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Artículo de revisión / Review

Tuberculose e indicadores
socioeconômicos:
revisão sistemática da literatura
Alexandre San Pedro1 e Rosely Magalhães de Oliveira1

Como citar San Pedro A, Oliveira RM. Tuberculose e indicadores socioeconômicos: revisão sistemática da litera-
tura. Rev Panam Salud Publica. 2013;33(4):294–301.

resumo Objetivo.  Analisar a literatura para verificar a existência de associação entre fatores
socioeconômicos (individuais e coletivos) e a ocorrência de tuberculose.
Métodos.  Realizou-se uma revisão sistemática da literatura mediante busca nas bases de
dados SciELO, Lilacs, Medline e Scopus utilizando os termos “pobreza, indicadores sociais,
fatores socioeconômicos” e “tuberculose” (em português, inglês e espanhol). Os estudos de
nível individual foram classificados segundo o desenho de estudo e a variável dependente; os
estudos ecológicos, quanto aos diferentes níveis de agregação espacial dos dados e à variável
dependente. Para cada artigo foram registradas informações concernentes ao título do estudo,
país de origem, ano de desenvolvimento, autor, idioma, objetivos, nível de agregação espacial
dos dados e indicadores utilizados na análise.
Resultados.  Para estudos de nível individual, observou-se associação estatística direta entre
tuberculose e alcoolismo, coinfecção com HIV, baixa escolaridade, estado civil, baixo rendimento
monetário, carência alimentar, imigração e contato prévio com pacientes de tuberculose. Em
nível coletivo, uma associação indireta foi verificada com variáveis referentes ao produto interno
bruto per capita, índice de desenvolvimento humano e acesso a saneamento básico em nível
de países. Indicadores relativos ao número médio de pessoas por cômodo, densidade de pobres,
escolaridade, declínio da renda familiar e domicílios com ajuda monetária governamental
associaram-se diretamente a tuberculose em diferentes níveis de agregação espacial.
Conclusões.  Os estudos analisados apontam para a persistência da relação entre indicadores
socioeconômicos e a produção da tuberculose tanto em nível individual quanto coletivo. A
associação entre tuberculose e indicadores socioeconômicos parece ser influenciada tanto pelo
nível de agregação espacial quanto pelas características particulares das áreas geográficas.

Palavras-chave Tuberculose; fatores socioeconômicos; pobreza; revisão.

A tuberculose é considerada uma das saúde pública mundial, em virtude da missão da tuberculose vem ressaltando
mais antigas doenças infecciosas da hu- ampla dispersão geográfica, emergência um profundo quadro de desigualdades
manidade e, embora passível de um de casos multirresistentes e coinfecção socioeconômicas que resultam em ini-
efetivo tratamento, permanece na atuali- com HIV. Estima-se que, no ano de 2010, quidades sociais em saúde (3). Estudos
dade como um importante problema de ocorreram no mundo aproximadamente recentes sugerem que as modificações
8,8 milhões de casos novos, 1,1 milhão nas estimativas nacionais de incidência
de óbitos entre indivíduos não portado- da tuberculose estão mais associadas às
1 
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Escola res de HIV e 400 000 óbitos entre pessoas mudanças nos índices socioeconômicos
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca soropositivas para HIV (1, 2). e estado geral de saúde da população
(ENSP), Departamento de Endemias Samuel
Pessoa, Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Cor- A influência marcante e persistente das do que ao desempenho de programas de
respondência: Alexandre San Pedro, condições de vida no processo de trans- controle desse agravo (4, 5).
alexsan@ensp.fiocruz.br

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San Pedro e Oliveira • Tuberculose e indicadores socioeconômicos Artículo de revisión

