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e colaboradores
r NTERVENçAO PSTCOSSOCTAL
Aspectos teóricos, metodológicos e
experiências práticas
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Tooor"lrd
1Â ediÉo
2010
www.velorediloro.com.br vêndos@vêlorêdiloro.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SB Brasil)
Apreeentaçáo.. 09
Clínica com a Psicologia Social. De um lado, o método psicana- Gerais, Sáo Paulo e no Rio de Janeiro. Uma anáIise histórica
lítico conseguiu quebrar a compartimentaçáo existente entre do desenvolvimento desta área no Brasil é minuciosamente
a pesquisa fundamental e a pesquisa aplicada e contribuir, apresentada por Machado (2004) e resumida por Barros
assim, para uma pesquisa e prática transformadoras. De ou- (1994).
tro lado, o conceito de pesquisa ativa, introduzido por Lewin, Atualmente, existem alguns grupos foúes de pesqúsa e atua-
reforçou a necessidade da complementaridade entre pesquisa çáo nesta área, concentrados nas Universidades Federais de
e açáo e a importância de se pesquisar sobre as situações da Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do SuI
vida corrente, saindo dos laboratórios (PAGÀS, 1976). Lewin e Sáo Joáo Del Rei, que têm contribúdo para a sistematizaçáo
introduziu ainda o termo "dinâmica de grupo", em L944, das ideias teóricas e desenvolvimento de práticas psicossociais'
e seus experimentos e de seus seguidores que realizaram Náo se pode descartar a influência dos movimentos políti-
intervençóes em grupos foram fundamentais para o desenvol- cos e sociais ocoÚidos na rea.lidade brasileira, principalmente
úmento da psicossociologia. As ideias de Moreno, fundador a partir da década de 1970, que provocaram o aumento im-
do psicodrama e da sociometria, foram também de grande portante de pesquisas e discussóes científicas sobre o tema,
contribuiçáo para o desenvolvimento da área. A sociometria, a criaçáo de ONGs, e a formaçáo de inúmeras associaçôes
além de permitir o estudo das inter-relaçóes no grupo, é uma üsando o desenvolümento comunitário e social (PEREIRA,
técnica que faciüta as mudanças sociais, unindo a pesquisa e a 2001). Vale mencionar também a contribuiçáo dos trabalhos
intervençáo (IÁPASSADE, 1977). Além desses, outros autores de conscientizaçáo e de pesquisa participante de Paulo Freire
contribúram para compreender os processos grupais e propor e os projetos desenvolvidos pelas Comunidâdes Eclesiais de
formas de atuaçáo e desenvolümento dos gmpos, como Bion Base (BARROS, 1994; MACIIADO, 2004).
(1975) e Pichon-Riviêre (1988), sendo que a metodologia dos Para Machado e Roedel (1994, p. 7) a psicossociologia é
grupos operativos proposta por este último tem sido frequen- uma vertente da Psicologia Social cujo campo "é o dos gru-
temente incorporada às intervençóes psicossociais. pos, das organizações e das comunidades, considerados como
E importante tarnbém salientar as contribuições de Rogers, conjuntos concretos que mediam a üda pessoal dos indiúduos
que introduziu o conceito de náo diretiúdade, ressaltando a e sáo por ele criados, geridos e transformados". A interven-
capacidade do indiúduo de perceber seus problemas e de ser çáo psicossociológica surgiu a partir dos anos 1950, quando
parte integrante na busca das soluções (LAPASSADE, 1977). os psicossocióIogos passaram a priorizar os problemas e se
preocupar com as instâncias de mudança, respondendo às
VaIe ainda mencionar a influência de autores que se dedi-
caram à psicologia institucional, facilitando a compreensáo e demandas e incorporando o papel de pesquisador-interven-
anáIise das instituiçóes e organizações como Lapass ade (1977),
tor. Dubost (1994) expõe em detalhes a origem e evoluçáo da
Bleger (1984) e Baremblitt (2002). Concorda-se, portanto, intervençáo psicossociológica.
Machado t2004, p. I5) deftne:
com Nasciutti (1.996, p. 105), ao aÍirmar que "os fundamentos
teóricos da psicossociologia sáo multirreferenciais".
A pesquisa-intervenqáo psicossocial como um trabalho de
No Brasil, a area da Psicossociologia sofreu grande influên- produçáo de conhecimenlos sobre grupos, organizaçóes,
cia de autores franceses como M. Pagês, J. Dubost, A. Lêly, E. instituiçóes, comunidades e movimentos sociais, fundado
Enriquez, G. Lapassade e outros, principalmente em Minas nas reflexóes teóricas e descobertas da psicologia social e
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Kathia t\,laía Costa Neiva O que é lntervenção Psicossocial?
da psicossociologia, e, simultaneamente, um conjunto de A prática náo é uma derivaçáo subalterna da ciência, mas
práticas clínicas de consulta voltadas ao tratarnento desses sim seu núcleo ou centlo vital; e a investigaçáo científica
diferentes conjuntos sociais e meios abertos. náo tcm lugar acima ou fora da prática, uras sim dentro
do curso da mesma.
De acordo com Sarriera e colaboradores (2000, p. 32), o
objetivo principal da intervençáo psicossocial é "possibiiitar
1.2. Preocupaçáo em gerar mudança e
melhores condições humanas e de qualidade de vida". A
intervençáo psicossocial visa assim ao processo de interaçáo desenvolvimento
sujeito-meio social e pode abranger diferentes áreas: saúde
mental, polÍtica, economia, educaçáo, etc. Provocar algum tipo de mudança no sentido de desenvolvi-
Considera-se, portanto, que a intervenção psicossocial tem mento é o objetivo fundamental da intervençáo psicossocial.
um caráter de pesquisa-açáo que visa facilitar o bem-estar Mas, mudança alguma pode ocorrer sem que a necessidade de
psicossocial de indivíduos, grupos, instituiçôes, organizações mudança seja primeiramente percebida e sentida pelo grupo.
e/ou comunidades. Ninguém muda sem ter consciência e desejo de mudar. Além
A seguir seráo discutidas algumas características básicas disso, a resistência à mudança é comum no ser humano, e
da intervençáo psicossocial: sáo muitos os fatores que diÍicultam as mudanças. Carreteiro
(1994, p. 100) retomando as ideias de Lévy ressalta que as
1.1 . Carâter científico, unindo a pesquisa à ação "verdadeiras mudanças ocorrem a partir da elaboragáo das
dificuldades e da criaçáo de novas modalidades de busca da
Conforme mencionado anteriormente, a intervençáo psi- verdade", o que requer um genuíno trabalho psíquico. Maison-
cossocial segue os parâmetros do método científlrco, unindo a neuve (1977) e Léry (1994b) discutem o problema da mudança
pesquisa à açáo. A pesquisa permeia todo o processo, desde a e a contribuiçáo da psicossociologia para compreender e lidar
análise da demanda e o mapeamento das necessidades psicos- com as mudanças grupais.
sociais até a etapa Íinal de avaliaçáo da intervençáo. É esse Vale ainda pontuar a ressâIva feita por Sarriera, Silva,
caráter científlico que produz reflexáo, crítica e reformulaçáo. Pizzinato,Zago e Meira (2000) sobre a necessidade de avaliar
Como ressalta Lérry (1994a, p. 109): 'A intervençáo junto a os valores e a ética adotados ao deÍinir quais mudanças sào
um grupo deve ser vista, ao mesmo tempo, como uma açáo e almejadas para o grupo alvo da intervençáo.
como um modo de desenvolvimento de novos conhecimentos."
