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MEINS
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Todos os direitos reservados.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
Para Bruxa.
Bem-vinda à Snowville!
Sinopse
EMME MULLER é uma prestigiada designer gráfica de jogos,
acostumada a esconder seus desejos por trás de seu jeito indomável, o que
faz com que ninguém conheça a autêntica Emme... Ninguém, exceto o homem
que interrompe seu caminho na busca por sua melhor amiga, Trish.
COLLIN DEL REY é um shifter-leão, um alfa, marcado pela dor e
pela tristeza de ter perdido sua Companheira Prometida trinta anos após seu
acasalamento.
Espantosamente, ele sobreviveu a dor dilacerante e a tristeza
esmagadora, mas o tempo é severo e implacável quando se perde algo
insubstituível.
Frio, duro, amargo, solitário e altamente perigoso em proporções
desmedidas. Seu coração endurecido com o tempo está fechado até seu
último suspiro.
Mais de dois séculos depois, Collin verá que o Criador tem sua
própria forma de agir e não pede permissão para fazer o que quer, quando o
destino coloca em seu caminho a última mulher na face da Terra que ele
pensaria em tomar como companheira.
Um presente inesperado, que surpreende a todos e a ele próprio, que
não está disposto a aceitar, mas o Criador não aceita recusas, e sem piedade,
exigirá sua rendição.
Forever Mine
Lendas, magias e mistérios envoltos pela escuridão velada de um
inverno rigoroso em Inuvik. Um lugar remoto, onde almas destinadas pelo
Criador, antes mesmo do nascimento, descobrirão o seu FOREVER MINE.
Glossário
Companheiros prometidos: almas criadas sob medida pelo
Criador e designadas a estarem juntas para sempre.
Conselho do Bando: formado pelos anciões do bando que são
escolhidos pelo alfa.
Conselho de Raça: formado por anciões milenares, um de cada
espécie de shifter existente.
Corrida: evento celebrativo de união do bando e de acasalamento.
Criador: entidade divina.
Drukāt: magia puramente sexual, um afrodisíaco potencializador
adicional e exclusivo dos companheiros prometidos.
Febre do acasalamento: frenesi sexual espontâneo, que age tanto
no macho quanto na fêmea quando querem se acasalar, prometidos ou não.
Hendrix: chá de especiarias contraceptivo, único capaz de impedir
a gravidez das fêmeas em seu período fértil e/ou durante o acasalamento.
Shifter: seres com habilidade de mudar para duas formas: animal e
hibrida. Diferente de lobisomens, shifters são racionais e não podem ser
transformados. Eles nascem assim e não são influenciados pela lua. Há
várias espécies, lobo, urso, leão, leopardo, tigre etc.
Sinopse
Forever Mine
Glossário
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Epílogo
Agradecimentos
Contato
Sobre a Autora
1

VISITA INDESEJADA
INUVIK, TERRITÓRIOS DO NOROESTE, CANADÁ.
FINAL DO INVERNO

Emme Muller lançou um olhar para estrada. Não era como se


pudesse enxergar muita coisa, mesmo depois de seus olhos se acostumarem
com o breu. Isso, no entanto, não impediu seu queixo de cair. Os ombros
desabaram tragicamente diante da constatação que fizera, tornando-a ainda
mais consciente de sua situação precária. Enquanto tentava calcular quantos
metros ainda faltavam para, enfim, chegar ao fim do mundo.
Talvez, cinquenta? Cem? Quinhentos?
Provavelmente, uma eternidade, que fez suas pernas tremerem e os
pés clamarem por descanso.
Logo ali. Rá!
Tinha dito um morador local quando ela esteve na lanchonete P&C
atrás de um café bem quente e de coordenadas para encontrar a maldita
reserva, logo que desembarcou ao que parecia ser onde-o-vento-fez-a-
curva. O fim do mundo era mais adiante. O maldito morador só se esqueceu
de avisar que a estrada era terrivelmente íngreme. E que no fim necessitaria
de um médico para costurar seus joelhos. Mas, principalmente, que era um
caraaaaaaaaaaaalho de longe. Já havia perdido a noção de quanto tempo
estivera subindo aquela droga de estrada sem nunca chegar.
Uma vida?
Possivelmente, uma reencarnação.
Emme lutou contra a vontade de refazer o caminho e dar um murro
nas fuças do mentiroso. Entretanto, descer o caminho, que subiu com
sacrifício, não parecia à ideia mais atraente do mundo, ainda mais quando
ela teria de refazer o percurso. Ela admitiu, por fim, que não precisaria estar
peregrinando, como se quisesse alcançar a graça divina, se os habitantes
daquele deserto de gelo tivessem um pingo de amor ao próximo. Ou se não
tivesse sido tão teimosa quando recusou o conselho de um morador para
descansar no único hotel da cidade.
Ocorre que, a tal reserva, Snowville, onde sua amiga se escondeu,
era restrita às visitações. Abrindo exceções apenas na temporada. Nem
mesmo os moradores poderiam dar as caras sem uma autorização prévia.
Besteira!
Esta era a grande desculpa esfarrapada que usavam para não
enfrentar o frio cortante. Não que pudesse culpá-los.
Pelo menos, não estou mais tocando castanholas com os dentes.
Estava bem agasalhada. Contudo, nenhuma roupa no mundo era
capaz de impedir com eficiência o frio de permear os tecidos grossos,
afundar em sua pele e se assentar em seus ossos. E nem estava ventando.
Andar como um camelo ajudou sua mente a se distrair da sensação térmica
abaixo de zero perfurando seu corpo com agulhas. As roupas — uma loja
inteira embrulhada em seu corpo — pesavam. O que também fazia a
caminhada mais árdua. A atividade aquecia seu corpo e consumia muitas
calorias. Resultando em sede e fome. E, alguns gramas mais magra e mais
cansada que um minuto atrás. Não se esqueça da noite, pensou, embora fosse
de dia. Um truque zombeteiro do universo. Que em outro momento, em outras
circunstâncias, Emme teria saltado de felicidade.
Mas, então, onde raios estava a diversão?
De repente, a consciência de animais selvagens, provavelmente
famintos, a fez prescrutar ao redor. Não devia haver abundância de comida
num lugar como aquele. Tanto frio. A noite absoluta. Barulhos da noite.
Emme engoliu à seco, a floresta boreal densa margeando a estrada parecia
mais sombria. Enviou calafrios sob sua espinha e fez seu coração disparar.
Teria algum animal faminto espreitando a tola humana impaciente?
Emme estremeceu e riu de nervoso... e medo.
Ela tinha um caralho de situação.
Não vá por esse caminho!
Enérgica, ela balançou a cabeça e focou em sua missão.
Tinha que manter a mente longe das más possibilidades, se não
quisesse correr de volta para a cidade aos gritos como uma garotinha
desesperada.
Usando a raiva de combustível, Emme retomou o calvário. Deu
graças por estar em dia com a academia. Não era uma modelo anoréxica e,
para os padrões da sociedade, estava acima do peso. Não importava. Tinha
orgulho da generosidade de suas curvas saudáveis, que eram sensuais o
bastante para fazer um santo pecar.
Passadas depois, arriscou outra olhada.
Quase lá. Porra dos infernos!
Emme poderia estar no aconchego de seu apartamento, em sua cama
king size confortável, assistindo alguma merda na Netflix. Se Trish tivesse
sido uma boa amiga. Ela realmente não podia esperar que Emme se
contentasse com meras palavras de “estou bem, encontrei alguém para
aquecer os meus pés” num e-mail sem graça, depois que a cadela tinha
sumido sem dizer nem uma palavra sequer. Mesmo não merecendo,
precisava ver Trish. Falar com ela. Garantir a veracidade de seu e-mail. Isso
era outra coisa. O e-mail era novo. Nenhuma rede social. Trish tinha
apagado qualquer coisa que pudesse rastreá-la. O que a deixou,
particularmente, mais preocupada ainda, até que recebeu a mensagem da
cadela de um novo endereço eletrônico. Foi uma questão de dias para que
um conhecido rastreasse o IP e lhe desse a localização.
Entendia os motivos de Trish para tomar uma atitude tão drástica e
escolher um lugar remoto e tão calmo. Não tirava sua razão. Embora
aparentasse ser feita de ferro aos olhos estranhos, Emme reconheceu que não
teria tido a mesma valentia. Teria chutado o rabo de Stephan e lhe dado um
inferno. E, em seguida, desabado porque, no fundo, era uma manteiga
derretida.
A insinuação de luzes fracas mais adiante, limpou seus
pensamentos, com um lampejo onírico de esperança renovada.
Seus lábios esticaram.
O suspiro de alívio foi longo e emocionado.
Oh, graças a Deus!
Emme se permitiu uma pausa para tomar fôlego. Largou a mala e se
inclinou, apoiando as mãos nos joelhos instáveis.
— Quem é você?
O estrondo severo arrebatou seu coração com um solavanco. A voz
masculina reverberando dentro dela. Profunda. Letal. E com uma rouquidão
alarmante.
Emme congelou por um átimo.
Ela ergueu o olhar do chão, muito devagar... seus olhos não muito
eficazes na escuridão capturaram um par de botas. Enormes. E, oh, homem,
ela tinha ouvido falar sobre pés grandes... Subindo... um quilômetro de
pernas poderosas enroladas em um material escuro. Mais acima, inclinando
a cabeça para trás... a camiseta preta esticada sobre um tórax amplo e a
jaqueta. Encheu sua visão. O coração gaguejou no peito, a respiração
suspensa por um instante.
Esse homem, fosse quem fosse, gotejava masculinidade.
Ele era uma montanha na frente de uma montanha de pedra.
Ele parecia feroz. Os olhos possuíam algo brilhante. Estranho e
hipnotizante.
De repente, Emme parecia mais consciente de seu próprio corpo.
Ela ignorou o rastro de emoção na boca do estômago e tentou um
sorriso gentil. Talvez, um pouco sonhador. Certo, era um pouco mais bobo.
Mas, caramba, esse espécime masculino mexia com seus nervos.
A noite lançava suas sombras sobre ele, envolvendo-o numa aura de
mistério e intensidade perigosa, que parecia vibrar em sua direção. E de
repente, ela se sentia sobrecarregada em sua presença marcante, seu cérebro
desnorteado. O corpo quente, como se a temperatura tivesse, repentinamente,
aumentado alguns graus. Enviando respostas neurais equivocadas para o seu
corpo. O tiro de adrenalina cruzou sua espinha e ela entrou em modo de fuga.
Precisava escapar ou seria devorada.
Teria feito o movimento se os pés inúteis não estivessem grudados
no chão pelo peso do fascínio irracional que o estranho despertava nela.
Emme não pôde conter a risada trêmula.
Ela estava sendo absurda e completamente louca.
Os olhos do homem estreitaram duros. Ela captou o movimento de
duas toras cruzarem sobre o peito, fazendo-o parecer maior. Mais brutal.
Selvagem. Ele era perigoso. Lançou um chiado de ameaça sob sua espinha.
Seu sorriso desapareceu. O deslumbre substituído pela irritação,
que emergiu numa rapidez alarmante, mandando seu bom senso à merda.
— Quem é você? — Emme devolveu, desafiante, empinando o
nariz.
O estranho não respondeu, as sombras grossas acima de seus olhos
estranhos encresparam-se mais. Ele deu um passo à frente invadindo seu
espaço pessoal.
Fique exatamente onde está, garota!
Seu instinto de sobrevivência gritava para ouvidos surdos.
Ela recusou-se a ceder ao impulso que tentava fazer seus pés
retrocederem. O que era insano de sua parte. Estavam no meio do nada, as
casas próximas. Mas não havia uma alma penada à vista, além de eles dois.
Se ela gritasse alguém ouviria?
Ela devia estar temendo por sua vida. Planejando uma fuga, um
chute certeiro em suas bolas, que o deixaria de joelhos e inativo por tempo
suficiente para que corresse por sua vida. Mas não fez nada disso.
Emme, por alguma razão insana, não acreditava que ele lhe faria
mal, embora aparentasse querer esmagá-la como um inseto. Ela era
minúscula comparada a ele. E, homem, ela não era exatamente pequena. O
estranho era alto demais, tão arrogante, tão confiante.
E, em seguida, ele fez a única coisa que ela não esperava.
Ele se inclinou para frente... e cheirou.
E recuou, com as costas retas. O ruído baixo no fundo da garganta
dele, animalesco, chutou seus batimentos cardíacos.
Seu próprio corpo sacudiu, a sensação afiada não era apenas medo.
Ela deu um passo atrás, assustada.
Não estava bem. Ela deveria ter tomado pausas, eventualmente
chegaria até Trish. Era isso ou estava delirando, imaginando coisas que não
eram reais.
— O que foi isso? Você me cheirou?
Olhos calculistas se fixaram nela, inexpressivos.
Com as mãos no quadril, Emme aprumou a postura e estufou o peito,
com presumida valentia que ela, francamente, não sentia.
— Não faça isso — ela repreendeu. — É rude.
Ele continuou calado. Irritando-a com o seu escrutínio. Estudando.
Avaliando, como se ela fosse a peça de um quebra-cabeça que não se
encaixava.
Isso explodiu sua prudência.
Ela não precisava se encaixar em nada para fazer sentido.
Ele continuava a olhar com dureza.
Bufou impaciente.
— Então, senhor...? Certo. Não importa. Seja lá quem você for, se
não tem aí uma garrafa de água para me oferecer, eu sugiro que tire este seu
traseiro gordo do meu caminho.
— Se não o quê?
Ele tinha grunhido? Para ela?
Seus olhos piscaram em fúria.
— Eu irei chutá-lo para fora do meu caminho — disse ela, com
desprezo e tédio carregados na voz falsamente mansa. — Você é grande, mas
não é dois. Eu sou faixa preta de karatê. Já derrubei coisinhas maiores que
você.
Uma mentira que a escuridão levou facilmente.
Emme agarrou a alça da mala e arriscou um passo à frente. O tipo
se interpôs em seu caminho. Trincando os dentes, ela deu outro passo para
lado e lá estava ele, novamente... De novo. De novo... Seu temperamento
atingiu o limite.
— Pare com isso, inferno!
— Não pode entrar.
Ele não parecia mais feliz que ela.
— Basta tirar sua carcaça do meu caminho e estaremos livres um do
outro. Por favor. — Bateu os longos cílios congelados, com inocência
dissimulada.
Ele fez aquele som de novo, e ela o sentiu atingir a barriga. Morno.
Inquietante. Chiando em suas terminações nervosas. Inapropriado. Tão
inapropriado. Ela não deveria sentir as tetas inchadas, os mamilos doloridos
e a carência deixando sua boceta molhada e quente.
O que diabos estava acontecendo com ela?
Seu humor e reações estavam num looping maluco.
— Onde está sua condução?
— Bem aqui. — Ela apontou para as próprias pernas.
Ele estreitou os olhos, sério. Tão sério. Emme esperou por tudo,
exceto o brilho de raiva em seu olhar.
— Você se colocou em perigo?
— Não me coloquei em perigo — ela refutou, facilmente. — Fui
obrigada.
— Explique.
— Não vejo como isso pode ser da sua conta.
Ele apertou os lábios em uma linha rígida.
— Sua autorização?
— Não sabia que precisava de uma.
— Estas terras são restritas a visitação. Não pode passar, a menos
que tenha uma autorização — ele rosnou, com um brilho predatório,
curvando-se sobre ela. Muito maior agora, e ela lutou para não se encolher.
Emme sentiu vontade de chorar, mas também de chutar o traseiro
dele.
Não podia desistir agora. Seria o mesmo que estar a cinquenta
metros do topo do Everest e desistir. Ela não tinha feito a viagem à toa.
Não podia esperar até a semana seguinte para a primavera chegar.
— É, eu não tenho nenhuma autorização.
— Já pontuamos isso. Dê o fora.
— De que tipo de seita vocês fazem parte? — Ela puxou uma
respiração funda, largando a alça da mala. — Escute aqui, bruto, eu sai de
Nova York... Não que eu espere que você conheça qualquer coisa além da
selvageria desse lugar... Eu vim até este inferno de gelo num avião que mais
parecia uma lata de atum enferrujada conduzida por um lunático. Não dormi
nada. Não comi. Não descansei. Subi essa estrada íngreme do caralho no
escuro, correndo o risco de ser atacada por animais selvagens ou morrer
congelada. Então não, não vou arredar o pé daqui até falar com Trish. Nem
que para isso eu tenha que colocar algum senso em você, compreendeu?
— Os animais não te atacariam.
Ela fechou a boca e lhe atirou um olhar fulminante.
De tudo que disse, ele só escutou a parte da porra dos animais?
Céus, agora estava mais preocupada ainda.
Onde Trish tinha se enfiado?
Pelo exemplo a sua frente em uma colônia de cavernícolas.
Bom Deus, devia ter acionado o FBI. Trish, provavelmente, era
mantida lá contra a sua vontade. E ela própria devia dar a volta e engolir seu
orgulho...
— Ui, jura? Como sabe? Oh, deixe-me adivinhar. Você comeu os
pobrezinhos.
— Os animais daqui são muito seletivos com sua caça.
O comentário impertinente não deveria pinicar seu coração... Não,
negou-se, não era seu coração que ele chicoteava, mas seu orgulho.
Raiva espalhou por seu sangue e seus dentes rangeram.
Que Jesus atasse seus braços, pois ela iria voar no pescoço daquele
babaca e arranhar seus olhos. O maldito além de insultá-la, estava se
divertindo.
Emme fechou as mãos em punhos com força. Seu corpo tencionou
quando mediu as possibilidades de derrubá-lo. Ele parecia saber exatamente
o que ela planejava e estava esperando seu assalto.
Seu olhar captou a sutil curva no canto da boca arrogante.
Ela avançou...
— O que está acontecendo aqui?
... Ambos pararam. Imóveis e tensos pela voz tão profunda quanto a
do babaca segurando seus pulsos. Contudo, o tom era diferente. Mais
exigente. Implacável. O comando brutal de uma demanda que não podia ser
recusada.
O medo substituiu a luta de seu corpo.
O estranho amaldiçoou baixinho.
Inconscientemente, Emme buscou refúgio nas costas dele. Como se
há poucos segundos não estava decidida a atacá-lo com unhas e dentes.
Curiosa, ela inclinou a cabeça para o lado, tentando ver o intruso.
— Emme? Oh, meu Deus! Emme é você mesmo?
— Trish?
Ela quase chorou o nome.
Deu um passo à frente só para ser puxada de volta. O estranho não
só a mantinha segura pelos pulsos como se colocou em sua frente. Seu olhar
abaixou para as mãos dele, que eram como algemas de aço, e depois para o
seu rosto.
Com um puxão, Emme se soltou, ciente de que ele a permitiu ir.
— Saia da frente. — Correu para Trish. — Moreninha. Sua ingrata!
— Meu Deus, Emme! O que você faz aqui?
— Espero que não esteja me expulsando também.
— Por Deus, não. Nunca. Eu só estou surpresa. Não esperava
encontrá-la aqui.
— Eu te cacei que nem louca, embora não merecesse depois que
saiu sem avisar e me deixou maluca de preocupação. Tem ideia de como
fiquei pensando no pior? Você simplesmente sumiu. Há pouco mais de um
mês consegui uma pista do seu paradeiro, depois de ter me enviado aquele e-
mail insosso. Juntei minhas coisas e cá estou para te dar uns tapas.
Um grunhido baixo embalou o ar.
Emme encarou o homem ao lado de Trish. Ele tinha um ar do tipo
não-foda-comigo-ou-vai-se-arrepender. Era feral. Intenso. Puro poder
masculino. Ondas de agressividade e de perigo emanavam dele. A ameaça
em seu olhar inconfundível.
Trish tocou o peito dele atraindo sua atenção.
E foi como girar uma chave.
E, para seu total choque, o homem, embora tivesse uma postura
protetora de um guerreiro pronto para aniquilar o inimigo ao menor
movimento, suavizou para Trish. Como se ela fosse tudo para ele. Seu
mundo. Sua própria vida.
Era espantoso e impressionante.
— Emme está brincando, amor — disse Trish, com uma risadinha.
— Ela não tem uma autorização. — O estranho atrás dela não fez
questão de esconder o desgosto escorrendo em sua voz.
Emme lhe lançou um olhar cínico.
— Adivinha, bruto? Moreninha e eu somos melhores amigas. Não
preciso da droga de uma autorização para vê-la, mas se faz tanta questão.
Posso arrumar uma e você então pode limpar sua bunda arrogante com ela.
Que tal? — Ela se dirigiu para Trish, ignorando a vibração bestial emanando
dele. — Você acredita que esse bruto queria me chutar ladeira abaixo? Se
não tivesse chegado aqui, eu estaria rolando agora mesmo. Ou morta com o
pescoço quebrado.
Os olhares dispararam na direção dele. Emme escondeu o sorriso.
Tinha exagerado na interpretação, mas ele merecia por ter sido tão grosseiro.
— Eu não faria isso — ele rangeu.
— Mas pensou, o que dá no mesmo.
Ele fez aquele som estranho, novamente.
— Okay. Sem brigas, por favor — disse Trish. — Emme, permita-
me te apresentar o meu companheiro...
— Companheiro?
— Caleb Black. Emmanuelle Muller.
— É um prazer conhecê-la, Srta. Muller — disse ele, com um
maneio de cabeça. Não mais ameaçando, mas ela não se deixou enganar por
sua aparente suavidade, podia reconhecer a advertência implícita.
Seu olhar escuro era especulativo, curioso.
Não houve aperto de mão. Nenhum abraço. Nenhum toque.
— Igualmente. E, por favor, me chame de Emme.
— Emme. — Ele assentiu e acrescentou. — É bem-vinda para ficar.
Ela lançou uma olhadinha convencida por cima do ombro.
— Você já conheceu o Collin Del Rey — Caleb disse.
— Para o meu total desprazer.
— Não pense que para mim foi diferente, fêmea.
— Collin é nosso chefe de segurança e hoje ele está de guarda no
perímetro. Às vezes, temos forasteiros desavisados e até alguns moradores
beberrões subindo aqui e criando confusão. Não gostamos de intrusos em
nosso território.
— Eu escutei algo quando pedi informações na cidade.
— Como chegou até aqui? Não estou vendo nenhum snowmobile ou
carro — Trish quis saber, o olhar buscando atrás dela.
— Com os pés que Deus me deu que, aliás, estão me matando.
— Emmanuelle! Quando vai parar de fazer loucuras?
— Não me venha com Emmanuelle não, sua safada. É sua culpa que
eu voei até esse fim de mundo para garantir que seu rabo ingrato está
realmente bem. Sabia que o único avião disponível para voar para esse fim
de mundo é pilotado por um lunático bebum? Além do mais, não é culpa
minha que o povo dessa cidade não conheça o conceito de cordialidade.
Ninguém quis me trazer. E eu não podia esperar até semana que vem.
— Louca, você poderia ter se machucado. — Trish parecia
chateada.
— Estou bem e vivinha da Silva.
— Querida, leve Emme para casa. Depois dessa caminhada, ela
deve estar com sede e com fome. E precisando se esquentar — Caleb
sugeriu.
— E cansada — apontou ela, com um suspiro.
Trish agarrou seu braço e a puxou. Fazendo uma pausa para receber
o beijo rápido de Caleb. Isso não a impediu de olhar sobre o ombro,
prendendo seu olhar ao de Collin, que seguia encarando com intimidação.
Ela fechou a cara para ele e fez o impensável.
Ela mostrou a língua.

xXx

Collin observou as fêmeas se afastarem. O tique em sua mandíbula


aumentou enquanto apertava o controle sobre o leão enfurecido.
Ele disse a si mesmo que não tinha nada a ver com a súbita
curiosidade que ela despertou. Ela não lhe interessava em nada. Ela não era
nada. Só uma fêmea irritante que teria o prazer de manter distância.
Sua atenção, rastreando-as até perder de vista, era pelo choque.
O atrevimento dela...
Ela tinha dado a língua.
Fêmeas não mostravam a língua para ele.
Nem machos.
Nem ninguém.
Insolente e abusada. Emmanuelle. Ela não mostrou nenhum respeito.
Chamou-o de nomes e despejou impertinências, que nem as fêmeas de sua
raça ousavam a dizer, mesmo se tivessem pensamentos pejorativos a seu
respeito. O que Collin, de antemão, sabia não ser o caso. Não. Elas estavam
mais interessadas em atraí-lo, querendo compartilhar a sua cama. Tentando
ocupar um lugar insubstituível, apesar de ele nunca ter se mostrado
disponível. Era a natureza delas. O lado animal sempre buscava pelos
machos mais fortes para acasalar. Machos mais fortes significavam filhotes
mais fortes. Odiava isso, na verdade. No entanto, nunca tinha sido grosseiro
com nenhuma.
Fêmeas eram preciosas. Elas deviam ser cuidadas e veneradas
sempre com respeito. Ele tinha aprendido a lição de uma forma muito
dolorosa.
Mas, então, esteve dando o seu melhor para assustar esta fêmea.
Emmanuelle despertou a atenção do leão no primeiro segundo que
identificou, ainda no topo da estrada, a silhueta de um humano vindo em sua
direção. Inquieto, ele tinha apurado os sentidos, imóvel como uma pedra.
Respirando o mínimo. Ele chegou mais perto, e o leão enlouqueceu. O
homem lutou pelo controle enquanto o felino lutava de volta pelo domínio.
Uma onda forte, tempestuosa, querendo assumir o controle, o desejo
nascendo da necessidade repentina de domar aquela fêmea desaforada.
O leão tinha arranhado tentando alcançar à superfície, rugindo, e
depois...
Collin cerrou os dentes, o grunhido agarrado a garganta.
... O leão tinha sentado, prestando atenção nela. O cheiro dela quase
o fez rolar e, em seguida, o felino fez o impensável. Chocando-o. Ele
ronronou. O leão nunca ronronava, mas fez com ela. Para ela. E no outro
minuto, rugiu para a vida, e fez seus melhores intentos. Investindo contra o
controle do homem com energia renovada, pelejando para alcançar a fêmea
humana.
Perplexidade lhe atravessou com um punhal.
Essa humana...
Esse cheiro...
O calor dela inconfundível.
Ela era um perigo para si mesma, com aquela boca imprudente.
Relutante, Collin lhe deu um crédito pela lealdade. Ainda assim, era
estúpida e com um senso de sobrevivência inexistente.
Precisaria manter um olho nela, decidiu.
— Qual o problema, Collin?
— Não há problema.
Caleb curvou uma sobrancelha.
— Seus sentidos estão falhando, leão? Posso dizer que estava
distraído o suficiente para não ouvir minha aproximação até que me fiz
ouvir.
Collin se recusou a falar.
— Por que tratou a fêmea como se fosse o inimigo?
— Não a tratei como inimigo. — Sua voz soou calma e nivelada
como sempre, embora houvesse uma fúria mal controlada nele.
— De fato, não fez — disse Caleb. — Você só foi rude com ela.
— Ela foi desrespeitosa e grosseira.
— Eu sei que você não gosta de se misturar aos humanos. Porra,
nem com os de sua raça. Mas Collin, ela não é como as nossas fêmeas.
Emme não tem conhecimento de nosso mundo.
— Nunca aceitou humanos aqui, salvo na época da temporada.
— E eu nunca te vi ser grosseiro com uma fêmea. — Caleb espetou
de volta, com um grunhido irritado. Ele sacudiu a cabeça e girou no intuito
de seguir Trish, mas parou, lançando um olhar para Collin. — Por que a
cheirou?
Collin se forçou a relaxar, agora que a fêmea humana não estava
mais presente, que o cheiro dela não estava distraindo o leão.
— Ela vai causar problemas.
— Ela fez algo que induzisse a isso?
— Onde ela irá ficar?
— Por que o interesse?
— Ela deixou a mala dela aqui, Caleb — ele disse com indiferença.
— Provavelmente, precisará de suas coisas.
— Por hoje, em casa...
Collin não esperou que o macho terminasse a frase. Ele agarrou a
mala e se lançou à frente. Ignorando o rosnado de Caleb atrás dele.
2
BANDEIRA VERMELHA

Casamento. Gravidez. Companheiros. Família.


Sua mente estava rodando com a enxurrada de informações.
— Espere... dê-me um minuto, sim?
Trish sorriu e lhe entregou uma caneca de chocolate quente, e, em
seguida, se sentou no grande sofá a sua frente e puxou as pernas para cima.
Depois de duas fatias de bolo, Emme pousou o prato na mesinha
central.
— Tem certeza que não quer mais um pedaço? Se quiser, posso
fazer panquecas. O que Caleb cozinhou para o café foi comido antes de nós
sairmos para a minha caminhada matinal.
— Só você para caminhar nesse frio.
— Olhe só quem fala — debochou. — Eu preciso me exercitar.
— Estou satisfeita. Obrigada.
Ela deu um gole de sua bebida. Os olhos em Trish. Sua amiga muito
grávida. Muito feliz. Enquanto tratava de organizar as novas informações.
Emme apreciou a porcelana quente contra suas palmas, o conforto
do sofá sob seu corpo esgotado, o crepitar da madeira queimando na lareira.
Tudo. Exatamente tudo. A convidava a se render à exaustão da viagem.
Contudo, não seria capaz de pregar o olho até ter algumas informações
cruciais.
— Me explique isso novamente — solicitou ela, com evidente
confusão. — Como assim você se casou? Faz o quê? Pouco mais de oito
meses que deixou Nova York e... Caramba! Eu acho que estou um pouco
confusa aqui.
— Eu...
— Entre na fila, meu bem.
Uma mulher de estatura mediana, cabelos longos e vermelhos,
sorrindo de orelha a orelha acabava de entrar, os olhos curiosos em Emme.
Ela bateu à porta fechada, sem cerimônia.
— Eu duvidei da minha sanidade quando vim procurá-la, achando
que Caleb a tinha sequestrado — a mulher continuou. — Então soube que a
danada tinha juntado as escovas de dentes e estava gravidíssima. Nem teve
bolo.
— Bom dia, Lee — disse Trish. — Caiu da cama?
Lee puxou o cachecol do pescoço. Fez uma pausa, o brilho de
malícia em seu olhar acompanhou o sorriso ainda mais largo.
— Pode-se dizer que sim — respondeu ela, com uma risadinha. —
Soube que temos carne nova no pedaço e vim conferir, e claro, me certificar
que ela não te roubará de mim. — Lee cravou sua atenção em Emme. —
Muito prazer. Eu sou Leah Diaz. Mas me chame de Lee, certo? Acha que
podemos dividir a amiga sem sair no tapa? Ou teremos que resolver isso lá
fora?
— Trate minha garota bem, não a monopolize enquanto eu estiver
aqui e podemos compartilhar sem problema.
— Territorial, hein? Está no lugar certo. — Piscou.
— Encantada, Lee. Emmanuelle Muller. Emme.
— Encantada você ficará quando vir os machos daqui. — Lee riu.
— Mal posso esperar — disse ela, e depois focou Trish. —
Então..., como tudo isso aconteceu? — E, em seguida, bebeu outro gole de
sua caneca.
Trish afagou a barriga inchada e soltou um longo suspiro.
— Se eu te disser que nem eu sei direito, vai soar estranho?
— De algum jeito começou. Tente por aí.
Trish lhe deu um breve resumo de seu plano inicial e das
reviravoltas que ocorreram.
— Quem diria que um lugar como esse te viraria do avesso?
— Não faz nem ideia. Estou com as mãos cheias com Caleb. — Ela
riu. — Os homens daqui podem ser um pouco territoriais e protetores.
Lee bufou, e a porta se abriu.
O homem que entrou parecia ter saído de uma capa da GQ. O
cabelo escuro relava nos ombros, em seu rosto bonito havia uma carranca
severa. Ele possuía a mesma aura perigosa dos outros dois homens que
encontrou.
Ele plantou as mãos na cintura, o olhar buscando até parar em Lee.
— Fêmea, você não disse que queria ir à cidade?
Fêmea? Que diabos?
Lee não parecia chateada.
Ela se levantou e foi para ele. Houve uma troca rápida entre eles.
Isso redirecionou o olhar do homem para Emme.
Com uma mão possessiva circundando a cintura de Lee, ele deu a
Emme um olhar demorado, analítico, desconfiado. E desviou para Trish.
— Como o filhote está?
— Pronto para nascer a qualquer momento.
Ele sorriu.
— Será um grande dia para todos nós.
— Estou ansiosa por ele. — Ela sorriu. — Permita-me te apresentar
uma amiga.
— Melhor amiga.
— Uma das — corrigiu Lee.
Trish rolou os olhos para a implicância infantil.
— Emmanuelle Muller. Uma das minhas melhores amigas. Emme
este é Embry Warden, o braço direito de Caleb. E como pode ver, o
companheiro de Lee.
— É um prazer, Sr. Warden.
Depois disso, eles se despediram.
Trish retomou seu relato de amor digno dos contos de fadas para
maiores de 18 anos. Surpreendeu-lhe ver a mulher, que sempre foi muito
reservada e cautelosa, se jogar de cabeça num relacionamento amoroso, com
um homem praticamente desconhecido. Mais surpreendente era a confiança
de Trish.
Trish destilava amor de uma maneira contagiosa. Ela tinha aquele
brilho no olhar de casais no auge da paixão. Havia uma firmeza lá. E também
uma maturidade subjacente. Intrigou. Chocou. E aquietou um pouquinho sua
preocupação. Emme buscou por vestígios de que algo não estava certo. E
encontrou uma tonelada de sinceridade nos trejeitos, na entonação de Trish.
Os lábios eram de uma adolescente loucamente apaixonada; os
olhos eram de uma mulher madura e segura de suas ações e de suas escolhas.
— Eu sei o que está pensando — disse Trish. — Embora agora não
pareça, até mesmo eu me recusei a aceitar e acreditar que era real. Que eu
pudesse amar desse jeito. Encontrar alguém como Caleb e ser feliz como
sou.
— Eu não esperava por nada disso... É claro que torcia para que
estivesse realmente bem e feliz. E, caramba, estou feliz por você. — Pausou.
— Mas isso tudo..., parece um pouco demais para a garota que conheci...
Você sempre foi lerda para relacionamentos.
— Eu nunca mentiria para você se estivesse em apuros.
— Eu sei. Acho que preciso de um tempo para assimilar as
novidades. Estou feliz por você e muito aliviada, também. Merece tudo de
bom.
— É novo para mim também, Emme. — E acrescentou. — Eu estou
em casa. Finalmente em casa, onde sempre pertenci. E... Collin?
AH, não!
Seu humor morreu, os músculos de seu corpo enrijecendo.
Emme não escondeu o aborrecimento. O sentimento, porém, foi
substituído num piscar. Ela quase engoliu a própria língua.
Emme quis estar errada sobre ele.
Ele tinha lhe dado uma impressão nas sombras.
Disse a si mesma que seu coração gaguejou no peito porque ele era
odioso. Não tinha nada a ver com suas partes femininas — de repente —
estarem conscientes da figura masculina, muito intensa, preenchendo a porta.
Sua calcinha ficou emocionada e quis se apresentar a ele enquanto seu olhar
descarado tombava sobre o homem. Era enorme. Sexy. Viril. Sexo de pernas.
Ele ainda era um grosseirão... gostoso pra caralho.
Um sonho de consumo, a barba espessa cobrindo seu rosto dava um
ar rústico de selvageria. Perigo envolvia sua presença marcante. O homem
gotejava masculinidade. O ar, de repente, ficou rarefeito, roubando seu
oxigênio.
Ninguém podia ser tão atraente assim.
Ele era pateticamente bonito.
Ridículo. Belo e mortal.
Ele tinha uma expressão feroz.
Era um bad boy, um chamariz de problemas para as boas garotas.
E os olhos...
Que olhos eram aqueles?
Não podia ser real. Não era. Só lentes artificiais poderiam ter
aquele tom de um azul profundo. Olhos tristes. Incríveis. Severos olhos que
mantiveram o olhar cuidadosamente longe dela, como se ele buscasse evitar
uma praga.
Como se ele me agradasse só porque é bom de olhar. Babaca!
— Trouxe a mala de sua visita — ele disse, asperamente.
Caleb apareceu atrás dele.
O companheiro de Trish se dirigiu para ela. Emme não pôde deixar
de notar a tensão em Collin quando o outro homem passou por ele.
— Obrigada, Collin — Trish disse. — Foi muita gentileza de sua
parte, não é, Emme?
— Por quê? — indagou sem desviar os olhos dele. — Ele não fez
mais que a obrigação, já que foi tão desagradável comigo. Gratuitamente. Se
esqueci a mala foi por culpa dele. Então meu muito não obrigada a você.
Nervosa, ela atacou incapaz de se controlar.
A atmosfera mudou, ficando um pouco mais espessa e sombria.
Collin a fitou. Não olhar realmente. Ele a atingiu com o tiro de
calibre 12 quando alinhou seus olhares. Letal. Uma ameaça. A mandíbula
apertada, como se ele rangesse os dentes. Ele parecia pronto para comê-la
viva.
— Eu não espero menos de uma mulher como você — disse ele
após uma batalha silenciosa de olhares hostis, a voz mortalmente calma e
pausada.
Sua sobrancelha ensaiou uma curva.
— Uma mulher como eu?
— Desagradável e malcriada da cidade. — O olhar dele a mediu de
cima abaixo, de maneira depreciativa, antes de encontrar seus olhos mais
uma vez.
Ela se colocou de pé, os punhos apertados com uma fúria nascida
da mágoa. Estava ferida. E irada. Ela pisou duro até estar a dois passos dele.
— Eu não pensei que um tipo — pausou, avaliando-o com um olhar
de desprezo intencional —, bruto como você conhecesse qualquer coisa
além de animais e mato.
— Eu tento evitar contaminações, mas nem sempre é possível.
— Você é um tremendo babaca! Um idiota completo! — Emme
despejou raiva em seu tom. — E deixe eu te dizer isso, imbecil. Sua cara de
azedume e esse... esse... Foda-se! Seja lá que barulho é esse, que faz, não me
assusta. Eu sou de Nova York e garanto que não será um caipirão como você
que me fará tremer de medo. Antes disso, te faço correr atrás do próprio
rabo.
Ele a olhou como se fosse louca, desprezando e a deixou mais
emputecida. E depois se inclinou ligeiramente, cheirando.
Emme se afastou num pulo.
— Que porra...?
— Emme, por favor, acompanhe Trish — Caleb ordenou, com uma
gentileza aveludada envolvida em aço. — Ela te levará até o quarto, onde
ficará.
Emme recolheu sua raiva, mas não se moveu. Eles se encaravam
num desafio mudo. Enquanto lutava contra o impulso de saltar na garganta do
bruto.
Deus sabia que ele merecia isso por ser tão pé no saco.
Caleb tornou a falar:
— Em um instante, levarei sua mala para o quarto de hóspedes.
Desta vez, ela obedeceu, arrastando-se atrás de Trish até o andar de
cima.
— Posso te colocar em outro, se este não te agrada — Trish sugeriu
quando entraram no quarto de hóspedes, e em silêncio ela observou ao redor.
— Este está perfeito, moreninha.
Emme fitou a amiga, sentindo o rubor subir pelo pescoço.
— Sinto muito, Trish. Estou tão envergonhada por essa cena. Você
sabe que eu não sou assim. Não sei o que me deu... Eu... Inferno, aquele
cara... — Exalou com força. — Me perdoe. Prometo me comportar.
— Collin fez algo que não me disse?
— Você viu. Ele é um grosseirão.
— Collin não é assim, Emme. Ele é reservado e de poucas
palavras, mas ele não é desagradável, principalmente com mulheres — Trish
pontuou, com cuidado.
— Então eu devo ser o problema.
— Eu não disse isso.
— Eu sei, moreninha. Releve. Estou exausta e não consigo
raciocinar direito. Seu... Caleb pensará que aquele bruto tem razão.
Trish sorriu, embora houvesse uma nuance de preocupação em seus
olhos.
— Caleb não pensará nada, exceto que você estava se defendendo.
Neste momento, Collin deve estar recebendo a bronca de sua vida.
— Eu adoraria ver isso. — Ela riu.
Trish deu uma risadinha, e depois ficou séria.
— Te chamo para o almoço?
Emme olhou através da janela, a escuridão confundindo seu
cérebro.
— Eu sei, é confuso — Trish disse, a voz solidária, ainda sorrindo.
— Mas com o tempo você se acostuma.
— Não acho que ficarei o suficiente para me acostumar.
— Apenas descanse, okay? E quando se sentir bem, venha me
procurar. Se eu não estiver no térreo, estarei em meu quarto. Fica no final do
outro corredor. E, por favor, se sentir fome ou sede, fique à vontade para se
servir do que tiver na geladeira e nos armários.
Emme anuiu e bocejou, a exaustão cobrando o preço.
— É bom ver um rosto querido, novamente — murmurou Trish.
— É bom saber que você está bem e feliz.
— Caleb me faz bem, Emme. Muito bem.
— Eu cortaria as bolas dele se fosse diferente.
Elas riram.
— Sei que sim.
Emme puxou Trish para um abraço apertado.
— Senti saudades, moreninha.
— Também senti saudades, Emme.
Depois de um momento, elas se soltaram, sorrindo uma para a outra.
— Sei que temos muitas coisas para conversar. E que essa
cabecinha está cheia de perguntas. Mas faremos isso quando não estiver a
ponto de desmaiar.
Trish sempre era a voz da razão.
xXx