Diversas propostas metodológicas dos os estudos de abordagem qualitativa Figura 1. Fluxograma de seleção de estudos
vêm sendo consideradas para operacio- e os de cunho quantitativo que apresen- sobre associação entre fatores socio­
nalizar as “condições de vida” como uma taram em seu resumo apenas a descrição econômicos e tuberculose para inclusão na
categoria de pesquisa. Tais propostas de medidas de frequência. Foram ainda revisão bibliográfica, 1990 a 2011
buscam uma compreensão dos diferentes excluídos os capítulos de livro, resumos
riscos individuais e coletivos de adoeci- de eventos, relatos de caso, editoriais, Publicações potencialmente elegíveis
identificadas nas bases bibliográficas
mento e morte relacionados ao processo revisões sistemáticas, meta-análises e ar-
através dos descritores: 432
de transmissão da doença. Nesse sentido, tigos de opinião.
destacam-se os estudos de associação en- Ambos os autores participaram de
tre fatores das esferas biológica e social e forma independente da avaliação de ele-
sua influência na produção e reprodução gibilidade e posterior análise das publi-
Total de estudos após a remoção
da tuberculose (6–10). No entanto, os es- cações, sendo os desacordos resolvidos
de duplicidades: 380
tudos que buscam associar a ocorrência por consenso. Para a extração dos dados,
de tuberculose com indicadores socio- foi construído um formulário especifico,
econômicos (representantes das condi- onde foram registradas informações con-
ções de vida) nem sempre encontram cernentes ao título do estudo, país de
•  Artigos excluídos por não preencher
resultados concordantes. Tal divergência origem, ano de desenvolvimento, autor, os critérios de inclusão: 341
pode estar relacionada ao nível de agre- idioma, objetivo, variável dependente,
gação territorial dos dados, assim como nível de agregação espacial dos dados e •  Artigos sem acesso livre e fora do
a características particulares inerentes às indicadores socioeconômicos utilizados Portal Periódicos CAPES: 3
populações em estudo. na análise.
O objetivo deste trabalho foi realizar Os trabalhos selecionados foram sepa-
uma revisão sistemática da literatura rados segundo tipo de estudo (ecológico
para investigar a existência de associa- ou individuado, no qual a unidade de Estudos incluídos na revisão
ção entre fatores socioeconômicos (in- análise é o indivíduo). Por sua vez, os bibliográfica: 36
dividuais e coletivos) e a ocorrência de trabalhos de nível individuado foram
tuberculose. classificados de acordo com o desenho
de estudo (caso-controle, coorte e inqué- berculose em nível do indivíduo, quatro
materiais e MÉTODOS ritos) e variável dependente (mortali- foram estudos do tipo caso-controle, três
dade, incidência, prevalência, coinfecção foram de coorte e quatro foram inquéri-
Os termos de busca utilizados nesta e abandono). Por outro lado, os ecológi- tos (tabela 1).
revisão sistemática foram obtidos atra- cos foram classificados quanto à variável Em relação a casos incidentes de tu-
vés de consulta aos Descritores em Ciên- dependente e os diferentes níveis de berculose, os estudos com delineamento
cias da Saúde (decs.bvs.br). Foi utilizada agregação espacial dos dados (regiões caso-controle (realizados no Brasil e na
na busca dos trabalhos a combinação dos continentais/conjunto de países, país, Estônia) apontaram associação positiva
descritores “pobreza, indicadores so- província/estados, município, distritos, para as seguintes variáveis: sexo (mascu-
ciais, fatores socioeconômicos” e “tuber- bairros e setores censitários). lino), faixa etária (30 a 54 anos), analfabe-
culose” (em espanhol, pobreza, indicadores As publicações selecionadas para revi- tismo, imigração, posse de poucos bens
sociales, fatores socioeconómicos; e em in- são foram avaliadas quanto a critérios de de consumo, baixa renda ou rendimento
glês poverty, social indicators, socioecono- qualidade, sendo considerados os arti- não fixo, histórico prisional, alcoolismo,
mic factors). Na pesquisa bibliográfica gos julgados pelo sistema de revisão por estado civil (separado, viúvo ou sol-
foram utilizadas as bases SciELO (www. pares. Para os estudos observacionais teiro), carência alimentar e contato pré-
scielo.org), Lilacs (bases. bireme.br), foi utilizada como referência a lista pro- vio com paciente de tuberculose (6, 12).
Medline (www.ncbi.nlm.nih.gov/pub- posta pelo STROBE Statement (11). Para Em relação à prevalência de casos, foi
med) e Scopus (www.scopus.com/pe- os estudos ecológicos foi utilizada uma verificada associação direta para as va-
riodicos.capes.gov.br/home.url). adaptação da referida lista STROBE con- riáveis coinfecção com HIV, imigração,
Foram inicialmente selecionados, atra- siderando-se a adequação dos modelos, contato prévio com paciente de tuber-
vés dos descritores, trabalhos publicados magnitude e significância da associação. culose e disponibilidade de alimentos
entre 1990 e 2011. A partir daí, foram (< 2 refeições diárias) (13).
selecionados artigos originais e comu- RESULTADOS Quanto aos fatores associados ao óbito
nicações breves (de acesso livre ou dis- pela doença, um estudo apontou associa-
ponibilizados pelo Portal de Periódicos A partir dos critérios estabelecidos ção positiva para indivíduos com idade
da Coordenação de Aperfeiçoamento de para revisão bibliográfica, foram sele- superior a 50 anos e alcoolismo como
Pessoal de Nível Superior, CAPES, no cionados ao todo 36 trabalhos (figura 1), doença associada, enquanto que estar
Brasil), assim como teses e dissertações. sendo 25 referentes ao nível ecológico e empregado foi um fator de proteção (7).
Foram critérios de inclusão a presença de 11 ao nível individuado. Entre os estudos de coorte, um apon-
resumos (em português, inglês ou espa- tou para associação positiva entre óbito
nhol), assim como a descrição de abor- Estudos de nível individuado por tuberculose, idade superior a 50
dagem quantitativa referente à análise de anos, desemprego e coinfecção com HIV
associação estatística entre tuberculose e Dos 11 trabalhos que analisaram os (14). Em relação ao abandono de trata-
fatores socioeconômicos. Foram excluí- fatores socioeconômicos associados à tu- mento, foi verificada associação positiva

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Artículo de revisión San Pedro e Oliveira • Tuberculose e indicadores socioeconômicos

