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Kathia Maria Costa Neiva

e colaboradores

r NTERVENçAO PSTCOSSOCTAL
Aspectos teóricos, metodológicos e
experiências práticas

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1Â ediÉo
2010

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Ruo orború 48 - ctP o4or3-ooo - sc
Td. nll3l4ó-O333 - [o( Ílll314@340

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SB Brasil)

Neivâ, Kathia Maria Costa


Intervenção psicossocial : aspectos teóricos,
metodológicos e experiências práticas / Kathia
Maria Costa Neiva. São Paulo: Vetor, 2010.
-
Vários colaboradores.

l. Intervenção (Psicologia) 2. Psicologia


social I. Título.

t0-06240 cDD - 302.3

Índices para catálogo sistemático:


1. Intervenção psicossocial: Aspectos teóricos, metodológicos
e experiências práticas: Psicologia social 302.3 A todos aqueies que contribuírum parc que
este livro existrsse; minha família, meus colegas
colaboradores nesta obrq meus alunos e
ISBN: 978-85-7585-342-9 todas as pessoas que participaram das várias
i ntervenções aqu i rel atadas.

Projeto gráfi co: Patricia Figueiredo


Capa: Ênio Rodrigues
Revisão: Mônica de Deus Martins

@ 2010 - Veior Ediloro Psico-Pedogógico Lldo.


Éproibido o reproduçôo lotol ou porciol dêslo publicoçôq por quolquer meio exiíenle
e poro quolquer finolidode, sem outorizoçõo por escriio dos editores.
SurqÁnro

Apreeentaçáo.. 09

PARTE I: Aspectos teóricos e metodológicos da


Int,enrençáo Psicossocial.......... 11

1. O quo é Intervenção PsicoesociaP


Kathia Maria Costa Neiva...,...,......
2. Caracterizaçáo instituciongr e diagnóstico das
neceseidadee psicoesociais
Kalhia Maria Costa Neiva......... 25

3. Elaboraçáo do projeto de Inüervençáo Psicossocial


Kathia Maria Costa Neiva .... 35

4. Desenvolvimento da Intervençáo Psicossocial


I(athia Maria Cogta Neiva 47
PAR|IE II: Erperiências de Intervençáo Psicossocial.... 59

6. Orientaçáo de jovens para a irserção no mundo de


trabalho
Kathia Maria Costa Neiva; Fernando Augusto Caires;
ThaÍs Mendes de Sou2a...................

6. Livro da Vida: o trabalho con nanrativas de


crianças e jovens em abrigos
Audrey Rossi Weyler; Àna Maria Brito do Vale;
Eenata Martins..
7. Orientações sobre sexualidade paxa adolescentes
Ana Lucia Ivatiuk; Ana Lucia Rinaldi Gullo;
Juliana Fowler... ...........115
8. Fortalecimento do ünculo entre paie e filhos
Yone Xaúer Felipe da Fonseca; Elaine Cristina Dias ArneserurnçÃo
Feitoza; Márcia Ferreira de Lima ......,.....14g
9. Capacitaçáo de educadorc de urne ONG
Vanda AVergueim Santarcangelo; Cristiane Cipriani
Neves; Daniela Correa da Fonseca ...........125
Sobre os autores.....-.. "Feliz é aqueb que transfere o quz sabe
e que aprend.e o que ensina."
Cora Coralina

A ideia deste liwo Burgiu durante o período em que exerci


â funçáo de professora supervisora do estrágio Intervençáo
Psicossocial em uma universidade particular. Para implantar
esse esüágio pesqúsei o que existia sobre o teDa na realidade
brasileira e deparei-me com uma carência de pubücações na
rírea, especificamente de material didático. Isso me impulsio-
nou a desenvolver algumas ideias sobre o tema e, desde entáo,
comecei a úBlumbrar a possibilidade de publicar um liwo que
facilitasse a formaçáo de profissionais nessa área.
Além disso, o aumento dos problemas sociais na realida-
de brasileira tem exigido do psicólogo um olhar muito mais
atento para as necessidades psicossociais da populaçáo e
para a construçáo de práticas que melhorem a qualidade de
vida e saúde psíquica dos indiúduos. Sair dos consultórios
e aproximar-se das instituiçóes e comunidades tem sido o
grande desafro do psicólogo na atualidade. Como intervir,
como ah:.ar in loco? Como sair do enquadre tradicional, como
propor novos enquadres de trabalho? Como lidar com o novo,
com as novas realidades?
Com o presente livro pretendo introduzir o psicólogo na
área de Intervençáo Psicossocial, fornecendo o embasamento
Kâthia i\,laÍia Cosla Neiva e côtaboradores

teórico e metodológico brásico e relatando algumas experiências


de intervençáo psicossocial. O liwo foi constmído de forma bas-
tante didática, com uma Iinguagem simples e accessível ao aluno
de psicologia e aos proflissionais que se iniciam nesta área.
O livro é composto de duas partes. A primeira parte foi por
mim redigida e é composta de quatro capítulos nos quais apre-
sento os fundamentos teóricos e metodológicos da Intervençáo
Psicossocial. No primeiro capítulo explico o que é Intervençâo
Psicossocial, apresentando os aspectos históricos e as caracte-
rísticas desta área. No segundo capítulo começo a delinear
os aspectos metodológicos explicando, especificamente, como
realizar uma caracterizaçáo institucional e o mapeamento de
necessidades psicossociais. No terceiro capítulo ensino como
elaborar um projeto de Intervençáo Psicossocial passo â passo. PAT{TE I
No quarto capítulo, discuto questões específicas relacionadas
à intervençáo propriamente dita, entre eles: o enquadre, o
papel do interventor, os aspectos éticos da intervençáo.
A segunda parte é composta por cinco capítulos redigidos Aspecros rEóRrcos E METoDoLócrcos
com a colaboraçáo de viirios colegas psicólogos, professores
superwisores na área de Intervençáo Psicossocial e ex-alunos- DA INTERVENÇÁo Psrcossocnr-
estagiários. Cada um destes capítulos relata uma experiência
de intervençáo, realizada em uma determinada realidade e
com um determinado objetivo" Sáo experiências diferentes que
permitiráo ao leitor conhecer intervençôes bem interessantes,
cujos resultados foram significativos para os grupos-aivo. A
diversidade dessas experiências mostra a riqueza desta área
e a amplitude da atuaçáo em Intervençáo Psicossocial.
Convido a todos os interessados a pârtilharem minhas
ideias e de meus coiegas e a refletirem sobre os alcances da psi-
cologia e sobre a necessidade de, nós psicólogos, estendermos
nosso olhar e nossa atuaçáo a outras rea.lidades e necessidades,
visando contribuir sempre para o bem-estar psicossocial de
indivíduos, $upos, instituições e comunidades.

Kathia Maria Costa Neiua


O oue É lNrenveNçno Psrcossoclql?

Kathía Maria Costa Neiua

Embora as necessidades psicossociais tenham sempre


existido nos indiúduos, grupos e sociedades, é relativamente
recente a constituiçáo de uma área especííica da psicologia
que dê suporte teórico e metodológico para a realizagáo de
intervenções psicossociais.
Isso náo signiÍica que a psicologia náo tenha se preocupado
com tais necessidades, nem buscado formas de solucionáJas.
Ao contráirio, o bem-estar psicossocial dos indiúduos, grupog
e comunidades sempre foi foco de preocupaçáo dos psicólogos
e até mesmo de outros proÍissionais.
Mas, o que é Intervençáo Psicossocial?
As primeiras referências ao termo trazem as ideias de mu-
dança, transformaçáo, pesqúsa e açáo. Pagês (1976, p. 432)
ao tentar definir a interven@o psicossociológica afirma que
"tanto é uma metodologia prática de mudança como umã
metodologia de pesquisa", considerando assim como caracte-
rística principal a possibiüdade de unificar a pesquisa à
prática psicológica. 'â atividade de pesqúsa confundir-se-á,
pois, com o esforço mais energético e mais determinado de
transformaçáo do grupo." (PAGÊS, 1976, p. 433).
A intervençáo psicossocial como área de estudo surgiu na
segunda metade do século XDÇ na interface da Psieologia
Kaihia Mâíia Costâ Neiva O que é lnteruênção Psicossociâl?

Clínica com a Psicologia Social. De um lado, o método psicana- Gerais, Sáo Paulo e no Rio de Janeiro. Uma anáIise histórica
lítico conseguiu quebrar a compartimentaçáo existente entre do desenvolvimento desta área no Brasil é minuciosamente
a pesquisa fundamental e a pesquisa aplicada e contribuir, apresentada por Machado (2004) e resumida por Barros
assim, para uma pesquisa e prática transformadoras. De ou- (1994).
tro lado, o conceito de pesquisa ativa, introduzido por Lewin, Atualmente, existem alguns grupos foúes de pesqúsa e atua-
reforçou a necessidade da complementaridade entre pesquisa çáo nesta área, concentrados nas Universidades Federais de
e açáo e a importância de se pesquisar sobre as situações da Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do SuI
vida corrente, saindo dos laboratórios (PAGÀS, 1976). Lewin e Sáo Joáo Del Rei, que têm contribúdo para a sistematizaçáo
introduziu ainda o termo "dinâmica de grupo", em L944, das ideias teóricas e desenvolvimento de práticas psicossociais'
e seus experimentos e de seus seguidores que realizaram Náo se pode descartar a influência dos movimentos políti-
intervençóes em grupos foram fundamentais para o desenvol- cos e sociais ocoÚidos na rea.lidade brasileira, principalmente
úmento da psicossociologia. As ideias de Moreno, fundador a partir da década de 1970, que provocaram o aumento im-
do psicodrama e da sociometria, foram também de grande portante de pesquisas e discussóes científicas sobre o tema,
contribuiçáo para o desenvolvimento da área. A sociometria, a criaçáo de ONGs, e a formaçáo de inúmeras associaçôes
além de permitir o estudo das inter-relaçóes no grupo, é uma üsando o desenvolümento comunitário e social (PEREIRA,
técnica que faciüta as mudanças sociais, unindo a pesquisa e a 2001). Vale mencionar também a contribuiçáo dos trabalhos
intervençáo (IÁPASSADE, 1977). Além desses, outros autores de conscientizaçáo e de pesquisa participante de Paulo Freire
contribúram para compreender os processos grupais e propor e os projetos desenvolvidos pelas Comunidâdes Eclesiais de
formas de atuaçáo e desenvolümento dos gmpos, como Bion Base (BARROS, 1994; MACIIADO, 2004).
(1975) e Pichon-Riviêre (1988), sendo que a metodologia dos Para Machado e Roedel (1994, p. 7) a psicossociologia é
grupos operativos proposta por este último tem sido frequen- uma vertente da Psicologia Social cujo campo "é o dos gru-
temente incorporada às intervençóes psicossociais. pos, das organizações e das comunidades, considerados como
E importante tarnbém salientar as contribuições de Rogers, conjuntos concretos que mediam a üda pessoal dos indiúduos
que introduziu o conceito de náo diretiúdade, ressaltando a e sáo por ele criados, geridos e transformados". A interven-
capacidade do indiúduo de perceber seus problemas e de ser çáo psicossociológica surgiu a partir dos anos 1950, quando
parte integrante na busca das soluções (LAPASSADE, 1977). os psicossocióIogos passaram a priorizar os problemas e se
preocupar com as instâncias de mudança, respondendo às
VaIe ainda mencionar a influência de autores que se dedi-
caram à psicologia institucional, facilitando a compreensáo e demandas e incorporando o papel de pesquisador-interven-
anáIise das instituiçóes e organizações como Lapass ade (1977),
tor. Dubost (1994) expõe em detalhes a origem e evoluçáo da
Bleger (1984) e Baremblitt (2002). Concorda-se, portanto, intervençáo psicossociológica.
Machado t2004, p. I5) deftne:
com Nasciutti (1.996, p. 105), ao aÍirmar que "os fundamentos
teóricos da psicossociologia sáo multirreferenciais".
A pesquisa-intervenqáo psicossocial como um trabalho de
No Brasil, a area da Psicossociologia sofreu grande influên- produçáo de conhecimenlos sobre grupos, organizaçóes,
cia de autores franceses como M. Pagês, J. Dubost, A. Lêly, E. instituiçóes, comunidades e movimentos sociais, fundado
Enriquez, G. Lapassade e outros, principalmente em Minas nas reflexóes teóricas e descobertas da psicologia social e