— Estou começando a achar que teremos um problema aqui e que


não será causado por ela — Caleb rosnou, com um grunhido aborrecido.
Collin cerrou os punhos com raiva, as sombras animalescas e
temperamentais do leão, que agora parecia zangado com ele, manchou ainda
mais seu humor.
— Não haverá problemas se ela ficar fora do meu caminho.
— Você nunca é hostil com nenhuma fêmea, Collin. E minutos atrás
estava grunhido e sendo grosseiro com uma fêmea humana.
Collin não se defendeu, zangado com ele mesmo.
A expressão de Caleb se aprofundou, a mordida em seu tom se
assemelhando ao brilho de ameaça e de agressão em seus olhos escuros.
— Esse é o problema? Ela ser humana?
— Eu não tenho nenhum problema com humanos — ele disse,
simplesmente. — É ela.
A tensão saiu de Caleb, e ele relaxou buscando ser razoável.
— Talvez se tentar ser gentil com Emme, ela não ficará na
defensiva.
O rosnado de Collin foi feroz, pura indignação.
— Não tenho que tentar nada com ela.
— Ótimo. Mantenha distância se não pode lidar com ela.
— Eu posso lidar com a fêmea, apenas não quero lidar com ela.
— Então não será um problema se manter afastado.
— Será uma honra.
3
BEM-VINDA À SNOWVILLE

Uma vez que despertou, depois de vários ensaios mal sucedidos,


Emme se sentia confusa e deslocada. E faminta. Ela se arrastou para fora da
cama.
O corpo estava descansado, mas o cansaço mental persistia.
Bem que poderia ficar enrolada nos cobertores por mais alguns
minutinhos, talvez uma hora inteira. Deus sabe que espiar pela janela tornava
a ideia tentadora.
No entanto, seu estômago tinha outros planos.
E a bexiga, também.
Logo estava rastreando o cheiro delicioso até a cozinha.
— Bom... dia? — ela experimentou.
Caleb estava no fogão preparando algo que teve a atenção de seu
estômago. Trish estava ao lado, de costas para ele e de frente para ilha,
cortando legumes na tábua.
Ele olhou por cima do ombro para cumprimentá-la.
— Olá, Emme. Como dormiu?
— Como um morto.
Caleb riu.
Emme se debruçou sobre a ilha.
— Será que deixei passar o almoço?
— Infelizmente, minha amiga.
Ela soltou um muxoxo.
— Meu Deus, Trish. Por que não me acordou?
Trish entregou os pimentões cortados para Caleb, e depois lavou as
mãos.
— Eu teria, mas você precisava desse tempo, confie em mim. —
Olhos atentos examinaram seu rosto. — Talvez precise de algumas horas
mais.
Emme pegou uma das banquetas altas.
— Okay, mamãe. Talvez, eu disse talvez, você tenha razão.
— Espero que goste de bifes e macarronada.
— Mesmo se não gostasse, o cheiro gostoso me convenceria, Caleb.
Mas confesso que estou morrendo por...
Trish empurrou-lhe uma caneca com o cheiro mais rico do mundo.
— Sei que não consegue começar o dia sem sua idolatrada cafeína.
Mantive a cafeteira abastecida para quando acordasse.
— É perfeita, sabia?
Trish riu. Emme quase chorou, envolvendo os dedos ao redor da
porcelana quente. Ela assoprou e bebeu, gemendo de puro deleite.
Depois que Caleb terminou o preparo do jantar e Emme bebeu sua
segunda xícara de café, mais desperta, eles se juntaram ao redor da mesa
para comer.
Mais tarde, ela ficou confortável depois que Caleb recusou sua
ajuda com a louça suja. Ele não teve muita sorte com Trish, que teimava em
enxugar a louça enquanto ele resmungava em protesto.
O que havia com esses homens associando gravidez a
incapacidade?
Não que não fosse bonitinho sua amiga ser paparicada e ter um
homem superprotetor. O tipo venerava Trish de tal forma e com tal solidez,
invejável.
Ela o observou entregar um copo de leite para Trish quando ela
sossegou e eles se recolheram para a sala, a lareira acesa e o contínuo
crepitar da madeira estalando no fogo eram relaxantes. Caleb lhe ofereceu
uma taça de licor, que ela terminou em dois goles. Lançando o olhar através
da janela, ela bocejou.
— Vá se deitar, Emme — Trish ordenou.
Ela se esticou com os braços acima da cabeça.
— Eu sinto muito, queria tanto passar mais tempo com você,
conhecer Caleb. Não sei o que está acontecendo. Não sou uma dorminhoca.
É este lugar.
— Seu corpo está se recuperando e se adaptando ao clima daqui —
Trish disse. — Não está indo embora amanhã, portanto, descanse. Teremos
tempo para colocar o papo em dia.
— Quanto tempo pretende ficar? — Caleb perguntou.
— Duas semanas?
A sobrancelha grossa masculina fez um arco divertido.
— Está me perguntando?
— Eu sei que deveria ter perguntado antes. Não sou invasiva. É só
que quando encontrei o paradeiro dessa fujona, tive que vir checá-la.
— É uma boa amiga, Emme — disse Caleb, sua voz cheia de
reconhecimento e respeito.
— A melhor. — Trish sorriu.
— Fique o tempo que precisar — Caleb acalmou, sentado ao lado
da mulher, um braço sobre os ombros dela. — É uma convidada honorária
de Snowville.
— Obrigada — ela agradeceu, dando outro bocejo.
— Descanse, Emme — disse Caleb em voz baixa.
— Eu vou seguir o seu conselho. — Emme ficou em pé.
— Amanhã, se estiver mais disposta, Trish e eu vamos te levar para
conhecer a reserva. Nossa gente está animada para te conhecer. Não
recebemos muitos visitantes por aqui. De fato, nenhum fora da temporada, o
que faz de você uma celebridade.
— Vou separar minha melhor roupa então — brincou ela.

xXx
Na manhã seguinte, Emme acordou mais disposta, ainda que olhar
para fora das vidraças a fizesse dar uma pausa para se maravilhar com a
peculiaridade do lugar.
Ela se encontrou com Trish e Caleb para o café da manhã. Mais uma
vez, surpreendeu-lhe a dinâmica do casal. Cada minuto na presença deles
diminuía suas preocupações e aumentava sua certeza de que Trish estava
bem. Ela tinha conseguido seu felizes para sempre.
Era inegável o amor de Caleb pela mulher.
— Dormiu bem? — Trish perguntou.
— Maravilhosamente. — Ela se serviu de café. — Estou pronta pra
começar o dia.
— Precisamos dessa disposição aqui — Caleb disse, trazendo para
mesa uma frigideira com ovos e bacon, servindo-as e depois a si mesmo,
antes de sentar.
— Emme é a pessoa mais ativa que conheço, querido.
— E amante da noite — ela assinalou.
— Está no lugar certo então.
Depois do café, Emme se agasalhou e se encontrou com o casal na
sala.
— Pensei que tinha dito que iriamos sair agora — ela disse em voz
baixa.
— E vamos — Caleb garantiu, parecendo divertido.
Intrigada, Emme olhou de um para o outro.
— Por que eu estou parecendo um esquimó e vocês não?
— Estamos acostumados com o clima daqui — elucidou Caleb. —
O frio não nos incomoda como faz com os outros. Somos um povo de sangue
quente.
— Se você diz.
Trish não era amante do frio, ao contrário dela própria.
A amiga sempre dissera que quando estivesse confortável
financeiramente, iria se mudar para um lugar mais quente como a Flórida ou
o Texas.
— Podemos ir? — Caleb perguntou.
Emme sacudiu as estranhezas para longe e olhou ao redor de si
mesma.
— Não me cabe mais nada. Estou pronta.
Não estava nevando. Havia eletricidade, uns poucos pontos de luz
margeando as ruas, que estavam relativamente limpas. Caleb explicara que
tinham máquinas para limpar o caminho. Emme ficou encantada com a
estrutura da reserva que, embora parecesse inóspita, um lugar que Deus tinha
abandonado à própria sorte, era bem organizado, com belas casas,
construções ao estilo log house. A casa de Caleb e Trish era uma construção
opulenta, sem perder o charme e o ar rústico característico do lugar, com
algumas das modernidades que ela não pensou ser possível terem lá.
Conheceu moradores pelo caminho, crianças brincando do lado de
fora.
A princípio, Emme tinha estranhado seus anfitriões não usarem tanta
roupa para se proteger do frio. Mas agora, vendo os outros moradores,
mesmo as crianças, era ela quem se sentia fora do lugar, a esquisita por estar
tão agasalhada.
Eles continuaram o percurso.
Neste ínterim, ficou claro que Caleb e Trish eram queridos e
respeitados pelos membros da reserva. Não, era mais que isso. Era como se
eles fossem um tipo de realeza. Os moradores pareciam contentes e
agraciados dando-lhes cesta de pães e quitutes no caminho. Que Trish
agradeceu com toda elegância e amabilidade. A ela restava os olhares
curiosos e cumprimentos vagos.
Havia um quê de desconfiança no ar.
Não que Emme pudesse culpá-los por serem cuidadosos com
forasteiros.
Não obstante, a comoção que vinha ignorando desde que saíram de
casa, superou sua indiferença. Emme não podia afastar a sensação de estar
sendo vigiada. Por vezes, seus olhos correram ao redor com atenção.
Sua frequência cardíaca aumentou, repentinamente.
— Algum problema?
— Nenhum.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Está segura aqui — garantiu Caleb.
— O quê?
— Você parece inquieta como se temesse ser atacada a qualquer
momento — explicou ele, com calma e paciência.
Emme riu sem graça, forçando-se a relaxar.
— Esse lugar parece ter saído do conto de fadas, mas de um jeito
distorcido. Quero dizer, desculpa, isso saiu completamente errado. — Ela
fez uma pausa e coçou a testa com o polegar. — Não sou bruxa ou uma
entusiasta do misticismo e esse lance de energias. Mas, sei lá, aqui parece
ter uma aura sobrenatural. Eu, provavelmente, estou sendo estúpida. — Ela
riu com embaraço.
— Este é o lugar mais seguro para se estar.
Caleb a olhou por um momento a mais.
Por uma estranha razão, sentia que o homem, apesar de estudá-la,
estava também prestando atenção ao redor, e depois assentiu.
Eles visitaram Sue, e depois o complexo de trabalho comunitário,
onde eram produzidos boa parte dos produtos. A outra parte vinha dos
moradores que preferiam trabalhar em suas casas e entregar os produtos
quando prontos.
Trish explicou que quando se mudou, ela havia expandido a marca,
planejando a logística para que pudessem vender os produtos online para o
mundo todo. Os produtos eram tão únicos e exclusivos quanto as grifes
caras. As pessoas gostavam do exótico. E com as habilidades de Trish em
investimentos financeiros, estavam faturando alto. A divisão dos ganhos se
dava pela produtividade e a hierarquia da reserva.
Havia ainda uma estufa para o plantio de hortaliças, legumes e
frutas.
Depois Caleb as guiou numa pick-up até a cidade para almoçar na
P&C.

xXx

Emme encontrou Trish em seu lugar preferido da casa, o solário.


— Posso me juntar a você?
— Que pergunta! É claro que pode.
Ela foi até a bandeja e pegou um pouco de chocolate quente para si.
Dando uma olhada ao redor era fácil entender porque Trish amava
aquele espaço e gastava boa parte de suas horas nele quando a gravidez não
estava cobrando o seu preço. Trish contara que o solário tinha sido
construído exclusivamente para ela logo depois que foi morar com Caleb.
Pensando em seu conforto e bem-estar, sobretudo em decorrência da
gravidez. Trish rejeitava a ideia de trabalhar fechada no escritório o tempo
todo.
Caleb não tinha economizado.
O solário era tão pomposo quanto a casa.
Havia uma lareira de pedra, plantas variadas espalhadas
estrategicamente no chão e aparadores. Dava um ar de lar, de aconchego.
Sofás macios, que a fazia querer abrir um bom livro; havia ainda uma mesa
de café. O tapete grosso cobria o chão de madeira escura. As janelas nas três
paredes iam do chão ao teto.
Trish contara que uma vez tinha visto a aurora boreal dali. Lembrou
também que, em breve, com a chegada da primavera, a escuridão cederia
para a luz do dia.
Emme bebeu um gole de sua bebida e depois dobrou a perna
embaixo dela. Ela virou de lado e esticou a mão, segurando os dedos da
outra mulher.
Sua voz e expressão suavizaram.
— Trish — disse ela. — Você sabe que eu te amo, não sabe? Eu
faria tudo por você. Estar aqui, mesmo depois de ter sido uma ingrata, prova
isso.
— Eu também te amo, Emme. — O olhar amoleceu, a voz
embargada com a culpa. — Sinto muito por ter saído da maneira que fiz. Eu
estava tão desesperada para fugir de tudo aquilo e recomeçar do zero, longe
de Doratella e Stephan, que eu só agi. Pensando agora, foi tudo tão rápido,
no impulso.
— Você apagou suas redes sociais e mudou o e-mail.
— Eu estava tentando me proteger deles. Não queria ser
encontrada. Ainda assim, não foi suficiente.
— O que quer dizer?
— Ele esteve aqui.
— Quem?
— Stephan.
— Filho da puta! Espero que o tenha denunciado. Se não fez,
podemos ir hoje mesmo a delegacia. — E acrescentou em tom conspiratório.
— Se quiser ser um pouco mais intensa, conheço um cara que conhece uns
caras em Nova York.
Trish riu, dissipando o clima tenso.
— Está tudo bem, de verdade. Isto já está resolvido.
— Mesmo assim, acho que uma denúncia e uma ordem preventiva...
— Caleb cuidou disso — Trish interrompeu, a voz sóbria. —
Confie em mim, Stephan nunca mais vai me importunar.
— Ele é mesmo seu príncipe encantado, hein?
— Mais como o meu lobo mau. — Trish deu uma risadinha,
surpreendendo Emme. — Ele é sensacional. Nem acredito na sorte que tive.
— Doratella me procurou. Queria saber seu paradeiro, eu não disse
nada. Na verdade, ainda não sabia onde estava, e mesmo que soubesse,
jamais daria qualquer coisa àquela cadela. Por mim, ela pode apodrecer no
inferno.
— Eu já me resolvi com ela aqui e aqui. — Trish apontou para o
coração e para a cabeça. — No que me concerne, sou órfã desde que papai
faleceu.
— Eu sinto muito, moreninha.
— Ela me pariu, mas nunca foi minha mãe, Emme. E não dá pra
ficar lamentando por alguém que nunca quis assumir o papel que eu
precisava que ela assumisse. Eu tive de fazer isso por mim mesma. — E
acrescentou. — Ela fez suas escolhas e eu fiz as minhas.
— O inferno tem um lugar especial para pessoas como ela.
— Estou construindo algo legítimo aqui, Emme. Tenho tanto amor,
tanto apoio e respeito. Rodeada de pessoas gentis e generosas, que seria
ingratidão minha, reclamar. Em poucos meses, recebi mais amor aqui do que
recebi em meus 27 anos ao lado de Doratella. Não estou dizendo que minha
vida é perfeita agora, porque não é. Caleb e eu temos nossas diferenças, e
estamos trabalhando para enfrentar os desafios em nosso relacionamento. Eu
não poderia estar mais feliz do que estou, sabendo que meu bebê está salvo
da influência de Doratella.
— Será a melhor mãe de todo o mundo.
— Não sei se a melhor, mas estou dando tudo de mim para ser a
melhor para a minha criança, para honrar o meu companheiro e o nosso
relacionamento.
— É tão bom ouvir você falar assim. Nunca te vi tão bem, tão
segura e amando desse jeito. É fantástica, sabia?
Lágrimas brilharam nos azuis celeste.
— Não chore ou o seu homem vai me escaldar viva.
— Não posso evitar. — Ela riu. — Está me deixando toda
derretida.
— Sobre isso... — Pausou, escolhendo as palavras.
Curiosidade tingiu as feições de Trish.
— Sabe que eu jamais machucaria seus sentimentos
deliberadamente, certo? Ainda mais agora que está tão grávida e toda
sensível.
— Está me deixando nervosa, Emme.
— Não é minha intenção.
— O que está acontecendo? Fizemos algo...?
— Não está acontecendo nada, tampouco fizeram algo diretamente.
Não quero parecer ingrata nem nada, fui muito bem recebida aqui por vocês
dois.
— Não estou entendendo.
— Eu preciso ir para um hotel.
Trish fez um bico contrariado.
— Pensei que estivéssemos te tratando bem.
— Como uma princesa — enfatizou. — Vai ser difícil voltar para a
realidade depois de todo o tratamento real que tenho recebido aqui.
— Eu não entendo...
— Eu não consigo dormir.
— O quê? Como assim? Está sofrendo com insônia?
— Quase isso.
— Raina, a irmã de Caleb, é médica. Ela está mais reclusa por
causa do seu bebezinho, mas podemos ir até ela. Ou podemos chamar Sue, se
preferir algo natural.
— Meu problema não é esse, moreninha. Eu só preciso ir para outro
lugar que voltarei a dormir como um bebê sem ser bombardeada pelo
redtube.
— É o quarto? Podemos...
— O quarto é ótimo, mas vocês são barulhentos.
— Nós?
Emme assentiu, mal escondendo o sorriso.
Trish enrubesceu ao compreender.
— Oh!
— É, muitos “ohs”. Não sou puritana nem nada, mas preciso das
minhas horas de sono. E vocês estão no auge da paixão.
Emme tinha sido queimada viva com a disposição ardente do casal.
Ouvi-los tinha sido constrangedor... E excitante.
Tinha se sentido uma pervertida, mas logo fez as pazes com isso. O
problema era que além de estar queimando sem alívio, não podia dormir ou
andar nas pontas dos pés porque o casal estava fodendo como coelhos a
cada oportunidade que tinha, mesmo que a amiga parecesse prestes a
explodir.
— Meu Deus, que vergonha!
— Não fique. É natural que estejam tão apaixonados. Fico feliz que
achou um homem que te faça suspirar de prazer a cada oportunidade que tem.
E que demonstra o quanto te quer. Nada mais triste que um cosplay de
defunto na cama.
— Eu sinto muito, Emme. Isso é tão embaraçoso. — Divertiu Emme
que ela realmente parecesse culpada. — Nós vamos nos comportar.
— Se o que escutei é uma dica do quanto se desejam, não há nada
que possa fazer. Exceto aproveitar cada segundo de prazer com o seu
homem.
— Eu disse para Caleb ser mais silencioso.
— Moreninha, não é ele. É você. — Emme deu uma risada e Trish
ruborizou-se mais. — Eu acho que se mais uma noite escutar a cabeceira
bater contra a parede e você implorar para ele foder sua sanidade, não
haverá terapeuta que me ajude.
Uma risada alta ecoou de algum lugar da casa.
Caleb, Emme imaginou, ainda que fosse impossível que ele tivesse
escutado.
Nenhum pouco envergonhada, ela disse um pouco mais alto:
— Não se envergonhe. Casais transam. É normal e muito saudável.
— Eu sei, é idiota. Não estou acostumada com as pessoas me
ouvindo, apesar de aqui todos terem narizes e ouvidos intrometidos.
— O que isso significa?
— É só uma forma de falar. — Ela balançou a mão num gesto fugaz.
— Você sempre foi meio puritana. Acho ótimo que tenha encontrado
alguém que te tire da casca e traga à tona a mulher quente e apaixonada que
é.
— Não posso me controlar quando ele está em causa — Trish
confessou, com uma risadinha acanhada.
— Nem eu posso exigir que parem de transar e tirar a privacidade
de vocês em sua própria casa. Por isso, o melhor é que eu vá para um hotel.
— Sobre isso, — disse Caleb, entrando no solário, sorridente e
nenhum pouco tímido sobre sua performance sexual. — Eu tenho a solução
perfeita.
Trish o trucidou com o olhar, mas recebeu seu beijo.
— Eu disse que você é barulhenta — ele murmurou com diversão
sobre os lábios da companheira, que acertou um tapa em seu braço.
— Idiota. É culpa sua que traumatizamos Emme.
Caleb ignorou. Ele se moveu, inclinando para beijar a barriga de
Trish. Em seguida, se endireitou e afundou o traseiro no sofá, ao lado da
mulher. Ele se empurrou para trás, relaxado e casual.
— Estou cuidando das necessidades da minha companheira. Tenho
certeza que Emme entende isso.
— Absolutamente. Ainda não cheguei ao ponto sem retorno.
— Vê? Nada para se envergonhar, querida. — Ele deu uma
piscadela safada.
Trish parecia querer discutir, mas desistiu, o rosto ainda
queimando.
Caleb focou Emme.
— Peço desculpas pelo inconveniente.
— Está tudo bem, sério.
— Há chalés para os turistas. São acomodações pequenas e
confortáveis para quem quer passar a noite ou alguns dias. Acabamos de
construir uma nova rua. Esqueci de mostrar naquele dia. Se quiser, aliás,
faço questão que fique em um, assim permanece na reserva e pode estar com
Trish.
— Eu adoraria. Quando podemos ir?
— Agora mesmo.
4
INCÓGNITA

Collin se fustigava, enfurecido com ele mesmo. Mantendo o


controle num aperto de ferro. Enervante. Tão tenso, tão confuso, tão
sobrecarregado. Um movimento em falso e tudo explodiria. Sua força de
vontade ferrenha, anos aprimorando o seu autocontrole, era a única coisa
segurando o leão. E pensar que ele se orgulhava de sua disciplina. Mesmo
quando posto à prova, lutando com inimigos, ele tinha agido de forma
racional, sem perder a compostura.
Indiferente a tudo, salvo a dor emocional pungente, que de tão forte,
tanto tempo em sua companhia, se tornou parte dele, amortecendo os outros
sentimentos. Não sobrava nada além de culpa e uma existência vazia.
Não mais.
Collin agora estava sentindo...
... Uma constante onda de irritação. E ele não podia afastar os olhos
da fonte que desencadeara esse torvelinho de sentimentos e impulsos
conflitantes.
O latejar de culpa tornando-se mais pronunciado ao passo em que
seu interesse crescia juntamente com a euforia imparável.
Ele sonhou com ela. E ele não sonhava. Ele tinha tido pesadelos
horríveis nos primeiros anos depois da morte de Maria. E depois nada. Ele
caiu no esquecimento. Naquele buraco negro que o engolia para
inconsciência.
Ele prometeu para Caleb, satisfeito com ele mesmo, que ficaria
longe.
Era fácil. Nenhum problema.
A fêmea humana irritante não era seu assunto.
O homem estava decidido, o felino tinha outros planos.
Desde que Maria lhe foi tirada, Collin orou por misericórdia. Ele
próprio teria acabado com a existência miserável se não fosse pelo leão.
Desde então tinha passado mais tempo na forma animal, recusando as
modernidades, qualquer coisa que lhe trouxesse conforto e prazer. O
trabalho como chefe-executor do bando, que o acolheu de braços abertos,
tornou-se o seu propósito de vida, a única coisa pela qual ele se inclinava;
proteger inocentes.
O trabalho mantinha sua sanidade e seu foco.
Collin tinha tentado dar rédeas soltas ao leão, e o felino recusou.
Estava disposto a deixar a selvageria dominar sua alma.
Mas, por alguma razão desconhecida, que o tinha atormentando por
décadas, até que ele desistiu porque estava cansado de tentar entender o
inexplicável e não era burro. Collin aceitou sua sentença.
Era isso, não era?
Uma sentença por sua incapacidade de proteger sua companheira.
Um crime tão grave que o Criador não lhe permitiu a compaixão
dada aos demais machos, que perderam sua companheira prometida de forma
natural. Entregar-se totalmente a selvageria do animal, abandonando de vez a
parte humana. Uma chance ínfima, porém, digna de o macho sobreviver a
perda e dor excruciante. Não que durasse por muito tempo, a tristeza era um
poço sem fundo. Que engolia qualquer tônus de vida, definhando o shifter a
nada. Só havia duas formas de um shifter perder sua parte humana, a rejeição
de um acasalamento com um prometido e a morte de seu par.
Não ele. Indigno, ele merecia sofrer sem trégua por sua
incapacidade.
Collin se viu forçado a aceitar o preço.
Tinha se lançado numa corrida desesperada depois de enterrar sua
Maria e vingá-la. Correu dos seus, da dor dilacerante, atravessando
territórios de rivais sem pensar duas vezes, sem olhar para trás.
Tinha sido um nômade que buscava o inalcançável.
E, de certa forma, ainda era.
Era difícil suplantar o instinto de sobrevivência.
Nada o perturbava. Ninguém ousava mexer com ele, tampouco. Sua
presença era sombria o bastante para que sentissem a ameaça sussurrando no
ar com agressividade e violência crua. A severidade em seu rosto compunha
a postura de não-me-foda. Não era cruel e não tinha cometido atos violentos,
exceto quando necessário. E só houve dois momentos de necessidade; o
primeiro, quando vingou Maria, e o segundo, quando estava passando pelo
território de Snowville e se viu numa briga que não era sua. Todavia, a
honra e o senso de justiça nele não o permitiu ser indiferente as fêmeas e
filhotes sendo encurralados por machos párias de outro bando.
Ali nasceu um elo com o bando do qual não queria fazer parte, mas
que o acolheu mesmo assim. Caleb lhe ofereceu uma honraria, um voto de
confiança.
Shifters tinham a benção de seus sentidos aguçados, do instinto
inteligente.
Collin honrou Caleb e o bando, ao qual ele tinha demorado a aceitar
como seu. E quando o fez, foi à sua maneira. Discreto. Necessário. E
distante.
Collin era um macho justo, taciturno, que cortejava a insanidade.
Um macho que não tinha mais nada a perder.
Um macho petrificado na dor e no dever para com Snowville.
Sua escuridão e frieza fazia os outros machos, mesmo os mais
ferozes, darem um passo atrás. Ele era um membro valioso do bando, sabia
disso. Era um alfa. Forte e poderoso. Entendeu as reticências dos demais,
que temiam uma luta pelo domínio do bando.
Collin, todavia, não queria ser o líder de nada.
Nem antes, muito menos agora.
Ele estava bem com a contribuição de seu papel.
Ele estava bem vivendo em sua escuridão.
Até ela.
A fêmea humana.
Emmanuelle.
Ela era a razão de sua inquietação e desgosto.
Do rebuliço roubando um pedaço de sua mente.
Desde que a viu, o leão, apesar dos esforços do homem, estava
medindo forças, ansiando pela mudança que o tornava mais forte.
Mudar de forma já não era seguro.
O felino era inútil, temperamental e mal-humorado.
Ele passou de ronronar com a lembrança da fêmea para rugir
exigências.
E num flagrante chocante, deu-se conta de que estava curioso sobre
ela, para conhecê-la, descobrir as coisas que a agradava, suas preferências,
inclusive sexuais; o que a fazia sorrir e rir, o que importava para ela.
Suas duas partes, homem e animal, estavam em desalinho.
Collin temeu, recordando-se de como Caleb ficou antes de
encontrar sua prometida. O pensamento caiu mal. Ele fez uma careta.
Não fazia sentido. Nada disso.
Convenceu-se de que talvez, enfim, estivesse sucumbindo a loucura.
A mera insinuação de outra fêmea no lugar de Maria era um soco
em seu estômago, dava ânsias; a culpa o sufocava.
Ele fez de tudo para se controlar. Mas, quando menos esperava, lá
estava ele, observando de longe. Ela, Emmanuelle — o leão ergueu as
orelhas, ansioso, e respirou fundo, com o nome dela ecoando por todo o seu
corpo. Como uma carícia requintada assentando em seus ossos. Não a viu
por dois dias seguidos desde que ela chegara, e ele tinha conseguido conter
seus impulsos. Não queria Caleb questionando suas razões para espreitar seu
lar quando nem mesmo Collin tinha a resposta.
Então lá estava ela, novamente. Enchendo seus olhos e chutando
suas reações de uma forma que fez seus dentes trincarem, o coração batendo
forte.
Ele captou cada parte dela, registrando-a em sua mente.
Emmanuelle tinha um olhar maravilhado e curioso.
A expressão dela o fez respirar fundo.
O calor incomum no peito mais quente.
Ela estava agalhada como os turistas e o povo da cidade.
Ele a viu estremecer quando um golpe de vento passou por ela. E,
em seguida, o leão se enfureceu, questionando se ela estava agasalhada o
suficiente.
Caleb deveria saber, deveria cuidar melhor dela.
Não ele. Nós.
Collin apertou os dentes e balançou a cabeça, empurrando o leão
para baixo, que arreganhou os dentes, numa clara demonstração de seu
descontentamento.
Collin ignorou.
Não era de sua conta.
Nada sobre essa fêmea humana era da sua conta.
Ainda assim, ele ficou lá. E assistiu, Caleb falar com ela. Em
seguida, fez o que não costumava fazer: ele praguejou. Num último instante, a
direção do vento mudou de curso e não havia como se esconder de Caleb.
“Collin há uma razão especial para desobedecer às minhas
ordens?”
O rosnado feral encheu sua mente, fazendo-o ranger os dentes um
pouco mais.
“Não cheguei perto dela.”
“E o que parece que está fazendo?”
“Não sou um prisioneiro, Caleb. Da última vez que chequei, ainda
era o chefe-executor. E a não ser que isso tenha mudado, sou livre para ir
e vir.”
“Nisso você está certo... É um macho honrado que me deu sua
palavra de que ficaria longe de Emme.” Houve uma pausa. Collin esperou,
controlando a própria cólera. “E você, não sei como é possível, a está
assustando. Ouve o coração dela?”
Alto e claro. A frequência cardíaca da fêmea mudou no momento
em que ela correu o olhar ao redor, passando por ele sem o ver escondido
nos arbustos altos.
De alguma forma intrigante, a fêmea parecia senti-lo.
“Não estou aqui por ela.”
“Bom. Você é um macho decente, Collin.” Caleb projetou. “Eu o
respeito e te considero. É meu chefe-executor. Meu irmão. Não me faça te
obrigar a ficar longe dela. E eu quero dizer isso, Collin. Se me forçar a
mão, eu o farei.”
O leão rugiu em fúria, levantando-se com os dentes arreganhados.
Collin cerrou os dentes com tamanha força, que foi um milagre a
mandíbula não ceder quando ele se forçou a se afastar. Ele correu de volta
para o caminho que nunca deveria ter desviado. Longe o suficiente para
soltar sua cólera. Ele rugiu tão forte, muito alto, dolorosamente, fúria pura,
que os animais ao redor e os pássaros se agitaram, fugindo do predador.
Estava furioso com Caleb e sua demanda... com ele próprio, seu
leão.
O alfa cravou as garras no chão. E, pela primeira vez, sentiu o
impulso do desafio nascer lá no fundo de seu âmago. Indignação o comeu
vivo.
Que direito Caleb tinha de mandá-lo se afastar?
Ele não a machucaria.
Nenhuma fêmea.
Nunca.
Emmanuelle estava tão segura com ele como qualquer outra fêmea.
Collin esperou que Caleb fosse falar com ele, e ficou agradecido
quando o macho não apareceu. Não queria lidar com ele quando o ultraje de
seu animal zombava do controle do homem. Olhar para as fuças do outro
macho inflamaria o desejo do leão por domínio. Era orgulhoso e arrogante.
E Collin não gostava nenhum pouco das intenções do felino raivoso. A
liderança não era o objetivo, mas um meio para um fim.
Isso era culpa da fêmea humana.
Nem as shifters mais fortes do bando tinham sido insolentes. Mas a
fêmea humana, tão frágil como era, e Collin sabia que sua guerra era apenas
uma capa protetora para uma doçura que o tornaria diabético.
Ela não o temeu.
Ela nem sequer hesitou.
Sendo tão impertinente que foi capaz de capturar sua atenção.
Ele não gostava do desconhecido. E, ao contrário, dos humanos que
tendiam a se afastar e menosprezar o que não entendiam, ele queria
desvendá-la. Descobrir seus segredos, brincar com ela só para ver até onde
sua luta ia...
O leão rolou, ronronando, maravilhado com a ideia.
O homem grunhiu em resposta.

xXx

Collin encabeçou para fora do porão, a expressão insondável.


