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Epidemiologia: conceito

Apresentação
Por algum tempo, prevaleceu a ideia de que a Epidemiologia restringia-se ao estudo de epidemias
de doenças transmissíveis. Hoje, é reconhecido que ela trata de qualquer evento relacionado à
saúde (ou doença) da população e seus respectivos indicadores. Suas aplicações variam desde a
descrição das condições de saúde da população, da investigação dos fatores determinantes de
doenças, da avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde até a avaliação da
utilização dos serviços de saúde, incluindo custos de assistência. Dessa forma, a Epidemiologia
contribui para o melhor entendimento acerca da saúde da população, pois parte do conhecimento
dos fatores que a determinam e provê, consequentemente, subsídios para a prevenção de doenças.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o conceito e a história da Epidemiologia, sendo
ela uma ciência que estuda os padrões da ocorrência de doença em populações humanas e os
fatores determinantes desses padrões.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Identificar a história da Epidemiologia.


• Definir o que é Epidemiologia.
• Descrever as áreas de atuação da Epidemiologia.
Desafio
A Epidemiologia pode ser definida como a ciência que estuda o processo saúde-doença em
coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades,
danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção,
controle ou erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao
planejamento, à administração e à avaliação das ações de saúde.

Imagine que você, profissional da área da saúde, trabalha em um bairro de um pequeno município
do interior do estado, e todas as Unidades Básicas de Saúde passaram a receber muitos casos de
contaminação por Leptospirose após longos períodos de chuva no inverno.

De acordo com o seu conhecimento em Epidemiologia, escreva um texto que contemple os


seguintes pontos:
1. Como se dá a transmissão da doença?
2. Quais as medidas epidemiológicas que devem ser adotadas nessa situação?
Infográfico
Veja, no Infográfico a seguir, os principais nomes da História da Epidemiologia e quais suas
principais contribuições.
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conteúdo ou clique no
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Conteúdo do livro
O principal papel da epidemiologia não é apenas o estudo e observação, mas gerar informações e
conhecimento para que essas situações possam ser modificadas, ou seja, gerar a interrupção do
processo de saúde-doença em uma população e prevenir a reinício desse processo nas gerações
futuras.

Acompanhe a leitura do capítulo Epidemiologia: conceito, que serve como base teórica desta
Unidade de Aprendizagem.

Boa leitura.
EPIDEMIOLOGIA

Patricia Klahr
Epidemiologia: conceito
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

n Conhecer a história da epidemiologia.


n Definir o que é epidemiologia.
n Descrever as áreas de atuação da epidemiologia.

Introdução
Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que curarão suas
doenças.
Hipócrates

Por algum tempo, prevaleceu a ideia de que a Epidemiologia restringia-se


ao estudo de epidemias de doenças transmissíveis. Hoje, é reconhecido
que ela trata de qualquer evento relacionado à saúde (ou doença) da
população e seus respectivos indicadores. Suas aplicações variam desde
a descrição das condições de saúde da população, da investigação dos
fatores determinantes de doenças, da avaliação do impacto das ações
para alterar a situação de saúde até a avaliação da utilização dos serviços
de saúde, incluindo custos de assistência. Dessa forma, a Epidemiologia
contribui para o melhor entendimento acerca da saúde da população,
pois parte do conhecimento dos fatores que a determinam e provê,
consequentemente, subsídios para a prevenção de doenças.
Neste capítulo, você vai estudar o conceito e a história da Epidemiolo-
gia, sendo ela uma ciência que estuda os padrões da ocorrência de doença
em populações humanas e os fatores determinantes desses padrões.
2 Epidemiologia: conceito

