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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

DISCIPLINA: EPIDEMIOLOGIA PROFESSOR: Alexandro Iris Leite

EPIDEMIOLOGIA - ABORDAGEM GERAL - UMA BREVE INTRODUÇÃO

ASPECTOS CONCEITUAIS

A epidemiologia é uma disciplina básica da saúde pública voltada para a compreensão do


processo saúde-doença no âmbito de populações, aspecto que a diferencia da clínica, que tem por
objetivo o estudo desse mesmo processo, mas em termos individuais.
Como ciência, a epidemiologia fundamenta-se no raciocínio causal; já como disciplina da
saúde pública, preocupa-se com o desenvolvimento de estratégias para as ações voltadas para a
proteção e promoção da saúde da comunidade.
A epidemiologia constitui também instrumento para o desenvolvimento de políticas no
setor da saúde. Sua aplicação neste caso deve levar em conta o conhecimento disponível,
adequando-o às realidades locais.
Se quisermos delimitar conceitualmente a epidemiologia, encontraremos várias
definições; uma delas, bem ampla e que nos dá uma boa idéia de sua abrangência e aplicação em
saúde pública, é a seguinte:

“Epidemiologia é o estudo da freqüência, da distribuição e dos determinantes dos estados ou


eventos relacionados à saúde em específicas populações e a aplicação desses estudos no
controle dos problemas de saúde.” (J. Last, 1995)

Essa definição de epidemiologia inclui uma série de termos que refletem alguns
princípios da disciplina que merecem ser destacados:

• Estudo: a epidemiologia como disciplina básica da saúde pública tem seus fundamentos no
método científico.

• Freqüência e distribuição: a epidemiologia preocupa-se com a freqüência e o padrão dos


eventos relacionados com o processo saúde doença na população. A freqüência inclui não só o
número desses eventos, mas também as taxas ou riscos de doença nessa população. O
conhecimento das taxas constitui ponto de fundamental importância para o epidemiologista, uma
vez que permite comparações válidas entre diferentes populações. O padrão de ocorrência dos
eventos relacionados ao processo saúde-doença diz respeito à distribuição desses eventos
segundo características: do tempo (tendência num período, variação sazonal, etc.), do lugar
(distribuição geográfica, distribuição urbano-rural, etc.) e da pessoa/animal (sexo, idade,
profissão/aptidão, etnia/raça, pelagem, etc.).

• Determinantes: uma das questões centrais da epidemiologia é a busca da causa e dos fatores
que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença. Com esse
objetivo, a epidemiologia descreve a freqüência e distribuição desses eventos e compara sua
ocorrência em diferentes grupos populacionais com distintas características demográficas,
genéticas, imunológicas, comportamentais, de exposição ao ambiente e outros fatores, assim
chamados fatores de risco. Em condições ideais, os achados epidemiológicos oferecem
evidências suficientes para a implementação de medidas de prevenção e controle.
• Estados ou eventos relacionados à saúde: originalmente, a epidemiologia preocupava-se com
epidemias de doenças infecciosas. No entanto, sua abrangência ampliou-se e, atualmente, sua
área de atuação estende-se a todos os agravos à saúde.

• Específicas populações: como já foi salientado, a epidemiologia preocupa-se com a saúde


coletiva de grupos de indivíduos que vivem numa comunidade ou área.

• Aplicação: a epidemiologia, como disciplina da saúde pública, é mais que o estudo a respeito
de um assunto, uma vez que ela oferece subsídios para a implementação de ações dirigidas à
prevenção e ao controle. Portanto, ela não é somente uma ciência, mas também um instrumento.

Boa parte do desenvolvimento da epidemiologia como ciência teve por objetivo final a
melhoria das condições de saúde da população, o que demonstra o vínculo indissociável da
pesquisa epidemiológica com o aprimoramento da assistência integral à saúde.

A PESQUISA EPIDEMIOLÓGICA

A pesquisa epidemiológica é responsável pela produção do conhecimento sobre o


processo saúde-doença por meio de:

• estudo da freqüência e distribuição das doenças nas populações com a identificação de seus
fatores determinantes;

• avaliação do impacto da atenção à saúde sobre as origens, expressão e curso da doença.

As áreas de produção do conhecimento pela epidemiologia e as respectivas metodologias


aplicadas são as seguintes:

ÁREAS DE PRODUÇÃO DO METODOLOGIAS


CONHECIMENTO APLICADAS
Identificação, quantificação e caracterização Investigação descritiva
de danos à saúde da população
Quantificação e caracterização de riscos Investigação descritiva
identificados presentes na população
Identificação de fatores de risco e fatores Investigação etiológica
prognósticos para determinado agravo
Ampliação da informação sobre a história Investigação descritiva das
natural de um agravo características clínicas, estudo de
prognóstico e de sobrevivência
Estimativa da validade e confiabilidade de Investigação metodológica
procedimentos de diagnóstico e intervenção
Avaliação da eficácia de um procedimento Ensaios controlados
ou de um agente profilático ou terapêutico
Avaliação do impacto potencial da Investigação de avaliação
eliminação de um fator de risco prognóstica
Avaliação do impacto obtido por um Investigação de avaliação
programa, serviço ou ação de saúde diagnóstica
Construção de modelos epidemiológicos Investigação teórica e metodológica
para análise estatística e de simulação

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EVOLUÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA

A trajetória histórica da epidemiologia tem seus primeiros registros já na Grécia antiga


(ano 400 a.C.), quando Hipócrates, num trabalho clássico denominado Dos Ares, Águas e
Lugares, buscou apresentar explicações, com fundamento no racional e não no sobrenatural, a
respeito da ocorrência de doenças na população.

Já na era moderna, uma personalidade que merece destaque é o inglês John Graunt, que,
no século XVII, foi o primeiro a quantificar os padrões da natalidade, mortalidade e ocorrência
de doenças, identificando algumas características importantes nesses eventos, entre elas:
• existência de diferenças na mortalidade entre os sexos e na distribuição urbano-rural;
• elevada mortalidade infantil;
• variações sazonais.
São também atribuídas a ele as primeiras estimativas de população e a elaboração de uma
tábua de mortalidade. Tais trabalhos conferem-lhe o mérito de ter sido o fundador da
bioestatística e um dos precursores da epidemiologia.

Posteriormente, em meados do século XIX, Willian Farr iniciou a coleta e análise


sistemática das estatísticas de mortalidade na Inglaterra e País de Gales. Graças a essa iniciativa,
Farr é considerado o pai da estatística vital e da vigilância.

Quem, no entanto, mais se destacou entre os pioneiros da epidemiologia foi o


anestesiologista inglês John Snow, contemporâneo de William Farr. Sua contribuição está
sintetizada no ensaio Sobre a Maneira de Transmissão da Cólera, publicado em 1855, em que
apresenta memorável estudo a respeito de duas epidemias de cólera ocorridas em Londres em
1849 e 1854.

A principal contribuição de Snow foi a sistematização da metodologia epidemiológica,


que permaneceu, com pequenas modificações, até meados do século XX. Ele descreve o
comportamento da cólera por meio de dados de mortalidade, estudando, numa seqüência lógica,
a freqüência e distribuição dos óbitos segundo a cronologia dos fatos (aspectos relativos ao
tempo) e os locais de ocorrência (aspectos relativos ao espaço), além de efetuar levantamento de
outros fatores relacionados aos casos (aspectos relativos às pessoas), com o objetivo de elaborar
hipóteses causais.

Sua descrição do desenvolvimento da epidemia e das características de sua propagação é


tão rica em detalhes e seu raciocínio, tão genial, que consegue demonstrar o caráter transmissível
da cólera (teoria do contágio), décadas antes do início das descobertas no campo da
microbiologia e, portanto, do isolamento e identificação do Vibrio cholerae como agente
etiológico da cólera, contrariando, portanto, a teoria dos miasmas, então vigente.

No final do século XIX, vários países da Europa e os Estados Unidos iniciaram a


aplicação do método epidemiológico na investigação da ocorrência de doenças na comunidade.
Nesse período, a maioria dos investigadores concentraram-se no estudo de doenças infecciosas
agudas. Já no século XX, a aplicação da epidemiologia estendeu-se para as moléstias não-
infecciosas.

No entanto, é a partir do final da Segunda Guerra Mundial que assistimos ao intenso


desenvolvimento da metodologia epidemiológica com a ampla incorporação da estatística,
propiciada em boa parte pelo aparecimento dos computadores. A aplicação da epidemiologia
passa a cobrir um largo espectro de agravos à saúde. Nesta época importantes estudos foram
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desenvolvidos e como exemplo o estabelecimento da associação entre o tabagismo e o câncer de
pulmão, e dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares.

Hoje a epidemiologia constitui importante instrumento para a pesquisa na área da saúde,


seja no campo da clínica, seja no da saúde pública.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA EPIDEMIOLOGIA

Um dos princípios básicos da Epidemiologia é o de que os agravos à saúde não ocorrem por
acaso em uma população. A partir desse princípio, pode-se afirmar que a distribuição desigual
dos agravos à saúde é produto da ação de fatores que se distribuem desigualmente na população.
Portanto, a elucidação desses fatores, responsáveis pela distribuição das doenças, é uma das
preocupações constantes da Epidemiologia. O conhecimento dos fatores determinantes das
doenças permite a aplicação de medidas preventivas com o propósito de resolver o problema.

Um dos princípios mais importante da Epidemiologia moderna é que nenhuma enfermidade


possui uma causa única. Na etiologia da enfermidade intervêm múltiplos fatores.

Portanto, a Epidemiologia baseia-se em:

1) Reconhecimento da multiplicidade de fatores na etiologia das enfermidades;

2) Identificação desses fatores e estimativa de seus valores relativos;

3) A ocorrência da doença está associada ao ambiente (é provavelmente o princípio mais antigo,


tendo sido mencionado por Hipócrates); Para identificar a influência do ambiente são feitas
comparações entre um ambiente onde a doença ocorre e um ambiente onde a doença não ocorre.

4) Registro da ocorrência dos eventos naturais - Eventos naturais, tais como nascimento, morte,
doença etc. devem ser registrados. Conforme demonstrou John Graunt, no século 17, muitos
fenômenos biológicos, quando analisados em massa, podem ser previstos. Se uma doença é mais
comum em um sexo, idade, local etc., deve haver razões, as quais devem ser exploradas para
obter a prevenção da doença.

5) Utilização de experimentos, sempre que possível - A observação de condições diferentes pode


explicar a ocorrência de uma enfermidade. Como exemplo de experimento pode ser citado um
dos trabalhos de Snow, no qual o autor interrompeu o fornecimento de água contaminada de
determinado bairro, fornecendo água limpa, o que acarretou diminuição na incidência, enquanto
em outras áreas a incidência da enfermidade continuava a mesma.

USOS E OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA

O método epidemiológico é, em linhas gerais, o próprio método científico aplicado aos


problemas de saúde das populações. Para isso, serve-se de modelos próprios aos quais são
aplicados conhecimentos já desenvolvidos pela própria epidemiologia, mas também de outros
campos do conhecimento (clínica, biologia, matemática, história, sociologia, economia,
antropologia, etc.), num contínuo movimento pendular, ora valendo-se mais das ciências
biológicas, ora das ciências humanas, mas sempre as situando como pilares fundamentais da
epidemiologia.

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Sendo uma disciplina multidisciplinar por excelência, a epidemiologia alcança um amplo
espectro de aplicações. As aplicações mais freqüentes da epidemiologia em saúde pública são:

• descrever o espectro clínico das doenças e sua história natural;


• identificar fatores de risco de uma doença e grupos de indivíduos que apresentam maior risco
de serem atingidos por determinado agravo;
• prever tendências;
• avaliar o quanto os serviços de saúde respondem aos problemas e necessidades das populações;
• testar a eficácia, a efetividade e o impacto de estratégias de intervenção, assim como a
qualidade, acesso e disponibilidade dos serviços de saúde para controlar, prevenir e tratar os
agravos de saúde na comunidade.

A saúde pública tem na epidemiologia o mais útil instrumento para o cumprimento de sua missão
de proteger a saúde das populações. A compreensão dos usos da epidemiologia nos permite
identificar os seus objetivos, entre os quais podemos destacar os seguintes:

Objetivos da epidemiologia:
• identificar o agente causal ou fatores relacionados à causa dos agravos à saúde;
• entender a causação dos agravos à saúde;
• definir os modos de transmissão;
• definir e determinar os fatores contribuintes aos agravos à saúde;
• identificar e explicar os padrões de distribuição geográfica das doenças;
• estabelecer os métodos e estratégias de controle dos agravos à saúde;
• estabelecer medidas preventivas;
• auxiliar o planejamento e desenvolvimento de serviços de saúde;
• prover dados para a administração e avaliação de serviços de saúde.
Fonte: Waldman, Eliseu Alves. Vigilância em Saúde Pública, volume 7. São Paulo: Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. (Série Saúde & Cidadania)

DEFINIÇÃO MODERNA DE EPIDEMIOLOGIA


É a ciência que estuda o processo saúde-enfermidade nas populações, analisando a
distribuição populacional e fatores determinantes de risco de doenças, agravos e eventos
associados à saúde, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de
enfermidades, danos ou problemas de saúde e de proteção, promoção ou recuperação da saúde
individual e coletiva, produzindo informação e conhecimento para apoiar a tomada de decisão no
planejamento, administração e avaliação de sistemas, programas, serviços e ações de saúde
(Almeida Filho & Rouquayrol, 2006).

A EPIDEMIOLOGIA NA MEDICINA VETERINÁRIA


Até o século XIX a “Teoria miasmática” (as doenças provinham de emanações
resultantes do acúmulo de dejetos), era o paradigma dominante entre os estudiosos. No fim do
século XIX a epidemiologia era uma disciplina ainda embrionária e houve a descoberta dos
agentes etiológicos específicos para cada doença. A partir de então, prevalece a “Teoria da uni-
causalidade”, que com a descoberta dos agentes vivos específicos das doenças, não se relaciona
o hospedeiro e o meio ambiente, chegando ao inicio do século XX. Posteriormente, surge o
conceito de multi-causalidade – as doenças passaram a ser vistas em decorrência de múltiplas
causas e da relação entre agente, hospedeiro e meio. Na década de 60 houve o desenvolvimento
da educação sanitária. Na década de 70 a epidemiologia passa a ser o eixo da saúde pública.
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Nos anos 70 e 80 surgiram avanços nos conhecimentos da medicina veterinária, seus
recursos e particularidades, como os relacionados à prevenção e controle das zoonoses e higiene
dos alimentos, com novo enfoque de saúde animal. A saúde animal deixa de ser somente
responsabilidade dos veterinários. É a fase da conscientização e estabelecimentos dos programas
sanitários (ex: erradicação da febre aftosa – fundos de indenização).
A década de 90 foi a década da globalização, epidemiologia teve bastante destaque no
cenário econômico-produtivo, é a fase da competitividade – melhoria das competências,
capacidade técnica e organizacional. Com a chegada do século XXI a globalização se intensifica,
como também os interesses econômicos e a competitividade, as distâncias se encurtam e com a
internet se permite o conhecimento rápido e a divulgação dos fatos. Há o crescimento
populacional, como também da fome e degradação/poluição ambiental, surgindo novas
epidemias.
Neste contexto, a Epidemiologia Veterinária considera as estruturas de produção que
explicam o porquê e como se originam os problemas que afetam a capacidade de produção e
reprodução, assim como a implantação de suas soluções. Sendo um fator indispensável para a
planificação e gerenciamento da saúde animal. A Sanidade Animal é vista como um conjunto
de condições que conduzem ao bem-estar e à saúde, higiene e salubridade dos animais.
A epidemiologia veterinária, além da investigação das doenças, investiga fatores ligados
a produtividade e bem estar animal nas populações e se constitui num método holístico que tem
como objetivo coordenar o uso de diferentes ramos da ciência e disciplinas utilizadas nas
investigações. O principal fundamento da epidemiologia é a coleta de dados, que são
posteriormente analisados por métodos qualitativos ou quantitativos, transformando-os em
informações úteis que podem auxiliar na criação de medidas sanitárias e no monitoramento–
vigilância epidemiológica de uma enfermidade. Estudos epidemiológicos requerem experiência
em muitas áreas, a citar: produção animal, ecologia, computação, manejo de dados, economia,
matemática, ciências sociais, estatística e ciências veterinárias.
As doenças dos animais de produção representam uma importante ameaça para o bem estar
da população, devido ao seu impacto sobre a economia nacional de diversos países, onde o
comércio com o exterior e estabilidade, dependem diretamente da confiabilidade dos alimentos
de origem animal, que devem ser oriundos de animais isentos desta enfermidade, demonstrando
a estreita relação que existe entre saúde pública, o ambiente e o bem estar sócio-econômico.
A importância das doenças dos animais interfere em saúde pública e no ponto de vista
social e econômico. Afeta os produtores, empresários e famílias rurais por seus efeitos
desfavoráveis sobre a produção, produtividade e rentabilidade pecuária. Incide negativamente
nas atividades comerciais do setor agropecuário, prejudicando o consumidor e a sociedade em
geral pela interferência que a enfermidade exerce na disponibilidade e distribuição dos alimentos
de origem animal, assim como pelas barreiras sanitárias impostas pelo mercado internacional de
animais, produtos e subprodutos. E mais, onera os custos públicos e privados, pelos
investimentos necessários para sua prevenção, controle e erradicação.
O êxito no controle das doenças animais requer conhecimentos e aplicação da
epidemiologia. Esta ciência compreende várias áreas, a citar: epidemiologia descritiva,
indicadores de saúde / medidas de frequência de doenças, métodos de estudos epidemiológicos,
dentre outras.
HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
História natural da doença é o nome dado ao conjunto de processos interativos
compreendendo “as inter-relações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o
processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo
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patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do hospedeiro
ao estímulo, até às alteração que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte”. Assim
sendo, Doença é a alteração ou desvio do estado de equilíbrio de um indivíduo com o meio.
A história natural da doença, portando, tem desenvolvimento em dois períodos
seqüenciados: o período epidemiológico (pré-patogênese) e o período patológico. No primeiro, o
interesse é dirigido para as relações suscetível-ambiente, no segundo, interessam as modificações
que se passam no organismo vivo. Abrange, portanto, dois domínios interagentes, consecutivos e
mutuamente exclusivos, que se completam: o meio ambiente, onde ocorrem as pré-condições, e
o meio interno, locus da doença, onde se processaria, de forma progressiva, uma série de
modificações bioquímicas, fisiológicas e histológicas, próprias de uma determinada enfermidade.
A história natural de uma doença pode ser considerada como sendo uma descrição de sua
evolução, desde os seus primórdios no ambiente até seu surgimento no suscetível e conseqüente
desenvolvimento no doente. A importância do seu conhecimento se dá para a compreensão de
situações reais e específicas, auxiliando para apontar os diferentes métodos de prevenção e
controle, tornando operacionais as medidas de prevenção.
No período de pré-patogênese ocorrem as inter-relações entre os agentes etiológicos da
doença, o suscetível e outros fatores ambientais que estimulam o desenvolvimento da
enfermidade e as condições sócio-econômico-culturais que permitem a existência desses fatores.
A Figura 1, mostra esquematicamente que, no período de pré-patogênese, podem ocorrer
situações que vão desde um mínimo de risco até o risco máximo, dependendo dos fatores
presentes e da forma como estes fatores se estruturam.
Ao se considerar as condições para que a doença tenha início em um indivíduo suscetível,
é necessário ter-se em conta que nenhuma delas será, por si só, suficiente. A eclosão da doença é,
na verdade, dependente da estruturação dos fatores contribuintes de tal forma que se possa
pensar em uma configuração de probabilidades. Quanto mais estruturados estiverem os fatores,
maior força terá o estímulo patológico. O estado final provocador de doença é, portanto,
resultado da sinergização de uma multiplicidade de fatores políticos, econômicos, sociais,
culturais, psicológicos, genéticos, biológicos, físicos e químicos.

