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FOUCAULT, A

CIÊNCIA E O
SABER
Roberto Machado
Arqueologia

■ É um método analítico distinto da história das ciências ou das idéias

A premissa de Foucault é que os sistemas de pensamento e conhecimento ("epistemes"


ou "formações discursivas") são governados por regras (além das gramaticais e da
lógica) que operam sob a consciência de sujeitos individuais e definem um sistema de
possibilidades conceituais que determinam os limites do pensamento e do uso da
linguagem em um determinado domínio e período. Foucault também fornece um
tratamento filosófico e crítico das leituras estruturais fenomenológicas e dogmáticas
da história e da filosofia, retratando as narrativas contínuas como modos ingênuos de
projetar nossa própria consciência sobre o passado, sendo assim exclusivo e
excludente.
História da Loucura

■ Abordagem histórica que procura situar seu espaço através do debate com outros tipos de
história
■ É diferente da história da psiquiatria, mas conversa com ela
– Época clássica: enclausuramento do louco. Loucura x medicina
– Renascimento: balizar e esclarecer a concepção clássica da loucura
– Modernidade: psiquiatria
■ Objetivos: estabelecer as condições históricas de possibilidade dos discursos e das práticas
que dizem do louco um “doente mental”
esta categoria tem apenas pouco mais de
200 anos
História da Loucura

■ A intervenção da medicina em relação ao louco é datada historicamente


– Não faz sentido falar em doença mental antes do final do século XVIII
■ Psiquiatria: resultado de um processo histórico e diz da progressiva dominação e
integração da loucura à ordem da razão
■ A História da Loucura analisa os discursos, mas privilegia os espaços institucionais de
controle do louco e dos saberes relacionados
■ Práticas de enclausuramento + instâncias sociais (família, igreja, justiça, medicina) +
causas econômicas = condições de possibilidades históricas da psiquiatria
I
A Nave/Navio dos Loucos - é uma pintura
do artista holandês Hieronymus Bosch
(1450— 1516), executada em óleo sobre
madeira, com 58 cm x 33 cm.

Partindo da Nave dos Loucos Foucault


analisa o aparecimento do louco no
âmago da questão da verdade e da razão.
Renascimento

■ Não havia hospital ou prisão para o louco


– Loucura é saber / Experiência Trágica x Loucura é ignorância / Experiência
Crítica
■ Quem predomina?
■ O que Foucault pretende analisando a loucura no Renascimento?
– Atestar, através da elaboração simbólica da época, o início de um processo de
dominação da loucura pela razão
– “encobrimento, desarmamento, confisco, pois, mesmo dominada, essa experiência
da loucura não está morta”
Época Clássica

■ A dominação se radicaliza
■ René Descartes (1596-1650): loucura como impossibilidade de pensamento, se alguém
pensa, não pode ser louco, e se é louco, não pode pensar.
– A loucura é impossibilidade do pensamento
■ Na época clássica as instituições que recebiam os loucos não dependiam de uma ciência
médica, mas de uma percepção do indivíduo como ser social
– polícia, justiça, igreja, família, etc.
■ O marco institucional dessa nova etapa do processo de dominação da loucura pela razão
é em 1656, por Luis XIV
Estrutura semijurídica,
entidade assistencial e
administrativa que se situa
entre a policia e a justiça,
como uma ordem terceira de
repressão.
Época Clássica
■ Grande Enclausuramento: Fenômeno atinge toda a Europa e não é só estatal
■ A igreja também organizou estabelecimentos de reclusão, com significado social, econômico, moral e
politico: visão sobre a pobreza
■ Grande Enclausuramento: fenômeno moral, instrumento de poder politico que exclui da sociedade os
que escapam as suas regras, criando homogeneidade.
■ Internamento: positivo, criador de realidade e de saber, organiza um domínio novo de experiência que
tem unidade e coerência.
■ Que população é essa constituída pelas práticas e regras do Grande Enclausuramento?
– Desordens sexuais
– Desordens do coração, da alma, moral ou social
– Libertinagem
– Loucos
Desrazão é o principal critério. O desarrazoado é enclausurado.
Época Clássica

■ O espaço do louco é o Grande Enclausuramento: não obedece a critérios científicos,


mas à ordem da razão.
– A percepção da desrazão não é médica, mas ética. A base do processo de
internação é estruturado pela razão e pela moral,
■ O hospital não é a verdade futura do enclausuramento
■ “Desindividualização” do louco – “O objeto constituído por essa percepção é o
submundo moral da desrazão como desordem de costumes e negatividade do
pensamento. É nessa realidade que a loucura, em vez de adquirir realidade própria, se
dissemina.” (p. 60)
Época Clássica

