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ASPECTOS CONCEITUAIS
Essa definição de epidemiologia inclui uma série de termos que refletem alguns
princípios da disciplina que merecem ser destacados:
• Estudo: a epidemiologia como disciplina básica da saúde pública tem seus fundamentos no
método científico.
• Determinantes: uma das questões centrais da epidemiologia é a busca da causa e dos fatores
que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença. Com esse
objetivo, a epidemiologia descreve a freqüência e distribuição desses eventos e compara sua
ocorrência em diferentes grupos populacionais com distintas características demográficas,
genéticas, imunológicas, comportamentais, de exposição ao ambiente e outros fatores, assim
chamados fatores de risco. Em condições ideais, os achados epidemiológicos oferecem
evidências suficientes para a implementação de medidas de prevenção e controle.
• Estados ou eventos relacionados à saúde: originalmente, a epidemiologia preocupava-se com
epidemias de doenças infecciosas. No entanto, sua abrangência ampliou-se e, atualmente, sua
área de atuação estende-se a todos os agravos à saúde.
• Aplicação: a epidemiologia, como disciplina da saúde pública, é mais que o estudo a respeito
de um assunto, uma vez que ela oferece subsídios para a implementação de ações dirigidas à
prevenção e ao controle. Portanto, ela não é somente uma ciência, mas também um instrumento.
Boa parte do desenvolvimento da epidemiologia como ciência teve por objetivo final a
melhoria das condições de saúde da população, o que demonstra o vínculo indissociável da
pesquisa epidemiológica com o aprimoramento da assistência integral à saúde.
A PESQUISA EPIDEMIOLÓGICA
• estudo da freqüência e distribuição das doenças nas populações com a identificação de seus
fatores determinantes;
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EVOLUÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA
Já na era moderna, uma personalidade que merece destaque é o inglês John Graunt, que,
no século XVII, foi o primeiro a quantificar os padrões da natalidade, mortalidade e ocorrência
de doenças, identificando algumas características importantes nesses eventos, entre elas:
• existência de diferenças na mortalidade entre os sexos e na distribuição urbano-rural;
• elevada mortalidade infantil;
• variações sazonais.
São também atribuídas a ele as primeiras estimativas de população e a elaboração de uma
tábua de mortalidade. Tais trabalhos conferem-lhe o mérito de ter sido o fundador da
bioestatística e um dos precursores da epidemiologia.
Um dos princípios básicos da Epidemiologia é o de que os agravos à saúde não ocorrem por
acaso em uma população. A partir desse princípio, pode-se afirmar que a distribuição desigual
dos agravos à saúde é produto da ação de fatores que se distribuem desigualmente na população.
Portanto, a elucidação desses fatores, responsáveis pela distribuição das doenças, é uma das
preocupações constantes da Epidemiologia. O conhecimento dos fatores determinantes das
doenças permite a aplicação de medidas preventivas com o propósito de resolver o problema.
4) Registro da ocorrência dos eventos naturais - Eventos naturais, tais como nascimento, morte,
doença etc. devem ser registrados. Conforme demonstrou John Graunt, no século 17, muitos
fenômenos biológicos, quando analisados em massa, podem ser previstos. Se uma doença é mais
comum em um sexo, idade, local etc., deve haver razões, as quais devem ser exploradas para
obter a prevenção da doença.
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Sendo uma disciplina multidisciplinar por excelência, a epidemiologia alcança um amplo
espectro de aplicações. As aplicações mais freqüentes da epidemiologia em saúde pública são:
A saúde pública tem na epidemiologia o mais útil instrumento para o cumprimento de sua missão
de proteger a saúde das populações. A compreensão dos usos da epidemiologia nos permite
identificar os seus objetivos, entre os quais podemos destacar os seguintes:
Objetivos da epidemiologia:
• identificar o agente causal ou fatores relacionados à causa dos agravos à saúde;
• entender a causação dos agravos à saúde;
• definir os modos de transmissão;
• definir e determinar os fatores contribuintes aos agravos à saúde;
• identificar e explicar os padrões de distribuição geográfica das doenças;
• estabelecer os métodos e estratégias de controle dos agravos à saúde;
• estabelecer medidas preventivas;
• auxiliar o planejamento e desenvolvimento de serviços de saúde;
• prover dados para a administração e avaliação de serviços de saúde.
Fonte: Waldman, Eliseu Alves. Vigilância em Saúde Pública, volume 7. São Paulo: Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. (Série Saúde & Cidadania)
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Figura 1: História Natural da Doença.
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SAÚDE E DOENÇA
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Estes três elementos fundamentais que constituem o processo epidêmico, bem como suas
variáveis, se relacionam com qualquer tipo de doença, quando se estuda este fenômeno em
populações. É importante considerá-los em conjunto, para se estabelecer os níveis em que
deverão ser adotadas as medidas objetivando-se o controle e erradicação de determinada doença
que esteja ocorrendo em dada população animal.
CARACTERÍSTICAS DO AGENTE
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* Diferença de Patogenicidade e Virulência:
CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO
Em um sentido amplo, o hospedeiro pode ser considerado como todo e qualquer ser vivo que
albergue um agente em seu organismo, ou ainda o organismo que propicia alimento ou abrigo a
organismo de outra espécie. São conhecidos três tipos de hospedeiros:
Hospedeiro definitivo: é aquele onde o parasito atinge a maturidade, reproduzindo-se
sexuadamente.
Hospedeiro intermediário: é o hospedeiro, no qual o parasito desenvolve suas formas
imaturas ou, para alguns, se reproduz assexuadamente.
Os fatores relativos ao hospedeiro, dentro do sistema ecológico, se relacionam às suas
características, como a espécie, raça, sexo, estado fisiológico, entre outros, e aquelas que
dependem do agente e do meio ambiente, como a densidade populacional, manejo e
susceptibilidade.
b) Raça: algumas raças de animais são mais susceptíveis que outras, frente a um mesmo agente
etiológico, isto também se deve às características genéticas da própria raça. Como exemplo,
podemos citar as raças zebuínas que se mostram mais resistentes à “piroplasmose” (tristeza
parasitária), em relação a outras, principalmente as raças leiteiras.
c) Sexo: observa-se que ocorre um distinto comportamento de ambos os sexos para um mesmo
agente etiológico, isto se deve às características anatômicas, o que permitirá ou não o
desenvolvimento de uma infecção. A brucelose afeta mais comumente as fêmeas do que os
machos.
d) Idade: existem doenças que incidem mais em animais jovens, enquanto outras em adultos.
Para a maioria das doenças infecto-contagiosas, a susceptibilidade do hospedeiro está em
função da idade. A salmonelose, em bovinos, ocorre geralmente entre o 3º e 12º mês de vida
do animal, podendo ocorrer também, entretanto, com menor frequência, na primeira semana
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de vida. As diarréias por rotavírus são mais freqüentes em animais neonatos, ou seja, recém-
nascidos, bem como nas primeiras semanas de vida. A brucelose é uma doença de animais
púberes (sexualmente maduros), sendo autolimitante em animais jovens, e a manqueira,
conhecida também como carbúnculo sintomático, em bovinos, acomete mais freqüentemente
animais jovens, até os dois anos de idade.
g) Resistência dos animais: define-se como o conjunto de defesa específica e inespecíficas que
o animal possui. A resistência natural ou inespecíficas é aquela em que o organismo
independe do estímulo específico, e que, portanto, existe previamente ao contato com o
agente. Essa ocorre por características anatômicas e fisiológicas do animal. Não depende de
reações teciduais ou de anticorpos. Por exemplo, a galinha é refratária ao carbúnculo, e os
urubus ao botulismo. A resistência específica designa a resistência do organismo contra
determinado agente específico. Ela pode ser passiva quando resultante da transferência de
anticorpos produzidos em outro organismo, ou ativa quando for elaborada pelo próprio
organismo. Estes dois casos referem-se à imunidade que pode ser ativa e passiva. É
denominada imunidade passiva quando o organismo hospedeiro recebe os anticorpos já
elaborados passivamente. Pode ser natural (congênita) como no caso do colostro, transuterino
e gema de ovos, nas aves; e artificial (soroterapia) para os anti-soros específicos, como soro
antiofídico e antitetânico. A imunidade ativa é aquela que ocorre quando o organismo
hospedeiro participa ativamente na formação dos anticorpos. Pode ser natural (pós-infecção),
pelo contato com determinado antígeno e desenvolvimento de infecção ou doença havendo a
formação de anticorpos específicos, e artificial (vacinação), pela utilização de vacinas, que da
mesma forma eliciará imunidade, pela sensibilização do organismo, frente à ação antigênica.
CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE
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Dentre os fatores físicos relevantes, do meio ambiente, e que devem ser considerados, estão:
Agente etiológico: é o causador ou responsável pela doença. Este pode ser: bactéria,
vírus, fungo, protozoário, rickéttsia, chlamydia, ectoparasito e endoparasito.
Infecção: é a penetração e desenvolvimento, ou multiplicação de um agente infeccioso
no homem ou animal.
Infestação: é o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do
corpo. Pode-se dizer também que uma área ou local está infestado de artrópodes e roedores.
Fonte de Infecção: é o animal vertebrado que alberga o agente etiológico e o elimina
para o meio exterior.
Reservatório: é um animal ou local que mantém um agente infeccioso na natureza.
Caso: é o animal infectado ou doente. O caso refere-se à fonte de infecção.
Foco: Trata-se de um ou mais animais doentes, numa área ou concentração pequena.
Exemplo de um foco de febre aftosa, que acomete vários animais, de uma determinada
propriedade rural. Normalmente o foco é identificado como rebanho afetado.
Surto epidêmico: Neste caso, trata-se de vários animais doentes em regiões diferentes.
Como exemplo ainda, um surto de febre aftosa que atinge várias propriedades podendo ser de
diferentes regiões. O termo surto epidêmico é utilizado como sinônimo de epidemia ou epizootia,
com a finalidade de evitar alarme, que o termo epidemia, pode causar especialmente na
população humana. O surto na realidade é o grupo de focos originários de uma mesma fonte de
infecção, em espaço e tempo determinados, por transmissão direta ou indireta por focos
sucessivos.
Enfermidade: é a etapa da doença ou agravo em nível orgânico, que se caracteriza pela
presença de sintomatologia.
Enfermidade exótica: é aquela que não existe no país ou região estudada.
Comunicantes: são os indivíduos ou animais, que tiveram contato próximo com animais
infectados ou doentes, bem como com locais contaminados, sem que se conheça o seu estado
sanitário.
Susceptibilidade: qualidade do hospedeiro em relação à infecção ou invasão de seu
organismo pelo parasito. É utilizado, para designar a característica do organismo susceptível à
ação do fator determinante.
Susceptível: organismo ou população que apresenta susceptibilidade à ação de
determinado fator. Pensando em agente infeccioso, seria o indivíduo que não possui resistência a
determinado agente patogênico, podendo contrair a doença.
Vetor: são animais, geralmente artrópodes, que transmitem o agente infeccioso ao
hospedeiro susceptível.
Vetor biológico: é o hospedeiro onde o parasita desenvolve parte do seu ciclo evolutivo,
possibilitando a transmissão para novo hospedeiro. Caracteriza-se pelo caráter de
obrigatoriedade para sua sobrevivência ou aumento da densidade populacional do parasito. Pode-
se dizer que os microrganismos desenvolvem obrigatoriamente neste vetor fase do ciclo, antes de
serem disseminados no ambiente, ou transportados para novo hospedeiro. Pode-se exemplificar,
o caso da Anaplasmose, onde o principal transmissor é o carrapato Boophilus microplus
considerado então, como vetor biológico e transmissor do agente, que é o Anaplasma marginale.
Vetor mecânico: é o organismo que pode se contaminar com formas infectantes do
parasito, transportando-os mecanicamente para determinado hospedeiro. Neste caso o vetor
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participa apenas como carreador de agentes infecciosos, sendo que estes não sofrem qualquer
modificação no interior do seu organismo. Podem ser exemplos, as moscas hematófagas como
Stomoxys calcitrans e os tabanídeos, que pode vetoriar agentes após sugar animal portador da
rickéttsia Anaplasma marginale, que ficam em sua tromba, infectando então animal susceptível,
se a seguir sugarem o seu sangue.
Veículo: é qualquer elemento que transporte determinado agente infeccioso. Este veículo
pode ser animado, definindo-se como qualquer ser vivo que possa transportar passivamente o
agente infeccioso. Os veículos inanimados são os elementos capazes de transportar o agente
infeccioso. Neste último incluem-se a água, alimentos e objetos contaminados como as agulhas,
seringas, panos, arreios, escovas, entre outros.
Fômites: para esta definição pode-se utilizar o próprio conceito de veículo inanimado,
pois são os objetos inanimados, contaminados que podem transportar agentes infecciosos para os
animais ou homem, como baldes, toalhas, seringas, entre outros.
Portador: são os animais ou pessoas que havendo ou não manifestado os sinais clínicos
de determinada enfermidade continuam eliminando o agente por algum tempo. Pode ser
portador são, o animal que já teve ou poderá vir a ter sintomatologia clinicamente detectável;
portador em incubação é aquele que está infectado, mas não mostra alterações; e portador
convalescente, que é aquele que embora tenha apresentado cura clínica, ainda pode eliminar o
agente infeccioso.
Animais Peçonhentos: são aqueles que produzem uma peçonha em um grupo de
células ou órgão secretor (glândula), e possuem uma ferramenta, capaz de injetar tal peçonha
na sua presa ou predador. Esta ferramenta podem ser dentes modificados, aguilhão, ferrão,
quelíceras, cerdas urticantes, nematocistos, entre outros. Os principais animais peçonhentos
que causam acidentes no Brasil são algumas espécies de serpentes, de escorpiões, de aranhas,
de lepidópteros (mariposas e suas larvas), de himenópteros (abelhas, formigas e vespas), de
coleópteros (besouros), de quilópodes (lacraias), de peixes, de cnidários (águas-vivas e
caravelas), entre outros. Esses animais possuem presas, ferrões, cerdas, espinhos entre outros,
capazes de envenenar as vítimas.
Animais Venenosos: são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho
inoculador (dentes, ferrões) provocando envenenamento passivo por contato (taturana), por
compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).
Animais Sinantrópicos: são aqueles que praticam uma relação de comensalismo, se
instalam nos povoamentos humanos beneficiando-se das condições ecológicas criadas pela
atividade humana no processo de urbanização, resultando na capacidade dessas espécies para
habitar em ecossistemas urbanos ou antropizados, adaptando-se a essas condições
independentemente da vontade do homem. Em outras palavras são aquelas espécies que
colonizam habitações humanas e seus arredores retirando vantagens em matéria de abrigo,
acesso a alimentos e a água.
Se as pessoas envolvidas nas criações animais preocuparem-se apenas com o animal doente,
deixando de lado o restante do rebanho, não poderão avaliar o perigo que um único animal
doente, poderá representar para todo o rebanho, principalmente considerando-se as enfermidades
transmissíveis. Sem os conhecimentos básicos dos princípios epidemiológicos, o profissional não
poderá ter idéia do perigo relativo que um caso particular possa representar para o restante do
rebanho. É preciso considerar o meio no qual ocorre a enfermidade, o risco de que surjam novos
casos, e as possibilidades de controlar os fatores que contribuem para a ocorrência desta. Deste
modo o profissional poderá nortear sua prática assistencial com uma visão mais ampla dos
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problemas de sanidade animal, lembrando-se que o técnico deverá ter em mente que ele está
trabalhando com populações animais, e não com um único animal.
Para entender melhor como as ações de saneamento podem interferir na prevenção de doenças
infecciosas, torna-se necessário o detalhamento de aspectos relacionados à ecologia destas.
FI VE VT PE Susceptível
Pode-se então citar alguns dos objetivos da epidemiologia: estudar o meio no qual se
desenvolve a doença, os mecanismos de transmissão, o risco de que surjam novos casos e as
medidas preventivas, necessárias para se controlar os fatores que contribuem para o
desenvolvimento das doenças. Conclui-se que a epidemiologia é a essência da saúde animal e da
saúde pública, representando a base principal, para avaliação das medidas de prevenção,
fornecendo orientação para o diagnóstico de doenças, sejam elas transmissíveis ou não.
PORTAS DE ENTRADA: são consideradas como as vias, pelas quais o agente infeccioso,
consegue penetrar no organismo animal. As principais portas de entrada, são: a via respiratória,
digestiva, conjuntival, galactófora, onfaloflébica, cutânea e genito-urinária.
PREVENÇÃO
A Medicina Veterinária Preventiva e a epidemiologia são indissociáveis quanto a seus
objetivos e quanto a sua prática, sendo a epidemiologia o instrumento privilegiado e suporte
científico para orientar a atuação da Medicina Veterinária Preventiva.
