uma efetiva prestação jurisdicional.

- Visão do Poder Judiciário - Ser reconhecido pela sociedade como instrumento efetivo de justiça, equidade e paz social.
Descrição - Ter credibilidade e ser reconhecido como um Poder célere, acessível, responsável, imparcial, efetivo e
justo, que busca o ideal democrático e promove a paz social, garantindo o exercício pleno dos direitos de cidadania.

- Atributos de valor para a sociedade


- Credibilidade
- Celeridade
- Modernidade
- Acessibilidade
- Transparência e Controle Social
- Responsabilidade Social e Ambiental
- Imparcialidade
- Ética
- Probidade

165
Macrodesafios do Poder Judiciário

- Efetividade na prestação jurisdicional


- Garantia dos direitos de cidadania
- Combate à corrupção e à improbidade administrativa
- Celeridade e produtividade na prestação jurisdicional
- Adoção de soluções alternativas de conflito
- Gestão das demandas repetitivas e dos grandes litigantes
- Impulso às execuções fiscais, cíveis e trabalhistas
- Aprimoramento da gestão da justiça criminal
- Fortalecimento da segurança do processo eleitoral
- Melhoria da Gestão de Pessoas
- Aperfeiçoamento da Gestão de Custos
- Instituição da Governança Judiciária
- Melhoria da Infraestrutura e Governança de TI
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

166
Metas

As Metas Nacionais do Poder Judiciário representam


o compromisso dos tribunais brasileiros com o aperfei-
çoamento da prestação jurisdicional, buscando propor-
cionar à sociedade serviço mais célere, com maior efi-
ciência e qualidade.
As Metas Nacionais foram traçadas pela primeira vez
em 2009, resultantes de acordo firmado entre os presi-
dentes dos tribunais para o aperfeiçoamento da Justiça
brasileira. O grande destaque foi a Meta 2, que teve por
objetivo a identificação e o julgamento dos processos
judiciais mais antigos, distribuídos aos magistrados até
31.12.2005.
Com a Meta 2, o Poder Judiciário buscou estabelecer
a duração razoável do processo na Justiça. Foi o começo
de uma luta que contagiou o Poder Judiciário do País a
acabar com o estoque de processos causadores de altas
taxas de congestionamento nos tribunais.
Tradicionalmente as Metas Nacionais são votadas e
aprovadas pelos presidentes dos tribunais no Encontro
Nacional do Poder Judiciário – ENPJ, evento organizado
pelo CNJ que ocorre anualmente e que reúne a alta ad-
ministração dos tribunais brasileiros.
Diversos foram os desafios que as metas do Judiciá-
rio se propuseram a enfrentar. A celeridade processual
foi, sem dúvida, tema predominante nesses últimos anos.
Cabe destacar que os dados do Relatório “Justiça em Nú-
meros” permitem a formulação de metas para o Judiciá-
rio, considerando a realidade dos segmentos de Justiça.
A partir de 2013, com a instituição da Rede de Go-
vernança Colaborativa do Poder Judiciário (Portaria CNJ
n.138), houve maior inclusão de atores, representantes
de tribunais, para participar da revisão da estratégia
para o período 2015-2020 (que culminou na Resolução
198/2014) e de reuniões preparatórias de elaboração das
Metas Nacionais.
Com o novo ciclo da Estratégia Nacional 2015-2020,
o processo de formulação das Metas Nacionais passou
a ser mais democrático e participativo e a cada ano o
CNJ vem buscando aperfeiçoar esse processo, a fim de
torná-lo mais transparente e possibilitando maior envol-
vimento das pessoas.6

RESOLUÇÃO CNJ Nº.198/2014

O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUS-


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

TIÇA (CNJ), no uso de suas atribuições legais e regimen-


tais, e
CONSIDERANDO competir ao CNJ, como órgão de
controle da atuação administrativa e financeira dos tribu-
nais, a atribuição de coordenar o planejamento e a ges-
tão estratégica do Poder Judiciário;
CONSIDERANDO a unicidade do Poder Judiciário, a
exigir a implementação de diretrizes nacionais para nor-
tear a atuação institucional de seus órgãos;
CONSIDERANDO a necessidade de revisar o plano
estratégico estabelecido pela Resolução CNJ n. 70/2009;
CONSIDERANDO as propostas apresentadas por to-
dos os segmentos de justiça, para atualização da estraté-
gia nacional do Poder Judiciário, em nove encontros de
trabalho ocorridos a partir de junho de 2013;
6 Fonte: www.cnj.jus.br

167
CONSIDERANDO  os Macrodesafios do Poder Judi- I – nacional, nos termos do Anexo, de aplicação obri-
ciário para o sexênio 2015-2020, formulados pela Rede gatória a todos os segmentos de justiça;
de Governança Colaborativa e aprovados no VII Encontro II – por segmento de justiça, de caráter facultativo;
Nacional do Judiciário, ocorrido em Belém/PA, em no- III – por órgão do Judiciário, de caráter obrigatório,
vembro de 2013; desdobrada a partir da estratégia nacional e, quando
CONSIDERANDO a decisão plenária tomada no julga- aplicável, também da estratégia do respectivo seg-
mento do Ato Normativo n. 0003559-04.2014.2.00.0000 mento, sem prejuízo da inclusão das correspondentes
na 191ª Sessão Ordinária, realizada em 16 de junho de especificidades.
2014; Art. 4º Os órgãos do Judiciário devem alinhar seus
   respectivos planos estratégicos à Estratégia Judiciário
RESOLVE: 2020, com a possibilidade de revisões periódicas.
  § 1º Os planos estratégicos, de que trata o caput, de-
Capítulo I vem:
Das Disposições Gerais I – ter abrangência mínima de 6 (seis) anos;
   II – observar o conteúdo temático dos Macrodesafios
Art. 1º Instituir a Estratégia Nacional do Poder Judici- do Poder Judiciário; e
ário para o sexênio 2015/2020 – Estratégia Judiciário III – contemplar as Metas Nacionais (MN) e Iniciativas
2020 – aplicável aos tribunais indicados nos incisos II Estratégicas Nacionais (IEN) aprovadas nos Encontros
a VII do art. 92 da Constituição Federal e aos Conse- Nacionais do Judiciário, sem prejuízo de outras apro-
lhos da Justiça, nos termos do Anexo, sintetizada nos vadas para o segmento de justiça ou específicas do
seguintes componentes: próprio tribunal ou conselho;
a) Missão; § 2º Os dados relativos às Metas Nacionais (MN) serão
b) Visão; informados periodicamente ao CNJ, que divulgará o
c) Valores; relatório anual até o final do primeiro quadrimestre
do ano subsequente.
d) Macrodesafios do Poder Judiciário.
§ 3º Na elaboração dos seus planos estratégicos, os
Parágrafo único. Os atos normativos e as políticas ju-
tribunais e conselhos devem considerar as Resoluções,
diciárias emanados do CNJ serão fundamentados, no
Recomendações e Políticas Judiciárias instituídas pelo
que couber, na Estratégia Nacional do Poder Judiciá-
CNJ voltadas à concretização da Estratégia Judiciário
rio.
2020.
Art. 2º Considera-se, para os efeitos desta Resolução:
§ 4º As propostas orçamentárias dos tribunais devem
I – Órgãos do Poder Judiciário: os tribunais indicados
ser alinhadas aos seus respectivos planos estratégicos,
nos incisos II a VII do art. 92 da Constituição Federal; de forma a garantir os recursos necessários à sua exe-
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ); o Conselho da cução.
Justiça Federal (CJF); e o Conselho Superior da Justiça Art. 5º As Metas Nacionais (MN) serão, prioritaria-
do Trabalho (CSJT); mente, elaboradas a partir da Cesta de Indicadores e
II – Metas de Medição Continuada (MMC): metas apli- Iniciativas Estratégicas de que trata o art. 2º, inciso VII,
cáveis aos órgãos do Poder Judiciário e acompanha- desta Resolução.
das pelo CNJ durante o período de vigência da Estra- § 1º A Cesta de Indicadores e Iniciativas Estratégicas
tégia Nacional; referida no caput será definida e revisada pela Co-
III – Metas de Medição Periódica (MMP): metas aplicá- missão Permanente de Gestão Estratégica, Estatística
veis aos órgãos do Poder Judiciário e acompanhadas e Orçamento e disponibilizada no sítio eletrônico do
pelo CNJ para períodos predefinidos durante a vigên- CNJ.
cia da Estratégia Nacional ; § 2º A mesma Comissão poderá definir indicadores
IV – Metas Nacionais (MN): conjunto de metas forma- nacionais que integrarão o Relatório Justiça em Nú-
do pelas Metas de Medição Continuada (MMC) e pelas meros, observado o disposto na Resolução CNJ n. 76,
Metas de Medição Periódica (MMP); de 12 de maio de 2009.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

V – Iniciativa Estratégica Nacional (IEN): programa, Art. 6º Os órgãos do Poder Judiciário devem promover
projeto ou operação alinhado(a) à Estratégia Nacional a participação efetiva de magistrados de primeiro e
do Poder Judiciário; segundo graus, ministros, serventuários e demais inte-
VI – Diretriz Estratégica (DE): orientações, instruções grantes do sistema judiciário e de entidades de classe,
ou indicações a serem observadas na execução da Es- na elaboração de suas propostas orçamentárias e de
tratégia Nacional ou para se levar a termo uma meta seus planejamentos estratégicos, garantida a contri-
ou iniciativa estratégica; buição da sociedade.
VII – Cesta de Indicadores e Iniciativas Estratégicas:   
repositório de métricas de desempenho institucional e Capítulo III
de iniciativas (programas, projetos e operações). Da Execução Da Estratégia
     
Capítulo II Art. 7º A execução da estratégia é de responsabilidade
Do Desdobramento Da Estratégia Judicíario 2020 de magistrados de primeiro e segundo graus, conse-
   lheiros, ministros e serventuários do Poder Judiciário.
Art. 3º A Estratégia Judiciário 2020 poderá ser desdo- Parágrafo único. Para promover a estratégia, devem
brada e alinhada em três níveis de abrangência: ser realizados eventos, pelo menos anualmente.

168
Art. 8º Os órgãos do Poder Judiciário manterão unida- cionais (MN), na criação e na implantação de boas
de de gestão estratégica para assessorar a elaboração, práticas;
a implementação e o monitoramento do planejamen- III – aprovar metas nacionais, diretrizes e iniciativas
to estratégico. estratégicas para o biênio subsequente;
§ 1º A unidade de gestão estratégica referida no caput IV – ajustar, quando necessário, as metas nacionais,
também atuará nas áreas de gerenciamento de pro- as diretrizes e as iniciativas estratégicas previamente
jetos, otimização de processos de trabalho e, a critério aprovadas no encontro do ano anterior.
do órgão, produção e análise de dados estatísticos. § 1º Participarão dos Encontros Nacionais do Poder
§ 2º As áreas jurisdicionais e administrativas devem Judiciário os presidentes e corregedores dos tribunais
prestar, à respectiva unidade de gestão estratégica, as e dos conselhos, bem como os integrantes do Comitê
informações sob a sua responsabilidade pertinentes Gestor Nacional da Rede de Governança Colaborativa,
ao plano estratégico. sendo facultado o convite a outras entidades e auto-
Art. 9º Os órgãos do Poder Judiciário realizarão Reu- ridades.
niões de Análise da Estratégia (RAE), pelo menos qua- § 2º Os conselheiros do CNJ coordenarão os trabalhos
drimestralmente, para avaliação e acompanhamento realizados durante o evento.
dos resultados, nas quais poderão promover ajustes e § 3º Os Encontros Nacionais do Judiciário serão pre-
outras medidas necessárias à melhoria do desempe- cedidos de reuniões preparatórias que contarão com a
nho institucional. participação dos gestores de metas e dos responsáveis
   pelas unidades de gestão estratégica dos tribunais, as-
Capítulo IV sim como das associações nacionais de magistrados e
Da Governança de servidores.
    
Art. 10. Compete à Presidência do CNJ, conjuntamente Capítulo VI
à Comissão Permanente de Gestão Estratégica, Esta- Do Banco De Boas Práticas E Ideias Para O Judiciá-
tística e Orçamento, assessoradas pelo Departamento rio (Bpijus)
de Gestão Estratégica, coordenar as atividades de pla-   
nejamento e gestão estratégica do Poder Judiciário, a Art. 13. O CNJ manterá disponível, no seu portal, o
preparação e a realização dos Encontros Nacionais. Banco de Boas Práticas e Ideias para o Judiciário (BPI-
Art. 11. À Rede de Governança Colaborativa do Poder Jus), a ser continuamente atualizado, com o intuito de
Judiciário, coordenada pelo CNJ e com representação promover a divulgação e o compartilhamento de prá-
de todos os segmentos de justiça, compete apresentar ticas e ideias inovadoras, visando ao aperfeiçoamento
propostas de aperfeiçoamento da Estratégia Judiciário dos serviços judiciais.
2020, bem como auxiliar a execução, o monitoramen- Art. 14. O BPIJus será constituído da seguinte forma:
to dos trabalhos e a divulgação dos resultados, sem I – práticas sugeridas por servidores, tribunais ou con-
prejuízo de outras atribuições definidas em ato nor- selhos do Poder Judiciário, alinhadas aos Macrodesa-
mativo expedido pela Presidência do CNJ. fios mencionados no Anexo; e
II – ideias inovadoras para melhoria do Judiciário,
§ 1º Os órgãos do Poder Judiciário indicarão represen-
apresentadas por qualquer pessoa.
tantes para compor a Rede de Governança Colabora-
Parágrafo único. As práticas e ideias serão incluídas
tiva do Poder Judiciário, nos termos estabelecidos no
no BPIJus após processo de seleção, na forma de regu-
referido ato normativo.
lamento próprio a ser publicado pelo CNJ.
§ 2º As propostas a que se refere o caput serão sub-
Art. 15. As práticas incluídas no BPIJus concorrerão
metidas aos presidentes dos tribunais nos Encontros
ao Prêmio Excelência em Gestão Estratégica do Poder
Nacionais do Poder Judiciário, após ajuste e comple-
Judiciário.
mentação pela Comissão Permanente de Gestão Es-   
tratégica, Estatística e Orçamento do CNJ. Capítulo VII
§ 3º As deliberações aprovadas nos Encontros Na- Das Disposições Finais
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

cionais, sobretudo as Políticas Judiciárias, Recomen-   


dações, Diretrizes Estratégicas (DE), Metas Nacionais Art. 16. Os órgãos do Poder Judiciário terão até 31 de
(MN) e Iniciativas Estratégicas Nacionais (IEN), serão março de 2015 para proceder ao alinhamento a que
comunicadas ao Plenário do CNJ e divulgadas no por- se refere o artigo 4º.
tal do CNJ. Art. 17. Esta Resolução entra em vigor em 1º de janei-
   ro de 2015, com a revogação, a partir dessa data, da
Capítulo V Resolução CNJ n. 70, de 18 de março de 2009.
Dos Encontros Nacionais   
  Ministro Joaquim Barbosa
Art. 12. Os Encontros Nacionais do Poder Judiciário
serão realizados preferencialmente no mês de novem- Vale destacar o material que trata da REVISÃO DA
bro de cada ano, observando-se os seguintes objetivos, ESTRATÉGIA NACIONAL – 2021-2026
sem prejuízo de outros:
I – avaliar a estratégia nacional; Esse conteúdo traz o Histórico da Estratégia Nacional
II – divulgar e premiar o desempenho de tribunais, do Poder Judiciário e o Diagnóstico da Estratégia
unidades e servidores no cumprimento das Metas Na- Nacional do Poder Judiciário 2015-2020.

169
Acesse o link a seguir para ter acesso ao questionário Os Comitês citados nos itens I e II serão responsáveis
e as informações por ele apresentadas. por propor diretrizes nacionais, impulsionar sua imple-
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/06/ mentação, monitorar e divulgar os resultados.
08c7935e156789cc3daea1b1423f8eb9.pdf  
Veja a portaria na íntegra acessando:
Vejamos agora duas Resoluções mais recentes sobre https://atos.cnj.jus.br/files//portaria/
a Estratégia Nacional do Poder Judiciário: portaria_59_23042019_24042019104402.pdf

Instituição da Resolução CNJ n. 221/2016, sobre


gestão participativa e democrática na elaboração das
Metas Nacionais do Poder Judiciário e das políticas
EXERCÍCIO COMENTADO
nacionais.
Essa resolução institui princípios de gestão 1. (FCC/TRT - 6ª Região-PE) Compete à Presidência do
participativa e democrática na elaboração das metas CNJ considerar as atividades de planejamento e gestão
nacionais do Poder Judiciário e das politicas judiciárias estratégica do Poder Judiciário, em conjunto com
do Conselho Nacional de Justiça.
A gestão participativa e democrática constitui-se em a) a Comissão de estatística e gestão estratégica.
método que enseja a magistrados, servidores e, quando b) o Comitê gestor de planejamento.
oportuno, jurisdicionados a possibilidade de participar c) o Departamento de gestão tática.
do processo decisório por meio de mecanismos d) a Comissão de gestão estratégica e de planejamento.
participativos que permitam a expressão de opiniões e) o Conselho Nacional de Tribunais - Sede.
plurais e a visão dos diversos segmentos e instancias, no
contexto do Poder Judiciário. Resposta: Letra A. Conforme Art. 10 da Resolução
São princípios de gestão participativa e democrática: 198/14 - CNJ: Compete à Presidência do CNJ, conjun-
I – o desenvolvimento de uma cultura de participação tamente à Comissão Permanente de Gestão Estratégica,
nos tribunais, permeável às opiniões de magistrados Estatística e Orçamento, assessoradas pelo Departa-
mento de Gestão Estratégica, coordenar as atividades de
de todos os graus de jurisdição e servidores, das res-
planejamento e gestão estratégica do Poder Judiciário, a
pectivas associações de classe e dos jurisdicionados;
preparação e a realização dos Encontros Nacionais
II – o fortalecimento das estruturas de governança e
da atuação em rede, a promover a integração do Po-
der Judiciário;
III – o diálogo institucional como mecanismo de inte- PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO PO-
ração e cooperação permanentes entre os órgãos do DER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARÁ
Poder Judiciário e o Conselho Nacional de Justiça; PARA O PERÍODO DE 2015 A 2020, REVI-
IV – A aproximação entre o Poder Judiciário e a so- SADA PELA RESOLUÇÃO TJPA Nº 25/2018.
ciedade. 12.1 MISSÃO, VISÃO, VALORES E MACRO-
DESAFIOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
Veja a resolução na íntegra acessando: ESTADO DO PARÁ.
https://atos.cnj.jus.br/files/resolu-
cao_221_10052016_11052016144312.pdf
Missão
Regulamentação da Rede de Governança “Realizar a justiça por meio da efetiva prestação ju-
Colaborativa (Portaria CNJ n. 59/2019) risdicional visando fortalecer o Estado Democrático de Di-
reito”.
Regulamenta o funcionamento e estabelecer proce- Estado Democrático de Direito é o regime no qual os
dimentos sobre a Rede de Governança Colaborativa do membros de uma sociedade criam leis que devem ser
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Poder Judiciário. cumpridas por todos, visando o bem individual e o co-


  letivo.
A Rede de Governança Colaborativa do Poder Judi- O papel da Justiça é fazer com que direitos e deveres
ciário, composta por representantes dos órgãos do Po- sejam respeitados e preservados.
der Judiciário, tem o objetivo de propor diretrizes rela- O nosso trabalho é garantir acesso aos serviços ju-
cionadas com a Estratégia Nacional do Poder Judiciário, risdicionais para toda a população, onde quer que ela
impulsionar sua implementação, monitorar e divulgar esteja, seja nos grandes centros urbanos, seja em vilas
os resultados, bem como de atuar em temas voltados à distantes ou às margens de rios.
governança judiciária buscando a melhoria dos serviços
jurisdicionais. Visão
  “A Justiça do Pará quer ser reconhecida pela sociedade
A Rede de Governança Colaborativa é organizada pe- como instituição acessível e confiável, voltada à pacifica-
las seguintes estruturas: ção social”.
I – Comitê Gestor Nacional; Esta é uma visão de futuro mas que só se tornará
II – Comitês Gestores dos Segmentos de Justiça; realidade se for incorporada no dia a dia de todos que
III – Subcomitês Gestores dos Segmentos de Justiça. fazem a Justiça.

170
Valores INICIATIVAS ESTRATÉGICAS
São atributos de valor a partir do que a sociedade
espera da Justiça. São caminhos institucionais escolhidos pelo Tribunal
- Acessibilidade - A Justiça é para todos, sem distin- de Justiça do Pará para alcançar os resultados do Planeja-
ção de classe social, gênero ou etnia. mento Estratégico propostos pelos macrodesafios.
- Eficiência - Atender as demandas do cidadão com No planejamento para cada biênio, as iniciativas es-
a maior produtividade possível em relação aos re- tratégicas são desdobradas em ações específicas e de-
cursos disponíveis. talhadas, como você pode conferir no Plano de Gestão
- Probidade - Tratamento adequado da coisa pública, 2019-2021.
observadas as normas legais.
- Ética - Comportamento esperado por toda a socie- Iniciativas Estratégicas vinculadas aos Macrodesa-
dade por parte de quem faz a Justiça. fios Perante a perspectiva da Sociedade
- Participação – Oportunizar a participação de ma- 1. Garantia dos direitos da cidadania
gistrados, servidores e da sociedade civil organiza- - Fortalecimento de políticas institucionais voltadas à
da no planejamento e gestão da justiça.
criança e ao adolescente
- Transparência - Prestação de contas do Tribunal de
- Fortalecimento de ações da justiça itinerante
Justiça acessível a todo cidadão.
- Fortalecimento de políticas institucionais voltadas à
- Humanização no atendimento – Respeito e aten-
solução de conflitos fundiários urbanos, rurais, am-
ção ao cidadão que procura a Justiça.
bientais e minerários
- Responsabilidade socioambiental – Utilização sus-
- Priorização do idoso em situação de vulnerabilidade
tentável dos recursos postos à disposição da justi-
ça, bem como tratamento adequado de resíduos.
- Credibilidade - Ser digno de confiança da socieda- Iniciativas Estratégicas vinculadas aos Macrodesa-
de paraense. fios perante a perspectiva dos Processos Internos
2. Celeridade e produtividade na prestação judicial
Diretriz Principal - Aperfeiçoamento da gestão do processo judicial
eletrônico
Priorização do Primeiro Grau - Aperfeiçoamento da estrutura judiciária
O Poder Judiciário é dividido em dois graus de jurisdi- - Aprimoramento da gestão de processos e unidades
ção. O primeiro grau é formado pelos juízes de todas as judiciárias
comarcas do Estado, tanto da capital quanto do interior.  
Integram o segundo grau os desembargadores, que jul- 3. Combate à corrupção e à improbidade adminis-
gam os recursos advindos do primeiro grau. trativa
Mais de 90% do estoque de ações tramitando na Jus- - Implementação de políticas institucionais para ges-
tiça do Pará estão no Primeiro Grau. Daí a importância tão de processos de combate à corrupção e à im-
de se priorizar os investimentos nesta instância, dando probidade administrativa
aos juízes e servidores auxiliares condições para o bom
desempenho do seu trabalho. 4. Adoção de soluções alternativas de conflito
- Fortalecimento de políticas e ações para resolução
Macrodesafios negociada de conflitos
Consistem nos grandes desafios da Justiça nacional,
em todas as suas esferas e especialidades, no período 5. Gestão das demandas repetitivas e dos grandes
2015-2020. Foram subdivididos em três perspectivas, to- litigantes
talizando 11 macrodesafios. - Fortalecimento de mecanismos para redução de de-
mandas repetitivas e grandes litigantes.
Macrodesafio na perspectiva sociedade
- Garantia dos direitos da cidadania 6. Impulso às execuções fiscais e cíveis
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

- Promoção de ações institucionais voltadas à solução


Macrodesafios na perspectiva dos processos internos de litígios em execução fiscal
- Celeridade e produtividade na prestação judicial - Gestão do cumprimento e da execução dos julgados
- Combate à corrupção e à improbidade administra- cíveis
tiva
- Adoção de soluções alternativas de conflito 7. Aprimoramento da gestão da justiça criminal
- Gestão das demandas repetitivas e dos grandes li- - Enfrentamento à violência doméstica e familiar, con-
tigantes tra o idoso, contra a criança e o adolescente e ou-
- Impulso às execuções fiscais e cíveis tros grupos vulneráveis
- Aprimoramento da gestão da justiça criminal - Fortalecimento da justiça restaurativa
- Apoio a ações de ressocialização de apenados e
Macrodesafios na perspectiva dos recursos egressos
- Melhoria da gestão de pessoas - Aperfeiçoamento dos sistemas de controle na área
- Instituição da governança judiciária criminal 
- Melhoria da infraestrutura e governança de TIC
- Aperfeiçoamento da gestão de custos

171
Iniciativas Estratégicas vinculadas aos Macrodesafios perante a perspectiva dos Recursos
1. Melhoria da gestão de pessoas
- Implantação de Modelo de Gestão por Competências
- Aprimoramento da formação de magistrados e servidores
- Fortalecimento da política de atenção à saúde e qualidade de vida

2. Instituição da governança judiciária


- Aperfeiçoamento da gestão dos recursos financeiros
- Modernização da infraestrutura do Poder Judiciário
- Aprimoramento da gestão estratégica
- Fortalecimento do sistema de controles internos do TJPA
- Aprimoramento das estruturas administrativas e jurisdicionais
- Otimização da gestão da informação documental
- Aprimoramento da comunicação interna e externa
- Fortalecimento de práticas sustentáveis

3. Melhoria da infraestrutura e governança de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação)


- Inovação e modernização da infraestrutura de TIC
- Inovação e aperfeiçoamento da gestão dos sistemas de informação
- Aprimoramento da segurança da informação
- Fortalecimento da governança na área de tecnologia de informação e comunicação

4. Aperfeiçoamento da gestão de custos


- Implantação da gestão de custos

Planejamento Estratégico 2015-2020 (Gestão 2019-2021)

Sociedade
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Processos Internos

172
Recursos

Resolução nº 25/2018 - TJPA

Dispõe sobre a 2ª revisão do Planejamento Estratégico no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Pará e dá outras
providências.
A revisão do Planejamento Estratégico do Poder Judiciário do Estado do Pará para o biênio 2019 a 2020, preserva a
estruturação do Planejamento Estratégico para o sexênio 2015 a 2020 que é composta dos seguintes elementos:
I – Missão que determina a essência do Judiciário;
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

II – Visão que descreve o perfil futuro a ser alcançado;


III – Valores que são os atributos necessários para alicerçar o desenvolvimento do Poder Judiciário;
IV – Macrodesafios que se constituem no núcleo do processo de planejamento estratégico, com vistas ao melhor de-
sempenho do Judiciário e satisfação da sociedade na solução de seus conflitos;
V – Indicadores que são formas de representação quantificável de características de produtos ou processos, utilizadas
para acompanhar e melhorar os resultados ao longo do tempo;
VI – Metas que são os resultados a serem atingidos em um dado limite de tempo, definindo um padrão de desempe-
nho a ser alcançado ou mantido;
VII - Iniciativas Estratégicas que delineiam caminhos institucionais para enfrentar os macrodesafios e alcançar seus
objetivos.7

Veja na íntegra a resolução acessando:


http://www.tjpa.jus.br/CMSPortal/VisualizarArquivo?idArquivo=826270

7 Fonte: www.tjpa.jus.br

173
A Central de Negócios será responsável pela proposi-
ção de melhorias e por avaliar as sugestões de alteração
EXERCÍCIO COMENTADO advindas dos demais órgãos do Tribunal de Justiça para
composição do IE-Jud.8
1. (Ed. Nova) No planejamento para cada biênio, as ini-
ciativas estratégicas do Poder Judiciário do Estado do Guia Prático do Índice de Eficiência Judiciária (IE-
Pará são desdobradas em ações específicas e detalhadas, -Jud)
conforme Plano de Gestão 2019-2021. Referente à essas
ações julgue o item a seguir. O nível de eficiência na prestação jurisdicional traduz-
No tocante às perspectivas da Sociedade, as Iniciativas -se, popularmente, por meio do conceito de morosidade
Estratégicas vinculadas aos Macrodesafios, trazem da justiça. Esse fenômeno diz respeito à demora excessi-
ações de combate à corrupção e à improbidade ad- va e aos custos elevados que o sistema público de reso-
ministrativa. lução de conflitos impõe ao jurisdicionado.
O Conselho Nacional de Justiça, criado para garantir
( ) CERTO ( ) ERRADO maior transparência, moralidade, controle e coordenação
administrativa ao Poder Judiciário, instituiu o Sistema de
Resposta: Errado. Essa ação descrita está inserida Estatística do Poder Judiciário para dar efetividade aos
na perspectiva dos processos internos e não perante a princípios da eficiência e da razoável duração do proces-
perspectiva da sociedade. so, mediante indicadores de desempenho como taxa de
congestionamento e índice de atendimento à demanda,
responsáveis por quantificarem a performance do Poder
Judiciário de acordo com os objetivos traçados em seu
ÍNDICE DE EFICIÊNCIA JUDICIÁRIA DO
planejamento estratégico.
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARÁ Atento a sua missão institucional de prestar um servi-
PREVISTO NA PORTARIA Nº 2005/2019. ço jurisdicional efetivo à sociedade, o Tribunal de Justiça
13.1 DEFINIÇÃO, OBJETIVO E INDICADO- do Estado do Pará idealizou um indicador de eficiência
RES. das unidades judiciárias que leva em consideração o vo-
lume de processos julgados, processos baixados e pro-
cessos paralisados.
Com o objetivo de tornar o Judiciário cada vez mais Este Guia Prático tem como finalidade orientar os
eficiente, o Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) instituiu o magistrados e servidores do Poder Judiciário do Estado
Índice de Eficiência Judiciária (IE-Jud). A portaria informa do Pará quanto à importância da apuração do desempe-
que o novo índice medirá o desempenho de cada unida- nho de cada Unidade Judiciária paraense, por meio do
de judiciária do Estado a fim de subsidiar o planejamento
Indicador de Eficiência Judiciária (IE-Jud) instituído por
da gestão processual e, consequentemente, melhorar os
intermédio da Portaria nº 2005/2019-GP da Presidência
resultados do Pará no Sistema de Estatística do Poder Ju-
do Tribunal de Justiça do Estado do Pará - TJPA, visando a
diciário, criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
geração de estatísticas precisas que viabilizem a melhoria
A geração de estatísticas precisas que viabilizem o
do planejamento da gestão processual.
planejamento e a tomada de decisões, visando a melho-
rias na gestão processual é um instrumento de gestão
O Índice de Eficiência Judiciária e sua Finalidade
fundamental para o estabelecimento de práticas de tra-
balhos mais eficientes, alinhadas ao macrodesafio “Ce-
leridade e Produtividade na Prestação Jurisdicional” e à O Índice de Eficiência Judiciária do Poder Judiciário
iniciativa estratégica “Aprimoramento da Gestão de Pro- do Estado do Pará – IE-Jud é o indicador de desempenho
cessos e Unidades Judiciárias”, dispostos na Resolução responsável por mensurar a performance das unidades
nº 25, de 19 de dezembro de 2018, referente à 2ª revisão judiciárias, sendo um instrumento de gestão para subsi-
do Planejamento Estratégico, no âmbito do Poder Judi- diar práticas de trabalho mais eficientes e que impactem
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

ciário do Estado do Pará. A medida também se alinha à positivamente nos seus resultados.
ação “Implantar Projeto Eficiência Judiciária”, constante
do Plano de Gestão do biênio 2019-2021. Composição do Índice de Eficiência Judiciária
O Índice de Eficiência Judiciária leva em conta diver-
sas variáveis utilizadas pela métrica do Justiça em Núme- As variáveis que compõem o cálculo do Índice de Efi-
ros, nas metas nacionais mais importantes e no principal ciência Judiciária são baseadas nos principais Indicadores
indicador de morosidade processual. Entre as variáveis do Justiça em Números, nas metas nacionais mais impor-
que compõem o índice, estão a taxa de congestionamen- tantes e no principal indicador de morosidade proces-
to, índice de produtividade de servidores e índice de pro- sual. São elas: taxa de congestionamento (TC), índice de
dutividade de magistrados. atendimento à demanda (IAD), índice de produtividade
O cálculo do IE-Jud é realizado para todas as Unida- dos servidores (IPS), índice de produtividade dos magis-
des Judiciárias do 1º grau do TJPA. A apuração do de- trados (IPM), Processos paralisados há mais de 100dias
sempenho no IE-Jud não exclui a necessidade de as Uni- (PP+100) e grau de cumprimento das metas nacionais
dades Judiciárias observarem o cumprimento das demais 1 e 2.
Metas Nacionais e os indicadores definidos pelo CNJ não
contemplados no cálculo do IE-Jud.
8 Fonte: www.tjpa.jus.br

174
Informações sobre quantitativo de acervo, casos novos, sentenças, processos baixados, casos pendentes, total de
magistrados e servidores servem de base de cálculo para as variáveis. Outras, relacionadas ao índice de conciliação,
lotação paradigma e lotação atual da unidade judiciária são informações estatísticas importantes para um diagnóstico
da unidade judiciária, porém, tais variáveis não compõem o cálculo do IE-Jud.

Fórmula

Aplicando o índice de eficiência judiciária como ferramenta de gestão

O Indicador de Eficiência Judiciária (IE-Jud) visa atender aos princípios constitucionais da eficiência e da razoável
duração do processo, tendo como objetivo retratar, diariamente, a performance da Unidade Judiciária.
Para adotá-lo como ferramenta de gestão, a unidade judiciária deverá selecionar quais estratégias Utilizará para ala-
vancar seu resultado. A análise das sete variáveis que compõem o Índice de Eficiência possibilitará à unidade judiciária
selecionar as ações necessárias à concretização do objetivo traçado.
Quais as ações impactam diretamente no indicador de eficiência?

Acesse o guia na íntegra acessando:


http://www.tjpa.jus.br/CMSPortal/VisualizarArquivo?idArquivo=826375

Portaria nº 2005/2019

Essa portaria institui o Índice de Eficiência Judiciária do Poder Judiciário do Estado do Pará, veja na íntegra seu texto:
http://www.tjpa.jus.br/CMSPortal/VisualizarArquivo?idArquivo=826378

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (Ed. Nova) Julgue o item a respeito do Indicador de Eficiência Judiciária.


O IE-Jud é um instrumento alinhado ao macrodesafio “Celeridade e Produtividade na Prestação Jurisdicional” e à ini-
ciativa estratégica “Aprimoramento da Gestão de Processos e Unidades Judiciárias”.

( ) CERTO ( ) ERRADO
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

Resposta: Certo. O TJ/PA, objetivando tornar o Judiciário cada vez mais eficiente instituiu o índice para que, através
da geração das estatísticas mais precisas, possa se viabilizar o planejamento e a tomada de decisões, visando a melho-
rias na gestão processual.

175
7. (ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA -
CONHECIMENTOS GERAIS - CESPE/2018) No que se
HORA DE PRATICAR! refere a atos administrativos, julgue o item que se segue.
Na discricionariedade administrativa, o agente possui al-
1. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MUNICI- guns limites à ação voluntária, tais como: o ordenamento
PAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CESPE/2018) jurídico estabelecido para o caso concreto, a competên-
Acerca da organização da administração direta e indireta, cia do agente ou do órgão. Qualquer ato promovido fora
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. desses limites será considerado arbitrariedade na ativida-
Autarquia é pessoa jurídica criada por lei específica, com de administrativa.
personalidade jurídica de direito público.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
8. (ABIN - AGENTE DE INTELIGÊNCIA - CESPE/2018)
2. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MUNICI- No que tange aos atos administrativos, julgue o item se-
PAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CESPE/2018) guinte.
Acerca da organização da administração direta e indireta, Uma diferença entre a revogação e a anulação de um
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. ato administrativo é a de que a revogação é medida pri-
As sociedades de economia mista sujeitam-se ao regime vativa da administração, enquanto a anulação pode ser
trabalhista próprio das empresas privadas. determinada pela administração ou pelo Poder Judiciá-
rio, não sendo, nesse caso, necessária a provocação do
( ) CERTO ( ) ERRADO interessado.

3. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MUNICI- ( ) CERTO ( ) ERRADO


PAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CESPE/2018)
Acerca da organização da administração direta e indireta, 9. (ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA -
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. ÁREA 2 - CESPE/2018) Com relação aos atos adminis-
Define-se desconcentração como o fenômeno adminis- trativos discricionários e vinculados, julgue o item que
trativo que consiste na distribuição de competências de se segue.
determinada pessoa jurídica da administração direta para Em decorrência da própria natureza dos atos administra-
outra pessoa jurídica, seja ela pública ou privada. tivos discricionários, não se permite que eles sejam apre-
ciados pelo Poder Judiciário.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
4. (CGM de João Pessoa/PB - Técnico Municipal de
Controle Interno - Geral - CESPE/2018) Acerca da orga- 10. (STM - Analista Judiciário - Administrativa - CES-
nização da administração direta e indireta, centralizada e PE/2018) A respeito do direito administrativo, dos atos
descentralizada, julgue o item a seguir. administrativos e dos agentes públicos e seu regime, jul-
A empresa pública, entidade da administração indireta, gue o item a seguir.
possui personalidade jurídica de direito público. A imperatividade é o atributo pelo qual o ato administra-
tivo é presumido verídico até que haja prova contrária à
( ) CERTO ( ) ERRADO sua veracidade.

5. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MUNICI- ( ) CERTO ( ) ERRADO


PAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CESPE/2018)
Acerca da organização da administração direta e indireta, 11. (EBSERH - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO -
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. CESPE/2018) Julgue o próximo item, relativo às modali-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

É possível a constituição de fundação pública de direito dades de licitação.


público ou de direito privado para a exploração direta de Convite é a modalidade de licitação entre interessados
atividade econômica pelo Estado, quando relevante ao devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as
interesse público. condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia
anterior à data do recebimento das propostas, observada
( ) CERTO ( ) ERRADO a necessária qualificação.

6. (TRF 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ( ) CERTO ( ) ERRADO


ADMINISTRATIVA - CESPE/2017) Com relação à ad-
ministração direta e indireta, centralizada e descentraliza-
da, julgue o item a seguir.
Administração direta remete à ideia de administração
centralizada, ao passo que administração indireta se re-
laciona à noção de administração descentralizada.

( ) CERTO ( ) ERRADO

176
12. (EBSERH - ENGENHEIRO CLÍNICO - CESPE/2018) 17. (IBFC/2018 – SEPLAG/SE) O empreendedorismo
Acerca dos princípios do processo licitatório, julgue o governamental ocorre quando os gestores públicos
item que se segue. aproveitam os recursos disponíveis de formas novas e
Durante a execução de um contrato, a fim de garantir melhores, buscando a satisfação e o benefício dos cida-
o princípio da vinculação ao instrumento convocatório, dãos. O conceito de empreendedorismo governamental
para qualquer alteração contratual que modifique con- surgiu com o livro Reinventando o Governo - como o espí-
dições previstas inicialmente no edital de licitação, é rito empreendedor está transformando o poder público, de
necessário consultar os licitantes à época da licitação a Osborne e Gaebler. Sobre o tema assinale a alternativa
respeito dessas alterações. correta:

( ) CERTO ( ) ERRADO a) Um governo empreendedor pretende controlar a eco-


nomia, seja por meio direto ou indireto, bem como
13. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - ADMINISTRATI- concentrar a gestão das atividades empresariais na
VA - CESPE/2018) Considerando a legislação pertinente administração pública
a licitação e contratos administrativos, julgue o item sub- b) Para um modelo de empreendedorismo governamen-
sequente. tal deve se buscar o desaparecimento do Estado, para
A garantia da observância do princípio da isonomia, a que a administração pública conte, cada vez mais, com
seleção da proposta mais vantajosa para a administração características próprias da iniciativa privada
pública e a promoção do desenvolvimento nacional sus- c) Um governo empreendedor atua estrategicamente
tentável são objetivos da licitação. buscando gerar receitas, e não despesas, ampliando
as prestações dos serviços públicos e considerando os
( ) CERTO ( ) ERRADO gastos sob uma perspectiva de investimento
d) O conceito de empreendedorismo governamental
14. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - ADMINISTRATI- prestigia, em diversos aspectos, a manutenção da
VA - CESPE/2018) Considerando a legislação pertinente burocracia do Estado como critério para seu próprio
a licitação e contratos administrativos, julgue o item sub- funcionamento
sequente.
É possível estabelecer margem de preferência adicional 18. (UFU/MG – 2019 – UFU/MG) O modelo de exce-
no caso de produtos manufaturados nacionais resultan- lência em gestão, elaborado pela Fundação Nacional
tes de desenvolvimento e inovação tecnológica realiza- de Qualidade, é baseado em oito fundamentos que ex-
dos no país. pressam conceitos reconhecidos internacionalmente.
Assinale a alternativa que NÃO corresponde a um desses
( ) CERTO ( ) ERRADO fundamentos.

15. (QUADRIS/2018 – CODHAB/DF) Quanto à evolução a) Desenvolvimento sustentável.


da Administração Pública e à gestão de pessoas, julgue b) Orientação por processos.
o item a seguir. c) Geração de valor.
A teoria do empreendedorismo governamental defende d) Prestação de contas.
que o Estado deve controlar a economia por meio da
intervenção direta da empresas públicas. 19. (FEPESE/2018 – CELESC) Assinale a alternativa cor-
reta acerca do novo Modelo de Excelência da Gestão
( ) CERTO ( ) ERRADO (MEG) do Fundo Nacional de Qualidade (FNQ).

16. (FUNRIO/2018 – CGE/RO) São princípios básicos a) Trata-se de um modelo prescritivo.


norteadores da visão atual de empreendedorismo go- b) Tem o desenvolvimento sustentável como um de seus
vernamental e das novas lideranças no setor público, principais pilares.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

EXCETO: c) Trata-se de um modelo que somente pode ser aplica-


do a empresas prestadoras de serviços.
a) orientar-se por objetivos, e não por regras e regula- d) Uma das falhas do novo MEG é não privilegiar o apren-
mentos. dizado organizacional.
b) redefinir os usuários como clientes. e) Uma das falhas do novo MEG é a ausência de uma
c) atuar na prevenção dos problemas mais do que no visão sistêmica e integrativa.
tratamento.
d) priorizar o investimento na produção de recursos, e 20. (QUADRIX/2018 –CODHAB/DF) Com relação à ad-
não em seu gasto. ministração geral e pública, julgue o item
e) promover a centralização da autoridade. Projetos de governo são inerentes à gestão pública, o
que não significa dizer que não sejam condicionantes da
gestão privada.

( ) CERTO ( ) ERRADO

177
21. (CESPE/2018 – STJ) Tendo em vista as convergências 25. (BIO-RIO/2015 – IF/RJ) Contrato psicológico de tra-
e divergências entre a gestão pública e a gestão privada, balho é o vínculo estabelecido entre empregado e em-
julgue o item que se segue. pregador que tem como base as expectativas objetivas e
Na gestão pública, o foco das ações é o cliente, indivíduo subjetivas de ambos. A esse respeito pode-se considerar
que manifesta seus interesses no mercado; na gestão que:
privada, é o cidadão, membro da sociedade, que possui
direitos e deveres. a) um bom contrato psicológico pressupõe um compro-
misso responsável com ajuste de interesses mútuos.
( ) CERTO ( ) ERRADO b) a previsibilidade é importante no contrato psicológico
de trabalho, mas não garante o sucesso que é respon-
22. (CESPE/2018 – STM) A respeito da reforma do Esta- sabilidade do empregador.
do, da excelência na gestão dos serviços públicos e das c) o contrato psicológico de trabalho deve se basear em
diferenças entre a gestão pública e a gestão privada, jul- negociações seletivas definidas pelo empregado.
gue o seguinte item. d) o contrato psicológico de trabalho se centra exclusiva-
Por conta da emergência de órgãos de responsabilidade mente na satisfação do empregador com o desempe-
social corporativa nas empresas privadas, estas passaram nho do empregado.
a ter como principal objetivo atender aos interesses co- e) sobrecarga de trabalho, riscos e limites da função,
letivos da sociedade como um todo, principalmente em além da frustração de expectativas não fazem parte
suas áreas de influência. do contrato psicológico de trabalho.

( ) CERTO ( ) ERRADO 26. (PUC/PR  - COPEL) A percepção bem desenvolvida é


uma habilidade primordial, pois é ferramenta importante
23. (FCC – TCE/RO) Na gestão do setor público, a incor- para atuação profissional que exige adaptação constante
poração do paradigma do cidadão como cliente a novos contextos.
Assinale a alternativa CORRETA sobre esse tema:
a) foi rejeitada, pois as burocracias públicas não têm
como missão atender clientelas, mas alcançar resul- a) A percepção é um processo complexo em que os fa-
tados orientados pelo princípio da razão de Estado. tores individuais e ambientais estão envolvidos, cons-
b) deve ser compatibilizada com o dever de atender a to- truindo uma forma de conhecer um contexto especí-
dos os cidadãos, independentemente de sua condição fico.
financeira, e com as limitações de recursos orçamen- b) Um fator que não influencia na percepção do a algo
tários públicos. novo é a experiência vivida pelo indivíduo, pois, como
c) é incompatível com o princípio da universalização dos estamos frente a um objeto, fato etc. desconhecido,
serviços públicos, que impõe o atendimento prioritá- procuramos não receber influência do que está regis-
rio a todos, independentemente da sua qualidade. trado em nossa história.
d) será alcançada à medida que avançar o processo de c) O homem no processo de percepção tem capacidade
privatização do setor público, pois seu sucesso depen- de registrar todos os detalhes e diferenças apresenta-
de da eliminação do modelo burocrático de gestão. das no objeto ou respectiva situação.
e) é de difícil implementação, pois depende da retirada d) Frente a alguma situação não criamos hipóteses nem
de princípios constitucionais da administração públi- expectativas sobre o que irá ocorrer posteriormente,
ca, como a impessoalidade, a equidade e a universa- pois nossa percepção não utiliza registros mentais.
lidade. e) As espécies animais apresentam um padrão perceptivo
que somente difere entre elas. Os membros de uma
24. (FCC- PGE/RJ) O novo paradigma gerencial adota- mesma espécie não apresentam percepções diferen-
do pela Administração Pública enfatiza o lugar central do tes diante do mesmo estímulo.
cidadão como cliente dos serviços públicos. Em relação
à diferença entre o cliente-cidadão e o consumidor de 27. (FCC/2017 - TRT - 11ª Região/AM e RR) O traba-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

serviços privados é correto afirmar que lho em equipe só terá expressão real e verdadeira se e
quando os membros do grupo desenvolverem sua com-
a) o cliente-cidadão consome serviços públicos apenas petência interpessoal. Segundo C. Argyris (1968) compe-
mediante um contrato formal com os órgãos públicos. tência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente
b) os dois são equivalentes, pois ambos consomem ser- com relações interpessoais de acordo com três critérios:
viços mediante o pagamento de taxas. percepção acurada da situação interpessoal, de suas va-
c) o cliente só assume a condição de cidadão quando riáveis relevantes e respectiva interrelação; habilidade
utiliza serviços exclusivamente fornecidos pela Admi- de resolver realmente os problemas interpessoais, de tal
nistração Pública. modo que não haja regressões; e
d) o consumidor de serviços privados pode reclamar da
qualidade do atendimento nos órgãos autorizados, a) uso da preocupação empática de tal forma que haja
enquanto o cidadão só pode agir por meio do voto. disposição para gerar auxílio mútuo e entendimento
e) o cliente-cidadão consome serviços públicos na con- das diferenças individuais.
dição de portador de direitos e deveres, por meio dos b) solução alcançada de tal forma que as pessoas envol-
quais pode avaliar e até mesmo elaborar políticas pú- vidas continuem trabalhando juntas tão eficientemen-
blicas. te, como quando começaram a resolver os problemas.

178
c) respeito à competência técnica de cada profissional e
ao seu passado de realizações no grupo como forma
de estabelecer a hierarquia informal. GABARITO
d) capacidade para criar novas soluções que contemplem
as várias necessidades individuais identificadas, che-
1 CERTO
gando a uma solução de consenso.
e) habilidade para estabelecer sinergia entre as tarefas 2 CERTO
e os membros do grupo, criando foco no objetivo e 3 ERRADO
visão comum.
4 ERRADO
28. (CESPE/2018 -EBSERH) Julgue o item a seguir, re- 5 ERRADO
ferente à gestão de pessoas e à gestão da qualidade em
6 CERTO
organizações.
O trabalho conjunto, a comunicação aberta e o relacio- 7 CERTO
namento interpessoal intensivo entre os membros são 8 ERRADO
características que contribuem para a obtenção de de-
sempenho elevado em equipes. 9 ERRADO
10 ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
11 ERRADO
29. (CESPE/SERPRO) Com relação ao desenvolvimento 12 ERRADO
organizacional, julgue os itens subsequentes. 13 CERTO
Constitui pressuposto básico do desenvolvimento orga-
nizacional a interação entre a organização e o ambiente 14 CERTO
no qual está inserida. 15 ERRADO

( ) CERTO ( ) ERRADO 16 E
17 C
30. (CESPE/2016 - TRT - 8ª Região/PA e AP)  De acordo 18 D
com a Resolução n.º 198/2014 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), metas de medição periódicas 19 B
20 CERTO
a) referem-se a um conjunto formado pelas metas de
medição continuada e pelas metas de medição peri- 21 ERRADO
ódica. 22 ERRADO
b) são aplicáveis aos órgãos do Poder Judiciário e acom- 23 B
panhadas pelo CNJ, orgão que verifica, durante a vi-
gência da estratégia nacional, se essas metas estão 24 E
sendo cumpridas nos períodos predefinidos. 25 A
c) referem-se a um repositório de sugestão de desempe-
nho institucional e de iniciativas — programa, projetos 26 A
e operações 27 B
d) são orientações ou instruções que servem para orien- 28 CERTO
tar a execução da estratégia nacional ou o cumpri-
mento de uma meta ou de uma iniciativa estratégica 29 CERTO
e) referem-se a um programa, um projeto ou uma opera- 30 B
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

ção alinhado à estratégia nacional do Poder Judiciário.

179
ANOTAÇÕES

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER JUDICIÁRIO

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180
ÍNDICE

LEGISLAÇÃO

1 Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. 1.1 Título I (Capítulo I, II e III), Título II (Capítulo I,
III, IV, V e VI) e Título VI (Capítulo I, II e III)................................................................................................................................................... 01
Lei nº 5.810/1994 e suas alterações (Regime Jurídico Único dos servidores públicos do Estado do Pará)........................ 07
Lei nº 6.969/2007 e suas alterações (Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações)..................................................................... 11
dato. Considerar-se-ão eleitos Presidente, Vice-Presiden-
REGIMENTO INTERNO DO TRIBUNAL te, Corregedores de Justiça e membros do Conselho de
DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ. Magistratura os Desembargadores que, nos respectivos
1.1 TÍTULO I (CAPÍTULO I, II E III), escrutínios, obtiverem a maioria absoluta dos votos dos
presentes (arts. 9º e 10). Se nenhum dos Desembarga-
TÍTULO II (CAPÍTULO I, III, IV, V E VI)
dores obtiver essa maioria, proceder-se-á a um segun-
E TÍTULO VI (CAPÍTULO I, II E III).
do escrutínio entre os 2 (dois) mais votados, e, em caso
de empate, considerar-se-á eleito o que for mais antigo
dentre eles no Tribunal.
Será adotado sistema informatizado ou, na sua im-
A Resolução nº 13, de 11 de maio de 2006, dispõe possibilidade, cédula única na qual serão incluídos, na
sobre o Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Es- ordem decrescente de antiguidade, os nomes dos De-
tado do Pará. sembargadores.
Tal Resolução apresenta conteúdo bastante extenso O Presidente, o Vice-Presidente, os Corregedores
e, por isso, vamos analisar apenas os dispositivos mais de Justiça e os membros do Conselho de Magistratu-
relevantes que podem aparecer em provas para cargos ra serão eleitos para mandato de 2 (dois) anos, vedada
do referido Tribunal. Os dispositivos apresentados estão a reeleição para o mesmo cargo e, salvo motivo de força
atualizados, com base nas alterações realizadas pela E.R. maior, tomarão posse no primeiro dia útil do mês de fe-
nº 10, de 21/02/2018. vereiro.
A eleição de Desembargador e de Juiz de Direito de
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 3ª entrância para integrar o Tribunal Regional Eleitoral é
1. Da composição e organização feita em sessão do Tribunal Pleno, convocada depois da
O artigo 3º do Regimento Interno dispõe sobre a or- comunicação de vaga pela Presidência daquela Corte Fe-
ganização e a estrutura do Tribunal de Justiça do Pará. deral, não podendo ser votados para o exercício dessas
Segundo referido artigo, o Tribunal de Justiça, órgão su- funções: I - o ocupante de cargo de direção no Tribunal
premo do Poder Judiciário do Estado, tendo por sede a de Justiça; II - os Juízes de Direito auxiliares; III - o De-
cidade de Belém e jurisdição em todo o Estado do Pará, é sembargador ou o Juiz de Direito que, segundo infor-
composto de 30 (trinta) Desembargadores e dos seguin- mações da Corregedoria de Justiça, não estiver com os
tes órgãos de julgamento: serviços em dia (art. 14, § 1º).
I - Tribunal Pleno; Na elaboração da lista de advogados para integrar o
II - Conselho de Magistratura; Tribunal Regional Eleitoral, cada Desembargador votará
III – Seção de Direito Público; em 6 (seis) nomes, considerando-se eleitos os que tive-
IV – Seção de Direito Privado; rem obtido a maioria absoluta de votos dos presentes.
V – Seção de Direito Penal; Sendo necessário um segundo escrutínio, concorrerão
VI – Turmas de Direito Público; os nomes remanescentes mais votados em número não
VII – Turmas de Direito Privado; superior ao dobro dos lugares a preencher.
VIII – Turmas de Direito Penal.
3. Do funcionamento do Tribunal
O cargo de Desembargador será provido mediante Os trabalhos do Tribunal de Justiça, segundo artigo
acesso de Juízes de Direito de última entrância, pelos cri- 17 do Regimento Interno, serão instalados em sessão
térios de merecimento e de antiguidade, alternadamen- solene do Tribunal Pleno com a presença de todos os
te, ressalvado o 1/5 (um quinto) dos lugares reservados seus membros, na primeira quarta-feira útil do calendá-
a advogados e membros do Ministério Público, na forma rio forense, após o recesso judiciário compreendido no
prevista nas Constituições Federal e Estadual e normas período de 20 de dezembro a 6 de janeiro.
vigentes. O prazo para abertura da vaga poderá ser pror- O Tribunal Pleno funcionará, com a maioria abso-
rogado uma única vez, por igual período, mediante jus- luta de seus membros, sob a direção do Desembarga-
tificativa fundamentada da Presidência do Tribunal (art. dor Presidente ou de quem o estiver substituindo. Para
5º, caput e § 4º). a composição de quórum poderá ser feita a convocação
Tratando-se de vaga a ser preenchida por membro de Desembargadores, ainda que afastados em virtude de
do Ministério Público ou da Ordem dos Advogados do licenças, férias e a serviço da Justiça Eleitoral.
Brasil, o Tribunal Pleno formará a lista tríplice mediante a O Tribunal Pleno reunir-se-á às quartas-feiras, apre-
escolha, em escrutínio aberto por maioria absoluta, dos ciando tanto as questões administrativas quanto as judi-
indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representa- ciais. O Conselho de Magistratura reunir-se-á às segun-
ção das respectivas classes, procedendo-se na forma do das e quartas quartas-feiras de cada mês. (art. 19).
disposto no parágrafo único do art. 156 da Constituição As Seções de Direito Público, de Direito Privado e
Estadual (art. 7º). de Direito Penal e as Turmas de Direito Público, de Di-
reito Privado e de Direito Penal funcionarão da seguinte
2. Das eleições forma: I – a Seção Penal, a Primeira Turma de Direito Pú-
LEGISLAÇÃO

A eleição do Presidente, do Vice-Presidente, dos blico, a Segunda Turma de Direito Público, e a Primeira
Corregedores de Justiça e do Conselho de Magistratu- Turma de Direito Privado terão sessões às segundas-fei-
ra, realizar-se-á em sessão do Tribunal Pleno, em até 60 ras II – a Seção de Direito Público, a primeira e a segun-
(sessenta) dias, no mínimo, antes do término do man- da Turma de Direito Penal e a segunda Turma de Direito

1
Privado terão sessões às terças-feiras; III – a Seção de 2. Da vice-presidência
Direito Privado e a Terceira Turma de Direito Penal terão As competências do Vice-Presidente do Tribunal de
sessões às quintas-feiras. Justiça estão dispostas no artigo 37, in verbis:
O artigo 20 apresenta o quórum mínimo para o fun-
cionamento dos órgãos do Tribunal de Justiça: Art. 37. Ao Vice-Presidente do Tribunal compete:
I) o Conselho de Magistratura, com 5 (cinco) membros; I – substituir o Presidente nas suas faltas e impedi-
II) a Seção de Direito Público, com a maioria absoluta mentos eventuais;
dos membros das Turmas de Direito Público; II -superintender a distribuição dos feitos de compe-
III) a Seção de Direito Privado, com a maioria absolu- tência dos órgãos de julgamento do Tribunal de Jus-
ta dos membros das Turmas de Direito Privado; tiça;
IV) a Seção de Direito Penal, com a maioria absoluta III – revogado.
dos membros das Turmas de Direito Penal; IV – revogado;
V) as Turmas de Direito Privado, com 3 (três) mem- V – revogado;
bros; VI – tomar aparte no julgamento das causas em cujos
VI) as Turmas de Direito Público, com 3 (três) mem- autos, antes de empossado no cargo de
bros; Vice-Presidente, houver aposto seu visto como relator
VII) as Turmas de Direito Penal, com 3 (três) membros. ou revisor;
VII – revogado. (Redação dada pela E.R. n.º 10 de
Havendo necessidade de convocação de Juiz de pri- 21/02/2018)
meiro grau, a Presidência submeterá a matéria ao Tribu- VIII – por delegação do Presidente:
nal Pleno para deliberação, obedecidas as normas cons- a) decidir a admissibilidade dos recursos dirigidos ao
titucionais e infraconstitucionais aplicáveis. Nos casos Superior Tribunal de Justiça, bem como levar ao Tri-
de vaga ou afastamento de Desembargador, a qualquer bunal Pleno as impugnações sobre os provimentos e
título, por período superior a 30 (trinta) dias, será convo- demais atos previstos na legislação processual;
b) auxiliar na supervisão e fiscalização do serviço da
cado pelo Presidente do Tribunal, após deliberação do
Secretaria Judiciária;
Tribunal Pleno, Juiz de Direito de última entrância, que
c) presidir a Comissão de Concurso de Juiz Substituto;
receberá os processos do substituído e os distribuídos
d) exercer outras atribuições administrativas e de re-
àquele durante o tempo da substituição. Em nenhuma
presentação;
hipótese, salvo vacância do cargo de Desembargador,
haverá redistribuição de processos aos Juízes convoca-
A delegação das atribuições previstas no inciso VIII
dos (artigo 22, caput e parágrafos). far-se-á mediante ato da Presidência e de comum acordo
O Presidente, o Vice-Presidente e os Corregedores de com o Vice-Presidente.
Justiça integram apenas o Tribunal Pleno, o Conselho de Em caso de ausência ou impedimento do Vice-Pre-
Magistratura e as Comissões Permanentes na forma regi- sidente, assumirá o Desembargador mais antigo, na or-
mental, atuando, ainda, no julgamento dos feitos que lhe dem de antiguidade, que não faça parte da administra-
couberem por distribuição nas Seções e Turmas. ção do Tribunal.
Os serviços de protocolo, distribuição e autuação pro-
DOS DIVERSOS ÓRGÃOS DO TRIBUNAL cessual, bem como os vinculados à central de mandados,
todos relativos à segunda instância, são de supervisão,
1. Dos órgãos de direção do tribunal coordenação e controle do Vice-Presidente.
A Presidência do Tribunal, a Vice-Presidência e
as Corregedorias de Justiça são responsáveis pelo 3. Das Corregedorias
regular funcionamento e pela disciplina dos serviços do A Corregedoria Geral de Justiça, dividida para efei-
Judiciário, tanto em 1ª quanto em 2ª instância, com os to de jurisdição em Corregedoria de Justiça da Região
poderes e atribuições que lhe são conferidos no Código Metropolitana de Belém e Corregedoria de Justiça das
de Organização Judiciária do Estado (art. 33). Comarcas do Interior do Estado, tem funções adminis-
O Presidente do Tribunal é substituído pelo Vice- trativas, de orientação, fiscalização e disciplinares, sendo
-Presidente e este pelo Desembargador mais antigo na exercida por 2 (dois) Desembargadores eleitos na forma
ordem de antiguidade; bem como os Corregedores de da Lei (art. 38).
Justiça e os membros do Conselho de Magistratura, pela Os Corregedores de Justiça serão auxiliados por Juí-
mesma forma (art. 34). zes Corregedores, sendo no máximo de 2 (dois) para
Para completar quorum em uma das Seções, serão cada Corregedoria e exercerão, por delegação, suas atri-
convocados Desembargadores de outra Seção, e, em buições relativamente aos Juízes de Direito e servidores
uma das Turmas, Desembargadores de outra Turma, de da justiça. Os Juízes Corregedores são escolhidos entre
preferência da mesma Seção, observada, quando possí- os Juízes de Direito de última entrância e designados
vel, a ordem de antiguidade, de modo que a substituição pelo Presidente do Tribunal, ouvido o Conselho de Ma-
seja feita por Desembargador que ocupe, em sua Seção gistratura, por proposta dos Corregedores. A designação
ou Turma, posição correspondente à do substituído (art. dos Juízes Corregedores terá tempo determinado, consi-
LEGISLAÇÃO

35). derando-se finda com o término do mandato dos Corre-


gedores de Justiça (art. 39, caput e parágrafos).
O artigo 40, por sua vez, dispõe sobre as competên-
cias dos Juízes Corregedores, in verbis:

2
Art. 40. Aos Corregedores de Justiça, além da in- b) concernentes à classificação dos feitos de dis-
cumbência de correição permanente dos serviços ju- tribuição na 1ª instância;
diciários de 1ª instância, zelando pelo bom funciona- c) relativos aos livros necessários ao expediente
mento e aperfeiçoamento da Justiça, das atribuições forense e aos serviços judiciários em geral, organi-
referidas em lei e neste Regimento, compete: zando os modelos, quando não estabelecidos em lei;
I - elaborar o Regimento Interno da Corregedo- d) referentes à subscrição de atos auxiliares de
ria respectiva e modificá-lo em ambos os casos, com quaisquer ofícios;
aprovação do Conselho de Magistratura; XVII - autorizar o uso de livros e folhas soltas;
II - realizar correição geral ordinária sem prejuí- XVIII – manifestar-se sobre a desanexação ou
zo das extraordinárias que entenda fazer, ou haja de aglutinação dos ofícios do foro judicial e do extra-
realizar, por determinação do Conselho de Magistra- judicial;
tura em, no mínimo, metade das varas da entrância XIX – manifestar-se sobre os serviços de plantão
final; nos foros e atribuição dos respectivos Juízes;
III - organizar os serviços internos da Correge- XX - opinar sobre pedidos de remoção, permuta,
doria, inclusive a discriminação de atribuições aos transferência e readaptação dos servidores da justiça
Juízes Corregedores; de 1ª instância;
IV - determinar, anualmente, a realização de cor- XXI - designar, nas comarcas servidas por cen-
reição geral em, no mínimo, metade das comarcas tral de mandados, ouvido o Juiz de Direito do foro,
da região metropolitana e do interior do Estado; Oficiais de Justiça para atuarem exclusivamente em
V - apreciar os relatórios dos Juízes de Direito; determinadas varas, ou excluir quaisquer delas do
VI - expedir normas referentes aos estágios pro- sistema centralizado, atendidas às necessidades do
batórios dos Juízes de Direito; serviço forense;
VII - conhecer das representações e reclamações XXII - relatar no Tribunal Pleno os casos de pro-
contra Juízes e serventuários acusados de atos aten- moções de Juízes de Direito;
tatórios ao regular funcionamento dos serviços ju- XXIII - exercer outras atribuições que lhe forem
diciais, determinando ou promovendo as diligências conferidas em lei ou Regimento.
que se fizerem necessárias à apuração dos fatos e
definição de responsabilidade, cientificando ao Pro- Da decisão das Corregedorias caberá recurso para o
curador-Geral de Justiça, Procurador-Geral do Esta- Conselho de Magistratura no prazo de cinco (05) dias,
do, aos Presidentes do Conselho Federal e Seccional contados da ciência do interessado, sem efeito suspensi-
da Ordem dos Advogados do Brasil e ao Defensor vo, salvo em se tratando de matéria disciplinar
Público Geral, quando estiverem envolvidas pessoas
subordinadas a estas autoridades; 4. Das Comissões
VIII - requisitar, em razão de serviço, passagens Segundo o artigo 42, são Comissões Permanentes
e transporte; do Tribunal de Justiça:
IX - autorizar os Juízes, em razão de serviço, a
requisitarem passagens em aeronave e outros meios I - de Concurso;
de transporte; II - de Organização Judiciária, Regimento, Assuntos
X - determinar a realização de sindicância ou de Administrativos e Legislativos;
processo administrativo decidindo os que forem de III - de Informática;
sua competência e determinando as medidas neces- IV - de Súmula, Jurisprudência, Biblioteca e Revista;
sárias ao cumprimento da decisão; V - de Segurança Institucional.
XI - aplicar penas disciplinares e, quando for o
caso, julgar os recursos das que forem impostas pelos A Comissão de Concurso para provimento de cargos
Juízos; de Juiz Substituto, constituída mediante Resolução do
XII - remeter ao órgão competente do Ministé- Tribunal, será presidida pelo Presidente, como membro
rio Público, para os devidos fins, cópias de peças dos nato, podendo ser delegada ao Vice-Presidente, e com-
processos administrativos, quando houver elementos posta de mais 3 (três) Desembargadores, escolhidos pelo
indicativos da ocorrência de crime cometido por ser- Tribunal Pleno, além do representante da Ordem dos Ad-
vidor; vogados do Brasil Seção Pará (art. 44). A Comissão de
XIII - julgar os recursos das decisões dos Juízes Concurso incumbir-se-á de todas as providências neces-
referentes a reclamações sobre cobrança de custas e sárias à organização e realização do certame, observadas
emolumentos; as regras dispostas em Resolução do CNJ.
XIV - opinar, no que couber, sobre pedidos de As competências da comissão de concurso estão dis-
renovação, permutas, férias e licenças dos Juízes de postas no artigo 45, dentre as quais destaca-se: I - elabo-
Direito; rar o edital de abertura do certame que será discutido e
XV – conhecer das reclamações referentes às aprovado pelo Tribunal Pleno; II - fixar o cronograma com
custas relativas a atos praticados por servidores do as datas de cada etapa; III - receber e examinar os reque-
LEGISLAÇÃO

Tribunal; rimentos de inscrição preliminar e definitiva, deliberando


XVI - baixar provimentos: sobre eles; IV - designar as Comissões Examinadoras para
a) sobre as atribuições dos servidores, quando as provas da segunda (duas provas escritas) e quarta eta-
não definidas em lei ou regulamento; pas; V - emitir documentos; (...)IX - homologar o resulta-

3
do do curso de formação inicial; X – aferir os títulos dos sobre edição, alteração ou cancelamento de súmula; II
candidatos e atribuir-lhes nota; XI - julgar os recursos in- - superintender a edição e a circulação da “Revista de
terpostos nos casos de indeferimento de inscrição preli- Jurisprudência do Tribunal de Justiça”; III - superinten-
minar e dos candidatos não aprovados ou não classifica- der a organização de índices e fichários de jurisprudência
dos na prova objetiva seletiva; XII - ordenar a convocação e legislação; IV - orientar e inspecionar os serviços de
do candidato a fim de comparecer em dia, hora e local biblioteca, sugerindo as providências necessárias ao seu
indicados para a realização da prova; XIII - homologar ou funcionamento; V - opinar sobre aquisições e permutas
modificar, em virtude de recurso, o resultado da prova de obras; VI - supervisionar empréstimo de obras; VII -
objetiva seletiva, determinando a publicação no Diário supervisionar o serviço de jurisprudência e pesquisa; VIII
Oficial da lista dos candidatos classificados; XIV - apreciar - manter na biblioteca um serviço de documentação que
outras questões inerentes ao concurso. Parágrafo único. sirva de subsídio à história do Tribunal.
As atribuições constantes deste dispositivo poderão ser A Comissão Permanente de Segurança Institucio-
delegadas à instituição especializada contratada ou con- nal/CPSI (art. 54), vinculada diretamente à Presidência
veniada para realização das provas do concurso. do Tribunal de Justiça, será composta I – um Desembar-
Dentre os aprovados, observado o número de vagas, gador indicado pela Presidência que presidirá a Comis-
a Comissão do Concurso organizará, em ordem decres- são; II – um Juiz auxiliar da Corregedoria de Justiça da
cente, a lista de classificação, que será levada ao Tribunal Região Metropolitana de Belém indicado pelo respectivo
Pleno para a homologação e divulgação. A publicação do Corregedor; III – um Juiz auxiliar da Corregedoria de Jus-
resultado final do concurso será feita em 2 (duas) listas, tiça das Comarcas do Interior indicado pelo respectivo
contendo, a primeira, a pontuação de todos os candida- Corregedor; IV – um Juiz de Direito indicado pela Presi-
tos, inclusive a dos com deficiência, e a segunda, somen- dência do Tribunal; V - um Juiz de Direito indicado pela
te a pontuação destes últimos, os quais serão chamados Associação dos Magistrados do Estado do Pará.
na ordem das vagas reservadas às pessoas com deficiên- A Comissão Permanente de Segurança Institucional
cia (art. 47). tem por finalidade precípua a implantação de ações es-
Homologados os resultados e a classificação, os Juí- tratégicas de segurança de magistrados, servidores, patri-
mônio e informações afetas ao Poder Judiciário do Estado
zes Substitutos serão nomeados prestando compromisso
do Pará, nos termos de Resolução deste Tribunal e do CNJ.
e tomarão posse solene em sessão especial, anunciada
com a antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) ho-
DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL
ras. Em casos especiais, poderão o compromisso e a pos-
1. Da ordem cronológica dos processos cíveis
se ser deferidos no Gabinete do Presidente do Tribunal
Dispõe o caput do art. 125 que os Desembargadores
(art. 48).
Relatores das causas cíveis atenderão, preferencialmente,
A Comissão de Organização Judiciária, Regimento,
à ordem cronológica de conclusão para proferir julga-
Assuntos Administrativos e Legislativos será constituí- mento.
da pelo Vice-Presidente que, como membro nato, presi- Após o cumprimento do rito legalmente previsto, o
di-la-á, pelos Corregedores de Justiça e mais 3 (três) De- Secretário fará os autos conclusos para julgamento, oca-
sembargadores, competindo-lhe, na forma do artigo 51: I sião em que será incluído na lista de ordem cronológica,
- opinar e votar sobre todos os assuntos relativos à Orga- via sistema de acompanhamento de processos, disponí-
nização Judiciária e aos serviços auxiliares da Justiça de vel para consulta do público no site do Poder Judiciário
primeiro e segundo graus, submetendo, após aprovação, na rede mundial de computadores.
ao Tribunal Pleno; II - propor alterações de ordem legis- Recebidos os autos em gabinete, caso o relator en-
lativa ou de atos normativos do próprio Poder Judiciário; tenda ser necessária alguma providência instrutória ou
III - realizar o controle e o acompanhamento de projetos procedimental, determinará a remessa à secretaria por
encaminhados à Assembleia Legislativa; IV - emitir pare- meio de despacho motivado, apontando as providências
cer sobre proposta de alteração do Regimento Interno; a serem empreendidas antes da inclusão do feito na lista
V - manter atualizado o texto do regimento interno de de processos aptos a julgamento.
acordo com as alterações decorrentes de emendas. Ocuparão o primeiro lugar da lista de processos ap-
A Comissão de Informática será composta de 3 tos a julgamento: a) o processo que tiver sua sentença ou
(três) membros, sendo 1 (um) Desembargador que a pre- acórdão anulado, salvo quando necessária a realização
sidirá e de pelo menos 2 (dois) servidores ocupantes de de diligência ou complementação da instrução proces-
cargos de Analista Judiciário em serviço de computação, sual; b) o processo que, após a publicação de acórdão
podendo ainda dela participar os Diretores do Fórum Cí- paradigma, necessitar ter seu acórdão recorrido reexami-
vel e Criminal, incumbindo-lhe (art. 52): I - apreciar toda nado pelo órgão que o proferiu por contrariar orientação
a matéria relativa aos métodos e técnicas de computa- do Tribunal Superior. As preferências legais serão incluí-
ção de dados no âmbito do Poder Judiciário; II - apreciar, das em lista própria de ordem cronológica de conclusão
sob indicação da Presidência do Tribunal, as propostas para julgamento, nos termos do §1º do artigo 125.
de ampliação das áreas de abrangência dos serviços de
informática forense e matérias correlatas. 2. Das sessões e audiências
A Comissão de Súmula, Jurisprudência, Bibliote- Nos processos de competência originária do Tribunal,
LEGISLAÇÃO

ca e Revista será constituída de 3 (três) Desembarga- as audiências serão presididas pelo respectivo relator. As
dores, sendo o Presidente designado de qualquer uma audiências serão públicas, salvo nos casos previstos em
das Seções, e os demais integrantes da Seção Civil e lei ou quando o interesse da justiça determinar o contrá-
Criminal, cada um, cabendo-lhe (art. 53): I - manifestar rio (art. 127).

4
Ao Presidente da audiência caberá manter a discipli- c) ao entendimento firmado em incidente de resolução
na dos trabalhos com os poderes previstos nas leis pro- de demandas repetitivas ou de assunção de compe-
cessuais e neste Regimento. Se a parte, no decorrer da tência;
instrução, se portar inconvenientemente, os demais atos d) à jurisprudência dominante desta e. Corte ou de
instrutórios prosseguirão sem a sua presença (arts. 128 Cortes Superiores;
e 129). XII - dar provimento ao recurso se a decisão recorrida
De tudo que ocorrer nas audiências será lavrada ata. for contrária:
O horário de início das sessões será fixado pelo respecti- a) à súmula do STF, STJ ou do próprio Tribunal;
vo órgão do Tribunal e sua duração dependerá da neces- b) a acórdão proferido pelo STF ou STJ em julgamento
sidade de serviço. de recursos repetitivos;
A transmissão radiofônica ou televisionada e a filma- c) a entendimento firmado em incidente de resolução
gem das sessões, bem como a gravação ou taquigrafia de demandas repetitivas ou de assunção de compe-
dos debates por elementos estranhos ao Tribunal só po- tência;
derão ser feitas com o consentimento do Presidente da d) à jurisprudência dominante desta e. Corte ou de
sessão (art. 132). Cortes Superiores;
XIII - propor de ofício ou a requerimento da parte, do
3. Do relator Ministério Público ou da Defensoria Pública, assunção
As competências do Relator da audiência estão dis- de competência;
postas no artigo 133, in verbis: XIV – dirigir ao Presidente do Tribunal pedido de ins-
tauração de Incidente de Resolução de Demandas Re-
Art. 133. Compete ao relator: petitivas;
I - presidir a todos os atos do processo, exceto os que XV - Sobrestar, quando for o caso, o andamento de
se realizam em sessão, podendo delegar a Juiz de Di- processos até o julgamento da tese jurídica pelos Tri-
reito competência para quaisquer atos instrutórios e
bunais superiores;
diligências;
XVI - determinar apensamento ou desapensamento
II - resolver as questões incidentes, cuja decisão não
de autos;
competir ao Tribunal por algum dos seus órgãos;
XVII - mandar ouvir o Ministério Público, no prazo de
III - apreciar as medidas urgentes nos recursos e nos
30 (trinta) dias, nos casos previstos em lei, devendo
processos de competência originária do Tribunal, salvo
requisitar os autos se houver excesso de prazo de vista,
se houver sido arguido seu impedimento ou suspeição;
sem prejuízo da posterior juntada do parecer;
IV - processar as habilitações, incidentes e restauração
XVIII - fiscalizar o pagamento de impostos, taxas, cus-
de autos;
V - ordenar à autoridade competente a soltura de réu tas e emolumentos, propondo ao órgão competente
preso: do Tribunal, a glosa das custas excessivas;
a) quando verificar que, pendente recurso por ele in- XIX – lançar, nos autos, o relatório escrito, quando for
terposto, já sofreu prisão por tempo igual ao da pena a o caso, inclusive nos pedidos de Revisão Criminal, de-
que foi condenado, sem prejuízo do julgamento; terminando a seguir a remessa dos autos ao revisor
b) quando for absolutória a decisão; nos processos penais e, naqueles onde não houver re-
c) sempre que por qualquer motivo, cessar a causa da visão, a inclusão em pauta para julgamento;
prisão; XX - receber ou rejeitar, quando manifestamente inep-
VI - requisitar os autos originais, quando julgar ne- ta, a queixa ou denúncia nos processos de competên-
cessário; cia originária do Tribunal;
VII - indeferir liminarmente, as Revisões Criminais: XXI – propor, nos casos admissíveis, o arquivamento
a) quando for incompetente o Tribunal ou o pedido for de processo de competência originária do Tribunal, se
reiteração de outro, salvo se fundado em novas provas; a resposta ou defesa prévia do acusado convencer a
b) quando julgar insuficientemente instruído o pedi- improcedência da ação;
do e inconveniente ao interesse da justiça a requisição XXII - examinar a legalidade da prisão em flagrante;
dos autos originais; XXIII - conceder e arbitrar fiança, ou denegá-la;
VIII - determinar as diligências necessárias à instrução XXIV- decretar prisão preventiva;
do pedido de Revisão Criminal, quando entender que XXV - decidir sobre a produção de prova ou a realiza-
o defeito na instrução não se deve ao próprio reque- ção de diligência;
rente; XXVI - levar o processo à mesa, antes do relatório,
IX - indeferir de plano petições iniciais de ações da para julgamento de questões de ordem por ele ou pe-
competência originária do Tribunal; las partes suscitadas;
X - julgar prejudicado pedido de recurso que mani- XXVII - ordenar em mandado de segurança, ao despa-
festamente haja perdido objeto e mandar arquivar ou char a inicial ou posteriormente, até o julgamento, a
negar seguimento a pedido ou recurso claramente in- suspensão do ato que deu motivo ao pedido, quando,
tempestivo ou incabível; relevante o fundamento do ato impugnado, puder re-
LEGISLAÇÃO

XI - negar provimento ao recurso contrário: sultar a ineficácia da medida, em caso de concessão,


a) à súmula do STF, STJ ou do próprio Tribunal; e quando entender levar ao órgão julgador o pedido
b) ao acórdão proferido pelo STF ou STJ no julgamento de liminar para ser apreciado no tocante ao seu defe-
de recursos repetitivos; rimento ou não;

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XXVIII - decretar nos mandados de segurança, a pe-
rempção ou a caducidade da medida liminar, ex-offí-
cio ou a requerimento do Ministério Público, nos casos EXERCÍCIO COMENTADO
previstos em lei;
XXIX - admitir assistente nos processos criminais de (TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC – 2009) A res-
competência do Tribunal, quando cabíveis; peito das eleições, é correto afirmar:
XXX - ordenar a citação de terceiros para integrarem a) o Presidente, o Vice-Presidente, os Corregedores de
a lide; Justiça e os membros do Conselho da Magistratura
XXXI - admitir litisconsortes, assistentes, terceiros inte- serão eleitos para mandato de dois anos, permitida a
ressados e amici curiae; reeleição para mais um período.
XXXII - realizar tudo o que for necessário ao processa- b) na elaboração da lista de advogados para integrar o
mento dos feitos de competência originária do Tribu- Tribunal Regional Eleitoral, cada Desembargador vota-
nal e dos que subirem em grau de recurso; rá em seis nomes, considerando-se eleitos os que tive-
XXXIII – homologar, quando for o caso, autocomposi- rem obtido a maioria absoluta de votos dos presentes.
ção das partes; c) o Desembargador eleito para o cargo de direção no
XXXIV - julgar de plano o conflito de competência Tribunal de Justiça ou para o Tribunal Regional Eleito-
quando sua decisão se fundar em: ral, como membro efetivo, não perderá, ao ser empos-
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior sado, a titularidade de outra função eletiva.
Tribunal de Justiça ou do próprio Tribunal; d) os Desembargadores que estiverem no efetivo exercí-
b) tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou cio de cargo de direção no Tribunal de Justiça podem
em incidente de assunção de competência; ser eleitos, em sessão do Tribunal Pleno, para integrar
c) jurisprudência dominante desta e. Corte. o Tribunal Regional Eleitoral.
Parágrafo único. Salvo para acolher sugestão do revi- e) considerar-se-á eleito Presidente, Vice-Presidente,
sor em recursos penais, depois do “visto” deste, o rela- Corregedor de Justiça e o membro do Conselho da
tor não poderá determinar diligências. Magistratura, o Desembargador que, no respectivo
Art. 134. O relatório nos autos deve conter a exposi- escrutínio, obtiver a maioria simples dos votos dos
ção sucinta da matéria controvertida pelas partes e presentes.
da que, de ofício, possa vir a ser objeto de julgamento, Resposta: Letra B. A letra A está errada, pois não é
sendo obrigatório: permitida a reeleição dos cargos de Presidente, Vice-Pre-
I - nas ações rescisórias, nas remessas necessárias, nas sidente e dos Corregedores de Justiça. A letra C está erra-
apelações cíveis; da, pois o Desembargador eleito perde a titularidade de
II - nos desaforamentos, nos pedidos de revisão crimi- outra função eletiva, com a posse no cargo de direção do
nal, nas apelações criminais e nos embargos infrin- Tribunal. A letra D está errada, A eleição de Desembarga-
gentes e de nulidade opostos nessas apelações; dor e de Juiz de Direito para integrar o Tribunal Regional
III - nas representações e nos incidentes de inconsti- Eleitoral é feita em sessão do Tribunal Pleno, convocada
tucionalidade; depois da comunicação de vaga, pela Presidência daque-
IV - nos incidentes de assunção de competência e de le Tribunal, sendo inelegíveis os Desembargadores que
resolução de demandas repetitivas; estiverem no efetivo exercício de cargo de direção no
V - nos processos e recursos administrativos de com- Tribunal de Justiça. A letra E está errada, pois considerar-
petência do Tribunal Pleno. -se-á eleito aquele que obtiver a maioria absoluta (todos
os membros) de votos.
O Relatório poderá ser resumido, restrito à prelimi-
nar de manifesta relevância, limitando-se a esta matéria (TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC – 2009) tenção:
a sustentação oral. A questão, referem-se ao Regimento Interno do Tribunal
O relator disponibilizará ao conhecimento dos com- de Justiça do Estado do Pará.
ponentes do órgão julgador, por meio de sistema ele- Ao Conselho da Magistratura, dentre outras atribuições,
trônico interno de processamento de dados deste Tri- compete:
bunal, cópias do relatório e de peças que entender a) opinar, no que couber, sobre pedidos de renovação,
necessárias ao julgamento da causa, sendo-lhe facultada permutas, férias e licenças dos Juízes de Direito.
a disponibilização do voto, que estará albergado pelo b) apreciar os relatórios dos Juízes de Direito.
sigilo profissional (art. 28, do Código de Ética da Magis- c) determinar correições extraordinárias, gerais ou par-
tratura). ciais.
O artigo 135, por sua vez, dispõe das atribuições do d) processar e julgar as suspeições opostas a Juízes Cíveis
Relator do acórdão. São apenas três: I - determinar a re- e Criminais, quando não reconhecidas.
messa dos autos à distribuição quando forem opostos e) suspender a execução de liminar concedida pelos Juí-
e recebidos embargos infringentes e de nulidade em zes de primeiro grau em ação civil pública.
matéria criminal; II - relatar os recursos regimentais in- Resposta: Letra C. As letras A e B estão incorreta, pois
terpostos de suas decisões; III – relatar os embargos de descrevem competência dos Corregedores Gerais. A letra
LEGISLAÇÃO

declaração opostos aos acórdãos que lavrar. D está incorreta, pois descreve competência das Câmaras
O condutor do voto vencedor na maior parte do mé- Cíveis Reunidas. A letra E está incorreta, pois ela descreve
rito será o relator do processo, realizando-se nova dis- competência exclusiva da Presidência do Tribunal.
tribuição.

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Posse é o ato de investidura em cargo público ou
LEI Nº 5.810/1994 E SUAS ALTERAÇÕES função gratificada. São requisitos cumulativos para a
(REGIME JURÍDICO ÚNICO DOS SERVIDORES posse em cargo público: I - ser brasileiro, nos termos da
PÚBLICOS DO ESTADO DO PARÁ). Constituição; II - ter completado 18 (dezoito) anos; III -
estar em pleno exercício dos direitos políticos; IV - ser
julgado apto em inspeção de saúde realizada em órgão
A Lei Estadual nº 5.810, de 24 de janeiro de 1994, médico oficial do Estado do Pará; V - possuir a escola-
dispõe sobre o Regime Jurídico Único dos Servidores ridade exigida para o exercício do cargo; VI - declarar
Públicos Civis da Administração Direta, das Autarquias e expressamente o exercício ou não de cargo, emprego ou
das Fundações Públicas do Estado do Pará, definindo os função pública nos órgãos e entidades da Administração
direitos, deveres, garantias e vantagens dos Servidores Pública Estadual, Federal ou Municipal, para fins de verifi-
Públicos Civis do Estado. cação do acúmulo de cargos. (NR) VII - a quitação com as
Por trazer um texto bastante denso, procuramos des- obrigações eleitorais e militares; VIII - não haver sofrido
tacar apenas os dispositivos legais mais relevantes. sanção impeditiva do exercício de cargo público (art. 17).
São competentes para dar posse, nos termos do arti-
1. Conceitos iniciais go 19: I - No Poder Executivo: a) o Governador, aos no-
Preliminarmente, o artigo 2º do Estatuto traz alguns meados para cargos de Direção ou Assessoramento que
conceitos relevantes para a matéria: lhe sejam diretamente subordinados; b) os Secretários
I - servidor é a pessoa legalmente investida em cargo de Estado e dirigentes de Autarquias e Fundações, ou a
público; quem seja delegada competência, aos nomeados para
II - cargo público é o criado por lei, com denominação os respectivos órgãos, inclusive, colegiados; II - No Poder
própria, quantitativo e vencimento certos, com o con- Legislativo, no Poder Judiciário, no Ministério Público e
junto de atribuições e responsabilidades previstas na nos Tribunais de Contas, conforme dispuser a legislação
estrutura organizacional que devem ser cometidas a
específica de cada Poder ou órgão.
um servidor;
Exercício é o efetivo desempenho das atribuições e
III - categoria funcional é o conjunto de cargos da
responsabilidade do cargo, de competência do titular do
mesma natureza de trabalho;
órgão para onde for nomeado o servidor. O exercício do
IV - grupo ocupacional é o conjunto de categorias
cargo terá início dentro do prazo de quinze dias, conta-
funcionais da mesma natureza, escalonadas segundo
dos: I - da data da posse, no caso de nomeação; II - da
a escolaridade, o nível de complexidade e o grau de
data da publicação oficial do ato, nos demais casos (art.
responsabilidade;
25).
2. Do provimento e da vacância dos cargos públi- Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para o
cos cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio pro-
O artigo 5º dispõe, em seus incisos, sobre todas as batório por período de três anos, durante os quais a sua
formas de provimento (criação) de cargos públicos: aptidão e capacidade serão objeto de avaliação para o
I - nomeação; II - promoção; III - reintegração; IV - desempenho do cargo, observados os seguintes fatores:
transferência; V - reversão; VI - aproveitamento; VII I - assiduidade; II - disciplina; III - capacidade de iniciativa;
- readaptação; VIII - recondução. IV - produtividade; V – responsabilidade (art. 32).
A nomeação será feita: I - em caráter efetivo, quando A promoção é a progressão funcional do servidor es-
exigida a prévia habilitação em concurso público, para tável a uma posição que lhe assegure maior vencimento
essa forma de provimento; II - em comissão, para cargo base, dentro da mesma categoria funcional, obedecidos
de livre nomeação e exoneração, declarado em lei (art. os critérios de antigüidade e merecimento, alternada-
6º). O ato de provimento conterá, necessariamente, as mente.
seguintes indicações, sob pena de nulidade e responsa- A promoção por antiguidade dar-se-á pela progres-
bilidade de quem der a posse: I - modalidade de pro- são à referência imediatamente superior, observado o
vimento e nome completo do interessado; II - denomi- interstício de 2 (dois) anos de efetivo exercício. A promo-
nação de cargo e forma de nomeação; III - fundamento ção por merecimento dar-se-á pela progressão à refe-
legal (art. 8º). rência imediatamente superior, mediante a avaliação do
A investidura em cargo de provimento efetivo depen- desempenho a cada interstício de 2 (dois) anos de efetivo
de de aprovação prévia em concurso público de provas exercício (arts. 36 e 37).
ou de provas e títulos. A aprovação em concurso público Reintegração é o reingresso do servidor na adminis-
gera o direito à nomeação, respeitada a ordem de classi- tração pública, em decorrência de decisão administrativa
ficação dos candidatos habilitados (arts. 9º e 10). definitiva ou sentença judicial transitada em julgado, com
A administração proporcionará aos portadores de ressarcimento de prejuízos resultantes do afastamento
deficiência, condições para a participação em concurso (art. 40). A reintegração será feita no cargo anteriormente
de provas ou de provas e títulos. Às pessoas portadoras ocupado e, se este houver sido transformado, no cargo
de deficiência é assegurado o direito de inscrever-se resultante.
LEGISLAÇÃO

em concurso público para provimento de cargo cujas O ato de reintegração será expedido no prazo máxi-
atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que mo de 30 (trinta) dias do pedido, reportando-se sempre
são portadoras, às quais serão reservadas até 20% (vinte à decisão administrativa definitiva ou à sentença judicial,
por cento), das vagas oferecidas no concurso. transitada em julgado (art. 41).

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Transferência é a movimentação do servidor ocu- vacância são, também, formas de provimento. Isso ocor-
pante de cargo de provimento efetivo, para outro car- re porque em tais casos, é necessária a extinção do cargo
go de igual denominação e provimento, de outro órgão, público para a criação de um novo.
mas no mesmo Poder (art. 43). Caberá a transferência: A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do
I - a pedido do servidor; II - por permuta, a requerimento servidor ou de ofício. A exoneração de ofício somente
de ambos os servidores interessados (art. 44). ocorrerá I - quando não satisfeitas as condições do está-
A remoção é a movimentação do servidor ocupan- gio probatório; II - quando, tendo tomado posse, o servi-
te de cargo de provimento efetivo, para outro cargo de dor não entrar em exercício no prazo legal.
igual denominação e forma de provimento, no mesmo A organização do plano de cargos e carreiras e a re-
Poder e no mesmo órgão em que é lotado (art. 49). A muneração desses servidores públicos civis encontra-se
remoção, a pedido ou ex-officio, do servidor estável, po- disposta em outra legislação, a Lei nº 6.969/2007.
derá ser feita: (NR) I - de uma para outra unidade admi-
nistrativa da mesma Secretaria, Autarquia, Fundação ou 2. Dos direitos e vantagens,
órgão análogo dos Poderes Legislativo e Judiciário, do A duração da jornada diária de trabalho será de 6
Ministério Público e dos Tribunais de Contas. II - de um (seis) horas ininterruptas, salvo as jornadas especiais es-
para outro setor, na mesma unidade administrativa. tabelecidas em lei. A duração normal da jornada, em caso
A redistribuição é o deslocamento do servidor, com o de comprovada necessidade, poderá ser antecipada ou
respectivo cargo ou função, para o quadro de outro ór- prorrogada pela administração.
gão ou entidade do mesmo Poder, sempre no interesse O servidor habilitado em concurso público e empos-
da Administração. A redistribuição será sempre ex-offi- sado em cargo de provimento efetivo, adquirirá estabi-
cio, ouvidos os respectivos órgãos ou entidades interes- lidade no serviço público ao completar 2 (dois) anos de
sados na movimentação. A redistribuição dar-se-á exclu- efetivo exercício. O servidor estável só perderá o cargo
sivamente para o ajustamento do quadro de pessoal às em virtude de sentença judicial transitada em julgado,
necessidades dos serviços, inclusive nos casos de reorga- ou de processo administrativo disciplinar no qual lhe seja
nização, extinção ou criação de órgão ou entidade. Nos assegurada ampla defesa (arts. 67 e 68).
casos de extinção de órgão ou entidade, os servidores O servidor, após cada 12 (doze) meses de exercício
estáveis que não puderam ser redistribuídos, na forma adquire direito a férias anuais, de 30 (trinta) dias conse-
deste artigo, serão colocados em disponibilidade até seu cutivos (art. 74). As férias serão de: I - 30 (trinta) dias con-
aproveitamento. (art. 50 e parágrafos). secutivos, anualmente; II - 20 (vinte) dias consecutivos,
Reversão é o retorno à atividade de servidor apo- semestralmente, para os servidores que operem, direta
sentado por invalidez, quando, por junta médica oficial, e permanentemente, com Raios X ou substâncias radioa-
forem declarados insubsistentes os motivos da aposen- tivas. Durante as férias, o servidor terá direito a todas as
tadoria. A reversão, ex-officio ou a pedido, dar-se-á no vantagens do exercício do cargo.
mesmo cargo ou no cargo resultante de sua transfor- O servidor terá direito à licença: I - para tratamento
mação. A reversão, a pedido, dependerá da existência de saúde; II - por motivo de doença em pessoa da famí-
de cargo vago. Não poderá reverter o aposentado que lia; III - maternidade; IV - paternidade; V - para o serviço
já tiver alcançado o limite da idade para aposentadoria militar e outras obrigações previstas em lei; VI - para tra-
compulsória (art. 51). tar de interesse particular; VII - para atividade política ou
O aproveitamento é o reingresso, no serviço público, classista, na forma da lei; VIII - por motivo de afastamen-
do servidor em disponibilidade, em cargo de natureza e to do cônjuge ou companheiro; IX - a título de prêmio
padrão de vencimento correspondente ao que ocupava. por assiduidade (art. 77).
O aproveitamento será obrigatório quando: I - restabele- A licença para tratamento de saúde será concedida
cido o cargo de cuja extinção decorreu a disponibilidade; a pedido ou de ofício, com base em inspeção médica,
II - deva ser provido cargo anteriormente declarado des- realizada pelo órgão competente, sem prejuízo da remu-
necessário (arts. 53 e 54). neração.
Readaptação é a forma de provimento, em cargo Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo
mais compatível, pelo servidor que tenha sofrido limita- de doença do cônjuge, companheiro ou companheira,
ção, em sua capacidade física ou mental, verificada em padrasto ou madrasta; ascendente, descendente, entea-
inspeção médica oficial. A readaptação não acarretará do, menor sob guarda, tutela ou adoção, e colateral con-
diminuição ou aumento da remuneração. A readaptação sangüíneo ou afim até o segundo grau civil, mediante
pode ser realizado ex-officio ou a pedido, sendo efeti- comprovação médica.
vada em cargo vago, de atribuições afins, respeitada a Será concedida licença à servidora gestante, por cento
habilitação exigida (art. 56 e parágrafos). e oitenta dias consecutivos, sem prejuízo de remuneração.
Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo O servidor será licenciado, também, quando: a) con-
anteriormente ocupado e decorrerá de: I - inabilitação vocado para o serviço militar na forma e condições esta-
em estágio probatório relativo a outro cargo; II - reinte- belecidas em lei; b) requisitado pela Justiça Eleitoral; c)
gração do anterior ocupante (art. 57). sorteado para o trabalho do Júri; d) em outras hipóteses
As formas de vacância (extinção) dos cargos pú- previstas em legislação federal específica.
LEGISLAÇÃO

blicos estão dispostas no artigo 58 do referido Estatuto: A critério da administração, poderá ser concedida ao
I - exoneração; II - demissão; III - promoção; IV - aposen- servidor estável, licença para o trato de assuntos particu-
tadoria; V - readaptação; VI - falecimento; VII - transfe- lares, pelo prazo de até 2 (dois) anos consecutivos, sem
rência; VIII - destituição. Observe que algumas formas de remuneração.

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O servidor terá direito à licença para atividade políti- toridade imediatamente superior à que tiver expedido o
ca, obedecido o disposto na legislação federal específica. ato ou proferido a decisão, e, sucessivamente, em escala
Ao servidor estável, será concedida licença sem re- ascendente, às demais autoridades. O recurso será en-
muneração, quando o cônjuge ou companheiro, servidor caminhado por intermédio da autoridade à que estiver
civil ou militar: I - assumir mandato conquistado em elei- imediatamente subordinado o requerente.
ção majoritária ou proporcional para exercício de cargo O direito de requerer prescreve: I - em 5 (cinco) anos,
em local diverso do da lotação do acompanhante; II - for quanto aos atos de demissão e de cassação de aposen-
designado para servir fora do Estado ou no exterior. tadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse pa-
Após cada triênio ininterrupto de exercício, o servidor trimonial e créditos resultantes das relações funcionais;
fará jus à licença de 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo
remuneração e outras vantagens. A licença será: I - a re- quando outro prazo por fixado em lei.
querimento do servidor: a) gozada integralmente, ou em
duas parcelas de 30 (trinta) dias; b) convertida integral- 4. Dos vencimentos e da remuneração
mente em tempo de serviço, contado em dobro; II - con- O artigo 116 define vencimentos como a retribuição
vertida, obrigatoriamente, em remuneração adicional, na pecuniária mensal devida ao servidor, correspondente ao
aposentadoria ou falecimento, sempre que a fração de padrão fixado em lei. Já o artigo 118 define remuneração
tempo for igual ou superior a 1/3 (um terço) do período como o vencimento acrescido das demais vantagens de
exigido para o gozo da licença-prêmio. caráter permanente, atribuídas ao servidor pelo exercício
Sobre a aposentadoria, dispõe o artigo 110 que O do cargo público.
servidor será aposentado: I - por invalidez permanente, Além do vencimento, o servidor poderá perceber as
com proventos integrais, quando decorrente de aciden- seguintes vantagens: I - adicionais; II - gratificações; III
te em serviço, moléstia profissional, ou doença grave ou - diárias; IV - ajuda de custo; V - salário-família; VI - inde-
incurável especificada em lei, e proporcionais nos demais nizações; VII - outras vantagens e concessões previstas
casos; II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de em lei (art. 127).
idade, com proventos proporcionais ao tempo de ser- Os adicionais poderão ser concedidos: I - pelo exer-
viço; III - voluntariamente: a) aos 35 (trinta e cinco) anos cício do trabalho em condições penosas, insalubres ou
de serviço, se homem, e aos 30 (trinta), se mulher, com perigosas; II - pelo exercício de cargo em comissão ou
proventos integrais; b) aos 30 (trinta) anos de efetivo função gratificada; III - por tempo de serviço (art. 128).
exercício em funções do magistério, se professor, e aos Ao servidor serão concedidas gratificações: I - pela
25 (vinte e cinco) anos, se professora, com proventos in- prestação de serviço extraordinário; II - a título de re-
tegrais; c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e presentação; III - pela participação em órgão colegiado;
aos 25 (vinte e cinco) anos, se mulher, com proventos IV - pela elaboração de trabalho técnico, científico ou de
proporcionais a esse tempo; d) aos 65 (sessenta e cinco) utilidade para o serviço público; V - pelo regime especial
anos de idade, se homem, e aos 60 (sessenta), se mulher, de trabalho; VI - pela participação em comissão, ou gru-
com proventos proporcionais ao tempo de serviço. po especial de trabalho; VII - pela escolaridade; VIII - pela
A aposentadoria compulsória será automática e o docência, em atividade de treinamento; IX - pela produ-
servidor afastar-se-á do serviço ativo no dia imediato tividade; X - pela interiorização; XI - pelo exercício de ati-
àquele em que atingir a idade-limite, e o ato que a decla- vidade na área de educação especial; XII - Pelo exercício
rar terá vigência a partir da data em que o servidor tiver da função (art. 132).
completado 70 (setenta) anos de idade.
A aposentadoria voluntária ou por invalidez vigorará 5. Da acumulação de cargos públicos
a partir da data da publicação do respectivo ato, deven- É vedada a acumulação remunerada de cargos
do ser precedida de licença para tratamento de saúde, públicos, exceto quando houver compatibilidade de
por período não excedente a 24 (vinte e quatro) meses. horários, nos seguintes casos: a) a de 2 (dois) cargos de
professor; b) a de 1 (um) cargo de professor com outro
3. Direito de petição técnico ou científico, de nível médio ou superior; c) a de
Sobre o direito de petição, o artigo 101 dispõe que é 2 (dois) cargos privativos de médico (art. 162). Em todos
assegurado ao servidor: I - o direito de petição em defesa os casos é absolutamente vedado o exercício em mais de
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; II - a um cargo em comissão.
obtenção de certidões em defesa de direitos e esclare-
cimento de situações de interesse pessoal. O direito de 6. Dos deveres e das vedações
peticionar abrange o requerimento, a reconsideração e O artigo 177 elenca todos os deveres dos servidores
o recurso. públicos civis da administração estadual do Pará. Dentre
O requerimento será dirigido à autoridade compe- esses deveres, destaca-se: I - assiduidade e pontualida-
tente para decidir sobre ele e encaminhá-lo à que estiver de; II - urbanidade; III - discrição; IV - obediência às or-
imediatamente subordinado o requerente. dens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;
Cabe pedido de reconsideração à autoridade que V - exercício pessoal das atribuições; VI - observância
houver expedido o ato ou proferido a primeira decisão, aos princípios éticos, morais, às leis e regulamentos; VII
LEGISLAÇÃO

não podendo ser renovado. - atualização de seus dados pessoais e de seus depen-
Caberá recurso: I - do indeferimento do pedido de dentes; VIII - representação contra as ordens manifesta-
reconsideração; II - das decisões sobre os recursos su- mente ilegais e contra irregularidades; e IX - atender com
cessivamente interpostos. O recurso será dirigido à au- presteza: a) às requisições para a defesa do Estado; b) às

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informações, documentos e providências solicitadas por I - repreensão;
autoridades judiciárias ou administrativas; c) à expedição II - suspensão;
de certidões para a defesa de direitos, para a argüição de III - demissão:
ilegalidade ou abuso de autoridade. IV - destituição de cargo em comissão ou de função
As vedações, por sua vez, estão dispostas no artigo gratificada;
178 do Estatuto. É imprescindível conhecer todas, para V - cassação de aposentadoria ou de disponibilidade.
que o candidato não se confunda com os deveres do ser- As penas disciplinares serão aplicadas através de: I -
vidor, o que costuma ser exigido em muitas provas do portaria, no caso de repreensão e suspensão; II - de-
TJ do Pará. : I - acumular inconstitucionalmente cargos creto, no caso de demissão, destituição de cargo em
ou empregos na administração pública; II - revelar fato comissão ou de função gratificada, cassação de apo-
de que tem ciência em razão do cargo, e que deve per- sentadoria ou de disponibilidade (art. 185).
manecer em sigilo, ou facilitar sua revelação; III - pleitear A pena de repreensão será aplicada nas infrações de
como intermediário ou procurador junto ao serviço pú- natureza leve, em caso de falta de cumprimento dos
blico, exceto quando se tratar de interesse do cônjuge ou deveres ou das proibições, na forma que dispuser o
dependente; IV - deixar de comparecer ao serviço, sem regulamento.
causa justificada, por 30 (trinta) dias consecutivos; V - va- A pena de suspensão, que não exceder a 90 (noventa)
ler-se do exercício do cargo para auferir proveito pessoal dias, será aplicada em caso de falta grave, reincidên-
ou de outrem, em detrimento da dignidade da função; cia, ou infração ao disposto no art. 178, VII, XI, XII, XIV
VI - cometer encargo legítimo de servidor público à pes- e XVII.
soa estranha à repartição, fora dos casos previstos em A pena de demissão será aplicada nos casos do artigo
lei; VII - participar de gerência ou administração de em- 190: I - crime contra a Administração Pública, nos ter-
presa privada, de sociedade civil, ou exercer o comércio, mos da lei penal; II - abandono de cargo; III - faltas ao
exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditá- serviço, sem causa justificada, por 60 (sessenta) dias
rio; VIII - aceitar contratos com a Administração Estadual, intercaladamente, durante o período de 12 (doze) me-
quando vedado em lei ou regulamento; IX - participar da
ses; IV - improbidade administrativa; V - incontinência
gerência ou administração de associação ou sociedade
pública e conduta escandalosa, na repartição; VI - in-
subvencionada pelo Estado, exceto entidades comunitá-
subordinação grave em serviço; VII - ofensa física, em
rias e associação profissional ou sindicato; X - tratar de
serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima
interesses particulares ou desempenhar atividade estra-
defesa própria ou de outrem; VIII - aplicação irregu-
nha ao cargo, no recinto da repartição; XI - referir-se, de
lar de dinheiros públicos; IX - revelação de segredo do
modo ofensivo, a servidor público e a ato da Adminis-
qual se apropriou em razão do cargo; X - lesão aos
tração; XII - utilizar-se do anonimato, ou de provas ob-
cofres públicos e dilapidação do patrimônio estadual;
tidas ilicitamente; XIII - permutar ou abandonar serviço
essencial, sem expressa autorização; XIV - omitir-se no XI - corrupção; XII - acumulação ilegal de cargos, em-
zelo e conservação dos bens e documentos públicos; XV pregos ou funções públicas; XIII - lograr proveito pes-
- desrespeitar ou procrastinar o cumprimento de decisão soal ou de outrem, valendo-se do cargo, em detrimen-
judicial; XVI - deixar, sem justa causa, de observar prazos to da dignidade da função pública; XIV - participação
legais administrativos ou judiciais; XVII - praticar ato lesi- em gerência ou administração de empresa privada,
vo ao patrimônio Estadual; XVIII - solicitar, aceitar ou exi- de sociedade civil, ou exercício do comércio, exceto
gir vantagem indevida pela abstenção ou prática regular na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
de ato de ofício; XIX - aceitar representação de Estado XV - atuação, como procurador ou intermediário, jun-
estrangeiro, sem autorização legal; XX - exercer atribui- to a repartições públicas, salvo quando se tratar de
ções sob as ordens imediatas de parentes até o segundo benefícios previdenciários ou assistenciais a paren-
grau, salvo em cargo comissionado; XXI - praticar atos, tes até o segundo grau, e de cônjuge ou companhei-
tipificados em lei como crime, contra a administração ro; XVI - recebimento de propina, comissão, presente
pública; XXII - exercer a advocacia fora das atribuições ou vantagem de qualquer espécie, em razão de suas
institucionais, se ocupante do cargo incompatível; XXIII - atribuições; XVII - aceitação de comissão, emprego ou
retardar, injustificadamente, a nomeação de classificado pensão de Estado estrangeiro; XVIII - prática de usura
em concurso público. sob qualquer de suas formas; XIX - procedimento desi-
Em relação às responsabilidades, O servidor respon- dioso; XX - utilização de pessoal ou recursos materiais
de civil, penal e administrativamente pelo exercício irre- de repartição em serviços ou atividades particulares.
gular de suas atribuições. A demissão ou a destituição de cargo em comissão
A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou ou de função gratificada, nas hipóteses do art. 190,
comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao incisos XIII e XV, incompatibiliza o servidor para nova
erário ou a terceiros. investidura em cargo público estadual, pelo prazo de
A absolvição judicial somente repercute na esfera ad- 5 (cinco) anos.
ministrativa, se negar a existência do fato ou afastar do
servidor a autoria. 8. Processo administrativo disciplinar
LEGISLAÇÃO

A autoridade que tiver ciência de irregularidade no


7. Do regime disciplinar: sanções serviço público é obrigada a promover a sua apuração
As penas disciplinares estão previstas no artigo 183 imediata, mediante sindicância ou processo administrati-
do Estatuto. São ao todo cinco: vo disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.

10
Da sindicância poderá resultar: I - arquivamento do toridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a
processo; II - aplicação de penalidade de repreensão ou penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de
suspensão de até 30 (trinta) dias; III - instauração de pro- responsabilidade.
cesso disciplinar (art. 201). Verificada a existência de vício insanável, a autoridade
Sempre que o ilícito praticado pelo servidor, ensejar julgadora declarará a nulidade total ou parcial do proces-
a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 so e ordenará a constituição de outra comissão, para ins-
(trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou tauração de novo processo. O julgamento fora do prazo
disponibilidade, ou destituição, será obrigatória a instau- legal não implica nulidade do processo.
ração de processo disciplinar.
O processo disciplinar é o instrumento destinado a
apurar responsabilidade de servidor por infração pratica- LEI Nº 6.969/2007 E SUAS ALTERAÇÕES
da no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação (PLANO DE CARGOS, CARREIRAS E
com as atribuições do cargo em que se encontre inves- REMUNERAÇÕES).
tido. Este será conduzido por comissão composta de 3
(três) servidores estáveis, designados pela autoridade
competente, que indicará, dentre eles, o seu presidente A Lei Estadual nº 6.969, de 9 de maio de 2007, é a
(arts. 204 e 205). legislação que institui o Plano de Carreiras, Cargos e Re-
O processo disciplinar apresenta três fases: muneração dos Servidores do Poder Judiciário do Estado
I - instauração, com a publicação do ato que constituir do Pará. Muitos de seus dispositivos são bem parecidos
a comissão; com o do Estatuto dos servidores públicos civis. Por isso,
II - inquérito administrativo, que compreende instru- vamos nos ater a apenas ao conteúdo mais diferenciado
ção, defesa e relatório; e mais relevante para os estudos.
III – julgamento
1. Do plano de carreiras e quadros
O inquérito administrativo obedecerá ao princípio O presente Plano de Carreiras, Cargos e Remune-
do contraditório, assegurada ao acusado ampla defesa, ração - PCCR, tem as seguintes finalidades primordiais:
com a utilização dos meios e recursos admitidos em di- I - estabelecimento de um sistema permanente de de-
reito. senvolvimento funcional do servidor, vinculado aos obje-
É assegurado ao servidor o direito de acompanhar tivos institucionais, obedecidos os critérios de igualdade
o processo, pessoalmente ou por intermédio de procu- de oportunidades, do mérito e da qualificação profissio-
rador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas nal; e II - garantia da eficiência dos serviços prestados
e contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de pelo Poder Judiciário à sociedade (art. 2º).
prova pericial (art. 212). Os princípios e diretrizes que norteiam este Plano de
As testemunhas serão intimadas a depor mediante Carreiras, Cargos e Remuneração são:
mandato expedido pelo presidente da comissão, deven-
do a segunda via, com o ciente do intimado, ser anexada I - universalidade - integram o Plano os servidores
aos autos. efetivos que participam do processo de trabalho de-
Concluída a inquirição das testemunhas, a comissão senvolvido pelo Poder Judiciário do Estado do Pará,
promoverá o interrogatório do acusado, observados os incluindo os servidores estáveis que se adequaram no
procedimentos previstos nos arts. 213 e 214. prazo previsto no art. 50 desta Lei (NR).
Tipificada a infração disciplinar, será formulada a in- II - eqüidade - fica assegurado aos servidores que inte-
dicação do servidor, com a especificação dos fatos a ele gram este Plano, tratamento igualitário para os ocu-
imputados e das respectivas provas. O indiciado será ci- pantes de cargos com atribuições e requisitos iguais;
tado por mandato expedido pelo presidente da comis- III - participação na gestão - para a implantação deste
são para apresentar defesa escrita, no prazo de 10 (dez) Plano às necessidades do Poder Judiciário, deverá ser
dias, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição. observado o princípio da participação bilateral entre
No caso de recusa do indiciado em apor o ciente na có- os servidores e o órgão gestor deste Plano, a Secretaria
pia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data de Administração do Tribunal de Justiça;
declarada, em termo próprio, pelo membro da comissão IV - concurso público - é a forma de ingresso nos car-
que fez a citação, com a assinatura de 2 (duas) testemu- gos efetivos do Poder Judiciário do Estado do Pará;
nhas (art. 217, caput e parágrafos). V - publicidade e transparência - todos os fatos e atos
Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório administrativos referentes a este PCCR serão públicos,
minucioso, em que resumirá as peças principais dos au- garantindo total e permanente transparência
tos e mencionará as provas nas quais se baseou para for-
mar a sua convicção. O artigo 5º, por sua vez, traz diversos conceitos re-
A autoridade julgadora proferirá a sua decisão, no levantes para o Plano de Carreiras. Plano de carreira é o
prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do
LEGISLAÇÃO

conjunto de princípios, diretrizes e normas que regulam


processo. os quadros de carreiras, a forma de ingresso, a promoção
O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo e o desenvolvimento profissional dos servidores.
quando contrário às provas dos autos. Quando o rela- Quadro de pessoal é o conjunto de cargos de provi-
tório da comissão contrariar as provas dos autos, a au- mento efetivo, em comissão e de funções gratificadas.

11
Pessoal efetivo são os servidores públicos cuja inves- de, abrangendo àquelas que exigem o domínio de ha-
tidura no respectivo cargo se deu mediante concurso pú- bilidades específicas; a gestão de pessoas; a logística;
blico de provas ou de provas e títulos. licitações, contratos e convênios; orçamento, finanças e
Cargo de provimento efetivo é a unidade de ocupação contabilidade; comunicação social; manutenção e infra-
funcional, criado por lei, com número certo e denomi- -estrutura; controle interno e auditoria; transporte oficial
nação própria, definido por um conjunto de atribuições e segurança; bem como, pareceres jurídicos e outras ati-
e responsabilidades cometidas a um servidor, mediante vidades de apoio administrativo e operacional.
retribuição pecuniária padronizada. Os cargos de provimento em comissão e as
Cargo de provimento em comissão é o conjunto de funções gratificadas são de livre nomeação/designação
atividades e responsabilidades de direção superior e in- e exoneração/dispensa do Chefe do Poder Judiciário,
termediária, definidas com base na estrutura organiza- constituindo as classes Comissionado Judiciário Superior,
cional do Poder Judiciário do Estado do Pará, e de asses- Padrão CJS, e Comissionado Judiciário Intermediário,
soramento superior e intermediário, de livre nomeação e Padrão CJI, e Funções Gratificadas, Padrão FG, nos termos
exoneração. da Lei 6.850/06, que dispõe sobre a estrutura organo-
Função gratificada é o conjunto de atividades e res- -funcional administrativa do Poder Judiciário do Estado
ponsabilidades de chefia intermediária, definidas com do Pará.
base na estrutura organizacional do Poder Judiciário do
Estado do Pará, de livre designação e destituição, confe- 2. Ingresso e desenvolvimento da carreira
ridas a servidor estável ou ocupante de cargo de provi- A investidura em cargo de provimento efetivo dar-
mento efetivo deste Poder. -se-á mediante aprovação em concurso público de pro-
Progressão funcional é o deslocamento funcional de vas ou de provas e títulos, na referência e classe iniciais
servidor, entre classes e referências, por promoção no do cargo a que concorreu, observada a escolaridade e o
mesmo cargo. preenchimento dos demais requisitos exigidos para in-
Enquadramento é a alocação do servidor em cargo gresso (art. 14).
correlato deste Plano, observados, dentre outros, os re- A elaboração do Plano de Desenvolvimento na Car-
quisitos de escolaridade estabelecidos para provimento. reira observará o: I - plano de metas institucionais; II -
O Plano de Carreiras em cargos efetivos é compos- plano de metas das Unidades/Setores; III - plano de me-
to pelos seguintes quadros: I - quadro de cargos de pro- tas das equipes (art. 16).
vimento efetivo; II - quadro de cargos de provimento em A progressão do servidor nos cargos das Carreiras
comissão; III - quadro de funções gratificadas. visa incentivar a melhoria de seu desempenho ao execu-
Sobre a estruturação, os cargos previstos neste PCCR, tar as atribuições do cargo, a mobilidade dos servidores
com competência para atuar nas áreas de planejamento, na respectiva carreira e a decorrente melhoria salarial na
administração, controle, assistência, prevenção e prote- classe e referência a que pertence, obedecerá uma escala
ção no Poder Judiciário, integram o Quadro de Cargos de de 0 a 100 pontos e far-se-á da seguinte forma: I - Hori-
Provimento Efetivo e pertencem às seguintes Carreiras zontal: consiste no progresso do servidor, após avaliação,
(art. 6º): à referência imediatamente superior àquela a que per-
tencer, dentro da mesma classe, respeitado o interstício
I) carreira operacional: composta por cargos para cujo de dois anos de efetivo exercício na referência em que se
provimento é exigida a escolaridade de nível funda- encontrar; II - Vertical: consiste no progresso do servidor
mental; alocado na última referência de uma classe para outra,
II) carreira auxiliar: composta por cargos para cujo dentro do mesmo cargo, após avaliação de desempenho,
provimento é exigida a 3 escolaridade de nível médio observado o interstício avaliatório de três anos (art. 18).
ou equivalente; e A progressão horizontal valorizará a experiência e a
III) carreira técnica: composta por cargos para cujo qualificação profissionais, devendo, para sua efetivação,
provimento é exigido curso de graduação de nível su- o servidor atingir a pontuação mínima de 80 pontos, para
perior. avançar à referência imediatamente superior àquela a
qual pertence, observando, dentre outros, os seguintes
As carreiras apresentadas serão compostas por ativi- itens: a) experiência - com a valoração da participação
dades finalísticas e atividades de suporte. As Ativida- em grupos e comissões especiais de trabalho, desempe-
des Finalísticas são inerentes aos cargos com atribuições nho de funções gratificadas e tempo de serviço; b) qua-
voltadas para a realização dos serviços judiciários pres- lificação - com a valoração de cursos de atualização e
tados à população, em todos os níveis de complexida- aperfeiçoamento de no mínimo 60 e 120 horas, respec-
de, tendo como finalidade o cumprimento da missão do tivamente.
Poder Judiciário, abrangendo, dentre outras: o proces- A progressão vertical será respaldada no mérito pro-
samento de feitos; a execução de mandados; a análise e fissional do servidor, devendo, para sua efetivação, o
a pesquisa de legislação, doutrina e jurisprudência; bem servidor atingir a pontuação mínima de 90 pontos, para
como pareceres jurídicos e outras atividades de apoio na avançar à referência inicial da classe imediatamente supe-
área judiciária. rior àquela a qual pertence, observando, dentre outros, os
LEGISLAÇÃO

As Atividades de Suporte são inerentes aos cargos seguintes itens: a) participação em grupos e comissões;
com atribuições voltadas para a realização dos serviços b) desempenho de cargos comissionados; c) desempe-
que viabilizam a concretização das ações da área-fim nho organizacional: trabalho em equipe, orientação para
do Poder Judiciário, em todos os níveis de complexida- resultados e comunicação formal; d) desempenho fun-

12
cional: dedicação ao trabalho, produtividade e qualidade percentuais: a) especialização - 15% (quinze por cento);
do trabalho; e) desempenho individual: cumprimento das b) mestrado - 20% (vinte por cento) e, c) doutorado -
metas definidas no Plano de Trabalho Individual dando 25% (vinte e cinco por cento). II - gratificação de Risco
ênfase à motivação, criatividade, pontualidade, cumpri- de Vida à base de 70% (setenta por cento) do vencimen-
mento de prazos, relacionamento interpessoal, respon- to- 7 base, devida exclusivamente para os servidores no
sabilidade e uso adequado de equipamentos. exercício das atividades de Oficial de Justiça, Oficial de
As normas necessárias à efetivação da Avaliação Justiça Avaliador e Auxiliar de Segurança. III - Gratificação
Periódica de Desempenho necessária à concessão das de Atividade Externa – devida exclusivamente aos Ofi-
progressões horizontal e vertical dos servidores, reger- ciais de Justiça e Oficiais de Justiça Avaliador, a fim de
-se-á por Resolução do Tribunal Pleno que instituir o Sis- indenizar as despesas de locomoção no cumprimento de
tema de Avaliação Periódica do Tribunal de Justiça, e se- diligências, cujo valor será definido por ato do Tribunal
rão estabelecidas no prazo de cento e vinte dias a contar Pleno, reajustável na data base e observada a variação
do início da vigência da referida Lei (art. 20). do IGP-M -Índice Geral de Preços de Mercado, da Fun-
A periodicidade da Avaliação Periódica de Desempe- dação Getúlio Vargas ou de outro índice de atualização
nho é de doze meses para todas as áreas de atividades, monetária estabelecido anualmente na Lei de Diretrizes
devendo a apuração e a homologação ocorrer até o ter- Orçamentárias, para gastos com combustível. IV - Gra-
ceiro mês do ano anterior ao de sua efetivação. tificação de Gabinete – que poderá ser concedida aos
As Progressões horizontal e vertical, decorrentes de servidores que prestarem serviço nas unidades adminis-
Avaliação Periódica de Desempenho, surtirão efeitos a trativas vinculadas à Presidência do Tribunal, que variará
partir do exercício subseqüente ao da respectiva avaliação. entre 50% (cinqüenta por cento) e 100% (cem por cento)
Para implantação do processo de avaliação de de- do vencimento-base atribuído ao cargo. (art. 28)
sempenho serão observados os seguintes critérios: O Adicional de Titulação será devido pelo maior tí-
I - definição metodológica dos indicadores de avaliação; tulo obtido pelo servidor, vedada a cumulatividade, em
qualquer hipótese. O percentual da Gratificação de Risco
II - definição de metas dos serviços e das equipes;
de Vida passa a integrar os vencimentos dos cargos de
III - adoção de modelos e instrumentos que atendam
Oficial de Justiça Avaliador e de Oficial de Justiça, para
à natureza das atividades, assegurados os seguintes
todos os efeitos legais.
princípios: a) legitimidade e transparência do proces-
Os valores de remuneração dos Cargos que consti-
so de avaliação; b) periodicidade; 6 c) contribuição do tuem as classes Comissionado Judiciário Superior, Padrão
servidor para a consecução dos objetivos do órgão ou CJS, e Comissionado Judiciário Intermediário, Padrão CJI,
serviço; d) adequação aos conteúdos dos cargos e às e as Funções Gratificadas - FG, do Poder Judiciário, são os
condições reais de trabalho, de forma que caso haja constantes da Lei nº 6.850/06 e a criada nesta Lei.
condições precárias ou adversas, não prejudiquem a
avaliação; e) conhecimento do servidor sobre todas as 4. Da implementação e gestão do Plano
etapas da avaliação e do seu resultado final; f) direito A implantação do plano de que trata esta Lei, far-se-á
de manifestação às instâncias recursais. em três etapas, conforme abaixo discriminadas: I - en-
quadramento inicial dos servidores no PCCR, que obser-
Caberá ao Departamento de Gestão de Pessoas, ela- vará a correlação entre cargos e respectivos requisitos,
borar e propor a realização, direta ou indireta, de Pro- devendo ser implementado no ano de 2008; II - imple-
gramas de Qualificação Profissional para os servido- mentação da primeira progressão horizontal, que deve-
res do órgão, que tem como objetivos: I - conscientizar rá ocorrer no prazo de doze meses, a partir da data do
os servidores para a relevância do seu papel, enquanto enquadramento inicial; III - implementação da primeira
agente na construção de uma sociedade mais justa; II - progressão vertical, no prazo de vinte e quatro meses, a
preparar o profissional do judiciário para desenvolver-se partir da data de enquadramento inicial (artigo 31).
na carreira, objetivando seu engajamento no plano de O enquadramento dos servidores nos cargos das Car-
desenvolvimento organizacional do Poder Judiciário; III reiras Operacional, Auxiliar e Técnica ocorrerá mediante
- capacitar o profissional para um desempenho qualifica- transformação dos cargos atualmente ocupados, obser-
do de suas atribuições e para a prestação de serviços de vada a correlação existente com os cargos do novo Pla-
qualidade à coletividade (art. 24). no, em conformidade com a Tabela de Correspondência
constante do Anexo III da presente Lei, desde que se en-
3. Da estrutura salarial e remuneração da carreira contrem em efetivo exercício, nos termos da Lei (art. 32).
A estrutura de remuneração das Carreiras do Poder Os servidores que não se enquadrarem no Plano ins-
Judiciário, de que trata o artigo 6º desta Lei, compreende: tituído por esta Lei integrarão Quadro Suplementar em
a) três classes para cada cargo integrante das Carreiras, Extinção, sendo a remuneração corrigida de acordo com
identificadas pelas letras A, B e C; b) quinze referências, os reajustes gerais promovidos pelo Poder Judiciário.
identificadas por algarismos arábicos, distribuídas em 5 Os servidores que não desejarem ser incluídos nas
(cinco) referências por classe de cada cargo das Carreiras. Carreiras instituídas por esta Lei deverão, no prazo de
Além do vencimento e de outras vantagens previstas sessenta dias, contados de sua publicação, manifestar
opção pela permanência nos atuais cargos que ocupam,
LEGISLAÇÃO

em Lei, o servidor do Poder Judiciário poderá ainda per-


ceber: I - Adicional de Titulação, concedida ao servidor os quais integrarão o Quadro Suplementar em Extinção.
com graduação de nível superior, observada a relação O posicionamento na classe e referência salarial do
direta com o cargo que ocupa, em percentual calculado servidor enquadrado será vinculado ao vencimento
sobre o vencimentobase do referido cargo, nos seguintes atualmente percebido. Se, em decorrência da aplicação

13
do disposto no caput deste artigo, o servidor for alocado Resposta: Letra A. Segundo o artigo 93, caput e § 1º,
em referência de valor inferior ao que percebe atualmen- da Lei Estadual nº 5.810/1994, A critério da adminis-
te, será deslocado para classe e referência de valor igual tração, poderá ser concedida ao servidor estável, li-
ou imediatamente superior. Se, em decorrência da apli- cença para o trato de assuntos particulares, pelo prazo
cação no disposto no caput deste artigo, o vencimento de até 2 (dois) anos consecutivos, sem remuneração.
do servidor for superior ao estabelecido na última refe- Tal licença poderá ser interrompida, a qualquer tempo,
rência da carreira na qual deve ser enquadrado, receberá a pedido do servidor ou no interesse do serviço.
a diferença a título de vantagem pessoal, que deverá ser
absorvida em aumentos futuros, para que não se perpe-
tue a distorção (art. 36, caput e parágrafos).
Sobre a gestão do plano, compete à Secretaria de
Administração propor: a) modificações ou regulamentos
suplementares deste Plano; b) realização de Concurso
Público; c) execução de programas de desenvolvimento
de gestão de pessoas, em benefício dos servidores ocu-
pantes dos cargos e funções do Poder Judiciário.

EXERCÍCIO COMENTADO

(TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC – 2009) Atenção:


A questão, referem-se ao Regime Jurídico Único dos Ser-
vidores Públicos Civis − Lei n° 5.810/94.
Deoclécio, servidor público do Tribunal de Justiça do Pará
aposentado por invalidez, retornou à atividade porque
uma junta médica oficial declarou insubsistente os moti-
vos da sua aposentadoria. Neste caso, ocorreu a

a) reversão.
b) reintegração
c) redistribuição.
d) aproveitamento
e) readaptação.

Resposta: Letra A. Pelo caso narrado no enunciado, é


bem evidente que trata-se de hipótese de reversão. A
reversão ocorre quando o servidor aposentado por in-
validez recupera a sua capacidade laborativa, ou seja,
quando cessar a incapacidade que gerou a aposenta-
doria por invalidez.

(TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC – 2009) A crité-


rio da administração, poderá ser concedida ao servidor
estável, licença para o trato de assuntos particulares, pelo
prazo de até

a) dois anos consecutivos, sem remuneração, podendo a


licença ser interrompida a qualquer tempo a pedido
do servidor ou no interesse do serviço.
b) um ano consecutivo, sem remuneração, podendo a li-
cença ser interrompida a qualquer tempo a pedido do
servidor ou no interesse do serviço.
c) dois anos consecutivos, com remuneração, podendo
a licença ser interrompida a qualquer tempo a pedido
do servidor ou no interesse do serviço.
d) um ano consecutivo, com remuneração, podendo a
licença ser interrompida a qualquer tempo a pedido
LEGISLAÇÃO

do servidor ou no interesse do serviço.


e) seis meses consecutivos, com remuneração, sendo ve-
dada a concessão de nova licença antes de decorrido
três meses do término da anterior.

14
c) o prazo para Lúcio ou Caio fazerem a sustentação oral
será de 20 minutos, caso não haja outro prazo previsto
HORA DE PRATICAR! em lei.
d) o Ministério Público poderá obter, em decorrência da
1. (TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – CESPE – 2006) A solicitação de sustentação oral realizada por Lúcio e
Corregedoria de Justiça, dividida para efeito de jurisdi- Caio, prazo em dobro para também fazer sustentação
ção em Corregedoria de Justiça da Região Metropolitana oral.
de Belém e Corregedoria de Justiça das Comarcas do In-
terior do Estado, tem funções administrativas, de orien- 5. (TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – VUNESP – 2014)
tação, fiscalização e disciplinares, a serem exercidas por Em relação aos adicionais previstos pelo Regime Jurídico
dois desembargadores eleitos na forma da lei. Os corre- Único (Lei n.º 5.810/94), é correto afirmar que:
gedores de justiça serão auxiliados em suas tarefas por a) os adicionais de insalubridade, periculosidade, ou pelo
juízes corregedores, sendo dois para cada corregedoria, exercício em condições penosas são inacumuláveis.
e exercerão, por delegação, suas atribuições relativas aos b) o adicional por tempo de serviço será devido por qua-
juízes de direito e servidores da justiça. A respeito dos driênios de efetivo exercício, até o máximo de 16 (de-
juízes corregedores, assinale a opção correta. zesseis).
a) Os juízes corregedores, quando designados, não ficam c) não cabe pagamento de adicional pelo exercício de
desligados do exercício de suas varas. cargo em comissão ou função gratificada
b) Os juízes corregedores têm acrescida à remuneração d) o adicional de insalubridade que for pago por 5 (cinco)
dos seus cargos parcela remuneratória referente à anos consecutivos será incorporado aos vencimentos.
nova função para a qual foram designados. e) para fins de adicional por trabalho noturno, será as-
c) Ao final do mandato do corregedor-geral, os juízes sim considerado aquele prestado no horário entre 23
corregedores não ficam obrigados a reverterem ao (vinte e três) horas de um dia e 6 (seis) horas do dia
exercício de suas varas, sendo-lhes facultada a escolha seguinte.
de nova vara para servir.
d) Os juízes corregedores são escolhidos entre os juízes 6. (TJ-PA – AUXILIAR JUDICIÁRIO – FCC – 2009) Consi-
de direito de entrância final e designados pelo presi- dere as seguintes licenças:
dente do tribunal, ouvido o Conselho de Magistratura.
I. por motivo de doença em pessoa da família;
2. (TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC – 2009) Have- II. para o serviço militar e outras obrigações previstas
rá revisão, dentre outros processos, em lei;
a) nas apelações em processos de rito sumário. III. para tratar de interesse particular;
b) nas apelações em processos de despejo. IV. para atividade política ou classista, na forma da lei;
c) nos recursos em sentido estrito. V. por motivo de afastamento do cônjuge ou com-
d) nas revisões criminais. panheiro.
e) nos agravos de instrumento.
Ao servidor ocupante de cargo em comissão NÃO serão
3. (TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC – 2009) Os concedidas APENAS as licenças indicadas em:
advogados dos recorrentes poderão proferir sustentação a) II e V.
oral, dentre outros processos, nos: b) I, II e III.
a) reexames necessários. c) I, II e IV.
b) embargos infringentes. d) III, IV e V.
c) agravos regimentais. e) III e V.
d) agravos de instrumento.
e) conflitos de competência. 7. (TJ-PA – AUXILIAR JUDICIÁRIO – FCC – 2009) A ação
disciplinar prescreverá em:
4. (TJ-PA – ANALISTA JUDICIÁRIO – CESPE – 2006) An- a) três anos, quanto à cassação de aposentadoria.
tes do início de uma sessão do TJPA, o advogado Lúcio, b) três anos, quanto às infrações puníveis com demissão.
que residia no Rio de Janeiro e que fora contratado para c) dois anos, quanto à penalidade de suspensão.
atuar em um processo que tramitava no tribunal, solicitou d) noventa dias, quanto à penalidade de repreensão.
preferência de julgamento, pois desejava fazer sustenta- e) seis meses, quanto à penalidade de repreensão.
ção oral. Porém, o advogado Caio, que residia em Belém,
já havia solicitado a preferência de julgamento, também 8. (TJ-PA – AUXILIAR JUDICIÁRIO FISCAL DE ARRE-
por desejar proferir sustentação oral. Nessa situação, CADAÇÃO – FCC – 2009) A critério da administração,
a) Lúcio pode ter concedida a preferência em prejuízo de poderá ser concedida ao servidor estável, licença para o
Caio, pelo simples fato de residir em local diverso da trato de assuntos particulares, pelo prazo de até:
sede do TJPA. a) seis meses consecutivos, com remuneração, sendo ve-
b) nem Lúcio nem Caio podem pedir preferência de jul- dada a concessão de nova licença antes de decorrido
LEGISLAÇÃO

gamento, pois ambos desejam fazer sustentação oral, três meses do término da anterior.
o que causará demora no julgamento dos seus pro- b) dois anos consecutivos, sem remuneração, podendo
cessos. a licença ser interrompida a qualquer tempo a pedido
do servidor ou no interesse do serviço.

15
c) um ano consecutivo, sem remuneração, podendo a li-
cença ser interrompida a qualquer tempo a pedido do
servidor ou no interesse do serviço. GABARITO
d) dois anos consecutivos, com remuneração, podendo
a licença ser interrompida a qualquer tempo a pedido
1. D
do servidor ou no interesse do serviço.
e) um ano consecutivo, com remuneração, podendo a li- 2. D
cença ser interrompida a qualquer tempo a pedido do
servidor ou no interesse do serviço. 3. B

9. (TJ-PA – AUXILIAR JUDICIÁRIO FISCAL DE ARRE- 4. A


CADAÇÃO – FCC – 2009) NÃO se considera como de
efetivo exercício, para todos os fins, o afastamento de- 5. A
corrente de: 6. D
a) faltas abonadas, até no máximo de cinco ao mês.
b) licença por motivo de doença em pessoa da família. 7. C
c) casamento, até no máximo oito dias.
d) férias. 8. B
e) desempenho de mandato classista.
9. A
10. (TJ-PA – AUXILIAR JUDICIÁRIO FISCAL DE ARRE-
10. C
CADAÇÃO – FCC – 2009) Considere as assertivas abaixo
a respeito da ajuda de custo. 11. A
I. Não será concedida ajuda de custo ao servidor que
afastar-se do cargo ou reassumi-lo em virtude do 12. B
exercício ou término de mandato eletivo.
II. Não será concedida ajuda de custo ao servidor que
for colocado à disposição de outro Poder, ou esfe-
ra de Governo.
III. À família do servidor que falecer na nova sede,
serão assegurados ajuda de custo para a locali-
dade de origem, dentro do prazo de seis meses,
contado do óbito.
IV. Caberá ajuda de custo ao servidor designado para
serviço ou estudo no exterior, a qual será arbitrada
pela autoridade que efetuar a designação.

É correto o que se afirma APENAS em:


a) II e III.
b) I e III.
c) I, II e IV.
d) I e IV.
e) II e IV.

11. (TJ-PA – AUXILIAR JUDICIÁRIO – VUNESP – 2014)


O conjunto de categorias funcionais da mesma natureza,
escalonadas segundo a escolaridade, o nível de comple-
xidade e o grau de responsabilidade, é denominado, pelo
o Regime Jurídico Único (Lei n.º 5.810/94):
a) grupo ocupacional.
b) classe de funções.
c) cargo público.
d) quadro de cargos.
e) categoria funcional.

12. (TJ-PA – AUXILIAR JUDICIÁRIO – VUNESP – 2014)


Conforme previsto na Lei n.º 5.810/94, o servidor que pra-
ticar atos de lesão aos cofres públicos e dilapidação do
patrimônio estadual ficará sujeito à aplicação da pena de:
a) suspensão.
LEGISLAÇÃO

b) demissão a bem do serviço público.


c) multa.
d) ressarcimento ao erário.
e) repreensão.

16
ÍNDICE

ATUALIDADES

Tópicos relevantes e atuais de diversas áreas, tais como segurança, transportes, política, economia, sociedade,
educação, saúde, cultura, tecnologia, energia, relações internacionais, desenvolvimento sustentável e ecologia, suas
inter-relações e suas vinculações históricas...................................................................................................................................................... 01
QUESTÕES POLÍTICAS
TÓPICOS RELEVANTES E ATUAIS
DE DIVERSAS ÁREAS, TAIS COMO JAIR BOLSONARO FOI EMPOSSADO NOSSO NOVO
SEGURANÇA, TRANSPORTES, POLÍTICA, PRESIDENTE
ECONOMIA, SOCIEDADE, EDUCAÇÃO,
O mês de janeiro de 2019, teve seu início com a posse
SAÚDE, CULTURA, TECNOLOGIA, do novo Presidente da república, Jair Bolsonaro. Bolso-
ENERGIA, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, naro, foi o 38° presidente do Brasil e executará o man-
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E dando entre 2019 e 2022. Vale lembrar que o Presidente
ECOLOGIA, SUAS INTER-RELAÇÕES E foi eleito com a maior diferença percentual de votos des-
SUAS VINCULAÇÕES HISTÓRICAS. de 2010.
Bolsonaro chegou à Presidência conquistando 55,13%
dos votos válidos, contra 44,87% de Fernando Haddad
PANORAMA GERAL (PT). A última vez em que essa diferença foi maior acon-
teceu em 2010, quando Dilma Rousseff (PT) superou José
Ao pensarmos em atualidades, devemos sempre bus- Serra (PSDB), conquistando 56,05%.
car uma contextualização do assunto abordado, uma vez O presidente discursou por cerca de 10 minutos em
que as bases históricas que levaram o homem aos re- sua posse e ressaltou pontos mais radicais da retórica
feridos eventos são vitais para compreender os estudos que o elegeu presidente, como o porte de armas, o com-
sobre as atualidades do Brasil e no Mundo Deste modo, é bate ao “socialismo” e “ideologias que destroem nossas
preciso analisar as relações sociais, políticas, econômicas famílias” e prometeu acabar com o “viés ideológico” das
e culturais. Entretanto, é necessário lembrar que muitos relações internacionais do Brasil. Ademais, o Presidente
conteúdos passaram por idas e vindas, logo, é importan- afirmou que sua missão é livrar o país da corrupção e da
tíssimo você averiguar os acontecimentos e suas permu- submissão ideológica.
tações. Entre os diversos fatores inéditos, destacam-se as no-
Para prestar qualquer tipo de concurso que tenha em vas regras sobre financiamento de campanha e o uso de
seu edital o tema atualidades, é necessário estar bem in- meios digitais e redes sociais, principalmente, em relação
formado, afinal, as bancas examinadoras estão trazendo à disseminação e controle de fake news.
temas cada vez mais atuais. Assim, busque atualização Se em primeira análise esse contexto pode passar a
sobre os temas, pois pode ocorrer uma tramitação bem mensagem de que o papel da comunicação na campa-
próxima a sua prova e as bancas gostam de cobrar ex- nha foi diminuído, principalmente pela redução nas ver-
ceções. bas e tempo de TV, para muitos analistas o marketing
político sai fortalecido do processo ao utilizar poucos
FACILITANDO O ESTUDO ativos tradicionais da comunicação, justamente por ter
ajudado a construir a candidatura de Bolsonaro.
Quando for começar seus estudos sobre atualidades,
é preciso ter um pouco mais de atenção. Existem mui-
tas variações entre os conteúdos referentes ao Brasil e o #FicaDica
Mundo e é muito comum os eventos dialogarem entre si.
Quando for iniciar seus estudos, organize de forma Assim, impossibilitado de ir às ruas após um
cronológica cada um dos eventos. Isso vai facilitar sua ataque ocorrido em 6 de setembro, Jair Bol-
compreensão em de todos os eventos abordados. Entre- sonaro fez entradas ao vivo pelo YouTube e
tanto, além dessa periodização, alguns outros aspectos outras mídias sociais. Essas estratégias polí-
podem facilitar seus estudos. Desta forma, muita atenção ticas realizadas pelo PSL e Bolsonaro fizeram
aos tópicos a seguir: com que o marketing ganhasse projeção e
apoio da população. Fato esse que fez dele
• Evitar análises em cima de suas próprias ideologias; o 38° Presidente do Brasil.
• Realizar atualizações é vital para fixar atualidades;
• Buscar um panorama pré e pós-evento;
• Fazer relações entre eventos;
• Construir esquematizações.
EXERCÍCIO COMENTADO

FIQUE ATENTO! 1. (NOVA CONCURSOS – 2019) A eleição de Jair Bolso-


Em conteúdos recorrentes nas mídias nacio- naro entrou para a História política do Brasil, pois rece-
nais em 2019, muitos foram os eventos ga- beu um dos menores percentuais de votos das últimas
nharam repercussão, porém, alguns temas eleições do Brasil. O que mostra que ele não tem uma
ATUALIDADES

ganham mais ênfase. Abordaremos os mais boa popularidade.


intensos em esfera nacional. A partir das ideias expressas no fragmento textual acima,
a respeito da eleição do Jair Bolsonaro, julgue o item.

(   ) CERTO                (   ) ERRADO

1
Resposta: Errado. O item está incorreto, pois Bolso- deputado federal e afirmou que a Polícia Federal abriu
naro chegou à Presidência conquistando 55,13% dos inquéritos ao longo de 2017 e 2018 para apurar as ofen-
votos válidos, contra 44,87% de Fernando Haddad sas e ameaças contra o parlamentar.
(PT). A última vez em que essa diferença foi maior
aconteceu em 2010, quando Dilma Rousseff (PT) su- MINISTRO BEBIANO FOI DEMITIDO
perou José Serra (PSDB), conquistando 56,05%. Des-
ta forma, ele conseguiu uma porcentagem maior que No dia 18 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro
outras eleições anteriores dos últimos anos. (PSL) demitiu o ministro da Secretaria-geral da Presidên-
cia, Gustavo Bebiano. O cargo foi assumido pelo secretá-
rio-executivo da pasta, general Floriano Peixoto.
JUAN GUAIDÓ COMO PRESIDENTE INTERINO NA A demissão ocorreu depois que reportagens da Fo-
VENEZUELA lha de São Paulo apresentaram que Bebiano, quando era
presidente do PSL, durante a campanha eleitoral teria
Maduro havia se reelegido em maio do ano passado
autorizado o repasse de verbas do fundo partidário para
presidente do país, em uma votação com denúncias de
uma candidata “laranja”, em Pernambuco, com o suposto
fraudes a favor do governo, boicotado pela oposição e
apoio de Luciano Bivar, atual presidente da sigla.
não reconhecida pelos EUA, União Europeia e Brasil. En-
tão Guaidó assumiu o posto até a organização de novas
eleições. VENEZUELA VOLTA À CENA
Ainda em janeiro, Juan Guaidó chegou a ser preso
pela polícia política do país mas foi rapidamente sol- A crise na Venezuela teve novos episódios no mês de
to. Além dele, jornalistas também foram detidos perto da maio. Ainda no final de abril, Juan Guaidó afirmou ter
sede presidencial. Dois deles, que são venezuelanos, fo- apoio de militares e pediu para que a população fosse às
ram liberados após 10 horas. Os profissionais cobriam a ruas contra o governo de Nicolás Maduro. Parte da po-
vigília em defesa do presidente Nicolás Maduro, convo- pulação atendeu o pedido, mas foi contida pela Guarda
cada pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e Nacional da Venezuela, que inclusive atropelou manifes-
que não teve muita adesão. tantes.
Maduro cedeu entrevistas afirmando estar disposto a O clima na Venezuela ficou mais tenso ao ponto de
conversar com Guaidó sobre o impasse no que diz res- serem veiculadas notícias sobre uma suposta interven-
peito à Presidência do país e criticou o que chamou de ção dos Estados Unidos, com o apoio do Brasil e outros
interferência estrangeira sobre o cargo de maior impor- países. O Governo de Maduro, que conta com o apoio
tância do país. Mas a ideia de novas eleições é totalmen- da Rússia, acusa os EUA de tentar roubar as reservas de
te rechaçada por Maduro. petróleo. No meio dessa disputa, a crise humanitária na
Venezuela se acentua.
No final de maio, representantes de Maduro e Guaidó
FIQUE ATENTO! se encontram na Noruega para dialogarem sobre uma
Janeiro foi marcado por inúmeros conflitos possível saída para a situação. O primeiro encontro ter-
na Venezuela. O deputado Juan Guaidó, minou com nenhum acordo.
presidente da Assembleia Nacional da Ve-
nezuela, se declarou presidente interino do
país, um dia após o então presidente Ni- #FicaDica
colás Maduro tomar posse para iniciar o
novo mandato.  Após o anúncio do governo da Venezuela, a
prefeitura de Pacaraima, no estado de Rorai-
ma, confirmou, na tarde de sexta-feira, dia
A RENÚNCIA POLÍTICA DO DEPUTADO FEDERAL 11 de maio, a reabertura da fronteira com
JEAN WYLLYS o país vizinho, que começou a vigorar por
volta do meio-dia. O tráfego de carros era
Logo no início de 2019, o Deputado Federal Jean intenso na BR 174, rodovia federal que dá
Wyllys, do PSOL-RJ, que foi reeleito pela terceira vez acesso à Venezuela. Deste modo, a preocu-
consecutiva com 24.295 votos, comunicou que decidiu pação agora é com o aumento de fluxo de
abrir mão do seu mandato e viver fora do Brasil, por estar venezuelanos.
recebendo ameaças de morte. A decisão foi anunciada
em carta ao PSOL. Ele citou no comunicado o assassinato
da vereadora Marielle Franco e relatou o aumento nas
ameaças que recebe.
ATUALIDADES

Sendo assim, entre as provas já enviadas pelo de-


putado à Comissão Interamericana estão avisos de “sua
hora vai chegar. Falta pouco “viadinho”. Sai fora do Brasil
enquanto dá tempo. Lixo escroto”. Portanto, o Ministério
da Justiça e Segurança Pública lamentou a decisão do

2
RENÚNCIA DA PRIMEIRA-MINISTRA DO REINO
UNIDO
EXERCÍCIOS COMENTADOS
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May,
1. (BRASIL ESCOLA) Sobre a chegada e o recebimento anunciou que renunciará no dia 7 de junho. A decisão
dos imigrantes venezuelanos por parte do Brasil, assinale foi tomada por não conseguir conduzir o Reino Unido
a alternativa incorreta: para fora da União Europeia, três anos após do referendo
sobre o Brexit. Antes de May, seu antecessor, David Ca-
a) O Brasil não tem capacidade de absorver o número meron, renunciou por não concordar com a saída.
de imigrantes que aqui se estabeleceram, visto que já A maioria dos britânicos votou pela saída do Reino
foi ultrapassada a marca de 4% de imigrantes em solo Unido da União Europeia, em um referendo marcado por
brasileiro. manipulação de dados na internet. No entanto, empresas
b) O estado de Roraima é a porta de entrada dos imi- temem que a saída abalaria a economia do país, que hoje
grantes no Brasil e é, por isso, o estado mais afetado é a quinta maior do mundo. O Parlamento britânico tam-
pelo intenso fluxo de venezuelanos que lá se instala- bém é contra a saída. O Partido Conservador, que apoiou
ram. o Brexit, terá que definir um substituto para May e en-
c) Muitos conflitos e ataques aos venezuelanos já foram contrar uma solução para a situação. Até a antecipação
registrados no Brasil, configurando xenofobia (aversão das eleições é cogitada. 
ou discriminação à pessoa estrangeira). A primeira-ministra da Grã-Bretanha, Theresa May, é
d) Faltam, por parte do governo brasileiro, políticas in- considerada por muitos uma nova “Dama de Ferro”, que
tegradoras que acolham os imigrantes e os insiram à terá pela frente o desafio conduzir a saída do Reino Uni-
sociedade. do da União Europeia, e unir um partido e um país pro-
fundamente divididos pelo Brexit. A tarefa é gigantesca,
Resposta: Letra A. O Brasil possui capacidade para mas Theresa May, segunda mulher a assumir o poder
absorver o número de imigrantes venezuelanos, visto após Margaret Thatcher, acabou por se destacar como a
que representam apenas 1% da população do Bra- única capaz de gerar consenso, provocando tranquilida-
sil, número abaixo da média mundial de 3%. Porém, de graças à sua competência e seriedade.
o estado de Roraima não possui essa capacidade de Entretanto, apesar de ser eurocética por convicção,
absorção, fato que tem gerado sobrecarga em seus decidiu manter-se fiel ao primeiro-ministro David Came-
serviços públicos. ron, que renunciou, e defender a permanência do país
na União Europeia (UE). Mas, se ela se limitou a advogar
2. (BRASIL ESCOLA) Assinale a opção que apresenta o pela causa o mínimo necessário, continuou, por outro
estado brasileiro mais afetado pela imigração venezue- lado, a insistir sobre a necessidade de reduzir a imigra-
lana: ção, um tema caro aos que defendem a saída do país do
bloco dos 28, tornando-se alguém bem vista para ambos
a) Acre os grupos.
b) Roraima Portanto, na manhã do 07 de junho de 2019, deixou
c) Rondônia a liderança do Partido Conservador, Theresa May dei-
d) Amazonas xou seu cargo de líder do partido, por conta das com-
plicações referentes ao Brexit. Entretanto, ela permane-
Resposta: Letra B. Roraima é o estado brasileiro fron- ce, como primeira-ministra do Reino Unido até que seu
teiriço mais afetado pela imigração venezuelana, visto sucessor seja eleito, o que deve acontecer na segunda
que é o local de entrada dos imigrantes em território quinzena de julho.
brasileiro. Deste modo, membros de seu se inscreveram para
concorrer à liderança e, consequentemente, ao cargo de
premiê, já que o Partido Conservador ocupa a maioria na
Câmara dos Comuns.
BOLSONARO PUBLICA CONTEÚDO SEXUAL EM Deste modo, o ex-chanceler britânico Boris Johnson
REDE SOCIAL e o atual, Jeremy Hunt, serão os dois candidatos entre
os quais os membros do Partido Conservador britânico
O presidente Jair Bolsonaro publicou um vídeo com elegerão o sucessor da primeira-ministra Theresa May,
conteúdo sexual e escatológico em sua conta no Twitter, anunciou o partido na quinta-feira dia 20 de junho de
em 5 de março, ligando a publicação ao que conside- 2019.
rou como retrato do Carnaval brasileiro com a seguinte
opinião “É isto que tem virado muitos blocos de rua no
carnaval brasileiro”. 
A publicação e a relação que o presidente fez de
ATUALIDADES

um ato isolado com o Carnaval foram fatos que gera-


ram diferentes reações nas redes sociais. Grande parte
da população pediu o impeachment de Bolsonaro pela
exposição do conteúdo em uma rede oficial, enquanto
apoiadores defenderam a postura do presidente. 

3
armas com potência suficiente para explodir o planeta
#FicaDica inteiro. Os EUA assumiram a liderança do chamado mun-
do capitalista livre e a URSS, do mundo comunista. 
Johnson, grande favorito na corrida pela li-
derança do partido e pelo posto de chefe de
governo, obteve 160 votos dos 313 deputa- FIQUE ATENTO!
dos que deveriam decidir os dois finalistas. Contudo, não caia em pegadinhas! Mes-
Hunt conquistou 77 apoios e o ministro do mo com essa formatação bipolar, o mundo
Meio Ambiente, Michael Gove, foi eliminado econômico mundial reside em uma esfera
com 75 votos. Unimultipolar, no qual temos vários polos
econômicos, embora os EUA tenha o pre-
A INSTABILIDADE NO MEC, DEMISSÕES E POLÊ- domínio militar frente aos demais país mun-
MICAS diais.

Os primeiros meses do Ministério da Educação (MEC)


sob comando do ministro Ricardo Vélez Rodríguez estão CRISE NO GOVERNO BOLSONARO
sendo marcados por demissões em sua equipe, instabili-
dade, além de idas e vindas em tomadas de decisões. En- Além das manifestações, o Governo também enfren-
tre as baixas do mês de março estiveram o presidente do ta pressão pela aprovação da Reforma da Previdência,
Inep, Marcus Vinícius Rodrigues; Tania Leme de Almeida, queda do PIB - Produto Interno Bruto e investigação de
secretária de Educação Básica; Luiz Antônio Tozi, secretá- corrupção envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, filho
rio-executivo; Lolene Lima, secretária-executiva escolhi- do presidente.
da para o lugar de Tozi; Ricardo Roquetti, assessor.  O MP – Ministério Público, apontou indícios de um
O Inep suspendeu a avaliação da alfabetização para esquema no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele
este ano, transferindo a análise para 2021. A decisão pe- era deputado estadual, para desviar recursos públicos. A
gou de surpresa a secretária de Educação Básica, Tania suspeita é de que Flávio desviava dinheiro por meio de
Leme de Almeida, que pediu demissão após alegar que transações imobiliárias. Sendo assim, a investigação já
não foi consultada sobre a medida. No dia seguinte, Vé- alcança 3 imóveis. O ex-assessor de Flávio, Fabrício Quei-
lez revogou a portaria e manteve a avaliação para 2019, roz, também está sendo investigado.
além de alegar desconhecimento prévio da suspensão, Ademais, o PIB do país caiu 0,2% de janeiro a mar-
fato que resultou na demissão do presidente do Inep, ço em relação ao último trimestre de 2018. Foi o primeiro
Marcus Vinícius Rodrigues.  resultado negativo desde o final de 2016. Os números
Ainda no Inep, uma comissão inédita foi nomeada contrariam a expectativa que se deu com a eleição de
para analisar questões do Banco Nacional de Itens do Jair Bolsonaro. Com isso, a projeção do PIB para 2019
Enem. A medida foi vista por educadores como censura. segue caindo e, atualmente, está em 1,23%. O Governo
No entanto, como o presidente do Inep foi demitido, não não consegue encontrar soluções para criar empregos e
se sabe se a comissão vai, de fato, funcionar. fazer a economia crescer. Além disso, a Reforma Traba-
lhista promovida no Governo Temer também não gerou
NOVA “GUERRA FRIA” empregos.

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, que G-20 no Japão


também está sendo chamada de Nova Guerra Fria, ga-
nhou novos capítulos em maio. Donald Trump aprovou Entre os dias 28 e 29 de junho, as 19 principais econo-
medidas para dificultar negócios entre a gigante chinesa mias do mundo se reuniram no Japão para a 14ª Reunião
de tecnologia Huawei e empresas americanas. Os dois de Cúpula do G-20. No pronunciando final, alguns líderes
países travam uma “guerra” pelo controle de dados. A dos países participantes pronunciaram a favor do livre-
Huawei lidera a adoção da tecnologia 5G no mundo e -comércio, em uma clara mensagem ao protecionismo
promete revolucionar as conexões de internet. É também de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. 
uma das maiores fabricantes de smartphones do planeta.
No entanto, ela depende de componentes de tecnologia
americana.
A Guerra Fria foi uma disputa pela superioridade
mundial entre Estados Unidos e União Soviética após
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É chamada de
Guerra Fria por ser uma intensa guerra econômica, di-
plomática e ideológica travada pela conquista de zonas
de influência. 
ATUALIDADES

A disputa dividiu o mundo em blocos de influência


das duas superpotências e provocou uma corrida arma-
mentista que se estendeu por 40 anos. Com sistemas
econômicos e políticos diferentes, EUA e URSS colocaram
o mundo sob a ameaça de uma guerra nuclear, criando

4
#FicaDica FIQUE ATENTO!
O estopim para a nova rodada da guerra
Desta forma, os representantes do G-20 comercial ocorreu em 5 de maio, quando o
também fecharam um pacto contra mudan- presidente norte-americano, Donald Trump,
ças climáticas, o 19+1. O Estados Unidos, anunciou que os EUA iriam aumentar para
que saiu do Acordo de paris, se recusou a 25% as tarifas de importação sore US$200
assinar o pacto. Outros temas discutidos bilhões em produtos chineses. Logo, a res-
foram os crimes e terrorismo digitais, desi- posta da China veio com o anúncio de que
gualdade de gênero e sistemas de impostos. o governo chinês planeja impor tarifas sobre
Portanto, um inédito acordo de livre-comér- US$60 bilhões em produtos dos EUA.
cio também fechado entre a União Europeia
e o Mercosul. Para fechar o acordo, o Brasil
teve que afirmar que não sairá do Acordo de CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Paris.
O ECLIPSE LUNAR

FOI ANUNCIADO UMA TRÉGUA ENTRE CHINA E No mês de janeiro de 2019, contou com o 1º fenôme-
EUA AO FINAL DE REUNIÃO DO G-20 NO JAPÃO no astronômico do ano: o eclipse lunar, que teve início
durante a madrugada e pôde ser visto por aqueles que o
No final do encontro do G-20, os presidentes dos Es- aguardavam. A fase da umbra, quando a sombra do Sol
tados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, con- começa a ser observada na Lua, teve início à 01h33 e às
cordaram em Osaka, no Japão, em retomar negociações 03h12, o satélite atingiu a fase total máxima.
comerciais após uma reunião bilateral, que ocorreu no
último dia do encontro de cúpula do G-20, grupo dos PRIMEIRA IMAGEM REAL DE UM BURACO NEGRO
países mais ricos, mais a União Europeia.
Donald Trump afirmou: “Tivemos uma reunião muito A primeira imagem de um buraco negro no univer-
boa com o presidente chinês Xi. Eu diria que excelente”. so foi divulgada no dia 10 de abril. A descoberta foi do
A agência de notícias chinesa Xinhua informou que as telescópio Event Horizon, que é uma colaboração inter-
negociações, interrompidas em maio, serão retomadas nacional responsável por criar uma espécie de telescó-
e que Washington desistiu da ameaça de impor novas pio virtual que combinava comprimentos de onda de
tarifas de importação que teriam afetado 500 bilhões de diversos telescópios pelo globo. Foram envolvidos 200
dólares em produtos chineses importados. pesquisadores e oito telescópios de rádio interligados
Deste modo, Trump disse: “Estamos de volta aos tri- durante todo o projeto com o objetivo de capturar a ima-
lhos e vamos ver o que acontece”, depois de uma reunião gem do buraco negro.
de 80 minutos com o presidente chinês. Considera-se como um buraco negro uma região do
Sendo assim, a trégua é similar a uma que foi decla- espaço que exibe efeitos gravitacionais tão fortes de suc-
rada pelos dois presidentes na cúpula do G-20 do ano ção que impossibilitam que qualquer coisa possa escapar
passado em Buenos Aires, embora meses depois a guer- de dentro dele. Por muitas vezes os buracos negros eram
ra comercial tenha recomeçado. Trump disse que, em- retratados em imagens ou animações, mas esta foi a pri-
bora não pretenda suspender as tarifas de importação meira vez que uma imagem real foi captada.
existentes, ele vai evitar impor novas cobranças em bens
chineses adicionais. BRASILEIRO FAZ DOIS PARAPLÉGICOS ANDAREM
“Estamos segurando as tarifas e eles comprarão pro-
dutos agrícolas”, disse, sem dar detalhes sobre compras O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis liderou
futuras de produtos agrícolas pela China. “Se chegarmos uma pesquisa que levou dois paraplégicos a caminha-
a um acordo, será um evento muito histórico”, afirmou. rem. O feito foi conseguido por meio de um novo dispo-
Portanto, o presidente dos Estados Unidos não esta- sitivo de estimulação muscular e de uma interface cére-
beleceu um cronograma para o que chamou de acordo bro-máquina. 
complexo, mas disse que não estava com pressa. “Quero O brasileiro Miguel Nicolelis elaborou os estudos a
fazer direito”, disse. partir de várias abordagens que combinaram o desen-
A guerra comercial entre Estados Unidos e China volvimento de um novo dispositivo de estimulação mus-
ganhou novos contornos neste mês. As duas maiores cular e uma interface cérebro-máquina. Com o trabalho,
economias do mundo voltaram a subir as tarifas de im- os dois pacientes que apresentavam paraplegia crônica
portação, levando mais uma onda de preocupação aos “foram capazes de caminhar com segurança apoiados
principais mercados financeiros mundiais. em 70% do peso do próprio corpo, acumulando ao todo
Deste modo, o temor é de que a guerra comercial
4.580 passos”, como explicam os cientistas no estudo.
prejudique ainda mais o desempenho da atividade eco-
ATUALIDADES

nômica global. O Fundo Monetário Internacional (FMI)


projeta que mundo deve crescer 3,3% neste ano, mar-
cando mais uma desaceleração. Em 2018, a economia
global cresceu 3,6%. Há dois anos, o Produto Interno
Bruto (PIB) do mundo avançou 3,8%.

5
b) Ajudar a criar condições nos países de origem para o
#FicaDica regresso dos refugiados, garantidas as circunstâncias
de segurança e dignidade.
Durante a apresentação, Nicolelis aprovei- c) Concentrar o maior número possível de refugiados em
tou a oportunidade para fazer uma crítica poucos países, para melhor atender às suas deman-
aos cortes nas universidades federais brasi- das.
leiras. “Aqui novamente as imagens de um d) Dar aos refugiados o mínimo necessário para a so-
feito histórico da balbúrdia da ciência brasi- brevivência, de forma a não incentivar novos fluxos
leira!”, referindo-se à declaração do ministro migratórios.
da Educação, Abraham Weintraub. e) Conter os refugiados nos países do entorno do país
de origem, com o objetivo de facilitar o retorno assim
que possível.
QUESTÕES SOCIAIS
Resposta: Letra B. O Pacto Global para Migração Se-
BRASIL SAINDO DO PACTO DE MIGRAÇÃO gura, Ordenada e Regular (GCM), conhecido como
Pacto Global de Migração da ONU, é basicamente
O novo governo de Jair Bolsonaro comunicou, por um conjunto de diretrizes visando a colaboração em
meio do Ministério de Relações Internacionais, a saída do
questões migratórias. Não vinculante (sem caráter de
Brasil do Pacto Global para a Migração da Organização
lei), permite que os signatários continuem responsá-
das Nações Unidas (ONU). O país tinha aderido em de-
zembro, no final do governo de Michel Temer. Conhecido veis por suas próprias políticas de imigração, mas au-
como Pacto Global de Migração da ONU, é o conjunto mentem a cooperação internacional sobre o tema.
de diretrizes visando a colaboração em questões migra-
tórias, permitindo que os signatários continuem respon-
sáveis por suas próprias políticas de imigração, mas au-
mentem a cooperação internacional a cerca deste tema. MENINO VESTE AZUL E MENINA VESTE ROSA
Participaram da negociação no âmbito da ONU 193
países. Contudo, 164 assinaram o documento, incluindo O mandato começou com a redução de ministérios,
o Brasil, mas o governo Bolsonaro anunciou sua retirada declarações incômodas por parte da ministra Damares
do pacto. Também recusaram os EUA, Hungria, Itália, Po- Alves e do antigo ministro da Educação Ricardo Velez,
lônia, Chile e Austrália. este último que já foi demitido. Damares assumiu o car-
go de ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, e
FIQUE ATENTO! causou polêmica ao afirmar em vídeo que circulou pe-
O Pacto Global para Migração Segura, Or- las redes sociais que “menino veste azul e menina veste
denada e Regular (GCM), conhecido como rosa”.
Pacto Global de Migração da ONU, é basica- Desta forma, a declaração causou revolta e mobilizou
mente um conjunto de diretrizes que bus- as redes sociais. Muitos pensamentos foram contrários
cam a colaboração em questões migratórias. ao da ministra, inclusive, muitas celebridades tomaram
Não vinculante (sem caráter de lei), permite partido repudiando a afirmação, afinal, esse discurso foi
que os signatários continuem responsáveis extremamente preconceituoso.
por suas próprias políticas de imigração, Damares é educadora, advogada e evangélica, em
mas aumentem a cooperação internacional seu discurso de posse também usou os dizeres: “o Esta-
sobre o tema. do é laico, mas está ministra é terrivelmente cristã”. Essa
fala também gerou bastante revolta na população, além
de uma grande repercussão internacional.

O Brasil é oficialmente um Estado Laico, pois a Consti-


EXERCÍCIOS COMENTADOS tuição Brasileira e outras legislações preveem a liberdade
de crença religiosa aos cidadãos, além de proteção e res-
1. (VUNESP – 2019) As Nações Unidas aprovaram o Pacto peito às manifestações religiosas.
Global sobre refugiados. Ao todo, 181 países votaram a Sendo assim, no artigo 5º da Constituição Brasileira
favor do documento, enquanto Estados Unidos e Hungria (1988) está escrito:
foram contrários. Coordenado pelo Alto Comissariado da “VI - é inviolável a liberdade de consciência e de cren-
ONU para os Refugiados (Acnur), com sede em Genebra,
ça, sendo assegurado o livre exercício dos cultos re-
o Pacto Global sobre refugiados, aprovado ontem (17 de
ligiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
dezembro), procura promover a resposta internacional
adequada aos fluxos em massa e situações prolongadas locais de culto e a suas liturgias.”
de refugiados. Entretanto, a laicidade do Estado pressupõe a não
ATUALIDADES

Agência Brasil. Adaptado. intervenção da Igreja no Estado, contudo, um aspecto


que contraria essa postura é o ensino religioso nas es-
a) Garantir aos refugiados os direitos de ampla cidadania colas públicas brasileiras. Nos países que não são laicos
nos países que os acolheram, incluindo direitos polí- (teocráticos), a religião exerce o seu controle político na
ticos e sociais. definição das ações governativas. Nos países teocráticos,

6
o sistema de governo está sujeito a uma religião oficial. Avalie as afirmações acima e marque a opção que corres-
Alguns exemplos de nações teocráticas são: Vaticano ponda, na devida ordem, ao acerto de cada uma:
(Igreja Católica), Irã (República Islâmica) e Israel (Estado
Judeu). a) 1, 2, 3
b) 1, 3, 2
c) 2, 1, 3
FIQUE ATENTO! d) 2, 3, 1
Existe também o conceito de Estado Confes- e) 3, 1, 2
sional, em que o Estado reconhece uma de-
terminada religião como sendo a oficial da Resposta: Letra D. O Estado laico, também conhecido
nação. Apesar disso, não se deve confundir como Estado Secular, distingue-se do ateu, uma vez
Estado Teocrático com Estado Confessional. que no segundo é professado o ateísmo e, em muitos
No primeiro caso, é a religião que define o casos, há imposição da “não crença”. O Estado laico,
rumo do país. Já no segundo, a religião não ao contrário, mantém distanciamento e neutralidade
é tão importante como no primeiro, mas em relação a quaisquer manifestações de crença ou
ainda assim tem muito mais influência do “não crença”.
que em um Estado laico.

QUESTÃO INDÍGENA NO BRASIL É UM CASO À


PARTE
EXERCÍCIOS COMENTADOS A demarcação de terras estabelece as condições
ideais de justiça e sustentabilidade social, além de impe-
1. (BRASIL ESCOLA) A respeito do conceito de “Estado dir invasões e valorizar a cultura dos povos indígenas no
laico”, avalie as proposições a seguir e assinale a alterna- Brasil. Também é importante por combater o desfloresta-
tiva incorreta. mento e contribuir na preservação das espécies da fauna
e da flora local. A Funai (Fundação Nacional do Índio), era
a) O posicionamento de um Estado frente às manifesta- a responsável por essas funções de identificação, delimi-
ções religiosas é o que caracteriza um Estado como tação e demarcação de terras indígenas.
laico ou religioso. No entanto, em 2019, já nos primeiros dias do gover-
b) O conceito de Estado laico subentende a neutralidade no de Jair Bolsonaro, as principais funções do órgão fo-
desse Estado em matéria confessional. ram esvaziadas e passadas ao Ministério da Agricultura,
c) A base do Estado laico é a não adoção de nenhuma Pecuária e Abastecimento. Posteriormente, o presidente
religião como oficial e a manutenção de equidistância defendeu a exploração mineral e agrícola dentro das re-
entre os cultos. servas indígenas e anunciou, ainda, que esse órgão agora
está submetido ao Ministério da Mulher, Família e Direi-
d) O acolhimento de todas as religiões e credos, sem
tos Humanos, e não mais ao Ministério da Justiça.
nenhuma distinção, por parte do Estado caracteriza-o
Portanto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
como laico.
tecimento, agora, é responsável por gerenciar a política
e) A neutralidade do Estado laico não significa aversão às
indigenista no Brasil.
religiões. Há estados considerados laicos que incenti- A História dos Indígenas no Brasil antecede o proces-
vam a religiosidade, embora não a adotem. so de colonização. Assim, os povos indígenas têm muito
a ensinar sobre uma relação harmoniosa entre o homem
Resposta: Letra D. A marca do Estado laico é o dis- e a natureza. No Brasil, após mais de quatro séculos de
tanciamento e a neutralidade em relação às religiões. expropriação, tortura e escorraçamento, esse povo al-
A laicidade é ferida quando o Estado acolhe uma ou cançou o direito de habitar áreas demarcadas e protegi-
todas as religiões existentes no território sob o domí- das por lei. Assim, hoje temos as chamadas de Terras ou
nio desse Estado. Reservas Indígenas.

2. (BRASIL ESCOLA – 2019) Faça a correspondência cor-


retamente:

(1) Estado laico


(2) Estado religioso
(3) Estado ateu
ATUALIDADES

a) ( ) Pode ocorrer de forma orgânica ou subjetiva.


b) ( ) Rejeita todos os credos em favor da “não crença.”.
c) ( ) É também conhecido como Estado Secular.

7
( ) IV. No Brasil, existem aproximadamente 544 terras
#FicaDica indígenas, segundo a Funai, estando a maior parte na
Amazônia Legal.
Para o índio, a terra onde ele mora é mais do
que simplesmente um meio de subsistência Assinale a alternativa correta:
ou recurso natural. Ela, de fato, representa
um recurso sociocultural, sendo necessária a) F, V, F, V.
para o suporte da sua cultura e modo vida. b) F, V, F, F.
É por esse motivo que a Constituição Fede- c) V, F, F, V.
ral, no artigo 231, coloca tais reservas como d) V, V, F, F.
Bens da União, ou seja, essas terras são ina-
lienáveis e intransferíveis, além de serem de Resposta: Letra C. I. Verdadeira.
uso exclusivo dessa etnia. II. Falsa. É de propriedade da União e controlada pela
Funai.
III. Falsa. Não sendo membro da comunidade, o aces-
so só é permitido com autorização legal da Funai, por-
tanto, o acesso irrestrito é vedado.
EXERCÍCIOS COMENTADOS IV. Verdadeira.

1. (UFU – 2015) A questão da demarcação de terras in-


dígenas tem ao longo do tempo suscitado diversos con- DEBATES EM TORNO DA POSSE DE ARMAS
flitos. Mais recentemente, observou-se a possibilidade
de modificar os critérios de demarcação, pois, conforme Logo no início de seu mandato, o Presidente também
seus críticos, os regulamentos vigentes possibilitariam assinou o polêmico decreto que flexibiliza a posse e a
a ação de “indígenas civilizados”, ou seja, aqueles que comercialização de armas de fogo no país. Esta era uma
supostamente teriam perdido sua identidade indígena e das suas promessas de campanha. 
que agora a reivindicavam com o intuito de obter terras. Deste modo, o direito à posse refere-se à autorização
No centro desse debate, encontra-se a definição do que para manter uma arma de fogo em casa ou no local de
é ser indígena, enfim, a definição dos critérios definido- trabalho, desde que o dono da arma seja o responsável
res de uma etnia. legal pelo estabelecimento. Já para andar com a arma de
fogo na rua, é preciso ter direito ao porte. Neste caso, as
Para os estudos antropológicos atuais, define-se uma et- regras são mais rigorosas e não foram tratadas no de-
nia por meio da creto.

a) Identificação da presença de traços fenotípicos co- FIQUE ATENTO!


muns a uma população, atrelados ao cultivo de uma
tradição cultural. Mediante a uma provável derrota no Con-
b) Ocupação territorial de um país específico e pela per- gresso, o Presidente Jair Bolsonaro, revogou
sistência de traços culturais tradicionais. na terça-feira, dia 25 de junho, dois decretos
c) Identificação de uma concepção, partilhada por uma que facilitavam o direito ao porte e à pos-
população, da existência de uma trajetória histórica se de armas de fogo no Brasil. Entretanto,
comum que funda uma identidade. o Presidente não desistiu, dos pontos mais
d) Identificação de traços raciais comuns a uma popula- polêmicos do pacote pró-armas, uma de
ção, aliados a elementos culturais específicos. suas principais promessas de campanha.
Para aprová-los, Bolsonaro resolveu enviar
Resposta: Letra C. A etnia, ou grupo étnico, divide ainda um PL - Projeto de Lei ao Congres-
uma uniformidade cultural, com as mesmas tradições, so que altera o Estatuto do Desarmamento
conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e com- sobre registro, posse e comercialização de
portamento. armas de fogo e munição, sobre o sistema
nacional de armas e a definição de crimes.
2. (BRASIL ESCOLA) Sobre a demarcação de terras indí- Portanto, todas essas medidas só passarão
genas no Brasil, assinale V para as proposições verdadei- a valer caso sejam aprovadas tanto por de-
ras e F para as proposições falsas. putados como senadores. No entanto, os
detalhes do PL não foram revelados ainda.
( ) I. A Constituição Federal define terras indígenas como
qualquer área habitada pelos índios nas quais são rea-
lizadas suas atividades produtivas e há preservação de CRISE NA VENEZUELA
suas culturas e tradições.
ATUALIDADES

( ) II. Áreas indígenas no Brasil são propriedades da Fu- A crise na Venezuela tomou proporções ainda maio-
nai. res no mês de fevereiro. A população está com fome
( ) III. As áreas indígenas são de livre acesso e, para pela escassez de alimentos, o sistema de saúde é quase
adentrá-las, é preciso apenas notificar a Funai caso não inexistente, faltam medicamentos, a criminalidade só au-
seja um membro da comunidade. menta e cidadãos continuam fugindo do país.

8
Uma reportagem do Estadão mostra que mais de 1,1 O CASO MARIELLE FRANCO GANHA NOVOS DES-
milhão de venezuelanos deixaram o país para irem à Co- DOBRAMENTOS
lômbia. A publicação apresenta ainda que 280 mil foram
ao Peru, 99 mil ao Equador e 57 mil para o estado de No dia 12 de março, a Polícia Civil do Rio de Janeiro
Roraima, no Brasil.  prendeu dois suspeitos do assassinato da vereadora Ma-
No dia 21 de janeiro, o presidente Nicolás Maduro rielle Franco (PSOL) e do motorista, Anderson Gomes. O
optou por fechar a fronteira da Venezuela com o Bra- policial reformado Ronnie Lessa é apontado como o ati-
sil para evitar ajuda humanitária. O político tomou essa rador, enquanto o ex-PM Élvio Vieira de Queiroz estaria
decisão depois de a oposição venezuelana iniciar uma dirigindo o carro usado no duplo homicídio. A prisão foi
operação de entrega de mantimentos enviados pelos Es- feita dois dias antes do assassinato completar um ano.
tados Unidos com ajuda brasileira e colombiana. Ronnie Lessa morava em um condomínio de luxo na
Dois dias depois, a oposição venezuelana tentou li- Barra da Tijuca, o mesmo do presidente Jair Bolsonaro.
berar a entrada de 900 toneladas de ajuda humanitária Na casa de um amigo de Lessa, a Polícia encontrou 117
enviada pelos EUA ao país. Maduro rejeitou a oferta e fuzis para montagem. O Conselho de Controle de Ativi-
anunciou que receberia outras 300 toneladas enviadas dades Financeiros (Coaf) também encontrou um depósi-
pela Rússia.  to de R$ 100 mil na conta de Lessa, dias depois do aten-
Atualmente, 14 países apoiam Maduro e 52 a Juan tado contra Marielle.
Guiadó, que é do partido Popular e se declarou presiden- Portanto, Lessa e Queiroz foram transferidos para o
te interino da Venezuela, gesto reconhecido por cerca de presídio federal de segurança máxima no Rio Grande do
50 países, entre eles Brasil, Colômbia e EUA.  Norte. Apesar da prisão, ainda não se sabe quem man-
No dia 26 de janeiro, o Grupo de Lima, formado por dou matar Marielle Franco. A maior suspeita recai sobre
14 países da América Latina, para tentar resolver o confli- milícias, como mostra reportagem da Revista Piauí.
to da Venezuela, reuniu-se na capital do Peru. O vice-pre-
sidente Hamilton Mourão representou o Brasil. 
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, já FIQUE ATENTO!
havia dito no ano passado que não descartaria a possi- Marielle Franco, negra, lésbica, mãe, veio da
bilidade de intervenção militar na Venezuela. No dia 25 favela da Maré, estudou e se tornou Soció-
de fevereiro, na reunião do Grupo de Lima, o vice-presi- loga com mestrado em Administração Pú-
dente dos EUA, Mike Pence, reforçou a ameaça de ação blica. Foi eleita Vereadora da Câmara do Rio
militar de Trump. Também no final de fevereiro, um ex- de Janeiro pelo PSOL, com 46.502 votos e
-diretor do FBI afirmou que Trump só está interessado no foi também Presidente da Comissão da Mu-
petróleo da Venezuela. lher da Câmara. Porém, no dia 14/03/2018
foi assassinada em um atentado ao carro
REFORMA DA PREVIDÊNCIA onde estava. Foram desferidos 13 tiros so-
bre veículo em que estava ela e o motorista,
O processo de Reforma da previdência ganhou des- Anderson Pedro Gomes.
dobramentos no dia 20 de fevereiro. O presidente Jair
Bolsonaro entregou ao Congresso a Proposta de Emenda
à Constituição (PEC) da reforma da Previdência, sua prin-
cipal promessa de governo.
A proposta reestabelece idades mínimas de aposen- EXERCÍCIO COMENTADO
tadoria de 65 anos para homens e 62 para mulheres e
fixa um mínimo de 20 anos de contribuição. O objetivo, 1. (NOVA CONCURSOS – 2019) Marielle Franco, verea-
segundo o governo, é conter o rombo nas contas públi- dora do município do Rio de Janeiro, foi morta junto com
cas. seu motorista depois que saiu de uma reunião. Muito en-
volvida com causas sociais, a vereadora pertencia a que
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER partido:

Na madrugada do dia 17 de fevereiro, Elaine Capar- a) PSC.


roz, de 55 anos, no Rio de Janeiro, foi espancada durante b) PSOL.
quatro horas por um rapaz que conheceu na internet. A c) PT.
mulher ficou desfigurada e teve que ser encaminhada ao d) PT do B.
hospital em caráter de emergência. Uma pesquisa do Fó- e) PC do B.
rum Brasileiro de Segurança Pública divulgada no dia 26
de fevereiro mostrou que mais de 16 milhões de mulhe- Resposta: Letra B. A vereadora Marielle Franco era
res brasileiras sofreram algum tipo de violência em 2018. pertencente ao PSOL-RJ. No dia em que dois suspei-
O levantamento conclui que 536 mulheres são agredidas tos de terem matado a vereadora e o motorista An-
ATUALIDADES

por hora. derson Pedro Gomes foram presos no Rio de Janei-


ro, deputados federais do PSOL pediram respostas
para a motivação do crime e sobre mandantes, que na
próxima quinta-feira dia 14 de março de 2019, com-
pleta um ano.

9
ALUSÕES COMEMORATIVAS AO REGIME MILITAR
ESTREMECEM O GOVERNO DE BOLSONARO #FicaDica

O Presidente Jair Bolsonaro pediu ao Ministério da Assim como ocorrido no Rio de Janeiro em
Defesa (repassando aos quarteis) que o aniversário de abril de 2019, em São Paulo, ocorreu um de-
55 anos do Golpe Militar fosse comemorado em 31 de sabamento de um marco da arquitetura mo-
março. A celebração da data foi suspensa em 2011 por dernista, o edifício Wilton Paes de Almeida,
Dilma Roussef, ex-presidente que foi torturada durante que desabou em um incêndio de grandes
a ditadura. A declaração de Bolsonaro gerou diferentes proporções no Centro de São Paulo, na ma-
reações e culminaram na hashtag #DitaduraNuncaMais, drugada do dia 1 de maio de 2018. Havia
termo que deixou o assunto entre os temas mais comen- sido tombado em 1992 por ser considerado
tados do Twitter.  “bem de interesse histórico, arquitetônico e
Com isso, em 28 de março, Bolsonaro mudou seu dis- paisagístico”, o que garantia “a preservação
curso e suavizou a declaração, afirmando que o intuito é de suas características externas”, e estava
“rememorar” a data, vendo o que deu certo e o que foi ocupado irregularmente.
errado, usando isso a favor do Brasil, no futuro. 
Porém, um vídeo comemorando o início da Ditadura
Militar foi divulgado no domingo, 31 de março, por meio PAI E FILHA SALVADORENHOS MORREM AFOGA-
do WhatsApp oficial do Palácio do Planalto. O material DOS EM TRAVESSIA PARA OS EUA E FOTO PROVOCA
não teve a autoria revelada, mas o Palácio confirmou que COMOÇÃO
o número utilizado para distribuição pertence à Secreta-
ria de Comunicação da Presidência. Mais uma triste morte de imigrantes voltou a aconte-
cer, um migrante salvadorenho e sua filha de quase dois
anos morreram afogados enquanto atravessavam o rio
#FicaDica Grande na cidade de Matamoros, no estado mexicano de
A Ditadura Militar no Brasil teve seu início Tamaulipas. Eles tentavam chegar à cidade texana Bro-
com o golpe militar de 31 de março de 1964, wnsville (EUA).
resultando no afastamento do Presidente da Deste modo, os corpos foram encontrados na segun-
República, João Goulart, e tomando o poder da-feira, 24 de junho, no lado mexicano da fronteira. As
o Marechal Castelo Branco. Este golpe de fotos que mostram a criança com o bracinho apoiado
estado, caracterizado por personagens afi- no pescoço do pai provocaram forte comoção no país. A
nados com uma revolução instituiu no país família salvadorenha aguardava na cidade mexicana de
uma ditadura militar, que durou até a eleição Matamoros a oportunidade de solicitar asilo nos Estados
de Tancredo Neves em 1985. Os militares na Unidos. Na tarde de domingo, o cozinheiro Óscar Mar-
época justificaram o golpe sob a alegação de tínez Ramírez, de 25 anos, decidiu que faria a travessia
que havia uma ameaça comunista no país. do rio.
A mulher dele e mãe da menina, Tania Vanessa Ávalos,
contou ao jornal mexicano “La Jornada” que ele pegou a
pequena Valeria nos braços, fez a travessia e a deixou em
DESABAMENTO DE PRÉDIOS EM MUZEMA terra firme em segurança. Porém, ele voltou para ajudar
a mulher.
No dia 12 de abril, dois prédios localizados na comu- Desta forma, ao ver o pai se afastar, a criança se jo-
nidade da Muzema, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, de- gou na água. Ele voltou e conseguiu segurá-la, mas não
sabaram deixando 24 mortos. Um prédio possuía cinco resistiu à forte correnteza. A mãe viu o momento em que
andares e outro apenas três, com quatro apartamentos os dois submergiram.
cada. Assim sendo, as buscas duraram cerca de 12 horas e
De acordo com a Prefeitura do Rio de Janeiro, os pré- os corpos foram encontrados a cerca de 500 metros do
dios eram irregulares e ficavam em área de milícias, difi- local onde foram vistos pela última vez. Pai e filha foram
cultando a chegada de fiscais. Em 2018, a construção já encontrados juntos, unidos pela camisa preta que Óscar
havia sido interditada. Porém, mesmo com a construção Alberto vestia. Valeria estava com o braço em volta do
não autorizada pelos órgãos fiscalizadores e com a re- pescoço do pai.
gião sendo uma Área de Proteção Ambiental (APA), ela
continuou.
 Desta forma, a última vítima, Adilma Ramos Rodri-
gues, de 35 anos, faleceu no dia 22. Ela era casada com o
pastor Cláudio Rodrigues, de 40 anos, que foi a primeira
vítima do desabamento. A prefeitura informou que 16
ATUALIDADES

prédios vizinhos aos que desabaram vão ser demolidos e


que a ação será cuidadosa para não prejudicar os prédios
que ainda estão ocupados ao lado.

10
DEBATES POLÍTICOS
FIQUE ATENTO!
A foto do pai e filha lembra a do menino QUESTÃO KIM JONG-UN E DONALD TRUMP
sírio Alan Kurdi, encontrado morto em uma
praia da Turquia, em setembro de 2015, en- Desde 2016, a Coreia do Norte voltou a ameaçar os
quanto tentava fugir da guerra civil no seu EUA com o seu programa nuclear. Isso seria a resposta
país. O deputado democrata Joaquin Castro, norte-coreana às sanções impostas pelo Conselho de Se-
do Texas, ficou emocionado ao falar sobre gurança da Organização das Nações Unidas (ONU) con-
a fotografia em Washington e disse esperar tra o país liderado por Kim Jong-un. Além dos EUA, a
que o caso faça diferença no debate dos le- Coreia também se manifesta contra o Japão, aliado ame-
gisladores e do público americano sobre a ricano.
questão da imigração. Com isso, a Coreia do Norte realizou seu sexto teste
nuclear no dia 3 de setembro de 2017. Tendo sido o mais
potente realizado: sua força equivale a 16 vezes a da pri-
FUTEBOL FEMININO EM DESTAQUE, COPA DO meira bomba atômica da história e que destruiu a cidade
MUNDO NA FRANÇA de Hiroshima.

O mês de junho foi marcado pelo início da Copa do Ademais, no primeiro dia do ano de 2018, o líder co-
Mundo de futebol Feminino. Diferentemente de outras reano ameaça os EUA anunciando que o botão nuclear
edições do campeonato internacional, houve grandes re- fica na sua mesa. Diante desta retórica de guerra, o mun-
cordes de audiência. do se alegrou com o encontro entre o presidente da Co-
Deste modo, a Copa do Mundo de Futebol Feminino, reia do Sul e da Coreia do Norte, em 27 de abril de 2018.
na França reúne 24 seleções e este ano teve maior visi- Realizado na zona desmilitarizada entre os dois países, a
bilidade, principalmente pelo fato da jogadora da sele- reunião ainda contou com o simbólico gesto do presi-
ção brasileira, Marta, considerada a melhor jogadora do dente sul-coreano pisar em solo norte-coreano. Porém,
mundo por alguns anos consecutivos, ter levantando a mais tarde, o presidente Donald Trump se encontrou em
bandeira de maior valorização do futebol feminino e sa- Singapura com o Kim Jong-un, em 12 de junho de 2018.
lários iguais assim como acontece com os jogadores do Apesar de nada concreto ter ficado decidido neste even-
sexo masculino.  to, a reunião abriu caminho para conversas diplomáticas
Infelizmente, o Brasil foi eliminado pelas donas da entre os países.
casa nas oitavas de final, mas em um grande jogo, onde Portanto, ambos os mandatários tinham uma reunião
as o time feminino defendeu com muita honra a nossa para 28 de fevereiro de 2019, em Hanói (Vietnã), sendo
seleção. assim, apesar do clima amistoso, o encontro terminou
Diferentemente da maioria dos atletas do universo do antes do que o previsto e sem nenhum acordo entre os
futebol, na chuteira da Marta, o que se vê, no lugar da dois presidentes.
logomarca de um patrocinador, é o símbolo do movi-
mento “Go equal”, que luta por equidade de gênero A #FicaDica
atleta está sem patrocínio desde julho do ano passado,
quando seu contrato com a Puma acabou. Marta se recu- Esse processo de enfretamento entre a Co-
sou a renová-lo pelo valor oferecido, entretanto não foi reia do Norte e os Estados Unidos da Amé-
divulgado quanto. rica, criou um clima de tensão nos demais
Deste modo, a discrepância entre o que jogadoras e países no mundo. Portanto, as ideologias
jogadores recebem ficou evidente em um levantamen- em comum fizeram alguns países tomarem
to feito este ano pela revista “France Football”, uma das partido, formando um processo conflituo-
mais renomadas da área, sobre os maiores salários do so “ainda amistoso”, denominado de Nova
futebol mundial. Guerra Fria.

TRUMP E KIM, AS DIFICULDADES NAS NEGOCIA-


#FicaDica ÇÕES
A lista mostrou que a soma dos cinco salá-
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
rios mais altos do futebol feminino totaliza €
disse não acreditar que a Coreia do Norte esteja pronta
1,79 milhões, o equivalente a cerca de R$ 7,7
para negociar com os norte-americanos. Foi a primeira
milhões. Isso não é sequer um décimo do sa-
declaração do republicano após segundo teste com mís-
lário do quinto jogador mais bem pago, Ga-
seis feito pelo regime de Kim Jong-un . No começo de
reth Bale, que leva para casa € 40,2 milhões,
maio, o país asiático fez outro exercício com armas.
algo em torno de R$ 175 milhões.
ATUALIDADES

Trump disse que os Estados Unidos “analisam se-


riamente os últimos lançamentos” e também disse não
acreditar que o regime de Kim Jong-un esteja preparado
para negociar com os norte-americanos.

11
FIQUE ATENTO! #FicaDica
As relações entre os dois países pioraram
O motivo da ironia usada por Trump no G-20,
depois que a segunda cúpula entre os dois
contra o Putin, está relacionado a interferên-
países, em fevereiro, terminou sem acordo.
cia russa na eleição presidencial nos Estados
Os dois lados disseram que as condições
Unidos em 2016. Sendo assim, tal fato refe-
propostas por ambos os líderes não eram
re-se a uma série de acusações de ingerên-
suficientes para a assinatura de um tratado.
cia da Rússia na política doméstica dos EUA,
Sendo assim, os EUA dizem que só vão re-
especificamente no processo de escolha do
tirar as sanções impostas à Coreia do Norte
chefe máximo do país. Portanto, a Comuni-
quando o país desmantelar todo o progra-
dade de Inteligência dos EUA concluiu com
ma nuclear. O regime de Kim, no entanto,
grande confiança que o governo russo inter-
não se satisfez com as condições.
feriu nas eleições nos Estados Unidos. 

TRUMP RECEBE A VISITA DE JAIR BOLSONARO

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, re- CULTURA E ENTRETERIMENTO


cebeu o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em 19 de
março. O encontro realizado na Casa Branca teve como O OSCAR E SUA DIVERSIDADE NA PREMIAÇÃO
temas questões ligadas à Venezuela e ao comércio, como
a entrada brasileira na Organização para a Cooperação e A cerimônia do Oscar, realizada no domingo de 24
Desenvolvimento Econômico (OCDE).  de fevereiro, marcou pela diversidade. Nesta edição,
Antes da viagem, Bolsonaro já tinha tomado medidas aumentou o número de indicações e premiações para
favoráveis aos Estados Unidos. Turistas norte-americanos mulheres. Do total de artistas ganhadores, foram quinze
foram isentos de visto para entrar no Brasil (o mesmo mulheres e sete negros. 
vale para Canadá, Austrália e Japão). Outra concessão foi O filme Green Book ganhou o Oscar de melhor filme.
a liberação para o uso da Base de Alcântara, no Mara- A produção trata da amizade de um artista negro e um
nhão, para que os EUA façam lançamentos espaciais. motorista branco. Outros longas tiveram negros como
destaque, entre os quais Pantera Negra e Infiltrados em
TRUMP FAZ PIADA COM PUTIN, E PEDE PARA ELE Klan, que faz referência ao grupo terrorista norte ameri-
NÃO INTERFERIR EM ELEIÇÕES DOS EUA cano Ku Klux Klan, e trabalha o tema racismo. 

Ainda no G-20, o presidente dos Estados Unidos da INCÊNDIO NA CATEDRAL DE NOTRE-DAME 


América, Donald Trump pediu de forma irônica na sex-
ta-feira, 28 de junho, ao presidente Vladimir Putin, que Um incêndio de grande proporção e causas desco-
Moscou não venha a interferir nas eleições presidências nhecidas atingiu a histórica Catedral de Notre-Dame.
estadunidenses que irão ocorrer em 2020. Notre-Dame é o monumento mais visitado da França
Existe uma investigação que analisa a influência or- e é Patrimônio Mundial da Humanidade desde 1991. O
questrada pela Rússia na eleição de 2016, tem assombra- templo começou a ser construído em 1163 e teve sua
do a gestão de Trump. Ademais, esse medo, tem frustra- inauguração em 1345. Foi palco de cerimônias importan-
do o presidente americano, que disse buscar melhores
tes da história, como as coroações do Rei Henrique VI,
relações entre ambos os países.
durante a Guerra dos Cem Anos em 1431, e de Napo-
As rivalidades entre Trump e Putin, estão bastante
leão Bonaparte, em 1804, além da beatificação de Joana
além da relação entre Estados Unidos e Rússia, os pre-
D’Arc, em 1909.
sidentes vem entrando em conflito externos no Oriente
As chamas tiveram início na parte superior da catedral
Médio, na Ásia e na América. Desta forma, o clima de
e, aproximadamente, uma hora após o início do incêndio,
tensão fica sempre no ar entre os presidentes.
o pináculo desabou. Essa torre em formato de flecha fica-
va no topo da catedral e estava passando por reformas.
O pináculo tinha 93 metros de altura e era composto por
500 toneladas de madeira e 250 toneladas de chumbo.
De acordo com o ministro da Cultura da França,
Franck Riester, alguns dos tesouros que ficavam na ca-
tedral foram salvos, porém as autoridades ainda estão
avaliando os danos causados na estrutura da catedral.
Entre os bens que foram salvos estão a coroa de espi-
nhos feita de junco e fios de ouro, assim como uma túni-
ATUALIDADES

ca do rei da França, Luís IX, que foi canonizado como São


Luís. Fragmento da Cruz e um prego da Paixão de Cristo
e alguns cálices e quadros pequenos também foram re-
cuperados e levados para a Prefeitura de Paris.

12
Além desses objetos de valor histórico, na semana A partir disso, o vice-presidente do Supremo Tribunal
anterior ao incêndio, pela primeira vez em um século, 16 Federal (STF), ministro Luiz Fux, atendeu a um pedido de
estátuas em cobre foram removidas da catedral para se- Flávio e determinou a suspensão temporária da investi-
rem limpas e também escaparam das chamas. As causas gação. O político afirma ser inocente e reclama estar so-
do incêndio continuam desconhecidas e as autoridades frendo perseguição política do Partido dos Trabalhadores
francesas têm tratado o caso como um ‘acidente’, des- (PT) por conta do alto e mais importante cargo político
cartando a possibilidade de atentado terrorista. em que seu pai ocupa atualmente.
Construída entre 1163 e 1245 na Île de la Cité, a Ca-
tedral de Notre-Dame de Paris é uma das catedrais góti- PRISÃO DO FUNDADOR DO WIKILEAKS
cas mais antigas do mundo. O nome da catedral significa
Nossa Senhora e é dedicada à Virgem Maria.  Em seus Refugiado há quase sete anos na embaixada do Equa-
oito séculos de história, a Catedral de Notre-Dame foi re- dor em Londres, Julian Assange, fundador do WiiLeaks,
formada em várias ocasiões, sendo a mais importante foi preso no dia 11 de abril. O caso ficou conhecido no
em meados do século XIX. Ao longo desses anos foram mundo inteiro quando, em 2010, o WikiLeaks publicou
milhares de documentos das Forças Armadas norte-a-
substituídos os arcobotantes, foi incluída a rosácea sul,
mericanas sobre a guerra do Afeganistão e Iraque, além
as capelas foram reformadas e foram incluídas estátuas.
de comunicados diplomáticos. O programador foi acu-
sado pelos EUA de conspiração por tentar acessar dados
confidenciais de um computador do governo americano.
#FicaDica Desde 2012, ele recebia abrigo do Equador para evi-
Desta forma, em Notre-Dame foram realiza- tar sua extradição a Suécia, onde também era acusado
dos importantes acontecimentos, entre os por crimes sexuais e temia que o país o entregasse para
quais vale destacar a coroação de Napoleão os EUA. Entretanto, o presidente equatoriano, Lenín Mo-
Bonaparte, a beatificação de Joana D’Arc e a reno, resolveu tirar o asilo diplomático de Assange ale-
coroação de Henrique VI da Inglaterra. Em gando que ele violou o acordo do protocolo de convi-
15 de abril de 2019, a catedral de Notre-Da- vência, tendo uma conduta desrespeitosa.
me sofreu um grave incêndio que provocou O governo do Equador informou que Assange teria
instalado equipamentos eletrônicos não permitidos, blo-
danos significativos no telhado e derrubou a
queado as câmeras de segurança da Missão Equatoriana
agulha da torre principal. 
em Londres e agredido seguranças da sede diplomática.
Além disso, também interveio em assuntos internos de
O BRASIL SOFRE UMA GRANDE PERDA: MORRE O outros estados, vazando documentos do Vaticano este
JORNALISTA RICARDO BOECHAT ano.
A prisão de Assange dividiu opiniões pelo mundo,
com muitos destacando o acontecimento, enquanto ou-
No dia 11 de fevereiro, um helicóptero caiu sobre um
tros criticam que a prisão dele viola a liberdade de infor-
trecho do Rodoanel que dá acesso à rodovia Anhangue- mação.
ra, na zona oeste de São Paulo, matando o jornalista e
apresentador Ricardo Boechat e o piloto da aeronave.
Um dos principais nomes do jornalismo brasileiro, FIQUE ATENTO!
Boechat, de 66 anos, trabalhava no Jornal da Band, na WikiLeaks é uma organização transnacional
TV Bandeirantes, e na rádio Band News, cujo programa sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que
havia apresentado horas antes do acidente. publica, em sua página, postagens de fontes
anônimas, documentos, fotos e informações
CORRUPÇÃO confidenciais, vazadas de governos ou em-
presas, sobre assuntos sensíveis.
CORRUPÇÃO VOLTA A CIRCUNDAR GOVERNO
BRASILEIRO: OCORRE A INVESTIGAÇÃO FLÁVIO BOL-
SONARO OPERAÇÃO LAVA-JATO CONTINUA DANDO RE-
PERCUSSÃO
Flávio Bolsonaro é deputado estadual há quatro man-
datos consecutivos, recém-eleito senador e também filho Ao pensar em corrupção, a operação Lava Jato defla-
grou o maior escândalo de lavagem e desvio de dinheiro
do atual presidente da República. Está sendo investigado
da história brasileira. Com ela, caiu a credibilidade inter-
por movimentações financeiras suspeitas feitas em 2017.
nacional do Brasil. Ela envolve políticos, grandes emprei-
As investigações tiveram início há seis meses e visam teiros e aquela que é uma das maiores petrolíferas do
apurar a suspeita de prática de lavagem de dinheiro e mundo e também a maior empresa estatal do Brasil, a
ocultação de bens. Petrobras.
ATUALIDADES

De acordo com relatório do Conselho de Controle Portanto, as empreiteiras combinavam os preços das
de Atividades Financeiras (COAF), as movimentações fi- obras simulando uma concorrência real. Isso fez com que
nanceiras nas contas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do as organizações envolvidas enriquecessem e, em contra-
político, atingiram R$7 milhões entre os anos de 2014 e partida, resultou num grande prejuízo aos cofres públi-
2017. cos.

13
a campanha, em 2017. Com o escândalo, todos os inte-
#FicaDica grantes de extrema-direita renunciaram e o premiê Se-
bastian Kurz anunciou a dissolução do governo, pedindo
Desta forma, descoberta em março de 2014, novas eleições, que acontecerão em setembro. 
as investigações continuaram em 2017, ano
que surge entre os investigados o nome do EX-PRESIDENTE MICHEL TEMER FOI NOVAMENTE
ex-presidente Michel Temer. Este chegou a DETIDO
ser preso em 21 de março de 2019, mas foi
liberado dias mais tarde, pois o desembar- O ex-presidente foi preso novamente, acusado de ter
gador Antônio Ivan Athié entendeu que sua atuado em um esquema de corrupção envolvendo a Ele-
prisão era desnecessária porque não havia tronuclear e a usina de Angra 3. Ele também é réu em
risco de fuga. Com o ex-presidente, também outros seis processos. Porém, uma semana depois, Temer
recebeu ordem de prisão o ex-governador e foi solto pelo STJ – Supremo Tribunal de Justiça para res-
ex-ministro Moreira Franco. ponder em liberdade.

DESASTRES AMBIENTAIS
MICHEL TEMER FOI PRESO POR ENVOLVIMENTO
NA OPERAÇÃO LAVA JATO CICLONE EM MOÇAMBIQUE

O ex-presidente Michel Temer foi preso na Operação O Ciclone Idai atingiu Moçambique em 14 de março
Lava Jato no Rio de Janeiro, na manhã do dia 21 de mar- com mais de 170 km/h. Por sua agressividade, Zimbábue
ço. Temer é acusado de receber R$ 1,1 milhão de propina e Malaui também foram afetados. Resultando em mais
em um contrato da Eletronuclear, responsável pela cons- de 700 mortos, contagem que pode aumentar conforme
trução da usina Angra 3. as buscas.
O juiz Marcelo Bretas ordenou a prisão de 10 pessoas O Ciclone Idai foi o pior desastre a atingir o conti-
nesta fase da Operação. Entre os presos estiveram o ex- nente africano nas duas últimas décadas. Por conta das
-ministro Moreira Franco e o coronel da Polícia Militar condições precárias em que as cidades se encontram,
e amigo de Temer, João Baptista Lima Filho – o coronel faltando água potável e meios de higiene, os casos de
Lima. A alegação para a prisão era de que, em liberdade, cólera, tifo e malária estão crescendo.
as ligações e contatos dos envolvidos poderiam atrapa-
lhar as investigações.  VIOLÊNCIAS E ATENTADOS
Em sua denúncia, o Ministério Público Federal (MPF)
alegou que a organização criminosa chefiada por Temer ATAQUES TERRORISTAS NO SRI LANKA
teria movimentado mais de R$ 1,8 milhão de propina
(paga e recebida) com envolvimento de estatais como No domingo de Páscoa, atentados terroristas deixa-
Eletronuclear, Petrobras, Caixa, além da Câmara dos De- ram mais de 250 mortos e 500 feridos no Sri Lanka. O
putados e outras instituições públicas.  principal alvo foi a Igreja de São Sebastião, em Negom-
Temer foi solto em 25 de março, com Habeas Corpus bo, no oeste do país, onde religiosos se reuniam para
concedido pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região festejar a data. Os restaurantes dos hotéis de luxo tam-
(TRF-2). Moreira Franco e coronel Lima também foram bém foram alvos das explosões das bombas nas cidades
soltos, além de outros cinco envolvidos. de Colombo e Batticaloa.
Dois dias após os ataques, o Estado Islâmico chegou
a reivindicar a autoria do atentado, afirmando que o alvo
#FicaDica
era os cristãos e cidadãos de países que bombardeiam
A Operação Lava Jato é um conjunto de os territórios ocupados por eles. Porém, dias depois, as
investigações em andamento pela Polícia autoridades acusaram o grupo extremista National Tho-
Federal do Brasil, que cumpriu mais de mil wheed Jama’ath (NTJ) de cometer o atentado. A moti-
mandados de busca e apreensão, de prisão vação seria uma reação ao atentado na Nova Zelândia
temporária, de prisão preventiva e de con- contra mesquitas islâmicas.
dução coercitiva, visando apurar um esque- Após os ataques, o Sri Lanka implementou uma po-
ma de lavagem de dinheiro que movimentou lítica de prevenção. O país está com toque de recolher
bilhões de reais em propina. Entre os presos noturno, bloqueou todas as redes sociais locais e proibiu
mais famosos está o ex-presidente Lula. as pessoas de circulem por vias públicas com os rostos
cobertos, como os véus islâmicos. As missas também fo-
ram suspensas.
GOVERNO DA ÁUSTRIA CAI APÓS VÍDEO DE COR- Os primeiros seres humanos chegaram ao local há
RUPÇÃO pelo menos 135 mil anos. A região é conhecida como
ATUALIDADES

o primeiro território da Ásia a ser governado por uma


Na Áustria, um vídeo de corrupção envolvendo o vi- mulher, foi no século I a.C., com a rainha Anula. Os pri-
ce-premiê causou a queda do Governo. Christian Strache meiros hospitais de que se tem notícia em toda a história
era líder do partido FPO, de extrema direita, e foi pego surgiram ali, em 431 a.C., numa época em que diferentes
prometendo contratos públicos em troca de verbas para dinastias locais se sucediam no trono.

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Deste modo, a partir do século XVI, o Ceilão foi domi- no mesmo dia do atentado, ao qual foi atribuído terroris-
nado, total ou parcialmente, por portugueses, holande- mo. A investigação identificou que o agressor não tinha
ses e ingleses, nesta ordem, até alcançar a independên- nenhuma ligação com as vítimas e o objetivo da promo-
cia em 1948. A guerra civil aconteceu por consequência toria é saber se houve mais alguma motivação para os
direta pela influência britânica, que, desde o século XIX, disparos. 
valorizou uma das etnias locais, os tâmeis, que são de
maioria hindu e vivem na faixa mais ao norte, em detri- CESARE BATTISTI FOI PRESO APÓS 37 ANOS DE
mento dos cingaleses, budistas em geral e moradores da FUGA
área mais ao sul do país.
Assim sendo, com o fim do domínio colonial, os cin- O terrorista italiano Cesare Battisti, de 64 anos, foi
galeses, que formam a maioria da população, chegaram preso após se entregar às autoridades italianas. Battisti
ao poder e levaram o governo a adotar sua religião e sua deixou a Itália após fugir da prisão, em 1981, e nunca
língua como oficiais do país. Em reação, o tâmil Velupillai mais retornou ao país. Ele foi capturado em janeiro, por
Prabhakaran fundou, em 1976, os Tigres de Libertação agentes bolivianos em parceria com italianos após fugir
da Pátria Tâmil. Quando o grupo realizou uma embosca- do Brasil, onde era buscado pela Polícia Federal. Battis-
da contra um comboio do exército e matou 13 militares, ti foi condenado pelo assassinato de quatro pessoas na
os tumultos populares que se seguiram e provocaram a década de 1970. Ele se considera inocente. Em 1991, a
morte de pelo menos 3 mil tâmeis. Era o início da guerra sentença foi confirmada pela Corte Suprema Italiana.
civil, que contou com um cessar-fogo em 2002, encerra- O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu
do três anos depois pela morte do tâmil Lakshman Ka- refúgio ao terrorista italiano Cesare Battisti, acusado de
dirgamar, ministro do governo cingalês que promovia o quatro homicídios na década de 70 quando era militante
diálogo entre os dois lados. O conflito foi marcado por de um grupo político extremista. A decisão foi anunciada
episódios sangrentos, como o massacre de 33 monges no último dia de Lula no Palácio do Planalto.
budistas em Aranthalawa, em 1987. De acordo com nota da presidência, a decisão foi ba-
Ademais, os tigres tâmeis contavam com sua própria seada em parecer da Advocacia-Geral da União (AGU),
marinha, uma força aérea formada por aviões de peque- feito com base nos termos da Constituição Brasileira, nas
no porte e um grupo de elite dedicado a matar políticos convenções internacionais sobre direitos humanos e do
– alcançaram o objetivo em 1991, quando assassinaram tratado de extradição entre o Brasil e a Itália. Avaliou-se
o ex-premiê indiano Raive Gandhi, e dois anos depois, ao que a extradição de Battisti colocava a vida do ex-ativista
matar o presidente do Sri Lanka, Ranasinghe Premadasa. em risco de perseguição e até de morte.
Em 2001, metade dos aviões comerciais do país foi des- Após o ex-presidente Michel Temer autorizar a extra-
truída por um ataque tâmil ao aeroporto de Colombo. dição no final do ano passado, Battisti voltou a ficar fora-
gido até ser preso em janeiro.

FIQUE ATENTO! ATENTADOS ASSOLAM ESCOLAS BRASILEIRAS:


Velupillai Prabhakaran morreu em 2009 em DESSA VEZ FOI EM SUZANO-SP
um ataque do governo, que depois anun-
ciou o fim do conflito. Os próprios Tigres Atiradores invadiram a Escola Estadual Professor Raul
Tâmeis formalizaram, por e-mail, a capitula- Brasil, em Suzano, São Paulo, disparando contra estudan-
ção. Estima-se que a guerra tenha provoca- tes e funcionários que estavam no local. O atentado foi
do pelo menos 100 mil mortes. na manhã de 13 de março e resultou em 10 mortes, in-
cluindo os responsáveis pelo ataque. 
Guilherme Taucci, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro,
ATENTADOS PELO MUNDO 25, usaram arma de fogo e também atingiram estudantes
com golpes de machadinha. Guilherme foi considerado o
Os noticiários foram marcados por atentados por mentor do atentado, em conjunto com um terceiro me-
arma de fogo em março. Além do ataque na escola de nor apreendido pela polícia. Esses jovens treinaram tiros
Suzano-SP, outros casos chamaram a atenção em dife- com armas de airsoft e disparos de arco e flecha em um
rentes locais do mundo. estudante, cinco dias antes do crime. 
Em 15 de março, duas mesquitas na cidade de Christ- As vítimas fatais foram cinco estudantes da escola,
church, na Nova Zelândia, foram alvo de atentados, to- duas funcionárias e os próprios assassinos, além de re-
talizando 50 mortos. O atirador australiano Brenton Tar- gistros de outras pessoas feridas. Antes de irem à escola,
riton transmitiu o ataque em suas redes sociais, durante os assassinos também mataram o tio de Guilherme, que
17 minutos, e publicou um manifesto supremacista. A trabalhava em uma oficina. A ação de professores e me-
primeira-ministra do país, Jacinda Ardern, anunciou, em rendeiras do colégio evitou que o atentado fosse maior,
25 de março, a criação de uma comissão de investigação já que formaram barricadas e tomaram outras atitudes
sobre o caso, verificando também a situação do Serviço para salvar alunos no momento da tragédia.
ATUALIDADES

de Inteligência e Segurança da Nova Zelândia (NZSIS).  O atentado em Suzano levantou novamente a dis-
Em 18 de março, um homem atirou contra passagei- cussão sobre o acesso às armas de fogo. Em fevereiro,
ros de um bonde elétrico no centro de Utrecht, na Ho- Bolsonaro flexibilizou regras do Estatuto do Desarma-
landa, deixando três pessoas mortas e cinco feridas. O mento para facilitar a compra e o registro de armamento
responsável pelo ataque foi o turco Gokmen Tanis, preso e munição no Brasil, atendendo ao que foi um dos prin-

15
cipais pontos de sua campanha presidencial. No entanto, Resposta: Certo. Ao longo dos primeiros meses de
o porte (autorização para andar e utilizar a arma) não foi governo, Bolsonaro vem tentando flexibilizar o acesso
liberada no decreto. a armas de fogo no país. Em Suzano-SP, ocorreu uma
invasão na escola que deixou muitos jovens mortos.
Assim, a charge assume uma postura crítica ao ato
#FicaDica violento de Suzano-SP e às medidas de Jair Bolsonaro.
O primeiro grande atentado em escolas bra-
sileiras aconteceu em Realengo, na Zona
Oeste do Rio de Janeiro. Em abril de 2011, 10
pessoas foram mortas e 9 ficaram feridas na O EXÉRCITO FUZILOU FAMÍLIA POR ENGANO
Escola Municipal Tasso da Silveira. Welling-
ton Menezes de Oliveira, de 23 anos, en- Uma família que estava a caminho de um chá de
trou no colégio alegando que iria para uma bebê teve o carro metralhado por militares do Exército,
palestra de ex-alunos antes de começar o em Guadalupe, zona oeste do Rio de Janeiro, no dia 7
massacre. Além dessas, outras tragédias se- de abril. Foram mais de 80 tiros. A atitude terminou na
melhantes aconteceram em Goiânia (GO), morte do motorista, o músico Evaldo Rosa dos Santos,
Medianeira (PR), Janaúba (MG), Campinas e do catador de materiais recicláveis Luciano Macedo,
(SP) e na capital de São Paulo. que estava passando na hora e tentou ajudar a família.
O sogro do motorista também foi ferido. Já a mulher, o
filho de 7 anos, e a outra ocupante do carro não tiveram
ferimentos.
Deste modo, o Exército afirmou que os militares res-
ponderam à agressão e atiraram contra o carro de cri-
EXERCÍCIO COMENTADO minosos, mas a família afirmou que a vítima não tinha
qualquer envolvimento com o crime. Após a contestação
1. (NOVA CONCURSOS – 2019) Analise a charge a se- da família sobre a versão dada pelo Exército, a instituição
guir e responda: recuou e mandou prender 10 dos 12 militares envolvidos.
Assim sendo, permanecem detidos nove militares,
que em depoimento unânime disseram que, minutos
antes, haviam trocado tiros com um veículo de caracte-
rísticas similares, no bairro de Guadalupe. Desta forma,
as investigações do caso serão conduzidas pelo próprio
Exército, com base em uma lei de 2017 sancionada pelo
então presidente Michel Temer (MDB), que diz que cri-
mes dolosos contra a vida cometidos por militares das
Forças Armadas serão investigados pela Justiça Militar da
União.

ECONOMIA

O BREXIT

O processo de desvinculação do Reino Unido da


União Europeia continua sem muitas definições. O Brexit,
como é chamado, trata-se da separação do Reino Unido
(Disponível em: <https://bit.ly/31HTNOl>.) da União Europeia. No dia 29 de março deste ano, após o
plebiscito realizado em 2016, 51,9% do eleitorado britâ-
A charge faz uma forte referência ao governo de Jair Bol- nico votou a favor do rompimento com o bloco europeu.
sonaro, realizando uma crítica. Nela destaca-se um trági- Muitas foram as tentativas de negociações sobre a
co evento ocorrido no país no início de 2019. Ao longo separação dos dois lados e, ao que parece, ambos ain-
dos primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro, mui- da não conseguiram chegar a um acordo. Sem acordo, o
to foi debatido sobre a temática do Estatuto do Desar- Parlamento Britânico pede para renegociar o Brexit com
mamento e uma possível reforma nele. A população en- a União Europeia propondo “soluções alternativas”.
contra-se ainda bastante dividida entre os termos porte Três anos após o plebiscito, não há nada realmente
ou posse de armas. Entretanto, um evento envolvendo concreto sobre como ocorrerá esse “divórcio” e muito
armas chamou muita atenção de forma negativa no Bra- menos como será a relação de ambos após a separação
sil e mais uma escola foi alvo de um massacre. efetivamente.
ATUALIDADES

A partir das ideias expressas na charge e no pequeno


fragmento textual, julgue o item.

(   ) CERTO                (   ) ERRADO

16
No entanto, o Brasil não aparece na primeira colo-
#FicaDica cação nem na porcentagem de área florestal preserva-
O Brexit é o processo de saída do Reino da, nem no ranking mundial de sustentabilidade. Não é
Unido da União Europeia iniciado em 2016 possível dizer que o Brasil é o país que mais preserva o
e com previsão para terminar em 2019. Em meio ambiente. Se Bolsonaro estiver falando de área de
24 de novembro de 2018, após dois anos florestas preservadas, o país ocupa a 30ª posição.
de negociação, a União Europeia aceitou o Em 2015, segundo o estudo do Banco Mundial, o país
acordo apresentado pelo Reino Unido. Após possuía 59,9% de sua área preservada. Os países que
intensas negociações e derrotas no Parla- possuem a maior porcentagem de área preservada são
mento britânico, o Reino Unido foi obriga- Suriname (98,3%), Micronésia (91,8%) e Gabão (89,3%).
do a pedir um adiamento da saída da União Países como a Suécia (68,9%) e o Japão (68,5%) também
Europeia para o dia 31 de outubro de 2019. estão acima do Brasil. Portanto, a afirmação continuará
Sem conseguir consenso para aprovar uma incorreta mesmo se o presidente se referir ao grau de
proposta para o Brexit, a primeira-ministra sustentabilidade do país.
do Reino Unido, Theresa May, anunciou que No último Environmental Performance Index, o Brasil
deixará o cargo em 7 de junho de 2019. apareceu na 69ª posição. Nas primeiras colocações estão
a Suíça, a França e a Dinamarca. O estudo é feito pelas
Universidades de Yale e Columbia, em colaboração com
o Fórum Econômico Mundial e utiliza 24 indicadores,
dentre eles a emissão de gases, a proteção da biodiver-
sidade e a porcentagem de água potável, isso para fazer
EXERCÍCIO COMENTADO um ranking de 180 países.

1. (CEFET-MG – 2017) Leia o fragmento a seguir: #FicaDica


Os britânicos, em plebiscito, decidiram sair da União Eu-
ropeia. Em uma votação acirrada, 51,9% dos britânicos Bolsonaro mencionou três vezes em Davos
votaram pela saída contra 48,1%. O processo de saída que conduzirá um governo sem viés ideo-
não ocorre de imediato e deve durar dois anos. lógico, inclusive nas relações internacionais.
São fatores que justificam o resultado do plebiscito no Essas declarações entram em contradição
Reino Unido, EXCETO o (a): com falas antigas do político. Bolsonaro já
afirmou antes do período eleitoral que pre-
a) Desejo de intensificação do rigor das políticas de imi- tendia impor restrições à entrada de capital
gração. chinês no Brasil e desconvidou apenas países
b) Intuito da redução das taxas de exportação para fora autoritários de esquerda para a posse presi-
do bloco. dencial. Além disso, a agenda de Bolsonaro
c) Interesse dos britânicos na adoção do Euro como no fórum está restrita a encontros bilaterais
moeda oficial. com líderes de governos nacionalistas e con-
d) Cessão do envio de remessas para compor o orçamen- servadores. Por esse motivo, a declaração de
to europeu. Bolsonaro foi considerada CONTRADITÓRIA.

Resposta: Letra C. O item incorreto é o C, afinal, no


Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlan- BRUMADINHO: MAIS UMA BARRAGEM ROMPIDA
da do Norte), a Libra Esterlina é a moeda atual e ofi-
cial. A libra esterlina também é a moeda oficial dos Novamente Minas Gerais foi cenário de uma “tragé-
territórios britânicos ultramarinos (Ilhas Cayman, Ilhas dia”. Outra barragem se rompeu da mina Córrego do Fei-
Malvinas, Bermudas, Anguilla, Gibraltar, Ilhas Virgens jão, da mineradora Vale, localizada em Brumadinho, em
Britânicas, Ilhas Pitcairn, Geórgia do Sul, Santa Hele- Minas Gerais, no final de janeiro. A onda de rejeitos de
na e Monte Serrat), desde modo, a saída do Bloco do minério de ferro atingiu a área administrativa da empresa
Euro, é exatamente para se ter mais autonomia para e a comunidade da Vila Ferteco, deixando mortos, feri-
uso de sua moeda. dos e desaparecidos.
O rompimento ocorreu na Barragem 1, que foi cons-
truída em 1976 e tem 12,7 milhões de m³. Segundo a
Vale, a barragem tinha encerrado as atividades há cerca
PROBLEMAS AMBIENTAIS de três anos, pois o beneficiamento do minério na unida-
de é feito à seco. As buscas continuam e não há previsão
EM DAVOS, BOLSONARO CITA DADOS ERRADOS de quando serão finalizadas, afinal, ainda existem desa-
SOBRE MEIO AMBIENTE E GOVERNO parecidos na tragédia. Os engenheiros que atestaram
ATUALIDADES

segurança de barragem foram presos por suspeita de


No Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, homicídio qualificado. Ao todo, 13 pessoas foram presas
o presidente Jair Bolsonaro apresentou dados equivoca- após o rompimento da barragem, sendo 11 funcionários
dos. Entre eles, afirmou que o Brasil seria o país que mais da Vale e dois da TÜV Sud, empresa que atestou estabi-
preserva o meio ambiente. lidade do local. No entanto, todos os envolvidos foram

17
soltos após decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Devido aos estragos e ao risco de mais chuva, a pre-
porém, o desastre deve colocar a Vale no alvo de três feitura e o estado determinaram o cancelamento das
tipos de processos: administrativo, civil e criminal.  aulas nas escolas públicas e particulares. Universidades
também cancelaram as aulas.
PRIMEIRO MÊS DO ACIDENTE EM BRUMADINHO
ACIDENTES E MORTES
O acidente ocorrido em Brumadinho, na região me-
tropolitana de Minas Gerais, completou um mês no dia INCÊNDIO NO FLAMENGO
25 de fevereiro. Famílias seguem em luto e cobram de
autoridades que desaparecidos sejam encontrados.  No dia 8 de fevereiro, o alojamento do Centro de
Relembre: no dia 25 de janeiro, a barragem de rejeitos Treinamento do clube de futebol Flamengo, conhecido
de minérios de ferro da mina do Córrego do Feijão, da como Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro, pegou fogo.
mineradora Vale, em Brumadinho, se rompeu e liberou Dez jogadores adolescentes da base do clube morreram
uma montanha de lama, atingindo o refeitório e prédio e três ficaram feridos. A principal hipótese é que incêndio
da mineradora, pousadas, casas, vegetação e rios, dei- ocorreu em razão de um problema no sistema de ar-con-
xando quase 400 vítimas entre mortos e desparecidos. dicionado do alojamento. 

Deste modo, os principais clubes de futebol do mun-


FIQUE ATENTO! do e atletas se solidarizaram com a tragédia e enviaram
Qual é o risco de que uma nova tragédia mensagens de apoio aos familiares das vítimas e ao clu-
como as de Mariana e de Brumadinho ocor- be. O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, afirmou
ra no Brasil? Um relatório realizado pela no dia 24 de fevereiro que a intenção é de indenizar as
ANA - Agência Nacional de Águas, que foi famílias dos dez adolescentes mortos no incêndio com
divulgado em novembro de 2018, apontou valores do dobro do verificado na jurisprudência de ca-
pelo menos 45 barragens em todo o País sos semelhantes, objeto de decisão no Superior Tribunal
foram consideradas vulneráveis e podem de Justiça (STJ).
apresentar risco de rompimento.
SUICÍDIO DE EX-PRESIDENTE DO PERU

PROBLEMA DAS CHUVAS NA CAPITAL PAULISTA Alan García, ex-presidente do Peru, morreu no dia 17
de abril após atirar contra a própria cabeça ao receber
Temporais mataram 13 pessoas na capital paulista en- ordem de prisão da polícia. O ex-presidente foi levado
tre os dias 10 e 11 de março. Se somadas todas as mortes ao hospital onde sofreu três paradas cardíacas e não re-
decorrentes das chuvas destes três primeiros meses, o sistiu. Ele foi presidente do Peru entre 1985 e 1990 e de
número do Estado de São Paulo é de 31 vítimas fatais. 2006 a 2011. García era investigado por supostamente
Gastos com prevenção de enchentes e obras de dre- ter recebido propina da construtora brasileira Odebrecht. 
nagem foram 41% abaixo dos R$ 5,3 bilhões dos orça-
mentos feitos pela prefeitura de São Paulo e governo MORTES EM PRESÍDIOS NO AMAZONAS
estadual.
Uma guerra de facções dentro de presídios no Ama-
O PROBLEMA DAS CHUVAS NO RIO DE JANEIRO zonas causou a morte de mais de 50 detentos, a maioria
por asfixia. Os familiares dos presos protestaram contra a
Uma forte chuva atingiu o Rio de Janeiro na noite do falta de segurança e a superlotação nos presídios.
dia 8 de abril e deixou a cidade em estado de emergên- Em abril de 2018, vinte e duas pessoas morreram en-
cia. Foi a maior chuva em 22 anos na cidade e 10 pessoas quanto era realizada uma tentativa de fuga no Centro
morreram. Sete das vítimas foram mortas na Zona Sul, de Recuperação do Pará, no complexo de Santa Isabel,
entre elas uma avó e sua neta e o motorista de táxi que região da grande Belém. A situação levanta, mais uma
foram soterrados na Avenida Carlos Peixoto, em Bota- vez, a discussão para o problema das condições e super-
fogo. No Morro da Babilônia, um deslizamento de terra lotação das penitenciárias no Brasil.
matou duas irmãs, que eram vizinhas e um homem que
teria ido resgatá-las. As outras três mortes ocorreram na
Zona Oeste. FIQUE ATENTO!
Pela quarta vez, desde que foi inaugurada em 2016, O Brasil é o país que tem a 4ª maior popula-
a ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, caiu e deze- ção carcerária do mundo. Com mais de 600
nas de ruas foram bloqueadas. Com o risco de queda de mil presos, mais de 200 mil aguardam por
barreiras, dezenas de sirenes foram acionadas na capital. julgamento. O número de vagas, no entanto,
O Rio entrou em estágio de atenção às 18h35 da se- revela que há um déficit de 250 mil vagas,
ATUALIDADES

gunda-feira e às 20h55 foi para o estágio de crise, con- conforme dados de 2014.
siderado o mais grave de três níveis de risco, de acordo
com o Alerta Rio, um sistema da Prefeitura do Rio de
Janeiro. De acordo com a Defesa Civil foram realizadas
mais de 1,7 mil ocorrências.

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TRAGÉDIA ASSOLA FAMÍLIA DE BRASILEIROS NO
CHILE #FicaDica
O movimento pelos direitos dos homosse-
Uma família brasileira morreu intoxicada em um apar- xuais começou a ganhar força em Taiwan
tamento no Chile. Seis membros da família morreram. Os na década de 1990. Em 2017, o tribunal
bombeiros detectaram uma alta concentração de mo- constitucional do país decretou que impe-
nóxido de carbono no apartamento, que supostamente dir o casamento de casais do mesmo sexo
teria vazado do sistema de aquecimento. O monóxido era inconstitucional e deu ao governo prazo
de carbono é um gás incolor, sem cheiro e cuja inalação de dois anos para introduzir uma legislação
pode levar à morte. apropriada, ou uma lei de igualdade no ca-
samento seria promulgada automaticamen-
ALTERAÇÕES E CRIAÇÃO DE LEIS te.
CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA
FIM DO HORÁRIO DE VERÃO
Desde fevereiro, tramita no STF (Supremo Tribunal
Federal) se a discriminação por orientação sexual e iden- Adotado pelo Brasil pela primeira vez em 1931 e de-
tidade de gênero deve ser tratada como crime. finido como permanente a partir de 2008, o Horário de
Verão chegou ao fim. O presidente Jair Bolsonaro assinou
Parte dos dados, inéditos, foram tabulados no ano no dia 25 de abril, o decreto que encerra com o horário.
passado por Júlio Pinheiro Cardia, ex-coordenador da O Horário de Verão tinha o objetivo de economizar
Diretoria de Promoção dos Direitos LGBT do Ministério energia e aproveitar o maior período de luz solar durante
dos Direitos Humanos e repassados ao UOL. Ele formu- os meses mais quentes do ano. O presidente informou
lou o relatório a pedido da Comissão Interamericana de que a decisão foi tomada após estudos mostrarem que
Direitos Humanos no final de 2018 e o entregou à AGU não há mais razão para mantê-lo, em consequência das
– Advocacia Geral da União. Esses dados estavam em mudanças no consumo de energia que ocorreram nos
poder do governo federal, que nos últimos anos decidiu últimos anos.
cancelar a divulgação dos relatórios sobre o assunto.
RETROCESSO NO DECRETO DE ARMAS
#FicaDica No mês de junho, o presidente Jair Bolsonaro revo-
No documento, Cardia somou as denúncias gou o decreto que flexibilizou o porte e a posse de armas
de assassinato registradas entre 2011 e 2018 de fogo no Brasil. O decreto foi revogado, segundo o
pelo Disque 100 (um canal criado para re- Governo Federal, para o Congresso debater o tema.
ceber informações sobre violações aos di- Sendo assim, ao revogar o decreto, o presidente bus-
reitos humanos), pelo Transgender Europe e ca, então, novos caminhos para tentar flexibilizar o Esta-
pelo GGB (Grupo Gay da Bahia), totalizando tuto do Desarmamento. Já que, após críticas da socie-
4.422 mortos no período. Isso equivale a 552 dade civil e da Procuradoria Geral da República (PGR), o
mortes por ano, ou uma vítima de homofo- decreto foi rejeitado no Senado e também corria o risco
bia a cada 16 horas no país. de ser barrado na Câmara.
Portanto, parlamentares alegavam que, constitucio-
nalmente, algumas das mudanças propostas pelo presi-
PRIMEIRO PAÍS DA ÁSIA A LEGALIZAR CASAMEN- dente não poderiam ser realizadas por decreto, somente
TO GAY por projeto de lei.

A Tailândia se tornou o primeiro país da Ásia a legali-


zar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que já FIQUE ATENTO!
acontece em diversos países do Ocidente, como o Brasil. O plenário do Senado aprovou na terça-
Muitos países asiáticos, como os árabes, até criminalizam -feira, 18 de junho, por 47 votos a 28, o pa-
a união homoafetiva, por exemplo, a Arábia Saudita. recer da Comissão de Constituição e Justiça
Em Taiwan, grupos conservadores e religiosos se mo- (CCJ) que pede a suspensão dos decretos
bilizaram nos últimos meses e ganharam uma série de do presidente Jair Bolsonaro que facilitaram
referendos em novembro, nos quais os eleitores rejeita- o porte de armas. Tal decisão, fez com que
ram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. o presidente Jair Bolsonaro viesse a revogar
Entretanto, a nova legislação aprovada pelos parla- o primeiro decreto sobre armas e munições
mentares coloca restrições não enfrentadas pelos casais que foi assinado em 7 de maio. Entretanto,
heterossexuais. Casais do mesmo sexo só podem adotar tal revogação, não tem o caráter de proibi-
ATUALIDADES

filhos biológicos de seus parceiros e só podem se casar ção caso o presidente venha a optar por um
com estrangeiros de países onde o casamento gay tam- novo decreto.
bém é reconhecido e legalizado.