— Ele está pronto para o julgamento.
— Tem certeza? Para mim, ele ainda parece uma merda.
— Lucius não irá se recuperar totalmente, não sem sua
companheira.
Jace assentiu e, em seguida, ofereceu-lhe uma cerveja.
Collin dispensou.
— Irei falar com Caleb para que tudo seja arrumado — disse ele
em voz neutra, sem se alterar, e se dirigiu para a saída.
— Como ele suportou?
Collin fez uma parada abrupta, de costas para o outro macho, e
inclinou a cabeça para o lado, esperando.
— Mais de dois séculos — Jace murmurou. — Prometidos não
deveriam ser capazes de viver longe de seus companheiros. Caleb, Embry e
outros machos da reserva acasalados com prometidas, têm suas fêmeas ao
alcance o tempo todo.
— Por que eu deveria saber?
Sentindo a letalidade saindo em ondas do shifter, os rugidos
chiando no peito dele, Jace recuou, com as mãos levantadas, a cabeça e o
olhar para baixo.
Seu lobo, apesar da contrariedade, reconhecendo a força do outro
macho.
— Cara, relaxe. Não estou supondo nada.
— Eu estar vivo depois de perder minha companheira não me torna
um ancião com todas as respostas para os prometidos — Collin mordeu num
rosnado ameaçador, lançando um olhar bestial sobre os ombros.
— Sei. Foi besteira minha, Collin. Desculpe. Não quis desrespeitar.
Ele respirou fundo, forçando o felino para baixo.
— Não sei a resposta para a sua pergunta. Mas, se o que vivo for
um indicativo, ele está no inferno.
Collin virou e saiu.
Tinha toda a intenção de buscar Caleb e depois correr.
Precisava da euforia da caça bombeando seu coração, a adrenalina
em suas veias, as presas fincando na carne tenra. Rasgando. O sangue quente.
De repente, ele parou, ao ver Caleb dirigir em direção aos chalés,
com ela.
Ele sabia que deveria dar a volta e se afastar.
Ele se moveu antes que se desse conta.
De longe, Collin assistiu, com estranha satisfação, Emmanuelle ser
relocada para um dos chalés, longe dos limites territoriais do alfa.
O leão ronronou, espreguiçando-se, totalmente relaxado.
Collin mal notou o sorriso, a curva discreta repuxando seus lábios.
O aquecimento no peito, que antes só conhecia o gelo, espalhou
calor bem ali, queimando tanto, que Collin levantou a mão em punho e
esfregou o local.
Ele se assustou quando percebeu o que estava fazendo, a sensação
boa fez a culpa explodir em sua cara.
Deu a volta e partiu na direção contrária.
5
EXPLORANDO

Boquiaberta, Emme espalmou a vidraça, os olhos grandes


iluminados como se estivesse numa espécie de transe. Nem a sensação
gélida da superfície se infiltrando em suas palmas a resgatou da
magnificência do sol da meia-noite.
O clima, a paisagem e a luz solar brilhante, eram hipnotizantes.
O clarão incomum se derramando em seu rosto a despertou. Ela
tinha saltado da cama feito uma criança na manhã de natal e, desde então,
estava prostada na frente da janela panorâmica.
Levou uns bons minutos para organizar as ideias. E quando as
engrenagens de seu cérebro voltaram a funcionar com clareza, Emme deu um
gritinho emocionado e saltou para cima e para baixo.
Chegara à Inuvik há cinco dias; dois desde que Caleb a relocou
para um dos novos chalés. Emme adorou ter seu espaço. Estar com Trish e
Caleb era bom, tirando a animação do casal. Porém, gostava de sua
privacidade.
Caleb ter oferecido um dos chalés de cortesia foi perfeito. Não
perderia tempo se locomovendo da cidade para a reserva para passar um
tempo com Trish. E ela pretendia ficar com a amiga, claro, tinha vindo para
isso. Mas também não queria atrapalhar a rotina do casal. Ela teria duas
semanas, talvez três, se não surtasse, para curtir o lugar.
Estas, afinal, eram suas merecidas férias, também.
Os chalés eram de aparência rústica, um triângulo com janelas altas
agraciando os turistas com a melhor vista mesmo na escuridão iluminada
pelo céu mais estrelado que já vira e a aura boreal nos dias mais frios.
Dentro, era aconchegante e único. Um espaço aberto que se dividia entre
quarto, cozinha funcional e um banheiro. Havia ainda uma lareira pequena,
um suporte ao lado com lenhas cortadas. Emme podia facilmente se imaginar
empoleirada na poltrona, com seu kindle e uma caneca de café ao lado.
Cortinas blackout instaladas para os seis meses de dias claros.
Cada aspecto, cada detalhe, da estrutura do chalé a disposição os
móveis; tudo foi pensado para criar uma sensação de conforto e de
exclusividade.
Não era muito longe da casa de Trish e Caleb. Uma caminhada de
10 minutos os separava. Lá, tudo era assim. Os chalés ficavam em ruas
próprias, se podiam ser chamadas assim. Um total de 12 distribuídos de
forma esparsa.
As residências dos moradores ficam mais afastadas, umas mais que
outras.
Caleb tinha explicado que desta forma os moradores poderiam
manter sua privacidade enquanto houvesse turistas e visitantes na reserva.
Nas intermediações havia um complexo com restaurante
comunitário e uma lojinha com vários produtos, até mesmo roupas, que
funcionava excepcionalmente nas temporadas, que iria ocorrer dali alguns
dias.
Os turistas poderiam ainda, se desejassem, comprar refeições
rápidas para fazer no próprio chalé com o uso do fogão portátil de uma boca,
uns poucos utensílios, além da cafeteira elétrica e um frigobar. Simples e
funcional.
O lixo deveria ser descartado de forma correta.
Emme percebeu que a reserva, embora abrisse para a temporada de
primavera/verão, permitindo aos turistas mais radicais uma aventura única.
Em geral, alpinistas profissionais ansiosos para fazer uma expedição na
montanha Blakestood. Eles tinham regras rígidas tanto para a proteção dos
residentes da reserva quanto dos turistas/visitantes e a preservação da vida
selvagem.
Milhares de hectares estavam sob vigília constante de guardas
treinados.
A harmonia e o respeito aos limites eram imprescindíveis.
Depois de engolir duas xicaras de café, Emme estava pronta para
desbravar Snowville.
Lá fora, o ar gélido a fez estremecer e ela puxou o capuz sobre a
cabeça.
Podia ser primavera, mas isso não significava que estava menos
frio. Ela tinha conferido a temperatura antes de sair, o termômetro marcava
-5 com sensação térmica de -9. Ainda assim, a vista que o sol da meia-noite
revelava era boa o bastante para fazê-la enfrentar o clima congelante.
Emme saltitou, em seus quilos de roupas quentes, com a perspectiva
de andar por aí. Era curiosa por natureza, a aventura crepitando em suas
veias.
No caminho para a casa de Trish — agora em posse de um
snowmobile —, ela observou ao redor. Sorriu para as crianças brincando,
cumprimentou alguns moradores com a naturalidade de quem já pertencia ao
lugar.
— Dá pra acreditar nisso? — ela inquiriu, a voz carregada com
empolgação pueril, as mãos agitadas para o espaço aberto atrás de si quando
Trish abriu a porta, recebendo-a com um enorme sorriso.
— Eu quase chorei de alegria quando vi o sol.
— Aposto que gemeu de prazer, também.
— Talvez — murmurou Trish, as bochechas queimando. — É um
momento especial. Estou esperando por ele desde que me mudei.
— Sexo no claro?
Trish riu.
— Não, pervertida. Se bem que fazer amor com Caleb é sempre
maravilhoso. E eu não sou tão tímida a ponto de só fazer no escuro. Eu amo
olhar para o meu homem — disse ela, com um derretimento apaixonado.
— Se eu tivesse um homem como ele, também adoraria... Não fique
ciumenta. Tem um homem lindo e gostoso que adora o chão que você pisa.
— Eu sei. — Trish sorriu convencida. — Lee me contou sobre a
reserva quando nos conhecemos, e eu prometi que viria para uma visita. Lee,
claro, estava interessada na testosterona e eu na história.
— Garota inteligente.
— Obrigada.
— Estou falando de Lee.
Uma carranca transformou a expressão da outra mulher.
— O quê? Não me culpe por te conhecer tão bem. É bem típico de
você se interessar pela história de um lugar e se debruçar sobre os mortos,
em vez do prazer que a cidade tem a oferecer. Lembra da nossa viagem a
Roma?
— Nós estávamos em uma cidade histórica!
— Paris?
— Não tenho culpa se estas cidades colecionam uma vasta e rica
cultura.
— Tenho certeza que não precisávamos gastar quase 80% dessas
viagens em filas quilométricas, enfrentando golpistas, para visitar todos
àqueles museus e catacumbas.
Trish lhe deu as costas, voltando para o interior da casa. — Então
não se lembra que em todos esses lugares você pegou um cara diferente?
Emme fechou a porta atrás dela enquanto Trish se acomodava no
sofá.
— Alguém tinha que se divertir de verdade — defendeu-se, com um
sorriso largo. — Mas, sério, moreninha. Isso aqui merece uma festa! Por
favor. Por favor. Me diga que haverá uma fogueira com música, dança e
bebida?
— Creio que ouvi Caleb falar algo sobre uma corrida para
comemorar o início da temporada. A qual eu não irei participar por motivos
óbvios.
— Uma corrida? Estilo Snow Dogs?
— Quase isso — balbuciou Trish, evasiva, de repente.
— Será que posso participar?
— Terá que falar com Caleb, mas você o perdeu por 10 minutos.
Ele foi se encontrar com outros membros da administração da reserva para
ajustar a logística para recebermos os turistas e visitantes agendados para
essa temporada. Esse ano tivemos uma lista de espera considerável.
— E eu pensando que passaria meus dias aqui hibernando de tédio.
— Não será como Nova York...
— Claro, claro. Estou animada para conhecer o tipo de diversão
que vocês têm por aqui. Se incluir uns homens de tirar o fôlego, melhor
ainda.
— Sobre isso...
— Isso o quê?
— Os homens de tirar o fôlego.
— Relaxe. Não espero que me acompanhe — E dissimulou,
sorrindo. — Agora você é uma mulher casada, muito, muitoooo, grávida.
Trish fechou a cara e fez bico.
— Você disse muito duas vezes e enfatizou na segunda vez.
— Moreninha, olhe pra você. — Emme adulou com o tom macio e
um sorriso gentil. — Está explodindo... Tem café?
— Na cafeteira.
Emme encheu uma caneca e voltou. Ela foi direto para as janelas
lhe dando uma vista privilegiada da paisagem gelada de encher os olhos.
— Então — disse Trish. — Sobre o que estávamos falando...
Emme girou e olhou por cima da caneca enquanto sorvia um gole.
— Eu sei que adora flertar, mas precisa tomar cuidado com os
homens daqui, Emme. Eles não são como os homens da cidade. Nunca os
desafie.
— Você sabe que dizer isso pra mim é o mesmo que balançar uma
bandeira vermelha na frente de um touro, certo?
Uma gargalhada explodiu dela ante a expressão de Trish.
— Relaxe, moreninha. O que acha que pode acontecer? Eu
encontrar o amor da minha vida e me estabelecer aqui, toda doméstica e
grávida?
— Emme — uma advertência. — Os homens daqui não são nada
parecidos com o que está acostumada. Eles são um pouco mais permanentes.
— Okay, okay. Não vou quebrar o coração de ninguém, mas posso
admirar. — Ela sorriu cheia de intenção, provocando. E se sentou ao lado do
fogo.
— Estou falando sério, Emme.
— Você fala como se eu fosse uma devoradora de homens.
— Não é com eles que eu estou preocupada.
— Okay. Entendi. Sossegue, mamãe. Aliás, para quando é o
nascimento mesmo? Gostaria de estar aqui para ver esse bebezinho fora do
forninho.
— Duas semanas, talvez três.
— Vamos torcer para ele ou ela se apressar. Qual é o sexo?
— Caleb e eu decidimos esperar pelo nascimento... E, por favor,
coloque esse pedido em suas orações — Trish choramingou. — Não posso
fazer mais nada sem ajuda. Caleb é muito atencioso e prestativo. Mas, Deus,
juro que vou surtar se ele tiver que me depilar mais uma vez. E eu nem estou
falando o quanto meu próprio corpo está me punindo com dores, inchaços e
um bexiga que parece ter diminuído de tamanho.
— Ele te ama e se preocupa com você. E outra, você está no estágio
final da gravidez. É natural que Caleb queira ficar do seu lado.
— Ele está assim a gravidez toda, Emme — confessou ela, zangada.
— Caleb não me deixa. Ele paira ao meu redor. Hoje mesmo, só consegui
que ele me desse um tempo para respirar porque o ameacei. E porque Luna
está aqui para limpar, assim tenho companhia. E eu aposto que há um de seus
guardas vigiando a casa.
— Sufocada de cuidado e de amor. Que pobrezinha!
— Eu amo Caleb com toda a minha alma, mas preciso do meu
espaço.
— É bom estar em nossa própria companhia, certo?
— Ele está no caminho para me enlouquecer — Trish desabafou. —
Eu o entendo, de verdade. Compartilho de suas preocupações. Eu amo que
ele seja presente e parceiro, me cercando de cuidado. É nosso primeiro
bebê... Eu só não posso deixar de me chatear. Quero bater nele e depois
beijá-lo.
Emme riu, e Trish a acompanhou com uma risada leve.
— Eu sei, estou parecendo louca — resmungou, ainda rindo. — Vê?
É isso que ele me faz. Esse homem me deixa maluca de mil maneiras
diferentes.
— Enlouqueça-o de volta.
— O que acha que fiz a gravidez toda? — disse Trish, divertida e
nenhum pouco arrependida. — Mas voltando às boas-vindas da primavera,
irei fazer um jantar para comemorarmos. E claro, que a quero aqui. Embry e
Lee também estarão aqui.
— Eu não a vi mais. Não que tenha feito muita coisa, além de ler,
comer e dormir. Não estava inclinada a deixar o aconchego da cama e me
aventurar no escuro.
— Ela passou por aqui mais cedo para surtar antes de ir para o
trabalho.
— Vejo que não somos as únicas a ter a primeira vez.
Trish riu.
— Parece até o destino, mas não diga a Lee que disse isso.
— Ela parece ser uma boa garota, moreninha.
— Ela é. Lee me ajudou muito em minha mudança.
— Fico feliz que tenha encontrado pessoas generosas em seu
caminho depois de tudo que passou. Merece ser feliz e ser cercada de amor.
— Eu sou mesmo uma sortuda por ter vocês duas.
— Bem, bem, bem, — Emme se levantou, pousando a caneca na
mesa de centro. — A conversa está ótima e eu adoraria ficar, mas sei que
tem seus negócios para cuidar. E a não ser que faça questão que eu fique
para checá-la até que Caleb retorne...
— Eu já tenho uma babá — Trish cortou, com um olhar de morte.
— Sendo assim, vou explorar.
— Emme...
— Não irei longe, mamãe. Prometo — debochou, com uma
risadinha. — Estive presa esse tempo todo, e agora que posso sair sem me
espatifar no chão porque não enxergo um palmo diante do nariz, quero
esticar as canelas e conhecer os arredores sob a perspectiva do dia. — Trish
tinha uma expressão. — Preciso me movimentar. Gastar toda essa energia
dos meus 30 anos me consumindo, do contrário, enlouqueço.
— Talvez eu possa chamar Caleb para que envie alguém para
acompanhá-la — sugeriu Trish, parecendo realmente preocupada.
— Por favor! Eu sou uma menina grande. E eu tenho o meu celular.
— Eles não funcionam aqui.
— Não brinca? Você não disse que chamaria Caleb?
— Eu ia ligar do telefone fixo daqui de casa para o escritório, onde
ele geralmente trabalha com sua, hum, equipe. Eles também usam walkie
talkie.
— Está tudo bem, sério. Eu vou me cuidar.
— Só tome cuidado, por favor.
— Sempre.

xXx

Paisagens exuberantes enchiam os olhos de Emme. Estavam por


todos os lados. A cada novo ângulo, a beleza idílica do lugar, com suas
árvores em formato de cone polvilhadas com neve branquinha, a fazia
prender o fôlego. Enormes pinheiros cercavam a reserva, como sentinelas
intimidantes protegendo-a de curiosos e dos olhos maldosos do mundo. Não
era à toa que Snowville abria uma curta temporada, com uma lista rigorosa
de regras.
Enquanto outros estariam abusando dos recursos naturais para
faturar alto, a reserva liderada por Caleb preservava o presente dado pela
natureza.
O sol da meia-noite era um espetáculo à parte, que tornava
Snowville ainda mais especial e, consequentemente, uma aventura cara.
Explicou Caleb.
Snowville não estava ficando mais quente, apesar da temperatura
aumentar um bocado, mas não o bastante para descongelar toda a neve.
Emme deixou o snowmobile e continuou a exploração a pé.
Ela estava distraída com suas descobertas visuais, margeando a
floresta.
Quais belezas mais a montanha Blakestood reservava aos seus
desbravadores?
No chão, havia galhos secos cristalizados e troncos caídos, além de
rochas. Podia apostar que havia pedras escondidas na neve.
Cheirava a limpo e fresco.
O frio tinha cheiro?
Um sopro suave varreu sua face enviando arrepios por sua pele.
Emme deu alguns passos para dentro da floresta.
— Onde pensa que vai, fêmea? — A voz fria e impessoal soou atrás
dela, a fez pular ao redor, com o coração na boca, para encarar o intruso.
— Puta merda, homem! Que caralho! Quer me matar? Não fique se
esgueirando por aí como um maldito fantasma. — Emme gritou, nervosa, só
não sabia se pelo susto ou por ser... ele.
Collin Del Rey.
Ela gravou seu nome como uma maldição.
Ele continuava sendo um bruto. Ainda assim, bom o suficiente para
fazer seu coração parar de bater. Emme quis bufar. Bom? Rá! Ele era
ridículo, olhos azuis congelantes, com uma sombra de severidade que ela
queria nada mais que se aproximar e se colocar a sua disposição. Lábios
cheios e zangados.
O cabelo loiro sujo estava bagunçado de uma forma assassina.
O homem era enorme.
Grande em altura e beleza... e um mau humor do cão.
— Você beija sua mãe com essa boca?
— Você ficaria espantado com as coisas que faço com esses lábios
bonitos, meu bem.
Uma emoção lampejou em seu rosto, mas depois desapareceu.
Collin endureceu, a mandíbula tensa enquanto a fitava em silêncio,
uma explosão de coisas ruins, que apostava que ele queria soltar nela.
A expressão, no entanto, era limpa e desapaixonada.
Seu desprezo a incomodou.
— Volte para o chalé.
— Eu... — ela parou. — Como sabe que estou no chalé? Andou me
vigiando? Seria você um stalker, Collin Del Rey? Ou é interesse enrustido?
— Uma árvore seria mais interessante.
— Uau! Que babaca!
— Você é uma estranha no ninho, Emmanuelle, e eu sou o chefe de
segurança da reserva — ele disse como se a soma fosse óbvia, e ela uma
tola.
— Uma estranha no ninho, hein? Então você, além de selvagem e
bruto, conhece um pouco de arte. Estou surpresa.
— Retorne — ele ordenou, com um grunhido.
— Ou o quê?
— É proibido entrar na floresta.
— Não vejo nenhuma placa aqui.
Ele fez um som, baixo e feral, vibrando em seu peito.
— Civis não podem entrar na floresta sem um acompanhante.
Ele se dobrou sobre ela, violando seu espaço pessoal, e cheirou,
irritando até seu último fio de cabelo, depois que lhe disse para não fazer
isso. Ele, no entanto, voltou para trás tão rápido que cortou sua indignação.
Ela fingiu um sorriso doce, e ele estreitou o olhar.
— Que bom que você está aqui então. — E repreendeu. — E pare
de me cheirar. É rude e estranho pra porra.
— Não vou acompanhá-la.
— Por que não?
— Não há nada para ver aí que já não tenha visto.
— Isso quem decide sou eu.
Ele cruzou os braços fortes contra o peito.
— O que acha que irá encontrar?
— Saberei quando parar de me encher o saco.
— Retorne — ele repetiu.
— Me obrigue.
Nem Emme entendia a razão do desafio. Era tentador provocá-lo, o
impulso incontrolável. Queria ver sob a casca, rastejar em sua pele.
O homem era terrível nas relações interpessoais.
Um bruto que colocava calafrios na sua espinha, nós em seu
estômago e um pulso de dor sexual em sua vagina.
Ele deu um passo à frente, exalando irritação, os olhos furiosos.
Ela ergueu as mãos.
— Está bem. Meu Deus! Entendi.
Collin parou, o olhar carregado, tão firme, tão sólido.
Emme não gostou, parecia intenso demais, implacável, deixou-a
desconfortável e vulnerável, como se seus olhos ridiculamente azuis
pudessem ver através dela.
Sua expressão feroz lhe dizia que ele também não estava muito
feliz.
Ela bufou quando ele não se afastou.
— Quer sair da frente... por favor?
Ele deu um passo para o lado, as sobrancelhas loiras encrespadas.
— Deus me livre tocar em você e me contagiar com seu humor
jovial — resmungou Emme baixinho, passando por ele, ignorando o rosnado
dele.
Irritação a comeu viva a cada passo.
Quem esse homem pensava que era para tratá-la como idiota?
Alguém tinha que lhe ensinar boas maneiras, assoprar um pouco de
amor em sua bunda prepotente. Quem sabe assim ele não poderia parecer
menos... argh!
Emme não foi muito longe, travando os pés na neve.
Ela não queria admitir. Sabia que Collin tinha razão. Explorar uma
floresta sozinha era tolo. Mas, então, o que ele tinha de ranzinza e grosseiro,
ela tinha de teimosa. Era uma mulher obstinada. Senhora de seu destino. E
ninguém, sobretudo esse bruto lhe diria o que podia ou não fazer.
Num átimo, ela tomou a decisão.
Embalada por uma emoção travessa, Emme cortou a volta, fazendo
exatamente o que Collin proibiu. O prazer de contrariá-lo a fez dar uma
risadinha.
Talvez ela tivesse entrado na floresta mais do que devia, analisou,
um tempo depois, olhando ao redor.
Não nevava e as marcas de suas pegadas estavam lá.
Não estava perdida, garantiu a si mesma quando sua confiança
oscilou. O celular estava carregado. Mas, como Trish avisara, não havia
sinal. Porém, a câmera funcionava perfeitamente bem.
Emme tirou algumas fotos, andou atrás de novos ângulos, animada
com as imagens. Distraiu-se que mal notou o som próximo, até que ficou
mais e mais alto, como se algo caminhasse diretamente para ela.
Perscrutando ao redor, decidiu que sua teimosia podia ser
encerrada. Tinha feito seu ponto. Ganhado uns cliques lindos para o seu
Instagram e os porta-retratos de seu apartamento em Nova York.
O barulho voltou a flutuar no ar, sendo engolido pela floresta. Mas
persistiu ecoando dentro dela, até que o medo emergiu envolvendo seus
ossos.
— Olá. Tem alguém aí?
Mais perto.
Mais alto.
O coração chutou contra costelas.
Ela olhou para os lados em certo nível de desespero, tentando achar
algo que pudesse usar para se defender.
— Eu não gosto dessa brincadeira. Seja quem for, apareça antes que
me zangue de verdade — ela disse num ímpeto de coragem, que rapidamente
escoou por entre seus dedos. — Eu tenho uma arma comigo e nenhum medo
de usá-la.
Ninguém se revelou, o som continuava vindo.
Sua respiração pesou nos pulmões, cada vez mais rápida e alta.
Obrigando o coração a bombear mais sangue. Pura adrenalina. Os nervos a
fizeram balançar a cabeça mais como um espasmo do que um movimento
voluntário.
Olhos atentos quando o medo a engoliu, incapacitando.
O vislumbre de um animal grande encheu seus olhos.
... Emme pela sua vida.
Mas, em vez de seguir seus próprios rastros indo para a direita, ela
errou a direção indo para a esquerda. Mais longe. Perdendo o celular no
caminho. Seu pé bateu em algo, enroscando. E ela caiu com um grito, quase
indo de cara no chão se não fosse pelo reflexo rápido das mãos espalmadas
no solo gelado. Ela virou de costas, não se importando de sujar sua roupa, os
pés chutando e empurrando.
Os ouvidos zumbiam com a adrenalina.
Lágrimas encheram seus olhos. Odiava chorar. Odiava mais ainda
estar naquela situação, com uma possível torsão e com o risco de ser
devorada por algum animal faminto só porque não pôde domar seu gênio.
Cenas de O Regresso passaram em sua mente.
Emme mirou o pé, não estava em posição estranha. Tinha tropeçado
em algo sólido, provavelmente uma pedra escondida na neve. E, Deus, bater
o pé na quina dos móveis não era nada comparado a bater o pé em um lugar
tão frio como aquele. O frio intensificava a dor a um nível excruciante.
Ela tentou forçar o pé no chão, mas desistiu em seguida,
lamentando.
O farfalhar próximo silenciou seu choramingo.
Ela tinha caído em uma área mais fechada.
Emme viu as folhas se movendo.
Fosse o que fosse, vinha direto para ela. Ela estava ferrada. O
animal tinha seguido o rastro de seu desespero e de seu medo.
— Oh, meu Deus...
6
EU TE AVISEI

Collin fez o que não costumava fazer, ele amaldiçoou baixinho.


Ele não gostou do viu, nem do que a visão causava dentro de seu
peito.
A aparente vulnerabilidade da fêmea combinada a expressão de dor
e de puro terror, estragando o rosto delicado, institivamente ativou seu
protecionismo. Mesmo quando o viu, o horror não amenizou, muito pelo
contrário, ganhou uma sombra chorosa de arrependimento. E o odor de seu
medo aumentou.
Ele praguejou sob sua respiração mais uma vez.
Ela estava sofrendo e ele não gostou disso, seu felino muito menos.
Rugindo zangado. Exigindo que o homem cuidasse da mulher.
Ele não pensou, movendo-se diretamente para ela.
Emmanuelle se encolheu quando Collin ajoelhou na frente dela. Ele
não podia culpá-la. Mas odiou que tivesse medo dele. Talvez isso fosse bom
em algum momento para que ela o ouvisse e não se colocasse em perigo
novamente.
Ainda assim, odiou.
Sobretudo, porque a culpa era dele.
Collin recriminou-se ainda mais ao ver o brilho de lágrimas nos
olhos dela, assustados como uma corça. Remorso cintilou em seus próprios
olhos.
A mulher podia irritá-lo até a morte e apertar todos os seus botões,
deixando desequilibrado. E com os nervos à flor da pele. Mas a última coisa
que queria era feri-la porque ele quis dar uma lição nela. Foi idiota, Collin
sabia. E ele não era um cara que fazia coisas estúpidas e impulsivas porque
se sentia desafiado por uma fêmea, ainda mais uma humana frágil que tinha
um instinto de sobrevivência falho. A assustou a ponto de fazê-la correr por
sua vida. E estava se odiando porque, aparentemente, provou a si mesmo —
mais uma vez — que era incapaz de assegurar a segurança de uma fêmea.
Não era digno, mesmo dessa fêmea aborrecida.
Sua testa franziu quando as sobrancelhas encresparam, provocando
um vinco difícil entre elas. Respirando o mínimo possível de seu cheiro.
Collin esticou a mão para tocar seu tornozelo, e ela se contraiu.
— O que está fazendo?
— Eu preciso checar se não está ferido.
— Seja gentil — ela disse, a voz frágil.
Sua mandíbula apertou, mas ele não disse uma palavra. Os olhos
azuis olharam para longe por um instante, e depois a encarou por um minuto
inteiro.
Encobrindo a vergonha, Collin fez o que tinha que fazer.
— Tente mexer o pé.
Emmanuelle fez e suspirou, atraiu seus olhos para o rosto dela numa
velocidade alarmante. Confuso e surpreso, mas, principalmente, curioso.
Collin ignorou o arrepio sensual em sua espinha e o ronronar do
felino, querendo consolá-la.
Limpando a garganta, ele disse:
— Não está quebrado.
— Como sabe? Isso dói pra caramba.
— Se estivesse quebrado, não conseguiria mexer e estaria uivando
de dor.
— Isso é você me chamando de animal?
— Isso sou eu falando de forma figurativa, Emmanuelle.
— Não pode me culpar ou ficar bravo por primeiro cogitar coisas
negativas quando você está em causa — ela respondeu, aborrecida.
— Terá que tirar a bota e a meia para que eu veja.
— Não vou tirar minha bota aqui. — E argumentou, tentando
parecer razoável. — Estamos na floresta e está frio pra caramba. Vai
congelar o meu pé.
Ele lhe deu um olhar atravessado.
— Deve ter tido uma torsão leve — ele disse. — Vai precisar pôr
gelo.
— Eu vou fazer isso quando estiver no meu chalé, da onde nunca
deveria ter saído. Só me ajude a levantar, se não for o fim do mundo pra
você.
— Está longe do chalé.
Emmanuelle enrolou os lábios entre os dentes, prestes a chorar.
Collin aprovou sua força e coragem, o coração amolecido, mas
também quis dizer que não precisava ser forte. Ele cuidaria dela.
Espere, de onde isso veio?
Ele não cuidava de fêmeas. Muito menos, dessa.
Recusando o pensamento com um rosnado irritado, Collin não
esperou mais, pegando-a no colo, antes que Emmanuelle pudesse se queixar.
Quanto mais cedo a ajudasse, mais cedo se livraria dela e do que
quer que fosse que estava dando ideias equivocadas ao seu leão...
... E a ele próprio.

xXx
Num minuto, Emme estava lamentando sua má sorte, e no outro,
estava sendo içada nos braços de Collin como se não pesasse nada. E ela
não era exatamente leve. Mas ele não estava ofegando ou suando quando
começou a caminhar. Com os braços ao redor do pescoço dele, Emme
deixou se envolver pelo seu calor e se permitiu relaxar contra o peito amplo,
tão duro e forte, como ela pensou que seria. Respirando-o, distraída com o
perfume delicioso do perfume, que ele usava, para não pensar na dor
latejante em seu tornozelo.
O terreno era cheio de obstáculos. Ainda assim, Collin estava
andando calmamente, passos firmes, como se soubesse exatamente onde
pisar. O balanço suave fazendo seus corpos roçarem. Havia uma grossa
camada de roupas entre eles. Nenhuma intenção sexual. Era diferente. Emme
pensou que ele estava sendo cuidadoso com ela porque se preocupava com
seu bem-estar.
O pensamento, espontâneo e indesejado, se assentou bem em seu
coração e a fez dar uma boa cheirada, esfregando a bochecha e o nariz no
peito dele.
Ela devia ficar mortificada por sua falta de controle, mas fez de
novo.
A reação de Collin foi instantânea.
O homem ficou mais duro que pedra. E, de repente, ela queria saber
se outra coisa nele endureceu também. Ela arriscou um olhar em seu rosto,
com o coração batendo a mil. A mandíbula marcada com tensão. As linhas
escuras de seu rosto sexy, a barba loira escura de dias. Sua expressão era
quase violenta. Ele não disse nada. Nem sequer a olhou. E, mesmo assim, a
visão dele foi capaz de gelar sua barriga e deixar Emme momentaneamente
fraca.
Ela deveria recuar, era a coisa sensata a se fazer. Mas desde que ele
não estava falando e aquele cheiro rico era tão bom, ela iria aproveitar o
passeio.
Podia jurar que tinha se intensificado, intoxicando-a.
— Para onde está me levando? — ela perguntou, notando a floresta
se abrir.
— Casa — ele rosnou.
— Mas estamos longe, você mesmo disse.
Ele rangeu os dentes. O tique nervoso em sua mandíbula.
Emme deparou-se com uma cabana. Nada como as construções
opulentas das casas que ela tinha visto. Era minúscula e duvidosa, com um
alpendre.
Tão rústica quanto o seu dono.
Não demorou para que eles estivessem dentro.
Collin parou no meio da cabana. Emme olhou em volta. A luz do
dia, que agora duraria 24h, permeava timidamente por entre as poucas
frestas que a cortina pesada permitia. Dentro era quase medieval para o seu
padrão.
Nenhum luxo ou conforto até onde seus olhos podiam ver.
Havia uma cama de aspecto desagradável, o lençol, que parecia ter
visto dias melhores, esticado, como se nunca tivesse sido usado. Emme
engoliu à seco, a temperatura corporal subindo. Nervosa, de repente, e ela
nem sabia o porquê.
Ela pensou ser medo.
Seu instinto de sobrevivência finalmente dando às caras.
Mas tão rápido como surgiu, ele se foi.
Collin não era uma ameaça real para ela. Ele não iria usar o
momento de completo isolamento para saltar nela. A certeza deveria deixá-
la aliviada.
Deveria.
Ocorre que ela não parecia estar em seu juízo perfeito.
Collin protelou, e depois cruzou o espaço resmungando tão baixo
que não pôde discernir suas palavras. Ele a colocou sentada no que devia
ser a pior e mais desconfortável cama do mundo.
— Por que não abre as cortinas? E por que essa cama é tão dura?
— Por que faz tantas perguntas?
— E por que você não responde?
— Não te devo nada.
— Não é uma questão de dever, mas de educação.
— Não sabia que você conhecia o conceito.
— O que quer dizer?
Collin a ignorou, ajoelhando-se na frente dela. E com uma
delicadeza, que ela julgou que ele não conhecesse, livrou seu pé da bota e da
meia. O toque nu, pele a pele, provocou em seu corpo reações
desconcertantes.
Houve ainda uma sensação sútil de calor se espalhando, onde ele
tocava, até que a dor se tornou uma lembrança.
Seus lábios partiram, olhando para o tornozelo.
Ela olhou com fascínio. Intrigada. Por um momento, apanhada na
sensação deliciosa do toque dele. E depois o fitou. Collin estava
concentrado. Nenhuma emoção que pudesse ler, salvo pela rigidez da
postura dele.
O belo rosto masculino esculpido em pedra.
— Se abrir as cortinas e as janelas um pouco para arejar o
ambiente...
Ela deixou a voz morrer com o som que ele fez. Um ruído incomum,
como um gato. Emme quis provocá-lo mais. Dizer que o ambiente cheirava a
mofo. Mas seria mentira. Cheirava a ele. Masculino. Quente. Marcante. Um
quê de selvageria que rapidamente etiquetou como próprio de Collin.
— Pensei que todos por aqui esperassem ansiosos para a luz da
primavera fazer sua entrada depois de meses no escuro.
Ele, obviamente, não estava a fim de manter um diálogo.
— Que tal acender uma luz? —sugeriu ela, não se aguentando.
— Não há eletricidade aqui. — Ele se levantou de forma abrupta.
Ela observou boquiaberta pelo choque da informação, ele sair e
depois voltar com um pano e se ajoelhar na frente dela, novamente.
O homem era tão alto, que mesmo ajoelhado, ela ainda tinha que
inclinar a cabeça um pouco para olhar em seus olhos assombrosos.
Ela o namorou da posição em que estava, bebendo de sua visão
sexy.
— Como você não tem eletricidade aqui?
— Meus olhos funcionam.
Ele a olhou e ela não duvidou. Cada vez que o tipo a olhava com
aqueles olhos, ele parecia enxergar mais uma camada dela.
Nesse ritmo, Emme logo estaria nua para ele.
O pensamento ganhou conotações eróticas, pegando-a
completamente de surpresa pela reação desproporcional de seu corpo. Ela
reprimiu um gemido, que jurou que era de lamento, e não do súbito desejo
molhando sua boceta.
— É um nômade, não é? Um selvagem. O último resistente. —
Emme estava provocando para tirar-lhe uma reação, sem sucesso.
Collin a ignorou, deliberadamente. Ele era bom nisso. Bom demais
para desestabilizá-la e abrir buracos em sua autoestima sem dizer uma única
palavra.
Ele colocou o gelo, enrolado no pano, em seu tornozelo.
Ela reclamou, estremecendo.
O pano estava úmido e congelante em sua pele.
Ele olhou para ela em silêncio, tão imóvel, uma estátua lapidada a
perfeição.
Emme se chateou, odiava ser ignorada e as palavras não ditas.
— Segure.
Ela fez. Ele ficou em pé e se distanciou para a porta.
— Onde vai?
— Pegar um snowmobile para te levar de volta ao chalé. Não há
nada para ser feito aqui por você que eu já não tenha feito.
— Obrigada... Espere, não vi nenhum desses por aqui.
— Pegarei emprestado.
— Irá voltar pra reserva?
— Estamos na reserva.
— Você entendeu. — Ele ficou olhando. — Não pode me deixar
sozinha aqui. E se o animal, que estava me perseguindo, nos seguiu até aqui?
— Nenhum animal nos seguiu.
— Como sabe?
— Eu sei.
— Admiro sua confiança, mas não disponho dela.
— Você não tem escolha.
— Eu não quero ficar sozinha, Collin.
— Não há nada para temer aqui.
— E se o animal aparecer?
— Ele não vai.
— Eu não estaria muito certa disso.
— Você é o único perigo aqui, Emmanuelle — ele disse com tal
convicção, com tanta força, que ela acreditou. — Chega disso. Deveria ter
me escutado.
— Eu sinto muito, ok? — ela resmungou, magoada, os olhos baixos
e brilhantes com lágrimas. — Você me avisou e eu fui teimosa.
— Não foi sua culpa, Emmanuelle — ele disse baixinho, parecia
quase com raiva, mas não era destinado a ela, salvo a expressão de
desculpas.
— Tudo bem — ela cedeu. — Desculpe, eu só fiquei um pouco
louca. Pode pelo menos acender a lareira? Está frio aqui. Não sei como
consegue ficar aqui assim sem congelar ou morrer de frio.
Ela observou. Ele mantinha a jaqueta de couro com pelagem dentro,
único agasalho protegendo, além da calça e botas. Pelo jeito, todos lá eram
quentes como o inferno. Collin acendeu a lareira. E depois saiu.
Para sua surpresa e desgosto, ele não custou para retornar.
O som de um motor se aproximando elevou seus batimentos
cardíacos e fez sua barriga gelar. Ela se sentiu mole e fraca. Emme foi
tomada por uma diferente e estranha sensação de perda, que emergiu das
profundezas de suas entranhas, ao dar-se conta que o tempo deles juntos
estava acabando.
Ela não queria partir ainda.
Queria ficar com o rabugento gostoso, tirar-lhe do sério um pouco
mais. E quem sabe receber um pouco de sua atenção sem que ele a estivesse
espezinhando? Ela gostou desse momento, mesmo que minúsculo.
A porta se abriu e Collin passou por ela, correndo a mão pelo
cabelo.
Ele parou, o olhar buscando-a e conectou-se ao dela.
Ele parecia selvagem. Sombrio. Primal. Glorioso. A intensidade de
sua presença a deixou ofegante e com a boca seca. Roubou suas palavras.
Um arrepio percorreu seu corpo numa espiral de fogo, apertando
seus mamilos e desceu, envolvendo sua vulva. O homem a aterrorizava. Mas
tinha que admitir, sua aspereza era sexy como o inferno. Um tipo indomável
capaz de destruir corações, que ela fantasiava na privacidade de sua mente.
Emme tinha sonhado com ele quase todas as noites.
Sonhos eróticos. Sexo selvagem e louco. Que a fez acordar com um
latejar incessante e uma necessidade dolorosa de ser fodida a exaustão.
Estava se voltando cada vez mais forte. Difícil de conter, de aplacar. Ela
nunca se sentiu tão atraída assim por nenhum homem antes dele. E esse tesão
descomunal...
Ela lambeu os lábios e puxou uma respiração profunda.
Ela assistiu seus punhos se fecharem num aperto de ferro.
Ele pisou até ela, tirando o pano de sua mão.
Em seguida, Collin a içou mais uma vez.
Num ímpeto de loucura, ao enlaçar o pescoço dele, Emme não
conteve o desejo de sentir a textura do cabelo dele entre seus dedos,
deixando a mão escorregar da nuca para o topo da cabeça. Infiltrando os
dedos na massa de fios sedosos. Era de um loiro escuro. Totalmente quente.
Emme gemeu, um som baixo e sensual.
Collin olhou para baixo, aferrando o olhar no seu, tão surpreso
quanto.
Por um ínfimo momento, a temperatura pareceu aumentar
drasticamente, mesmo os olhares se tornaram pesados com a luxúria.
Emme lambeu os lábios mais uma vez e o olhar interessado dele
desviou acompanhando sua língua. Erotismo queimando nos orbes azuis até
que eles ardiam com a sensualidade escura que cobriu suas belas feições.
Oh, Deus, será que ele...?
Ela queria o beijo.
Detestava o tipo, mas queria seu beijo, chupar sua língua, com a
mesma necessidade feroz que seus pulmões tinham por oxigênio.
A vontade de cair em tentação era inebriante. E, de repente, ela
sabia que sua determinação em resistir e parecer inacessível não duraria na
presença dele.
Emme viu, com prazer, os lábios dele se partindo, antes de
tensionarem apertados em uma linha rígida. Ela murchou, decepcionada.
Collin fechou os olhos com força e puxou uma respiração funda.
— Não faça isso, Emmanuelle... Por favor. Não faça isso comigo.
— Não uma demanda, um rogo sofrido, antes que ele se livrasse dela.
7
SENTIMENTOS CONFUSOS

Dois dias depois, Emme comemorou. Seu pé estava ótimo.


