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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

Aula 1
Precondições socioculturais para o surgimento da
psicologia como ciência no século XIX

Professora Natália Peres de Oliveira


A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
Só a partir da segunda metade do século XIX surgiu a
pretensão de reservar aos estudos psicológicos um território
próprio.
O processo de criar uma nova ciência (conceito ainda recente)
é complexo: é preciso ter objeto próprio e métodos adequados
para o estudo deste;
Uma dificuldade consistia no objeto da psicologia: a psique,
mente, não se apresentar como objeto observável, não se
enquadrando no positivismo
Outra dificuldade era o fato de que outras áreas tratavam,
também, de aspectos do comportamento humano, como a
filosofia, medicina, física.
O interesse e mudanças nas experiências subjetivas estão
dentre as origens desta disciplina.
O interesse em conhecer cientificamente
o “psicológico” parte de duas condições:
 Uma clara experiência de
subjetividade privatizada.
 A experiência da crise dessa
subjetividade.
EXPERIÊNCIA SUBJETIVA
PRIVATIZADA
É simples identificar o que é ter uma
experiência de subjetividade privatizada.
Geralmente pensamos e vivemos como se
nossos sentimentos e vivências fossem únicos,
muito originais e que ninguém mais tem acesso
a eles.
A privacidade aqui é valorizada por conta do
desejo de sermos livres pra decidir nosso
destino
EXPERIÊNCIA SUBJETIVA
PRIVATIZADA
Mais frequente ainda é a sensação de que o que
vivemos nunca antes foi vivido por ninguém,
que é tão único que se torna quase
incomunicável.
Nossa noção de subjetividade data aprox. dos
últimos 3 séculos. Da passagem do
renascimento para a Idade Moderna e sua crise
viria a se consumar no final do século XIX.
As grandes irrupções de experiências de
subjetividade privatizada surgem em
sociedades passando por algum tipo de crise.
Quando uma tradição cultural é contestada, por
exemplo, abrindo espaço pra novos modos de
vida.
As pessoas se voltam pra si mesmas, para seus
foros íntimos em busca de direcionamento,
uma vez que não o encontram apoio em seu
meio social.
Descobrindo um mundo interno.
A grande valorização do homem como centro
faz surgir o humanismo moderno
“A perda de referências coletivas, como a
religião, a ‘raça’, o ‘povo’, a família ou uma lei
confiável obriga o homem a construir
referências internas. Surge um espaço para a
experiência da subjetividade privatizada: quem
sou eu, como sinto, o que desejo, o que
considero justo e adequado? Nessas condições
o homem descobre que é capaz de tomar suas
próprias decisões e que é responsável por elas.”
(FIGUEIREDO; SANTI, 2008, p. 21).
A CRISE DA SUBJETIVIDADE
MODERNA: BASES FILOSÓFICAS
 Críticas à onipotência do ‘eu’, à razão
universal e ao método seguro no século
XVIII e em diante.
 Hume: o homem como efeito de suas
experiências.
 Kant: conhecimento e subjetividade
universal.
 Romantismo
 Nietzsche
ROMANTISMO: TEMPESTADE E
ÍMPETO
O Romantismo nasceu no fim do século XVIII
como uma crítica ao iluminismo.
Trouxe a ideia de que o ser humano não é apenas
racional, que ele é, além disso, passional e sensível.
Regularmente aparece como uma crítica à
modernidade e com uma nostalgia a um estado
perdido.
É um marco na crise do sujeito moderno, que tira o
‘eu’ de seu lugar privilegiado de soberano e
senhor.
Traz a visão de que o homem carrega níveis de
profundidade que ele mesmo desconhece.
Com a filosofia de Nietzsche veio um acréscimo
importante à noção de um ‘eu’ descentralizado e
mutável: o ‘eu’ aparece aqui como ficção, apontando que
a crença em algo fixo e estável serve apenas para a
humanidade sentir que tem algum controle sobre o devir.

As experiências e mudanças de concepção da


subjetividade moderna em meio aos períodos de
conflitos socioculturais formaram as precondições para o
surgimento da psicologia como ciência.
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
FIGUEIREDO, Luiz Claudio Mendonça; SANTI Pedro Luiz
Ribeiro. Psicologia uma (nova) introdução: uma visão histórica
da psicologia como ciência. São Paulo, Educ: 2008

CÉSPEDES, Alba. Caderno Proibido. Companhia das Letras:


São Paulo, 2022

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