19
O PORTE DE ARMAS EM DEBATE Resposta: Letra B. Crime impossível, ou tentativa ini-
dônea, tentativa inadequada, quase crime ou ainda
O presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto que quase morte, é aquele ato que jamais poderia ser con-
flexibilizou o porte de armas no Brasil. O decreto am- sumado em razão da ineficácia absoluta do meio em-
pliou o porte para algumas classes profissionais, como pregado ou pela impropriedade absoluta do objeto.
políticos, instrutores de tiro, procuradores e defensores
públicos, motoristas de veículos de carga, proprietários 2. (NUCEPE – 2019) Com base no Estatuto do Desarma-
rurais, jornalistas, entre outras. Também tirou da Justiça mento (Lei nº 10.826/2003), assinale a alternativa COR-
e deu para os pais a autorização para menores de idade RETA.
praticarem tiro esportivo.
Desta forma, a PGR – Procuradoria-Geral da Repúbli- a) Para adquirir arma de fogo de uso restrito, o interes-
ca afirmou que o decreto assinado por Bolsonaro é in- sado deverá, além de declarar a efetiva necessidade,
constitucional e alertou o Congresso Nacional. Depois da atender, dentre outros requisitos, a comprovação de
repercussão negativa, o presidente fez alterações no de- idoneidade, com a apresentação de certidões negati-
creto, mas, segundo a PGR, ele ainda segue com medidas vas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça
inconstitucionais. O STF também questiona a legalidade Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar res-
do decreto. pondendo a inquérito policial ou a processo criminal,
O Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03) re- que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos.
gula a posse e a venda de armas de fogo e de munição. O b) O Ministério da Justiça disciplinará a forma e as con-
estatuto também define regras sobre o Sistema Nacional dições do credenciamento de profissionais pela Polí-
de Armas (SINARM) e está em vigor desde dezembro de cia Civil de cada Estado para comprovação da aptidão
2003. Assim sendo, o Estatuto do Desarmamento proibiu psicológica e da capacidade técnica para o manuseio
o porte de arma de fogo para os cidadãos brasileiros e de arma de fogo.
pela regra da lei o porte de arma só permitido para quem c) A Posse irregular de arma de fogo de uso permitido e
trabalha em áreas ligadas à Segurança Pública ou que o Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido são
tenha atividades de risco. crimes que apresentam as mesmas penas, tanto que
A partir disso, a questão do porte de armas de fogo constituem o mesmo tipo penal.
é extremamente recorrente em países que defendem va- d) Em relação ao crime de Comércio ilegal de arma de
lores democráticos, pois ele está diretamente ligado às fogo, equipara-se à atividade comercial ou industrial,
questões como o controle estatal, a rigidez das leis e o para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação
limite entre a liberdade e a regulamentação. de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clan-
Deste modo, as armas são instrumentos que são peça destino, inclusive o exercido em residência.
central de diversos pontos que dizem respeito à expres- e) Possuir apenas munição, de uso permitido, em desa-
são da liberdade, ao direito a proteger-se de maneira cordo com determinação legal ou regulamentar, no
eficaz, ao mesmo tempo em que fomentam análises e interior de sua residência ou dependência desta, não
discussões sobre a mortes, criminalidade e acidentes. configura crime.

Resposta: Letra D. Em “a” – Incorreta, pois não é arma


FIQUE ATENTO! de uso restrito e sim permitido. Lei. 10.826. Art. 4 Para
No Brasil, o ano de 2015 marcou o fortaleci- adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado
mento do debate a respeito da lei (proposta deverá, além de declarar a efetiva necessidade, aten-
em 2012) que busca diminuir significativa- der aos seguintes requisitos:
mente a rigidez imposta pelo chamado Esta-  I – comprovação de idoneidade, com a apresentação
tuto de Desarmamento, que passou a vigo- de certidões negativas de antecedentes criminais for-
rar no ano de 2004. necidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleito-
ral e de não estar respondendo a inquérito policial ou
a processo criminal, que poderão ser fornecidas por
meios eletrônicos;     
Em “b” – Incorreta, pois não é Polícia Civil e, sim a Po-
EXERCÍCIOS COMENTADOS lícia Federal. Segundo a Lei n° 10.826,
Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma e
1. (AOCP – 2019) De acordo com a Lei n° 10.826/03 as condições do credenciamento de profissionais pela
(estatuto do desarmamento), o sujeito que for preso em Polícia Federal para comprovação da aptidão psicoló-
via pública portando arma de fogo, que não contém me- gica e da capacidade técnica para o manuseio de arma
canismo de acionamento, terá sua conduta considerada de fogo.
como atípica em razão do instituto Em “c” – Incorreta, pois as penas são diferentes, logi-
camente dá para saber que o crime de PORTE é mais
ATUALIDADES

a) Da legítima defesa. grave que POSSE. Lei n° 10.826,


b) Do crime impossível. Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de
c) Do erro sobre elementos do tipo. fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em de-
d) Da discriminante putativa. sacordo com determinação legal ou regulamentar, no
e) Da relação de causalidade. interior de sua residência ou dependência desta, ou,

20
ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular para combater atos de discriminação. A maioria também
ou o responsável legal do estabelecimento ou empre- afirmou que a Corte não está legislando, mas apenas de-
sa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. terminando o cumprimento da Constituição. 
Art. 14. Portar, deter adquirir, fornecer, receber, ter em Desta forma, pela tese definida no julgamento, a ho-
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, mofobia também poderá ser utilizada como qualificado-
emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ra de motivo torpe no caso de homicídios dolosos ocor-
ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso ridos contra homossexuais. 
permitido, sem autorização e em desacordo com de-
terminação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de #FicaDica
2 (dois) a 4(quatro) anos, e multa.
Em “d” – Correta, pois segundo a Lei n° 10.826, Religiosos e fiéis não poderão ser punidos
Art. 17, Parágrafo único. Equipara-se à atividade co- por racismo ao externarem suas convicções
mercial ou industrial, para efeito deste artigo, qual- doutrinárias sobre orientação sexual desde
quer forma de prestação de serviços, fabricação ou que suas manifestações não configurem dis-
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido curso discriminatório. 
em residência.
Em “e” – Incorreta.  
HOMOFOBIA AGORA É CRIME!
Art. 17 da 10.826 - Adquirir, alugar, receber, trans-
portar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, Após longos debates sobre a situação do grupo LGB-
montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, TQ+, a homofobia foi criminalizada no Brasil. Com 8 vo-
ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou tos a favor e 3 contra, o STF - Supremo Tribunal Federal
alheio, no exercício de atividade comercial ou indus- aprovou o uso de leis de racismo para punir a homofo-
trial, arma de fogo, acessório ou munição, sem auto- bia, que é a discriminação contra homossexuais e tran-
rização ou em desacordo com determinação legal ou sexuais.
regular. Entretanto, apesar da vitória para a classe, setores re-
ligiosos se queixam que a criminalização da homofobia
poderia colocar em risco a liberdade de culto no país,
já que algumas religiões defendem, por exemplo, que a
MUDANÇAS À VISTA NO BRASIL: O STF JÁ TEM homossexualidade é um pecado.
MAIORIA PARA CRIMINALIZAR HOMOFOBIA Desta forma, dez dias depois da homofobia virar cri-
me, aconteceu a 23ª edição da Parada Gay de São Pau-
A maioria dos ministros do STF - Supremo Tribu- lo. O evento reuniu 3 milhões de pessoas e teve como
nal Federal já votou a favor de que a discriminação por tema “50 anos de Stonewall - Nossas conquistas, nosso
orientação sexual e identidade de gênero seja conside- orgulho de ser LGBTQ+”.
rada um tipo de racismo. Na prática, isso criminaliza a
homotransfobia no Brasil. FIQUE ATENTO!
Após cinco sessões, seis ministros, sendo eles: Celso
A 23ª edição da Parada do Orgulho LGBT de
de Mello, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luís Bar-
São Paulo assumiu o caráter de movimen-
roso, Rosa Weber e Luiz Fux, dos onze que compõem
to político e de oposição ao governo Jair
a Corte reconheceram haver uma mora do Legislativo
Bolsonaro, que tem um histórico de decla-
em tratar do tema e que, diante desta omissão, este
rações consideradas homofóbicas. “Resis-
tipo de conduta deve ser abrangido pela Lei de Racismo
tência” era a palavra mais repetida entre os
(7716/1989).
participantes do evento, que teve início por
Ao fim da quinta-feira, dia 23, o presidente do STF,
volta do meio-dia de domingo, 23 de junho,
Dias Toffoli, suspendeu temporariamente o julgamento.
e terminou por volta das 21 horas. Portan-
A previsão é que a votação seja retomada no mês de
to, nos trios elétricos houve a participação
junho.
de ativistas, artistas e políticos, que também
O processo de Criminalização da Homofobia e Trans-
criticaram o governo federal, desta forma, fi-
fobia, enfim chegou a um resultado. Despois de seis ses-
cou evidente que a Parada do Orgulho LGBT,
sões de julgamento, o Supremo Tribunal Federal (STF)
serviu como uma fonte direta de críticas ao
decidiu no dia 13 de junho de 2019, criminalizar a homo-
atual cenário político brasileiro.
fobia como forma de racismo.
Deste modo, ao finalizar o julgamento da questão,
a Corte declarou a omissão do Congresso em aprovar MOVIMENTOS SOCIAIS
a matéria e determinou que casos de agressões contra
o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e COM MENOR ADESÃO, “COLETES AMARELOS”
travestis) sejam enquadrados como o crime de racismo VOLTAM ÀS RUAS DA FRANÇA
ATUALIDADES

(Lei N/ 7.716, de janeiro de 1989) até que uma norma


específica seja aprovada pelo Congresso Nacional. O “coletes amarelos”, que nas marchas sindicais de
Com isso, por 8 votos a 3, os ministros entenderam 1º de Maio reuniram entre 150.000 e 300.000 pessoas na
que o Congresso não pode deixar de tomar as medidas França, voltaram às ruas no sábado, dia 4 de maio, para
legislativas que foram determinadas pela Constituição dar um novo impulso à mobilização.

21
O movimento, que desde meados de novembro, a Para as autoridades, facções de extrema-direita podem
cada fim de semana, se manifesta contra a política so- ter se infiltrado entre os manifestantes para radicalizar o
cial e fiscal do governo, foi perdendo força ao longo dos movimento.
meses. Sendo assim, as autoridades anunciaram 23.600 Os protestos mantêm os bloqueios de centros logísticos
participantes nos protestos, um número muito menor do e estradas iniciados há uma semana, mas com menos in-
que os anteriores. tensidade que no sábado passado, quando eram estima-
Várias centenas de pessoas disseram que participa- dos quase 300 mil manifestantes.
rão dos vários eventos organizados em toda a França, Agência Brasil
anunciados no Facebook. Em Paris, a prefeitura autorizou
três manifestações. Além disso, foi planejada uma “ocu- A notícia refere-se a acontecimento
pação” festiva do aeroporto Charles de Gaulle, no norte
de Paris, para pedir “o cessar da venda do aeródromo”. a) Na Hungria.
Desta forma, esses protestos ocorrem três dias após b) No Peru.
os distúrbios ocorridos entre manifestantes e forças de c) Na Índia.
segurança em 1º de maio. Portanto, os policiais esten- d) Na França.
deram sua ordem proibindo demonstrações na Champ- e) No México.
s-Élysées, e em um perímetro que inclui a Assembleia
Nacional, o Palácio do Eliseu e da área da catedral de Resposta: Letra D. Os “coletes amarelos”, que nas
Notre-Dame, destruída em parte por um incêndio no marchas sindicais de 1º de maio reuniram entre
meio de abril. 150.000 e 300.000 pessoas na França, voltaram às ruas
Desde o dia 17 de novembro de 2018, os franceses se no sábado, dia 4 de maio, para dar um novo impulso
habituaram a ver em ruas, avenidas e estradas um grupo à mobilização. O movimento, que desde meados de
de pessoas vestidas com coletes amarelos e fitas refleto- novembro, a cada fim de semana, se manifesta contra
ras, como se fossem agentes de trânsito ou funcionários a política social e fiscal do governo, foi perdendo for-
responsáveis pela limpeza e conservação das vias. ça ao longo dos meses. Sendo assim, as autoridades
Sendo assim, os “coletes amarelos” (gilet jaunes, em anunciaram 23.600 participantes nos protestos, um
francês) são, na verdade, manifestantes. Eles se multi- número muito menor do que os anteriores.
plicaram aos poucos no último mês. Partiram de zonas
rurais e dos subúrbios franceses e avançaram paulatina- 2. (NOVA CONCURSOS – 2019) Desde o final de 2018,
mente na direção dos centros urbanos, até juntarem mais a população francesa ficou habituada a ver nas ruas a
de 8.000 pessoas na Champs-Élysées, a principal avenida população com “coletes amarelos”, como na França to-
de Paris, no sábado dia 24 de novembro, numa marcha dos os motoristas são obrigados a levar coletes amarelos
que terminou em choque com a polícia. dentro de seus automóveis no caso de algum acidente,
parecia até mesmo algo normal, porém o movimento
FIQUE ATENTO! passou a ganhar grande força, se tornando um grande
movimento popular.
A peça da vestimenta, o colete amarelo, ou, A partir das ideias expressas no texto acima, julgue
às vezes, verde limão, virou marca registrada o item.
e nome do grupo. Com a hashtag #giletjau-
ne, os manifestantes passaram a convocar (   ) CERTO                (   ) ERRADO
protestos cada vez mais numerosos e sinto-
nizar o discurso via redes sociais. Na França, Resposta: Certo. O movimento conhecido como “co-
todos os motoristas são obrigados a levar letes amarelos”, teve início no dia 17 de novembro de
coletes amarelos dentro de seus automó- 2018, desde então, os franceses se habituaram a ver
veis. A ideia é que, em caso de acidente ou em ruas, avenidas e estradas um grupo de pessoas
pane, o condutor use a vestimenta para se vestidas com coletes amarelos e fitas refletoras, como
fazer visível e evitar acidentes nas vias pú- se fossem agentes de trânsito ou funcionários respon-
blicas. Algo que faz da vestimenta algo fácil sáveis pela limpeza e conservação das vias, porém são
de acessar. manifestantes realizando críticas e reivindicações ao
governo Francês.

EXERCÍCIOS COMENTADOS
ESTUDANTES PROTESTAM PELO CLIMA
1. (VUNESP – 2019) Milhares de pessoas foram às ruas
para manifestarem-se contra o aumento de combustí- Estudantes de mais de 1.300 cidades do mundo todo
veis. São chamados de “coletes amarelos”. protestaram contra as mudanças climáticas, como o
As forças de segurança lançaram gás lacrimogêneo e aquecimento global, no dia 24 de maio. A manifestação,
ATUALIDADES

usaram um canhão de água para conter o avanço dos chamada de Friday for Future (sexta-feira para o futuro),
manifestantes que tentavam ultrapassar o perímetro de foi inspirada na estudante ativista sueca Greta Thunberg,
segurança determinado pela polícia. Os manifestantes de 16 anos, que todas as sextas vai para uma praça em
gritam palavras de ordem e carregam cartazes pedindo a frente ao Parlamento da Suécia pedir medidas concretas
renúncia do presidente. contra o aquecimento global.

22
AS MANIFESTAÇÕES CONTRA OS CORTES DE VER- EDUCAÇÃO
BAS
OS DEBATES EM TORNO DA EDUCAÇÃO BRASILEI-
O bloqueio dos recursos da educação foi o estopim RA
para estudantes e opositores do Governo Bolsonaro irem
às ruas manifestar. Uma grande manifestação aconteceu Os debates sobre a educação brasileira ganharam
no dia 15 de maio, em mais de 240 cidades nos 26 esta- destaque este ano, quando o governo começou a anun-
dos e no Distrito Federal. O presidente Jair Bolsonaro não ciar as mudanças para a pasta. Um dos primeiros atos foi
reagiu bem às manifestações e xingou os estudantes de a criação de uma subsecretaria para promover a criação
“idiotas úteis”. de escolas militares em todo país. Em seguida, o governo
Com isso, em resposta às manifestações do dia 15, afirmou que pretendia acabar com os cursos de ciências
simpatizantes de Bolsonaro foram às ruas no dia 26 para humanas como Filosofia e Sociologia. Em abril de 2019,
defender o Governo, o ministro Sérgio Moro e a Refor- foi anunciado um projeto de lei que normatizaria a edu-
ma da Previdência. Eles também atacaram o presidente cação em casa. Isto provocou a reação de vários educa-
da Câmara, Rodrigo Maia, e o Supremo Tribunal Federal dores, alegando que prejudicaria a socialização daquelas
(STF). No entanto, os atos do dia 26 tiveram pouca ade- crianças que não frequentariam a escola.
são.
Outrossim, no dia 30 de maio, os estudantes voltaram CORTES NA EDUCAÇÃO
às ruas mais uma vez protestando pela educação. Os atos
foram convocados por, pelo menos, três movimentos es- O novo ministro da Educação, Abraham Weintraub,
tudantis e foram menores que os do dia 15. que assumiu a pasta após queda de Ricardo Vélez, anun-
ciou o contingenciamento de verbas da educação. Em
QUESTÕES CLIMÁTICAS abril, ele já havia informado que cortaria verbas de uni-
versidades que promoviam “balbúrdia” e citou a UnB,
O CALOR ASSOLA A EUROPA UFF, e UFBA, mas depois estendeu o corte para todas as
universidades e institutos federais.
No início do mês de junho, uma onda de calor atin- Desta forma, o MEC – Ministério da Educação blo-
ge a Europa, com temperaturas que chegam a 40 graus. queou 30% da verba discricionária das universidades, o
Entre as áreas mais afetadas estão Espanha, a França e que representa 3,5% do total. A despesa discricionária
países da Europa Central. se refere à manutenção da instituição, água, luz, telefo-
Deste modo, a massa de ar quente, procedente do ne, segurança etc. Por causa do bloqueio, universidades
Norte da África, provoca o calor. Apesar de ser verão, anunciaram que não conseguirão terminar o ano letivo.
essas temperaturas são incomuns nesta época.
Com isso, o alerta laranja foi lançado, e o perigo faz QUEBRA DO SIGILO
recordar a onda de calor que assolou o país em 2003, le-
vando à morte 15 mil pessoas. Embora eventos extremos INTERCEPTAÇÃO DE MENSAGENS ENTRE SÉRGIO
como esse possam ocorrer naturalmente, especialistas MORO E MEMBROS FORÇA-TAREFA LAVA JATO
afirmam que as ondas de calor ocorrerão mais frequen-
temente por causa da crise climática, levantando preo- O site de notícias The Intercept Brasil divulgou no iní-
cupações sobre a estabilidade do clima, como o aqueci- cio de junho, trechos de mensagens atribuídas ao atual
mento global. ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e
De Paris a Berlim e Málaga, as cidades europeias a membros da força-tarefa da Lava Jato, como o procu-
tentam proteger seus habitantes do calor extremo que rador Deltan Dallagnol. O The Intercept foi fundado pelo
atinge o continente e que alguns meios de comunicação jornalista, ex-advogado norte-americano e especialista
descrevem como “infernal”. Na Alemanha, o calor é tão em direito constitucional Glenn Greenwald, que alega a
intenso que começou a derreter o asfalto de uma rodo- veracidade do conteúdo. 
via no centro do país e levou as autoridades a reduzir os Desta forma, as mensagens teriam sido trocadas por
limites de velocidade. A temperatura chegou na quarta- meio de um aplicativo de conversas por celular e sido en-
-feira a 38,6º C na cidade alemã de Coschen, perto da tregues por uma fonte que pediu sigilo, apontando uma
fronteira com a Polônia. colaboração ilegal entre o então juiz federal responsável
por julgar a Lava Jato em Curitiba e os procuradores, a
quem cabe acusar os suspeitos de integrar o esquema
#FicaDica de corrupção.
Portanto, Sérgio Moro teria agido ilegalmente no jul-
A justificativa dos especialistas é que a eleva- gamento do ex-presidente Lula. O The Intercept revelou
ção da temperatura vem ocorrendo em to- que ele teria indicado testemunhas ao procurador Dal-
das as regiões do mundo, por esse motivo, lagnol, além de aconselhar e direcionar o trabalho do
ATUALIDADES

Europa também será afetada. Ademais, os Ministério Público no caso, o que é contra a Constituição.
efeitos diários de emissão de gases e coisas Foi lançado em agosto de 2016, o The Intercept Brasil,
do gênero, irão intensificar o aumento das editado em português, voltada para o noticiário políti-
temperaturas. co brasileiro e produzida por uma equipe de jornalistas
brasileiros. O The Intercept Brasil, também apresenta no-

23
tícias traduzidas da edição em inglês. No ato do lança- Sendo assim, ficou claro que é plenamente um po-
mento da versão brasileira da publicação, no seu perfil lítico que, ao ser sabatinado por parlamentares, exibe
no Facebook, Greenwald disse: “Com o intuito de ajudar não apenas alguns argumentos como se apresenta como
a preencher essa lacuna, anunciamos hoje o lançamento quem tem um gigante boneco inflável, com sua face pin-
do The Intercept Brasil. Para este projeto piloto, reunimos tada e vestindo uniforme de super-homem, na frente do
uma excelente equipe de jornalistas e editores brasileiros Congresso Nacional como símbolo de sua base de apoio.
que produzirão matérias originais sobre as questões po-
líticas, econômicas, sociais e culturais a serem publicadas #FicaDica
na versão em português de nosso site. Também traba-
lharemos com jornalistas freelance de destaque e outros Durante audiência na Comissão de Consti-
veículos independentes. Além disso, vamos traduzir nos- tuição e Justiça do Senado, na qual ele com-
sos artigos de interesse internacional para o inglês, além pareceu voluntariamente para se defender
de publicar outras traduções de matérias do Intercept de vazamentos de diálogos que o envolvem,
em português. Neste mês, nosso foco inicial será o julga- Moro estabeleceu um mantra que repetiu
mento e a votação final do impeachment da presidente com disciplina: confrontou opositores do
Dilma Rousseff no Senado Federal, assim como matérias Governo Jair Bolsonaro (PSL) e seus ques-
sobre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Além da tionadores como potenciais inimigos da luta
publicação de conteúdo original, vamos implementar os anticorrupção como um todo, negou con-
mesmos princípios de proteção de fontes que ocupam luio com o Ministério Público Federal contra
um espaço central na missão do Intercept. As mesmas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
tecnologias adotadas para que nossas fontes forneçam outros réus e tratou as reportages publica-
informações confidenciais contando com a máxima pro- das pelo site The Intercept Brasil como tex-
teção contra vigilância e ataques online (como o Secure- tos sensacionalistas que servem a um “gru-
po criminoso” que busca “obstaculizar” as
Drop) também serão disponibilizadas para nossas fontes
investigações.
de informação brasileiras”.

FIQUE ATENTO! CENSURA E OPRESSÃO


O The Intercept Brasil foi criado para trazer
à tona, notícias e informações relevantes so- A QUESTÃO DA LIBERDADE DE IMPRENSA NO
bre temas políticos e exceções existentes no BRASIL
território nacional, visando promover uma
nova possiilidade de fonte política aos bra- O fundador do The Intercept Brasil, Glenn Greenwald
sileiros e ao mundo. também falou no Congresso no mês de junho sobre
ameaças a jornalistas. Ele foi convidado a prestar es-
clarecimentos à comissão de Direitos Humanos após o
REAÇÕES AO VAZAMENTO DE MENSAGENS PELA site The Intercept, o qual também é um dos fundadores,
THE INTERCEPT BRASIL ter feito as divulgações do conteúdo das conversas.
Desta forma, o jornalista citou o vazamento das men-
O ex-magistrado e atual Ministro da Justiça e Segu- sagens do ministro Sérgio Moro, alegando que o mesmo
rança Pública do Brasil, Sérgio Moro afirmou em nota que “está usando tática cínica para tentar enganar a popula-
o conteúdo das “supostas mensagens” não revela qual- ção”. Dentre as falas respondidas e questionadas, foram
quer “anormalidade ou direcionamento” de sua atuação abordadas questões como a liberdade de expressão, a
liberdade de imprensa e sigilo de fontes.
como magistrado e que as mesmas além de sensaciona-
Com isso, Glenn e seu marido, o deputado federal e
listas, foram retiradas de contexto. O principal envolvido
também jornalista David Miranda, têm recebido amea-
no encândalo do vazamento de mensagens, Dallagnol
ças de morte depois das conversas vazadas entre Moro
escreveu em sua conta no Twitter “ser natural que mem-
e procuradores. Várias Fake News sobre o casal também
bros do MPF, a quem cabe denunciar, comuniquem-se passaram a circular pelas redes sociais.
com o juiz da causa, a quem cabe julgar a denúncia”. Segundo relatório do Ministério Público divulgado no
Desta forma, o Ministério da Justiça e Segurança ano passado aponta que 64 profissionais de imprensa e
Pública do Brasil, revelou que uma tentativa de invasão comunicadores foram mortos no Brasil durante o exercí-
do telefone celular do ministro tinha sido identificada, cio da profissão, entre os anos de 1995 e 2018.
motivando-o a deixar de usar a linha telefônica. Moro Deste modo, Glenn foi o primeiro jornalista a divul-
ainda falou no Senado em junho, sobre as supostas men- gar, em 2013, em seu blog, os arquivos que o ex-con-
sagens, onde admitiu a possibilidade de deixar o cargo sultor da Agência Nacional de Inteligência (NSA, na sigla
do governo Jair Bolsonaro caso sejam apontadas irregu- em inglês) dos Estados Unidos, Edward Snowden, vazou
ATUALIDADES

laridades em sua conduta. para revelar um esquema de monitoramento de teleco-


A sabatina do Ministro da Justiça durou nove horas municações conduzido, em segredo, pelas autoridades
de averiguações, Sérgio Moro, deixou claro quem ele é norte-americanas. Além de cidadãos comuns, o progra-
agora. Ademais, lembrou que não é mais o juiz da Ope- ma secreto monitorava as mensagens de líderes políticos
ração Lava Jato. e de altos executivos, inclusive no Brasil.

24
DROGAS E TRÁFICO
FIQUE ATENTO!
Glenn Greenwald ganhou junto com outros COCAÍNA NO AVIÃO DA FAB
jornalistas do jornal britânico The Guar-
dian o Prêmio Pulitzer em 2014, conside- Foram encontrados 39kg de cocaína com o sargento,
rado o maior prêmio dado a um jornalista. escondidos numa maleta e divididos em pacotes, com
No Brasil, ganhou o prêmio Esse de Repor- um sargento da FAB - Força Aérea Brasileira, que foi pre-
tagem, por matérias publicadas no jornal O so no aeroporto de Sevilha, na Espanha, por suspeita
Globo revelando a espionagem dos Estados de envolvimento em transporte de drogas O militar fa-
Unidos em políticos e empresas brasileiras, zia parte da comitiva de 21 militares que acompanha a
incluindo a Petrobras. viagem do presidente Jair Bolsonaro a Tóquio, no Japão,
onde participaria da reunião do G-20.
Desta forma, o avião em que estava o militar é usa-
QUESTÕES RELIGIOSAS do como reserva da aeronave presidencial e, portanto,
a comitiva da qual o sargento fazia parte não estava no
MARCHA PARA JESUS mesmo avião que transportava Bolsonaro.

Em paralelo a 23ª edição da Parada Gay de São Paulo,


ocorreu também em São Paulo, a Marcha para Jesus, que #FicaDica
contou com membros da liderança política do país, entre
eles o Governador de São Paulo e o Presidente do Brasil. Não foi a primeira vez, o caso do sargento
Desta forma, o principal encontro evangélico do brasileiro preso na Espanha por levar 39kg
país, conhecido como Marcha para Jesus, contou em São de cocaína num avião da comitiva de Jair
Paulo pela primeira vez com a presença de um Presidente Bolsonaro não é o primeiro episódio de trá-
da República.  fico internacional envolvendo aeronaves da
Portanto, o atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, FAB - Força Aérea Brasileira. Sendo assim, no
além de estar presente, causou polêmica ao fazer o sinal dia 19 de abril de 1999, agentes da Aeronáu-
de arma de fogo com as mãos em um evento religioso. tica e da Polícia Federal apreenderam 33kg
No ano de 1993, a Marcha Para Jesus chegou ao Bra- de cocaína refinada em duas malas, dentro
de um modelo Hércules C-130 da FAB na
sil por meio do Apóstolo Estevam Hernandes, um dos
Base Aérea do Recife. A aeronave saiu do
fundadores da Igreja Renascer em Cristo. Neste ano, a
Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio, e
Marcha para Jesus foi realizada em mais de 100 cidades
fazia sua última escala, na capital pernambu-
em várias regiões do Brasil.
cana, antes de partir para a Europa.
Seis anos depois, cerca de 10 milhões de pessoas de
aproximadamente 200 países marcharam para celebrar o
nome de Jesus Cristo. Pessoas de diversas religiões, ida-
des e etnias saíram às ruas de países como Inglaterra,
França, Alemanha, Itália, Irlanda do Norte, Egito, Israel,
EUA, Canadá, Rússia, Cuba, Finlândia, Japão, Moçambi-
que, África do Sul, Brasil, Argentina, Bolívia, Peru e Chile,
Portanto, em 2013, o evento foi realizado pela primei-
ra vez na Terra Santa, Israel.

#FicaDica
A Marcha para Jesus faz parte do calendá-
rio oficial do Brasil desde setembro de 2009,
quando a Lei Federal 12.025 foi sancionada
pelo Ex. presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A 27ª edição da Marcha para Jesus, even-
to gospel liderado pela Igreja Renascer em
Cristo, reúne milhares de pessoas na quinta-
-feira, 20 de junho, em São Paulo. O evento
combina caminhada, shows e apresentações
de pastores evangélicos.
ATUALIDADES

25
Considere as seguintes afirmações sobre eventos climáti-
cos extremos e planejamento urbano.
HORA DE PRATICAR!
I. Episódios de precipitação intensa podem levar à di-
1. (UPF – 2018) Fugindo da crise, milhares de venezue- minuição da capacidade de infiltração do solo e, conse-
lanos cruzam a fronteira de países vizinhos na esperança quentemente, a perdas e danos em áreas urbanas.
de encontrar melhores condições de vida. Sobre o tema, II. As secas independem do quantitativo pluviométrico e
é correto afirmar: do armazenamento de água disponível superficial e sub-
superficialmente, pois são o reflexo do desajuste entre o
a) A crise recente da Venezuela foi provocada pelo esgo- consumo e a disponibilidade.
tamento das jazidas de petróleo, causando desempre- III. As cidades com maior concentração de áreas verdes,
go em massa e consequente imigração. por diminuírem a velocidade do vento e reterem a umi-
b) A elevada procura de imigrantes venezuelanos pelo dade do ar, propiciam melhores condições urbanas para
território brasileiro resulta do recente fechamento de ilhas de calor.
fronteiras entre Venezuela e Peru.
c) O elevado número de imigrantes venezuelanos que in- Quais estão corretas?
gressam no país levou o governo brasileiro a estabe-
lecer medidas rígidas de contenção a partir de janeiro a) Apenas I.
de 2018, por considerar esgotadas as possibilidades b) Apenas II.
de acolhimento. c) Apenas III.
d) Desde o início do movimento migratório, a maior par- d) Apenas I e II.
te dos imigrantes venezuelanos dirige-se diretamente e) I, II e III.
a Manaus, polo econômico da região, onde são maio-
res as perspectivas de emprego. 4. (MACKENZIE – 2018) Observe o infográfico e anali-
e) Os venezuelanos que ingressam no Brasil se estabe- se as afirmativas relacionadas à atual crise econômica da
lecem, em sua maioria, em Boa Vista, Roraima, o que Venezuela.
aumenta significativamente a população desse mu-
nicípio, impactando negativamente a segurança e os Em busca de comida
serviços da cidade. Venezuelanos viajam ao Brasil para comprar mantimen-
tos
2. (UECE-CE – 2019) Um dos pontos da agenda básica
do Estado neoliberal é o(a)

a) aumento dos gastos sociais e do déficit público em


favor de uma política desenvolvimentista.
b) redução dos impostos indiretos e aumento dos impos-
tos diretos, exatamente para taxar grandes fortunas e
garantir a distribuição de renda na sociedade.
c) progressiva privatização de empresas estatais com a
liberalização dos mercados de capital.
d) fortalecimento do papel das forças públicas na fisca-
lização da corrupção política e econômica, no intuito
de frear o crescimento da inflação e da taxa de juros.

3. (UFRGS-RS – 2019) Leia o texto abaixo.


O Perfil dos Municípios Brasileiros em 2017, divulgado
pelo IBGE, indica que, “dos municípios com mais de 500
mil habitantes, 93% foram atingidos por alagamentos e Infográfico elaborado em: 18/07/2016.
62% por deslizamentos. As secas foram o tipo de desas- Disponível em: <https://glo.bo/2anyo2E>.
tre que afetou a maior parte dos municípios brasileiros:
2.706 ou 48,6%, seguido por alagamento (31%) e enchen- I. A escassez de alimentos básicos, bem como de diversos
tes ou enxurradas (27%). A região Nordeste teve 82,6% outros produtos na Venezuela tem provocado um inten-
de seus municípios afetados, especialmente o Ceará, em so fluxo de venezuelanos em direção ao norte do Brasil
que essa proporção chegou a 98%, Piauí (94%), Paraíba nos últimos anos.
(92%) e Rio Grande do Norte (91%). Os outros desastres II. O agravamento da crise econômica na Venezuela tem
foram mais frequentes no Sul, em que 53,9% dos muni- aumentado significativamente também as solicitações de
ATUALIDADES

cípios foram atingidos por alagamento, 51% por enchen- refúgio, especialmente no estado de Roraima.
tes ou enxurradas, 25% por deslizamentos e 24,5% por III. Forte opositor do chavismo, o presidente venezuela-
erosão acelerada”. no, Nicolás Maduro, atribui à escassez de recursos ener-
Disponível em: <https://bit.ly/2J0710u>. géticos fósseis a culpa pela severa crise econômica de
seu país.

26
IV. Nicolás Maduro convocou no dia 01 de maio de 2017 tros cúbicos de lama invadiram o leito dos rios Gualaxo
uma Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo do Norte, Carmo e Doce. Por meio de muita poeira e de
de reescrever a Constituição. Ele defende seu plano ar- barulhos estrondosos, as famílias que moravam à jusan-
gumentando que é a solução diante da crise, mas seus te receberam o anúncio. Em questão de minutos, viram
opositores afirmam que se trata, na realidade, de uma aproximar de si uma montanha de lama, que arrombava
forma de ele se perpetuar no poder e de dissolver órgãos as portas de casa, derrubava as paredes, arrastava as ár-
como a Assembleia Nacional que representa o Poder Le- vores e os carros. Quem conseguiu, correu com a roupa
gislativo e a Procuradoria Geral. do corpo para o lugar mais alto que podia alcançar. Para
trás, foram deixados animais, plantações, casas, docu-
Estão corretas as afirmativas mentos, algum retrato de família, algum brinquedo de
infância, um objeto de sorte, uma carta de amor”.
a) I e II, apenas. Le Monde Diplomatique Brasil. 23 nov. de 2017. No Rio
b) II e III, apenas. Doce, dois anos de violência e de luta. (Disponível em
c) I e III, apenas. https://diplomatique.org.br/dois-anos-deviolencia-e-lu-
d) I, II e IV, apenas. ta-no-rio-doce-samarco/).
e) I, II, III e IV.
O texto acima relata um dos maiores acidentes ambien-
5. (ETEC – 2017) Analise esta charge do cartunista Latuff. tais já ocorridos no Brasil, como consequência do rompi-
mento da barragem de Fundão (MG), em 2015. Sobre os
desdobramentos desse desastre, é correto afirmar que

a) passados dois anos do acidente, a “ressurreição” dos


rios atingidos já é uma realidade, uma vez que as em-
presas responsáveis pelo desastre concluíram a retira-
da dos rejeitos depositados.
b) a recuperação do ambiente atingido por esse desastre
ambiental é lenta, mas as consequências não são tão
graves, pois o acidente não trouxe maiores problemas
para as pessoas ali residentes.
c) após dois anos do rompimento da barragem de Fun-
dão, o rejeito de minério ainda encobre áreas devas-
tadas, e milhões de metros cúbicos da lama seguem
espalhados, deixando marcas no meio ambiente e nas
comunidades atingidas.
É correto afirmar que a charge d) até hoje, as empresas e o poder público não deram
resposta para questões ambientais emergenciais
a) ilustra a imigração de europeus após os diversos aten- ocorridas com o rompimento da barragem de Fun-
tados ocorridos recentemente em países como França dão, porém todas as pessoas atingidas pelo desastre
e Itália. já foram indenizadas e estão reconstruindo suas vidas
b) ironiza o muro de contenção à imigração mexicana em municípios distantes dos rios Gualaxo do Norte,
nos Estados Unidos, construído no norte do país no Carmo e Doce.
início de 2015.
c) critica a ação brasileira em relação aos refugiados 7. (USF – 2017) O demógrafo José Eustáquio falou sobre
haitianos, que morrem ao tentar atravessar o mar do o “bônus demográfico”, o melhor momento demográfico
Norte rumo ao Brasil. do Brasil. Segundo o especialista, isso acontece apenas
d) apresenta a questão dos refugiados, sobretudo sírios uma vez na história de cada país. “A pirâmide etária é
que, por conta da guerra em seu país, tentam chegar muito jovem na história toda, mas está se transforman-
à Europa pelo Mediterrâneo. do e envelhecendo. Esse momento, em que estamos no
e) debate a situação dos jovens britânicos que, por conta meio, muita gente em idade produtiva de trabalho, é o
da saída do Reino Unido da União Europeia, têm difi- que chamamos de ‘bônus demográfico’, porque existe
culdades para emigrar para os países vizinhos. mais gente em idade de trabalhar e menos pessoas de-
pendentes”, contextualizou.
6. (UECE-CE – 2018) Atente ao seguinte excerto: Ele contou que, em 1970, a cada três brasileiros, um esta-
“A tarde daquela quinta-feira corria como outra qualquer. va trabalhando e dois não. Então uma pessoa tinha que
Crianças na escola começavam a se agitar para o fim da sustentar três. Em 2010, já era uma pessoa sustentando
aula, o senhor de idade levantava do seu costumeiro re- uma só – 50% da população trabalhando. Conforme o
pouso, trabalhadores retornavam da jornada. Porém, de demógrafo, esse bônus pode continuar até 2030 mais
ATUALIDADES

maneira abrupta, aquilo que alguns temiam se realizou. ou menos, dependendo da política adotada, visto que
Por volta das 15 horas e 30 minutos, no município de o bônus é passageiro. “É o momento em que a pirâmide
Mariana, a estrutura da barragem de rejeitos minerários está se transformando. Depois, ele passa e chega o enve-
de Fundão, de propriedade da Samarco (Vale/BHP Billi- lhecimento populacional, juntamente com o aumento da
ton) se rompeu e aproximadamente 40 milhões de me- razão de dependência demográfica”, constatou. [...]

27
Está quase certo que a gente terá uma década perdida. As implicações geopolíticas da nova política externa nor-
E podemos perder a próxima década também. Se isso te-americana são ansiosamente aguardadas por vários
acontecer, já não teremos mais bônus depois. E corremos países do mundo. O posicionamento, já declarado, do
o risco de ter uma situação em que o Brasil chegou ao Presidente eleito dos EUA em relação à Rússia é de
fim do seu desenvolvimento sem resolver os problemas
sociais”. a) combater as ações deste país na Síria, inclusive com o
(Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/noti- envio de tropas.
cias/2015/10/19/o-brasil-esta-em-seu-melhor-momen- b) diminuir as importações de produtos russos como for-
to-demografico-diz-especialista-do-ibgen). Adaptado. ma de fortalecer a indústria interna.
c) restringir a atuação russa no Conselho de Segurança
Diversas ações do poder público e da sociedade pode- da ONU.
riam prolongar ainda mais o bônus demográfico no Bra- d) atuar de forma conjunta ao Governo de Moscou em
sil, excetuando-se áreas de interesse mútuo.

a) Investimento em educação. 10. (VUNESP – 2017) O diagnóstico é do economista Víc-


b) Reforma na previdência, aumentando a idade mínima tor Álvarez, ex-ministro de Indústrias Básicas do governo
Hugo Chávez: “A crise econômica, social e política que
para se aposentar.
está sofrendo o país neste momento é uma nova expres-
c) Fomento à participação das mulheres no mercado de
são de esgotamento de um modelo que se impôs na Ve-
trabalho.
nezuela há mais de um século”.
d) Emigração da População Ativa que busca novas opor- (Disponível em: www.cartacapital.com.br. Adaptado.)
tunidades.
e) Imigração de mão de obra qualificada. Considerando o cenário econômico e geopolítico da Ve-
nezuela, é correto afirmar que o modelo citado no excer-
8. (UECE-CE – 2019) O afastamento do Reino Unido da to se baseia
União Europeia, que ficou conhecido como Brexit, foi
aprovado em plebiscito em junho de 2016, depois de a) no extrativismo mineral, com a intensa exploração de
longas polêmicas acerca das campanhas relacionadas ao petróleo.
movimento. Sobre o Brexit, é correto afirmar que b) na industrialização nacional, com a total substituição
das importações.
a) é um movimento que questiona a globalização e o c) no extrativismo vegetal, com a valorização das especi-
internacionalismo liberal, defendendo, em seu lugar, ficidades genéticas da região.
um forte regionalismo ou o fechamento comercial de d) na inovação industrial, com o financiamento de polos
fronteiras nacionais. de pesquisa avançada.
b) se trata de um movimento político realizado pelo Rei- e) na agricultura de exportação, com o compromisso de
no Unido, que se afasta da União Europeia para liderar abastecer os países latinos.
uma cooperação internacional mútua de países emer-
11. (FGV – 2017) Desde o início da Operação Lava Jato, a
gentes.
“delação premiada” tem circulado em noticiários, sendo
c) acentua a tendência cada vez maior do Reino Unido considerada um importante instrumento para os avanços
de expandir suas relações comerciais globais, princi- das investigações.
palmente ao sair da União Europeia e dominar outros Assinale a alternativa que caracteriza corretamente o ins-
continentes. trumento da delação premiada e sua aplicação no Brasil.
d) demarca o ressurgimento radical de ideias derivadas
do liberalismo econômico no Reino Unido, que busca a) É uma denúncia anônima em que são identificados es-
se afastar da União Europeia, em função do programa quemas criminosos por parte de políticos, permitindo
governamental socialdemocrata dos países que for- suspender a imunidade parlamentar.
mam esse bloco. b) É um encaminhamento proposto por membros de co-
missões parlamentares de inquérito, pela Comissão
9. (UECE-CE – 2017) O eclético grupo de pessoas que Nacional da Verdade, ou pelo próprio réu.
Donald Trump está considerando para sua equipe de po- c) É uma colaboração de testemunhas para desvendar
lítica externa mostra que o presidente eleito dos Estados crimes que, independentemente da contribuição efe-
Unidos não tem uma visão de mundo definida — pelo tiva para as investigações, resulta em benefícios para
menos não aquela que Washington e os aliados da Amé- o réu.
rica estavam acostumados a ver. A questão então passa a d) É um procedimento pelo qual o acusado, em troca
das informações válidas, recebe benefícios diversos
ser: isso é uma coisa boa ou ruim?
no processo penal como, por exemplo, a redução da
Gerald F. Seib. The Wall Street Journal. Visão indefini-
ATUALIDADES

pena.
da de Trump sobre o mundo é algo novo para Washing-
e) É um recurso do Ministério Público Federal, restrito
ton e seus aliados. às investigações sobre crimes de tortura, de estupro,
contra os direitos humanos e de terrorismo.

28
12. (UEMG – 2018) “O acidente em Mariana ficou conhe- 15. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE –
cido no Brasil como o maior desastre ambiental da histó- 2013) Acerca dos direitos de cidadania e do pluralismo
ria e deixou 19 pessoas mortas, além de destruir o distri- jurídico, julgue o item que se segue.
to de Bento Rodrigues, contaminar a Bacia Hidrográfica No Brasil, o pluralismo jurídico configura-se, por exem-
do Rio Doce e comprometer o abastecimento de água e plo, quando da aplicação de regras criadas por membros
a produção de alimentos em diversas cidades da região.” de organizações criminosas, distintas das regras jurídicas
(Disponível em: <https://bit.ly/2KYdeMZ). estabelecidas pelo Estado.

Sobre o rompimento da Barragem Fundão em Mariana, é ( ) CERTO ( ) ERRADO


correto afirmar que
16. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE
a) desastres socioambientais ligados às atividades mine- – 2013) No que se refere à fundamentação dos direitos
radoras, no Brasil e no mundo, são fenômenos raros. humanos e à sua afirmação histórica, julgue o item sub-
b) Os rejeitos contaminantes que acompanharam o ras- secutivo.
tro de morte na bacia hidrográfica do Rio Doce eram A expressão “direitos humanos de primeira geração” re-
de bauxita e nióbio. fere-se aos direitos sociais, culturais e econômicos.
c) As principais controladoras da SAMARCO são as em-
presas VALE e a anglo-australiana BHP Billiton. ( ) CERTO ( ) ERRADO
d) A destruição dos corpos hídricos se concentrou a
montante do leito de vazão do Rio Doce.
17. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE
13. (PUC – 2007) – 2013) No que se refere à fundamentação dos direitos
humanos e à sua afirmação histórica, julgue o item sub-
secutivo.
Conforme a teoria positivista, os direitos humanos fun-
damentam-se em uma ordem superior, universal, imutá-
vel e inderrogável. 

( ) CERTO ( ) ERRADO

18. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERA –


CESPE – 2013) Julgue o próximo item, relativo aos direi-
tos humanos, à responsabilidade do Estado e à Política
Nacional de Direitos Humanos.
A Política Nacional de Direitos Humanos contem-
pla medidas voltadas à proteção dos direitos civis, tais
como os projetos que tratam da parceria entre pessoas
do mesmo sexo e da obrigatoriedade de atendimento do
aborto legal pela rede pública de saúde.
O tema central da charge apresentada se refere à (ao):
( ) CERTO ( ) ERRADO
a) ar poluído nas cidades e à escassez de água no espaço
rural. 19. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE –
b) baixa qualidade ambiental nos campos e nas cidades. 2008) O povoamento do Centro-Oeste resulta, desde o
c) crise climática nas cidades e nos espaços rurais. período colonial, de movimentos migratórios. No século
d) aumento de enchentes na cidade e à desertificação XX, a construção da nova capital brasileira atraiu novas
no campo. levas de imigrantes, em especial do Nordeste, secundado
e) poluição incontrolável nas cidades e nos campos. pelo Sul e pelo Sudeste. Nos últimos tempos, o Norte e o
Nordeste respondem pelo maior número de imigrantes
14. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE – que chegam à região. Segundo o censo de 2000, de cada
2013) Julgue o próximo item, relativo aos direitos huma- três nortistas que emigram, um se dirige para o Centro-
nos, à responsabilidade do Estado e à Política Nacional -Oeste. Com o auxílio dessas informações e consideran-
de Direitos Humanos. do o processo histórico de povoamento do Centro-Oeste
O sistema global de proteção dos direitos humanos foi brasileiro, assinale a opção correta.
instaurado pela Carta Internacional dos Direitos Huma-
nos. a) a grande extensão territorial do Centro-Oeste deriva
do fato de a colonização do Brasil ter-se iniciado nessa
( ) CERTO ( ) ERRADO região, conquistada aos espanhóis, que dela se apos-
ATUALIDADES

saram em consequência do Tratado de Tordesilhas.


b) sucessivas correntes migratórias, do século XVII ao
presente, fizeram do Centro-Oeste a região brasileira
mais populosa proporcionalmente à extensão de sua
área geográfica.

29
c) Bonito, em Mato Grosso, e o Pantanal Mato-Grossen- c) Madeira.
se, cortado pelo rio Araguaia, são dois dos mais ex- d) Negro.
pressivos exemplos de belezas naturais com que conta e) Tocantins.
o Centro-Oeste para o desenvolvimento do ecoturis-
mo. 22. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE
d) incentivos oferecidos pelo regime militar, na década –2008) O governo brasileiro anunciou sua intenção de,
de 70, explicam o fato de que, mais recentemente, em 2009, licitar e conceder a exploração de 4 milhões de
brasileiros provenientes do Sul e do Sudeste sejam os florestas públicas situadas, principalmente, em Rondônia,
imigrantes que mais se dirigem ao Centro-Oeste. Amazonas, Amapá, Pará e Acre. Ao afirmar que o modelo
e) meta-síntese do programa de governo de JK, Brasí- de gestão de florestas públicas viabiliza a conservação
lia, além das inovações de seu projeto urbanístico e das áreas licitadas e torna economicamente viável, social-
arquitetônico, contribuiu para a interiorização do de- mente justa e ambientalmente adequada a exploração, o
senvolvimento brasileiro e tornou-se polo de atração poder público pretende aproximar-se de um modelo de
de imigrantes. desenvolvimento entendido atualmente como

20. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE a) integrado à economia de mercado globalizada, que
– 2008) Nos anos 70 do século passado, cerca de 60% enfatiza os resultados econômicos.
da população do Centro-Oeste vivia no campo. Em 2006, b) monitorado por ONGs e submetido às leis do merca-
aproximadamente 74% estavam nas cidades. A crescente do.
mecanização da agricultura, que libera mão-de-obra, e c) refratário à ingerência externa e às teses ambientalis-
os fluxos migratórios vindos de outras regiões brasilei- tas mais difundidas no mundo.
ras são fatores relevantes para o vigoroso processo de d) sustentável, em que a geração de riquezas está asso-
urbanização observado nessa região. A propósito dessa ciada à preservação da vida no presente e no futuro.
realidade, assinale a opção correta. e) pragmático, segundo o qual a necessidade e a viabili-
dade do progresso devem ser defendidas a qualquer
a) O êxodo rural, que amplia consideravelmente a popu- custo.
lação urbana, é também reflexo da mecanização das
atividades rurais desenvolvidas no Centro-Oeste, as 23. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE
quais têm no denominado agronegócio, na atualida- – 2008) Projeto avaliado em 800 milhões de dólares, ini-
de, um de seus símbolos mais expressivos. ciado em 2005 e com previsão de término para 2010, a
b) O significativo crescimento da população urbana no Interoceânica dinamizará a integração entre vizinhos, ao
Centro-Oeste fez dessa região autêntica exceção no partir de Assis Brasil, no Acre, para desaguar nos portos
conjunto do país, ainda fortemente marcado pela for- peruanos de San Juan e Ilo. A construção da estrada gera
ça econômica e política do campo, o que explica a len- enorme expectativa para negócios entre os países. Se-
ta expansão dos centros urbanos brasileiros. rão mais de 2,5 mil quilômetros, dos quais 60% já estão
c) Apesar da existência de um Plano Piloto, com a maior construídos em diferentes blocos, que ainda precisam ser
renda per capita do país, o DF, com seus dois milhões conectados.
de habitantes, empurra para baixo os indicadores so- Jornal do Brasil, 27/7/2008, p. E4 (com adapta-
ciais e econômicos do Centro-Oeste, a começar pela ções).
taxa de escolaridade da população.
d) Ao contrário da atual tendência de interiorização das Tendo o texto acima como referência inicial e conside-
atividades econômicas no país, o desenvolvimento no rando o objetivo da obra nele mencionada, assinale a
Centro-Oeste concentra-se em torno das capitais, a opção incorreta.
começar pelo agronegócio.
e) A ausência da escravidão no Centro-Oeste, no perío- a) Com a construção da estrada, pretende-se facilitar
do colonial, e a implacável perseguição histórica aos o trânsito de mercadorias brasileiras em direção aos
índios explicam a inexistência de afro-descendentes cada vez mais promissores mercados da costa do
e de indígenas na composição demográfica dessa re- Oceano Pacífico.
gião. b) A obra, já em andamento, com pouco mais da metade
da construção concluída, impulsionará diretamente as
21. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE – relações Norte-Sul no cenário globalizado da econo-
2008) A celeuma em torno de duas hidrelétricas a serem mia mundial.
construídas em Rondônia envolveu desde preocupações c) As atuais alternativas de exportação, como os portos
ambientais até o modelo das linhas de transmissão de de Paranaguá e de Santos, representam custos muito
energia a ser utilizado, passando por disputa empresa- elevados para produtos da região Norte.
rial entre grupos interessados nas obras. Essas usinas, de d) Uma rodovia como a Interoceânica facilitará a aproxi-
ATUALIDADES

Jirau e Santo Antônio, irão integrar o complexo hidrelé- mação dos interesses comerciais brasileiros com o rico
trico do rio mercado da costa oeste norte-americana.
e) Em síntese, a estrada a que se refere o texto possibili-
a) Branco. tará a ligação, por terra, entre os oceanos Atlântico e
b) Solimões. Pacífico, cortando a América do Sul.

30
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 E ________________________________________________
2 C _________________________________________________
3 A _________________________________________________
4 D
_________________________________________________
5 D
6 C _________________________________________________
7 D _________________________________________________
8 A
_________________________________________________
9 D
_________________________________________________
10 A
11 D _________________________________________________
12 C _________________________________________________
13 B
_________________________________________________
14 CERTO
15 CERTO _________________________________________________

16 ERRADO _________________________________________________
17 ERRADO _________________________________________________
18 CERTO
_________________________________________________
19 E
20 A _________________________________________________
21 C _________________________________________________
22 D _________________________________________________
23 B
_________________________________________________

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ATUALIDADES

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31
ANOTAÇÕES

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ATUALIDADES

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32
ÍNDICE

DIREITO ADMINISTRATIVO

Estado, governo e administração pública. Conceitos.......................................................................................................... 01


Direito administrativo. Conceito. Objeto. Fontes.................................................................................................................. 02
Ato administrativo. Conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies. Extinção do ato administrativo.
Cassação, anulação, revogação e convalidação. Decadência administrativa............................................................ 04
Agentes públicos. Conceito. Espécies. Cargo, emprego e função pública. Provimento. Vacância.
Efetividade, estabilidade e vitaliciedade. Remuneração. Direitos e deveres. Responsabilidade. Processo
administrativo disciplinar. Lei nº 5.810/1994 e suas alterações (Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos Civis da Administração Direta, das Autarquias e das Fundações Públicas do Estado do Pará).
Disposições constitucionais aplicáveis...................................................................................................................................... 10
Poderes da administração pública. Hierárquico, disciplinar, regulamentar e de polícia. Uso e abuso de poder.. 16
Regime jurídico-administrativo. Conceito. Princípios expressos e implícitos da administração pública........ 20
Responsabilidade civil do Estado. Evolução histórica. Responsabilidade por ato comissivo do Estado.
Responsabilidade por omissão do Estado. Requisitos para a demonstração da responsabilidade do Estado.
Causas excludentes e atenuantes da responsabilidade do Estado. Reparação do dano. Direito de regresso... 22
Serviços públicos. Conceito. Elementos constitutivos. Formas de prestação e meios de execução.
Delegação. Concessão, permissão e autorização. Classificação. Princípios............................................................... 25
Organização administrativa. Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista.
Entidades paraestatais e terceiro setor. Serviços sociais autônomos, entidades de apoio, organizações
sociais, organizações da sociedade civil de interesse público......................................................................................... 30
Controle da administração pública. Controle exercido pela administração pública. Controle judicial.
Controle legislativo. 10.4 Lei nº 8.429/1992 e suas alterações (improbidade administrativa)............................ 38
Lei nº 9.784/1999 e suas alterações (processo administrativo)....................................................................................... 43
Licitações e contratos administrativos. Lei nº 8.666/1993 e suas alterações. Lei nº 10.520/2002 e demais
disposições normativas relativas ao pregão. Decreto nº 7.892/2013 e suas alterações (sistema de registro
de preços). Lei nº 12.462/2011 e suas alterações (Regime Diferenciado de Contratações Públicas). Decreto
nº 6.170/2007 e suas alterações, Portaria Interministerial nº 424/2016 e suas alterações. Fundamentos
constitucionais.................................................................................................................................................................................... 45
Lei nº 13.019/2014 e suas alterações......................................................................................................................................... 55
dos do século XVI e XVII), época em que o Poder Político
ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO estava concentrado nas mãos de uma única pessoa, o
PÚBLICA. CONCEITOS Monarca, e o Estado agia segundo a sua vontade, geran-
do em gravíssimas violações aos direitos e liberdades de
seus súditos. A necessidade de controlar o Estado, im-
pedindo-o de praticar tais abusos fez com que, durante
Para compreender melhor o âmbito do estudo do
a Revolução Francesa, surgisse as noções do Estado de
ramo de direito administrativo, é imprescindível com-
Direito e da Separação dos Poderes.
preender as noções e diferenças entre Estado, Governo, e
A divisão dos Poderes que temos no Estado brasileiro
Administração Pública. Muitas vezes utilizamos esses três
segue o modelo apresentado por Montesquieu durante
termos como sinônimos, ainda que de forma errônea.
a referida época. Assim, o Estado de Direito possui três
Isso ocorre porque os três têm um ponto em comum,
Poderes ou Funções: Executivo, Legislativo e Judiciário. O
que é o fato de estarem inseridos no Poder Executivo,
mas que não se confundem entre si. Poder Legislativo é encarregado de criar as leis e demais
normas legais, válidas para todos, inclusive para o pró-
ESTADO: CONCEITO, NATUREZA, ELEMENTOS E prio Estado. O Poder Executivo tem como sua principal
PODERES função dar fiel execução às leis criadas pelo Legislativo,
bem como o exercício das funções política e administra-
Utilizamos o termo “Estado” para descrever uma for- tiva do Estado. Por fim, ao Poder Judiciário compete o
ma de governo sobre um povo em específico, situado exercício da jurisdição, dirimindo os conflitos de ordem
em um determinado território. O Estado possui natureza jurídica que pairam sobre a sociedade. Para tanto, utiliza-
essencialmente política, com clara densidade cultural e -se de diversos institutos de grande importância para o
reflexos jurídicos por toda a sociedade que se subordina exercício da jurisdição, como o devido processo legal, o
ao mesmo, sendo considerado pessoa jurídica de direi- exercício do contraditório e ampla defesa, entre outros.
to público, com poderes e prerrogativas especiais para a Importante mencionar que as principais característi-
persecução de determinados fins. cas dos Três Poderes do Estado é que estes são inde-
pendentes e harmônicos entre si. Os Poderes são inde-
pendentes, pois cada um apresenta sua própria esfera de
#FicaDica competência e que, em regra, não admite sobreposição
de um sobre o outro. Ao mesmo tempo, são também
O conceito apresentado possui o que a
harmônicos uma vez que atuam de forma conjunta, em
doutrina denomina de elementos essen-
cooperação para perseguir os interesses estatais, o res-
ciais do Estado. Embora não haja uma uni-
peito aos direitos dos cidadãos, e a garantia dos direitos
formidade em relação aos mesmos, o cer-
fundamentais.
to é que podemos distinguir cada Estado
baseado em, no mínimo, três elementos:
GOVERNO: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO
soberania, povo e território. Trata-se de as-
sunto que aparece em muitas questões de
Já mencionamos que Governo é um dos elementos
concursos que podem confundir o candi-
dato. que estruturam o Estado. Trata-se da cúpula diretiva do
mesmo, responsável pela condução dos interesses esta-
tais e pelo exercício do poder político, podendo ter sua
Sobre os elementos do Estado, povo é um conjunto composição modificada mediante o período das elei-
de cidadãos (natos e naturalizados) vinculados a um regi- ções. São pessoas integrantes do Governo, o Presidente
me jurídico do Estado, formando uma entidade jurídica. da República, os Deputados, Senadores, Prefeitos, Verea-
Território é a base física, uma parte do globo em que o dores, e etc.
Estado pode exercer seu poder, servindo de limite a sua Não há uma unanimidade quanto à classificação das
jurisdição e fornecendo-lhe recursos materiais. Governo formas de governo. Aristóteles costumava dividir os go-
(ou soberania) é o exercício do poder do Estado, interna vernos em dois grupos: os governos puros e perfeitos,
e externamente, conferindo-lhe a sua autodeterminação. como a Monarquia, a Aristocracia, e a Democracia; e o
Não confundir com a composição do Estado, que é a sua grupo dos governos impuros e imperfeitos, como a Tira-
divisão interna com base na sua forma confederativa. No nia, a Oligarquia e a Demagogia, considerados antíteses
caso do Estado brasileiro, este é composto pela União, dos governos puros. Maquiavel, por sua vez, classifica
Estados, Municípios, e Distrito Federal. Atualmente não todas as formas de governo em apenas duas espécies:
DIREITO ADMINISTRATIVO

há mais nenhum Território Federal, pois os remanescen- Monarquia e República, podendo ser subdividida em di-
tes foram transformados em outros entes federativos, versas espécies. Kelsen, por sua vez, também divide as
nos termos da Constituição Federal de 1988. diversas espécies de governo em dois grandes grupos:
Quanto aos Poderes do Estado, primeiramente de- os governos democráticos, com participação popular na
ve-se conceituar o que vem a ser um Estado de Direito, tomada de decisões, e os governos autocráticos, em que
pois só podemos falar em separação dos poderes quan- há ausência dessa participação popular.
do estamos diante de um Estado que subordina a sua
vontade à ordem legal. A necessidade da construção de
um Estado de Direito surge durante o Absolutismo (mea-

1
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: CONCEITO E ACEP- Resposta: Errado. A frase apresenta dois erros. Pri-
ÇÕES meiramente, o Brasil adota o sistema de civil law, o
que significa que damos maior destaque e importân-
Administração Pública, outro ente que integra o Po- cia aos comandos normativos do que os julgados de
der Executivo, é o conjunto de órgãos e agentes estatais nossos Juízes. Há maior obediência às Leis em sentido
no exercício da função administrativa, podendo estar amplo. Dessa forma, o costume não poderia ser consi-
presentes inclusive nos Poderes Legislativo e Judiciário, derado uma fonte principal de direito administrativo,
como parte de suas funções atípicas. Percebe-se que a mas é uma fonte secundária, ou mediata.
função administrativa não possui natureza política e, por
isso mesmo, a Administração Pública não se confunde
com Governo.
Quanto à etimologia da palavra, “Administração Pú- DIREITO ADMINISTRATIVO. CONCEITO.
blica” é uma expressão que pode comportar pelo me- OBJETO. FONTES
nos dois sentidos: na sua acepção subjetiva, orgânica e
formal, a Administração Pública confunde-se com a pes-
soa de seus agentes, órgãos, e entidades públicas que CONCEITO E OBJETO
exercem a função administrativa. Já na acepção objetiva
e material da palavra, podemos definir a administração “O Direito Administrativo, como sistema jurídico de
pública (alguns doutrinadores preferem colocar a palavra normas e princípios, somente veio a lume com a institui-
em letras minúsculas para distinguir melhor suas concep- ção do Estado de Direito, ou seja, quando o Poder cria-
ções), como a atividade estatal de promover concreta- dor do direito passou também a respeitá-lo. O fenômeno
mente o interesse público. Também podemos dividir, na nasce com os movimentos constitucionalistas, cujo início
acepção material, em administração pública lato sensu e se deu no final do século XVIII. Através do novo sistema,
stricto sensu. Em sentido amplo, abrange não somente a o Estado passava a ter órgãos específicos para o exercício
função administrativa, como também a função política,
da administração pública e, por via de consequência, foi
incluindo-se nela os órgãos governamentais. Em sentido
necessário o desenvolvimento do quadro normativo dis-
estrito, administração pública envolve apenas a função
ciplinador das relações internas da Administração e das
administrativa em si.
relações entre esta e os administrados. Por isso, pode
considerar-se que foi a partir do século XIX que o mun-
do jurídico abriu os olhos para esse novo ramo jurídico,
o Direito Administrativo. [...] Com o desenvolvimento do
EXERCÍCIO COMENTADO quadro de princípios e normas voltados à atuação do Es-
tado, o Direito Administrativo se tornou ramo autôno-
1. (PGE-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO DE PROCURADO- mo dentre as matérias jurídicas”1. Logo, a evolução do
RIA – CESPE – 2019) Com relação à origem e às fontes Direito Administrativo acompanha a evolução do Estado
do direito administrativo, aos sistemas administrativos e em si. Conforme a própria noção de limitação de poder
à administração pública em geral, julgue o item que se- ganha forças, surge o Direito Administrativo como área
gue. autônoma do Direito apta a regular as relações entre Es-
De acordo com o critério teleológico, o direito adminis- tado e sociedade.
trativo é um conjunto de normas que regem as relações Neste sentido, “o Direito é tradicionalmente dividido
entre a administração e os administrados. em dois grandes ramos: direito público e direito privado.
O direito público tem por objeto principal a regulação
( ) CERTO ( ) ERRADO dos interesses da sociedade como um todo, a disciplina
das relações entre esta e o Estado, e das relações das
Resposta: Errado. Segundo o critério teleológico (fi- entidades e órgãos estatais entre si. Tutela ele o interesse
nalístico), o direito administrativo é um conjunto de público, só alcançando as condutas individuais de forma
normas que vai disciplinar a forma de atuação do po- indireta ou reflexa. [...] Em suma, nas relações jurídicas de
der público para alcançar a sua finalidade e para con- direito público o Estado encontra-se em posição de de-
secução de seus fins. O enfoque deste conceito é o sigualdade jurídica relativamente ao particular, subordi-
seu objetivo ou finalidade primordial, que é sempre a nando os interesses deste aos interesses da coletividade,
persecução do interesse público. ao interesse público, representados pelo Estado na rela-
ção jurídica”2. Em se tratando de direito administrativo,
2. (PGE-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO DE PROCURADO- se está diante de uma noção de submissão ao interesse
DIREITO ADMINISTRATIVO

RIA – CESPE – 2019) Com relação à origem e às fontes público.


do direito administrativo, aos sistemas administrativos e “O Direito Administrativo, como novo ramo autôno-
à administração pública em geral, julgue o item que se- mo, propiciou nos países que o adotaram diversos cri-
gue. térios como foco de seu objeto e conceito. Na França,
No Brasil, assim como no sistema de common law, o cos- prevaleceu a ideia de que o objeto desse Direito consistia
tume é uma das fontes principais do direito administra-
tivo. 1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administra-
tivo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.
( ) CERTO ( ) ERRADO 2 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo
descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008.

2
nas leis reguladoras da Administração. No direito italia- administrativas, entre outras questões. A partir da Cons-
no, a corrente dominante o limitava aos atos do Poder tituição, emanam diversas leis que se inserem no campo
Executivo. Outros critérios foram ainda apontados como do direito administrativo, como a lei de licitações (Lei nº
foco do Direito Administrativo, como o critério de regu- 8.666/1993), a lei do regime jurídico dos servidores pú-
lação dos órgãos inferiores do Estado e o dos serviços blicos civis federais (Lei nº 8.112/1990), a lei do processo
públicos. À medida, porém, que esse ramo jurídico se administrativo (Lei nº 9.784/1999), a lei dos serviços pú-
desenvolvia, verificou-se que sua abrangência se irradia- blicos (Lei nº 8.987/1995), a lei de improbidade adminis-
va para um âmbito maior, de forma a alcançar o Estado trativa (Lei nº 8.429/1992), entre outras.
internamente e a coletividade a que se destina. Muitos Fontes indiretas: são aquelas que decorrem das
são os conceitos encontrados nos autores modernos de fontes diretas ou que surgem paralelamente a elas. Por
Direito Administrativo. Alguns levam em conta apenas as exemplo, a doutrina e a jurisprudência estabelecem
atividades administrativas em si mesmas; outros prefe- processos de interpretação da norma jurídica, no sentido
rem dar relevo aos fins desejados pelo Estado. Em nosso de que interpretam o que a lei e a Constituição fixam,
entender, porém, o Direito Administrativo, com a evo- conferindo rumos para a aplicação das normas do direito
lução que o vem impulsionando contemporaneamente, administrativo. Já os costumes e os princípios gerais do
Direito existiam antes mesmo da elaboração da norma,
há de focar-se em dois tipos fundamentais de relações
influenciando em sua gênese e irradiando esta influência
jurídicas: uma, de caráter interno, que existe entre as pes-
em todo o processo de aplicação da lei.
soas administrativas e entre os órgãos que as compõem;
outra, de caráter externo, que se forma entre o Estado e
a coletividade em geral. Desse modo, sem abdicar dos #FicaDica
conceitos dos estudiosos, parece-nos se possa concei-
tuar o Direito Administrativo como sendo o conjunto de Fontes diretas = CF + leis
normas e princípios que, visando sempre ao interesse Fontes indiretas = doutrina + jurisprudên-
público, regem as relações jurídicas entre as pessoas e cia + costumes + princípios gerais
órgãos do Estado e entre este e as coletividades a que
devem servir. De fato, tanto é o Direito Administrativo
que regula, por exemplo, a relação entre a Administração
Direta e as pessoas da respectiva Administração Indireta, Interpretação
como também a ele compete disciplinar a relação entre
o Estado e os particulares participantes de uma licitação, O novo constitucionalismo influenciou na interpre-
ou entre o Estado e a coletividade, quando se concretiza tação do Direito Administrativo, o qual deve ter como
o exercício do poder de polícia”3. vetor central de interpretação a Constituição e seus prin-
cípios, que não são apenas guias de interpretação, mas
possuem verdadeira força normativa.
#FicaDica Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
penharam um importante papel social, mas foi somente
Direito administrativo = normas + princí- na atual dogmática jurídica que eles adquiriram normati-
pios = regulam a relação entre Estado e so- vidade. Hoje em dia, os princípios servem para condensar
ciedade = ramo do direito público. valores, dar unidade ao sistema e condicionar a ativida-
de do intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não
meros conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autô-
noma4.
Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
FONTES
fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
consolidados: a passagem dos princípios da especulação
A expressão fonte do direito corresponde aos ele-
metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo
mentos de formação da ciência jurídica ou de um de seus do Direito, com baixíssimo teor de densidade normati-
campos. Quando se fala em fontes do direito adminis- va; a transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga
trativo, refere-se aos elementos que serviram de aparato inserção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu
lógico para a formação do direito administrativo. ingresso nas Constituições); a suspensão da distinção
Fontes diretas: são aquelas que primordialmente in- clássica entre princípios e normas; o deslocamento dos
fluenciam na composição do campo jurídico em estudo, princípios da esfera da jusfilosofia para o domínio da
no caso, o direito administrativo. Apontam-se como fon- Ciência Jurídica; a proclamação de sua normatividade; a
tes diretas a Constituição Federal e as leis. Ambas são perda de seu caráter de normas programáticas; o reco-
DIREITO ADMINISTRATIVO

normas impostas pelo Estado, de observação coativa. nhecimento definitivo de sua positividade e concretude
O direito administrativo não se encontra compilado por obra sobretudo das Constituições; a distinção en-
em um único diploma jurídico, isto é, não existe um Códi- tre regras e princípios, como espécies diversificadas do
go de Direito Administrativo. O que existe é um conjunto gênero norma, e, finalmente, por expressão máxima de
de leis e regulamentos diversos que compõem a área. A todo esse desdobramento doutrinário, o mais significa-
base legal do direito administrativo, sem dúvidas, vem da tivo de seus efeitos: a total hegemonia e preeminência
Constituição Federal, que trata de princípios do direito dos princípios5.
administrativo e estabelece a divisão de competências
4 Ibid., p.327.
3 CARVALHO FILHO, José dos Santos... Op. Cit. 5 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. ed. São

3
Este hegemonia e posição central dos princípios cons- Resposta: Errado. As leis em sentido estrito, que são
titucionais reforça vetores basilares da interpretação do normas emanadas do Poder Legislativo, possuem ca-
direito administrativo, o qual deve se atentar: à desigual- ráter geral e abstrato. Sendo assim, são fontes diretas
dade jurídica entre a Administração e os governantes, no do direito administrativo, mas sua aplicabilidade não
sentido de que não são intangíveis os atos de governo e se restringe à esfera político-administrativa.
devem ser repreendidas condutas corruptivas, afinal, o
administrador não é a Administração e não possui prer-
rogativas pessoais em decorrência de sua posição; ao 3. (ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA – CO-
equilíbrio entre a imposição da supremacia do interesse NHECIMENTOS GERAIS – CESPE – 2018) Julgue o item
público em face de direitos individuais, cabendo ao ad- que se segue, a respeito de aspectos diversos relaciona-
ministrador ponderar sobre a necessidade de exercer po- dos ao direito administrativo.
deres discricionários com o fundamento do interesse pú- A jurisprudência administrativa constitui fonte direta do
blico em razão dos direitos fundamentais dos indivíduos. direito administrativo, razão por que sua aplicação é pro-
cedimento corrente na administração e obrigatória para
#FicaDica o agente administrativo, cabendo ao particular sua ob-
servância no cotidiano.
No concurso de delegado de polícia da PC-
-RJ do ano de 2012 considerou-se correta a (  ) CERTO   (  ) ERRADO
afirmativa de que a doutrina contemporâ-
nea do Direito Administrativo entabula que Resposta: Errado. A expressão “jurisprudência admi-
a Administração deve basear-se apenas de nistrativa” se refere às decisões judiciais referentes ao
forma excepcional na imperatividade como direito administrativo, não às supostas decisões ad-
justificativa para seus atos. ministrativas com eficácia normativa. Neste sentido,
é fonte indireta do direito administrativo, não direta.

EXERCÍCIOS COMENTADOS ATO ADMINISTRATIVO. CONCEITO,


REQUISITOS, ATRIBUTOS, CLASSIFICAÇÃO
1. (PGM-AM – PROCURADOR DO MUNICÍPIO – CES- E ESPÉCIES. EXTINÇÃO DO ATO
PE – 2018) Quanto às transformações contemporâneas ADMINISTRATIVO. CASSAÇÃO, ANULAÇÃO,
do direito administrativo, julgue o item subsequente. Um REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO.
dos aspectos da constitucionalização do direito adminis- DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA
trativo se refere à releitura dos seus institutos a partir dos
princípios constitucionais.

(  ) CERTO   (  ) ERRADO CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO

Resposta: Certo. O movimento de constitucionaliza- Tudo que praticamos nas nossas vidas podem ser
ção, que implica na concepção da Constituição não considerados atos. Mas, para o Direito, os atos são aque-
apenas como o vetor do topo do sistema, mas como o les capazes de produzir efeitos jurídicos. E, assim como
centro de todo ele, irradiando seus princípios por to- as pessoas na vida privada, a Administração Pública tam-
das as normas infraconstitucionais do sistema, inclusi- bém pratica atos, que são capazes de produzir efeitos
ve as do direito administrativo. Assevera, a respeito, Di jurídicos diversos.
Pietro no sentido de que a constitucionalização do Di-
Os atos administrativos são as manifestações de
reito Administrativo pode ser compreendida sob dois
vontade da Administração Pública que objetivam adqui-
aspectos: um é a elevação, em nível constitucional, de
rir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar
matérias antes tratadas por legislação infraconstitu-
direitos ou impor obrigações aos particulares ou a si pró-
cional; outro é a irradiação das normas constitucionais
por todo o sistema jurídico. pria. Isso significa que a Administração, antes mesmo de
iniciar sua atuação, deve expedir uma declaração que ex-
2. (ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA – CO- prime a sua vontade de realizar o referido ato.
NHECIMENTOS GERAIS – CESPE – 2018) Julgue o item Importante frisar o caráter infra legal dos atos ad-
DIREITO ADMINISTRATIVO

que se segue, a respeito de aspectos diversos relaciona- ministrativos, pois imprescindível é a submissão da Ad-
dos ao direito administrativo. Entre as fontes de direito ministração Pública, seus agentes e órgãos à soberania
administrativo, as normas jurídicas administrativas em popular. O ato administrativo, dessa forma, deve estar
sentido estrito são consideradas lei formal e encontram previsto em lei, e seu conteúdo não pode ser contrário à
sua aplicabilidade restrita à esfera político-administrati- lei (contra legem), mas complementar a ela, isso é, deve
va. estar conforme a lei (secundum legem).

(  ) CERTO   (  ) ERRADO
Paulo: Malheiros, 2011, p. 294.

4
REQUISITOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS Além dessa concepção clássica, há também uma
classificação mais moderna dos requisitos dos atos ad-
Os requisitos ou elementos dos atos administrativos ministrativos, elaborada por autores como Celso Antônio
é matéria com grande divergência doutrinária. A maioria Bandeira de Mello. Por ser pouco utilizada em concursos
dos concursos públicos ainda adota a concepção mais públicos, observaremos apenas os pontos essenciais e di-
clássica dos requisitos dos atos administrativos e, por dáticos da referida classificação.
isso, daremos maior destaque a ela. De modo geral, a Para essa concepção moderna, são requisitos dos
corrente clássica, defendida por autores como Hely Lo- atos administrativos: a) sujeito; b) motivo; c) requisitos
pes Meirelles, tende a atribuir aos atos administrativos procedimentais; d) finalidade; e) causa e f) formalização.
cinco requisitos pa niente ao interesse público. A defini- Sujeito, requisitos procedimentais e causa são os requisi-
ção de objeto do ato administrativo trata-se, por isso, de tos vinculados, enquanto que o motivo, a finalidade e a
ato discricionário. formalização são requisitos discricionários.

Forma ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS


A forma é o modo através do qual se exterioriza o Atributos são as características dos atos administra-
ato administrativo, é seu revestimento. O desrespeito à tivos, que os distinguem dos demais atos jurídicos, pois
forma do ato acarreta na sua nulidade. Trata-se de ato estão submetidos ao regime jurídico administrativo. Essas
vinculado, quando exigida por Lei, e discricionário quan- características traduzem em prerrogativas concedidas à
do a sua escolha couber ao próprio agente público. Administração Pública para que ela possa atender de ma-
Em regra, os atos administrativos são sempre exterio- neira adequada às necessidades da população.
rizados por escrito, mas podem também ser orais, ges- A doutrina mais moderna faz referência a cinco atribu-
tuais, ou até mesmo expedidos por máquinas. O art. 22 tos distintos: a) presunção de legitimidade e veracidade;
da Lei nº 9.784/1999 determina que “os atos do processo b) imperatividade; c) exigibilidade; d) autoexecutorieda-
administrativo não dependem de forma determinada se- de; e e) tipicidade.
não quando a lei expressamente a exigir”.
Presunção de legitimidade e veracidade
Motivo Também pode ser denominado presunção de legali-
O motivo é a circunstância de fato ou de direito que dade, significa que todo ato administrativo é considerado
determina ou autoriza a prática do ato, isso é, a situação
válido no âmbito jurídico, até surgir prova em contrário.
fática que justifica a realização do ato. Situação de fato
Se, pelo princípio da legalidade, ao Administrador só cabe
é o conjunto de circunstâncias que motivam a realização
fazer o que a lei permite, então presume-se que o fez res-
do ato; questões de direito é a previsão legal que leva à
peitando a lei.
realização do ato.
Nosso Direito admite duas formas de presunção: pre-
O motivo pode ser tanto requisito vinculado como
discricionário, dependendo do comando legal imposto sunção juris et de jure que significa “de direito e por di-
aos agentes. O motivo será vinculado quando a lei ex- reito”, é presunção absoluta, que não admite prova em
pressamente obrigar o agente a agir de um certo modo, contrário. Temos também a presunção juris tantum, re-
como na hipótese de lançamento tributário (o fiscal da sultante do próprio direito e, embora por ele estabelecida
Receita não tem direito de escolha, se deve ou não fazer com verdadeira, admite prova em contrário. A presunção
o lançamento). Situação diversa é a do pedido de demis- dos atos administrativos é juris tantum. Trata-se, en-
são de servidor público no caso de incontinência públi- tão, de presunção relativa. Cabe ao particular que alegou
ca (art. 132, V, da Lei nº 8.112/1990), hipótese em que a a ilegalidade do ato administrativo provar a carência de
autoridade competente tem maior liberdade para avaliar legitimidade do mesmo.
se a demissão é realmente ato necessário ou não, depen- A presunção atinge todos os atos, inclusive aqueles
dendo do caso concreto. praticados pela Administração com base no direito priva-
Não se confunde motivo com motivação. Esta é a jus- do. Qualquer que seja o ato, se praticado pela Administra-
tificativa para a realização de determinado ato. O motivo ção Pública, será presumidamente legítimo e verdadeiro.
ocorre em momento anterior a prática do ato, enquanto
que a motivação, por ser uma série de explicações que Imperatividade
justificam a expedição do ato, ocorre sempre em mo- Compreendida também como coercibilidade, os atos
mento posterior. Assim, todo o ato tem seu motivo, mas administrativos se impõem aos destinatários, indepen-
nem sempre é expedido adjunto com a motivação, que
DIREITO ADMINISTRATIVO

dentemente de sua concordância, outorgando-lhes de-


nada mais é do que a exteriorização dos motivos. veres e obrigações. A imperatividade garante ao Poder
Público a capacidade de produzir atos que geram conse-
Finalidade quências perante terceiros.
Finalidade é o objetivo a ser almejado pela prática A justificativa da criação unilateral, ainda que contra
daquele ato administrativo. Em muitos casos, o objetivo a vontade dos administrados, dos atos administrativos é
almejado é a proteção do interesse público. Sempre que
o Poder coercitivo do Estado, também denominado Po-
o ato for praticado tendo em vista o interesse alheio, será
der Extroverso. Esse não é um atributo comum a todos os
nulo por desvio de finalidade.
atos, mas tão somente aos que impõem obrigações aos

5
administrados. Assim, não têm essa característica os atos
que outorgam direitos (autorização, permissão, licença), #FicaDica
bem como aqueles meramente administrativos (certidão,
parecer). A tipicidade é característica marcante da
expropriação de bens particulares pelo
Exigibilidade Poder Público. É o caso de desapropriação
Consiste no atributo que permite à Administração administrativa, hipótese em que o Poder
Pública aplicar sanções aos particulares por violação da Público tem a prerrogativa de tirar da es-
ordem jurídica, sem a necessidade de recorrer ao proces- fera de alguma pessoa física a titularidade
so judicial, que é demasiado longo e repleto de soleni- sobre bem imóvel, transformando-o em
dades. A exigibilidade permite ao Administrador aplicar bem público. Para tanto, deve realizar um
as sanções administrativas, como multas, advertências, e procedimento envolvendo aspectos mais
interdição de estabelecimentos comerciais. complexos, como a declaração de utilida-
de ou necessidade pública (art. 5º, XXIV, da
Autoexecutoriedade CF/1998), bem como a necessidade de pré-
A autoexecutoriedade permite que a Administração via indenização ao particular que teve seu
Pública possa realizar a execução material de seus atos. A bem expropriado, em pecúnia (art. 182, §
expressão “auto” advém do fato de que o Poder Público 3º, da CF/1988).
não necessita de autorização judicial para desconstituir
a situação irregular e violadora da ordem jurídica, o que
a difere da exigibilidade, que não tem o condão de, por CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
si só, desconstituir a irregularidade do ato, apenas pune
o infrator. Para tanto, necessita da presença de dois re- Atos administrativos existem dos mais variados tipos.
quisitos: a previsão legal, como nos casos de Poder de Para efeitos didáticos, costuma-se dividir e agrupá-los,
Polícia; e o caráter de urgência, a fim de preservar o in- formando-se uma verdadeira classificação desses atos.
teresse coletivo. Portanto, passemos a analisar as diversas modalidades
Assim, não há necessidade de intervenção judicial nas de atos administrativos, observando os seguintes crité-
hipóteses de: apreensão de mercadorias contrabandea- rios:
das, na demolição de construção irregular, na interdição
de estabelecimento comercial irregular, entre outros. To- Quanto ao grau de liberdade
davia, afirmar que a execução independe de manifesta- A) Atos vinculados: são aqueles praticados pela
ção do Judiciário não significa dizer que escapa do con- Administração Pública sem nenhuma liberdade
trole judicial. Poderá ser levado ao crivo, mas somente a de atuação. A lei define todas as margens de sua
posteriori, depois de seu cumprimento, se houver pro- conduta. Havendo vício no ato vinculado, pode-se
vocação da parte interessada. As medidas judiciais mais pleitear a sua anulação e não a revogação, pois tra-
adequadas para contestar a força coercitiva administrati- ta-se de vício de legalidade. É o caso, por exemplo,
va são o mandado de segurança e o habeas data (art. 5º, da concessão de aposentadoria para o contribuin-
LXIX e LXVIII, da CF/1988). te beneficiário.
Importante ressaltar ainda que os princípios da razoa- B) Atos discricionários: a lei também estabelece
uma série de regras para a prática de um ato, mas
bilidade e proporcionalidade impõem limites na atuação
deixa certo grau de liberdade ao agente público,
coercitiva dos agentes públicos. A autoexecutoriedade
que poderá optar por um entre vários caminhos
(leia-se o uso de força física) deve ser utilizada com bom
igualmente válidos. Há uma avaliação subjetiva
senso e moderação. prévia à edição do ato. É o caso das permissões
para o uso de bem público.
Tipicidade
A tipicidade diz respeito à necessidade de respeitar
Quanto à formação de vontade
as finalidades específicas delimitadas pela lei, para cada
espécie de ato administrativo. Dependendo da finalidade A) Atos simples: são aqueles que nascem da mani-
que o Poder Público almeja, existe um ato definido em festação de vontade de apenas um órgão, seja ele
unipessoal (formado só por uma pessoa) ou co-
lei. A lei deve sempre estabelecer os tipos de atos e suas
legiado (composto por várias pessoas). O ato que
consequências, promovendo ao particular a garantia de
altera o horário de atendimento da repartição pú-
que a Administração Pública não fará uso de atos inomi-
blica, emitido por uma única pessoa, bem como
nados, sem tipificação, que impõe obrigações cuja previ- a decisão administrativa do Conselho de Contri-
DIREITO ADMINISTRATIVO

são legal não existe. É um atributo que deriva do próprio buintes do Ministério da Fazenda, que expressa
princípio da legalidade. vontade única apesar de ser órgão colegiado, são
exemplos de atos simples.
B) Atos complexos: são aqueles que se formam pela
união de várias vontades, isso é, que necessitam da
manifestação de vontade de dois ou mais órgãos
diferentes para a sua formação. Enquanto todos os
órgãos competentes não se manifestarem da for-
ma devida, o ato não estará perfeito.

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C) Atos compostos: é aquele que advém de mani- B) Atos de gestão: são expedidos pela Administra-
festação de apenas um órgão. Porém, para que ção, em posição de igualdade em relação aos ad-
produza efeitos, depende da aprovação, visto, ou ministrados. É o caso da alienação de bem público.
anuência de outro ato, que o homologa, como C) Atos de expediente: são atos internos, elaborados
condição para a executoriedade daquele ato. Cos- por autoridade subalterna, que não tem capacida-
tuma-se afirmar que o ato posterior é acessório do de decisória. Exemplo: numeração dos autos no
anterior, pois a manifestação do segundo ato não processo judicial.
possui a mesma matéria do primeiro: ele apenas
complementa a aplicação deste. Exemplo: a nome-
ação de servidor público, que deve sempre antece- Quanto à exequibilidade
der a sua aprovação em concurso público. A) Atos perfeitos: são aqueles que completaram seu
processo de formação, e estão prestes a produzir
Quanto aos destinatários seus efeitos. Perfeição não se confunde com vali-
A) Atos gerais: são o conjunto de regras de caráter dade, pois um ato válido pode não ser obrigatoria-
abstrato e impessoal. Seus destinatários são mui- mente perfeito.
tos, mas unidos por características em comum, que B) Atos imperfeitos: são os que ainda não completa-
os faz destinatários do mesmo ato. Para produzi- ram seu processo de formação, e por isso mesmo,
rem seus efeitos, já que externos, devem ser publi- não estão aptos a produzirem efeitos. Atos imper-
cados na imprensa oficial. Exemplos: os editais de feitos geralmente necessitam de outro ato que o
concurso público, as instruções normativas. homologue.
B) Atos coletivos: são aqueles expedidos a um grupo C) Atos pendentes: são aqueles que se sujeitam a
definido de destinatários. É o caso, por exemplo, condição ou termo para começar a produzir efei-
de alteração de horário de funcionamento de uma tos. Seu ciclo de formação está concluído, porém
repartição pública. Tal ato, evidentemente, somen- depende ainda de um evento para tornar-se apto
te é do interesse daqueles funcionários. A publici- a produzir efeitos.
dade é atendida apenas com a comunicação dos
interessados, visto que é um ato interno da Admi- Os critérios apresentados não são exaustivos: há
nistração Pública. outras formas de classificação dos atos administrativos
C) Atos individuais: são aqueles destinados a ape- adotadas por diversos autores. Escolhemos apresen-
nas um único destinatário. Exemplo: a promoção tar aqueles que têm mais chances de aparecer em uma
de um determinado servidor público. A exigência questão de concurso público.
da publicidade depende somente da comunicação
do interessado, não há necessidade de publicação
pelo Diário Oficial. ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS
Os atos administrativos tipificados pela legislação
brasileira são diversos. Por isso, também é utilizado, para
Quanto aos efeitos fins didáticos, uma sistematização dos atos administrati-
A) Atos constitutivos: são aqueles que geram uma vos. A doutrina divide os atos administrativos previstos
nova situação jurídica aos destinatários. Pode ser da legislação em cinco espécies distintas:
pela outorga de um novo direito, como permissão A) Atos normativos: são aqueles que apresentam
de uso de bem público, ou a imposição de uma comandos gerais e abstratos para o cumprimento
obrigação, como estabelecer um período de sus- da lei. Alguns autores, inclusive, chegam a consi-
pensão. derar tais atos “leis em sentido material”. São atos
B) Atos declaratórios: são aqueles que afirmam uma normativos: os decretos e regulamentos; as instru-
situação já existente, seja de fato ou de direito. ções normativas; os regimentos; as resoluções; e as
Não cria, transfere ou extingue situação jurídica, deliberações.
apenas a reconhece. É o caso da expedição de uma B) Atos ordinatórios: correspondem a manifesta-
certidão de tempo de serviço. ções internas da Administração Pública decorren-
C) Atos modificativos: são os que tem capacidade tes do poder hierárquico, estabelecendo regras de
de alterar a situação já existente, sem que seja ex- funcionamento de seus órgãos internos e regras
tinta. Todavia, não tem o condão de criar direitos de conduta de seus agentes. Tais atos não podem
e obrigações. Exemplo: a alteração do horário de disciplinar as condutas dos particulares. São atos
atendimento da repartição. ordinatórios: as instruções; as circulares; os avisos;
D) Atos extintivos: também denominados atos des- as portarias; os ofícios; as ordens de serviço; os
DIREITO ADMINISTRATIVO

constitutivos, são aqueles que põem termo a um despachos; entre outros.


direito ou dever pré-existentes. Exemplo: a demis- C) Atos negociais: são aqueles que manifestam a
são de servidor público. vontade da Administração em consonância com
o interesse dos particulares. Exemplos: a licença,
Quanto ao objeto a autorização, a permissão, a concessão, a apro-
A) Atos de império: são aqueles praticados pela Ad- vação, a homologação, a renúncia, etc. Os atos
ministração em posição de superioridade perante negociais podem ser vinculados (licença) ou dis-
os particulares, como na imposição de multa por cricionários (autorização), definitivos ou precários,
infração administrativa. sendo passíveis de revogação pelo Poder Público

7
a qualquer tempo. A característica especial desses administrativo anterior a ele. Comporta cinco mo-
atos é que eles não disciplinam direitos, e sim inte- dalidades, que serão vistas com maiores detalhes:
resses dos particulares. revogação, anulação, cassação, caducidade e con-
D) Atos enunciativos: também denominados “atos traposição.
de pronúncia”, são aqueles que certificam, ou ates-
tam a existência de uma situação jurídica peculiar. Revogação
Tais atos possuem caráter predominantemente de- Revogação é a extinção de ato administrativo que se
claratório. São atos enunciativos: as certidões; os encontra perfeito e apto a produzir seus efeitos, pratica-
atestados; os pareceres; etc. do pela própria Administração Pública, fundada em ra-
E) Atos punitivos: como o próprio nome supõe, são zões de conveniência e oportunidade, sempre almejando
os atos que aplicam sanções aos particulares, ou a proteção do interesse público. Nessa hipótese, ocor-
aos servidores que pratiquem condutas irregula- re uma causa superveniente, que altera o juízo de con-
res, nos termos da lei. São atos punitivos: as mul- veniência e oportunidade sobre a permanência de ato
tas, as interdições; e a destruição de coisas. discricionário, obrigando a Administração a expedir um
segundo ato capaz de revogar esse ato anterior.
INVALIDAÇÃO E DECADÊNCIA DOS ATOS ADMI- O conceito de revogação tem previsão no art. 53 da
NISTRATIVOS Lei nº 9.784/1999: “A Administração deve anular seus
próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e
Os atos administrativos possuem um ciclo de vida. pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportu-
Eles são criados, começam a produzir efeitos, e depois nidade, respeitados os direitos adquiridos”. Sobre o mes-
de um tempo, desaparecem. Vamos analisar com mais mo assunto, a Súmula nº 473, do STF: “A administração
detalhes justamente o desaparecimento dos atos admi- pode anular seus próprios atos, quando eivados de ví-
nistrativos, embora seja preferível utilizar o termo “extin- cios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
ção” (ou “invalidação”) dos atos administrativos. direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
Para melhor compreensão do tema, a doutrina utili- oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e res-
za-se de uma sistematização das formas de extinção dos salvada, em todos os casos, a apreciação judicial”.
atos administrativos. A principal divisão que deve ser fei- Por tratar-se de questão de mérito, a revogação so-
ta é em relação a produção de efeitos: existem atos ad- mente pode ser decretada pela própria Administração
ministrativos eficazes, e atos ineficazes. Quando ineficaz, Pública. É, também, decorrência do princípio da autotu-
o ato pode ser extinto pela retirada, ou pela sua recusa tela: a Administração Pública tem competência para anu-
pelo beneficiário. Tratando-se de atos eficazes, há quatro lar e revogar seus atos, sendo descabido a manifestação
formas de distinção dos atos administrativos: do Poder Judiciário nos atos administrativos discricioná-
A) Extinção ipsu iure pelo cumprimento dos efei- rios. A revogação é elaborada pela mesma autoridade
tos: é a extinção que ocorre pelo cumprimento que praticou o ato principal.
integral dos efeitos do ato administrativo. É a ex- O ato revocatório é sempre secundário, constituti-
tinção natural esperada por todo ato administrati- vo e discricionário. Seu objeto será sempre o ato admi-
vo. Pode ocorrer mediante: a.1) esgotamento do nistrativo ou a relação jurídica anterior perfeita e eficaz,
conteúdo, como a vacinação de enfermos após destituído de qualquer vício. A revogação atinge so-
expedição de ordem de entrega das vacinas; a.2) mente os atos discricionários: para os atos vinculados,
execução da ordem, como o guinchamento de a medida cabível é a anulação.
veículo; a.3) implemento de condição resolutiva Por fim, em relação a seus efeitos, a revogação não
ou termo final, como o prazo final para renovação pode atingir as situações jurídicas do passado. Isso signi-
da CNH. fica que a revogação produz efeitos futuros, não retroa-
B) Extinção ipsu iure pelo desaparecimento da tivos, ou ex nunc. Há a possibilidade do particular, que se
pessoa ou objeto: os atos administrativos podem sentiu prejudicado com a referida medida, ingressar em
dizer respeito a pessoas, ou coisas. Desaparecendo juízo com pedido de indenização contra a Administração.
um desses elementos, o ato extingue-se automa-
Anulação
ticamente, pois perdeu a sua utilidade. As pessoas
É a extinção de ato administrativo defeituoso, pois
“desaparecem” com seu falecimento, como a mor-
carece de legalidade, podendo ser expedido pela Admi-
te de servidor público que receberia promoção; e
nistração Pública, ou até mesmo pelo Poder Judiciário.
as coisas com a sua ruína ou destruição, como o
A anulação deriva do próprio princípio da legalidade e
desabamento de prédio que recebeu licença para
autotutela. Também possui fundamento no art. 53 da Lei
DIREITO ADMINISTRATIVO

a sua reforma.
nº 9.784/1999, bem como na Súmula nº 473, do STF.
C) Extinção por renúncia: ocorre quando o próprio
A anulação realizada pela própria Administração
beneficiário abre mão da situação proporcionada
ocorre mediante a expedição de ato anulatório. Suas ca-
pelo ato administrativo. É o caso da exoneração de racterísticas principais são: é ato secundário, constitu-
cargo público a pedido do seu ocupante. tivo e vinculado. Tanto a Administração como o Poder
D) Retirada do ato: é a forma mais importante de Judiciário podem decretar a anulação de ato administra-
extinção dos atos administrativos, para os concur- tivo. Outra característica importante é o prazo definido
sos públicos. É a extinção que se dá pela expedição pelo caput do art. 54 da Lei nº 9.784/1999: “O direito da
de um segundo ato, elaborado para extinguir ato Administração de anular os atos administrativos de que

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decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai e) São atos administrativos simples somente os atos pra-
em cinco anos, contados da data em que foram pratica- ticados por agente público de forma isolada.
dos, salvo comprovada má-fé”. O prazo decadencial de
cinco anos é atributo exclusivo da anulação. Resposta: Letra C.
Por fim, em relação a seus efeitos, importante frisar Em “a”: Errado – Os atos podem ser produzidos tan-
que o ato nulo (aquele que carece de legalidade), tem o to pelos poderes do Estados: Legislativo, judiciário e
seu defeito constatado desde a sua concepção. Por isso, Executivo, quanto pela administração direta e indireta.
a anulação deve desconstituir os efeitos desde a data da Em “b”: Errado – A licença é um ato vinculado, o que
prática daquele ato. Podemos afirmar, então, que a anu- significa que o ente público, verificado o preenchi-
lação possui efeito retroativo, ou ex tunc. Em regra, não mento de todos os requisitos, deve conceder licença
gera ao particular direito à indenização pela anulação de ainda que contra sua vontade, não havendo margem
ato ilegal, salvo se comprovar ter sofrido dano anormal para interpretação de tais requisitos.
para ocorrência, do qual não tenha participado. Em “c”: Certo.
Em “d”: Errado – Os atos administrativos podem ter
Cassação destinatários indeterminados, como também destina-
São hipóteses em que o administrado deixa de preen- tários determinados (exemplo: a promoção de servi-
cher condição necessária para a permanência da referi- dor público).
da vantagem. Exemplo: habilitação da CNH cassada por Em “e”: Errado – Atos administrativos simples são
pessoa enferma. aqueles decorrem da manifestação de um único ór-
gão, unipessoal ou colegiado.
Caducidade
Também denominada decaimento, consiste na mo- 2. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019)
dalidade de extinção de ato administrativo em conse- Acerca de atos administrativos, serviços públicos e inter-
quência de norma jurídica superveniente, a qual impede venção do Estado na propriedade, julgue o item seguinte.
a permanência da situação anteriormente consentida. Comando ou posicionamento emitido oralmente por
Como não pode produzir efeitos automaticamente, é ne- agente público, no exercício de função administrativa e
cessária a prática de um ato secundário, determinando
manifestando sua vontade, não pode ser considerado
a extinção do ato decaído. Exemplo: perda do direito de
ato administrativo.
comercializar em área que passa a ser considerada exclu-
sivamente residencial.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Contraposição
Resposta: Errado. Os atos administrativos, em regra,
É o modo de extinção que ocorre com a expedição
são atos escritos. Porém, não se trata de um elemento
de um segundo ato, fundado em competência diversa,
cujos efeitos são contrapostos aos do ato inicial. É uma obrigatório. Isso significa que os atos administrativos
espécie de revogação praticada por autoridade distinta possuem forma livre. É o caso, por exemplo, da sinali-
da que expediu o ato inicial. Exemplo: nomeação de um zação de um guarda de trânsito, que gesticula os bra-
funcionária anteriormente exonerado de seu cargo. ços ou assopra seu apito.

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE CONTRO-


LE EXTERNO – CESPE – 2019) Acerca dos atos adminis-
trativos, assinale a opção correta.

a) São atos administrativos somente os atos produzidos


pelos poderes do Estado.
b) Licença é ato administrativo discricionário, na medida
em que ao poder público compete a análise do preen-
chimento dos requisitos legais exigidos para o exercí-
DIREITO ADMINISTRATIVO

cio de determinada atividade.


c) A imperatividade caracteriza-se pela permissão para a
imposição de obrigações a terceiros, ainda que estas
venham a contrariar interesses privados.
d) Em virtude da inafastabilidade do interesse público,
os atos administrativos devem possuir destinatários
gerais e indeterminados, sendo vedada a edição de
atos com destinatários individualizados, ainda que co-
letivos.

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demais militares ligados ao Exército, Marinha e Aeronáu-
tica. Algumas características que merecem destaque são:
AGENTES PÚBLICOS. CONCEITO. a proibição de sindicalização dos militares, a proibição
ESPÉCIES. CARGO, EMPREGO E do direito de greve, e a proibição à filiação partidária.
FUNÇÃO PÚBLICA. PROVIMENTO.
VACÂNCIA. EFETIVIDADE, Servidores Públicos
ESTABILIDADE E VITALICIEDADE. De modo geral, podemos dizer que a Constituição
REMUNERAÇÃO. DIREITOS E Federal de 1988 apresenta dois tipos de regimes para os
agentes estatais: o regime estatutário ou de cargos pú-
DEVERES. RESPONSABILIDADE.
blicos, e o regime celetista ou de empregos públicos. Os
PROCESSO ADMINISTRATIVO servidores públicos são contratados pelo regime estatu-
DISCIPLINAR. LEI Nº 5.810/1994 tário, enquanto os empregados públicos são contratados
E SUAS ALTERAÇÕES (REGIME pelo regime celetista, que muito se assemelha com as
JURÍDICO ÚNICO DOS SERVIDORES regras contidas na CLT.
PÚBLICOS CIVIS DA ADMINISTRAÇÃO Assim, denomina-se servidor público o agente con-
DIRETA, DAS AUTARQUIAS E tratado pela Administração Pública, direta ou indireta,
DAS FUNDAÇÕES PÚBLICAS DO sob o regime estatutário, sendo selecionado mediante
ESTADO DO PARÁ). DISPOSIÇÕES concurso público, para ocupar cargos públicos, possuin-
CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS. do vinculação com o Estado de natureza estatutária e
não-contratual.
O regime dos cargos públicos é disciplinado pela Lei
Federal nº 8.112/1990, também conhecida como Estatu-
to do Servidor Público. Um grande destaque do regime
ESPÉCIES DE AGENTES PÚBLICOS de cargos públicos é a aquisição de estabilidade, após
o período de estágio probatório. A estabilidade permite
Nas lições de Celso Antônio Bandeira de Mello, são que o servidor não possa ser desligado de suas funções,
agentes públicos as pessoas que exercem uma função a não ser pelas hipóteses previstas constitucionalmente,
pública, ainda que em caráter temporário ou sem remu- como a sentença judicial transitada em julgado, processo
neração. Trata-se de uma expressão ampla e genérica, administrativo disciplinar, ou a não aprovação em avalia-
uma vez que engloba todos aqueles que, dentro da or- ção periódica de desempenho (art. 41, § 1º, da CF/1988).
ganização da Administração Pública, exercem determi- A estabilidade dos cargos públicos se configura em uma
nada função pública. maior vantagem para o servidor público em geral, em
Assim, podemos dizer que agente público é gênero, o relação aos empregados públicos.
qual comporta diversas espécies, como os agentes polí- Dentre os cargos públicos, ainda, há aqueles que são
ticos, os agentes militares, os servidores públicos estatu- vitalícios, que trazem ainda mais vantajosos pelo fato
tários, os empregados públicos, os agentes honoríficos, de seu estágio probatório ser menor (2 anos, sendo de
entre outros. Por isso, vamos especificar cada um deles 3 anos para os cargos não-vitalícios), bem como a sua
com maiores detalhes. perda se dar apenas mediante sentença condenatória
transitada em julgado. São vitalícios os cargos de Magis-
Agentes políticos tratura, do Tribunal de Contas, e os cargos dos membros
Os agentes políticos possuem como característica do Ministério Público.
principal o fato de exercerem uma função pública de alta Além da estabilidade, é também assegurado aos ser-
direção do Estado. Seu ingresso é feito mediante elei- vidores estatutários alguns direitos trabalhistas (art. 39, §
ções, e atuam em mandatos fixos, os quais têm o con- 3º, da CF/1988), como: a) salário mínimo, b) remunera-
dão de extinguir a relação destes com o Estado de modo ção de trabalho noturno superior ao diurno, c) repouso
automático pelo simples decurso do tempo. Percebe-se, semanal remunerado, d) férias remuneradas, e) licença à
dessa forma, que a sua vinculação com o Estado não é gestante, etc.
profissional, mas estatutária ou institucional. São agentes
políticos os parlamentares, o Presidente da República, os Empregado Público
prefeitos, os governadores, bem como seus respectivos Diferentemente do que ocorre com os servidores, os
vices, ministros de Estado e secretários. empregados públicos são contratados mediante regime
celetista, isso é, com aplicação das regras previstas na
Agentes Militares Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Trata-se de uma
DIREITO ADMINISTRATIVO

Os agentes militares constituem uma categoria a par- vinculação contratual. A contratação de empregados pú-
te dos demais agentes políticos, uma vez que as institui- blicos se dá, em regra, pelas pessoas jurídicas de direito
ções militares possuem fortes bases fundamentadas na privado integrantes da Administração Indireta (empresas
hierarquia e na disciplina. Apesar de também apresenta- públicas, sociedades de economia mista, consórcios, etc).
rem vinculação estatutária, seu regime jurídico é discipli- Além disso, o ingresso de tais pessoas também depende
nado por legislação especial, e não àquela aplicável aos da sua aprovação em concurso público.
servidores civis. São agentes militares os membros das O regime dos empregados públicos é menos prote-
Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros militares tivo do que o regime estatutário. Isso se deve ao fato de
dos Estados, Distrito Federal e Territórios, bem como os que os empregados públicos não gozam da estabilidade

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que os servidores possuem. Ao serem empossados, os em comissão, quando o referido cargo não goza
empregados passam por um período de experiência de de estabilidade, podendo o servidor ser destituído
90 dias. Todavia, mesmo após esse período, os emprega- ad nutum.
dos públicos podem ser dispensados. 2) Quanto à preexistência de vínculo: temos o pro-
A diferença dos empregados públicos para com os vimento a) originário, que não depende de vincu-
demais consiste no fato de que a sua demissão será lação jurídica anterior com o Estado (nomeação);
sempre motivada, após regular processo administrativo, ou b) derivado, se o referido servidor já possuía
admitindo-se contraditório e a ampla defesa. Importante algum vínculo com o Estado (promoção, remoção,
lembrar que, para a Administração Pública, a motivação readaptação).
de seus atos, bem como o tratamento impessoal, e a fi-
nalidade pública são princípio norteadores de sua atua-
O art. 8º da Lei nº 8.112/1990 dispõe sobre as formas
ção. Uma demissão imotivada de um empregado público de provimento em cargos públicos:
seria absolutamente inadmissível nessas condições.
A) Nomeação: trata-se da única forma de provimen-
REGIME DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS: A to originário, uma vez que não exige uma relação
LEI Nº 8.112/1990 jurídica prévia do servidor para com o Estado. A
nomeação depende sempre de prévia habilitação
O regime dos servidores públicos possui ampla pre- em concurso público de provas, ou de provas e tí-
visão normativa. Além do renomado artigo 37 da Consti- tulos. Além disso, a nomeação poderá ser promo-
tuição Federal, no âmbito infraconstitucional temos a Lei vida não somente em caráter efetivo, como tam-
nº 8.112 de 1990 (Estatuto dos Servidores Públicos Fe- bém para os cargos de confiança ou em comissão
derais), isso é, a legislação que institui o regime jurídico (art. 9º, I e II, da Lei nº 8.112/1990)
dos servidores públicos da União, autarquias, fundações, B) Promoção: é uma forma de provimento derivado,
agências reguladoras e associações, todas em âmbito fe- haja vista que ela beneficia somente os servidores
deral. Bastante exigida em concursos públicos, convém que já ingressaram em cargos públicos em caráter
salientar as principais características a respeito do regime efetivo. Os demais requisitos para o ingresso e o
dos servidores públicos. desenvolvimento do servidor na carreira, mediante
promoção, serão estabelecidos pela lei que fixar as
Cargos Públicos: conceito, provimento, efetivida- diretrizes do sistema de carreira na Administração
de, estabilidade Pública Federal e seus regulamentos (art. 10, pará-
grafo único, da Lei nº 8.112/1990).
Para todos os efeitos legais, o servidor público está C) Readaptação: é, também, uma forma de provi-
intrinsicamente ligado à noção de cargo público. Con- mento derivado, pois trata-se de hipótese de atri-
forme dispõe o art. 3º do Estatuto dos Servidores, cargo buição ao servidor para um cargo com funções e
responsabilidades distintas e compatíveis com a
público é o conjunto de atribuições e responsabilidades
limitação que tenha sofrido em sua capacidade
previstas na estrutura organizacional que devem ser co-
física ou mental, verificada em inspeção médica.
metidas a um servidor. Os cargos públicos, acessíveis a
Assim, por exemplo, um motorista de ônibus que
todos os brasileiros, são criados por lei, com denomina-
sofre acidente e acaba perdendo algum membro
ção própria e vencimento pago pelos cofres públicos,
essencial para dirigir poderá ser readaptado para
para provimento em caráter efetivo ou em comissão.
executar uma função similar, mas não idêntica a
A criação, transformação, e extinção de cargos, em-
anterior. Na hipótese do servidor readaptando
pregos ou funções públicas depende sempre de uma lei se mostrar completamente inválido para exercer
instituidora (art. 48, X, CF/1988). Porém, havendo um car- qualquer cargo, ele será compulsoriamente apo-
go ou função vago, a sua extinção pode se dar mediante sentado.
expedição de decreto pelo Poder Executivo. D) Reversão: outra forma de provimento derivado,
Para ocupar um cargo público, é necessário haver o em que temos o retorno à atividade de um ser-
seu devido provimento, ou seja, deve haver um ato admi- vidor aposentado por invalidez, ou por puro e
nistrativo constitutivo e hábil para a investidura do servi- simples interesse da Administração, desde que a)
dor no respectivo cargo. Com relação a requisitos para a tenha solicitado a reversão; b) a aposentadoria te-
investidura em cargo público, dispõe o art. 5º da Lei nº nha sido voluntária; c) estável quando na atividade;
8.112/1990: “São requisitos básicos para investidura em d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos
cargo público: I - a nacionalidade brasileira; II - o gozo anteriores à solicitação; e) haja cargo vago (art. 25
dos direitos políticos; III - a quitação com as obrigações do Estatuto dos Servidores Públicos). A reversão
DIREITO ADMINISTRATIVO

militares e eleitorais; IV - o nível de escolaridade exigido far-se-á para o mesmo cargo ou para o cargo re-
para o exercício do cargo; V - a idade mínima de dezoito sultante de sua transformação. Em termos de re-
anos; VI - aptidão física e mental.” muneração, o servidor que retornar à atividade por
interesse da Administração perceberá a remunera-
Há diversas formas de provimento dos cargos públi- ção do cargo que voltar a exercer, em substituição
cos, podendo ser classificados em dois grupos: da aposentadoria que recebia (art. 25, § 4º, idem).
1) Quanto à durabilidade: O provimento pode ser a) E) Aproveitamento: mais uma forma de provimen-
de caráter efetivo, capaz de garantir estabilidade to derivado consistente no retorno de servidor em
e até mesmo vitaliciedade para o ocupante; ou b) disponibilidade, sendo seu regresso obrigatório

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para cargo de atribuições e vencimentos compa- Direitos e vantagens dos servidores públicos
tíveis com os do anteriormente ocupados (art. 30 A Lei nº 8.112/1990, em seus artigos 40 e 41, elenca
da Lei nº 8.112/1990). Será tornado sem efeito o diversos direitos e gratificações aos servidores públicos,
aproveitamento e cassada a disponibilidade se o os quais são de grande importância conhecer. Vejamos
servidor não entrar em exercício no prazo legal, as principais gratificações:
salvo comprovada doença por junta médica oficial
(art. 32, idem). 1) Vencimentos: consiste na retribuição pecuniária
F) Reintegração: é a forma de provimento derivado pelo exercício do cargo público, cujo valor é pre-
que ocorre pela reinvestidura do servidor estável viamente fixado em lei. Os vencimentos de cargos
no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo re- efetivos são, em regra, irredutíveis.
sultante de sua transformação, na hipótese de sua 2) Remuneração: mais abrangente, é o vencimen-
demissão ser invalidada por decisão judicial ou to do cargo, somado a todas as outras vantagens
administrativa, tendo direito também ao ressarci- pecuniárias estabelecidas em lei. O menor valor
mento de todas as vantagens (art. 28, caput, Lei pago ao servidor público, independentemente de
nº 8.112/1990). Encontrando-se provido o cargo, o sua vinculação, é o valor do salário mínimo vigente
seu eventual ocupante será reconduzido ao cargo (art. 39, § 3º, da CF/1988).
de origem, sem direito à indenização ou aproveita- 3) Regime de subsídios: trata-se de uma forma es-
do em outro cargo, ou, ainda, posto em disponibi- pecial de remuneração, feita em uma única parcela.
lidade (art. 28, § 2º, idem). O regime de subsídios, previsto no art. 39, § 4º, da
G) Recondução: por fim, a recondução é a forma de CF/1988, foi introduzido com a finalidade de coibir
provimento derivado consistente no retorno do os “supersalários” comumente existentes no regi-
servidor público estável ao cargo anteriormente me de servidores públicos brasileiros. Importante
ocupado, e decorrerá de inabilitação em estágio ressaltar que recebem por subsídios somente os
probatório relativo a outro cargo, ou ainda pela Chefes do Poder Executivo, parlamentares, magis-
reintegração do anterior ocupante (art. 29, I e II, da trados, ministros de Estado, secretários estaduais,
Lei nº 8.112/1990). Uma situação excepcional é a membros do Ministério Público e da Advocacia Pú-
da extinção do cargo durante o período de estágio blica, entre outros.
probatório. Nessas condições, segundo a Súmula 4) Indenizações: são valores pagos aos servidores,
nº 22 do STF, inexiste direito à recondução, e o ser- mas que não integram seus vencimentos. O Esta-
vidor será exonerado. tuto prevê algumas hipóteses de recebimento de
indenizações: 4.a) Ajuda de custo por mudança,
Acumulação de cargo, emprego, e função pública devida como forma de compensar as despesas de
Sobre a acumulação de cargos, emprego e funções instalação de servidor que tiver exercício em nova
públicas, deve-se salientar que o ordenamento jurídico sede, ocorrendo mudança de seu domicílio; 4.b)
brasileiro, em regra, proíbe a acumulação de cargos e Ajuda de custo por falecimento: devido à família
empregos públicos. Tal proibição se estende, inclusive, do servidor que vier a falecer na nova sede, sendo
para as entidades da Administração Indireta. O caput do devido para custear o transporte para a localidade
art. 118 da Lei nº 8.112/1990 dispõe no mesmo sentido: de origem; 4.c) Diárias por deslocamento: devida
“Ressalvados os casos previstos na Constituição, é veda- ao servidor que se afastar, por motivos de servi-
da a acumulação remunerada de cargos públicos”. Ape-
ço, da sede em caráter transitório, para outro local
sar do referido texto legal dispor sobre agentes públicos
dentro ou fora do país, receberá tal indenização
no âmbito federal, entendemos que também possa ser
como forma de ajuda no custeio do processo de
aplicado aos agentes públicos dos Estados, Municípios,
mudança; 4.d) Auxílio-moradia: trata-se de res-
e Distrito Federal.
sarcimento das despesas comprovadamente rea-
Pela leitura do dispositivo, vemos que a própria Cons-
lizadas pelo servidor com aluguel de moradia ou
tituição Federal dispõe de um rol de casos excepcionais
com hospedagem realizado por algum hotel, de-
em que é permitida a acumulação dessas funções. Há en-
tendimento praticamente unânime de que se trata de um pendendo do preenchimento de alguns requisitos,
rol taxativo, ou seja, são válidas apenas aquelas hipóteses como não ter um imóvel funcional disponível para
de acumulação de cargos. uso, seu cônjuge não ser ocupante de imóvel fun-
Assim, as hipóteses de acumulação de cargos consti- cional, ou que nenhuma outra pessoa que resida
tucionalmente autorizadas são: com o servidor receba a mesma indenização, etc.
A) Dois cargos de professor (art. 37, XVI, a); 5) Gratificações, Adicionais e Retribuições: O art.
B) Um cargo de professor com outro técnico ou cien- 61 do Estatuto dos Servidores Públicos também
DIREITO ADMINISTRATIVO

tífico (art. 37, XVI, b); prevê o pagamento das seguintes gratificações: I
C) Dois cargos ou empregos privativos de profissio- - retribuição pelo exercício de função de direção,
nais na área da saúde (art. 37, XVI, c); chefia e assessoramento; II - gratificação natali-
D) Um cargo de vereador com outro cargo, emprego na; IV - adicional pelo exercício de atividades in-
ou função pública (art. 38, III); salubres, perigosas ou penosas; V - adicional pela
E) Um cargo de magistrado e outro de magistério prestação de serviço extraordinário; VI - adicional
(art. 95, par. único, I); noturno; VII - adicional de férias; VIII - outros, rela-
F) Um cargo de membro do Ministério Público e ou- tivos ao local ou à natureza do trabalho; IX - grati-
tro de magistério (art. 128, § 5º, II, d). ficação por encargo de curso ou concurso.

12
O servidor, em relação as férias, fará jus a trinta dias A) Aposentadoria (art. 186): poderá ser concedida
de licença para cada 12 meses de serviço, que podem ser por invalidez permanente; de modo involuntário
acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso de (aposentadoria compulsória), ou voluntariamente,
necessidade do serviço (art. 77, Lei nº 8.112/1990). Pode- de acordo com critérios de idade e de contribui-
rão ser parceladas em até três períodos, desde que assim ções: a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se
requeridas pelo servidor, e no interesse da administração homem, e aos 30 (trinta) se mulher, com proventos
pública, na forma do § 3º do mesmo dispositivo legal. integrais; b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercí-
As licenças estão dispostas nos artigos 81 e seguintes cio em funções de magistério se professor, e 25
da Lei dos Servidores Públicos Federais. Conceder-se-á (vinte e cinco) se professora, com proventos inte-
licença ao servidor: I - por motivo de doença em pessoa grais; c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem,
da família; II - por motivo de afastamento do cônjuge e aos 25 (vinte e cinco) se mulher, com proventos
ou companheiro; III - para o serviço militar; IV - para ati- proporcionais a esse tempo; d) aos 65 (sessenta
vidade política; V - para capacitação; VI - para tratar de e cinco) anos de idade, se homem, e aos 60 (ses-
interesses particulares; VII - para desempenho de man- senta) se mulher, com proventos proporcionais ao
dato classista. Apesar de haver previsão para concessão tempo de serviço.
de licença por prêmio por assiduidade, tal hipótese aca- B) Auxílio-natalidade (art. 196): tal benefício é de-
bou sendo revogada pela Lei nº 9.527/1997. As licenças, vido à servidora por motivo de nascimento de fi-
como se depreende, são hipóteses de desligamento tem- lho, em quantia equivalente ao menor vencimento
porário do servidor com o seu respectivo cargo, havendo do serviço público, inclusive no caso de natimorto.
uma expectativa para o seu retorno. As licenças poderão C) Salário-Família (art. 197): é devido ao servidor
ser concedidas com ou sem remuneração, a depender de segundo o número de dependentes econômicos
cada situação. deste. Para todos os efeitos, são considerados de-
Os afastamentos, que não se confundem com as li- pendentes econômicos, na forma do artigo 197,
cenças, são hipóteses em que há um desligamento per- parágrafo único: I - o cônjuge ou companheiro
manente do servidor com o seu cargo, e em regra, não e os filhos, inclusive os enteados até 21 (vinte e
há um prazo determinado para o seu retorno. Estão pre- um) anos de idade ou, se estudante, até 24 (vinte
vistos nos artigos 93 e seguintes da Lei nº 8.666/1990. e quatro) anos ou, se inválido, de qualquer idade;
São quatro hipóteses: I – para servir a outro órgão ou II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, mediante
entidade; II – para exercício de mandato eletivo; III – para autorização judicial, viver na companhia e às ex-
estudos ou missões no exterior; IV – para participação em pensas do servidor, ou do inativo; III - a mãe e o pai
programa de pós-graduação stricto sensu dentro do País. sem economia própria.
Sobre o afastamento para exercício de mandato ele- D) licença para tratamento de saúde (art. 202), de-
tivo (art. 94, Lei nº 8.666/1990), importante frisar que, pendente de perícia médica, sem prejuízo da re-
tratando-se de mandato de Prefeito, o servidor deve ser muneração a que fizer jus
afastado, mas poderá optar, dentre as duas remunera- E) licença à gestante, à adotante e licença-paterni-
ções, àquela que lhe for mais vantajosa, (valores maiores, dade (art. 207), por prazo não superior a 120 dias,
mais benefícios, etc). Essa é a única exceção: para todos sem prejuízo da remuneração
os outros tipos de mandatos, na esfera federal, estadual F) licença por acidente em serviço (art. 211), sendo
e municipal, não há essa possibilidade de escolha de re- considerado como acidente em serviço o dano físi-
muneração. co ou mental sofrido pelo servidor, que se relacio-
ne, mediata ou imediatamente, com as atribuições
Regime Previdenciário do cargo exercido.
O Regime de Previdência dos Servidores Públicos, de- G) Pensão por morte (art. 215) sendo tal benefício
nominado Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) devido não ao servidor (por motivos óbvios), mas a
tem suas políticas elaboradas e executadas pela Secre- seus dependentes, incluindo nesse grupo o cônju-
taria de Previdência do Ministério da Fazenda. Neste ge, o cônjuge divorciado ou separado judicialmen-
Regime, é compulsório para o servidor público do ente te ou de fato; o companheiro ou companheira que
federativo que o tenha instituído, com teto e subtetos comprove união estável como entidade familiar;
definidos pela Emenda Constitucional nº 41/2003. ou ainda ao filho de qualquer condição, desde que
Mas o Regime de Previdência dos Servidores também preencha as seguintes condições: a) seja menor de
possui dispositivos previstos em seu Estatuto. Segundo o 21 (vinte e um) anos; b) seja inválido; c) tenha de-
artigo 184 da Lei nº 8.112/1990, O Plano de Seguridade ficiência grave; ou ainda d) tenha deficiência inte-
Social visa a dar cobertura aos riscos a que estão sujeitos lectual ou mental.
DIREITO ADMINISTRATIVO

o servidor e sua família, e compreende um conjunto de H) Auxílio-reclusão (art. 229): sendo também de-
benefícios e ações que atendam às seguintes finalidades: vido aos dependentes do servidor, cujo valor po-
I - garantir meios de subsistência nos eventos de doença, derá ser: I - dois terços da remuneração, quando
invalidez, velhice, acidente em serviço, inatividade, faleci- afastado por motivo de prisão, em flagrante ou
mento e reclusão; II - proteção à maternidade, à adoção preventiva, determinada pela autoridade compe-
e à paternidade; III - assistência à saúde. tente, enquanto perdurar a prisão; II - metade da
remuneração, durante o afastamento, em virtude
De modo geral, pode-se dizer que ao servidor é ga- de condenação, por sentença definitiva, a pena
rantido os seguintes benefícios previdenciários: que não determine a perda de cargo.

13
Deveres e responsabilidades dos servidores VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou
Apesar da grande quantidade de direitos e vanta- função de confiança, cônjuge, companheiro ou paren-
gens, o Estatuto dos Servidores Públicos também atribui te até o segundo grau civil;
aos mesmos diversos deveres, com base no regime dis- IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou
ciplinar o qual, se não for atendido, enseja a instauração de outrem, em detrimento da dignidade da função pú-
de processo disciplinar para a apuração de infrações fun- blica;
cionais. X - participar de gerência ou administração de so-
ciedade privada, personificada ou não personificada,
Nos termos do artigo 116 da Lei nº 8.112/1990: exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista,
cotista ou comanditário;
Art. 116. São deveres do servidor: XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do car- repartições públicas, salvo quando se tratar de benefí-
go cios previdenciários ou assistenciais de parentes até o
II - ser leal às instituições a que servir; segundo grau, e de cônjuge ou companheiro;
III - observar as normas legais e regulamentares; XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando ma- de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;
nifestamente ilegais; XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado
V - atender com presteza; estrangeiro;
a) ao público em geral, prestando as informações re- XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
queridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; XV - proceder de forma desidiosa;
b) à expedição de certidões requeridas para defesa XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da reparti-
de direito ou esclarecimento de situações de interesse ção em serviços ou atividades particulares;
pessoal; XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública; ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergên-
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em cia e transitórias;
razão do cargo ao conhecimento da autoridade supe- XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incom-
rior ou, quando houver suspeita de envolvimento des- patíveis com o exercício do cargo ou função e com o
ta, ao conhecimento de outra autoridade competente horário de trabalho;
para apuração; XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais
VII - zelar pela economia do material e a conservação quando solicitado.
do patrimônio público;
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição; 6. Sindicância e processo disciplinar
IX - manter conduta compatível com a moralidade ad- Por fim, em relação à responsabilidade dos servido-
ministrativa; res públicos, o art. 121 da Lei nº 8.112/1990 é bastante
X - ser assíduo e pontual ao serviço; claro ao dispor que “O servidor responde civil, penal e
XI - tratar com urbanidade as pessoas; administrativamente pelo exercício irregular de suas atri-
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso buições”. Vemos, então, que de uma única conduta prati-
de poder. cada pelo referido servidor, pode ensejar em responsabi-
lização em três esferas distintas. A responsabilidade civil
Ao mesmo tempo, o artigo 117 da mesma Lei impõe do servidor público decorre da prática de atos comissivos
aos servidores públicos diversas proibições. Trata- ou omissivos, que sejam capazes de causar danos mate-
-se de uma matéria que exige grande capacidade de riais ao erário (patrimônio público), ou a terceiros.
memorização, mas que não necessita se alongar com A responsabilidade penal do servidor tem seu funda-
diversos detalhes. mento na apuração de uma conduta criminal, isso é, a
Art. 117. Ao servidor é proibido: hipótese em que o servidor público possa praticar um ilí-
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem cito penal, ou crime. A responsabilidade penal é, definiti-
prévia autorização do chefe imediato; vamente, a mais grave e perigosa, uma vez que ela pode
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade com- repercutir nas demais esferas, tanto pela condenação do
petente, qualquer documento ou objeto da repartição; servidor condenado, como pela sua absolvição pela falta
III - recusar fé a documentos públicos; de provas materiais ou pela negação de sua autoria, sen-
IV - opor resistência injustificada ao andamento de do essas últimas hipóteses apenas exceções.
documento e processo ou execução de serviço; A responsabilidade administrativa, por outro lado,
V - promover manifestação de apreço ou desapreço no consiste na instauração de processo disciplinar (art. 116
DIREITO ADMINISTRATIVO

recinto da repartição; e seguintes, Lei nº 8.112/1990), pelo qual haverá a ve-


VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos rificação da conduta delituosa do agente, bem como a
casos previstos em lei, o desempenho de atribuição aplicação da pena mais adequada. Imprescindível refor-
que seja de sua responsabilidade ou de seu subordi- çar que a aplicação de qualquer pena ao servidor público
nado; pressupõe um processo administrativo, sendo assegura-
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de fi- do ao acusado direito ao contraditório e a ampla defesa,
liarem-se a associação profissional ou sindical, ou a sendo obrigatória, inclusive, a presença do advogado em
partido político; todas as fases do referido processo (Súmula nº 343 do
STJ). Todavia, tal entendimento vem sofrendo alteração,

14
pois o STF já reconheceu em Súmula Vinculante nº 5 en- REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS
tendimento de que a falta de defesa técnica no processo CIVIS DO DISTRITO FEDERAL (LEI COMPLEMENTAR
administrativo disciplinar não é inconstitucional. Nº 840/2011
Em relação às penalidades administrativas aplicáveis
aos servidores públicos, a Lei nº 8.112/1990 (art. 127) Como já foi exposto, os Estados, Municípios e Dis-
prevê aplicação das seguintes sanções: trito Federal possuem autonomia para estabelecer suas
próprias normas jurídicas. Sendo assim, o Distrito Federal
A) Advertência: é a sanção mais branda, aplicá- dispõe na Lei Complementar nº 840/2011 o regime jurí-
vel por escrito para o servidor que cometer atos dico de seus servidores públicos distritais.
como: ausentar-se do serviço injustificadamente; As regras mais específicas dos servidores públicos
recusar fé a documento público; retirar qualquer distritais podem ser encontradas em seu Estatuto, isso é,
documento da repartição sem a devida autoriza- na Lei Complementar nº 840/2011. Apesar de apresen-
ção; manter sob sua chefia cônjuge, companheiro tarmos os aspectos da legislação federal uma leitura na
ou parente até o segundo grau; entre outros. íntegra do referido Estatuto é altamente recomendada.
B) Suspensão: aplicável somente quando o servidor
é reincidente nas faltas puníveis por advertência,
desde que não tipifiquem infrações sujeitas a de-
missão do cargo. A suspensão não poderá ser apli-
cada por prazo maior a noventa dias. EXERCÍCIO COMENTADO
C) Demissão: trata-se da penalidade mais grave atri-
buída ao servidor público, uma vez que tem o con- 1. (MPC-PA – ANALISTA MINISTERIAL-CONTROLE
dão de exonerá-lo de seu cargo. A demissão será EXTERNO – CESPE – 2019) Se um servidor em disponi-
aplicada nos casos em que o servidor: cometer cri- bilidade reingressa no serviço público, em cargo de na-
me contra a administração pública; abandonar seu tureza e padrão de vencimento correspondentes ao que
cargo; improbidade administrativa; praticar condu- ocupava, então, nesse caso, ocorre o que se denomina
ta escandalosa na repartição; ofender fisicamente,
em serviço, outro servidor; revelar segredo o qual a) redistribuição.
obteve devido a sua função; corrupção; receber b) aproveitamento.
propina, comissão, ou outra vantagem de qualquer c) readaptação.
espécie em razão de suas atribuições; etc. Muitas d) recondução.
dessas hipóteses impedem que o infrator retorne e) remoção.
ao serviço público federal, por isso tratar-se de Resposta: Letra B.
uma das penalidades mais gravosas. Em “a”: Errado – Redistribuição é o deslocamento de
D) Cassação de Aposentadoria ou da Disponibili- cargo de provimento efetivo (que já está em serviço),
dade: o servidor inativo que houver praticado falta ocupado ou vago no âmbito do quadro geral de pes-
punível com a demissão, terá a sua aposentadoria, soal, para outro órgão ou entidade do mesmo Poder,
ou sua disponibilidade cassada. com prévia apreciação do órgão central do SIPEC.
E) Destituição de Cargo ou Função Comissiona- Em “b”: Certo.
da: caso o servidor ocupante de cargo não efetivo Em “c”: Errado – Readaptação é a investidura do ser-
cometa uma das faltas passíveis da pena de sus- vidor em cargo de atribuições e responsabilidades
pensão e demissão, poderá perder o seu cargo de compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
confiança ou função comissionada. capacidade física ou mental verificada em inspeção
médica.
Por fim, importante ressaltar que ao servidor é confe- Em “d”: Errado – Recondução é o retorno do servidor
rido direito de petição, na forma do artigo 104 e seguin- estável para o mesmo cargo anteriormente ocupado,
tes da Lei nº 8.666/1990, para requerer direitos e interes- que ocorre geralmente por inabilitação em estágio
ses próprios em face do Poder Público. O requerimento probatório relativo a outro cargo, ou por reintegração
será dirigido à autoridade competente para decidi-lo e do anterior ocupante.
encaminhado por intermédio daquela a que o servidor Em “e”: Errado – Remoção é o deslocamento do ser-
estiver imediatamente subordinado. Deve ser respeitado vidor que se encontra em serviço, a pedido deste ou
o princípio do contraditório e da ampla defesa, dando de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem
espaço para que tanto o servidor público como o Esta- mudança de sede.
do possam impugnar todos os pontos do requerimento,
DIREITO ADMINISTRATIVO

apresentar sua defesa técnica escrita, e interpor recursos 2. (PGE-PE – ANALISTA ADMINISTRATIVO DA PRO-
(art. 107, Lei nº 8.666/1990) das decisões que lhe preju- CURADORIA – CESPE – 2019) Acerca de administração
dicarem. de cargos, carreiras e salários, julgue o item a seguir.
O direito de requerer decaí: em 5 (cinco) anos, quanto Na administração pública, a remuneração abrange o res-
aos atos de demissão e de cassação de aposentadoria sarcimento por dispêndios havidos pelo servidor em ra-
ou disponibilidade, ou que afetem interesse patrimonial zão da execução de atividades laborais.
e créditos resultantes das relações de trabalho; ou em
120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo quando ( ) CERTO ( ) ERRADO
outro prazo for fixado em lei.

15
Resposta: Errado. A remuneração do servidor públi- de pode ocorrer tanto nas condutas comissivas, em seu
co pode ser auferida pela conjunção de seus venci- campo de atuação, quanto nas condutas omissivas, isso
mentos, mais as suas vantagens. O ressarcimento por é, quando o agente público se abstém de realizar tarefa
dispêndios havidos pela execução de suas atividades legalmente imposta.
laborais são as indenizações (ajuda de custo, diárias, Exemplos de desvio de finalidade são bastante co-
auxílio-moradia, etc), que não integram a remunera- muns na Administração Pública brasileira: a construção
ção do servidor público. de estrada cujo trajeto foi elaborado com objetivo de va-
lorizar a propriedade rural de um governador; a transfe-
rência de servidor público para outro Estado apenas para
ficar longe da filha do delegado de polícia da cidade, a
PODERES DA ADMINISTRAÇÃO nomeação de réu em ação penal a cargo público para
PÚBLICA. HIERÁRQUICO, DISCIPLINAR, obter foro privilegiado e transferir seu processo para o
REGULAMENTAR E DE POLÍCIA. USO E STF, etc. Percebe-se que, em todos os casos, há a sobre-
ABUSO DE PODER. posição de um interesse particular sobre o interesse da
coletividade: os agentes estatais, dessa forma, praticam
atos visando obter alguma vantagem pessoal, para eles
mesmos ou para outrem, concretizando, assim, o desvio
A Administração Pública deve cumprir suas atribui- de finalidade.
ções constitucionais, por imposição legal. Para tanto, o
exercício de suas funções depende de certas prerroga- PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
tivas, ou Poderes, conferidos pela legislação. Esses po-
deres são considerados instrumentos de trabalho. Signi- O estudo dos poderes da Administração Pública, as-
fica dizer que esses poderes-deveres são instrumentais, sim, é de extrema importância para verificar quais são
utilizados pela Administração com o objetivo maior de os seus limites de atuação. Para tanto, a doutrina costu-
promover a supremacia do interesse público. ma dividir esse poder conferido à Administração em seis
vertentes: poder vinculado; poder discricionário; poder
USO E ABUSO DE PODER disciplinar; poder hierárquico; poder de polícia; e poder
regulamentar.
Quando o agente público exerce adequadamente
suas competências, atuando em conformidade com a Poder vinculado e Poder discricionário
legislação, sem excessos ou desvios, diz-se que ele faz Poder vinculado é aquele em que a lei atribui deter-
uso regular do poder. Entretanto, havendo hipóteses de minada competência ao administrador, delimitando to-
exercício de competências fora dos limites legais, visan- dos os aspectos de sua conduta, o qual deve compul-
do apenas interesses alheios, trata-se de clara hipótese soriamente seguir a forma prevista na lei, não havendo
de uso irregular do poder, também denominado abuso qualquer margem de liberdade para que o agente pú-
de poder. O abuso de poder, além de causar a invalidade blico escolha a melhor forma de cumprir suas funções.
do ato, constitui em ilícito ensejador de responsabilidade Os atos praticados no exercício do poder vinculado são
pela autoridade competente que causou danos com seu denominados atos vinculados.
uso irregular. Poder discricionário, por sua vez, é o poder que o le-
Abuso de poder pode se manifestar no exercício das gislador, ao delimitar a competência da Administração
funções administrativas sob duas formas: pelo excesso Pública, confere também uma margem de liberdade para
de poder, e pelo desvio de finalidade. que o agente público possa escolher, diante da situa-
Excesso de poder é a hipótese de uso irregular dos ção jurídica, qual o caminho mais adequado, ou qual a
poderes administrativos pelo qual a autoridade pratica melhor forma de solução daquela desavença. A lei não
algum ato desrespeitando os limites impostos, exorbi- impõe um único comportamento como no poder vincu-
tando o uso de suas faculdades administrativas. Ao ex- lado: ela delega ao administrador a faculdade de avaliar
ceder sua competência legal, o agente responsável age a melhor solução para cada caso. Garantir margem de
com exageros e desproporcionalidade, o que torna o ato liberdade não significa que o administrador deve agir
praticado por ele absolutamente inválido. Mas o excesso fora da lei, pois a discricionariedade não o permite estar
de poder admite convalidação, ou seja, há hipóteses em acima da legislação. Além disso, o poder discricionário
que se pode corrigir vício cometido no ato preservando também pode sofrer controle pelo Poder Judiciário, ex-
sua eficácia, dependendo do caso concreto. ceto quando a questão for referente ao mérito dos atos
Desvio de finalidade, por sua vez, é vício do ato ad- discricionários, cuja competência é exclusiva da própria
DIREITO ADMINISTRATIVO

ministrativo, praticado sempre por autoridade compe- Administração.


tente, que tem por fim diverso daquele previsto, explícita
ou implicitamente, nas regras de competência da legis-
lação (art. 2º, par. único, e, da Lei nº 4.717/1965). A fina-
lidade diversa não macula os requisitos essenciais dos
atos administrativos (competência, objeto, forma, moti-
vo), mas tende a macular o ato, tornando-o nulo. O único
caminho possível para esse ato é a anulação, ou seja, não
há possibilidade de convalidação. O desvio de finalida-

16
Pública, bem como as relações jurídicas de sujei-
#FicaDica ção especial do Poder Público perante particulares.
Exemplo: regulamento que disciplina organização
Atualmente muito se questiona sobre a le- e funcionamento da administração federal (art. 84,
galidade administrativa, que fundamenta a VI, a, da CF/1988).
vinculação de seus atos. Dizer que a vincu- B) Regulamentos habilitados ou delegados: em
lação é uma simples obediência a legisla- alguns países, há a possibilidade de o Poder Le-
ção é uma noção muito restrita e aquém da gislativo delegar ao Executivo a disciplina de maté-
realidade social. A legalidade, enquanto va- rias reservadas privativamente à lei, havendo uma
zia ou formal (noção de fazer um checklist transferência de competência legislativa. Tais regu-
do ato), desvinculada do cumprimento de lamentos não são admitidos no direito adminis-
direitos fundamentais, não se sustenta. trativo brasileiro.
Doutrinariamente se sustenta uma revisão C) Regulamentos executivos: são os regulamentos
da legalidade, de modo que os adminis- comuns, expedidos sobre matéria disciplinada pela
tradores, agora, se vinculam não somente legislação, permitindo a fiel execução da norma le-
à Lei, e sim à Constituição (constituciona- gal. É a hipótese do art. 84, IV, da CF/1988.
lidade administrativa). Assim, um comando D) Regulamentos autônomos: são os que dispõem
oriundo de uma lei manifestamente in- sobre tema não disciplinado pela legislação. Há
constitucional pode não ser cumprida pe- um conjunto de temas que a norma constitucio-
los agentes públicos. nal retirou da competência do Poder Legislativo e
atribuiu sua disciplina ao Poder Executivo. A EC nº
32/2001 elenca dois temas que só podem ser disci-
Poder regulamentar
plinados por decreto expedido pelo Presidente da
República: a organização da administração federal;
O poder regulamentar consiste na possibilidade do
e a extinção de funções e cargos vagos e não ocu-
Chefe do Poder Executivo de cada entidade da Federação
pados.
de editar atos administrativos gerais, abstratos ou con-
cretos, expedidos para dar fiel cumprimento à lei. Seu
fundamento legal encontra-se disposto no art. 84, IV, da Poder hierárquico
CF/1988: “Compete privativamente ao Presidente da Re-
pública: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, Poder hierárquico é o poder que dispõe o Executi-
bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel vo para organizar e distribuir as funções de seus órgãos,
execução”. Por ser de competência exclusiva do Chefe do bem como ordenar e rever a atuação de seus agentes,
Poder Executivo, é indelegável a qualquer subordinado. estabelecendo uma relação de subordinação entre os
Embora o texto constitucional faça menção somente ao servidores do seu quadro de pessoas. As relações de hie-
Presidente da República, o referido poder pode ser exer- rarquia são características únicas, existem somente no
cido, por simetria, pelos Governadores e Prefeitos. âmbito do Poder Executivo, isso é, não existe hierarquia
Uma das palavras chave do poder regulamentar é entre órgãos do Poder Legislativo e do Judiciário. Além
“regulamento”. Trata-se de ato administrativo que tem disso, importante frisar que não existe poder hierárquico
por escopo estabelecer detalhes e diretrizes quanto ao entre membros da Administração Indireta, pois estes são
modo de aplicação dos dispositivos legais, dando maior entidades autônomas, que não se subordinam aos entes
concretude aos comandos gerais e abstratos presentes que o criaram. Pela hierarquia, há a imposição ao subal-
na legislação. Não se confunde com o decreto, que é ou- terno da estrita obediência às ordens e instruções legais
tro ato administrativo que introduz o regulamento em superiores, além de definir a responsabilidade de cada
si. Decreto representa a forma do ato administrativo, en- um de seus agentes e órgãos públicos.
quanto o regulamento representa seu conteúdo. Quanto às suas características, diz-se que o poder
Ambos os decretos e regulamentos são atos em po- hierárquico é interno e permanente. Interno é o poder
sição de inferioridade em relação as leis e, por isso, não que atinge apenas os próprios membros da Administra-
são capazes de criar direitos e obrigações aos particula- ção, não tem o condão de atingir as relações dos parti-
res sem fundamento legal. Suas funções primordiais, no culares. É também um poder permanente, porque não é
entanto, são a redução da margem de interpretação das exercido de modo esporádico e episódico, como o que
normas, pois se um decreto dispõe qual é a forma mais acontece no poder disciplinar.
correta de aplicação da lei, esta perde um pouco de seu Do poder hierárquico são decorrentes certas faculda-
caráter geral e abstrato, seu campo de discricionariedade des implícitas ao superior, tais como dar ordens e fis-
DIREITO ADMINISTRATIVO

é reduzido a uma única forma válida de aplicação no âm- calizar o seu cumprimento, delegar e avocar atribuições,
bito jurídico. Por isso, o poder regulamentar apresenta bem como rever atos de seus inferiores.
natureza vinculada. A delegação é a transferência temporária de com-
petência administrativa de seu titular, a outro órgão ou
Existem diversas espécies de regulamentos adminis- agente público subordinado à autoridade outorgante
trativo: (delegação vertical), ou fora da sua linha hierárquica (de-
A) Regulamentos administrativos ou de organiza- legação horizontal). O art. 12 da Lei nº 9.784/1999 dispõe
ção: são aqueles que disciplinam questões internas do mesmo modo: “Um órgão administrativo e seu titular
de estruturação e funcionamento da Administração poderão, se não houver impedimento legal, delegar par-

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te da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda ções pela Administração não se aplica aos particulares,
que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, somente a seus próprios servidores, salvo as hipóteses
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de de estes serem contratados pela Administração Pública.
índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial”. Todavia, distingue-se do poder hierárquico na medida
Essa transferência de competência é sempre provisória, o em que é não-permanente, isso é, só será aplicado ape-
que significa que pode ser revogada a qualquer tempo. nas se e quando o servidor cometer infração funcional.
A regra geral é sempre a delegabilidade das compe- Percebe-se, então, que o poder disciplinar apresenta ca-
tências. Todavia, a própria legislação (art. 13 da Lei nº ráter punitivo e sancionador, enquanto o poder hierár-
9.784/1999) assevera três matérias que não podem ser quico advém da simples obediência dos subalternos para
delegadas. Assim, são indelegáveis: a edição de ato de com a entidade detentora deste poder. A discricionarie-
caráter normativo, pois constituem-se em regras gerais dade do poder disciplinar traduz-se na possibilidade de
aplicáveis a todos os órgãos, incompatível com a dele- a Administração em poder escolher qual a punição mais
gação; a decisão em recursos administrativos, para evitar apropriada para cada caso, isso é, ela possui certa mar-
que a mesma autoridade possa julgar o mesmo processo gem de liberdade para o seu exercício.
mais de uma vez pela delegação; e as matérias que fo- Os servidores públicos que cometerem qualquer
rem consideradas de competência exclusiva do órgão ou infração no exercício de suas funções estão sujeitos às
autoridade. seguintes penalidades, dispostas no art. 127 da Lei nº
A avocação encontra-se disposta no art. 15 da Lei 8.112/1990: advertência; suspensão; demissão; cassa-
nº 9.784/1999. Consiste na possibilidade da autoridade ção de aposentadoria ou disponibilidade; destituição de
competente de chamar para si a competência de um cargo em comissão; e destituição de função comissio-
agente ou órgão subordinado. Trata-se de medida ex- nada. A aplicação de qualquer uma dessas penalidades
cepcional e temporária, e somente pode ser realizada depende de prévio processo administrativo, respeitada
dentro da mesma linha hierárquica, o que significa que a a garantia de contraditório e ampla defesa, sob pena de
avocação só pode ser vertical, não se admite a avocação nulidade da sanção.
horizontal. Esquematicamente, temos:
Poder de polícia
Delegação Avocação
A expressão “poder de polícia” pode ser interpretada
Distribuição de de duas maneiras: em um sentido amplo, corresponde a
Absorção de competências
competências qualquer limitação estatal à liberdade e propriedade pri-
Admite horizontal e vada, de origem administrativa ou legislativa. Há também
Admite apenas horizontal o poder de polícia em sentido restrito, mais utilizado pela
vertical
doutrina, que engloba apenas as restrições impostas pe-
las limitações administrativas, excluindo as limitações de
Por fim, a revisão é a capacidade de rever os atos dos ordem legal. Em sentido restrito, envolve atividades ad-
inferiores hierárquicos, apreciando todos os seus aspec- ministrativas de fiscalização e condicionamento da esfera
tos para a análise de sua manutenção ou invalidação. É privada de interesses, em prol da coletividade.
somente possível a revisão de atos praticados pelos ór- O poder de polícia tem grande destaque no exercí-
gãos públicos e agentes subordinados hierarquicamente. cio das funções da Administração moderna, junto com
Para as entidades da Administração Indireta, existe a prestação de serviços públicos e o fomento à iniciati-
apenas uma forma de controle fiscalizatório e finalístico va privada. Porém, essas duas funções representam uma
de seus atos, o qual denomina-se supervisão ministerial, atuação estatal ampliativa, enquanto que o poder de po-
que não tem relação com o poder hierárquico. A supervi- lícia representa uma atuação restritiva do Estado, limi-
são ministerial não admite a revisão dos atos praticados tando a liberdade e a propriedade individual em favor do
pelas autarquias, fundações, e demais entidades da Ad- interesse público.
ministração Indireta.
O art. 78 do Código Tributário Nacional (CTN) tem seu
Poder disciplinar conceito legal de poder de polícia:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da
O poder disciplinar consiste na faculdade da Adminis- administração pública que, limitando ou discipli-
tração de punir seus agentes, nas hipóteses em que estes nando direito, interesse ou liberdade, regula a prá-
tenham cometido alguma infração de ordem funcional. tica de ato ou abstenção de fato, em razão de in-
Correlato com o poder hierárquico, mas não se confunde teresse público concernente à segurança, à higiene,
DIREITO ADMINISTRATIVO

com o mesmo. No poder hierárquico, a Administração à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e
Pública distribui e escalona as suas funções executivas. do mercado, ao exercício de atividades econômicas
Já no uso do poder disciplinar, a Administração simples- dependentes de concessão ou autorização do Poder
mente controla o desempenho de funções e a condu- Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à pro-
ta de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas priedade e aos direitos individuais ou coletivos.
porventura cometidas.
Em relação as suas características, o poder disciplinar Diante de tudo que foi exposto, podemos conceituar
é interno, não-permanente ou temporário, e discricioná- poder de polícia como a atividade da Administração Pú-
rio. Assim como o poder hierárquico, a imposição de san- blica, com fundamento na lei e na supremacia geral, que

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consiste na imposição de limites à liberdade e à proprie- obtenção, tratando-se por isso, de ato vinculado. Com
dade dos particulares, regulando a prática desses atos, isso, podemos afirmar que a manifestação do poder de
ou a abstenção dos mesmos, manifestando-se por meio polícia pode ocorrer mediante a expedição de atos no
de atos normativos ou concretos, tudo isso em benefício exercício da competência discricionária da Administra-
do interesse público. ção, ou por meio de atos vinculados, com a devida previ-
Ao dizer que se trata de atividade da Administração são legal. O poder de polícia também é indelegável, uma
Pública, procuramos enfatizar a concepção stricto sensu vez que pressupõe a posição de superioridade de quem
do poder de polícia, que não se confunde com as limi- o exerce, não podendo ser transferido a particulares (art.
tações à liberdade e ao direito de propriedade impostas 4º, III, da Lei nº 11.079/2004).
pelo legislador. Por ser atividade da Administração, deve
ser exercido, respeitando os princípios da razoabilidade Polícia administrativa e polícia judiciária
e proporcionalidade. A concepção do poder de polícia abrange muito mais
A fundamentação legal é outro aspecto importante do que a simples promoção de segurança pública. To-
do poder de polícia, uma vez que a lei condiciona o exer- davia, imprescindível destacar as atividades estatais de
cício de determinadas atividades à obtenção de licenças prevenção e repressão da criminalidade sob a ótica do
ou concessões pelo Poder Público. O legislador deve, en- poder de polícia. Assim, costuma-se dividir a atuação do
tão, elaborar os requisitos necessários para o exercício Estado para promoção da segurança pública em duas ca-
do poder de polícia pelo Estado. tegorias de “polícias” distintas: a polícia administrativa, e
O poder de polícia tem por objeto a imposição de li- a polícia judicial.
mitações à liberdade e propriedade dos particulares, ins- A polícia administrativa tem um caráter preventivo.
tituindo condições capazes de compatibilizar seu exercí- Isso significa que a sua atuação deve ocorrer antes da
cio às necessidades de interesse público. Tais imposições prática do crime, tendo por finalidade evitar a sua ocor-
também podem ser aplicadas ao Estado. Isso significa rência. Submete-se às regras de Direito Administrativo.
que até mesmo o Poder Público pode ter suas liberdades No Brasil, a polícia administrativa é exercida por diver-
e propriedades sofrerem limitações em face das necessi- sos órgãos de fiscalização de diversas áreas, como saú-
dades do interesse público. de, educação, trabalho, previdência e assistência social. A
Para o seu exercício, a Administração Pública deve polícia administrativa protege os interesses primordiais
regular a prática dos atos ou a abstenção de fatos. Em da sociedade ao impedir comportamentos individuais
regra, o poder de polícia manifesta-se em obrigações que possam causar prejuízos maiores à coletividade.
A polícia judiciária, por sua vez, apresenta caráter re-
negativas, ou de não fazer, impostas aos particulares, li-
pressivo. Sua atuação ocorre após a constatação do cri-
mitando a esfera de atuação dos seus direitos. Excepcio-
me. Após a ocorrência do crime, deve a polícia judiciária
nalmente, pode também manifestar-se mediante obriga-
abrir um processo de investigação em busca da autoria
ções positivas ou de fazer, como é o caso da imposição
e materialidade do crime. Sua razão de ser é a punição
da função social da propriedade ao dono do imóvel, dis-
dos infratores. Rege-se pelas regras de Direito Processual
posta no art. 5º, XXII, da CF/1988.
Penal. Ela incide sobre pessoas, ao contrário da polícia
O poder de polícia se manifesta pela expedição de
administrativa, que age sobre a atividade das pessoas. A
atos normativos, como é o caso das regras sobre o direi- polícia judiciária é exercida pelas corporações especiali-
to de construir, ou por meio de atos concretos, como a zadas, denominadas Polícia Civil e Polícia Federal.
obtenção de licença para a reforma de um imóvel, cujo
interesse é exclusivo do particular (proprietário do imó-
vel, no caso).
Por fim, convém ressaltar a finalidade do poder de
polícia, qual seja, agir em prol do interesse público. Por
EXERCÍCIO COMENTADO
isso, o Estado deve conciliar os direitos individuais, com
o interesse da coletividade. Tal finalidade é típica da Ad- 1. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE CONTRO-
ministração Pública, pois tem como fundamento o prin- LE EXTERNO – CESPE – 2019) A permissão para que o
cípio sistêmico da primazia do interesse público sobre o poder público interfira na órbita do interesse privado
privado. para salvaguardar o interesse público, restringindo-se di-
reitos individuais, fundamenta-se no:
Natureza jurídica do poder de polícia
Quanto a sua natureza jurídica, é entendimento ma- a) poder hierárquico.
joritário que o poder de polícia é discricionário. Na dou- b) poder regulamentar.
trina, muitos autores costumam definir poder de polícia, c) poder de polícia.
DIREITO ADMINISTRATIVO

utilizando-se a expressão “faculdade que o Estado possui d) poder disciplinar.


de impor limites...”. Isso quer dizer que não apresenta ca- e) abuso de poder.
racterísticas de obrigação legal, mas de uma permissão.
A escolha sobre qual método utilizar para o exercício do Resposta: Letra C.
referido poder, e quando, compete somente à própria Em “a”: Errado – Pois o poder hierárquico é o poder
Administração Pública. que dispõe o Executivo para organizar e distribuir as
funções de seus órgãos, bem como ordenar e rever a
Porém, vale ressaltar as hipóteses de obtenção
atuação de seus agentes, estabelecendo uma relação
de licença. A licença é ato administrativo relacionado ao
de subordinação os mesmos.
poder de polícia, que apresenta previsão legal para a sua

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Em “b”: Errado – O poder regulamentar consiste na dos segundo a interpretação das normas jurídicas. Além
possibilidade do Chefe do Poder Executivo de cada disso, os princípios administrativos podem ser gerais (ou
entidade da Federação de editar atos administrativos basilares), constitucionais, ou infraconstitucionais.
gerais, abstratos ou concretos, para dar cumprimento
as leis. Princípios Gerais de Direito Administrativo
Em “c”: Certo. Os princípios gerais de Direito Administrativo, são os
Em “d”: Errado – O poder disciplinar é aquele que im- princípios basilares desse ramo jurídico, sendo aplicáveis
põe sanções aos servidores públicos por praticar in- ante o fato da Administração Pública ser considerada
frações no exercício de suas funções, não atingindo os pessoa jurídica de direito público.
particulares que não tem vínculo com o Poder Público. O princípio da supremacia do interesse público é o
Em “e”: Errado – Abuso de poder não é uma espécie princípio que dá os poderes e prerrogativas à Adminis-
de poder da administração pública, mas uma hipótese tração Pública. A supremacia do interesse público sobre
em que ela extrapola seus limites, praticando atos ile- o privado é um aspecto fundamental para o exercício da
gais, o que é absolutamente vedado. função administrativa. Podemos citar como exemplo a
desapropriação de um imóvel pertencente a um parti-
2. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019) No cular: o particular pode ter interesse em não ter seu bem
que diz respeito a desvio e excesso de poder e à respon- desapropriado, ou achar o valor da indenização injusto,
sabilidade civil do Estado, julgue o item subsecutivo. mas ele não pode ter interesse em extinguir o instituto
Ocorre desvio de poder na forma omissiva quando o da expropriação administrativa. Trata-se de um instituto
agente público que detém o poder-dever de agir se que deve existir, independentemente da sua vontade.
mantém inerte, ao passo que o excesso de poder se ca- Mas se o Estado apenas tivesse prerrogativas, com
racteriza pela necessária ocorrência de um transborda- certeza ele agiria com abuso de autoridade. É por isso
mento no poder-dever de agir do agente público, não que ao Estado também lhe incumbe uma série de de-
sendo cabível na modalidade omissiva. veres, fundadas pelo princípio da indisponibilidade do
interesse público. Tal princípio pressupõe que o Poder
( ) CERTO ( ) ERRADO Público não é dono do interesse público, ele deve manu-
seá-lo segundo o que a norma lhe impõe. É por isso que
Resposta: Errado. A definição tradicional de excesso ele não pode se desfazer de patrimônio público, contra-
de poder é entendida como a hipótese de uso irre- tar quem ele quiser, realizar gastos sem prestar contas
gular dos poderes administrativos pelo qual a autori- a seu superior, etc. Tais atos configuram em desvio de
dade extrapola os limites de sua competência, prati- finalidade, uma vez que o objetivo principal deles não é
cando algum ato desrespeitando os limites impostos, de interesse público, mas apenas do próprio agente, ou
exorbitando o uso de suas faculdades administrativas. de algum terceiro beneficiário.
Apesar disso, existe sim a possibilidade do agente
público agir com vício de excesso de poder na mo- Princípios Constitucionais da Administração Pú-
dalidade omissiva. É o caso, por exemplo, do servidor blica
que recebe uma denúncia de um particular, e ele não São os princípios previstos no Texto Constitucional,
tem a competência para abrir processo para averiguar mais especificamente no caput do artigo. 37. Segundo
tal fato. O servidor, dentro de seus limites, deveria ao o referido dispositivo: “A administração pública direta e
menos encaminhar para seu chefe imediato, mas fica indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
inerte, omisso, sem tomar nenhuma providência. do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos prin-
cípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publi-
cidade e eficiência e, também, ao seguinte:”. Assim, es-
quematicamente, temos os princípios constitucionais da:
REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. 1) Legalidade: fruto da própria noção de Estado de
CONCEITO. PRINCÍPIOS EXPRESSOS Direito, as atividades do gestor público estão sub-
E IMPLÍCITOS DA ADMINISTRAÇÃO missas a forma da lei. A legalidade promove maior
PÚBLICA segurança jurídica para os administrados, na me-
dida em que proíbe que a Administração Pública
pratique atos abusivos. Ao contrário dos particu-
lares, que podem fazer tudo aquilo que a lei não
O estudo do regime jurídico administrativo envolve, proíbe, a Administração só pode realizar o que lhe
de modo geral, uma análise pormenorizada dos princí- é expressamente autorizado por lei.
pios que regem esse ramo do direito. Por ser um ramo de 2) Impessoalidade: a atividade da Administração Pú-
DIREITO ADMINISTRATIVO

direito público, o regime administrativo apresenta alguns blica deve ser imparcial, de modo que é vedado
princípios especiais, que não se encontram na esfera pri- haver qualquer forma de tratamento diferenciado
vada. entre os administrados. Há uma forte relação entre
a impessoalidade e a finalidade pública, pois quem
1. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA age por interesse próprio não condiz com a finali-
dade do interesse público.
Os princípios que regem a atividade da Administra- 3) Moralidade: a Administração impõe a seus agen-
ção Pública são vastos, podendo estar explícitos em nor- tes o dever de zelar por uma “boa-administração”,
ma positivada, ou até mesmo implícitos, porém denota- buscando atuar com base nos valores da moral co-

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mum, isso é, pela ética, decoro, boa-fé e lealdade. ordem jurídica afetada pelo ato ilícito, e garantir maior
A moralidade não é somente um princípio, mas proteção ao interesse público contra os atos inconve-
também requisito de validade dos atos adminis- nientes.
trativos. Segundo o disposto no art. 53 da Lei nº 9.784/1999:
4) Publicidade: a publicação dos atos da Administra- “A Administração deve anular seus próprios atos, quan-
ção promove maior transparência e garante eficá- do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por
cia erga omnes. Além disso, também diz respeito motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
ao direito fundamental que toda pessoa tem de direitos adquiridos”. A distinção feita pelo legislador é
obter acesso a informações de seu interesse pe- bastante oportuna: ele enfatiza a natureza vinculada do
los órgãos estatais, salvo as hipóteses em que esse ato anulatório, e a discricionariedade do ato revogatório.
direito ponha em risco a vida dos particulares ou A Administração pode revogar os atos inconvenientes,
o próprio Estado, ou ainda que ponha em risco a mas tem o dever de anular os atos ilegais.
vida íntima dos envolvidos. A autotutela também tem previsão em duas súmulas
5) Eficiência: implementado pela reforma adminis- do Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 346: “A Admi-
trativa promovida pela Emenda Constitucional nº nistração Pública pode declarar a nulidade de seus pró-
19 de 1988, a eficiência se traduz na tarefa da Ad- prios atos”; e a Súmula nº 473: “A administração pode
ministração de alcançar os seus resultados de uma anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
forma célere, promovendo melhor produtividade os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos;
e rendimento, evitando gastos desnecessários no ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportu-
exercício de suas funções. A eficiência fez com que nidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
a Administração brasileira adquirisse caráter ge- em todos os casos, a apreciação judicial”.
rencial, tendo maior preocupação na execução de
serviços com perfeição ao invés de se preocupar Princípio da Motivação
com procedimentos e outras burocracias. A ado- Também pode constar em algumas questões como
ção da eficiência, todavia, não permite à Adminis- “princípio da obrigatória motivação”. Trata-se de uma
tração agir fora da lei, não se sobrepõe ao princípio
técnica de controle dos atos administrativos, o qual im-
da legalidade.
põe à Administração o dever de indicar os pressupostos
de fato e de direito que justificam a prática daquele ato.
A fundamentação da prática dos atos administrativos
FIQUE ATENTO! será sempre por escrito. Possui previsão no art. 50 da
Um método que facilita a memorização des- Lei nº 9.784/1999: “Os atos administrativos deverão ser
ses princípios é a palavra “limpe”, pois temos motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
os princípios da: jurídicos, quando (...)”; e também no art. 2º, par. único,
Legalidade VII, da mesma Lei: “Nos processos administrativos serão
Impessoalidade observados, entre outros, os critérios de: VII - indicação
Moralidade dos pressupostos de fato e de direito que determinarem
Publicidade a decisão”. A motivação é uma decorrência natural do
Eficiência princípio da legalidade, pois a prática de um ato adminis-
trativo fundamentado, mas que não esteja previsto em
lei, seria algo ilógico.
Princípios Infraconstitucionais Convém estabelecer a diferença entre motivo e mo-
Os princípios administrativos não se esgotam no âm- tivação. Motivo é o ato que autoriza a prática da medida
bito constitucional. Existem outros princípios cuja previ- administrativa, portanto, antecede o ato administrativo.
são não está disposta na Carta Magna, e sim na legisla- A motivação, por sua vez, é o fundamento escrito, de fato
ção infraconstitucional. É o caso do disposto no caput do ou de direito, que justifica a prática da referida medida.
artigo 2º da Lei nº 9.784/1999: “A Administração Pública Exemplo: na hipótese de alguém sofrer uma multa por
obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, ultrapassar limite de velocidade, a infração é o motivo
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, (ultrapassagem do limite máximo de velocidade); já o do-
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurí- cumento de notificação da multa é a motivação. A multa
dica, interesse público e eficiência”. seria, então, o ato administrativo em questão.
Quanto ao momento correto para sua apresentação,
Princípio da Autotutela entende-se que a motivação pode ocorrer simultanea-
A autotutela diz respeito ao controle interno que a mente, ou em um instante posterior a prática do ato (em
DIREITO ADMINISTRATIVO

Administração Pública exerce sobre os seus próprios respeito ao princípio da eficiência). A motivação intem-
atos. Isso significa que, havendo algum ato administra- pestiva, isso é, aquela dada em um momento demasia-
tivo ilícito ou que seja inconveniente e contrário ao in- damente posterior, é causa de nulidade do ato adminis-
teresse público, não é necessária a intervenção judicial trativo.
para que a própria Administração anule ou revogue esses
atos. Princípio da Finalidade
Não havendo necessidade de recorrer ao Poder Judi- Sua previsão encontra-se no art. 2º, par. único, II, da
ciário, quis o legislador que a Administração possa, dessa Lei nº 9.784/1999. “Nos processos administrativos serão
forma, promover maior celeridade na recomposição da observados, entre outros, os critérios de: II - atendimen-

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to a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou atender aos princípios da responsabilidade, ao princípio
parcial de poderes ou competências, salvo autorização da segurança jurídica, ao princípio do contraditório e
em lei”. ampla defesa, ao princípio da isonomia, entre outros.
O princípio da finalidade muito se assemelha ao da
primazia do interesse público. O primeiro impõe que o
Administrador sempre aja em prol de uma finalidade
específica, prevista em lei. Já o princípio da supremacia
do interesse público diz respeito à sobreposição do inte-
EXERCÍCIO COMENTADO
resse da coletividade em relação ao interesse privado. A
finalidade disposta em lei pode, por exemplo, ser justa- 1. (TJ-DFT – TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E RE-
mente a proteção ao interesse público. GISTROS – CESPE – 2019) No âmbito da atuação pública,
Com isso, fica bastante clara a ideia de que todo ato, faz-se necessário que a administração pública mantenha
além de ser devidamente motivado, possui um fim espe- os atos administrativos, ainda que estes sejam qualifica-
cífico, com a devida previsão legal. O desvio de finalida- dos como antijurídicos, quando verificada a expectativa
de, ou desvio de poder, são defeitos que tornam nulo o legítima, por parte do administrado, de estabilização dos
ato praticado pelo Poder Público. efeitos decorrentes da conduta administrativa. A inter-
rupção dessa expectativa violará o princípio da:
Princípio da Razoabilidade
Agir com razoabilidade é decorrência da própria no- a) legalidade.
ção de competência. Todo poder tem suas correspon- b) confiança.
dentes limitações. O Estado deve realizar suas funções c) finalidade.
com coerência, equilíbrio e bom senso. Não basta apenas d) continuidade.
atender à finalidade prevista na lei, mas é de igual impor- e) presunção de legitimidade.
tância o como ela será atingida. É uma decorrência lógica
do princípio da legalidade. Resposta: Letra B. O princípio
Dessa forma, os atos imoderados, abusivos, irracio- da confiança legítima dá destaque aos administrados
nais e incoerentes, são incompatíveis com o interesse (sujeitos), restringindo a possibilidade de que estes, ao
público, podendo ser anulados pelo Poder Judiciário ou presumirem a legitimidade dos atos editados pela Ad-
pela própria entidade administrativa que praticou tal ministração, sejam surpreendidos e prejudicados por
medida. Em termos práticos, a razoabilidade (ou falta uma repentina declaração retroativa de nulidade de
dela) é mais aparente quando tenta coibir o excesso pelo tais atos pelo próprio Poder Público. A confiança é ba-
exercício do poder disciplinar ou poder de polícia. Poder seado na ideia de boa-fé e honestidade por parte do
disciplinar traduz-se na prática de atos de controle exer- cidadão, que acredita e espera que os atos praticados
cidos contra seus próprios agentes, isso é, de destinação pelo Poder Público sejam lícitos e, nessa qualidade,
interna. Poder de polícia é o conjunto de atos praticados serão mantidos e respeitados pela própria Adminis-
pelo Estado que tem por escopo limitar e condicionar o tração e por terceiros.
exercício de direitos individuais e o direito à propriedade
privada.

Princípio da Proporcionalidade RESPONSABILIDADE CIVIL DO


O princípio da proporcionalidade tem similitudes
ESTADO. EVOLUÇÃO HISTÓRICA.
com o princípio da razoabilidade. Há muitos autores,
inclusive, que preferem unir os dois princípios em uma RESPONSABILIDADE POR ATO COMISSIVO
nomenclatura só. De fato, a Administração Pública deve DO ESTADO. RESPONSABILIDADE POR
atentar-se a exageros no exercício de suas funções. A OMISSÃO DO ESTADO. REQUISITOS PARA A
proporcionalidade é um aspecto da razoabilidade volta- DEMONSTRAÇÃO DA RESPONSABILIDADE
do a controlar a justa medida na prática de atos admi- DO ESTADO. CAUSAS EXCLUDENTES E
nistrativos. Busca evitar extremos, exageros, pois podem ATENUANTES DA RESPONSABILIDADE DO
ferir o interesse público. ESTADO. REPARAÇÃO DO DANO. DIREITO
Segundo o art. 2º, par. único, VI, da Lei nº 9.784/1999, DE REGRESSO
deve o Administrador agir com “adequação entre meios
e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente ne-
DIREITO ADMINISTRATIVO

cessárias ao atendimento do interesse público”. Na práti- Nos dias atuais, temos a total compreensão da ideia
ca, a proporcionalidade também encontra sua aplicação de responsabilidade civil e extracontratual do Estado.
no exercício do poder disciplinar e do poder de polícia. Significa dizer que ao Estado é imputado o dever de
Esses não são os únicos princípios que regem as rela- ressarcir particulares pelos prejuízos praticados na con-
ções da Administração Pública. Porém, escolhemos trazer duta de seus agentes, independentemente de qualquer
com mais detalhes os princípios que julgamos ser mais acordo ou pacto estabelecido. Todavia, essa concepção
característicos da Administração. Isso não quer dizer que que temos atualmente não “brotou da terra”: ela foi o
outros princípios não possam ser estudados ou aplica- resultado de uma longa evolução histórica sobre a for-
dos a esse ramo jurídico. A Administração também deve ma de atuação do Poder Público na esfera privada. Por

22
isso, importante analisar a evolução histórica da respon- 6º, da CF/1988: “As pessoas jurídicas de direito público
sabilidade estatal, tendo como foco os países ocidentais, e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
sobretudo o Brasil. responderão pelos danos que seus agentes, nessa qua-
lidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de re-
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE gresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
DO ESTADO Observe que o texto constitucional imputa as pessoas ju-
rídicas de direito privado, como sociedades de economia
De modo geral, pode-se afirmar que a responsabi- mista e empresas públicas, o dever de reparar na mesma
lidade civil da Administração passou por três grandes modalidade que as pessoas da Administração Direta. A
fases. A primeira fase, denominada Teoria da Irresponsa- Lei nº 8.112/1990, que dispõe sobre o regime dos servi-
bilidade, adveio na época dos Estados Absolutistas, onde dores públicos, apresenta uma seção sobre responsabi-
havia uma concentração do poder político nas mãos de lidades dos agentes públicos, colocando em destaque a
uma única pessoa. O Monarca, assim, praticava atos que responsabilidade objetiva. Prescreve o art. 112 da referi-
jamais poderiam ensejar a reparação pelos danos, uma da Lei: “A responsabilidade civil decorre de ato omissivo
vez que o Monarca fazia a sua vontade ter força de lei. ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo
A fundamentação dessa soberania dos reis absolutistas ao erário ou a terceiros”.
era baseada na teoria político-teológica de que eles eram O dever estatal de indenizar os particulares possui
representantes de Deus na terra, investidos desse Poder dois fundamentos distintos: a legalidade, e a igualdade.
por obra divina. Tal teoria seria superada com o advento Na hipótese do Poder Público praticar um ato ilícito, cau-
do Estado de Direito francês, sobretudo do julgamento sador de danos patrimoniais para a coletividade, o dever
pelo Tribunal de Conflitos da França, denominado Aresto de indenizar advém do princípio da legalidade, uma vez
Blanco, no ano de 1873. O julgamento consistia na im- que a atuação do agente público deve ser feita sempre
putação ao Estado do dever de reparar danos causados de acordo com a lei (secundum legem). Há, também, ca-
por um vagão da Companhia Nacional de Manufatura sos em que a Administração pratique atos lícitos, mas
do Fumo, que havia atropelado uma menina enquanto que também podem causar prejuízos especiais ao parti-
brincava na rua. cular. Nessas hipóteses, o dever de indenizar advém do
princípio da isonomia, que pressupõe a igual repartição
A Teoria da Responsabilidade Subjetiva foi a primeira
dos encargos sociais.
tentativa de explicar a imputação ao Estado do dever de
reparar os danos patrimoniais e demais prejuízos cau-
CARACTERÍSTICAS DO DANO INDENIZÁVEL
sados pela conduta de seus agentes. Por essa corrente
teórica, o Estado passaria a adquirir uma segunda perso-
Para que haja a configuração da responsabilidade ci-
nalidade denominada “fisco”, sendo esta uma personali-
vil do Estado, importante a presença de três elementos:
dade patrimonial, capaz de ressarcir os particulares pela
a) um ato do agente público, b) dano ao particular, c)
prática de atos de gestão. Tem seu fundamento ligado às nexo de casualidade entre o dano e o ato praticado. Em
noções mais de responsabilidade mais amplas do que o relação ao segundo elemento, a doutrina costuma apon-
âmbito de Direito Civil, o que significa que, para o Estado tar quais são os danos que ensejam o dever de indenizar,
ser considerado responsável, deve haver a comprovação isso é, quais são os denominados danos indenizáveis.
de que este agiu com culpa lato sensu, abrangendo as
hipóteses de dolo (intenção de lesar), bem como as de Assim, considera-se dano indenizável:
negligência, imprudência e imperícia (culpa stricto sen-
su). Essa era a grande dificuldade dessa teoria: pelo fato A) Dano anormal: é o dano que ultrapassa os incon-
da relação entre a Administração Pública e o particular venientes naturais e esperados da vida em socie-
ser desigual, a vítima muitas vezes não possuía meios su- dade. A vida em sociedade é caracterizada pelo
ficientes para comprovar a conduta dolosa ou culposa do advento de certos incômodos normais e toleráveis
Estado. No Brasil, adotamos a teoria subjetiva no Direito a todos os cidadãos. Tais desconfortos só enseja-
Público, excepcionalmente, nos casos de omissão da Ad- ram o dever de indenizar se forem considerados
ministração, ou na possibilidade de ação regressiva desta intoleráveis. Assim, por exemplo, a feira colocada
perante seus agentes. em rua residencial não enseja dever de indenizar.
A terceira teoria, denominada Teoria da Responsabi- B) Dano específico: é aquele que atinge uma certa
lidade Objetiva, surge nos meados de 1946. Consiste no pessoa, ou uma certa categoria de pessoas. Dessa
afastamento da necessidade de comprovação de dolo forma, se o ato da Administração é capaz de cau-
ou culpa do agente público, tendo por fundamento do sar danos de modo geral, para toda a coletividade,
dever de indenizar a concepção de risco administrati- não se caracteriza dano indenizável. Por exemplo:
DIREITO ADMINISTRATIVO

vo. Quem presta um serviço público, assume o risco dos não é considerado dano indenizável o aumento da
prejuízos que eventualmente causar a outrem. Não cabe, tarifa do transporte público, haja vista que todos as
dessa forma, a discussão sobre aspectos subjetivos da pessoas daquela cidade sofrerão com tal medida.
responsabilidade estatal, exceto nas hipóteses de ação
regressiva. Danos por ação e danos por omissão
A Constituição Federal de 1988 adotou a teoria da
responsabilidade objetiva, na variação de risco adminis- O Estado pode causar danos aos particulares por ação
trativo, que admite algumas excludentes ao dever de in- ou por omissão. Quando o fato administrativo é comis-
denizar, conforme se depreende da leitura do art. 37, § sivo, não há questionamento acerca da culpa do Estado

23
em sua conduta. Nesse caso a responsabilidade objetiva sabilidade somente se tal evento for causado pelo
do Estado se dará pela presença dos seus pressupostos: agente público.
o fato administrativo, o dano, e o nexo causal existente C) Culpa de terceiro: é a hipótese em que o preju-
entre os dois. ízo é atribuído a pessoa estranha aos quadros da
Todavia, quando a conduta estatal for omissiva, será Administração Pública. Dessa forma, não há como
preciso distinguir se a omissão constitui ou não fato ge- o Estado ser imputado responsável por atos pra-
rador da responsabilidade civil do Estado. Isso significa ticados por pessoas que não fazem parte de sua
que nem toda conduta omissiva caracteriza-se em um composição.
dever de indenizar. Somente quando o Estado se omitir
diante do dever legal de impedir a ocorrência do dano
é que será civilmente responsável. Observe que em tais
casos, há uma análise subjetiva da conduta do Poder #FicaDica
Público. Assim, o entendimento mais correto é de que
a responsabilidade civil do Estado, no caso de conduta Curioso é o caso dos danos causados pe-
omissiva, só ocorrerá quando presentes os elementos las enchentes, sobretudo em cidades onde
que caracterizam a culpa. o escoamento das águas é precário, como
ocorre em algumas regiões da cidade de
São Paulo. Como regra geral, o Estado não
CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA RES- se responsabiliza por prejuízos causados
PONSABILIDADE pelas enchentes. A 3º Câmara de Direito
Público do TJ/SP negou provimento à AC
Dentro do âmbito da teoria objetiva da responsabili- nº 0170440220058260602 interposta por
dade estatal, existem duas vertentes distintas. A primeira, três proprietários de imóveis afetados pe-
denominada risco integral, dispõe que o Estado possui o las fortes chuvas do início do ano de 2012,
dever de indenizar todo e qualquer dano causado pela que pleiteavam pedido de indenização pe-
prática de seus atos, não admitindo nenhuma excluden- los danos causados pelas chuvas, pois as
te. Trata-se de uma variação radical, em que a Adminis- galerias pluviais de seu bairro não eram
tração se transforma em um indenizador universal. Não suficientes para escoar toda a água, carac-
é adotado em nenhum país, sendo adotado no Brasil so- terizando-se em falta no serviço público.
mente como exceção em alguns casos específicos, como Segundo voto do relator, porém, não havia
nos acidentes de trabalho, na indenização coberta pelo qualquer prova que defina a ocorrência de
seguro obrigatório para automóveis (DPVAT), etc. qualquer falta de serviço que possa ser atri-
A segunda vertente, denominada teoria do risco ad- buída ao Município e que tenha sido causa
ministrativo, é a adotada como regra geral no direito concorrente para o evento.
brasileiro. Tal teoria reconhece algumas excludentes da
responsabilidade do Estado. Excludentes são circunstân-
cias que, como o próprio nome diz, afastam o dever de Todo aquele que se sentir prejudicado por conduta
indenizar durante a sua ocorrência. São, ao todo, três comissiva ou omissiva de agente público pode pleitear,
modalidades: pela via administrativa ou judicial, a devida reparação pe-
A) Culpa exclusiva da vítima: são hipóteses em que los danos causados. Na via administrativa, basta que o
o prejuízo é consequência da intenção deliberada prejudicado formule o pedido a autoridade competente,
da própria vítima. O prejudicado, ao utilizar o re- que instaurará processo administrativo para apurar a res-
ferido serviço público, acaba sofrendo danos por ponsabilidade e o pagamento de indenização.
uma ação tomada por ela mesma, não havendo Porém, é preferível que a vítima utilize a via judicial,
qualquer relação com as condutas do Poder Públi- hipótese mais comum haja vista o direito de petição, que
co. É o caso, por exemplo, de pessoa que se joga se caracteriza no dever do Poder Judiciário de atender
na frente de viatura policial para ser atropelada. todas as demandas feitas pelos cidadãos. O direito à in-
Não se confunde com a culpa concorrente, que se denização da vítima se instrumentaliza pela ação indeni-
traduz no dano causado pela conduta recíproca zatória. A ação indenizatória, dessa forma, é aquela pro-
do Estado e da própria vítima. Neste caso, há uma posta pela vítima contra a pessoa jurídica à qual o agente
análise pericial para determinar os diferentes graus público causador do dano pertence. Conforme dispõe o
de culpa de cada agente, ensejando reparação. art. 206, § 3º, V, do Código Civil, o prazo prescricional
B) Força maior: é o evento imprevisível e involuntá- para a propositura de ação indenizatória é de três anos,
rio que rompe o nexo de casualidade entre o ato
DIREITO ADMINISTRATIVO

contados da ocorrência do evento danoso.


da Administração e o prejuízo sofrido pela vítima. Lembrando também que sempre há a possibilidade
Geralmente são causados pela força da natureza. de direito de regresso, por parte do ente público, contra
É o caso, por exemplo, do desabamento de terras o agente que, de fato, praticou a conduta danosa. Isso
que arruínam as casas de um bairro, devido às for- significa que os agentes públicos só podem responder
tes chuvas. Não se confunde com o caso fortuito, de forma subjetiva, devendo indenizar o Poder Público
em que o dano decorre de ato humano, ou da pró- pela prática de seus atos.
pria Administração, como o desabamento de uma
estrada. O caso fortuito enseja o dever de respon-

24
EXERCÍCIO COMENTADO SERVIÇOS PÚBLICOS. CONCEITO.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS. FORMAS
1. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019) No DE PRESTAÇÃO E MEIOS DE EXECUÇÃO.
que diz respeito a desvio e excesso de poder e à respon- DELEGAÇÃO. CONCESSÃO, PERMISSÃO
sabilidade civil do Estado, julgue o item subsecutivo. E AUTORIZAÇÃO. CLASSIFICAÇÃO.
É possível responsabilizar a administração pública por PRINCÍPIOS
ato omissivo do poder público, desde que seja inequívo-
co o requisito da causalidade, em linha direta e imediata,
ou seja, desde que exista o nexo de causalidade entre a
ação omissiva atribuída ao poder público e o dano cau-
A atuação do Estado pode ser dividida em dois se-
sado a terceiro.
tores: o setor do domínio público, e o setor dos serviços
( ) CERTO ( ) ERRADO públicos. O domínio econômico tem natureza eminen-
temente privado, é o campo de atuação primordial dos
particulares, e possui regulamentação nos artigos 170
Resposta: Certo. A doutrina costuma conceituar
e seguintes da Constituição Federal. Não é o ponto de
a responsabilidade extracontratual do Estado como a
enfoque deste capítulo, mas é importante ressaltar que
obrigação de reparar danos causados a terceiros em
o Estado pode atuar no domínio econômico, seja como
decorrência de comportamentos comissivos ou omis-
agente normativo e regulador, seja na exploração direta
sivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, impu-
de atividades econômicas.
táveis aos agentes públicos. Ainda que seja por uma
O setor dos serviços públicos, por outro lado, é o
conduta omissiva, não há a necessidade de comprovar
campo de atuação predominante do Estado. Este é en-
dolo ou culpa na conduta omissiva do agente público.
carregado de, dentre outras funções, o exercício da fun-
ção administrativa, que é a atividade concreta e imediata
2. (PREFEITURA DE BOA VISTA-RR – PROCURADOR
desenvolvida sob regime de direito público, para a con-
MUNICIPAL – CESPE – 2019) Julgue o item a seguir,
secução dos interesses coletivos. E dentre as funções
acerca das disposições constitucionais a respeito de di-
administrativas está a prestação de serviços públicos em
reito administrativo.
sentido estrito.
Um município poderá ser condenado ao pagamento de
Considerando o que foi exposto, cumpre esclarecer
indenização por danos causados por conduta de agentes
o que vem a ser serviço público, e o que o diferencia
de sua guarda municipal, ainda que tais danos tenham
das outras atividades administrativas, como o fomento, o
decorrido de conduta amparada por causa excludente de
exercício do poder de polícia e a intervenção no domínio
ilicitude penal expressamente reconhecida em sentença
econômico.
transitada em julgado.

( ) CERTO ( ) ERRADO CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚ-


BLICOS
Resposta: Certo. A responsabilidade extracontratu-
A matéria dos serviços públicos está contida, de modo
al do Estado brasileiro é fundada na teoria do risco
geral, na Constituição Federal e na Lei nº 8.987/1995, que
administrativo, o que significa que ela admite, excep-
disciplina o regime de concessão e permissão dos servi-
cionalmente, causas de exclusão da responsabilidade.
ços públicos.
São três ao todo: 1- Culpa exclusiva da vítima; 2- Caso
O serviço público em sentido amplo (lato sensu) tem
fortuito e 3- Força maior. Assim, a causa excludente de
sua origem com a denominada Escola do Serviço Público,
ilicitude penal não é suficiente para excluir a respon-
uma corrente doutrinária do século XX. Na época, a dou-
sabilidade administrativa. Vale lembrar que as esferas
trina começava a analisar com detalhes aquilo que ficou
cível, penal e administrativa de responsabilização são
decidido no caso Agnes Blanco, na França. Esse foi o caso
independentes entre si e, em regra, não se comuni-
primordial para decretar, de modo geral, que ao Estado
cam.
era vedado a utilização do Código Civil para a apuração
de sua responsabilidade, quando causava danos na exe-
cução de serviços com fundamento de direito público.
Para Roger Bennard, serviço público seria “a atividade ou
organização que abrange todas as funções de Estado”.
DIREITO ADMINISTRATIVO

A noção de serviço público muito se confunde com a de


Direito Público.
A Escola do Serviço Público também influencia os au-
tores brasileiros. Para José Cretella Junior, serviço público
é “toda atividade que o Estado exerce, direta ou indire-
tamente, para satisfação das necessidades públicas, me-
diante procedimento típico de direito público”. Podemos
observar o caráter amplo e abrangente do instituto, ao

25
considerar também como serviço público as atividades Também temos certas atividades que, embora sejam
legislativa e judiciária, que possuem um rol difuso de consideradas de serviço público, há serviços que satisfa-
destinatários (uti universe). zem interesses particulares (elemento objetivo), como no
Com o passar do tempo, surge uma nova corrente caso do serviço de distribuição de alimentos em prisões.
doutrinária, que busca delimitar um pouco essa abran- Por fim, o regime do serviço público pode ser de Direito
gência da noção de serviço público. Essa corrente é de- Privado (elemento formal), seguindo as normas da CLT
fendida pela grande maioria dos autores da atualidade, para o regime de contratação de funcionários, e os bens
como Hely Lopes Meirelles e Celso Antônio Bandeira de podem ser alienados ou penhorados, pois não estão afe-
Mello. Serviço público stricto sensu, então, seria todo tados a uma utilidade pública.
aquele prestado pela Administração ou por seus delega- Assim, pode-se concluir que a noção de serviço pú-
dos, sob regime de direito público, e fruível individual- blico está intrinsicamente ligada a forma de atuação do
mente por cada um dos destinatários, para satisfazer ne- Estado. Uma das principais dificuldades de buscar um
cessidades essenciais ou secundárias da coletividade, ou conceito de serviço público reside justamente nesse fato:
simples conveniências do Estado a depender do modelo de Estado, sua forma de atuação
A grande diferença dessa nova noção de serviço pú- poderá ser mais liberal ou mais intervencionista. Assim, o
blico diz respeito a sua abrangência. Somente abrange conceito de serviço público também poderá ser mais ou
as atividades da Administração Pública, não se incluindo menos abrangente para cada País.
as funções legislativa e judiciária. Também não deve ser
considerado serviço público a exploração de atividade PRINCÍPIOS DO SERVIÇO PÚBLICO
econômica, porque nesses casos o Estado age em regi-
me privado; bem como as atividades de fomento, porque Por estar submetido a um regime especial, que pode
trata-se de um subsídio que se dá ao particular para que ser total ou parcialmente de direito público, os princípios
exerça certas atividades com interesse coletivo. de direito administrativo, previstos no caput do art. 37 da
Outro traço característico dessa nova corrente sobre CF/1988, são aplicáveis à prestação dos serviços públi-
serviço público é a restrição da matéria para apenas os cos. Porém, há ainda alguns princípios específicos, que
serviços que possam ser fruídos singularmente por cada devem ser melhor detalhados. São eles:
I) Princípio da continuidade do serviço público: é
particular (uti singuli). Tais serviços são custeados pelos
o princípio que diz respeito a obrigação do Estado
próprios usuários, mediante o pagamento de taxas.
de prestar o serviço público, que não pode parar,
Assim, para o serviço público stricto sensu, podemos
dada a sua relevante finalidade pública. É dizer que
elencar, dentre todos os conceitos, alguns elementos
o Estado tem um poder-dever (obrigatoriedade)
identificadores que estão presentes em todas as defini-
de prestar tal atividade. O serviço deve ser ininter-
ções. São eles:
rupto. Porém, o art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/1995
A) Elemento Subjetivo: A titularidade do serviço pú-
admite que, nos casos de serviços concessionados
blico é exclusiva do Estado.
a entidades privadas, não se caracteriza desconti-
B) Elemento Objetivo: A atividade caracterizada nuidade do serviço a paralização quando motiva-
como serviço público (geralmente atendem a um da por razões de ordem técnica ou de segurança
interesse público). das instalações; e por inadimplemento do usuário,
C) Elemento Formal: Qual o regime em que o serviço considerado o interesse da coletividade. A juris-
é prestado. A maioria dos casos, trata-se do regime prudência apresenta diversos julgados que aca-
de Direito Público. bam contestando referido legal, sobretudo no que
diz respeito aos serviços de fornecimento de água
O fenômeno conhecido como a “crise do serviço pú- e de energia elétrica.
blico” se deu com o advento do Estado Social, na pri- II) Princípio da mutabilidade do regime jurídico: o
meira metade do século XX. Ele traz a ideia de um Es- interesse público não é estanque, mas variável ao
tado ativo, que promove políticas públicas e arca com longo do tempo. A instauração de serviço público
algumas tarefas antes exclusivas do particular, tudo isso mediante certo regime jurídico não gera um “direi-
traz uma crise à noção de serviço público, porque temos to adquirido” ao mesmo, o que significa que o Po-
agora a prestação de algumas atividades, antes somente der Público pode alterar um estatuto ou contrato
no regime público, feito sob regime privado. Isso porque administrativo para promover maior adequação na
o Estado não conseguia prestar tantos serviços por conta prestação do referido serviço.
própria. III) Princípio da isonomia dos usuários: trata-se de
Por isso, houve a necessidade de delegar tais servi- uma decorrência direta do princípio constitucional
DIREITO ADMINISTRATIVO

ços, mediante concessão ou permissão, como também da impessoalidade. O serviço público deve atender
a criação de pessoas jurídicas próprias para controlar a todos, geralmente de forma individualizada, sem
tais atividades. Há assim, uma mitigação dos elementos discriminações e privilégios.
identificadores do serviço público. Atualmente, admite- IV) Princípio da modicidade das tarifas: As tarifas
-se que a execução dos serviços públicos seja realizada não devem ser exorbitantes, pois o serviço deve
por particulares (elemento subjetivo). Há uma delegação ser aproveitado pelo maior número de usuários
da execução do serviço, o qual poderá ocorrer mediante possível, independentemente de sua classe eco-
concessão ou permissão do serviço público, nos termos nômica. O valor a ser exigido dos usuários deve
da Lei nº 8.987/1995. ser o menor possível para, também, remunerar o

26
prestador do serviço, com uma pequena margem CONCESSÃO, PERMISSÃO E AUTORIZAÇÃO
de lucro. Com o objetivo de reduzir ao máximo o
valor da tarifa cobrada, a legislação brasileira prevê Concessão de serviço público
alguns mecanismos especiais, que se apresentam
como fontes alternativas de remuneração do pres- O termo “concessão” é empregado para designar a
tador do serviço público. É o caso, por exemplo, de atividade da Administração Pública de delegar ao parti-
espaços publicitários utilizados nos arredores de cular a prestação de um serviço, ou a execução de obra
uma rodovia. A menor tarifa é também critério es- pública, ou ainda o uso de bem público. Concessão de
sencial para avaliação de proposta numa licitação serviço público é o contrato pelo qual a Administração
do tipo concorrência pública. promove a prestação indireta de um serviço, delegan-
do-o a particulares. Exemplos: a construção de linha
COMPETÊNCIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ferroviária ou metrô para transporte de passageiros,
transmissão áudio sonora (rádio) ou por imagens e sons
A atual Constituição Federal de 1988 atribuiu diversos
(televisão), etc. Possui previsão legal na Lei nº 8.987/1995
serviços públicos aos entes da Federação.
(Lei de Concessões dos Serviços Públicos), bem como
Em relação a União, os serviços públicos federais es-
previsão constitucional no art. 175 da CF/1988:
tão inclusos nos incisos X a XII do art. 21 da CF/1988. São,
de modo geral: a) serviço postal e o correio aéreo na-
cional; b) os serviços de telecomunicações; c) os serviços Constituição Federal de 1988
de radiodifusão sonora e de sons e imagens; d) os servi-
ços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento Art. 175. Incumbe ao poder público, na forma da lei,
energético dos cursos de água, em articulação com os diretamente ou sob regime de concessão ou permis-
Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; são, sempre através de licitação, a prestação de ser-
e) serviços de navegação aérea, aeroespacial e a infraes- viços públicos.
trutura aeroportuária; f) serviços de transporte ferroviário Parágrafo único. A lei disporá sobre:
e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacio- I - o regime das empresas concessionárias e permis-
nais; etc. sionárias de serviços públicos, o caráter especial de
Aos Estados, por outro lado, compete apenas explo- seu contrato e de sua prorrogação, bem como as con-
rar diretamente, ou mediante concessão, os serviços lo- dições de caducidade, fiscalização e rescisão da con-
cais de gás canalizado (art. 25, § 2º, CF/1988). cessão ou permissão;
Compete aos Municípios, na forma do art. 30 da
CF/1988, a prestação de serviços públicos de interesse Lei nº 8.987/1995
local, incluindo o serviço de transporte coletivo; bem Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:
como prestar serviços de atendimento à saúde da popu- (...)
lação, em cooperação com os demais entes federativos. II - concessão de serviço público: a delegação de sua
Ao Distrito Federal compete a prestação de todos prestação, feita pelo poder concedente, mediante lici-
os serviços estaduais e municipais, uma vez que tal ente tação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurí-
possui as mesmas competências legislativas dos Estados dica ou consórcio de empresas que demonstre capaci-
e Municípios. dade para seu desempenho, por sua conta e risco e por
Por fim, em relação aos particulares, os mesmos po- prazo determinado;
derão prestar os serviços notariais e de registro, na forma
do artigo 236 da CF/1988. Tais serviços envolvem a orga-
nização técnica e administrativa, destinados a garantir a Dessa forma, podemos concluir que a prestação do
publicidade, autenticidade, a segurança e a eficácia dos serviço público pode ocorrer diretamente pela Adminis-
atos jurídicos, nos termos do art. 1º da Lei nº 8.985/1994. tração Pública, ou indiretamente, mediante delegação
Os serviços de notas e registros é regulamentado pela do serviço a concessionários e permissionários que, por
referida lei. expressa determinação legal, necessita de prévio proce-
dimento de licitação.
#FicaDica A concessão de serviço público é contrato adminis-
trativo bilateral, o que significa que depende, para a sua
As parcerias público-privadas (PPPs) são formação, além dos requisitos essenciais a todo negócio
contratos administrativos de concessão, jurídico dispostos no art. 104 do Código Civil (agente ca-
podendo apresentar-se na modalidade de paz, objeto lícito, forma prescrita ou não defesa em lei), a
DIREITO ADMINISTRATIVO

concessão patrocinada ou concessão ad- convergência de vontades distintas. Temos de um lado o


ministrativa, na forma do caput do art. 2º poder concedente, que tem por objetivo a execução do
da Lei nº 11079/2004. É uma hipótese que
serviço público em prol da coletividade; e do outro, a en-
se apresenta muito mais viável e atraente
tidade concessionária que deve executar o serviço, com o
para o particular, uma vez que ele recebe
objetivo de lucrar mediante a arrecadação de tarifas dos
uma contraprestação pecuniária do ente
usuários beneficiados com aquele serviço. O contrato
público, o que diminui o valor a ser cobra-
do como taxa para os usuários do serviço. deve ser obrigatoriamente por escrito, e rege-se pelas
regras de Direito Administrativo.

27
Ao mencionar a transferência para pessoa jurídica B) Encampação ou resgate: nos termos do art. 37 da
privada, quis o legislador que a delegação do serviço Lei nº 8.987/1995, é “a retomada do serviço pelo
não pudesse, em regra, ser feita a pessoas físicas, mas poder concedente durante o prazo da concessão,
somente à empresa ou a um consórcio de empresas. É o por motivo de interesse público, mediante lei auto-
caso, por exemplo, da Sabesp, que é sociedade de eco- rizativa específica e após prévio pagamento da in-
nomia mista, na prestação do serviço de abastecimento denização (...)”. Como o encerramento do contrato
de água no Estado de São Paulo. não se deu por infração, é incabível a aplicação de
Essa modalidade de contrato tem por objeto a pres- sanções ao contratado.
tação de serviço público. A delegação ocorre apenas C) Caducidade: é a modalidade em que a execução
sobre a execução do serviço, nunca sobre sua titularida- do serviço não é realizada, no todo ou em parte,
de, que continua sendo do poder concedente. ou pelo descumprimento de encargos atribuídos à
concessionária. A caducidade deve ser declarada,
Obrigações do poder concedente havendo a ocorrência de um dos eventos descritos
Apesar da execução do serviço público não ser fei- no § 1º do art. 38 da Lei nº 8.987/1995, tais como:
ta pelo poder concedente, a legislação (art. 29 da Lei nº a concessionária paralisar o serviço, descumprir
8.987/1995) prevê outras obrigações para o Estado. São cláusula contratual, não cumprir as penalidades
deveres do poder concedente: impostas, etc.
I) Regulamentar e fiscalizar a execução do serviço D) Rescisão por culpa do poder concedente: Caso
concedido. o poder concedente descumpra com alguma regra
II) Intervir na execução do serviço, nos casos previstos estabelecida no instrumento contratual, a conces-
em lei. sionária tem direito a ingressar em juízo, objetivan-
III) Aplicar as penalidades previstas na lei e/ou no do à indenização dos danos decorrentes da extin-
contrato. ção contratual. A indenização, neste caso, abrange
IV) Possibilitar reajustes e a revisão das tarifas cobra- somente os danos emergentes (o que efetivamen-
das. te perdeu), e não os lucros cessantes (o que ele
V) Atender as reclamações e outras queixas advindas poderia ter ganhado).
dos usuários, zelando pela boa qualidade do ser- E) Anulação: é a modalidade de extinção em que se
viço. consta vício de legalidade no contrato. O contrato
VI) Declarar os bens necessários à execução do servi- perde sua eficácia desde a sua concepção (ex tunc),
ço de necessidade ou utilidade pública. o que significa que a concessionária não faz jus à
indenização, exceto quanto a parte já executada
do contrato.
3.1.2 Obrigações da concessionária F) Decretação de falência: como a concessão é
contrato personalíssimo, ou seja, as partes contra-
Incumbe à concessionária do serviço público (art. 31
tantes tem grande relevância para a execução do
da Lei nº 8.987/1995):
serviço, havendo o desaparecimento da empresa
concessionária mediante falência, ou o falecimento
I) Prestar o serviço de maneira adequada, utilizando-
de empresário individual, o vínculo contratual tam-
-se de técnicas específicas de seu conhecimento,
bém desaparece.
nos casos previstos na lei ou no contrato.
II) Prestar contas da gestão do serviço ao poder con-
Permissão de serviço público
cedente e aos usuários.
III) Cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e
A permissão é outra forma da Administração Pública
as cláusulas contratuais, havendo possibilidade de
de delegar a execução de serviço público para os particu-
pedir indenização pela inexecução do contrato.
lares, também possui previsão no art. 175 da CF/1988 e
IV) Promover desapropriações e construir servidões
na Lei nº 8.987/1995. A permissão é unilateral, discricio-
administrativas, mediante autorização do poder
nária, precária, e intuitu personae (personalíssima),
concedente.
promove a delegação do serviço público mediante prévia
V) Captar, aplicar e gerir os recursos financeiros ne-
licitação para um particular denominado permissionário.
cessários à prestação do serviço.
Questão controvertida é a natureza jurídica da per-
missão. Após a Constituição de 1988, o direito brasileiro
passou a tratar a permissão como se fosse um contrato
Formas de extinção da concessão
de adesão, como se depreende da leitura do inciso I do
DIREITO ADMINISTRATIVO

Por fim, o art. 35 da Lei nº 8.987/1995 dispõe sobre as parágrafo único do artigo 175 da Carta Magna: “I - o re-
modalidades de extinção da concessão do serviço públi- gime das empresas concessionárias e permissionárias de
co. São seis ao todo: serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de
sua prorrogação, bem como as condições de caducida-
A) Advento do termo contratual: trata-se da extin- de, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão”.
ção do contrato pelo encerramento de seu prazo Todavia, contrato de adesão é remetente aos contratos
de vigência. É a extinção natural do contrato, haja de Direito Privado, principalmente nas relações de con-
vista que nosso direito não admite contrato de sumo. Tal modalidade de contrato é elaborado unilate-
concessão por prazo indeterminado. ralmente pelo fornecedor, obrigando a parte aderente

28
apenas manifestar o seu aceite. Trata-se de uma carac-
terística presente também nos contratos administrativos:
as regras enclausuradas no contrato administrativo são EXERCÍCIO COMENTADO
unilateralmente elaboradas pelo poder concedente, an-
tes mesmo do processo de licitação.
1. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019)
A confusão se estende ainda mais no âmbito legis-
Acerca de atos administrativos, serviços públicos e inter-
lativo, como ocorre no artigo 40 da Lei nº 8.987/1995,
venção do Estado na propriedade, julgue o item seguinte.
ao dispor que a permissão “será formalizada mediante
Cada Poder e cada esfera de governo devem estabelecer
contrato de adesão, que observará os termos desta Lei,
regulamento específico dispondo sobre a avaliação da
das demais normas pertinentes e do edital de licitação,
efetividade e dos níveis de satisfação dos usuários dos
inclusive quanto à precariedade e à revogabilidade uni-
serviços públicos por eles prestados, devendo a quanti-
lateral do contrato pelo poder concedente”. Esse dispo-
dade de manifestações dos usuários ser um dos parâme-
sitivo não faz o menor sentido, uma vez que, de modo
tros considerado nessa avaliação.
geral, dispõe que a permissão é uma espécie de “contra-
to precário”.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Não parece correto admitir que a permissão seja uma
espécie de contrato regulado por normas de Direito Pri-
Resposta: Certo. A Lei nº 13.460/2017, que estabele-
vado, com princípios completamente distintos dos prin-
ce normas básicas para participação, proteção e defe-
cípios administrativos. Todavia, há diversos autores que
sa dos direitos do usuário dos serviços públicos e que
admitem tal possibilidade, inclusive o próprio Supremo
se aplica à administração direta e indireta da União,
Tribunal Federal, no julgamento da ADI nº 1.491/1990.
dos estados, do Distrito Federal e dos municípios,
Por isso, para todos os efeitos, é melhor afirmar que se
dispõe, no inciso IV do art. 23, que a quantidade de
trata de uma modalidade contratual sui generis.
manifestações dos usuários é um dos aspectos a ser
Importante destacar as diferenças entre permissão e
considerado pelos órgãos e pelas entidades públicas
a concessão de serviço público, que podem determina-
na avaliação de seus serviços prestados.
das com base nos seguintes requisitos:
A) Quanto à natureza jurídica: a permissão é uni-
lateral, enquanto a concessão é contrato bilateral.
2. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU-
B) Quanto aos beneficiários: qualquer pessoa pode
NICIPAL – CESPE – 2019) A respeito do regime de con-
ser permissionária, mas somente as pessoas jurídi-
cessão e permissão da prestação de serviços públicos,
cas (empresas) podem ser concessionárias.
julgue o item subsecutivo.
C) Quanto ao aporte de capital: a concessão exige
A transferência de concessão ou de controle societário
maior aporte de capital, a permissão admite inves-
da concessionária sem a prévia anuência do poder con-
timentos de pequeno ou médio porte.
cedente implicará a caducidade da concessão.
D) Quanto à licitação: a concessão deve ser prece-
dida de licitação na modalidade de concorrência.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Não há essa exigência para a permissão.
E) Quanto à forma da outorga: a concessão se dá
Resposta: Certo. A questão exige do candidato co-
mediante promulgação de lei específica. A permis-
nhecimento quanto as possibilidades de extinção da
são necessita apenas de autorização legislativa.
concessão do serviço público. Uma delas é a caduci-
dade, prevista no artigo 27 da Lei nº 8.987/1995: “A
transferência de concessão ou do controle societário
Autorização da concessionária sem prévia anuência do poder con-
cedente implicará a caducidade da concessão”.
A autorização é um ato administrativo por meio do
qual a administração pública possibilita ao particular a
realização de alguma atividade de predominante interes-
se deste, ou a utilização de um bem público.
Assim como a permissão, a autorização é um ato uni-
lateral, discricionário, precário, e independente de licita-
ção. Todavia, se difere da permissão ante o fato de que o
interesse da autorização é predominantemente privado.
Um exemplo disso é a autorização para o porte de arma:
DIREITO ADMINISTRATIVO

apenas o particular tem interesse de ter em sua posse


arma de fogo.
Parte da doutrina entende que é incabível a utiliza-
ção de autorização para a prestação de serviços públicos,
por força do artigo 175 da CF/1988: “Incumbe ao Poder
Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos”.

29
São pessoas jurídicas de Direito Público, membros
da Administração Indireta: as autarquias, as fundações
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. públicas, agências reguladoras e associações públicas.
AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES, EMPRESAS São pessoas jurídicas de Direito Privado: as empresas pú-
PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA blicas, as sociedades de economia mista, as fundações
MISTA. ENTIDADES PARAESTATAIS E governamentais com estrutura de pessoa jurídica de Di-
TERCEIRO SETOR. SERVIÇOS SOCIAIS reito Privado, as subsidiárias, e os consórcios públicos de
AUTÔNOMOS, ENTIDADES DE APOIO, Direito Privado.
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS, ORGANIZAÇÕES
DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE Autarquias
PÚBLICO.
As autarquias são pessoas jurídicas de Direito Público
interno, criadas por legislação própria, que tem por esco-
po exercer as funções típicas da Administração Pública.
O Decreto-Lei nº 200/1967 é a legislação que dispõe Seu conceito também encontra-se disposto no art. 5º, I,
sobre a organização administrativa, além de estabelecer do Dec-Lei nº 200/1967: “Para os fins desta lei, consi-
diretrizes para a Reforma Administrativa. A Administra- dera-se: I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por
ção, para executar suas funções e expedir seus atos, dis- lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita pró-
põe de duas técnicas distintas: a desconcentração, e a prios, para executar atividades típicas da Administração
descentralização. Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento,
gestão administrativa e financeira descentralizada.”
DESCENTRALIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLI-
CA INDIRETA A doutrina tende a classificar as autarquias nos se-
guintes grupos:
Descentralização é a técnica em que a Administração
Pública atribui suas competências a pessoas jurídicas au- I) Administrativas: são as autarquias comuns, apre-
tônomas, criadas por ela própria para esse fim. É consi- sentam regime jurídico ordinário. Exemplo: Insti-
derada um princípio fundamental da própria Administra- tuto Nacional de Seguridade Social (INSS).
ção, nos termos do art. 6º, III, do Dec-Lei nº 200/67. II) Especiais: possuem maior autonomia em relação
Na descentralização, costuma-se utilizar com bastan- as autarquias administrativas devido a presença
te frequência o termo entidade. Nos termos do art. 1º, § de certas características, como a presença de diri-
2º, II, da Lei nº 9.784/1999: “Para os fins desta Lei, con- gentes com mandato fixo. Podem se subdividir em:
sideram-se: II – entidade - a unidade de atuação dotada b.1) especiais stricto sensu (Banco Central); e b.2)
de personalidade jurídica”. Entidade da Administração, agências reguladoras (Anatel, Anvisa).
assim, é qualquer pessoa jurídica autônoma cujo serviço III) Corporativas: são as corporações profissionais,
público foi outorgado pela entidade federativa, isso é, que promovem o controle e a fiscalização de ca-
pelas pessoas jurídicas de Direito Público interno (União, tegorias profissionais. Exemplos: Crea, CRO, CRM.
Estados, Municípios, Distrito Federal, etc.). Os membros IV) Fundacionais: são as fundações públicas, enti-
federais, nesses casos, realizam apenas uma tarefa de dades que arrecadam patrimônio para o cumpri-
controle e fiscalização do serviço prestado pela entidade mento de um objetivo específico. Exemplos: Funai,
outorgada. O conjunto de pessoas jurídicas autônomas Procon, Funasa.
criadas pelo próprio Estado para atingir determinada V) Territoriais: são as autarquias de controle da
finalidade denomina-se Administração Indireta ou Des- União, também denominadas territórios federais
centralizada. (art. 33 da CF/1988). A atual Constituição aboliu os
Se as entidades são dotadas de personalidade jurí- territórios federais remanescentes.
dica própria, elas têm responsabilidade pelos danos e
prejuízos causados por seus agentes públicos, podendo
Fundações Públicas
responder judicialmente pela prática desses atos.
As fundações públicas são consideradas espécies de
As entidades da Administração Indireta podem ter
autarquias, possuindo diversas características similares.
personalidade jurídica de Direito Público ou de Direito
Privado. Tal diferença é bastante relevante no que diz Fundação pública é, nos termos do art. 5º, IV, do Dec-
respeito ao procedimento de criação dessas entidades -Lei nº 200/1967: “a entidade dotada de personalidade
autônomas. jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em
As pessoas jurídicas de direito público são criadas por virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimen-
lei (art. 37, XIX, da CF/1988), e a sua personalidade jurí- to de atividades que não exijam execução por órgãos ou
DIREITO ADMINISTRATIVO

dica advém no momento em que tal legislação entra em entidades de direito público, com autonomia administra-
vigor no âmbito jurídico, não havendo necessidade de tiva, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos
registro em cartório. de direção, e funcionamento custeado por recursos da
As pessoas jurídicas de direito privado, todavia, são União e de outras fontes.”. A Funai, Funasa, o IBGE, são
autorizadas pela lei (art. 37, XX, da CF/1988), ou seja, a alguns exemplos de fundações públicas.
legislação deve permitir que ela exista, para que o Poder Pelo conceito disposto na legislação, percebe-se que
Executivo regulamente suas funções mediante a expedi- o referido Decreto-Lei dispõe serem as fundações como
ção de decretos. Sua personalidade jurídica, dessa forma, entidades com personalidade jurídica de Direito Privado.
está condicionada ao seu registro em cartório. Tal conceituação não foi recepcionada pela Constituição

30
de 1988 que, em seu art. 37, XIX, decidiu não fazer tal Associações públicas
distinção: “somente por lei específica poderá ser criada
autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo pios são os entes responsáveis pela regulamentação dos
à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de consórcios públicos e dos convênios de cooperação, au-
sua atuação”. torizando a gestão associada de serviços públicos, bem
Dessa forma, concluímos que as fundações podem como a transferência total ou parcial de encargos, servi-
ser tanto de Direito Público como de Direito Privado, de- ços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos servi-
pendendo do que a lei instituidora da fundação delimitar ços transferidos (art. 241 da CF/1988).
quanto as suas competências. Todavia, importante frisar Essas pessoas jurídicas autônomas, criadas pelos
que, mesmo as fundações de regime jurídico privado de- entes federados, e que tem por objeto medidas de mú-
vem obediência às normas públicas, e não à legislação tua cooperação, denominam-se consórcio públicos.
civil. Os consórcios públicos são disciplinados pela Lei nº
11.107/2005. Uma das características mais distintas dos
Agências Reguladoras consórcios é a possibilidade de eles possuírem natureza
de Direito Público ou de Direito Privado.
O surgimento das agências reguladoras possui fortes Consórcios de Direito Privado obedecem às normas
relações com a época das privatizações na segunda me- da legislação civil. Possuem regime celetista, embora não
tade dos anos 1990. Neste contexto, as agências regu- possam ter fins lucrativos. Por isso, não integram a Admi-
ladoras foram introduzidas, sobretudo pelas ECs nos 8 e nistração Pública. Já os consórcios de direito público são
9, ambas de 1995, para atuar como órgãos reguladores, as associações públicas propriamente ditas, podendo ser
fiscalizadores e controladores da iniciativa privada, que inclusive transfederativas se integrarem todas as esferas
passaram a desenvolver as tarefas originalmente atribuí- das pessoas consorciadas (federal, estadual, municipal).
das ao Estado. Alguns exemplos de agências regulado-
ras: Aneel, Anatel, Ancine, ANP, entre outros. Empresas públicas e sociedades de economia mis-
As agências reguladoras também são autarquias sob ta
um regime especial, se diferenciando das autarquias co-
muns em dois aspectos. Os dirigentes das agências re- Empresas estatais são as pessoas jurídicas de Direito
guladoras, primeiramente, gozam de estabilidade, não Privado pertencentes à Administração Indireta. São duas:
podem ser exonerados por qualquer motivo, ao con- as empresas públicas, e as sociedades de economia
trário das autarquias, em que seus dirigentes atuam em mista.
cargos de comissão. Assim, os dirigentes das agências
têm maior proteção contra o desligamento forçado, pro- As empresas públicas e as sociedades de economia
movendo maior estabilidade no exercício de seu cargo. mista apresentam características em comum:
Todavia, esses mesmos dirigentes possuem um mandato
fixo, pois seus cargos não são vitalícios. A existência de A) Atuação na prestação de serviços públicos ou
mandato fixo garante também maior segurança jurídica, no desenvolvimento de atividade econômica:
visto que a sua ocupação naquela posição privilegiada as empresas exploradoras de atividade econômica
tem prazo determinado para se encerrar. A duração dos geralmente recebem menor controle pela Admi-
mandatos pode variar dependendo da cada agência, po- nistração, embora também apresentem certas des-
dendo ser de 3 anos como na Anvisa, 4 anos como na vantagens, como não ter imunidade a impostos, e
Aneel, ou até 5 anos como na Anatel. seus bens não tem natureza pública, podendo ser
penhorados.
As agências reguladoras podem ser classificadas: B) Sofrem controle pelo Tribunal de Contas da
I) Quanto à sua origem: a) agências federais; b) esta- União: bem como do Poder Judiciário, no que
duais; c) municipais; d) distritais. couber.
II) Quanto à atividade preponderante: a) agên- C) Contratação de bens e serviços mediante prévia
cias de serviço, que exercem as funções típicas; licitação: a licitação é processo utilizado a fim de
b) agências de polícia, que exercem fiscalização promover uma competição justa com as empre-
das atividades econômicas; c) agências de fomen- sas privadas do mesmo setor. Tal imposição não
to, que ajudam a desenvolver o setor privado; d) é exigida para as empresas públicas e sociedades
agências de uso de bens públicos. de economia mista exploradoras de atividade eco-
III) Quanto à previsão constitucional: a) agências nômica.
DIREITO ADMINISTRATIVO

com referência constitucional (a Anatel tem pre- D) Obrigatoriedade de realização de concurso


visão no art. 21, XI, da CF/1988); b) agências sem público: trata-se de uma forma de avaliar os me-
referência constitucional, são a grande maioria. lhores funcionários dentro de um grupo seleto de
IV) Quanto ao instante de sua criação: a) agências candidatos.
de primeira geração (1996 a 1999) na época das E) Contratação de pessoal pelo regime celetista:
privatizações; b) de segunda geração, de 2000 a seus membros são denominados empregados pú-
2004; c) de terceira geração, que adveio com as blicos, salvo as hipóteses de contratação para car-
agências pluripotenciárias (2005 em diante), exer- go comissionado. É também vedada a acumulação
cendo múltiplas funções simultaneamente. de cargos, empregos ou funções públicas.

31
F) Impossibilidade de decretar sua falência: nos Esquematicamente, temos:
termos do art. 2º, I, da Lei nº 11.101/2005.

As empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Diferenças entre


Empresa Pú- Sociedade de
Privado, cuja criação depende de autorização legal. Sua as empresas es-
blica Economia Mista
personalidade é concedida pelo registro de seus atos tatais
constitutivos em cartório, com a totalidade de seu ca- Composição do Integralmente Misto (a maioria
pital público, e regime organizacional livre (art. 5º, II, do capital Público deve ser público)
Dec-Lei nº 200/1967), podendo ser organizadas como
Forma de organi- Sociedade
sociedade anônima, ou de responsabilidade limitada, ou Forma Livre
zação Anônima
ainda sociedade por comandita de ações. São empresas
públicas: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econô- Justiça Estadual
mico e Social (BNDES), a Caixa Econômica Federal (CEF), (salvo casos de
Foro competente Justiça Federal
e a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária interesse da
(Infraero). União)
As sociedades de economia mista têm seu conceito
5.1 Estatuto das Empresas Públicas – Lei nº
legal previsto no art. 5º, III, do Dec-Lei nº 200/1967. São
13.303/2016
pessoas jurídicas de direito privado, cuja criação também
depende de autorização legal e registro em cartório,
possui a maioria de seu capital público, e devem ser obri- A Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016, é a lei que
gatoriamente organizadas como sociedades anônimas. dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da
São sociedades de economia mista: Petrobrás, Banco do sociedade de economia mista e de suas subsidiárias,
Brasil, Eletrobrás. abrangendo toda e qualquer empresa pública e socieda-
Percebemos algumas diferenças entre as empresas de de economia mista da União, dos Estados, do Distrito
públicas e as sociedades de economia mista. A primei- Federal e dos Municípios que explore atividade econô-
ra diz respeito ao capital constitutivo: enquanto que nas mica de produção ou comercialização de bens ou de
empresas públicas, todo o seu capital deve ser público (o prestação de serviços, ainda que a atividade econômica
Dec-Lei nº 200/1967 dispõe que seu capital deve advir esteja sujeita ao regime de monopólio da União ou seja
totalmente “da União”, mas admite-se também o capital de prestação de serviços públicos.
de origem estadual e municipal), as sociedades de eco- A necessidade do Poder Público de criar pessoas jurí-
nomia mista admitem a presença do capital de origem dicas de direito privado surge ante o fato de que o Esta-
privada, mas pelo menos 50% mais uma de suas ações do também tem interesse em exercer algumas atividades
com direito a voto devem pertencer ao Estado. Além dis- econômicas. Todavia, as grandes restrições e limitações
so, outra diferença relevante é em relação à forma de impostas aos entes públicos fariam com que tais enti-
sua organização: as sociedades de economia mista de- dades sempre estejam em posição de desvantagem em
vem obrigatoriamente ter a estrutura de sociedade anô- relação as demais empresas da esfera privada. Apesar de
nima, trata-se de disposição legal do próprio Dec-Lei nº sua natureza jurídica privada, é inegável que tais empre-
200/1967. As empresas públicas, por sua vez, não sofrem sas integram a Administração Pública Indireta.
essa imposição, podendo adotar a estrutura que desejar. Algumas definições são trazidas nos artigos 3º e 4º.
Uma terceira e igualmente importante diferença diz res- Segundo o Estatuto, empresa pública é a entidade do-
peito ao foro competente para dirimir conflitos de ordem tada de personalidade jurídica de direito privado, com
criação autorizada por lei e com patrimônio próprio, cujo
judicial: enquanto que as ações que possuem as empre-
capital social é integralmente detido pela União, pelos
sas públicas como parte no processo são de competên-
Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios. Por
cia da Justiça Federal, as ações envolvendo as sociedades
outro lado, a sociedade de economia mista é a entida-
de economia mista são de competência da Justiça Esta-
de dotada de personalidade jurídica de direito privado,
dual, exceto se houver relevante interessa da União no
com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade
pleito, caso em que a competência é absorvida pela Jus-
anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em
tiça Federal. No tocante a questões de ordem trabalhista,
sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos
todavia, o foro competente é a Justiça do Trabalho.
Municípios ou a entidade da administração indireta.
DIREITO ADMINISTRATIVO

32
VII - elaboração e divulgação da política de transa-
FIQUE ATENTO! ções com partes relacionadas, em conformidade com
Pelos conceitos apresentados, podemos es- os requisitos de competitividade, conformidade, trans-
tabelecer que existem diferenças essenciais parência, equidade e comutatividade, que deverá ser
entre empresa pública e sociedade de eco- revista, no mínimo, anualmente e aprovada pelo Con-
nomia mista. Tais diferenças são importantes selho de Administração;
pois costumam cair com bastante frequência VIII - ampla divulgação, ao público em geral, de carta
em diversas provas. A primeira diz respeito anual de governança corporativa, que consolide em
ao capital constitutivo: enquanto que nas um único documento escrito, em linguagem clara e
empresas públicas, todo o seu capital deve direta, as informações de que trata o inciso III;
ser público; as sociedades de economia mis- IX - divulgação anual de relatório integrado ou de sus-
ta admitem a presença do capital de origem tentabilidade.
privada, mas pelo menos 50% mais uma de § 1º O interesse público da empresa pública e da so-
suas ações com direito a voto devem per- ciedade de economia mista, respeitadas as razões que
tencer ao Estado. Além disso, outra diferença motivaram a autorização legislativa, manifesta-se por
relevante é em relação à forma de sua or- meio do alinhamento entre seus objetivos e aqueles de
ganização: as sociedades de economia mista políticas públicas, na forma explicitada na carta anual
devem obrigatoriamente ter a estrutura de a que se refere o inciso I do caput .
sociedade anônima. As empresas públicas, § 2º Quaisquer obrigações e responsabilidades que a
por sua vez, não sofrem essa imposição, po- empresa pública e a sociedade de economia mista que
dendo adotar a estrutura que desejar. explorem atividade econômica assumam em condi-
ções distintas às de qualquer outra empresa do setor
privado em que atuam deverão:
I - estar claramente definidas em lei ou regulamento,
O artigo 8º do Estatuto impõe alguns requisitos de bem como previstas em contrato, convênio ou ajuste
transparência tanto para as empresas públicas como celebrado com o ente público competente para esta-
para as sociedades de economia mista, in verbis: belecê-las, observada a ampla publicidade desses ins-
trumentos;
Art. 8º As empresas públicas e as sociedades de econo- II - ter seu custo e suas receitas discriminados e di-
mia mista deverão observar, no mínimo, os seguintes vulgados de forma transparente, inclusive no plano
requisitos de transparência: contábil.
I - elaboração de carta anual, subscrita pelos mem- § 3º Além das obrigações contidas neste artigo, as
bros do Conselho de Administração, com a explicita- sociedades de economia mista com registro na Co-
ção dos compromissos de consecução de objetivos de missão de Valores Mobiliários sujeitam-se ao regime
políticas públicas pela empresa pública, pela socie- informacional estabelecido por essa autarquia e de-
dade de economia mista e por suas subsidiárias, em vem divulgar as informações previstas neste artigo na
atendimento ao interesse coletivo ou ao imperativo de forma fixada em suas normas.
segurança nacional que justificou a autorização para § 4º Os documentos resultantes do cumprimento dos
suas respectivas criações, com definição clara dos re- requisitos de transparência constantes dos incisos I a
cursos a serem empregados para esse fim, bem como IX do caput deverão ser publicamente divulgados na
dos impactos econômico-financeiros da consecução internet de forma permanente e cumulativa.
desses objetivos, mensuráveis por meio de indicadores
objetivos; Sobre a diretoria das empresas estatais, dispõe o
II - adequação de seu estatuto social à autorização art. 23 do Estatuto das Empresas Públicas que é condi-
legislativa de sua criação; ção para investidura em cargo de diretoria da empresa
III - divulgação tempestiva e atualizada de informa- pública e da sociedade de economia mista a assunção
ções relevantes, em especial as relativas a atividades
de compromisso com metas e resultados específicos a
desenvolvidas, estrutura de controle, fatores de risco,
serem alcançados, que deverá ser aprovado pelo Con-
dados econômico-financeiros, comentários dos admi-
selho de Administração, a quem incumbe fiscalizar seu
nistradores sobre o desempenho, políticas e práticas
cumprimento. a diretoria deverá apresentar, até a última
de governança corporativa e descrição da composição
reunião ordinária do Conselho de Administração do ano
e da remuneração da administração;
anterior, a quem compete sua aprovação: I - plano de
IV - elaboração e divulgação de política de divulgação
negócios para o exercício anual seguinte; II - estratégia
de informações, em conformidade com a legislação
DIREITO ADMINISTRATIVO

em vigor e com as melhores práticas; de longo prazo atualizada com análise de riscos e opor-
V - elaboração de política de distribuição de dividen- tunidades para, no mínimo, os próximos 5 (cinco) anos.
dos, à luz do interesse público que justificou a cria- Apesar de serem empresas com personalidade jurídi-
ção da empresa pública ou da sociedade de economia ca de direito privado, justamente por pertencerem à Ad-
mista; ministração Pública, o Estatuto prevê a possibilidade de
VI - divulgação, em nota explicativa às demonstrações procedimento licitatório antes da contratação das mes-
financeiras, dos dados operacionais e financeiros das mas. Na forma do artigo 28: Os contratos com terceiros
atividades relacionadas à consecução dos fins de inte- destinados à prestação de serviços às empresas públicas
resse coletivo ou de segurança nacional; e às sociedades de economia mista, inclusive de enge-

33
nharia e de publicidade, à aquisição e à locação de bens, de serviço público, segundo as normas da legislação
à alienação de bens e ativos integrantes do respectivo específica, desde que o objeto do contrato tenha perti-
patrimônio ou à execução de obras a serem integradas nência com o serviço público.
a esse patrimônio, bem como à implementação de ônus XI - nas contratações entre empresas públicas ou so-
real sobre tais bens, serão precedidos de licitação nos ciedades de economia mista e suas respectivas subsi-
termos deste Estatuto. O artigo 29 apresenta hipóteses diárias, para aquisição ou alienação de bens e pres-
em que é dispensada a licitação, in verbis: tação ou obtenção de serviços, desde que os preços
sejam compatíveis com os praticados no mercado e
Art. 29. É dispensável a realização de licitação por em- que o objeto do contrato tenha relação com a ativida-
presas públicas e sociedades de economia mista: de da contratada prevista em seu estatuto social;
I - para obras e serviços de engenharia de valor até R$ XII - na contratação de coleta, processamento e co-
100.000,00 (cem mil reais), desde que não se refiram mercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis
a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta sele-
a obras e serviços de mesma natureza e no mesmo tiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas
local que possam ser realizadas conjunta e concomi- formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa
tantemente; renda que tenham como ocupação econômica a cole-
II - para outros serviços e compras de valor até R$ ta de materiais recicláveis, com o uso de equipamen-
50.000,00 (cinquenta mil reais) e para alienações, nos tos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e
casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a de saúde pública;
parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação XIII - para o fornecimento de bens e serviços, produ-
de maior vulto que possa ser realizado de uma só vez; zidos ou prestados no País, que envolvam, cumulati-
III - quando não acudirem interessados à licitação an- vamente, alta complexidade tecnológica e defesa na-
terior e essa, justificadamente, não puder ser repetida cional, mediante parecer de comissão especialmente
sem prejuízo para a empresa pública ou a sociedade designada pelo dirigente máximo da empresa pública
de economia mista, bem como para suas respectivas ou da sociedade de economia mista;
subsidiárias, desde que mantidas as condições prees- XIV - nas contratações visando ao cumprimento do
tabelecidas;
disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei nº 10.973, de 2
IV - quando as propostas apresentadas consignarem
de dezembro de 2004 , observados os princípios gerais
preços manifestamente superiores aos praticados no
de contratação dela constantes;
mercado nacional ou incompatíveis com os fixados
XV - em situações de emergência, quando caracteri-
pelos órgãos oficiais competentes;
zada urgência de atendimento de situação que possa
V - para a compra ou locação de imóvel destinado ao
ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de
atendimento de suas finalidades precípuas, quando as
pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens,
necessidades de instalação e localização condiciona-
rem a escolha do imóvel, desde que o preço seja com- públicos ou particulares, e somente para os bens ne-
patível com o valor de mercado, segundo avaliação cessários ao atendimento da situação emergencial e
prévia; para as parcelas de obras e serviços que possam ser
VI - na contratação de remanescente de obra, de ser- concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta)
viço ou de fornecimento, em consequência de rescisão dias consecutivos e ininterruptos, contado da ocorrên-
contratual, desde que atendida a ordem de classifica- cia da emergência, vedada a prorrogação dos respec-
ção da licitação anterior e aceitas as mesmas condi- tivos contratos, observado o disposto no § 2º ;
ções do contrato encerrado por rescisão ou distrato, XVI - na transferência de bens a órgãos e entidades
inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido; da administração pública, inclusive quando efetivada
VII - na contratação de instituição brasileira incum- mediante permuta;
bida regimental ou estatutariamente da pesquisa, do XVII - na doação de bens móveis para fins e usos de
ensino ou do desenvolvimento institucional ou de ins- interesse social, após avaliação de sua oportunidade e
tituição dedicada à recuperação social do preso, desde conveniência socioeconômica relativamente à escolha
que a contratada detenha inquestionável reputação de outra forma de alienação;
ético-profissional e não tenha fins lucrativos; XVIII - na compra e venda de ações, de títulos de cré-
VIII - para a aquisição de componentes ou peças de dito e de dívida e de bens que produzam ou comer-
origem nacional ou estrangeira necessários à manu- cializem.
tenção de equipamentos durante o período de garan-
tia técnica, junto ao fornecedor original desses equi- Há, também, algumas hipóteses em que a licitação
pamentos, quando tal condição de exclusividade for se torna inviável. São os casos previstos no artigo 30: A
DIREITO ADMINISTRATIVO

indispensável para a vigência da garantia; contratação direta será feita quando houver inviabilidade
IX - na contratação de associação de pessoas com de- de competição, em especial na hipótese de: I - aquisição
ficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada de materiais, equipamentos ou gêneros que só possam
idoneidade, para a prestação de serviços ou forneci- ser fornecidos por produtor, empresa ou representante
mento de mão de obra, desde que o preço contratado comercial exclusivo; bem como II - contratação dos se-
seja compatível com o praticado no mercado; guintes serviços técnicos especializados, com profissio-
X - na contratação de concessionário, permissionário nais ou empresas de notória especialização, vedada a
ou autorizado para fornecimento ou suprimento de inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação:
energia elétrica ou gás natural e de outras prestadoras a) estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou

34
executivos; b) pareceres, perícias e avaliações em geral; de circunstâncias supervenientes, mantido o valor inicial
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias finan- atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com
ceiras ou tributárias; d) fiscalização, supervisão ou geren- relação ao cronograma financeiro fixado, sem a corres-
ciamento de obras ou serviços; e) patrocínio ou defesa pondente contraprestação de fornecimento de bens ou
de causas judiciais ou administrativas; f) treinamento e execução de obra ou serviço, etc.
aperfeiçoamento de pessoal; g) restauração de obras de O Estatuto também define sanções pela inexecução
arte e bens de valor histórico. total ou parcial do contrato. Segundo o art. 83, a empresa
O Estatuto também disciplina os contratos elabora- pública ou a sociedade de economia mista poderá, ga-
dos pelas empresas estatais. O artigo 69 dispõe sobre as rantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguin-
cláusulas necessárias presentes nos contratos adminis- tes sanções: I - advertência; II- multa, na forma prevista
trativos celebrados pelas empresas públicas, incluindo o no instrumento convocatório ou no contrato; III - sus-
objeto do negócio, o preço e as condições de pagamen- pensão temporária de participação em licitação e impe-
to, as garantias oferecidas para assegurar sua execução, dimento de contratar com a entidade sancionadora, por
a vinculação ao instrumento convocatória da respectiva prazo não superior a 2 (dois) anos.
licitação, etc. Caberá ao contratado optar por uma das
seguintes modalidades de garantia: caução em dinheiro;
DESCONCENTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLI-
seguro-garantia; ou fiança bancária (art. 70, § 1º e inci-
CA DIRETA
sos).
A duração dos contratos regidos por esta Lei não
excederá a 5 (cinco) anos, contados a partir de sua ce- Desconcentração é a técnica utilizada para o exercício
lebração, exceto para projetos contemplados no plano de competências administrativas, mediante órgãos pú-
de negócios e investimentos da empresa pública ou da blicos despersonalizados e vinculados hierarquicamente
sociedade de economia mista; ou nos casos em que a aos entes da Federação. Há a repartição das atribuições
pactuação por prazo superior a 5 (cinco) anos seja prática entre os órgãos públicos pertencentes a uma mesma
rotineira de mercado e a imposição desse prazo invia- pessoa jurídica, por isso sua vinculação hierárquica. Di-
bilize ou onere excessivamente a realização do negócio fere-se da descentralização justamente nesse aspecto: os
(art. 71). É vedada a celebração de contrato por prazo órgãos públicos, ao contrário das autarquias, fundações,
indeterminado. etc, não tem personalidade jurídica própria, e por isso,
não possuem a mesma autonomia dos entes descentra-
As obrigações do contratado estão dispostas nos lizados, permanecendo vinculados hierarquicamente ao
arts. 76 e 77, in verbis: Estado.