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Kathia t\,laía Costa Neiva O que é lntervenção Psicossocial?

da psicossociologia, e, simultaneamente, um conjunto de A prática náo é uma derivaçáo subalterna da ciência, mas
práticas clínicas de consulta voltadas ao tratarnento desses sim seu núcleo ou centlo vital; e a investigaçáo científica
diferentes conjuntos sociais e meios abertos. náo tcm lugar acima ou fora da prática, uras sim dentro
do curso da mesma.
De acordo com Sarriera e colaboradores (2000, p. 32), o
objetivo principal da intervençáo psicossocial é "possibiiitar
1.2. Preocupaçáo em gerar mudança e
melhores condições humanas e de qualidade de vida". A
intervençáo psicossocial visa assim ao processo de interaçáo desenvolvimento
sujeito-meio social e pode abranger diferentes áreas: saúde
mental, polÍtica, economia, educaçáo, etc. Provocar algum tipo de mudança no sentido de desenvolvi-
Considera-se, portanto, que a intervenção psicossocial tem mento é o objetivo fundamental da intervençáo psicossocial.
um caráter de pesquisa-açáo que visa facilitar o bem-estar Mas, mudança alguma pode ocorrer sem que a necessidade de
psicossocial de indivíduos, grupos, instituiçôes, organizações mudança seja primeiramente percebida e sentida pelo grupo.
e/ou comunidades. Ninguém muda sem ter consciência e desejo de mudar. Além
A seguir seráo discutidas algumas características básicas disso, a resistência à mudança é comum no ser humano, e
da intervençáo psicossocial: sáo muitos os fatores que diÍicultam as mudanças. Carreteiro
(1994, p. 100) retomando as ideias de Lévy ressalta que as
1.1 . Carâter científico, unindo a pesquisa à ação "verdadeiras mudanças ocorrem a partir da elaboragáo das
dificuldades e da criaçáo de novas modalidades de busca da
Conforme mencionado anteriormente, a intervençáo psi- verdade", o que requer um genuíno trabalho psíquico. Maison-
cossocial segue os parâmetros do método científlrco, unindo a neuve (1977) e Léry (1994b) discutem o problema da mudança
pesquisa à açáo. A pesquisa permeia todo o processo, desde a e a contribuiçáo da psicossociologia para compreender e lidar
análise da demanda e o mapeamento das necessidades psicos- com as mudanças grupais.
sociais até a etapa Íinal de avaliaçáo da intervençáo. É esse Vale ainda pontuar a ressâIva feita por Sarriera, Silva,
caráter científlico que produz reflexáo, crítica e reformulaçáo. Pizzinato,Zago e Meira (2000) sobre a necessidade de avaliar
Como ressalta Lérry (1994a, p. 109): 'A intervençáo junto a os valores e a ética adotados ao deÍinir quais mudanças sào
um grupo deve ser vista, ao mesmo tempo, como uma açáo e almejadas para o grupo alvo da intervençáo.
como um modo de desenvolvimento de novos conhecimentos."
O profissional que atuâ nessa área assume assim um papel 1.3. Foco em grupos, instituições e
de pesquisador-interventor.
Reforçando a importância da relaçáo entre pesquisa e açáo,
comunidades
Bleger (1984, p. 32) assume que:
Apesar de gerar mudanças intrapessoais, a intervençáo
[...] náo há possibilidade de nenhuura tarefa profissional psicossocial tem como alvo os grupos, instituiçóes, organiza-
correta em psicologia se náo é, ao mesmo tempo, uma in- çóes e comunidades. O alcance da intervençáo deve ser amplo
vestigaçáo do que está ocorrendo e do que está sc fazendo. e visar mudanças que váo, até mesmo, além dos grupos. Os

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Kathia Mariâ Cosla Neiva O quê é lnteÍvenção Psicossocial?

problemas e necessidadês dos grupos estáo sempre ligados . Em períodos críticos da vida que exigem o enfrentamen-
aos problemas e necessidades das instituiçóes das quais eles to de problemas específicos: imigraçáo, doença, desastres
sáo parte integrante. Logo, "náo se pode tratar dos problemas econômicos, acidentes, tragédias, etc.
dos grupos, sem tratar ao mesmo tempo dos problemas das
organizações e das instituições" (LAPASSADE, L977, p. 62). Carreteiro (1994) chama a atençáo para o fato de que as
Além disso, uma comunidade, organizaçáo, instituiçáo é for- sociedades vêm sofrendo rupturas e mudanças que geram
mada por um conjunto de grupos, que se inter-relacionam e rnal-estar nos indiúduos e ressalta o papel importante dos
se interligam. Uma açáo em um dos grupos gerâ efeitos nos pesquisadores-interventores narealizaçáo de intervenções que
demais e, consequentemente, no conjunto como um todo. facilitem o enfrentamento e superaçáo das dificuldades. Alguns
dos problemas observados na atualidade sáo: o crescimento
1.4. Açáo sobre os problemas atuais da do indiüdualismo, a busca incessante de sucesso econômico e
intolerância às diferenças, que têm acarretado disputas entre
sociedade e necessidades psicossociais de
naçóes, etnias, grupos religiosos e outros.
grupos, instituições e/ou comunidades Na medida em que a intervençáo psicossocial tem como
objetivo geral melhorar a qualidade de vida e o bem-estar
Quando se pretende a promoçáo do bem-estar psicossocial, psicossocial dos indivíduos, é necessário, portanto, conhecer
é necessário pensar em uma estrutura complexa, com múlti os fatores que interferem neste bem-estar. O mapeamento e
plos fatores que podem causar o mal-estar: fatores de ordem
a análise das necessidades psicossociais do grupo, instituiçáo,
econômica, cultural, social e outros. Logo, as necessidades organizaçáo ou comunidade foco da intervençáo sáo fundamen-
psicossociais podem ser variadas, Podem estar associadas
tais. Tais necessidades podem estar na área de saúde, educa-
à moradia, alimentaçáo, educaçáo, trabalho etc. O papel do
çáo, trabalho, economia ou outra; o importante é conhecê-las
interventor é agir sobre os fatores psicológicos que estejam e definir prioridades para decidir o(s) foco(s) da intervençáo.
associados à náo satisfaçáo dessas necessidades ou à promoçáo
Essa decisáo deve ser tomada com ou pelo grupo.
necessária para atendê-las (BLEGER, 1984).
Entretanto, vale ressaltar que as intervenções psicosso-
Bleger (1984, p.79) aponta diversas situaçóes em que o
ciais náo se aplicam apenas às populações desfavorecidas. No
psicólogo pode contribuir com intervenções visando à psico-
Brasil, em funçáo dos problemas sociais, das desigualdades
higiene na comunidade: de renda, das condiçóes de vida, a maioria dos tratlalhos na
. Em diferentes instituiçóes: família, empresas, fábricas, iirea é desenvolvida com essa populaçáo. Mas, o conceito de
escolas, clubes, prisóes, etc.
intervençáo psicossocial abrange todo tipo de grupo, institui-
Em distintas etapas do desenvolvimento da personali-
çáo ou comunidade (NASCIUTTI, 1996).
dade: infância, adolescência, maturidade, velhice.
Em períodos de mudança no desenvolvimento: nasci-
mento, desmame, puberdade, etc. 1.5. lntervençáo focada
Em situaçóes signifrcativas que requerem mudanças:
casamento, graüdez, divórcio, adoçáo, reforma, luto, A intervençáo náo consegue abranger todas as necessidades
escolha profissional, desemprego, aposentadoria, etc. de um grupo, instituiçáo, organizaçáo ou comunidade' Portan-
Kathia À/áda Costa Neiva O que é lntervenÇâo Psicossocial?

to, é importante definir quais as necessidades mais prementes A psico-higiene náo gira ao redor da doenqa e sim das
e mais üáveis de intervençáo para que se possa estabelecer o(s) condições habitua.is da vida nas situações reais em que
foco(s) da interwençáo. Sem isso, corre-se o risco de ajudar a elas se dáo, tomando seus ploblemas e alternativas em
si mesmas e em funçáo dos seres humanos que intervêm
querer resolver tudo e náo resolver nada, perdendo-se o rumo
em cada uma delas. (BLEGER, 1984, p. 80).
e eficácia da intervençáo. Como enfatiza Bleger (1984, p. 4S),
com relaçáo ao trabalho do psicólogo em instituiçóes, este A psico-higiene está, poúanto, relacionada à utilizaçáo dos
nrcursos psicológicos para enfrentar os probiemas que surgem
não pode trabalhar com todos os integ.rantes ou todos os
rro desenvolvimento da vida dos grupos, das instituições e das
organismos dainstituiçáo ao mesmo tempo nem tampouco
isso é a desejar; por isso deve-se examinar os pontos de ur- rrlnunidades.
gência sobre os quais intervir como objetivos imediatos. Dessa forma, a interwençáo psicossocial na qualidade de rírea
rle atuaçáo volta o seu olhar para as situações cotidialas, para
Deve-se definir, portanto, as prioridades, sendo possÍvel até rrsatiüdades e necessidades da vida corrente da populaçáo, bus-
intervir em diferentes focos, desde que se planeje devidamente t ando prioritariamente a promoçáo de bem-estar psicossocial.

como e quando trabalhálos.