Dois dias desde que Collin a entregou a segurança de seu chalé,
como se não pudesse se livrar dela rápido o suficiente. Como se mais um
minuto na sua presença e ele estaria doente. Ele saiu sem ouvir seu obrigado.
Ele fugiu dela como o diabo foge da cruz.
Fez-lhe mal, tanto que se reduziu numa pilha de fragilidade
emocional.
Desde então, não podia parar de pensar nele. Em como se sentiu. Os
cuidados dele confundiram seus sentimentos. O homem claramente não
estava tentando flertar com ela. Duvidava até que ele conhecesse o conceito.
Seu cérebro não parecia se importar, pois continuava produzindo nela
respostas descabidas, libidinosas e apaixonadas, que a deixava ardente.
Que safada!
Quem nunca tinha cobiçado um bruto que atirasse a primeira pedra.
Não seria a primeira mulher no mundo a se interessar por alguém
que não lhe dava a mínima. Também não era como se ela estivesse
interessada nele romanticamente. Collin a fascinava. Incitava sua
curiosidade. Queria escavar suas camadas para ver como ele era no núcleo.
Podia apostar que o interior era mais quente que seu externo frio.
Talvez fosse azedo.
Ou doce como mel.
Emme apostava no agridoce.
Contra toda prudência, ela estava inclinada a fazer dele sua missão.
Emma recordou-se de sua cabana precária. Ela não tinha certeza se
o homem passava por sérias dificuldades financeiras ou gostava de se punir.
Ela teria que pesquisar e sabia onde conseguir a informação.
Antes de sair, Emme conferiu o visual no espelho.
Usava saia de couro preta, blusa de gola alta e mangas cumpridas
da mesma cor, meia calças grossas e botas de salto combinando.
Tinha amarrado um punhado de fios no topo, imitando um coque, o
restante caia solto em ondas castanhas fluindo abaixo dos ombros. No rosto,
rímel e batom vermelho, sua marca registrada. Não passou perfume. Trish a
alertou sobre sua tolerância.
Pegou um casaco impermeável, as luvas, e decolou.
Embry a esperava do lado de fora.
Trish tinha insistido em mandar um carro, apesar de sua recusa.
Cumprimentos de Collin Del Rey.
Emme tinha lhe pedido para manter o ocorrido entre eles. Não
queria preocupar Trish. Ou que sua teimosia causasse algum atrito com
Caleb.
Meia hora depois de Collin sair, o casal apareceu.
Ela então tinha feito o caminho da vergonha.
— A maioria das pessoas que vem aqui tem treinamento para esse
tipo de clima e são acostumados a lidar com situações extremas. Os que não
são, são acompanhados por guias da reserva. Collin não te disse isso?
Envergonhada, Emme tinha limpado a garganta.
— Sim, ele disse — admitiu, consternada. — Nada disso é culpa
dele. Ele me salvou de mim mesma. Eu que fui cabeça dura.
Caleb tinha assentido, o olhar sério.
Esperava um sermão.
Mas foi Trish quem fez às honras.
— Eu te disse para tomar cuidado. Isso não é a cidade. Nem perto
do que conhece — ela tinha dito seriamente. — Por favor, não faça mais
isso. Sempre peça a alguém para acompanhá-la, se quiser explorar. Não
queremos que um momento de prazer se torne um momento de terror, se pode
evitar isso.
— Desculpe, Trish. Não irá se repetir mais.
Emme tinha abaixado a cabeça e enfiado o rabo entre as pernas.
Mesmo dizendo que não era nada grave, Trish queria levá-la para
casa. Ela não aceitou. Caleb, para acalmar a mulher, tinha chamado a
curandeira da reserva.
Emme era quase uma niilista, mas de bom grado aceitou a ajuda de
Sue. Que preparou uma pasta marrom gosmenta. Ela tinha enrolado uma faixa
ao redor de seu tornozelo e garantiu que no outro dia estaria novinha em
folha.
Na verdade, poucas horas depois, seu tornozelo estava bem
melhor.
Na casa de Caleb, Emme encontrou Trish e Lee na cozinha. Caleb,
como havia se acostumado, era o chef. Embry deslizou para sua mulher.
— O cheiro aqui está divino — ela disse, observando ao redor. —
Meu estômago roncou lá da porta.
— Espero que o gosto esteja melhor.
— Eu não tenho dúvidas, Caleb. — Ela escolheu uma banqueta e
continuou. — Sua comida é uma das melhores que já experimentei.
— Caleb é o chef — Lee brincou, arrancando uma risada coletiva.
Emme sentiu como se tivesse perdido uma piada.
— Como se sente? — Trish perguntou.
— Melhor. A pasta é milagrosa. Eu preciso agradecer Sue.
Caleb maneou a cabeça em aprovação.
— Ela irá apreciar sua gentileza.
— É o mínimo que posso fazer depois do que ela fez. Não foi nada
sério, mas normalmente levaria uns dias mais de molho.
— Os anciões tem seus truques — Caleb comentou.
Ela assentiu.
— Nisso eu acredito.
— Vinho ou cerveja? — Embry quis saber.
— Cerveja.
Embry colocou uma garrafa na frente dela.
Emme bebeu um longo gole, deliciando-se com o frescor amargo.
— Há algo que posso fazer para ajudar?
— Por aqui está tudo sob controle — murmurou Caleb.
— Pode colocar a mesa — disse Trish, não escondendo a ironia em
sua voz direcionada ao seu companheiro. — Caleb acha que não posso
levantar um copo.
— Estou cuidando de você, querida.
Trish bufou, o trucidando com um olhar mortal.
— Se eu não tomar cuidado, você é capaz de me alimentar na boca.
— Pensei que vocês já tinham passado dessa fase e estivessem em
um novo nível, onde ele limpa sua bunda e te dá banho — comentou Lee.
— Leah Diaz, eu vou te matar — Trish ralhou, lançando adagas com
seus olhos.
Lee sorriu amplo, as mãos levantadas.
— Brincadeirinha, sua boba.
Emme sorveu outro longo gole de sua cerveja.
— Caleb, Trish me disse que vocês fazem uma corrida de cães para
comemorar o início da primavera. — Ela pausou preocupada, olhando do
outro lado, onde Lee estava sendo acudida por Embry. — Está tudo bem?
— Lee se engasgou com o vinho — Embry disse, despreocupado.
Lee a fitou depois de um instante, pigarreando e sorriu amarelo.
— Estou bem. Desceu pelo lugar errado.
Emme desviou sua atenção para Caleb, virando os bifes na
frigideira e colocando mais. Como se já não houvesse um boi inteiro na
travessa ao lado.
— Sobre a corrida..., eu estava pensando se poderia participar?
— Sinto muito, Emme. Você perdeu isso. A corrida aconteceu
minutos depois de clarear. É tradição sair com o primeiro sinal de luz.
— Que pena! Eu adoraria ter participado.
Logo, mais pessoas chegaram. Trish a apresentou a todos. Os
homens pareciam tomar algum elixir. Eram altos e robustos. Possuíam uma
beleza feral incomum. E uma aura de perigo. E embora fossem bons colírios,
o único que importava não estava entre eles. Emme se decepcionou, infeliz
de repente.
Não esperava por isso, muito menos pela explosão de alegria
quando seu homem fez sua entrada no momento em que todos se dirigiam à
mesa.
Collin se sentou do outro lado, longe dela.
Teria oportunidade de agradecê-lo depois que o jantar acabasse.
Ela se sentia boba, o coração galopante. O escrutínio do homem a
deixou mais nervosa. Desconcertada com as próprias reações.
— Pegue esse. — Trish empurrou a travessa com bifes quando ela
se adiantou para pegar a que estava a sua esquerda. — Os homens gostam
dos bifes quase crus. Esses daqui estão no ponto.
— Ainda bem. Não gosto da minha carne viva.
Emme espetou um grande bife e o juntou ao purê de batatas, ao
milho cozido, uma porção generosa de legumes e salada de feijão. Havia
uma fartura na mesa, além de tortas e bolos na cozinha para a sobremesa, que
Trish tinha pedido na P&C.
A refeição foi tranquila, com conversas paralelas e risadas.
Depois todos se sentaram ao redor. Collin estava lá, mas distante,
ainda que parecesse atento a conversa que Embry tinha com ele, uma cerveja
na mão.
Emme decidiu ignorá-lo e se voltou para a curandeira.
— Tenho que agradecer pelo que fez por mim. Sua pasta milagrosa
deixou meu tornozelo novinho em folha.
— Meu prazer, jovem.
— Já experimentou usá-la em outros ferimentos?
Sue deu uma risadinha.
— Claro. É uma receita antiga passada de geração em geração.
— Não acho que você me daria a receita, hein? — ela articulou,
tentando persuadir a mulher mais velha. — Eu poderia precisar onde moro.
A expressão de Sue era plácida. Seu olhar permaneceu em Emme
por um momento efêmero que pareceu durar horas, então ela deu batidinhas
no joelho da jovem.
— Não acho que vá precisar.
— Eu poderia.
— Estarei aqui então.
— Não moro aqui. Voltarei para Nova York em breve.
— Não acho que você está indo a qualquer parte.
Emme franziu a testa.
— O que quer dizer?
— Não se preocupe. — Sue se voltou para os anfitriões, e Emme
pensou que ela estava lhe ignorando deliberadamente. — Obrigada pelo
jantar. Estava tudo delicioso. Não tenho dúvidas de que teremos uma boa
temporada este ano.
— Está cedo, Sue. Fique mais um pouco — Trish pediu.
— Não para uma velha como eu, menina. Preciso de minhas horas
de sono.
— Obrigado por vir, Sue.
— Meu prazer, Caleb.
— Eu te acompanho.
Contrariada, Emme observou Caleb levar a velha bruxa até a porta.
Estava tentada a ir atrás da mulher e exigir que se explicasse.
— Então, Emme, o que você faz? — Brad perguntou em tom
galanteador.
Ela mirou o homem, que parecia muito interessado.
Ele tinha um sorriso fácil, desses charmosos que partem os
corações de garotas indefesas, os cabelos em tons dourados diferente do
loiro sujo de Collin.
Era bonito e um conquistador nato.
— Sou designer de jogos na ED Games. Basicamente, projeto e
desenvolvo games para computadores, celulares e videogames.
— Porra, não brinca?
O olhar do homem brilhava com admiração, transformando suas
feições. Olhos claros e sinceros, quase podia enxergar sua alma através
deles. Bem diferente da profundeza marinha de Collin, que tinha uma
barreira gélida, guardando seu interior em uma aura de segredo e mistério.
E lá estava ele, parecendo à vontade em uma conversa com Embry e
Lee. Ela até podia jurar que viu a sombra de um sorriso quando a mulher
disse algo. A visão causou um gosto estranho em sua garganta e um
desconforto no estômago.
Emme se forçou a prestar atenção no homem ao seu lado, que tinha
substituído o ar galanteador e intensidade masculina pela empolgação de um
garotinho.
Estava acostumada a transformação drástica nos homens quando
revelava seu ofício. Enquanto o tipo ao seu lado danava a falar. Ela manteve
uma expressão serena e se retalhava por dentro. Não devia estar
desconfortável. Não importava com quem Collin falava, se era gentil com as
outras mulheres e não com ela.
— Você daria um bom testador beta de nossos novos jogos — ela
comentou em algum momento só para preencher seu próprio silêncio.
— Está falando sério?
— E ainda ganhar pra isso — assinalou, com um sorriso honesto.
— Não me tente, fêmea, que eu aceito.
— É divertido, mas não deixa de ser um trabalho.
— Escolha algo que tenha prazer em trabalhar e não trabalhe um
dia.
A sobrancelha delineada fez um arco.
— Confúcio, uh?
— Não caia na lábia dele, Emme — disse Caleb. — Brad já tem
trabalho demais pra lidar. E ele é um resmungão. Em algum momento, ele
iria pedir demissão.
O tipo não contestou. Ele se recostou, parecendo ainda mais
relaxado no sofá, o sorriso fácil esticando seus lábios.
— Sou obrigado a concordar com Caleb. Ficaria maluco se tivesse
que ficar preso em quatro paredes, a não ser que tenha uma fêmea envolvida
— ele disse em tom de paquera. — Sou um homem selvagem.
Emme cruzou as pernas, as mãos pousadas no joelho e olhou de
lado.
— E o que exatamente você faz, Brad?
— Em quatro paredes? — Ele estava flertando descaradamente.
Emme balançou a cabeça, rindo.
— Seu trabalho.
— Faço guarda nas fronteiras da reserva.
— Isso deve ser perigoso. Caleb falou sobre algumas tentativas de
madeireiros e de caçadores ilegais para invadir a reserva, e dos beberrões.
— Nós somos perigosos.
O lampejo ameaçador nos olhos claros não deixou dúvidas sobre
quem era o predador ali. Então, sumiu. Substituído por um sorriso
brincalhão.
— E aí, Emme, o que está achando do inferno de gelo? Soube que já
teve uma aventura de arrepiar os cabelos em nossa selva gelada.
Ela desviou o olhar de Brad, percebendo que Lee tinha deixado
Collin e Embry conversando, e se mudado para uma poltrona perto.
— Meu espírito aventureiro foi mais forte que meu bom senso.
— Graças a Deus que Collin estava lá. Já pensou se um lobo mau
aparece?
Ela sentiu o olhar de Collin nela, queimando, e lutou para manter o
seu afastado.
O bufo de Trish a fez sorrir para a ruiva.
— Eu aprendi a minha lição — ela disse. — Nada de brincar de
chapeuzinho vermelho mais.
Trish gemeu. Lee abriu um sorriso enorme.
— Não sabe o que tá perdendo.
— Cale-se — Trish ordenou.
— Não está mais aqui quem falou — Lee murmurou, podia ver o
brilho travesso no sorriso por trás da taça quando ela ingeriu mais vinho.
— Eu vou querer ouvir isso?
— Definitivamente, não.
Lee riu, revirando os olhos e mirou Emme.
— O que está achando de Snowville?
— Estranho. É um pouco surreal. Lindo, mas surreal.
— Compartilhamos do sentimento — disse Lee. — Para nós, que
não nascemos aqui, até nos acostumarmos, nos sentimos em uma realidade
paralela.
— Não acho que poderia me acostumar.
— Onde está aquela Emme que é amante da noite?
Ela olhou para Trish, que tinha Caleb ao lado, a mão acariciando a
barriga inchada.
— Noites agitadas, você quer dizer? — E acrescentou. — Gosto da
calmaria também, mas isso aqui. Não acho poderia me acostumar.
Por alguma razão randômica, seu olhar buscou Collin, pegando em
flagrante. Seus belos olhos se fixaram nela. E, por um átimo, era como se só
eles dois existissem.
Houve uma explosão de energia entre eles.
O calor nasceu em sua cabeça e desceu, enrodilhando. Endureceu
seus mamilos, ondulando para baixo até envolver seu sexo, preparando-a.
Emme respirou fundo, apertando as pernas.
Ela engoliu, envergonhada com sua reação descontrolada. E, em
seguida, se forçou a quebrar o encanto quando algo a estremeceu por dentro.
Baixou a cabeça, as bochechas quentes. O coração retumbava com força.
Percebeu que respirava pesado. Logo tratou de recobrar o controle.
—... poderíamos fazer isso, que tal? — Lee estava dizendo.
— Eu topo. E você, Emme?
— O quê?
— Querida...
— Nem tente — advertiu Trish para Caleb.
— Qual o problema?
— Nenhum. — Trish sorriu com animação, ignorando seu homem.
— Lee estava dizendo que há um pub na cidade. Podemos ir lá antes que os
turistas comecem a chegar nos próximos dias e ter o lugar só pra nós.
Caleb não parecia feliz com isso.
— Quando quiserem ir, é só me chamar — Emme disse.
— Gosto de gente assim — Lee se empolgou. — Sem frescuras.
Emme se levantou e foi para a cozinha. Tinha bebido três cervejas.
Não era fraca para bebida, gostava de se hidratar. E também queria fugir da
atenção e da tensão pulsando ao seu redor, que ela jurou a si mesma que era
loucura. Todos estavam se divertindo, conversando e rindo. Estavam entre
amigos. Porém, havia algo lá, ameaçador, vibrando no ar. Algo que não
podia identificar. Que fez todos tensos quando Brad flertou com ela
descaradamente.
Em algum momento, ele retraiu, ignorando-a e ficou mais sério.
Ela encheu o copo com água e bebeu, baixando-o para a pia, em
seguida.
No instante em que se virou, Collin invadiu o espaço indo direto
para a geladeira. Ela deveria se retirar. Não se incomodar com sua
indiferença proposital, mas incomodou. Estava decidida a terminar a noite
bem.
Dois passos foi o mais longe que ela conseguiu ir.
Emme girou em seus calcanhares.
Ele estava olhando para ela. Sua quietude e imobilidade eram
inquietantes. Ele parecia ameaçador. Seus olhos não deixaram os dela e ela
sentiu a queimadura de seu olhar até a medula.
Os sons de conversas enfraqueceram quando a respiração ficou
presa na garganta, as batidas de seu coração ficando mais fortes.
Faíscas douradas saltavam dos intrigantes olhos do homem.
A antecipação em seu rosto era intensa, tão perigosa, tão
possessiva. Ninguém nunca a olhou assim antes. Com posse. Sentiu uma
imensa satisfação.
Emme piscou, ainda enredada pelo fascínio.
Sua voz não era mais que um sussurro cálido e arrastado.
— Não consegui agradecê-lo pelo que fez por mim naquele dia.
Quero que saiba que independente de nossa animosidade, eu apreciei muito
o que fez.
Collin bebeu de sua cerveja, o movimento da sua boca tocando no
bucal, a ondulação de sua garganta quando ele engoliu, sem tirar os olhos
dela, fez sua própria garganta seca. Atingiu algo dentro dela. Emme parecia
não se dar conta do próprio deslocamento quando o impulso a levou até ele.
Ela estendeu a mão, tirando a garrafa das mãos dele. E, em seguida,
bebeu um generoso gole, lambendo os lábios e devolveu a garrafa para ele.
O olhar pesado de Collin coloriu suas bochechas.
— Obrigada, eu estava precisando.
— Não te ofereci — ele disse, a voz rouca.
— Eu tomei isso, de qualquer maneira.
— Essa é você, tomando coisas, entrando onde não é permitido.
Ela deu um passo, muito perto, sua frente raspando no peito dele.
O calor de seu corpo penetrava a blusa que ela usava.
Emme cheirou, quase não podendo resistir ao súbito desejo de
afundar o rosto em seu tórax e cheirá-lo até ficar intoxicada do perfume dele.
Especiarias escuras mesclada a luxúria e desejos proibitivos.
Collin cheirava a homem, sensualidade e fome.
Batendo os cílios para ele, ela disse:
— Essa sou eu, Collin. Uma garota travessa.
Ele agiu de forma inesperada, limpando o sorriso de seu rosto. Sua
surpresa se transformou em ofego quando sentiu a pegada gostosa, a
possessividade de seus dedos agarrando seu cabelo em punho, as pontas
escovando o couro cabeludo. Parecia que ele estava acariciando e
dominando, ao mesmo tempo. Ele puxou sua cabeça para trás e ela se deixou
ir, derretendo até os ossos, com o sopro aquecido da respiração dele em sua
pele. Espalhou calor por seu corpo. E quando ele correu a ponta do nariz em
sua garganta, enviando faíscas de prazer sob sua coluna, ela quase gozou
bem ali.
Collin ronronou, puxando uma respiração funda.
— Esse cheiro... esse maldito cheiro — ele rugiu, a voz deformada
pela fúria possessiva, cheirando, como um viciado em frenesi.
Emme esqueceu onde estava, esqueceu seu próprio nome.
Sua mente apagou todo o resto, reduzindo suas percepções aquele
momento. A Collin. Como se ele fosse um chamariz. Ela esticou as mãos
cegamente e agarrou os flancos dele, os dedos torcidos no tecido de sua
camisa. Ela podia sentir a dureza de seu corpo. Sua força. E ferocidade
masculina.
Seus seios incharam, os bicos atiçados e a boceta lubrificada.
Incitou o corpo dela a querê-lo desesperadamente.
Ele manobrou seu cabelo, e ergueu as pálpebras. Ele tinha o rosto
sobre o seu, os olhos iluminados de uma maneira sobrenatural. Ainda era
ele, mas era como se houvesse mais. Cativou. Seus olhos preguiçosos se
conectaram com os dele. Ela estava presa em seu magnetismo, no abalo
sísmico que ele provocou em suas profundezas. Sua necessidade cresceu
com o pulsar de sua boceta.
Ele desviou a atenção para os lábios dela e ela os lambeu. E
assistiu o desejo queimar em olhar azul. Escaldante. Em chamas.
Ela queria o beijo. Precisava.
Ela quase implorou.
Em vez do beijo, ela foi surpreendida com seu afastamento.
Emme balançou, desconcertada e olhou ressentida. Ele respirava
fundo parecendo tão atordoado como ela. Lutando contra a atração.
— Não sei porque não gosta de mim. Diferente de você, eu tenho
motivos para não olhar em sua cara, mesmo que seja um colírio para minha
alma.
De onde raios veio isso?
Limpando a garganta, Emme continuou, decidida a finalizar seu
raciocínio. Não estava retrocedendo como uma covarde diante de um
desafio.
E ela não tinha dúvidas, Collin era um desafio em letras garrafais.
— Você é uma espécie de homem das cavernas muito atraente.
Realmente sexy, Collin. Muito mesmo. Mas o que tem de belo, tem de
amargo.
Ela se calou ao perceber que estava se fazendo de boba.
Ele seguia olhando, analisando, a desnudando. Não era sexual. Era
mais profundo. Íntimo. Confundindo seu cérebro e as palavras em sua língua.
Emme mordeu a língua, forte.
Collin se moveu, os olhos desceram para os seus lábios. A
expressão dele mais apertada, o contraste curioso e irritadiço.
Ela engoliu a saliva com o sangue, ignorando o latejar.
— Se permitir me conhecer, vai ver que sou uma garota legal.
— Não há nada para conhecer.
— Me conhece, hein?
— Não faço questão.
Emme piscou desconcertada e se afastou, com os braços em volta
de si.
Ele exalou forte, murmurando algo que não compreendeu, parecia
uma maldição. Ela viu seus pés se aproximarem invadindo seu espaço
pessoal.
Por um momento, ela pensou que ele iria tocá-la, mas sua mão caiu
antes que fizesse contato com a sua pele. Ele fechou os dedos em punhos.
— Eu sinto muito, Emmanuelle. Não queria ser grosseiro e ferir
seus sentimentos. É só que você...
— Sou inspiradora — ofereceu, fitando com um sorriso tímido.
Ele sorriu. Não foi nada grande e esplendoroso. Era tímido e
comedido, rápido, mas o suficiente para sua expressão suavizar. E, Deus, ele
era ainda mais bonito sem as marcas agressivas sempre vincando suas
feições carregadas.
— Não estou disponível.
— Oh.
O ego do homem era colossal.
— Não estou interessada em você, Collin.
Ele assentiu sem esboçar reação.
Ele se adiantou para a saída.
— Por favor, não se aventure mais pela floresta. É perigoso.
Ela assentiu.
— Boa noite, Emmanuelle.
Ela o assistiu partir, tomada pelo vazio repentino.
De repente, Emme não estava mais afim de socializar.

xXx

Collin mudou numa explosão. O leão saltou se infiltrando na


floresta, inquieto e miserável. Desta vez, a corrida não fez nada para limpar
sua mente.
No entanto, a dor, sempre presente, estava dormente.
O que havia naquela fêmea que o intrigava era um mistério, que ele
não sabia se estava disposto a desvendar. Ela o aborrecia tanto, que estava
tenso na maior parte do tempo, cerrando os dentes, o rugido do felino preso
na garganta.
O leão estranhamente se recolheu, aquietando-se.
Emmanuelle era tudo que ele não gostava, tudo que não queria.
Ainda assim era tudo que não podia deixar de pensar. Uma semana
e ela já tinha povoado sua cabeça, se infiltrado nas profundezas de seu ser.
Ela era a primeira coisa em sua mente quando acordava e a última antes de
dormir.
Ela esteve espreitando seus sonhos. Seu querer e o desejo libidinal,
que ele não sabia que ainda possuía. Deixando-o duro cada vez que pensava
nela. Seria fácil ignorar, se ele não pensasse nela o tempo todo.
Ela e sua boca espertinha, os grandes olhos de corça, que deixava o
leão eufórico, louco para caçá-la e se acasalar com ela. A atitude atrevida
que o fazia fantasiar coisas que não devia, mas, ainda assim, elas estavam lá.
Provocando sua aspereza e intensidade sexual.
Brincando com ele e seu interesse.
Tão diferente de Maria que era doce, delicada e tímida. Uma fêmea
incapaz de ferir uma mosca ou amaldiçoar. O sorriso brilhante capaz de
ofuscar o sol. Ele amava a calmaria em sua voz uniforme, até seus rosnados
arrancavam um sorriso dele. Inchava seu coração. Ele sentia falta dela, de
seu ronronar fofo.
O Criador lhe tinha concedido uma prometida. Uma fêmea tão
digna, que fez dele um macho honrado e decididamente cativo, quando se
acasalaram.
Ainda assim, não podia tirar da cabeça a residente honoraria de
Snowville.
Sua imagem, seu nome, tinham sido esculpidos em seu cérebro.
Seu cheiro ainda estava em seu nariz; a doce e rica fragrância de
seu calor, como um perfume insidioso de tentação, provocando seus
sentidos.
Havia algo nela. Um magnetismo descomunal que o atraia para
perto, apesar de seus melhores intentos para ignorá-la.
Collin sempre tinha declinado os convites de socialização, exceto
os formais, que eram parte de suas responsabilidades como chefe-executor.
Desta vez, houve algo diferente.
Emmanuelle.
Collin não queria ir, mas lá estava ele, arrumado para um momento
que não curtia, o leão ronronando de prazer, com uma sensação nova de
contentamento que não estava acostumado e o fazia se sentir estranho em sua
própria pele. Estava até um pouco ofegante pela ideia de revê-la.
Disse a si mesmo que era por causa do pé, pela culpa que sentia por
ela ter se machucado. Ele tinha se certificado de que Sue cuidaria bem dela.
Collin não podia ser indiferente a fêmea humana.
Ele tinha gostado da proximidade, de como Emmanuelle se
encaixava em seus braços. E como ela relaxou contra ele, confiando nele
para cuidar dela. Ele ainda podia sentir a mão dela em sua pele, a aderência
agradável, os dedos em seu cabelo. Não tinha sido um toque sexual. Isso
não o impediu de reagir. O contato o lembrou que ainda era um macho com
todas as suas partes funcionando. Choque o abalou. Ele não tinha tido uma
ereção desde a perda da companheira. E, de repente, estava duro o tempo
todo. Tinha estado tão chocado, e depois furioso com a reação violenta de
seu corpo, que correu no segundo seguinte em que a deixou segura em seu
chalé.
Collin tinha se fustigado pela culpa, rejeitado a atração, o desejo de
ir até ela. Espreitando-a. E no minuto que recebeu o convite, foi perda total.
Ficou ansioso pela possibilidade de ver Emmanuelle mais uma vez.
Mais que isso, ele prestou atenção nela. Gostou de vê-la comer. Ela
tinha bom apetite. A audição apurada captando suas declarações sobre o
trabalho e sua breve partida. E se enfureceu com Brad. Collin já estava puto
o suficiente de ver os machos cercando-a. Ela estava tão linda e cativante.
Não podia culpá-los. Isso, no entanto, não lhes dava o direito de olhar para
ela. De flertar com ela. O leão enlouqueceu, e se fosse franco, ele também. O
súbito impulso de saltar no oponente e lutar pela fêmea quase o rasgou no
meio. Ele se conteve, enraizado no lugar, mas foi ineficaz quando o rugido
furioso do animal escalou sua garganta numa tentativa de vir à tona e
demonstrar aos machos cercando-a que eles não tinham direito a ela. O ato
falho trouxe o som baixo demais para que um humano escutasse, mas o
bastante para que um shifter identificasse.
A advertência felina contaminou o cômodo com uma ameaça letal.
Sua essência intensificando preencheu o ar.
Ele tinha dado um foda-se para os olhares que recebeu. Muito
satisfeito com ele mesmo quando Brad recuou e os machos afastaram os
olhares dela. O leão ainda em alerta, divertindo o homem. Indo até a
cozinha, não porque Emmanuelle estava escondida lá, senão porque queria
outra cerveja.
O atrevimento da fêmea, tão perto, bebendo de sua garrafa, a
tentação de beber em seguida para ter o mínimo do gosto dela. Quando, na
verdade, o leão ansiava ter o gosto real de seus lábios gelados com o toque
amargo da cerveja.
Emmanuelle era indomável, uma força da natureza.
Foi duro resistir ao impulso. De beijá-la quando a teve sob seu
domínio, com o cabelo que o fascinava ao redor de seu punho. Ele não sentiu
resistência nela. Sua entrega e confiança tornou sua própria luta mais árdua.
Ela estava entregue, reagindo da maneira mais deliciosa.
Não podia se lembrar qual foi a última vez que ele tinha lutado tanto
para se manter no controle. Mas fez, e então, correu.
Mais um minuto lá e ele teria se rendido a tentação.
Fugiu dela, dele próprio, das vontades incontroláveis fazendo
mingau de seu cérebro. Coisas que não compreendia e, tampouco, queria
analisar.
No covil, Collin permaneceu na forma animal, e foi ao pé da cama.
Com a pata, ele puxou a caixa debaixo da cama e usou a unha letal
para empurrar a tampa aberta. Uma melodia suave e delicada fluiu. O animal
caiu, pousando a enorme cabeça sobre as patas. Os olhos azuis reluzentes
com lágrimas focados na caixinha de música.
“Perdão, amada” ecoou em sua mente.
8
DANÇA COMIGO

Emme se olhou no espelho e sorriu largo. Parecia incrível. Uma


arrasadora de corações, exceto que não havia nenhum homem para arrasar,
salvo… Ela sacudiu a cabeça, recusando a seguir por essa linha. Todavia,
era difícil frear os pensamentos inoportunos em direção ao seu desafeto,
quando ele estava do lado de fora em uma mesa com Embry e Caleb.
As garotas tinham conseguido organizar seus horários, e lá estavam
elas, no único point noturno da cidade. Lee e Trish apresentaram suas
colegas, Tabby e Kelly. Os homens as acompanharam, mas deram espaço,
ficando em outra mesa para que elas pudessem ter um momento privado. As
mulheres não pareciam se importar. Emme, tampouco. Só estava chocada por
Collin estar lá também. Ela não imaginou que curtia esse tipo de ambiente,
mas lá estava ele num jeans escuro e camisa xadrez vermelha. Sexy demais.
O pub tinha um estilo country, com músicas do seguimento, algumas
agitadas e outras mais leves e românticas. A iluminação interior era baixa,
criava um clima intimista. Havia cerveja artesanal maravilhosa e um touro
mecânico que ela e as garotas, com exceção de Trish, se aventuraram, rindo
muito.
O local não estava cheio.
Os locais mais velhos pareciam mais contidos, tomando suas
bebidas e curtindo alguma dança na pista improvisada. Enquanto os mais
novos eram mais barulhentos. Kelly comentou que havia uns poucos
forasteiros entre eles.
Emme retornou para o salão consciente do rastreio dos olhos
gélidos, que tinham o dom de acender seus sentidos e inflamar sua libido.
O homem a detestava. Estava claro em sua fala e comportamento
tenaz, mas não podia afastar o olhar quando ela estava em cena.
Collin a olhava como se o intrigasse.
Como se a odiasse.
Como se a desejasse.
Emme gostou. Não, espere. Ela amou.
Seu ego estava feliz e bem alimentado com a atenção do homem
irritante.
Ela pegou mais uma cerveja, se juntou as mulheres e se envolveu
numa conversa sobre viagens e Nova York. Uma música lenta começou a
tocar e Caleb surgiu, puxando Trish para uma dança. Emme observou o
casal, suspirando com derretimento. Caleb estava demonstrando ser um
homem acima da média, extraordinário mesmo. Ela torcia para que o futuro
fosse gentil com eles.
Embry e Lee também estavam lá envolvidos em seu mundinho.
A próxima música tinha um ritmo mais animado.
Caleb devolveu Trish a mesa, marcando sua posse com um beijo
obsceno.
Emme seguiu para a pista e se divertiu com Kelly e Tabby,
ensaiando passos country. Rindo dos erros. Em algum ponto, o chamado dele
incendiou seu corpo.
Emme estava decidida a ignorar.

xXx

Collin observou a cena se desenrolar do outro lado do salão.