Art. 76. O contratado é obrigado a reparar, corrigir, Órgãos Administrativos


remover, reconstruir ou substituir, às suas expensas,
no total ou em parte, o objeto do contrato em que se Muito importante para a desconcentração é a noção
verificarem vícios, defeitos ou incorreções resultantes de órgão público ou administrativo. Nos termos do art.
da execução ou de materiais empregados, e respon- 1º, § 2º, I, da Lei nº 9.784/1999, órgão público é “a unida-
derá por danos causados diretamente a terceiros ou de de atuação integrante da estrutura da Administração
à empresa pública ou sociedade de economia mista, direta e da estrutura da Administração indireta”. Assim,
independentemente da comprovação de sua culpa ou podemos definir órgão público um núcleo de competên-
dolo na execução do contrato. cias do Estado, sem personalidade jurídica própria. Por
ser órgão despersonalizado, não pode integrar no polo
Art. 77. O contratado é responsável pelos encargos ativo ou passivo das ações que objetivam a reparação de
trabalhistas, fiscais e comerciais resultantes da execu-
danos causados pelo exercício da Administração, deven-
ção do contrato.
do a pessoa jurídica a que o órgão pertence ser acionada
em tais hipóteses.
§ 1º A inadimplência do contratado quanto aos en-
cargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere
à empresa pública ou à sociedade de economia mista #FicaDica
a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá
onerar o objeto do contrato ou restringir a regulariza- A Teoria do Órgão (também pode apare-
ção e o uso das obras e edificações, inclusive perante o cer como princípio da imputação volitiva)
Registro de Imóveis. é uma invenção doutrinária que procura
imputar as ações cometidas pelos agentes
O artigo 81, por sua vez, prevê algumas hipóteses de e servidores públicos à pessoa jurídica a
DIREITO ADMINISTRATIVO

alteração das cláusulas contratuais. Por estarmos diante que ele esteja ligado. Pela teoria do órgão,
de um contrato administrativo, temos, além das possi- os agentes públicos não podem responder
bilidades de alteração previstas de comum acordo nos pessoalmente pelos atos que praticam no
termos da lei civil, algumas outras hipóteses especiais. exercício de suas funções, uma vez que a
São os casos, por exemplo, da modificação do regime responsabilidade pela execução de tais ta-
de execução da obra ou serviço, bem como do modo de refas é do Estado, sendo representado por
fornecimento, em face de verificação técnica da inapli-
seus órgãos e entes com personalidade ju-
cabilidade dos termos contratuais originários; ou ainda
rídica própria.
a modificação da forma de pagamento, por imposição

35
Há, inclusive, uma classificação quanto as diferentes III) Desconcentração hierárquica ou funcional: o
espécies de órgãos, que poderão ser: elemento diferenciador é a relação de subordina-
ção e hierarquia entre os órgãos públicos. Exem-
A) Quanto à posição estatal: a.1) órgãos indepen- plo: os tribunais administrativos possuem subordi-
dentes são os que representam o Estado em seus nação em relação aos órgãos de primeira instância.
Três Poderes, não havendo uma relação de hierar-
quia entre os mesmos (Congresso Nacional, Câma- As técnicas da desconcentração e da descentralização
ra dos Deputados, Tribunais, Varas Judiciais, etc); não são presentes, apenas, na Administração Direta e In-
a.2) órgãos autônomos, são os órgãos subordi- direta, respectivamente. As obras doutrinárias costumam
nados diretamente à cúpula da Administração. colocar tais formas juntas apenas para fins didáticos. É
Têm grande autonomia administrativa, financeira perfeitamente possível que haja, por exemplo, a criação
e técnica, caracterizando-se como órgãos diretivos de órgãos dentro de uma autarquia, ou de uma empresa
(Ministério Público, Defensoria Pública, AGU, PGR, pública; bem como é possível ocorrer a descentralização
etc). a.3) órgãos superiores, possuem poder de na Administração Central, na criação de um Estado novo.
direção, controle, decisão e comando dos assun-
tos de sua competência específica. Representam ENTIDADES DE COLABORAÇÃO E SEU REGIME JU-
as primeiras divisões dos órgãos independentes RÍDICO
e autônomos (Gabinetes, Coordenadorias, Depar-
tamentos, Divisões, etc); a.4) órgãos subalternos: Por fim, convém explanar sobre algumas pessoas ju-
são os que se destinam à execução dos trabalhos rídicas que, apesar de não integrarem a Administração
de rotina, cumprem ordens superiores. (Portarias, Pública, seja Direta ou Indireta, ainda assim são a elas
seções de expediente, etc). aplicáveis as normas gerais de Direito Administrativo. Es-
B) Quanto à composição: b.1) órgãos simples: são sas são as entidades paraestatais.
aqueles que possuem apenas um único centro de As entidades paraestatais são entidades privadas que
realizam atividades de interesse coletivo, sem fins lucra-
competência, sua característica fundamental é a
tivos que recebem incentivos de entidades públicas. Tais
ausência de outro órgão em sua estrutura, para
empresas privadas cujos objetivos são a execução de
auxiliá-lo no desempenho de suas funções; b.2)
serviços de relevante interesse público são denominadas
órgãos compostos: são aqueles que possuem em
entidades do Terceiro Setor. Tradicionalmente conside-
sua estrutura outros órgãos menores, seja com de-
ra-se “entidade paraestatal” sinônimo de entidades da
sempenho de função principal ou de auxilio nas
Administração Indireta.
atividades, as funções são distribuídas em vários
As entidades paraestatais, por serem regidas pelo di-
centros de competência, sob a supervisão do ór-
reito privado, não têm os privilégios concedidos cons-
gão de chefia. titucionalmente às entidades de direito público. Essas
C) Quanto à forma de atuação funcional: c.1) ór- entidades paraestatais podem se apresentar sob as se-
gãos singulares: são aqueles que decidem e atu- guintes formas:
am por meio de um único agente, o chefe. Pos-
suem agentes auxiliares, mas sua característica de Organização Social
singularidade é desenvolvida pela função de um
único agente, em geral o titular; c.2) órgãos co- A organização social (OS) não é uma pessoa jurídica
letivos: são aqueles que decidem pela manifesta- especial, mas uma qualificação especial outorgada pelo
ção de muitos membros, de forma conjunta e por governo federal a entidades da iniciativa privada, sem fins
maioria, sem manifestação de vontade de um úni- lucrativos, cuja outorga autoriza a fruição de vantagens
co chefe. A vontade da maioria é imposta de forma peculiares, como isenções fiscais, destinação de recursos
legal, regimental ou estatutária. orçamentários, repasse de bens públicos, bem como em-
préstimo temporário de servidores governamentais.
Todos esses órgãos, somados à União, os Estados, A Lei nº 9.637/1998 é a lei que regulamenta essa
Municípios e o Distrito Federal, compõem a denominada qualificação das OS, e seu artigo 1º é bastante claro ao
Administração Direta, ou Centralizada. delimitar a área de atuação de tais entidades privadas:
Em relação às modalidades de desconcentração, a de modo geral, a OS será concedida a empresas cujas
doutrina tende a classificar a desconcentração em três principais atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesqui-
espécies distintas: sa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção
I) Desconcentração territorial ou geográfica: é e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde,
DIREITO ADMINISTRATIVO

aquela em que todos os órgãos recebem as mes- Desempenham, portanto, atividades de interesse públi-
mas competências em relação à matéria, a diferen- co, mas que não se caracterizam como serviços públicos
ça encontra-se apenas nas regiões em que devem stricto sensu, razão pela qual é incorreto afirmar que as
atuar. É o caso da Delegacias de Polícia. organizações sociais são concessionárias ou permissio-
II) Desconcentração material ou temática: é a que nárias.
distribui as competências administrativas tendo O artigo 2º da referida Lei dispõe sobre os requisitos
em vista a especialização de cada órgão em um para a outorga da qualificação como OS: São requisitos
assunto específico. Exemplo: o Ministério da Cul- específicos para que as entidades privadas referidas no
tura da União. artigo anterior habilitem-se à qualificação como organi-

36
zação social: I - comprovar o registro de seu ato cons- IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos
titutivo, incluindo a sua natureza social, seus objetivos, sócio-produtivos e de sistemas alternativos de produ-
suas finalidades devem ser não lucrativas, a composição ção, comércio, emprego e crédito;
dos membros de sua diretoria, etc; e II - haver aprova- X - promoção de direitos estabelecidos, construção de
ção, quanto à conveniência e oportunidade de sua qua- novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interes-
lificação como organização social, do Ministro ou titular se suplementar;
de órgão supervisor ou regulador da área de atividade XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos di-
correspondente ao seu objeto social e do Ministro de Es- reitos humanos, da democracia e de outros valores
tado da Administração Federal e Reforma do Estado. Im- universais;
portante ressaltar que a concessão de tal qualificação é XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnolo-
ato discricionário, ficando a cargo do agente responsável gias alternativas, produção e divulgação de informa-
(Ministro de Estado), considerando critérios de conve- ções e conhecimentos técnicos e científicos que digam
niência e oportunidade, conceder ou não tal qualificação. respeito às atividades mencionadas neste artigo.
O instrumento de formalização da parceria entre a XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a
Administração e a organização social é o contrato de disponibilização e a implementação de tecnologias
gestão, cuja aprovação deve ser submetida ao Ministro voltadas à mobilidade de pessoas, por qualquer meio
de Estado ou outra autoridade supervisora da área de de transporte. 
atuação da entidade.
As organizações sociais representam uma espécie Como já mencionamos, o instrumento que regula
de parceria entre a Administração e a iniciativa privada, essa relação do Poder Público com a OSCIP é o termo
exercendo atividades que, antes da Emenda 19/98, eram de parceria, que discriminará direitos, responsabilidades
desempenhadas por entidades públicas. Por isso, seu sur- e obrigações das partes signatárias, prevendo especial-
gimento no Direito Brasileiro está relacionado com um mente metas a serem alcançadas, prazo de duração, di-
processo de privatização lato sensu realizado por meio reitos e obrigações das partes e formas de fiscalização.
da abertura de atividades públicas à iniciativa privada. Além disso, outra diferença marcante entre a OSCIP da
OS é que sua concessão é ato vinculado (art. 1º, § 2º, Lei
Organização da Sociedade Civil de Interesse Pú- nº 9.790/1999), podendo-se falar em um “direito adqui-
blico rido” da empresa privada em obter a qualificação de OS-
As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Pú- CIP. O requerimento deve ser encaminhado ao Ministro
blico (OSCIPs) são também pessoas jurídicas de direito da Justiça, na forma do artigo 5º da referida Lei.
privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa dos Esquematicamente, podemos estabelecer as princi-
particulares e qualificadas pelo Estado, para desempe- pais diferenças entre a OS e a OSCIP:
nhar serviços não exclusivos do Estado, com fiscalização
pelo Poder Público, formalizando a parceria com a Admi-
nistração Pública por meio de termo de parceria.
A lei que disciplina as OSCIPs é a Lei nº 9.790/1999, Principais distin-
OS OSCIP
sendo regulamentada pelo Decreto nº 3.100/1999. Seu ções
artigo 3º dá uma noção mais ampla e geral sobre as en- Lei nº
tidades que podem ser qualificadas como OSCIPs, in ver- Quanto à legisla- Lei nº 9.790/1999
bis: ção 9.637/1998 + Decreto nº
3.100/1999
Art. 3o A qualificação instituída por esta Lei, observado
em qualquer caso, o princípio da universalização dos Atividades de Atividades não
serviços, no respectivo âmbito de atuação das Orga- interesse pú- exclusivas do
nizações, somente será conferida às pessoas jurídicas blico anterior- Estado, mas de
Quanto ao exercí-
de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos mente desem- relevante inte-
cio de funções
sociais tenham pelo menos uma das seguintes finali- penhadas pelo resse público
dades: Estado (mais (mais abran-
I - promoção da assistência social; restrito) gente)
II - promoção da cultura, defesa e conservação do pa- Quanto ao Instru-
trimônio histórico e artístico; Contrato de Termo de Par-
mento que forma-
III - promoção gratuita da educação, observando-se Gestão ceria
liza a relação
a forma complementar de participação das organiza-
ções de que trata esta Lei; Ato discricio-
DIREITO ADMINISTRATIVO

IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a for- Quanto à vincula- nário; con- Ato vinculado;
ma complementar de participação das organizações ção da qualificação veniência e disposição legal
de que trata esta Lei; oportunidade
V - promoção da segurança alimentar e nutricional; Quanto ao ente Ministro de Ministro da
VI - defesa, preservação e conservação do meio am- público outorgante Estado Justiça
biente e promoção do desenvolvimento sustentável;
Quanto à possibi- Há direito ad-
VII - promoção do voluntariado; Não há tal
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e so- lidade de direito quirido sobre a
possibilidade
cial e combate à pobreza; adquirido outorga

37
Em “b”: Errado – Os órgãos públicos são entes des-
personalizados, não podendo atuar por conta própria,
EXERCÍCIO COMENTADO possuindo certa subordinação hierárquica ao Estado.
Em “c”: Errado – A descentralização é o fenômeno em
1. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTRAL DE CONTRO- que há delegação de competências de um ente públi-
LE EXTERNO – CESPE – 2019) Determinado governador co para outro ente distinto, com personalidade jurídi-
pretende que sejam criadas uma nova autarquia e uma ca própria.
nova empresa pública em seu estado. Em “d”: Errado – A exigência de lei ou decreto espe-
cífico vale apenas para os entes descentralizados, não
Nessa situação, serão necessárias para os órgãos públicos.
Em “e”: Certo.
a) duas leis específicas: uma para a criação da autarquia e
outra para a criação da empresa pública.
b) uma lei específica para a criação da autarquia e outra
para a autorização da instituição da empresa pública. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO
c) uma lei específica para a criação da empresa pública e PÚBLICA. CONTROLE EXERCIDO PELA
outra para a autorização da instituição da autarquia. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONTROLE
d) autorizações legais na norma geral acerca da nova JUDICIAL. CONTROLE LEGISLATIVO.
organização da administração pública estadual, não LEI Nº 8.429/1992 E SUAS ALTERAÇÕES
havendo necessidade de a criação de nenhuma das (IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA)
entidades ser feita por lei.
e) duas leis específicas: uma para a autorização da cria-
ção da empresa pública e outra para a autorização da
criação da autarquia. “Controle” é um conceito atrelado a ideia de fiscaliza-
ção. Logo, quem exerce controle sobre algo ou alguém, é
Resposta: Letra B. A questão é bastante simples, pois geralmente alguém que tem o poder de fiscalizar os seus
exige que o candidato conheça uma diferença básica atos. Tais noções podem ser aplicadas ao Poder Público,
entre os entes descentralizados da administração pú- pois o legislador, ao determinar a sua esfera de compe-
blica. As pessoas jurídicas de direito público, como as tência, acabou também impondo a mesma limites para
autarquias, são criadas por lei. As pessoas jurídicas de a sua área de atuação. Assim, é de grande importância
direito privado, como empresas públicas e sociedades estudar os instrumentos jurídicos de fiscalização sobre a
de economia mista, já existem dentro da realidade so- atuação dos agentes, órgãos, e entidades componentes
cial. Precisam, porém, de autorização legislativa para da Administração Pública. O enfoque, por isso, será sobre
exercerem suas funções. o controle dos atos administrativos.
Tais mecanismos de fiscalização possuem nature-
2. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTRAL DE CONTROLE za jurídica de princípio fundamental, conforme dispõe
EXTERNO – CESPE – 2019) Acerca dos órgãos públicos o art. 6º, V, do Dec-Lei nº 200/1967: “As atividades da
e dos institutos da centralização e da descentralização Administração Federal obedecerão aos seguintes princí-
pios fundamentais: I – Planejamento, II – Coordenação,
administrativa, assinale a opção correta.
III – Descentralização, IV - Delegação de Competência, e
V – Controle”.
a) Os entes criados por descentralização permanecem
hierarquicamente subordinados aos órgãos dos quais CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE CON-
foram descentralizados. TROLE
b) A administração centralizada atua por meio de órgãos
públicos, que são unidades dotadas de personalidade A doutrina não é unânime em relação ao tema. Toda-
jurídica e que expressam a vontade do Estado via, boa parte dos autores costumam dividir os diversos
c) A descentralização administrativa caracteriza-se pela tipos de instrumentos de controle dos atos administrati-
retirada de atribuições da esfera do interesse público vos, com base nos seguintes critérios:
e sua transferência para o domínio privado.
d) A criação e a extinção de órgãos públicos devem ob- Quanto ao órgão controlador:
servar a exigência de lei ou decreto específico. A) Controle legislativo: é o controle realizado pelo
e) A descentralização política ocorre quando o ente des- Poder Legislativo, mais especificamente pelo par-
DIREITO ADMINISTRATIVO

centralizado exerce atribuições próprias que não de- lamento, com o auxílio do Tribunal de Contas.
correm do ente central. Exemplo: as Comissões Parlamentares de Inquérito
(CPIs).
Resposta: Letra E. B) Controle administrativo: é o controle dos atos
Em “a”: Errado – Os entes criados por descentralização administrativos feito pelos órgãos e entidades da
não estão subordinados ao ente criador, uma vez que própria Administração Pública. É, por isso, uma
eles possuem autonomia para exercer suas funções modalidade de controle interno, podendo ser feito
por conta própria e responder pela prática de atos da- de ofício, ou mediante provocação. Exemplo: re-
nosos. curso hierárquico.

38
C) Controle judicial: é o controle feito pelos ma-
gistrados integrantes do Poder Judiciário. Devido FIQUE ATENTO!
ao princípio da inércia da jurisdição, jamais pode- Cuidado para não confundir alguns concei-
rá atuar de ofício, apenas mediante provocação. tos. A autotutela é o que fundamenta o con-
Exemplo: mandado de injunção e as ações sobre trole interno que a Administração Pública faz
controle de constitucionalidade. sobre os seus próprios atos. A tutela, por sua
vez, é característica da Administração Direta,
Quanto à extensão: que o exerce em face da Administração In-
direta. A grande maioria da doutrina enten-
A) Controle interno: é o controle realizado por um de que a tutela é uma espécie de controle
Poder sobre os seus próprios órgãos e agentes. É externo, pois embora estejamos falando de
o caso do controle de chefia sobre os seus subor- entes pertencentes a Administração Pública,
dinados. os entes da Administração Indireta possuem
B) Controle externo: é o tipo de controle exercido personalidade jurídica própria e distinta do
por autoridade que se situa fora do âmbito do ór- ente federativo que os criou.
gão a ser controlado. É o caso da anulação do ato
administrativo por decisão judicial.
Convém fazer breves considerações sobre os contro-
Quanto à natureza: les administrativo, legislativo e judicial, haja vista que o
critério da extensão acaba abrangendo todos os demais.
A) Controle de legalidade: é o tipo de controle em
que o ato a ser analisado deve estar de acordo com Controle Administrativo
o ordenamento jurídico. Pode ser exercido tanto
pela Administração Pública como pelo Judiciário. Denomina-se controle administrativo aquele que o
B) Controle de mérito: é o controle em que há a Poder Executivo e os órgãos da Administração dos de-
análise do ato administrativo, baseado em critérios mais Poderes exercem sobre a suas atividades, com a
da conveniência e da oportunidade. É o caso da finalidade de mantê-las dentro da lei, segundo as neces-
revogação dos atos administrativos. sidades do serviço, e as exigências técnicas e econômicas
de sua realização, uma vez que envolve o controle de le-
galidade e o controle de mérito dos atos administrativos.
Quanto à iniciativa:
Com isso, pode-se afirmar que o controle administrativo
A) Controle de ofício: é o controle feito sem a ne- não é restrito a apenas a Administração Pública, haja vis-
cessidade de provocação de alguém. Exemplo: ta que os órgãos administrativos dos Poderes Legislativo
instauração de falta do servidor público mediante e Judiciário também podem exercer controle administra-
processo disciplinar. tivo sobre seus próprios atos.
B) Controle mediante provocação: é o controle em O fundamento do controle administrativo está no po-
que só pode ser feito mediante requerimento da der de autotutela que a Administração possui para rever,
parte. É o caso do controle judicial. anular ou revogar os atos que seus órgãos e agentes pra-
ticam, independentemente de autorização judicial. Nos
Quanto ao momento: termos da Súmula nº 473 do STF: “A administração pode
anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
A) Controle prévio: é o controle feito antes do ato os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos;
produzir seus efeitos no mundo concreto. Exem- ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportu-
plo: mandado de segurança. nidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
B) Controle concomitante: é aquele promovido em todos os casos, a apreciação judicial”.
concomitantemente à execução do referido ato. O controle administrativo se instrumentaliza por meio
C) Controle posterior: é o controle realizado após de recursos administrativos, destinados a proporcionar
o ato produzir seus efeitos no mundo concreto. o reexame dos atos da Administração Pública. São eles:
Exemplo: ações constitucionais para controle de
atos da Administração. A) Representação: é uma denúncia formal de irre-
gularidade, feita por qualquer indivíduo, com pre-
Quanto ao vínculo:
visão no art. 37, § 3º, III, da CF/1988, e que gera à
A) Controle hierárquico: é o controle feito por au- Administração o dever-poder de apurar a irregu-
DIREITO ADMINISTRATIVO

toridade superior em relação a seus subordinados. laridade, se houver. Trata-se, por isso, de ato vin-
B) Controle finalístico: é aquele que se materializa culado.
no poder de tutela que a Administração Direta tem B) Reclamação administrativa: É o ato pelo qual o
em relação aos entes da Administração Indireta. administrado, particular ou servidor público, deduz
uma pretensão perante a administração pública,
visando obter o reconhecimento de um direito ou
a correção de um ato que lhe cause ou na iminên-
cia de causar lesão. A interposição da reclamação
não impede a apreciação do pleito pelo Judiciário,

39
mas a reclamação interposta dentro do prazo de do sempre mediante provocação e que abrange apenas
1 ano, contado da ocorrência do ato, suspende a o aspecto da legalidade do ato administrativo (anulação
prescrição quinquenal deste. judicial do ato).
C) Pedido de reconsideração: é uma solicitação feita Os instrumentos de controle judicial dos atos
à autoridade que já expediu o ato, para que o mo- do Executivo todas as ações admissíveis e que tratem da
difique ou o invalide, nos moldes do requerente. matéria. É o caso, por exemplo, do mandado de seguran-
A reconsideração não suspende a prescrição do ça, do habeas data, do mandado de injunção, e das ações
Judiciário. de controle de constitucionalidade.
D) Recurso hierárquico próprio: é aquele endere-
çado a autoridade superior à que praticou o ato #FicaDica
recorrido. Pode ser interposto sem a necessidade
de previsão legal, uma vez que a revisão dos atos Parte da doutrina admite a hipótese de
pela autoridade hierarquicamente superior àquela controle de mérito dos atos administrativos
que praticou o ato é uma de suas tarefas inerentes. pelo Poder Judiciário, apreciando critérios
Vale ressaltar que o recurso hierárquico independe de conveniência e oportunidade, isso é, as
de caução ou qualquer tipo de garantia em dinhei- razões que justificaram a prática daquele
ro, conforme dispõe a Súmula Vinculante nº 21 do ato. É o caso, por exemplo, da implemen-
STF. tação de políticas públicas, pleiteadas pe-
E) Recurso hierárquico impróprio: é aquele dirigido los cidadãos que passam necessidade, mas
a autoridade que não ocupa posição de hierarquia que não são cumpridas dada a inércia do
em relação ao ente que praticou o ato. É o caso, Executivo em implementá-las. Apesar de
por exemplo, de recurso interposto para o ente fe- ser uma posição crescente, ela é minoritá-
derativo membro da Administração Direta, sobre ria, pois a atuação do Judiciário é voltada
alguma entidade da Administração Indireta. Esse para anular os atos administrativos, e não
tipo de recurso deve possuir previsão legal, uma os revogar.
vez que os poderes inerentes à tutela não se pre-
sumem.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: A LEI Nº
Controle legislativo 8.429/1992
Embora nos dias atuais não vemos tal atuação com
tamanha frequência, o Poder Legislativo tem como uma Conceito de improbidade
de suas funções típicas o exercício do controle, isso é, a
fiscalização dos atos do Executivo. As hipóteses de con- O agente público, quando age no exercício das suas
trole legislativo estão todas previstas na Constituição Fe- funções, pode praticar atos violadores do Direito, capa-
deral, e se divide em dois grandes grupos. zes de ensejar um dever de responsabilização da Admi-
O controle político tem por finalidade a proteção nistração, que é a pessoa jurídica a qual representa. É
dos interesses superiores do Estado e da sociedade, bastante comum a doutrina estabelecer a responsabi-
abrangendo a fiscalização dos atos do Executivo, quanto lidade tríplice dos agentes públicos, uma vez que seus
à legalidade e quanto ao mérito. É o caso das autoriza- atos podem violar direitos relativos às esferas civil, penal,
ções dentro das competências das Casas parlamentares, e administrativas. Todavia, além das três esferas mencio-
dispostas nos arts. 49 a 52 da CF/1988. A atuação do Par- nadas, é possível verificar uma quarta esfera de respon-
lamento no controle político é bastante ampla e geral, sabilização dos agentes públicos, que diz respeito à im-
seja na apuração de condutas irregulares, com o auxílio probidade administrativa.
das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), seja Improbidade possui previsão constitucional, mais
especificamente no art. 37, caput, ao expor que é dever
para manejar o processo de impeachment do Presidente
da Administração Pública Direta e Indireta, o respeito ao
da República, etc.
princípio da moralidade administrativa. Além disso, cons-
O controle financeiro, por sua vez, tem relação com
ta no § 4º do mesmo dispositivo constitucional que “os
a fiscalização contábil e financeira, prevista no art. 70 da
atos de improbidade administrativa importarão a sus-
CF/1988. Algumas hipóteses do controle financeiro são:
pensão dos direitos políticos, a perda da função pública,
o julgamento de contas do Presidente da República, a
a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário,
sustação de contratos administrativos, o julgamento de
na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da
contas de outros membros do Executivo, com o auxílio ação penal cabível”. Pela leitura do dispositivo, verifica-se
do Tribunal de Contas, etc. uma característica importante dos atos de improbidade:
DIREITO ADMINISTRATIVO

a sua independência em relação às outras esferas de res-


1.3 Controle judicial ponsabilização. Assim, a instauração de processo com o
escopo de apurar o ato de improbidade independe de
O Poder Judiciário também possui competência para prévia condenação (ou absolvição) do agente infrator
exercer controle de atos do Executivo, o que não deve nos processos civil, criminal e administrativo.
ser de grande surpresa, uma vez que devido ao siste- Dessa forma, podemos conceituar os atos de impro-
ma de jurisdição uma e o princípio da inafastabilidade bidade administrativa como aqueles aptos a causarem
da jurisdição, todos os atos administrativos podem ser danos ao erário, enriquecimento ilícito, ou ainda violação
apreciados pelo Judiciário. É um tipo de controle exerci- aos princípios administrativos.

40
A preocupação do legislador em estabelecer os atos de improbidade proposta em face do ator Guilherme
de improbidade, bem como as sanções aplicáveis aos Fontes pela demora na conclusão do filme “Chatô – Rei
agentes públicos, traduz-se na finalidade de garantir o do Brasil”.
respeito à moralidade administrativa. Nossa Constituição
estabelece dois mecanismos processuais para a defesa
da moralidade, haja visto ser uma questão de interesse
#FicaDica
público. De um lado, temos a ação popular (art. 5º, LXXIII, A presença do elemento dolo/culpa nos
da CF/1988), podendo ser proposta por qualquer cidadão atos de improbidade administrativa é
para anular ato lesivo ao patrimônio público ou de enti- um tema bastante discutido na doutrina.
dade que o Estado participe, à moralidade administrati- O art. 10 da Lei nº 8.429/1982 prevê, ex-
va, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico-cultural. pressamente, que “constitui ato de impro-
De outro, a ação de improbidade administrativa, fundada bidade administrativa que causa lesão ao
no art. 37, § 4º, da CF/1988, e de legitimidade exclusiva erário qualquer ação ou omissão, dolosa
do Ministério Público, ou de entidade interessada. ou culposa, que enseje...”. Este é o único
dispositivo que prevê expressamente a
Lei de Improbidade Administrativa - LIA modalidade culposa para configuração de
Como forma de regulamentar o processo de improbi- improbidade. Uma corrente majoritária na
dade, garantido pela Constituição, incumbiu-se a União a doutrina sustenta que, devido a sua ausên-
tarefa de promulgar a Lei Federal nº 8.429/1982, também cia nos demais casos de improbidade, a
conhecida como Lei da Improbidade Administrativa (LIA). culpa stricto sensu somente seria admitida
Dispõe o art. 1º da LIA que “Os atos de improbidade para atos que causem prejuízos ao erário.
praticados por qualquer agente público, servidor ou não, A responsabilidade é sempre subjetiva, de-
contra a administração direta, indireta ou fundacional de vendo sempre demonstrar a culpa em sen-
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito tido amplo do agente público.
Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incor-
porada ao patrimônio público ou de entidade para cuja
criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra Espécies de atos de improbidade
com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da A Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº
receita anual, serão punidos na forma desta lei”. Pode- 8.429/1982) define, nos seus artigos 9º a 11, um rol
mos identificar os sujeitos ativo e passivo do ato de im- exemplificativo das condutas que caracterizam a im-
probidade. probidade administrativa, que constituem no objeto da
Sujeito passivo do ato de improbidade é aquele que improbidade. Podemos dividir tais condutas em quatro
venha a sofrer as consequências do ato de improbidade grandes grupos:
administrativa. São eles: membros da Administração Pú- A) Atos que importam em enriquecimento ilícito:
blica Direta (União, Estados, Municípios e seus órgãos), são as condutas de maior gravidade, apenadas
da Administração Indireta (autarquias, fundações, em- com as sanções mais rigorosas, pelo fato de en-
presas públicas, sociedades de economia mista); as en- volver atos como auferir qualquer tipo de vanta-
tidades privadas que recebem subvenção, incentivo ou gem patrimonial indevida em razão do exercício
benefício fiscal ou creditício provenientes de órgãos pú- de cargo, mandato, função, emprego ou atividade
blicos; e também as empresas com participação estatal, nas entidades públicas (art. 9º da LIA). As sanções
cuja criação ou custeio o erário concorra com menos de aplicáveis podem ser de ressarcimento integral do
50% do patrimônio ou da receita anual. dano, perda da função pública, perda dos direitos
Por outro lado, sujeito ativo é aquele que pratica o políticos de 8 a 10 anos, e a proibição de contratar
ato danoso, e eventualmente sofrerá a sanção aplicável com o Poder Público pelo prazo de 10 anos.
após a propositura da ação de improbidade (art. 17 da B) Atos que causam prejuízo ao erário: qualquer
LIA). Todo e qualquer agente público pode sofrer proces- tipo de conduta dolosa ou culposa, comissiva ou
so de improbidade. Compreende-se como agente públi- omissiva, que enseja perda patrimonial, desvio,
co, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente apropriação ou dilapidação dos bens ou haveres
ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designa- das entidades públicas é passível de sanção, sem
ção, contratação ou qualquer outra forma de investidu- a necessidade de haver um enriquecimento patri-
ra ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas monial do agente infrator (art. 10 da LIA). Compor-
entidades mencionadas anteriormente (art. 2º da LIA). ta sanções intermediárias, como ressarcimento dos
Entretanto, o art. 3º da referida Lei estende as penas pela danos, perda da função pública, perda dos direitos
DIREITO ADMINISTRATIVO

improbidade a particulares (não agentes), desde que te- políticos de 5 a 8 anos, e a proibição de contratar
nham induzido, concorrido, ou se beneficiou da prática com o Poder Público por 5 anos.
do ato. Assim, os particulares podem até serem respon- C) Atos que atentam contra os princípios da Admi-
sabilizados, mas nunca sozinhos, hipótese designada nistração Pública: apesar de não causar enrique-
como improbidade imprópria. cimento do agente, nem lesão financeira ao erário,
Ainda sobre a hipótese de particulares, o STJ tem se a prática desses atos pode violar os deveres de ho-
posicionado de forma a restringir o âmbito de aplicação nestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade
da LIA para as pessoas não agentes, como no julgado de às instituições (art. 11). As sanções aplicáveis são
Recurso Especial REsp nº 1.405.748, que extinguiu ação mais brandas, incluindo ressarcimento dos danos,

41
perda da função pública, perda dos direitos políti- Em “b”: Errado – O controle interno pode atingir tanto
cos de 3 a 5 anos, e a proibição de contratar com o a legalidade, quanto o mérito do ato administrativo
Poder Público por 3 anos. praticado.
D) Atos decorrentes de concessão ou aplicação Em “c”: Certo.
indevida de benefício financeiro ou tributário: Em “d”: Errado – O controle externo é aquele efetivado
trata-se de novidade trazida pela Lei Complemen- por órgão de estrutura diversa ao do órgão controla-
tar nº 157/2016, que adicionou o artigo 10-A, tipifi- do.
cando como improbidade administrativa qualquer Em “e”: Errado – O controle interno não é hierarquica-
ação ou omissão para conceder, aplicar ou manter mente superior ao externo, pois, na verdade, não exis-
benefício financeiro ou tributário contrário ao que te uma hierarquia entre eles, uma vez que eles atuam,
dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Com- geralmente, de modo conjunto.
plementar nº 116/2003. Apresenta sanções como a
perda da função pública, e perda dos direitos polí-
ticos de 5 a 8 anos. 2. (MPC-PA – ANALISTA MINISTERIAL DE CONTROLE
EXTERNO – CESPE – 2019) Autoridade administrativa de
FIQUE ATENTO! determinado ente ofereceu representação ao Ministério
Público contra conduta de agente público que resultou
Importante frisar que a própria Lei de Im- na locação de bem, pelo poder público, em valor supe-
probidade Administrativa (artigo 12) dispõe rior ao de mercado.
que a responsabilização pela prática dos
atos descritos é totalmente independente Nessa situação hipotética, o ato imputado
das sanções penais, civis e administrativas
previstas em legislação específica. Com isso, a) não caracteriza improbidade administrativa, por au-
deve-se concluir que a esfera de improbida- sência de previsão legal.
de administrativa é totalmente independente b) somente caracteriza improbidade administrativa se
da esfera de responsabilização administrati- houver conduta dolosa e for comprovado o enriqueci-
va, não se confundindo com as sanções co- mento ilícito do agente público.
minadas em processo disciplinar. c) apenas caracteriza improbidade administrativa se a
conduta for dolosa, independentemente da compro-
vação de enriquecimento ilícito do agente público.
d) caracteriza improbidade administrativa se for demons-
trada conduta dolosa ou culposa, desde que seja com-
EXERCÍCIO COMENTADO provado o enriquecimento ilícito do agente público.
e) caracteriza improbidade administrativa se for demons-
1. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE CONTRO- trada conduta dolosa ou culposa, independentemente
LE EXTERNO – CESPE – 2019) Acerca dos controles in- da comprovação de enriquecimento ilícito do agente
terno e externo da administração pública, assinale a op- público.
ção correta.
Resposta: Letra E. Analisando o caso mencionado,
a) Cabe ao controle interno auxiliar o Poder Legislativo percebe-se que o agente público, ao locar um bem
no julgamento das contas prestadas anualmente pelo pelo poder público, em valor superior ao do merca-
presidente da República. do, está prejudicando o patrimônio público do Estado,
b) No controle interno, ao verificar se a administração que perde mais dinheiro público do que o necessário.
tem respeitado disposições imperativas no exercício Isso caracteriza como ato de improbidade administra-
de suas atribuições, dispensa-se a realização do con- tiva que causa danos ao erário (art. 10 da LIA), poden-
trole de mérito. do ocorrer com dolo ou culpa, por ação ou omissão, e
c) Os atos administrativos do Poder Executivo, do Legis- independentemente de haver qualquer enriquecimen-
lativo e do Judiciário bem como os atos de gestão de to por parte do agente público.
bens e valores públicos são objetos do controle ex-
terno.
d) O controle externo é efetivado por órgão pertencente
à mesma estrutura do órgão ou do poder responsável
pela atividade controlada.
DIREITO ADMINISTRATIVO

e) Hierarquicamente superior ao controle externo, o con-


trole interno é único e atua sobre toda a administra-
ção pública.

Resposta: Letra C.
Em “a”: Errado – A tarefa de julgar as contas do Pre-
sidente da República é exclusiva do Poder Legislativo,
não havendo necessidade de auxílio do controle in-
terno.

42
mitar três importantes conceitos. Órgão é a unidade de
LEI Nº 9.784/1999 E SUAS ALTERAÇÕES atuação integrante da estrutura da Administração direta
(PROCESSO ADMINISTRATIVO) e da estrutura da Administração indireta; entidade é a
unidade de atuação dotada de personalidade jurídica; e
autoridade é o servidor ou agente público dotado de po-
der de decisão.
A necessidade de se instaurar um processo, isso é,
uma sequência de atos para o exercício da jurisdição, Princípios do processo administrativo:
tem seu fundamento no princípio constitucional do de- O caput do art. 2º da Lei nº 9.784/1999 elenca os prin-
vido processo legal. O devido processo legal pode ser cípios pelos quais a Administração Pública tem o dever
compreendido como o “escudo da humanidade” contra a de obedecer e que regem o processo administrativo. São
prática de atos abusivos por parte do Estado. Seu funda- eles:
mento legal está previsto no art. 5º, LIV, da Constituição A) Legalidade: é o dever de atuação conforme a lei e
Federal, o qual assegura que ninguém será privado da o direito positivado.
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. B) Impessoalidade: tem por objetivo vedar a promo-
A obrigatoriedade do devido processo legal não se ção pessoal de agentes e autoridades
aplica somente à seara judicial, mas também vincula a C) Finalidade: a persecução do interesse público é
Administração Pública e o Poder Legislativo, pois no mo- primordial na conduta dos agentes administrati-
derno Estado de Direito, a validade das decisões prati- vos, pois é o seu objetivo maior.
cadas por órgãos e agentes governamentais está con-
D) Moralidade: a atuação dos agentes públicos deve
dicionada ao cumprimento de um rito procedimental
seguir os padrões de lealdade, decoro e boa-fé.
previamente estabelecido. Por isso, é de grande impor-
E) Publicidade: o dever de transparência que resulta
tância o estudo do processo administrativo disciplinar,
a publicação dos atos administrativos de relevante
que visa a dar maior transparência e garantia do exercício
interesse para a população.
de uma boa Administração para os particulares.
F) Razoabilidade e proporcionalidade: exige uma
linha lógica e adequação entre o fim almejado e o
#FicaDica meio utilizado para tal fim, abstendo-se de praticar
exageros.
Processo ou procedimento administrativo? G) Obrigatória motivação: as decisões tomadas pe-
Apesar de não serem a mesma coisa, am-
las autoridades devem conter pressupostos de fato
bos possuem uma forte relação intrínseca.
e de direito que justifiquem as mesmas.
“Processo” é o termo utilizado para desig-
H) Segurança jurídica: exige que a interpretação das
nar a relação jurídica estabelecida entre as
normas administrativas seja sempre a que melhor
partes e, por isso, denomina-se processo
atenda aos interesses dos administrados, sendo
administrativo o vínculo estabelecido entre
vedada sua aplicação retroativa, pois isso feriria o
o Poder Público e o particular para a to-
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
mada de uma decisão. “Procedimento”, por
sua vez, refere-se a uma sequência orde- julgada.
nada de atos que culminam na tomada da I) Contraditório e ampla defesa: para cada ato e
decisão. Procedimento é o meio pelo qual cada alegação feita no processo em questão, é as-
se atende aos fins do processo. segurado o direito de manifestação da parte con-
trária, principalmente nos processos em que resul-
tem em sanções e nas situações de litígio.
Processo Administrativo e a Lei nº 9.784/1999
Direitos e deveres dos administrados
Com o objetivo de regulamentar a disciplina consti- O termo “administrado”, hoje com pouca utilização,
tucional do processo administrativo, a Lei nº 9.784/1999, é usado na referida Lei para designar o usuário ou ci-
denominada “Lei do Processo Administrativo”, dispõe dadão que é administrado pelo Poder Público. A Lei nº
sobre normas básicas sobre o referido processo no âm- 9.784/1999 elenca uma série de direitos e deveres aos
bito da Administração Federal direta e indireta, visando referidos administrados.
a proteção dos direitos dos administrados e ao melhor Assim, os usuários e cidadãos possuem as seguintes
cumprimento dos fins da Administração Pública. Trata- garantias (art. 3º): a) ser tratado com respeito pelas auto-
-se de lei federal, aplicável somente no âmbito da União, ridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de
DIREITO ADMINISTRATIVO

com incidência no Poder Executivo, e também nos Pode- seus direitos e o cumprimento de suas obrigações; b) ter
res Legislativo e Judiciário, no exercício de suas funções ciência da tramitação dos processos administrativos em
atípicas. Entretanto, o STJ pacificou entendimento de que que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos,
a referida Lei de Processo Administrativo pode ser aplicá- obter cópias de documentos neles contidos e conhecer
vel, subsidiariamente, às demais entidades federais que as decisões proferidas; c) formular alegações e apresen-
não possuam lei própria versando sobre o tema. tar documentos antes da decisão, os quais serão obje-
Com base nessas considerações, passemos a desta- to de consideração pelo órgão competente; d) fazer-se
car alguns pontos importantes da referida legislação. De assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando
início, o art. 1º, § 2º da Lei nº 9.784/1999 procura deli- obrigatória a representação, por força de lei.

43
Por outro lado, o art. 4º da Lei de Processo Adminis- É ônus da parte apresentar provas sobre os fatos ale-
trativo elenca os deveres a ser cumpridos pelos adminis- gados pela mesma, na forma do artigo 36 da referida Lei,
trados no decurso do processo: a) expor os fatos con- independentemente de atuação sem prejuízo da atuação
forme a verdade; b) proceder com lealdade, urbanidade do órgão competente e o dever deste providenciar os
e boa-fé; c) não agir de modo temerário; e d) prestar as documentos oriundos da própria Administração. Com
informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o isso, procura-se atribuir a Administração Pública o exer-
esclarecimento dos fatos. cício de suas funções de modo adequado e correto, não
podendo se prender ao ônus da prova para escusar-se
Instauração e legitimidade de promover uma má-administração. Importante ressal-
A Administração Pública apresenta uma dinamicida- tar também a vedação a da produção e utilização de pro-
de muito maior do que o Judiciário, uma vez que pode vas obtidas por meios ilícitos (art. 30, Lei nº 9.784/1999).
agir de ofício, isso é, sem a provocação do interessado. É É possível, também, a instauração de medida cautelar,
possível, evidentemente, que o processo administrativo na forma do artigo 45 da Lei nº 9.784/1999, podendo ser
possa ser instaurado a requerimento, o qual deverá ser instaurada sem a prévia manifestação do interessado, em
formulado por escrito e constar os seguintes elementos: caso de risco iminente que possa prejudicar o objeto do
a) órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; b) processo.
identificação do interessado ou de quem o represente;
c) domicílio do requerente ou local para recebimento de Dever de decidir e desistência
comunicações; d) formulação do pedido, com exposição A Administração Pública tem o dever de emitir deci-
dos fatos e de seus fundamentos; e e) data e assinatura são (art. 48, Lei nº 9.784/1999) expressa nos processos
do requerente ou de seu representante. Na verdade, a administrativos e sobre as solicitações e reclamações
instauração do processo pode ser de ofício, ainda que que receber, uma vez que faz parte de sua competên-
haja provocação de uma das partes. cia. Trata-se de uma consequência lógica do direito de
Quanto à legitimidade para a instauração do proces- petição, constitucionalmente garantido a todo cidadão.
Encerrada a instrução, terá o prazo de até 30 (trinta) dias
so, o art. 9º da mesma Lei elenca um rol taxativo de in-
para decidir, salvo prorrogação por igual período expres-
teressados: I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem
samente motivada.
como titulares de direitos ou interesses individuais ou no
Admite-se a desistência do processo, por parte do in-
exercício do direito de representação; II - aqueles que,
teressado, nos termos do art. 51 da referida Lei. Para tan-
sem terem iniciado o processo, têm direitos ou interesses
to, deverá o interessado manifestar-se por escrito, com o
que possam ser afetados pela decisão a ser adotada; III -
pedido de desistência total ou parcial do pleito, ou ainda
as organizações e associações representativas, no tocan-
renunciar direitos disponíveis. A desistência ou renúncia
te a direitos e interesses coletivos; IV - as pessoas ou as
do interessado, conforme o caso, não prejudica o pros-
associações legalmente constituídas quanto a direitos ou seguimento do processo, se a Administração considerar
interesses difusos. Em termos de capacidade processual, que o interesse público assim o exige.
o art. 10 dispõe que são considerados capazes os maio-
res de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato Recursos administrativos
normativo próprio. Todas as decisões adotadas em processo administra-
tivo são passíveis de recurso, caso em que haverá um
Competência, forma, tempo e lugar reexame quanto a questões de legalidade e de mérito
Nos termos do art. 11 da Lei de Processo Adminis- dos atos administrativos objeto do litígio. O recurso deve
trativo, a competência é irrenunciável e se exerce pelos ser dirigido à autoridade que proferiu a decisão para que,
órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, no prazo de 5 dias, tenha a oportunidade de reconsiderar
salvo os casos de delegação e avocação legalmente ad- sua decisão. Se não o fizer, encaminhará a peça recursal
mitidos. A delegação é o fenômeno pelo qual uma au- para a autoridade hierarquicamente superior, se for re-
toridade distribui suas competências para uma entidade curso hierárquico próprio, ou para a entidade que exerce
ou órgãos distintos, podendo estar na mesma linha hie- tutela sobre a que proferiu a decisão, tratando-se de re-
rárquica ou não, embora haja alguns casos em que a de- curso hierárquico impróprio. O prazo para a interposição
legação é legalmente vedada, como a edição de atos de do recurso cabível é de 10 (dez) dias, contados a partir da
caráter normativo, a decisão de recursos administrativos, divulgação oficial da decisão administrativa. Vejamos, em
e as matérias de competência exclusiva da autoridade. A detalhes, os principais recursos administrativos:
avocação, por sua vez, traduz-se na absorção de compe- A) Representação: é uma denúncia formal de irre-
tências, hipótese em que o órgão ou o titular chama para gularidade, feita por qualquer indivíduo, com pre-
DIREITO ADMINISTRATIVO

si atribuições de competência de órgão hierarquicamen- visão no art. 37, § 3º, III, da CF/1988, e que gera à
te inferior. Administração o dever-poder de apurar a irregu-
Em relação a forma, a lei citada não atribui nenhum laridade, se houver. Trata-se, por isso, de ato vin-
requisito solene para o processo administrativo, apenas culado.
exige que os atos processuais deverão ser produzidos B) Reclamação administrativa: É o ato pelo qual o
por escrito, em vernáculo, com data e local de sua rea- administrado, particular ou servidor público, deduz
lização e assinatura da autoridade responsável. Os atos uma pretensão perante a administração pública,
são realizados em dias úteis, no horário de funcionamen- visando obter o reconhecimento de um direito ou
to da repartição na qual tramita o processo. a correção de um ato que lhe cause ou na iminên-

44
cia de causar lesão. A interposição da reclamação 2. (SLU-DF – ANALISTA DE GESTÃO DE REÍSUDOS
não impede a apreciação do pleito pelo Judiciário, SÓLIDOS – CESPE – 2019) Antônia, de sessenta anos
mas a reclamação interposta dentro do prazo de de idade, requereu a certo órgão público a emissão de
1 ano, contado da ocorrência do ato, suspende a documento de caráter pessoal. Em razão da negativa do
prescrição quinquenal deste. pedido, Antônia interpôs recurso administrativo dirigido
C) Pedido de reconsideração: é uma solicitação feita a Carlos, autoridade competente do referido órgão para
à autoridade que já expediu o ato, para que o mo- julgar o recurso. No entanto, por ser amigo íntimo de
difique ou o invalide, nos moldes do requerente. Antônia, Carlos delegou sua atribuição julgadora para
A reconsideração não suspende a prescrição do Marcos, com o qual não possui qualquer relação de su-
Judiciário. bordinação hierárquica.
D) Recurso hierárquico próprio: é aquele endere- A partir da situação hipotética precedente, julgue o item
çado a autoridade superior à que praticou o ato a seguir, considerando as disposições da Lei de Processo
recorrido. Pode ser interposto sem a necessidade
Administrativo (Lei nº 9.784/1999).
de previsão legal, uma vez que a revisão dos atos
Caso tenha sido interposto fora do prazo legal, o recurso
pela autoridade hierarquicamente superior àquela
de Antônia não deverá ser conhecido, o que não impede
que praticou o ato é uma de suas tarefas inerentes.
Vale ressaltar que o recurso hierárquico independe que a administração reveja de ofício o ato ilegal, desde
de caução ou qualquer tipo de garantia em dinhei- que não tenha ocorrido preclusão administrativa.
ro, conforme dispõe a Súmula Vinculante nº 21 do
STF. ( ) CERTO ( ) ERRADO
E) Recurso hierárquico impróprio: é aquele dirigido
Resposta: Certo. Atenção com a questão: a delegação
a autoridade que não ocupa posição de hierarquia
de decisão em recurso é vedada. Porém, tal fato não
em relação ao ente que praticou o ato. É o caso,
possui relação com a frase mencionada. Em matéria de
por exemplo, de recurso interposto para o ente fe-
derativo membro da Administração Direta, sobre recursos administrativos, o recurso interposto fora do
alguma entidade da Administração Indireta. Esse prazo não será conhecido (art. 63, I, Lei nº 9.784/1999).
tipo de recurso deve possuir previsão legal, uma Todavia, considerando o poder de autotutela da Ad-
vez que os poderes inerentes à tutela não se pre- ministração Pública, nada impede que ela mesma, de
sumem. ofício, reconheça a ilegalidade daquele ato e conceda
a Antônia o documento requerido.
Detalhe importante que merece destaque é o expos-
to no art. 64 da Lei nº 9.784/1999: “O órgão competente
para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular
ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se LICITAÇÕES E CONTRATOS
a matéria for de sua competência”. Logo, percebe-se que ADMINISTRATIVOS. LEI Nº 8.666/1993 E
o referido dispositivo legal permite a reformatio in pejus SUAS ALTERAÇÕES. LEI Nº 10.520/2002
da decisão administrativa, o que pode acarretar em uma E DEMAIS DISPOSIÇÕES NORMATIVAS
decisão que agrave ainda mais a situação do recorrente. RELATIVAS AO PREGÃO. DECRETO Nº
Todavia, o parágrafo único do mesmo artigo dispõe que
7.892/2013 E SUAS ALTERAÇÕES (SISTEMA
o recorrente, nessa hipótese, deverá ser cientificado para
que formule suas alegações antes da decisão. DE REGISTRO DE PREÇOS). LEI Nº
12.462/2011 E SUAS ALTERAÇÕES (REGIME
DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES
PÚBLICAS). DECRETO Nº 6.170/2007 E SUAS
ALTERAÇÕES, PORTARIA INTERMINISTERIAL
EXERCÍCIO COMENTADO
Nº 424/2016 E SUAS ALTERAÇÕES.
FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS
1. (PREFEITURA DE BOA VISTA-RR – PROCURADOR
MUNICIPAL – CESPE – 2019) A respeito de improbida-
de administrativa, processo administrativo e organização
administrativa, julgue o item seguinte.
Caso o administrado não atenda a intimação em proces-
so administrativo, incidirá o ônus de reconhecimento da LICITAÇÕES
verdade dos fatos alegados.
Noções gerais de licitação
DIREITO ADMINISTRATIVO

( ) CERTO ( ) ERRADO A Administração tem a faculdade de realizar contra-


tos com particulares. Porém, ao contrário do que ocorre
Resposta: Errado. A questão faz referência ao institu- na esfera privada, o Poder Público não pode escolher li-
to da revelia. Porém, por expressão previsão do art. 27 vremente quem deve contratar, seja para a compra e for-
da Lei nº 9.784/1999, o desatendimento da intimação necimento de materiais ou para a prestação de um ser-
não importa o reconhecimento da verdade dos fatos, viço com relevante interesse público. Por ser uma pessoa
nem a renúncia a direito pelo administrado. Assim, es- jurídica de direito público, os imperativos da isonomia,
ses efeitos da revelia, comuns na esfera do processo da impessoalidade, e da indisponibilidade do interesse
civil, não se aplicam no processo administrativo. público, obrigam a Administração à realização de um

45
processo público para a seleção mais imparcial possível Sobre a competência legislativa do instituto, o art.
da melhor proposta, garantindo igualdade de condições 22, XXVII, da CF/1988 atribui como competência priva-
a todos que queiram concorrer para a eventual celebra- tiva da União legislar sobre normas gerais de licitação
ção do contrato. Esse é o processo denominado licitação, e contratações, em todas as modalidades, para as ad-
previsto no artigo 37, XXI, da Constituição Federal. ministrações públicas diretas, indiretas, autárquicas e
Assim, podemos conceituar a licitação como o pro- fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Mu-
cedimento administrativo em que ocorre a seleção da nicípios. Todavia, a doutrina denota que, em se tratando
melhor proposta, de modo imparcial a todos os interes- de competência da União para editar “normas gerais”,
sados. cumpre aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Fede-
As finalidades das licitações são diversas, algumas ral a edição de regras específicas para suplementar essas
dispostas no art. 3º da Lei nº 8.666/1993. Segundo o re- normas gerais. Por isso, a doutrina crê que a competência
ferido dispositivo legal, a licitação tem por finalidade: a) para legislar sobre licitações, na verdade, é concorrente,
buscar a melhor proposta, promovendo maior compe- e referido dispositivo deveria estar expresso no artigo 24
titividade entre os potenciais contratados, com a finali- da CF/1988.
dade de almejar o negócio mais vantajoso; b) oferecer Por ser um tema bastante técnico e preciso, o conheci-
uma igualdade de condições aos interessados em con- mento da lei seca é essencial para qualquer concursando.
tratar com o Poder Público, em atendimento à isonomia A matéria legislativa sobre o procedimento licitatório, na
e a impessoalidade, desde que atendam as condições realidade, é bastante vasta. Procuramos dar maior des-
previamente fixadas no instrumento convocatório; e c) taque à Lei nº 8.666/1993, que dispõe sobre as normas
a promoção do desenvolvimento nacional sustentável, gerais de licitação, e à Lei nº 10.520/2002, que introduziu
introduzido posteriormente pela Lei nº 12.349/2010, o pregão, como uma nova modalidade de licitação a to-
envolvendo aspectos econômicos, sociais e ambientais. dos os entes federativos. Todavia, também gostaríamos
Infere-se, com isso, que as licitações atualmente podem de destacar outros instrumentos legais, como a Lei nº
apresentar outros objetivos, como o cumprimento de 8883/1994, a Lei nº 11.079/2004, que institui as Parcerias
uma função social, impedir o desmatamento desneces- Público-Privadas ou PPPs, a Lei nº 9.472/1997 que insti-
sário, entre outros. tui duas modalidades de licitação exclusivas da ANATEL,
o pregão e a consulta; e o Decreto nº 9.412/2018, que
atribui novos valores quanto a preço de algumas formas
#FicaDica licitatórias.
A finalidade do desenvolvimento nacional
sustentável foi primeiramente denotada A Lei Geral de Licitações (Lei nº 8.666/1993)
pela doutrina. Porém, podemos perceber Como forma de regulamentar o inciso XXI do artigo
várias medidas novas na legislação adota- 37 da CF/1988, a Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993) é
das no procedimento licitatório que eviden- uma lei nacional que institui normas gerais sobre licita-
ciam essa nova faceta do mesmo. Dentre es- ções e contratações feitas pela Administração Pública,
sas medidas, destaca-se a preferência para sendo aplicável a todos os entes da Federação. Impor-
os produtos manufaturados pela indústria tante, por isso, conhecer os seus principais dispositivos,
nacional (art. 6º, XVII, Lei nº 8.666/1993) e bastante exigidos em concursos públicos.
a produção interna; bem como os produtos
manufaturados e serviços nacionais (art. 6º, Pressupostos da licitação
XVIII, Lei nº 8.666/1993) resultantes de de- Ressalvadas as hipóteses de contratação direta defini-
senvolvimento e realização tecnológica re- das na legislação, a celebração de contratos administrati-
alizados no País. Pode haver, inclusive, uma vos exige a prévia realização de procedimento licitatório.
equiparação entre os produtos e serviço Considerando ser uma disputa que visa a obtenção da
nacional com aqueles prestados pelo Mer- melhor proposta à luz do interesse público, a licitação
cado Comum do Sul (Mercosul). só pode instaurada mediante o preenchimento de certos
pressupostos, que podem ser definidos como:
A) Pressuposto lógico: para ocorrer um procedi-
Sobre a natureza jurídica, a doutrina classifica, de mento licitatório, faz parte da sua lógica a existên-
forma quase unânime, a licitação como um procedimen- cia de pluralidade de objetos e de ofertantes, sem
to administrativo. É um procedimento, uma vez que se os quais torna inviável a competitividade inerente
manifesta por uma sequência ordenada de atos. Não da licitação. Ausente o pressuposto lógico, a licita-
DIREITO ADMINISTRATIVO

pode ser considerado um processo, pela inexistência de ção torna-se inexigível. É o caso, por exemplo, da
partes litigantes. A ênfase em dizer que a licitação é um compra de equipamentos fornecidos por produtor
procedimento administrativo advém do fato de que, por exclusivo (art. 25, I, Lei nº 8.666/1993).
muito tempo, houve quem sustentasse ser a licitação um B) Pressuposto Jurídico: caracteriza-se pela conve-
instituto de Direito Financeiro, e não de Direito Admi- niência e oportunidade do procedimento licitató-
nistrativo. Essa diferença no enquadramento do instituto rio. A licitação deve ser útil e trazer vantagem para
implicava em uma alteração dos princípios aplicáveis e a Administração, bem como atender ao interesse
a mudança da competência para editar leis sobre a ma- público. Caso contrário, é preferível uma contra-
téria. tação direta. A ausência desse pressuposto torna

46
a licitação inexigível ou dispensável. É o caso, por pensa de licitação para a celebração de contratos de ges-
exemplo, da compra de bens de valor inferior a R$ tão com as OS, pois apesar de serem entidades privadas,
330.000,00 (trezentos e trinta mil reais). o tipo de atividade que exercem entende-se não ser exi-
C) Pressuposto Fático: por razões óbvias, é também gível a licitação. No caso das Organizações da Sociedade
imprescindível o comparecimento dos interessa- Civil de Interesse Público (OSCIPs), apesar de não haver
dos em participar da licitação. Se ninguém com- previsão expressa, por ser instituto similar à OS, enten-
parecer com uma proposta válida (que atenda aos de-se também que não há o dever de licitar, exceto para
requisitos exigidos no edital), a licitação é conside- obras, compras, serviços e alienações contratados por
rada deserta ou fracassada. A ausência do pressu- entidades com recursos ou bens repassados voluntaria-
posto fático implica em dispensa da licitação, na mente pela União (art. 1º, Decreto nº 5.504/2006).
forma do artigo 24, V, da Lei nº 8.666/1993.
D) Pressuposto Orçamentário: alguns autores tam-
bém elencam a obediência ao orçamento público FIQUE ATENTO!
como um pressuposto essencial do procedimento
licitatório. Nos termos do artigo 7º, § 2º, III e IV, da As autarquias profissionais possuem o dever
Lei de Licitações, As obras e os serviços somen- de licitar. Contudo, isso não se aplica para a
te poderão ser licitados quando houver previsão OAB. O STF pacificou entendimento de que a
de recursos orçamentários que assegurem o pa- OAB não é uma autarquia, mas uma entidade
gamento das obrigações decorrentes de obras sui generis. Por isso, a OAB não é obrigada
ou serviços a serem executadas no exercício fi- a licitar.
nanceiro em curso, de acordo com o respectivo
cronograma; bem como quando o produto dela
esperado estiver contemplado nas metas estabe- Outro ponto que merece destaque é a questão das
lecidas no Plano Plurianual de que trata o art. 165 empresas públicas e sociedades de economia mista. Pelo
da Constituição Federal, quando for o caso. Vale texto constitucional (art. 173, § 1º, CF/1988), as empresas
destacar, também, o texto do artigo 14 da mesma estatais possuem o dever de licitar. Porém, uma corrente
Lei, que dispõe nenhuma compra será feita sem a na doutrina, defendida por Celso Antônio Bandeira de
adequada caracterização de seu objeto e indicação Mello, surge com a questão das empresas estatais que
dos recursos orçamentários para seu pagamento, realizam uma atividade econômica. A obrigatoriedade
sob pena de nulidade do ato e responsabilidade de de licitar, nesses casos, traria uma grande desvantagem
quem lhe tiver dado causa. dessas empresas estatais, comparado com as demais
empresas privadas. Por isso, tal corrente defende que as
O dever de licitar empresas estatais que exercem atividade econômica não
A quem incumbe o a obrigatoriedade de licitar? Essa devem licitar. O próprio artigo 173, inclusive, faz menção
é uma questão que apresenta diversos desdobramen- apenas as empresas prestadoras de serviço público.
tos na doutrina, e por isso, precisa ser melhor detalha- Para efeitos didáticos, as empresas estatais não pre-
da. Segundo o parágrafo único do artigo 1º da Lei nº cisam licitar durante o exercício de sua atividade fim,
8.666/1993, que apresenta um rol muito mais extenso do envolvendo a exploração de atividades econômicas.
que o disposto no art. 37, XXI, da Constituição Federal, Contudo, para as suas atividades meio (contratação de
Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da funcionários de limpeza, vigilância, etc), é preciso licitar.
administração direta, os fundos especiais, as autarquias, Sobre o objeto da licitação, o artigo 2º da Lei nº
as fundações públicas, as empresas públicas, as socieda- 8.666/1993 determina que a licitação será utilizada para a
des de economia mista e demais entidades controladas compra de bens móveis e imóveis; a contratação de ser-
direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Fe- viços, incluindo serviços de publicidade e seguro; a rea-
deral e Municípios. lização de obras; locação e alienação de bens públicos; a
Assim, de modo geral, pode-se dizer que todos os outorga de concessão de serviços públicos; e a outorga
entes públicos tem um dever de licitar, compreendendo: de permissão de serviços públicos.
a) os entes da Administração Pública Direta, União, Esta-
dos, Municípios, Distrito Federa; b) as autarquias, funda- Princípios da Licitação
ções, e agências reguladoras, enfim, as pessoas jurídicas Por ser a licitação um instituto de Direito Adminis-
de direito público da Administração Indireta; c) as em- trativo, deve obrigatoriamente obedecer aos princípios
presas públicas e as sociedades de economia mista; d) o inerentes daquele ramo de direito público, dispostos no
Poder Legislativo; e) o Poder Judiciário; f) o Ministério Pú- caput do art. 37 da CF/1988. Contudo, a licitação per si
DIREITO ADMINISTRATIVO

blico; g) o Tribunal de Contas; h) as fundações de apoio; i) apresenta alguns princípios específicos, que fundamen-
as organizações do sistema S; etc. Todos esses entes, de tam a sua forma de ser. Esses princípios são:
certa forma, fazem parte da administração pública, seja I) Princípio da isonomia: é o princípio que defen-
porque integram o se quadro de pessoas, seja porque de a igualdade entre todos os competidores, pois
prestam serviços de relevante interesse público. se encontram na mesma situação. Em decorrência
Todavia, alguns desses entes públicos apresentam disso, o art. 3º, § 1º, da Lei nº 8.666/1993 proíbe
certas particularidades que os dispensam do dever de preferências ou distinções dos competidores em
licitar. No caso das Organizações Sociais (OS), o art. 24, razão da naturalidade, domicílio, ou qualquer outra
XXIV da Lei nº 8.666/1993 prevê expressamente a dis- circunstância irrelevante para o objeto do contrato.

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II) Princípio da competitividade: como a licitação e) menor tarifa com melhor técnica; e f) maior oferta pela
serve para buscar a melhor proposta dentre várias outorga com melhor técnica.
apresentadas, a adoção de medidas que ferem
com o caráter competitivo do certame é vedada. Modalidades de licitação
Assim, as exigências de qualificação técnica e eco- Atualmente, há sete modalidades de licitação no or-
nômica devem se restringir a aquilo considerado denamento jurídico brasileiro. A Lei nº 8.666/1993 faz
indispensável para a garantia do cumprimento das menção expressa de cinco. São eles:
obrigações advindas da licitação.
III) Princípio da vinculação ao instrumento con- Concorrência
vocatório: a Administração não pode descumprir A concorrência é a espécie de licitação em que qual-
as normas e condições do edital, ao qual se acha quer pessoa pode participar, desde que preencham os
estritamente vinculada. Edital mal elaborado causa requisitos básicos e mínimos exigidos no edital na es-
diversos problemas (art. 41, Lei nº 8.666/1993). pecificação do objeto licitatório. Tem o seu fundamento
IV) Princípio do julgamento objetivo: deve-se evi- no art. 22, § 1º da Lei nº 8.666/1993. É um procedimento
tar a subjetividade o máximo possível. Apesar de que envolve uma grande quantidade de competidores,
inexistir a possibilidade de um julgamento total- em atendimento ao princípio da isonomia.
mente objetivo, os aspectos subjetivos e pessoais A concorrência, de modo geral, é utilizada para pro-
devem ser mínimos, a fim de pouco interferir no jetos de grande vulto, envolvendo grandes valores eco-
resultado do instrumento licitatório. nômicos. Podemos, inclusive, realizar uma diferenciação
V) Princípio da vedação de oferta de vantagens: é entre a concorrência, a tomada de preços e o convite jus-
absolutamente vedado ao Estado fazer subsídios tamente pelos seus valores limites. O estudo desses va-
ou vantagens baseadas nas ofertas dos demais li- lores-limite merece maior destaque, considerando uma
citantes (art. 44, § 2º, Lei nº 8.666/1993). atualização recentemente da matéria. Em 2018, o então
VI) Princípio do sigilo das propostas: nos termos presidente Michel Temer editou o Decreto nº 9.412/2018,
do art. 43, § 1º, da Lei nº 8.666/1993, os envelopes alterando os valores dispostos nos incisos I e II do artigo
contendo as propostas dos licitantes não podem 23 da Lei nº 8.666/1993.
ser abertos, e seu conteúdo não pode ser divulga- Com isso, podemos afirmar que, a concorrência pos-
do antes do momento adequado. sui um valor piso, isso é, um valor mínimo que deve
constar nas propostas apresentadas. Esses limites são:
Tipos de Licitação a) para as obras e serviços de engenharia, acima de R$
Os tipos de licitação variam, de acordo com a for- 3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais); b) para
ma do julgamento das propostas e os critérios diferentes as compras e serviços não relacionados com a engenha-
adotados. Trata-se de um rol taxativo, previsto no art. 45, ria; o valor deve ser acima de R$ 1.430.000,00 (um mi-
§ 1º, da Lei nº 8.666/1993. Com isso, pode-se afirmar que lhão, quatrocentos e trinta mil reais).
são tipos de licitação: Mas a concorrência também deve ser utilizada, obri-
A) Tipo menor preço: envolve o julgamento de va- gatoriamente, independentemente de valores econômi-
lores econômicos de cada proposta. A proposta cos, para a compra e venda de bens imóveis, para con-
vencedora deve ser aquela que apresentar preço cessão de direito real de uso, para as licitações feitas em
menor. âmbito internacional, nos contratos de empreitada, e
B) Tipo melhor técnica: geralmente utilizada para as para as concessões de serviços públicos.
propostas envolvendo trabalhos intelectuais ou ar- Por envolver diversos objetos licitatórios, a concor-
tísticos, que requerem alta expertise. rência apresenta um prazo bem grande, entre a publi-
C) Tipo técnica e preço: é apenas uma junção dos cação do edital e a entrega dos envelopes com as pro-
tipos de licitação anteriores. Aqui há uma ponde- postas, em comparação com as outras modalidades. Há
ração entre as propostas que apresentam maior um prazo mínimo de 45 dias para a maioria das técnicas,
qualidade técnico-profissional, com o seu valor sendo de 30 dias apenas para a técnica de menor pre-
econômico-financeiro. ço, pois entende-se que a proposta é mais simples de se
D) Tipo maior lance ou oferta: é utilizado nas licita- elaborar.
ções na modalidade leilão de bens. O vencedor do
certame será aquele que apresentar o maior lan- Tomada de preços
ce. Há também a licitação por tipo menor lance ou Com fundamento no artigo 22, § 2º, da Lei nº
oferta, utilizado principalmente no pregão (Lei nº 8.666/1993, a tomada de preços é a modalidade reali-
10.520/2002). zada entre interessados já devidamente cadastrados, ou
DIREITO ADMINISTRATIVO

que atendem as condições específicas do edital e requei-


O tema não se exaure apenas na Lei de Licitações. A ram seu cadastramento em até três dias úteis antes do
Lei nº 8.987/1995, que dispõe sobre as concessões e per- recebimento das propostas. Percebe-se, com isso, que o
missões de serviço público, elenca outros tipos de licita- número de competidores é menor, se comparado com o
ção, isso é, outros critérios de julgamento de propostas. da concorrência.
Entra eles, destaca-se: a) de menor valor da tarifa; b) de A tomada de preços geralmente envolve projetos de
maior oferta; c) de melhor pagamento de outorga após vulto médio. Os valores limites para a tomada de preços
a qualificação das propostas; d) melhor proposta técnica são: a) para obras e serviços de engenharia; os valores
(utilizada em casos cujo edital apresenta um preço fixo); das propostas serão de até R$ 3.300.000,00 (três milhões

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e trezentos mil reais); e b) para os demais serviços em mios ou remuneração aos vencedores, conforme os cri-
geral; até R$ 1.430.000,00 (um milhão, quatrocentos e térios dispostos no edital. Tem seu fundamento disposto
trinta mil reais). no art. 22, § 4º, da Lei de Licitações. Não confundir com
O prazo de intervalo mínimo entre a publicação do o concurso público, instrumento utilizado para o provi-
edital e a entrega dos envelopes é de trinta dias corridos mento de cargos públicos na Administração.
para a melhor técnica ou melhor técnica e preço, sendo Importante destacar que não há a utilização de valo-
de 15 dias corridos para a de menor preço. res como critério de diferenciação, pois trata-se de uma
modalidade de licitação em que os valores econômicos
Convite são irrelevantes ao objeto do mesmo.
O convite (art. 22, § 3º, Lei nº 8.666/1993) é a moda- O prazo mínimo é um dos maiores das modalidades
lidade de licitação entre os interessados que atuam no licitatórias: de 45 (quarenta e cinco) dias. Por envolver
ramo do referido projeto. Como o próprio nome aduz, um trabalho bastante técnico (confecção de obra de
a Administração convida, no mínimo, três prestadores arte, trabalhos de natureza científica), entende-se que os
de serviços para participarem do procedimento. Essa é
competidores devem ter um prazo maior para elaborá-lo
a modalidade em que possui os critérios mais variados
nos moldes do edital.
para o chamamento, sendo muitas vezes utilizado a con-
A Comissão Julgadora das propostas pode ser com-
fiança do ente público em relação com o interessado. O
posta por pessoas que não possuem vínculo com a Ad-
ente público deve, todavia, publicar o edital do convite,
abrindo-o para os demais cadastrados, desde que façam ministração Pública. É o caso de uma comissão composta
requerimento em participar do pleito em até 24 horas da por professores ou cientistas, enfim, pessoas com um co-
publicação do edital. nhecimento técnico profissional alto e relevante para o
Seu procedimento também é muito mais simples, jus- objeto do concurso.
tamente por ter poucos competidores. Não há aqui um
edital, mas uma carta-convite, que apresenta o projeto Leilão
de modo mais simples e sem muitas especificações. O leilão é utilizado, de modo geral, entre quaisquer
O convite apresenta-se como o exato oposto da con- interessados, para a alienação de bens móveis inservíveis,
corrência, sendo utilizado para projetos de pequeno vul- bem como para os bens imóveis oriundos de procedi-
to. Assim, seus valores limites são: a) para obras e servi- mento judicial ou dação, e para a alienação de produtos
ços de engenharia, até R$ 330.000,00 (trezentos e trinta apreendidos. Seu fundamento jurídico encontra-se dis-
mil reais); e b) para os demais serviços em geral; até R$ posto no art. 22, § 5º da Lei nº 8.666/1993. O vencedor
176.000,00 (cento e setenta e seis mil reais). será escolhido quando o lance dado for igual ou superior
O intervalo mínimo entre a expedição da carta-convi- ao da avaliação do referido bem.
te e a entrega dos envelopes é de 5 dias úteis. Esquema- Assim como no concurso, não há limitação de valores,
ticamente, temos: pois o leilão é sempre analisado segundo o critério do
maior lance ou oferta. O intervalo mínimo entre o instru-
mento convocatório e a entrega dos envelopes é de 15
(quinze) dias.
Valores
limite Consulta
Concorrên- Tomada de A consulta é uma modalidade prevista exclusivamen-
(segundo Convite
cia Preços te para a Agência Nacional de Telecomunicações (ANA-
Decreto nº
9.412/2018) TEL), sendo utilizada justamente para o fornecimento de
bens e serviços. Todavia, a consulta sofreu ampliação,
podendo ser utilizada por todas as agências reguladores.
Tem previsão na Lei nº 9.472/1997, sendo realizada me-
diante procedimentos próprios e determinado por atos
Para obras e normativos expedidos pela própria agência.
Acima de Até Até
serviços de
3.300.000,00 3.300.000,00 330.000,00 Registro de Preços: Decreto nº 7.892/1993
engenharia
Previsto no art. 15 da Lei nº 8.666/1993, sendo regu-
lamentado pelo Decreto nº 7.892/1993, é uma espécie
utilizada para compras, obras ou serviços que sejam fre-
quentes. É o caso, por exemplo, da compra de passagens
DIREITO ADMINISTRATIVO

Para os de- Acima de Até Até aéreas para os membros do Executivo realizar as cons-
mais serviços 1.430.000,00 1.430.000,00 176.000,00 tantes viagens internacionais. Ao invés de várias licita-
ções, realiza-se uma concorrência e o posterior registro
da proposta vencedora para ser utilizada sempre que ne-
cessária para uma contratação.
Concurso A contratação, per si, não é obrigatória, embora seja
Concurso é a modalidade de licitação realizada entre necessário, sempre, fazer uma pesquisa de preços de
quaisquer interessados para a escolha de trabalho técni- mercado antes da contratação pelo registro de preços.
co, científico ou artístico, mediante a instituição de prê-

49
Fases da Licitação A desclassificação das propostas pode se dar: a) por
É certo que cada modalidade licitatória apresenta um inexequibilidade, quando os preços forem muito abaixo
procedimento próprio. Todavia, a sequência de fases de do preço de mercado; b) que contrariam cláusula do edi-
cada licitação observa a mesma estrutura e padrão da tal, como ocorre quando há uma qualificação técnica que
concorrência. As fases da concorrência, desse modo, são não tem relevância alguma para o objeto da licitação; ou
iguais para todas as outras modalidades. c) por condições relativas a propostas de outros licitan-
A concorrência é dividida em duas grandes etapas: tes, sendo absolutamente vedado elaborar uma propos-
fase interna e fase externa. A fase interna é aquela em ta cujo preço, por exemplo, é “10% inferior ao preço do
que temos todos os atos anteriores a publicação do edi- competidor X”. Com a divulgação dos resultados, abre-se
tal, envolvendo etapas como: a) elaboração de projeto o prazo para recurso de efeito suspensivo (em 5 dias).
básico para serviços de engenharia, b) detalhamento do Importante lembrar que alguns diplomas específicos,
orçamento, c) compatibilidade com o Plano Plurianual como o de pregão e o da Lei nº 8.987/1995, trazem a
(PPA), d) criação da Comissão de Licitação, e e) a publica- inversão de fases de julgamento e habilitação. Primeiro
ção do instrumento convocatório. se faz o julgamento das propostas, e depois abre-se o
A Comissão de Licitação será composta por 3 mem- envelope da proposta já julgada.
bros, sendo 2 deles obrigatoriamente servidores inte- A homologação é a etapa em que todos os autos so-
grantes dos quadros da Administração Pública (art. 51, bem para a autoridade superior, que procederá a ava-
Lei nº 8.666/1993). liação de todo o procedimento. Essa é uma hipótese de
O edital é o instrumento utilizado para a convocação controle interno da licitação, haja vista que é realizada
dos interessados no procedimento licitatório. Seu con- por ente público dentro da própria Administração. Essa
teúdo é pormenorizado, devendo constar detalhes como forma de controle é possível, devido ao poder de autotu-
o tipo de licitação, o nome da repartição interessada na tela que Administração Pública tem para rever seus pró-
licitação, os critérios de julgamento, as condições de pa- prios atos. Assim, a licitação poderá ser anulada, havendo
gamento, entre outras disposições. O conteúdo do edital algum vício que torna algum de seus atos defeituoso, ou
é previsto nos incisos do artigo 40 da Lei nº 8.666/1993. revogada, por alguma causa superveniente (mudanças
É lícito à Administração introduzir alterações no Edital, no cenário econômica) que não torna a licitação mais
devendo, em tal caso, renovar a publicação do Aviso por vantajosa.
prazo igual ao original, sob pena de frustrar a garantia da
Novamente importante frisar que não existe direito
publicidade e o princípio formal da vinculação ao proce-
subjetivo à contratação, mas uma mera expectativa de
dimento.
direito de realizar contrato com o Poder Público. Não há,
A fase externa, por sua vez, tem o seu início com a pu-
nesse caso, uma responsabilidade do Estado de indenizar
blicação do edital. É possível impugnar o edital, no prazo
o participante vencedor, não havendo a eventual contra-
de 5 dias úteis, devendo a Administração responder a
tação do mesmo.
impugnação em prazo não superior a 3 dias úteis (art.
A última etapa da fase externa é a adjudicação. Con-
41, § 1º, Lei nº 8.666/1993). Após isso, temos a etapa da
siste na elaboração de ato administrativo declaratório e
habilitação, com o recebimento e abertura de envelopes.
Os envelopes são recebidos sigilosamente, em exceção vinculado, de atribuição jurídica do objeto da licitação
ao princípio da publicidade disposto no caput do art. 37 ao vencedor do certame. Adjudicatário é o vencedor do
da CF/1988. certame, e tal ato é apenas declaratório, pois não gera
A etapa da habilitação envolve quatro verificações de um direito de contratar com a Administração. A adjudi-
cada competidor: a) a habilitação jurídica, envolvendo os cação produz dois efeitos: a) garantir o direito de que o
documentos da pessoa física ou da pessoa jurídica; b) vencedor não tenha seu direito preterido na elaboração
a regularidade fiscal, isso é, a verificação do pagamento do contrato; e b) a liberação jurídica dos demais compe-
devido e correto dos tributos do competidor; c) a quali- tidores.
ficação técnica (art. 30, Lei nº 8.666/1993), envolvendo
a aptidão do competidor para desempenho da ativida- Contratação Direta
de pertinente e compatível com o disposto no edital; e A regra geral é a obrigatoriedade da licitação para
d) a qualificação econômico-financeira (art. 31, idem), as pessoas que integram a Administração, ou que mes-
envolvendo o balanço patrimonial e as demonstrações mo não integrando a mesma, realizam a prestação de
contábeis do último exercício social, por exemplo. Para um serviço de relevante interesse público. Ocorre que,
preservar a competitividade, as exigências de qualifica- em alguns casos, a legislação autoriza o Poder Público a
ção técnica e econômica devem ser compatíveis e pro- realizar a contratação direta, sem a necessidade do pro-
porcionais ao objeto licitado, restringindo-se ao que for cedimento licitatório. O direito brasileiro prevê quatro
DIREITO ADMINISTRATIVO

estritamente indispensável para garantir o cumprimento possibilidades de contratação direta:


do futuro contrato. O não atendimento às exigências da
habilitação implica a exclusão da empresa no certame.
Dispensa de licitação
A classificação é a etapa de análise e julgamento das
propostas apresentadas pelos concorrentes habilitados. A dispensa de licitação apresenta hipóteses em que
Aqui temos efetivamente a abertura dos envelopes, ca- o procedimento licitatório, apesar de ser possível, não
bendo a comissão a tarefa de analisar se cada uma das é viável, dada razões de conveniência e oportunidade
propostas se adequa com os requisitos específicos do (discricionariedade). É o caso, por exemplo, de procedi-
edital, bem como com os preços de mercado. mento licitatório cujo valor seja irrisório, cujo objeto seja

50
bens ou serviços de pequeno valor. O legislador, nessas Não confundir com a dispensa de licitação. Primeira-
hipóteses, atribui uma liberdade a Administração para mente, as hipóteses de licitação dispensada são vincu-
escolher outra alternativa além da licitação. ladas, ao contrário da dispensa, em que as decisões são
As hipóteses de dispensa de licitação estão previstas discricionárias. Além disso, suas hipóteses são taxativas.
primordialmente no art. 24 da Lei nº 8.666/1998. Dos in-
cisos, destaca-se: a) para obras e serviços de engenharia Sanções administrativas nas licitações
de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto a lici- Também denominadas como crimes contra licitação,
tação tipo convite, para outros serviços e compras de va- são hipóteses em que tanto o particular como o próprio
lor até 10% (dez por cento) do limite previsto para com- Poder Público podem praticar atos que ferem e ofendem
pras e serviços em geral do convite e para alienações, os princípios gerais da Administração Pública e os princí-
nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a pios das licitações.
parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de É certo que, de modo geral, o Código Penal regula-
maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; c) nos menta as condutas praticadas pelos agentes públicos
casos de guerra ou grave perturbação da ordem; d) nos consideradas delituosas. Ocorre que, devido ao aumento
casos de emergência ou calamidade pública; e) quando do número de interessados em participar dos procedi-
a União tiver que intervir no domínio econômico para
mentos licitatórios, passou-se a exigir maior correção na
regular preços ou normalizar o abastecimento; f) cele-
condução desses processos de contratação. O Código
bração de contrato de gestão com entidades do terceiro
Penal já não mais conseguia tutelar, de modo satisfató-
setor (OS e OSCIPs); g) Contratação realizada por Institui-
ção Científica e Tecnológica ou agência de fomento para rio, os interesses que se almejava resguardar com a reali-
a transferência de tecnologia; etc. zação dos processos licitatórios.
Os crimes de licitação estão previstos na seção III, nos
artigos 89 a 98 da Lei nº 8.666/93 e o art. 99 que a eles
Inexigibilidade de licitação
é correlato:
No caso da inexigibilidade da licitação, o procedi- A) Ilegalidade nas contratações dispensadas, dis-
mento é absolutamente impossível de se realizar, em pensáveis e nas inexigibilidades: O ato de dis-
razão da inviabilidade da competição. Trata-se, por isso,
pensar uma licitação, ou torna-la inexigível, fora
de ato vinculado. É o caso, por exemplo, da licitação cujo
das hipóteses legalmente previstas, é considerado
objeto seja produto ou serviço oferecido exclusivamente
um crime contra a licitação, cuja pena é a detenção
por um único fornecedor. Envolve hipóteses em que seria
ilógico realizar uma licitação. de 3 (três) a 5 (cinco) anos e multa, na forma do
As hipóteses de inexigibilidade estão previstas nos art. 89 da Lei nº 8.666/1993. No caso, temos como
incisos do art. 25 da Lei nº 8.666/1993. São três: I - para sujeitos ativos o servidor público responsável pelo
aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que processo e/ou terceiro que tenha participado na
só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou re- prática da ilegalidade e se beneficiado com ela.
presentante comercial exclusivo, vedada a preferência de B) Frustrar ou fraudar a competição: com previsão
marca, devendo a comprovação de exclusividade ser fei- no art. 90 da Lei nº 8.666/1993, este crime está
ta através de atestado fornecido pelo órgão de registro diretamente ligado com a violação dos princípios
do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a da licitação, isso é, igualdade, competitividade, jul-
obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confede- gamento objetivo, dentre outros. Esses princípios
ração Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes; II favorecem a oportunidade de competição entre os
- para a contratação de serviços técnicos enumerados no licitantes, para que eles possam celebrar contratos
art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais com a Administração Pública, evitando apadrinha-
ou empresas de notória especialização, vedada a inexi- mentos, favoritismos e perseguições dos licitantes.
gibilidade para serviços de publicidade e divulgação; III A pena é de detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos
- para contratação de profissional de qualquer setor ar- e multa.
tístico, diretamente ou através de empresário exclusivo, C) Patrocínio direto ou indireto de interesse pri-
desde que consagrado pela crítica especializada ou pela vado: este crime está disposto no art. 91 da Lei
opinião pública. de Licitações. Patrocinar, direta ou indiretamente,
interesse privado perante a Administração, dando
Vedação à licitação causa à instauração de licitação ou à celebração de
Trata-se de hipóteses de extrema urgência, não pre- contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo
vistas em lei, sendo de forte discussão doutrinária. A rea- Poder Judiciário, é crime cuja pena será de deten-
lização de licitação, nessas hipóteses, é vedada uma vez ção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa. Para
que ela feriria o próprio interesse público, o que significa
que se configure o crime apresentado no referi-
que há a falta de um dos pressupostos essenciais à lici-
DIREITO ADMINISTRATIVO

do dispositivo, há necessidade da invalidação do


tação. Parte da doutrina acredita que, na verdade, é caso
procedimento licitatório ou do contrato adminis-
de inexigibilidade de licitação.
trativo pelo Poder Judiciário, o que torna bastante
difícil a cominação desta pena.
Licitação dispensada D) Devassar o sigilo das propostas apresentadas:
São hipóteses descritas no art. 17 da Lei nº 8.666/1993. segundo o artigo 84 da Lei nº 8.666/1993, Devassar
São os casos de alienação de bens imóveis para progra- o sigilo de proposta apresentada em procedimen-
mas habitacionais do governo, e bens móveis para uma to licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo
finalidade pública específica. de devassá-lo é crime punível com pena de deten-

51
ção, de 2 (dois) a 3 (três) anos e multa. Lembre-se Contrato de concessão
que o sigilo das propostas é algo inerente ao pro- A concessão de serviço público é contrato adminis-
cedimento licitatório, e configura-se em uma rara trativo bilateral, o que significa que depende, para a sua
exceção ao princípio constitucional da publicidade. formação, além dos requisitos essenciais a todo negócio
E) Fraudar a licitação: suas hipóteses estão contidas jurídico dispostos no art. 104 do Código Civil (agente ca-
nos incisos do art. 96 da Lei nº 8.666/1993. São paz, objeto lícito, forma prescrita ou não defesa em lei), a
atos que envolvem a aquisição ou venda de bens convergência de vontades distintas. Temos de um lado o
e mercadorias (troca de um bem por outro, vender poder concedente, que tem por objetivo a execução do
mercadoria falsificada, etc). Essas hipóteses são cri- serviço público em prol da coletividade; e do outro, a en-
mes cuja pena é de 3 (três) a 5 (cinco) anos e multa. tidade concessionária que deve executar o serviço, com
o objetivo de lucrar mediante a arrecadação de tarifas
dos usuários beneficiados com aquele serviço. O contra-
A pena de multa, presente em praticamente todos
to deve ser obrigatoriamente por escrito, e rege-se pelas
os crimes contra a licitação consiste no pagamento de
regras de Direito Administrativo.
quantia fixada na sentença e calculada em índices per-
Ao mencionar a transferência para pessoa jurídica pri-
centuais, cuja base deve corresponder ao valor da van-
vada, quis o legislador que a delegação do serviço não
tagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível
pudesse, em regra, ser feita a pessoas físicas, mas so-
pelo agente (art. 99, Lei nº 8.666/1993).
mente à empresa ou a um consórcio de empresas. É o
O Distrito Federal também apresenta um Decreto nº
caso, por exemplo, da Sabesp, que é sociedade de eco-
26.851/2006, que apresenta todo o procedimento em
nomia mista, na prestação do serviço de abastecimento
torno da aplicação de sanções pela prática de crimes
de água no Estado de São Paulo.
contra o procedimento licitatório. Uma leitura na íntegra
Essa modalidade de contrato tem por objeto a pres-
do referido Decreto é altamente recomendada.
tação de serviço público. A delegação ocorre apenas so-
bre a execução do serviço, nunca sobre sua titularidade,
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
que continua sendo do poder concedente.
O Poder Público, no exercício de suas funções admi-
Além dessas características gerais, convém analisar
nistrativas, muitas vezes tende a estabelecer diversas re-
outros aspectos típicos dos contratos de concessão de
lações jurídicas com particulares, criando vínculos espe-
serviço:
ciais de colaboração com a esfera privada. Tais conexões
podem ser instrumentalizadas mediante um contrato. Se
A) Procedimento de licitação: antes da concessão
tal contrato estiver subordinado às regras de Direito Ad-
do serviço público, é obrigatório o procedimento
ministrativo, então estamos diante de um contrato ad-
licitatório na modalidade de concorrência (art. 2º,
ministrativo.
II, da Lei nº 8.987/1995). É possível, também, que
Contrato administrativo, assim, é um pacto bilateral
haja a inversão das fases de habilitação e julga-
estabelecido entre a Administração Pública, agindo nessa
mento das propostas, assimilando-se mais com a
qualidade, e terceiros, ou entre ela e suas entidades, sub-
modalidade de pregão (art. 18-A, idem)
metido ao regime jurídico administrativo, cuja finalidade
B) Exigência de lei específica: o legislador é quem
é a consecução de objetivos de interesse público. Deste
decide a forma específica para a prestação do ser-
conceito, podemos destacar alguns aspectos específicos
viço público. Deve haver a promulgação de lei cuja
dos contratos administrativos.
matéria seja unicamente o regramento da conces-
A legislação brasileira contempla várias espécies de
são do referido serviço.
contratos administrativos. Importante destacar as moda-
C) Concessionário assume à prestação do serviço
lidades que tem forte relação com o procedimento lici-
por sua conta: significa dizer que, quaisquer danos
tatório. São os convênios, as concessões e as permissões
decorrentes da execução do serviço público são de
administrativas.
responsabilidade da empresa concessionária.
Convênios
Convênio é o acordo celebrado entre entidades pú-
blicas de qualquer tipo, ou ainda entre eles e alguma
entidade particular, a fim de promover uma cooperação
entre os conveniados para almejarem um objetivo de in-
teresse comum a todos.
Embora similar ao consórcio, não são o mesmo con-
DIREITO ADMINISTRATIVO

trato. Os consórcios devem obrigatoriamente serem ce-


lebrados por entidades da Federação, ou seja, não cabe
a iniciativa privada nos consórcios públicos, o que não
ocorre com os convênios. Além disso, dos consórcios re-
sultam a criação de uma pessoa jurídica nova e autôno-
ma, nos termos da Lei nº 11.107/2004, o que não ocorre
com os convênios.

52
II) Prestar contas da gestão do serviço ao poder con-
FIQUE ATENTO! cedente e aos usuários.
O STF, no julgamento do RE nº 591.874/MS, III) Cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e
em agosto de 2009, adotou o entendimento as cláusulas contratuais, havendo possibilidade de
de que a concessionária prestadora do servi- pedir indenização pela inexecução do contrato.
ço público tem responsabilidade objetiva e IV) Promover desapropriações e construir servidões
direta de indenizar os danos causados tan- administrativas, mediante autorização do poder
to pelos usuários, quanto por terceiros não- concedente.
-usuários do referido serviço. Responsabili- V) Captar, aplicar e gerir os recursos financeiros ne-
dade objetiva é aquela em que não incumbe cessários à prestação do serviço.
à vítima a necessidade de comprovar a exis-
tência de dolo ou culpa do agente infrator. 2.3 Formas de extinção da concessão
Responsabilidade direta significa admitir, no Por fim, o art. 35 da Lei nº 8.987/1995 dispõe sobre
caso, que o Estado, como poder concedente, as modalidades de extinção da concessão do serviço
está indiretamente obrigado a reparar os da- público. São seis ao todo:
nos causados na execução de serviço públi-
co, possuindo responsabilidade subsidiária. A) Advento do termo contratual: trata-se da extin-
Isso significa que a Administração só será ção do contrato pelo encerramento de seu prazo
obrigada a indenizar caso a entidade conces- de vigência. É a extinção natural do contrato, haja
sionária não possua condições e patrimônio vista que nosso direito não admite contrato de
suficientes para arcar com as despesas da in- concessão por prazo indeterminado.
denização por conta própria. B) Encampação ou resgate: nos termos do art. 37 da
Lei nº 8.987/1995, é “a retomada do serviço pelo
poder concedente durante o prazo da concessão,
D) Prazo determinado: o contrato de concessão por motivo de interesse público, mediante lei auto-
deve possuir um termo final, sendo inadmissível rizativa específica e após prévio pagamento da in-
sua celebração por prazo indeterminado. Há a pos- denização (...)”. Como o encerramento do contrato
sibilidade de prorrogação do contrato. não se deu por infração, é incabível a aplicação de
E) Cobrança de tarifas aos usuários: essa é a forma sanções ao contratado.
pela qual a concessionária deve ser remunerada na C) Caducidade: é a modalidade em que a execução
concessão do serviço público. As tarifas não pos- do serviço não é realizada, no todo ou em parte,
suem natureza tributária: são uma contraprestação ou pelo descumprimento de encargos atribuídos à
contratual, devida a todas as pessoas que utiliza- concessionária. A caducidade deve ser declarada,
rem o serviço prestado. A legislação impõe que as havendo a ocorrência de um dos eventos descritos
tarifas a serem cobradas devem ser módicas, sen- no § 1º do art. 38 da Lei nº 8.987/1995, tais como:
do um dos critérios de julgamento da fase de lici- a concessionária paralisar o serviço, descumprir
tação (art. 15, I, da Lei nº 8.987/1995). cláusula contratual, não cumprir as penalidades
impostas, etc.
Obrigações do poder concedente D) Rescisão por culpa do poder concedente: Caso
Apesar da execução do serviço público não ser fei- o poder concedente descumpra com alguma regra
ta pelo poder concedente, a legislação (art. 29 da Lei nº estabelecida no instrumento contratual, a conces-
8.987/1995) prevê outras obrigações para o Estado. São sionária tem direito a ingressar em juízo, objetivan-
deveres do poder concedente: do à indenização dos danos decorrentes da extin-
ção contratual. A indenização, neste caso, abrange
- Regulamentar e fiscalizar a execução do serviço con- somente os danos emergentes (o que efetivamen-
cedido. te perdeu), e não os lucros cessantes (o que ele
- Intervir na execução do serviço, nos casos previstos poderia ter ganhado).
em lei. E) Anulação: é a modalidade de extinção em que se
- Aplicar as penalidades previstas na lei e/ou no con- consta vício de legalidade no contrato. O contrato
trato. perde sua eficácia desde a sua concepção (ex tunc),
- Possibilitar reajustes e a revisão das tarifas cobradas. o que significa que a concessionária não faz jus à
- Atender as reclamações e outras queixas advindas indenização, exceto quanto a parte já executada
dos usuários, zelando pela boa qualidade do ser-
do contrato.
viço.
DIREITO ADMINISTRATIVO

F) Decretação de falência: como a concessão é


- Declarar os bens necessários à execução do serviço
contrato personalíssimo, ou seja, as partes contra-
de necessidade ou utilidade pública.
tantes tem grande relevância para a execução do
serviço, havendo o desaparecimento da empresa
Obrigações da concessionária
concessionária mediante falência, ou o falecimento
Incumbe à concessionária do serviço público (art. 31
de empresário individual, o vínculo contratual tam-
da Lei nº 8.987/1995):
I) Prestar o serviço de maneira adequada, utilizando- bém desaparece.
-se de técnicas específicas de seu conhecimento,
nos casos previstos na lei ou no contrato.

53
Pregão e a Lei nº 10.520/2002 b) O edital de contratação poderá prever leilão a viva voz,
depois da abertura das propostas escritas.
O pregão surgiu, primeiramente, mediante uma me- c) A administração pública deverá ser acionista majoritá-
dida provisória, mas que acabou sendo convertida na Lei ria da sociedade de propósito específico.
nº 10.520/2002. É utilizada, nos termos do art. 1º da re- d) A contratação de parceria público-privada será prece-
ferida lei, para a aquisição de bens e serviços comuns. dida por processo de licitação na modalidade convite.
Esses bens são aqueles cujos padrões de desempenho e e) O limite de garantia concedido pela União aos estados
qualidade possam ser objetivamente definidos pelo edi- incluirá as despesas de contratos de parceria celebra-
tal, por meio de especificações usuais no mercado (art. dos por toda a administração direta e indireta.
1º, parágrafo único, idem).
O pregão é instrumento licitatório facultativo, em re- Resposta: Letra B.
gra. Entretanto, a o Decreto nº 5450/2005 tornou-o obri- Em “a”: Errado – A sociedade de propósito específico
gatório para a União, devendo ser preferencialmente na poderá (não é obrigatório) assumir forma de compa-
forma eletrônica (pela Internet). Apresenta algumas ca- nhia aberta.
racterísticas próprias quanto ao seu procedimento: Em “b”: Certo.
Em “c”: Errado – Pois é vedado a Administração Públi-
A) Inversão de fases do julgamento e da habilita- ca ser acionista majoritária da sociedade de propósito
ção: ao contrário do que ocorre nas outras mo- específico (art. 9º, § 4º, Lei nº 11.079/2004.
dalidades de licitação, no pregão, a fase de julga- Em “d”: Errado – A contratação de PPP será precedi-
mento das propostas acontece antes da análise de da de licitação na modalidade concorrência (art. 10,
qualificação ou habilitação dos competidores. Com idem).
isso, nem todas as propostas apresentadas são jul- Em “e”: Errado – Pois segundo o art. 28, § 2, da Lei
gadas, o que torna os trabalhos do ente público nº 11.079/2004, o limite de repasses feitos pela União
mais célere e eficiente. aos Estados, Municípios e Distrito Federal serão com-
B) Homologação após a adjudicação: como a adju- putadas as despesas derivadas de contratos de par-
dicação ocorre antes da homologação da proposta ceria celebrados pela administração pública direta,
vencedora, o particular se vê com uma certa garan- autarquias, fundações públicas, empresas públicas,
tia, uma “expectativa de direito” de realizar contra- sociedades de economia mista e demais entidades
to com o ente público. controladas, direta ou indiretamente, pelo respectivo
ente, excluídas as empresas estatais não dependentes.
Os serviços objeto do pregão, para a União, foram
taxativamente trazidos pelo Decreto nº 3.555/2000. Des- 2. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE INFOR-
taca-se que alguns serviços são vedados a utilização do MÁTICA – CESPE – 2019) Em uma licitação, o ato de
pregão, como as obras de engenharia, as locações imobi- adjudicação
liárias, as alienações, e os bens e serviços de informática.
O autor da oferta de valor mais baixo e os das ofertas a) ocorre quando a autoridade gestora verifica se o pro-
com preços até 10% superiores aos da avaliação podem cesso licitatório ocorreu de acordo com a lei e com o
fazer novos lances. Isso significa que não há a escolha edital.
automática do vencedor, muito se assemelhando com o b) consiste em verificar se o produto oferecido pelos lici-
leilão. Se não houver ao menos três ofertas nas condi- tantes está de acordo com o que é indicado no edital,
ções anteriormente estabelecidas, pode-se selecionar as momento em que é gerada uma classificação com as
três melhores propostas dos competidores para realiza- melhores condições em primeiro lugar.
rem novos lances. c) consiste na entrega do objeto da licitação ao vencedor
O pregão é instituído no Brasil, observando a expe- do certame.
riência europeia, podendo ser presencial ou eletrônico, d) consiste na validação das condições fiscais, econômi-
sendo o último realizado em espaços virtuais da internet. cas, técnicas e trabalhistas dos licitantes.
O pregão promove um grande diálogo com os competi- e) ocorre quando a área jurídica da organização autoriza
dores, além de apresentar-se menos estanque e burocrá- a publicação do edital licitatório.
tico do que as licitações comuns.
Resposta: Letra C.
Em “a”: Errado – Pois descreve o procedimento da ho-
mologação.
Em “b”: Errado – Pois ela descreve a etapa do julga-
DIREITO ADMINISTRATIVO

EXERCÍCIO COMENTADO mento das propostas.


Em “c”: Certo.
1. (CGE-CE – CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE – Em “d”: Errado – Pois descreve a etapa da habilitação
2019) Considerando as normas gerais para licitação e dos licitantes.
contratação de parceria público-privada, assinale a op- Em “e”: Errado – Pois descreve uma etapa da fase inter-
ção correta. na da licitação (a adjudicação é ato da fase externa da
licitação), que se encerra com a publicação do edital.
a) A sociedade de propósito específico deverá assumir a
forma de companhia aberta.

54
c) as organizações religiosas que se dediquem a ati-
LEI Nº 13.019/2014 E SUAS ALTERAÇÕES vidades ou a projetos de interesse público e de cunho
social distintas das destinadas a fins exclusivamente
religiosos; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
II - administração pública: União, Estados, Distrito Fe-
LEI Nº 13.019, DE 31 DE JULHO DE 2014. deral, Municípios e respectivas autarquias, fundações,
empresas públicas e sociedades de economia mista
Estabelece o regime jurídico das parcerias entre a ad- prestadoras de serviço público, e suas subsidiárias, al-
ministração pública e as organizações da sociedade civil, cançadas pelo disposto no § 9o do art. 37 da Consti-
em regime de mútua cooperação, para a consecução de tuição Federal; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
finalidades de interesse público e recíproco, mediante a 2015)
execução de atividades ou de projetos previamente esta- III - parceria: conjunto de direitos, responsabilidades e
belecidos em planos de trabalho inseridos em termos de obrigações decorrentes de relação jurídica estabeleci-
colaboração, em termos de fomento ou em acordos de da formalmente entre a administração pública e orga-
cooperação; define diretrizes para a política de fomento, nizações da sociedade civil, em regime de mútua coo-
de colaboração e de cooperação com organizações da peração, para a consecução de finalidades de interesse
sociedade civil; e altera as Leis nos8.429, de 2 de junho de público e recíproco, mediante a execução de atividade
1992, e 9.790, de 23 de março de 1999. (Redação dada ou de projeto expressos em termos de colaboração,
pela Lei nº 13.204, de 2015) em termos de fomento ou em acordos de cooperação;
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o III-A - atividade: conjunto de operações que se reali-
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: zam de modo contínuo ou permanente, das quais re-
sulta um produto ou serviço necessário à satisfação de
Art. 1o Esta Lei institui normas gerais para as parcerias
interesses compartilhados pela administração pública
entre a administração pública e organizações da socie-
e pela organização da sociedade civil; (Incluído pela
dade civil, em regime de mútua cooperação, para a con-
Lei nº 13.204, de 2015)
secução de finalidades de interesse público e recíproco,
III-B - projeto: conjunto de operações, limitadas no
mediante a execução de atividades ou de projetos pre- tempo, das quais resulta um produto destinado à sa-
viamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos tisfação de interesses compartilhados pela adminis-
em termos de colaboração, em termos de fomento ou tração pública e pela organização da sociedade civil;
em acordos de cooperação. (Redação dada pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
13.204, de 2015) IV - dirigente: pessoa que detenha poderes de admi-
nistração, gestão ou controle da organização da socie-
CAPÍTULO I dade civil, habilitada a assinar termo de colaboração,
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES termo de fomento ou acordo de cooperação com a
administração pública para a consecução de finalida-
Art. 2o Para os fins desta Lei, considera-se: des de interesse público e recíproco, ainda que delegue
I - organização da sociedade civil: (Redação dada essa competência a terceiros; (Redação dada pela Lei
pela Lei nº 13.204, de 2015) nº 13.204, de 2015)
a) entidade privada sem fins lucrativos que não distri- V - administrador público: agente público revestido
bua entre os seus sócios ou associados, conselheiros, de competência para assinar termo de colaboração,
diretores, empregados, doadores ou terceiros eventu- termo de fomento ou acordo de cooperação com or-
ais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ganização da sociedade civil para a consecução de fi-
ou líquidos, dividendos, isenções de qualquer nature- nalidades de interesse público e recíproco, ainda que
za, participações ou parcelas do seu patrimônio, au- delegue essa competência a terceiros; (Redação dada
feridos mediante o exercício de suas atividades, e que pela Lei nº 13.204, de 2015)
os aplique integralmente na consecução do respectivo VI - gestor: agente público responsável pela gestão de
objeto social, de forma imediata ou por meio da cons- parceria celebrada por meio de termo de colaboração
tituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva; ou termo de fomento, designado por ato publicado em
(Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) meio oficial de comunicação, com poderes de controle
b) as sociedades cooperativas previstas na Lei no 9.867, e fiscalização; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
2015)
de 10 de novembro de 1999; as integradas por pes-
VII - termo de colaboração: instrumento por meio do
soas em situação de risco ou vulnerabilidade pesso-
DIREITO ADMINISTRATIVO

qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela


al ou social; as alcançadas por programas e ações de
administração pública com organizações da sociedade
combate à pobreza e de geração de trabalho e renda;
civil para a consecução de finalidades de interesse pú-
as voltadas para fomento, educação e capacitação de blico e recíproco propostas pela administração pública
trabalhadores rurais ou capacitação de agentes de que envolvam a transferência de recursos financeiros;
assistência técnica e extensão rural; e as capacitadas (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
para execução de atividades ou de projetos de inte- VIII - termo de fomento: instrumento por meio do qual
resse público e de cunho social. (Incluído pela Lei nº são formalizadas as parcerias estabelecidas pela ad-
13.204, de 2015) ministração pública com organizações da sociedade

55
civil para a consecução de finalidades de interesse Art. 2o-A. As parcerias disciplinadas nesta Lei respei-
público e recíproco propostas pelas organizações da tarão, em todos os seus aspectos, as normas específi-
sociedade civil, que envolvam a transferência de re- cas das políticas públicas setoriais relativas ao objeto
cursos financeiros; (Redação dada pela Lei nº 13.204, da parceria e as respectivas instâncias de pactuação
de 2015) e deliberação. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
VIII-A - acordo de cooperação: instrumento por meio Art. 3o Não se aplicam as exigências desta Lei:
do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas I - às transferências de recursos homologadas pelo
pela administração pública com organizações da so- Congresso Nacional ou autorizadas pelo Senado Fe-
ciedade civil para a consecução de finalidades de in- deral naquilo em que as disposições específicas dos
teresse público e recíproco que não envolvam a trans- tratados, acordos e convenções internacionais con-
flitarem com esta Lei; (Redação dada pela Lei nº
ferência de recursos financeiros; (Incluído pela Lei nº
13.204, de 2015)
13.204, de 2015)
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
IX - conselho de política pública: órgão criado pelo 2015)
poder público para atuar como instância consultiva, III - aos contratos de gestão celebrados com organiza-
na respectiva área de atuação, na formulação, imple- ções sociais, desde que cumpridos os requisitos previs-
mentação, acompanhamento, monitoramento e ava- tos na Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998; (Redação
liação de políticas públicas; dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
X - comissão de seleção: órgão colegiado destinado a IV - aos convênios e contratos celebrados com entida-
processar e julgar chamamentos públicos, constituído des filantrópicas e sem fins lucrativos nos termos do §
por ato publicado em meio oficial de comunicação, 1o do art. 199 da Constituição Federal; (Incluído pela
assegurada a participação de pelo menos um servidor Lei nº 13.204, de 2015)
ocupante de cargo efetivo ou emprego permanente do V - aos termos de compromisso cultural referidos no §
quadro de pessoal da administração pública; (Redação 1o do art. 9o da Lei no 13.018, de 22 de julho de 2014;
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
XI - comissão de monitoramento e avaliação: órgão VI - aos termos de parceria celebrados com organiza-
colegiado destinado a monitorar e avaliar as parce- ções da sociedade civil de interesse público, desde que
rias celebradas com organizações da sociedade civil cumpridos os requisitos previstos na Lei no 9.790, de
mediante termo de colaboração ou termo de fomento, 23 de março de 1999; (Incluído pela Lei nº 13.204,
de 2015)
constituído por ato publicado em meio oficial de co-
VII - às transferências referidas no art. 2o da Lei no
municação, assegurada a participação de pelo menos
10.845, de 5 de março de 2004, e nos arts. 5o e 22 da
um servidor ocupante de cargo efetivo ou emprego Lei no 11.947, de 16 de junho de 2009; (Incluído pela
permanente do quadro de pessoal da administração Lei nº 13.204, de 2015)
pública; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) VIII - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
XII - chamamento público: procedimento destinado a IX - aos pagamentos realizados a título de anuida-
selecionar organização da sociedade civil para firmar des, contribuições ou taxas associativas em favor de
parceria por meio de termo de colaboração ou de fo- organismos internacionais ou entidades que sejam
mento, no qual se garanta a observância dos princí- obrigatoriamente constituídas por: (Incluído pela Lei
pios da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, nº 13.204, de 2015)
da moralidade, da igualdade, da publicidade, da pro- a) membros de Poder ou do Ministério Público; (Inclu-
bidade administrativa, da vinculação ao instrumento ída pela Lei nº 13.204, de 2015)
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes b) dirigentes de órgão ou de entidade da administra-
são correlatos; ção pública; (Incluída pela Lei nº 13.204, de 2015)
XIII - bens remanescentes: os de natureza permanen- c) pessoas jurídicas de direito público interno; (Inclu-
te adquiridos com recursos financeiros envolvidos na ída pela Lei nº 13.204, de 2015)
parceria, necessários à consecução do objeto, mas que d) pessoas jurídicas integrantes da administração pú-
a ele não se incorporam; (Redação dada pela Lei nº blica; (Incluída pela Lei nº 13.204, de 2015)
X - às parcerias entre a administração pública e os ser-
13.204, de 2015)
viços sociais autônomos. (Incluído pela Lei nº 13.204,
XIV - prestação de contas: procedimento em que se
de 2015)
analisa e se avalia a execução da parceria, pelo qual Art. 4o (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015)
seja possível verificar o cumprimento do objeto da
parceria e o alcance das metas e dos resultados previs- CAPÍTULO II
DIREITO ADMINISTRATIVO

tos, compreendendo duas fases: (Redação dada pela DA CELEBRAÇÃO DO TERMO DE COLABORAÇÃO
Lei nº 13.204, de 2015) OU DE FOMENTO
a) apresentação das contas, de responsabilidade da Seção I
organização da sociedade civil; Normas Gerais
b) análise e manifestação conclusiva das contas, de
responsabilidade da administração pública, sem pre- Art. 5o O regime jurídico de que trata esta Lei tem
juízo da atuação dos órgãos de controle; como fundamentos a gestão pública democrática, a
XV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, participação social, o fortalecimento da sociedade ci-
de 2015) vil, a transparência na aplicação dos recursos públicos,

56
os princípios da legalidade, da legitimidade, da impes- Seção II
soalidade, da moralidade, da publicidade, da econo- Da Capacitação de Gestores, Conselheiros e Socie-
micidade, da eficiência e da eficácia, destinando-se a dade Civil Organizada
assegurar: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
I - o reconhecimento da participação social como di- Art. 7o A União poderá instituir, em coordenação com
reito do cidadão; os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e organi-
II - a solidariedade, a cooperação e o respeito à diver- zações da sociedade civil, programas de capacitação
sidade para a construção de valores de cidadania e de voltados a: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
inclusão social e produtiva; I - administradores públicos, dirigentes e gestores; (In-
III - a promoção do desenvolvimento local, regional e cluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
nacional, inclusivo e sustentável; II - representantes de organizações da sociedade civil;
IV - o direito à informação, à transparência e ao con- (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
trole social das ações públicas; III - membros de conselhos de políticas públicas; (In-
V - a integração e a transversalidade dos procedimen- cluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
tos, mecanismos e instâncias de participação social; IV - membros de comissões de seleção; (Incluído pela
VI - a valorização da diversidade cultural e da educa- Lei nº 13.204, de 2015)
ção para a cidadania ativa; V - membros de comissões de monitoramento e ava-
VII - a promoção e a defesa dos direitos humanos; liação; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
VIII - a preservação, a conservação e a proteção dos VI - demais agentes públicos e privados envolvidos na
recursos hídricos e do meio ambiente; celebração e execução das parcerias disciplinadas nes-
IX - a valorização dos direitos dos povos indígenas e ta Lei.  (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
das comunidades tradicionais;
X - a preservação e a valorização do patrimônio cultu- Parágrafo único. A participação nos programas pre-
vistos no caput não constituirá condição para o exer-
ral brasileiro, em suas dimensões material e imaterial.
cício de função envolvida na materialização das par-
Art. 6o São diretrizes fundamentais do regime jurídico
cerias disciplinadas nesta Lei. (Incluído pela Lei nº
de parceria: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
13.204, de 2015)
2015)
Art. 8o Ao decidir sobre a celebração de parcerias pre-
I - a promoção, o fortalecimento institucional, a capa- vistas nesta Lei, o administrador público: (Redação
citação e o incentivo à organização da sociedade civil dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
para a cooperação com o poder público; I - considerará, obrigatoriamente, a capacidade ope-
II - a priorização do controle de resultados; racional da administração pública para celebrar a
III - o incentivo ao uso de recursos atualizados de tec- parceria, cumprir as obrigações dela decorrentes e as-
nologias de informação e comunicação; sumir as respectivas responsabilidades; (Incluído pela
IV - o fortalecimento das ações de cooperação insti- Lei nº 13.204, de 2015)
tucional entre os entes federados nas relações com as II - avaliará as propostas de parceria com o rigor téc-
organizações da sociedade civil; nico necessário; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
V - o estabelecimento de mecanismos que ampliem III - designará gestores habilitados a controlar e fis-
a gestão de informação, transparência e publicidade; calizar a execução em tempo hábil e de modo eficaz;
VI - a ação integrada, complementar e descentraliza- (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
da, de recursos e ações, entre os entes da Federação, IV - apreciará as prestações de contas na forma e nos
evitando sobreposição de iniciativas e fragmentação prazos determinados nesta Lei e na legislação especí-
de recursos; fica. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
VII - a sensibilização, a capacitação, o aprofundamen- Parágrafo único. A administração pública adotará as
to e o aperfeiçoamento do trabalho de gestores pú- medidas necessárias, tanto na capacitação de pessoal,
blicos, na implementação de atividades e projetos de quanto no provimento dos recursos materiais e tecno-
interesse público e relevância social com organizações lógicos necessários, para assegurar a capacidade téc-
da sociedade civil; nica e operacional de que trata o caput deste artigo.
VIII - a adoção de práticas de gestão administrativa
necessárias e suficientes para coibir a obtenção, indi- Seção III
vidual ou coletiva, de benefícios ou vantagens indevi- Da Transparência e do Controle
dos; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Art. 9o (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015)
DIREITO ADMINISTRATIVO

IX - a promoção de soluções derivadas da aplicação


Art. 10. A administração pública deverá manter, em
de conhecimentos, da ciência e tecnologia e da inova-
seu sítio oficial na internet, a relação das parcerias
ção para atender necessidades e demandas de maior celebradas e dos respectivos planos de trabalho, até
qualidade de vida da população em situação de desi- cento e oitenta dias após o respectivo encerramento.
gualdade social. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Art. 11. A organização da sociedade civil deverá divul-
gar na internet e em locais visíveis de suas sedes so-
ciais e dos estabelecimentos em que exerça suas ações
todas as parcerias celebradas com a administração

57
pública. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Seção V
Parágrafo único. As informações de que tratam este Dos Termos de Colaboração e de Fomento
artigo e o art. 10 deverão incluir, no mínimo:
I - data de assinatura e identificação do instrumento Art. 16. O termo de colaboração deve ser adotado
de parceria e do órgão da administração pública res- pela administração pública para consecução de pla-
ponsável; nos de trabalho de sua iniciativa, para celebração de
II - nome da organização da sociedade civil e seu nú- parcerias com organizações da sociedade civil que en-
mero de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa volvam a transferência de recursos financeiros. (Reda-
Jurídica - CNPJ da Secretaria da Receita Federal do ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Brasil - RFB; Parágrafo único. Os conselhos de políticas públicas
III - descrição do objeto da parceria; poderão apresentar propostas à administração pú-
IV - valor total da parceria e valores liberados, quan- blica para celebração de termo de colaboração com
do for o caso; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de organizações da sociedade civil.
2015) Art. 17. O termo de fomento deve ser adotado pela
administração pública para consecução de planos de
V - situação da prestação de contas da parceria, que
trabalho propostos por organizações da sociedade ci-
deverá informar a data prevista para a sua apresen-
vil que envolvam a transferência de recursos financei-
tação, a data em que foi apresentada, o prazo para a
ros. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
sua análise e o resultado conclusivo.
VI - quando vinculados à execução do objeto e pagos Seção VI
com recursos da parceria, o valor total da remunera- Do Procedimento de Manifestação de Interesse
ção da equipe de trabalho, as funções que seus inte- Social
grantes desempenham e a remuneração prevista para
o respectivo exercício. (Incluído pela Lei nº 13.204, de Art. 18. É instituído o Procedimento de Manifestação
2015) de Interesse Social como instrumento por meio do
Art. 12. A administração pública deverá divulgar pela qual as organizações da sociedade civil, movimentos
internet os meios de representação sobre a aplicação sociais e cidadãos poderão apresentar propostas ao
irregular dos recursos envolvidos na parceria. (Reda- poder público para que este avalie a possibilidade de
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) realização de um chamamento público objetivando a
celebração de parceria.
Seção IV Art. 19. A proposta a ser encaminhada à administra-
Do Fortalecimento da Participação Social e da Di- ção pública deverá atender aos seguintes requisitos:
vulgação das Ações I - identificação do subscritor da proposta;
II - indicação do interesse público envolvido;
Art. 13. (VETADO). III - diagnóstico da realidade que se quer modificar,
Art. 14. A administração pública divulgará, na forma aprimorar ou desenvolver e, quando possível, indica-
de regulamento, nos meios públicos de comunicação ção da viabilidade, dos custos, dos benefícios e dos
por radiodifusão de sons e de sons e imagens, campa- prazos de execução da ação pretendida.
nhas publicitárias e programações desenvolvidas por Art. 20. Preenchidos os requisitos do art. 19, a admi-
organizações da sociedade civil, no âmbito das par- nistração pública deverá tornar pública a proposta em
cerias previstas nesta Lei, mediante o emprego de re- seu sítio eletrônico e, verificada a conveniência e opor-
cursos tecnológicos e de linguagem adequados à ga- tunidade para realização do Procedimento de Mani-
festação de Interesse Social, o instaurará para oitiva
rantia de acessibilidade por pessoas com deficiência.
da sociedade sobre o tema.
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Parágrafo único. Os prazos e regras do procedimen-
Art. 15. Poderá ser criado, no âmbito do Poder Execu-
to de que trata esta Seção observarão regulamento
tivo federal, o Conselho Nacional de Fomento e Cola- próprio de cada ente federado, a ser aprovado após a
boração, de composição paritária entre representan- publicação desta Lei.
tes governamentais e organizações da sociedade civil, Art. 21. A realização do Procedimento de Manifesta-
com a finalidade de divulgar boas práticas e de propor ção de Interesse Social não implicará necessariamente
e apoiar políticas e ações voltadas ao fortalecimento na execução do chamamento público, que acontecerá
das relações de fomento e de colaboração previstas de acordo com os interesses da administração.
nesta Lei. § 1o A realização do Procedimento de Manifestação de
§ 1o A composição e o funcionamento do Conselho Interesse Social não dispensa a convocação por meio
Nacional de Fomento e Colaboração serão disciplina- de chamamento público para a celebração de parce-
DIREITO ADMINISTRATIVO

dos em regulamento. ria.


§ 2o Os demais entes federados também poderão criar § 2o A proposição ou a participação no Procedimento
instância participativa, nos termos deste artigo. de Manifestação de Interesse Social não impede a or-
§ 3o Os conselhos setoriais de políticas públicas e a ad- ganização da sociedade civil de participar no eventual
ministração pública serão consultados quanto às polí- chamamento público subsequente.
ticas e ações voltadas ao fortalecimento das relações § 3o É vedado condicionar a realização de chamamen-
de fomento e de colaboração propostas pelo Conselho to público ou a celebração de parceria à prévia reali-
de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº zação de Procedimento de Manifestação de Interesse
13.204, de 2015) Social. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)

58
Seção VII Art. 24. Exceto nas hipóteses previstas nesta Lei, a ce-
Do Plano de Trabalho lebração de termo de colaboração ou de fomento será
precedida de chamamento público voltado a selecio-
Art. 22. Deverá constar do plano de trabalho de parce- nar organizações da sociedade civil que tornem mais
rias celebradas mediante termo de colaboração ou de eficaz a execução do objeto. (Redação dada pela Lei
fomento: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) nº 13.204, de 2015)
I - descrição da realidade que será objeto da parceria, § 1o O edital do chamamento público especificará, no
devendo ser demonstrado o nexo entre essa realidade mínimo:
e as atividades ou projetos e metas a serem atingidas; I - a programação orçamentária que autoriza e viabi-
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) liza a celebração da parceria; (Redação dada pela Lei
II - descrição de metas a serem atingidas e de ativi- nº 13.204, de 2015)
dades ou projetos a serem executados; (Redação dada II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
pela Lei nº 13.204, de 2015) 2015)
II-A - previsão de receitas e de despesas a serem re- III - o objeto da parceria;
alizadas na execução das atividades ou dos proje- IV - as datas, os prazos, as condições, o local e a forma
tos abrangidos pela parceria; (Incluído pela Lei nº de apresentação das propostas;
13.204, de 2015) V - as datas e os critérios de seleção e julgamento das
III - forma de execução das atividades ou dos projetos propostas, inclusive no que se refere à metodologia de
e de cumprimento das metas a eles atreladas; (Reda- pontuação e ao peso atribuído a cada um dos critérios
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) estabelecidos, se for o caso; (Redação dada pela Lei nº
IV - definição dos parâmetros a serem utilizados para 13.204, de 2015)
a aferição do cumprimento das metas. (Redação dada VI - o valor previsto para a realização do objeto;
pela Lei nº 13.204, de 2015) VII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204,
V - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
de 2015) a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
VI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
2015) b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
VII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, 2015)
de 2015) c) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
VIII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, 2015)
de 2015) VIII - as condições para interposição de recurso admi-
IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, nistrativo; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
de 2015) IX - a minuta do instrumento por meio do qual será
X - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de celebrada a parceria; (Redação dada pela Lei nº
2015) 13.204, de 2015)
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei X - de acordo com as características do objeto da par-
nº 13.204, de 2015) ceria, medidas de acessibilidade para pessoas com de-
ficiência ou mobilidade reduzida e idosos. (Redação
Seção VIII dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Do Chamamento Público § 2o É vedado admitir, prever, incluir ou tolerar, nos
atos de convocação, cláusulas ou condições que com-
Art. 23. A administração pública deverá adotar pro- prometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter com-
cedimentos claros, objetivos e simplificados que orien- petitivo em decorrência de qualquer circunstância im-
tem os interessados e facilitem o acesso direto aos seus pertinente ou irrelevante para o específico objeto da
órgãos e instâncias decisórias, independentemente da parceria, admitidos: (Redação dada pela Lei nº 13.204,
modalidade de parceria prevista nesta Lei. (Redação de 2015)
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) I - a seleção de propostas apresentadas exclusivamen-
Parágrafo único. Sempre que possível, a administra- te por concorrentes sediados ou com representação
ção pública estabelecerá critérios a serem seguidos, atuante e reconhecida na unidade da Federação onde
especialmente quanto às seguintes características: será executado o objeto da parceria; (Incluído pela Lei
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) nº 13.204, de 2015)
I - objetos; II - o estabelecimento de cláusula que delimite o terri-
DIREITO ADMINISTRATIVO

II - metas; tório ou a abrangência da prestação de atividades ou


III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, da execução de projetos, conforme estabelecido nas
de 2015) políticas setoriais. (Incluído pela Lei nº 13.204, de
IV - custos; 2015)
V - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de Art. 25. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015)
2015) Art. 26. O edital deverá ser amplamente divulgado
VI - indicadores, quantitativos ou qualitativos, de em página do sítio oficial da administração pública
avaliação de resultados. (Redação dada pela Lei nº na internet, com antecedência mínima de trinta dias.
13.204, de 2015) (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)

59
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei I - no caso de urgência decorrente de paralisação ou
nº 13.204, de 2015) iminência de paralisação de atividades de relevante
Art. 27. O grau de adequação da proposta aos obje- interesse público, pelo prazo de até cento e oitenta
tivos específicos do programa ou da ação em que se dias; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
insere o objeto da parceria e, quando for o caso, ao II - nos casos de guerra, calamidade pública, grave
valor de referência constante do chamamento consti- perturbação da ordem pública ou ameaça à paz so-
tui critério obrigatório de julgamento. (Redação dada cial; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
pela Lei nº 13.204, de 2015) III - quando se tratar da realização de programa de
§ 1o As propostas serão julgadas por uma comissão proteção a pessoas ameaçadas ou em situação que
de seleção previamente designada, nos termos desta possa comprometer a sua segurança;
Lei, ou constituída pelo respectivo conselho gestor, se IV - (VETADO).
o projeto for financiado com recursos de fundos espe- V - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
cíficos. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) VI - no caso de atividades voltadas ou vinculadas a
§ 2o Será impedida de participar da comissão de sele- serviços de educação, saúde e assistência social, des-
ção pessoa que, nos últimos cinco anos, tenha manti- de que executadas por organizações da sociedade civil
do relação jurídica com, ao menos, uma das entidades previamente credenciadas pelo órgão gestor da res-
participantes do chamamento público. (Redação dada pectiva política. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
pela Lei nº 13.204, de 2015) Art. 31. Será considerado inexigível o chamamento
§ 3o Configurado o impedimento previsto no § 2o, de- público na hipótese de inviabilidade de competição
verá ser designado membro substituto que possua entre as organizações da sociedade civil, em razão da
qualificação equivalente à do substituído. natureza singular do objeto da parceria ou se as metas
§ 4o A administração pública homologará e divulgará somente puderem ser atingidas por uma entidade es-
o resultado do julgamento em página do sítio previs- pecífica, especialmente quando: (Redação dada pela
to no art. 26. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de Lei nº 13.204, de 2015)
2015) I - o objeto da parceria constituir incumbência prevista
§ 5o Será obrigatoriamente justificada a seleção de em acordo, ato ou compromisso internacional, no qual
proposta que não for a mais adequada ao valor de re- sejam indicadas as instituições que utilizarão os recur-
ferência constante do chamamento público. (Incluído sos; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
pela Lei nº 13.204, de 2015) II - a parceria decorrer de transferência para organi-
§ 6o A homologação não gera direito para a organiza- zação da sociedade civil que esteja autorizada em lei
ção da sociedade civil à celebração da parceria. (Inclu- na qual seja identificada expressamente a entidade
ído pela Lei nº 13.204, de 2015) beneficiária, inclusive quando se tratar da subvenção
Art. 28. Somente depois de encerrada a etapa com- prevista no inciso I do § 3o do art. 12 da Lei no 4.320,
petitiva e ordenadas as propostas, a administração de 17 de março de 1964, observado o disposto no art.
pública procederá à verificação dos documentos que 26 da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000.
comprovem o atendimento pela organização da socie- (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
dade civil selecionada dos requisitos previstos nos arts. Art. 32. Nas hipóteses dos arts. 30 e 31 desta Lei, a
33 e 34. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) ausência de realização de chamamento público será
§ 1o Na hipótese de a organização da sociedade civil justificada pelo administrador público. (Redação dada
selecionada não atender aos requisitos exigidos nos pela Lei nº 13.204, de 2015)
arts. 33 e 34, aquela imediatamente mais bem classi- § 1o Sob pena de nulidade do ato de formalização de
ficada poderá ser convidada a aceitar a celebração de parceria prevista nesta Lei, o extrato da justificativa
parceria nos termos da proposta por ela apresentada. previsto no caput deverá ser publicado, na mesma
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) data em que for efetivado, no sítio oficial da adminis-
§ 2o Caso a organização da sociedade civil convidada tração pública na internet e, eventualmente, a critério
nos termos do § 1o aceite celebrar a parceria, proceder- do administrador público, também no meio oficial de
-se-á à verificação dos documentos que comprovem o publicidade da administração pública. (Redação dada
atendimento aos requisitos previstos nos arts. 33 e 34. pela Lei nº 13.204, de 2015)
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) § 2o Admite-se a impugnação à justificativa, apresen-
§ 3o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, tada no prazo de cinco dias a contar de sua publica-
de 2015) ção, cujo teor deve ser analisado pelo administrador
Art. 29. Os termos de colaboração ou de fomento que público responsável em até cinco dias da data do res-
envolvam recursos decorrentes de emendas parla- pectivo protocolo. (Redação dada pela Lei nº 13.204,
mentares às leis orçamentárias anuais e os acordos de 2015)
DIREITO ADMINISTRATIVO

de cooperação serão celebrados sem chamamento pú- § 3o Havendo fundamento na impugnação, será revo-
blico, exceto, em relação aos acordos de cooperação, gado o ato que declarou a dispensa ou considerou ine-
quando o objeto envolver a celebração de comodato, xigível o chamamento público, e será imediatamente
doação de bens ou outra forma de compartilhamento iniciado o procedimento para a realização do chama-
de recurso patrimonial, hipótese em que o respectivo mento público, conforme o caso.
chamamento público observará o disposto nesta Lei. § 4o A dispensa e a inexigibilidade de chamamento
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) público, bem como o disposto no art. 29, não afastam
Art. 30. A administração pública poderá dispensar a a aplicação dos demais dispositivos desta Lei. (Inclu-
realização do chamamento público: ído pela Lei nº 13.204, de 2015)

60
Seção IX Art. 34. Para celebração das parcerias previstas nesta
Dos Requisitos para Celebração do Termo de Cola- Lei, as organizações da sociedade civil deverão apre-
boração e do Termo de Fomento sentar:
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
Art. 33. Para celebrar as parcerias previstas nesta Lei, 2015)
as organizações da sociedade civil deverão ser regi- II - certidões de regularidade fiscal, previdenciária, tri-
das por normas de organização interna que prevejam, butária, de contribuições e de dívida ativa, de acordo
expressamente: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de com a legislação aplicável de cada ente federado;
2015) III - certidão de existência jurídica expedida pelo car-
I - objetivos voltados à promoção de atividades e fina- tório de registro civil ou cópia do estatuto registrado e
lidades de relevância pública e social; de eventuais alterações ou, tratando-se de sociedade
II - (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015) cooperativa, certidão simplificada emitida por jun-
III - que, em caso de dissolução da entidade, o respec- ta comercial; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
tivo patrimônio líquido seja transferido a outra pessoa 2015)
jurídica de igual natureza que preencha os requisitos IV -(revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
desta Lei e cujo objeto social seja, preferencialmente, 2015)
o mesmo da entidade extinta; (Redação dada pela Lei V - cópia da ata de eleição do quadro dirigente atual;
nº 13.204, de 2015) VI - relação nominal atualizada dos dirigentes da en-
IV - escrituração de acordo com os princípios funda- tidade, com endereço, número e órgão expedidor da
mentais de contabilidade e com as Normas Brasileiras carteira de identidade e número de registro no Cadas-
de Contabilidade; (Redação dada pela Lei nº 13.204, tro de Pessoas Físicas - CPF da Secretaria da Receita
de 2015) Federal do Brasil - RFB de cada um deles;
a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de VII - comprovação de que a organização da sociedade
2015) civil funciona no endereço por ela declarado; (Redação
b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
VIII - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204,
2015)
de 2015)
V - possuir: (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
Parágrafo único. (VETADO):
a) no mínimo, um, dois ou três anos de existência, com
I - (VETADO);
cadastro ativo, comprovados por meio de documenta-
II - (VETADO);
ção emitida pela Secretaria da Receita Federal do Bra-
III - (VETADO).
sil, com base no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
Art. 35. A celebração e a formalização do termo de
- CNPJ, conforme, respectivamente, a parceria seja ce-
colaboração e do termo de fomento dependerão da
lebrada no âmbito dos Municípios, do Distrito Federal
adoção das seguintes providências pela administração
ou dos Estados e da União, admitida a redução desses pública:
prazos por ato específico de cada ente na hipótese de I - realização de chamamento público, ressalvadas as
nenhuma organização atingi-los; (Incluído pela Lei nº hipóteses previstas nesta Lei;
13.204, de 2015) II - indicação expressa da existência de prévia dotação
b) experiência prévia na realização, com efetividade, orçamentária para execução da parceria;
do objeto da parceria ou de natureza semelhante; (In- III - demonstração de que os objetivos e finalidades
cluído pela Lei nº 13.204, de 2015) institucionais e a capacidade técnica e operacional da
c) instalações, condições materiais e capacidade técni- organização da sociedade civil foram avaliados e são
ca e operacional para o desenvolvimento das ativida- compatíveis com o objeto;
des ou projetos previstos na parceria e o cumprimento IV - aprovação do plano de trabalho, a ser apresenta-
das metas estabelecidas. (Incluído pela Lei nº 13.204, do nos termos desta Lei;
de 2015) V - emissão de parecer de órgão técnico da adminis-
§ 1o Na celebração de acordos de cooperação, somente tração pública, que deverá pronunciar-se, de forma
será exigido o requisito previsto no inciso I. (Incluído expressa, a respeito:
pela Lei nº 13.204, de 2015) a) do mérito da proposta, em conformidade com a
§ 2o Serão dispensadas do atendimento ao disposto modalidade de parceria adotada;
nos incisos I e III as organizações religiosas. (Incluído b) da identidade e da reciprocidade de interesse das
pela Lei nº 13.204, de 2015) partes na realização, em mútua cooperação, da par-
§ 3o As sociedades cooperativas deverão atender às ceria prevista nesta Lei;
DIREITO ADMINISTRATIVO

exigências previstas na legislação específica e ao dis- c) da viabilidade de sua execução; (Redação dada
posto no inciso IV, estando dispensadas do atendimen- pela Lei nº 13.204, de 2015)
to aos requisitos previstos nos incisos I e III. (Incluído d) da verificação do cronograma de desembolso; (Re-
pela Lei nº 13.204, de 2015) dação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
§ 4o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) e) da descrição de quais serão os meios disponíveis a
§ 5o Para fins de atendimento do previsto na alínea serem utilizados para a fiscalização da execução da
c do inciso V, não será necessária a demonstração parceria, assim como dos procedimentos que deverão
de capacidade instalada prévia. (Incluído pela Lei nº ser adotados para avaliação da execução física e fi-
13.204, de 2015) nanceira, no cumprimento das metas e objetivos;

61
f) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de recursos às não celebrantes, ficando obrigada a, no
2015) ato da respectiva formalização: (Incluído pela Lei nº
g) da designação do gestor da parceria; 13.204, de 2015)
h) da designação da comissão de monitoramento e I - verificar, nos termos do regulamento, a regularida-
avaliação da parceria; de jurídica e fiscal da organização executante e não
i) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de celebrante do termo de colaboração ou do termo de
2015) fomento, devendo comprovar tal verificação na pres-
VI - emissão de parecer jurídico do órgão de assessoria tação de contas; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
ou consultoria jurídica da administração pública acer- II - comunicar à administração pública em até ses-
ca da possibilidade de celebração da parceria. (Reda- senta dias a assinatura do termo de atuação em rede.
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
§ 1o Não será exigida contrapartida financeira como Art. 36. Será obrigatória a estipulação do destino a ser
requisito para celebração de parceria, facultada a exi- dado aos bens remanescentes da parceria.
gência de contrapartida em bens e serviços cuja ex- Parágrafo único. Os bens remanescentes adquiridos
pressão monetária será obrigatoriamente identificada com recursos transferidos poderão, a critério do admi-
no termo de colaboração ou de fomento. (Redação nistrador público, ser doados quando, após a consecu-
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) ção do objeto, não forem necessários para assegurar a
§ 2o Caso o parecer técnico ou o parecer jurídico de continuidade do objeto pactuado, observado o dispos-
que tratam, respectivamente, os incisos V e VI conclu- to no respectivo termo e na legislação vigente.
am pela possibilidade de celebração da parceria com Art. 37. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204,
ressalvas, deverá o administrador público sanar os as- de 2015)
pectos ressalvados ou, mediante ato formal, justificar Art. 38. O termo de fomento, o termo de colaboração
a preservação desses aspectos ou sua exclusão. (Reda- e o acordo de cooperação somente produzirão efeitos
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) jurídicos após a publicação dos respectivos extratos no
§ 3o Na hipótese de o gestor da parceria deixar de ser meio oficial de publicidade da administração pública.
agente público ou ser lotado em outro órgão ou enti-
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
dade, o administrador público deverá designar novo
gestor, assumindo, enquanto isso não ocorrer, todas
Seção X
as obrigações do gestor, com as respectivas respon-
Das Vedações
sabilidades.
§ 4o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
Art. 39. Ficará impedida de celebrar qualquer modali-
2015)
dade de parceria prevista nesta Lei a organização da
§ 5o Caso a organização da sociedade civil adquira
sociedade civil que:
equipamentos e materiais permanentes com recursos
provenientes da celebração da parceria, o bem será I - não esteja regularmente constituída ou, se estran-
gravado com cláusula de inalienabilidade, e ela deverá geira, não esteja autorizada a funcionar no território
formalizar promessa de transferência da propriedade nacional;
à administração pública, na hipótese de sua extinção. II - esteja omissa no dever de prestar contas de parce-
§ 6o Será impedida de participar como gestor da par- ria anteriormente celebrada;
ceria ou como membro da comissão de monitora- III - tenha como dirigente membro de Poder ou do Mi-
mento e avaliação pessoa que, nos últimos 5 (cinco) nistério Público, ou dirigente de órgão ou entidade da
anos, tenha mantido relação jurídica com, ao menos, administração pública da mesma esfera governamen-
1 (uma) das organizações da sociedade civil partícipes. tal na qual será celebrado o termo de colaboração ou
§ 7o Configurado o impedimento do § 6o, deverá ser de fomento, estendendo-se a vedação aos respectivos
designado gestor ou membro substituto que possua cônjuges ou companheiros, bem como parentes em
qualificação técnica equivalente à do substituído. linha reta, colateral ou por afinidade, até o segundo
Art. 35-A. É permitida a atuação em rede, por duas grau; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
ou mais organizações da sociedade civil, mantida a IV - tenha tido as contas rejeitadas pela administração
integral responsabilidade da organização celebrante pública nos últimos cinco anos, exceto se: (Redação
do termo de fomento ou de colaboração, desde que a dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
organização da sociedade civil signatária do termo de a) for sanada a irregularidade que motivou a rejeição
fomento ou de colaboração possua: (Incluído pela Lei e quitados os débitos eventualmente imputados; (In-
nº 13.204, de 2015) cluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
DIREITO ADMINISTRATIVO

I - mais de cinco anos de inscrição no CNPJ; (Incluído b) for reconsiderada ou revista a decisão pela rejeição;
pela Lei nº 13.204, de 2015) (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
II - capacidade técnica e operacional para supervisio- c) a apreciação das contas estiver pendente de decisão
nar e orientar diretamente a atuação da organização sobre recurso com efeito suspensivo; (Incluído pela Lei
que com ela estiver atuando em rede. (Incluído pela nº 13.204, de 2015)
Lei nº 13.204, de 2015) V - tenha sido punida com uma das seguintes sanções,
Parágrafo único. A organização da sociedade civil que pelo período que durar a penalidade:
assinar o termo de colaboração ou de fomento deverá a) suspensão de participação em licitação e impedi-
celebrar termo de atuação em rede para repasse de mento de contratar com a administração;

62
b) declaração de inidoneidade para licitar ou contratar II - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
com a administração pública; 2015)
c) a prevista no inciso II do art. 73 desta Lei; Parágrafo único. (Revogado): (Redação dada pela Lei
d) a prevista no inciso III do art. 73 desta Lei; nº 13.204, de 2015)
VI - tenha tido contas de parceria julgadas irregulares I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
ou rejeitadas por Tribunal ou Conselho de Contas de 2015)
qualquer esfera da Federação, em decisão irrecorrível, II - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
nos últimos 8 (oito) anos; 2015)
VII - tenha entre seus dirigentes pessoa: Art. 41. Ressalvado o disposto no art. 3o e no pará-
a) cujas contas relativas a parcerias tenham sido jul- grafo único do art. 84, serão celebradas nos termos
gadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal ou Con- desta Lei as parcerias entre a administração pública e
selho de Contas de qualquer esfera da Federação, em as entidades referidas no inciso I do art. 2o. (Redação
decisão irrecorrível, nos últimos 8 (oito) anos; dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
b) julgada responsável por falta grave e inabilitada Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei
para o exercício de cargo em comissão ou função de nº 13.204, de 2015)
confiança, enquanto durar a inabilitação;
CAPÍTULO III
c) considerada responsável por ato de improbidade, DA FORMALIZAÇÃO E DA EXECUÇÃO
enquanto durarem os prazos estabelecidos nos incisos Seção I
I, II e III do art. 12 da Lei no8.429, de 2 de junho de Disposições Preliminares
1992.
§ 1o Nas hipóteses deste artigo, é igualmente vedada Art. 42. As parcerias serão formalizadas mediante a
a transferência de novos recursos no âmbito de parce- celebração de termo de colaboração, de termo de fo-
rias em execução, excetuando-se os casos de serviços mento ou de acordo de cooperação, conforme o caso,
essenciais que não podem ser adiados sob pena de que terá como cláusulas essenciais: (Redação dada
prejuízo ao erário ou à população, desde que precedi- pela Lei nº 13.204, de 2015)
da de expressa e fundamentada autorização do diri- I - a descrição do objeto pactuado;
gente máximo do órgão ou entidade da administração II - as obrigações das partes;
pública, sob pena de responsabilidade solidária. III - quando for o caso, o valor total e o cronograma
§ 2o Em qualquer das hipóteses previstas no caput, per- de desembolso; (Redação dada pela Lei nº 13.204,
siste o impedimento para celebrar parceria enquanto de 2015)
não houver o ressarcimento do dano ao erário, pelo IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204,
qual seja responsável a organização da sociedade civil de 2015)
ou seu dirigente. V - a contrapartida, quando for o caso, observado o
§ 3o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, disposto no § 1o do art. 35; (Redação dada pela Lei nº
de 2015) 13.204, de 2015)
§ 4o Para os fins do disposto na alínea a do inciso IV e VI - a vigência e as hipóteses de prorrogação;
no § 2o, não serão considerados débitos que decorram VII - a obrigação de prestar contas com definição de
de atrasos na liberação de repasses pela administra- forma, metodologia e prazos; (Redação dada pela Lei
ção pública ou que tenham sido objeto de parcela- nº 13.204, de 2015)
mento, se a organização da sociedade civil estiver em VIII - a forma de monitoramento e avaliação, com a
situação regular no parcelamento. (Incluído pela Lei indicação dos recursos humanos e tecnológicos que
nº 13.204, de 2015) serão empregados na atividade ou, se for o caso, a
§ 5o A vedação prevista no inciso III não se aplica à indicação da participação de apoio técnico nos termos
celebração de parcerias com entidades que, pela sua previstos no § 1o do art. 58 desta Lei;
própria natureza, sejam constituídas pelas autorida- IX - a obrigatoriedade de restituição de recursos, nos
des referidas naquele inciso, sendo vedado que a mes- casos previstos nesta Lei;
ma pessoa figure no termo de colaboração, no termo X - a definição, se for o caso, da titularidade dos bens
de fomento ou no acordo de cooperação simultanea- e direitos remanescentes na data da conclusão ou ex-
mente como dirigente e administrador público. (Inclu- tinção da parceria e que, em razão de sua execução,
ído pela Lei nº 13.204, de 2015) tenham sido adquiridos, produzidos ou transformados
§ 6o Não são considerados membros de Poder os in- com recursos repassados pela administração pública;
tegrantes de conselhos de direitos e de políticas públi- (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
DIREITO ADMINISTRATIVO

cas. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) XI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
Art. 40. É vedada a celebração de parcerias previstas 2015)
nesta Lei que tenham por objeto, envolvam ou inclu- XII - a prerrogativa atribuída à administração públi-
am, direta ou indiretamente, delegação das funções ca para assumir ou transferir a responsabilidade pela
de regulação, de fiscalização, de exercício do poder de execução do objeto, no caso de paralisação, de modo
polícia ou de outras atividades exclusivas de Estado. a evitar sua descontinuidade; (Redação dada pela Lei
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) nº 13.204, de 2015)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de XIII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204,
2015) de 2015)

63
XIV - quando for o caso, a obrigação de a organização Seção III
da sociedade civil manter e movimentar os recursos Das Despesas
em conta bancária específica, observado o disposto no
art. 51; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Art. 45. As despesas relacionadas à execução da par-
XV - o livre acesso dos agentes da administração ceria serão executadas nos termos dos incisos XIX e XX
pública, do controle interno e do Tribunal de Contas do art. 42, sendo vedado: (Redação dada pela Lei nº
correspondente aos processos, aos documentos e às 13.204, de 2015)
informações relacionadas a termos de colaboração ou I - utilizar recursos para finalidade alheia ao objeto da
a termos de fomento, bem como aos locais de execu- parceria; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
ção do respectivo objeto; (Redação dada pela Lei nº II - pagar, a qualquer título, servidor ou empregado
13.204, de 2015) público com recursos vinculados à parceria, salvo nas
XVI - a faculdade dos partícipes rescindirem o instru- hipóteses previstas em lei específica e na lei de diretri-
mento, a qualquer tempo, com as respectivas con- zes orçamentárias;
dições, sanções e delimitações claras de responsa- III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
bilidades, além da estipulação de prazo mínimo de 2015)
antecedência para a publicidade dessa intenção, que IV - (VETADO);
não poderá ser inferior a 60 (sessenta) dias; V - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
XVII - a indicação do foro para dirimir as dúvidas de- 2015)
correntes da execução da parceria, estabelecendo a VI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204,
obrigatoriedade da prévia tentativa de solução admi- de 2015)
nistrativa, com a participação de órgão encarregado VII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204,
de assessoramento jurídico integrante da estrutura de 2015)
da administração pública; (Redação dada pela Lei nº VIII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204,
13.204, de 2015) de 2015)
XVIII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, IX - (revogado): (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
de 2015) 2015)
XIX - a responsabilidade exclusiva da organização da a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
sociedade civil pelo gerenciamento administrativo e 2015)
b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
financeiro dos recursos recebidos, inclusive no que diz
2015)
respeito às despesas de custeio, de investimento e de
c) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
pessoal;
2015)
XX - a responsabilidade exclusiva da organização da
d) (revogada). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
sociedade civil pelo pagamento dos encargos traba-
2015)
lhistas, previdenciários, fiscais e comerciais relacio-
Art. 46. Poderão ser pagas, entre outras despesas, com
nados à execução do objeto previsto no termo de
recursos vinculados à parceria: (Redação dada pela
colaboração ou de fomento, não implicando respon- Lei nº 13.204, de 2015)
sabilidade solidária ou subsidiária da administração I - remuneração da equipe encarregada da execução
pública a inadimplência da organização da sociedade do plano de trabalho, inclusive de pessoal próprio da
civil em relação ao referido pagamento, os ônus in- organização da sociedade civil, durante a vigência da
cidentes sobre o objeto da parceria ou os danos de- parceria, compreendendo as despesas com pagamen-
correntes de restrição à sua execução. (Redação dada tos de impostos, contribuições sociais, Fundo de Ga-
pela Lei nº 13.204, de 2015) rantia do Tempo de Serviço - FGTS, férias, décimo ter-
Parágrafo único. Constará como anexo do termo de ceiro salário, salários proporcionais, verbas rescisórias
colaboração, do termo de fomento ou do acordo de e demais encargos sociais e trabalhistas; (Redação
cooperação o plano de trabalho, que deles será parte dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
integrante e indissociável. (Redação dada pela Lei nº a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
13.204, de 2015) 2015)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
2015) 2015)
II - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de c) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
2015) 2015)
II - diárias referentes a deslocamento, hospedagem e
Seção II alimentação nos casos em que a execução do objeto
DIREITO ADMINISTRATIVO

Das Contratações Realizadas pelas Organizações da parceria assim o exija; (Redação dada pela Lei nº
da Sociedade Civil 13.204, de 2015)
III - custos indiretos necessários à execução do objeto,
Art. 43. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015) seja qual for a proporção em relação ao valor total da
Art. 44. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015) parceria; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
IV - aquisição de equipamentos e materiais perma-
nentes essenciais à consecução do objeto e serviços de
adequação de espaço físico, desde que necessários à
instalação dos referidos equipamentos e materiais.

64
§ 1o A inadimplência da administração pública não Parágrafo único. Os rendimentos de ativos financeiros
transfere à organização da sociedade civil a respon- serão aplicados no objeto da parceria, estando sujeitos
sabilidade pelo pagamento de obrigações vinculadas às mesmas condições de prestação de contas exigidas
à parceria com recursos próprios. (Redação dada pela para os recursos transferidos. (Redação dada pela Lei
Lei nº 13.204, de 2015) nº 13.204, de 2015)
§ 2o A inadimplência da organização da sociedade ci- Art. 52. Por ocasião da conclusão, denúncia, rescisão
vil em decorrência de atrasos na liberação de repasses ou extinção da parceria, os saldos financeiros rema-
relacionados à parceria não poderá acarretar restri- nescentes, inclusive os provenientes das receitas obti-
ções à liberação de parcelas subsequentes. (Redação das das aplicações financeiras realizadas, serão devol-
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) vidos à administração pública no prazo improrrogável
§ 3o O pagamento de remuneração da equipe contra- de trinta dias, sob pena de imediata instauração de
tada pela organização da sociedade civil com recursos tomada de contas especial do responsável, providen-
da parceria não gera vínculo trabalhista com o poder ciada pela autoridade competente da administração
público. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) pública. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
§ 4o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de Art. 53. Toda a movimentação de recursos no âmbito
2015) da parceria será realizada mediante transferência ele-
§ 5o (VETADO). trônica sujeita à identificação do beneficiário final e à
Art. 47. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015) obrigatoriedade de depósito em sua conta bancária.
§ 1o Os pagamentos deverão ser realizados mediante
Seção IV crédito na conta bancária de titularidade dos fornece-
Da Liberação dos Recursos dores e prestadores de serviços. (Redação dada pela
Lei nº 13.204, de 2015)
Art. 48. As parcelas dos recursos transferidos no âmbi- § 2o Demonstrada a impossibilidade física de paga-
to da parceria serão liberadas em estrita conformida- mento mediante transferência eletrônica, o termo de
de com o respectivo cronograma de desembolso, ex- colaboração ou de fomento poderá admitir a realiza-
ceto nos casos a seguir, nos quais ficarão retidas até o ção de pagamentos em espécie. (Incluído pela Lei nº
saneamento das impropriedades: (Redação dada pela 13.204, de 2015)
Lei nº 13.204, de 2015) Art. 54. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015)
I - quando houver evidências de irregularidade na
aplicação de parcela anteriormente recebida; (Reda- Seção VI
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Das Alterações
II - quando constatado desvio de finalidade na aplica-
ção dos recursos ou o inadimplemento da organização Art. 55. A vigência da parceria poderá ser alterada
da sociedade civil em relação a obrigações estabeleci- mediante solicitação da organização da sociedade ci-
das no termo de colaboração ou de fomento; (Reda- vil, devidamente formalizada e justificada, a ser apre-
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) sentada à administração pública em, no mínimo, trin-
III - quando a organização da sociedade civil deixar de ta dias antes do termo inicialmente previsto. (Redação
adotar sem justificativa suficiente as medidas sanea- dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
doras apontadas pela administração pública ou pelos Parágrafo único. A prorrogação de ofício da vigência
órgãos de controle interno ou externo. Redação dada do termo de colaboração ou de fomento deve ser feita
pela Lei nº 13.204, de 2015) pela administração pública quando ela der causa a
Art. 49. Nas parcerias cuja duração exceda um ano, é atraso na liberação de recursos financeiros, limitada
obrigatória a prestação de contas ao término de cada ao exato período do atraso verificado. (Redação dada
exercício. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) pela Lei nº 13.204, de 2015)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de Art. 56. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015)
2015) Art. 57. O plano de trabalho da parceria poderá ser re-
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de visto para alteração de valores ou de metas, mediante
2015) termo aditivo ou por apostila ao plano de trabalho
III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de original. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
2015) Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei
Art. 50. A administração pública deverá viabilizar o nº 13.204, de 2015)
acompanhamento pela internet dos processos de li-
beração de recursos referentes às parcerias celebradas Seção VII
nos termos desta Lei. Do Monitoramento e Avaliação
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção V Art. 58. A administração pública promoverá o moni-


Da Movimentação e Aplicação Financeira dos Re- toramento e a avaliação do cumprimento do objeto da
cursos parceria. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
§ 1o Para a implementação do disposto no caput, a ad-
Art. 51. Os recursos recebidos em decorrência da par- ministração pública poderá valer-se do apoio técnico
ceria serão depositados em conta corrente específica de terceiros, delegar competência ou firmar parcerias
isenta de tarifa bancária na instituição financeira pú- com órgãos ou entidades que se situem próximos ao
blica determinada pela administração pública. (Reda- local de aplicação dos recursos. (Redação dada pela
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Lei nº 13.204, de 2015)

65
§ 2o Nas parcerias com vigência superior a 1 (um) ano, Seção VIII
a administração pública realizará, sempre que possí- Das Obrigações do Gestor
vel, pesquisa de satisfação com os beneficiários do pla-
no de trabalho e utilizará os resultados como subsídio Art. 61. São obrigações do gestor:
na avaliação da parceria celebrada e do cumprimento I - acompanhar e fiscalizar a execução da parceria;
dos objetivos pactuados, bem como na reorientação e II - informar ao seu superior hierárquico a existência
no ajuste das metas e atividades definidas. de fatos que comprometam ou possam comprometer
§ 3o Para a implementação do disposto no § 2o, a ad- as atividades ou metas da parceria e de indícios de
ministração pública poderá valer-se do apoio técnico irregularidades na gestão dos recursos, bem como as
de terceiros, delegar competência ou firmar parcerias providências adotadas ou que serão adotadas para sa-
com órgãos ou entidades que se situem próximos ao nar os problemas detectados;
local de aplicação dos recursos. III – (VETADO);
Art. 59. A administração pública emitirá relatório téc- IV - emitir parecer técnico conclusivo de análise da
nico de monitoramento e avaliação de parceria cele- prestação de contas final, levando em consideração
brada mediante termo de colaboração ou termo de o conteúdo do relatório técnico de monitoramento e
fomento e o submeterá à comissão de monitoramento avaliação de que trata o art. 59; (Redação dada pela
e avaliação designada, que o homologará, indepen- Lei nº 13.204, de 2015)
dentemente da obrigatoriedade de apresentação da V - disponibilizar materiais e equipamentos tecnoló-
prestação de contas devida pela organização da socie- gicos necessários às atividades de monitoramento e
dade civil. Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) avaliação.
§ 1o O relatório técnico de monitoramento e avaliação Art. 62. Na hipótese de inexecução por culpa exclu-
da parceria, sem prejuízo de outros elementos, deverá siva da organização da sociedade civil, a administra-
conter: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) ção pública poderá, exclusivamente para assegurar o
I - descrição sumária das atividades e metas estabe- atendimento de serviços essenciais à população, por
lecidas; ato próprio e independentemente de autorização judi-
II - análise das atividades realizadas, do cumprimento cial, a fim de realizar ou manter a execução das metas
das metas e do impacto do benefício social obtido em ou atividades pactuadas: (Redação dada pela Lei nº
razão da execução do objeto até o período, com base 13.204, de 2015)
nos indicadores estabelecidos e aprovados no plano I - retomar os bens públicos em poder da organização
de trabalho; da sociedade civil parceira, qualquer que tenha sido a
III - valores efetivamente transferidos pela adminis- modalidade ou título que concedeu direitos de uso de
tais bens;
tração pública; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
II - assumir a responsabilidade pela execução do res-
2015)
tante do objeto previsto no plano de trabalho, no caso
IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
de paralisação, de modo a evitar sua descontinuidade,
2015)
devendo ser considerado na prestação de contas o que
V - análise dos documentos comprobatórios das des-
foi executado pela organização da sociedade civil até
pesas apresentados pela organização da sociedade
o momento em que a administração assumiu essas
civil na prestação de contas, quando não for compro-
responsabilidades. (Redação dada pela Lei nº 13.204,
vado o alcance das metas e resultados estabelecidos
de 2015)
no respectivo termo de colaboração ou de fomento; Parágrafo único. As situações previstas no caput de-
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) vem ser comunicadas pelo gestor ao administrador
VI - análise de eventuais auditorias realizadas pelos público.
controles interno e externo, no âmbito da fiscalização
preventiva, bem como de suas conclusões e das medi- CAPÍTULO IV
das que tomaram em decorrência dessas auditorias. DA PRESTAÇÃO DE CONTAS
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Seção I
§ 2o No caso de parcerias financiadas com recursos Normas Gerais
de fundos específicos, o monitoramento e a avaliação
serão realizados pelos respectivos conselhos gestores, Art. 63. A prestação de contas deverá ser feita obser-
respeitadas as exigências desta Lei. (Incluído pela Lei vando-se as regras previstas nesta Lei, além de prazos
nº 13.204, de 2015) e normas de elaboração constantes do instrumento de
Art. 60. Sem prejuízo da fiscalização pela administra- parceria e do plano de trabalho.
DIREITO ADMINISTRATIVO

ção pública e pelos órgãos de controle, a execução da § 1o A administração pública fornecerá manuais espe-
parceria será acompanhada e fiscalizada pelos conse- cíficos às organizações da sociedade civil por ocasião
lhos de políticas públicas das áreas correspondentes da celebração das parcerias, tendo como premissas a
de atuação existentes em cada esfera de governo. (Re- simplificação e a racionalização dos procedimentos.
dação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
Parágrafo único. As parcerias de que trata esta Lei § 2o Eventuais alterações no conteúdo dos manuais
estarão também sujeitas aos mecanismos de controle referidos no § 1o deste artigo devem ser previamente
social previstos na legislação. informadas à organização da sociedade civil e publi-
cadas em meios oficiais de comunicação.

66
§ 3o O regulamento estabelecerá procedimentos sim- § 1o No caso de prestação de contas única, o gestor
plificados para prestação de contas. (Redação dada emitirá parecer técnico conclusivo para fins de avalia-
pela Lei nº 13.204, de 2015) ção do cumprimento do objeto. (Redação dada pela
Art. 64. A prestação de contas apresentada pela or- Lei nº 13.204, de 2015)
ganização da sociedade civil deverá conter elementos § 2o Se a duração da parceria exceder um ano, a or-
que permitam ao gestor da parceria avaliar o anda- ganização da sociedade civil deverá apresentar pres-
mento ou concluir que o seu objeto foi executado con- tação de contas ao fim de cada exercício, para fins de
forme pactuado, com a descrição pormenorizada das monitoramento do cumprimento das metas do objeto.
atividades realizadas e a comprovação do alcance das (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
metas e dos resultados esperados, até o período de § 3o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
que trata a prestação de contas. 2015)
§ 1o Serão glosados valores relacionados a metas e § 4o Para fins de avaliação quanto à eficácia e efetivi-
resultados descumpridos sem justificativa suficiente. dade das ações em execução ou que já foram realiza-
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) das, os pareceres técnicos de que trata este artigo de-
§ 2o Os dados financeiros serão analisados com o in- verão, obrigatoriamente, mencionar: (Redação dada
tuito de estabelecer o nexo de causalidade entre a re- pela Lei nº 13.204, de 2015)
ceita e a despesa realizada, a sua conformidade e o I - os resultados já alcançados e seus benefícios;
cumprimento das normas pertinentes. II - os impactos econômicos ou sociais;
§ 3o A análise da prestação de contas deverá conside- III - o grau de satisfação do público-alvo;
rar a verdade real e os resultados alcançados. IV - a possibilidade de sustentabilidade das ações após
§ 4o A prestação de contas da parceria observará re- a conclusão do objeto pactuado.
gras específicas de acordo com o montante de recur- Art. 68. Os documentos incluídos pela entidade na
sos públicos envolvidos, nos termos das disposições plataforma eletrônica prevista no art. 65, desde que
e procedimentos estabelecidos conforme previsto no possuam garantia da origem e de seu signatário por
plano de trabalho e no termo de colaboração ou de certificação digital, serão considerados originais para
fomento. os efeitos de prestação de contas.
Art. 65. A prestação de contas e todos os atos que
Parágrafo único. Durante o prazo de 10 (dez) anos,
dela decorram dar-se-ão em plataforma eletrônica,
contado do dia útil subsequente ao da prestação de
permitindo a visualização por qualquer interessado.
contas, a entidade deve manter em seu arquivo os
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
documentos originais que compõem a prestação de
Art. 66. A prestação de contas relativa à execução do
contas.
termo de colaboração ou de fomento dar-se-á me-
diante a análise dos documentos previstos no plano
Seção II
de trabalho, nos termos do inciso IX do art. 22, além
dos seguintes relatórios:
Dos Prazos
I - relatório de execução do objeto, elaborado pela or-
ganização da sociedade civil, contendo as atividades Art. 69. A organização da sociedade civil prestará
ou projetos desenvolvidos para o cumprimento do ob- contas da boa e regular aplicação dos recursos recebi-
jeto e o comparativo de metas propostas com os resul- dos no prazo de até noventa dias a partir do término
tados alcançados; (Redação dada pela Lei nº 13.204, da vigência da parceria ou no final de cada exercício,
de 2015) se a duração da parceria exceder um ano. (Redação
II - relatório de execução financeira do termo de co- dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
laboração ou do termo de fomento, com a descrição § 1o O prazo para a prestação final de contas será es-
das despesas e receitas efetivamente realizadas e sua tabelecido de acordo com a complexidade do objeto
vinculação com a execução do objeto, na hipótese de da parceria. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
descumprimento de metas e resultados estabeleci- 2015)
dos no plano de trabalho. (Redação dada pela Lei nº § 2o O disposto no caput não impede que a adminis-
13.204, de 2015) tração pública promova a instauração de tomada de
Parágrafo único. A administração pública deverá con- contas especial antes do término da parceria, ante
siderar ainda em sua análise os seguintes relatórios evidências de irregularidades na execução do objeto.
elaborados internamente, quando houver: (Redação (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) § 3o Na hipótese do § 2o, o dever de prestar contas sur-
I - relatório de visita técnica in loco eventualmente ge no momento da liberação de recurso envolvido na
DIREITO ADMINISTRATIVO

realizada durante a execução da parceria; (Redação parceria. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) § 4o O prazo referido no caput poderá ser prorrogado
II - relatório técnico de monitoramento e avaliação, por até 30 (trinta) dias, desde que devidamente justi-
homologado pela comissão de monitoramento e ava- ficado.
liação designada, sobre a conformidade do cumpri- § 5o A manifestação conclusiva sobre a prestação de
mento do objeto e os resultados alcançados durante contas pela administração pública observará os prazos
a execução do termo de colaboração ou de fomento. previstos nesta Lei, devendo concluir, alternativamen-
Art. 67. O gestor emitirá parecer técnico de análise de te, pela: (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
prestação de contas da parceria celebrada. I - aprovação da prestação de contas;

67
II - aprovação da prestação de contas com ressalvas; II - regulares com ressalva, quando evidenciarem im-
ou (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) propriedade ou qualquer outra falta de natureza for-
III - rejeição da prestação de contas e determinação de mal que não resulte em dano ao erário; (Redação
imediata instauração de tomada de contas especial. dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) III - irregulares, quando comprovada qualquer das
§ 6o As impropriedades que deram causa à rejeição seguintes circunstâncias: (Redação dada pela Lei nº
da prestação de contas serão registradas em platafor- 13.204, de 2015)
ma eletrônica de acesso público, devendo ser levadas a) omissão no dever de prestar contas;
em consideração por ocasião da assinatura de futu- b) descumprimento injustificado dos objetivos e me-
ras parcerias com a administração pública, conforme tas estabelecidos no plano de trabalho; (Redação dada
definido em regulamento. (Redação dada pela Lei nº pela Lei nº 13.204, de 2015)
13.204, de 2015) c) dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegíti-
mo ou antieconômico;
Art. 70. Constatada irregularidade ou omissão na
d) desfalque ou desvio de dinheiro, bens ou valores
prestação de contas, será concedido prazo para a or-
públicos.
ganização da sociedade civil sanar a irregularidade ou
§ 1o O administrador público responde pela decisão so-
cumprir a obrigação.
bre a aprovação da prestação de contas ou por omis-
§ 1o O prazo referido no caput é limitado a 45 (quaren- são em relação à análise de seu conteúdo, levando em
ta e cinco) dias por notificação, prorrogável, no máxi- consideração, no primeiro caso, os pareceres técnico,
mo, por igual período, dentro do prazo que a admi- financeiro e jurídico, sendo permitida delegação a au-
nistração pública possui para analisar e decidir sobre toridades diretamente subordinadas, vedada a subde-
a prestação de contas e comprovação de resultados. legação. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
§ 2o Transcorrido o prazo para saneamento da irregu- § 2o Quando a prestação de contas for avaliada como
laridade ou da omissão, não havendo o saneamento, irregular, após exaurida a fase recursal, se mantida a
a autoridade administrativa competente, sob pena de decisão, a organização da sociedade civil poderá soli-
responsabilidade solidária, deve adotar as providên- citar autorização para que o ressarcimento ao erário
cias para apuração dos fatos, identificação dos res- seja promovido por meio de ações compensatórias de
ponsáveis, quantificação do dano e obtenção do res- interesse público, mediante a apresentação de novo
sarcimento, nos termos da legislação vigente. plano de trabalho, conforme o objeto descrito no ter-
Art. 71. A administração pública apreciará a presta- mo de colaboração ou de fomento e a área de atua-
ção final de contas apresentada, no prazo de até cento ção da organização, cuja mensuração econômica será
e cinquenta dias, contado da data de seu recebimento feita a partir do plano de trabalho original, desde que
ou do cumprimento de diligência por ela determinada, não tenha havido dolo ou fraude e não seja o caso de
prorrogável justificadamente por igual período. (Reda- restituição integral dos recursos. (Incluído pela Lei nº
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015) 13.204, de 2015)
§ 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de
2015) CAPÍTULO V
§ 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, DA RESPONSABILIDADE E DAS SANÇÕES
de 2015) Seção I
§ 3o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.204, de Das Sanções Administrativas à Entidade
2015)
Art. 73. Pela execução da parceria em desacordo com
§ 4o O transcurso do prazo definido nos termos do ca-
o plano de trabalho e com as normas desta Lei e da
put sem que as contas tenham sido apreciadas: (Reda-
legislação específica, a administração pública poderá,
ção dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
garantida a prévia defesa, aplicar à organização da
I - não significa impossibilidade de apreciação em
sociedade civil as seguintes sanções: (Redação dada
data posterior ou vedação a que se adotem medidas pela Lei nº 13.204, de 2015)
saneadoras, punitivas ou destinadas a ressarcir danos I - advertência;
que possam ter sido causados aos cofres públicos; II - suspensão temporária da participação em chama-
II - nos casos em que não for constatado dolo da orga- mento público e impedimento de celebrar parceria ou
nização da sociedade civil ou de seus prepostos, sem contrato com órgãos e entidades da esfera de gover-
prejuízo da atualização monetária, impede a inci- no da administração pública sancionadora, por prazo
dência de juros de mora sobre débitos eventualmente não superior a dois anos; (Redação dada pela Lei nº
DIREITO ADMINISTRATIVO

apurados, no período entre o final do prazo referido 13.204, de 2015)


neste parágrafo e a data em que foi ultimada a apre- III - declaração de inidoneidade para participar de
ciação pela administração pública. (Redação dada chamamento público ou celebrar parceria ou contrato
pela Lei nº 13.204, de 2015) com órgãos e entidades de todas as esferas de gover-
Art. 72. As prestações de contas serão avaliadas: no, enquanto perdurarem os motivos determinantes
I - regulares, quando expressarem, de forma clara e da punição ou até que seja promovida a reabilitação
objetiva, o cumprimento dos objetivos e metas estabe- perante a própria autoridade que aplicou a penalida-
lecidos no plano de trabalho; (Redação dada pela Lei de, que será concedida sempre que a organização da
nº 13.204, de 2015) sociedade civil ressarcir a administração pública pelos

68
prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da san- XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela ad-
ção aplicada com base no inciso II. (Redação dada ministração pública com entidades privadas sem a es-
pela Lei nº 13.204, de 2015) trita observância das normas pertinentes ou influir de
§ 1o As sanções estabelecidas nos incisos II e III são qualquer forma para a sua aplicação irregular.” (NR)
de competência exclusiva de Ministro de Estado ou de Art. 78. O art. 11 da Lei no 8.429, de 2 de junho de
Secretário Estadual, Distrital ou Municipal, conforme o 1992, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso VIII:
caso, facultada a defesa do interessado no respectivo (Vigência)
processo, no prazo de dez dias da abertura de vista,
“Art. 11...........................................................................
podendo a reabilitação ser requerida após dois anos
.............................................................................................
de aplicação da penalidade. (Redação dada pela Lei
nº 13.204, de 2015) VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fis-
§ 2o Prescreve em cinco anos, contados a partir da data calização e aprovação de contas de parcerias firmadas
da apresentação da prestação de contas, a aplicação pela administração pública com entidades privadas.”
de penalidade decorrente de infração relacionada à (NR)
execução da parceria. (Incluído pela Lei nº 13.204, de Art. 78-A. O art. 23 da Lei no 8.429, de 2 de junho de
2015) 1992, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso III:
§ 3o A prescrição será interrompida com a edição de (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) (Vigência)
ato administrativo voltado à apuração da infração. “Art. 23. ......................................................................
(Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) ..........................................................................................
III - até cinco anos da data da apresentação à admi-
Seção II nistração pública da prestação de contas final pelas
Da Responsabilidade pela Execução e pela entidades referidas no parágrafo único do art. 1o desta
Emissão de Pareceres Técnicos
Lei.’ (NR)”
Art. 74. (VETADO).
Art. 75. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015) CAPÍTULO VI
Art. 76. (Revogado pela Lei nº 13.204, de 2015) DISPOSIÇÕES FINAIS
Seção III
Dos Atos de Improbidade Administrativa Art. 79. (VETADO).
Art. 77. O art. 10 da Lei no 8.429, de 2 de junho de Art. 80. O processamento das compras e contrata-
1992, passa a vigorar com as seguintes alterações: (Vi- ções que envolvam recursos financeiros provenientes
gência) de parceria poderá ser efetuado por meio de sistema
“Art. 10........................................................................... eletrônico disponibilizado pela administração pública
.............................................................................................. às organizações da sociedade civil, aberto ao público
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de via internet, que permita aos interessados formular
processo seletivo para celebração de parcerias com propostas. (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015)
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevi-
Parágrafo único. O Sistema de Cadastramento Uni-
damente;
.............................................................................................. ficado de Fornecedores - SICAF, mantido pela União,
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para fica disponibilizado aos demais entes federados, para
a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa fins do disposto no caput, sem prejuízo do uso de seus
física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores próprios sistemas. (Incluído pela Lei nº 13.204, de
públicos transferidos pela administração pública a 2015)
entidades privadas mediante celebração de parcerias, Art. 81. Mediante autorização da União, os Estados,
sem a observância das formalidades legais ou regula- os Municípios e o Distrito Federal poderão aderir ao
mentares aplicáveis à espécie; Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Re-
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou passe - SICONV para utilizar suas funcionalidades no
jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores cumprimento desta Lei.
públicos transferidos pela administração pública a en- Art. 81-A. Até que seja viabilizada a adaptação do sis-
tidade privada mediante celebração de parcerias, sem tema de que trata o art. 81 ou de seus correspondentes
a observância das formalidades legais ou regulamen-
nas demais unidades da federação: (Incluído pela Lei
tares aplicáveis à espécie;
nº 13.204, de 2015)
XVIII - celebrar parcerias da administração pública
com entidades privadas sem a observância das forma- I - serão utilizadas as rotinas previstas antes da entra-
lidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; da em vigor desta Lei para repasse de recursos a or-
DIREITO ADMINISTRATIVO

XIX - agir negligentemente na celebração, fiscaliza- ganizações da sociedade civil decorrentes de parcerias
ção e análise das prestações de contas de parcerias celebradas nos termos desta Lei; (Incluído pela Lei nº
firmadas pela administração pública com entidades 13.204, de 2015)
privadas; (Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) II - os Municípios de até cem mil habitantes serão au-
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela ad- torizados a efetivar a prestação de contas e os atos
ministração pública com entidades privadas sem a dela decorrentes sem utilização da plataforma eletrô-
estrita observância das normas pertinentes ou influir nica prevista no art. 65. (Incluído pela Lei nº 13.204,
de qualquer forma para a sua aplicação irregular. (Re- de 2015)
dação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Art. 82. (VETADO).

69
Art. 83. As parcerias existentes no momento da en- III - promoção da educação; (Incluído pela Lei nº
trada em vigor desta Lei permanecerão regidas pela 13.204, de 2015)
legislação vigente ao tempo de sua celebração, sem IV - promoção da saúde; (Incluído pela Lei nº 13.204,
prejuízo da aplicação subsidiária desta Lei, naquilo em de 2015)
que for cabível, desde que em benefício do alcance do V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
objeto da parceria. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
§ 1o As parcerias de que trata o caput poderão ser VI - defesa, preservação e conservação do meio am-
prorrogadas de ofício, no caso de atraso na liberação biente e promoção do desenvolvimento sustentável;
de recursos por parte da administração pública, por (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
período equivalente ao atraso. (Redação dada pela VII - promoção do voluntariado; (Incluído pela Lei nº
Lei nº 13.204, de 2015) 13.204, de 2015)
§ 2o As parcerias firmadas por prazo indeterminado VIII - promoção do desenvolvimento econômico e
antes da data de entrada em vigor desta Lei, ou pror- social e combate à pobreza; (Incluído pela Lei nº
rogáveis por período superior ao inicialmente estabe- 13.204, de 2015)
lecido, no prazo de até um ano após a data da entrada IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos
em vigor desta Lei, serão, alternativamente: (Redação socio produtivos e de sistemas alternativos de produ-
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) ção, comércio, emprego e crédito; (Incluído pela Lei nº
I - substituídas pelos instrumentos previstos nos arts. 13.204, de 2015)
16 ou 17, conforme o caso; (Incluído pela Lei nº X - promoção de direitos estabelecidos, construção de
13.204, de 2015) novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interes-
II - objeto de rescisão unilateral pela administração se suplementar; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
pública. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos di-
Art. 83-A. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.204, de reitos humanos, da democracia e de outros valores
2015) universais; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
Art. 84. Não se aplica às parcerias regidas por esta XII - organizações religiosas que se dediquem a ativi-
Lei o disposto na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. dades de interesse público e de cunho social distintas
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) das destinadas a fins exclusivamente religiosos; (In-
Parágrafo único. São regidos pelo art. 116 da Lei no cluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
8.666, de 21 de junho de 1993, convênios: (Redação XIII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecno-
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) logias alternativas, produção e divulgação de infor-
I - entre entes federados ou pessoas jurídicas a eles mações e conhecimentos técnicos e científicos que di-
vinculadas; (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) gam respeito às atividades mencionadas neste artigo.
II - decorrentes da aplicação do disposto no inciso IV (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
do art. 3o. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) Parágrafo único. É vedada às entidades beneficia-
Art. 84-A. A partir da vigência desta Lei, somente se- das na forma do art. 84-B a participação em cam-
rão celebrados convênios nas hipóteses do parágrafo panhas de interesse político-partidário ou eleitorais,
único do art. 84. (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) sob quaisquer meios ou formas. (Incluído pela Lei nº
Art. 84-B. As organizações da sociedade civil farão jus 13.204, de 2015)
aos seguintes benefícios, independentemente de certi- Art. 85. O art. 1o da Lei nº 9.790, de 23 de março de
ficação: (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) 1999, passa a vigorar com a seguinte redação:
I - receber doações de empresas, até o limite de 2% “Art. 1o Podem qualificar-se como Organizações da
(dois por cento) de sua receita bruta; (Incluído pela Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídi-
Lei nº 13.204, de 2015) cas de direito privado sem fins lucrativos que tenham
II - receber bens móveis considerados irrecuperáveis, sido constituídas e se encontrem em funcionamento
apreendidos, abandonados ou disponíveis, adminis- regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os res-
trados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil; pectivos objetivos sociais e normas estatutárias aten-
(Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) dam aos requisitos instituídos por esta Lei.” (NR)
III - distribuir ou prometer distribuir prêmios, me- Art. 85-A. O art. 3o da Lei no 9.790, de 23 de março de
diante sorteios, vale-brindes, concursos ou operações 1999, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XIII:
assemelhadas, com o intuito de arrecadar recursos (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) (Vigência)
adicionais destinados à sua manutenção ou custeio. “Art. 3o .......................................................................
(Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015) ..........................................................................................
Art. 84-C. Os benefícios previstos no art. 84-B serão XIII - estudos e pesquisas para o desenvolvimento, a
DIREITO ADMINISTRATIVO

conferidos às organizações da sociedade civil que disponibilização e a implementação de tecnologias


apresentem entre seus objetivos sociais pelo menos voltadas à mobilidade de pessoas, por qualquer meio
uma das seguintes finalidades: (Incluído pela Lei nº de transporte.
13.204, de 2015) .................................................................................’ (NR)”
I - promoção da assistência social; (Incluído pela Lei Art. 85-B. O parágrafo único do art. 4o da Lei no 9.790,
nº 13.204, de 2015) de 23 de março de 1999, passa a vigorar com a se-
II - promoção da cultura, defesa e conservação do guinte redação: (Incluído pela Lei nº 13.204, de 2015)
patrimônio histórico e artístico; (Incluído pela Lei nº (Vigência)
13.204, de 2015) ‘Art. 4o ......................................................................

70
Parágrafo único. É permitida a participação de servi-
dores públicos na composição de conselho ou diretoria
de Organização da Sociedade Civil de Interesse Públi- HORA DE PRATICAR!
co.’ (NR)”
Art. 86. A Lei no 9.790, de 23 de março de 1999, passa 1. (MPC-PA – ANALISTA MINISTERIAL DE INFORMÁ-
a vigorar acrescida dos seguintes arts. 15-A e 15-B: TICA – CESPE – 2019) Acerca de formalização, alteração
(Vigência) e execução de contratos administrativos, assinale a op-
“Art. 15-A. (VETADO).” ção correta.
“Art. 15-B. A prestação de contas relativa à execução
do Termo de Parceria perante o órgão da entidade es- a) Independentemente do valor do certame, o instru-
tatal parceira refere-se à correta aplicação dos recur- mento de contrato é obrigatório para todas as moda-
sos públicos recebidos e ao adimplemento do objeto lidades de licitação.
do Termo de Parceria, mediante a apresentação dos b) A substituição da garantia de execução por conveni-
seguintes documentos: ência das partes não poderá ser efetuada em um con-
I - relatório anual de execução de atividades, contendo trato.
especificamente relatório sobre a execução do objeto c) A responsabilidade por pagamentos de encargos
do Termo de Parceria, bem como comparativo entre as trabalhistas, fiscais e comerciais na execução de um
metas propostas e os resultados alcançados; contrato, em caso de inadimplência do contratado, é
II - demonstrativo integral da receita e despesa reali- automaticamente transferida à administração pública.
zadas na execução; d) O contratado, em um contrato alterado por acordo
III - extrato da execução física e financeira; das partes, fica obrigado a aceitar, nas mesmas condi-
IV - demonstração de resultados do exercício; ções contratuais, os acréscimos ou as supressões que
V - balanço patrimonial; se fizerem em reforma de edifício ou de equipamento,
VI - demonstração das origens e das aplicações de re- até o limite da metade do valor para os seus acrésci-
cursos; mos.
VII - demonstração das mutações do patrimônio so- e) Na aquisição de equipamentos de grande vulto, o re-
cial; cebimento sempre se dará mediante recibo.
VIII - notas explicativas das demonstrações contábeis,
caso necessário;
IX - parecer e relatório de auditoria, se for o caso.” 2. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE INFOR-
Art. 87. As exigências de transparência e publicidade MÁTICA – CESPE – 2019) A duração dos contratos re-
previstas em todas as etapas que envolvam a parce- gidos pela Lei n.º 8.666/1993 em relação ao aluguel de
ria, desde a fase preparatória até o fim da prestação equipamentos e à utilização de programas de informáti-
de contas, naquilo que for necessário, serão excepcio- ca pode-se estender pelo prazo máximo de:
nadas quando se tratar de programa de proteção a
pessoas ameaçadas ou em situação que possa com- a) 12 meses.
prometer a sua segurança, na forma do regulamento. b) 48 meses.
(Redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) c) 60 meses.
Art. 88. Esta Lei entra em vigor após decorridos qui- d) 72 meses.
nhentos e quarenta dias de sua publicação oficial, ob- e) 120 meses.
servado o disposto nos §§ 1o e 2odeste artigo. (Redação
dada pela Lei nº 13.204, de 2015) 3. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE INFOR-
§ 1o Para os Municípios, esta Lei entra em vigor a MÁTICA – CESPE – 2019) De acordo com as disposições
partir de 1o de janeiro de 2017. (Incluído pela Lei nº normativas acerca do pregão, julgue os itens a seguir.
13.204, de 2015) I Na fase preparatória do pregão, a autoridade compe-
§ 2o Por ato administrativo local, o disposto nesta Lei tente justificará a necessidade de contratação, definirá o
poderá ser implantado nos Municípios a partir da data objeto do certame, as exigências de habilitação, os crité-
decorrente do disposto no caput. (Incluído pela Lei nº rios de aceitação das propostas, as sanções por inadim-
13.204, de 2015) plemento e as cláusulas do contrato.
Brasília, 31 de julho de 2014; 193o da Independência e II Após a convocação dos interessados para participação
126o da República. da licitação, estes terão cinco dias úteis para apresentar
as propostas, contados da publicação do aviso em Diário
Oficial.
DIREITO ADMINISTRATIVO

III Poderá ser adotada a licitação na modalidade de pre-


gão para aquisição de serviços comuns cujos padrões de
desempenho e qualidade possam ser objetivamente de-
finidos pelo edital por meio de especificações usuais no
mercado.
Assinale a opção correta.

a) Apenas o item I está certo.


b) Apenas o item II está certo.

71
c) Apenas os itens I e III estão certos. c) a competência das comissões parlamentares de inqué-
d) Apenas os itens II e III estão certos. rito para investigar e aplicar sanções judiciais nos ca-
e) Todos os itens estão certos. sos sob a sua análise.
d) o controle das entidades da administração indireta pe-
los órgãos da administração direta aos quais elas se
4. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE INFOR- subordinam.
MÁTICA – CESPE – 2019) A revogação de licitação e) a revogação judicial de atos administrativos submeti-
dos à apreciação da administração pública, com base
a) é o desfazimento dos efeitos de uma licitação, por ra- em critérios de conveniência e oportunidade.
zão de interesse público que decorra de fato super-
veniente. 7. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019) A
b) pode ser realizada em qualquer fase e a qualquer tem-
respeito da organização administrativa e de poderes e
po, antes da assinatura do contrato e por se basear
deveres da administração pública, julgue o item seguinte.
em ilegalidade no seu procedimento, desde que a ad-
É admitida a criação de autarquia por iniciativa de de-
ministração ou o judiciário verifique e indique a infrin-
putado federal, desde que este encaminhe o respectivo
gência à lei ou ao edital.
projeto de lei à Câmara dos Deputados e que a matéria
c) refere-se a procedimento licitatório ocasionado por
motivo de ilegalidade que gera obrigação de indeni- verse estritamente sobre a criação da entidade.
zar a fazenda nacional.
d) é um ato licitatório que exonera a administração pú- ( ) CERTO ( ) ERRADO
blica do dever de indenizar o contratado por prejuízos
regularmente comprovados e, especialmente, pelo 8. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019) A
que ele houver executado até a data em que a revo- respeito da organização administrativa e de poderes e
gação for declarada. deveres da administração pública, julgue o item seguinte.
e) pode ser aplicada durante a execução do contrato, Parcerias entre a administração pública e organizações
após devidamente comprovado o motivo da ilegalida- da sociedade civil para a consecução de finalidades de
de verificada e indicada pela administração pública ou interesse público e recíproco, celebradas por meio de
pelo Poder Judiciário. execução de atividades ou de projetos previamente es-
tabelecidos em planos de trabalhos, podem ocorrer me-
5. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE INFOR- diante termos de colaboração, termos de fomento ou
MÁTICA – CESPE – 2019) A respeito do sistema de re- acordos de cooperação.
gistro de preços (SRP), assinale a opção correta.
( ) CERTO ( ) ERRADO
a) O SRP não poderá ser adotado quando, pelas carac-
terísticas do bem ou serviço, houver necessidade de 9. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019) A
contratações frequentes. respeito da organização administrativa e de poderes e
b) Nos casos em que não for possível definir previamen- deveres da administração pública, julgue o item seguinte.
te, pela natureza do objeto, o quantitativo a ser de- A distribuição de competências a órgãos subalternos
mandado pela administração pública, o SRP não po-
despersonalizados, como as secretarias-gerais, é modali-
derá ser adotado.
dade de descentralização de poder.
c) O SRP poderá ser adotado caso seja conveniente a
aquisição de bens com previsão de entregas parce-
ladas ou a contratação de serviços remunerados por ( ) CERTO ( ) ERRADO
unidade de medida ou em regime de tarefa.
d) Os preços registrados deverão ser publicados, uma 10. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019) A
única vez, na imprensa oficial, para orientação da ad- respeito da organização administrativa e de poderes e
ministração pública. deveres da administração pública, julgue o item seguinte.
e) A existência de preços registrados obriga a adminis- São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
tração pública a firmar as contratações que deles po- relativas à prática de atos dolosos ou culposos tipificados
derão surgir, não lhe sendo facultada a utilização de como improbidade administrativa.
outros meios.
( ) CERTO ( ) ERRADO
6. (MPC-PA – ASSISTENTE MINISTERIAL DE CONTRO-
LE EXTERNO – CESPE – 2019) Constitui espécie de con- 11. (DPE-DF – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2019) A
DIREITO ADMINISTRATIVO

trole da administração pública prevista na organização respeito de improbidade administrativa e de prescrição


administrativa brasileira e decadência administrativa, julgue o item subsecutivo.
O desrespeito ao princípio da moralidade pode ensejar,
a) o julgamento das contas do presidente da República em certa medida, sanção legal, mas não configura ato de
pelo Tribunal de Contas da União. improbidade administrativa.
b) o poder de autotutela, que, observados os requisitos
legais, permite à administração rever de ofício um ato ( ) CERTO ( ) ERRADO
ilegal, ainda que o respectivo recurso administrativo
interposto não seja conhecido.

72
12. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU- 16. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU-
NICIPAL – CESPE – 2019) Considerando as disposições NICIPAL – CESPE – 2019) Após processo licitatório na
da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n.º 8.429/1992) modalidade de concorrência, determinada empresa foi
e o processo administrativo disciplinar, julgue o item se- contratada para reformar imóvel pertencente à adminis-
guinte. tração pública; por enfrentar, no entanto, graves proble-
Nos processos administrativos disciplinares, o uso de mas financeiros, essa empresa deixou de realizar 30% da
prova emprestada, ainda que haja autorização do juízo obra licitada, o que equivale a uma monta de R$ 250.000.
competente, é vedado em razão do direito de proteção Por isso, a administração pública pretende contratar ou-
à intimidade previsto na Constituição Federal de 1988. tra empresa para finalizar a obra remanescente.
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo
( ) CERTO ( ) ERRADO item.
Para a conclusão da obra, pode ser realizada nova licita-
13. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU- ção na modalidade de tomada de preços.
NICIPAL – CESPE – 2019) Considerando as disposições
da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n.º 8.429/1992) ( ) CERTO ( ) ERRADO
e o processo administrativo disciplinar, julgue o item se-
guinte.
A ação principal relativa a procedimento administrativo 17. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU-
que apure a prática de ato de improbidade terá o rito NICIPAL – CESPE – 2019) Após processo licitatório na
ordinário e será proposta pelo Ministério Público ou pela modalidade de concorrência, determinada empresa foi
pessoa jurídica interessada, dentro do prazo de sessenta contratada para reformar imóvel pertencente à adminis-
dias no caso de efetivação de medida cautelar. tração pública; por enfrentar, no entanto, graves proble-
mas financeiros, essa empresa deixou de realizar 30% da
( ) CERTO ( ) ERRADO obra licitada, o que equivale a uma monta de R$ 250.000.
Por isso, a administração pública pretende contratar ou-
14. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU- tra empresa para finalizar a obra remanescente.
NICIPAL – CESPE – 2019) Considerando as disposições Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo
da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n.º 8.429/1992) item.
e o processo administrativo disciplinar, julgue o item se- A situação narrada caracteriza hipótese legal de dispensa
guinte. de licitação para a contratação de remanescente de obra,
Servidor público que receber quantia em dinheiro para caso em que deve ser atendida a ordem de classificação
deixar de tomar providência a que seria obrigado em da licitação anterior e devem ser aceitas as mesmas con-
razão do cargo que ocupa estará sujeito, entre outras dições oferecidas pelo licitante vencedor.
sanções, à suspensão dos seus direitos políticos por um
período de oito anos a dez anos. ( ) CERTO ( ) ERRADO

( ) CERTO ( ) ERRADO 18. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU-


NICIPAL – CESPE – 2019) À luz das disposições da Lei
15. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU- n.º 11.079/2004 acerca das normas gerais para licitação
NICIPAL – CESPE – 2019) Após processo licitatório na e contratação de parceria público-privada no âmbito da
modalidade de concorrência, determinada empresa foi administração pública, julgue o item a seguir.
contratada para reformar imóvel pertencente à adminis- A contratação de parceria público-privada deve ser pre-
tração pública; por enfrentar, no entanto, graves proble- cedida de licitação na modalidade de tomada de preço,
mas financeiros, essa empresa deixou de realizar 30% da estando a abertura do processo licitatório condicionada
obra licitada, o que equivale a uma monta de R$ 250.000. a autorização da autoridade competente, fundamentada
Por isso, a administração pública pretende contratar ou- em estudo técnico.
tra empresa para finalizar a obra remanescente.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo
item.
19. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU-
O princípio do julgamento objetivo visa afastar o caráter
NICIPAL – CESPE – 2019) Acerca de atos administrati-
discricionário quando da escolha de propostas em pro-
vos, julgue o item que se segue.
cesso licitatório, obrigando os julgadores a se ater aos
A administração pública poderá revogar atos administra-
DIREITO ADMINISTRATIVO

critérios prefixados pela administração pública, o que re-


tivos que possuam vício que os torne ilegais, ainda que o
duz e delimita a margem de valoração subjetiva no cer-
ato revogatório não tenha sido determinado pelo Poder
tame.
Judiciário.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO

73
20. (PGM CAMPO GRANDE-MS – PROCURADOR MU-
NICIPAL – CESPE – 2019) Acerca de atos administrati-
vos, julgue o item que se segue. GABARITO
Ato administrativo vinculado que tenha vício de compe-
tência poderá ser convalidado por meio de ratificação, 1. D
desde que não seja de competência exclusiva.
2. B
( ) CERTO ( ) ERRADO
3. C
4. A
5. C
6. B
7. ERRADO
8. CERTO
9. ERRADO
10. ERRADO
11. ERRADO
12. ERRADO
13. ERRADO
14. CERTO
15. CERTO
16. CERTO
17. CERTO
18. ERRADO
19. ERRADO
20. CERTO
DIREITO ADMINISTRATIVO

74
Tribunal de Justiça do Estado do Pará

TJ-PA
Analista Judiciário – Área/Especialidade: Direito

Volume II

OT035-N9-B
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
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OBRA

Tribunal de Justiça do Estado do Pará- TJ-PA

Analista Judiciário – Área/Especialidade: Direito

Edital Nº 1 – TJ/PA, de 15 de Outubro de 2019

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Ética no Serviço Público - Profª Bruna Pinotti
Administração Pública e Poder Judiciário - Profª Silvana Guimarães
Legislação - Profº Fernando Zantedeschi
Atualidades - Profº Heitor Ferreira
Direito Administrativo - Profº Fernando Zantedeschi
Direito Constitucional - Profº Ricardo Razaboni
Direito Civil - ProfªMariela Cardoso
Direito Processual Civil - Profª Mariela Cardoso
Direito Penal - Profº Rodrigo Gonçalves
Direito Processual Penal - Profº Rodrigo Gonçalves

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Leandro Filho
Christine Liber

DIAGRAMAÇÃO
Renato Vilela
Thais Regis

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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SUMÁRIO
DIREITO CONSTITUCIONAL
Aplicabilidade das normas constitucionais. Normas de eficácia plena, contida e limitada. Normas programáticas... 01
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Princípios fundamentais. Direitos e garantias fundamentais..... 05
Organização político-administrativa do Estado. Estado federal brasileiro, União, estados, Distrito Federal, municípios e territórios... 14
Poder Executivo. Atribuições e responsabilidades do presidente da República....................................................................... 21
Poder Legislativo. Estrutura. Funcionamento e atribuições. Processo legislativo..................................................................... 24
Fiscalização contábil, financeira e orçamentária.................................................................................................................................... 31
Comissões parlamentares de inquérito. Poder Judiciário. Disposições gerais. Órgãos do poder Judiciário. Organização
e competências, Conselho Nacional de Justiça. Funções essenciais à justiça............................................................................ 34

DIREITO CIVIL

Lei de introdução às normas do direito brasileiro. Vigência, aplicação, obrigatoriedade, interpretação e integração
das leis. Conflito das leis no tempo. Eficácia das leis no espaço.................................................................................................. 01
Pessoas naturais. Conceito. Início da pessoa natural. Personalidade. Capacidade. Direitos da personalidade.
Nome civil. Estado civil. Domicílio. Ausência......................................................................................................................................... 08
Pessoas jurídicas. Disposições Gerais. Conceito e Elementos Caracterizadores. Constituição. Extinção. Capacidade
e direitos da personalidade. Sociedades de fato. Associações. Sociedades. Fundações. Grupos despersonalizados.
Desconsideração da personalidade jurídica. Responsabilidade da pessoa jurídica e dos sócios.................................... 15
Bens. Diferentes classes. Bens Corpóreos e incorpóreos. Bens no comércio e fora do comércio................................... 20
Fato jurídico. Negócio jurídico. Disposições gerais. Classificação e interpretação. Elementos. Representação.
Condição, termo e encargo. Defeitos do negócio jurídico. Existência, eficácia, validade, invalidade e nulidade do
negócio jurídico. Simulação......................................................................................................................................................................... 24
Atos jurídicos lícitos e ilícitos...................................................................................................................................................................... 34
Prescrição e decadência................................................................................................................................................................................ 35
Prova do fato jurídico..................................................................................................................................................................................... 38
Contratos. Princípios. Classificação. Contratos em geral. Disposições gerais. Interpretação. Extinção. Espécies
de contratos regulados no Código Civil.................................................................................................................................................. 40

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Lei nº 13.105/2015 e suas alterações (Código de Processo Civil)................................................................................................ 01


Normas processuais civis............................................................................................................................................................................. 04
A jurisdição........................................................................................................................................................................................................ 10
A Ação. Conceito, natureza, elementos e características. Condições da ação. Classificação. Pressupostos processuais.... 18
Preclusão............................................................................................................................................................................................................ 20
Sujeitos do processo. Capacidade processual e postulatória. Deveres das partes e procuradores. Procuradores.
Sucessão das partes e dos procuradores. Litisconsórcio. Intervenção de terceiros. Poderes, deveres e responsabilidade
do juiz. Ministério Público. Advocacia Pública. Defensoria Pública............................................................................................. 20
SUMÁRIO

Atos processuais. Forma dos atos. Tempo e lugar. Prazos. Comunicação dos atos processuais. Nulidades.
Distribuição e registro. Valor da causa.................................................................................................................................................... 27
Tutela provisória. Tutela de urgência. Disposições gerais............................................................................................................... 32
Formação, suspensão e extinção do processo..................................................................................................................................... 36
Processo de conhecimento e do cumprimento de sentença. Procedimento comum. Disposições Gerais. Petição
inicial. Improcedência liminar do pedido. Contestação, reconvenção e revelia. Providências preliminares e de
saneamento. Julgamento conforme o estado do processo. Provas. Sentença e coisa julgada. Cumprimento da
sentença. Disposições Gerais. Cumprimento. Liquidação. Processos de execução.............................................................. 37
Processos nos tribunais e meios de impugnação das decisões judiciais.................................................................................. 57
Disposições finais e transitórias................................................................................................................................................................. 59
Mandado de segurança. Ação popular. Ação civil pública. Ação de improbidade administrativa................................. 59
Teoria Geral dos Recursos. Recursos em espécie............................................................................................................................... 62
Lei nº 9.099/1995 e suas alterações e Lei nº 10.259/2001 e suas alterações (juizados especiais cíveis e criminais).... 69
Lei nº 13.140/2015 (dispõe sobre mediação)....................................................................................................................................... 83,
Lei nº 8.328/2015 (dispõe sobre o Regimento de Custas e outras despesas processuais)............................................... 89
Súmulas do STF e do STJ.............................................................................................................................................................................. 98

DIREITO PENAL

Princípios aplicáveis ao Direito Penal...................................................................................................................................................... 01


Aplicação da lei penal. A lei penal no tempo e no espaço. Tempo e lugar do crime. Interpretação da lei penal.
Analogia. Irretroatividade da lei penal. Conflito aparente de normas penais....................................................................... 05
Ilicitude............................................................................................................................................................................................................... 11
Culpabilidade................................................................................................................................................................................................... 15
Concurso de Pessoas..................................................................................................................................................................................... 16
Penas. Espécies de penas. Cominação das penas.............................................................................................................................. 16
Ação penal........................................................................................................................................................................................................ 25
Punibilidade e causas de extinção........................................................................................................................................................... 26
Prescrição.......................................................................................................................................................................................................... 36
Crimes contra a fé pública.......................................................................................................................................................................... 39
Crimes contra a Administração Pública................................................................................................................................................. 41
Lei nº 4.898/1965, e suas alterações (abuso de autoridade)......................................................................................................... 48
Lei nº 9.613/1998 e suas alterações (Lavagem de dinheiro)......................................................................................................... 49
Disposições constitucionais aplicáveis ao direito penal.................................................................................................................. 50
Crimes e sanções penais na licitação (Lei nº 8.666/1993 e suas alterações).......................................................................... 51
Crimes de responsabilidade fiscal (Lei nº 10.028/2000)................................................................................................................. 52
Súmulas do STF e do STJ............................................................................................................................................................................. 53
SUMÁRIO
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Processo penal brasileiro; processo penal constitucional. Sistemas e princípios fundamentais..................................... 01


Aplicação da lei processual no tempo, no espaço e em relação às pessoas. Disposições preliminares do Código
de Processo Penal........................................................................................................................................................................................... 02
Fase pré-processual. Inquérito policial................................................................................................................................................... 03
Processo, procedimento e relação jurídica processual. Elementos identificadores da relação processual. Formas
do procedimento. Princípios gerais e informadores do processo. Pretensão punitiva. Tipos de processo penal... 06
Ação penal......................................................................................................................................................................................................... 18
Ação civil Ex Delicto....................................................................................................................................................................................... 21
Jurisdição e competência............................................................................................................................................................................. 21
Questões e processos incidentes.............................................................................................................................................................. 24
Prova.................................................................................................................................................................................................................... 28
Sujeitos do Processo...................................................................................................................................................................................... 35
Prisão, medidas cautelares, e liberdade provisória e prisão temporária (Lei nº 7.960/1989 e suas alterações)....... 37
Citações e intimações.................................................................................................................................................................................... 42
Atos processuais e atos judiciais............................................................................................................................................................... 43
Procedimentos. Processo comum; processos especiais.................................................................................................................. 49
Lei nº 8.038/1990 – normas procedimentais para os processos perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o
Supremo Tribunal Federal (STF)................................................................................................................................................................. 64
Lei nº 9.099/1995 e suas alterações e Lei nº 10.259/2001 e suas alterações (juizados especiais cíveis e criminais).. 68
Prazos. Características, princípios e contagem.................................................................................................................................... 71
Nulidades. Recursos em geral.................................................................................................................................................................... 81
Habeas corpus e seu processo.................................................................................................................................................................. 88
Normas processuais da Lei nº 7.210/1984 e suas alterações (execução penal)..................................................................... 91
Relações jurisdicionais com autoridade estrangeira......................................................................................................................... 109
Disposições gerais do Código de Processo Penal.............................................................................................................................. 110
Súmulas do STF e do STJ.............................................................................................................................................................................. 112
ÍNDICE

DIREITO CONSTITUCIONAL

Aplicabilidade das normas constitucionais. Normas de eficácia plena, contida e limitada. Normas programáticas.............. 01
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Princípios fundamentais. Direitos e garantias fundamentais....... 05
Organização político-administrativa do Estado. Estado federal brasileiro, União, estados, Distrito Federal, municípios e territórios.. 14
Poder Executivo. Atribuições e responsabilidades do presidente da República..................................................................................... 21
Poder Legislativo. Estrutura. Funcionamento e atribuições. Processo legislativo.................................................................................. 24
Fiscalização contábil, financeira e orçamentária................................................................................................................................................. 31
Comissões parlamentares de inquérito. Poder Judiciário. Disposições gerais. Órgãos do poder Judiciário. Organização
e competências, Conselho Nacional de Justiça. Funções essenciais à justiça......................................................................................... 34
Perspectiva política
APLICABILIDADE DAS NORMAS Esta concepção foi idealizada por Carl Schmitt que
CONSTITUCIONAIS. NORMAS DE EFICÁCIA sintetizava a constituição como um documento que sin-
PLENA, CONTIDA E LIMITADA. NORMAS tetizava unicamente as decisões políticas do Estado. Para
PROGRAMÁTICAS o Autor, necessário a constituição conter decisões polí-
ticas fundamentais, posto que do contrário estaríamos
diante de um lei formal/comum qualquer.
A disciplina de direito constitucional é talvez a mais
importante de todo o ordenamento jurídico, em especial Perspectiva Jurídica
do brasileiro posto que todas as demais normas devem Idealizada por Hans Kelsen, a constituição seria fruto
estar de acordo com a Constituição Federal. da vontade racional de um povo e não a realidade social;
Segundo Nathália Masson, “Direito Constitucional é é uma norma pura, positivada e suprema. Para Kelsen, a
um dos ramos do Direito Público, a matriz que funda- constituição seria o ápice da pirâmide, e todas as demais
menta e orienta todo o ordenamento jurídico. Surgiu leis, devem estar em consonância com ela.
com os ideais liberais atentando-se, a princípio, para a
organização estrutural do Estado, o exercício e transmis- Fontes formais
são do poder e a enumeração de direitos e garantias fun- O direito constitucional se instrui em diversas fontes.
damentais dos indivíduos. Atualmente, preocupa-se não Podem ser consideradas fontes formais do direito cons-
somente com a limitação do poder estatal na esfera par- titucional a própria Constituição do estado, as emendas
ticular, mas também com a finalidade das ações estatais constitucionais e os tratados internacionais de direitos
e a ordem social, democrática e política”. humanos.
A constituição, por sua vez, é o documento que alicer-
ça os fundamentos do Estado para a qual ela foi delinea-
da. Também é possível utilizar outros sinônimos como
#FicaDica
constituir, delimitar, organizar; enfim, a Constituição tem Nossa constituição segue a perspectiva de
essa finalidade: organizar e estruturar o Estado. hans kelsen, chamada de jurídica.
Portanto, podemos definir constituição como um
conglomerado de normas de caráter fundamental e su-
premo, escritas ou alicerçadas nos costumes, responsá- A Constituição sob o prisma sociológico está direta-
veis pela criação, estruturação e organização do Estado mente ligada a teoria elaborada por Ferdinand Lassale.
– uma espécie de estatuto do poder. Segundo o autor a constituição seria o reflexo das re-
O estudo da disciplina de direito constitucional pode lações de poder vigentes em determinada comunidade
ser feito tomando por base três perspectivas: a primeira, política, ou seja, a constituição deveria exprimir as rela-
direito constitucional geral, fica adstrita as normas ge- ções vigentes no estado e não se furtar de regras ultra-
rais para o direito constitucional; a segunda perspectiva, passadas ou mesmo caídas no desuso, posto que se as-
direito constitucional específico, estuda o direito cons- sim fosse, não passaria de um simples pedaço de papel.
titucional específico de um estado e, por fim, a terceira Do ponto de vista político, Carl Schimtt entende que a
perspectiva, direito constitucional comparado, analisa a constituição deve ser o produto de uma decisão da von-
influência das constituições de outros estados e sua par- tade que se impõe ao ordenamento; é resultante de uma
ticipação no tempo e espaço no decorrer da história. decisão fundamental oriunda de poder originário, apto a
criar aquele texto.
Para Hans Kelsen, precursor da concepção jurídica,
FIQUE ATENTO! a constituição é a lei maior, nada acima dela; todas as
Entendemos que o edital utilizou o termo demais leis devem obediência obrigatória ao texto cons-
“perspectiva” neste tópico de forma equi- titucional. Trata-se da chamada Teoria Pura do Direito,
vocada. Referido termo cabível apenas para por onde Kelsen coloca a Constituição no topo de uma
justificar as três formas de estudo do direito pirâmide, e na sequência as demais normas possíveis.
constitucional, conforme explicado acima. No As constituições podem ser classificadas por diversos
entanto, a classificação sociológica, política ângulos. Quanto ao conteúdo uma constituição pode ser
ou jurídica referente a constituição – portanto, classificada como material ou formal. Será considerada
cabível no tópico a seguir e, tecnicamente, ao formal, nas palavras de Nathália Masson, “assuntos im-
invés de perspectiva, mais apropriado seria a prescindíveis à organização política do Estado. Em outros
palavra “concepção”, ou seja, concepção so- termos, são constitucionais os preceitos que compõe o
DIREITO CONSTITUCIONAL

ciológica, concepção filosófica ou concepção documento constitucional, ainda que o conteúdo de al-
jurídica. guns desses preceitos não possa ser considerado mate-
rialmente constitucional”. Nas constituições classificadas
como materiais, considera-se constitucional toda norma
Perspectiva sociológica de cunho constitucional ainda que não esteja inserida na
Ferdinand Lassale foi o idealizador desta teoria. Para constituição.
ele “a constituição nada mais é do que a soma dos fato-
res reais de poder que regem a sociedade”, ou seja, para
Lassale a constituição é o reflexo da sociedade.

1
O poder constituinte é aquele que também cria os
#FicaDica demais poderes, que apresenta o regramento, seus limi-
Material: não importa se a norma está inseri- tes e suas atribuições. Tem enorme importância no pro-
da no texto da constituição. Será considerada cesso de formação do novo estado, pois, graças a ele
constitucional se o seu conteudo for de natu- será possível dar vida ao novo ordenamento.
reza constitucional. Formal: para ser conside- Existem duas correntes que definem a natureza do poder
rada constitucional deverá a norma compor o constituinte. São elas: corrente jusnaturalista e corrente jus-
texto da constituição. positivista. A primeira, considerada que o poder constituinte
é uma espécie de poder de direito, pois para autores como
Sieyés o direito natural precede ao novo Estado em surgi-
Também é possível classificar uma constituição quan- mento, uma espécie de poder de direito nascido antes do
to a sua finalidade. Poderá ser classificada como cons- Estado com a tarefa de organizar essa nova sociedade. A se-
tituição garantia que tem por característica a restrição gunda corrente defende que não há como existir regramen-
do poder estatal, ou seja, núcleos de direitos que não tos (direitos) precedentes ao Estado, posto que estes surgem
poderão sofre interferência do Estado. Uma constituição a partir do momento que o povo decide se organizar em
com essa característica é aquela que se preocupa com a sociedade; estar-se-ia, portanto, diante de um poder de fato,
manutenção de direitos já conquistados, ou seja, prote- um poder político fruto das forças sociais que o criam.
ge-se aquilo que se conquistou impedindo a ingerência
do Estado. Ainda quanto a finalidade, poderá uma cons- #FicaDica
tituição ser chamada de constituição dirigente que, ao
Jusnaturalista – poder de fato: o poder cons-
contrário da garantia, ocupa-se de um plano futuro para
tituinte é anterior ao estado. Tem natureza
a conquista de direitos. Na realidade essas constituições
estabelecem uma meta a ser alcançada pelos Estados. jurídica, por isso apto a organizar uma cons-
tituição.
Juspositivista – poder de direito: é um poder
#FicaDica político, fruto da vontade do povo que legiti-
A constituição federal de 1988, em vigência, é ma a construção de um novo documento for-
classificada quanto ao conteúdo como formal mal.
e quanto a finalidade como dirigente.
- Classificação

Normas Constitucionais 1. Quanto ao momento de manifestação (surgimento):


- Fundacional: é o poder que produz a primeira cons-
Classificação quanto a aplicabilidade tituição do Estado.
- Normas de eficácia plena: tem aplicabilidade ime- - Pós-fundacional: por conta de ruptura da ordem vi-
diata. Desde sua entrada em vigor já começa a gente, necessário elaborar novo texto.
produzir efeitos. Não precisa de outra norma para
regulamenta-la. Poderá até tê-la, mas desnecessá- 2. Quanto às dimensões
ria do ponto de vista de sua aplicabilidade. - Material: marca os “valores” que serão prestigiados
- Normas de eficácia contida: possuem aplicabilidade pela constituição.
imediata, direta, mas não integral, posto que su- - Formal: formaliza a criação do estado, exprimindo a
jeito a restrições que limitem sua eficácia e aplica- ideia de direito convencionada.
bilidade. Segundo José Afonso da Silva, Para José
Afonso da Silva, “as normas de eficácia contida são - Características
as que possuem atributos imperativos, positivos
ou negativos que limitam o Poder Público. Geral- - Inicial: é considerado inicial, pois não existe nada
mente estabelecem direitos subjetivos de indivídu- antes dele. O poder constituinte elabora um docu-
os e entidades privadas ou públicas”. mento que inaugura um novo Estado.
- Normas de eficácia limitada: são normas constitu- - Ilimitado: não está subordinado a nenhum outro re-
cionais que dependem de uma norma, infraconsti- gramento.
tucional, para que dê aplicabilidade a norma. - Incondicionado: atua livremente, não está adstrito a
condições previamente estipuladas.
Segundo a Prof. Nathalia Masson, “o poder constituinte - Autônomo: possibilidade do poder definir o conte-
é a força política que se funda em si mesma, a expressão údo da nova constituição.
sublime da vontade de um povo em estabelecer e discipli-
DIREITO CONSTITUCIONAL

nar as bases organizacionais da comunidade política”. - Permanente: não se esgota. Rompendo sistema vi-
gente, apto a elaborar nova constituição.
O poder constituinte é, portanto, aquele poder res-
ponsável por dar origem ao regramento do Estado. É - Poderes Constituídos
graças a esse poder que serão definidas a estrutura de
jurídicas e políticas do novo ordenamento que está sur- Os poderes constituídos são aqueles criados pelo po-
gindo. Esse poder normalmente nasce junto com o pró- der constituinte originário. Os poderes constituídos são,
prio estado, ou seja, o povo em conjunto estabelece as portanto, derivados do poder constituinte originário e
regras que regerão aquela nova unidade. podem ser divididos nas seguintes espécies:

2
- Poder Constituído Derivado reformador: tem por que pode requerer a mudança do texto constitu-
escopo alterar a constituição de modo a adequá-la cional; em segundo, essa mudança deve obedecer
as transformações decorrentes de novas dinâmi- a um procedimento específico, também rigoroso e
cas sociais. No Brasil esse poder é exprimido pelas complexo para evitar que a constituição seja alte-
Emendas Constitucionais. rada a qualquer momento.
- Limitação formal subjetiva: rol de legitimados a pro-
O poder derivado reformador tem enorme importân- porem projetos de emenda à constituição (art. 60)
cia para o direito constitucional, posto que é por ele que I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara
a Constituição se adequa as transformações proporcio- dos Deputados ou do Senado Federal;
nadas pelo tempo, ou seja, para se evitar a confecção de II - do Presidente da República;
um novo texto constitucional sempre que for necessária III - de mais da metade das Assembleias Legislativas
sua adequação aos novos contornos da sociedade, utili- das unidades da Federação, manifestando-se, cada
za-se do poder reformador. uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
Vale ressaltar que nossa CF/88 é classificada como
uma constituição rígida, não podendo ser mudada a - Limitação formal objetiva: procedimento que deve
qualquer tempo e por qualquer modo. Apesar da pos- ser adotado para alteração do texto constitucional
sibilidade de sua modificação, para que isso ocorra ne- (art. 60 §2º). A proposta será:
cessário respeitar um procedimento rigoroso, também I - discutida e votada em cada Casa do Congresso
previsto pela própria Constituição. Nacional,
Um dos enfrentamos que se coloca à frente do legis- II - em dois turnos,
lador é a percepção correto daquilo que de fato precisa III - considerando-se aprovada se obtiver, em ambos,
ser mudado e do tempo em que aquilo deve ser mudado. três quintos dos votos dos respectivos membros.
Do contrário, estar-se-ia diante da fragilização do texto
constitucional já que intenções controvertidas podem Portanto, a proposta de emenda constitucional de-
prejudicar a estabilidade do texto. Por conta disso a pró- verá ser discutida e votada nas duas casas do Congresso
Nacional (executivo e legislativo). Essa votação deverá
pria CF/88 trouxe em seu texto alguns limites à possibi-
ser aprovada por no mínimo 3/5 dos integrantes da res-
lidade de reforma; essas limitações se dividem em implí-
pectiva casa.
citas e expressas. As expressas, por sua vez, podem ser
Assim, certos de que na Câmara dos Deputados te-
divididas em: temporais, materiais, circunstanciais e for-
mos 513 Deputados Federais e no Senado Federal 81 Se-
mais. Iniciaremos com o estudo das limitações expressas.
nadores, para aprovação de uma emenda, necessário a
anuência de 308 deputados e 49 Senadores.
Limitações expressas
Por fim, importante lembrar que essa votação deverá
ser realizada duas vezes e, nestas duas situações deverá
A - Temporais: referidas limitações não constam no alcançar o mesmo número de votantes.
texto da CF/88. Portanto, inexistentes em nossa le-
gislação qualquer restrição temporal para sua mu-
dança. Salvo nas hipóteses vedadas pela própria #FicaDica
CF/88, poderá sofrer mudanças a qualquer tempo. Limites a possibilidade de reforma do texto
B – Materiais: como o próprio nome já explica, são constitucional:
matérias previstas na CF/88 que não podem sofrer - matérias, circunstâncias e procedimentos.
alteração, não podem ser reformadas. Segundo o
art. 60 §4º (cláusulas pétreas), não poderá ser obje-
to de deliberação a proposta de emenda constitu- Limitações Implícitas
cional tendente a abolir a:
- forma federativa de Estado, São aquelas limitações que não se encontram grafa-
- o voto direto, secreto, universal e periódico, das no texto da constituição, mas que orientam a refor-
- a separação dos Poderes e ma constitucional, como por exemplo:
- os direitos e as garantias individuais. - Impossibilidade de mudança do art. 60.
- Poder reformador não pode mudar a titularidade.
C – Circunstanciais: em determinadas situações, ou - Impossibilidade de extirpar os fundamentas da Re-
seja, sob determinadas “circunstâncias” a CF/88 pública, insculpidos no art. 1º.
não poderá ser alterada. Nos termos do art. 60 §1º, - Poder Constituído Derivado decorrente: é o poder
a CF/88 não poderá ser alterada na vigência do es- recebido pelos estados-membros do poder cons-
DIREITO CONSTITUCIONAL

tado de sítio, do estado de defesa e da intervenção tituinte originário para que estes possam elaborar
federal. Importante lembrar que essas 03 situações sua própria constituição. No Brasil, referida possi-
trazidas pelo artigo da Constituição são momentos bilidade vem expressa no art. 25 da CF/88.
de crise no país e, por conta disso, a impossibilida-
de de reforma do texto. Limites ao Poder Decorrente
D – Formais (procedimentos): em se tratando de uma
constituição considerada rígida, qualquer mudan- Não obstante, pelo princípio da simetria, terem rece-
ça em seu texto deverá passar por rigoroso pro- bido do poder constituinte originário a possibilidade de
cedimento. Em primeiro, não é qualquer “pessoa” criarem suas próprias constituições, os estados-membros

3
encontram algumas limitações ao exercício desta liberali- - Normas programáticas
dade. A justificativa reside no fato de que, sendo a cons- As normas programáticas são aqueles que definem
tituição federal a lei maior, nada poderá dela destoar. um planejamento futuro, ou seja, são normas que tra-
Assim, apesar da permissão constitucional de elabo- çam planos para o futuro com o objetivo de disciplinar a
rarem seu próprio texto constitucional, ao fazê-los os es- postura da administração pública com relação a projetos
tados-membros devem guardar observância a algumas que ofertem benefícios, melhorias para o cidadão. Como
restrições impostas pela lei maior. As limitações são as exemplo, podemos citar o art. 3º, a saber:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Repú-
seguintes:
blica Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
1 – Princípios Constitucionais sensíveis: são os fun- II - garantir o desenvolvimento nacional;
damentos da organização constitucional do país. III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
No caso, estão dispostos no art. 34 VII da CF/88. as desigualdades sociais e regionais;
Ao elaborarem suas próprias constituições os esta- IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
dos-membros devem observar: origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-
- forma republicana, mas de discriminação.
- sistema representativo e ao regime democrático,
- direitos da pessoa humana,
- autonomia municipal,
- prestação de contas da administração pública, dire- EXERCÍCIOS COMENTADOS
ta e indireta,
- aplicação do mínimo exigido da receita resultante 1. Aplicada em: 2018 Banca: CESPE Órgão: SEFAZ-RS
Prova: Auditor do Estado - Bloco II.
de impostos estaduais na manutenção e desen-
No título referente à Ordem Social, o constituinte
volvimento do ensino e nos serviços públicos de dispôs o seguinte: “o Estado promoverá e incentivará
saúde. o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação
científica e tecnológica e a inovação”. Considerando-se
a classificação das normas constitucionais quanto a sua
#FicaDica eficácia, é correto afirmar que tal dispositivo é uma nor-
ma:
A não observância dos princípios constitucio-
nais sensíveis ensejam a possibilidade de inter- a) de eficácia plena.
venção federal pelo Presidente da República, b) de eficácia contida.
nos termos do art. 36 III da CF/88. c) exaurida.
d) autoexecutável.
e) programática.
2 – Princípios Constitucionais Extensíveis: trata-se de
Resposta: Letra: E. As normas podem ser classifica-
normas de organização da federação extensíveis das como normas de eficácia plena, contida e limitada.
aos estados-membros, Distrito Federal e municí- Analisando as alternativas, o candidato pode ser indu-
pios. Estas normas podem estar explícitas ou im- zido a erro no que tange a ausência da modalidade “li-
plícitas no texto da Constituição. Exemplificando: mitada”. Estão presentes alternativas contendo o ter-
Explícitas: regras eleitorais. O sistema eleitoral previs- mo “contida” e “plena” e não as “limitadas”. As normas
to para a eleição do chefe do executivo federal (Presiden- constitucionais limitadas também recebem o nome de
te da República) deve ser o mesmo para eleição do chefe normas constitucionais programáticas que se voltas as
do executivo estadual. Em outras palavras, no que tange propostas, as promessas do Estado, diretrizes que por
ao sistema eleitoral a CF/88 explicita as regras e estas este devem ser alçadas.
devem ser aplicadas aos demais entes da federação.
Implícitas: requisitos para a Criação de Comissão par- 2. Aplicada em: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-MA-
lamentares de Inquérito. Apesar de estarem previstas no Prova: Escrivão de Polícia.
O art. 5.° , inciso XIII, da Constituição Federal de 1988 (CF)
art. 58 §3º da CF/88 a sua criação, as regras para isso fo-
assegura ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício
ram definidas por leis infraconstitucionais. Deste modo,
ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que
referidas regras se estendem aos demais entes. a lei estabelecer. Com base nisso, o Estatuto da Ordem
dos Advogados do Brasil estabelece que, para exercer a
DIREITO CONSTITUCIONAL

advocacia, é necessária a aprovação no exame de ordem.


A norma constitucional mencionada, portanto, é de efi-
#FicaDica cácia:
São chamados de princípios extensíveis, pois
devem ser observados pelos demais entes da a) contida.
federação, independente de estarem explícitos b) programática.
ou implícitos na Lei Maior. c) plena.
d) limitada.
e) diferida.

4
Resposta: Letra: A. É considerada norma de eficácia 2. Separação dos poderes
contida pelo fato de que, apesar de ter aplicabilida-
de imediata, quis o legislador originário vincular essa A Constituição de 1988 adotou a teoria da tripartição
aplicabilidade a um encargo futuro; no caso, regula- das funções estatais, idealizada por Montesquieu, que,
menta por lei infraconstitucional. É o que depreende por sua vez, se inspirou em lições de Aristóteles e de
ao analisar no enunciado a expressão “[...] qualifica- John Locke. Assim, em seu art. 2º, a CF estabelece que
ções profissionais que a lei estabelecer [...]” são poderes harmônicos e independentes entre si o Exe-
cutivo, o Legislativo e o Judiciário: “Art. 2º São Poderes
da União, independentes e harmônicos entre si, o Legis-
lativo, o Executivo e o Judiciário.”. O princípio da separa-
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA ção dos poderes é uma das cláusulas pétreas da CF, não
FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. podendo ser retirado (abolido) do seu texto por meio de
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. DIREITOS E emenda constitucional (art. 60, §4º, III, da CF).
GARANTIAS FUNDAMENTAIS. 3. Objetivos fundamentais da república federativa
do brasil

O art. 3º da CF prevê os objetivos fundamentais da


PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO República Federativa do Brasil, que são as metas que o
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Estado brasileiro se propõe a atingir. São elas:
(ARTIGOS 1º A 4º DA CF) Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Repú-
blica Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
FIQUE ATENTO! II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
Este tema é bastante cobrado nos concursos. as desigualdades sociais e regionais;
Recomenda-se a leitura dos arts. 1º a 4º da IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de
CF, já que as questões, em sua grande maio- origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for-
ria, cobram a literalidade do texto constitu- mas de discriminação.
cional.
4. Princípios das relações internacionais

1. Fundamentos da república federativa do Brasil O art. 4º da CF contempla os princípios orientadores


das relações internacionais do Estado brasileiro, nos se-
Em seu art. 1º, a CF estabelece os fundamentos da guintes termos:
República Federativa do Brasil, que são as bases, as re- Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas
gras fundamentais sob as quais está alicerçado o Estado suas relações internacionais pelos seguintes princí-
brasileiro, que são: a soberania, a cidadania, a dignidade pios:
da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da I – independência nacional;
livre iniciativa e o pluralismo político. O Parágrafo único II – prevalência dos direitos humanos;
do art. 1º da CF prevê, ainda, o princípio democrático, se- III – autodeterminação dos povos;
gundo o qual todo poder emana do povo, que o exercerá IV – não intervenção;
diretamente, por meio dos chamados instrumentos da V – igualdade entre os Estados;
democracia participativa (ação popular, plebiscito, refe- VI – defesa da paz;
rendo e iniciativa popular das leis), e indiretamente, por VII – solução pacífica dos conflitos;
meio de representantes eleitos para tanto (Presidente da VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;
República, Prefeitos, Governadores de Estados e parla- IX – cooperação entre os povos para o progresso da
mentares). A CF adotou, portanto, o sistema híbrido de humanidade;
democracia participativa, que reúne a democracia direta X – concessão de asilo político.
e a democracia indireta ou representativa. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela buscará a integração econômica, política, social e cul-
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis- tural dos povos da América Latina, visando à forma-
trito Federal, constitui-se em Estado Democrático de ção de uma comunidade latino-americana de nações.
Direito e tem como fundamentos:
DIREITO CONSTITUCIONAL

I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos desta Constituição.

5
dos direitos humanos; a autodeterminação dos povos;
EXERCÍCIOS COMENTADOS a não intervenção; a igualdade entre os Estados; a de-
fesa da paz; a solução pacífica dos conflitos; o repúdio
ao terrorismo e ao racismo; a cooperação entre os po-
1. (PC-SC – Agente de Polícia Civil– Nível Médio – FE- vos para o progresso da humanidade e a concessão
PESE – 2017) de asilo político.
Com base na Constituição Federal, a República Federati-
va do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados 3. (MPE-RN – Técnico do Ministério Público Estadual
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Esta- – Nível Médio – COMPERVE – 2017)
do Democrático de Direito e tem como fundamentos: Os objetivos fundamentais da república brasileira são
1. a autonomia. metas que o Estado deve promover com força vinculante
2. a cidadania. e imediata, servindo como norte a ser seguido em toda
e qualquer atividade estatal. Nessa acepção, a Constitui-
3. a dignidade da pessoa humana.
ção Federal aponta, expressamente, como objetivo fun-
4. o pluralismo político. damental a promoção:
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas a) do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
corretas. sexo e cor.
b) de uma sociedade livre, justa e solidária com repúdio
a) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3. ao racismo e ao terrorismo.
b) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4. c) da erradicação da miséria e da marginalização e da
c) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4. redução da desigualdade nacional.
d) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4. d) da autodeterminação dos povos e dos direitos huma-
e) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4. nos.
Resposta: Letra D. Segundo o art. 1º da CF, são fun- Resposta: Letra A. Esta questão cobrou a literalidade
damentos da República Federativa do Brasil: a sobe- do art. 3º da CF, estando as alternativas b e c erradas
rania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os em razão da troca de uma palavra e a d porque traz
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o plu- um princípio das relações internacionais da República
ralismo político. Federativa do Brasil, e não um objetivo.