1.7 . Leva em conta o contexto social e
L6. Caráter predominantemente preventivo cultural
Conforme Casas (2005) náo se pode compreender realidade
Talvez pareça incoerente atribuir à intervençáo psicossocial
social alguma sem conhecer o contexto sócio-histórico em que
um caráter predominantemente preventivo, pois o foco das csta se desenvolve. Os grupos, instituições, organizaçôes e
intervenções sáo as necessidades psicossociais, na maioria das
romunidades estáo inseridos em diferentes contextos histó-
vezes preexistentes. Mas, considerando que seu objetivo maior
licos, sociais e culturais. Da mesma forma, as necessidades
é o bem-estar psicossocial e a qualidade de üda, ou seja, os psicossociais variam segundo o contexto social e cultural.
aspectos de saúde e náo de doença, seu foco maior é, portanto,
l)ortanto, náo se pode analisar necessidades nem prioridades
a prevençáo. Segundo Casas (2005) a partir de 1.g60 houve um
som analisar conjuntamente a instituiçáo e o contexto em que
movimento de mudança na lógica da intervençáo psicossociai cstá inserida. O que pode ser necessidade em um contexto
que pâssou inicialmente a centrar-se na lógica da prevençáo
pode náo ser em outro. Compreender o contexto social e cul-
primária e em seguida na lógica da promoçáo da saúde, do bem-
l,ural em que o grupo-alvo está inserido é fundamental para
estar, da qualidade de vida, da participaçáo social, etc.
o planejamento e desenvolvimento da intervençáo.
Sendo assim, a intervençáo psicossocial pretende funda-
mentalmente prevenir o mal-estar psicossocial, a má quali- 1.8. Inclui a diversidade do eruoo.
dade de vida das pessoas, grupos, instituições e comunidades. i nstituiçáo e/ou comunidade"
Prioriza, portanto, a atiüdade de psico-higiene, característica
fundamental da psicologia institucional (BLEGER, 1984), Cada glupo, instituiçáo, comunidade tem suas caracterís-
área da qual sofreu influência. De acordo com este autor, t,icas próprias, necessidades, exigências e peculiaridades. A

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7
Kalhia túaÍia Cosia Neiva O que é lnlervençáo Psicossocial,

intervençáo deve levar em conta as especificidades da institui hrplirr renovar-se sem contribuições externas" (LEVY, 1994a,
çáo e contemplar as adaptaçóes necessárias, trabalhando até I r. I l2), apesar da difrculdade de tais articulações em funçáo de

com o enquadre possível. O local, o horário, a frequência dos ,Iili'r'enças epistemológicas e de representaçóes de objeto.
encontros, a forma de participaçáo do gr-upo náo podem ser I)e outro modo, Bleger (1984, p. 72), ao discutir a impor-
rígidos e devem, portânto, ser adaptados ao que for possível lrrrrcia da psico-higiene, aponta a necessidade de os psicólogos
pâra que a intervençáo ocorra e seja eficaz. , orrhecerem mais sobre a psicologia das situaçóes e da vida
O processo de intervençáo psicossocial passa pelas seguin- , ol,idiana e elaborarem "teorias psicológicas que náo partam
tes fases: ,.sln,e ificamente da patologia''.
Einalmente, Machado (2004, p. 24) conclui que "a pesquisa-
Diagnóstica: fase em que ocorre a caracterizaçáo da irrl,r:rvençáo psicossocial é uma forma privilegiada de produçáo
instituiçáo, a análise das necessidades psicossociais e a r conhecimento científico novo e inédito".
L.
delimitaçáo do(s) foco(s) da intervençáo. Náo se pretende esgotar aqui as origens e características da
Delineamento da interuenção: fase de planejamento e lutorvençáo Psicossocial, mas sim traçar algumas diretrizes
elaboraçáo do projeto de intervençáo. lriisicas para o trabalho nesta área, facilitando assim a com-
Desenuoluimento da interuençã.o: fase de aplicaçáo do prr:ensáo dos aspectos metodológicos que seráo apresentados
planejamento de modo flexível, sendo este passível de rros próximos capítulos.
mudanças a partir das necessidades e dos feedbacks do
grupo-alvo. lieferências bibliográficas
Aualiaçao da interuençao: fase em que se verifica se
os objetivos propostos foram alcançados, se ocorreram
IIAREMBLITT, G. Compêndio de anólise institucional e outras
mudanças, ou seja, avalia-se a eficácia da intenenção. i)rrentes: teoria e prática. 5. ed. Belo Horizonte; Instituto Felix
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resultados sáo comunicados ao grupo, à instituiçáo ou
II^RROS, R. D. B. de Intervençâo Psicossociológica. In: LÉ\ry, A. et
à comunidade, incluindo também a possibilidade de tl. Psicossociologia: aruó.lise sociaL e intet'üençõo. Petrópolis: Vozes,
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1994, p. 99- 100.
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Kathia À,,laria Cosla Neiva

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solidariedade à autonomia. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 100_126.
rrts) foco(s) da intervençáo.
PAGàS, M. A uida afetiua d.os gr.ttpos. petrópolis: Vozes/Edusp, Portanto, antes de planejal qualquer intervençáo, é pri-
1976.
rrrordial conhecer se existe e qual é a demanda do grupo-alvo.
PEREIRA, W C. C. Nos trilhas clo trabalh.o com.unitário e social: ''IIrna intervençáo psicossociâl é desencadeada apenas se
teoria, método e prática. Petrópolis: Vozes, 2001. lri uma demanda de âlgum grupo, organizaçáo, instituiçáo
PICHON-RIWÊRE,H. O processo grzpal. 3. ed. Sáo paulo: Martins ,,u comunidade, o que náo exclui, da parte dos consultores,
Fontes, 1988. rrna oferta de trabalho." (MACHADO, 2004, p. 39). Ou seja,
SARRIERA, J. C. et al. Intervençáo psicossocial e algumas r('rn sempre a demanda de mudança ou ajuda parte espon-
questoes éticas e técnicas. In: SARRIERA J C. (Coord.). psiiologia lrurcamente do grupo; com frequência esta é desencadeada
cornunitó.ria: estudos atuais. Porto Alegre: Sulina, 2000. p.2S_4+.
1x'la oferta do interventor'. Da mesma forma, nem sempre a
, [,nranda é explícita, clara e até mesmo consciente. De acordo

lonr Lér.y (1994) faz parte do trabalho do psicossociólogo fazer


,.rrrcrgir as demandas; náo só permitir uma expressáo menos
rliÍirsa delas, mas também permitir interpretá-1as. "Fazer

24
Kaihia túaÍ a Costa Neivâ CaracterizaÇão lnstitucional ediagnóstico das necessidades psicossociais

emergir demandas náo consiste em adotar uma atitude de rrrcrrt.o diagnóstico. Em seguida, devem-se delineaÍ os pâssos
escuta passiva" GÉVy 1994, p. 107). rrr.rrrssários para a coleta das informaçóes que permitiráo
Quem fez a demanda inicial? A direçáo da instituiçáo, ,:rr';rcterizar a instituiçáo, organizaçáo ou comunidade e
um setor específrco, algum funcionário ou técnico? partiu ,lrj rIr rosticâr as necessidades psicossociais.
do quadro diretivo ou das bases? A demanda foi espontânea l)iversos instrumentos podem ser utilizados nesta etapa
ou surgiu após uma oferta do serviço? E importante analisar
1,,u rr a coleta de informaçóes e dados; os mais empregados sáo:
como surgiu a demanda, se houve um encaminhamento, de , rr i lcvistas abertas, semiabertas e/ou fechadas, questionários,
quem partiu e como se deu.
, ,lrsclvações, análise histórica e documental, üário de campo,
Além disso, segundo Bleger (1984, p. 42), para que uma lirlos, fiImes, gravações e outros procedimentos comumente
instituiçáo solicite e aceite a intervençáo é necessàrio um r r I ilizados nas pesquisas-açáo e pesquisas participantes (MA-
"certo grau de maturidade ot insight de seus problemas ou ('llADO, 2004; SARRIERA et al., 2000; SARRIERA, 2008).
de sua situâçáo conflituosa, mas a funçáo do psicólogo conduz
'l'odos os contâtos que o psicólogo estabelece com a ins-
também a que se tome consciência de sua necessidade,,.
I ilrriçáo/organizaçáo ou comunidade fornecem material
Para Baremblitt (2002), o diagnóstico inicial é fundamentat
rrrrportante para o diagnóstico. Logo, este deve estar atento
e, portanto, deve ser estabelecido um contrato com tal fim,
:r l.odo tipo de informaçáo verbal ou náo verbal, positiva
implicando a criaçáo e utilizaçáo de dispositivos para ouvir
,rrr negativa, assim como às alianças, defesas e resistências
todas as partes, além daquela que fez a demanda inicial e co_
,Irs vários plofissionais que atuam na instituiçáo. Por isso,
lher os dados necessários. Segundo este autor, .,o diagnóstico
r orrvêm ao psicólogo registrar minuciosamente suas visitas,
já é uma operaçáo de intervençáo,, (BAREMBLITT, 2002,
p. 102), por isso deve ser autorizado e legitimado. lontatos, observaçóes, entrevistas, náo poupando detalhes,
pois sáo estes que muitas yezes fornecem pistas sobre as
Toda instituiçáo tem uma organizaçáo própria e objetivos
r rcr:cssidades latentes.
específicos que devem ser devidamente conhecidos pelos
interventores pâra que possam decidir sua tarefa profissio_
Todos os primeiros contatosjá conduzem a uma impressáo
nal na instituiçáo. A instituiçáo possui objetivos explícitos e
preliminar de caráter diagnóstico, para o qual se deve
implícitos, necessidades manifestas e latentcs. Ao analisar conhecer também a história da instituiçáo e - pelo me-
uma instituiçáo o psicólogo deve náo só conhecer os aspectos nos os grandes delineamentos de suas calacterÍsticas.
explícitos, mas, principalmente, os implícitos po.u to-u. (BLEGER, 1984, p. 51).
decisões e realizar assim sua tarefa de intervençáo.
euanto
aos objetivos, é necessário diferenciar os próprios objetivos da Às visitas institucionais e entrevistas devem ser previa-
instituiçáo (explícitos e implícitos), dos objetivos para os quais rrrr.nte agendadas de acordo com a disponibilidade de ambas
a instituiçáo solicita ou aceita a intervençáo do psicólogo. E o ls partes: interventor e instituiçáo. E fundamental respeitar
estudo diagnóstico que permite conhecer mais profundamente :rs características da instituiçáo, sua rotina, suas normâs e
a instituiçáo e suas necessidades (BLEGER, l9g4). :,,.rr funcionamento. O interventor deve manter sempre uma
Sendo assim, a primeira etapa consiste em tramitar as rrlil,ude ética e de respeito para com a instituiçáo, seus diri-
devidas autorizações e estabelecer o contrato para o levanta_
ltlntes, seus funcionários e sua clientela.
Kâthta Maria Costa Neivâ CaÍacterização institucionâl e d agnóstico dâs necêssdades psicossoclais