Ele ainda não entendia porque estava lá, mas também não conseguia
ir embora. E se recusou a analisar os porquês. Embora os machos de seu
bando quisessem roubar um pedaço da sua mente até que cogitou desafiá-los.
Ele só estava lá e ponto final.
Ele não tinha se oferecido se juntar a eles.
Ele nem queria estar ali.
Mas sabendo que Emmanuelle estaria lá, Collin não pôde se conter.
A informação tinha grudado em sua mente. E, para seu total espanto e
desgosto, ele não pensou. E fez o que nunca fazia. Desceu para a cidade para
uma cerveja. Estava fazendo muito disso, coisas que não fazia.
Collin decidiu que precisava de ares diferentes, uma cerveja
gelada. Que fosse no mesmo lugar que Emmanuelle estaria, pura
coincidência.
Era o único bar da cidade, afinal de contas.
Mentiroso.
Em geral, Collin tinha uma lista. Era entregue a uma das fêmeas do
bando, que ficavam encarregadas da tarefa, para fazer suas compras. Não
que precisasse de muito, uma vez que praticamente vivia da caça.
Todavia, aqui estava ele, apanhado pelo desconforto.
Os machos ao seu redor não estavam fazendo gracinhas mais. Eles
sabiam que era melhor manter seus focinhos longe de seus assuntos se
quisessem ter uma noite agradável com suas fêmeas prometidas.
Ele próprio tinha querido se chutar quando se viu no pub.
Ele tinha bloqueado os sons excessivos e se concentrou. Planejou
tomar uma cerveja em um canto afastado dos dois machos acasalados a duas
mesas de suas fêmeas e daquela escandalosa, e depois partir. Sem sucesso.
Claro que os machos sentiram sua presença antes que ele pudesse girar os
calcanhares e dar o fora. Então Caleb tinha caminhado para ele.
— O que faz aqui, Collin?
— Não é da sua conta — ele dispensou em voz baixa, o rosnado no
fundo inconfundível, enquanto levava a cerveja aos lábios.
— Recolha as garras, leão — Caleb, por sua vez, tinha advertido.
— Eu só estou curioso. Você não tem o costume de se misturar com os
humanos.
— Eu só vou tomar uma cerveja e partir.
Caleb não tinha contestado, mas também deixou claro que não
acreditava.
— Junte-se a nós. — Não era um pedido, embora parecesse.
Collin não queria causar uma cena, então tinha caminhado até a
mesa, ignorando o olhar estupefato do beta.
Seus dentes estavam apertados desde que entrara lá.
A bebida não fazia nada em seu organismo. Diferente de um
humano, ele precisava de muito mais que quatro cervejas para se embebedar.
Shifters tinham seus próprios drinks e cerveja artesanal.
— Espero que não tenhamos nenhum problema aqui — Caleb
alertou quando se juntou a ele, trazendo-o das memórias recentes para o
presente.
Embry permanecia na pista com sua fêmea.
Collin baixou sua cerveja e cerrou o olhar para o alfa.
— Sei que andou rondando Emme, Collin.
— Ela é uma estranha — ele disse, mantendo a voz neutra. — Meu
papel é garantir que ela não seja uma ameaça.
— É por isso que está aqui?
Collin bebeu mais um gole, evitando a conversa.
— Cara, não sei o que está acontecendo. Mas, obviamente, algo
está acontecendo entre vocês. Caso queria conversar, me procure.
— Estou bem.
— Só estou dizendo. Mais uma?
Collin olhou para Caleb e assentiu.
Melhor ter a boca ocupada do que responder o que nem ele sabia.
Ele assistiu a fêmea humana enquanto seu felino rugia para ir até
ela. Ele queria a aproximação, se embebedar de seu cheiro, da sensualidade
natural dela, que estava sacudindo seus sentidos e testando seu controle. O
leão, e se fosse honesto, ele próprio, ansiava pelo contato pele a pele.
Collin a estudou de longe. Reconheceu vários traços nela, coisas
que ele não deveria, mas adorava. Sua vibração, o sorriso fácil nos lábios
pintados de vermelho sangue capaz de enviar calor em sua corrente
sanguínea. Uma boca, que rapidamente se tornou a protagonista das fantasias
eróticas envolvendo seu pau. Olhos de corça sempre o buscando, tentando
dissuadi-lo a caçá-la.
Neste ponto, Collin deveria ter disciplina suficiente para manter o
controle, mas era inútil. Ele não podia parar as reações de seu corpo...
... ou de sua mente criar fantasias e seu coração pulsar mais forte.
Ele era refém do erotismo de Emmanuelle.
Das curvas generosas de seu corpo sexy.
Ela era delicada, voluptuosa, feminina.
Emmanuelle tinha sido escandalosa com sua risada alta, distribuído
sorrisos que eram dele. E como se estivesse disposta a testar seus limites,
ela se entregou a pista de dança. Fluidez e graça feminina. Ele assistiu o
movimento de seu corpo, o balanço sensual de sua bunda apertada,
rebolando. Os braços para o alto, e depois serpenteando o corpo. Confiante.
Ela parecia presa em seu mundo, alheia a atenção que atraia para si dos
machos ao redor, que não tinham o direto de olhar para ela daquela forma.
Com cobiça e fome masculina.
Ele cerrou o olhar observando um macho humano se aproximar.
O leão rugiu e lutou, furioso para ser libertado e desafiar o outro
macho.
O impulso quase o colocou de joelhos.
Com o corpo tenso e a mandíbula travada, Collin assistiu a fêmea
humana se entregar a música, ignorando o macho dançando com ela.
Caleb retornou, entregando uma nova cerveja para ele.
Collin bebeu metade sem desviar os olhos de Emmanuelle.
Ele lutou contra o aperto que se avultava em seu peito, a fúria
escaldante do leão querendo sangue, conquistar território e marcar sua
posse. Minha. O desejo assassino de desmembrar o outro macho, tocando o
que era seu, quase o fez lançar a cabeça para trás e rugir sua cólera. E se o
tipo não tirasse as mãos dela, ele teria que matá-lo. Simples assim.
“Collin?” O chamado do alfa ecoou dentro de sua cabeça.
Ele girou a cabeça, o felino fixou Caleb.
— Acalme-se — Caleb ordenou. — Não faça nada estúpido.
Collin respirou fundo, anulando os odores discrepantes de suor, de
perfume, os cheiros de comida, de cerveja e de tabaco. Isso abrandou o
animal, as garras retraíram. E ele exalou devagar, mais controlado.
Uma olhada em Emmanuelle, e Collin decidiu que era o bastante.
O impulso, uma onda de violência, fez seus membros reagirem. Ele
se elevou em sua altura, quase 1,90 de altura, e caminhou direto para ela.
Seu andar era seguro, com graça fluída e poder masculino. Raiva.
Pura raiva. O olhar concentrado, a sede desenfreada pela luta, pela vitória.
Ele descartou o chamado fraco em sua mente. Surdo para qualquer
raciocínio que não fosse sua mente trabalhando rápido, tramando a melhor
estratégia para derrubar seu oponente e dominar a presa, até que ela se
submetesse.
Nossa. Toda nossa.
Estava em uma missão.
Todo o resto foi excluído.
Uma fêmea humana entrou na sua frente, agarrando seu braço. Não
provocou mais emoção do que o toque de um parente. Ele olhou para a
mulher 30 centímetros mais baixa, dando-lhe um sorriso fácil. E depois para
cima, flagrando o olhar de Emmanuelle nele.
Eles ficaram presos um no outro por um momento inexplicável,
eterno.
E, de repente, tudo voltou.
O ruído baixo da fêmea era irritante. Ele a olhou, indiferente.
— Estive olhando para você, ali, solitário, a noite toda e me
perguntando se gostaria de ir a minha casa? Não moro longe. Tenho
cerveja... E algo mais forte, se quiser. Podemos ficar mais à vontade.
Ela tinha um olhar sedutor, o sorriso cheio de malícia. Deu-se conta
de que ela corria o dedo em seu peito numa tentativa ordinária de parecer
sexy.
Collin esticou a mão, segurando o pulso feminino.
— Não me toque — rosnou ele, severamente.
— Querido, eu não me importo de não tocar desde que você me
toque.
— Pena que ele já tem em quem tocar — Emmanuelle disse.
Surpreendendo-lhe pela aproximação sorrateira. — E essa não é você. Vaza.
Collin endureceu, incapaz de falar.
Chocado e, francamente, perplexo com a posse em seu tom, sua
postura. Marcando seu domínio sobre ele abertamente. Calor espalhou por
seu peito. Ele lutou contra o sorriso enquanto o leão rolava, ronronando para
ela.
Emmanuelle deu uma risadinha e puxou o braço, que tinha
envolvido em sua cintura, declarando sua posse. Enquanto dizia:
— Você, hein, Collin Del Rey? Destruindo os corações de pobres
garotas inocentes. — Ele quase a puxou de volta, o impulso irritado. Ela não
se afastou completamente, girando e jogou os braços em seu pescoço.
O felino ronronou ainda mais, com a sensação das mãos dela em sua
nuca. O homem passou de perplexo para fascinado ao vê-la sorrir.
Ela tinha covinhas adoráveis, o olhar embriagado.
A visão dela o fazia prender a respiração.
— Me deve uma dança por te salvar de uma cilada.
Diferente da atenção que recebeu da outra fêmea humana, Collin
não se irritou com Emmanuelle ser direta e estar flertando com ele. Deveria,
no entanto.
Então algo inesperado ocorreu, ele sorriu.
Não era um grande e confortável sorriso, mas, pelo menos, fez seus
traços tensos relaxarem. E a fêmea pendurada nele, suspirar afetada.
— Uau, ele até sabe sorrir.

xXx

A música mudou de novo para algo lento, atraindo casais para a


pista.
Embry e Lee, assim como Caleb e Trish estavam dançando.
Emme não podia acreditar no que tinha feito. Ela tinha perdido o
controle quando viu a outra mulher cercando Collin, as mãos nele. O desejo
súbito de arrancar os olhos da mulher queimou dentro dela. Em chamas.
Derreteu em sua corrente sanguínea e lhe deu um gosto amargo na boca.
Raiva crua. Insidiosa.
Ela tinha pensado que Collin estava indo para ela, então a outra
surgiu.
Deus, estava se iludindo como uma tonta.
Possessiva e ciumenta.
Mas não podia parar. Nem se sua vida dependesse disso. Era olhar
para o tipo, que seu coração começava a florear. Emme gostava de floreios,
de imaginar uma vida cheia de amor com alguém que estaria para sempre ao
seu lado.
Ela não gostou de outra mulher perto dele.
Ela o salvou de uma chateação e ele lhe devia pelo menos uma
dança.
Eles mal se moviam, mas Emme não estava desistindo.
— Collin, você pode colocar suas mãos em mim.
Ele olhou para baixo, os olhos azuis escurecidos. Sexy. Formidável.
E seu cheiro... Santo Deus! Ela não queria nada mais que esfregar o rosto em
seu peito duro como aço. Respirar ele a noite toda, até que seu odor a
cobrisse, gravado em sua pele, dentro dela. Emme não queria parecer
desesperada por sua atenção, mas era difícil quando ele parecia gato
desconfiado.
Ela riu, tentando parecer casual e não que estava ofegante por ele.
— Numa dança, geralmente, os parceiros se tocam.
— Não estamos dançando.
— Eu estou e você está comigo.
— Não somos companheiros.
— Somos parceiros de dança. Que tal?
Ele protelou, zangado.
Deus, como o homem era difícil.
— Vamos lá, Collin. Não é um casamento. É só uma dança.
— Eu não danço.
— Eu danço — ela disse. — Mas, se não quer, arrumo outro...
As mãos dele estavam nela antes que pudesse concluir sua frase.
Grandes e quentes mãos calejadas espalmaram suas costas de uma forma
estranha e desajeitada, quase como se ele não soubesse o que fazer. O que
era ridículo. Esse homem gritava experiência, força e controle. Ele sabia o
que fazer, sempre observando, avaliando. Ele era um predador inteligente.
Collin, às vezes, a fazia se sentir como uma presa na frente de um
leão.
Sua presença, sua intensidade e força, tão atrativos, convidavam a
deslizar mais perto e se aconchegar. Emme relaxou contra o peito dele.
— Melhor assim.
Queria falar, mas sabia que, se começasse, iria quebrar a trégua
entre eles. Então fechou os olhos. Alan Jackson tocava no jukebox. Ela
inspirou fundo. O perfume dele, um aroma rico com especiarias encheu seus
pulmões. O calor fez uma erupção em seu sexo. Inundando com necessidade.
Sua pele pontilhou com o aperto dos braços dele ao seu redor.
O erotismo apanhou seu corpo numa teia de sedução e
sensibilidade.
Inchou os seios, pesando-os dentro das taças do sutiã, os mamilos
apertados contra o material. Sua vagina contraiu com um tesão vicioso.
Ela pressionou ainda mais a cabeça contra o peito masculino.
Ele nem parecia respirar direito, as mãos duras em suas costas.
Quente. Muito quente. Não havia nada de suave nesse homem. Ainda assim,
ele a atraiu como nenhum outro tinha sido capaz. Sendo delicado o
suficiente.
Eles mal se mexiam.
O coração dele batia com força na mesma frequência que o dela, a
cadência profunda de sua respiração fazendo o peito dele ascender e decair
num rolamento pesado.
Ela sorriu feito boba.
Irradiando felicidade e conquista.
O homem parecia estar sofrendo. Contudo, lá estava ele, todo
possessivo, dançando com ela ainda que parecesse irritado como o inferno.
E, Deus, seu perfume a estava matando. Produzindo respostas
químicas em seu corpo, fazendo-a desejar coisas que não deveria desejar.
Não com ele.
Emme cheirou e gemeu baixinho.
Tentada a virar a boca e mordê-lo.
Estirar a língua e lamber.
Num ímpeto vindo do nada, ela esfregou a bochecha contra o peito
masculino, como uma gatinha dengosa buscando carinho.
— Deus, Collin, você cheira tão bem, baby. É sexy pra caramba.
Me faz ter ideias pecaminosas sobre você, sua pele nua e a minha boca.
Collin praguejou. O corpo ainda mais rígido, quase estalando. Ele
segurou seus ombros com firmeza, a agressividade de seu corpo a atingindo.
Ele a afastou, mal dando tempo para que ela falasse algo. Girou e pisou em
direção a saída, como se cães do inferno estivessem em seus calcanhares.
Emme pensou em alcançá-lo, mas não o fez.
Desconcertada, ela retornou para mesa.
Caleb e Embry tinham se juntado as suas companheiras na mesa.
Eles não a olhavam diretamente, mas podia sentir a sondagem curiosa dos
homens. Que ela decidiu ignorar. Enrubesceu, pegando uma das cervejas,
que tinham acabado de serem entregues, e bebeu quase tudo num só gole.
— Onde estão as garotas? — perguntou ela.
— No banheiro — Trish respondeu, e depois se inclinou, a voz
baixa demonstrando preocupação. — Você está bem?
— Claro que sim — disse Emme. — Estou me divertindo. Você
não?
— Onde está Collin? — Caleb perguntou, com desinteresse.
— Não faço ideia.
Ele anuiu. Ela terminou a cerveja e pousou a garrafa na mesa. E,
enfim, deixou a pergunta, que lhe atormentava, sair com desinteresse.
— Ele é sempre assim?
— Assim como? — Embry se intrometeu.
— Insuportável. Sempre tão irritante e severo. — Ela fez uma
careta. — Juro que às vezes penso que ele quer me dar uma mordida.
— Collin fez algo?
— Não. Deus, não, não desse jeito. — Ela riu embaraçada. — Me
expressei mal. É só que ele, não sei, parece não ir com minha cara. Digamos
que ele não faz nenhuma questão de esconder isso.
— Estão falando do Mr. Bean? — Lee recebeu um olhar de
repreensão de Embry, que ignorou na cara dura, e encarou Emme. — Não
leve para o pessoal. Collin não gosta de ninguém, desconfio que nem dele
mesmo.
— Collin não é assim, Emme. — Caleb veio em sua defesa. — Ele
é um macho honrado, suas reservas podem dar uma impressão equivocada.
— Talvez o problema seja eu.
— Não há nada de errado com você — Trish prontamente defendeu.
— Collin tem suas razões para ser como é — Caleb insistiu.
— E quais seriam?
— Não é minha história para contar.
Emme entendeu, assunto encerrado... por enquanto.
Caleb e Trish foram os primeiros a ir embora.
Meia hora depois, Embry e Lee também partiram. Embry prometeu
que enviaria alguém para pegá-la.
Emme se entregou a uma rodada de shots com Kelly e Tabby, e mais
algumas danças. Ela ainda não estava pronta para se entregar a solidão do
chalé. E quando decidiu que era o bastante, um pouco embriagada, as novas
amigas em situação semelhante, ela encerrou a noite.
Fora do bar, enfrentando o ar gélido de Inuvik, Emme soluçou e riu.
— Esqueceram de mim e nem é natal — disse ela com um muxoxo,
e depois deu uma risadinha. — Não acho que teremos carona pra casa,
meninas.
— Eu moro aqui pertinho — Kelly disse, a voz arrastada pelo
álcool.
— Eu acho que vou morrer antes de chegar na reserva.
— Nada disso — Tabby protestou. — Dorme em casa.
— Gata, eu e meus amigos podemos dar carona pra você e suas
amigas. — A voz veio detrás, o tipo esquisito se dobrando em cima dela.
Emme deu um passo incerto para trás, balançando a cabeça em
negação, e tropeçou. Ela perdeu o equilíbrio caindo contra um peito de aço,
muito forte, mãos estabilizando-a. Ela podia jurar que ouviu um pequeno
chiado, quase como um rosnado vindo de seu captor. Um som que ela tinha
se familiarizado.
— Afaste-se. — A sentença foi dita com propriedade e violência,
ainda que a voz fosse baixa e nivelada, tornando a intenção ainda mais
perigosa.
Tão mandão. Emme tapou a boca, dando outra risadinha.
O cara e seus amigos, arregalaram os olhos, as mãos para cima.
Eles nem sequer olharam para trás quando colocaram o rabo entre as pernas
e fugiram.
Emme virou a cabeça e olhou para cima.
— Meu salvador. — Ela sorriu, com os olhos vítreos.
Collin a conduziu com suas novas amigas para a pick-up dele, e
depois de deixar cada uma em sua casa, ele dirigiu para a reserva.
O cheiro dele dentro do veículo fechado era ainda mais forte. Mais
tentador. Pecado embrulhado em uma rede de prazeres.
Ela cheirou e, em seguida, gemeu com derretimento.
— Qual o problema? — ele perguntou, a voz baixa e sensual.
O flagrante limpou um pouco de sua embriaguez.
— Esse cheiro..., seu perfume, não posso identificar.
— Não uso perfume.
— Não? Neste caso, deveria patentear, seja lá o que usa, e vender.
Vai ficar milionário e poder comprar uma casa que não esteja caindo aos
pedaços... Não me olhe assim. Sabe que estou certa... Se está com problemas
de grana deveria falar com Caleb.
— Não tenho problema com dinheiro.
— É mão de vaca então?
Ela se esticou na direção dele e deu uma boa cheirada.
Ele lhe deu uma olhada atravessada como se esperasse que ela
fosse saltar nele. Ela bufou, com um sopro brusco, assoprando a mecha de
seu cabelo.
— Collin, não pode sentar aí, cheirando o próprio pecado e esperar
que não te cheire. Se não fosse infartar, eu te cheiraria todinho.
— Não vou infartar.
Ela piscou, e depois sorriu tão largo que sua cara doeu.
— Não estou te dando permissão pra me cheirar — ele completou
rapidamente, a voz dele tinha aquele rosnado de raiva, rabugento... bonito.
— Relaxe, bruto. Só estou dizendo que você cheira bem. Nunca
senti nada igual e, acredite, eu conheço perfumes. É...
Emme parou, percebendo que ia se envergonhar.
— O quê?
— Nada. Esquece.
— Não pensei que fosse covarde.
— Eu só não quero que seja devorado por seu grande ego.
— Não sou esse tipo de macho, Emmanuelle.
— Não, você não é. Você é do tipo perigoso, Collin Del Rey.
— O que isso quer dizer?
— Pescando elogios, uh? Não pensei que fosse esse tipo.
— Fêmea, você não me conhece, não sabe que tipo sou. — Sua voz
controlada tinha uma rouquidão sexy, a mordida de um rosnado, que vibrou
dentro dela.
— Eu poderia — ela murmurou baixinho. — Se você permitisse.
Ela assistiu seus dedos apertarem o volante com tanta força, os
nódulos dos dedos esbranquiçados, que foi um milagre não quebrar a maldita
coisa.
— Isso não pode acontecer — ele sibilou, desta vez, seu timbre era
duro e mordaz.
— Por que a ideia de se permitir comigo é tão ruim?
— A ideia está longe de ser ruim, Emmanuelle — ele rosnou,
surpreendendo-lhe com a confissão. — Não posso pensar em algo melhor,
que queira mais do que quero... você. E esse é o problema. Não pode
acontecer.
— Por quê?
Ele ficou muito quieto.
Ela decidiu fazer o mesmo, olhando através da janela.
Uma vez que a pick-up parou, Emme desceu antes que ele desse a
volta, tropeçando para o chalé. Collin estava lá, salvando-a de si mesma,
novamente.
Ele segurou seus quadris, e ela agarrou seus bíceps.
— Você está decidida a se machucar — repreendeu Collin, com
raiva.
— E o que você tem com isso?
Ela arrastou o rosto para cima, o movimento esfregando a bochecha
corada pelo frio contra o peito dele. Ele era tão forte, a solidez do aço
contrastava com a maciez aveludada. Mesmo com as camadas de roupa, ela
podia senti-lo vibrar. O tremor inconfundível. Ele retraiu, o rosto
empedernido, os lábios em uma linha rígida. Seus olhos glaciais brilhavam.
— Por que me odeia?
— Não te odeio.
— Certo. Por que não gosta de mim?
— Por que acha isso?
— Por quê? Por quê? — ralhou ela, enervada. — Deus do céu, será
que pode responder uma pergunta sem fazer outra? É rude e irritante pra
caramba.
Ele não lhe deu uma resposta.
Ela bufou com chateação.
— Olhe pra você. Sempre fica todo irritadinho e... e... assim, como
se tivesse um pau socado na bunda quando estamos perto um do outro. Você
parece não ser capaz de fugir rápido o bastante, como se eu fosse um tipo de
praga. Intragável. Isso também é rude, sabia?
Se seus olhos embriagados não estivessem lhe traindo, ela podia
jurar que ele pareceu envergonhado por um momento, suavizando um pouco.
— Onde está sua chave?
— Aqui. — Ela ergueu entre eles na altura de seu rosto.
Collin pegou dela e abriu a porta, esperando que ela entrasse.
Emme tropeçou para dentro, deixando a bolsa e o casaco grosso no
caminho. Ela ficou de vestido, com botas e as meias grossas.
— Sinto muito...
Ela olhou sobre o ombro.
—... não é você, quero dizer, é... Não tenho nada contra você.
Ela deu a volta, fixando-o com o olhar.
— Não entendi. É ou não é?
— Você não me fez nada, Emmanuelle.
— Então o que é?
Collin se calou, olhando para ela daquele jeito que parecia buscar
algo, descascando suas camadas até chegar ao cerne.
— É gratuito, não é? Você só não gosta de mim. Tudo bem, eu posso
aceitar isso. Não é também como se você fosse obrigado. — Forçou um
sorriso. — Obrigada pela carona e seu precioso tempo. Você já pode ir,
Collin. Boa noite.
— Como cheiro pra você, Emmanuelle?
Ela estreitou os olhos, atordoada com a troca brusca.
Collin deu um passo à frente e mais outro. Ela se moveu para ele
antes que se desse conta. Ele percebeu, parando, e ela o imitou. Um passo de
distância.
Seu coração começou a bater desgovernado.
— Disse que cheiro diferente. O que é?
— Não sei.
— Seja mais específica.
— Eu, — lambeu os lábios secos. — É difícil explicar.
— Tente.
A voz dele era exigente, os olhos incitando a chegar mais perto com
um puxão quase físico, que Emme obedeceu mal podendo conter o impulso,
quando enfiou a cabeça contra seu peito. Ela agarrou seus braços para ter
estabilidade ao mesmo tempo em que elevou o rosto, arrastando o nariz do
peito até o pescoço.
Seu aborrecimento desvaneceu quando ela cheirou.
Emme estirou a língua e lambeu, precisava saber se seu gosto era
tão gostoso quanto. Uma provinha. Nada mais. Só um gostinho de sua pele.
O gemido rasgou sua garganta contra o pescoço dele.
— Puro céu, Collin. Delicioso. Eu poderia te cheirar o dia todo...
Hummm... Pensando bem, só cheirar não seria suficiente.
Ela deveria se envergonhar, mas nada a salvaria agora.
Ela estava em pecado, esbaldando-se.
Emme percebeu que as mãos dele seguravam seus quadris.
O calor dele, a pressão dos corpos tão próximos. A solidez dele
contra a maciez de seu corpo. Era uma provocação aumentando sua
excitação. Seu sexo apertou. Os mamilos rijos e sensíveis. Ela estava
sofrendo por ele.
Estava zonza de necessidade.
Faíscas de luxúria bordeando sua razão.
Emme queria senti-lo entre suas coxas, lambendo sua vagina.
Enchendo-a com seu pau. Chupando seus mamilos. Os beijos. O gozo dele
dentro dela.
— Pêssegos. Eu amo pêssegos... E você parece um grande e
delicioso pêssego suculento. Quero te morder, Collin. Devorá-lo.
Collin franziu o cenho, tão quieto, enquanto ela focava em seus
lábios.
Uma onda de desejo a atravessou. Queimando-a viva com mais
necessidade ardente. Tinha ganas de beijá-lo. Os próprios lábios, de repente,
pareciam ressecados precisando dele. Precisando que ele a beijasse. Que
molhasse com sua saliva. E saciasse a ebulição dentro dela.
Ele travou seu olhar no dela, o desejo explícito entre eles.
Collin lhe deu um sorriso lento que enviou um calafrio por seu
corpo.
Emme estava ofegante, a tensão sexual pesada, fazendo seu coração
trabalhar mais rápido e mais forte. O calor percorreu seus dedos,
transpassando seu corpo até seus mamilos. Envolveu sua vulva. Ela pulsou
com dor.
Ela levantou as pálpebras, olhando-o sob os longos cílios pretos.
Outro calafrio fez seus mamilos se apertarem ainda mais.
Ele cheirou e suavemente rosnou, ronronando.
Ele inclinou a cabeça, o nariz dele roçou sua garganta, fazendo
aquele som baixo que parecia reverberar por todo seu corpo.
Ela teria saltado, quase fez.
Ele a manteve facilmente.
— As coisas que penso em fazer com você. Que quero fazer,
Emmanuelle.
— Faça.
— Não sabe o que diz… Deveria me expulsar por me atrever a
querer você. Correr de mim enquanto pode. Enquanto ainda posso me
controlar.
— Você me caçaria.
— Sim — ele rosnou, o tom gutural, selvagem, batendo dentro dela
com um estremecimento aquecido. — Eu te caçaria e depois te montaria.
Duro.
— Então qual o ponto? — Lambeu os lábios, morta para beijá-lo.
— Eu estou aqui, Collin. Me dando a você. Não precisa me caçar. Eu sou
sua.
Collin beijou o lado de seu pescoço, lançando uma torrente de
sensações por seu corpo, que a fez tremer em seus braços. E o estômago dar
um nó.
O cheiro dele tornou-se impossivelmente mais forte.
Ela choramingou, agarrada a ele.
— Deus, Collin... Nunca quis um homem como quero você. As
coisas que me faz sentir... E você mal me tocou e eu já estou morrendo por
você.
Empurrando a cabeça para trás, Emme mirou os lábios masculinos.
Um beijo. Só um beijo. Ela precisava sentir o sabor dele.
— Você vai me beijar?
— Não.
— Mas você quer.
— Eu...
— Não minta pra mim.
— Eu quero... quero tanto que sofro por isso.
— Mas não vai, não é?
— Não posso.
— Não entendo porque está assustado, é só um beijo.
— É isso que faz em sua cidade?
— O quê? Beijar? Sou uma beijoqueira, Collin.
Um lampejo de fúria ciumenta brilhou nos olhos dele.
— Deveria ter mais cuidado com você, Emmanuelle.
— Não vai me chatear, Collin Del Rey — ela sussurrou, sorrindo
com deslumbramento. — Beije-me ou me deixe. Estas são as únicas escolhas
disponíveis.
9
HÁ ALGO?

Emme encontrou Trish no solário.


Ainda estava aborrecida com os acontecimentos da noite passada.
Tinha revirado na cama por meia hora depois que acordou, com uma leve
ressaca. Irritação a comeu viva quando o remédio tirou a dor do caminho,
deixando um rastro feio. Ela lhe deu uma escolha, e ele escolheu se afastar.
Não era como se fosse sensível para o “não”.
Humpf! Talvez fosse, afinal.
Havia dores escondidas sob as camadas de mulher forte e bem
resolvida que ela mostrava ao mundo. Marcas de um passado familiar,
sombrio e desgostoso, que ela não fazia questão de lembrar.
No entanto, o sentimento, que a fez esfregar o peito, ia além.
Collin rejeitá-la era só a ponta do iceberg.
Sentia como se estivesse perdendo algo inestimável. Insubstituível.
Seu por direito. O sentimento era opressor e sufocante.
As atitudes dele tinham um poder exponencial de feri-la.
E, Cristo, ela nem gostava dele.
O homem era bonito para os seus olhos. Pura sensualidade. Mas era
somente isso, desejo e atração física. Que em algum momento, que não podia
se recordar, sua atração por ele começou a crescer como se sempre estivera
lá, mantendo-a num estado de excitação contínua, que tinha passado
despercebido até que seu sexo estava sensível e molhado a maior parte do
tempo.
Não havia sentimentos amorosos ou intenção romântica.
Havia algo entre eles, que não podia descrever e tampouco
entendia.
Emme não gostava de ficar às escuras.
Era coisa daquele lugar. Logo que partisse teria de volta o seu
normal.
Emme se derrubou na poltrona com um bufo, e se serviu de chá. E,
em seguida, praguejou alto ao queimar a mão com o líquido fumegante.
— Está tudo bem — resmungou ela para Trish, quando a mulher fez
menção de se mover para ajudá-la. Ela limpou a pequena bagunça que fez. E
foi mais cuidadosa quando se serviu com outra xícara de chá.
— Essa irritação tem nome?
— TPM?
— Está me perguntando?
Emme ocupou seus lábios com o chá.
— Será que Collin tem algo a ver com isso?
— E por que teria?
— Não sei..., talvez porque ele não podia tirar os olhos de você e
parecia muito possessivo enquanto dançavam. Oh, espere, essa também era
você.
— Está louca. — Ela colocou a xícara para baixo. — Bruto e eu
estamos em estações diferentes, acredite. Foi só uma dança, nada mais.
— E o que está te irritando tanto?
— Para ser honesta, eu não sei. Deve ser esse lugar, o clima daqui.
Sei lá. Tudo isso é muito louco e anormal. Preciso voltar para a minha
normalidade.
— Não me diga que já está pensando em partir? — Trish sondou,
não escondendo a acusação. — Você me prometeu três semanas.
— Eu sei, eu sei. Eu só... — ela parou, não sabendo como
continuar.
— O que é?
— Parece que estou fora do meu eixo — confessou ela, num
sussurro. — Me sinto fora de mim. É... Não sei. Nunca me senti assim antes.
— Isso tem a ver com Inuvik ou um certo homem carrancudo?
— Por favor! — debochou, e depois ficou muito silenciosa, sua
expressão aprofundando com marcas severas. — Sinto como se tivesse
voltado àquela época cheia de inseguranças. E juro, isso está resolvido para
mim. Eu só...
— Sua mãe não pode atingi-la mais, Emme.
— Uhum.
— E por falar nisso, como ela está? Vocês têm se falado?
— Chateada que não pode mais me controlar e fazer suas
chantagens emocionais quando quer. Falo com papai e ligo para ela uma vez
no mês.
— Ninguém pode te condenar por estar se protegendo.
— Quem diria que a família pode ser tóxica também?
— Infelizmente, minha amiga. Infelizmente.
Ter uma mãe narcisista era como ser criada pelo inimigo. Sua sorte
tinha sido o pai, Aaron Muller, que, apesar de ser capacho da mãe,
encontrava um pouco de força para defender a filha das loucuras de Lucy
Muller.
Logo que teve idade e entendeu que não poderia esperar que a mãe
lhe desse o que buscava ansiosamente. E que ela poderia — agora adulta —
oferecer a si mesma. Emme cortou o cordão umbilical. A separação foi
terrível, um momento sofrido e libertador. Ela tinha se fortalecido desde
então, construído uma muralha em torno de si, onde a culpa não podia entrar.
Seu apartamento e independência financeira lhe deram o respaldo
necessário. Ela voou sem a poda de Lucy. Não que isso tenha parado a
mulher, mas Emme tinha dado seu jeito.
Como conter a natureza de alguém?
Só podia aceitar fluir com a correnteza.
— Então, Collin.
— Supere — desdenhou ela.
— Estou curiosa apenas.
— Não há nada entre nós, moreninha.
— Você quer?
— Collin é um cara bonito, terrivelmente atraente, e não nego que
ele me excita um bocado. E, oh, ele me odeia. Então não. Sou bem resolvida
e tenho uma autoestima legal. Não preciso disso.
Mentirosa. Mentirosa.
— Não perguntei isso. E não acho que Collin te odeia. Ele é assim,
carrancudo, reservado. Isso pode dar a impressão errada.
— Ele fica irritado quando estamos no mesmo ambiente. É como se
algo em mim o irritasse profundamente. Ele me olha de um jeito que não sei
explicar... — Pausou, torcendo os lábios enquanto se reorganizava. — É
como se me despisse, não de forma sexual... Embora, Deus sabe, às vezes
tenho a impressão que ele quer me comer viva... Mas..., não sei. É mais
como se ele tentasse ler algo e o vislumbre disso o irritasse até a morte.
— Aconteceu algo entre vocês?
— Nada. Só Dançamos e ele me deu carona...
— Ele te deu carona? Quando?
— Ontem. Embry disseram que iriam pedir pra alguém me buscar.
Pensando agora, não é por menos que ele estava mal-humorado.
— Embry ligou para Caleb, que ligou para Jace.
— Oh, bom! Não foi ele quem apareceu.
— Collin deveria estar por perto — Trish disse, pensativa.
— Ele é tão...
— Tão?
— Insuportável.
— Eu acabei de perguntar se ele...?
— Esquece. É besteira minha que não fui com as fuças do idiota.
— Emme, se houver algo que queira me contar...
— Sério, Trish. Collin Del Rey é um homem atraente. E Só. Não há
a menor chance. Não nego que um passeio ali não me parece ruim. Mas,
além de ele ser terrível comigo, logo estou voltando para a minha vida e meu
trabalho.
— E seu namorado — Trish apontou.
— Não há namorado mais.
— Como assim?
— O idiota me deu um ultimato — confessou com desdém. — Se
viesse pra cá, podia esquecer que tinha um namorado. E, bem, cá estou.
— Agora estou me sentindo culpada.
— Não se sinta. Não perdi nada insubstituível. — Exalou forte. —
Em breve estarei em meu lar novamente, vivendo minha vidinha.
— Você não parece feliz com a ideia.
— Gosto das férias e do sossego. E, claro, amo a agitação da noite,
da correria e da pressão do dia-a-dia do meu trabalho e prazos me deixando
maluca. O que faz do silêncio ainda mais importante. Em certos momentos, é
tudo que preciso para recarregar as baterias e voltar para o mundo real.
Trish olhou com a sobrancelha arqueada, cheia de perguntas.
Segurando uma expressão feliz, Emme sorriu.
— Agora me fale de você.
— Mas não terminamos...
— Não há nada de interessante sobre a minha vida no momento,
além da estranheza entre Collin e eu.
— Isso soa como a escola, o garoto e garota que se odeiam.
— Não mesmo. Talvez. Como disse, não me incomodaria de fazer
um passeio ali se ele me implorar de joelhos. Esse parece ser o lugar
perfeito para viver um romance rápido. — Ela deu uma piscadela maliciosa,
brincando.
Preocupação agarrou a expressão de Trish.
— Emme, eu não acho que seja uma boa ideia.
— Pelo amor de Deus! Não me dê esse olhar. Estou brincando. Não
há a menor chance. Nós não nos suportamos... Vamos esquecer isso. Me fale
de você e esse casamento, aliás, como é isso mesmo? Não vi nenhum anel.
Trish sabia o que ela estava fazendo, esquivando-se, mas não
insistiu. Ela puxou a corrente do pescoço, mostrando o anel nele.
— Meus dedos incharam e eu tive que tirar.
Emme se inclinou tocando a joia suntuosa.
— Caleb tem bom gosto.
— Sou prova viva. — Trish riu.
— Teremos véu e grinalda?
— É mais coisa de Caleb do que minha.
— Você sempre quis ser a noiva, moreninha.
— Éramos crianças, a perspectiva era diferente. O que tenho com
Caleb é real, Emme, mais forte que qualquer papel legal e cerimônia
religiosa.
— Você não precisa fazer isso se não quiser.
— Caleb quer me dar isso, e eu quero dar isso a ele.
— E quando será? Preciso me preparar e fazer um testamento, caso
seja obrigada a voar com aquele lunático outra vez.
— Caleb e eu decidimos esperar alguns meses depois do bebê
nascer.
— Irá dizer a ela?
E por ela, Trish entendeu.
— Doratella não faz parte da minha vida mais e tampouco fará parte
da vida desse filho e outros mais que tivermos. Não há nada de bom vindo
de alguém como ela. No que me diz respeito, ela morreu e está enterrada.
— Não tiro sua razão — Emme disse. — Ela já fez estragos
demais. E você tem todo o direito de fazer o que é melhor para si mesma e
sua família.
— Doratella me ensinou a como não ser uma péssima mãe. Não
estou dizendo que não irei errar, mas não irei cometer os mesmos erros dela.
— Um ponto de luz na escuridão.
O rosto da outra mulher se iluminou.
— Estou tão feliz por estar aqui.
— Eu também, moreninha.
— Obrigada.
— Pelo que?
— Por não me julgar.
— E por que raios eu faria isso?
— Não agi no meu normal — encolheu os ombros. — Ser tão
rápida.
— E pelo que vi aqui foi o melhor que fez por você mesma em anos
— Emme apontou, com seriedade. — E daí que vocês tiveram um
envolvimento rápido e engravidou em o quê?
— Um mês.
— Um mês de relacionamento? — Trish assentiu. — Há casais que
namoram e noivam por anos, tem uma vida inteira planejada, e quando se
casam, não duram nem um mês. Não é o tempo, Trish. É quem.
— Sei disso agora.
10
SERÁ POSSÍVEL?

