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Centro Universitário Alves Faria

Condições socioculturais para a


emergência da Psicologia:
modernidade e subjetividade privada
Texto Base: Figueiredo e Santi, Psicologia: uma (nova) introdução, 2008. Pp. 19 - 52:

Profa. Me. Barbara Sul Santana Fleury História da Psicologia


Questões orientadoras (Estudo dirigido)
1. Defina a experiência da subjetividade privatizada

2. A subjetividade privatizada foi construída em um processo linear? Podemos


compreende-la como algo natural do ser humano? Explique porque.

3. Quais as mudanças consideradas na passagem do Renascimento para a


Idade Moderna no campo da individualidade e ideia de liberdade?

4. Defina as principais ideias acerca do Racionalismo Moderno e do Empirismo


moderno

5. Cite os principais momentos teóricos que apontam para uma crise do "eu"
como fenômeno essencial de conhecimento científico.
Vamos pensar...

Quem aqui trabalha exatamente com o que gostaria?

Quem consegue organizar seu tempo para aprender novas


aptidões?

Você gostaria de passar mais tempo com família, amigos etc?

O que seria a ideia de liberdade para você?


Não sei quantas almas tenho.
Por isso, alheio, vou lendo
Cada momento mudei.
Como páginas, meu ser.
Continuamente me estranho.
O que segue não prevendo,
Nunca me vi nem achei.
O que passou a esquecer.
De tanto ser, só tenho alma.
Noto à margem do que li
Quem tem alma não tem calma.
O que julguei que senti.
Quem vê é só o que vê,
Releio e digo: "Fui eu ?"
Quem sente não é quem é,
Deus sabe, porque o escreveu
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
Fernando Pessoa
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
A experiência da Essa experiência de sermos
sujeitos capazes de decisões,
subjetividade privatizada sentimentos e emoções privados,
só se desenvolve, se aprofunda e
se difunde amplamente numa
sociedade com determinadas
A compreensão do que desperta o "interesse
características.
psicológico" e a questão da subjetividade
privatizada;
Grandes irrupções ocorrem em
momentos de crise, dentro de
Todos sentimos que nossas experiências são, em
partes, íntimas, e que outras pessoas não as contradições sociais os sujeitos se
acessam (exemplo das tomadas de decisão) viram a si mesmos para buscar
outras alternativas, isso é
A possibilidade de mantermos nossa privacidade é refletido nas artes e cultura e
altamente valorizada e relacionada ao desejo de sistemas religiosos.
sermos livres
A experiência da
subjetividade privatizada Nesse sentido cada vez mais
resistimos à ideia de que não
tenhamos controle das nossas vidas;

Esse movimento não se dá em um processo linear e Essa crença na liberdade é um dos


tampouco em todas as culturas; elementos mais básicos da
democracia e da sociedade de
Exemplo de sociedades orientais em que tal subjetividade consumo;
não foi tão privatizada. Há exemplos ainda em comunidade
ocidentais;
Em alguns aspectos importantes
essa imagem é completamente
Ao longo dos séculos essas experiências foram se tornando
ilusória e uma das tarefas da
cada vez mais determinantes da consciência que os homens
têm da sua própria existência. Psicologia será a de revelar essa
ilusão.
Constituição e desdobramentos da noção de
subjetividade na modernidade
De forma simplificada, podemos compreender
essa noção como datada dos últimos três
séculos: da passagem do Renascimento para a Sensação de liberdade X insegurança;
Idade Moderna.
Produção intensa de conhecimento, novos modos
Uma experiência de perda de referências que de ser e homem como centro do mundo;
ocorre com o Renascimento; na experiência
medieval havia uma ordem que ao mesmo Tudo isso faz nascer o humanismo moderno
tempo amparava e constrangia
Constituição e desdobramentos da noção de
subjetividade na modernidade