História da epidemiologia
A história da epidemiologia é muita antiga, no entanto, vários registros foram
encontrados para descrever de que forma alguns estudiosos contribuíram sig-
nificativamente para a constituição do conceito, abrangência e áreas de atuação
da epidemiologia que conhecemos atualmente. A história da epidemiologia
associa-se à história da medicina e da própria teoria sobre as causas das doenças
e assim, o conhecimento sobre esses fatos históricos são importantíssimos
para compreender o contexto atual.
Hipócrates foi um precursor da epidemiologia, considerado por muitos
o primeiro epidemiologista. Na Grécia antiga, ele contrapôs a teoria de que
a causa das doenças, morte e cura eram provenientes da ira dos deuses ou
demônios. Hipócrates era médico e acreditava que o modo como as pessoas
viviam, conviviam, seus hábitos de higiene, hábitos alimentares e onde re-
sidiam eram fatores determinantes para o processo de saúde-doença e suas
consequências. Hipócrates estudou as doenças epidêmicas e as variações
geográficas das condições endêmicas. Para o momento histórico em que ele
viveu foi uma visão revolucionária (PEREIRA, 2014).
John Snow (Figura 1) é considerado o pai da epidemiologia por muitos
pesquisadores e estudiosos. No século XIX, em Londres, 1854, durante uma
epidemia de cólera, o médico britânico John Snow interrompe a teoria mias-
mática (que explicava as causas das doenças a partir da má qualidade do ar,
oriunda da putrefação de corpos humanos e de animais e da decomposição de
plantas), por meio de um método científico rigoroso e observacional, ele fez
uma inovadora descoberta sobre o agente causador da cólera. John, por meio da
observação sobre os sintomas da doença e sua forma de distribuição/contágio,
concluiu que existia uma associação causal entre a doença e o consumo de
água contaminada por fezes dos doentes (ROUQUAYROL; GURGEL, 2013).
Segundo Pereira (2014), além de Hipócrates e John Snow, outros estudiosos
também contribuíram para a constituição do que é a epidemiologia atualmente,
entre eles podemos citar John Graunt que no ano de 1662 publicou um tratado
sobre as tabelas mortuárias de Londres, no qual analisou a mortalidade por
região e sexo. Apesar de naquela época não existir dados do óbito associado à
idade, ele selecionou algumas causas como prematuridade e raquitismo para
associar o número de crianças que morriam antes de completar seis anos de
idade. Ele foi o primeiro autor a quantificar os padrões de natalidade e morta-
lidade e pela instituição desses coeficientes é considerado o pai da demografia.
Epidemiologia: conceito 3

Figura 1. John Snow, o pai da epidemiologia.


Fonte: Wikipédia (2017).

Outro estudioso ligado à epidemiologia que podemos citar é o Francês Pierre


Louis (1787-1872), ele foi o responsável por introduzir o método estatístico
na investigação clínica das doenças. Estudou a tuberculose e a febre tifoide,
mas foi seu estudo sobre a internação hospitalar em Paris e a letalidade da
pneumonia tratada com “sangria” que foi referenciado como a figura “ideal”
do clínico dentro do campo que hoje chamamos de epidemiologia clínica
(PEREIRA, 2014).
Segundo Pereira (2014), Louis Villermé (1782-1863), pesquisou o impacto
da pobreza e das condições de trabalho na saúde das pessoas e sua associação
à mortalidade, também é referenciado e reconhecido na epidemiologia. Seu
trabalho sobre os trabalhadores das indústrias (algodão, lã e seda) é considerado
clássico por associar o trabalho a desfechos clínicos.
William Farr (1807-1883), sofreu influência de Pierre Louis e Louis Vil-
lermé, e como legado deixou a produção de informações epidemiológicas
sistemáticas para o planejamento de ações de saúde, como classificação de
doenças, a descrição das leis das epidemias (Lei de Farr) (PEREIRA, 2014).
Muitos estudiosos contribuíram para a história da epidemiologia e daquela
época aos dias atuais, muito evolui-se em conhecimento, rigor metodológico
e científico, a epidemiologia ampliou seus horizontes e concentrou esforços
no estudo da distribuição das doenças e seus desfechos, ampliando sua busca
para atuar na prevenção destas ocorrências e redução dos desfechos.
4 Epidemiologia: conceito

Muitos outros estudiosos contribuíram para a constituição do conceito e aplicações


da epidemiologia e merecem ser citados, como Fredrich Engels, Edwin Chadwick,
Rudolf Virchow, Louis Pasteur, Semmelweis, Edward Jenner, Jacques Quetelet, Gregor
Mendel, entre outros.