Caleb surgiu no umbral e escorou o ombro nele, depois que Emme


saiu. O olhar escuro em sua companheira prometida. Silencioso. Linhas
sombrias marcavam sua expressão enquanto eles se entreolhavam.
— Está pensando o mesmo que eu? — Trish quebrou o silêncio.
— Impossível.
— Talvez não seja, Caleb.
— Só há um companheiro prometido, Trish, e Collin perdeu a dele.
— Vocês também acreditavam que não era possível o acasalamento
entre shifter e humano, ainda mais, prometidos. E cá estamos, provando que
não sabemos muito.
— É diferente.
— Você não parece muito certo do que diz — ela observou. — Se
eles forem afetados pelo drukāt, você sentirá isso, certo?
— Normalmente, sim.
Caleb endireitou a postura e deslizou para perto de sua prometida.
Ele se sentou na mesa central de frente para Trish, a mão correndo pelo
cabelo.
— Há algo lá que não posso distinguir. Embry também não
conseguiu identificar. É confuso, torcido. Eu iria até o Conselho de Raça,
mas não quero te deixar sozinha.
— Se precisa ir, vá — disse Trish. — Eu ficarei bem.
— Não, isso está fora de questão, querida. — Seu tom sugeria que
ele não aceitava discussão. — Não vou me afastar agora que está prestes a
parir.
Um pensamento passou por Trish.
— Ele pode se interessar por ela agora que não tem mais sua
companheira prometida, não pode? Sexualmente?
— Não funciona assim.
— E como explica a reação dos dois? A recusa de sua ordem?
Caleb tinha usado o tom dual. O domínio do alfa, que membro
nenhum de seu bando ousava a desafiar. Era um comando, um puxão
doloroso obrigando o destinatário de sua ordem obedecer a exigência, com
exceção do acasalamento.
Machos no calor do acasalamento eram incontroláveis e
impulsivos.
Nada ficava entre eles, inclusive o alfa.
— Você disse que Collin reagiu possessivo e territorial. Ela
respondeu a ele, também. Sabia que ele a esteve espreitando? Que a trouxe
para o chalé? — questionou Trish, com acentuada preocupação. — Não
estou aqui há muito tempo, mas sei que Collin não faz esse tipo de coisa. Ele
não é impulsivo. Ele se isola e está bem com a solidão. E, de repente, ele
está farejando ao redor.
— Collin não faria mal a uma fêmea, Trish. Seja lá o que está
acontecendo, ele não vai machucá-la. Ele deve estar tão confuso como nós. E
ele é um leão, eles podem ser muito orgulhosos.
— Ele pode feri-la?
— Nunca. — A veemência no tom de Caleb acalmou Trish. — Ele
pode ser um pouco áspero ao discutir com ela, mas não iria ferir Emme.
— Ela fez parecer que é tudo uma grande bobagem, que ela não se
importa, mas sei que ela está escondendo algo.
Caleb riu, inclinando-se para beijar a barriga pontuda, e depois a
boca de sua companheira. Os olhos dele tinham mudado para aquele olhar
exótico; parte lobo, parte homem.
— Que sorte a minha, companheira.
— Que sorte a nossa, meu amor — Trish sussurrou contra os lábios
masculinos, os dedos finos infiltrados no cabelo grosso e macio de seu
homem.
Caleb se mudou para o lado dela, empurrando as costas contra o
respaldo, puxou as pernas dela para o seu colo e começou a massagear os
dedos do pé.
— Podemos estar diante de algo inédito, Caleb.
— Eu irei falar com ele. Collin é um membro valioso do bando,
quero entender o que se passa e estender minha ajuda.
Naquele mesmo dia, Caleb se encontrou com o chefe-executor.
— Collin, tem um minuto?
O macho lhe deu um olhar inexpressivo e aguardou.
— Há algo entre você e Emme?
— Estou longe como você queria.
Collin girou para seguir adiante, porém Caleb tornou a falar.
— E o que foi aquilo ontem?
— Eu desci para uma cerveja na cidade.
— Esteve camuflado esse tempo todo, espreitando-a. Se ousar a
mentir na minha cara, vamos ter problemas, Collin — assinalou Caleb, a voz
enganosamente calma, sua expressão tornando-se escura quando enfrentou o
outro macho de frente. — Eu fui muito claro sobre você ficar longe dela.
Por um momento, os olhos do outro macho se iluminaram.
Caleb podia jurar que o shifter lutava para se controlar. Quando o
leão queria mesmo sair e rugir em sua cara. Seu lobo levantou as orelhas
atento, o poder do alfa, de repente, borbulhando em suas veias com a ameaça
eletrizante no ar preparando-o para luta.
Collin travou a mandíbula, a veia em seu pescoço pulsando com
raiva.
— Enquanto ela for uma convidada em Snowville, não há como
evitar de nos encontrar. Este é um lugar pequeno, Caleb. Inevitavelmente
iremos nos esbarrar. Ou devo me manter recluso em meu covil até que ela
parta?
— Esse artifício não vai colar comigo, Collin.
— Não há nada para falar, além do meu trabalho no bando. Se tem
alguma queixa sobre como faço meu trabalho, fale agora. Ou me deixe em
paz.
— Eu não sou seu inimigo, Collin. Quero entender o que se passa.
O que senti ontem e no jantar, como reage com outros machos perto dela...
— Eu já tive uma companheira prometida.
— E está agindo com Emme como um macho acasalado.
Collin deu um passo à frente, os olhos azuis brilhando ferozmente.
O ar rapidamente ficou mais seco, a temperatura caindo drasticamente.
— Collin — Caleb advertiu, sua fera rosnando. — Recue. Não
quero brigar com você. Coloque a porra da cabeça no lugar e controle seu
leão.
— Eu te respeito como meu alfa, como meu irmão, Caleb. Mas, se
envolver em meu negócio outra vez, alfa ou não, eu não vou segurar meu
leão.
— Ela é seu negócio então?
— Ela não é nada.
— Eu acho que ela é algo — Caleb concluiu, mansamente,
friamente. Parecendo muito satisfeito com ele mesmo com a admissão
flagrante do outro macho. — Algo sério o bastante para você recusar a
obedecer a seu alfa e me ameaçar.

xXx

Lucius fechou o punho e esfregou contra o peito, tentando desatar os


nós que tinha ali. Não só por causa de sua fêmea e destino incerto.
Apreensão pesava como chumbo, densa. Não podia afastar a sensação da
iminência do perigo.
Eles não seriam loucos.
Ele pensou em Caleb, no que o macho fizera com Snowville. Isso,
de alguma forma, acalmou a aflição doentia. Mas ainda estava lá. Ele se
amaldiçoou, perdido nas contas de quantas vezes tinha feito isso quando
conseguiu correr. Só tinha um pensamento em mente, chegar até Maya e
explicar o que tinha acontecido nesses quase dois séculos e meio. Ele sabia
que ela não estava morta. Não importa quantos milhares de quilômetros os
separava. Ela era sua. Se algo lhe ocorresse, Lucius saberia imediatamente
através do elo que possuíam. Ele tinha enfraquecido com o tempo, mas ainda
estava lá.
Novamente, não pensou nas consequências.
Novamente, ele poderia ter colocado sua gente em perigo.

xXx

— Caleb, que prazer tê-lo aqui — Sue disse, ao abrir a porta para o
alfa, com um sorriso que dizia que ela já esperava por ele. — Entre e sente,
fiz bolo.
Ele cumprimentou Alik, o ancião mais velho do bando, e depois
escolheu uma cadeira.
— O acasalamento te fez bem, meu jovem.
Caleb sorriu, a nuvem de preocupação e tensão dissolvendo.
— Trish é tudo que sempre quis.
— Esse é um acasalamento abençoado, jovem alfa — Alik
assegurou.
Sue colocou o bolo na mesa e lhe serviu uma xícara de café. Caleb
cortou um generoso pedaço para si e comeu em quatro grandes mordidas.
Bebeu café.
— Delicioso como sempre — disse ele, indo para trás na cadeira.
A velha sorriu.
— O que o traz aqui? — Alik perguntou.
— Collin.
— O que há com ele?
Sue sorriu do outro lado.
— O que sabe? — Caleb perguntou, ao invés.
— O que uma velha curandeira como eu saberia, Caleb?
— Justamente por ser velha deve saber muito.
— O humor dos jovens é muito refrescante.
Caleb rosnou, não perdendo o sorriso discreto do ancião.
— Esconder coisas importantes de seu alfa é um crime grave.
— Sei apenas o que os ventos sussurram por aí.
— As fofoqueiras do bando?
— Somos todos sintonizados, não? — comentou ela, bebendo de
sua xícara. — É o alfa. Isso faz de você o maior de todos.
Seu lobo estreitou o olhar, bufando. Sue sempre dava um jeito de
brincar com ele e valsar para longe de sua fúria com a graça e elegância de
uma loba.
— Naquele dia, — Caleb murmurou, após um momento reflexivo.
— Você lhe disse que ela não estava indo a qualquer parte. Por que disse
isso?
— Intuição. Seu chefe-executor parece mais apanhando pelo
encanto dessa fêmea do que demonstra. Ele próprio parece não notar. E se
nota, ignora.
Nisso, eles concordavam.
— O macho é um risco? — Alik perguntou, o semblante muito
sério.
— Não. — Caleb fixou Sue. — Se há algo a dizer, alguma outra
informação que gostaria de compartilhar, essa é a hora. Estamos às cegas
aqui e eu já tenho muitos problemas na mão. Toda ajuda que puder ter, é
importante.
— Recorda quando o aceitou no bando? — Alik perguntou.
— O bando não estava feliz com minha decisão — ele ponderou,
pensativo.
— Não, não estava. Ainda assim, eles aceitaram.
— Não havia muito que pudessem fazer, Alik, quando a última
palavra sempre foi minha depois que me tornei alfa do bando — Caleb
zombou.
— Um alfa solitário é só um alfa, mas, com um bando, ele é
indestrutível.
O ancião estava certo. Sem o bando, ele era mais um alfa à deriva.
O bando honrava seu alfa com respeito e compartilhavam sua força,
concedendo-lhe poder.
— Eles estavam receosos — Alik continuou. — E não era como se
pudéssemos culpá-los.
— Ainda assim, você lhe deu um lugar aqui e uma posição de
prestígio.
— Collin salvou um par de filhotes e fêmeas, Alik. — Caleb se
debruçou para frente, os antebraços na mesa. — Ele poderia ter ignorado
quando se deparou com o perigo que as fêmeas e os filhotes enfrentavam.
Ninguém o culparia. Felinos e caninos tem sido inimigos naturais desde
sempre. Mas, mesmo com o risco, ele ficou e lutou, colocando sua honra e
vida a serviço dos inocentes. Ele não tinha que fazer isso, mas o fez de
qualquer maneira.
— Ele estava onde tinha que estar — o ancião disse, simplesmente.
Collin tinha salvado sua gente, civis inocentes, enquanto lutava com
Lucius pelo poder. Ele não sabia que havia uma emboscada orquestrada
naquela manhã para forçar uma fusão e garantir que não haveria resistência
por parte do bando de Snowville. Um grupo rival sórdido, que estivera em
negociação com Lucius, ansiava unir o bando numa grande alcateia de puro
terror.
Shifters-lobos, com o mesmo ideal mesquinho do alfa no comando,
espreitaram os mais vulneráveis, matando os machos que tentaram protegê-
los.
Eles teriam matado as fêmeas e os filhotes se não fosse por Collin.
O macho tinha sido cruel e selvagem, sua dor direcionada a atacar e
aniquilar.
Collin, afinal, era um alfa. Um shifter-leão poderoso. Não mais pelo
amor, senão pela dor e destruição dentro dele. Ele também quase morreu no
processo.
As fêmeas cuidaram dele e buscaram ajuda. E ainda hoje, mesmo
que Collin recusasse polidamente, elas insistiam em lhe demonstrar gratidão.
Cozinhando para ele, fazendo suas compras e o que mais precisasse.
A paz reinou, Lucius tinha corrido, mas o caos ficou para trás.
Enquanto se reerguiam, Collin se curou.
Caleb, contra toda a prudência e opiniões contrarias, mas seguindo
seus instintos, ofereceu asilo e uma posição ao macho. Era arriscado. Collin
podia estar dilacerado, mas ainda era um alfa forte. Caleb tinha acabado de
ganhar a liderança do bando, estava exausto. Ele ainda não podia descansar,
poderia haver alguém tentando desafiar, mesmo o forasteiro. Ele precisava
parecer forte. Implacável. Letal. Mesmo que estivesse prestes a ruir. Collin
esteve lá, compartilhou com ele seu próprio poder, reconhecendo-o como
alfa do bando e seu próprio, logo outros shifters seguiram pelo mesmo
caminho.
Collin lhe ofereceu sua submissão e lealdade.
E acalmou seu lobo e o bando.
O ancião estava certo, um alfa sem um bando era apenas um alfa.
Mas um alfa, com um bando, era imbatível.
Ele lutou pela matilha e eles lhe presentearam com honra, lealdade
e força.
Havia relutância e desconfiança quando Caleb nomeou Collin como
chefe-executor. Sua gente não confiava no leão, mas confiava no julgamento
do alfa.
— Meus instintos me diziam que podia confiar nele.
— E foi o bastante para todos nós. — Alik fez uma pausa. — Seus
instintos, o macho honrado e nobre, despertou o alfa que existe em você. E
você fez a coisa certa. Por que não confiaríamos em você para nos tirar da
miséria, que fomos lançados, e construir um bando sobre um solo fértil e
próspero? Você nos deu esperança e nós retribuímos. É assim que é.
Sue bebeu de sua xícara, a expressão escurecendo.
— O espanto corre sobre todos. Há boatos que a fêmea humana
despertou o interesse de seu chefe-executor.
— Isso não é exatamente um problema — disse Alik.
— Ele é um macho enlutado por sua prometida — Caleb assinalou.
— Um macho que o animal se recusa a dominar e o homem recusa a
se entregar — Sue apontou o que ainda era de espanto de todos. — Não acha
isso estranho?
— O que está dizendo, Sue?
— Talvez o Criador esteja reparando uma injustiça.
Caleb descartou, com um balanço de cabeça.
— Não há duas companheiras prometidas para um mesmo macho.
— Como sabe? — Alik perguntou.
— Interessante que ela, assim como Lee, são amigas de sua fêmea.
Havia uma teoria louca compartilhada pela fêmea humana de
Embry. Ele tinha ouvido sussurros aqui e lá, sobre Trish ser um imã para
companheiras prometidas.
Caleb nunca levou a sério.
— Isso pode ser coincidência.
— Talvez. O Criador, no entanto, nunca erra.
— Isso faz sentido — Alik ponderou. — Sua fêmea trouxe
mudanças não apenas para você, como para todo o bando, talvez se estenda a
outros machos também. Ou talvez apenas seja uma grande coincidência.
Caleb permaneceu pensativo por um momento.
— Uma segunda companheira prometida — sussurrou para si
mesmo, não podendo afastar a sensação do quão absurdo era aquela
possibilidade. Ele próprio não sabia como se sentir.
— Uma segunda chance — o ancião disse.
— Isso prova que Collin é um macho muito estimado — Sue
cantarolou.
— Ou que sua antiga companheira não era, de fato, sua prometida
— Caleb concluiu, de repente.
Sue e Alik se entreolharam.
— Um macho é capaz de se enganar a tal ponto?
— Não olhe para mim, fêmea. Não tive a sorte de encontrar minha
prometida.
Os dois olharam para o alfa.
— Não, não acho. Uma vez que vi Trish, eu sabia que ela era minha.
Embry, Raica e todos os outros com quem conversei, relatam o mesmo. Não
há erro. O animal e o humano se alinham em um equilíbrio nunca antes
alcançado.
Houve uma pausa silenciosa.
— Collin não é um macho estúpido — continuou ele. — Desta
forma, tudo que temos são especulações. Não podemos assumir nada por
enquanto.
— Não podemos. De qualquer forma, o faço. Macho nenhum
sobrevive a perda de sua prometida, ele sobreviveu — Sue argumentou, a
voz e a expressão carregadas de convicção. — Numa visão mais positiva,
suas intenções românticas e sexuais são voltadas exclusivamente para a
companheira prometida. E até onde os boatos voam e eu vi em sua casa, ele
não é indiferente a ela.
Todos, naquele dia, tinham presenciado a reivindicação de Collin.
Ele não parecia consciente do que fizera, nem da mudança de odor
mascarado. O que deixou os machos presentes ainda mais desconfortáveis e
inquietos.
— Pode sentir o drukāt? — Alik inquiriu.
— Não — disse Caleb. — Mas, definitivamente, há algo.
— Algo que pode ser o drukāt? — insistiu Alik.
— Talvez. A magia se adapta de diferentes formas para cada casal,
assim dependemos dos dois. Todos cheiramos o interesse dele e a maneira
como ela reage a ele. — E acrescentou. — Emme não sabe sobre nós. Trish
tentou falar com ela, mas ela foi evasiva. Eu cheiro nela a mesma confusão.
— Se Collin rejeitar e resistir, a magia vai afetá-lo através da
fêmea de forma mais efusiva — Sue assinalou.
Caleb correu a mão pelo cabelo, irritado.
Ele parecia certo sobre o que fazer, mas ainda desacreditado.
— Como isso é possível?
— Não será aqui que encontrará essas respostas — Alik disse.
— Logo que Trish der à luz, irei me encontrar com o Conselho de
Raça.
— Está se esquecendo de algo — Sue disse muito séria.
Caleb jogou seu olhar afiado para a anciã.
— O quê?
— Se ela for uma prometida, a contagem está rolando.
Ele podia ver as complicações. Um mês seria tudo que Collin tinha
para fazer as pazes com seus demônios e se acasalar com Emme.
Fosse como fosse, ninguém iria correr o risco de perder Collin.
O macho estava evasivo e irritado quando nunca demonstrava suas
emoções, exceto por seus olhos azuis eletrizantes, a marca da tristeza da
alma quando na forma animal. Ele estava fazendo coisas incomuns para um
macho enlutado. Emme, de alguma forma inesperada, tinha sido capaz de
atingir um nervo de seu chefe-executor.
Seria possível?
— Há quanto tempo ela está aqui? — Alik quis saber.
— Uma semana e meia — Caleb respondeu.
O ancião assentiu.
— Restam menos de três.
Caleb suspirou derrotado, apesar de seus instintos e de não poder
se intrometer no acasalamento. Ele teria que falar com Collin.
Ia ser uma dor na bunda.
Tudo que ele não precisava no momento, mas era necessário. Um
caso de vida ou morte, literalmente. Collin não era só uma peça valiosa na
força do bando. Ele era família, também. E como alfa, Caleb cuidava dos
seus.
— Ele pode ter escapado ileso da perda de sua companheira
prometida por uma razão que nos escapa — Sue insistiu. — Mas não
significa que fará isso outra vez caso essa humana seja sua segunda chance.
— Falarei com ele, novamente — disse ele se levantando para sair.
Sue rapidamente separou pedaços de bolo.
— Tome. — Entregou-lhe a vasilha. — Leve para a Prima.
— Obrigado.
— Antes que vá — Alik estalou. — Já decidiu quando será o
julgamento?
— Em uma semana e meia.
O ancião anuiu, mas não parecia satisfeito.
— Está disposto a perdoá-lo se Maya o perdoar?
— Sabemos que ela irá, Alik, mesmo que não queira. Essa é a
benção... No caso dela, a maldição do acasalamento prometido. Não somos
capazes de rejeitar nossas partes. — Ele fez uma pausa reflexiva. — Não sei
como ele conseguiu ficar longe, mas... — ele se calou, não havia mesmo o
que dizer.
— O bando clama por justiça — o ancião lembrou.
— E eles terão. Lucius será julgado de acordo com os seus atos.
11
À MODA ANTIGA

Por dois dias, Collin se manteve a margem, mais austero. Trancado


em sua casca numa onda de fúria e de indignação. Fruto da intromissão de
Caleb. Sabia que o macho tinha razão. Ele estava diferente, fazendo coisas
que normalmente não fazia. Sentindo coisas que não sentia em muito tempo,
tanto que esqueceu como elas se sentiam. E quando o interesse chiou em seu
peito era como uma chama lenta, se espalhando, aquecendo e derretendo o
gelo. Desnudando. E o liberando das grades imaginárias da prisão
autoimposta. No entanto, a liberdade desconhecida não era tão diferente da
prisão familiar. Estava confuso e sem rumo. Algo em Emmanuelle rompeu
sua indiferença, como se garras tivessem aberto seu peito e a instalado lá
dentro.
Ele se assustou, melindrou, enraivou-se e, por fim, se culpou.
Seu leão era inútil, causa perdida. Passando de rolar e ronronar a
rugir exigências que lhe eram incompreensíveis quando a fêmea humana
estava por perto. Ou assim preferia pensar. Porque a outra possibilidade,
aquela que recusava veemente a reconhecer, fazia a culpa pesar mais.
Collin estava sentindo demais.
Pensando demais.
Questionando demais.
Desejando demais.
Não mais indiferente a vida, as possibilidades do futuro.
O reconhecimento de si mesmo e da outra fêmea era uma tortura.
Ele não podia trair Maria assim, macular o sentimento incólume.
Sua memória. Isso simplesmente não era possível. Não só porque tinha sido
sua prometida. Maria tinha sido sua amiga antes de tudo. Eles caíram no
amor tão rápido quanto a correnteza de um rio agitado depois de uma chuva
torrencial. Foi a queda mais perfeita e deliciosa. Eles construíram um elo de
carinho, de sonhos e de cumplicidade.
Maria era parte dele e ele era parte dela.
Eles tinham tido uma conexão especial.
Ela se encaixou nele. Silenciosa e reservada. Uma fêmea doce, de
sorriso tímido e olhar arisco, por quem ele tinha se apaixonado loucamente
quando a viu pela primeira vez. Ela não reclamou quando a levou para o
covil que construiu para eles longe do bando. Como shifters-leões andavam
em grupo. Um shifter solitário estava exposto. Ele tinha sido tolo. Era jovem,
imprudente, cheio de energia, o próximo na linha de sucessão do bando. Seus
pais não tinham tomado sua escolha com bons olhos, mesmo com Maria, a
quem consideravam inferior. Eram céticos quanto aos companheiros
prometidos. E isso lhe rendeu atritos familiares, antes que seu pai lhe
ultimasse: o bando ou Maria.
Collin não pensou duas vezes.
Ele abriu mão de sua posição no bando.
Collin não gostava da exibição de força como os irmãos faziam.
Mais quieto, não menos orgulhoso. Ele não precisava estar festejando com o
bando para saber o que acontecia ao seu redor. Era um macho de habilidades
excepcionais, prestativo e observador, os sentidos afiados como nenhum
outro. Os irmãos zombavam, ele não ligava. Diferente desses, que saltavam
de fêmea em fêmea, Collin não tinha os mesmos impulsos. Não que fosse um
santo quando conheceu Maria, que tinha chegado ao bando para visitar uma
tia.
Ele não teve reservas com ela, caindo em seu encanto jovial.
Em questão de dias, eles estavam tão entrosados, tão íntimos.
Presos no amor. Prometidos eram assim, rápido e permanente.
Como não amar aquele ser que foi criado sob medida para você?
Ele podia lê-la como um livro aberto, se antecipar aos seus desejos
até...
O macho se zangou, recusando-se a entrar no emaranhado de
memórias sombrias.
Ele se aproximou do meio círculo ao redor da fogueira, que os
machos do bando estavam, conversando e bebendo cerveja feita na reserva.
Uma garrafa foi empurrada em sua direção.
O gosto amargo da bebida sussurrou a visão da fêmea que ele
evitava como praga, da súbita vontade que sentiu de provar seus lábios.
Emmanuelle parecia tentadora. Toda macia. Criminal. Uma bomba
sexual que queimou lentamente em seu sangue, até que ele estava rugindo de
necessidade dela. O cheiro dela tinha se agarrado ao seu nariz. A visão dela
boa o bastante para provocar uma reação. Seu pau estava tão duro que doía.
Desafiando a dar o próximo passo, e ele quase fez. Refém das carícias que
ela fez em seu peito. Ela não fazia ideia do que tinha iniciado, do que seu
comportamento significava, de como deixou o leão em êxtase. Ele teve que
se forçar a lembrar que ela era humana ignorante das preliminares de sua
raça.
Collin se viu desesperado pelo desejo de ceder.
Ele quis tanto.
Um querer visceral.
Um desejo nascido da necessidade de se satisfazer, de tê-la. Tudo
doía. A fome crua e escura queimando através de seu sistema. Labaredas
chamuscando sua resistência. E antes que a transformasse em pó, ele correu.
Não rápido o suficiente para não sentir o peso da rejeição que ele depositou
nela. Ficou furioso com ele mesmo pela cobiça descomunal e por magoá-la
no processo.
Collin não tinha sido um conquistador, mas ele conhecia as
mulheres. Ele podia ler as fêmeas, facilmente. Ele leu Emmanuelle. Cheirou
sua excitação e necessidade. Seu interesse. Sua submissão. Sua carência e
demandas femininas.
Emmanuelle irritava seus nervos.
Isso, no entanto, não lhe dava direito de feri-la.
Havia tanta culpa e arrependimento que o estava enlouquecendo.
A conversa ao redor chegou até ele.
— Elas não são tão diferentes das nossas fêmeas — Jace dizia.
— São mais frágeis — Keegan concordou.
Brad bufou, a carranca estragando suas feições.
— Não tenho interesse em fêmeas frágeis.
Jace encolheu os ombros e atiçou o fogo com uma vareta.
— Embry e Caleb parecem felizes.
— Eles são acasalados com suas prometidas, é diferente — Brad
argumentou. — Elas se tornaram mais resistentes com a troca entre eles.
— Veja isso como um desafio — sugeriu Kian.
— Não vou fazer isso de novo — Brad dispensou, com um
grunhido.
— Bundão — Kian zombou. — Tá com medinho da fêmea humana.
O macho rosnou, lançando um olhar feroz.
— Ela me deu tapa na cara. Não que eu tenha sentido. A mão dela
doeu mais, só não mais que meu orgulho quando ela me escorraçou com um
sapato na mão.
— Nossas fêmeas teriam ido pra sua jugular. — Kian riu.
Collin diminuiu o ruído das conversas. E depois de um tempo, ele
decidiu que tinha tido o bastante. Não fazia muito disso, se reunir com os
machos para jogar conversa fora. Esse não era seu negócio. Mas, em dias
como aquele, preferia preencher a mente com as tagarelices ruidosas dos
irmãos.
— Você não faz isso com fêmeas humanas — Keegan elucidou. —
Elas não são como nossas fêmeas que tratam o sexo de forma igual. Elas
precisam ser cortejadas.
Collin decidiu que podia ficar um pouco mais.
Ele se afundou de volta em seu assento, com uma máscara de
indiferença. Bebeu o resto de sua cerveja num gole longo e, em seguida,
pegou outra.
— Eu vou pedir desculpas — Brad rendeu-se.
— Fêmeas gostam de ser mimadas — Keegan disse. — Não basta
só se desculpar com palavras. Dê-lhe um presente, também.
Collin se levantou e afastou-se tão silencioso quanto tinha chegado.
Ele, de repente, sabia o que fazer.

xXx

A batida na porta fez Emme largar o kindle na mesinha ao lado da


lareira. Surpreendeu-lhe quando abriu a porta. Esperava qualquer um, exceto
ele.
— Oh, uh... você...
Collin não disse nada.
Os olhos azuis tempestivos presos nos seus.
Eletricidade fluiu entre eles, crepitou em sua pele e se estabeleceu
em seus ossos. O calor de seu olhar, sua leitura íntima, a fez queimar lento
até estar inundada de necessidade. Seu sexo apertou. Os seios se sentiam
inchados, os bicos duros empurrando contra o material da enorme camiseta
que ela usava sem a proteção do sutiã. Ela quis puxá-los e apertar, girando
em seus dedos. Ergueu as mãos no impulso e deteve-se no último instante.
Emme soltou o ar dos pulmões, lentamente.
Ela ignorou a dor em seu núcleo, a sensação molhada e febril. E
depois, se xingou, sentindo as bochechas aquecerem como uma virgem
tímida.
As reações hormonais e físicas que esse homem causava...
Verdade fosse dita, olhar para Collin Del Rey colocava cor em seu
dia. Enchia seu coração de tal forma que tudo parecia melhor. E vendo-o ali,
ela nem se lembrou que estava irritada com ele. Em vez disso, deu-se conta
de que estava com saudade. E eufórica por vê-lo. De repente, Emme queria
abraçá-lo, senti-lo nela. Envolvida por seu corpo duro feito aço, seu cheiro,
o poder e a proteção de sua força, o som potente do coração dele contra sua
orelha.
— Eu sinto muito — ele disse, bruscamente.
— O quê?
— Não foi minha intenção te dar esperança sobre nós.
Oh, isso. Bem, agora ela se lembrava o motivo de sua irritação.
— Não foi culpa sua, Collin. Eu bebi e confundi as coisas. — Isso
mesmo, jogue a culpa na bebida e dê adeus a sua última esperança de entrar
no céu.
Dane-se.
Não era a primeira, nem a última a usar a bebida como defesa.
Ele estreitou os olhos, como se duvidasse dela.
Ela negaria até a morte que quis aquele beijo e muito mais.
Ele pareceu brigar com ele mesmo. E quando falou novamente, a
espantou. A voz era macia e aveludada, nenhum resquício de rispidez que
ela estava acostumada. Como se estivesse envergonhado e arrependido por
ser tão duro. Suavidade tingiu o seu rosto cansado. O coração de Emme
saltou.
Ele que sempre era tão crítico — agora — parecia culpado e
constrangido, como se tivesse caído em si sobre sua má conduta
desnecessária.
Emme olhou boquiaberta.
— Não sou esse cara, Emmanuelle. Não desrespeito fêmeas. Nunca.
— Então por que eu? Não entendo, se fiz algo...
— Você é você.
— E isso faz de mim culpada?
— Você me aborrece.
— Oh... Uau! Caramba! Não posso acusá-lo de ser desonesto, hein?
Correndo a mão pelo cabelo, ele exalou forte, desesperado, como
se estivesse a ponto de ruir. Pura aflição. Havia tanta dor, tanta angústia nas
profundidades azuis de seus olhos extraordinários, que ela quis chorar.
— Não posso estar perto de você, Emmanuelle. Diga que me
entende.
— Não, eu não entendo — recusou, espantada com quão rápido as
lágrimas queimaram em seus olhos. — Te enojo tanto assim? Sou tão
terrível?
— Nada em você me enoja, fêmea.
— Então, por quê?
Ele continuou olhando, sua quietude gritante, um tormento.
— Se me der uma chance — ela começou, a voz baixinha e
pausada, — talvez possamos descobrir que somos bons juntos.
— Não.
— Não estou falando de romance.
— Não.
— Podemos ser amigos.
— Já tenho amigos.
— Amigos nunca são demais.
— Não quero ser seu amigo.
— O que raios veio fazer aqui então?
— Me desculpar — ele disse, simplesmente.
— Já fez isso...
Ele não estava se movendo.
—... E eu desculpei. Agora se me dá licença.
Emme tentou fechar a porta, mas a mão dele estava lá, impedindo.
— Eu não quero te magoar, Emmanuelle.
Deus, até a forma que ele a chamava era dolorosa. Ela olhou, com
um nó na garganta, tentando acompanhar as palavras nocivas ao seu coração.
— Você diz que não quer me magoar, mas é a única coisa que tem
feito desde que nos conhecemos, Collin. Não sei porque desgosta tanto de
mim. Eu queria entender, mas não acho que irá me dizer, não é? O que faz
disso tudo — gesticulou entre eles — inútil.
— Nunca poderemos nos relacionar, Emmanuelle. De nenhuma
forma. Não posso ficar perto de você. Estou sendo honesto.
— Por quê? — ela sussurrou, antes que pudesse se segurar.
— Eu... — ele parou, relutante.
— Dê-me isso, pelo menos — exigiu, irritada. — Por que não
podemos nos conhecer? Não tem que me beijar, transar comigo, só... Droga!
Não ser assim.
— Não podemos ter o que queremos.
— Claro que podemos. Somos adultos e...
— Eu não posso.
— Mas você quer?
— Eu nunca quis nada, nem ninguém como quero você. Cada minuto
longe é insuportável. Sinto que não posso respirar direito se não... — ele
disse, com presumida frustração e dor em sua voz. — Eu... Eu não posso,
Emmanuelle. E isso está acabando comigo. Preciso salvar o que me resta.
Emme ficou muito quieta, não sabendo o que dizer. Ele a tinha
deixado sem palavras e com um gosto amargo na boca. Não fazia sentido,
nada disso, nem que ela, apesar de sua rejeição, quisesse lutar... pelo que?
— Eu te trouxe algo — Collin quebrou o silêncio.
Seu olhar caiu, pela primeira vez, para a mão dele segurando...
Emme saltou para trás, xingando.
— Jesus Cristo, que porra é essa?
Horror embrulhou sua expressão, a ânsia subindo pela garganta.
Ele olhou como se não entendesse quando ela ficou pálida, lutando
contra o vômito, quando ele empurrou o coelho esfolado para ela.
— Estou me desculpando.
— Se desculpando com... com isso? Você é louco, porra? Que tipo
de doente é você me oferece um animal morto para se desculpar? — Nesse
ponto, ela estava gritando, completamente fora de si. — Se queria me
afastar, conseguiu.
— Eu não...
— Inferno, nunca mais se aproxime de mim!
Emme bateu à porta fechada. Ela correu para o banheiro e vomitou
seu almoço. Já tinha levado uns nãos na cara, mas uma rejeição desse nível,
caramba.

xXx

Collin pisou duro, afastando-se do chalé, antes que cedesse a


vontade tentadora de estrangular a fêmea irritante. Ele não foi grosseiro com
ela. Ele foi numa missão de paz. Ele até caçou uma refeição para ela...
Uma honraria.
... que ela se desfez.
Foi um tapa em seu orgulho, dizimando qualquer intenção de paz.
Choque o fez ficar enraizado no lugar depois que ela bateu à porta
em sua cara. E, em seguida, a ouviu vomitar. Isso o ligou de volta.
Seu temperamento subiu tão rápido, que ele queria rugir de raiva.
Homem e leão com o orgulho em frangalhos.
Ele evitou os poucos humanos no caminho, e empunhou o coelho
morto para uma das fêmeas do bando. Ela pegou, chocada. Ele só rosnou, a
expressão escura com raiva enquanto suas passadas o levavam para longe do
chalé.
Ele tinha terminado com Emmanuelle.
12
NÃO ME FAÇA TE CAÇAR

Caleb entrou na P&C indiferente aos olhares femininos.


