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MEINS
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Todos os direitos reservados.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
Para Bruxa.
Bem-vinda à Snowville!
Sinopse
EMME MULLER é uma prestigiada designer gráfica de jogos,
acostumada a esconder seus desejos por trás de seu jeito indomável, o que
faz com que ninguém conheça a autêntica Emme... Ninguém, exceto o homem
que interrompe seu caminho na busca por sua melhor amiga, Trish.
COLLIN DEL REY é um shifter-leão, um alfa, marcado pela dor e
pela tristeza de ter perdido sua Companheira Prometida trinta anos após seu
acasalamento.
Espantosamente, ele sobreviveu a dor dilacerante e a tristeza
esmagadora, mas o tempo é severo e implacável quando se perde algo
insubstituível.
Frio, duro, amargo, solitário e altamente perigoso em proporções
desmedidas. Seu coração endurecido com o tempo está fechado até seu
último suspiro.
Mais de dois séculos depois, Collin verá que o Criador tem sua
própria forma de agir e não pede permissão para fazer o que quer, quando o
destino coloca em seu caminho a última mulher na face da Terra que ele
pensaria em tomar como companheira.
Um presente inesperado, que surpreende a todos e a ele próprio, que
não está disposto a aceitar, mas o Criador não aceita recusas, e sem piedade,
exigirá sua rendição.
Forever Mine
Lendas, magias e mistérios envoltos pela escuridão velada de um
inverno rigoroso em Inuvik. Um lugar remoto, onde almas destinadas pelo
Criador, antes mesmo do nascimento, descobrirão o seu FOREVER MINE.
Glossário
Companheiros prometidos: almas criadas sob medida pelo
Criador e designadas a estarem juntas para sempre.
Conselho do Bando: formado pelos anciões do bando que são
escolhidos pelo alfa.
Conselho de Raça: formado por anciões milenares, um de cada
espécie de shifter existente.
Corrida: evento celebrativo de união do bando e de acasalamento.
Criador: entidade divina.
Drukāt: magia puramente sexual, um afrodisíaco potencializador
adicional e exclusivo dos companheiros prometidos.
Febre do acasalamento: frenesi sexual espontâneo, que age tanto
no macho quanto na fêmea quando querem se acasalar, prometidos ou não.
Hendrix: chá de especiarias contraceptivo, único capaz de impedir
a gravidez das fêmeas em seu período fértil e/ou durante o acasalamento.
Shifter: seres com habilidade de mudar para duas formas: animal e
hibrida. Diferente de lobisomens, shifters são racionais e não podem ser
transformados. Eles nascem assim e não são influenciados pela lua. Há
várias espécies, lobo, urso, leão, leopardo, tigre etc.
Sinopse
Forever Mine
Glossário
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Epílogo
Agradecimentos
Contato
Sobre a Autora
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VISITA INDESEJADA
INUVIK, TERRITÓRIOS DO NOROESTE, CANADÁ.
FINAL DO INVERNO
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Na manhã seguinte, Emme acordou mais disposta, ainda que olhar
para fora das vidraças a fizesse dar uma pausa para se maravilhar com a
peculiaridade do lugar.
Ela se encontrou com Trish e Caleb para o café da manhã. Mais uma
vez, surpreendeu-lhe a dinâmica do casal. Cada minuto na presença deles
diminuía suas preocupações e aumentava sua certeza de que Trish estava
bem. Ela tinha conseguido seu felizes para sempre.
Era inegável o amor de Caleb pela mulher.
— Dormiu bem? — Trish perguntou.
— Maravilhosamente. — Ela se serviu de café. — Estou pronta pra
começar o dia.
— Precisamos dessa disposição aqui — Caleb disse, trazendo para
mesa uma frigideira com ovos e bacon, servindo-as e depois a si mesmo,
antes de sentar.
— Emme é a pessoa mais ativa que conheço, querido.
— E amante da noite — ela assinalou.
— Está no lugar certo então.
Depois do café, Emme se agasalhou e se encontrou com o casal na
sala.
— Pensei que tinha dito que iriamos sair agora — ela disse em voz
baixa.
— E vamos — Caleb garantiu, parecendo divertido.
Intrigada, Emme olhou de um para o outro.
— Por que eu estou parecendo um esquimó e vocês não?
— Estamos acostumados com o clima daqui — elucidou Caleb. —
O frio não nos incomoda como faz com os outros. Somos um povo de sangue
quente.
— Se você diz.
Trish não era amante do frio, ao contrário dela própria.
A amiga sempre dissera que quando estivesse confortável
financeiramente, iria se mudar para um lugar mais quente como a Flórida ou
o Texas.
— Podemos ir? — Caleb perguntou.
Emme sacudiu as estranhezas para longe e olhou ao redor de si
mesma.
— Não me cabe mais nada. Estou pronta.
Não estava nevando. Havia eletricidade, uns poucos pontos de luz
margeando as ruas, que estavam relativamente limpas. Caleb explicara que
tinham máquinas para limpar o caminho. Emme ficou encantada com a
estrutura da reserva que, embora parecesse inóspita, um lugar que Deus tinha
abandonado à própria sorte, era bem organizado, com belas casas,
construções ao estilo log house. A casa de Caleb e Trish era uma construção
opulenta, sem perder o charme e o ar rústico característico do lugar, com
algumas das modernidades que ela não pensou ser possível terem lá.
Conheceu moradores pelo caminho, crianças brincando do lado de
fora.
A princípio, Emme tinha estranhado seus anfitriões não usarem tanta
roupa para se proteger do frio. Mas agora, vendo os outros moradores,
mesmo as crianças, era ela quem se sentia fora do lugar, a esquisita por estar
tão agasalhada.
Eles continuaram o percurso.
Neste ínterim, ficou claro que Caleb e Trish eram queridos e
respeitados pelos membros da reserva. Não, era mais que isso. Era como se
eles fossem um tipo de realeza. Os moradores pareciam contentes e
agraciados dando-lhes cesta de pães e quitutes no caminho. Que Trish
agradeceu com toda elegância e amabilidade. A ela restava os olhares
curiosos e cumprimentos vagos.
Havia um quê de desconfiança no ar.
Não que Emme pudesse culpá-los por serem cuidadosos com
forasteiros.
Não obstante, a comoção que vinha ignorando desde que saíram de
casa, superou sua indiferença. Emme não podia afastar a sensação de estar
sendo vigiada. Por vezes, seus olhos correram ao redor com atenção.
Sua frequência cardíaca aumentou, repentinamente.
— Algum problema?
— Nenhum.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Está segura aqui — garantiu Caleb.
— O quê?
— Você parece inquieta como se temesse ser atacada a qualquer
momento — explicou ele, com calma e paciência.
Emme riu sem graça, forçando-se a relaxar.
— Esse lugar parece ter saído do conto de fadas, mas de um jeito
distorcido. Quero dizer, desculpa, isso saiu completamente errado. — Ela
fez uma pausa e coçou a testa com o polegar. — Não sou bruxa ou uma
entusiasta do misticismo e esse lance de energias. Mas, sei lá, aqui parece
ter uma aura sobrenatural. Eu, provavelmente, estou sendo estúpida. — Ela
riu com embaraço.
— Este é o lugar mais seguro para se estar.
Caleb a olhou por um momento a mais.
Por uma estranha razão, sentia que o homem, apesar de estudá-la,
estava também prestando atenção ao redor, e depois assentiu.
Eles visitaram Sue, e depois o complexo de trabalho comunitário,
onde eram produzidos boa parte dos produtos. A outra parte vinha dos
moradores que preferiam trabalhar em suas casas e entregar os produtos
quando prontos.
Trish explicou que quando se mudou, ela havia expandido a marca,
planejando a logística para que pudessem vender os produtos online para o
mundo todo. Os produtos eram tão únicos e exclusivos quanto as grifes
caras. As pessoas gostavam do exótico. E com as habilidades de Trish em
investimentos financeiros, estavam faturando alto. A divisão dos ganhos se
dava pela produtividade e a hierarquia da reserva.
Havia ainda uma estufa para o plantio de hortaliças, legumes e
frutas.
Depois Caleb as guiou numa pick-up até a cidade para almoçar na
P&C.
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Num minuto, Emme estava lamentando sua má sorte, e no outro,
estava sendo içada nos braços de Collin como se não pesasse nada. E ela
não era exatamente leve. Mas ele não estava ofegando ou suando quando
começou a caminhar. Com os braços ao redor do pescoço dele, Emme
deixou se envolver pelo seu calor e se permitiu relaxar contra o peito amplo,
tão duro e forte, como ela pensou que seria. Respirando-o, distraída com o
perfume delicioso do perfume, que ele usava, para não pensar na dor
latejante em seu tornozelo.
O terreno era cheio de obstáculos. Ainda assim, Collin estava
andando calmamente, passos firmes, como se soubesse exatamente onde
pisar. O balanço suave fazendo seus corpos roçarem. Havia uma grossa
camada de roupas entre eles. Nenhuma intenção sexual. Era diferente. Emme
pensou que ele estava sendo cuidadoso com ela porque se preocupava com
seu bem-estar.
O pensamento, espontâneo e indesejado, se assentou bem em seu
coração e a fez dar uma boa cheirada, esfregando a bochecha e o nariz no
peito dele.
Ela devia ficar mortificada por sua falta de controle, mas fez de
novo.
A reação de Collin foi instantânea.
O homem ficou mais duro que pedra. E, de repente, ela queria saber
se outra coisa nele endureceu também. Ela arriscou um olhar em seu rosto,
com o coração batendo a mil. A mandíbula marcada com tensão. As linhas
escuras de seu rosto sexy, a barba loira escura de dias. Sua expressão era
quase violenta. Ele não disse nada. Nem sequer a olhou. E, mesmo assim, a
visão dele foi capaz de gelar sua barriga e deixar Emme momentaneamente
fraca.
Ela deveria recuar, era a coisa sensata a se fazer. Mas desde que ele
não estava falando e aquele cheiro rico era tão bom, ela iria aproveitar o
passeio.
Podia jurar que tinha se intensificado, intoxicando-a.
— Para onde está me levando? — ela perguntou, notando a floresta
se abrir.
— Casa — ele rosnou.
— Mas estamos longe, você mesmo disse.
Ele rangeu os dentes. O tique nervoso em sua mandíbula.
Emme deparou-se com uma cabana. Nada como as construções
opulentas das casas que ela tinha visto. Era minúscula e duvidosa, com um
alpendre.
Tão rústica quanto o seu dono.
Não demorou para que eles estivessem dentro.
Collin parou no meio da cabana. Emme olhou em volta. A luz do
dia, que agora duraria 24h, permeava timidamente por entre as poucas
frestas que a cortina pesada permitia. Dentro era quase medieval para o seu
padrão.
Nenhum luxo ou conforto até onde seus olhos podiam ver.
Havia uma cama de aspecto desagradável, o lençol, que parecia ter
visto dias melhores, esticado, como se nunca tivesse sido usado. Emme
engoliu à seco, a temperatura corporal subindo. Nervosa, de repente, e ela
nem sabia o porquê.
Ela pensou ser medo.
Seu instinto de sobrevivência finalmente dando às caras.
Mas tão rápido como surgiu, ele se foi.
Collin não era uma ameaça real para ela. Ele não iria usar o
momento de completo isolamento para saltar nela. A certeza deveria deixá-
la aliviada.
Deveria.
Ocorre que ela não parecia estar em seu juízo perfeito.
Collin protelou, e depois cruzou o espaço resmungando tão baixo
que não pôde discernir suas palavras. Ele a colocou sentada no que devia
ser a pior e mais desconfortável cama do mundo.
— Por que não abre as cortinas? E por que essa cama é tão dura?
— Por que faz tantas perguntas?
— E por que você não responde?
— Não te devo nada.
— Não é uma questão de dever, mas de educação.
— Não sabia que você conhecia o conceito.
— O que quer dizer?
Collin a ignorou, ajoelhando-se na frente dela. E com uma
delicadeza, que ela julgou que ele não conhecesse, livrou seu pé da bota e da
meia. O toque nu, pele a pele, provocou em seu corpo reações
desconcertantes.
Houve ainda uma sensação sútil de calor se espalhando, onde ele
tocava, até que a dor se tornou uma lembrança.
Seus lábios partiram, olhando para o tornozelo.
Ela olhou com fascínio. Intrigada. Por um momento, apanhada na
sensação deliciosa do toque dele. E depois o fitou. Collin estava
concentrado. Nenhuma emoção que pudesse ler, salvo pela rigidez da
postura dele.
O belo rosto masculino esculpido em pedra.
— Se abrir as cortinas e as janelas um pouco para arejar o
ambiente...
Ela deixou a voz morrer com o som que ele fez. Um ruído incomum,
como um gato. Emme quis provocá-lo mais. Dizer que o ambiente cheirava a
mofo. Mas seria mentira. Cheirava a ele. Masculino. Quente. Marcante. Um
quê de selvageria que rapidamente etiquetou como próprio de Collin.
— Pensei que todos por aqui esperassem ansiosos para a luz da
primavera fazer sua entrada depois de meses no escuro.
Ele, obviamente, não estava a fim de manter um diálogo.
— Que tal acender uma luz? —sugeriu ela, não se aguentando.
— Não há eletricidade aqui. — Ele se levantou de forma abrupta.
Ela observou boquiaberta pelo choque da informação, ele sair e
depois voltar com um pano e se ajoelhar na frente dela, novamente.
O homem era tão alto, que mesmo ajoelhado, ela ainda tinha que
inclinar a cabeça um pouco para olhar em seus olhos assombrosos.
Ela o namorou da posição em que estava, bebendo de sua visão
sexy.
— Como você não tem eletricidade aqui?
— Meus olhos funcionam.
Ele a olhou e ela não duvidou. Cada vez que o tipo a olhava com
aqueles olhos, ele parecia enxergar mais uma camada dela.
Nesse ritmo, Emme logo estaria nua para ele.
O pensamento ganhou conotações eróticas, pegando-a
completamente de surpresa pela reação desproporcional de seu corpo. Ela
reprimiu um gemido, que jurou que era de lamento, e não do súbito desejo
molhando sua boceta.
— É um nômade, não é? Um selvagem. O último resistente. —
Emme estava provocando para tirar-lhe uma reação, sem sucesso.
Collin a ignorou, deliberadamente. Ele era bom nisso. Bom demais
para desestabilizá-la e abrir buracos em sua autoestima sem dizer uma única
palavra.
Ele colocou o gelo, enrolado no pano, em seu tornozelo.
Ela reclamou, estremecendo.
O pano estava úmido e congelante em sua pele.
Ele olhou para ela em silêncio, tão imóvel, uma estátua lapidada a
perfeição.
Emme se chateou, odiava ser ignorada e as palavras não ditas.
— Segure.
Ela fez. Ele ficou em pé e se distanciou para a porta.
— Onde vai?
— Pegar um snowmobile para te levar de volta ao chalé. Não há
nada para ser feito aqui por você que eu já não tenha feito.
— Obrigada... Espere, não vi nenhum desses por aqui.
— Pegarei emprestado.
— Irá voltar pra reserva?
— Estamos na reserva.
— Você entendeu. — Ele ficou olhando. — Não pode me deixar
sozinha aqui. E se o animal, que estava me perseguindo, nos seguiu até aqui?
— Nenhum animal nos seguiu.
— Como sabe?