Tabela 1. Estudos de nível individuado sobre associação entre fatores socioeconômicos e tuberculose
Variável
Referência País Ano Tipo de estudo Amostra dependente Indicadores associados­a
Tekkel et al. Estônia 2002 Caso-controle 248 casos e Incidência Rendimento monetário não fixo (AOR = 12,3; IC = 3,1–47,3), histórico
(12) (hospitalar) 248 controles prisional (AOR = 12,4; IC = 3,5–43,2), alcoolismo (AOR = 13,6;
IC = 4,6–40,1), estado civil separado (AOR = 2,7; IC = 1,4–5,2),
viúvo (AOR = 3,5; IC = 1,04–12,3), carência alimentar (AOR = 5,2;
IC = 1,2–24,2), contato prévio com paciente de tuberculose
(AOR = 7,7; IC = 3,2–18,7) .
Cheng et al. China 2005 Inquérito 190 Atraso no Faixa etária (< 30 anos) (RR = 0,4; IC = 0,2–0,7) e analfabetismo
(19) (ambulatorial) diagnóstico (RR =  1,9; IC = 1,1–3,1).
Pelaquin et al. Brasil 2007 Caso-controle 48 casos e Mortalidade Idade superior a 50 anos (OR = 8,9; IC = 2,4–31,9), alcoolismo
(7) (hospitalar) 96 controles (OR = 25,0; IC = 7,0–88,8), possuir emprego (OR = 0,23;
IC = 0,6–0,7).
Albuquerque Brasil 2007 Coorte 1 237 Abandono, falha Associado aos óbitos: Idade superior a 50 anos (OR = 11,5; IC = 1,4–
et al. (14) (ambulatorial) terapêutica 89,6), coinfecção HIV (AOR = 24,5; IC = 7,1–84,2), desemprego
e óbitos (OR = 3,2; IC = 1,6–6,4). Associado ao abandono: Idade entre
30–64 anos (OR = 2,4; IC = 1,4–4,1), analfabetismo (AOR = 1,7;
IC = 1,1–2,5), tratamento prévio (AOR = 2,1; IC = 1,5–3,1) e
alcoolismo (OR = 1,7; IC = 1,1–2,6). Associado a falha terapêutica:
Atraso no início do tratamento (AOR = 4,4; IC = 1,3–15,1),
analfabetismo (AOR = 2,8; IC = 1,2–6,7) e alcoolismo (AOR = 2,7;
IC = 1,1–7,1).
Muniyandi et al. Índia 2007 Inquérito 151 Prevalência Renda inferior a um dólar por dia (RR =  1,6; P < 0,01), não ter
(18) (populacional) posse da terra (RR =  3,3; P < 0,01) e viver em habitações com
precariedade estrutural (RR =  2,5; P < 0,01).
Nájera-Ortiz México 2008 Inquérito 295 Mortalidade Menos de 3 anos de estudo (OR = 3,3; IC = 1,1–9,6), abandono de
et al. (20) (ambulatorial) tratamento (OR = 11,5; IC = 5,3–24,8), não ter recebido tratamento
diretamente observado (DOT) (OR = 1,2; IC = 1,1–1,3).
Kittikraisak et Tailândia 2009 Coorte 554 Abandono de Histórico carcerário (AOR = 2,0; IC = 1,1–3,2), sintomas clínicos
al. (15) (hospitalar) tratamento desfavoráveis após a quarta semana de tratamento (AOR = 3,4;
IC = 1,4–8,0), fumante (AOR = 2,3; IC = 1,3–4,1).
Ximenes et al. Brasil 2009 Caso-controle 1 452 casos e Incidência Sexo masculino (OR = 2,2; IC = 1,9–2,5), faixa etária de 30 a 54 anos
(6) (populacional) 5 808 controles (OR = 3,7; IC = 2,9–4,8), analfabetismo (OR = 1,3; IC = 1,1–1,6),
migração (OR = 1,3; IC = 1,1–1,5), posse de poucos bens de
consumo (OR = 5,5; IC = 3,5–7,6).
Boccia et al. Zâmbia 2011 Caso-controle 52 casos e Prevalência Carência alimentar (< 2 refeições diárias) (AOR = 3,1; IC = 1,1–8,7),
(13) (populacional) 318 controles coinfeccão HIV (AOR = 3,1; IC = 1,7–5,8), migração (AOR = 5,2;
IC = 2,7–10,2), contato nos 12 últimos meses com paciente de
tuberculose (AOR = 2,8; IC = 1,3–5,6).
Belo et al. Brasil 2011 Coorte 460 Desfecho negativo Escolaridade inferior a 8 anos (OR = 2,4; IC = 1,3–4,3), histórico
(16) (hospitalar) (abandono, falha prévio de abandono de tratamento (OR = 3,3; IC = 1,6–7,7).
terapêutica e óbitos)
Hoa et al. Vietnã 2011 Inquérito 87 413 Prevalência Despesas familiares com bens de consumo: Quintil mais baixo
(17) (populacional) (RR = 2,5; IC = 1,6-3,9).
a AOR = razão de chances ajustada; IC = intervalo de confiança; OR = razão de chances; RR = risco relativo.