O profissional que atuâ nessa área assume assim um papel 1.3. Foco em grupos, instituições e
de pesquisador-interventor.
Reforçando a importância da relaçáo entre pesquisa e açáo,
comunidades
Bleger (1984, p. 32) assume que:
Apesar de gerar mudanças intrapessoais, a intervençáo
[...] náo há possibilidade de nenhuura tarefa profissional psicossocial tem como alvo os grupos, instituiçóes, organiza-
correta em psicologia se náo é, ao mesmo tempo, uma in- çóes e comunidades. O alcance da intervençáo deve ser amplo
vestigaçáo do que está ocorrendo e do que está sc fazendo. e visar mudanças que váo, até mesmo, além dos grupos. Os
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Kathia Mariâ Cosla Neiva O quê é lnteÍvenção Psicossocial?
problemas e necessidadês dos grupos estáo sempre ligados . Em períodos críticos da vida que exigem o enfrentamen-
aos problemas e necessidades das instituiçóes das quais eles to de problemas específicos: imigraçáo, doença, desastres
sáo parte integrante. Logo, "náo se pode tratar dos problemas econômicos, acidentes, tragédias, etc.
dos grupos, sem tratar ao mesmo tempo dos problemas das
organizações e das instituições" (LAPASSADE, L977, p. 62). Carreteiro (1994) chama a atençáo para o fato de que as
Além disso, uma comunidade, organizaçáo, instituiçáo é for- sociedades vêm sofrendo rupturas e mudanças que geram
mada por um conjunto de grupos, que se inter-relacionam e rnal-estar nos indiúduos e ressalta o papel importante dos
se interligam. Uma açáo em um dos grupos gerâ efeitos nos pesquisadores-interventores narealizaçáo de intervenções que
demais e, consequentemente, no conjunto como um todo. facilitem o enfrentamento e superaçáo das dificuldades. Alguns
dos problemas observados na atualidade sáo: o crescimento
1.4. Açáo sobre os problemas atuais da do indiüdualismo, a busca incessante de sucesso econômico e
intolerância às diferenças, que têm acarretado disputas entre
sociedade e necessidades psicossociais de
naçóes, etnias, grupos religiosos e outros.
grupos, instituições e/ou comunidades Na medida em que a intervençáo psicossocial tem como
objetivo geral melhorar a qualidade de vida e o bem-estar
Quando se pretende a promoçáo do bem-estar psicossocial, psicossocial dos indivíduos, é necessário, portanto, conhecer
é necessário pensar em uma estrutura complexa, com múlti os fatores que interferem neste bem-estar. O mapeamento e
plos fatores que podem causar o mal-estar: fatores de ordem
a análise das necessidades psicossociais do grupo, instituiçáo,
econômica, cultural, social e outros. Logo, as necessidades organizaçáo ou comunidade foco da intervençáo sáo fundamen-
psicossociais podem ser variadas, Podem estar associadas
tais. Tais necessidades podem estar na área de saúde, educa-
à moradia, alimentaçáo, educaçáo, trabalho etc. O papel do
çáo, trabalho, economia ou outra; o importante é conhecê-las
interventor é agir sobre os fatores psicológicos que estejam e definir prioridades para decidir o(s) foco(s) da intervençáo.
associados à náo satisfaçáo dessas necessidades ou à promoçáo
Essa decisáo deve ser tomada com ou pelo grupo.
necessária para atendê-las (BLEGER, 1984).
Entretanto, vale ressaltar que as intervenções psicosso-
Bleger (1984, p.79) aponta diversas situaçóes em que o
ciais náo se aplicam apenas às populações desfavorecidas. No
psicólogo pode contribuir com intervenções visando à psico-
Brasil, em funçáo dos problemas sociais, das desigualdades
higiene na comunidade: de renda, das condiçóes de vida, a maioria dos tratlalhos na
. Em diferentes instituiçóes: família, empresas, fábricas, iirea é desenvolvida com essa populaçáo. Mas, o conceito de
escolas, clubes, prisóes, etc.
intervençáo psicossocial abrange todo tipo de grupo, institui-
Em distintas etapas do desenvolvimento da personali-
çáo ou comunidade (NASCIUTTI, 1996).
dade: infância, adolescência, maturidade, velhice.
Em períodos de mudança no desenvolvimento: nasci-
mento, desmame, puberdade, etc. 1.5. lntervençáo focada
Em situaçóes signifrcativas que requerem mudanças:
casamento, graüdez, divórcio, adoçáo, reforma, luto, A intervençáo náo consegue abranger todas as necessidades
escolha profissional, desemprego, aposentadoria, etc. de um grupo, instituiçáo, organizaçáo ou comunidade' Portan-
Kathia À/áda Costa Neiva O que é lntervenÇâo Psicossocial?
to, é importante definir quais as necessidades mais prementes A psico-higiene náo gira ao redor da doenqa e sim das
e mais üáveis de intervençáo para que se possa estabelecer o(s) condições habitua.is da vida nas situações reais em que
foco(s) da interwençáo. Sem isso, corre-se o risco de ajudar a elas se dáo, tomando seus ploblemas e alternativas em
si mesmas e em funçáo dos seres humanos que intervêm
querer resolver tudo e náo resolver nada, perdendo-se o rumo
em cada uma delas. (BLEGER, 1984, p. 80).
e eficácia da intervençáo. Como enfatiza Bleger (1984, p. 4S),
com relaçáo ao trabalho do psicólogo em instituiçóes, este A psico-higiene está, poúanto, relacionada à utilizaçáo dos
nrcursos psicológicos para enfrentar os probiemas que surgem
não pode trabalhar com todos os integ.rantes ou todos os
rro desenvolvimento da vida dos grupos, das instituições e das
organismos dainstituiçáo ao mesmo tempo nem tampouco
isso é a desejar; por isso deve-se examinar os pontos de ur- rrlnunidades.
gência sobre os quais intervir como objetivos imediatos. Dessa forma, a interwençáo psicossocial na qualidade de rírea
rle atuaçáo volta o seu olhar para as situações cotidialas, para
Deve-se definir, portanto, as prioridades, sendo possÍvel até rrsatiüdades e necessidades da vida corrente da populaçáo, bus-
intervir em diferentes focos, desde que se planeje devidamente t ando prioritariamente a promoçáo de bem-estar psicossocial.
