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Christovam Barcellos
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Estudos ecológicos nas Ciências Sociais e na Epidemiologia são conhecidos por analisarem a associ-
ação entre variáveis de grupos populacionais, classificados segundo a ocupação, o local de residência,
o local de trabalho ou as características demográficas. Os resultados verificados nesses estudos nem
sempre coincidem com os resultados obtidos através da análise de dados individuais, efeito que ficou
conhecido como ‘falácia ecológica’ (Greenland & Morgenstern, 1989).
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Incidência
de Aids
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Pobreza
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Ocupação
Classe social
Renda
Raça/Cor
Local de residência
Escolaridade
Território
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Estrutura social
Mas não se deve esquecer que esse espaço é, ao mesmo tempo, ‘pro-
dutor’ de desigualdades. Três principais correntes de pensamento propõem
explicações para esse processo. O espaço pode ser fonte de desigualdades,
promovidas pela distribuição desigual de excedentes, administrada pelo
Estado e por grandes empresas, como defendido por autores de inspiração
marxista (Harvey, 1980). Alguns teóricos, baseados nas concepções de
Durkheim, sustentam que os lugares onde se concentram populações de
baixa renda possuem menor capacidade de mobilização frente a estressores
sociais (Kawachi et al., 1997). Esses lugares estariam alijados das políti-
cas do Estado e sujeitos à ruptura da coesão social. Já os autores pós-
modernos têm destacado o papel das identidades étnicas, de gênero e de
classe na segregação socioespacial, seja ela forçada ou voluntária, por meio
da auto-segregação.
A cultura e as normas são atributos das comunidades. Elas alteram
e são alteradas por práticas sociais, que têm importantes conseqüências
sobre as condições de saúde (Giddens, 1989). Apesar de apoiadas em pres-
supostos teóricos conflitantes, essas teses reforçam o papel do espaço geo-
gráfico na configuração de uma cadeia de riscos a que são submetidas po-
pulações mais pobres (Diderichsen et al., 2001). Em primeiro lugar, estão
sujeitas a maiores graus de exposição a diversos e combinados fatores de
risco. Os estudos sobre Justiça Ambiental têm demonstrado que as ativida-
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Organizado pelo autor.
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Considerações finais
A determinação social da saúde é um fenômeno multidimensional
que não pode ser analisado por um indicador único. Os índices ou indica-
dores sintéticos reduzem a diversidade de situações de saúde e as possibili-
dades de intervenção sobre esses determinantes. Ao enfatizar a pobreza
como determinante principal dos problemas de saúde, são ignoradas ou-
tras dimensões que podem afetar as situações de saúde, como as condições
ambientais e o próprio papel dos serviços de saúde como estratégia de supe-
ração desses problemas. Cabe, nesse caso, desenvolver indicadores especí-
ficos e abrangentes que permitam desvendar os diversos aspectos políticos,
culturais, econômicos e ambientais das desigualdades em saúde.
Os desfechos do processo de saúde/doença ocorrem sobre indivíduos
que adoecem, morrem, se infectam, são atendidos ou não em suas necessi-
dades. No entanto, grande parte dos determinantes deste processo se veri-
fica em outros níveis, denominados genericamente de coletivos. A maior
parte da pesquisa epidemiológica, hoje, ainda se baseia numa abordagem
individualista, ou seja, na noção de que a distribuição de saúde/doença na
população pode ser explicada somente por características individuais. A
necessidade da incorporação de variáveis de grupo, ou de macroníveis, tem
sido enfatizada por diversos autores (Diez-Roux, 1998; Macintyre et al.,
2002). Uma população delimitada segundo critérios espaciais não pode ser
considerada como um conjunto de indivíduos independentes. As conexões
entre esses indivíduos, bem como suas relações com o território, influenci-
am as suas condições de saúde. Esse padrão de conexões é particularmente
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