2. (TRE-TO – Técnico Judiciário – Nível Médio – CESPE


– 2017)
Em determinado seminário sobre os rumos jurídicos e CAPÍTULO I
políticos do Oriente Médio, dois professores debateram DOS DIREITOS E DEVERES
intensamente sobre a atual situação política da Síria. INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Hugo, professor de relações internacionais, defendeu
que o Brasil deveria realizar uma intervenção militar com Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
fins humanitários. José, professor de direito constitucional, qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
argumentou que essa ação não seria possível conforme os estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di-
princípios constitucionais que regem as relações interna- reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
cionais da República Federativa do Brasil. Nessa situação propriedade, nos termos seguintes:
hipotética, com base na Constituição Federal de 1988 (CF), I - homens e mulheres são iguais em direitos e obriga-
ções, nos termos desta Constituição;
a) Hugo está correto, pois a intervenção humanitária é II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
um dos princípios constitucionais que rege as relações alguma coisa senão em virtude de lei;
internacionais do Brasil. III - ninguém será submetido a tortura nem a trata-
b) José está correto, pois a não intervenção e a solução mento desumano ou degradante;
pacífica dos conflitos são princípios constitucionais IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo ve-
que orientam as relações internacionais do Brasil. dado o anonimato;
c) Hugo está errado, pois a defesa da paz e dos direi- V - é assegurado o direito de resposta, proporcional
tos humanos não são princípios constitucionais que ao agravo, além da indenização por dano material,
regem as relações internacionais do Brasil. moral ou à imagem;
d) Hugo está correto, pois a dignidade da pessoa huma- VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
na é um dos fundamentos constitucionais do estado sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos
e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
DIREITO CONSTITUCIONAL

brasileiro e uma das causas que autorizam a interven-


ção militar do Brasil em outros Estados soberanos. culto e a suas liturgias;
e) José está errado, pois a declaração de guerra é ato VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
político discricionário e unilateral do presidente da Re- assistência religiosa nas entidades civis e militares de
pública, não estando sujeito a limites jurídicos. internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de
Resposta: Letra B. Segundo o art. 4º da CF, são princí- crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
pios das relações internacionais da República Federa- salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
tiva do Brasil: a independência nacional; a prevalência todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alter-
nativa, fixada em lei;

6
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artís- XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de
tica, científica e de comunicação, independentemente utilização, publicação ou reprodução de suas obras,
de censura ou licença; transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a hon- XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
ra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a in- a) a proteção às participações individuais em obras
denização pelo dano material ou moral decorrente de coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
sua violação; inclusive nas atividades desportivas;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém b) o direito de fiscalização do aproveitamento econô-
nela podendo penetrar sem consentimento do mora- mico das obras que criarem ou de que participarem
dor, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou aos criadores, aos intérpretes e às respectivas repre-
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determi- sentações sindicais e associativas;
nação judicial; XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos in-
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das co- dustriais privilégio temporário para sua utilização,
municações telegráficas, de dados e das comunicações bem como proteção às criações industriais, à proprie-
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, dade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para signos distintivos, tendo em vista o interesse social e
fins de investigação criminal ou instrução processual o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
penal; XXX - é garantido o direito de herança;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
profissão, atendidas as qualificações profissionais que País será regulada pela lei brasileira em benefício do
a lei estabelecer; cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e seja mais favorável a lei pessoal do de cujus ;
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
exercício profissional; do consumidor;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tem- XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos pú-
po de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, blicos informações de seu interesse particular, ou de
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem ar- prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalva-
mas, em locais abertos ao público, independentemente das aquelas cujo sigilo seja imprescindível à seguran-
de autorização, desde que não frustrem outra reunião ça da sociedade e do Estado;
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo XXXIV - são a todos assegurados, independentemen-
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; te do pagamento de taxas:
XVII - é plena a liberdade de associação para fins líci- a) o direito de petição aos poderes públicos em de-
tos, vedada a de caráter paramilitar; fesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, poder;
a de cooperativas independem de autorização, sendo b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
vedada a interferência estatal em seu funcionamento; para defesa de direitos e esclarecimento de situações
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente de interesse pessoal;
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deci- XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Ju-
são judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito diciário lesão ou ameaça a direito;
em julgado; XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
permanecer associado; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXI - as entidades associativas, quando expressamen- XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
te autorizadas, têm legitimidade para representar seus organização que lhe der a lei, assegurados:
filiados judicial ou extrajudicialmente; a) a plenitude de defesa;
XXII - é garantido o direito de propriedade; b) o sigilo das votações;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; c) a soberania dos veredictos;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desa- d) a competência para o julgamento dos crimes do-
propriação por necessidade ou utilidade pública, ou losos contra a vida;
por interesse social, mediante justa e prévia indeniza- XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina,
ção em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta nem pena sem prévia cominação legal;
Constituição; XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar
DIREITO CONSTITUCIONAL

XXV - no caso de iminente perigo público, a autorida- o réu;


de competente poderá usar de propriedade particular, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se dos direitos e liberdades fundamentais;
houver dano; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançá-
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida vel e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
em lei, desde que trabalhada pela família, não será termos da lei;
objeto de penhora para pagamento de débitos decor- XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insus-
rentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre cetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o
os meios de financiar o seu desenvolvimento; tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terro-

7
rismo e os definidos como crimes hediondos, por eles LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
respondendo os mandantes, os executores e os que, encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
podendo evitá-los, se omitirem; competente e à família do preso ou à pessoa por ele
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a indicada;
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
ordem constitucional e o Estado democrático; quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do conde- a assistência da família e de advogado;
nado, podendo a obrigação de reparar o dano e a LXIV - o preso tem direito à identificação dos respon-
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da sáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada
até o limite do valor do patrimônio transferido; pela autoridade judiciária;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e ado- LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
tará, entre outras, as seguintes:
sem fiança;
a) privação ou restrição da liberdade;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
b) perda de bens;
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescu-
c) multa;
sável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos; LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que al-
XLVII - não haverá penas: guém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilega-
termos do art. 84, XIX; lidade ou abuso de poder;
b) de caráter perpétuo; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
c) de trabalhos forçados; proteger direito líquido e certo, não amparado por
d) de banimento; habeas corpus ou habeas data , quando o responsá-
e) cruéis; vel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade atribuições do poder público;
e o sexo do apenado; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser im-
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integrida- petrado por:
de física e moral; a) partido político com representação no Congresso
L - às presidiárias serão asseguradas condições para Nacional;
que possam permanecer com seus filhos durante o pe- b) organização sindical, entidade de classe ou associa-
ríodo de amamentação; ção legalmente constituída e em funcionamento há
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu- pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
ralizado, em caso de crime comum, praticado antes membros ou associados;
da naturalização, ou de comprovado envolvimento LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na que a falta de norma regulamentadora torne inviável
forma da lei; o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sobera-
crime político ou de opinião; nia e à cidadania;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão LXXII - conceder-se-á habeas data :
pela autoridade competente;
a) para assegurar o conhecimento de informações re-
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
lativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
bens sem o devido processo legal;
ou bancos de dados de entidades governamentais ou
LV - aos litigantes, em processo judicial ou adminis-
trativo, e aos acusados em geral são assegurados o de caráter público;
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recur- b) para a retificação de dados, quando não se prefira
sos a ela inerentes; fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor
por meios ilícitos; ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimô-
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito nio público ou de entidade de que o Estado participe,
em julgado de sentença penal condenatória; à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
LVIII - o civilmente identificado não será submetido patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, sal-
a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas vo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
DIREITO CONSTITUCIONAL

em lei; ônus da sucumbência;


LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral
pública, se esta não for intentada no prazo legal; e gratuita aos que comprovarem insuficiência de re-
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos cursos;
processuais quando a defesa da intimidade ou o inte- LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro ju-
resse social o exigirem; diciário, assim como o que ficar preso além do tempo
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou fixado na sentença;
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judi- LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente po-
ciária competente, salvo nos casos de transgressão mi- bres, na forma da lei:
litar ou crime propriamente militar, definidos em lei; a) o registro civil de nascimento;

8
b) a certidão de óbito; - 2ª Geração de direitos: surge com a necessidade
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e do povo de não apenas ter liberdade, mas outros
habeas data , e, na forma da lei, os atos necessários ao direitos que o conduzem a exercer a liberdade,
exercício da cidadania. seguir sua vida, com dignidade. São os valores
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, sociais variados, importando intervenção ativa do
são assegurados a razoável duração do processo e os Estado na vida econômica com o viés de propor-
meios que garantam a celeridade de sua tramitação. cionar justiça social.
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias Característica: Liberdade real e igual para todos. Ex:
fundamentais têm aplicação imediata. igualdade – saúde, educação, trabalho entre outros. São
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constitui- chamados de direitos sociais não por serem direitos da
ção não excluem outros decorrentes do regime e dos coletividade, mas por alusão ao termo justiça social.
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacio- Os titulares são os próprios indivíduos singularizados,
nais em que a República Federativa do Brasil seja parte. apesar dos mesmos poderem se voltar a coletividade.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre di- - 3ª Geração de direitos: direitos de titularidade di-
reitos humanos que forem aprovados, em cada Casa fusa. Proteção do homem em sua forma coletiva,
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quin- grupos, não mais individualmente.
tos dos votos dos respectivos membros, serão equiva- Característica: proteção do homem em grupos. Ex:
lentes às emendas constitucionais. direito ao meio ambiente equilibrado, direito a paz.
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. 1.2. Conclusão

1. Histórico A visão dos direitos fundamentais em termos de


gerações indica a evolução desses direitos no tempo.
- Direitos Fundamentais Cada direito de cada geração interage com os das outras
Normas obrigatórias: os direitos fundamentais não e, nesse processo, dá-se à compreensão.
são sempre os mesmos em todas as épocas. Porém devem
constar obrigatoriamente em textos constitucionais 1.3. Características dos direitos fundamentais
considerados democráticos; constando referidos direitos
podem anuir que aquela constituição está alicerçada nos - Universais e absolutos
pilares da democracia. - A questão da universalidade: direito previsto para
Dignidade humana: foi impulsionada pelo todo homem, ainda que nem todo homem o exer-
cristianismo, uma vez que segundo essa religião o ça.
homem era feito a imagem e semelhança de Deus. - Absoluto: os direitos fundamentais não são abso-
Sendo assim, ganhou uma proteção especial no texto da lutos, apesar de gozarem de prioridade absoluta
Constituição. Importante lembrar que falar em dignidade sobre qualquer outro direito.
humana é falar em garantir o direito do indivíduo ter - Historicidade
direitos – iguais entre seres humanos. Os direitos fundamentais são um conjunto de
Positivação dos direitos fundamentais: Bill of faculdades e instituições que somente faz sentido num
Rights, Declaração da Virgínia, Declaração Francesa. determinado contexto histórico. A história permite
Tais documentos trataram de positivar direitos que entender a existência de cada um dos direitos.
naturalmente são inerentes ao homem. A história explica que os direitos possam ser
Regra geral: indivíduos têm primeiro direitos, depois apregoados em certa época, desaparecendo em outras,
deveres e os direitos que o Estado tem sobre o indivíduo ou se modificam no tempo. Verifica-se, portanto, a
estão ordenados de modo a melhor cuidar de seus evolução dos direitos fundamentais.
cidadãos. É a demonstração clara do pacto social firmado
entre os indivíduos e o Estado – é a cessão de parte de - Inalienabilidade e Indisponibilidade
suas liberdades, entregando-as ao Estado de modo que Inalienável: o titular do direito não pode impossibilitar
este, em contrapartida, devolva algo que seja positivo – o exercício para si mesmo. Encontra fundamento no
como, por exemplo, proíbe-se (exceto as possibilidade valor da dignidade humana. A indisponibilidade gera
previstas na lei) da autotutela (exercício da autodefesa) nulidade de qualquer disposição contratual feita.
entregando essa função ao Estado para que este exerça Podem, tais direitos, terem seu exercício. Ex.:
a tutela da segurança do indivíduo. manifestação religiosa em templo religioso diverso do seu.
- Direitos humanos são direitos postulados em ba-
1.1. Geração de Direitos Fundamentais ses jusnaturalistas, contam índole filosófica e não
DIREITO CONSTITUCIONAL

possuem como característica básica a positivação


- 1ª Geração de direitos: são postulados de absten- numa ordem jurídica particular.
ção dos governantes se obrigando a não intervir - Direitos Fundamentais: é reservada aos direitos rela-
na vida pessoal de cada indivíduo. Indispensável cionados com posições básicas das pessoas, inscri-
a todos os homens. Como por exemplo, direito a tos em diplomas normativos de cada Estado. São
vida, ou seja, salvo em situações específicas, o Es- direitos que vigem numa ordem jurídica concreta,
tado não privará o indivíduo de seguir sua vida. sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço
Característica: universal; não ocasiona desigualdade e no tempo.
social. Ex: liberdade,

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- Vinculação dos Poderes Públicos c) possui direitos fundamentais em extensão inferior aos
dos brasileiros, mas não direitos políticos;
O fato de os direitos fundamentais estarem d) possui direitos fundamentais idênticos aos dos brasilei-
previstos na Constituição torna-os parâmetros de ros, mas direitos políticos inferiores;
organização e de limitação dos poderes constituídos. A e) possui direitos políticos e fundamentais em extensão
constitucionalização dos direitos fundamentais impede inferior aos dos brasileiros.
que sejam considerados meras autolimitações dos
poderes constituídos - dos Poderes Executivo, Legislativo Resposta: Letra C - Os estrangeiros recebem uma tra-
e Judiciário -, passíveis de serem alteradas ou suprimidas tativa especial nesta questão. Os direitos fundamentais
ao talante destes. não diferem nacionais de estrangeiros. Todos em solo
brasileiro estão amparados pela mesma proteção de di-
- Aplicabilidade imediata reitos fundamentais. Tanto é verdade que, na hipótese
de um estrangeiro em solo brasileiro, cujo país adote a
As normas que definem direitos fundamentais prisão perpétua, tenha sua extradição requerida, esta só
são normas de caráter preceptivo, e não meramente poderá ocorrer se garantido um prazo máximo de prisão
programático. Explicita-se, além disso, que os direitos e não a perpétua, posto que nossa legislação não per-
fundamentais se fundam na Constituição, e não na lei - mite que alguém seja considerado culpado para o resto
com o que se deixa claro que é a lei que deve mover-se de sua vida. No entanto, a participação política encontra
no âmbito dos direitos fundamentais, não o contrário. diferenciações. Apesar de garantidos direitos fundamen-
A Constituição brasileira de 1988 filiou-se a essa ten- tais, os políticos estão previstos apenas para brasileiros
dência, conforme se lê no §1º do art. 5º do Texto, em que (nato / naturalizado).
se diz que “as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata”. O texto se refere 3. Aplicada em: 2018Banca: FCCÓrgão: DPE-AMProva:
aos direitos fundamentais em geral, não se restringindo Analista Jurídico de Defensoria - Ciências Jurídicas.
Considere:
apenas aos direitos individuais.
I. A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário le-
são ou ameaça a direito.
EXERCÍCIOS COMENTADOS II. A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada.
III. Não haverá juízo ou tribunal de exceção.
1. Aplicada em: 2018Banca: CESPEÓrgão: STJProva: IV. A lei penal não retroagirá.
Conhecimentos Básicos - Cargo: 1. A respeito dos di- V. A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos di-
reitos e garantias fundamentais, julgue o item que se se- reitos e liberdades individuais.
gue, tendo como referência a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal. Nos termos previstos no artigo 5° da Constituição Fede-
O rol dos direitos fundamentais previsto na Constituição ral, há exceção constitucionalmente expressa ao disposto
Federal de 1988 é taxativo, isto é, o Brasil adota um siste- APENAS em:
ma fechado de direitos fundamentais.
a) IV e V.
( ) CERTO ( ) ERRADO b) IV.
c) I e III.
Resposta: Letra B - A Constituição Federal elenca no d) I, II e III.
art. 5º um rol de direitos fundamentos. Porém, esse rol e) V.
é exemplificativo e ao contrário do afirmado na ques-
tão, não se trata de um rol taxativo. Referidos direitos Resposta: Letra B -Dentre os direitos fundamentais
não podem ser reunidos em um elenco fixo, razão pela elencados, o único que apresenta exceção é o referente
qual dentro da própria CF/88 podem constar no texto a retroatividade da lei penal. Caso a lei posterior alte-
outros direitos tidos por fundamentais. re a lei vigente com o viés de beneficiar o réu, ou seja,
se tornar mais benéfica, poderá retroagir para alcançar
2. Aplicada em: 2018Banca: FGVÓrgão: TJ-ALProva: aqueles que estão sob a égide da lei penal mais gravosa.
Analista Judiciário - Área Judiciária. Jean, nacional Portanto, se for para benefício do réu, a lei penal poderá
francês residente no território brasileiro, procurou um retroagir. Eis a exceção de que trata esta questão.
advogado e solicitou que fosse esclarecido que direitos
a ordem jurídica brasileira lhe assegurava, mais especifi-
DIREITO CONSTITUCIONAL

camente se possuía direitos fundamentais e direitos po-


líticos. DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
À luz da sistemática constitucional, o advogado deve
afirmar que Jean: 1. Da nacionalidade (artigo 12 da constituição fe-
deral)
a) possui direitos políticos e fundamentais idênticos aos
dos brasileiros naturalizados; O Título II da Constituição de 1988 (CF/88) regulamen-
b) não possui direitos políticos e fundamentais de qual- ta os Direitos e as Garantias Fundamentais, trazendo nor-
quer natureza; mas relativas aos elementos constitucionais limitativos,

10
que restringem a atuação do Estado. Os direitos da na- 1.2.2. Nacionalidade derivada (naturalizada)
cionalidade são espécies do gênero Direitos e Garantias
Fundamentais, ao lado dos direitos e deveres individuais Aqueles que não nasceram brasileiros segundo os
e coletivos, dos direitos sociais e dos direitos políticos. critérios da nacionalidade originária podem naturalizar-
-se, adquirindo a nacionalidade de forma derivada pelo
1.1. Conceito processo de naturalização. A CF/88 prevê dois tipos de
naturalização: a ordinária e a extraordinária. Segundo os
A nacionalidade é o vínculo político-jurídico entre o Artigos 71 a 73 da Lei Federal n.º 13.445/17 (Lei de Mi-
cidadão e o Estado, do qual surgem direitos e obrigações. gração), que regulamenta a matéria, em ambos os casos,
o estrangeiro deve apresentar o pedido de naturalização
1.2. Espécies
conforme as regras estabelecidas pelo órgão competen-
te do Poder Executivo, sendo cabível recurso em caso
O vínculo da nacionalidade pode surgir de duas for-
mas: a) de forma originária, em razão do nascimento, de denegação. Se o pedido for deferido, o ato de natu-
conferindo a nacionalidade NATA ao cidadão, ou b) de ralização será publicado no Diário Oficial, após o que a
forma derivada, por meio do processo de naturalização, naturalização produzirá efeitos.
conferindo a nacionalidade NATURALIZADA ao cidadão.
1.2.2.1. Naturalização ordinária
1.2.1. Nacionalidade originária (nata)
Prevista no Artigo 12, II, a, da CF/88, a naturalização
A nacionalidade originária, que surge com o nasci- ordinária é o processo pelo qual qualquer estrangeiro
mento, pode ser adquirida por dois diferentes critérios: pode naturalizar-se brasileiro, desde que atenda aos re-
a) pelo nascimento no território do Estado (jus solis) quisitos previstos em lei e na Constituição. Para os es-
ou b) pelo vínculo sanguíneo (jus sanguinis) do nasci- trangeiros originários de países de língua portuguesa, a
mento. O Brasil adotou os dois critérios no Artigo 12 da Constituição exige como requisito apenas 1 ano ininter-
CF/88, com as seguintes regras: rupto de residência no Brasil e idoneidade moral. Para os
estrangeiros originários de outros países, os requisitos
1.2.1.1. Nascimento no território ( jus solis) estão previstos no Artigo 65 da Lei Federal n.º 13.445/17
(Lei de Migração), e são, cumulativamente: a) ter capaci-
Segundo o Artigo 12, I, a, da CF/88, são brasileiros dade civil, segundo a lei brasileira; b) comunicar-se em
natos todos os nascidos na República Federativa do língua portuguesa; c) não possuir condenação penal ou
Brasil, isto é, no território brasileiro, ainda que os pais estar reabilitado, nos termos da lei, e d) ter residência
sejam estrangeiros, desde que estes (pais estrangeiros) em território nacional por, no mínimo, 4 anos ininter-
não estejam no Brasil a serviço de seu país de origem. A ruptos. Conforme o Artigo 66 da Lei de Migração, este
CF/88, portanto, adotou o critério do jus solis, mas não prazo de 4 anos de residência será reduzido para, no
de forma absoluta, fazendo uma ressalva para os filhos
mínimo, 1 ano, se o naturalizando: (i) tiver filho brasilei-
de pais estrangeiros que estejam no Brasil a serviço de
ro; ou (ii) tiver cônjuge ou companheiro brasileiro e não
seu país de origem. É o caso, por exemplo, de filhos de
estar dele separado legalmente ou de fato no momento
embaixadores ou de membros de carreira diplomática.
Nesta hipótese, embora tenham nascido no território de concessão da naturalização; ou (iii) tiver prestado ou
brasileiro, eles não serão brasileiros natos, o que não os poder prestar serviço relevante ao Brasil, ou, ainda, (iv)
impede de naturalizar-se brasileiros, desde que aten- recomendar-se por sua capacidade profissional, científi-
dam aos requisitos necessários para tanto. ca ou artística.

1.2.1.2. Vínculo sanguíneo ( jus sanguinis) 1.2.2.2. Naturalização extraordinária

Segundo o Artigo 12, I, b e c, da CF/88, também são Prevista no Artigo 12, II, b, da CF/88, a naturalização
brasileiros natos os nascidos fora do território brasilei- extraordinária é o processo pelo qual o estrangeiro de
ro, isto é, no exterior, filhos de pai brasileiro OU de mãe qualquer nacionalidade com residência permanente no
brasileira (vínculo sanguíneo ou hereditário), desde que: país há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação
a) qualquer dos pais, sendo brasileiros, estejam no exte- penal pode naturalizar-se brasileiro, desde que requei-
rior a serviço do Brasil; OU b) sejam registrados no exte- ra a nacionalidade brasileira. Neste caso, a Constituição
rior em repartição brasileira competente quando do seu considera que o estrangeiro radicado no Brasil há mais
nascimento, OU c) venham residir no Brasil e, depois de 15 anos faz jus à nacionalidade brasileira em razão do
de atingida a maioridade, optem, em qualquer tempo, vínculo que possui com o Estado brasileiro, pelo tempo
DIREITO CONSTITUCIONAL

pela nacionalidade brasileira. Isto será feito por meio da de residência, bastando que requeira tal condição, des-
ação de opção de nacionalidade, prevista no Artigo 63 de que não tenha condenação penal.
da Lei Federal n.º 13.445/17 (Lei de Migração). A CF/88,
portanto, também adotou o critério do jus sanguinis,
prevendo estas três hipóteses de estabelecimento da
nacionalidade originária aos nascidos no exterior em
razão do vinculo sanguíneio do nascimento, ou seja, da
ascendência hereditária (filhos de pai brasileiro ou de
mãe brasileira).

11
próprios dos cidadãos do país em que residem, pelos
FIQUE ATENTO! brasileiros em Portugal e pelos portugueses no Brasil,
Uma leitura equivocada das alíneas a e b do não acarreta a perda da nacionalidade de origem (Arti-
inciso II do Artigo 12 da CF/88 pode erronea- go 13.1). Além disso, ainda que estejam sob regime de
mente levar a crer que, para a naturalização, equiparação, os portugueses no Brasil e os brasileiros
a Constituição exige 1 ano ininterrupto de em Portugal não poderão prestar serviço militar no país
residência para os estrangeiros de países de de residência (Artigo 19) e a extradição somente poderá
língua portuguesa e 15 anos para os demais. ser efetivada se requisitada pelo país de origem (Artigo
Mas não confunda! A alínea a trata da natu- 18). A equiparação de direitos termina com a perda da
ralização ordinária, cujo prazo de residência nacionalidade ou com a cessação da autorização de per-
exigido é de 1 ano para estrangeiros de paí- manência no país (Artigo 16).
ses de língua portuguesa e 4 anos para os
demais estrangeiros (prazo este previsto na 1.4. Vedação de distinções legais entre brasileiros
Lei de Migração), podendo ser reduzido para natos e naturalizados
1 ano nas hipóteses legais. Já a alínea b trata
da naturalização extraordinária, concedida O §2º do Artigo 12 da CF/88 estabelece: “a lei não
aos estrangeiros de qualquer nacionalidade poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
que tenham residência no país há mais de 15 naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constitui-
anos ininterruptos e não tenham condena- ção.” Portanto, a Constituição proíbe que a lei crie distin-
ção penal, desde que o requeiram. ções entre brasileiros natos e naturalizados, mas permi-
te que ela mesma o faça, como fez. São 4 as distinções
constitucionais entre brasileiros natos e naturalizados: a)
1.2.2.3. Outros tipos de naturalização extradição (Artigo 5º, LI, da CF/88) - o brasileiro nato não
pode ser extraditado; o naturalizado pode ser extradita-
Além da naturalização ordinária e extraordinária, a Lei do apenas em 2 hipóteses: crime comum praticado an-
Federal n.º 13.445/17 (Lei de Migração) prevê, em seu tes da naturalização OU comprovado envolvimento em
Artigo 64, III e IV, outros dois tipos de naturalização: a tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, conforme
especial e a provisória. Conforme o Artigo 68 da Lei de regulado em lei; b) cargos privativos de brasileiros natos
Migração, a naturalização especial poderá ser concedida (Artigo 12, §3º, da CF/88) – TEMA BASTANTE COBRADO!
ao estrangeiro que: a) seja cônjuge ou companheiro, há Só podem ser ocupados por brasileiros natos os seguin-
mais de 5 anos, de integrante do Serviço Exterior Brasilei- tes cargos: Presidente da República, Vice-Presidente da
ro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasi- República, Presidente da Câmara dos Deputados, Presi-
leiro no exterior; OU b) seja ou tenha sido empregado em dente do Senado Federal, Ministro do Supremo Tribunal
missão diplomática ou em repartição consular do Brasil Federal, Ministro da Defesa, membro de carreira diplo-
por mais de 10 anos ininterruptos. Conforme o Artigo mática e oficial das Forças Armadas; c) composição do
70 da Lei de Migração, a naturalização provisória poderá Conselho da República (Artigo 89 da Constituição) – na
ser concedida ao migrante criança ou adolescente que composição do Conselho da República, órgão superior
tenha fixado residência em território nacional antes de de consulta da Presidência da República, a Constituição
completar 10 anos de idade, podendo ser convertida em faz uma reserva de vaga para 6 brasileiros natos, com
definitiva se houver pedido expresso do naturalizando idade superior a 35 anos, sendo 2 nomeados pelo Pre-
no prazo de 2 anos após atingida a maioridade. sidente da República, 2 eleitos pelo Senado Federal e 2
eleitos pela Câmara dos Deputados. Assim, os brasileiros
1.3. Equiparação de direitos entre brasileiros e naturalizados só poderão integrar o Conselho da Repú-
portugueses blica na condição de líderes da maioria e da minoria na
Câmara dos Deputados ou no Senado Federal ou, ainda,
O §1º do Artigo 12 da CF/88 estabelece: “aos por- de Ministro da Justiça, cargos cujo preenchimento não é
tugueses com residência permanente no País, se houver exclusivo de brasileiro nato; d) propriedade de empresa
reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os jornalística ou de radiodifusão (Artigo 222 da CF/88) – a
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão
nesta Constituição.” Trata-se da chamada equiparação sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros
de direitos por reciprocidade, segundo a qual os portu- natos OU naturalizados há mais de 10 anos. Além disso,
gueses residentes no Brasil têm os mesmos direitos dos somente os brasileiros natos OU naturalizados há mais
brasileiros naturalizados, caso isto também seja garanti- de 10 anos poderão exercer a gestão das atividades des-
DIREITO CONSTITUCIONAL

do aos brasileiros residentes em Portugal. Como a Cons- tas empresas e estabelecer o conteúdo da sua progra-
tituição traz algumas distinções entre brasileiros natos e mação.
naturalizados, os direitos reservados aos brasileiros natos
estão excluídos da regra de equiparação, em razão da
cláusula “salvo os casos previstos nesta Constituição”. O
Decreto n.º 3.927/01, que promulga o Tratado de Ami-
zade, Cooperação e Consulta entre Brasil e Portugal,
contém as regras aplicáveis à equiparação de direitos
por reciprocidade. Segundo ele, o exercício dos direitos

12
1.7. Polipatria
#FicaDica
A polipatria se caracteriza pela assunção de mais de
Os cargos de Vereador, Deputado Federal, uma nacionalidade por um mesmo indivíduo, chamado
Deputado Estadual, Senador, Governador, polipátrida. Isto ocorre se os critérios adotados pelas
Prefeito e Ministro da Justiça, entre outros, legislações de dois ou mais países reconhecerem a sua
podem ser ocupados por brasileiros natos nacionalidade a um mesmo cidadão, permitindo que
OU naturalizados. Os que são privativos de ele mantenha vínculos com outros Estados.
brasileiros natos são APENAS os descritos
no Artigo 12, §3º, da CF/88. Logo, apenas
a função de PRESIDENTE da Câmara dos
Deputados ou do Senado Federal é que é
reservada aos brasileiros natos, podendo EXERCÍCIOS COMENTADOS
qualquer brasileiro (nato ou naturalizado)
ser Deputado Federal ou Senador. 1. (TJSP - Escrevente Técnico Judiciário Nível Mé-
dio – VUNESP-2017). Maria, brasileira, estava grávida
quando viajou para a Alemanha. Em virtude de com-
1.5. Perda da nacionalidade brasileira plicações de saúde, seu bebê nasceu antes do tempo,
quando Maria ainda estava na Alemanha. Consideran-
Em seu Artigo 12, §4º, a CF/88 estabelece duas hipó- do apenas os dados apresentados, pode-se afirmar
teses de perda da nacionalidade brasileira: a) caso haja o que, nos termos da Constituição Federal, o filho de Ma-
cancelamento da naturalização por sentença judicial, em ria será considerado
virtude de atividade nociva ao interesse nacional (Artigo
12, §4º, I). Esta hipótese só se aplica aos brasileiros natu- a) brasileiro nato, pois Maria é brasileira.
ralizados. Neste caso, será possível a reaquisição da na- b) brasileiro nato, bastando que o pai do bebê também
cionalidade brasileira somente por meio da anulação da seja brasileiro, nato ou naturalizado.
sentença em ação rescisória; e b) caso o brasileiro (nato c) brasileiro naturalizado desde que opte, em qualquer
ou naturalizado) adquira outra nacionalidade (Artigo 12, tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacio-
§4º, II). Esta é a regra, para a qual existem duas exceções: nalidade brasileira.
(i) se a nacionalidade adquirida for reconhecida como d) brasileiro nato, bastando que venha a residir na Re-
originária pela lei estrangeira, isto é, se o próprio país es- pública Federativa do Brasil.
trangeiro reconhece em sua legislação que aquele cida- e) brasileiro nato se Maria estiver, na Alemanha, a ser-
dão tem direito à sua nacionalidade de forma originária, viço da República Federativa do Brasil.
ou seja, em razão do nascimento (pelos critérios do jus
solis ou do jus sanguinis). Neste caso, o brasileiro ficará Resposta: Letra E. Segundo o Artigo 12, I, a e b, da
com ambas as nacionalidades (dupla nacionalidade ou CF/88, são brasileiros natos os nascidos no estran-
polipatria); OU (ii) caso a lei estrangeira imponha a natu- geiro, de pai ou mãe brasileiros, se: (i) o pai brasi-
ralização ao brasileiro residente em seu território como leiro ou a mãe brasileira estiver no exterior a serviço
condição para a sua permanência ou para o exercício de do Brasil, OU (ii) forem registrados em repartição
direitos civis. Neste caso, como o brasileiro adquiriu ou- brasileira competente no exterior, OU (iii) venham a
tra nacionalidade por imposição da lei estrangeira, não residir no Brasil e, depois de atingida a maioridade,
perderá a brasileira, ficando com as duas (dupla nacio- optem pela nacionalidade brasileira. A única alter-
nalidade ou polipatria). Não se encaixando em quaisquer nativa que contém de forma correta uma destas 3
das exceções, o brasileiro que adquirir voluntariamente hipóteses é a E.
outra nacionalidade, perderá a brasileira, podendo, se
cessada a causa, readquiri-la ou ter o ato que declarou a 2. (TRT-MS - 24ª Região – Técnico Judiciário Nível
perda revogado, conforme definido pelo órgão compe- Médio – FCC- 2017). Silmara, brasileira naturalizada,
tente do Poder Executivo (Artigo 76 da Lei de Migração). verificou a Constituição Federal brasileira a respeito de
possível extradição de brasileiro naturalizado. Assim,
1.6. Apatria constatou que, dentre os direitos e deveres individuais
e coletivos, está previsto que
Os apátridas, também denominados heimatlos, são
os indivíduos que não têm nacionalidade. Embora pos- a) nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturali-
DIREITO CONSTITUCIONAL

zado, em caso de crime comum, praticado antes ou


sam ocorrer, a configuração de casos de apatria é rara
depois da naturalização, ou de comprovado envol-
atualmente, sobretudo em razão do Artigo 15 da Decla-
vimento em milícia armada e grupos guerrilheiros.
ração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão e
b) a extradição de qualquer brasileiro, seja ele naturali-
do Artigo 20 da Convenção Americana de Direitos Hu-
zado ou não, consta em diversas hipóteses taxativas
manos (Pacto de San Jose da Costa Rica), que prevêem,
do artigo 5º da Carta Magna.
respectivamente, que todo homem tem direito a uma
c) a extradição de qualquer brasileiro, seja ele natura-
nacionalidade e, se não tiver direito a outra, pelo menos
lizado ou não, somente poderá ocorrer em caso de
a do Estado em cujo território tenha nascido. comprovado envolvimento em tráfico ilícito de en-
torpecentes e drogas afins.

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d) nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu- § 3ºOs Estados podem incorporar-se entre si, subdivi-
ralizado, em caso de crime comum, praticado antes dir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros,
da naturalização, ou de comprovado envolvimento ou formarem novos Estados ou Territórios Federais,
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na mediante aprovação da população diretamente inte-
forma da lei. ressada, através de plebiscito, e do Congresso Nacio-
e) a extradição de qualquer brasileiro, seja ele naturaliza- nal, por lei complementar.
do ou não, somente poderá ocorrer em caso de com- § 4ºA criação, a incorporação, a fusão e o desmem-
provado envolvimento em tráfico ilícito de entorpe- bramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual,
centes e drogas afins, envolvimento em milícia armada dentro do período determinado por Lei Complementar
e grupos guerrilheiros e prática de ato de terrorismo. Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos,
Resposta: Letra D. Segundo o Artigo 5º, LI, da CF/88, o após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal,
brasileiro nato não poderá ser extraditado; já o naturali-
apresentados e publicados na forma da lei.
zado somente poderá ser extraditado em caso de crime
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Fe-
comum, praticado ANTES da naturalização, ou em caso
deral e aos Municípios:
de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de en-
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-
torpecentes e drogas afins, conforme regulado em lei.
-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com
3. (UNESP – Assistente Administrativo Nivel Médio eles ou seus representantes relações de dependência
– VUNESP-2017). Conforme estabelece a Constituição ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração
Federal, são dois exemplos de cargos públicos privativos de interesse público;
de brasileiro nato: II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências
a) de Ministro do Supremo Tribunal Federal e de oficial entre si.
das Forças Armadas.
b) de Deputado Federal e de Presidente da República. CAPÍTULO II
c) de Senador da República e de Ministro de Estado da DA UNIÃO
Defesa.
d) de Deputado Federal e de Deputado Estadual. Art. 20. São bens da União:
e) de Vereador e da carreira diplomática. I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vie-
Resposta: Letra A. Só podem ser ocupados por bra- rem a ser atribuídos;
sileiros natos os cargos de: Presidente da República, II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das
Vice-Presidente da República, Presidente da Câmara fronteiras, das fortificações e construções militares,
dos Deputados, Presidente do Senado Federal, Minis- das vias federais de comunicação e à preservação am-
tro do Supremo Tribunal Federal, Ministro da Defesa, biental, definidas em lei;
membro de carreira diplomática e oficial das Forças III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
Armadas (Art. 12, §3º, CF/88). Os demais cargos (de- terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um
putado federal ou estadual, senador e vereador, entre Estado, sirvam de limites com outros países, ou se es-
outros) podem ser ocupados por brasileiros natos OU tendam a território estrangeiro ou dele provenham,
naturalizados. bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com
outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO- e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a
ADMINISTRATIVA DO ESTADO. ESTADO sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao
FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO, ESTADOS, serviço público e a unidade ambiental federal, e as
DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS E referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda
TERRITÓRIOS. Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continental e
da zona econômica exclusiva;
Título III VI - o mar territorial;
Da organização do estado VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
Capítulo I VIII - os potenciais de energia hidráulica;
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
DIREITO CONSTITUCIONAL

X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios ar-


Art. 18. A organização político-administrativa da Re- queológicos e pré-históricos;
pública Federativa do Brasil compreende a União, os XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autô- § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao
nomos, nos termos desta Constituição. Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos
§ 1ºBrasília é a Capital Federal. da administração direta da União, participação no re-
§ 2ºOs Territórios Federais integram a União, e sua cria- sultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
ção, transformação em Estado ou reintegração ao Es- recursos hídricos para fins de geração de energia elé-
tado de origem serão reguladas em lei complementar. trica e de outros recursos minerais no respectivo terri-

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tório, plataforma continental, mar territorial ou zona XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de
econômica exclusiva, ou compensação financeira por diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
essa exploração. XVII - conceder anistia;
§ 2º A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de XVIII - planejar e promover a defesa permanente con-
largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada tra as calamidades públicas, especialmente as secas e
como faixa de fronteira, é considerada fundamental as inundações;
para defesa do território nacional, e sua ocupação e XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de
utilização serão reguladas em lei. recursos hídricos e definir critérios de outorga de direi-
Art. 21. Compete à União: tos de seu uso; XX - instituir diretrizes para o desen-
I - manter relações com Estados estrangeiros e partici- volvimento urbano, inclusive habitação, saneamento
par de organizações internacionais; básico e transportes urbanos;
II - declarar a guerra e celebrar a paz; XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema
III - assegurar a defesa nacional; nacional de viação;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, XXII - executar os serviços de polícia marítima, aero-
que forças estrangeiras transitem pelo território na- portuária e de fronteiras;
cional ou nele permaneçam temporariamente; XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
intervenção federal; pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamen-
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de to, a industrialização e o comércio de minérios nuclea-
material bélico; res e seus derivados, atendidos os seguintes princípios
VII - emitir moeda; e condições:
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fis- a)toda atividade nuclear em território nacional so-
calizar as operações de natureza financeira, espe- mente será admitida para fins pacíficos e mediante
cialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem aprovação do Congresso Nacional;
como as de seguros e de previdência privada; b)sob regime de permissão, são autorizadas a comer-
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais cialização e a utilização de radioisótopos para a pes-
de ordenação do território e de desenvolvimento eco- quisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
nômico e social; c)sob regime de permissão, são autorizadas a produ-
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; ção, comercialização e utilização de radioisótopos de
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, meia-vida igual ou inferior a duas horas;
concessão ou permissão, os serviços de telecomunica- d)a responsabilidade civil por danos nucleares inde-
ções, nos termos da lei, que disporá sobre a organiza- pende da existência de culpa;
ção dos serviços, a criação de um órgão regulador e XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do tra-
outros aspectos institucionais; balho;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exer-
concessão ou permissão: cício da atividade de garimpagem, em forma associa-
a)os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e ima- tiva.
gens; Art. 22. Compete privativamente à União legislar so-
b)os serviços e instalações de energia elétrica e o apro- bre:
veitamento energético dos cursos de água, em arti- I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
culação com os Estados onde se situam os potenciais agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
hidroenergéticos; II - desapropriação;
c)a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura III - requisições civis e militares, em caso de iminente
aeroportuária; perigo e em tempo de guerra;
d)os serviços de transporte ferroviário e aquaviário IV - águas, energia, informática, telecomunicações e
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que radiodifusão;
transponham os limites de Estado ou Território; V - serviço postal;
e)os serviços de transporte rodoviário interestadual e VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garan-
internacional de passageiros; tias dos metais;
f)os portos marítimos, fluviais e lacustres; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferên-
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Minis- cia de valores;
tério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a VIII - comércio exterior e interestadual;
Defensoria Pública dos Territórios; IX - diretrizes da política nacional de transportes;
DIREITO CONSTITUCIONAL

XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia mili- X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, ma-
tar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, rítima, aérea e aeroespacial;
bem como prestar assistência financeira ao Distrito XI - trânsito e transporte;
Federal para a execução de serviços públicos, por meio XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e meta-
de fundo próprio; lurgia;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XV - organizar e manter os serviços oficiais de esta- XIV - populações indígenas;
tística, geografia, geologia e cartografia de âmbito XV - emigração e imigração, entrada, extradição e ex-
nacional; pulsão de estrangeiros;

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XVI - organização do sistema nacional de emprego e XII - estabelecer e implantar política de educação para
condições para o exercício de profissões; a segurança do trânsito.
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas
Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pú- para a cooperação entre a União e os Estados, o Dis-
blica dos Territórios, bem como organização adminis- trito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilí-
trativa destes; brio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de nacional.
geologia nacionais; Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da Federal legislar concorrentemente sobre:
poupança popular; I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econô-
XX - sistemas de consórcios e sorteios; mico e urbanístico;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material II - orçamento;
bélico, garantias, convocação e mobilização das polí- III - juntas comerciais;
cias militares e corpos de bombeiros militares; IV - custas dos serviços forenses;
XXII - competência da polícia federal e das polícias V - produção e consumo;
rodoviária e ferroviária federais; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natu-
XXIII - seguridade social; reza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; do meio ambiente e controle da poluição;
XXV - registros públicos; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artísti-
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
co, turístico e paisagístico;
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
todas as modalidades, para as administrações públicas
diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estéti-
Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no co, histórico, turístico e paisagístico;
art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tec-
de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; nologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Reda-
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa ção dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
marítima, defesa civil e mobilização nacional; X - criação, funcionamento e processo do juizado de
XXIX - propaganda comercial. pequenas causas;
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar XI - procedimentos em matéria processual;
os Estados a legislar sobre questões específicas das XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
matérias relacionadas neste artigo. XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, XIV - proteção e integração social das pessoas porta-
do Distrito Federal e dos Municípios: doras de deficiência;
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das XV - proteção à infância e à juventude;
instituições democráticas e conservar o patrimônio XVI - organização, garantias, direitos e deveres das
público; polícias civis.
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção § 1ºNo âmbito da legislação concorrente, a competên-
e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
cia da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de
§ 2ºA competência da União para legislar sobre nor-
valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; mas gerais não exclui a competência suplementar dos
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracteriza- Estados.
ção de obras de arte e de outros bens de valor históri- § 3ºInexistindo lei federal sobre normas gerais, os Es-
co, artístico ou cultural; tados exercerão a competência legislativa plena, para
V -proporcionar os meios de acesso à cultura, à edu- atender a suas peculiaridades.
cação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inova- § 4ºA superveniência de lei federal sobre normas ge-
ção;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, rais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
de 2015) contrário.
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição
em qualquer de suas formas; CAPÍTULO III
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; DOS ESTADOS FEDERADOS
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o
abastecimento alimentar;
DIREITO CONSTITUCIONAL

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas


IX - promover programas de construção de moradias Constituições e leis que adotarem, observados os prin-
e a melhoria das condições habitacionais e de sanea- cípios desta Constituição.
mento básico; § 1º São reservadas aos Estados as competências que
X - combater as causas da pobreza e os fatores de não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
marginalização, promovendo a integração social dos
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou me-
setores desfavorecidos;
diante concessão, os serviços locais de gás canalizado,
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos na forma da lei, vedada a edição de medida provisória
e minerais em seus territórios; para a sua regulamentação.

16
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
instituir regiões metropolitanas, aglomerações urba- estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
nas e microrregiões, constituídas por agrupamentos respectivo Estado e os seguintes preceitos:
de municípios limítrofes, para integrar a organização, I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Verea-
o planejamento e a execução de funções públicas de dores, para mandato de quatro anos, mediante pleito
interesse comum. direto e simultâneo realizado em todo o País;
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, primeiro domingo de outubro do ano anterior ao tér-
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na mino do mandato dos que devam suceder, aplicadas as
forma da lei, as decorrentes de obras da União; regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que esti- duzentos mil eleitores;
verem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de
da União, Municípios ou terceiros; janeiro do ano subseqüente ao da eleição;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à IV - para a composição das Câmaras Municipais, será
União; observado o limite máximo de:
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as a)9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000
da União. (quinze mil) habitantes;
Art. 27. O número de Deputados à Assembléia Legis- b)11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de
lativa corresponderá ao triplo da representação do Es- 15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta
tado na Câmara dos Deputados e, atingido o número
mil) habitantes;
de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem
c)13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de
os Deputados Federais acima de doze.
30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cin-
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados
quenta mil) habitantes;
Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Consti-
d)15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de
tuição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imuni-
50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oi-
dades, remuneração, perda de mandato, licença, im-
tenta mil) habitantes;
pedimentos e incorporação às Forças Armadas.
e)17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado
por lei de iniciativa da Assembléia Legislativa, na ra- 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento
zão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele e vinte mil) habitantes;
estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, f)19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de
observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000
150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (cento sessenta mil) habitantes;
§ 3º Compete às Assembléias Legislativas dispor sobre g)21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais
seu regimento interno, polícia e serviços administrati- de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até
vos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos. 300.000 (trezentos mil) habitantes;
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no proces- h)23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais
so legislativo estadual. de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000
Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes;
de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á i)25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais
no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e
e no último domingo de outubro, em segundo turno, de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes;
se houver, do ano anterior ao do término do mandato j)27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais
de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000
de janeiro do ano subseqüente, observado, quanto ao (setecentos cinquenta mil) habitantes;
mais, o disposto no art. 77. k)29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
§ 1ºPerderá o mandato o Governador que assumir ou- de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e
tro cargo ou função na administração pública direta de até 900.000 (novecentos mil) habitantes;
ou indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso l)31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de
público e observado o disposto no art. 38, I, IV e V. (R mais de 900.000 (novecentos mil) habitantes e de até
§ 2ºOs subsídios do Governador, do Vice-Governador 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes;
e dos Secretários de Estado serão fixados por lei de m)33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
iniciativa da Assembléia Legislativa, observado o que de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e
DIREITO CONSTITUCIONAL

dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, de até 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes;
§ 2º, I. n)35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de
mais de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habi-
CAPÍTULO IV tantes e de até 1.350.000 (um milhão e trezentos e
DOS MUNICÍPIOS cinquenta mil) habitantes;
o)37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) ha-
em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, bitantes e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos
e aprovada por dois terços dos membros da Câmara mil) habitantes;

17
p)39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de VII - o total da despesa com a remuneração dos Verea-
mais de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) ha- dores não poderá ultrapassar o montante de cinco por
bitantes e de até 1.800.000 (um milhão e oitocentos cento da receita do Município;
mil) habitantes; VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões,
q)41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de palavras e votos no exercício do mandato e na circuns-
mais de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habi- crição do Município;
tantes e de até 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da
mil) habitantes; vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta
r)43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de Constituição para os membros do Congresso Nacional
mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) e na Constituição do respectivo Estado para os mem-
habitantes e de até 3.000.000 (três milhões) de habi- bros da Assembléia Legislativa;
tantes; X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Jus-
s)45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de tiça; (
mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de XI - organização das funções legislativas e fiscalizado-
até 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes;
ras da Câmara Municipal;
t)47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de
XII - cooperação das associações representativas no
mais de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de
planejamento municipal;
até 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes;
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse
u)49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de
específico do Município, da cidade ou de bairros, atra-
mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de
vés de manifestação de, pelo menos, cinco por cento
até 6.000.000 (seis milhões) de habitantes; (Incluída
pela Emenda Constitucional nº 58, de 2009) do eleitorado;
v)51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art.
mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de 28, parágrafo único.
até 7.000.000 (sete milhões) de habitantes; Art.29-A.O total da despesa do Poder Legislativo Muni-
w)53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de cipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os se-
até 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e guintes percentuais, relativos ao somatório da receita
x)55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de tributária e das transferências previstas no § 5o do art.
mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secre- exercício anterior:
tários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câ- I - 7% (sete por cento) para Municípios com população
mara Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, de até 100.000 (cem mil) habitantes;
XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; II - 6% (seis por cento) para Municípios com popula-
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respec- ção entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil)
tivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a habitantes;
subseqüente, observado o que dispõe esta Constitui- III - 5% (cinco por cento) para Municípios com popula-
ção, observados os critérios estabelecidos na respecti- ção entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (qui-
va Lei Orgânica e os seguintes limites máximos: nhentos mil) habitantes;
a)em Municípios de até dez mil habitantes, o subsí- IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento)
dio máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por para Municípios com população entre 500.001 (qui-
cento do subsídio dos Deputados Estaduais; nhentos mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de ha-
b)em Municípios de dez mil e um a cinqüenta mil ha- bitantes;
bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corres- V - 4% (quatro por cento) para Municípios com popu-
ponderá a trinta por cento do subsídio dos Deputados lação entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000
Estaduais; (oito milhões) de habitantes;
c)em Municípios de cinqüenta mil e um a cem mil VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corres- Municípios com população acima de 8.000.001 (oito
ponderá a quarenta por cento do subsídio dos Depu- milhões e um) habitantes.
tados Estaduais; § 1o A Câmara Municipal não gastará mais de setenta
d)em Municípios de cem mil e um a trezentos mil ha- por cento de sua receita com folha de pagamento, in-
bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corres- cluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores.
ponderá a cinqüenta por cento do subsídio dos Depu- § 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito
Municipal:
DIREITO CONSTITUCIONAL

tados Estaduais;
e)em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste
mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores artigo;
corresponderá a sessenta por cento do subsídio dos II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
Deputados Estaduais; III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada
f)em Municípios de mais de quinhentos mil habitan- na Lei Orçamentária.
tes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá § 3o Constitui crime de responsabilidade do Presiden-
a setenta e cinco por cento do subsídio dos Deputados te da Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste
Estaduais; artigo.
Art. 30. Compete aos Municípios:

18
I - legislar sobre assuntos de interesse local; § 4ºLei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo
II - suplementar a legislação federal e a estadual no do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo
que couber; de bombeiros militar.
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competên-
cia, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da SEÇÃO II
obrigatoriedade de prestar contas e publicar balance- DOS TERRITÓRIOS
tes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a Art. 33. A lei disporá sobre a organização administra-
legislação estadual; tiva e judiciária dos Territórios.
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime § 1ºOs Territórios poderão ser divididos em Municí-
de concessão ou permissão, os serviços públicos de pios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que no Capítulo IV deste Título.
tem caráter essencial; § 2ºAs contas do Governo do Território serão subme-
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da
tidas ao Congresso Nacional, com parecer prévio do
União e do Estado, programas de educação infantil e
Tribunal de Contas da União.
de ensino fundamental;
§ 3ºNos Territórios Federais com mais de cem mil ha-
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da
União e do Estado, serviços de atendimento à saúde bitantes, além do Governador nomeado na forma des-
da população; ta Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira
VIII - promover, no que couber, adequado ordena- e segunda instância, membros do Ministério Público
mento territorial, mediante planejamento e controle e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as
do uso, do parcelamento e da ocupação do solo ur- eleições para a Câmara Territorial e sua competência
bano; deliberativa.
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cul-
tural local, observada a legislação e a ação fiscaliza- Capítulo VI
dora federal e estadual. DA INTERVENÇÃO
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo
Poder Legislativo Municipal, mediante controle exter- Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Dis-
no, e pelos sistemas de controle interno do Poder Exe- trito Federal, exceto para:
cutivo Municipal, na forma da lei. I - manter a integridade nacional;
§ 1ºO controle externo da Câmara Municipal será II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da
exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Federação em outra;
Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribu- III - pôr termo a grave comprometimento da ordem
nais de Contas dos Municípios, onde houver. pública;
§ 2ºO parecer prévio, emitido pelo órgão competente
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes
sobre as contas que o Prefeito deve anualmente pres-
nas unidades da Federação;
tar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços
dos membros da Câmara Municipal. V - reorganizar as finanças da unidade da Federação
§ 3ºAs contas dos Municípios ficarão, durante sessen- que:
ta dias, anualmente, à disposição de qualquer contri- a)suspender o pagamento da dívida fundada por
buinte, para exame e apreciação, o qual poderá ques- mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força
tionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei. maior;
§ 4ºÉ vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou ór- b)deixar de entregar aos Municípios receitas tributá-
gãos de Contas Municipais. rias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos es-
tabelecidos em lei;
CAPÍTULO V VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão
DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS judicial;
SEÇÃO I VII - assegurar a observância dos seguintes princípios
DO DISTRITO FEDERAL constitucionais:
a)forma republicana, sistema representativo e regime
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Muni- democrático;
cípios, reger- se-á por lei orgânica, votada em dois tur- b)direitos da pessoa humana;
nos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por c)autonomia municipal;
dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, d)prestação de contas da administração pública, dire-
DIREITO CONSTITUCIONAL

atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.


ta e indireta.
§ 1ºAo Distrito Federal são atribuídas as competências
e)aplicação do mínimo exigido da receita resultante
legislativas reservadas aos Estados e Municípios.
de impostos estaduais, compreendida a proveniente
§ 2ºA eleição do Governador e do Vice-Governador, ob-
servadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais de transferências, na manutenção e desenvolvimento
coincidirá com a dos Governadores e Deputados Esta- do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
duais, para mandato de igual duração. Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios,
§ 3ºAos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa apli- nem a União nos Municípios localizados em Território
ca-se o disposto no art. 27. Federal, exceto quando:

19
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por b) inconstitucional sob o prisma formal, já que se trata de
dois anos consecutivos, a dívida fundada; competência legislativa privativa da União tratar sobre
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da as populações indígenas.
lei; c) inconstitucional sob o prisma formal, já que a matéria
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da re- é de competência exclusiva dos Estados membros e
ceita municipal na manutenção e desenvolvimento do Distrito Federal.
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; d) constitucional, uma vez que, por se tratar de nítido
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a represen- interesse local, a competência é privativa dos Muni-
tação para assegurar a observância de princípios in- cípios.
dicados na Constituição Estadual, ou para prover a e) constitucional, já que se trata de interesse local e re-
gional, de modo que compete aos Estados membros,
execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
Distrito Federal e Municípios, de forma comum, legis-
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá:
lar sobre a questão.
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Le-
Resposta: Letra B. Nos termos do art. 22 XIV, compe-
gislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido,
te privativamente à União legislar sobre populações
ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a indígenas.
coação for exercida contra o Poder Judiciário;
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judi- 2. APLICADA EM: 2018 BANCA: VUNESPÓRGÃO:
ciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do PREFEITURA DE BAURU - SPPROVA: PROCURADOR
Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior JURÍDICO
Eleitoral; Considerando as competências dos Municípios previstas
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de na Constituição Federal, é correto afirmar que seria in-
representação do Procurador-Geral da República, na constitucional a Lei do Município que
hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução
de lei federal. (Redação dada pela Emenda Constitu- a) fixasse o horário de funcionamento dos estabeleci-
cional nº 45, de 2004) mentos comerciais, o que não abrangeria os bancos.
IV - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de b) estabelecesse alíquotas progressivas para o Imposto
2004) Predial e Territorial Urbano – IPTU, destinadas a assegurar
§ 1ºO decreto de intervenção, que especificará a am- o cumprimento da função social da propriedade urbana.
plitude, o prazo e as condições de execução e que, se
c) desvinculasse o reajuste dos servidores públicos muni-
couber, nomeará o interventor, será submetido à apre-
cipais dos índices federais de correção monetária.
ciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Le-
d) instituísse contribuição, na forma de respectiva lei mu-
gislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
nicipal, para o custeio do serviço de iluminação pública.
§ 2ºSe não estiver funcionando o Congresso Nacional
e) impedisse a instalação de estabelecimentos comerciais
ou a Assembléia Legislativa, far-se-á convocação ex-
do mesmo ramo em uma determinada área.
traordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas.
§ 3ºNos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV,
dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou Resposta: Letra E. A ordem econômica, fundada na
pela Assembléia Legislativa, o decreto limitar-se-á a valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
suspender a execução do ato impugnado, se essa me- tem por fim assegurar a todos existência digna, con-
dida bastar ao restabelecimento da normalidade. forme os ditames da justiça social, observados, dentre
§ 4ºCessados os motivos da intervenção, as autorida- outros, o seguinte princípio: livre concorrência.
des afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo
impedimento legal. 3. APLICADA EM: 2018 BANCA: CESPE ÓRGÃO:
EMAP PROVA: CONHECIMENTOS BÁSICOS - CAR-
GOS DE NÍVEL MÉDIO. No que se refere à organiza-
ção dos poderes, julgue o item que segue. A criação de
cargo público federal é matéria que cabe ao Congresso
Nacional dispor, mas depende da sanção do presidente
EXERCÍCIOS COMENTADOS da República.

1. APLICADA EM: 2018 BANCA: VUNESP ÓRGÃO: ( ) CERTO ( ) ERRADO


PC-BAPROVA: INVESTIGADOR DE POLÍCIA. Imagine
que a Câmara Municipal da Cidade X aprovou projeto de Resposta: Certo. Nos termos do art. 48 X, Cabe ao
DIREITO CONSTITUCIONAL

lei dispondo sobre interesses das comunidades indíge- Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da
nas localizadas em seu território. Nesse caso, partindo República, não exigida esta para o especificado nos arts.
das regras constitucionais sobre a repartição de compe- 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de compe-
tências, é correto afirmar que a lei é tência da União, especialmente sobre criação, transfor-
mação e extinção de cargos, empregos e funções públi-
a) inconstitucional sob o prisma formal, já que se trata de cas, observado o que estabelece o art. 84, VI, b.
competência legislativa concorrente entre União, Esta-
dos e Distrito Federal a regulamentação de qualquer
matéria relativa às populações indígenas.

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4. APLICADA EM: 2018 BANCA: CESPE ÓRGÃO: Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da Repúbli-
PGM - MANAUS - AM PROVA: PROCURADOR DO ca tomarão posse em sessão do Congresso Nacional,
MUNICÍPIO. Conforme regras e interpretação da CF, prestando o compromisso de manter, defender e cum-
julgue o item subsequente, relativo a autonomia muni- prir a Constituição, observar as leis, promover o bem
cipal e intervenção de estado-membro em município. geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integrida-
Da capacidade de auto-organização municipal decorre a de e a independência do Brasil.
constatação de que o estado-membro não pode ingerir Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada
na autonomia organizatória do município, o que confere para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo
a este a possibilidade de ordenar internamente, inclusive motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este
por meio de lei orgânica, sem a necessidade de anuência será declarado vago.
do respectivo governo estadual. Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedi-
mento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.
( ) CERTO ( ) ERRADO Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além
de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei
complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por
Resposta: Certo. Os entes da federação são indepen- ele convocado para missões especiais.
dentes e autônomos entre si. Tem por característica au- Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do
to-organização, autogoverno e auto-administração. É o Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos,
que dispõe o art. 18 e também o art. 29, segundo o qual, serão sucessivamente chamados ao exercício da Pre-
Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois sidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprova-
Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.
da por dois terços dos membros da Câmara Municipal,
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presi-
que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
dente da República, far-se-á eleição noventa dias de-
nesta Constituição, na Constituição do respectivo Esta-
pois de aberta a última vaga.
do e os seguintes preceitos.
§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do
período presidencial, a eleição para ambos os cargos
será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Con-
PODER EXECUTIVO. ATRIBUIÇÕES E gresso Nacional, na forma da lei.
RESPONSABILIDADES DO PRESIDENTE DA § 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão comple-
tar o período de seus antecessores.
REPÚBLICA
Art. 82. O mandato do Presidente da República é de
quatro anos e terá início em primeiro de janeiro do ano
seguinte ao da sua eleição.
DO PODER EXECUTIVO Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República
não poderão, sem licença do Congresso Nacional, au-
Seção I sentar-se do País por período superior a quinze dias,
Do Presidente e do Vice-Presidente da República sob pena de perda do cargo.
Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente
da República, auxiliado pelos Ministros de Estado. Seção II
Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presiden- Das Atribuições do Presidente da República
te da República realizar-se-á, simultaneamente, no
primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da Re-
no último domingo de outubro, em segundo turno, se pública:
houver, do ano anterior ao do término do mandato I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
presidencial vigente. II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a
§ 1º A eleição do Presidente da República importará a direção superior da administração federal;
do Vice-Presidente com ele registrado. III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
§ 2º Será considerado eleito Presidente o candidato previstos nesta Constituição;
que, registrado por partido político, obtiver a maioria IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem
absoluta de votos, não computados os em branco e como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
os nulos.
execução;
§ 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta
na primeira votação, far-se-á nova eleição em até vin- V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
DIREITO CONSTITUCIONAL

te dias após a proclamação do resultado, concorrendo VI – dispor, mediante decreto, sobre:


os dois candidatos mais votados e considerando-se a) organização e funcionamento da administração fe-
eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos. deral, quando não implicar aumento de despesa nem
§ 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer mor- criação ou extinção de órgãos públicos;
te, desistência ou impedimento legal de candidato, con- b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;
vocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação. VII - manter relações com Estados estrangeiros e acre-
§ 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, rema- ditar seus representantes diplomáticos;
nescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a VIII - celebrar tratados, convenções e atos interna-
mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso. cionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;

21
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Ju-
X - decretar e executar a intervenção federal; diciário, do Ministério Público e dos Poderes constitu-
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Con- cionais das unidades da Federação;
gresso Nacional por ocasião da abertura da sessão III - o exercício dos direitos políticos, individuais e so-
legislativa, expondo a situação do País e solicitando ciais;
as providências que julgar necessárias; IV - a segurança interna do País;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiên- V - a probidade na administração;
cia, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; VI - a lei orçamentária;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Arma- VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
das, nomear os Comandantes da Marinha, do Exérci- Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei
to e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais especial, que estabelecerá as normas de processo e
e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; julgamento.
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da
Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais República, por dois terços da Câmara dos Deputados,
Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador- será ele submetido a julgamento perante o Supremo
-Geral da República, o presidente e os diretores do Banco Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou pe-
Central e outros servidores, quando determinado em lei; rante o Senado Federal, nos crimes de responsabili-
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Mi- dade.
nistros do Tribunal de Contas da União; § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos I - nas infrações penais comuns, se recebida a denún-
nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União; cia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
XVII - nomear membros do Conselho da República, II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração
nos termos do art. 89, VII; do processo pelo Senado Federal.
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e § 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o jul-
o Conselho de Defesa Nacional; gamento não estiver concluído, cessará o afastamento
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangei- do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimen-
to do processo.
ra, autorizado pelo Congresso Nacional ou referen-
§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória,
dado por ele, quando ocorrida no intervalo das ses-
nas infrações comuns, o Presidente da República não
sões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar,
estará sujeito a prisão.
total ou parcialmente, a mobilização nacional; § 4º O Presidente da República, na vigência de seu
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo mandato, não pode ser responsabilizado por atos es-
do Congresso Nacional; tranhos ao exercício de suas funções.
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complemen-
tar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente; EXERCÍCIOS COMENTADOS
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano pluria-
nual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as 1. Aplicada em: 2018Banca: CESPEÓrgão: DPE-PEPro-
propostas de orçamento previstas nesta Constituição; va: Defensor Público.
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, A Constituição Federal de 1988 elenca como atribuição
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão do presidente da República
legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, a) dispor, por decreto, sobre o funcionamento da admi-
na forma da lei; nistração pública federal, ainda que isso implique au-
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, mento de despesa.
nos termos do art. 62; b) conceder indulto e comutação de penas.
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta c) autorizar empréstimos contraídos pela União no ex-
Constituição. terior.
Parágrafo único. O Presidente da República poderá d) celebrar e referendar acordos internacionais, na condi-
delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, ção de chefe de Estado.
XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao e) celebrar a paz, com referendo do Senado Federal.
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Ge-
Resposta: Letra B.
ral da União, que observarão os limites traçados nas
DIREITO CONSTITUCIONAL

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da Re-


respectivas delegações.
pública:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
Seção III II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a
Da Responsabilidade do Presidente da República direção superior da administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Pre- previstos nesta Constituição;
sidente da República que atentem contra a Constitui- IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem
ção Federal e, especialmente, contra: como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
I - a existência da União; execução;

22
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; 2. Aplicada em: 2018Banca: CESPEÓrgão: PC-MAPro-
VI – dispor, mediante decreto, sobre: va: Investigador de Polícia.
a) organização e funcionamento da administração fe- O presidente da República poderá delegar aos ministros
deral, quando não implicar aumento de despesa nem de Estado, ao procurador-geral da República ou ao advo-
criação ou extinção de órgãos públicos; gado-geral da União a atribuição de
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando va-
gos; a) decretar o estado de defesa e o estado de sítio.
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acre- b) editar medidas provisórias.
ditar seus representantes diplomáticos; c) conferir condecorações e distinções honoríficas.
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacio- d) prover cargos públicos federais, na forma da lei.
nais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; e) vetar projetos de lei.
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - decretar e executar a intervenção federal; Resposta: Letra D.
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Con- Art. 84 Parágrafo único. O Presidente da República po-
derá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI,
gresso Nacional por ocasião da abertura da sessão le-
XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao
gislativa, expondo a situação do País e solicitando as
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral
providências que julgar necessárias; da União, que observarão os limites traçados nas res-
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, pectivas delegações.
se necessário, dos órgãos instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, 3.Aplicada em: 2017Banca: CESPEÓrgão: DPE-ACPro-
nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da va: Defensor Público.
Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá- O Conselho de Defesa Nacional
-los para os cargos que lhes são privativos; XIV - no-
mear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros a) tem como atribuição opinar sobre questões relevantes
do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superio- quanto à estabilidade das instituições democráticas.
res, os Governadores de Territórios, o Procurador-Ge- b) é composto, entre outros membros, pelos líderes da
ral da República, o presidente e os diretores do banco maioria e da minoria no Senado Federal.
central e outros servidores, quando determinado em lei; c) é composto, entre outros membros, pelos líderes da
maioria e da minoria na Câmara dos Deputados.
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Minis-
d) é órgão superior de consulta do presidente da Repú-
tros do Tribunal de Contas da União; blica e do Ministério da Defesa.
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta e) é órgão de consulta para assuntos relacionados à so-
Constituição, e o Advogado-Geral da União; berania nacional.
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos
termos do art. 89, VII; Resposta: Letra E.
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de
Conselho de Defesa Nacional; consulta do Presidente da República nos assuntos re-
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangei- lacionados com a soberania nacional e a defesa do Es-
ra, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado tado democrático, e dele participam como membros
por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões le- natos:
gislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou I - o Vice-Presidente da República;
parcialmente, a mobilização nacional; II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do
IV - o Ministro da Justiça;
Congresso Nacional; V - o Ministro de Estado da Defesa;
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; VI - o Ministro das Relações Exteriores;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, VII - o Ministro do Planejamento.
que forças estrangeiras transitem pelo território nacio- VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da
nal ou nele permaneçam temporariamente; Aeronáutica.
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano pluria- § 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
nual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de
propostas de orçamento previstos nesta Constituição; celebração da paz, nos termos desta Constituição;
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legis- estado de sítio e da intervenção federal;
III - propor os critérios e condições de utilização de
DIREITO CONSTITUCIONAL

lativa, as contas referentes ao exercício anterior;


XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na áreas indispensáveis à segurança do território nacional
e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa
forma da lei;
de fronteira e nas relacionadas com a preservação e
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos
a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo;
termos do art. 62; IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Cons- de iniciativas necessárias a garantir a independência
tituição. nacional e a defesa do Estado democrático.
§ 2º A lei regulará a organização e o funcionamento
do Conselho de Defesa Nacional.

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VII - transferência temporária da sede do Governo Fe-
PODER LEGISLATIVO. ESTRUTURA. deral;
VIII - concessão de anistia;
FUNCIONAMENTO E ATRIBUIÇÕES.
IX - organização administrativa, judiciária, do Minis-
PROCESSO LEGISLATIVO.
tério Público e da Defensoria Pública da União e dos
Territórios e organização judiciária e do Ministério Pú-
blico do Distrito Federal;
Poder Legislativo: X – criação, transformação e extinção de cargos, em-
pregos e funções públicas, observado o que estabelece
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso o art. 84, VI, b;
Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e XI – criação e extinção de Ministérios e órgãos da ad-
do Senado Federal. ministração pública;
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de XII - telecomunicações e radiodifusão;
quatro anos. XIII - matéria financeira, cambial e monetária, insti-
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de repre- tuições financeiras e suas operações;
sentantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da
em cada Estado, em cada Território e no Distrito Fe- dívida mobiliária federal.
deral. XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tri-
§ 1º O número total de Deputados, bem como a re- bunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, §
presentação por Estado e pelo Distrito Federal, será es- 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I.
tabelecido por lei complementar, proporcionalmente à Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Na-
população, procedendo-se aos ajustes necessários, no cional:
ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
unidades da Federação tenha menos de oito ou mais atos internacionais que acarretem encargos ou com-
de setenta Deputados. promissos gravosos ao patrimônio nacional;
§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados. II - autorizar o Presidente da República a declarar
Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representan- guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças es-
tes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o trangeiras transitem pelo território nacional ou nele
princípio majoritário. permaneçam temporariamente, ressalvados os casos
previstos em lei complementar;
§ 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Se- III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da Re-
nadores, com mandato de oito anos. pública a se ausentarem do País, quando a ausência
§ 2º A representação de cada Estado e do Distrito Fe- exceder a quinze dias;
deral será renovada de quatro em quatro anos, alter- IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção fede-
nadamente, por um e dois terços.
ral, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer
§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.
uma dessas medidas;
Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário,
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que
as deliberações de cada Casa e de suas comissões se-
exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de
rão tomadas por maioria dos votos, presente a maio-
delegação legislativa;
ria absoluta de seus membros.
VI - mudar temporariamente sua sede;
Das atribuições do congresso nacional
VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Fede-
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção rais e os Senadores, observado o que dispõem os arts.
do Presidente da República, não exigida esta para o 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas VIII – fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presi-
as matérias de competência da União, especialmente dente da República e dos Ministros de Estado, observa-
sobre: do o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153,
I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de III, e 153, § 2º, I;
rendas; IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Pre-
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orça- sidente da República e apreciar os relatórios sobre a
mento anual, operações de crédito, dívida pública e execução dos planos de governo;
emissões de curso forçado; X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer
DIREITO CONSTITUCIONAL

III - fixação e modificação do efetivo das Forças Ar- de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os
madas; da administração indireta;
IV - planos e programas nacionais, regionais e seto- XI - zelar pela preservação de sua competência le-
riais de desenvolvimento; gislativa em face da atribuição normativa dos outros
V - limites do território nacional, espaço aéreo e marí- Poderes;
timo e bens do domínio da União; XII - apreciar os atos de concessão e renovação de
VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de concessão de emissoras de rádio e televisão;
áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de
Assembleias Legislativas; Contas da União;

24
XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes III - aprovar previamente, por voto secreto, após argui-
a atividades nucleares; ção pública, a escolha de:
XV - autorizar referendo e convocar plebiscito; a) magistrados, nos casos estabelecidos nesta Cons-
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e tituição;
o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados
lavra de riquezas minerais; pelo Presidente da República;
XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão c) Governador de Território;
de terras públicas com área superior a dois mil e qui- d) presidente e diretores do Banco Central;
nhentos hectares. e) Procurador-Geral da República;
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Fede- f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
ral, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar IV - aprovar previamente, por voto secreto, após ar-
Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos guição em sessão secreta, a escolha dos chefes de mis-
diretamente subordinados à Presidência da Repúbli- são diplomática de caráter permanente;
ca para prestarem, pessoalmente, informações sobre V - autorizar operações externas de natureza finan-
assunto previamente determinado, importando crime ceira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito
de responsabilidade a ausência sem justificação ade- Federal, dos Territórios e dos Municípios;
quada. VI - fixar, por proposta do Presidente da República, li-
§ 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer ao mites globais para o montante da dívida consolidada
Senado Federal, à Câmara dos Deputados ou a qual- da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
quer de suas comissões, por sua iniciativa e mediante nicípios;
entendimentos com a Mesa respectiva, para expor as- VII - dispor sobre limites globais e condições para as
sunto de relevância de seu Ministério. operações de crédito externo e interno da União, dos
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas
Federal poderão encaminhar pedidos escritos de infor- autarquias e demais entidades controladas pelo poder
mação a Ministros de Estado ou a qualquer das pes-
soas referidas no caput deste artigo, importando em público federal;
crime de responsabilidade a recusa, ou o não atendi- VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão
mento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de garantia da União em operações de crédito externo
de informações falsas. e interno;
IX - estabelecer limites globais e condições para o
Da câmara dos deputados montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos De- X - suspender a execução, no todo ou em parte, de
putados:
lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a ins-
tauração de processo contra o Presidente e o Vice-Pre- Supremo Tribunal Federal;
sidente da República e os Ministros de Estado; XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto,
II - proceder à tomada de contas do Presidente da a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da Repú-
República, quando não apresentadas ao Congresso blica antes do término de seu mandato;
Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da XII - elaborar seu regimento interno;
sessão legislativa; XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento,
III - elaborar seu regimento interno; polícia, criação, transformação ou extinção dos car-
IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, po- gos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa
lícia, criação, transformação ou extinção dos cargos,
de lei para fixação da respectiva remuneração, obser-
empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de
lei para fixação da respectiva remuneração, observa- vados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
dos os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;
orçamentárias; XIV - eleger membros do Conselho da República, nos
V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.
termos do art. 89, VII. XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sis-
tema Tributário Nacional, em sua estrutura e seus
Do senado federal componentes, e o desempenho das administrações tri-
butárias da União, dos Estados e do Distrito Federal e
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
dos Municípios.
DIREITO CONSTITUCIONAL

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presiden-


te da República nos crimes de responsabilidade, bem Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e
como os Ministros de Estado e os Comandantes da II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal
Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da Federal, limitando-se a condenação, que somente será
mesma natureza conexos com aqueles; proferida por dois terços dos votos do Senado Federal,
II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tri- à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para
bunal Federal, os membros do Conselho Nacional de o exercício de função pública, sem prejuízo das demais
Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, sanções judiciais cabíveis.
o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral
da União nos crimes de responsabilidade;

25
Dos deputados e dos senadores I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas
no artigo anterior;
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, ci- II - cujo procedimento for declarado incompatível com
vil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, pa- o decoro parlamentar;
lavras e votos. III - que deixar de comparecer, em cada sessão legis-
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do lativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a
diploma, serão submetidos a julgamento perante o que pertencer, salvo licença ou missão por esta auto-
Supremo Tribunal Federal. rizada;
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos previstos nesta Constituição;
serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa VI - que sofrer condenação criminal em sentença tran-
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus sitada em julgado.
membros, resolva sobre a prisão. § 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputa- dos casos definidos no regimento interno, o abuso das
do, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo prerrogativas asseguradas a membro do Congresso
Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.
por iniciativa de partido político nela representado e § 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do man-
pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a dato será decidida pela Câmara dos Deputados ou
decisão final, sustar o andamento da ação. pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante
§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa provocação da respectiva Mesa ou de partido político
respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco representado no Congresso Nacional, assegurada am-
dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. pla defesa. (Parágrafo com redação dada pela Emenda
§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, en- Constitucional nº 76, de 2013)
quanto durar o mandato. § 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou
a testemunhar sobre informações recebidas ou pres- mediante provocação de qualquer de seus membros ou
tadas em razão do exercício do mandato, nem sobre de partido político representado no Congresso Nacio-
as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam in-
nal, assegurada ampla defesa.
formações.
§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a proces-
§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados
e Senadores, embora militares e ainda que em tempo so que vise ou possa levar à perda do mandato, nos
de guerra, dependerá de prévia licença da Casa res- termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as
pectiva. deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º.
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores sub- Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:
sistirão durante o estado de sítio, só podendo ser sus- I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governador
pensas mediante o voto de dois terços dos membros de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal,
da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora de Território, de Prefeitura de capital ou chefe de missão
do recinto do Congresso Nacional, que sejam incom- diplomática temporária;
patíveis com a execução da medida. II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doen-
Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: ça, ou para tratar, sem remuneração, de interesse par-
I - desde a expedição do diploma: ticular, desde que, neste caso, o afastamento não ultra-
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de passe cento e vinte dias por sessão legislativa.
direito público, autarquia, empresa pública, socieda- § 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de
de de economia mista ou empresa concessionária de investidura em funções previstas neste artigo ou de li-
serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cença superior a cento e vinte dias.
cláusulas uniformes;
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego re-
eleição para preenchê-la se faltarem mais de quinze
munerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad
meses para o término do mandato.
nutum , nas entidades constantes da alínea anterior;
II - desde a posse: § 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador
a) ser proprietários, controladores ou diretores de em- poderá optar pela remuneração do mandato.
DIREITO CONSTITUCIONAL

presa que goze de favor decorrente de contrato com


pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer fun- Das reuniões
ção remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente,
ad nutum , nas entidades referidas no inciso I, a ; na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer 1º de agosto a 22 de dezembro.
das entidades a que se refere o inciso I, a ; § 1º As reuniões marcadas para essas datas serão trans-
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato pú- feridas para o primeiro dia útil subseqüente, quando
blico eletivo. recaírem em sábados, domingos ou feriados.
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

26
§ 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a III - convocar Ministros de Estado para prestar infor-
aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias. mações sobre assuntos inerentes a suas atribuições;
§ 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, IV - receber petições, reclamações, representações ou
a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se- queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões
-ão em sessão conjunta para: das autoridades ou entidades públicas;
I - inaugurar a sessão legislativa; V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou
II - elaborar o regimento comum e regular a criação de cidadão;
serviços comuns às duas Casas; VI - apreciar programas de obras, planos nacionais,
III - receber o compromisso do Presidente e do Vice- regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles
-Presidente da República; emitir parecer.
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar. § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões pre- terão poderes de investigação próprios das autorida-
paratórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano des judiciais, além de outros previstos nos regimentos
da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos
das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou se-
vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição paradamente, mediante requerimento de um terço de
imediatamente subseqüente. seus membros, para a apuração de fato determinado
§ 5º A Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso,
Presidente do Senado Federal, e os demais cargos serão encaminhadas ao Ministério Público, para que promo-
exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos va a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
equivalentes na Câmara dos Deputados e no Senado § 4º Durante o recesso, haverá uma comissão repre-
Federal. sentativa do Congresso Nacional, eleita por suas Ca-
§ 6º A convocação extraordinária do Congresso Na- sas na última sessão ordinária do período legislativo,
cional far-se-á: com atribuições definidas no regimento comum, cuja
I - pelo Presidente do Senado Federal, em caso de de- composição reproduzirá, quanto possível, a proporcio-
cretação de estado de defesa ou de intervenção fede- nalidade da representação partidária.
ral, de pedido de autorização para a decretação de
estado de sítio e para o compromisso e a posse do Organização: bicameralismo federativo (Congresso
Presidente e do Vice-Presidente da República; Nacional)
II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ou a Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e
requerimento da maioria dos membros de ambas as do Senado Federal.
Casas, em caso de urgência ou interesse público rele- - Câmara dos Deputados: representação do povo.
vante, em todas as hipóteses deste inciso com a apro- - Senado Federal: representação dos Estados.
vação da maioria absoluta de cada uma das Casas do
Congresso Nacional. Estrutura do Poder Legislativo
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso
Nacional somente deliberará sobre a matéria para a
qual foi convocado, ressalvada a hipótese do § 8º des-
te artigo, vedado o pagamento de parcela indenizató-
ria, em razão da convocação.
§ 8º Havendo medidas provisórias em vigor na data
de convocação extraordinária do Congresso Nacional,
serão elas automaticamente incluídas na pauta da
convocação.

Das comissões

Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão co-


missões permanentes e temporárias, constituídas na
forma e com as atribuições previstas no respectivo re-
gimento ou no ato de que resultar sua criação.
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada comissão,
é assegurada, tanto quanto possível, a representação
DIREITO CONSTITUCIONAL

proporcional dos partidos ou dos blocos parlamenta- Composição das Casas Legislativas
res que participam da respectiva Casa.
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua com- - Câmara dos Deputados
petência, cabe: - Representantes do povo.
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na for- - Eleitos pelo sistema proporcional.
ma do regimento, a competência do plenário, salvo se Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de re-
houver recurso de um décimo dos membros da Casa; presentantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcio-
II - realizar audiências públicas com entidades da so- nal, em cada Estado, em cada Território e no Distrito
ciedade civil; Federal.

27
- Quantidade: 513 deputados (máximo – cf. LC nº - Senado Federal
78/1993). Composição: 81 senadores.
- Mínimo: 08 deputados / - Máximo: 70 Deputados. Eleitos pelo sistema majoritário.
Art. 45 §1º O número total de Deputados, bem como a Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representan-
representação por Estado e pelo Distrito Federal, será tes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o
estabelecido por lei complementar, proporcionalmen- princípio majoritário.
te à população, procedendo-se aos ajustes necessá- Suplência: cada Senador será eleito com dois suplen-
rios, no ano anterior às eleições, para que nenhuma tes.
daquelas unidades da Federação tenha menos de oito Art. 46 §3º Cada Senador será eleito com dois suplen-
ou mais de setenta Deputados. tes.
- Mandato: 04 anos, possibilidade de reeleição de for- Mandato: 8 anos (renovação 1/3 x 2/3)
ma ilimitada. Art. 46 §2º A representação de cada Estado e do Dis-
Art. 44 Parágrafo único. Cada legislatura terá a dura- trito Federal será renovada de quatro em quatro anos,
alternadamente, por um e dois terços.
ção de quatro anos.
- Requisitos:
- Requisitos de elegibilidade:
- Nacionalidade brasileira (nato ou naturalizado – ex-
- Nacionalidade brasileira (nato ou naturalizado – ex-
ceção para o cargo de presidente da casa)
ceção para o cargo de presidente da casa)
- Idade mínima: 35 anos.
- Idade mínima: 21 anos.
- Alistamento Eleitoral: capacidade eleitoral ativa
- Alistamento Eleitoral: capacidade eleitoral ativa
- Ausência de impedimentos por inelegibilidade.
- Ausência de impedimentos por inelegibilidade.
- Suplência: (afastamento, renúncia ou morte) próxi-
- Suplência: (afastamento, renúncia ou morte) próxi-
mo candidato com melhor votação da coligação
mo candidato com melhor votação da coligação
- Atribuições: art. 53.
- Atribuições : art. 51; exercidas em regra por resolu-
Compete privativamente ao Senado Federal:
ção (dispensa sanção ou veto)
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presiden-
te da República nos crimes de responsabilidade, bem
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos De-
putados: como os Ministros de Estado e os Comandantes da
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a ins- Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da
tauração de processo contra o Presidente e o Vice-Pre- mesma natureza conexos com aqueles;
sidente da República e os Ministros de Estado; II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal
II - proceder à tomada de contas do Presidente da Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça
República, quando não apresentadas ao Congresso e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Pro-
Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da curador-Geral da República e o Advogado-Geral da
sessão legislativa; União nos crimes de responsabilidade;
III - elaborar seu regimento interno; III - aprovar previamente, por voto secreto, após argui-
IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, po- ção pública, a escolha de:
lícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Cons-
empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de tituição;
lei para fixação da respectiva remuneração, observa- b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados
dos os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes pelo Presidente da República;
orçamentárias; c) Governador de Território;
V - eleger membros do Conselho da República, nos d) Presidente e diretores do banco central;
termos do art. 89, VII. e) Procurador-Geral da República;
f) titulares de outros cargos que a lei determinar;
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após ar-
guição em sessão secreta, a escolha dos chefes de mis-
são diplomática de caráter permanente;
V - autorizar operações externas de natureza finan-
ceira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios;
VI - fixar, por proposta do Presidente da República, li-
mites globais para o montante da dívida consolidada
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
DIREITO CONSTITUCIONAL

nicípios;
VII - dispor sobre limites globais e condições para as
operações de crédito externo e interno da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas
autarquias e demais entidades controladas pelo Poder
Público federal;
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão
de garantia da União em operações de crédito externo
e interno;
IX - estabelecer limites globais e condições para o

28
montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios; Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legis-
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lativa corresponderá ao triplo da representação do Es-
lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do tado na Câmara dos Deputados e, atingido o número
de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem
Supremo Tribunal Federal;
os Deputados Federais acima de doze.
XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados
a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da Repú- Estaduais, aplicando-sê-lhes as regras desta Constitui-
blica antes do término de seu mandato; ção sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunida-
XII - elaborar seu regimento interno; des, remuneração, perda de mandato, licença, impedi-
XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, mentos e incorporação às Forças Armadas.
polícia, criação, transformação ou extinção dos car- § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado
gos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na ra-
de lei para fixação da respectiva remuneração, obser- zão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele
estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais,
vados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º,
orçamentárias; 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre
termos do art. 89, VII. seu regimento interno, polícia e serviços administrati-
XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sis- vos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos.
tema Tributário Nacional, em sua estrutura e seus § 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no proces-
componentes, e o desempenho das administrações tri- so legislativo estadual.
butárias da União, dos Estados e do Distrito Federal e Explicando:
dos Municípios. - Nº deputados federais (08 a 12) = Nº deputados
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e
federais x 3.
II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal
Exemplo: MT (08 deputados federais). 8 x 3 = 24 de-
Federal, limitando-se a condenação, que somente será
proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, putados estaduais
à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para - Nº deputados federais (13 a 70) = Nº deputados
o exercício de função pública, sem prejuízo das demais federais + 24
sanções judiciais cabíveis.
Exemplo: SP (70 deputados federais) = 70 + 24 = 94
Câmara dos deputados estaduais
Senado Federal
Deputados
513 (Mínimo #FicaDica
81 (03 por
Parlamentares 08 / Máximo Não existe impedimento direto quanto a na-
estado)
70 por estado) cionalidade para os cargos de senador ou
Representantes deputado federal. No entanto, para assumir
Representantes a presidência da casa necessário ser brasileiro
Composição dos Estados e
do povo nato, uma vez que estes constam da lista de
DF
sucessão do presidente da república.
Representação Proporcional Paritário
Mandato 01 Legislatura 02 Legislaturas - Câmara Legislativa do Distrito Federal
Número Deputados Federais: 8. Estaduais: 8 x 3 = 24.
Renovação Total Parcial
- Câmaras Municipais:(Regra prevista no art. 29 IV CF/88)
Idade 21 anos 35 anos
Nato ou Nato ou
naturalizado naturalizado
Nacionalidade
(Presidência (Presidência
apenas nato) apenas nato)
Sistema
Proporcional Majoritário
Eleitoral
Candidato Cada senador
DIREITO CONSTITUCIONAL

Suplência mais votado com 02


coligação suplentes

- Assembleia Legislativa
- Autonomia dos estados-membros
- Eleitos pelo sistema proporcional
- Mandato: 04 anos.
- Número de integrantes: proporcional ao número de
deputados federais.
- Regra: art. 27

29
2 – Sessão Conjunta (art. 57 § 3º): regra é o funciona-
mento de cada casa separadamente.
- Inaugurar sessão legislativa.
- Elaborar regimento comum e criação de serviços
comuns.
- Receber compromisso do Presidente da República
- Conhecer e deliberar sobre o veto.

3 – Das Comissões Parlamentares


Órgãos colegiados de natureza técnica integrante da
estrutura do Congresso Nacional e de suas casas legisla-
tivas. Tem por função primordial o estudo inaugural das
proposições, mas também podem ser criadas com fina-
lidade investigativa, representativa e de fiscalização da
gestão da coisa pública.

Classificação das comissões


- Exclusiva (formada por membros de apenas uma
das casas) / - mista: mescla das duas casas.
- Permanentes (sem prazo máximo de funcionamen-
to) / temporárias: previsão de duração.
- Funcionamento Tipos de comissões
Sessão legislativa: 02/02 a 17/07 e 01/08 a 22/12 (or- - Comissão Representativa do Congresso Nacional:
dinária). tem por finalidade representar o Congresso duran-
Recesso: 18/07 a 31/07 e 23/12 a 31/12. te os intervalos da sessão legislativa.
Legislatura: duração de quatro anos - Comissão Parlamentar de Inquérito
Possibilidade de convocação em período de recesso:
Requisitos para criação
sessões extraordinárias (art. 57 §6º a 8º).
- Subscrição de requerimento: 1/3 dos membros de
Obs: as convocações extraordinárias não são remune-
cada casa se forem em conjunto ou 1/3 dos mem-
radas a parte ou de maneira especial. bros da casa se forem separado.
Formato da sessão - Indicação de fato determinado a ser investigado.
- câmara dos deputados: pequeno expediente (+/- 60 - Prazo certo para apuração de referido fato.
min), grande expediente (+/- 50 minutos) e ordem
do dia (+/- 120 min) para deliberações. Portanto, para abertura do inquérito parlamentar
- senado federal: expediente (+/- 120 min) e ordem basta o preenchimento destas 03 condições. Válido tam-
do dia (+/-150 min) bém para os estados e municípios. Atenção! As minorias
- Início (instalação) da sessão: câmara dos deputados: também se veem representadas amparando sua preten-
quórum mínimo presente de 10%. são no direito de oposição.

Senado Federal: quórum mínimo presente de 5%. Poderes e limites da atuação da CPI.
Tipos de sessões As CPIs possuirão os poderes instrutórios rotineiros
1 - Preparatórias: 1º/02 do início de cada legislatura. dos magistrados, salvo aqueles que se submetem à esfe-
Tem por objetivo a posse de seus membros e a ra única de decisão dos juízes.
eleição das respectivas mesas.
Limites na atuação
Eleição das mesas diretoras (art. 57 §4º) 1) Reserva de Jurisdição: ficam reservados atos que
Art. 57 § 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em ses- somente podem ser determinados por juízes ou
sões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no pri- tribunais. Portanto, vedado:
meiro ano da legislatura, para a posse de seus mem- - Determinar busca e apreensão domiciliar
bros e eleição das respectivas Mesas, para mandato - Determinar quebra do sigilo das comunicações te-
de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo lefônicas
cargo na eleição imediatamente subsequente. - Decretar a prisão
DIREITO CONSTITUCIONAL

2) Direitos fundamentais: a atuação das CPI estão


- Mesa do Congresso Nacional
limitadas ao respeito dos direitos fundamentais.
(1) Presidente do Senado;
Deste, verificamos os seguintes desdobramentos:
(2) 1° Vice-Presidente da Câmara; - Ficar em silêncio / não autoincriminação.
(3) 2° Vice-Presidente do Senado; - Assistência de um advogado.
(4) 1° secretário da Câmara; - Sigilo Profissional
(5) 2° secretário do Senado;
(6) 3° secretário da Câmara; 3) Separação de Poderes: os poderes das CPIs devem
(7) 4° secretário do Senado. estar amparados pelas atribuições do Poder Legis-
lativo. Portanto:

30
- Não podem promover a responsabilização.
- Anular atos de outros poderes. FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E
- Convocar magistrado para investigar sua atuação
ORÇAMENTÁRIA
jurisdicional.
- Subverter, revogar, cassar, alterar decisões judiciais.

4) Pacto Federativo: em respeito a autonomia dos de- Seção IX


mais entes, é vedado as CPIs instaladas em âmbito DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E OR-
federal investigar assuntos de interesse regional ÇAMENTÁRIA
ou local, que não tenha impacto digno de desta-
que no plano nacional. Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentá-
ria, operacional e patrimonial da União e das entida-
Poderes des da administração direta e indireta, quanto à le-
1) Busca e apreensão NÃO domiciliar. galidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
2) Quebra de sigilo bancário, fiscal e de dados. subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo
- Bancário: medida excepcional com prazo de duração. Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo
- Telefônico: divulgação dos números de telefone,
sistema de controle interno de cada Poder.
mas não interceptação telefônica.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa físi-
- Fiscal: quando necessária a investigação por crimes
ca ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arreca-
fiscais.
de, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e
valores públicos ou pelos quais a União responda, ou
que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
pecuniária. (Redação dada pela Emenda Consti-
EXERCÍCIOS COMENTADOS tucional nº 19, de 1998)
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Na-
1. Aplicada em: 2018Banca: FUNRIO Órgão: AL-RR cional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Con-
Prova: Assistente Legislativo. As reuniões das Comis- tas da União, ao qual compete:
sões Permanentes são denominadas I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Pre-
sidente da República, mediante parecer prévio que de-
a) Ordinárias e especiais. verá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu
b) Comuns e especiais. recebimento;
c) Ordinárias e extraordinárias. II - julgar as contas dos administradores e demais res-
d) Comuns e extraordinárias. ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da ad-
ministração direta e indireta, incluídas as fundações e
Resposta: Letra C - As reuniões das comissões per- sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público
manentes, aquelas que não estão vinculadas a assun- federal, e as contas daqueles que derem causa a perda,
tos específicos que demandam criação de comissões extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo
temporárias, são chamadas de ordinárias e extraordi- ao erário público;
nárias. III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos
de admissão de pessoal, a qualquer título, na adminis-
2. Aplicada em: 2018 Banca: FUNRIO Órgão: AL-RR tração direta e indireta, incluídas as fundações instituí-
Prova: Assessor Técnico Legislativo. A sessão do Con- das e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as no-
gresso Nacional em que Deputados e Senadores se reú- meações para cargo de provimento em comissão, bem
nem para debater determinado assunto e, ao final, votam como a das concessões de aposentadorias, reformas e
simultaneamente, mas cuja deliberação é tomada de for- pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não
ma separada, é conhecida como sessão alterem o fundamento legal do ato concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos
a) bicameral. Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica
b) unicameral.
ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza
c) conjunta.
contábil, financeira, orçamentária, operacional e pa-
d) plenária.
trimonial, nas unidades administrativas dos Poderes
Resposta: Letra C - Segundo previsto no art. 57, § 3º Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades
DIREITO CONSTITUCIONAL

além de outros casos previstos nesta Constituição, a referidas no inciso II;


Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se- V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supra-
-ão em SESSÃO CONJUNTA para: nacionais de cujo capital social a União participe, de
I - inaugurar a sessão legislativa; forma direta ou indireta, nos termos do tratado cons-
II - elaborar o regimento comum e regular a criação de titutivo;
serviços comuns às duas Casas; VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repas-
III - receber o compromisso do Presidente e do Vice- sados pela União mediante convênio, acordo, ajuste
-Presidente da República; ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Dis-
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar. trito Federal ou a Município;

31
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso I - um terço pelo Presidente da República, com apro-
Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qual- vação do Senado Federal, sendo dois alternadamente
quer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização dentre auditores e membros do Ministério Público jun-
contábil, financeira, orçamentária, operacional e pa- to ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal,
trimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções segundo os critérios de antigüidade e merecimento;
realizadas; II - dois terços pelo Congresso Nacional.
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalida- § 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União te-
de de despesa ou irregularidade de contas, as sanções rão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimen-
previstas em lei, que estabelecerá, entre outras comi- tos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Supe-
nações, multa proporcional ao dano causado ao erá- rior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à
rio; aposentadoria e pensão, as normas constantes do art.
40. (Redação dada pela Emenda Constitucional
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote
nº 20, de 1998)
as providências necessárias ao exato cumprimento da
§ 4º O auditor, quando em substituição a Ministro,
lei, se verificada ilegalidade; terá as mesmas garantias e impedimentos do titular e,
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impug- quando no exercício das demais atribuições da judica-
nado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputa- tura, as de juiz de Tribunal Regional Federal.
dos e ao Senado Federal; Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário
XI - representar ao Poder competente sobre irregulari- manterão, de forma integrada, sistema de controle in-
dades ou abusos apurados. terno com a finalidade de:
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será ado- I - avaliar o cumprimento das metas previstas no pla-
tado diretamente pelo Congresso Nacional, que so- no plurianual, a execução dos programas de governo
licitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas e dos orçamentos da União;
cabíveis. II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados,
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentá-
no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas ria, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades
previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a da administração federal, bem como da aplicação de
respeito. recursos públicos por entidades de direito privado;
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação garantias, bem como dos direitos e haveres da União;
de débito ou multa terão eficácia de título executivo. IV - apoiar o controle externo no exercício de sua mis-
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, são institucional.
trimestral e anualmente, relatório de suas atividades. § 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao toma-
Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o rem conhecimento de qualquer irregularidade ou ile-
art. 166, §1º, diante de indícios de despesas não autoriza- galidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da
das, ainda que sob a forma de investimentos não progra- União, sob pena de responsabilidade solidária.
mados ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar à § 2º Qualquer cidadão, partido político, associação
autoridade governamental responsável que, no prazo de ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei,
cinco dias, preste os esclarecimentos necessários. denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o
§ 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considera- Tribunal de Contas da União.
dos estes insuficientes, a Comissão solicitará ao Tri- Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-
bunal pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no -se, no que couber, à organização, composição e fis-
prazo de trinta dias. calização dos Tribunais de Contas dos Estados e do
§ 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Co- Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos
missão, se julgar que o gasto possa causar dano irre- de Contas dos Municípios.
parável ou grave lesão à economia pública, proporá Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão
ao Congresso Nacional sua sustação. sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão in-
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por tegrados por sete Conselheiros.
nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro
próprio de pessoal e jurisdição em todo o território na-
cional, exercendo, no que couber, as atribuições pre-
vistas no art. 96. . COMISSÕES PARLAMENTARES DE
§ 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União se- INQUÉRITO
rão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os se-
guintes requisitos:
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
DIREITO CONSTITUCIONAL

anos de idade;
II - idoneidade moral e reputação ilibada; Mas o Poder Legislativo possui outra função de igual
III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, eco- importância. Além de elaborar as leis, cumpre ao Legis-
nômicos e financeiros ou de administração pública; lativo a fiscalização de atos dos demais Poderes, exer-
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efe- cendo certos tipos de controle de ordem política ou de
tiva atividade profissional que exija os conhecimentos ordem orçamentária. Sobre o primeiro, temos a hipótese
mencionados no inciso anterior. da criação de Comissões Parlamentares permanentes ou
§ 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União se- temporárias, que visam a tratar de uma matéria em espe-
rão escolhidos: cífico, como saúde, educação, orçamento, etc.

32
Das comissões temporárias, isso é, que possuem um dade verifica a relação de custo-benefício daqueles
prazo para encerrar seus trabalhos, destaca-se as Comis- gastos, isso é, se foi o menor possível e, com isso, o
sões Parlamentares de Inquérito (CPIs), previstas no mais eficiente possível. Em um país como o Brasil,
art. 58, § 3º, da CF/1988. As CPIs poderão ser instaura- é bastante comum encontrar algumas construções
das pela Câmara de Deputados e do Senado Federal, em cuja natureza é bastante dúbia, sendo considera-
conjunto ou separadamente, com poderes de investiga- dos tais gastos ilegítimos e antieconômicos.
ção próprios das autoridades judiciais e daqueles previs-
tos nos respectivos regimentos internos das Casas Legis- A parte final do referido artigo 70 preceitua a possi-
lativas. Sua instauração é feita mediante requerimento de bilidade controle interno, isso é, órgãos dentro dos Três
um terço de seus membros. Poderes, cujas funções sejam do exercício da fiscalização
de seus próprios atos, com a finalidade de:
Fiscalização Orçamentária e Financeira I - avaliar o cumprimento das metas previstas no pla-
no plurianual, a execução dos programas de governo
Dispõe o artigo 70 da Constituição Federal de 1988 e dos orçamentos da União;
que: “A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados,
operacional e patrimonial da União e das entidades da quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentá-
administração direta e indireta, quanto à legalidade, le- ria, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades
gitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e da administração federal, bem como da aplicação de
recursos públicos por entidades de direito privado;
renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Na-
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e
cional, mediante controle externo, e pelo sistema de con-
garantias, bem como dos direitos e haveres da União;
trole interno de cada Poder”.
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua mis-
Da leitura do dispositivo constitucional, podemos são institucional (art. 74, CF/1988).
destacar quais são as modalidades de controle exercido
pelo Congresso Nacional: O Tribunal de Contas da União (TCU) é um órgão
A) Controle contábil: é aquele que parte da ideia de colegiado responsável em auxiliar o exercício do controle
contabilidade. Contabilidade é a técnica que pos- externo, sendo disciplinado tanto pela Constituição (arts.
sibilita o controle das receitas e despesas públicas, 71 e seguintes), como por legislação específica (Lei nº
por meio do registro numérico. O art. 77 do Dec- 8.443/1992). Quanto a sua competência cumpre ao Tri-
-Lei nº 200 indica que “todo ato de gestão finan- bunal de Contas, nos termos do art. 71, in verbis:
ceira deve ser realizado por força do documento Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Na-
que comprove a operação e registrado na conta- cional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Con-
bilidade, mediante classificação em conta adequa- tas da União, ao qual compete:
da”. I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Pre-
B) Controle operacional e financeiro: é o respeito sidente da República, mediante parecer prévio que de-
aos procedimentos legais de entrada e saída de verá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu
verbas. Pode-se afirmar que todas as verbas públi- recebimento;
cas tem procedimento específico para que entrem II - julgar as contas dos administradores e demais res-
e saiam dos cofres públicos. ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da
C) Controle patrimonial: o patrimônio público não administração direta e indireta, incluídas as fundações
envolve apenas valores financeiros (dinheiro), mas e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Públi-
também bens móveis, imóveis, direitos reais de co federal, e as contas daqueles que derem causa a
garantia, etc. As alterações patrimoniais do Estado perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte
também estão sujeitas ao controle do Legislativo. prejuízo ao erário público;
D) Controle orçamentário: trata-se, pura e simples- III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos
mente, do cumprimento das regras previstas nas atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na ad-
ministração direta e indireta, incluídas as fundações
leis orçamentárias. As leis orçamentárias são aque-
instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas
las que, de modo geral, dispõe sobre o que será
as nomeações para cargo de provimento em comis-
gasto pela Administração Pública, bem como o
são, bem como a das concessões de aposentadorias,
quanto será gasto em cada setor. reformas e pensões, ressalvadas as melhorias pos-
teriores que não alterem o fundamento legal do ato
Mas o artigo 70 também apresenta outro aspecto im- concessório;
portante: além de explanar as espécies de controle, dis- IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos
põe, também, sobre os parâmetros de fiscalização: Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica
DIREITO CONSTITUCIONAL

I) Legalidade: os gastos públicos devem estar com- ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza
patíveis, primeiramente, com a lei orçamentária, contábil, financeira, orçamentária, operacional e pa-
e sobretudo, com a própria Constituição Federal. trimonial, nas unidades administrativas dos Poderes
Temos, aqui, a vinculação do dinheiro público com Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades
a legislação. referidas no inciso II;
II) Legitimidade e Economicidade: são parâmetros V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supra-
que atuam de forma conjunta. A legalidade procu- nacionais de cujo capital social a União participe, de
ra verificar se o gasto alcançou a finalidade almeja- forma direta ou indireta, nos termos do tratado cons-
da, analisando a Lei Orçamentária. Já a economici- titutivo;

33
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repas- § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Supe-
sados pela União mediante convênio, acordo, ajuste riores têm jurisdição em todo o território nacional.
ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Dis- Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tri-
trito Federal ou a Município; bunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratu-
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso ra, observados os seguintes princípios:
Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qual- I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz
quer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização substituto, mediante concurso público de provas e títu-
contábil, financeira, orçamentária, operacional e pa- los, com a participação da Ordem dos Advogados do
trimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em di-
realizadas; reito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obe-
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalida- decendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação;
de de despesa ou irregularidade de contas, as sanções II - promoção de entrância para entrância, alternada-
previstas em lei, que estabelecerá, entre outras comi- mente, por antiguidade e merecimento, atendidas as
nações, multa proporcional ao dano causado ao erá- seguintes normas:
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três
rio;
vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de me-
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote
recimento;
as providências necessárias ao exato cumprimento da
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos
lei, se verificada ilegalidade; de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impug- a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta,
nado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputa- salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o
dos e ao Senado Federal; lugar vago;
XI - representar ao Poder competente sobre irregulari- c) aferição do merecimento conforme o desempenho
dades ou abusos apurados. e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será ado- no exercício da jurisdição e pela frequência e aprovei-
tado diretamente pelo Congresso Nacional, que so- tamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfei-
licitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas çoamento;
cabíveis. d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente po-
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, derá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado
no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas de dois terços de seus membros, conforme procedimen-
previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a to próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a
respeito. votação até fixar-se a indicação;
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação e) não será promovido o juiz que, injustificadamente,
retiver autos em seu poder além do prazo legal, não
de débito ou multa terão eficácia de título executivo.
podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despa-
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional,
cho ou decisão;
trimestral e anualmente, relatório de suas atividades. III - o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por
antiguidade e merecimento, alternadamente, apurados
na última ou única entrância;
PODER JUDICIÁRIO. DISPOSIÇÕES IV - previsão de cursos oficiais de preparação, aperfei-
GERAIS. ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO. çoamento e promoção de magistrados, constituindo
etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a parti-
ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIAS, cipação em curso oficial ou reconhecido por escola na-
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. cional de formação e aperfeiçoamento de magistrados;
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores
corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio
mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal
Do poder judiciário Federal e os subsídios dos demais magistrados serão
Disposições gerais fixados em lei e escalonados, em nível federal e esta-
dual, conforme as respectivas categorias da estrutura
judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco
I - o Supremo Tribunal Federal;
por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do
I-A - o Conselho Nacional de Justiça; subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores,
II - o Superior Tribunal de Justiça; obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37,
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; (Inciso acrescido XI, e 39, § 4º;
DIREITO CONSTITUCIONAL

pela Emenda Constitucional nº 92, de 2016) VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de


III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; seus dependentes observarão o disposto no art. 40;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; VII - o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; autorização do tribunal;
VI - os Tribunais e Juízes Militares; VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentado-
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Fe- ria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á
deral e Territórios. em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegura-
Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. da ampla defesa;

34
VIII-A - a remoção a pedido ou a permuta de magis- V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se
trados de comarca de igual entrância atenderá, no que afastou, antes de decorridos três anos do afastamento
couber, ao disposto nas alíneas a, b, c e e do inciso II; do cargo por aposentadoria ou exoneração.
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciá- Art. 96. Compete privativamente:
rio serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, I - aos tribunais:
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presen- a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimen-
ça, em determinados atos, às próprias partes e a seus tos internos, com observância das normas de processo e
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a das garantias processuais das partes, dispondo sobre a
preservação do direito à intimidade do interessado no competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
sigilo não prejudique o interesse público à informação; jurisdicionais e administrativos;
X - as decisões administrativas dos tribunais serão mo-
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e
tivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares to-
os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo
madas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;
exercício da atividade correicional respectiva;
XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os car-
julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o
mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, gos de juiz de carreira da respectiva jurisdição;
para o exercício das atribuições administrativas e juris- d) propor a criação de novas varas judiciárias;
dicionais delegadas da competência do tribunal pleno, e) prover, por concurso público de provas, ou de provas
provendo-se metade das vagas por antiguidade e a e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo
outra metade por eleição pelo tribunal pleno; único, os cargos necessários à administração da justi-
XII - a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo ça, exceto os de confiança assim definidos em lei;
vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus
grau, funcionando, nos dias em que não houver expe- membros e aos juízes e servidores que lhes forem ime-
diente forense normal, juízes em plantão permanente; diatamente vinculados;
XIII - o número de juízes na unidade jurisdicional será II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Supe-
proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva riores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Le-
população; gislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
XIV - os servidores receberão delegação para a prática a) a alteração do número de membros dos tribunais
de atos de administração e atos de mero expediente inferiores;
sem caráter decisório; b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração
XV - a distribuição de processos será imediata, em to- dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem
dos os graus de jurisdição. vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus
Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferio-
Federais, dos tribunais dos Estados, e do Distrito Federal res, onde houver;
e Territórios será composto de membros do Ministério c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
Público, com mais de dez anos de carreira, e de advo- d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
gados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais
com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, e do Distrito Federal e Territórios, bem como os mem-
indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representa-
bros do Ministério Público, nos crimes comuns e de
ção das respectivas classes.
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal
Eleitoral.
formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo,
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de
que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus
integrantes para nomeação. seus membros ou dos membros do respectivo órgão
Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: especial poderão os tribunais declarar a inconstitucio-
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquiri- nalidade de lei ou ato normativo do poder público.
da após dois anos de exercício, dependendo a perda do Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios,
cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que e os Estados criarão:
o juiz estiver vinculado e, nos demais casos, de sentença I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou
judicial transitada em julgado; togados e leigos, competentes para a conciliação, o
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse pú- julgamento e a execução de causas cíveis de menor
blico, na forma do art. 93, VIII; complexidade e infrações penais de menor potencial
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssi-
nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. mo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a tran-
DIREITO CONSTITUCIONAL

Parágrafo único. Aos juízes é vedado: sação e o julgamento de recursos por turmas de juízes
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo de primeiro grau;
ou função, salvo uma de magistério; II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou par- eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com man-
ticipação em processo; dato de quatro anos e competência para, na forma
III - dedicar-se a atividade político-partidária. da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou face de impugnação apresentada, o processo de habi-
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou litação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; jurisdicional, além de outras previstas na legislação.

35
§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à
especiais no âmbito da Justiça Federal. expedição de precatórios não se aplica aos pagamen-
§ 2º As custas e emolumentos serão destinados exclu- tos de obrigações definidas em leis como de pequeno
sivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtu-
específicas da Justiça. de de sentença judicial transitada em julgado.
Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia § 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fi-
administrativa e financeira. xados, por leis próprias, valores distintos às entidades
§ 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamen- de direito público, segundo as diferentes capacidades
econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior
tárias dentro dos limites estipulados conjuntamente
benefício do regime geral de previdência social.
com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamen- § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das enti-
tárias. dades de direito público, de verba necessária ao paga-
§ 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os ou- mento de seus débitos, oriundos de sentenças transita-
tros tribunais interessados, compete: das em julgado, constantes de precatórios judiciários
I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento
Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a até o final do exercício seguinte, quando terão seus va-
aprovação dos respectivos tribunais; lores atualizados monetariamente.
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal § 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos
e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, ca-
com a aprovação dos respectivos tribunais. bendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão
§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem exequenda determinar o pagamento integral e auto-
as respectivas propostas orçamentárias dentro do pra- rizar, a requerimento do credor e exclusivamente para
os casos de preterimento de seu direito de precedência
zo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o
ou de não alocação orçamentária do valor necessário
Poder Executivo considerará, para fins de consolidação à satisfação do seu débito, o sequestro da quantia
da proposta orçamentária anual, os valores aprovados respectiva.
na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com § 7º O Presidente do Tribunal competente que, por
os limites estipulados na forma do § 1º deste artigo. ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar
§ 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este a liquidação regular de precatórios incorrerá em cri-
artigo forem encaminhadas em desacordo com os li- me de responsabilidade e responderá, também, pe-
mites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo rante o Conselho Nacional de Justiça.
procederá aos ajustes necessários para fins de consoli- § 8º É vedada a expedição de precatórios comple-
dação da proposta orçamentária anual. mentares ou suplementares de valor pago, bem como
§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, o fracionamento, repartição ou quebra do valor da
não poderá haver a realização de despesas ou a as- execução para fins de enquadramento de parcela do
sunção de obrigações que extrapolem os limites es- total ao que dispõe o § 3º deste artigo.
tabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto § 9º No momento da expedição dos precatórios, in-
se previamente autorizadas, mediante a abertura de dependentemente de regulamentação, deles deverá
créditos suplementares ou especiais. ser abatido, a título de compensação, valor corres-
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Pú- pondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou
blicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em vir- não em dívida ativa e constituídos contra o credor
tude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente original pela Fazenda Pública devedora, incluídas
na ordem cronológica de apresentação dos precatórios parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados
e à conta dos créditos respectivos, proibida a designa- aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de
ção de casos ou de pessoas nas dotações orçamentá- contestação administrativa ou judicial.
rias e nos créditos adicionais abertos para este fim. § 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta
aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proven- em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direi-
tos, pensões e suas complementações, benefícios pre- to de abatimento, informação sobre os débitos que
videnciários e indenizações por morte ou por invali- preencham as condições estabelecidas no § 9º, para
dez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de os fins nele previstos.
sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos § 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido
com preferência sobre todos os demais débitos, exceto em lei da entidade federativa devedora, a entrega de
sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. créditos em precatórios para compra de imóveis pú-
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titula- blicos do respectivo ente federado.
DIREITO CONSTITUCIONAL

res, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 § 12. A partir da promulgação desta Emenda Cons-
(sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doen- titucional, a atualização de valores de requisitórios,
ça grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos após sua expedição, até o efetivo pagamento, inde-
na forma da lei, serão pagos com preferência sobre to- pendentemente de sua natureza, será feita pelo ín-
dos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo dice oficial de remuneração básica da caderneta de
fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste poupança, e, para fins de compensação da mora, in-
artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, cidirão juros simples no mesmo percentual de juros
sendo que o restante será pago na ordem cronológica incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando
de apresentação do precatório. excluída a incidência de juros compensatórios.

36
§ 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas
seus créditos em precatórios a terceiros, independen- de juros de mora e correção monetária, ou mediante
temente da concordância do devedor, não se aplican- acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conci-
do ao cessionário o disposto nos §§ 2º e 3º. liação de Precatórios, com redução máxima de 40%
§ 14. A cessão de precatórios somente produzirá efei- (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado,
tos após comunicação, por meio de petição protoco- desde que em relação ao crédito não penda recurso
lizada, ao tribunal de origem e à entidade devedora. ou defesa judicial e que sejam observados os requisitos
§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei com- definidos na regulamentação editada pelo ente fede-
plementar a esta Constituição Federal poderá esta- rado. (Parágrafo acrescido pela Emenda Constitucional
belecer regime especial para pagamento de crédito nº 94, de 2016)
de precatórios de Estados, Distrito Federal e Muni-
cípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente Do supremo tribunal federal
líquida e forma e prazo de liquidação.
§ 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de
União poerá assumir débitos, oriundos de precató- onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais
rios, de Estados, Distrito Federal e Municípios, refi- de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de
nanciando-os diretamente. idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
§ 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal
Municípios aferirão mensalmente, em base anual, o Federal serão nomeados pelo Presidente da República,
comprometimento de suas respectivas receitas corren- depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
tes líquidas com o pagamento de precatórios e obriga- Senado Federal.
ções de pequeno valor. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, preci-
§ 18. Entende-se como receita corrente líquida, para puamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
os fins de que trata o § 17, o somatório das receitas I - processar e julgar, originariamente:
tributárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato
contribuições e de serviços, de transferências correntes normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
e outras receitas correntes, incluindo as oriundas do § constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;
1º do art. 20 da Constituição Federal, verificado no pe- b) nas infrações penais comuns, o Presidente da Re-
ríodo compreendido pelo segundo mês imediatamente pública, o Vice-Presidente, os membros do Congresso
anterior ao de referência e os 11 (onze) meses prece- Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral
dentes, excluídas as duplicidades, e deduzidas: da República;
I – na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Dis- c) nas infrações penais comuns e nos crimes de respon-
trito Federal e aos Municípios por determinação cons- sabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes
titucional; da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o
II – nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Supe-
por determinação constitucional; riores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
III - na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos missão diplomática de caráter permanente;
Municípios, a contribuição dos servidores para custeio d) o habeas corpus , sendo paciente qualquer das pes-
de seu sistema de previdência e assistência social e as soas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
receitas provenientes da compensação financeira refe- segurança e o habeas data contra atos do Presidente
rida no § 9º do art. 201 da Constituição Federal. (Pa- da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e
rágrafo acrescido pela Emenda Constitucional nº 94, do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do
de 2016) Procurador-Geral da República e do próprio Supremo
§ 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de Tribunal Federal;
condenações judiciais em precatórios e obrigações de e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo in-
pequeno valor, em período de 12 (doze) meses, ultra- ternacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou
passe a média do comprometimento percentual da o Território;
receita corrente líquida nos 5 (cinco) anos imediata- f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a
mente anteriores, a parcela que exceder esse percen- União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclu-
tual poderá ser financiada, excetuada dos limites de sive as respectivas entidades da administração indireta;
endividamento de que tratam os incisos VI e VII do art. g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
52 da Constituição Federal e de quaisquer outros li- h) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 45, de
mites de endividamento previstos, não se aplicando a 2004)
DIREITO CONSTITUCIONAL

esse financiamento a vedação de vinculação de receita i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Supe-
prevista no inciso IV do art. 167 da Constituição Fede- rior ou quando o coator ou o paciente for autoridade
ral. (Parágrafo acrescido pela Emenda Constitucional ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente
nº 94, de 2016) à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate
§ 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única ins-
(quinze por cento) do montante dos precatórios apre- tância;
sentados nos termos do § 5º deste artigo, 15% (quinze j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
por cento) do valor deste precatório serão pagos até l) a reclamação para a preservação de sua competência
o final do exercício seguinte e o restante em parcelas e garantia da autoridade de suas decisões;

37
m) a execução de sentença nas causas de sua compe- VI - o Procurador-Geral da República;
tência originária, facultada a delegação de atribuições VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
para a prática de atos processuais; Brasil;
n) a ação em que todos os membros da magistratura VIII - partido político com representação no Congresso
sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela Nacional;
em que mais da metade dos membros do tribunal de IX - confederação sindical ou entidade de classe de
origem estejam impedidos ou sejam direta ou indireta- âmbito nacional.
mente interessados; § 1º O Procurador-Geral da República deverá ser pre-
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal viamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade
de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Supe- e em todos os processos de competência do Supremo
riores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; Tribunal Federal.
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de § 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de
inconstitucionalidade; medida para tornar efetiva norma constitucional, será
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da dada ciência ao Poder competente para a adoção das
norma regulamentadora for atribuição do Presiden- providências necessárias e, em se tratando de órgão
te da República, do Congresso Nacional, da Câmara administrativo, para fazê-lo em trinta dias.
dos Deputados, do Senado Federal, da Mesa de uma § 3º Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a
dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato
União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da
Supremo Tribunal Federal; União, que defenderá o ato ou texto impugnado.
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e § 4º (Parágrafo acrescido pela Emenda Constitucional
contra o Conselho Nacional do Ministério Público. nº 3, de 1993 e revogado pela Emenda Constitucional
II - julgar, em recurso ordinário: nº 45, de 2004)
a) o habeas corpus , o mandado de segurança, o ha- Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofí-
beas data e o mandado de injunção decididos em úni-
cio ou por provocação, mediante decisão de dois terços
ca instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória
dos seus membros, após reiteradas decisões sobre ma-
a decisão;
téria constitucional, aprovar súmula que, a partir de
b) o crime político;
sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vincu-
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas
lante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciá-
decididas em única ou última instância, quando a de-
rio e à administração pública direta e indireta, nas es-
cisão recorrida:
feras federal, estadual e municipal, bem como proceder
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei
federal; em lei.
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpre-
em face desta Constituição. tação e a eficácia de normas determinadas, acerca das
d) julgar válida lei local contestada em face de lei fe- quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários
deral. ou entre esses e a administração pública que acarrete
§ 1º A argüição de descumprimento de preceito fun- grave insegurança jurídica e relevante multiplicação
damental, decorrente desta Constituição, será apre- de processos sobre questão idêntica.
ciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula
Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de in- poderá ser provocada por aqueles que podem propor a
constitucionalidade e nas ações declaratórias de ação direta de inconstitucionalidade.
constitucionalidade, produzirão eficácia contra todos § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que
e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente
do Poder Judiciário e à administração pública direta a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Fe-
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. deral que, julgando-a procedente, anulará o ato ad-
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá ministrativo ou cassará a decisão judicial reclamada,
demonstrar a repercussão geral das questões consti- e determinará que outra seja proferida com ou sem a
tucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim aplicação da súmula, conforme o caso.
de que o Tribunal examine a admissão do recurso, so- Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-
mente podendo recusá-lo pela manifestação de dois -se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois)
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terços de seus membros. anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo:


Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucio- I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
nalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indica-
I - o Presidente da República; do pelo respectivo tribunal;
II - a Mesa do Senado Federal; III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, in-
dicado pelo respectivo tribunal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indica-
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara
do pelo Supremo Tribunal Federal;
Legislativa do Distrito Federal; V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; Federal;

38
VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo VI - elaborar semestralmente relatório estatístico so-
Superior Tribunal de Justiça; bre processos e sentenças prolatadas, por unidade da
VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;
de Justiça; VII - elaborar relatório anual, propondo as providên-
VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indica- cias que julgar necessárias, sobre a situação do Poder
do pelo Tribunal Superior do Trabalho; Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual
IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Supe- deve integrar mensagem do Presidente do Supremo
rior do Trabalho; Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacio-
X - um membro do Ministério Público da União, indi-
nal, por ocasião da abertura da sessão legislativa.
cado pelo Procurador-Geral da República;
§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exer-
XI - um membro do Ministério Público estadual, es-
colhido pelo Procurador-Geral da República dentre os cerá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído
nomes indicados pelo órgão competente de cada ins- da distribuição de processos no Tribunal, competindo-
tituição estadual; -lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas
XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes:
da Ordem dos Advogados do Brasil; I - receber as reclamações e denúncias, de qualquer
XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputa- interessado, relativas aos magistrados e aos serviços
ção ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados judiciários;
e outro pelo Senado Federal. II - exercer funções executivas do Conselho, de inspe-
§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Su- ção e de correição geral;
premo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impe- III - requisitar e designar magistrados, delegando-
dimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal -lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos
Federal. ou tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal
§ 2º Os demais membros do Conselho serão nomea- e Territórios.
dos pelo Presidente da República, depois de aprovada § 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral
a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. da República e o Presidente do Conselho Federal da
§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações pre- Ordem dos Advogados do Brasil.
vistas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tri-
§ 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Terri-
bunal Federal.
tórios, criará ouvidorias de justiça, competentes para
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação
administrativa e financeira do Poder Judiciário e do receber reclamações e denúncias de qualquer interes-
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, ca- sado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário,
bendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem ou contra seus serviços auxiliares, representando dire-
conferidas pelo Estatuto da Magistratura: tamente ao Conselho Nacional de Justiça.
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo
cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo Do superior tribunal de justiça
expedir atos regulamentares, no âmbito de sua com-
petência, ou recomendar providências; Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de,
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de no mínimo, trinta e três Ministros.
ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de
administrativos praticados por membros ou órgãos do Justiça serão nomeados pelo Presidente da República,
Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos
fixar prazo para que se adotem as providências neces- de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e
sárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela
competência do Tribunal de Contas da União; maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
III - receber e conhecer das reclamações contra mem- I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Fe-
bros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra derais e um terço dentre desembargadores dos Tribu-
seus serviços auxiliares, serventias e órgãos presta- nais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada
dores de serviços notariais e de registro que atuem pelo próprio Tribunal;
por delegação do poder público ou oficializados, sem II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e
prejuízo da competência disciplinar e correicional dos membros do Ministério Público Federal, Estadual, do
tribunais, podendo avocar processos disciplinares em Distrito Federal e dos Territórios, alternadamente, in-
curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou dicados na forma do art. 94.
DIREITO CONSTITUCIONAL

a aposentadoria com subsídios ou proventos propor- Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
cionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções I - processar e julgar, originariamente:
administrativas, assegurada ampla defesa; a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados
IV - representar ao Ministério Público, no caso de cri- e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabi-
me contra a administração pública ou de abuso de lidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça
autoridade; dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os pro- Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Fede-
cessos disciplinares de juízes e membros de tribunais ral, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais
julgados há menos de um ano; Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos

39
Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento
os do Ministério Público da União que oficiem peran- de Magistrados, cabendo-lhe, dentre outras funções,
te tribunais; regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e pro-
b) os mandados de segurança e os habeas data con- moção na carreira;
tra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exer-
Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio cer, na forma da lei, a supervisão administrativa e or-
Tribunal; çamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo
c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for graus, como órgão central do sistema e com poderes
qualquer das pessoas mencionadas na alínea a, ou correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante.
quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição,
Dos tribunais regionais federais e dos juízes fede-
Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do
rais
Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competên-
cia da Justiça Eleitoral;
Art. 106. São órgãos da Justiça Federal:
d) os conflitos de competência entre quaisquer tri-
I - os Tribunais Regionais Federais;
bunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, o , bem II - os Juízes Federais.
como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-
entre juízes vinculados a tribunais diversos; -se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando
e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus possível, na respectiva região e nomeados pelo Pre-
julgados; sidente da República dentre brasileiros com mais de
f) a reclamação para a preservação de sua competên- trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
cia e garantia da autoridade de suas decisões; I - um quinto dentre advogados com mais de dez
g) os conflitos de atribuições entre autoridades ad- anos de efetiva atividade profissional e membros do
ministrativas e judiciárias da União, ou entre autori- Ministério Público Federal com mais de dez anos de
dades judiciárias de um Estado e administrativas de carreira;
outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da II - os demais, mediante promoção de juízes federais
União; com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da merecimento, alternadamente.
norma regulamentadora for atribuição de órgão, en- § 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juí-
tidade ou autoridade federal, da administração dire- zes dos Tribunais Regionais Federais e determinará sua
ta ou indireta, excetuados os casos de competência jurisdição e sede.
do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça § 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justi-
Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e ça itinerante, com a realização de audiências e demais
da Justiça Federal; funções da atividade jurisdicional, nos limites territo-
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a con- riais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipa-
cessão de exequatur às cartas rogatórias; mentos públicos e comunitários.
II - julgar, em recurso ordinário:
§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcio-
a) os habeas corpus decididos em única ou última
nar descentralizadamente, constituindo Câmaras re-
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
gionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdi-
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territó-
cionado à justiça em todas as fases do processo.
rios, quando a decisão for denegatória;
Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:
b) os mandados de segurança decididos em única
I - processar e julgar, originariamente:
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos
tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territó-
os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos cri-
rios, quando denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro mes comuns e de responsabilidade, e os membros do
ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Ministério Público da União, ressalvada a competência
Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; da Justiça Eleitoral;
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julga-
em única ou última instância, pelos Tribunais Regio- dos seus ou dos juízes federais da região;
nais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Dis- c) os mandados de segurança e os habeas data contra
DIREITO CONSTITUCIONAL

trito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vi- d) os habeas corpus , quando a autoridade coatora for
gência; juiz federal;
b) julgar válido ato de governo local contestado em e) os conflitos de competência entre juízes federais vin-
face de lei federal; culados ao Tribunal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pe-
haja atribuído outro tribunal. los juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício
Parágrafo único. Funcionarão junto ao Superior Tri- da competência federal da área de sua jurisdição.
bunal de Justiça: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

40
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou decorrentes de tratados internacionais de direitos hu-
empresa pública federal forem interessadas na condi- manos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
ção de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à fase do inquérito ou processo, incidente de desloca-
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; mento de competência para a Justiça Federal.
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo Art. 110. Cada Estado, bem como o Distrito Federal,
internacional e Município ou pessoa domiciliada ou constituirá uma seção judiciária, que terá por sede a
residente no País; respectiva capital, e varas localizadas segundo o es-
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da tabelecido em lei.
União com Estado estrangeiro ou organismo interna- Parágrafo único. Nos Territórios Federais, a jurisdição
cional; e as atribuições cometidas aos juízes federais caberão
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas aos juízes da Justiça local, na forma da lei.
em detrimento de bens, serviços ou interesse da União
ou de suas entidades autárquicas ou empresas públi- Do tribunal superior do trabalho, dos tribunais re-
cas, excluídas as contravenções e ressalvada a compe- gionais do trabalho e dos juízes do trabalho
tência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; (Denominação da Seção com redação dada pela
V - os crimes previstos em tratado ou convenção inter- Emenda Constitucional nº 92, de 2016)
nacional, quando, iniciada a execução no País, o resul-
tado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho:
reciprocamente; I - o Tribunal Superior do Trabalho;
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se II - os Tribunais Regionais do Trabalho;
refere o § 5º deste artigo; III - Juizes do Trabalho.
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos § 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de
casos determinados por lei, contra o sistema financeiro 2004)
e a ordem econômico-financeira; § 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de
VII - os habeas corpus , em matéria criminal de sua 2004)
competência ou quando o constrangimento provier de § 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujei- 2004)
tos a outra jurisdição; Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho com-
VIII - os mandados de segurança e os habeas data por-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre
contra ato de autoridade federal, excetuados os casos brasileiros com mais de trinta e cinco anos e menos
de competência dos tribunais federais; de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aerona- reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da Repú-
ves, ressalvada a competência da Justiça Militar; blica após aprovação pela maioria absoluta do Senado
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular Federal, sendo: (“Caput” do artigo com redação dada
de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o pela Emenda Constitucional nº 92, de 2016)
exequatur , e de sentença estrangeira, após a homolo- I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos
gação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive de efetiva atividade profissional e membros do Minis-
a respectiva opção, e à naturalização; tério Público do Trabalho com mais de dez anos de
XI - a disputa sobre direitos indígenas. efetivo exercício, observado o disposto no art. 94;
§ 1º As causas em que a União for autora serão afo- II - os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do
radas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indica-
parte. dos pelo próprio Tribunal Superior.
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser § 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Su-
aforadas na seção judiciária em que for domiciliado perior do Trabalho.
o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato § 2º Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Traba-
que deu origem à demanda ou onde esteja situada a lho:
coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento
§ 3º Serão processadas e julgadas na Justiça estadual, de Magistrados do Trabalho, cabendo-lhe, dentre ou-
no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, tras funções, regulamentar os cursos oficiais para o in-
as causas em que forem parte instituição de previ- gresso e promoção na carreira;
dência social e segurado, sempre que a comarca não II - o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, caben-
seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa do-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão adminis-
DIREITO CONSTITUCIONAL

condição, a lei poderá permitir que outras causas se- trativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Jus-
jam também processadas e julgadas pela Justiça es- tiça do Trabalho de primeiro e segundo graus, como
tadual. órgão central do sistema, cujas decisões terão efeito
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso ca- vinculante.
bível será sempre para o Tribunal Regional Federal na § 3º Compete ao Tribunal Superior do Trabalho proces-
área de jurisdição do juiz de primeiro grau. sar e julgar, originariamente, a reclamação para a pre-
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos hu- servação de sua competência e garantia da autoridade
manos, o Procurador-Geral da República, com a fi- de suas decisões.
nalidade de assegurar o cumprimento de obrigações

41
Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, po- § 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão fun-
dendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdi- cionar descentralizadamente, constituindo Câmaras
ção, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do juris-
respectivo Tribunal Regional do Trabalho. dicionado à justiça em todas as fases do processo.
Art. 113. A lei disporá sobre a constituição, investidura, Art. 116. Nas Varas do Trabalho, a jurisdição será
jurisdição, competência, garantias e condições de exer- exercida por um juiz singular.
cício dos órgãos da Justiça do Trabalho. Parágrafo único. (Revogado pela Emenda Constitucio-
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e nal nº 24, de 1999)
julgar: Art. 117. (Revogado pela Emenda Constitucional nº
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangi- 24, de 1999)
dos os entes de direito público externo e da administra-
ção pública direta e indireta da União, dos Estados, do Dos tribunais e juízes eleitorais
Distrito Federal e dos Municípios;
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;
Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:
III - as ações sobre representação sindical, entre sindi-
I - o Tribunal Superior Eleitoral;
catos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindica-
II - os Tribunais Regionais Eleitorais;
tos e empregadores;
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e ha- III - os juízes eleitorais;
beas data, quando o ato questionado envolver matéria IV - as Juntas Eleitorais.
sujeita à sua jurisdição; Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no
V - os conflitos de competência entre órgãos com juris- mínimo, de sete membros, escolhidos:
dição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; I - mediante eleição, pelo voto secreto:
VI - as ações de indenização por dano moral ou patri- a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal
monial, decorrentes da relação de trabalho; Federal;
VII - as ações relativas às penalidades administrativas b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal
impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscaliza- de Justiça;
ção das relações de trabalho; II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais dentre seis advogados de notável saber jurídico e idonei-
previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, dade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
decorrentes das sentenças que proferir; Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de tra- seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros
balho, na forma da lei. do Supremo Tribunal Federal, e o corregedor eleitoral
§ 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
eleger árbitros. Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na capi-
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação tal de cada Estado e no Distrito Federal.
coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de § 1º Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza I - mediante eleição, pelo voto secreto:
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal
conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de de Justiça;
proteção ao trabalho, bem como as convencionadas b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo
anteriormente. Tribunal de Justiça;
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com
II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede
possibilidade de lesão do interesse público, o Ministé-
na capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não ha-
rio Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coleti- vendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo
vo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. Tribunal Regional Federal respectivo;
Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho com- III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois
põem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quan- juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e
do possível, na respectiva região, e nomeados pelo idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça.
Presidente da República dentre brasileiros com mais § 2º O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente
de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: e o Vice-Presidente dentre os desembargadores.
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização
de efetiva atividade profissional e membros do Minis- e competência dos Tribunais, dos juízes de direito e das
tério Público do Trabalho com mais de dez anos de Juntas Eleitorais.
DIREITO CONSTITUCIONAL

efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; § 1º Os membros dos Tribunais, os juízes de direito e
II - os demais, mediante promoção de juízes do traba- os integrantes das Juntas Eleitorais, no exercício de suas
lho por antiguidade e merecimento, alternadamente. funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas
§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão garantias e serão inamovíveis.
a justiça itinerante, com a realização de audiências § 2º Os juízes dos Tribunais Eleitorais, salvo motivo jus-
e demais funções de atividade jurisdicional, nos limi- tificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por
tes territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos
equipamentos públicos e comunitários. escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo,
em número igual para cada categoria.

42
§ 3º São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denega-
tórias de habeas corpus ou mandado de segurança.
§ 4º Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando:
I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei;
II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais Tribunais Eleitorais;
III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais;
IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais;
V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.

Dos tribunais e juízes militares

Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:


I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e juízes militares instituídos por lei.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República,
depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre
oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da
carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta
e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade
profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes-auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar.
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.

Dos tribunais e juízes dos estados

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de
iniciativa do Tribunal de Justiça.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais
ou municipais em face da Constituição estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída,
em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de
Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em
lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos
contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob
§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegu-
rar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
§ 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade
jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com com-
petência exclusiva para questões agrárias.
Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio.
DIREITO CONSTITUCIONAL

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Garantias do Judiciário

Institucionais:
- Autonomia orgânico administrativa: eleger seus órgãos de direção / elaborar regimento interno / organizar a
administração interna.
- Autonomia financeira: elaborarão suas próprias propostas financeiras, desde que compatíveis com os limites es-
tipulados pela Lei.

Funcionais:
- Independência os órgãos:
- Vitaliciedade: somente perderá o cargo por sentença transitada em julgado. Estabilidade adquirida após 02 anos
(estágio probatório).

Atenção!
1º grau – vitaliciedade após 02 anos
Tribunais – após a posse no cargo superior
- Inamovibilidade: impossibilidade de remoção sem anuência do juiz, exceto por interesse público, sendo essa de-
cisão aprovada e votada por 2/3 do TJ ou do CNJ.
- Irredutibilidade de subsídios: salário não pode ser reduzido, garantindo livre exercício profissional.
- Garantia de imparcialidade (vedações que possam prejudicar a imparcialidade)

Art. 95 parágrafo único


- exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
- receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;
- dedicar-se à atividade político-partidária;
- receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas,
ressalvadas as exceções previstas em lei (EC n. 45/2004);
- exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo
DIREITO CONSTITUCIONAL

por aposentadoria ou exoneração (EC n. 45/2004 — a assim denominada quarentena de saída).

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TST – membros: 27 ministros
4/5 juízes do TRT
1/5 advogados e membros do MP
TSE – membros: 07 ministros
03 ministros do STF (eleitos entre si por voto secreto)
02 ministros do STJ (eleitos entre si por voto secreto)
02 advogados indicados em lista sêxtupla pelo STF e
nomeado pelo Pres. República.
STM – membros: 15 ministros
03 oficiais da marinha
03 da aeronáutica
04 do exército
Divisões em instâncias 03 advogados + 10 anos profissão
1ª Instância (1º grau – órgãos singulares): juízes sin- 02 membros do MP da justiça militar
gulares. Exercem a jurisdição – apenas 01 juiz pode “dizer Nomenclatura: ministros.
o direito”. Decisão individual.
2ª Instância (2º grau – órgão colegiado) podem ser Composição tribunais 2º grau
divididos internamente. Ex: STF – 02 turmas. Outros casos TRF / TRT / TRE: repetir o menor número de membros:
podem depender do plenário. Decisão colegiada. 07
TJ: cada estado define o seu
Sequência do processo Tribunal Militar: em caso de guerra pode ser criado.
O andamento processual não obedece a uma sequên- Juízes: conforme a demanda.
cia predeterminada. Ex: começa em primeira instância e Todos os membros dos tribunais superiores e cnj são
encerra no STF. Eu posso ter processos que podem iniciar indicados. Nomeados pelo presidente com aprovação do
direto no STF face a competência originária. Senado. Estaduais: chefe do executivo
Regra: Os órgãos do judiciário são órgãos federais,
da união; exceto Tribunais de Justiça e Juízes de direito Regra do quinto constitucional
(estaduais). TJ/DF embora competência de tribunal esta- Apenas para TJ - TRF - TRT - -TST
dual, é mantido pela união. Quinto constitucional: TJ / RF / TRT / TST – 1/5 dos
membros vem de advogado e membros do MP indica-
Justiça especializada dos. Arredonda pra cima. (Art. 94)
Tribunais específicos – Justiça especializada. Regra: OAB e representativo do MP propõem uma
TRE / TSE – TRT / TST – STM (jurisdição em território lista sêxtupla e submete ao Tribunal para que dentro os
nacional) 06 escolha 03. Os 03 escolhidos serão levados a conhe-
- Sede e jurisdição cimento do chefe do executivo que fará a escolha final e
Sede dos Tribunais Superiores / STF e CNJ: sede na nomeação.
capital federal. Atenção: CNJ não exerce jurisdição. O CNJ STJ: regra do terço: 1/3 advogados e membros do MP
é um órgão de controle interno do poder judiciário. Tem
a função de controlar a atuação administrativa e finan- Conselho nacional de justiça
ceira do poder judiciário e fiscalizar a atuação dos juízes CNJ: 15 membros – Art. 103B mandato de 02 anos
– não haverá julgamento de litígios, mas sim fiscalizar (uma recondução)
administração, despesas e atuação funcional.
TJ – Jurisdição estadual
TRE / TST / Justiça Federal: divididos em regiões.

Composição dos órgãos

Composição tribunais superiores


STF – membros: 11 ministros
Brasileiros natos, mais de 35 e menos de 65, notável
saber jurídico, reputação ilibada.
Indicação do presidente / aprovação do Senado Fe-
deral (sabatina) maioria absoluta / nomeação Pres. Re-
DIREITO CONSTITUCIONAL

pública. Vontades complexas. Necessário ser juiz de car-


reira? Não. Basta a indicação e aprovação do Senado. A
doutrina pacificou a necessidade do curso de direito.
STJ – membros: mínimo 33 ministros
Brasileiro nato ou naturalizado
1/3 juízes dos TRF
1/3 desembargadores TJ
1/6 dentre advogados; e
1/6 dentre membros do MP

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09 membros do Judiciário.
- 01 STF – Presidente.
- 01 STJ – indicado pelo próprio Tribunal
- 01 TRF – indicado pelo STJ
- 01 Juiz federal – indicado pelo STJ
- 01 TST – indicado pelo próprio Tribunal
- 01 TRF – indicado pelo TST
- 01 Juiz Trabalho indicado pelo TST
- 01 Desembargador indicado pelo STF
- 01 Juiz estadual indicado pelo STF
E os demais?
02 – 02 – 02
02 Advogados – indicados pelo Conselho Federal OAB
02 Ministério Público: 01 MPU indicado pelo PGR / 01 MP estados (26: escolhido pelo PGR.
02 cidadãos: notável saber jurídico e reputação ilibada: 01 indicado pela Câmara e outro pelo Senado Federal.
Exceto presidente e vice presidente do STF, os demais serão indicados e nomeados pelo Presidente da República.
Presidente do CNJ: Presidente do STF e na ausência o vice.
Ministro Corregedor: Ministro do STJ
Controle dos atos do CNJ: STF / CNJ controla STF? Não

Estatuto da magistratura
Estatuto da magistratura – art. 93 (aprovado por Lei Complementar – maioria absoluta) – Lei ordinária (maioria
DIREITO CONSTITUCIONAL

simples) Projeto de Iniciativa do STF – Câmara vota e aprova, senado vota e aprovada – Presidente promulga.
- Ingresso na carreira
Art. 93 I
Concurso público – provas e títulos – participação da OAB em todas as fases.
Bacharel em Direito, mínimo de 03 experiência jurídica.
Entra como juiz substituto. (Residência) após, promoção para juiz titular.
- Promoção (antiguidade e merecimento)
Art. 93 II – Promoção entrância para entrância / classificação de comarcas diferente de instância. 1ª entrância (vara
única) 2ª entrância (mais de uma vara) Entrância especial (Ex: capital ou grandes cidades)

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Critério: alternadamente 7 - por antiguidade ou me- 2.Aplicada em: 2018Banca: CESPEÓrgão: EMAPPro-
recimento. va: Conhecimentos Básicos - Cargos de Nível Supe-
Promoção por antiguidade: juiz mais antigo; salvo se rior. Julgue o próximo item, relativo à organização dos
2/3 recusarem. TJ poderes. A inamovibilidade dos juízes é uma garantia
Promoção por merecimento: 02 anos na entrância / não absoluta.
1ª quinta parte
Merecimento: desempenho, atualização em cursos. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Promoção obrigatória: aparecer 03 x consecutivas lis-
ta tríplice ou 5 alternadas. Não serão promovidos aque- Resposta: Certo - A inamovibilidade é uma das ga-
les que obstaculizarem o desenvolvimento processual. rantias previstas na CF/88 para o cargo de juiz; no en-
tanto, por motivo de interesse público, poderá ocorrer
Competências do poder judiciário a remoção desde que a decisão pela remoção seja deci-
- Supremo tribunal federal (art. 102 E 103) são por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal
Guardião da CF – controle de constitucionalidade ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
- Competências originárias: art. 102 I defesa.
- Competências recursais: Recurso Ordinário (Art. 102
II) e Extraordinário (Art.102 III) – Repercussão geral
para o extraordinário (recusar apreciação pela vo- 1) STF
tação de 2/3 dos membros) O Supremo Tribunal Federal é a última instância do
- Superior tribunal de justiça (art. 105) poder judiciário do Brasil, composto por 11 ministros
Guardião da Lei infraconstitucional (juízes), os quais são nomeados pelo Presidente da Re-
- Competências originárias: art. 105 I pública, devendo ser aprovado pelo Senado Federal.
- Competências recursais: Recurso Ordinário (Art. 105
II) e Recurso Especial (Art. 105 III) O STF juga questões acerca da Constituição Federal,
- Justiça trabalhista (art. 113 E 114) em regra as rela-
pois ele é o “guardião” da nossa Magma Carta de 1988.
ções regidas pela clt, excetuando as relações es-
Entre suas principais atribuições está a de julgar ações
tatutárias.
diretas de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
- Justiça eleitoral (art. 121 E código eleitoral)
federal ou estadual; ações declaratórias de constitucio-
- Justiça militar (art. 124 E dl 1001/96)
nalidade de lei ou ato normativo federal; a arguição de
- Justiça federal e trf (art. 109 E 108)
descumprimento de preceito fundamental decorrente da
- Justiça estadual (competência residual – definida
própria Constituição e a extradição solicitada por Estado
pela constituição do estado)
estrangeiro.
No tocante a esfera criminal, o STF tem competência
para julgar nas infrações penais comuns, o presidente da
República e seu vice, os membros do Congresso Nacio-
EXERCÍCIOS COMENTADOS nal, seus próprios ministros e o procurador-geral da Re-
1.Aplicada em: 2018Banca: CESPE Órgão: EMAP Pro- pública.
va: Conhecimentos Básicos - Cargos de Nível Médio.
No que se refere à organização dos poderes, julgue o 2) STJ
item que segue. Aos juízes, ainda que em disponibili- O Superior Tribunal de Justiça é a última instância
dade, é vedado o exercício de qualquer outro cargo ou para as causas infraconstitucionais, sendo o órgão de
função pública. convergência da Justiça comum. O STJ é composto por
33 ministros. Entre suas principais atribuições, destaca-se
( ) CERTO ( ) ERRADO que ele é o responsável por uniformizar a interpretação
da lei federal em todo o Brasil, seguindo os princípios
Resposta: Errado - Por conta do cargo, o juiz goza de constitucionais
algumas garantias para que possa exercer sua função No âmbito criminal, o STJ julga crimes comuns prati-
com total imparcialidade. Também por conta do cargo cados por governadores dos Estados e do Distrito Fede-
enfrenta algumas vedações, a saber: ral, crimes comuns e de responsabilidade de desembar-
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo gadores dos tribunais de Justiça e de conselheiros dos
ou função, salvo uma de magistério; tribunais de contas estaduais, dos membros dos tribunais
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou regionais federais, eleitorais e do trabalho. Ainda assim,
DIREITO CONSTITUCIONAL

participação em processo; julga também habeas corpus que envolvam essas autori-
III - dedicar-se à atividade político-partidária. dades ou ministros de Estado, exceto em casos relativos
IV receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou à Justiça eleitoral, dentre outros.
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas
ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; 3) TSE
V exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se O Tribunal Superior Eleitoral possui no mínimo 7
afastou, antes de decorridos três anos do afastamen- membros, sendo responsável por expedir instruções
to do cargo por aposentadoria ou exoneração. para a execução da lei que rege o processo eleitoral, bem
como, tem a função de acompanhar a legislação eleito-

47
ral juntamente com os Tribunais Regionais Eleitorais, as- • Na Moralidade: julgar processos disciplinares, asse-
segurando a organização das eleições e o exercício dos gurada ampla defesa, podendo determinar a re-
direitos políticos da população. moção, a disponibilidade ou a aposentadoria com
subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de
4) TST serviço e aplicar outras sanções administrativas.
O Tribunal Superior do Trabalho julga recursos contra • Na Eficiência dos Serviços Judiciais: melhores prá-
decisões de Tribunais Regionais do trabalho e dissídios ticas e celeridade: elaborar e publicar semestral-
coletivos de categorias organizadas em nível nacional, mente relatório estatístico sobre movimentação
além de mandados de segurança, embargos opostos a processual e outros indicadores pertinentes à ati-
suas decisões e ações rescisórias. O TST é composto por vidade jurisdicional em todo o País. (FONTE CNJ:
27 ministros nomeados pelo presidente da República e http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj/quem-somos-
aprovados pela maioria absoluta do Senado Federal. -visitas-e-contatos)

5) STM Os órgãos descritos acima são os principais órgãos


O Superior Tribunal Militar processar e julgar crimes judiciários do sistema brasileiro. Ainda assim, de uma
que envolvam militares da Marinha, Exército e Aeronáuti- maneira abrangente podemos ainda cita o Justiça
ca além de funções judiciais e administrativas. É compos- Comum, Justiça Federal, Tribunal de Justiça, Tribunal
to por 15 ministros vitalícios, nomeados pelo presidente Regional do Trabalho, Justiça do Trabalho, as quais
da República, com indicação aprovada pelo Senado Fe- cuidam de processos de acordo com sua competência.
deral. Três ministros são da Marinha, quatro do Exército e
três da Aeronáutica, os outros cinco são civis. Ver-se-á, a seguir, os órgãos da Justiça Federal.

Os órgãos descritos acima são os principais órgãos CAPÍTULO IV


judiciários do sistema brasileiro. Ainda assim, de uma DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
maneira abrangente podemos ainda cita o Justiça Co- SEÇÃO I
mum, Justiça Federal, Tribunal de Justiça, Tribunal Regio- DO MINISTÉRIO PÚBLICO
nal do Trabalho, Justiça do Trabalho e etc.
Art. 127. O Ministério Público é instituição perma-
Conselho Nacional de Justiça
nente, essencial à função jurisdicional do Estado, in-
cumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é uma institui-
democrático e dos interesses sociais e individuais in-
ção pública que visa aperfeiçoar o trabalho do sistema
disponíveis.
judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito
ao controle e à transparência administrativa e processual. § 1º - São princípios institucionais do Ministério Pú-
Missão: desenvolver políticas judiciárias que promo- blico a unidade, a indivisibilidade e a independência
vam a efetividade e a unidade do Poder Judiciário, orien- funcional.
tadas para os valores de justiça e paz social. § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia
Visão de futuro: ser reconhecido como órgão de ex- funcional e administrativa, podendo, observado o
celência em planejamento estratégico, governança e disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a
gestão judiciária, a impulsionar a efetividade da Justiça criação e extinção de seus cargos e serviços auxilia-
brasileira. res, provendo-os por concurso público de provas ou de
provas e títulos, a política remuneratória e os planos
O que CNJ faz? de carreira; a lei disporá sobre sua organização e fun-
cionamento.  
Transparência e controle:  § 3º O Ministério Público elaborará sua proposta or-
çamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de
• Na Política Judiciária: zelar pela autonomia do Po- diretrizes orçamentárias.
der Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da § 4º Se o Ministério Público não encaminhar a res-
Magistratura, expedindo atos normativos e reco- pectiva proposta orçamentária dentro do prazo esta-
mendações. belecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder
• Na Gestão: definir o planejamento estratégico, os Executivo considerará, para fins de consolidação da
DIREITO CONSTITUCIONAL

planos de metas e os programas de avaliação ins- proposta orçamentária anual, os valores aprovados
titucional do Poder Judiciário. na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com
• Na Prestação de Serviços ao Cidadão: receber re- os limites estipulados na forma do § 3º.  
clamações, petições eletrônicas e representações § 5º Se a proposta orçamentária de que trata este arti-
contra membros ou órgãos do Judiciário, inclusive go for encaminhada em desacordo com os limites esti-
contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos pulados na forma do § 3º, o Poder Executivo procederá
prestadores de serviços notariais e de registro que aos ajustes necessários para fins de consolidação da
atuem por delegação do poder público ou oficia- proposta orçamentária anual.  
lizado.

48
§ 6º Durante a execução orçamentária do exercício, Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
não poderá haver a realização de despesas ou a as- I - promover, privativamente, a ação penal pública, na
sunção de obrigações que extrapolem os limites es- forma da lei;
tabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e
se previamente autorizadas, mediante a abertura de dos serviços de relevância pública aos direitos asse-
créditos suplementares ou especiais.  gurados nesta Constituição, promovendo as medidas
Art. 128. O Ministério Público abrange: necessárias a sua garantia;
I - o Ministério Público da União, que compreende: III - promover o inquérito civil e a ação civil públi-
a) o Ministério Público Federal; ca, para a proteção do patrimônio público e social, do
b) o Ministério Público do Trabalho; meio ambiente e de outros interesses difusos e cole-
c) o Ministério Público Militar; tivos;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou re-
II - os Ministérios Públicos dos Estados. presentação para fins de intervenção da União e dos
§ 1º O Ministério Público da União tem por chefe o Pro- Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
curador-Geral da República, nomeado pelo Presidente V - defender judicialmente os direitos e interesses das
da República dentre integrantes da carreira, maiores populações indígenas;
de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome VI - expedir notificações nos procedimentos adminis-
pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, trativos de sua competência, requisitando informações
para mandato de dois anos, permitida a recondução. e documentos para instruí-los, na forma da lei com-
§ 2º A destituição do Procurador-Geral da República, plementar respectiva;
por iniciativa do Presidente da República, deverá ser VII - exercer o controle externo da atividade policial,
precedida de autorização da maioria absoluta do Se- na forma da lei complementar mencionada no artigo
anterior;
nado Federal.
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instau-
§ 3º Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito
ração de inquérito policial, indicados os fundamentos
Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre in-
jurídicos de suas manifestações processuais;
tegrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas,
escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado
desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe
pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois
vedada a representação judicial e a consultoria jurídi-
anos, permitida uma recondução. ca de entidades públicas.
§ 4º Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito § 1º - A legitimação do Ministério Público para as
Federal e Territórios poderão ser destituídos por deli- ações civis previstas neste artigo não impede a de
beração da maioria absoluta do Poder Legislativo, na terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto
forma da lei complementar respectiva. nesta Constituição e na lei.
§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja § 2º As funções do Ministério Público só podem ser
iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores- exercidas por integrantes da carreira, que deverão re-
-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições sidir na comarca da respectiva lotação, salvo autoriza-
e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, ção do chefe da instituição.  
relativamente a seus membros: § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-
I - as seguintes garantias: -se-á mediante concurso público de provas e títulos,
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não po- assegurada a participação da Ordem dos Advogados
dendo perder o cargo senão por sentença judicial do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel
transitada em julgado; em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse pú- e observando-se, nas nomeações, a ordem de classi-
blico, mediante decisão do órgão colegiado competen- ficação.  
§ 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o
te do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta
disposto no art. 93.  
de seus membros, assegurada ampla defesa;   § 5º A distribuição de processos no Ministério Público
 c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. será imediata.   
39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos
150, II, 153, III, 153, § 2º, I;    Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta
II - as seguintes vedações: seção pertinentes a direitos, vedações e forma de in-
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, vestidura.
honorários, percentagens ou custas processuais; Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Públi-
b) exercer a advocacia; co compõe-se de quatorze membros nomeados pelo
DIREITO CONSTITUCIONAL

c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; Presidente da República, depois de aprovada a esco-
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer ou- lha pela maioria absoluta do Senado Federal, para
tra função pública, salvo uma de magistério; um mandato de dois anos, admitida uma recondução,
e) exercer atividade político-partidária;    sendo:  
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou I o Procurador-Geral da República, que o preside;
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou II quatro membros do Ministério Público da União, as-
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei.    segurada a representação de cada uma de suas car-
§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o reiras;
disposto no art. 95, parágrafo único, V.     III três membros do Ministério Público dos Estados;

49
IV dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Fe- SEÇÃO II
deral e outro pelo Superior Tribunal de Justiça; DA ADVOCACIA PÚBLICA
V dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil; Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição
VI dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação que, diretamente ou através de órgão vinculado, repre-
ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e senta a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-
outro pelo Senado Federal. -lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre
§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério sua organização e funcionamento, as atividades de con-
Público serão indicados pelos respectivos Ministérios sultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo.
Públicos, na forma da lei. § 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o
§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Pú- Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo
blico o controle da atuação administrativa e financei- Presidente da República dentre cidadãos maiores de
ra do Ministério Público e do cumprimento dos deve- trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e repu-
res funcionais de seus membros, cabendo lhe: tação ilibada.
I zelar pela autonomia funcional e administrativa do § 2º - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da
Ministério Público, podendo expedir atos regulamen- instituição de que trata este artigo far-se-á mediante
tares, no âmbito de sua competência, ou recomendar
concurso público de provas e títulos.
providências;
§ 3º - Na execução da dívida ativa de natureza tribu-
II zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício
tária, a representação da União cabe à Procuradoria-
ou mediante provocação, a legalidade dos atos ad-
-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em
ministrativos praticados por membros ou órgãos do
lei.
Ministério Público da União e dos Estados, podendo
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Fe-
desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se
adotem as providências necessárias ao exato cumpri- deral, organizados em carreira, na qual o ingresso de-
penderá de concurso público de provas e títulos, com
mento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribu-
nais de Contas; a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em
III receber e conhecer das reclamações contra mem- todas as suas fases, exercerão a representação judi-
bros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos cial e a consultoria jurídica das respectivas unidades
Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem federadas.   
prejuízo da competência disciplinar e correicional da Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste
instituição, podendo avocar processos disciplinares em artigo é assegurada estabilidade após três anos de
curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho
aposentadoria com subsídios ou proventos proporcio- perante os órgãos próprios, após relatório circunstan-
nais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções ad- ciado das corregedorias. 
ministrativas, assegurada ampla defesa;
IV rever, de ofício ou mediante provocação, os proces- SEÇÃO III
sos disciplinares de membros do Ministério Público da DA ADVOCACIA
União ou dos Estados julgados há menos de um ano;
V elaborar relatório anual, propondo as providências Art. 133. O advogado é indispensável à administração
que julgar necessárias sobre a situação do Ministério da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifesta-
Público no País e as atividades do Conselho, o qual ções no exercício da profissão, nos limites da lei.
deve integrar a mensagem prevista no art. 84, XI.
§ 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um SEÇÃO IV
Corregedor nacional, dentre os membros do Minis- DA DEFENSORIA PÚBLICA
tério Público que o integram, vedada a recondução,
competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanen-
conferidas pela lei, as seguintes: te, essencial à função jurisdicional do Estado, incum-
I receber reclamações e denúncias, de qualquer inte- bindo-lhe, como expressão e instrumento do regime
ressado, relativas aos membros do Ministério Público democrático, fundamentalmente, a orientação jurídi-
e dos seus serviços auxiliares; ca, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em
II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos in-
e correição geral; dividuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos
III requisitar e designar membros do Ministério Públi- necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta
co, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores Constituição Federal.   
DIREITO CONSTITUCIONAL

de órgãos do Ministério Público. § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Públi-


§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos ca da União e do Distrito Federal e dos Territórios e
Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho. prescreverá normas gerais para sua organização nos
§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias Estados, em cargos de carreira, providos, na classe
do Ministério Público, competentes para receber re- inicial, mediante concurso público de provas e títulos,
clamações e denúncias de qualquer interessado contra assegurada a seus integrantes a garantia da inamo-
membros ou órgãos do Ministério Público, inclusive vibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das
contra seus serviços auxiliares, representando direta-
atribuições institucionais.   
mente ao Conselho Nacional do Ministério Público.

50
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são assegura-
das autonomia funcional e administrativa e a inicia-
tiva de sua proposta orçamentária dentro dos limites
HORA DE PRATICAR!
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e su-
bordinação ao disposto no art. 99, § 2º .    1. (MPE-PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públi- – CESPE – 2019) De acordo com a doutrina, norma cons-
titucional superveniente editada pelo poder constituinte
cas da União e do Distrito Federal.    § 4º São princí-
originário sem qualquer ressalva tem eficácia:
pios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional, aplican- a) retroativa máxima.
do-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e b) retroativa média.
no inciso II do art. 96 desta Constituição Federal.     c) retroativa mínima.
Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disci- d) somente para o futuro.
plinadas nas Seções II e III deste Capítulo serão remu- e) exauriente.
nerados na forma do art. 39, § 4º.
2. (MPE-PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO
– CESPE – 2019) Assinale a opção que apresenta o mé-
todo conforme o qual a leitura do texto constitucional
inicia-se pela pré-compreensão do aplicador do direito, a
EXERCÍCIOSCOMENTADO quem compete efetivar a norma a partir de uma situação
histórica para que a lide seja resolvida à luz da Constitui-
ção, e não de acordo com critérios subjetivos de justiça.
1- (STJ – CESPE – 2018) A respeito do que dispõe a
Constituição Federal de 1988 (CF) sobre o regime jurídi- a) hermenêutico-clássico
co da administração pública e o Poder Judiciário, julgue b) hermenêutico-concretizador
o item seguinte. c) científico-espiritual
É competência exclusiva do Superior Tribunal de Justiça d) normativo-estruturante
julgar governadores de estado por crimes de responsa- e) hermenêutico-comparativo
bilidade.
3. (TCM-BA – AUDITOR ESTADUAL DE INFRAESTRU-
( ) CERTO ( ) ERRADO TURA – CESPE – 2018) O princípio fundamental da
Constituição que consiste em fundamento da República
Resposta: Errado. Estabelece o art. 105, I, a) da CF Federativa do Brasil, de eficácia plena, e que não alcança
seus entes internos é:
prescreve que é competência originária do STJ o julga-
mento de crimes comuns de Governadores de Estado.
a) o pluralismo político.
b) a soberania.
c) o conjunto dos valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa.
d) a prevalência dos direitos humanos.
e) a dignidade da pessoa humana.

4. (DPU – DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL – CESPE – 2017)


A respeito da evolução histórica do constitucionalismo no
Brasil, das concepções e teorias sobre a Constituição e do
sistema constitucional brasileiro, julgue o item a seguir.
A CF goza de supremacia tanto do ponto de vista mate-
rial quanto do formal.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. (MPE-PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO –


CESPE – 2019) De acordo com a doutrina, o documento
escrito estabelecido de forma solene pelo poder consti-
tuinte eleito pelo voto popular, modificável somente por
DIREITO CONSTITUCIONAL

processos e formalidades especiais nele mesmo conti-


dos, e que contém o modo de existir do Estado é classifi-
cado como constituição:

a) formal.
b) material.
c) outorgada.
d) histórica.
e) flexível.

51
6. (FUB – PROVA PARA CARGOS DE NÍVEL SUPERIOR 12. (MPU – TÉCNICO DO MPU ADMINISTRAÇÃO –
– CESPE – 2018) Acerca de classificação constitucional, CESPE – 2018) Com base nas disposições constitucio-
de princípios, direitos e garantias fundamentais e de ser- nais acerca de princípios, direitos e garantias fundamen-
vidores públicos, julgue o seguinte item. tais, julgue o item a seguir.
Por conter, de forma sucinta, normas que tratam dos Policiais têm a prerrogativa de adentrar na casa de qual-
mais diversos temas de interesse da sociedade, a Cons- quer pessoa durante o período noturno, desde que por-
tituição Federal de 1988 é classificada como sintética. tem determinação judicial ou o morador consinta.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) CERTO ( ) ERRADO

7. (PC-SE – DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2018) 13. (MPU – TÉCNICO DO MPU ADMINISTRAÇÃO –
Conforme disposições constitucionais a respeito da or- CESPE – 2018) Com base nas disposições constitucionais
ganização da segurança pública, julgue o item a seguir. acerca de princípios, direitos e garantias fundamentais,
O poder constituinte originário, ao tratar da seguran- julgue o item a seguir.
ça pública no ordenamento constitucional vigente, fez Os tratados internacionais sobre direitos humanos pos-
menção expressa à segurança viária, atividade exercida suem status de emendas constitucionais, de maneira que
para a preservação da ordem pública, da incolumidade a autoridade pública que a eles desobedecer estará sujei-
das pessoas e de seu patrimônio nas vias públicas. ta a responsabilização.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) CERTO ( ) ERRADO

8. (PC-SE – DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2018) 14. (TJ-BA – JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO – CESPE
Conforme disposições constitucionais a respeito da or- - 2019) No que se refere à liberdade de expressão, à li-
ganização da segurança pública, julgue o item a seguir. berdade de imprensa e aos seus limites, assinale a opção
As polícias militares, os corpos de bombeiros militares correta.
e as polícias civis subordinam-se aos governadores dos
estados, do Distrito Federal e dos territórios. a) De acordo com o STF, o consumo de droga ilícita em
passeata que reivindique a descriminalização do uso
( ) CERTO ( ) ERRADO dessa substância é assegurado pela liberdade de ex-
pressão.
9. (PC-SE – DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2018) b) A legislação pertinente determina que os comentários
Conforme disposições constitucionais a respeito da or- de usuários da Internet nas páginas eletrônicas dos
ganização da segurança pública, julgue o item a seguir. veículos de comunicação social se sujeitem ao direito
A segurança pública, exercida para preservação da or- de resposta do ofendido.
dem pública e da incolumidade das pessoas e do patri- c) A publicação de informações falsas em veículos de co-
mônio, é responsabilidade de todos. municação social não está assegurada pela liberdade
de imprensa.
( ) CERTO ( ) ERRADO d) A retratação ou retificação espontânea de mensagem
de conteúdo ofensivo à honra ou imagem de outrem
10. (POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DA POLÍCIA FEDE- impede eventual direito de resposta do ofendido.
RAL – CESPE – 2018) Com relação à segurança pública e) Além do direito de resposta, a liberdade de expressão
e à atuação da Polícia Federal, julgue o item seguinte. garante o direito de acesso e exposição de ideias em
Compete à Polícia Federal exercer, com exclusividade, as veículos de comunicação social.
funções de polícia judiciária da União.
15.(TJ-PR – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2019) Embora
( ) CERTO ( ) ERRADO o direito de propriedade seja garantido constitucional-
mente, os estados têm a prerrogativa de desapropriar
11. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE imóvel rural em razão de:
– 2019) À luz da Constituição Federal de 1988, julgue
o item que se segue, a respeito de direitos e garantias a) interesse social, para fins de reforma agrária, mediante
fundamentais e da defesa do Estado e das instituições o pagamento de indenização por títulos.
democráticas. b) utilidade pública, declarada por decreto do governa-
Em caso de iminente perigo público, autoridade pública dor, mediante o pagamento de justa e prévia indeni-
DIREITO CONSTITUCIONAL

competente poderá usar a propriedade particular, desde zação em dinheiro.


que assegure a consequente indenização, independen- c) interesse social, quando constatada exploração de tra-
temente da comprovação da existência de dano, que, balho escravo no local, mediante o pagamento de in-
nesse caso, é presumido. denização por títulos.
d) utilidade pública, independentemente de lei autori-
( ) CERTO ( ) ERRADO zadora, caso o imóvel esteja localizado em município
que integra o estado desapropriador.

52
16. (PGM JOÃO PESSOA-PB – PROCURADOR DO MU- 19. (SEFAZ-RS – AUDITOR FISCAL DA RECEITA ESTA-
NICÍPIO – CESPE – 2018) À luz da Constituição Federal DUAL BLOCO II – CESPE – 2019) Felipe é brasileiro na-
de 1988 e da jurisprudência dos tribunais superiores, jul- turalizado e foi morar no Japão, onde se casou com Júlia,
gue os itens a seguir, a respeito dos direitos e das garan- uma mexicana. Quando Júlia estava a serviço de seu país
tias fundamentais. na Alemanha, nasceu Alberto, filho do casal, que não foi
registrado no consulado brasileiro nem no mexicano.
I - A interceptação de comunicações telefônicas, subme- Aos vinte anos de idade, Alberto veio para o Brasil, onde
tida a cláusula constitucional de reserva de jurisdição, é instaurou residência e, ato contínuo, optou pela nacio-
admitida, na forma da lei, para fins de investigação cri- nalidade brasileira.
minal e apuração de ato de improbidade administrativa. Nessa situação hipotética, no que diz respeito à nacio-
II - Não viola o direito à intimidade a requisição, pelo nalidade, a CF estabelece que Alberto:
Ministério Público, de informações bancárias de titulari-
dade de órgão e entidades públicas, a fim de proteger o a) é alemão e brasileiro, tendo obrigatoriamente dupla
patrimônio público. nacionalidade.
III - Mesmo em caso de flagrante delito, o ingresso for- b) é brasileiro naturalizado.
çado de autoridade policial em domicílio, independente- c) é brasileiro nato.
mente de autorização judicial, é condicionado à demons- d) não pode optar pela nacionalidade brasileira por não
tração de fundada suspeita de ocorrência de crime no estar residindo, sem condenação penal, há mais de
local. quinze anos ininterruptos no Brasil.
IV - A inviolabilidade domiciliar não afasta a possibilida- e) é alemão, brasileiro e mexicano, tendo obrigatoria-
de de agentes da administração tributária, no exercício mente cidadania múltipla.
da autoexecutoriedade, ingressarem em estabelecimen-
to comercial ou industrial, independentemente de con- 20. (POLÍCIA FEDERAL – PERITO CRIMINAL FEDERAL
sentimento do proprietário ou de autorização judicial. – CESPE – 2018) Com relação aos direitos e às garantias
fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988,
Estão corretos apenas os itens: julgue o item a seguir.
Ainda que, em regra, inexista distinção entre brasileiros
a) I e II. natos e naturalizados, o cargo de oficial das Forças Ar-
b) I e IV. madas só poderá ser exercido por brasileiro nato.
c) II e III.
d) I, III e IV. ( ) CERTO ( ) ERRADO
e) II, III e IV.
21. (MPE-PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO
17. (PGM JOÃO PESSOA-PB – PROCURADOR DO MU- – CESPE – 2019) De acordo com a Constituição Federal
NICÍPIO – CESPE – 2018) A reforma trabalhista aprova- de 1988, compete privativamente à União legislar sobre:
da em 2017 extinguiu a obrigatoriedade de contribuição
sindical e condicionou seu pagamento à prévia e expres- a) a defesa do solo e dos recursos naturais.
sa autorização dos filiados ao sindicato. De acordo com b) a proteção do meio ambiente e o combate à poluição.
o entendimento do STF, a referida reforma é: c) a preservação das florestas e da flora.
d) as florestas e a fauna.
a) incompatível com a CF, uma vez que fere a autonomia e) as águas e a metalurgia.
sindical.
b) incompatível com a CF, uma vez que é necessária lei 22. (SEFAZ-RS – AUDITOR FISCAL DA RECEITA ES-
específica para a concessão de benefício fiscal. TAUDAL BLOCO II – CESPE – 2019) A respeito da or-
c) incompatível com a CF, pois, por tratar de normas ge- ganização do Estado, a União, os estados federados e o
rais de direito tributário, o assunto deveria ser regula- Distrito Federal podem legislar concorrentemente sobre:
mentado por lei complementar.
d) compatível com a CF, porque assegura a livre associa- a) direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico
ção profissional ou sindical. e urbanístico.
e) compatível com a CF, porquanto o poder público é b) ordenamento territorial, mediante planejamento e
livre para interferir no sistema de organização sindical. controle do uso, do parcelamento e da ocupação do
solo urbano.
18. (IPHAN – TÉCNICO ÁREA 1 – CESPE – 2018) Acerca c) combate às causas da pobreza e aos fatores de margi-
DIREITO CONSTITUCIONAL

de direitos humanos, direitos de minorias e movimentos nalização, promovendo a integração social dos seto-
sociais urbanos, julgue o item seguinte. res desfavorecidos.
A Constituição Federal de 1988, por possuir expressivo d) direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
conjunto de normas diretamente relacionado aos direi- agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
tos sociais, preserva os direitos fundamentais das mino- e) política de crédito, câmbio, seguros e transferência
rias, como, por exemplo, o direito à terra dos povos indí- de valores.
genas e das comunidades quilombolas.

( ) CERTO ( ) ERRADO

53
23. (TJ-BA – JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO – CESPE 25. (SEFAZ-RS – TÉCNICO TRIBUTÁRIO DA RECEITA
– 2019) A lei estadual X estabeleceu a obrigatoriedade ESTADUAL – CESPE – 2018) A União e o estado do Rio
da realização de adaptações nos veículos de transpor- Grande do Sul poderão legislar concorrentemente sobre:
te coletivo intermunicipal de propriedade das empresas
concessionárias do serviço, com a finalidade de facilitar a) direito marítimo.
o acesso de pessoas com deficiência física ou com difi- b) direito econômico.
culdades de locomoção. c) trânsito.
Conforme as disposições do texto constitucional, a legis- d) sorteios.
lação, a doutrina e a jurisprudência do STF, a lei estadual e) informática.
X é:
26. (SEFAZ-RS – TÉCNICO TRIBUTÁRIO DA RECEITA
a) inconstitucional por ofensa à competência privativa ESTADUAL – CESPE – 2018) No que tange a bens públi-
da União para legislar sobre trânsito e transporte. cos, assinale a opção correta.
b) inconstitucional por ofensa à competência concorren-
te dos entes federados, ainda que inexistente lei geral a) As terras devolutas pertencem à União, que poderá
nacional. cedê-las aos estados e municípios para fins de gestão
c) inconstitucional por ofensa à livre iniciativa e ao cará- ou afetação pública.
ter competitivo das licitações públicas para a área de b) Ilhas costeiras são de propriedade da União, salvo
transportes. aquelas que contêm sede de município.
d) constitucional, pois está compatível com a CF e com c) Os bens públicos dominicais podem ser alienados, nos
a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pes- termos da lei, bem como estão sujeitos a usucapião.
soas com Deficiência, incorporada ao direito nacional d) As ilhas lacustres estaduais, enquanto terras tradicio-
como norma de caráter supralegal. nalmente ocupadas por indígenas, são de proprieda-
e) constitucional, pois está compatível com a CF e com de dos estados.
a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pes- e) As ilhas que consistam em terras tradicionalmente
soas com Deficiência, incorporada ao direito nacional ocupadas por indígenas são de propriedade da comu-
como norma constitucional. nidade indígena.

24. (SEFAZ-RS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO FA- 27. (SEFAZ-RS – AUDITOR DO ESTADO BLOCO II –
ZENDÁRIO – CESPE – 2018) Um município de determi- CESPE – 2018) Emenda à Constituição de determinado
nado estado da Federação apresentava graves dificulda- estado da Federação que extinga os tribunais de contas
des com transportes, o que resultava em problemas no dos municípios desse ente federado será:
cotidiano da população, especialmente pela dificuldade
de entrega de documentos e encomendas via postal. a) inconstitucional, porque a CF proíbe expressamente
Atenta a essa demanda, a assembleia legislativa muni- tanto a criação quanto a supressão desses órgãos, se
cipal editou lei para regulamentar o serviço postal no existentes.
município, considerando as especificidades locais da co- b) inconstitucional, porque a extinção por norma esta-
munidade, em nome do interesse público, e buscando dual atenta contra o pacto federativo.
atender adequadamente à população. c) constitucional, porque a CF não proíbe a extinção de
Conforme os dispositivos constitucionais referentes à tribunais de contas dos municípios.
organização do Estado, a lei editada pela assembleia le- d) constitucional, uma vez que não haverá prejuízo ao
gislativa desse município é controle externo, pois o Tribunal de Contas da União
assumirá suas funções.
a) inconstitucional, porque é da União a competência e) inconstitucional, porque, em decorrência do princípio
privativa para legislar sobre serviço postal. do controle fiscalizatório, financeiro e patrimonial, é
b) constitucional, porque a assembleia legislativa mu- proibida a extinção de tribunais de contas dos muni-
nicipal detém autonomia e legitimidade para legislar cípios.
privativamente sobre demandas específicas locais.
c) inconstitucional, porque é do respectivo estado a 28. (TC-PE – ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO AU-
competência privativa para legislar sobre serviço pos- DITORIA DE CONTAS PÚBLICAS – CESPE – 2017) Con-
tal em seus municípios. siderando as disposições constitucionais e as normas
d) constitucional, porque a assembleia legislativa muni- gerais relativas ao direito financeiro, bem como os prin-
cipal detém legitimidade para legislar concorrente- cípios orçamentários, julgue o item a seguir.
DIREITO CONSTITUCIONAL

mente com a União e com o respectivo estado sobre Ao consagrar o modelo do federalismo dual, a CF, no que
serviço postal. tange à distribuição de recursos orçamentários, assegu-
e) constitucional, porque a assembleia legislativa mu- rou maior grau de separação entre o poder central e as
nicipal detém competência comum com os demais unidades federadas.
entes da Federação para legislar sobre serviço postal.
( ) CERTO ( ) ERRADO

54
29. (PGM JOÃO PESSOA-PB – PROCURADOR DO MU- 33. (FUB – PROVA PARA CARGOS DE NÍVEL SUPE-
NICÍPIO – CESPE – 2018) Determinado município dei- RIOR – CESPE – 2018) Acerca de classificação constitu-
xou de pagar, por vários anos consecutivos e sem motivo cional, de princípios, direitos e garantias fundamentais e
de força maior, sua dívida fundada. Com relação a essa de servidores públicos, julgue o seguinte item.
situação hipotética, assinale a opção correta. Situação hipotética: Meire, servidora pública de sessenta
anos de idade, vinculada a regime próprio de previdên-
a) A CF não prevê intervenção motivada por inadimplên- cia, cumpriu quinze anos de efetivo exercício no serviço
cia de dívida fundada nos entes municipais. público, tendo, nos últimos cinco anos, trabalhado no
b) O governador do respectivo estado-membro poderá cargo efetivo em que pretende requerer aposentadoria.
decretar intervenção no município, após o prévio pro- Assertiva: Nesse caso, Meire poderá aposentar-se volun-
vimento de ação interventiva pelo tribunal de justiça tariamente com proventos integrais em razão da idade.
local.
c) O governador do respectivo estado-membro poderá ( ) CERTO ( ) ERRADO
decretar intervenção no município, submetendo, no
prazo de vinte e quatro horas, o respectivo decreto 34. (SEFAZ-RS – TÉCNICO TRIBUTÁRIO DA RECEITA
interventivo à apreciação da assembleia legislativa es- ESTADUAL – CESPE – 2018) Com relação a agentes pú-
tadual. blicos, assinale a opção correta, considerando as disposi-
d) O governador do respectivo estado-membro ou o ções da Constituição Federal de 1988 (CF).
presidente da República poderá decretar intervenção
no município. a) Pessoa indevidamente investida em cargo público
e) O governador do respectivo estado-membro poderá deve ser exonerada e obrigada a devolver os recursos
decretar intervenção no município, por tempo inde- que tiver recebido em razão do desempenho irregular
terminado, até cessarem os motivos da intervenção. da função.
b) O teto remuneratório previsto na CF aplica-se a agen-
30. (MPE-PI – TÉCNICO MINISTERIAL ÁREA ADMINIS- tes públicos das sociedades de economia mista que
TRATIVA – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo recebam recursos do Estado para pagamento de des-
à organização administrativa do Estado e aos poderes da pesas de pessoal ou de custeio em geral.
República Federativa do Brasil. c) Nos casos em que a CF permite a cumulação de cargos,
É competência exclusiva do Poder Executivo a suspensão empregos e funções públicas, o teto remuneratório é
de intervenção federal, mediante decreto do presidente considerado em relação ao somatório das remunera-
da República. ções acumuladas.
d) A CF permite, em regra, a vinculação ou equiparação
( ) CERTO ( ) ERRADO de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público.
31. (FUB – PROVA PARA CARGOS DE NÍVEL SUPERIOR e) Os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do
– CESPE – 2018) De acordo com a Declaração Universal Poder Judiciário poderão ser superiores aos pagos
dos Direitos Humanos e a Constituição Federal de 1988, pelo Poder Executivo.
ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
o devido processo legal. 35. (TCE-MG – ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO –
Acerca da aplicação dessa garantia constitucional, bem CESPE – 2018) Determinada prefeitura decidiu realizar
como do contraditório e da ampla defesa, julgue o item um concurso público para o provimento de vagas para o
a seguir. cargo de professor da rede municipal de ensino, com a
Servidor público estável poderá perder o cargo mediante finalidade de atenuar os prejuízos decorrentes da grande
processo administrativo disciplinar, no qual lhe devem rotatividade dos professores municipais. O edital, que foi
ser assegurados o contraditório e a ampla defesa. publicado no Diário Oficial, indicava a validade do certa-
me pelo período de cinco anos.
( ) CERTO ( ) ERRADO Nesse caso, o edital do concurso:

32. (FUB – PROVA PARA CARGOS DE NÍVEL SUPERIOR a) obedece à CF, porque os princípios da publicidade e
– CESPE – 2018) Acerca de percepção simultânea, por da eficiência foram atendidos.
servidor público, de proventos da aposentadoria e da b) viola a CF, pois o prazo máximo de validade do certa-
remuneração de outro cargo público, julgue o seguinte me deveria ser de três anos, prorrogável pelo mesmo
item. período.
DIREITO CONSTITUCIONAL

É permitida a percepção simultânea de proventos de c) viola a CF, pois o prazo máximo de validade do concur-
aposentadoria e de remuneração de cargo em comissão. so deveria ser de dois anos, prorrogável pelo mesmo
período.
( ) CERTO ( ) ERRADO d) obedece à CF, pois é de competência municipal a de-
finição dos aspectos de concurso público municipal.
e) viola a CF, pois o prazo máximo de validade do certa-
me deveria equivaler ao tempo de mandato do prefei-
to, ou seja, quatro anos.

55
36. (TCE-MG – ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO –
CESPE – 2018) Com relação aos vencimentos dos servi-
dores públicos, a administração: GABARITO

a) não deverá observar limite nenhum, por inexistir pre- 1 C


visão constitucional nesse sentido.
b) não deverá observar limite nenhum, cabendo a cada 2 B
um dos Poderes da União estabelecer o próprio teto 3 B
de vencimentos.
4 Certo
c) deverá respeitar um limite: os vencimentos dos servi-
dores não podem ser superiores aos pagos pelo Po- 5 A
der Executivo. 6 Errado
d) deverá respeitar um limite: os vencimentos dos servi-
dores não podem ser superiores aos pagos pelo Po- 7 Errado
der Legislativo. 8 Certo
e) deverá respeitar um limite: os vencimentos dos servi- 9 Certo
dores não podem ser superiores aos pagos pelo Po-
der Judiciário. 10 Certo
11 Errado
12 Errado
13 Errado
14 C
15 B
16 C
17 D
18 Certo
19 C
20 Certo
21 E
22 A
23 E
24 A
25 B
26 B
27 C
28 Errado
29 C
30 Errado
31 Certo
32 Certo
33 Errado
34 B
35 C
36 C
DIREITO CONSTITUCIONAL

56
ÍNDICE

DIREITO CIVIL

Lei de introdução às normas do direito brasileiro. Vigência, aplicação, obrigatoriedade, interpretação e integração das
leis. Conflito das leis no tempo. Eficácia das leis no espaço........................................................................................................................... 01
Pessoas naturais. Conceito. Início da pessoa natural. Personalidade. Capacidade. Direitos da personalidade. Nome civil.
Estado civil. Domicílio. Ausência............................................................................................................................................................................. 08
Pessoas jurídicas. Disposições Gerais. Conceito e Elementos Caracterizadores. Constituição. Extinção. Capacidade
e direitos da personalidade. Sociedades de fato. Associações. Sociedades. Fundações. Grupos despersonalizados.
Desconsideração da personalidade jurídica. Responsabilidade da pessoa jurídica e dos sócios................................................... 15
Bens. Diferentes classes. Bens Corpóreos e incorpóreos. Bens no comércio e fora do comércio............................................... 20
Fato jurídico. Negócio jurídico. Disposições gerais. Classificação e interpretação. Elementos. Representação. Condição,
termo e encargo. Defeitos do negócio jurídico. Existência, eficácia, validade, invalidade e nulidade do negócio jurídico.
Simulação........................................................................................................................................................................................................................ 24
Atos jurídicos lícitos e ilícitos................................................................................................................................................................................... 34
Prescrição e decadência............................................................................................................................................................................................. 35
Prova do fato jurídico................................................................................................................................................................................................. 38
Contratos. Princípios. Classificação. Contratos em geral. Disposições gerais. Interpretação. Extinção. Espécies de
contratos regulados no Código Civil.................................................................................................................................................................... 40
b) obrigatoriedade e imperatividade: porque o seu
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS descumprimento autoriza a imposição de uma
DO DIREITO BRASILEIRO. VIGÊNCIA, sanção;
APLICAÇÃO, OBRIGATORIEDADE, c) permanência ou persistência: porque não se exaure
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS LEIS. numa só aplicação;
CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO. EFICÁCIA d) autorizante: porque a sua violação legitima o ofen-
DAS LEIS NO ESPAÇO. dido a pleitear indenização por perdas e danos.
Nesse aspecto, a lei se distingue das normas so-
ciais;
A respeito da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, iremos trazer o artigo científico do Professor #FicaDica
Flávio Monteiro de Barros, no qual aborda este assun- Características da lei:
to de forma simplificada e elucidativa, como veremos a - Generalidade ou impessoalidade;
seguir: - Obrigatoriedade e imperatividade;
A Lei de Introdução (Decreto-lei 4.657/1942) não faz - Permanência ou persistência e
parte do Código Civil. Embora anexada a ele, anteceden- - Autorizante.
do-o, trata-se de um todo separado. Com o advento da
Lei nº. 12.376, de 30 de dezembro de 2010, alterou-se o
nome desse diploma legislativo, substituindo-se a termi-
Segundo a sua força obrigatória, as leis podem ser:
nologia “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasilei- a) cogentes ou injuntivas: são as leis de ordem pú-
ro” por outra mais adequada, isto é, “Lei de Introdução às blica, e, por isso, não podem ser modificadas pela
Normas do Direito Brasileiro”, espancando-se qualquer vontade das partes ou do juiz. Essas leis são im-
dúvida acerca da amplitude do seu campo de aplicação. perativas, quando ordenam certo comportamento;
Ademais, o Código Civil regula os direitos e obriga- e proibitivas, quando vedam um comportamento.
ções de ordem privada, ao passo que a Lei de Introdução b) supletivas ou permissivas: são as leis dispositivas,
disciplina o âmbito de aplicação das normas jurídicas. que visam tutelar interesses patrimoniais, e, por
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro isso, podem ser modificadas pelas partes. Tal ocor-
é norma de sobre direito ou de apoio, consistente num re, por exemplo, com a maioria das leis contratuais.
conjunto de normas cujo objetivo é disciplinar as pró-
prias normas jurídicas. De fato, norma de sobre direito é Segundo a intensidade da sanção, as leis podem ser:
a que disciplina a emissão e aplicação de outras normas a) perfeitas: são as que preveem como sanção à sua
jurídicas. violação a nulidade ou anulabilidade do ato ou ne-
gócio jurídico.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro b) mais que perfeitas: são as que preveem como san-
cuida dos seguintes assuntos: ção à sua violação, além da anulação ou anulabili-
a) Vigência e eficácia das normas jurídicas; dade, uma pena criminal. Tal ocorre, por exemplo,
b) Conflito de leis no tempo; com a bigamia.
c) Conflito de leis no espaço; c) menos perfeitas: são as que estabelecem como
d) Critérios hermenêuticos; sanção à sua violação uma consequência diversa
e) Critérios de integração do ordenamento jurídico; da nulidade ou anulabilidade. Exemplo: o divorcia-
f) Normas de direito internacional privado (arts. 7º a do que se casar sem realizar a partilha dos bens
19). sofrerá como sanção o regime da separação dos
bens, não obstante a validade do seu matrimônio.
Na verdade, como salienta Maria Helena Diniz, é uma d) imperfeitas: são aquelas cuja violação não acarreta
lei de introdução às leis, por conter princípios gerais so- qualquer consequência jurídica. O ato não é nulo;
bre as normas sem qualquer discriminação. É, pois, apli- o agente não é punido.
cável a todos os ramos do direito.
Lei de Efeito Concreto
Conceito e Classificação
Lei de efeito concreto é a que produz efeitos imedia-
Lei é a norma jurídica escrita, emanada do Poder Le- tos, pois traz em si mesma o resultado específico preten-
gislativo, com caráter genérico e obrigatório. dido. Exemplo: lei que proíbe certa atividade.
Em regra, não cabe mandado de segurança contra a
A lei apresenta as seguintes características: lei, salvo quando se tratar de lei de efeito concreto. Alu-
a) generalidade ou impessoalidade: porque se dirige dida lei, no que tange aos seus efeitos, que são imedia-
a todas as pessoas indistintamente. Abre-se exce- tos, assemelha-se aos atos administrativos.
ção à lei formal ou singular, que é destinada a uma
DIREITO CIVIL

pessoa determinada, como, por exemplo, a lei que Código, Consolidação, Compilação e Estatuto.
concede aposentadoria a uma grande personalida-
de pública. A rigor, a lei formal, conquanto aprova- Código é o conjunto de normas estabelecidas por lei.
da pelo Poder Legislativo, não é propriamente uma É, pois, a regulamentação unitária de um mesmo ramo
lei, mas um ato administrativo; do direito. Exemplos: Código Civil, Código Penal etc.

1
Consolidação é a regulamentação unitária de leis Conquanto adotado o sistema de vigência único, Os-
preexistentes. A Consolidação das Leis do Trabalho, por car Tenório sustenta que a lei pode fixar o sistema suces-
exemplo, é formada por um conjunto de leis esparsas, sivo. No silêncio, porém, a lei entra em vigor simultanea-
que acabaram sendo reunidas num corpo único. Não po- mente em todo o território brasileiro.
dem ser objeto de consolidação as medidas provisórias
ainda não convertidas em lei (art. 14, § 1.º, da LC 95/1998, Vacatio Legis
com redação alterada pela LC 107/2001).
Assim, enquanto o Código cria e revoga normas, a Con- Vacatio legis é o período que medeia entre a publica-
solidação apenas reúne as já existentes, isto é, não cria nem ção da lei e a sua entrada em vigor.
revoga as normas. O Código é estabelecido por lei; a Con- Tem a finalidade de fazer com que os futuros destinatá-
solidação pode ser criada por mero decreto. Nada obsta, rios da lei a conheçam e se preparem para bem cumpri-la.
porém, que a Consolidação seja ordenada por lei, cuja ini- A Constituição Federal não exige que as leis obser-
ciativa do projeto compete à mesa diretora do Congresso vem o período de vacatio legis. Aliás, normalmente as leis
Nacional, de qualquer de suas casas e qualquer membro ou entram em vigor na data da publicação. Em duas hipóte-
comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou ses, porém, a vacatio legis é obrigatória:
do Congresso Nacional. Será também admitido projeto de a) Lei que cria ou aumenta contribuição social para a
lei de consolidação destinado exclusivamente à declaração Seguridade Social. Só pode entrar em vigor noven-
de leis ou dispositivos implicitamente revogados ou cuja ta dias após sua publicação (art. 195, § 6.º, da CF).
eficácia ou validade encontra-se completamente prejudi- b) Lei que cria ou aumenta tributo. Só pode entrar em
cada, outrossim, para inclusão de dispositivos ou diplomas vigor noventa dias da data que haja sido publicada,
esparsos em leis preexistentes (art. 14, § 3º, da LC 95/1998, conforme art. 150, III, c, da CF, com redação de-
com redação alterada pela LC 107/2001). terminada pela EC 42/2003. Saliente-se, ainda, que
Por outro lado, a compilação consiste num repertó- deve ser observado o princípio da anterioridade.
rio de normas organizadas pela ordem cronológica ou
Em contrapartida, em três hipóteses, a vigência é ime-
matéria.
diata, sem que haja vacatio legis, a saber:
Finalmente, o Estatuto é a regulamentação unitária
a) Atos Administrativos. Salvo disposição em contrá-
dos interesses de uma categoria de pessoas. Exemplos:
rio, entram em vigor na data da publicação (art.
Estatuto do Idoso, Estatuto do Índio, Estatuto da Mu-
103, I, do CTN).
lher Casada, Estatuto da Criança e do Adolescente. No
b) Emendas Constitucionais. No silêncio, como escla-
concernente ao consumidor, o legislador optou pela de- rece Oscar Tenório, entram em vigor no dia da sua
nominação Código do Consumidor, em vez de Estatuto, publicação.
porque disciplina o interesse de todas as pessoas, e não c) Lei que cria ou altera o processo eleitoral. Tem vi-
de uma categoria específica, tendo em vista que todos gência imediata, na data da sua publicação, toda-
podem se enquadrar no conceito de consumidor. via, não se aplica à eleição que ocorra até um ano
da data de sua vigência (art. 16 da CF).
Vigência das Normas
Cláusula de Vigência
Sistema de Vigência
Cláusula de vigência é a que indica a data a partir da
O Direito é uno. A sua divisão em diversos ramos é qual a lei entra em vigor.
apenas para fins didáticos. Por isso, o estudo da vigência Na ausência dessa cláusula, a lei começa a vigorar
e eficácia da lei é aplicável a todas as normas jurídicas e em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada.
não apenas às do Direito Civil. Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
Dispõe o art. 1.º da Lei de Introdução às Normas do brasileira, quando admitida, inicia-se três meses depois
Direito Brasileiro que: “Salvo disposição contrária, a lei de oficialmente publicada. A obrigatoriedade da lei
começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) nos países estrangeiros é para os juízes, embaixadas,
dias depois de oficialmente publicada”. Acrescenta seu § consulados, brasileiros residentes no estrangeiro e para
1.º: “Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei todos os que fora do Brasil tenham interesses regulados
brasileira, quando admitida, se inicia 3 (três) meses de- pela lei brasileira. Saliente-se, contudo, que o alto mar
pois de oficialmente publicada”. não é território estrangeiro, logo, no silêncio, a lei entra
Vê-se, portanto, que se adotou o sistema do prazo de em vigor 45 dias depois da publicação (Oscar Tenório).
vigência único ou sincrônico, ou simultâneo, segundo o Os prazos de 45 dias e de três meses, mencionados
qual a lei entra em vigor de uma só vez em todo o país. acima, aplicam-se às leis de direito público e de direito
O sistema de vigência sucessiva ou progressiva, pelo privado, outrossim, às leis federais, estaduais e municipais,
qual a lei entra em vigor aos poucos, era adotado pela bem como aos Tratados e Convenções, pois estes são leis
antiga Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. e não atos administrativos.
Com efeito, três dias depois de publicada, a lei entrava Conforme preceitua o § 2.º do art. 8.º da LC 95/1998,
DIREITO CIVIL

em vigor no Distrito Federal, 15 dias depois no Rio de Ja- as leis que estabelecem período de vacância deverão
neiro, 30 dias depois nos Estados marítimos e em Minas utilizar a cláusula “esta lei entra em vigor após decorridos
Gerais, e 100 dias depois nos demais Estados. (o número de) dias de sua publicação oficial”. No silêncio,
porém, o prazo de vacância é de 45 dias, de modo que
continua em vigor o art. 1º da LINDB.

2
Forma de Contagem Assim, uma vez em vigor, todas as pessoas sem
distinção devem obedecer a lei, inclusive os incapazes,
Quanto à contagem do prazo de vacatio legis, dispõe pois ela se dirige a todos.
o art. 8.º, § 1.º, da LC 95/1998, que deve ser incluído o Diversas teorias procuram justificar a regra acima. Para
dia da publicação e o último dia, devendo a lei entrar em uns, trata-se de uma presunção jure et jure, legalmente
vigor no dia seguinte. estabelecida (teoria da presunção). Outros defendem a
Conta-se o prazo dia a dia, inclusive domingos e teoria da ficção jurídica. Há ainda os adeptos da teoria da
feriados, como salienta Caio Mário da Silva Pereira. O necessidade social, segundo a qual a norma do art. 3.º da
aludido prazo não se suspende nem se interrompe, LINDB é uma regra ditada por uma razão de ordem social
entrando em vigor no dia seguinte ao último dia, ainda e jurídica, sendo, pois, um atributo da própria norma.
que se trate de domingo e feriado. Aludido princípio encontra exceção no art. 8.º da Lei
Convém esclarecer que se a execução da lei depender das Contravenções Penais, que permite ao juiz deixar de
de regulamento, o prazo de 45 dias, em relação a aplicar a pena se reconhecer que o acusado não tinha
essa parte da lei, conta-se a partir da publicação do pleno conhecimento do caráter ilícito do fato.
regulamento (Serpa Lopes).
Princípio Jura Novit Curia
Lei Corretiva
O princípio do jura novit curia significa que o juiz co-
Pode ocorrer de a lei ser publicada com incorreções nhece a lei. Consequentemente, torna-se desnecessário
e erros materiais. Nesse caso, se a lei ainda não entrou provar em juízo a existência da lei.
em vigor, para corrigi-la, não é necessária nova lei,
bastando à repetição da publicação, sanando-se os
Esse princípio comporta as seguintes exceções:
erros, reabrindo-se, destarte, o prazo da vacatio legis em
a) direito estrangeiro;
relação aos artigos republicados. Entretanto, se a lei já
b) direito municipal;
entrou em vigor, urge, para corrigi-la, a edição de uma
c) direito estadual;
nova lei, que é denominada lei corretiva, cujo efeito,
d) direito consuetudinário.
no silêncio, se dá após o decurso do prazo de 45 dias
a contar da sua publicação. Enquanto não sobrevém
Nesses casos, a parte precisa provar o teor e a vigência
essa lei corretiva, a lei continua em vigor, apesar de seus
erros materiais, ressalvando-se, porém, ao juiz, conforme do direito.
esclarece Washington de Barros Monteiro, o poder de
corrigi-la, ainda que faça sentido o texto errado. Princípio da Continuidade das Leis
Por outro lado, se o Poder Legislativo aprova um
determinado projeto de lei, submetendo-o à sanção do De acordo com esse princípio, a lei terá vigor até que
Presidente da República, e este acrescenta determinados outra a modifique ou revogue (art. 2.º da LINDB). Assim,
dispositivos, publicando em seguida o texto, a hipótese só a lei pode revogar a lei. Esta não pode ser revogada
será de inconstitucionalidade, por violação do princípio da por decisão judicial ou por ato do Poder Executivo.
separação dos poderes. De fato, o Presidente da República Em regra, as leis têm efeito permanente, isto é, uma
não pode acrescentar ou modificar os dispositivos vigência por prazo indeterminado, salvo quanto as leis
aprovados pelo Poder Legislativo, devendo limitar-se a de vigência temporária.
suprimi-los, pois, no Brasil, é vedado o veto aditivo ou A não aplicação da lei não implica na renúncia do Es-
translativo, admitindo-se apenas o veto supressivo. tado em atribuir-lhe efeito, pois a lei só pode ser revoga-
da por outra lei.
Local de Publicação das Leis
Repristinação
A lei é publicada no Diário Oficial do Executivo. Nada
obsta a sua publicação no Diário Oficial do Legislativo Repristinação é a restauração da vigência de uma lei
ou Judiciário. Todavia, o termo inicial da vacatio legis é a anteriormente revogada em virtude da revogação da lei
publicação no Diário Oficial do Executivo. revogadora.
Caso o Município ou o Estado-membro não tenham Sobre o assunto, dispõe o § 3º do art. 2.º da LINDB:
imprensa oficial, a lei pode ser publicada na imprensa “salvo disposição em contrário, a lei revogada não se res-
particular. taura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
Nos municípios em que não há imprensa oficial nem Assim, o efeito repristinatório não é automático; só é
particular, a publicação pode ser feita mediante fixação possível mediante cláusula expressa. No silêncio da lei,
em lugar público ou então em jornal vizinho ou no órgão não há falar-se em repristinação. Se, por exemplo, uma
oficial do Estado. terceira lei revogar a segunda, a primeira não volta a vi-
ger, a não ser mediante cláusula expressa.
Princípio da Obrigatoriedade das Leis
DIREITO CIVIL

De acordo com esse princípio, consagrado no art. 3.º


da LINDB, ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando
que não a conhece. Trata-se da máxima: nemine excusat
ignorantia legis.

3
Fontes do Direito Convém, porém, salientar que a classificação das fon-
tes formais do direito é tema polêmico no cenário ju-
Conceito rídico. Numerosos autores propõem sobre o assunto a
seguinte classificação:
As fontes do direito compreendem as causas do sur- a) Fonte formal imediata ou principal ou direta: é a
gimento das normas jurídicas e os modos como elas se lei, pois o sistema brasileiro é o do Civil Law ou
exteriorizam. romano germânico.
b) Fontes formais mediatas ou secundárias: são aque-
São, pois, duas espécies: las que só têm incidência na falta ou lacuna da lei.
- Fontes materiais ou fontes no sentido sociológico Compreendem a analogia, os costumes e os prin-
ou ainda fonte real; cípios gerais do direito (art. 4º da LINDB). Alguns
- Fontes formais. autores ainda incluem a equidade. Na Inglaterra,
que adota o sistema da Common Law, os costumes
Fontes Materiais ou Reais são erigidos a fonte formal principal.

As fontes materiais são as causas determinantes da Quanto à doutrina e jurisprudência, diversos autores
origem da norma jurídica. classificam como sendo fontes não formais do direito.
O assunto extrapola os limites da ciência jurídica, regis- Analisando essa classificação, que divide as fontes
trando conotação metafísica, levando o intérprete a inves- formais em principais e secundárias, ganha destaque o
tigar a razão filosófica, sociológica, histórica, social, ética, enquadramento das súmulas vinculantes editadas pelo
etc., que determinaram o surgimento da norma jurídica. Supremo Tribunal Federal, com base no art. 103-A da CF,
Dentre as fontes materiais, merecem destaques: a so- introduzida pela EC 45/2004. Trata-se, sem dúvida, de
ciologia, a filosofia, a ética, a política, os pareceres dos fonte formal principal, nivelando-se à lei, diante do seu
especialistas, etc. caráter obrigatório.
As fontes materiais, como se vê, abrangem as cau-
sas que influenciaram o surgimento da norma jurídica. Eficácia da Norma
Kelsen nega a essas fontes o caráter científico-jurídico,
considerando apenas as fontes formais. Hipóteses
De fato, a Teoria Pura do Direito de Kelsen elimina
da Ciência Jurídica as influências filosóficas, sociológicas,
A norma jurídica perde a sua validade em duas hipó-
políticas etc.
teses: revogação e ineficácia.
Já a Teoria Egológica, idealizada por Carlos Cossio e,
Desde já cumpre registrar que a lei revogada pode
no Brasil, aceita por Maria Helena Diniz, assevera que “o
manter a sua eficácia em determinados casos. De fato,
jurista deve ater-se tanto as fontes materiais como às
ela continua sendo aplicada aos casos em que há direito
formais, preconizando a supressão da distinção, prefe-
adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
rindo falar em fonte formal-material, já que toda fonte
formal contém, de modo implícito, uma valoração, que Em contrapartida, a lei em vigor, às vezes, não goza
só pode ser compreendida como fonte do direito no sen- de eficácia, conforme veremos adiante.
tido material”.
Revogação
Fontes Formais
Revogação é a cessação definitiva da vigência de uma
As fontes formais do direito compreendem os modos lei em razão de uma nova lei.
pelos quais as normas jurídicas se revelam. Só a lei revoga a lei, conforme o princípio da conti-
Referidas fontes, classificam-se em estatais e não nuidade das leis. Saliente-se que o legislador não pode
estatais. inserir na lei a proibição de sua revogação.
A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial
As fontes estatais, por sua vez, subdividem-se em: (derrogação).
a) Legislativas: Constituição Federal, Leis e Atos Ad- A revogação ainda pode ser expressa, tácita ou glo-
ministrativos; bal.
b) Jurisprudenciais: são as decisões uniformes dos tri- A revogação expressa ou direta é aquela em que a
bunais. Exemplos: súmulas, precedentes judiciais etc. lei indica os dispositivos que estão sendo por ela revo-
c) Convencionais: são os tratados e convenções inter- gados. A propósito, dispõe o art. 9º da LC 107/2001: “A
nacionais devidamente ratificados pelo Brasil. cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente,
as leis ou disposições legais revogadas”.
As fontes não estatais são as seguintes: A revogação tácita ou indireta ocorre quando a nova
a) Costume Jurídico: direito consuetudinário; lei é incompatível com a lei anterior, contrariando-a de
b) Doutrina: direito científico; forma absoluta. A revogação tácita não se presume, pois
DIREITO CIVIL

c) Convenções em geral ou negócios jurídicos. De é preciso demonstrar essa incompatibilidade. Saliente-se,


fato, os contratos e outros negócios jurídicos são contudo, que a lei posterior geral não revoga lei especial.
evidentemente celebrados com o fim de produzir Igualmente, a lei especial não revoga a geral (§2º do art.
efeito jurídico e por isso torna-se inegável o seu 2º da LINDB). Assim, o princípio da conciliação ou das es-
ingresso no rol das fontes formais. feras autônomas consiste na possibilidade de convivên-

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cia das normas gerais com as especiais que versem sobre único, da CF permite, por exemplo, que lei estadual verse
o mesmo assunto. Esse princípio, porém, não é absoluto. sobre questões específicas de Direito Civil, desde que au-
De fato, a lei geral pode revogar a especial e vice-versa, torizada por lei complementar. Todavia, a validade da lei
quando houver incompatibilidade absoluta entre essas estadual não depende da aprovação do Governo Federal.
normas; essa incompatibilidade não se presume; na dú- O §2º do art. 1º da LINDB, que exigia essa aprovação
vida, se considerará uma norma conciliável com a outra, violadora do princípio federativo, foi revogado expressa-
vale dizer, a lei posterior se ligará à anterior, coexistindo mente pela Lei 12.036/2009.
ambas. Sobre o significado da expressão “revogam-se as
disposições em contrário”, Serpa Lopes sustenta que se
trata de uma revogação expressa, enquanto Caio Mário #FicaDica
da Silva Pereira, acertadamente, preconiza que essa fór-
mula designa a revogação tácita. Trata-se de uma cláu- As normas previstas na CF só podem ser
sula inócua, pois de qualquer maneira as disposições são revogadas por emendas constitucionais,
revogadas, por força da revogação tácita prevista no § 1º desde que não sejam violadas as cláusulas
do art. 2º da LINDB. Convém lembrar que o art. 9º da LC pétreas.
107/2001 determina que a cláusula de revogação deverá
enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais
revogadas, de modo que o legislador não deve mais se Princípio da Segurança e da Estabilidade Social
valer daquela vaga expressão “revogam-se as disposi-
ções em contrário”. De acordo com esse princípio, previsto no art. 5º, inc.
A revogação global ocorre quando a lei revogado- XXXVI da CF, a lei não pode retroagir para violar o direito
ra disciplina inteiramente a matéria disciplinada pela lei adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. De-
antiga. Nesse caso, os dispositivos legais não repetidos vem ser respeitadas, portanto, as relações jurídicas cons-
são revogados, ainda que compatíveis com a nova lei. tituídas sob a égide da lei revogada.
Regular inteiramente a matéria significa discipliná-la de - Direito Adquirido: é o que pode ser exercido desde
maneira global, no mesmo texto. já por já ter sido incorporado ao patrimônio jurídi-
co da pessoa. O §2º do art. 6º da LINDB considera
Competência para revogar as Leis também adquirido:
a) O direito sob termo. O art.131 do CC também reza
Federação é a autonomia recíproca entre a União, Es- que o termo, isto é, o fato futuro e certo, suspende
tados-Membros e Municípios. Trata-se de um dos mais o exercício, mas não a aquisição do direito.
sólidos princípios constitucionais. Por força disso, não há b) O direito sob condição preestabelecida inalterável
hierarquia entre lei federal, lei estadual e lei municipal. a arbítrio de outrem: Trata-se, a rigor, de termo,
Cada uma das pessoas políticas integrantes da Federa- porque o fato é futuro e certo, porquanto inalte-
ção só pode legislar sobre matérias que a Constituição rável pelo arbítrio de outrem. Exemplo: Dar-te-ei a
Federal lhes reservou. A usurpação de competência gera minha casa no dia que chover, sob a condição de
a inconstitucionalidade da lei. Assim, por exemplo, a lei João não impedir que chova. Ora, chover é um fato
federal não pode versar sobre matéria estadual. Igual- certo e inalterável pelo arbítrio de João e, portanto,
mente, a lei federal e estadual não podem tratar de as- trata-se de termo, logo o direito é adquirido.
sunto reservado aos Municípios.
Força convir, portanto, que lei federal só pode ser re- - Ato Jurídico Perfeito: é o já consumado de acordo
vogada por lei federal; lei estadual só por lei estadual; e com a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
lei municipal só por lei municipal. Exemplo: contrato celebrado antes da promulga-
No que tange às competências exclusivas, reservadas ção do Código Civil não é regido por este diploma
pela Magna Carta a cada uma dessas pessoas políticas, legal, e sim pelo Código Civil anterior.
não há falar-se em hierarquia entre leis federais, esta- - Coisa Julgada: é a sentença judicial de que já não
duais e municipais, pois deve ser observado o campo caiba mais recurso. É, pois, a imutabilidade da sen-
próprio de incidência sobre as matérias previstas na CF. tença.
Tratando-se, porém, de competência concorrente, re-
ferentemente às matérias previstas no art. 24 da CF, atri- Atente-se que a Magna Carta não impede a edição de
buídas simultaneamente à União, aos Estados e ao Distri- leis retroativas; veda apenas a retroatividade que atinja o
to Federal, reina a hierarquia entre as leis. Com efeito, à direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
União compete estabelecer normas gerais, ao passo que A retroatividade, consistente na aplicação da lei a fatos
aos Estados-membros e ao Distrito Federal competem ocorridos antes da sua vigência, conforme ensinamento do
legislar de maneira suplementar, preenchendo os vazios Min. Celso de Melo, é possível mediante dois requisitos:
deixados pela lei federal. Todavia, inexistindo lei federal a) cláusula expressa de retroatividade;
sobre normas gerais, os Estados exercerão a competên- b) respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito
DIREITO CIVIL

cia legislativa plena, para atender as suas peculiaridades. e coisa julgada.


A superveniência de lei federal sobre normas gerais sus-
pende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Assim, a retroatividade não se presume, deve resul-
Algumas Leis estaduais, para serem editadas, dependem tar de texto expresso em lei e desde que não viole o di-
de autorização de lei complementar. O art. 22, parágrafo reito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

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Abre-se exceção à lei penal benéfica, cuja retroatividade a expressão “lei” mencionada no inciso XXXVI do
é automática, vale dizer, independe de texto expresso, art.5º da CF estende-se também às Emendas Cons-
violando inclusive a coisa julgada. titucionais, logo elas não poderiam retroagir para
violar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e
Podemos então elencar três situações de retroativi- a coisa julgada.
dade da lei: d) O parágrafo único do art. 2.035 do CC prevê a re-
a) lei penal benéfica; troatividade das normas de ordem pública, tais
b) lei com cláusula expressa de retroatividade, des- como as que visam assegurar a função social da
de que não viole o direito adquirido, o ato jurídico propriedade e dos contratos. Assim, referido dis-
perfeito e a coisa julgada. Na área penal, porém, positivo legal consagrou a retroatividade das nor-
é terminantemente vedada a retroatividade de lei mas de ordem pública, acolhendo o posiciona-
desfavorável ao réu. mento doutrinário de Serpa Lopes e outros juristas
c) lei interpretativa: é a que esclarece o conteúdo de de escol. A menção à retroatividade dos preceitos
outra lei, tornando obrigatória uma exegese, que do Código Civil sobre a função social da proprieda-
já era plausível antes de sua edição. É a chamada de e dos contratos, a meu ver, é meramente exem-
interpretação autêntica ou legislativa. A lei inter- plificativa, porquanto em outras situações a lei de
pretativa não cria situação nova; ela simplesmente ordem pública também poderá retroagir.
torna obrigatória uma exegese que o juiz, antes
mesmo de sua publicação, já podia adotar. Aludi- É preciso, no entanto, compatibilizar o preceito legal
da lei retroage até a data de entrada em vigor da que prevê a retroatividade das normas de ordem pública
lei interpretada, aplicando-se, inclusive, aos casos com os preceitos, legais e constitucionais, que protegem
pendentes de julgamento, respeitando apenas a o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa jul-
coisa julgada. Cumpre, porém, não confundir lei gada.
interpretativa, que simplesmente opta por uma Em relação ao direito adquirido e ato jurídico perfei-
exegese razoável, que já era admitida antes da sua to (por exemplo: contratos já celebrados), não se nega a
edição, com lei que cria situação nova, albergando aplicabilidade imediata da lei de ordem pública, para fa-
exegese até então inadmissível. Neste último caso, zer cessar os efeitos que a contrariam, como no exemplo
a retroatividade só é possível mediante cláusula clássico da lei que passou a proibir a usura, consideran-
expressa, desde que não viole o direito adquirido, do-a crime, subsistindo, porém, os efeitos pretéritos, isto
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. é, que fluíram até a data da entrada em vigor da lei, mas
que, a partir dela, como salienta Serpa Lopes, não podem
Em algumas situações, porém, uma parcela da doutri- mais ser exigidos.
na admite a retroatividade de uma norma, inclusive para Portanto, nos atos ou negócios de execução conti-
violar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa nuada, a proteção ao direito adquirido ou ao ato jurídico
julgada. As hipóteses são as seguintes: perfeito, que está estabelecido no plano constitucional,
a) A Lei penal benéfica pode retroagir, conforme já é limitada à data de entrada em vigor da lei de ordem
vimos, para violar a coisa julgada (art.5º, XL, da CF). pública, estancando os seus efeitos a partir de então.
b) Princípio da relativização da coisa julgada: A flexi- De fato, nenhum direito é absoluto. Todo direito deve
bilização da coisa julgada passou a ter importância ser protegido à vista de uma finalidade ética. Se um fato
a partir da análise de decisões que transitaram em anteriormente lícito tornou-se ilícito em razão de uma
julgado, não obstante a afronta à Constituição Fe- nova lei, esta deve ser aplicada imediatamente sob pena
deral, outrossim, no tocante às decisões distantes de, sob o manto do direito adquirido ou ato jurídico per-
dos ditames da justiça. É inexigível o título judicial feito, permitir-se que a ilicitude perdure no seio da socie-
fundado em lei ou ato normativo declarados in- dade, contrariando os fins do Direito, que é combatê-la.
constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou Portanto, o direito adquirido e o ato jurídico perfeito não
fundado em aplicação ou interpretação da lei ou podem sobrepor-se à função do próprio Direito.
ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Fede- A argumentação acima, a meu ver, resolve o proble-
ral como incompatíveis com a Constituição Fede- ma da aplicação imediata, que, no entanto, não se con-
ral. Para o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, funde com a retroatividade, isto é, a aplicação da lei de
José Augusto Delgado, a coisa julgada não deve ordem pública aos negócios jurídicos celebrados antes
ser via para o cometimento de injustiças, pois se de sua vigência para considerá-los ineficazes desde a
assim fosse se estaria fazendo o mau uso do Di- data da sua celebração.
reito, que não estaria atendendo aos seus ideais Em princípio, prevalece a Escala Ponteana, os planos
de justiça. de existência e validade regem-se pela lei vigente ao
c) Emenda Constitucional pode retroagir para violar o tempo de sua celebração, enquanto o plano da eficácia
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa submete-se à lei de ordem pública vigente ao tempo dos
julgada, porque, no plano hierárquico, posiciona- efeitos. Dentro dessa visão, a lei de ordem pública super-
DIREITO CIVIL

-se acima da lei, sendo que apenas a lei, segundo veniente não poderia afetar a existência ou validade do
o art.5º, inciso XXXVI, da CF, não pode retroagir negócio jurídico, mas apenas os seus efeitos.
para prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico Imaginemos, porém, que o sujeito tenha adquirido
perfeito e a coisa julgada. Este posicionamento, no uma fazenda num tempo em que o desmatamento era
entanto, é minoritário, prevalecendo a tese de que permitido e posteriormente leis ambientais proibissem

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ou limitassem esse seu direito. Ora, não há, nesse caso, pondo-o à norma legal não imperativa. De acordo
que se falar em prevalência do direito adquirido, pois com Serpa Lopes, a realidade, através de um cos-
a pretensão, até então lícita, tornou-se ilícita, colidindo tume reiterado, enraizado nos dados sociológicos,
com os novos postulados do ordenamento jurídico, im- em harmonia com as necessidades econômicas e
pondo-se, pois, a retroatividade da nova lei. morais de um povo, é capaz de revogar a norma.
Outro exemplo: João celebra com Pedro um contrato Não se trata, data venia, de revogação, pois esta só
de venda de determinada mercadoria, para ser entregue é produzida pelo advento de uma nova lei; a hipó-
em 30 (trinta) dias. Antes desse prazo, porém, surge uma tese é de ineficácia. Como exemplos de costumes
lei proibindo a comercialização dessa mercadoria. A meu contra legem, podemos citar: a emissão de cheque
ver, o contrato, anteriormente válido, deve ser extinto, pré-datado; a expedição de triplicata pelo fato da
impondo-se a retroatividade da nova lei, inviabilizando- duplicata não ter sido devolvida tornou-se praxe,
-se a entrega da mercadoria, sob pena de o ato jurídico embora a lei preveja para a hipótese o protesto por
perfeito funcionar como exceção à ilicitude, contrariando indicações, ao invés da triplicata; admissibilidade
a função do próprio Direito. de prova testemunhal em contrato superior a dez
Nesse caso, a máxima res perit domino soluciona o salários mínimos, nos casos em que o costume dis-
problema, devendo a superveniência de lei de ordem pensar a prova escrita exigida pela lei.
pública ser equiparada a caso fortuito ou força maior, re- d) decisão do STF declarando a lei inconstitucional
solvendo-se o negócio nos termos do art. 234 do CC. De em ação direta de inconstitucionalidade (controle
fato, a ilicitude superveniente da prestação representa a por via de ação ou aberto). Cumpre observar que
destruição jurídica desta, equiparando-se ao perecimen- essa decisão judicial não revoga a lei, apenas retira
to material. a sua eficácia.
Vê-se, assim, que o princípio da segurança jurídica e) resolução do Senado Federal cancelando a eficácia
não é absoluto. Ele sucumbe diante da superveniência de lei declarada incidentalmente inconstitucional
de lei de ordem pública e, a meu ver, com maior razão, pelo STF (controle por via de exceção ou difuso).
em virtude da Emenda Constitucional, pois a manuten- f) princípio da anterioridade da lei tributária, pois,
ção de privilégios, como certas aposentadorias conflitan- uma vez publicada, sua eficácia permanece sus-
tes com os novos postulados do ordenamento jurídico,
pensa até o exercício financeiro seguinte.
não devem persistir acobertadas pelo manto do direito
g) a lei que altera o processo eleitoral entra em vigor
adquirido, porque a par desse princípio, há, no Estado
na data de sua publicação, mas não tem eficácia
Democrático de Direito, outros mais importantes.
em relação à eleição que ocorra até um ano da
data de sua vigência.
Ineficácia
Em decorrência da publicação da lei federal nº 13.655,
Vimos que a lei só é revogada em razão da superve-
houve mudanças na Lei de Introdução às Normas do Di-
niência de uma nova lei. Em certas hipóteses, porém, a lei
perde a sua validade, deixando de ser aplicada ao caso reito Brasileiro, com aplicações nas decisões administra-
concreto, não obstante conserve a sua vigência em razão tivas, controladoras e judiciais, ou seja, decisões dos Tri-
da inexistência da lei superveniente revogadora. bunais de Contas (TCU, TCE e TCM).
Assim, é possível a ineficácia de uma lei vigente, bem Ela traz mais responsabilidades ao gestor, especial-
como a eficácia de uma lei revogada. Essa última hipó- mente a novel obrigação de fundamentar suas decisões,
tese ocorre quando a lei revogada é aplicada aos casos analisando as questões práticas e os resultados que ela
em que há direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa produzirá no mundo jurídico. O artigo 20 exige da admi-
julgada. nistração que em suas decisões, sejam consideradas as
consequências práticas que redundará no mundo jurídi-
Malgrado a sua vigência, a lei é ineficaz, isto é, inapli- co, afastando-se de decisões fundadas em direitos abs-
cável nas seguintes hipóteses: tratos e que haja a explicitação da verdadeira motivação
a) caducidade: ocorre pela superveniência de uma si- para os atos administrativos, despachos e decisões.
tuação cronológica ou factual que torna a norma Já o artigo seguinte referenda o texto já trazido nos
inválida, sem que ela precise ser revogada. Exem- antecedentes, ou seja, o legislador quer que o operador
plo: leis de vigência temporária. do direito haja com responsabilidade, principalmente
b) desuso: é a cessação do pressuposto de aplicação valorizando o interesse público, que deve sobrepor aos
da norma. Exemplo: a lei que proíbe a caça da ba- demais. E dependendo da situação a sua fundamentação
leia deixará de ser aplicada se porventura desapa- deverá dar alternativa para o caso em questão. Desta for-
recerem todas as baleias do planeta. ma, ao obrigar o magistrado a indicar outra solução, que
c) costume negativo ou contra legem: é o que con- não seja a paralisação da obra, de modo a regularizar a
traria a lei. O costume não pode revogar a lei, por situação e não gerar maiores prejuízos aos cidadãos, o
força do princípio da continuidade das leis. Toda- legislador amplia os deveres desses.
DIREITO CIVIL

via, prevalece a opinião de que ele pode gerar a O artigo 22 se refere a obstáculos e dificuldades reais
ineficácia da lei, desde que não se trate de lei de do gestor, reiterando que as decisões que anulam atos
ordem pública. Como ensina Rubens Requião, ve- públicos, contratos, ajustes, processos ou normas admi-
rificada que a intenção das partes foi a de adotar nistrativas, deverão de fundamentar nas consequências,
certos costumes, o julgador deve aplicá-lo, sobre- levando em consideração as circunstâncias práticas que

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a suspensão daquele ato pode impor ao gestor ou ao § 4º As correções a texto de lei já em vigor conside-
administrado, que sofrerá ao dar cumprimento à decisão ram-se lei nova.
administrativa ou judicial.
Ao afirmar que as sanções aplicadas ao agente serão
levadas em conta na dosimetria das demais sanções de PESSOAS NATURAIS. CONCEITO. INÍCIO
mesma natureza e relativas ao mesmo fato, o legislador DA PESSOA NATURAL. PERSONALIDADE.
passa a tornar heterogênea as decisões das esferas penal, CAPACIDADE. DIREITOS DA
civil e administrativa. Não pode um gestor ser absolvido na PERSONALIDADE. NOME CIVIL. ESTADO
ação penal e condenado na ação de improbidade, sem que CIVIL. DOMICÍLIO. AUSÊNCIA.
se considere a decisão da sentença que o absolveu.
Os artigos 23 e o 24 exigem do juiz e do gestor, que
estabeleçam parâmetros em suas decisões, fazendo revi- Conforme entendimento doutrinário personalida-
são do ato administrativo, do ato judicial, que não con- de e capacidade jurídica transmite a ideia de personali-
siderou fato novo, mesmo tendo sido este exibido no dade, que revela a aptidão genérica para adquirir direitos
processo. O princípio da revisão já está entranhado nos e contrair obrigações.
princípios administrativos. O poder/dever de rever atos Segundo Maria Helena Diniz: a pessoa natural o sujei-
prejudiciais aos cidadãos e aos próprios interesses públi- to ‘das relações jurídicas e a personalidade, a possibilida-
cos, é inerente à responsabilidade do gestor. de de ser sujeito, toda pessoa é dotada de personalidade.
Já o artigo 26 regula a hipótese de assunção de com- Esta tem sua medida na capacidade, que é reconhecida,
promisso, entre o particular e a administração, creio que num sentido de universalidade, no art. 12 do Código Ci-
até entre o particular, jurisdicionado e o investigado, pro- vil, que, ao prescrever “toda pessoa é capaz de direitos e
cessado ou sentenciado, sempre visando o interesse pú- deveres”, emprega o termo “pessoa” na acepção de todo
blico. O artigo seguinte fixa a possibilidade do gestor ou ser humano, sem qualquer distinção de sexo, idade, cre-
do juiz decidir impondo compensações à administração, do ou raça.
em casos de erros formais, que não constituam infração - Capacidade de direito e capacidade de exercício: À
graves e que possam ser reparados, quando se detec-
aptidão oriunda da personalidade para adquirir di-
ta que o administrado recebeu benefícios indevidos ou
reitos e contrair obrigações na vida civil dá-se o
causou prejuízos à administração.
nome de capacidade de gozo ou de direito.
O artigo 29 traz regramento sobre a soberania popu-
- Quando o Código enuncia, no seu art. 1º, que toda
lar, impondo regras a este princípio, há também outros
pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem ci-
princípios dentro da referida lei: princípio da motivação
vil, não dá a entender que possua concomitante-
e da consequência do ato administrativo, princípio da
mente o gozo e o exercício desses direitos, pois
fundamentação e da justificativa, princípio da obediên-
cia aos obstáculos reais, princípio do respeito à transição, nas disposições subsequentes faz referência àque-
princípio da revisão, princípio da obediência aos com- les que tendo o gozo dos direitos civis não podem
promissos, princípio da compensação, princípio da vin- exercê-los, por si, ante o fato de, em razão de me-
culação aos pareceres, princípio da soberania popular e noridade ou de insuficiência somática, não terem a
o princípio da segurança jurídica. capacidade de fato ou de exercício.

Para discorrer sobre este tema, iremos trazer o enten-


dimento da professora Maria Helena Diniz:
EXERCÍCIO COMENTADO
Começo da personalidade natural:
1. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa – Pelo Código Civil, para que um ente seja pessoa e
CESPE). Julgue o item a seguir, à luz da Lei de Introdução adquira personalidade jurídica, será suficiente que tenha
ao Código Civil — Lei de Introdução às Normas do Direi- vivido por um segundo.
to Brasileiro. Se a lei não dispuser em sentido diverso, a
sua vigência terá início noventa dias após a data de sua - Direitos do nascituro:
publicação. Conquanto comece do nascimento com vida a perso-
nalidade civil do homem, a lei põe a salvo, desde a con-
( ) CERTO ( ) ERRADO cepção, os direitos do nascituro (CC, ais. 22, 1.609, 1.779
e parágrafo único e 1.798), como o direito à vida (CF,
Resposta: Letra B. art. 52, CP, ais. 124 a 128, 1 e II), à filiação (CC, ais. 1.596
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vi- e 1.597), à integridade física, a alimentos (RT 650/220;
gorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de RJTJSP 150/906), a uma adequada assistência pré-natal,
oficialmente publicada. a um curador que zele pelos seus interesses em caso de
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da incapacidade de seus genitores, de receber herança (CC,
lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses de- arts. 1.798 e 1.800, § 3º), de ser contemplado por doação
DIREITO CIVIL

pois de oficialmente publicada. (CC, art. 542), de ser reconhecido como filho etc.
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova Poder-se-ia até mesmo afirmar que, na vida intrau-
publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo terina, tem o nascituro, e na vida extrauterina, tem o
deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a embrião, personalidade jurídica formal, no que atina aos
correr da nova publicação. direitos personalíssimos, ou melhor, aos da personalida-

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de, visto ter a pessoa carga genética diferenciada desde vido à idade não atingiram o discernimento para
a concepção, seja ela in vivo ou in vitro (Recomendação distinguir o que podem ou não .fazer que lhes, é
n. 1.046/89, n. 7 do Conselho da Europa), passando a ter conveniente ou prejudicial Por isso para a validade
a personalidade jurídica material, alcançando os direitos dos seus atos, será preciso que estejam represen-
patrimoniais, que permaneciam em estado potencial, so- tados por seu pai, por sua mãe, ou por tutor.
mente com o nascimento com vida (CC, art. 1.800, § 3º).
Se nascer com vida, adquire personalidade jurídica mate- Já em relação aos relativamente incapazes:
rial, mas, se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial - Incapacidade relativa: A incapacidade relativa diz
terá. respeito àqueles que podem praticar por si os atos
da vida civil desde que assistidos por quem o di-
Momento da consideração jurídica do nascituro: reito encarrega desse ofício, em razão de paren-
Ante as novas técnicas de fertilização in vitro e do tesco, de relação de ordem civil ou de designação
congelamento de embriões humanos, houve quem le- judicial, sob pena de anulabilidade daquele ato
vantasse o problema relativo ao momento em que se (CC, art. 171), dependente da iniciativa do lesado,
deve considerar juridicamente o nascitum, entendendo- havendo até hipóteses em que tal ato poderá ser
-se que a vida tem início, naturalmente, com a concepção confirmado ou ratificado. Há atos que o relativa-
no ventre materno. Assim sendo, na fecundação na pro- mente incapaz pode praticar, livremente, sem au-
veta, embora seja a fecundação do óvulo, pelo esperma- torização.
tozoide, que inicia a vida, é a nidação do zigoto ou ovo - Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos: Os
que a garantirá; logo, para alguns autores, o nascituro só maiores de dezesseis e menores de dezoito anos
será “pessoa” quando o ovo fecundado for implantado só poderão praticar atos válidos se assistidos pelo
no útero materno, sob a condição do nascimento com seu representante. Caso contrário, serão anuláveis.
vida. O embrião humano congelado não poderia ser tido - Ébrios habituais ou viciados em tóxicos: Alcoólatras,
como nascituro, apesar de dever ter proteção jurídica dipsômanos e toxicômanos. Aqueles que, por cau-
como pessoa virtual, com uma carga genética própria. sa transitória ou permanente, não puderem expri-
Embora a vida se inicie com a fecundação, e a vida viável mir sua vontade: Abrangidos estão, aqui: os fracos
com a gravidez, que se dá com a nidação, entendemos de mente, surdos mudos e portadores de anomalia
que na verdade o início legal da consideração jurídica da psíquica que apresentem sinais de desenvolvimen-
personalidade é o momento da penetração do esperma- to mental incompleto, comprovado e declarado
tozoide no óvulo, mesmo fora do corpo da mulher. Por em sentença de interdição, que os tornam incapa-
isso, a Lei n. 8.974/95, nos arts. 8, II, III e IV, e 13, veio a zes de praticar atos na vida civil, sem a assistência
reforçar, em boa hora, essa ideia não só ao vedar: de um curador (CC, art. 1.767. IV). E portadores de
a) manipulação genética de células germinais huma- deficiência mental, que sofram redução na sua ca-
nas; pacidade de entendimento, não poderão praticar
b) intervenção em material genético humano in vivo, atos na vida civil sem assistência de curador (CC,
salvo para o tratamento de defeitos genéticos; art. 1.767, III). Desde que interditos.
c) produção, armazenamento ou manipulação de em- - Pródigos: São considerados relativamente incapa-
briões humanos destinados a servir como material zes os pródigos, ou seja, aqueles que, comprovada,
biológico disponível, como também ao considerar habitual e desordenadamente, dilapidam seu pa-
tais atos como crimes, punindo-os severamente. trimônio, fazendo gastos excessivos. Com a inter-
dição do pródigo, privado estará ele dos atos que
Com isso, parece-nos que a razão está com a teoria possam comprometer seus bens, não podendo,
concepcionista, uma vez que o Código Civil resguarda sem a assistência de seu curador (CC, art. 1.767, V),
desde a concepção os direitos do nascituro e além disso, alienar, emprestar, dar quitação, transigir, hipote-
no art. 1.597, presume concebido na constância do casa- car, agir em juízo e praticar, em geral, atos que não
mento o filho havido, a qualquer tempo, quando se tratar sejam de mera administração (CC, art. 1.782).
de embrião excedente, decorrente de concepção artificial
heteróloga. A capacidade dos indígenas será regulada por legis-
lação especial.
#FicaDica
#FicaDica
Para ser considerado pessoa e adquirir a per-
Absolutamente E Relativamente Incapaz Não É
sonalidade jurídica basta ter vivido apenas um
A Mesma Coisa!
segundo!

Quanto à maioridade, Maria Helena Diniz defende


DIREITO CIVIL

Em relação aos incapazes, são considerados absolu- que a incapacidade cessará quando o menor completar
tamente incapazes: dezoito anos, segundo nossa legislação civil. Ao atingir
- Menoridade de dezesseis anos: Os menores de de- dezoito anos a pessoa tornar-se-á maior, adquirindo a
zesseis anos são tidas como absolutamente inca- capacidade de fato, podendo, então, exercer pessoal-
pazes para exercer atos na vida civil, porque de- mente os atos da vida civil.

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- Emancipação expressa ou voluntária: Antes da ressado, convertendo-se a sucessão provisória em defini-
maioridade legal, tendo o menor atingido dezes- tiva. Se o ausente retornar em até dez anos após a aber-
seis anos, poderá haver a outorga de capacidade tura da sucessão definitiva, terá os bens no estado em
civil por concessão dos pais, no exercício do po- que se encontrarem e direito ao preço que os herdeiros
der familiar, mediante escritura pública inscrita no houverem recebido com sua venda. Porém, se regressar
Registro Civil competente (Lei n. 6.015/73, arts. 89 após esses dez anos, não terá direito a nada.
e 90; CC, art. 92, II), independentemente de ho-
mologação judicial. Além dessa emancipação por Morte presumida sem decretação de ausência:
concessão dos pais, ter-se-á a emancipação por Admite-se declaração judicial de morte presumida
sentença judicial, se o menor com dezesseis anos sem decretação de ausência em casos excepcionais, ape-
estiver sob tutela e ouvido o tutor. nas depois de esgotadas todas as buscas e averiguações,
- Emancipação tácita ou legal: A emancipação legal devendo a sentença fixar a data provável do óbito, e tais
decorre dos seguintes casos: casos são:
a) casamento, pois não é plausível que fique sob a au- a) probabilidade da ocorrência da morte de quem se
toridade de outrem quem tem condições de casar encontrava em perigo de vida e
e constituir família; assim, mesmo que haja anula- b) desaparecimento em campanha ou prisão de pes-
ção do matrimônio, viuvez, separação judicial ou soa, não sendo ela encontrada até dois anos após
divórcio, o emancipado por esta forma não retoma o término da guerra.
à incapacidade;
b) exercício de emprego público efetivo, por funcio- A comoriência é a morte de duas ou mais pessoas na
nário nomeado em caráter efetivo (não abrangen- mesma ocasião e em razão do mesmo acontecimento.
do a função pública extranumerária ou em comis- Embora o problema da comoriência, em regra, alcan-
são), com exceção de funcionário de autarquia ou ce casos de morte conjunta, ocorrida no mesmo acon-
entidade paraestatal, que não é alcançado pela tecimento, ela coloca-se, com igual relevância, no que
emancipação. concerne a efeitos dependentes de sobrevivência, na hi-
pótese de pessoas falecidas em locais e acontecimentos
De acordo com o art. 6º a existência da pessoa natural distintos, mas em datas e horas simultâneas ou muito
termina com a morte podendo esta ser morte real ou próximas.
presumida.
- Morte real: Com a morte real, cessa a personalidade - Efeito da morte simultânea no direito sucessório:
jurídica da pessoa natural, que deixa de ser sujeito A comoriência terá grande repercussão na transmis-
de direitos e deveres, acarretando: são de direitos sucessórios, pois, se os comorientes são
a) dissolução do vínculo conjugal e do regime matri- herdeiros uns dos outros, não há transferência de direi-
monial; tos; um não sucederá ao outro, sendo chamados à su-
b) extinção do poder familiar; dos contratos persona- cessão os seus herdeiros ante a presunção juris tantum
líssimos, com prestação de serviço e mandato; de que faleceram ao mesmo tempo. Se dúvida houver
c) cessação da obrigação, alimentos com o falecimen- no sentido de se saber quem faleceu primeiro, o magis-
to do credor; do pacto de preempção; da obriga- trado aplicará o art. 8º, caso em que, então, não haverá
ção oriunda de ingratidão de donatário; á extinção transmissão de direitos entre as pessoas que morreram
de usufrutos; da doação na forma de subvenção na mesma ocasião.
periódica e do encargo da testamentaria.