— Eu sei.
— Admiro sua confiança, mas não disponho dela.
— Você não tem escolha.
— Eu não quero ficar sozinha, Collin.
— Não há nada para temer aqui.
— E se o animal aparecer?
— Ele não vai.
— Eu não estaria muito certa disso.
— Você é o único perigo aqui, Emmanuelle — ele disse com tal
convicção, com tanta força, que ela acreditou. — Chega disso. Deveria ter
me escutado.
— Eu sinto muito, ok? — ela resmungou, magoada, os olhos baixos
e brilhantes com lágrimas. — Você me avisou e eu fui teimosa.
— Não foi sua culpa, Emmanuelle — ele disse baixinho, parecia
quase com raiva, mas não era destinado a ela, salvo a expressão de
desculpas.
— Tudo bem — ela cedeu. — Desculpe, eu só fiquei um pouco
louca. Pode pelo menos acender a lareira? Está frio aqui. Não sei como
consegue ficar aqui assim sem congelar ou morrer de frio.
Ela observou. Ele mantinha a jaqueta de couro com pelagem dentro,
único agasalho protegendo, além da calça e botas. Pelo jeito, todos lá eram
quentes como o inferno. Collin acendeu a lareira. E depois saiu.
Para sua surpresa e desgosto, ele não custou para retornar.
O som de um motor se aproximando elevou seus batimentos
cardíacos e fez sua barriga gelar. Ela se sentiu mole e fraca. Emme foi
tomada por uma diferente e estranha sensação de perda, que emergiu das
profundezas de suas entranhas, ao dar-se conta que o tempo deles juntos
estava acabando.
Ela não queria partir ainda.
Queria ficar com o rabugento gostoso, tirar-lhe do sério um pouco
mais. E quem sabe receber um pouco de sua atenção sem que ele a estivesse
espezinhando? Ela gostou desse momento, mesmo que minúsculo.
A porta se abriu e Collin passou por ela, correndo a mão pelo
cabelo.
Ele parou, o olhar buscando-a e conectou-se ao dela.
Ele parecia selvagem. Sombrio. Primal. Glorioso. A intensidade de
sua presença a deixou ofegante e com a boca seca. Roubou suas palavras.
Um arrepio percorreu seu corpo numa espiral de fogo, apertando
seus mamilos e desceu, envolvendo sua vulva. O homem a aterrorizava. Mas
tinha que admitir, sua aspereza era sexy como o inferno. Um tipo indomável
capaz de destruir corações, que ela fantasiava na privacidade de sua mente.
Emme tinha sonhado com ele quase todas as noites.
Sonhos eróticos. Sexo selvagem e louco. Que a fez acordar com um
latejar incessante e uma necessidade dolorosa de ser fodida a exaustão.
Estava se voltando cada vez mais forte. Difícil de conter, de aplacar. Ela
nunca se sentiu tão atraída assim por nenhum homem antes dele. E esse tesão
descomunal...
Ela lambeu os lábios e puxou uma respiração profunda.
Ela assistiu seus punhos se fecharem num aperto de ferro.
Ele pisou até ela, tirando o pano de sua mão.
Em seguida, Collin a içou mais uma vez.
Num ímpeto de loucura, ao enlaçar o pescoço dele, Emme não
conteve o desejo de sentir a textura do cabelo dele entre seus dedos,
deixando a mão escorregar da nuca para o topo da cabeça. Infiltrando os
dedos na massa de fios sedosos. Era de um loiro escuro. Totalmente quente.
Emme gemeu, um som baixo e sensual.
Collin olhou para baixo, aferrando o olhar no seu, tão surpreso
quanto.
Por um ínfimo momento, a temperatura pareceu aumentar
drasticamente, mesmo os olhares se tornaram pesados com a luxúria.
Emme lambeu os lábios mais uma vez e o olhar interessado dele
desviou acompanhando sua língua. Erotismo queimando nos orbes azuis até
que eles ardiam com a sensualidade escura que cobriu suas belas feições.
Oh, Deus, será que ele...?
Ela queria o beijo.
Detestava o tipo, mas queria seu beijo, chupar sua língua, com a
mesma necessidade feroz que seus pulmões tinham por oxigênio.
A vontade de cair em tentação era inebriante. E, de repente, ela
sabia que sua determinação em resistir e parecer inacessível não duraria na
presença dele.
Emme viu, com prazer, os lábios dele se partindo, antes de
tensionarem apertados em uma linha rígida. Ela murchou, decepcionada.
Collin fechou os olhos com força e puxou uma respiração funda.
— Não faça isso, Emmanuelle... Por favor. Não faça isso comigo.
— Não uma demanda, um rogo sofrido, antes que ele se livrasse dela.
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SENTIMENTOS CONFUSOS
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— Caleb, que prazer tê-lo aqui — Sue disse, ao abrir a porta para o
alfa, com um sorriso que dizia que ela já esperava por ele. — Entre e sente,
fiz bolo.
Ele cumprimentou Alik, o ancião mais velho do bando, e depois
escolheu uma cadeira.
— O acasalamento te fez bem, meu jovem.
Caleb sorriu, a nuvem de preocupação e tensão dissolvendo.
— Trish é tudo que sempre quis.
— Esse é um acasalamento abençoado, jovem alfa — Alik
assegurou.
Sue colocou o bolo na mesa e lhe serviu uma xícara de café. Caleb
cortou um generoso pedaço para si e comeu em quatro grandes mordidas.
Bebeu café.
— Delicioso como sempre — disse ele, indo para trás na cadeira.
A velha sorriu.
— O que o traz aqui? — Alik perguntou.
— Collin.
— O que há com ele?
Sue sorriu do outro lado.
— O que sabe? — Caleb perguntou, ao invés.
— O que uma velha curandeira como eu saberia, Caleb?
— Justamente por ser velha deve saber muito.
— O humor dos jovens é muito refrescante.
Caleb rosnou, não perdendo o sorriso discreto do ancião.
— Esconder coisas importantes de seu alfa é um crime grave.
— Sei apenas o que os ventos sussurram por aí.
— As fofoqueiras do bando?
— Somos todos sintonizados, não? — comentou ela, bebendo de
sua xícara. — É o alfa. Isso faz de você o maior de todos.
Seu lobo estreitou o olhar, bufando. Sue sempre dava um jeito de
brincar com ele e valsar para longe de sua fúria com a graça e elegância de
uma loba.
— Naquele dia, — Caleb murmurou, após um momento reflexivo.
— Você lhe disse que ela não estava indo a qualquer parte. Por que disse
isso?
— Intuição. Seu chefe-executor parece mais apanhando pelo
encanto dessa fêmea do que demonstra. Ele próprio parece não notar. E se
nota, ignora.
Nisso, eles concordavam.
— O macho é um risco? — Alik perguntou, o semblante muito
sério.
— Não. — Caleb fixou Sue. — Se há algo a dizer, alguma outra
informação que gostaria de compartilhar, essa é a hora. Estamos às cegas
aqui e eu já tenho muitos problemas na mão. Toda ajuda que puder ter, é
importante.
— Recorda quando o aceitou no bando? — Alik perguntou.
— O bando não estava feliz com minha decisão — ele ponderou,
pensativo.
— Não, não estava. Ainda assim, eles aceitaram.
— Não havia muito que pudessem fazer, Alik, quando a última
palavra sempre foi minha depois que me tornei alfa do bando — Caleb
zombou.
— Um alfa solitário é só um alfa, mas, com um bando, ele é
indestrutível.
O ancião estava certo. Sem o bando, ele era mais um alfa à deriva.
O bando honrava seu alfa com respeito e compartilhavam sua força,
concedendo-lhe poder.
— Eles estavam receosos — Alik continuou. — E não era como se
pudéssemos culpá-los.
— Ainda assim, você lhe deu um lugar aqui e uma posição de
prestígio.
— Collin salvou um par de filhotes e fêmeas, Alik. — Caleb se
debruçou para frente, os antebraços na mesa. — Ele poderia ter ignorado
quando se deparou com o perigo que as fêmeas e os filhotes enfrentavam.
Ninguém o culparia. Felinos e caninos tem sido inimigos naturais desde
sempre. Mas, mesmo com o risco, ele ficou e lutou, colocando sua honra e
vida a serviço dos inocentes. Ele não tinha que fazer isso, mas o fez de
qualquer maneira.
— Ele estava onde tinha que estar — o ancião disse, simplesmente.
Collin tinha salvado sua gente, civis inocentes, enquanto lutava com
Lucius pelo poder. Ele não sabia que havia uma emboscada orquestrada
naquela manhã para forçar uma fusão e garantir que não haveria resistência
por parte do bando de Snowville. Um grupo rival sórdido, que estivera em
negociação com Lucius, ansiava unir o bando numa grande alcateia de puro
terror.
Shifters-lobos, com o mesmo ideal mesquinho do alfa no comando,
espreitaram os mais vulneráveis, matando os machos que tentaram protegê-
los.
Eles teriam matado as fêmeas e os filhotes se não fosse por Collin.
O macho tinha sido cruel e selvagem, sua dor direcionada a atacar e
aniquilar.
Collin, afinal, era um alfa. Um shifter-leão poderoso. Não mais pelo
amor, senão pela dor e destruição dentro dele. Ele também quase morreu no
processo.
As fêmeas cuidaram dele e buscaram ajuda. E ainda hoje, mesmo
que Collin recusasse polidamente, elas insistiam em lhe demonstrar gratidão.
Cozinhando para ele, fazendo suas compras e o que mais precisasse.
A paz reinou, Lucius tinha corrido, mas o caos ficou para trás.
Enquanto se reerguiam, Collin se curou.
Caleb, contra toda a prudência e opiniões contrarias, mas seguindo
seus instintos, ofereceu asilo e uma posição ao macho. Era arriscado. Collin
podia estar dilacerado, mas ainda era um alfa forte. Caleb tinha acabado de
ganhar a liderança do bando, estava exausto. Ele ainda não podia descansar,
poderia haver alguém tentando desafiar, mesmo o forasteiro. Ele precisava
parecer forte. Implacável. Letal. Mesmo que estivesse prestes a ruir. Collin
esteve lá, compartilhou com ele seu próprio poder, reconhecendo-o como
alfa do bando e seu próprio, logo outros shifters seguiram pelo mesmo
caminho.
Collin lhe ofereceu sua submissão e lealdade.
E acalmou seu lobo e o bando.
O ancião estava certo, um alfa sem um bando era apenas um alfa.
Mas um alfa, com um bando, era imbatível.
Ele lutou pela matilha e eles lhe presentearam com honra, lealdade
e força.
Havia relutância e desconfiança quando Caleb nomeou Collin como
chefe-executor. Sua gente não confiava no leão, mas confiava no julgamento
do alfa.
— Meus instintos me diziam que podia confiar nele.
— E foi o bastante para todos nós. — Alik fez uma pausa. — Seus
instintos, o macho honrado e nobre, despertou o alfa que existe em você. E
você fez a coisa certa. Por que não confiaríamos em você para nos tirar da
miséria, que fomos lançados, e construir um bando sobre um solo fértil e
próspero? Você nos deu esperança e nós retribuímos. É assim que é.
Sue bebeu de sua xícara, a expressão escurecendo.
— O espanto corre sobre todos. Há boatos que a fêmea humana
despertou o interesse de seu chefe-executor.
— Isso não é exatamente um problema — disse Alik.
— Ele é um macho enlutado por sua prometida — Caleb assinalou.
— Um macho que o animal se recusa a dominar e o homem recusa a
se entregar — Sue apontou o que ainda era de espanto de todos. — Não acha
isso estranho?
— O que está dizendo, Sue?
— Talvez o Criador esteja reparando uma injustiça.
Caleb descartou, com um balanço de cabeça.
— Não há duas companheiras prometidas para um mesmo macho.
— Como sabe? — Alik perguntou.
— Interessante que ela, assim como Lee, são amigas de sua fêmea.
Havia uma teoria louca compartilhada pela fêmea humana de
Embry. Ele tinha ouvido sussurros aqui e lá, sobre Trish ser um imã para
companheiras prometidas.
Caleb nunca levou a sério.
— Isso pode ser coincidência.
— Talvez. O Criador, no entanto, nunca erra.
— Isso faz sentido — Alik ponderou. — Sua fêmea trouxe
mudanças não apenas para você, como para todo o bando, talvez se estenda a
outros machos também. Ou talvez apenas seja uma grande coincidência.
Caleb permaneceu pensativo por um momento.
— Uma segunda companheira prometida — sussurrou para si
mesmo, não podendo afastar a sensação do quão absurdo era aquela
possibilidade. Ele próprio não sabia como se sentir.
— Uma segunda chance — o ancião disse.
— Isso prova que Collin é um macho muito estimado — Sue
cantarolou.
— Ou que sua antiga companheira não era, de fato, sua prometida
— Caleb concluiu, de repente.
Sue e Alik se entreolharam.
— Um macho é capaz de se enganar a tal ponto?
— Não olhe para mim, fêmea. Não tive a sorte de encontrar minha
prometida.
Os dois olharam para o alfa.
— Não, não acho. Uma vez que vi Trish, eu sabia que ela era minha.
Embry, Raica e todos os outros com quem conversei, relatam o mesmo. Não
há erro. O animal e o humano se alinham em um equilíbrio nunca antes
alcançado.
Houve uma pausa silenciosa.
— Collin não é um macho estúpido — continuou ele. — Desta
forma, tudo que temos são especulações. Não podemos assumir nada por
enquanto.
— Não podemos. De qualquer forma, o faço. Macho nenhum
sobrevive a perda de sua prometida, ele sobreviveu — Sue argumentou, a
voz e a expressão carregadas de convicção. — Numa visão mais positiva,
suas intenções românticas e sexuais são voltadas exclusivamente para a
companheira prometida. E até onde os boatos voam e eu vi em sua casa, ele
não é indiferente a ela.
Todos, naquele dia, tinham presenciado a reivindicação de Collin.
Ele não parecia consciente do que fizera, nem da mudança de odor
mascarado. O que deixou os machos presentes ainda mais desconfortáveis e
inquietos.
— Pode sentir o drukāt? — Alik inquiriu.
— Não — disse Caleb. — Mas, definitivamente, há algo.
— Algo que pode ser o drukāt? — insistiu Alik.
— Talvez. A magia se adapta de diferentes formas para cada casal,
assim dependemos dos dois. Todos cheiramos o interesse dele e a maneira
como ela reage a ele. — E acrescentou. — Emme não sabe sobre nós. Trish
tentou falar com ela, mas ela foi evasiva. Eu cheiro nela a mesma confusão.
— Se Collin rejeitar e resistir, a magia vai afetá-lo através da
fêmea de forma mais efusiva — Sue assinalou.
Caleb correu a mão pelo cabelo, irritado.
Ele parecia certo sobre o que fazer, mas ainda desacreditado.
— Como isso é possível?
— Não será aqui que encontrará essas respostas — Alik disse.
— Logo que Trish der à luz, irei me encontrar com o Conselho de
Raça.
— Está se esquecendo de algo — Sue disse muito séria.
Caleb jogou seu olhar afiado para a anciã.
— O quê?
— Se ela for uma prometida, a contagem está rolando.
Ele podia ver as complicações. Um mês seria tudo que Collin tinha
para fazer as pazes com seus demônios e se acasalar com Emme.