Conceito de epidemiologia
Inúmeras são as definições de epidemiologia, elas evidenciam de que até mesmo
hoje não há um consenso sobre o melhor conceito a ser adotado. Segundo
Pereira (2014), as definições mais antigas limitam-se às preocupações exclu-
sivas com as doenças transmissíveis e às causas e controles das epidemias. Os
conceitos mais recentes incluem as doenças não-infecciosas e outros problemas
de saúde, até mesmo os estados pré-patogênicos e fisiológicos (riscos).
Sendo assim, definir epidemiologia não é uma tarefa fácil devido a sua
mudança histórica e a sua evolução, no entanto, a compreensão do conceito
de epidemiologia fica mais acessível quando segmentamos/dividimos sua
palavra e atribuímos seu real significado etimológico:

EPI = a cerca de/sobre;


DEMÓS/DEMO = povo/população;
LOGOS = estudo.

Inicialmente, podemos compreender epidemiologia como a ciência que


estuda o que ocorre sobre a/na população. Evoluindo mais esse conceito,
podemos dizer que a epidemiologia é uma ciência que estuda a distribuição
das doenças e suas causas na população humana.
Segundo a Associação Internacional de Epidemiologia (1973), o conceito de
epidemiologia validado é: “O estudo dos fatores que determinam a frequência e
a distribuição das doenças nas coletividades humanas”. Porém, muitos autores
conceituam de forma aproximada, mas diferente a epidemiologia.
Segundo Pereira (2014), a epidemiologia é o ramo das ciências da saúde que
estuda, na população, a ocorrência, a distribuição e os fatores determinantes
dos eventos relacionados com a saúde.
Epidemiologia: conceito 5

Os autores Rouquayrol e Gurgel (2013), definem epidemiologia como a:

[...] ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades huma-


nas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades,
danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas
específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças, e forne-
cendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração
e avaliação das ações de saúde.

É esse conceito amplamente difundido no meio acadêmico e científico.


Independente do conceito literal de epidemiologia, esta se destina ao estudo
da ocorrência das doenças e não doenças em populações ou amostras repre-
sentativas desta população, e em seu escopo podemos encontrar as doenças
infecciosas, doenças não infecciosas e os agravos à saúde (integridade física)
e seu modo de retornar ao estado saudável ou evoluir para morte.
Entre os objetivos epidemiológicos, podemos citar resumidamente, identifi-
car fatores geradores das doenças, descrever a distribuição e a magnitude dos
problemas de saúde e prover dados para planejamento, execução e avaliação
das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças que subsidiem a
tomada de decisão em saúde.
A epidemiologia subsidiou muitas descobertas de fatores etiológicos ao
longo dos anos e recentemente, repetiu esse processo no Brasil associando a
Gripe A (H1N1) aos seus respectivos sintomas, alta mortalidade e a seu agente
causador, uma associação de vírus da gripe suína, das aves e humana que se
manifestou pela primeira vez em 2009.
O principal papel da epidemiologia não é apenas o estudo e observação,
mas gerar informações e conhecimentos para que essas situações possam ser
modificadas, ou seja, gerar a interrupção do processo de saúde-doença em
uma população e prevenir o reinício desse processo nas gerações futuras.