- Morte presumida: A morte presumida pela lei se #FicaDica


dá ausência de uma pessoa nos casos dos arts 22 a 39
do Código Civil. Se uma pessoa desaparecer, sem dei- A comoriência é a morte de duas ou mais pes-
xar notícias, qualquer interessado na sua sucessão ou o soas na mesma ocasião e em razão do mesmo
Ministério Público poderá requerer ao juiz a declaração acontecimento.
de sua ausência e a nomeação de curador. Se após um
ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se deixou
algum representante. em se passando três anos, sem que De acordo com o art. 11, os direitos da personalida-
dê sinal de vida, poderá ser requerida sua sucessão pro- de são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o
visória (CC, art.. 26) e o início do processo de inventário seu exercício sofrer limitação voluntária, salvo exceções
e partilha de seus bens, ocasião em que a ausência do previstas em lei.
desaparecido passa a ser considerada presumida. Feita - Sanções suscitadas pelo ofendido em razão de
a partilha, seus herdeiros deverão administrar os bens, ameaça ou lesão a direito da personalidade: Os di-
prestando caução real, garantindo a restituição no caso reitos da personalidade destinam-se a resguardar
de o ausente aparecer. Após dez anos do trânsito em a dignidade humana, mediante sanções, que de-
DIREITO CIVIL

julgado da sentença da abertura da sucessão provisória vem ser suscitadas pelo ofendido (lesado direto).
(CC, art. 37), sem que o ausente apareça, ou cinco anos Essa sanção deve ser feita por meio de medidas
depois das últimas notícias do desaparecido que conta cautelares que suspendam os atos que ameacem
com oitenta anos de idade (CC, art. 38), será declarada a ou desrespeitem a integridade físico-psíquica, in-
sua morte presumida a requerimento de qualquer inte- telectual e moral, movendo-se, em seguida, uma

10
ação que irá declarar ou negar a existência da le- A aquisição do sobrenome pode decorrer não só do
são, que poderá ser cumulada com ação ordinária nascimento, por ocasião de sua transcrição no Registro
de perdas e danos a fim de ressarcir danos morais competente reconhecendo sua filiação, também da ado-
e patrimoniais. ção, do casamento, da união estável, ou ato de interessa-
- Lesado indireto: Se se tratar de lesão a interesses do, mediante requerimento ao magistrado.
econômicos, o lesado indireto será aquele que so- A pessoa tem autorização de usar seu nome e de de-
fre um prejuízo em interesse patrimonial próprio, fendê-lo de abuso cometido por terceiro, que, em pu-
resultante de dano causado a um bem jurídico blicação ou representação, venha a expô-la ao desprezo
alheio, podendo a vítima estar falecida ou decla- público — mesmo que não haja intenção de difamar —
rada ausente. A indenização por morte de outrem por atingir sua boa reputação, moral e profissional, no
é reclamada jure próprio, pois ainda que o dano, seio da coletividade (honra objetiva). Em regra, a repara-
que recai sobre a mulher e os filhos menores do ção por essa ofensa é pecuniária, mas há casos em que
finado, seja resultante de homicídio ou acidente, é possível a restauração in natura, publicando-se desa-
quando eles agem contra o responsável, procedem gravo.
em nome próprio, reclamando contra prejuízo que É vedada a utilização de nome alheio em propaganda
sofreram e não contra o que foi irrogado ao ma- comercial, por ser o direito ao nome indisponível, admi-
rido e pai. tindo-se sua relativa disponibilidade mediante consenti-
mento de seu titular, em prol de algum interesse social
Como o exemplo trazido pela autora Maria Helena Di- ou de promoção de venda de algum produto, mediante
niz: a viúva e os filhos menores da pessoa assassinada são pagamento de remuneração convencionada.
lesados indiretos, pois obtinham da vítima do homicídio o A imagem-retrato é a representação física da pessoa
necessário para sua subsistência. A privação de alimentos como um todo ou em partes separadas do corpo, desde
é uma consequência do dano. No caso do dano moral, que identificáveis, implicando o reconhecimento de seu
pontifica Zannoni, os lesados indiretos seriam aquelas pes- titular por meio de fotografia, escultura, desenho, pin-
soas que poderiam alegar um interesse vinculado a bens tura. Intepretação dramática, cinematográfica, televisão,
jurídicos extrapatrimoniais próprios, que se satisfaziam sites etc., que requer autorização do retratado. E a ima-
mediante a incolumidade do bem jurídico moral da vítima gem-atributo é o conjunto de caracteres ou qualidades
direta do fato lesivo. Por ex.: o marido ou os pais poderiam cultivadas pela pessoa, reconhecidos socialmente.
pleitear indenização por injúrias feitas à mulher ou aos fi- Abrange o direito: á própria imagem ou a difusão da
lhos, visto que estas afetariam também pessoalmente o imagem, a imagem das coisas próprias e á imagem em
esposo ou os pais, em razão da posição que eles ocupam coisas, palavras ou escritos ou em publicações; de obter
dentro da unidade familiar. Haveria um dano próprio pela imagem ou de consentir em sua captação por qualquer
violação da honra da esposa ou dos filhos. Ter-se-á sem- meio tecnológico.
pre uma presunção juris tantum de dano moral, em favor O direito à imagem é autônomo, não precisando es-
dos ascendentes, descendentes, cônjuges, irmãos, tios, tar em conjunto com a intimidade, a identidade, a honra
sobrinhos e primos, em caso de ofensa a pessoas da fa- etc. Embora possam estar em certos casos, tais bens a ele
mília mortas ou ausentes. Essas pessoas não precisariam conexos, isso não faz com que sejam partes integrantes
provar o dano extrapatrimonial, ressalvando-se a tercei- um do outro.
ros o direito de elidir aquela presunção. O convivente, ou
concubino, noivo, amigos, poderiam pleitear indenização - Direito de interpretação, direito à imagem e di-
por dano moral, mas terão maior ônus de prova, uma vez reito autoral: O direito de interpretação, ou seja, o do
que deverão provar, convincentemente. o prejuízo e de- ator numa representação de certo personagem, pode
monstrar que se ligavam à vítima por vínculos estreitos de estar conexo como direito à voz, à imagem e com o di-
amizade ou de insuspeita afeição. reito autoral. O autor de obra intelectual pode divulgá-la
por apresentação pública, quando a obra é representada
dramaticamente, executada, exibida, projetada em fita
#FicaDica cinematográfica, transmitida por radiodifusão etc., e é
neste terreno que se situa o contrato de representação
Art. 16 – Toda pessoa tem direito ao nome e execução, de conteúdo complexo por se referir não
(prenome e sobrenome). O nome faz parte só ao desempenho pessoal, mas também à atuação por
da personalidade, pois é o sinal pelo qual a meios mecânicos e eletrônicos dos diferentes gêneros de
pessoa é reconhecida e individualizada. produção intelectual, suscetíveis de comunicação audio-
visual.
Na representação pública há imagens transmitidas
- Elementos constitutivos do nome: Dois, em regra, para difundir obra literária, musical ou artística que de-
são os elementos constitutivos do nome: o pre- verão ser tuteladas juridicamente, juntamente com os
nome próprio da pessoa, que pode ser livremente direitos do autor. Os direitos dos artistas, intérpretes e
DIREITO CIVIL

escolhido, desde que não exponha o portador ao executantes são conexos aos dos escritores, pintores,
ridículo; e o sobrenome, que é o sinal que identifi- compositores, escultores etc. Logo, podem eles impedir
ca a procedência da pessoa, indicando sua filiação a utilização indevida de suas interpretações, bem como
ou estirpe, podendo advir do apelido de família de sua imagem.
paterno, materno ou de ambos.

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- Proteção da imagem como direito autoral: A ima- O direito à privacidade da pessoa contém interesses
gem é protegida pelo art. 52, XXVIII, a, da CF, como jurídicos, por isso seu titular pode impedir ou fazer ces-
direito autoral, desde que ligada à criação intelec- sar invasão em sua esfera íntima, usando para sua defe-
tual de obra fotográfica, cinematográfica, publici- sa: mandado de injunção, habeas data, habeas corpus,
tária etc. mandado de segurança, cautelares inominadas e ação de
- Limitações ao direito à imagem: Todavia, há certas responsabilidade civil por dano moral e patrimonial.
limitações do direito à imagem, com dispensa da
anuência para sua divulgação, quando: Verificado o desaparecimento de uma pessoa do
a) se tratar de pessoa notória, pois isso não consti- seu domicílio, sem dar qualquer notícia de seu paradei-
tui permissão para devassar sua privacidade, pois ro e sem deixar procurador, ou representante, para ad-
sua vida íntima deve ser preservada. A pessoa que ministrar seus bens, o juiz a requerimento de qualquer
se toma de interesse público, pela fama ou signi- interessado, seja ou não parente, bastando que tenha
ficação intelectual, moral, artística ou política não interesse pecuniário ou do Ministério Público, nomeará
poderá alegar ofensa ao seu direito à imagem se um curador para administrar seu patrimônio resguardan-
sua divulgação estiver ligada à ciência, às letras, à do-o.
moral, à arte e apolítica. Isto é assim porque a di- Não havendo bens, não se terá nomeação de curador.
fusão de sua imagem sem seu consenso deve estar Em caso de ausência, a curadoria é dos bens do ausente
relacionada com sua atividade ou com o direito à e não da pessoa do ausente. Há quem ache, acertada-
informação; mente, não se tratar de ausência o desaparecimento de
b) se referir a exercício de cargo público, pois quem alguém num acidente aéreo, rodoviário, ferroviário etc.
tiver função pública de destaque não poderá im- em que, pelos indícios, a sua morte parece óbvia, apesar
pedir que no exercício de sua atividade, seja filma- de não ter sido encontrado seu cadáver já que não há
da ou fotografada, salvo na intimidade; incerteza de seu paradeiro.
c) se procurar atender à administração ou serviço da A nomeação de curador a bens de um ausente dar-
justiça ou de polícia, desde que a pessoa não sofra -se-á mesmo que ele tenha deixado procurador que se
dano à sua privacidade; recuse a administrar seu patrimônio ou que não possa
d) se tiver de garantir a segurança pública nacional, exercer ou continuar o mandato, seja por ter ocorrido o
em que prevalecer o interesse social sobre o parti- término da representação a termo, seja por sua renúncia,
cular, requerendo a divulgação da imagem, p. ex., não aceitando a fortiori o mandato, seja por sua morte
de um procurado pela policia ou a manipulação ou incapacidade. O mesmo se diga se os poderes outor-
de arquivos fotográficos de departamentos poli- gados ao procurador forem insuficientes para a gestão
ciais para identificação de delinquente. Urge não dos bens do ausente.
olvidar que o civilmente identificado não possa ser Com isso, o ausente ficará sem representante que ve-
submetido a identificação criminal, salva nos casos nha a gerir seu patrimônio, urgindo, pois, que se nomeie
autorizados legalmente; curador.
e) se buscar atender ao interesse público, aos fins cul- O curador dos bens do ausente, uma vez nomeado,
turais, científicos e didáticos; terá seus deveres e poderes estabelecidos pelo juiz de
f) se houver necessidade de resguardar a saúde públi- conformidade com as circunstancias do caso. Logo, o
ca. Assim, portador de moléstia grave e contagiosa magistrado, conforme o caso, no ato da nomeação de-
não pode evitar que se noticie o fato; terminará pormenorizadamente as providências a serem
g) se obtiver imagem, em que a figura seja tão-so- tomadas e as atividades a serem realizadas, observando
mente parte do cenário (congresso, enchente, os dispositivos legais, sempre no que forem aplicáveis,
praia, tumulto, show, desfile, festa carnavalesca, reguladores da situação similar dos tutores e curadores,
restaurante etc.), sem que se a destaque, pois se para que a atuação do curador dos bens do ausente seja
pretende divulgar o acontecimento e não a pessoa realmente eficiente e responsável.
que integra a cena; A curadoria dos bens do ausente deverá ser deferida,
h) se tratar de identificação compulsória ou impres- se casado for, não estando separado judicialmente, ao
cindível a algum ato de direito público ou privado. seu cônjuge, para que seu patrimônio não se perca ou
deteriore, assumindo sua administração. Ante o interesse
- Reparação do dano à imagem: O lesado pode plei- na conservação dos bens do ausente, qualquer que seja
tear a reparação pelo dano moral e patrimonial (Súmula o regime matrimonial de bens, seu curador legítimo será
37 do STJ) provocado por violação à sua imagem-retrato seu cônjuge.
ou imagem-atributo e pela divulgação não autorizada - Nomeação de curador dos bens do ausente na fal-
de escritos ou de declarações feitas. Se a vítima vier a ta do cônjuge: Se o ausente que deixou bens não
falecer ou for declarada ausente, serão partes legítimas tiver consorte, nomear-se-á o pai ou a mãe do
para requerer a tutela ao direito à imagem, na qualidade desaparecido como curador, e, na falta destes, os
de lesados indiretos, seu cônjuge, ascendentes ou des- descendentes, desde que tenham idoneidade para
DIREITO CIVIL

cendentes e também, no nosso entender, o convivente, exercer o cargo.


visto ter interesse próprio, vinculado a dano patrimonial - Ordem de nomeação entre os descendentes: Na
ou moral causado a bem jurídico alheio. Este parágrafo curadoria dos bens do ausente cabível a descen-
único do art. 20 seria supérfluo ante o disposto no art. 12, dente seguir-se-á o princípio de que os mais pró-
parágrafo único. ximos excluem os mais remotos.

12
- Escolha de curador dos bens de ausente pelo órgão Os imóveis do ausente, não só os arrecadados, mas
judicante: Na falta de cônjuge, ascendente ou des- também os convertidos por venda dos móveis, não po-
cendente do ausente competirá ao juiz a escolha derão ser alienados, salvo em caso de desapropriação ou
do curador, desde que idôneo a exercer o cargo. por ordem judicial para lhes evitar a ruína.
Os sucessores provisórios, uma vez empossados nos
A curadoria dos bens do ausente perdura por um ano, bens, ficarão representando ativa e passivamente o au-
durante o qual o juiz ordenará a publicação de editais, de sente; logo, contra eles correrão as ações pendentes e
dois em dois meses, convocando o ausente a reaparecer as que de futuro, após a abertura da sucessão provisória,
para retornar seus haveres. àquele se moverem.
- Abertura da sucessão provisória: Passado um ano Consequentemente, o curador dos bens do ausente
da arrecadação dos bens do ausente sem que se não mais será o representante legal, pois, uma vez que
saiba do seu paradeiro, ou, se ele deixou algum os herdeiros, em caráter provisório, entraram na posse da
representante, em se passando três anos, poderão herança, justificativa alguma há para que o curador con-
os interessados requerer que se abra, provisoria- tinue na representação daqueles bens, quer ativa, quer
mente, a sucessão, cessando a curatela. passivamente, ou seja, como réu ou como autor.
Se o sucessor provisório do ausente for seu descen-
A sucessão provisória poderá ser requerida por qual- dente, ascendente ou cônjuge, terá a propriedade de to-
quer interessado: dos os frutos e rendimentos dos bens que a este coube-
a) cônjuge não separado judicialmente; rem, podendo deles dispor como quiser. Se se tratar de
b) herdeiros presumidos legítimos e testamentários; outros sucessores que não aqueles acima enumerados,
c) pessoas que tiverem sobre os bens do ausente di- sendo. p. ex., parentes colaterais, deverão converter a
reito subordinado à condição de morte, ou seja, se metade desses rendimentos e frutos em imóveis ou títu-
houver fideicomisso; los de dívida pública, a fim de garantir sua ulterior e pos-
d) credores de obrigações vencidas e não pagas. sível restituição ao ausente. Tal capitalização deverá ser
feita de acordo com o Ministério Público, que, além de
- Abertura da sucessão provisória pelo Ministério Público: determinar qual o melhor emprego da metade daqueles
Se, findo o prazo legal de um ano, não houver interes- rendimentos, deverá fiscalizá-lo.
sado na sucessão provisória, ou se entre os herdeiros Os sucessores provisórios deverão prestar contas,
houver interdito ou menor, competirá ao Ministério anualmente, ao juiz, do emprego da metade dos frutos e
Público requerer a abertura da sucessão provisória. rendimentos. Se o ausente aparecer e ficar comprovado
- Efeitos da sentença declaratória da abertura da su- que sua ausência foi voluntária e injustificada ele perde-
cessão provisória: A sentença que determinar a rá, em favor dos sucessores provisórios, a parte que lhe
abertura da sucessão provisória produzirá efeitos caberia nos frutos e rendimentos.
somente 180 dias depois de sua publicação pela O sucessor provisório que não pôde entrar na posse
imprensa. Assim que transitar em julgado, ter-se-á
de seu quinhão, por não ter oferecido a garantia legal,
a abertura do testamento, se houver, e proceder-
poderá justificar-se provando a falta de recursos, reque-
-se-á ao inventário e partilha dos bens como se
rendo judicialmente, que lhe seja entregue metade dos
fosse o ausente falecido.
frutos e rendimentos produzidos pela parte que lhe ca-
- Ausência de herdeiro: Se, dentro de trinta dias do
beria, e que foi retida, para poder fazer frente à sua sub-
trânsito em julgado da sentença que manda abrir a
sistência.
sucessão provisória, não aparecer nenhum interes-
Retornando o ausente ou enviando notícias suas, ces-
sado, ou herdeiro, que requeira o inventário, sendo
a sucessão requerida pelo Ministério Público, a he- sarão para os sucessores provisórios todas as vantagens,
rança será considerada jacente. ficando obrigados a tornar medidas assecuratórias até a
devolução dos bens a seu dono, conservando-os e pre-
Para garantir ao ausente a devolução de seus bens, servando-os sob pena de perdas e danos.
por ocasião de sua volta, o juiz, antes da partilha, deve- Sucessores provisórios como herdeiros presuntivos:
rá ordenar a conversão, por meio de hasta pública, dos Os sucessores provisórios são herdeiros presuntivos,
bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em uma vez que administram patrimônio supostamente seu:
imóveis ou em títulos de dívida pública da União, adqui- o real proprietário é o ausente, cabendo-lhe, também a
ridos com o produto obtido. posse dos bens, bem como os seus frutos e rendimentos,
Os herdeiros que forem imitidos na posse dos bens ou seja, o produto da capitalização ordenada pelo art. 3º.
do ausente deverão dar garantias de sua devolução me- O sucessor provisório, com o retorno do ausente, deverá
diante penhor ou hipoteca proporcionais ao quinhão res- prestar contas dos bens e de seus acrescidos, devolven-
pectivo, exceto se ascendentes, descendentes ou cônju- do-os , assim como, se for o caso, os sub-rogados, se não
ge, desde que comprovada a sua qualidade de herdeiros. mais existirem.
- Falta de condição para prestar garantia: Se o herdei- A sucessão definitiva poderá ser requerida dez anos
ro que tiver direito à posse provisória não puder depois de passada em julgado a sentença que concedeu
DIREITO CIVIL

prestar as garantias exigidas no caput deste artigo, abertura de sucessão provisória.


não poderá entrar na posse dos bens, que ficarão
sob a administração de um curador, ou de outro
herdeiro designado pelo magistrado, se prontifi-
que a prestar a referida garantia.

13
Efeitos da abertura da sucessão definitiva: As pessoas jurídicas têm seu domicílio que é sua sede
Com a sucessão definitiva, os sucessores: jurídica, onde os credores podem demandar o cumpri-
a) passarão a ter a propriedade resolúvel dos bens mento das obrigações. Como não têm residência, é o
recebidos; local de suas atividades habituais, de seu governo, ad-
b) perceberão os frutos e rendimentos desses bens, ministração ou direção, ou, ainda, o determinado no ato
podendo utilizá-los como quiser; constitutivo.
c) poderão alienar onerosa ou gratuitamente tais As pessoas jurídicas de direito público interno têm
bens, e por domicílio a sede de seu governo. De maneira que a
d) poderão requerer o levantamento das cauções União aforará as causas na capital do Estado ou Território
prestadas. em que tiver domicílio a outra parte e será demandada,
à escolha do autor, no Distrito Federal ou na capital do
Abertura de sucessão definitiva de ausente com Estado em que se deu o ato que deu origem à demanda,
oitenta anos: ou em que se situe o bem. Os Estados e Territórios têm
Se se provar que o ausente tem oitenta anos de nasci- por sede jurídica as suas capitais, e os Municípios, o lugar
do e que de cinco datam as últimas notícias suas; poder- da Administração municipal.
-se-á ter a abertura da sucessão definitiva, consideran- As pessoas jurídicas de direito privado têm por do-
do-se a média de vida da pessoa, mesmo que não tenha micilio o lugar onde funcionarem sua diretoria e admi-
havido anteriormente sucessão provisória. nistração ou onde elegerem domicilio especial nos seus
- Regresso do ausente ou de seu herdeiro necessá- estatutos ou atos constitutivos, devidamente registrados.
rio: Se o ausente, ou algum de seus descendentes - Pluralidade do domicilio da pessoa jurídica de di-
ou ascendentes, regressar nos dez anos seguintes reito privado: O art.75, § 1º, admite a pluralidade
à abertura da sucessão definitiva, apenas pode- domiciliar da pessoa jurídica de direito privado
rá requerer ao magistrado a devolução dos bens desde que tenham diversos estabelecimentos (p.
existentes no estado em que se encontrarem os ex., agências, escritórios de representação, depar-
sub-rogados em seu lugar ou o preço os herdeiros tamentos, filiais), situados em comarcas diferentes,
ou interessados receberam pelos alienados depois caso em que poderão ser demandadas no foro em
daquele tempo, respeitando-se assim, os direitos que tiverem praticado o ato. De forma que o lo-
de terceiro. cal de cada estabelecimento dotado de autonomia
- Declaração da vacância dos bens do ausente: Se, será considerado domicilio para os atos ou negó-
nos dez anos a que se refere o caput do artigo ora cios nele efetivados, com o intuito de beneficiar os
examinado, o ausente não retornar, e nenhum in- indivíduos que contratarem com a pessoa jurídica.
teressado requerer a sucessão definitiva os bens
serão arrecadados como vagos, passando sua pro- Se a sede da Administração, ou diretoria, da pessoa
priedade plena ao Município, ao Distrito Federal, se jurídica se acha no exterior, os estabelecimentos, agên-
situados nas respectivas circunscrições, ou à União. cias, filiais ou sucursais situados no Brasil terão por do-
micilio o local onde as obrigações foram contraídas pelos
respectivos agentes.
#FicaDica Ter-se-á o domicílio necessário ou legal quando for
Se, em 30 dias do trânsito em julgado determinado por lei, em razão da condição ou situação
da sentença que manda abrir a sucessão de ceias pessoas. O domicilio do incapaz é legal, pois sua
provisória, não aparecer nenhum interessado, fixação operar-se-á por determinação de lei e não por
ou herdeiro, a herança será considerada volição. O recém-nascido adquire o domicilio de seus
jacente. pais. Os absoluta ou relativamente incapazes terão por
domicilio o de seus representantes legais (pais, tutores
ou curadores).
Conceito legal de domicilio civil da pessoa natural: - Domicilio necessário do servidor público: Deriva o
Pelo art. 70 do Código Civil, o domicílio civil é o lugar domicílio legal ou necessário do servidor públi-
onde a pessoa estabelece sua residência com animo de- co de lei, pois o artigo sub examine entende por
finitivo tendo, portanto, por critério a residência. Nesta domiciliado o funcionário público no local onde
conceituação, legal há dois elementos: o objetivo, que é exerce suas funções por investidura efetiva. Logo
a fixação da pessoa em dado lugar, e o subjetivo, que é tem por domicílio o lugar onde exerce sua função
a intenção de ali permanecer com animo definitivo. Im- permanente.
porta em fixação espacial permanente da pessoa natural.
A nossa legislação admite a pluralidade de domicilio O domicilio do militar do Exército é o lugar onde
se a pessoa natural tiver mais de uma residência, pois servir e o do da Marinha ou da Aeronáutica em serviço
se considerará domicilio o seu qualquer uma delas. Ad- ativo, a sede do comando a que se encontra imediata-
mite também que, excepcionalmente, pode haver casos mente subordinado. Marinha mercante é a encarregada
DIREITO CIVIL

em que uma pessoa natural não tenha domicílio certo ou de transportar mercadorias e passageiros. Os oficiais e
fixo, ao estabelecer que aquele que não tiver residência tripulantes dessa marinha mercante têm por domicílio
habitual, como, p. ex., o caixeiro-viajante, o circense, terá necessário o lugar onde estiver matriculado o navio, em-
por domicilio o lugar onde for encontrado. bora passem a vida em viagens.

14
O preso terá por domicílio o lugar onde cumprir a
sentença. Tratando-se de preso internado em manicômio PESSOAS JURÍDICAS. DISPOSIÇÕES
judiciário, é competente o juízo local para julgar pedido GERAIS. CONCEITO E ELEMENTOS
de sua interdição, nos termos do art. 76 do Código Civil. CARACTERIZADORES. CONSTITUIÇÃO.
Se se tratar de preso ainda não condenado, seu domicilio EXTINÇÃO. CAPACIDADE E DIREITOS DA
será o voluntário. PERSONALIDADE. SOCIEDADES DE FATO.
- Citação de ministro ou agente diplomático no es- ASSOCIAÇÕES. SOCIEDADES. FUNDAÇÕES.
trangeiro: Se o ministro ou agente diplomático GRUPOS DESPERSONALIZADOS.
brasileiro for citado no exterior e alegar a imunida-
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
de sem designar o local onde tem, no país, o seu
JURÍDICA. RESPONSABILIDADE DA
domicílio, deverá responder perante a Justiça do
Distrito Federal ou do último ponto do território PESSOA JURÍDICA E DOS SÓCIOS.
brasileiro onde o teve.
- Domicílio contratual ou de eleição é o estabelecido
Conceito de pessoa jurídica: A pessoa jurídica é a
contratualmente pelas partes em contrato escrito,
unidade de pessoas naturais ou de patrimônios que visa
que especificam onde se cumprirão os direitos e
à obtenção de certas finalidades, reconhecida pela or-
os deveres oriundos da avença feita. O domicilio
dem jurídica como sujeito de direitos e obrigações.
de eleição dependerá de manifestação expressa
dos contraentes, da qual surge a competência es-
Pessoas jurídicas de direito público interno: São pes-
pecial, determinada pelo contrato, do foro que irá
soas jurídicas de direito público interno:
apreciar os possíveis litígios decorrentes do negó-
a) a União, que designa a nação brasileira, nas suas
cio jurídico contratual. O local indicado no contato
relações com os Estados federados que a com-
para o adimplemento obrigacional será também
põem e com os cidadãos que se encontram em seu
aquele onde o inadimplente irá ser demandado ou
território; logo, indica a organização política dos
acionado.
poderes nacionais considerada em seu conjunto.
Assim, o Estado Federal (União) seria ao mesmo
tempo Estado e Federação;
#FicaDica b) os Estados federados, que se regem pela Constitui-
O domicílio civil é o lugar onde a pessoa ção e pelas leis que adotarem. Cada Estado federa-
estabelece sua residência com animo definitivo do possui autonomia administrativa, competência
tendo, portanto, por critério a residência. e autoridade na seara legislativa, executiva e judi-
ciária, decidindo sobre negócios locais;
c) o Distrito Federal, que é a capital da União. É um
município equiparado ao Estado federado por ser
a sede da União, tendo administração, autoridades
EXERCÍCIO COMENTADO próprias e leis atinentes aos serviços locais. Possui
personalidade jurídica por ser um organismo polí-
tico administrativo, constituído para a consecução
1. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa –
de fins comuns;
CESPE). Acerca dos direitos da personalidade, julgue o
d) os Territórios, autarquias territoriais (Hely Lopes
item que se segue. Ressalvadas as exceções previstas em
Meirelles), ou melhor, pessoas jurídicas de direito
lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e ir-
público interno, com capacidade administrativa e
renunciáveis, podendo o seu exercício, no entanto, sofrer
de nível constitucional, ligadas à União, tendo nes-
limitação voluntária.
ta a fonte de seu regime jurídico infraconstitucio-
nal (Michel Temer) e criadas mediante lei comple-
( ) CERTO ( ) ERRADO
mentar;
e) os Municípios legalmente constituídos, por terem
Resposta: Errado.
interesses peculiares e economia própria. A Cons-
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os di-
tituição Federal assegura sua autonomia política,
reitos da personalidade são intransmissíveis e irrenun-
ou seja, a capacidade para legislar relativamente
ciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
a seus negócios e por meio de suas próprias au-
voluntária.
toridades.

Ampliação legal do número das pessoas jurídicas de


direito público interno: Além das pessoas enumeradas
pelo por este artigo, a lei estendeu a personalidade de
direito público, como já tivemos oportunidade de dizer
DIREITO CIVIL

ao comentarmos o art. 40, às autarquias.

15
Pessoas jurídicas de direito público externo: São Civil, exceto se for anônima, que, por força de lei,
as regulamentadas pelo direito internacional público, será sempre empresária. As sociedades empresá-
abrangendo: nações estrangeiras, Santa Sé e organismos rias deverão ter assento no Registro Público de
internacionais (ONU, OEA, Unesco, FAO etc.). Empresas Mercantis. E as simples, no Registro Civil
O artigo 43 traz a teoria do risco e responsabilidade das Pessoas Jurídicas;
objetiva, e por essa teoria cabe indenização estatal de e) partidos políticos, no interesse do regime demo-
todos os danos causados, por comportamentos dos fun- crático, da autenticidade do sistema representativo
cionários, a direitos de particulares. Trata-se da responsa- e defensoras dos direitos fundamentais definidos
bilidade objetiva do Estado, bastando a comprovação da na Constituição Federal.
existência do prejuízo a administrados. Mas o Estado tem
ação regressiva contra o agente, quando tiver havido cul- O fato que dá origem a pessoa jurídica de direito pri-
pa ou dolo deste, de forma a não ser o patrimônio pú- vado é a vontade humana, sem necessidade de qualquer
blico desfalcado pela sua conduta ilícita. Logo, na relação ato administrativo de concessão ou autorização, salvo os
entre poder público e agente, a responsabilidade civil é casos especiais do Código Civil, porém a sua personali-
subjetiva, por depender da apuração de sua culpabilida- dade jurídica permanece em estado potencial, adquirin-
de pela lesão causada ao administrado. do status jurídico, quando preencher as formalidades ou
exigências legais.
Classificação das pessoas jurídicas de direito privado:
As pessoas jurídicas de direito privado, instituídas por - Fases do processo genético da pessoa jurídica de
iniciativa de particulares, dividem-se, segundo o artigo direito privado: Na criação da pessoa jurídica de
focado, em: direito privado há duas fases:
a) Fundações particulares, que são universalidades a) a do ato constitutivo, que deve ser escrito, poden-
de bens, personalizadas pela ordem pública, em do revestir-se de forma pública ou particular, com
consideração a um fim estipulado pelo fundador, exceção da fundação, que requer instrumento pú-
blico ou testamento. Além desses requisitos, há
sendo este objetivo imutável e seus órgãos ser-
certas sociedades que para adquirir personalidade
vientes, pois todas as resoluções estão delimitadas
jurídica dependem de previa autorização ou apro-
pelo instituidor. Deve ser constituída por escrito e
vação do Poder Executivo Federal, como, p. ex., as
lançada no registro geral;
sociedades estrangeiras;
b) Associações civis, religiosas, pias, morais, cientificas
b) a do registro público, pois para que a pessoa jurídi-
ou literárias e as associações de utilidade pública,
ca de direito privado exista legalmente é necessário
que abrangem um conjunto de pessoas, que alme-
inscrever os contratos ou estatutos no seu registro
jam fins ou interesses dos sócios, que podem ser peculiar; o mesmo deve fazer quando conseguir a
alterados, pois os sócios deliberam livremente, já imprescindível autorização ou aprovação do Poder
que seus órgãos são dirigentes. Na associação não Executivo Federal.
há fim lucrativo, embora tenha patrimônio forma-
do com a contribuição de seus membros para a Apenas com o assento adquirirá personalidade ju-
obtenção de fins culturais, educacionais, esporti- rídica, podendo, então, exercer todos os direitos; além
vos, religiosos, recreativos, morais etc.; disso, quaisquer alterações supervenientes havidas em
c) sociedade simples, na qual se visa o fim econômico seus atos constitutivos deverão ser averbadas no regis-
ou lucrativo, pois o lucro obtido deve ser reparti- tro. Como se vê esse sistema do registro sob o regime
do entre os sócios, sendo alcançado pelo exercício da liberdade contratual, regulado por norma especial, ou
de cenas profissões ou pela prestação de serviços com autorização legal, é de grande utilidade em razão
técnicos (p. ex., uma sociedade imobiliária ou uma da publicidade que determinará os direitos de terceiros.
sociedade cooperativa — CC, arts. 982, parágrafo O registro do ato constitutivo é uma exigência de ordem
único, e 1.093 a 1.096). As sociedades devem cons- pública no que atina à prova e à aquisição da personali-
tituir-se por escrito, lançar-se no registro civil das dade jurídica das entidades coletivas.
pessoas jurídicas; - Prazo decadencial para anular constituição de pes-
d) sociedades empresárias, que visam o lucro, me- soa jurídica de direito privado: Havendo defeito no
diante exercício de atividade empresarial ou co- ato constitutivo de pessoa jurídica de direito priva-
mercial (RT, 468/207), assumindo as formas de: do, pode-se desconstituí-la dentro do prazo deca-
sociedade cm nome coletivo; sociedade em co- dencial de três anos, contado da publicação de sua
mandita simples; sociedade em comandita por inscrição no Registro.
ações; sociedade limitada; sociedade anônima ou - Registro civil da pessoa jurídica: Somente com o re-
por ações. Assim, para saber se dada sociedade é gistro ter-se-á a aquisição da personalidade jurídica.
simples ou empresária basta considerar a natureza
de suas operações habituais; se estas tiverem por Tal registro de atos constitutivos de sociedades sim-
objeto o exercício de atividades econômicas orga- ples dar-se-á no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, sen-
DIREITO CIVIL

nizadas para a produção ou circulação de bens ou do que as sociedades empresárias deverão ser registra-
de serviços próprias de empresário, sujeito a re- das no Registro Público de Empresas Mercantis, sendo
gistro, a sociedade será empresária; caso contrario, competentes para a prática de tais atos as Juntas Comer-
simples, mesmo que adote quaisquer das formas ciais, e seguem o disposto nas normas dos arts. 1.150 e
empresariais, como permite o Art. 983 do Código 1.154 do Código Civil.

16
- Requisitos para o registro da pessoa jurídica de di- Esta teoria foi desenvolvida pelos tribunais norte-a-
reito privado: O artigo sub examine aponta os re- mericanos, tendo em vista aqueles casos concretos, em
quisitos do assento, pois este declarará: que o controlador da sociedade a desviava de suas finali-
a) a denominação, os fins, a sede, o tempo de dura- dades, para impedir fraudes mediante o uso da persona-
ção e o fundo social, quando houver; lidade jurídica, responsabilizando seus membros.
b) nome e individualização dos fundadores ou insti- Pelo Código Civil, quando a pessoa jurídica se desviar
tuidores e dos diretores; dos fins que determinarem sua constituição, em razão
c) a forma de administração e a representação ativa e do fato de os sócios ou administradores a utilizarem para
passiva, judicial e extrajudicial; alcançar finalidade diversa do objetivo societário para
d) a possibilidade e o modo de reforma do estatuto prejudicar alguém ou fazer mau uso da finalidade social,
social no que atina à administração da pessoa ju- ou quando houver confusão patrimonial (mistura do pa-
rídica; trimônio social com o particular do sócio, causando dano
e) a responsabilidade subsidiária dos sócios pelas a terceiro) em razão de abuso de personalidade jurídica,
obrigações sociais; o magistrado, a pedido do interessado ou do Ministério
f) as condições de extinção da pessoa jurídica e Público, está autorizado, com base na prova material do
g) o destino do seu patrimônio nesse caso. dano, a desconsiderar, episodicamente, a personalida-
de jurídica, para coibir fraudes e abusos dos sócios que
- Vinculação da pessoa jurídica aos atos praticados dela se valerem como escudo, sem importar essa medida
pelos administradores: Se seus administradores numa dissolução da pessoa jurídica.
a representam ativa e passivamente, em juízo ou Em relação à questão processual, esta teoria propõe
fora dele, todos os atos negociais exercidos por a vincular todos os possíveis responsáveis previstos, ou
eles, dentro dos limites de seus poderes estabele- seja, todos os sócios, fazendo uso de institutos proces-
cidos no estatuto social, obrigarão a pessoa jurídi- suais que regulam o litisconsórcio a fim de garantir um
ca, que deverá cumpri-los. grau de aproveitamento e otimização do processo. É de
- Administração coletiva: Se por lei ou pelo contrato certa forma uma maneira eficaz para fins de prevenir fu-
social vários forem os administradores, as delibe- turas fraudes a credores, desde que requerida em casos
rações deverão ser tomadas por maioria de votos extremos de desvio de finalidade da empresa e abuso da
dos presentes, contados segundo o valor das quo- personalidade jurídica dos sócios, entre outros.
tas de cada um, exceto se ato constitutivo dispuser Atualmente a desconsideração da personalidade jurí-
de modo contrário. Para a formação dessa maioria,
dica é um remédio bastante eficaz, utilizado ao caso con-
é necessário votos correspondentes a mais de me-
creto, pois se torna cada vez mais necessário a existência
tade do capital.
de mecanismos, para garantir o pagamento de credores
- Anulação de decisão contrária à lei e ao estatuto
que sofreram de alguma forma prejuízos ocasionados
ou eivada de vício de consentimento ou social: O
por fraude permeando assim pela eficácia real do Direito.
direito de anular deliberação de administradores
A desconsideração é um instrumento para a efetivi-
que violar norma legal ou estatutária ou for eiva-
dade do processo, a fim de elencar os responsáveis pelos
da de erro, dolo, simulação ou fraude, poderá ser
exercido dentro do prazo decadencial de três anos. danos, executar o fiel cumprimento do pagamento do
crédito aos credores e o retorno da atividade empresa-
Como a pessoa jurídica precisa ser representada, ati- rial.
va ou passivamente, em juízo ou fora dele, deverá ser
administrada por quem o estatuto indicar ou por quem #FicaDica
seus membros elegerem. Por isso, se a administração da
pessoa jurídica vier a faltar, o magistrado, mediante re- A utilização da desconsideração da
querimento de qualquer interessado, deverá nomear um personalidade jurídica deve ser aplicada aos
administrador provisório, que a representará enquanto casos previstos em lei, e não de forma ampla
não se nomear seu representante legal, que exterioriza- ou genérica.
rá sua vontade, no exercício dos poderes que lhe forem
conferidos pelo contrato social.
Havendo dissolução da pessoa jurídica ou cassada
Desconsideração da pessoa jurídica: sua autorização para funcionamento, ela subsistirá para
A teoria da desconsideração permite que o juiz não fins de liquidação, mas aquela dissolução ou cassação
mais considere os efeitos da personificação ou da au- deverá ser averbada no registro onde ela estiver inscrita.
tonomia jurídica da sociedade para atingir e vincular a - Liquidação da sociedade: Percebe-se que a extinção
responsabilidade dos sócios, com o intuito de impedir a da pessoa jurídica não se opera instantaneamente,
consumação de fraudes e abusos de direito cometidos pois se houver bens de seu patrimônio e dívidas a res-
por meio da personalidade jurídica que causem prejuízos gatar, ela continuará em fase de liquidação, durante a
ou danos a terceiros. qual subsiste para a realização do ativo e pagamento
de débitos, cessando, de uma só vez, quando se der
DIREITO CIVIL

Em muitas situações os sócios ou acionistas adminis-


tradores das sociedades, sejam elas de capital ou pes- ao acervo econômico o destino próprio.
soas, acabam agindo com excesso de poder ou má-fé, - Cancelamento da inscrição da pessoa jurídica: Ence-
contrariam o contrato e estatuto social da sociedade, ou nada a liquidação, promover-se-á o cancelamento
até mesmo as leis. da inscrição da pessoa jurídica. A extinção da pes-

17
soa jurídica, com tal cancelamento, produzirá efei- - Exclusão de associado: Há imposição de sanções
tos ex nunc, mantendo-se os atos negociais por ela disciplinares ao associado que infringir as normas
praticados até o instante de seu desaparecimento, estatutárias ou que praticar ato prejudicial ao gru-
respeitando-se direitos de terceiro. po, que poderão, ante a gravidade do motivo, che-
gar até mesmo à expulsão, desde que haja justa
Conceito de associação: causa e deliberação fundamentada da maioria ab-
É uma pessoa jurídica de direito privado voltada à soluta dos presentes à assembleia geral especial-
realização de finalidades culturais, sociais, pias, religiosas, mente convocada para essa finalidade.
recreativas etc., cuja existência legal surge com a inscri- - Injustiça ou arbitrariedade na exclusão de associado:
ção do estatuto social que a disciplina, no registro com- O estatuto poderá indicar, taxativamente, as cau-
petente. Por exemplo: APAE, UNE, Associação de Pais e sas graves determinantes da exclusão do membro
Mestres, Associação dos Advogados de São Paulo. associado, sendo que, se a apreciação da sua con-
- Inexistência de reciprocidade de direitos e obriga- duta for considerada injusta ou arbitrária, o lesado
ções entre os associados: Com a personificação da poderá, da decisão do órgão que decretou sua ex-
associação, para os efeitos jurídicos, ela passará pulsão, interpor recurso à assembleia geral e, ain-
a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obri- da, defender seu direito de associado por via ju-
gações. Cada um dos associados constituirá uma risdicional, embora a jurisprudência tenha negado
individualidade e a associação uma outra (CC, art. provimento à ação judicial para indenização de da-
50, 2a parte), tendo cada um seus direitos, deveres nos, em razão do afastamento ilícito do associado,
e bens, não havendo, porém, entre os associados devido à natureza do vínculo contratual que o une
direitos e deveres recíprocos. à associação, sujeitando-o aos termos estatutários
e às decisões dos órgãos da associação.
Conteúdo do estatuto da associação:
A associação é constituída por escrito e o estatuto Nenhum associado poderá ser impedido de exer-
social, que a regerá, sob pena de nulidade, poderá reves- cer direito ou função que lhe foi conferida pelo pacto
tir-se de forma pública ou particular, devendo conter: a social a não ser nos casos e no modo previsto legal ou
denominação, a finalidade e a sede da associação; requi- estatutariamente são invulneráveis direitos individuais
sitos para admissão, demissão e exclusão de associados; especiais, como p. ex., o direito á presidência, ao voto
direitos e deveres dos associados; fontes de recursos para reforçado, ás atribuições especificas etc., Apesar de seus
sua manutenção; modo de constituição e funcionamento vastos poderes, a assembleia não poderá efetivar todas
dos órgãos deliberativos e administrativos e condições as deliberações da maioria, uma vez que há certos direi-
para alteração de disposições estatutárias e para dissolu- tos essenciais dos associados oriundos do pacto social,
ção da associação. Isto é assim porque toda estruturação insuscetíveis de violação.
do grupo social baseia-se nessas normas estatutárias. Compete à assembleia a deliberação sobre: eleição e
Exige-se uma regulamentação bastante uniforme e destituição de administradores; aprovação de contas e
severa, no estatuto, dos direitos e deveres dos associa- alteração do estatuto social.
dos, que deverão ter tratamento igual. - Princípio da maioria: Consagra-se o princípio da
O ato constitutivo poderá, apesar de os associados maioria nas deliberações assembleares, exigindo-
deverem ter direitos iguais, criar posições privilegiadas -se, para destituição de diretoria e alteração esta-
ou conferir direitos preferenciais para certas categorias tutária, o voto concorde de dois terços dos presen-
de membros, como, p. ex.: a dos fundadores, que não tes à assembleia especialmente convocada para
poderá ser alterada sem o seu consenso, mesmo que esse fim, não podendo ela deliberar em primeira
haja decisão assemblear aprovando tal alteração; a de convocação, sem a maioria absoluta dos associa-
sócios remidos de determinado clube, que pagam certa dos, ou com menos de um terço nas convocações
importância em dinheiro para ter o direito de pertencer seguintes.
vitaliciamente à associação, sem mais dispêndios, não
podendo, assim, a assembleia deles exigir pagamento de Todos os associados têm direito de participação na
outra contribuição, salvo se houver seu expresso consen- assembleia geral e de nela votar; logo, tal assembleia é
timento ou se for tal exigência imprescindível para obter convocada, na forma do estatuto, garantindo-se a um
meios necessários à sobrevivência da associação. quinto dos associados o direito de promovê-la.
A qualidade de associado somente poderá ser trans- Sendo extinta uma associação, o remanescente do
ferida a terceiro com o consenso da associação ou com seu patrimônio líquido depois de deduzidas quando for
permissão estatutária. o caso, as quotas ou frações ideais do patrimônio, em ra-
- Transferência de quota ideal do patrimônio da asso- zão de transferência a adquirente ou a herdeiro de asso-
ciação: Se, p. ex., por morte, falência, interdição ou ciado, será destinado a entidade de fins não econômicos
retirada de associado que tenha uma fração ideal indicada pelo estatuto. Ante a omissão estatutária, por
do patrimônio da associação houver transferência deliberação dos associados, os seus bens remanescentes
DIREITO CIVIL

de sua quota, tal fato não importará, obrigatoria- deverão ser transferidos para um estabelecimento muni-
mente, na atribuição da qualidade de membro da cipal, estadual ou federal que tenha finalidade similar ou
associação ao seu sucessor (adquirente ou her- idêntica à sua. E se porventura não houver no Município,
deiro), a não ser que haja, no estatuto, convenção no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que
nesse sentido. a extinta associação está sediada, estabelecimento, ou

18
instituição, nas condições indicadas, seus bens remanes- violada a vontade do instituidor. E, se os estatutos não
centes irão para os cofres do Estado, do Distrito Federal forem elaborados dentro do prazo imposto pelo insti-
ou da União. tuidor, ou, não havendo prazo, em 180 dias, caberá ao
Ministério Público tal incumbência.
- Possibilidade de restituição da contribuição social Uma vez elaborados os estatutos com base nos obje-
aos associados: Os associados poderão receber em tivos que se pretende alcançar, deverão ser eles subme-
restituição, com a devida atualização, as contribui- tidos à aprovação do órgão local do Ministério Público,
ções que prestaram à formação do patrimônio so- que é o órgão fiscalizador da fundação em virtude de lei.
cial, antes da destinação do remanescente, se cláu- Se, porventura, este vier a recusar tal aprovação, o ela-
sula estatutária permitir ou se houver deliberação borador das normas estatutárias poderá requerer aquela
dos associados nesse sentido. aprovação denegada, mediante recurso ao juiz.
O órgão legítimo para velar pela fundação, impedin-
do que se desvirtue a finalidade específica a que se des-
#FicaDica tina, é o Ministério Público. Consequentemente, o órgão
É uma pessoa jurídica de direito privado do Ministério Público de cada Estado ou o Ministério
voltada à realização de finalidades culturais, Público Federal, se funcionar no Distrito Federal ou em
sociais, pias, religiosas, recreativas. Território, terá o encargo de fiscalizar as fundações que
estiverem localizadas em sua circunscrição, aprovar seus
estatutos no prazo de quinze dias e as suas eventuais
Constituir-se-á a fundação mediante escritura pú- alterações ou reformas, zelando pela boa administração
blica ou testamento, contendo ato de dotação que com- da entidade jurídica e de seus bens.
preende a reserva de bens livres (propriedades, créditos A ação da fundação poderá circunscrever-se a um só
ou dinheiro) legalmente disponíveis, indicação do fim Estado ou a mais de um. Se sua atividade estender-se a
lícito colimado e o modo de administração. O próprio vários Estados, o Ministério Público de cada um terá o
instituidor poderá providenciar a elaboração das normas ônus de fiscalizá-la, verificando se atende à consecução
estatutárias e o registro da fundação (forma direta) ou do seu objetivo específico. Ter-se-á, então, uma multi-
encarregar outrem para este fim (forma fiduciária). Se, plicidade de fiscalização, embora dentro dos limites de
porventura, na dotação de bens o instituidor vier a lesar cada Estado.
a legítima de seus herdeiros necessários, estes poderão A Alteração dos estatutos apenas será admitida nos
pleitear o respeito ao quantum legitimário. Dever-se-á casos em que houver necessidade de sua reforma. A
proceder ao registro, mediante intervenção do Ministério Fundação, como qualquer pessoa jurídica devido aos
Público, que deverá analisar o estatuto elaborado pelo progressos sociais precisará amoldar-se ás novas neces-
fundador, verificando se houve observância das bases da sidades, adaptando seus estatutos á nova realidade jurí-
fundação, se os bens são suficientes aos fins colimados e dico-social.
há licitude de seu objeto. Se na reforma estatutária houver minoria vencida, os
Estando tudo em perfeita ordem o Ministério Público administradores da fundação, ao submeterem o estatuto
aprovará o estatuto, dentro de quinze dias da autuação ao órgão do Ministério Público, requererão que se cienti-
do pedido de aprovação. Se, porventura, o fundador não fique o fato àquela minoria, que poderá, se quiser, estan-
elaborar o estatuto nem ordenar algum para fazê-lo ou do inconformada, impugnar aquela alteração recorrendo
se o estatuto elaborado no prazo assinado pelo institui- ao Judiciário dentro do prazo decadencial de dez dias,
dor, ou, não havendo prazo, em 180 dias, o Ministério pleiteando a invalidação das modificações estatutárias
Público poderá tornar a iniciativa. feitas pela maioria absoluta dos membros da Adminis-
Portanto, para que a fundação tenha personalidade tração da fundação e aprovadas pelo órgão local do Mi-
jurídica será preciso dotação, elaboração e aprovação nistério Público.
dos estatutos e registro. Isto é assim porque a lei apenas conferiu ao Minis-
A lei prevê a possibilidade de ter bens insuficientes tério Público o dever de fiscalizar e não o direito de de-
para a constituição da fundação, doados por escritura cidir, uma vez que o controle da legalidade compete ao
pública ou deixados por via testamentária, ordenando, Judiciário. O magistrado terá, então, a competência para
então, que sejam incorporados em outra fundação que decidir e conhecer das nulidades que, porventura, apa-
vise igual ou semelhante objetivo, exceto se outra coisa reçam no processo de alteração do estatuto da funda-
não houver disposto o instituidor. ção, mediante recurso interposto pela minoria vencida
Se a fundação for constituída por meio de escritura dos membros de sua Administração, cuja decadência se
pública, o instituidor terá a obrigação de transferir a pro- opera em dez dias.
priedade, ou outro direito real, dos bens livres colocados Constatado ser ilícito, impossibilidade, ou inútil o
a serviço de um fim lícito e especial por ele pretendido, objetivo da fundação, o órgão do Ministério Público, ou
sob pena de, não o fazendo, serem registrados em nome ainda, qualquer interessado poderá requerer a extinção
dela, por mandado judicial. da instituição.
DIREITO CIVIL

Caso o instituidor não elaborou os estatutos da fun- Terminará a existência da fundação com o vencimento
dação, estes deverão ser organizados e formulados por do prazo de sua duração. Para tanto, o Ministério Público
aqueles a quem foi incumbida à aplicação do patrimônio, ou qualquer interessado deverá, mediante requerimento,
de conformidade com a finalidade específica e com as promover a extinção da fundação.
restrições impostas pelo fundador, de maneira a não ser

19
Com a decretação judicial da extinção da fundação
pelos motivos acima arrolados, seus bens serão, salvo BENS. DIFERENTES CLASSES. BENS
disposição em contrário no seu ato constitutivo ou no CORPÓREOS E INCORPÓREOS. BENS NO
seu estatuto, incorporados em outra fundação, designa- COMÉRCIO E FORA DO COMÉRCIO.
da pelo juiz, que almeje a consecução de fins idênticos
ou similares aos seus. O Poder Público dará destino ao
seu patrimônio, entregando-o a uma fundação que per- Bens imóveis: Os bens imóveis são aqueles que não
siga o mesmo objetivo, exceto se o instituidor dispôs de se podem transportar, sem destruição, de um lugar para
forma diversa, hipótese em que se respeitará sua vonta- outro, ou seja, são os que não podem ser removidos sem
de e a do estatuto. alteração de sua substancia.

Com o advento da Lei n.º 13.151 de 2015, a fundação - Classificação dos bens imóveis: Os bens imóveis po-
somente poderá ser constituir somente para as seguintes dem ser classificados em:
finalidades:
– assistência social; a) imóveis por sua natureza, abrangendo o solo, pois
– cultura, defesa e conservação do patrimônio histó- sua conversão em bem móvel só seria possível
rico e artístico; com modificação de sua substância. Entretanto,
– educação; o legislador ampliou esse conceito, incluindo os
– saúde; acessórios e adjacências naturais, as árvores, os
frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo. A
– segurança alimentar e nutricional;
propriedade do solo abrange a do espaço aéreo
– defesa, preservação e conservação do meio ambien-
e a do subsolo, embora sofra limitações legais im-
te e promoção do desenvolvimento sustentável;
postas pelo Código Civil;
– pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias
b) imóveis por acessão física artificial, que incluem
alternativas, modernização de sistemas de gestão,
tudo aquilo que o homem incorporar permanen-
produção e divulgação de informações e conheci-
temente ao solo, como a semente lançada à terra,
mentos técnicos e científicos;
os edifícios e construções (pontes, viadutos etc.),
– promoção da ética, da cidadania, da democracia e de modo que se não possa retirar sem destruição,
dos direitos humanos e modificação, fratura ou dano;
– atividades religiosas. c) imóveis por acessão intelectual ou por destinação
do proprietário, que são todas as coisas móveis
que o proprietário mantiver, intencionalmente,
EXERCÍCIO COMENTADO empregadas em sua exploração industrial, aformo-
seamento ou comodidade.
1. (STJ/2018 - Analista Judiciário/Judiciária - CESPE). São qualificados como “pertenças”: máquinas agrí-
Acerca das sociedades anônimas, julgue o item seguinte. colas, ornamentos, instalações, animais ou materiais
A reserva legal da companhia poderá ser utilizada para empregados no cultivo da terra, geradores, escadas de
a compensação de prejuízos, para o aumento do capital emergência justapostas nos edifícios, equipamentos de
social e para a distribuição de dividendos. incêndio, aparelhos de ar-condicionado etc.

( ) CERTO ( ) ERRADO - Imóveis por determinação legal: Com o escopo de


garantir a segurança das relações jurídicas, o art.
Resposta: Letra B. 80 considera como imóvel o direito real sobre imó-
Art. 193. Do lucro líquido do exercício, 5% (cinco por veis e as ações que o asseguram, e o direito à su-
cento) serão aplicados, antes de qualquer outra desti- cessão aberta.
nação, na constituição da reserva legal, que não exce- Tais bens incorpóreos são considerados pela lei como
derá de 20% (vinte por cento) do capital social. imóveis para que possam receber proteção jurídica.
2º A reserva legal tem por fim assegurar a integridade
do capital social e somente poderá ser utilizada para - Direitos reais sobre imóveis e as ações que os as-
compensar prejuízos ou aumentar o capital. seguram: São bens imobiliários não só os direitos
Art. 201. A companhia somente pode pagar dividen- reais sobre imóveis, como propriedade, usufruto,
dos à conta de lucro líquido do exercício, de lucros uso, habitação, enfiteuse, anticrese, penhor, inclu-
acumulados e de reserva de lucros; e à conta de reser- sive o agrícola, hipoteca, renda constituída sobre
va de capital, no caso das ações preferenciais de que imóvel, servidão predial, mas também as ações
trata o § 5º do artigo 17.” que os asseguram, como as reivindicatórias, as hi-
potecárias, as pignoratícias, as negatórias de ser-
vidão, as de nulidade ou de rescisão de contratos
DIREITO CIVIL

translativos de propriedade etc.

- Direito à sucessão aberta: Para os casos de alienação


e pleitos judiciais a legislação considera o direito à
sucessão aberta como bem imóvel, ainda que a he-

20
rança só seja formada por bens móveis ou abran- nheiro, café, lenha etc.). Os bens infungíveis são os que,
ja apenas direitos pessoais. Ter-se-á a abertura da pela sua qualidade individual, têm valor especial, não po-
sucessão no instante da morte do de cujus; daí, dendo, por este motivo, ser substituídos sem que isso
então, seus herdeiros poderão ceder seus direitos acarrete a alteração de seu conteúdo, como um quadro
hereditários, que são tidos como imóveis. Logo, de Renoir. A infungibilidade pode apresentar-se em bens
para aquela cessão, será imprescindível a escritura imóveis e móveis.
pública. Já os bens consumíveis são os que terminam logo
com o primeiro uso, havendo imediata destruição de sua
Imobilização de edificação para fins de remoção: Edi- substância (p. ex., os alimentos, o dinheiro etc.). Os bens
ficação que, apesar de separada do solo, conservar sua inconsumíveis são os que podem ser usados continuada-
unidade e for removida para outro local, não perderá seu mente, possibilitando que se retirem todas as suas utili-
caráter de bem imóvel. dades sem atingir sua integridade. Coisas inconsumíveis
Considerar-se-á imóvel qualquer material retirado podem tornar-se consumíveis se destinadas à alienação.
provisoriamente de uma construção, como tijolo, telha, Nesta hipótese ter-se-á a consuntibilidade jurídica.
madeira etc., para ser nela reempregado após o con-
serto ou reparo. Assim, o que se tira de um prédio para São divisíveis os bens que puderem ser fracionados
novamente nele incorporar pertencerá ao imóvel e será em partes homogêneas e distintas, sem alteração das
imóvel (Ulpiano, Digesto, Liv. XIX e XXXII ad edictum). qualidades essenciais do todo, sem desvalorização e sem
Se empregado for em outro prédio, perderá tempora- prejuízo ao uso a que se destinam, formando um todo
riamente sua imobilidade enquanto não for utilizado na perfeito. Por exemplo, se repartirmos uma saca de açú-
nova construção. car, cada metade conservará as qualidades do produto,
podendo ter a mesma utilização do todo, pois nenhu-
- Mobilização do material por demolição do prédio: ma alteração de sua substância houve. Apenas se trans-
Se o prédio for demolido, o material de construção será formou em duas porções reais e distintas de açúcar em
tido como móvel, se não for mais empregado em recons- menor proporção, ou quantidade, mantendo cada qual a
trução, pois, pelo art. 81, II, não perdem o de imóveis os mesma qualidade do todo.
materiais provisoriamente separados de um prédio, para
nele mesmo se reempregarem. Os materiais, enquanto Classificação das coisas indivisíveis: Os bens serão in-
não forem empregados em alguma construção, conser- divisíveis:
varão a sua qualidade de móveis, readquirindo essa qua- a) por natureza, se não puderem ser partidos sem al-
lidade os provenientes de demolição de algum prédio, se teração na sua substância ou no seu valor (p. ex.,
não forem reempregados. um cavalo vivo dividido ao meio deixa de ser se-
movente);
Os bens móveis são os que, sem deterioração na b) por determinação legal, se a lei estabelecer sua
substância ou na forma, podem ser transportados de um indivisibilidade. É o que ocorre, p. ex., com o art.
lugar para outro, por força própria (animais) ou estranha 1.386 do Código Civil, que estabelece que as servi-
(coisas inanimadas). dões prediais são indivisíveis em relação ao prédio
- Semoventes: São os animais considerados como serviente;
móveis por terem movimento próprio, daí serem c) por vontade das partes, pois uma coisa divisível
semoventes. poderá transformar-se em indivisível se assim o
- Bens móveis propriamente ditos: As coisas inanima- acordarem as partes, mas a qualquer tempo pode-
das suscetíveis de remoção por força alheia cons- rá voltar a ser divisível. Por exemplo, na obrigação
tituem os bens móveis propriamente ditos, p. ex., indivisível (CC, art. 314), toma-se indivisível bem
mercadorias, moedas, objetos de uso, títulos de divisível, ajustando conservar a sua indivisibilidade
dívida pública, ações de companhia etc. por tempo determinado ou não, ou, então, acor-
- Materiais de construção como móveis por natureza: dando em dividir em partes ideais coisa indivisível,
Os materiais empregados numa construção, como como sucede no condomínio.
madeiras, telhas, azulejos, tijolos, enquanto não
aderirem ao prédio, constituindo parte integrante Bens singulares:
do imóvel, conservarão a natureza de bens móveis As coisas singulares são as que, embora reunidas, se
por natureza. Se alguma edificação for demolida, consideram de per si, independentemente das demais.
os materiais de construção readquirirão a quali- As coisas singulares poderão ser simples ou compostas.
dade de móveis, porque não mais participarão da Serão simples se formarem um todo homogêneo, cujas
natureza do principal. partes componentes estão unidas em virtude da própria
natureza ou da ação humana, sem reclamar quaisquer re-
Se o material de construção separar-se temporaria- gulamentações especiais por norma jurídica. Podem ser
mente do prédio que está sendo reformado, p. ex., conti- materiais (pedra, caneta-tinteiro, folha de papel, cavalo)
nuará sendo bem imóvel, uma vez que sua destinação é ou imateriais (crédito). As coisas compostas são aquelas
continuar a fazer parte do mesmo edifício. cujas partes heterogêneas são ligadas pelo engenho hu-
DIREITO CIVIL

mano, hipótese em que há objetos independentes que se


A fungibilidade é própria dos bens móveis. Os bens unem num só todo sem que desapareça a condição jurí-
fungíveis são os que podem ser substituídos por outros dica de cada pane. Por exemplo, materiais de construção
da mesma espécie, qualidade e quantidade (p. ex., di- que estão ligados à edificação de uma casa.

21
Universalidade de fato: Partes integrantes: São acessórios que, unidos ao
É um conjunto de bens singulares, corpóreos e ho- principal, formam com ele um todo, sendo desprovidos
mogêneos, Ligados entre si pela vontade humana para de existência material própria, embora mantenham sua
a consecução de um fim (p. ex., uma biblioteca, um re- identidade. P. ex.: as lâmpadas de um lustre; frutos e pro-
banho, uma galeria de quadros). Em relação à mesma dutos enquanto não separados da coisa principal.
pessoa têm destinação unitária, podendo ser objeto de
relações jurídicas próprias. Inexistência de pertenças de direito:
A relação de pertinência só existe entre coisas e não
Universalidade de direito: entre direitos.
É a constituída por bens singulares corpóreos hetero- No plano dos negócios jurídicos, por não ser o das
gêneos ou incorpóreos (complexo de relações jurídicas), relações entre coisas, mas entre credor e devedor, se eles
a que a norma jurídica, com o intuito de produzir certos disserem respeito ao bem principal, não alcançarão as
efeitos, dá unidade, por serem dotados de valor econô- pertenças, a não ser que o contrário resulte de lei, de
mico, como, p. ex., o patrimônio, a herança etc. manifestação de vontade ou das circunstâncias do caso,
visto que a finalidade econômica ou social delas pode
Coisa principal: auxiliar o principal. Para que um campo de tênis, sepa-
Coisa principal é a que existe por si, exercendo sua rado de um hotel, a ele pertença, será preciso que sete
função e finalidade, independentemente de outra (p. ex., assente e averbe no Registro Imobiliário. O piano não é
o solo). pertença do imóvel residencial, mas o será de um con-
servatório, ante as circunstâncias do caso, uma vez que é
Coisa acessória: imprescindível para que este possa atingir sua finalidade.
A coisa acessória é a que supõe, para existir juridica-
mente, uma principal. Nos imóveis, o solo é o principal, - Frutos: No dizer de Clóvis Beviláqua, frutos são uti-
sendo acessório tudo aquilo o que nele se incorporar lidades que a coisa produz periodicamente, cuja percep-
permanentemente (p. ex., uma árvore plantada ou uma ção mantém intacta a substância do bem que as gera.
construção, já que é impossível separar a ideia de árvore São, como assevera Lafayette, os produtos que periodi-
e de construção da ideia de solo). Nos móveis, principal camente nascem e renascem da coisa, sem acarretar-lhe
é aquela para a qual as outras se destinam, para fins de a destruição no todo ou em parte, como o algodão, a lã,
uso, enfeite ou complemento (p. ex., uma joia - a pedra o leite etc.
é acessório do colar). Não só os bens corpóreos com- - Rendimentos: Os rendimentos são os frutos civis
portam tal distinção; os incorpóreos também, pois um (CC, arts. 1.215 e 206, § 3’, III), ou prestações peri-
crédito é coisa principal, uma vez que tem autonomia e ódicas, em dinheiro, decorrentes da concessão do
individualidade próprias, o mesmo não se dando com a uso e gozo de um bem que uma pessoa concede
cláusula penal, que se subordina a uma obrigação prin- a outra.
cipal. Prevalecerá a regra “o acessório segue o principal”. - Produtos: Os produtos são utilidades que se pode
retirar da coisa, alterando sua substância, com a
diminuição da quantidade até o esgotamento,
#FicaDica porque não se reproduzem periodicamente (p. ex.,
pedras de uma pedreira, petróleo de um poço).
OS BENS IMÓVEIS SÁO CLASSIFICADOS POR: - Frutos e produtos como objeto de negócio jurídico:
- SUA NATUREZA; Os frutos e produtos, mesmo não separados do
- ACESSÃO FÍSICA ARTIFICIAL bem principal, podem ser objeto de negócio jurídi-
- ACESSÃO INTELECTUAL OU POR DESTINA- co. IR ex., pelo art. 237 do Código Civil, quanto aos
ÇÃO DO PROPRIETÁRIO. frutos de coisa certa, os percebidos até a tradição
serão do devedor e os pendentes ao tempo da tra-
dição, do credor.
Pertenças:
- Benfeitorias voluptuárias:
Bens acessórios destinados de modo duradouro, a
As benfeitorias voluptuárias, de mero deleite ou re-
conservar ou facilitar o uso ou prestar serviço ou, ain- creio, têm por escopo tão somente dar comodidade
da, a servir de adorno ao bem principal sem ser parte àquele que as fez, não tendo qualquer utilidade por se-
integrante. Apesar de acessórios, conservam sua indivi- rem obras para embelezar a coisa (p. ex., construção de
dualidade e autonomia, tendo apenas com o principal piscina numa casa particular, revestimento em mármore
uma subordinação econômico jurídica, pois sem haver de um piso de cerâmica em bom estado, decoração lu-
qualquer incorporação vinculam-se ao principal para que xuosa de um aposento etc.).
este atinja suas finalidades. São pertenças todos os bens
móveis que o proprietário, intencionalmente, empregar - Benfeitorias úteis:
DIREITO CIVIL

na exploração industrial de um imóvel, no seu aformo- As benfeitorias úteis são as que visam aumentar ou
seamento ou na sua comodidade, como, p. ex., molduras facilitar o uso do bem, apesar de não serem necessá-
de quadros, acessórios de um automóvel, máquinas de rias (p.ex., instalação de aparelhos sanitários modernos,
uma fábrica. São imóveis por acesso intelectual. construção de uma garagem).

22
- Benfeitorias necessárias: puser o contrário, são dominicais os que pertencerem a
As benfeitorias necessárias são obras indispensáveis à pessoa jurídica de direito público a que se tenha dado
conservação do bem, para impedir a sua deterioração (p. estrutura de direito privado.
ex., serviços realizados num alicerce da casa que cedeu,
reconstrução de um assoalho que apodreceu, colocação Abrangem bens móveis ou imóveis, como: títulos de
de cerca de arame farpado para proteger a agricultura). dívida pública; estradas de ferro, telégrafos, oficinas e fa-
zendas do Estado; ilhas formadas em mares territoriais
- Benfeitoria e acessão natural: ou rios navegáveis; terras devolutas; terrenos da marinha
Se benfeitorias são obras e despesas feitas pelo ho- e acrescidos; mar territorial, terras ocupadas pelos índios,
mem na coisa, com o intuito de conservá-la, melhorá-la sítios arqueológicos e pré-históricos; bens vagos, bens
ou embelezar, claro está que não abrangem os melho- perdidos pelos criminosos condenados por sentença
ramentos (acessões naturais) sobrevindos àquela coisa proferida em processo judiciário federal; quedas-d’água,
sem a intervenção do proprietário possuidor ou detentor jazidas e minérios, arsenais com todo o material da ma-
por ocorrerem de um fato natural (p. ex., o aumento de rinha, exército e aviação; bens que foram do domínio da
urna área de terra em razão de desvio natural de um rio). Coroa. Abrangem, ainda, os títulos de crédito e dinheiro
arrecadado pelos tributos. Os bens públicos dominicais
- Melhoramentos que constituem acessão natural: podem, por determinação legal, ser convertidos em bens
A acessão natural é o aumento do volume ou do valor de uso comum ou especial.
do bem devido a forças eventuais. Assim sendo não é
indenizável, pois para sua realização o possuidor ou de- Inalienabilidade dos bens públicos: Os bens públicos
tentor não concorreu com seu esforço nem com seu pa- de uso comum do povo e os de uso especial são inaliená-
trimônio. Por ser coisa acessória segue o destino da prin- veis, logo não podem ser vendidos, doados ou trocados.
cipal. O Código Civil no seu art. 1.248, I a IV, contempla Tal inalienabilidade poderá ser revogada desde que:
as seguintes formas de acessão natural, no que concerne a) o seja mediante lei especial;
à propriedade imóvel: formação de ilhas, aluvião, avulsão b) tenham tais bens perdido sua utilidade ou neces-
e abandono de álveo. A acessão altera a substância da sidade, não mais conservando sua qualificação; e
coisa, e a benfeitoria apenas objetiva a sua conservação c) a entidade pública os aliene em hasta pública ou
ou valorização ou o seu maior deleite. por meio de concorrência administrativa.

Classificação dos bens quanto aos sujeitos a que Inalienabilidade dos bens públicos e a questão do
pertencem os Bens públicos são os que pertencem ao usucapião:
domínio nacional, ou seja, à União, aos Estados ou aos Os bens públicos, por serem inalienáveis, não pode-
Municípios. De modo que, conforme a pessoa jurídica de rão ser usucapidos.
direito público interno a que pertencerem os bens públi- Imprescritibilidade e impenhorabilidade dos bens pú-
cos serão federais, estaduais, municípios blicos como caracteres decorrentes da sua inalienabili-
Os bens particulares são os que tiverem como titu- dade:
lar de seu domínio pessoa natural ou jurídica de direito Os bens públicos são imprescritíveis, não podendo
privado. ser adquiridos por usucapião. Mas há alguns juristas,
como Silvio Rodrigues, que, ante o disposto na Consti-
- Bens públicos de uso comum do povo: tuição Federal, art. 188, admitem o usucapião de terras
Os bens de uso comum do povo, embora pertencen- devolutas. São impenhoráveis, porque inalienáveis, sen-
tes a pessoa jurídica de direito público interno, podem do, portanto, insuscetíveis de serem dados em garantia.
ser utilizados, sem restrição e gratuita ou onerosamente, A impenhorabilidade impede que o bem passe do patri-
por todos, sem necessidade de qualquer permissão es- mônio do devedor ao do credor, ou de outrem, por força
pecial desde que cumpridas as condições impostas por de execução judicial (adjudicação ou arrematação).
regulamentos administrativos. Nada obsta a que o Poder
Público venta a suspender seu uso por razões de segu- Uso gratuito ou oneroso dos bens públicos:
rança nacional ou do próprio povo usuário. Por exemplo, Os bens podem ser utilizados gratuita ou onerosa-
interdição do porto, barragem do rio etc. mente, conforme for estabelecido, por lei, pela entida-
de a cuja administração pertencerem. A regra geral é o
- Bens públicos de uso especial: seu uso gratuito, dado que são destinados ao serviço do
Os bens públicos de uso especial são os utilizados povo ou da comunidade, que para tanto paga impostos.
pelo próprio Poder Público, constituindo-se por imóveis Todavia, não perderão a natureza de bens públicos se
aplicados ao serviço ou estabelecimento federal, esta- leis ou regulamentos administrativos condicionarem ou
dual ou municipal, como prédios onde funcionam tribu- restringirem o seu uso a certos requisitos ou mesmo se
nais, escolas públicas, secretarias, ministérios, quartéis instituírem pagamento de retribuição. Por exemplo, pe-
etc. São os que têm destinação especial. dágio nas estradas, venda de ingresso em museus, para
DIREITO CIVIL

contribuir para sua conservação ou custeio.


- Bens dominicais: Os bens dominicais são os que
compõem o patrimônio da União, dos Estados ou dos
Municípios, como objeto do direito pessoal ou real des-
sas pessoas de direito público interno. Se a lei não dis-

23
#FicaDica FATO JURÍDICO. NEGÓCIO JURÍDICO.
BENS ACESSÓRIOS DESTINADOS DE MODO DISPOSIÇÕES GERAIS. CLASSIFICAÇÃO
DURADOURO, A CONSERVAR OU FACILITAR O E INTERPRETAÇÃO. ELEMENTOS.
USO OU PRESTAR SERVIÇO OU, AINDA, A SER- REPRESENTAÇÃO. CONDIÇÃO, TERMO
VIR DE ADORNO AO BEM PRINCIPAL SEM SER E ENCARGO. DEFEITOS DO NEGÓCIO
PARTE INTEGRANTE. JURÍDICO. EXISTÊNCIA, EFICÁCIA,
VALIDADE, INVALIDADE E NULIDADE DO
NEGÓCIO JURÍDICO. SIMULAÇÃO.

Elementos essenciais do ato negocial:


EXERCÍCIO COMENTADO Os elementos essenciais são imprescindíveis à exis-
tência e validade do ato negocial, pois formam sua subs-
tância; podem ser gerais, se comuns à generalidade dos
1. (MPE-PI - Promotor de Justiça Substituto - CESPE
negócios jurídicos, dizendo respeito à capacidade do
- 2019). A respeito da classificação dos bens, é correto
agente, ao objeto lícito e possível e ao consentimento
afirmar que
dos interessados; e particulares, peculiares a determi-
nadas espécies por serem concernentes à sua forma e
a) são fungíveis os bens móveis ou imóveis que possam
prova.
ser substituídos por outros da mesma espécie, quali-
dade e quantidade.
Capacidade do agente:
b) os bens podem ser divididos em consumíveis e não
Como todo ato negocial pressupõe uma declaração
consumíveis; contudo, esses últimos, quando sofrem
de vontade, a capacidade do agente é indispensável à
deteriorações devido ao uso, passam a ser incluídos
sua participação válida na seara jurídica. Tal capacidade
no conceito de bens consumíveis.
poderá ser:
c) os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se in-
a) geral, ou seja, a de exercer direitos por si, logo o
divisíveis apenas por determinação legal, não se ad-
ato praticado pelo absolutamente incapaz sem a
mitindo, assim, que um negócio jurídico estabeleça a
devida representação será nulo e o realizado pelo
indivisibilidade da coisa.
relativamente incapaz sem assistência será anulá-
d) a lei, ao tratar dos bens reciprocamente considerados,
vel;
determina que os seus frutos e produtos possam ser
b) especial, ou legitimação, requerida para a validade
objeto de negócio jurídico desde que separados do
de certos negócios em dadas circunstâncias (p. ex.,
bem principal.
pessoa casada é plenamente capaz, embora não
e) a aquisição de bens móveis se dá por simples tradição,
tenha capacidade para vender imóvel sem auto-
enquanto a de bens imóveis exige escritura pública e
rização do outro consorte ou suprimento judicial
registro em cartório, com exceção daqueles cujo valor
desta, exceto se o regime matrimonial de bens for
atinja até trinta vezes o maior salário mínimo do país.
o de separação).
Resposta: Letra E.
Objeto lícito, possível, determinado ou determi-
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura
nável:
pública é essencial à validade dos negócios jurídicos
O negócio jurídico válido deverá ter, como diz Crome,
que visem à constituição, transferência, modificação
em todas as partes que o constituírem, um conteúdo le-
ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor
galmente permitido. Deverá ser lícito, ou seja, conforme
superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente
a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem
no País.
pública e à moral. Se tiver objeto ilícito será. E o que
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quan-
ocorrerá, p. ex., com a compra e venda de coisa roubada.
do constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos,
Deverá ter ainda objeto possível, física ou juridicamente.
só se adquirem com a tradição.
Se o ato negocial contiver prestação impossível, como a
de dar volta ao mundo em uma hora ou de vender he-
rança de pessoa viva, deverá ser declarado nulo.
Deverá ter objeto determinado ou, pelo menos, sus-
cetível de determinação, pelo gênero e quantidade, sob
pena de nulidade absoluta.

Consentimento dos interessados:


As partes deverão anuir, expressa ou tacitamente,
para a formação de uma relação jurídica sobre determi-
DIREITO CIVIL

nado objeto, sem que se apresentem quaisquer vícios de


consentimento, como erro, dolo, coação, estado de pe-
rigo e lesão, ou vícios sociais, como simulação e fraude
contra credores.

24
Forma prescrita ou não defesa em lei: Logo, tal declaração de vontade somente terá eficácia
Às vezes será imprescindível seguir determinada for- jurídica se o ato negocial revestir a forma prescrita con-
ma de manifestação de vontade ao se praticar ato ne- tratualmente.
gocial dirigido à aquisição, ao resguardo, à modificação
ou extinção de relações jurídicas. O princípio geral é que Reserva mental lícita:
a declaração de vontade independe de forma especial, A reserva mental é a emissão de uma intencional de-
sendo suficiente que se manifeste de modo a tornar co- claração não querida em seu conteúdo, nem tampouco
nhecida a intentio do declarante, dentro dos limites em em seu resultado, pois o declarante tem por único obje-
que seus direitos podem ser exercidos. Apenas, excep- tivo enganar o declaratário.
cionalmente, a lei vem a exigir determinada forma, cuja Logo, se conhecida da outra parte, não toma nula a
inobservância invalidará o negócio. declaração da vontade, pois esta inexiste, e, consequen-
temente, não se forma qualquer ato negocial, uma vez
Incapacidade relativa como exceção pessoal: que não havia intentio de criar direito, mas apenas de
Por ser a incapacidade relativa uma exceção pessoal, iludir o declaratário. Se for desconhecida pelo destinatá-
ela somente poderá ser formulada pelo próprio incapaz rio, subsiste o ato.
ou pelo seu representante. Como a anulabilidade dó ato
negocial praticado por relativamente incapaz é um bene- Reserva mental ilícita conhecida do declaratário:
ficio legal para a defesa de seu patrimônio contra abu- Se, além de enganar, houver intenção de prejudicar,
sos de outrem, apenas o próprio incapaz ou seu repre- ter-se-á vício social similar à simulação, ensejando nuli-
sentante legal o deverá invocar. Assim, se num negócio dade do ato negocial. É preciso esclarecer que o conhe-
um dos contratantes for capaz e o outro incapaz, aquele cimento da reserva mental que acarreta a invalidade do
não poderá alegar a incapacidade deste em seu próprio negócio somente pode ser admissível até o momento da
proveito, porque devia ter procurado saber com quem consumação do ato negocial, pois se o declaratário co-
contratava e porque se trata de proteção legal oferecida municar ao reservante, antes da efetivação do negócio,
ao relativamente incapaz. Se o contratante for absoluta- que conhece a reserva, não haverá esta figura, que tem
mente incapaz, o ato por ele praticado será nulo, pou- por escopo enganar o declaratário.
co importando que a incapacidade tenha sido invocada
pelo capaz ou pelo incapaz, tendo em vista que o Códi- O silêncio pode dar origem a um negócio jurídico,
go Civil, pelo art. 168, parágrafo único, não possibilita visto que indica consentimento, sendo hábil para produ-
ao magistrado suprir essa nulidade, nem mesmo se os zir efeitos jurídicos, quando cedas circunstâncias ou os
contratantes o solicitarem, impondo-se lhe até mesmo o usos o autorizarem, não sendo necessária a manifestação
dever de declará-la de ofício. expressa da vontade. Caso contrário, o silêncio não terá
força de declaração volitiva. Se assim é, o órgão judicante
Invocação da incapacidade de uma das partes ante deverá averiguar se o silêncio traduz, ou não, vontade.
a indivisibilidade do objeto do direito ou da obriga- Logo, a parêmia “quem cala consente” não tem juridici-
ção comum: dade. O puro silêncio apenas terá valor jurídico se a lei à
Se o objeto do direito ou da obrigação comum for determinar, ou se acompanhado de certas circunstâncias
indivisível, ante a impossibilidade de separar o interes- ou de usos e costumes do lugar, indicativos da possi-
se dos contratantes, a incapacidade de um deles pode- bilidade de manifestação da vontade, e desde que não
rá tornar anulável o ato negocial praticado, mesmo que seja imprescindível a forma expressa para a efetivação
invocada pelo capaz, aproveitando aos cointeressados negocial.
capazes, que porventura houver. Logo, nesta hipótese, A interpretação do ato negocial situa-se na seara do
o capaz que veio a contratar com relativamente incapaz conteúdo da declaração volitiva, pois o intérprete do
estará autorizado legalmente a invocar em seu favor a sentido negocial não deve ater-se, unicamente, à exe-
incapacidade relativa deste, desde que indivisível a pres- gese do negócio jurídico, ou seja, ao exame gramatical
tação, objeto do direito ou da obrigação comum. de seus termos, mas sim em fixar a vontade, procurando
Impossibilidade relativa do objeto: suas consequências jurídicas, indagando sua intenção,
Se a impossibilidade do objeto for relativa, isto é, se sem se vincular, estritamente, ao teor linguístico do ato
a prestação puder ser realizada por outrem, embora não negocial. Caberá, então, ao intérprete investigar qual a
o seja pelo devedor, não invalidade o negócio jurídico. real intenção dos contratantes, pois sua declaração ape-
Cessação da impossibilidade do objeto negocial an- nas terá significação quando lhes traduzir a vontade real-
tes do implemento da condição. Se o negócio jurídico mente existente. O que importa é a vontade real e não
contendo objeto impossível, tiver sua eficácia subordina- a declarada; daí a importância de desvendar a intenção
da a um evento futuro e incerto, e aquela impossibilidade consubstanciada na declaração.
cessar antes de realizada aquela condição válida será a
avença. Conceito de representação:
A representação é a relação jurídica pela qual certa
DIREITO CIVIL

Previsão contratual de forma especial: pessoa se obriga diretamente perante terceiro, por meio
A emissão da vontade é dotada de poder criador; as- de ato praticado em seu nome por um representante,
sim sendo, se houver cláusula negocial estipulando a in- cujos poderes são conferidos por lei ou por mandato.
validade do negócio jurídico, se ele não se fizer por meio
de escritura pública, esta passará a ser de sua substância.

25
Representante legal: Conceito de condição:
O representante legal é aquele a quem a norma jurídi- Condição é a cláusula que subordina o efeito do ne-
ca confere poderes para administrar bens alheios, como gócio jurídico, oneroso ou gratuito, a evento futuro e in-
o pai, ou mãe, em relação a filho menor, tutor, quanto certo.
ao pupilo e curador, no que concerne ao curatelado. A
representação legal serve aos interesses do incapaz. Requisitos:
Para a configuração da condição será preciso a ocor-
Representante convencional ou voluntário: rência dos seguintes requisitos:
O representante convencionado é o munido de man- a) aceitação voluntária, por ser declaração acessória
dato expresso ou tácito, verbal ou escrito, do represen- da vontade incorporada à outra, que é a principal
tante, como o procurador, no contrato de mandato. por se referir ao negócio a que a cláusula condicio-
nal se adere com o objetivo de modificar uma ou
Efeitos da representação: algumas de suas consequências naturais;
A manifestação da vontade pelo representante ao b) futuridade do evento, visto que exigirá sempre um
efetivar um negócio em nome do representado, nos limi- fato futuro, do qual o efeito do negócio depende-
tes dos poderes que lhe foram conferidos, produz efeitos rá; e
jurídicos relativamente ao representado, que adquirirá c) incerteza do acontecimento, pois a condição rela-
os direitos dele decorrentes ou assumirá as obrigações ciona-se com um acontecimento incerto, que po-
que dele advierem. Logo, uma vez realizado o negócio derá ocorrer ou não.
pelo representante, os direitos serão adquiridos pelo re-
presentado, incorporando-se em seu patrimônio; igual- Condição lícita:
mente os deveres contraídos em nome do representado Lícita será a condição quando o evento que a consti-
devem ser por ele cumpridos, e por eles responde o seu tui não for contrário à lei, à ordem pública ou aos bons
acervo patrimonial. costumes.
Se o representante vier a efetivar negócio jurídico
Estão defesas as condições:
consigo mesmo no seu interesse ou por conta de outrem
a) perplexos, se privarem o ato negocial de todo o
anulável será tal ato, exceto se houver permissão legal ou
efeito, como a venda de um prédio sob a condição
autorização do representado.
de não ser ocupado pelo comprador; e
b) puramente potestativas, se advindas de mero ar-
Consequência jurídica do substabelecimento:
bítrio de um dos sujeitos. Por exemplo, consti-
Se, em caso de representação voluntária, houve subs-
tuição de uma renda em seu favor se você vestir
tabelecimento de poderes, o ato praticado pelo substa- tal roupa amanhã; aposição de cláusula que, em
belecido reputar-se-á como tendo sido celebrado pelo contrato de risco, dê ao credor poder unilateral de
substabelecente, pois não houve transmissão do poder, provocar o vencimento antecipado da dívida, dian-
mas mera outorga do poder de representação. É preciso te de simples circunstancia de romper-se o vínculo
esclarecer que o poder de representação legal é insus- empregatício entre as partes. Urge lembrar que a
cetível de substabelecimento. Os pais, os tutores ou os condição resolutiva puramente potestativa é admi-
curadores não podem substabelecer os poderes que têm tida juridicamente, pois não subordina o efeito do
em virtude de lei. negócio jurídico ao arbítrio de uma das partes, mas
Como os negócios jurídicos realizados pelo represen- sim sua ineficácia. Sendo tal condição resolutiva,
tante são assumidos pelo representado, aquele terá o de- nulidade não há porque existe um vínculo jurídico
ver de provar àqueles, com quem vier a tratar em nome válido consistente na vontade atual de se obrigar,
do representado, não só a sua qualidade, mas também de cumprir a obrigação assumida, de sorte que,
a extensão dos poderes que lhe foram conferidos, sob como observa Vicente Ráo, o ato jurídico chega a
pena de, não o fazendo, ser responsabilizado civilmente produzir os seus efeitos, só se resolvendo se a con-
pelos atos que excederem àqueles poderes. dição, positiva ou negativa, se realizar e quando
Se, porventura, o representante concluir negócio ju- se realizar. O art. 122 veda a condição suspensiva
rídico, havendo conflito de interesses com o representa- puramente potestativa.
do, com pessoa que devia ter conhecimento desse fato,
aquele ato negocial deverá ser declarado anulável. Condições suspensivas física ou juridicamente im-
Prazo decadencial para anulação de ato efetuado por possíveis:
representante em conflito de interesses com o represen- As condições fisicamente impossíveis são as que não
tado: Pode-se pleitear anulação do negócio celebrado podem efetivar-se por serem contrárias à natureza. Por
com terceiro, pelo representante em conflito de interes- exemplo, a doação de uma casa a quem trouxer o mar
ses com o representado, dentro de cento e oitenta dias, até a Praça da República da cidade de São Paulo será
contados da conclusão do negócio jurídico ou da cessa- inválida, visto que a condição suspensiva que subordina
ção da incapacidade do representado. a eficácia negocial a evento futuro incerto é impossível
DIREITO CIVIL

fisicamente. As condições juridicamente impossíveis são


Papel do curador especial: as que invalidamos atos negociais a elas subordinados,
Havendo conflito de interesses entre representado e por serem contrarias à ordem legal, como, p. ex., a outor-
representante, os atos negociais deverão, para ser váli- ga de uma vantagem pecuniária sob condição de haver
dos, ser celebrados por curador especial. renúncia ao trabalho.

26
Condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita: execução continuada, a efetivação da condição, exceto
As condições ilícitas ou as de fazer coisa ilícita são se houver disposição em contrário, não atingirá os atos
condenadas pela norma jurídica, pela moral e pelos bons já praticados, desde que conformes com a natureza da
costumes e, por isso, invalidam os negócios a que forem condição pendente e aos ditames da boa-fé. Acatado
apostas. Por exemplo: prometer uma recompensa sob a está princípio da irretroatividade da condição resolutiva.
condição de alguém viver em concubinato; dispensar, A condição suspensiva ou resolutiva valerá como rea-
se casado, os deveres de coabitação e fidelidade mútua; lizada se seu implemento for intencionalmente impedido
mudar de religião, ou, ainda, não se casar. por quem tirar vantagem com sua não-realização. Se a
parte beneficiada com o implemento da condição forçar
Condições incompreensíveis ou contraditórias: maliciosamente sua realização, esta será tida aos olhos
Se os negócios contiverem cláusulas que subordinem da lei como não verificada para todos os efeitos; p. ex.,
seus efeitos a evento futuro e incerto, mas eivadas de se alguém contempla certa pessoa com um legado sob
obscuridades, possibilitando várias interpretações pelas condição de prestar serviços a outrem, e o legatário ma-
dúvidas que levantam, tais atos negociais invalidar-se-ão. liciosamente cria uma situação que venha forçá-lo a ser
despedido sem justa causa, para receber o legado sem
Condição resolutiva impossível: ter de prestar serviços. Provada a má-fé do legatário, não
Se for aposta num negócio condição resolutiva im- se lhe entregará o legado. Se, ao contrário, se forçar uma
possível ou de não fazer coisa impossível, será tida como justa causa para despedir o legatário, com o intuito de
não escrita; logo, o negócio valerá como ato incondicio- privá-lo de receber o legado, provada a má-fé, o legado
nado, sendo puro e simples, como se condição alguma se ser-lhe-á entregue, mesmo que não continue a prestação
houvesse estabelecido, por ser considerado inexistente. de serviços.
Quanto aos atos de administração praticados na pen-
Condição suspensiva: dência da condição, ela não terá efeito retroativo, salvo
Será suspensiva a condição se as partes protelarem, se a lei expressamente o determinar, de maneira que tais
temporariamente, a eficácia do negócio até a realização atos serão intocáveis, e os frutos colhidos não precisarão
do acontecimento futuro e incerto. ser restituídos. Porém, a norma jurídica estabelece que a
Efeito da condição suspensivo pendente: Pendente condição terá efeito retroativo quanto aos atos de dispo-
a condição suspensiva não se terá direito adquirido, mas sição, que, com sua ocorrência, serão tidos como nulos.
expectativa de direito ou direito eventual. Só se adquire Não há que confundir o termo com o prazo, que é
o direito após implemento da condição. A eficácia do ato o lapso de tempo compreendido entre a declaração de
negocial ficará suspensa até que se realize o evento futu- vontade e a superveniência do termo em que começa o
ro e incerto. A condição se diz realizada quando o acon- exercício do direito ou extingue-se o direito até então
tecimento previsto se verificar. Ter-se-á, então, o aperfei- vigente.
çoamento do ato negocial, operando-se ex tunc, ou seja,
desde o dia de sua celebração, se inter vivos, e da data da
abertura da sucessão, se causa mortis, daí ser retroativo. #FicaDica
A retroatividade da condição suspensiva não é apli-
cável aos contratos reais, uma vez que só há transferên- O negócio jurídico válido deverá ter, como diz
cia de propriedade após a entrega do objeto sobre que crome, em todas as partes que o constituírem,
versam ou da escritura pública devidamente transcrita. um conteúdo legalmente permitido.
Esclarece Clóvis Beviláqua que o implemento da con-
dição suspensiva não terá efeito retroativo sobre bens
fungíveis, móveis adquiridos de boa-fé e imóveis, se não
constar do registro hipotecário a inscrição do título, onde Contagem dos prazos:
se acha consignada a condição. O prazo é contado por unidade de tempo (hora, dia,
Inserção posterior de novas disposições: A norma não mês e ano), excluindo-se o dia do começo (dies a quo) e
veda a possibilidade de, na pendência de uma condição incluindo-se o do vencimento (dies ad quem), salvo dis-
suspensiva, fazer novas disposições, que, todavia, não posição, legal ou convencional, em contrário. Se se as-
terão validade se, realizada a condição, forem com ela sumir uma obrigação dia 15 de maio, com prazo de um
incompatíveis. mês, não se computará o dia 15, e a obrigação vencer-
A condição resolutiva subordina a ineficácia do ne- -se-á dia 16 de junho.
gócio a um evento futuro e incerto. Enquanto a condi- Para resolver questões alusivas a prazo, o Código Ci-
ção não se realizar o negócio jurídico vigorará, podendo vil apresenta os seguintes princípios:
exercer-se desde a celebração deste o direito por ele
estabelecido. Mas, verificada a condição, para todos os a) se o vencimento do ato negocial cair em feriado
efeitos extingue-se o direito a que ela se opõe. Por exem- ou domingo, será prorrogado até o primeiro dia
plo, constituo uma renda em seu favor, enquanto você útil subsequente. Logo, como sábado não é feria-
DIREITO CIVIL

estudar. do, não há qualquer prorrogação, a não ser que o


Se uma condição resolutiva for aposta em um ato pagamento tenha de ser efetuado em Banco que
negocial, enquanto ela não se der; vigorará o negócio não tiver expediente aos sábados;
jurídico, mas, ocorrida a condição, operar-se-á a extinção
do direito a que ela se opõe. Mas, se tal negócio for de

27
b) se o termo vencer em meados de qualquer mês, o tante supõe estar adquirindo um lote de terreno de ex-
vencimento dar-se-á no décimo quinto dia, qual- celente localização, quando na verdade está comprando
quer que seja o número de dias que o acompa- um situado em péssimo local).
nham; assim sendo, pouco importará que o mês
tenha 28 ou 31 dias; - Erro sobre a qualidade essencial do objeto:
c) se o prazo estipulado for estabelecido por mês, este Apresentar-se-á o erro substancial quando recair so-
será contado do dia do início ao dia corresponden- bre a qualidade essencial do objeto, como, p. ex., se a
te do mês seguinte. Se no mês do vencimento não pessoa pensa adquirir um relógio de prata que, na reali-
houver o dia correspondente, o prazo findar-se-á dade, é de aço.
no primeiro dia subsequente;
d) se o prazo for fixado em horas, a contagem far-se- - Erro de direito:
-á de minuto a minuto. O errar juris não consiste apenas na ignorância da
norma jurídica, mas também em seu falso conhecimento
Os atos negociais inter vivos sem prazo serão exequí- e na sua interpretação errônea, podendo ainda abranger
veis imediatamente, abrangendo tanto a execução pro- a ideia errônea sobre as consequências jurídicas do ato
movida pelo credor como o cumprimento pelo devedor. negocial. Se o erro de direito afetar a manifestação voli-
Todavia, como nos ensina João Franzen de Lima: “não se tiva, tendo sido o principal ou o único motivo da realiza-
deve entender ao pé da letra, como sinônimo de imedia- ção do ato negocial, sem, contudo importar em recusa à
tamente, a expressão desde logo, contida na regra deste aplicação da lei vicia o consentimento. Para anular o ne-
dispositivo. Entendida ao pé da letra poderia frustrar o gócio não poderá, contudo recair sobre norma cogente,
benefício, poderia anular o negócio. Deve haver o tempo mas tão somente sobre normas dispositivas, sujeitas ao
bastante para que se realize o fim visado, ou se empre- livre acordo das partes.
guem meios para realizá-lo”.
Caso haverá em que impossível será o adimplemento - Erro na transmissão da vontade por instrumento
imediato. ou por interposta pessoa:
Se alguém recorrer a rádio, televisão, telefone, men-
Prazo tácito: sageiro ou telégrafo para transmitir uma declaração de
Para evitar hipóteses em que o adimplemento do vontade, e o veículo utilizado o fizer com incorreções,
contrato não se pode dar de imediato, esclarece o artigo acarretando desconformidade entre a vontade declarada
sub examine que, se a execução tiver de ser feita em local e a interna, poder-se-á alegar erro nas mesmas condi-
diverso ou depender de tempo, não poderá, obviamen- ções em que a manifestação volitiva se realiza inter pre-
te, prevalecer o imediatismo da execução. O prazo tácito sentes.
decorrerá, portanto, da natureza do negócio ou das cir-
cunstâncias. Por exemplo, no transporte de uma merca- Se uma declaração de vontade com certo conteúdo
doria de São Paulo a Manaus, mesmo que não haja prazo, for transmitida com conteúdo diverso, o negócio poderá
mister será um espaço de tempo para que seja possível ser passível de nulidade relativa, porque a manifestação
a efetivação da referida entrega no local designado; na de vontade do emitente não chegou corretamente à ou-
compra de uma safra de laranja, o prazo será a época da tra parte. Se, contudo, a alteração não vier a prejudicar o
colheita, mesmo que não tenha sido estipulado. real sentido da declaração expedida, o erro será insignifi-
cante e o negócio efetivado prevalecerá.
Erro substancial:
O erro é uma noção inexata sobre um objeto, que - Erro acidental:
influência a formação da vontade do declarante, que a O erro acidental diz respeito às qualidades secun-
emitirá de maneira diversa da que a manifestaria se dele dárias ou acessórias da pessoa, ou do objeto. Não terá
tivesse conhecimento exato. Para viciar a vontade e anu- qualquer influência na perfeição do negócio jurídico. O
lar o ato negocial, deste deverá ser substancial, escusável erro acidental não induz anulação do ato negocial por
e real. Escusável, no sentido de que há de ter por fun- não incidir sobre a declaração da vontade, se não puder
damento uma razão plausível ou ser de tal monta que por seu contexto e pelas circunstâncias identificar a pes-
qualquer pessoa de atenção ordinária seja capaz de co- soa ou a coisa. Assim, o erro sobre a qualidade da pes-
metê-lo em face da circunstância do negócio. Real, por soa, de ser ela casada ou solteira, não terá o condão de
importar efetivo dano para o interessado. O erro subs- anular um legado que lhe for feito, se puder identificar a
tancial é erro de fato por recair sobre circunstância de pessoa visada pelo testador, apesar de ter sido erronea-
fato, ou seja, sobre as qualidades essenciais da pessoa mente indicada.
ou da coisa. Poderá abranger o erro de direito, relativo à
existência de uma norma jurídica dispositiva, desde que - Erro de cálculo e sua retificação:
afete a manifestação da vontade, caso em que viciará o O errar in quantitate diz respeito a engano sobre peso,
consentimento. medida ou quantidade do bem, logo é erro acidental, não
DIREITO CIVIL

induzindo anulação do negócio, por não incidir sobre a


- Erro sobre o objeto principal da declaração: declaração da vontade. Se assim é, o erro de cálculo não
Ter-se-á erro substancial quando atingir o objeto anula o negócio, nem vicia o consentimento, autorizando
principal da declaração em sua identidade, isto é, o obje- tão-somente a retificação da declaração volitiva.
to não é o pretendido pelo agente (p. ex., se um contra-

28
Conceito de dolo: Se o dolo for provocado por terceira pessoa a mando
Dolo, segundo Clóvis Beviláqua, é o emprego de um de um dos contratantes ou com o concurso direto deste,
artifício astucioso para induzir alguém à prática de um ato o terceiro e o contratante serão tidos como autores do
que o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. dolo. Poder-se-á apresentar três hipóteses:
O dolus malus, de que cuida o art. 145, é defeito do ato a) o dolo poderá ser praticado por terceiro com a
jurídico, idôneo a provocar sua anulabilidade, dado que cumplicidade de um dos contratantes;
tal artifício consegue ludibriar pessoas sensatas e atentas. b) o artifício doloso advém de terceiro, mas a pane, a
quem aproveita, o conhece ou o deveria conhecer;
O dolo principal é aquele que dá causa ao negócio e c) o dolo é obra de terceiro, sem que dele tenha
jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarre- ciência o contratante favorecido.
tando a anulação daquele ato negocial. Para que o dolo
principal se configure e tome passível de anulação o ato Se o dolo de terceiro apresentar-se por cumplicidade
negocial, será preciso que: de um dos contratantes ou se este dele tiver conheci-
a) haja intenção de induzir o declarante a praticar o mento, o ato negocial anular-se-á, por vício de consen-
negócio lesivo à vítima; timento, e se terá indenização de perdas e danos a que
b) os artifícios maliciosos sejam graves, aproveitan- será obrigado o autor do dolo, mesmo que o negócio
do a quem os alega, por indicar fatos falsos, por jurídico subsista. Se o contratante favorecido não tiver
suprimir ou alterar os verdadeiros ou por silenciar
conhecimento do dolo de terceiro, o negócio efetivado
algum fato que se devesse revelar ao outro con-
continuará válido, mas o terceiro deverá responder pelos
tratante;
danos que causar. Logo, se houver dolo principal de ter-
c) seja a causa determinante da declaração de von-
tade, cujo efeito será a anulabilidade do ato, por ceiro, e uma das partes tiver ciência dele, não advertindo
consistir num vício de consentimento; e o outro contratante da manobra, tornar-se-á correspon-
d) proceda do outro contratante, ou seja, deste co- sável pelo engano a que a outra parte foi induzida, que
nhecido, se procedente de terceiro. terá, por isso, o direito de anular o ato, desde quê prove
que o outro contratante sabia da dolosa participação do
- Dolus incidens: terceiro. Assim, se não se provar, no negócio, que uma
O dolo acidental ou dolus incidens é o que leva a das partes conhecia o dolo de terceiro, e mesmo que
vítima a realizar o negócio, porém em condições mais haja presunção desse conhecimento, não poderá o ato
onerosas ou menos vantajosas, não afetando sua decla- ser anulado.
ração de vontade, embora venha a provocar desvios, não
se constituindo vício de consentimento, por não influir - Dolo de representante legal ou convencional:
diretamente na realização do ato negocial que se teria O dolo de representante legal ou convencional de
praticado independentemente do emprego das mano- uma das partes não pode ser considerado de terceiro,
bras astuciosas. pois, nessa qualidade, age como se fosse o próprio re-
O dolo acidental, por não ser vício de consentimento presentado, sujeitando-o à responsabilidade civil até a
nem causa do contrato, não acarretará a anulação do ne- importância do proveito que tirou do ato negocial, com
gócio, obrigando apenas à satisfação de perdas e danos ação regressiva contra o representante. O representado
ou a uma redução da prestação convencionada. deverá restituir o lucro ou vantagem oriunda do ato do-
loso de seu representante ante o princípio que veda o
- Dolo positivo e dolo negativo: enriquecimento sem causa, tendo, porém, uma actio de
O dolo positivo é o artifício astucioso decorrente de in rem verso. E se o representante for convencional, deve-
ato comissivo em que a outra parte é levada a contra- rá responder solidariamente com ele por perdas e danos.
tar por força de afirmações falsas sobre a qualidade da
coisa. O dolo negativo, previsto no Art. 147, vem a ser a Pode haver dolo de ambas as partes que agem dolo-
manobra astuciosa que constitui uma omissão dolosa ou
samente, praticando ato comissivo ou configurando-se
reticente para induzir um dos contratantes a realizar o
torpeza bilateral. Se o ato negocial foi realizado em virtu-
negócio. Ocorrerá quando uma das partes vem a ocultar
de de dolo principal ou acidental de ambos os contratan-
algo que a outra deveria saber e se sabedora não teria
efetivado o ato negocial. O dolo negativo acarretará anu- tes, não poderá ser anulado, nem se poderá pleitear in-
lação do ato se for dolo principal. denização; ter-se-á uma neutralização do delito porque
Para o dolo negativo deverá haver: há compensação entre dois ilícitos; a ninguém caberá se
a) um contrato bilateral; aproveitar do próprio dolo. Se ambas as partes contra-
b) intenção de induzir o outro contratante a praticar tantes se enganaram reciprocamente, uma não poderá
o negócio jurídico; invocar contra a outra o dolo, que ficará paralisado pelo
c) silêncio sobre uma circunstância ignorada pela ou- dolo próprio.
tra parte;
d) relação de causalidade entre omissão intencional e Coação:
DIREITO CIVIL

a declaração volitiva; Para que haja coação moral, suscetível de anular ato
e) ato omissivo do outro contratante e não de ter- negocial, será preciso que:
ceiro; a) seja a causa determinante do negócio jurídico, pois
f) prova da não-realização do negócio se o fato omi- deverá haver um nexo causal entre o meio intimi-
tido fosse conhecido da outra parte contratante. dativo e o ato realizado pela vítima;

29
b) incuta à vítima um temor justificado, por subme- A coação exercida por terceiro vicia o negócio jurídi-
tê-la a um processo que lhe produza ou venha a co, causando sua anulabilidade, se dela teve ou devesse
produzir dor (morte, cárcere privado, desonra, mu- ter conhecimento o contratante que dela se aproveitar.
tilação, escândalo etc.), fazendo-a recear a conti- Havendo coação exercida por terceiro, urge averiguar,
nuação ou o agravamento do mal se não manifes- para apurar a responsabilidade civil, se a parte a quem
tar sua vontade no sentido que se lhe exige; aproveite teve prévio conhecimento dela, pois esta res-
c) o temor diga respeito a um dano iminente, susce- ponderá solidariamente com o coator por todas as per-
tível de atingir a pessoa da vítima, sua família ou das e danos causados ao coacto. Logo, além da anulação
seus bens. E se o ato coativo disser respeito a pes- do ato negocial pelo vício de consentimento, a vitima
soa não pertencente à família da vítima, o órgão terá direito de ser indenizada pelos prejuízos sofridos,
judicante, com equidade e com base nas circuns- ficando solidariamente obrigados a isso o autor da via
tâncias, decidirá se houve, ou não, coação; compulsiva e o outro contraente que dela teve ciência e
d) o dano seja considerável ou grave, podendo ser dela auferiu vantagens.
moral, se a ameaça se dirigir contra a vida, liber-
dade, honra da vítima ou de pessoa de sua famí- Estado de perigo:
lia, ou patrimonial, se a coação disser respeito aos No estado de perigo, há temor de grave dano mo-
seus bens. O dano ameaçado deverá ser efetivo ou ral ou material à própria pessoa, ou a parente seu, que
potencial a um bem pessoal ou patrimonial. E ne- compele o declarante a concluir contrato, mediante pres-
cessário, portanto, que a ameaça se refira a prejuí- tação exorbitante. A pessoa natural premida pela neces-
zo que influencie a vontade do coacto a ponto de sidade de salvar-se a si própria, ou a um familiar seu, de
alterar suas determinações, embora não possa, no algum mal conhecido pelo outro contratante, vem a as-
momento, verificar, com justeza, se será inferior ou sumir obrigação demasiadamente onerosa. Por exemplo:
superior ao resultante do ato extorquido. venda de casa a preço fora do valor mercadológico para
pagar um débito assumido em razão de urgente inter-
venção cirúrgica, por encontrar-se em perigo de vida.
Ao apreciar a gravidade da via compulsiva, o magis-
Em se tratando de pessoa não pertencente à família
trado deverá, em cada caso concreto, ater-se aos meios
do declarante, o juiz decidirá pela ocorrência, ou não, do
empregados pelo coator, verificando se produzem cons-
estado de perigo, segundo as circunstâncias, guiando-se
trangimento moral, sem olvidar o sexo, a idade, a condi-
pelo bom senso.
ção social, a saúde e o temperamento da vítima. Deverá,
portanto, averiguar quaisquer circunstâncias, sejam elas
Lesão:
pessoais ou sociais, que concorram ou influam sobre o
E um vício de consentimento decorrente do abuso
estado moral do coacto, levando-o a executar ato ne- praticado em situação de desigualdade de um dos con-
gocial que se lhe é exigido. Isto é assim porque a lei, ao tratantes, por estar sob premente necessidade, ou por
pressupor que todos somos dotados de certa energia inexperiência, visando a protegê-lo ante o prejuízo so-
ou grau de resistência, não desconhece que sexo, ida- frido na conclusão do contrato, devido à desproporção
de, saúde, condição social, temperamento podem tornar existente entre as prestações das duas partes, dispensan-
decisiva a coação, que, exercida em certas circunstâncias, do-se a verificação do dolo, ou má-fé, da pane que se
pode pressionar e influir mais poderosamente. aproveitou.
A desproporção das prestações, ocorrendo lesão, de-
- Excludentes da coação: verá ser apreciada segundo os valores vigentes ao tempo
Não se considerará coação, portanto, vício de con- da celebração do negócio jurídico pela técnica pericial e
sentimento suscetível de anular negócio, a ameaça do avaliada pelo magistrado. Se a desproporcionalidade for
exercício normal de um direito e o simples temor reve- superveniente à formação do negócio, será juridicamen-
rencial. Assim, se algum negócio for levado a efeito por te irrelevante.
um dos contratantes nas circunstâncias acima enumera- A lesão inclui-se entre os vicio de consentimento e
das, não se justificará a anulabilidade do ato, que perma- acarretará a anulabilidade do negócio, permitindo-se,
necerá válido, uma vez que não se trata de coação. porém, para evitá-la, a oferta de suplemento suficiente,
ou, se o favorecido concordar, a redução da vantagem,
- Ameaça do exercício normal de um direito: aproveitando, assim, o negócio.
A ameaça do exercício normal de um direito exclui
a coação, porque se exige que a violência seja injusta. Fraude contra credores e seus elementos:
Desse modo, se um credor de dívida vencida e não paga A fraude contra credores constitui a prática malicio-
ameaçar o devedor de protestar o título e requerer fa- sa, pelo devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio,
lência, não se configurará a coação por ser ameaça justa com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívi-
que se prende ao exercício normal de um direito; logo o das em detrimento dos direitos creditórios alheios. Dois
devedor não poderá reclamar a anulação do protesto. O são seus elementos: o objetivo, que é todo ato prejudicial
simples temor reverencial vem a ser o receio de desgos- ao credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter
DIREITO CIVIL

tar ascendente ou pessoa a quem se deva obediência e sido realizado em estado de insolvência, ainda quando o
respeito, que não poderá anular o negócio, desde que ignore ou ante o fato de a garantia tornar-se insuficien-
não esteja acompanhado de ameaças ou violências irre- te; e o subjetivo que é a má-fé, a intenção de prejudicar
sistíveis. do devedor ou do devedor aliado a terceiro, ilidindo os
efeitos da cobrança.

30
- Estado de insolvência: - Ação pauliana contra o devedor insolvente:
Pelo art. 748 do Código de Processo Civil, ter-se-á in- Em regra a revocatória deverá ser intentada contra o
solvência sempre que os débitos forem superiores à im- devedor insolvente, seja em caso de transmissão gratuita
portância dos bens do devedor. A prova da insolvência de bens, seja na hipótese de alienação onerosa, tendo-se
far-se-á, em regra, com a execução da dívida. em vista que tal ação visa tão-somente anular um ne-
gócio celebrado em prejuízo do credor. Mas nada obsta
- Ação pauliana: a que seja movida contra a pessoa que com ele veio a
A fraude contra credores, que vicia o negócio de sim- efetivar o ato fraudulento ou contra terceiro adquiren-
ples anulabilidade, somente é atacável por ação paulia- te de má-fé. Logo, poderá ser proposta contra os que
na ou revogatória, movida pelos credores quirografários intervieram na fraude contra credores, citando-se todos
(sem garantia) que já o eram ao tempo da prática desse que nela tiverem tomado pane. “O litisconsórcio, na ação
ato fraudulento que se pretende invalidar. O credor com pauliana, é obrigatório. Não podem as partes dispensá-
garantia real (penhor, hipoteca ou anticrese) não poderá -lo” (RT, 447/147).
reclamar a anulação, por ter no ônus real a segurança de
seu reembolso. - Revocatória contra a pessoa que celebrou o ato
fraudatório com o devedor insolvente:
Contrato oneroso fraudulento: Poderão ser acionados por terem celebrado estipula-
Será suscetível de fraude o negócio jurídico a título ção fraudulenta com o devedor insolvente:
oneroso se praticado por devedor insolvente ou quando a) herdeiros do adquirente, com a restrição do art.
a insolvência for notória ou se houver motivo para ser 1.792 do Código Civil;
conhecida do outro contratante. Podendo ser anulado b) contratante ou adquirente de boa-fé, sendo o ato
pelo credor. Por exemplo, quando se vender imóvel em a título gratuito, embora não tenha o dever de res-
data próxima ao vencimento das 0brigações inexistindo tituir os frutos percebidos (CC, art. 1.214) nem o de
outros bens para saldaria dívida. responder pela perda ou deterioração da coisa, a
Será notória a insolvência de certo devedor se for tal que não deu causa (CC, art. 1.217), tendo, ainda, o
estado do conhecimento geral. Todavia, desta notorieda- direito de ser indenizado pelas benfeitorias úteis e
de não se poderá dispensar prova; logo todos os meios necessárias que fez (CC, art. 1.219);
probatórios serão admitidos. Por exemplo, será notória a c) adquirente de boa-fé, sendo o negócio oneroso,
insolvência se o devedor tiver seus títulos protestados ou hipótese em que, com a revogação do ato lesivo e
ações judiciais que impliquem a vinculação de seus bens. restituição do bem ao patrimônio do devedor, se
Será presumida a insolvência quando as circunstân- entregará ao contratante acionado a contrapres-
cias indicarem tal estado, que já devia ser do conheci- tação que forneceu, em espécie ou no equivalen-
mento do outro contraente que tinha motivos para saber te. Quem receber bem do devedor insolvente, por
da situação financeira precária do alienante. Por exem- ato oneroso ou gratuito, conhecendo seu estado
plo, preço vil, parentesco próximo alienação de todos os de insolvência, será obrigado a devolvê-lo, com os
bens, relações de amizade, de negócios mútuos etc. frutos percebidos e percipiendos (CC, art. 1.216),
tendo, ainda, de indenizar os danos sofridos pela
perda ou deterioração da coisa, exceto se demons-
- Perda da legitimação ativa para mover ação pau-
trar que eles sobreviriam se ela estivesse em poder
liana:
do devedor (CC, art. 1.218). Todavia, resguardado
Perderão os credores a legitimação ativa para mover
estará seu direito à indenização das benfeitorias
a ação revocatória dos bens do devedor insolvente que
necessárias que, porventura, tiver feito no bem
ainda não pagou q preço, que é o corrente, depositá-lo
(CC, art. 1.220).
em juízo, com citação em edital de todos os interessados
ou, ainda, se o adquirente, sendo o preço inferior, para - Ação pauliana contra terceiro adquirente de má-fé:
conservar os bens, depositar quantia correspondente ao O terceiro será aquele que veio a adquirir o bem
valor real. daquele que o obteve diretamente do alienante
Para que não haja nulidade relativa do negócio jurídi- insolvente, ou melhor, é o segundo adquirente ou
co lesivo a credor, será mister que o adquirente: sub adquirente que, estando de má-fé, deverá ser
a) ainda não tenha pago o preço real, justo ou cor- acionado e restituir o bem.
rente;
b) promova o depósito judicial desse preço; e O pagamento antecipado do débito a credores frus-
c) requeira a citação em edital de todos os interessa- tra a igualdade que deve existir entre os credores quiro-
dos, para que tomem ciência do depósito. grafários, que, por tal razão, poderão propor ação pau-
liana para invalidá-lo, determinando que o beneficiado
Com isso estará assegurando a satisfação dos credo- reponha o que recebeu em proveito do acervo.
res, não se justificando a rescisão contratual, pois ela não O credor que vier a receber pagamento de dívida ain-
trará qualquer vantagem aos credores defraudados, que, da não vencida será obrigado a devolver o que recebeu,
DIREITO CIVIL

no processo de consignação em pagamento, poderão, se mas essa devolução não apenas aproveitará aos que o
for o caso, contestar o preço alegado, hipótese em que o acionaram, pois reverterá em beneficio do acervo do de-
magistrado deverá determinar a perícia avaliatória. vedor, que deverá ser partilhado entre todos os credores
que legalmente estiverem habilitados no concurso cre-
ditório.

31
Se o devedor insolvente vier a contrair novo débito, do ato dissimulado se válido for na forma e na substân-
visando beneficiar os próprios credores, por ter o esco- cia e diante, por exemplo, como veremos logo mais, do
po de adquirir objetos imprescindíveis não só ao fun- prescrito no art. 496 do Código Civil.
cionamento do seu estabelecimento mercantil, rural ou
industrial, evitando a paralisação de suas atividades e - Simulação absoluta:
consequentemente a piora de seu estado de insolvência Ter-se-á simulação absoluta quando a declaração en-
e o aumento do prejuízo aos seus credores, mas tam- ganosa da vontade exprime um negócio jurídico bilateral
bém à sua subsistência e a de sua família, o negócio por ou unilateral, não havendo intenção de realizar ato nego-
ele contraído será válido, ante a presunção em favor da cial algum. Por exemplo, é o caso da emissão de títulos
boa-fé. de crédito, que não representam qualquer negócio, feita
Todos os novos compromissos indispensáveis à con- pelo marido antes da separação judicial para lesar a mu-
servação e administração do patrimônio do devedor lher na partilha de bens.
insolvente, mesmo que o novo credor saiba de sua in-
solvência, serão tidos como válidos, e o novel credor - Simulação relativa:
equiparar-se-á aos credores anteriores. A dívida con- A simulação relativa é a que resulta no intencional de-
traída pelo insolvente com tal finalidade não constituirá sacordo entre a vontade interna e a declarada. Ocorrerá
fraude contra credores, sendo incabível a ação pauliana. sempre que alguém, sob a aparência de um negócio fic-
A ação pauliana tem por primordial efeito a revoga- tício, realizar outro que é o verdadeiro, diverso, no todo
ção do negócio lesivo aos interesses dos credores qui- ou em parte, do primeiro, com o escopo de prejudicar
rografários, repondo o bem no patrimônio do devedor, terceiro. Apresentam-se dois contratos: um real e outro
cancelando a garantia real concedida em proveito ao aparente. Os contratantes visam ocultar de terceiros o
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de cre- contrato real, que é o querido por eles.
dores, possibilitando a efetivação do rateio, aproveitan-
do a todos os credores e não apenas ao que a intentou. - Modalidades de simulação relativa:
Se, porventura, o ato invalidado tinha por único es-
A simulação relativa poderá ser:
copo conferir garantias reais, como penhor, hipoteca
a) subjetiva, se a parte contratante não tira proveito
e anticrese, sua anulabilidade alcançará tão-somente a
do negócio, por ser o sujeito aparente. O negó-
da preferência estabelecida pela referida garantia; logo
cio não é efetuado pelas próprias partes, mas por
a obrigação principal (débito) continuará tendo valida-
pessoa interposta ficticiamente. Por exemplo, é o
de. Com a anulação da garantia, o credor não irá perder
que sucede na venda realizada a um terceiro para
seu crédito, pois figurará, perdendo a preferência, como
que ele transmita a coisa a um descendente do
quirografário, entrando no rateio final do concurso cre-
alienante, a quem se tem a intenção de transferi-la
ditório.
desde o início, burlando-se o disposto no Art. 496
Conceito de nulidade: do Código Civil, mas tal simulação só se efetivará
Nulidade é a sanção, imposta pela norma jurídica, quando se completar com a transmissão dos bens
que determina a privação dos efeitos jurídicos do ato ao real adquirente (STF, Sumulas 152 e 494);
negocial praticado em desobediência ao que prescreve. b) objetiva, se respeitar à natureza do negócio pre-
tendido, ao objeto ou a um de seus elementos
- Efeitos da nulidade absoluta: contratuais; se o negócio contiver declaração, con-
Com a declaração da nulidade absoluta do negócio fissão, condição ou cláusula não verdadeira - é o
jurídico, este não produzirá qualquer efeito por ofender que se dá, p. ex., com a hipótese em que as partes
princípios de ordem pública, por estar inquinado por ví- na escritura de compra e venda declaram preço in-
cios essenciais. Por exemplo, se for praticado por pessoa ferior ao convencionado com a intenção de burlar
absolutamente incapaz (CC, art. 32); se tiver objeto ilícito o fisco, pagando menos imposto; se as partes co-
ou impossível; se não revestir a forma prescrita em lei locarem, no instrumento particular, a antedata ou a
ou preterir alguma solenidade imprescindível para sua pós-data, constante no documento, não aquela em
validade; se tiver por objetivo fraudar lei imperativa; e que o mesmo foi assinado, pois a falsa data indica
quando a lei taxativamente o declarar nulo ou lhe negar intenção discordante da verdade.
efeito. De modo que um negócio nulo é como se nunca
tivesse existido desde sua formação, pois a declaração de - Direitos de terceiro de boa-fé:
sua invalidade produz efeito ex tunc (Súmula 346 do STF). Havendo decretação da invalidação do negócio jurí-
dico simulado, os direitos de terceiro de boa-fé em face
- Simulação como vício social: dos contratantes deverão ser respeitados.
Consiste num desacordo intencional entre a vontade
interna e a declarada para criar, aparentemente, um ato - Dissimulação e simulação:
negocial que inexiste, ou para ocultar, sob determinada Não há que confundir a simulação com a dissimula-
DIREITO CIVIL

aparência, o negócio quando, enganando terceiro, acar- ção. A simulação provoca falsa crença num estado não
retando a nulidade do negócio. Mas entendemos que real; quer enganar sobre a existência de uma situação
tecnicamente mais apropriado seria admitir a sua anula- não verdadeira, tornando nulo o negócio. A dissimula-
bilidade, por uma questão de coerência lógica ao dispos- ção oculta ao conhecimento de outrem uma situação
to no caput do art. 167, em que se admite a subsistência existente, pretendendo, portanto, incutir no espírito de

32
alguém a inexistência de uma situação real. No negócio - Confirmação expressa:
jurídico subsistirá o que se dissimulou se válido for, na O ato de confirmação deverá conter a substância da
substância e na forma. obrigação confinada e a vontade expressa de confirmá-la.
Logo, preciso será que se deixe patente a livre intentio de
O negócio nulo não poderá ser confirmado, nem con- confirmar ato negocial que se sabe anulável, devendo-se,
valescerá pelo decurso do tempo. para tanto, conter, por extenso, o contrato primitivo que
se pretende confinar, indicando-o de modo que não haja
- Conversão do ato negocial nulo: dúvida alguma. Não se poderá fazer uso de frases vagas
A conversão acarreta nova qualificação do negócio ou imprecisas, pois a vontade de ratificar deverá constar
jurídico. Refere-se à hipótese em que o negócio nulo não de declarações explícitas e claras.
pode prevalecer na forma pretendida pelas partes, mas,
como seus elementos são idôneos para caracterizar ou- - Forma da confirmação:
tro, pode ser transformado em outro de natureza diversa, O ato de confirmação deverá observar a mesma for-
desde que isso não seja proibido, taxativamente, como ma prescrita para o contrato que se quer confirmar. As-
sucede nos casos de testamento. Assim sendo, ter-se-á sim, se se for confirmar uma doação de imóvel, o ato
conversão própria apenas se se verificar que os contra- de ratificação deverá constar de escritura pública, por ser
tantes teriam pretendido a celebração de outro contra- esta da substância do ato.
to, se tivessem ciência da nulidade do que realizaram. A
conversão subordinar-se-á à intenção das partes de dar - Confirmação tácita:
vida a um contrato diverso, na hipótese de nulidade do A confirmação tácita dar-se-á quando a obrigação já
contrato que foi por elas estipulado, mas também à for- tiver sido parcialmente cumprida pelo devedor conhe-
ma, por ser imprescindível que, no contrato nulo, tenha cedor do vício que a maculava, tomando-a anulável. A
havido observância dos requisitos de substância e de for- vontade de confirmar está ínsita, pois, mesmo sabendo
ma do contrato em que poderá ser transformado para do vício, o confirmador não se importou com ele, e teve
produzir efeitos. a intenção de confirmá-lo e de reparar a mácula.
A nulidade relativa ou anulabilidade refere-se, na li-
ção de Clóvis Beviláqua, “a negócios que se acham in- - Requisitos:
quinados de vício capaz de lhes determinar a ineficácia, Para que se configure a confirmação tácita será mis-
mas que poderá ser eliminado, restabelecendo-se a sua ter que haja:
normalidade”. a) voluntária execução parcial da obrigação;
b) conhecimento do vício que a toma anulável; e
- Atos negociais anuláveis: c) intenção de confirmá-la.
Serão anuláveis os negócios se:
a) praticados por pessoa relativamente incapaz (CC, Prova: A prova da confirmação tácita competirá a
art. 42) sem a devida assistência de seus legítimos quem a arguir.
representantes legais (CC, art. 1.634, V);
b) viciados por erro, dolo, coação, estado de peri- A confirmação expressa, ou a execução voluntária da
go, lesão ou fraude contra credores, simulação ou obrigação anulável, conduzirá ao entendimento de que
fraude (CC, arts. 138 e 165); e houve renúncia a todas as ações, ou exceções, de que o
c) a lei assim o declarar, tendo em vista a situação devedor dispusesse contra o ato. Deveras, se o ato for
particular em que se encontra determinada pessoa passível de anulação, o lesado poderá lançar mão de
(CC, Art. 1.650). uma ação, mas se houve confirmação expressa ou táci-
ta, subentende-se que houve renúncia a qualquer provi-
Confirmação: dência que possa obter a decretação judicial da nulidade
A nulidade relativa pode convalescer, sendo confirma- relativa.
da, expressa ou tacitamente, pelas partes, salvo direito de
terceiro. A confirmação é, portanto, segundo Serpa Lo- - Irrevogabilidade da renúncia:
pes, o ato jurídico pelo qual uma pessoa faz desaparecer Com a ratificação não mais será possível anular o ato
os vícios dos quais se encontra inquinada uma obrigação negocial viciado, pois a nulidade deixou de existir, ante a
contra a qual era possível prover-se por via de nulidade irrevogabilidade do ato ratificatório, que validou a obri-
ou de rescisão. O ato nulo, por sua vez, será insuscetível gação em definitivo.
de ratificação, por prevalecer o interesse público. Se a nulidade relativa do ato negocial ocorrer por fal-
A confirmação retroage à data do ato, logo, seu efeito ta de autorização de terceiro, passará a ter validade se,
é ex tunc, tornando válido o negócio desde sua forma- posteriormente, tal anuência se der.
ção, resguardados os direitos, já constituídos, de tercei-
ros. Para tanto será necessário que o ratificante conceda - Efeito “ex nunc” da declaração judicial de nuli-
a ratificação no momento em que haja cessado o vício dade relativa:
DIREITO CIVIL

que maculava o negócio e que o ato confirmativo não A declaração judicial de ineficácia do ato negocial
incorra em vício de nulidade. opera ex nunc, de modo que o negócio produz efeitos
até esse momento, respeitando-se as consequências ge-
radas anteriormente. Tal ocorre porque a anulabilidade
prende-se a uma desconformidade que a norma consi-

33
dera menos grave, uma vez que o negócio anulável vio- Se for impossível que os contratantes voltem ao esta-
la preceito concernente a interesses meramente indivi- do em que se achavam antes da efetivação negocial, por
duais, acarretando uma reação menos extrema. não mais existir a coisa ou por ser inviável a reconstitui-
A anulabilidade só pode ser alegada pelos prejudica- ção da situação jurídica, o lesado será indenizado com o
dos com o negócio ou por seus representantes legítimos, equivalente.
não podendo ser decretada ex officio pelo juiz. Sendo
que só aproveitará à parte que a alegou, com exceção de - Exceções:
indivisibilidade ou solidariedade. A norma do art. 182, ora comentado, comporta’ as
seguintes exceções:
O prazo de decadência para pleitear, judicialmente, a a) impossibilidade de reclamação do que se pagou a
anulação do negócio jurídico é de quatro anos, contado, incapaz, se não se provar que reverteu em proveito
havendo: dele a importância paga (CC, art. 181); e
a) coação, do dia em que ela cessar; b) o possuidor de boa-fé poderá fruir das vantagens
b) erro, dolo, fraude contra credores, estado de peri- que lhe são inerentes, como no caso dos frutos
go ou lesão, do dia da celebração do ato negocial; percebidos e das benfeitorias que fizer (CC, arts.
e 1.214 e 1.219).
c) ato de incapaz, do dia em que cessar a incapaci-
dade. - Nulidade parcial de um negócio:
A nulidade parcial de um ato negocial não o atingirá
- Proibição de alegação da menoridade para exi- na pane válida, se esta puder subsistir autonomamente,
mir-se de obrigação assumida: devido ao princípio utile per mutile non vitiatur.
O menor, entre dezesseis e vinte um- anos não po-
derá invocar a proteção legal em favor de sua incapa- - Nulidade da obrigação principal:
cidade para eximir-se da obrigação ou para anular um A nulidade da obrigação principal implicará a da
ato negocial que tenha praticado, sem a devida assistên- acessória, p. ex., a nulidade de um contrato de locação
cia, se agiu dolosamente, escondendo sua idade, quan- acarretará a da fiança, devido ao princípio de que o ac-
do inquirido pela outra parte, ou se espontaneamente cessorium sequitur suum principale.
se declarou maior. O menor não poderá, portanto, em
tais circunstancias, alegar sua menoridade para escapar - Nulidade da obrigação acessória:
à obrigação contraída. A nulidade da obrigação acessória não atingirá a
Não será juridicamente admissível que alguém se obrigação principal, que permanecerá válida e eficaz. Se
prevaleça de sua própria malícia para tirar proveito de numa locação for anulada a fiança, o pacto locatício sub-
um ato ilícito, causando dano ao outro contratante de sistirá.
boa-fé, protegendo-se, assim, o interesse público.
Se não houver malícia por parte do incapaz, ter-se-á
a invalidação de seu ato, que será, então, nulo, se sua #FicaDica
incapacidade for absoluta, ou anulável, se relativa for, Dolo é o emprego de um artifício astucioso
sendo que, neste último caso, competirá ao incapaz, e para induzir alguém à prática de um ato que
não àquele que com ele contratou, pleitear a anulabilida- o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a
de do negócio efetivado. Se a incapacidade for absoluta, terceiro.
qualquer interessado poderá pedir a nulidade do ato ne- A coação exercida por terceiro vicia o negócio
gocial, e até mesmo o magistrado poderá pronunciá-la jurídico, causando sua anulabilidade, se dela
de ofício. teve ou devesse ter conhecimento o contra-
tante que dela se aproveitar.
- Impossibilidade de reclamar a devolução da im-
portância paga a incapaz:
O absoluta ou relativamente incapaz não terá o dever
de restituir o que recebeu em razão do ato negocial con- ATOS JURÍDICOS LÍCITOS E ILÍCITOS.
traído e declarado inválido, a não ser que o outro contra-
tante prove que o pagamento feito reverteu em proveito
do incapaz. A parte contrária, para obter a devolução do Ato ilícito:
quantum pago ao menor, deverá demonstrar que o in-
capaz veio a se enriquecer com o pagamento que lhe foi O ato ilícito é praticado em desacordo com a ordem
feito em virtude do ato negocial invalidado. jurídica, violando direito subjetivo individual. Causa dano
Com a invalidação do ato negocial ter-se-á a restitui- patrimonial ou moral a outrem, criando o dever de repa-
ção das partes contratantes ao statu quo ante, ou seja, ao rá-lo (STJ, Súmula 37).
estado em que se encontravam antes da efetivação do Logo, produz efeito jurídico, só que este não é dese-
DIREITO CIVIL

negócio. O pronunciamento da nulidade absoluta ou re- jado pelo agente, mas imposto pela lei.
lativa requer que as partes retomem ao estado anterior,
como se o ato nunca tivesse ocorrido. Por exemplo, com - Elementos essenciais:
a nulidade de uma escritura de compra e venda, o com- Para que se configure o ato ilícito, será imprescindível
prador devolve o imóvel, e o vendedor, o preço. que haja:

34
a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por Juntamente com os negócios jurídicos constituem es-
ação ou omissão voluntária, negligência ou impru- pécie de um gênero, que é o ato jurídico em sentido am-
dência; plo. E, assim sendo, aos atos lícitos, que não são negócios
b) ocorrência de um dano patrimonial ou moral, sen- jurídicos, aplicam-se, no que couberem, as disposições
do que pela Súmula 37 do Superior Tribunal de atinentes aos negócios jurídicos.
Justiça serão cumuláveis as indenizações por dano
material e moral decorrentes do mesmo fato;
c) nexo de causalidade entre o dano e o comporta-
mento do agente. #FicaDica
O ato ilícito é praticado em desacordo com a
- Consequência do ato ilícito: ordem jurídica, violando direito subjetivo in-
A obrigação de indenizar é a consequência jurídica do dividual. Causa dano patrimonial ou moral a
ato ilícito (CC, arts. 927 a 954), sendo que a atualização outrem, criando o dever de repará-lo.
monetária incidirá sobre essa dívida a partir da data do
ilícito (Súmula 43 do STJ).

- Abuso de direito ou exercício irregular do direi-


to: EXERCÍCIO COMENTADO
O uso de um direito, poder ou coisa, além do permi-
tido ou extrapolando as limitações jurídicas, lesando al-
guém, traz como efeito o dever de indenizar. Realmente, 1. (TJ-SC - Juiz Substituto - CESPE – 2019). A declara-
sob a aparência de um ato legal ou lícito, esconde-se a ção enganosa de vontade que vise à produção, no negó-
ilicitude no resultado, por atentado ao princípio da boa- cio jurídico, de efeito diverso do apontado como preten-
-fé e aos bons costumes ou por desvio de finalidade so- dido consiste em defeito denominado
cioeconômica para a qual o direito foi estabelecido.
a) simulação.
b) erro.
- Atos lesivos que não são ilícitos:
c) dolo.
Há hipóteses excepcionais que não constituem atos
d) lesão.
ilícitos apesar de causarem danos aos direitos de outrem,
e) reserva mental.
isto porque o procedimento lesivo do agente, por mo-
tivo legítimo estabelecido em lei, não acarreta o dever
Resposta: Letra A.
de indenizar, porque a própria norma jurídica lhe retira a “Ela se caracteriza por um desacordo intencional entre
qualificação de ilícito. Assim, ante o artigo sub examine a vontade interna e a declarada, no sentido de criar,
não são ilícitos: a legítima defesa, o exercício regular de aparentemente, um ato jurídico que, de fato, não exis-
um direito e o estado de necessidade. te, ou então oculta, sob determinada aparência, o ato
realmente querido” (Monteiro, W. B, Curso de Direito
- Legítima defesa: Civil, Editora Saraiva, edição 2005).
A legítima defesa exclui a responsabilidade pelo pre-
juízo causado se, com uso moderado de meios necessá-
rios, alguém repelir injusta agressão, atual ou iminente, a PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA.
direito seu ou de outrem.
- Exercício regular de um direito reconhecido: Se al-
guém no uso normal de um direito lesar outrem Para resguardar seus direitos, o titular deve praticar
não terá qualquer responsabilidade pelo dano, por atos conservatórios, como: protesto, retenção (CC, Art.
não ser um procedimento ilícito. 1.219), arresto, sequestro, caução fidejussória ou real,
- Estado de necessidade: O estado de necessidade interpelações judiciais para constituir devedor em mora.
consiste na ofensa do direito alheio para remover E quando sofrer ameaça ou violação, o direito subjetivo
perigo iminente, quando as circunstâncias o torna- será protegido por ação judicial Nasce então, para o ti-
rem absolutamente necessário e quando não ex- tular, a pretensão que se extinguirá nos prazos arrolados
ceder os limites do indispensável para a remoção nos arts. 205 e 206.
do perigo. Somente depois de consumada a prescrição, desde
que não haja prejuízo de terceiro, é que poderá haver
Disciplina jurídica dos atos jurídicos em sentido renúncia expressa ou tácita por parte do interessado.
estrito: Como se vê, não se permite a renúncia prévia ou anteci-
Os atos jurídicos em sentido estrito geram conse- pada à prescrição, a fim de não destruir sua eficácia prá-
quências jurídicas previstas em lei e não pelas partes tica, caso contrário, todos os credores poderiam impô-la
interessadas, não havendo, como ocorre nos negócios aos devedores; portanto, somente o titular poderá re-
DIREITO CIVIL

jurídicos, regulamentação da autonomia privada. Trata- nunciar à prescrição após a consumação do lapso previs-
-se dos atos materiais (acessão, fixação e transferência de to em lei. Na renúncia expressa, o prescribente abre mão
domicilio, especificação etc.) e das participações (aviso, da prescrição de modo explícito, declarando que não a
confissão, notificação etc.). quer utilizar, e na tácita, pratica atos incompatíveis com a
prescrição, p. ex., se pagar dívida prescrita.

35
- Sujeição aos efeitos da prescrição: - Casos em que a prescrição não se inicia:
Tanto as pessoas naturais como as jurídicas sujeitam- Não corre a prescrição entre cônjuges, na constância
-se aos efeitos da prescrição ativa ou passivamente, ou do matrimônio (24, 526/193); entre ascendentes e des-
seja, podem invocá-la em seu proveito ou sofrer suas cendentes, durante O pátrio poder; entre tutelados ou
consequências quando alegada ex adverso, sendo que curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela
o prazo prescricional fixado legalmente não poderá ser ou curatela. Nestas hipóteses a prescrição ficará impedi-
alterado por acordo das partes. da de fluir no tempo.

- Alegação da prescrição em qualquer grau de ju- - Incapacidade absoluta impede prescrição:


risdição: O Art. 198 contém causa impeditiva da prescrição,
A prescrição poderá ser arguida na primeira instância, logo esta não correrá contra os absolutamente incapa-
que está sob a direção de um juiz singular, e na segunda zes. Por exemplo, suponha-Se que, após o vencimento
instância, que se encontra em mãos de um colegiado de da dívida, venha a falecer o credor, deixando herdeiro de
Juízes superiores. Pode ser invocada em qualquer fase oito anos de idade; contra ele não correrá a prescrição
processual: na contestação, na audiência de instrução e até que atinja dezesseis anos, ocasião em que terá início
julgamento, nos debates, em apelação, em embargos in- o curso prescricional. tendo-se aqui uma exceção ao Art.
fringentes, sendo que no processo em fase de execução 196 do Código Civil, segundo o qual a prescrição iniciada
não é cabível a arguição da prescrição, exceto se super- contra uma pessoa continua a correr contra seu herdeiro
veniente à sentença transitada em julgado. (RT 260/332).

- Invocação pela parte a quem aproveita: - Causas suspensivas da prescrição:


A prescrição somente poderá ser invocada por quem As causas suspensivas da prescrição são as que, tem-
ela aproveite, seja pessoa física ou jurídica, p. ex., o her- porariamente paralisam ø seu curso; superado o fato
deiro do prescribente, o credor do prescribente, o fiador, suspensivo, a prescrição continua a correr, computado
é o devedor em obrigação solidária, o coobrigado em o tempo decorrido antes dele. Tais causas estão arrola-
obrigação indivisível, desde que se beneficiem com a de- das no Art. 198, II e III, ante a situação especial em que
cretação da prescrição. se encontram o titular e o sujeito passivo. De forma que
O juiz não poderá conhecer da prescrição da ação relativa suspensa estará a prescrição: contra os ausentes do Brasil
a direitos patrimoniais, reais ou pessoais, se não for invoca- em serviço público da União, dos Estados e dos Municí-
da pelos interessados, não podendo, portanto, decretá-la ex pios e os que se acharem servindo na armada e no exér-
officio, por ser a prescrição um meio de defesa ou exceção cito nacionais em tempo de guerra. Essas duas causas
peremptória. O juiz, a não ser para beneficiar absolutamente poderão transformar-se em impeditivas se a ação surgir
incapaz, poderá suprir ex officio a alegação da prescrição. durante a ausência ou serviço militar temporário.

Ação regressiva: - Condição suspensiva e termo não vencido impe-


As pessoas que a lei priva de administrar os próprios dem a prescrição:
bens têm ação regressiva contra os seus representantes São causas impeditivas da prescrição a condição sus-
legais quando estes, por dolo ou negligência, derem cau- pensiva e o não-vencimento do prazo. Não corre a pres-
sa à prescrição, assegurando-se, assim, a incolumidade crição, pendendo condição suspensiva. Não realizada
patrimonial dos incapazes, que têm, ainda, mesmo que tal condição, o titular não adquire direito, logo não tem
não houvesse essa disposição, o direito ao ressarcimento ação; assim, enquanto não nascer a ação, não pode ela
dos danos que sofrerem, em razão do disposto nos arts. prescrever. Igualmente impedida estará a prescrição não
186 e 927 do Código Civil, de que o artigo ora comenta- estando vencido o prazo, pois o titular da relação jurídica
do é aplicação. Com isso, dá-se uma proteção legal aos submetida a termo não vencido não poderá acionar nin-
incapazes. guém para efetivar seu direito.

- Prescrição iniciada contra “de cujus”: - Pendencia de ação de evicção como causa sus-
A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a pensiva da prescrição:
correr contra o seu herdeiro a título universal ou singular, Se pender ação de evicção, suspende-se a prescrição
salvo se for absolutamente incapaz. A prescrição iniciada em andamento; somente depois de ela ter sido definiti-
contra o de cujus continuará a correr contra seus suces- vamente decidida, resolvendo-se o destino da coisa evic-
sores, sem distinção entre singulares e universais; logo, ta, o prazo prescritivo volta a correr.
continuará a correr contra o herdeiro, o cessionário ou
o legatário. A prescrição iniciada contra o auctor succes- - Efeitos da suspensão da prescrição na solidarie-
sionis continuará, e não recomeçará a correr contra seu dade ativa:
sucessor. Se a obrigação for indivisível e solidários forem os
credores, suspensa a prescrição em favor de um dos cre-
- Causas impeditivas da prescrição: dores, tal suspensão aproveitará aos demais.
DIREITO CIVIL

As causas impeditivas da prescrição são as circuns-


tancias que impedem que seu curso inicie, por estarem - Prescrição e obrigação divisível:
fundadas no status da pessoa individual ou familiar, Se a obrigação for divisível, a prescrição não se sus-
atendendo razões de confiança, amizade e motivos de penderá para todos os coobrigados, ante o fato de ser
ordem moral. um beneficio personalíssimo. Se vários forem os cointe-

36
ressados, ocorrendo em relação a um deles uma causa ção se houver indivisibilidade da obrigação. E, finalmen-
suspensiva de prescrição, esta aproveitará apenas a ele, te, a interrupção produzida pelo credor contra o principal
não alcançando os outros, para os quais correrá a pres- devedor prejudicará o fiador, independentemente de no-
crição sem qualquer solução de continuidade. tificação especial, pelo simples fato de ser a fiança uma
obrigação acessória.
- Causas interruptivas da prescrição: Desaparecendo a responsabilidade do afiançado, não
As causas interruptivas da prescrição são as que inu- mais a terá o fiador; igualmente, se o credor interrompe a
tilizam a prescrição iniciada, de modo que o seu prazo prescrição contra o devedor, esta interromper-se-á tam-
recomeça a correr da data do ato que a interrompeu ou bém relativamente ao fiador.
do ultimo ato do processo que a interromper.
Prazos:
- Casos de interrupção da prescrição: Se a lei não fixar prazo menor para a pretensão ou
Interrompem a prescrição atos do titular reclamando exceção, este será de dez anos.
seu direito, tais como: citação pessoal feita ao devedor, Prazo de prescrição especial:
ordenada por juiz; protesto judicial e cambial, que tem Há casos de prescrição especial para os quais a norma
apenas efeito constituir o devedor em mora; apresenta- jurídica estatui prazos mais exíguos, pela conveniência
ção do título de crédito em juízo de inventário, ou em de reduzir o prazo geral para possibilitar o exercício de
concurso de credores, o mesmo sucedendo com o pro- certos direitos ou pretensões.
cesso de falência e de liquidação extrajudicial de bancos, Tal prazo pode ser ânuo (CC, Art. 206, § 12, 1, II, a e b,
bem como das companhias de seguro, a favor ou contra III, IV, bienal (CC, Art. 206, § 22), trienal (CC. Art. 206, § 3º,
a massa; atos judiciais que constituam em mora o de- Ia IX), quatrienal (CC, Art. 206, § 42) e quinquenal (CC, Art.
vedor, incluindo as interpelações, notificações judiciais e 206, § 52, 1 a III).
atos praticados na execução da parte líquida do julgado,
com relação à parte ilíquida; e atos inequívocos ainda ex-
trajudiciais que importem reconhecimento do direito do #FicaDica
devedor. Como pagamento parcial por parte do devedor; A Prescrição Somente Poderá Ser Invocada
pedido deste ao credor, solicitando mais prazo; transfe- Por Quem Ela Aproveite, Seja Pessoa Física
rência do saldo de certa conta, de um ano para outro Ou Jurídica.
(Súmula 154 do STF).

- Legitimidade para promover a interrupção da Decadência


prescrição:
Podem promover a interrupção do lapso prescricio- Inaplicabilidade à decadência das normas contidas
nal quaisquer interessados, tais como: o titular do direito nos arts. 197 a 204 do Código Civil: As normas relativas
em via de prestação; seu representante legal salvo o dos ao impedimento, suspensão e interrupção de prescrição
incapazes do art. 3º do Código Civil; e terceiro com legí- apenas serão aplicáveis à decadência nos casos admiti-
timo interesse econômico ou moral, como o seu credor, dos por lei. A decadência corre contra todos, não admi-
o credor do credor ou o fiador do credor. tindo sua suspensão ou interrupção em favor daqueles
contra os quais não corre a prescrição, com exceção do
- Efeitos da interrupção da prescrição: caso do art. 198, 1 (CC, art. 208); a prescrição pode ser
Quanto aos efeitos da interrupção da prescrição, o suspensa, interrompida ou impedida pelas causas legais.
princípio é de que ela aproveita tão-somente a quem a
promove, prejudicando aquele contra quem se processa. - Ação regressiva contra representante:
Contudo, a interrupção da prescrição por um credor não As pessoas jurídicas e os relativamente incapazes têm
aproveita aos outros, como, semelhantemente, operada ação regressiva contra representante legal que der causa
contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudicará aos à decadência ou não a alegar no momento oportuno, e
demais coobrigados. direito à reparação dos danos sofridos.
Se se tratar de obrigação solidária passiva ou ativa,
a interrupção efetuada contra o devedor solidário en- - Incapacidade absoluta como causa impeditiva da
volverá os demais, e a interrupção aberta por um dos decadência:
credores solidários aproveitará aos outros, em razão de O Art. 198 contém causa impeditiva da decadência;
consequência da solidariedade prevista nos arts. 264 a logo, esta não correrá contra as pessoas arroladas no Art.
285 do Código Civil, pela qual os vários credores soli- 32 do Código Civil, ou seja, os absolutamente incapazes.
dários são considerados como um só credor, da mesma
forma que os vários devedores solidários são tidos como - Renúncia de decadência prevista em lei:
um só devedor. Além disso, a interrupção operada contra A decadência resultante de prazo legal não pode ser
um dos herdeiros do devedor solidário não lesará os ou- renunciada pelas partes, nem antes nem depois de con-
DIREITO CIVIL

tros herdeiros ou devedores, senão quando se tratar de sumada, sob pena de nulidade. A decadência decorrente
obrigação ou de defeito indivisível. de prazo legal deve ser considerada e julgada pelo ma-
Isto é assim porque a solidariedade ativa ou passiva gistrado, de ofício, independentemente de arguição do
não passa aos herdeiros (CC, arts. 270 e 276); logo, ape- interessado.
nas serão atingidos os demais coerdeiros pela interrup-

37
- Presunção:
Presunção é a ilação tirada de um fato conhecido
EXERCÍCIO COMENTADO para demonstrar outro desconhecido. É a consequência
que a lei ou o juiz tiram, tendo como ponto de partida o
1. (TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Regis- fato conhecido para chegar ao ignorado.
tros – Provimento - CESPE – 2019). A prescrição da
pretensão de reparação de dano sofrido em decorrência - Perícias:
de erro inescusável quando da lavratura de ato registral Exame é a apreciação de alguma coisa, por meio de
ocorre em peritos, para esclarecimento em juízo. Por exemplo, exa-
me de livro (RT, 490/111); exame de sangue nas ações
a) um ano. de investigação de paternidade (RT, 473/90); exame gra-
b) dois anos. fotécnico etc. Vistoria é a mesma operação, porém res-
c) três anos. trita à inspeção ocular, muito empregada nas questões
d) cinco anos. possessórias nas demarcatórias e nas relativas aos vícios
e) dez anos. redibitórios (RT, 389/239 e 493/95; Súmula 154 do STF).
O arbitramento por sua vez, é o exame pericial que tem
Resposta: Letra A. em vista determinar o valor, em dinheiro, da coisa ou da
Prescreve em 3 anos, e o crédito será recebido por obrigação a ela ligada, muito comum na desapropriação,
execução comum (art. 22, parágrafo único da Lei nos alimentos, nas indenizações por atos ilícitos (EJSTJ.
8.935/94 e art. 206, § 3°, V do CC/02). 11/232 e 233).
Uma vez feita à confissão, tal relato será insuscetível
de retratação, por ser irrevogável. Se a confissão se deu
PROVA DO FATO JURÍDICO. por erro de fato ou em virtude de coação, ela poderá ser
anulada.

O Art. 212 arrola de modo exemplificativo e não - Escritura pública:


taxativo os meios de prova dos atos negociais a que não A escritura pública é um documento dotado de fé pú-
se impõe a forma especial, que permitirão ao litigante blica, lavrado por tabelião em notas, redigido em língua
demonstrar em juízo a sua existência, convencendo o ór- nacional, contendo todos os requisitos subjetivos e obje-
gão judicante dos fatos sobre os quais se referem. tivos exigidos legalmente, ou seja, a qualificação das par-
tes contratantes, a manifestação volitiva, data e local de
- Confissão: mia efetivação e assinatura dos contratantes, dos demais
A confissão judicial ou extrajudicial é o ato pelo qual a comparecentes e do tabelião e referência ao cumprimen-
parte, espontaneamente ou não, admite a verdade de um to das exigências legais fiscais inerentes à legitimidade
fato contrário ao seu interesse e favorável ao adversário. do ato. Se algum comparecente não puder assinar, outra
Os documentos têm apenas força probatória, repre- pessoa o fará a rogo. Se algum dos comparecentes não
sentam um fato, destinando-se a conservá-lo para futu- souber a língua nacional, deverá comparecer um tradu-
ramente prová-lo. Serão particulares se feitos mediante tor público, ou não havendo na localidade, outra pessoa
atividade privada (RT, 488/190), p. ex., cartas, telegramas, capaz e idônea para servir de intérprete. Se o tabelião
fotografias, fonografias, avisos bancários, registros paro- não conhecer ou não puder identificar um dos compare-
quiais. Os documentos públicos são os elaborados por centes, duas testemunhas deverão conhecê-los e atestar
autoridade pública no exercício de suas funções, p. ex., sua identidade.
guias de imposto, laudos de repartições públicas, atos As certidões textuais de peça processual, do protoco-
notariais e de registro civil do serviço consular brasileiro lo das audiências ou, ainda, de qualquer outro livro, fei-
(Dec. n. 84.451/80), portarias e avisos de ministros (CC, tas pelo escrivão, ou sob suas vistas, e subscritas por ele,
art. 126; Lei n. 5.433168, regulamentada pelo Dec. n. terão a mesma força probatória que os originais, sendo
64.398/69, sobre microfilmagem de documentos oficiais, que para os traslados de autos será, ainda, preciso que
e hoje pelo Dec. n. 1.799/96), certidões passadas pelo ofi- sejam conferidos por outro escrivão.
cial público e pelo escrivão judicial etc.
- Certidão:
- Testemunha: A certidão textual, seja verbo ad verbum (de inteiro
Testemunha é a pessoa que é chamada para depor teor), seja em breve relatório, é a reprodução do conteú-
sobre fato ou para atestar um ato negocial, assegurando, do de ato escrito, registrado em autos ou em livro, feita
perante outra, sua veracidade. A testemunha judiciária é por pessoa investida de fé pública.
a pessoa natural ou jurídica representada, estranha à re-
lação processual, que declara em juízo conhecer o fato - Fé pública de documentos públicos originais:
alegado, por havê-lo presenciado ou por ouvir algo a seu Constituem documentos públicos os que constam
DIREITO CIVIL

respeito. A testemunha instrumentária é a que se pro- dos livros e notas oficiais, tendo força probatória.
nuncia sobre o teor de um documento que subscreveu.

38
- Força probatória de traslados e certidões de ins- Para provar a anuência ou autorização exigida por lei
trumentos ou de documentos notariais: para a realização de negócio válido, aplicáveis serão as
Terão a mesma força probante dos originais as cer- normas constantes do art. 219 do Código Civil.
tidões e os traslados que o oficial público extrair dos
instrumentos e documentos lançados em suas notas. - Instrumento particular:
Traslado de instrumento é a cópia do que estiver escrito O instrumento particular é o realizado somente com a
no livro de notas ou dos documentos constantes dos ar- assinatura dos próprios interessados, desde que estejam
quivos dos cartórios, p. ex., traslado de escritura pública. na livre disposição e administração de seus bens, sen-
do subscrito por duas testemunhas. Prova a obrigação
- Força probante de traslado não conferido por convencional (contrato ou declaração unilateral de von-
outro escrivão: tade), de qualquer valor, sem ter efeito perante terceiros,
O traslado de auto depende de concerto para fazer a antes de transcrito no Registro Público (RT. 463/177 e
mesma prova que o original, mas será tido como instru- 500/125). O reconhecimento de firmas representaria tão-
mento público, mesmo sem conferência, se extraído de -somente a autenticação do ato realizada por tabelião
original oferecido em juízo como prova de algum ato. (Lei n. 6.0l5\73, art. 221, II).
A certidão de peça de autos será considerada docu-
mento público se extraída de original apresentado em - Função probatória:
juízo para produzir prova de algum fato ou ato. O instrumento particular, além de dar existência ao
ato negocial. serve-lhe de prova. Possui, portanto, força
- Declarações dispositivas: probante do contrato entre as partes, sendo que, para
As declarações dispositivas ou disposições principais valer contra terceiro que do ato não participou, deverá
aludem aos elementos essenciais do ato negocial. ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos, que
autentica seu conteúdo.
- Declarações enunciativas:
As declarações relativas a enunciações são as enun- - Testemunha instrumentária:
Testemunha instrumentária é a pessoa que se pro-
ciativas. As enunciativas poderão ter relação direta com
nuncia sobre o teor do instrumento público ou particular
a disposição ou ser-lhe alheias. Apenas as declarações
que subscreve. Nas obrigações oriundas de atos ilícitos,
meramente enunciativas que não tiverem quaisquer
qualquer que seja seu valor será permitida prova teste-
relações com as disposições principais não liberam os munhal (RT, 516\70 e 449\100)
interessados em sua veracidade do dever de prová-las.
Logo, há presunção de veracidade das declarações enun- - Condições de admissibilidade de prova testemu-
ciativas diretas que tiverem relação com as disposições nhal:
principais e das declarações enunciativas constantes de Condições precípuas de admissibilidade de prova
documento assinado, relativamente aos signatários. O testemunhal são a capacidade de testemunhar, a com-
documento público ou particular assinado estabelece a patibilidade de certas pessoas com a referida função e
presunção juris tantum de que as declarações disposi- a idoneidade da testemunha. Todavia, para provar fatos
tivas ou enunciativas diretas nele contidas são verídicas que só elas conheçam, o órgão judicante pode admitir o
em relação às pessoas que o assinaram. depoimento de pessoas que não poderiam testemunhar.

- Prova: - Incapacidade para testemunhar:


Para Clóvis Beviláqua, a prova é o conjunto de meios Não podem ser admitidos como testemunhas: os
empregados para demonstrar, legalmente, a existência doentes ou deficientes mentais; os cegos e surdos, quan-
de negócios jurídicos. do a ciência do fato, que se quer provar, dependa dos
sentidos que lhes faltam; os menores de dezesseis anos;
- Prova da anuência ou autorização para a prática o interessado no objeto do litígio (fiador de um dos li-
de um negócio: tigantes, ex advogado da parte, sublocatário na ação
Casos há em que a lei requer para a efetivação de de despejo movida contra o inquilino); o ascendente e
um ato negocial válido a anuência ou a autorização de o descendente sem limitação de grau; o colateral até o
outrem, como ocorre com a venda de imóvel por pessoa terceiro grau (RT, 481/189 e 494/137; Ciência Jurídica,
casada, não sendo o regime matrimonial de bens o de 80/59), por consanguinidade ou afinidade (irmãos, tios,
separação, em que há necessidade de outorga marital ou sobrinhos e cunhados); os cônjuges; o condenado por
uxória. A prova dessa anuência ou autorização indispen- crime de falso testemunho; o que, por seus costumes,
não for digno de fé; o inimigo da parte ou seu amigo
sável à validade do negócio jurídico far-se-á do mesmo
íntimo.
modo que este, devendo sempre que possível constar do
próprio instrumento.
- Dispensa do dever de prestar depoimento:
Para a celebração de uma escritura de compra e ven- Ninguém pode ser obrigado a depor se por estado
DIREITO CIVIL

da de um imóvel, a outorga uxória ou marital somente ou profissão tiver de guardar segredo de fatos que lhe
poderá ser dada por meio de instrumento público, de- foram confiados, porque a não-revelação de segredo
vendo sempre que for possível constar daquela mesma profissional é dever imposto legal e constitucionalmen-
escritura, ou seja, devendo ser declarada pelo oficial pú- te (CF/88, art. 52, XIV). Também há dispensa para depor
blico incumbido de lavrar o ato a que ela se aplica. sobre fatos:

39
a) a que não se possa responder sem desonrar a si Hoje a regra caiu por vez, e não há mais distinção
próprio, cônjuge, parente sucessível ou amigo ín- entre a forma substancial e a probatória de um negó-
timo; cio jurídico. Se o legislador exige uma forma, ela é tanto
b) que possam expor o depoente ou, ainda, seu con- para provar a existência do negócio quanto um requisito
sorte, parentes e amigos, a perigo de vida, de de- para a sua validade. (https://medium.com/anotações-
manda, ou de dano patrimonial imediato. -de-direito/forma-e-prova-dos-negócios-jurídicos-fde-
de91765ee)
A prova do negócio jurídico é um meio dialético de
convencer o juiz sobre determinada reconstrução histó-
rica, que nem sempre é perfeita. Esta reconstrução his-
tórica do fato depende do tipo de negócio jurídico e da EXERCÍCIO COMENTADO
forma pela qual ele se consumou.
1. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Área 2 -
FORMAS CESPE – 2018). Julgue o item a seguir, acerca de pessoa
jurídica e desconsideração de sua personalidade, direitos
O negócio jurídico se dá por meio de forma livre ou da personalidade e prova do fato jurídico, de acordo com
especial. A forma livre é a regra, com este se realizando o disposto no Código Civil. Situação hipotética: Em ação
até mesmo oralmente. Já a forma especial se subdivide de investigação de paternidade foi demonstrado que o
em complexa, escritura pública e instrumento particular. réu investigado, o qual se recusou a realizar o exame de
DNA, manteve relacionamento íntimo com a mãe do au-
A exigência de forma especial é uma maneira de cha- tor. Diante da recusa do investigado, o magistrado con-
mar a atenção das partes para o ato que praticam, dada siderou a referida conduta como suficiente para suprir
a importância do negócio, de modo a garantir a manifes- a prova que se pretendia obter com o exame. Assertiva:
tação de vontade mais livre de vícios e facilitar a prova. Nessa situação, a decisão do magistrado foi equivocada,
uma vez que o réu possui direito a não produzir prova
É complexa a forma especial do casamento, por que possa lhe prejudicar.
exemplo, que não se exaure na celebração, mas induz
uma série de atos. Já a escritura pública é um suporte à ( ) CERTO ( ) ERRADO
forma especial que se dá de forma pública, exigido em
matérias mais relevantes, como a compra e venda de Resposta: Letra B.
imóvel. Finalmente, o instrumento particular também é Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma espe-
um suporte à forma especial, mas não público. O com- cial, o fato jurídico pode ser provado mediante:
promisso de compra e venda, por exemplo, exige forma I - confissão;
escrita, mas não necessariamente pública; pode ser o ins- II - documento;
trumento particular. III - testemunha;
IV - presunção;
Não cabe confusão entre negócio jurídico formal, ou V - perícia.
solene, e forma especial. É perfeitamente possível que Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz
um negócio jurídico informal, como a doação de um poderá suprir a prova que se pretendia obter com o
óculos, seja feita por qualquer forma, seja livre, seja por exame.
escritura pública. Isto não o torna um negócio formal, ou
solene. Somente seria caso se exija a forma especial, sob
pena de invalidade. Esta forma exigida pode ser pública,
particular ou ambas, como é o caso do testamento; de- CONTRATOS. PRINCÍPIOS.
pende do negócio. Dependendo do tipo de formalidade CLASSIFICAÇÃO. CONTRATOS EM GERAL.
exigida, a forma é a própria prova. DISPOSIÇÕES GERAIS. INTERPRETAÇÃO.
EXTINÇÃO. ESPÉCIES DE CONTRATOS
FORMA SUBSTANCIAL E FORMA PROBATÓRIA: REGULADOS NO CÓDIGO CIVIL.
Existia, no Código anterior, uma distinção entre for-
ma substancial e forma probatória. A forma substancial
é aquela que é requisito de validade do negócio jurídi- Definição
co, como a escritura pública para compra e venda de
imóveis. Já a forma probatória seria a forma exigida não Conforme leciona Washington de Barros Monteiros,
como validade, mas como prova processual. contrato é “o acordo de vontades que tem por fim criar,
Digamos que um negócio jurídico informal se dê por modificar ou extinguir um Direito”, é um encontro de
via oral. Isto é perfeitamente possível, dado que não há vontades que se convergem no sentido de produzir al-
forma substancial exigida. Porém, no antigo Código, al- gum negócio. Os contratos têm por núcleo a vontade
DIREITO CIVIL

guns negócios jurídicos não poderiam ser provados de humana.


modo exclusivamente testemunhal. Entende-se que esta Por se tratar de um negócio jurídico, requer um para
era uma restrição ao contraditório, com um preconceito sua validade, a observância dos requisitos legais (agente
à prova exclusivamente testemunhal, que é reconhecida capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em
como insegura. lei).

40
Mas a liberdade de contratar será exercida em razão e Código Civil - Art. 467. No momento da conclusão do
nos limites da função social do contrato. Os contratantes contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade
são obrigados a guardar, assim na conclusão do contra- de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assu-
to, como em sua execução, os princípios de probidade e mir as obrigações dele decorrentes.
boa-fé.
Mas quando for um contrato de adesão, contendo Cabe a indagação, se o contrato deve obrigar apenas
cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve, neste caso, as pessoas que o ratificaram, como obrigar aquele que
adotar a interpretação mais favorável ao aderente. não participou da avença?

Para tanto, todos os contratos, devem se orientar pe- Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os con-
los seguintes princípios: tratantes originários:
I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomea-
Princípio da Autonomia de vontade: o referido do se recusar a aceitá-la;
princípio encontra fundamento na liberdade contratual II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pes-
dos contratantes pelo fato de poder estipular de forma soa o desconhecia no momento da indicação.
livre, nos termos do que for conveniente para as partes
envolvidas, mediante acordo de vontades, suscitando Art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insol-
efeitos tutelados pela ordem jurídica. vente no momento da nomeação, o contrato produzi-
De forma exemplar, lecionar o Professor Roberto Fi- rá seus efeitos entre os contratantes originários.
gueiredo que esse princípio se resume ao seguinte tri- Princípio “Pacta sunt servanda”: o contrato faz lei
nômio: entre as partes. Segundo orientação deste princípio, o
- Liberdade de escolher o contratado; Estado não pode interferir na vontade dos contratos na-
- Liberdade de escolher o tipo de contrato, e quilo que deliberarem. A doutrina moderna não admite
- Liberdade de estipular as cláusulas deste contrato. mais essa afirmação de maneira categórica aduzindo que
existe exceção – teoria da imprevisão
- Teoria da Imprevisão (ou cláusula rebus sic stanti-
Princípio da Relatividade: ou para alguns doutrina-
bus): o contrato só pode ser exigido se as condi-
dores “princípio do consensualismo”. Segundo este prin-
ções do tempo da sua confecção fossem as mes-
cípio, o acordo deve obrigar apenas as partes que estão
mas do tempo de sua execução.
envolvidas no contrato, que ratificaram as cláusulas ali
estipuladas, ou seja, os efeitos serão inter partes.
Essa teoria resguarda as hipóteses em que acontece
Em resumo, pelo princípio da relatividade, o simples
um fato novo, superveniente que pode chegar a dese-
acordo de 2 ou mais vontades basta para gerar o con- quilibrar a ralação contratual avençada. Como exemplo,
trato válido. Vale ressaltar que, diante dos valores me- podemos imaginar o retorno da inflação, ou ainda do
taindividuais (difusos e coletivos) o contrato pode acabar descontrole no aumento do dólar – se por acaso o con-
exarando efeitos para toda a sociedade. trato assim for avençado, o descontrole financeiro não é
o padrão atual, logo, prejudicaria a parte que assim aven-
Casos específicos çou, contando com a estabilidade da moeda.
Requisitos para o amparo dessa teoria.
- Estipulação em favor de terceiros - Contrato Comutativo (oneroso e bilateral) de dura-
Exemplo: seguro de vida – o segurado (estipulante) ção (diferida ou continuada);
convenciona com o promitente (seguradora) propor um - Fato superveniente extraordinário e imprevisível;
benefício para determinada pessoa (terceira) no caso de - Alteração econômica da base contratual criando
ocorrer determinada situação. uma vantagem financeira para uma das partes e
onerosidade excessiva para outra.
- Promessa de fato de terceiro
Exemplo: promessa da realização de um espetáculo Princípios Sociais
musical por terceiro. Ou seja, alguém promete o cum- Decorrem da percepção de que a ampla liberdade,
primento de uma obrigação que será exercida por outro. por vezes, escraviza o mais fraco, necessitando do inter-
vencionismo estatal para ser igualado o fiel da balança
Atenção! Obrigação de resultado. contratual. Em contratos, as manifestações dos princípios
Código Civil - Art. 439. Aquele que tiver prometido sociais são a função social dos contratos, a boa-fé objeti-
fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando va e a equivalência material ou justiça contratual.
este o não executar.
- Princípio da função social do contrato
Havendo a promessa, esta deverá ser cumprida sob Em se tratando de contratos, a função social é mais
pena de, aquele que a fez, ser responsabilizado por per- um elemento de eficácia social que traz ideia básica, na
das e danos. qual a avença deve ser cumprida não só em função do
DIREITO CIVIL

credor, mas também de forma a não afrontar interesses


- Contrato com pessoa a declarar difusos e conferir contribuição positiva para a sociedade.
Ocorre o contrato quando uma das partes deixa para Por isso significa que o mesmo deverá ter uma dada fina-
indicar no futuro aquele que irá assumir os direitos e lidade, a qual é qualificada pelo termo social, atendendo
obrigações daquilo que foi avençado. a interesses da sociedade.

41
- Princípio da boa-fé to da relação contratual, porque consiste em contrapro-
Este princípio pode ser dividido em subjetivo (inter- posta, a ser apreciada pelo preponente, a quem, por sua
no) e objetivo (externo). vez, caberá anuir, desistir, ou ainda contrapropor.
A boa-fé subjetiva é ligada a um dever interno, probo A formação do contrato entre presentes se dá no
e confiável, traduzindo um estado psicológico de ino- momento da aceitação da proposta, que deverá ser de
cência. Em contratos, a sua presença está na vedação de pronto, ou no prazo convencionado.
contratar em ocorrência de vício de consentimento.
A função interpretativa dá ética ao significado e Aceitação nos Contratos “Inter Praesentes” : Se o
execução do contrato, já a função integrativa, impõe a negócio for entre presentes, a oferta poderá estipular ou
existência, em todo contrato, de deveres implícitos, de não o prazo para a aceitação. Se não contiver prazo, a
obediência cogente (como deveres de zelo, informação, aceitação deverá ser manifestada imediatamente, e, se
probidade, lealdade, confiança, entre outros). Esses de- houver prazo, deverá ser pronunciada no termo conce-
veres são implícitos. dido.
A função restritiva ou limitadora demonstra que não
pode o contrato gerar prestações por muitas vezes ex- Aceitação nos Contratos “Inter Absentes”: Se o
cessivas a uma das partes, em razão da outra (p.ex. juros contrato for entre ausentes, existindo prazo, este deverá
excessivos); esta função busca a equivalência material do ser observado , mas se a aceitação se atrasar, sem culpa
contrato. do oblato, o proponente deverá dar ciência do fato ao
aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.
Se o ofertante não estipulou qualquer prazo, a aceitação
#FicaDica deverá ser manifestada dentro de tempo suficiente para
Contrato é o acordo de vontades que tem por chegar a resposta ao conhecimento do proponente.
fim criar, modificar ou extinguir um direito, é
um encontro de vontades que se convergem Retratação do aceitante: O aceitante poderá arre-
no sentido de produzir algum negócio. pender-se, desde que sua retratação chegue ao conhe-
cimento do ofertante antes da aceitação ou juntamente
com ela.
Formação dos Contratos
Na formação dos contratos há três fases, inicialmente Contrato Preliminar
há uma fase prévia conhecida como tratativas, negocia- Consiste em um pacto através do qual, as partes se
ções preliminares ou pontuação, onde é seguida de uma comprometem a celebrar posterior contrato futuro. O
proposta, oferta e, por fim, a última fase denominada objeto do contrato preliminar é uma prestação de fazer
aceitação. adjetiva, ou seja, de celebrar o contrato principal. Não se
confundindo com este, pois o contrato principal tem por
Tratativas objeto uma prestação substantiva, que cria, transfere ou
São as negociações preliminares, que podem ser for- extingue direitos e obrigações. Embora incida no proces-
mais (minutas escritas) ou informais (verbal). Nesta fase so de formação do contrato principal, coroando as res-
não existe ainda o contrato, por isso inexiste exigibilida- pectivas negociações, o contrato preliminar é autônomo
de, aplicando neste momento a boa-fé e à função social. e não pode ser considerado como uma simples fase do
Ao final desta fase poderá terminar em um contrato aludido processo.
definitivo, em um contrato preliminar, ou simplesmente Por ser o contrato preliminar autônomo, pode a lei
na não contratação. É a negociação que precede o con- dispensá-lo dos requisitos de forma especial, acaso exi-
trato. gidos do contrato principal, como reflete o artigo 462 CC.

Proposta Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à for-


É uma declaração receptícia de vontade, dirigida por ma, deve conter todos os requisitos essenciais ao con-
uma pessoa a outra, por meio da qual o proponente trato a ser celebrado.
manifesta a sua intenção de se vincular, se a outra parte Está aí o sentido e a razão da utilidade do contrato
aceitar a proposta. Há que ser a proposta séria, revestir- preliminar: trata-se do único instrumento jurídico dispo-
-se de força vinculante, conter todos os elementos es- nível para que as partes desde logo se vinculem a um
senciais do negócio jurídico. negócio, enquanto o requisito essencial de forma do
A proposta feita pode ser revogada mediante o mes- contrato tipo, exigido do instrumento definitivo, aguarda
mo mecanismo, a mesma forma que foi realizada, respei- preenchimento.
tando o princípio da simetria das formas. Nos contratos preliminares bilaterais, ambas as partes
assumem reciprocamente a obrigação de celebrar o con-
Aceitação trato principal. Nos unilaterais, somente uma das partes
É a manifestação expressa ou tácita da vontade por assume tal obrigação, ficando a outra com o direito po-
DIREITO CIVIL

parte do destinatário da proposta, feita dentro do pra- testativo de exigir a celebração do contrato, desde que o
zo, aderindo em todos os seus termos. Se a aceitação foi faça no prazo pertinente.
condicional, equivalerá à nova proposta. Desta forma se
o aceite for realizado fora do prazo, com adições, restri-
ções ou modificações à proposta não enseja o surgimen-

42
Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o b) Demanda de uma das partes pelo cumprimento
credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá do pactuado. Somente há sentido na invocação
manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo de uma exceção se houver provocação, sendo im-
este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo de- possível acontecer aplicação de ofício.
vedor. c) Prévio descumprimento da prestação pelo de-
mandante. Se a parte que demanda o cumprimen-
Vícios Redibitórios to tiver cumprido integralmente a sua obrigação,
Consiste no defeito, presente em contrato comutati- possuirá direito de exigir da outra parte que cum-
vo, que diminui o valor ou então que prejudica a utiliza- pra a sua, em um exercício regular de direito.
ção da coisa alienada. Este defeito tem que existir antes
da tradição, acompanhando a coisa após a sua entrega e Evicção
ter a sua descoberta, acontecido posteriormente. É uma garantia contratual do adquirente típica dos
Se o suposto defeito for de gênero de coisa, não se contratos onerosos, translativos de propriedade, que se
fala em vício redibitório, por se tratar de uma caracterís- opera quando o adquirente vem perder a posse e a pro-
tica inerente ao gênero. priedade da coisa em virtude do reconhecimento judicial
O vício deve impossibilitar a destinação ou então re- ou administrativo do direito anterior de outrem.
duzir sensivelmente o valor do bem. Uma vez caracteri- Remete a ideia de perda do objeto do contrato em
zado, o adquirente poderá entrar com ações redibitórias face do reconhecimento de direito anterior de outrem.
(desfazer o contrato) ou então estimatória (reduzir o va-
lor de aquisição da coisa), não podendo ser cumuladas. Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde
O nosso ordenamento não exige a presença da culpa pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aqui-
como elemento necessário à configuração do vício, caso sição se tenha realizado em hasta pública.
haja culpa, porém torna-se possível cumular a resolução A garantia da evicção subsiste ainda que a aquisição
ou diminuição dos valores com o pleito de perdas e da- se tenha dado em hasta pública, diante disto, há a evic-
nos. ção mesmo que a perda se dê por execução de ato ad-
Em se tratando de vício de fácil constatação, ou seja, ministrativo.
vício aparente, o prazo será de 30 dias (bem móvel) e 1 É composta, portanto, por três personagens:
ano (bem imóvel). Prazos contatos a partir da entrega - o alienante (é quem responde pelos riscos da evic-
efetiva, se o adquirente já tiver de posse do bem, o pra- ção);
zo será reduzido pela metade e será contato a partir da - o adquirente (pessoa que perde a posse e a pro-
alienação. priedade) e
Mas se o vício for de difícil constatação – vício ocul- - o terceiro também chamado de evictor (pessoa
to – o prazo passa a ser: 180 dias (bens móveis) e 1 ano que prova direito anterior).
(bem imóvel). O prazo aqui, conta-se da descoberta do
vício e não da data da entrega ou da alienação. Na evicção, o evicto que adquiriu um bem do alienan-
te de forma onerosa perde a coisa em virtude de direito
do evictor, neste caso aplica-se o artigo 450.
#FicaDica
Na formação dos contratos há três fases, ini- Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito
cialmente há uma fase prévia conhecida como o evicto, além da restituição integral do preço ou das
tratativas, negociações preliminares ou pontu-
quantias que pagou:
ação, onde é seguida de uma proposta, oferta
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a
e, por fim, a última fase denominada aceitação.
restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos
prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
Exceção do Contrato não Cumprido (exceptio non
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado
adimpleticontractus)
por ele constituído.
Segundo o artigo 476 CC, nos contratos bilaterais
nenhum dos contratantes pode exigir o implemento do Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou par-
outro, antes de cumprir a sua obrigação. Mas se uma cial, será o do valor da coisa, na época em que se
das partes sofrer diminuição em seu patrimônio capaz evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso
de comprometer a prestação pela qual se obrigou, pode de evicção parcial.
recusar-se a cumpri-la até que a outra parte efetue a sua
obrigação ou lhe dê garantias de que satisfará sua pres- Extinção dos Contratos
tação. É a Exceção do Contrato Não Cumprido que, no
entanto, só é prevista em caso de diminuição patrimonial a. Resolução
sofrida por uma das partes. É o desfazimento contratual em caso de inadimple-
mento. Não é indispensável ao contrato bilateral conter
DIREITO CIVIL

a) Existência de um contrato bilateral sinalagmá-


tico. O instituto necessita que as prestações sejam uma cláusula resolutiva expressa, sendo que esses pos-
recíprocas, ou seja, que uma prestação origine a suem cláusula resolutiva tácita. A parte lesada pelo ina-
outra. dimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não
preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer

43
dos casos, indenização por perdas e danos. A cláusula prador tem o dever de dar o dinheiro e o direito de
resolutiva expressa opera de pleno direito, já a tácita de- exigir a coisa, enquanto o vendedor tem a obrigação
pende de interpelação judicial. de dar a coisa e o direito de exigir o dinheiro.
No artigo 478 CC, é previsto a hipótese especial de Já o contrato de efeito unilateral só cria direito para
resolução, considerando a alteração das circunstâncias uma das partes e apenas obrigação para a outra, uma
contratuais originalmente pactuadas, ou seja, trata-se de das partes será só credora e a outra só devedora, p.ex:
uma resolução por onerosidade excessiva. Podendo, des- doação. O contrato plurilateral acontece quando há
ta forma, o devedor pedir a resolução do contrato, nas mais de dois contratantes com obrigações (contrato de
seguintes situações: constituição de uma sociedade ou de um condomínio).
- em se tratando de contrato de execução continuada
ou diferida; II- Contratos Onerosos ou Gratuitos
- quando a prestação de uma das partes se tornar No primeiro, ambas as partes têm vantagem e provei-
excessivamente onerosa; to econômico, ex: os contratos bilaterais, onde ambas
- com extrema vantagem para a outra; as partes ganham e perdem. Já os contratos gratuitos
- em virtude de acontecimentos extraordinários e im- só beneficiam uma das partes, então geralmente todo
previsíveis. contrato unilateral é gratuito, como na doação e no
empréstimo. Porém pode haver contratos unilaterais
O artigo seguinte, 479, estabelece que a resolução e onerosos quando existe uma pequena contrapres-
poderá ser evitada se o réu oferecer-se para modificar tação da outra parte, como na doação modal, aquela
equitativamente as condições do contrato. Mas se nes- onde há um encargo por parte do donatário, ou seja,
tes as obrigações couberem a apenas uma das partes, o doador exige um pequeno serviço do donatário em
poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou troca da coisa. O encargo tem que ser pequeno, senão
alterado o modo de executa-la, evitando a onerosidade descaracteriza a doação.
excessiva.
III- Contratos Comutativos ou Aleatórios
b. Resilição Aplica-se somente aos contratos onerosos. Portanto
É o desfazimento por simples manifestação de von- somente eles se dividem em comutativos e aleató-
tade de uma das partes (resilição unilateral ou denúncia) rios. São comutativos quando existe uma equivalên-
ou de ambas as partes (resilição bilateral ou distrato). cia entre a prestação (vantagem) e a contraprestação
A resilição bilateral, onde as partes concordam com (sacrifício), p. ex.: Troca ou permuta. Já nos contratos
o fim do pacto, é denominada distrato e acontece pela aleatórios uma das partes vai ter mais vantagem do
mesma forma exigia para o contrato. Já a unilateral (uma que a outra, a depender de um fato futuro e imprevi-
das partes se manifesta) acontece nos casos em que a lei sível chamado “alea” = sorte, destino. Ex.: contrato de
expressa ou implicitamente permite e se opera mediante seguro.
denúncia notificada à outra parte. Mas se uma das partes
fizer um investimento considerável para a sua execução, IV- Contratos Paritários ou por Adesão
a denúncia só terá efeito depois de transcorrido o prazo Na hipótese das partes estarem em iguais condições
compatível com a natureza e o vulto do investimento. de negociação, estabelecendo livremente as cláusulas
contratuais, nas tratativas, falando a existência de um
c. Rescisão contrato paritário. Diferenciando de contrato de ade-
É o desfazimento do contrato por fato concomitante são, o qual pode ser conceituado simplesmente como
ou então posterior à sua formação. Não há definição na o contrato onde um dos pactuantes pré-determina as
legislação codificada e alguns doutrinadores a entendem cláusulas do negócio jurídico, cabendo à outra parte
como para designar o gênero, sendo suas espécies a re- tão somente aderir.
silição e a resolução.
b. Classificação dos Contratos quanto à Disciplina
Jurídica
#FicaDica São classificados em civis, comerciais, trabalhistas,
Evicção remete a ideia de perda do objeto do consumeristas e administrativos.
contrato em face do reconhecimento de direi-
to anterior de outrem. c. Classificação dos Contratos quanto à Forma
I- Solenes ou Não-solenes: quanto à imprescindibili-
dade de uma forma específica para a validade da es-
Classificação dos Contratos tipulação contratual;
II- Consensuais ou Reais: em relação à forma pela
a. Quanto à natureza da obrigação. qual o negócio jurídico é considerado concluído. Eles
I- Contratos Unilaterais, Bilaterais ou Plurilaterais podem ser consensuais, se concretizados com a sim-
DIREITO CIVIL

Todo contrato é sempre bilateral quanto às partes (no ples declaração de vontade, ou reais, na medida em
mínimo duas partes), mas quanto aos seus efeitos que exijam a entrega da coisa, para que se reputem
pode ser unilateral ou bilateral. O contrato bilateral existentes.
(sinalagmático) cria direitos e deveres equivalentes
para ambas às partes. Ex: compra e venda, pois o com-

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d. Classificação dos Contratos quanto à Designa- xistente, ilícita ou imoral. Já os contratos abstratos seriam
ção aqueles cuja força decorre da sua própria forma, inde-
São os contratos nominados e inominados, na medi- pendentemente da causa que o estipulou. P.ex. títulos de
da em que tenham terminologia ou nomenclatura defi- créditos em geral.
nida e prevista expressamente em lei. Os nominados são
típicos (tem nome e regulação), já os atípicos são aqueles i. Classificação pela Função Econômica
que a legislação não confere nem nome e nem tratamen- De troca (caracterizado pela permuta de utilidades
to específico. econômicas, p.ex. compra e venda); Associativos (coinci-
dência de fins, p.ex. sociedade e parceria); De prevenção
e. Classificação dos Contratos quanto à Pessoa do de riscos (assunção de riscos por parte de um dos con-
Contratante tratantes, resguardando a possibilidade de dano futuro
I- Pessoais ou Impessoais e eventual, p.ex. contrato de seguro); De crédito (ob-
O contrato pessoal é celebrado com determinada pes- tenção de um bem para ser restituído posteriormente,
soa em virtude de suas qualidades pessoais, é cha- calcado na confiança dos contratantes e no interesse de
mado assim “intuitu personae” (em razão da pessoa). obtenção de uma utilidade econômica em tal transferên-
Ex: contrato um ator famoso para gravar um filme. cia, p.ex. juros). De atividade (prestação de uma condu-
Quando a obrigação é de fazer um serviço, em geral o ta de fato, mediante a qual se conseguirá uma utilidade
contrato é personalíssimo. econômica, p.ex. contrato de emprego, prestação de ser-
Já nas obrigações de dar uma coisa, o contrato é im- viço).
pessoal, então se A deve cem reais, não há restrições
se B ou C efetuarem o pagamento. j. Contratos Reciprocamente Considerados
I- Classificação quanto à Relação de Dependência
II- Individuais ou Coletivos (principais e acessórios) – os contratos principais são
Tem como parâmetro o número de sujeitos envolvidos. os que têm existência autônoma, independentemente
No contrato individual, sua concepção tradicional se de outro. Por exceção, existem determinadas relações
contratuais na qual a existência jurídica pressupõe a
refere a uma estipulação entre pessoas determinadas,
de outros contratos, ais quais servem. É o caso típico
mesmo que em número elevado, mas consideradas
da fiança, caução, penhor, hipoteca e anticrese.
individualmente.
II- Classificação quanto à Definitividade (preliminares
f. Classificação dos Contratos quanto ao Tempo
e definitivos) – Por fim, quanto à definitivamente po-
I- Instantâneos
dem ser os contratos classificados em preliminares e
A regra é o contrato ser instantâneo, ter vida curta/
definitivos. Os contratos preliminares, exceção no nos-
efêmera (ex: compra e venda, troca, doação. São as so ordenamento jurídico, nada mais são do que ne-
relações jurídicas contratuais cujos efeitos são produ- gócios jurídicos que têm por finalidade justamente a
zidos de uma só vez. celebração de um contrato definitivo.
II- De duração Contrato de Compra e Venda: é o contrato mais co-
Já outros contratos são duradouros e se prolongam mum e caracteriza-se pela transferência de um bem mó-
por dias, semanas e meses (ex: empréstimo, locação, vel ou imóvel; produzindo circulação de riquezas; sendo
seguro). Não é da essência dos contratos durar anos um acordo de vontades estipulando que o comprador se
e décadas. Os direitos reais é que são permanentes, obriga a pagar um preço pactuado e o vendedor a entre-
como a propriedade, a superfície e o usufruto, duran- gar o bem contratado.
do por toda uma vida. Tal duração pode ser determi- Por este contrato, um dos contratantes se obriga a
nada ou indeterminada, na medida em que haja ou transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-
não previsão expressa de termo final ou condição re- -lhe certo preço em dinheiro. A compra e venda, quando
solutiva a limitar a eficácia do contrato. pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as
partes acordem no objeto e no preço.
g. Classificação dos Contratos quanto à Disciplina A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou
Legal Específica futura, sendo que neste caso, ficará sem efeito o contrato
Típicos e atípicos – quando há uma previsão legal se esta não vier a existir.
que disciplina uma determinada figura contratual, en- Se a venda for feita por amostragem, o vendedor
contra-se um contrato típico; na situação oposta, onde deve assegurar que a coisa terá as mesmas qualidades;
o contrato não esteja disciplinado, ou regulado pelo or- mas havendo a contradição ou diferença com a maneira
denamento jurídico, caracteriza-se um contrato atípico. pela qual se descreveu, prevalecerá a amostra.
No que se refere à fixação de preço pode se deixar
h. Classificação pelo Motivo Determinante do Ne- ao arbítrio de terceiro, se este não aceitar a incumbência,
gócio ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os
DIREITO CIVIL

Causais e abstratos – Classificação que toma, por contratantes designando outra pessoa.
base, o motivo determinante do negócio, para dividi-los
em contratos causais e contratos abstratos. Os primeiros Características: bilateral, oneroso, execução instantâ-
estão vinculados à causa que os determinou, podendo nea ou diferida ou trato sucessivo (depende da forma de
ser declarados inválidos, se a mesma for considerada ine- pagamento), não solene (como regra)

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Cláusulas Especiais: podem ou não fazer parte do Venda sobre documentos: este tipo de venda tam-
contrato, dependendo única e exclusivamente da von- bém é conhecida como solve et repete, crédito documen-
tade dos contratantes. Para serem válidas, devem estar tário ou trust receipt. Neste caso a tradição da coisa é
expressas. Geralmente, o vendedor é quem inclui tais substituída pela entrega do seu título representativo e
cláusulas, que via de regra, o beneficia. dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no
silêncio deste, pelo o que está descrito no artigo 529. A
Retrovenda: é a cláusula através da qual o vendedor tradição é substituída pelo título representativo ou por
de coisa imóvel se reserva o direito de recomprar o bem documentos reportados no ajuste; aqui o comprador não
vendido, pelo prazo máximo de decadência de 3 anos, pode recusar o pagamento, alegando que o bem tenha
para o vendedor exercer este direito, restituindo o pre- defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, sal-
ço recebido, mais as despesas feitas pelo comprador. A vo se o defeito já houver sido comprovado.
qualquer momento, independendo da vontade do com-
prador desde que dentro do prazo contratual, o vende- Contrato de Compra e Venda entre Ascendentes e
dor pode fazer valer seu direito de recompra. Descendentes: é o mesmo contrato de compra e venda,
Dois são os pontos fundamentais: somente se defere mas neste caso deve haver o consentimento expresso
à compra e venda de imóveis e seu prazo não pode ul- dos demais descendentes. Esta anuência deve ser ex-
trapassar três anos. pressa e por escrito, com firma reconhecida em cartório,
se esta não existir o ato será nulo. Aplica-se o prazo de-
Venda a contento versus venda sujeita à prova: o arti- cadencial de dois anos da conclusão do ato.
go 509 estabelece que a venda feita a contento do com- Características: bilateral, oneroso, execução instantâ-
prador entende-se realizada sob condição suspensiva, nea, diferida ou trato sucessivo, solene.
ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se repu-
tará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu
agrado. Por outro lado, o artigo seguinte disciplina que #FicaDica
também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a No que se refere à fixação de preço pode se
condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades deixar ao arbítrio de terceiro, se este não acei-
asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a tar a incumbência, ficará sem efeito o contrato,
que se destina. salvo quando acordarem os contratantes de-
Neste caso a tradição da coisa não transfere domínio, signando outra pessoa.
pois apenas a posse direta é transmitida ante a condição
suspensiva indicada no artigo 509.
Contrato de Doação: é caracterizado pela liberalida-
Preempção: é o direito de preferência exercido pelo de de uma das partes e pela aceitação da outra parte.
vendedor quando e se o comprador for realizar a venda Trata-se de contrato que tem por objetivo a transferência
deste bem móvel ou imóvel, tendo este à preferência na gratuita de bens ou vantagens a outrem. A doação não
recompra, desde que ofereça o mesmo preço e a mesma está condicionada ao aceite, não consiste, portanto, o
forma de pagamento; Quando o comprador for realizar aceite em um elemento essencial do contrato, podendo
a venda do bem, deve primeiramente ofertá-lo ao anti- ser esta aceitação tácita.
go vendedor, através de notificação judicial. O vendedor
deverá confirmar ou não, por escrito, e num prazo máxi- Características: bilateral, gratuito (regra), execução
mo de 30 dias, a sua opção de recompra; a obrigação de instantânea, não solene
oferecer o bem ao vendedor não passa para os herdeiros
do comprador; a cláusula de preempção deve constar da Animus domandi: só produzirá efeitos com a acei-
Escritura Pública, sendo esta, intuito personae. tação pelo donatário; a doação universal é nula, pois o
doador tem que ficar com bens para sua subsistência. Se
Pacto do Melhor Comprador: é a possibilidade de a doação for feita ao nascituro ela valerá somente quan-
um contrato ser desfeito se dentro de um certo período do aceita pelos pais. Será nula também se for feita entre
(constante do contrato – prazo máximo de 1 ano) apa- cônjuges no regime de separação de bens e/ou quando
recer um outro comprador com uma melhor oferta; o feita da parte indisponível que é a parte legítima dos her-
primeiro comprador poderá continuar de posse do bem deiros.
desde que cubra a oferta do melhor comprador.
Tipos de Doação:
Venda com reserva de domínio: o artigo 521 disci- - Doação Condicional: é preciso para que tenha efi-
plina que a coisa móvel, pode o vendedor reservar para cácia e haja validade um acontecimento futuro e
si a propriedade, até que o preço esteja integralmente incerto;
quitado; na venda de bem móvel, o alienante mantém a - Doação com cláusula de reversão: com a morte do
propriedade e posse indireta da coisa, apenas transmi- donatário o bem reverte para o patrimônio do
DIREITO CIVIL

tindo a posse indireta. Uma vez recebido o pagamento doador.


integral, transfere-se a propriedade. Mas para que isto - Doação com encargos: é onerosa e bilateral, pois
vale a terceiros é preciso que esteja descrito no contrato gera obrigações para ambas as partes.
e seja registrado no Cartório de Títulos e Documentos,
no domicílio do comprador.

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Revogação da Doação: quando existir a ingratidão Já no que se refere à obrigação do locatário, dentre
por parte do donatário (quem recebe a doação), a doa- outras coisas, está que ele não pode alterar a finalidade
ção poderá ser revogada e os bens doados retornam ao da coisa, ou então se a coisa for danificada por abuso do
doador. São três as 3 hipóteses: locatário, poderá o locador, além de rescindir o contrato,
1. Atentado à Vida: o filho (donatário) atenta contra a exigir perdas e danos.
vida do pai (doador); tentativa ou consumação de São características da locação a cessão temporária de
homicídio por parte do donatário contra o doador; uso e gozo da coisa; remuneração; contratualidade; pre-
2. Ofensa à honra: calunia injúria ou difamação por sença das partes intervenientes (locador e locatário).
parte do donatário contra o doador; causam ilícitos
penais; Locação de coisas é o contrato pelo qual uma das
3. Se negar a prestar alimentos ao doador: alimentos partes (locador) se obriga a ceder à outra (locatário), por
aqui entendidos como vestuário, lazer, alimenta- tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa infun-
ção, educação, etc. gível, mediante certa retribuição.
São elementos essenciais o consentimento válido;
Restrições à Liberdade de Doar: o doador poderá capacidade dos contraentes; cessão de posse do objeto
doar até 100% de seu patrimônio a quem quiser, desde locado, que deverá ser infungível, inconsumível, susce-
que não tenha herdeiros necessários; caso tenha poderá tível de gozo, determinado ou determinável, dado por
dispor de até 50% de seu patrimônio, doando-os a quem quem possua título bastante para fazê-lo e alienável ou
desejar. inalienável; remuneração; lapso de tempo determinado
ou não; forma livre.
Herdeiros necessários: são os descendentes e ascen- O locador tem o direito de receber o pagamento do
dentes, seguindo uma ordem: ascendentes, descenden- aluguel, de cobrar antecipadamente o aluguel, mover
tes, cônjuge ou companheiro(a). ação de despejo, exigir as garantias constantes do art. 37
da Lei 8245/91, reaver a coisa locada ou o prédio aluga-
Antecipação da Legítima: todo bem doado aos des- do, após o vencimento da locação, autorizar, por escrito,
cendentes, em vida, é considerado como Antecipação da a cessão de locação, a sublocação e o empréstimo do
Legítima, ou seja, é a antecipação da herança antes da prédio, pedir a revisão judicial do aluguel ou a atuali-
morte. O ascendente poderá doar ao descendente, mas zação dos aluguéis das locações, e ser comunicado de
será considerada antecipação da legítima e deverá ser sub-rogação na locação.
trazida à colocação por ocasião da sucessão. Se não esti- Terá obrigação de entregar ao locatário a coisa aluga-
ver expresso em contrato que o ascendente está doando da, manter o bem nesse estado, pelo tempo do contrato,
a sua parte disponível (50%), considera-se também Ante- salvo cláusula expressa em contrário, responder pelos
cipação da Legítima. vícios ocultos do bem locado, garantir o uso pacífico da
coisa locada, pagar não só os impostos que incidam so-
Adultero ou Cúmplice: a doação de um dos cônjuges
bre o imóvel locado, mas também as despesas extraordi-
para o amante ou cúmplice é considerada nula de pleno
nárias de condomínio, fornecer o recibo de aluguel ou de
direito; nem os 50% disponíveis podem ser doados, sob
encargos, indenizar as benfeitorias uteis ou necessárias
pena também de ser declarado nulo.
feita pelo locatário de boa fé, dar preferência ao loca-
tário ou sublocatário para adquirir o prédio locado, em
#FicaDica igualdade de condições com terceiro e não exigir, por
motivo de locação ou sublocação, quantia ou valor além
Se a doação for feita ao nascituro ela valerá do aluguel e dos encargos permitidos.
somente quando aceita pelos pais O locatário terá direito de exigir do locador não só
a entrega da coisa, o recibo de aluguel ou de encargos,
Contrato de Locação: é um negócio jurídico, onde a manutenção do statu quo da coisa locada durante o
uma das partes transfere provisoriamente a posse de um tempo do contrato, mas também a garantia de uso pa-
bem móvel ou imóvel e em contrapartida a outra par- cífico do bem locado e a responsabilidade pelos vícios
te realiza um pagamento (aluguel), enquanto estiver de ocultos (22, V, Lei 8245/91), exigir do locador, relação
posse do bem. Necessariamente deve abranger bens in- escrita do estado do prédio, reter o prédio alugado no
fungíveis, ante a obrigação contratual de restituir o bem caso de benfeitorias necessárias ou úteis, feitas com o
após o término do contrato, isso não poderia acontecer consentimento escrito do locador, ter preferência para a
se a coisa fosse fungível. Excepcionalmente o que se ad- aquisição, no caso de alienação do imóvel locado, purgar
mite é a locação de bens fungíveis destinados à orna- a mora pra evitar a rescisão da locação, ser despejado
mentação, ou seja, enfeites de festas. mediante denúncia vazia ou cheia, sublocar, ceder ou
Várias são as obrigações do locador, dentre eles está emprestar o bem locado, havendo consentimento prévio
o artigo 568, que estabelece que deve por parte dele res- e expresso do locador, e alegar a impenhorabilidade dos
guardar o locatário dos embaraços e turbações de tercei- bens móveis quitados que guarneçam o imóvel locado e
DIREITO CIVIL

ros, que tenham ou pretendam ter direitos sobre a coisa que sejam de sua propriedade.
alugada; outra obrigação é dar posse em estado de uso Terá o dever de servir-se da coisa locada exclusiva-
regular, além de garantir, durante o tempo do contrato, o mente pra o uso convencionado ou presumido, tratar do
uso manso e pacífico da coisa, respondendo pelos vícios bem alugado como se fosse seu, pagar pontualmente
de defeitos anteriores. o aluguel, levar ao conhecimento do locador os danos,

47
que a este incumbe reparar, e as turbações de terceiros,
restituir a coisa, finda a locação, no estado em que as #FicaDica
recebeu, pagar os encargos de limpeza, força e luz, água, O locatário terá direito de exigir do locador
saneamento e despesas ordinárias de condomínio, fazer não só a entrega da coisa, o recibo de aluguel
reparações locativas, consentir nos reparos urgentes de ou de encargos, a manutenção do statu quo
que o prédio necessitar, dar caução em dinheiro, garantia da coisa locada durante o tempo do contra-
fidejussória e seguro de fiança locatícia, se o locador exi- to, mas também a garantia de uso pacífico do
gir, e responder pelo incêndio do prédio, se não provar bem locado e a responsabilidade pelos vícios
o caso fortuito ou força maior, vício de construção ou ocultos.
propagação de fogo originado em outro prédio.
A cessão de locação consiste na alienação, na trans-
ferência a outrem da posição contratual do locatário; Empréstimo: É o contrato pelo qual uma pessoa en-
enfim, na transmissão, para outra pessoa, dos direitos e trega a outra, gratuitamente, uma coisa, para que se sir-
deveres que lhe competem. va, com a obrigação de restituí-la. Empréstimo é gênero,
A sublocação consiste na concessão do gozo, parcial cujas espécies são o comodato e o mútuo. Comodato é
ou total, da coisa locada, por parte de quem é, por sua o empréstimo gratuito de um bem infungível pelo qual
vez, locatário dela mesma; vem a ser um contrato de lo- o comodante (dono da coisa) transfere sua posse ao co-
cação que se efetiva entre o locatário de um bem e ter- modatário por determinado tempo.
ceiro (sublocatário), com a prévia permissão do locador, Consiste na entrega de uma coisa a outrem, de forma
que participando de uma primeira relação jurídica ex lo- gratuita, com autorização de uso. É gênero de duas espé-
cato, se vincula a uma segunda, tendo-se em conta, nas cies: comodato (empréstimo de uso) e mútuo (emprésti-
duas, o mesmo objeto locado. mo de consumo). Este tipo de contrato se caracteriza por
Cessará a locação se houver distrato, retomada do ser informal, não escrito, gratuito, temporário, unilateral,
bem locado nos casos admitidos por lei, implemento de comutativo e real.
cláusula resolutória expressa, perda total da coisa locada,
perda parcial ou deterioração do bem, vencimento do a) Comodato: é celebrado para dar comodidade a al-
prazo contratual, desapropriação do prédio locado, com guém. Tendo como conceito: é a cessão gratuita de
imissão de posse, morte do locatário, nulidade ou anula- coisa infungível, móvel ou imóvel, para ser usada e
bilidade, resilição unilateral por inexecução contratual ou devolvida em certo prazo.
por infração à lei, extinção de usufruto ou fideicomisso e Neste caso, o comodato transfere a posse de uma
falência ou concordata de um dos contratantes. http:// coisa que será usada e devolvida, é a própria coisa em-
www.centraljuridica.com prestada que se usa e a devolve. A gratuidade está em
que o comodato é uma liberalidade, pois empréstimo
Características: bilateral, oneroso, trato sucessivo, oneroso equivale à locação. Mas o beneficiário irá arcar
não solene. com as despesas com o uso da coisa. A coisa dada em
comodato é infungível, ou melhor, é inconsumível, não
Tipos de Contratos de Locação: se destruindo pelo uso normal.
- Prédios Urbanos: bens imóveis utilizados para mo- A coisa emprestada, através do comodato, tem que
radia ou fins comerciais e/ou industriais: Ex.: loca- ser devolvida, caso contrário será caracterizado como
ção de uma residência; de um galpão comercial, uma doação. Se terminado o prazo combinado o co-
etc. A localização do referido imóvel é uma forma modatário se recusar a devolver, o comodante poderá
subsidiária para enquadramento, ou pelo Código cobrar aluguel, além de perdas e danos.
Civil ou pela Lei do Inquilinato. Os seguintes casos Mas se a coisa perecer sem culpa nas mãos do como-
são enquadrados no Código Civil: datário (p.ex.: roubo, incêndio, enchente, etc) o prejuízo
- Locação de vagas de garagem; será do comodante, mas o comodatário deve usar e con-
- Locação de apart-hotéis e equiparados; servar a coisa com cautela.
- Locação de outdoors (publicidade); A obrigação principal do comodatário é a de conser-
- Locação de prédios para Pessoas Jurídicas de Direito var a coisa como se sua fosse, não utilizando de maneira
Público; danosa ou que a destrua. Se da sua negligência – propo-
sital – resultar prejuízo ou deterioração, deverá indenizar
Já os casos a seguir são disciplinados na Lei do In- o comodante por tais prejuízos.
quilinato: Outra obrigação – decorrência lógica da anterior – é a
- Locação Residencial (Denuncia vazia e Denuncia de arcar com todas as despesas feitas com o uso da coisa
Motivada); emprestada (pagamento de IPTU, luz, água, condomínio,
- Locação Comercial; reparos para conservação, etc.). E, ainda, caso o objeto
- Locação de Imóvel por Temporada: no máximo por dado em comodato corra risco de perda ou deteriora-
3 meses ção, o comodatário tem a obrigação de salvá-lo antes
DIREITO CIVIL

- Prédios Rústicos: são bens imóveis utilizados para dos seus bens ou pertences pessoais.
outros fins que não o de moradia e comercial e/ou E, como penúltima obrigação, o comodatário deve
industrial, regidos pelo Código Civil e pelo Estatuto fazer uso da coisa de acordo com os termos do contra-
da Terra. Ex.: locação de um pasto. to ou com sua natureza. Assim, por exemplo, se assina
contrato de comodato de uma casa de praia para passar

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as férias de verão, não pode transformá-la em uma pou- mesmo Gênero, quantidade e qualidade. O prazo estabe-
sada ou em uma boate, patrocinando festas à noite. Por lecido pelas partes em contrato para a restituição se dá
fim, como obrigação final, está o comodatário obrigado sempre em favor do devedor mutuário.
a restituir a coisa, findo o prazo avençado pelas partes. Já o mútuo feito a menor, sem a devida autorização
Se o comodatário não restituir a coisa, pagará ao co- de seus pais ou representantes legais (pais ou tutores),
modante aluguel, a ser arbitrado por este último (dentro não poderá ser reavido do mutuário, na forma do artigo
dos princípios de razoabilidade e proporcionalidade). 588, pois é obrigação natural em que há dívida, mas não
Surgindo o dever de aluguel, o contrato de comodato há responsabilidade. Em situações como essa, os fiadores
perde a sua gratuidade. Além da possibilidade da co- também não terão responsabilidade, não tendo obriga-
brança do aluguel, o comodante terá direito de utilizar- ção de pagar a dívida.
-se das medidas possessórias cabíveis, tendo em vista
que a posse do comodatário tornou-se injusta.
Se o contrato de comodato não tiver prazo de dura- #FicaDica
ção, de acordo com o artigo 581, primeira parte, presu- Empréstimo é gênero, cujas espécies são o co-
me-se que terá o tempo necessário para o uso concedi- modato e o mútuo. Comodato é o empréstimo
do, não podendo o comodante suspender o uso e o gozo gratuito de um bem infungível pelo qual o co-
da coisa emprestada. Por exemplo, se houver contrato modante (dono da coisa) transfere sua posse
sem prazo para empréstimo de uma casa de praia, a du- ao comodatário por determinado tempo.
ração será até o fim do verão.
Na forma do artigo 580, a lei dispõe que certas pes-
soas não podem dar bens de terceiros em comodato, Prestação de Serviço: O contrato de prestação de
sem que tenham autorização especial do juiz. serviço é aquele em que uma das partes, denominada
prestador, se obriga para com a outra – tomador -, a for-
São elas: necer-lhe a prestação de uma atividade, mediante remu-
- o tutor, com relação aos bens do pupilo; neração.
- o curador, com relação aos bens do curatelado; e Em conformidade com o artigo 594, é possível que
- os administradores, em relação aos bens que admi- seja qual for a natureza, qualquer serviço, desde que líci-
nistrem. to, pode ser objeto do contrato de prestação de serviço,
não se fazendo distinção entre trabalho braçal ou inte-
Aqui não há uma incapacidade, mas uma falta de lectual.
legitimidade para agir, isto porque, como administram Tendo a seguinte natureza jurídica: bilateral, oneroso,
bens de terceiro, não podem praticar atos que os pre- consensual, de duração continuada e não solene.
judiquem. E como o comodato é contrato gratuito, os É de natureza bilateral, pois o contrato gera obriga-
terceiros não obteriam qualquer vantagem com ele. ções para ambos os contratantes. Ou seja: o tomador
deverá pagar a remuneração ao prestador e este deverá
O artigo 585 que, em caso de mais de um comoda- realizar a atividade avençada e na forma estipulada.
tário, todos serão solidariamente responsáveis perante o A onerosidade está, pois, confere benefícios a ambos
comodante. os contratantes, e é consensual porque o simples acordo
de vontades torna perfeito o contrato, prescindindo este,
b) Mútuo: é a cessão gratuita de coisa fungível para portanto, de qualquer materialidade externa.
ser consumida e restituída em certo prazo pela É também de natureza não solene, a lei não exige
sua equivalência, é portanto, um empréstimo de uma forma como condição de validade do negócio e, em
consumo, por isso jamais pode ter por objeto um regra, de duração continuada, são praticados atos reite-
imóvel. A coisa emprestada não é devolvida na sua rados no tempo e estes devem ser realizados para que se
individualidade, mas em coisa equivalente. O mu- cumpra efetivamente o contrato.
tuante transfere o domínio, e não só à posse da Nada impede, que se cumpra o contrato com a reali-
coisa, afinal a coisa será consumida e uma coisa zação de um ato apenas.
equivalente é que será devolvida pelo mutuário. Os elementos essenciais do contrato de prestação de
As características são as mesmas do comodato, com serviço são: objeto, remuneração e consentimento.
uma ressalva: o mútuo de dinheiro em geral é oneroso já
que o mutuário deve pagar juros ao mutuante, é o cha- 1 – objeto: trata da prestação da atividade humana,
mado mútuo feneratício. que tanto pode ser intelectual, quanto material ou física.
Enquanto o comodato transfere a posse do bem, o Sendo critério das partes, a escolha pela prestação de
mútuo transfere a propriedade, pois o bem mutuado po- fazer fungível ou prestação de fazer infungível.
derá ser consumido, devendo ser restituído bem equiva- Quanto a esse elemento, o contrato tem como obje-
lente. E, exatamente em razão da transferência da pro- to da relação obrigacional a execução de uma atividade
priedade, o risco da perda ou deterioração da coisa corre pelo solvens, o qual deve ser tratado como homem livre.
DIREITO CIVIL

por conta do mutuário após a tradição (artigo 587).


Quanto à natureza jurídica, é um tipo de contrato real, 2 – remuneração: é a retribuição, em regra pecuniária,
unilateral, gratuito e não solene. como pagamento pelo serviço prestado.
A obrigação do mutuário que surge com o contra- Pode ocorrer excepcionalmente outras espécies de
to é a restituição de coisa equivalente à emprestada, de pagamento, como, verbi gratia, alimentos, vestuário,

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transporte, condução ou, até mesmo, moradia. Caso a que a obrigação pode ser tanto de meio (exemplo: con-
retribuição se dê por meio de dessas formas de contra- sulta com um advogado), quanto de resultado (exemplo:
prestações, estaremos defronte de um contrato atípico. transporte de mercadoria).
Alguns autores entendem que a gratuidade não é ad- Na empreitada, o empreiteiro trabalha por conta
missível no contrato de prestação de serviços. Contudo, própria, com absoluta independência, e assume os ris-
para a doutrina civilista que entende que a gratuidade é cos do empreendimento, sendo certo que, dessa forma,
admissível, esta não será presumida. Será imprescindível, a relação obrigacional se ajusta melhor à obrigação de
portanto, que as partes ajustem de maneira expressa a resultado.
gratuidade do acordo. O nosso ordenamento determina um limite tempo-
A regra é que o pagamento seja realizado após a ral para o contrato de prestação de serviço indicado no
prestação de serviços. Mas o ordenamento jurídico per- artigo 598, o prazo de 4 anos. Neste caso, o legislador
mite, porém, que as partes estabeleçam, por meio de sua também admitiu a possibilidade de prorrogação, se as-
manifestação de vontade, a antecipação do pagamento sim for desejada.
ou o pagamento em prestações, o que facilita a maneira O contrato, de qualquer forma, por força da autono-
pela qual será executada a atividade, o tempo para a sua mia da vontade pode ser: determinável e determinado.
prática, bem como as necessidades, quanto ao resultado O contrato determinável precisa da notificação do to-
da obrigação, objetivadas pelo tomador. mador ou do prestador para o caso de término do pacto.
Não sendo o prazo determinado, ou não sendo o serviço
3 – consentimento: pode se materializar de forma estipulado por tarefa, qualquer contratante poderá resilir
escrita ou verbal, como também pode se dar de modo o contrato, mediante prévia comunicação.
implícito, subsumido no próprio fato da prestação de
serviço. Em relação à extinção do contrato de prestação de
Em se adotando a forma escrita e se alguma das par- serviço, são as seguintes formas:
tes não souber ler e nem escrever, o contrato poderá ser 1) Extinção normal: decorre do cumprimento direto
da obrigação.
assinado a rogo, desde que subscrito por duas testemu-
2) Extinção por vício: ocorrerá por nulidade ou anu-
nhas.
labilidade do negócio obrigacional firmado entre
O artigo 595 dispõe a respeito e faculta às partes a
as partes.
possibilidade de firmarem o acordo por escrito e em con-
3) Extinção por resilição: pode ser bilateral ou unila-
trato particular mesmo sendo uma das partes analfabeta,
teral e depende unicamente da vontade dos con-
o que certamente não poderia ocorrer nos contratos em
tratantes.
geral, em que, nesse caso, haveria a necessidade de es-
4) Extinção por resolução: refere-se à inexecução cul-
critura pública. posa ou involuntária do acordado.
É também admitido a celebração de contrato de pres-
tação de serviço realizado por incapaz, mas é preciso se A resolução opera a finalização do contrato por des-
ater para o limite estabelecido na Constituição da Repú- cumprimento das obrigações por uma das partes ou de
blica, em seu artigo 7º, inciso XXXIII: ambas, seja por culpa sua, seja por ato estranho à sua
vontade, quando houver caso fortuito, força maior e one-
“Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalu- rosidade excessiva.
bre a menores de 18 (dezoito) e de qualquer trabalho Podemos, portanto, apontar como situações que en-
a menores de 16 (dezesseis) anos, salvo na condição de sejarão a extinção do contrato de prestação de serviço:
aprendiz, a partir de 14 (quatorze) anos.” 1) morte de um dos contratantes;
Importante salientarmos sobre a distinção do contra- 2) término do prazo indicado em contrato;
to de prestação de serviço do contrato de empreitada, 3) finalização do serviço;
uma vez que, tanto em um quanto em outro, há uma 4) denúncia;
atividade pessoal em favor de outrem, o que ocasiona 5) inadimplemento, e
vários pontos de contato entre os institutos. 6) impossibilidade do cumprimento da obrigação.
Na empreitada busca-se a obra perfeita e acabada
dentro do que foi acordado, sendo, portanto um critério Em se tratando do inadimplemento, o Código Civil
finalístico. utiliza a terminologia “dispensa do contrato”, esta pode
Já na prestação de serviço o enfoque é a atividade ser classificada: dispensa motivada ou dispensa imotiva-
do prestador de serviços em favor do tomador, durante da.
determinado lapso temporal e não o fim da obra. A dispensa imotivada (art. 603) impõe àquele que deu
Outra questão para a distinção dos institutos está re- término ao contrato a pagar ao outro contratante “por
lacionada à retribuição. Se a remuneração for proporcio- inteiro a retribuição vencida, e por metade a que lhe to-
nal ao tempo dedicado ao trabalho, estaremos lidando caria de então ao termo legal do contrato”.
com a prestação de serviço. Se o pagamento tiver relação Mas a dispensa motivada (art.602, p.u.) por sua vez,
com a obra em si, estaremos lidando com a empreitada, ensejará àquele que deu causa ao término do contrato
DIREITO CIVIL

sendo certo que aqui a remuneração permanece inalte- a pagar as prestações vencidas e a correspondente in-
rada, seja qual for o tempo de trabalho gasto. denização.
Na prestação de serviço a sua execução é fiscalizada Por fim, quando o prestador de serviços não foi con-
por quem contratou o prestador, sendo, portanto que tratado para certa e determinada atividade, entender-se-
o tomador assume os riscos do negócio, destacando-se -á que se obrigou ao todo e qualquer serviço compatível

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com as suas forças e condições. Assim, quando o contra- São espécies de empreitada:
to é celebrado por tempo certo, ou por obra determina-
da, não se pode interromper ou resilir sem justo motivo a) empreitada de lavor: o material é por conta do
o acordo, antes de preenchido o tempo ou concluída a dono da obra, e o empreiteiro só fornece sua mão-
atividade ajustada. -de-obra e a de seus operários, tendo apenas obri-
gação de fazer;
Empreitada: Na empreitada contrata-se um profis- b) empreitada mista: além do serviço, o material é por
sional para executar uma obra, independentemente do conta também do empreiteiro, que responde pela
tempo, visando a um resultado, e o dono da obra paga sua qualidade e pela sua correta aplicação na obra,
por este resultado, pois o empreiteiro se obriga a dar sendo obrigação de dar (os materiais) e de fazer
pronta a obra por um preço certo. Se acontecer do tem- (o serviço).
po ser superior ao previsto, não há que se falar em au-
mento do preço, afinal o contrato visa ao resultado, inde- O contrato de empreitada distingue-se do contrato
pendentemente do tempo. de trabalho e do contrato de prestação de serviços. Nes-
O seu conceito está definido como contrato de rea- tes últimos, a atividade é a prestação imediata, enquan-
lizar uma obra por conta alheia, mediante pagamento. to, na empreitada, tem-se por meta o resultado final, a
Para o consumidor, a construção de edifícios para aliena- obra. A distinção, portanto, é feita com maior segurança
ção de apartamentos não se trata de empreitada, afinal pela finalidade do contrato, que, na empreitada, é a obra
é compra e venda. pronta.
Aplica-se a empreitada em construção e reforma de Mesmo o contrato de empreitada, em sua moda-
casas, edifícios, pontes, estradas, jardins, etc., inclusive lidade mista, também não se confunde com a compra
em obras públicas, sob regras de Direito Administrativo. e venda. Na empreitada com fornecimento de material,
Admite-se modernamente empreitada até para escrever o dono da obra não está simplesmente adquirindo do
um livro, fazer um vestido, executar demolições, entre empreiteiro os materiais por ele fornecidos. Sua intenção
outros. é obter a obra pronta, para a qual os materiais foram
transformados. Na compra e venda, a obrigação principal
- Partes: consiste em um dare, enquanto, na empreitada, consiste
Empreiteiro: é quem executa a obra; é o devedor da em um facere.
obra e o credor da remuneração; presume-se que seja
um expert em seu ofício; Suas características são: contrato bilateral, comutati-
Dono da obra: é quem ordena sua execução e paga o vo, oneroso, informal (pode ser verbal) e impessoal.
preço; é o credor da obra e o devedor da remuneração;
presume-se que tenha da consecução da obra apenas o Classificação quanto à remuneração:
senso comum.
- a retribuição do empreiteiro pode ser estipulada
- Objeto: tarefa, trabalho, obra. para a obra inteira, sem levar em conta o fraciona-
Observa Orlando Gomes (Contratos, p. 364) que o mento da atividade ou do resultado; embora assim
significado de “obra” é vasto, podendo esse substantivo fixado, o preço pode ser pago em prestações;
referir-se a todo resultado que se pode obter pela ativi- - a remuneração pode ser fracionada, levando em
dade ou pelo trabalho. consideração as partes em que se divide a obra,
No conceito de empreitada o objeto “obra” tem sig- se ela tiver essa natureza ou for das que se de-
nificado um pouco mais restrito, podendo se referir des- terminam por medida; essa será a modalidade, no
de uma obra material (uma edificação, uma roupa, uma silêncio das partes, tendo em vista o que dispõe o
estrada) ou até uma obra intelectual (um projeto, um li- art. 614;
vro), isto é, o objeto da empreitada pode ser material ou - empreitada com reajustamento: é consenso na dou-
imaterial. trina que as partes podem convencionar o reajus-
tamento da remuneração, em decorrência do au-
- Forma: livre. mento ou diminuição do preço dos componentes
Não se trata de um contrato solene. Portanto, as par- da obra (mão-de-obra e materiais);
tes podem celebrá-lo por qualquer meio, inclusive de - empreitada sem reajustamento: essa é a modali-
modo verbal. Há determinadas obras que, por sua com- dade padrão, prevista no art. 619 do Código Ci-
plexidade e pela quantidade de instruções a serem pas- vil. Prevê esse dispositivo que o empreiteiro, salvo
sadas ao empreiteiro, pedem forma escrita, mas não é disposição em contrário, não terá direito a exigir
obrigatória. acréscimo no preço, mesmo em caso de alteração
no projeto, a não ser que estas decorram de or-
- Remuneração: dens escritas do dono da obra, ou se este, presente
É essencial no contrato de empreitada. Caso não exis- à obra, não podia ignorar o que estava acontecen-
ta remuneração, pode-se ter um contrato de mandato ou
DIREITO CIVIL

do. Convém lembrar que, mesmo sem cláusula de


doação, mas não existirá empreitada reajustamento, o dono da obra pode pedi-lo, caso
haja diminuição no preço da mão de obra ou dos
materiais superior a um décimo do preço global
ajustado (art. 620);

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- empreitada por preço de custo: trabalho com mão São características do depósito segundo o Código Ci-
de obra e materiais, mediante restituição do des- vil Brasileiro:
pendido pelo empreiteiro, mais o lucro assegura- a) a entrega da coisa pelo depositante ao depositário;
do. b) a natureza móvel do bem depositado;
c) a entrega da coisa para o fim de ser guardada;
Efeitos do contrato de empreitada: d) a restituição da coisa quando reclamada pelo de-
Para o dono da obra: positante;
a) obrigação de pagar o preço, sob pena de suspen- e) a temporariedade e gratuidade do depósito.
são da execução, resolução do contrato ou cobran-
ça executiva e direito de retenção (hipótese con- A exigência da entrega da coisa ao depositário pelo
trovertida); depositante confere ao depósito a natureza de contra-
b) obrigação de recebê-la, não podendo haver recusa to real. A tradição da coisa depositada é indispensável
arbitrária; ao aperfeiçoamento do contrato salvo, evidentemente,
c) obrigação fornecer material, na empreitada de la- quando a coisa já estiver em poder do depositário, isto
vor. é, se a tradição, por uma razão ou outra houver ocorrido
d) obrigação genérica de não dar causa à suspensão anteriormente à celebração do contrato. A natureza mó-
da execução da empreitada. vel da coisa depositada é da essência do contrato, em-
bora doutrinadores estrangeiros admitam o depósito de
Para o empreiteiro: imóveis.
a) obrigação de executar a obra de acordo com as No contrato de depósito a guarda da coisa é essen-
instruções recebidas e entregá-la no prazo e pela cial. A custodia rei intervém no contrato como fim pri-
forma previstos (no contrato ou pelos costumes); macial e nunca em caráter subsidiário como ocorre, por
b) direito de receber a remuneração; exemplo, no mandato, no comodato, na locação etc. Em
c) direito de constituir em mora o dono da obra, ou todas essas hipóteses a guarda da coisa simplesmente
consigná-la judicialmente; decorre de outro contrato perfeito e acabado que não o
d) obrigação de fornecer material, quando previsto de depósito.
no contrato ou na lei; O objeto do depósito é apenas móveis, não há de-
e) obrigação de pagar pelos materiais que recebeu e pósito de imóveis ou de móveis fungíveis/consumíveis.
inutilizou por negligência ou imperícia; A sua essência está na guarda, na custódia da coisa, de
f) direito de ser indenizado em caso de suspensão in- modo que, de regra, o depositário não pode usar a coisa,
justificada da obra; mas apenas guardá-la. Ao término do contrato, a coisa
g) direito de suspender a execução, nas hipóteses do deve ser restituída com os frutos.
art. 625. Se a coisa perecer o prejuízo é do depositante. Ao de-
positário cabe guardar, conservar e restituir a coisa quan-
O empreiteiro responde pela solidez da obra pelo do solicitado e ao depositante pagar a remuneração do
prazo de cinco anos, respondendo também por danos depositário que pode exercer direito de retenção. Não
causados a terceiros. Concluída a obra, o empreiteiro tem cabe prisão civil se o bem não foi devolvido, depois de
direito a receber o preço ajustado, podendo exercer o pago, pois a Constituição Federal, à luz do Pacto de São
direito de retenção, enquanto esta não for paga. José da Costa Rica, deu um outro entendimento, neste
caso.

#FicaDica São espécies de depósito:


O contrato de empreitada distingue-se do a) depósito voluntário: decorre do acordo entre as
contrato de trabalho e do contrato de presta- partes, resulta da vontade livre das partes. (CC, art.
ção de serviços. Nestes últimos, a atividade é a 627 a 646) - Ocorre a escolha livre do depositário,
prestação imediata, enquanto, na empreitada, confiando à sua guarda coisa móvel corpórea para
tem-se por meta o resultado final, a obra. A ser restituída quando reclamada. Somente se pro-
distinção, portanto, é feita com maior segu- va por escrito (art. 646), podendo ser feito através
rança pela finalidade do contrato, que, na em- de instrumento particular ou público;
preitada, é a obra pronta. b) depósito necessário: é imposto pela lei. quando de-
corrente de lei; miserável, se efetuado por ocasião
de alguma calamidade pública e depósito do ho-
Depósito: é o contrato pelo qual o depositário rece- teleiro ou do hospedeiro. Nessa modalidade inde-
be objeto móvel do depositante para guardá-lo e resti- pende da vontade das partes a escolha do deposi-
tuí-lo quando solicitado. A obrigação, neste caso, será a tário. Resulta de fatos imprevisíveis e irremovíveis,
de guarda de bem móvel e corpóreo, com necessidade que levam o depositante a efetuá-lo, entregando a
de posterior restituição, seja por imposição legal ou de- guarda do objeto a pessoa que desconhece, a fim
DIREITO CIVIL

corrente da vontade das partes. Também é considerado de subtraí-lo de uma ruína imediata, não lhe sendo
como depósito o carro deixado em estacionado no sho- permitido escolher livremente o depositário, ante
pping/supermercado; igualmente o carro adquirido a a urgência da situação. Não se presume gratuito,
prazo mediante alienação fiduciária em garantia. pois a escolha não é livre.

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O depósito necessário se divide, de acordo com tra- mento, mesmo que haja prazo convencionado para tal
balho da Professora Maria Aparecida de Bastos, em: devolução. Essa é a principal diferença entre o depósito
e o mútuo (para o mútuo são fixados prazos – art. 592).
Legal – desempenho resultante de obrigação de lei Casos típicos do depósito irregular é o depósito de mer-
(art. 647, I) – Ex. o depósito que é obrigado a fazer o cadorias em armazéns gerais (Dec. 1.102, de 1903), em
descobridor de coisa perdida (CC, art. 1.233, parágrafo que a empresa depositária recebe mercadorias de igual
único); o de dívida vencida, na pendência da lide, se vá- natureza e qualidade, pertencentes a diversos donos,
rios credores disputarem o montante (CC 345); o feito para guardá-los, obrigando-se a restituir outras da mes-
pelo administrador dos bens do depositário que se tenha ma espécie, qualidade e quantidade, emitindo o certifica-
tornado incapaz (CC, art. 641); o do lote compromissado, do de depósito sob a forma de títulos de crédito causais,
no caso de recusa de recebimento da escritura definitiva. isto é, o conhecimento de depósito e o “Warrant”, trans-
missíveis por simples endosso. A empresa armazenadora
Miserável – efetuado por ocasião de calamidade pú- responderá perante quem se apresentar como portador
blica, como incêndio, inundação, naufrágio ou saque (CC, desses títulos representativos do depósito. Contudo,
art. 647, II), quando o depositante, ante tal circunstância há uma corrente de doutrinadores que não entendem
especial é obrigado a se socorrer da primeira pessoa que que o depósito de mercadoria em armazéns gerais seja
aceitar depositar os bens que conseguiu salvar. irregular. Defendem a posição de se trata de depósito
regular, embora de bem fungível, uma vez que quando
Depósito do hospedeiro – refere-se à bagagem dos são depositados são identificados pela safra, qualidade,
viajantes ou hóspedes nas hotelarias onde eles estiverem quantidade, devidamente ensacados com essas identifi-
(CC, art.649), abrangendo internatos, colégios, hospitais, cações (pensam dessa forma: Fran Martins e Carvalho de
etc. O hoteleiro ou hospedeiro responderá pela baga- Mendonça). Há decisões do STJ nesse sentido.
gem não só como depositário, mas também pelos furtos
e roubos que ocorrerem, praticados por seus emprega- Depósito judicial – O depósito judicial ou sequestro
dos, dispensando a prova por escrito e seu valor. A res- é o determinado pelo Juiz, que entrega à terceiro coisa
ponsabilidade é risco do negócio. Essa responsabilidade litigiosa (móvel ou imóvel), com a finalidade de preser-
diz respeito às coisas que normalmente se levam para var a sua incolumidade, até que a causa seja julgada, de
viagem (roupas e objetos de uso pessoal). Quantias vul- forma a não trazer prejuízo aos direitos do interessado.
tosas e joias exigem depósito voluntário com a adminis- Esse depósito é remunerado e confere poderes de admi-
tração da hospedaria ou hotel. O hóspede lesado, para nistração, necessários à conservação dos bens.
receber a indenização a que faz jus, só terá que compro-
var o contrato de hospedagem e o dano dele resultante.
No entanto, o hospedeiro poderá excluir sua responsa- #FicaDica
bilidade se: Depósito é o contrato pelo qual o depositá-
a) celebrar convenção com o hóspede de não indeni- rio recebe objeto móvel do depositante para
zar alguns pertences, desde que não seja abusiva; guardá-lo e restituí-lo quando solicitado. A
b) provar que o prejuízo que o hóspede sofreu pode- obrigação será a de guarda de bem móvel e
ria ter sido evitado; por ter ocorrido força maior ou corpóreo, com necessidade de posterior resti-
caso fortuito, como escalada, invasão da casa, bala tuição, seja por imposição legal ou decorrente
perdida, roubo a mão armada; da vontade das partes. Também é considerado
c) houver culpa do hóspede que deixou por exemplo, como depósito o carro deixado em estaciona-
a porta aberta, esqueceu a carteira na piscina, etc. do no shopping/supermercado; igualmente o
carro adquirido a prazo mediante alienação fi-
Esse depósito é remunerado e está incluído no preço duciária em garantia.
da hospedagem;

Depósito Regular – O depósito regular ou ordinário Mandato: é contrato, a representação, deriva do latim ma-
é o atinente à coisa individuada, infungível e inconsumí- num + datum, significando dar a mão. O mandato permite que
vel, que deve ser restituída in natura, isto é, o depositário uma pessoa esteja, ao mesmo tempo, em mais de um lugar.
deverá devolver exatamente a própria coisa depositada.
Exemplos: contrato de custódia de ações ou valores mo- A representação, no direito, possui duas espécies:
biliários, uma vez que são identificáveis por número. a) legal ou judicial: que advém da lei ou da ordem
do Juiz;
Depósito Irregular – recai sobre coisa fungível ou con- b) consensual ou voluntária: que decorre do contrato
sumível, de modo que o depositário deve restituir não de mandato.
aquele objeto depositado, mas outro do mesmo gênero,
qualidade e quantidade (CC, art. 645). A lei equipara esse Mandato, portanto, é o contrato pelo qual o procu-
DIREITO CIVIL

contrato ao mútuo (arts. 586 a 592). O mútuo é o con- rador, mandatário ou representante se obriga a praticar
trato utilizado pelos Bancos, quando acolhe em depósito atos jurídicos em nome do mandante ou representado.
dinheiro dos clientes, podendo ser cobrados juros (art. Ele se efetiva através da procuração, não podendo,
591). Tem sempre em vista o interesse do depositante, portanto, ser confundido com prestação de serviço, pois
que poderá pedir a devolução do bem a qualquer mo- este tem caráter personalíssimo.