— Ei, Conan, o que posso fazer por você? — Lee cumprimentou se
aproximando.
— Maya?
O sorriso de Lee mingou, notando a seriedade do homem.
— No escritório.
Ele anuiu e girou os calcanhares, mas fez uma breve pausa.
— Se tiver a torta de avelã com nozes, separe para viagem, por
favor.
— Trish ainda está tendo desejo?
Um traço de suavidade amorteceu a rigidez de suas feições, e ele
sorriu.
— Sinto que será o último.
— Vou separar uma fatia da de maçã também. É por minha conta.
— Obrigado, Lee. Eu aprecio isso.
Caleb se dirigiu para os fundos do estabelecimento.
Dentro do escritório, deparou-se com Maya atrás da mesa. Ela não
o olhou. Papeis e cadernos de contas estavam abertos na sua frente.
— O que posso fazer por você, Caleb?
Ele puxou uma cadeira e se sentou, esperando que ela olhasse. E
quando fez, seus punhos cerraram, as pontas das garras saindo num ímpeto
de raiva, ao ver os círculos escuros em torno dos olhos sem vida, que a
maquiagem não deu conta de esconder. O rosto delicado estava ossudo, as
maçãs proeminentes. Seu aspecto não era nada bom. Ele cheirou sua dor,
tantos níveis, o mal-estar físico.
— Há quanto tempo você não muda, Maya? Que não caça?
— O que isso importa?
— Já se olhou no espelho?
— Está aqui para falar sobre a minha aparência?
— Estou preocupado com você e estou cansado de estar assim —
ele rosnou, com desgosto pronunciado, que alertava que ele estava tentando
se controlar para não ir todo alfa sobre ela.
— Eu não te pedi nada.
— Não precisa, é isso que os amigos fazem.
Ela fez uma careta, rejeitando.
Os olhos dele lampejaram em dourado. O alfa, não mais quieto,
olhou para a fêmea, exigindo atenção. A loba subiu a borda, capturada pela
força e comando no olhar do outro animal, os olhos em um azul profundo de
tristeza.
— Pode rejeitar nossa amizade, Maya, mas não pode recusar seu
alfa. E eu estou te dizendo agora, não me obrigue a te obrigar a cuidar de si
mesma.
Ele então recuou, liberando-a.
— Precisa mudar, deixar sua loba respirar e correr ao ar livre.
— Não posso fazer algo que ela não quer — ela disse, exasperada,
parecendo terrivelmente cansada.
Ele arqueou a sobrancelha, deixando claro que não acreditava.
— Force-a a sair. A está adoecendo e te adoecendo no processo.
Nosso animal não pode ficar enjaulado por tanto tempo.
Maya baixou os olhos, mas não disse nada.
O lobo de Caleb queria rosnar para ela, mas o homem forçou o
controle.
— O julgamento será daqui uma semana.
Isso teve a atenção da fêmea.
— Por que está me dizendo isso agora?
— Eu te fiz uma promessa.
— Você não se preocupou em me avisar quando teve ele sob sua
custódia — recordou ela, com mágoa e raiva, a loba ainda furiosa com ele.
— Teria mesmo me contado se a Prima não tivesse se envolvido?
— Maya...
— Sério, Caleb. Teria ou não?
— Na hora certa.
— Eu tinha o direito de saber — ela rosnou para ele.
— E eu tinha o direito e o dever de cuidar do bando. Não se trata só
de você, Maya. Não é minha culpa que seu macho tenha fugido e te deixado
pra trás — ele grunhiu, ferozmente, violentamente, assistindo a fêmea se
encolher.
Caleb saltou em pé e passou a mão pelo cabelo, exalando frustrado.
— Porra. — Ele andou pelo escritório, então parou na frente da
mesa, as mãos no quadril. — Sinto muito. Não deveria ter disso isso.
Maya se empurrou para trás na cadeira, parecendo ainda mais
frágil.
— Não mentiu — ela disse baixinho, evitando seu olhar.
— Não, não fiz. Ainda assim, foi duro da minha parte.
Caleb voltou a afundar na cadeira, esfregando o rosto com as mãos.
— Não há jeito fácil de fazer isso.
— Suponho que não.
— Pode não gostar de como fiz as coisas, não te tiro esse direito.
Mas sabe que, como alfa, tenho o dever de assegurar a segurança do bando
contra possíveis ameaças. Minha fêmea se adiantou e eu já tratei com ela.
— Trish não fez por mal. Ela não conhece nossas tradições.
Ele sorriu um pouco, apreciando a proteção de Maya. E depois, ele
ficou muito quieto, o olhar concentrado nela.
— Não me culpe por cumprir com minhas obrigações e
responsabilidades.
Ela lhe deu um olhar, genuína preocupação iluminou sua feição.
— O bando está seguro?
— Até onde me consta, Lucius não é uma ameaça, exceto para...
—... mim — completou, e abaixou o olhar. — Ele não pode me ferir
mais, Caleb — ela murmurou, como se repetisse um mantra. — Não há mais
nada que ele possa fazer para me machucar que já não tenha feito.
— Não é obrigada a estar lá. Não vou forçá-la, tampouco.
— Ele não se preocupou antes, por que devo me preocupar agora?
— Isso terá que perguntar ao seu companheiro.
Ela cerrou os dentes, sua loba arranhando e rosnando para sair.
— Lucius tem direito a uma visita. Eu vou levá-la até ele quando
quiser.
— Não.
— Não? Eu pensei que quisesse isso depois de tudo.
— Os humanos me olham... — ela disse, de repente, a troca
repentina deixou Caleb em alerta. — E mesmo não tendo ideia do que
realmente sou, eles pensam que eu os odeio, sabe, que odeio as pessoas. Sua
fêmea me disse isso.
— Trish não quis te magoar, Maya.
Maya sorriu triste.
— Eu sei que não. Não a culpo por falar o que todos pensam. Não
me esforcei para que pensassem diferente. Eu tinha muita dor em mim, tanto
sofrimento. E nenhuma reserva de energia para me esforçar a ser cordial
quando o peso do que sentia era demais para suportar. — Ela pegou uma
respiração funda, e apertou as têmporas como se uma dor de cabeça
estivesse começando. — Em verdade, não os odeio. Eu invejo. Invejo essa
capacidade que eles têm de se desprender das coisas, das pessoas, a
facilidade com que eles podem ignorar os instintos como se não existissem.
Eles são bons nisso. Realmente bons. Isso é invejável para uma raça como a
nossa, que os instintos são tão fortes que se tentarmos ir contra eles, eles nos
viram do avesso. Você conhece essa sensação, não é?
Caleb continuou fitando-a sem entender onde ela queria chegar.
Maya suspirou, deixando o cansaço aparecer.
O alfa sentiu o pesar da loba, sua aflição e violência, o desgaste
emocional e também sua fraqueza, a derrota em seu grunhido baixo.
Caleb cerrou os punhos, as garras se afundando na carne, o sangue
gotejou. Maya fitou seus punhos cerrados e desviou o olhar. Ele estava tendo
um tempo difícil para controlar o alfa enfurecido. Rosnando ação, exigências
duras, que ignoravam o desejo de Maya, para livrar a loba do cativeiro.
Ela parecia derrotada, como se carregasse o peso do mundo nas
costas.
— É isso que está tentando fazer? — indagou Caleb, com cuidado.
— Cada um luta com as ferramentas que tem, Caleb... Não me olhe
assim, não sabe o que é estar no meu lugar. O pensamento de estar sem sua
fêmea, o que ele causa, não é nem um terço de como me sinto. Ninguém
entende.
— Não, eu não entendo. E não vou fingir que não estou grato por
isso — disse ele, a voz cortante e letal. — O que está tentando fazer, é
perigoso, Maya.
— Não sei porque se preocupa com isso agora — ela desdenhou,
grunhindo. — Então, o quê? Tenho que estar forte, saudável e feliz, para
receber o macho que me abandonou sem pensar duas vezes?
— Não se trata dele.
— Não? Não lembro de você vindo aqui antes.
— O que te faz pensar que estava fora do meu radar? Eu respeitei
seu espaço, dei o que você precisava. Isso não significa que não preocupei,
que não olhei por você.
Ela lhe deu um olhar incrédulo, os lábios apertados, mas não falou.
— Você virou as costas para o seu bando, ainda assim, sempre
estivemos aqui por você.
Maya abaixou os olhos, sabendo que ele tinha razão.
Caleb continuou, implacável, a voz era como um chicote:
— Mantive meu nariz fora dos seus negócios enquanto você ainda
estava fazendo o mínimo para se cuidar. Enquanto esteve mudando. Faz
meses que não muda, Maya... Eu tenho te acompanhando, loba.
— Não sinto vontade de mudar — defendeu-se.
— Acha que se não der rédeas soltas a loba, sua parte humana irá
substitui-la? Que isso vai mudar quem é? Seu acasalamento?
Os olhos dela brilharam com lágrimas, que rapidamente caíram.
— Não sabe como é! — ela se enfureceu. — Eu tenho que tentar,
Caleb. Não sabe o que é quando mudo, acha que isso ajuda? Não ajuda. É
mais forte... Não mudar, isso sim me ajuda. Fica mais suportável.
— Ignorar sua loba não te fará bem algum. Olhe pra você, Maya.
Está enganada se pensa que recusar sua loba, ficando na forma humana por
mais tempo, te ajudará a suportar. Isso, na verdade, está te matando. Sua loba
não torna seus demônios mais insuportáveis. Ela te equilibra, te mantém
saudável. Por isso, deixamos nosso animal livre, corremos e caçamos com
frequência.
— Não posso...
Caleb se pôs em pé, seu rosto escureceu, ele parecia poderoso, a
letalidade em seus olhos aprofundou a ameaça. Perigoso. Mortal.
— O julgamento acontecerá com ou sem a sua presença.
Ela fungou.
Ele se adiantou para porta e parou antes de sair.
— Te espero às oito depois do jantar. Resolva o que tem que
resolver, iremos correr e caçar.
— Estou ocupada — ela recusou, bravamente.
O poder fluiu em seus membros, os olhos dourados cintilando. A
temperatura no cômodo diminuiu quando o ar pesou, mais denso e frio.
— Não posso sanar seu coração, Maya. Mas o que estiver ao meu
alcance para mantê-la viva e sã, eu farei. Quer você queira ou não. Sou seu
alfa. E até que te expulse ou desterre, fará o que quero que faça. Pode não
querer correr com o bando, mas fará comigo.
— Eu posso ir sozinha.
— Não me faça repetir, loba. — Ele foi até ela, plantou as mãos na
mesa, inclinando-se para nivelar seus olhares, o lobo olhou diretamente para
ela. — Não me faça te caçar.
— Você não faria — ela sussurrou em choque.
— Não? — Caleb endireitou a postura, olhando de cima. — Se eu
tiver que te caçar para colocar algum sentido em sua cabeça, eu farei.

xXx

Depois do jantar, Caleb esperou por Maya no ponto marcado.


A mudança, a corrida e a caça eram essenciais, não apenas para a
socialização do bando. Mas, sobretudo, porque funcionavam como
reguladores para a manutenção da sanidade e equilíbrio entre as partes
animal e humana do shifter. Eles podiam escolher ficar mais numa forma do
que em outra. Não havia problemas, desde que fizessem a troca com certa
frequência.
O que Maya estava tentando fazer era suicídio.
Ele forçaria Maya se necessário.
Ele também esperava não precisar fazer isso.
As orelhas do lobo zumbiram e seus olhos aguçaram na direção do
som. Ele esperou até que a loba branca surgiu. Maya não parecia feliz. Caleb
ignorou. Desde que se cuidasse, Maya podia odiá-lo e amaldiçoá-lo até a
centésima geração. E, apesar de tudo, sua loba ainda era leal ao alfa.
O lobo balançou a calda, com giro e correu, a loba o acompanhou.
A conexão estava aberta, mas Maya tinha conseguido se fechar. Ele
podia sentir a loba, que estava radiante pela liberdade, vibrando com a
corrida e a caça.
Ele não forçou uma conversa mental.
Correram por um tempo, caçaram, esgotando-a, e retornaram.
No último instante, tudo aconteceu muito rápido.
Caleb abriu uma conexão mental com Jace ao sentir a determinação
e mudança na loba. Ela faz um desvio, correndo em disparada para
Snowville... diretamente para Lucius. Seu companheiro prometido.
Caleb não fez nada para detê-la, indo atrás dela só por cautela. Os
instintos chutaram seu traseiro para não a deixar sozinha.
Jace abriu a porta para a loba.
Ele podia sentir a luta de Maya para deter a loba.
Caleb fez a mudança. Num piscar, ele estava diante de Jace, que
ainda mantinha a porta aberta, com um olhar preocupado.
— Contou a ele que ela estava vindo pra cá?
— Eu deveria?
Caleb passou por ele, seguindo o rastro de euforia e tristeza.
O silêncio era sepulcral quando alcançou a porta do porão. Então
tudo explodiu. A dor. O choro. O desespero. A desolação da fêmea. O
arrependimento do macho. Houve um grito. Dor excruciante. Seguido de um
baque.
Caleb parou, abalado, e agarrou no batente da porta para se
estabilizar.
Suas mãos fecharam em punhos duros, as garras agredindo suas
palmas outra vez, a mandíbula tão apertada que estalava. Ele usou cada
grama de força e poder nele para controlar a fúria escaldante, vibrando em
seu núcleo, à medida que cena se abriu para ele conforme descia as escadas.
Lá estava a fêmea, em sua forma humana, de joelhos na frente da cela, as
mãos sobre o rosto, os ombros chacoalhando com a histeria. Parecendo
pequena demais, frágil demais, como se o sopro mais suave pudesse
desfazê-la. O macho estava lá, na sua frente, de joelhos também, pressionado
contra as grades, segurando as barras com tanta força que o material rangeu,
mas ele não iria conseguir escapar.
Caleb tinha se certificado para que a cela fosse feita de um material
resistente.
A cela não tinha sido colocada lá para Lucius, mas veio a calhar.
Caleb se recusou a sentir pena do macho, ainda que o odor de seu
sofrimento fosse demais até para ele. Em poucas passadas, se aproximou da
fêmea e a apanhou nos braços, não achando resistência nela. Maya, nua como
estava, enlaçou o pescoço do alfa e escondeu o rosto em seu ombro. Caleb
girou os calcanhares, ignorando os protestos e rosnados bestiais do macho. E
saiu.
Ela tremia tanto quanto chorava.
Ela resmungou, o som saiu abafado em sua pele molhada pelas
lágrimas dela. Ele parou, ainda dentro da casa. Jace estava na porta, com a
expressão sombria tal qual a dele próprio. Maya afastou o rosto não fazendo
nada para limpar as lágrimas e respirou fundo.
— Pare... n-no chão..., me coloque no chão — pediu, a voz em
frangalhos.
O som do choro, do desespero e da fúria do macho no porão,
gritando por ela, parecia chacoalhar toda a estrutura da casa.
Os clamores de Lucius a fez estremecer.
Caleb não precisava olhar para Jace para saber que o macho
refletia seus instintos assassinos. Que compartilhavam o mesmo desejo de
destroçar Lucius.
Caleb estava fervendo de raiva, a veia furiosa pulsando em sua
fronte.
Ele colocou Maya em pé.
E, no outro segundo, ela caminhou para fora da casa.
Caleb cerrou os punhos mais uma vez, as garras saindo. O cheiro
das emoções dela queimava suas narinas. Tanta dor que o rastro parecia
palpável, enjoativo. Veneno mortal. Uma gosma enegrecida e pútrida.
Um rosnado profundo subiu pela sua garganta e outro se juntou a
ele.
Ele foi atrás dela, a loba branca surgiu da névoa e saltou. Ela
correu, se embrenhando por entre as árvores cercando a casa de Jace. Caleb
mudou e a seguiu. Não havia mais o bloqueio, porém, no lugar do
pensamento, havia um emaranhado de sentimentos tortuosos. O terremoto de
emoções, a intensidade explodindo em sua mente, que Caleb se obrigou a
bloqueá-la.
Eles se aproximaram da margem da vicinal, que levava a reserva. O
carro de Maya estava lá. Eles ainda não tinham mudado de forma.
Caleb parou, sentando-se em suas ancas, observando-a ir.
Ele sabia que ela precisava de espaço para lidar com suas
emoções.
Ela parou, de repente.
“Preciso que me libere”.
“Iremos correr amanhã, novamente,” disse ele, suavemente, não
querendo ser mandão e insensível, mas deixando claro que não estava
desistindo. “Sem caça, só correr.”
“Não é sobre isso”. Ele a ouviu ranger os dentes para ele.
“É sobre o que?”
Maya mudou de forma, pegando as roupas de uma sacola escondida
embaixo de um pinheiro, para se vestir. Caleb mudou também.
— Eu quero te fazer um pedido, Caleb.

xXx
Emme deixou Trish dormindo na suíte, e desceu para a cozinha.
Caleb tinha saído logo após o jantar para resolver um problema, e
ela decidiu que ficaria um pouco mais. Ela não tinha contado a Trish sobre o
episódio com Collin.
Ela devia contar?
Ela ainda não podia acreditar no que ele fez. Todavia, não queria
criar problemas para o homem. Não era culpa dele se não tinha modos e agia
como um neandertal.
Viver naquele fim do mundo tinha lá suas consequências.
Emme saiu pelos fundos e se desfez do saco de lixo na lixeira, que
ficava na lateral da casa. Ela girou para sair. E parou, apanhada pelo
vislumbre de algo em sua periférica. Ela observou com atenção em direção
ao quintal do fundo da casa, e lá estava ele. Um lobo de pelos avermelhados
surgiu por entre as árvores e se aproximou. Calmamente. Sem hesitar.
Congelada, ela não se moveu.
Mal respirava.
Da onde estava — escondida nas folhagens do enorme pinheiro —,
Emme ficou tão silenciosa como pôde para não atrair a atenção do animal.
Não era à toa que Trish e Caleb, mesmo o irritante Collin, tinham
alertado sobre os perigos de andar sozinha.
Havia placas de avisos sobre lobos e outros animais.
Caleb explicara que, apesar de selvagens, não eram hostis com
humanos desde que não se interpusessem em seu caminho.
Como sairia de lá sem ser notada?
Emme assistiu, com descrente espanto, duvidando de sua sanidade,
uma névoa escura ondular o animal, enrodilhando o ar a sua volta. E, em seu
lugar, um homem nu surgiu. Caleb.
13
PEDIDOS INESPERADOS

— Maya, isso que está pedindo...


— Não tem que decidir agora.
— Não há o que decidir. É absurdo.
Ela lhe deu um olhar ferido, os olhos ainda vermelhos e inchados
do choro.
— Me forçaria, Caleb? Não basta tudo que tenho vivido?
Caleb olhou para a fêmea incapaz de falar. Ele não podia imaginar
o que ela viveu por quase dois séculos e meio separada de seu prometido.
— Maya, o que tem tentado fazer, esse pedido... — ele soou
razoável enquanto sacudia a cabeça. — Sabe que tudo isso é besteira. Me
peça qualquer coisa, exceto isso.
— É o que quero — ela rosnou, taxativa.
— Quer o que eu não posso te dar.
— O que não quer me dar — ela corrigiu entre dentes, rígida da
cabeça aos pés, o olhar brilhando cheio de dor.
Ela parecia irredutível, nada do que dissesse a faria mudar de ideia.
Ele não ia ceder, não assim.
— Caleb, — ela implorou. — Por favor.
Não suportando, ele se aproximou, abraçando-a.
O lobo acasalado rejeitava o contato com fêmeas que não fosse a
sua própria, mas mesmo ele se calou diante do desespero e tristeza de Maya.
Caleb amaldiçoou, afastando a memória.
Desligou a água e saiu do banheiro com uma toalha ao redor do
quadril. Trish o assistiu com o olhar preocupado.
— Qual o problema?
Ele sentou na poltrona em frente à janela, as pernas abertas, os
antebraços apoiados nos joelhos quando se inclinou para frente. Seus dedos
correram pelo cabelo úmido, rastros úmidos percorreram sua pele.
Caleb era uma força a ser reconhecida. Letal. Implacável.
Absolutamente, sexy.
Mesmo agora, com a preocupação marcando seu belo rosto com
linhas duras. Ele parecia sexy e perigoso. A tensão de seus ombros o fez
parecer ameaçador. Mais intenso.
— O julgamento foi marcado.
— Já não era sem tempo. Maya sabe?
Caleb lhe deu um olhar.
— Ah!
— Ele nunca deveria ter voltado.
— Mas voltou, e isso talvez possa ter um significado.
— É o que tenho medo.
Trish se endireitou contra a montanha de travesseiros.
— O que quer dizer?
— Há algo sobre ele...
— Você disse que ele foi honesto sobre suas intenções, que cheirou
a verdade nele. Seu nariz intrometido está falhando?
Caleb riu, a risada grave soltando um pouco da tensão em seus
músculos.
— Meu nariz intrometido funciona muito bem, companheira. Incluso
o creme que está molhando os lábios da sua boceta perfeita — ele disse, o
olhar predatório preso nela quando se pôs de pé, puxando a toalha para
longe de seu quadril. Seu pênis estava ficando duro sob o olhar ganancioso
de sua fêmea.
Trish lambeu os lábios, e ele quase gemeu.
— E-Estamos em perigo?
Ele sorriu pelo esforço que ela fez para afastar os olhos de seu
pênis.
Chegando nela, ele se debruçou, os braços estirados ao redor dela
como uma prisão, a encurralando. Ele a beijou com calma, deslizando a
língua por seus lábios. Chupou o inferior com a paciência treinada de um
amante, e depois o outro. Ele empurrou a língua no calor aveludado de sua
boca, beijando ainda mais lento. Tão apaixonado. Caleb a estava
provocando. Derramando calor, até que a necessidade cantava no sangue da
fêmea e ela se sentisse hipersensível.
Trish gemeu, alcançando sua coxa.
Ele pegou seu pulso antes que ela chegasse a seu pênis, rindo contra
os lábios dela. Emocionado e orgulhoso pelo desespero dela. Caleb trouxe
sua mão para cima, ainda segurando o pulso delicado, e beijou a palma
macia.
Eles se entreolharam e não havia nenhuma dúvida das intenções
escuras, o desejo arrebatador que sempre parecia consumi-los... do que iria
acontecer...
Havia muitos sentimentos naquela troca de olhar.
Muito amor.
Muito querer.
Muito tesão.
Muito respeito.
Muito carinho.
Caleb encostou a testa contra a dela.
— Eu amo você, Trish, com tudo que tenho, com tudo que sou.
— Não mais do que eu amo você.
Caleb pousou os lábios nos dela, firmeza e suavidade contrastando.
E, desta vez, a ternura sobrepujou a sensualidade. Caleb deixou
pequenos beijos em seus lábios, antes de se afastar. Ele sentou na beirada da
cama.
Trish pousou a mão em seu rosto, virando para ela.
— O que está te preocupando tanto?
— Lucius é um problema que só atrai mais problemas e sofrimento.
Foi assim antes e está sendo agora. — Ele estava sendo evasivo, mas não
iria preocupar Trish com suas reais suspeitas sobre o retorno do macho.
Trish deixou a mão cair.
— Você não o baniu.
— Eu deveria ter feito, no entanto.
— Poderia permitir uma visita.
— Maya o viu hoje — relevou Caleb, com raiva. — Depois que
caçamos, a loba foi até ele. Deveria julgá-lo e acabar com isso de uma vez.
— Caleb não permita que sua raiva corrompa seu julgamento, pois
estará agindo como ele agiu no passado. Você é um alfa diferente do que
Lucius foi. É o melhor para este bando. Se ele tem direito a um julgamento
justo, dê-lhe isso... dê isso a Maya. Ele agiu como um canalha, mas é o
prometido dela.
— Maya quer que eu a desterre.
— Você não está pensando...?
— Não farei. Maya pode ter nos afastado, mas fomos nós que a
mantivemos sã, a ligação que compartilhamos no bando.
— Lucius também.
— Não estou certo disso.
— Acredita mesmo que ela não teria sentido o rompimento da
ligação se ele tivesse morrido? — Caleb não respondeu. — O Criador nunca
erra, é o que sempre diz..., todos vocês. E eu posso ver isso. Você talvez não
seja capaz de enxergar agora por causa da raiva. Mas, de alguma forma, ela
estar aqui hoje também ter a ver com ele. O bando a ajudou manter-se até
que ele estivesse pronto para retornar.
— Ele não a merece.
— Não é seu julgamento para fazer.
— Um macho que não valoriza sua fêmea, que foge como um
covarde por puro orgulho, sabendo da dor que irá causar, não é um
merecedor. É uma maldição. — Caleb não escondeu sua aversão ao macho.
— Eu não ligo para os erros que ele cometeu enquanto estava na liderança
do bando, todos nós podemos tomar decisões erradas. Ser alfa traz muita
responsabilidade e um peso do caralho. Somos cobrados por todos e
tentamos fazer o nosso melhor e, às vezes, nosso melhor não é suficiente. —
Fez uma pausa, controlando a raiva. — O que Lucius fez é sem precedentes,
Trish. Ele confabulou com o inimigo contra o seu próprio povo. E, em
seguida, abandonou sua prometida a própria sorte.
Caleb se calou, exalando forte e respirou fundo.
Trish esticou a mão, fazendo carinho em sua nuca com as pontas dos
dedos, tentando soltar os nós. Ele relaxou, consternado.
— Eu conheço aquela fêmea desde que éramos filhotes. Maya nunca
fez mal a um inseto. Lucius a matou há muito tempo.
Houve outro momento de silêncio.
— Essa Maya que conhece não é nem mesmo a sombra do que ela
já foi.

xXx

— Prepare-se, — rosnou Caleb. — Será julgado em uma semana.


O lobo se aproximou das grades, a aparência bem melhor, ainda que
lhe faltasse uns bons quilos, mas não parecia mais que estava prestes a
morrer. Ele nem sequer vacilou, como se o julgamento fosse a última coisa
em sua cabeça.
— Como ela está?
Caleb lhe deu um olhar mortal.
— Seria melhor que você nunca tivesse voltado.
— As coisas não são como você pensa, Caleb. — Lucius se afastou
da grade, caindo para trás no colchão, as pernas flexionadas e os braços
sobre elas.
Ele parecia exausto, de repente. Absorto em sua própria mente,
como se algo lá, nas profundezas secretas, sugasse toda a sua energia.
Caleb encostou o traseiro na mesa, os braços musculosos cruzados
contra o peito, o olhar ferrenho preso no macho. A expressão parecia ter
sido esculpida na pedra, intensificando a agressividade que saia por seus
poros.
— E como elas são, Lucius?
Não houve resposta.
— Você não a merecia antes e não a merece agora.
— Troque o disco, Caleb. Estou enjoado de vocês sempre me
dizerem algo que eu sei — Lucius grunhiu, com desdém. — Por alguma
razão, o Criador pensa diferente.
— O problema de sua arrogância e orgulho, Lucius, é que fere os
inocentes ao seu redor. Seu bando, sua própria fêmea — Caleb disse, com
um rosnado profundo.
— Não dá para acertar o tempo todo, Caleb. Alguns de nós
tomamos decisões erradas tentando fazer o certo, por perspectivas
distorcidas e imaturidade.
— É essa a sua desculpa?
— É o que é. Não sou santo, mas também não sou um monstro.
— O bando e sua fêmea têm outra versão. — E acrescentou. — Só
o fato de estar aqui depois de tudo que fez, prova que não tem nenhuma
honra.
— Eu tomei algumas decisões infelizes por acreditar ser o correto...
— Você quase nos matou e no processo condenou sua fêmea.
— Eu era um macho jovem e inconsequente. O comando do bando
foi me dado. Eu me deslumbrei e me enchi de orgulho, quis provar a todos
que merecia o posto, calar as más línguas, fazer nosso povo crescer.
Caleb recordava o burburinho.
O pai de Lucius era um alfa rígido e impiedoso. Em seu auge tinha
comandado o bando com mãos de ferro e nenhuma misericórdia, mas estava
cansado. E passou o comando para seu único filho, o sucessor.
O bando não estava feliz com o velho, também não ficou feliz com o
filho.
Um alfa sem o respeito de seu bando era uma piada.
Os shifters o temiam pelo temperamento, mas não o respeitavam.
— Eu cruzei linhas para provar que merecia liderar esse bando.
— E, no entanto, provou o que todos já sabiam — Caleb disparou,
com escárnio. — Sua arrogância quase custou as nossas vidas.
— Não foi minha intenção — ele murmurou, parecendo
envergonhado e arrependido. Caleb cheirou a verdade de suas palavras, seu
remorso.
Endireitando a postura, Caleb informou:
— Maya me pediu para desterrá-la.
— O quê? Não, não pode fazer isso.
— Não me diga o que fazer.
— Caleb, por favor — rogou Lucius, colocando-se em pé e agarrou
as grades. — Não faça isso. Faça comigo o que quiser, mas não a condene
assim.
Caleb estreitou o olhar, agressão apertando seus músculos, quando
seus pés o levaram para a grade, na frente do macho. O alfa na superfície,
atento.
— Não sabe o que eu daria para matá-lo, Lucius. Eu posso perdoar
a imaturidade de seus erros, por ser quem é. Não creio que tenha sido fácil
ser criado por um macho como Horus. Eu sei das surras e dos castigos.
Posso imaginar quão deslumbrado e ciumento ficou quando conheceu Maya e
soube que ela era a sua. Como foi ter algo belo quando só teve horror.
Infelizmente para você e para ela, você era filho de seu pai.
Lucius empalideceu, muito quieto, mal respirando.
— Não posso culpá-lo por sua estupidez — continuou Caleb. —
Mas o que fez ao bando, com Maya... isso não. Sua sorte é esse
acasalamento.
— Faça o que tem que fazer comigo, mas a poupe.
— Se a poupar, irei poupá-lo.
— Essa é minha sentença? Já decidiu? — Lucius reagiu, o lobo se
aproximando da superfície, ainda fraco, mas lá. Sua voz era agressiva
derramando-se em ira. — Que porra ainda estou fazendo aqui?
Caleb não se alterou, indiferente ao acesso de fúria do outro macho.
— Terá um julgamento adequado, que é mais do que merece.
14

EU SEI O QUE É

Emme esperou pelo medo, pelo horror, que a faria arrumar as malas
num piscar de olhos e voar de volta para Nova York e esquecer esse lugar.
Mas tudo que sentiu, depois do choque de sua descoberta, foi uma crescente
curiosidade.
Surpreendeu-lhe a fluidez da transformação, a rapidez com que
ocorreu como se fosse natural e costumeiro. Caleb não pareceu sentir
qualquer dor.
Os filmes, certamente, não correspondiam a realidade.
Ela tinha sido dessas crianças que gostava de descobrir como as
coisas funcionavam, de criar fantasias que entretecem a todos.
Sua profissão, como designer de jogos, era uma boa dica.
E agora, tudo que tinha era um interesse pesado que fez sua mente se
desdobrar com as possibilidades e perguntas transbordando ao seu redor.
Estava diante de algo inimaginável, inacreditável.
Devia estar alucinando, mas ela estava consciente do que viu. A
ausência do surto poderia ser um indício de perda de sanidade. Era mais
lógico correr para salvar sua vida. No entanto, apesar do abalo, não se
sentia em perigo.
A descoberta explicava muita coisa.
Trish.
Ocorreu-lhe que somente algo assim, sobrenatural, seria capaz de
persuadir sua amiga sempre tão ponderada e cautelosa a se entregar a uma
relação e uma gravidez num curto período de tempo.
Emme recordou-se das peculiaridades do local, a localização e
restrições aos forasteiros. E, de repente, ela tornou-se consciente do
cuidado, das pessoas sempre olhando com curiosidade. Ela tinha achado
estranho eles não se protegerem do frio como os moradores da cidade ou os
turistas.
Todos aqueles maneirismos e sons que faziam.
Era fácil entender porque se preocupavam tanto com a privacidade.
Mesmo com a temporada aberta, com turistas e uns poucos
visitantes vagando pela reserva, havia restrições. Mais que isso, havia uma
aura misteriosa ao redor de Snowville.
De repente, recordou-se da advertência de Trish.
As brincadeiras de Lee, as piadas que agora faziam sentido.
Emme pensou em Collin.
Os sons que ele fazia...
Ele também podia mudar?
Também era lobo?
Um arrepio cruzou sua espinha.
Todo esse tempo ela esteve atraída por um ser fantástico. Isso
explicava seu interesse, mesmo que odiosa dele em determinados momentos.
Ele era um cara especial.
Emme nunca se interessava pelo comum.
O mais próximo do comum que chegara foi com Josh, seu ex. Não
era de se estranhar que ela não tinha se preocupado que o relacionamento
tivesse esfriado a ponto de serem dois estranhos fazendo sexo
quinzenalmente. Ou que ele a tivesse ultimado. E ela nem sequer tivesse
hesitado ao fazer sua escolha.
Uma parte de si, guardada a sete chaves, escondida por detrás de
seu casco grosso de mulher tempestuosa, havia uma sonhadora.
Emme tinha aprendido desde cedo que suspirar pelos cantos não a
levaria a lugar algum. Não para alguém como ela. Se quisesse algo, teria que
vestir sua calcinha de menina grande e lutar com unhas e dentes.
Quanto mais pensava, mais perguntas surgiam, mais curiosa ficava,
até que ela estava sofrendo por antecipação. E só havia alguém capaz de lhe
conceder alívio.
Estava um pouco aborrecida com Trish por mantê-la no escuro.
Elas não tinham tido segredo... até então.
— Eu estive pensando... — Emme deixou no ar.
— Sim?
Ela sorriu, balançando a cabeça.
— Caleb está por aqui?
— Ele saiu para resolver coisas da reserva. — Trish estreitou o
olhar quando Emme ficou lá, encheu a taça com vinho tinto e bebeu um bom
gole. — O que foi? Algum problema?
— Nenhum. Absolutamente.
— Sobre o que esteve pensando? Espere. Antes vamos para a sala,
por favor. Não posso ficar nessa cadeira dura por muito tempo.
Emme deixou a cozinha, levando a garrafa de vinho com ela e a
taça.
Depois que Trish se acomodou, ela perguntou:
— Quer que pegue algo pra você?
— Não, obrigada. Estou bem. — Trish lhe deu um daqueles olhares
atentos, sondando seu humor. — Você parece distraída, um pouco ansiosa.
A jovem tomou mais um gole de sua taça.
— Emme?
— O quê?
— Se algo aconteceu, pode me dizer. Estou grávida, mas não sou
inútil.
— Nada aconteceu. — Emme dispensou com um gesto de mão.
— Obrigada por ter ficado comigo ontem até eu dormir. Com as
contrações de Braxton Hicks, eu fiquei com receio de ser real e não ter
ninguém por perto.
— Eu acho que terei o prazer de conhecer o seu bebê antes de
partir.
— Caleb teve uma urgência. Coisas da reserva.
— Caleb parece ter muito trabalho por aqui.
— Ele é o líder.
— Um alfa, eu diria.
Trish lhe deu um olhar cauteloso.
— Pode-se dizer que sim.
— Não estranhou esse lugar?
— O que quer dizer?
Emme se levantou, caminhando ao redor, a taça na mão. Ela parou
próxima ao fogo e pousou o olhar em Trish.
— Reparou que as pessoas daqui parecem não sentir o frio como
nós? Os turistas, os visitantes e eu estamos..., não sei, de acordo com o
clima... Mesmo você, que sempre foi muito frienta, não reclama. E eu sei o
quanto sempre detestou as baixas temperaturas.
Trish empalideceu por um instante antes que se recuperasse.
— Você fala como se isso fosse uma coisa de outro mundo.
— Poderia ser.
Trish ficou muito séria, muito silenciosa.
— Estou aqui há mais tempo que você, Emme, não tem nenhum
segredo. Nosso corpo é capaz de se adaptar a qualquer coisa. Eu ainda não
gosto do frio, mas é aqui que moro, onde pretendo morar o resto da minha
vida.
Emme riu, quebrando o clima tenso.
— Para um lugar como esse, afastado do resto do mundo, eu não
estranharia se aqui escondesse algumas criaturas sobrenaturais.
— Por que diria isso? Emme talvez seja melhor controlar o vinho.
— Não seja boba. Sabe que não sou fraca para bebida e não bebi o
suficiente para me embebedar... ainda.
— Eu me acostumei — disse Trish depois de um momento.
— Com o quê?
— O frio, — explicou Trish, calmamente. — Falamos uma vez. Nós
nos acostumamos, talvez por isso não sentimos tanto.
— O frio que faz aqui, faz na cidade também. E os habitantes lá se
agasalham tanto quanto eu e os demais. Se isso não faz o pessoal daqui ser
especial, então... — Emme deixou no ar, com um encolher de ombro.
Trish manteve o silêncio.
Emme voltou a se sentar, cuidadosa com as palavras.
— Há uma... aura misteriosa nesse lugar. Talvez, por esta razão,
tenha se encantado e ficado por aqui..., e tudo isso. — Ela gesticulou para
Trish.
— O que quer dizer?
— Não quero partir sem ter certeza de que está bem, moreninha.
Que estar aqui e com Caleb é o que realmente, realmente, quer.
— Emme, eu...
— Não, por favor, me deixe falar. — Ela arrastou a bunda até a
beirada da poltrona, os braços nos joelhos, e fitou a outra mulher. — Eu te
conheço há mais de oito anos, Trish. E eu acredito em mudanças. Caramba,
olhe pra mim! O patinho feio virou cisne e voou... Você, no entanto, não foge
muito de quem é. Sempre foi cautelosa e reservada, sobretudo quando se
trata de relacionamento. E, de repente, aqui está você. Morando com alguém
que conheceu em um par de meses, esperando um filho e criando raízes.
— Não era você que dias atrás disse que não se tratava de tempo,
senão de quem?
— Eu acredito nisso, mas não tem como não me preocupar.
— E eu estou te dizendo de todo o coração para não se preocupar.
— Não funciona assim, moreninha. Dizer para não me preocupar
não me fará magicamente tranquila e acreditar que está tudo bem.
— Mas está, Emme. Não sei mais o que posso dizer para que
acredite.
— Sabe que sempre, sempre mesmo, pode contar comigo — ela
disse em voz baixa. — Eu também sei que no desespero, às vezes por querer
muito algo, a gente acaba suportando algumas coisas... Eu nunca vou te
julgar.
Chateação pintou as feições da outra mulher.
— Emme, pare. Você não está me ouvindo.
— Sinto muito se minha preocupação a aborrece, mas prefiro
aborrecê-la por excesso de cuidado a fingir que não me preocupo.
— Não estou aborrecida — Trish negou, tranquilamente.
— Só porque se viu apanhada em um conto de fadas...
— Eu sei o que faço, o que fiz. Confie em mim, sou totalmente
consciente das escolhas que fiz, Emme. Caleb e essa vida é tudo que sempre
quis.
— Confia em Caleb assim?
— Com a minha vida.
— Trish, eu...
— Não, agora você me escute — exigiu ela, sem esconder a
irritação. — Eu realmente entendo sua preocupação, embora ache um pouco
suspeito esse surto agora. Se algo ocorreu para deixá-la assim, estou aqui
para você.
— O quanto conhece Caleb?
— O bastante para querer uma vida com ele, para confiar minha
vida e do nosso bebê a ele e fincar raízes aqui.
Emme ficou sem palavras e não escondeu isso.
— Sei como soa. — E fez um adendo, com demasiado cuidado, a
voz polida e calma. — E se soubesse, se sentisse como eu me sinto, não teria
dúvidas. Caleb me deu algo aqui que em lugar nenhum encontrei.
— E isso seria?
— Amor, Emme.
— Você amava Stephan.
— Stephan foi um delírio. O que sinto por Caleb transcende
qualquer espaço de tempo. Eu sempre fui dele. Mesmo antes de nos
conhecer, eu já era dele e ele era meu.
— Tem certeza que não foi pega em uma magia?
— O que quer dizer?
Emme ficou séria, levantando-se.
— Há algo aqui, Trish. Algo diferente... Inuvik e Snowville
pertencem ao mesmo lugar, mas é como se fossem de realidades diferentes,
como se... — ela parou, escolhendo as palavras, mas nenhuma parecia lúcida
o bastante.
— Como se...?
Emme moveu os lábios, a porta se abriu, e ela engoliu as palavras.
Caleb entrou, correndo a mão pelo cabelo escuro para tirar os
flocos de neve. Ele fez uma pausa, olhando de uma para outra, e foi até sua
mulher.
— Olá, senhoras. — Ele deu um beijo rápido em Trish.
Ele não se sentou, seu olhar indo e vindo entre as mulheres.
— O que houve?
— Nada, querido. Emme e eu só estamos conversando coisas de...
— Eu sei o que é — Emme declarou, com o olhar travado em
Caleb.
15

INFORMAÇÃO É OURO

— O que disse? — Caleb perguntou, devagar.