Pilares da epidemiologia
Com a evolução do conceito e das aplicações da epidemiologia, que antes se
restringiam à saúde pública e aos aspectos físicos e biológicos, atualmente,
ela adentra ao campo clínico e social e assume relevante papel para todas as
formações em saúde, o que aumenta proporcionalmente sua complexidade.
Para dar subsídio à essa nova configuração mais complexa da epidemiologia e
de suas aplicações, ela passe a utilizar 3 pilares de conhecimento sólidos para
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subsistir: as ciências biológicas ou da saúde, as ciências sociais e a estatística


(ROUQUAYROL; GURGEL, 2013).
Quanto às ciências biológicas ou da saúde, apoiam a epidemiologia com
conhecimentos formados e fornecidos de outras áreas, como a microbiologia,
parasitologia, imunologia, fisiologia, patologia, clínica, entre outras que abor-
dam o conhecimento sobre as doenças e suas manifestações, o que permite
atingir maior grau de compreensão na determinação da frequência/ocorrência
das doenças na população.
Quanto às ciências sociais, elas auxiliam na compreensão da interferência
do processo de doença no meio social. Essa análise é complexa, pois o hu-
mano pode adoecer dado o meio em que vive, hábitos comunitários e sociais
e à exposição de fatores de riscos e de proteção. Assim, a associação dos
conhecimentos biológicos ao meio social passa a ser um pilar fundamental
que constitui a epidemiologia moderna.
Quanto à estatística, seu rigoroso método científico para coletar, resumir e
analisar dados apoia a epidemiologia com sistematizado processo instrumental
e avanço tecnológico (softwares estatísticos) para qualificar às investigações
epidemiológicas. Para análise dos inúmeros dados populacionais ou até da re-
presentatividade dos dados amostrais, a epidemiologia faz uso da bioestatística
para análise e interpretação dos resultados e para planejamento e execução
dos futuros estudos científicos que refletirão conhecimento para as ações de
prevenção e controle dos processos de doença.

A epidemiologia fornece dados e esses são convertidos em


informações que apoiam o planejamento e a tomada de
decisão para controle e combate às doenças, cabe à saúde
pública fazer bom uso dessas informações. As informações
sobre as ações, estratégias e programas de saúde, que são
desenvolvidos no Brasil por meio do Ministério da Saúde
são armazenadas no Portal Saúde. Visite essa página e
analise as informações lá contidas:

https://goo.gl/ZpzHAF
Epidemiologia: conceito 7

Abrangência e atuação da epidemiologia


A epidemiologia continua evoluindo sua ciência e ampliando a abrangência e
atuação na consolidação de um saber científico rigoroso e moderno aplicado a
práticas de saúde. O objetivo da epidemiologia é o de reduzir os problemas de
saúde na população, para buscar esse objetivo é importante que se conheça a
distribuição das doenças, dos fatores que determinam esta distribuição e das
possibilidades de êxito das intervenções destinadas a alterá-las.
Segundo Almeida Filho e Rouquayrol (2006) e Pereira (2014) as principais
aplicações da epidemiologia compreendem três grandes áreas de atuação/apli-
cação que assumem estreita relação com a definição de epidemiologia.

1. Informar a situação de saúde da população: essa aplicação incluiu a


determinação das frequências, o estudo da distribuição dos eventos e o
consequente diagnóstico dos principais problemas de saúde ocorridos,
identificação das populações afetadas e a proporção desse problema.
Um exemplo dessa atuação se deu ao final do século XX, aproxima-
damente uma década após a implementação do sistema único de saúde
(SUS), o Ministério da Saúde do Brasil investigou os dados estatísticos
oficiais do Brasil (hoje no DATASUS disponível em: http://datasus.
saude.gov.br/) e descreveu o perfil de morbimortalidade da população
brasileira. O objetivo principal do Ministério da Saúde foi identificar
as causas das doenças e da mortalidade da população brasileira no ano
2000 e descrever a evolução desses dados. Com a análise desses dados
identificou-se que em 1999, morreram, em média, 34,6 crianças com
menos de um ano de vida para cada 1.000 que nasceram vivas naquele
ano no Brasil, e tal valor variou de 53,0 óbitos por 1.000 nascidos vivos
na região Nordeste até 20,7/1.000 na região Sul. Com essas informações,
o governantes puderam, na época, definir ações estratégicas a serem
implementadas de acordo com o perfil epidemiológico da população,
potencialmente com maior efetividade a partir de um planejamento
embasado em dados reais.
2. Investigar os fatores que influenciam as situações de saúde: a epi-
demiologia desenvolve e aplica metodologias sistemáticas e efetivas
para descrever e analisar as situações de saúde, estudando os determi-
nantes do aparecimento (causas) e manutenção dos danos à saúde na
população, fornecendo dados para o planejamento e organização das
ações de saúde que possam modificar essas situações. Um exemplo
de investigação que modificou os conceitos e atuações em causas de
8 Epidemiologia: conceito