Mas, o que é necessário saber sobre a instituiçáo? É ne- Âpós a coleta dos dados, estes devem ser analisados, o que
cessário conhecer vários aspectos da realidade insiitucional. 1',,r k' ser feito por meio de diferentes técnicas. A escolha das
Para efeito didático, apresenta-se, no anexo 1, um roteiro Ir,, rricas deve estar relacionada aos objetivos da análise. Mui
para caracterizaçáo da instituiçáo e um levantamento lirii vczes sáo utilizadas várias técnicas ao mesmo tempo. As
das
necessidades psicossociais. AJgumas ideias para t ,.r rr icas devem abarcar aspectos qualitativos e quantitativos
esse roteiro
foram extraídas de Bleger (1g84) e Sarriera 1200g). O roteiro riri\lltlIERA, 2008). Podem ser usadas, portanto, análises
inclui questóes relacionadas aos seguintes aspectos: , lrrt.ísticas, análises de conteúdo, análises do discurso, etc.
Ao analisar as necessidades psicossociais é necessário defi-
a) Dados da instituição r r rl rluais as prioridades e os pontos de urgência para entáo po-

b) Histórico da instituiçáo , l, r'


l)lanejar a intervençáo. O estabelecimento de prioridades
c) Serviços/clientela , l, ,1x.nde de critérios diversos; náo só do tipo de problema e de

d) Infraestrutura da Instituiçáo ,,r rr r rrrgência, mas também dos recursos humanos, econômicos
e) Funcionários/Profi ssionais , i r tnicos. Além disso, "a planifrcaçáo tem que contemplar náo
f) Necessidades psicossociais (relacionadas à equipe técni- .,, r ulgência imediata como também objetivos de mais largo
ca e aos funcionários; relacionadas à clientelai ,rl( iurce" (BLEGER, 1984, p. 76). Alguns índices para avaliar
c) Interesse c disponibilidade institucional para o desen_ ,,,r lllioridades sáo apontâdos por esse autor como sugeridos
volümento de um projeto de intervencão psicossocial 1,,r'Molina e Adriasola: "gravidade do dano, possibilidade
rL. r'vitar o dano, custo uerszs dano, rendimentos, atitude da
Evidentemente, esses dados seráo coletados ao longo de ,',,rrrLrnidade." (BLEGER, 1984, p. 76).
uma série de visitas, entrevistas, observaçóes e deverá-o ser l,óvy (1994) aponta tambóm três pontos importantes para
organizados em forma de relatório que permita extrair ,, ;rnlilise da demanda:
conclu_
sóes e traçar
}m diagnóstico das necessidades psicossociais da . considerar a heterogeneidade da demanda;
instituiçáo. E esse diagnóstico que norteará as decisóes com . situar a açáo em uma perspectiva de pesquisa;
relação ao(sr foco(s) dâ intervencáo. . definiq desde o início da açáo, os objetos de pesquisa
Segundo Nasciutti (1996, p. fbS-ffO), ao analisar a insti- comuns aos interwentores e solicitantes estabelecendo
tuiçáo o psicossociólogo: rrrna relaçáo de colaboraçáo.

[...1 vai dirigir seu olhar tanto para o que é de ordem do A rrnálise das necessidades prioritárias deve, portanto, ser
instituído 0ugar da instituiçáo no sistema socioeconômr_ Ir.rlir cm conjunto com a equipe institucional, pois interventor
co-polÍtico, identidade social, história), tanto para o que é
,. rrrst.ituiçáo devem estar de acordo nas decisões que seráo
de or.dem funcional (hierarquia, sistemas de àecisáo e
de l('rrirdâs com relaçáo ao(s) foco(s) da intervençáo. Só entâo
comunicaçáo, funcionamento formal, divisáo de papéis),
assim como procurará apreender o que é da ordem do p.r k rr'á ser estabelecido um contrato definitivo que permitirá
sujeito e das relaçôes interpessoais. .rlrnçar para a etapa seguinte que consiste em planejar a
;t! rrlr.r'vençáo, definindo estratégias, táticas e técnicas e elabo-
necessârto, portanto, analisar diferentes níveis para r r rrrrlo assim um projeto com o devido embasamento teórico e
compreender a complexidade da realidade institucional. rr rll.orlológico. Esse tema será objeto do próximo capítulo.
psrcossoc ars
Kathia Mâriâ Côs1â Nêivâ CaÍactedzaçáo nstitucional e d agnóslico das necessidades

Referências bibliográficas Anexo 1- Roteiro de caracÍerizaçâo


rrrstitucional e diagnóstico de necessidades
BAREMBLITT, G. Compêndio de an.dLise i.nstitucional e outras Psicossociais
Instituto Felix
con'entes: teoria e prática. 5. ed. Belo Horizonte:
Guattari, 2002.
lr l)rrrlos da instituiçáo
BLEGER, J. Psico-hi.giene e psicoLogía ínstitucion.al. Porto Alegre: I t Nome da instituiçáo
Artes Médicas, 1984.
:l ) l,lndereço comPleto
LÉVY, A. A psicossociologia: crise ou renovaçâo. In: LÉVY, A. et al. : I )' I'elefone/fâx/e-rnail/site
Psicossociologia: análise social e intervençáo. Petrópolis: Vozes, I I ll,esponsáve1 pela instituiçáo: nome e cargo
1994. p. 101-112.
l,) (lontato: nome e cargo
MACHADO, M. N. Prdticas psicossoclnls: pesquisando e intervindo.
Belo Horizonte: Ediçóes Campo Social, 2004. I I r I Iistórico da instituiçáo
NASCIUTTI, J. C. R. A instituiçáo cou.ro via de acesso comunidade. I ) 'l'ipo de instituiÉo (escola, centro comunilário'
ONG' etc')
a algum
In: CAMPOS, R. H. E (Org.) Psicologitr. sociaL comunítdria: d.a :lr ()uando foi fundada? Por quem? Está vinculada
solidariedade à autonomia. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 100-126. rirgáo?
SARRIERA, J. C. Análisis de las necesidades de un grupo o t t Oon'ro e por quem é mantida a instituiçáo?
comunidad: la evaluación como proceso. In: SAFORÇADA, E.; l1) (lual é a misúo da instituiçáo? Quais sáo
suas finalida-
SARRIERA, J. C. (Comp.) Enlbques conceptuales y técnícos en tles e seus objetivos?
psicoLogía comu.niÍario. Buenos Aires: Paidós, 2008. p. 137-150.
;l ) (luais os princípios e valores da instituiçáo?
.; SILVA, M. A. ei al. Intervençáo psicossocial e algumas .l r (iuat a contribuiçáo social da instituiçáo?
questóes éticas e técnicas. In: SARRIERA J. C. (Coord..) Psicologru
l,t (lorno se deu a evoluçáo da instituiçáo? Houve alguma
comunitório: estudos atuais. Porto Alegre: Sulina, 2000. p.25-41. perro-
nrudança importante na instituiçáo dulante o seu
rlo cle funcionamento? Qual? Por quê?
li) ()uâis sáo as principais normas da instituiçáo?

IIIr Srrrviços/clienteia
I )()uai(is) o(s) serviço(s) oferecido(s)
pela instituiçáo?
:l) (lomo é feita a dil'ulgaçáo dos serviços?
;ir (lual a clientela a quem os serviços se destinam?
I t (juantas pessoas se beneflciam atualmente
dos serviços?
l,r (iual é o fluxograma dos serviços oferecidos? Como é o
Íuncionamenl o da institu ição?
(i) (luais os dias e horários de funcionamento'/

31
Kathiâ í\,4aria Cosla Neiva
Caracterização institucional e diagnóslico das necessidadês psicossociais

7) Como a instituiçáo avalia seus serwiços?


euais foram os txista, qual é esta demanda e como caracterizâ-La em
últimos resultados?
I.ormos de necessidades psicossociais?
:1) Ilstas necessidades, se existentes, comprometem os ser-
fV) Infraestrutura da instituiçáo
viços oferecidos pela instituigáo? De que maneira?
1) Em que tipo de imóvel está instalada
a instituicáo? O :tt )omo a instituiçáo lida com a resoluçáo das necessidades
(
imóvel epróprio, atugado. emprestado, *Ààãàã...1
^ Ef1t9m
Z) salas específicas para o desenvolvimento
psicossociais de seus técnicos e funcionários?
das
atividades/serviços oferecidos à clientela? ( l,nt relaqáo à clientela:
3) As instalações sáo adequadas para
os serviços oferecidos?
quars rnstalaçôes sáo adequadas quais l) Quais sáo as necessidades psicossociais da clientela
e iáo inadequa_ r rtcndida pela instituiçáo?
das ou precárias?
:l ) (luais as necessidades psicossociais que náo estáo sendo

V) Funcionários/profi ssionais irtondidas pela instituiçáo? Por quê?


;l) Quâis as dificuldades que enfrenta a ínstituiçáo para
1) Número de funcionários e cargos
rrtender a essas necessidades?
2) Organograma/nÍveis hierárquicos
.l) Quais dessas necessídades sáo prioritarias de atendi-
3) Quais os proÍissionais que dásenvolvem
os serviços ofe_ rnonto no presente momento?
recidos? eual a situaçáo profissional
deles (co;trà;;;os, lrt Quais dessas necessidades seriam as mais viáveis de
prestadores de serviço, estagiários,
,, voluntários...) serem atendidas no presente momento?
4) F)xiste uma equípe multiprofissionaf
Z e"J. ár'p."Í.i.- li) Quais e quantas pessoas necessitariam ser atendidas?
sionais que compõem essa equipe? O.s,
s"'."ú.ru (dcscrever a clientela em termos de idade, sexo, nível
com frequência? eual a sistemáfi"u
au" "qrrip"
.er.riO""Zqud socioeconômico, escolaridade, limitaçóes...)
o objetivo destas reunióes? - 'i t (lual o interesse dessas pessoas em participar de grupos
5) Como é o clima institucional?
Como é o relacionamento rle intervençáo?
entre os funcionrírios / técnicos/diretoria? (frio/competi
ri) (Jual â disponibilidade dessas pessoas para participar
tivo/alegre/discreto/de confrança/d" _ruuà"uiaq
rlc grupos de intervençáo? (de horário, de ünda à insti-
"i..1 l.triçáo, de engajamento, de tempo...)
W t Necessidades psicossociais
As-necessidades psicossociais da instituiçáo
. podem estar VII disponibilidade institucional para o desenvol-
t ln t,eresse e
tanto à eqripe de récnicos f"""iora-"iol-ffit,
:,::llid,".
a crrentela atendida. Logo, ao explorar"
vimento de proieto de intervençáo psicossocial
e analisar tais ,e""r_ I ) IIÍi interesse e disponibilidade da instituiçáo para que
sidades deve-se ter em mente a instítuiçáo
scja desenvolvido algum projeto de intervençáo psicos-
"orn" ";1;;;. soeial? De quem é o interesse? Direçáo, equipe técnica,
Com relaçáo à equipe técnica e funcionários:
clientela?
1) Existe alguma demanda explícita
ou impiÍcita por parte :l) A instituiçáo tem condiçóes de prover alguns recursos
do grupo de técnicos e funcionário.
a, i"rtit"iiroZ-Cr.o b:isicos para o desenvolümento da intervençáo? Quais?
7

Kathia l\,4âria Cosla Neivâ

3) Existe um espaço adequado para o desenvolvimento da


intervençáo? Quantas pessoas comporta esse espaço? 3
4) Como a instituiçáo se propôe a colaborar para a divul-
gaçáo e viabilizaçáo da intervençáo?
5) Quais as difrculdades que a instituiçáo prevê para a rea_
lizaçáo da intervençáo?

