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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU

CURSO DE ODONTOLOGIA

MARIA LUIZA DE MOURA

EPIDEMIOLOGIA NO ÂMBITO DA SAÚDE PÚBLICA

MOSSORÓ/RN
2022
1 INTRODUÇÃO

Compreender o processo saúde-doença desde sempre foi um desafio. O termo epidemiologia


significa epi= sobre; demio= povo; logos= estudo e pode ser conceituado como a “ciência que
estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os
fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva,
propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças, e
fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das
ações de saúde” (ROUQUAYROL; GOLDBAUM, 2003).
“A epidemiologia tem como princípio básico o entendimento de que os eventos relacionados
à saúde (como doenças, seus determinantes e o uso de serviços de saúde) não se distribuem
ao acaso entre as pessoas. Há grupos populacionais que apresentam mais casos de certo
agravo, e há outros que morrem mais por determinada doença. Tais diferenças ocorrem
porque os fatores que influenciam o estado de saúde das pessoas não se distribuem
igualmente na população, portanto, acometem mais alguns grupos do que outros (PEREIRA,
2013). Em síntese, pode-se afirmar que a distribuição das doenças na população é
influenciada pelos aspectos biológicos dos indivíduos, pelos aspectos socioculturais e
econômicos de sua comunidade e pelos aspectos ambientais do seu entorno, fazendo com que
o processo saúde-doença se manifeste de forma diferenciada entre as populações.” (GOMES,
2015).
“A abordagem epidemiológica que compara os coeficientes (ou taxas) de doenças em
subgrupos populacionais tornou-se uma prática comum no final do século XIX e início do
século XX. A sua aplicação foi inicialmente feita visando o controle de doenças
transmissíveis e, posteriormente, no estudo das relações entre condições ou agentes
ambientais e doenças específicas. Na segunda metade do século XX, esses métodos foram
aplicados para doenças crônicas não transmissíveis tais como doença cardíaca e câncer,
sobretudo nos países industrializados.” (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTRÖM, 2010).
As primeiras observações epidemiológicas foram de John Snow, considerado o pai da
epidemiologia (LAMARINO, 2011), acerca da cólera uma doença bacteriana infecciosa
intestinal aguda, transmitida por contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou
alimentos contaminados. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).

2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 APLICABILIDADE DA EPIDEMIOLOGIA

“A epidemiologia congrega métodos e técnicas de três áreas principais de conhecimento:


Estatística, Ciências da Saúde e Ciências Sociais. Sua área de atuação compreende ensino e
pesquisa em saúde, avaliação de procedimentos e serviços de saúde, vigilância
epidemiológica e diagnóstico e acompanhamento da situação de saúde das populações.”
(BOING; D´ORSI; REIBNITZ, 2016).
O primeiro deles está relacionado a descrever as condições de saúde de uma população, o que
possibilitaria a tomada de decisões que viessem de encontro às demandas dessa população.
“Por exemplo, ao final do século XX e cerca de uma década após a implementação do SUS, o
Ministério da Saúde investigou as estatísticas oficiais do Brasil e descreveu o perfil de
morbimortalidade da população (BRASIL, 2002). O objetivo principal do Ministério da
Saúde foi conhecer de que adoeceu e de que morreu a população brasileira no ano 2000 e
descrever a evolução desses dados durante a década de 1990. A título de ilustração, verificou-
se que em 1999, no Brasil, morreram, em média, 34,6 crianças com menos de um ano de vida
para cada 1.000 que nasceram vivas naquele ano, e tal valor variou de 53,0 óbitos por 1.000
nascidos vivos na região Nordeste até 20,7/1.000 na região Sul.” (BOING; D´ORSI;
REIBNITZ, 2016)
O segundo objetivo fundamental da epidemiologia é identificar os determinantes de saúde de
uma população, informação que pode se desdobrar em relações de causa efeito entre um fator
e uma determinada variável independente. Por exemplo, a falta de transporte para levar
crianças para uma Unidade Básica de Saúde para receber vacinação pode acarretar no alto
índice de doenças infantis.
Por fim, o terceiro objetivo fundamental da epidemiologia está associado a analisar os
resultados e desdobramentos das políticas públicas e ações de saúde pública e coletiva. Os
estudos e levantamentos epidemiológicos propiciam aos governantes a possibilidade de
mensurar e avaliar como as políticas implementadas influenciam nos índices e indicadores de
saúde. Por exemplo: “houve diminuição dos picos sazonais da proporção de internações e das
taxas por mil habitantes após a intervenção vacinal em ambos os sexos, sugerindo possível
impacto das vacinas disponibilizadas pelo Programa de Vacinação do Idoso” (FRANCISCO;
DONALÍSIO; LATORRE, 2004).