doenças se deu no período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial,


pois era elevado o número de pessoas com neoplasias. Nas unidades
hospitalares, a quantidade de eventos oncológicos era surpreendente,
havendo inúmeros casos de enfisema pulmonar e câncer de pulmão.
Naquele momento histórico, o conhecimento vigente era limitado e
associava essa frequência às armas químicas, má alimentação e poluição.
Mesmo com esses conhecimentos, as políticas de saúde para diminuir a
ocorrência do câncer de pulmão não mostravam resultados positivos. Foi
então que dois pesquisadores, Richard Doll e Austin Hill, ao visitarem,
nos hospitais, pacientes com câncer de pulmão, perceberam que quase
todos relatavam o hábito de fumar. Posteriormente, eles acompanharam
os hábitos de vida de mais de 40.000 médicos britânicos e perceberam
que no grupo de fumantes havia muito mais casos de câncer de pulmão
que no de não fumantes, estabelecendo assim a primeira associação
do tabagismo ao câncer de pulmão (DOLL; HILL, 1999). Inúmeras
ações em saúde foram realizadas a partir desta definição para reduzir
o número de fumantes e assim minimizar o risco da doença.
3. Avaliar o impacto das ações propostas para alterar situação exis-
tente: essa atuação envolve questões relacionadas à determinação da
utilidade e segurança das ações isoladas, dos programas e dos serviços de
saúde. Da mensuração do impacto de resolução ou não das medidas ado-
tadas. Um grande exemplo desse item são as campanhas de imunização
existentes no país. Devido aos estudos que identificaram a distribuição
das doenças e as suas causas, inúmeras vacinas foram produzidas e
distribuídas na população e o impacto foi a erradicação de algumas
doenças como poliomielite e a redução significativa de outras como
sarampo e rubéola. Outro exemplo é a vacinação gratuita de idosos,
pois o Ministério da Saúde analisando as informações epidemiológicas
e percebendo que um dos principais motivos de internação entre os
idosos é a pneumonia (sua principal causa é a gripe), vem utilizando
a vacina contra a influenza como medida de redução da pneumonia,
redução da internação hospitalar e redução da mortalidade. A epide-
miologia possibilita o avanço do conhecimento sobre os determinantes
do processo de saúde-doença, assim como ocorre no contexto coletivo,
contribuindo para o avanço no conhecimento das causas-clínicas e
interferência nesse processo, mas além de interferir é necessário avaliar
se esse processo tem se mostrado eficaz.
Epidemiologia: conceito 9

O primeiro tratado da epidemiológica moderna foi escrito por Jerry Morris em 1957
e era intitulado de Os usos da epidemiologia. Essa obra compreendia 7 capítulos que
analisavam a utilidade potencial desta ciência. (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2006)