para as variáveis analfabetismo, alcoo- utilizado para cozinhar, renda inferior continentais (conjunto de países) como
lismo, faixa etária de 30 a 64 anos, ter a 1 dólar por dia, não possuir título de nível de agregação espacial dos dados e
recebido tratamento prévio, sintomas clí- posse da terra e viver em habitações outro utilizou dados agregados por país.
nicos desfavoráveis após 4 semanas do com precariedade estrutural (17, 18). Além disso, dois estudos enfocaram pro-
início do tratamento, histórico prisional e Quando a variável dependente foi atraso víncias ou estados, um enfocou municí-
ser fumante (14, 15). Quanto à falha tera- por parte do paciente na busca por diag- pios, nove enfocaram distritos adminis-
pêutica, apresentaram associação direta nóstico de tuberculose, verificou-se as- trativos, seis enfocaram bairros e cinco
as variáveis referentes ao atraso no iní- sociação direta com idade entre 40 e 59 enfocaram setores censitários (tabela 2).
cio do tratamento, analfabetismo e alco- anos e baixo nível educacional (19). Para A análise da associação entre a va-
olismo (14). A análise multivariada para o a mortalidade foi verificada associação riação anual da taxa de incidência de
conjunto de desfechos negativos (óbito/ significativa com a variável escolaridade tuberculose e indicadores demográficos,
abandono/falha terapêutica) apontou inferior a 3 anos de estudo, abandono de econômicos e de serviço de saúde para
para associação direta com escolaridade tratamento e não ter recebido tratamento o conjunto de 134 países distribuídos ao
(até 8 anos de estudo), histórico prévio diretamente observado (DOT) (20). longo de cinco continentes aponta para
de abandono de tratamento, coinfecção uma relação inversa entre incidência
com HIV e alcoolismo (14, 16). Estudos ecológicos de tuberculose e aumento do produto
Nos inquéritos, a prevalência de casos interno bruto (PIB), índice de desenvol-
foi associada com baixo nível de despe- Do total de 25 estudos de nível ecoló- vimento humano (IDH), acesso a sa-
sas familiares com bens do tipo televisão, gico selecionados para revisão, um tra- neamento básico e baixa mortalidade
rádio, automóvel, tipo de combustível balho buscou associação tendo regiões infantil (4, 21).

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TABELA 2. Estudos ecológicos sobre associação entre fatores socioeconômicos e tuberculose