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Kalhia túaÍia Cosia Neiva O que é lnlervençáo Psicossocial,
intervençáo deve levar em conta as especificidades da institui hrplirr renovar-se sem contribuições externas" (LEVY, 1994a,
çáo e contemplar as adaptaçóes necessárias, trabalhando até I r. I l2), apesar da difrculdade de tais articulações em funçáo de
com o enquadre possível. O local, o horário, a frequência dos ,Iili'r'enças epistemológicas e de representaçóes de objeto.
encontros, a forma de participaçáo do gr-upo náo podem ser I)e outro modo, Bleger (1984, p. 72), ao discutir a impor-
rígidos e devem, portânto, ser adaptados ao que for possível lrrrrcia da psico-higiene, aponta a necessidade de os psicólogos
pâra que a intervençáo ocorra e seja eficaz. , orrhecerem mais sobre a psicologia das situaçóes e da vida
O processo de intervençáo psicossocial passa pelas seguin- , ol,idiana e elaborarem "teorias psicológicas que náo partam
tes fases: ,.sln,e ificamente da patologia''.
Einalmente, Machado (2004, p. 24) conclui que "a pesquisa-
Diagnóstica: fase em que ocorre a caracterizaçáo da irrl,r:rvençáo psicossocial é uma forma privilegiada de produçáo
instituiçáo, a análise das necessidades psicossociais e a r conhecimento científico novo e inédito".
L.
delimitaçáo do(s) foco(s) da intervençáo. Náo se pretende esgotar aqui as origens e características da
Delineamento da interuenção: fase de planejamento e lutorvençáo Psicossocial, mas sim traçar algumas diretrizes
elaboraçáo do projeto de intervençáo. lriisicas para o trabalho nesta área, facilitando assim a com-
Desenuoluimento da interuençã.o: fase de aplicaçáo do prr:ensáo dos aspectos metodológicos que seráo apresentados
planejamento de modo flexível, sendo este passível de rros próximos capítulos.
mudanças a partir das necessidades e dos feedbacks do
grupo-alvo. lieferências bibliográficas
Aualiaçao da interuençao: fase em que se verifica se
os objetivos propostos foram alcançados, se ocorreram
IIAREMBLITT, G. Compêndio de anólise institucional e outras
mudanças, ou seja, avalia-se a eficácia da intenenção. i)rrentes: teoria e prática. 5. ed. Belo Horizonte; Instituto Felix
. Deuolução e diuulgaçdo dos resultados: fase em que os { lrrattari, 2002.
resultados sáo comunicados ao grupo, à instituiçáo ou
II^RROS, R. D. B. de Intervençâo Psicossociológica. In: LÉ\ry, A. et
à comunidade, incluindo também a possibilidade de tl. Psicossociologia: aruó.lise sociaL e intet'üençõo. Petrópolis: Vozes,
dil'ulgaçáo científica dos resultados para disseminaçáo ll)94, p. 155-159.
da proposta interventiva.
lllON,W R. E*periências com grupos. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago;
Srio Paulo: EDUSB 1975.
LéW Q994a) , ao analisar as perspectivas futuras da Psicos-
sociologia, aponta a influência crescente da psicanálise e de IILEGER, J. Psico -higiene e psicologia institu.cional. Porto Alegre:
Altes Médicas, 1984.
trabalhos na área de inspiraçáo psicanalítica e a contribuiçào
de certas correntes da Sociologia Clínica na compreensáo ( TARRETEIRO, T. C. Psicossociologia em exame. In: LÉVY, A. et
das dimensóes institucionais e culturais e a multiplicaçáo rl. P sicossociologio. anfise social e intervençáo. Petrópolis: Vozes,
1994, p. 99- 100.
de estudos orientados para a análise de discursos coletivos e
interaçóes linguísticas. Destaca, assim, "a necessidade de uma (IASAS, n Desafios atuais da psicologia na intervençáo social.
abordagem pluridisciplinar e a impossibilidade da psicossocio- I'sicologia & Sociedade, v. 17, n. 2, p. 42-49, 2005
Kathia À,,laria Cosla Neiva
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Kaihia túaÍ a Costa Neivâ CaracterizaÇão lnstitucional ediagnóstico das necessidades psicossociais
emergir demandas náo consiste em adotar uma atitude de rrrcrrt.o diagnóstico. Em seguida, devem-se delineaÍ os pâssos
escuta passiva" GÉVy 1994, p. 107). rrr.rrrssários para a coleta das informaçóes que permitiráo
Quem fez a demanda inicial? A direçáo da instituiçáo, ,:rr';rcterizar a instituiçáo, organizaçáo ou comunidade e
um setor específrco, algum funcionário ou técnico? partiu ,lrj rIr rosticâr as necessidades psicossociais.
do quadro diretivo ou das bases? A demanda foi espontânea l)iversos instrumentos podem ser utilizados nesta etapa
ou surgiu após uma oferta do serviço? E importante analisar
1,,u rr a coleta de informaçóes e dados; os mais empregados sáo:
como surgiu a demanda, se houve um encaminhamento, de , rr i lcvistas abertas, semiabertas e/ou fechadas, questionários,
quem partiu e como se deu.
, ,lrsclvações, análise histórica e documental, üário de campo,
Além disso, segundo Bleger (1984, p. 42), para que uma lirlos, fiImes, gravações e outros procedimentos comumente
instituiçáo solicite e aceite a intervençáo é necessàrio um r r I ilizados nas pesquisas-açáo e pesquisas participantes (MA-
"certo grau de maturidade ot insight de seus problemas ou ('llADO, 2004; SARRIERA et al., 2000; SARRIERA, 2008).
de sua situâçáo conflituosa, mas a funçáo do psicólogo conduz
'l'odos os contâtos que o psicólogo estabelece com a ins-
também a que se tome consciência de sua necessidade,,.
I ilrriçáo/organizaçáo ou comunidade fornecem material
Para Baremblitt (2002), o diagnóstico inicial é fundamentat
rrrrportante para o diagnóstico. Logo, este deve estar atento
e, portanto, deve ser estabelecido um contrato com tal fim,
:r l.odo tipo de informaçáo verbal ou náo verbal, positiva
implicando a criaçáo e utilizaçáo de dispositivos para ouvir
,rrr negativa, assim como às alianças, defesas e resistências
todas as partes, além daquela que fez a demanda inicial e co_
,Irs vários plofissionais que atuam na instituiçáo. Por isso,
lher os dados necessários. Segundo este autor, .,o diagnóstico
r orrvêm ao psicólogo registrar minuciosamente suas visitas,
já é uma operaçáo de intervençáo,, (BAREMBLITT, 2002,
p. 102), por isso deve ser autorizado e legitimado. lontatos, observaçóes, entrevistas, náo poupando detalhes,
pois sáo estes que muitas yezes fornecem pistas sobre as
Toda instituiçáo tem uma organizaçáo própria e objetivos
r rcr:cssidades latentes.
específicos que devem ser devidamente conhecidos pelos
interventores pâra que possam decidir sua tarefa profissio_
Todos os primeiros contatosjá conduzem a uma impressáo
nal na instituiçáo. A instituiçáo possui objetivos explícitos e
preliminar de caráter diagnóstico, para o qual se deve
implícitos, necessidades manifestas e latentcs. Ao analisar conhecer também a história da instituiçáo e - pelo me-
uma instituiçáo o psicólogo deve náo só conhecer os aspectos nos os grandes delineamentos de suas calacterÍsticas.