No período de patogênese a história natural da doença tem seguimento com a sua


implantação e evolução no hospedeiro. Este período se inicia com as primeiras ações que os
agentes patogênicos exercem sobre o ser afetado. Seguem-se as perturbações bioquímicas em
nível celular, continuam com as perturbações na forma e na função, evoluindo para defeitos
permanentes, cronicidade, morte ou cura.
Período de latência: é o intervalo de tempo que transcorre desde que se produz a infecção
até que o indivíduo se torne infeccioso.

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Figura 1: História Natural da Doença.

COMPONENTES DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS / AGRAVOS:


CONCEITOS*

*Organizado por Prof. Paulo Francisco Domingues (FMVZ-UNESP-Botucatu)

RELAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA COM OUTRAS ÁREAS

A epidemiologia considera como sua unidade de interesse, portanto, o indivíduo, um


grupo de indivíduos, seja de uma população constituída de pessoas, ou de animais; incluindo-se
os sadios, doentes e mortos.
Na investigação epidemiológica, são utilizadas ciências e disciplinas consideradas
correlatas, ou de apoio, tais como: a bioestatística, para medir as situações na fase de observação
e posteriormente em nível de avaliação; a clínica, como ponto de partida para o diagnóstico
individual da enfermidade, a partir do qual se estabelecerá a orientação a se tomar; a patologia, a
microbiologia, a parasitologia, a imunologia, a toxicologia, entre outras. Estas fornecem à
epidemiologia o diagnóstico da situação. As ciências do comportamento humano, como a
sociologia, antropologia, psicologia, a economia e a ecologia, entre outras, assumem também
papéis de grande importância. Também a epidemiologia é indissociável da ecologia, uma vez
que a sociedade nada mais é do que o fenômeno ecológico, cujos fundamentos devem ser
procurados na própria característica da vida; e os componentes físicos e biológicos do ambiente
onde vivem o homem e também os animais, somam-se aos da sociedade que se estabelecem, na
determinação do seu estado de saúde e da qualidade de vida.

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SAÚDE E DOENÇA

A saúde e doença são idéias relativas e convencionais, e representam estados


absolutamente opostos. O limite entre o estado de saúde e doença é difícil de ser estabelecido. O
indivíduo pode se manter entre eles, durante toda sua vida. A saúde é um estado de relativo
equilíbrio da forma e da função do organismo, resultante de seu sucesso em ajustar-se às forças
que tendem a perturbá-lo. Não se trata de uma aceitação passiva, dessas, por parte do organismo,
mas de sua resposta ativa, para o seu reajustamento.
A Organização Mundial da Saúde define como saúde: “o estado de completo bem-estar
físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”. É evidente a falta da precisão, em
especial no que se refere ao significado da expressão “completo bem-estar”. Este pode variar de
acordo, com o indivíduo, tempo e espaço. Do ponto de vista médico, o que é bom para um não é
obrigatoriamente para outro, e nem a presença de bem-estar significa a ausência de doença.
A doença por sua vez, pode ser definida como um desajustamento ou falha nos
mecanismos de adaptação do organismo, ou ainda, como a ausência de reação aos estímulos que
ele está exposto. O processo conduz a uma perturbação da estrutura ou da função de um órgão,
de um sistema ou de todo o organismo, interferindo em suas funções vitais. Pode significar ainda
o conjunto combinado de sintomas, manifestação associada à determinada desordem estrutural
e/ou funcional, ou então caracterizar fenômeno decorrente da ação de um ou mais agentes
específicos.
Sob o ponto de vista etiológico, as doenças podem ser classificadas em: infecciosas e não
infecciosas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, doença infecciosa do homem ou dos animais,
é aquela resultante de uma infecção. Entende-se por infecção a penetração, desenvolvimento,
multiplicação ou replicação de um agente infeccioso, incluindo-se os helmintos; no organismo
do homem ou de animais. Estas podem ser aguda, subaguda e crônica. As crônicas são aquelas
que se desenvolvem em longo prazo; e as subagudas e agudas são de curta duração.
Deve-se levar em consideração ainda, as doenças nutricionais e metabólicas, as
parasitárias de forma geral, as tóxicas e ainda aquelas hereditárias, e outras que se devem a
malformações, desenvolvidas durante os períodos embrionário e fetal, mas não herdáveis, sendo
denominadas de doenças congênitas.
Um desequilíbrio ou conseqüência deste provocam um jogo de influências mútuas entre
diversas variáveis ecológicas, que poderão resultar no estabelecimento do estado de doença. É
importante, entretanto, considerar que a doença não é determinada única e exclusivamente pela
presença de um agente infeccioso, mas sim pela interação entre o agente, hospedeiro e meio
ambiente, que pode ser representada graficamente por um triângulo eqüilátero, onde a ocorrência
de qualquer modificação em um lado, necessariamente implicará na modificação dos demais.
Nenhum dos fatores poderá atuar de maneira isolada, ocorrendo, portanto, uma interação
constante e dinâmica entre eles.

Agente fatores variáveis Hospedeiro fatores variáveis


EQUILÍBRIO
SAÚDE

Ambiente Físico Biológico Econômico Social Variação do Equilíbrio

Os agentes causais podem ser biológicos, químicos e físicos. Os hospedeiros apresentam


variáveis que se relacionam com o estado fisiológico, nutricional, defesas orgânicas, espécie,
idade, sexo e raça. O meio ambiente apresenta fatores que influenciam e estão relacionados com
o clima, água, solo, topografia, presença de insetos, densidade populacional e manejo.

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Estes três elementos fundamentais que constituem o processo epidêmico, bem como suas
variáveis, se relacionam com qualquer tipo de doença, quando se estuda este fenômeno em
populações. É importante considerá-los em conjunto, para se estabelecer os níveis em que
deverão ser adotadas as medidas objetivando-se o controle e erradicação de determinada doença
que esteja ocorrendo em dada população animal.

CARACTERÍSTICAS DO AGENTE

Descreve-se a seguir as principais características dos agentes biológicos, e em particular


os de caráter infecto-contagiosos. Os conhecimentos das características são fundamentais, para
se compreender suas inter-relações com o desenvolvimento da infecção, pois são elas que
contribuem para que o agente infeccioso possa persistir em determinado sistema ecológico.

a) Infecciosidade: é a característica do agente de penetrar, alojar e multiplicar-se no organismo


do hospedeiro, ou seja, a sua capacidade de causar infecção. Esta característica é
fundamental, na previsão da propagação de dada doença. São considerados de alta
infecciosidade o vírus da febre aftosa para os animais, e o vírus da raiva para os animais e o
homem. Considera-se de baixa infecciosidade o vírus da febre aftosa para o homem.

b) Patogenicidade: é a capacidade do agente, em produzir lesões específicas no organismo


hospedeiro infectado. Agentes dotados de alta patogenicidade determinam incidência maior
da doença na população. Ela é traduzida, portanto, pela frequência de casos clínicos no
rebanho. São considerados de alta patogenicidade os agentes da raiva, aftosa, anemia
infecciosa equina, e manqueira; e de baixa patogenicidade os da brucelose e tricomonose nos
machos.

c) Virulência: caracteriza-se pela capacidade do agente de produzir lesões de maior ou menor


gravidade, determinando o grau de severidade da infecção. Ela se traduz pela intensidade da
ação do agente no hospedeiro. São de alta virulência os agentes da raiva, tétano, entre outros;
e de baixa virulência, o agente da brucelose.

d) Antigenicidade conhecida também como Imunogenicidade. É a capacidade do agente


etiológico em induzir no hospedeiro a formação de anticorpos, produzindo desta maneira
imunidade, ou seja, resposta imunológica. São considerados de alta antigenicidade o vírus do
sarampo, varíola e cinomose e de baixa antigenicidade os agentes da febre aftosa e
salmonelose.

e) Variabilidade: é a capacidade de mudanças de características genéticas do agente, originando


mutantes, como ocorre com o vírus da febre aftosa.

f) Resistência: é a característica que o agente apresenta em resistir ao meio ambiente em


condições naturais, e aos produtos químicos como os anti-sépticos e desinfetantes, por
determinados períodos de tempo, na ausência de parasitismo. São altamente resistentes no
ambiente as bactérias dos gêneros Clostridium spp e Bacillus spp.

g) Persistência: Reflete a capacidade de um agente de permanecer em uma população de


hospedeiros por tempo prolongado, ou indefinidamente.

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* Diferença de Patogenicidade e Virulência:

CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO

Em um sentido amplo, o hospedeiro pode ser considerado como todo e qualquer ser vivo que
albergue um agente em seu organismo, ou ainda o organismo que propicia alimento ou abrigo a
organismo de outra espécie. São conhecidos três tipos de hospedeiros:
Hospedeiro definitivo: é aquele onde o parasito atinge a maturidade, reproduzindo-se
sexuadamente.
Hospedeiro intermediário: é o hospedeiro, no qual o parasito desenvolve suas formas
imaturas ou, para alguns, se reproduz assexuadamente.
Os fatores relativos ao hospedeiro, dentro do sistema ecológico, se relacionam às suas
características, como a espécie, raça, sexo, estado fisiológico, entre outros, e aquelas que
dependem do agente e do meio ambiente, como a densidade populacional, manejo e
susceptibilidade.

a) Espécie: a susceptibilidade de uma espécie animal a um determinado agente etiológico, de


maneira geral, é determinada por suas próprias características genéticas. Sendo assim,
exemplificando: os eqüídeos são os únicos susceptíveis à anemia infecciosa eqüina, as aves à
doença de Newcastle, os animais biungulados à febre aftosa e os canídeos, os únicos
susceptíveis a cinomose.

b) Raça: algumas raças de animais são mais susceptíveis que outras, frente a um mesmo agente
etiológico, isto também se deve às características genéticas da própria raça. Como exemplo,
podemos citar as raças zebuínas que se mostram mais resistentes à “piroplasmose” (tristeza
parasitária), em relação a outras, principalmente as raças leiteiras.

c) Sexo: observa-se que ocorre um distinto comportamento de ambos os sexos para um mesmo
agente etiológico, isto se deve às características anatômicas, o que permitirá ou não o
desenvolvimento de uma infecção. A brucelose afeta mais comumente as fêmeas do que os
machos.

d) Idade: existem doenças que incidem mais em animais jovens, enquanto outras em adultos.
Para a maioria das doenças infecto-contagiosas, a susceptibilidade do hospedeiro está em
função da idade. A salmonelose, em bovinos, ocorre geralmente entre o 3º e 12º mês de vida
do animal, podendo ocorrer também, entretanto, com menor frequência, na primeira semana
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de vida. As diarréias por rotavírus são mais freqüentes em animais neonatos, ou seja, recém-
nascidos, bem como nas primeiras semanas de vida. A brucelose é uma doença de animais
púberes (sexualmente maduros), sendo autolimitante em animais jovens, e a manqueira,
conhecida também como carbúnculo sintomático, em bovinos, acomete mais freqüentemente
animais jovens, até os dois anos de idade.

e) Estado fisiológico: pode influenciar na susceptibilidade dos animais. As deficiências


nutricionais, fadiga, estresse e gestação, podem diminuir a resistência dos animais, tornando-
os mais predispostos às enfermidades.

f) Densidade populacional ou lotação: está intimamente relacionada ao manejo. A densidade


dos animais em uma determinada área constitui um dos fatores principais para o
desenvolvimento e propagação das doenças. A superlotação com excesso de animais/área
determinam em grande parte maior risco de contaminação entre os animais, pelas maiores
chances de contato efetivo entre os hospedeiros.

g) Resistência dos animais: define-se como o conjunto de defesa específica e inespecíficas que
o animal possui. A resistência natural ou inespecíficas é aquela em que o organismo
independe do estímulo específico, e que, portanto, existe previamente ao contato com o
agente. Essa ocorre por características anatômicas e fisiológicas do animal. Não depende de
reações teciduais ou de anticorpos. Por exemplo, a galinha é refratária ao carbúnculo, e os
urubus ao botulismo. A resistência específica designa a resistência do organismo contra
determinado agente específico. Ela pode ser passiva quando resultante da transferência de
anticorpos produzidos em outro organismo, ou ativa quando for elaborada pelo próprio
organismo. Estes dois casos referem-se à imunidade que pode ser ativa e passiva. É
denominada imunidade passiva quando o organismo hospedeiro recebe os anticorpos já
elaborados passivamente. Pode ser natural (congênita) como no caso do colostro, transuterino
e gema de ovos, nas aves; e artificial (soroterapia) para os anti-soros específicos, como soro
antiofídico e antitetânico. A imunidade ativa é aquela que ocorre quando o organismo
hospedeiro participa ativamente na formação dos anticorpos. Pode ser natural (pós-infecção),
pelo contato com determinado antígeno e desenvolvimento de infecção ou doença havendo a
formação de anticorpos específicos, e artificial (vacinação), pela utilização de vacinas, que da
mesma forma eliciará imunidade, pela sensibilização do organismo, frente à ação antigênica.

CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE

O meio ambiente pode favorecer a evolução ou declínio de uma determinada doença na


população animal. Consideram-se três fatores ou elementos do meio ambiente, que são, os
fatores físicos, biológicos e sócio-econômicos. Tanto o ambiente físico como o biológico, e em
particular o sócio-econômico, possuem características críticas para o desenvolvimento epidêmico
de algumas doenças. Estes fatores encontram-se em permanente intercâmbio, de forma dinâmica,
sendo seus efeitos sobre o agente e/ou sobre o hospedeiro, variáveis a cada instante.

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Dentre os fatores físicos relevantes, do meio ambiente, e que devem ser considerados, estão:

a) Temperatura: nas épocas frias do ano, a incidência de enfermidades do sistema respiratório


dos animais é maior; pois a instalação, e propagação das doenças são facilitadas pela baixa
temperatura, e pela aglomeração dos animais. Por outro lado, no verão, com temperatura
mais alta, observa-se uma ocorrência maior de afecções gastroentéricas, normalmente
traduzidas por diarréias.

b) Calor e umidade: favorecem a manutenção e propagação de doenças, cujos agentes


etiológicos necessitem de tais condições para sua proliferação e sobrevivência. A incidência
de helmintos é maior nos animais criados em terrenos alagadiços, com umidade excessiva. A
ocorrência de doenças veiculadas por vetores, como a anaplasmose e babesiose, transmitidas
pelos carrapatos é maior nas épocas quentes do ano, como na primavera e verão, em função
das condições favoráveis ao desenvolvimento dos carrapatos.

c) Topografia: a topografia do solo poderá predispor ao acúmulo de água estagnada tornando-o


úmido, mantendo o local adequado, para o desenvolvimento de ovos e larvas de helmintos,
ou de outros agentes causadores de doenças.

d) Composição do solo: os solos deficientes em elementos minerais podem influenciar a


qualidade das gramíneas ou leguminosas cultivadas nestes locais, tornando-as deficientes em
seus elementos minerais, podendo causar nos animais as chamadas doenças carenciais e
metabólicas, como: o raquitismo, osteomalácia, entre outras.

Com relação aos fatores biológicos destacam-se:

a) Artrópodes: encontrando condições adequadas para a sua multiplicação e desenvolvimento no


meio ambiente, serão maiores as possibilidades de transmissão de doenças aos animais, como
a babesiose, anaplasmose, e encefalites.
b) Roedores: a existência de ambientes propícios e não higiênicos, com abrigo e alimentos à
disposição, favorecem a proliferação de ratos, aumentando as possibilidades de transmissão
de doenças veiculadas por estes animais, tais como: a leptospirose e salmonelose.
c) Reservatórios: quanto maior o número de reservatórios no meio ambiente, maior a
probabilidade de propagação de determinadas doenças, como é o caso da raiva rural, raiva
urbana, doença de Aujeszky, sendo os principais reservatórios para estas doenças, o
morcego, cão e suíno, respectivamente.
d) Animais susceptíveis: existindo um maior número de hospedeiros susceptíveis no local, serão
maiores as chances de propagação de doenças.
e) Hospedeiros intermediários: da mesma forma que para os animais susceptíveis, quanto
maior o número de hospedeiros intermediários numa região, maior a possibilidade de
disseminação de doenças. É o caso da cisticercose nos suínos, e da hidatidose nos ovinos.

Os fatores sócio-econômicos do ambiente apresentam grande importância no estudo


epidemiológico, pois mesmo usando os métodos disponíveis mais sofisticados, de prevenção de
doenças, se as pessoas envolvidas, por exemplo, em determinado programa de controle de
doenças nos animais, não os entendem, os métodos ou técnicas utilizadas estarão prejudicados.
Portanto, no controle e prevenção de doenças, a educação sanitária, é um fator importante a ser
considerado. O grau de participação da comunidade nas campanhas sanitárias é fator decisivo no
êxito das mesmas.
Na implantação de um programa de saúde animal, é importante que se considere:
- O nível cultural e econômico do criador ou da comunidade.
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- As condições higiênico-sanitárias da propriedade.
- O tamanho e distribuição das propriedades.
- O manejo e tipo de sistema de produção.
- O nível de tecnificação agropecuária.