53
O mandatário age em nome do mandante, prestan- existência de poderes especiais, a forma escrita torna-se
do-se o mandato para atos jurídicos, mas não para atos de extrema necessidade. Desta forma, fica o mandatário
materiais ou fatos. como poderes restritos a determinados atos.
A procuração é o instrumento do mandato, sendo A maioria das procurações é outorgada mediante
elemento exterior do mandato. É com a ela que o man- instrumento particular, observados os requisitos do art.
datário prova a terceiros que é o representante do man- 654, tais como a capacidade do outorgante, bem como
dante. sua assinatura, a indicação do lugar, a qualificação das
partes, objetivo da outorga, entre outros. Mas há casos
São obrigações do procurador: especiais que exigem a procuração por instrumento pú-
a) aplicar toda sua diligência/capacidade em favor do blico, como os relativamente incapazes, com a assistên-
mandante no cumprimento do mandato, obser- cia do responsável, do cego, entre outras situações.
vando as instruções recebidas; Desta forma, embora o contrato de mandato não
b) prestar contas de sua gestão. Responde o procura- tenha forma especial para sua validade ou prova, há
dor por perdas e danos caso exerça mal seus po- hipóteses nas quais é exigido instrumento público ou
deres, ou substabeleça à terceiros incompetentes particular para tanto, pois há situações em que poderes
(667). especiais devem ser expressos.
      A extinção do mandato, como vimos, está elencada
São obrigações do mandante: no artigo 682, havendo, portanto diferenças entre a re-
a) passar a procuração; vogação e a renúncia.
b) adiantar o dinheiro para a execução do mandato; Em primeiro plano, estabelece-se que a revogação
c) pagar a remuneração ao mandatário se o contrato parte do mandante, enquanto que a renúncia por parte
for oneroso; do mandatário. Assim, uma das características inerentes
d) cumprir as obrigações assumidas pelo mandatário. ao contrato de mandato que pouco se observa nos ou-
tros contratos é o fato de haver a possibilidade da extin-
O mandato será extinto em nas hipóteses do art. 682: ção do mandato por vontade unilateral.
Art. 682. Cessa o mandato: Sendo intuito personae, o falecimento de uma das
I - pela revogação ou pela renúncia; partes extingue o contrato de mandato. Hoje, este dis-
II - pela morte ou interdição de uma das partes; positivo não se refere à mulher casada, mas pode incidir
III - pela mudança de estado que inabilite o mandante em casos de incapacidade absoluta por debilidade do
a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; mandante, por exemplo.
IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do ne- E a respeito da terminação do prazo ou a conclusão
gócio. do negócio, é a extinção em razão da data certa de vi-
gência, constante no próprio instrumento de mandato.
Como já vimos o mandato é de natureza consensual e Algumas procurações são dadas para negócios certos,
não exige forma especial para sua validade. Então, pode- que quando concluídos, extinguem o contrato. É o caso
-se dizer que a forma do mandato é livre, mas não para de nomear mandatário para nomear escritura.
todos os atos, já que alguns, por sua natureza exigem
instrumento público ou particular. Assim alguns atos
como alienar, hipotecar, levantar dinheiro, contrair matri-
#FicaDica
mônio, entre outros exigem poderes especiais, conforme A forma do mandato é livre, mas não para to-
segue jurisprudência dominante. dos os atos, já que alguns, por sua natureza
Então, sendo a procuração instrumento do mandato, exigem instrumento público ou particulaR.
ela dá poderes para que o mandatário possa represen-
tar o mandante, admitindo, assim, muitas formas. Assim
esclarece o doutrinador Silvio Rodrigues em sua obra Di- Comissão Mercantil: Comissão vem do latim com-
reito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais de mittere que significa incumbência, atribuir uma tarefa a
vontades, p 288. alguém. Atualmente o contrato de comissão é usado por
“A procuração é o instrumento do mandato, mas, grandes empresas que trabalham com exportação de
como a Lei admite tanto o mandato tácito quanto o ver- café, soja, açúcar, entre outros, pois o comitente transfe-
bal, aquela é dispensável para o aperfeiçoamento do ne- re seus negócios em busca do lucro ao comissário, que
gócio jurídico”. vai negociar/vender bens a terceiros. Por isso é um con-
No mandato verbal, não há a existência de docu- trato personalíssimo, pois existe mútua confiança entre
mentos escritos, no entanto a declaração da vontade é comitente e comissário.
expressa, sendo que sua prova pode-se dar por várias
maneiras, inclusive por testemunhal. Conceito:
Não se admite mandato verbal nos atos que devem É o contrato pelo qual uma pessoa (comissário) adqui-
ser celebrados por escrito, é o entendimento do art. 657. re ou vende bens em seu próprio nome, mas por conta
DIREITO CIVIL

O mandato pode ser geral a todos os negócios do de outrem (comitente), em troca de certa remuneração.
mandante, não necessitando de poderes especiais para De acordo com o doutrinador Orlando Gomes ensina
sua execução, bem como em determinadas situações ele que “a comissão é mandato sem representação”. A re-
pode ser especial a um ou mais negócios do contratante. presentação neste contrato para ele seria “indireta” ou
Em situações como essas nas quais há a necessidade da “imperfeita”, na medida em que o comissário age por

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conta do comitente, mas não em seu nome. O comissário O proponente não pode constituir, salvo ajuste, ao
age em nome próprio, transmitindo ao dono (dominus) o mesmo tempo, mais de um agente, na mesma zona, com
resultado de sua atuação. idêntica incumbência; nem pode o agente assumir o en-
O comissário cuida dos interesses do comitente, de- cargo de nela tratar de negócios do mesmo gênero, à
vendo prestar contas semelhante a uma representação, conta de outros proponentes.
mas agindo em nome próprio, e o comitente pode ser O agente ou distribuidor tem direito à indenização se
desconhecido do terceiro com quem o comissário ne- o proponente, sem justa causa, cessar o atendimento das
gocia. propostas ou reduzi-lo tanto que se torna antieconômica
Se o comissário se afastar das instruções do comiten- a continuação do contrato.
te responderá por perdas e danos, pois o contrato é feito Mesmo se for dispensado por justa causa, terá o
no interesse do comitente, embora em nome do comis- agente direito a ser remunerado pelos serviços úteis
sário. A comissão não tem fim em si mesmo, é contrato prestados ao proponente; se a dispensa se der sem cul-
preparatório de outros que o comissário vai celebrar com pa do agente, terá ele direito à remuneração até então
terceiros. devida, inclusive sobre os negócios pendentes, além das
A comissão foi, originalmente, contrato nascido nas indenizações previstas em lei especial.
práticas mercantis. É de se observar, no entanto, que o Caso o agente não puder continuar o trabalho por
Código Civil de 2002 promoveu, sob o ponto de vista motivo de força maior, terá direito à remuneração cor-
do direito positivo, a unificação entre obrigações civis e respondente aos serviços realizados, cabendo esse direi-
mercantis. to aos herdeiros no caso de morte.
Há, no contrato de comissão, uma intermediação as- Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer
sociada a uma prestação de serviços. O comissário age das partes poderá resolvê-lo, mediante aviso prévio de
em seu próprio nome e não no nome do comitente. Por noventa dias, desde que transcorrido prazo compatível
isso o comissário se obriga diretamente perante as pes- com a natureza e o vulto do investimento exigido do
soas com quem contratar, exceto em caso de cessão de agente.
direitos. Em havendo divergência entre as partes, o juiz decidi-
Também não se confunde o contrato de comissão rá da razoabilidade do prazo e do valor devido.
com o de corretagem. Na corretagem, o contrato é pas-
sado ao principal interessado, limitando-se o corretor a Corretagem: A palavra deriva do latim cursitare =
aproximar as partes. correr de um lado para outro. O corretor é um mediador/
É contrato consensual, oneroso, bilateral, intuitu per- intermediário entre pessoas interessadas em fazer negó-
sonae, de forma livre. cios. Trata-se de contrato acessório que visa concluir ou-
tro negócio principal. Além de acessório, a corretagem é
Agência e distribuição: bilateral, onerosa, consensual (pode ser verbal) e aleató-
Neste capítulo o legislador trata de dois tipos de con-
ria (depende de haver conclusão do negócio principal). O
trato.
instituto está disciplinado, além do Código Civil, em leis
especiais que regulam a corretagem, como a de imóveis
- Agência: também conhecido como contrato de re-
(lei 6.530/78), e de seguros (lei 4.594/64).
presentação comercial, regulado pelo CC e pela lei
4.886/65, sendo semelhante ao contrato de man-
Objeto do contrato
dato e de comissão. De acordo com o professor
Trata-se de obrigação de fazer, voltada para o resul-
Rafael Menezes, o contrato de agência é útil para
o comerciante que quer expandir suas vendas em tado da prestação do serviço, ou seja, somente produzirá
outras praças, como uma “longa mão” da empresa. efeitos em relação ao comitente quando o acordo para o
Face à autonomia da vontade, a liberdade das partes negócio se efetivar em razão da intermediação realizada.
é grande em misturar aspectos da compra e venda, co-
missão, do mandato, da agência e da distribuição, sem- Partes do contrato:
pre com vistas ao lucro e ao aquecimento da economia. - Comitente: Dono do negócio.
O que vai diferenciar a Agência da Comissão é que na - Corretor: Responsável por realizar a intermediação
primeira a coisa vendida tem marca. entre o comitente e a outra parte interessada no
contrato.
- Distribuição: De acordo com ele, é o contrato pelo
qual o agente/representante comercial, sob remu- Responsabilidade:
neração, mas sem vínculo trabalhista, se obriga em Mesmo não sendo responsável por vícios, fraudes
caráter duradouro a negociar, em certo lugar por etc, que, possam a eivar o negócio depois de realizado,
conta do proponente. Cabendo fazer propaganda cabe ao corretor realizar esta mediação com a diligência
dos produtos do proponente, conhecer o merca- e prudência que o negócio requer, prestando ao cliente
do, captar clientela, intermediar os negócios, fis- todas informações sobre o andamento do negócio, es-
calizar os concorrentes e encaminhar os pedidos, clarecendo dúvidas que estiverem ao seu alcance acerca
DIREITO CIVIL

tudo sob orientação do proponente. da segurança ou risco do mesmo, caso não o faço poderá
Ao representado/comerciante cabe fornecer os pro- responder por perdas e danos.
dutos vendidos, pagar a comissão do representante e
respeitar sua exclusividade na área, não podendo naque-
la região constituir outro representante.

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O corretor pode ser classificado em: de um frete. O contrato se prova através do “co-
- Corretor oficial: Investido em ofício público, com nhecimento”, que é um documento emitido pelo
regulamentação própria. Ex: corretores de câmbio, transportador quando recebe a mercadoria. A em-
de seguros, de valores etc. presa deve ter cuidado no transporte e na guarda
- Corretor livre: São os demais, sem designação ofi- da coisa, inclusive sendo equiparado ao depositá-
cial. Ex: corretores de automóveis, de espetáculos, rio.
atletas profissionais, de imóveis.
Inicialmente muito se divergia sua natureza, de acor-
A remuneração ou comissão do corretor, se não fixa- do com o entendimento de William Miyada, ela era con-
da em lei nem ajustada entre as partes, será arbitrada de fundida com locação de serviços, empreitada, depósitos,
acordo com o negócio e os costumes locais. Será devida misto de locação e depósito, todas essas são compara-
pela aproximação “útil” ou eficaz do comitente e a outra ções equivocadas, embora a semelhança e a congruên-
parte interessada no negócio, mesmo que: cia de alguns dos princípios entre tais institutos, não se
- o negócio não se realize na ocasião, mas num futu- incorrelata pois, a afinidade com o depósito que é pal-
ro; desde que seja fruto do trabalho do corretor; pável, tanto que o art. 751 do Código Civil estabelece
- expire o prazo do contrato entre comitente e corre- que a coisa depositada ou guardada nos armazéns do
tor, mas a negociação se efetive por esforços deste transportador, em virtude de contrato de transporte, re-
último; ger-se-á, no que couber, pelas disposições relativas ao
- após a aproximação útil o negócio não se realize por depósito. Também não se relaciona com a empreitada
arrependimento das partes; conforme aduz Silvio de Salvo Venosa, em que, neste ins-
- tenha o comitente dispensado o corretor e realiza- tituto o dono da obra quer o resultado contratado, qual
do o negócio por pessoa interposta (testa de ferro) seja, a obra. No transporte a pessoa que o deslocamento
para furtar-se ao pagamento da comissão; da coisa ou do indivíduo. Nem se confunde com o freta-
- se o negócio tenha sido realizado sem sua media- mento, neste o navio, aeronave, ônibus, têm seu respec-
tivo uso cedido. O outorgado no contrato de trabalho de
ção, caso tenha sido ajustado contrato escrito e
fretamento, o afretador, dará a destinação que desejar
com exclusividade, salvo se comprovada inércia ou
ao veículo. No contrato de transporte, quem navega ou
ociosidade do corretor.
dirige é o transportador.
No Contrato de Transporte uma das partes, o trans-
portador, obriga-se a deslocar de um lugar para o outro
#FicaDica pessoas ou coisas, mediante o pagamento de um preço.
Mesmo não sendo responsável por vícios, Assim, o Contrato de Transporte é:
fraudes etc, que, possam a eivar o negócio de- 1°) Bilateral ou Sinalagmático: pois gera obrigações
pois de realizado, cabe ao corretor realizar esta para ambas as partes, obrigação entre o transpor-
mediação com a diligência e prudência que o tador e o passageiro ou expedidor;
negócio requer, prestando ao cliente todas 2°) Consensual: porque se aperfeiçoa com simples
informações sobre o andamento do negócio, acordo de vontades;
esclarecendo dúvidas que estiverem ao seu al- 3°) Oneroso: porque as partes buscam vantagens re-
cance acerca da segurança ou risco do mesmo, cíprocas, o destino para a coisa ou para o passa-
caso não o faço poderá responder por perdas geiro e preço para o transportador;
e danos. 4°) Típico: porque previsto no CC de 2002;
5°) De duração: pois sua execução não se limita em
um só ato ou instantaneamente, necessitando
Transporte: contrato pelo qual uma pessoa, geral- sempre de um lapso temporal para ser cumprido;
mente uma empresa, se obriga a transportar pessoas ou 6°) Comutativo: porque as partes conhecem as obri-
coisas, de um lugar para outro, mediante pagamento de gações respectivas de início, não dependendo de
um preço. É um contrato bilateral, consensual (verbal), evento futuro ou incerto, é um contrato por ade-
oneroso e comutativo. são, que se efetiva mediante condições uniformes
e tarifas invariáveis;
Possui duas espécies: 7°) Não solene: porque não depende de forma pres-
a) transporte de pessoas: quando o transporte é de crita para ser concluído.
pessoas, a bagagem do passageiro é acessória da
pessoa, não se tratando de transporte de coisa. É preciso distinguir o transporte de pessoas da sim-
O transportador deve preservar a integridade do ples carona amigável, pois nesta não existem os caracte-
passageiro até o fim da viagem, reservando-lhe o res supracitados, acarretando apenas efeitos de respon-
espaço e alimento necessário para o deslocamen- sabilidade extracontratual (CC, art. 736).
to, bem como cumprindo o horário. Por sua vez, o
passageiro deve pagar a passagem, sob pena de Sujeitos
DIREITO CIVIL

retenção de sua bagagem pelo transportador. O Tratando de coisa. Existem partícipes indiretos dos
passageiro deve também ser educado no trajeto. contratos de transporte que não são classificados como
b) transporte de coisas: ocorre quando uma coisa é sujeito. É o caso do destinatário que possui direitos e
expedida por um remetente para um destinatário, obrigações, mas não é sujeito da relação contratual pe-
através da transportadora, mediante pagamento rante o transportador, salvo se for o próprio expedidor.

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São participantes do ato material de transporte: - Não há em regra solidariedade do cossegurado pe-
1°) Remetente, expedidor ou carregador, o indivíduo rante o segurado, mas pelo art. 761, o segurador-
que entrega a coisa ao transportador para ser des- -administrador por ser acionado, por representar
locada. os demais, tendo ação regressiva contra eles.
2°) Comissário de transportes, aquele que obriga, me- - Não há vínculo entre o segurado e o órgão resse-
diante remuneração, a transportar a mercadoria, gurador.
embora não faça o transporte pessoalmente, mas
por intermédio do transportador. - Objetivos:
3°) Destinatário ou consignatário, é a pessoa designa- - Liceidade e possibilidade do objeto, que é o risco
da para receber a coisa. descrito na apólice.
- Valor do objeto deve ser determinado.
Agora tratando-se de pessoas, faz-se a seguinte de-
signação: - Formais:
Quem adquire bilhete de transporte, também chama- - O seguro é contrato formal, por exigir documento
do passagem, ou quem contrata o transporte de coisa, para ser obrigatório.
pode faze-lo em favor de outrem, não se postando des-
tarte nem como passageiro, nem como remetente. Nessa Classificação
hipótese, há estipulação, contrato em favor de terceiro. Quanto às normas que o disciplinam.
(VENOSA, p.328, 2009) - Seguro Comercial.
- Seguro Civil: o de dano e o de pessoa (CC, arts. 778
Objeto a 802).
Quando o transporte é realizado de coisa, o objeto é
a mercadoria a ser carregada, e no transporte de passa- Quanto ao número de pessoas.
geiro, é o deslocamento dele o objeto. - Seguro individual.
A carga deve se devidamente embalada em confor- - Seguro coletivo (CC, arts. 801, § 1º e 2º).
midade com a sua natureza, caso contrário o destinatário
pode recusar a mercadoria. Objetos inflamáveis, explo- Quanto ao meio em que se desenvolve o risco.
sivos e corrosivos principalmente, o art. 746 do Código - Seguro terrestre.
civil aduz: Poderá o transportador recusar a coisa cuja - Seguro marítimo.
embalagem seja inadequada, bem como a que possa pôr - Seguro aéreo.
em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e
outros bens. Quanto ao objeto que visam garantir.
Na mesma hipótese o transportador tem o dever de - Seguro patrimonial.
recusar o transito de mercadoria cuja comercialização - Seguro real.
não seja permitida, ou que venha sem as conformida- - Seguro pessoal.
des documentais legais. Art. 747. O transportador deve-
Quanto à prestação dos segurados.
rá obrigatoriamente recusar a coisa cujo transporte ou
- Seguro a prêmio.
comercialização não sejam permitidos, ou que venha
- Seguro mútuo.
desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou
- Seguro misto.
regulamento.
Quanto às obrigações do segurador.
Seguro: é um contrato que divide por várias pessoas
- Seguro de ramos elementares.
o prejuízo imposto a alguém pelo acaso. Várias pessoas - Seguro de pessoa.
pagam e apenas aquelas que sofrerem perdas, a depen- - Seguro de vida stricto sensu.
der do destino, receberão indenização. - Seguro contra acidentes.
É o contrato pelo qual uma das partes (segurador) se - Seguro contra acidente do trabalho.
obriga para com a outra (segurado), mediante o paga- - Seguro contra acidentes pessoais.
mento de um prêmio, a indenizá-lo de prejuízo decor-
rente de riscos futuros, previstos no contrato. Seguro de dano: contrato pelo qual uma empresa espe-
Os segurados são implicitamente solidários, pois cada cializada obriga-se para com uma pessoa física ou jurídica,
um contribui para indenizar quem sofrer um acidente. mediante prêmio por esta devida, a lhe pagar uma indeniza-
É contrato bilateral, oneroso, aleatório, formal, de ção se ocorrer um sinistro previsto no contrato ao patrimô-
execução sucessiva, de adesão e de boa fé. nio do segurado. A seguradora recebe o prêmio, assume o
risco e paga a indenização se ocorrer o sinistro. O seguro de
Requisitos dano protege o patrimônio do segurado, qualquer que seja
- Subjetivos: o bem de pessoa física ou jurídica, contra incêndio, abalroa-
- Segurador deve ser pessoa jurídica, devidamente mento, roubo, acidente, entre outros tantos.
DIREITO CIVIL

autorizada pelo governo federal para operar no Se o sinistro ocorrido não estiver expressamente pre-
ramo. visto no contrato não há indenização. Por isso as clausu-
- Segurado deverá ter capacidade civil. las de exclusão do seguro constam no contrato, após as
- Nem todos poderão ser beneficiários. de clausulas de cobertura, para melhor entendimento
- Consentimento de ambos os contraentes. do consumidor.

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O segurado paga uma remuneração chamada prê- a vida do devedor, mas não do credor, seja ele o
mio, e terá direito à indenização se ocorrer o sinistro. contratante, seja um terceiro. Assim, o contrato de
constituição de renda se extinguirá pelo decurso
Seguro de pessoa é subdivido em: seguro de saúde e do prazo ou pela morte do credor (instituidor) ou
seguro de vida: No seguro de saúde as indenizações serão do beneficiário.
divididas entre as seguradoras que o cliente tiver porque b) A morte do devedor das prestações (rendeiro) só
o objeto da indenização é a despesa comprovada. Já no extinguirá o contrato se houver cláusula contratual
seguro de vida, tantas quantas forem às apólices serão nesse sentido, ou se os bens deixados a seus her-
indenizadas. O seguro de saúde garante as condições deiros não formarem capital suficiente à manuten-
médico-hospitalares em caso de enfermidades. O seguro ção da renda, já que “o herdeiro não responde por
de vida consiste no pagamento pela seguradora de um encargos superiores às forças da herança”
capital a um beneficiário do segurado, após sua morte ou c) A teor do art. 810, também haverá resolução por
invalidez permanente. Este beneficiário pode ser indica- inadimplemento, que a lei denomina, nesse dis-
do e substituído a qualquer tempo pelo segurado. positivo, “rescisão”. Se a constituição de renda foi
Na verdade a morte é o objeto do seguro de vida, onerosa, a resolução implicará o retorno dos bens
pois é com a morte do segurado que o capital é pago. O ao patrimônio do instituidor ou censuente.
segurado paga um prêmio à seguradora que assume o
risco da sua morte. Do jogo e da aposta: O jogo e a aposta são dois
contratos distintos, mas regulamentados pelos mesmos
Extinção dispositivos legais. A dogmática s dos referidos contratos
- Decurso do prazo estipulado. é certamente a das mais difíceis do Direito Civil. Portan-
- Distrato. to, não há como esse simples artigo esgotar as inúmeras
- Resolução por inadimplemento de obrigação legal controvérsias incidentais no tema. A pretensão é adu-
ou de cláusula contratual. zir linhas didáticas e prover pelo menos sua arquitetura
- Superveniência do risco. principal.
- Cessação do risco, em seguro de vida, se o contrato Conceito: é aquele em que, duas ou mais pessoas
se configurar sob a forma de seguro de sobrevi- prometem, entre si, pagar certa soma àquela que conse-
vência. guir um resultado favorável de um acontecimento incer-
- Pela nulidade, que não é causa extintiva, mas que to, ao passo que aposta é a convenção em que duas ou
torna ineficaz o contrato por força de lei. mais pessoas de opiniões discordantes sobre qualquer
assunto prometem, entre si, pagar certa quantia ou en-
Constituição de Renda: Para o professor Clóvis Be- tregar determinado bem àquela cuja opinião prevalecer
viláqua, o conceito de renda vem a ser “a série de pres- em virtude de um evento incerto.
tações em dinheiro ou em outros bens, que uma pessoa O jogo e aposta são disciplinados conjuntamente
recebe de outra, a quem foi entregue para esse efeito tanto pelos códigos como pelos doutores, em atenção
certo capital”. ao elemento comum que é a álea essencial, ou seja, o
Diante disto, podemos concluir que a constituição de fator sorte que se verifica no fato dos contratantes rele-
renda seria o contrato pelo qual uma pessoa – rendeiro garem o pagamento de certa quantia de dinheiro, ou a
ou censuário – se obriga a fazer certa prestação periódica entrega de um bem determinado, ao ganhador, confor-
à outra – o instituidor – por um prazo determinado, em me o resultado de evento fortuito.
troca de um capital que lhe é entregue e que pode con- Ambos os contratos são bilaterais, onerosos, consen-
sistir em bens móveis, imóveis ou dinheiro. suais, informais não necessitando sequer de forma es-
crita. Em regra, as dívidas de jogo e aposta constituem
Conceito: é o contrato pelo qual uma pessoa se obri- obrigações naturais, aonde há o débito sem responsabi-
ga a pagar outra, a título gratuito, uma prestação perió-
lidade (ou seja, há o schuld sem o haftung).
dica (art. 803). Em sua modalidade onerosa, uma pessoa
Tanto o jogo como a aposta embora dispostos no
recebe de outra, certo capital, consistente em bens mó-
mesmo capítulo do Código Civil Brasileiro, trata-se de
veis ou imóveis, obrigando-se a pagar a esta ou a um
contratos com conteúdos diversos e possuem um ele-
terceiro, eleito beneficiário, uma prestação por determi-
mento em comum o azar ou a sorte, como queira alguns...
nado prazo.
Tendo como características a inexigibilidade, ou seja,
não é obrigado a pagar e não se pode pedir de volta, pois
São partes deste contrato:
- rendeiro ou censuário: é o devedor da renda. não se pode pedir devolução sobre o direito de aposta.
- instituidor ou censuente: é o credor da renda, ou Sua importância se dá quando ocorrem na forma
aquele que a institui em benefício de um terceiro. onerosa, pois quando tiverem mera relação lúdica, sem
expressão econômica, trais contratos não produzem
Classificação: bilateral ou unilateral; oneroso (comu- quaisquer efeitos jurídicos.
tativo ou alegatório) ou gratuito; temporário e solene.
Fiança: É um contrato que garante o pagamento de
DIREITO CIVIL

Extinção: uma dívida. É um contrato que faz aumentar a chance do


a) O contrato de constituição de renda, como se viu, credor a receber sua dívida, pois além do devedor em
é necessariamente temporário, podendo ser fixado si, outra pessoa, com seus bens, garantem o pagamento
por prazo certo ou por vida, podendo ultrapassar dessa dívida.

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Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satis- O devedor responde também perante o fiador por to-
fazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, das as perdas e danos que este pagar, e pelos que sofrer
caso este não a cumpra. em razão da fiança.
A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpre- O fiador tem direito aos juros do desembolso pela
tação extensiva. taxa estipulada na obrigação principal, e, não havendo
Pode-se estipular a fiança, ainda que sem consenti- taxa convencionada, aos juros legais da mora.
mento do devedor ou contra a sua vontade. Quando o credor, sem justa causa, demorar a exe-
As dívidas futuras podem ser objeto de fiança; mas o cução iniciada contra o devedor, poderá o fiador pro-
fiador, neste caso, não será demandado senão depois que mover-lhe o andamento. O fiador poderá exonerar-se da
se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor. fiança que tiver assinado sem limitação de tempo, sem-
O fiador não tem débito, mas responsabilidade. Todo pre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efei-
credor precisa de segurança para celebrar contratos e fa- tos da fiança, durante sessenta dias após a notificação
zer empréstimos, assim quanto maior o direito concedi- do credor.
do pelo ordenamento jurídico aos credores, menor será A obrigação do fiador passa aos herdeiros; mas a respon-
a exigência de garantia desses credores. sabilidade da fiança se limita ao tempo decorrido até a morte
Não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os do fiador, e não pode ultrapassar as forças da herança.
acessórios da dívida principal, inclusive as despesas ju-
diciais, desde a citação do fiador. Podendo ser de valor A Fiança se extingue quando:
inferior ao da obrigação principal e contraída em condi- a) quando o fiador unilateralmente deixa de garantir
ções menos onerosas, e, quando exceder o valor da dívi- a dívida;
da, ou for mais onerosa que ela, não valerá senão até ao b) por falta de legitimidade do fiador;
limite da obrigação afiançada. c) pelo decurso do tempo quando a fiança tem prazo
As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, certo;
exceto se a nulidade resultar apenas de incapacidade d) se o credor perdoar o devedor;
pessoal do devedor. A exceção estabelecida acima não e) pelo cumprimento da obrigação principal pelo de-
abrange o caso de mútuo feito a menor. vedor, hipótese em que a fiança se extingue sem
Quando alguém houver de oferecer fiador, o credor produzir seus efeitos.
não pode ser obrigado a aceitá-lo se não for pessoa idô-
nea, domiciliada no município onde tenha de prestar a O fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado:
fiança, e não possua bens suficientes para cumprir a obri- I - se, sem consentimento seu, o credor conceder mo-
gação. Se este se tornar insolvente ou incapaz, poderá o
ratória ao devedor;
credor exigir que seja substituído.
II - se, por fato do credor, for impossível a sub-rogação
nos seus direitos e preferências;
As garantias ou cauções jurídicas podem ser:
III - se o credor, em pagamento da dívida, aceitar ami-
a) reais: algo que garanta o credor se o devedor for
gavelmente do devedor objeto diverso do que este era
insolvente.
obrigado a lhe dar, ainda que depois venha a perdê-lo
b) pessoais ou fidejussórias: outra pessoa com seu
por evicção.
patrimônio garante o credor.

Portanto Fiança é o contrato pelo qual o fiador assu- Se for invocado o benefício da excussão e o deve-
me perante o credor a obrigação de pagar a dívida se o dor, retardando-se a execução, cair em insolvência, ficará
devedor/afiançado não pagar. exonerado o fiador que o invocou, se provar que os bens
O benefício de ordem é o direito do fiador de primei- por ele indicados eram, ao tempo da penhora, suficientes
ro ver executados os bens do afiançado, no silêncio da para a solução da dívida afiançada.
fiança, existe o benefício de ordem, mas o fiador pode
expressamente renunciar a essa vantagem por exigência #FicaDica
do credor ou por amizade com o devedor. O fiador de-
mandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante
até a contestação da lide, que sejam primeiro executados satisfazer ao credor uma obrigação assumida
os bens do devedor. pelo devedor, caso este não a cumpra.
A fiança conjuntamente prestada a um só débito por
mais de uma pessoa importa o compromisso de solida-
riedade entre elas, se declaradamente não se reservarem Transação: é a solução contratual da lide; conceito da
o benefício de divisão. Estipulado este benefício, cada lei: transação é o contrato pelo qual, as partes, terminam
fiador responde unicamente pela parte que, em propor- ou previnem um litígio mediante concessões mútuas. É
ção, lhe couber no pagamento. essencial que na transação existam concessões mútuas,
Cada fiador pode fixar no contrato a parte da dívida que cada uma das partes perde e ganha um pouco. As
que toma sob sua responsabilidade, caso em que não concessões podem ser desproporcionais, ou seja, uma
DIREITO CIVIL

será por mais obrigado. Aquele que pagar integralmente parte pode se quiser perder mais do que a outra, mas as
a dívida fica sub-rogado nos direitos do credor; mas só concessões têm que ser mútuas. Se uma das partes per-
poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela de tudo e esta parte é o credor existe remissão da dívida,
respectiva quota. A parte do fiador insolvente distribuir- mas não transação. Da mesma forma, se um devedor
-se-á pelos outros. perde tudo existe pagamento, mas não transação.

59
A transação não se aplica à todas as obrigações, mas os demais. Se a transação estiver relacionada a vá-
apenas às obrigações de caráter patrimonial privado, rios negócios autônomos, independentes entre si,
mas tolera a sua aplicação em outras áreas, como no Di- ela não perderá sua validade, se um deles for nulo,
reito de Família, quando as partes transacionam sobre quanto aos demais ajustes, que prevalecerão, por
pensão alimentícia; ou no Direito do Trabalho quando não lesar nenhum dos interessados.
as partes transacionam sobre salários atrasados; ou até
no Direito Penal quando o Ministério Público transaciona b) renúncia de direitos, ou pelo menos renúncia par-
com o réu, e o réu reconhece a culpa em troca de uma cial de prestações, é que ela deve ser interpretada
pena menor. restritivamente. Não pode a transação ser amplia-
da por analogia, nem alcançar situações não ex-
São espécies de transação: pressamente especificadas no instrumento.
a) preventiva: objetivando a evitar uma ação judicial,
ou seja, as partes fazem um acordo antes de sub- Para que se constitua a transação, são necessários al-
meter a lide ao Judiciário; pode ser feita por ins- guns elementos, são eles:
trumento particular, ou seja, por contrato escrito e - O acordo entre as partes: caracteriza-se como uma
assinado pelas partes, testemunhas e advogados, auto composição, e por ser de natureza contratual
se houver; é elementar que um acordo entre as partes seja
b) terminativa ou judicial: é a transação feita na Jus- necessário para sua composição. Se não há acordo
tiça, após iniciado o processo, quando o acordo é entre as partes não há como resolver um conflito
homologado pelo Juiz. de forma extrajudicial, as partes devem concordar
em abrir mãos de alguns direitos, o que lhes impõe
A definição de transação é basicamente a de um con- a necessidade de capacidade ordinária e legitima-
trato bilateral que, mediante concessões recíprocas das ção para ordenar.
partes, põe fim a uma controvérsia. - A existência de relações controvertidas e a inten-
De acordo com o doutrinador Silvio Rodrigues (2006, ção de lhes por termo: se não há litígio a essência
p. 367) “A transação é o negócio jurídico bilateral pelo da transação desaparece, podendo o contrato se
qual as partes previnem relações jurídicas duvidosas ou tornar uma doação ou uma remissão de dívidas.
litigiosas, por meio de concessões recíprocas, ou ainda Deste modo a existência de uma dúvida é elemen-
em troca por determinadas vantagens pecuniárias.” tar para a transação, se não há mais dúvida devido
A transação trás consigo a vantagem de resolução de sentença judicial, sem a ciência do vencedor, ou se
conflito sem que a publicidade coercitiva do Estado Juiz jamais existiu controversa, não há de se falar em
intervenha, evitando incidentes desagradáveis e onero- transação.
sos. - O recurso a concessões recíprocas para alcançar tal
Segundo Maria Helena Diniz (2005, p. 588) “a transa- escopo: a concessão recíproca é mister para a ca-
ção seria uma composição amigável entre os interessa- racterização da transação. Cada parte tem obriga-
dos sobre os seus direitos, em que cada qual abre mão toriamente que abrir mão de um direito que acre-
de suas pretensões fazendo cessar as discórdias”.
dita ter, se não, acorreria uma liberalidade, e não a
transação.
São três as formas de auto composição:
a) desistência (renuncia à pretensão);
É de extrema importância salientar que, em 8 de abril
b) submissão (renúncia à resistência oferecida à pre-
de 2010 no Ementário 4 de Decisões Monocráticas do
tensão);
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, foi publicado a cer-
c) transação (concessões recíprocas).
ca da não homologação de transação judicial pelo julga-
A transação não é um contrato seguro, e muito me- dor, mesmo quando preenchidos seus requisitos autori-
nos uniforme, pois não há prova alguma de proporção zadores.
de reciprocidade das concessões das partes, por se tratar O Desembargador relator, entendeu que não cabe-
de um negócio essencialmente extrajudicial. Por con- ria ao Juízo a quo ter negado a homologação do acor-
seguinte, para melhor proveito do instituto, a transação do judicial, ainda que havendo sentença transitada em
deve ser tratada equitativamente como uma espécie de julgado, sob o fundamento de que deve prevalecer a
“primeira instância” em gênero contratual, pois dificil- autonomia da vontade das partes, que rege as relações
mente há a possibilidade de recurso controverso ex tunc. obrigacionais.
Além dos pressupostos gerais de validade dos negó-
É preciso destacar dois princípios legais decorrentes cios jurídicos (capacidade das partes, objeto lícito, pos-
da natureza jurídica da transação: sível, determinado ou determinável e a forma prescrita
a) indivisibilidade: é o princípio que implica no trata- ou não defesa em lei) a transação tem como requisitos
mento do negócio jurídico sendo único em seus próprios, como já vistos:
aspectos clausulares, com todos os elementos ca- (i) um acordo de vontade entre interessados;
(ii) a extinção ou a prevenção de litígios;
DIREITO CIVIL

racterísticos da relação negocial. Sendo nula qual-


quer das cláusulas da transação, nula será esta. (iii) a reciprocidade de concessões e
Quando a transação tratar sobre diversos direitos (iv) a incerteza quanto ao direito dos interessados,
contestados, independentes entre si, o fato de tanto no aspecto objetivo como no subjetivo.
não prevalecer em relação a um não prejudicará

60
O objeto da transação é restrito, por lei aos direitos direitos, nos termos do art. 1.027 do CC/16 (cor-
patrimoniais privados, excluídos, portanto, os de nature- respondência: art. 843 do CC/02).
za não-patrimonial e os públicos. Quanto à forma, deve
ser observado o art. 842, ou seja, será por instrumento - A nulidade poderia ser decretada tão-só se ausen-
público ou privado, quando a lei assim o exigir ou permi- te escritura pública em contrato constitutivo ou
tir, respectivamente. Recaindo sobre direito contestado translativo de direitos reais sobre imóveis, a teor
em juízo, deverá assumir a primeira forma, ou ser reduzi- do art. 134, II do CC/16 (correspondência: art. 108
da a termos nos autos e homologada pelo juiz. do CC/02), o que não se coaduna com caso em
Ao que se refere à validade, o Código Civil decreta julgamento.
a nulidade da transação quando nula qualquer das suas
cláusulas (art. 848) ou quando há dolo, coação, ou erro - A dispensa de alimentos, matéria pacífica no STJ,
essencial quanto à pessoa ou coisa controversa (art. 849). não comporta ilicitude de objeto da transação.
Nula também será quando tratar de litígio transitado em - A transação efetuada e concluída entre as partes,
julgado e dessa condição não tenha conhecimento algu- sem qualquer mácula, seja vício de consentimento,
ma das partes. seja defeito ou nulidade, é perfeitamente válida, o
Sob a ótica do Poder Judiciário, a transação colabora, que torna inevitável sua homologação.
de forma determinante, para a abreviação do curso dos
processos e, em última análise, para a prevenção de acú- Recurso especial de C. M. V. parcialmente provido,
mulos e acúmulos de processo, ao mesmo passo em que para validar e homologar a transação, extinguindo-se o
diminui o descontentamento dos jurisdicionados com as processo, com julgamento do mérito”.
sentenças desfavoráveis.
Mas ocorre que, não raramente, as partes são sur- Empreitada: Na empreitada contrata-se um profis-
preendidas com a negativa do magistrado em homolo- sional para executar uma obra, independentemente do
gar o acordo nos termos ajustados, seja em razão das tempo, visando a um resultado, e o dono da obra paga
próprias obrigações que pretendiam assumir, seja pela por este resultado, pois o empreiteiro se obriga a dar
sua forma de cumprimento, ou por haver sentença tran- pronta a obra por um preço certo. Se acontecer do tem-
sitada em julgado. As duas primeiras hipóteses usual- po ser superior ao previsto, não há que se falar em au-
mente decorrem do espírito altruísta dos julgadores, mento do preço, afinal o contrato visa ao resultado, inde-
quando entendem que a transação poderia ter sido mais pendentemente do tempo.
vantajosa a uma das partes, enquanto a última decorreria O seu conceito está definido como contrato de rea-
da imutabilidade da coisa julgada. lizar uma obra por conta alheia, mediante pagamento.
Mas, preenchidos os requisitos gerais do negócio Para o consumidor, a construção de edifícios para aliena-
jurídico e os específicos da transação e não sendo nula ção de apartamentos não se trata de empreitada, afinal
qualquer das cláusulas, é mister a sua homologação, é compra e venda.
conforme entendimento da Ementa n.º 18 em exame, Aplica-se a empreitada em construção e reforma de
amparado pela jurisprudência dos Tribunais: casas, edifícios, pontes, estradas, jardins, etc., inclusive
em obras públicas, sob regras de Direito Administrativo.
“Direito civil e processual civil. Ação de separação ju- Admite-se modernamente empreitada até para escrever
dicial e conversão em divórcio. Transação não homolo- um livro, fazer um vestido, executar demolições, entre
gada. Denúncia de uma das partes. Nulidade decretada. outros.
Ausência de vício de vontade ou de defeito insanável.
- Partes:
- São causas de anulabilidade da transação, conforme Empreiteiro: é quem executa a obra; é o devedor da
dispõe o art. 1.030 do CC/16 (correspondência: art. obra e o credor da remuneração; presume-se que seja
849, caput do CC/02), o dolo, a violência (a coação um expert em seu ofício;
conforme terminologia do CC/02), ou o erro essen- Dono da obra: é quem ordena sua execução e paga o
cial quanto à pessoa ou coisa controversa. Tais ví- preço; é o credor da obra e o devedor da remuneração;
cios de vontade devem ser invocados por uma das presume-se que tenha da consecução da obra apenas o
partes em ação própria. senso comum.

- Efetuada e concluída a transação, é vedado a um - Objeto: tarefa, trabalho, obra.


dos transatores a rescisão unilateral, como tam- Observa Orlando Gomes (Contratos, p. 364) que o
bém é obrigado o juiz a homologar o negócio jurí- significado de “obra” é vasto, podendo esse substantivo
dico, desde que não esteja contaminado por defei- referir-se a todo resultado que se pode obter pela ativi-
to insanável (objeto ilícito, incapacidade das partes dade ou pelo trabalho.
ou irregularidade do ato). No conceito de empreitada o objeto “obra” tem sig-
nificado um pouco mais restrito, podendo se referir des-
DIREITO CIVIL

- A não adoção de escritura pública no tocante aos de uma obra material (uma edificação, uma roupa, uma
bens imóveis não acarreta defeito insanável, por- estrada) ou até uma obra intelectual (um projeto, um li-
quanto a transação não tem o condão de consti- vro), isto é, o objeto da empreitada pode ser material ou
tuir, modificar, transferir ou transmitir direitos reais imaterial.
sobre imóveis. Ela apenas declara ou reconhece

61
- Forma: livre. disposição em contrário, não terá direito a exigir
Não se trata de um contrato solene. Portanto, as par- acréscimo no preço, mesmo em caso de alteração
tes podem celebrá-lo por qualquer meio, inclusive de no projeto, a não ser que estas decorram de or-
modo verbal. Há determinadas obras que, por sua com- dens escritas do dono da obra, ou se este, presente
plexidade e pela quantidade de instruções a serem pas- à obra, não podia ignorar o que estava acontecen-
sadas ao empreiteiro, pedem forma escrita, mas não é do. Convém lembrar que, mesmo sem cláusula de
obrigatória. reajustamento, o dono da obra pode pedi-lo, caso
haja diminuição no preço da mão de obra ou dos
- Remuneração: é essencial no contrato de empreita- materiais superior a um décimo do preço global
da. Caso não exista remuneração, pode-se ter um ajustado (art. 620);
contrato de mandato ou doação, mas não existirá - empreitada por preço de custo: trabalho com mão
empreitada de obra e materiais, mediante restituição do des-
pendido pelo empreiteiro, mais o lucro assegura-
São espécies de empreitada: do.
a) empreitada de lavor: o material é por conta do
dono da obra, e o empreiteiro só fornece sua mão- - Efeitos do contrato de empreitada:
-de-obra e a de seus operários, tendo apenas obri- Para o dono da obra:
gação de fazer; a) obrigação de pagar o preço, sob pena de suspen-
b) empreitada mista: além do serviço, o material é por são da execução, resolução do contrato ou cobran-
conta também do empreiteiro, que responde pela ça executiva e direito de retenção (hipótese con-
sua qualidade e pela sua correta aplicação na obra, trovertida);
sendo obrigação de dar (os materiais) e de fazer b) obrigação de recebê-la, não podendo haver recusa
(o serviço). arbitrária;
c) obrigação fornecer material, na empreitada de la-
O contrato de empreitada distingue-se do contrato vor.
de trabalho e do contrato de prestação de serviços. Nes- d) obrigação genérica de não dar causa à suspensão
tes últimos, a atividade é a prestação imediata, enquan- da execução da empreitada.
to, na empreitada, tem-se por meta o resultado final, a
obra. A distinção, portanto, é feita com maior segurança Para o empreiteiro:
pela finalidade do contrato, que, na empreitada, é a obra a) obrigação de executar a obra de acordo com as
pronta. instruções recebidas e entregá-la no prazo e pela
Mesmo o contrato de empreitada, em sua moda- forma previstos (no contrato ou pelos costumes);
lidade mista, também não se confunde com a compra
b) direito de receber a remuneração;
e venda. Na empreitada com fornecimento de material,
c) direito de constituir em mora o dono da obra, ou
o dono da obra não está simplesmente adquirindo do
consigná-la judicialmente;
empreiteiro os materiais por ele fornecidos. Sua intenção
d) obrigação de fornecer material, quando previsto
é obter a obra pronta, para a qual os materiais foram
no contrato ou na lei;
transformados. Na compra e venda, a obrigação principal
e) obrigação de pagar pelos materiais que recebeu e
consiste em um dare, enquanto, na empreitada, consiste
inutilizou por negligência ou imperícia;
em um facere.
f) direito de ser indenizado em caso de suspensão in-
Suas características são: contrato bilateral, comutati- justificada da obra;
vo, oneroso, informal (pode ser verbal) e impessoal. g) direito de suspender a execução, nas hipóteses do
art. 625.
Classificação quanto à remuneração:
- a retribuição do empreiteiro pode ser estipulada O empreiteiro responde pela solidez da obra pelo
para a obra inteira, sem levar em conta o fraciona- prazo de cinco anos, respondendo também por danos
mento da atividade ou do resultado; embora assim causados a terceiros. Concluída a obra, o empreiteiro tem
fixado, o preço pode ser pago em prestações; direito a receber o preço ajustado, podendo exercer o
- a remuneração pode ser fracionada, levando em direito de retenção, enquanto esta não for paga.
consideração as partes em que se divide a obra,
se ela tiver essa natureza ou for das que se de-
terminam por medida; essa será a modalidade, no
silêncio das partes, tendo em vista o que dispõe o
art. 614;
- empreitada com reajustamento: é consenso na dou-
trina que as partes podem convencionar o reajus-
tamento da remuneração, em decorrência do au-
DIREITO CIVIL

mento ou diminuição do preço dos componentes


da obra (mão-de-obra e materiais);
- empreitada sem reajustamento: essa é a modali-
dade padrão, prevista no art. 619 do Código Ci-
vil. Prevê esse dispositivo que o empreiteiro, salvo

62
c) A teoria da personalidade condicional define que ha-
verá elemento acidental no negócio jurídico que su-
HORA DE PRATICAR bordine a validade dos direitos de nascituro a evento
futuro e incerto.
1. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa - d) Em algumas situações, o ato-fato jurídico praticado
CESPE). Julgue o item a seguir, à luz da Lei de Introdução pelo menor absolutamente incapaz produz efeitos.
ao Código Civil — Lei de Introdução às Normas do Di-
reito Brasileiro. Lei em vigor tem efeito imediato e geral, 8. (DPE/PE/2018 - Defensor Público – CESPE). Francis-
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e co comprou, em janeiro de 2014, um lote de 240 m2 de
a coisa julgada. Antônio, que se apresentou como proprietário do imó-
vel. Francisco construiu uma casa de alvenaria, instalan-
( ) CERTO ( ) ERRADO do-se no local com sua família. Depois de três anos de
posse mansa e pacífica, Danilo, o verdadeiro proprietário,
2. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa - ajuizou ação para reaver a posse do imóvel. Só então,
CESPE). Julgue o item a seguir, à luz da Lei de Introdução Francisco descobriu que fora vítima de uma fraude, pois
ao Código Civil — Lei de Introdução às Normas do Direi- Antônio havia falsificado os documentos para induzi-lo
to Brasileiro. O prazo de vacatio legis se aplica às leis, aos a erro. Considerando essa situação hipotética, assinale a
decretos e aos regulamentos. opção correta.

( ) CERTO ( ) ERRADO a) Francisco não poderá adquirir o terreno mediante pa-


gamento de indenização a Danilo, ainda que a cons-
03. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa - trução exceda consideravelmente o valor do terreno.
CESPE). Acerca dos direitos da personalidade, julgue o b) Não tendo observado a fraude no momento da con-
item que se segue. O pseudônimo adotado para ativida- tratação, Francisco não poderá pleitear indenização
em face de Antônio.
des lícitas goza da mesma proteção que se dá ao nome.
c) Danilo perderá o terreno em favor de Francisco, caben-
do-lhe apenas o direito à indenização.
( ) CERTO ( ) ERRADO
d) Francisco adquiriu, em 2017, a propriedade do imóvel
pela usucapião especial urbana, ficando, nesse caso,
4. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa -
dispensado de pagar indenização a Danilo.
CESPE). Acerca dos direitos da personalidade, julgue o
e) Francisco, que agira de boa-fé, perderá em favor de
item que se segue. O nome da pessoa pode ser empre-
Danilo os direitos sobre as construções realizadas no
gado por outrem em publicações ou representações que terreno, devendo, no entanto, ser indenizado.
a exponham ao desprezo público, desde que não haja
intenção difamatória. 9. (TJ-CE - Juiz Substituto - CESPE – 2018). Maria deci-
diu alugar um imóvel de sua propriedade para Ana, que,
( ) CERTO ( ) ERRADO no momento da assinatura do contrato, tinha dezessete
anos de idade. Nessa situação hipotética, o contrato ce-
5. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa - lebrado pelas partes é
CESPE). Julgue o seguintes item, relativo ao domicílio.
Domicílio corresponde ao lugar onde a pessoa estabele- a) nulo, uma vez que foi firmado por pessoa absoluta-
ce a sua residência com ânimo definitivo. mente incapaz, condição que pode servir de argumen-
to para Ana extinguir o contrato.
( ) CERTO ( ) ERRADO b) anulável, portanto passível de convalidação, ressalva-
do direito de terceiros.
6. (STJ/2018 - Técnico Judiciário/Administrativa - c) válido, desde que tenha sido formalizado por escritura
CESPE). Julgue o seguintes item, relativo ao domicílio. pública, visto que tem por objeto um imóvel.
Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o d) nulo, porque Ana deveria ter sido representada por
militar, o marítimo e o preso. um de seus genitores.
e) válido, ainda que Ana não possua capacidade de direi-
( ) CERTO ( ) ERRADO to para celebrar o contrato de aluguel.

7. (TJ/PR/2017 - Juiz Substituto - CESPE). Assinale a 10. (TJ-CE - Juiz Substituto - CESPE – 2018). Contrato
opção correta em relação às pessoas naturais e à teoria de prestações certas e determinadas no qual as partes
geral do negócio jurídico. possam antever as vantagens e os encargos, que geral-
mente se equivalem porque não envolvem maiores ris-
a) É taxativa, ou seja, não conta com ressalva legal, a re- cos aos pactuantes, é classificado como
gra de que negócio jurídico existente, porém inválido,
DIREITO CIVIL

não gera efeitos, ainda que tenha sido celebrado de a) benéfico.


boa-fé pelos contratantes. b) aleatório.
b) São absolutamente incapazes de exercer pessoalmen- c) bilateral imperfeito.
te os atos da vida civil os excepcionais sem desenvol- d) derivado.
vimento mental completo. e) comutativo.

63
11. (TJ-CE - Juiz Substituto - CESPE – 2018). Em um 15. (TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Re-
contrato, as partes pactuaram livremente o prazo de trin- gistros – Provimento - CESPE – 2019). De acordo com
ta dias para o exercício de eventual direito de arrependi- o Código Civil e o entendimento jurisprudencial do STJ,
mento. Esse prazo possui natureza assinale a opção correta no que tange a contrato de se-
guro.
a) prescricional e pode ser reconhecido de ofício pelo
juiz. a) É válida a exclusão de cobertura de seguro de vida na
b) prescricional e somente pode ser suscitado pelas par- hipótese de sinistro decorrente de conduta do segura-
tes. do praticada em estado de embriaguez.
c) decadencial e pode ser reconhecido de ofício pelo juiz. b) Na hipótese de pagamento do valor da apólice ao
d) decadencial e somente pode ser suscitado pelas par- segurado pela seguradora, esta poderá acionar em
tes. regresso o autor do dano, mas não se sub-roga nos
e) diversa da prescricional ou decadencial. direitos e nas ações que competirem ao segurado.
c) Em caso de morte do segurado por suicídio no trans-
12. (TJ-CE - Juiz Substituto - CESPE – 2018). Elemento curso do primeiro ano de vigência do contrato de se-
acidental do negócio jurídico, a condição possui, entre guro de vida, o beneficiário terá direito à indenização.
outras, as seguintes características: d) O suicídio não premeditado, se ocorrido no transcurso
do segundo ano de vigência do contrato de seguro
a) impositividade e certeza. de vida, é hipótese de pagamento ao beneficiário da
b) acessoriedade e voluntariedade. indenização decorrente do contrato.
c) legalidade e futuridade. e) O capital estipulado no seguro de vida não é conside-
d) involuntariedade e incerteza. rado como herança para todos os efeitos de direito.
e) legalidade e brevidade.
16. (TJ-CE - Juiz Substituto - CESPE – 2018) Pedro des-
13. (Prefeitura de Boa Vista - RR - Procurador Munici- cobriu que seu nome havia sido inscrito em órgãos de
pal - CESPE – 2019). A respeito de relações de consumo, restrição ao crédito por determinada instituição financei-
de contrato de locação e de registro de imóveis, julgue ra em decorrência do inadimplemento de contrato frau-
o item que se segue. Os contratos de locação em que o dado por terceiro.
poder público é o locatário são regidos exclusivamente Nesse caso hipotético, a instituição financeira
por normas de direito privado.
a) não responderá civilmente, uma vez que se trata de
( ) CERTO ( ) ERRADO fato de terceiro, mas deverá proceder à retirada do
registro negativo no nome de Pedro.
14. (TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Re- b) não responderá civilmente, porque a fraude configura
gistros – Provimento - CESPE – 2019). Joana, em cri- uma excludente de caso fortuito externo.
se de depressão, contratou Jacinto para matá-la no dia c) responderá civilmente na modalidade objetiva inte-
21/4/2018. Para tanto, foi convencionado como forma de gral.
pagamento o veículo de propriedade de Joana, o qual foi d) responderá civilmente apenas se Pedro comprovar
entregue a Jacinto em 15/4/2018. No dia da obrigação que sofreu prejuízos devido à inscrição de seu nome
pactuada, Jacinto desistiu da tarefa e comunicou a deci- nos órgãos de restrição ao crédito.
são a Joana. Inconformada, ela propôs ação de repetição e) responderá civilmente na modalidade objetiva, com
do indébito contra Jacinto e requereu a restituição de R$ base no risco do empreendimento.
30.000, valor correspondente ao veículo entregue como
forma de pagamento, ou a destinação do valor a entida- 17. (TJ-CE - Juiz Substituto - CESPE – 2018) João pro-
de de beneficência. Com relação a essa situação hipoté- pôs ação de usucapião extraordinária em uma das varas
tica, assinale a opção correta. cíveis da comarca de Fortaleza – CE. Nessa situação hi-
potética,
a) O objeto imediato da obrigação pactuada entre as par-
tes é lícito, mas está impedida a produção de efeitos. a) a sentença servirá de título para registro no cartório
b) No caso, uma vez que foi dada coisa para obtenção de imóveis, em caso de procedência da ação.
de fim ilícito, o juiz reverterá o valor pago por Joana b) a petição inicial deve conter comprovação dos requisi-
em proveito de uma entidade de beneficência, a seu tos de boa-fé e do justo título de João.
critério. c) o requisito temporal não pode ser completado no cur-
c) A situação retrata a prática de promessa de recompen- so do processo, em nenhuma hipótese.
sa por Joana. d) o juiz deverá verificar se o autor comprovou a posse
d) Joana terá direito à repetição do que pagou, pois o ininterrupta por pelo menos cinco anos.
ordenamento jurídico brasileiro veda o enriquecimen- e) o período de posse precária poderá ser considerado
DIREITO CIVIL

to ilícito. para fins de verificação do cumprimento do requisito


e) Joana deverá demonstrar o erro pelo pagamento in- temporal dessa modalidade de usucapião.
devido para que lhe seja restituído o pagamento efe-
tuado.

64
18. (TJ-CE - Juiz Substituto - CESPE – 2018) Conforme
classificação doutrinária, a herança, antes da formaliza-
ção da partilha, pode ser considerada um bem de indi- GABARITO
visibilidade
1 CERTO
a) convencional e uma universalidade de fato.
b) convencional e uma universalidade de direito. 2 ERRADO
c) legal e uma universalidade de direito. 3 CERTO
d) legal e uma universalidade de fato. 4 ERRADO
e) natural e uma universalidade de direito.
5 CERTO
6 CERTO
7 D
8 E
9 B
10 E
11 D
12 B
13 ERRADO
14 B
15 E
16 E
17 A
18 C

DIREITO CIVIL

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ANOTAÇÕES

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DIREITO CIVIL

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ÍNDICE

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Lei nº 13.105/2015 e suas alterações (Código de Processo Civil).............................................................................................................. 01


Normas processuais civis........................................................................................................................................................................................... 04
A jurisdição..................................................................................................................................................................................................................... 10
A Ação. Conceito, natureza, elementos e características. Condições da ação. Classificação. Pressupostos processuais..... 18
Preclusão.......................................................................................................................................................................................................................... 20
Sujeitos do processo. Capacidade processual e postulatória. Deveres das partes e procuradores. Procuradores.
Sucessão das partes e dos procuradores. Litisconsórcio. Intervenção de terceiros. Poderes, deveres e responsabilidade
do juiz. Ministério Público. Advocacia Pública. Defensoria Pública........................................................................................................... 20
Atos processuais. Forma dos atos. Tempo e lugar. Prazos. Comunicação dos atos processuais. Nulidades. Distribuição e
registro. Valor da causa............................................................................................................................................................................................. 27
Tutela provisória. Tutela de urgência. Disposições gerais............................................................................................................................ 32
Formação, suspensão e extinção do processo.................................................................................................................................................. 36
Processo de conhecimento e do cumprimento de sentença. Procedimento comum. Disposições Gerais. Petição inicial.
Improcedência liminar do pedido. Contestação, reconvenção e revelia. Providências preliminares e de saneamento.
Julgamento conforme o estado do processo. Provas. Sentença e coisa julgada. Cumprimento da sentença. Disposições
Gerais. Cumprimento. Liquidação. Processos de execução.......................................................................................................................... 37
Processos nos tribunais e meios de impugnação das decisões judiciais................................................................................................. 57
Disposições finais e transitórias.............................................................................................................................................................................. 59
Mandado de segurança. Ação popular. Ação civil pública. Ação de improbidade administrativa.............................................. 59
Teoria Geral dos Recursos. Recursos em espécie.............................................................................................................................................. 62
Lei nº 9.099/1995 e suas alterações e Lei nº 10.259/2001 e suas alterações (juizados especiais cíveis e criminais)............. 69
Lei nº 13.140/2015 (dispõe sobre mediação).................................................................................................................................................... 83,
Lei nº 8.328/2015 (dispõe sobre o Regimento de Custas e outras despesas processuais)................................................................... 89
Súmulas do STF e do STJ........................................................................................................................................................................................... 98
ção à publicidade. Em relação a terceiros, a publici-
LEI Nº 13.105/2015 E SUAS ALTERAÇÕES dade sofrerá restrições nas hipóteses de segredo de
(CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL). justiça.
- Duplo grau de jurisdição – trata-se do direito de re-
curso para julgamento de decisões judiciais.
- Juiz natural – “Ninguém será processado nem sen-
Prezado candidato, como introdução confira a se- tenciado senão pela autoridade competente” (arti-
guir os princípios da lei indicada. Não deixe de confe- go 5º, LIII, CF). Nestes moldes, o princípio do juiz
rir o material na íntegra em nosso material para con- natural assegura a toda pessoa o direito de conhe-
sulta, disponibilizando todos os pontos importantes cer previamente daquele que a julgará no processo
da lei. Acesse https://www.novaconcursos.com.br/ em que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdi-
retificacoes. ção competente para a matéria específica do caso
antes mesmo do fato ocorrer. É uma das principais
garantias decorrentes da cláusula do devido pro-
PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL cesso legal. Substancialmente, a garantia do juiz
natural consiste na exigência da imparcialidade e
a) Constitucionais da independência dos magistrados.
Sobre os princípios constitucionais do processo, No- - Devido processo legal – “ninguém será privado da
velino destaca: “O devido processo legal substan- liberdade ou de seus bens sem o devido processo
tivo se dirige, em primeiro momento ao legislador, legal” (artigo 5º, LIV, CF). No sentido material, é a
que constituindo-se em um limite à sua atuação, autolimitação ao poder estatal, que não pode edi-
que deverá pautar-se pelos critérios de justiça, tar normas que ofendam a razoabilidade e afron-
razoabilidade e racionalidade. Como decorrência tem as bases do regime democrático. No sentido
deste princípio surgem o postulado da proporcio- processual, é a necessidade de respeito às garan-
nalidade e algumas garantias constitucionais pro- tias processuais e às exigências necessárias para a
cessuais, como o acesso a justiça, o juiz natural a obtenção de uma sentença justa.
ampla defesa o contraditório, a igualdade entre as
partes e a exigência de imparcialidade do magis- b) Infraconstitucionais
trado”1. - Dispositivo – Significa, hoje, que a iniciativa de ação
- Isonomia – necessidade de se dar tratamento igua- é das partes. Proposta a ação, o processo corre por
litário às partes, igualdade esta que não pode ser impulso oficial e o juiz, como destinatário das pro-
apenas formal, mas também material (artigo 5º, vas, pode exigir a produção de outras necessárias
caput, CF) (ex.: Lei de Assistência Judiciária). à formação de sua convicção. Antes, o juiz deveria
- Contraditório e ampla defesa – “aos litigantes, em se manter inerte mesmo na fase de produção de
processo judicial ou administrativo, e aos acusados provas, vigia o princípio dispositivo (hoje, vige o
em geral são assegurados o contraditório e ampla princípio inquisitivo quanto à produção de provas).
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” - Persuasão racional ou livre convencimento mo-
(artigo 5º, LV, CF). Contraditório significa dar ciên- tivado – no sistema da prova legal, o legislador
cia às partes do que está ocorrendo no processo valora a prova (ex.: art. 366, CPC); no sistema do
com possibilidade de reação, enquanto que ampla livre convencimento puro, o julgador pode deci-
defesa significa permitir à parte que se encontra no dir conforme sua consciência; no sistema do livre
polo passivo utilizar quaisquer meios lícitos para convencimento motivado, adotado no Brasil, o
produzir provas e tecer argumentos a seu favor. juiz apreciará livremente a prova, mas ao proferir a
- Inafastabilidade da jurisdição – “a lei não excluirá da sentença deve indicar os motivos que formaram o
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a seu convencimento.
direito” (artigo 5º, XXXV, CF). É garantido a todos - Oralidade – significa, hoje, que o julgador deve
os acesso à justiça, de modo que restrições ao di- aproximar-se o quanto possível da instrução e das
reito de ação devem ser compatíveis com o siste- provas realizadas ao longo do processo. Dele se
ma jurídico-processual constitucional. extraem os seguintes subprincípios: imediação,
- Imparcialidade – trata-se da necessidade do ma- pois o julgador deve colher diretamente a prova;
identidade física do juiz, pois o magistrado que
gistrado não levar em conta questões pessoais no
colhe a prova oral em audiência fica vinculado ao
julgamento da causa. Neste sentido, a Constituição
julgamento do pedido (salvo convocação ou li-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

garante o princípio do juiz natural (artigo 5º, LIII,


cenciamento); concentração, sendo a audiência de
CF) e proíbe a criação de juízos ou tribunais de ex-
instrução uma e concentrada; irrecorribilidade de
ceção (artigo 5º, XXXVII, CF).
decisões interlocutórias, consistente nas restrições
- Publicidade – “a lei só poderá restringir a publicidade
ao recurso de agravo.
dos atos processuais quando a defesa da intimidade
ou o interesse social o exigirem” (artigo 5º, LX, CF). c) Informativos
Quanto às partes e seus procuradores, não há restri- - Lógico – o processo deve seguir uma determinada
1 NOVELINO. Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Método,
ordem estrutural.
2008.

1
- Econômico – é preciso buscar os melhores resulta- Assim, diligências desnecessárias e formalidades excessi-
dos possíveis com o menor dispêndio de recursos vas devem ser evitadas. Esta é a ideia da instrumentalida-
e esforços. de do processo – processo é instrumento e não fim em
- Jurídico – o processo deve obedecer a regras previa- si mesmo. Sendo assim, o processo deverá ser efetivo,
mente estabelecidas no ordenamento. aplicar sem demora, a não ser a razoável, o direito no
- Político – o processo deve obter a pacificação social caso concreto.
com o mínimo de sacrifício pessoal. O Direito Processual Civil pode ser visto como dis-
ciplina autônoma, mas nem sempre foi assim. Somente
1. Fontes em 1868, com a teoria de Oskar von Bulow – obra “teo-
ria dos pressupostos processuais e das exceções dilató-
A expressão fonte do direito corresponde aos ele- rias” – que foi concebida uma ideia de relação processual
mentos de formação da ciência jurídica ou de um de seus (conjunto de ônus, poderes e sujeições aplicados às par-
campos. Quando se fala em fontes do direito processual, tes do processo) e o processo civil passou a ser visto com
refere-se aos elementos que serviram de aparato lógico autonomia.
para a formação do direito processual.
Fontes diretas: são aquelas que primordialmente in- 3. Lei processual civil no espaço
fluenciam na composição do campo jurídico em estudo,
no caso, o direito processual. Apontam-se como fontes Art. 16, CPC. A jurisdição civil é exercida pelos juízes
diretas a Constituição Federal e as leis. Ambas são nor- e pelos tribunais em todo o território nacional, confor-
mas impostas pelo Estado, de observação coativa. me as disposições deste Código.
A lei que origina a principal fonte formal do direito Todos os processos que correm no território nacional
processual civil é a lei processual civil. Neste viés, a Cons- devem respeitar as normas do Código de Processo Civil.
tituição Federal prevê que compete à União legislar em A jurisdição, que é o poder-dever do Estado de dizer o
matéria de direito processual (artigo 22, I, CF). As nor- Direito, é una e indivisível, abrangendo todo o território
mas estaduais, por seu turno, somente estão autorizadas nacional. Eventuais divisões – denominadas competên-
a legislar sobre procedimento. Logo, a essência do pro- cias (territoriais, materiais, etc.) – servem apenas para fins
cesso civil está nas leis federais devidamente aprovadas administrativos, não significam uma real repartição da
no Congresso Nacional e ratificadas/promulgadas pelo jurisdição.
Presidente da República.
Fontes indiretas: são aquelas que decorrem das fontes 3.1. Lei processual civil no tempo
diretas ou que surgem paralelamente a elas. Por exem-
plo, a doutrina e a jurisprudência estabelecem processos Art. 1º, caput, LINDB. Salvo disposição contrária, a lei
de interpretação da norma jurídica, no sentido de que começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
interpretam o que a lei e a Constituição fixam, conferindo depois de oficialmente publicada.
rumos para a aplicação das normas do direito adminis- Em termos de vacatio legis, segue-se o mesmo racio-
trativo. Já os costumes e os princípios gerais do Direito cínio aplicado à lei material quanto à lei processual. A
existiam antes mesmo da elaboração da norma, influen- regra é que a norma processual entra em vigor em 45
ciando em sua gênese e irradiando esta influência em dias após a publicação, salvo se a própria lei estabelecer
todo o processo de aplicação da lei. Menciona-se, ainda, prazo diverso. (Ex.: o Novo CPC entrará em vigor 1 ano
a analogia, que permite o julgamento pela semelhança após sua publicação).
dos fatos, aplicando a um caso não previsto a mesma Se o processo já estava extinto, a lei processual não
interpretação de um similar. retroage. Se ainda não começou, segue totalmente a lei
processual nova. A questão controversa se dá quanto aos
2. Autonomia do direito processual civil processos em curso porque a lei processual tem aplicabi-
lidade imediata – significa que os atos processuais já pra-
O direito processual civil é o ramo do direito que traz ticados serão preservados, mas os que irão ser praticados
as regras e os princípios que cuidam da jurisdição civil. seguirão a lei nova.
Aquele que se pretenda titular de um direito que não A lei processual, diferente da lei material, tem aplica-
vem sendo respeitado pelo seu adversário pode ingres- bilidade imediata. Se uma lei material nova surge, ela só
sar em juízo, para que o Estado faça valer a norma de se aplica aos casos novos depois dela. Agora, se uma lei
conduta que se aplica ao fato em concreto. O processo processual surge, aplica-se aos litígios em curso.
civil estabelece as regras que servirão de parâmetro na
relação entre o Estado-juiz e as partes.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Vale destacar que a jurisdição civil está relacionada a


pretensões de direito provado (direito civil ou comercial)
e de direito público (direito constitucional, administrativo
e tributário).
O juiz deve, ainda, se atentar ao fato de que o pro-
cesso não é um fim em si mesmo, mas um meio para so-
lucionar os conflitos. Logo, as regras processuais devem
ser respeitadas, mas não a ponto de servirem de obstá-
culo para a efetiva aplicação do direito no caso concreto.

2
Legislação Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça,
pode ser autorizada a presença somente das partes,
LIVRO I de seus advogados, de defensores públicos ou do Mi-
DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS nistério Público.
TÍTULO ÚNICO Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferen-
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO cialmente, à ordem cronológica de conclusão para
DAS NORMAS PROCESSUAIS proferir sentença ou acórdão.
CAPÍTULO I § 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá es-
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CI- tar permanentemente à disposição para consulta pú-
VIL blica em cartório e na rede mundial de computadores.
§ 2o Estão excluídos da regra do caput:
Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e inter- I - as sentenças proferidas em audiência, homologató-
pretado conforme os valores e as normas fundamentais rias de acordo ou de improcedência liminar do pedido;
estabelecidos na Constituição da República Federativa do II - o julgamento de processos em bloco para aplica-
Brasil, observando-se as disposições deste Código. ção de tese jurídica firmada em julgamento de casos
Art. 2o O processo começa por iniciativa da parte e se repetitivos;
desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções pre- III - o julgamento de recursos repetitivos ou de inci-
vistas em lei. dente de resolução de demandas repetitivas;
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e
ameaça ou lesão a direito. 932;
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. V - o julgamento de embargos de declaração;
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solu- VI - o julgamento de agravo interno;
ção consensual dos conflitos. VII - as preferências legais e as metas estabelecidas
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de so- pelo Conselho Nacional de Justiça;
lução consensual de conflitos deverão ser estimulados VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais
por juízes, advogados, defensores públicos e membros que tenham competência penal;
do Ministério Público, inclusive no curso do processo IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim
judicial. reconhecida por decisão fundamentada.
Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo ra- § 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a
zoável a solução integral do mérito, incluída a ativi- ordem cronológica das conclusões entre as preferên-
dade satisfativa. cias legais.
Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do pro-
§ 4o Após a inclusão do processo na lista de que trata o
cesso deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
§ 1o, o requerimento formulado pela parte não altera
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar
a ordem cronológica para a decisão, exceto quando
entre si para que se obtenha, em tempo razoável, de-
implicar a reabertura da instrução ou a conversão do
cisão de mérito justa e efetiva.
julgamento em diligência.
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento
§ 5o Decidido o requerimento previsto no § 4o, o pro-
em relação ao exercício de direitos e faculdades pro-
cesso retornará à mesma posição em que anterior-
cessuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres
mente se encontrava na lista.
e à aplicação de sanções processuais, competindo ao § 6o Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1o
juiz zelar pelo efetivo contraditório. ou, conforme o caso, no § 3o, o processo que:
Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz aten- I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quan-
derá aos fins sociais e às exigências do bem comum, do houver necessidade de realização de diligência ou
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa de complementação da instrução;
humana e observando a proporcionalidade, a razoa- II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.
bilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes CAPÍTULO II
sem que ela seja previamente ouvida. DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência; Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. processuais brasileiras, ressalvadas as disposições es-
311, incisos II e III; pecíficas previstas em tratados, convenções ou acor-
III - à decisão prevista no art. 701. dos internacionais de que o Brasil seja parte.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de Art. 14. A norma processual não retroagirá e será
jurisdição, com base em fundamento a respeito do aplicável imediatamente aos processos em curso, res-
qual não se tenha dado às partes oportunidade de se peitados os atos processuais praticados e as situações
manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revo-
deva decidir de ofício. gada.
Art. 15. Na ausência de normas que regulem proces-
Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder sos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as dis-
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as posições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
decisões, sob pena de nulidade. subsidiariamente.

3
2. (TJM-SP - Juiz de Direito Substituto - VUNESP/2016)
#FicaDica Assinale a alternativa correta:
Art. 1o Disciplinado e interpretado confor- a) A garantia do contraditório participativo impede que
me os valores e as normas fundamentais da se profira decisão ou se conceda tutela antecipada
CF. contra uma das partes sem que ela seja previamente
Art. 2o Princípio da demanda – Processo por ouvida (decisão surpresa).
iniciativa da parte; Impulso oficial. b) A boa-fé no processo tem a função de estabelecer
Art. 3o Princípio da inafastabilidade do Po- comportamentos probos e éticos aos diversos perso-
der Judiciário – não exclui os métodos alter- nagens do processo e restringir ou proibir a prática de
nativos de solução do litígio. atos atentatórios à dignidade da justiça.
Art. 4o Princípio da celeridade c) O princípio da cooperação atinge somente as partes
Art. 5o Princípio da boa-fé do processo que devem cooperar entre si para que se
Art. 6o Princípio da cooperação obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa
Art. 7o Princípio da paridade – Igualdade e efetiva.
entre as partes no processo d) Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá
Art. 8o Fins sociais e bem comum – Dignida- aos fins sociais e econômicos e às exigências do bem
de – proporcionalidade, razoabilidade, lega- público, resguardando e promovendo a dignidade da
lidade, publicidade e eficiência. pessoa humana.
Art. 9o Contraditório – Oitiva prévia das par- e). Será possível, em qualquer grau de jurisdição, a prola-
tes antes de se decidir – Exceção no caso de ção de decisão sem que se dê às partes oportunidade
tutelas de urgência e evidência. de se manifestar, se for matéria da qual o juiz deva
Art. 10 Contraditório – Oportunidade de decidir de ofício.
manifestação, mesmo nas decisões que
possa tomar de ofício o juiz. Resposta: “Letra B”. Neste sentido, o artigo 5o, CPC:
Art. 11 Publicidade e Motivação. “Aquele que de qualquer forma participa do processo
Art. 12 Ordem cronológica preferencial de deve comportar-se de acordo com a boa-fé”.
julgamento A. A parte contrária não será ouvida em toda e qualquer
Art. 13 Jurisdição civil – normas processuais decisão, sendo exceções previstas no artigo 9o, CPC.
brasileiras C. A cooperação deve ser de todos os participantes do
Art. 14 Aplicação imediata e não retroativa processo, inclusive do juiz, conforme artigo 6º, CPC.
das normas processuais D. Prevê o artigo 8o, CPC: “Ao aplicar o ordenamento
Art. 15 Aplicação supletiva e subsidiária das jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências
normas processuais civis às demais normas do bem comum, resguardando e promovendo a dig-
processuais nidade da pessoa humana e observando a proporcio-
nalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade
Veja o Código de Processo Civil em: http://www. e a eficiência”.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/ E. Ainda que o juiz deva decidir de ofício, com exceção
l13105.htm do artigo 9º, deve dar às partes a oportunidade de se
manifestarem.

EXERCÍCIOS COMENTADOS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS.

1. (CESPE/2018 - STJ - Analista Judiciário - Judiciária)


Com referência às normas fundamentais do processo ci- Normas processuais correspondem a regras e princí-
vil, julgue o item a seguir. pios. O que são princípios? Princípios são premissas so-
Não cabe ao Estado promover a solução consensual de bre as quais se apoiam as ciências. Os princípios proces-
conflitos: ela depende unicamente de iniciativa privada e suais oferecem coerência e ordem ao sistema processual.
deverá ser realizada entre os jurisdicionados. A subordinação à Constituição Federal está prevista
no artigo 1º do CPC, que determina que o processo ci-
( ) CERTO ( ) ERRADO vil seja ordenado, disciplinado e interpretado conforme
os valores e as normas fundamentais estabelecidos na
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Resposta: Errado. Nos termos do artigo 3º, § 2º, CPC, Constituição Federal, observando-se a disposição do Có-
“o Estado promoverá, sempre que possível, a solução digo.
consensual dos conflitos”. A seguir, estudaremos as seguintes princípios:

4
Princípio do Devido Processo Legal (Due Process of Law)

O princípio do devido processo legal também é conhecido como princípio da legalidade, que advém do artigo 5º,
LIV, da Constituição Federal, que em seu texto, determina: “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal”.

Todos os demais princípios que serão estudados, derivam do princípio do devido processo legal.

Princípio do Contraditório e Ampla Defesa

O princípio do contraditório está estabelecido no artigo 5º, LV, da Constituição Federal, que determina: “aos li-
tigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”
Desse princípio, derivam-se duas exigências, a saber:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Sem o efetivo contraditório, o processo não poderá seguir seu andamento regular.
A preocupação quanto a esse princípio está evidenciada no CPC, no seu artigo 9º, que estabelece: “Não se proferirá
decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida”.

5
Ainda, o artigo 10 do CPC ensina que: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fun-
damento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria
sobre a qual deva decidir de ofício.” Trata-se do princípio da vedação a decisão surpresa.
Como exemplo desse princípio, que elenca o contraditório de outro ângulo, se o juiz for reconhecer a prescrição ou
decadência, ainda que possa fazer isso de ofício, deverá antes oportunizar que a parte se manifeste a respeito do tema.
A decisão surpresa deve ser vedada para que a parte possa apresentar argumentos que afastem a tese apresentada.
Caso não proceda assim, haverá uma decisão que, por não oportunizar o contraditório, infringiu este dispositivo.

Princípio do Juiz Natural ou Investidura

Para que o juiz possa processar e julgar uma lide, deve ser competente e imparcial.
Na Constituição Federal, o princípio do juiz natural é previsto no artigo 5º em dois incisos: “XXXVII – não haverá
juízo ou tribunal de exceção” e “LIII – ninguém será processado, nem sentenciado senão pela autoridade competente”.
Para uma melhor compreensão, vamos elencar os requisitos que caracterizam o juiz natural:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Princípio do Acesso à Justiça

O princípio do acesso à justiça é previsto na Constituição Federal, art. 5º, XXXV, que assegura: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Esse princípio, também chamado de princípio da inafastabilidade da jurisdição, garante que, diante de uma lide,
o jurisdicionado poderá buscar intervenção jurisdicional, visando uma solução efetiva. Por esse princípio, qualquer limi-
tação à possibilidade de acionar o judiciário é indevida, pois contempla-se o acesso irrestrito à justiça.

6
É certo que o § 1º, do art. 3º do CPC, contempla outro método alternativo para solução de conflitos, possibilitando
que pessoas capazes possam solucionar seus litígios envolvendo direitos patrimoniais disponíveis mediante a arbitra-
gem (Lei 9.397/96, alterada pela Li 13.129/2015). O STF entende que essa previsão é constitucional (STF, Pleno, AgRg
na SE 5.206/EP, rel. Min. Sepúlveda Pertence).

Princípio do Dispositivo

Esse princípio indica que o início da atividade jurisdicional se dá, geralmente, por iniciativa das partes, em decorrên-
cia do princípio da ação. Em outras palavras, o juiz não age de ofício, mas aguarda a provocação das partes interessa-
das. Esta elencado no art. 2º do CPC, e determina que, o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por
impulso oficial, salvo às exceções previstas em lei.

Princípio da Motivação das Decisões Judiciais

O artigo 93, IX, da Constituição Federal, determina que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos e, fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

7
Na falta de motivação de qualquer decisão, qualquer uma das partes poderá valer-se dos embargos de declaração,
exigindo que o juiz fundamente a respectiva decisão embargada, podendo também valer-se do recurso adequado para
postular a nulidade da decisão.

Princípio da Publicidade dos Atos Processuais

O princípio da publicidade origina-se também do artigo 93, IX da Constituição Federal, e prevê que os aros pro-
cessuais e a tramitação do processo devem ser, em regra, públicos. No Código de Processo Civil, há menção a esse
princípio nos artigos 8º e 11.
O art. 189, do CPC, elenca as hipóteses em que o processo poderá ser sigiloso. São elas:

Princípio da Inafastabilidade

Também conhecido como princípio da indeclinabilidade, e elencado no artigo 3º do Código de Processo Civil, sig-
nifica dizer que toda lesão ou ameaça aos direitos poderá ser apreciada e decidida pelo Estado-Juiz.

Princípio da Igualdade ou Isonomia

Previsto na Constituição Federal, no artigo 5º, caput, “todos são iguais perante a lei” e no Código de Processo Civil,
no artigo 7º, que assegura às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades proces-
suais.
Esse princípio informa que o juiz deve tratar, na esfera processual, todos de forma igual.
Mas atenção, a lei cria mecanismos processuais distintos entre litigantes, sem que haja ofensa ao princípio da
isonomia. Por exemplo, quando concede prazo maior ao Ministério Público e a Fazenda Pública para se manifestar nos
autos, ou quando concede isenção de custas para a parte que comprova hipossuficiência.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Princípio da Boa-Fé Processual

Essa norma está elencada no art. 5º do CPC. Embora as pessoas que recorrem ao Poder Judiciário estejam, na
maioria das vezes, litigando entre si, o processo em si não pode ser ambiente de conflitos, com atuações desleais ou
fraudulentas.
Por esse motivo, todos os sujeitos que efetivamente participam do processo, qualquer seja a natureza de sua
atuação (juiz, promotor, partes, peritos, auxiliares da justiça etc.), devem conduzir o processo com moralidade, hones-
tidade e lealdade, respeitando o dever de boa-fé processual.

8
Princípio da Cooperação

As partes devem, portanto, cooperar com o juiz, facilitando a produção de provas e informações, que possam for-
mar o convencimento motivado do magistrado.
E o juiz deverá cooperar igualmente com as partes, como, por exemplo, esclarecendo-lhes aquilo que for necessário,
apontando vícios existentes que possam ser corrigidos, em atenção aos artigos 321 e 332, § 2º, do CPC.

Princípio da Razoável Duração do Processo

No Código de Processo Civil, esse princípio está previsto no art. 4º, que determina ainda que ”as partes têm o direito
de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”.
Ou seja, ao mencionar a atividade satisfativa, conclui-se que o princípio em comento não se restringe apenas à fase
de conhecimento, mas também ao cumprimento de sentença e execução.

Princípio da Instrumentalidade das Formas

O princípio da instrumentalidade das formas, previsto no artigo 188 do CPC, antecipa que, exceto quando a lei
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

expressamente exigir, os atos e termos processuais não dependem de forma determinada reputando-se válidos os
que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.
À título de exemplo: a citação do réu é obrigatória, mas o seu comparecimento espontâneo supre a necessidade da
citação indicada em lei, pois a finalidade foi atingida.

9
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – JUDICIÁRIA – CESPE - 2018) Com referência às normas fundamentais do processo
civil, julgue o item a seguir.
O exercício do direito ao contraditório compete às partes, cabendo ao juiz zelar pela efetividade desse direito.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. O artigo 7º do CPC prevê que é assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções
processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

2. (TCM-BA – AUDITOR ESTADUAL DE CONTROLE EXTERNO – CESPE - 2018) De acordo com norma presente no
art. 286, inciso II do Código de Processo Civil (CPC), que trata da prevenção do juízo, devem ser distribuídas por depen-
dência as causas de qualquer natureza “quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for reiterado
o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda”.
Essa regra objetiva dar efetividade ao princípio

a) do contraditório.
b) da inércia
c) da unidade.
d) do juiz natural.
e) da investidura.

Resposta: Errado. Trata-se do princípio do juiz natural, anteriormente estudado. A prevenção do Juízo serve para
evitar que os autores possam escolher o juiz preservando assim, o princípio do juiz natural, que é aquele para o qual
foi distribuída a ação inicial.

3. (DPU – DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL – CESPE - 2017) Um sistema processual civil que não proporcione à socie-
dade o reconhecimento e a realização dos direitos, ameaçados ou violados, que tem cada um dos jurisdicionados, não
se harmoniza com as garantias constitucionais de um Estado democrático de direito.
Se é ineficiente o sistema processual, todo o ordenamento jurídico passa a carecer de real efetividade. De fato, as nor-
mas de direito material se transformam em pura ilusão, sem a garantia de sua correlata realização, no mundo empírico,
por meio do processo.
Exposição de motivos do Código de Processo Civil/2015, p. 248-53. Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel. 22.ª ed.
São Paulo, 2016 (com adaptações)
Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item a seguir à luz do entendimento jurisprudencial e dou-
trinário acerca das normas fundamentais do processo civil.
Voltado para a concepção democrática atual do processo justo, o CPC promoveu a evolução do contraditório, que
passou a ser considerado efetivo apenas quando vai além da simples possibilidade formal de oitiva das partes.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. O artigo 7º do CPC prevê que é assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao
exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções
processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

A JURISDIÇÃO.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

FUNÇÃO JURISDICIONAL

A jurisdição é exercida pelos juízes que são escolhidos pelo próprio Estado, e Tribunais, em todo território nacional,
nos termos do artigo 16 do Código de Processo Civil. Para postular em juízo, é necessário ter interesse e legitimidade,
requisitos das condições da ação, elencado no artigo 17 do CPC.
Para a jurisdição, segundo o artigo 19 do CPC, o interesse do autor pode se limitar à declaração da existência, inexis-
tência ou do modo de ser de uma relação jurídica, ou ainda, da autenticidade ou da falsidade de um documento, sendo
certo ser plenamente possível apenas uma ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito (art. 20 CPC).

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Princípios

Alguns dos principais princípios decorrentes da jurisdição:

Determinadas características da jurisdição distinguem-na de outras funções do Estado. Passamos a estudar algumas
características da jurisdição. Importante lembrar que, algumas vezes, a banca pede características como princípios.

ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO: VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA

A jurisdição pode ser:

A jurisdição voluntária é aquela em que não há lide. O procedimento da jurisdição voluntária está previsto a partir
do artigo 719 do Código de Processo Civil.
Na jurisdição contenciosa, a sentença sempre irá favorecer uma das partes em detrimento da outra. Nesta espécie
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

de jurisdição, há de fato lide, sustentada no conflito de interesses, que exige a intervenção do Poder Judiciário.

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Divisão da jurisdição

A divisão existente no atual sistema constitucional brasileiro é:

A partir da lide em questão, deve-se analisar se é de competência de uma das três Justiças Especializadas, eleito-
ral, trabalhista ou militar. Logo, se não for da competência da Justiça Especializada, trata-se então de competência da
Justiça Comum, federal ou estadual.
É necessário analisar na Justiça Comum, se algum ente federal é parte do processo, pois se for, a competência será
da Justiça Federal, se não for, a competência será da Justiça Estadual, que é tida como residual.

COMPETÊNCIA

Competência é a medida da jurisdição. A competência irá mensurar a parcela de exercício de jurisdição atribuída a
determinado órgão, em relação às pessoas, à matéria ou ao território. Nos termos do artigo 43 do CPC, a competência
é fixada no momento do registro ou da distribuição (art. 284 a 290 CPC) da petição inicial, sendo irrelevantes as
modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou
alterarem a competência absoluta.

DIVISÃO DA COMPETÊNCIA – JUIZ BRASILEIRO E JUIZ ESTRANGEIRO


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Quando é permitido que, tanto o juiz brasileiro quanto o juiz estrangeiro decidam sobre a mesma matéria, estamos
diante da competência concorrente.
As hipóteses de competência concorrente estão definidas nos artigos 21 e 22 do Código de Processo Civil:

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A execução da decisão estrangeira, deve inicialmente passar pelo procedimento de homologação de decisão es-
trangeira, nos termos do artigo 960 e seguintes do CPC. Esse procedimento é de competência exclusiva do STJ, nos
termos do artigo 960, § 2º do CPC e art. 105, I, “i” da CF.
Para melhor compreensão, podemos assim sistematizar:

Exceção à regra de homologação de sentença estrangeira pelo STJ, ocorre com a decisão estrangeira de tutela de
urgência, que poderá ser executada no Brasil, via carta rogatória, pelo próprio juiz competente para cumprir a medida
determinada, nos termos do artigo 960, §4º, CPC.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

No artigo 23 do Código de Processo Civil, temos os casos de competência exclusiva da autoridade judiciária bra-
sileira, que figuram em 3 hipóteses:

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Os artigos 26 e seguintes do CPC dispõem sobre a Cooperação Internacional, que será regida por tratado de que
o Brasil faz parte, e observará algumas garantias processuais, para que uma decisão proferida no exterior possa ser
cumprida no Brasil, ou vice-versa, tais como:

O órgão administrativo responsável por dar andamento as atribuições referentes a cooperação internacional é au-
toridade central.
O artigo 27 do CPC elenca as medidas que buscam estruturar a relação entre Judiciários de diferentes países em
relação ao Brasil, permitindo maior efetividade. São elas:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Os instrumentos de cooperação jurídica internacional são três: auxílio direto, carta rogatória e homologação de
decisão estrangeira:

Auxílio direto: trata-se de modalidade simplificada de cooperação internacional, sendo desnecessária qualquer
análise pelo STJ, nos termos do artigo 28 do CPC.
Carta rogatória: (exequatur) é a possibilidade de cumprimento da ordem estrangeira no Brasil, tramitará perante o
STJ e terá natureza de jurisdição contenciosa, devendo observar o princípio do devido processo legal.

Tipos e espécies de competência


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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A competência absoluta é fundada em interesse público, e não pode ser alterada por vontade das partes. A incom-
petência absoluta deve ser arguida em preliminar de contestação, nos termos do artigo 64 do Código de Processo Civil.
Pode ser alegada de ofício pelo juiz, não se sujeitando a preclusão.
Atenção: preclusão é a perda do direito de agir, seja porque passou o prazo ou porque o ato foi de fato consumado.
A competência relativa é fundada no interesse das partes, e pode por estas ser alterada/modificada. A incompe-
tência relativa é arguida por meio de preliminar de contestação, não podendo ser verificada de ofício (Súmula 33
do STJ).

Ocorre a prorrogação de competência quando, diante da ausência de alegação de incompetência territorial, o juiz,
antes relativamente incompetente, passa a ser relativamente competente. Essa prorrogação somente ocorre no caso
de incompetência relativa.
Quer aprender a determinar a competência? Atenção ao seguinte mapa esquemático:

Critérios para a divisão de competência

O artigo 46 do CPC prevê que as ações pessoais, assim como as ações reais sobre bens móveis, devem, em regra,
ser ajuizadas no domicílio do réu. Vale lembrar que essa regra é válida para todos os tipos de processo (conhecimento
ou execução).
Já o artigo 47 do CPC, determina que, tratando-se de direito real sobre bens imóveis, a competência para julgar a
lide será do foro do local da coisa.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Geralmente, a competência territorial pode ser modificada pela vontade das partes.

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Modificação da competência

Por questões de celeridade/economia processual, é possível que haja modificação da competência em determina-
das ocasiões.
A regra é: se o réu mudar de endereço durante o processo em tramite, não haverá redistribuição da causa.
Porém, haverá redistribuição, nos termos do artigo 43 do CPC, parte final, quando:

Haverá conflito de competência, se um ou mais juízes entenderem que são competentes ou incompetentes para
julgar a mesma causa ou se houver dúvidas entre dois ou mais juízes acerca da reunião ou separação de processos.

Sobre o tema, segue algumas súmulas:


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE – 2018) A respeito da jurisdição, julgue o item que se segue.
Entre os princípios que regem a jurisdição, o da investidura é aquele que determina que o juiz exerça a atividade judi-
cante dentro de um limite espacial sujeito à soberania do Estado.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. Entre os princípios que regem a jurisdição, o da territorialidade é aquele que determina que o juiz
exerça a atividade judicante dentro de um limite espacial sujeito à soberania do Estado.

2.(STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE – 2018) À luz das disposições do Código de Processo Civil (CPC), julgue o
próximo item.
Ao tratar dos limites da jurisdição nacional, o CPC determina que a justiça brasileira possui competência concorrente
para conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. O art. 23 do CPC determina que compete a autoridade judiciária brasileira, com exclusividade de
qualquer outra, conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil

3.(TRF -1ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE – 2017) A respeito de jurisdição, julgue o item a seguir.
A jurisdição é divisível.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. A jurisdição é uma e indivisível. O que se divide é a competência.

A AÇÃO. CONCEITO, NATUREZA, ELEMENTOS E CARACTERÍSTICAS. CONDIÇÕES DA AÇÃO.


CLASSIFICAÇÃO. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS.

AÇÃO

Ação é o direito público subjetivo que o indivíduo tem ao processo. O interessado promove a ação e retira a inércia
da jurisdição por meio do processo, que é o instrumento que o Estado coloca à disposição dos litigantes para solucio-
nar a lide.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

Pressupostos processuais são requisitos essenciais que devem figurar para que o processo tenha um início (pressu-
posto processual de existência) e desenvolvimento (pressuposto processual de validade).
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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CONDIÇÕES DA AÇÃO

Para que o direito de ação seja exercido, é necessário a presença de duas condições:

A ausência das condições da ação acarretará a carência da ação (art. 337, XI, CPC) e, como consequência, o processo
será extinto sem resolução do mérito, nos termos do artigo 485, VI do CPC.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(PGM – CAMPO GRANDE - MS – PROCURADOR MUNICIPAL – CESPE – 2019) Jorge foi devidamente citado em
ação movida por Márcio e pretende alegar incompetência territorial, impugnar o valor da causa e apresentar recon-
venção.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente, a respeito do valor da causa, jurisdição e improce-
dência liminar do pedido.
A incompetência territorial é uma questão relativa, que deve ser alegada na primeira oportunidade em que a parte for
se manifestar em juízo, salvo no caso de o objeto litigioso ser um bem imóvel, o que torna a competência territorial
absoluta e passível de ser decretada de ofício pelo julgador.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. As ações fundadas em direito real sobre imóveis e ações possessórias, devem, obrigatoriamente,
ser processadas perante o foro de situação da coisa. Trata-se de competência absoluta.

2. (PGE-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO DE PROCURADORIA – CESPE – 2019) Por ter sofrido sucessivos erros em ci-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

rurgias feitas em hospital público de determinado estado, João ficou com uma deformidade no corpo, razão pela qual
ajuizou ação de reparação de danos em desfavor do referido estado.
Tendo como referência essa situação hipotética e os dispositivos do Código de Processo Civil, julgue o item subsecu-
tivo.
O foro competente para o ajuizamento da referida ação será o da ocorrência do fato, não podendo ser escolhido o foro
do domicílio de João.

( )CERTO ( )ERRADO

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Resposta: Certo. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domi-
cílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do
respectivo ente federado.

3. (PGM-JOÃO PESSOA – PB – PROCURADOR DO MUNICÍPIO – CESPE – 2018) Gabriel e Mateus envolveram-se em


uma colisão no trânsito com seus respectivos veículos. Como eles não chegaram a um acordo, Mateus decidiu ingressar
com ação judicial contra Gabriel.
Conforme o Código de Processo Civil, o foro competente para processar e julgar a referida demanda é o do

a) domicílio de Gabriel.
b) domicílio de Gabriel ou do local do fato.
c) domicílio de Gabriel ou de Mateus.
d) domicílio de Mateus ou do local do fato.
e) local de registro do veículo de Mateus.

Resposta: Letra D. A competência é o foro do domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de
dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves – art. 53, V, CPC.

PRECLUSÃO.

PRECLUSÃO

As partes têm o ônus de realizar as atividades processuais nos prazos, sob pena de não poderem fazê-lo poste-
riormente. Além disso, deve guardar coerência em sua conduta, não podendo praticar atos incompatíveis com os an-
teriormente praticados. Trata-se de um sistema de estabilização do processo, impedindo que ele retroceda, o qual se
denomina preclusão. Sendo assim, preclusão é a perda de uma faculdade processual.
A preclusão pode ser de três tipos:
a) Preclusão temporal – é a perda da faculdade processual que não foi exercida no prazo estabelecido em lei.
b) Preclusão lógica – é a perda da faculdade processual que decorre da incompatibilidade entre o ato processual
e outro que tenha sido praticado anteriormente. Ex.: renúncia ao direito de recorrer e interposição de recurso.
c) Preclusão consumativa – é a perda da faculdade processual devido ao ato já ter sido praticado anteriormente,
não podendo ser renovado. Ex.: se não levantou o argumento na contestação, não pode mais fazê-lo, a não ser
que se trate de questão de ordem pública.

Atenção: nem sempre a preclusão se verifica, porque há questões que podem ser suscitadas a qualquer tempo e
grau de jurisdição.
O juiz também se sujeita à preclusão com relação a algumas de suas decisões, como a sentença. É a denominada
preclusão pro judicato.

SUJEITOS DO PROCESSO. CAPACIDADE PROCESSUAL E POSTULATÓRIA. DEVERES DAS PARTES


E PROCURADORES. PROCURADORES. SUCESSÃO DAS PARTES E DOS PROCURADORES.
LITISCONSÓRCIO. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. PODERES, DEVERES E RESPONSABILIDADE
DO JUIZ. MINISTÉRIO PÚBLICO. ADVOCACIA PÚBLICA. DEFENSORIA PÚBLICA.

PARTES E PROCURADORES
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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A incapacidade processual pode ser suprida, e o juiz deverá fixar um prazo razoável para a correção.
Em alguns casos específicos, o juiz nomeará curador especial, que irá defendê-lo praticando os atos processuais
necessários.
- incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a
incapacidade;
- réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado;
- réu preso revel.

Capacidade postulatória

Sucessão processual

Em regra, no processo, após a citação, não haverá modificação das partes. Porém, há algumas exceções. A modi-
ficação das partes em um processo recebe o nome de sucessão processual.

A hipótese do artigo 110 do CPC, traz um exemplo de sucessão processual, onde, advindo a morte de qualquer das
partes, ocorrerá a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, assim, o sucessor ingressará no processo para
assumir a posição processual do falecido.
O processo, desde a morte da parte, ficará suspenso, até que ocorra a sucessão processual.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Sobre a sucessão dos procuradores, a parte poderá a qualquer tempo, substituir o advogado, por meio da revoga-
ção do mandato e constituição de um novo procurador. Caso a parte não constitua um novo advogado, o juiz conce-
derá um prazo para que regularize a representação, nos termos do artigo 76 do CPC.
O advogado também poderá a qualquer tempo renunciar ao mandato, sem a necessidade de fundamentar a
renúncia. Contudo, cabe ao advogado comprovar que cientificou o mandante (cliente), para que este nomeie outro
substituto.

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Deveres das partes e dos procuradores

O artigo 77 do CPC enumera os deveres das partes e dos procuradores em seus incisos.

Percebe-se que, a obrigação principal a ser observada, versa sobre o dever das partes e dos procuradores procede-
rem com lealdade e boa-fé.

Caso haja descumprimento desses deveres, haverá responsabilização por dano processual, que constituirá:

JUIZ, CONCILIADOR, MINISTÉRIO PÚBLICO, DEFENSORIA PÚBLICA E FAZENDA PÚBLICA E ADVOCACIA


EM JUÍZO

Juiz

1. Poderes, Impedimentos, Suspeição

O juiz deve assegurar igualdade de tratamento as partes, velar pela duração razoável do processo, reprimir ato
contrário a dignidade da justiça e tentar a autocomposição entre as partes.
O juiz pode ainda:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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O magistrado tem ainda que ser imparcial, obrigação essa, que se estende aos auxiliares da justiça, nos termos do
artigo 148, CPC.

O artigo 144 do CPC elenca as hipóteses de impedimento do juiz. Para decorar, após ler o artigo e seus incisos, leia o
mapa mental a seguir. Basta imaginar a seguinte situação: um processo chega até o juiz. Ele lê o processo e já consegue
identificar seu impedimento, por meio de uma dessas hipóteses:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Já as hipóteses de suspeição do juiz estão elencadas no artigo 145 do CPC, são elas:

Conciliador e mediador

Conciliadores e mediadores são profissionais imparciais e alheios ao conflito, que buscam permitir que as partes
cheguem a um acordo. Mediador é o terceiro que busca acordo entre as partes, mas sem sugerir soluções, atuando
preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, como no direito de família, nos termos
do art. 165, § 3º, CPC.
Conciliador, nos termos do art. 165, § 2º do CPC, atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo
anterior entre as partes, sugerindo soluções para o litígio, como por exemplo, acidente de veículos, sendo vedada a
utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.

MINISTÉRIO PÚBLICO

Trata-se de instituição permanente, essencial à função jurisdicional e destinada a preservação dos valores funda-
mentais do Estado (defesa da ordem jurídica, regime democrático e interesses sociais, art. 127, CF).

Sempre haverá participação do Ministério Público, nos processos que envolvam:


I - interesse público ou social;
II - interesse de incapaz;
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.

Defensoria Pública

Trata-se de instituição destinada a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos
individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita, nos termos do art. 185 do
CPC e art. 134 da CF.

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Advocacia Pública e Fazenda Pública em Juízo

A Advocacia Pública irá promover e defender os interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, por meio da representação judicial, em todos os âmbitos federativos, das pessoas jurídicas de direito
público que integram a administração direta e indireta (art. 182, CPC).
Fazenda Pública, significa o Estado em juízo, e abrange a União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
e as autarquias e fundações.

LITISCONSÓRCIO

Litisconsórcio é a pluralidade de pessoas no polo ativo, passivo, ou em ambos do mesmo processo. Haverá mais
de um autor ou mais de um réu, em um único processo.

Para que haja litisconsórcio é necessário que:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Quanto a regra de prazo, o artigo 229 do CPC, diz que juiz ou tribunal poderá admitir o ingresso ou solicitará a
terão prazo em dobro para se manifestar os litisconsor- entrada de terceiro, que defenda uma posição institucio-
tes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios nal, para apresentar argumentos e informações proveito-
de advocacia distintos, salvo se os autos forem eletrô- sas à apreciação da demanda.
nicos.

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
EXERCÍCIOS COMENTADOS
São terceiros aqueles que não figuram como partes
(autor e réu). 1.(PGE-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO DE PROCURADO-
RIA – CESPE – 2019) Por ter sofrido sucessivos erros em
São modalidades de intervenção de terceiros: cirurgias feitas em hospital público de determinado es-
tado, João ficou com uma deformidade no corpo, razão
pela qual ajuizou ação de reparação de danos em desfa-
vor do referido estado.
Tendo como referência essa situação hipotética e os dis-
positivos do Código de Processo Civil, julgue o item sub-
secutivo.
O juiz não poderá alterar a ordem de produção dos
meios de prova, ainda que isso se mostre adequado às
necessidades do conflito, pois tal ato importaria prejuízo
presumido à demanda.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. Dentre os poderes do juiz, está o


de dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de
produção dos meios de prova, adequando-os às ne-
cessidades do conflito de modo a conferir maior efeti-
vidade à tutela do direito

2. (MPE – PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO


– CESPE – 2019) No que concerne às disposições proces-
suais civis que regem a atuação do Ministério Público, o
CPC determina que

Assistência – disciplinada entre os artigos 119 a 124 a) a intervenção desse órgão é obrigatória nos casos em
do CPC, trata-se de intervenção de terceiro que tem in- que a fazenda pública for parte ou interessada.
teresse jurídico em auxiliar uma das partes. Pode ser sim- b) a curatela especial deve ser exercida, preferencialmen-
ples ou litisconsorcial. te, pela promotoria de justiça.
Denunciação da lide – disciplinada entre os artigos c) a alegação de impedimento ou suspeição de membro
125 a 129 do CPC, a denunciação da lide tem por fina- do Ministério Público por via incidental suspende o
lidade fazer com que terceiro venha a integrar a relação processo judicial.
jurídica processual em conjunto com o denunciante. Se d) esse órgão tem legitimidade concorrente para reque-
houver condenação deste, o denunciado irá ressarcir o rer a abertura de inventário e de partilha, a depender
prejuízo do denunciante. da existência de herdeiro incapaz.
Chamamento ao processo – disciplinado entre os e) o juiz deverá aplicar multa pecuniária aos membros
artigos 130 a 132 do CPC, o chamamento ao processo do Ministério Público que praticarem ato atentatório à
tem por finalidade trazer aos autos outros devedores so- dignidade da justiça.
lidários, para litigar junto com o chamante.
Desconsideração da personalidade jurídica – dis- Resposta: Letra D. Sempre que houver interesse de
ciplinada entre os artigos 133 a 137 do CPC, trata-se de incapaz, conforme disciplina o art. 178 do CPC, haverá
procedimento para permitir trazer aos autos, por meio a participação do MP, que, possui legitimidade con-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

da desconsideração da personalidade jurídica, os sócios corrente para requerer a abertura de inventário e de


ou a sociedade. partilha, a depender da existência de herdeiro incapaz,
Serve para a desconsideração da personalidade jurí- nos termos do art. 616, CPC.
dica (para atingir os bens do sócio) e também temos a
desconsideração inversa, para desconsiderar a persona-
lidade do sócio e para atingir os bens da pessoa jurídica.
Amicus curiae (amigo da Corte) – o artigo 138 do
CPC, disciplina que, considerando a complexidade da na-
tureza conflito ou a repercussão social da controvérsia, o

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3.(STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO - CESPE – 2018) Julgue o próximo item, relativo ao dever e às responsabilidades dos
sujeitos do processo.
O dever de sanear o processo impõe ao juiz, sempre que perceber a existência de vício ou ausência sanável, determinar
a correção do defeito.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. Incumbe ao juiz, nos termos do artigo 139 do CPC, determinar o suprimento de pressupostos
processuais e o saneamento de outros vícios processuais

4.(PGM – CAMPO GARNDE – MS – PROCURADOR DO MUNICÍPIO – CESPE – 2019) Maria comprou um imóvel
de Joana e, imediatamente após a entrega das chaves, a nova proprietária passou a residir no bem adquirido. Alguns
meses depois, Maria foi citada por um oficial de justiça, que a informou de que Joaquim estava promovendo uma ação
reivindicatória em desfavor dela sob a alegação de ser ele o real proprietário do bem imóvel.
Acerca de intervenção de terceiros, julgue o item seguinte.
Maria poderá denunciar a lide à Joana — considerada alienante imediata — para que esta possa exercer os direitos que
da evicção lhe resultam.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. Nos termos do art. 125 do CPC, é admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das
partes, ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que
possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam.

ATOS PROCESSUAIS. FORMA DOS ATOS. TEMPO E LUGAR. PRAZOS. COMUNICAÇÃO DOS
ATOS PROCESSUAIS. NULIDADES. DISTRIBUIÇÃO E REGISTRO. VALOR DA CAUSA.

FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS

Há a previsão, no artigo 188 do CPC, a instrumentalidade das formas dos atos processuais: “Os atos e os termos
processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os
que, realizados de outro modo, preencham-lhe a finalidade essencial”.

O artigo 190 do CPC traz a regra de publicidade dos atos processuais, e, nos seus incisos, traz as exceções, ou seja,
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

quando o processo não será público (correrá em segredo de justiça):

27
Negócio Jurídico Processual e Calendarização

A realização do negócio jurídico processual permite a alteração procedimental.

Atos das partes

É dividido pelo Código de Processo Civil, em atos unilaterais, praticado por uma parte apenas, e bilaterais, quando
ambas as partes praticam o ato, como por exemplo, um acordo:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

28
PRONUNCIAMENTOS DO JUIZ

Os pronunciamentos do juiz são divididos em:

Tempo dos atos processuais

Os atos processuais devem ser realizados em dias úteis, das 6 às 20 horas


São feriados, além dos declarados em lei, sábados, domingos e os dias em que não houver expediente forense.

Prazos

Os prazos processuais serão contados em dias úteis.


Quando nem a lei nem o juiz fixar prazo, as intimações somente obrigarão a comparecimento após decorridas 48
horas ou de 05 dias para os outros atos.
Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial, ou seja, o advogado poderá recorrer antes da
publicação da decisão.

Também há contagem de prazos para juízes e auxiliares. O juiz deverá proferir:


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Frisa-se que são prazos impróprios não sujeitos a preclusão.

29
Lugar do ato

O ato deverá ser praticado na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de deferência, de in-
teresse da justiça, da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz

COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS

Sobre a comunicação dos atos processuais, iniciaremos estudando os 4 tipos de cartas:

A citação é o ato pelo qual são convocados o réu, executado ou interessado para integrar a relação processual. Sem
a citação, o processo será considerado inválido, todos os atos praticados serão considerados nulos.
São modalidades de citação:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de
direito público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública responsável por sua representação judicial.
Intimação é o ato pelo qual se da ciência a alguém dos atos processuais.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(PGM- CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL – CESPE - 2019) Em 29 de março de 2019, uma sex-
ta-feira, iniciou-se o prazo para que uma autarquia apresentasse contestação a uma petição inicial de natureza cível,
em procedimento ordinário, distribuída em uma das varas federais de uma comarca do estado do Mato Grosso do Sul,
não tendo ocorrido nenhum feriado até a data final para protocolo da contestação.
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo item, relativo a comunicação e prazos processuais, contesta-
ção e reconvenção.
É correto afirmar que, após a citação válida da autarquia, o objeto da demanda se tornou oficialmente litigioso, mas não
é acertado dizer que o demandado foi constituído em mora, uma vez que ainda inexiste certeza acerca da veracidade
dos fatos narrados pelo autor na inicial.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna liti-
giosa a coisa e constitui em mora o devedor, nos termos do art. 240 CPC.

2.(PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL - CESPE – 2019) Em 29 de março de 2019, uma
sexta-feira, iniciou-se o prazo para que uma autarquia apresentasse contestação a uma petição inicial de natureza cível,
em procedimento ordinário, distribuída em uma das varas federais de uma comarca do estado do Mato Grosso do Sul,
não tendo ocorrido nenhum feriado até a data final para protocolo da contestação.
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo item, relativo a comunicação e prazos processuais, contesta-
ção e reconvenção.
A citação da autarquia foi realizada no órgão da advocacia pública responsável pela representação judicial dessa au-
tarquia.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas respectivas au-
tarquias e fundações de direito público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública responsável por sua
representação judicial, nos termos do art. 240, §3º do CPC.

3.(PGE – PE – ANALISTA JUDICIARIO DE PROCURADORIA - CESPE – 2019) Por ter sofrido sucessivos erros em ci-
rurgias feitas em hospital público de determinado estado, João ficou com uma deformidade no corpo, razão pela qual
ajuizou ação de reparação de danos em desfavor do referido estado.
Tendo como referência essa situação hipotética e os dispositivos do Código de Processo Civil, julgue o item subsecu-
tivo.
O estado possui prazo em dobro para apresentar as manifestações processuais necessárias.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações
de direito público gozarão de prazo em DOBRO para TODAS as suas manifestações processuais, cuja contagem terá
início a partir da intimação pessoal, nos termos do art. 183 do CPC.

VALOR DA CAUSA
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A toda causa será atribuído valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível. O artigo
292 elenca as regras para estabelecer o valor da causa:

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TUTELA PROVISÓRIA. TUTELA DE URGÊNCIA. DISPOSIÇÕES GERAIS.

TUTELAS PROVISÓRIAS

A tutela cautelar de urgência se subdivide entre cautelar, que visa assegurar o resultado útil do processo, e antecipada, que
visa o adiantamento do provimento de mérito, e, qualquer delas, pode ser requerida em caráter antecedente ou incidental.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Se requerida em caráter antecedente significa que será pleiteada antes ou em conjunto como pedido principal
formulado pela parte. Por outro lado, se requerida em caráter incidental, é pleiteada depois de já existir o processo
principal, mediante simples petição, sem a necessidade do recolhimento de custas processuais.
Sobre a competência, a tutela provisória será requerida ao juiz da causa, no caso de ser incidental e, quando for
antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido principal.

Tutela Cautelar

A tutela poderá ser requerida em caráter antecedente ou incidental.

O réu será citado para contestar em 05 dias, e indicar as provas que pretende produzir. A falta de contestação,
acarretará em revelia. Havendo a contestação, o processo observará o procedimento comum.
Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal deverá ser formulado pelo autor no prazo de 30 dias. Não haverá
recolhimento de novas custas processuais e a causa de pedir poderá ser aditada.
Cessará a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente se:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Tutela Antecipada

A tutela antecipada pode ser requerida quando a urgência for anterior ou contemporânea a propositura da ação.
Concedido a tutela antecipada requerida, é necessário que o autor adite a petição inicial, complementando sua
argumentação e anexando os documentos, bem como confirmando o pedido final, em 15 dias.
Caso a tutela seja indeferida, o juiz determinará a emenda da inicial, em 5 dias, sob pena de extinção do processo
sem resolução do mérito.
A tutela antecipada concedida se tornará estável se da decisão que a conceder não for interposto recurso, nos
termos do art. 304 do CPC. Uma vez estabilizada a tutela, o processo será ser extinto e qualquer das partes poderá
ingressar novamente com uma demanda judicial para rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada em
até 2 anos, contados da ciência da decisão extintiva (art. 304, §§ 1º, 2º e 5º do CPC). A estabilização da tutela antecipada
apenas se aplica quando ela for requerida em caráter antecedente, excluindo a incidental.

Tutela de Evidência

Trata-se da tutela de um direito evidente. Ou seja, é uma tutela provisória, que não depende da urgência.
Assim, a tutela de evidência será concedida independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco
ao resultado útil do processo em 4 situações, previstas no artigo 311 do CPC:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL - CESPE – 2019) Em ação de natureza civil, o autor
requereu que determinado estado da Federação fosse condenado ao fornecimento de medicamento de alto custo. O
demandante, de forma incidental, fez pedido de tutela provisória antecipada, alegando que o seu direito é certo e que
corre risco de morte caso não receba o medicamento com brevidade. Todos os fatos alegados pela parte autora foram
exaustivamente comprovados por documentos idôneos, razão pela qual o juízo concedeu a referida tutela antecipada
e determinou a intimação do requerido para que cumprisse a decisão.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item que se segue, concernentes à tutela provisória.
O pedido de tutela provisória de urgência de caráter incidental exige que a parte que a requer realize o pagamento de
custas processuais.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. A tutela provisória requerida em caráter incidental independe do pagamento de custas, nos
termos do art. 295 do CPC.

2.(PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL - CESPE – 2019) Em ação de natureza civil, o autor
requereu que determinado estado da Federação fosse condenado ao fornecimento de medicamento de alto custo. O
demandante, de forma incidental, fez pedido de tutela provisória antecipada, alegando que o seu direito é certo e que
corre risco de morte caso não receba o medicamento com brevidade. Todos os fatos alegados pela parte autora foram
exaustivamente comprovados por documentos idôneos, razão pela qual o juízo concedeu a referida tutela antecipada
e determinou a intimação do requerido para que cumprisse a decisão.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item que se segue, concernentes à tutela provisória.
Caso o estado da Federação não interponha recurso contra a concessão da tutela antecipada, essa decisão se tornará
estável, não podendo ser modificada ou revogada pelo Poder Judiciário.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: : Errado. A tutela antecipada antecedente (art. 303 do CPC) somente se torna estável se não houver ne-
nhum tipo de impugnação formulada pela parte contrária, de forma que a mera contestação tem força de impedir
a estabilização. Ainda, qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou invalidar a
tutela antecipada estabilizada.

3.(TJ-PR – JUIZ SUBSTITUTO - CESPE – 2019) No que concerne às regras estabelecidas para a tutela provisória, o
Código de Processo Civil determina que a concessão, pelo magistrado, da tutela de evidência

a) dependerá da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo e ocorrerá nas situações
em que os efeitos da decisão sejam reversíveis.
b) poderá ser deferida liminarmente caso os fatos sejam comprovados apenas pela via documental e exista tese firmada
em julgamento de casos repetitivos.
c) será realizada na forma de decisão interlocutória de mérito e produzirá coisa julgada material caso não seja impug-
nada pelo réu.
d) será cabível somente na hipótese de verificação de abuso do direito de defesa da parte ré, haja vista a natureza pu-
nitiva dessa modalidade de tutela provisória.

Resposta: Letra B. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de


dano ou de risco ao resultado útil do processo, dentre outras hipóteses, quando as alegações de fato puderem ser
comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante – art. 311 CPC.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO.

A formação do processo ocorre com o protocolo da petição inicial em juízo. A petição inicial deve ser escrita em
português e subscrita por advogado ou defensor público e endereçada ao juiz.
Suspensão do processo é a paralisação do trâmite processual. Frisa-se que, qualquer que seja a hipótese de sus-
pensão do processo, atos urgentes podem ser praticados durante o período em que o processo está suspenso, salvo
se houver alegação de impedimento ou suspeição do juiz.
As hipóteses de suspensão do processo estão elencadas no art. 313 do CPC:

A extinção ocorrerá quando o processo chegar ao seu final. O artigo 316 do CPC, preceitua que a extinção do
processo se dará por sentença. A extinção do processo pode se dar com uma sentença com resolução do mérito ou
sem resolução do mérito.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(TCE – MG – ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - CESPE – 2018) Caberá ao juiz não resolver o mérito quando

a) homologar a renúncia à pretensão formulada na ação.


b) decidir, de ofício, sobre a ocorrência de prescrição.
c) homologar reconhecimento da procedência do pedido formulado na reconvenção.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

d) homologar a transação.
e) acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem.

Resposta: Letra E. Ao analisar as causas de extinção do processo, é necessário realizar o estudo conjunto com os
artigos 485 e 487 do CPC, que tratam das hipóteses de extinção do processo pelo juiz, com ou sem a resolução
do mérito. O juiz não resolverá o mérito quando, acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou
quando o juízo arbitral reconhecer sua competência, nos termos do art. 485, VII do CPC.

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2.(TRF -1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO - CESPE – 2017) A respeito da petição inicial, da tutela provisória, da
suspensão do processo e das nulidades, julgue o próximo item à luz do Código de Processo Civil vigente.
Se a decisão de mérito depender da verificação da existência de fato delituoso, o juiz poderá determinar a suspensão
do processo até o pronunciamento da justiça criminal.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. Art. 315, §§ 1º e 2º do CPC. Se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de
fato delituoso, o juiz pode determinar a suspensão do processo até que se pronuncie a justiça criminal.

3.(TJ-PR – JUIZ SUBSTITUTO - CESPE – 2017) Ao receber a petição inicial de processo eletrônico que tramita pelo
procedimento comum, o magistrado, postergando o contraditório, deferiu liminarmente a tutela provisória de evidên-
cia requerida e intimou o réu para cumprimento no prazo de cinco dias. Considerou o juiz que as alegações do autor
foram comprovadas documentalmente e que havia tese firmada em julgamento de casos repetitivos que amparava a
medida liminar. Posteriormente, o réu apresentou manifestação alegando a incompetência absoluta do juízo e equívo-
co do magistrado na concessão da tutela provisória. Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta.

a) O magistrado cometeu error in procedendo, porque viola a ampla defesa a concessão de tutela da evidência antes
da manifestação do réu.
b) Ainda que venha a ser reconhecida a incompetência absoluta do juízo, os efeitos da decisão serão conservados até
que outra seja proferida pelo órgão jurisdicional competente.
c) O magistrado agiu de forma equivocada, porque o CPC não autoriza a concessão de tutela provisória da evidência
pelos motivos indicados pelo juiz.
d) Se reconhecer sua incompetência absoluta, o juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito, justificando
a medida na impossibilidade técnica em remeter os autos eletrônicos para o juízo competente.

Resposta: Letra B. Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo
juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente, nos termos do art. 64, §4º CPC.

PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PROCEDIMENTO


COMUM. DISPOSIÇÕES GERAIS. PETIÇÃO INICIAL. IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO
PEDIDO. CONTESTAÇÃO, RECONVENÇÃO E REVELIA. PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DE
SANEAMENTO. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO PROVAS. SENTENÇA
E COISA JULGADA. CUMPRIMENTO DA SENTENÇA. DISPOSIÇÕES GERAIS. CUMPRIMENTO.
LIQUIDAÇÃO. PROCESSOS DE EXECUÇÃO.

Para entender sobre o processo de conhecimento, é necessário diferenciar o conceito de processo e procedimento:

O Código de Processo Civil estabelece 2 tipos de processos: processo de conhecimento e processo de execução.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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O processo de conhecimento classifica-se conforme o pedido estabelecido, o provimento pretendido ou a sentença
obtida:

PETIÇÃO INICIAL

A petição inicial é um pressuposto processual de existência, pois é por meio dela que a parte retira a inércia do
Judiciário, utilizando seu direito de ação, e é também um pressuposto processual de validade, pois, para que cumpra
sua finalidade, precisa preencher alguns requisitos que passamos a analisar.
Os requisitos da petição inicial estão elencados no art. 319 do CPC, que traz:

Se a petição inicial estiver com todos os requisitos presentes o juiz poderá:


a) determinar a citação do réu para o comparecimento à audiência de conciliação e, se não admitir a autocomposi-
ção, a citação para apresentar defesa.
b) julgar liminarmente improcedente o pedido, nos termos do art. 332 do CPC, se dispensar a fase instrutória e o
pedido contrariar:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Se o juiz verificar que a petição inicial não preenche os requisitos, determinará que o autor a emende ou comple-
mente, no prazo de 15 (quinze) dias, indicando precisamente o que precisa ser complementado, nos termos do art.
321 do CPC.

CONTESTAÇÃO

Contestação é a resistência do réu ao pedido do autor. Decorrente do princípio da eventualidade, há o ônus da


impugnação específica, pois, se determinado fato não for impugnado, será presumido verdadeiro, nos termos do art.
341 do CPC.
Não cabe, em regra, a contestação por negativa geral (sem ter que impugnar ponto por ponto). A negativa geral,
todavia, pode ser apresentada pelo Defensor Público, advogado dativo e curador especial.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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A contestação admite dois tipos de defesas: a processual, que impugna a relação de direito processual. Por ser antes
do mérito, é chamada de preliminares, elencadas no art. 337 do CPC, e são elas: inexistência ou nulidade da citação;
incompetência absoluta e relativa; incorreção do valor da causa; inépcia da petição inicial; perempção; litispendência;
coisa julgada; conexão; incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; convenção de arbitra-
gem; ausência de legitimidade ou de interesse processual; falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como
preliminar; indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

RECONVENÇÃO

Reconvenção é a ação do réu contra o autor no mesmo processo que o autor moveu contra o réu. O Réu deve formular
a reconvenção na própria contestação, observando o prazo. A parte contrária será intimada para apresentar resposta.
Uma vez apresentada, a reconvenção passa a ser autônoma em relação a ação; assim a desistência ou extinção da
ação principal não obsta o prosseguimento da reconvenção, nos termos do artigo 343, §2º do CPC.
A reconvenção pode ser proposta com litisconsórcio passivo, contra o autor e terceiro, bem como, em litisconsórcio
ativo, formado pelo réu com terceiro.

REVELIA

A oportunidade de contestar é obrigatória. Assim, para a regular validade do processo, obrigatoriamente, o réu
deve ser citado para, caso queira, se defender.
Revelia, portanto, é a ausência de contestação. O artigo 344 do CPC destaca que: “Se o réu não contestar a ação,
será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor”.

As exceções em relação aos efeitos da revelia são:


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL - CESPE – 2019) Jorge foi devidamente citado em
ação movida por Márcio e pretende alegar incompetência territorial, impugnar o valor da causa e apresentar recon-
venção.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente, a respeito do valor da causa, jurisdição e improce-
dência liminar do pedido.
Se o pedido feito na inicial por Márcio contrariar qualquer acórdão proferido por tribunal superior, o juiz deverá julgar
liminarmente improcedente o pedido.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. O art. 332, OO do CPC determina que o juiz julgará liminarmente improcedente o pedido que
contrariar acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos.

2.(PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL - CESPE – 2019) Jorge foi devidamente citado em
ação movida por Márcio e pretende alegar incompetência territorial, impugnar o valor da causa e apresentar reconven-
ção.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente, a respeito do valor da causa, jurisdição e improce-
dência liminar do pedido.
Caso Jorge, em reconvenção, resolva fazer pedidos cumulativos simples, o valor da causa será o referente à soma de
todos os pedidos. Se ele for pleitear prestações periódicas vencidas e vincendas que ultrapassem um ano, o valor da
causa deverá ser reduzido ao quantitativo equivalente a doze parcelas de prestações pretendidas.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. Art. 292, VI e §2º do CPC determinam que o valor da causa constará da petição inicial ou da recon-
venção e será, na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos valores de todos
eles e que o valor das prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo indeter-
minado ou por tempo superior a 1 (um) ano, e, se por tempo inferior, será igual à soma das prestações.

3.(PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL - CESPE – 2019) Jorge foi devidamente citado em
ação movida por Márcio e pretende alegar incompetência territorial, impugnar o valor da causa e apresentar recon-
venção.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente, a respeito do valor da causa, jurisdição e improce-
dência liminar do pedido.
Tanto a incompetência territorial quanto o valor da causa deverão ser alegados como preliminares da contestação.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. O art. 64 do CPC, determina que a incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão
preliminar de contestação. Já o art. 293, do CPC, determina que o réu poderá impugnar, em preliminar da contesta-
ção, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso,
a complementação das custas.

PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES

Após o prazo para a contestação, apresentada ou não a resposta do réu, passa-se as providências preliminares.
É possível assim, que as partes sejam instadas a se manifestar a respeito de produção de provas, se for o caso,
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

apresentar réplica.
Não é sempre que haverá a necessidade de apresentação da réplica. Mas, se o réu apresentou em sua defesa, fato
novo, como preliminares, e fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor, este poderá se manifestar
em réplica, pelo prazo de 15 dias.
Após a apresentação da réplica ou, caso ela não seja apresentada e não ocorrerem os efeitos da revelia, as partes
serão intimadas para especificar as provas que pretendem produzir em audiência.

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JULGAMENTO NO ESTADO DO PROCESSO

Após as providencias preliminares, o juiz poderá julgar conforme o estado do processo, de 03 formas:

SANEAMENTO DO PROCESSO

Não sendo o caso de extinção do processo, nem de julgamento antecipado da lide, o juiz preferirá decisão sanea-
dora do processo e de organização do processo para:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(PGE – PE – ANALISTA JUDICIARIO DE PROCURADORIA - CESPE – 2019) Em razão de uma colisão de veículos,
Roberta, motorista e proprietária de um dos veículos, firmou acordo para reparação de danos com Hugo e Eduardo,
respectivamente, motorista e proprietário do outro veículo envolvido no acidente. No entanto, por ter sido descum-
prido o referido pacto, Roberta ajuizou ação em desfavor deles. Hugo apresentou a sua contestação no prazo legal, e
Eduardo não realizou esse ato processual.
Considerando essa situação hipotética e as disposições do Código de Processo Civil, julgue o item seguinte.
O juiz poderá julgar antecipadamente o pedido, de modo a proferir a sentença com resolução de mérito, declarando
Eduardo como revel, desde que inexista requerimento das partes para produção de provas.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Errado. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando,
nos termos do artigo 355, II, o réu for revel e ocorrer os efeitos da revelia. Todavia, o art. 345 do CPC, determina que,
havendo pluralidade de réus e algum deles contestar a ação, a revelia não produzirá efeitos.

2.PGM- MANAUS – AM – PROCURADOR DO MUNICÍPIO - CESPE – 2018) À luz das disposições do CPC relativas aos
atos processuais, julgue o item subsequente.
É vedado ao juiz julgar pedido realizado em petição inicial sem antes citar o réu, em atenção aos princípios do contra-
ditório e da ampla defesa.

( )CERTO ( )ERRADO

Resposta: Certo. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará
liminarmente improcedente o pedido que contrariar as hipóteses elencadas nos incisos do art. 332 do CPC.

3.(PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR MUNICIPAL - CESPE – 2019) Em determinado processo, o réu
não foi citado nem apresentou contestação. O magistrado, além de não declarar o processo nulo, julgou-o, no mérito,
favoravelmente ao réu.
Nessa situação hipotética, a conduta do magistrado foi correta porque

a) ele aproveitou atos que não dependem da citação.


b) ele julgou favoravelmente o mérito da causa para a parte que seria beneficiada caso a nulidade fosse decretada.
c) o autor não requereu a nulidade do processo.
d) o autor foi o causador da nulidade.
e) a declaração de nulidade processual depende de requerimento da parte.

Resposta: Letra B. O art. 282, § 2º do CPC autoriza que, quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem
aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.

PROVAS

O momento de requerer a produção de provas é na inicial para o autor e na contestação para o réu. Em regra, so-
mente os fatos devem ser provados, porém o artigo 376 do CPC, traz uma exceção quanto a necessidade de provar o
direito: “A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência,
se assim o juiz determinar”.
Como determina o art. 374 do CPC, fato incontroverso (que não é impugnado pela parte contrária) e fato notório
(que é de conhecimento comum das partes) independem de prova. No saneamento, o juiz decidirá a respeito de qual
prova será produzida. Ao juiz, também cabe indeferir provas de ofício (art. 370 CPC). Também será permitido a utiliza-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ção de prova emprestada, e o juiz irá atribuir o valor que considerar adequado, observado o contraditório.
No que tange ao ônus da prova, em regra, é de quem alega. Assim, nos termos do art. 373, I e II, do CPC:

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Contudo, o juiz, em decisão fundamentada, poderá modificar o ônus da prova, diante das peculiaridades da causa
quanto a dificuldade de cumprir o encargo ou a maior facilidade de obtenção da prova, dando a parte a oportunidade
de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. As partes podem convencionar de forma diversa o ônus da prova.

PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS (ART. 381 E SS. CPC)

EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO OU COISA (ART. 396 E SS CPC)

O juiz poderá determinar que a parte exiba documento ou coisa que esteja em seu poder, desde que o requerimen-
to contenha a individuação, a finalidade da prova e as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que
o documento ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária. O requerido dará sua resposta 05 dias após sua
intimação, podendo se recusar.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Não justificada a recusa ou se esta for ilegítima, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos.
Se o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz ordenará sua citação para responder no prazo de 15 dias.

ATA NOTARIAL (ART. 384 CPC)

É o atestado da existência e o modo de existir de algum fato, lavrada por um tabelião. Esses fatos podem ser, inclu-
sive, originados de imagens e sons gravados. A ata notarial está disciplinada no art. 384 do CPC.

DEPOIMENTO PESSOAL (ART. 385 E SS. CPC)

É o interrogatório das partes, para obtenção da confissão em audiência de instrução e julgamento. O depoimento
pessoal será requerido pelo juiz ou pela parte contrária, nos termos do art. 385 do CPC.
Se a parte, admitida da pena de confesso, não comparecer ou comparecendo se recusar a responder o que lhe foi
perguntado, presumir-se-ão confessados os fatos contra ela alegados.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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CONFISSÃO (ART. 389 E SS CPC)

A confissão ocorre quando a parte admite a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao interesse do
adversário (art. 389 CPC). Pode ser judicial ou extrajudicial.
A confissão judicial pode ser:

PROVA DOCUMENTAL (ART. 405 E SS CPC)

As partes sempre poderão se manifestar, em 15 dias, acerca da juntada de documentos novos anexados aos autos.
Caso uma das partes entenda que o documento anexado pela outra parte é falso, deverá suscitar a arguição de
falsidade, nos termos do art. 430 do CPC.
Quando os livros empresariais preencherem os requisitos exigidos por lei, farão prova a favor de seu autor no litígio
entre empresários.
A reprodução mecânica, como a fotográfica, a cinematográfica, a fonográfica ou de outra espécie, é válida, porém,
trata-se de presunção relativa, uma vez que a parte contrária pode impugnar esse documento, conforme art. 422 do
CPC.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Nos termos do art. 422, §3º do CPC, para fins de prova, o e-mail equipara-se a fotografia e deverá, portanto, ser
anexado a autenticação eletrônica.

PROVA TESTEMUNHAL (ART. 442 E SS CPC)

Trata-se do interrogatório de terceiros que não são parte no processo sobre fatos relevantes ao julgamento.
O rol de testemunhas deve ser apresentado pela parte no saneamento, conforme artigo 357, §§ 4º e 5º do CPC.
Nos termos do art. 451 do CPC, após a apresentação do rol, só caberá a substituição da testemunha que:

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Nos termos do artigo 447 do CPC, qualquer pessoa pode ser testemunha, salvo os incapazes, impedidos ou sus-
peitos, e, caso o sejam, será admitida a contradita pela parte contrária, desde que antes da advertência e antes de seu
depoimento.
A testemunha, no início do depoimento, presta o compromisso de dizer a verdade, nos termos do art. 458 do CPC,
e se afirmar falsamente, calar-se ou ocultar a verdade, incorrerá em sanção penal. Uma testemunha não ouve o depoi-
mento da outra.
A testemunha não será obrigada a depor:

PROVA PERICIAL (ART. 464 E SS CPC)

É um meio de prova que consiste no exame, vistoria ou avaliação e é utilizada quando há a necessidade de conhe-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

cimentos técnicos (como médicos, engenheiros, contadores etc.) a respeito de algum fato, salvo direito, nos termos do
artigo 464, §1º, I do CPC.

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INSPEÇÃO JUDICIAL (ART. 481 E SS CPC)

Trata-se de meio de prova, feita diretamente pelo juiz, que se dirige ao local dos fatos para inspecionar pessoas e
coisas, a fim de esclarecer sobre determinada questão determinante a decisão da causa. Tem natureza complementar.
É possível que o juiz seja acompanhado por peritos e pelas partes.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(TJ-SC- JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2019) No que se refere à arguição de falsidade como instrumento processual
para impugnação de documentos, assinale a opção correta.

a) A falsidade documental pode ser suscitada em contestação, na réplica ou no prazo de dez dias úteis, contado a partir
da intimação da juntada do documento aos autos.
b) O STJ pacificou o entendimento de que a arguição de falsidade é o meio adequado para impugnar a falsidade ma-
terial do documento, mas não de falsidade ideológica.
c) Após os momentos processuais da contestação e da réplica, se arguida a falsidade, esta será autuada como incidente
em apartado e, nesse caso, o juiz suspenderá o processo principal.
d) Após a instauração do procedimento de arguição de falsidade, a outra parte deverá ser ouvida em quinze dias e,
então, não será admitida a extinção prematura do feito sem o exame pericial do documento, mesmo que a parte
concorde em retirá-lo dos autos.
e) Uma vez arguida, a falsidade documental será resolvida como questão incidental; contudo, é possível que a parte
suscitante requeira ao juiz que a decida como questão principal, independentemente de concordância da parte
contrária.

Resposta: Letra E. Nos termos do art. 430 do CPC, a falsidade deve ser suscitada na contestação, na réplica ou no
prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da intimação da juntada do documento aos autos. Uma vez arguida, a fal-
sidade será resolvida como questão incidental, salvo se a parte requerer que o juiz a decida como questão principal.

2.(PC – MA – MÉDICO LEGISTA – CESPE – 2018) De acordo com o Código de Processo Civil, o(a)

I perito, para o desempenho de sua função, poderá ouvir testemunhas, faculdade que não se estende aos assistentes
técnicos.
II laudo pericial deverá conter a indicação do método utilizado.
III perito poderá ser intimado para audiência por meio eletrônico.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

IV escolha do perito é prerrogativa exclusiva do juiz.

Estão certos apenas os itens

a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

48
Resposta: Letra C. As partes podem de comum acordo escolher o perito (não é só o juiz). O laudo pericial deverá
conter a indicação do método utilizado, e o perito poderá ser intimado por meio eletrônico.

3.(DPE – PE – DEFENSOR PUBLICO – CESPE – 2018) Não havendo processo anterior que trate da situação, a demons-
tração de que determinado fato ocorreu em rede social acessível pela Internet poderá ser realizada com a juntada aos
autos

a) de declaração pessoal do autor.


b) de prova emprestada.
c) do computador.
d) da prova pericial.
e) de ata notarial.

Resposta: Letra E. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da
ata notarial, nos termos do art. 384, parágrafo único do CPC.

SENTENÇA E COISA JULGADA

Sentença é o ato em que o juiz aprecia o pedido em 1º grau de jurisdição, com ou sem resolução do mérito, nos
termos dos artigos 485 e 487 do CPC.
Se a sentença for baseada em hipótese do artigo 485 do CPC, será uma sentença terminativa, que não impede que
a parte proponha novamente a ação.
Nas hipóteses de extinção por litispendência, falta de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido
e regular do processo, ausência de legitimidade ou de interesse processual e existência de convenção de arbitragem,
somente será possível propor novamente a ação, se o vício for corrigido, nos termos do artigo 486, §1º do CPC.
Se a sentença for baseada em hipótese do artigo 487 do CPC, será uma sentença definitiva. São elementos da sen-
tença:

O CPC traz a previsão da exigência de melhor motivação das decisões. Assim, nos termos do artigo 489, §1º do CPC,
não será considerada fundamentada a decisão, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão que:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

49
COISA JULGADA

É a imutabilidade e indiscutibilidade da decisão de mérito não mais sujeita a recurso, nos termos do art. 502 do CPC.
A coisa julgada divide-se em duas espécies:

Sobre os limites da coisa julgada, nem todo o conteúdo da decisão tornar-se-á indiscutível, mas tão somente aquilo
que ficar decidido a respeito da pretensão formulada.
Questões prejudiciais são os pontos controvertidos cujo deslinde repercutirá sobre o julgamento de mérito. Exem-
plo: uma ação de alimentos, no procedimento comum, a paternidade, desde que controvertida, é prejudicial; se o juiz
na fundamentação da sentença, entender que o réu é pai do autor, a sentença possivelmente será procedente; se en-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

tender que não, será provavelmente improcedente.


A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Mecanismo para afastar a
coisa julgada: ação rescisória (art. 966 CPC);

AÇÃO RESCISÓRIA

O objetivo da Ação Rescisória é rescindir a decisão de mérito que transitou em julgado. É cabível nas hipóteses
elencadas no artigo 966 do CPC.

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O prazo para ajuizamento da Ação Rescisória é de 02 anos, contados do trânsito em julgado da última decisão pro-
ferida no processo, nos termos do artigo 975 do CPC.

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

Sempre que a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, antes de seu cumprimento será necessário
passar pela fase de liquidação, disciplinada entre os artigos 509 a 512 do Código de Processo Civil.
Podem requerer a liquidação o credor ou o devedor. Há duas modalidades de liquidação de sentença: por arbitra-
mento e pelo procedimento comum.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(PGE-PE – ANALISTA ADMINISTRATIVO DE PROCURADORIA – CALCULISTA – CESPE – 2019) À luz do Código de


Processo Civil, julgue o próximo item, relativos às normas fundamentais do processo civil e aos elementos da sentença,
aos honorários advocatícios, à advocacia pública e à aplicação das normas processuais.
Os elementos essenciais da sentença incluem os fundamentos — que consistem na análise das questões de fato e de
direito pelo juiz — e o dispositivo — no qual o juiz resolve as questões principais que as partes lhe submeterem —; o
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

relatório, por sua vez, é dispensado, haja vista o direito das partes de obter, em prazo razoável, a solução integral do
mérito.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Nos termos do art. 489 do CPC, são elementos essenciais da sentença: o relatório, que conterá
os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais
ocorrências havidas no andamento do processo; os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de
direito; o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem.

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2.(PGE-PE – ANALISTA ADMINISTRATIVO DE PROCURADORIA – CALCULISTA – CESPE – 2019) A respeito de li-
quidação e cumprimento de sentença, da execução contra a fazenda pública e dos auxiliares da justiça, julgue o item a
seguir, à luz do Código de Processo Civil.
O credor poderá promover imediatamente o cumprimento da sentença, dispensando a fase de liquidação, quando a
apuração do valor a ser executado depender somente de cálculo aritmético.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. Nos termos do art. 509, §2º do CPC, quando a apuração do valor depender apenas de cálculo
aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença.

EXECUÇÃO

A execução de título extrajudicial tem natureza de ação. A petição inicial será instruída com o título extrajudicial
(art. 784 CPC), demonstrativo do débito, prova da ocorrência da condição ou termo e de que o exequente adimpliu sua
contraprestação, indicando a espécie de execução.
A finalidade da execução é a satisfação do direito do credor que possui um título executivo. O que distingue o pro-
cesso de conhecimento do processo de execução é a sua finalidade.

Nos termos do artigo 783 do CPC, a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação
certa, líquida e exigível.
O art. 520 do CPC determina que o cumprimento provisório far-se-á pelo mesmo modo que o definitivo, inclusive
no que concerne a incidência de multa e honorários advocatícios (art. 523, §1º CPC).
As principais particularidades do cumprimento provisório são:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

52
O artigo 521 do CPC aponta as hipóteses em que a caução poderá ser dispensada.
As execuções podem ser:

Classificação quanto a obrigação:

TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS

Normalmente, as questões versam sobre a natureza do título. Não confundam! Os títulos judiciais estão elencados
no artigo 515 do CPC; já os títulos extrajudiciais estão elencados no artigo 784 do CPC.

EXECUÇÃO DE ENTREGA DE COISA CERTA (ARTS. 806 E SS. CPC)

O juiz, ao despachar a inicial, poderá fixar multa diária para atraso no cumprimento e o devedor será citado para,
em 15 dias, satisfazer a obrigação.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Do mandado de citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, conforme se tratar de bem
imóvel ou móvel, o qual o cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no prazo que
lhe foi designado.
Se a coisa for alienada quando já litigiosa, será expedido mandado contra o terceiro adquirente, que será ouvido
após depositá-la. Caso o executado não oponha Embargos, ou estes forem julgados improcedentes, a apreensão da
coisa ou a imissão na posse serão definitivas.

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EXECUÇÃO DE ENTREGAR COISA INCERTA (ARTS. 811 E SS. CPC)

Seguirá o mesmo procedimento de entregar coisa certa, porém, se a escolha pelo gênero e a quantidade couber ao
credor, este apresentará a inicial já individualizada a coisa.

O mesmo ocorrerá caso a escolha caiba ao devedor, nos termos do art. 811 CPC: “Quando a execução recair sobre
coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe cou-
ber a escolha”.
As partes poderão, no prazo de 15 dias, impugnar a escolha feita pela outra, e o juiz decidirá de plano ou, se neces-
sário, ouvindo perito de sua nomeação.

EXECUÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER (ARTS. 814 E SS. CPC)

Por determinação do art. 814 do CPC, na execução de obrigação de fazer ou de não fazer ao despachar a inicial, o
juiz fixará multa por período de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida.
Na execução de obrigação de fazer, o juiz citará o devedor para cumprir a obrigação no prazo por ele estipulado
ou previsto no título.
Não cumprida a obrigação, se esta for fungível, o exequente poderá cumprir ou permitir que terceiro cumpra, as
custas do executado. Caso a obrigação se torne impossível, será convertida em perdas e danos, seguindo o procedi-
mento de execução de obrigação de pagar quantia certa.
Na execução de obrigação de não fazer, se o executado praticou o ato, o juiz determinará, a requerimento do exe-
quente um prazo para o desfazimento.
Caso torne-se impossível, a obrigação de não fazer será convertida em perdas e danos seguindo o procedimento
de execução de obrigação de pagar quantia certa.

EXECUÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE (ARTS. 824 E SS. CPC)

Salvo as execuções especiais, a execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado. A
petição inicial deverá ser instruída com o título executivo e memória de cálculos e o credor poderá desde logo indicar
bens a serem penhorados. Cabe ao credor comprovar a ocorrência de eventual condição ou termo.
Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de 10%, a serem pagos pelo executado. Es-
ses honorários podem ser elevados em até 20%, caso rejeitados os embargos à execução, ou não opostos os embargos,
ao final do processo. Levando em consideração os trabalhos realizados pelo advogado do exequente.
Se, no prazo de 3 dias, houver o pagamento integral, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela meta-
de, nos termos do art. 827, §1º do CPC.
Não sendo o executado encontrado pelo Oficial de Justiça, mas este encontrar bens, fará o arresto, e nos 10 dias
seguintes, tentará por 2 vezes encontrar o devedor. Caso não o encontre, e haja suspeita de ocultação, será realizada
a citação com hora certa.
Uma vez citado, o executado não realizar o pagamento, o arresto será convertido em penhora.
O executado devidamente citado terá 2 prazos a observar:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O art. 829, §1º do CPC determina: “Do mandado de citação constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a
serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se
auto, com intimação do executado”.

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A penhora obedecerá a ordem de preferência do art. 835 do CPC.

EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (ARTS. 910 CPC)

A Fazenda Pública será citada para opor embargos em 30 dias. A Fazenda Pública poderá opor embargos à execu-
ção, alegando qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa no processo de conhecimento.
Não opostos os embargos ou transitada em julgado a decisão que o rejeitar, será expedido precatórios, conforme
art. 100 CF.

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS (ARTS. 911 E SS. CPC)

Conforme dispõe o art. 911 do CPC, na execução que contenha obrigação alimentar, o juiz mandará citar o execu-
tado para, em 3 dias, efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no seu
curso, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.
Quanto a prisão do devedor, caberá o disposto no cumprimento de sentença (art. 528 CPC), que estudaremos a
seguir.
Autoriza o art. 912 do CPC que, quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa,
bem como empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de paga-
mento de pessoal da importância da prestação alimentícia.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Os requisitos necessários para o cumprimento de sentença são: inadimplemento e o título judicial.

Cumprimento de sentença é uma fase processual (dentro do processo), que inaugura a execução de uma decisão
judicial, que nem sempre é uma sentença.
Existem 4 exceções, em que a sentença será executada por um processo autônomo, entretanto, observará os dis-
positivos de cumprimento de sentença. A necessidade de que essas execuções sejam processadas de forma autônoma
são justamente porque serem provenientes de juiz diferente do juízo da execução. São essas exceções:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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DEFESAS DO EXECUTADO

A depender do título judicial ou extrajudicial, há duas defesas do devedor: tratando-se de título judicial, a defesa do
devedor será a impugnação ao cumprimento da sentença; se o título for extrajudicial, o devedor poderá se defender
por meio de embargos à execução.

IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

A impugnação é a defesa do executado na fase de cumprimento de sentença.


A previsão do art. 525 do CPC dispõe que, para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença, o devedor
deve observar o prazo de 15 dias contados a partir do término do prazo de 15 dias para pagamento voluntário.

EMBARGOS À EXECUÇÃO

No processo de execução, a defesa do devedor se dá por meio de embargos à execução ou embargos do devedor.
O executado poderá opor embargos independentemente de penhora, depósito ou caução. Os embargos têm natu-
reza de ação e será oposto por petição inicial que observará os requisitos do art. 319 do CPC.
O art. 917 do CPC elenca as matérias que podem ser alegadas nos embargos.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(TJ-SC – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2019) O CPC considera título executivo extrajudicial

I o instrumento de transação referendado por conciliador credenciado por tribunal, após homologação pelo juiz.
II o contrato celebrado por instrumento particular, garantido por direito real de garantia, independentemente de ter
sido assinado por duas testemunhas.
III o contrato celebrado por instrumento particular, garantido por fiança, desde que assinado por duas testemunhas.
IV o crédito de contribuição extraordinária de condomínio edilício, aprovada em assembleia geral e documentalmente
comprovada.

Estão certos apenas os itens


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

a) I e III.
b) I e IV.
c) II e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.

Resposta: Letra C. O art. 515 elenca os títulos judiciais. Se o título já foi apreciado será judicial, se não foi será extra-
judicial. Os títulos extrajudiciais estão elencados no art. 784 do CPC.

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2.(TJ-PR – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2019) Paulo requereu o cumprimento provisório da sentença que condenou
Fernando a lhe pagar a quantia de cinquenta mil reais em uma demanda que tramitou pelo procedimento comum. À
petição em que requereu o início do cumprimento de sentença, Paulo juntou cópia da decisão exequenda, certidão de
interposição do recurso de Fernando não dotado de efeito suspensivo e outros documentos necessários ao cumpri-
mento. Ele, ainda, requereu ao juízo no qual o título foi formado que:
• o cumprimento de sentença fosse remetido ao juízo da localidade onde Fernando possui bens; • fossem fixados ho-
norários para a fase de cumprimento de sentença; • fosse imposta multa por eventual inadimplemento de Fernando; •
dispensassem-no do pagamento de caução, em razão da sua situação de necessidade, que foi demonstrada.
Com relação a essa situação hipotética, é correto afirmar que

a) o pedido de remessa à localidade onde Fernando possui bens deve ser rejeitado, porque o cumprimento de sentença
é de competência exclusiva do juízo que profere a sentença.
b) não cabe o arbitramento de honorários na fase de cumprimento provisório da sentença, porque essa fase processual
é um ato facultativo de Paulo.
c) Fernando poderá depositar o referido valor com o único intuito de evitar a incidência da multa, ato que não será tido
como incompatível com o recurso interposto por ele.
d) Paulo poderá ser dispensado do pagamento de caução apenas se tiver firmado com Fernando negócio processual
com essa finalidade e devidamente homologado pelo juízo competente.

Resposta: Letra C. . Art. 520 §3º do CPC:

3.(EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – ÁREA JURÍDICA – CESPE – 2018) Julgue o item seguinte, relativo a atos proces-
suais, mandado de segurança e processo de execução.
Situação hipotética: Ao ser demandado em uma ação de conhecimento de obrigação de pagar, Pedro foi validamente
citado por edital, tendo sido sua defesa patrocinada pela curadoria de ausentes da defensoria pública local, que apre-
sentou contestação por negativa geral. A sentença julgou a ação procedente e, após o trânsito desta em julgado, a
parte autora iniciou a fase de cumprimento da sentença. Assertiva: Nessa situação, é desnecessária nova intimação de
Pedro para cumprir a sentença, bastando, para dar continuidade ao processo, a intimação da curadoria de ausentes.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. O art. 513, §2º determina que o devedor será intimado para cumprir a sentença: por carta com aviso
de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos

PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS.

No CPC, Livro I e II da Parte Especial, são abordados os tipos de processos, o de conhecimento e o de execução. O
Livro III da Parte Especial no nosso Código de Processo Civil é dedicado aos processos nos Tribunais, os de sua compe-
tência originária, e aqueles que, iniciados em primeiro grau de jurisdição, encontram-se em fase de recurso.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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Sempre que houver precedente vinculante, o órgão julgador deve sobre ele pronunciar-se ainda que não tenha sido
provocado pelas partes. A importância desse pronunciamento sobre precedente vinculante está elencada também no
art. 1.022, parágrafo único do CPC, que considera omissa a decisão que deixa de se manifestar sobre tese em julgamen-
to repetitivo ou em assunção de competência, ensejando embargos de declaração.
Importante saber sobre a expressão “julgamento de casos repetitivos”, frequentemente utilizada pelo legislador.
Fica estabelecido, no art. 928 do CPC, que ela abrange duas situações: o incidente de resolução de demandas repetiti-
vas e o recurso especial e extraordinário repetitivos.
Incidentes e ações previstas nos tribunais
a) Incidente de arguição de inconstitucionalidade está previsto no art. 948 do CPC. Avaliando o sistema difuso-
-concreto brasileiro, qualquer juiz pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei, incidentalmente no processo,
como questão prejudicial. No âmbito dos tribunais, haverá necessidade de decisão da maioria dos membros do
tribunal, em obediência a cláusula de reserva de plenário.
b) O incidente de assunção de competência é disciplinado no art. 947 do CPC. É cabível quando o julgamento de
recurso, de remessa necessária ou de processo de competência originária, envolver relevante questão de direito,
com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.
c) Ocorrerá o conflito de competência quando dois ou mais juízes se considerarem competentes ou incompeten-
tes para julgar uma mesma causa. Pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo
juiz, nos termos do art. 951 do CPC.
O conflito será suscitado ao tribunal. O relator, após a distribuição, determinará a oitiva dos juízes em conflito ou,
se um deles for suscitante, apenas do suscitado.
d) Para ingressar no sistema processual brasileiro, a decisão estrangeira depende de homologação perante o STJ.
Trata-se de homologação de decisão estrangeira. A homologação se faz necessária, para verificar se o conteú-
do da decisão pode ser aplicado no Brasil, considerando as regras de competência internacional concorrente e
exclusiva.

e) Os arts. 976 a 987 do CPC disciplina o incidente de resolução de demandas repetitivas. É cabível diretamente
no Tribunal quando houver simultaneamente efetiva repetição de processos que contenham controvérsias sobre
a mesma questão unicamente de direito e risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica, conforme determi-
nação do art. 976, I e II do CPC.
f) Caberá, nos termos do art. 988 do CPC, reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS.

Insta ressaltar, que o artigo 1.048 do CPC elenca que terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal,
os procedimentos judiciais em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessen-
ta) anos ou portadora de doença grave, e processos que versem sobre a Lei 8.069/90 (ECA).
Sempre que a lei remeter a procedimento previsto na lei processual sem especificá-lo, será observado o procedi-
mento comum.
Apesar da não inclusão de intervenção de terceiros nos Juizados Especiais, o art. 1.062 do CPC estabelece que o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais.

MANDADO DE SEGURANÇA. AÇÃO POPULAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AÇÃO DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA.

AÇÃO POPULAR (Lei 4.717/65)

A legitimidade ativa é do cidadão e a prova da cidadania é feita com o título de eleitor.


Tem cabimento quando o objetivo for a defesa do patrimônio público (declaração de nulidade dos atos lesivos a
qualquer ente ligado ao Estado).
Trata-se de procedimento especial:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A decisão que reconhecer a lesividade de um ato ao patrimônio publico beneficiará toda a coletividade.

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA – LEI 7.347/85

Marca o efetivo início da defesa dos interesses coletivos. Essa lei visa regular as ações de responsabilidade por da-
nos morais e patrimoniais. Pode ser utilizada para.

A ação pode objetivar tanto a condenação em espécie como o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer
A legitimidade encontra-se no art. 5º da Lei.
A lei também abrange instrumentos extrajudiciais de solução do conflito: Inquérito Civil e TAC (termo de ajustamen-
to de conduta).

AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – LEI 8.429/92

Conduta imoral, ilegal, praticada por agente público em face do poder público.

As sanções administrativas por atos de improbidade estão no artigo 12 da Lei, e possuem natureza administrativa,
civil e política, mas não possuem natureza penal.
A ação de improbidade administrativa é uma espécie de ação civil pública.
A sua finalidade é a aplicação de sanções pelo ato de improbidade administrativa aos agentes públicos e aos parti-
culares que induziram, concorreram ou se beneficiaram.
Importante: O STJ entende que compete a Justiça Federal processar e julgar mandado de segurança que envolva
instituição de ensino superior particular, em razão do interesse da União.

MANDADO DE SEGURANÇA

Não se trata de um recurso. O Mandado de Segurança é uma ação de natureza constitucional. Sua finalidade é ga-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

rantir direito liquido e certo contra o abuso de poder ou ilegalidade praticado por autoridade publica ou por quem lhe
faça a as vezes, desde que tal direito não seja assistido por Habeas Corpus ou Habeas Data.
Atenção: Súmula 268 do STF, nega cabimento de mandado de segurança contra decisão judicial transitada em jul-
gado, vez que para atacar tal sentença cabe a ação rescisória.
O art. 8º da Lei, determina que será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar de ofício ou a reque-
rimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do
processo ou deixar de promover, por mais de 3 dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.

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EXERCÍCIOS COMENTADOS

1.(TJ-SC – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2019) O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra determinada
empresa e seus sócios, visando tutelar direitos de consumidores lesados por contratos celebrados para a prática de
esquema de pirâmide financeira. A sentença condenatória na ação coletiva foi publicada em 5/1/2003 e, após recurso,
transitou em julgado em 2/6/2005. Em 6/7/2012, um consumidor beneficiário da referida demanda apresentou execu-
ção individual da sentença coletiva.
Nessa situação hipotética, de acordo com o entendimento do STJ, é correto afirmar que, à época da propositura da
execução individual pelo beneficiário, a sua pretensão

a) estava prescrita desde o transcurso de cinco anos após o trânsito em julgado da sentença coletiva.
b) não estava prescrita, e só será assim considerada após o transcurso de dez anos do trânsito em julgado da sentença
coletiva.
c) estava prescrita desde o transcurso de cinco anos após a publicação da sentença coletiva.
d) não estava prescrita, e só será assim considerada após o transcurso de dez anos após a publicação da sentença
coletiva.
e) estava prescrita desde o transcuro de três anos após o trânsito em julgado da sentença coletiva.

Resposta: Letra A. Lei 7.347/85, art. 15, determina que decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença
condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada
igual iniciativa aos demais legitimados.

2.(TCE-MG – ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO – DIREITO – CESPE – 2018) Se, depois de concedida liminar em
mandado de segurança, o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do processo, o juiz deverá, de acordo com
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

a norma aplicável,

a) suspender o processo.
b) designar advogado dativo.
c) remeter os autos ao Ministério Público.
d) revogar a medida liminar, notificando o impetrado.
e) decretar a caducidade da medida.

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Resposta: Letra E. Art. 8º Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou a requeri-
mento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do
processo ou deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.

3.(MPU – ANALISTA DO MPU – DIREITO – CESPE – 2018) A respeito de mandado de segurança, ação civil pública,
ação de improbidade administrativa e reclamação constitucional, julgue o item que se segue.

De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, compete à justiça federal processar e julgar mandado de segurança que
envolva instituição de ensino superior particular, em razão do interesse da União.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. Nos termos do art. 17, §7º, Lei 8.429/1992: Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará
autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída com
documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias.

TEORIA GERAL DOS RECURSOS. RECURSOS EM ESPÉCIE.

Teoria geral dos recursos

Recurso serve para impugnar uma decisão judicial, que pode ser invalidada, reformada ou integrada. Além disso, os
recursos tem a finalidade de uniformizar a jurisprudência.
A decisão poderá ser invalidada ou anulada, caso não tenha observado a forma processual prevista para determi-
nado ato. Haverá repetição do ato anulado pelo juiz de origem.
Haverá reforma da decisão, caso não tenha aplicado a correta solução para a lide. Neste caso, não há vício em
relação à forma, mas sim, em relação ao conteúdo, ou seja, em relação ao mérito, ou houve um erro de julgamento. A
decisão proferida pelo Tribunal, substituirá a anterior.
Caberá a integração da decisão, caso esta seja obscura, contraditória ou omissa. Neste caso, o próprio órgão que pro-
feriu a decisão irá complementá-la. Embargos de declaração, geralmente, é o recurso utilizado para essa complementação.
Os arts. 926 e 927 do CPC buscam a valorização e a vinculação da jurisprudência aos precedentes.
Considera-se julgamento de casos repetitivos, que poderão enfrentar questão de direito material ou processual,
a decisão proferida em:

Os recursos, no processo civil, estão enumerados no art. 994, sendo eles:


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Além dos recursos previstos no Código de Processo Civil acima enumerados, ainda há a modalidade de recurso
adesivo, que poderá ser utilizado em:

62
CABIMENTO DOS RECURSOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

63
Das decisões monocráticas cabe:

Para se utilizar dos recursos, se faz necessário obedecer aos pressupostos recursais, a seguir elencados.

Sobre a legitimidade recursal, o recurso pode ser interposto (art. 996 CPC):
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

64
Quanto aos efeitos, uma vez interposto o recurso, o magistrado indicará em quais efeitos o recurso será recebido.
Os principais efeitos são devolutivo e suspensivo.

A regra é que os recursos não possuem efeito suspensivo, e, portanto, não impede a eficácia da sentença, nos ter-
mos do art. 995 CPC.
O efeito suspensivo impede que a decisão judicial tenha a efetivação dos seus efeitos imediatamente.
O efeito devolutivo é a possibilidade de nova discussão sobre a matéria impugnada por parte do Poder Judiciário.

APELAÇÃO NÃO UNÂNIME

Houve uma substituição dos embargos infringentes pela técnica de prosseguimento do julgamento. Previsão: art.
942 do CPC.
Sempre que possível, o prosseguimento do julgamento ocorrerá na mesma sessão, colhendo-se os votos de outros
julgadores que porventura componham o órgão colegiado. Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus
votos no momento do prosseguimento.

RECURSOS EM ESPÉCIE

Apelação

Apelação é o recurso cabível da sentença, qualquer que seja o procedimento, seja sentença definitiva (com resolu-
ção do mérito – art. 487 CPC) ou sentença terminativa (sem resolução do mérito – art. 485 CPC).
Quanto aos efeitos, em todos os recursos será atribuído o efeito devolutivo.

Agravo de Instrumento

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Em regra, na interposição do agravo de instrumento, não será concedido o efeito suspensivo, porém, estando pre-
sentes os requisitos, poderá o relator atribuir o efeito suspensivo.
Cabe o efeito suspensivo se a decisão de primeiro grau for positiva, por exemplo, o autor consegue a concessão de
uma liminar, e o réu, no agravo de instrumento, pleiteia a suspensão dos efeitos da referida decisão.

65
Embargos de Declaração

Disciplinado entre os arts. 1.022 a 1.026 do CPC, os embargos de declaração são cabíveis de qualquer pronuncia-
mento judicial, sentença, decisão interlocutória, decisão monocrática acórdão, que contenha caráter decisório.
Esse recurso serve para complementar uma decisão judicial que contenha obscuridade, omissão, contradição ou
erro material.

Nesses casos, a decisão deve ser aclarada e quem realiza essa revisão é o próprio órgão que a proferiu. Os embargos
de declaração serão opostos em 5 dias. Caso haja alguma mudança na decisão, a outra parte será intimada para exercer
o contraditório em 5 dias.
No que tange aos efeitos, sempre haverá o efeito devolutivo. Os embargos de declaração não possuem efeito
suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso, nos termos do art. 1.026 do CPC.
Caso o recurso seja considerado manifestamente protelatório, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, con-
denará o embargante a pagar ao embargado multa de até 2% do valor da causa atualizado.
Em caso de reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre
o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer outro recurso, ficará condicionada ao depósito prévio do valor da
multa, exceto Fazenda Pública e beneficiário da justiça gratuita, que deverão recolher esses valores ao final do processo.
Se os dois últimos embargos de declaração já tiverem sido rejeitados e considerados protelatórios, não se admitirá
novo recurso de embargos.
Recurso Ordinário Constitucional
Trata-se de recurso apenas cabível de acórdão denegatório de ação constitucional originária de Tribunal. Será inter-
posto ao órgão que proferiu o ato com efeito devolutivo, e será julgado:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

66
O prazo para interposição do recurso ordinário é de 15 dias.

Agravo Interno

O agravo interno é o recurso cabível contra decisões monocráticas proferidas nos tribunais pelo relator. O prazo
para interposição de agravo interno é de 15 dias. A interposição do recurso segue o procedimento previsto no regi-
mento interno dos Tribunais.
A petição do agravo interno será dirigida ao relator, que intimará o agravado para se manifestar no prazo de 15 dias,
ao final do qual, não havendo retratação, o relator levará a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta.
Não há efeito suspensivo. Somente a atribuição de efeito devolutivo.

Agravo em Recurso Especial e Recurso Extraordinário

Caberá agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso
extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de reper-
cussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos.
O prazo para interposição do agravo em RE ou REsp é de 15 dias. O agravado será intimado para oferecer contrar-
razões no prazo de 15 dias. Não há atribuição de efeito suspensivo, só devolutivo.

Recurso Especial (REsp)

Caberá recurso especial de acórdão que violar legislação infraconstitucional ou quando diversos Tribunais derem
interpretação distinta a um mesmo dispositivo de lei federal. A fundamentação legal encontra-se no art. 1.029 do CPC
e art. 105, III da CF.
O recurso especial somente caberá de acórdão de Tribunal de única e última instância que contrariar tratado ou lei
federal, ou negar-lhes vigência; julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; ou der a lei federal
interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal;

Em regra, não há atribuição do efeito suspensivo. Apenas há o efeito devolutivo. Porém, é possível a atribuição do
efeito suspensivo, nos termos do art. 1.029, §5º do CPC.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Recurso Extraordinário - RE

Caberá recurso extraordinário contra acórdão que violar a Constituição Federal, nos termos do art. 1.029 CPC e art.
102, III da CF. Prazo para interposição: 15 dias, bem como, 15 dias para apresentar contraditório.

67
Quanto ao efeito que o recurso é recebido, insta ressaltar que todos os recursos sempre serão recebidos no efeito
devolutivo. Em regra, não há efeito suspensivo.
Todavia, conforme disposição do art. 1.029, §5º do CPC, a parte poderá requerer a concessão do efeito suspensivo.

REsp e RE repetitivos

Quando houver multiplicidade de RE ou REsp com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para
julgamento como repetitivo, ficando os demais suspensos. Nesse recurso a decisão proferida pelo Tribunal superior
servirá de base para os demais recursos que estavam suspensos.
Haverá o julgamento do repetitivo e dos demais processos que envolvam a mesma tese jurídica deverá aplicar o
procedente decidido.
Da decisão que indeferir esse requerimento, caberá agravo interno para o próprio Tribunal, conforme art. 1.036, §§
2º e 3º do CPC.
Selecionado o recurso, o relator identificará qual questão será submetida e sobrestará todos os processos do país
que versem sobre a questão.

Embargos de Divergência

Esse tipo de recurso é utilizado somente nos Tribunais superiores, STF e STJ, após julgamento do RE ou REsp. O
objetivo dos embargos de divergência é pacificar internamente as divergências de entendimento.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

68
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
EXERCÍCIOS COMENTADOS
CAPÍTULO I
1.(PREFEITURA DE BOA VISTA – RR – PROCURADOR Disposições Gerais
MUNICIPAL – CESPE – 2018) Acerca de representação
processual, prazos processuais e advocacia pública, jul- Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, ór-
gue o item seguinte. gãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União,
Deverá ser considerado intempestivo o recurso especial no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados,
interposto antes da publicação do acórdão que tenha para conciliação, processo, julgamento e execução,
negado provimento a determinado recurso de apelação. nas causas de sua competência.

( ) CERTO ( ) ERRADO Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da ora-


lidade, simplicidade, informalidade, economia proces-
Resposta: Errado. Determina o art. 218 do CPC, que sual e celeridade, buscando, sempre que possível, a
os atos processuais serão realizados nos prazos pres- conciliação ou a transação.
critos em lei, sendo considerado tempestivo o ato pra-
ticado antes do termo inicial do prazo Comentários aos artigos 1º e 2 º:
Os Juizados Especiais Cíveis têm como intuito resol-
2. (PGM- JOÃO PESSOA – PB – PROCURADOR DO ver causas de menor complexidade com maior rapidez,
MUNICIPIO – CESPE – 2018) Julgue os próximos itens, buscando, sempre que possível, o acordo entre as partes.
relativos a recursos cíveis. São consideradas causas cíveis de menor complexidade
aquelas cujo valor não exceda a 40 salários mínimos. Nas
I Cabe recurso extraordinário, mas não recurso especial, causas de até 20 salários mínimos não é obrigatória a
assistência de advogado; nas de valor superior, a assis-
contra as decisões das turmas recursais que julguem re-
tência é obrigatória.
curso inominado cível. II O agravo de instrumento é o
Já os Juizados Criminais são órgãos do Poder Judiciá-
recurso cabível para atacar decisão que julgue embargos
rio que julgam todas as contravenções penais e crimes
à arrematação e embargos à adjudicação. III O recurso de
de menor potencial ofensivo, ou seja, de baixa gravida-
apelação é o instrumento processual adequado para im-
de, segundo o entendimento do legislador. Hoje, são
pugnar tanto o julgamento antecipado de mérito quanto
considerados crimes de menor potencial ofensivo, todos
o julgamento antecipado parcial de mérito. IV Não cabe
aqueles que têm pena máxima de até 2 anos.
recurso contra decisão do relator que, em sede de agravo O Juizado Especial Criminal é órgão da Justiça que
de instrumento, tenha concedido antecipação de tutela existe no âmbito da União, do Distrito Federal e dos
recursal em favor do agravante. Estados. Tem competência para conciliação, processo
e julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo,
Assinale a opção correta. mediante a oralidade e abreviação do rito pelo proce-
dimento sumaríssimo. Estes órgãos jurisdicionais devem
a) Apenas o item I está certo. ser orientados pela conciliação e transação penal como
b) Apenas o item II está certo. forma de composição, e o julgamento de recursos por
c) Apenas os itens I e IV estão certos. turmas de juízes.
d) Apenas os itens II e III estão certos.
e) Apenas os itens III e IV estão certos. Capítulo II
Dos Juizados Especiais Cíveis
Resposta: Letra A. Súmula 203, STJ - Não cabe re- Seção I
curso especial contra decisão proferida, nos limites de Da Competência
sua competência, por órgão de segundo grau dos Jui-
zados Especiais. Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para
conciliação, processo e julgamento das causas cíveis
de menor complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o
LEI Nº 9.099/1995 E SUAS ALTERAÇÕES E
salário mínimo;
LEI Nº 10.259/2001 E SUAS ALTERAÇÕES II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de
(JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E Processo Civil;
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

CRIMINAIS). III - a ação de despejo para uso próprio;


IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor
não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.
LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995. § 1º Compete ao Juizado Especial promover a execu-
ção:
Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais I - dos seus julgados;
e dá outras providências. II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até
quarenta vezes o salário mínimo, observado o dispos-
to no § 1º do art. 8º desta Lei.

69
§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Es- O Conciliador poderá ser bacharel em Direito e atuará
pecial as causas de natureza alimentar, falimentar, na solução de conflitos. Exerce fundamental papel, pois
fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as seu desempenho conciliatório resulta, muitas vezes, na
relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao es- auto composição amigável da demanda.
tado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho A função exige tendência conciliatória e elevado inte-
patrimonial. resse pelo instituto da conciliação.
§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei Os Juízes leigos deve ser bacharel em Direito, estar
importará em renúncia ao crédito excedente ao limi- regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Bra-
te estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de sil, possuir pelo menos dois anos de experiência jurídica.
conciliação. Importante elucidar que as atribuições do juiz leigo são:
a) presidir as audiências de conciliação;
Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta b) presidir audiências de instrução e julgamento, po-
Lei, o Juizado do foro: dendo, inclusive, colher provas;
I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local c) proferir parecer, em matéria de competência dos
onde aquele exerça atividades profissionais ou econô- Juizados Especiais, a ser submetido ao Juiz Super-
micas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, visor da unidade de Juizado Especial onde exerça
sucursal ou escritório; suas funções, para homologação por sentença.
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, A atuação dos juízes leigos ficará limitada aos feitos
nas ações para reparação de dano de qualquer natu- de competência dos Juizados Especiais Cíveis e da Fazen-
reza. da Pública.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação Os juízes leigos ficam impedidos de exercer a advo-
ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo. cacia perante a Unidade do Juizado Especial da Comarca
ou Foro onde forem designados.
Comentários aos artigos 3º e 4º: Concernente à
competência do juizado, o art. 3º da lei dispõe que as
Seção III
Das Partes
causas não podem exceder a quarenta vezes o salário
mínimo; as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código
Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído
de Processo Civil; as ações de despejo para uso próprio
por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas
e as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não
de direito público, as empresas públicas da União, a
excedente ao fixado no inciso I do art. 3º. Verifica-se que
massa falida e o insolvente civil.
o inciso I do artigo tem a limitação pelo valor. E os incisos § 1º Somente serão admitidas a propor ação perante
II a IV, limitam a competência pela matéria. o Juizado Especial:
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários
Seção II de direito de pessoas jurídicas
Do Juiz, dos Conciliadores e dos Juízes Leigos II - as pessoas enquadradas como microempreende-
dores individuais, microempresas e empresas de pe-
Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para queno porte na forma da Lei Complementar nº 123,
determinar as provas a serem produzidas, para apre- de 14 de dezembro de 2006; (Redação dada pela Lei
ciá-las e para dar especial valor às regras de experiên- Complementar nº 147, de 2014)
cia comum ou técnica. III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organiza-
Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que ção da Sociedade Civil de Interesse Público, nos ter-
reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins so- mos da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999;
ciais da lei e às exigências do bem comum. IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor,
nos termos do art. 1º da Lei nº 10.194, de 14 de feve-
Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares reiro de 2001.
da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, § 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, inde-
entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre pendentemente de assistência, inclusive para fins de
advogados com mais de cinco anos de experiência. conciliação.
Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários míni-
exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, en- mos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo
quanto no desempenho de suas funções. ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a
assistência é obrigatória.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Comentários aos artigos 5º 6º e 7º: O juiz togado § 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes
é o magistrado de carreira lotado no Juizado Especial, comparecer assistida por advogado, ou se o réu for
também designado como “juiz presidente” pela Lei nº pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte,
10.259/2001 (art. 18). Além dele, a norma classifica os se quiser, assistência judiciária prestada por órgão ins-
conciliadores e juízes leigos como auxiliares da Justiça, tituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local.
ou seja, não integram o quadro de carreira do Judiciá- § 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do pa-
rio (em decorrência do exercício da função, não havendo trocínio por advogado, quando a causa o recomendar.
impedimento para que os próprios servidores sejam es- § 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo
colhidos como conciliadores) quanto aos poderes especiais.

70
§ 4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta;
individual, poderá ser representado por preposto cre- III - o objeto e seu valor.
denciado, munido de carta de preposição com pode- § 2º É lícito formular pedido genérico quando não for
res para transigir, sem haver necessidade de vínculo possível determinar, desde logo, a extensão da obri-
empregatício. gação.
§ 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secre-
Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma taria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de
de intervenção de terceiro nem de assistência. Admi- fichas ou formulários impressos.
tir-se-á o litisconsórcio. Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei
poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última
Art. 11. O Ministério Público intervirá nos casos pre- hipótese, desde que conexos e a soma não ultrapasse
vistos em lei. o limite fixado naquele dispositivo.
Comentários aos artigos 8º, 9º 10 e 11: Poderão
ser partes: As Pessoas físicas, capazes, ou seja, maiores Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de
de 18 anos, Microempresas – ME, Empresas de Pequeno distribuição e autuação, a Secretaria do Juizado de-
Porte – EPP, Organizações da Sociedade Civil de Interes- signará a sessão de conciliação, a realizar-se no prazo
se Público – OSCIP. de quinze dias.
O artigo 8º dispõe as pessoas que não poderão re-
clamar nos Juizados Especiais Cíveis. Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes,
instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação,
Seção IV dispensados o registro prévio de pedido e a citação.
Dos atos processuais Parágrafo único. Havendo pedidos contrapostos, po-
derá ser dispensada a contestação formal e ambos
Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão serão apreciados na mesma sentença.
realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem Comentários aos artigos 14, 15, 16 e 17: Os requi-
as normas de organização judiciária. sitos mínimos para interpor ação no procedimento do
Juizado Especial estão previstos no artigo 14 e em razão
Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre da simplicidade e informalidade deste procedimento, o
que preencherem as finalidades para as quais forem mesmo pode ser feito por escrito ou oralmente. Desse
realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º modo, o cidadão pode se dirigir até o cartório do Juiza-
desta Lei. do Especial e ingressar com uma ação de menor com-
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que plexidade cujo valor seja de até vinte salários mínimos,
tenha havido prejuízo. bastando para isso, informar a qualificação das partes,
§ 2º A prática de atos processuais em outras comar- os fatos, o objeto e o valor da mesma. O pedido poderá
cas poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de ser verbal e será reduzido a escrito pelo funcionário ou
comunicação. a própria parte pode trazer por escrito o seu pedido.
§ 3º Apenas os atos considerados essenciais serão Ilustre-se que a pessoa que pode ingressar com ação
registrados resumidamente, em notas manuscritas, neste procedimento, o pedido inicial não necessita con-
datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os ter fundamentação jurídica, pois se trata de um leigo,
demais atos poderão ser gravados em fita magnética bastando uma explicação de forma clara e simples dos
ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito fatos e delimitação do objetivo da causa.
em julgado da decisão. Por outro lado, quando a parte é assistida por advo-
§ 4º As normas locais disporão sobre a conservação gado, mesmo tratando-se de procedimento do Juizado
das peças do processo e demais documentos que o Especial, deve a peça inicial conter uma fundamentação
instruem. jurídica.
Comentários aos artigos 12 e 13: No procedimento Após a apresentação do pedido, fica designada a au-
da presente Lei, os atos são mais simplificados, são pú- diência de conciliação, devendo o demandado ser citado
blicos e podem ocorrer, inclusive, em horário noturno, se para comparecer a mesma.
assim dispuserem as normas de organização judiciária, o
que facilita o acesso das partes as audiências. Seção VI
Preenchendo os atos as finalidades a que se desti- Das Citações e Intimações
nam e atendidos os critérios do artigo 2º, serão consi-
derados válidos. Art. 18. A citação far-se-á:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

I - por correspondência, com aviso de recebimento em


Seção V mão própria;
Do pedido II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual,
mediante entrega ao encarregado da recepção, que
Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresenta- será obrigatoriamente identificado;
ção do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado. III - sendo necessário, por oficial de justiça, indepen-
§ 1º Do pedido constarão, de forma simples e em lin- dentemente de mandado ou carta precatória.
guagem acessível: § 1º A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes; hora para comparecimento do citando e advertência

71
de que, não comparecendo este, considerar-se-ão ver- Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias
dadeiras as alegações iniciais, e será proferido julga- subsequentes, o árbitro apresentará o laudo ao Juiz
mento, de plano. togado para homologação por sentença irrecorrível.
§ 2º Não se fará citação por edital. Comentários aos artigos 21, 22, 23, 24, 25, 26: Os
§ 3º O comparecimento espontâneo suprirá a falta ou conciliadores estão aptos a dirigir sob a orientação do
nulidade da citação. juiz togado ou do leigo as audiências de conciliação e os
juízes leigos podem realizar tanto as audiências de con-
Art. 19. As intimações serão feitas na forma prevista ciliação quanto as de instrução e julgamento.
para citação, ou por qualquer outro meio idôneo de Poderão ocorrer duas audiências, uma de conciliação
comunicação. e outra de instrução e julgamento. Nas audiências de
§ 1º Dos atos praticados na audiência, considerar-se- conciliação, os conciliadores devem tentar demonstrar
-ão desde logo cientes as partes. as vantagens de uma composição e as consequências e
§ 2º As partes comunicarão ao juízo as mudanças de riscos do prosseguimento do feito, fazendo com que as
endereço ocorridas no curso do processo, reputando- partes envolvidas compreendam a importância da refe-
-se eficazes as intimações enviadas ao local anterior- rida audiência e possam optar por solucionar o conflito
mente indicado, na ausência da comunicação. desde já pelo acordo.
Comentários aos artigos 18 e 19: A citação em regra Caso seja realizado o acordo entre as partes, o termo
ocorre pelo correio, não se admitindo a citação por edital é submetido ao juiz togado para homologação, o qual
e as intimações são feitas da mesma forma prevista para passará a valer como título executivo. Não sendo exitosa
as citações. a tentativa de conciliação, o processo prossegue com a
O que se pretende com o procedimento é a solução audiência de instrução e julgamento.
do conflito de forma mais célere, especialmente, através
da conciliação, principal objetivo do Juizado Especial. Seção IX
Da Instrução e Julgamento
Seção VII
Da Revelia Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á
imediatamente à audiência de instrução e julgamen-
Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de to, desde que não resulte prejuízo para a defesa.
conciliação ou à audiência de instrução e julgamento,
reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização
inicial, salvo se o contrário resultar da convicção do imediata, será a audiência designada para um dos
Juiz. quinze dias subsequentes, cientes, desde logo, as par-
tes e testemunhas eventualmente presentes.
Seção VIII
Da Conciliação e do Juízo Arbitral Art. 28. Na audiência de instrução e julgamento serão
ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, pro-
Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo escla- ferida a sentença.
recerá as partes presentes sobre as vantagens da con-
ciliação, mostrando-lhes os riscos e as consequências Art. 29. Serão decididos de plano todos os incidentes que
do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do possam interferir no regular prosseguimento da audiên-
art. 3º desta Lei. cia. As demais questões serão decididas na sentença.
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado Parágrafo único. Sobre os documentos apresentados
ou leigo ou por conciliador sob sua orientação. por uma das partes, manifestar-se-á imediatamente a
Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será re- parte contrária, sem interrupção da audiência.
duzida a escrito e homologada pelo Juiz togado, me- Comentários aos artigos 27, 28 e 29: Na audiência de
diante sentença com eficácia de título executivo. instrução e julgamento, o juiz togado ou o leigo, tentará
novamente a conciliação das partes, eis que esse é o princi-
Art. 23. Não comparecendo o demandado, o Juiz to- pal objetivo deste procedimento e, não obtendo êxito, co-
gado proferirá sentença. lherá as provas, isto é, receberá documentos, contestação,
contra pedido, fará a oitiva das partes e das testemunhas.
Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão
optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma Seção X
prevista nesta Lei. Da Resposta do Réu
§ 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, inde-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

pendentemente de termo de compromisso, com a es- Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá
colha do árbitro pelas partes. Se este não estiver pre- toda matéria de defesa, exceto arguição de suspeição
sente, o Juiz convocá-lo-á e designará, de imediato, a ou impedimento do Juiz, que se processará na forma
data para a audiência de instrução. da legislação em vigor.
§ 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos.
Art. 31. Não se admitirá a reconvenção. É lícito ao réu,
Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mes- na contestação, formular pedido em seu favor, nos li-
mos critérios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta mites do art. 3º desta Lei, desde que fundado nos mes-
Lei, podendo decidir por equidade. mos fatos que constituem objeto da

72
Parágrafo único. O autor poderá responder ao pedido simples esclarecimentos do técnico em audiência, a cau-
do réu na própria audiência ou requerer a designação sa deverá ser considerada complexa. O feito será encer-
da nova data, que será desde logo fixada, cientes todos rado no âmbito do Juizado Especial, sem julgamento do
os presentes. mérito, e as partes serão remetidas à justiça comum. Isto
Comentários aos artigos 30 e 31: A contestação porque os Juizados Especiais, por mandamento constitu-
deve ser apresentada até a audiência de instrução e jul- cional, são destinados apenas a compor ‘causas cíveis de
gamento, assim como o pedido contraposto, podendo o menor complexidade’ (CF, art. 98, inc. I).”
autor responder oralmente na própria audiência ou re- Nesse sentido:
querer designação de nova data.
“Admite-se a prova técnica nos Juizados Especiais,
Seção XI através de simples esclarecimentos do experto, em au-
Das Provas diência.” (JEC, Apelação 100/96, 1ª Turma Recursal, Belo
Horizonte, rel. Marine da Costa - in Informa Jurídico 25).
Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legíti-
mos, ainda que não especificados em lei, são hábeis Seção XII
para provar a veracidade dos fatos alegados pelas Da Sentença
partes.
Art. 38. A sentença mencionará os elementos de con-
Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência vicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes
de instrução e julgamento, ainda que não requeridas ocorridos em audiência, dispensado o relatório.
previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que Parágrafo único. Não se admitirá sentença conde-
considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias. natória por quantia ilíquida, ainda que genérico o
pedido.
Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para
cada parte, comparecerão à audiência de instrução e Art. 39. É ineficaz a sentença condenatória na parte
julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, que exceder a alçada estabelecida nesta Lei.
independentemente de intimação, ou mediante esta,
se assim for requerido. Art. 40. O Juiz leigo que tiver dirigido a instrução pro-
§ 1º O requerimento para intimação das testemunhas ferirá sua decisão e imediatamente a submeterá ao
será apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias Juiz togado, que poderá homologá-la, proferir outra
antes da audiência de instrução e julgamento. em substituição ou, antes de se manifestar, determinar
§ 2º Não comparecendo a testemunha intimada, o a realização de atos probatórios indispensáveis.
Juiz poderá determinar sua imediata condução, va-
lendo-se, se necessário, do concurso da força pública. Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de
Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o
inquirir técnicos de sua confiança, permitida às partes próprio Juizado.
a apresentação de parecer técnico. § 1º O recurso será julgado por uma turma composta
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau
de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspe- de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
ção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça § 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente re-
pessoa de sua confiança, que lhe relatará informal- presentadas por advogado.
mente o verificado.
Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias,
Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, de- contados da ciência da sentença, por petição escrita,
vendo a sentença referir, no essencial, os informes tra- da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
zidos nos depoimentos. § 1º O preparo será feito, independentemente de inti-
mação, nas quarenta e oito horas seguintes à interpo-
Art. 37. A instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, sição, sob pena de deserção.
sob a supervisão de Juiz togado. § 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido
Comentários acerca dos artigos 32 a 37: Acerca das para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
provas no Juizado Especial, leciona Humberto Theodoro
Júnior2: Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, po-
dendo o Juiz dar-lhe efeito suspensivo, para evitar
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

“A prova técnica é admissível no Juizado Especial, dano irreparável para a parte.


quando o exame do fato controvertido a exigir. Não as-
sumirá, porém, a forma de uma perícia, nos moldes ha- Art. 44. As partes poderão requerer a transcrição da
bituais do Código de Processo Civil. O perito escolhido gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art.
pelo Juiz, será convocado para a audiência, onde prestará 13 desta Lei, correndo por conta do requerente as des-
as informações solicitadas pelo instrutor da causa (art. pesas respectivas.
35, caput). Se não for possível solucionar a lide à base de
Art. 45. As partes serão intimadas da data da sessão
2 Humberto Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 31ª
de julgamento.
ed., v. III, p. 436.

73
Art. 46. O julgamento em segunda instância constará § 2º No caso do inciso I deste artigo, quando compro-
apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, var que a ausência decorre de força maior, a parte po-
fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sen- derá ser isentada, pelo Juiz, do pagamento das custas.
tença for confirmada pelos próprios fundamentos, a Comentário: O presente artigo trata da extinção do
súmula do julgamento servirá de acórdão. processo, no caso de ocorrer algum dos impedimentos
do artigo 8º e, ainda, em alguns casos de falecimento do
Art. 47. (Vetado) autor e do réu.
Comentários aos artigos 38 ao 46: Realizada a au-
diência de conciliação e, não comparecendo o demanda- Seção XV
do, o juiz proferirá a sentença ou, ainda, após a produção Da Execução
de provas na audiência de instrução e julgamento o juiz
proferirá a sentença. Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no
A sentença no procedimento do Juizado Especial Cí- próprio Juizado, aplicando-se, no que couber, o dis-
vel o relatório está dispensado, bastando um breve resu- posto no Código de Processo Civil, com as seguintes
mo dos fatos relevantes que fundamentaram a decisão. alterações:
E, ainda, a mesma deve ser líquida, já que neste procedi- I - as sentenças serão necessariamente líquidas, con-
mento está vedada a produção de sentença ilíquida. tendo a conversão em Bônus do Tesouro Nacional -
Da sentença proferida caberá recurso, o qual é de- BTN ou índice equivalente;
nominado de recurso inominado, no prazo de dez dias, II - os cálculos de conversão de índices, de honorários,
para o próprio Juizado e esse será julgado pela Turma de juros e de outras parcelas serão efetuados por ser-
Recursal composta por três juízes togados em exercício vidor judicial;
no primeiro grau de jurisdição. III - a intimação da sentença será feita, sempre que pos-
sível, na própria audiência em que for proferida. Nessa
Seção XIII intimação, o vencido será instado a cumprir a sentença
Dos Embargos de Declaração tão logo ocorra seu trânsito em julgado, e advertido dos
efeitos do seu descumprimento (inciso V);
Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na IV - não cumprida voluntariamente a sentença tran-
sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradi- sitada em julgado, e tendo havido solicitação do in-
ção, omissão ou dúvida. teressado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corri- logo à execução, dispensada nova citação;
gidos de ofício. V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos de não fazer, o Juiz, na sentença ou na fase de execu-
por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, con- ção, cominará multa diária, arbitrada de acordo com
tados da ciência da decisão. as condições econômicas do devedor, para a hipótese
de inadimplemento. Não cumprida a obrigação, o cre-
Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os em- dor poderá requerer a elevação da multa ou a trans-
bargos de declaração suspenderão o prazo para re- formação da condenação em perdas e danos, que o
curso. Juiz de imediato arbitrará, seguindo-se a execução por
Comentários aos artigos 48, 49 e 50: Os embargos quantia certa, incluída a multa vencida de obrigação
de declaração são cabíveis da sentença ou do acórdão de dar, quando evidenciada a malícia do devedor na
proferido e quando interpostos da sentença suspende- execução do julgado;
rão o prazo para recursos. VI - na obrigação de fazer, o Juiz pode determinar o
cumprimento por outrem, fixado o valor que o deve-
Seção XIV dor deve depositar para as despesas, sob pena de mul-
Da Extinção do Processo Sem Julgamento do Mérito ta diária;
VII - na alienação forçada dos bens, o Juiz poderá au-
Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previs- torizar o devedor, o credor ou terceira pessoa idônea
tos em lei: a tratar da alienação do bem penhorado, a qual se
I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer aperfeiçoará em juízo até a data fixada para a praça
das audiências do processo; ou leilão. Sendo o preço inferior ao da avaliação, as
II - quando inadmissível o procedimento instituído por partes serão ouvidas. Se o pagamento não for à vista,
esta Lei ou seu prosseguimento, após a conciliação; será oferecida caução idônea, nos casos de alienação
III - quando for reconhecida a incompetência territorial; de bem móvel, ou hipotecado o imóvel;
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos VIII - é dispensada a publicação de editais em jornais,
previstos no art. 8º desta Lei; quando se tratar de alienação de bens de pequeno
V - quando, falecido o autor, a habilitação depender valor;
de sentença ou não se der no prazo de trinta dias; IX - o devedor poderá oferecer embargos, nos autos da
VI - quando, falecido o réu, o autor não promover a execução, versando sobre:
citação dos sucessores no prazo de trinta dias da ciên- a) falta ou nulidade da citação no processo, se ele cor-
cia do fato. reu à revelia;
§ 1º A extinção do processo independerá, em qualquer b) manifesto excesso de execução;
hipótese, de prévia intimação pessoal das partes. c) erro de cálculo;

74
d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obri- I - reconhecida a litigância de má-fé;
gação, superveniente à sentença. II - improcedentes os embargos do devedor;
III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido
Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no objeto de recurso improvido do devedor.
valor de até quarenta salários mínimos, obedecerá ao Comentários aos artigos 54 e 55: No âmbito dos
disposto no Código de Processo Civil, com as modifi- Juizados Especiais, não são devidas despesas para efeito
cações introduzidas por esta Lei. do cumprimento de diligências, inclusive, quando da ex-
§ 1º Efetuada a penhora, o devedor será intimado a pedição de cartas precatórias. Assim, nos Juizados Espe-
comparecer à audiência de conciliação, quando pode- ciais as partes não estão sujeitas ao pagamento de custas
rá oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou ver- processuais e honorários de advogado, o que ocorrerá,
balmente. apenas, se a parte vencida, insatisfeita, recorrer da sen-
§ 2º Na audiência, será buscado o meio mais rápi- tença.
do e eficaz para a solução do litígio, se possível com
dispensa da alienação judicial, devendo o conciliador Seção XVII
propor, entre outras medidas cabíveis, o pagamento Disposições Finais
do débito a prazo ou a prestação, a dação em paga-
mento ou a imediata adjudicação do bem penhorado. Art. 56. Instituído o Juizado Especial, serão implanta-
§ 3º Não apresentados os embargos em audiência, ou das as curadorias necessárias e o serviço de assistência
julgados improcedentes, qualquer das partes poderá judiciária.
requerer ao Juiz a adoção de uma das alternativas do
parágrafo anterior. Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza
§ 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens ou valor, poderá ser homologado, no juízo competen-
penhoráveis, o processo será imediatamente extinto, te, independentemente de termo, valendo a sentença
devolvendo-se os documentos ao autor. como título executivo judicial.
Comentários aos artigos 52 e 53: Nas execuções Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o
dos julgados, o demandante vitorioso pretende obter, acordo celebrado pelas partes, por instrumento escri-
sempre, aquilo que ganhou com a sentença. Somente a to, referendado pelo órgão competente do Ministério
sentença condenatória enseja um novo processo de exe- Público.
cução. Art. 58. As normas de organização judiciária local po-
Após a prolação da sentença, caso esta não seja cum- derão estender a conciliação prevista nos arts. 22 e 23
prida voluntariamente, poderá o exequente solicitar seja a causas não abrangidas por esta Lei.
o executado compelido judicialmente a satisfazer a obri-
gação que assumiu em sede de acordo, ou que lhe foi Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas
imposta por sentença condenatória. sujeitas ao procedimento instituído por esta Lei.
As sentenças proferidas no Juizado serão nele exe-
cutadas, extinguindo-se o processo ao final com a ob- Capítulo III
tenção da pretensão do exequente ou com a frustração Dos Juizados Especiais Criminais
da execução diante da inexistência de bens em posse ou Disposições Gerais
propriedade do devedor, que sejam suficientes para ga-
rantir a satisfação do crédito. Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes
togados ou togados e leigos, tem competência para a
Seção XVI conciliação, o julgamento e a execução das infrações
Das Despesas penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as re-
gras de conexão e continência.
Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em Parágrafo único. Na reunião de processos, perante
primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas, o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da
taxas ou despesas. aplicação das regras de conexão e continência, obser-
Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do var-se-ão os institutos da transação penal e da com-
§ 1º do art. 42 desta Lei, compreenderá todas as des- posição dos danos civis.
pesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em
primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor po-
assistência judiciária gratuita. tencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contra-
venções penais e os crimes a que a lei comine pena
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou
o vencido em custas e honorários de advogado, res- não com multa.
salvados os casos de litigância de má-fé. Em segundo Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orien-
grau, o recorrente, vencido, pagará as custas e hono- tar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, in-
rários de advogado, que serão fixados entre dez por formalidade, economia processual e celeridade, obje-
cento e vinte por cento do valor de condenação ou, tivando, sempre que possível, a reparação dos danos
não havendo condenação, do valor corrigido da causa. sofridos pela vítima e a aplicação de pena não priva-
Parágrafo único. Na execução não serão contadas tiva de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.603,
custas, salvo quando: de 2018)

75
Comentários aos artigos 60, 61 e 62: Fica a cargo da da informalidade). Assim, a intimação pode ser feita por
Lei de Organização Judiciária de cada Estado fazer a op- correspondência com A. R., por oficial de justiça, fax, te-
ção pela inclusão de leigos no âmbito dos Juizados. Esses lefone, e-mail etc.
juízes leigos jamais terão competência para o julgamen-
to, limitam- se à conciliação. A homologação de eventual Seção II
acordo deve ser feita exclusivamente pelo juiz togado. Da Fase Preliminar
- Ainda que a competência dos JECrim para o proces-
so e julgamento de infrações de menor potencial Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento
ofensivo derive do art. 98, I, da CF/88, ela admite da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o enca-
modificações, sendo, portanto, COMPETÊNCIARE- minhará imediatamente ao Juizado, com o autor do
LATIVA fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos
exames periciais necessários.
Seção I Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavra-
Da Competência e dos Atos Processuais tura do termo, for imediatamente encaminhado ao
juizado ou assumir o compromisso de a ele compare-
Art. 63. A competência do Juizado será determinada cer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá
pelo lugar em que foi praticada a infração penal. fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá
determinar, como medida de cautela, seu afastamento
Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.
realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da Comentário: Termo circunstanciado: a autoridade
semana, conforme dispuserem as normas de organi- policial lavrará o termo e encaminhará ao Juizado o au-
zação judiciária. tor do fato e a vítima, requisitando os exames periciais
necessários. Direito Público Subjetivo (art. 69, parágrafo
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que único). É vedada a prisão em flagrante ou exigência de
preencherem as finalidades para as quais foram reali- fiança se o autor do fato comprometer-se a comparecer
zados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta ao Juizado.
Lei.
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e
tenha havido prejuízo. não sendo possível a realização imediata da audiên-
§ 2º A prática de atos processuais em outras comar- cia preliminar, será designada data próxima, da qual
cas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de ambos sairão cientes.
comunicação. Comentário: Pode ocorrer de uma das partes, ou até
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente ambas as partes não comparecerem à audiência por al-
os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em gum motivo, sendo ele particular ou por força maior, e
audiência de instrução e julgamento poderão ser gra- acontecer desta audiência ser designada para um outro
vados em fita magnética ou equivalente. dia. Quando isso acontece, as partes têm que ser devi-
damente intimadas para a próxima audiência que se fará
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio realizar.
Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos
citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação
comum para adoção do procedimento previsto em lei. e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos
arts. 67 e 68 desta Lei.
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência,
com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de Art. 72. Na audiência preliminar, presente o represen-
pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega tante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima
ao encarregado da recepção, que será obrigatoria- e, se possível, o responsável civil, acompanhados por
mente identificado, ou, sendo necessário, por oficial seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilida-
de justiça, independentemente de mandado ou carta de da composição dos danos e da aceitação da pro-
precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de co- posta de aplicação imediata de pena não privativa de
municação. liberdade.
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência
considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os inte- Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ressados e defensores. conciliador sob sua orientação.


Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferente-
mandado de citação do acusado, constará a necessi- mente entre bacharéis em Direito, excluídos os que
dade de seu comparecimento acompanhado de advo- exerçam funções na administração da Justiça Criminal.
gado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe- Comentário: A conciliação entre as partes será rea-
-á designado defensor público. lizada por um juiz titular do Juizado, ou ainda por um
Comentário art. 67 e 68: As intimações ou notifica- Conciliador. O conciliador é uma pessoa nomeada pe-
ções são permitidas por qualquer meio válido (princípio rante o juiz, que tenha um conhecimento breve perante

76
as normas, mas não obrigatoriamente precisa ter o cur- § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público acei-
so superior em bacharel em Direito. Este Conciliador é ta pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena res-
considerado, dentro da classificação dos entes atuantes tritiva de direitos ou multa, que não importará em
no judiciário, como auxiliares da Justiça, assim como os reincidência, sendo registrada apenas para impedir
Oficiais de Justiça e Comissários de Menor. novamente o mesmo benefício no prazo de cinco
anos.
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior cabe-
a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença rá a apelação referida no art. 82 desta Lei.
irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste
juízo civil competente. artigo não constará de certidão de antecedentes cri-
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de inicia- minais, salvo para os fins previstos no mesmo disposi-
tiva privada ou de ação penal pública condicionada à tivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados
representação, o acordo homologado acarreta a re- propor ação cabível no juízo cível.
núncia ao direito de queixa ou representação. Comentário: Havendo representação ou tratando-se
Comentário: Na composição civil dos danos, o foco de crime de ação penal pública incondicionada, pode-
são os interesses patrimoniais e, portanto, de natureza rá ocorrer a transação penal, a qual é acordo celebrado
individual disponível. Não há necessidade de intervenção entre o MP (ou querelante, nos crimes de ação privada)
do MP, a não ser que se trate de causa em que haja inte- e o autor do fato delituoso, por meio da qual é pro-
resse de incapazes. posta a aplicação imediata de pena restritiva de direitos
Ocorrendo a composição de danos civis, o acordo ou multa, evitando-se, assim, a instauração do processo.
será reduzido a escrito e homologado pelo juiz mediante Quando se trata de infração de menor potencial ofen-
sentença irrecorrível, que terá eficácia de título a ser exe- sivo, ainda que haja lastro probatório suficiente para o
cutado no juízo cível competente. oferecimento de denúncia, desde que o autor do fato
preencha os requisitos objetivos e subjetivos do art. 76, ao
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será invés do MP oferecer denúncia, deve propor a transação
dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de penal, com a aplicação imediata de penas restritivas de
exercer o direito de representação verbal, que será re-
direito ou multa.
duzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representa-
Seção III
ção na audiência preliminar não implica decadência
do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto Do Procedimento Sumaríssimo
em lei.
Comentário: Caso não haja composição civil a vítima Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando
pode exercer a representação/queixa oral Na audiência, não houver aplicação de pena, pela ausência do autor
que será reduzida a termo. do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no
Importante ilustrar que a representação pode ser art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz,
oferecida perante a autoridade policial, o MP ou o juízo de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade
(art. 39 do CPP), não necessariamente após a composi- de diligências imprescindíveis.
ção civil não obtida. § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elabo-
A representação não exige formalismo, bastando que rada com base no termo de ocorrência referido no art.
fique evidenciado o interesse da vítima na persecução 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, pres-
penal. cindir-se-á do exame do corpo de delito quando a ma-
terialidade do crime estiver aferida por boletim médico
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de cri- ou prova equivalente.
me de ação penal pública incondicionada, não sendo § 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não
caso de arquivamento, o Ministério Público poderá permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Pú-
propor a aplicação imediata de pena restritiva de di- blico poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das
reitos ou multas, a ser especificada na proposta. peças existentes, na forma do parágrafo único do art.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única 66 desta Lei.
aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. § 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prá- complexidade e as circunstâncias do caso determinam
tica de crime, à pena privativa de liberdade, por sen- a adoção das providências previstas no parágrafo único
tença definitiva;
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

do art. 66 desta Lei.


II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzi-
prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva
da a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com
ou multa, nos termos deste artigo;
ela ficará citado e imediatamente cientificado da de-
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social
e a personalidade do agente, bem como os motivos e signação de dia e hora para a audiência de instrução
as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção e julgamento, da qual também tomarão ciência o Mi-
da medida. nistério Público, o ofendido, o responsável civil e seus
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu advogados.
defensor, será submetida à apreciação do Juiz.

77
§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado,
forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data se presente, passando-se imediatamente aos debates
da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela orais e à prolação da sentença.
trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento § 1º Todas as provas serão produzidas na audiência
para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua rea- de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou
lização. excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou
§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável protelatórias.
civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei § 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado ter-
para comparecerem à audiência de instrução e julga- mo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve
mento. resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e
§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na for- a sentença.
ma prevista no art. 67 desta Lei. § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os
elementos de convicção do Juiz.
Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de
instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa
havido possibilidade de tentativa de conciliação e de e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada
oferecimento de proposta pelo Ministério Público, pro- por turma composta de três Juízes em exercício no pri-
meiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
ceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias,
Comentários aos artigos 77, 78 e 79: O rito sumarís-
contados da ciência da sentença pelo Ministério Públi-
simo é adotado para julgamento das infrações penais de
co, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual
menor potencial ofensivo, quais sejam, as contravenções constarão as razões e o pedido do recorrente.
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não § 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta
superior a 2 anos, cumulada ou não com multa. escrita no prazo de dez dias.
Caso o autor dos fatos não compareça à audiência § 3º As partes poderão requerer a transcrição da gra-
preliminar ou não ocorra as hipóteses previstas no arti- vação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65
go 76 da Lei, o Ministério Público oferecerá, oralmente, desta Lei.
denúncia, se não houver a necessidade da realização de § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de
diligência imprescindível. julgamento pela imprensa.
O MP em caso de complexidade, poderá requerer o § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fun-
encaminhamento das peças existentes, pois sua denuncia damentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
se baseará nos relatos do Termo Circunstanciado elabora- Comentários aos artigos 81 e 82: Caso a denúncia
do pela Autoridade Policial. ou queixa sejam rejeitadas, caberá apelação da decisão
Em caso de ação penal de inciativa privada, a queixa no prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença
também poderá ser oral, sendo que a denuncia ou queixa pelo MP, réu e defensor. Ainda, caberá apelação da sen-
oral serão reduzidas a escrito e uma cópia será entregue tença em que absolver ou condenar o acusado.
ao autor dos fatos ficando citado e imediatamente cien- O recurso de apelação deverá ser apresentado por
tificado da data da audiência de instrução e julgamento, petição escrita, constando dessa as razões e os pedidos
devendo apresentar suas testemunhas. O ofendido será do recorrente. Frise- se que o recorrido terá 10 dias para
intimado da data e hora da referida audiência. apresentar suas contrarrazões.
Sendo a denúncia recebida, ouvir-se-á a vítima, as A apelação poderá ser julgada por turma composta
testemunhas de acusação, as testemunhas de defesa, o por 3 juízes em exercício 1º grau de jurisdição, reunidos
acusado será interrogado, passando-se aos debates orais. na sede do Juizado.

Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em
sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradi-
quando imprescindível, a condução coercitiva de quem
ção, omissão ou dúvida. (Vide Lei nº 13.105, de 2015)
deva comparecer.
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por es-
Comentário: Como a autodefesa é renunciável, tendo
crito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados
o acusado o direito de permanecer em silêncio, prevalece da ciência da decisão.
que não é possível que o juiz determine sua condução § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de
coercitiva, salvo se necessária para eventual reconheci- declaração suspenderão o prazo para o recurso. (Vide
mento de pessoas, meio de prova que não está protegido Lei nº 13.105, de 2015)
pelo princípio que veda a autoincriminação. § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Comentário: os embargos de declaração serão opos-


A Lei 9.099 confere à defesa a oportunidade de se ma- tos no prazo de 5 dias, contados da ciência da decisão.
nifestar oralmente antes de haver o recebimento da peça Este caberá quando houver obscuridade, contradição,
acusatória (defesa preliminar oral). omissão ou dúvida acerca da sentença. Deverão ser
opostos por escrito ou oralmente.
Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao Os Embargos de Declaração contra sentença SUS-
defensor para responder à acusação, após o que o Juiz PENDEM o prazo para interpor outro recurso. Já os Em-
receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo rece- bargos de Declaração contra Acórdão da Turma Recursal,
bimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de INTERROMPEM o prazo para interpor out

78
Seção IV § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que
Da Execução fica subordinada a suspensão, desde que adequadas
ao fato e à situação pessoal do acusado.
Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o
cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secre- beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não
taria do Juizado. efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz decla- § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier
rará extinta a punibilidade, determinando que a con- a ser processado, no curso do prazo, por contravenção,
denação não fique constando dos registros criminais, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
exceto para fins de requisição judicial. § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará
Comentário: O presente artigo dispõe que, sendo a extinta a punibilidade.
pena de multa aplicada exclusivamente sem cumprimen- § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de sus-
to se dará mediante o seu pagamento, quando o Juiz pensão do processo.
declarará extinta a punibilidade do autor. § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista nes-
No caso da suspensão do processo, expirado o prazo, te artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores
o Juiz declarará extinta a punibilidade. Caso a multa não termos.
seja paga, a procuradoria fiscal deverá proceder à execu-
ção da pena de multa. Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos
processos penais cuja instrução já estiver iniciada.
Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita (Vide ADIN nº 1.719-9)
a conversão em pena privativa da liberdade, ou restri-
tiva de direitos, nos termos previstos em lei. Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no
âmbito da Justiça Militar.
Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e
restritivas de direitos, ou de multa cumulada com es- Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir repre-
tas, será processada perante o órgão competente, nos sentação para a propositura da ação penal pública, o
termos da lei. ofendido ou seu representante legal será intimado para
oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.
Seção V
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições
Das Despesas Processuais
dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não
forem incompatíveis com esta Lei.
Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e
aplicação de pena restritiva de direitos ou multa (arts.
Capítulo IV
74 e 76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas,
Disposições Finais Comuns
conforme dispuser lei estadual.
Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Jui-
Seção VI zados Especiais Cíveis e Criminais, sua organização,
Disposições Finais composição e competência.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da le- Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados,
gislação especial, dependerá de representação a ação e as audiências realizadas fora da sede da Comarca,
penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e em bairros ou cidades a ela pertencentes, ocupando
lesões culposas. instalações de prédios públicos, de acordo com au-
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima comina- diências previamente anunciadas.
da for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios cria-
por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denún- rão e instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis
cia, poderá propor a suspensão do processo, por dois meses, a contar da vigência desta Lei.
a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo Parágrafo único. No prazo de 6 (seis) meses, contado
processado ou não tenha sido condenado por outro cri- da publicação desta Lei, serão criados e instalados os
me, presentes os demais requisitos que autorizariam Juizados Especiais Itinerantes, que deverão dirimir, prio-
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código ritariamente, os conflitos existentes nas áreas rurais ou
Penal). nos locais de menor concentração populacional.
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta
suspender o processo, submetendo o acusado a perío- dias após a sua publicação.
do de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril
II - proibição de frequentar determinados lugares; de 1965 e a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, Brasília, 26 de setembro de 1995; 174º da Independên-
sem autorização do Juiz; cia e 107º da República.
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men- FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
salmente, para informar e justificar suas atividades. Nelson A. Jobim

79
LEI Nº 10.259

Entre os procedimentos especiais atualmente previstos na legislação processual civil extravagante um dos mais
importantes é o dos juizados especiais. Neste sentido, três leis o regulamentam: a Lei nº 9.099/95 trata dos juizados es-
peciais cíveis e criminais; a Lei nº 10.259/01 trata dos juizados federais; e a Lei nº 12.153/09 trata dos juizados especiais
da fazenda pública. Aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Civil, desde que não se prejudique a celeridade
do processo.
O procedimento dos juizados especiais é considerado especial, visando tornar o processo mais célere e menos
oneroso nas causas de menor complexidade. Segundo Theodoro Jr., não se trata de um simples procedimento especial,
pois há uma afetação direta na estrutura organizacional do Poder Judiciário, diante da previsão de criação de novos
órgãos pela União e pelos Estados, no âmbito de suas jurisdições.

1. Princípios

Além dos princípios constitucionais, como o contraditório, a isonomia, a publicidade e outros, nos juizados especiais
existem princípios específicos: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade (artigo 2°, Lei
nº 9.099/95).
O princípio da oralidade se verifica porque boa parte dos atos são praticados oralmente, apenas com redução dos
aspectos essenciais a termo: p. ex., é possível apresentar oralmente a petição inicial na secretaria do juizado, bem como
a contestação e os embargos de declaração.
O princípio da informalidade vai além do da instrumentalidade das formas, buscando a celeridade e a facilidade de
acesso: somente há nulidade se evidente o prejuízo e certos casos que nos processos comuns poderiam ser declarados
nulos, aqui não o são. Por exemplo, não é preciso advogado e a colheita de provas é minimizada. Deve ser lido em
conjunto com o princípio da simplicidade, pois ambos pretendem a diminuição da massa de atos materiais que são
juntados no processo.
Pelo princípio da economia processual, busca-se atingir o resultado com o menor esforço possível.

Pelo princípio da celeridade, o que se busca é chegar ao final do processo o mais rápido possível (por isso, não é
aceita reconvenção, intervenção de terceiros e, nos juizados especiais cíveis, prova pericial).

2. Competência e legitimidade

Os juizados especiais cíveis – Lei nº 9.099/90 – são facultativos, ou seja, a parte pode optar pelo ingresso na justiça
comum se preferir, eis que ao optar pelo juizado especial cível estará abrindo mão de produzir provas complexas, como
a pericial. Já no caso dos juizados especiais federais e da fazenda pública, por disposição expressa de lei – artigo 2º, §
4º, Lei nº 12.153/09 e artigo 3º, § 3º, Lei nº 10.259/01 – onde houver o juizado instalado sua competência é absoluta,
logo, obrigatória e não facultativa.
Os critérios de competência são determinados com base nos seguintes fatores: valor da causa, matéria ou pessoas.
Pelo valor da causa, o juizado especial cível irá julgar casos cujo valor não exceda a 40 salários mínimos, embora
possa julgar casos que excedam tal valor se forem dotados de menor complexidade (artigo 3°, Lei nº 9.099/95). Os
acordos podem superar este valor nos juizados especiais cíveis. O valor do pedido contraposto não pode superar o de
40 salários mínimos. Destaca-se que o advogado somente é dispensável se o valor não exceder a 20 salários mínimos.
É possível renunciar à parte que exceda o valor de 40 salários mínimos para postular no juizado especial.
Já nos juizados federais (artigo 3º, Lei nº 10.259/01) e nos juizados especiais da fazenda pública (artigo 2º, Lei nº
12.153/09) serão julgados pedidos cujo valor da causa não exceda 60 salários mínimos. Não existe um limite de valor
para a dispensa de advogado, podendo ocorrer em qualquer situação. O valor do pedido contraposto não pode supe-
rar 60 salários mínimos. Os acordos não podem ultrapassar o valor de 60 salários mínimos. É possível renunciar à parte
que exceda o valor de 60 salários mínimos para postular no juizado especial.

JESP cíveis JESP federais JESP da fazenda pública


Valor da causa limite 40 salários mínimos 60 salários mínimos 60 salários mínimos
Pedido contraposto 40 salários mínimos 60 salários mínimos 60 salários mínimos
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Dispensa de advogado 20 salários mínimos 60 salários mínimos 60 salários mínimos


Acordos Não há limite 60 salários mínimos 60 salários mínimos

Em razão da matéria, podem ser propostas no juizado todas as causas que possam correr pelo procedimento su-
mário (o tema é delicado, eis que o procedimento foi extinto no CPC/2015 e o dispositivo da lei dos juizados ficou
esvaziado). Também o são as ações de despejo para uso próprio, ações possessórias de até 40 salários mínimos.

80
Certas matérias afastam a competência do juizado es- 3. Das partes e seus advogados
tadual, como as de natureza alimentar, fiscal e de interes-
se da Fazenda Pública, além das relativas a acidentes de No juizado especial cível não é admitida qualquer
trabalho, resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, espécie de intervenção de terceiros, nem mesmo a as-
ainda que de cunho patrimonial (artigo 3º, § 2º, Lei nº sistência (artigo 10, Lei nº 9.099/95), disposição que se
9.099/95). Também não cabem ações em face do INSS aplica subsidiariamente aos demais juizados especiais.
para postular benefícios acidentários e nem ações com Por exemplo, no caso dos acidentes de veículo uma se-
rito especial previamente definido. guradora não pode sofrer denunciação da lide, embora o
A Constituição Federal delimita outras causas nas segurado tenha a obrigação de não reconhecer o pedido,
quais não é aceito o rito dos juizados especiais: manda- confessar ou transigir sem a sua anuência expressa (arti-
do de segurança, desapropriação, divisão e demarcação, go 787, CC). Isso visa preservar a celeridade processual.
ações populares, execuções fiscais, demandas com inte- Já o litisconsórcio é admitido.
resses difusos/coletivos/individuais homogêneos, causas Nas causas até 20 salários mínimos, o advogado é
entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e dispensável, mas, se a parte contrária for uma pessoa
Município ou cidadão residente e domiciliado no país, jurídica ou firma individual, o autor poderá obter um ad-
disputa sobre direitos indígenas. Nos juizados especiais vogado pela assistência judiciária, em prol da isonomia
cíveis federais a limitação é a mesma da justiça federal, entre as partes (artigo 9°, § 1°, Lei nº 9.099/95).
isto é, especificada no artigo 109 da CF, sendo que o va- Nos juizados especiais federais e da fazenda pública o
lor máximo é de 60 salários mínimos. advogado pode ser dispensado independentemente do
Em razão das pessoas, no juizado estadual cível, so- valor da causa, em 1ª instância, mas a parte pode ter um
mente pessoas físicas podem ajuizar demanda, além das advogado sempre que desejar, devendo, se for o caso,
microempresas e empresas de pequeno porte, OSCIP, ser encaminhada à Defensoria Pública.
sociedades de crédito microempreendedor (artigo 8º, § Em todos os casos, a dispensa do advogado é restrita
1º, Lei nº 9.099/95). Jamais podem participar das deman- à 1ª instância, sendo indispensável o advogado na fase
das, em qualquer polo, no juizado estadual cível, o inca- recursal.
paz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as
empresas públicas, a massa falida e o insolvente (artigo 4. Procedimento
8º, caput, Lei nº 9.099/95).
No juizado especial federal, podem ser autoras as O rito dos juizados está previsto na Lei nº 9.099/95 de
pessoas físicas, as microempresas e as empresas de pe- forma detalhada, aplicando-se subsidiariamente às de-
queno porte; podem ser rés a União, as autarquias, as mais leis de juizados especiais.
fundações públicas e as empresas públicas federais; po- A principal distinção em termos de procedimento de-
dem participar incapazes (com intervenção do Ministério corre do fato de que nos juizados especiais cíveis não
Público) e presos (artigo 6º, Lei nº 10.259/01). se admite prova pericial no curso do processo; enquanto
No juizado especial da fazenda pública, podem ser que expressamente o exame pericial é admitido nos de-
autoras as pessoas físicas, as microempresas e as em- mais juizados (artigo 10, Lei nº 12.153/09 e artigo 12, Lei
presas de pequeno porte; podem ser réus, os Estados, nº 10.259/01). Além disso, nos juizados especiais federais
o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem e da fazenda pública, como há presença do Estado na
como autarquias, fundações e empresas públicas a eles condição de parte, aborda-se a questão das prerrogati-
vinculadas (artigo 5º, Lei nº 12.153/2009); podem parti- vas processuais da Fazenda, excluindo-se o reexame ne-
cipar incapazes (com intervenção do Ministério Público) cessário e a contagem diferenciada de prazo.
e presos. Quanto ao procedimento como um todo, a Lei nº
Quanto à competência territorial dos juizados espe- 9.099/95 traz os seguintes atos:
ciais cíveis, prevê o artigo 4° da Lei nº 9.099/95: “É com- A petição inicial é apresentada na secretaria do jui-
petente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado zado, de forma escrita ou verbal. O réu é citado para
do foro: I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, comparecer à audiência de conciliação, a ser conduzida
do local onde aquele exerça atividades profissionais ou por juiz togado ou leigo ou por conciliador. Caso o réu,
econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agên- citado, não compareça, o juiz julgará a demanda. Se a
cia, sucursal ou escritório; II - do lugar onde a obrigação ausência for do autor, o processo será extinto sem julga-
deva ser satisfeita; III - do domicílio do autor ou do local mento do mérito.
do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de Caso não haja acordo, será designada audiência de
qualquer natureza. Parágrafo único. Em qualquer hipóte- instrução e julgamento, para a qual as partes sairão in-
se, poderá a ação ser proposta no foro previsto no inciso timadas. Nela, o réu irá apresentar sua contestação, que
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

I deste artigo”. Nos juizados especiais federais, o autor poderá conter pedido contraposto, por escrito ou verbal-
pode propor a ação contra a União em seu domicílio, no mente. Na audiência serão colhidas as provas necessárias
local do ato ou fato e no Distrito Federal (artigo 109, § 2°, e o juiz proferirá sentença.
CF) ou mesmo optar pela justiça local se não houver jui- Existe um procedimento ainda mais célere, no qual
zado especial federal em sua cidade, ou seja, há escolha é realizada apenas uma audiência de conciliação, instru-
do autor. Nos juizados especiais da fazenda pública, o ção, debates e julgamento, devendo o réu, ao ser citado,
autor pode propor a ação contra os Estados e os Municí- receber a advertência de que deverá apresentar na au-
pios em seu domicílio ou no local do ato ou fato, ou seja, diência sua contestação, sob pena de revelia (artigo 27,
também há escolha do autor. parágrafo único, Lei nº 9.099/95).

81
- Petição inicial: não precisa atender rigorosamente o parte pode ouvir até 3 testemunhas, independente-
artigo 282, até mesmo porque é possível que nem mente de arrolamento prévio e intimação. Se a tes-
seja formulada por advogado. O endereço do réu temunha intimada não comparecer, pode-se fazer
deve estar correto, até mesmo por não se admitir uso da condução coercitiva (imediata, se viável).
citação por edital. O fundamento jurídico é dis- - Debates/alegações finais: A lei nada prevê sobre os
pensável, mas os fatos devem ser indicados, bem mesmos.
como o bem da vida que pretende obter o autor, - Sentença: a sentença de mérito é dada ao final da
possibilitando a defesa do réu. A cumulação de pe- audiência ou no prazo de 10 dias. Não é preciso
didos é admitida. Cabe emenda e indeferimento relatório, basta um resumo sucinto dos fatos, mas
da inicial, mas antes de extinguir o processo o juiz é obrigatório o fundamento, esclarecendo o que
deve realizar a audiência de conciliação (artigo 51, formou a convicção do juiz. Deve ser sempre líqui-
II, Lei nº 9.099/95). da, pois não se admite liquidação no juizado espe-
- Custas: em primeiro grau de jurisdição, os juizados cial. O valor da condenação não pode exceder o da
especiais cíveis são isentos de custas, taxas ou alçada do juizado.
despesas. Há condenação às custas nos casos de - Recursos: Nos juizados federais, só cabe contra sen-
litigância de má fé e de o autor não comparecer tença de mérito. A competência para apreciação é
às audiências designadas. O recurso exige preparo, do colégio recursal, composto por uma turma de
salvo se a parte for beneficiária da assistência judi- três juízes togados, em exercício no 1° grau de ju-
ciária gratuita. Há ônus de sucumbência honorária risdição, reunidos na sede do juizado. Cabe no pra-
ao recorrente vencido. zo de 10 dias da sentença. Em regra, tem apenas
- Citações e intimações: a própria secretaria designa a efeito devolutivo. Destaca-se que não cabe agravo
conciliação e determina a citação do réu, que po- contra as decisões interlocutórias proferidas no jui-
derá ser por carta ou por oficial de justiça. Se a zado especial, mas todas as decisões podem ser
citação por edital se tornar necessária, o processo examinadas no colégio recursal (exceções: contra
deve ser extinto. Contudo, é admissível a citação decisão que nega tutelas antecipadas ou cautela-
por hora certa, nomeando-se curador especial se res e contra decisão que indefere processamento
o réu não comparecer. Há uma facilitação geral no do recurso). Ainda, no prazo de 5 dias da intimação
processo de citação: tem-se admitido a assinatu- das partes podem ser interpostos embargos de de-
ra do aviso de recebimento por alguém da mes- claração contra a sentença ou o acórdão, havendo
ma residência e a entrega do mandado a pessoa obscuridade, contradição, omissão ou dúvida (que
encarregada da recepção de uma empresa. Se a interrompem, o prazo para o recurso). Nos termos
audiência for una, o réu deve ser citado com 10 da súmula 640 do Supremo Tribunal Federal “é ca-
dias de antecedência nos juizados estaduais e 30 bível recurso extraordinário contra decisão proferi-
nos federais. As intimações serão feitas pela mes- da por juiz de primeiro grau nas causas de alçada,
ma forma das citações ou por outro meio idôneo, ou por turma recursal de juizado especial cível e
mesmo que eletrônico. criminal”, mas não se admite o recurso especial
- Revelia: a ausência do réu a qualquer audiência, não e os embargos infringentes. É comum o uso do
apenas a falta de resposta, gera revelia. mandado de segurança com relação às decisões
- Audiência de conciliação: eventual acordo será assi- do juizado especial nos casos de lesão ou ameaça
nado pelas partes e pelo conciliador, sendo homo- de lesão a direito.
logado pelo juiz. Pode ser una ou não.
- Audiência de instrução e julgamento: poderá ser O inteiro teor da Lei nº 9.099/1995, que disciplina os
una ou designada para até 15 dias a partir da con- juizados especiais cíveis e criminais, pode ser acessado em:
ciliação, saindo as partes intimadas. No início da http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm
audiência, mais uma vez, o juiz deve tentar a con- O inteiro teor da Lei nº 10.259/2001, que disciplina
ciliação. Em seguida, colherá as provas e julgará. os juizados especiais cíveis e criminais federais, pode ser
Na audiência, o juiz resolverá todos os incidentes acessado em:
do processo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/
- Resposta do réu: exceção de incompetência deve L10259.htm
ser apresentada na própria contestação e extingue O inteiro teor da Lei nº 12.153/2009, que disciplina os
o processo sem julgamento do mérito, se acolhi- Juizados Especiais da Fazenda Pública, pode ser acessado
da. A impugnação ao valor da causa também não em:
é feita em peça separada. O fundamento jurídico é http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

dispensável. Não se admite reconvenção, mas sim 2010/2009/lei/l12153.htm


pedido contraposto, a ser respondido pelo autor na
própria audiência (ou em nova data, caso requeira).
- Provas: não se admite prova pericial, mas pode-se ou-
vir um técnico especialista de confiança do juiz. No
juizado federal é permitida a realização de exame
técnico necessário à conciliação ou ao julgamento
da causa. A colheita é feita de forma informal, não
precisa seguir com rigor as regras do CPC. Cada

82
#FicaDica LEI Nº 13.140/2015 (DISPÕE SOBRE
Nos juizados especiais cíveis, o limite do va- MEDIAÇÃO).
lor da causa e do pedido contraposto é de 40
salários mínimos, sendo que em ações de até
LEI Nº 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015.
20 salários mínimos é dispensada a assistência
por advogado.
Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio
Já nos juizados federais e nos juizados espe-
de solução de controvérsias e sobre a autocomposição
ciais da fazenda pública serão julgados pedi-
de conflitos no âmbito da administração pública; alte-
dos cujo valor da causa não exceda 60 salários
ra a Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto nº
mínimos. Não existe um limite de valor para a
70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2º do art.
dispensa de advogado, podendo ocorrer em
6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997.
qualquer situação.
No grau recursal é sempre exigida a assistên-
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
cia por advogado.
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio


de solução de controvérsias entre particulares e sobre
EXERCÍCIO COMENTADO a autocomposição de conflitos no âmbito da adminis-
tração pública.
1. (TJ-MT – JUIZ SUBSTITUTO – VUNESP – 2018)
Com relação aos Juizados Especiais, assinale a alternativa Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade
correta: técnica exercida por terceiro imparcial sem poder deci-
sório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e
a) Não poderão ser partes o incapaz, o preso, a massa estimula a identificar ou desenvolver soluções consen-
falida, o insolvente civil e as sociedades de crédito ao suais para a controvérsia.
microempreendedor.
b) Os atos processuais serão públicos e poderão reali- CAPÍTULO I
zar-se em horário noturno, conforme dispuserem as DA MEDIAÇÃO
normas de organização judiciária.
c) É admissível a denunciação da lide àquele que estiver Seção I
obrigado, por lei ou contrato, a indenizar, em ação re- Disposições Gerais
gressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.
d) É cabível o incidente de uniformização de jurisprudência Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes prin-
quando houver divergência entre as decisões proferidas cípios:
por Turmas Recursais sobre questões de direito processual. I - imparcialidade do mediador;
e). No Juizado Especial Cível, a decisão de mérito, tran- II - isonomia entre as partes;
sitada em julgado, pode ser rescindida quando se III - oralidade;
verificar que foi proferida por força de prevaricação, IV - informalidade;
concussão ou corrupção do juiz. V - autonomia da vontade das partes;
VI - busca do consenso;
Resposta: Letra B. Nos termos do artigo 12, “os atos proces- VII - confidencialidade;
suais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno, VIII - boa-fé.
conforme dispuserem as normas de organização judiciária”.
Em “a”: Errado – Disciplina o artigo 8º, caput: “Não po- § 1º Na hipótese de existir previsão contratual de cláu-
derão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o sula de mediação, as partes deverão comparecer à pri-
incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito públi- meira reunião de mediação.
co, as empresas públicas da União, a massa falida e o § 2º Ninguém será obrigado a permanecer em proce-
insolvente civil”. Sociedades de crédito ao microem- dimento de mediação.
preendedor poderá sim ser parte.
Em “c”: Errado – Disciplina o artigo 10: “Não se admi- Art. 3º Pode ser objeto de mediação o conflito que ver-
tirá, no processo, qualquer forma de intervenção de se sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indispo-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsór- níveis que admitam transação.


cio”. Denunciação da lide é modalidade de interven-
ção de terceiro e não é permitida. § 1º A mediação pode versar sobre todo o conflito ou
Em “d”: Errado – O incidente de uniformização de juris- parte dele.
prudência foi extinto pelo CPC/2015 e não há menção § 2º O consenso das partes envolvendo direitos indis-
sobre ele na Lei nº 9.099/1995. poníveis, mas transigíveis, deve ser homologado em
Em “e”: Errado – Disciplina o artigo 59: “Não se admitirá juízo, exigida a oitiva do Ministério Público.
ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento
instituído por esta Lei”.

83
Seção II nistério da Educação e que tenha obtido capacitação
Dos Mediadores em escola ou instituição de formação de mediadores,
reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aper-
Subseção I feiçoamento de Magistrados - ENFAM ou pelos tribu-
Disposições Comuns nais, observados os requisitos mínimos estabelecidos
pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o
Art. 4º O mediador será designado pelo tribunal ou Ministério da Justiça.
escolhido pelas partes.
Art. 12. Os tribunais criarão e manterão cadastros
§ 1º O mediador conduzirá o procedimento de comu- atualizados dos mediadores habilitados e autorizados
nicação entre as partes, buscando o entendimento e o a atuar em mediação judicial.
consenso e facilitando a resolução do conflito.
§ 2º Aos necessitados será assegurada a gratuidade da § 1º A inscrição no cadastro de mediadores judiciais
mediação. será requerida pelo interessado ao tribunal com juris-
dição na área em que pretenda exercer a mediação.
Art. 5º Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses § 2º Os tribunais regulamentarão o processo de inscri-
legais de impedimento e suspeição do juiz. ção e desligamento de seus mediadores.
Parágrafo único. A pessoa designada para atuar como Art. 13. A remuneração devida aos mediadores judi-
mediador tem o dever de revelar às partes, antes da ciais será fixada pelos tribunais e custeada pelas par-
aceitação da função, qualquer fato ou circunstância
tes, observado o disposto no § 2º do art. 4º desta Lei.
que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua
imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade
Seção III
em que poderá ser recusado por qualquer delas.
Do Procedimento de Mediação
Art. 6º O mediador fica impedido, pelo prazo de um
ano, contado do término da última audiência em que Subseção I
atuou, de assessorar, representar ou patrocinar qual- Disposições Comuns
quer das partes.
Art. 14. No início da primeira reunião de mediação, e
Art. 7º O mediador não poderá atuar como árbitro sempre que julgar necessário, o mediador deverá aler-
nem funcionar como testemunha em processos judi- tar as partes acerca das regras de confidencialidade
ciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que tenha aplicáveis ao procedimento.
atuado como mediador.
Art. 15. A requerimento das partes ou do mediador, e
Art. 8º O mediador e todos aqueles que o assessoram com anuência daquelas, poderão ser admitidos outros
no procedimento de mediação, quando no exercício mediadores para funcionarem no mesmo procedimen-
de suas funções ou em razão delas, são equiparados to, quando isso for recomendável em razão da nature-
a servidor público, para os efeitos da legislação penal. za e da complexidade do conflito.

Subseção II Art. 16. Ainda que haja processo arbitral ou judicial


Dos Mediadores Extrajudiciais em curso, as partes poderão submeter-se à mediação,
hipótese em que requererão ao juiz ou árbitro a sus-
Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial pensão do processo por prazo suficiente para a solução
qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das par- consensual do litígio.
tes e seja capacitada para fazer mediação, indepen-
dentemente de integrar qualquer tipo de conselho, § 1º É irrecorrível a decisão que suspende o processo
entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se. nos termos requeridos de comum acordo pelas partes.
§ 2º A suspensão do processo não obsta a concessão de
Art. 10. As partes poderão ser assistidas por advogados
medidas de urgência pelo juiz ou pelo árbitro.
ou defensores públicos.
Art. 17. Considera-se instituída a mediação na data
Parágrafo único. Comparecendo uma das partes
acompanhada de advogado ou defensor público, o para a qual for marcada a primeira reunião de me-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

mediador suspenderá o procedimento, até que todas diação.


estejam devidamente assistidas.
Parágrafo único. Enquanto transcorrer o procedimento
Subseção III de mediação, ficará suspenso o prazo prescricional.
Dos Mediadores Judiciais
Art. 18. Iniciada a mediação, as reuniões posteriores
Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa com a presença das partes somente poderão ser mar-
capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso cadas com a sua anuência.
de ensino superior de instituição reconhecida pelo Mi-

84
Art. 19. No desempenho de sua função, o mediador quer um dos cinco mediadores e, caso a parte convida-
poderá reunir-se com as partes, em conjunto ou sepa- da não se manifeste, considerar-se-á aceito o primeiro
radamente, bem como solicitar das partes as informa- nome da lista;
ções que entender necessárias para facilitar o entendi- IV - o não comparecimento da parte convidada à pri-
mento entre aquelas. meira reunião de mediação acarretará a assunção por
parte desta de cinquenta por cento das custas e hono-
Art. 20. O procedimento de mediação será encerrado rários sucumbenciais caso venha a ser vencedora em
com a lavratura do seu termo final, quando for cele- procedimento arbitral ou judicial posterior, que envol-
brado acordo ou quando não se justificarem novos es- va o escopo da mediação para a qual foi convidada.
forços para a obtenção de consenso, seja por declara-
ção do mediador nesse sentido ou por manifestação de § 3º Nos litígios decorrentes de contratos comerciais ou
qualquer das partes. societários que não contenham cláusula de mediação,
o mediador extrajudicial somente cobrará por seus ser-
Parágrafo único. O termo final de mediação, na hipó- viços caso as partes decidam assinar o termo inicial de
tese de celebração de acordo, constitui título executivo mediação e permanecer, voluntariamente, no procedi-
extrajudicial e, quando homologado judicialmente, tí- mento de mediação.
tulo executivo judicial.
Art. 23. Se, em previsão contratual de cláusula de me-
Subseção II diação, as partes se comprometerem a não iniciar pro-
Da Mediação Extrajudicial cedimento arbitral ou processo judicial durante certo
prazo ou até o implemento de determinada condição,
o árbitro ou o juiz suspenderá o curso da arbitragem
Art. 21. O convite para iniciar o procedimento de me-
ou da ação pelo prazo previamente acordado ou até o
diação extrajudicial poderá ser feito por qualquer meio
implemento dessa condição.
de comunicação e deverá estipular o escopo proposto
para a negociação, a data e o local da primeira reu-
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às
nião.
medidas de urgência em que o acesso ao Poder Ju-
diciário seja necessário para evitar o perecimento de
Parágrafo único. O convite formulado por uma parte à
direito.
outra considerar-se-á rejeitado se não for respondido
em até trinta dias da data de seu recebimento. Subseção III
Da Mediação Judicial
Art. 22. A previsão contratual de mediação deverá con-
ter, no mínimo: Art. 24. Os tribunais criarão centros judiciários de solu-
I - prazo mínimo e máximo para a realização da pri- ção consensual de conflitos, responsáveis pela realiza-
meira reunião de mediação, contado a partir da data ção de sessões e audiências de conciliação e mediação,
de recebimento do convite; pré-processuais e processuais, e pelo desenvolvimento
II - local da primeira reunião de mediação; de programas destinados a auxiliar, orientar e estimu-
III - critérios de escolha do mediador ou equipe de me- lar a autocomposição.
diação;
Parágrafo único. A composição e a organização do
IV - penalidade em caso de não comparecimento da centro serão definidas pelo respectivo tribunal, obser-
parte convidada à primeira reunião de mediação. vadas as normas do Conselho Nacional de Justiça.