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Prevenir é prever antes que algo aconteça, ou mesmo cuidar para que não aconteça. É a
ação antecipada, tendo por objetivo interceptar ou anular a evolução de uma doença. A
prevenção pode ser feita nos períodos de pré-patogênese e patogênese. O conhecimento da
história natural da doença favorece o domínio das ações preventivas necessárias. Se um dos
fundamentos de prevenção é cortar elos, o conhecimento destes é fundamental para que se
atinjam os objetivos.
A prevenção primária que se faz com a intercepção dos fatores pré-patogênicos inclui: (a)
promoção da saúde; (b) proteção especifica. A prevenção secundária é realizada no indivíduo, já
sob a ação do agente patogênico, ao nível do estado de doença, e inclui: (a) diagnóstico; (b)
tratamento precoce; (c) limitação da invalidez. A prevenção terciária consiste na prevenção da
incapacidade através de medidas destinadas à reabilitação (Figura 2).
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ERRADICAÇÃO – cessação de toda a transmissão da infecção pela extinção artificial da
espécie do agente em questão, de forma a permitir a suspensão de qualquer medida de prevenção
e controle. Ou conjunto de ações empreendidas com fins específicos de eliminar uma doença de
um determinado território.
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2- MEDIDAS RELATIVAS AO MEIO DE TRANSMISSÃO: Essas medidas têm por
objetivo destruir o agente etiológico no período em que se encontra nos diferentes meios de
transmissão ou, ainda, evitar que o agente tenha acesso ao hospedeiro susceptível. A
possibilidade de sucesso na atuação sobre o meio de transmissão depende do espaço existente
entre a fonte de infecção e o novo hospedeiro, e do período de tempo que o agente permanece no
meio exterior.
São estas as ações preventivas, de acordo com o meio de transmissão:
2.1- Contato direto: A intimidade de relações estabelecidas entre a fonte de infecção e o
hospedeiro susceptível restringe a atuação preventiva nessa modalidade de transmissão.
2.2- Transmissão aerógena: Quando a transmissão se dá por aerossóis, também é difícil a
adoção de medidas profiláticas, já que o agente, protegido nas partículas, é projetado diretamente
ou nas imediações do susceptível, não havendo tempo suficiente para a adoção de medidas.
Nesse caso, a distância entre a fonte de infecção e o susceptível é extremamente importante. O
arejamento do ambiente, obtido com ventilação sistemática e exaustão, pode trazer valiosa
contribuição para a profilaxia, uma vez que remove constantemente o ar e com isso elimina
excesso de calor, vapor de água, produtos gasosos e outros materiais em suspensão no ar. Dessa
forma, pode remover agentes etiológicos em suspensão no ar antes de eles serem inalados por
outros indivíduos. Além do arejamento, desinfecção do ar e controle de poeiras também podem
ser utilizados. A descontaminação do ambiente, por exemplo, pode ser efetivada em recintos
limitados, como hospitais, laboratórios, dependências de manipulação de alimentos, criatórios de
animais de pequeno porte, incubadoras etc. Em tais circunstâncias, podem ser adotados
procedimentos físicos, como radiação ultravioleta, calor, exaustão etc., ou produtos químicos,
como desinfetantes, sob a forma de nebulização ou vapor. Medidas adicionais que visam
prevenir a formação de poeira devem ser incentivadas, como evitar varredura a seco ou
movimentação brusca de animais confinados.
2.3- Solo: As ações profiláticas dirigidas ao solo, embora importantes, são, por si só,
insuficientes para limitar a propagação de doenças por esse meio de transmissão. Todavia
existem práticas sanitárias capazes de oferecer valiosa contribuição ao bloqueio da evolução e
dispersão de agentes etiológicos do solo. Sem prejuízo de outras ações profiláticas, dois grupos
de procedimentos podem ser extremamente valiosos quando se objetiva a salubridade do
ambiente.
2.3.1- Medidas protetoras: As ações que visam evitar a contaminação do solo figuram
como primeira barreira sanitária, pelo seu grau de importância na profilaxia.
a) Tratamento e destino adequado dos excrementos: Tem como objetivo impedir a
propagação de agentes que utilizam essa via de eliminação. Nas populações humanas das
cidades, essa medida é realizada por meio dos sistemas de tratamento de esgoto e águas
residuais, ao passo que nas habitações isoladas a sistemática se apoia em vários tipos de
instalações, tais como fossa. Já no que se refere às populações animais, somente as criações em
regime de confinamento têm a possibilidade de contar com sistema de coleta e tratamento de
excretas, resíduos e águas servidas, representado por esterqueiras ou dispositivos similares.
b) Controle dos adubos orgânicos: Os adubos orgânicos utilizados tanto em culturas
como nas pastagens devem ser cuidadosamente controlados com o fim de evitar que veiculem
agentes causadores de doenças. Nesses casos, a procedência de tais insumos deve ser
considerada, especialmente para assegurar que os mesmos foram suficientemente maturados e
não oferecem riscos de disseminação de agentes infecciosos ou mesmo de poluentes de natureza
diversa, como os pesticidas.
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2.3.2- Medidas saneadoras: Têm por finalidade a higienização de superfícies
contaminadas do solo. Dificilmente pode-se conseguir a eliminação dos contaminantes do solo,
salvo em áreas restritas, particularmente se são pavimentadas. Existem, contudo, procedimentos
capazes de inibir ou mesmo impedir que agentes causadores de doenças consigam evoluir e
disseminar-se no solo.
Entre esses procedimentos podem ser incluídos: a) drenagem de áreas pantanosas, aterro
de depressões e desvio de cursos d’água; b) limpeza da vegetação arbustiva marginal dos
mananciais de água; c) adoção de práticas agrícolas, como aração e gradagem do solo, que, ao
revolver a terra, enterram ovos e larvas de parasitas, além de outros agentes infecciosos, ao
mesmo tempo que os expõem ora à ação do oxigênio, no caso dos microrganismos esporulados,
ora à ação dos raios solares; d) correção do pH do solo, que pode criar condições adversas a
determinados agentes; e) limpeza e manutenção das pastagens, livrando-as de vegetação
arbustiva e de pragas capazes de abrigar agentes e vetores; f) rotação de pastagens. No entanto
algumas dessas medidas, que poderiam ser úteis do ponto de vista sanitário, encontraram
restrições na legislação ambiental.
2.4- Água e alimentos: As ações dirigidas a esses elementos incluem a proteção, que visa
evitar a contaminação, e o tratamento, que tem por finalidade sua descontaminação. No caso da
água, a proteção dos mananciais destinados ao abastecimento, contra sua contaminação ou
poluição, constitui medida importante. Para isso, é necessário impedir o afluxo de esgotos e
efluentes industriais, bem como o acesso de pessoas e animais. A existência de uma faixa de
vegetação densa ao redor dos mananciais contribui para sua proteção, ao mesmo tempo em que
evita o escoamento de águas superficiais capazes de carrear contaminantes e poluentes. Ações
preventivas devem ser adotadas também na condução da água até o consumo.
Entretanto, nem sempre a água disponível encontra-se em condições de ser destinada ao
consumo in natura. Ela pode apresentar características físico-químicas que a tornam imprópria
para o consumo humano ou animal, mas não para diferentes atividades higiênicas de limpeza
domiciliar, industrial, de instalações zootécnicas, ou mesmo para irrigação. Pode, ainda,
apresentar diferentes graus de contaminação ou de poluição que inviabilizam sua utilização
imediata. Nesse caso, como primeira instância, recorre-se aos procedimentos que visam sua
descontaminação e/ou despoluição, os quais incluem: a) sedimentação e filtração, que já
melhoram de maneira substancial a qualidade da água; b) desinfecção, usualmente realizada por
cloração, eficaz contra muitos agentes de doenças transmissíveis.
No caso do leite, a tarefa de proteção contra possíveis contaminações tem início na
higiene da criação, de tal forma que o produto seja originalmente hígido. Sua qualidade depende
ainda de cuidados higiênicos na ordenha, equipamentos e transporte adequado etc. Relativamente
à descontaminação do leite, existem diversos processamentos, sendo a pasteurização um dos
mais eficazes e dos mais utilizados. A inspeção veterinária constitui eficiente barreira sanitária e
representa uma garantia de qualidade do produto.
No que diz respeito aos produtos cárneos, as diretrizes são as mesmas. Os processos de
beneficiamento incluem, entre outros, tratamento pelo calor, pelo frio, dessecação, defumação e
salga.