GLOSSÁRIO DE TERMOS UTILIZADOS NA INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Agente etiológico: é o causador ou responsável pela doença. Este pode ser: bactéria,
vírus, fungo, protozoário, rickéttsia, chlamydia, ectoparasito e endoparasito.
Infecção: é a penetração e desenvolvimento, ou multiplicação de um agente infeccioso
no homem ou animal.
Infestação: é o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do
corpo. Pode-se dizer também que uma área ou local está infestado de artrópodes e roedores.
Fonte de Infecção: é o animal vertebrado que alberga o agente etiológico e o elimina
para o meio exterior.
Reservatório: é um animal ou local que mantém um agente infeccioso na natureza.
Caso: é o animal infectado ou doente. O caso refere-se à fonte de infecção.
Foco: Trata-se de um ou mais animais doentes, numa área ou concentração pequena.
Exemplo de um foco de febre aftosa, que acomete vários animais, de uma determinada
propriedade rural. Normalmente o foco é identificado como rebanho afetado.
Surto epidêmico: Neste caso, trata-se de vários animais doentes em regiões diferentes.
Como exemplo ainda, um surto de febre aftosa que atinge várias propriedades podendo ser de
diferentes regiões. O termo surto epidêmico é utilizado como sinônimo de epidemia ou epizootia,
com a finalidade de evitar alarme, que o termo epidemia, pode causar especialmente na
população humana. O surto na realidade é o grupo de focos originários de uma mesma fonte de
infecção, em espaço e tempo determinados, por transmissão direta ou indireta por focos
sucessivos.
Enfermidade: é a etapa da doença ou agravo em nível orgânico, que se caracteriza pela
presença de sintomatologia.
Enfermidade exótica: é aquela que não existe no país ou região estudada.
Comunicantes: são os indivíduos ou animais, que tiveram contato próximo com animais
infectados ou doentes, bem como com locais contaminados, sem que se conheça o seu estado
sanitário.
Susceptibilidade: qualidade do hospedeiro em relação à infecção ou invasão de seu
organismo pelo parasito. É utilizado, para designar a característica do organismo susceptível à
ação do fator determinante.
Susceptível: organismo ou população que apresenta susceptibilidade à ação de
determinado fator. Pensando em agente infeccioso, seria o indivíduo que não possui resistência a
determinado agente patogênico, podendo contrair a doença.
Vetor: são animais, geralmente artrópodes, que transmitem o agente infeccioso ao
hospedeiro susceptível.
Vetor biológico: é o hospedeiro onde o parasita desenvolve parte do seu ciclo evolutivo,
possibilitando a transmissão para novo hospedeiro. Caracteriza-se pelo caráter de
obrigatoriedade para sua sobrevivência ou aumento da densidade populacional do parasito. Pode-
se dizer que os microrganismos desenvolvem obrigatoriamente neste vetor fase do ciclo, antes de
serem disseminados no ambiente, ou transportados para novo hospedeiro. Pode-se exemplificar,
o caso da Anaplasmose, onde o principal transmissor é o carrapato Boophilus microplus
considerado então, como vetor biológico e transmissor do agente, que é o Anaplasma marginale.
Vetor mecânico: é o organismo que pode se contaminar com formas infectantes do
parasito, transportando-os mecanicamente para determinado hospedeiro. Neste caso o vetor
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participa apenas como carreador de agentes infecciosos, sendo que estes não sofrem qualquer
modificação no interior do seu organismo. Podem ser exemplos, as moscas hematófagas como
Stomoxys calcitrans e os tabanídeos, que pode vetoriar agentes após sugar animal portador da
rickéttsia Anaplasma marginale, que ficam em sua tromba, infectando então animal susceptível,
se a seguir sugarem o seu sangue.
Veículo: é qualquer elemento que transporte determinado agente infeccioso. Este veículo
pode ser animado, definindo-se como qualquer ser vivo que possa transportar passivamente o
agente infeccioso. Os veículos inanimados são os elementos capazes de transportar o agente
infeccioso. Neste último incluem-se a água, alimentos e objetos contaminados como as agulhas,
seringas, panos, arreios, escovas, entre outros.
Fômites: para esta definição pode-se utilizar o próprio conceito de veículo inanimado,
pois são os objetos inanimados, contaminados que podem transportar agentes infecciosos para os
animais ou homem, como baldes, toalhas, seringas, entre outros.
Portador: são os animais ou pessoas que havendo ou não manifestado os sinais clínicos
de determinada enfermidade continuam eliminando o agente por algum tempo. Pode ser
portador são, o animal que já teve ou poderá vir a ter sintomatologia clinicamente detectável;
portador em incubação é aquele que está infectado, mas não mostra alterações; e portador
convalescente, que é aquele que embora tenha apresentado cura clínica, ainda pode eliminar o
agente infeccioso.
Animais Peçonhentos: são aqueles que produzem uma peçonha em um grupo de
células ou órgão secretor (glândula), e possuem uma ferramenta, capaz de injetar tal peçonha
na sua presa ou predador. Esta ferramenta podem ser dentes modificados, aguilhão, ferrão,
quelíceras, cerdas urticantes, nematocistos, entre outros. Os principais animais peçonhentos
que causam acidentes no Brasil são algumas espécies de serpentes, de escorpiões, de aranhas,
de lepidópteros (mariposas e suas larvas), de himenópteros (abelhas, formigas e vespas), de
coleópteros (besouros), de quilópodes (lacraias), de peixes, de cnidários (águas-vivas e
caravelas), entre outros. Esses animais possuem presas, ferrões, cerdas, espinhos entre outros,
capazes de envenenar as vítimas.

Animais Venenosos: são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho
inoculador (dentes, ferrões) provocando envenenamento passivo por contato (taturana), por
compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).
Animais Sinantrópicos: são aqueles que praticam uma relação de comensalismo, se
instalam nos povoamentos humanos beneficiando-se das condições ecológicas criadas pela
atividade humana no processo de urbanização, resultando na capacidade dessas espécies para
habitar em ecossistemas urbanos ou antropizados, adaptando-se a essas condições
independentemente da vontade do homem. Em outras palavras são aquelas espécies que
colonizam habitações humanas e seus arredores retirando vantagens em matéria de abrigo,
acesso a alimentos e a água.

A CADEIA DE TRANSMISSÃO DE DOENÇAS / AGRAVOS

Se as pessoas envolvidas nas criações animais preocuparem-se apenas com o animal doente,
deixando de lado o restante do rebanho, não poderão avaliar o perigo que um único animal
doente, poderá representar para todo o rebanho, principalmente considerando-se as enfermidades
transmissíveis. Sem os conhecimentos básicos dos princípios epidemiológicos, o profissional não
poderá ter idéia do perigo relativo que um caso particular possa representar para o restante do
rebanho. É preciso considerar o meio no qual ocorre a enfermidade, o risco de que surjam novos
casos, e as possibilidades de controlar os fatores que contribuem para a ocorrência desta. Deste
modo o profissional poderá nortear sua prática assistencial com uma visão mais ampla dos
15
problemas de sanidade animal, lembrando-se que o técnico deverá ter em mente que ele está
trabalhando com populações animais, e não com um único animal.

Para entender melhor como as ações de saneamento podem interferir na prevenção de doenças
infecciosas, torna-se necessário o detalhamento de aspectos relacionados à ecologia destas.

Faz-se necessário o conhecimento da cadeia epidemiológica e de seus componentes para


caracterizar os mecanismos de propagação das doenças. A identificação destes mecanismos que
se relacionam com o processo de propagação da doença, torna possível a adoção de medidas
sanitárias, capazes de prevenir e impedir a sua disseminação. As seguintes questões podem ser
formuladas e respondidas:
1. Quem hospeda e elimina o agente? Fonte de infecção (FI).
2. Como o agente deixa o hospedeiro? Via de eliminação (VE).
3. Que recurso o agente utiliza para alcançar um novo hospedeiro? Via de transmissão (VT).
4. Como o agente se hospeda no novo hospedeiro? Porta de entrada (PE).
5. Quem pode adquirir a doença? Susceptível.

Se estes conceitos forem colocados seqüencialmente tem-se, a caracterização da cadeia


epidemiológica, que nada mais é que uma série de eventos, necessários para que uma doença
ocorra em um indivíduo ou em um rebanho, ou como o conjunto de componentes do meio ou do
animal, que favorecem a disseminação.

FI VE VT PE Susceptível

Se estes elos da cadeia forem combatidos conjuntamente, é possível o controle de enfermidades


que ocorrem nas populações animais, especialmente as transmissíveis. O saneamento procura
atuar em todos os elos desta cadeia, principalmente na via de transmissão e fontes de infecção.

Pode-se então citar alguns dos objetivos da epidemiologia: estudar o meio no qual se
desenvolve a doença, os mecanismos de transmissão, o risco de que surjam novos casos e as
medidas preventivas, necessárias para se controlar os fatores que contribuem para o
desenvolvimento das doenças. Conclui-se que a epidemiologia é a essência da saúde animal e da
saúde pública, representando a base principal, para avaliação das medidas de prevenção,
fornecendo orientação para o diagnóstico de doenças, sejam elas transmissíveis ou não.

COMPONENTES DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA

FONTES DE INFECÇÃO: Pode-se considerar como fonte de infecção os animais vertebrados


nos quais o agente etiológico se aloja, sobrevive e se multiplica, sendo posteriormente, eliminado
para o meio ambiente, transmitindo-o para outro hospedeiro. Existem dois elementos
fundamentais, que funcionam como fontes de infecção: os animais doentes e portadores.
1. Doentes: são os animais que apresentam sintomas de alguma doença, atribuídos aos
efeitos do agente etiológico que albergam em seu organismo. Podem ser, doentes típicos,
aqueles que apresentam os sintomas característicos da doença, conhecido ainda por sintoma
patognomônico, sendo assim, facilmente reconhecidos. Os doentes atípicos são os animais que
apresentam sintomatologia diferente daquela que realmente caracteriza a doença, dificultam o
diagnóstico, podendo postergar a adoção de medidas de controle.
2. Animais portadores: são os animais que não apresentam sintomas da doença, mas
albergam, e eliminam o agente etiológico no ambiente. São conhecidos: o portador sadio, que
são os animais de maior importância epidemiológica, pois além de serem de difícil diagnóstico,
circulam livremente pelo rebanho; o portador em incubação, que não apresentam sintomas,
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mas já eliminam o agente etiológico no ambiente. Estes apresentarão os sintomas após o final do
período de incubação, o que caracteriza o período de estado da doença. O tempo de incubação
será maior ou menor, dependendo da doença. Na raiva, por exemplo, o cão, pode eliminar o vírus
pela saliva alguns dias antes do aparecimento dos sintomas. Os portadores convalescentes são
animais que já apresentaram sintomas, com cura clínica, entretanto, podem ainda eliminar o
agente etiológico. Isto ocorre, por exemplo, na leptospirose e salmonelose.

VIAS DE ELIMINAÇÃO: é o conjunto de vias no animal, pelas quais, o agente etiológico é


eliminado para o meio ambiente. Este pode ser eliminado por diferentes vias, entretanto, de
acordo com a doença, uma delas poderá ser a mais importante. Um agente que produza lesões
entéricas terá geralmente, as fezes como a via mais importante de eliminação do agente. Em caso
de doença, que produza lesões no sistema respiratório, as excreções oro-nasais, serão as
principais vias de eliminação. Este fenômeno de especificidade de eliminação é de grande
importância no estudo epidemiológico, na medida em que fornece indicação, dos mecanismos de
transmissão da doença.
A seguir, exemplo de algumas doenças com as principais vias de eliminação de seus
agentes. Na tuberculose, garrotilho, raiva e febre aftosa são as secreções oro-nasais; na
brucelose, as descargas vaginais e placenta; na leptospirose, principalmente a urina; nas micoses,
sarnas e ectima contagioso, as descamações cutâneas; nas verminoses, coccidiose, salmonelose e
colibacilose, as fezes; nas mastites, o leite; na anemia infecciosa eqüina e leucose, o sangue.

VIAS DE TRANSMISSÃO: são os mecanismos pelos quais a doença chega da fonte de


infecção ao susceptível. Esta pode ocorrer sob forma vertical, de geração a geração, sendo
considerada ainda como congênita, e sob a forma horizontal, que ocorre de animal a animal, pelo
contato direto ou indireto por meio de insetos, fômites, entre outros. Pode-se dizer ainda que a
transmissão ocorre pelo contágio, transmissão aerógena, pelo solo, água, alimentos, vetores,
fômites, e por veículos animados.
Diz-se que a transmissão é direta quando ocorre o contato entre a fonte de infecção e o
animal susceptível, sem a interferência de veículos. Esta pode ser direta imediata, quando há o
contato físico entre a fonte de infecção, e o animal. É o caso da mordedura, ou o ato de lamber,
na raiva, e a cópula, na tricomonose e brucelose. Pode ser ainda direta mediata, quando não há
o contato físico, entre a fonte de infecção e o animal, e como exemplo, estão as doenças
respiratórias, transmitidas pelos aerossóis.
É considerada indireta quando a transferência do agente se dá por meio de veículos,
ocorrendo intervalos maiores, entre a eliminação, e penetração do agente. A água é o principal
veículo de transmissão de agentes infecciosos causadores de doenças entéricas. Os alimentos e a
água, quando contaminados, constituem-se em importantes veículos de transmissão de doenças.
O solo pode veicular agente infeccioso como no caso do tétano, botulismo e verminoses. É
indireta ainda quando há a participação de vetores e fômites.

PORTAS DE ENTRADA: são consideradas como as vias, pelas quais o agente infeccioso,
consegue penetrar no organismo animal. As principais portas de entrada, são: a via respiratória,
digestiva, conjuntival, galactófora, onfaloflébica, cutânea e genito-urinária.

PREVENÇÃO
A Medicina Veterinária Preventiva e a epidemiologia são indissociáveis quanto a seus
objetivos e quanto a sua prática, sendo a epidemiologia o instrumento privilegiado e suporte
científico para orientar a atuação da Medicina Veterinária Preventiva.

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Prevenir é prever antes que algo aconteça, ou mesmo cuidar para que não aconteça. É a
ação antecipada, tendo por objetivo interceptar ou anular a evolução de uma doença. A
prevenção pode ser feita nos períodos de pré-patogênese e patogênese. O conhecimento da
história natural da doença favorece o domínio das ações preventivas necessárias. Se um dos
fundamentos de prevenção é cortar elos, o conhecimento destes é fundamental para que se
atinjam os objetivos.
A prevenção primária que se faz com a intercepção dos fatores pré-patogênicos inclui: (a)
promoção da saúde; (b) proteção especifica. A prevenção secundária é realizada no indivíduo, já
sob a ação do agente patogênico, ao nível do estado de doença, e inclui: (a) diagnóstico; (b)
tratamento precoce; (c) limitação da invalidez. A prevenção terciária consiste na prevenção da
incapacidade através de medidas destinadas à reabilitação (Figura 2).

Figura 2: Níveis de Prevenção.

Prevenção Primária: Promoção da Saúde - é feita através de medidas de ordem geral:


criatórios adequados, áreas de lazer, água e alimentação adequada, educação sanitária dos
proprietários e tratadores... Proteção Específica – imunização, higiene dos animais e do
ambiente, proteção contra acidentes, controle dos vetores...
Prevenção Secundária: Diagnóstico Precoce e tratamento- inquérito para descoberta de
novos casos na localidade, exames periódicos, individuais, para detecção precoce de casos,
isolamento para evitar a propagação de doenças, tratamento para evitar a progressão da doença.
Limitação da Incapacidade - evitar futuras complicações e seqüelas.
Prevenção Terciária: Reabilitação (presença de sequelas - impedir a incapacidade total),
Fisioterapia...
CONTROLE – operações ou programas desenvolvidos com o objetivo de reduzir a
incidência e/ou prevalência das enfermidades, ou eliminá-las.

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ERRADICAÇÃO – cessação de toda a transmissão da infecção pela extinção artificial da
espécie do agente em questão, de forma a permitir a suspensão de qualquer medida de prevenção
e controle. Ou conjunto de ações empreendidas com fins específicos de eliminar uma doença de
um determinado território.

MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA*


(*Texto preparado por Dr. Luis Antonio Mathias, UNESP, 2014)
Profilaxia é o conjunto de medidas adotadas com a finalidade de interromper a cadeia de
transmissão de uma enfermidade. As ações profiláticas podem ser exercidas em qualquer fase da
história natural da doença, tanto no período pré-patogênico quanto no período patogênico,
quando o processo já está instalado. As medidas profiláticas podem ser adotadas em três níveis:
prevenção, controle e erradicação.
Prevenção: consiste em evitar o aparecimento da enfermidade na população.
Controle: é o conjunto de medidas empregadas com o objetivo de reduzir a frequência da
ocorrência de uma doença já presente na população; consiste em evitar que a enfermidade venha
a se desenvolver, ou seja, diminuir os efeitos da enfermidade quando ela não pode ser evitada.
Erradicação: é o conjunto de ações adotadas com a finalidade de eliminar a enfermidade
de um território. Trata-se de um procedimento radical e intensivo, cujo sucesso depende de uma
integração ampla, envolvendo diferentes segmentos profissionais e múltiplas medidas sanitárias.
Processo de decisão: O processo de decisão relativo à escolha das ações a serem
desencadeadas depende do conhecimento disponível sobre a realidade existente e envolve
numerosos aspectos, entre os quais figuram:
a) existência de recursos humanos e financeiros;
b) disponibilidade de procedimentos de diagnóstico, exequíveis e confiáveis, bem como dos
insumos necessários;
c) características do agente etiológico e da cadeia epidemiológica da enfermidade;
d) prevalência e dispersão da enfermidade na população;
e) perfil do sistema ecológico;
f) relação custo-benefício;
g) risco para a espécie humana.
As medidas profiláticas podem ser aplicadas a qualquer elo da cadeia epidemiológica.
1- MEDIDAS RELATIVAS À FONTE DE INFECÇÃO: As ações profiláticas dirigidas a
esse elo da cadeia de transmissão têm como objetivo fundamental limitar a capacidade de
transmitir a infecção, capacidade essa representada pelo número e pela mobilidade das fontes de
infecção de uma doença em determinada área geográfica.
1.1- Identificação: O primeiro passo para o combate à enfermidade consiste em
identificar a fonte de infecção e proceder ao diagnóstico da enfermidade, o qual pode ser clínico,
devendo, porém, ser confirmado por métodos laboratoriais. A eficácia da ação profilática
aplicada à fonte de infecção está na razão direta da precocidade com que é efetivado o
diagnóstico. Uma ação tardia, quando a doença já se espalhou na população, implica redução da
eficiência e aumento dos custos necessários para combater a doença. A despeito do vasto elenco
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de recursos diagnósticos disponíveis, a identificação precoce da fonte de infecção constitui tarefa
difícil, em razão das limitações de ordem técnica e econômica. A dificuldade de identificação,
que já existe no caso do doente, principalmente atípico e em fase prodrômica, é ainda maior no
caso do portador são, que, embora aparentemente saudável, elimina o agente etiológico. Nesse
caso, a identificação da fonte de infecção é ainda mais onerosa, pois depende da realização de
exames laboratoriais em todos os animais.
1.2- Notificação: A notificação consiste na comunicação oficial, à autoridade sanitária,
da ocorrência da doença.
1.3- Isolamento: É a segregação da fonte de infecção durante o período máximo de
transmissibilidade da doença. O isolamento tem a finalidade de concentrar o potencial de
infecção em uma área restrita e controlável, facilitando a adoção de medidas que propiciem
melhores oportunidades de destruição do agente etiológico, e tem ainda a finalidade de bloquear
o acesso do agente a outros hospedeiros susceptíveis.
Em relação às espécies, sua aplicação apresenta algumas variações:
a) é aplicável também a seres humanos, em hospitais ou no domicílio, desde que as
condições de segurança sejam satisfatórias;
b) no tocante aos animais de estimação, os procedimentos pouco diferem daqueles
adotados para a espécie humana. A segregação é levada a efeito em instituições oficiais, como
centros de controle de zoonoses, em hospitais e clínicas veterinárias particulares, ou mesmo no
próprio domicílio, resguardadas as indispensáveis condições de segurança relativas ao risco de
disseminação da doença a outros susceptíveis, inclusive a humanos;
c) já para as espécies de exploração econômica, existem sérias limitações, de natureza
técnica e econômica, particularmente devido às dificuldades de conseguir condições essenciais
de segurança. Na prática, procede-se à segregação de grupos de animais doentes em instalações
que variam segundo a espécie animal e o tipo de manejo adotado.
Podem ser aplicados três tipos de isolamento:
1.3.1- Isolamento individual: Consiste em isolar a fonte de infecção em um local
determinado pelas autoridades sanitárias ou pelo proprietário (quando há local disponível na
propriedade), devendo-se evitar o contato com outros animais. As instalações devem sofrer
rigorosa desinfecção, e as fezes, a urina e a cama devem ter destino apropriado.
1.3.2- Isolamento em grupo: É o isolamento de um grupo de animais efetuado na
propriedade, e consiste em colocar as fontes de infecção em uma área restrita, de forma a
diminuir ao máximo seu deslocamento.
1.3.3- Cordão sanitário ou interdição ou isolamento de área: São linhas demarcatórias que
estabelecem limites geográficos nos quais não entram e dos quais não saem animais, ou seja,
proíbe-se o trânsito de animais e de seus subprodutos. Nesse caso, não apenas os animais, mas
também as dependências e os objetos bloqueados ficam sem comunicação livre com o exterior.
A propriedade interditada fica proibida de movimentar tanto os animais como outros bens e
subprodutos, para além de seus limites, sem a devida autorização das autoridades sanitárias.
1.4- Tratamento: Quando viável, aplica-se tratamento específico para a enfermidade,
com o objetivo de interromper a eliminação do agente etiológico. Esse tratamento é, muitas
vezes, antieconômico, ou então não existe. Há situações em que o tratamento pode reduzir o
período de transmissibilidade da doença. No caso das verminoses, por exemplo, o tratamento
pode interferir com o ciclo evolutivo do parasita, acarretando diminuição na contaminação
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ambiental. Há ainda a possibilidade de o animal tornar-se um portador convalescente após o
tratamento.
1.5- Sacrifício / Eutanásia: Consiste no abate das fontes de infecção, com o intuito de
proteger o restante da população, ainda não afetado pela enfermidade. É uma medida a ser
aplicada quando economicamente justificável. Seu emprego requer um estudo aprofundado,
principalmente no tocante à gravidade da situação sob os aspectos sanitário e econômico.
Depende ainda de respaldo legal, autorização do proprietário, indenização etc. A tomada de
decisão relativa à utilização do sacrifício seletivo deve ser lastreada em bases consistentes, que
justifiquem uma ação tão drástica. Sem dúvida, sua indicação encontra embasamento nos casos
de doenças graves, de alta difusibilidade, com ocorrência em áreas de pequena extensão, seja por
se tratar de introdução recente em uma região indene, seja por se encontrar em fase final de um
programa sanitário, no qual as medidas iniciais reduziram a prevalência para taxas compatíveis
com o sacrifício.
As normas de defesa sanitária animal no Brasil determinam a obrigatoriedade do
sacrifício no caso de várias doenças de animais, por exemplo: mormo, raiva, pseudorraiva,
tuberculose, peste suína, febre aftosa, brucelose etc. O sacrifício também é previsto no caso de
doenças cuja existência não é oficialmente reconhecida no Brasil, ou seja, doenças exóticas,
como peste bovina, peste suína africana etc.
Os procedimentos operacionais para a realização do sacrifício devem ser executados por
pessoal qualificado, visando evitar riscos de disseminação do agente para outros ambientes, ou
mesmo o risco de infecção do pessoal, por acidente de trabalho. Essa medida deverá ser, sempre,
completada com rigorosa desinfecção, destruição e destinação das carcaças e de todos os
resíduos e restos animais porventura existentes no local. O desejável é que o sacrifício seja
realizado no próprio local onde o animal se encontra, embora em circunstâncias especiais possa
ser realizado em outro local.
1.5.1- Fatores limitantes: Existem vários fatores limitantes à utilização desse
procedimento:
a) Disponibilidade de meios de diagnóstico: A dificuldade de identificação da fonte de
infecção constitui sério entrave para a aplicação dessa medida. Ainda assim, o sacrifício seletivo
de doentes típicos ou de reagentes em testes imunológicos tem sido usado como medida
relevante em muitas campanhas bem-sucedidas de combate às doenças animais.
b) Espécie de hospedeiro: A espécie do hospedeiro é um fator restritivo à adoção dessa
medida. Tal medida não é aplicável, por exemplo, à espécie humana. As espécies silvestres
oferecem graus de dificuldade variáveis, particularmente em razão do aspecto seletivo que se
impõe na salvaguarda do equilíbrio ecológico. O controle de morcegos hematófagos, pelo uso de
anticoagulantes, é um exemplo de sacrifício seletivo de espécie que atua como fonte de infecção.
Em se tratando de animais de estimação, o sacrifício seletivo pode ser adotado, particularmente
nos casos em que outros procedimentos alternativos são ineficientes e é grande o risco de
transmissão da doença para o ser humano, como é o caso do cão na transmissão da raiva, da
leishmaniose visceral ou da doença de Chagas. Mesmo assim, é preciso levar em conta as
implicações afetivas das pessoas envolvidas com os animais a serem sacrificados, além da
necessidade de legislação específica. Quando se trata de espécies domésticas de exploração
econômica, os maiores entraves são de natureza econômica e técnica. A decisão a ser tomada
deverá considerar rigorosamente a relação custo-benefício. Nesse caso, são aspectos relevantes:
o valor zootécnico dos animais; a taxa de prevalência da enfermidade; e a disponibilidade de
recursos para arcar com programa tão oneroso. Desse modo, em se tratando de taxas elevadas de
prevalência, a indicação do sacrifício somente deve ser considerada em circunstâncias especiais,
como o risco para a população humana ou a ameaça para os rebanhos do país. Um outro fator
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extremamente importante a ser avaliado é a possibilidade de reposição dos animais, ou seja, a
reconstituição do rebanho, tanto no que diz respeito à disponibilidade de recursos financeiros
quanto à existência de animais para substituição. No caso de espécies peridomiciliares,
principalmente os roedores, geralmente são adotadas ações globalizadas, sem a identificação dos
indivíduos infectados.
c) Característica do agente etiológico: A característica do agente etiológico constitui um
elemento de restrição ao emprego do sacrifício como medida preventiva. Essa restrição é
bastante clara no caso de agentes que: apresentam elevada resistência às condições ambientais,
como as bactérias esporuladas; contam com outros recursos alternativos para sua persistência na
natureza, como a participação de vetores ou de reservatórios silvestres. Essas situações, muitas
vezes, tornam o sacrifício ineficaz.
1.6- Destruição de cadáveres: Uma vez sacrificado o animal, deve-se dar um destino
adequado à carcaça. Para a destruição dos cadáveres, devem ser observadas as seguintes normas:
a) os cadáveres não devem ser jogados em correntes de água nem perto delas;
b) não se deve utilizar a carcaça como alimento de outros animais;
c) não permitir que animais se aproximem de cadáveres de animais mortos em condições
suspeitas;
d) deve-se evitar o acesso de insetos e roedores;
e) somente deve ser realizada necropsia na presença do veterinário e em condições de
assepsia.
Vários são os procedimentos usualmente empregados na destruição de cadáveres. No
entanto é preciso atenção com a legislação ambiental, que tende a tornar-se cada vez mais
restritiva.
1.6.1- Enterramento: É o procedimento mais fácil e mais comumente utilizado. O buraco
deve ter uma profundidade adequada. A parte mais alta do cadáver deve ficar, no mínimo, a uma
profundidade de 1,5 m sob o nível do terreno. Recomenda-se ainda o uso de querosene, cal viva,
ou outras substâncias que, além de desinfetarem, pelo seu odor evitam a atração de animais
carnívoros. Não se deve enterrar próximo de correntes de água, lençol freático etc.
1.6.2- Incineração ou cremação: A cremação consiste em colocar as carcaças em uma
vala com material inflamável (óleo diesel, madeira, palha, carvão, pneus etc. - não usar gasolina,
pelo perigo que representa). A incineração deve ser realizada, dentro do possível, no local ou
próximo do local onde o animal tenha morrido. Deve-se cavar um buraco no qual caibam os
restos do cadáver. Até que as carcaças tenham sido destruídas, o fogo deve ser vigiado, para
impedir que carnívoros ou aves espalhem restos.
1.6.3- Cozimento: É efetuado em condições de laboratório, usando autoclave.
1.6.4- Método químico: Consiste na utilização de substâncias químicas, tais como ácido
sulfúrico (H2SO4), hidróxido de sódio (NaOH), para a eliminação do agente etiológico. É um
recurso muito oneroso.
1.6.5- Compostagem: Trata-se de um recurso que vem ganhado espaço em algumas áreas,
como na avicultura, por exemplo, com perspectivas de adquirir importância como alternativa
para dar destino adequado a cadáveres.

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2- MEDIDAS RELATIVAS AO MEIO DE TRANSMISSÃO: Essas medidas têm por
objetivo destruir o agente etiológico no período em que se encontra nos diferentes meios de
transmissão ou, ainda, evitar que o agente tenha acesso ao hospedeiro susceptível. A
possibilidade de sucesso na atuação sobre o meio de transmissão depende do espaço existente
entre a fonte de infecção e o novo hospedeiro, e do período de tempo que o agente permanece no
meio exterior.
São estas as ações preventivas, de acordo com o meio de transmissão:
2.1- Contato direto: A intimidade de relações estabelecidas entre a fonte de infecção e o
hospedeiro susceptível restringe a atuação preventiva nessa modalidade de transmissão.
2.2- Transmissão aerógena: Quando a transmissão se dá por aerossóis, também é difícil a
adoção de medidas profiláticas, já que o agente, protegido nas partículas, é projetado diretamente
ou nas imediações do susceptível, não havendo tempo suficiente para a adoção de medidas.
Nesse caso, a distância entre a fonte de infecção e o susceptível é extremamente importante. O
arejamento do ambiente, obtido com ventilação sistemática e exaustão, pode trazer valiosa
contribuição para a profilaxia, uma vez que remove constantemente o ar e com isso elimina
excesso de calor, vapor de água, produtos gasosos e outros materiais em suspensão no ar. Dessa
forma, pode remover agentes etiológicos em suspensão no ar antes de eles serem inalados por
outros indivíduos. Além do arejamento, desinfecção do ar e controle de poeiras também podem
ser utilizados. A descontaminação do ambiente, por exemplo, pode ser efetivada em recintos
limitados, como hospitais, laboratórios, dependências de manipulação de alimentos, criatórios de
animais de pequeno porte, incubadoras etc. Em tais circunstâncias, podem ser adotados
procedimentos físicos, como radiação ultravioleta, calor, exaustão etc., ou produtos químicos,
como desinfetantes, sob a forma de nebulização ou vapor. Medidas adicionais que visam
prevenir a formação de poeira devem ser incentivadas, como evitar varredura a seco ou
movimentação brusca de animais confinados.
2.3- Solo: As ações profiláticas dirigidas ao solo, embora importantes, são, por si só,
insuficientes para limitar a propagação de doenças por esse meio de transmissão. Todavia
existem práticas sanitárias capazes de oferecer valiosa contribuição ao bloqueio da evolução e
dispersão de agentes etiológicos do solo. Sem prejuízo de outras ações profiláticas, dois grupos
de procedimentos podem ser extremamente valiosos quando se objetiva a salubridade do
ambiente.
2.3.1- Medidas protetoras: As ações que visam evitar a contaminação do solo figuram
como primeira barreira sanitária, pelo seu grau de importância na profilaxia.
a) Tratamento e destino adequado dos excrementos: Tem como objetivo impedir a
propagação de agentes que utilizam essa via de eliminação. Nas populações humanas das
cidades, essa medida é realizada por meio dos sistemas de tratamento de esgoto e águas
residuais, ao passo que nas habitações isoladas a sistemática se apoia em vários tipos de
instalações, tais como fossa. Já no que se refere às populações animais, somente as criações em
regime de confinamento têm a possibilidade de contar com sistema de coleta e tratamento de
excretas, resíduos e águas servidas, representado por esterqueiras ou dispositivos similares.
b) Controle dos adubos orgânicos: Os adubos orgânicos utilizados tanto em culturas
como nas pastagens devem ser cuidadosamente controlados com o fim de evitar que veiculem
agentes causadores de doenças. Nesses casos, a procedência de tais insumos deve ser
considerada, especialmente para assegurar que os mesmos foram suficientemente maturados e
não oferecem riscos de disseminação de agentes infecciosos ou mesmo de poluentes de natureza
diversa, como os pesticidas.

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2.3.2- Medidas saneadoras: Têm por finalidade a higienização de superfícies
contaminadas do solo. Dificilmente pode-se conseguir a eliminação dos contaminantes do solo,
salvo em áreas restritas, particularmente se são pavimentadas. Existem, contudo, procedimentos
capazes de inibir ou mesmo impedir que agentes causadores de doenças consigam evoluir e
disseminar-se no solo.
Entre esses procedimentos podem ser incluídos: a) drenagem de áreas pantanosas, aterro
de depressões e desvio de cursos d’água; b) limpeza da vegetação arbustiva marginal dos
mananciais de água; c) adoção de práticas agrícolas, como aração e gradagem do solo, que, ao
revolver a terra, enterram ovos e larvas de parasitas, além de outros agentes infecciosos, ao
mesmo tempo que os expõem ora à ação do oxigênio, no caso dos microrganismos esporulados,
ora à ação dos raios solares; d) correção do pH do solo, que pode criar condições adversas a
determinados agentes; e) limpeza e manutenção das pastagens, livrando-as de vegetação
arbustiva e de pragas capazes de abrigar agentes e vetores; f) rotação de pastagens. No entanto
algumas dessas medidas, que poderiam ser úteis do ponto de vista sanitário, encontraram
restrições na legislação ambiental.
2.4- Água e alimentos: As ações dirigidas a esses elementos incluem a proteção, que visa
evitar a contaminação, e o tratamento, que tem por finalidade sua descontaminação. No caso da
água, a proteção dos mananciais destinados ao abastecimento, contra sua contaminação ou
poluição, constitui medida importante. Para isso, é necessário impedir o afluxo de esgotos e
efluentes industriais, bem como o acesso de pessoas e animais. A existência de uma faixa de
vegetação densa ao redor dos mananciais contribui para sua proteção, ao mesmo tempo em que
evita o escoamento de águas superficiais capazes de carrear contaminantes e poluentes. Ações
preventivas devem ser adotadas também na condução da água até o consumo.
Entretanto, nem sempre a água disponível encontra-se em condições de ser destinada ao
consumo in natura. Ela pode apresentar características físico-químicas que a tornam imprópria
para o consumo humano ou animal, mas não para diferentes atividades higiênicas de limpeza
domiciliar, industrial, de instalações zootécnicas, ou mesmo para irrigação. Pode, ainda,
apresentar diferentes graus de contaminação ou de poluição que inviabilizam sua utilização
imediata. Nesse caso, como primeira instância, recorre-se aos procedimentos que visam sua
descontaminação e/ou despoluição, os quais incluem: a) sedimentação e filtração, que já
melhoram de maneira substancial a qualidade da água; b) desinfecção, usualmente realizada por
cloração, eficaz contra muitos agentes de doenças transmissíveis.
No caso do leite, a tarefa de proteção contra possíveis contaminações tem início na
higiene da criação, de tal forma que o produto seja originalmente hígido. Sua qualidade depende
ainda de cuidados higiênicos na ordenha, equipamentos e transporte adequado etc. Relativamente
à descontaminação do leite, existem diversos processamentos, sendo a pasteurização um dos
mais eficazes e dos mais utilizados. A inspeção veterinária constitui eficiente barreira sanitária e
representa uma garantia de qualidade do produto.
No que diz respeito aos produtos cárneos, as diretrizes são as mesmas. Os processos de
beneficiamento incluem, entre outros, tratamento pelo calor, pelo frio, dessecação, defumação e
salga.
2.5- Vetores: No caso dos vetores mecânicos, o essencial é impedir sua proliferação. As
ações saneadoras, aplicadas aos possíveis criadouros, podem ser bastante eficazes. O destino
adequado de excrementos, de lixo, de resíduos orgânicos e o emprego de inseticidas constituem
medidas de valor. O emprego de barreiras físicas, como telas e outros dispositivos, pode impedir
o acesso do vetor. Quando se trata de vetores biológicos, o controle se torna mais complexo, em
razão da diversidade de espécies e dos diferentes mecanismos utilizados para a transmissão. Os
procedimentos a serem adotados podem ser resumidos em:
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2.5.1- Medidas defensivas: Têm por finalidade impedir o acesso do vetor aos
hospedeiros. a) construção de habitações e instalações zootécnicas protegidas com telas,
desprovidas de frestas ou fendas, para evitar que determinados vetores possam entrar; b)
destinação adequada a excrementos, lixo e resíduos orgânicos, bem como proteção dos
alimentos; c) emprego de repelentes; d) vigilância epidemiológica, objetivando detectar a
introdução de vetores na região; e) para a espécie humana, uso de roupas especiais, calçados etc.,
em determinadas circunstâncias.
2.5.2- Medidas saneadoras: É o conjunto de ações dirigidas ao ambiente, visando criar
condições adversas ao desenvolvimento do ciclo de vida desses invertebrados. Tais medidas
apresentam caráter geral e são indicadas como instrumentos inespecíficos de prevenção,
aplicáveis a quase todos os elos da cadeia de transmissão. Entre elas, figuram: a) destino
adequado de excrementos e resíduos; b) aração e gradagem do solo; c) rotação de pastagem; a
queima de pastagem, que poderia ser útil para o saneamento, é proibida pela legislação
ambiental; d) remoção de entulhos; e) drenagem de pântanos e desvio de cursos d’água, medidas
que encontram restrições por parte da legislação.
2.5.3- Medidas ofensivas: São aquelas que têm por objetivo a destruição do artrópode,
tanto em seu estágio larvar como na forma adulta. Para isso, é indispensável conhecer a biologia
do vetor a ser combatido, bem como as peculiaridades envolvidas no processo de transmissão.
Entre os procedimentos disponíveis, estão incluídos: a) procedimentos de natureza biológica, tais
como o emprego de machos estéreis, peixes larvófagos, aves insetívoras e agentes de doenças de
artrópodes; b) procedimentos de natureza química, representados pelo uso de inseticidas. Apesar
da eficácia desse procedimento, tanto sobre a forma larvar quanto sobre a forma adulta, existem
limitações, tanto de caráter técnico quanto de caráter sanitário. Como dificuldade de natureza
técnica figura a aplicação do inseticida em determinadas populações de artrópodes, como é o
caso dos vetores silvestres da febre amarela, da malária e da leishmaniose. A possibilidade de
surgimento de estirpes de artrópodes resistentes ao inseticida e as preocupações com a alteração
do equilíbrio ecológico são outras dificuldades. Do ponto de vista sanitário, as restrições estão
relacionadas, fundamentalmente, à toxicidade dos produtos utilizados, tanto para humanos
quanto para outros animais.
2.6- Produtos biológicos: As medidas estão relacionadas ao controle da qualidade desses
produtos. Um exemplo é o teste de inocuidade de vacinas, soros etc. Os produtos de origem
animal utilizados na reprodução, tais como sêmen e embriões, também podem veicular agentes
etiológicos. Por isso, é fundamental que esses materiais sejam obtidos de animais
comprovadamente livres de enfermidades. Para tal, há necessidade de controle sanitário
permanente dos doadores, no que diz respeito às enfermidades passíveis de transmissão por esses
meios. Também são importantes os cuidados de higiene a serem observados durante a obtenção e
a manipulação desses materiais. Um exemplo de medida é o uso de antibióticos no diluente de
sêmen e no meio usado para lavar embriões.
2.7- Fômites: A desinfecção dos instrumentos de uso veterinário, utensílios,
equipamentos etc. pode fornecer valiosa contribuição na profilaxia das doenças transmissíveis. A
desinfecção consiste na destruição de agentes infecciosos situados fora do organismo, mediante a
aplicação de meios físicos ou químicos. Após a ocorrência de uma infecção, há necessidade de
uma limpeza rigorosa das instalações e dos utensílios, com a adequada desinfecção, de modo a
impedir a transmissão do agente etiológico a outros animais que usem esses materiais. Essa
limpeza consiste na remoção do agente etiológico e da matéria orgânica que ofereça condições
favoráveis a sua sobrevivência. Também é importante a limpeza e a desinfecção dos veículos
destinados ao transporte de animais e produtos de origem animal.