Epidemiologia em ensino e pesquisa


Com a evolução da ciência e tecnologia, a epidemiologia tem atuado na ava-
liação de procedimentos e serviços de saúde, na vigilância epidemiológica e
diagnósticos, no acompanhamento da situação de saúde das populações e no
ensino e pesquisa em saúde.
Dado ao crescimento e destaque que o ensino e a pesquisa epidemiológica
têm no contexto atual, vamos falar um pouco mais a cerca deste tema, também
porque são as pesquisas epidemiológicas que têm fundamentado todas as de-
mais áreas de atuação e decisões em saúde abordadas e descritas anteriormente.
Acompanhando a mudança de perfil dos processos de doenças (redução
das epidemias e crescimento dos processos crônico-degenerativos), a epide-
miologia progrediu por meio da pesquisa para determinar as condições de
saúde da população, para associar os agentes causadores e fatores de riscos
às doenças e principalmente avaliar o efeito e a segurança das intervenções
em saúde, propostas para alterar a incidência ou a evolução das doenças. Com
essa evolução, o nível de ensino e estudos sobre os fatores epidemiológicos
necessitaram ser aprofundados e diversificados. Emergiram vários grupos de
estudiosos propondo novas formas de análise e estudos para a epidemiologia
clínica e social.
Para alcançar todos esses objetivos, a pesquisa em epidemiologia necessitou
de maior robustez, e vários segmentos de pesquisa foram criados, acreditados
e sistematizados para que o processo de pesquisa se torne cada vez mais
válido e confiável, gerando informações precisas, sem vieses, que possam
embasar as futuras ações em saúde e modificar o perfil e processo de doenças
(prevalências e incidências). Foi necessário adotar procedimentos de grande
complexidade analítico, clínico e estatístico, oportunizando novos e mais
aprofundados estudos nesse campo do saber (FLETCHER, R.; FLETCHER,
S.; FLETCHER, G., 2014).
10 Epidemiologia: conceito

Segundo Fletcher, R., Fletcher, S. e Fletcher, G. (2014), os estudos e pesqui-


sas epidemiológicas mais conhecidos são as coortes (estudos longitudinais); os
estudos de caso-controle (estudo retrospectivo para identificação de causas);
os estudos transversais (verificam prevalências e associações) e os estudos de
intervenção (medem o efeito das intervenções para determinado propósito),
estes farão parte dos estudos e pesquisas de sua vida de estudante.

A epidemiologia associou muitas doenças, seus sinais e sintomas às suas causas, por
exemplo:
n diabetes ao consumo excessivo de açúcares;
n hipertensão ao consumo excessivo de sal;
n doenças cardiovasculares ao sedentarismo;
n câncer de pulmão ao tabagismo;
n leucemia à exposição de raio X durante a gestação;
n mortalidade infantil à condição social;
n trombose venosa ao uso de anticoncepcionais;
n transmissão do HIV e comportamento sexual;
n infarto agudo do miocárdio e colesterol;
n cáries dentárias a não inserção de flúor no sistema de abastecimento de água;
n mortalidade infantil a não amamentação materna.
Epidemiologia: conceito 11

1. Marque a alternativa que apresenta determinantes de doenças,


o conceito de Epidemiologia: inferência estatística de
a) É uma ciência que fornece um estudo científico.
dados para tomada de decisão. b) Inferência estatística de um
b) É a ciência que estuda o processo estudo científico, avaliação da
saúde-doença em coletividades utilização dos serviços de saúde
humanas, analisando a e avaliação do impacto das ações
distribuição e os fatores para alterar a situação de saúde.
determinantes das enfermidades, c) Descrição das condições
danos à saúde e eventos de saúde da população,
associados à saúde coletiva. investigação dos fatores
c) É uma disciplina dos cursos determinantes de doenças,
da saúde que estuda os avaliação da utilização dos
delineamentos de estudos serviços de saúde e avaliação
epidemiológicos. do impacto das ações para
d) Epidemiologia é o método alterar a situação de saúde.
de pesquisa que estuda o d) Avaliação da utilização dos
processo saúde-doença em serviços de saúde, descrição
coletividades humanas. das condições de saúde da
e) Epidemiologia é o mecanismo população, investigação dos
de controle ou erradicação de fatores determinantes de
doenças baseadas em dados doenças e inferência estatística
da população obtidos em de um estudo científico.
estudos epidemiológicos. e) Não há aplicação da
2. Segundo a história da Epidemiologia epidemiologia.
e as descobertas epidemiológicas, 4. Considerando as áreas de atuação
marque a alternativa que apresenta da Epidemiologia, marque a
o nome de quem é considerado alternativa que apresenta apenas
o pai da Epidemiologia: as áreas de atuação corretas:
a) Hipócrates. a) Avaliação de procedimentos
b) John Graunt. e serviços de saúde,
c) Pierre Charles Alexandre Louis. acompanhamento da situação
d) Louis Villermé. de saúde das populações,
e) John Snow. intervenções na fauna e flora.
3. Considerando as aplicações b) Ensino e pesquisa em saúde,
da Epidemiologia, marque vigilância epidemiológica e
a alternativa correta: diagnóstico, acompanhamento
a) Descrição das condições da situação de saúde das
de saúde da população, populações e acompanhamento
investigação dos fatores da mudança na fauna e flora
12 Epidemiologia: conceito