explícitos, mas, principalmente, os implícitos po.u to-u. (BLEGER, 1984, p. 51).
decisões e realizar assim sua tarefa de intervençáo.
euanto
aos objetivos, é necessário diferenciar os próprios objetivos da Às visitas institucionais e entrevistas devem ser previa-
instituiçáo (explícitos e implícitos), dos objetivos para os quais rrrr.nte agendadas de acordo com a disponibilidade de ambas
a instituiçáo solicita ou aceita a intervençáo do psicólogo. E o ls partes: interventor e instituiçáo. E fundamental respeitar
estudo diagnóstico que permite conhecer mais profundamente :rs características da instituiçáo, sua rotina, suas normâs e
a instituiçáo e suas necessidades (BLEGER, l9g4). :,,.rr funcionamento. O interventor deve manter sempre uma
Sendo assim, a primeira etapa consiste em tramitar as rrlil,ude ética e de respeito para com a instituiçáo, seus diri-
devidas autorizações e estabelecer o contrato para o levanta_
ltlntes, seus funcionários e sua clientela.
Kâthta Maria Costa Neivâ CaÍacterização institucionâl e d agnóstico dâs necêssdades psicossoclais
Mas, o que é necessário saber sobre a instituiçáo? É ne- Âpós a coleta dos dados, estes devem ser analisados, o que
cessário conhecer vários aspectos da realidade insiitucional. 1',,r k' ser feito por meio de diferentes técnicas. A escolha das
Para efeito didático, apresenta-se, no anexo 1, um roteiro Ir,, rricas deve estar relacionada aos objetivos da análise. Mui
para caracterizaçáo da instituiçáo e um levantamento lirii vczes sáo utilizadas várias técnicas ao mesmo tempo. As
das
necessidades psicossociais. AJgumas ideias para t ,.r rr icas devem abarcar aspectos qualitativos e quantitativos
esse roteiro
foram extraídas de Bleger (1g84) e Sarriera 1200g). O roteiro riri\lltlIERA, 2008). Podem ser usadas, portanto, análises
inclui questóes relacionadas aos seguintes aspectos: , lrrt.ísticas, análises de conteúdo, análises do discurso, etc.
Ao analisar as necessidades psicossociais é necessário defi-
a) Dados da instituição r r rl rluais as prioridades e os pontos de urgência para entáo po-
d) Infraestrutura da Instituiçáo ,,r rr r rrrgência, mas também dos recursos humanos, econômicos
e) Funcionários/Profi ssionais , i r tnicos. Além disso, "a planifrcaçáo tem que contemplar náo
f) Necessidades psicossociais (relacionadas à equipe técni- .,, r ulgência imediata como também objetivos de mais largo
ca e aos funcionários; relacionadas à clientelai ,rl( iurce" (BLEGER, 1984, p. 76). Alguns índices para avaliar
c) Interesse c disponibilidade institucional para o desen_ ,,,r lllioridades sáo apontâdos por esse autor como sugeridos
volümento de um projeto de intervencão psicossocial 1,,r'Molina e Adriasola: "gravidade do dano, possibilidade
rL. r'vitar o dano, custo uerszs dano, rendimentos, atitude da
Evidentemente, esses dados seráo coletados ao longo de ,',,rrrLrnidade." (BLEGER, 1984, p. 76).
uma série de visitas, entrevistas, observaçóes e deverá-o ser l,óvy (1994) aponta tambóm três pontos importantes para
organizados em forma de relatório que permita extrair ,, ;rnlilise da demanda:
conclu_
sóes e traçar
}m diagnóstico das necessidades psicossociais da . considerar a heterogeneidade da demanda;
instituiçáo. E esse diagnóstico que norteará as decisóes com . situar a açáo em uma perspectiva de pesquisa;
relação ao(sr foco(s) dâ intervencáo. . definiq desde o início da açáo, os objetos de pesquisa
Segundo Nasciutti (1996, p. fbS-ffO), ao analisar a insti- comuns aos interwentores e solicitantes estabelecendo
tuiçáo o psicossociólogo: rrrna relaçáo de colaboraçáo.
[...1 vai dirigir seu olhar tanto para o que é de ordem do A rrnálise das necessidades prioritárias deve, portanto, ser
instituído 0ugar da instituiçáo no sistema socioeconômr_ Ir.rlir cm conjunto com a equipe institucional, pois interventor
co-polÍtico, identidade social, história), tanto para o que é
,. rrrst.ituiçáo devem estar de acordo nas decisões que seráo
de or.dem funcional (hierarquia, sistemas de àecisáo e
de l('rrirdâs com relaçáo ao(s) foco(s) da intervençáo. Só entâo
comunicaçáo, funcionamento formal, divisáo de papéis),
assim como procurará apreender o que é da ordem do p.r k rr'á ser estabelecido um contrato definitivo que permitirá
sujeito e das relaçôes interpessoais. .rlrnçar para a etapa seguinte que consiste em planejar a
;t! rrlr.r'vençáo, definindo estratégias, táticas e técnicas e elabo-
necessârto, portanto, analisar diferentes níveis para r r rrrrlo assim um projeto com o devido embasamento teórico e
compreender a complexidade da realidade institucional. rr rll.orlológico. Esse tema será objeto do próximo capítulo.
psrcossoc ars
Kathia Mâriâ Côs1â Nêivâ CaÍactedzaçáo nstitucional e d agnóslico das necessidades
IIIr Srrrviços/clienteia
I )()uai(is) o(s) serviço(s) oferecido(s)
pela instituiçáo?
:l) (lomo é feita a dil'ulgaçáo dos serviços?
;ir (lual a clientela a quem os serviços se destinam?
I t (juantas pessoas se beneflciam atualmente
dos serviços?
l,r (iual é o fluxograma dos serviços oferecidos? Como é o
Íuncionamenl o da institu ição?