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2.8- Produtos de origem animal não comestíveis: Esses produtos podem ser submetidos a
tratamentos que visam a eliminar agentes, tais como tratamento de pele em curtumes,
vaporização com desinfetantes em câmaras de expurgo etc.
2.9- Outros meios: O controle da movimentação de pessoas e de outros animais é
fundamental como medida sanitária contra a introdução de doenças. Dispositivos tais como
pedilúvio, uso de roupas especiais e barreiras físicas podem auxiliar no bloqueio à entrada de
agentes etiológicos. O destino adequado para o lixo também é medida profilática muito
importante, inclusive em Medicina Veterinária. Há necessidade de cuidados especiais com o lixo
de navios, aviões e outros meios que permitem o transporte rápido do agente etiológico para
grandes distâncias, possibilitando a introdução de doenças exóticas.
3- MEDIDAS RELATIVAS AOS COMUNICANTES OU CONTATOS: Comunicantes
ou contatos são hospedeiros vertebrados que tiveram contato com a fonte de infecção ou
estiveram em locais sabidamente contaminados, ou então ingeriram alimentos contaminados, ou
seja, estiveram expostos ao risco de contrair a infecção.
3.1- Sacrifício: O sacrifício pode ser individual ou massal. O sacrifício massal, ou
despovoamento, consiste no abate de todos os indivíduos que, presumivelmente, tenham estado
expostos ao risco de infecção. É uma medida muito drástica e somente utilizada quando se trata
de doença contagiosa e sem recuperação, ou então doença exótica recentemente introduzida. O
despovoamento completo da população de uma área restrita pode constituir o procedimento mais
adequado para proteger os animais de populações ainda não afetadas, sendo indicado nas
seguintes situações:
a) quando a infecção está se espalhando de forma tão rápida a impossibilitar seu combate
por outros métodos, como ocorreu com a peste suína africana em vários países;
b) quando a infecção apresenta elevada transmissibilidade e é de introdução recente;
c) quando a população é inacessível a outras medidas sanitárias, como ocorre com os cães
errantes, no caso da raiva urbana, os morcegos, no caso da raiva rural, e os roedores
sinantrópicos, no caso da leptospirose;
d) quando uma enfermidade altamente transmissível está em fase final de um programa
de controle, como é atualmente o caso de febre aftosa em algumas regiões do Brasil, onde tem
sido adotado o abate de todos os comunicantes nos surtos ocorridos.
3.2- Quarentena: É o isolamento do comunicante pelo tempo correspondente ao período
máximo de incubação da doença. Tem por objetivo impedir a propagação da doença, caso o
indivíduo venha a revelar-se uma fonte de infecção. Pode também ser aplicada a animais novos
que chegam ao rebanho. É uma das medidas mais eficazes contra a introdução ou a propagação
da doença no rebanho. Em veterinária, ela pode ser realizada em dependências especiais,
denominadas quarentenários, destinadas a manter, em completo isolamento, indivíduos
importados ou destinados à exportação. Pode ainda ser realizada na propriedade, pelo
estabelecimento de rigorosas restrições à movimentação do comunicante. Na atualidade, o
período de quarentena varia com a natureza da doença e com a condição epidemiológica das
áreas geográficas envolvidas (origem e destino). Países livres da raiva, por exemplo, geralmente
estabelecem severas restrições à importação de cães e gatos procedentes de áreas endêmicas da
doença, admitindo-a somente em casos excepcionais, e mesmo assim condicionada a um longo
período de quarentena, no local de chegada.
3.3- Quimioprofilaxia: Pode ser individual ou massal. Esse recurso é uma boa alternativa
em situações em que a taxa de prevalência da doença é alta, inviabilizando o despovoamento. A

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adoção desse procedimento depende da disponibilidade de recursos terapêuticos e da viabilidade
econômica de sua aplicação em larga escala. Como exemplos de quimioprofilaxia massal
podem-se citar o uso de antibióticos nas rações, a adição de anti-helmínticos ao sal mineral etc.
O tratamento do comunicante também é uma medida utilizada no combate à tuberculose
humana.
3.4- Imunoprofilaxia: Apesar das limitações, uma vez que o comunicante já teve contato
com o agente etiológico, esse recurso pode ser adotado em algumas situações. No caso da
imunoprofilaxia ativa, ou seja, uso de vacinas, devem-se considerar o período de indução da
imunidade e o período de incubação da doença. Em indivíduos já vacinados anteriormente, a
vacinação pode induzir mais rapidamente a resposta imune. Existem situações em que o período
médio de incubação da doença é maior que o período médio de indução da imunidade pela
vacina. É o caso da raiva, contra a qual é adotada a vacinação pós-exposição. A imunoprofilaxia
passiva (sorotepia) é outra alternativa a ser considerada.
3.5- Controle de trânsito: É uma medida de difícil aplicação, em virtude de diversos
fatores, tais como: grandes distâncias, grande número de rodovias, falta de consciência para os
problemas sanitários etc.
4- MEDIDAS RELATIVAS AOS SUSCEPTÍVEIS: Nem sempre os procedimentos
adotados nos outros pontos da cadeia epidemiológica são suficientes para impedir que o agente
etiológico atinja o hospedeiro susceptível. Por isso, muitas vezes são importantes as medidas
dirigidas aos susceptíveis.
4.1- Medidas gerais: As medidas inespecíficas de proteção relativas aos susceptíveis
podem oferecer valioso apoio à profilaxia. A resistência natural ou a seleção de resistentes a
determinadas doenças é um recurso de proteção. As medidas gerais incluem também cuidados
com a alimentação, tratamento de soluções de continuidade e proteção contra vetores, como a
telagem de instalações. Também pode ser incluída a proteção individual adotada na proteção
contra doenças transmitidas por contato direto, como é o caso do uso de luvas, preservativos, e
também proteção contra outras formas de transmissão, como o uso de máscaras, protetores para
os olhos etc.
4.2- Medidas específicas: As ações específicas estão associadas principalmente a um
processo de proteção imunológica. Estão incluídas aqui a imunização passiva natural, pela
ingestão do colostro, a imunização passiva artificial, pela aplicação de soro imune, a imunização
ativa artificial, pela aplicação de vacinas, e a imunização ativa natural, como é o caso da pré-
munição, usada na prevenção da anaplasmose. Outro recurso para proteger o hospedeiro
susceptível pode ser a quimioprofilaxia, ou seja, a administração de medicamentos antes que a
infecção se instale.
5- MEDIDAS RELATIVAS À COMUNIDADE - EDUCAÇÃO SANITÁRIA: é a
conscientização da comunidade acerca dos problemas causados pelas enfermidades. É medida
fundamental em qualquer campanha sanitária.

EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA

Estuda a variabilidade da freqüência das doenças em nível coletivo, em função de


variáveis ligadas a indivíduo/animal, tempo e lugar. Refere-se às circunstâncias em que as
doenças e agravos à saúde ocorrem nas populações. Objetiva responder quem, quando e onde
ocorre determinado agravo à saúde. Desse modo, qualquer problema de saúde, sob a perspectiva

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epidemiológica, deve ser descrito a partir de determinadas características ou variáveis, antes que
se possa analisá-lo.
Variáveis Epidemiológicas:
1. Individuo/animal: Quem? - podem ser descritas em termos de suas características
herdadas ou adquiridas (idade, sexo, raça, pelagem, porte, aptidão, estado nutricional e
imunitário, etc.); de suas atividades (trabalho, esportes, costumes, etc.); de circunstâncias de vida
(condição social e econômica das criações e do meio ambiente).
2. Tempo: Quando? a distribuição dos casos de determinada doença, por períodos de
tempo (semanal, mensal, anual) permite verificar como a doença evolui no tempo, isto é, se
apresenta variações cíclicas; se está estacionária; decrescendo ou aumentando. Pode-se observar
qual a semana, o mês em que geralmente ocorre o maior número de casos, servindo para orientar
quando se deve intensificar as ações, concentrar recursos materiais e humanos, facilitando o
controle.
3. Lugar: Onde? características, fatores ou condições no meio ambiente no qual a
doença ocorreu. Utiliza-se a distribuição geográfica para identificar de que forma as doenças se
distribuem no espaço (urbano/rural, distrito sanitário, bairro, município, fazenda, etc.),
identificando-se se elas estão concentradas ou dispersas. Isso vai orientar as ações de
investigação de casos e contatos, como também a aplicação das medidas de controle. Vários
elementos geográficos espaciais podem influenciar a distribuição das doenças (clima, fauna,
relevo, poluentes urbanos e rurais, contaminação de alimentos, ambientes de criação, etc).
Formas de ocorrências das doenças:
Caso Esporádico - Quando em uma localidade, em relação à certa doença, se verifica
apenas o aparecimento de casos raros e isolados, sem previsibilidade nenhuma.
Endemias - É a ocorrência de determinadas doenças com variações na sua incidência de
caráter regular, constante, sistemático. Assim, denomina-se endemia a ocorrência de uma
determinada doença que, no decorrer de um longo período de tempo, acomete sistematicamente
populações em espaços delimitados e caracterizados, mantendo incidência constante e
permitindo variações cíclicas ou sazonais.
Epidemias - caracterizam-se pelo aumento do número de casos acima do que se espera,
comparado à incidência de períodos anteriores. Mas, o importante é o caráter desse aumento:
descontrolado, brusco, significante, temporário. Se, numa dada região, inexiste determinada
doença e surgem um ou poucos casos, pode-se afirmar que é uma epidemia, em virtude do
caráter de surpresa (ex. Raiva).
Surto – também chamado de “surto epidêmico” ou mesmo de “epidemia” podem ser
expressões sinônimas, havendo autores que os consideram de significados distintos. Todavia,
costuma-se designar surto quando dois ou mais casos de uma determinada doença ocorrem em
locais circunscritos, como fazendas, feiras, exposições, ou criatórios, aliados à hipótese de que
tiveram, como relação entre eles, a mesma fonte de infecção ou de contaminação, o mesmo
quadro clínico e ocorreram ao mesmo tempo.
As epidemias ou surtos são ocasionados, em geral, por dois fatores:
a) aumento no número de suscetíveis que pode ter diversas causas: nascimentos;
migrações (compra/introdução de animais nas criações); baixas coberturas vacinais.

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b) alterações no meio ambiente: contaminação de água ou alimento por patógenos;
aglomeração de animais por motivos vários, em situações de calamidade; aumento no número de
vetores infectados responsáveis pela transmissão de algumas doenças.
As epidemias ou surtos podem ser:
a) Quanto ao tipo de fonte de infecção ou contaminação:
1. Fonte comum: caracteriza-se por não haver um mecanismo de transmissão de
hospedeiro a hospedeiro; o fator extrínseco (agente infeccioso, fatores físicoquímicos ou
produtos do metabolismo biológico) é veiculado pela água, por alimentos ou pelo ar; todos os
suscetíveis devem ter acesso direto a uma única fonte de contaminação, podendo ser por curto
espaço de tempo (fonte pontual) ou por um espaço de tempo mais longo (fonte persistente); trata-
se, geralmente, de uma epidemia explosiva e bastante localizada em relação ao tempo e lugar.
2. Propagada, de contato ou contágio: quando o mecanismo de transmissão é de
hospedeiro a hospedeiro, ocorrendo a propagação em cadeia, difundida de animal a animal por
via respiratória, anal, oral, genital, ou por vetores. Como, por exemplo, as deonças respiratórias,
doenças sexualmente transmissíveis e a raiva. Geralmente, sua progressão é lenta.
b) Quanto ao tempo de aparecimento:
1. Explosiva ou maciça: quando vários animais são expostos simultaneamente à mesma
fonte de infecção;
2. Lenta: o critério diferenciador é a velocidade com que ela ocorre na etapa inicial do
processo, que é lenta, gradual e progride durante um longo tempo.
Pandemia – ocorrência epidêmica caracterizada por uma larga distribuição espacial de
casos, atingindo várias nações.
Caso autóctone – é o caso oriundo do mesmo local onde ocorreu.
Caso alóctone – é o caso importado de uma outra localidade.
Foco - estabelecimento de criação ou fazenda ou qualquer outro local onde foi constatada
a presença de um ou mais animais acometidos de uma doença.

PRINCIPAIS INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS DE SAÚDE


Indicadores são medidas utilizadas para descrever e analisar uma situação existente,
avaliar o cumprimento dos objetivos, as metas e suas mudanças ao longo do tempo, além de
prever tendências futuras. Podem ser classificados em:
• Demográficos: densidade populacional (animais/área), natalidade (nascimentos/população),
fecundidade (nascimentos/fêmeas em idade fértil).
• Socioeconômicos: saneamento, condições dos criatórios e dos proprietários; etc.
• Saúde: morbidade, mortalidade, entre outros.
Tradicionalmente, porém, por ser muito difícil mensurar a saúde (aspectos positivos),
mede-se a não saúde (aspectos negativos), ou seja, as doenças/agravos (morbidade), as mortes
(mortalidade), as incapacidades (seqüelas).
A forma de expressar os indicadores ou de escolher os mais apropriados depende dos
objetivos que se quer alcançar, os quais podem ser representados por valores absolutos ou

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relativos. Os indicadores de valores absolutos referem-se aos dados não trabalhados e
restringem-se a eventos (número de casos e óbitos) localizados no tempo e no espaço, não
possibilitando comparações temporais ou geográficas. São úteis no planejamento e na
administração da saúde, como, por exemplo, para a estimativa do número de medicamentos e
insumos em geral.
Para ser possível comparar as freqüências de morbidade e mortalidade, torna-se
necessário transformá-las em valores relativos, isto é, em numeradores de frações, tendo
denominadores fidedignos. Os dados são relativos quando mostram alguma relação com outros,
podendo ser expressos através de coeficiente, índice e razão.
Coeficiente ou taxa: é a relação entre o número de eventos reais e os que poderiam
acontecer, sendo a única medida que informa quanto ao risco de ocorrência de um evento. Por
exemplo: número de óbitos por raiva, em relação aos animais de uma determinada região, em
cada ano.
Índice ou proporção: é a relação entre freqüências atribuídas de determinado evento,
sendo que, no numerador, é registrada a freqüência absoluta do evento, que constitui subconjunto
da freqüência contida no denominador. Por exemplo: número de óbitos por doenças respiratórias
de bovinos em relação ao número de óbitos em geral.
Razão: é a medida de freqüência de um grupo de eventos relativa à freqüência de outro
grupo de eventos. É um tipo de fração em que o numerador não é um subconjunto do
denominador. Por exemplo: razão entre o número de casos de Brucelose em bovinos do sexo
masculino e o número de casos no sexo feminino.

1. Indicadores de Mortalidade
1.1 Coeficiente de Mortalidade Geral (CMG): mede o risco de morte por todas as causas
em uma população animal de um dado local e período.
1.2 Coeficiente de Mortalidade por Causa (CMC): mede o risco de morte por
determinada causa, num dado local e período. No denominador deve constar a população exposta
ao risco de morrer por essa mesma causa.
1.3 Coeficiente de Letalidade (CL): situa-se na transição entre os indicadores de
morbidade e mortalidade. Mede o poder da doença em determinar a morte e também pode
informar sobre a qualidade da assistência médica veterinária prestada ao animal.
Para facilitar e permitir a comparação entre os coeficientes, tanto os de mortalidade
quanto os de morbidade, calculados para diferentes locais ou para o mesmo local em diferentes
períodos de tempo, utiliza-se sempre uma base comum (100, 1.000, 10.000, 100.000, 1.000.000)
que representa uma potência de 10 (10n). Essa potência de 10 é escolhida de forma a tornar os
números obtidos o mais próximo possível do inteiro. O coeficiente de letalidade expressa-se
sempre em porcentagem.

2. Indicadores de Morbidade
2.1. Incidência: é o número de casos novos de uma doença em um local e período. Traz a
idéia de intensidade com que acontece uma doença numa população e mede a freqüência ou
probabilidade de ocorrência de casos novos de doença na população. Alta incidência significa
alto risco coletivo de adoecer.
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2.2. Prevalência: O verbo prevalecer significa ser mais, ter mais valor, predominar.
Portanto, prevalência implica acontecer e permanecer existindo num momento considerado. O
coeficiente de prevalência é mais utilizado para doenças crônicas de longa duração, como
tuberculose. Casos prevalentes são os que estão sendo tratados (casos antigos), mais aqueles que
foram descobertos ou diagnosticados (casos novos). Portanto, a prevalência é o número total de
casos de uma doença, novos e antigos, existentes num determinado local e período. A
prevalência, como idéia de acúmulo, de estoque, indica a força com que subsiste a doença na
população.
Coeficientes de prevalência são valiosos para o planejamento, em função do
conhecimento do número de doentes existentes na população. Para propósitos epidemiológicos
(identificação de fatores de risco, por exemplo), as medidas de incidência são mais efetivas.
2.3. Taxa de Ataque: sempre expressa em percentagem, nada mais é do que uma forma
especial de incidência. É usada quando se investiga um surto de uma determinada doença em um
local onde há uma população bem definida, como fazenda, grupo de animais que participou de
uma feira, etc. Esses animais formam uma população especial, exposta ao risco de adquirir a
referida doença, em um período de tempo bem definido.