Séc XVI e o surgimento de personagens Nascimento do ceticismo: a crença de que não há


com intensos dramas internos ( Dom possibilidade de conhecimentos seguros sobre o
Quixote, Hamlet, etc) e construção da mundo

interioridade dos leitores; surgimento da


A descrença cética somada ao grande
imprensa e difusão da leitura silenciosa;
individualismo nascente acabam por produzir uma
diálogo interno, intelectualidade e reação que assumiu duas feições bem distintas: a
mudança inclusive na relação com a racionalista e a empirista
religião - protestantismo -;
Constituição e desdobramentos da noção de
subjetividade na modernidade
Descartes - um marco para o Racionalismo
Moderno: pretende estabelecer as condições de
Séc. XIV e diversas tentativas de
possibilidade para que obtenhamos um
reorganizar as crenças de onipotencia conhecimento seguro da verdade. Ele se alinha
somadas à noção de liberdade entre aqueles que quiseram superar a grande
dispersão do conhecimento e superar o ceticismo;

Entre Reforma e Contrarreforma vão Inicia suas questões a partir da "dúvida". Ao fazer
nascendo tanto a noção de individualidade esse movimento se aproxima do ceticismo e,
quanto novas formas de controle assim, chega a uma inversão na compreensão do
conhecimento: "Penso, logo existo". Enquanto
duvido existe a ação de duvidar e assim o sujeito.
Constituição e desdobramentos da noção de
subjetividade na modernidade

Francis Bacon - considerado fundador do É necessário dar à razão uma base nas
moderno empirismo; preocupação para experiências dos sentidos, na percepção,
desde que essa percepção tenha sido
estabelecer bases seguras para o
liberada de erros e ilusões amparadas no
conhecimento válido, procurando no campo
cotidiano
das experiências subjetivas;
Propostas de como se livrar do erro e
A razão deixada em total liberdade pode encontrar a verdade tendo como base a
se tornar tão especulativa e delirante que experiência subjetiva, sensorial e racional
nada do que produz seja digno de crédito
Iluminismo - Séc XVIII o questionamento do "eu" - a
racionalidade pode levar ao conhecimento
A crise da
Modernidade e Hume - o "eu" não poderia ser algo estável e substancial
que permanece idêntico a si mesmo ao longo da
da diversidade de suas experiências

subjetividade
moderna em
algumas de suas Emanuel Kant - O homem só tem acesso às

expressões coisas como são apresentadas a ele,


"fenômeno" e subjetividade humana universal
filosóficas - determinação dos limites da razão humana
A crise da Romantismo - final do século XVIII - crítica à
vertente racionalista do Iluminismo - o homem como
Modernidade e um ser passional e sensível - a impotência da
racionalidade humana frente à natureza
da
subjetividade
moderna em
algumas de suas Uma crítica à modernidade e uma
nostalgia a um estado anterior perdido
expressões
filosóficas Paradoxo com a noção de
individualidade e intimidade
A crise da
Iluminismo - Séc XVIII e a crítica à
Modernidade e verdade absoluta a partir do método

da correto.

subjetividade
moderna em
algumas de suas Apresente com facilidade e conquiste qualquer
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filosóficas profissionais para qualquer objetivo e assunto.
Ao longo do séc. XIX afirma-se a
A crise da deposição do "eu" de seu lugar
privilegiado - como no exemplo
Modernidade e de Marx e Darwin
da
subjetividade
moderna em Nietzsche - "genealogia" as crenças e
algumas de suas valores sendo criadas em cada
momento pela perspectiva humana -
expressões crítica a crença humana do controle
filosóficas sobre o devir . A questão é saber o
quanto cada ilusão em cada momento
se mostra útil à expansão da vida.
Mas, como veremos, o projeto
A crise da científico dos séculos XIX e XX e o
humanismo ressurgido no séc. XX
Modernidade e mantém esse projeto do "eu" vivo
da
subjetividade
moderna em
Próxima aula: vamos retomar o
algumas de suas caminho da subjetividade privada a
expressões partir do viés socioeconômico para
que possamos, neste caminho,
filosóficas compreender o nascimento dos vieses
da Psicologia

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