2.5- Vetores: No caso dos vetores mecânicos, o essencial é impedir sua proliferação. As
ações saneadoras, aplicadas aos possíveis criadouros, podem ser bastante eficazes. O destino
adequado de excrementos, de lixo, de resíduos orgânicos e o emprego de inseticidas constituem
medidas de valor. O emprego de barreiras físicas, como telas e outros dispositivos, pode impedir
o acesso do vetor. Quando se trata de vetores biológicos, o controle se torna mais complexo, em
razão da diversidade de espécies e dos diferentes mecanismos utilizados para a transmissão. Os
procedimentos a serem adotados podem ser resumidos em:
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2.5.1- Medidas defensivas: Têm por finalidade impedir o acesso do vetor aos
hospedeiros. a) construção de habitações e instalações zootécnicas protegidas com telas,
desprovidas de frestas ou fendas, para evitar que determinados vetores possam entrar; b)
destinação adequada a excrementos, lixo e resíduos orgânicos, bem como proteção dos
alimentos; c) emprego de repelentes; d) vigilância epidemiológica, objetivando detectar a
introdução de vetores na região; e) para a espécie humana, uso de roupas especiais, calçados etc.,
em determinadas circunstâncias.
2.5.2- Medidas saneadoras: É o conjunto de ações dirigidas ao ambiente, visando criar
condições adversas ao desenvolvimento do ciclo de vida desses invertebrados. Tais medidas
apresentam caráter geral e são indicadas como instrumentos inespecíficos de prevenção,
aplicáveis a quase todos os elos da cadeia de transmissão. Entre elas, figuram: a) destino
adequado de excrementos e resíduos; b) aração e gradagem do solo; c) rotação de pastagem; a
queima de pastagem, que poderia ser útil para o saneamento, é proibida pela legislação
ambiental; d) remoção de entulhos; e) drenagem de pântanos e desvio de cursos d’água, medidas
que encontram restrições por parte da legislação.
2.5.3- Medidas ofensivas: São aquelas que têm por objetivo a destruição do artrópode,
tanto em seu estágio larvar como na forma adulta. Para isso, é indispensável conhecer a biologia
do vetor a ser combatido, bem como as peculiaridades envolvidas no processo de transmissão.
Entre os procedimentos disponíveis, estão incluídos: a) procedimentos de natureza biológica, tais
como o emprego de machos estéreis, peixes larvófagos, aves insetívoras e agentes de doenças de
artrópodes; b) procedimentos de natureza química, representados pelo uso de inseticidas. Apesar
da eficácia desse procedimento, tanto sobre a forma larvar quanto sobre a forma adulta, existem
limitações, tanto de caráter técnico quanto de caráter sanitário. Como dificuldade de natureza
técnica figura a aplicação do inseticida em determinadas populações de artrópodes, como é o
caso dos vetores silvestres da febre amarela, da malária e da leishmaniose. A possibilidade de
surgimento de estirpes de artrópodes resistentes ao inseticida e as preocupações com a alteração
do equilíbrio ecológico são outras dificuldades. Do ponto de vista sanitário, as restrições estão
relacionadas, fundamentalmente, à toxicidade dos produtos utilizados, tanto para humanos
quanto para outros animais.
2.6- Produtos biológicos: As medidas estão relacionadas ao controle da qualidade desses
produtos. Um exemplo é o teste de inocuidade de vacinas, soros etc. Os produtos de origem
animal utilizados na reprodução, tais como sêmen e embriões, também podem veicular agentes
etiológicos. Por isso, é fundamental que esses materiais sejam obtidos de animais
comprovadamente livres de enfermidades. Para tal, há necessidade de controle sanitário
permanente dos doadores, no que diz respeito às enfermidades passíveis de transmissão por esses
meios. Também são importantes os cuidados de higiene a serem observados durante a obtenção e
a manipulação desses materiais. Um exemplo de medida é o uso de antibióticos no diluente de
sêmen e no meio usado para lavar embriões.
2.7- Fômites: A desinfecção dos instrumentos de uso veterinário, utensílios,
equipamentos etc. pode fornecer valiosa contribuição na profilaxia das doenças transmissíveis. A
desinfecção consiste na destruição de agentes infecciosos situados fora do organismo, mediante a
aplicação de meios físicos ou químicos. Após a ocorrência de uma infecção, há necessidade de
uma limpeza rigorosa das instalações e dos utensílios, com a adequada desinfecção, de modo a
impedir a transmissão do agente etiológico a outros animais que usem esses materiais. Essa
limpeza consiste na remoção do agente etiológico e da matéria orgânica que ofereça condições
favoráveis a sua sobrevivência. Também é importante a limpeza e a desinfecção dos veículos
destinados ao transporte de animais e produtos de origem animal.
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2.8- Produtos de origem animal não comestíveis: Esses produtos podem ser submetidos a
tratamentos que visam a eliminar agentes, tais como tratamento de pele em curtumes,
vaporização com desinfetantes em câmaras de expurgo etc.
2.9- Outros meios: O controle da movimentação de pessoas e de outros animais é
fundamental como medida sanitária contra a introdução de doenças. Dispositivos tais como
pedilúvio, uso de roupas especiais e barreiras físicas podem auxiliar no bloqueio à entrada de
agentes etiológicos. O destino adequado para o lixo também é medida profilática muito
importante, inclusive em Medicina Veterinária. Há necessidade de cuidados especiais com o lixo
de navios, aviões e outros meios que permitem o transporte rápido do agente etiológico para
grandes distâncias, possibilitando a introdução de doenças exóticas.
3- MEDIDAS RELATIVAS AOS COMUNICANTES OU CONTATOS: Comunicantes
ou contatos são hospedeiros vertebrados que tiveram contato com a fonte de infecção ou
estiveram em locais sabidamente contaminados, ou então ingeriram alimentos contaminados, ou
seja, estiveram expostos ao risco de contrair a infecção.
3.1- Sacrifício: O sacrifício pode ser individual ou massal. O sacrifício massal, ou
despovoamento, consiste no abate de todos os indivíduos que, presumivelmente, tenham estado
expostos ao risco de infecção. É uma medida muito drástica e somente utilizada quando se trata
de doença contagiosa e sem recuperação, ou então doença exótica recentemente introduzida. O
despovoamento completo da população de uma área restrita pode constituir o procedimento mais
adequado para proteger os animais de populações ainda não afetadas, sendo indicado nas
seguintes situações:
a) quando a infecção está se espalhando de forma tão rápida a impossibilitar seu combate
por outros métodos, como ocorreu com a peste suína africana em vários países;
b) quando a infecção apresenta elevada transmissibilidade e é de introdução recente;
c) quando a população é inacessível a outras medidas sanitárias, como ocorre com os cães
errantes, no caso da raiva urbana, os morcegos, no caso da raiva rural, e os roedores
sinantrópicos, no caso da leptospirose;
d) quando uma enfermidade altamente transmissível está em fase final de um programa
de controle, como é atualmente o caso de febre aftosa em algumas regiões do Brasil, onde tem
sido adotado o abate de todos os comunicantes nos surtos ocorridos.
3.2- Quarentena: É o isolamento do comunicante pelo tempo correspondente ao período
máximo de incubação da doença. Tem por objetivo impedir a propagação da doença, caso o
indivíduo venha a revelar-se uma fonte de infecção. Pode também ser aplicada a animais novos
que chegam ao rebanho. É uma das medidas mais eficazes contra a introdução ou a propagação
da doença no rebanho. Em veterinária, ela pode ser realizada em dependências especiais,
denominadas quarentenários, destinadas a manter, em completo isolamento, indivíduos
importados ou destinados à exportação. Pode ainda ser realizada na propriedade, pelo
estabelecimento de rigorosas restrições à movimentação do comunicante. Na atualidade, o
período de quarentena varia com a natureza da doença e com a condição epidemiológica das
áreas geográficas envolvidas (origem e destino). Países livres da raiva, por exemplo, geralmente
estabelecem severas restrições à importação de cães e gatos procedentes de áreas endêmicas da
doença, admitindo-a somente em casos excepcionais, e mesmo assim condicionada a um longo
período de quarentena, no local de chegada.
3.3- Quimioprofilaxia: Pode ser individual ou massal. Esse recurso é uma boa alternativa
em situações em que a taxa de prevalência da doença é alta, inviabilizando o despovoamento. A
26
adoção desse procedimento depende da disponibilidade de recursos terapêuticos e da viabilidade
econômica de sua aplicação em larga escala. Como exemplos de quimioprofilaxia massal
podem-se citar o uso de antibióticos nas rações, a adição de anti-helmínticos ao sal mineral etc.
O tratamento do comunicante também é uma medida utilizada no combate à tuberculose
humana.