Fosse como fosse, ninguém iria correr o risco de perder Collin.
O macho estava evasivo e irritado quando nunca demonstrava suas
emoções, exceto por seus olhos azuis eletrizantes, a marca da tristeza da
alma quando na forma animal. Ele estava fazendo coisas incomuns para um
macho enlutado. Emme, de alguma forma inesperada, tinha sido capaz de
atingir um nervo de seu chefe-executor.
Seria possível?
— Há quanto tempo ela está aqui? — Alik quis saber.
— Uma semana e meia — Caleb respondeu.
O ancião assentiu.
— Restam menos de três.
Caleb suspirou derrotado, apesar de seus instintos e de não poder
se intrometer no acasalamento. Ele teria que falar com Collin.
Ia ser uma dor na bunda.
Tudo que ele não precisava no momento, mas era necessário. Um
caso de vida ou morte, literalmente. Collin não era só uma peça valiosa na
força do bando. Ele era família, também. E como alfa, Caleb cuidava dos
seus.
— Ele pode ter escapado ileso da perda de sua companheira
prometida por uma razão que nos escapa — Sue insistiu. — Mas não
significa que fará isso outra vez caso essa humana seja sua segunda chance.
— Falarei com ele, novamente — disse ele se levantando para sair.
Sue rapidamente separou pedaços de bolo.
— Tome. — Entregou-lhe a vasilha. — Leve para a Prima.
— Obrigado.
— Antes que vá — Alik estalou. — Já decidiu quando será o
julgamento?
— Em uma semana e meia.
O ancião anuiu, mas não parecia satisfeito.
— Está disposto a perdoá-lo se Maya o perdoar?
— Sabemos que ela irá, Alik, mesmo que não queira. Essa é a
benção... No caso dela, a maldição do acasalamento prometido. Não somos
capazes de rejeitar nossas partes. — Ele fez uma pausa reflexiva. — Não sei
como ele conseguiu ficar longe, mas... — ele se calou, não havia mesmo o
que dizer.
— O bando clama por justiça — o ancião lembrou.
— E eles terão. Lucius será julgado de acordo com os seus atos.
11
À MODA ANTIGA
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Emme deixou Trish dormindo na suíte, e desceu para a cozinha.
Caleb tinha saído logo após o jantar para resolver um problema, e
ela decidiu que ficaria um pouco mais. Ela não tinha contado a Trish sobre o
episódio com Collin.
Ela devia contar?
Ela ainda não podia acreditar no que ele fez. Todavia, não queria
criar problemas para o homem. Não era culpa dele se não tinha modos e agia
como um neandertal.
Viver naquele fim do mundo tinha lá suas consequências.
Emme saiu pelos fundos e se desfez do saco de lixo na lixeira, que
ficava na lateral da casa. Ela girou para sair. E parou, apanhada pelo
vislumbre de algo em sua periférica. Ela observou com atenção em direção
ao quintal do fundo da casa, e lá estava ele. Um lobo de pelos avermelhados
surgiu por entre as árvores e se aproximou. Calmamente. Sem hesitar.
Congelada, ela não se moveu.
Mal respirava.
Da onde estava — escondida nas folhagens do enorme pinheiro —,
Emme ficou tão silenciosa como pôde para não atrair a atenção do animal.
Não era à toa que Trish e Caleb, mesmo o irritante Collin, tinham
alertado sobre os perigos de andar sozinha.
Havia placas de avisos sobre lobos e outros animais.
Caleb explicara que, apesar de selvagens, não eram hostis com
humanos desde que não se interpusessem em seu caminho.
Como sairia de lá sem ser notada?
Emme assistiu, com descrente espanto, duvidando de sua sanidade,
uma névoa escura ondular o animal, enrodilhando o ar a sua volta. E, em seu
lugar, um homem nu surgiu. Caleb.
13
PEDIDOS INESPERADOS
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EU SEI O QUE É
Emme esperou pelo medo, pelo horror, que a faria arrumar as malas
num piscar de olhos e voar de volta para Nova York e esquecer esse lugar.
Mas tudo que sentiu, depois do choque de sua descoberta, foi uma crescente
curiosidade.
Surpreendeu-lhe a fluidez da transformação, a rapidez com que
ocorreu como se fosse natural e costumeiro. Caleb não pareceu sentir
qualquer dor.
Os filmes, certamente, não correspondiam a realidade.
Ela tinha sido dessas crianças que gostava de descobrir como as
coisas funcionavam, de criar fantasias que entretecem a todos.
Sua profissão, como designer de jogos, era uma boa dica.
E agora, tudo que tinha era um interesse pesado que fez sua mente se
desdobrar com as possibilidades e perguntas transbordando ao seu redor.
Estava diante de algo inimaginável, inacreditável.
Devia estar alucinando, mas ela estava consciente do que viu. A
ausência do surto poderia ser um indício de perda de sanidade. Era mais
lógico correr para salvar sua vida. No entanto, apesar do abalo, não se
sentia em perigo.
A descoberta explicava muita coisa.
Trish.
Ocorreu-lhe que somente algo assim, sobrenatural, seria capaz de
persuadir sua amiga sempre tão ponderada e cautelosa a se entregar a uma
relação e uma gravidez num curto período de tempo.
Emme recordou-se das peculiaridades do local, a localização e
restrições aos forasteiros. E, de repente, ela tornou-se consciente do
cuidado, das pessoas sempre olhando com curiosidade. Ela tinha achado
estranho eles não se protegerem do frio como os moradores da cidade ou os
turistas.
Todos aqueles maneirismos e sons que faziam.
Era fácil entender porque se preocupavam tanto com a privacidade.
Mesmo com a temporada aberta, com turistas e uns poucos
visitantes vagando pela reserva, havia restrições. Mais que isso, havia uma
aura misteriosa ao redor de Snowville.
De repente, recordou-se da advertência de Trish.
As brincadeiras de Lee, as piadas que agora faziam sentido.
Emme pensou em Collin.
Os sons que ele fazia...
Ele também podia mudar?
Também era lobo?
Um arrepio cruzou sua espinha.
Todo esse tempo ela esteve atraída por um ser fantástico. Isso
explicava seu interesse, mesmo que odiosa dele em determinados momentos.
Ele era um cara especial.
Emme nunca se interessava pelo comum.
O mais próximo do comum que chegara foi com Josh, seu ex. Não
era de se estranhar que ela não tinha se preocupado que o relacionamento
tivesse esfriado a ponto de serem dois estranhos fazendo sexo
quinzenalmente. Ou que ele a tivesse ultimado. E ela nem sequer tivesse
hesitado ao fazer sua escolha.
Uma parte de si, guardada a sete chaves, escondida por detrás de
seu casco grosso de mulher tempestuosa, havia uma sonhadora.
Emme tinha aprendido desde cedo que suspirar pelos cantos não a
levaria a lugar algum. Não para alguém como ela. Se quisesse algo, teria que
vestir sua calcinha de menina grande e lutar com unhas e dentes.
Quanto mais pensava, mais perguntas surgiam, mais curiosa ficava,
até que ela estava sofrendo por antecipação. E só havia alguém capaz de lhe
conceder alívio.
Estava um pouco aborrecida com Trish por mantê-la no escuro.
Elas não tinham tido segredo... até então.
— Eu estive pensando... — Emme deixou no ar.
— Sim?
Ela sorriu, balançando a cabeça.
— Caleb está por aqui?
— Ele saiu para resolver coisas da reserva. — Trish estreitou o
olhar quando Emme ficou lá, encheu a taça com vinho tinto e bebeu um bom
gole. — O que foi? Algum problema?
— Nenhum. Absolutamente.
— Sobre o que esteve pensando? Espere. Antes vamos para a sala,
por favor. Não posso ficar nessa cadeira dura por muito tempo.
Emme deixou a cozinha, levando a garrafa de vinho com ela e a
taça.
Depois que Trish se acomodou, ela perguntou:
— Quer que pegue algo pra você?
— Não, obrigada. Estou bem. — Trish lhe deu um daqueles olhares
atentos, sondando seu humor. — Você parece distraída, um pouco ansiosa.
A jovem tomou mais um gole de sua taça.
— Emme?
— O quê?
— Se algo aconteceu, pode me dizer. Estou grávida, mas não sou
inútil.
— Nada aconteceu. — Emme dispensou com um gesto de mão.
— Obrigada por ter ficado comigo ontem até eu dormir. Com as
contrações de Braxton Hicks, eu fiquei com receio de ser real e não ter
ninguém por perto.
— Eu acho que terei o prazer de conhecer o seu bebê antes de
partir.
— Caleb teve uma urgência. Coisas da reserva.
— Caleb parece ter muito trabalho por aqui.
— Ele é o líder.
— Um alfa, eu diria.
Trish lhe deu um olhar cauteloso.
— Pode-se dizer que sim.
— Não estranhou esse lugar?
— O que quer dizer?
Emme se levantou, caminhando ao redor, a taça na mão. Ela parou
próxima ao fogo e pousou o olhar em Trish.
— Reparou que as pessoas daqui parecem não sentir o frio como
nós? Os turistas, os visitantes e eu estamos..., não sei, de acordo com o
clima... Mesmo você, que sempre foi muito frienta, não reclama. E eu sei o
quanto sempre detestou as baixas temperaturas.
Trish empalideceu por um instante antes que se recuperasse.
— Você fala como se isso fosse uma coisa de outro mundo.
— Poderia ser.
Trish ficou muito séria, muito silenciosa.
— Estou aqui há mais tempo que você, Emme, não tem nenhum
segredo. Nosso corpo é capaz de se adaptar a qualquer coisa. Eu ainda não
gosto do frio, mas é aqui que moro, onde pretendo morar o resto da minha
vida.
Emme riu, quebrando o clima tenso.
— Para um lugar como esse, afastado do resto do mundo, eu não
estranharia se aqui escondesse algumas criaturas sobrenaturais.
— Por que diria isso? Emme talvez seja melhor controlar o vinho.
— Não seja boba. Sabe que não sou fraca para bebida e não bebi o
suficiente para me embebedar... ainda.
— Eu me acostumei — disse Trish depois de um momento.
— Com o quê?
— O frio, — explicou Trish, calmamente. — Falamos uma vez. Nós
nos acostumamos, talvez por isso não sentimos tanto.
— O frio que faz aqui, faz na cidade também. E os habitantes lá se
agasalham tanto quanto eu e os demais. Se isso não faz o pessoal daqui ser
especial, então... — Emme deixou no ar, com um encolher de ombro.
Trish manteve o silêncio.
Emme voltou a se sentar, cuidadosa com as palavras.
— Há uma... aura misteriosa nesse lugar. Talvez, por esta razão,
tenha se encantado e ficado por aqui..., e tudo isso. — Ela gesticulou para
Trish.
— O que quer dizer?
— Não quero partir sem ter certeza de que está bem, moreninha.
Que estar aqui e com Caleb é o que realmente, realmente, quer.
— Emme, eu...
— Não, por favor, me deixe falar. — Ela arrastou a bunda até a
beirada da poltrona, os braços nos joelhos, e fitou a outra mulher. — Eu te
conheço há mais de oito anos, Trish. E eu acredito em mudanças. Caramba,
olhe pra mim! O patinho feio virou cisne e voou... Você, no entanto, não foge
muito de quem é. Sempre foi cautelosa e reservada, sobretudo quando se
trata de relacionamento. E, de repente, aqui está você. Morando com alguém
que conheceu em um par de meses, esperando um filho e criando raízes.
— Não era você que dias atrás disse que não se tratava de tempo,
senão de quem?
— Eu acredito nisso, mas não tem como não me preocupar.
— E eu estou te dizendo de todo o coração para não se preocupar.
— Não funciona assim, moreninha. Dizer para não me preocupar
não me fará magicamente tranquila e acreditar que está tudo bem.
— Mas está, Emme. Não sei mais o que posso dizer para que
acredite.
— Sabe que sempre, sempre mesmo, pode contar comigo — ela
disse em voz baixa. — Eu também sei que no desespero, às vezes por querer
muito algo, a gente acaba suportando algumas coisas... Eu nunca vou te
julgar.
Chateação pintou as feições da outra mulher.
— Emme, pare. Você não está me ouvindo.
— Sinto muito se minha preocupação a aborrece, mas prefiro
aborrecê-la por excesso de cuidado a fingir que não me preocupo.
— Não estou aborrecida — Trish negou, tranquilamente.
— Só porque se viu apanhada em um conto de fadas...
— Eu sei o que faço, o que fiz. Confie em mim, sou totalmente
consciente das escolhas que fiz, Emme. Caleb e essa vida é tudo que sempre
quis.
— Confia em Caleb assim?
— Com a minha vida.
— Trish, eu...
— Não, agora você me escute — exigiu ela, sem esconder a
irritação. — Eu realmente entendo sua preocupação, embora ache um pouco
suspeito esse surto agora. Se algo ocorreu para deixá-la assim, estou aqui
para você.
— O quanto conhece Caleb?
— O bastante para querer uma vida com ele, para confiar minha
vida e do nosso bebê a ele e fincar raízes aqui.
Emme ficou sem palavras e não escondeu isso.
— Sei como soa. — E fez um adendo, com demasiado cuidado, a
voz polida e calma. — E se soubesse, se sentisse como eu me sinto, não teria
dúvidas. Caleb me deu algo aqui que em lugar nenhum encontrei.
— E isso seria?
— Amor, Emme.
— Você amava Stephan.
— Stephan foi um delírio. O que sinto por Caleb transcende
qualquer espaço de tempo. Eu sempre fui dele. Mesmo antes de nos
conhecer, eu já era dele e ele era meu.
— Tem certeza que não foi pega em uma magia?
— O que quer dizer?
Emme ficou séria, levantando-se.
— Há algo aqui, Trish. Algo diferente... Inuvik e Snowville
pertencem ao mesmo lugar, mas é como se fossem de realidades diferentes,
como se... — ela parou, escolhendo as palavras, mas nenhuma parecia lúcida
o bastante.
— Como se...?
Emme moveu os lábios, a porta se abriu, e ela engoliu as palavras.
Caleb entrou, correndo a mão pelo cabelo escuro para tirar os
flocos de neve. Ele fez uma pausa, olhando de uma para outra, e foi até sua
mulher.
— Olá, senhoras. — Ele deu um beijo rápido em Trish.
Ele não se sentou, seu olhar indo e vindo entre as mulheres.
— O que houve?
— Nada, querido. Emme e eu só estamos conversando coisas de...
— Eu sei o que é — Emme declarou, com o olhar travado em
Caleb.
15
INFORMAÇÃO É OURO
xXx
Caleb puxou a cadeira na frente da cela onde Lucius estava.
Desde que o macho reapareceu na reserva depois de anos, tantos
anos que ele perdera as contas. Mais vivo do que nunca. Embora estivesse
moribundo como se tivesse passado todo esse tempo no inferno e usado suas
últimas forças para fugir. Havia uma inquietação em seu peito, seu lobo
estava igual.
Sempre que pensava em Lucius, seu lobo se punha em alerta.
No início, pensou ser cautela, mas Lucius não tinha forças para
nada.
Não poderia feri-lo, muito menos lutar pelo domínio do bando.
Mesmo antes, em plena posse de suas forças, Lucius não tinha sido pálio
para ele. Caleb não era jovem mais, era um macho experiente, ainda mais
forte e astuto.