Agregação Variável
Referência País Ano dos dados dependente Indicadores associadosa
Spence et al. Inglaterra 1993 Distritos Incidência Índices de Jarman (r = 0,73; IC = 0,5–0,8) e Índice de Townsend (r = 0,6; IC = 0,3–0,7).
(25) administrativos
Mangtani et al. Inglaterra 1995 Bairros Incidência Densidade intradomiciliar (aumento de 1% resultou em variação de 12% na taxa média de
(34) incidência; IC = 4,8–19,4), proporção de imigrantes (aumento de 1% resultou em variação
de 5% na taxa média de incidência; IC = 2,7–8,1).
Cantwell et al. EUA 1997 Estados Incidência Densidade intradomiciliar (razão de taxa entre 4° e 1° quartil socioeconômico = 1,7), pessoas
(23) vivendo abaixo da linha de pobreza (razão de taxa = 1,5), percentual de pessoas recebendo
assistência governamental relativa à renda (razão de taxa = 1,2) e percentual de pessoas
desempregadas (razão de taxa = 1,2). Todos indicadores apresentaram P < 0,01.
Hawker et al. Inglaterra 1999 Distritos Incidência Proporção de desempregados, domicílios com mais de 1,5 moradores por cômodo
(24) administrativos (magnitude da associação não apresentada; P < 0,01).
Tocque et al. Inglaterra 1999 Distritos Incidência Densidade populacional (r² = 0,37; P < 0,001), desemprego (r² = 0,58; P < 0,001), proporção
(29) administrativos de idosos morando sozinhos (r = 0,51; P < 0,001).
Bennett et al. Inglaterra 2001 Distritos Incidência Densidade intradomiciliar (r² = 0,23; IC = 12,0–36,0), imigrantes (r² = 0,5; IC = 41,0–58,0) e
(30) administrativos proporção de pessoas sem a posse da habitação (r² = 0,27; IC = 18,0–35,0).
Barr et al. EUA 2001 Bairros Incidência Densidade intradomiciliar (RR = 1,3; IC = 1,2–1,4), proporção de pessoas com baixo
(33) rendimento monetário (RR = 1,3; IC = 1,3–1,4), incidência de AIDS (RR = 1,4; IC = 1,4–1,5).
Quijano et al. Espanha 2001 Bairros Incidência Desemprego (Bivariada r² = 0,8 P < 0,05; Multivariada RR = 1,18; IC = 1,1–1,3), baixa
(35) escolaridade (r² = 0,74; P < 0,05), densidade intradomiciliar (r² = 0,52; P < 0,05), habitar
bairros da zona central com piores condições de vida (RR = 1,8; IC = 1,5–2,1).
Vincentin et al. Brasil 2002 Distritos Mortalidade Índice de Robin Hood (r = 0,44), razão da renda entre os 10% mais ricos e 40% mais pobres
(10) administrativos (r = 0,42) e chefes de domicílio com renda entre um e dois salários mínimos (r = 0,5).
Escolaridade de nível superior (r = –0,48), área média por domicílio (r = –0,5) e número
médio de cômodos por domicílio (r = –0,72), Todos indicadores apresentaram P < 0,05.
Nishiura et al. Japão 2003 Distritos Incidência Densidade populacional, proporção de domicílios com ajuda governamental, domicílio com área
(26) administrativos habitacional menor que a padrão (magnitude da associação não apresentada; P < 0,01).
Serpa et al. Cuba 2003 Bairros Incidência Densidade intradomiciliar, percentual de famílias com carência econômica e de saneamento
(32) básico (magnitude da associação não apresentada; P < 0,01).
Leung et al. China 2004 Distritos Incidência Percentual de viúvos ou divorciados (r = 0,50; P = 0,02) , pessoas por cômodo (r = 0,67;
(27) administrativos P = 0,002).
Liu JJ (22) China 2005 Províncias Prevalência Renda liquida per capita da população rural (r = –0,42; P < 0,05), PIB per capita (r = –0,47;
P < 0,05) e número de médicos por 1 000 habitantes (r = –0,47; P < 0,05).
Chan-Yeung China 2005 Setores Incidência Proporção de população com mais de 65 anos (r = 0,45; P < 0,05), pessoas com baixa renda
et al. (38) censitários (r = 0,74; P < 0,05), pessoas acima de 15 anos com baixa escolaridade (r = 0,53; P < 0,05).
Ponticiello et al. Itália 2005 Bairros Incidência Densidade populacional, pessoas analfabetas, desemprego (magnitude da associação não
(36) apresentada; P < 0,05).
Myers et al. EUA 2006 Setores Incidência Proporção de imigrantes (razão de taxa = 1,6; IC = 1,6–1,7), domicílios com mais de um
(39) censitários morador por cômodo (razão de taxa = 1,6; IC = 1,5–1,6), pessoas maiores de 25 anos
sem o segundo grau escolar (razão de taxa = 1,7; IC = 1,6–1,7), maiores de 16 anos sem
emprego (razão de taxa = 1,4; IC = 1,4–1,5).
Souza et al. Brasil 2007 Setores Incidência Moradores por domicílio (RR = 1,94; IC =1,1–3,5), casos de retratamento por setor censitário
(40) censitários (RR = 1,8; IC =1,4–2,2) e famílias com mais de um caso por setor censitário (RR = 1,9;
IC = 1,6–2,2).
Silva et al. Brasil 2008 Bairros Mortalidade Índice composto de condições socioeconômicas: acesso precário a saneamento básico,
(37) chefes de domicílios com até 3 anos de estudo e chefes de domicílio com renda até dois
salários mínimos (r = 0,32; P < 0,01).
Janssens et al. Suíça 2008 País Incidência PIB per capita (aumento de duas vezes no PIB associa-se a uma diminuição de 38,5% na
(21) incidência de tuberculose) (estatísticas de associação não apresentada).
Fasca et al. (3) Brasil 2008 Municípios Incidência Densidade de pobres (r = 0,61; P = 0,000), incidência de AIDS (r = 0,54; P = 0,000), Gini da
renda (r = –0,32; P = 0 ,001).
Angelo et al. (31) Brasil 2008 Distritos Incidência Densidade de pobres (r = 0,5; P < 0,05), incidência de AIDS (r = 0,6; P < 0,05), valor médio
administrativos do imposto territorial urbano (r = 0,5; P < 0,05).
Dye et al. (4) Suíça 2009 Regiões Incidência Prevalência de HIV entre pacientes de tuberculose (r = 0,26), deficiência alimentar (r = 0,36),
continentais mortalidade em < de 5 anos (r = 0,36), baixo rendimento econômico (r = 0,43), aumento
(conjunto de do PIB (r = –0,21), aumento do IDH (r = –0,60), acesso a saneamento básico (r = –0,43),
países) percentual do PIB gasto em despesas totais em saúde (r = –0,53). Todos indicadores
apresentaram P < 0,01.
Ximenes et al. Brasil 2009 Setores Incidência Domicílios com mais de quatro moradores (OR = 1,83; IC = 1,3–2,5), percentual de pessoas
(6) censitários alfabetizadas (OR = 0,66; IC = 0,4–0,8), percentual de pessoas empregadas (OR = 0,47;
IC = 0,3–0,7), percentual de casas com refrigerador, máquina de lavar, computador e
ar-condicionado (OR = 0,52; IC = 0,4–0,7).
Pang et al. China 2010 Distritos Incidência Proporção de indivíduos não casados (r = 0,17; P < 0,01), escolaridade até 4 anos (r = 0,45;
(28) administrativos P < 0,01), pessoas com baixo rendimento monetário (r = 0,26; P < 0,01).
Vendramini et al. Brasil 2010 Setores Coinfecção Chefes de domicílio com até 3 anos de estudo, proporção de mulheres analfabetas,
(41) censitários TB/HIV proporção de pessoas com renda entre dois e três salários mínimos (magnitude da
associação não apresentada; P < 0,05).
a IC = intervalo de confiança; IDH = índice de desenvolvimento humano; PIB = produto interno bruto.