3.4- Imunoprofilaxia: Apesar das limitações, uma vez que o comunicante já teve contato
com o agente etiológico, esse recurso pode ser adotado em algumas situações. No caso da
imunoprofilaxia ativa, ou seja, uso de vacinas, devem-se considerar o período de indução da
imunidade e o período de incubação da doença. Em indivíduos já vacinados anteriormente, a
vacinação pode induzir mais rapidamente a resposta imune. Existem situações em que o período
médio de incubação da doença é maior que o período médio de indução da imunidade pela
vacina. É o caso da raiva, contra a qual é adotada a vacinação pós-exposição. A imunoprofilaxia
passiva (sorotepia) é outra alternativa a ser considerada.
3.5- Controle de trânsito: É uma medida de difícil aplicação, em virtude de diversos
fatores, tais como: grandes distâncias, grande número de rodovias, falta de consciência para os
problemas sanitários etc.
4- MEDIDAS RELATIVAS AOS SUSCEPTÍVEIS: Nem sempre os procedimentos
adotados nos outros pontos da cadeia epidemiológica são suficientes para impedir que o agente
etiológico atinja o hospedeiro susceptível. Por isso, muitas vezes são importantes as medidas
dirigidas aos susceptíveis.
4.1- Medidas gerais: As medidas inespecíficas de proteção relativas aos susceptíveis
podem oferecer valioso apoio à profilaxia. A resistência natural ou a seleção de resistentes a
determinadas doenças é um recurso de proteção. As medidas gerais incluem também cuidados
com a alimentação, tratamento de soluções de continuidade e proteção contra vetores, como a
telagem de instalações. Também pode ser incluída a proteção individual adotada na proteção
contra doenças transmitidas por contato direto, como é o caso do uso de luvas, preservativos, e
também proteção contra outras formas de transmissão, como o uso de máscaras, protetores para
os olhos etc.
4.2- Medidas específicas: As ações específicas estão associadas principalmente a um
processo de proteção imunológica. Estão incluídas aqui a imunização passiva natural, pela
ingestão do colostro, a imunização passiva artificial, pela aplicação de soro imune, a imunização
ativa artificial, pela aplicação de vacinas, e a imunização ativa natural, como é o caso da pré-
munição, usada na prevenção da anaplasmose. Outro recurso para proteger o hospedeiro
susceptível pode ser a quimioprofilaxia, ou seja, a administração de medicamentos antes que a
infecção se instale.
5- MEDIDAS RELATIVAS À COMUNIDADE - EDUCAÇÃO SANITÁRIA: é a
conscientização da comunidade acerca dos problemas causados pelas enfermidades. É medida
fundamental em qualquer campanha sanitária.
EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA
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epidemiológica, deve ser descrito a partir de determinadas características ou variáveis, antes que
se possa analisá-lo.
Variáveis Epidemiológicas:
1. Individuo/animal: Quem? - podem ser descritas em termos de suas características
herdadas ou adquiridas (idade, sexo, raça, pelagem, porte, aptidão, estado nutricional e
imunitário, etc.); de suas atividades (trabalho, esportes, costumes, etc.); de circunstâncias de vida
(condição social e econômica das criações e do meio ambiente).
2. Tempo: Quando? a distribuição dos casos de determinada doença, por períodos de
tempo (semanal, mensal, anual) permite verificar como a doença evolui no tempo, isto é, se
apresenta variações cíclicas; se está estacionária; decrescendo ou aumentando. Pode-se observar
qual a semana, o mês em que geralmente ocorre o maior número de casos, servindo para orientar
quando se deve intensificar as ações, concentrar recursos materiais e humanos, facilitando o
controle.
3. Lugar: Onde? características, fatores ou condições no meio ambiente no qual a
doença ocorreu. Utiliza-se a distribuição geográfica para identificar de que forma as doenças se
distribuem no espaço (urbano/rural, distrito sanitário, bairro, município, fazenda, etc.),
identificando-se se elas estão concentradas ou dispersas. Isso vai orientar as ações de
investigação de casos e contatos, como também a aplicação das medidas de controle. Vários
elementos geográficos espaciais podem influenciar a distribuição das doenças (clima, fauna,
relevo, poluentes urbanos e rurais, contaminação de alimentos, ambientes de criação, etc).
Formas de ocorrências das doenças:
Caso Esporádico - Quando em uma localidade, em relação à certa doença, se verifica
apenas o aparecimento de casos raros e isolados, sem previsibilidade nenhuma.
Endemias - É a ocorrência de determinadas doenças com variações na sua incidência de
caráter regular, constante, sistemático. Assim, denomina-se endemia a ocorrência de uma
determinada doença que, no decorrer de um longo período de tempo, acomete sistematicamente
populações em espaços delimitados e caracterizados, mantendo incidência constante e
permitindo variações cíclicas ou sazonais.
Epidemias - caracterizam-se pelo aumento do número de casos acima do que se espera,
comparado à incidência de períodos anteriores. Mas, o importante é o caráter desse aumento:
descontrolado, brusco, significante, temporário. Se, numa dada região, inexiste determinada
doença e surgem um ou poucos casos, pode-se afirmar que é uma epidemia, em virtude do
caráter de surpresa (ex. Raiva).
Surto – também chamado de “surto epidêmico” ou mesmo de “epidemia” podem ser
expressões sinônimas, havendo autores que os consideram de significados distintos. Todavia,
costuma-se designar surto quando dois ou mais casos de uma determinada doença ocorrem em
locais circunscritos, como fazendas, feiras, exposições, ou criatórios, aliados à hipótese de que
tiveram, como relação entre eles, a mesma fonte de infecção ou de contaminação, o mesmo
quadro clínico e ocorreram ao mesmo tempo.
As epidemias ou surtos são ocasionados, em geral, por dois fatores:
a) aumento no número de suscetíveis que pode ter diversas causas: nascimentos;
migrações (compra/introdução de animais nas criações); baixas coberturas vacinais.
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b) alterações no meio ambiente: contaminação de água ou alimento por patógenos;
aglomeração de animais por motivos vários, em situações de calamidade; aumento no número de
vetores infectados responsáveis pela transmissão de algumas doenças.
As epidemias ou surtos podem ser:
a) Quanto ao tipo de fonte de infecção ou contaminação:
1. Fonte comum: caracteriza-se por não haver um mecanismo de transmissão de
hospedeiro a hospedeiro; o fator extrínseco (agente infeccioso, fatores físicoquímicos ou
produtos do metabolismo biológico) é veiculado pela água, por alimentos ou pelo ar; todos os
suscetíveis devem ter acesso direto a uma única fonte de contaminação, podendo ser por curto
espaço de tempo (fonte pontual) ou por um espaço de tempo mais longo (fonte persistente); trata-
se, geralmente, de uma epidemia explosiva e bastante localizada em relação ao tempo e lugar.
2. Propagada, de contato ou contágio: quando o mecanismo de transmissão é de
hospedeiro a hospedeiro, ocorrendo a propagação em cadeia, difundida de animal a animal por
via respiratória, anal, oral, genital, ou por vetores. Como, por exemplo, as deonças respiratórias,
doenças sexualmente transmissíveis e a raiva. Geralmente, sua progressão é lenta.
b) Quanto ao tempo de aparecimento:
1. Explosiva ou maciça: quando vários animais são expostos simultaneamente à mesma
fonte de infecção;
2. Lenta: o critério diferenciador é a velocidade com que ela ocorre na etapa inicial do
processo, que é lenta, gradual e progride durante um longo tempo.
Pandemia – ocorrência epidêmica caracterizada por uma larga distribuição espacial de
casos, atingindo várias nações.
Caso autóctone – é o caso oriundo do mesmo local onde ocorreu.
Caso alóctone – é o caso importado de uma outra localidade.
Foco - estabelecimento de criação ou fazenda ou qualquer outro local onde foi constatada
a presença de um ou mais animais acometidos de uma doença.
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relativos. Os indicadores de valores absolutos referem-se aos dados não trabalhados e
restringem-se a eventos (número de casos e óbitos) localizados no tempo e no espaço, não
possibilitando comparações temporais ou geográficas. São úteis no planejamento e na
administração da saúde, como, por exemplo, para a estimativa do número de medicamentos e
insumos em geral.
Para ser possível comparar as freqüências de morbidade e mortalidade, torna-se
necessário transformá-las em valores relativos, isto é, em numeradores de frações, tendo
denominadores fidedignos. Os dados são relativos quando mostram alguma relação com outros,
podendo ser expressos através de coeficiente, índice e razão.
Coeficiente ou taxa: é a relação entre o número de eventos reais e os que poderiam
acontecer, sendo a única medida que informa quanto ao risco de ocorrência de um evento. Por
exemplo: número de óbitos por raiva, em relação aos animais de uma determinada região, em
cada ano.