No entanto, ele sabia não se tratar disso.
Havia algo lá, um mistério sobre Lucius, que ele não gostava.
Collin e Embry compartilhavam suas aflições. Eles mantiveram
suas preocupações e desconfianças somente entre eles. E, em comum acordo,
decidiram dobrar as rondas. Não iria criar alardeios a troco de nada.
Esperava, apesar de sua descrença, que o macho fosse honesto.
— Qual é o lance?
Lucius estreitou as grossas sobrancelhas escuras.
— Não roubei o doce de nenhuma criança.
— Isso não vai te ajudar, Lucius.
— Há algo que possa me ajudar?
— Depende de você.
— Solte-me.
— Isso não está acontecendo ainda.
— Não pode me manter aqui para sempre — Lucius grunhiu, com
raiva.
— Não é você quem decide — Caleb disse, cáustico. — De
qualquer forma, o julgamento está marcado. Em breve terá sua liberdade.
— Por que isso soa mais como uma maldição do que uma benção?
— Diga-me você.
Houve um cumprido silêncio.
Lucius se aproximou da grade, a expressão ilegível, muito sério.
— Eu preciso ver Maya, Caleb. — Ele rogou.
— Isso não vai acontecer.
O macho pressionou a testa contra as grades, os nódulos dos dedos
brancos, as pontas das garras saindo. O lampejo vermelho cruzou seu olhar.
Isso era o que acontecia quando alguém se interpunha entre um macho
acasalado e sua fêmea. O ímpeto de fúria era colossal. Primal. Caleb sentia
a raiva dele escorrendo, atingindo seu nariz com o cheiro ácido.
Seu próprio poder aumentou, criando uma atmosfera pesada.
— Ela tem minha permissão, Lucius — Caleb continuou.
Instantaneamente, o macho recuou, desolado.
— Ela não quer me ver — constatou ele, com a voz fraca, como se
de repente suas forças e disposição tivessem sido sugadas dele.
Lucius se afastou para o colchão, afundando nele. A cabeça baixa,
as mãos entrelaçadas na parte detrás de seu crânio. O cabelo escuro, maior
do que normalmente o macho usava, caiu para frente cobrindo seu rosto.
Caleb não queria sentir pena do macho. Mas esse tipo de dor... Ele
não poderia ser indiferente. Mesmo para Lucius era demais.
— Ela me odeia.
— E você pode culpá-la?
Ele se empurrou para trás, as costas apoiadas na parede.
— Você abandonou a sua fêmea. Não sei como foi capaz de fazer
isso..., se bem que você tinha se distanciado outras vezes. — Caleb sentiu as
emoções do macho mudarem. — Feriu sua prometida, deixando-a
desamparada.
— Não foi exatamente um passeio no céu. — Riu com amargor.
— Para ela, eu sei que não foi.
— Eu errei com Maya, Caleb — Lucius murmurou depois de um
momento, arrependimento contornando suas palavras, sem esperança. —
Éramos jovens. Eu era imaturo e arrogante. Orgulhoso demais. Estava
deslumbrado com minha posição. Tentando provar para mim mesmo, para
ela, para o meu pai e todo o bando que merecia a posição. Eu fiz o que
pensei que fosse correto, o que me foi ensinado. Não justifica.
— Você poderia ter parado, Lucius. O bando não estava feliz, nada
estava bem, todos tentaram te avisar e você simplesmente os ignorou.
— Sim, eu poderia. Mas não fiz.
— E é isso?
— O que quer que diga? Conheço os meus erros. — Ele soltou uma
risada amarga, longe de ser divertida. — Confie em mim, eu tive tempo
suficiente para pensar em meus erros e perceber o quanto fui estúpido e
mesquinho.
Lucius olhou para cima.
— Maya me odeia pelo que ela acha que eu fiz.
— É só isso que te importa?
— Maya é tudo para mim, Caleb. Nada nunca será mais importante
do que ela.
— E o bando, Lucius?
— Eu não tenho ambições com o bando, Caleb, nem espero que me
perdoem pelo que fiz e pelo que eles acham que fiz — ele disse,
consternado. — Eu sei o que fiz, e por mais que ame o bando e deseje fazer
parte dele, novamente. Sei que não mereço.
Caleb endureceu, concentrado no prisioneiro. Ele cheirou o ar, as
emoções do macho, muito fraco para mascarar qualquer sentimento. E ele
sentiu nada além de franqueza e honestidade envolvidas em remorso e
vergonha.
Lucius continuou:
— Eu nunca abandonaria minha companheira.
— Você é uma ameaça?
— Não.
— Seu retorno traz ameaça a Snowville?
— Talvez.
— Você não mudou, não é?
— Eu não sou o perigo. Não pensei em ficar. Só queria encontrar
minha fêmea, e depois partir. Era a coisa certa para fazer.
— Então me explique, Lucius, porque a conta não está batendo.
xXx
O que ele tinha feito?
Como pôde sucumbir dessa forma?
Trair sua companheira morta?
Sua promessa?
Collin sempre fora um macho coerente e controlado. Mas quando se
tratava dessa fêmea humana, ele se tornava imprudente, contraditório e
impulsivo. Ele esquecia tudo. Ela preenchia todo espaço em sua mente.
Emmanuelle rapidamente se transformou em sua fraqueza.
Não era culpa dela que ele fosse fraco e desonrado. Que não
pudesse pensar direito, porque tudo que podia sentir era o pulso violento de
desejo e uma réstia de resistência, que sua petulância feminina quebrava
facilmente.
Ele a subestimou, a influência sobre ele e o seu próprio controle.
Ela o dominava. Suas vontades. Seu desejo. Seus pensamentos. Seu querer. E
agora, restava uma enorme culpa alimentando sua raiva.
Raiva dele e dela por ser irresistível. Principalmente, dele por
ceder. Por ansiar ceder e ter o que queria e se negava, pois não devia querer.
Isso era o mais assustador.
Esse querer desesperado nunca sentido antes. Não se tratava de
sexo. Era ela. Emmanuelle. Ele morria para estar com ela. Beijar sua boca.
Segurá-la em seus braços. Ouvir sua risada escandalosa. Ele só queria olhar
para ela. Zelar seu sono porque quando a olhava, enredado em seu encanto e
no quanto ela lhe fazia se sentir bem, a imagem dela calava os seus
demônios.
Ela era certa. Fazia parecer certo.
Mas não devia ser.
De frente para pia do banheiro, o aperto fez a porcelana rachar sob
seus dedos. Tinha se lavado tão rápido, esfregando com força, que a pele
estava vermelha. Odioso do que tinha feito com Emmanuelle, com Maria.
Collin olhou para si mesmo no espelho, cheio de horror e remorso.
Ele estava despedaçado.
Furioso tal qual seu felino.
O leão rugia em seu peito, batendo as patas, as garras letais
cravando em seu núcleo. Exigindo libertação. Mas o homem estava
determinado a mantê-lo para baixo, o que irritava ainda mais o animal.
Collin não podia dar rédeas soltas ao leão, não quando ele próprio estava
lutando para manter o controle.
Tinha sentindo o odor forte da confusão e do choque em
Emmanuelle, um emaranhado de sentimentos que o nocauteou.
Não havia outra forma de fazer isso.
Não podia voltar atrás e ser suave com ela, não quando estava
fervendo em fúria. Sua própria confusão comendo seu juízo.
Nada disso era culpa dela.
Collin pensou ter feito as pazes com ele mesmo quando se tratava
de seu não merecimento a Maria, de não ser digno. Porém, Emmanuelle, o
que ela despertava e como o fazia queimar, as coisas que queria, que
começou a desejar, dominando seus pensamentos, levantou dentro dele uma
revolta sem igual.
Ele traiu Maria outra vez.
Ele feriu a fêmea humana e sofria absurdamente por ela.
Collin puxou respirações fundas.
Endireitando a postura, ele saiu do banheiro sabendo que não a
encontraria lá. Sua mandíbula apertou, os dentes cerrados que rangiam.
O cheiro do sexo compartilhado, a luxúria incendiária ainda no ar.
O que ele tinha sentido quando esteve dentro dela...
O desejo insano para tomá-la. Marcá-la. Fazê-la dele.
O leão eufórico e pronto para acasalar. E se fosse franco, ele
próprio sentiu a urgência cantar em seu sangue. A alegria desenfreada
quando a mordeu no último minuto. As presas cravadas ao redor do mamilo
delicado.
Ele travou, o rugindo nascendo em seu peito.
Quando o orgasmo a tomou, a vagina apertada sugando seu pênis,
seu controle se perdeu. O impulso tinha sido primal. Suas presas desceram
enquanto chupava o mamilo rígido enchendo sua boca. Ele a mordeu, o gosto
rico e inebriante do sangue dela se derramou em sua boca. Ele gozou tão
forte que seu cérebro explodiu, transcendendo. Ele se viu, ele a viu. Ele
sentiu tanto, que a agonia, quando desceu da névoa de prazer, quase o
engoliu vivo. Perplexo. Apanhando numa urgência completamente nova.
Nunca experimentada.
Isso não era certo, não podia...
Como algo tão errado podia se sentir tão certo?
Sacudindo a cabeça com força, rosnando, Collin jogou a toalha na
cadeira, buscou um par de jeans e camiseta no baú aos pés da cama.
Seus olhos pousaram no pote de bolo — agora no chão — ainda
fechado, salvando a guloseima. Seu olhar suavizou com lágrimas não
derramadas, o peito doendo e ele fechou o punho, esfregando lá.
Collin se sentiu miserável.
Ele não machucava fêmeas — sua mente evocou Emmanuelle, e ele
tragou duro, aterrado com suas ações, — não propositalmente.
Uma batida na porta lhe levou até ela.
— Caleb?
— Collin precisamos conversar sobre Lucius — Caleb disse,
seriamente. Ele parou e cheirou. — E sobre você e a fêmea humana.
18
PROVOCAÇÕES
xXx
Sentada na poltrona de frente para a janela, Emme tinha o olhar
vago, a caneca fumegante de café nas mãos ainda cheia. Na segurança e
conforto do chalé, ela não se moveu. Tinha ido direto para o chuveiro
quando chegou. Odiando lavar os vestígios dele e do que compartilharam.
Mas a ideia de que pudessem cheirar o que ela tinha feito, o que eles
fizeram, era demais. Entristeceu-se, não sabendo exatamente o porquê.
Na verdade, sabia, só não queria admitir ainda.
Não era apenas seu orgulho que tinha rachado com o rechaço dele.
Havia esse incomodo lá no fundo do peito, espezinhando e a deixando
doente pela forma que ele tinha se comportado depois. Não esperava
floreios e cuidado. Mas queria, Deus, como ela queria. Emme quis o abraço,
o beijo suave, a gentileza depois do sexo alucinante que tiveram. Qualquer
consideração.
Collin parecer arrependido e enojado a fez sangrar. O desprezo em
sua voz, a postura, como se tivesse feito a coisa mais desprezível do mundo.
Ela tinha engolido o nó na garganta, o choque de sua reação fazendo
seus membros moverem. Emme mal notou o caminho de volta ao chalé.
A queimação estranhamente deliciosa no seio agredido era uma
lembrança agridoce. Colocou nós em sua garganta e o brilho de lágrimas em
seus olhos.
Emme não era uma sonhadora. Há muito tempo tinha aprendido que
essas besteiras fofas e doces não lhe pertenciam e tratou de sepultar as
fantasias de menina, antes que as tolices românticas cobrassem seu preço.
Racionalizar era seguro e eficaz em qualquer relação, sobretudo, amorosa.
Não que eles tivessem um romance. Collin, no entanto, tinha algo. Uma força
gravitacional que lhe atraia para perto, fazendo-a querer mais e ter o doce
romance, onde era envolvida por seu amor e zelo. Onde era abraçada depois
do sexo, com palavras suaves sendo derramadas em sua orelha. Onde a
leveza do pós-sexo a deixava risonha e divertida. Mesmo na loucura do sexo
rápido e feroz, impressionante, que compartilharam, amou o breve
sentimento de pertencimento, de encaixe.
Emme nunca antes se sentiu pertencer a alguém.
Nunca antes o sexo teve uma conexão tão forte, tão única.
O que sentiu, o que viu; não era nada que já tivera experimentado
antes.
Collin era único. E assim era a ligação que eles tinham. Não
importava se isso a fazia parecer louca. Eles tinham... algo.
Estar com Collin provou ser inigualável.
Era como flutuar para fora do corpo, uma dança de almas.
Recordou-se do brilho sobrenatural, da sensação de plenitude agarrando
seus ossos.
Emme se perdeu e se encontrou... com ele.
O prazer arrebatador, tão brilhante, a fez alucinar, tocando-o na
alma.
E eles transcenderam.
Por algo assim, corações eram quebrados, almas dilaceradas, vidas
aniquiladas.
Ela sacudiu a cabeça, fechando os olhos com força.
O riso subiu pela garganta, meio debochado meio nervoso.
O vazio, a sensação súbita de deslocamento. Sentia-se fora de
órbita, sem gravitação, como se ele fosse a força suprema que a mantinha em
rotação.
Emme não era assim. Não fantasiava com o conto de fadas, cheia de
expectativas. Não mesmo. Só estava assim pelo sexo gostoso.
Ela não era sexualmente ativa, pelo menos com namorado... ex...
Tão estranho era chamar Josh de ex, era também perceber quão frustrante
tinha sido sua vida sexual nos quase quatro anos de relacionamento. Sexo
com hora marcada, quinzenal. Ele alegava estar sempre cansado e cheio de
preocupações com o trabalho. Também não era como se ele fosse um amante
profissional. Josh era preguiçoso e mesquinho, de uma foda só. Se não fosse
por seus brinquedinhos eróticos, sua vida sexual seria digna de pena.
Deu-se conta que facilmente esqueceu de sua vida em Nova York.
Não havia urgência em retornar, só uma vontade imensa de estender seus
dias em Snowville. Tão envolvida como estava na particularidade do lugar.
Esqueceu-se de tudo.
Esqueceu-se de Josh.
Não deveria esquecê-lo tão facilmente.
Recordou-se da discussão que tiveram antes de ela ir ao aeroporto.
Josh tinha aparecido em seu apartamento. Exigindo que parrasse
com o que ele julgava ser uma loucura. Ela foi direta e até um pouco áspera
em sua determinação. E ele lhe deu um ultimato.
“Se sair, Emme, não estarei aqui quando voltar”.
Emme saiu sem olhar para trás.
Não deveria ser tão fácil, mesmo que estivesse morta de
preocupação com Trish. Ele estava puto e ela não estava dando a mínima.
Ela precisava ir.
Inquieta pela dúvida corroendo-a por dentro, ela saltou em pé.
Não demorou para que estivesse na casa de Trish.
— Posso usar seu computador? Preciso enviar um e-mail.
— Claro. Está tudo bem?
— Tudo perfeito.
— Está no escritório. — Trish liderou o caminho. — Fique à
vontade. E quando terminar, me encontre na cozinha. Estou fazendo tacos.
Uma vez sozinha, Emme sentou atrás da mesa, ignorando a própria
autorrecriminação. Poderia ligar ou esperar até que retornasse a Nova York
e fazer isso de forma correta. Tinha odiado as histórias de amigas sobre
términos por telefone e por e-mail, também jurou nunca fazer nem um nem
outro. Mas, então, as circunstâncias eram diferentes. E outra, ele tinha
terminado com ela. Ela só estava se fazendo ouvir e cravando seu “okay” no
ponto final.
