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ALUNAS: Carla Fabiana Casagrande RA 87220

Melissa Andreetta Hypholito RA 87825

“Estudo, importância e entendimento sobre Experiência”

Trabalho apresentado para a disciplina História da


Psicologia, ministrado pelo Prof. Pedro Milanesi, como
parte integrante da P2.

Araras - SP
2015
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE:

Texto discursivo com uma reflexão e discussão sobre o entendimento, as dificuldades e


importância de se estudar a experiência. Citar um autor de preferência.

Pensando a psicologia de forma integrada, com sua multiplicidade de ângulos e abordagens,


é importante compreender que essa ciência está posta com as suas pretensões de autonomia, sendo
importante entender suas origens e implicações. No século XIX, com o aparecimento da psicologia
como ciência, temos que, necessariamente, para conhecermos cientificamente o psicológico, duas
condições nos são colocadas: uma experiência clara da subjetividade privatizada e a experiência da
crise dessa subjetividade.
A experiência da subjetividade privatizada nos possibilita a manutenção da nossa
privacidade, que está diretamente relacionada ao nosso desejo de liberdade e decisão do nosso
próprio destino. A experiência da solidão, muitas vezes indesejada e temida, também torna-se a
expressão daquilo que acreditamos ser nossa individualidade. Assim, esse sentimento provindo da
experiência de sermos capazes de decisões, sentimentos e emoções, se desenvolve e amplia dentro
de uma sociedade com características próprias. Quando temos a interrupção dessa experiência,
inferimos uma crise dentro dessa sociedade, onde uma tradição cultural é contestada e surgem
novas formas de vida.
Diante de uma crise, o homem precisa tomar decisões sem o apoio da sociedade, sendo que
períodos de crise revelam homens mais solitários e indecisos se comparados a épocas sem conflitos,
onde velhas tradições continuam a dominar. Sendo assim, diante da crise da experiência da
subjetividade privada, o homem é obrigado a voltar-se para si mesmo em busca dos seus critérios de
certo e errado, os quais muitas vezes não condizem com a opinião da sociedade como um todo. Essa
perda de referências coletivas leva o homem à construção de referências intimas. Sendo assim, aqui
surge a oportunidade para nova experiência da subjetividade privatizada, reforçando ao homem seu
valor de ser autônomo, buscando respostas dentro da sua própria consciência.
Diante da imagem de autonomia e liberdade, nos concedida através da experiência da
subjetividade privada, resistimos à ideia de que não tenhamos controle da nossa própria vida, sendo
que a crença na liberdade dos homens é um dos elementos básicos da democracia e da sociedade de
consumo, e não estamos dispostos a colocar em risco esses valores. Entretanto, há de se
compreender que muitas vezes, essa imagem formada de liberdade e autonomia é completamente
ilusória, e uma das tarefas da psicologia, talvez, consista na revelação ou desconstrução dessa
ilusão.
Tomando o conceito de experiência, segundo Walter Benjamin, aquela necessária para
articular o esclarecimento na vida das pessoas deixou de existir, devido a experiências traumáticas
como a Guerra das Trincheiras, a crise de 29 ou o holocausto. Em seu texto “Experiência e
Pobreza”, de 1933, Benjamim coloca que a falta de esclarecimento da população em relação às
crises que se sucederam foi devido à transmissão de meras informações, em detrimento da
transmissão de experiências, sendo que o que era passado dos mais velhos aos mais jovens consistia
em uma pobreza de experiências. Com isso tínhamos e ainda temos a repetição do passado, com
novas guerras e fanatismos. Atualmente pudemos observar as passeatas, em pleno século XXI, com
pessoas clamando pela volta da ditadura, carregando símbolos nazistas.
No texto de Benjamin, podemos relacionar o conceito de experiência à afetividade, à medida
que os mais jovens recebiam experiências através de contos e narrativas dos mais velhos,
relacionando pais e filhos, avós e netos, e outros vínculos afetivos que poderiam existir quando uma
pessoa mais velha transmite suas experiências aos mais jovens. Acontece que, atualmente, com a
invasão da tecnologia e da modernidade, esse processo já passa a, praticamente, não existir mais. Os
jovens não têm mais paciência de ouvir e os mais velhos perdem a capacidade da narrativa.
Portanto, a verdade da experiência para Benjamin, com essas novas possibilidades de existência,
está na pobreza que a caracteriza na modernidade.
A sociedade moderna deixa para trás as memórias e tradições do passado, antes transmitidas
entre gerações. O homem moderno se tornou incapaz de dar continuidade a essa experiência, não
podia mais comunicá-la. Para Benjamin, a I Guerra Mundial foi o motivo maior pelo traumático
silêncio manifestado entre os soldados veteranos. Os combatentes que retornavam do serviço
militar eram incapazes de transmitir suas experiências pré e pós I Guerra, aniquilando sua
transmissão, e o que temos agora é a transmissão de misérias. A partir daí, Benjamin cita alguns
exemplos de práticas que tentaram resgatar o peso da velha experiência, dando como exemplos a
ioga, a escolástica, a quiromancia. Porém, como cita em seu texto, não se trata de uma renovação
autêntica, mas sim de uma galvanização, sendo um tipo de cultura que se sobrepõe ao homem.
Ao contrário do pessimismo colocado em relação à transmissão de experiências, Benjamin
também tem uma visão positiva em relação à pobreza de experiências transmissíveis. O autor
aponta uma saída quando avalia positivamente o papel dos artistas e construtores que operariam a
partir de uma “tábula rasa”, construindo uma nova realidade. Ou seja, para Benjamim, seria
possível pensar na experiência sem conceitos, igualando-a ao pensamento. O autor cita o filósofo
Descartes, que baseou sua filosofia em uma única certeza: “penso, logo existo”; Einstein, através de
observações astronômicas e análise das discrepâncias mínimas nas equações de Newton; os
cubistas, que reconstruíram o mundo através de formas estereométricas ou como as figuras de Klu,
desenhadas na prancheta. Elabora assim, uma teoria onde as criações artísticas poderiam contribuir
para a construção de novas realidades, pois as obras de arte modernas são expostas para a massa da
população, em locais públicos e, portanto, passam a possuir um viés de instrumento político de
intervenção na sociedade.
Diante do exposto, podemos perceber a importância de se entender, compreender e estudar a
experiência. Através desse conhecimento e apreensão podemos entender os períodos de crise, sendo
o suficiente para evitar períodos parecidos no futuro. Para Benjamin, o equivoco do homem não era
ser pobre em experiências, mas sim devido à pobreza delas, não conseguir estabelecer seus limites e
possibilidades. Para ele, assumindo a sua pobreza de experiências, o homem conseguiria alcançar o
seu caráter simples, real e delimitado, sendo possível compreender como agir dali para frente.

Referências:

Benjamin, W. (1933). Experiência e Pobreza. In: W. Benjamin, Magia e Técnica, Arte e Política -
Ensaios sobre a Literatura e História da Cultura (pp. p.115-119). Brasiliense.

Figueiredo, L. & De Santi, P. (1997). A Psicologia como Ciência Independente. In: Psicologia:
uma (nova) introdução. São Paulo: Educ.

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