■ Percepção social do louco como um não ser x percepção como objeto de saber
■ A relação de força que se estabelece no internamento atinge o louco, mas não a loucura.
■ “O século XVIII percebe o louco, mas deduz a loucura”
– O que aparece não é a experiência do louco, mas o domínio lógico e natural da
doença
Lugar da loucura na teoria médica

■ A medicina clássica é classificatória


– Considera a doença como espécie natural
– É algo positivo: possui uma verdade, uma essência, uma natureza
– É taxonômico
– O que guia o conhecimento é o sintoma como realidade fundamental
– Não se interessa por nada que seja invisível, é um conhecimento superficial
Loucura e a medicina das espécies:
Impossibilidades
■ Primeiro obstáculo: abandono do nível próprio da análise da doença por uma crítica
moral ou consideração causal
■ Segundo Obstáculo: apesar da diversidade e da riqueza do pensamento nosográfico, é
um pequeno número de figuras muito mais imaginárias que conceituais que organiza e
explicita o pensamento médico neste setor
■ Terceiro obstáculo: o aparecimento da teoria dos vapores e das doenças dos nervos
■ Racionalidade médica nos séculos XVII e XVIII:
– “Não há possibilidade de nenhum diálogo entre uma prática que domina a
contranatureza e a reduz ao silêncio e um conhecimento que tenta decifrar as
verdades da natureza”
■ As questões do louco e da loucura, sem dúvida heterogêneas, têm na razão seu ponto de
convergência: a razão é sempre a referência necessária e primordial
■ A loucura é um produto epistemológico da razão
■ Loucura como desrazão: na segunda metade do século 18 elas se separam
– A desrazão é atemporal, a loucura é histórica
– Surge uma relação teórica entre mundo, loucura e natureza
afasta o homem da natureza e
possibilita a loucura
– Forças penetrantes que são causa da loucura:
■ Sociedade – liberdade
■ Religião – produz delírios
■ Civilização - artificialismo
Século XVIII

■ Loucura deixa de ser desrazao e é considerada perda da natureza, antes de ser doença
mental, torna-se alienação
■ Loucura é a perda da verdade do homem, se interioriza, e surgem as instituições exclusivas
para loucos, provenientes de fatores políticos, econômicos e sociais
■ Estas são as condições de possibilidade da Psiquiatria
■ O capitalismo tem como imperativo tornar a população força de trabalho produtiva
– Transformação da política assistencial
– Pobre válidos x pobres doentes
■ O resultado dessa transformação não foi a libertação do louco, mas a manutenção de
reclusão específica para eles
Segunda metade do Séc XVIII

■ Medicalização da loucura
■ Transformação da casa de internamento em asilo
– Crítica política da repressão
– Crítica econômica da assistência
– As outras figuras da d
– esrazão foram pouco a pouco libertadas
– A loucura é interrogada pelo olhar possibilitado pela instituição de reclusão
– Loucura alienada pelo estatuto de objeto
Segunda metade do século XVIII

■ O homem, sua loucura e sua verdade substitui a estrutura binária da desrazão clássica
(verdade e erro, mundo e fantasia, ser e não ser)
■ Quais são os procedimentos utilizados no interior do hospício para produzir a cura? (p.
72)
■ “Chegou para o louco, e cada vez mais para todos nós, a era do patológico”
Sobre o discurso científico e a psiquiatria

■ A psiquiatria não é ciência, é um discurso teórico que tem a medicina como parâmetro
■ “Talvez o pertencimento da loucura à patologia deva antes ser considerado um confisco,
espécie de avatar que teria sido preparado pela história da cultura, mas de nenhum modo
determinado pela própria essência da loucura
■ A psiquiatria é uma relação de compromisso entre
– O campo abstrato de uma natureza teórica (analítica médica)
– Espaço concreto de um internamento (percepção asilar)
■ Procura realizar o que o sistema clássico não conseguiu: controle social do louco
O que é a História da Loucura?

■ É uma arqueologia – investigação das condições de possibilidade mais profundas do


que as dadas no nível do conhecimento, da ciência
■ É uma arqueologia da percepção
■ É importante observar a descontinuidade histórica
■ Descobre um processo orientado, iniciado no renascimento, em direção à subordinação
da loucura à razão
■ Critica a razão: analise os limites e as fronteiras que se estabelecem de forma a não
ameaçar sua ordem
O que é a História da Loucura?

■ Evidencia, mediante análises institucionais, que o louco foi patologizado por questões
– Economicas
– Politicas
– Assistenciais
– NÃO por exame médico

- A PSICOLOGIA JAMAIS ENUNCIARÁ A VERDADE DA LOUCURA, PORQUE É A


LPUCURA QUE DETÉM A VERDADE DA PSICOLOGIA – (FOUCAULT) -
Conexões Clínicas: Breve história dos
Hospitais Psiquiátricos

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