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Artículo de revisión San Pedro e Oliveira • Tuberculose e indicadores socioeconômicos

Quando consideradas as regiões de deravelmente nos estratos de baixa si- estudo verificou associação direta com
análise propostas pela Organização tuação socioeconômica comparando ao o acesso precário a saneamento básico,
Mundial da Saúde (OMS), observa-se, quartil mais elevado (23). proporção de pessoas analfabetas, chefes
para a região da América Latina e Ca- Em relação à utilização de municípios de domicílios com até 3 anos de estudo
ribe, associação direta entre a variação como nível de agregação espacial dos e chefes de domicílio com renda até dois
ao longo dos anos da taxa de incidência dados, um estudo verificou associação salários mínimos (37).
de tuberculose e a prevalência de HIV, direta entre a incidência de tuberculose Os estudos que buscaram investigar a
prevalência de HIV entre pacientes de e a densidade de pobres (moradores com relação entre fatores socioeconômicos e
tuberculose, pessoas com deficiência ali- rendimento mensal inferior a 2 salários a incidência de tuberculose utilizando os
mentar e variação anual da mortalidade mínimos brasileiros dividido pela área setores censitários como nível de agre-
em crianças menores de 5 anos. Associa- total utilizável em km²), assim como in- gação espacial dos dados apontaram
ção inversa foi verificada para PIB per ca- cidência de AIDS. Associação inversa foi para associação direta com as seguintes
pita e para pessoas com acesso a serviços observada para o Índice de Gini relativo variáveis: domicílios com mais de cinco
de abastecimento de água e esgotamento à renda (3). moradores, analfabetismo, proporção de
sanitário (4). Os estudos que buscaram analisar a população com mais de 65 anos, pro-
Para a região mediterrânea oriental variação na taxa de incidência de tuber- porção de pessoas com baixa renda,
(Afeganistão, Arábia Saudita, Egito, culose e fatores socioeconômicos tendo proporção de pessoas acima de 15 anos
Emirados Árabes, Irã, Iraque, Jordânia, como nível de agregação espacial dos com baixa escolaridade, proporção de
Líbano, Líbia, Marrocos, Paquistão, Sí- dados os distritos administrativos obser- imigrantes, domicílios com mais de um
ria, Tunísia), a variação anual da taxa de varam associação direta com as seguintes morador por cômodo, números de casos
incidência associa-se inversamente com variáveis: densidade de pobres, incidên- de retratamento por setor censitário e
o percentual do PIB gasto em despesas cia de AIDS, proporção de residentes número de famílias com mais de um
totais em saúde. Quanto aos países de desempregados, domicílios com mais de caso por setor censitário (6, 38–40).
alta renda (Alemanha, Austrália, Ca- 1,5 morador por cômodo, índices desfa- Um estudo utilizando como variável
nadá, Espanha, Estados Unidos, França, voráveis de Jarman e Townsend (pobreza dependente a coinfecção tuberculose/
Inglaterra, Itália, Japão, Portugal) a inci- e privação), densidade populacional, HIV destacou a associação positiva com
dência de tuberculose reduziu-se mais proporção de indivíduos não casados, indicadores socioeconômicos referentes
rapidamente entre aqueles com menor pessoas com escolaridade até 4 anos, pes- a chefes de família com até 3 anos de es-
proporção de pacientes de origem es- soas com baixo rendimento monetário, tudo, proporção de mulheres analfabetas
trangeira. Em relação aos fatores asso- percentual de viúvos ou divorciados, va- e proporção de pessoas com renda entre
ciados diretamente na região da Europa lor médio do imposto territorial urbano, dois e três salários mínimos (41).
Central e Oriental, destacam-se a varia- imigração, proporção de pessoas sem a
ção anual da mortalidade em crianças posse da habitação (24–31). Discussão
menores de 5 anos, pessoas com baixo Em relação à mortalidade por tuber-
rendimento econômico e deficiência culose, um estudo verificou associação A análise dos estudos selecionados
alimentar. Ainda para essa região, direta com índice de Robin Hood (pro- na presente revisão bibliográfica aponta
­observa-se associação inversa com IDH, porção de renda que deveria ser retirada para a persistência da relação entre fa-
PIB per capita, gastos totais em saúde per dos ricos e transferida para os pobres tores socioeconômicos e o processo de
capita e percentual do PIB gasto em des- de forma a se obter uma distribuição produção da tuberculose tanto em nível
pesas totais em saúde (4). equitativa), razão da renda média entre individuado quanto ao nível coletivo.
Estudo de associação entre prevalên- os 10% mais ricos e os 40% mais pobres Um dos poucos estudos utilizando
cia de tuberculose e indicadores socio­ e proporção de chefes de domicílio com modelo multinível demonstrou que, em
econômicos, demográficos e de serviços renda média entre um e dois salários mí- relação à tuberculose, não há interação
de saúde utilizando províncias como nimos. Associação inversa foi observada entre fatores socioeconômicos em nível
nível de agregação espacial dos dados para as variáveis relativas a escolaridade individuado e ecológico. A independên-
apontou para relação inversa referente de nível superior, área média por domi- cia entre os dois níveis de análise sugere
à renda liquida per capita da população cílio e número médio de cômodos por que o risco individuado de desenvolver
rural, PIB per capita e número de médicos domicílio (10). tuberculose aumenta de acordo com as
por 1 000 habitantes (22). Quanto aos estudos que buscaram características socioeconômicas da po-
Quanto ao nível de agregação espa- correlação entre modificações nas taxas pulação de seu entorno (6).
cial dos dados referente a estados, um de incidência de tuberculose e indica- Em relação aos estudos de nível indi-
estudo verificou associação direta entre dores socioeconômicos ao nível de bair- viduado, foi possível observar que fato-
incidência de tuberculose e as seguintes ros, foi observada associação direta com res como alcoolismo, baixo nível escolar,
variáveis socioeconômicas: número mé- variáveis referentes a densidade intra- baixo rendimento monetário, carência
dio de pessoas por cômodo, percentual domiciliar, percentual de famílias com alimentar e coinfecção pelo vírus HIV
de pessoas vivendo abaixo da linha de carência econômica e de saneamento associam-se a múltiplos desfechos rela-
pobreza, percentual de pessoas rece- básico, pessoas com baixo rendimento cionados ao acometimento por tubercu-
bendo assistência governamental rela- monetário, incidência de AIDS, desem- lose (tabela 1).
tiva à renda e percentual de pessoas prego, imigração, proporção de pessoas Os indicadores socioeconômicos refe-
desempregadas. Para os autores, o risco com baixa escolaridade (32–36). Em re- rentes aos baixos níveis de renda e esco-
relativo à tuberculose aumenta consi- lação à mortalidade por tuberculose, um laridade poderiam aumentar a vulnera-