MEDIDAS DE FREQUÊNCIA DE DOENÇAS

Sabe-se que medir a frequência com que ocorrem os problemas de saúde em populações animais
é um dos objetivos da Epidemiologia. Essas medidas são definidas a partir de dois conceitos
básicos em Epidemiologia: incidência e prevalência.

A incidência se refere à frequência com que surgem novos casos de uma doença num intervalo
de tempo, como se fosse um “filme” sobre a ocorrência da doença, no qual cada quadro pode
conter um novo caso ou casos. É, portanto, uma medida dinâmica.

Como verificar a situação de incidência:

Incidência = número de casos novos em determinado período x constante 10n


número de animais expostos ao risco, no mesmo período

A constante é uma potência com base de 10 (100, 1.000, 100.000), pela qual se multiplica o
resultado para torná-lo mais “amigável”, ou seja, para se ter um número inteiro. É muito mais
difícil compreender uma taxa de 0,15/1.000 do que uma taxa de 15/100.000. Quanto menor for o
numerador em relação ao denominador, maior a constante utilizada.

Imagine, como exemplo, que, entre 400 bovinos de uma fazenda acompanhados durante um ano,
foram diagnosticados, neste período, 20 casos novos de babesiose. O cálculo da taxa de
incidência será: 20 / 400 x 100 = 5 casos para cada grupo de 100 animais ao ano.

Como você pode observar, os casos novos, ou incidentes, são aqueles que não estavam doentes
no início do período de observação, mas que adoeceram no decorrer desse período. Para que
possam ser detectados, é necessário que cada animal seja observado no mínimo duas vezes, ou
que se conheça a data do diagnóstico.

Já a prevalência se refere ao número de casos existentes de uma doença em um dado momento;


é uma “fotografia” sobre a sua ocorrência, sendo assim uma medida estática. Os casos existentes
31
são daqueles que adoeceram em algum momento do passado, somados aos casos novos dos que
ainda estão vivos.

Em geral se usam dois tipos de medidas de prevalência:


»» Prevalência pontual ou instantânea - Frequência de casos existentes em um dado instante no
tempo (ex: em determinado dia, como primeiro dia ou último dia do ano).
»»Prevalência de período - Frequência de casos existentes em um período de tempo (ex.: durante
um ano).

Ao contrário da incidência, para medir a prevalência, os indivíduos são observados uma única
vez.

Como verificar a Prevalência:


número de casos existentes em determinado período (antigos e novos) x constante 10n
número de animais expostos do rebanho, no mesmo período

Voltemos ao exemplo dos bovinos na fazenda acima citados. Suponha que em determinada
semana do ano foram colhidas fezes de todos os animais e realizado exames laboratoriais. Dos
400 animais, foram encontradas 100 com resultado positivo para verminose (não se sabe se as
verminoses eram recentes ou antigas).

Cálculo da prevalência de verminose: 100 / 400 x 100 = 25 casos por 100 animais.

Entre os fatores que influenciam a prevalência de um agravo à saúde, excluída a introdução de


animais no rebanho, estão a incidência, as curas e os óbitos, conforme ilustrado na Figura 1.

Como se pode ver, a prevalência é alimentada pela incidência. Por outro lado, dependendo do
agravo à saúde, os animais podem se curar ou morrer. Quanto maior e mais rápida a cura, ou
quanto maior e mais rápida a mortalidade, mais se diminui a prevalência, que é uma medida
estática, mas resulta da dinâmica entre adoecimentos, curas e óbitos.

Portanto, entre os fatores que aumentam a prevalência, podemos citar:

32
• a maior frequência com que surgem novos casos (incidência);
• melhoria no tratamento, prolongando-se o tempo de sobrevivência, porém sem levar à cura
(aumento da duração da doença).

A diminuição da prevalência pode ser devido à:


• redução no número de casos novos, atingida através da prevenção primária (conjunto de
ações que visam evitar a instalação das doenças na população, através de medidas de
promoção da saúde e proteção específica, e que atuam sobre os fatores de risco);
• redução no tempo de duração dos casos, atingida através da prevenção secundária (conjunto
de ações que visam identificar e corrigir o mais precocemente possível qualquer desvio da
normalidade, seja por diagnóstico precoce ou por tratamento adequado). O tempo de duração
dos casos também pode ocorrer em razão do óbito mais precoce pela doença em questão, ou
seja, menor tempo de sobrevivência.

Entre os principais usos das medidas de prevalência estão: o planejamento de ações e


serviços de saúde, previsão de recursos humanos, diagnósticos e terapêuticos. Assim, o
conhecimento sobre a prevalência de determinada doença nos animais de determinada área de
abrangência pode orientar o número necessário de consultas de acompanhamento, reuniões de
grupos de promoção da saúde e provisão de medicamentos e vacinas.

A incidência, por outro lado, é mais utilizada em investigações etiológicas para elucidar relações
de causa e efeito, avaliar o impacto das medidas de controle, além de estudos de prognóstico.
Como exemplos, podemos citar a possibilidade de verificar se o número de casos novos
(incidência) de raiva canina declinou depois da implementação de programas vacinais e de
educação sanitária.

A partir de algumas variações do conceito de incidência, podemos chegar aos conceitos de:

Mortalidade: é uma medida muito utilizada como indicador de saúde, é calculada dividindo-se
o número de óbitos pela população em risco.

Letalidade: É uma medida da gravidade da doença, é calculada dividindo-se o número de


óbitos por determinada doença pelo número total de doentes. Algumas doenças podem
apresentam letalidade quase nula, como a sarna; enquanto para outras, a letalidade é igual ou
próxima de 100%, como, por exemplo, a raiva.

As medidas de frequência podem ser expressas como frequências absolutas ou relativas, vamos
conhecer melhor sua aplicabilidade.

As frequências absolutas são pouco utilizadas em Epidemiologia, pois não permitem medir o
risco de uma população. Por exemplo, segundo dados oficiais, o número de casos novos de
leishmaniose visceral canina diagnosticados e notificados em 2013 foi igual a 330, tanto no Rio
Grande do Norte como na Bahia. No entanto isso não significa que o risco de adquirir
leishmaniose visceral canina foi igual nos dois Estados, pois o risco foi maior no Rio Grande do
Norte, uma vez que a população canina é menor que na Bahia.

As frequências relativas são mais utilizadas quando se deseja comparar a ocorrência dos
problemas de saúde em populações distintas ou na mesma população ao longo do tempo.

DESTRINCHANDO MELHOR SOBRE INDICADORES DE SAÚDE

33
Através de indicadores de saúde, podemos descrever as condições de saúde da população animal
em questão e as suas características demográficas.

Para que possamos avaliar o bem-estar da população animal, são necessários indicadores de
saúde, isto é, informações sobre a saúde dessa população que possam ser avaliadas
sistematicamente.

Indicadores de saúde - Conceito


Os indicadores de saúde são frequências relativas compostas por um numerador e um
denominador que fornecem informações relevantes sobre determinados atributos e dimensões
relacionados às condições de vida da população e ao desempenho dos programas de saúde.

A qualidade dos indicadores de saúde vai depender da sua validade (capacidade de medir o que
se pretende); confiabilidade (reprodutibilidade), mensurabilidade, relevância e custo-efetividade.

Para que sejam efetivamente utilizados, os indicadores precisam ser organizados, atualizados,
disponibilizados e comparados com outros indicadores. Devem estar voltados para o interesse
específico de quem vai utilizá-los. Quem melhor define os indicadores são os profissionais da
saúde animal e os gestores / proprietários diretamente envolvidos.

Principais modalidades de indicadores de saúde:

1. Indicadores de morbidade: indicam a incidência e prevalência de doenças.


2. Indicadores de mortalidade: indicam a mortalidade de algum segmento específico como, por
exemplo, taxa de mortalidade por determinada doença, por sexo e faixa etária.
3. Indicadores relacionados à nutrição, crescimento e desenvolvimento: indicam, por exemplo,
proporção de nascimentos com baixo peso e proporção de animais adultos com baixo peso ou
obesidade.
4. Indicadores demográficos: indicam, por exemplo, distribuição da população segundo sexo,
idade e região geográfica.
5. Indicadores socioeconômicos: indicam, por exemplo, escolaridade e renda dos proprietários
dos animais, e saneamento ambiental que podem interferir na saúde animal.
6. Indicadores relacionados à saúde ambiental: indicam, por exemplo, qualidade do solo, da água
e do ar.
7. Indicadores relacionados aos serviços de saúde animal: indicam, por exemplo, número de
veterinários por grupos de animais acompanhados, número de atendimentos clínicos
realizados por grupos de animais, cobertura vacinal pelo programa de controle da raiva e
aftosa, etc.

Toda ação em saúde parte do pressuposto de um impacto esperado em termos de melhoria das
condições atuais. Para medir esse impacto, são utilizados indicadores de saúde.

Veja o quadro a seguir com exemplos de indicadores da saúde:

Ações Impacto esperado Indicadores acompanhados /


calculados
Controle da raiva - Redução da incidência de - Incidência de raiva em cães e
em cães e gatos raiva em cães e gatos; gatos;
- População canina e felina - Cobertura vacinal de cães e
imunizada; gatos;
- Não transmissão de raiva - Incidência de raiva humana por
34
dos cães e gatos para transmissão de cães e gatos;
humanos; - Percentual da população humana
- População humana que participou das atividades
consciente e participando educativas.
ativamente das medidas de
controle.

Mas por que um médico veterinário precisa dessas informações? Por que devemos saber calcular
e interpretar indicadores usados em Epidemiologia? Não basta prestar uma boa assistência aos
animais enfermos, ou seja, resolver clinicamente o problema quando ele aparecer? Os
profissionais da medicina veterinária necessitam sim conhecer os indicadores da saúde animal de
sua região e também saber calcular e interpretá-los. Somente com essa visão mais global, mais
sistêmica, consegue-se ir além do atendimento clínico, que é essencial, mas não suficiente!

E durante muito tempo foi essa lógica reducionista, de pensar que bastava o atendimento clínico,
que predominou nos serviços de veterinária do Brasil, mas ela já está sendo mudada.

Os serviços de saúde animal e seus profissionais já não podem apenas esperar passivamente a
demanda de surtos em populações animais ou esperar os proprietários batendo à porta em busca
de assistência a um problema individual de um animal. É necessário que o profissional de
medicina veterinária conheça o perfil epidemiológico da população animal da região, ou seja,
necessita saber de que essa população animal adoece, quais as principais queixas dos
proprietários, de que ela morre, quais são os principais fatores determinantes das doenças nos
animais, etc. Além disso, precisa saber qual é a sua composição etária, as raças e espécies.

Todas essas informações permitirão que a equipe de medicina veterinária planeje com
antecedência como organizará o serviço de saúde para atender às queixas mais comuns dos
proprietários e, melhor, poderá pensar em estratégias para impedir que problemas de saúde
evitáveis ocorram. Por fim, se a equipe dispuser dessas informações ao longo do tempo, poderá,
inclusive, avaliar se as ações que está desempenhando são efetivas.

Por exemplo, suponha que em determinado bairro de Mossoró-RN a equipe de saúde pública
veterinária verificou que a incidência da leishmaniose visceral canina foi muito alta em 2015.
Depois de algumas reuniões e ao analisar outros dados, decidiu-se que algumas ações eram
necessárias para reduzir, em 2016, o número de casos animais. A equipe verificou com quais
recursos humanos, financeiros, físicos e de equipamentos contava e, a partir disso, definiu as
seguintes ações:
1. Aumentar a cobertura do inquérito canino examinando todos os cães do referido bairro;
2. Tirar das residências todos os cães positivos ao exame e realizar a eutanásia, conforme
preconiza o Ministério da Saúde;
3. Fazer campanhas educativas com a população humana do bairro para o controle ambiental e
evitar o mosquito transmissor;
4. Melhorar a quantidade e a qualidade dos serviços prestados;
5. Numa ação intersetorial, conseguir junto à secretaria de limpeza pública do município um
aumento das atividades de limpeza dos terrenos baldios e dar suporte ao mutirão de limpeza
no bairro para se evitar ambientes propícios para a proliferação do mosquito transmissor.

Essas ações foram implementadas ao longo de 2016 e, ao final desse período, é essencial que se
tenha o indicador de incidência da leishmaniose canina atualizado; afinal, é preciso saber se as
ações surtiram efeito ou se não alteraram a realidade e precisam de modificações. A partir da
nova leitura da realidade, novos objetivos são discutidos pela equipe e outras ações
desenvolvidas em busca de melhorias.
35
Veja outro exemplo: através de indicadores de saúde dos anos passados (morbidade e
mortalidade), determinada equipe pode identificar que historicamente entre os meses de janeiro a
março (durante e logo após o período chuvoso) há expressivo aumento nos atendimentos dos
postos e hospitais por leptospirose humana. Sabendo disso, os profissionais de saúde pública
veterinária podem em novembro e dezembro desenvolver ações para minimizar essa demanda no
serviço de saúde humana (como realizar campanhas de desratização e antiratização, além de
trabalhos educativos nas áreas de risco) e promover ações intersetoriais no ambiente, junto com a
secretaria de limpeza urbana para a drenagem de córregos e limpeza das ruas antes da temporada
de chuva. Desta forma, se organizando com antecedência, realizando planejamento e não
improviso.

Continuando, após a explanação sobre as principais modalidades de indicadores de saúde, serão


abordados os principais indicadores de mortalidade e alguns dos principais indicadores
demográficos.

Indicadores de mortalidade
“E se somos severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte
severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada
antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte
severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida)”.
João Cabral de Mello Neto (Morte e Vida Severina).

Mortalidade proporcional - como o próprio nome diz, é um indicador do tipo proporção, que
apresenta, no numerador, os óbitos (por região, causa, sexo ou idade), e, no denominador, o total
de óbitos cuja fração se deseja conhecer.

Mortalidade proporcional por causas


número de óbitos por determinada causa no período x 100
total de óbitos no período

Mortalidade proporcional por idade


número de óbitos por determinada faixa etária x 100
total de óbitos no período

Taxa ou coeficiente geral de mortalidade (CMG)


O coeficiente de mortalidade geral, ou taxa de mortalidade geral, refere-se a toda uma população.
É calculado dividindo-se o total de óbitos, em determinado período, pela população.
CMG = número total de óbitos no período x constante 10n
população total da área

As vantagens desse indicador são a simplicidade de seu cálculo e a facilidade de obtenção de


seus componentes. Permite comparar o nível de saúde animal de diferentes regiões ao longo do
tempo.

Este coeficiente deve ser interpretado com cautela quando se realizam comparações entre
populações distintas, pois sofre a influência da composição etária da população. O coeficiente
geral de mortalidade de uma região predominantemente jovem pode ser menor do que outra
região com elevada proporção de animais idosos, sem que isso signifique melhores condições de
vida.

As taxas de mortalidade também podem ser específicas por sexo, idade ou causa.
36
Taxa de mortalidade específica - calculada através das seguintes fórmulas:

número de óbitos por sexo x constante 10n


população do mesmo sexo

número de óbitos por faixa etária x constante 10n


população da mesma faixa etária

número de óbitos por uma causa x constante 10n


população do período

Expectativa de vida, esperança de vida ou vida média


É o número médio de anos que um animal pode viver, de acordo com a espécie e raça.
Representa o número esperado de anos a serem vividos, em média, pelos indivíduos integrantes
de uma determinada população.

Anos potenciais de vida perdidos...

Indicadores de fecundidade
Fertilidade é a capacidade de gerar filhos. Fecundidade se refere à realização do potencial de
procriar. Entre os indicadores de fecundidade estão a taxa de natalidade (taxa de crescimento da
população) e a taxa de fecundidade.

Taxa de natalidade = número de nascidos vivos no período x constante 10n


população do período

Taxa de fecundidade = número de nascidos vivos no período x constante 10n


número de fêmeas em idade fértil do período

O conhecimento sobre as taxas de mortalidade e de fecundidade servem para auxiliar no


planejamento dos serviços de saúde animal num território, e quando necessário redimensionar as
atividades para a redução no número de óbitos e de falhas reprodutivas.

Fonte - Adaptado de: BOING, A. F.; D’ORSI, E.; CALVINO REIBNITZ, C. Conceitos e
ferramentas de Epidemiologia. Especialização a distância em Saúde da Família. Ministério da
Saúde, p. 1-80, 2010.

SURTOS E EPIDEMIAS (Gusmão e Silva Filho, 2015)


Notificação - A identificação precoce de surtos e epidemias ocorre quando o sistema de
vigilância epidemiológica local está bem estruturado.

O Surto epidêmico é definido como uma epidemia de proporções reduzidas, atingindo pequeno
grupo de indivíduos (homens ou animais). Exemplo: surtos em creches, escolas, instituições
fechadas, fazendas, Feiras agropecuárias...

A Epidemia é a ocorrência, numa coletividade ou região, de casos da mesma doença (ou surto
epidêmico) em número que ultrapassa o quantitativo de casos normalmente esperados. O número
37
de casos que caracteriza a presença de uma epidemia varia de acordo com o agente infeccioso, o
tamanho e o tipo da população exposta, sua experiência prévia com a doença ou a ausência de
casos anteriores e o tempo e o lugar da ocorrência.

Roteiro de investigação de Epidemias e Surtos


O objetivo principal da investigação de uma epidemia ou surto de determinada doença infecciosa
é identificar formas de interromper a transmissão e evitar a ocorrência de novos casos.

Etapa 1 - Confirmação do diagnóstico da doença


Na ocorrência de uma epidemia é importante verificar se a suspeita inicial é de fato uma suspeita
ou confirmação da doença. Em seguida deve ser realizada a coleta dos dados que servirão como
base para os passos da investigação.
Conforme a suspeita, um plano diagnóstico deve ser definido para orientar a coleta de material
para exames laboratoriais, envolvendo - a depender da doença - amostra proveniente dos
indivíduos/animais (fezes, sangue, urina, líquor, etc.) e do ambiente (água, vetores, etc.)

Etapa 2 - Confirmação da existência de epidemia/surto


A confirmação de uma epidemia ou surto abrange o estabelecimento do diagnóstico da doença e
do estado epidêmico. A confirmação é realizada com base na comparação dos coeficientes de
incidência (ou do número de casos novos) da doença no momento de ocorrência do evento
investigado, com aqueles usualmente verificados na mesma população.