Depois que terminou, ela saiu da conta e foi atrás de Trish.
— Sempre que precisar, pode vir. Estranhei que não o fizesse antes.
— Estou de férias, moreninha. Me permitindo antes de voltar para a
loucura de Nova York. — Ela sorriu, roubando uma colher de guacamole.
Não precisava revelar que seu esquecimento do próprio mundo
tinha a ver com um homem que a desprezava com a mesma intensidade que
ela o desejava.
Trish parou de misturar o pico de gallo.
— Já sabe quando vai?
— Está enjoada de mim?
— Nunca. — E acrescentou. — Lee quer fazer o chá de bebê em
dois dias. Eu adoraria que estivesse aqui..., se o trabalho permitir, claro.
— Não perderia isso por nada no mundo, moreninha.
— Não quero te causar problemas.
— Não irá. Tenho trabalhado por quase cinco anos, acumulando
minhas férias e enchendo os bolsos da empresa a custo das minhas noites em
claro. — Emme começou a montar seu próprio taco com os ingredientes
dispostos sobre a ilha. — Onde será?
— Aqui em casa mesmo. Caleb não quer que fique por aí quando o
bebê está prestes a nascer. E, para falar a verdade, concordo com ele. O
pensamento de entrar em trabalho de parto fora de casa me aterroriza um
pouco.
— Grávida e descalça — Emme brincou.
— Por escolha.
— Não tem medo de ter o bebê em casa?
— Se disser que não estou com um pouquinho de medo, estarei
mentindo. Estou fazendo o pré-natal certinho e me preparando para esse
parto. Raina estará presente, assim como, Sue.
— A parteira.
— Ei, não me dê esse olhar — recriminou Trish, com um sorriso.
— Eu só aceitei só porque Raina irá me acompanhar, também. Confio em
Sue, tenho um enorme carinho e respeito por ela, mas preciso estar 100%
segura de que terei um médico de prontidão, caso haja alguma eventualidade.
Emme se concentrou em seu taco.
E, aos risos, tranquilizou Trish, dispondo-se a falar com Lee e
ajudar na preparação para o chá de bebê para garantir que não haveria
loucuras.
— Eu queria te fazer uma pergunta — ela murmurou,
demoradamente.
— O que é?
— Collin tem problemas financeiros?
Trish espalmou as mãos na superfície do mármore e a fitou.
— Por que diz isso?
— Sua cabana destoa do resto.
— Todos são bem remunerados por sua contribuição. Há, claro,
quem ganhe mais devido a hierarquia no bando. Sobre Collin, até onde sei,
ele recusou a oferta de ajuda para construir uma casa mais confortável.
— Ele é mão de vaca.
— Não faço ideia. Terá que perguntar a ele.
Como se ele fosse responder.
Ela comeu seu taco devagar, ponderando.
— O que aconteceria se um humano comum transasse com um
shifter?
— Por comum você quer dizer não prometido?
Assentiu.
— Em geral, eles preferem não buscar parceiras sexuais humanas
por terem que se controlar. Shifters são mais resistentes.
— E por causa daquelas coisas que Caleb disse?
— Não é o mesmo, Emme. É comprovado que a troca que ocorre
entre Caleb e eu, Embry e Lee, só ocorre por sermos prometidos. Caleb teve
uma audiência com shifters que fizeram sexo casual com humanas
regularmente, são poucos, mas não houve alteração alguma.
— E sobre doenças?
Trish cerrou o olhar com desconfiança.
— Essa é uma pergunta específica.
Bufou.
— Curiosidade. Ou vai dizer que se nossos lugares estivessem
trocados, você não estaria morta de curiosidade.
— Bem, sim.
— Então?
— Eles são imunes a doenças humanas e não há ISTs entre shifters.
Emme disfarçou, o alívio foi colossal.
Ela deveria se preocupar com uma gravidez, mas desde que estava
no controle de natalidade, nenhuma preocupação.
Ela fez mais um taco e comeu em poucas mordidas.
— Delicioso, moreninha — disse, indo até Trish e lhe estralou um
beijo na bochecha. — Obrigada. Agora eu vou ver o que Lee está aprontando
e se ela precisa de ajuda.
Girando para sair, ela deu de cara com Caleb entrando na cozinha.
Ele fez uma pausa, e depois cheirou. Ele amaldiçoou sob sua respiração e se
afastou tão rápido, que ela ficou atordoada. Uma careta torceu as feições
dele.
— Jesus Cristo, fêmea! Tomou banho de perfume?
— O quê? — Ela puxou a gola alta da blusa e cheirou. — Não. Só
dei duas esborrifadas. — Se fosse honesta, mesmo para ela parecia demais.
Trish lhe deu um olhar compassivo.
— Talvez seja melhor que passe no chalé antes de ir até Lee.
— Não estou fedendo.
— Esqueceu que eles têm um nariz intrometido?
Emme pensou em Collin, não queria, mas era automático.
Ele não tinha reclamado, ao contrário, deixou-a bem consciente do
quanto seu cheiro o excitava. Mas, então, recordou que não tinha usado
perfume.
19
REVIRAVOLTAS
xXx
Collin estava em igual batalha.
As mãos apoiadas nos batentes da porta e a testa pressionada contra
a madeira. Ele duelou com ele mesmo. E perdeu.
Emmanuelle estava do outro lado.
Ele cheirou sua hesitação e sua necessidade viciante.
Mais um motivo para deixá-la em paz e manter distância. Ele
deveria fugir enquanto podia. Longe de seus encantos femininos.
Emmanuelle, embora preenchesse sua mente, ele ainda podia ter algum
controle, pelo menos, foi o que disse a si mesmo. O que queria acreditar.
Mas perto, era um caso perdido. Presa fácil de seu feitiço. Ocorre que, o
controle precário que tinha quando se tratava da fêmea humana, tornou-se pó
depois de ter provado as delícias dela. Não havia luta quando o felino subia
em exigência por algo que o homem não deveria querer. Mas queria. Queria
seu corpo, provar sua entrega até que a limpasse de seu sistema. Mais que
isso, Collin queria passar um tempo com ela. Horas. A noite toda. Observá-
la. Ser o objeto da atenção daqueles lindos olhos castanhos muito grandes,
olhando para ele com fome e carência, quase desesperada. Muito sensual.
Louca de desejo. Escurecendo ainda mais com a paixão.
Collin queria descobrir os seus segredos, seus gostos, seus sonhos e
medos.
Sua obsessão por Emmanuelle tinha ganhado uma proporção
assustadora igualando-se a culpa. Ele resistiu a marcá-la como um macho
acasalado. Em vez disso, tinha cravado as presas no seio dela. Duas vezes.
Provou seu sangue, sua entrega doce.
Não a reivindicou de maneira tradicional. Todavia, o leão
encontrou sua forma de marcar a fêmea com suas presas letal e o ferrão em
seu pênis.
Uma reivindicação que horrorizou homem.
Seu ferrão nunca tinha saído.
Ele não tinha se dado conta na primeira vez. Mas, desta vez, sem o
furor da paixão e o desespero para montá-la. Um pouco mais racional. Ele
sentiu. O leão colocou sua marca nela e se regozijava. Ignorando a
perplexidade do homem.
Collin era um macho inteligente, então desistiu de lutar.
Ele não deveria desejar Emmanuelle. Mas era, aparentemente, um
macho perdido. Completamente rendido aos seus encantos.
Ele não podia compreender os sentimentos que ela despertava, a
necessidade que tinha dela. Ele precisava estar com ela. Para ela. Para o que
ela precisasse. Pensar que ela passou o dia todo pensando nele, querendo-o,
precisando dele. Necessitada. O fez sentir raiva de si mesmo. Então ele,
enfim, entendeu. Não era apenas o apelo sexual. Era ela. Estar com ela.
Olhar para ela. Sentir seu cheiro. Seu gosto. Seu calor. Ele tinha a
necessidade de se colocar à disposição dela porque sentia que era o que
devia fazer. Era certo.
Mas como poderia ser certo se ele já tinha tido sua prometida?
Segunda chance; segunda prometida, as palavras de Caleb
ecoavam em sua mente. Esta era uma possibilidade inimaginável.
Dentre todos os machos, ele seria digno de uma segunda chance? Ou
era uma espécie de brincadeira? Uma punição? Sentir o gosto de céu antes
de ser lançado ao inferno por não ter sido capaz de proteger um presente tão
precioso?
Estar com ela, inexplicavelmente, trazia paz a sua tormenta.
Ele ouviu o coração dela batendo no mesmo compasso do seu.
Sua mandíbula cerrou, capturando a demanda.
Em seu lugar, o sussurro de seu nome saiu. Ele não quis reconhecer
o suplício. Sua atenção era dela, uma vez que a porta se abriu. Ele desistiu.
Rendido. Completamente. Inteiramente inclinado a servi-la.
Se a sensualidade fosse uma pessoa, seria Emmanuelle.
Ela cheirava a limpo, o odor natural de sua feminilidade. Enviou
labaredas de fogo para a sua virilha. Inchou seu pau. As bochechas dela com
um rubor cativante. Absolutamente charmosa e feminina. Encantadora.
Emmanuelle parecia doméstica, totalmente sexy.
Não era a mulher mais exuberante que já viu, nem perto. Ela não
tinha uma beleza que alcançava o pênis de um homem, senão o coração.
Eles não disseram nada. Ela deu um passo para o lado, um
consentimento mudo que ele pegou sem pestanejar. Ele ainda podia cheirá-
los no ar. Não havia passado nem 24h que estiveram juntos, ainda assim, se
parecia como se tivesse sido há muito tempo. E ele já se encontrava em
abstinência.
Ele a assistiu, fechando a porta e voltando-se para ele.
Ela estava nervosa, podia cheirar sua dúvida e hesitação.
Ela chupou o lábio carnudo para dentro da boca. Ele quase gemeu.
Eles se encararam por um cumprido silêncio. Incapaz de falar, de se
mover. Essa fêmea humana sugava suas forças, limpava sua mente.
— Você está bem?
Lá dentro com o cheiro dela o intoxicando, a luxúria bateu forte. O
feitiço sexual fez sua ereção mais dura, as bolas contraindo. O desejo de
quebrar a distância entre eles e montá-la no chão corroendo-o até os ossos.
Com os punhos fechados, ele assentiu lentamente.
Ela lambeu os lábios sedutores, as pupilas dilatando.
Ele suprimiu um rugido. Ainda era recente a memória de seus lábios
em seu pau, de como lambeu e chupou, atraindo a cabeça para a garganta.
Ela tinha tocado a boceta, esfregando o feixe de nervos, enquanto lhe dava
um boquete. Ele podia se lembrar de quão dócil, obediente, quase ansiosa
demais para lhe agradar quando ele segurou o cabelo dela, enredando no
punho, e a manteve imóvel enquanto fodia sua boca. Ela o levou sem
reclamar, com lágrimas nos olhos.
— Collin?
— Estou bem.
Ela esfregou a testa.
— Eu estava fazendo um pouco de café pra me acompanhar na
leitura antes de você aparecer. Aceita um pouco?
Ele devia usar isso para se afastar.
Saia, vá.
Emmanuelle passou por ele, deixando um rastro de seu cheiro atrás
dela. Enraizou-o no lugar. Não havia uma maldita chance de ele sair agora.
O odor de sua excitação bombardeou sua necessidade de saciá-la.
Ela estava de costa para ele, de frente para a bancada. Ele olhou
para sua estatura baixa, as formas voluptuosas. A camiseta, que deveria ser
dois números maior que o dela, marcou a curva deliciosa de sua bunda.
Pegue. Monte. Possua.
Seus punhos fecharam e abriram.
Collin estremeceu com antecipação e fome.
Moveu-se antes que pudesse se deter, parando atrás dela.
Encostando a testa no topo da cabeça dela, a única parte sua que tocava nela.
Ele inalou o odor da cabeleira castanha, cheirava frutas. Collin adorou. O
aroma rico de excitação feminina ainda mais forte atirou eletricidade direito
para sua virilha, e seu pênis pulsou pressionando contra o material grosso da
calça. Sua temperatura corporal subiu. Ele ronronou, assustando-se com o
próprio som, que tinha se familiarizado desde que estava próximo a ela. Ele
puxou uma respiração.
— O que há em você que não posso me afastar? — ele sussurrou,
tão baixo, a voz tinha um vibrato sexual e de rogo. — O que me fez,
Emmanuelle?
— Talvez o mesmo que me fez — ela balbuciou, com um leve
tremor.
— Nem perto, fêmea. Nem perto.
Ele soltou o coque e o cabelo dela caiu ao redor como uma cortina.
Ele baixou a cabeça, esfregando o nariz e cheirando. Íntimo, uma carícia.
Ela relaxou contra seu corpo, e ele agarrou o quadril dela.
— Por que não posso ficar longe? Eu tento, Deus, eu tento, mas
quando percebo já estou me rasgando de vontade de estar com você, de tocar
seu corpo, beijar seus lábios — ele fez uma pausa, raspando a boca em sua
orelha, o reflexo de ambos na janela, a luz do dia impedindo-os de disfarçar
o desejo furtivo, sobrecarregando seus corpos. Ergueu a mão, o polegar
traçou o lábio inferior. Ele fez um som estrangulado no fundo de sua garganta
quando a língua tímida o tocou. — Esses lábios, — a outra mão desceu,
infiltrando-se sob a camiseta, alcançando sua virilha e puxou a calcinha de
lado, — e esses.
Emmanuelle arfou, os lábios se movendo sem nenhum som.
Ele esfregou os dedos pela fenda molhada, as pontas incitando a
entrada estreita, e depois voltou, provocando seu clitóris com círculos
preguiçosos. Ela abriu as pernas simultâneo a pressão que fez para baixo,
pedindo mais.
— É minha obsessão, Emmanuelle. Minha única necessidade. Eu
poderia me alimentar de você. Respirar você. E não seria suficiente.
Sua língua áspera traçou um caminho em seu pescoço, e ela dobrou
a cabeça para o lado dando-lhe mais espaço.
— O mesmo aqui, Collin — ela sussurrou, mordendo o lábio e
fechando os olhos, se deliciando com a carícia sensual de sua mão.
— Me quer, fêmea?
— Com cada respiração. — Ela abriu os olhos, encarando pelo
reflexo na janela. — Nunca quis tanto um homem como quero você. Isso não
pode ser normal… esse desejo. A ansiedade. Eu sinto você, Collin. Mesmo
quando não estamos juntos, eu sinto você por toda a parte. Eu poderia fazer
de seu colo a minha morada. Me hidratar com seus beijos e me alimentar de
você. — Ela subiu a mão, segurando sua nuca. — Vê? Você me quer? Acha
que é o único maluco, mas, não é. Também não entendo o que estamos
vivendo. Estamos aqui agora e eu não quero bancar a boba e me iludir. Mas
acho que é um pouco tarde pra isso. Esse trem já saiu. Seja lá o que estamos
fazendo aqui, eu quero viver isso pelo tempo que tivermos.
— Você merece mais que uma foda.
— Eu mereço o que eu quiser. E eu quero você, Collin. Seus beijos
e seus carinhos. Sua loucura e sua luxúria. Só você.
— Não sabe o que diz… As coisas que quero fazer contigo.