para intervenções futuras. e serviços de saúde, vigilância


c) Vigilância epidemiológica e epidemiológica e diagnóstico,
diagnóstico, acompanhamento acompanhamento da situação
da mudança na fauna e flora de saúde das populações.
para intervenções futuras e 5. Quais as áreas de graduação
acompanhamento da situação do Ensino Superior que
de saúde das populações. formam epidemiologistas?
d) Acompanhamento da a) Apenas médicos,
mudança na fauna e flora engenheiros e geógrafos.
para intervenções futuras, b) Apenas nutricionistas,
ensino e pesquisa em saúde, farmacêuticos e
avaliação de procedimentos assistentes sociais.
e serviços de saúde, vigilância c) Apenas dentistas, estatísticos
epidemiológica e diagnóstico, e educadores físicos.
acompanhamento da situação d) Apenas profissionais
de saúde das populações. da área da saúde.
e) Ensino e pesquisa em saúde, e) Todo e qualquer profissional
avaliação de procedimentos de qualquer área.
Epidemiologia: conceito 13

ALMEIDA FILHO, N. de; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à epidemiologia. 4. ed. rev.


ampl. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE EPIDEMIOLOGIA. Guia de métodos Enseñanza. IEA/
OPS/OMS. Publicação Científica, n. 266, 1973.
DOLL, R.; HILL, B. Smoking and carcinoma of the lung. British Medical Journal, London,
p. 739-748, 30 set. 1950. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/
PMC2038856/pdf/brmedj03566-0003.pdf>. Acesso em: 23 ago .2017.
FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; FLETCHER, G. S. Epidemiologia clínica: elementos
essenciais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
JOHN SNOW. In: Wikipédia, 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
John_Snow>. Acesso em: 24 ago.2017.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
ROUQUAYROL, M. Z.; GUERGEL, M. (Org.). Epidemiologia e saúde. 7. ed. Rio de Janeiro:
MedBook, 2013.

Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA. A Epidemiologia
nos serviços de saúde: texto extraído do “II Plano Diretor para o Desenvolvimento
da Epidemiologia no Brasil: 1995-1999” da Comissão de Epidemiologia, ABRASCO,
Rio de Janeiro, 1995. Informe Epidemiológico do SUS, Brasília, DF, v. 6, n. 3, p. 7-14, jul./
set. 1997. Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/iesus/v6n3/v6n3a02.pdf>.
Acesso em: 23 ago. 2017.
JEKEL, J. F.; KARTZ, D. L.; ELMORE, J. G. Epidemiologia, bioestatística e medicina preventiva.
2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
Conteúdo:
Dica do professor
No século XIX, em Londres, 1854, durante uma epidemia de cólera, o médico britânico John Snow
identificou o agente causador da cólera. John, por meio da observação sobre os sintomas da
doença e sua forma de distribuição/contágio, concluiu que existia uma associação causal entre a
doença e o consumo de água contaminada.