VIII)Observaçóes gerais sobre as visitas


1) De quem foi a demanda da intervençáo? partiu espon_
Er-naonnçÃo Do PRoJETo DE
taneamente ou surgiu após dilrrlgaçáo do serviço?
2) Como foi o primeiro contato? euem o atendeu pela pli_ I NrrnvrNçAo PsrcossoctAL
meira vez? Que impressâo essa pessoa lhe causou?
3) Nas demais üsitas, sempre foi atendido pela mesma pes_
soa? Foi encaminhado para outras? euais? por quá? Kathia Mctria Costa Neiua
4) Como você percebeu o ambiente de trabalho? O relacio_
namento dos funcionários? O relacionamento entre
funcionários e clientela? lrrrr projeto de intervençáo psicossocial é um trabalho
5) Como você percebeu o interesse e a disponibilidade da , rr.rrlríitrr e, portanto, sua construçáo deve ser pautada nas
instituiçáo para uma intervençáo? O interesse é compar_ rr,,r lrrs cicntíÍicas em vigor. Sáo muitas as obras dedicadas
tilhado por todas as instâncias da instituiçáo ou é apenas ,r rrr, lorblogia científica e náo é objetivo deste livro retomar
de um setor específico? Í irr , r
lr(,st,oes, entretanto seráo âbordados aspectos específicos
r,,lrr, rorrirdos à elaboraçáo de projetos na área de intervençáo
1, t,,,,,:,,tcial.
.\rrlls de iniciar a elaboraçáo do projeto de intervençáo
,lr',, r. ru, Ler uma resposta relativarnente clara para cada uma
rlrr : r.Tlrrintes questóes:

(frrirf é o foco deste projeto (tema)?


( I (lue se pretende com este projeto (objetiuo)?

r\ rluern se destina este projeto @opulaçao-aluo)?


l1,r'que e pâra que se pretende realizar este projeto
r,irrsl ificatiua)?
(frrirl a importância deste projeto para a instituiçáo,
lrrrrrunidade, sociedade (releuâ.ncia)?
Kathlâ IVaÍia Costa Neiva Elaboração do proiêto de lnteÍvenção Psicossocial

que
As respostas às questóes anteriores nortearáo os aspectos I r',,r, r'r;gxr:íí'icos podem ainda náo estar clâros' À medida
teóricos e metodológicos do projeto. Entretanto, vale ressaltar ,, ,,,r'lr,'r'irrtt:nto sobre o tema foco da intervençáo vai se am-
mais evidentes'
que muitas decisóes devem ser tomadas conjuntamente com a l,lrrrrrrIr, os objetivos específllcos váo Íicando
equipe institucional, como o foco da intervençáo, os objetivos 11,,,,,,,1,, l,otla a construçáo do projeto náo se pode
perder de
que
prioritários, a populaçáo-alvo, as condiçóes da intervençáo e , r ,lrr , Iix o tla intervençáo nem seus objetivos' Sáo estes
outras. A participaçáo da instituiçáo é fundamental para a r r.r l'rnrr) as decisóes metodológicas.

viabilizaçáo e o sucesso da intervençáo. ,\ llirrrrs oxemplos de objetivo geral:


A seguir seráo apresentadas as etapas de elaboraçáo de . t),'sonvolver a autoestima de jovens em situaçáo de
um projeto de intervençáo psicossocial. u r rIrrcrabilidade social.

' l"rrtilitar a inserçáo profrssional de egressos do sistema


3.1. Formulaçáo dos objetivos lrrisiotral.
' l'i,, l.,rlecer os vínculos familiares em lares sociais'
'A elaboraçáo de um processo de intervençáo depende dos
objetivos que se propóe atingir." (SARRIERA et al., 2000, \lrl, r'r'ssaltar que os objetivos específicos devem ser cons-
I r rr rr I r rr evitando linguagens rebus-
ir Íbrma simples e c]ara,
p. 32). Sendo assim, após a delimitaçáo do(s) foco(s) da in-
, ,r,L'r,' tttitis explicações. Além disso, ao formulá-Ios deve-se
tervençáo é fundamental definir seus objetivos. Os objetivos
I .r ,,rr r tr rlt ttr: a possibilidade de serem
efetivamente atingidos;
da intervençáo devem ser discutidos e definidos em conjunto
com a equipe institucional. rrl,, r'r rlrcrl objetivos vagos, imprecisos ou utópicos' Portanto'
quais
De acordo com Bleger (1984, p. 43): 'A finalidade ou o obje- rlr,',,,rrr ril lovar em conta os pontos de urgência sobre os
tivo que se deseja alcançar orienta a açáo, formando parte trlr.r vtr' (1)lno objetivos imediatos.
do enquadramento da tarefa." Ao estabelecer os objetivos, o
psicólogo deve ter claro: a) os objetivos gerais ou mediatos de ,1 ,1. linrbasamento teórico
sua tarefa; b) sua aceitaçáo ou náo dos objetivos da instituiçâo
e dos meios que usa para alcançá-los e c) o diagnóstico dos 'orr ttluçáo ao embasamento teórico, o primeiro pâsso é
I
objetivos particulares, imeüatos ou específicos. Também náo rl.lrrrrrlrtt ,,"lu-ua de estudo que permitiráo a compreensáo
deve confundir os objetivos institucionais com seus objetivos rl, r( r I li x'o(s) da intervençáo' Campos
(2004) sugere elaborar
profissionais. O psicólogo deve ter consciência que seu obje- rr rrr r , rl r lt' pirlavras ou termos que se relacionem
diretamente
tivo maior é o de psico-higiene, ou seja, a promoçáo de saúde r rrrr I.r'tttit para que possam ser utilizados na pesquisa biblio-
e bem-estar dos integrantes da instituiçáo e, portanto, em
r
' selecionar devidamente o material de
11 ,rl r, rr. lil importante
hipótese alguma deve renunciar a este objetivo. 1u,,,, q,,,',,' ,, leitura, eütando
ir além do foco, ou negligenciando
Todo projeto tem um objetivo gerai que será a meta prin- rr r'r l,.r'ir r is irnPortantes.
cipal a ser alcançada e objetivos específicos que permitiráo o fácil e ágil rea-
I 'r rrrr o rLclvento da internet, está bem mais
alcance do objetivo geral. No início da elaboraçáo do projeto, I r rr r
r r tril pesquisa bibliográÍica.
r
Entretanto, encontra-se
quando a pesquisa bibliográÍica ainda náo avançou, os obje- lr rr lrlrr r tnuito material náo científico na
rr
internet, o que re-
Kalh a MaÍlâ Costa Neiva ÉlaboÍaçáo do projêlo de lntervênção Psicossoclal

quer uma boa triagem. O mais adequado é realizar a pesquisa l','1,r rl,rr,,to-Jlvo
em bancos de dados científicos, tais corno: BVS-Psi, PePSIC,
SciELO, Lilacs, Medline, Portal Capes, Redalyc. \ ,l, lirri1:ito cla populaçáo que será alvo da intervençáo é
Além da delimitação dos temas a serem pesquisados, é ,rr,r r,l,r prirrtciras questóes a serem decididas. A compreensáo
importante definir a perspectiva sob a qual os temas seráo ,l, .r I,r1rrrlrtçáo e suas características fará uma dilerença no
tratados. A perspectiva sob a qual se estuda o tema é que ,1, , rrr,,lvirrrento da intervençáo- A intervençáo visará um
determinará o desenvolvimento da intervençáo (SEVERINO, I,,'I,,,, rr;x.t íÍico, vários grupos deumainstituiçáo, todauma
2000). Por exemplo, ao decidir-se por estudar o tema sob a , ,, ,, L rr lc'/ É importante delimitar dentro dessa populaçáo
',,, 'r,
perspectiva da psicanálise, essa mesma perspectiva deverá ,1r.rl .r':r o grupo-alvo. Os procedimentos metodológicos
norteâr os aspectos metodológicos e o desenvolvimento da ,l'.' rr l(,nrill' em conta a composiçáo e características do
intervençáo. E importante haver uma coer'ência entre o ern- I ,,r1,,, ,rlvo. Algumas perguntas:
basamento teórico e as decisóes metodológicas. ' (Jr;ris as características sociodemográficas do grupo-
Ao longo da pesquisa bibliogr'áfrca deve-se procurar encon- . , , t scxo, idade, escolaridade, situaçáo socioeconômica,
'lr
trar intervençóes já realizadas, cujo Íbco foi similar no que , i, )'1

se pretende, analisando seus resultados, seus limites, suas ' ll, rluirntas pessoas será composto o grrpo-alvo?
cr'íticas e suas sugestóes. Esses tlabalhos poderáo servir de . í ) iinrpo-alvo é um grupo homogôneo ou heterogêneo?
modelo ou gerar ideias interessantes. Nas referências biblio-
gráficas desses trabalhos também se pode encontrar material lll ,tllíI('ntoS
importante de ser pesquisado.
O embasamento teórico sobre o tema foco da intervençào \ r' r'rltra dos instrumentos que seráo utilizados depende
permite compreender melhor a problemática e facilita a to- ,lrr, t,rrrr.rrt,c do reíerencial teórico, dos objetivos e dos pro-
mada de uma posiçáo sobre a perspectiva em que se plctende ,, ,lrrrr.rrlos a serem adotados ua intervençáo. Os psicólogos
desenvolver a intervençáo. AIém disso, é a partir daí que se ,,,rt,rrr (1)nr vários materiais psicológicos que podem vir a
consegue aprimorar a formulaçáo dos objetivos especíÍicos e , r rrlrlizrrtlos como: testes, técnicas, jogos e atividades psi-
ter mais claras a justiÍ'icativa e relevância da intervençáo. ,,r1,, r1;r1io;1icas, dinârnicas de grupo e outros. A decisáo dos
rrr .lr rrrrrcrltos que serão utilizados deve estar diretamente
3.3. Metodologia r r l.rr r,rlrr[r aos objetivos formulados. Sendo assim. essa es-

,,,llr,r r lr.vt. ser muito criteriosa.


O cuidado com os aspectos metodológicos é fundamental. (I
l)r1)ioto deve prever um Te]'mo de Autorizaqáo
para a
Sáo eles que nortearáo todo o desenvolvimento do projeto, logo 1,,rr lr|r1rr1:iro na intervençáo, sobretudo se
o grupo-alvo for
devem ser decididos com muito critório. A seguir âpresentare- ,,,rrrp,rrlo rle menores. Nesse caso a autorizaçáo deve ser dada
mos cada um dos aspcctos metodológicos â serem deíinidos. 1,, 1,,. lIris ()u responsáveis.