(i) (luais os dias e horários de funcionamento'/
31
Kathiâ í\,4aria Cosla Neiva
Caracterização institucional e diagnóslico das necessidadês psicossociais
que
As respostas às questóes anteriores nortearáo os aspectos I r',,r, r'r;gxr:íí'icos podem ainda náo estar clâros' À medida
teóricos e metodológicos do projeto. Entretanto, vale ressaltar ,, ,,,r'lr,'r'irrtt:nto sobre o tema foco da intervençáo vai se am-
mais evidentes'
que muitas decisóes devem ser tomadas conjuntamente com a l,lrrrrrrIr, os objetivos específllcos váo Íicando
equipe institucional, como o foco da intervençáo, os objetivos 11,,,,,,,1,, l,otla a construçáo do projeto náo se pode
perder de
que
prioritários, a populaçáo-alvo, as condiçóes da intervençáo e , r ,lrr , Iix o tla intervençáo nem seus objetivos' Sáo estes
outras. A participaçáo da instituiçáo é fundamental para a r r.r l'rnrr) as decisóes metodológicas.
quer uma boa triagem. O mais adequado é realizar a pesquisa l','1,r rl,rr,,to-Jlvo
em bancos de dados científicos, tais corno: BVS-Psi, PePSIC,
SciELO, Lilacs, Medline, Portal Capes, Redalyc. \ ,l, lirri1:ito cla populaçáo que será alvo da intervençáo é
Além da delimitação dos temas a serem pesquisados, é ,rr,r r,l,r prirrtciras questóes a serem decididas. A compreensáo
importante definir a perspectiva sob a qual os temas seráo ,l, .r I,r1rrrlrtçáo e suas características fará uma dilerença no
tratados. A perspectiva sob a qual se estuda o tema é que ,1, , rrr,,lvirrrento da intervençáo- A intervençáo visará um
determinará o desenvolvimento da intervençáo (SEVERINO, I,,'I,,,, rr;x.t íÍico, vários grupos deumainstituiçáo, todauma
2000). Por exemplo, ao decidir-se por estudar o tema sob a , ,, ,, L rr lc'/ É importante delimitar dentro dessa populaçáo
',,, 'r,
perspectiva da psicanálise, essa mesma perspectiva deverá ,1r.rl .r':r o grupo-alvo. Os procedimentos metodológicos
norteâr os aspectos metodológicos e o desenvolvimento da ,l'.' rr l(,nrill' em conta a composiçáo e características do
intervençáo. E importante haver uma coer'ência entre o ern- I ,,r1,,, ,rlvo. Algumas perguntas:
basamento teórico e as decisóes metodológicas. ' (Jr;ris as características sociodemográficas do grupo-
Ao longo da pesquisa bibliogr'áfrca deve-se procurar encon- . , , t scxo, idade, escolaridade, situaçáo socioeconômica,
'lr
trar intervençóes já realizadas, cujo Íbco foi similar no que , i, )'1
se pretende, analisando seus resultados, seus limites, suas ' ll, rluirntas pessoas será composto o grrpo-alvo?
cr'íticas e suas sugestóes. Esses tlabalhos poderáo servir de . í ) iinrpo-alvo é um grupo homogôneo ou heterogêneo?
modelo ou gerar ideias interessantes. Nas referências biblio-
gráficas desses trabalhos também se pode encontrar material lll ,tllíI('ntoS
importante de ser pesquisado.
O embasamento teórico sobre o tema foco da intervençào \ r' r'rltra dos instrumentos que seráo utilizados depende
permite compreender melhor a problemática e facilita a to- ,lrr, t,rrrr.rrt,c do reíerencial teórico, dos objetivos e dos pro-
mada de uma posiçáo sobre a perspectiva em que se plctende ,, ,lrrrr.rrlos a serem adotados ua intervençáo. Os psicólogos
desenvolver a intervençáo. AIém disso, é a partir daí que se ,,,rt,rrr (1)nr vários materiais psicológicos que podem vir a
consegue aprimorar a formulaçáo dos objetivos especíÍicos e , r rrlrlizrrtlos como: testes, técnicas, jogos e atividades psi-
ter mais claras a justiÍ'icativa e relevância da intervençáo. ,,r1,, r1;r1io;1icas, dinârnicas de grupo e outros. A decisáo dos
rrr .lr rrrrrcrltos que serão utilizados deve estar diretamente
3.3. Metodologia r r l.rr r,rlrr[r aos objetivos formulados. Sendo assim. essa es-
38
Kathra túâí a Costa Neiva
Elâboração do projelo de lntervenção Psicossoc al
1,,'r,, rl,r I rzir por disponibilizar o espaço. Esse locai, nem sem-
Du ração, periodicidade e local
t,rr ,. ,r rr;ris adequado, mas às vezes é o único que permite a
r rLrIr.';rcrro da intervençáo. O ideal seria poder contâr com
É importante prever o tempo de duraçáo da intervençáo, a ,rrr,.r .rl;r, orn instalaçóes adequadas, mâspode ocorrerque o
periodicidade e duraçáo dos encontros, assim como o local em ,rr,r,,' l,,, rrl rlisponível seja um pátio ou até mesmo uma praça
que estes seráo realizados. Entretanto, ao longo da interven_
çáo essas condições podem ser revistas e mudanças no contrâ- I',,rll,ll'lf rc Machado (2004, p. 45-46):
to sáo possÍveis. Uma intervcnçáo pode durar algumas horas
ou até anos, mas ao elabor.ar o projeto deve-se ter uma ideia () ritmo da intewenqáo é instável, pois estabelecido pela
estimada do tempo necessário para o alcance dos objetivos inter-relaçáo que se cria ao longo do trabalho entre pesqui-
propostos. Mudanças no contr.ato devem ser discutidas entr.e sirdor-consultor e pesquisado-cliente, pelos consentimen-
Ios recÍprocos (incluindo o contrato entre as duas partes),
interventor e grupo-a-lvo, e as decisóes devem ser tomadas
lxlas decisôes tomadas sempre em discussáo.
coqjuntamente, em alguns casos envolvendo também outras
instâncias da instituiçáo. Quando se lida com instituiçÕes,
l'r rrr lr lrn rctt toS
nem sempre é possível estabelecer contratos rígidos, pois
muitas variáveis intervenientes podem levar a mudanças,
t t rrrvr,l rle detalhamento dos procedimentos pode variar,
por exemplo, no horário de início ou término de um encontro,
rrr,r , , rrrrlxrrtânte é que o interventor tenha relativamente
no local previsto para as reuniões, na presenÇa ou ausência
, l,r,r r,rir ploposta de trabalho passo a passo.
dos participantes, etc. O interventor deve saber como lidar
l'irrr :rlllrrrnas situaçôes, o primeiro procedimento é di\.ulgar
com essas situações e encontrar a soluçáo mais adequada ou
,1 r1 , rgr,;rl ;1 cle intervençáo com a populaçáo-alvo, veriflrcando
possível para a continuidade da intervençáo. 1
sario planejar como isso ser'á dil,ulgado com os adolescentes e os \,' t,l;ut{'iaI'cada um dos encontros, deve-se defrnir:
pais. Por meio de uma palestra, de uma carta-convite, de uma . ,lrlr'l.ivos do encontro;
reuniáo, de um cartaz? Em seguida, deve-se prever como serâo ' rriil lllmentos que seráo utilizados;
feitas as inscriçóes para participar do trabalho e tramitadas as ' 1,r occrlimentos que seráo realizados;
autorizaçôes dos pais ou responsáveis, no caso de menores. . L,, ll r'sos neCessários.