— Faça.
Ele beijou a pele abaixo da orelha e mordiscou o lóbulo. A voz
rouca, gutural, carregada de sensualidade e erotismo se derramou no ouvido
dela.
— Eu quero possuir você, Emmanuelle. Cada parte sua. Eu quero
que pingue pra mim, quero ver sua nata escorrendo pelas coxas. E eu quero
lamber cada rastro... Eu quero te encher com meu esperma. Sua boca. Sua
boceta. Seu rabo. Seus seios. Eu quero cobrir todo o seu corpo com minha
essência. E você vai cheirar a mim. Toda minha.
Ela empurrou contra ele, e ele segurou, ainda com a mão em seu
sexo.
Ele rosnou para ela, advertindo. Seu pênis estava tentando
estrangulá-lo. Se não a tomasse em breve, iria ter um sério caso de bolas
azuis.
— Collin, por favor.
— Shhhh...
— Não é justo. Dói. Por favor. Eu preciso...
— Você não é justa comigo, Emmanuelle. Está fodendo com a minha
cabeça. E eu não te dei permissão pra me foder, para me fazer desejá-la
como um louco.
— Collin, eu vou morrer se não me comer — ela chorou.
Ele puxou a mão, amando seu lamento, e depois a girou.
Com um impulso, içou-a e as pernas dela se trancaram ao seu redor
num aperto de morte. O desejo furioso incendiando as bochechas num tom
cativante. Injetou calor e necessidade em seus olhos brilhantes. Erotismo e
sensualidade. Olhando para ele como se Collin possuísse o cálice da vida.
Cobrindo a boca dela com a sua, ele a beijou, duro e
possessivamente.
De pé, ele caminhou às cegas, deixando-se guiar pelos instintos do
felino rugindo de felicidade, até que as costas dela pressionaram contra a
parede. Usando o pouco de controle que ainda restava, ele tomou cuidado
para que as garras não saíssem acidentalmente. E, em seguida, ele rasgou a
calcinha dela. E depois, livrou a ereção pulsante. Ele angulou a ponta na
entrada escorregadia e meteu para dentro todo o caminho até as bolas. E
parou.
O grito surpreso dela se transformou em gemido sensual.
Ele gemeu com a sensação afiada cortando sua coluna até as bolas.
Agora que a tinha, Collin se forçou a relaxar e acalmar o instinto
selvagem. Ela o abraçava, suas pernas e braços, sua vagina agarrando como
um torno. Tão apertada. Muito gostosa e molhada. Veludo quente.
Pressionou a testa contra a dela, respirando fundo para se acalmar.
— Eu digo que não virei. Luto todos os dias dizendo que não me
importo, que não quero vê-la. Eu minto pra mim e me rendo. Ou enlouqueço.
— Não fuja — ela disse, passando as unhas em seu couro cabeludo,
deixando pequenos beijos em sua boca. — Fique comigo, Collin. Me faça
sua.
Ele gemeu de prazer, puxando para trás e meteu num golpe punitivo.
— Não sabe o que me pede — ele rosnou, atormentado.
— Nós podemos negar até a morte, mas nós dois sabemos da
verdade — ela gemeu. — Quero você assim, Collin.
— Sexo?
— Se for tudo que puder me dar, então é o que quero.
— Não é tudo. Mas é tudo que consigo te dar...
—... por enquanto.
— Isso vai acabar — ele grunhiu com raiva, não sabendo se para
ela ou para ele próprio quando começou a estocar dentro dela.
— Então me deixe sonhar porque, francamente, não sei se posso
parar de fantasiar sobre você, sobre nós, mesmo que queira — ela implorou
entre beijos, segurando seu rosto. — Me dê a ilusão, pelo menos. Não me
tire isso. Se sonhar é a única coisa que posso ter de você, então sonhe
comigo.
A consternação dela o pegou nas bolas, e o fez ferver irritado.
Ele espalmou a parede ao lado do corpo feminino, a obrigando a
soltá-lo e esparramar suas pernas mais amplo, penduradas em seus braços
poderosos. O novo ângulo permitindo ir mais fundo dentro dela.
Ele meteu mais forte e áspero.
— Você me irrita e me endoida... Eu não deveria te querer. Não
deveria ser tão bom ter meu pênis cercado pelo calor da sua boceta perfeita.
O sexo dela se contraiu com força, e ela o beijou com paixão
incendiária.
— Somos adultos, Collin. Eu quero isso. Sua porra dentro de mim,
em meu corpo, marcando minha pele. Quero você... do jeito que for.
Ele puxou e bateu de volta, com força, e ela arqueou, sem fôlego.
— Não deveria me querer, cariño.
— Mas quero. Enquanto estiver aqui, eu quero tudo que puder me
dar... Eu partirei em alguns dias, então irá se livrar de mim pra sempre. Mas
até lá, perverta-me. Goze em mim, Collin. Me foda de todas as formas que
puder imaginar. Eu quero dormir com sua essência dentro de mim. Quero
senti-lo no dia seguinte. Beber de você. Me corrompa. Dê-me uma
lembrança doce para levar comigo... — Ela sorriu em deslumbramento
sexual. —... porque você, homem amargo, tem os beijos mais doces que já
provei, o seu toque é pura felicidade, e quando está assim, dentro de mim, é
o paraíso, onde sempre quero estar.
O pequeno pedaço de informação o enfureceu.
Ele parou, olhando em seus olhos, o azul etéreo envolto de um fino
contorno de ouro. Em posse. Contrariedade.
O leão olhava-a de perto, absorvendo as palavras.
21
MAIS BEIJOS, POR FAVOR
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xXx
xXx
Emme sabia quem era antes mesmo de abrir a porta.
Ela cogitou ignorá-lo, mas Collin era insistente. Não iria conseguir
fazer nada com ele golpeando sua porta. Não era covarde. Ela podia dizer na
cara dele que não iria mais aceitar aquela situação. Ele não podia ir e vir
quando e como bem entendesse. E esperar ser aceito de braços abertos.
Ele não podia morder e assoprar.
Estava decidida a não se render aos seus encantos, ainda que seu
corpo tivesse ideias mais interessantes, a tentação estava mordendo sua
bunda.
Mas, caramba, tinha algum orgulho e amor próprio. Podia fazer
isso. Ela o mandaria á merda batendo a porta na cara dele. Não importava se
ele continuava sendo gentil, deixando em sua porta, quando não em sua
cama, um arranjo fofo de flores brancas exóticas, tão belas e delicadas,
todos os dias.
Ela pensou que poderia fazer isso, mas não podia.
Ele a afetava muito, mais do que qualquer outra pessoa.
Collin estava chegando ao seu coração, se estabelecendo em zonas
profundas, espreitando pelas bordas da razão. Infiltrando-se sorrateiramente.
Basta, resmungou para si mesma.
Ela terminaria com isso.
Não importava o quanto ele era bom. Nem seu beijo arrasador ou a
sensação maravilhosa de estar em seus braços, de fazer amor com ele.
Emme olhou para a porta como se olhasse para um inimigo.
Puxando uma respiração funda, reuniu a coragem em punhos. Ela
colocou no lugar uma máscara de indiferença e ergueu o queixo, decidida.
— Maria era minha companheira, o meu mundo inteiro. Ela me foi
tirada. E eu não pude fazer nada para salvá-la.
Emme encarou Collin, estática.
A explosão de palavras a desarmou, limpando sua mente, no
momento em que escancarou a porta aberta pronta para mandá-lo dar a volta
e partir.
Ele continuou, como se não pudesse se parar:
— Eu fiz tudo que estava ao meu alcance para fazê-la feliz, para
honrá-la, para mostrar que era digno dela e do que construímos quando nos
acasalamos. Ela não era uma fêmea ambiciosa. Não desejava mais do que
podia ter, e eu amava isso nela. Maria não estava farejando minha posição
social no bando. Ela quis amor. E eu dei tudo que tinha. Ela era doce e
bondosa. Nada era mais bonito que ela, mais brilhante que seu sorriso; nada
possuía mais vida que o pulsar doce do coração dela ou era mais melodioso
que o som de sua voz...
Emme olhou para Collin, as mãos agarradas a lateral da porta, os
braços tensos com as veias saltadas. Ele estava curvado em sua direção. Os
olhos mais tristes, que ela já vira, brilhando com lágrimas derramadas.
Seu coração doeu por ele.
—… Nada até você, Emmanuelle. Era suposto eu não querer
nenhuma fêmea mais porque ela devia ser única para mim. Eu não deveria
sentir o que sinto por você. Querer as coisas que quero com você. Essa
loucura de estar contigo. A necessidade de te satisfazer dentro e fora da
cama. Eu quero saber sobre o seu dia, sobre seu sono, se você se alimentou.
E eu amo que você não coma como um passarinho — ele riu triste. — Nada
disso deveria estar acontecendo. É tão bom estar com você que a culpa está
me matando.
Ele ofegava, como se tivesse custado toda sua força dizer as
palavras.
Ela não podia dizer o que chocava mais.
Nunca tinha visto esse homem parecer tão miserável, tão derrotado.
Collin era força e intensidade. Uma rocha firme. E lá estava ele,
parecendo exausto, devastado de uma forma que a fez sangrar.
Engolindo o nó na garganta, ela ignorou a queimação nos próprios
olhos, sentindo-se arrasada por ele. Emme reagiu, sua bravata caindo por
terra.
— Entre, Collin.
Ele a encarou, expondo sua fragilidade.
— Por favor.
A vulnerabilidade em seu olhar, a incerteza pairando lá com
suspeita, atraiu o choro para sua garganta, o nó maior. E ela teve que forçar
um sorriso.
— Nós não precisamos fazer nada — assegurou baixinho.
Ela fechou a porta atrás de si, pressionando-se nela para se
recompor.
Ele parou no meio do seu chalé, sua presença preenchendo o lugar
de maneira única, enquanto ela ficava lá sem saber o que fazer.
Havia um clima de espera entre eles, o receio de que a menor
palavra errada pudesse arruinar algo importante, precioso.
Emme se moveu para a cafeteira, agarrou um pouco de café e
empurrou para ele. Collin hesitou, mas aceitou. Ela fechou as mãos entorno
de sua própria caneca, o calor era reconfortante. Ela bebeu um gole. Ele
olhou para a caneca e depois para ela, e de volta a caneca, bebeu um gole e
a baixou para o balcão.
Percebendo que ele daria a volta e sairia, ela tomou uma decisão.
— Desculpe por ter tocado nesse assunto e te ferido no processo.
Não foi minha intenção, Collin. Não é meu direito e, por isso, eu sinto muito
mesmo.
— Eu reagi mal — disse ele, depois de um tempo. — Esse
assunto...
— É delicado pra você — ela assumiu quando ele teve dificuldade
para continuar. — Eu compreendo.
— Compreende?
— E todos nós não temos questões dolorosas?
Ele continuou encarando. Ela bufou, deixando o corpo arriar numa
das poltronas e puxou os pés para cima.
— Não perdi minha... uh, alma gêmea. Mas, de alguma forma, perdi
minha mãe. Bem, pelo menos, a idealização que tinha dela.
— Sinto por sua perda.
— Obrigada. — Ela sorriu por cima da borda da caneca. — Eu
também sinto, mas aprendi a conviver com isso. Lucy é uma boa pessoa, só
não para ser mãe. Por ela, estava presa em seus sonhos, vivendo como uma
extensão e não como alguém que tem vida própria. Tive de cortar o cordão,
endurecer, e trabalhar minha culpa e frustração se quisesse ter uma vida
decente.
Emme tinha aprendido desde cedo que se não lutasse por seus
ideais ninguém lutaria por ela. Era ela por ela. Jurou sempre lutar. Não havia
espaço para o ego e o orgulho quando seu coração e sua felicidade estavam
em jogo.
— Os pais podem ser difíceis.
— Alguns mais do que outros — disse ela, consternada. — Não dá
pra exigir de ninguém, incluso nossos pais, o que eles não podem ou não
querem nos dar.
— Você tem um coração bonito, gentil e sensível, Emmanuelle.
— Eu me libertei, Collin. Talvez seja isso que você precise.
Isso pareceu lembrá-lo da própria angústia.
O semblante dele escureceu ainda mais, as mãos fechando e
abrindo.
Emme ficou em pé se aproximando dele, quando ele se virou de
costas para sair. Ela tocou no braço, os músculos inchados com tensão.
— Fique. Se quer conversar, podemos fazer isso.
— Não quero conversar.
— Talvez não se trate de querer, senão de precisar.
Collin girou para enfrentá-la.
— Isso não vai acontecer.
— Você precisa falar, pôr para fora o que te atormenta. Eu estou
aqui, Collin, se precisa de mim. Fale comigo. Por favor. — E acrescentou
paciente. — Não vou te julgar. Eu acho que você já faz isso muito bem
sozinho.
Ele se afastou, as mãos na cabeça. O ar pareceu ficar mais espesso,
confuso, como uma tormenta sombria e retorcida.
— Collin, por favor, não faça isso. Não me empurre para longe.
— É você. — Ele não gritou, sua voz estava baixa como sempre, o
que a tornou ainda mais pesada, era um pulso de dor berrante. Ecoou dentro
dela.
— Está tudo bem, Collin. — Ela fez uma pausa, e respirou fundo
reunindo coragem. — Estar comigo te machuca porque acha que a está
traindo.
Ele não disse nada, os olhos afiados e implacáveis sobre ela.
Não esperava que o Sr. Silêncio começasse a ser tagarela agora.
— Se estar comigo te machuca, é melhor não nos vermos mais —
ela disse, a voz estrangulada. — Retornarei a Nova York dentro de 4 dias.
A informação pareceu atingir algo nele dado a forma que o tipo
ficou rígido. O olhar, de repente, estreito, cheio de fúria e possessão cravado
nela.
Ela podia jurar que ele odiou a ideia.
Mas não queria iludir o coração. Inútil. Essa corrida era perdida.
Ela pegou tudo que podia, cada reação, cada sentimento e emoção
provocada. Lá, diante dele, ela estava tremendo, o coração a mil, suspensa.
Ele não a queria.
Ele não a desejava.
Ele a achava irritante.
Escandalosa.
No entanto, ele queria todas essas coisas.
Sua presença.
Seu beijo.
Seu abraço.
Seu calor.
Seu cheiro.
Pele a pele.
Seu coração afundou em alívio quando ele sentou na poltrona ao
lado da que ela tinha se sentado. Ela se moveu silenciosa, sentando-se na
outra.
— Maria era de um bando próximo — disse ele. — Eu a conheci
quando ela foi visitar uma tia. No momento em que a vi, eu soube que era
ela. Ela era especial e sempre faria parte da minha vida. Estar com Maria,
desde o primeiro momento, foi como estar com alguém que conhecia há anos
e para além.
— Ela era o amor da sua vida — Emme sussurrou num fio de voz,
simpatizando por ele simultâneo ao rasgo de dor por sua própria má sorte.
Collin a encarou, muito quieto.
E, novamente, ele parecia pronto para se levantar e ir embora, sua
expressão tensa e culpada, a cautela espreitando os olhos azuis.
— Eu não deveria estar falando disso com você.
— E eu disse para não me empurrar para longe, fale comigo. Se é o
que precisa, eu estou aqui... — eu posso te dar qualquer coisa, apenas
peça.
— Não quero te machucar, Emmanuelle.