§ 1º A previsão contratual pode substituir a especifi- Art. 25. Na mediação judicial, os mediadores não esta-
cação dos itens acima enumerados pela indicação de rão sujeitos à prévia aceitação das partes, observado o
regulamento, publicado por instituição idônea presta- disposto no art. 5º desta Lei.
dora de serviços de mediação, no qual constem crité-
rios claros para a escolha do mediador e realização da Art. 26. As partes deverão ser assistidas por advogados
primeira reunião de mediação. ou defensores públicos, ressalvadas as hipóteses pre-
§ 2º Não havendo previsão contratual completa, deve- vistas nas Leis n º 9.099, de 26 de setembro de 1995 , e
rão ser observados os seguintes critérios para a reali- 10.259, de 12 de julho de 2001 .
zação da primeira reunião de mediação:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Parágrafo único. Aos que comprovarem insuficiência


I - prazo mínimo de dez dias úteis e prazo máximo de de recursos será assegurada assistência pela Defenso-
três meses, contados a partir do recebimento do con- ria Pública.
vite;
II - local adequado a uma reunião que possa envolver Art. 27. Se a petição inicial preencher os requisitos es-
informações confidenciais; senciais e não for o caso de improcedência liminar do
III - lista de cinco nomes, informações de contato e re- pedido, o juiz designará audiência de mediação.
ferências profissionais de mediadores capacitados; a
parte convidada poderá escolher, expressamente, qual-

85
Art. 28. O procedimento de mediação judicial deverá CAPÍTULO II
ser concluído em até sessenta dias, contados da pri- DA AUTOCOMPOSIÇÃO DE CONFLITOS EM QUE
meira sessão, salvo quando as partes, de comum acor- FOR PARTE PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLI-
do, requererem sua prorrogação. CO

Parágrafo único. Se houver acordo, os autos serão en- Seção I


caminhados ao juiz, que determinará o arquivamento Disposições Comuns
do processo e, desde que requerido pelas partes, ho-
mologará o acordo, por sentença, e o termo final da Art. 32. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
mediação e determinará o arquivamento do processo. nicípios poderão criar câmaras de prevenção e resolu-
ção administrativa de conflitos, no âmbito dos respec-
Art. 29. Solucionado o conflito pela mediação antes da tivos órgãos da Advocacia Pública, onde houver, com
citação do réu, não serão devidas custas judiciais finais. competência para:
I - dirimir conflitos entre órgãos e entidades da admi-
Seção IV nistração pública;
Da Confidencialidade e suas Exceções II - avaliar a admissibilidade dos pedidos de resolução
de conflitos, por meio de composição, no caso de con-
Art. 30. Toda e qualquer informação relativa ao proce- trovérsia entre particular e pessoa jurídica de direito
dimento de mediação será confidencial em relação a público;
terceiros, não podendo ser revelada sequer em proces- III - promover, quando couber, a celebração de termo
so arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente de ajustamento de conduta.
decidirem de forma diversa ou quando sua divulgação
for exigida por lei ou necessária para cumprimento de § 1º O modo de composição e funcionamento das câ-
acordo obtido pela mediação. maras de que trata o caput será estabelecido em regu-
lamento de cada ente federado.
§ 1º O dever de confidencialidade aplica-se ao media- § 2º A submissão do conflito às câmaras de que trata
dor, às partes, a seus prepostos, advogados, assessores o caput é facultativa e será cabível apenas nos casos
técnicos e a outras pessoas de sua confiança que te- previstos no regulamento do respectivo ente federado.
nham, direta ou indiretamente, participado do proce- § 3º Se houver consenso entre as partes, o acordo será
dimento de mediação, alcançando: reduzido a termo e constituirá título executivo extra-
judicial.
I - declaração, opinião, sugestão, promessa ou propos- § 4º Não se incluem na competência dos órgãos men-
ta formulada por uma parte à outra na busca de en- cionados no caput deste artigo as controvérsias que
tendimento para o conflito; somente possam ser resolvidas por atos ou concessão
II - reconhecimento de fato por qualquer das partes no de direitos sujeitos a autorização do Poder Legislativo.
curso do procedimento de mediação; § 5º Compreendem-se na competência das câmaras de
III - manifestação de aceitação de proposta de acordo que trata o caput a prevenção e a resolução de confli-
apresentada pelo mediador; tos que envolvam equilíbrio econômico-financeiro de
IV - documento preparado unicamente para os fins do contratos celebrados pela administração com particu-
procedimento de mediação. lares.

§ 2º A prova apresentada em desacordo com o disposto Art. 33. Enquanto não forem criadas as câmaras de
neste artigo não será admitida em processo arbitral ou mediação, os conflitos poderão ser dirimidos nos ter-
judicial. mos do procedimento de mediação previsto na Subse-
§ 3º Não está abrigada pela regra de confidencialidade ção I da Seção III do Capítulo I desta Lei.
a informação relativa à ocorrência de crime de ação
pública. Parágrafo único. A Advocacia Pública da União, dos
§ 4º A regra da confidencialidade não afasta o dever Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, onde
de as pessoas discriminadas no caput prestarem infor- houver, poderá instaurar, de ofício ou mediante provo-
mações à administração tributária após o termo final cação, procedimento de mediação coletiva de conflitos
da mediação, aplicando-se aos seus servidores a obri- relacionados à prestação de serviços públicos.
gação de manterem sigilo das informações comparti-
lhadas nos termos do art. 198 da Lei nº 5.172, de 25 de Art. 34. A instauração de procedimento administrativo
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

outubro de 1966 - Código Tributário Nacional. para a resolução consensual de conflito no âmbito da
administração pública suspende a prescrição.
Art. 31. Será confidencial a informação prestada por
uma parte em sessão privada, não podendo o media- § 1º Considera-se instaurado o procedimento quando
dor revelá-la às demais, exceto se expressamente au- o órgão ou entidade pública emitir juízo de admissibi-
torizado. lidade, retroagindo a suspensão da prescrição à data
de formalização do pedido de resolução consensual do
conflito.

86
§ 2º Em se tratando de matéria tributária, a suspen- § 3º A composição extrajudicial do conflito não afasta
são da prescrição deverá observar o disposto na Lei nº a apuração de responsabilidade do agente público que
5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário deu causa à dívida, sempre que se verificar que sua
Nacional. ação ou omissão constitui, em tese, infração disciplinar.
§ 4º Nas hipóteses em que a matéria objeto do litígio
Seção II esteja sendo discutida em ação de improbidade ad-
Dos Conflitos Envolvendo a Administração Pública ministrativa ou sobre ela haja decisão do Tribunal de
Federal Direta, suas Autarquias e Fundações Contas da União, a conciliação de que trata o caput
dependerá da anuência expressa do juiz da causa ou
Art. 35. As controvérsias jurídicas que envolvam a ad- do Ministro Relator.
ministração pública federal direta, suas autarquias e
fundações poderão ser objeto de transação por adesão, Art. 37. É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e
com fundamento em: aos Municípios, suas autarquias e fundações públicas,
I - autorização do Advogado-Geral da União, com base bem como às empresas públicas e sociedades de eco-
na jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Fede- nomia mista federais, submeter seus litígios com ór-
ral ou de tribunais superiores; ou gãos ou entidades da administração pública federal à
II - parecer do Advogado-Geral da União, aprovado Advocacia-Geral da União, para fins de composição
pelo Presidente da República. extrajudicial do conflito.

§ 1º Os requisitos e as condições da transação por ade- Art. 38. Nos casos em que a controvérsia jurídica seja
são serão definidos em resolução administrativa pró- relativa a tributos administrados pela Secretaria da Re-
pria. ceita Federal do Brasil ou a créditos inscritos em dívida
§ 2º Ao fazer o pedido de adesão, o interessado deverá ativa da União:
juntar prova de atendimento aos requisitos e às condi- I - não se aplicam as disposições dos incisos II e III do
ções estabelecidos na resolução administrativa. caput do art. 32;
§ 3º A resolução administrativa terá efeitos gerais e II - as empresas públicas, sociedades de economia mis-
será aplicada aos casos idênticos, tempestivamente ta e suas subsidiárias que explorem atividade econô-
habilitados mediante pedido de adesão, ainda que so- mica de produção ou comercialização de bens ou de
lucione apenas parte da controvérsia. prestação de serviços em regime de concorrência não
§ 4º A adesão implicará renúncia do interessado ao di- poderão exercer a faculdade prevista no art. 37;
reito sobre o qual se fundamenta a ação ou o recurso, III - quando forem partes as pessoas a que alude o
eventualmente pendentes, de natureza administrativa caput do art. 36:
ou judicial, no que tange aos pontos compreendidos
pelo objeto da resolução administrativa. a) a submissão do conflito à composição extrajudicial
§ 5º Se o interessado for parte em processo judicial pela Advocacia-Geral da União implica renúncia do
inaugurado por ação coletiva, a renúncia ao direito so- direito de recorrer ao Conselho Administrativo de Re-
bre o qual se fundamenta a ação deverá ser expressa, cursos Fiscais;
mediante petição dirigida ao juiz da causa. b) a redução ou o cancelamento do crédito depende-
§ 6º A formalização de resolução administrativa des- rá de manifestação conjunta do Advogado-Geral da
tinada à transação por adesão não implica a renúncia União e do Ministro de Estado da Fazenda.
tácita à prescrição nem sua interrupção ou suspensão.
Parágrafo único. O disposto no inciso II e na alínea a
Art. 36. No caso de conflitos que envolvam controvér- do inciso III não afasta a competência do Advogado-
sia jurídica entre órgãos ou entidades de direito pú- -Geral da União prevista nos incisos X e XI do art. 4º da
blico que integram a administração pública federal, a Lei Complementar nº 73, de 10 de fevereiro de 1993 .
Advocacia-Geral da União deverá realizar composição
extrajudicial do conflito, observados os procedimentos Parágrafo único. O disposto neste artigo não afasta
previstos em ato do Advogado-Geral da União. a competência do Advogado-Geral da União prevista
nos incisos VI , X e XI do art. 4º da Lei Complementar
§ 1º Na hipótese do caput , se não houver acordo nº 73, de 10 de fevereiro de 1993 , e na Lei nº 9.469, de
quanto à controvérsia jurídica, caberá ao Advogado- 10 de julho de 1997 . (Redação dada pela Lei nº 13.327,
-Geral da União dirimi-la, com fundamento na legis- de 2016) (Produção de efeito)
lação afeta.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

§ 2º Nos casos em que a resolução da controvérsia Art. 39. A propositura de ação judicial em que figurem
implicar o reconhecimento da existência de créditos concomitantemente nos polos ativo e passivo órgãos
da União, de suas autarquias e fundações em face de ou entidades de direito público que integrem a admi-
pessoas jurídicas de direito público federais, a Advo- nistração pública federal deverá ser previamente auto-
cacia-Geral da União poderá solicitar ao Ministério rizada pelo Advogado-Geral da União.
do Planejamento, Orçamento e Gestão a adequação
orçamentária para quitação das dívidas reconhecidas Art. 40. Os servidores e empregados públicos que par-
como legítimas. ticiparem do processo de composição extrajudicial do
conflito, somente poderão ser responsabilizados civil,

87
administrativa ou criminalmente quando, mediante § 5º Na transação ou acordo celebrado diretamente
dolo ou fraude, receberem qualquer vantagem patri- pela parte ou por intermédio de procurador para ex-
monial indevida, permitirem ou facilitarem sua recep- tinguir ou encerrar processo judicial, inclusive os casos
ção por terceiro, ou para tal concorrerem. de extensão administrativa de pagamentos postulados
em juízo, as partes poderão definir a responsabilidade
CAPÍTULO III de cada uma pelo pagamento dos honorários dos res-
DISPOSIÇÕES FINAIS pectivos advogados.” (NR)

Art. 41. A Escola Nacional de Mediação e Conciliação, “Art. 2º O Procurador-Geral da União, o Procurador-
no âmbito do Ministério da Justiça, poderá criar ban- -Geral Federal, o Procurador-Geral do Banco Central
co de dados sobre boas práticas em mediação, bem do Brasil e os dirigentes das empresas públicas federais
como manter relação de mediadores e de instituições mencionadas no caput do art. 1º poderão autorizar,
de mediação. diretamente ou mediante delegação, a realização de
acordos para prevenir ou terminar, judicial ou extraju-
Art. 42. Aplica-se esta Lei, no que couber, às outras for- dicialmente, litígio que envolver valores inferiores aos
mas consensuais de resolução de conflitos, tais como fixados em regulamento.
mediações comunitárias e escolares, e àquelas levadas
a efeito nas serventias extrajudiciais, desde que no âm- § 1º No caso das empresas públicas federais, a delega-
bito de suas competências. ção é restrita a órgão colegiado formalmente constituí-
do, composto por pelo menos um dirigente estatutário.
Parágrafo único. A mediação nas relações de trabalho § 2º O acordo de que trata o caput poderá consistir no
será regulada por lei própria. pagamento do débito em parcelas mensais e sucessi-
vas, até o limite máximo de sessenta.
Art. 43. Os órgãos e entidades da administração públi- § 3º O valor de cada prestação mensal, por ocasião
do pagamento, será acrescido de juros equivalentes à
ca poderão criar câmaras para a resolução de confli-
taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e
tos entre particulares, que versem sobre atividades por
de Custódia - SELIC para títulos federais, acumulada
eles reguladas ou supervisionadas.
mensalmente, calculados a partir do mês subsequente
ao da consolidação até o mês anterior ao do paga-
Art. 44. Os arts. 1º e 2º da Lei nº 9.469, de 10 de julho
mento e de um por cento relativamente ao mês em
de 1997 , passam a vigorar com a seguinte redação:
que o pagamento estiver sendo efetuado.
§ 4º Inadimplida qualquer parcela, após trinta dias,
“Art. 1º O Advogado-Geral da União, diretamente ou instaurar-se-á o processo de execução ou nele prosse-
mediante delegação, e os dirigentes máximos das em- guir-se-á, pelo saldo.” (NR)
presas públicas federais, em conjunto com o dirigente
estatutário da área afeta ao assunto, poderão autori- Art. 45. O Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972 ,
zar a realização de acordos ou transações para preve- passa a vigorar acrescido do seguinte art. 14-A:
nir ou terminar litígios, inclusive os judiciais.
“Art. 14-A. No caso de determinação e exigência de
§ 1º Poderão ser criadas câmaras especializadas, com- créditos tributários da União cujo sujeito passivo seja
postas por servidores públicos ou empregados públicos órgão ou entidade de direito público da administração
efetivos, com o objetivo de analisar e formular propos- pública federal, a submissão do litígio à composição
tas de acordos ou transações. extrajudicial pela Advocacia-Geral da União é consi-
§ 3º Regulamento disporá sobre a forma de composi- derada reclamação, para fins do disposto no inciso III
ção das câmaras de que trata o § 1º, que deverão ter do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966
como integrante pelo menos um membro efetivo da - Código Tributário Nacional.”
Advocacia-Geral da União ou, no caso das empresas
públicas, um assistente jurídico ou ocupante de função Art. 46. A mediação poderá ser feita pela internet ou
equivalente. por outro meio de comunicação que permita a transa-
§ 4º Quando o litígio envolver valores superiores aos ção à distância, desde que as partes estejam de acordo.
fixados em regulamento, o acordo ou a transação, sob
pena de nulidade, dependerá de prévia e expressa au- Parágrafo único. É facultado à parte domiciliada no
torização do Advogado-Geral da União e do Ministro exterior submeter-se à mediação segundo as regras
de Estado a cuja área de competência estiver afeto o estabelecidas nesta Lei.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

assunto, ou ainda do Presidente da Câmara dos De-


putados, do Senado Federal, do Tribunal de Contas da Art. 47. Esta Lei entra em vigor após decorridos cento e
União, de Tribunal ou Conselho, ou do Procurador-Ge- oitenta dias de sua publicação oficial.
ral da República, no caso de interesse dos órgãos dos
Poderes Legislativo e Judiciário ou do Ministério Públi- Art. 48. Revoga-se o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de
co da União, excluídas as empresas públicas federais 10 de julho de 1997 .
não dependentes, que necessitarão apenas de prévia
e expressa autorização dos dirigentes de que trata o Brasília, 26 de junho de 2015; 194º da Independência
caput . e 127º da República.

88
DILMA ROUSSEFF VIII- do apregoador e do leiloeiro;
José Eduardo Cardozo IX- dos depositários;
Joaquim Vieira Ferreira Levy X- de expedição de certidão;
Nelson Barbosa XI- de expedição de ofício;
Luís Inácio Lucena Adams XII- de expedição de alvará;
XIII- de expedição de edital;
XIV- de expedição de formal de partilha;
LEI Nº 8.328/2015 (DISPÕE SOBRE O XV- de expedição de cartas de sentença, de arremata-
REGIMENTO DE CUSTAS E OUTRAS ção, de adjudicação e de alienação;
DESPESAS PROCESSUAIS). XVI- de desarquivamento de autos, inclusive os eletrô-
nicos;
XVII- de autenticação de peças processuais;
LEI Nº 8.328 DE 29 DE DEZEMBRO DE 2015 XVIII- de envio de documento por via eletrônica ou de
informática;
Dispõe sobre o Regimento de Custas e outras des- XIX- de requerimento de busca e apreensão;
pesas processuais no âmbito do Poder Judiciário do Es- XX- ato concertado no cumprimento de pedido de
tado do Pará. cooperação jurisdicional; (Inciso incluído pela Lei n°.
8.583/2017)
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ es- XXI- expedição de precatório requisitório. (Inciso inclu-
tatui e eu sanciono a seguinte Lei: ído pela Lei n°. 8.583/2017)
§ 1º. O ato previsto no inciso III é calculado sobre o
CAPÍTULO I valor total do cálculo realizado pelo contador do juí-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS zo, tendo como piso e teto os valores fixados na tabela
anexa.
Art. 1º. As custas processuais têm como fato gerador § 2º. O ato previsto no inciso IV é calculado sobre o
a prestação de serviços públicos de natureza foren- valor da causa de acordo com a tabela anexa.
se, nelas abrangidas a taxa judiciária, as custas judi- § 3º. Os atos previstos nos incisos VII e VIII são calcu-
ciais e as despesas processuais, sendo devidas pelas lados sobre o valor do bem, tendo como piso e teto os
partes no processamento dos feitos na Justiça Estadual valores fixados na tabela anexa, sendo que aqueles
e cobradas conforme o disposto nesta Lei, na legisla- previstos no inciso VIII somente serão devidos quan-
ção processual em vigor e de acordo com os valores do a praça ou leilão forem realizados por integrantes
estabelecidos na tabela anexa. do quadro de servidores do TJPA.
§ 1º. A receita proveniente do recolhimento das custas § 4º. Os atos previstos nos incisos XIV e XV são cal-
processuais é destinada integralmente ao Fundo de culados por documento expedido e sobre o valor do
Reaparelhamento do Judiciário – FRJ para o custeio patrimônio objeto da partilha, da sentença, da ar-
dos serviços afetos à prestação da atividade jurisdi- rematação, da adjudicação ou da alienação, tendo
cional, exceto as previstas no artigo 3º, inciso IX, e 4º, como teto o valor fixado na tabela anexa.
incisos IV, V e VI, desta lei. (Redação dada pela Lei § 5º. Não haverá cobrança de custas no pedido de
n°. 8.583/2017) desarquivamento, quando, no requerimento formula-
§ 2º. As custas processuais são cobradas de acordo do pela parte interessada, o juiz deferir o benefício da
com o ato praticado, sendo vedada a cobrança por justiça gratuita.
ato não previsto expressamente na legislação proces- § 6º. Os despachos-mandados são cobrados na forma
sual ou na tabela anexa, ainda que sob o fundamen- do inciso V.
to de interpretação analógica ou extensiva. § 7º. A expedição da carta rogatória deve ser acom-
Art. 2º. A taxa judiciária corresponde aos atos pra- panhada do recolhimento da despesa com remessa e
ticados pelos juízes, pelo Tribunal de Justiça e pela retorno ao Ministério da Justiça.
Turma Recursal. Constitui ato obrigatório e somente § 8º. Considera-se ato de envio de documento ou re-
pode ser cobrada uma única vez no mesmo pro- quisição por via eletrônica ou de informática, dentre
cesso ou recurso. outros, aqueles que utilizem mecanismos da Secreta-
Art. 3º. As custas judiciais decorrem da prática de ria da Receita Federal, das instituições bancárias e do
atos processuais a cargo dos serventuários da justi- cadastro de registro de veículos, via INFOJUD, BACEN-
ça, inclusive nos processos eletrônicos, e são cobra- JUD e RENAJUD.
das conforme os valores fixados na Tabela anexa, § 9º. O ato previsto no inciso XX somente poderá ser
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

compreendendo os seguintes atos: efetivado após o pagamento da respectiva custa pro-


I- do distribuidor; cessual, calculada de acordo com a quantidade de atos
II- do contador; a serem realizados, conforme valor fixado na Tabela
III- o contador à conta; anexa. (Incluído pela Lei n°. 8.583/2017)
IV- das secretarias judiciárias; § 10. Não há pagamento de novas custas judiciais
V- de expedição de mandado; para os casos de mandados desentranhados, mas
VI- de expedição de cartas: precatória, rogatória, de apenas das despesas de diligências de oficial de
ordem, de citação, de intimação e arbitral; justiça correspondente, devendo, porém, haver a
VII- do partidor; cobrança das custas correspondentes, caso haja a

89
confecção de novo mandado, mesmo que o despacho colhimento, devendo aquelas ser emitidas na Unidade
se refira a desentranhamento de mandado. (Incluído de Arrecadação - FRJ da Comarca onde o feito tramita.
pela Lei n°. 8.583/2017) Art. 9º. As custas processuais deverão ser discrimina-
Art. 4º. As despesas processuais consistem em cus- das em relatório de conta do processo e recolhidas
tos decorrentes de serviços prestados por terceiros mediante boleto bancário padrão FEBRABAN, que
não integrantes da relação processual, acionados poderá ser quitado em qualquer banco ou corres-
no desenvolvimento da atividade judiciária, sendo pondente bancário, vedada qualquer outra forma de
cobradas conforme os valores fixados na tabela anexa. recolhimento.
Compreendem os seguintes: § 1º. Comprova-se o pagamento de custas e despesas
I- publicações no DJE; processuais mediante a juntada do boleto bancário
II- serviços postais; correspondente, concomitantemente com o relatório
III- remessa e retorno de autos; de conta do processo, considerando que no relatório
IV- remuneração dos avaliadores e dos peritos; de conta do processo são registrados os números do
V- remuneração dos intérpretes e dos tradutores; documento e do boleto bancário a ser utilizado para
VI- diligências do oficial de justiça; pagamento.
§ 1º. A despesa prevista no inciso I é considerada § 2º. O relatório de conta do processo será emitido em
obrigatória e somente pode ser cobrada uma única duas vias, com a seguinte destinação:
vez no mesmo processo. I - 1ª via: usuário;
§2º. As despesas previstas nos incisos IV e V serão re- II - 2ª via: processo;
colhidas pela parte interessada mediante depósito § 3º. O prazo de validade do boleto bancário será de:
judicial na subconta do juízo onde tramita o feito, I- trinta dias, contados da data de emissão, ou até o úl-
ressalvada a hipótese prevista no art. 20 desta Lei. timo dia útil do ano corrente de emissão – o que ocor-
(Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017) rer primeiro -, nos casos de custas processuais iniciais.
Art. 5º. As diligências externas que impliquem custos II- trinta dias, contados da data de emissão, ou até
serão apresentadas ao juiz do feito, que determinará o o último dia do ano corrente de emissão - o que
depósito prévio dos valores pela parte que a requereu. ocorrer primeiro, nos casos de custas processuais inter-
Art. 6º. Consideram-se outros recolhimentos a favor do mediárias e preparo recursal
Poder Judiciário: III- seis meses, contados da data da emissão, nos casos
I- as multas impostas nos termos das leis processuais de custas processuais finais.
às partes e aos servidores do Poder Judiciário; § 4º - Os prazos de validade referidos no §3º des-
II- todas as demais despesas que não correspondam te artigo dizem respeito somente ao documento de
aos serviços relacionados no caput do art. 4º. arrecadação e não se sobrepõem, derrogam ou mo-
dificam o prazo processual a que está vinculado o
CAPÍTULO II recolhimento.
DA ARRECADAÇÃO § 5º. Para fins de distribuição de petição inicial e
interposição de recursos, o relatório de conta do
Art. 7º. A conta do processo será feita de acor-
processo e o respectivo boleto bancário somente po-
do com a Tabela anexa, a qual será interpretada
derão ser utilizados no mesmo exercício financeiro do
restritivamente.
pagamento.
Parágrafo único. A conta do processo deverá dis-
Art. 10. Sem prejuízo da verificação e homologação
criminar todos os atos praticados e os valores
definitiva do pagamento, a cargo do TJPA e que se
correspondentes.
fará com base nas informações do arquivo eletrô-
Art. 8º. O relatório de conta do processo e o bo-
nico disponibilizado pelo Banco conveniado, o inte-
leto bancário serão gerados eletronicamente nas
Unidades de Arrecadação da Comarca onde o feito ressado fará prova do recolhimento apresentando o
é processado ou na rede mundial de computadores relatório de conta do processo e o respectivo boleto:
através do Portal do Tribunal de Justiça do Estado I – Autenticado mecanicamente; ou
do Pará – TJPA, no endereço eletrônico http://www. II – Acompanhado do comprovante do pagamento
tjpa.jus.br. emitido pelo guichê de caixa ou pelos canais ele-
§ 1º. O cálculo das custas processuais iniciais, trônicos da instituição financeira.
intermediárias e finais realizado nas Unidades de § 1º. Na hipótese do inciso II, quando se tratar de
Arrecadação somente poderá ser elaborado median- agendamento, a prova do recolhimento deve ser fei-
te a apresentação dos autos do processo, salvo os ta pela apresentação conjunta do comprovante de
casos de custas intermediárias referentes ao desar- agendamento e do Relatório de Conta do Proces-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

quivamento de autos, mandado de busca de processo, so atualizado, emitido pela Unidade de Arrecadação
autenticação de peças processuais e certidões, exceto FRJ correspondente, em que a situação das custas
as certidões de trânsito em julgado. conste como quitada, observadas as conferências dos
§ 2º. Nenhuma Unidade de Arrecadação - FRJ é dados das partes e do número do boleto.
obrigada a enviar relatório de conta do processo e § 2º. Não se aplica o disposto no parágrafo an-
boleto bancário por e-mail. terior, quanto à obrigatoriedade da situação da
§ 3º. A indisponibilidade da emissão das custas e custa constar como quitada no Relatório de Conta do
despesas processuais na rede mundial de computa- Processo, nos casos em que o respectivo pagamento
dores não exime as partes da responsabilidade do re- for efetuado no mesmo dia da distribuição e/ou do

90
cumprimento do ato a ser praticado pelo Secretário § 2º Se a distribuição de que trata o §1° não for
de Câmara ou pelo Diretor de Secretaria, observada a feita, os vencidos responderão solidariamente pelas
ressalva feita no caput deste artigo. despesas e pelos honorários advocatícios. (Incluído pela
§ 3º Compete à parte comprovar o pagamento Lei n°. 8.583/2017)
de custas processuais recolhidas por meio de guia Art. 16. Se o processo terminar com fundamento em
manual ou recibo em período anterior à implantação desistência, em renúncia ou em reconhecimento do
das Unidades de Arrecadação FRJ. pedido, as custas processuais serão pagas pela parte
Art. 11. Nos dias em que não houver expediente ban- que desistiu, renunciou ou reconheceu.
cário, ou após o seu horário de encerramento, o juiz § 1º. Sendo parcial a desistência, a renúncia ou o reco-
de direito ou o desembargador competente poderá nhecimento, a responsabilidade pelas despesas e pe-
autorizar a realização de atos urgentes sem o reco- los honorários será proporcional à parcela reconhecida,
lhimento antecipado das custas processuais, para evi- à qual se renunciou ou da qual se desistiu.
tar a prescrição da ação ou a decadência do direito; § 2º. Havendo transação e nada tendo as partes dis-
posto quanto as custas, estas serão divididas igual-
CAPÍTULO III mente.
DO RECOLHIMENTO E DA CONTAGEM Art. 17. Nos procedimentos de jurisdição voluntária,
as custas processuais serão adiantadas pelo reque-
Seção I rente e rateadas entre os interessados.
Do Recolhimento Art. 18. Quando o processo ficar parado por mais de
um ano em razão de negligência das partes, estas pa-
Art. 12. Caberá às partes recolher antecipadamente as garão proporcionalmente as custas processuais finais.
custas processuais dos atos que requeiram ou de sua Art. 19. Vencido o assistido, o assistente será condena-
responsabilidade no processo, observado o disposto do a pagar as custas processuais, de acordo com os
nesta Lei. atos que tiver requerido no processo.
Art. 20. Nos casos de pagamento de honorário de peri-
§ 1º Cabe ao autor o recolhimento antecipado dos
to, tradutor e intérprete realizado pelo TJPA em razão
atos determinados de ofício pelo juiz ou a requeri-
da parte interessada ser beneficiária da assistência
mento do Ministério Público.
judiciária gratuita, deverá o sucumbente reembolsar
§ 2º A Fazenda Pública, nas execuções fiscais, deve
esta despesa no cálculo das custas processuais finais.
antecipar o pagamento das despesas com a dili-
gência dos oficiais de justiça.
Seção II
§ 3º As custas judiciais referentes aos atos do
Da Contagem nas Ações Cíveis
partidor, do contador a conta, do apregoador e do
leiloeiro devem ser recolhidas pela parte interessada Art. 21. Antes da distribuição da petição inicial, no
logo após a prática do respectivo ato, devendo, para primeiro e no segundo grau cível, é necessário o pa-
tanto, a Secretaria do Juízo encaminhar o processo à gamento das custas processuais iniciais, que compre-
Unidade de Arrecadação FRJ competente em até cinco endem os seguintes atos obrigatórios:
dias do recebimento dos autos e posterior intimação I- taxa judiciária;
da parte responsável a promover o recolhimento. II- atos do distribuidor;
Art. 13. As custas processuais dos atos adiados ou III- atos do contador;
repetidos ficarão a cargo da parte, do servidor do IV- atos da secretaria judiciária;
Poder Judiciário, do representante do Ministério Pú- V– expedição de mandados;
blico ou do magistrado que, sem justo motivo, hou- VI- publicações no DJE;
ver dado causa ao adiamento ou à repetição. VII– despesa com serviço de postagem.
Art. 14. Se cada litigante for, em parte, vencedor e ven- § 1º. A taxa judiciária é calculada no percentual de 1%
cido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles (um por cento) sobre o valor da causa nas ações de
as despesas. (Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017) 1º e 2º grau, tendo como piso e teto os valores fixados
§ 1º Se um litigante sucumbir em parte mínima na Tabela anexa;
do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas § 2º. Os mandados são considerados atos obrigatórios
despesas e pelos honorários advocatícios. (Incluído pela nas ações em que a citação inicial for necessária e,
Lei n°. 8.583/2017) quando realizada por correio, inclui a despesa com ser-
§ 2º Havendo sucumbência, caberá ao sucumbente viço de postagem.
o recolhimento das custas processuais finais, inde- § 3º. Nas ações em que a legislação exigir o cum-
pendentemente de condenação expressa. (Incluído pela primento da citação inicial por meio de oficial de
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Lei n°. 8.583/2017) justiça, a parte deve recolher o valor previsto no art. 4º,
Art. 15. Concorrendo diversos autores ou diversos inciso VI desta Lei.
réus, os vencidos respondem proporcionalmente pe- § 4º. Nos feitos em que figurar mais de um requeri-
las despesas e pelos honorários advocatícios. (Redação do, a expedição dos mandados deve ser cobrada em
dada pela Lei n°. 8.583/2017) quantitativo correspondente ao número de requeridos,
§ 1º A sentença deverá distribuir entre os litisconsortes, independentemente dos respectivos endereços.
de forma expressa, a responsabilidade proporcional § 5º. Nas ações de mandado de segurança, para a
pelo pagamento das verbas previstas no caput. (Incluí- expedição das notificações à autoridade coatora e ao
do pela Lei n°. 8.583/2017) órgão de representação judicial da pessoa jurídica

91
demandada, deve ser recolhido individualmente o § 2º. A unidade de arrecadação deve devolver os
valor equivalente às custas do mandado, expedindo- autos à Secretaria no prazo máximo de quinze dias
-se tantos mandados quantos forem o número de contados do recebimento. (Redação dada pela Lei n°.
autoridades coatoras e respectivos órgãos de represen- 8.583/2017)
tação judicial. § 3º. Na hipótese de pendência de pagamento das
§ 6º. A conversão das ações de Busca e Apreensão custas processuais, após a realização da conta de
e das ações Monitórias em executivas, não enseja a custas finais, o Diretor de Secretaria ou o Secretário de
cobrança de custas processuais iniciais, mas ape- Câmara do TJPA providenciará a intimação do autor
nas as demais custas que se fizerem necessárias para pagamento do respectivo boleto.
no andamento do processo. (Redação dada pela Lei § 4º. Sem prejuízo das cobranças previstas no art. 33,
n°. 8.583/2017) § 8º, o processamento dos recursos interpostos contra
§ 7º. Nas fases de cumprimento de sentença e decisões de primeiro e segundo graus não se sub-
de liquidação da sentença incidem apenas custas metem ao disposto no caput deste artigo. (Incluído
processuais intermediárias necessárias a satisfação do pela Lei n°. 8.583/2017)
crédito. § 5º. Na hipótese de determinação de inclusão, com
§ 8º. Na reconvenção, nas execuções de sentença con- urgência, do processo em pauta de julgamento, o Se-
tra a Fazenda Pública e nas impugnações, exceto as cretário de Câmara postergará o envio dos autos a
previstas no art. 41, inciso X, são devidas as custas Unidade de Arrecadação para os fins de que trata o
processuais previstas no caput, com exceção do inciso caput deste artigo, para após o encerramento do julga-
II.” (Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017) mento. (Incluído pela Lei n°. 8.583/2017)
§ 9º. O procedimento de alvará de autorização para Art. 27. No momento da prolação da sentença ou
pesquisa mineral deve ser distribuído, submetendo- se do acórdão as custas processuais devem estar devi-
ao recolhimento das custas processuais iniciais. damente quitadas, sob pena de responsabilidade do(s)
§ 10. Aplica-se o disposto no caput deste artigo magistrado(s), salvo os casos de assistência judiciária
aos casos de execução/cumprimento provisório de gratuita ou isenções legais.
sentença.
Art. 22. O cancelamento da distribuição não isenta o Seção III
autor do recolhimento das custas processuais, salvo Da Contagem nas Cartas Precatórias, Cartas Arbi-
o caso de indeferimento do pedido prévio de assistência trais e Cartas de Ordem
judiciária gratuita.
Art. 23. As custas processuais intermediárias são Art. 28. As cartas precatórias serão distribuídas me-
diante o pagamento prévio das custas processuais,
aquelas emitidas em razão de atos praticados no
ressalvados os casos de assistência judiciária, de car-
transcurso do processo, devendo ser recolhidas confor-
tas precatórias cuja finalidade seja de intimação de
me prevê o art. 12 desta Lei.
devedor para pagamento de custas e isenções legais.
Parágrafo único. É vedado ao diretor de secretaria
(Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017)
e ao secretário de Câmara praticar ato processual
§ 1º. Quando ambos os juízos deprecante e de-
sem a comprovação do recolhimento prévio das
precado pertencerem à jurisdição do TJPA, a carta
respectivas custas, sob pena de responsabilidade,
precatória somente será expedida após o interessado
ressalvados os casos previstos no §3º do art. 12 des-
comprovar o recolhimento tanto das custas processu-
ta Lei, determinação judicial expressa, isenção legal, ais referentes à expedição da carta precatória no
beneficiário da assistência judiciária ou ato de ofício juízo deprecante, quanto as referentes à distribui-
destinado a intimar a parte para recolher as custas ção da mesma no juízo deprecado
processuais. § 2º. As cartas precatórias renovadas não se sub-
Art. 24. A alteração do valor da causa obriga a ne- metem a novo recolhimento de custas processuais
cessária complementação da contagem das custas iniciais, devendo ser recolhidas apenas as respectivas
processuais, em termos de decesso ou majoração, para custas intermediárias.
efeito de compensação, devolução ou cobrança. § 3º. Nas cartas precatórias itinerantes é obrigatório o
Art. 25. Para efeito de cálculo das custas processuais recolhimento das custas processuais prevista no caput
são considerados os valores constantes da tabela vi- em todas as comarcas em que esta for distribuída.
gente na data do efetivo pagamento. Art. 29. As custas processuais referentes à distribuição
Art. 26. O Diretor de Secretaria, antes da conclusão da carta precatória compreendem os seguintes atos:
dos autos para sentença, ou o Secretário de Câ- I– taxa judiciária;
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

mara, antes da publicação da pauta de julgamento, II– atos do distribuidor;


sob pena de responsabilidade, ressalvadas as hipóte- III– expedição de mandados;
ses de assistência judiciária e isenções legais, deverá IV– despesa com serviço de postagem
tramitar o processo à unidade de arrecadação com- § 1º. A cobrança da taxa judiciária se dará pelo valor
petente para que esta elabore a conta de custas finais mínimo.
ou certifique a regularidade do recolhimento das cus- § 2º. Nas ações em que a legislação exigir o cum-
tas processuais relativas aos atos até então praticados. primento da citação inicial por meio de oficial de
§ 1º. O cálculo das custas finais deve ser realizado, ten- justiça, a parte deve recolher o valor previsto no art. 4º,
do como parâmetro o valor da causa atualizado. inciso VI desta Lei.

92
§ 3º. É devido o recolhimento prévio das custas inter- § 6º. O preparo efetuado por um recorrente não apro-
mediárias referente aos atos processuais porventura veita aos demais, inclusive quanto à despesa com re-
praticados no juízo deprecado e que não tenham sido messa e retorno de autos, salvo se for único e represen-
recolhidos no ato da distribuição da carta precatória. tado pelo mesmo advogado.
Art. 30. Constatada a ausência de pagamento § 7º. Na hipótese de recolhimento a menor da des-
das custas referidas no art. 29, deve o Diretor de pesa de remessa e retorno dos autos, o interessado
Secretaria do juízo deprecado informar ao juízo deverá ser intimado para recolher o seu complemento,
deprecante qual a Vara que a carta precatória foi sob pena de deserção.
distribuída, o número recebido na Comarca depre- § 8º. No preparo do recurso de apelação cível, agra-
cada, bem como encaminhar os respectivos boleto vo de instrumento e apelação em ação penal priva-
bancário e relatório de conta do processo, para inti- da não estão computados os valores destinados a
mação da parte para providenciar o seu pagamento, cumprimento de atos que necessitem pagamento de
exceto as isenções previstas em lei. custas intermediárias para seu cumprimento.
Art. 31. Decorrido o prazo de quinze dias sem § 9º. Não cabe devolução de preparo de recurso,
a efetivação do recolhimento, o juízo depreca- após protocolizado, em virtude de desistência do
do devolverá a carta precatória ao juízo de origem, recorrente.
constando no ofício o motivo da devolução e o valor § 10. Aplicam-se ao Agravo Interno e ao Recurso
das custas e despesas devidas caso haja novo encami- em sentido estrito as disposições contidas no pre-
nhamento. sente artigo, excetuando a cobrança do ato previsto
Art. 32. Aplicam-se à carta de ordem e à carta arbitral no inciso II do §1º para a interposição do Agravo
as disposições contidas nesta Seção. Interno. (Incluído pela Lei n°. 8.583/2017)

Seção IV Seção V
Da Contagem nos Recursos Cíveis e Criminais Da Contagem nas Ações Penais

Art. 33. No ato da interposição do recurso, o recor- Art. 34. Nas ações penais públicas ou dependentes de
rente deve juntar o comprovante do recolhimento do representação, as custas processuais são devidas pelo
respectivo preparo no prazo fixado na legislação condenado, inclusive nos processos do Juizado Espe-
processual, salvo os casos de assistência judiciária cial Criminal, conforme os valores previstos na Tabela
gratuita ou isenções legais. anexa a esta Lei, ressalvada a hipótese do réu pobre.
§ 1º. No recurso inominado do juizado especial, no Parágrafo único. As custas processuais finais nas
agravo de instrumento, na apelação cível e criminal ações penais previstas no caput compreenderão a
e no recurso adesivo, o preparo consiste no reco- taxa judiciária, as custas judiciais, as despesas proces-
lhimento dos seguintes atos, conforme os valores suais e outros recolhimentos efetivamente realizados
no processo, conforme os valores previstos na Tabela
fixados na Tabela anexa:
anexa.
I- taxa judiciária;
Art. 35. Aplica-se aos Mandados de Segurança im-
II- atos do distribuidor;
petrados contra atos dos juízos criminais, às ações
III - atos do contador;
penais privadas, notificações, interpelações e procedi-
IV- atos da secretaria judiciária;
mentos cautelares criminais, o previsto nos arts. 21,
V- despesa com remessa e retorno dos autos
23 e 27 desta Lei, devendo as custas iniciais serem
§ 2º. O preparo do recurso inominado compreen-
recolhidas antecipadamente, sendo cobrados todos
derá todas as custas e despesas dispensadas em
os atos obrigatórios, conforme os valores previstos na
primeiro grau de jurisdição, além das previstas no Tabela anexa. (Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017)
inciso I, sendo calculado em relatório de conta do Parágrafo único. A cobrança da taxa judiciária e dos
processo e boleto únicos. atos da Secretaria Judiciária se dará pelo valor míni-
§ 3º. No preparo da apelação e do recurso adesivo, a mo. (Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017)
taxa judiciária será cobrada no percentual de 1% (um
por cento) sobre o valor da condenação, se esta for Seção VI
líquida; sobre o valor fixado pelo juiz nas condena- Da Contagem nos Juizados Especiais
ções ilíquidas e sobre o valor atualizado da causa, nos
demais casos. Art. 36. As custas processuais nos Juizados Especiais
§ 4º. No preparo do recurso inominado, do agra- Cíveis, conforme os valores previstos na Tabela anexa,
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

vo de instrumento e da apelação criminal, a taxa são devidas nas seguintes hipóteses:


judiciária será cobrada com valor fixo, conforme Tabela I- preparo do recurso inominado, que compreenderá
anexa. todas as despesas, inclusive as dispensadas em pri-
§ 5º. São isentos do pagamento da despesa com meiro grau;
remessa e retorno de autos os recursos dirigidos ao II- extinção do processo motivada pelo não compareci-
Tribunal de Justiça do Estado do Pará e à Turma mento do autor;
Recursal interpostos em processos que tramitam na III- quando reconhecida a litigância de má-fé, tanto
comarca da capital, assim como nas hipóteses de pro- no processo de conhecimento quanto no de exe-
cessos eletrônicos. cução;

93
IV- quando os embargos do devedor forem julgados do Brasil – OAB, nem eximem as pessoas jurídicas
improcedentes; referidas no inciso I, quando vencidas, da obrigação de
V- quando se tratar de execução de sentença que reembolsar as taxas, custas e despesas judiciais ante-
tenha sido objeto de recurso desprovido do deve- cipadas pela parte vencedora. (Redação dada pela Lei
dor; n°. 8.583/2017)
VI- quando houver condenação na Turma Recursal. Art. 41. Não há incidência de custas processuais:
Art. 37. As custas processuais nos Juizados Especiais I- nos processos de Habeas Corpus e Habeas Data;
Criminais, conforme os valores previstos na Tabela II- nos processos de competência da justiça da infância
anexa, são devidas nas hipóteses de: e juventude, ressalvada a litigância de má-fé, salvo as
I- descumprimento da composição civil; hipóteses que não envolvam interesses de crianças e
II- decisão condenatória. adolescentes;
III- ação penal privada; (Inciso incluído pela Lei n°. III- no Agravo Regimental;
8.583/2017) IV- nos Embargos de Declaração;
IV- apelação em ação penal privada; (Inciso incluído V- nos recursos criminais, exceto na Apelação da Ação
pela Lei n°. 8.583/2017) Penal Privada e no Recurso em Sentido Estrito; (Reda-
V- notificações, interpelações, e procedimentos caute- ção dada pela Lei n°. 8.583/2017)
lares no âmbito da ação penal privada. (Inciso inclu- VI- nos conflitos de jurisdição, de competência e de
ído pela Lei n°. 8.583/2017) atribuições suscitados por autoridade judiciária ou
Art. 38. As custas processuais nos feitos de competência pelo Ministério Público;
das Turmas Recursais dos Juizados Especiais, confor- VII- nos atos de comunicação entre magistrados e en-
me os valores previstos na Tabela anexa, são devidas tre estes e os demais setores do TJPA;
nas hipóteses de: VIII- nos atos necessários para a inscrição do crédito
I- Agravo de instrumento interposto contra decisões na dívida ativa;
cautelares ou antecipatórias proferidas nos Juiza- IX- nos casos de atos retificados ou renovados em de-
dos Especiais da Fazenda Pública; corrência de erro ou omissão do serventuário;
II- Conflito de Competência, quando suscitado por uma X – na contestação, na arguição de incompetência, nas
das partes; impugnações ao valor da causa e à assistência judici-
III- Correição Parcial; ária; (Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017)
IV- Mandado de Segurança; XI- nos alvarás para levantamento de honorários do
V- Pedido de Uniformização de Jurisprudência. avaliador, do perito, do intérprete, do tradutor e do
VI- Restauração de Autos. advogado;
Art. 39. Nos Juizados Especiais Cíveis, Criminais e XII- nos atos que visam a atestar o exercício de profis-
Fazendários são devidas as custas judiciais anteci- são ou concurso público;
padas nos casos de desarquivamento de processos, XIII- nas certidões negativas cíveis e criminais;
expedição de certidões e autenticação de cópias, XIV- na redistribuição do feito para outro juízo no Es-
quando requeridos por terceiros interessados e por tado do Pará, em virtude do declínio de competência;
litigantes, sendo que estes somente se submeterão XV- no declínio de competência do primeiro para o se-
ao recolhimento caso requeiram a prática dos re- gundo grau e vice-versa;
feridos atos após o trânsito em julgado, ressalvada XVI- nas arguições de impedimento e de suspeição
assistência judiciária gratuita e as isenções legais. reconhecidas pelo juiz. (Redação dada pela Lei n°.
8.583/2017)
CAPÍTULO IV Art. 42. Não há incidência de custas processuais iniciais:
DAS ISENÇÕES I- nos embargos monitórios;
II- na remoção de inventariante;
Art. 40. São isentos do pagamento das custas proces-
III - na habilitação de crédito, salvo se retardatária
suais:
ou se for habilitação de crédito em Inventário, sendo
I- a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal,
aplicável para estes as custas processuais previstas
suas autarquias e fundações públicas;
no art. 21, 23 e 27. (Redação dada pela Lei n°.
II- o Ministério Público;
8.583/2017)
III- a Defensoria Pública;
IV- o beneficiário da assistência judiciária gratuita; IV- no cumprimento de sentença, excetuando o provi-
V- os autores, na Ação Popular, na Ação Civil Pública sório;
e na ação coletiva de que trata o Código de Defesa Art. 43. É vedada a isenção fundada em hipótese não
do Consumidor, ressalvada a hipótese de litigância de prevista nesta Lei, sob pena de responsabilidade.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

má-fé;
VI- o réu pobre nos feitos criminais; CAPÍTULO V
VII- o acidentado, nas ações de acidente do trabalho; DA ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA
VIII- as vítimas nos processos de competência do Jui-
zado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mu- Art. 44. Os cálculos de atualização monetária são
lher; elaborados pelo contador do juízo, que deve pro-
Parágrafo único. As isenções previstas neste artigo ceder à apuração dos valores determinados em des-
não alcançam as entidades fiscalizadoras do exer- pacho, sentença ou acórdão, incidindo correção mo-
cício profissional, exceto a Ordem dos Advogados netária, juros de mora, multa contratual, honorários

94
profissionais e demais condenações acessórias even- § 7º. A certidão de crédito conterá:
tualmente previstas, devendo ser indicados os índices I- o nome da parte condenada ao pagamento das
e a metodologia de cálculos utilizados. custas processuais e dos corresponsáveis, se houver,
Parágrafo único. O cálculo poderá ser impugnado pe- com as respectivas qualificações e identificações (na-
las partes e decidido pelo juiz do feito. cionalidade, naturalidade, cargo, emprego, números
Art. 45. O contador do juízo procederá ao cálculo no no Cadastro de Pessoa Física - CPF e da Carteira
prazo determinado pelo juiz do feito, indicando as de Identidade, se pessoa física, ou no Cadastro
parcelas, os percentuais, as tabelas aplicáveis e os Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ, se pessoa jurídica);
esclarecimentos requisitados pelo juiz. II- o valor originário das custas pendentes de pa-
§ 1º A parte obrigada ao pagamento terá o prazo de gamento, bem como o termo inicial e a forma de
cinco dias após a publicação do cálculo para liquidar calcular os juros de mora e demais encargos previstos
a conta perante a secretaria judicial em que os autos em lei;
estiverem tramitando. III- a origem, a natureza do crédito e o fundamento
§ 2º O valor apurado no cálculo deverá ser recolhido legal da dívida;
mediante depósito judicial e posteriormente levanta- IV- a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à
do mediante alvará judicial. atualização monetária, bem como o respectivo funda-
mento legal e o termo inicial para o cálculo;
CAPÍTULO VI V- a data e o número do processo ou expediente de
DA DÍVIDA ATIVA que se originou o crédito para inscrição no registro de
Dívida Ativa.
Art. 46. O magistrado, ao proferir decisão com ou § 8º. A SEPLAN deve encaminhar à Secretaria
sem resolução de mérito, havendo condenação em de Estado de Fazenda a certidão de crédito para
custas processuais, deve inserir na parte dispositiva inscrição em dívida ativa do Estado, a partir da
expressa advertência de que na hipótese de não qual o pagamento do débito somente poderá ser
pagamento das custas pelo condenado no prazo le- efetuado na Secretaria de Estado da Fazenda. (Redação
gal, o crédito correspondente será encaminhado para dada pela Lei n°. 8.583/2017)
inscrição em dívida ativa, e sofrerá atualização mo- Art. 47. O juiz de direito deve realizar ao final de
netária e incidência dos demais encargos legais pela cada exercício, o levantamento dos processos em
Secretaria de Estado da Fazenda. (Redação dada pela tramitação na vara em que preside, a fim de identi-
Lei n°. 8.583/2017) ficar pendências no recolhimento de custas, despesas
§ 1º. São válidas as intimações feitas às partes para e outros recolhimentos, intimando as partes para
o endereço residencial ou profissional informado na o pagamento no prazo de trinta dias, sob pena de
petição inicial, contestação, embargos ou outras peti- abandono da causa.
ções e comunicações constantes dos autos, bem como Art. 48. O Tribunal de Justiça do Estado do Pará po-
as feitas pelo Diário de Justiça ou no ambiente virtual
derá criar, no âmbito da Coordenadoria Geral de
dos processos eletrônicos, salvo expressa determina-
Arrecadação, vinculada à Secretaria de Planejamen-
ção legal em contrário.
to, Coordenação e Finanças, o serviço de cobrança
§ 2º. Constatada a insuficiência de informações da par-
administrativa das custas processuais e outros reco-
te devedora, tais como ausência de CPF ou CNPJ e/ou
lhimentos, visando a recuperação das receitas pen-
de domicílio ou residência, que impeçam a expedição
dentes de pagamento, antes do envio da certidão de
da certidão para a inscrição do crédito na dívida
crédito à Secretaria de Estado da Fazenda.
ativa do Estado, o processo pode ser arquivado, sem
prejuízo do cálculo das custas finais, não ocorrendo
encaminhamento da certidão referida no caput deste CAPÍTULO VII
artigo para a inscrição enquanto não houver a pres- DA FISCALIZAÇÃO E PENALIDADES
tação de informações necessárias à inscrição. (Redação
dada pela Lei n°. 8.583/2017) Art. 49. A fiscalização referente à cobrança de cus-
§ 3º. Na inexistência de custas ou despesas processuais tas processuais e outros recolhimentos de que trata a
a recolher, o processo poderá ser imediatamente ar- presente Lei será feita pelas Corregedorias de Justiça,
quivado. pelos juízes corregedores, pelos juízes de direito, de
§ 4º. Existindo custas a recolher, deverá ser providen- ofício ou a requerimento do Ministério Público ou de
ciada a intimação do devedor para pagamento do interessados, sem prejuízo da atuação dos Analistas
débito no prazo de quinze dias, sob pena de inscrição Judiciários – Fiscal de Arrecadação, por meio da Coor-
do valor em Dívida Ativa do Estado. denadoria Geral de Arrecadação.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

§ 5º. Ocorrendo o pagamento no prazo, os compro- § 1º. Comprovada a fraude na quitação de custas
vantes serão anexados ao processo para fins de baixa processuais, por meio de falsificação, adulteração ou
e arquivamento dos autos. outro meio fraudulento nos boletos bancários ou
§ 6º. Inexistindo pagamento, será expedida certidão nos comprovantes de pagamento, a parte que deu
de crédito, que será encaminhada à Secretaria de causa ao dano, além da regularização da quitação
Planejamento, Coordenação e Finanças – SEPLAN, do das custas, estará sujeita à multa de 20% (vinte por
Tribunal de Justiça do Estado do Pará, devendo ser cento) sobre o valor devido, sem prejuízo das sanções
providenciado em seguida o arquivamento do proces- penas cabíveis. (Incluído pela Lei n°. 8.583/2017)
so. (Redação dada pela Lei n°. 8.583/2017)

95
§ 2º. A apresentação de documentos que não com- solicitados pela parte condenada, fica condicionado
provem a quitação dos boletos bancários das custas à quitação das custas finais, além do pagamento dos
processuais caracteriza a má fé da parte, sujeitando, atos requeridos.
por apreciação e deliberação do juízo, ao pagamento Art. 57. As dúvidas suscitadas sobre a aplicação da
das custas, além da multa de 20% (vinte por cento), Tabela de Custas Processuais e outros recolhimentos,
sobre o valor devido. (Incluído pela Lei n°. 8.583/2017) assim como os casos omissos, serão solucionadas pelo
Art. 50. É vedado ao servidor da justiça e ao magistra- juiz do feito, que poderá remetê- las à Corregedoria
do receber custas processuais e outros recolhimentos de Justiça a qual estiver vinculado.
a qualquer título, sob pena de aplicação das sanções Art. 58. Compete às Corregedorias de Justiça orientar
legais. e regulamentar de forma conjunta o disposto nesta
Art. 51. Os servidores ou magistrados do Poder Judi- lei.
ciário que cobrarem custas processuais e outros re- Art. 59. No curso do processo cabe aos magistrados
colhimentos indevidos ou excessivos serão punidos na de 1º e 2º grau acompanhar o cumprimento das
forma da lei. disposições desta Lei e da Tabela anexa.
§ 1º. O prejudicado pode reclamar ao juiz do feito ou Art. 60. As disposições da presente Lei terão imediata
à Corregedoria de Justiça competente que, ouvido o aplicação aos atos processuais ainda não pagos.
reclamado no prazo de cinco dias, decidirá sobre o pe- Art. 61. O valor da taxa judiciária, das custas ju-
dido. diciais e das despesas processuais será atualizado
§ 2º. Da decisão cabe recurso às Corregedorias de anualmente, tendo por base o Índice Nacional de Pre-
Justiça ou ao Conselho da Magistratura, respectiva- ços ao Consumidor (INPC) do Instituto Brasileiro de
mente, com efeito suspensivo, dentro do prazo de cinco Geografia e Estatística (IBGE), ou outro índice que
dias contados da data de sua ciência. vier a substituí-lo, por ato da Presidência do Tribunal
de Justiça do Estado.
CAPÍTULO VIII Art. 62. Esta Lei entrará em vigor no dia 1º de janeiro
DISPOSIÇÕES FINAIS de 2016.
Art. 63. Ficam revogadas a Lei nº 5.738, de 16 de
Art. 52. Independentemente do pagamento de custas fevereiro de 1993, e a Lei nº 7.759, de 11 de de-
processuais e outros recolhimentos, os Diretores de zembro de 2013.
Secretaria e Secretários de Câmara fornecerão docu-
mento, certidão, informação, cópia ou traslado que PALÁCIO DO GOVERNO, 29 de dezembro de 2015.
for requisitado pela autoridade judiciária, órgão do Mi-
nistério Público ou representante da Fazenda Estadu- SIMÃO JATENE
al, com expressa indicação, no corpo do documento, da Governador do Estado
autoridade que o requisitou.
Art. 53. É obrigatória, nas unidades judiciárias, a expo- NOTAS DA TABELA I
sição permanente, de forma visível e em local de fácil
acesso ao público, de exemplar desta Lei e da Tabela Nota 1: A taxa judiciária, os atos do distribuidor, do
de custas processuais e outros recolhimentos. contador, das secretarias judiciais e as publicações no
Art. 54. Nas custas processuais e outros recolhimen- DJE, são cobrados uma única vez em cada processo.
tos pagos indevidamente, o pedido de restituição
será dirigido ao juiz do processo que, após decisão, Nota 2: A custa de expedição de mandado para fins
oficiará à Coordenadoria Geral de Arrecadação para de citação/intimação é calculada de acordo com a
a efetiva devolução dos valores. quantidade de pessoas a serem citadas e/ou inti-
§ 1º. Nos casos de custas processuais iniciais recolhidas madas, independente do endereço, inclusive nos
antes da distribuição e sem que esta tenha sido efeti- casos de cumprimento da carta Precatória e da
vada, o requerimento deverá ser encaminhado direta- carta de ordem.
mente à Coordenadoria Geral de Arrecadação.
§ 2º. A extinção de processo sem resolução de mérito, Nota 3: Os atos de comunicação, em regra, são cal-
por qualquer motivo, não dá direito a devolução de culados com base nas despesas com serviços pos-
custas pagas no processo. tais ou com diligências do oficial de justiça.
§ 3º. O deferimento de justiça gratuita posterior ao
pagamento de custas relativas a atos já praticados Nota 4: No cálculo da carta precatória, carta de or-
não dá direito à devolução de custas anteriormente dem e carta arbitral, devem estar incluídos tantos
pagas. mandados quantas forem as diligências necessá-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Art. 55. O juiz do feito, mediante certidão circunstan- rias para seu cumprimento.
ciada do Oficial de Justiça que atestar o cumprimento
de atos em quantidade superior à constante do man- Nota 5: O valor da despesa com Porte de Remessa
dado, deverá, após análise, determinar a complemen- e de Retorno dos autos é estabelecido de acordo
tação das custas e das despesas das diligências não com a tabela da Empresa Brasileira de Correios
recolhidas previamente. e Telégrafos - EBCT, válida para o envio de cor-
Art. 56. Constatado o não pagamento das cus- respondência no território do Estado do Pará,
tas finais em autos desarquivados, o atendimento podendo ser alterado quando novos valores forem
de requerimento e/ou a expedição de documentos estabelecidos pela EBCT.

96
Nota 6: Além da taxa judiciária e das despesas pro- Nota 17: Não será restituído o valor das diligências
cessuais, nos processos criminais são cobradas as dos Oficiais de Justiça que resultarem em negativas
custas judiciais previstas nos itens 2.1,2.2,2.4,2.5,2. pelo fato das informações fornecidas pelas partes
6,2.10,2.13,2.14 e 2.15 da Tabela I. restarem incorretas ou incompletas.

Nota 7: Nas ações penais privadas, a taxa, as custas Nota 18: As diligências dos Oficiais de Justiça não
judiciais e as despesas processuais são antecipa- previstas nesta Tabela, serão arbitradas por decisão
das pelo querelante e nas ações penais públicas do Juízo do feito que determinou a realização do
serão cobradas do réu após a sentença condena- ato.
tória.
Nota 19: Será cobrada uma única despesa de dili-
Nota 8: Incide cobrança de custas judiciais sobre gências de Oficial de Justiça nos casos em que o
as certidões expedidas pelo setor de protocolo cumprimento de vários atos ocorrerem no mesmo
e Central de Distribuição. dia, hora e local, em sentido estrito, e em relação a
uma mesma pessoa.
Nota 9: Os processos redistribuídos originários de uma
das Comarcas do Estado do Pará não pagam novas Nota 20: O Oficial de Justiça poderá requerer a
custas caso já tenham sido pagas anteriormente. complementação das despesas de diligências,
mediante certidão circunstanciada, quando cons-
Nota 10: No recebimento de processos remeti- tatar a existência de quantidade maior de pessoas
dos de outros Tribunais da Federação, haverá a serem citadas ou intimadas do que a inicialmen-
incidência da taxa, custas e despesas processuais te prevista e/ou nos casos em que a identificação
previstas nesta Lei, intimando-se a parte para o seu dos réus não está previamente definida.
pagamento.
Nota 21: Nos casos em que o cumprimento da citação
Nota 11: Submetem-se a pagamento de custas iniciais
se der por hora certa, o valor da diligência de Oficial
na forma do art.21 desta Lei, os seguintes procedi-
de Justiça será acrescido em 50% (cinquenta por
mentos:
cento) a ser recolhido nas custas finais.
I- Ação Rescisória, Revisão Criminal, Mandado de Se-
gurança e Reclamação ajuizados perante o Tribunal;
Nota 22: Nos casos de cumprimento de mandado de
II - Ações Cautelares, preparatórias ou incidentais;
intimação da parte autora para se manifestar sobre
III - Reconvenção, Oposição e Restauração de Autos;
interesse no prosseguimento de feito e/ou para
Nota 12: Dispensa-se a cobrança de custas de auten- pagamento de custas, as diligências de Oficial de
ticação de peças processuais em até 4 (quatro) fo- Justiça serão cobradas apenas no cálculo das cus-
lhas. tas finais. (Incluída pela Lei n°. 8.583/2017)

Nota 13: Em caso de condenação nos juizados espe- Nota 23: Nos casos de mandados expedidos em
ciais criminais e nas ações penais públicas, as cus- cumprimento de pedido de cooperação jurisdi-
tas processuais serão cobradas conforme o previs- cional, as custas do mandado e as despesas de
to na tabela I. diligências de Oficial de Justiça devem ser pagas
no juízo solicitante. (Incluída dada pela Lei n°.
Nota 14: Não há cobrança de custas para a publi- 8.583/2017)
cação de edital no “Diário de Justiça Eletrônico”.
Neste caso, são devidas apenas as custas inter- Nota 24: A não apreciação de pedido de justiça gra-
mediárias correspondentes à confecção do edital tuita não significa deferimento tácito. Até o defe-
pela secretaria do juízo, ficando a cargo das par- rimento do pedido de gratuidade, a parte soli-
tes o pagamento das despesas necessárias à publi- citante não está exonerada do recolhimento das
cação pela imprensa local, quando assim o exigir a custas processuais, o que prescinde de intimação.
legislação processual. (Incluída pela Lei n°. 8.583/2017)

Nota 15: O cálculo e o recolhimento da despesa com Nota 25: Deferido o parcelamento das custas cabe-
as Diligência dos Oficiais de Justiça somente serão rá ao Diretor de Secretaria/Secretário de Câmara,
efetuados após o provimento judicial que determi- antes da prática de cada ato processual, verificar
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

nar a sua realização. o efetivo pagamento das parcelas vencidas, e em


caso de inadimplência, certificar nos autos e os
Nota 16: As diligências dos Oficiais de Justiça serão remetê-los ao juizo para conhecimento e delibera-
cobradas com base no quantitativo de atos en- ção.” (Incluída pela Lei n°. 8.583/2017)
cerrados no mandado judicial expedido, obede-
cida a classificação e os valores previstos no item
3.6 desta Tabela, sendo que o valor recolhido al-
cança as despesas com seu cumprimento, contrafé
e outros atos inerentes.

97
NOTA DA TABELA II Súmula 488 – O § 2º do art. 6º da Lei n. 9.469/1997,
que obriga à repartição dos honorários advocatícios,
Nota 1: O Porte de Remessa e de Retorno não se- é inaplicável a acordos ou transações celebrados em
rão cobrados para os recursos interpostos contra data anterior à sua vigência.
decisões de processos da capital.
Súmula 517 – São devidos honorários advocatícios no
Nota 2: O preparo do recurso do juizado especial cumprimento de sentença, haja ou não impugnação,
cível deve compreender, além das custas previstas depois de escoado o prazo para pagamento voluntá-
nesta Tabela, as custas processuais dispensadas rio, que se inicia após a intimação do advogado da
em 1º Grau de Jurisdição, previstas na Tabela I. parte executada.

Nota 3: Nos juizados especiais, somente é cobrado Súmula 519 – Na hipótese de rejeição da impugnação
o preparo do agravo de instrumento nos feitos de ao cumprimento de sentença, não são cabíveis hono-
competência Fazendária rários advocatícios.

NOTA DA TABELA III – TURMA RECURSAL CITAÇÃO


Súmula 106 – Proposta a ação no prazo fixado para
Nota 1: Submetem-se ao pagamento de custas o seu exercício, a demora na citação, por motivos ine-
iniciais na forma do art. 21 desta lei as ações rentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhi-
de mandado de segurança impetradas perante a mento da arguição de prescrição ou decadência.
Turma Recursal
Súmula 429 – A citação postal, quando autorizada por
lei, exige o aviso de recebimento.
SÚMULAS DO STF E DO STJ.
COMPETÊNCIA
Súmula 1 – O foro do domicílio ou da residência do
As Súmulas estão acima da jurisprudência, trazendo alimentando é o competente para a ação de inves-
a interpretação pacífica ou majoritária seguida por um tigação de paternidade, quando cumulada com a de
Tribunal sobre um tema específico, utilizando como base alimentos.
um conjunto de casos parecidos.
Súmula 3 – Compete ao Tribunal Regional Federal di-
PRINCIPAIS SÚMULAS – STJ rimir conflito de competência verificado, na respectiva
região, entre juiz federal e juiz estadual investido de
PARTES E PROCURADORES Jurisdição Federal.
Súmula 506 – A Anatel não é parte legítima nas de-
mandas entre a concessionária e o usuário de telefo- Súmula 4 – Compete a Justiça Estadual julgar causa
nia decorrentes de relação contratual. decorrente do processo eleitoral sindical.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Súmula 10 – Instalada a Junta de Conciliação e Jul-


Súmula 14 – Arbitrados os honorários advocatícios em gamento, cessa a competência do juiz de direito em
percentual sobre o valor da causa, a correção monetá- matéria trabalhista, inclusive para a execução das
ria incide a partir do respectivo ajuizamento. sentenças por ele proferidas.

Súmula 201 – Os honorários advocatícios não podem Súmula 11 – A presença da União ou de qualquer de
ser fixados em salários-mínimos. seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta
a competência do foro da situação do imóvel.
Súmula 303 – Em embargos de terceiro, quem deu
causa à constrição indevida deve arcar com os hono- Súmula 15 – Compete a Justiça Estadual processar e
rários advocatícios. julgar os litígios decorrentes de acidente do trabalho.

Súmula 345 – São devidos honorários advocatícios Súmula 22 – Não há conflito de competência entre
pela Fazenda Pública nas execuções individuais de o Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada do mesmo
sentença proferida em ações coletivas, ainda que não Estado-membro.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

embargadas.
Súmula 32 – Compete a Justiça Federal processar jus-
Súmula 421 – Os honorários advocatícios não são de- tificações judiciais destinadas a instruir pedidos pe-
vidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a rante entidades que nela tem exclusividade de foro,
pessoa jurídica de direito público à qual pertença. ressalvada a aplicação do art. 15, II da Lei 5010/66.

Súmula 453 – Os honorários sucumbenciais, quando Súmula 33 – A incompetência relativa não pode ser
omitidos em decisão transitada em julgado, não po- declarada de ofício.
dem ser cobrados em execução ou em ação própria.

98
Súmula 34 – Compete a Justiça Estadual processar e Súmula 173 – Compete a Justiça Federal processar
julgar causa relativa a mensalidade escolar, cobrada e julgar o pedido de reintegração em cargo público
por estabelecimento particular de ensino. federal, ainda que o servidor tenha sido dispensado
antes da instituição do Regime Jurídico Único.
Súmula 38 – Compete a Justiça Estadual Comum, na vi-
gência da Constituição de 1988, o processo por contraven- Súmula 177 – O Superior Tribunal de Justiça é in-
ção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, competente para processar e julgar, originariamente,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades. mandado de segurança contra ato de órgão colegiado
presidido por Ministro de Estado.
Súmula 41 – O Superior Tribunal de Justiça não tem
competência para processar e julgar, originariamente, Súmula 180 – Na lide trabalhista, compete ao Tribunal
mandado de segurança contra ato de outros Tribunais Regional do Trabalho dirimir conflito de competência
ou dos respectivos órgãos. verificado, na respectiva região, entre juiz estadual e
junta de conciliação e julgamento.
Súmula 42 – Compete a Justiça Comum Estadual pro-
cessar e julgar as causas cíveis em que é parte socie- Súmula 206 – A existência de vara privativa, instituída
dade de economia mista e os crimes praticados em por lei estadual, não altera a competência territorial
seu detrimento. resultante das leis de processo.

Súmula 55 – Tribunal Regional Federal não é compe- Súmula 218 – Compete à Justiça dos Estados proces-
tente para julgar recurso de decisão proferida por juiz sar e julgar ação de servidor estadual decorrente de
estadual não investido de Jurisdição Federal. direitos e vantagens estatutárias no exercício de cargo
em comissão.
Súmula 57 – Compete a Justiça Comum Estadual
processar e julgar ação de cumprimento fundada em Súmula 222 – Compete à Justiça Comum processar e
acordo ou convenção coletiva não homologados pela julgar as ações relativas à contribuição sindical previs-
Justiça do Trabalho. ta no art. 578 da CLT.

Súmula 58 – Proposta a execução fiscal, a posterior Súmula 224 – Excluído do feito o ente federal, cuja
mudança de domicílio do executado não desloca a presença levara o Juiz Estadual a declinar da compe-
competência já fixada. tência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não sus-
citar conflito.
Súmula 66 – Compete a Justiça Federal processar e
julgar execução fiscal promovida por conselho de fis- Súmula 225 – Compete ao Tribunal Regional do Tra-
calização profissional. balho apreciar recurso contra sentença proferida por
órgão de primeiro grau da Justiça Trabalhista, ainda
Súmula 82 – Compete a Justiça Federal, excluídas as que para declarar-lhe a nulidade em virtude de in-
reclamações trabalhistas, processar e julgar os feitos competência.
relativos à movimentação do FGTS.
Súmula 235 – A conexão não determina a reunião dos
Súmula 97 – Compete a Justiça do Trabalho processar processos, se um deles já foi julgado.
e julgar reclamação de servidor público relativamen-
te a vantagens trabalhistas anteriores a instituição do
Súmula 236 – Não compete ao Superior Tribunal de
Regime Jurídico Único.
Justiça dirimir conflitos de competência entre juízes
trabalhistas vinculados a Tribunais Regionais do Tra-
Súmula 137 – Compete a Justiça Comum Estadual
balho diversos.
processar e julgar ação de servidor público municipal,
pleiteando direitos relativos ao vinculo estatutário.
Súmula 238 – A avaliação da indenização devida ao
Súmula 150 – Compete a Justiça Federal decidir so- proprietário do solo, em razão de alvará de pesquisa
bre a existência de interesse jurídico que justifique a mineral, é processada no Juízo Estadual da situação
presença, no processo, da União, suas Autarquias ou do imóvel.
Empresas públicas.
Súmula 161 – É da competência da Justiça Estadual Súmula 254 – A decisão do Juízo Federal que exclui da
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

autorizar o levantamento dos valores relativos ao PIS relação processual ente federal não pode ser reexami-
/ PASEP e FGTS, em decorrência do falecimento do ti- nado no Juízo Estadual.
tular da conta.
Súmula 270 – O protesto pela preferência de crédito,
Súmula 170 – Compete ao juízo onde primeiro for in- apresentado por ente federal em execução que tra-
tentada a ação envolvendo acumulação de pedidos, mita na Justiça Estadual, não desloca a competência
trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites da sua para a Justiça Federal.
jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de nova cau-
sa, com o pedido remanescente, no juízo próprio.

99
Súmula 324 – Compete à Justiça Federal processar e de manter profissional legalmente habilitado (farma-
julgar ações de que participa a Fundação Habitacio- cêutico) durante todo o período de funcionamento dos
nal do Exército, equiparada à entidade autárquica fe- respectivos estabelecimentos.
deral, supervisionada pelo Ministério do Exército.
Súmula 570 – Compete à Justiça Federal o processo e
Súmula 349 – Compete à Justiça Federal ou aos juízes julgamento de demanda em que se discute a ausência
com competência delegada o julgamento das execu- de ou o obstáculo ao credenciamento de instituição
ções fiscais de contribuições devidas pelo empregador particular de ensino superior no Ministério da Educa-
ao FGTS. ção como condição de expedição de diploma de ensi-
no a distância aos estudantes.
Súmula 363 – Compete à Justiça estadual processar
e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional CONTINÊNCIA
liberal contra cliente.
Súmula 489 – Reconhecida a continência, devem ser
Súmula 365 – A intervenção da União como sucesso- reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas pro-
ra da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) desloca a postas nesta e na Justiça estadual.
competência para a Justiça Federal ainda que a sen-
tença tenha sido proferida por Juízo estadual. EXTINÇÃO DO PROCESSO
Súmula 367 – A competência estabelecida pela EC n. Súmula 240 – A extinção do processo, por abandono
45/2004 não alcança os processos já sentenciados. da causa pelo autor, depende de requerimento do réu.

Súmula 368 – Compete à Justiça comum estadual DOS PRAZOS


processar e julgar os pedidos de retificação de dados
cadastrais da Justiça Eleitoral. Súmula 117 - A inobservância do prazo de 48 ho-
ras, entre a publicação de pauta e o julgamento sem
Súmula 374 – Compete à Justiça Eleitoral processar e a presença das partes, acarreta nulidade. (Súmula
julgar a ação para anular débito decorrente de multa 117, CORTE ESPECIAL, julgado em 27/10/1994, DJ
eleitoral. 07/11/1994 p. 30050).
Súmula 383 – A competência para processar e julgar EXECUÇÃO
as ações conexas de interesse de menor é, em princí-
pio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.
Súmula 27 – Pode a execução fundar-se em mais de
um título extrajudicial relativos ao mesmo negócio.
Súmula 428 – Compete ao Tribunal Regional Federal
decidir os conflitos de competência entre juizado espe-
Súmula 46 – Na execução por carta, os embargos do
cial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.
devedor serão decididos no juízo deprecante, salvo se
versarem unicamente vícios ou defeitos da penhora,
Súmula 480 – O juízo da recuperação judicial não é
competente para decidir sobre a constrição de bens avaliação ou alienação dos bens.
não abrangidos pelo plano de recuperação da empre-
sa. Súmula 84 – É admissível a oposição de embargos de
terceiro fundados em alegação de posse advinda do
Súmula 505 - A competência para processar e julgar compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que
as demandas que têm por objeto obrigações decor- desprovido do registro.
rentes dos contratos de planos de previdência privada
firmados com a Fundação Rede Ferroviária de Segu- Súmula 134 – Embora intimado da penhora em imó-
ridade Social - REFER é da Justiça estadual. (Súmula vel do casal, o cônjuge do executado pode opor em-
505, SEGUNDA SEÇÃO, Julgada em 11/12/2013, DJe bargos de terceiro para defesa de sua meação.
10/02/2014)
Súmula 195 – Em embargos de terceiro não se anula
Súmula 553 – Nos casos de empréstimo compulsório ato jurídico, por fraude contra credores.
sobre o consumo de energia elétrica, é competente a
Justiça estadual para o julgamento de demanda pro- Súmula 196 – Ao executado que, citado por edital ou
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

posta exclusivamente contra a Eletrobrás. Requerida a por hora certa, permanecer revel, será nomeado cura-
intervenção da União no feito após a prolação de sen- dor especial, com legitimidade para apresentação de
tença pelo juízo estadual, os autos devem ser reme- embargos.
tidos ao Tribunal Regional Federal competente para Súmula 199 – Na execução hipotecária de crédito
o julgamento da apelação se deferida a intervenção.” vinculado ao Sistema Financeiro da Habitação, nos
termos da Lei n. 5.741/71, a petição inicial deve ser
Súmula 561 – Os Conselhos Regionais de Farmácia instruída com, pelo menos, dois avisos de cobrança.
possuem atribuição para fiscalizar e autuar as farmá-
cias e drogarias quanto ao cumprimento da exigência

100
Súmula 205 – A Lei 8.009/90 aplica-se a penhora rea- Súmula 478 – Na execução de crédito relativo a cotas
lizada antes de sua vigência. condominiais, este tem preferência sobre o hipotecá-
rio.
Súmula 233 – O contrato de abertura de crédito, ainda
que acompanhado de extrato da conta corrente, não Súmula 486 – É impenhorável o único imóvel residen-
é título executivo. cial do devedor que esteja locado a terceiros, desde
que a renda obtida com a locação seja revertida para
Súmula 239 – O direito à adjudicação compulsória a subsistência ou a moradia da sua família.
não se condiciona ao registro do compromisso de
compra e venda no cartório de imóveis. Súmula 487 – O parágrafo único do art. 741 do CPC
não se aplica às sentenças transitadas em julgado em
Súmula 268 – O fiador que não integrou a relação data anterior à da sua vigência.
processual na ação de despejo não responde pela exe-
cução do julgado. Súmula 559 – Em ações de execução fiscal, é desne-
cessária a instrução da petição inicial com o demons-
Súmula 279 – É cabível execução por título extrajudi- trativo de cálculo do débito, por tratar-se de requisito
cial contra a Fazenda Pública. não previsto no art. 6º da Lei n. 6.830/1980.

Súmula 300 – O instrumento de confissão de dívida, Súmula 621 - Os efeitos da sentença que reduz, majo-
ainda que originário de contrato de abertura de crédi- ra ou exonera o alimentante do pagamento retroage
to, constitui título executivo extrajudicial. a data da citação, vedadas a compensação e a repe-
tibilidade.
Súmula 304 – É ilegal a decretação da prisão civil da-
quele que não assume expressamente o encargo de DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR
depositário judicial.
Súmula 568 – O relator, monocraticamente e no Su-
Súmula 309 –O débito alimentar que autoriza a pri- perior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provi-
são civil do alimentante é o que compreende as três mento ao recurso quando houver entendimento domi-
prestações anteriores à citação e as que vencerem no nante acerca do tema.
curso do processo.
AÇÃO RESCISÓRIA
Súmula 317 – É definitiva a execução de título extraju-
dicial, ainda que pendente apelação contra sentença Súmula 401 – O prazo decadencial da ação rescisória
que julgue improcedentes os embargos. só se inicia quando não for cabível qualquer recurso
do último pronunciamento judicial.
Súmula 319 – O encargo de depositário de bens pe-
nhorados pode ser expressamente recusado. DOS RECURSOS

Súmula 328 – Na execução contra instituição finan- Súmula 5 – A simples interpretação de cláusula con-
ceira, é penhorável o numerário disponível, excluídas tratual não enseja Recurso Especial.
as reservas bancárias mantidas no Banco Central.
Súmula 7 – A pretensão de simples reexame de prova
Súmula 364 – O conceito de impenhorabilidade de não enseja Recurso Especial.
bem de família abrange também o imóvel pertencente
a pessoas solteiras, separadas e viúvas. Súmula 13 – A divergência entre julgados do mesmo
Tribunal não enseja Recurso Especial.
Súmula 375 – O reconhecimento da fraude à execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou Súmula 83 – Não se conhece do Recurso Especial pela
da prova de má-fé do terceiro adquirente. divergência, quando a orientação do Tribunal se fir-
mou no mesmo sentido da decisão recorrida.
Súmula 410 – A prévia intimação pessoal do devedor
constitui condição necessária para a cobrança de mul- Súmula 86 – Cabe recurso especial contra acórdão
ta pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não proferido no julgamento de agravo de instrumento.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

fazer.
Súmula 88 – São admissíveis embargos infringentes
Súmula 417 – Na execução civil, a penhora de dinhei- em processo falimentar.
ro na ordem de nomeação de bens não tem caráter
absoluto. Súmula 98 – Embargos de declaração manifestados
Súmula 452 – A extinção das ações de pequeno valor com notório propósito de prequestionamento não tem
é faculdade da Administração Federal, vedada a atua- caráter protelatório.
ção judicial de ofício.

101
Súmula 99 – O Ministério Público tem legitimidade Súmula 216 – A tempestividade de recurso interposto
para recorrer no processo em que oficiou como fiscal no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro
da lei, ainda que não haja recurso da parte. no protocolo da secretaria e não pela data da entrega
na agência do correio.
Súmula 115 – Na instancia especial é inexistente re-
curso interposto por advogado sem procuração nos Súmula 223 – A certidão de intimação do acórdão re-
autos. corrido constitui peça obrigatória do instrumento de
agravo.
Súmula 116 – A Fazenda Pública e o Ministério Públi-
co tem prazo em dobro para interpor agravo regimen- Súmula 255 – Cabem embargos infringentes contra
tal no Superior Tribunal de Justiça. acórdão, proferido por maioria, em agravo retido,
quando se tratar de matéria de mérito.
Súmula 118 – O agravo de instrumento é o recurso
cabível da decisão que homologa a atualização do Súmula 315 – Não cabem embargos de divergência
cálculo da liquidação. no âmbito do agravo de instrumento que não admite
recurso especial.
Súmula 123 – A decisão que admite, ou não, o recur-
so especial deve ser fundamentada, com o exame dos Súmula 316 – Cabem embargos de divergência contra
seus pressupostos gerais e constitucionais. acórdão que, em agravo regimental, decide recurso
especial.
Súmula 126 – É inadmissível recurso especial, quando
o acórdão recorrido assenta em fundamentos consti- Súmula 318 – Formulado pedido certo e determinado,
tucional e infraconstitucional, qualquer deles suficien- somente o autor tem interesse recursal em arguir o
te, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não ma- vício da sentença ilíquida.
nifesta recurso extraordinário.
Súmula 320 – A questão federal somente ventilada no
Súmula 158 – Não se presta a justificar embargos de voto vencido não atende ao requisito do prequestio-
divergência o dissídio com acórdão de turma ou seção namento.
que não mais tenha competência para a matéria neles
versada.
Súmula 331 – A apelação interposta contra sentença
que julga embargos à arrematação tem efeito mera-
Súmula 168 – Não cabem embargos de divergência,
mente devolutivo.
quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no
mesmo sentido do acordão embargado.
Súmula 390 – Nas decisões por maioria, em reexame
necessário, não se admitem embargos infringentes.
Súmula 169 – São inadmissíveis embargos infringen-
tes no processo de mandado de segurança.
Súmula 420 – Incabível, em embargos de divergência,
Súmula 187 – É deserto o recurso interposto para o discutir o valor de indenização por danos morais.
Superior Tribunal de Justiça, quando o recorrente não
recolhe, na origem, a importância das despesas de re- Súmula 483 – O INSS não está obrigado a efetuar de-
messa e retorno dos autos. pósito prévio do preparo por gozar das prerrogativas e
privilégios da Fazenda Pública.
Súmula 203 - Não cabe recurso especial contra deci-
são proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Súmula 484 – Admite-se que o preparo seja efetuado
Especiais.(*) (*) A Corte Especial, na sessão extraordi- no primeiro dia útil subsequente, quando a interposi-
nária de 23 de maio de 2002, julgando o AgRg no Ag ção do recurso ocorrer após o encerramento do expe-
400.076-BA, deliberou pela ALTERAÇÃO do enuncia- diente bancário.
do da Súmula n. 203. REDAÇÃO ANTERIOR (decisão
de 04/02/1998, DJ 12/02/1998, PG: 35): NÃO CABE Súmula 579 – Não é necessário ratificar o recurso es-
RECURSO ESPECIAL CONTRA DECISÃO PROFERIDA, pecial interposto na pendência do julgamento dos em-
NOS LIMITES DE SUA COMPETÊNCIA, POR ÓRGÃO bargos de declaração, quando inalterado o resultado
DE SEGUNDO GRAU DOS JUIZADOS ESPECIAIS. (Sú- anterior.
mula 203, CORTE ESPECIAL, julgado em 23/05/2002,
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DJ 03/06/2002) CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL

Súmula 207 – É inadmissível recurso especial quando Súmula 518 – Para fins do art. 105, III, a, da Consti-
cabíveis embargos infringentes contra o acordão pro- tuição Federal, não é cabível recurso especial fundado
ferido no tribunal de origem. em alegada violação de enunciado de súmula.

Súmula 211 – Inadmissível recurso especial quanto


à questão que, a despeito da oposição de embargos
declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.

102
PRINCIPAIS SÚMULAS STF Súmula 501- Compete a justiça ordinária estadual o
processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das
ABANDONO DA CAUSA PELO AUTOR causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas
contra a união, suas autarquias, empresas públicas ou
Súmula 216 - Para decretação da absolvição de ins- sociedades de economia mista.
tância pela paralisação do processo por mais de trinta
dias, é necessário que o autor, previamente intimado, Súmula 508 - Compete a justiça estadual, em ambas
não promova o andamento da causa. as instâncias, processar julgar as causas em que for
parte o Banco do Brasil, S.A.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Súmula 517- As sociedades de economia mista só têm
Súmula 643 - O Ministério Público tem legitimidade foro na justiça federal, quando a união intervém como
para promover ação civil pública cujo fundamento assistente ou opoente.
seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades esco-
lares. Súmula 556 -É competente a justiça comum para jul-
gar as causas em que é parte sociedade de economia
AÇÃO RESCISÓRIA mista.
Súmula 689 - O segurado pode ajuizar ação contra
Súmula 252 – Na ação rescisória, não estão impedidos a instituição previdenciária perante o juízo federal do
juízes que participaram do julgamento rescindendo. seu domicílio ou nas varas federais da Capital do Es-
tado-Membro.
Súmula 264 – Verifica-se a prescrição intercorrente
Súmula 503 - A dúvida, suscitada por particular, sobre
pela paralisação da ação rescisória por mais de cinco
o direito de tributar, manifestado por dois estados, não
anos.
configura litígio da competência originária do Supre-
mo Tribunal Federal.
Súmula 249 – É competente o Supremo Tribunal Fede-
ral para a ação rescisória quando, embora não tendo
VALOR DA CAUSA
conhecido do recurso extraordinário, ou havendo ne-
gado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão
Súmula 449 - O valor da causa, na consignatória de
federal controvertida. aluguel, corresponde a uma anuidade.
Súmula 515 – A competência para a ação rescisória HONORÁRIOS E CUSTAS PROCESSUAIS
não é do Supremo Tribunal Federal, quando a ques-
tão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no Súmula vinculante 47 - Os advocatícios incluídos na
agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscita- condenação ou destacados do montante principal
da no pedido rescisório. devido ao credor consubstanciam verba de natureza
alimentar cuja satisfação ocorrerá com a expedição de
AGRAVO DE INSTRUMENTO precatório ou requisição de pequeno valor, observada
ordem especial restrita aos créditos dessa natureza.
Súmula 727 – Não pode o magistrado deixar de en-
caminhar ao Supremo Tribunal Federal o agravo de Súmula 257 - São cabíveis honorários de advogado
instrumento interposto da decisão que não admite na ação regressiva do segurador contra o causador do
recurso extraordinário, ainda que referente a causa dano.
instaurada no âmbito dos juizados especiais.
Súmula 450 - São devidos honorários de advogado
COMPETÊNCIA sempre que vencedor o beneficiário de justiça gratuita.

Súmula 363- A pessoa jurídica de direito privado pode Súmula 616 - É permitida a cumulação da multa con-
ser demandada no domicílio da agência, ou estabele- tratual com os honorários de advogado, após o adven-
cimento, em que se praticou o ato. to do Código de Processo Civil vigente.

Súmula vinculante 27 - Compete à Justiça Estadual RECONVENÇÃO


julgar causas entre consumidor e concessionária de
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

serviço público de telefonia, quando a Anatel não Súmula 258 - É admissível reconvenção em ação de-
seja litisconsorte passiva necessária, assistente nem claratória.
opoente.
RECURSOS
Súmula 516 - O Serviço Social da Indústria (SESI) está
sujeito a jurisdição da justiça estadual. Súmula 400 - Decisão que deu razoável interpreta-
ção à lei, ainda que não seja a melhor, não autoriza
recurso extraordinário pela letra a do art. 101, III, da
Constituição Federal.

103
Súmula 279 - Para simples reexame de prova não Súmula 389 - Salvo limite legal, a fixação de honorá-
cabe recurso extraordinário. rios de advogado, em complemento da condenação,
depende das circunstâncias da causa, não dando lugar
Súmula 280 - Por ofensa a direito local não cabe re- a recurso extraordinário (especial).
curso extraordinário. Súmula 281-STF: É inadmissível
o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de Súmula 399 - Não cabe recurso extraordinário (espe-
origem, recurso ordinário da decisão impugnada. cial), por violação de Lei Federal, quando a ofensa ale-
gada for a regimento de tribunal.
Súmula 282 - É inadmissível o recurso extraordinário,
quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão Súmula 454 - Simples interpretação de cláusulas con-
federal (constitucional) suscitada. tratuais não dá lugar a recurso extraordinário.

Súmula 283 - É inadmissível o recurso extraordinário, Súmula 456 - O Supremo Tribunal Federal, conhecen-
quando a decisão recorrida assenta em mais de um do do recurso extraordinário, julgará a causa, aplican-
fundamento suficiente e o recurso não abrange todos do o direito à espécie.
eles.
Súmula 505 - Salvo quando contrariarem a Consti-
Súmula 284 - É inadmissível o recurso extraordinário, tuição, não cabe recurso para o Supremo Tribunal Fe-
quando a deficiência na sua fundamentação não per- deral, de quaisquer decisões da Justiça do Trabalho,
mitir a exata compreensão da controvérsia. inclusive dos presidentes de seus tribunais.

Súmula 287 - Nega-se provimento do agravo quando Súmula 513 - A decisão que enseja a interposição de
a deficiência na sua fundamentação, ou na do recurso recurso ordinário ou extraordinário não é a do ple-
extraordinário, não permitir a exata compreensão da nário, que resolve o incidente de inconstitucionalida-
controvérsia. de, mas a do órgão (câmaras, grupos ou turmas) que
completa o julgamento do feito.
Súmula 289 - O provimento do agravo, por uma das
Súmula 528 - Se a decisão contiver partes autônomas,
turmas do Supremo Tribunal Federal, ainda que sem
a admissão parcial, pelo presidente do tribunal “a quo”,
ressalva, não prejudica a questão do cabimento do re-
de recurso extraordinário que, sobre qualquer delas se
curso extraordinário.
manifestar, não limitará a apreciação de todas pelo
Supremo Tribunal Federal, independentemente de in-
Súmula 291 - No recurso extraordinário pela letra “d”
terposição de agravo de instrumento.
do art. 101, número III, da Constituição, a prova do
dissídio jurisprudencial far-se-á por certidão, ou me- Súmula 634 - Não compete ao Supremo Tribunal Fe-
diante indicação do “Diário da Justiça” ou de reper- deral conceder medida cautelar para dar efeito sus-
tório de jurisprudência autorizado, com a transcrição pensivo a recurso extraordinário que ainda não foi
do trecho que configure a divergência, mencionadas objeto de juízo de admissibilidade na origem.
as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os
casos confrontados. Súmula 635 - Cabe ao Presidente do Tribunal de ori-
gem decidir o pedido de medida cautelar em recurso
Súmula 292 - Interposto o recurso extraordinário por extraordinário ainda pendente do seu juízo de admis-
mais de um dos fundamentos indicados no art. 101, sibilidade.
III, da Constituição, a admissão apenas por um deles
não prejudica o seu conhecimento por qualquer dos Súmula 636 - Não cabe recurso extraordinário por
outros. contrariedade ao princípio constitucional da legali-
dade, quando a sua verificação pressuponha rever a
Súmula 310 - Quando a intimação tiver lugar na sex- interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
ta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for decisão recorrida.
feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-
-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso Súmula 637 - Não cabe recurso extraordinário contra
em que começará no primeiro dia útil que se seguir. acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de
intervenção estadual em Município.
Súmula 322 - Não terá seguimento pedido ou recurso
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

dirigido ao Supremo Tribunal Federal, quando mani- Súmula 638 - A controvérsia sobre a incidência, ou
festamente incabível, ou apresentando fora do prazo, não, de correção monetária em operações de crédito
ou quando for evidente a incompetência do tribunal. rural é de natureza infraconstitucional, não viabilizan-
do recurso extraordinário.
Súmula 356 - O ponto omisso da decisão, sobre o qual
não foram opostos embargos declaratórios, não pode Súmula 640 - É cabível recurso extraordinário contra
ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requi- decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas
sito do prequestionamento. de alçada, ou por turma recursal de juizado especial
cível e criminal.

104
Súmula 728 - É de três dias o prazo para a interposi- Súmula 392 - O prazo para recorrer de acórdão con-
ção de recurso extraordinário contra a decisão do Su- cessivo de segurança conta-se da publicação oficial de
perior Tribunal Eleitoral, contado, quando for o caso, a suas conclusões, e não da anterior ciência à autorida-
partir da publicação do acórdão, na própria sessão do de para cumprimento da decisão.
julgamento, nos termos do art. 12 da Lei nº 6.055/74,
que não foi revogado pela Lei nº 8.950/94. Súmula 405 - Denegado o mandado de segurança
pela sentença, ou no julgamento do agravo, dela in-
Súmula 733 - Não cabe recurso extraordinário contra terposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroa-
decisão proferida no processamento de precatórios. gindo os efeitos da decisão contrária.

Súmula 735 - Não cabe recurso extraordinário contra Súmula 429 - A existência de recurso administrativo
acórdão que defere medida liminar. com efeito suspensivo não impede o uso do mandado
de segurança contra omissão da autoridade.
MANDADO DE SEGURANÇA
Súmula 430 - Pedido de reconsideração na via admi-
Súmula 101 - O mandado de segurança não substitui nistrativa não interrompe o prazo para o mandado de
a ação popular. segurança.

Súmula 248 - É competente, originariamente, o Su- Súmula 474 - Não há direito líquido e certo, ampara-
premo Tribunal Federal, para mandado de segurança do pelo mandado de segurança, quando se escuda em
contra ato do Tribunal de Contas da União. lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
Súmula 266 - Não cabe mandado de segurança con-
tra lei em tese. Súmula 510 - Praticado o ato por autoridade, no
exercício de competência delegada, contra ela cabe o
Súmula 267 - Não cabe mandado de segurança con- mandado de segurança ou a medida judicial.
tra ato judicial passível de recurso ou correição.
Súmula 512 - Não cabe condenação em honorários de
Súmula 268 - Não cabe mandado de segurança con- advogado na ação de mandado de segurança.
tra decisão judicial com trânsito em julgado.
Súmula 623 - Não gera por si só a competência ori-
Súmula 269 - O mandado de segurança não é substi- ginária do Supremo Tribunal Federal para conhecer
tutivo de ação de cobrança. do mandado de segurança com base no art. 102, I,
n, da Constituição, dirigir-se o pedido contra delibe-
Súmula 270 - Não cabe mandado de segurança para ração administrativa do tribunal de origem, da qual
impugnar enquadramento da Lei 3.780, de 12 de julho haja participado a maioria ou a totalidade de seus
de 1960, que envolva exame de prova ou de situação membros.
funcional complexa.
Súmula 624 - Não compete ao Supremo Tribunal Fe-
Súmula 271 - Concessão de mandado de segurança deral conhecer originariamente de mandado de segu-
não produz efeitos patrimoniais, em relação a período rança contra atos de outros tribunais.
pretérito, os quais devem ser reclamados administra-
tivamente ou pela via judicial própria. Súmula 625 - Controvérsia sobre matéria de direito
não impede concessão de mandado de segurança.
Súmula 272 - Não se admite como ordinário recurso
extraordinário de decisão denegatória de mandado de Súmula 631 - Extingue-se o processo de mandado de
segurança. segurança se o impetrante não promove, no prazo as-
sinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.
Súmula 299 - O recurso ordinário e o extraordinário
interpostos no mesmo processo de mandado de segu- Súmula 632 - É constitucional lei que fixa o prazo de
rança, ou de “habeas corpus”, serão julgados conjun- decadência para a impetração de mandado de segu-
tamente pelo Tribunal Pleno. rança.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Súmula 304 - Decisão denegatória de mandado de Súmula 629 - A impetração de mandado de seguran-
segurança, não fazendo coisa julgada contra o impe- ça coletivo por entidade de classe em favor dos asso-
trante, não impede o uso da ação própria. ciados independe da autorização destes.

Súmula 330 - O Supremo Tribunal Federal não é com- Súmula 630 - A entidade de classe tem legitimação
petente para conhecer de mandado de segurança con- para o mandado de segurança ainda quando a pre-
tra atos dos tribunais de justiça dos estados. tensão veiculada interesse apenas a uma parte da res-
pectiva categoria.

105
Estão certos apenas os itens
HORA DE PRATICAR a) I e II.
b) I e III.
1. (PGE-PE – ANALISTA ADMINISTRATIVO DE PROCU- c) III e IV.
RADORIA – CESPE – 2019) d) I, II e IV.
À luz do Código de Processo Civil, julgue o próximo item, e) II, III e IV.,
relativos às normas fundamentais do processo civil e aos
elementos da sentença, aos honorários advocatícios, à 4. (TJ-DFT – TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE
advocacia pública e à aplicação das normas processuais. REGISTROS – CESPE – 2019) A respeito das formas de
Mesmo na ausência de norma que regulamente a trami- impugnação de decisões judiciais, assinale a opção cor-
tação de determinado processo administrativo, as dispo- reta.
sições do Código de Processo Civil não poderão ser a ele
aplicadas, ainda que supletiva ou subsidiariamente, haja a) As hipóteses de cabimento do agravo de instrumento
vista a natureza distinta desses dispositivos normativos. elencadas no Código de Processo Civil têm natureza
meramente exemplificativa, razão pela qual esse re-
( ) CERTO ( ) ERRADO curso pode ser interposto quando verificadas outras
hipóteses de urgência para a apreciação do decidido.
2. (TJ-SC – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2019) De acor- b) A jurisprudência do STJ admite a impetração de man-
do com os princípios constitucionais e infraconstitucio- dado de segurança para atribuir efeito suspensivo a
nais do processo civil, assinale a opção correta. recurso criminal interposto pelo Ministério Público.
c) O amicus curiae pode impugnar decisões judiciais ex-
a) Segundo o princípio da igualdade processual, os li- clusivamente por meio da oposição de embargos de
tigantes devem receber do juiz tratamento idêntico, declaração e da interposição de recurso contra deci-
razão pela qual a doutrina, majoritariamente, posicio- são que julgar incidente de resolução de demandas
na-se pela inconstitucionalidade das regras do CPC, repetitivas.
que estabelecem prazos diferenciados para o Ministé- d) Caso a apelação não tenha ainda sido distribuída ao
rio Público, a Advocacia Pública e a Defensoria Pública relator, o pedido de concessão de efeito suspensivo
se manifestarem nos autos. poderá ser formulado por requerimento dirigido ao
b) O conteúdo do princípio do juiz natural é unidimen- juízo prolator da decisão recorrida.
sional, manifestando-se na garantia do cidadão a se e) Os embargos de declaração são cabíveis para esclare-
submeter a um julgamento por juiz competente e pré- cer obscuridade, eliminar contradição ou suprir omis-
-constituído na forma da lei. são de ponto ou questão sobre a qual devia se pro-
c) O novo CPC adotou o princípio do contraditório efe- nunciar o juiz, contudo, são inadmissíveis para sanar
tivo, eliminando o contraditório postecipado, previsto erros materiais.
no sistema processual civil antigo.
d) O paradigma cooperativo adotado pelo novo CPC traz
5. (MPE-PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO –
como decorrência os deveres de esclarecimento, de
CESPE – 2019) De acordo com o CPC, é presumida a re-
prevenção e de assistência ou auxílio.
percussão geral da questão constitucional discutida nos
e) O CPC prevê, expressamente, como princípios a serem
casos em que houver interposição de recurso extraordi-
observados pelo juiz na aplicação do ordenamento
nário contra acórdão
jurídico a proporcionalidade, moralidade, impessoa-
lidade, razoabilidade, legalidade, publicidade e a efi-
ciência. a) em que tenha sido examinado o mérito de incidente
de resolução de demandas repetitivas.
3. (MPE – PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO – b) em que incidentalmente tenha sido declarada a cons-
CESPE – 2019) Julgue os seguintes itens, acerca de ação titucionalidade de lei federal.
civil pública, ação popular, habeas corpus e mandado de c) que tenha sido prolatado em julgamento de qualquer
injunção. matéria examinada pelo plenário ou por órgão espe-
cial de tribunal.
I O STJ firmou entendimento de que, em ação civil públi- d) que tenha sido proferido em julgamento de recurso
ca promovida pelo Ministério Público, o adiantamento especial repetitivo no âmbito do STJ.
dos honorários periciais ficará a cargo da Fazenda Públi- e) em que, em qualquer hipótese, tenha sido decidida
ca a qual está vinculado o parquet. matéria já examinada pelo STF.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

II O Ministério Público poderá interpor recurso contra


sentença proferida que julgou improcedente o pedido 6. (MPE-PI – PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO –
do autor da ação popular. CESPE – 2019) De acordo com a jurisprudência do STJ
III O STJ fixou entendimento de que a ausência de pare- acerca do Código de Processo Civil de 2015 (CPC), assi-
cer escrito do parquet em sede de habeas corpus gera nale a opção correta.
automática nulidade do julgamento.
IV O mandado de injunção pode ser individual ou co- a) O benefício da gratuidade de justiça não poderá ser
letivo, podendo, nesse último caso, ser promovido pelo concedido a estrangeiro não residente no Brasil.
Ministério Público.

106
b) O trânsito em julgado de sentença estrangeira é re- 10. (PGE – PE – ANALISTA JUDICIÁRIO DE PROCURA-
quisito legal indispensável para a homologação desta DORIA – CESPE – 2019) Em razão de uma colisão de
no Brasil. veículos, Roberta, motorista e proprietária de um dos veí-
c) São devidos honorários advocatícios na fase de cum- culos, firmou acordo para reparação de danos com Hugo
primento individual de sentença decorrente de ação e Eduardo, respectivamente, motorista e proprietário do
coletiva, ainda que a fazenda pública não apresente outro veículo envolvido no acidente. No entanto, por ter
impugnação. sido descumprido o referido pacto, Roberta ajuizou ação
d) A comprovação da tempestividade de recurso espe- em desfavor deles. Hugo apresentou a sua contestação
cial, no caso de prorrogação de prazo em razão de no prazo legal, e Eduardo não realizou esse ato proces-
feriado local, pode ocorrer posteriormente ao ato de sual.
interposição desse recurso. Considerando essa situação hipotética e as disposições
e) Associação de municípios e prefeitos possui legitimi- do Código de Processo Civil, julgue o item seguinte.
dade ativa para atuar como substituto processual de Por não ter apresentado contestação, Eduardo será con-
pessoas jurídicas de direito público. siderado revel, estabelecendo-se a presunção de que to-
dos os fatos alegados por Roberta são verdadeiros.
7. (PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR
MUNICIPAL – CESPE – 2019) Em 29 de março de 2019, ( ) CERTO ( ) ERRADO
uma sexta-feira, iniciou-se o prazo para que uma autar-
quia apresentasse contestação a uma petição inicial de 11. (PGE – PE – ANALISTA JUDICIÁRIO DE PROCURA-
natureza cível, em procedimento ordinário, distribuída DORIA – CESPE – 2019) Em razão de uma colisão de
em uma das varas federais de uma comarca do estado do veículos, Roberta, motorista e proprietária de um dos veí-
Mato Grosso do Sul, não tendo ocorrido nenhum feriado culos, firmou acordo para reparação de danos com Hugo
até a data final para protocolo da contestação. e Eduardo, respectivamente, motorista e proprietário do
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo outro veículo envolvido no acidente. No entanto, por ter
item, relativo a comunicação e prazos processuais, con- sido descumprido o referido pacto, Roberta ajuizou ação
testação e reconvenção. em desfavor deles. Hugo apresentou a sua contestação
Na hipótese de a autarquia desejar exercer seu direito de no prazo legal, e Eduardo não realizou esse ato proces-
ação e expor sua pretensão em desfavor do autor da de- sual.
manda, ela deverá propor reconvenção a ser apresentada Considerando essa situação hipotética e as disposições
junto da contestação, sob pena de sofrer os efeitos da do Código de Processo Civil, julgue o item seguinte.
preclusão lógica em caso de protocolo posterior como Se, na petição inicial apresentada por Roberta, faltarem
peça autônoma. provas indispensáveis à demonstração da verdade dos
fatos por ela alegados, o juiz deverá indeferir imediata-
( ) CERTO ( ) ERRADO mente a inicial.

08. (PGM – CAMPO GRANDE – MS – PROCURADOR ( ) CERTO ( ) ERRADO


MUNICIPAL – CESPE – 2019) Em 29 de março de 2019,
uma sexta-feira, iniciou-se o prazo para que uma autar- 12. (TJ-BA – JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO – CESPE –
quia apresentasse contestação a uma petição inicial de 2019) De acordo com o CPC, se, em processo de execu-
natureza cível, em procedimento ordinário, distribuída ção de contrato inadimplido, ocorrer a penhora judicial
em uma das varas federais de uma comarca do estado do de dinheiro depositado em conta bancária do executado,
Mato Grosso do Sul, não tendo ocorrido nenhum feriado o juiz poderá cancelar o ato de penhora caso acolha o
até a data final para protocolo da contestação. pedido de impenhorabilidade sob o argumento de que a
Considerando essa situação hipotética, julgue o próximo quantia bloqueada
item, relativo a comunicação e prazos processuais, con-
testação e reconvenção. a) pertence a terceiro
O último dia para o protocolo tempestivo da contestação b) decorreu de venda de imóvel.
era 10 de maio de 2019, uma sexta-feira. c) corresponde a salário do executado e não ultrapassa
cinquenta salários mínimos.
( ) CERTO ( ) ERRADO d) estava vinculada ao pagamento de conta exclusiva-
mente em débito automático.
9. (PREFEITURA DE BOA VISTA – PROCURADOR MU- e) acarretará enriquecimento ilícito.
NICIPAL – CESPE – 2019) A respeito de tutela provisória,
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

resposta do réu e juizado especial de fazenda pública, 13. (PGM- MANAUS – AM – PROCURADOR DO MU-
julgue o item que se segue. NICIPIO – CESPE – 2018) Acerca das disposições do CPC
Não enseja preclusão temporal o fato de o réu deixar de relativas aos procedimentos especiais e ao processo de
alegar a litispendência ou a coisa julgada em preliminar execução, julgue o item seguinte.
de contestação. A execução de título executivo judicial se dá em fase pro-
cessual posterior à sua formação, denominada processo
( ) CERTO ( ) ERRADO de execução.

( ) CERTO ( ) ERRADO

107
14. (EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) Julgue o 19. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO OFICIAL DE JUSTIÇA
item a seguir, considerando as regras do atual Código de AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2018) A respeito de
Processo Civil acerca das sentenças e dos recursos. recursos nos tribunais, meios de impugnação das deci-
A insuficiência no valor do preparo — que, em regra, sões judiciais, processo de execução e mandado de se-
constitui um dos requisitos de admissibilidade recursal gurança, julgue o item a seguir.
— implica imediata deserção. Para fins de substituição da penhora, a legislação proces-
sual equipara ao dinheiro a fiança bancária e o seguro
( ) CERTO ( ) ERRADO garantia judicial, desde que o valor não seja inferior ao
do débito constante da inicial da execução acrescido de
15. (EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) Julgue o 30%.
item a seguir, considerando as regras do atual Código de
Processo Civil acerca das sentenças e dos recursos. ( ) CERTO ( ) ERRADO
O Ministério Público estará legitimado a interpor recur-
so contra decisão judicial quando estiver atuando como 20. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO OFICIAL DE JUSTIÇA
fiscal da lei. AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2018) A respeito de
recursos nos tribunais, meios de impugnação das deci-
( ) CERTO ( ) ERRADO sões judiciais, processo de execução e mandado de se-
gurança, julgue o item a seguir.
16. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO OFICIAL DE JUSTIÇA De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, é neces-
AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2018) Em uma ação sário aguardar o trânsito em julgado do paradigma fir-
civil pública ajuizada pelo Ministério Público, o promotor mado em recurso repetitivo para que seja possível a sua
de justiça participou de audiência na qual o magistrado, aplicação a outros processos que versem sobre a mesma
entre outras providências, prolatou decisão indeferindo questão jurídica decidida.
o pedido de inversão do ônus da prova apresentado na
petição inicial. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Acerca dessa situação hipotética, julgue o item que se
segue. 21. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO OFICIAL DE JUSTIÇA
No momento processual em questão, será possível opor AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2018) Acerca do pro-
embargos de declaração, mas eventual recurso para re- cedimento comum, julgue o item que se segue.
formar a decisão de indeferimento da inversão do ônus Contra a sentença que decidir somente uma parte do
da prova somente poderá ser interposto após a prolação processo com fundamento na prescrição, caberá agravo
da sentença, por via do recurso de apelação. de instrumento.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) CERTO ( ) ERRADO

17. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO OFICIAL DE JUSTIÇA 22. (PGE-PE – PROCURADOR DO ESTADO – CESPE –
AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2018) A respeito de 2018) Em instância extraordinária, o relator do processo
recursos nos tribunais, meios de impugnação das deci- constatou que o advogado subscritor do recurso especial
sões judiciais, processo de execução e mandado de se- não tinha procuração nos autos.
gurança, julgue o item a seguir. Considerando-se as disposições do CPC, o relator deve,
O amicus curiae possui legitimidade para interpor recur- nessa situação hipotética,
so especial ou extraordinário contra acórdão de tribunal
que tiver julgado incidente de resolução de demandas a) declarar o recurso inexistente.
repetitivas. b) oportunizar a regularização da representação proces-
sual.
( ) CERTO ( ) ERRADO c) oportunizar a regularização da capacidade processual
do recorrente.
18. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO OFICIAL DE JUSTIÇA d) remeter o processo ao colegiado para decisão.
AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2018) A respeito de e) deixar de conhecer do recurso especial.
recursos nos tribunais, meios de impugnação das deci-
sões judiciais, processo de execução e mandado de se- 23. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁ-
gurança, julgue o item a seguir. RIA – CESPE – 2018) A respeito da repercussão geral
Situação hipotética: Na interposição de recurso especial, da questão constitucional e do mandado de segurança,
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

o recorrente não juntou documento comprobatório de julgue o item que se segue.


feriado local durante o prazo, o que seria necessário para Haverá repercussão geral sempre que o recurso extraor-
atestar a tempestividade de seu recurso. Assertiva: Nesse dinário atacar decisão contrária à súmula ou à jurispru-
caso, segundo o Superior Tribunal de Justiça, o relator dência dominante do Supremo Tribunal Federal.
deverá conceder prazo para a juntada de documento de
comprovação do feriado para sanar o vício. ( ) CERTO ( ) ERRADO

( ) CERTO ( ) ERRADO

108
24. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA 30. (STJ – TÉCNCICO JUDICIARIO – CESPE – 2018)
– CESPE – 2018) Foi interposto, no tribunal de origem, Acerca dos atos processuais, julgue o seguinte item.
um recurso especial, oportunidade na qual o vice-presi- De acordo com o código de processo civil, os atos do juiz
dente daquele tribunal, após a juntada das contrarrazões, consistem em sentenças, decisões interlocutórias e atos
admitiu o apelo e o encaminhou ao Superior Tribunal de ordinatórios.
Justiça.
Nessa situação hipotética, se entender que o recurso es- ( ) CERTO ( ) ERRADO
pecial possui vício de admissibilidade, a parte recorrida
poderá interpor recurso de agravo em recurso especial 31. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE – 2018) Com
contra a decisão do tribunal de origem. base nas normas que regem o processo civil, julgue o
item seguinte, acerca da função jurisdicional; do Minis-
( ) CERTO ( ) ERRADO tério Público; de nulidades processuais; e de sentença.
Em processo que envolva interesse de incapaz, tendo
25. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁ- sido verificado que o parquet não foi intimado, o juiz de-
RIA – CESPE – 2018) À luz do Código de Processo Civil e cretará, de ofício, a nulidade do processo.
da doutrina pertinente, julgue o item a seguir, acerca dos
recursos extraordinário e especial. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Ressalvada a possibilidade de oposição de embargos de
declaração, será irrecorrível a decisão do Supremo Tribu- 32. (TJ-CE – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2018) A fixa-
nal Federal que não conhecer do recurso extraordinário ção de calendário para a prática de atos processuais
por considerar que a questão constitucional arguida pelo
recorrente não atende à repercussão geral. a) vincula as partes, mas não o juiz.
b) torna dispensável intimação para a audiência cuja data
( ) CERTO ( ) ERRADO esteja designada no calendário.
c) é uma convenção processual e, portanto, não pode ser
26. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁ- firmada pela fazenda pública.
RIA – CESPE – 2018) À luz do Código de Processo Civil e d) deve assumir a forma determinada em lei para evitar
da doutrina pertinente, julgue o item a seguir, acerca dos falha que gere nulidade.
recursos extraordinário e especial. e) é uma convenção processual que, se estipular con-
No caso de interposição de recurso especial, a questão fidencialidade, permitirá que o processo tramite em
federal que tiver sido debatida somente no voto vencido segredo de justiça.
deverá ser considerada como parte integrante do acór-
dão, inclusive para fins de prequestionamento. 33. (EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – CESPE – 2018)
Julgue o item seguinte, relativo a atos processuais, man-
( ) CERTO ( ) ERRADO dado de segurança e processo de execução.
São exemplos de negócios processuais típicos: a fixação
27. (ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGENCIA – de calendário processual para a prática dos atos proces-
CESPE – 2018) Com base no Código de Processo Civil e suais; a eleição de foro; as hipóteses da tutela provisória.
no entendimento jurisprudencial e doutrinário acerca de
processo civil, julgue o seguinte item. ( ) CERTO ( ) ERRADO
É prescindível a manifestação das partes acerca de fun-
damento utilizado em sentença por juiz, quando se trata
34. (PGM – MANAUS – PROCURADOR DO MUNICIPIO
de matéria a ser decidida de ofício.
– CESPE – 2018) À luz das disposições do CPC relativas
( ) CERTO ( ) ERRADO aos atos processuais, julgue o item subsequente.
Em regra, os atos processuais são públicos e indepen-
28. (STJ – ANALISTA JUDICIARIO – CESPE – 2018) Com dem de forma determinada.
referência às normas fundamentais do processo civil, jul-
( ) CERTO ( ) ERRADO
gue o item a seguir.
No novo Código de Processo Civil, proporcionalidade e
razoabilidade passaram a ser princípios expressos do di- 35. (MPE – PI – ANALISTA MINISTERIAL – CESPE –
reito processual civil, os quais devem ser resguardados e 2018) Acerca de normas processuais, atos processuais,
promovidos pelo juiz. tutela provisória e atuação do Ministério Público no pro-
cesso civil, julgue o item subsequente.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

( ) CERTO ( ) ERRADO A concessão de tutela provisória, em qualquer de suas


modalidades previstas no Código de Processo Civil, de-
29. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE – 2018) A res- pende da demonstração da probabilidade do direito e
peito da jurisdição, julgue o item que se segue. do perigo de dano ou de risco ao resultado útil do pro-
O princípio do juiz natural, ao impedir que alguém seja pro- cesso judicial.
cessado ou sentenciado por outra que não a autoridade
competente, visa coibir a criação de tribunais de exceção. ( ) CERTO ( ) ERRADO

( ) CERTO ( ) ERRADO

109
36. (EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – CESPE – 2018) 41. (PGM – MANAUS – PROCURADOR DO MUNICÍ-
Acerca do valor da causa, da tutela provisória, do Minis- PIO – CESPE – 2018) Considerando as disposições do
tério Público, da advocacia pública, da defensoria pública CPC pertinentes aos sujeitos do processo, julgue o item
e da coisa julgada, julgue o item subsequente. a seguir.
Situação hipotética: Em ação proposta por Luísa, a pe- O advogado poderá renunciar ao mandato a qualquer
tição inicial limitou-se ao requerimento da tutela ante- tempo, sendo indispensável a comunicação da renúncia
cipada em caráter antecedente e à indicação do pedido ao mandante, ainda que a procuração tenha sido outor-
de tutela final. O julgador, entendendo que não havia gada a vários advogados e a parte continue representa-
elementos suficientes para a concessão da medida an- da.
tecipatória, determinou a emenda da inicial no prazo
de cinco dias. Assertiva: Nessa situação, se a autora não ( ) CERTO ( ) ERRADO
emendar a inicial, o pedido será indeferido e o processo
será julgado extinto sem resolução de mérito. 42. (PGM – MANAUS – PROCURADOR DO MUNICÍ-
PIO – CESPE – 2018) Considerando as disposições do
( ) CERTO ( ) ERRADO CPC pertinentes aos sujeitos do processo, julgue o item
a seguir.
37. (PGM – MANAUS – PROCURADOR DO MUNICI- Ao postular em juízo sem procuração para evitar a pres-
PIO) À luz das disposições do CPC relativas aos atos pro- crição, o advogado se encontrará na situação de incapa-
cessuais, julgue o item subsequente. cidade postulatória, a qual deverá ser sanada pela apre-
Para a concessão da tutela de evidência, o juiz deverá sentação do documento de representação no prazo de
verificar, além da probabilidade de direito, o perigo de quinze dias.
dano ou de risco ao resultado útil do processo.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
43. (STJ- TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE – 2018) Julgue
38. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE – 2018) Jul- o próximo item, relativo ao dever e às responsabilidades
gue o item a seguir, a respeito das ações no processo dos sujeitos do processo.
civil. O dever de sanear o processo impõe ao juiz, sempre que
A tutela provisória pode ser concedida em caráter ante- perceber a existência de vício ou ausência sanável, deter-
cedente à propositura da ação ou em caráter incidental, minar a correção do defeito.
quando proposta no curso da ação principal.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
44. (PGM – MANAUS – PROCURADOR DO MUNICIPIO
39. (PGE – PE – PROCURADOR DO ESTADO – CESPE – CESPE – 2018) Considerando o disposto na Lei dos
– 2018) A respeito da aplicação da tutela de urgência, Juizados Especiais Cíveis e Criminais e na Lei dos Juizados
assinale a opção correta. Especiais da Fazenda Pública, julgue o item que se segue.
Nas causas cíveis de menor complexidade, os embargos
a) Poderá ser deferida e efetivada contra o poder público de declaração opostos contra a sentença interrompem o
antes do trânsito em julgado do processo. prazo para interposição de recurso.
b) Cassada em sentença, somente poderá ser restabele-
cida mediante o deferimento de pedido nesse sentido ( ) CERTO ( ) ERRADO
constante no respectivo recurso.
c) Será concedida sempre que caracterizado o manifesto 45. (DPE-AL – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2017)
propósito protelatório da parte adversa ou o abuso do Caso não seja cumprida voluntariamente sentença tran-
direito de defesa, independentemente de demonstra- sitada em julgado no âmbito do juizado especial cível,
ção de perigo de dano.
d) Não poderá ser concedida nos processos sobrestados a) o interessado deverá solicitar, por escrito, a execução
por força do regime repetitivo. da sentença, sendo necessária nova citação.
e) Não poderá ser concedida em incidente de desconsi- b) o juiz determinará ao vencido o imediato cumprimen-
deração da personalidade jurídica. to da sentença, sob pena de aplicação de multa diária.
c) o juiz procederá, de ofício, à execução da sentença.
40. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE – 2018) Com d) proceder-se-á desde logo à execução mediante solici-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

base nas normas que regem o processo civil, julgue o tação do interessado, que poderá ser verbal, dispen-
item seguinte, acerca da função jurisdicional; do Minis- sada nova citação.
tério Público; de nulidades processuais; e de sentença. e) não será admitida a execução da sentença no próprio
O Ministério Público será intimado a se manifestar em juizado.
todas as causas em que a fazenda pública figurar em um
dos polos, visto que essa hipótese é de interesse público
e social.

( ) CERTO ( ) ERRADO

110
46. (TJ-PR – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2017) A res- 50. (TRF 1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIARIO – CESPE
peito da prova no juizado especial cível, assinale a opção – 2017)A respeito da petição inicial, da tutela provisó-
correta de acordo com a Lei n.º 9.099/1995. ria, da suspensão do processo e das nulidades, julgue o
próximo item à luz do Código de Processo Civil vigente.
a) É ônus da parte levar a testemunha à audiência, por Para a concessão da tutela de evidência, é exigido que
não se aplicar a condução coercitiva. a parte demonstre o perigo de dano ao direito alegado.
b) A prova pericial poderá ser realizada oralmente, mas o
perito deverá entregar o laudo escrito logo após. ( ) CERTO ( ) ERRADO
c) Será válida prova testemunhal produzida por declara-
ção escrita. 51. (TRF 1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFI-
d) Salvo a inspeção judicial, as provas terão de ser produ- CIAL DE JUSTIÇA – CESPE – 2017) A respeito da for-
zidas na audiência de instrução e julgamento. mação do processo, da penhora e do cumprimento de
sentença, julgue o item que se segue.
47. (TJ-PR – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2017) Jorge O juiz nomeará curador especial ao réu revel citado por
ajuizou ação no juizado especial cível, com o objetivo de edital enquanto este não for encontrado.
receber indenização no valor de vinte mil reais por dano
causado por pessoa jurídica. Considerando essa situação ( ) CERTO ( ) ERRADO
hipotética, assinale a opção correta.
52. (TRF-1ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE
a) Havendo necessidade de expedição de carta precató- – 2017) A respeito de jurisdição, julgue o item a seguir.
ria, Jorge deverá custear despesa de cumprimento. Jurisdição consiste na função estatal de compor litígios e
b) A competência para julgar o processo será deslocada de declarar e realizar o direito.
em caso de necessidade de desconsideração da per-
sonalidade jurídica da empresa ré. ( ) CERTO ( ) ERRADO
c) A extinção do processo por ausência de Jorge em au-
diência dependerá de sua prévia intimação pessoal. 53. (TRF – 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE
d) A ausência de contestação, ainda que a empresa ré – 2017) A respeito de jurisdição, julgue o item a seguir.
esteja presente na audiência de conciliação, acarretará São inerentes à jurisdição os princípios do juiz natural, da
a revelia. improrrogabilidade e da indelegabilidade.

48. (TJ-PR – JUIZ SUBSTITUTO – CESPE – 2017) No que ( ) CERTO ( ) ERRADO


concerne aos procedimentos especiais previstos no CPC
e nas leis extravagantes, assinale a opção correta à luz da 54. (TRF – 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE
legislação e do entendimento dos tribunais superiores. – 2017) A respeito de jurisdição, julgue o item a seguir.
Na jurisdição voluntária não há lide: trata-se de uma for-
a) Em se tratando de ação de reintegração de posse, de- ma de a administração pública participar de interesses
ve-se observar o procedimento comum, se for ajuiza- privados.
da após o prazo de ano e dia do esbulho, caso em que
não terá as características inerentes às ações posses- ( ) CERTO ( ) ERRADO
sórias, como, por exemplo, a fungibilidade.
b) Em observância ao princípio da celeridade, o proce- 55. (DPE-AC – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2017)
dimento dos juizados especiais cíveis é incompatível No que se refere à jurisdição civil nacional, assinale a op-
com qualquer uma das modalidades de intervenção ção correta.
de terceiros previstas no CPC.
c) A utilização do procedimento de arrolamento para a) Pode ser de caráter administrativo ou judicial.
o inventário quando o valor dos bens do espólio for b) A desconstituição de uma sentença transitada em jul-
igual ou inferior a mil salários mínimos será expressa- gado por meio de ação rescisória é um exemplo de
mente proibida se houver interessado incapaz. exercício dessa jurisdição.
d) Tratando-se de tutela provisória que determina a in- c) Em decorrência do princípio da inevitabilidade, essa
disponibilidade de bens do réu em ACP por ato de im- jurisdição não alcança a todos os indivíduos.
probidade administrativa, dispensa-se a comprovação d) O exercício dessa jurisdição inclui a expedição de car-
de periculum in mora. tas rogatórias, responsáveis por determinar que os
órgãos jurisdicionais brasileiros cumpram atos pro-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

49. (TCE – PE – ANALISTA DE GESTÃO – CESPE – 2017) cessuais.


A respeito dos princípios fundamentais e dos direitos e e) Trata-se de direito inerente e exclusivo dos cidadãos
deveres individuais e coletivos, julgue o item a seguir. brasileiros.
O princípio constitucional da publicidade de atos pro-
cessuais alcança não apenas os autos do processo, mas
também as sessões e audiências.

( ) CERTO ( ) ERRADO

111
56. (TRF 5ª REGIÃO – JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO – 59. (DPU – DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL – CESPE –
CESPE – 2017) Contra pronunciamento de magistrado 2017) A respeito da competência, julgue o item subse-
que, em primeiro grau, decida pela impugnação ao cum- quente com base no entendimento doutrinário e juris-
primento de sentença, caberá recurso de prudencial sobre o assunto.
O CPC permite à parte a propositura de ação de exe-
a) apelação, se o processo for extinto, ou de agravo de cução de título extrajudicial simultaneamente à ação de
instrumento, se o processo prosseguir. conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico, desde que
b) agravo de instrumento, em qualquer caso. haja conexão entre as demandas.
c) agravo de instrumento, apenas se o recorrente de-
monstrar urgência. ( ) CERTO ( ) ERRADO
d) apelação, em qualquer caso.
e) apelação, sempre que o juiz acolher a impugnação do 60. (PREFEITURA DE FORTALEZA – CE – PROCURA-
executado. DOR DO MUNICÍPIO – CESPE – 2017) No que se refere
ao cumprimento de sentença e ao processo de execução,
57. (DPE – AC – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2017) julgue o item subsequente.
Com relação aos embargos declaratórios, assinale a op- Situação hipotética: Procurador de determinado municí-
ção correta. pio foi intimado em cumprimento de sentença e verifi-
cou que, no curso do processo de conhecimento, havia
a) Caso sejam acolhidos e modifiquem a decisão embar- sido pago ao exequente determinado valor que deveria
gada, o embargado que houver aviado outro recurso ser compensado. Assertiva: Nessa situação, o procurador
contra a decisão originária deverá complementar as deve, nos embargos à execução, alegar o direito à com-
razões deste recurso. pensação como causa modificativa da obrigação.
b) Deverá ser ratificado recurso que houver sido inter-
posto pela outra parte antes do julgamento dos em- ( ) CERTO ( ) ERRADO
bargos, caso estes sejam rejeitados.
c) Por interromperem o prazo para a interposição de re-
cursos, dispensam a intimação das partes quanto à
decisão proferida em virtude do julgamento desses
recursos.
d) Se manifestamente protelatórios, o juiz, fundamenta-
damente, condenará o embargante a pagar ao embar-
gado, inicialmente, multa correspondente a dez por
cento sobre o valor da causa.
e) Se forem opostos contra decisão de relator proferida
em tribunal, serão decididos monocraticamente pelo
órgão prolator de decisão embargada.Um juiz, nos
autos da execução de sentença de determinado pro-
cesso cível, proferiu despacho determinando que os
devedores fossem intimados a efetuar o pagamento
do débito, bem como a adimplir as custas recolhidas
pelo credor para essa fase do processo.

58. (DPE – AC – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2017)


Foi dado aos executados o prazo de quinze dias úteis,
sob pena de multa de 10% e de honorários advocatícios
de 10% sobre o valor do débito, para que pagassem o
débito. Transcorrido esse prazo, caso não houvesse sido
realizado o pagamento voluntário, teria início o prazo de
quinze dias para que, independentemente de penhora
ou de nova intimação, os executados apresentassem, nos
próprios autos, sua impugnação, instrumentalizada com
o demonstrativo dos cálculos.
Considerando-se as informações apresentadas na situa-
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ção hipotética, conclui-se que a decisão em questão re-


conhece a exigibilidade de obrigação de

a) pagar quantia certa pela fazenda pública.


b) entregar coisa.
c) fazer.
d) pagar quantia certa.
e) prestar alimentos.

112
43 CERTO
GABARITO 44 CERTO
45 D
1 ERRADO 46 C
2 D 47 D
3 D 48 D
4 C 49 CERTO
5 A 50 ERRADO
6 C 51 ERRADO
7 ERRADO 52 CERTO
8 CERTO 53 CERTO
9 CERTO 54 CERTO
10 ERRADO 55 B
11 ERRADO 56 A
12 C 57 E
13 ERRADO 58 D
14 ERRADO 59 ERRADO
15 CERTO 60 ERRADO
16 ERRADO
17 CERTO
18 ERRADO
19 CERTO
20 ERRADO
21 CERTO
22 B
23 CERTO
24 ERRADO
25 CERTO
26 CERTO
27 ERRADO
28 CERTO
29 CERTO
30 ERRADO
31 ERRADO
32 B
33 ERRADO
34 CERTO
35 ERRADO
36 CERTO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

37 ERRADO
38 CERTO
39 A
40 ERRADO
41 ERRADO
42 ERRADO

113
ANOTAÇÕES

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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114
ÍNDICE

DIREITO PENAL

Princípios aplicáveis ao Direito Penal...................................................................................................................................................... 01


Aplicação da lei penal. A lei penal no tempo e no espaço. Tempo e lugar do crime. Interpretação da lei penal.
Analogia. Irretroatividade da lei penal. Conflito aparente de normas penais....................................................................... 05
Ilicitude............................................................................................................................................................................................................... 11
Culpabilidade................................................................................................................................................................................................... 15
Concurso de Pessoas..................................................................................................................................................................................... 16
Penas. Espécies de penas. Cominação das penas.............................................................................................................................. 16
Ação penal........................................................................................................................................................................................................ 25
Punibilidade e causas de extinção........................................................................................................................................................... 26
Prescrição.......................................................................................................................................................................................................... 36
Crimes contra a fé pública.......................................................................................................................................................................... 39
Crimes contra a Administração Pública................................................................................................................................................. 41
Lei nº 4.898/1965, e suas alterações (abuso de autoridade)......................................................................................................... 48
Lei nº 9.613/1998 e suas alterações (Lavagem de dinheiro)......................................................................................................... 49
Disposições constitucionais aplicáveis ao direito penal.................................................................................................................. 50
Crimes e sanções penais na licitação (Lei nº 8.666/1993 e suas alterações).......................................................................... 51
Crimes de responsabilidade fiscal (Lei nº 10.028/2000)................................................................................................................. 52
Súmulas do STF e do STJ............................................................................................................................................................................. 53
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO PENAL

Princípios aplicáveis ao direito penal.

O Direito Penal está interligado a todos os ramos do Direito, especialmente Direito Constitucional, que se traduz no
estatuto máximo de uma sociedade politicamente organizada.
Todos os ramos do direito positivo só adquiri a plena eficácia quando compatível com os Princípios e Normas des-
critos na Constituição Federal abstraindo-a como um todo.
O estudo da aplicação da lei penal tem, quase que obrigatoriamente, passar pelos princípios constitucionais e assim
avançar nesta ramos do direito. Tenha a ideia de que os princípios são o alicerce de todo sistema normativo, fundamen-
tam todo o sistema de direito e estabelecem os direitos fundamentais do homem.

O princípio da irretroatividade da lei penal, ressalvada a retroatividade favorável ao acusado, fundamentam-se a


regra geral nos princípios da reserva legal, da taxatividade e da segurança jurídica - princípio do favor libertatis -, e
a hipótese excepcional em razões de política criminal (justiça). Trata-se de restringir o arbítrio legislativo e judicial na
elaboração e aplicação de lei retroativa prejudicial.
A regra constitucional (art. 5°, XL, da CF) é no sentido da irretroatividade da lei penal; a exceção é a retroatividade,
desde que seja para beneficiar o réu.
Com essa vertente do princípio da legalidade tem-se a certeza de que ninguém será punido por um fato que, ao
tempo da ação ou omissão, era tido como um indiferente penal, haja vista a inexistência de qualquer lei penal incrimi-
nando-o.
Princípio da taxatividade, diz respeito à técnica de elaboração da lei penal, que deve ser suficientemente clara e pre-
cisa na formulação do conteúdo do tipo legal e no estabelecimento da sanção para que exista real segurança jurídica.
Tal assertiva constitui postulado indeclinável do Estado de direito material - democrático e social.
O princípio da reserva legal implica a máxima determinação e taxatividade dos tipos penais, impondo-se ao Poder
Legislativo, na elaboração das leis, que redija tipos penais com a máxima precisão de seus elementos, bem como ao
Judiciário que as interprete restritivamente, de modo a preservar a efetividade do princípio.

O princípio da culpabilidade possui três sentidos fundamentais:

CULPABILIDADE como elemento integrante da teoria analítica do crime: a


culpabilidade é a terceira característica ou elemento integrante do
conceito analítico de crime, sendo estudada, sendo Welzel, após a
análise do fato típico e da ilicitude, ou seja, após concluir que o
agente praticou um injusto penal.

como princípio medidor da pena: uma vez concluído que o fato


praticado pelo agente é típico, ilícito e culpável, podemos afirmar a
existência da infração penal. Deverá o julgador, após condenar o
agente, encontrar a pena correspondente à infração praticada, tendo
sua atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério
regulador.

como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva,


ou seja, da responsabilidade penal sem culpa: – o princípio da
culpabilidade impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Isso
significa que a imputação subjetiva de um resultado sempre depende
de dolo, ou quando previsto, de culpa, evitando a responsabilização
por caso fortuito ou força maior.
DIREITO PENAL

Princípio da exclusiva proteção dos bens jurídicos, o pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo ime-
diato e primordial do Direito Penal reside na proteção de bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade, dentro
do quadro axiológico constitucional ou decorrente da concepção de Estado de Direito democrático (teoria constitu-
cional eclética).

1
Princípio da intervenção mínima estabelece que o Direito Penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos impres-
cindíveis à coexistência pacífica das pessoas e que não podem ser eficazmente protegidos de forma menos gravosa.
Desse modo, a lei penal só deverá intervir quando for absolutamente necessário para a sobrevivência da comunidade,
como ultima ratio.
Esse princípio é o responsável não só pelos bens de maior relevo que merecem a especial proteção do Direito Penal,
mas se presta, também, a fazer com que ocorra a chamada descriminalização.
Se é com base neste princípio que os bens são selecionados para permanecer sob a tutela do Direito Penal, porque
considerados como de maior importância, também será com fundamento nele que o legislador, atento às mutações
da sociedade, que com sua evolução deixa de dar importância a bens que, no passado, eram da maior relevância, fará
retirar do ordenamento jurídico-penal certos tipos incriminadores.

Princípio da fragmentariedade a função maior de proteção dos bens jurídicos atribuída à lei penal não é absoluta.
O que faz com que só devem eles ser defendidos penalmente frente a certas formas de agressão, consideradas so-
cialmente intoleráveis. Isto quer dizer que apenas as ações ou omissões mais graves endereçadas contra bens valiosos
podem ser objeto de criminalização.

Direito Penal aparece sob uma


tríplice forma nas atuais
legislações penais

defendendo o bem jurídico tipificando


somente contra ataques de somente uma parte deixando, em
especial gravidade, exigindo do que nos demais princípio, sem
determinadas intenções e ramos do castigo, as ações
tendências, excluindo a ordenamento jurídico meramente
punibilidade da ação culposa se estima como imorais.
em alguns casos etc antijurídico

Princípio da intranscendência impede-se a punição por fato alheio, vale dizer, só o autor da infração penal pode ser
apenado (CF, art. 5°, XLV).
Havendo falecimento do condenado, a pena que lhe fora infligida, mesmo que seja de natureza pecuniária, não
poderá ser estendida a ninguém, tendo em vista seu caráter personalíssimo, quer dizer, somente o autor do delito é
que pode submeter-se às sanções penais a ele aplicadas.
Todavia, se estivermos diante de uma responsabilidade não penal, como a obrigação de reparar o dano, nada im-
pede que, no caso de morte do condenado e tendo havido bens para transmitir aos seus sucessores, estes respondem
até as forças da herança.
A pena de multa, apesar de ser considerada agora dívida de valor, não deixou de ter caráter penal e, por isso, con-
tinua obedecendo a este princípio.
DIREITO PENAL

2
Com o falecimento do condenado, a
pena que lhe fora infligida, mesmo que
seja de natureza pecuniária, não
poderá ser estendida a ninguém.
Pena de multa tem natureza penal, não
pode ser transferida.

A responsabilidade não penal, como a


obrigação de reparar o dano, nada
impede que, no caso de morte do
condenado e tendo havido bens para
transmitir aos seus sucessores, estes
respondem até as forças da herança.

Individualização da pena

A individualização da pena ocorre em três momentos:

EXECUÇÃO
COMINAÇÃO APLICAÇÃO
PENAL

A primeira fase de Tendo o julgador A execução não pode


individualização da chegado à igual para todos os
pena se inicia com a conclusão de presos, justamente
seleção feita pelo que o fato porque as pessoas
legislador, quando praticado é não são iguais, mas
escolhe para fazer típico, ilícito e sumamente
parte do pequeno culpável, dirá diferentes, e
âmbito de abrangência qual a infração tampouco a execução
do Direito Penal praticada e pode ser homogênea
aquelas condutas, começará, durante todo período
positivas ou negativas, agora, a de seu cumprimento.
que atacam nossos individualizar Individualizar a
bens mais importantes. a pena a ele pena, na execução
Uma vez feita essa correspondente, consiste em dar a
seleção, o legislador observando as cada preso as
valora as condutas, determinações oportunidades para
cominando-lhe penas contidas no art. lograr a sua
de acordo com a 59 do Código reinserção social,
importância do bem Penal (método posto que é pessoa,
a ser tutelado. trifásico). ser distinto.

Princípio da proporcionalidade da pena deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio entre a gravidade do
fato praticado e a sanção imposta.
A pena deve ser proporcionada ou adequada à magnitude da lesão ao bem jurídico representada pelo delito e a
medida de segurança à periculosidade criminal do agente.
DIREITO PENAL

O princípio da proporcionalidade rechaça, portanto, o estabelecimento de cominações legais (proporcionalidade


em abstrato) e a imposição de penas (proporcionalidade em concreto) que careçam de relação valorativa com o fato
cometido considerado em seu significado global.

3
o poder legislativo (que tem de estabelecer penas
proporcionadas, em abstrato, à gravidade do delito)
Tem duplo
destinatário
o juiz (as penas que os juízes impõem ao autor do
delito tem de ser proporcionais à sua concreta
gravidade)

Princípio da humanidade, em um Estado de Direito democrático veda-se a criação, a aplicação ou a execução de


pena, bem como de qualquer outra medida que atentar contra a dignidade humana. Apresenta-se como uma diretriz
garantidora de ordem material e restritiva da lei penal, verdadeira salvaguarda da dignidade pessoal, relaciona-se de
forma estreita com os princípios da culpabilidade e da igualdade.
Está previsto no art. 5°, XLVII, que proíbe as seguintes penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada; b) de
caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis. “Um Estado que mata, que tortura, que humilha o
cidadão não só perde qualquer legitimidade, senão que contradiz sua razão de ser, colocando-se ao nível dos mesmos
delinquentes” (Ferrajoli).
Princípio da adequação socila, aesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal não será tida como típica se for
socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo da ordem social da vida historicamente condicio-
nada.
Outro aspecto é o de conformidade ao Direito, que prevê uma concordância com determinações jurídicas de com-
portamentos já estabelecidos.

1. O princípio da adequação social possui dupla função:


2. Uma delas é a de restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo
as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade.
2.1 A segunda função é dirigida ao legislador em duas vertentes.
2.2 A primeira delas o orienta quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com a finalidade de
proteger os bens considerados mais importantes.

Se a conduta que está na mira do legislador for considerada socialmente adequada, não poderá ele reprimi-la va-
lendo-se do Direito Penal. A segunda vertente destina-se a fazer com que o legislador repense os tipos penais e retire
do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da
sociedade.
Princípio da insignificância, relacionado o axioma mínima non cura praeter, enquanto manifestação contrária ao uso
excessivo da sanção penal, postula que devem ser tidas como atípicas as ações ou omissões que afetam muito infima-
mente a um bem jurídico-penal. A irrelevante lesão do bem jurídico protegido não justifica a imposição de uma pena,
devendo-se excluir a tipicidade em caso de danos de pouca importância.
“A insignificância da afetação [do bem jurídico] exclui a tipicidade, mas só pode ser estabelecida através da con-
sideração conglobada da norma: toda ordem normativa persegue uma finalidade, tem um sentido, que é a garantia
jurídica para possibilitar uma coexistência que evite a guerra civil (a guerra de todos contra todos). A insignificância só
pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à ordem normativa, e, portanto, à norma em particular, e que nos
indica que essas hipóteses estão excluídas de seu âmbito de proibição, o que não pode ser estabelecido à luz de sua
consideração isolada”. (Zaffaroni e Pierangeli)
DIREITO PENAL

4
2) o sistema de interpretação dessa legislação, ou
APLICAÇÃO DA LEI PENAL. A LEI PENAL seja, o saber do Direito Penal (ZAFFARONI, 1991,
p. 41).
NO TEMPO E NO ESPAÇO. TEMPO E
LUGAR DO CRIME. INTERPRETAÇÃO DA LEI Caracteres
PENAL. ANALOGIA. IRRETROATIVIDADE
DA LEI PENAL. CONFLITO APARENTE DE O Direito Penal procura regular as relações entre o
NORMAS PENAIS indivíduo e a sociedade, por este motivo é um âmbito
do direito público, e não privado. No momento da pra-
tica delitiva, nasce uma relação entre o delinquente e o
INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL Estado, o jus puniendi, o qual significa o direito estatal de
atuar sobre o criminoso defendendo a sociedade.
Conceito, caracteres e função do direito penal O criminoso, em contrapartida, tem o direito de não
ser punido se o fato praticado não for previsto em lei.
Conceito O Direito Penal ainda pode ser considerado uma ciên-
cia cultural, normativa, valorativa e finalista (NORONHA,
O Direito Penal pode ser considerado como um “con- 1978, p. 5).
junto de normas jurídicas que tem por objeto a deter- a) É uma ciência cultural por pertencer à classe do de-
minação de infrações de natureza penal e suas sanções ver ser, enquanto a ciência natural diz sobre o ser.
correspondentes (penas e medidas de segurança)” (BI- b) É uma ciência normativa por ter como objeto o
TENCOURT, 2010, p. 32). estudo da norma, o Direito positivo propriamen-
Welzel conceitua o Direito Penal como uma parte do te dito. O “dever ser” utiliza como mandamento a
ordenamento jurídico que fixa as características da ação norma, com consequências jurídicas provindas do
delitiva, vinculando-lhe penas e medidas de segurança não cumprimento destas. De outro lado, vê-se as
(WELZEL, 1987, p. 11). Mezger, por sua vez, considera o ciências causais-explicativas, as quais se preocu-
Direito Penal como “um conjunto de normas jurídicas pam com a gênese do crime, as causas da crimina-
que regulam o exercício do poder punitivo do Estado, lidade, numa interação entre o crime, homem e so-
associando ao delito, como pressuposto, a pena como ciedade, como, por exemplo, a sociologia criminal
consequência” (MEZGER, 1946, p. 27-28). e a criminologia (BITENCOURT, 2010, p. 33).
Franz Von Liszt define o Direito Penal como sendo c) É uma ciência valorativa, já que estabelece uma es-
um conjunto das prescrições emanadas pelo poder esta- cala de valores, variando de acordo com o fato, ou
tal que ligam a conduta criminosa (crime) a pena, como seja, há uma valoração entre as transgressões, não
mera consequência (LISZT, 1927, p.1). se valendo de mesma regra, valor para todas.
Assim, além de ser considerado um conjunto de d) É uma ciência finalista por atuar em defesa da so-
normas estabelecidas por lei, que descrevem compor- ciedade, na busca pela proteção de bens jurídicos,
tamentos socialmente graves ou intoleráveis com suas como a vida, a integridade corporal, a honra, o pa-
respectivas penas, pode-se dizer que o Direito Penal é trimônio.
um instrumento utilizado pelos detentores do Poder, que
o aplicam seletivamente, de modo preferencial àqueles Considera-se também o Direito Penal como sendo
que os contrariam (BUSATO, 2015, p. 4). uma ciência sancionadora, uma vez que protege a ordem
Luiz Flávio Gomes (2007, p. 24) divide o conceito de jurídica com sanções. Tem-se que o Direito Penal não cria
Direito Penal em duas vertentes, sendo eles: bens jurídicos, mas os protege, deixando a criação para
a) conceito dinâmico e social: sendo um instrumen- as outras áreas do Direito.
to do controle social formal efetuado pelo Estado, Pondera-se, também, que às vezes o Direito Penal
mediante normas penais, que buscam punir com pode ser constitutivo, como dito por Zaffaroni (1991, p.
sacões de particular gravidade condutas desviadas, 57): “é predominantemente sancionador e excepcional-
visando assegurar a disciplina social e a convivên- mente constitutivo”. Pelo caráter constitutivo, possibilita-
cia humana. Considera-se dinâmico porque está -se a proteção de bens ou interesses não regulados em
vinculado a cada momento social, com base na outras áreas do Direito, como, por exemplo, a omissão de
cultura, alterando-se com as mudanças sociais. socorro, os maus-tratos aos animais, as tentativas bran-
b) conceito estático e formal: Pode-se afirmar que o cas (que não produzem lesão com resultado) (BITEN-
Direito Penal se basta em um conjunto de normas COURT, 2010, p. 34).
jurídicas que definem condutas como infrações
penais, associando a essas penas, medidas de se-
gurança ou outras consequências jurídicas, como
indenização civil.
DIREITO PENAL

Raúl E. Zaffaroni aponta que o Direito Penal “desig-


na-se – conjuntamente ou separadamente – duas coisas
distintas:
1) O conjunto de leis penais, isto é, a legislação penal;
ou

5
a) não há responsabilidade objetiva pelo simples re-
#FicaDica sultado;
b) a responsabilidade penal é pelo fato e não pelo
O Direito Civil regula o direito de proprie- autor;
dade, ao passo que o Direito Penal protege c) a culpabilidade é a medida da pena (BITERNCOURT,
a propriedade de crimes, impondo sanções 2010, p. 47).
aos transgressores. Isso é o caráter sancio-
nador. Lembre-se, de modo excepcional o d) Princípio da humanidade: Serve como freio para a
Direito Penal é constitutivo, constituindo aplicação de penas cruéis, como a prisão perpétua.
algo que não foi previsto por outro âmbito O poder punitivo do Estado deve respeitar a dig-
do Direito. nidade da pessoa humana, não podendo aplicar
sanções que lesionem o apenado de forma física
ou psíquica.
Função Com base nesse princípio se retira a ideia de reedu-
cação e reinserção social do criminoso (RAMIREZ, 1989,
p. 386).
É praticamente pacífica a idéia de que o Direito Penal
tem como função a proteção dos bens jurídicos. O bem
e) Princípio da irretroatividade da lei penal: A norma
jurídico violado deve possuir um sentido social próprio,
penal não deve retroagir, ou seja, um fato prati-
anterior à norma, caso contrário, não é passível de prote-
cado hoje não será alcançado por uma norma in-
ção jurídica pelo Direito Penal. criminadora criada daqui 2 anos, por exemplo. A
Pode-se ressaltar ainda que o Direito Penal tem papel exceção se mostra quando a nova norma não for
de preservar a ordem social, sendo, em último caso, pos- incriminadora, mas sim desincriminadora, ou seja,
sível empregar o instrumento coativo (pena ou medida aceita-se a retroatividade da lei penal nos casos
de segurança), para os que não respeitarem os manda- em que ela favoreça o acusado.
mentos sociais. Exemplo 1: Fato (não criminoso) praticado em 2018 –
Lei criada em 2019 passa a incriminar o fato praticado em
Princípios básicos do Direito Penal 2018 – não se aplica essa nova lei (2019) no caso (2018),
com base no princípio da irretroatividade.
São eles: Exemplo 2: Fato (criminoso por lei) praticado em 2018
a) princípio da legalidade; - em 2019 esse fato deixa de ser crime por conta de uma
b) princípio da intervenção mínima; nova lei – como exceção a irretroatividade, deve-se re-
c) princípio de culpabilidade; troagir, já que a nova lei é mais benéfica ao acusado.
d) princípio de humanidade;
e) princípio da irretroatividade da lei penal;
f) princípio da adequação social;
#FicaDica
h) princípio da insignificância; A retroatividade da lei penal é possível quan-
i) princípio da ofensividade; do a nova lei for mais favorável ao acusado.
j) princípio da proporcionalidade.

a) Princípio da legalidade: Condiciona a atuação esta- f) Princípio da adequação social: Em acordo com os
tal no processo criminal, um limite formal, ou seja, ensinamentos de Welzel (1987, p. 83), somente
deve-se aplicar a lei. pode tipificar condutas que tenham certa relevân-
cia social. Assim, há condutas que estão adequadas
b) Princípio da intervenção mínima: Já que o princí- socialmente, ou seja, por conta do tempo deixam
pio da legalidade impõe limites ao arbítrio esta- de ser considerados crimes.
tal, mas não impede o Estado de criar tipos penais Exemplo: No caso do jogo do bicho, pode-se afasta a
desnecessários com sanções descabidas, utiliza-se aplicação da Lei Penal para o “apontador”, mantendo-se
a intervenção mínima como outro vetor de limita- a norma válida para punir o “banqueiro”, cuja ação e re-
ção estatal. Por ela, limita-se o poder incriminador sultados desvaliosos merecem a censura jurídica (BITEN-
do Estado, prescrevendo que o Direito Penal pode COURT, 2010, p. 51).
ser utilizado somente como última medida, ultima
ratio. h) Princípio da insignificância: Pode-se recordar que
Em planos práticos, caso outra forma de sanção (fora o princípio da insignificância foi pensado por Claus
do âmbito penal) ou outro meio de controle social seja Roxin, na década de 60, a partir do princípio da
suficiente para a tutela do bem jurídico, recomenda-se a adequação social, anteriormente criado por Wel-
não utilização do Direito Penal. zel. Era, diante do pensamento de Roxin, necessá-
Assim, concluí-se que o Direito Penal tem caráter sub- rio implantar no sistema penal princípios que ex-
sidiário. cluíssem os danos de pouca importância.
DIREITO PENAL

Assim, observa-se que “a tipicidade penal exige uma


c) Princípio de culpabilidade: Em sua configuração ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos protegidos,
principal, leia-se: não há crime sem culpa. Entre- pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interes-
tanto, pode-se considerar que há três consequên- ses é suficiente para configurar o injusto típico.” (BITEN-
cias materiais para essa frase: COURT, 2018, p. 45).

6
Ou seja, somente se deve punir quando o crime apre- modo strictu sensu, consiste no programa de objetivos,
sentar ofensas plausíveis para tal. métodos de procedimentos e de resultados pelos quais
Tem-se que para a incidência do princípio da insig- autoridades fazem a prevenção e a repressão da crimina-
nificância, como já asseverado pelo Supremo Tribunal lidade. (ALBUQUERQUE, 2004, p. 1)
Federal, deve haver a presença de quatro vetores, com- Ou seja, a Política criminal estuda as formas de con-
preendidos por: trole da violência, da criminalidade, como política de lei e
a) a mínima ofensividade da conduta do agente; ordem, tolerância zero, minimalistas, abolicionistas.
b) a nenhuma periculosidade social da ação; O Direito Penal, por sua vez, deve ser compreendido
c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do com- como uma ciência normativa, o qual visualiza a conduta
portamento; e como anormal e fixa uma pena/punição. A conduta, por
d) a inexpressividade da lesão jurídica praticada meio de uma ação ou omissão, deve ser típica, antijurí-
i) Princípio da ofensividade: É necessário que haja um dica e culpável, levando-se em consideração os ensina-
perigo concreto para se aplicar o Direito Penal, um mentos da corrente causalista.
dano a um bem jurídico previamente protegido. O
fato deve ser lesivo. #FicaDica
Lembra-se que o Direito Penal contempla, em alguns
casos, a figura da tentativa, já que houve um perigo con- Lembre-se, tanto o Direito Penal, quanto a
creto ao bem jurídico protegido. Criminologia estudam o crime, porém com
enfoques diferentes. .
j) Princípio da proporcionalidade: A aplicação da pena
deve ser proporcional com base no crime pratica-
do, ou seja, um crime de menor potencial ofensivo
#FicaDica
não pode ser punido com pena de reclusão em re-
gime inicial fechado, já que não se mostra propor- Em sentido amplo, a Criminologia estuda a
cional tal aplicação. origem do crime (causas), o Direito Penal a
decidibilidade de conflitos e a Política Crimi-
Relação do Direito Penal com outros ramos do Di- nal as formas de combate da violência.
reito.

Em relação aos outros ramos do Direito, o Direito Pe- Lei penal no tempo
nal tem o de aplicar sanções, de modo preventivo, ou
com finalidade de restabelecer o controle social. A Lei Penal encontra sua eficácia entre a entrada em
No Direito Administrativo, a Lei penal é aplicada atra- vigor e a cessação de sua vigência, não alcançando os
vés dos agentes da administração, como Juiz, Promotor, fatos ocorridos antes ou depois dos limites, ou seja, não
Delegado, etc... retroage e nem tem ultra-atividade. Este é o princípio
Quanto ao Direito Civil, tem-se que um mesmo fato tempus regit actum.
pode caracterizar um ilícito penal e uma obrigação de a) O princípio da irretroatividade tem sua vigência so-
reparação civil, como visto em alguns crimes de trânsito. mente na lei mais severa, sendo que em caso de lei
No que se refere ao Direito Empresarial, a Lei Penal mais benéfica é possível a retroatividade.
prevê crimes em alguns casos, como os crimes falimen- b) É possível a aplicação de uma lei não obstante ces-
tares. sada a sua vigência, desde que mais benéfica em
Não obstante, no Direito do Trabalho há os crimes face de outra, posterior. Essa qualidade da lei, pela
contra a Organização do Trabalho, dispostos no Código qual tem eficácia mesmo depois de cessada a sua
Penal que refletem no âmbito trabalhista. vigência, recebe o nome de ultra-atividade (JESUS,
Por fim, há, no âmbito tributário, os crimes de sone- 2014, p. 25).
gação fiscal, tutela penal. c) Quanto a Lei mais benéfica, tem-se que esta pre-
valece sobre a mais severa, prolongando-se além
Direito Penal, Criminologia e Política Criminal do instante de sua revogação ou retroagindo ao
tempo em que não tinha vigência. É ultra-ativa e
A criminologia se ocupa a pesquisar fatores físicos, retroativa. Ou seja, ela prevalece tanto em caso da
sociais, psicológicos que inspiram o delinquente, a evolu- antiga lei, quanto em caso de nova lei, sempre em
ção do delito, as relações da vítima com o fato delituoso favor do acusado.
e as instâncias de controle social, abrangendo diversas d) Em caso de Lei mais severa, jamais haverá a re-
disciplinas criminais, como antropologia criminal, biolo- troatividade (princípio da irretroatividade), nem a
gia criminal, sociologia criminal, política criminal, etc... eficácia além do momento de sua revogação (ul-
(PENTEADO FILHO, 2014, p. 27) tra-atividade).
As estatísticas originadas da criminologia servem
DIREITO PENAL

para orientar as políticas criminais, quanto à prevenção A Lei posterior é aquela promulgada em último lu-
e à repressão criminal. gar. Determina-se a anterioridade e a posterioridade pela
Assim, tem-se que enquanto a criminologia cuida do data da publicação e não pela data da entrada em vigor
estudo do delito, delinquente, vítima e controle social, de (JESUS, 2014, p. 27).
modo empírico e interdisciplinar, a política criminal, de

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Formas de choques entre leis d) Justiça Penal Universal, universalidade ou cosmo-
polita: Qualquer Estado pode punir qualquer cri-
a) Abolitio criminis: Quando uma nova lei deixa de me, seja qual for à nacionalidade do criminoso ou
considerar crime fato anteriormente considerado da vítima, não importando o local de sua prática.
crime. Para a imposição da pena, basta o criminoso estar
b) Novatio legis incriminadora: Quando a nova lei pas- dentro do território nacional (JESUS, 2014, p. 38).
sa a considerar crime algo que não era antes, esta e) Representação ou bandeira: Ocorre quando a Lei
não poderá retroagir a fatos passados, anteriores a Penal de determinado país também é aplicável aos
sua vigência, já que não há crime sem lei anterior delitos cometidos em aeronaves e embarcações
que o defina (nullum crimen sine praevia lege). privadas, quando realizados no estrangeiro e ali
não venham a ser julgados (JESUS, 2014, p. 38).

c) Novatio legis in pejus: A lei que de alguma forma


pode agravar a situação do acusado não retroagi- O Brasil adota o princípio da Territorialidade como re-
rá. (Art. 5º, XL da CF). Em caso de conflito de duas gra (artigo 5º do Código Penal), possibilitando como ex-
leis, a anterior, mais benigna, e a posterior, mais ceção os princípios da defesa/proteção (art. 7º, I e § 3º);
severa, aplicar-se-á a mais benigna. (BITENCOURT, da nacionalidade ativa (art. 7º, II, b); da Justiça Universal
2010, p. 187). (art. 7º, II, a); e da representação (artigo 7º, II, c).
d) Novatio legis in mellius: Quando uma lei nova, mes- Entende-se por território nacional a soma do espaço
mo sem descriminalizar o fato, prevê novo trata- físico (ou geográfico) com o espaço jurídico (espaço físi-
mento mais favorável ao acusado, deve-se preva- co por ficção, por equiparação, por extensão ou território
lecer esta, mesmo que o processo se encontre em flutuante).
fase de execução. Não se fere o princípio da coisa Por  território físico entende-se o espaço terrestre,
julgada. marítimo ou aéreo, sujeito à soberania do Estado (solo,
rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior
ao longo da costa – 12 milhas marítimas de largura, me-
Lei penal no espaço
didas a partir da linha de baixa-mar do litoral continente
e insular – e espaço aéreo correspondente).
A Lei Penal tem vigência em todo território nacional,
Para os efeitos penais, consideram-se como exten-
com base no princípio da territorialidade, nacionalidade,
são do território nacional as embarcações e aeronaves
defesa, justiça penal universal e representação.
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do gover-
a) Territorialidade: Consiste no entendimento o qual a
no brasileiro onde quer que se encontrem, bem como
lei penal só tem aplicação no território do Estado
as embarcações e as aeronaves brasileiras (matriculadas
que a determinou. (Como nos casos de delegação no Brasil), mercantes ou de propriedade privada, que se
por Lei Complementar) (JESUS, 2014, p. 38). Em achem, respectivamente, em alto-mar ou no espaço aé-
caso de Lei penal brasileira, tem-se a aplicação em reo correspondente (art. 5°, § 1°, CP).
todo território nacional, independente da naciona- É também aplicável a lei brasileira aos crimes cometi-
lidade do agente, vítima ou do bem jurídico lesado. dos a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras
(BITENCOURT, 2010, p. 198). de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso
b) Nacionalidade ou personalidade: Aplica-se a lei pe- no território nacional ou em vôo no espaço aéreo cor-
nal da nacionalidade do criminoso, não importan- respondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil
do o lugar que o fato ilícito foi praticado. O Estado (art. 5º, § 2°, CP) (CUNHA, 2018).
tem o direito de exigir que o seu nacional no país
estrangeiro tenha determinado comportamento. Tempo e Lugar do crime

Tempo do crime: O Código Penal adota a teoria da


#FicaDica atividade, considerando praticado o crime no momento
Esse princípio apresenta duas formas: da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
1) personalidade ativa: Casos em que con- resultado.
sidera apenas a nacionalidade do autor do Como título de complementação, relembra-se que há
delito, independente da nacionalidade do outras teorias, além da teoria da atividade. São elas:
sujeito passivo do delito; i) a Teoria do Resultado, que considera momento do
2) personalidade passiva: nesta hipótese im- crime quando a produção do resultado;
porta somente se a vítima do delito é na- ii) Teoria Mista, que considera o tempo do delito o
cional, ou seja, o bem jurídico deve ser do momento da ação ou do resultado, sendo indife-
próprio Estado, vítima ou do concidadão. rente sua definição.
DIREITO PENAL

Lugar do crime: Serve para definir a competência, a


c) Defesa, real ou proteção: Leva em consideração a territorialidade. Divide-se em 8 Teorias.
nacionalidade do bem jurídico lesado pelo crime,
independente do local de sua prática ou da nacio- a) Teoria da ação ou da atividade: Lugar do delito é
nalidade do criminoso (JESUS, 2014, p. 38). aquele em que se realizou a conduta típica.

8
b) Teoria do resultado ou do evento: Lugar do delito São os casos de extraterritorialidade incondicionada:
é onde ocorreu o evento ou o resultado, onde o os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente
crime se consumou, pouco importando a ação ou da República; (princípio da defesa ou real, pois se preo-
intenção do agente. cupa com a nacionalidade do bem jurídica) b) contra o
c) Teoria da intenção: Lugar do crime é onde deveria patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal,
ocorrer o resultado. de Estado, de Território, de Município, de empresa pú-
d) Teoria do efeito intermédio ou do efeito mais pró- blica, sociedade de economia mista, autarquia ou funda-
ximo: Lugar do delito é aquele em que a energia ção instituída pelo Poder Público; (princípio da defesa ou
movimentada pela atuação do agente alcança a real, pois se preocupa com a nacionalidade do bem jurí-
vítima ou o bem jurídico. dica) c) contra a administração pública, por quem está a
e) Teoria da ação à distância ou da longa mão: Lugar seu serviço; (princípio da defesa ou real, pois se preocupa
do crime é aquele em que se verificou o ato exe- com a nacionalidade do bem jurídica); d) de genocídio,
cutivo. quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
f) Teoria limitada da ubiquidade: Lugar do delito tanto (são três correntes acerca do princípio aplicável a esta
hipótese: princípio da justiça penal universal (porquan-
pode ser o da ação, como o do resultado.
to o Brasil se obrigou, por meio de Tratado, a coibir o
g) Teoria pura da ubiquidade, mista ou unitária: lugar
genocídio, não importando o local onde foi praticado);
do crime pode ser o lugar da ação, do resultado
princípio da defesa ou real (pois é genocídio é julgado
ou ainda o lugar do bem jurídico afetado, atingido.
pelo Brasil apenas quando envolver brasileiros); ou prin-
Essa é a teoria adotada pelo Direito brasileiro, con- cípio da nacionalidade ativa (este está errada, pois não se
forme artigo 6º do Código Penal. exige apenas que o agente seja nacional; pode ser tam-
bém o ser levado em consideração o domicílio no Brasil).
Leis Excepcionais, Temporárias e Especiais. A corrente que prevalece é a primeira, ante a natureza
supralegal dos tratados internacionais sobre direitos hu-
Leis excepcionais são aquelas promulgadas em casos manos. (MORAES).
de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos,
epidemias etc... (JESUS, 2014, p. 32). Nestes casos, o criminoso poderá ser condenado pela
São leis temporárias aquelas que possuem vigência lei brasileira, independente de absolvido ou condenado
previamente fixada pelo legislador, a qual determina a no estrangeiro.
data em que a lei entrará em vigência e sairá. (JESUS, Por sua vez, a territorialidade condicionada esta pre-
2014, p. 32). vista no artigo 7º, II do Código Penal.
Face ao princípio da especialidade, o Código Penal São casos de extraterritorialidade condicionada: os
se aplica apenas aos casos em que não houver dispo- crimes:
sições especiais, ou seja, leis especiais próprias para o a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
caso. Exemplo: O tráfico de drogas é regido pena Lei a reprimir; (princípio da justiça penal universal)
11.343/06, sendo esta uma lei especial. Assim, este crime b) praticados por brasileiro; (princípio da nacionali-
será julgado nos termos dessa Lei especial, utilizando- dade ativa)
-se o Código Penal somente para sanar omissões da Lei c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei-
11.343/06. ras, mercantes ou de propriedade privada, quando
em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
Territorialidade e Extraterritorialidade (princípio da representação).

Relembrando, a territorialidade consiste no entendi- Ainda se tem o § 2º e o § 3º, que apresentam o se-
guinte:  
mento o qual a lei penal só tem aplicação no território do
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasilei-
Estado que a determinou. (Como nos casos de delegação
ra depende do concurso das seguintes condições: 
por Lei Complementar) (JESUS, 2014, p. 38). Em caso de
a) entrar o agente no território nacional; 
Lei penal brasileira, tem-se a aplicação em todo territó-
b) ser o fato punível também no país em que foi pra-
rio nacional, independente da nacionalidade do agente, ticado; 
vítima ou do bem jurídico lesado. (BITENCOURT, 2010, c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei
p. 198). brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
No que se refere às hipóteses de extraterritorialidade, não ter aí cumprido a pena; 
tem-se que essas estão previstas no artigo 7º do Código e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
Penal, constituindo exceções as hipóteses do artigo 5º, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, se-
ou seja, a territorialidade. gundo a lei mais favorável. 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime co-
DIREITO PENAL

A extraterritorialidade incondicionada se encontra no metido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil,
artigo 7º, inciso I, que prevê casos em que a Lei Brasileira se, reunidas as condições previstas no parágrafo an-
será aplicada ao delito cometido no estrangeiro, sem a terior: 
necessidade das condições do artigo 7º, § 2º do Código a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
Penal. b) houve requisição do Ministro da Justiça. 

9
Por conta das condições do § 2º do Artigo 7º do Códi- a) Especialidade: A norma especial é predominan-
go Penal, consideram-se os casos do inciso II do mesmo te a norma geral. (Exemplo: Lei de Drogas – Lei
artigo casos de extraterritorialidade condicionada. 11.343/06 prevê que o acusado é o primeiro a ser
ouvido, mediante interrogatório, na fase de ins-
Pena cumprida no estrangeiro e eficácia da sen- trução, enquanto o Código Penal prevê que será o
tença estrangeira último. Pelo princípio da especialidade, aplica-se a
norma especial, a Lei de Drogas).
A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena im- b) Subsidiariedade: Ocorre quando há uma relação de
primariedade e subsidiariedade entre duas normas
posta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou
ao descrever graus de violação de um mesmo bem
nela é computada, quando idênticas. Importante salien- jurídico, de forma que a norma subsidiária é afas-
tar que há hipóteses em que a sentença penal estran- tada pela aplicabilidade da norma principal.
geira precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de A condição de subsidiariedade pode ser expressa
Justiça para que produza efeitos no Brasil, quais são: (descrita na lei – art. 132 do CP, por exemplo) ou táci-
ta (não descrita – como no caso do crime de dano [art.
163 do CP] que é subsidiário do furto com destruição
I – A sentença que obrigar o condenado à reparação ou rompimento de obstáculo; a violação de domicílio do
do dano, a restituições e a outros efeitos civis;   crime de furto ou roubo). (BITENCOURT, 2010, p. 225).
II – A sentença que sujeitá-lo a medida de segurança. c) Consunção: Conhecido também como princípio da
absorção. Ocorre quando um crime constitui meio
Ressalta-se que nos dois casos há a necessidade de necessário ou fase normal de preparação ou exe-
que a lei brasileira também preveja os mesmos efeitos da cução de outro crime, como, por exemplo, lesões
situação abordada pela sentença estrangeira. corporais que determinam a morte são absorvi-
Para a homologação da sentença estrangeira se deve das pelo homicídio; o furto com arrombamento
em casa habitada absorve a aplicação do crime de
ter:
dano e violação de domicílio.
a) o pedido da parte interessada, no caso da repara-
ção de dano, restituições e outros efeitos civis; Lembra-se que o princípio da alternatividade, defen-
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de dido por alguns doutrinadores como princípio orienta-
extradição com o país de cuja autoridade judiciária dor em caso de conflito de normas, é usado para dirimir
emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de re- conflito dos tipos mistos de conteúdo variado.
quisição do Ministro da Justiça.

Irretroatividade #FicaDica

A lei penal deve ser anterior a pratica delitiva, caso O principio que aparentemente é essencial
contrário incidirá o princípio da irretroatividade. Neste para o concurso aparente de normas é o da
sentido, o artigo 1º do Código Penal prevê que: “Não especialidade, ou seja, nos casos de existên-
há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem cia de lei especial, aplica-se este princípio.
prévia cominação legal”.
Lembre-se que o conjunto de normas incriminadoras
é taxativo, ou seja, o fato é típico (está em lei) ou atípico
(não está em lei) (JESUS, 2014, p. 23). EXERCÍCIOS COMENTADOS

Assim, o princípio da irretroatividade somente se apli- 1. POLÍCIA FEDERAL – Agente de Polícia Federal –
ca na lei mais severa, sendo que em caso de lei mais be- CESPE- 2014: No que se refere à aplicação da lei penal o
néfica é possível a retroatividade. item abaixo apresenta uma situação hipotética, seguida
de uma assertiva a ser julgada.
Conflito aparente de normas penais Sob a vigência da lei X, Lauro cometeu um delito. Em
seguida, passou a viger a lei Y, que, além de ser mais
A Lei não regula as situações de concurso aparente gravosa, revogou a lei X. Depois de tais fatos, Lauro foi
levado a julgamento pelo cometimento do citado delito.
de normas, problema resolvido por meio da interpre-
Nessa situação, o magistrado terá de se fundamentar no
tação, com base na conduta ou no fato, na pluralidade
instituto da retroatividade em benefício do réu para apli-
de normas coexistentes e na relação de hierarquia ou de car a lei X, por ser esta menos rigorosa que a lei Y.
dependência entre essas normas (BITENCOURT, 2010, p.
223). ( ) CERTO ( ) ERRADO
Utiliza-se princípios orientadores, quais são:
DIREITO PENAL

a) especialidade; Resposta: Errado. A questão se refere à ultratividade


b) subsidiariedade; e não retroatividade, ou seja, o juiz deveria fundamen-
c) consunção. Há estudiosos que incluem o princípio tar no instituto da ultratividade. A lei anterior mais be-
da alternatividade neste rol. néfica continua em vigor para fatos ocorridos durante
sua vigência.

10
2. POLÍCIA FEDERAL – Delegado de Polícia- CESPE- Exemplo de crime por omissão: Omissão de socorro,
2004: Roberval foi definitivamente condenado pela prá- ou seja, o agente deveria salvar, mas ficou inativo sem
tica de crime punido com reclusão de um a três anos. justificativa
Após o cumprimento de metade da pena a ele aplica-
da, adveio nova lei, que passou a punir o crime por ele ITER CRIMINIS – FASES DO CRIME
praticado com detenção de dois a quatro anos. Nessa
situação, a lei nova não se aplicará a Roberval, tendo em As fases do delito podem ser compreendidas em:
vista que sua condenação já havia transitado em julgado. a) cogitação;
b) atos preparatórios;
c) execução;
( ) CERTO ( ) ERRADO
d) consumação.

Resposta: Errado. A Lei penal que é mais benéfica a) Cogitação: Não constitui fato punível quando não
pode ser aplicada, mesmo após o transito em julgado se projeta no mundo exterior, não ingressa na exe-
da sentença penal condenatória. Deste modo, aplicar- cução do crime.
-se-á a detenção no lugar da reclusão, por ser mais b) Atos preparatórios: Em regra não tem tentativa,
benéfica. sendo fato atípico. Exceção: Associação criminosa,
já que pode punir o crime com apenas atos pre-
paratórios; crime de petrechos para falsificação de
3. POLÍCIA FEDERAL – Agente Federal da Polícia Fede-
moeda; terrorismo pela Lei de Antiterrorismo.
ral- CESPE- 2004: Célio praticou crime punido com pena
c) Execução: Momento que está acontecendo a prati-
de reclusão de 2 a 8 anos, sendo condenado a 6 anos e
ca delitiva. Exemplo: escalando o prédio para fur-
5 meses de reclusão em regime inicialmente semi-aber- tar.
to. Apelou da sentença penal condenatória, para ver sua d) Consumação: conformidade entre o fato e a nor-
pena diminuída. Pendente o recurso, entrou em vigor lei ma penal, momento em que se atinge o resultado
que reduziu a pena do crime praticado por Célio para pretendido.
reclusão de 1 a 4 anos. Nessa situação, Célio não será
beneficiado com a redução da pena, em face do princípio Consumação e tentativa
da irretroatividade da lei penal previsto constitucional-
mente. Crime consumado: Aquele concretizado, com todos
os elementos do tipo penal.
( ) CERTO ( ) ERRADO Crime tentado: Ocorre quando o crime não se consu-
ma por circunstâncias alheias a vontade do sujeito.
A tentativa diminui a pena de um terço a dois terços,
Resposta: Errado. A Lei penal retroagirá neste caso, levando-se em consideração o momento da execução,
tendo em vista o benefício que trará para o réu. Lem- ou seja, quanto mais perto da consumação, menos dimi-
bra-se que a lei penal retroage mesmo que a sentença nuição terá.
condenatória já esteja transitada em julgado. Não há tentativa em crimes culposos, preterdolosos,
contravenções, omissivos próprios (ex: omissão de so-
corro), unissubsistentes (ex: injúria-ato único), crimes de
atentado.
ILICITUDE Concluí-se que o iter criminis pode ser interrompido
de duas maneiras:
a) pela vontade do agente: resultando em desistência
O resultado, de que depende a existência do crime, voluntária ou arrependimento eficaz.
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera- b) por interferência de terceiros ou fato alheio a von-
tade do agente: configurando-se a tentativa.
-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido.
Desistência voluntária e arrependimento eficaz
Ademais, a superveniência de causa relativamente
independente exclui a imputação quando, por si só, pro- A desistência voluntária esta prevista no artigo 15 do
duziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, impu- Código Penal, devendo-se ocorrer no começo da execu-
tam-se a quem os praticou. ção, ou seja, o agente desiste de continuar a execução
A omissão é penalmente relevante quando a pessoa do crime que ainda está iniciando. Não há crime nesta
que omitiu deveria ou poderia agir para evitar o resulta- hipótese, sendo o fato atípico.
do. Este dever de agir incumbe a quem: Por sua vez, o arrependimento eficaz, também previs-
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou to no artigo 15 do Código Penal, ocorre quando o agen-
vigilância;  te inicia a execução, completando os atos executórios,
DIREITO PENAL

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de im- porém impedindo por vontade própria a produção do
pedir o resultado;  resultado e a consumação. Neste caso, o agente só res-
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ponderá pelos atos já praticados. (Furto, mas impede o
ocorrência do resultado. resultado por vontade própria, restando somente à inva-
são de domicílio).

11
Crime doloso e crime culposo
#FicaDica
O crime doloso é aquele que acontece quando o
No arrependimento eficaz o agente não agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-
produz o resultado, não consuma o crime -lo, ou seja, ocorreu pela vontade de concretizar o crime.
por vontade própria, caso contrário seria O crime culposo, por sua vez, ocorre quando o agente
tentativa deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia, ou seja, por falta de cuidado no agir.

#FicaDica Modalidades de dolo:


a) Dolo direto: quando o sujeito visa certo e determi-
A Lei de antiterrorismo prevê a punição para nado resultado (ex: esfaquear para matar alguém).
atos preparatórios. b) Dolo indireto: não tem certo e determinado resul-
tado, variando-se em dolo alternativo (aquele que
Arrependimento posterior tem a intenção de um ou outro resultado, como
ferir ou matar alguém); e dolo eventual (quando o
Previsto no artigo 16 do Código Penal, ocorre quan- sujeito admite o risco do resultado).
do o agente se arrepende posteriormente a consumação Modalidades de culpa:
do delito. Somente pode ser reconhecido caso o agente a) Culpa inconsciente: ocorre quando o sujeito atua
restitua a coisa até o oferecimento da denúncia em pro- sem consciência do resultado que poderia ocorrer;
b) Culpa consciente: o sujeito prevê o resultado, po-
cesso criminal.
rém não acredita que irá acontecer, confiando nas
O Supremo Tribunal de Federal entende que a resti-
suas habilidades. (Exemplo: corridas ilegais de car-
tuição da coisa pode ser considerada desde que seja 50
ro, embriaguez ao dirigir).
% do valor ou da coisa, ou seja, é admitida a reparação
parcial no arrependimento posterior.
Há requisitos para o reconhecimento do arrependi- #FicaDica
mento posterior, devendo-se ser: a) crime sem violência
ou grave ameaça; b) a reparação deve ser até o recebi- A culpa consciente é diferente do dolo even-
mento da denúncia (podendo ser de apenas 50% confor- tual, no primeiro o sujeito não quer o resul-
me entendimento de STF). tado, confiando que não irá acontecer, en-
O arrependimento posterior pode diminuir a pena de quanto no segundo o sujeito assume o risco,
um terço a dois terços. O quantum da diminuição se dará sendo indiferente se acontecer o resultado.
na velocidade da restituição da coisa.

#FicaDica
#FicaDica
Ausência de dolo pode ser FATO ATÍPICO.
Nos casos de crimes tributários (Lei 8.137/90;
artigo 334 e 168 –A do CP), se restituído o
valor total do prejuízo a qualquer momento, a) Imprudência: É a prática de um fato perigoso des-
extingue a punibilidade. necessário (Exemplo: dirigir em alta velocidade).
b) Negligência: É a falta de atenção, preocupação
Crime impossível (Exemplo: Deixar arma de fogo perto de uma crian-
ça.
Previsto no artigo 17 do Código Penal, o crime impos- c) Imperícia: É a falta de habilidade técnica para algo
sível é aquele que seria impossível de ser concretizado, (Exemplo: Médico que não sabe fazer cirurgia, mas
ou seja, após a prática do fato vê-se que era impossível a faz).
sua consumação, pela ineficácia absoluta do meio ou im-
propriedade do objeto material, tornando-se o fato atí- #FicaDica
pico por força do artigo 387, III do Código de Processo
O Direito Penal brasileiro aceita somente a
Penal.
culpa exclusiva da vítima, ou seja, não existe
Exemplos:
a figura da culpa concorrente (entre a vítima
I- O agente aperta o gatinho com uma arma descar-
e o acusado).
regada (ineficácia do meio de execução)
II- Mulher achando estar grávida tenta abortar (im-
propriedade do objeto material). Crime preterdoloso
DIREITO PENAL

III- Loja vazia no momento do furto (impropriedade


do objeto material). Ocorre quando há o dolo na ação/omissão antece-
dente, mas a culpa no consequente, ou seja, acontece
quando o delinquente produz resultado mais grave que
pretendia.

12
Exemplo: Sujeito deseja roubar uma pessoa, porém qualidades da vítima real são desconsideradas,
mata sem querer a vítima durante o roubo. considerando somente as qualidades da pessoa
contra quem o agente queria praticar o crime.
Crime preterdoloso e crime qualificado pelo resul- b) Aberratio Ictus (Erro na execução): É a aberração
tado ao ataque ou desvio do golpe. Ocorre quando o
sujeito, pretendendo atingir uma pessoa, vem a
Atente-se que não são sinônimos, já que o crime qua- ofender outra. Aplica-se somente aos crimes do-
lificado pelo resultado, ao contrário do preterdoloso, o losos. Exemplo: Erro de pontaria, quando o projétil
resultado ulterior, mais grave, derivado involuntariamen- se devia da trajetória acertando outra pessoa no
te da conduta criminosa, lesa um bem jurídico que, por disparo (JESUS, 2014, p. 326).
sua natureza, não contém o bem jurídico precedente- c) Aberratio criminis (Resultado diverso do pretendi-
mente lesado (BITENCOURT, 2010, p. 343). do): É o desvio do crime. Enquanto na aberratio
Exemplo: Lesão corporal seguida de morte é preter- ictus existe erro de execução quanto à pessoa (erra
doloso, enquanto o aborto seguido de morte da gestante a pessoa, a vítima), na aberratio criminis erra-se um
é qualificado pelo resultado, ou seja, nunca se conseguirá bem jurídico.
matar uma pessoa sem ofender sua saúde ou integridade
corporal (como a lesão corporal seguida de morte), en- Erros Essenciais
quanto para matar alguém não se terá necessariamente
de fazê-lo abortar (aborto com ou sem consentimento Erro de tipo incriminador Fato Típico
da gestante, qualifica-se pelo resultado) (BITENCOURT, (art. 20 do CP)
2010, p. 343). Erro de tipo permissivo (art. Excludente de ilicitude
20, § 1º do CP)
Erro de Tipo
Erro de proibição (art. 21 do Culpabilidade
Erro de tipo é aquele que recai sobre circunstância CP)
elementar da descrição típica. É a falsa percepção da rea-
lidade sobre um elemento constitutivo de crime (BITEN- Erros acidentais
COURT, 2010, p. 325).
Erro sobre a pessoa (art. 20, Relação com a vítima
Divide-se em duas espécies, sendo:
§ 3º do CP)
a) erro de tipo essencial, o qual sempre exclui o dolo
(para fatos inevitáveis), porém podendo-se punir Aberratio Ictus (art. 73 do Relação com a vítima
pela culpa caso seja evitável; CP)
b) erro de tipo inevitável (ou acidental), o qual exclui Aberratio Criminis (art. 74 Relação com bem
a tipicidade por algo subjetivo do crime. do CP) jurídico

Tipos de erro essencial: ILICITUDE – Excludentes de ilicitude.


a) Erro de tipo incriminador: Aquele que faz o sujeito
supor a ausência de elemento ou circunstância da O fato para ser punível deve ser típico (previsto em
figura típica incriminadora ou a presença de requi- lei), ilícito (antijurídico) e culpável (culpabilidade). Há
sitos permissivos (JESUS, 2014, p. 118). determinadas hipóteses que não configuram fato ilícito.
b) Erro de tipo permissivo: Caso o sujeito, por erro São elas:
plenamente justificado pelas circunstâncias do
fato, suponha estar em face de alguma causa de Estado de necessidade
exclusão de ilicitude, como legítima defesa, estrito
cumprimento do dever legal, exercício regular de Ocorre quando o sujeito pratica o fato para salvar pe-
direito ou estado de necessidade, este fica isento rigo atual que não praticou ou nem pode evitar. Neste
de pena. Pode-se punir por culpa (JESUS, 2014, p. caso, exclui-se a ilicitude do fato.
118). Em caso de sacrifício não razoável, pode-se diminuir a
c) Erro de proibição: Se o sujeito não tem a possibili- pena de um terço a dois terços.
dade de saber que o fato é proibido, a culpabilida-
de fica afastada. Ressalta-se que somente ocorre Legítima Defesa
a isenção de pena em caso de desconhecimento
inevitável da proibição, já que se for evitável cabe Usar moderadamente meios para repelir injusta
apenas diminuição da pena de um sexto a um ter- agressão atual ou eminente sua ou de outrem. Neste
ço. caso, exclui-se a ilicitude do fato.
Ressalta-se que a vingança afasta a legítima defesa.
Tipos de erro acidental:
DIREITO PENAL

Há a legítima defesa putativa, a qual o agente supõe


a) Erro sobre a pessoa: Ocorre quando o sujeito atin- a existência de uma agressão injusta, mas esta não existe
ge uma pessoa supondo se tratar da pessoa que na realidade, no mundo real. Pode, neste caso, diminuir
deveria atingir. É um erro entre pessoas, ou seja, a pena.
o autor desejava acertar uma, mas acertou outra
acreditando ser a pessoa certa. As condições ou

13
40 vezes no peito, matando este na hora. Há também um
#FicaDica excesso punível, já que poderia ter repelido a agressão
de forma mais proporcional.
O Policial que dispara sua arma contra de-
linquente armado que está apontando uma
arma para o mesmo age em legítima defesa.
EXERCÍCIOS COMENTADOS

#FicaDica 1. POLÍCIA FEDERAL – Agente de Polícia Federal –


CESPE- 2014: No que se refere à aplicação da lei penal o
A palavra-chave para legítima defesa é item abaixo apresenta uma situação hipotética, seguida
AGRESSÃO. de uma assertiva a ser julgada.
Sob a vigência da lei X, Lauro cometeu um delito. Em
seguida, passou a viger a lei Y, que, além de ser mais
Estrito cumprimento do dever legal gravosa, revogou a lei X. Depois de tais fatos, Lauro foi
levado a julgamento pelo cometimento do citado delito.
Exclui-se a ilicitude com base no dever imposto pela Nessa situação, o magistrado terá de se fundamentar no
Lei, como exemplo o policial que age com mandado de instituto da retroatividade em benefício do réu para apli-
prisão. car a lei X, por ser esta menos rigorosa que a lei Y.

#FicaDica ( ) CERTO ( ) ERRADO


Resposta: Errado. A questão se refere à ultratividade
Funcionário público é a palavra-chave. e não retroatividade, ou seja, o juiz deveria fundamen-
tar no instituto da ultratividade. A lei anterior mais be-
néfica continua em vigor para fatos ocorridos durante
Exercício regular de direito sua vigência.

Ocorre quando o agente age dentro dos limites em 2. POLÍCIA FEDERAL – Delegado de Polícia- CESPE-
que a Lei autoriza, quando é um direito deste exercer 2004: Roberval foi definitivamente condenado pela prá-
algo que para outros seria uma conduta criminosa. Exem- tica de crime punido com reclusão de um a três anos.
plo: Lutador de MMA que pratica lesão corporal contra Após o cumprimento de metade da pena a ele aplica-
adversário durante a luta. da, adveio nova lei, que passou a punir o crime por ele
praticado com detenção de dois a quatro anos. Nessa
#FicaDica situação, a lei nova não se aplicará a Roberval, tendo em
vista que sua condenação já havia transitado em julgado.
Ofendículos (cerca elétrica, vidro no muro,
arame) é considerado legitima defesa pela ( ) CERTO ( ) ERRADO
doutrina predominante.
Resposta: Errado. A Lei penal que é mais benéfica
pode ser aplicada, mesmo após o transito em julgado
Excesso punível da sentença penal condenatória. Deste modo, aplicar-
-se-á a detenção no lugar da reclusão, por ser mais
Em qualquer das hipóteses do artigo 23 do Código benéfica.
Penal, ou seja,
a) estado de necessidade; 3. POLÍCIA FEDERAL – Agente Federal da Polícia Fede-
b) legítima defesa; ral- CESPE- 2004: Célio praticou crime punido com pena
c) estrito cumprimento do dever legal; de reclusão de 2 a 8 anos, sendo condenado a 6 anos e
d) exercício regular de direito; o agente, se cometer 5 meses de reclusão em regime inicialmente semi-aber-
excesso na sua ação, responderá por este excesso to. Apelou da sentença penal condenatória, para ver sua
de forma dolosa ou culposa. pena diminuída. Pendente o recurso, entrou em vigor lei
que reduziu a pena do crime praticado por Célio para
Exemplo1: Em um início de briga, a pessoa A dispara reclusão de 1 a 4 anos. Nessa situação, Célio não será
um soco contra a pessoa B, que em legítima defesa se beneficiado com a redução da pena, em face do princípio
defende do soco, saca uma arma de fogo e mata A. Há da irretroatividade da lei penal previsto constitucional-
evidente excesso punível, já que a legítima defesa deve- mente.
ria ser em proporção equivalente à injusta agressão que
A estava praticando. ( ) CERTO ( ) ERRADO
DIREITO PENAL

Exemplo2: Y entra na casa de X com o intuito de pra-


ticar o crime de roubo. X encontra Y no momento do Resposta: Errado. A Lei penal retroagirá neste caso,
crime. Y vai para cima de X com o intuito de prevenir tendo em vista o benefício que trará para o réu. Lem-
que X consiga fugir e acionar a polícia. Durante a briga, bra-se que a lei penal retroage mesmo que a sentença
X consegue pegar uma faca de cozinha e esfaqueia Y por condenatória já esteja transitada em julgado.

14
4. POLÍCIA FEDERAL – Delegado de Polícia – CESPE
– 2013: No arrependimento eficaz, é irrelevante que o CULPABILIDADE
agente proceda virtutis amore ou  formidine poence, ou
por motivos subalternos, egoísticos, desde que não te-
nha sido obstado por causas exteriores independentes
de sua vontade. CULPABILIDADE

( ) CERTO ( ) ERRADO Teorias, elementos e causas de exclusão.

Resposta: Certo. No arrependimento eficaz não se faz A Culpabilidade é um elemento integrante do concei-
necessária a motivação pessoal do agente, ou seja, o to definidor de uma infração penal.
motivo pelo qual este se arrependeu e decidiu con- A motivação e objetivos subjetivos do agente prati-
tinuar o delito. Deste modo, basta que a desistência cante da conduta ilegal.
seja uma ação voluntária (espontânea). A culpabilidade aufere, a princípio, se o agente da
conduta ilícita é penalmente culpável, isto é, se ele
agiu com dolo (intenção), ou pelo menos com impru-
dência, negligência ou imperícia, nos casos em que a
lei prever como puníveis tais modalidades.
5. POLÍCIA FEDERAL – Escrivão da Polícia Federal - A punibilidade é uma das condições para o exer-
CESPE – 2004: Leandro desferiu cinco facadas contra o cício da ação penal (CPP, art. 43, II) e pode ser definida
tórax de Régis, com intenção de matá-lo, executando, como a possibilidade jurídica de o Estado aplicar a san-
assim, o plano que havia elaborado. No entanto, ao sair ção penal (pena ou medida de segurança) ao autor do
do local, mudou de idéia e resolveu socorrer Leandro, le- ilícito.
vando-o ao hospital e evitando que ele falecesse. Nessa A Punibilidade, portanto, é consequência do crime.
situação, a ação de Leandro caracteriza desistência vo- Assim, é punível a conduta que pode receber pena.
luntária, pois, já tendo ultimado o processo de execução A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a
do crime, desenvolveu voluntariamente nova atividade, um indivíduo a responsabilidade por uma infração.
impedindo a produção do resultado, razão por que res- Segundo prescreve o artigo 26, do Código Penal, pode-
ponderá por lesão corporal. mos, também, definir a imputabilidade como a capaci-
dade de o agente entender o caráter ilícito do fato por
( ) CERTO ( ) ERRADO ele perpetrado ou, de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Resposta: Errado. Não há desistência voluntária no É, portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo
caso, mas sim arrependimento eficaz, tendo em vista entre a ação e seu agente, imputando a alguém a reali-
que o Leandro praticou todos os atos executórios do zação de um determinado ato.
crime, não permitindo a consumação do delito por es- Quando existe algum agravo à saúde mental, os in-
tar arrependido. divíduos podem ser considerados inimputáveis – se não
tiverem discernimento sobre os seus atos ou não possuí-
6. POLÍCIA FEDERAL – Escrivão de Polícia – CESPE – rem autocontrole, são isentos de pena.
2004: Cecília colocou a mão no bolso esquerdo e, poste- Os semi imputáveis são aqueles que, sem ter o dis-
riormente, no bolso direito da roupa de uma transeunte, cernimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzi-
com a intenção de subtrair-lhe dinheiro. Não encontrou, dos ou prejudicados por doença ou transtorno mental.
contudo, qualquer objeto de valor. Nessa situação, hou-
ve crime impossível e, assim, Cecília não responderá por Causas de exclusão da culpabilidade
crime algum.

( ) CERTO ( ) ERRADO Doença mental

Resposta: Certo. O ato da Cecília se trata de um crime


impossível, por absoluta impropriedade do objeto. Desenvolvimento mental incompleto
Exclusão de
imputabilidade
Desenvolvimento mental retardado

Embriaguez completa proveniente de casofortuito


ou força maior
DIREITO PENAL

15
soa, incorre nas penas do art. 155 do CP, enquanto
aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo a
fugir, responderá apenas pela colaboração.
Erro de proibição b) teoria normativa: aqui o autor é o agente que,
Inexistência da
possibilidade de além de praticar a figura típica, comanda a ação
conhecimento da dos demais (“autor executor” e “autor intelectual”).
ilicitude Embriaguez completa proveniente de Já o partícipe é aquele colabora para a prática da
casofortuito ou força maior conduta delitiva, mas sem realizar a figura típica
descrita, e sem ter controle das ações dos demais.
Assim, aquele que planeja o delito e aquele que o
executa são coautores.

Coação moral irresistível Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária -


Inexigibilidade
de conduta teoria formal, o executor de reserva é apenas partícipe,
diversa ou seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após Ma-
Obediência hierárquica rio também desfere tiros em Pedro, Mario (executor de
reserva) responderá apenas pela participação, pois não
praticou a conduta matar, já que atirou em um cadáver.
Ressalta-se, porém, que o juiz poderá aplicar penas iguais
para autor e partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a
este último, quando, por exemplo, for o mentor do crime.
CONCURSO DE PESSOAS
Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que,
“quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide
nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabili-
O concurso de pessoas é o cometimento da infração dade”, dessa forma deve-se analisar cada caso concreto
penal por mais de um pessoa. Tal cooperação da prática de modo a verificar a proporção da colaboração. Além
da conduta delitiva pode se dar por meio da coautoria, disso, se a participação for de menor importância, a pena
participação, concurso de delinquentes ou de agentes, pode ser diminuída de um sexto a um terço, segundo
entre outras formas. Existem ainda três teorias sobre o disposição do § 1º do artigo supramencionado, e se al-
concurso de pessoas, vejamos: gum dos concorrentes quis participar de crime menos
a) teoria unitária: quando mais de um agente concor- grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
re para a prática da infração penal, mas cada um aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível
praticando conduta diversa do outro, obtendo, po- o resultado mais grave (art. 29, § 2º, do CP).
rém, um só resultado. Neste caso, haverá somente Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se
um delito. Assim, todos os agentes incorrem no não houver antijuridicidade, não há o que se falar em
mesmo tipo penal. Tal teoria é adotada pelo Có- punição ao partícipe - teoria da acessoriedade limitada.
digo Penal.
b) teoria pluralista: quando houver mais de um agen-
te, praticando cada um conduta diversa dos de- PENAS. ESPÉCIES DE PENAS. COMINAÇÃO
mais, ainda que obtendo apenas um resultado, DAS PENAS
cada qual responderá por um delito. Esta teoria
foi adotada pelo Código Penal ao tratar do aborto,
pois quando praticado pela gestante, esta incor-
rerá na pena do art. 124, se praticado por outrem, Penas.
aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedi-
mento ocorre na corrupção ativa e passiva. Espécies de penas.
c) teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver
O Código Penal reserva um título somente para tratar
mais de um agente, com diversidades de condu-
das penas.
ta, provocando-se um resultado, deve-se separar
E isso não poderia deixar de existir.
os coautores e partícipes, sendo que cada “grupo”
Para o agente que pratica uma conduta que seja tipi-
responderá por um delito.
ficada na lei penal, o resultado do processo penal é jul-
gar procedente ou não o fato descrito na denúncia ou
Autoria e participação
queixa.
Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora
Há bancas que questionam quais são as penas previs-
ambos dentro da teoria objetiva:
tas no Código Penal. Ou questionam se reclusão e deten-
a) teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor ção são penas privativas de liberdade.
DIREITO PENAL

é o agente que pratica a figura típica descrita no A simplicidade em responder com segurança esses
tipo penal, e partícipe é aquele que comete ações ou outros questionamentos sobre o tema (penas), está
não contidas no tipo, respondendo apenas pelo no fato de conhecer bem o Código Penal.
auxílio que prestou (entendimento majoritário). O art. 32, do CP, diz que as penas são privativas de
Exemplo: o agente que furta os bens de uma pes- liberdade, restritivas de direitos e de multa.

16
Para a fixação do regime inicial de cumprimento da
pena privativa de liberdade, fixa-se a PENA DEFINITIVA e
As PENAS são aplica-se a DETRAÇÃO.
O próximo passo é definir o regime inicial de cumpri-
mento da pena privativa de liberdade.
Leva-se em consideração 3 fatores: QUANTIDADE DE
PRIVATIVAS RESTRITIVAS PENA, REINCIDÊNCIA e CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS.
MULTA
DE LIBERDADE DE DIREITO Antes, vamos definir a DETRAÇÃO.
A DETRAÇÃO não cabe na penal de multa, pois não
pode ser convertida em privativa de liberdade.
PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE A DETRAÇÃO é cabível nas penas restritivas de di-
reito de prestação de serviços à comunidade, interdição
As penas privativas de liberdade são: reclusão e de- temporária de direitos e limitação de fim de semana.
tenção. De acordo com o art. 42, do CP:

Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liber-


RECLUSÃO dade e na medida de segurança, o tempo de prisão
provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão ad-
ministrativa e o de internação em qualquer dos esta-
belecimentos referidos no artigo anterior.
Penas privativas de Exemplo:
DETENÇÃO
liberdade “A” ficou preso preventivamente pelo período de 1
ano. Depois, foi condenado à pena de 6 anos de reclusão.
Com a DETRAÇÃO, resta-se 5 anos de pena a cumprir.
PRISÃOSIMPLES
Nos casos de fixação do regime inicial de cumprimen-
aplicada nos casos de to da pena privativa de liberdade na hipótese de concur-
contravenções penais so de crimes, observa-se o seguinte:
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em
regime fechado, semiaberto ou aberto. A de deten-
Uma regra básica sobre as penas de RECLUSÃO e DE- ção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo neces-
TENÇÃO: sidade de transferência a regime fechado.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser
A pena de RECLUÇÃO deve ser cumprida em regime executadas em forma progressiva, segundo o méri-
fechado, semiaberto ou aberto. to do condenado, observados os seguintes critérios
A pena de DETENÇÃO deve ser cumprida em regime e ressalvadas as hipóteses de transferência a regi-
semiaberto ou aberto, SALVO necessidade de transfe- me mais rigoroso:
rência para regime fechado. a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos de-
verá começar a cumpri-la em regime fechado;
Considera-se: b) o condenado não reincidente, cuja pena seja su-
perior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito),
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime se-
Estabelecimento de miaberto;
FECHADO segurança máxima ou c) o condenado não reincidente, cuja pena seja
média igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o
início, cumpri-la em regime aberto.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumpri-
Colônia agrícola, mento da pena far-se-á com observância dos crité-
Regime penitenciário industrial ou rios previstos no art. 59 deste Código.
SEMIABERTO
art. 33, § 1º, do CP estabelecimento
similar

Casa de albergado ou
DIREITO PENAL

ABERTO estabelecimento
adequado

17
REGIME INICIAL - RECLUSÃO Regime especial
As mulheres cumprem pena em estabelecimento pró-
prio, observando-se os deveres e direitos inerentes à sua
FECHADO SEMIABERTO ABERTO
condição pessoal.
PRIMÁRIO Superior a 8 Superior a 4 Até 4
anos anos e que anos Direitos do preso
não exceda 8 O preso conserva todos os direitos não atingidos pela
anos perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades
REINCI- Regra geral Aquele que Nunca o respeito à sua integridade física e moral.
DENTE deveria cum-
prir em regime Trabalho do preso
inicial aberto, O trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-
se favoráveis -lhe garantidos os benefícios da Previdência Social.
as circunstân-
cias judiciais Legislação especial
(súmula 269 A legislação especial regulará a matéria referente aos
do STJ) direitos do preso e o trabalho do preso, bem como es-
pecificará os deveres e direitos do preso, os critérios para
REGIME INICIAL – DETENÇÃO revogação e transferência dos regimes e estabelecerá as
infrações disciplinares e correspondentes sanções.

SEMIABERTO ABERTO Superveniência de doença mental


PRIMÁRIO Superior a 4 Até 4 anos O condenado a quem sobrevém doença mental deve
anos ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psi-
quiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado.
REINCIDEN- Regra geral Nunca
TE
Cominação das penas.
Art. 34 - O condenado será submetido, no início do
cumprimento da pena, a exame criminológico de COMINAÇÃO DAS PENAS
classificação para individualização da execução.
As penas privativas de liberdade têm seus limites es-
§ 1º - O condenado fica sujeito a trabalho no período
diurno e a isolamento durante o repouso noturno. tabelecidos na sanção correspondente a cada tipo legal
Fechado
de crime.
§ 2º - O trabalho será em comum dentro do
As penas restritivas de direitos são aplicáveis, in-
estabelecimento, na conformidade das aptidões ou
ocupações anteriores do condenado, desde que dependentemente de cominação na parte especial, em
compatíveis com a execução da pena. substituição à pena privativa de liberdade, fixada em
quantidade inferior a 1 (um) ano, ou nos crimes culposos.
§ 3º - O trabalho externo é admissível, no regime
fechado, em serviços ou obras públicas.
As penas restritivas de direitos:
- limitação de fim de semana
- prestação de serviço à comunidade ou a entida-
Art. 35 - Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, des públicas
caput, ao condenado que inicie o cumprimento da pena - interdição temporária de direitos
em regime semiaberto. - limitação de fim de semana
§ 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum
Regime Semiaberto durante o período diurno, em colônia agrícola, terão a mesma duração da pena privativa de liber-
industrial ou estabelecimento similar. dade substituída, ressalvado:
§ 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a
frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de Se a pena substituída for superior a um ano, é fa-
instrução de segundo grau ou superior. cultado ao condenado cumprir a pena substitutiva
em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da
Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e pena privativa de liberdade fixada.
senso de responsabilidade do condenado. As penas de interdição:
- proibição do exercício de cargo, função ou ati-
§ 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e
sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer vidade pública, bem como de mandato eletivo
outra atividade autorizada, permanecendo recolhido - proibição do exercício de profissão, atividade ou
Aberto ofício que dependam de habilitação especial, de
DIREITO PENAL

durante o período noturno e nos dias de folga.


§ 2º - O condenado será transferido do regime aberto, se licença ou autorização do poder público
praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os
fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa ... aplicam-se para todo o crime cometido no exercício
cumulativamente aplicada. de profissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre
que houver violação dos deveres que lhes são inerentes.

18
A pena de interdição: - promove, ou organiza a cooperação no crime ou
- suspensão de autorização ou de habilitação para dirige a atividade dos demais agentes
dirigir veículo - coage ou induz outrem à execução material do cri-
me
... aplica-se aos crimes culposos de trânsito. - instiga ou determina a cometer o crime alguém su-
O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, jeito à sua autoridade ou não-punível em virtude
à conduta social, à personalidade do agente, aos mo- de condição ou qualidade pessoal
tivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem - executa o crime, ou nele participa, mediante paga
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, con- ou promessa de recompensa.
forme seja necessário e suficiente para reprovação e pre-
venção do crime: Reincidência
- as penas aplicáveis dentre as cominadas Verifica-se a reincidência quando o agente comete
- a quantidade de pena aplicável, dentro dos limi- novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
tes previstos que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por
- o regime inicial de cumprimento da pena privati- crime anterior.
va de liberdade Para efeito de reincidência:
a substituição da pena privativa da liberdade apli-
- não prevalece a condenação anterior, se entre a
cada, por outra espécie de pena, se cabível
data do cumprimento ou extinção da pena e a in-
fração posterior tiver decorrido período de tempo
Critérios especiais da pena de multa
Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, prin- superior a 5 (cinco) anos, computado o período de
cipalmente, à situação econômica do réu. prova da suspensão ou do livramento condicional,
A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz se não ocorrer revogação
considerar que, em virtude da situação econômica do - não se consideram os crimes militares próprios e
réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo. políticos

Aplicação da pena.
Circunstâncias atenuantes
Circunstâncias agravantes São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
São circunstâncias que sempre agravam a pena, - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do
quando não constituem ou qualificam o crime: fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sen-
- a reincidência tença
ter o agente cometido o crime: - o desconhecimento da lei
a) por motivo fútil ou torpe; - ter o agente:
b) para facilitar ou assegurar a execução, a oculta- a) cometido o crime por motivo de relevante valor
ção, a impunidade ou vantagem de outro crime; social ou moral;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimu- b) procurado, por sua espontânea vontade e com efi-
lação, ou outro recurso que dificultou ou tornou ciência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-
impossível a defesa do ofendido; -lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento,
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortu- reparado o dano;
ra ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que c) cometido o crime sob coação a que podia resis-
podia resultar perigo comum; tir, ou em cumprimento de ordem de autoridade
e) contra ascendente, descendente, irmão ou côn- superior, ou sob a influência de violenta emoção,
juge; provocada por ato injusto da vítima;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de
d) confessado espontaneamente, perante a autorida-
relações domésticas, de coabitação ou de hos-
de, a autoria do crime;
pitalidade, ou com violência contra a mulher na
e) cometido o crime sob a influência de multidão em
forma da lei específica;
tumulto, se não o provocou.
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente
a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, en- A pena poderá ser ainda atenuada em razão de cir-
fermo ou mulher grávida; cunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, em-
i) quando o ofendido estava sob a imediata prote- bora não prevista expressamente em lei.
ção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou Concurso de circunstâncias agravantes e atenuan-
qualquer calamidade pública, ou de desgraça tes
particular do ofendido; No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve
DIREITO PENAL

l) em estado de embriaguez preordenada. aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias pre-


ponderantes, entendendo-se como tais as que resultam
Agravantes no caso de concurso de pessoas dos motivos determinantes do crime, da personalidade
A pena será ainda agravada em relação ao agente do agente e da reincidência.
que:

19
Cálculo da pena Resultado diverso do pretendido
A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do Fora dos casos do artigo anterior, quando, por aci-
art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as dente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado
circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se
causas de diminuição e de aumento. o fato é previsto como crime culposo
No concurso de causas de aumento ou de diminuição Limite das penas
previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só O tempo de cumprimento das penas privativas de li-
aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, berdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.
a causa que mais aumente ou diminua. Quando o agente for condenado a penas privativas
de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos,
Concurso material devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo.
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou Sobrevindo condenação por fato posterior ao início
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, do cumprimento da pena, será feita nova unificação, des-
aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liber- prezando-se, para esse fim, o período de pena já cum-
dade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumu- prido.
lativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se
primeiro aquela. Concurso de infrações
Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido No concurso de infrações, executar-se-á primeira-
aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por mente a pena mais grave.
um dos crimes, para os demais será incabível a substitui-
ção da pena. Suspensão condicional da pena.
Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos,
o condenado cumprirá simultaneamente as que forem A execução da pena privativa de liberdade, não supe-
compatíveis entre si e sucessivamente as demais. rior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a
4 (quatro) anos, desde que:
Concurso formal 1 – pena privativa de liberdade não superior a 2
Quando o agente, mediante uma só ação ou omis-
anos.
são, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
2 – a pena privativa de liberdade poderá ser sus-
será aplicada a mais grave das penas cabíveis ou, se
pensa por período de 2 a 4 anos.
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qual-
• o condenado não seja reincidente em crime do-
quer caso, de um sexto até metade.
loso.
As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente,
• a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes
e personalidade do agente, bem como os motivos
resultam de desígnios autônomos.
e as circunstâncias autorizem a concessão do be-
Crime continuado nefício.
Quando o agente, mediante mais de uma ação ou • não seja indicada ou cabível a substituição da pena
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie privativa de liberdade em restritiva de direitos.
e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução
e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havi- A suspensão condicional da pena, sursis, anterior a
dos como continuação do primeiro. pena de multa não impede a concessão do benefício.
Em consequência, aplica-se a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, au-
mentada, em qualquer caso, de um sexto a dois ter- A execução da pena privativa de liberdade, não
ços. superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por
Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, come- Sursis
quatro a seis anos, desde que o condenado seja
tidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá etário
maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a justifiquem a suspensão.
conduta social e a personalidade do agente, bem como
os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um
só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,
até o triplo. Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará
sujeito à observação e ao cumprimento das condições
Multas no concurso de crimes estabelecidas pelo juiz.
No concurso de crimes, as penas de multa são aplica- No primeiro ano do prazo, deverá o condenado pres-
das distinta e integralmente. tar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de
fim de semana.
DIREITO PENAL

Erro na execução Se o condenado houver reparado o dano, salvo


Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias, cul-
execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pre- pabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à per-
tendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se sonalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
tivesse praticado o crime contra aquela. consequências do crime, bem como ao comportamento

20
da vítima, lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes
condições, aplicadas cumulativamente:
a) proibição de frequentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

A sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato
e à situação pessoal do condenado.

A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à pena de multa.

Se o beneficiário está sendo


processado por outro crime ou
contravenção, considera-se
prorrogado o prazo da suspensão até
o julgamento definitivo.
Prorrogação do
período de prova
Quando facultativa a revogação, o
juiz pode, ao invés de decretá-la,
prorrogar o período de prova até o
máximo, se este não foi o fixado.

A suspensão será revogada de modo obrigatório ou facultativo:

é condenado, em sentença
irrecorrível, por crime doloso

frustra, embora solvente, a


Revogação execução de pena de multa ou não
obrigatória efetua, sem motivo justificado, a
reparação do dano.

descumpre a condição da aplicação


Sursis do sursis

o condenado descumpre qualquer


outra condição imposta ou é
Revogação facultativa irrecorrivelmente condenado, por
crime culposo ou por
contravenção, a pena privativa de
liberdade ou restritiva de direitos
DIREITO PENAL

21
Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena privativa de liberdade.

Livramento condicional.

cumprida mais de um terço da pena se o


condenado não for reincidente em crime
doloso e tiver bons antecedentes

cumprida mais da metade se o condenado


for reincidente em crime doloso

igual ou superior comprovado comportamento satisfatório


O juiz poderá conceder a 2 (dois) anos durante a execução da pena, bom
LIVRAMENTO desempenho no trabalho que lhe foi
atribuído e aptidão para prover à própria
CONDICIONAL ao
condenado a pena subsistência mediante trabalho honesto
privativa de liberdade
tenha reparado, salvo efetiva
impossibilidade de fazê-lo, o dano causado
pela infração

cumpridos mais de dois terços da pena,


nos casos de condenação por crime
hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, tráfico de
pessoas e terrorismo, se o apenado não
for reincidente específico em crimes dessa
natureza

Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento
ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a
delinquir.
Um fato importante sobre a liberdade condicional é que as penas que correspondem a infrações diversas devem
somar-se para efeito do livramento.

As especificações das condições serão contidas na sentença.

por crime cometido


se o liberado vem a ser durante a vigência do
condenado a pena
benefício
privativa de liberdade, em
sentença irrecorrível
REVOGA-SE o
livramento
condicional
por crime anterior,
observado que as penas
que correspondem a
infrações diversas devem
somar-se para efeito do
livramento
DIREITO PENAL

22
Inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado
como meio para a prática de crime doloso.
O juiz poderá, também, revogar o
Esses efeitos não são automáticos, devendo ser moti-
REVOGAÇÃO

livramento, se o liberado deixar de


facultativa

cumprir qualquer das obrigações vadamente declarados na sentença.


constantes da sentença, ou for
irrecorrivelmente condenado, por Reabilitação.
crime ou contravenção, a pena que
não seja privativa de liberdade A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em
sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo
dos registros sobre o seu processo e condenação.
A reabilitação poderá, também, atingir os seguintes
efeitos da condenação:
• Incapacidade para o exercício do poder familiar, da
Revogado o livramento, não poderá ser novamente tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à
concedido, e, salvo quando a revogação resulta de con- pena de reclusão cometidos contra outrem igual-
denação por outro crime anterior àquele benefício, não mente titular do mesmo poder familiar, contra fi-
se desconta na pena o tempo em que esteve solto o con- lho, filha ou outro descendente ou contra tutelado
denado. ou curatelado.
O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto • Inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado
não passar em julgado a sentença em processo a que como meio para a prática de crime doloso.
responde o liberado, por crime cometido na vigência do
livramento. A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2
Se até o seu término o livramento não é revogado, (dois) anos do dia em que for extinta, de qualquer
considera-se extinta a pena privativa de liberdade.
modo, a pena ou terminar sua execução, computando-
-se o período de prova da suspensão e o do livramen-
Efeitos da condenação.
to condicional, se não sobrevier revogação...
Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado E esses são os requisitos para a reabilitação:
pelo crime • tenha tido domicílio no País no prazo acima refe-
A perda em favor da União, ressalvado o direito do rido.
lesado ou de terceiro de boa-fé: • tenha dado, durante esse tempo, demonstração
• dos instrumentos do crime, desde que con- efetiva e constante de bom comportamento pú-
sistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, blico e privado.
porte ou detenção constitua fato ilícito; • tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou de-
• do produto do crime ou de qualquer bem ou monstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até
valor que constitua proveito auferido pelo o dia do pedido, ou exiba documento que com-
agente com a prática do fato criminoso. prove a renúncia da vítima ou novação da dívida.

Poderá ser decretada a perda de bens ou valores A reabilitação é requerida pelo condenado. Sendo
equivalentes ao produto ou proveito do crime quando requerida, a autoridade judiciária fundamentará o deferi-
estes não forem encontrados ou quando se localizarem mento ou o indeferimento.
no exterior. Sendo indeferida a reabilitação (negada, no texto do
Na hipótese anterior, as medidas assecuratórias pre- CP), a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tem-
vistas na legislação processual poderão abranger bens po, desde que o pedido seja instruído com novos ele-
ou valores equivalentes do investigado ou acusado para mentos comprobatórios dos requisitos necessários.
posterior decretação de perda. A reabilitação será revogada, de ofício (pela própria
autoridade judiciária sem requerimento de qualquer par-
São também efeitos da condenação: te) ou a requerimento do Ministério Público, se o rea-
bilitado for condenado, como reincidente, por decisão
Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: definitiva, a pena que não seja de multa.
• quando aplicada pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano, nos crimes pra-
Execução das penas em espécie e incidentes de
ticados com abuso de poder ou violação de dever
execução.
para com a Administração Pública;
• quando for aplicada pena privativa de liberdade
por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
casos.
As penas restritivas de direitos são:
DIREITO PENAL

Incapacidade para o exercício do poder familiar, da - Prestação pecuniária


tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena - Perda de bens e valores
de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular - Limitação de fim de semana
do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro des- - Prestação de serviço à comunidade ou a entidades
cendente ou contra tutelado ou curatelado. públicas

23
- Interdição temporária de direitos Se houver aceitação do beneficiário, a prestação pe-
- Limitação de fim de semana cuniária pode consistir em prestação de outra natureza.
A perda de bens e valores pertencentes aos condena-
As penas restritivas de direitos são autônomas e dos dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor
substituem as privativas de liberdade, quando: do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como
teto – o que for maior – o montante do prejuízo causado
Aplicada pena privativa de liberdade não superior ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em
a quatro anos e o crime não for cometido com violên- consequência da prática do crime.
cia ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a
pena aplicada, se o crime for culposo Prestação de serviços à comunidade ou a entida-
- o réu não for reincidente em crime doloso des públicas
- a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
e a personalidade do condenado, bem como os A prestação de serviços à comunidade ou a entidades
motivos e as circunstâncias indicarem que essa públicas é aplicável às condenações superiores a seis me-
substituição seja suficiente ses de privação da liberdade.
A prestação de serviços à comunidade ou a entida-
Na condenação igual ou inferior a um ano, a subs- des públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas
tituição pode ser feita por multa ou por uma pena restri- ao condenado.
tiva de direitos. A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em:
Na condenação superior a um ano, a pena privativa - entidades assistenciais
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva - hospitais
de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. - escolas
- orfanatos
Uma regra do Código Penal diz que as penas restriti- - outros estabelecimentos congêneres, em progra-
vas de direitos substituem as privativas de liberdade des- mas comunitários ou estatais.
de que o réu não seja reincidente em crime doloso.
Isso significa, que cabe substituição de pena privativa Se a pena substituída for superior a um ano, é facul-
de liberdade por restritiva de direitos, tanto que o CP tado ao condenado cumprir a pena substitutiva em me-
afirma: nor tempo, nunca inferior à metade da pena privativa de
Se o condenado for reincidente, o juiz poderá apli- liberdade fixada.
car a substituição, desde que, em face de condenação
anterior, a medida seja socialmente recomendável e Interdição temporária de direitos
a reincidência não se tenha operado em virtude da
prática do mesmo crime. As penas de interdição temporária de direitos são:
A pena restritiva de direitos converte-se em privativa
de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustifi- - Proibição do exercício de cargo, função ou atividade
cado da restrição imposta. pública, bem como de mandato eletivo
No cálculo da pena privativa de liberdade a executar - Proibição do exercício de profissão, atividade ou
será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva ofício que dependam de habilitação especial, de
de direitos, respeitado o saldo mínimo de 30 dias de licença ou autorização do poder público
detenção ou reclusão. - Suspensão de autorização ou de habilitação para
Em caso de prisão simples decorrente da conde- dirigir veículo
nação pela prática de contravenção penal, convertida - Proibição de frequentar determinados lugares
para pena restritiva de direitos, não há a observância do - Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou
período mínimo de 30 dias na hipótese de reconver- exame públicos
são para privativa de liberdade.
Sobrevindo condenação a pena privativa de liberda- Limitação de fim de semana
de, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá so- A limitação de fim de semana
bre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for pos- consiste na obrigação de permanecer, aos sábados
sível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de
albergado ou outro estabelecimento adequado.
Conversão das penas restritivas de direitos Durante a permanência poderão ser ministrados ao
condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades
A prestação pecuniária consiste no pagamento em educativas.
dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade
pública ou privada com destinação social, de impor- PENA DE MULTA
tância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mí-
DIREITO PENAL

nimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários A pena de multa consiste no pagamento ao fundo
mínimos. penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada
O valor pago será deduzido do montante de even- em dias-multa.
tual condenação em ação de reparação civil, se coin- Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360
cidentes os beneficiários. (trezentos e sessenta) dias-multa.

24
O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não poden- iniciativa pública
do ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo iniciativa privada
mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cin- Desse modo, as infrações penais são divididas nestas
co) vezes esse salário. duas categorias:
O valor da multa será atualizado, quando da execu- crimes de ação pública
ção, pelos índices de correção monetária. crimes de ação privada.

Pagamento da multa Ação penal pública


É aquela em que a iniciativa é exclusiva do Ministé-
A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois rio Público, nos termos do art. 129, I, da CF.
de transitada em julgado a sentença. A peça processual que a ela dá início é a Denúncia.
A requerimento do condenado e conforme as cir- A ação pública apresenta as seguintes modalidades:
cunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se Incondicionada: o exercício da ação independe de
realize em parcelas mensais. qualquer condição especial.
A cobrança da multa pode efetuar-se mediante des- Condicionada: a propositura da ação penal depende
conto no vencimento ou salário do condenado quando: da prévia existência de uma condição especial (represen-
- aplicada isoladamente tação da vítima ou requisição do Ministro da Justiça, o
- aplicada cumulativamente com pena restritiva de art. 100, § 1º, do CP).
direitos
- concedida a suspensão condicional da pena Ação penal privada
É aquela em que a iniciativa da propositura é conferi-
O desconto não deve incidir sobre os recursos indis- da à vítima. A peça inicial é a Queixa-crime.
pensáveis ao sustento do condenado e de sua família. Subdivide -se em:
Transitada em julgado a sentença condenatória, a Exclusiva: a iniciativa da ação penal é da vítima, mas,
multa será considerada dívida de valor, sendo aplicadas se esta for menor ou incapaz, a lei prevê que possa ser
as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda proposta pelo representante legal. Ademais, em caso
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas de morte da vítima, a ação poderá ser iniciada por seus
e suspensivas da prescrição. sucessores (cônjuge, companheiro, ascendente, descen-
dente ou irmão) e, se já estiver em andamento por oca-
Suspensão da execução da multa sião do falecimento, poderão eles prosseguir no feito.
Personalíssima: a ação só pode ser proposta pela ví-
É suspensa a execução da pena de multa, se sobre- tima. Se ela for menor, deve -se esperar que complete 18
vém ao condenado doença mental. anos. Se for doente mental, deve -se aguardar eventual
restabelecimento.

Importante!
AÇÃO PENAL
Em caso de morte, a ação não pode ser proposta
pelos sucessores. Se já tiver sido proposta na data do
falecimento, a ação se extingue pela impossibilidade
Este assunto, AÇÃO PENAL, vamos seguir um esque-
de sucessão no polo ativo.
ma bem didático de André Estefan e Victor Eduardo Rios
Gonçalves, extraído do livro Direito Penal Parte Geral, Es-
quematizado. Subsidiária da pública: é a ação proposta pela víti-
A ação penal é o procedimento judicial iniciado pelo ma em crime de ação pública, possibilidade que só existe
titular da ação quando há indícios de autoria e de mate- quando o Ministério Público, dentro do prazo que a lei
rialidade, a fim de que o juiz declare procedente a pre- lhe confere, não apresenta qualquer manifestação.
tensão punitiva estatal e condene o autor da infração Observe -se, por fim, que a ação penal somente tem
penal. início efetivo quando o juiz recebe a denúncia ou a quei-
Durante o transcorrer da ação penal, será assegura- xa.
do ao acusado amplo direito de defesa, além de outras
garantias, como a estrita observância do procedimento CONDIÇÕES GERAIS DA AÇÃO
previsto em lei, de só ser julgado pelo juiz competente, São condições que devem estar presentes para a pro-
de ter assegurado o contraditório e o duplo grau de ju- positura de toda e qualquer ação penal:
risdição etc.
A ação penal, conforme dispõe o art. 100, caput, do Legitimidade de parte
CP, o Estado é detentor do direito e do poder de punir Se a ação for pública, deve ser proposta pelo Minis-
(jus puniendi), pode conferir a iniciativa do desencadea- tério Público e, se for privada, pelo ofendido ou por seu
DIREITO PENAL

mento da ação penal a um órgão público (Ministério Pú- representante legal.


blico) ou à própria vítima, dependendo da modalidade O acusado deve ser maior de 18 anos e ser pessoa
de crime praticado. física, pois, salvo nos crimes ambientais, pessoa jurídica
Por isso, para cada delito previsto em lei existe a pré- não pode figurar no polo passivo de uma ação penal,
via definição da espécie de ação penal: pois, em regra, não cometem crime.

25
Os inimputáveis por doença mental ou por depen- • Autorização da respectiva Casa Legislativa para
dência em substância entorpecente podem figurar no proceder a ação penal contra Senadores da Repú-
polo passivo da ação penal, pois, se provada a acusa- blica e Deputados Federais e Estaduais.
ção, serão absolvidos, mas com aplicação de medida de
segurança ou de sujeição a tratamento médico contra a
dependência.
EXERCÍCIO COMENTADO
Interesse de agir
Para que a ação penal seja admitida, é necessária a 1. (TRF3 – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC – 2007) No
existência de indícios suficientes de autoria e de mate- crime complexo, a ação penal é
rialidade a ensejar sua propositura. Além disso, é preciso
que não esteja extinta a punibilidade pela prescrição ou a) pública incondicionada, se qualquer dos crimes com-
qualquer outra causa. ponentes do tipo deva ser apurado por iniciativa do
Ministério Público.
Possibilidade jurídica do pedido b) pública condicionada, mesmo que qualquer dos cri-
No processo penal, o pedido que se endereça ao juí- mes componentes do tipo deva ser apurado por ini-
zo é o de condenação do acusado a uma pena ou medi- ciativa do Ministério Público, desde que em relação a
da de segurança. outro ou outros a sua ação dependa de representação.
Para ser possível requerer a condenação, é preciso c) pública incondicionada em relação aos crimes com-
que o fato descrito na denúncia ou queixa seja típico, ponentes do tipo que são dessa natureza e privada
isso é, que se mostrem presentes no caso concreto todos ou pública condicionada em relação a outro ou outros
os elementares exigidos na descrição abstrata da infra- que sejam de iniciativa privada ou sujeito a represen-
ção penal. tação.
d) pública ou privada, dependendo de acordo entre o
Ministério Público e o ofendido ou seu representante
legal.
e) privada, se um dos crimes componentes do tipo for
dessa natureza, mesmo que outro ou outros devam
ser apurados por iniciativa do Ministério Público.

Resposta: Letra A. Nos termos do art. 101, do CP,


quando a lei considera como elemento ou circunstân-
cias do tipo legal fatos que, por si mesmos, constituem
crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde
que, em relação a qualquer destes, se deva proceder
por iniciativa do Ministério Público.

PUNIBILIDADE E CAUSAS DE EXTINÇÃO

Causas extintivas da punibilidade. Escusas absolu-


tórias.

A Extinção de punibilidade é a impossibilidade de pu-


Além dessas condições gerais, algumas espécies de nir o autor de um crime.
ação penal exigem condições específicas, como a ação Punibilidade é a possibilidade subjetiva do Estado pu-
pública condicionada, que pressupõe a existência de re- nir o autor de um crime.
presentação da vítima ou de requisição do Ministro da Não se deve confundir Punibilidade, que é uma si-
Justiça. tuação ou característica que produz efeito posterior ao
Existem, ainda, na legislação algumas outras condi- crime consumado e reconhecido, característica que im-
ções (de procedibilidade) específicas, como: pede que o autor seja punido; com a Culpabilidade, que
• A entrada do autor da infração no território na- é um pressuposto de Autoria (direito penal), pressuposto
cional, nas hipóteses de extraterritorialidade da lei sem a qual, mesmo já estando efetivado o crime, não se
penal brasileira previstas nos §§ 2º e 3º, do art. 7º, reconhece a sua autoria pois o agente não possui culpa,
do Código Penal. não pode ser responsabilizado por seus atos.
DIREITO PENAL

• Autorização da Câmara dos Deputados para a ins- A extinção da punibilidade é a perda do direito do
tauração de processo criminal contra o Presidente Estado de punir o agente autor de fato típico e ilícito,
da República, Vice-Presidente ou Ministros de Es- ou seja, é a perda do direito de impor sanção penal. As
tado, perante o Supremo Tribunal Federal (art. 51, causas de extinção da punibilidade estão espalhadas no
I, da CF). ordenamento jurídico brasileiro.

26
Dispõe o Código Penal: Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem
I - pela morte do agente; os arts. 205 e 206.
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera Espécies de prescrição.
o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; O Código Penal ao tratar do tema divide a prescrição
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão em duas espécies:
aceito, nos crimes de ação privada; a) prescrição antes de transitar em julgado a sentença
(...) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. (artigo 109)
b) prescrição depois de transitar em julgado sentença
Prescrição final condenatória (artigo 110).

De modo geral prescrição significa a perda de uma Doutrinariamente, a prescrição é dividida em pres-
pretensão, pelo decurso do tempo. Assim sendo, no crição da pretensão punitiva e prescrição da pretensão
campo do Direito Penal a prescrição pode ser concei- executória.
tuada como a perda da pretensão punitiva estatal, pelo A prescrição da pretensão punitiva desdobra-se em:
decurso de determinado lapso temporal previsto em lei. prescrição da pretensão punitiva propriamente dita;
Basileu Garcia definiu a prescrição como “a renúncia do prescrição superveniente ou intercorrente; prescrição
Estado a punir a infração, em face do decurso do tempo” retroativa; e prescrição antecipada, projetada, virtual ou
(Ob. cit. p. 368). retroativa em perspectiva.
Sob um aspecto amplo, decadência significa a perda
de um direito potestativo, pelo decurso de um prazo fi- Prescrição da pretensão punitiva propriamente
xado em lei ou convencionado entre as partes. dita
No Direito Penal, em seu sentido mais estrito, deca-
Esta espécie tem lugar antes de transitar em julgado
dência traduz o perecimento do direito da ação penal
a sentença penal, devendo ser regulada pelo máximo da
de exercício privado, ou do direito de representação nos
pena privativa de liberdade ao crime. Os prazos em que
casos de ação penal pública de exercício condicionado,
é verificada são os constantes no rol do artigo 109, do
pelo decurso do prazo de seis meses (artigo 103, do Có-
Código Penal.
digo Penal).
Regra geral, o termo inicial da prescrição da preten-
Por derradeiro, a perempção é definida por Juarez
são punitiva propriamente dita deve ser contado a partir
Cirino dos Santos como: “fenômeno processual extinti-
do dia da consumação do delito (artigo 111, inciso I, do
vo da punibilidade em ações penais de iniciativa priva- Código Penal). Este dispositivo legal traz outros marcos
da, caracterizado pela inatividade, pela omissão ou pela iniciais para fins de contagem de prazo prescricional:
negligência do autor na realização de atos processuais a) no caso de tentativa, do dia em que cessou a ati-
específicos” (Direito penal: parte geral. 2ª ed. Curitiba: vidade criminosa (artigo 111, inciso II, do Código
Lumen Juris, 2007, p. 689). Observa-se que, a perempção Penal);
é uma sanção para o querelante que se comporta con- b) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
forme as hipóteses elencadas no artigo 60, do Código de permanência (artigo 111, inciso III, do Código Pe-
Processo Penal, que além de repercutir no processo em nal);
que incide, reflete no campo penal, levando à extinção c) nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração
da punibilidade. de assentamento do registro civil, da data em que
o fato se tornou conhecido (artigo 111, inciso IV,
Para se dar a prescrição é necessário que: do Código Penal).
a) exista o direito material da parte a uma prestação
a ser cumprida, a seu tempo, por meio de ação ou Segundo o Superior Tribunal de Justiça, “a prescrição
omissão do devedor; penal é aplicável nas medidas socioeducativas” (Súmula
b) ocorra a violação desse direito material por parte 338).
do obrigado, configurando o inadimplemento da
prestação devida; Prescrição superveniente ou intercorrente
c) surja, então, a pretensão, como consequência da
violação do direito subjetivo, isto é, nasça o poder Pode ser conceituada como aquela que ocorre entre
de exigir a prestação pelas vias judiciais; e, final- a data da publicação da sentença penal condenatória e o
mente; trânsito em julgado para a acusação.
d) se verifique a inércia do titular da pretensão em A prescrição superveniente ou intercorrente é regida
fazê-la exercitar durante o prazo extintivo fixado pela pena aplicada, tendo como marco inicial a publica-
em lei. ção da sentença penal condenatória.
DIREITO PENAL

Envolvendo o tema, BASILEU GARCIA comentou que:


Foi, portanto, em decorrência das considerações aci- “a proibição legal de reformatio in pejus, assegurando a
ma que o artigo 189 do Código Civil de 2003 estabeleceu impraticabilidade da exacerbação da pena sem recurso
que. do acusador, permite basear a prescrição na quantidade
fixada na sentença” (Ob. cit. 373).