Acompanhe, no vídeo a seguir, um pouco mais sobre o episódio histórico que fez de John Snow, o
pai da Epidemiologia Moderna.

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Exercícios

1) Marque a alternativa que apresenta o conceito de Epidemiologia:

A) É uma ciência que fornece dados para tomada de decisão.

B) É a ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a


distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos
associados à saúde coletiva.

C) É uma disciplina dos cursos da saúde que estuda os delineamentos de estudos


epidemiológicos.

D) Epidemiologia é o método de pesquisa que estuda o processo saúde-doença em coletividades


humanas.

E) Epidemiologia é o mecanismo de controle ou erradicação de doenças baseadas em dados da


população obtidos em estudos epidemiológicos.

2) Segundo a história da Epidemiologia e as descobertas epidemiológicas, quem desenvolveu


uma teoria sobre o modo de transmissão da cólera pelo consumo de água contaminada?

A) Hipócrates.

B) John Graunt.

C) Pierre Charles Alexandre Louis.

D) Louis Villermé.

E) John Snow.

3) Considerando as aplicações da Epidemiologia, marque a alternativa correta:

A) Descrição das condições de saúde da população, investigação dos fatores determinantes de


doenças, inferência estatística de um estudo científico.

B) Inferência estatística de um estudo científico, avaliação da utilização dos serviços de saúde e


avaliação do impacto das ações para alterar a situação de saúde.
C) Descrição das condições de saúde da população, investigação dos fatores determinantes de
doenças, avaliação da utilização dos serviços de saúde e avaliação do impacto das ações para
alterar a situação de saúde.

D) Avaliação da utilização dos serviços de saúde, descrição das condições de saúde da


população, investigação dos fatores determinantes de doenças e inferência estatística de um
estudo científico.

E) Não há aplicação da epidemiologia.

4) Considerando as áreas de atuação da Epidemiologia, marque a alternativa que apresenta


apenas as áreas de atuação corretas:

A) Avaliação de procedimentos e serviços de saúde, acompanhamento da situação de saúde das


populações, intervenções na fauna e flora.

B) Ensino e pesquisa em saúde, vigilância epidemiológica e diagnóstico, acompanhamento da


situação de saúde das populações e acompanhamento da mudança na fauna e flora para
intervenções futuras.

C) Vigilância epidemiológica e diagnóstico, acompanhamento da mudança na fauna e flora para


intervenções futuras e acompanhamento da situação de saúde das populações.

D) Acompanhamento da mudança na fauna e flora para intervenções futuras, ensino e pesquisa


em saúde, avaliação de procedimentos e serviços de saúde, vigilância epidemiológica e
diagnóstico, acompanhamento da situação de saúde das populações.

E) Ensino e pesquisa em saúde, avaliação de procedimentos e serviços de saúde, vigilância


epidemiológica e diagnóstico, acompanhamento da situação de saúde das populações.

5) Quais as áreas de graduação do Ensino Superior que formam epidemiologistas?

A) Apenas médicos, engenheiros e geógrafos.

B) Apenas nutricionistas, farmacêuticos e assistentes sociais.

C) Apenas dentistas, estatísticos e educadores físicos.

D) Apenas profissionais da área da saúde.

E) Todo e qualquer profissional de qualquer área.


Na prática
Uma situação prática da aplicação da Epidemiologia, são os dados coletados nos estudos
epidemiológicos. Esses dados esboçam o panorama da doença auxiliando no controle, interpretação
e implementação de ações para o bem da população.

Acompanhe, na imagem seguinte, um Estudo Epidemiológico sobre a Tuberculose – doença


considerada um problema de saúde pública de magnitude mundial. Apesar de ser uma doença
infectocontagiosa, evitável e curável, as diversas estratégias e esforços para redução e controle não
foram efetivos ainda, o que torna imprenscindível a realização constante de novos estudos.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Epidemiologia Moderna

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A História do Cólera

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Introdução à Epidemiologia

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