38
Kathra túâí a Costa Neiva
Elâboração do projelo de lntervenção Psicossoc al

Deve-se utilizar também algum tipo de instrumento ou


minutos. Mas tudo depende da dispo-
, ,,r rr r lr r r';rr';ro dc 90 a 120
procedimento que permita avaliar- a eficácia da intervençáo, ,rLrIr,I;rrlr,rIo grupo-alvo. Pode ocorrer que o grupo disponha
ou seja, se seus objetivos foram ou náo alcançados. Sugere-se,
r1,, r r. r', r I. (i0 rninutos por semana e nesse caso o planejamento
que seja realizada uma avaliaçáo prévia (pré-teste) e outra , 1,, . r, lr r r.r rt ontro deve ser adequado a esse tempo. É possÍvel
avaliaçáo após a intervençáo (pós-teste). Dcssa forma, é pos- t rrrrlr, rrr lrlirncjar encontros mais longos ou até mesmo uma
sível avaliar mais fidedignamente as possíveis mudancas. ,,t, r \,.rr( lo compactada em um final de semana.
No próximo capítulo essa questào será discutida com maior rJr.rnl() ilo local onde será realizada a intervençáo, este
profundidade. ,1, , , r.r rrr.r'<liscutido com a instituiçáo que, em geral, se res-

1,,'r,, rl,r I rzir por disponibilizar o espaço. Esse locai, nem sem-
Du ração, periodicidade e local
t,rr ,. ,r rr;ris adequado, mas às vezes é o único que permite a
r rLrIr.';rcrro da intervençáo. O ideal seria poder contâr com
É importante prever o tempo de duraçáo da intervençáo, a ,rrr,.r .rl;r, orn instalaçóes adequadas, mâspode ocorrerque o
periodicidade e duraçáo dos encontros, assim como o local em ,rr,r,,' l,,, rrl rlisponível seja um pátio ou até mesmo uma praça
que estes seráo realizados. Entretanto, ao longo da interven_
çáo essas condições podem ser revistas e mudanças no contrâ- I',,rll,ll'lf rc Machado (2004, p. 45-46):
to sáo possÍveis. Uma intervcnçáo pode durar algumas horas
ou até anos, mas ao elabor.ar o projeto deve-se ter uma ideia () ritmo da intewenqáo é instável, pois estabelecido pela
estimada do tempo necessário para o alcance dos objetivos inter-relaçáo que se cria ao longo do trabalho entre pesqui-
propostos. Mudanças no contr.ato devem ser discutidas entr.e sirdor-consultor e pesquisado-cliente, pelos consentimen-
Ios recÍprocos (incluindo o contrato entre as duas partes),
interventor e grupo-a-lvo, e as decisóes devem ser tomadas
lxlas decisôes tomadas sempre em discussáo.
coqjuntamente, em alguns casos envolvendo também outras
instâncias da instituiçáo. Quando se lida com instituiçÕes,
l'r rrr lr lrn rctt toS
nem sempre é possível estabelecer contratos rígidos, pois
muitas variáveis intervenientes podem levar a mudanças,
t t rrrvr,l rle detalhamento dos procedimentos pode variar,
por exemplo, no horário de início ou término de um encontro,
rrr,r , , rrrrlxrrtânte é que o interventor tenha relativamente
no local previsto para as reuniões, na presenÇa ou ausência
, l,r,r r,rir ploposta de trabalho passo a passo.
dos participantes, etc. O interventor deve saber como lidar
l'irrr :rlllrrrnas situaçôes, o primeiro procedimento é di\.ulgar
com essas situações e encontrar a soluçáo mais adequada ou
,1 r1 , rgr,;rl ;1 cle intervençáo com a populaçáo-alvo, veriflrcando
possível para a continuidade da intervençáo. 1

A previsáo da duraçáo total da intervençáo está relacio-


,, ru,r.r lxrssíveis interessados parâ, â partir daí, constituir
,, t,r rl,r) llvo. Por exemplo, foi decidido junto com a equipe
nada aos objetivos que se pretende alcançar e às estratégias
,lr r , t rvr r rlc uma ONG que promove açóes socioeducativas,
e procedimentos que seráo utilizados. Quanto à duraçáo dos
,'l.r.r'r.r'iros âdolescentes uma intervençáo com o objetivo de
encontros grupais, em geral esses encontros sáo semanais e
t,i ,,t,, r'r los para umâ primeira inserçáo proÍlssional. E neces-
Kathia IVaÍa Costa Ne va Elaboração do proieto de lnleruenção Psicossocial

sario planejar como isso ser'á dil,ulgado com os adolescentes e os \,' t,l;ut{'iaI'cada um dos encontros, deve-se defrnir:
pais. Por meio de uma palestra, de uma carta-convite, de uma . ,lrlr'l.ivos do encontro;
reuniáo, de um cartaz? Em seguida, deve-se prever como serâo ' rriil lllmentos que seráo utilizados;
feitas as inscriçóes para participar do trabalho e tramitadas as ' 1,r occrlimentos que seráo realizados;
autorizaçôes dos pais ou responsáveis, no caso de menores. . L,, ll r'sos neCessários.
Constituído o glupo-alvo, é necessário planejar os encon-
tros. Pode-se considerar que toda intervençáo em grupo passâ o ;rlirnejamênto de cada encontro é necessário
| '. rr ; r ter sem-
por três momentos, com características bem específicas: 1,,, , rrr n rlrr lc a duração do encontro, evitando assim planejar
,,,,, r, l,' ( l ll(' será possível realizar. Por isso, ao descrever cada
l. Apresentação e integraçào do grupo ,,',' ,1,,. |r'ocedimentos que seráo realizados (por exemplo,
,, r,,. r l r(;i ro dôs membros do grupo, aplicaçáo da dinâmica X
1,

Este é o momento inicial no qual se facilita a apresentaçáo ,,,r ,1., 1,1'ri(a Y. discussáo do tema Z), deve-se estar atento à
e integraçáo dos participantes incluindo os interventores, ,lrrr r, ,r. rL't:adâ âtividade. Assim, podem-se distribuir melhor
apresentam-se os objetivos da intervençáo e estabelece-se o , ,lrr r,l;rrlr.s no encontro e assegurar-se de que será possível
contrato de trabalho. Nessa fase inicial, exploram-se também , rr rl,rl r lrlanejamento.
as expectativas do gr-upo com relaçáo à interuençáo e realiza-se \,r1,, r,ssnltar', que ao longo do desenvolvimento da inter-
uma avaliaçáo prévia (pr'é-teste) da condiçáo dos participantes ,, r, i,,,,,, plane.jamento realizado ó passívei de adaptaçóes e
com relaçáo ao aspecto que será foco da inl,ervençáo. || r|, Iir|
r I I I pois, com frequência, outras situações sáo trazi-
|r ' I i

,l r g,, l,r:; prrlticipantes do grupo que merecem a atençáo e


ll. Deserrvolvin.rento r, ,, ,rlirr scr trabalhadas. Entretanto, náo se pode perder
,, t,,,,r1,r.r'rrl do trabalho, pois, do contrário, será muito dificil
Essa fase é composta de todos os encontros quc visam tra- ,rl, rr rrlrr l os objetivos previstos.
balhar os objetivos específicos, estimulardo o que for previsto
para que as mudanças objetivadas possam se processar. lll'r rll',ll\

lll. Avaliação e despedida do grupo incluir a prcvisáo dos recursos


N,r,, r;r,pode esquecer de
rr,,,',r,ruios para o dcsenvolvimento da intervençáo. Os re-
Este é o momento final, quando se avaliam a intervençáo , rr .r,:, potltrtn Ser:
e as possíveis mudanças do grupo. Nessa etapa reavalia-se a
condiçáo dos participantes com relaçáo ao aspecto focado na . I lrrrnemos: Deve-se prever quais e quantos profissionais
intervençáo (pós-teste). Além disso, promove-se a despedida r,,.r'r r r necessátios para a realizaçáo da intervençáo.
do grupo e discute-se sobre a continuidade das açôes pós- . M;rt.t:riais: É necessário prever todo o material que
intervençáo. :,r.r'ri nocessário, desde o material psicológico (testes,

43
Káth a lúaí a Costa Neiva ElâboÍação do projeto de lnteNênÇão Ps cossocial

técnicas), até o material de escritório (papel sulflrte, lápis, ,rrrr r';rr:iocínio lógico e coerente e náo perder de vista os
caneta, lousa, giz, cartolina, etc.) e tambóm o mobiliario ,,lr;r.l ivos clo trabalho. Finaliza-se com a justificativa e
(sala com carteiras, colchonetes, etc.). Em geral, esse r,.l.vr'rrrcia sociâI do projeto de intervençáo.
material. é disponibilizado pela instituiçáo. . (,lttt'lir)os gerais e específicos, que podem ser apresen-
t.rrlos r,rn tópicos.
Em alguns casos é necessário fazer uma previsáo de custo . ,\t,'t,rlologia que deve incluir todos os aspectos ante-
e um cronograma de atividades. É as instituiçóes r r,, r rr,rrtc mencionados: populaçáo-alvo, instrumentos,
"o-,l-
rr

solicitarem tais informaçóes. , I r r r ;rcilo, procedimentos.

Foram apresentados anteriormente os aspectos principais ' /i,, i//sos que englobam os recursos humanos e mate-
para a elaboraçáo de um projeto. Com relaçáo à sua redaçáo, r t.rli;.
é importante seguir as norrnas de redaçáo de trabalhos cien- . \rr, irr.- que devem ser devidamentc apresentados e
tíflrcos que podem ser encontradas nos livros de metodologia rrr rr r.r'irdos no texto, sendo compostos de cartas, fichas,
científica. Sugere-se o livro Metodologia do trabalho científico t, r rns. tócnicas e atividades, etc. Neste item, deve-se
(SEVERINO, 2000), bastante completo e de Ieitura fácil. ,,,l,, rr Llma capa para cada anexo, constando seu nú-
Finalmente, ó necessário cuidar da apresentaçáo do projeto, rrr,ror,LÍtttlo.
que geralmente é entregue à instituiçáo para que seia submeti- ' Ii, l, t r'ttt:ias bibliográficas, compostâs de todas as obras
do à apreciaçáo. O projeto deve constar das seguintes partes: rr,,.rr,'ionadâs ao longo do texto, devidamente referen-
. Capa na ql:.al deve constar o título, o norne dos autores
' r,r,lr rs rlo acordo com as normas científicas.
e o ano.
. Sumário no qual sáo relacionadas todas as partes do \p,, , :r llirboraçáo do projcto e aprovaçáo dele pela insti-
trabalho e suas respectivas páginas. rur'.,r, tr;risr-se ao desenvolvimento da intervençáo propria-
. Resumo no qual deve constar de forma brcve (100 a r., rrt. rlrlrr, ;rssunto que será tratado no próximo capítulo.
300 palavras), os elementos principais do projeto: tema,
justiflrcativa, objetivo e metodologia.
. l(r' I l r cr rt'ias bibliográficas
Introduçdo que é iniciada coln uma apresentaçáo de
como surgiu a ideia do projeto, resumindo as etapas
lrl lril,:li .1. I'siu rhigiene e psicologia irtstitucionol. Porto Alegre:
de caracterizaçáo da instituiçáo e levantamento de \ri, l\lrrlrcrs. 1984.
necessidades psicossociais. Em seguida passâ-se âo em-
| \ l\l l 't rl i. L. lt. l,. Métodos e técnicas de pesquisa em psicologia. 3.
basamento teórico que deve conter uma revisáo teórica
,,1 | ,rrt,rrrs: lld. Alínea,2004.
do(s) tema(s) ou problema(s) sobre o(s) qual(is) se inter-
virá, enfatizando qual referencial teórico ser'á utilizado A|\i Il.\|x ). M. N. PlrÍllcos psi cossociais; pesquisando e interuirudo.
lr, 1,, ll,,r r./r,rl,cr tldiçóes Campo Social,2004.
no projeto de interwençáo. É importante desenvolver

i
lGlhia Marie Cosla Nôlva

SARRIERA, J. C. et al. Intervengáo psicossocial e algumas


questões éticas e técnicas. In: SARRIERA J. C. (Coord.) Psicoloein 4
comunitária: estudos atuais. Porto Alegre: Sulina, 2000. p. 25-44,
SEVERINO, A. l. Metodalogit do trabalho científico.21. ed. Sáo
Paulo: Cortez, 2000.