Ela assoprou uma risada curta.
— Você é o único que me chama assim.
— É o seu nome — ele disse, como se ela não fizesse sentido.
— É, mas só duas pessoas no mundo me chamam assim. Você e
Lucy. Nunca gostei, porque na boca dela sempre pareceu um castigo. Com
você, no entanto, é diferente. É sempre... agradável, como uma carícia. Eu
amo.
— Você me endoida, Emmanuelle — ele disse, com uma
exasperação e a atraiu para ele, alojando-a em seu colo. — Não acho que o
que fazemos é sujo, isso ainda não torna certo. Não quero te machucar e eu
estou fazendo isso.
— Collin não me machuca que fale dela. Eu acho lindo, é tão
incrível que um homem ame dessa forma apaixonada. Eu invejo Maria e não
me orgulho disso. Mas não posso evitar. Enquanto viveu, ela teve mais amor
do que uma dezena de milhares, talvez, milhões de mulheres jamais irão
experimentar. Inclusive eu.
Seu peito estava torcido, o coração tão apertado que sangrava.
Ela admirava, mas também sofria por sua devoção a outra mulher.
Ela não podia ter atravessado as barreiras do casual, podia? Era
sexo. Sexo alucinante. Todavia, ainda que negasse, ela sabia que tinha feito.
Emme somente não queria pensar nisso.
Olhar para o homem carrancudo, extraordinário, que fazia seu
coração falhar as batidas. Ouvi-lo derramar declarações de amor para
alguém que não fosse ela, encheu-a de tristeza. Estava numa contradição. Em
dor, mas também havia o desafio se erguendo em seu sangue, o pensamento
se tornando mais alto para fazer Collin enxergá-la. Querê-la
desesperadamente.
Meu Deus, ela não podia estar se apaixonando.
Emme temia estar em um ponto além do reparo.
— Falar sempre ajuda — disse ela, depois de um tempo.
— Não nesse caso.
— Você só saberá se tentar.
— Não preciso tentar, Emmanuelle, eu sei.
Cristo, que homem teimoso!
— Como?
— Porque você, Emmanuelle, é a causa da minha angústia. É como
um vício. Eu sempre quero mais. É tão bom que me culpo.
Emme o olhou sem saber o que falar, pensar.
— Maria está morta — ele disse devagar, a confissão gotejava dor
e amargura em cada palavra. — Mas ela ainda vive em mim. Sempre viverá.
— Eu não quero substitui-la, Collin. Não estou tentando competir.
— Você não pode.
— Eu sei.
— Não, não sabe
— Então me diga.
— Perdão. Eu sinto muito por te magoar. Eu não quero te ferir com
minha bagunça e acabo fazendo exatamente isso.
— Nada há nada para perdoar. Eu sei que seu coração foi tomado e
eu não tenho a menor chance. Maria foi uma companheira incrível. E não
acho que alguém assim gostaria que você vivesse isolado e se privando da
vida. — Fez uma breve pausa, um pensamento lhe ocorreu. — É por isso,
não é?
— É por isso o quê?
— Você vive com o mínimo, Collin, a precariedade de sua cabana,
escura e gelada, sem nenhum conforto. Você não se acha digno nem disso,
não é?
— Eu fui culpado pela morte dela.
— Collin, não...
— Escolhi viver isolado com ela. Maria era reservada como eu.
Ela foi pega numa encruzilhada com machos perversos que a mataram
acidentalmente. Eu os cacei e matei. Eu a vinguei, mas não pude protegê-la,
como um macho honrado deveria fazer com sua fêmea. Por que deveria
usufruir de qualquer conforto que torne minha vida mais fácil e prazerosa
quando ela está morta?
Emme olhava chocada com o derrame de informação.
Collin se corroía até os ossos de culpa e remorso. Ela nunca tinha
visto nada parecido, a vergonha e a humilhação, tanta culpa, exalava dele.
— E aqui estou eu, me deleitando de seus prazeres.
— Collin o que aconteceu não foi sua culpa. Acidentes acontecem.
O mundo está cheio de gente ruim. Entendo o senso de dever que tem, mas,
querido, não dá para nos proteger e ao outro de tudo. Não é justo com você.
— Eu não espero que você entenda — desprezou ele.
Ela bufou, rolando os olhos e não caiu na sua clara provocação.
— E, ainda assim, eu entendo.
— O que você entende? Eu sou um homem condenado, e você, de
alguma forma, torna isso pior. — Sua voz era severa, cortante, destinada a
machucá-la.
— Isso não é sobre mim, Collin. É sobre você.
Ele olhou surpreso, e depois endureceu mais.
— Eu posso entender porque amou tanto essa fêmea, a forma como
se sente. Mas, baby, você fez o que podia por ela. Não é justo que se
escravize dessa forma a uma vida miserável, sem felicidade, sem prazer.
Ele se levantou, colocando-a de lado.
— Collin, eu não estou pedindo para que me faça sua assim ou para
que me coloque no lugar dela. Sejamos sinceros, eu não estou aqui para
viver um romance. Caramba, você me atraia muito, e quero passar os dias
que me restam aqui com você. Mas, Collin, é isso.
Ela colocou tanta convicção na mentira que quase acreditou.
— Não é simples assim, sabe disso, Emmanuelle. Estamos nos
enganando.
Em mais de uma maneira.
— Sim, é. Eu tenho uma vida em Nova York, um emprego que amo e
uma carreira em ascensão. No entanto, se estar comigo te fere tanto assim,
podemos nos afastar... Eu posso adiantar minha partida.
— Você é uma fêmea única, Emmanuelle. E eu estou fodendo tudo.
Está certa. Não é você. Ou mesmo Maria. Sou eu. Mas não acho que estou
preparado para lidar com isso ainda.
— Maria sempre terá um lugar especial em sua vida, um lugar
insubstituível. E está tudo bem. Ela parece uma mulher que merece cada
parte bonita de um homem. E você também merece um pouco de alívio.
— É o que está me oferecendo?
— Estou te oferecendo o que você quiser pegar.
Não havia razão para fingimentos e joguinhos. Ela o queria e
pegaria o que ele estivesse disposto a dar, mesmo que fosse somente
algumas horas de prazer.
Ela enrolaria isso em uma boa lembrança.
Emme se viu envolvida por ele, os joelhos fraquejando quando ele
segurou seu rosto com as mãos enormes e quentes, pousando a testa contra a
sua.
— Você merece mais...
Ela abriu a boca, mas ele a calou.
—... e eu não posso te dar mais. Eu quero, mas não posso.
— Dê-me o que quer dar, o que pode dar.
— Emmanuelle...
Ela lambeu os lábios e fechou os dedos ao redor dos pulsos
grossos.
— Não estou pedindo muito. De fato, não estou pedindo nada. —
Pausa. — Sem cobranças, Collin. Sem exigências e expectativas. Só eu e
você.
Ele soltou um pequeno barulho, um lamento, um baixo vibrato de
seu peito que a atingiu em cheio. Fez a atmosfera entre eles mais encorpada.
Não houve hesitação.
Nenhum interlúdio.
Collin aterrissou a boca na dela num beijo avassalador.
Fome os consumiu por horas.
24
CONFISSÕES
xXx
xXx
xXx
ORDENS DO ALFA
xXx
Collin encontrou Caleb no topo da escada do alpendre. Não
encontrar Emmanuelle no chalé quase rasgou sua razão.
Ela tinha partido?
O pensamento horrendo o levou de joelhos, rugindo em uma agonia
nunca sentida. O leão o colocou em pé. Ela não tinha partido, ainda estava
lá. Podia senti-la. A sensação era um pulso violento de urgência. Queimava.
Obrigando o coração a bombear seu sangue mais rápido, incitando a ir até
ela.
Ele então tinha dado a volta e corrido para a casa do alfa.
Collin parou nos pés dos degraus, mas não fez menção de subir.
— Ela está com Trish. Minha filha nasceu. Ava.
— Quando?
— Depois do julgamento.
— Parabéns. Que o Criador despeje bençãos em sua cria.
Caleb anuiu.
— Onde esteve?
— No Conselho de Raças.
— Como?
Collin limpou a garganta e suspirou, deixando transparecer o
cansaço agora que a adrenalina não estava mais o mantendo ligado no 220w.
Ele explicou a Caleb que depois de seu encontro com Emmanuelle e
o ocorrido com a caixa de música, ele tinha corrido a exaustão, até ser
levado pela inconsciência. E acordou no Conselho de Raças. Contou-lhe
então, tudo que se sucedeu depois. O alfa escutou sem se alterar, em silêncio
ponderado.
— Estava certo, Caleb, Emmanuelle é minha prometida.
— Ela é sua segunda chance?
— Ela é a única — confessou ele. — Sempre foi ela.
Caleb coçou o queixo, pensativo.
— Como pôde se enganar assim? Seu leão não o alertou?
Collin elucidou sobre o ceticismo de seu bando em relação aos
prometidos. Nunca tivera um desses no bando. Quando filhote, ele tinha
ouvido sussurros aqui e ali, e ansiou por esse amor. E uma vez que conheceu
Maria, a paixão avassaladora que sentiu por ela, facilmente o fez acreditar
que a fêmea era única. E de certa forma, para ele, naquela época, ela era
única.
— Meu leão fez de tudo para me abrir os olhos. Eu não podia estar
longe dela por mais que resistisse. Eu quis... desafiá-lo para estar com ela.
Surpreendeu Caleb. Não a franqueza do macho, mas a força da
atração que o drukāt exerceu para que o leão de Collin cogitasse o desafio.
— Ela sempre foi minha — Collin repetiu, pausadamente,
experimentando a declaração na língua. — Eu estava chafurdado na culpa e
na confusão que sentia. O orgulho e a honra guiam minha espécie. Eu não
podia suportar não ter protegido Maria, a quem acreditei ser minha
prometida. E depois estar emocionalmente envolvido e ligado a outra fêmea,
sentindo mais do que jamais senti.
— Collin...
— Eu sei — ele engoliu o nó. — Não foi minha culpa.
— Posso entender porque negou-se tanto. É um macho nobre,
Collin. Que pensou que estava desonrando sua prometida. Mas vê? Não dá
para negar nossa prometida, sobretudo, quando o drukāt está agindo na
fêmea. Faz sentido que o cheiro estivesse mascarado. A magia é diferente
para cada casal, adaptando-se as necessidades, principalmente, as
dificuldades.
— Fui tolo.
— Não tolo, honrado. Talvez um pouco teimoso.
— Eu a magoei em nosso último encontro. — Fez uma pausa e
lançou um olhar para cima na casa do alfa. — Ela não vai me perdoar.
— Ela irá. Não há alternativa.
— Não vou forçá-la, Caleb, mesmo que tenha de lidar com as
consequências da rejeição. Ela tem uma vida na cidade grande.
— Não vai deixá-la ir.
— Eu... — Collin parou, estreitando os olhos. — O que é? Diga.
Caleb mudou-se, encostando com o ombro na coluna de madeira.
— Como era quando faziam sexo? Quando gozava?
— Onde quer chegar com isso?
— Eu nunca tinha dado nó com outra fêmea, até Trish. Ela estava no
controle de natalidade. Ainda assim, meu esperma provocou sua ovulação.
Choque pintou as feições de Collin.
Caleb sorriu de canto, a sobrancelha escura arqueada.
— Você nunca se preocupou com uma gravidez, não é?
— Não era uma possibilidade — Collin sussurrou, cético.
— Não cheirou a ovulação nela?
— Meu leão — ele rosnou depois de um tempo.
Deu-se conta que enquanto resistia, o animal cuidou para que ele
entrasse nos trilhos. O leão não estava lutando contra ele, mas com ele.
Collin tinha pensado que estava em desequilíbrio com seu animal
quando, na verdade, estavam se alinhando. O leão, sentindo suas reticências
e luta, o manipulou. Preparando. Escondeu o odor dela, deixando às cegas
porque sabia o que iria acontecer. Era inevitável. Deu-lhe pequenos gostos.
Marcou-a, primeiro no seio. E depois, mais enredado pela fêmea, ele a
marcou no ombro.
Em algum momento, em segredo até de si mesmo, ele reconheceu
que com Emmanuelle era diferente. Que ela era especial para ele. Ele a
queria tanto. Falava sério quando lhe propôs tentarem algo mais firme. E,
ainda assim, ele se negava porque admitir o que achava que era sua culpa e
desonra, o envergonhava profundamente. E lhe amedrontava, pois não queria
perdê-la. Não queria parecer fraco e infame para Emmanuelle. Ele queria
merecê-la. Estar com ela. Mostrar-lhe que era confiável. Ele não iria falhar
com ela.
Ele buscou razões para estar com ela, mesmo quando fazia o
contrário.
O homem tinha sido tão tolo.
— Eu a mordi. Não podia controlar o impulso de marcá-la. Por um
tempo só marquei seu peito, mas quando a montei, não pude me controlar.
— Nada mais?
— Meu ferrão saiu... — Sua voz foi morrendo.
Collin encarou Caleb, com desconfiança.
— Sabia que isso podia acontecer?
— Não sabia sobre o ferrão, obrigado por compartilhar. — Caleb,
deliberadamente, ignorou seu rosnado. — A gravidez era inevitável.
— Besteira! — grunhiu, zangado.
Caleb deu de ombros e enfiou uma mão no bolso da frente da calça.
— Eu tentei falar com você, Collin. Não é minha culpa que nunca
me ouviu. A gravidez te forçaria a ver a razão.
Collin rosnou.
— Você vai entrar?
O shifter-leão lhe lançou um olhar de cara fechada. E depois,
encarou a porta por um longo, muito longo, tempo. E de volta ao alfa.
Ele mudou para a forma animal, dando a Caleb uma encarada.
Surpreendendo-lhe ao ver o dourado quase cobrindo todo o azul etéreo.
O alfa sorriu, satisfeito com o que via, e anuiu.
O leão fez um sutil maneio com a cabeça e, em seguida, partiu.
Horas mais tarde, Collin fixou o olhar na porta. O coração
retumbando tão forte que parecia que a coisa iria atravessar a pele.
34
SEJA MINHA
Batidas insistentes arrancaram Emme dos lençóis.
Ela tinha passado dias miseráveis enrolada na cama em posição
fetal, depressiva e sem vontade para nada, exceto chorar de tristeza. Os
lábios e o rosto estavam inchados. Marcados pelos dias horríveis, sugando
sua vida.
Ela esperou, com ânsias, que Collin aparecesse.
Ela esperou abrir a porta e se jogar em seus braços.
Ela esperou e esperou, esperou...
E cada segundo foi angustiante, roubando a alegria que as palavras
de Caleb injetou nela. Era a companheira prometida de Collin...
Ela tinha alguém especial só para ela. Único.
... E ele não a queria.
Indo até a porta, ela abruptamente ficou em alerta, a adrenalina
queimando em seu sangue fez seu coração bombear mais rápido. A sensação
tão forte, tão desesperada, que a deixou sem fôlego. Uma urgência
descomunal se avolumou dentro dela. A antecipação crepitando em seus
ossos.
Sua temperatura corporal aumentou, as mãos suando frio.
— Emmanuelle, por favor, abra.
Ela travou, paralisada.
Era ele mesmo?
Collin estava em sua porta?
— Emmanuelle, eu sei que está aí — ele rosnou, numa misto de
apelo e de irritação, que fez seus olhos estreitarem. — Abra, cariño.