Etapa 3 – Caracterização da epidemia


As informações disponíveis devem ser organizadas de forma a permitir a análise de algumas
características e responder algumas questões relativas à sua distribuição no tempo, lugar e
pessoa.
As informações relativas ao tempo abrangem o período de duração da epidemia e o período
provável de exposição. As informações referentes ao lugar envolvem a distribuição geográfica
predominante, o bairro de residência, escola, local de trabalho, a fazenda, granja ou outra.
As características consideradas são as individuais (raça / etnia, sexo, faixa etária/idade, estado
imunitário, estado civil), atividades (trabalho, esporte, práticas religiosas, costumes, etc.) e
condições de vida (estrato social, meio ambiente, situação econômica).

Etapa 4 - Formulação de hipóteses preliminares


As hipóteses devem ser testáveis, uma vez que a avaliação faz parte de uma das etapas de uma
investigação epidemiológica. As hipóteses provisórias são elaboradas com base nas informações
obtidas anteriormente (análise da distribuição, segundo características de individuo, tempo e
lugar) e na análise da curva epidêmica.

Etapa 5 – Análises parciais


Em cada uma das etapas da investigação e com prazos definidos de acordo com a magnitude e
gravidade do evento (diária, semanal, mensal), deve-se realizar a consolidação dos dados
disponíveis, análises clínicas epidemiológicas, identificação de informações adicionais e
definição de medidas de controle.

Etapa 6 – Busca ativa de casos


Tem como objetivo reconhecer e proceder à investigação de casos semelhantes na região com
suspeita da existência de contatos e/ou fonte de contágio ativa.

Etapa 7 - Busca de dados adicionais


Quando necessário, pode ser realizada uma investigação mais minuciosa de todos os casos ou de
amostra representativa dos mesmos, com o objetivo de esclarecer/fortalecer as hipóteses iniciais.
38
Etapa 8 – Análise final
Os dados coletados são consolidados em tabelas, gráficos, mapas da área em estudo, fluxos de
pacientes, dentre outros.

Etapa 9 – Medidas de controle


Após a identificação das fontes de infecção, do modo de transmissão e da população exposta a
elevado risco de infecção, deverão ser recomendadas as medidas adequadas de controle e
elaborado um relatório para ser divulgado a todos os profissionais de saúde / sanidade animal.

Etapa 10 – Relatório final


Os dados da investigação deverão ser resumidos em um relatório que descreva o evento e todas
as etapas da investigação.

Etapa 11 – Divulgação
O relatório deverá ser enviado aos profissionais que prestaram assistência aos casos e aos
participantes da investigação clínica e epidemiológica, representantes da comunidade,
autoridades locais, administração central dos órgãos responsáveis pela investigação e controle do
evento. Quando se tratar de surto ou agravo inusitado, se possível, divulgar um resumo da
investigação em boletins.

MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Objetiva uma melhor compreensão do processo saúde-doença, com uma visão mais clara
dos múltiplos fatores que interagem na sua determinação. Nada mais é do que a metodologia
usada para se coletar os dados da população estudada. A classificação dos métodos leva em
conta fatores como: nº de vezes que os dados serão coletados, maneira de coletar os dados,
tempo que os animais serão acompanhados, tipo de variável estudada, seleção dos animais de
estudo, etc.
Existe um arsenal de delineamentos específicos para diferentes estudos epidemiológicos,
que varia conforme os objetivos estabelecidos, que pode ser tanto a identificação de uma
possível associação do tipo exposição-efeito como a avaliação da efetividade de uma
intervenção com o objetivo de prevenir um determinado efeito.
Não existe um método capaz de satisfazer todas exigências de qualquer estudo, cada tema
a ser pesquisado terá características que indicarão qual delineamento mais apropriado. Além
disso a pressa em obter os resultados e as condições logísticas disponíveis para o pesquisador
também devem ser levadas em conta na hora de escolher o tipo de estudo.

Os principais tipos de estudos se dividem em observacionais e experimentais. Nos


estudos observacionais (estudo de caso/série de casos, seccional, ecológico, caso-controle e
coorte) os indivíduos estão ou não expostos a uma causa potencial de doença independentemente
da interferência do observador, por isso não apresentam problemas éticos para se investigar
fatores de risco, já os estudos experimentais (intervenção ou ensaio clínico) o investigador
controla a exposição ao fator de interesse e envolve a questão ética.

Estudos de caso ou de série de casos - Os estudos de caso consistem em relatos


detalhados de um caso ou de um grupo de casos elaborados por um ou mais investigadores,
focalizando características pouco freqüentes de uma doença já conhecida ou buscando descrever
39
uma moléstia possivelmente desconhecida. Freqüentemente, esses estudos visam chamar a
atenção de outros pesquisadores que tenham efetuado observações semelhantes, criando
condições para formulações de hipóteses. Muitas vezes é utilizada a descrição de uma série de
casos para caracterizar a emergência de uma nova doença.

Estudos seccionais ou de corte transversal ou de prevalência - a situação de um


indivíduo em relação a determinada exposição e efeito são medidos em um único ponto no tempo
ou no decorrer de um curto intervalo de tempo. No início do estudo não se conhece os doentes
nem os sadios, nem os expostos e os não expostos. Esses estudos, quando efetuados em
população bem-definida, permitem a obtenção de medidas de prevalência.
Doente Exposto
Doente Não Exposto
POPULAÇÃO Amostra Sadio Exposto
Sadio Não Exposto

Algumas vantagens - simples; rápido; relativamente econômico; permitem conhecer a


prevalência associada aos agentes suspeitos; permitem a descrição da população. Algumas
desvantagens - não quantificam o risco de desenvolver a doença; a seqüência temporal do
fenômeno em estudo não aparece; são limitados epidemiologicamente ao não poder estabelecer
associações causa-efeito; podem induzir facilmente a associações ou interpretações falsas.

Exemplo: Jouglard, S.D.D. & Brod, C.S. LEPTOSPIROSE EM CÃES: PREVALÊNCIA E


FATORES DE RISCO NO MEIO RURAL DO MUNICÍPIO DE PELOTAS, RS. Arq. Inst.
Biol., São Paulo, v.67, n.2, p.181-185, jul./dez., 2000.
Com a finalidade de se conhecer a prevalência e fatores de risco à Leptospirose em cães no meio
rural do Município de Pelotas, foi realizado estudo através de uma amostragem aleatória simples
por conglomerados. Foram examinadas 489 amostras sorológicas de cães provenientes de 213
propriedades (o tamanho da amostra foi calculado através do programa EpiInfo, considerando-se
um nível de confiança de 95%). As amostras foram submetidas à técnica de Soroaglutinação
Microscópica (SAM), sendo detectadas 13 (2,66%) positivas com títulos de anticorpos variando
de 50 a 800, para os sorovares icterohaemorragiae, australis, copenhageni, pyrogenes, sentot e
canicola. Houve maior ocorrência de infecção em cães pertencentes a propriedades situadas
próximo à BR 116 e BR 392, onde as altitudes variam de 0 a 100 m, sendo as mais baixas do
município. Os fatores de risco de maior magnitude à leptospirose encontrados foram o contato
dos cães com banhados (O.R. = 7,43), açudes (O.R. = 5,27) e altitude (O.R. = 7,09).
Estudos ecológicos ou de correlação - analisam dados globais de populações inteiras,
comparando a freqüência de doença entre diferentes grupos populacionais durante o mesmo
período ou a mesma população em diferentes momentos. Nestes estudos a unidade de análise é a
população, e não o indivíduo. Os dados são obtidos quase sempre como auxílio de fontes de
informação governamental, de serviços de saúde, levantamentos censitários, etc. Os estudos
ecológicos podem ser transversais ou longitudinais.
Algumas vantagens: são baratos, rápidos e os únicos capazes de verificar o efeito de
fatores ambientais sobre a saúde; são muito úteis para gerar hipóteses. Algumas desvantagens:
não permitem que se tire uma conclusão causal, pois estão sujeitos à falácia ecológica - hipótese
criada no nível populacional que não pode ser confirmada no nível individual; não são bons para
testar hipóteses.
Estudos de caso-controle - São estudos que examinam os casos de uma determinada
doença e uma amostra adequada de indivíduos que não apresentem a condição (controles),

40
comparando a freqüência dos fatores associados a estes dois grupos. Têm como ponto de partida
o doente, e não a população.
A principal característica deste estudo é a formação de pelo menos dois grupos distintos
um grupo de casos e um grupo de controles. Nesse tipo de estudo, os casos e os controles são
reunidos e, então, questionados com respeito às exposições passadas e fatores de risco. O
propósito é identificar características (exposições, ou fatores de risco) que ocorrem em maior (ou
menor) freqüência entre casos do que entre os controles. A proporção de expostos a um fator de
risco é medida nos dois grupos e comparada. Se a proporção de expostos ao fator é maior entre
os casos do que entre os controles, então é possível que esta exposição aumente o risco para a
doença em questão. Por outro lado, se esta proporção é menor entre casos, a exposição pode ser
considerada um fator protetor.

Presente Exposição Casos


Ausente
Passado
Presente
Exposição Controles
Ausente

Algumas vantagens: são muito informativos; são muito úteis quando um estudo deve ser
feito de maneira rápida e barata, muitas vezes os dados já estão disponíveis em alguma fonte e
basta analisá-los para se chegar à conclusão que se quer; são os mais indicados quando uma
doença a ser estudada é rara ou tem um longo tempo de indução; servem para exposições raras e
comuns; apesar de avaliarem apenas um desfecho por estudo, podem considerar diversos fatores
de risco, o que os torna úteis para gerar hipóteses para causas de doenças. Algumas
desvantagens: como partem de uma doença específica, consideram apenas um desfecho por
estudo; podem ser muito afetados pelo viés de recordação (do proprietário ou tratador) – já que o
status de exposição é determinado após o diagnóstico da doença; são mais suscetíveis a vieses de
seleção, pois é preciso selecionar controles que sejam representativos da população que deu
origem aos casos; às vezes existe dificuldade em assegurar a correta seqüência de eventos; não
medem a freqüência da doença; são inadequados para investigar exposições muito raras, a não
ser que o risco atribuído à exposição seja muito alto.
Exemplo: Madureira, Marieta Cristina. Varíola bovina no estado de Minas Gerais, 2005-2007.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. 102 p. Orientadora: Zélia Inês
Portela Lobato

Esse trabalho teve como objetivo pesquisar fatores associados à epidemiologia e à clínica da
varíola bovina em Minas Gerais. Um estudo do tipo caso-controle foi estruturado, sendo
visitadas 25 propriedades casos e 47 controles. Os dados foram coletados de janeiro-2005 a
dezembro-2007. Foi aplicado um questionário de investigação para obter informações sobre as
características da forma de produção e manejo, aspectos clínicos da doença, formas de
introdução, presença de animais domésticos e silvestres. Casos clínicos foram rastreados e
fatores envolvidos na transmissão da doença foram pesquisados. Amostras de soros sanguíneos e
de epitélio lesado foram coletadas e submetidas ao teste de SN e PCR, respectivamente. A curva
de anticorpos neutralizantes foi monitorada em vacas doentes por 12 a 14 meses. A presença de
anticorpos neutralizantes foi investigada nas vacas sadias e seus bezerros nas propriedades
controles. Anticorpos neutralizantes para Orthopoxvirus foram identificados nos rebanhos casos
e controles. Um modelo para explicar a ocorrência da doença foi construído através da análise de
regressão logística múltipla. O uso de desinfecção das mãos-tetas foi apontado como fator de
proteção e as variáveis “transportar leite em caminhão (em latões de aço)”, e “número de vacas
em lactação” foram identificadas como fatores de risco. Medidas de prevenção e controle foram
propostas.
41
Estudos de coortes - Em epidemiologia, coorte é um grupo de indivíduos que é
acompanhado ao longo do tempo e que periodicamente é investigado por pesquisadores que vão
agrupando dados sobre estes indivíduos. Estes estudos também são conhecidos como estudos de
incidência, longitudinais ou de seguimento.

Os estudos longitudinais possibilitam analisar uma exposição antes da instalação da


doença, portanto são os melhores para avaliar a relação entre uma possível causa e o risco do
desenvolvimento de doenças ou problemas de saúde. Para que um estudo seja considerado
longitudinal, no mínimo duas investigações devem ser feitas com a população em estudo.
Exposição Presente
Doença
Acompanhamento Ausente
Presente
Presente
Não Exposição Doença Ausente

Algumas vantagens: medem incidência de doenças; podem estimar prevalências; podem


medir um fator de risco antes do surgimento da doença; são mais indicados para mostrar
causalidade. Algumas desvantagens: como requerem o acompanhamento de um grande número
de animais por muito tempo, estes estudos podem ser caros e difíceis logisticamente; não são
indicados para doenças raras, pois a população a estudar para se ter um número razoável de casos
seria muito grande; como são realizadas em espaços relativamente longos de tempo, as coortes
implicam em perdas, seja por falta de interesse no estudo, migração, morte ou outros motivos
que afastem o sujeito do investigador.
Exemplo: Barboza et al. Estudo de coorte em áreas de risco para leishmaniose visceral canina
em municípios da Região Metropolitana de Salvador, Bahia, Brasil. Revista Brasileira de
Saúde e Produção Animal, Vol. 7, No 2 (2006).
Este estudo objetivou investigar a incidência de leishmaniose visceral em populações caninas de
áreas de risco para a doença previamente identificados nos municípios de Lauro de Freitas e
Camaçari, Bahia e estimar a associação entre variáveis de risco e a soroconversão de cães tidos
como soronegativos em estudo prévio. Cerca de nove a 18 meses foi o intervalo entre a primeira
sorologia (estudo prévio) e os resultados descritos neste trabalho. Das 20 áreas de risco
reexaminadas, foram testadas em enzime-linked immunosorbent assay amostras de 147 cães e
aplicado simultaneamente um questionário epidemiológico aos respectivos proprietários. A
incidência geral encontrada foi de 18,4% (27/147), sendo 17,4% (4/23) em Lauro de Freitas e
18,5% em Camaçari (23/124). A presença de galinha e suínos no peridomicílio e registro de cão
com leishmaniose visceral eliminado na vizinhança resultaram em incremento do risco relativo
de infecção dos cães por Leishmania sp. A eutanásia dos cães previamente detectados como
soropositivos, não contribuiu efetivamente para a eliminação da transmissão do parasito nas
áreas de risco. Estes dados demonstram que estas áreas permaneceram com transmissão ativa do
parasito mesmo após a retirada, ainda que incompleta no município de Camaçari, dos cães
soropositivos, e discute a participação de alguns fatores de risco na manutenção da endemicidade
nestas áreas.

Definição dos grupos expostos e não-expostos: torna-se indispensável definir de forma


bem precisa o que se entende por exposição (provável fator de risco) e por efeito (doença). A
definição de exposição deve ser elaborada levando em conta a dose ou duração da exposição ao
fator de risco ou diferentes maneiras de associação dessas duas variáveis; pode também ser
entendida por características do hospedeiro, como, por exemplo, sexo, idade, raça, etc.

42
Definição do efeito, ou seja, a definição de caso: é igualmente indispensável e pode ser
entendida como um conjunto de critérios padronizados que nos permitem estabelecer quem
apresenta as condições de interesse para a investigação. A definição de caso inclui critérios
clínicos, laboratoriais e epidemiológicos, podendo delimitar também características
epidemiológicas relativas ao tempo, espaço e animal.

Estudo de intervenção/experimental - Cria-se situações artificiais para testar uma causa


e seu efeito. É um estudo prospectivo que objetiva avaliar a eficácia de um instrumento de
intervenção e, para tanto, seleciona dois grupos: um deles é submetido à intervenção objeto do
estudo e o outro, não; em seguida, compara-se a ocorrência do evento de interesse nos dois
grupos. Nesse delineamento, os grupos devem ser homogêneos sob aspectos como sexo, idade,
nível sócio-econômico. Estes estudos são geralmente considerados como os que permitem
evidências mais confiáveis em estudos epidemiológicos. Esse delineamento deve pressupor uma
análise prévia dos aspectos éticos envolvidos.
Efeito Presente
Intervenção / Exposição
Efeito Ausente
Acompanhamento
Efeito Presente
Não Intervenção / Não Exposição /
Grupo Controle Efeito Ausente

VIÉS - Também conhecido como vício, erro diferencial ou tendenciosidade, o viés nada
mais é do que um fator que induz o pesquisador ao erro. O viés geralmente produz desvios ou
distorções consistentemente em uma direção. O viés torna-se um problema quando enfraquece
uma associação verdadeira ou distorce a direção aparente de uma associação entre variáveis.
Existem vários tipos de viés: Viés de seleção - a maneira como são escolhidos os animais
que pertencerão ao estudo pode levar a conclusões que não se aplicam à população como um
todo. Viés de medição ou de aferição - Estes erros podem ser causados por uma falha
sistemática humana ou defeitos em aparelhagens. Viés de recordatório ou de memória – erro
do entrevistado (proprietário ou tratador) pode produzir uma associação falso-positivo entre um
fator de risco e o resultado final, ou simplesmente esquecimento de informações úteis.Viés do
entrevistador/pesquisador - a postura do entrevistador ou a maneira com que ele conduz a
entrevista podem exercer influência sobre a resposta fornecida pelo entrevistado (indução ou
coação). Viés de seguimento - durante um estudo longitudinal as perdas podem ocorrer de forma
desigual entre 2 ou mais grupos estudados, distorcendo as associações encontradas.

EPIDEMILOGIA ANALÍTICA – Análise de dados epidemiológicos

Para contribuir com o processo de produção do conhecimento em saúde e tornar-se, dessa


maneira, útil para a prevenção da doença e promoção da saúde, os dados gerados pelos estudos
epidemiológicos precisam ser analisados. Isto implica o processamento desses dados, através do
cálculo, apresentação e interpretação, de modo sucessivo e lógico, de três tipos de medidas: a)
medidas de ocorrência; b) medidas de associação; c) medidas de significância estatística.

ESTUDO Medida de Medida de Associação Medida de


Ocorrência Significância
Seccional Prevalência Razão de Prevalência Qui-quadrado

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Coorte Incidência Risco Relativo (RR) e Risco Atribuível Qui-quadrado
(RA)
Caso-controle - Odds ratio (OR) Qui-quadrado

Se deseja-se responder quantas vezes é maior o risco de desenvolver a doença entre os


indivíduos expostos em relação aos não expostos, calcula-se as medidas de associação: Risco
relativo (RR) e Odds ratio (OR) ou Razão de chances.