2.2 EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO

“O principal objetivo da epidemiologia é identificar os subgrupos da população que têm


maior risco de adoecer. Por que deveríamos identificar tais grupos de alto risco? Primeiro, se
pudermos identificar esses grupos de alto risco, poderemos direcionar esforços preventivos,
como programas de triagem para detecção precoce de doenças, para populações que possam
ser mais beneficiadas por intervenções que são desenvolvidas para a doença.
Segundo, se pudermos identificar tais grupos, poderemos ser capazes de identificar os fatores
específicos ou as características que os coloquem em alto risco e, então, tentar modificá-los.
É importante ter em mente que tais fatores de risco podem ser de dois tipos. Características
como idade, sexo e raça, por exemplo, não são modificáveis, embora nos permitam identificar
grupos de alto risco. Por outro lado, características como obesidade, dieta e outros fatores
comportamentais (estilo de vida) podem ser potencialmente modificáveis e talvez tenhamos a
oportunidade de desenvolver e introduzir novos programas preventivos, com o objetivo de
reduzir ou modificar as exposições específicas ou os fatores de risco.” (GORDIS, 2017).

2.2.1 PERIODO PRÉ-PATOGÊNICO

“Abarca dois momentos distintos: o momento prévio ao adoecimento, no qual o indivíduo


não se encontra nem mesmo exposto aos riscos do adoecimento, e o momento em que o
indivíduo já se encontra exposto a riscos diretos de adoecer - sem, no entanto, estar
comprometido o suficiente para desenvolver sinais e sintomas daquela alteração patológica e
nem mesmo os sinais inespecíficos e presentes nos mais diversos quadros patológicos, tais
como febre, falta de apetite, desânimo e cansaço inexplicados, conhecidos como sinais
prodrômicos. Nesta fase pré-patogênica, dois níveis de prevenção podem ser aplicados: no
primeiro nível de prevenção, o de promoção à saúde, há a melhora da qualidade de vida para
todos os indivíduos, independente da maior ou menor exposição a riscos de adoecer; no
segundo nível, que é a proteção especifica, os indivíduos com maior risco de adoecimento
devem receber cuidados especiais para que não adquiram doenças, ou ainda, saiam da fase
pré-patogênica, caminhando para a fase patogênica.” (CARVALHO; CARVALHO, 2020).

2.2.2 PERIODO PATOGÊNICO

“Na fase patogênica, níveis de prevenção também podem ser pensados como forma de
impedir que o quadro evolua para a fase seguinte: na patogênese precoce, iremos pensar no
terceiro nível de prevenção, o diagnóstico precoce, que acarreta em rápida ação clínica ou
farmacológica que impede que o doente passe para a fase avançada da doença, reduzindo o
risco de cura com sequelas ou morte. Em alguns casos, não é possível reconhecer a doença de
maneira precoce e o doente acaba evoluindo para a fase avançada da enfermidade. Apesar dos
sinais e sintomas serem mais intensos e característicos da doença, ainda é possível aplicar o
quarto nível de prevenção, que corresponde à limitação dos danos. A tendência é que ainda
que não se consiga a cura sem sequelas, evitando-se assim, ao menos, o óbito do doente ou ao
menos reduzir suas sequelas. Nos casos em que o doente não busca ou não tem acesso ao
tratamento e ainda assim caminha para a convalescença, mesmo que essa seja com sequelas,
ainda é possível aplicar um último nível de prevenção, chamado reabilitação, que tem como
objetivo tornar o doente o mais independente possível, devolvendo-lhe o máximo possível de
qualidade de vida. O conhecimento epidemiológico associado ao conhecimento da história
natural da doença permite que os profissionais da saúde possam intervir no momento mais
remoto da evolução da doença, prevenindo danos graves aos indivíduos e às populações.
Além disso, torna possível a redução do número de doentes que careçam de tratamentos mais
complexos, o que gera economia para o sistema de saúde, mas principalmente maior
qualidade de vida para a sociedade como um todo.” (CARVALHO; CARVALHO, 2020).
2.3 EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA

“A Epidemiologia e a Saúde Pública, quando trabalhadas em conjunto, possibilita alcançar o


conhecimento sobre o modo como uma doença se origina, realizar o controle na população, e
até mesmo evitar a sua ocorrência. A Epidemiologia oferece à Saúde Pública explicações para
os problemas de saúde das populações, o que permite à Saúde Pública, saber como e quando
agir, através de intervenções adequadas e resolutivas.
São complexas as relações entre a Epidemiologia e a Saúde Pública, que exige a inserção de
novas tecnologias e maior complexidade, para acompanhar todas as doenças que sejam
necessárias. A Saúde Pública visa proporcionar o melhor nível de saúde ao maior número de
pessoas, com o melhor desempenho econômico possível nas suas ações. Nesse sentido,
analisa a saúde e os fenômenos a ela relacionados, implementando intervenções e
mobilizando os recursos da comunidade de forma integrada, para o alcance dos seus
objetivos.
A Epidemiologia, por sua vez, orienta-se para a produção e a gestão de conhecimento, agindo
como olhos, inteligência e linguagem da primeira, ao lado de outros contributos disciplinares
igualmente relevantes, como os da Sociologia, da Estatística e da Medicina. Assim, ela estuda
as manifestações de doença e de saúde, bem como os seus determinantes, nas populações e
em grupos, através do modo como se distribuem nestes; mas atualmente, a sua definição
inclui também a aplicação do conhecimento obtido, no controle das doenças e na proteção e
promoção da saúde das populações. Este segundo componente viabiliza e condiciona a sua
relação funcional com a Saúde Pública, nos dois sentidos, recebendo dela oportunidades de
investigação e desafios para mais, ou melhor, conhecimento. A Epidemiologia permite ainda
a avaliação da eficácia das intervenções realizadas no âmbito da Saúde Pública, contribuindo
assim, para a melhoria das condições de saúde dos grupos populacionais.” (IVINE, 2019).

3 CONCLUSÃO

De acordo com os fatos apresentados, observa-se que a epidemiologia tem um grande papel
na saúde pública, devido ao que ela é em si, com seus estudos, dados, objetivos, prevenções,
que promovem curas, reabilitações, avanços muito relevantes na saúde e evita que problemas
aconteçam. Além disso, proporciona aos profissionais da saúde maiores precisões em suas
atuações. Assim, ela concede a todos os cidadãos uma vida mais sadia e segura.
REFERÊNCIAS
BOING, A. J.; D’ORSI, E.; JÚNIOR, C. R. Conceitos e ferramentas da epidemiologia.
Universidade Aberta do SUS. Florianópolis: UFSC, 2010.
BONITA, R. Epidemiologia básica. 2. ed. São Paulo: Santos, 2010.
CARVALHO, Thiago de Amorim; CARVALHO, Fabio Teixeira Cardoso de. Bases para
a pesquisa científica. São Paulo: Cengage, 2020.
GOMES, Elainne Christine de Souza. Conceitos e ferramentas da epidemiologia. Recife:
Ed. Universitária da UFPE, 2015.
GORDIS, Leon. Epidemiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter Publicações,
2017.
IVINE, Amália. O que é Epidemiologia e Saúde Pública. Cursos Aprediz. 2019.
Disponível em: <https://www.cursosaprendiz.com.br/o-que-e-epidemiologia-e-
saudepublica/#:~:text=Epidemiologia%20%C3%A9%20uma%20disciplina%20b
%C3%A1sica,pro cesso%2C%20mas%20em%20termos%20individuais.>. Acesso em:
11/05/22.
LAMARINO, Atila. John Snow e a transmissão da cólera. Science Blogs Brasil, 26 mar.
2011.
Disponível em:
<https://www.blogs.unicamp.br/rainha/2011/03/john_snow_e_a_transmissao_da_c/>.
Acesso em: 11/05/2022.

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