Índice ou proporção: é a relação entre freqüências atribuídas de determinado evento,
sendo que, no numerador, é registrada a freqüência absoluta do evento, que constitui subconjunto
da freqüência contida no denominador. Por exemplo: número de óbitos por doenças respiratórias
de bovinos em relação ao número de óbitos em geral.
Razão: é a medida de freqüência de um grupo de eventos relativa à freqüência de outro
grupo de eventos. É um tipo de fração em que o numerador não é um subconjunto do
denominador. Por exemplo: razão entre o número de casos de Brucelose em bovinos do sexo
masculino e o número de casos no sexo feminino.
1. Indicadores de Mortalidade
1.1 Coeficiente de Mortalidade Geral (CMG): mede o risco de morte por todas as causas
em uma população animal de um dado local e período.
1.2 Coeficiente de Mortalidade por Causa (CMC): mede o risco de morte por
determinada causa, num dado local e período. No denominador deve constar a população exposta
ao risco de morrer por essa mesma causa.
1.3 Coeficiente de Letalidade (CL): situa-se na transição entre os indicadores de
morbidade e mortalidade. Mede o poder da doença em determinar a morte e também pode
informar sobre a qualidade da assistência médica veterinária prestada ao animal.
Para facilitar e permitir a comparação entre os coeficientes, tanto os de mortalidade
quanto os de morbidade, calculados para diferentes locais ou para o mesmo local em diferentes
períodos de tempo, utiliza-se sempre uma base comum (100, 1.000, 10.000, 100.000, 1.000.000)
que representa uma potência de 10 (10n). Essa potência de 10 é escolhida de forma a tornar os
números obtidos o mais próximo possível do inteiro. O coeficiente de letalidade expressa-se
sempre em porcentagem.
2. Indicadores de Morbidade
2.1. Incidência: é o número de casos novos de uma doença em um local e período. Traz a
idéia de intensidade com que acontece uma doença numa população e mede a freqüência ou
probabilidade de ocorrência de casos novos de doença na população. Alta incidência significa
alto risco coletivo de adoecer.
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2.2. Prevalência: O verbo prevalecer significa ser mais, ter mais valor, predominar.
Portanto, prevalência implica acontecer e permanecer existindo num momento considerado. O
coeficiente de prevalência é mais utilizado para doenças crônicas de longa duração, como
tuberculose. Casos prevalentes são os que estão sendo tratados (casos antigos), mais aqueles que
foram descobertos ou diagnosticados (casos novos). Portanto, a prevalência é o número total de
casos de uma doença, novos e antigos, existentes num determinado local e período. A
prevalência, como idéia de acúmulo, de estoque, indica a força com que subsiste a doença na
população.
Coeficientes de prevalência são valiosos para o planejamento, em função do
conhecimento do número de doentes existentes na população. Para propósitos epidemiológicos
(identificação de fatores de risco, por exemplo), as medidas de incidência são mais efetivas.
2.3. Taxa de Ataque: sempre expressa em percentagem, nada mais é do que uma forma
especial de incidência. É usada quando se investiga um surto de uma determinada doença em um
local onde há uma população bem definida, como fazenda, grupo de animais que participou de
uma feira, etc. Esses animais formam uma população especial, exposta ao risco de adquirir a
referida doença, em um período de tempo bem definido.
Sabe-se que medir a frequência com que ocorrem os problemas de saúde em populações animais
é um dos objetivos da Epidemiologia. Essas medidas são definidas a partir de dois conceitos
básicos em Epidemiologia: incidência e prevalência.
A incidência se refere à frequência com que surgem novos casos de uma doença num intervalo
de tempo, como se fosse um “filme” sobre a ocorrência da doença, no qual cada quadro pode
conter um novo caso ou casos. É, portanto, uma medida dinâmica.
A constante é uma potência com base de 10 (100, 1.000, 100.000), pela qual se multiplica o
resultado para torná-lo mais “amigável”, ou seja, para se ter um número inteiro. É muito mais
difícil compreender uma taxa de 0,15/1.000 do que uma taxa de 15/100.000. Quanto menor for o
numerador em relação ao denominador, maior a constante utilizada.
Imagine, como exemplo, que, entre 400 bovinos de uma fazenda acompanhados durante um ano,
foram diagnosticados, neste período, 20 casos novos de babesiose. O cálculo da taxa de
incidência será: 20 / 400 x 100 = 5 casos para cada grupo de 100 animais ao ano.
Como você pode observar, os casos novos, ou incidentes, são aqueles que não estavam doentes
no início do período de observação, mas que adoeceram no decorrer desse período. Para que
possam ser detectados, é necessário que cada animal seja observado no mínimo duas vezes, ou
que se conheça a data do diagnóstico.
Ao contrário da incidência, para medir a prevalência, os indivíduos são observados uma única
vez.
Voltemos ao exemplo dos bovinos na fazenda acima citados. Suponha que em determinada
semana do ano foram colhidas fezes de todos os animais e realizado exames laboratoriais. Dos
400 animais, foram encontradas 100 com resultado positivo para verminose (não se sabe se as
verminoses eram recentes ou antigas).
Cálculo da prevalência de verminose: 100 / 400 x 100 = 25 casos por 100 animais.
Como se pode ver, a prevalência é alimentada pela incidência. Por outro lado, dependendo do
agravo à saúde, os animais podem se curar ou morrer. Quanto maior e mais rápida a cura, ou
quanto maior e mais rápida a mortalidade, mais se diminui a prevalência, que é uma medida
estática, mas resulta da dinâmica entre adoecimentos, curas e óbitos.
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• a maior frequência com que surgem novos casos (incidência);
• melhoria no tratamento, prolongando-se o tempo de sobrevivência, porém sem levar à cura
(aumento da duração da doença).
A incidência, por outro lado, é mais utilizada em investigações etiológicas para elucidar relações
de causa e efeito, avaliar o impacto das medidas de controle, além de estudos de prognóstico.
Como exemplos, podemos citar a possibilidade de verificar se o número de casos novos
(incidência) de raiva canina declinou depois da implementação de programas vacinais e de
educação sanitária.
A partir de algumas variações do conceito de incidência, podemos chegar aos conceitos de:
Mortalidade: é uma medida muito utilizada como indicador de saúde, é calculada dividindo-se
o número de óbitos pela população em risco.
As medidas de frequência podem ser expressas como frequências absolutas ou relativas, vamos
conhecer melhor sua aplicabilidade.
As frequências absolutas são pouco utilizadas em Epidemiologia, pois não permitem medir o
risco de uma população. Por exemplo, segundo dados oficiais, o número de casos novos de
leishmaniose visceral canina diagnosticados e notificados em 2013 foi igual a 330, tanto no Rio
Grande do Norte como na Bahia. No entanto isso não significa que o risco de adquirir
leishmaniose visceral canina foi igual nos dois Estados, pois o risco foi maior no Rio Grande do
Norte, uma vez que a população canina é menor que na Bahia.
As frequências relativas são mais utilizadas quando se deseja comparar a ocorrência dos
problemas de saúde em populações distintas ou na mesma população ao longo do tempo.
33
Através de indicadores de saúde, podemos descrever as condições de saúde da população animal
em questão e as suas características demográficas.
Para que possamos avaliar o bem-estar da população animal, são necessários indicadores de
saúde, isto é, informações sobre a saúde dessa população que possam ser avaliadas
sistematicamente.
A qualidade dos indicadores de saúde vai depender da sua validade (capacidade de medir o que
se pretende); confiabilidade (reprodutibilidade), mensurabilidade, relevância e custo-efetividade.
Para que sejam efetivamente utilizados, os indicadores precisam ser organizados, atualizados,
disponibilizados e comparados com outros indicadores. Devem estar voltados para o interesse
específico de quem vai utilizá-los. Quem melhor define os indicadores são os profissionais da
saúde animal e os gestores / proprietários diretamente envolvidos.
Toda ação em saúde parte do pressuposto de um impacto esperado em termos de melhoria das
condições atuais. Para medir esse impacto, são utilizados indicadores de saúde.
Mas por que um médico veterinário precisa dessas informações? Por que devemos saber calcular
e interpretar indicadores usados em Epidemiologia? Não basta prestar uma boa assistência aos
animais enfermos, ou seja, resolver clinicamente o problema quando ele aparecer? Os
profissionais da medicina veterinária necessitam sim conhecer os indicadores da saúde animal de
sua região e também saber calcular e interpretá-los. Somente com essa visão mais global, mais
sistêmica, consegue-se ir além do atendimento clínico, que é essencial, mas não suficiente!