Constituído o glupo-alvo, é necessário planejar os encon-
tros. Pode-se considerar que toda intervençáo em grupo passâ o ;rlirnejamênto de cada encontro é necessário
| '. rr ; r ter sem-
por três momentos, com características bem específicas: 1,,, , rrr n rlrr lc a duração do encontro, evitando assim planejar
,,,,, r, l,' ( l ll(' será possível realizar. Por isso, ao descrever cada
l. Apresentação e integraçào do grupo ,,',' ,1,,. |r'ocedimentos que seráo realizados (por exemplo,
,, r,,. r l r(;i ro dôs membros do grupo, aplicaçáo da dinâmica X
1,
Este é o momento inicial no qual se facilita a apresentaçáo ,,,r ,1., 1,1'ri(a Y. discussáo do tema Z), deve-se estar atento à
e integraçáo dos participantes incluindo os interventores, ,lrrr r, ,r. rL't:adâ âtividade. Assim, podem-se distribuir melhor
apresentam-se os objetivos da intervençáo e estabelece-se o , ,lrr r,l;rrlr.s no encontro e assegurar-se de que será possível
contrato de trabalho. Nessa fase inicial, exploram-se também , rr rl,rl r lrlanejamento.
as expectativas do gr-upo com relaçáo à interuençáo e realiza-se \,r1,, r,ssnltar', que ao longo do desenvolvimento da inter-
uma avaliaçáo prévia (pr'é-teste) da condiçáo dos participantes ,, r, i,,,,,, plane.jamento realizado ó passívei de adaptaçóes e
com relaçáo ao aspecto que será foco da inl,ervençáo. || r|, Iir|
r I I I pois, com frequência, outras situações sáo trazi-
|r ' I i
43
Káth a lúaí a Costa Neiva ElâboÍação do projeto de lnteNênÇão Ps cossocial
técnicas), até o material de escritório (papel sulflrte, lápis, ,rrrr r';rr:iocínio lógico e coerente e náo perder de vista os
caneta, lousa, giz, cartolina, etc.) e tambóm o mobiliario ,,lr;r.l ivos clo trabalho. Finaliza-se com a justificativa e
(sala com carteiras, colchonetes, etc.). Em geral, esse r,.l.vr'rrrcia sociâI do projeto de intervençáo.
material. é disponibilizado pela instituiçáo. . (,lttt'lir)os gerais e específicos, que podem ser apresen-
t.rrlos r,rn tópicos.
Em alguns casos é necessário fazer uma previsáo de custo . ,\t,'t,rlologia que deve incluir todos os aspectos ante-
e um cronograma de atividades. É as instituiçóes r r,, r rr,rrtc mencionados: populaçáo-alvo, instrumentos,
"o-,l-
rr
Foram apresentados anteriormente os aspectos principais ' /i,, i//sos que englobam os recursos humanos e mate-
para a elaboraçáo de um projeto. Com relaçáo à sua redaçáo, r t.rli;.
é importante seguir as norrnas de redaçáo de trabalhos cien- . \rr, irr.- que devem ser devidamentc apresentados e
tíflrcos que podem ser encontradas nos livros de metodologia rrr rr r.r'irdos no texto, sendo compostos de cartas, fichas,
científica. Sugere-se o livro Metodologia do trabalho científico t, r rns. tócnicas e atividades, etc. Neste item, deve-se
(SEVERINO, 2000), bastante completo e de Ieitura fácil. ,,,l,, rr Llma capa para cada anexo, constando seu nú-
Finalmente, ó necessário cuidar da apresentaçáo do projeto, rrr,ror,LÍtttlo.
que geralmente é entregue à instituiçáo para que seia submeti- ' Ii, l, t r'ttt:ias bibliográficas, compostâs de todas as obras
do à apreciaçáo. O projeto deve constar das seguintes partes: rr,,.rr,'ionadâs ao longo do texto, devidamente referen-
. Capa na ql:.al deve constar o título, o norne dos autores
' r,r,lr rs rlo acordo com as normas científicas.
e o ano.
. Sumário no qual sáo relacionadas todas as partes do \p,, , :r llirboraçáo do projcto e aprovaçáo dele pela insti-
trabalho e suas respectivas páginas. rur'.,r, tr;risr-se ao desenvolvimento da intervençáo propria-
. Resumo no qual deve constar de forma brcve (100 a r., rrt. rlrlrr, ;rssunto que será tratado no próximo capítulo.
300 palavras), os elementos principais do projeto: tema,
justiflrcativa, objetivo e metodologia.
. l(r' I l r cr rt'ias bibliográficas
Introduçdo que é iniciada coln uma apresentaçáo de
como surgiu a ideia do projeto, resumindo as etapas
lrl lril,:li .1. I'siu rhigiene e psicologia irtstitucionol. Porto Alegre:
de caracterizaçáo da instituiçáo e levantamento de \ri, l\lrrlrcrs. 1984.
necessidades psicossociais. Em seguida passâ-se âo em-
| \ l\l l 't rl i. L. lt. l,. Métodos e técnicas de pesquisa em psicologia. 3.
basamento teórico que deve conter uma revisáo teórica
,,1 | ,rrt,rrrs: lld. Alínea,2004.
do(s) tema(s) ou problema(s) sobre o(s) qual(is) se inter-
virá, enfatizando qual referencial teórico ser'á utilizado A|\i Il.\|x ). M. N. PlrÍllcos psi cossociais; pesquisando e interuirudo.
lr, 1,, ll,,r r./r,rl,cr tldiçóes Campo Social,2004.
no projeto de interwençáo. É importante desenvolver
i
lGlhia Marie Cosla Nôlva
DesrNvor-vrMENTo DA
INrrnvENçÃo Psrcossoclql
O enquadre
No início de qualquer intervençáo é necessário estabelecer
o enquadre que, segundo Bleger (1984, p. 46):
46
Kathia Mâria Costa Neiva Desênvolvimênto dâ lntervênção Psicossocial
Pode-se definir como um cort'unto das condiçó€B nns quais e expectativas da populaçáo-alvo, respeitando e solicitando a
se realiza a observaçáo e constitui uma Ílxaç6o do variá- participaçáo desta" (SARRIERA et al., 20OO, p. 42).
veis ou uma limitaçáo das meemae, ou a Iixaçáo de um
Esse proÍissional deve estar ciente de que sua participaçáo
conjunto de constantes, que tanto nos sorvo como moio de
padronizaçáo como sistema de referência do obsorvado. em um grupo, instituiçáo, organizaçáo ou comunidade pro-
move ansiedades, resistências, contradições, ambiguidades,
O enquadre permite, portanto, que o trabalho so realize transferências e contratransferências e que o manejo destas
dentro de certos limites que dáo seguranga a todos os onvol- faz parte de sua tarefa (BLEGER, 1984). Nesse sentido, é
vidos e funciona como esquema referencial. Ele comproende importante que qualquer situaçáo de tensáo seja deüdamente
o esclarecimento do grupo sobre: a duraçáo dos oncontros e explicitada e trabalhada no grupo e com o grupo.
da intervençáo como um todo, o horário, os dias o o local dos Além disso, o interventor possui também um papel de
encontros, o custo (se houver), os objetivos, a tarefa quo será
pesquisador e, portanto, deve utilizar-se dos métodos e das
realizada, os papéis do interventor e dos participantou, o eigilo técnicas de pesquisa que sejam pertinentes ao trabalho que
profissional e outras situações que sejam pertinontos, por realizará. Sua capacidade de observaçáo, escuta e análise
exemplo, a questáo clas faltas eventuais. Bleger (1.984) discute deverá estar em constante uso, durante todas as etapas da
em detalhes algumas regras a serem observadas no onquadra- intervençáo.