DesrNvor-vrMENTo DA
INrrnvENçÃo Psrcossoclql

Kathi,a Maria Costa Neiua

Uma vez o projeto pronto e aprovado, se dá início à inter-


vonçáo propriamente dita, orjo desenvolvimento serápautado
noe procedimentos e nâs estratégias definidos, Entretanto,
du rante a implantaçao e o desenvolvimento da interven@o "é
pousÍvel realizar modificaç6es e correções através do feedbach
tvaliativo da comunidade" (SARRIERÀ et al.,2000, p. 34).
Nossa etapa ocorre o contato direto entre interventor e gru-
po-alvo e se estabelecem as relações entre os participantes do
grupo. E aberto um espaço para mudanças, transformações
t desenvolvimento que visa, em última instância, contribuir
pnra o bem-estar psicossocial dos indiúduos, alvos da inter-
vonçáo.
A seguir, seráo apresentados alguns aspectos que merecem
uma anáüse mais detalhacla.

O enquadre
No início de qualquer intervençáo é necessário estabelecer
o enquadre que, segundo Bleger (1984, p. 46):
46
Kathia Mâria Costa Neiva Desênvolvimênto dâ lntervênção Psicossocial

Pode-se definir como um cort'unto das condiçó€B nns quais e expectativas da populaçáo-alvo, respeitando e solicitando a
se realiza a observaçáo e constitui uma Ílxaç6o do variá- participaçáo desta" (SARRIERA et al., 20OO, p. 42).
veis ou uma limitaçáo das meemae, ou a Iixaçáo de um
Esse proÍissional deve estar ciente de que sua participaçáo
conjunto de constantes, que tanto nos sorvo como moio de
padronizaçáo como sistema de referência do obsorvado. em um grupo, instituiçáo, organizaçáo ou comunidade pro-
move ansiedades, resistências, contradições, ambiguidades,
O enquadre permite, portanto, que o trabalho so realize transferências e contratransferências e que o manejo destas
dentro de certos limites que dáo seguranga a todos os onvol- faz parte de sua tarefa (BLEGER, 1984). Nesse sentido, é
vidos e funciona como esquema referencial. Ele comproende importante que qualquer situaçáo de tensáo seja deüdamente
o esclarecimento do grupo sobre: a duraçáo dos oncontros e explicitada e trabalhada no grupo e com o grupo.
da intervençáo como um todo, o horário, os dias o o local dos Além disso, o interventor possui também um papel de
encontros, o custo (se houver), os objetivos, a tarefa quo será
pesquisador e, portanto, deve utilizar-se dos métodos e das
realizada, os papéis do interventor e dos participantou, o eigilo técnicas de pesquisa que sejam pertinentes ao trabalho que
profissional e outras situações que sejam pertinontos, por realizará. Sua capacidade de observaçáo, escuta e análise
exemplo, a questáo clas faltas eventuais. Bleger (1.984) discute deverá estar em constante uso, durante todas as etapas da
em detalhes algumas regras a serem observadas no onquadra- intervençáo.
mento do trabalho do psicólogo clínico em instituiçilou. Esses dois papéis náo estáo dissociados, sendo, ao contrário,
Como já foi mencionado anteúormente, na intorvonçáo complementares, já que a própria essência da intervençâo
psicossocial algumas variáveis que compôem o enquadrc Báo psicossocial é unir a pesquisa e a açáo. Conforme Machado
(2004, p. 65);
passÍveis de alteraçáo como local, dias do encontro, horário e
duraçáo, em funçáo de situações institucionais. Quando ao lida
O pesquisador-prático, por sua presença, suscita certos
com instituiçôes, organizações e comunidadoe, á necossário problemas, permite que um oovo tipo de üscurso seja
ter certa flexibilidade e capacidade de adaptar o onquodre e enunciado, que outras condutas se revelem, influencia
planejamento em prol da púpria continuidade da intsrvonçáo. diretamente a vida do grupo com o qual trabalha, é
O importante é que as alteraçôes e/ou adaptagóes eqJâm devi- objeto de amor e ódio, símbolo de autoridade ou peáo a
damente üscutidas com o grupo-alvo e esclarecldas, ou seja, ser manipulado, foco de projeçóes, de identifrcações e de
que nesse caso o enquadre seja reüsto e aceito por todos. contraidentiflrcaçôes.

Essa autora considera ainda que pâpel alo interventor nâo


o
O papel do interventor seja conduzir ou induzit mas favorecer a análise e facilitar
a emergência de um sentido, de uma nova perspectiva. Sáo
O psiólogo que atua em intervençáo psicossoclal tEm dois assim pesquisarlores preocupados em apreender a história, o
papéis: de prático e pesqúsador. Como prático, seu pâpol íhnda- funcionamento e a vida do grupo social, mas também práticos,
mental é de facütador da tarefa foco da intervengáo. Durante que trazem conhecimentos teóricos sobre o funcionamento
todo o processo ele deve "estar em sintonia com as n€cetlldodes dos grupos, instituições e comuniilades, além de conhecimen-
Kathia l\,laÍia Cosla Neiva Desenvolvimento da lntêruenção Psicossocial

tos clÍnicos (de escuta, anrálise, interpreta@o), sociológicos e o grupo também que ele deverá avaliar sistematicamente a
psicológicos sobre os indivíduos. intervençáo e decidir modificar o que considere necessário. Os
Ainda de acordo com essa autora, a relaçáo esl,rbolecida paúicipantes do grupo devem ter a liberdade para expressar
entre pesquisadores-interventores e pesquisados-clicntes é seus sentimentos, suas opiniões e suas expectativâs, em um
de colaboraçáo, de forma que os primeiros respondem à de- clima de respeito e confiança. Cabe ao interventor ajudar a
manda de ajuda dos segundos, escutam suas maniÍ'cstações, construir este clima e facütar a expressáo e o relacionamento
analisam, interpretam e refletem sobre elâs e fazcm a devo- dos membros do grupo (SARRIERA et al., 2000).
luçáo do material. Já os segundos, apesar de demanclarem a Enriquez (1994) aponta que o direito e a überdade de
intervençáo, participam também ativamente delu, anulisando expressáo sáo fundamentais para o desenvolvimento da
os problemas, buscando junto com o interventor oncontrar intervençáo, O interventor deve, portanto, estimular a ex-
soluçóes e implementar mudanças, pressáo de todos os participantes, fazendo emergir o náo
Machado (20O4) {az também a observaçáo de que o psicó- falado, o implÍcito. A intervençáo deve proporcionar uma
logo, ao trabalhar com as camadas menos favorccidas da po- maior autonomia e conscientizaçáo das pessoas e uma nova
pulaçáo, deve ter o cuidado de náo se colocar como o sulvadoq signifrcaçáo para as vivências. As formas de pensamento e
capaz de solucionar o desamparo, correndo o risco assim de linguagem do grupo, com frequência rígidas, também devem
transformar a sua atividade profissional em uma atividade ser questionadas permitindo emergir um pensamento mais
caritativa. Por isso, considera essencial "a análisc da impli- imaginativo e associativo.
caçáo do psicólogo em sua prática" (MACHADO, 2004, p. 96) Ao longo de toda a intervençáo, o profissional deve estar
que deve ser feita a pârtir de uma reflexáo teóricn. atento aos processos grupais incluindo a integraçáo, a comu-
Vale lembrar ainda que Bleger (1984, p.43) rcsstrlto que o nicaçáo, as lideranças, o inte{ogo de papéis e os emergentes
psiólogo deve ter sempre claro que ele "náo é o proíissional da (a partü das expressóes trazidas pelos porta-vozes sobre as
alienaçáo nem da exploraçáo, nem da submissáo ou coerçáo, ansiedades do grupo). A dinâmica grupal deve ser sempre
nem da desumanizaçáo" e que sua missáo é sempro promover analisada e compreendida em conjunto, pelo interventor e
a saúde, integraçáo e plenitude do ser humano. pelos integrantes do grupo-alvo.

A intervençáo propriamente dita A avaliaçáo da intervençáo

Em todos os momentos do processo de intervr:nçtio, o pro- VaIe lembrar que uma das características da intervençáo
fissional deve ter em mente os princípios quo ctnbasam tal psicossocial é seu caráter investigativo. Logo, a avaliaçáo deve
atiüdade e os objetivos da intervençáo, assim como tcr claro estar presente em todas as etapas da intervençáo: desde a fase
o seu papel como interventor. Ô interventor devo buscar uma üagnóstica, quando se processam a avaliaçáo da instituiçao e
relaçáo cooperativa do grupo-alvo, fazendo-o participar das suas necessidades psicossociais, passando pela fase de elabo-
atiüdades, técnicas e ünâmicas que forem realiztrdns, con- raçáo do projeto, quando se avaliam prioridades e decidem as
tribuindo assim para o desenvolvimento do proccsso. I! com estratégias, à fase da intervençáo propriamente rlita, quando