27
Prescrição retroativa Súmula 604 do STF: A prescrição pela pena em concre-
to é somente da pretensão executória da pena privativa
A prescrição retroativa é a espécie de prescrição que de liberdade.
determina a recontagem dos prazos anteriores à senten-
ça penal com trânsito em julgado para a acusação, ou Começa a correr a prescrição da pretensão executória:
depois de improvido seu recurso. A prescrição retroativa a) do dia em que transita em julgado a sentença con-
é igualmente regulada pela pena aplicada, tendo como denatória, para a acusação, ou a que revoga a sus-
marco inicial a publicação da sentença penal condena- pensão condicional da pena ou o livramento con-
tória. dicional (artigo 112, inciso I);
O parágrafo primeiro do artigo 110 possuía a seguin- b) do dia em que se interrompe a execução, salvo
quando o tempo da interrupção deva computar-se
te redação: “a prescrição, depois da sentença condenató-
na pena(artigo 112, inciso II).
ria com trânsito em julgado para a acusação, ou depois
de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada”. A prescrição no caso de evasão do condenado ou de
De acordo com a antiga redação, a prescrição retroativa revogação do livramento condicional é regulada pelo
poderia ocorrer em dois períodos distintos: tempo que resta da pena (artigo 113).
a) entre a data do fato e o recebimento da denúncia
ou queixa; ou Redução e aumento dos prazos de prescrição
b) entre o recebimento da denúncia ou queixa e a
publicação da sentença condenatória. Os prazos de prescrição são reduzidos à metade
quando o criminoso era:
A Lei n. 12.234/2010 deu nova redação ao menciona- - ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos
do dispositivo: - na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos (ar-
... a prescrição, depois da sentença condenatória com tigo 115, do Código Penal)
trânsito em julgado para a acusação ou depois de impro-
vido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não po- Sobre o disposto, Juarez Cirino dos Santos ensina
dendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data que: “a definição legal da capacidade civil aos 18 anos
anterior à da denúncia ou queixa. (art. 5º, caput, do Código Civil), não exclui a redução dos
prazos de prescrição para agentes menores de 21 anos:
a redução dos prazos prescricionais tem por fundamento
Com esta modificação, a prescrição retroativa somen-
idade inferior a 21 anos – não a incapacidade civil do
te ocorre entre o recebimento da denúncia ou queixa e a agente na data do fato.
publicação da sentença condenatória. Além disso, decisões do legislador civil não podem
Ressalta-se que a nova lei, que se mostra menos be- invalidar critérios do legislador penal – e qualquer outra
néfica ao réu, somente pode ser aplicada a fatos poste- interpretação representaria analogia in malam partem,
riores à data de sua publicação (art. 2º, parágrafo único, proibida pelo princípio da legalidade penal.
do CP). Segunda, na forma do art. 1º, da Lei n. 10.741/03 (Es-
tatuto do Idoso), o limite etário de 70 (setenta) anos (na
Prescrição antecipada, projetada, virtual ou re- data da sentença), como fundamento para redução dos
troativa em perspectiva prazos prescricionais, deve ser alterado para 60 (sessenta)
anos, pela mesma razão que determinou a fixação desse
Esta espécie de prescrição não encontra previsão le- marco etário para definir o cidadão idoso, alterando ex-
gal, sendo uma construção doutrinária e jurisprudencial, pressamente a circunstância agravante do art. 61, h, CP,
tendo como fundamentos a economia e falta de interes- na hipótese de ser vítima de crime: a analogia in bonam
se processual. partem é autorizada pelo princípio da legalidade penal
Ela seria verificada ainda em sede de inquérito po- e, portanto, constitui direito do réu” (Ob. cit. p. 683-684).
licial, ou seja, antecipadamente, sendo regulada pela Caso o condenado seja reincidente, o prazo prescri-
cional da pretensão executória deverá ser ampliado em
provável pena em concreto que seria estabelecida pelo
um terço (artigo 110).
magistrado por ocasião da condenação.
Frisa-se que a predita ampliação de prazo só tem lu-
O Superior Tribunal de Justiça se posicionou contrário gar na prescrição da pretensão executória, conforme se
a esta criação jurisprudencial ao editar a Súmula 438: “é extrai da Súmula 220 do STJ.
inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição
da pretensão punitiva com fundamento em pena hipoté- Súmula 220 do STJ: A reincidência não influi no prazo
tica, independentemente da existência ou sorte do pro- da prescrição da pretensão punitiva.
cesso penal”.
Prescrição das penas restritivas de direito
Prescrição da pretensão executória
Os prazos prescricionais das penas restritivas de di-
DIREITO PENAL

A prescrição da pretensão executória é aquela que reito seguem a sorte dos prazos prescricionais das penas
implica na perda da possibilidade de aplicação da sanção privativas de liberdade, conforme se verifica pelo dispos-
penal, em face do decurso do tempo. to no artigo 109, parágrafo único: aplicam-se às penas
Ela deve ser regulada pela pena fixada na sentença restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as
condenatória ou acórdão. Neste sentido dispõe: privativas de liberdade.

28
Prescrição da pena de multa Súmula 191 do STJ: a pronúncia é causa interruptiva
da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a
A prescrição da pretensão punitiva da pena de multa desclassificar o crime.
ocorrerá:
- em 2 (dois) anos, quando a multa for a única comi- As causas interruptivas da prescrição fazem o
nada ou aplicada (artigo 114, inciso I) prazo voltar a correr do início, ou seja, possuem o
- no mesmo prazo estabelecido para prescrição da condão de determinar o reinício da contagem do prazo
pena privativa de liberdade, quando a multa for al- prescricional, vertendo em sua integralidade a partir do
ternativa ou cumulativamente cominada ou cumu- dia da interrupção.
lativamente aplicada No caso de continuação do cumprimento de pena,
há uma exceção à regra geral, uma vez que a prescrição
Nestas hipóteses são aplicadas as mesmas causas deverá ser regulada pelo tempo restante da pena (art.
suspensivas e interruptivas da prescrição de pena priva- 117, §2º, do CP).
tiva de liberdade. A interrupção da prescrição produz efeitos
Em relação à prescrição da pretensão executória da relativamente a todos os autores do crime, salvo nos
pena de multa, convém lembrar que, com o advento da casos de início e continuação da pena e reincidência.
Lei n. 9.268/1996, que passou a considerar a pena pecu- Por fim, o art. 117, § 1º, in fine, do CP, estabelece
niária como dívida de valor, seu prazo passou a ser de que nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo
cinco anos, e são aplicadas as causas suspensivas e inter- processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a
ruptivas da legislação tributária para a hipótese. qualquer deles.
Prazos Segundo o Superior Tribunal de Justiça, a sentença
concessiva de perdão judicial não tem o condão de
O prazo prescricional sempre dependerá da pena interromper a prescrição, uma vez que ela é apenas
abstrata ou da que foi aplicada. declaratória de extinção da punibilidade (Súmula 18).
Em geral, deverá observar os intervalos do art. 109
do CP. Erro de Tipo e Erro de Proibição. Descriminantes
Entretanto, algumas legislações especiais preveem Putativas. Escusas absolutórias.
prazos próprios para suas matérias.
ERRO DE TIPO # ERRO DE PROIBIÇÃO
Causas impeditivas ou suspensivas da prescrição Erro de tipo existe falsa percepção da realidade, ou
seja, o agente NÃO SABE o que faz.
Enquanto que o impedimento da prescrição inibe o Exemplo: saio de festa pego um guarda-chuva, quan-
início do curso do prazo prescricional, a suspensão leva à do chego a minha casa vejo que não é meu.
paralização do prazo já em curso. Erro de proibição o agente SABE o que faz. (Percebe o
As causas impeditivas ou suspensivas dizem respeito que faz, porém ignora a ilicitude).
à prescrição da pretensão punitiva propriamente dita. Exemplo: marido ignorante bate na mulher, sabe que
está ofendendo integridade física, mas ignora a ilicitude.
O artigo 116 estabelece que não corre a prescrição:
- enquanto não resolvida, em outro processo, ques-
tão de que dependa o reconhecimento da existên-
cia do crime (artigo 116, inciso I)
- enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro (ar-
tigo 116, inciso II)

Sobre a matéria:
Súmula 415 do STJ: o período de suspensão do prazo
prescricional é regulado pelo máximo da pena comi-
nada.

Causas interruptivas da prescrição

As causas interruptivas da prescrição estão elencadas


no artigo 117:
a) pelo recebimento da denúncia ou da queixa
b) pela pronúncia
c) pela decisão confirmatória da pronúncia
d) pela publicação da sentença ou acórdão condena-
DIREITO PENAL

tórios recorríveis
e) pelo início ou continuação do cumprimento da
pena
f) pela reincidência

29
Aqui é um erro vencível, neste caso, há homicídio.
O verbo matar está configurado.
Mas o dolo não, como existe homicídio culposo, ele
responderá por este crime.

Segunda hipótese;
Transportador, o caminhoneiro transporta suposta-
mente uma tonelada de sal de frutas ENO.
Parado pela polícia percebe-se que era uma tonelada
de cocaína.
ERRO DE TIPO ESSENCIAL Como não existe tráfico culposo, ele não responderá
por nada.
É a falsa percepção da realidade (estado positivo). Então, se estou falando de erro, não existe vontade
Entende-se por erro de tipo aquele que recai sobre as (por isso exclui o dolo), diante de um erro, não existe
elementares, as circunstâncias ou qualquer dado que se previsão, tanto no inevitável, como no evitável.
agregue a determinada figura típica. Porém no evitável, ao contrário do inevitável, há pre-
Rogério Greco ensina que falta na verdade, a cons- visibilidade, por isso permanece a punição para a moda-
ciência de que pratica uma infração penal e, dessa forma, lidade culposa.
resta afastado o dolo que, como vimos, é a vontade e Rogério Greco destaca que sem vontade e sem cons-
consciência de praticar a conduta incriminada. ciência, não se pode falar em dolo. Embora não possa
Recai sobre dados principais, constitutivos do tipo o agente responder pelo delito a título de dolo, sendo
penal. Se avisado do erro, o agente para de agir crimi- inescusável o erro, deverá, de acordo com a segunda
nosamente. parte do art. 20 do CP, ser responsabilizado a título de
Exemplo: estou caçando, acho que tem um animal culpa, havendo previsão para tanto.
atrás do arbusto, mas depois do disparo vejo que era Agora estamos diante da prova do concurso.
uma pessoa. NÃO sabia que estava matando alguém. Como saber se é evitável ou inevitável?
O agente NÃO sabe o que faz.
O fato de ser alguém é um dado PRINCIPAL do tipo. Primeira corrente:
Então erro de tipo ESSENCIAL pode ser Inevitável ou Trabalha com a figura do homem médio.
Evitável: Homem de diligência mediana. Inevitabilidade ou
evitabilidade considerando o homem médio.
Prevalece entre os doutrinadores clássicos.

Segunda corrente: quem é o homem médio?


Trabalha com o caso concreto, com as circunstâncias
do caso concreto, previsibilidade do caso concreto levan-
do em consideração o agente deste caso.
Analisa a evitabilidade ou inevitabilidade do caso
concreto, do ponto de vista do agente do caso concreto
(grau de instrução, etc.).
Prevalece na doutrina moderna.

As duas correntes devem ser lembradas na hora de


responder as questões!

Erro de tipo ‘acidental’


Recai sobre dados secundários do tipo.
Se avisado, o agente corrige o erro, mas continua
agindo criminosamente.
Espécies de erro de tipo acidental:

1) Erro sobre o objeto (“aberratio in objectum”)


Conceito: O agente, por erro, representa equivocada-
Vamos exemplificar: mente o objeto material (coisa), atingindo outro que não
o desejado.
Primeira hipótese: Exemplo: quero subtrair o relógio de ouro, mas acabo
Dois caçadores amigos vão para a mata caçar, uma furtando um relógio de latão, decorrência da má repre-
DIREITO PENAL

suposta fera, que está comendo o gado. sentação do objeto.


Separam-se para caçar. Previsão legal: não tem. Criação doutrinária.
Um caçador escuta um barulho na moita e atira. Consequência:
Ora, poderia ter averiguado antes a possibilidade de Não exclui dolo/não exclui culpa.
ser ou não o companheiro. Não isenta o agente de pena.

30
Responde pelo crime, considerando-se o objeto ma- Exemplo:
terial (coisa) efetivamente atingido (Prevalece). Eu miro o meu pai, porém, por inabilidade minha,
No exemplo, ele responderá pelo furto do relógio de acabo atingindo o meu vizinho, que se postava ao lado
latão, podendo o juiz utilizar o princípio da insignificân- do meu pai.
cia.
Consequências:
2) Erro sobre a pessoa (“aberratio in persona”) As mesmas do art. 20, §3º (respondo pelo crime con-
Previsão legal: art. 20, §3º do CP. siderando as qualidades da vítima VIRTUAL).
Se atingida também pessoa visada = concurso formal
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é (próprio) de delitos, art. 70. É chamado de unidade com-
praticado não isenta de pena. Não se consideram, nes- plexa ou resultado duplo.
te caso, as condições ou qualidades da vítima, senão Só se aplica para o erro na execução, o erro envolven-
as da pessoa contra quem o agente queria praticar o do PESSOA-PESSOA (art. 73), eventualmente o 20, §3º,
crime. do CP.
Doutrina moderna diferencia duas espécies de aber-
Conceito: representação equivocada do objeto mate- ratio ictus: erro no uso dos meios de execução
rial (pessoa) visado pelo agente. Execução pressupõe vítima pretendida no local: por
Não há erro de execução, e sim de representação, ou acidente
seja, a execução é perfeita, entretanto o agente represen- Execução não exige a vítima pretendida no local.
ta erroneamente a vítima. Tem a mesma consequência.
Exemplo1: Exemplo:
Quero matar meu pai, porém, representando equi- Quero matar pai, erro, mato tio, erro no uso dos
vocadamente a pessoa que entra na casa, mato o meu meios. Já no acidente, mãe envenena comida para o ma-
tio (não há erro de execução, somente de representação, rido comer, mas quem acaba comendo é o filho. Mesma
executo bem, com um alvo mal representado).
consequência.
Responderei por PARRICÍDIO, mesmo o pai estando
vivo
4) Resultado diverso do pretendido (“aberratio
criminis”)
Exemplo2: traficante deseja matar Pedrinho que tem
Previsão Legal: art. 74 CP.
13 anos.
Acredita que ele o traiu com policiais. Mata Mário que
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por
tem 17, por engano.
acidente ou erro na execução do crime, sobrevém re-
Responde por homicídio circunstanciado, pena au-
sultado diverso do pretendido, o agente responde por
mentada por ser contra menor de 14 anos.
Responde pela vítima virtual. culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocor-
Consequências: re também o resultado pretendido, aplica-se a regra
Não exclui dolo/não exclui culpa; do art. 70 deste Código.
Não isenta o agente de pena;
Responde pelo crime considerando-se a VÍTIMA VIR- É uma espécie de erro na execução.
TUAL pretendida e NÃO a vítima real. Conceito: o agente, por acidente ou erro na execu-
ção do crime, provoca lesão em bem jurídico diverso do
3) Erro na execução (“aberratio ictus”) pretendido.
Previsão legal: art. 73 CP.
Erro na execução Exemplo:
Quero danificar a viatura de X, porém, por erro na
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos execução, acabo por atingir e matar o motorista.
meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, Consequências:
responde como se tivesse praticado o crime contra Não isenta o agente de pena.
aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 Responde pelo resultado DIVERSO do pretendido, a
deste Código. No caso de ser também atingida a pes- título de culpa.
soa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra Responde pelo resultado PRODUZIDO. No exemplo,
do art.70 deste Código. homicídio culposo.
Se provocar também o resultado pretendido, concur-
Conceito: o agente, por acidente ou erro no uso dos so formal de delitos (art. 70 CP).
DIREITO PENAL

meios de execução, atinge pessoa diversa da pretendida,


apesar de corretamente representá-la. Exemplo1:
A vítima é corretamente representada, entretanto Resultado pretendido, dano em carro (art. 165, do
houve falha na execução do crime. CP), porém, por acidente, o resultado produzido foi a
morte do motorista (art. 121, do CP).

31
Houve erro na execução. Três correntes:
Art. 74: responde por resultado produzido a título de
culpa. Primeira corrente:
O agente responde pelo crime considerando o nexo
Exemplo2: visado (pretendido), evitando a responsabilidade penal
Resultado pretendido é a morte, o resultado produ- objetiva.
zido é o dano. Houve erro na execução, atingiu bem ju-
rídico diverso. Segunda correte:
Não posso aplicar o art. 73, do CP (aberratio ictus: O agente responde pelo crime considerando o nexo
pessoa-pessoa), e se aplicássemos o art. 74, do CP (aber- ocorrido (REAL), suficiente para a provocação do resul-
ratio criminis), teríamos impunidade. tado desejado. “Eu aceito, assumo qualquer meio para
Zaffaroni ensina que não se aplica o art. 74, do CP, atingir o meu fim” (o agente de modo feral aceita qual-
se o resultado produzido é menos grave (bem jurídico quer meio para atingir o fim). PREVALECE na doutrina.
menos valioso) que o resultado pretendido, sob pena
Terceira corrente:
de prevalecer a impunidade. Neste caso, o agente deve
O agente responde pelo crime, considerando o nexo
responder pela tentativa do resultado pretendido não al-
mais benéfico. Ela aplica o in dubio pro reo.
cançado.
6) “Erro de subsunção”
5) Erro sobre o nexo causal (“aberratio causae”) Pessoa falsifica um cheque. Foi surpreendido falsifi-
Previsão legal: NÃO tem previsão legal. Criação dou- cando um cheque. O promotor vai denunciar. Denuncia
trinária. pelo crime de falsidade de documento público (art. 297,
Fundamento: conditio sine qua non. do CP, pena de 2 a 6 anos) ou documento particular (298,
O erro sobre o nexo causal tem duas espécies: do CP, pena de 1 a 5 anos)?
Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: o agente, Documento público, cheque é documento público
mediante UM só ato, provoca o resultado visado, porém por equiparação (art. 297, § 2º, do CP).
com outro nexo de causalidade.
Art. 297, § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a
Exemplo: documento público o emanado de entidade paraesta-
Empurro a vítima de um penhasco, para que morra tal, o título ao portador ou transmissível por endosso,
afogada, porém durante a queda ela bate a cabeça con- as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e
tra uma rocha, morrendo em razão de um traumatismo o testamento particular.
craniano).
Então, este indivíduo denunciado por falsificação de
Dolo geral (erro sucessivo): o agente, mediante con- documento público, na audiência diz que NÃO SABIA
duta desenvolvida em DOIS OU MAIS atos, provoca o re- que era equiparado a documento público.
sultado visado, porém, com nexo de causalidade diverso. É o chamado ‘erro de subsunção’, não tem previsão
No erro sobre o nexo causal em sentido estrito, temos legal, criação doutrinária.
um só ato, aqui temos uma pluralidade de atos gerando Conceito: Não se confunde com erro de tipo, pois
um nexo de causalidade diverso. NÃO HÁ falsa percepção da realidade. Também não se
confunde com erro de proibição, uma vez que o agente
SABE da ilicitude de seu comportamento.
Exemplo1:
Trata-se de erro que recai sobre valorações jurídicas
Atiro na vítima, e imaginando estar morta, jogo o cor-
equivocadas, sobre interpretações jurídicas errôneas.
po no mar, vindo então a morrer afogada.
O agente interpreta equivocadamente o sentido jurí-
dico de seu comportamento.
Exemplo2: Funcionário público para fins penais: dar dinheiro a
Caso da Isabela, mãe esgana, imaginando que está jurado, mas sem saber que era equiparado funcionário.
morta, joga pela janela aí sim morrendo de traumatismo. Consequência
Porém, promotor no caso alegou que a eles sabiam que Não exclui dolo/não exclui culpa.
ela estava viva. Não isenta o agente de pena.
Pode gerar no máximo uma atenuante inominada.
Consequências: (art. 66, do CP).
Não exclui dolo/ não exclui culpa;
Não isenta o agente de pena; Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em ra-
O agente responde pelo crime considerando o resul- zão de circunstância relevante, anterior ou posterior
tado provocado (queria matar, responde por homicídio). ao crime, embora não prevista expressamente em lei.
Responde pelo nexo pretendido ou pelo nexo pro-
DIREITO PENAL

vocado? Importância: dependendo do nexo pode gerar Observação quanto à competência:


uma qualificadora. Agente federal e investigador de polícia civil.
Homicídio no exemplo anterior: respondo pelo tiro Quero matar o investigador da civil, por erro acabo
ou pela asfixia? matando o agente federal.
Houve erro na execução – art. 73 do CP.

32
Consequência: respondo como se eu tivesse atingido Ele pratica fato típico, sem Ele pratica fato atípico,
a vítima virtual pretendida. Responde pelo homicídio do querer. sem querer.
investigador, a vítima virtual.
Onde será o processo e julgamento? Exemplo: Atiro contra ar- Exemplo: Atiro contra
A Justiça Federal, visto que as consequências da aber- busto, imaginando escon- arbusto, imaginando
ratio ictus são apenas para fins penais, não para fins pro- der um animal. Realidade: esconder uma pessoa.
cessuais penais. lá se escondia uma pessoa. Realidade: lá se encontra
O processo penal para fins de competência considera um animal.
a vítima real.
Erro de tipo não interfere na competência, matéria Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descum-
processual penal. primento de um dever jurídico imposto por normas de
direito público, sujeitando o agente a uma pena.
7) Erro provocado por terceiro Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição
Previsão legal: art. 20, §2º do CP. entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típi-
co, até prova em contrário, é um fato que, ajustando-se a
Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que de- um tipo penal, é antijurídico.
termina o erro.
Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descum-
Conceito: no erro de tipo, o agente erra por conta primento de um dever jurídico imposto por normas de
própria, por si só. direito público, sujeitando o agente a uma pena.
Já no erro determinado por terceiro, há uma terceira Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição
pessoa, que induz o agente a erro, trata-se de erro não entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típi-
espontâneo. co, até prova em contrário, é um fato que, ajustando-se a
Consequência: um tipo penal, é antijurídico.
Quem determina dolosamente o erro de outrem, res- ERRO NA EXECUÇÃO
ponde por crime doloso. Erro na execução (“aberratio ictus”)
Previsão legal: art. 73 CP.
Exemplo: Erro na execução
Médico quer matar o paciente, ele dolosamente in-
duz, enganando a enfermeira a ministrar dose errada de Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos
medicamento. Responde por homicídio doloso. meios de execução, o agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa,
Quem determina culposamente o erro, responde por responde como se tivesse praticado o crime contra
crime culposo. aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20
deste Código. No caso de ser também atingida a pes-
Exemplo: soa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra
O médico negligentemente deu a dose errada a ser do art.70 deste Código.
ministrada pela enfermeira, responde por crime culposo.
Conceito: o agente, por acidente ou erro no uso dos
Nas duas hipóteses temos o médico agindo como o meios de execução, atinge pessoa diversa da pretendida,
autor mediato. apesar de corretamente representá-la.
Conclusão: o erro acidental nunca afasta a imputação. A vítima é corretamente representada, entretanto
houve falha na execução do crime.
Erro de tipo x delito puta- DELITO PUTATIVO POR
Exemplo:
tivo por erro de tipo ERRO ERRO DE TIPO
Eu miro o meu pai, porém, por inabilidade minha,
DE TIPO
acabo atingindo o meu vizinho, que se postava ao lado
O agente não sabe o que O agente não sabe o do meu pai.
faz (falsa percepção da que faz (falsa percepção
realidade). da realidade). Consequências:
O agente imagina estar Ele imagina estar agindo As mesmas do art. 20, §3º (respondo pelo crime con-
agindo licitamente. Exem- ilicitamente. Exemplo: siderando as qualidades da vítima VIRTUAL).
plo: atirar contra um ani- imagina estar atirando Se atingida também pessoa visada = concurso formal
mal em uma caça, porém contra a pessoa, porém, (próprio) de delitos, art. 70. É chamado de unidade com-
atinge uma pessoa. está atirando contra plexa ou resultado duplo.
animal. Só se aplica para o erro na execução, o erro envolven-
do PESSOA-PESSOA (art. 73), eventualmente o 20, §3º,
DIREITO PENAL

O agente ignora a pre- O agente ignora a au- do CP.


sença de uma elementar. sência da elementar. (Ele Doutrina moderna diferencia duas espécies de aber-
(“alguém”, imaginava ser ignora a AUSÊNCIA de ratio ictus: erro no uso dos meios de execução
um animal) “alguém” ele imagina Execução pressupõe vítima pretendida no local: por
que tinha alguém). acidente

33
Execução não exige a vítima pretendida no local. Há ainda outras condutas tipificadas, senão vejamos:
Tem a mesma consequência. • promover desordem que prejudique os trabalhos
eleitorais.
Exemplo: • impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio.
Quero matar pai, erro, mato tio, erro no uso dos • dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si
meios. Já no acidente, mãe envenena comida para o ma- ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer ou-
rido comer, mas quem acaba comendo é o filho. Mesma tra vantagem, para obter ou dar voto e para con-
consequência. seguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta
não seja aceita.
RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO • usar de violência ou grave ameaça para coagir al-
Resultado diverso do pretendido (“aberratio criminis”) guém a votar, ou não votar, em determinado can-
Previsão Legal: art. 74 CP. didato ou partido, ainda que os fins visados não
sejam conseguidos.
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por • não observar a ordem em que os eleitores devem
acidente ou erro na execução do crime, sobrevém re- ser chamados a votar.
sultado diverso do pretendido, o agente responde por • votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar
culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocor- de outrem.
re também o resultado pretendido, aplica-se a regra • violar ou tentar violar o sigilo do voto.
do art. 70 deste Código. • divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídi-
cos, em relação a partidos ou candidatos e capazes
É uma espécie de erro na execução. de exercerem influência perante o eleitorado.
Conceito: o agente, por acidente ou erro na execu-
• recusar ou abandonar o serviço eleitoral sem justa
ção do crime, provoca lesão em bem jurídico diverso do
causa.
pretendido.
• falsificar, no todo ou em parte, documento públi-
Exemplo:
co, ou alterar documento público verdadeiro, para
Quero danificar a viatura de X, porém, por erro na
fins eleitorais.
execução, acabo por atingir e matar o motorista.
• apropriar-se o candidato, o administrador finan-
Consequências: ceiro da campanha, ou quem de fato exerça essa
Não isenta o agente de pena. função, de bens, recursos ou valores destinados
Responde pelo resultado DIVERSO do pretendido, a ao financiamento eleitoral, em proveito próprio ou
título de culpa. alheio.
Responde pelo resultado PRODUZIDO. No exemplo,
homicídio culposo. As infrações penais definidas no Código Eleitoral são
Se provocar também o resultado pretendido, concur- de ação pública.
so formal de delitos (art. 70 CP). Todo cidadão que tiver conhecimento de infração pe-
nal contida no Código Eleitoral deverá comunicá-la ao
Exemplo1: juiz eleitoral da zona onde a mesma se verificou. Quando
Resultado pretendido, dano em carro (art. 165, do a comunicação for verbal, mandará a autoridade judicial
CP), porém, por acidente, o resultado produzido foi a reduzi-la a termo, assinado pelo apresentante e por duas
morte do motorista (art. 121, do CP). testemunhas, e a remeterá ao órgão do Ministério Públi-
Houve erro na execução. co local.
Art. 74: responde por resultado produzido a título de Se o Ministério Público julgar necessários maiores es-
culpa. clarecimentos e documentos complementares ou outros
elementos de convicção, deverá requisitá-los diretamen-
Exemplo2: te de quaisquer autoridades ou funcionários que possam
Resultado pretendido é a morte, o resultado produ- fornecê-los.
zido é o dano. Houve erro na execução, atingiu bem ju- Verificada a infração penal, o Ministério Público ofe-
rídico diverso. recerá a denúncia dentro do prazo de 10 (dez) dias.
Não posso aplicar o art. 73, do CP (aberratio ictus: A denúncia conterá a exposição do fato criminoso
pessoa-pessoa), e se aplicássemos o art. 74, do CP (aber- com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acu-
ratio criminis), teríamos impunidade. sado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-
Zaffaroni ensina que não se aplica o art. 74, do CP, -lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol
se o resultado produzido é menos grave (bem jurídico das testemunhas.
menos valioso) que o resultado pretendido, sob pena A denúncia será rejeitada quando o fato narrado
de prevalecer a impunidade. Neste caso, o agente deve evidentemente não constituir crime, já estiver extinta a
responder pela tentativa do resultado pretendido não al- punibilidade, pela prescrição ou outra causa, ou ainda,
cançado. for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição
exigida pela lei para o exercício da ação penal.
DIREITO PENAL

Dos crimes eleitorais. (Lei n° 9.504 de 1997). Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para
o depoimento pessoal do acusado, ordenando a citação
O Código Eleitoral também disciplina sobre crimes, deste e a notificação do Ministério Público. O réu ou seu
tais como o fato de inscrever fraudulentamente eleitor defensor terá o prazo de 10 (dez) dias para oferecer ale-
ou reter título eleitoral contra a vontade do eleitor. gações escritas e arrolar testemunhas.

34
Decorrido esse prazo, e conclusos os autos ao juiz Resposta: Letra D. Caio, pratica a conduta sob a égide
dentro de quarenta e oito horas, terá o mesmo 10 (dez) do erro de tipo, art. 20, do CP, em que o erro sobre
dias para proferir a sentença. elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui
Das decisões finais de condenação ou absolvição o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se
cabe recurso para o Tribunal Regional, a ser interposto previsto em lei.
no prazo de 10 (dez) dias.
No processo e julgamento dos crimes eleitorais e 3. (TRF2 – Analista Judiciário – Execução de Manda-
dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos dos – FCC – 2012) É INCORRETO afirmar que a extinção
recursos e na execução, que lhes digam respeito, será da punibilidade
aplicada, como lei subsidiária ou supletiva, o Código de
Processo Penal. a) será declarada se ocorrer a decadência do direito quei-
xa.
b) poderá ser reconhecida em processo de habeas cor-
EXERCÍCIOS COMENTADOS pus.
c) será declarada, no caso de morte do acusado, à vista
da certidão de óbito.
1. (PC-MG – Delegado de Polícia – FURMAC – 2018) d) será declarada, na fase do inquérito, pela autoridade
Com relação ao erro no Direito Penal, é CORRETO afir- policial.
mar: e) deverá ser declarada de ofício pelo juiz, em qualquer
fase do processo.
a) Quando, por erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia Resposta: Letra D. Os casos de extinção da punibili-
ofender, atinge pessoa diversa, responde como se dade estão descritos no rol do art. 107, do CP, e não
tivesse praticado o crime contra aquela, consideran- consta a hipótese de a autoridade policial declarar a
do-se as qualidades da vítima que almejava. No caso extinção da punibilidade na fase de inquérito.
de ser também atingida a pessoa que o agente pre-
tendia ofender, aplica-se a regra do concurso formal:
4. (Câmara Legislativa do DF – Procurador Legislativo
estamos diante da figura conhecida como aberratio
- FCC - 2018) A prescrição:
criminis. 
b) O agente que, objetivando determinado resultado,
a) da pretensão punitiva não corre enquanto o agente
termina atingindo resultado diverso do pretendido,
cumpre pena no estrangeiro.
responde pelo resultado diverso do pretendido so-
b) tem seu prazo reduzido em um terço quando o crimi-
mente por culpa, se for previsto como delito culpo-
so. Quando o agente alcançar o resultado almejado e noso era menor de 21 anos na data do fato.
também resultado diverso do pretendido, responderá c) tem seu curso interrompido pelo oferecimento da de-
pela regra do concurso formal, restando configurada núncia ou queixa.
a aberratio causae. d) no concurso de crimes incide sobre a pena somada de
c) Mãe que, a fim de cuidar do machucado de seu filho, todos eles.
aplica sobre o ferimento ácido, pensando tratar-se de e) da pena de multa ocorrerá em 3 anos quando for a
pomada cicatrizante, age em erro de proibição. única aplicada ou cominada.
d) Fazendeiro que, para defender sua propriedade, mata
posseiro que a invade, pensando estar nos limites de Resposta: Letra A. Art. 116, do CP, antes de passar em
seu direito, atua em erro de proibição indireto. julgado a sentença final, a prescrição não corre: II - en-
quanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
Resposta: Letra E. No erro de proibição indireto (des- GABARITO OFICIAL: A
criminante putativa por erro de proibição) o agente
sabe que a conduta é típica, mas imagina presente 5. (Prefeitura de São Luís-MA – Auditor Fiscal de Tri-
uma norma permissiva, ora supondo existir uma causa butos - FCC - 2018) Extingue-se a punibilidade do agen-
excludente da ilicitude, ora supondo estar agindo nos te:
limites da descriminante.
a) pela retroatividade da lei que diminui a pena do crime.
2. (TRF2 – Juiz Federal – TRF2 – 2014) Caio, agente b) pela superveniência de doença mental do autor do
da polícia, durante suas férias, resolve manter a forma ilícito.
e treinar tiros. Vai até um terreno baldio e ali alveja uma c) pela reparação do dano ou restituição da coisa objeto
caçamba de lixo. O agente imaginava-se sozinho e, sem do ilícito, em qualquer crime.
querer, acerta um mendigo que ali dormia, dentro da ca- d) pelo perdão do ofendido, em qualquer crime.
çamba. Em tese, ocorreu: e) pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
DIREITO PENAL

a) Descriminante putativa. Resposta: Letra E. Extingue-se a punibilidade, art.


b) Causa legal de exclusão da culpabilidade. 107, IX, do CP, pelo perdão judicial, nos casos previs-
c) Caso fortuito, ou força maior criminógena. tos em lei.
d) Erro de tipo.
e) Erro na execução (aberratio ictus).

35
forme as hipóteses elencadas no artigo 60, do Código de
PRESCRIÇÃO Processo Penal, que além de repercutir no processo em
que incide, reflete no campo penal, levando à extinção
da punibilidade.
Para se dar a prescrição é necessário que:
Punibilidade e causas de extinção. “a) exista o direito material da parte a uma prestação
a ser cumprida, a seu tempo, por meio de ação ou
A Extinção de punibilidade é a impossibilidade de pu- omissão do devedor;
nir o autor de um crime. “b) ocorra a violação desse direito material por parte
Punibilidade é a possibilidade subjetiva do Estado pu- do obrigado, configurando o inadimplemento da
nir o autor de um Crime. prestação devida;
Não se deve confundir Punibilidade, que é uma si- “c) surja, então, a pretensão, como consequência da
tuação ou característica que produz efeito posterior ao violação do direito subjetivo, isto é, nasça o poder
crime consumado e reconhecido, característica que im- de exigir a prestação pelas vias judiciais; e, final-
pede que o autor seja punido; com a Culpabilidade, que mente;
é um pressuposto de Autoria (direito penal), pressuposto “d) se verifique a inércia do titular da pretensão em
sem a qual, mesmo já estando efetivado o crime, não se fazê-la exercitar durante o prazo extintivo fixado
reconhece a sua autoria pois o agente não possui culpa, em lei.” (Grifou-se)
não pode ser responsabilizado por seus atos.
A extinção da punibilidade é a perda do direito do Foi, portanto, em decorrência das considerações aci-
Estado de punir o agente autor de fato típico e ilícito, ma que o artigo 189 do Código Civil de 2003 estabeleceu
ou seja, é a perda do direito de impor sanção penal. As que.
causas de extinção da punibilidade estão espalhadas no “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a
ordenamento jurídico brasileiro. qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem
Dispõe o Código Penal: os arts. 205 e 206.” (Grifou-se)
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente; Espécies de prescrição.
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o O Código Penal ao tratar do tema divide a prescrição
fato como criminoso; em duas espécies:
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; a) prescrição antes de transitar em julgado a sentença
(artigo 109)
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão
b) prescrição depois de transitar em julgado sentença
aceito, nos crimes de ação privada;
final condenatória (artigo 110).
(...) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
Doutrinariamente, a prescrição é dividida em pres-
PRESCRIÇÃO
crição da pretensão punitiva e prescrição da pretensão
executória.
De modo geral prescrição significa a perda de uma
A prescrição da pretensão punitiva desdobra-se em:
pretensão, pelo decurso do tempo. Assim sendo, no prescrição da pretensão punitiva propriamente dita;
campo do Direito Penal a prescrição pode ser concei- prescrição superveniente ou intercorrente; prescrição
tuada como a perda da pretensão punitiva estatal, pelo retroativa; e prescrição antecipada, projetada, virtual ou
decurso de determinado lapso temporal previsto em lei. retroativa em perspectiva.
BASILEU GARCIA definiu a prescrição como “a renúncia
do Estado a punir a infração, em face do decurso do tem- PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA PRO-
po” (Ob. cit. p. 368). PRIAMENTE DITA
Sob um aspecto amplo, decadência significa a perda
de um direito potestativo, pelo decurso de um prazo fi- Esta espécie tem lugar antes de transitar em julgado
xado em lei ou convencionado entre as partes. a sentença penal, devendo ser regulada pelo máximo da
No Direito Penal, em seu sentido mais estrito, deca- pena privativa de liberdade ao crime. Os prazos em que
dência traduz o perecimento do direito da ação penal é verificada são os constantes no rol do artigo 109, do
de exercício privado, ou do direito de representação nos Código Penal.
casos de ação penal pública de exercício condicionado, Regra geral, o termo inicial da prescrição da preten-
pelo decurso do prazo de seis meses (artigo 103, do Có- são punitiva propriamente dita deve ser contado a partir
digo Penal). do dia da consumação do delito (artigo 111, inciso I, do
Por derradeiro, a perempção é definida por JUAREZ Código Penal). Este dispositivo legal traz outros marcos
CIRINO DOS SANTOS como: “fenômeno processual extin- iniciais para fins de contagem de prazo prescricional:
tivo da punibilidade em ações penais de iniciativa priva- a) no caso de tentativa, do dia em que cessou a ati-
DIREITO PENAL

da, caracterizado pela inatividade, pela omissão ou pela vidade criminosa (artigo 111, inciso II, do Código
negligência do autor na realização de atos processuais Penal);
específicos” (Direito penal: parte geral. 2ª ed. Curitiba: b) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
Lumen Juris, 2007, p. 689). Observa-se que, a perempção permanência (artigo 111, inciso III, do Código Pe-
é uma sanção para o querelante que se comporta con- nal);

36
c) nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração PRESCRIÇÃO ANTECIPADA, PROJETADA, VIR-
de assentamento do registro civil, da data em que TUAL OU RETROATIVA EM PERSPECTIVA
o fato se tornou conhecido (artigo 111, inciso IV,
do Código Penal). Esta espécie de prescrição não encontra previsão le-
gal, sendo uma construção doutrinária e jurisprudencial,
Segundo o Superior Tribunal de Justiça, “a prescrição tendo como fundamentos a economia e falta de interes-
penal é aplicável nas medidas socioeducativas” (Súmula se processual.
338). Ela seria verificada ainda em sede de inquérito po-
licial, ou seja, antecipadamente, sendo regulada pela
PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE OU INTERCOR- provável pena em concreto que seria estabelecida pelo
RENTE magistrado por ocasião da condenação.
Como assinalou JUAREZ CIRINO DOS SANTOS, a
Pode ser conceituada como aquela que ocorre entre prescrição pela pena virtual seria “outra generosa inven-
a data da publicação da sentença penal condenatória e o ção da jurisprudência brasileira, amplamente empregada
trânsito em julgado para a acusação. por segmentos liberais do Ministério Público e da Magis-
A prescrição superveniente ou intercorrente é regida tratura nacionais” (Ob. cit. p. 682).
pela pena aplicada, tendo como marco inicial a publica- O Superior Tribunal de Justiça se posicionou contrário
ção da sentença penal condenatória. a esta criação jurisprudencial ao editar a Súmula 438: “é
Envolvendo o tema, BASILEU GARCIA comentou que: inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição
“a proibição legal de reformatio in pejus, assegurando a da pretensão punitiva com fundamento em pena hipoté-
impraticabilidade da exacerbação da pena sem recurso tica, independentemente da existência ou sorte do pro-
do acusador, permite basear a prescrição na quantidade cesso penal”.
fixada na sentença” (Ob. cit. 373).
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA
PRESCRIÇÃO RETROATIVA
A prescrição da pretensão executória é aquela que
implica na perda da possibilidade de aplicação da sanção
A prescrição retroativa é a espécie de prescrição que
penal, em face do decurso do tempo.
determina a recontagem dos prazos anteriores à senten-
Ela deve ser regulada pela pena fixada na sentença
ça penal com trânsito em julgado para a acusação, ou
condenatória ou acórdão. Neste sentido dispõe:
depois de improvido seu recurso. A prescrição retroativa
Súmula 604 do STF: A prescrição pela pena em con-
é igualmente regulada pela pena aplicada, tendo como
creto é somente da pretensão executória da pena pri-
marco inicial a publicação da sentença penal condena-
vativa de liberdade.
tória. Começa a correr a prescrição da pretensão executó-
O parágrafo primeiro do artigo 110 possuía a seguin- ria:
te redação: “a prescrição, depois da sentença condenató- a) do dia em que transita em julgado a sentença con-
ria com trânsito em julgado para a acusação, ou depois denatória, para a acusação, ou a que revoga a sus-
de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada”. pensão condicional da pena ou o livramento con-
De acordo com a antiga redação, a prescrição retroativa dicional (artigo 112, inciso I);
poderia ocorrer em dois períodos distintos: b) do dia em que se interrompe a execução, salvo
a) entre a data do fato e o recebimento da denúncia quando o tempo da interrupção deva computar-se
ou queixa; ou na pena(artigo 112, inciso II).
b) entre o recebimento da denúncia ou queixa e a
publicação da sentença condenatória. A prescrição no caso de evasão do condenado ou de
revogação do livramento condicional é regulada pelo
A Lei n. 12.234/2010 deu nova redação ao menciona- tempo que resta da pena (artigo 113).
do dispositivo:
... a prescrição, depois da sentença condenatória com REDUÇÃO E AUMENTO DOS PRAZOS DE PRES-
trânsito em julgado para a acusação ou depois de impro- CRIÇÃO
vido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não po-
dendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data Os prazos de prescrição são reduzidos à metade
anterior à da denúncia ou queixa. quando o criminoso era:
- ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos
Com esta modificação, a prescrição retroativa somen- na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos (ar-
te ocorre entre o recebimento da denúncia ou queixa e a tigo 115, do Código Penal) Sobre o disposto, JUA-
publicação da sentença condenatória. REZ CIRINO DOS SANTOS ensina que: “a definição
Ressalta-se que a nova lei, que se mostra menos be- legal da capacidade civil aos 18 anos (art. 5º, caput,
DIREITO PENAL

néfica ao réu, somente pode ser aplicada a fatos poste- do Código Civil), não exclui a redução dos prazos
riores à data de sua publicação (art. 2º, parágrafo único, de prescrição para agentes menores de 21 anos: a
do CP). redução dos prazos prescricionais tem por funda-
mento idade inferior a 21 anos – não a incapacida-
de civil do agente na data do fato.

37
Além disso, decisões do legislador civil não podem CAUSAS IMPEDITIVAS OU SUSPENSIVAS DA
invalidar critérios do legislador penal – e qualquer outra PRESCRIÇÃO
interpretação representaria analogia in malam partem,
proibida pelo princípio da legalidade penal. Enquanto que o impedimento da prescrição inibe o
Segunda, na forma do art. 1º, da Lei n. 10.741/03 (Es- início do curso do prazo prescricional, a suspensão leva à
tatuto do Idoso), o limite etário de 70 (setenta) anos (na paralização do prazo já em curso.
data da sentença), como fundamento para redução dos As causas impeditivas ou suspensivas dizem respeito
prazos prescricionais, deve ser alterado para 60 (sessenta) à prescrição da pretensão punitiva propriamente dita.
anos, pela mesma razão que determinou a fixação desse O artigo 116 estabelece que não corre a prescrição:
marco etário para definir o cidadão idoso, alterando ex- - enquanto não resolvida, em outro processo, ques-
pressamente a circunstância agravante do art. 61, h, CP, tão de que dependa o reconhecimento da existên-
na hipótese de ser vítima de crime: a analogia in bonam cia do crime (artigo 116, inciso I)
partem é autorizada pelo princípio da legalidade penal - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro (ar-
e, portanto, constitui direito do réu” (Ob. cit. p. 683-684). tigo 116, inciso II)
Caso o condenado seja reincidente, o prazo prescri-
cional da pretensão executória deverá ser ampliado em Sobre a matéria:
um terço (artigo 110). Súmula 415 do STJ: o período de suspensão do prazo
Frisa-se que a predita ampliação de prazo só tem lu- prescricional é regulado pelo máximo da pena comi-
gar na prescrição da pretensão executória, conforme se nada.
extrai da Súmula 220 do STJ.
Súmula 220 do STJ: A reincidência não influi no prazo CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO
da prescrição da pretensão punitiva.
As causas interruptivas da prescrição estão elencadas
PRESCRIÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DI- no artigo 117:
REITO a) pelo recebimento da denúncia ou da queixa
b) pela pronúncia
Os prazos prescricionais das penas restritivas de di- c) pela decisão confirmatória da pronúncia
reito seguem a sorte dos prazos prescricionais das penas d) pela publicação da sentença ou acórdão condena-
privativas de liberdade, conforme se verifica pelo dispos- tórios recorríveis
to no artigo 109, parágrafo único: aplicam-se às penas e) pelo início ou continuação do cumprimento da
restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as pena
privativas de liberdade. f) pela reincidência

PRESCRIÇÃO DA PENA DE MULTA Súmula 191 do STJ: a pronúncia é causa interruptiva


da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a
A prescrição da pretensão punitiva da pena de multa desclassificar o crime.
ocorrerá: As causas interruptivas da prescrição fazem o prazo
- em 2 (dois) anos, quando a multa for a única comi- voltar a correr do início, ou seja, possuem o condão de
nada ou aplicada (artigo 114, inciso I) determinar o reinício da contagem do prazo prescricio-
no mesmo prazo estabelecido para prescrição da nal, vertendo em sua integralidade a partir do dia da in-
pena privativa de liberdade, quando a multa for al- terrupção.
ternativa ou cumulativamente cominada ou cumu- No caso de continuação do cumprimento de pena,
lativamente aplicada há uma exceção à regra geral, uma vez que a prescrição
deverá ser regulada pelo tempo restante da pena (art.
Nestas hipóteses são aplicadas as mesmas causas 117, §2º, do CP).
suspensivas e interruptivas da prescrição de pena priva- A interrupção da prescrição produz efeitos relativa-
tiva de liberdade. mente a todos os autores do crime, salvo nos casos de
Em relação à prescrição da pretensão executória da início e continuação da pena e reincidência.
pena de multa, convém lembrar que, com o advento da Por fim, o art. 117, § 1º, in fine, do CP, estabelece que
Lei n. 9.268/1996, que passou a considerar a pena pecu- nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo proces-
niária como dívida de valor, seu prazo passou a ser de so, estende-se aos demais a interrupção relativa a qual-
cinco anos, e são aplicadas as causas suspensivas e inter- quer deles.
ruptivas da legislação tributária para a hipótese.
Segundo o Superior Tribunal de Justiça, a sentença
PRAZOS concessiva de perdão judicial não tem o condão de inter-
romper a prescrição, uma vez que ela é apenas declara-
O prazo prescricional sempre dependerá da pena tória de extinção da punibilidade (Súmula 18).
DIREITO PENAL

abstrata ou da que foi aplicada.


Em geral, deverá observar os intervalos do art. 109
do CP.
Entretanto, algumas legislações especiais preveem
prazos próprios para suas matérias.

38
§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando le-
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA gítimos, com o fim de torná-los novamente utilizáveis,
carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA alterado, qualquer dos papéis a que se refere o pará-
grafo anterior.
O capítulo X da parte especial do Código Penal é divi- § 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora reci-
dido em 5 capítulos, sendo eles do crime de: bo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou alte-
I- Moeda Falsa, rados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois
II- Falsidade de títulos e outros papéis públicos, de conhecer a falsidade ou alteração, incorre na pena
III- Falsidade Documental, de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
IV- Outras falsidades, § 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do
V- Fraudes em certames de interesse público. inciso III do § 1o, qualquer forma de comércio irregular
ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou
Porém, conforme edital, será cobrado somente os tó- outros logradouros públicos e em residências. (Incluí-
picos II; III e V. Vejamos o que diz a Lei. do pela Lei nº 11.035, de 2004)

CAPÍTULO II Petrechos de falsificação


DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guar-
dar objeto especialmente destinado à falsificação de
Falsificação de papéis públicos qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:
Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
I – selo destinado a controle tributário, papel selado Art. 295 - Se o agente é funcionário público, e comete
ou qualquer papel de emissão legal destinado à arre- o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
cadação de tributo; (Redação dada pela Lei nº 11.035, de sexta parte.
de 2004)
II - papel de crédito público que não seja moeda de CAPÍTULO III
curso legal; DA FALSIDADE DOCUMENTAL
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa Falsificação do selo ou sinal público
econômica ou de outro estabelecimento mantido por Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
entidade de direito público; I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro do- União, de Estado ou de Município;
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito
cumento relativo a arrecadação de rendas públicas
público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:
ou a depósito ou caução por que o poder público seja
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
responsável;
§ 1º - Incorre nas mesmas penas:
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
transporte administrada pela União, por Estado ou por
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verda-
Município:
deiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
ou alheio.
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de mar-
pela Lei nº 11.035, de 2004) cas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos uti-
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis lizados ou identificadores de órgãos ou entidades da
falsificados a que se refere este artigo;  (Incluído pela Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de
Lei nº 11.035, de 2004) 2000)
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, em- § 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o
presta, guarda, fornece ou restitui à circulação selo crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
falsificado destinado a controle tributário;  (Incluído de sexta parte.
pela Lei nº 11.035, de 2004)
III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, Falsificação de documento público
mantém em depósito, guarda, troca, cede, empresta, Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento
fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em pro- público, ou alterar documento público verdadeiro:
veito próprio ou alheio, no exercício de atividade co- Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
mercial ou industrial, produto ou mercadoria: (Incluí- § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o
do pela Lei nº 11.035, de 2004) crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a de sexta parte.
DIREITO PENAL

controle tributário, falsificado;  (Incluído pela Lei nº § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a docu-
11.035, de 2004) mento público o emanado de entidade paraestatal,
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tri- o título ao portador ou transmissível por endosso, as
butária determina a obrigatoriedade de sua aplica- ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o
ção. (Incluído pela Lei nº 11.035, de 2004) testamento particular.

39
§ 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz Pena - detenção, de dois meses a um ano.
inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
I – na folha de pagamento ou em documento de in- Falsidade material de atestado ou certidão
formações que seja destinado a fazer prova perante a § 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
previdência social, pessoa que não possua a qualidade certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado
de segurado obrigatório;(Incluído pela Lei nº 9.983, de verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que
2000) habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
empregado ou em documento que deva produzir efei- vantagem:
to perante a previdência social, declaração falsa ou Pena - detenção, de três meses a dois anos.
diversa da que deveria ter sido escrita; (Incluído pela § 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro, apli-
Lei nº 9.983, de 2000) ca-se, além da pena privativa de liberdade, a de multa.
III – em documento contábil ou em qualquer outro do- Falsidade de atestado médico
cumento relacionado com as obrigações da empresa Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão,
perante a previdência social, declaração falsa ou di- atestado falso:
versa da que deveria ter constado. (Incluído pela Lei nº Pena - detenção, de um mês a um ano.
9.983, de 2000) Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de
§ 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos do- lucro, aplica-se também multa.
cumentos mencionados no § 3o, nome do segurado
e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica
contrato de trabalho ou de prestação de serviços.(In- Art. 303 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica
cluído pela Lei nº 9.983, de 2000) que tenha valor para coleção, salvo quando a repro-
dução ou a alteração está visivelmente anotada na
Falsificação de documento particular    (Redação dada face ou no verso do selo ou peça:
pela Lei nº 12.737, de 2012)    Vigência Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento fins de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica.
particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Uso de documento falso
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsifica-
Falsificação de cartão        (Incluído pela Lei nº 12.737,
dos ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
de 2012)     Vigência
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
Parágrafo único.  Para fins do disposto no caput, equi-
para-se a documento particular o cartão de crédito ou
Supressão de documento
débito.      (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)     Vi-
Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
gência
próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu-
Falsidade ideológica mento público ou particular verdadeiro, de que não
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, podia dispor:
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o do-
fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia cumento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e
ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obri- multa, se o documento é particular.
gação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante: CAPÍTULO V
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚ-
documento é público, e reclusão de um a três anos, e BLICO
multa, se o documento é particular. (INCLUÍDO PELA LEI 12.550. DE 2011)
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e )
comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a fal- Fraudes em certames de interesse público   (Incluído
sificação ou alteração é de assentamento de registro pela Lei 12.550. de 2011)
civil, aumenta-se a pena de sexta parte. Art. 311-A.  Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o
Falso reconhecimento de firma ou letra fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer
Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:    (In-
de função pública, firma ou letra que o não seja: cluído pela Lei 12.550. de 2011)
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o I - concurso público;    (Incluído pela Lei 12.550. de
documento é público; e de um a três anos, e multa, se 2011)
o documento é particular. II - avaliação ou exame públicos;    (Incluído pela Lei
12.550. de 2011)
Certidão ou atestado ideologicamente falso III - processo seletivo para ingresso no ensino superior;
DIREITO PENAL

Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão ou    (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)
de função pública, fato ou circunstância que habilite IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:    (In-
alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de cluído pela Lei 12.550. de 2011)
serviço de caráter público, ou qualquer outra vanta- Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e mul-
gem: ta.    (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)

40
§ 1o  Nas mesmas penas incorre quem permite ou faci- § 1.º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi-
lita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não auto- co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou
rizadas às informações mencionadas no caput.    (In- bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,
cluído pela Lei 12.550. de 2011) em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facili-
§ 2o  Se da ação ou omissão resulta dano à adminis- dade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
tração pública:    (Incluído pela Lei 12.550. de 2011)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e mul- Peculato culposo
ta.    (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) § 2.º Se o funcionário concorre culposamente para o
§ 3o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é crime de outrem:
cometido por funcionário público.   (Incluído pela Lei Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
12.550. de 2011) § 3.º No caso do parágrafo anterior, a reparação do
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de 1/2 (metade)
#FicaDica a pena imposta.

Na falsificação de documento público a falsi- CAUSA EXTINTIVA DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE


dade pode ser parcial. Em caso de supressão PUNIBILIDADE PENA
de palavras, números e letras há a incidência
do crime de supressão de documento.
reparação do dano posterior a
reparação do dano, se precede à
sentenaça irrecorrível reduz de
sentença irrecorrível
1/2 (metade) a pena imposta.

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA Peculato mediante erro de outrem
Art. 313. Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utili-
dade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de
outrem:
Crimes contra a Administração Pública.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Quais são os crimes praticados por funcionários
Inserção de dados falsos em sistema de informações
públicos contra a administração pública?
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autoriza-
do, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir in-
devidamente dados corretos nos sistemas informati-
Modificação
ou alteração
Extravia, Emprego zados ou bancos de dados da Administração Pública
Inserção de
dados falsos não
sonegação ou irregular de com o fim de obter vantagem indevida para si ou para
Peculato
em sistema de autorizada de
inutilização de verbas ou outrem ou para causar dano:
livro ou rendas Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
informções sistema de
documento públicas
informações
Modificação ou alteração não autorizada de sistema
Facilitação de de informações
Excesso de Corrupção contrabando Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, siste-
Concussão Prevaricação
exação passiva ou ma de informações ou programa de informática sem
descaminho autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
Exercício multa.
Condescendên Advocacia Violência Abandono de
funcional Parágrafo único. As penas são aumentadas de 1/3
ilegalmente (um terço) até a 1/2 (metade) se da modificação ou
cia criminosa administrativa arbitrária função
antecipado ou
prolongado
alteração resulta dano para a Administração Pública
ou para o administrado.
Violação do
Violação de
sigilo de Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou docu-
sigilo
proposta de mento
funcional Art. 314. Extraviar livro oficial ou qualquer documen-
concorrência
to, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo
ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Peculato Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, se o fato
DIREITO PENAL

Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinhei- não constitui crime mais grave.
ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Art. 315. Dar às verbas ou rendas públicas aplicação
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. diversa da estabelecida em lei:

41
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.

Peculato Peculato me- Inserção de dados Modificação Extravio, so- Emprego


Art. 312 diante erro falsos em sistemas ou alteração negação ou irregular de
de outrem de informações não autorizada inutilização de verbas ou
Art. 313 Art.313-A de sistema de livro ou docu- rendas públi-
informações mento cas
Art. 313-B Art. 314 Art. 315
Sujeito Funcionário Público
Ativo Funcionário Público devidamente auto- Funcionário Público
rizado a lidar com
o sistema informa-
tizado de banco de
dados
Sujeito Estado; entidade de direito Estado; a pessoa Estado Estado; enti- Estado; enti-
Passivo público ou o particular pre- prejudicada dade de direito dade de di-
judicado público ou o reito público
particular pre- prejudicada
judicado
Objeto Dinheiro, Dados falsos ou Sistema de in-
mate- valor ou Dinheiro ou verdadeiros de siste- formações ou Livro oficial ou Verba ou a
rial qualquer outra utilidade mas informatizados o programa de outro docu- renda Pública
outro bem ou banco de dados informática mento
imóvel
Objeto Administração pública (interesses patrimonial e moral)
jurídico
Ele- Dolo + Dolo Dolo + elemento Dolo
mento elemento subjetivo específico
subjeti- subjetivo
vo específico
Tenta- Admite Admite na mo- Admite
tiva dalidade pluris-
subsistente
Cir- - Peculato este- Vantagem indevida Causa de au- Subsidiarieda- -
cuns- lionato mento de explícita
tâncias
espe-
ciais

Concussão
Art. 316. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.

Excesso de exação
§ 1.º Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido,
emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2.º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres
públicos:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Corrupção passiva
DIREITO PENAL

Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1.º A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

42
§ 2.º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a
pedido ou influência de outrem:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

A pena é aumentada de
1/3 (um terço), se, em
consequência da vantagem
CORRUPÇÃO
Causa de aumento ou promessa, o funcionário
PASSIVA
de pena retarda ou deixa de
Solicitar ou receber, praticar qualquer ato de
para si ou para ofício ou o pratica
outrem, direta ou infringindo dever funcional
indiretamente, ainda
que fora da função ou
antes de assumi-la, Se o funcionário pratica,
mas em razão dela, deixa de praticar ou
vantagem indevida, retarda ato de ofício, com
ou aceitar promessa Figura privilegiada infração de dever
de tal vantagem. funcional, cedendo a
pedido ou influência de
outrem.

Facilitação de contrabando ou descaminho


Art. 318. Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Prevaricação
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei,
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a
aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Condescendência criminosa
Art. 320. Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do
cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.

Concussão Corrupção Facilitação de Prevaricação Prevaricação Condescen-


Art. 316 passiva contrabando Art. 319 no presídio dência
Art. 317 ou descami- Art. 319-A criminosa
nho Art. 320
Art.318
Sujeito Funcionário Público
Ativo
Estado; entidade de direito Estado Estado; en- Estado; socie- Estado
público ou o particular preju- tidade de dade, prejudi-
Sujeito dicado direito público cada pelo uso
Passivo ou o particular do aparelho,
prejudicado propiciando
cometimento
de novas infra-
ções penais
Vantagem Vantagem inde- Mercadoria Ato de ofício Aparelho tele- Infração não
Objeto indevida, vida contraban- fônico, de rá- punida ou
DIREITO PENAL

material tributo ou a deada ou o dio ou similar não comuni-


contribuição imposto não cada
social recolhido

43
Administração Administração
Objeto Administração pública (interesses material e moral) pública (inte- pública (as-
jurídico resses material pectos mate-
e moral) com rial e moral)
ênfase à segu-
rança
Elemento Dolo + ele- Dolo + elemen- Dolo Dolo + ele- Dolo Dolo + ele-
subjetivo mento sub- to subjetivo mento subjeti- mento subje-
jetivo espe- específico vo específico tivo específico
cífico
Tentativa Admite na forma plurissubsistente Não admite
Circuns- Excesso de Tipo remetido
tâncias exação Quali- - Exceção Plura- - - -
especiais ficadora Fla- lística
grante

Advocacia administrativa
Art. 321. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qua-
lidade de funcionário:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, além da multa.

Violência arbitrária
Art. 322. Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da pena correspondente à violência.

Abandono de função
Art. 323. Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.
§ 1.º Se do fato resulta prejuízo público:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 2.º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado


Art. 324. Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem
autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.

Violação de sigilo funcional


Art. 325. Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a
revelação:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.

§ 1.º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:


I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso
de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.

§ 2.º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:


Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Violação do sigilo de proposta de concorrência


Art. 326. Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:
DIREITO PENAL

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Funcionário público
Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remunera-
ção, exerce cargo, emprego ou função pública.

44
§ 1.º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Ad-
ministração Pública.
§ 2.º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes
de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Advocacia ad- Violência Abandono de Exercício funcio- Violação de


ministrativa arbitrária função nal ilegalmente sigilo funcional
Art. 321 Art. 322 Art.323 antecipado ou Art. 325
prolongado
Art. 324
Funcionário pú- Funcionário pú-
Sujeito Ativo Funcionário Público blico nomeado, blico, abrangen-
porém sem ter do o aposentado
tomado posse; na ou em disponibi-
segunda hipótese, lidade
afastado ou exone-
rado
Estado; eventual-
mente entidade Estado; pessoa Estado; pessoa
Sujeito Passivo de direito públi- prejudicado Estado prejudicada com
co ou o particular a revelação
prejudicado
Objeto material Interesse privado Pessoa que so- Cargo público Função pública Informação sigi-
fre a violência losa; sistema de
informações ou
banco de dados
Objeto jurídico Administração pública (aspectos material e moral)
Elemento Dolo Dolo + elemen- Dolo
subjetivo to subjetivo
específico
Tentativa Admite Não admite Admite Admite na forma
plurissubsistente
Circunstâncias Qualificadora Resultado Subsidiariedade,
especiais qualificador Explícita, Resulta-
do qualificador

CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO


DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Usurpação de função pública


Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
O crime consiste em tomar o exercício de função pública, com pena maior no caso de o agente obter vantagem.

Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo
ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
DIREITO PENAL

Pena - reclusão, de um a três anos.


§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
É importante destacar que pode haver concurso de crime.
Podemos estar diante de caso de aplicação da pena pelo crime de resistência e também de aplicação de pena cor-
respondente à violência.

45
Desobediência § 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efei-
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário tos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular
público: ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. o exercido em residências.
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de desca-
Desacato minho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício fluvial.
da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Contrabando
Tráfico de Influência Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Este crime tem que ter muita atenção na leitura do Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
tipo penal:
É importante saber quem incorre na mesma pena do
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou crime de contrabando:
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a § 1o Incorre na mesma pena quem:
pretexto de influir em ato praticado por funcionário I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contra-
público no exercício da função: bando;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria
Este crime ainda possui caso de aumento de pena. que dependa de registro, análise ou autorização de ór-
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se gão público competente;
o agente alega ou insinua que a vantagem é também III - reinsere no território nacional mercadoria brasilei-
destinada ao funcionário. ra destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de
Corrupção ativa qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida no exercício de atividade comercial ou industrial, mer-
a funcionário público, para determiná-lo a praticar, cadoria proibida pela lei brasileira;
omitir ou retardar ato de ofício: V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. alheio, no exercício de atividade comercial ou indus-
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, trial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os
retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio ir-
dever funcional. regular ou clandestino de mercadorias estrangeiras,
inclusive o exercido em residências.
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contra-
Descaminho bando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou
Art. 334.  Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de fluvial.
direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência
pelo consumo de mercadoria. Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. pública ou venda em hasta pública, promovida pela
administração federal, estadual ou municipal, ou
Importante assimilar os seguintes incisos: por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar
§ 1o  Incorre na mesma pena quem: concorrente ou licitante, por meio de violência, grave
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:
permitidos em lei; Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa,
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a desca- além da pena correspondente à violência.
minho; Importante saber quem incorre na mesma pena do
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, crime de impedimento perturbação ou fraude de con-
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou corrência:
alheio, no exercício de atividade comercial ou indus- Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se
trial, mercadoria de procedência estrangeira que in- abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem
troduziu clandestinamente no País ou importou frau- oferecida.
dulentamente ou que sabe ser produto de introdução
clandestina no território nacional ou de importação Inutilização de edital ou de sinal
fraudulenta por parte de outrem; Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário
DIREITO PENAL

alheio, no exercício de atividade comercial ou indus- público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado,
trial, mercadoria de procedência estrangeira, desa- por determinação legal ou por ordem de funcionário
companhada de documentação legal ou acompanha- público, para identificar ou cerrar qualquer objeto:
da de documentos que sabe serem falsos. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

46
Subtração ou inutilização de livro ou documento II – o valor das contribuições devidas, inclusive aces-
Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela
livro oficial, processo ou documento confiado à custó- previdência social, administrativamente, como sendo
dia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fis-
em serviço público: cais.
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não
constitui crime mais grave. § 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua fo-
lha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00
Sonegação de contribuição previdenciária (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir
Este crime é muito exigido pelas bancas de concursos. a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social a de multa.
previdenciária e qualquer acessório, mediante as se-
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será
guintes condutas:
reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices
do reajuste dos benefícios da previdência social.
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de
documento de informações previsto pela legislação
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CON-
previdenciária segurados empregado, empresário, tra- TRA A ADMINISTRAÇÃO ESTRANGEIRA
balhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este
equiparado que lhe prestem serviços; Corrupção ativa em transação comercial internacional
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indi-
da contabilidade da empresa as quantias descontadas retamente, vantagem indevida a funcionário público
dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a
tomador de serviços; praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros transação comercial internacional:
auferidos, remunerações pagas ou creditadas e de- Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa.
mais fatos geradores de contribuições sociais previ-
denciárias: Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um ter-
ço), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcio-
nário público estrangeiro retarda ou omite o ato de
omitir de folha de pagamento da empresa ou de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
documento de informações previsto pela legislação Tráfico de influência em transação comercial interna-
previdenciária segurados empregado, empresário,
trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este
cional
equiparado que lhe prestem serviços Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou
promessa de vantagem a pretexto de influir em ato
Suprimir ou reduzir praticado por funcionário público estrangeiro no exer-
contribuição social deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da cício de suas funções, relacionado a transação comer-
previdenciária e contabilidade da empresa as quantias descontadas dos cial internacional:
qualquer acessório, segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
mediante as seguintes tomador de serviços
condutas Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se
o agente alega ou insinua que a vantagem é também
destinada a funcionário estrangeiro.
omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais Funcionário público estrangeiro
fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias Art. 337-D. Considera-se funcionário público estran-
geiro, para os efeitos penais, quem, ainda que tran-
sitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, em-
prego ou função pública em entidades estatais ou em
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. representações diplomáticas de país estrangeiro.
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público es-
IMPORTANTE trangeiro quem exerce cargo, emprego ou função em
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espon- empresas controladas, diretamente ou indiretamente,
taneamente, declara e confessa as contribuições, pelo Poder Público de país estrangeiro ou em organi-
importâncias ou valores e presta as informações zações públicas internacionais.
devidas à previdência social, na forma definida em
DIREITO PENAL

lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.


§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
aplicar somente a de multa se o agente for primário e
de bons antecedentes, desde que:
I – (VETADO)

47
• prolongar a execução de prisão temporária, de
LEI Nº 4.898/1965, E SUAS ALTERAÇÕES pena ou de medida de segurança, deixando de ex-
(ABUSO DE AUTORIDADE) pedir em tempo oportuno ou de cumprir imediata-
mente ordem de liberdade.

Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei,


Lei nº 4.898/1965 e suas alterações (abuso de au- quem exerce cargo, emprego ou função pública, de na-
toridade). tureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração.
O direito de representação e o processo de responsa- O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção
bilidade administrativa civil e penal, contra as autorida- administrativa civil e penal.
des que, no exercício de suas funções, cometerem abu- A sanção administrativa será aplicada de acordo com
sos, são regulados pela Lei nº 4.898/1965. a gravidade do abuso cometido e consistirá em:
O direito de representação será exercido por meio • advertência.
de petição dirigida à autoridade superior que tiver com- • repreensão.
petência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar • suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
culpada, a respectiva sanção. Ou dirigida ao órgão do cinco a cento e oitenta dias, com perda de venci-
Ministério Público que tiver competência para iniciar mentos e vantagens.
processo-crime contra a autoridade culpada. • destituição de função.
A representação acima citada será feita em duas vias • demissão.
e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de • demissão, a bem do serviço público.
autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualifica-
ção do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do
três, se as houver. dano, consistirá no pagamento de uma indenização.
Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: A sanção penal será aplicada de acordo com as regras
• à liberdade de locomoção. do CP e consistirá em:
• à inviolabilidade do domicílio. • multa.
• ao sigilo da correspondência. • detenção por dez dias a seis meses
• à liberdade de consciência e de crença. • perda do cargo e a inabilitação para o exercício de
• ao livre exercício do culto religioso. qualquer outra função pública por prazo até três
• à liberdade de associação. anos.
• aos direitos e garantias legais assegurados ao
exercício do voto. As penas previstas poderão ser aplicadas autônoma
• ao direito de reunião. ou cumulativamente.
• à incolumidade física do indivíduo. Quando o abuso for cometido por agente de auto-
• aos direitos e garantias legais assegurados ao ridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria,
exercício profissional. poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de
não poder o acusado exercer funções de natureza poli-
Constitui também abuso de autoridade: cial ou militar no município da culpa, por prazo de um a
• ordenar ou executar medida privativa da liberda- cinco anos.
de individual, sem as formalidades legais ou com Recebida a representação em que for solicitada a
abuso de poder. aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou
• submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a ve- militar competente determinará a instauração de inqué-
xame ou a constrangimento não autorizado em lei. rito para apurar o fato.
• deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz com- A ação penal será iniciada, independentemente de
petente a prisão ou detenção de qualquer pessoa. inquérito policial ou justificação por denúncia do Minis-
• deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão tério Público, instruída com a representação da vítima do
ou detenção ilegal que lhe seja comunicada. abuso.
• levar à prisão e nela deter quem quer que se pro- Apresentada ao Ministério Público a representação
ponha a prestar fiança, permitida em lei. da vítima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, de-
• cobrar o carcereiro ou agente de autoridade poli- nunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso
cial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, bem
outra despesa, desde que a cobrança não tenha assim, a designação de audiência de instrução e julga-
apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto mento.
ao seu valor. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autorida-
• recusar o carcereiro ou agente de autoridade po- de houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado
licial recibo de importância recebida a título de poderá promover a comprovação da existência de tais
DIREITO PENAL

carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer vestígios, por meio de duas testemunhas qualificadas. Ou
outra despesa. requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da au-
• o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa diência de instrução e julgamento, a designação de um
natural ou jurídica, quando praticado com abuso perito para fazer as verificações necessárias.
ou desvio de poder ou sem competência legal. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apre-

48
sentar a denúncia requerer o arquivamento da repre- Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de
sentação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes serviços à comunidade, incluindo atividades de promo-
as razões invocadas, fará remessa da representação ao ção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer
Procurador-Geral e este oferecerá a denúncia, ou desig- outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir as-
nará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la pectos de aparência próprios de raça ou etnia para em-
ou insistirá no arquivamento, ao qual só então deverá o prego cujas atividades não justifiquem essas exigências.
Juiz atender. Vamos detalhar os seguintes crimes, praticar, induzir
Se o órgão do Ministério Público não oferecer a ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, et-
denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação nia, religião ou procedência nacional. E, fabricar, comer-
privada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, cializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, orna-
aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitu- mentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz
tiva e intervir em todos os termos do processo, interpor suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo.
recursos e, a todo tempo, no caso de negligência do que- Nesses crimes, o juiz poderá determinar, ouvido o Mi-
relante, retomar a ação como parte principal. nistério Público ou a pedido deste, ainda antes do inqué-
rito policial, sob pena de desobediência:
Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de qua-
• o recolhimento imediato ou a busca e apreensão
renta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou re-
dos exemplares do material respectivo.
jeitando a denúncia.
• a cessação das respectivas transmissões radiofô-
No despacho em que receber a denúncia, o Juiz de-
nicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por
signará, desde logo, dia e hora para a audiência de ins- qualquer meio.
trução e julgamento, que deverá ser realizada, improrro- • a interdição das respectivas mensagens ou páginas
gavelmente, dentro de cinco dias. de informação na rede mundial de computadores.
A citação do réu para se ver processar, até julgamento
final e para comparecer à audiência de instrução e julga- LEI Nº 9.605/1998 E SUAS ALTERAÇÕES (CRIMES
mento, será feita por mandado sucinto que, será acom- CONTRA O MEIO AMBIENTE)
panhado da segunda via da representação e da denúncia.
As testemunhas de acusação e defesa poderão ser • Nos crimes ambientais, para imposição e gradação
apresentada em juízo, independentemente de intimação. da penalidade, a autoridade competente observa-
A audiência de instrução e julgamento será pública, rá:
se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á em • a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da
dia útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do infração e suas consequências para a saúde pública
Juízo ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar. e para o meio ambiente.
Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o inter- • os antecedentes do infrator quanto ao cumprimen-
rogatório do réu, se estiver presente. to da legislação de interesse ambiental.a situação
Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz econômica do infrator, no caso de multa.
dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou • As penas restritivas de direitos são autônomas e
ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advo- substituem as privativas de liberdade quando:
gado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minutos • tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena
para cada um, prorrogável por mais dez (10), a critério privativa de liberdade inferior a quatro anos.
do Juiz. • a culpabilidade, os antecedentes, a conduta so-
Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente cial e a personalidade do condenado, bem como
a sentença. os motivos e as circunstâncias do crime indicarem
que a substituição seja suficiente para efeitos de
reprovação e prevenção do crime.

LEI Nº 9.613/1998 E SUAS ALTERAÇÕES As penas restritivas de direitos terão a mesma dura-
(LAVAGEM DE DINHEIRO) ção da pena privativa de liberdade substituída.
As penas restritivas de direito são:
• prestação de serviços à comunidade.
• interdição temporária de direitos.
Lei nº 9.613/1998 e suas alterações (Lavagem de • suspensão parcial ou total de atividades.
dinheiro). • prestação pecuniária.
• recolhimento domiciliar.
Serão punidos, na forma da Lei nº 7.716/1989, os cri-
mes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, A prestação de serviços à comunidade consiste na
cor, etnia, religião ou procedência nacional. atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a par-
Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamen- ques e jardins públicos e unidades de conservação, e, no
DIREITO PENAL

te habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na
ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços restauração desta, se possível.
públicos. Incorre na mesma pena quem, por motivo de As penas de interdição temporária de direito são a
discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência proibição de o condenado contratar com o Poder Públi-
nacional, obstar a promoção funcional. co, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros be-

49
nefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo Nos crimes previstos nesta lei, a suspensão condicio-
de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, nal da pena pode ser aplicada nos casos de condenação
no de crimes culposos. a pena privativa de liberdade não superior a três anos.
A suspensão de atividades será aplicada quando estas A multa será calculada segundo os critérios do Códi-
não estiverem obedecendo às prescrições legais. go Penal. Se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no va-
A prestação pecuniária consiste no pagamento em lor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo
dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com em vista o valor da vantagem econômica auferida.
fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a A sentença penal condenatória, sempre que possível,
um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta fixará o valor mínimo para reparação dos danos causa-
salários mínimos. O valor pago será deduzido do mon- dos pela infração, considerando os prejuízos sofridos
tante de eventual reparação civil a que for condenado o pelo ofendido ou pelo meio ambiente.
infrator. Verificada a infração, serão apreendidos seus produ-
O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina tos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.
e senso de responsabilidade do condenado, que deve- Os instrumentos utilizados na prática da infração
rá, sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer serão vendidos, garantida a sua descaracterização por
atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias meio da reciclagem.
e horários de folga em residência ou em qualquer local Nas infrações penais previstas na Lei nº 9.605/1998, a
destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido ação penal é pública incondicionada.
na sentença condenatória. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo,
São circunstâncias que atenuam a pena: a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de
• baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; direitos ou multa, somente poderá ser formulada desde
que tenha havido a prévia composição do dano ambien-
• arrependimento do infrator, manifestado pela es-
tal, salvo em caso de comprovada impossibilidade.
pontânea reparação do dano, ou limitação signifi-
cativa da degradação ambiental causada;
• comunicação prévia pelo agente do perigo imi-
nente de degradação ambiental; DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS
• colaboração com os agentes encarregados da vigi- APLICÁVEIS AO DIREITO PENAL
lância e do controle ambiental.

São circunstâncias que agravam a pena, quando não Iniciamos o estudo do Direito Penal por meio dos
constituem ou qualificam o crime: princípios que regem este ramo do direito. Por exemplo,
• reincidência nos crimes de natureza ambiental; nos debruçamos no princípio da legalidade e da anterio-
• ter o agente cometido a infração: ridade, e as vezes, não percebemos que estudamos não
somente um princípio, mas também, disposições consti-
a) para obter vantagem pecuniária; tucionais aplicáveis ao direito penal.
b) coagindo outrem para a execução material da in- Estudamos as possíveis penas que a lei permite que
fração; seja aplicada em caso de condenação, e também, esta-
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a mos diante de caso de disposição constitucional.
saúde pública ou o meio ambiente; Aqui vamos transcrever as disposições constitucio-
d) concorrendo para danos à propriedade alheia; nais aplicáveis ao direito penal e durante o estudo desta
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou disciplina, especificamente no que diz respeito aos prin-
áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime cípios do direito penal, aprofundaremos nas referidas
especial de uso; disposições.
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamen-
tos humanos; CONSTITUIÇÃO FEDERAL
g) em período de defeso à fauna; TÍTULO II
h) em domingos ou feriados; Dos Direitos E Garantias Fundamentais
i) à noite; CAPÍTULO I
j) em épocas de seca ou inundações; DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETI-
l) no interior do espaço territorial especialmente pro- VOS
tegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
captura de animais; nela podendo penetrar sem consentimento do mora-
n) mediante fraude ou abuso de confiança; dor, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
o) mediante abuso do direito de licença, permissão para prestar socorro, ou, durante o dia, por determi-
ou autorização ambiental; nação judicial;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou
parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das co-
DIREITO PENAL

por incentivos fiscais; municações telegráficas, de dados e das comunicações


q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relató- telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
rios oficiais das autoridades competentes; nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para
r) facilitada por funcionário público no exercício de fins de investigação criminal ou instrução processual
suas funções. penal;

50
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, LVIII – o civilmente identificado não será submetido
nem pena sem prévia cominação legal; a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas
em lei;
XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar
o réu; LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal;
XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória
dos direitos e liberdades fundamentais; LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o inte-
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável resse social o exigirem;
e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei;

XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insusce- CRIMES E SANÇÕES PENAIS NA LICITAÇÃO
tíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico (LEI Nº 8.666/1993 E SUAS ALTERAÇÕES)
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e
os definidos como crimes hediondos, por eles respon-
dendo os mandantes, os executores e os que, podendo Crimes tipificados na Lei de Licitações (Lei n° 8.666
evitá-los, se omitirem; de 1993)
XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a Vamos estudar os crimes nas licitações e nos contra-
ação de grupos armados, civis ou tos com a administração pública.
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Dispensar ou não exigir licitação fora das hipóteses
Democrático; previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade. Inclui tam-
XLV – nenhuma pena passará da pessoa do conde-
bém quem, tendo comprovadamente concorrido para a
nado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
Poder Público.
até o limite do valor do patrimônio transferido;
Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou
qualquer outro expediente, o caráter competitivo do
XLVI – a lei regulará a individualização da pena e ado-
procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si
tará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade; ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do
b) perda de bens; objeto da licitação.
c) multa; Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado
d) prestação social alternativa; perante a Administração, dando causa à instauração de
e) suspensão ou interdição de direitos; licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação
vier a ser decretada pelo Poder Judiciário.
XLVII – não haverá penas: Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modifi-
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos cação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em
termos do art. 84, XIX; favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos
b) de caráter perpétuo; celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei,
c) de trabalhos forçados; no ato convocatório da licitação ou nos respectivos ins-
d) de banimento; trumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com pre-
e) cruéis; terição da ordem cronológica de sua exigibilidade. Incide
na mesma conduta o contratado que, tendo comprova-
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos damente concorrido para a consumação da ilegalidade,
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade obtém vantagem indevida ou se beneficia, injustamente,
e o sexo do apenado; das modificações ou prorrogações contratuais.
Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qual-
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integrida- quer ato de procedimento licitatório.
de física e moral; Devassar o sigilo de proposta apresentada em proce-
dimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo
L – às presidiárias serão asseguradas condições para de devassá-lo.
que possam permanecer com seus filhos durante o pe- Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de vio-
ríodo de amamentação; lência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vanta-
gem de qualquer tipo. Incorre na mesma conduta quem
DIREITO PENAL

LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu- se abstém ou desiste de licitar, em razão da vantagem
ralizado, em caso de crime comum, praticado antes oferecida.
da naturalização, ou de comprovado envolvimento Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação ins-
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na taurada para aquisição ou venda de bens ou mercado-
forma da lei; rias, ou contrato dela decorrente:

51
• elevando arbitrariamente os preços.
• vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercado-
ria falsificada ou deteriorada. EXERCÍCIOS COMENTADOS
• entregando uma mercadoria por outra.
• alterando substância, qualidade ou quantidade da 1. (PC-AP – Delegado de Polícia – FGV– 2010) Maurí-
mercadoria fornecida. cio e Sandoval, sócios da empresa 007 Construções Ltda.,
• tornando, por qualquer modo, injustamente, mais decidem participar de uma concorrência pública realiza-
onerosa a proposta ou a execução do contrato. da pela Secretaria de Obras do Estado do Amapá para
seleção da empresa encarregada de construir um estádio
Admitir à licitação ou celebrar contrato com empre- de futebol com vistas à Copa do Mundo que se realizará
sa ou profissional declarado inidôneo. Incide também no Brasil. Como a empresa não dispõe dos documentos
aquele que, declarado inidôneo, venha a licitar ou a con- exigidos pelo edital - especificamente a comprovação
tratar com a Administração. de realização de obra semelhante em contratação com
Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a inscrição o setor público - Maurício e Sandoval falsificam ART’s
de qualquer interessado nos registros cadastrais ou pro- (anotação de responsabilidade técnica) a fim de simu-
mover indevidamente a alteração, suspensão ou cance- lar que já realizaram tais obras. A fraude surte efeito e
lamento de registro do inscrito. a 007 construções é efetivamente selecionada dentre as
Os crimes definidos nesta lei são de ação penal pú- concorrentes. Todavia, a falsificação é descoberta pouco
blica incondicionada, cabendo ao Ministério Público pro- tempo depois.
movê-la. Assinale a alternativa que indique o crime praticado por
Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Mi- Maurício e Sandoval.
nistério Público, fornecendo-lhe, por escrito, informações
sobre o fato e sua autoria, bem como as circunstâncias a) Fraude à licitação (art. 93, lei 8.666/93).
em que se deu a ocorrência. Quando a comunicação for b) Falsificação de documento público (art. 297, Código
verbal, mandará a autoridade reduzi-la a termo, assinado Penal).
pelo apresentante e por duas testemunhas. c) Falsidade ideológica (art. 299, Código Penal).
Quando em autos ou documentos de que conhece- d) Falsificação de documento particular (art. 298, Código
rem, os magistrados, os membros dos Tribunais ou Con-
Penal).
selhos de Contas ou os titulares dos órgãos integrantes
e) Estelionato (art. 171, Código Penal).
do sistema de controle interno de qualquer dos Poderes
verificarem a existência dos crimes definidos nesta lei, re-
Resposta: Letra A. Crime praticado por Maurício e
meterão ao Ministério Público as cópias e os documen-
Sandoval é fraude à licitação, como descreve o art. 93,
tos necessários ao oferecimento da denúncia.
da Lei nº 8.666/1993, por impedir, perturbar ou frau-
Será admitida ação penal privada subsidiária da pú-
dar a realização de qualquer ato de procedimento lici-
blica, se esta não for ajuizada no prazo legal.
tatório, com pena cominada de detenção, de 6
Recebida a denúncia e citado o réu, terá este o pra-
zo de 10 (dez) dias para apresentação de defesa escrita,
contado da data do seu interrogatório, podendo juntar
documentos, arrolar as testemunhas que tiver, em nú- CRIMES DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LEI
mero não superior a 5 (cinco), e indicar as demais provas Nº 10.028/2000)
que pretenda produzir.
Ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa e
praticadas as diligências instrutórias deferidas ou orde-
nadas pelo juiz, abrir-se-á, sucessivamente, o prazo de 5 A presente Lei, em análise, teve o objetivo de alterar
(cinco) dias a cada parte para alegações finais. o Código Penal e demais leis, mais especificadamente al-
Decorrido esse prazo, e conclusos os autos dentro de terando disposições acerca dos crimes contra as finanças
24 (vinte e quatro) horas, terá o juiz 10 (dez) dias para públicas.
proferir a sentença. Desta forma, torna-se essencial a leitura dos disposi-
Da sentença cabe apelação, interponível no prazo de tivos alterados no Código Penal.
5 (cinco) dias.
No processamento e julgamento das infrações penais “CAPÍTULO IV
definidas nesta Lei, assim como nos recursos e nas exe- DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS”
cuções que lhes digam respeito, aplicar-se-ão, subsidia- (AC)*
riamente, o Código de Processo Penal e a Lei de Execu-
ção Penal. “Contratação de operação de crédito” (AC)
“Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação
de crédito, interno ou externo, sem prévia autorização
DIREITO PENAL

legislativa:” (AC)
“Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.” (AC)
“Parágrafo único. Incide na mesma pena quem orde-
na, autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou
externo:” (AC)

52
“I – com inobservância de limite, condição ou mon- III – deixar de expedir ato determinando limitação de
tante estabelecido em lei ou em resolução do Senado empenho e movimentação financeira, nos casos e
Federal;” (AC) condições estabelecidos em lei;
“II – quando o montante da dívida consolidada ultra- IV – deixar de ordenar ou de promover, na forma e
passa o limite máximo autorizado por lei.” (AC) nos prazos da lei, a execução de medida para a re-
“Inscrição de despesas não empenhadas em restos a dução do montante da despesa total com pessoal
pagar” (AC) que houver excedido a repartição por Poder do limite
“Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em res- máximo.
tos a pagar, de despesa que não tenha sido previa-
mente empenhada ou que exceda limite estabelecido Ademais, a infração prevista acima é punida com mul-
em lei:” (AC) ta de trinta por cento dos vencimentos anuais do agente
“Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.” que lhe der causa, sendo o pagamento da multa de sua
(AC) responsabilidade pessoal.
“Assunção de obrigação no último ano do mandato ou Por fim, a infração a que se refere acima será proces-
legislatura” (AC) sada e julgada pelo Tribunal de Contas a que competir a
“Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri- fiscalização contábil, financeira e orçamentária da pessoa
gação, nos dois últimos quadrimestres do último ano jurídica de direito público envolvida.
do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa
ser paga no mesmo exercício financeiro ou, caso res-
te parcela a ser paga no exercício seguinte, que não SÚMULAS DO STF E DO STJ
tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de
caixa:” (AC)
“Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.” (AC)
“Ordenação de despesa não autorizada” (AC) SÚMULAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
“Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por lei:”
(AC) Aqui estudaremos as súmulas referentes ao direito
“Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.” (AC) penal.
“Prestação de garantia graciosa” (AC) Esclarecemos que as súmulas até a de nº 611, foram
“Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito promulgadas antes da Constituição Federal de 1988, que
sem que tenha sido constituída contragarantia em va- mudou a competência do STF.
lor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na
forma da lei:” (AC) 1. É vedada a expulsão de estrangeiro casado com
“Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.” (AC) brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente
“Não cancelamento de restos a pagar” (AC) da economia paterna.
“Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de pro- 2. Concede-se liberdade vigiada ao extraditando que
mover o cancelamento do montante de restos a pagar estiver preso por prazo superior a 60 (sessenta) dias.
inscrito em valor superior ao permitido em lei:” (AC) 3. A imunidade concedida a deputados estaduais é
“Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.” restrita à Justiça do Estado.
(AC) 18. Pela falta residual não compreendida na absolvi-
“Aumento de despesa total com pessoal no último ano ção pelo juízo criminal, é admissível a punição admi-
do mandato ou legislatura” (AC) nistrativa do servidor público.
“Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que 145. Não há crime, quando a preparação do flagrante
acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos pela polícia torna impossível a sua consumação.
cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou 146. A prescrição da ação penal regula-se pela pena
da legislatura:” (AC) concretizada na sentença, quando não há recurso da
“Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.” (AC) acusação.
“Oferta pública ou colocação de títulos no mercado” 147. A prescrição de crime falimentar começa a correr
(AC) da data em que deveria estar encerrada a falência, ou
“Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta do trânsito em julgado da sentença que a encerrar ou
pública ou a colocação no mercado financeiro de títu- que julgar cumprida a concordata.
los da dívida pública sem que tenham sido criados por 245. A imunidade parlamentar não se estende ao co-
lei ou sem que estejam registrados em sistema centra- -réu sem essa prerrogativa.
lizado de liquidação e de custódia:” (AC) 246. Comprovado não ter havido fraude, não se confi-
“Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.” (AC) gura o crime de emissão de cheque sem fundos.
297. Oficiais e praças das milícias dos Estados no exer-
Por fim, trouxe a saber as infrações administrativas cício de função policial civil, não são considerados mi-
contra as leis de finanças públicas: litares para efeitos penais, sendo competente a Justiça
DIREITO PENAL

I – deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legis- comum para julgar os crimes cometidos por ou contra
lativo e ao Tribunal de Contas o relatório de gestão eles.
fiscal, nos prazos e condições estabelecidos em lei; 298. O legislador ordinário só pode sujeitar civis à
II – propor lei de diretrizes orçamentárias anual que Justiça Militar, em tempo de paz, nos crimes contra a
não contenha as metas fiscais na forma da lei; segurança externa do País ou as instituições militares.

53
301. Por crime de responsabilidade, o procedimento 555. É competente o Tribunal de Justiça para julgar o
penal contra prefeito municipal fica condicionado ao conflito de jurisdição entre juiz de direito do Estado e
seu afastamento do cargo por impeachment, ou à ces- a Justiça Militar local.
sação do exercício por outro motivo. 560. A extinção de punibilidade pelo pagamento do
310. Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou tributo devido, estende-se ao crime de contrabando ou
a publicação com efeito de intimação for feita nesse descaminho por força do art. 18, § 2º, do Decreto-lei
dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira ime- nº 157/67.
diata, salvo se não houver expediente, caso em que 592. Nos crimes falimentares, aplicam-se as causas
começará no primeiro dia útil que se seguir. interruptivas da prescrição previstas no Código Penal.
362. A condição de ter o clube sede própria para a 594. Os direitos de queixa e de representação podem
prática de jogo lícito não o obriga a ser proprietário ser exercidos, independentemente, pelo ofendido ou
do imóvel em que tem sede. por seu representante legal.
364. Enquanto o Estado da Guanabara não tiver Tribu- 601. Os arts. 3º, II e 55 da Lei Complementar nº 40/81
nal Militar de segunda instância, o Tribunal de Justiça (Lei Orgânica do Ministério Público) não revogaram
é o competente para julgar os recursos das decisões da a legislação anterior que atribui a iniciativa para a
Auditoria da Polícia Militar. ação penal pública, no processo sumário, ao juiz ou
388. O casamento da ofendida com quem não seja o à autoridade policial, mediante portaria ou auto de
ofensor faz cessar a qualidade do seu representante prisão em flagrante.
legal, e a ação penal só pode prosseguir por iniciativa 604. A prescrição pela pena em concreto é somente da
da própria ofendida, observados os prazos legais de pretensão executória da pena privativa de liberdade.
decadência ou perempção. 605. Não se admite continuidade delitiva nos crimes
420. Não se homologa sentença proferida no estran- contra a vida.
geiro sem prova de trânsito em julgado. 607. Na ação penal regida pela Lei nº 4.611/65, a de-
421. Não impede a extradição a circunstância de ser núncia, como substitutivo da portaria, não interrompe
o extraditando casado com brasileira ou ter filho bra- a prescrição.
sileiro. 608. No crime de estupro, praticado mediante violên-
cia real, a ação penal é pública incondicionada.
422. A absolvição criminal não prejudica a medida de
609. É pública incondicionada a ação penal por crime
segurança, quando couber, ainda que importe priva-
de sonegação fiscal.
ção da liberdade.
610. Há crime de latrocínio, quando o homicídio se
452. Oficiais e praças do Corpo de Bombeiros da Gua-
consuma, ainda que não realize o agente a subtração
nabara respondem perante a Justiça comum por cri-
de bens da vítima.
me anterior à Lei nº 427, de 11 de outubro de 1948.
611. Transitada em julgado a sentença condenatória,
496. São válidos, porque salvaguardados pelas dispo-
compete ao juízo das execuções a aplicação da lei
sições constitucionais transitórias da Constituição Fe-
mais benigna.
deral de 1967, os Decretos-leis expedidos entre 24 de 654. A garantia da irretroatividade da lei, prevista no
janeiro e 15 de março de 1967. art. 5º, XXXVI, da Constituição da República, não é in-
497. Quando se tratar de crime continuado, a prescri- vocável pela entidade estatal que a tenha editado.
ção regula-se pela pena imposta na sentença, não se 673. O art. 125, § 4º, da Constituição, não impede a
computando o acréscimo decorrente da continuação. perda da graduação de militar mediante procedimen-
498. Compete à Justiça dos Estados, em ambas as ins- to administrativo.
tâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a 711. A lei penal mais grave aplica-se ao crime con-
economia popular. tinuado ou ao crime permanente, se a sua vigência
499. Não obsta à concessão do sursis condenação an- é anterior à cessação da continuidade ou da perma-
terior à pena de multa. nência.
520. Não exige a lei que, para requerer o exame a 714. É concorrente a legitimidade do ofendido, me-
que se refere o art. 777 do CPP, tenha o sentenciado diante queixa, e do Ministério Público, condicionada
cumprido mais da metade do prazo da medida de se- à representação do ofendido, para a ação penal por
gurança imposta. crime contra a honra do servidor público em razão do
521. O foro competente para o processo e julgamento exercício de suas funções.
dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emis- 715. A pena unificada para atender ao limite de trin-
são dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do ta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do
local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. Código Penal, não é considerada para a concessão de
522. Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quan- outros benefícios, como o livramento condicional ou
do então a competência será da Justiça Federal, com- regime mais favorável de execução.
pete à Justiça dos Estados o processo e julgamento dos 716. Admite-se a progressão de regime de cumpri-
crimes relativos a entorpecentes. mento da pena ou a aplicação imediata de regime
DIREITO PENAL

525. A medida de segurança não será aplicada em se- menos severo nela determinada, antes do trânsito em
gunda instância, quando só o réu tenha recorrido. julgado da sentença condenatória.
554. O pagamento de cheque emitido sem provisão de 717. Não impede a progressão de regime de execução
fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao da pena, fixada em sentença não transitada em jul-
prosseguimento da ação penal. gado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.

54
718. A opinião do julgador sobre a gravidade em abs- 104. Compete à Justiça Estadual o processo e julga-
trato do crime não constitui motivação idônea para a mento dos crimes de falsificação e uso de documento
imposição de regime mais severo do que o permitido falso relativo a estabelecimento particular de ensino.
segundo a pena aplicada. 107. Compete à Justiça Comum Estadual processar e
719. A imposição do regime de cumprimento mais se- julgar crime de estelionato praticado mediante falsi-
vero do que a pena aplicada permitir exige motivação ficação das guias de recolhimento das contribuições
idônea. previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autar-
720. O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que quia federal.
reclama decorra do fato perigo de dano, derrogou o 108. A aplicação de medidas sócio-educativas ao ado-
art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à lescente, pela prática de ato infracional, é de compe-
direção sem habilitação em vias terrestres. tência exclusiva do juiz.
722. São da competência legislativa da União a defini- 122. Compete à Justiça Federal o processo e julga-
ção dos crimes de responsabilidade e o estabelecimen- mento unificado dos crimes conexos de competência
to das respectivas normas de processo e julgamento. federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78,
723. Não se admite a suspensão condicional do pro- II a, do Código de Processo Penal.
cesso por crime continuado, se a soma da pena míni- 140. Compete à Justiça Comum Estadual processar e
ma da infração mais grave com o aumento mínimo de julgar crime em que o indígena figure como autor ou
um sexto for superior a um ano. vítima.
147. Compete à Justiça Federal processar e julgar os
SÚMULAS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA crimes praticados contra funcionário público federal,
quando relacionados com o exercício da função.
Aqui estudaremos as súmulas referentes ao direito 151. A competência para o processo e julgamento por
penal. crime de contrabando ou descaminho define-se pela
prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos
9. A exigência de prisão provisória, para apelar, não bens.
ofende a garantia constitucional da presunção de ino- 164. O prefeito municipal, após a extinção do man-
cência. dato, continua sujeito a processo por crime previsto
17. Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais no art. 1º do Decreto-lei nº 201, de 27 de fevereiro
potencialidade lesiva, é por este absorvido. de 1967.
18. A sentença concessiva do perdão judicial é decla-
165. Compete à Justiça Federal processar e julgar cri-
ratória da extinção da punibilidade, não subsistindo
me de falso testemunho cometido no processo traba-
qualquer efeito condenatório.
lhista.
24. Aplica-se ao crime de estelionato, em que figu-
171. Cominadas cumulativamente, em lei especial,
re como vítima entidade autárquica da Previdência
penas privativas de liberdade e pecuniária, é defeso a
Social, a qualificadora do § 3º do art. 171 do Código
substituição da prisão por multa.
Penal.
172. Compete à Justiça Comum processar e julgar
38. Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência
da Constituição de 1988, o processo por contravenção militar por crime de abuso de autoridade, ainda que
penal, ainda que praticada em detrimento de bens, praticado em serviço.
serviços ou interesse da União ou de suas entidades. 174. (Cancelada pela Terceira Seção, na sessão ordi-
40. Para obtenção dos benefícios de saída temporária nária de 24-10-2001, conforme publicação no DJU de
e trabalho externo, considera-se o tempo de cumpri- 6-11-2001).
mento da pena no regime fechado. 186. Nas indenizações por ato ilícito, os juros com-
48. Compete ao juízo do local da obtenção da van- postos somente são devidos por aquele que praticou
tagem ilícita processar e julgar crime de estelionato o crime.
cometido mediante falsificação de cheque. 191. A pronúncia é causa interruptiva da prescrição,
51. A punição do intermediador, no jogo do bicho, in- ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o
depende da identificação do “apostador” ou do “ban- crime.
queiro”. 192. Compete ao Juízo das Execuções Penais do Esta-
73. A utilização de papel-moeda grosseiramente fal- do a execução das penas impostas a sentenciados pela
sificado configura, em tese, o crime de estelionato, da Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos
competência da Justiça Estadual. a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
74. Para efeitos penais, o reconhecimento da menori- 200. O Juízo Federal competente para processar e jul-
dade do réu requer prova por documento hábil. gar acusado de crime de uso de passaporte falso é o
90. Compete à Justiça Estadual Militar processar e jul- do lugar onde o delito se consumou.
gar o policial militar pela prática do crime militar, e 203. Não cabe recurso especial contra decisão proferi-
à Comum, pela prática do crime comum simultâneo da por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.
àquele. 208. Compete à Justiça Federal processar e julgar pre-
DIREITO PENAL

91. (Cancelada pela Terceira Seção, na sessão ordiná- feito municipal por desvio de verba sujeita a prestação
ria de 8-11-2000, conforme publicação no DJU de 27- de contas perante órgão federal.
11-2000.) 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar
96. O crime de extorsão consuma-se independente- prefeito por desvio de verba transferida e incorporada
mente da obtenção da vantagem indevida. ao patrimônio municipal.

55
220. A reincidência não influi no prazo da prescrição
da pretensão punitiva.
231. A incidência da circunstância atenuante não pode HORA DE PRATICAR!
conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal.
234. A participação de membro do Ministério Públi- 1. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – ESCRIVÃO DA PO-
co na fase investigatória criminal não acarreta o seu LÍCIA FEDERAL – CESPE – 2013) Julgue os itens sub-
impedimento ou suspeição para o oferecimento da sequentes, relativos à aplicação da lei penal e seus prin-
denúncia. cípios.
241. A reincidência penal não pode ser considerada
como circunstância agravante e, simultaneamente, Suponha que, no curso de determinado inquérito poli-
como circunstância judicial. cial, tenha sido editada nova lei que, então, deixou de
243. O benefício da suspensão do processo não é apli- tipificar o fato, objeto da investigação, como criminoso.
cável em relação às infrações penais cometidas em Nesse caso, o inquérito policial deve ser imediatamente
concurso material, concurso formal ou continuidade encerrado, porquanto se opera a extinção da punibilida-
delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo de do autor.
somatório, seja pela incidência da majorante, ultra-
passar o limite de um (01) ano. ( ) CERTO ( ) ERRADO
244. Compete ao foro local da recusa processar e jul-
gar o crime de estelionato mediante cheque sem pro- 2. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE PO-
visão de fundos. LÍCIA – CESPE – 2013) Suponha que determinada sen-
265. É necessária a oitiva do menor infrator antes de tença condenatória, com pena de dez anos de reclusão,
decretar-se a regressão da medida sócio-educativa. imposta ao réu, tenha sido recebida em termo próprio,
267. A interposição do recurso, sem efeito suspensivo, em cartório, pelo escrivão, em 13/8/2011 e publicada
contra decisão condenatória não obsta a expedição de no órgão oficial em 17/8/2011, e que tenha sido o réu
mandado de prisão. intimado, pessoalmente, em 20/8/2011, e a defensoria
269. É admissível a adoção do regime prisional semi- pública e o MP intimados, pessoalmente, em 19/8/2011.
-aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou Nessa situação hipotética, a interrupção do curso da
inferior a 4 (quatro) anos se favoráveis as circunstân- prescrição ocorreu em 17/8/2011.
cias judiciais.
280. O art. 35 do Decreto-Lei nº 7.661, de 1945, que ( ) CERTO ( ) ERRADO
estabelece a prisão administrativa, foi revogado pelos
incisos LXI e LXVII do art. 5º da Constituição Federal 3. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE PO-
de 1988. LÍCIA – CESPE – 2013) Considere que Jorge, Carlos e
Antônio sejam condenados, definitivamente, a uma mes-
ma pena, por terem praticado, em coautoria, o crime de
roubo. Nessa situação, incidindo a interrupção da pres-
EXERCÍCIOS COMENTADOS crição da pretensão executória da referida pena em re-
lação a Jorge, essa interrupção não produzirá efeitos em
1. (SETRABES – Agente Sócio-Orientador – UERR – relação aos demais coautores.
2018) A respeito das disposições constitucionais aplicá-
veis ao direito penal, é incorreto afirmar: ( ) CERTO ( ) ERRADO

a) a prática do racismo constitui crime inafiançável e im- 4. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE PO-
prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da LÍCIA – CESPE – 2013) A detração é considerada para
lei. efeito da prescrição da pretensão punitiva, não se esten-
b) a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. dendo aos cálculos relativos à prescrição da pretensão
c) não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena executória.
sem prévia cominação legal.
d) a criação de crimes e penas por meio de medida pro- ( ) CERTO ( ) ERRADO
visória não ofende o princípio da legalidade.
e) nenhuma pena passará da pessoa do condenado, po- 5. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – ESCRIVÃO DA PO-
dendo a obrigação de reparar o dano e a decretação LÍCIA FEDERAL – CESPE – 2013) Julgue o item sub-
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, esten- sequente , relativo à aplicação da lei penal e seus prin-
didas aos sucessores e contra eles executadas, até o cípios.
limite do valor do patrimônio transferido. A contagem do prazo para efeito da decadência, causa
extintiva da punibilidade, obedece aos critérios proces-
Resposta: Letra D. Pelo Princípio da Legalidade, a suais penais, computando-se o dia do começo. Todavia,
DIREITO PENAL

conduta que caracteriza crime tem que estar contida se este recair em domingos ou feriados, o início do prazo
em lei. Isso significa que o crime não pode ser definido será o dia útil imediatamente subsequente.
em outro tipo de norma, por exemplo, decreto, medi-
da provisória. ( ) CERTO ( ) ERRADO

56
6. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE PO- 12. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍ-
LÍCIA – CESPE – 2013) Em relação ao concurso de agen- CIA FEDERAL – CESPE – 2004) Em cada um do item se-
tes, à desistência voluntária e ao arrependimento eficaz, guinte , é apresentada uma situação hipotética, seguida
bem como à cominação das penas, ao erro do tipo e, de uma assertiva a ser julgada.
ainda, à teoria geral da culpabilidade, julgue os itens sub-
secutivos. Ao sair de sua casa, dando marcha a ré no seu carro, Mar-
De acordo com a teoria extremada da culpabilidade, o celo não viu seu filho, que engatinhava próximo a um dos
erro sobre os pressupostos fáticos das causas descrimi- pneus traseiros do carro, e o atropelou. A criança faleceu
nantes consiste em erro de tipo permissivo. em decorrência das lesões sofridas. Nessa situação, Mar-
celo praticou homicídio culposo, podendo o juiz deixar
( ) CERTO ( ) ERRADO de aplicar a pena, pois as consequências da infração atin-
gem Marcelo de forma tão grave que a sanção penal é
7. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – ESCRIVÃO DE PO- desnecessária.
LÍCIA FEDERAL – CESPE – 2013) No que concerne a
infração penal, fato típico e seus elementos, formas con- ( ) CERTO ( ) ERRADO
sumadas e tentadas do crime, culpabilidade, ilicitude e
imputabilidade penal, julgue o item que se segue. 13. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍ-
Considere que Bartolomeu, penalmente capaz e men- CIA FEDERAL – CESPE – 2000) Julgue o seguinte item.
talmente são, tenha praticado ato típico e antijurídico, Considere a seguinte situação hipotética.
em estado de absoluta inconsciência, em razão de estar Alfa, aproveitando que Gama encontrava-se dormindo,
voluntariamente sob a influência de álcool. Nessa situa- com o intuito e escopo de poupá-lo de intenso sofrimen-
ção, Bartolomeu será apenado normalmente, por força to e acentuada agonia decorrentes de doença de desate
da teoria da actio libera in causa. letal, ceifou a sua vida.
Nesse caso, Alfa responderia por homicídio privilegiado-
( ) CERTO ( ) ERRADO -qualificado, eis que, impelido por motivo de relevante
valor moral, utilizou recurso que dificultou ou impossibi-
8. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE PO- litou a defesa do ofendido.
LÍCIA – CESPE – 2004) O sujeito ativo que pratica crime
em face de embriaguez voluntária ou culposa respon- ( ) CERTO ( ) ERRADO
de pelo crime praticado. Adota-se, no caso, a teoria da
conditio sine qua non para se imputar ao sujeito ativo a 14. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍ-
responsabilidade penal. CIA FEDERAL – CESPE – 2014) Com relação a crimes
contra a pessoa, contra o patrimônio e contra a adminis-
( ) CERTO ( ) ERRADO tração pública, julgue o item que segue.
Para a configuração do delito de apropriação indébita
9. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍ- previdenciária não é necessário que haja o dolo especí-
CIA – CESPE – 2004) Acerca do direito penal brasileiro, fico de ter para si coisa alheia; é bastante para tal a von-
julgue o item subsequente. tade livre e consciente de não recolher as importâncias
A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou descontadas dos salários dos empregados da empresa
substância de efeitos análogos, é causa de exclusão da pela qual responde o agente.
imputabilidade penal.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
15. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE
10. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍ- POLÍCIA – CESPE – 2013) Três criminosos interceptaram
CIA – CESPE – 2004) Segundo o Código Penal, a emo- um carro forte e dominaram os seguranças, reduzindo-
ção e a paixão não são causas excludentes da imputabi- -lhes por completo qualquer possibilidade de resistên-
lidade penal. cia, mediante grave ameaça e emprego de armamento
de elevado calibre. O grupo, entretanto, encontrou vazio
( ) CERTO ( ) ERRADO o cofre do veículo, pois, por erro de estratégia, efetua-
ra a abordagem depois que os valores e documentos já
11. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍ- haviam sido deixados na agência bancária. Por fim, os
CIA FEDERAL – CESPE – 2014) Com relação a crimes criminosos acabaram fugindo sem nada subtrair. Nessa
contra a pessoa, contra o patrimônio e contra a adminis- situação, ante a inexistência de valores no veículo e ante
tração pública, julgue o item que segue. a ausência de subtração de bens, elementos constitutivos
No crime de homicídio, admite-se a incidência concomi- dos delitos patrimoniais, ficou descaracterizado o delito
tante de circunstância qualificadora de caráter objetivo de roubo, subsistindo apenas o crime de constrangimen-
DIREITO PENAL

referente aos meios e modos de execução com o reco- to ilegal qualificado pelo concurso de pessoas e empre-
nhecimento do privilégio, desde que este seja de natu- go de armas.
reza subjetiva.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO

57
16. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE PO-
LÍCIA – CESPE – 2004) Túlio constrangeu Wagner, me-
diante emprego de arma de fogo, a assinar e lhe entregar GABARITO
dois cheques seus, um no valor de R$ 1.000,00 e outro no
valor de R$ 2.500,00. Nessa situação, Túlio praticou crime 1 Certo
de roubo qualificado pelo emprego de arma de fogo.
2 Errado
( ) CERTO ( ) ERRADO 3 Certo

17. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – AGENTE DE POLÍ- 4 Errado


CIA FEDERAL – CESPE – 2014) Com relação a crimes 5 Errado
contra a pessoa, contra o patrimônio e contra a adminis- 6 Errado
tração pública, julgue o item que segue.
Considere a seguinte situação hipotética. 7 Certo
Carlos praticou o crime de sonegação previdenciária, 8 Errado
mas, antes do início da ação fiscal, confessou o crime e
declarou espontaneamente os corretos valores devidos, 9 Errado
bem como prestou as devidas informações à previdência 10 Certo
social. 11 Certo
Nessa situação, a atitude de Carlos ensejará a extinção
da punibilidade, independentemente do pagamento dos 12 Certo
débitos previdenciários. 13 Certo

( ) CERTO ( ) ERRADO 14 Certo


15 Errado
18. (CESPE – POLÍCIA FEDERAL – DELEGADO DE 16 Errado
POLÍCIA – CESPE – 2004) Mário, delegado de polícia,
com o intuito de proteger um amigo, recusa-se a instau- 17 Certo
rar inquérito policial requisitado por promotor de justiça 18 Errado
contra o referido amigo. Nessa hipótese, Mário praticou
crime de desobediência.

( ) CERTO ( ) ERRADO
DIREITO PENAL

58
ÍNDICE

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Processo penal brasileiro; processo penal constitucional. Sistemas e princípios fundamentais..................................... 01


Aplicação da lei processual no tempo, no espaço e em relação às pessoas. Disposições preliminares do Código
de Processo Penal........................................................................................................................................................................................... 02
Fase pré-processual. Inquérito policial................................................................................................................................................... 03
Processo, procedimento e relação jurídica processual. Elementos identificadores da relação processual. Formas
do procedimento. Princípios gerais e informadores do processo. Pretensão punitiva. Tipos de processo penal... 06
Ação penal......................................................................................................................................................................................................... 18
Ação civil Ex Delicto....................................................................................................................................................................................... 21
Jurisdição e competência............................................................................................................................................................................. 21
Questões e processos incidentes.............................................................................................................................................................. 24
Prova.................................................................................................................................................................................................................... 28
Sujeitos do Processo...................................................................................................................................................................................... 35
Prisão, medidas cautelares, e liberdade provisória e prisão temporária (Lei nº 7.960/1989 e suas alterações)....... 37
Citações e intimações.................................................................................................................................................................................... 42
Atos processuais e atos judiciais............................................................................................................................................................... 43
Procedimentos. Processo comum; processos especiais.................................................................................................................. 49
Lei nº 8.038/1990 – normas procedimentais para os processos perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o
Supremo Tribunal Federal (STF)................................................................................................................................................................. 64
Lei nº 9.099/1995 e suas alterações e Lei nº 10.259/2001 e suas alterações (juizados especiais cíveis e criminais).. 68
Prazos. Características, princípios e contagem.................................................................................................................................... 71
Nulidades. Recursos em geral.................................................................................................................................................................... 81
Habeas corpus e seu processo.................................................................................................................................................................. 88
Normas processuais da Lei nº 7.210/1984 e suas alterações (execução penal)..................................................................... 91
Relações jurisdicionais com autoridade estrangeira......................................................................................................................... 109
Disposições gerais do Código de Processo Penal.............................................................................................................................. 110
Súmulas do STF e do STJ.............................................................................................................................................................................. 112
PROCESSUAIS
PROCESSO PENAL BRASILEIRO; PROCESSO
PENAL CONSTITUCIONAL. SISTEMAS E Princípio Inquisitório ou Investigatório (art. 5º CPP)
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS É aquele que mantém o inquérito policial na fase
persecutória das investigações como fundamento para
a ação penal.
PRINCÍPIOS
Princípio da Legalidade (arts. 5º e 24 CPP)
“O processo penal brasileiro tem a forma mais ou É aquele que obriga os órgãos oficiais a tomar provi-
menos, mista, com uma fase inicial INVESTIGATÓRIA ou dências para a apuração do crime e seu autor em defesa
INQUISITÓRIA (INQUÉRITO POLICIAL) e outra fase INS- da sociedade. Não podem eles instaurar o inquérito ou
TRUTÓRIA ou JUDICIAL. o processo segundo as conveniências momentâneas. E
desse princípio decorre outros dois, que são:
PRINCÍPIOS E REGRAS PROCESSUAIS CONSTITU-
CIONAIS Princípio de Indisponibilidade da Ação Penal Pú-
blica
Princípio da Inocência ( Não Culpabilidade) É aquele que faz obrigatória a persecução penal nos
É aquele que considera toda pessoa presumivelmente crimes de ação penal pública ou pública condicionada à
inocente (não culpável) até que seja declarada culpada, representação.
por sentença condenatória transitada em julgado.
Princípio da Disponibilidade ou da Oportunidade
Princípio do Devido Processo Legal (arts.30, 33 e 34 CPP).
É aquele que visa disciplinar a atividade do Estado na É aquele destinado as ações penais privadas e públi-
apuração e punição de certos atos em face das garantias cas condicionados à representação ou requisição Minis-
constitucionais, pois, “ninguém será privado de sua liber- terial, que somente serão instauradas conforme a conve-
dade ou de seus bens sem o devido processo legal” (CF, niência do ofendido ou de seu representante legal.
art. 5º, LIV).
Princípio da Iniciativa das Partes (art.26 CPP)
Princípio do Juiz Natural ou Constitucional É aquele segundo o qual , cabe às partes postular a
É aquele que consiste na aplicação da lei pelo juiz prestação jurisdicional. A inércia da função jurisdicional é
competente, pois “ninguém será processado nem sen- uma de suas características “O juiz não poderá proceder
tenciado senão pela autoridade competente”(CF, art. 5º, de Ofício”.
LIII) , o que afasta a possibilidade de existência de Juízo
ou Tribunal de exceção (CF, art. 5º, XXXVII). Princípio da Oficialidade (art.6º CPP)
É aquele pelo qual a pretensão punitiva do Estado
Princípio da Legalidade da Prisão deve ser exercida através dos órgãos oficiais.
É aquele representado por vários postulados que ga-
rantem a liberdade individual, pois “ninguém será levado Princípio da Publicidade (art.792 CPP)
à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberda- É aquele que exige a transparência da justiça, fazendo
de provisória, com ou sem fiança” (CF, art.5º, LXVI), ou “a com que todos os atos processuais, com algumas exce-
prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autorida- ções, sejam públicos, sendo franqueadas as audiências e
de judiciária” (CF, art. 5º,LXV) ou ainda “não haverá prisão sessões, dado o interesse social.
civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimple-
mento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia Princípio do Livre Convencimento (art.157 CPP)
e a do depositário infiel” (CF, art.5 º, LXVII). É aquele que dá ao órgão julgador, o poder de apre-
ciar a prova colhida, para a prolação da sentença, de
Princípio da Individualização da Pena acordo com seu convencimento, observando-se que
É aquele que garante que a pena imposta por prá- toda decisão deve ser fundamentada e que no processo
tica de fato típico não passará dos limites pessoais do penal, não há prova com valor absoluto, sendo todas de
condenado, pois “nenhuma pena passará da pessoa do valor relativo. Para o juiz togado, vigora o Princípio da
condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e Livre Convicção, para os jurados ou juizes leigos, vigora o
a decretação da perda de bens, ser, nos termos da lei, Princípio da Intima Convicção.
DIREITO PROCESSUAL PENAL

estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o


limite do valor do patrimônio transferido” (CF, art.5º, XLV) Princípio da Verdade Real (art.197 do CPP)
, sendo que “a lei regulará a individualização da pena e É aquele que exige a mais ampla investigação dos
adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restri- fatos, para fundamentação da sentença, não podendo
ção de liberdade; b) perda de bens; c) multa; d)prestação o juiz se satisfazer com a verdade formal, pois todas as
social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos”. provas são relativas, inclusive a confissão judicial ou poli-
Mas “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de cial, que deve ser analisada em face de outros elementos
guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter probatórios de convicção. A confissão do acusado não
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) supre a falta de perícia nas infrações que deixam vestí-
“cruéis” (CF, art. 5º, XLVI). gios (RT, 613; 347).

1
Princípio do Contraditório ou Ampla Defesa Como exemplo: O Código de Processo Penal atual-
(art.261 e 263 CPP) mente é de 1941. Caso tenhamos um novo Código de
É aquele, segundo o qual réu deve conhecer a Processo Penal em 2019, todos os atos praticados na
acusação que lhe é feita, tendo amplo direito de defesa. vigência da lei de 1941 continuam validos, sendo que
A prova colhida no procedimento inquisitorial não pode somente a partir da vigência do Código de 2019 (e con-
embasar juízo condenatório, por mais convincente que sequente revogação do Código de 1941) que passarão a
seja, sob pena de violação das garantias da ampla defesa serem validos os atos com base no novo Código.
e do contraditório. Como ensina Afrânio Silva Jardim, “ o
princípio da igualdade das partes no processo penal é uma
conseqüência do princípio do contraditório”. #FicaDica
Princípio do “Favor Rei” ou do “Favor Libertatis” Ab-rogação: É a revogação total de uma lei
(Doutrinário) por outra.
É aquele que leva o julgador, nos casos de interpre- Derrogação: É a revogação parcial de uma
tações antagônicas de uma norma processual, deve es- lei por outra.
colher a interpretação mais favorável ao acusado, ou em
favor do mesmo.
Lei Processual Penal no espaço
Princípio da Imparcialidade do Juiz (art.252 CPP ou A lei processual penal no espaço aplica-se em com
art.424 do CPP ) base no princípio da territorialidade absoluta, ou seja, o
É aquele que representa verdadeira garantia de um processo penal é aplicado em todo território brasileiro.
julgamento estreme de duvidas, trata-se de um dos mais Como exceção, os tratados, as convenções e as regras
importantes princípios relativos aos órgãos julgadores. de direito internacional podem ser aplicadas, excluindo-
se a jurisdição pátria. Tal fato acontece por conta da
Princípio da Fungibilidade dos Recursos (art.579 imunidade diplomática, positivada na Convenção de
CPP) Viena, aprovado pelo Decreto Legislativo nº 103/1964.
É aquele que admite a interposição de um recurso Exemplo: A regra é a aplicação do processo penal
em lugar de outro, desde que dentro do prazo legal e de para todos os crimes praticados em território brasileiro.
boa-fé, pois a parte não pode ficar prejudicada, mormen- Porém, uma pessoa com imunidade diplomática, como
te quando há controvérsia a respeito do recurso apro- embaixadores, secretários de embaixada, familiares, além
priado. de funcionários de organizações internacionais, como a
ONU, serão submetidos à lei material (Código Penal) de
Princípio da Peremptoriedade Recursal (art.798 seu país, consequentemente a lei processual penal de
CPP) seu país também.
É aquele segundo o qual os prazos referentes aos re-
cursos são fatais, correndo em cartório e contínuos, não
se interrompendo por férias, domingos e feriados”. (BER-
#FicaDica
RIEL)
O cônsul terá direito a imunidade somente
se praticar delitos decorrentes do desem-
penho de suas funções (entendimento do
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO STF)
TEMPO, NO ESPAÇO E EM RELAÇÃO ÀS
PESSOAS. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Ressalta-se também que os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos que forem apro-
vados, em cada casa do Congresso Nacional, em dois
LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO, NO ESPAÇO E turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem-
EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS bros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Não obstante, pondera-se também que o Brasil se
Lei Processual Penal no tempo submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Ao contrário da lei penal, a lei processual penal no Outra exceção à aplicação da lei processual penal
tempo, uma vez em vigência, tem aplicação imediata, são as prerrogativas constitucionais do Presidente da
ou seja, passa a atingir todos os processos que ainda se República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos
encontram em curso, não importando situações gravo- com os do Presidente da República, e dos ministros do
sas que possam ser originadas ao acusado. Tal afirmação Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilida-
ocorre em virtude do princípio do efeito imediato ou da de (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100).
aplicação imediata. Também são exceções os tramites processuais de
Importante esclarecer que os atos praticados ante- competência da Justiça Militar, que contempla sua pró-
riormente da nova lei não serão invalidados, em decor- pria lei processual, os processos da competência do tri-
rência do princípio tempus regit actum. bunal especial e os processos por crimes de imprensa,

2
que terão seu procedimento disciplinado pela Lei nº
5.250/1967, ou seja, a Lei de Imprensa. (conforme ADPF
nº 130). EXERCÍCIOS COMENTADOS
Lembra-se, neste momento, que o Código de Proces-
so Penal poderá ser aplicado em processos de compe- 1) STJ-Analista Judiciário – CESPE – 2018: Com relação
tência do tribunal especial e nos processos por crimes de à aplicação e à eficácia temporal da lei processual penal,
imprensa quando as leis especiais que os regulam não julgue o item subsequente. 
dispuserem de modo diverso. Uma nova norma processual penal terá aplicação imedia-
De outro modo, a lei processual penal admite inter- ta somente aos fatos criminosos ocorridos após o início
pretação extensiva e aplicação analógica, bem como o de sua vigência.
suplemento dos princípios gerais de direito. Deste modo,
concluí-se, por essa afirmação, que o processo penal ( ) CERTO ( ) ERRADO
pode ser interpretado de modo amplo, pode se valer de
analogia e de princípios gerais de direito quando não Resposta: Errado. De acordo com o artigo 2º do CPP,
houver disposição para o caso concreto. a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
Destaca-se, por fim, que o princípio da territorialidade prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigên-
estrita é aplicado a lei processual penal, o que se entende cia da lei anterior.
que não há a possibilidade de extraterritorialidade, como 2) STJ-Analista Judiciário – CESPE – 2018: Com relação
vista no Direito Penal material (art. 7º do CP). Entretanto, à aplicação e à eficácia temporal da lei processual penal,
Tourinho Filho já observou que há exceções a esta pos- julgue o item subsequente. 
sibilidade, quais sejam (TÁVORA; ALENCAR, 2016, p. 43):
1) aplicação da lei processual brasileira em território O Código de Processo Penal será aplicado a todas as
nullius; ações penais e correlatas que tiverem curso no território
2) em havendo autorização de um determinado país, nacional, nelas inclusas as destinadas a apurar crime de
para que o ato processual a ser praticado em seu responsabilidade cometido pelo presidente da Repúbli-
território o fosse de acordo com a lei brasileira; e ca.
3) nos casos de território ocupado em tempo de
guerra. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Aplicação da lei processual penal em relações às
Resposta: Errado. Lembre-se: É exceção a aplicação
pessoas
da lei processual penal as prerrogativas constitucio-
nais do Presidente da República, dos ministros de Es-
A imunidade diplomática, já tratada acima, é uma das
tado, nos crimes conexos com os do Presidente da Re-
espécies de aplicação da lei processual quanto ás pes-
pública, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal,
soas. Nesse caso, lembre-se, a jurisdição brasileira, que é
nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86,
a regra, não será aplicada, submetendo as pessoas com
imunidade diplomática as leis penais e processuais de 89, § 2o, e 100).
seu país.
Podemos lembrar também da imunidade parlamen-
tar. Os membros do Congresso Nacional (deputados fe- FASE PRÉ-PROCESSUAL. INQUÉRITO
derais e senadores), bem como os deputados estaduais POLICIAL
têm garantida a inviolabilidade por suas palavras, opi-
niões e votos no exercício e no limite do mandato par-
lamentar. INQUÉRITO POLICIAL

Importante ressaltar que a imunidade é irrenunciável. É o meio pelo qual é investigada uma infração penal.
Como exemplo, no âmbito das imunidades proces- Em síntese, quando alguém comete o delito, o Estado,
suais, tem-se a seguinte disposição: “Recebida a denún- por meio da polícia civil/federal (Polícia Judiciária), busca
cia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido provas iniciais sobre a autoria e a materialidade delitiva,
após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará apresentando-as posteriormente ao Ministério Público
ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido ou ao ofendido, para que assim sobrevenha, se neces-
político nela representado e pelo voto da maioria de seus sária, a denúncia ou a queixa-crime. Importante salientar
DIREITO PROCESSUAL PENAL

membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamen- que a presidência do inquérito é do delegado de polícia,
to da ação”. (Art. 53, § 3º da CF). o destinatário imediato do inquérito policial é o titular da
ação penal (Ministério Público ou ofendido) e o destina-
tário mediato é o juiz.
O inquérito policial é instaurado para apurar crimes
que tenham pena superior a 2 (dois) anos, já que para
crimes de menor potencial ofensivo se utiliza a lavratu-
ra de termo circunstanciado, conforme determinação do
artigo 69 da Lei nº 9.099/95. Entretanto, como exceção,

3
caso tenhamos uma infração de menor potencial ofen- mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
sivo com certa complexidade, poder-se-á instaurar in- inquérito, findos ou em andamento, ainda que
quérito policial para melhor averiguação, remetendo-o conclusos à autoridade, podendo copias peças e
posteriormente ao Juizado Especial Criminal. tomar apontamentos.
Não obstante, a Súmula Vinculante n. 14 do Supremo
Tribunal Federal determina que “é direito do defensor, no
#FicaDica interesse do representado, ter acesso amplo aos elemen-
tos de prova que, já documentados em procedimento
O artigo 291 § 2º do CTB ensina que se
investigatório realizado por órgão com competência de
houver lesão corporal culposa no trânsito
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito
relacionado com: a) influência de álcool ou
de defesa”.
substância psicoativa; b) corrida, “raxa”; c)
d) Escrito: Os atos de um inquérito policial devem ser
transitar em velocidade superior à máxima
reduzidos a termo.
permitida para a via em 50km/h; deve-se
e) Dispensável: o inquérito policial não é obrigatório
instaurar inquérito policial, mesmo preven-
para o surgimento de uma ação penal. Tanto a de-
do o crime pena máxima de 2 (dois) anos.
núncia, quanto a queixa-crime podem se basear
em peças de informações, que são documentos
que demonstrem a existência de indícios de auto-
ria e materialidade delitiva.
#FicaDica O inquérito policial deve tramitar respeitando as re-
gras de competência do juízo, ou seja, se um crime
Caso ocorra crime militar, dever-se-á ins- de roubo for cometido em Santos-SP, o inquérito
taurar inquérito policial militar, o qual é de deve tramitar lá. Caso não tenha sido instaurado
responsabilidade da própria Polícia Militar na comarca correta, a autoridade policial deverá
ou das Forças Armadas. Igualmente ocorre encaminhá-lo, sanando assim o problema.
com membro do Ministério Público ou juiz, Importante salientar que não cabe exceção de
que são submetidos à investigação pelo suspeição da autoridade policial. Porém, essa deve se
chefe da própria instituição ou do poder declarar suspeita quando ocorrer motivo legal. Caso a
Judiciário autoridade policial não se declare suspeita, o interessado
poderá requerer o afastamento do delegado ao seu
superior hierárquico - jamais o juiz.

Características do Inquérito Policial Formas de instauração do inquérito policial

a) Polícia Judiciária: O inquérito é realizado pela Polí- O inquérito policial pode ser iniciado: a) de oficio; b)
cia Civil ou Federal, com presidência do delegado por requisição do juiz; c) por requisição do Ministério
competente, o qual recebe auxílio de policiais, es- Público; d) em razão de requerimento do ofendido; e)
crivães, agentes policiais. pelo auto de prisão em flagrante.
b) Caráter inquisitivo: O inquérito é um procedimento
investigatório que não respeita o princípio do con- a) De ofício: A autoridade policial poderá instaurar
traditório, o qual só passa a existir após o início da inquérito quando ficar sabendo da infração penal
ação penal, quando já formada a acusação e o Esta- por meio de suas atividades regulares (cognição
do-juiz. “O inquérito é um procedimento adminis- imediata); quando tomar conhecimento por inter-
trativo-informativo destinado a fornecer ao órgão médio de terceiros (cognição mediata); ou quando
da acusação o mínimo de elementos necessários ocorrer prisão em flagrante (cognição coercitiva).
à propositura da ação penal. Nele não se aplica o Importante lembrar que a autoridade policial não po-
princípio processual do contraditório. Precedentes derá instaurar inquérito policial com base em denuncia
do STF e STJ” (STJ — RHC 10.785/SP — 5ª Turma anônima. Assim, cabe a mesma realizar diligências para
— Rel. Min. Jorge Scartezzini — j. 02.10.2001 — DJ averiguar o ocorrido, podendo, após isso, instaurar o in-
20.05.2002 — p. 164). quérito acompanhado com elementos probatórios.
Importante esclarecer que apesar do caráter inquisiti- b) Requisição judicial ou do Ministério Público: Ocor-
vo, tanto o investigado, quanto a vítima podem requerer re quando há uma ordem originada do juiz ou do
DIREITO PROCESSUAL PENAL

diligências no curso do inquérito policial. Caso sejam in- Ministério Público para a instauração do inquérito.
deferidas pelo delegado de polícia, poder-se-á requerer Requisição é ordem, assim o delegado fica obriga-
do a iniciar a fase inquisitiva.
ao juiz ou ao promotor de justiça, sendo a autoridade
c) Requerimento do ofendido: Ao contrário da requi-
policial obrigada a cumprir determinações confecciona-
sição judicial ou do Ministério Público, o reque-
das por esses.
rimento do ofendido poderá ser indeferido pelo
c) Caráter sigiloso: O inquérito policial, em regra, é
delegado de policia, cabendo recurso ao chefe de
sigiloso. Porém, o artigo 7º, XIV da Lei nº 8.906/04
polícia.
(Estatuto da OAB) possibilita aos advogados o di-
Salienta-se que o requerimento pode ocorrer tanto
reito de examinar em qualquer repartição policial,
em ações privadas, quanto públicas.

4
d) Auto de prisão em flagrante: Sempre que alguém II - apreender os objetos que tiverem relação com o
for preso, dever-se-á lavrar o auto de prisão em fato, após liberados pelos peritos criminais;       
flagrante, com a consequente instauração do in- III - colher todas as provas que servirem para o escla-
quérito. recimento do fato e suas circunstâncias;
 V - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for
#FicaDica aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, des-
te Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por
Nos casos de crimes de ação penal privada, duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
somente poderá ocorrer à instauração do VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e
inquérito policial com o requerimento da a acareações;
vítima, titular da futura ação penal. VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame
de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo proces-
so datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos
sua folha de antecedentes;
ESPÉCIES DE INQUÉRITO
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o
ponto de vista individual, familiar e social, sua condi-
Os inquéritos podem ter forma de:
ção econômica, sua atitude e estado de ânimo antes
INQUÉRITO POLICIAL é aquele destinado a apurar
e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros
crimes comuns, o qual é realizado pela delegacia de po-
elementos que contribuírem para a apreciação do seu
lícia civil.
temperamento e caráter.
INQUÉRITO CIVIL é aquele destinado a colher ele-
X - colher informações sobre a existência de filhos, res-
mentos para a propositura da ação civil pública, realizado
pectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
pelo próprio membro do Ministério Público.
nome e o contato de eventual responsável pelos cui-
INQUÉRITO JUDICIAL OU FALIMENTAR é aquele
dados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
destinado a apurar crimes falimentares, realizado por or-
dem judicial, admitindo contraditório.
INQUÉRITO POLICIAL MILITAR é aquele destinado a
apurar as infrações praticadas por policiais militares, nos
termos do Código de Processo Penal Militar. EXERCÍCIO COMENTADO
INQUÉRITO ADMINISTRATIVO, aquele praticado
pela autoridade administrativa para apuração de faltas
1) EBSERH – Advogado – CESPE – 2018: Quanto ao
graves do funcionário público. (admite contraditório)
inquérito policial, à ação penal, às regras de fixação de
competência e às disposições processuais penais relacio-
Prazos para conclusão do inquérito policial
nadas aos meios de prova, julgue o item a seguir.
Em caso de indiciado solto, o inquérito policial deverá
No caso de crime de ação penal privada, a instauração de
ser concluído em 30 dias, podendo-se prorrogar o prazo
inquérito policial por força de requerimento formulado
por igual período. O pedido de dilação do prazo deve
pelo ofendido no prazo legal não interromperá o prazo
ser efetuado pelo delegado de polícia, direcionado ao
decadencial para o oferecimento da queixa-crime.
juiz competente, que ouvirá o Ministério Público, tendo
em vista que o mesmo pode discordar do pedido, ofere- ( ) CERTO ( ) ERRADO
cendo de imediato a denúncia ou requerendo o arquiva-
mento do inquérito.
Resposta: Certo. O prazo decadencial não se inter-
Em caso de indiciado preso em flagrante ou por pri-
rompe, prorroga ou suspende.
são preventiva, o inquérito policial deverá ser concluso
em 10 dias.
2) TJDFT – TITULAR DE SERVIÇOS NOTORIAIS – CESPE
No que tange as legislações especiais, tem-se que:
– 2019: João, de 19 anos de idade, foi vítima de crime de
a) Em crimes de tráfico de drogas (artigo 33 da lei
calúnia praticado por Maria. Ciente da autoria do ato de-
nº 11.343/06) o inquérito deverá ser concluído em
lituoso, João relatou os fatos informalmente ao delegado
30 dias para indiciado preso e 90 dias para indi-
de polícia e solicitou orientação sobre as providências a
ciado solto. Importante lembrar que o prazo pode
serem adotadas.
ser duplicado pelo juiz mediante requerimento do
Considerando essa situação hipotética, assinale a opção
delegado e após ser ouvido o Ministério Público.
DIREITO PROCESSUAL PENAL

correta, acerca de crime que se apura mediante ação pe-


b) Nos crimes de competência da Justiça Federal o
nal privada.
prazo é de 15 dias, prorrogáveis por igual período.
a) Em face do princípio da oficiosidade, o delegado de
Considerações
polícia deverá instaurar o procedimento investigató-
rio, independentemente da formalização do requeri-
Logo que tiver conhecimento da prática da infração
mento de João.
penal, a autoridade policial deverá:
b) A instauração do inquérito policial suspende a fluência
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se
do prazo decadencial para o ingresso da ação penal
alterem o estado e conservação das coisas, até a che-
em juízo até a completa apuração dos fatos.
gada dos peritos criminais;

5
c) Caso João venha a falecer após a instauração do in-
quérito policial e antes da ação penal, o direito de ofe-
recer queixa-crime passará ao cônjuge, ascendente, PROCESSO, PROCEDIMENTO E RELAÇÃO
descendente ou irmão. JURÍDICA PROCESSUAL. ELEMENTOS
d) Por ser João menor de 21 anos de idade, o direito de IDENTIFICADORES DA RELAÇÃO
queixa poderá ser exercido por ele ou por seu repre- PROCESSUAL. FORMAS DO PROCEDIMENTO.
sentante legal. PRINCÍPIOS GERAIS E INFORMADORES
e) Instaurada a ação penal competente e havendo inércia DO PROCESSO. 5.4 PRETENSÃO PUNITIVA.
de João, o Ministério Público poderá dar prossegui- TIPOS DE PROCESSO PENAL
mento à referida ação.

Resposta: C. OFENDIDO MAIOR E CAPAZ- Trantan-


do-se de ofendido maior de 18 anos e capaz mental- PROCESSOS, PROCEDIMENTOS E JURISDIÇÃO
mente, somente ele poderá decidir pela conveniência
de oferecer a representação ou não. Tendo em vista a Far-se-á, nesse ponto, necessária a análise dos princi-
vigência no novo código civil, equiparando a 18 anos pais tópicos cobrados pela banca examinadora, de acor-
a maioridade civil e penal, encontrando-se absoluta- do com a letra seca da Lei.
mente prejudicada a regra incorporada ao art 34 do
CPP, segundo o qual, sendo maior de 18 anos e menor DOS PROCESSOS EM ESPÉCIE
de 21 anos, poderiam agir tanto o ofendido como o TÍTULO I
seu representante legal. (PROCESSO PENAL/ NORBER- DO PROCESSO COMUM
TO AVENA- 2018). CAPÍTULO I
DA INSTRUÇÃO CRIMINAL
3) TJSC – JUIZ – CESPE – 2019: Com relação às caracte-
rísticas do inquérito policial (IP), assinale a opção correta. Art. 394. O procedimento será comum ou especial. (Re-
dação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
a) O IP, por consistir em procedimento indispensável à § 1o O procedimento comum será ordinário, sumário
formação da opinio delicti, deverá acompanhar a de- ou sumaríssimo: (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
núncia ou a queixa criminal. I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção
b) Não poderá haver restrição de acesso, com base em
máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro)
sigilo, ao defensor do investigado, que deve ter am-
anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei
plo acesso aos elementos de prova já documentados
nº 11.719, de 2008).
no IP, no que diga respeito ao exercício do direito de
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja san-
defesa.
ção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos
c) É viável a oposição de exceção de suspeição à autori-
de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei nº
dade policial responsável pelas investigações, embora
11.719, de 2008).
o IP seja um procedimento de natureza inquisitorial.
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor
d) Não se admite a utilização de elementos colhidos no
IP, salvo quando se tratar de provas irrepetíveis, como potencial ofensivo, na forma da lei. (Incluído pela Lei
fundamento para a decisão condenatória. nº 11.719, de 2008).
e) A autoridade policial não poderá determinar o arqui- § 2o Aplica-se a todos os processos o procedimento co-
vamento dos autos de IP, salvo na hipótese de mani- mum, salvo disposições em contrário deste Código ou
festa atipicidade da conduta investigada. de lei especial. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Resposta: B. Súmula Vinculante nº 14 e art. 7º, XIV da § 3o Nos processos de competência do Tribunal do Júri,
lei 8.906/94 É direito do defensor, no interesse do re- o procedimento observará as disposições estabelecidas
presentado, ter acesso amplo aos elementos de prova nos arts. 406 a 497 deste Código. (Incluído pela Lei nº
que, já documentados em procedimento investigató- 11.719, de 2008).
rio realizado por órgão com competência de polícia § 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Códi-
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de go aplicam-se a todos os procedimentos penais de
defesa. É importante dizer que o advogado só tem primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
amplo acesso aos elementos de provas já documenta- (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
dos. Diligências em andamento não terá acesso. § 5o Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos
DIREITO PROCESSUAL PENAL

especial, sumário e sumaríssimo as disposições do pro-


cedimento ordinário. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
Art. 394-A. Os processos que apurem a prática de cri-
me hediondo terão prioridade de tramitação em todas
as instâncias. (Incluído pela Lei nº 13.285, de 2016).
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quan-
do:  (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

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II - faltar pressuposto processual ou condição para 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos
o exercício da ação penal; ou  (Incluído pela Lei nº peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas
11.719, de 2008). e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. (Re-
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. dação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). § 1o As provas serão produzidas numa só audiência,
Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei nº podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes,
11.719, de 2008). impertinentes ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº
Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, ofe- 11.719, de 2008).
recida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar li- § 2o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de
minarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acu- prévio requerimento das partes. (Incluído pela Lei nº
sado para responder à acusação, por escrito, no prazo 11.719, de 2008).
de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8
2008). (oito) testemunhas arroladas pela acusação e 8 (oito)
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo pela defesa. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de
para a defesa começará a fluir a partir do compareci- 2008).
mento pessoal do acusado ou do defensor constituído. § 1o Nesse número não se compreendem as que não
(Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). prestem compromisso e as referidas. (Incluído pela Lei
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá argüir pre- nº 11.719, de 2008).
liminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, § 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer
oferecer documentos e justificações, especificar as pro- das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto
vas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando- no art. 209 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.719,
-as e requerendo sua intimação, quando necessário. de 2008).
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência,
§ 1o A exceção será processada em apartado, nos ter- o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a
mos dos arts. 95 a 112 deste Código. (Incluído pela Lei seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja
nº 11.719, de 2008). necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apu-
§ 2o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se rados na instrução. (Redação dada pela Lei nº 11.719,
o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz no- de 2008).
meará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vis- Art. 403. Não havendo requerimento de diligências,
ta dos autos por 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei nº ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações fi-
11.719, de 2008). nais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente,
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396- pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10
A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. (Redação
sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
dada pela Lei nº 11.719, de 2008). § 1o Havendo mais de um acusado, o tempo previsto
I - a existência manifesta de causa excludente da ili- para a defesa de cada um será individual. (Incluído
citude do fato; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - a existência manifesta de causa excludente da cul- § 2o Ao assistente do Ministério Público, após a ma-
pabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (Incluí- nifestação desse, serão concedidos 10 (dez) minutos,
do pela Lei nº 11.719, de 2008). prorrogando-se por igual período o tempo de mani-
III - que o fato narrado evidentemente não constitui festação da defesa. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
crime; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). 2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei § 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do
nº 11.719, de 2008). caso ou o número de acusados, conceder às partes o
Art. 398.    (Revogado pela Lei nº 11.719, de 2008). prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apre-
Art. 399.  Recebida a denúncia ou queixa, o juiz de- sentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10
signará dia e hora para a audiência, ordenando a (dez) dias para proferir a sentença. (Incluído pela Lei
intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério nº 11.719, de 2008).
Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescin-
(Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). dível, de ofício ou a requerimento da parte, a audiên-
§ 1o O acusado preso será requisitado para compare- cia será concluída sem as alegações finais. (Redação
DIREITO PROCESSUAL PENAL

cer ao interrogatório, devendo o poder público provi- dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
denciar sua apresentação. (Incluído pela Lei nº 11.719, Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência
de 2008). determinada, as partes apresentarão, no prazo suces-
§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por me-
sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). morial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, rt. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado ter-
proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à mo em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas par-
inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e tes, contendo breve resumo dos fatos relevantes nela
pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. ocorridos. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

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§ 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos § 2o As provas serão produzidas em uma só audiência,
do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes,
será feito pelos meios ou recursos de gravação mag- impertinentes ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº
nética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive 11.689, de 2008)
audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das § 3o Encerrada a instrução probatória, observar-se-á,
informações . (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). se for o caso, o disposto no art. 384 deste Código. (In-
§ 2o No caso de registro por meio audiovisual, será cluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
encaminhado às partes cópia do registro original, § 4o As alegações serão orais, concedendo-se a pa-
sem necessidade de transcrição. (Incluído pela Lei nº lavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo
11.719, de 2008). prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10
(dez). (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
CAPÍTULO II  § 5o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo pre-
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) visto para a acusação e a defesa de cada um deles será
DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS individual. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI  § 6o Ao assistente do Ministério Público, após a ma-
Seção I nifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos,
Da Acusação e da Instrução Preliminar prorrogando-se por igual período o tempo de mani-
festação da defesa. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, 2008)
ordenará a citação do acusado para responder a acu- § 7o Nenhum ato será adiado, salvo quando impres-
sação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação cindível à prova faltante, determinando o juiz a con-
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) dução coercitiva de quem deva comparecer. (Incluído
§ 1o O prazo previsto no caput deste artigo será conta- pela Lei nº 11.689, de 2008)
do a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do § 8o A testemunha que comparecer será inquirida,
independentemente da suspensão da audiência, ob-
comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor
servada em qualquer caso a ordem estabelecida
constituído, no caso de citação inválida ou por edital.
no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
2008)
§ 2o A acusação deverá arrolar testemunhas, até o má-
§ 9o Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua de-
ximo de 8 (oito), na denúncia ou na queixa.
cisão, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os
§ 3o Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares
autos para isso lhe sejam conclusos. (Incluído pela Lei
e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer do-
nº 11.689, de 2008)
cumentos e justificações, especificar as provas preten-
Art. 412. O procedimento será concluído no prazo má-
didas e arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), ximo de 90 (noventa) dias. (Redação dada pela Lei nº
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando 11.689, de 2008)
necessário. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 407. As exceções serão processadas em apartado, Seção II
nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. (Redação Da Pronúncia, da Impronúncia e da Absolvição Su-
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) mária
Art. 408. Não apresentada a resposta no prazo legal, o (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
juiz nomeará defensor para oferecê-la em até 10 (dez)
dias, concedendo-lhe vista dos autos. (Redação dada Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o
pela Lei nº 11.689, de 2008) acusado, se convencido da materialidade do fato e da
Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Minis- existência de indícios suficientes de autoria ou de par-
tério Público ou o querelante sobre preliminares e do- ticipação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
cumentos, em 5 (cinco) dias. (Redação dada pela Lei § 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à in-
nº 11.689, de 2008) dicação da materialidade do fato e da existência de
Art. 410. O juiz determinará a inquirição das testemu- indícios suficientes de autoria ou de participação, de-
nhas e a realização das diligências requeridas pelas vendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar
partes, no prazo máximo de 10 (dez) dias. (Redação incurso o acusado e especificar as circunstâncias qua-
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) lificadoras e as causas de aumento de pena. (Incluído
Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á pela Lei nº 11.689, de 2008)
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à tomada de declarações do ofendido, se possível, à § 2o Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor
inquirição das testemunhas arroladas pela acusação da fiança para a concessão ou manutenção da liber-
e pela defesa, nesta ordem, bem como aos esclareci- dade provisória. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
mentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimen- § 3o O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manu-
to de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, tenção, revogação ou substituição da prisão ou medi-
o acusado e procedendo-se o debate. (Redação dada da restritiva de liberdade anteriormente decretada e,
pela Lei nº 11.689, de 2008) tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da
§ 1o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de decretação da prisão ou imposição de quaisquer das
prévio requerimento e de deferimento pelo juiz. (In- medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.
cluído pela Lei nº 11.689, de 2008) (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

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Art. 414. Não se convencendo da materialidade do Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos se-
fato ou da existência de indícios suficientes de auto- rão encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do
ria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
impronunciará o acusado. (Redação dada pela Lei nº § 1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, ha-
11.689, de 2008) vendo circunstância superveniente que altere a classi-
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da ficação do crime, o juiz ordenará a remessa dos autos
punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
ou queixa se houver prova nova. (Incluído pela Lei nº 2008)
11.689, de 2008) § 2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde decisão. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
logo o acusado, quando: (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008) Seção III
I – provada a inexistência do fato; (Redação dada pela Da Preparação do Processo para Julgamento em
Lei nº 11.689, de 2008) Plenário
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – o fato não constituir infração penal; (Redação Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) do Júri determinará a intimação do órgão do Ministé-
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de ex- rio Público ou do querelante, no caso de queixa, e do
clusão do crime. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresenta-
2008) rem rol de testemunhas que irão depor em plenário,
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que po-
IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade derão juntar documentos e requerer diligência. (Reda-
prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de ção dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de pro-
esta for a única tese defensiva. (Incluído pela Lei nº vas a serem produzidas ou exibidas no plenário do júri,
11.689, de 2008) e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:
Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
absolvição sumária caberá apelação. (Redação dada I – ordenará as diligências necessárias para sanar
pela Lei nº 11.689, de 2008) qualquer nulidade ou esclarecer fato que interesse ao
Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de partici- julgamento da causa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de
pação de outras pessoas não incluídas na acusação, 2008)
o juiz, ao pronunciar ou impronunciar o acusado, de- II – fará relatório sucinto do processo, determinando
terminará o retorno dos autos ao Ministério Público, sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri.
por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
80 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, Art. 424. Quando a lei local de organização judiciária
de 2008) não atribuir ao presidente do Tribunal do Júri o prepa-
Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica ro para julgamento, o juiz competente remeter-lhe-á
diversa da constante da acusação, embora o acusado os autos do processo preparado até 5 (cinco) dias an-
fique sujeito a pena mais grave. (Redação dada pela tes do sorteio a que se refere o art. 433 deste Código.
Lei nº 11.689, de 2008) (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância Parágrafo único. Deverão ser remetidos, também, os
com a acusação, da existência de crime diverso dos re- processos preparados até o encerramento da reunião,
feridos no § 1o do art. 74 deste Código e não for com- para a realização de julgamento. (Redação dada pela
petente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz Lei nº 11.689, de 2008)
que o seja. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a Seção IV
outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso. Do Alistamento dos Jurados
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será
feita: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente
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I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado do Tribunal do Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um
e ao Ministério Público; (Incluído pela Lei nº 11.689, mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de
de 2008) 1.000.000 (um milhão) de habitantes, de 300 (tre-
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao as- zentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de
sistente do Ministério Público, na forma do disposto 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400
no § 1o do art. 370 deste Código. (Incluído pela Lei nº (quatrocentos) nas comarcas de menor população.
11.689, de 2008) (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado § 1o Nas comarcas onde for necessário, poderá ser au-
solto que não for encontrado. (Incluído pela Lei nº mentado o número de jurados e, ainda, organizada
11.689, de 2008) lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna es-

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pecial, com as cautelas mencionadas na parte final § 4o Na pendência de recurso contra a decisão de pro-
do § 3o do art. 426 deste Código. (Incluído pela Lei nº núncia ou quando efetivado o julgamento, não se ad-
11.689, de 2008) mitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última
§ 2o O juiz presidente requisitará às autoridades lo- hipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a
cais, associações de classe e de bairro, entidades as- realização de julgamento anulado. (Incluído pela Lei
sociativas e culturais, instituições de ensino em geral, nº 11.689, de 2008)
universidades, sindicatos, repartições públicas e outros Art. 428. O desaforamento também poderá ser deter-
núcleos comunitários a indicação de pessoas que reú- minado, em razão do comprovado excesso de serviço,
nam as condições para exercer a função de jurado. ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o jul-
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) gamento não puder ser realizado no prazo de 6 (seis)
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das meses, contado do trânsito em julgado da decisão de
respectivas profissões, será publicada pela imprensa pronúncia. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em § 1o Para a contagem do prazo referido neste artigo,
editais afixados à porta do Tribunal do Júri. (Redação não se computará o tempo de adiamentos, diligências
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) ou incidentes de interesse da defesa. (Incluído pela Lei
§ 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou median- nº 11.689, de 2008)
te reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente § 2o Não havendo excesso de serviço ou existência de
até o dia 10 de novembro, data de sua publicação de- processos aguardando julgamento em quantidade
finitiva. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) que ultrapasse a possibilidade de apreciação pelo Tri-
§ 2o Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. bunal do Júri, nas reuniões periódicas previstas para o
436 a 446 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.689, exercício, o acusado poderá requerer ao Tribunal que
de 2008) determine a imediata realização do julgamento. (In-
§ 3o Os nomes e endereços dos alistados, em cartões cluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
iguais, após serem verificados na presença do Minis-
tério Público, de advogado indicado pela Seção local Seção VI
da Ordem dos Advogados do Brasil e de defensor indi- Da Organização da Pauta
cado pelas Defensorias Públicas competentes, perma- (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
necerão guardados em urna fechada a chave, sob a
responsabilidade do juiz presidente. (Incluído pela Lei
Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize altera-
nº 11.689, de 2008)
ção na ordem dos julgamentos, terão preferência: (Re-
§ 4o O jurado que tiver integrado o Conselho de Sen-
dação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
tença nos 12 (doze) meses que antecederem à publi-
I – os acusados presos; (Incluído pela Lei nº 11.689,
cação da lista geral fica dela excluído. (Incluído pela
de 2008)
Lei nº 11.689, de 2008)
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem
§ 5o Anualmente, a lista geral de jurados será, obriga-
toriamente, completada. (Incluído pela Lei nº 11.689, há mais tempo na prisão; (Incluído pela Lei nº 11.689,
de 2008) de 2008)
III – em igualdade de condições, os precedentemente
Seção V pronunciados. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Do Desaforamento § 1o Antes do dia designado para o primeiro julgamen-
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) to da reunião periódica, será afixada na porta do edi-
fício do Tribunal do Júri a lista dos processos a serem
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar julgados, obedecida a ordem prevista no caput deste
ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a artigo. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requeri- § 2o O juiz presidente reservará datas na mesma reu-
mento do Ministério Público, do assistente, do quere- nião periódica para a inclusão de processo que tiver o
lante ou do acusado ou mediante representação do julgamento adiado. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
juiz competente, poderá determinar o desaforamento de 2008)
do julgamento para outra comarca da mesma região, Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver
onde não existam aqueles motivos, preferindo-se as requerido sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da
mais próximas. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de data da sessão na qual pretenda atuar. (Redação dada
2008) pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o O pedido de desaforamento será distribuído Art. 431. Estando o processo em ordem, o juiz presi-
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imediatamente e terá preferência de julgamento na dente mandará intimar as partes, o ofendido, se for
Câmara ou Turma competente. (Incluído pela Lei nº possível, as testemunhas e os peritos, quando houver
11.689, de 2008) requerimento, para a sessão de instrução e julgamen-
§ 2o Sendo relevantes os motivos alegados, o relator to, observando, no que couber, o disposto no art. 420
poderá determinar, fundamentadamente, a suspensão deste Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
do julgamento pelo júri. (Incluído pela Lei nº 11.689, 2008)
de 2008)
§ 3o Será ouvido o juiz presidente, quando a medida
não tiver sido por ele solicitada. (Incluído pela Lei nº
11.689, de 2008)

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Seção VII III – os membros do Congresso Nacional, das Assem-
Do Sorteio e da Convocação dos Jurados bléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Munici-
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) pais; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – os Prefeitos Municipais; (Incluído pela Lei nº
Art. 432. Em seguida à organização da pauta, o juiz 11.689, de 2008)
presidente determinará a intimação do Ministério V – os Magistrados e membros do Ministério Público
Público, da Ordem dos Advogados do Brasil e da De- e da Defensoria Pública; (Incluído pela Lei nº 11.689,
fensoria Pública para acompanharem, em dia e hora de 2008)
designados, o sorteio dos jurados que atuarão na re- VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério
união periódica. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de Público e da Defensoria Pública; (Incluído pela Lei nº
2008) 11.689, de 2008)
Art. 433. O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a por- VII – as autoridades e os servidores da polícia e da se-
tas abertas, cabendo-lhe retirar as cédulas até com- gurança pública; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
pletar o número de 25 (vinte e cinco) jurados, para VIII – os militares em serviço ativo; (Incluído pela Lei
a reunião periódica ou extraordinária. (Redação dada nº 11.689, de 2008)
pela Lei nº 11.689, de 2008) IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que re-
§ 1o O sorteio será realizado entre o 15o (décimo quin- queiram sua dispensa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de
to) e o 10o (décimo) dia útil antecedente à instalação 2008)
da reunião. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) X – aqueles que o requererem, demonstrando justo
§ 2o A audiência de sorteio não será adiada pelo não impedimento. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
comparecimento das partes. (Incluído pela Lei nº Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em con-
11.689, de 2008) vicção religiosa, filosófica ou política importará no
§ 3o O jurado não sorteado poderá ter o seu nome dever de prestar serviço alternativo, sob pena de sus-
novamente incluído para as reuniões futuras. (Incluído pensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o
pela Lei nº 11.689, de 2008) serviço imposto. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
Art. 434. Os jurados sorteados serão convocados pelo 2008)
correio ou por qualquer outro meio hábil para com- § 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de
parecer no dia e hora designados para a reunião, sob atividades de caráter administrativo, assistencial, fi-
as penas da lei. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de lantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário,
2008) na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em
Parágrafo único. No mesmo expediente de convoca-
entidade conveniada para esses fins. (Incluído pela Lei
ção serão transcritos os arts. 436 a 446 deste Código.
nº 11.689, de 2008)
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos
Art. 435. Serão afixados na porta do edifício do Tribu-
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
nal do Júri a relação dos jurados convocados, os no-
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
mes do acusado e dos procuradores das partes, além
Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado cons-
do dia, hora e local das sessões de instrução e julga-
tituirá serviço público relevante e estabelecerá presun-
mento.(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
ção de idoneidade moral. (Redação dada pela Lei nº
Seção VIII 12.403, de 2011).
Da Função do Jurado Art. 440. Constitui também direito do jurado, na
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) condição do art. 439 deste Código, preferência, em
igualdade de condições, nas licitações públicas e no
Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamen- provimento, mediante concurso, de cargo ou função
to compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) pública, bem como nos casos de promoção funcional
anos de notória idoneidade. (Redação dada pela Lei nº ou remoção voluntária. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008) 11.689, de 2008)
§ 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos traba- Art. 441. Nenhum desconto será feito nos vencimen-
lhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor tos ou salário do jurado sorteado que comparecer à
ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou sessão do júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
econômica, origem ou grau de instrução. (Incluído 2008)
pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 442. Ao jurado que, sem causa legítima, deixar
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§ 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará de comparecer no dia marcado para a sessão ou re-
multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, tirar-se antes de ser dispensado pelo presidente será
a critério do juiz, de acordo com a condição econômi- aplicada multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos,
ca do jurado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) a critério do juiz, de acordo com a sua condição eco-
Art. 437. Estão isentos do serviço do júri: (Redação nômica. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 443. Somente será aceita escusa fundada em mo-
I – o Presidente da República e os Ministros de Estado; tivo relevante devidamente comprovado e apresenta-
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) da, ressalvadas as hipóteses de força maior, até o mo-
II – os Governadores e seus respectivos Secretários; (In- mento da chamada dos jurados. (Redação dada pela
cluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Lei nº 11.689, de 2008)

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Art. 444. O jurado somente será dispensado por de- Art. 451. Os jurados excluídos por impedimento, sus-
cisão motivada do juiz presidente, consignada na ata peição ou incompatibilidade serão considerados para
dos trabalhos. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de a constituição do número legal exigível para a reali-
2008) zação da sessão. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
Art. 445. O jurado, no exercício da função ou a pretex- de 2008)
to de exercê-la, será responsável criminalmente nos Art. 452. O mesmo Conselho de Sentença poderá co-
mesmos termos em que o são os juízes togados. (Re- nhecer de mais de um processo, no mesmo dia, se as
dação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) partes o aceitarem, hipótese em que seus integrantes
Art. 446. Aos suplentes, quando convocados, serão deverão prestar novo compromisso. (Redação dada
aplicáveis os dispositivos referentes às dispensas, fal- pela Lei nº 11.689, de 2008)
tas e escusas e à equiparação de responsabilidade pe-
nal prevista no art. 445 deste Código. (Redação dada Seção X
pela Lei nº 11.689, de 2008) Da reunião e das sessões do Tribunal do Júri
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Seção IX
Da Composição do Tribunal do Júri e da Formação Art. 453. O Tribunal do Júri reunir-se-á para as sessões
do Conselho de Sentença de instrução e julgamento nos períodos e na forma
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) estabelecida pela lei local de organização judiciária.
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz Art. 454. Até o momento de abertura dos trabalhos da
togado, seu presidente e por 25 (vinte e cinco) jura- sessão, o juiz presidente decidirá os casos de isenção e
dos que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dispensa de jurados e o pedido de adiamento de julga-
dos quais constituirão o Conselho de Sentença em mento, mandando consignar em ata as deliberações.
cada sessão de julgamento. (Redação dada pela Lei nº (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
11.689, de 2008) Art. 455. Se o Ministério Público não comparecer, o
Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho: juiz presidente adiará o julgamento para o primeiro
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) dia desimpedido da mesma reunião, cientificadas as
I – marido e mulher; (Incluído pela Lei nº 11.689, de partes e as testemunhas. (Redação dada pela Lei nº
2008) 11.689, de 2008)
II – ascendente e descendente; (Incluído pela Lei nº Parágrafo único. Se a ausência não for justificada, o
11.689, de 2008) fato será imediatamente comunicado ao Procurador-
III – sogro e genro ou nora; (Incluído pela Lei nº 11.689, -Geral de Justiça com a data designada para a nova
de 2008) sessão. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio; (Incluído Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advo-
pela Lei nº 11.689, de 2008) gado do acusado, e se outro não for por este constituí-
V – tio e sobrinho; (Incluído pela Lei nº 11.689, de do, o fato será imediatamente comunicado ao presi-
2008) dente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil,
VI – padrasto, madrasta ou enteado. (Incluído pela Lei com a data designada para a nova sessão. (Redação
nº 11.689, de 2008) dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às § 1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será
pessoas que mantenham união estável reconhecida adiado somente uma vez, devendo o acusado ser jul-
como entidade familiar. (Incluído pela Lei nº 11.689, gado quando chamado novamente. (Incluído pela Lei
de 2008) nº 11.689, de 2008)
§ 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os im- § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a
pedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos Defensoria Pública para o novo julgamento, que será
juízes togados. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o
Art. 449. Não poderá servir o jurado que: (Redação prazo mínimo de 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei nº
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 11.689, de 2008)
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mes- Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não com-
mo processo, independentemente da causa determi- parecimento do acusado solto, do assistente ou do
nante do julgamento posterior; (Incluído pela Lei nº advogado do querelante, que tiver sido regularmente
11.689, de 2008) intimado. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
DIREITO PROCESSUAL PENAL

II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado § 1o Os pedidos de adiamento e as justificações de não


o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado; comparecimento deverão ser, salvo comprovado mo-
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) tivo de força maior, previamente submetidos à apre-
III – tiver manifestado prévia disposição para con- ciação do juiz presidente do Tribunal do Júri. (Incluído
denar ou absolver o acusado . (Incluído pela Lei nº pela Lei nº 11.689, de 2008)
11.689, de 2008) § 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julga-
Art. 450. Dos impedidos entre si por parentesco ou mento será adiado para o primeiro dia desimpedido
relação de convivência, servirá o que houver sido sor- da mesma reunião, salvo se houver pedido de dispen-
teado em primeiro lugar. (Redação dada pela Lei nº sa de comparecimento subscrito por ele e seu defensor.
11.689, de 2008) (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

12
Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de sobre o processo, sob pena de exclusão do Conselho
comparecer, o juiz presidente, sem prejuízo da ação e multa, na forma do § 2o do art. 436 deste Código.
penal pela desobediência, aplicar-lhe-á a multa pre- (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
vista no § 2o do art. 436 deste Código. (Redação dada § 2o A incomunicabilidade será certificada nos au-
pela Lei nº 11.689, de 2008) tos pelo oficial de justiça. (Redação dada pela Lei nº
Art. 459. Aplicar-se-á às testemunhas a serviço do 11.689, de 2008)
Tribunal do Júri o disposto no art. 441 deste Código. Art. 467. Verificando que se encontram na urna as cé-
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) dulas relativas aos jurados presentes, o juiz presidente
Art. 460.  Antes de constituído o Conselho de Sen- sorteará 7 (sete) dentre eles para a formação do Con-
tença, as testemunhas serão recolhidas a lugar onde selho de Sentença. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
umas não possam ouvir os depoimentos das outras. de 2008)
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo reti-
Art. 461. O julgamento não será adiado se a teste- radas da urna, o juiz presidente as lerá, e a defesa e,
depois dela, o Ministério Público poderão recusar os
munha deixar de comparecer, salvo se uma das par-
jurados sorteados, até 3 (três) cada parte, sem motivar
tes tiver requerido a sua intimação por mandado, na
a recusa.(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
oportunidade de que trata o art. 422 deste Código, Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente
declarando não prescindir do depoimento e indicando por qualquer das partes será excluído daquela sessão
a sua localização. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de instrução e julgamento, prosseguindo-se o sorteio
de 2008) para a composição do Conselho de Sentença com os
§ 1o Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz jurados remanescentes. (Incluído pela Lei nº 11.689,
presidente suspenderá os trabalhos e mandará condu- de 2008)
zi-la ou adiará o julgamento para o primeiro dia de- Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as re-
simpedido, ordenando a sua condução. (Incluído pela cusas poderão ser feitas por um só defensor. (Redação
Lei nº 11.689, de 2008) dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o O julgamento será realizado mesmo na hipótese § 1o A separação dos julgamentos somente ocorrerá
de a testemunha não ser encontrada no local indica- se, em razão das recusas, não for obtido o número mí-
do, se assim for certificado por oficial de justiça. (In- nimo de 7 (sete) jurados para compor o Conselho de
cluído pela Lei nº 11.689, de 2008) Sentença. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 462. Realizadas as diligências referidas nos arts. § 2o Determinada a separação dos julgamentos, será
454 a 461 deste Código, o juiz presidente verificará julgado em primeiro lugar o acusado a quem foi atri-
se a urna contém as cédulas dos 25 (vinte e cinco) buída a autoria do fato ou, em caso de co-autoria,
aplicar-se-á o critério de preferência disposto no art.
jurados sorteados, mandando que o escrivão proceda
429 deste Código. (Incluído pela Lei nº 11.689, de
à chamada deles. (Redação dada pela Lei nº 11.689,
2008)
de 2008) Art. 470. Desacolhida a argüição de impedimento, de
Art. 463. Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) ju- suspeição ou de incompatibilidade contra o juiz pre-
rados, o juiz presidente declarará instalados os traba- sidente do Tribunal do Júri, órgão do Ministério Públi-
lhos, anunciando o processo que será submetido a jul- co, jurado ou qualquer funcionário, o julgamento não
gamento. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) será suspenso, devendo, entretanto, constar da ata o
§ 1o O oficial de justiça fará o pregão, certificando a seu fundamento e a decisão. (Redação dada pela Lei
diligência nos autos. (Incluído pela Lei nº 11.689, de nº 11.689, de 2008)
2008) Art. 471. Se, em conseqüência do impedimento, sus-
§ 2o Os jurados excluídos por impedimento ou suspei- peição, incompatibilidade, dispensa ou recusa, não
ção serão computados para a constituição do número houver número para a formação do Conselho, o jul-
legal. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) gamento será adiado para o primeiro dia desimpedi-
Art. 464. Não havendo o número referido no art. 463 do, após sorteados os suplentes, com observância do
deste Código, proceder-se-á ao sorteio de tantos su- disposto no art. 464 deste Código. (Redação dada pela
plentes quantos necessários, e designar-se-á nova Lei nº 11.689, de 2008)
data para a sessão do júri. (Redação dada pela Lei nº Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presi-
11.689, de 2008) dente, levantando-se, e, com ele, todos os presentes,
fará aos jurados a seguinte exortação: (Redação dada
Art. 465. Os nomes dos suplentes serão consignados
pela Lei nº 11.689, de 2008)
em ata, remetendo-se o expediente de convocação,
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa
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com observância do disposto nos arts. 434 e 435 deste com imparcialidade e a proferir a vossa decisão de
Código. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) acordo com a vossa consciência e os ditames da jus-
Art. 466. Antes do sorteio dos membros do Conselho tiça.
de Sentença, o juiz presidente esclarecerá sobre os Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente,
impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades responderão:
constantes dos arts. 448 e 449 deste Código. (Redação Assim o prometo.
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá có-
§ 1o O juiz presidente também advertirá os jurados de pias da pronúncia ou, se for o caso, das decisões poste-
que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se riores que julgaram admissível a acusação e do relató-
entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião rio do processo. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

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Seção XI § 1o O assistente falará depois do Ministério Público.
Da Instrução em Plenário (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) § 2o Tratando-se de ação penal de iniciativa privada,
falará em primeiro lugar o querelante e, em seguida,
Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será o Ministério Público, salvo se este houver retomado a
iniciada a instrução plenária quando o juiz presidente, titularidade da ação, na forma do art. 29 deste Códi-
o Ministério Público, o assistente, o querelante e o de- go. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
fensor do acusado tomarão, sucessiva e diretamente, § 3o Finda a acusação, terá a palavra a defesa. (Incluí-
as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as do pela Lei nº 11.689, de 2008)
testemunhas arroladas pela acusação. (Redação dada § 4o A acusação poderá replicar e a defesa treplicar,
pela Lei nº 11.689, de 2008) sendo admitida a reinquirição de testemunha já ouvi-
§ 1o Para a inquirição das testemunhas arroladas pela da em plenário. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
defesa, o defensor do acusado formulará as perguntas Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa
antes do Ministério Público e do assistente, mantidos será de uma hora e meia para cada, e de uma hora
no mais a ordem e os critérios estabelecidos neste ar- para a réplica e outro tanto para a tréplica. (Redação
tigo.(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Os jurados poderão formular perguntas ao ofendi- § 1o Havendo mais de um acusador ou mais de um
do e às testemunhas, por intermédio do juiz presiden- defensor, combinarão entre si a distribuição do tempo,
te. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) que, na falta de acordo, será dividido pelo juiz presi-
§ 3o As partes e os jurados poderão requerer acarea- dente, de forma a não exceder o determinado neste
ções, reconhecimento de pessoas e coisas e esclareci- artigo.(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
mento dos peritos, bem como a leitura de peças que se § 2o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a
refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta acusação e a defesa será acrescido de 1 (uma) hora e
precatória e às provas cautelares, antecipadas ou não elevado ao dobro o da réplica e da tréplica, observado
repetíveis. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) o disposto no § 1o deste artigo. (Incluído pela Lei nº
Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se esti- 11.689, de 2008)
ver presente, na forma estabelecida no Capítulo III do Art. 478. Durante os debates as partes não poderão,
Título VII do Livro I deste Código, com as alterações sob pena de nulidade, fazer referências: (Redação
introduzidas nesta Seção. (Redação dada pela Lei nº dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
11.689, de 2008) I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que
§ 1o O Ministério Público, o assistente, o querelante e o julgaram admissível a acusação ou à determinação do
defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamen- uso de algemas como argumento de autoridade que
te, perguntas ao acusado. (Redação dada pela Lei nº beneficiem ou prejudiquem o acusado; (Incluído pela
11.689, de 2008) Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2o Os jurados formularão perguntas por intermédio II – ao silêncio do acusado ou à ausência de inter-
do juiz presidente. (Redação dada pela Lei nº 11.689, rogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo.
de 2008) (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3o Não se permitirá o uso de algemas no acusado Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a
durante o período em que permanecer no plenário do leitura de documento ou a exibição de objeto que não
júri, salvo se absolutamente necessário à ordem dos tiver sido juntado aos autos com a antecedência mí-
trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia nima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra
da integridade física dos presentes. (Incluído pela Lei parte. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
nº 11.689, de 2008) Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste
Art. 475. O registro dos depoimentos e do interroga- artigo a leitura de jornais ou qualquer outro escrito,
tório será feito pelos meios ou recursos de gravação bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias,
magnética, eletrônica, estenotipia ou técnica similar, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio asse-
destinada a obter maior fidelidade e celeridade na co- melhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato
lheita da prova.(Redação dada pela Lei nº 11.689, de submetida à apreciação e julgamento dos jurados. (In-
2008) cluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Parágrafo único. A transcrição do registro, após feita a Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a
degravação, constará dos autos. (Incluído pela Lei nº qualquer momento e por intermédio do juiz presiden-
11.689, de 2008) te, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde
se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-
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Seção XII -se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mesmo meio,
Dos Debates o esclarecimento de fato por ele alegado. (Redação
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos
Art. 476. Encerrada a instrução, será concedida a pa- jurados se estão habilitados a julgar ou se necessi-
lavra ao Ministério Público, que fará a acusação, nos tam de outros esclarecimentos. (Incluído pela Lei nº
limites da pronúncia ou das decisões posteriores que 11.689, de 2008)
julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o § 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presi-
caso, a existência de circunstância agravante. (Reda- dente prestará esclarecimentos à vista dos autos. (In-
ção dada pela Lei nº 11.689, de 2008) cluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

14
§ 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
acesso aos autos e aos instrumentos do crime se solici- (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
tarem ao juiz presidente. (Incluído pela Lei nº 11.689, II – circunstância qualificadora ou causa de aumento
de 2008) de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões
Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhe- posteriores que julgaram admissível a acusação. (In-
cida como essencial para o julgamento da causa, não cluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
puder ser realizada imediatamente, o juiz presidente § 4o Sustentada a desclassificação da infração para
dissolverá o Conselho, ordenando a realização das di- outra de competência do juiz singular, será formulado
ligências entendidas necessárias. (Redação dada pela quesito a respeito, para ser respondido após o 2o (se-
Lei nº 11.689, de 2008) gundo) ou 3o (terceiro) quesito, conforme o caso. (In-
Parágrafo único. Se a diligência consistir na produção cluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
de prova pericial, o juiz presidente, desde logo, no- § 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua
meará perito e formulará quesitos, facultando às par- forma tentada ou havendo divergência sobre a tipi-
tes também formulá-los e indicar assistentes técnicos, ficação do delito, sendo este da competência do Tri-
no prazo de 5 (cinco) dias. (Redação dada pela Lei nº bunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca destas
11.689, de 2008) questões, para ser respondido após o segundo quesito.
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Seção XIII § 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acu-
Do Questionário e sua Votação sado, os quesitos serão formulados em séries distin-
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) tas.  (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e inda-
Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado so- gará das partes se têm requerimento ou reclamação
bre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido. a fazer, devendo qualquer deles, bem como a decisão,
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) constar da ata. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em pro- 2008)
posições afirmativas, simples e distintas, de modo que Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente
cada um deles possa ser respondido com suficiente explicará aos jurados o significado de cada quesito.
clareza e necessária precisão. Na sua elaboração, o (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
presidente levará em conta os termos da pronúncia Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz
ou das decisões posteriores que julgaram admissível a presidente, os jurados, o Ministério Público, o assisten-
acusação, do interrogatório e das alegações das par- te, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e
tes. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim
Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte de ser procedida a votação. (Redação dada pela Lei nº
ordem, indagando sobre: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
11.689, de 2008) § 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente de-
I – a materialidade do fato; (Incluído pela Lei nº terminará que o público se retire, permanecendo so-
11.689, de 2008) mente as pessoas mencionadas no caput deste artigo.
II – a autoria ou participação; (Incluído pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
11.689, de 2008) § 2o O juiz presidente advertirá as partes de que não
III – se o acusado deve ser absolvido; (Incluído pela Lei será permitida qualquer intervenção que possa per-
nº 11.689, de 2008) turbar a livre manifestação do Conselho e fará retirar
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada da sala quem se portar inconvenientemente. (Incluído
pela defesa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de Art. 486. Antes de proceder-se à votação de cada que-
aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em sito, o juiz presidente mandará distribuir aos jurados
decisões posteriores que julgaram admissível a acusa- pequenas cédulas, feitas de papel opaco e facilmen-
ção. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) te dobráveis, contendo 7 (sete) delas a palavra sim,
§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, 7 (sete) a palavra não. (Redação dada pela Lei nº
a qualquer dos quesitos referidos nos incisos I e II 11.689, de 2008)
do caput deste artigo encerra a votação e implica a Art. 487. Para assegurar o sigilo do voto, o oficial de
absolvição do acusado. (Incluído pela Lei nº 11.689, justiça recolherá em urnas separadas as cédulas cor-
respondentes aos votos e as não utilizadas. (Redação
DIREITO PROCESSUAL PENAL

de 2008)
§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
(três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II Art. 488. Após a resposta, verificados os votos e as cé-
do caput deste artigo será formulado quesito com dulas não utilizadas, o presidente determinará que o
a seguinte redação: (Incluído pela Lei nº 11.689, de escrivão registre no termo a votação de cada quesito,
2008) bem como o resultado do julgamento. (Redação dada
O jurado absolve o acusado? pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julga- Parágrafo único. Do termo também constará a confe-
mento prossegue, devendo ser formulados quesitos rência das cédulas não utilizadas. (Incluído pela Lei nº
sobre: (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) 11.689, de 2008)

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Art. 489. As decisões do Tribunal do Júri serão toma- Art. 493. A sentença será lida em plenário pelo presi-
das por maioria de votos. (Redação dada pela Lei nº dente antes de encerrada a sessão de instrução e jul-
11.689, de 2008) gamento. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 490. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver
em contradição com outra ou outras já dadas, o presi- Seção XV
dente, explicando aos jurados em que consiste a con- Da Ata dos Trabalhos
tradição, submeterá novamente à votação os quesitos (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
a que se referirem tais respostas. (Redação dada pela
Lei nº 11.689, de 2008) Art. 494. De cada sessão de julgamento o escrivão
Parágrafo único. Se, pela resposta dada a um dos que- lavrará ata, assinada pelo presidente e pelas partes.
sitos, o presidente verificar que ficam prejudicados os (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
seguintes, assim o declarará, dando por finda a vota- Art. 495. A ata descreverá fielmente todas as ocorrên-
ção. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) cias, mencionando obrigatoriamente: (Redação dada
Art. 491. Encerrada a votação, será o termo a que se pela Lei nº 11.689, de 2008)
refere o art. 488 deste Código assinado pelo presiden- I – a data e a hora da instalação dos trabalhos; (Reda-
te, pelos jurados e pelas partes. (Redação dada pela Lei ção dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
nº 11.689, de 2008)
II – o magistrado que presidiu a sessão e os jurados
presentes; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Seção XIV
III – os jurados que deixaram de comparecer, com
Da sentença
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) escusa ou sem ela, e as sanções aplicadas; (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença IV – o ofício ou requerimento de isenção ou dispensa
que: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) ; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – no caso de condenação: (Redação dada pela Lei nº V – o sorteio dos jurados suplentes; (Redação dada
11.689, de 2008) pela Lei nº 11.689, de 2008)
a) fixará a pena-base; (Incluído pela Lei nº 11.689, de VI – o adiamento da sessão, se houver ocorrido, com
2008) a indicação do motivo; (Redação dada pela Lei nº
b) considerará as circunstâncias agravantes ou ate- 11.689, de 2008)
nuantes alegadas nos debates; (Incluído pela Lei nº VII – a abertura da sessão e a presença do Ministério
11.689, de 2008) Público, do querelante e do assistente, se houver, e a
c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em do defensor do acusado; (Redação dada pela Lei nº
atenção às causas admitidas pelo júri; (Incluído pela 11.689, de 2008)
Lei nº 11.689, de 2008) VIII – o pregão e a sanção imposta, no caso de não
d) observará as demais disposições do art. 387 deste comparecimento; (Redação dada pela Lei nº 11.689,
Código; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) de 2008)
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á IX – as testemunhas dispensadas de depor; (Redação
à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
da prisão preventiva; (Incluído pela Lei nº 11.689, de X – o recolhimento das testemunhas a lugar de onde
2008) umas não pudessem ouvir o depoimento das outras;
f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
condenação; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) XI – a verificação das cédulas pelo juiz presidente; (Re-
II – no caso de absolvição: (Redação dada pela Lei nº dação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
11.689, de 2008) XII – a formação do Conselho de Sentença, com o re-
a) mandará colocar em liberdade o acusado se por
gistro dos nomes dos jurados sorteados e recusas; (Re-
outro motivo não estiver preso; (Redação dada pela Lei
dação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
nº 11.689, de 2008)
XIII – o compromisso e o interrogatório, com sim-
b) revogará as medidas restritivas provisoriamente de-
cretadas; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) ples referência ao termo; (Redação dada pela Lei nº
c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabí- 11.689, de 2008)
vel. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) XIV – os debates e as alegações das partes com os
§ 1o Se houver desclassificação da infração para ou- respectivos fundamentos; (Redação dada pela Lei nº
tra, de competência do juiz singular, ao presidente do 11.689, de 2008)
Tribunal do Júri caberá proferir sentença em seguida, XV – os incidentes; (Redação dada pela Lei nº 11.689,
DIREITO PROCESSUAL PENAL

aplicando-se, quando o delito resultante da nova tipi- de 2008)


ficação for considerado pela lei como infração penal XVI – o julgamento da causa; (Redação dada pela Lei
de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e nº 11.689, de 2008)
seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. XVII – a publicidade dos atos da instrução plenária,
(Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) das diligências e da sentença. (Redação dada pela Lei
§ 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que nº 11.689, de 2008)
não seja doloso contra a vida será julgado pelo juiz Art. 496. A falta da ata sujeitará o responsável a san-
presidente do Tribunal do Júri, aplicando-se, no que ções administrativa e penal. (Redação dada pela Lei nº
couber, o disposto no § 1o deste artigo. (Redação dada 11.689, de 2008)
pela Lei nº 11.689, de 2008) Seção XVI

16
Das Atribuições do Presidente do Tribunal do Júri fundamentada da impossibilidade de apresentação de
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) qualquer dessas provas.
Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal       Art. 514.  Nos crimes afiançáveis, estando a de-
do Júri, além de outras expressamente referidas neste núncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará
Código: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para
I – regular a polícia das sessões e prender os desobe- responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.
dientes; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)       Parágrafo único.  Se não for conhecida a residência
II – requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob do acusado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz,
sua exclusiva autoridade; (Redação dada pela Lei nº ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresen-
11.689, de 2008) tar a resposta preliminar.
III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso,       Art. 515.  No caso previsto no artigo anterior, du-
excesso de linguagem ou mediante requerimento de rante o prazo concedido para a resposta, os autos per-
uma das partes; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de manecerão em cartório, onde poderão ser examinados
2008) pelo acusado ou por seu defensor.
IV – resolver as questões incidentes que não depen- Parágrafo único.  A resposta poderá ser instruída com
dam de pronunciamento do júri; (Redação dada pela documentos e justificações.
Lei nº 11.689, de 2008) Art. 516.  O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em
V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo despacho fundamentado, se convencido, pela resposta
indefeso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e do acusado ou do seu defensor, da inexistência do cri-
designar novo dia para o julgamento, com a nomea- me ou da improcedência da ação.
ção ou a constituição de novo defensor; (Redação Art. 517.  Recebida a denúncia ou a queixa, será o acu-
dada pela Lei nº 11.689, de 2008) sado citado, na forma estabelecida no Capítulo I do
VI – mandar retirar da sala o acusado que dificultar Título X do Livro I.
a realização do julgamento, o qual prosseguirá sem Art. 518.  Na instrução criminal e nos demais termos
a sua presença; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de do processo, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e
2008) III, Título I, deste Livro.
VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à
realização das diligências requeridas ou entendidas
necessárias, mantida a incomunicabilidade dos jura- #FicaDica
dos; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para Crimes funcionais são aqueles previstos nos
proferir sentença e para repouso ou refeição dos jura- arts. 312 a 326 do Código Penal.
dos; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
IX – decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a
defesa, ou a requerimento de qualquer destes, a argüi-
ção de extinção de punibilidade; (Redação dada pela
Lei nº 11.689, de 2008) #FicaDica
X – resolver as questões de direito suscitadas no curso
do julgamento; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de “Os crimes de abuso de autoridade, para os
2008) quais havia rito especial na Lei n. 4.898/65,
XI – determinar, de ofício ou a requerimento das par- são, atualmente, apurados de acordo com
tes ou de qualquer jurado, as diligências destinadas o rito sumaríssimo da Lei n. 9.099/95, por
a sanar nulidade ou a suprir falta que prejudique o constituírem infração de menor potencial
esclarecimento da verdade; (Redação dada pela Lei nº ofensivo em razão da pena máxima comi-
11.689, de 2008) nada (6 meses)”. (REIS; GONÇALVES, 2016,
XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção p. 663)
de uma das partes, quando a outra estiver com a pala-
vra, podendo conceder até 3 (três) minutos para cada
aparte requerido, que serão acrescidos ao tempo desta
última.(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)

Processo e julgamento dos crimes de responsabili-


DIREITO PROCESSUAL PENAL

dade de funcionários públicos

O Código de Processo Penal prevê os seguintes dispo-


sitivos acerca do assunto:

 Art. 513.  Os crimes de responsabilidade dos funcio-


nários públicos, cujo processo e julgamento competi-
rão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será
instruída com documentos ou justificação que façam
presumir a existência do delito ou com declaração

17
ASPECTOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA
AÇÃO PENAL
Seja qual for o crime praticado, sempre que este for a
detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado
e Município, a ação penal será pública.
AÇÃO PENAL Qualquer pessoa do povo poderá provocar o Ministé-
rio Público nos casos de ação penal pública, fornecendo-
Ação Penal é o direito do Estado/acusação ou da ví- -lhe, por escrito, informações sobre o fato, autoria deliti-
tima de entrar em juízo, solicitando a prestação jurisdi- va, tempo, lugar e elementos do crime.
cional, representada pela aplicação das normas de direi- Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apre-
to penal ao caso concreto. Por meio da ação, o Estado sentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito
consegue realizar sua pretensão de punir o infrator, caso policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no
este seja realmente culpado. caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
As ações penais são dividias em duas espécies, sendo fará remessa do inquérito ou peças de informação ao
elas: procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designa-
rá outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou
a) Ação penal pública: Aquela em que o Ministério insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então
Público será o autor. estará o juiz obrigado a atender.
 A denúncia conterá a exposição do fato criminoso,
b) Ação penal privada: Aquela em que a vítima ou re- com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acu-
presentante legal será o autor. sado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-
-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol
A ação penal pública pode ser subdivida em: das testemunhas.
O Ministério Público não poderá desistir da ação pe-
1) Ação penal pública incondicionada: Aquela em que nal.
o Ministério Público age, de ofício, sem qualquer O prazo para oferecimento da denúncia, estando o
requisição ou representação de alguém. réu preso, será de 5 dias, contados da data em que o ór-
gão do Ministério Público receber os autos do inquérito
2) Ação penal público condicionada: Aquela em que policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado.
o Ministério Público só poderá agir com a repre- No último caso, se houver devolução do inquérito à au-
sentação da vítima (espécie de pedido/autorização toridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em
para que o Ministério Público venha a agir) ou a que o órgão do Ministério Público receber novamente
requisição do Ministro da Justiça. os autos.
Quando o Ministério Público dispensar o inquérito
Por sua vez, a ação penal privada, além de ocorrer nas policial, o prazo para o oferecimento da denúncia con-
tar-se-á da data em que tiver recebido as peças de infor-
hipóteses em que a vítima ou o representante legal tem
mações ou a representação.
o direito de agir, como nos casos de crime de difamação
Se o Ministério Público julgar necessários maiores es-
e calúnia, há a espécie de ação penal privada subsidiária
clarecimentos e documentos complementares ou novos
da pública, a qual, em regra, deveria ser uma ação penal
elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamen-
pública, porém o direito de agir é transferido à vítima
te, de quaisquer autoridades ou funcionários que devam
ou representante legal, diante da inércia do Ministério
ou possam fornecê-los.
Público. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os
Em outras palavras, o Ministério Público deveria ter, juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de
por exemplo, ter denunciado o crime, porém não o fez. ação pública, remeterão ao Ministério Público as cópias
Assim, diante da inércia do Ministério Público, a vítima e os documentos necessários ao oferecimento da denún-
ou seu representante legal terá o direito de fazer o papel cia.
deste órgão acusatório, por meio da ação penal privada No que se refere à Ação Penal Pública condicionada
subsidiária da pública. a representação, em caso de morte da vítima ou quando
esta estiver ausente por decisão judicial (desaparecida),
o direito a representação da ação penal pública condi-
#FicaDica cionada será do cônjuge, ascendente, descendente ou
A ação penal pública, a qual tem como legi- irmão, respeitando-se a ordem.
DIREITO PROCESSUAL PENAL

A representação, em casos de ação penal pública


timidade ativa o Ministério Público, é inicia-
condicionada à representação, é irretratável, depois de
da mediante denúncia.
oferecida a denúncia.
A ação penal privada (incluindo-se a subsi-
O direito de representação poderá ser exercido, pes-
diária da pública), a qual tem como legitimi-
soalmente ou por procurador com poderes especiais,
dade ativa a vítima ou representante legal,
mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao ór-
é iniciada mediante queixa-crime.
gão do Ministério Público, ou à autoridade policial.
§ 1o  A representação feita oralmente ou por escrito,
sem assinatura devidamente autenticada do ofendi-
do, de seu representante legal ou procurador, será re-

18
duzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, ma vier a falecer ou tornar-se ausente, o prosseguimento
presente o órgão do Ministério Público, quando a este da ação penal privada também poderá ser do cônjuge,
houver sido dirigida. ascendente, descendente ou irmão.
§ 2o  A representação conterá todas as informações Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
que possam servir à apuração do fato e da autoria. queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o pa-
§ 3o  Oferecida ou reduzida a termo a representação, rente mais próximo na ordem de enumeração constante
a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosse-
sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for. guir na ação, caso o querelante desista da instância ou a
§ 4o  A representação, quando feita ao juiz ou perante abandone.
este reduzida a termo, será remetida à autoridade po- Nos casos em que a vítima for pessoa pobre, o juiz, a
licial para que esta proceda a inquérito. requerimento da parte que provou a pobreza, nomeará
§ 5o  O órgão do Ministério Público dispensará o in- um advogado para promover a ação penal. Ressalta-se
quérito, se com a representação forem oferecidos ele- que pessoa pobre é aquela que não pode arcar com às
mentos que o habilitem a promover a ação penal, e, custas do processo, sem prejudicar sua sobrevivência e
neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze de sua família.
dias. Ademais, será prova suficiente de pobreza o atesta-
 A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato do da autoridade policial em cuja circunscrição residir o
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualifica- ofendido.
ção do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos, ou
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessá- mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
rio, o rol das testemunhas. representante legal, ou colidirem os interesses deste com
Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por
extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício. No curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento
caso de requerimento do Ministério Público, do quere- do Ministério Público, pelo juiz competente para o pro-
lante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado, cesso penal.
ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, con- Se o ofendido for menor de 21 (vinte e um) e maior
cederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo de 18 (dezoito) anos, o direito de queixa poderá ser exer-
a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para cido por ele ou por seu representante legal.
apreciar a matéria na sentença final. As fundações, associações ou sociedades legalmen-
No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista te constituídas poderão exercer a ação penal, devendo
da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério ser representadas por quem os respectivos contratos ou
Público, declarará extinta a punibilidade. estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus
diretores ou sócios-gerentes.
O direito de queixa tem prazo decadencial de seis
#FicaDica meses, contando do dia em que vier, a saber, quem é o
autor do crime ou no caso de ação penal privada subsi-
Nos casos de ação penal pública, o ofendido diaria da pública do dia em que se esgotar o prazo para o
ou representante legal poderá contratar um oferecimento da denúncia pelo Ministério Público.
advogado particular para ser assistente da  A queixa conterá a exposição do fato criminoso, com
acusação, o qual irá dar assistência a acusa- todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado
ção do Ministério Público no caso concreto. ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das tes-
temunhas.
A queixa poderá ser dada por procurador com po-
ASPECTOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA deres especiais, devendo constar do instrumento do
mandato o nome do querelante e a menção do fato cri-
No que se refere à ação penal privada subsidiária da minoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem
pública, o artigo 29 do Código de Processo Penal prevê de diligências que devem ser previamente requeridas no
que: juízo criminal.
Art. 29.  Será admitida ação privada nos crimes de A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do
ação pública, se esta não for intentada no prazo le- ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a
DIREITO PROCESSUAL PENAL

gal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, re- quem caberá intervir em todos os termos subseqüentes
pudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em do processo.
todos os termos do processo, fornecer elementos de O prazo para o aditamento da queixa pelo Ministério
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de Público será de 3 dias, contado da data em que o órgão
negligência do querelante, retomar a ação como parte do Ministério Público receber os autos, e, se este não
principal. se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não
Em caso de morte ou ausência por decisão judicial da tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos
vítima, a ação penal privada poderá ser interposta, me- do processo.
diante queixa, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou O direito de queixa não pode ser exercido quando
irmão. Ademais, se a ação penal privada já existir e a víti- renunciado expressa ou tacitamente. 

19
A queixa contra qualquer dos autores do crime obri- Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer
gará ao processo de todos, e o Ministério Público velará extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício. No
pela sua indivisibilidade. Ademais, a renúncia ao exercício caso de requerimento do Ministério Público, do quere-
do direito de queixa, em relação a um dos autores do lante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado,
crime, a todos se estenderá. ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, con-
A renúncia expressa constará de declaração assinada cederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo
pelo ofendido, por seu representante legal ou procura- a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para
dor com poderes especiais. apreciar a matéria na sentença final.
A renúncia do representante legal do menor que No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista
houver completado 18 (dezoito) anos não privará este da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério
do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o Público, declarará extinta a punibilidade.
direito do primeiro.
O perdão concedido a um dos querelados aproveita-
rá a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação
ao que o recusar. EXERCÍCIO COMENTADO
Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos,
o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por 1) PREFEITURA DE BOA VISTA RR – PROCURADOR –
seu representante legal, mas o perdão concedido por CESPE – 2019:  José, de sessenta e nove anos de ida-
um, havendo oposição do outro, não produzirá efeito. de, fiscal de vigilância sanitária municipal, viúvo e único
Se o querelado for mentalmente enfermo ou retarda- responsável pelos cuidados de seu filho, de onze anos
do mental e não tiver representante legal, ou colidirem de idade, foi denunciado à polícia por comerciantes que
os interesses deste com os do querelado, a aceitação do alegavam que o referido fiscal lhes solicitava dinheiro
perdão caberá ao curador que o juiz Ihe nomear. para que não fossem por ele autuados por infração à
Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á, legislação sanitária. Durante investigação conduzida por
quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52 do autoridade policial em razão dessa denúncia, foi deferida
Código de Processo Penal. judicialmente interceptação da comunicação telefônica
O perdão poderá ser aceito por procurador com po- de José.
deres especiais. Nesse ato, evidenciou-se, em uma degravação, que José
A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os
havia solicitado certa quantia em dinheiro a um comer-
meios de prova.
ciante, Pedro, para não interditar seu estabelecimento
Concedido o perdão, mediante declaração expressa
comercial, e que José havia combinado encontrar-se
nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de
com Pedro para realizarem essa transação financeira. Na
três dias, se o aceita o perdão ou não, devendo, ao mes-
interceptação, foram captadas, ainda, conversas em que
mo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio impor-
José e outros quatro fiscais não identificados discutiam
tará aceitação. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a
a forma de solicitar dinheiro a comerciantes, em troca
punibilidade.
de não autuá-los, e a repartição do dinheiro que seria
A aceitação do perdão fora do processo constará de
declaração assinada pelo querelado, por seu represen- obtido com isso.
tante legal ou procurador com poderes especiais. No dia combinado, Pedro encontrou-se com José, e,
O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tá- pouco antes de entregar-lhe o dinheiro que carregava
cito: consigo, policiais que haviam instalado escuta ambiental
I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos na sala do fiscal mediante autorização judicial prévia de-
aproveita;  ram voz de prisão em flagrante a José, conduzindo-o, em
 II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica seguida, à presença da autoridade policial.
o direito dos outros; Em revista pessoal, foi constatado que José portava três
III - se o querelado o recusa, não produz efeito. cigarros de maconha. Questionado, o fiscal afirmou ter
Nos casos em que somente se procede mediante comprado os cigarros de um estrangeiro que trazia os
queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: entorpecentes de seu país para o Brasil e os revendia
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de pro- perto da residência de José. A autoridade policial deu
mover o andamento do processo durante 30 dias se- andamento aos procedimentos, redigiu o relatório final
guidos; do inquérito policial e o encaminhou à autoridade com-
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua petente.
DIREITO PROCESSUAL PENAL

incapacidade, não comparecer em juízo, para pros- Considerando essa situação hipotética, julgue o item
seguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) subsequente.
dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, res- O juiz poderá receber denúncia oferecida pelo Ministé-
salvado o disposto no art. 36; rio Público e dispensar a notificação prévia de José para
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem que este apresente resposta preliminar, embora ele seja
motivo justificado, a qualquer ato do processo a que servidor público, sem que esse ato configure nulidade
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de absoluta.
condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta ( ) CERTO ( ) ERRADO
se extinguir sem deixar sucessor.

20
Resposta: Certo. Em se tratando dos crimes afiançá- Sem prejuízo do disposto acima, a ação para ressarci-
veis de responsabilidade de funcionários públicos in- mento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra
vestigados por inquérito policial, oferecida a denúncia o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil.
que atende os requisitos do art. 41 do CPP, com infor- Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá
mações suficientes sobre os fatos que configuram, em suspender o curso desta, até o julgamento definitivo da-
tese, delito especificado, o juiz pode receber a denún- quela.
cia,  prescindindo  da notificação prévia do acusado. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reco-
Art. 317, §1º do CP, Art. 514, caput, do CPP e Súmula nhecer ter sido o ato praticado em estado de necessida-
330 do STJ. de, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever
legal ou no exercício regular de direito.
2) PGE-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – CESPE – 2019: A Não obstante a sentença absolutória no juízo crimi-
respeito de ação penal, espécies e cominação de penas, nal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver
julgue o item a seguir.Em se tratando de crimes sujeitos sido, categoricamente, reconhecida a inexistência mate-
rial do fato.
a ação penal pública condicionada, a representação do
ofendido é irretratável depois de oferecida a denúncia.
Não impedirão igualmente a propositura da ação ci-
vil:
( ) CERTO ( ) ERRADO
- o despacho de arquivamento do inquérito ou das
Resposta: Certo. De acordo com o art.25 da CPP a peças de informação.
representação será irretratável, depois de oferecida - a decisão que julgar extinta a punibilidade.
a denúncia. - a sentença absolutória que decidir que o fato impu-
tado não constitui crime.
3) EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018: Quanto ao
inquérito policial, à ação penal, às regras de fixação de Quando o titular do direito à reparação do dano for
competência e às disposições processuais penais relacio- pobre, a execução da sentença condenatória ou a ação
nadas aos meios de prova, julgue o item a seguir. civil será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério
No caso de crime de ação penal privada, a instauração de Público.
inquérito policial por força de requerimento formulado
pelo ofendido no prazo legal não interromperá o prazo
decadencial para o oferecimento da queixa-crime. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. A decadência tem natureza peremp- A competência penal pode ser estabelecida como:
tória, ou seja, é fatal e improrrogável e não está sujei-
to a interrupção ou suspensão. Ao contrário do prazo a) competência pelo lugar da infração; b) competên-
prescricional, não há causas interruptivas ou suspensi- cia pelo domicílio ou residência do réu; c) com-
vas na decadência. O pedido de instauração de inqué- petência pela natureza da infração; d) prevenção
rito policial ou mesmo a popular “queixa” apresentada e distribuição; e) conexão ou continência; f) pela
na polícia não tem o condão de interromper o curso prerrogativa de função.
do prazo decadencial. A cessação da decadência ocor- Vejamos:
re somente com a interposição (leia-se: protocolo) da
a) Competência pelo lugar da infração: A competên-
queixa-crime, dentro do prazo legal, em Juízo (mesmo
cia para julgamento é no local da consumação do
que incompetente – cf. Norberto AVENA, p. 177 e STJ,
crime.
RHC 25.611/RJ, Rel. Jorge Mussi, DJe 25.08.2011).
b) Competência pelo domicílio ou residência do réu:
Não sendo conhecido o lugar da infração penal, a
competência para julgar é no foro em que o acu-
AÇÃO CIVIL EX DELICTO sado é residente ou domiciliado.
Caso o acusado tenha dois domicílios em duas cida-
des diferentes, a competência será da comarca que pri-
DIREITO PROCESSUAL PENAL

meiro iniciar a ação penal (prevenção).


Transitada em julgado a sentença condenatória, po- Nas hipóteses em que não for conhecido o domicílio
derão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o ou cujo paradeiro do acusado é desconhecido, a com-
efeito da reparação do dano, o ofendido, seu represen- petência será do juiz que primeiro tomar conhecimento
tante legal ou seus herdeiros. formal dos fatos.
Transitada em julgado a sentença condenatória, a Exceção: Em casos de ação penal exclusiva, o quere-
execução poderá ser efetuada pelo valor fixado para re- lante poderá optar em dar início ao processo no foro do
paração dos danos causados pela infração, considerando domicílio do querelado, mesmo sendo conhecido o lugar
os prejuízos sofridos pelo ofendido, sem prejuízo da li- da infração penal. Esclarecemos que tal regra não se apli-
quidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. ca na ação penal subsidiária da pública.

21
c) Competência pela natureza da infração: Com base I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem
na competência pelo lugar da infração ou pelo do- sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
micílio do acusado, a comarca competente já es- reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora
tará fixada. Porém, deve-se averiguar a justiça que diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas
é competente para o julgamento da ação penal, contra as outras;
podendo ser a justiça comum (justiça Estadual ou II - se, no mesmo caso, houverem sido umas pratica-
Federal) ou a justiça especial (justiça militar ou elei- das para facilitar ou ocultar as outras, ou para conse-
toral). guir impunidade ou vantagem em relação a qualquer
d) Prevenção e distribuição: Vistos os critérios ante- delas;
riores, ou seja, observada a comarca competente III - quando a prova de uma infração ou de qualquer
e a justiça competente, podemos nos deparar com de suas circunstâncias elementares influir na prova de
diversos juízes competentes para julgar, como é o outra infração.
caso de um fórum de uma comarca que tem 5 va- Art. 77.  A competência será determinada pela conti-
ras criminais. nência quando:
Neste caso, verificar-se-á a prevenção primeiramente, I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma
ou seja, se algum juiz já praticou algum ato no processo infração;
ou de medida relativa a este, ainda que anterior a de- II - no caso de infração cometida nas condições pre-
núncia ou queixa-crime, este juiz será o competente. São vistas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do
exemplos de atos que podem trazer a prevenção: decre- Código Penal.
tação de prisão preventiva, concessão de fiança, decre- Art. 78. Na determinação da competência por conexão
tação de busca a apreensão, apreciação de explicações ou continência, serão observadas as seguintes regras:       
em juízo. I - no concurso entre a competência do júri e a de
Caso não haja nenhum juízo prevento, dever-se-á outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a com-
distribuir, sortear a ação penal para algum dos juízes. petência do júri;   
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria:     
Conforme explica Alexandre Cebrian Araujo Reis a) preponderará a do lugar da infração, à qual for co-
(2016, p. 219) as hipóteses em que a prevenção é critério
minada a pena mais grave;  
norteador da competência são:
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o
1) Quando há mais de uma vara para a qual o inquéri-
maior número de infrações, se as respectivas penas
to pode ser direcionado, porém, antes da distribui-
forem de igual gravidade; 
ção, algum juiz pratica ato relevante relacionado
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos ou-
ao delito investigado, fica ele prevento. Neste caso,
tros casos;     
a prevenção define o juízo, a vara onde a ação pe-
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias,
nal tramitará (art. 83 do CPP).
predominará a de maior graduação;  
2) Quando for cometido crime permanente no terri-
tório de duas ou mais comarcas (art. 71 do CPP). IV - no concurso entre a jurisdição comum e a espe-
3) Quando for cometido crime continuado no terri- cial, prevalecerá esta.
tório de duas ou mais comarcas (art. 71 do CPP). Art. 79.  A conexão e a continência importarão unida-
4) Infração praticada em local incerto entre duas ou de de processo e julgamento, salvo:
mais comarcas (art. 70, § 3º, do CPP). I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
5) Infração cometida em lugar que não se tem certeza         II - no concurso entre a jurisdição comum e a do
se pertence a uma ou outra comarca (art. 70, § 3º, juízo de menores.
do CPP).         § 1o  Cessará, em qualquer caso, a unidade do
6) Se for desconhecido o lugar da infração e o réu processo, se, em relação a algum co-réu, sobrevier o
tiver duas residências (art. 72, § 1º, do CPP). caso previsto no art. 152.
7) No caso de conexão quando não houver foro pre-         § 2o  A unidade do processo não importará a do
valente, por serem os delitos da mesma categoria julgamento, se houver co-réu foragido que não possa
de jurisdição e tiverem as mesmas penas (art. 78, ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.
II, c, do CPP). Art. 80.  Será facultativa a separação dos processos
quando as infrações tiverem sido praticadas em cir-
e) Conexão ou continência: A conexão e a continência cunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou,
não são exatamente critérios para fixação de competência, quando pelo excessivo número de acusados e para
DIREITO PROCESSUAL PENAL

mas sim para prorrogação. não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro
A conexão de processos ocorre quando há algum motivo relevante, o juiz reputar conveniente a sepa-
vinculo entre dois delitos processados em autos ração.
diferentes, devendo-se juntar os processos para Art.  81.    Verificada a reunião dos processos por co-
apreciação. A continência, por sua vez, ocorre quando nexão ou continência, ainda que no processo da sua
uma conduta esta contida em outra. competência própria venha o juiz ou tribunal a profe-
Vejamos as disposição que regulam a conexão e a rir sentença absolutória ou que desclassifique a infra-
continência: ção para outra que não se inclua na sua competência,
 Art. 76.  A competência será determinada pela cone- continuará competente em relação aos demais pro-
xão: cessos.

22
Parágrafo único.   Reconhecida inicialmente ao júri Resposta: Errado. A competência para julgar o crime
a competência por conexão ou continência, o juiz, se de latrocínio é do juiz singular, tendo em vista que
vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou ab- esse crime é contra o patrimônio.
solver o acusado, de maneira que exclua a competên-
cia do júri, remeterá o processo ao juízo competente. 2) PGE-PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – CESPE –
Art. 82.  Se, não obstante a conexão ou continência, 2019:  José, de sessenta e nove anos de idade, fiscal de
forem instaurados processos diferentes, a autoridade vigilância sanitária municipal, viúvo e único responsável
de jurisdição prevalente deverá avocar os processos pelos cuidados de seu filho, de onze anos de idade, foi
que corram perante os outros juízes, salvo se já esti- denunciado à polícia por comerciantes que alegavam
verem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade que o referido fiscal lhes solicitava dinheiro para que não
dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito fossem por ele autuados por infração à legislação sanitá-
de soma ou de unificação das penas. ria. Durante investigação conduzida por autoridade poli-
f) Pela prerrogativa de função: A competência pela cial em razão dessa denúncia, foi deferida judicialmente
prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, interceptação da comunicação telefônica de José.Nesse
do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regio- ato, evidenciou-se, em uma degravação, que José havia
nais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do solicitado certa quantia em dinheiro a um comerciante,
Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam Pedro, para não interditar seu estabelecimento comer-
responder perante eles por crimes comuns e de res- cial, e que José havia combinado encontrar-se com Pedro
ponsabilidade. para realizarem essa transação financeira. Na intercepta-
Importante salientar também que ao STF compete jul- ção, foram captadas, ainda, conversas em que José e ou-
gar seus ministros, em casos de crimes comuns; os mi- tros quatro fiscais não identificados discutiam a forma de
nistros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do solicitar dinheiro a comerciantes, em troca de não autuá-
Presidente da República; o procurador-geral da Repú- -los, e a repartição do dinheiro que seria obtido com isso.
blica, os desembargadores dos tribunais, os ministros No dia combinado, Pedro encontrou-se com José, e,
do Tribunal de Contas e os embaixadores e ministros
pouco antes de entregar-lhe o dinheiro que carregava
diplomáticos, nos crimes comuns e de responsabilida-
consigo, policiais que haviam instalado escuta ambiental
de.
na sala do fiscal mediante autorização judicial prévia de-
Por fim, cabe aos tribunais de justiça o julgamento dos
ram voz de prisão em flagrante a José, conduzindo-o, em
governadores ou interventores dos respectivos Estados
seguida, à presença da autoridade policial.
ou Territórios, e prefeito do Distrito Federal, seus res-
Em revista pessoal, foi constatado que José portava três
pectivos secretários e chefes de Polícia, juízes de ins-
cigarros de maconha. Questionado, o fiscal afirmou ter
tância inferior e órgãos do Ministério Público.
comprado os cigarros de um estrangeiro que trazia os
entorpecentes de seu país para o Brasil e os revendia
perto da residência de José. A autoridade policial deu
#FicaDica andamento aos procedimentos, redigiu o relatório final
do inquérito policial e o encaminhou à autoridade com-
A competência em relação à matéria e a
petente.
pessoa são absolutas, gerando nulidade
Considerando essa situação hipotética, julgue o item
absoluta do processo em caso de incom-
subsequente.
petência, ou seja, não convalesce e pode
ser reconhecida a qualquer tempo.
A justiça federal tem competência para processar e julgar
A competência territorial é relativa, consi-
derando-se prorrogada se não alegada até José pelo crime de tráfico ilícito de drogas, razão pela
o prazo da resposta escrita. qual devem ser remetidas ao juízo competente as peças
relacionadas a esse delito.

( ) CERTO ( ) ERRADO

EXERCÍCIO COMENTADO Resposta: Errado. De acordo com as informações


contidas na questão, José estaria enquadrado no art.
1) STJ – Técnico judiciário – CESPE – 2018: Acerca da 28, e não o art. 33 da Lei de Drogas, vez que trazer
DIREITO PROCESSUAL PENAL

competência, das questões e dos processos incidentes e consigo 3 (três) cigarros de maconha, por si só, não
das provas, julgue o item a se configura o tipo penal de tráfico de drogas. Ademais,
guir.  o fato de José ter comprado esses 3 (três) cigarros de
maconha de um traficante estrangeiro não o torna tra-
De acordo com o Supremo Tribunal Federal, a competên- ficante.
cia para processar e julgar os crimes de latrocínio é do Sendo assim, em relação ao art. 28 praticado por José,
tribunal do júri, e não do juiz singular. deverá ser lavrado o TC e encaminhado para o JECRIM.

( ) CERTO ( ) ERRADO

23
3) MPU – ANALISTA – CESPE – 2018: Em relação a in- seguir o processo, retomando sua competência para
quérito policial, ação penal e competência, julgue o pró- resolver, de fato e de direito, toda a matéria da acusa-
ximo item, de acordo com o entendimento da doutrina ção ou da defesa.
majoritária e dos tribunais superiores. § 2o  Do despacho que denegar a suspensão não ca-
Havendo a prática de contravenção penal contra bens e berá recurso.
serviços da União em conexão probatória com crime de § 3o  Suspenso o processo, e tratando-se de crime de
competência da justiça federal, opera-se a separação dos ação pública, incumbirá ao Ministério Público intervir
processos, cabendo à justiça estadual processar e julgar imediatamente na causa cível, para o fim de promo-
a contravenção penal. ver-lhe o rápido andamento.
.  Art. 94.  A suspensão do curso da ação penal, nos ca-
( ) CERTO ( ) ERRADO sos dos artigos anteriores, será decretada pelo juiz, de
ofício ou a requerimento das partes.
Resposta: Certo. CF, Art. 109. Aos juízes federais com-
pete processar e julgar: IV – os crimes políticos e as CAPÍTULO II
infrações penais praticadas em detrimento de bens, DAS EXCEÇÕES
serviços ou interesses da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as con-  Art. 95.  Poderão ser opostas as exceções de:
travenções e ressalvada a competência da Justiça Mi- I - suspeição;
litar e da Justiça Eleitoral. Súmula 38 - STJ: Compete II - incompetência de juízo;
a Justiça Estadual Comum, na vigência da CF88, o pro- III - litispendência;
cesso por contravenção penal, ainda que praticada em IV - ilegitimidade de parte;
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou V - coisa julgada.
de suas entidades. Art. 96.  A argüição de suspeição precederá a qualquer
outra, salvo quando fundada em motivo supervenien-
te.
Art. 97.  O juiz que espontaneamente afirmar suspei-
QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES
ção deverá fazê-lo por escrito, declarando o motivo
legal, e remeterá imediatamente o processo ao seu
substituto, intimadas as partes.
DAS QUESTÕES E PROCESSOS INCIDENTES Art. 98.  Quando qualquer das partes pretender re-
cusar o juiz, deverá fazê-lo em petição assinada por
Disposto com vários capítulos, vejamos o que diz ela própria ou por procurador com poderes especiais,
cada um deles: aduzindo as suas razões acompanhadas de prova do-
cumental ou do rol de testemunhas.
CAPÍTULO I Art. 99.  Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a
DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS marcha do processo, mandará juntar aos autos a peti-
ção do recusante com os documentos que a instruam,
Art. 92.  Se a decisão sobre a existência da infração e por despacho se declarará suspeito, ordenando a re-
depender da solução de controvérsia, que o juiz repute messa dos autos ao substituto.
séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o cur- Art. 100.  Não aceitando a suspeição, o juiz manda-
so da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível rá autuar em apartado a petição, dará sua resposta
seja a controvérsia dirimida por sentença passada em dentro em três dias, podendo instruí-la e oferecer tes-
julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das temunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos
testemunhas e de outras provas de natureza urgente. da exceção remetidos, dentro em 24 vinte e quatro ho-
Parágrafo único.  Se for o crime de ação pública, o Mi- ras, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento.
nistério Público, quando necessário, promoverá a ação § 1o  Reconhecida, preliminarmente, a relevância da
civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a argüição, o juiz ou tribunal, com citação das partes,
citação dos interessados. marcará dia e hora para a inquirição das testemu-
Art. 93.  Se o reconhecimento da existência da infração nhas, seguindo-se o julgamento, independentemente
penal depender de decisão sobre questão diversa da de mais alegações.
prevista no artigo anterior, da competência do juízo § 2o  Se a suspeição for de manifesta improcedência, o
DIREITO PROCESSUAL PENAL

cível, e se neste houver sido proposta ação para resol- juiz ou relator a rejeitará liminarmente.
vê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão Art. 101.  Julgada procedente a suspeição, ficarão nu-
seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja los os atos do processo principal, pagando o juiz as
prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, custas, no caso de erro inescusável; rejeitada, eviden-
após a inquirição das testemunhas e realização das ciando-se a malícia do excipiente, a este será imposta
outras provas de natureza urgente. a multa de duzentos mil-réis a dois contos de réis.
§ 1o  O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá Art. 102.  Quando a parte contrária reconhecer a pro-
ser razoavelmente prorrogado, se a demora não for cedência da argüição, poderá ser sustado, a seu re-
imputável à parte. Expirado o prazo, sem que o juiz querimento, o processo principal, até que se julgue o
cível tenha proferido decisão, o juiz criminal fará pros- incidente da suspeição.

24
Art. 103.  No Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais Art. 111.  As exceções serão processadas em autos
de Apelação, o juiz que se julgar suspeito deverá de- apartados e não suspenderão, em regra, o andamento
clará-lo nos autos e, se for revisor, passar o feito ao seu da ação penal.
substituto na ordem da precedência, ou, se for relator,
apresentar os autos em mesa para nova distribuição. CAPÍTULO III
§ 1o  Se não for relator nem revisor, o juiz que houver DAS INCOMPATIBILIDADES E IMPEDIMENTOS
de dar-se por suspeito, deverá fazê-lo verbalmente, na
sessão de julgamento, registrando-se na ata a decla- Art. 112.  O juiz, o órgão do Ministério Público, os ser-
ração. ventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou
§ 2o  Se o presidente do tribunal se der por suspeito, intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando
competirá ao seu substituto designar dia para o julga- houver incompatibilidade ou impedimento legal, que
mento e presidi-lo. declararão nos autos. Se não se der a abstenção, a in-
§ 3o  Observar-se-á, quanto à argüição de suspeição compatibilidade ou impedimento poderá ser argüido
pela parte, o disposto nos arts. 98 a 101, no que Ihe pelas partes, seguindo-se o processo estabelecido para
for aplicável, atendido, se o juiz a reconhecer, o que a exceção de suspeição.
estabelece este artigo.
§ 4o  A suspeição, não sendo reconhecida, será julga- CAPÍTULO IV
da pelo tribunal pleno, funcionando como relator o DO CONFLITO DE JURISDIÇÃO
presidente.
§ 5o  Se o recusado for o presidente do tribunal, o rela- Art. 113.  As questões atinentes à competência resol-
tor será o vice-presidente. ver-se-ão não só pela exceção própria, como também
Art. 104.  Se for argüida a suspeição do órgão do Mi- pelo conflito positivo ou negativo de jurisdição.
nistério Público, o juiz, depois de ouvi-lo, decidirá, sem Art. 114.  Haverá conflito de jurisdição:
recurso, podendo antes admitir a produção de provas I - quando duas ou mais autoridades judiciárias se
no prazo de três dias. considerarem competentes, ou incompetentes, para
Art. 105.  As partes poderão também argüir de suspei- conhecer do mesmo fato criminoso;
II - quando entre elas surgir controvérsia sobre unida-
tos os peritos, os intérpretes e os serventuários ou fun-
de de juízo, junção ou separação de processos.
cionários de justiça, decidindo o juiz de plano e sem
Art. 115.  O conflito poderá ser suscitado:
recurso, à vista da matéria alegada e prova imediata.
I - pela parte interessada;
Art. 106.  A suspeição dos jurados deverá ser argüida
II - pelos órgãos do Ministério Público junto a qualquer
oralmente, decidindo de plano do presidente do Tribu-
dos juízos em dissídio;
nal do Júri, que a rejeitará se, negada pelo recusado,
III - por qualquer dos juízes ou tribunais em causa.
não for imediatamente comprovada, o que tudo cons-
Art. 116.  Os juízes e tribunais, sob a forma de repre-
tará da ata.
sentação, e a parte interessada, sob a de requerimen-
Art. 107.  Não se poderá opor suspeição às autorida- to, darão parte escrita e circunstanciada do conflito,
des policiais nos atos do inquérito, mas deverão elas perante o tribunal competente, expondo os funda-
declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal. mentos e juntando os documentos comprobatórios.
Art. 108.  A exceção de incompetência do juízo poderá § 1o  Quando negativo o conflito, os juízes e tribunais
ser oposta, verbalmente ou por escrito, no prazo de poderão suscitá-lo nos próprios autos do processo.
defesa. § 2o    Distribuído o feito, se o conflito for positivo, o
§ 1o  Se, ouvido o Ministério Público, for aceita a de- relator poderá determinar imediatamente que se sus-
clinatória, o feito será remetido ao juízo competente, penda o andamento do processo.
onde, ratificados os atos anteriores, o processo pros- § 3o  Expedida ou não a ordem de suspensão, o relator
seguirá. requisitará informações às autoridades em conflito,
§ 2o  Recusada a incompetência, o juiz continuará no remetendo-lhes cópia do requerimento ou represen-
feito, fazendo tomar por termo a declinatória, se for- tação.
mulada verbalmente. § 4o  As informações serão prestadas no prazo marca-
Art. 109.  Se em qualquer fase do processo o juiz reco- do pelo relator.
nhecer motivo que o torne incompetente, declará-lo-á § 5o  Recebidas as informações, e depois de ouvido o
nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguin- procurador-geral, o conflito será decidido na primeira
do-se na forma do artigo anterior. sessão, salvo se a instrução do feito depender de dili-
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 110.  Nas exceções de litispendência, ilegitimidade gência.


de parte e coisa julgada, será observado, no que Ihes § 6o  Proferida a decisão, as cópias necessárias serão
for aplicável, o disposto sobre a exceção de incompe- remetidas, para a sua execução, às autoridades contra
tência do juízo. as quais tiver sido levantado o conflito ou que o hou-
 § 1o  Se a parte houver de opor mais de uma dessas verem suscitado.
exceções, deverá fazê-lo numa só petição ou articu- Art. 117.  O Supremo Tribunal Federal, mediante avo-
lado. catória, restabelecerá a sua jurisdição, sempre que
§ 2o  A exceção de coisa julgada somente poderá ser exercida por qualquer dos juízes ou tribunais inferio-
oposta em relação ao fato principal, que tiver sido ob- res.
jeto da sentença.

25
CAPÍTULO V CAPÍTULO VI
DA RESTITUIÇÃO DAS COISAS APREENDIDAS DAS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS

Art. 118.  Antes de transitar em julgado a sentença fi- Art. 125.  Caberá o seqüestro dos bens imóveis, ad-
nal, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas quiridos pelo indiciado com os proventos da infração,
enquanto interessarem ao processo. ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
Art. 119.  As coisas a que se referem os arts. 74 e 100 Art. 126.  Para a decretação do seqüestro, bastará a
do Código Penal não poderão ser restituídas, mesmo existência de indícios veementes da proveniência ilí-
depois de transitar em julgado a sentença final, salvo cita dos bens.
se pertencerem ao lesado ou a terceiro de boa-fé. Art. 127.  O juiz, de ofício, a requerimento do Ministé-
Art. 120.  A restituição, quando cabível, poderá ser rio Público ou do ofendido, ou mediante representa-
ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante ção da autoridade policial, poderá ordenar o seqües-
termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto tro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de
ao direito do reclamante. oferecida a denúncia ou queixa.
§ 1o  Se duvidoso esse direito, o pedido de restituição Art. 128.  Realizado o seqüestro, o juiz ordenará a sua
autuar-se-á em apartado, assinando-se ao requerente inscrição no Registro de Imóveis.
o prazo de 5 (cinco) dias para a prova. Em tal caso, só Art. 129.  O seqüestro autuar-se-á em apartado e ad-
o juiz criminal poderá decidir o incidente. mitirá embargos de terceiro.
§ 2o  O incidente autuar-se-á também em apartado e Art. 130.  O seqüestro poderá ainda ser embargado:
só a autoridade judicial o resolverá, se as coisas forem I - pelo acusado, sob o fundamento de não terem os
apreendidas em poder de terceiro de boa-fé, que será bens sido adquiridos com os proventos da infração;
intimado para alegar e provar o seu direito, em prazo II - pelo terceiro, a quem houverem os bens sido trans-
igual e sucessivo ao do reclamante, tendo um e outro feridos a título oneroso, sob o fundamento de tê-los
dois dias para arrazoar. adquirido de boa-fé.
§ 3o  Sobre o pedido de restituição será sempre ouvido Parágrafo único.  Não poderá ser pronunciada decisão
o Ministério Público. nesses embargos antes de passar em julgado a sen-
§ 4o  Em caso de dúvida sobre quem seja o verdadeiro tença condenatória.
dono, o juiz remeterá as partes para o juízo cível, or- Art. 131.  O seqüestro será levantado:
denando o depósito das coisas em mãos de depositá- I - se a ação penal não for intentada no prazo de ses-
rio ou do próprio terceiro que as detinha, se for pessoa senta dias, contado da data em que ficar concluída a
idônea. diligência;
§ 5o  Tratando-se de coisas facilmente deterioráveis, II - se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os
serão avaliadas e levadas a leilão público, depositan- bens, prestar caução que assegure a aplicação do dis-
do-se o dinheiro apurado, ou entregues ao terceiro posto no art. 74, II, b, segunda parte, do Código Penal;
que as detinha, se este for pessoa idônea e assinar ter- III - se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido
mo de responsabilidade. o réu, por sentença transitada em julgado.
Art. 121.  No caso de apreensão de coisa adquirida Art. 132.  Proceder-se-á ao seqüestro dos bens móveis
com os proventos da infração, aplica-se o disposto se, verificadas as condições previstas no art. 126, não
no art. 133 e seu parágrafo. for cabível a medida regulada no Capítulo Xl do Título
Art. 122.  Sem prejuízo do disposto nos arts. 120 e 133, Vll deste Livro.
decorrido o prazo de 90 dias, após transitar em julga- Art. 133.  Transitada em julgado a sentença condena-
do a sentença condenatória, o juiz decretará, se for tória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessa-
caso, a perda, em favor da União, das coisas apreendi- do, determinará a avaliação e a venda dos bens em
das (art. 74, II, a e b do Código Penal) e ordenará que leilão público.
sejam vendidas em leilão público. Parágrafo único.  Do dinheiro apurado, será recolhido
Parágrafo único.  Do dinheiro apurado será recolhido ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a
ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé.
terceiro de boa-fé. Art. 134.  A hipoteca legal sobre os imóveis do indi-
Art. 123.  Fora dos casos previstos nos artigos anterio- ciado poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer
res, se dentro no prazo de 90 dias, a contar da data em fase do processo, desde que haja certeza da infração e
que transitar em julgado a sentença final, condenató- indícios suficientes da autoria.
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ria ou absolutória, os objetos apreendidos não forem Art. 135.  Pedida a especialização mediante requeri-
reclamados ou não pertencerem ao réu, serão vendi- mento, em que a parte estimará o valor da respon-
dos em leilão, depositando-se o saldo à disposição do sabilidade civil, e designará e estimará o imóvel ou
juízo de ausentes. imóveis que terão de ficar especialmente hipotecados,
Art. 124.  Os instrumentos do crime, cuja perda em o juiz mandará logo proceder ao arbitramento do va-
favor da União for decretada, e as coisas confiscadas, lor da responsabilidade e à avaliação do imóvel ou
de acordo com o disposto no art. 100 do Código Penal, imóveis.
serão inutilizados ou recolhidos a museu criminal, se § 1o  A petição será instruída com as provas ou indi-
houver interesse na sua conservação. cação das provas em que se fundar a estimação da
responsabilidade, com a relação dos imóveis que o

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responsável possuir, se outros tiver, além dos indicados Art. 144.  Os interessados ou, nos casos do art. 142,
no requerimento, e com os documentos comprobató- o Ministério Público poderão requerer no juízo cí-
rios do domínio. vel, contra o responsável civil, as medidas previstas
§ 2o  O arbitramento do valor da responsabilidade e a nos arts. 134, 136 e 137.
avaliação dos imóveis designados far-se-ão por perito Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipa-
nomeado pelo juiz, onde não houver avaliador judi- da para preservação do valor dos bens sempre que
cial, sendo-lhe facultada a consulta dos autos do pro- estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou
cesso respectivo. depreciação, ou quando houver dificuldade para sua
§ 3o  O juiz, ouvidas as partes no prazo de dois dias, manutenção.  (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
que correrá em cartório, poderá corrigir o arbitramen- § 1o O leilão far-se-á preferencialmente por meio ele-
to do valor da responsabilidade, se Ihe parecer exces- trônico.   (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
sivo ou deficiente. § 2o Os bens deverão ser vendidos pelo valor fixado na
§ 4o  O juiz autorizará somente a inscrição da hipoteca avaliação judicial ou por valor maior. Não alcançado o
do imóvel ou imóveis necessários à garantia da res- valor estipulado pela administração judicial, será rea-
ponsabilidade. lizado novo leilão, em até 10 (dez) dias contados da
§ 5o  O valor da responsabilidade será liquidado defi- realização do primeiro, podendo os bens ser alienados
nitivamente após a condenação, podendo ser requeri- por valor não inferior a 80% (oitenta por cento) do
do novo arbitramento se qualquer das partes não se estipulado na avaliação judicial.        (Incluído pela Lei
conformar com o arbitramento anterior à sentença nº 12.694, de 2012)
condenatória. § 3o O produto da alienação ficará depositado em
§ 6o  Se o réu oferecer caução suficiente, em dinheiro conta vinculada ao juízo até a decisão final do pro-
ou em títulos de dívida pública, pelo valor de sua co- cesso, procedendo-se à sua conversão em renda para
tação em Bolsa, o juiz poderá deixar de mandar pro- a União, Estado ou Distrito Federal, no caso de con-
ceder à inscrição da hipoteca legal. denação, ou, no caso de absolvição, à sua devolução
Art. 136. O arresto do imóvel poderá ser decretado de ao acusado.    (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
início, revogando-se, porém, se no prazo de 15 (quin-
§ 4o Quando a indisponibilidade recair sobre dinheiro,
ze) dias não for promovido o processo de inscrição da
inclusive moeda estrangeira, títulos, valores mobiliá-
hipoteca legal.  (Redação dada pela Lei nº 11.435, de
rios ou cheques emitidos como ordem de pagamento,
2006)
o juízo determinará a conversão do numerário apreen-
Art. 137. Se o responsável não possuir bens imóveis ou
dido em moeda nacional corrente e o depósito das
os possuir de valor insuficiente, poderão ser arrestados
correspondentes quantias em conta judicial.      (In-
bens móveis suscetíveis de penhora, nos termos em que
cluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
é facultada a hipoteca legal dos imóveis.           (Reda-
§ 5o No caso da alienação de veículos, embarcações
ção dada pela Lei nº 11.435, de 2006).
§ 1o  Se esses bens forem coisas fungíveis e facilmen- ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito
te deterioráveis, proceder-se-á na forma do § 5o do ou ao equivalente órgão de registro e controle a ex-
art. 120. pedição de certificado de registro e licenciamento em
§ 2o  Das rendas dos bens móveis poderão ser forneci- favor do arrematante, ficando este livre do pagamento
dos recursos arbitrados pelo juiz, para a manutenção de multas, encargos e tributos anteriores, sem prejuí-
do indiciado e de sua família. zo de execução fiscal em relação ao antigo proprietá-
Art. 138. O processo de especialização da hipoteca rio.     (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
e do arresto correrão em auto apartado.   (Redação § 6o O valor dos títulos da dívida pública, das ações
dada pela Lei nº 11.435, de 2006). das sociedades e dos títulos de crédito negociáveis em
Art. 139. O depósito e a administração dos bens ar- bolsa será o da cotação oficial do dia, provada por cer-
restados ficarão sujeitos ao regime do processo ci- tidão ou publicação no órgão oficial.          (Incluído
vil.    (Redação dada pela Lei nº 11.435, de 2006). pela Lei nº 12.694, de 2012)
Art. 140.  As garantias do ressarcimento do dano al- § 7o (VETADO).    (Incluído pela Lei nº 12.694, de
cançarão também as despesas processuais e as penas 2012)
pecuniárias, tendo preferência sobre estas a reparação
do dano ao ofendido. CAPÍTULO VII
Art. 141. O arresto será levantado ou cancelada a hi- DO INCIDENTE DE FALSIDADE
poteca, se, por sentença irrecorrível, o réu for absolvi-
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do ou julgada extinta a punibilidade.   (Redação dada Art. 145.  Argüida, por escrito, a falsidade de docu-
pela Lei nº 11.435, de 2006). mento constante dos autos, o juiz observará o seguin-
Art. 142.  Caberá ao Ministério Público promover as te processo:
medidas estabelecidas nos arts. 134 e 137, se houver I - mandará autuar em apartado a impugnação, e em
interesse da Fazenda Pública, ou se o ofendido for po- seguida ouvirá a parte contrária, que, no prazo de 48
bre e o requerer. horas, oferecerá resposta;
Art. 143. Passando em julgado a sentença condena- II - assinará o prazo de três dias, sucessivamente, a
tória, serão os autos de hipoteca ou arresto remetidos cada uma das partes, para prova de suas alegações;
ao juiz do cível (art. 63).    (Redação dada pela Lei nº III - conclusos os autos, poderá ordenar as diligências
11.435, de 2006). que entender necessárias;

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IV - se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível,
mandará desentranhar o documento e remetê-lo, com PROVA
os autos do processo incidente, ao Ministério Público.
Art. 146.  A argüição de falsidade, feita por procurador,
exige poderes especiais.
Art. 147.  O juiz poderá, de ofício, proceder à verifica- PROVA
ção da falsidade.
Art. 148.  Qualquer que seja a decisão, não fará coisa Conceito
julgada em prejuízo de ulterior processo penal ou civil.
Prova é o meio pelo qual o juiz formará sua con-
CAPÍTULO VIII vicção. Todas as provas judiciais devem ser produzidas
DA INSANIDADE MENTAL DO ACUSADO mediante princípio do contraditório, não podendo o juiz
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
Art. 149.  Quando houver dúvida sobre a integrida- informativos colhidos na investigação, com exceção das
de mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
a requerimento do Ministério Público, do defensor, do A prova da alegação incumbe a quem a faz, ou seja,
curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônju- se o MP alegar deve demonstrar as provas. Do mesmo
ge do acusado, seja este submetido a exame médico- modo, se o acusado alegar, também deve demonstrar as
-legal. provas.
§ 1o  O exame poderá ser ordenado ainda na fase do Entretanto, o juiz poderá de ofício ordenar, mesmo
inquérito, mediante representação da autoridade po- antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de
licial ao juiz competente. provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
§ 2o  O juiz nomeará curador ao acusado, quando de- necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
terminar o exame, ficando suspenso o processo, se já e determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir
iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida
sobre ponto relevante.  
possam ser prejudicadas pelo adiamento.
Importante destacar que são inadmissíveis as provas
Art. 150.  Para o efeito do exame, o acusado, se estiver
consideradas ilícitas e as que dela forem derivadas, de-
preso, será internado em manicômio judiciário, onde

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