mento do trabalho do psicólogo clínico em instituiçilou. Esses dois papéis náo estáo dissociados, sendo, ao contrário,
Como já foi mencionado anteúormente, na intorvonçáo complementares, já que a própria essência da intervençâo
psicossocial algumas variáveis que compôem o enquadrc Báo psicossocial é unir a pesquisa e a açáo. Conforme Machado
(2004, p. 65);
passÍveis de alteraçáo como local, dias do encontro, horário e
duraçáo, em funçáo de situações institucionais. Quando ao lida
O pesquisador-prático, por sua presença, suscita certos
com instituiçôes, organizações e comunidadoe, á necossário problemas, permite que um oovo tipo de üscurso seja
ter certa flexibilidade e capacidade de adaptar o onquodre e enunciado, que outras condutas se revelem, influencia
planejamento em prol da púpria continuidade da intsrvonçáo. diretamente a vida do grupo com o qual trabalha, é
O importante é que as alteraçôes e/ou adaptagóes eqJâm devi- objeto de amor e ódio, símbolo de autoridade ou peáo a
damente üscutidas com o grupo-alvo e esclarecldas, ou seja, ser manipulado, foco de projeçóes, de identifrcações e de
que nesse caso o enquadre seja reüsto e aceito por todos. contraidentiflrcaçôes.
tos clÍnicos (de escuta, anrálise, interpreta@o), sociológicos e o grupo também que ele deverá avaliar sistematicamente a
psicológicos sobre os indivíduos. intervençáo e decidir modificar o que considere necessário. Os
Ainda de acordo com essa autora, a relaçáo esl,rbolecida paúicipantes do grupo devem ter a liberdade para expressar
entre pesquisadores-interventores e pesquisados-clicntes é seus sentimentos, suas opiniões e suas expectativâs, em um
de colaboraçáo, de forma que os primeiros respondem à de- clima de respeito e confiança. Cabe ao interventor ajudar a
manda de ajuda dos segundos, escutam suas maniÍ'cstações, construir este clima e facütar a expressáo e o relacionamento
analisam, interpretam e refletem sobre elâs e fazcm a devo- dos membros do grupo (SARRIERA et al., 2000).
luçáo do material. Já os segundos, apesar de demanclarem a Enriquez (1994) aponta que o direito e a überdade de
intervençáo, participam também ativamente delu, anulisando expressáo sáo fundamentais para o desenvolvimento da
os problemas, buscando junto com o interventor oncontrar intervençáo, O interventor deve, portanto, estimular a ex-
soluçóes e implementar mudanças, pressáo de todos os participantes, fazendo emergir o náo
Machado (20O4) {az também a observaçáo de que o psicó- falado, o implÍcito. A intervençáo deve proporcionar uma
logo, ao trabalhar com as camadas menos favorccidas da po- maior autonomia e conscientizaçáo das pessoas e uma nova
pulaçáo, deve ter o cuidado de náo se colocar como o sulvadoq signifrcaçáo para as vivências. As formas de pensamento e
capaz de solucionar o desamparo, correndo o risco assim de linguagem do grupo, com frequência rígidas, também devem
transformar a sua atividade profissional em uma atividade ser questionadas permitindo emergir um pensamento mais
caritativa. Por isso, considera essencial "a análisc da impli- imaginativo e associativo.
caçáo do psicólogo em sua prática" (MACHADO, 2004, p. 96) Ao longo de toda a intervençáo, o profissional deve estar
que deve ser feita a pârtir de uma reflexáo teóricn. atento aos processos grupais incluindo a integraçáo, a comu-
Vale lembrar ainda que Bleger (1984, p.43) rcsstrlto que o nicaçáo, as lideranças, o inte{ogo de papéis e os emergentes
psiólogo deve ter sempre claro que ele "náo é o proíissional da (a partü das expressóes trazidas pelos porta-vozes sobre as
alienaçáo nem da exploraçáo, nem da submissáo ou coerçáo, ansiedades do grupo). A dinâmica grupal deve ser sempre
nem da desumanizaçáo" e que sua missáo é sempro promover analisada e compreendida em conjunto, pelo interventor e
a saúde, integraçáo e plenitude do ser humano. pelos integrantes do grupo-alvo.
Em todos os momentos do processo de intervr:nçtio, o pro- VaIe lembrar que uma das características da intervençáo
fissional deve ter em mente os princípios quo ctnbasam tal psicossocial é seu caráter investigativo. Logo, a avaliaçáo deve
atiüdade e os objetivos da intervençáo, assim como tcr claro estar presente em todas as etapas da intervençáo: desde a fase
o seu papel como interventor. Ô interventor devo buscar uma üagnóstica, quando se processam a avaliaçáo da instituiçao e
relaçáo cooperativa do grupo-alvo, fazendo-o participar das suas necessidades psicossociais, passando pela fase de elabo-
atiüdades, técnicas e ünâmicas que forem realiztrdns, con- raçáo do projeto, quando se avaliam prioridades e decidem as
tribuindo assim para o desenvolvimento do proccsso. I! com estratégias, à fase da intervençáo propriamente rlita, quando
51
Kathia Maria Cosia Neiva Desenvolvimento da lnteÍvenção Psicossocial
a preocupaçáo recai em avaliar os resultados dir irr ll:r'vcrrçáo, utilizar para essa finalidade uma frcha
de avaliaçáo de satis-
as mudanças ocorridas e finalmente a eficticia rlo ;rrograma façáo, uma dinâmica de grupo ou ainda solicitar a apreciaçáo
de intervençáo. A avaliaçáo dessa úItima etupl sorii objcto de verbal do gtupo, suas críticas e sugestóes. Deve-se incluir uma
uma discussáo mais detalhada. avaliaçáo da pertinência das técnicas e estratégias utilizadas e
A avaliaçáo de programas de intervenção rrcrrr sompre é da evoluçáo do relacionamento grupal. No anexo 1 apresenta-
uma tarefa de fácil realizaçáo. Em primeiro lngirr; ó ncccssá- se um modelo de ficha de avaliaçáo em forma de questionário
rio avaliar a intervençáo constantemente. Dovo-su roscrvar com questões abertas e no anexo 2, um segundo modelo em
um tempo, ao final de cada encontro, para quo o grupo possa forma de questionário com questões fechadas a serem respon-
avaliar o encontro, as estratégias utilizadas visrrntlo iur alcan- didas em uma escala de tipo Lihert. Ambas as fichas podem
ce dos objetivos propostos, ao andamentô da intcrvençiro, às ser adaptadas ao propósito e realidade da interwenÇáo.
relações no grupo. O feedbach do grupo ó f u rrrlirnrcn l,al para
a revisáo e reorganizaçáo do planejamento irricirrl. Nesse A devoluçáo e diwlgaçáo dos resultados
momento, a avaliaçáo pode ser feita em Ítrrml rkr rliscussâo
grupal, que permita aos participantes maniÍirsl,i r ronr suas De acordo com Machado (2004, p. 46):
opinióes, críticas e sugestóes.