Na epidemiologia analítica considere a tabela 2 x 2 abaixo:

Doença
+ -
Exposição + A B
- C D
A = Doente e exposto
B = Sadio e exposto
C = Doente e não exposto
D = Sadio e não exposto

A incidência geral da doença = A+C / A+B+C+D

A incidência da doença nos expostos = A / A+B

A incidência da doença nos não expostos = C / C+D

O Risco Relativo (RR) = Incidência nos Expostos / Incidência nos não Expostos

Interpretação do Risco Relativo: É a quantidade de vezes que a Exposição está influenciando no


Desfecho ou Doença, ou seja, é o risco da doença aparecer na presença da Exposição.
Risco Relativo = 1 → não há risco.
Risco Relativo > 1 → fator de risco.
Risco Relativo  1 → fator de proteção.
O Risco Atribuível (RA): Incidência nos Expostos - Incidência nos não Expostos.

O Odds ratio (OR), também chamado de “razão de chances” ou de “Risco Relativo estimado”:
AxD/CxB

1 - Realizou-se um estudo de Coorte com 120 cães para a pesquisa de erliquiose canina em
Mossoró-RN e sua associação com a presença de carrapatos. Ao final do estudo foram
encontrados 60 casos da doença, dos quais em 50 os animais estavam infestados por carrapatos.
Sabendo-se que existiam 80 animais no estudo infestados com carrapatos, responda qual foi a
incidência da erliquiose, o Risco Relativo e o Risco Atribuível do estudo.

2 - Supondo que o desenho do estudo acima para pesquisa da associação entre erliquiose canina
e presença de carrapatos fosse um estudo de caso-controle, responda qual o valor do Odds ratio
(OR)?

3 - Realizou-se um estudo de Coorte para pesquisa da associação entre infecções de cascos de


bovinos e áreas alagadiças, sendo comparado animais que viviam em áreas constantemente
inundadas e áreas secas. Após um período de três anos de observação e acompanhamento
44
constatou-se que dos 170 animais que viviam em áreas secas 13 apresentaram problemas no
casco. Sabendo-se que o total de animais acometidos pelo problema foi de 63 e que o estudo
envolveu 300 animais, calcule qual foi o Risco Relativo e o Risco Atribuível do estudo.

4 - Supondo que o desenho do estudo acima fosse um estudo de caso-controle, responda qual o
valor do Odds ratio (OR)?

VALIDAÇÃO DE TESTE DIAGNÓSTICO

Diagnóstico é todo recurso que se utiliza para identificar uma fonte de infecção.

O diagnóstico pode ser:

- Clínico: é baseado nos sinais e sintomas clínicos e constitui um diagnóstico de suspeição,


merecendo restrições de maior ou menor intensidade, conforme o grau de exteriorização do
quadro clínico. É mais seguro nos casos em que o indivíduo apresenta um quadro típico.

- Epidemiológico: é feito por meio de evidências circunstanciais, que podem levar ao


descobrimento da fonte de infecção.

- Laboratorial: é feito por meio de métodos especiais, que, geralmente, por si só permitem um
resultado mais ou menos conclusivo, ou então fornecem informações adicionais capazes de levar
ao diagnóstico definitivo.

Na interpretação dos métodos laboratoriais qualitativos, devem ser levadas em consideração


principalmente as seguintes características: sensibilidade, especificidade.

A validação de um teste diagnóstico é feita sempre contra outro teste consagrado denominado
padrão-ouro (quando se tem um grupo de animais comprovadamente doente).

O desempenho do teste pode ser avaliado a partir de duas possibilidades básicas: Sensibilidade e
Especificidade.

O resultado do teste deve ser apresentado em uma tabela 2 x 2.

Doença
+ -
Teste + A B
- C D

A = número de verdadeiros positivos do teste.


B = número de falsos positivos do teste.
C = número de falsos negativos do teste.
D = número de verdadeiros negativos do teste.

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Sensibilidade é a capacidade do teste acertar em indivíduos com aquela doença (proporção de
verdadeiros positivos).

Especificidade é a capacidade do teste acertar em indivíduos sem aquela doença (proporção de


verdadeiros negativos).

Testes altamente sensíveis são aqueles que detectam todos (ou quase todos) os doentes. Testes
altamente específicos são aqueles que identificam somente (ou quase somente) os que não tem a
doença. Portanto testes sensíveis têm poucos falsos negativos e testes específicos têm poucos
falsos positivos.

Sensibilidade = A / A+C

Especificidade = D / B+D

1 - Um grupo de pesquisadores da FIOCRUZ está produzindo um kit diagnóstico para a detecção


rápida do Zicavírus. Em seu experimento para a validação do kit foram utilizados 230
voluntários dos quais 150 estavam comprovadamente doentes, o teste positivou no total 135
voluntários dos quais 20 destes estavam sadios. Responda:

1.1 – Qual o número de falsos negativos do teste?

1.2 - Qual o número de falsos positivos do teste?

1.3 - Qual o número de verdadeiros negativos do teste?

1.4 - Qual o número de verdadeiros positivos do teste?

1.5 – Qual foi a Sensibilidade do teste?

1.6 – Qual foi a Especificidade do teste?

1.7 – Interprete a validação do teste.

2 -Um grupo de estudantes e professores da UFERSA está produzindo um kit diagnóstico para a
detecção rápida da brucelose bovina. No experimento para a validação do kit foram utilizados
270 animais dos quais 70 estavam doentes, o teste foi negativo no total 165 animais dos quais 13
estavam doentes. Responda:

2.1 – Qual o número de falsos negativos do teste?

2.2 - Qual o número de falsos positivos do teste?

2.3 - Qual o número de verdadeiros negativos do teste?

2.4 - Qual o número de verdadeiros positivos do teste?

2.5 – Qual foi a Sensibilidade do teste?

2.6 – Qual foi a Especificidade do teste?

46
2.7 – Interprete a validação do teste.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA / SANITÁRIA ANIMAL

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA (mais usada para populações humanas) é o conjunto


de atividades que permite reunir a informação indispensável para conhecer, a qualquer momento,
o comportamento ou história natural das doenças, bem como detectar ou prever alterações de
seus fatores condicionantes, com o fim de recomendar oportunamente, sobre bases firmes, as
medidas indicadas e eficientes que levem à prevenção e ao controle de determinadas doenças.
VIGILANCIA SANITÁRIA (no contexto de sanidade animal) é a observação contínua
do estado de saúde dos animais em suas propriedades, em suas movimentações, e quando das
concentrações dos mesmos. É definida como um conjunto de ações que visam impedir o ingresso
e detectar sinais diretos ou indiretos da presença de um ou mais agentes patogênicos em uma
população animal susceptível, de forma precoce, permitindo reação rápida.
As ações de defesa sanitária animal são desenvolvidas através de estudos
epidemiológicos, de uma determinada região visando a saúde de uma determinada população
animal. Em geral, objetiva a certificação de propriedades e reconhecimento de zona livre de
doenças e sua manutenção.
A Vigilância epidemiológica tem como propósitos: Fornecer orientação técnica
permanente para os responsáveis pela decisão e execução de ações de controle de doenças e
agravos. Para subsidiar esta atividade, deve tornar disponíveis informações atualizadas sobre a
ocorrência dessas doenças ou agravos, bem como dos seus fatores condicionantes, em uma área
geográfica ou população determinada. Constitui-se, ainda, em importante instrumento para o
planejamento, a organização e a operacionalização dos serviços de saúde, como também para a
normatização de atividades técnicas correlatas.
FUNÇÕES da vigilância epidemiológica:
• coleta de dados e informações – INFORMAÇÃO PARA AÇÃO;
• processamento de dados coletados;
• análise e interpretação dos dados processados;
• recomendação das medidas de controle apropriadas;
• promoção das ações de controle indicadas;
• avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas;
• divulgação de informações pertinentes.
Os locais de atuação do Sistema de Vigilância Epidemiológica/Sanitária compreendem as
propriedades, granjas, criatórios e matadouros-frigoríficos. A vigilância deve ser um processo
contínuo e permanente. As principais formas de vigilância são:
- Vigilância clínica passiva, ou seja, a partir da notificação por parte de proprietários,
Serviço Veterinário Oficial ou terceiros;
- Comunicação do aumento nas taxas de mobimortalidade por parte de médicos
veterinários habilitados que prestam assistência a propriedades e estabelecimentos de criação;
- Vigilância clínica ativa e continuada em propriedades e estabelecimentos de criação
identificados como de maior risco;
- Monitoramento sorológico em matadouros-frigoríficos;
- Monitoramento soroepidemiológico em propriedades e criações;
- Inspeção ante e post mortem em matadouros-frigoríficos.

47
Notificação - é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou de sua suspeita
(doença da lista OIE), feita à autoridade sanitária por profissionais da área ou qualquer cidadão,
para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. Todo médico veterinário,
proprietário, transportador de animais ou qualquer outro cidadão que tenha conhecimento de
suspeita da ocorrência de doença da lista, fica obrigado, de acordo com a legislação vigente, a
comunicar o fato, imediatamente, à unidade do serviço veterinário oficial mais próxima. A
notificação poderá ser efetuada pessoalmente, por telefone, fax ou qualquer outro meio de
comunicação disponível.
Aspectos que devem ser considerados na notificação: • Notificar a simples suspeita da
doença. Não se deve aguardar a confirmação do caso para se efetuar a notificação, o que pode
significar perda da oportunidade de adoção das medidas de prevenção e controle indicadas; • O
envio dos instrumentos de coleta de notificação deve ser feito mesmo na ausência de casos,
configurando-se o que se denomina notificação negativa, que funciona como um indicador de
eficiência do sistema de informações.
FONTES ESPECIAIS DE DADOS - Sempre que as condições exigirem, deve-se recorrer
aos estudos de investigação epidemiológica para complementação das informações, são estes:
Inquéritos epidemiológicos: é um estudo geralmente do tipo amostral, levado a efeito
quando as informações existentes são inadequadas ou insuficientes, em virtude de diversos
fatores, entre os quais pode-se destacar: notificação imprópria ou deficiente; mudança no
comportamento epidemiológico de uma determinada doença; dificuldade em se avaliar
coberturas vacinais ou eficácia de vacinas; necessidade de se avaliar efetividade das medidas de
controle de um programa; descoberta de agravos inusitados, etc.
Levantamento epidemiológico: é um estudo realizado com base nos dados existentes
nos registros dos serviços de saúde animal ou de outras instituições. Geralmente não é um estudo
amostral e destina-se a coletar dados para complementar informações já existentes, como
exemplo a recuperação de séries históricas, para análises de tendências, e a busca ativa de casos,
para aferir a eficiência do sistema de notificação.

No Brasil, o principal sistema de informação de interesse para a Vigilância


Epidemiológica/Sanitária animal é o Sistema de Informação Zoossanitária Nacional, que está
inserido junto à Divisão de Epidemiologia (DEP) do Departamento de Saúde Animal (DSA) da
Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA). A Divisão de Epidemiologia recebe, compila e envia informações
epidemiológicas a depender do caráter da informação. Após análise, as informações são
rotineiramente enviadas por meio de boletins e informes para os serviços veterinários oficiais das
Unidades da Federação, universidades, outras instituições públicas, entre outros.

Periodicidades das notificações: notificação imediata de suspeitas ou casos de doenças;


notificações de seguimento; notificações semanais; comunicações mensais; e comunicações
semestrais e anual.

Notificação Imediata de suspeitas ou casos de doenças ao MAPA - quando da


ocorrência de suspeita/foco de doenças da Lista da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal)
que têm repercussões importantes na saúde dos animais, na saúde pública e nas relações
comerciais.

Com base nos Códigos Sanitários da OIE, considera-se notificação imediata/caráter


emergencial:
- Aparecimento de suspeita/foco de uma doença da Lista da OIE pela primeira vez no país;
48
- Reaparecimento de suspeita/foco de uma doença da Lista da OIE no país, estado, zona ou
compartimento, de acordo com os critérios de regionalização adotados pelo país para a referida
doença, após ter-se declarado livre da mesma;
- Aparição, pela primeira vez no país, de qualquer nova cepa de um agente patogênico da Lista
da OIE;
- Mudanças repentinas e inesperadas na distribuição, incidência, morbidade ou mortalidade de
uma doença da Lista da OIE que já ocorre em um país ou zona;
- Qualquer doença emergente, com uma morbidade ou mortalidade importante, ou com
possibilidades de ser uma zoonose;
- Mudanças observadas na epidemiologia de uma doença da Lista da OIE (mudança de
hospedeiro, de patogenicidade ou de cepa, etc), especialmente se podem ter repercussões
zoonóticas.

Responsáveis pela notificação imediata ao MAPA - todos os participantes da cadeia


produtiva estão obrigados a cientificar à autoridade competente sobre a ocorrência de alterações
das condições sanitárias e fitossanitárias registrada em seus estabelecimentos, unidades
produtivas ou propriedades. O Serviço Veterinário Oficial (SVO) deverá comunicar ao
DSA/MAPA em até 24 horas após a primeira visita para investigação da suspeita, por meio do
Formulário de Investigação Inicial (FORM-IN).

Notificações de seguimento - visam o registro das visitas complementares


(intermediárias ou de encerramento) do médico veterinário oficial a suspeitas/focos de doenças
nos animais que são de notificação obrigatória ao MAPA, bem como outras doenças que sejam
de interesse do serviço de defesa sanitária animal do estado. Dados relativos à adoção de
medidas de controle, verificação da evolução do evento, à colheita de novos materiais para
exame laboratorial, dentre outros, devem ser informados, constituindo elemento de transparência
do sistema de defesa sanitária animal do Serviço Veterinário do Estado. Responsável pela
notificação ao MAPA - Serviço Veterinário Oficial por meio de Formulários de Investigação
Complementar (FORM-COM) e relatórios adicionais.

Notificações semanais - As unidades federativas registram ocorrências de suspeitas de


doenças vesiculares, hemorrágicas e nervosas de suínos, equídeos e aves (doenças respiratórias
também). O DSA publica semanalmente um informe contendo dados sobre a ocorrência de
suspeitas destas doenças com informações sobre a localização geográfica, o município e o estado
dos eventos. Responsável por notificar ao MAPA - Serviço Veterinário Estadual (SVE)
registra as ocorrências no sistema e realiza a comunicação de encerramento da semana.

Notificações mensais - A Divisão de Epidemiologia é responsável por receber, revisar e


compilar as informações sobre ocorrências de doenças em animais que são enviadas
mensalmente pelas Unidades Federativas por meio de relatórios mensais. Ao todo, são sete os
informes, a saber: informe mensal sobre ocorrência e diagnóstico de brucelose e de tuberculose,
informe mensal de anemia infecciosa eqüina, de mormo, raiva, e sobre ocorrência de doenças
das aves e vacinação. Além desses, há ainda informe sobre vacinação contra a brucelose, que
fica facultada a periodicidade de seu envio, que poderá ser mensal ou semestral. As referidas
informações são encaminhadas em função das notificações e atividades relacionadas ao controle
e vigilância das diversas doenças contempladas no informe e, portanto, não são adequadas para a
determinação da prevalência de doenças no país. Para isso, teriam que ser realizados estudos
epidemiológicos específicos. Responsáveis pela notificação ao MAPA - Médicos Veterinários
autônomos que possuem vínculo/cadastro junto ao SVO de seu Estado, notificam para o SVO de
sua respectiva UF, respeitando os prazos estabelecidos em legislação vigente. O Serviço
Veterinário Estadual envia informações mensalmente, via Superintendência Federal de
Agricultura, à DEP/DSA/MAPA.
49
Notificações anuais - Nenhum formulário com informações anuais a serem enviadas à
Divisão de Epidemiologia está vigente. Entretanto, em função do compromisso do Brasil com a
Organização Mundial de Saúde Animal, algumas informações anuais são solicitadas. As
informações anuais referem-se à estrutura do Serviço Veterinário Oficial (recursos humanos e
físicos, laboratórios de referência nacional, tipos de provas diagnósticas realizadas no país, etc) e
ao sistema pecuário nacional (número de propriedades, população animal por espécie, número de
animais vacinados, produção e exportação de vacinas, etc). As informações sobre a ocorrência de
zoonoses em humanos é fornecida pelo Ministério da Saúde e encaminhada no informe anual à
OIE. Responsável pela notificação ao MAPA - Serviço Veterinário Oficial das Unidades da
Federação.

Para doenças de caráter emergencial é realizada comunicação imediata à OIE através do


sistema WAHIS (World Animal Health Informaon System), quando da confirmação de
ocorrência de doença da Lista da OIE que atenda aos critérios de notificação imediata.
Notificação e informe internacional - até 2004, o Departamento de Saúde Animal
informava anualmente à OIE, em um questionário eletrônico enviado por aquela organização, a
ocorrência de doenças e as medidas de profilaxia adotadas relacionadas às doenças da lista da
OIE. Essas informações se encontram disponibilizadas pelo sistema Handistatus (www.oie.int).
A partir do ano de 2005, a OIE disponibilizou o sistema WAHIS (World Animal Health
Informaon System) para o envio dos informes epidemiológicos semestrais e anual, referentes à
situação zoosanitária e medidas de controle adotadas para as doenças da lista da OIE, bem como
informações referentes à população animal, aos serviços veterinários, aos laboratórios de
diagnóstico e produtores de vacinas e às zoonoses em seres humanos (www.oie.int).
Sugestão de atividade prática: Fazer um levantamento da situação do Brasil quanto às
principais doenças de notificação dos animais de produção junto ao site da OIE. Passos:
www.oie.int → atalho: Animal health in the world → atalho: the-world-animal-health-
information-system → atalho: data after 2004 (WAHID) → atalho: Disease information →
atalho: Immediate notifications and Follow-ups → preencher as informações que se deseja
conseguir nos espaços dos quadrados Choose Disease e Year .

Algumas ações de vigilância epidemiológica/sanitária animal em um foco


Emergência Sanitária - é um conjunto de ações sanitárias com objetivo de impedir a
disseminação da doença e controlar/erradicar o foco, em tempo mais curto possível e com menor
custo para o País, executadas por um grupo de profissionais capacitados.
- Atenção à notificação - interdição do estabelecimento, proibição de movimentação de
animais, seus produtos e subprodutos existentes na propriedade, até que o serviço veterinário
oficial defina quais as medidas a serem adotadas; diagnóstico laboratorial.
- Medidas no foco - avaliação dos animais, produtos e materiais; sacrifício sanitário;
destruição dos animais sacrificados (cremação e enterramento); limpeza e desinfecção; vazio
sanitário (tempo compreendido entre o término da limpeza e desinfecção e a introdução de
animais sentinelas, visando à destruição natural do agente infeccioso no meio ambiente);
introdução de animais sentinelas distribuídos em todas as dependências do estabelecimento,
identificados com brincos e submetidos a controle sorológico individual; e repovoamento
(somente autorizado após o recebimento dos resultados negativos).
- Rastreamento epidemiológico - antecedentes relativos à origem do foco, bem como a sua
possível difusão a outros estabelecimentos e municípios nos 30 dias anteriores ao início da
doença.
- Procedimentos em matadouros – alerta para os exames ante e post mortem de sinais
clínicos ou achados de lesões compatíveis com a doença em questão.

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