51
Kathia Maria Cosia Neiva Desenvolvimento da lnteÍvenção Psicossocial

a preocupaçáo recai em avaliar os resultados dir irr ll:r'vcrrçáo, utilizar para essa finalidade uma frcha
de avaliaçáo de satis-
as mudanças ocorridas e finalmente a eficticia rlo ;rrograma façáo, uma dinâmica de grupo ou ainda solicitar a apreciaçáo
de intervençáo. A avaliaçáo dessa úItima etupl sorii objcto de verbal do gtupo, suas críticas e sugestóes. Deve-se incluir uma
uma discussáo mais detalhada. avaliaçáo da pertinência das técnicas e estratégias utilizadas e
A avaliaçáo de programas de intervenção rrcrrr sompre é da evoluçáo do relacionamento grupal. No anexo 1 apresenta-
uma tarefa de fácil realizaçáo. Em primeiro lngirr; ó ncccssá- se um modelo de ficha de avaliaçáo em forma de questionário
rio avaliar a intervençáo constantemente. Dovo-su roscrvar com questões abertas e no anexo 2, um segundo modelo em
um tempo, ao final de cada encontro, para quo o grupo possa forma de questionário com questões fechadas a serem respon-
avaliar o encontro, as estratégias utilizadas visrrntlo iur alcan- didas em uma escala de tipo Lihert. Ambas as fichas podem
ce dos objetivos propostos, ao andamentô da intcrvençiro, às ser adaptadas ao propósito e realidade da interwenÇáo.
relações no grupo. O feedbach do grupo ó f u rrrlirnrcn l,al para
a revisáo e reorganizaçáo do planejamento irricirrl. Nesse A devoluçáo e diwlgaçáo dos resultados
momento, a avaliaçáo pode ser feita em Ítrrml rkr rliscussâo
grupal, que permita aos participantes maniÍirsl,i r ronr suas De acordo com Machado (2004, p. 46):
opinióes, críticas e sugestóes.
Entretanto, é necessário prever alguma íirrnrir rle irvaliar A devoluçáo ao conjunto social das observaçóes feitas, dos
a intervengáo como um todo, verificando a oxistônci:r rlc mu- dados e informaçôes levantados, das imagens - fotografias,
frlmagens - realizadas, das hipóteses e reflexôes suscitadas
danças e a satisfaçáo do grupo.
pela intenençáo é dispositivo comumente usado neste tipo
Para verificar se existiram mudanças com rcl;rçÍo ir sit,uaçáo de trabalho. A devoluçáo desencadeia novos discursos,
foco da intervençáo, sugere-se a utilizaçáo de alpitrnr insl,r'trmen- novas análises, elaboragóes.
to psicológico específico: teste ou escâla psicokigicir, rnl,r'cvista
estmturada, etc. Vale a pena utilizar algum inst,rrrrrrcnto já Portanto, os resultados devem ser devolüdos ao próprio
padronizado e validado, mas caso náo se enconlro.iri ptrblicado grupo-alvo, para que ele tome posse também das mudanças
um instrumento adequado ao propósito, é possívcl rrrrrst,mí-lo. processadas. É importante pensar que o grupo-alvo é um
Para a construçáo de instrumentos, sugere-sc corisrr ll,rrl ir obra agente de mudanças e poderá funcionar como multiplicador.
de Bunchaft e Cavas (2002), cqia leitura é fácil c b;rsl,irnlc di- Nesse sentido, deve-se fazer um prognóstico e decidir sobre
dática. O mais adequado é que esse instrumcnLo scjrr :rplicado a continuidade ou náo de novas intervençóes, implantando,
no início da intervençáo (pré-teste) e reaplicarkr :ro Íinal da se for o caso, dispositivos para que o grupo dê seguimento ao
interwençáo (pós-teste). A comparaçáo dos result;ulos olrtidos trabalho, fazendo de forma permanente um processo de auto-
no pré-teste e pós-teste permitirá avaliar critu ios:rnrurte a análise e autogestáo, ainda que com algum acompanhamento
evoluçáo do grupo a partir da intervençáo, tr rxrrrrôrrr:ia de ou intervenções eventuais (BAREMBLITI 2002).
mudanças e consequentemente a eficácia da intorvcrrçao. Com relaçáo à divulgaçáo dos resultados a outras instâncias
Entretanto, é necessário também fazer o gmpo cxprossar da instituiçáo e à comunidade científrca, isso deve ser feito com
sua apreciaçáo e satisfaçáo com relagáo à intervonçiur. l)rxlc-se base em princípios éticos. Por isso, é necessário deixar esse
Kathia lúanâ (;o:;tir N,,v,, Desenvolvimento da lntervençao Psicossocial

pontoclaroaoestabelecerocont,r'irl.or,lnrrrrilrrr.rurrrglrllir.iltan- Vale também lembrar todas as questões éticas relaciona-


tes do grupo-alvo, um termo de trtt l,olizr rr.: ro pr rr';r r livr rl;Jrrr. i ro rlos das ao sigilo e à confrdencialidade dos conteúdos emergentes
resultados. É comum a instituiçixr sol ici l ; r l r r r r lt r l r rlio sol)re
r l durante a intervençáo. Portanto, caso o profissional pretenda
a intervençáo e este relatório dcv(' r.r,r' r'orrrrl lrrrrlrr rL. lil ma dil-ulgar nos meios científicos a experiência de intervençáo e
ética, protegendo a identidade dos prrl|ici1rrrrrIr.rr ( )rrlr,rrrrllrrrlos seus resultados, é necessário tramitar o Termo de Autorizaçáo
devem ser apresentados e analisados l.orrl u rr lr r r', rr rr, r'r.Íi.r'rlrrciâ para esta Íinalidade.
o grupo e náo os pâúicipantes indivirlrr;rlrrr,.rrl,. Como ressalta Sarriera, Si1va, Pizzinato, Zago e Meira
O mesmo vale parâ a divulgaçáo Iros rrrr.iorr l rr.r r I r l'rr'os, rlue (2000, p. 28),
é de suma importância, pois permitirti r r rr. r r r r I r.r !r. r r('r ro I,r,ssa
1
r

ser replicada em outros gTupos Conl ir rr(,lnrir prolrlr.rtr;il,ica Quando interwimos na realidade alheia ou quando desven-
damos um conhecimento, somos responsáveis pelas vidas
ou adaptâda a outros meios e situaçÕos.
'ali' presentes, bem como pelos próximos conhecimentos
que iráo surgir e até pelo andamento das tendências da
Algumas questões éticas ciência, da cultura e das socieclades.

Uma questáo ética importante diz n'splrl,, r r : rlr.r lrr.r ro. por Por isso, o profissional que atua na área de intervençáo
pârte do profissional, dos objetivos da ittsl il r rrcr ro. or ;,rr r r rzr r1:âo psicossocial deve possuir sólidos conhecimentos teóricos e
ou comunidade na qual se propóe a into vir'. ll,.1irrrr,l,r llllger metodológicos, atitude profissional e ética, a1ém de um grânde
(1984), o psicólogo náo deve aceitar rcirliziu rrrrr lr;rlrrllro un compromisso e responsabilidade para com a sociedade.
uma instituÍçáo que rejeite ou cujos olljcl.ivorrol rri,roii l)itrâ
alcançá-los náo esteja de acordo. Para ck' "r.rrr I ': Lr, , , L r1i ir r, a Referências bibliográficas
ética coincide com a técnica" (BLEGEIi, lllll l, tr I lr Âklm
disso, o psicóIogo náo deve âceitar umit lirlll)r pr rrlrrriorral BAREMBLITT, G. Compêndb de anó,lise institucional e outras
se está demasiadamente envolvido nâ itts{ ilrrrr;rro ,rr r(} sou correntes: teoria e prática. 5. ed. Belo Horizonte: Instituto Fellx
movimento ideológico, â menos que elc l,{,nlrr lrrrr,lrr',r.s tle Guattari, 2002.
estabelecer certa distância operativa e insl r'r r r r r,,r r I r r I r ; r r, xrr-
r 1
BLEGER, J. Psico-higiene e psicoLogia institucional. Porto Alegre:
mita que atue profissionalmente como psir.oh 1i, Artes Médicas, 1984.
O profissional deve ainda estar atento ir s(,rr pr,,lr r rr vt- BUNCHAFI', G.; CAVAS, C. S. T. Soó med.icJa.: nm guia sobre a
lores, que nem sempre sáo semelhantes aos r lo 1'r'r rIr,, rr Ivo oll elaboraçáo de medidas do comportamento e suas aplicações. Sáo
da instituiçáo. AIém disso, mesmo sendo u rlr cir. r r I l I r r r r lca r r rr r
Paulo: Vetor, 2002.
social, ele é contaminado pelos valores que t'r,;ir,r r r rr r ol rlr lrrrle ENRIQUEZ, E. O papel do sujeito humano na dinâmica social.
e a culturâ na qual está inserido. Logo, é Íirrrr|rrrrrlrrIrrI rlrre In: LEVY, A. et al. Pslcosso cioLogia: alálise social e intervençâo.
avalie seus próprios valores e a ética quo irrlrrlr, rr,, ,lllirrir Petrópolis: Vozes, 1994. p.24-40.
quais mudanças busca quando ingressa ell) llr ,lrrr1,,, rrlvo MACHADO, M. N. M. Próticas psicossociais: pesquisando e
(SARRIERA et al., 2000). intervindo. Belo Horizonte: Ediçóes Campo Social, 2004.
Kalhtr lvl,Ír,,. ,*r.' rr.., , Desenvolvimentoda lntervençào PsrcossocLal

SARRIERA, J. C. et al. , t,, r.,, ,,, r,,t . ,rljlurnas Anexo I Modelo de ficha de avaliaçáo
I r rI r,
.
'
r
.
r' ,,r r, , r

S^ll lll l, lt \ t r, r,,,,,,1 t l'::rr,rlogicr.


questóes éticâs etécnicas. lrr:
-
comunitúria: estudos atuais. l'l)r lr, ;\1,,1,r, ,r'lll' , '0ll l) :5-44. da intervençáo

Ficha dê avaliação da intêrvenção

(opcional)_
Nome:
ldade: Sexo:
lnstituiçào:
Data: I

1. A maioÍ descoberta que Íiz foi

2. Do que mais gostei

3. Do que menos gostei

4. O que faltou

6. A atividade mais produtiva foi

7. Aatividade menos produtiva foi

8. Os participantes do grupo

9. Os proÍlssionais

10. Minha participaçáo no grupo

Críticas e sugestÕes:

57
Kethie Mârla Coste N.ive

Anexo 2 - Modelo de ficha de avaliaçáo da


intervençáo
Ficha de avaliação da intorvonçâo
Nome: (opcional)
ldadê: Sgxo:_
lnstituição: Data: I I

Para cada questão, circule a resposta que melhorexprê88ê 8ua oplnlão ou sentimento
sobrê o âssunto.

1. Considero que a intêrvenção da qual participêiÍoi:


'1. Muito ruim 2. Ruim 3. Razoável 4. Boa 5. Iúuito boa
2. Com relação aos objetivos proposlos, considero que foram alcançados:
'Í. Nenhum 2. Poucos 3.Alguns 4. A maiorla 5. Todos
PnnrE II
3. considero que âs atividades realizadas ao longo da lnteNênçáo foram:
1. Dêsintêrêssântes 2. Pouco interêssantês 3, lntgres8antês
4. Bastanie intêressântes 5. Muilo interessantês
4. Considero que as atividades realizadas ao longo da intervenção foram;
1. lmprodutivas 2. Pouco produtjvas 3, Produllvas ExprruÊNcrAs DE lNrenveNÇÁo
4. Bastante produtivas S.Muito prodúivas
5. Considero quê a interação grupal durante a intervênção foi: Psrcossocru-
í. Muito ruim2. Ruim3. Razoável 4. Boa 5. Muito boa
6. Considero que a comunicaçâo grupaldurante a intervenção fol:
1. Muito ruim2. Ruim
3. Razoável
4. Boa 5. Muito boa
T.Considêrc que a atuação do(s) interventor(es) Íoi:
1. Muito ruim
2. Ruim3. Razoável 4. Boa 5. Muito boa
8. Considêro que as condiçôes êm que a lntervenção o@rÍêu foram:
'1. Muito ruins
2. Ruins
3. Razoáveis 4. Boas
5. Muito boas
9. Meu sentimento geral sobre a intervenÉo que parlicipei é:
'1. Detestei 2. Nâogoslei 3. Sou indiferenle 4. Gostêi 5, Gosteimuito
10. Mêu sêntimênto geIal sobre meu aprovêitamento na intorvênçáo á:
1. Não aproveilei 2. Aprovêitei pouco 3. Aprovêltei o suílciente
4. ApÍoveitei bastante 5. AprovÊitei o máximo que pudê
í1. Considero que os resultados da intervenção forâm:
1. lnsatisÍatórios 2. Pouco saüsÍatórios 3. Satisratôrios
4. Bastantê satisfatórios s.Muito satisfatórios
12. comparando meu bem-estar psicossooial antes e após a inlervençâo, agora
considêro que êstou:
1. Bem pior2. Piot 3. lgual 4. Melhor 5. Muito mêlhor

5A

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