Entretanto, é necessário prever alguma íirrnrir rle irvaliar A devoluçáo ao conjunto social das observaçóes feitas, dos
a intervengáo como um todo, verificando a oxistônci:r rlc mu- dados e informaçôes levantados, das imagens - fotografias,
frlmagens - realizadas, das hipóteses e reflexôes suscitadas
danças e a satisfaçáo do grupo.
pela intenençáo é dispositivo comumente usado neste tipo
Para verificar se existiram mudanças com rcl;rçÍo ir sit,uaçáo de trabalho. A devoluçáo desencadeia novos discursos,
foco da intervençáo, sugere-se a utilizaçáo de alpitrnr insl,r'trmen- novas análises, elaboragóes.
to psicológico específico: teste ou escâla psicokigicir, rnl,r'cvista
estmturada, etc. Vale a pena utilizar algum inst,rrrrrrcnto já Portanto, os resultados devem ser devolüdos ao próprio
padronizado e validado, mas caso náo se enconlro.iri ptrblicado grupo-alvo, para que ele tome posse também das mudanças
um instrumento adequado ao propósito, é possívcl rrrrrst,mí-lo. processadas. É importante pensar que o grupo-alvo é um
Para a construçáo de instrumentos, sugere-sc corisrr ll,rrl ir obra agente de mudanças e poderá funcionar como multiplicador.
de Bunchaft e Cavas (2002), cqia leitura é fácil c b;rsl,irnlc di- Nesse sentido, deve-se fazer um prognóstico e decidir sobre
dática. O mais adequado é que esse instrumcnLo scjrr :rplicado a continuidade ou náo de novas intervençóes, implantando,
no início da intervençáo (pré-teste) e reaplicarkr :ro Íinal da se for o caso, dispositivos para que o grupo dê seguimento ao
interwençáo (pós-teste). A comparaçáo dos result;ulos olrtidos trabalho, fazendo de forma permanente um processo de auto-
no pré-teste e pós-teste permitirá avaliar critu ios:rnrurte a análise e autogestáo, ainda que com algum acompanhamento
evoluçáo do grupo a partir da intervençáo, tr rxrrrrôrrr:ia de ou intervenções eventuais (BAREMBLITI 2002).
mudanças e consequentemente a eficácia da intorvcrrçao. Com relaçáo à divulgaçáo dos resultados a outras instâncias
Entretanto, é necessário também fazer o gmpo cxprossar da instituiçáo e à comunidade científrca, isso deve ser feito com
sua apreciaçáo e satisfaçáo com relagáo à intervonçiur. l)rxlc-se base em princípios éticos. Por isso, é necessário deixar esse
Kathia lúanâ (;o:;tir N,,v,, Desenvolvimento da lntervençao Psicossocial
ser replicada em outros gTupos Conl ir rr(,lnrir prolrlr.rtr;il,ica Quando interwimos na realidade alheia ou quando desven-
damos um conhecimento, somos responsáveis pelas vidas
ou adaptâda a outros meios e situaçÕos.
'ali' presentes, bem como pelos próximos conhecimentos
que iráo surgir e até pelo andamento das tendências da
Algumas questões éticas ciência, da cultura e das socieclades.
Uma questáo ética importante diz n'splrl,, r r : rlr.r lrr.r ro. por Por isso, o profissional que atua na área de intervençáo
pârte do profissional, dos objetivos da ittsl il r rrcr ro. or ;,rr r r rzr r1:âo psicossocial deve possuir sólidos conhecimentos teóricos e
ou comunidade na qual se propóe a into vir'. ll,.1irrrr,l,r llllger metodológicos, atitude profissional e ética, a1ém de um grânde
(1984), o psicólogo náo deve aceitar rcirliziu rrrrr lr;rlrrllro un compromisso e responsabilidade para com a sociedade.
uma instituÍçáo que rejeite ou cujos olljcl.ivorrol rri,roii l)itrâ
alcançá-los náo esteja de acordo. Para ck' "r.rrr I ': Lr, , , L r1i ir r, a Referências bibliográficas
ética coincide com a técnica" (BLEGEIi, lllll l, tr I lr Âklm
disso, o psicóIogo náo deve âceitar umit lirlll)r pr rrlrrriorral BAREMBLITT, G. Compêndb de anó,lise institucional e outras
se está demasiadamente envolvido nâ itts{ ilrrrr;rro ,rr r(} sou correntes: teoria e prática. 5. ed. Belo Horizonte: Instituto Fellx
movimento ideológico, â menos que elc l,{,nlrr lrrrr,lrr',r.s tle Guattari, 2002.
estabelecer certa distância operativa e insl r'r r r r r,,r r I r r I r ; r r, xrr-
r 1
BLEGER, J. Psico-higiene e psicoLogia institucional. Porto Alegre:
mita que atue profissionalmente como psir.oh 1i, Artes Médicas, 1984.
O profissional deve ainda estar atento ir s(,rr pr,,lr r rr vt- BUNCHAFI', G.; CAVAS, C. S. T. Soó med.icJa.: nm guia sobre a
lores, que nem sempre sáo semelhantes aos r lo 1'r'r rIr,, rr Ivo oll elaboraçáo de medidas do comportamento e suas aplicações. Sáo
da instituiçáo. AIém disso, mesmo sendo u rlr cir. r r I l I r r r r lca r r rr r
Paulo: Vetor, 2002.
social, ele é contaminado pelos valores que t'r,;ir,r r r rr r ol rlr lrrrle ENRIQUEZ, E. O papel do sujeito humano na dinâmica social.
e a culturâ na qual está inserido. Logo, é Íirrrr|rrrrrlrrIrrI rlrre In: LEVY, A. et al. Pslcosso cioLogia: alálise social e intervençâo.
avalie seus próprios valores e a ética quo irrlrrlr, rr,, ,lllirrir Petrópolis: Vozes, 1994. p.24-40.
quais mudanças busca quando ingressa ell) llr ,lrrr1,,, rrlvo MACHADO, M. N. M. Próticas psicossociais: pesquisando e
(SARRIERA et al., 2000). intervindo. Belo Horizonte: Ediçóes Campo Social, 2004.
Kalhtr lvl,Ír,,. ,*r.' rr.., , Desenvolvimentoda lntervençào PsrcossocLal
SARRIERA, J. C. et al. , t,, r.,, ,,, r,,t . ,rljlurnas Anexo I Modelo de ficha de avaliaçáo
I r rI r,
.
'
r
.
r' ,,r r, , r
(opcional)_
Nome:
ldade: Sexo:
lnstituiçào:
Data: I
4. O que faltou
8. Os participantes do grupo
9. Os proÍlssionais
Críticas e sugestÕes:
57
Kethie Mârla Coste N.ive
Para cada questão, circule a resposta que melhorexprê88ê 8ua oplnlão ou sentimento
sobrê o âssunto.
5A