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San Pedro e Oliveira • Tuberculose e indicadores socioeconômicos Artículo de revisión

bilidade à tuberculose ao refletir o acesso por tuberculose quanto nas de baixo co- fundimento e interações das variáveis
individual e desigual à informação, a be- eficiente, não permitindo, desse modo, independentes. Porém, poucos estudos
nefícios oriundos do conhecimento, aos uma distinção mais direta. Pensamento (12%) levaram em consideração a exis-
bens de consumo e ao serviço de saúde. análogo pode ser assumido em relação a tência de uma possível dependência es-
Quanto à carência alimentar, dietas com indicadores como proporção de pobres e pacial entre as unidades geográficas, as-
baixo valor proteico relacionam-se a al- analfabetismo (3, 10, 32). sim como procedimentos para correção
terações na função imunológica mediada Ainda quanto à influência das carac- das taxas estimadas em decorrência da
por células T, tornando o organismo terísticas particulares das áreas geográ- provável flutuação referente a unidades
mais suscetível à infecção por Mycobac- ficas, Fasca et al. (3) chamam a atenção geográficas com pequenas populações
terium tuberculosis e ao desenvolvimento para a utilização de indicadores socio­ (distritos, bairros e setores censitários).
da doença (13, 25). econômicos capazes de agregar atributos Os estudos observacionais incluídos
Variáveis relativas ao sexo (mascu- individuais e espaciais, a exemplo da nesta revisão sistemática apresentaram
lino), faixa etária (entre 25 e 49 anos) e densidade de pobres. Uma vez que a uma clara definição dos critérios de ele-
estado civil (solteiro, viúvo ou divor- área geográfica total é substituída pela gibilidade para casos e controles, tama-
ciado) também se associaram de forma área utilizável, na qual efetivamente as nho amostral, explicitação de perdas
significativa à tuberculose em nível indi- pessoas habitam, trabalham ou transi- de segmento, descrição das variáveis
viduado (12, 19). O maior acometimento tam, esse tipo de indicador mostrou-se independentes, modelos de análise, me-
de indivíduos com tais características mais sensível do que a proporção de didas de associação brutas e ajustadas e
poderia ser reflexo da mobilidade es- pobres, assim como a densidade demo- respectivos intervalos de confiança ou
pacial, resultando em maiores taxas de gráfica na definição de espaços de maior P-valor.
contato social. Pang et al. (28) sugerem vulnerabilidade social à tuberculose. As principais limitações destacadas
que o estado civil (solteiro, viúvo ou Para tais autores, o indicador densidade nos estudos tipo caso-controle referem-
divorciado) poderia implicar na ausên- de pobres (assim como outros indica- se a possível viés de informação (quali-
cia ou no menor grau de apoio fami- dores socioeconômicos sintéticos) não é dade de informações de fonte secundária
liar, aumentando a vulnerabilidade à suficiente para explicar sozinho a trans- e ao processo de coleta primária de da-
tuberculose em momentos de estresse missão da doença, sugerindo a existência dos) e seleção e controle de variáveis de
psicossocial. de particularidades inerentes a cada uni- confundimento. Nos estudos de coorte,
Em nível ecológico, foi possível veri- dade territorial analisada. Nesse sentido, a principal limitação destacada foi refe-
ficar que indicadores referentes a renda, destaca-se que a pobreza é um fenômeno rente ao controle de possíveis variáveis
escolaridade e densidade populacional heterogêneo, com grande variação de de confundimento. Nos trabalhos com
associam-se a tuberculose nos distintos tipo e magnitude entre países, regiões ou delineamento seccional foram mencio-
níveis de agregação espacial (tabela 2). mesmo bairros. Indicadores socioeconô- nados possíveis vieses de informação
Barr et al. (33) observaram que o acrés- micos e epidemiológicos não atuam de decorrentes do instrumento de coleta
cimo de 10% na proporção de famílias forma isolada, mas segundo característi- e a qualidade da informação de dados
vivendo com renda abaixo da linha de cas conjunturais próprias que devem ser secundários.
pobreza esteve associado com um au- consideradas nas análises (42). Por fim, ao analisar os estudos de
mento de 33% na taxa de incidência de Em relação às limitações desta revisão associação entre tuberculose e fatores
tuberculose para os bairros de Nova Ior- bibliográfica, a estratégia de inclusão socioeconômicos oriundos de diferentes
que no período de 1984 a 1992. Magnati adotada não foi capaz de captar os traba- países, destacamos que a tuberculose