E durante muito tempo foi essa lógica reducionista, de pensar que bastava o atendimento clínico,
que predominou nos serviços de veterinária do Brasil, mas ela já está sendo mudada.
Os serviços de saúde animal e seus profissionais já não podem apenas esperar passivamente a
demanda de surtos em populações animais ou esperar os proprietários batendo à porta em busca
de assistência a um problema individual de um animal. É necessário que o profissional de
medicina veterinária conheça o perfil epidemiológico da população animal da região, ou seja,
necessita saber de que essa população animal adoece, quais as principais queixas dos
proprietários, de que ela morre, quais são os principais fatores determinantes das doenças nos
animais, etc. Além disso, precisa saber qual é a sua composição etária, as raças e espécies.
Todas essas informações permitirão que a equipe de medicina veterinária planeje com
antecedência como organizará o serviço de saúde para atender às queixas mais comuns dos
proprietários e, melhor, poderá pensar em estratégias para impedir que problemas de saúde
evitáveis ocorram. Por fim, se a equipe dispuser dessas informações ao longo do tempo, poderá,
inclusive, avaliar se as ações que está desempenhando são efetivas.
Por exemplo, suponha que em determinado bairro de Mossoró-RN a equipe de saúde pública
veterinária verificou que a incidência da leishmaniose visceral canina foi muito alta em 2015.
Depois de algumas reuniões e ao analisar outros dados, decidiu-se que algumas ações eram
necessárias para reduzir, em 2016, o número de casos animais. A equipe verificou com quais
recursos humanos, financeiros, físicos e de equipamentos contava e, a partir disso, definiu as
seguintes ações:
1. Aumentar a cobertura do inquérito canino examinando todos os cães do referido bairro;
2. Tirar das residências todos os cães positivos ao exame e realizar a eutanásia, conforme
preconiza o Ministério da Saúde;
3. Fazer campanhas educativas com a população humana do bairro para o controle ambiental e
evitar o mosquito transmissor;
4. Melhorar a quantidade e a qualidade dos serviços prestados;
5. Numa ação intersetorial, conseguir junto à secretaria de limpeza pública do município um
aumento das atividades de limpeza dos terrenos baldios e dar suporte ao mutirão de limpeza
no bairro para se evitar ambientes propícios para a proliferação do mosquito transmissor.
Essas ações foram implementadas ao longo de 2016 e, ao final desse período, é essencial que se
tenha o indicador de incidência da leishmaniose canina atualizado; afinal, é preciso saber se as
ações surtiram efeito ou se não alteraram a realidade e precisam de modificações. A partir da
nova leitura da realidade, novos objetivos são discutidos pela equipe e outras ações
desenvolvidas em busca de melhorias.
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Veja outro exemplo: através de indicadores de saúde dos anos passados (morbidade e
mortalidade), determinada equipe pode identificar que historicamente entre os meses de janeiro a
março (durante e logo após o período chuvoso) há expressivo aumento nos atendimentos dos
postos e hospitais por leptospirose humana. Sabendo disso, os profissionais de saúde pública
veterinária podem em novembro e dezembro desenvolver ações para minimizar essa demanda no
serviço de saúde humana (como realizar campanhas de desratização e antiratização, além de
trabalhos educativos nas áreas de risco) e promover ações intersetoriais no ambiente, junto com a
secretaria de limpeza urbana para a drenagem de córregos e limpeza das ruas antes da temporada
de chuva. Desta forma, se organizando com antecedência, realizando planejamento e não
improviso.
Indicadores de mortalidade
“E se somos severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte
severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada
antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte
severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida)”.
João Cabral de Mello Neto (Morte e Vida Severina).
Mortalidade proporcional - como o próprio nome diz, é um indicador do tipo proporção, que
apresenta, no numerador, os óbitos (por região, causa, sexo ou idade), e, no denominador, o total
de óbitos cuja fração se deseja conhecer.
Este coeficiente deve ser interpretado com cautela quando se realizam comparações entre
populações distintas, pois sofre a influência da composição etária da população. O coeficiente
geral de mortalidade de uma região predominantemente jovem pode ser menor do que outra
região com elevada proporção de animais idosos, sem que isso signifique melhores condições de
vida.
As taxas de mortalidade também podem ser específicas por sexo, idade ou causa.
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Taxa de mortalidade específica - calculada através das seguintes fórmulas:
Indicadores de fecundidade
Fertilidade é a capacidade de gerar filhos. Fecundidade se refere à realização do potencial de
procriar. Entre os indicadores de fecundidade estão a taxa de natalidade (taxa de crescimento da
população) e a taxa de fecundidade.
Fonte - Adaptado de: BOING, A. F.; D’ORSI, E.; CALVINO REIBNITZ, C. Conceitos e
ferramentas de Epidemiologia. Especialização a distância em Saúde da Família. Ministério da
Saúde, p. 1-80, 2010.
O Surto epidêmico é definido como uma epidemia de proporções reduzidas, atingindo pequeno
grupo de indivíduos (homens ou animais). Exemplo: surtos em creches, escolas, instituições
fechadas, fazendas, Feiras agropecuárias...
A Epidemia é a ocorrência, numa coletividade ou região, de casos da mesma doença (ou surto
epidêmico) em número que ultrapassa o quantitativo de casos normalmente esperados. O número
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de casos que caracteriza a presença de uma epidemia varia de acordo com o agente infeccioso, o
tamanho e o tipo da população exposta, sua experiência prévia com a doença ou a ausência de
casos anteriores e o tempo e o lugar da ocorrência.
Etapa 11 – Divulgação
O relatório deverá ser enviado aos profissionais que prestaram assistência aos casos e aos
participantes da investigação clínica e epidemiológica, representantes da comunidade,
autoridades locais, administração central dos órgãos responsáveis pela investigação e controle do
evento. Quando se tratar de surto ou agravo inusitado, se possível, divulgar um resumo da
investigação em boletins.
Objetiva uma melhor compreensão do processo saúde-doença, com uma visão mais clara
dos múltiplos fatores que interagem na sua determinação. Nada mais é do que a metodologia
usada para se coletar os dados da população estudada. A classificação dos métodos leva em
conta fatores como: nº de vezes que os dados serão coletados, maneira de coletar os dados,
tempo que os animais serão acompanhados, tipo de variável estudada, seleção dos animais de
estudo, etc.
Existe um arsenal de delineamentos específicos para diferentes estudos epidemiológicos,
que varia conforme os objetivos estabelecidos, que pode ser tanto a identificação de uma
possível associação do tipo exposição-efeito como a avaliação da efetividade de uma
intervenção com o objetivo de prevenir um determinado efeito.
Não existe um método capaz de satisfazer todas exigências de qualquer estudo, cada tema
a ser pesquisado terá características que indicarão qual delineamento mais apropriado. Além
disso a pressa em obter os resultados e as condições logísticas disponíveis para o pesquisador
também devem ser levadas em conta na hora de escolher o tipo de estudo.
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comparando a freqüência dos fatores associados a estes dois grupos. Têm como ponto de partida
o doente, e não a população.
A principal característica deste estudo é a formação de pelo menos dois grupos distintos
um grupo de casos e um grupo de controles. Nesse tipo de estudo, os casos e os controles são
reunidos e, então, questionados com respeito às exposições passadas e fatores de risco. O
propósito é identificar características (exposições, ou fatores de risco) que ocorrem em maior (ou
menor) freqüência entre casos do que entre os controles. A proporção de expostos a um fator de
risco é medida nos dois grupos e comparada. Se a proporção de expostos ao fator é maior entre
os casos do que entre os controles, então é possível que esta exposição aumente o risco para a
doença em questão. Por outro lado, se esta proporção é menor entre casos, a exposição pode ser
considerada um fator protetor.
Algumas vantagens: são muito informativos; são muito úteis quando um estudo deve ser
feito de maneira rápida e barata, muitas vezes os dados já estão disponíveis em alguma fonte e
basta analisá-los para se chegar à conclusão que se quer; são os mais indicados quando uma
doença a ser estudada é rara ou tem um longo tempo de indução; servem para exposições raras e
comuns; apesar de avaliarem apenas um desfecho por estudo, podem considerar diversos fatores
de risco, o que os torna úteis para gerar hipóteses para causas de doenças. Algumas
desvantagens: como partem de uma doença específica, consideram apenas um desfecho por
estudo; podem ser muito afetados pelo viés de recordação (do proprietário ou tratador) – já que o
status de exposição é determinado após o diagnóstico da doença; são mais suscetíveis a vieses de
seleção, pois é preciso selecionar controles que sejam representativos da população que deu
origem aos casos; às vezes existe dificuldade em assegurar a correta seqüência de eventos; não
medem a freqüência da doença; são inadequados para investigar exposições muito raras, a não
ser que o risco atribuído à exposição seja muito alto.