Ela se aproximou lentamente encostando na porta como se fosse seu
bote salva-vidas. Ela fechou os olhos e respirou profundamente.
— Eu sinto você.
Era ele mesmo.
— Eu vivo você.
O timbre, a rouquidão em sua voz, expandiu seu coração.
— Por favor, Emmanuelle, me deixe entrar.
Ela puxou para trás e encarou a porta, ponderando.
Sempre uma porta. Atrás dela, Collin, pedindo para entrar. Risque
isso. Ele não pedia. Ele estava lá, e ela se entregava sem reservas porque
não importava o quanto negasse ou estivesse brava com ele; quanto sua razão
a advertisse sobre os perigos de continuar abrindo a porta para ele,
engolfada em seu prazer. Enganando-se. A paixão sempre ganhava.
Emme o queria tanto.
Era um querer tão fundo e violento quanto sua vontade de viver.
E ela sentia saudades de tudo.
Do toque incendiador.
Do beijo fantástico.
Do quanto era reativa com ele.
Da loucura deles.
Do furor alucinante.
Da conexão quando faziam amor e fodiam a exaustão.
Estava louca e perdidamente apaixonada por um homem que
compartilhava tudo com ela, exceto o coração.
E mais uma vez, ele pedia para entrar.
Emme, enfim, entendeu. Ela sempre permitiu sua entrada na
esperança de que ele devolvesse a gentileza. Ela queria morar nele, criar
raízes em seu coração, usar sua alma de atmosfera e respirar ele.
Agarrou a maçaneta e abriu a porta.
A visão para sempre estaria gravada em seu coração.
A expressão determinada, os olhos azuis iluminados com lágrimas e
afogueados com um querer que ela nunca viu nele antes. Não mais
eletrizantes. Eram olhos quentes e apaixonados. Livres. Brilhando com
amor... para ela.
Ele era o pecado e a perdição encarnados.
A imagem do amor.
Do que ela mais queria.
Ele estendeu um objeto para ela. A caixa de música. Ela hesitou,
mas, enfim, pegou com cuidado, avaliando com atenção.
Ela encrespou as sobrancelhas.
— Não está... quebrado — ela disse a última parte olhando para
ele.
— Maria me deu — ele disse baixinho. — Eu a vi. Falei com ela.
Emme engoliu à seco, tentada, mas com medo de perguntar.
— E agora está aqui... Ela te mandou aqui?
— De certa forma.
— Entendi. — Ela assentiu, enrolando os lábios para dentro da
boca, o nó na garganta mais apertado. — Então só está aqui porque ela
pediu.
— Estou aqui porque quero, porque é onde devo estar.
— De verdade?
— Eu não vou mentir para você, Emmanuelle — ele disse sério. —
Ver Maria me trouxe paz e alívio. Eu não pude me despedir, precisávamos...
O que estou dizendo? Eu precisava de um encerramento adequado.
— E você teve isso?
— Sim, eu tive. Ela foi minha amiga antes de ser minha
companheira, e saber que ela está bem e que torce por nós, tirou um peso do
meu coração.
Eles se encararam, estendendo o momento.
— O que está fazendo aqui, Collin? O que está pedindo?
— Estou pedindo para entrar, cariño.
— Eu sempre deixei. Então, seja específico.
Emme engoliu, inquieta com a intensidade e deu um passo para trás
conforme ele se adiantava para ela, fechando a porta atrás de si sem encostar
nela.
Ele a prendeu em seu olhar, as mãos em seu rosto.
— Eu estou pedindo para entrar e bagunçar sua vida, Emmanuelle.
Estou pedindo para entrar e mudar a sua vida. Levá-la comigo e construir um
lar. — Os polegares dele limparam abaixo de seus olhos. — Estou pedindo
para entrar onde sempre quis estar, onde sempre pertenci. Com a minha
prometida. Mas antes, estou pedindo..., implorando, ainda que não mereça,
que me perdoe por ter sido desprezível com você e te machucar com a minha
covardia.
— Está falando sério? Por quê? Por que agora?
— Não é agora. Sabe disso. Eu falei sério quando disse que te
quero.
— Você correu e me deixou sozinha — ela disse magoada. — Eu
pensei que nunca mais iria vê-lo, que me odiava por ter quebrado seu
presente.
— Tente amor, não ódio. Tente aquela parte que te querer da forma
que faço, me assustou porque é maior do que tudo que já senti na vida..., do
que senti por Maria. Não há comparação. E quando a provei e a fiz minha,
comprovando o que meu leão e eu próprio sabia, mas me negava a acreditar.
Não porque você não valesse a pena, porque você valia, Emmanuelle, você
vale tudo. Minha crença contava uma história diferente. Isso me fez sentir um
pária, pois, supostamente, eu não devia amar ninguém além da minha
prometida... além de você.
Ela lhe devotou um olhar cheio de brilho e expectativa.
— Tente o eu te amo, porque eu amo, Emmanuelle. Amo tanto que
não posso respirar longe de você — ele disse numa explosão apaixonada.
— Isso é uma... confusão.
— Não foi pela caixinha, Emmanuelle. Eu estava vulnerável com a
perda do bando. E quando vi a caixinha quebrada, eu desabei. Não corri de
você, cariño. Corri de mim mesmo, da bagunça que me tornei. E que, para
ser honesto, não sabia como arrumar porque estive cego por muito tempo.
— Cego com o que, Collin?
— Eu sou um leão. Minha vaidade é meu orgulho. E o meu orgulho
é a minha honra. Minha honra é o meu dever. Isso, às vezes, pode ser mais
forte do que eu mesmo. Eu preciso acreditar que sou capaz, que posso
proteger quem amo. Eu pensei que tinha falhado com Maria. E falhar com ela
significava...
—... Falhar com você.
— Mais precisamente com a minha honra e dignidade.
— Baby, não dá para salvar o mundo.
— Eu sei, cariño. E eu espero que tenha paciência comigo porque,
apesar de ser um centenário, ainda estou aprendendo a lidar com isso.
— Você sabia que éramos companheiros prometidos?
Ele assentiu e atraiu, levando-a para cama e manobrou até que ela
estava em seu colo, de frente para ele. A proximidade acalmando o leão de
Collin.
Emme deixou a caixinha ao lado sobre os cobertores bagunçados.
— Nós não éramos, nós somos.
— Não entendo, baby — ela murmurou, confusa. — Se sabia que
somos prometidos, então por que tentou me afastar de você?
— Eu estava cego, Emmanuelle. E me custava acreditar que tinha
me equivocado tanto sobre minha companheira prometida. Não apenas isso,
eu estava chafurdado na culpa que sentia pela morte de Maria. E só me
restava honrar suas memórias. Não podia entender como tinha sobrevivido a
perda dela, principalmente depois que conheci os casais de companheiros
prometidos do bando daqui. Neste ponto, eu estava crente que era um
exemplo de desonra. Isso me matou.
— É o chefe-executor... Não me olhe assim. Eu fiz a tarefa de casa.
Caleb me explicou que sua principal função é a proteção de Snowville.
— Isso está certo.
— Um macho desonrado teria esse trabalho?
— Eu fui tolo e teimoso.
— É muito duro com você mesmo, Collin.
— Sei disso, cariño. — E continuou. — Estive morto, até que você
surgiu naquela estrada bagunçando aqui dentro. Eu renasci com você, e isso
me endoidou. Eu não me achava digno de nada bom e você parecia tão
brilhante.
“No momento em que te vi, você foi cauterizada em meu cérebro,
em meus ossos. Você estava comigo o tempo todo. Eu estava irritado, não
com você, mas comigo mesmo, por te desejar mais do que quis aquela que
acreditei que era única para mim. E não estou dizendo que Maria não foi
especial, porque ela foi e ela sempre será. Mas você, Emmanuelle, é única.
É tudo que queria em segredo, mas acreditava que não podia ter. Um macho
desonrado como eu não deveria ter acesso aos prazeres de uma fêmea. Não
podia arriscá-la”.
— Collin, você nunca me machucaria.
Ele sorriu triste.
— Eu fiz, não fiz? Nós dois sabemos que sim.
Ele encostou a testa na dela, os olhos fechados quando respirou
fundo.
Ela envolveu a cabeça dele nas mãos, chorando baixinho.
— Eu me enganei tanto, Emmanuelle.
Collin beijou seus lábios. Beijos molhados e barulhentos, que se
transformaram num único beijo, longo, apaixonado e paciente. Incendiando
seu corpo. O coração tão inchado, tão grande, que não cabia no peito.
— Quero amor, Emmanuelle. O para sempre. Alguém para
compartilhar a vida comigo. Para ser meu lar e eu o dela. — Ele capturou
seu olhar, deixando transparecer sua natureza singular; homem e leão
alinhados, olhando-a com entrega e devoção. — Esse é o tipo de cara que
sou, Emmanuelle.
— O meu tipo favorito. — Ela sorriu de orelha a orelha, a
felicidade limpando as sombras de seu coração. E depois ficou séria. —
Esses quatro dias longe de você foram os piores dias da minha vida, Collin.
Eu posso não te negar, mas isso não significa que não estou com raiva e
magoada. E eu estou muito dos dois.
— Eu sei, cariño. Eu posso ser estúpido às vezes... Perdoe-me. Eu
nunca quero te ver triste por minha causa outra vez.
— Eu sou sua prometida — ela disparou.
— Você é — ele confirmou, emocionado, os olhos cintilando com
lágrimas derramadas. — E eu vou honrá-la cada dia de nossas vidas.
— E eu vou honrá-lo de volta e chutar seu rabo quando me
aborrecer.
Collin riu, apertando os braços ao redor dela e a beijou.
— Sou louca por você, bruto.
Ela se agarrou a ele, bombardeada pela emoção, se arrastando para
cima dele. Esfregando a boceta no cume duro de sua virilha. Ela gemeu
contra os lábios masculinos. Ele ronronou, agarrando sua bunda, colocando
ainda mais pressão na fricção deliciosa. Urgência queimou em seu sangue.
Ela se afastou para recuperar o fôlego, apanhada pela intensidade faminta de
seu corpo.
Ele a colocou em pé, e depois se levantou em sua altura na frente
dela.
Ele rasgou a camisa, e depois a calça se juntou a pilha de trapos.
Não usava cueca. Seu pênis impressionante pulsou livre. Uma onda de calor
se quebrou nela, ondulando por suas veias e pulsou em clitóris latejante. Ela
percebeu então quão molhada estava por ele. Sempre quente. Sempre
escorregadia.
Emme começou a puxar a camiseta, e depois a calcinha.
Diante do brilho predatório no olhar dele quando ficou nua, ela se
encheu de determinação e outro sentimento que não podia distinguir.
Sentiu-se poderosa, no controle... e desafiadora.
— Se eu fosse mais jovem e imatura, deixaria minha dor e raiva
tirar o melhor de mim. Posso ser muito rancorosa, Collin.
— Vou lembrar disso, companheira — ele murmurou, com diversão.
Ele a içou, e suas pernas enrolaram na cintura dele.
— Eu ainda estou magoada.
— Eu sei, cariño, vou resolver isso também.
Ele se moveu para a cama, a urgência dele espelhando a sua
própria.
— Mas agora. — Suas costas pousaram no colchão. — Eu preciso
de você, Emmanuelle. Preciso sentir sua boceta me apertar, gozar gostoso
pra mim.
— Você nem sequer cogitou que eu te negaria?
— Prometidos são o que são, por que iria me recusar se sou seu?
Ele perguntou, mas não parecia interessado na resposta já que os
lábios dele começaram a explorar sua pele. A respiração dele pegou em sua
garganta, os beijos se derramaram por seu pescoço, a curva do topo dos
seios antes de pegar os mamilos. As costas de Emme curvaram, e ela gemeu.
— Porque... porque eu estou... Oh, Deus... brava...
Ele sorriu em sua pele.
— Brava o bastante para recusar isso?
Os dentes mordiscaram de leve a marca que ele deixara em seu seio
e a língua acalmou. Os músculos de seu estômago se apertaram e suas coxas
estremeceram quando ela convulsionou na cama.
Gritando. Abandonada no prazer.
Ela não podia ter acabado de ter um orgasmo só porque ele brincou
com seus seios, certo? Sua boceta encharca e pulsante disse outra coisa.
— Oh, por favor, cale a boca e me foda. — Ela encontrou fôlego
para resmungar de brincadeira, ante o olhar convencido dele.
Ele desceu a boca e todo o resto sumiu.
A luxúria fez o sangue de Collin ferver. Seus testículos contraírem e
seu pênis se expandiu endurecendo ainda mais. Ela era tão responsiva, tão
dele.
A urgência de se acasalar disparou através de sua espinha.
Ele precisava tomá-la.
Fazê-la dele inteiramente. Completamente. Verdadeiramente dele.
O leão rugiu de felicidade, seu corpo cantando com prazer.
Com o reconhecimento dela, sua aceitação.
Tome-a. Submeta.
Collin cerrou os dentes, controlando-se. Ele queria mais que um
sexo rápido. Primeiro, queria acariciar, beijar cada centímetro, fazer com
que ela derretesse em seus braços. Refém da sensualidade e necessidade
ardente.
Ela estava só um pouco inchada, mas molhada. Muito, muito
molhada. A nata escorrendo da abertura até o ânus, revestiu os lábios
vaginais.
Seu pau repuxou. Ele precisava ser tocado.
Rosnou em frustração.
Se Emmanuelle colocasse as mãos nele, ele perderia o controle.
Suas mãos apertaram o traseiro dela. Ela gemeu como uma gatinha
dengosa e esparramou as pernas ainda mais. Convidando.
O odor irresistível dela se espalhou ao redor dele e o seu próprio
aumentou. Envolvendo-os. Especiarias escuras. O cheiro deles.
Minha. Todinha minha. Nossos.
Collin tinha que prová-la.
Ele beliscou o clitóris dela. Ela gritou e apertou as coxas contra o
rosto dele. Mais uma vez, ela gozaria. E ele estava ansioso para beber dela.
Ele encaixou os lábios em volta do feixe de nervos sensíveis e
trabalhou sua língua, seus lábios, a pressão certa das chupadas.
FIM
Agradecimentos
Aos leitores dessa série que, pacientemente, aguardaram a publicação deste
livro. Vocês são tão sensacionais, tão incríveis, que não tenho palavras
suficientes para expressar o meu amor e gratidão por não desistirem de mim
e de Forever Mine. Meu muito, muitoooooo, obrigada!
Um obrigada mais que especial para as minhas quengas Elza, Luciana, e
claro, Martinha, que sempre topam qualquer parada minha e não tem medo
de mandar a real, que eu AMO LOUCAMENTE.
Um gigantesco obrigada aos bookstans que sempre apoiam e incentivam a
literatura nacional.
E obrigada a você pela leitura!
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E, por favor, não deixe de avaliar este livro.
Beijos e até a próxima!
Sobre a Autora
Para os interessados de plantão, S. K. MEINS, nasceu em 1986 em
Palotina/PR e cresceu no interior paulista, onde vive até hoje.
Graduada em Psicologia e nas trombadas da vida, entregou-se ao
universo da literatura depois de ler A Saga Crepúsculo, a qual alimentou seu
vício pela leitura e, posteriormente, pela escrita. Atualmente, seus delírios
literários estão publicados na Amazon de forma independente.