et al. (34) verificaram que o aumento de lhos em cujo resumo não havia nenhuma continua a ser uma doença cujo processo
1% na proporção de domicílios com mais referência sobre possível relação estatís- de produção encontra-se intimamente
de uma pessoa por cômodo representou tica de associação. É possível que a maior relacionado às condições de vida. Além
um aumento de 12% na taxa média de representatividade dos estudos realiza- do diagnóstico precoce, tratamento ade-
notificação de tuberculose para os bair- dos no Brasil se deva à não inclusão de quado e vigilância epidemiológica, a
ros de Londres entre 1982 e 1991. trabalhos de acesso restrito como artigos, diminuição das desigualdades socioeco-
Apesar da relação existente entre tu- teses e dissertações realizadas em outros nômicas e a adequação dos programas
berculose e indicadores socioeconômi- países, assim como à não inclusão de de controle às realidades locais em que
cos, a associação entre esses parece ser estudos publicados em idiomas oficiais atuam figuram como fatores primordiais
influenciada tanto pelo nível de agre- de países como China e Índia. na redução da mortalidade e morbidade
gação espacial dos dados quanto pelas Quanto ao conjunto de estudos eco- por tuberculose.
características particulares das áreas ge- lógicos, os artigos selecionados para
ográficas em estudo. Vicentim et al. (10) revisão sistemática apresentaram uma Agradecimentos. ASP recebeu bolsa
destacam que a fraca associação entre clara descrição metodológica, com ex- de doutorado da Coordenação de Aper-
densidade demográfica e mortalidade plicitação da população e unidades ge- feiçoamento de Pessoal de Nível Su-
por tuberculose nas regiões adminis- ográficas, fonte de dados e construção perior (CAPES) durante o período do
trativas (RA) do Município do Rio de das variáveis independentes e modelo estudo.
Janeiro pode resultar do fato de que utilizado na análise. A maioria (68%) fez
grandes densidades são encontradas uso de regressão multivariada para es- Conflito de interesses. Nada decla-
tanto em RAs com elevada mortalidade timação de associação, controle de con- rado pelos autores.

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Artículo de revisión San Pedro e Oliveira • Tuberculose e indicadores socioeconômicos

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San Pedro e Oliveira • Tuberculose e indicadores socioeconômicos Artículo de revisión

abstract Objective.  To review the literature to determine the existence of associations


between socioeconomic factors (individual and collective) and the presence of
tuberculosis.
Tuberculosis and Methods.  A systematic literature review was carried out in SciELO, Lilacs, Med-
socioeconomic indicators: line, and Scopus using the following search terms: poverty, social indicators, socio-
systematic review economic factors, and tuberculosis (in Portuguese, English, and Spanish). Studies
having individuals as the unit of analysis were classified according to study design
of the literature and dependent variable. Ecological studies were classified according to levels of
spatial aggregation of data and dependent variable. For each article, the following
were recorded: study title, country of origin, year the study was carried out, authors,
language, objective, level of spatial aggregation, and indicators used in the analysis.
Results.  For individual level studies, a direct statistical association was observed
between tuberculosis and alcohol addiction, HIV coinfection, low schooling, marital
status, low income, lack of food, immigration, and previous contact with tuber-
culosis patients. For collective analyses, an indirect association was observed for
variables relating to gross domestic product per capita, human development index,
and basic sanitation at the country level. Indicators relating to crowding, poverty
density, schooling, decline in family income, and households receiving governmental
cash support were directly associated with tuberculosis at different levels of spatial
aggregation.
Conclusions.  The studies analyzed indicate a persisting relationship between socio­
economic indicators and the production of tuberculosis both at the individual and
collective levels. The association between tuberculosis and socioeconomic indicators
seems to be influenced by both the level of spatial aggregation and specific character-
istics of geographic areas.

Key words Tuberculosis; socioeconomic factors; poverty; review.

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