Exemplo: Madureira, Marieta Cristina. Varíola bovina no estado de Minas Gerais, 2005-2007.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. 102 p. Orientadora: Zélia Inês
Portela Lobato
Esse trabalho teve como objetivo pesquisar fatores associados à epidemiologia e à clínica da
varíola bovina em Minas Gerais. Um estudo do tipo caso-controle foi estruturado, sendo
visitadas 25 propriedades casos e 47 controles. Os dados foram coletados de janeiro-2005 a
dezembro-2007. Foi aplicado um questionário de investigação para obter informações sobre as
características da forma de produção e manejo, aspectos clínicos da doença, formas de
introdução, presença de animais domésticos e silvestres. Casos clínicos foram rastreados e
fatores envolvidos na transmissão da doença foram pesquisados. Amostras de soros sanguíneos e
de epitélio lesado foram coletadas e submetidas ao teste de SN e PCR, respectivamente. A curva
de anticorpos neutralizantes foi monitorada em vacas doentes por 12 a 14 meses. A presença de
anticorpos neutralizantes foi investigada nas vacas sadias e seus bezerros nas propriedades
controles. Anticorpos neutralizantes para Orthopoxvirus foram identificados nos rebanhos casos
e controles. Um modelo para explicar a ocorrência da doença foi construído através da análise de
regressão logística múltipla. O uso de desinfecção das mãos-tetas foi apontado como fator de
proteção e as variáveis “transportar leite em caminhão (em latões de aço)”, e “número de vacas
em lactação” foram identificadas como fatores de risco. Medidas de prevenção e controle foram
propostas.
41
Estudos de coortes - Em epidemiologia, coorte é um grupo de indivíduos que é
acompanhado ao longo do tempo e que periodicamente é investigado por pesquisadores que vão
agrupando dados sobre estes indivíduos. Estes estudos também são conhecidos como estudos de
incidência, longitudinais ou de seguimento.
42
Definição do efeito, ou seja, a definição de caso: é igualmente indispensável e pode ser
entendida como um conjunto de critérios padronizados que nos permitem estabelecer quem
apresenta as condições de interesse para a investigação. A definição de caso inclui critérios
clínicos, laboratoriais e epidemiológicos, podendo delimitar também características
epidemiológicas relativas ao tempo, espaço e animal.
VIÉS - Também conhecido como vício, erro diferencial ou tendenciosidade, o viés nada
mais é do que um fator que induz o pesquisador ao erro. O viés geralmente produz desvios ou
distorções consistentemente em uma direção. O viés torna-se um problema quando enfraquece
uma associação verdadeira ou distorce a direção aparente de uma associação entre variáveis.
Existem vários tipos de viés: Viés de seleção - a maneira como são escolhidos os animais
que pertencerão ao estudo pode levar a conclusões que não se aplicam à população como um
todo. Viés de medição ou de aferição - Estes erros podem ser causados por uma falha
sistemática humana ou defeitos em aparelhagens. Viés de recordatório ou de memória – erro
do entrevistado (proprietário ou tratador) pode produzir uma associação falso-positivo entre um
fator de risco e o resultado final, ou simplesmente esquecimento de informações úteis.Viés do
entrevistador/pesquisador - a postura do entrevistador ou a maneira com que ele conduz a
entrevista podem exercer influência sobre a resposta fornecida pelo entrevistado (indução ou
coação). Viés de seguimento - durante um estudo longitudinal as perdas podem ocorrer de forma
desigual entre 2 ou mais grupos estudados, distorcendo as associações encontradas.
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Coorte Incidência Risco Relativo (RR) e Risco Atribuível Qui-quadrado
(RA)
Caso-controle - Odds ratio (OR) Qui-quadrado
Doença
+ -
Exposição + A B
- C D
A = Doente e exposto
B = Sadio e exposto
C = Doente e não exposto
D = Sadio e não exposto
O Risco Relativo (RR) = Incidência nos Expostos / Incidência nos não Expostos
O Odds ratio (OR), também chamado de “razão de chances” ou de “Risco Relativo estimado”:
AxD/CxB
1 - Realizou-se um estudo de Coorte com 120 cães para a pesquisa de erliquiose canina em
Mossoró-RN e sua associação com a presença de carrapatos. Ao final do estudo foram
encontrados 60 casos da doença, dos quais em 50 os animais estavam infestados por carrapatos.
Sabendo-se que existiam 80 animais no estudo infestados com carrapatos, responda qual foi a
incidência da erliquiose, o Risco Relativo e o Risco Atribuível do estudo.
2 - Supondo que o desenho do estudo acima para pesquisa da associação entre erliquiose canina
e presença de carrapatos fosse um estudo de caso-controle, responda qual o valor do Odds ratio
(OR)?
4 - Supondo que o desenho do estudo acima fosse um estudo de caso-controle, responda qual o
valor do Odds ratio (OR)?
Diagnóstico é todo recurso que se utiliza para identificar uma fonte de infecção.
- Laboratorial: é feito por meio de métodos especiais, que, geralmente, por si só permitem um
resultado mais ou menos conclusivo, ou então fornecem informações adicionais capazes de levar
ao diagnóstico definitivo.
A validação de um teste diagnóstico é feita sempre contra outro teste consagrado denominado
padrão-ouro (quando se tem um grupo de animais comprovadamente doente).
O desempenho do teste pode ser avaliado a partir de duas possibilidades básicas: Sensibilidade e
Especificidade.
Doença
+ -
Teste + A B
- C D
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Sensibilidade é a capacidade do teste acertar em indivíduos com aquela doença (proporção de
verdadeiros positivos).
Testes altamente sensíveis são aqueles que detectam todos (ou quase todos) os doentes. Testes
altamente específicos são aqueles que identificam somente (ou quase somente) os que não tem a
doença. Portanto testes sensíveis têm poucos falsos negativos e testes específicos têm poucos
falsos positivos.
Sensibilidade = A / A+C
Especificidade = D / B+D
2 -Um grupo de estudantes e professores da UFERSA está produzindo um kit diagnóstico para a
detecção rápida da brucelose bovina. No experimento para a validação do kit foram utilizados
270 animais dos quais 70 estavam doentes, o teste foi negativo no total 165 animais dos quais 13
estavam doentes. Responda:
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2.7 – Interprete a validação do teste.
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Notificação - é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou de sua suspeita
(doença da lista OIE), feita à autoridade sanitária por profissionais da área ou qualquer cidadão,
para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. Todo médico veterinário,
proprietário, transportador de animais ou qualquer outro cidadão que tenha conhecimento de
suspeita da ocorrência de doença da lista, fica obrigado, de acordo com a legislação vigente, a
comunicar o fato, imediatamente, à unidade do serviço veterinário oficial mais próxima. A
notificação poderá ser efetuada pessoalmente, por telefone, fax ou qualquer outro meio de
comunicação disponível.
Aspectos que devem ser considerados na notificação: • Notificar a simples suspeita da
doença. Não se deve aguardar a confirmação do caso para se efetuar a notificação, o que pode
significar perda da oportunidade de adoção das medidas de prevenção e controle indicadas; • O
envio dos instrumentos de coleta de notificação deve ser feito mesmo na ausência de casos,
configurando-se o que se denomina notificação negativa, que funciona como um indicador de
eficiência do sistema de informações.
FONTES ESPECIAIS DE DADOS - Sempre que as condições exigirem, deve-se recorrer
aos estudos de investigação epidemiológica para complementação das informações, são estes:
Inquéritos epidemiológicos: é um estudo geralmente do tipo amostral, levado a efeito
quando as informações existentes são inadequadas ou insuficientes, em virtude de diversos
fatores, entre os quais pode-se destacar: notificação imprópria ou deficiente; mudança no
comportamento epidemiológico de uma determinada doença; dificuldade em se avaliar
coberturas vacinais ou eficácia de vacinas; necessidade de se avaliar efetividade das medidas de
controle de um programa; descoberta de agravos inusitados, etc.
Levantamento epidemiológico: é um estudo realizado com base nos dados existentes
nos registros dos serviços de saúde animal ou de outras instituições. Geralmente não é um estudo
amostral e destina-se a coletar dados para complementar informações já existentes, como
exemplo a recuperação de séries históricas, para análises de tendências, e a busca ativa de casos,
para aferir a eficiência do sistema de notificação.
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