— Do que está falando, Emme?
Emme se sentou, cansada de fingir.
— Ontem, antes de ir para o chalé, eu tirei o lixo para Trish. Eu
tinha dito que faria depois que saiu, mas acabei esquecendo e lembrei
quando ia embora. — Ela olhou diretamente para Caleb, que a fitava de
volta com um semblante insondável. — Eu vi você..., bem, não exatamente
você. O lobo.
Caleb não parecia afetado, diferente de Trish.
— Emme...
— Nem tente, Trish, eu sei o que vi.
— Você viu o que viu. — A voz de Caleb sobressaiu.
Ele se sentou ao lado de Trish, jogando um braço sobre seus
ombros e entrelaçou os dedos nos dela. Relaxado e casual. O que pareceu
surtir efeito na mulher, trazendo cor ao rosto pálido. O olhar paciente,
esperando.
— O que é?
— Sou um shifter.
— Um shifter... Algo a ver com lobisomem?
Ele fechou a cara.
— Não.
— Okay — riu. — Não quis ofendê-lo, está bem? Guarde as garras,
lobo.
O clima tenso aliviou um pouco.
— Eles não gostam dessa comparação — Trish explicou baixinho,
ainda um tanto cautelosa.
— Ah! Desculpe. Eu não tive intenção.
— Está tudo bem, Emme — Caleb disse. — Não tinha como você
saber.
— Eles existem?
Caleb pareceu genuinamente confuso.
— O quê?
— Lobisomens?
— Sim.
— Se eles existem, então... — ela considerou, lentamente.
— Muitos outros são reais — confirmou Caleb.
— Eu também fiquei perplexa em saber que parte da fantasia é bem
real.
Emme lançou uma olhada para Trish, e desviou de volta para
Caleb.
— Qual a diferença entre um shifter e um lobisomem?
— Shifters possuem as duas partes, animal e humana — explicou
ele. — Nossa semelhança acaba aí. Não mudamos sob influência da lua e
não perdemos nossa razão quando estamos na forma animal, como eles
fazem, salvo raras exceções. Como no caso da perda de um companheiro
prometido.
— Companheiro prometido?
— É o que Trish é minha.
Havia reticências lá.
Emme fechou a cara com uma expressão de ameaça.
— Você não colocou nenhum vudu na minha amiga, certo?
Trish riu às gargalhadas enquanto Caleb olhava para ela,
exasperado.
— Deus, Emme, não — Trish protestou, ainda rindo.
Emme olhou com desconfiança.
Caleb balançou a cabeça, sua seriedade implacável.
— Companheiros prometidos equivalem ao que chamamos alma
gêmea. Eu sou a companheira prometida de Caleb. Estas uniões são raras e
muito estimadas.
— O que sabe sobre lobos? — indagou Caleb, de repente.
— Eles são leais.
— E fieis — assinalou ele. — Não fugimos à regra. Nossos
acasalamentos são para a vida toda. Trish não escolheu Inuvik à toa, ela foi
trazida a mim.
— Caramba! — Emme voltou a encher sua taça, e sorveu um bom
gole.
— O que sinto por Caleb — disse Trish, a voz macia e apaixonada,
o inconfundível brilho de amor intensificando a cor de seus olhos. — O que
estamos construindo aqui é real, Emme.
— Se transformou numa shifter também?
— Não. — Ela riu.
— Shifters nascem, não podem ser transformados — Caleb
explicou.
Ela olhou para a barriga da amiga.
— O bebê será hibrido — Trish respondeu sua pergunta muda, e
prosseguiu lhe dando uma explicação mais branda. — Em algum momento,
quando fizer cinco anos, uma das partes irá falar mais alto. Só então
saberemos se ele ou ela terá a capacidade de mudar de forma, mas até lá,
será apenas uma criança como outra qualquer.
— Você parece tranquila sobre isso.
— Eu estou — garantiu Trish. — Não há nada de errado no que
Caleb é. Nossos filhos terão sua longevidade e resistência ou algo perto
disso. Por que não ficaria feliz? Mesmo eu tenho usufruído dessas melhorias.
Emme olhou desconfiada.
— Você disse que shifters nascem.
Caleb explicou:
— Trish não possui minhas habilidades, mas aprendemos que a
troca constante de fluídos entre nós tem tido efeitos nela. É a forma do
Criador manter os prometidos juntos. Sem isso, o acasalamento entre shifter
e humano prometidos não seria uma benção, senão uma maldição.
— Por isso o frio não a afeta, não é?
— Sim. Eu também não engordo, exceto por essa bolinha aqui.
Minha saúde está melhor do que nunca e minha resistência aumentou.
— Todos aqui são shifters — ela concluiu.
Não era uma pergunta, ainda assim, Caleb respondeu.
— Todos que vivem em Snowville, salvo Trish e Lee.
— Claro.
— Mas nem todos são lobos — ele continuou. — Há shifters de
outras espécies também, embora a predominância seja de lobos.
— Qual sua perspectiva de vida?
— O suficiente. — Caleb nem titubeou.
Emme o olhou fixamente.
— Pergunte o que realmente quer saber, Emme — Caleb sugeriu,
divertido.
— Não sei se estou pronta para saber a sua idade sem entrar em
colapso — ela resmungou, despejando mais vinho na garganta.
Emme se calou, havia um limite também.
Tinha mais perguntas, mas as principais tinham sido sanadas em sua
mini entrevista. E, por enquanto, ela estava bem com isso.
Tudo fazia sentido agora.
Somente algo assim, sobrenatural, para virar sua amiga do avesso.
E a contar por tudo que ela tinha visto, a forma como interagiam, às vezes
era constrangedor ficar perto do casal, Trish estava se alimentando de amor.
Os temores, que ela não sabia que ainda possuía, deixaram seus
ombros.
Não podia negar que Trish cair de cabeça em um relacionamento e
com um bebê a bordo, vivendo nos cafundós de Judas, preocupava.
E se não desse certo?
E se ela precisasse de ajuda?
Mas agora sabia que as chances de dar errado eram praticamente
nulas. Essa certeza era assustadora e tranquilizante ao mesmo tempo.
Trish lhe deu um olhar estranho.
— Você não está surtando — ela acusou.
— Deveria?
Caleb soltou uma risada alta enquanto Trish cerrava o olhar para
ele.
— Não tem graça.
Ela devolveu o olhar para Emme.
— Por que não está surtando? Eu sei que é muito para assimilar.
Tudo isso pode fazer nossa mente explodir. Deus sabe que eu quase perdi a
sanidade.
— Aposto que você correu pela sua vida, né? — Emme comentou,
com uma risada.
Caleb parecia prestes a rir, novamente.
— Ela fez, mas percebeu a tempo que não havia escapatória.
Trish encarou-a com um olhar acusatório, esperando.
— Não vou surtar, moreninha.
— Isso me preocupa.
— Que eu não entre em pânico? — Ela riu.
— Querida, ela não está mentindo — Caleb adulou, a voz macia e
baixa, acariciando a lateral do braço de Trish com as costas dos dedos.
Trish rolou os olhos e dirigiu sua atenção a ela.
— Ele tem essa coisa..., um nariz intrometido que cheira suas
emoções, tudo e qualquer coisa. Ele soube da gravidez só pelo odor que
emitia.
Emme quase desfaleceu.
Talvez esta fosse a hora de correr, afinal.
Caleb olhou para ela, com um sorriso tranquilo.
— Ninguém está julgando — ele acalmou.
— O que disse? — Trish quis saber.
— Emme está preocupada porque sentimos suas reações calorosas
por Collin — ele explicou, como se não fosse nada demais.
O rubor subiu pelo pescoço de Emme e preencheu seu rosto.
— Lê mentes também?
— Deus, não — Trish protestou, com horror.
— Mas sou bom em ler as pessoas pelo odor de suas emoções.
Emme torceu o nariz.
— Eu preferia não saber disso.
Trish continuou esperando, sondando, por um rastro de surto.
— Não vou surtar, Trish. Isso tudo é demais. Mas, sendo honesta,
estou mais fascinada do que qualquer outra coisa. Minha preocupação é você
e seu bebê. E desde que há garantias de que estão bem, estou bem com isso
também.
— É bom estarmos às claras. — Trish, finalmente, relaxou. E
depois, pareceu culpada. — Sinto muito por não dizer antes.
— Eu entendo o porquê não disse. Isso não é algo que a gente sai
falando por aí, ainda mais quando caímos de cabeça nesse mundo e sabemos
que o normal iria acabar com qualquer paz que tenham aqui. — E assinalou,
taxativa. — No que me diz respeito, eu não sei de nada. Tudo aqui é mais do
mesmo.
— Eu agradeço sua discrição — Caleb anuiu em apreciação. —
Humanos não tendem a aceitar muito bem o diferente.
— Nós mal nos aceitamos — Emme debochou, e depois ela
ponderou solene. — Seu segredo está a salvo comigo, Caleb.
Ele assentiu em agradecimento.
Emme inclinou a cabeça, o pensamento a consumindo.
— Caleb, posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Por que oferecem carne a alguém?
Caleb hesitou surpreso com a pergunta.
— Alguém lhe deu carne?
— Fui surpreendida com uma coxa de frango no dia que fui jantar
no complexo — ela disse, alegremente, rezando para que soasse
despretensiosa.
Não era uma mentira, mas também não era toda a verdade.
Caleb podia cheirar a mentira por omissão?
— Somos carnívoros, nosso animal ama carne. Dá-la a alguém é o
equivalente a humanos que presenteiam alguém com flores. É uma honraria.
16
CAINDO EM TENTAÇÃO

O sopro gelado do vento balançou os cabelos contra o seu rosto, e


Emme puxou os fios para fora do caminho e ajeitou o gorro. O farfalhar das
corníferas sussurrava no ar. Estava cercada delas. Calafrios irromperam da
base de sua espinha. Ela estremeceu em resposta. Nervosismo corroía até os
ossos, fazendo-a suar frio e seu coração martelar com força. Enquanto
encorajava a si mesma. Não iria ficar. Não daria tempo de ele maltratá-la ou
recusar sua oferta de paz. Entregaria seu pedido de desculpas e zarparia tão
rápido, que ele nem sequer teria tempo de puxar uma segunda respiração.
Vapt-vupt.
Na frente da porta fechada, o estômago tinha nós de tensão.
Depois de sair da casa de Trish e Caleb, Emme nunca se sentira tão
animada, a emoção de saber que Collin lhe ofereceu uma honraria para se
desculpar encobriu o choque de suas fascinantes descobertas.
Ele não tinha tentado assustá-la.
Não era um truque para rejeitá-la.
Foi atencioso, um cavaleiro, e ela nem sabia que ele poderia sê-lo.
Na manhã seguinte, Emme mal podia conter a euforia, estava
exultante. Nunca antes se sentira assim, tão viva, tão disposta, para começar
o dia.
Queria correr até ele e derramar suas desculpas, sabendo mesmo
que morria para vê-lo, novamente. Que seu entusiasmo tinha mais a ver com
o leque de possibilidades que se abriu do que qualquer outra coisa. Mas
também temia, pois havia algo lá sobre ele, uma resistência reticente, algo
em seu olhar e na forma que ele lidava com ela que tinha a capacidade de
destruir seu coração.
O humor do homem era um boomerang.
Às vezes, podia jurar que Collin não podia ficar longe. Em outras,
que a desejava e se sentia tão atraído como ela estava por ele, porém resistia
como se a ideia de estar com ela lhe ofendesse. Pior, fizesse mal.
Fosse como fosse, Emme tinha que pedir desculpas.
Ela tinha pego o snowmobile e direções.
E aqui estava, diante de sua porta.
Emme levantou o punho para bater e a porta se abriu, antes que seus
nódulos fizessem contato com a madeira gasta. Colocando-a cara a cara com
o protagonista de seus sonhos molhados e o carrasco de seu coração.
Suas batidas vacilaram e depois martelaram com força.
Ela abaixou a mão e lhe deu seu melhor e mais brilhante sorriso.
— Bom dia, Collin!
Ele olhou por cima de sua cabeça, e depois para ela.
Olhos azuis penetrantes lhe atravessaram até o núcleo, suscitando
uma fome que ela não compreendia. Ela só tinha olhos para ele. Todos os
seus sentidos concentrados nele, se sobrecarregando com a presença dele.
Sua temperatura corporal subiu devagar com o peso desse olhar. Ela sempre
estava com calor quando ele estava por perto. Embriagada pela vibração
erótica que ele despertava dentro dela cada vez que lhe dava um de seus
olhares.
A ideia de pedir desculpas e partir tornou-se uma lembrança vaga,
que a presença marcante dele rapidamente limpou de sua mente.
— Eu posso entrar?
— O que está fazendo aqui? — ele perguntou, ríspido.
— Certo, eu mereço isso. — Ela deu uma risadinha, tentando não
parecer tão afetada, consternada por ele sentir suas reações. — Aqui. Isso é
pra você.
Collin olhou para o bolo que ela madrugou para fazer. Não que ali
madrugasse quando o sol da meia-noite nunca deixou o céu. Pelo menos, da
forma convencional.
Trazer carne estava fora de cogitação, mesmo sabendo o quanto isso
representava para ele. Era só estranho. Não iria no açougue, muito menos
caçaria um animal. O bolo, no entanto, era algo que ela podia lidar.
Collin parecia chocado e sem palavras.
Emme quase sorriu com o prazer que rolou através dela.
— Será que posso entrar pra gente conversar? Pode ser primavera
e o sol estar fazendo hora extra, mas aqui é muito frio.
Collin se afastou da porta, não parecendo feliz. Ela pulou para
dentro.
Diferente da outra vez que estivera aqui, o lugar estava aquecido
com a lareira acesa, o fogo crepitando. As cortinas, no entanto, seguiam
fechadas bloqueando a luz de fora. Estaria no escuro se não fosse a luz
bruxuleante das chamas ardentes.
Ela olhou ao redor sentindo calafrios perpassarem seu corpo.
A porta se fechando atrás dela fez seu coração dar um salto. De
repente, estava apreensiva. Emme olhou para trás, congelando uma
expressão pacífica.
Collin estava muito imóvel, muito silencioso, o olhar dele parecia
físico à medida que deslizou, varrendo-lhe sem pressa. Ela sentiu o calor
subir ainda mais com sua leitura íntima. Seus olhos escureceram quando se
alinharam aos dela. Feroz. Implacável. Seu sexo apertou com o impacto da
conexão.
Collin parecia poderoso, intimidador. Tão formidável.
Era como estar na presença de um leão zangado, que estava
dividido entre comê-la ou fazê-la correr por sua vida. E ela não tinha
dúvidas, era a presa ali. Ele até se movia como um grande felino, mesmo
com todo seu tamanho e rigidez. Ele era fluído e gracioso. Observando seus
movimentos, consciente de tudo a sua volta. Esperando. Ela não tinha a
menor chance contra ele.
Congelando um sorriso, Emme ofereceu-lhe a vasilha. Não
esperava que ele pegasse de imediato ou mesmo que pegasse, mas ele fez.
— Eu mesma assei — ela disse, orgulhosa que sua voz saiu firme
ao invés da rouquidão sensual imprimida com tesão. — Fiz o meu preferido,
bolo de nozes. Espero que não seja alérgico. Talvez possamos comer juntos?
Ele colocou a iguaria na mesa e ficou ereto, os braços ao lado do
corpo.
Ele parecia tão forte, indestrutível. Uma fera selvagem. Mas
também havia uma ligeira sombra de vulnerabilidade nele, que a fez querer
se aproximar.
— O que quer, Emmanuelle?
Ela riu desconcertada com a secura dele.
Não esperava confetes. Mas, homem, sua desfeita parecia tê-lo
ferido mesmo.
Ela coçou a testa, sem graça.
— Eu pensei que isso seria mais fácil.
— O quê?
— Eu, você, essa situação. — Bufou, lançando um olhar
arrependido. — Eu sinto muito pela forma que te tratei na outra noite. Em
minha defesa, você me pegou desprevenida e me surpreendeu com o seu...,
uh... presente.
— Você não é vegetariana, nem vegana.
— Desculpe?
— Você comeu carne no jantar na casa de Caleb. — Ele acusou, a
voz áspera e afiada, o olhar irritante atando seus nervos. — Qual sua
desculpa?
— Eu... olhe, — ela riu nervosa, puxou o gorro da cabeça e passou
os dedos pelo cabelo, ganhando tempo para se organizar e domar o próprio
gênio. Consciente de sua sondagem. — Já recebi flores, bombons, mas nunca
recebi... carne. Um bicho inteiro então, não mesmo. Foi a primeira vez. Eu
sou uma garota da cidade, Collin. Não estou acostumada com presentes tão
inusitados.
Ela não perdeu o tique em sua mandíbula e como seus olhos
espreitaram perigosos numa onda de possessividade.
Interessante.
— Quem te deu flores e bombons?
— Oh, isso... Onde moro este é um comportamento comum dos
homens para se desculpar ou quando — fez uma pausa, pigarreando, — estão
flertando.
— Gosta disso?
Ele parecia realmente interessado.
Ela corou sob seu escrutínio e, em seguida, retirou as luvas.
— Que mulher não gosta? Flores e bombons são mimos apreciados
pela maioria das mulheres ao redor do planeta. Eu não fujo a regra.
— Me escorraçou. — Ele parecia genuinamente chateado por baixo
de sua fachada impenetrável, quase como se pudesse fazer biquinho.
Ela decidiu que era fofo.
— Eu sinto por isso, mas você me assustou.
Ele cruzou os braços, muito sexy, com todas aquelas ondulações
poderosas que ela sabia, apesar da musculatura dura, eram macias.
Seus olhos azuis cintilaram.
O azul etéreo hipnótico, olhos glaciais. E quando se aqueciam, eles
queimavam, a fazendo ferver até que estava embriagada pela paixão. Seu
sexo apertado com uma fome sexual, tão funda, tão desesperada, que ela
tinha medo de saltar nele. E implorar para que a tomasse de qualquer forma
que quisesse.
— Disse que não queria minha proximidade — Collin relembrou
sério, o olhar arrogante era analítico sobre ela. — E, no entanto.
— Pois é, companheiro. Cá estou. Isso acontece quando sabemos
que erramos com alguém que não merecia nossas farpas. Engolimos o
orgulho e pedimos desculpa. Você deve conhecer o conceito. Muito útil na
civilização.
— Você não está sendo respeitosa agora.
Não era uma repreensão, mas soava assim. Emme podia jurar que
ele estava se divertindo, a micro contração no canto de sua boca não passou
batido.
Ela respirou fundo, controlando o gênio.
Doce e suave. Sem estresse.
— Se soubesse o que isso significa para sua gente...
— E agora você sabe?
— Caleb me disse que oferecer carne é um presente.
— E por que ele te diria isso?
— Eu perguntei?
— Está me perguntando?
Ela queria gritar para ele, tamanha sua frustração.
— Não, eu estou afirmando. — Ela fez uma pausa, tomando fôlego e
uma dose extra de coragem. — Eu sei o que é, Collin.
— O que sou?
— Um shifter.
— E você sabe o que isso significa?
Ela apertou os olhos para ele, se sentindo numa armadilha.
— Caleb explicou por alto.
— E o que foi isso?
— Somos diferentes.
— Você não está com medo.
— Deveria? Trish e Lee parecem bem e felizes.
— Elas são prometidas.
— Vocês não ficam com humanos que não sejam… prometidos?
— Está perguntando para pessoa errada — ele disse, simplesmente.
— Brad, esse era o nome... Ele estava confortável me flertando.
O olhar de Collin estreitou, perigoso, queimando.
— Está interessada nele?
— E se tivesse?
— Não se aproxime dele — ele rosnou.
Emme lhe lançou um olhar sujo.
— E você não me diz o que fazer. Não é seu negócio o que faço ou
deixo de fazer. Se quiser flertar com ele e... e o que mais quiser, eu farei.
— Fez disso meu negócio quando pisou aqui, Emmanuelle. — Ele
fervia, a agressão de seu corpo exalando. — Se ele te tocar, ele morre.
Ela apertou os lábios, as palavras fugiram de sua mente.
— Disse a Caleb que levei carne pra você? — Collin perguntou, de
repente.
Ela encolheu os ombros na defensiva.
— Não sabia que era segredo.
— Não é — ele disse, entredentes.
— Você não parece feliz.
— Você é inspiradora.
Choque congelou sua expressão.
— Qual é o seu problema comigo? É porque sou humana?
— Não tenho nenhum problema com você, Emmanuelle.
— Uau! É gratuito? Você gosta de provocar mulheres?
— Só você. — O sorriso em sua voz a enfureceu.
— É um asno, sabia?
Collin se esticou com a ofensa, e ela bufou.
— De qualquer forma, relaxe, bruto. Sua reputação grosseira está a
salvo comigo. Não disse a ninguém que você quis parecer civilizado.
Collin pareceu embaraçado, um rubor suave tingiu seu rosto.
Ela achou fofo. E no minuto seguinte, lutou contra o impulso de
quebrar a distância entre eles e enterrar a cabeça em seu peito, mesmo que
ele a tivesse irritado até a morte minutos atrás. Ele parecia absolutamente
incrível em seu jeans e camiseta branca. Os pés descalços, muito doméstico
em seu lar precário.
Mesmo sua aparência física desgrenhada, a barba pôr fazer e o
cabelo bagunçado eram uma bomba em seu sistema, explodindo seus
sentidos.
Collin a excitou. E ele sabia disso.
— Não tem que me dar nada em troca.
— Sei, mas fiz isso de qualquer maneira. E não importa, né? Não
importa o quanto tente, você não descerá de seu pedestal para ser só um
pouquinho decente com alguém que você considera menos que a sujeira sob
sua sola.
Quando ele não disse nada, ela ficou ainda mais brava.
— Quer saber? Foda-se. Eu queria me desculpar e selar a paz, mas
você é inalcançável, Collin Del Rey. E eu não tenho tempo para babacas —
ela ralhou, tão irritada, descontrolada, os olhos ardendo. — E saiba disso, a
partir de hoje sou eu que não quer estar no mesmo espaço que você.
Emme se dirigiu para porta, contendo o desejo de pegar o bolo de
volta. Não queria bater o pé e parecer uma criança birrenta. Ele que
engasgasse.
— Deus, queria não ter vindo — resmungou para si mesma.
Dedos firmes se enrolaram ao redor de seu cotovelo quando ela
girou, estendendo a mão para a maçaneta da porta. Emme parou, puxando
uma respiração funda. Ela não deu a volta. Não queria que ele visse o quanto
sua indiferença lhe fazia mal ou que as migalhas de atenção lhe acendiam. O
mínimo toque enviou vibrações sob sua pele. Injetando calor do ponto onde
ele lhe tocava, que se espalhou por todo seu corpo. O rastro aquecido
queimava.
— Emmanuelle, espere — ele pediu, a rouquidão implorando.
Ela tentou puxar o braço, ainda mais irritada.
— Me solta.
Emme tentou sair de seu agarre, mas o esforço trabalhou contra ela.
Num instante, tentava sair do aperto dele e correr para longe. E no
outro, ela estava girando, sendo empurrada, suas costas bateram na madeira.
Ela ficou zonza. Collin a encurralou, seu corpo maior, mais poderoso,
elevando-se sobre o dela. Uma prisão deliciosa. Ele era como um grande
felino brincando com sua presa antes do jantar. Ela era a presa. Ele parecia
perigoso. Letal. Sua beleza mais feral. Ela sentiu a respiração pesada dele se
derramar em seu rosto quando ele inclinou a cabeça para frente, conectando
seus olhos.
De súbito, tudo tinha mudado.
Sua bravata. A irritação. A indiferença caindo por terra.
Sua própria respiração pesando nos pulmões, o coração
martelando. Sua boca secou e sua língua saiu para umedecer os lábios
ressecados, o movimento capturando a atenção do homem, que lambeu os
próprios lábios em resposta. E quando tornou a olhar em seus olhos, não foi
desconforto, nem indiferença, que ela viu. Seus gélidos olhos azuis estavam
mais escuros, quentes e convidativos. Em chamas. Fome primitiva.
A tensão sexual entre eles tão densa, tão forte.
Ele tinha as mãos espalmadas ao lado de sua cabeça, o corpo
enorme projetado para o dela. Cobrindo-a completamente. Estava consciente
dele, de seu calor, o cheiro delicioso dele se intensificando e a embriagando,
o aperto em seu sexo dolorido. Inchado com o tesão revestindo os lábios
vaginais.
Ela perdeu o equilíbrio, a língua pesada em sua boca.
Emme lutou pela clareza, para encontrar as palavras perdidas em
sua mente. Ela, aparentemente, tinha se esquecido de como falar, como
pensar.
Era uma pilha apaixonada de sensações.
Ele era muito intenso. Magnético. E ela estava desesperada para se
agarrar a ele, para mendigar. Não entendia como podia, de repente, estar
morrendo para tocá-lo, sentir o gosto do seu beijo, suas mãos, seu pênis.
Emme quase chorou. Era demais.
Collin, suas próprias reações descontroladas, o desejo lascivo a
confundindo... e aquele perfume insidioso.
E, ainda assim, ele a detestava.
Emme desviou o olhar, suas próprias mãos agarradas a porta atrás
dela, louca para correr, a aflição incompreensível contornando suas
palavras.
— Sinto muito, ok? É só um maldito bolo. Não quis chateá-lo.
— Emmanuelle, olhe pra mim.
O comando exigente em sua voz profunda irrecusável. Ele não
admitia desobediência. Ergueu as pálpebras, espreitando sob os longos
cílios.
— Seu medo é inútil e desnecessário.
— Eu sei — Emme se apressou em dizer, porque tolo como era,
confiava nele.
— Desculpe.
— O quê?
— Sinto muito por te ofender.
— Okay.
— Obrigado pelo bolo.
— Okay.
Surpreendeu-lhe o toque gentil da mão dele em seu rosto, traçando
seus contornos como se a olhasse pela primeira vez. Pego em uma bolha de
deslumbre, a mesma na qual ela estava presa por mais tempo do que gostaria
de admitir. Ele era muito gentil e suave, que custava a acreditar que um
homem austero como ele pudesse conhecer alguma suavidade. O toque não
era lascivo. Era um reconhecimento. Curiosidade experimental. Nenhum
pouco sexual.
O polegar dele deslizou pela mandíbula e pelo lábio cheio.
Emme fechou os olhos, os lábios partindo. Lutando contra o desejo
de atrair a ponta para dentro de sua boca e sugá-lo, como se fosse um
sorvete.
Seus pulmões queimaram, recordando-lhe de que prendera o fôlego.
— Eu gosto de bolo de nozes. — Sua voz profunda reverberou
dentro dela, deslocando-se até seu sexo, a envolveu com sensualidade e a fez
pulsar com dor. — Gosto ainda mais que tenha feito para mim. Me honrou,
fêmea.
Ela bateu as pálpebras para cima, conectando seus olhos aos dele.
Seu corpo entrou em colapso total.
O choque tão brutal de uma fome luxuriosa nunca antes sentida,
derretendo-a até os ossos. Os mamilos ficaram sensíveis, os seios pesados.
A atmosfera entre eles crepitava com a tensão sexual furiosa.
Impossível resistir.
Emme moveu as mãos, precisando tocá-lo, qualquer coisa.
Espalmou o peito maciço, mas não fez nenhum esforço para afastá-lo ou para
se agarrar a ele. Elas apenas ficaram lá.
Sentiu o tórax de Collin elevar e decair em uma respiração
profunda.
— Collin — ela gemeu, mal reconhecendo a própria voz, rouca e
arrastada, gotejava sensualidade, espelhando como ela se sentia por dentro.
— Eu disse que nada nunca vai acontecer — ele rosnou, com raiva.
— Você precisa se afastar de mim, Emmanuelle. Precisa parar de reagir a
mim como se morresse por minha atenção... Precisa parar de ser tão
tentadora.
— O que te irrita mais, Collin? Eu estar interessada ou você me
corresponder?
Ele paralisou, os olhos queimando nela.
— Me irrita, — sua cabeça desceu, o nariz roçando sob sua orelha.
Ele cheirou, os lábios na pele aquecida, — que você cheira tão doce quando
está perto de mim. Que reaja necessitada e me deixa morto de fome. — Fez
uma pausa, os lábios em sua orelha. — Sabe o que mais eu cheiro,
Emmanuelle?
— O quê? — ela sussurrou, os dedos apertados na camiseta dele.
Com os olhos estreitos, uma sugestão de ouro apareceu.
— Seu desejo, fêmea — ele rosnou, o som grave carregado de
erotismo. — A fome da sua boceta chamando por mim, como está fazendo
agora. Macia e suculenta. Me tentando a descobrir os prazeres de seu corpo.
Ela ficou sem fôlego.
Uma ondulação de excitação e sensualidade varreu-lhe. E sua
boceta apertou encharcada, pulsante. Ela podia sentir a lubrificação
vazando.
A crescente tensão sexual no ar tornou-se tão espessa que a
gravidade os forçava juntos. Ele escorregou mais perto, deixando-a sentir
seu efeito nele.
O polegar ainda sobre seu lábio cheio.
Não resistindo, Emme estirou a língua e sacudiu ao redor do dedo
grosso.
O grunhido dele foi o único aviso.
Collin agarrou seu queixo, e a beijou. Ele não deu tempo para que
ela reagisse. Não houve paciência ou pedido. Foi um assalto. Ele estava
pegando o que queria. Roubando sua sanidade. Sua língua empurrou,
exigindo entrada. E ela se entregou a sua posse, a textura aveludada de sua
boca. Enroscando a língua na dele. O frescor, o gosto requintado engolfou
seus sentidos.
O corpo dele era agressivo contra o dela.
Ele rosnou, esticando a mão e agarrando sua garganta para mantê-la.
Foi um ato possessivo, autoritário, e ela estava mais do que feliz em ceder.
Emme passou os braços ao redor dele, pélvis com pélvis, gemendo
contra os lábios dominantes. Ele estava duro. Em sua barriga. Com um
gemido, ela fincou as unhas em suas costas e o atraiu, elevando a perna
direita e se abrindo para ele ao se enroscar nele ainda mais. Precisando
estar mais perto, sentir seu corpo magnifico. A ondulação poderosa de seus
músculos sob suas roupas.
O corpo maior engoliu o seu. Desesperado.
O beijo foi duro, brutal, com o sabor da raiva que ele tentava
controlar.
Essa boca... era a única coisa suave nele. O resto era feito de aço,
inflexível. Não podia resistir a Collin, a sensualidade de sua posse, a
ardência da paixão. Seu cheiro, o perfume inebriante desfortaleceu qualquer
réstia de resistência que ainda possuía. Sua prudência explodiu.
Naquele momento, ela lhe daria tudo.
A fúria dele pulsava no ar, munindo a tensão sexual até que ela
fervia. Vulcânica. A paixão escura a montou, cantando em sua corrente
sanguínea.
Ela ficou zonza, fora de si.
E algo lá, uma conexão se elevou num feixe de luz entre eles, rápida
e forte. Eletrizante. Ligando-os de forma irracional e aterradora.
Emme provou a resistência de Collin... e sua rendição.
Foi tudo tão insano, sem palavras.
Ela bebeu dele, dos sons selvagens que ele fazia.
Collin, de repente, tinha as mãos nela, empurrando sua calça. Sua
boca escorregou para a linha da mandíbula dele, o pescoço, beijando e
mordiscando, o roçar da barba provocando. Enquanto ele trabalhava na sua
calça, empurrando para baixo e deixando a peça junto com a calcinha no
meio de suas coxas. Ele a manipulou como se fosse uma boneca de pano,
sentando-a na beirada da mesa. Havia uma urgência flagrante nele. Collin
abriu a própria calça o suficiente para sacar seu pau latejante. Ele manobrou
suas pernas, o quanto a calça permitia, para se enfiar entre elas e mergulhar
dentro de sua boceta molhada.
Ele não olhou para onde estava metendo, seu pau parecia conhecer
o caminho.
Emme quis vê-lo, mas não teve tempo.
Ela segurou a mesa atrás de si e lançou a cabeça para trás, com um
grito. Surpreendeu-lhe com o orgasmo. Bastou entrar nela, tão sensível como
estava, que seu corpo explodiu num mundo de cores.
Ela sibilou para a pressão de algo tão espesso, penetrá-la.
Rasgando-a ao meio. Gostosamente. Ele era enorme, tão grosso e longo,
alcançando lugares deliciosos. Encheu-a ao limite da dor, mas havia tanto
prazer.
Emoção atingiu Emme como uma onda, quase a esmagou pela forma
que ele a pegou.
A língua dele estava em sua boca e o pênis em sua vagina.
Collin não aliviou. Ela estava com as pernas suspensas em seus
braços, as mãos dele cravadas em seu quadril, mantendo-a para suas
apunhaladas abrasivas. Ela agarrou sua nuca. Os olhos de Collin estavam
iluminados de uma maneira surreal, fantástica, o rosto tenso com o tesão. Ela
queria ficar nua para ele. Pele a pele. Sentir todas as sensações eróticas do
atrito de seus corpos nus e suados enquanto transavam feito malucos.
Collin passou os braços ao redor dela, a cabeça enfiada contra o
seu pescoço enquanto a segurava para suas apunhaladas difíceis. Enviando
uma centelha de eletricidade pela sua espinha.
Não houve pausa, suavidade ou doçura.
Nenhuma gentileza no toque.
Nenhum carinho.
Ele transou com ela com tesão, como um homem faminto.
Martelando com força e rapidez, profundamente.
Os sons exóticos que ele fazia, seus próprios gemidos, o rangido da
mesa ameaçando quebrar sob a loucura de seus corpos se devorando. Ele
estava dentro dela de formas inimagináveis. Incandescente necessidade
brilhou diretamente em seu cérebro enquanto seu corpo era possuído por
Collin.
Prazer requintado rolou através de sua coluna e se alojou entre suas
pernas, naquele ponto doce onde ele batia com aspereza. Ininterrupto. Ela
mal podia respirar, o aperto dele sufocando a ponto que ela começou a ver
coisas, a ver ele de uma maneira humanamente impossível.
Havia um imã lá, um brilho inconfundível chamando e havia ele. E
depois uma barreira que ela tentou derrubar. Ela tentou alcançá-lo, ele
resistiu.
Collin mergulhou em seu corpo sem pausa.
Emme mal notou as mãos desesperadas dele, empurrando sua roupa
de cima para liberar seus seios para a boca faminta. Seus músculos
contraíram, o gemido rasgando sua garganta enquanto a pele pontilhava com
espasmos. Ela se curvou com a estocada dura, sua vagina o sugou. A luxúria
nela tão forte que ela agarrou a borda da mesa mais firme para não cair
quando outro orgasmo a rasgou numa conflagração completa. Explodiu sua
mente. A picada ao redor de seu mamilo elevou-a tão alto, que ela caiu mais
uma vez, montando onda atrás de onda. Prazer cru. Luzes brilhantes
estouraram detrás de suas pálpebras enquanto seu corpo se contorcia fora de
si. Sua mão atravessou a espessa barreira, tocando-o. Rápido, mas o
bastante para que ela o sentisse dentro dela, como se suas almas se
entrelaçassem numa só.
E, no instante seguinte, Collin cravou dentro dela, gozando com
jorros abundantes e um rugido bestial. Enviando a vibração para cada
membro de seu corpo sensível. Provocou minis espasmos. E com prazer, a
respiração alta e trôpega, ela abriu os olhos cerrados. Liberando o aperto no
cabelo dele, e deu-se conta que ele tinha os lábios fechados em seu mamilo.
Havia uma queimação, também.
Ela deveria se preocupar, mas sorriu, desossada.
De súbito, Collin puxou para trás. Ele saiu de seu corpo
bruscamente, tropeçando nos próprios pés. E caiu contra a parede atrás de
si.
17
UM ERRO NUNCA PARECEU TÃO
CERTO ANTES

Eles se encaravam ofegantes.


O coração batendo forte em desaceleração.
Emme não sabia como, mas o sexo rápido a arruinou para todos os
outros homens. Foder um shifter era o ponto alto de sua viagem.
O prazer tinha deixado um rastro delicioso.
Todo shifter fazia isso no auge da paixão?
Ela queria mais, mas só queria com ele.
Emme não se incomodou por ainda estar sentada na mesa, nua da
cintura para baixo, as pernas soltas fora da mesa, seu sexo exposto.
Estava pegajosa pela luxúria compartilhada.
E, Deus, se isso não atiçou ainda mais sua libido descontrolada.
Seus lábios pinicavam dos beijos duros e da barba roçando em sua
pele.
Collin tinha suor na testa, a boca inchada dos beijos furiosos com
um filete de sangue nela. Ela olhou para o próprio peito, a marca de presas
ao redor do mamilo era visível, a mancha pequena de sangue, também. Ela
esticou a mão, tocando, e se encolheu com o disparo de sensação. Emme
desviou o olhar para Collin, que parecia não acreditar no que fizera, os
olhos presos em seu peito.
A caixa toráxica dele ascendo e caindo com peso da respiração, as
calças ainda arriadas e o pênis meio duro pendendo para fora.
Impressionante. Ele era impressionante. E delicioso. Ela respirou fundo,
querendo mais.
Ela viu seus punhos cerrados ao lado corpo, e olhou para cima. Seu
belo rosto estava estragado com linhas confusas.
Paralisado. Congelado. Em choque.
Ele parecia vulnerável, perdido.
Ele olhava como se tentasse desvendar algo, como se a temesse.
Ela quis se aproximar, envolvê-lo em um abraço. Mas sabia que ele
não aceitaria. Era bem capaz de se irritar. E ela não queria irritá-lo agora.
Limpar a preocupação dele com beijos soava melhor.
Emme se sentia extasiada, flutuando.
Ela começou a rir. E ele arqueou uma sobrancelha.
— Isso era inevitável — Emme cantarolou.
Sua voz o religou, e ele se endireitou com o jeans no lugar.
— O que quer dizer?
— Nós dois. — Ela arrumou as roupas no lugar. — Somos o velho
clichê, de “inimigos” que se odeiam e acabam descobrindo que, na verdade,
se amam.
— Eu não te amo.
Ela olhou, notando que ele levou isso a sério. Emme sabia que eles
não estavam construindo uma história de amor, nem sequer havia uma
história.
Ela não estava apaixonada, mas doeu.
— Mas, claramente, me deseja como eu te desejo..., tanto que
cravou esses dentões no meu peito — ela disse a última parte, tentando
brincar.
Ele travou a mandíbula, como se pudesse ficar doente.
— Isso não é nada, Collin. Relaxe. Estou bem — ela apaziguou. —
Será que agora podemos tomar aquele café e dividir o bolo? Você tem como
fazer café...?
— Isso tudo foi um erro — ele rosnou, a aflição e desamparo
gotejou em sua voz, surpreendendo-lhe em como ele parecia atormentado.
Realmente triste. Lá, pressionado contra a parede de madeira, os punhos
cerrados com tanta força que os nódulos de suas mãos estavam brancos. —
Nunca deveria ter acontecido.
— Collin se acalme. Não há cobranças aqui.
Ela tentou se aproximar e ele recuou, como se fosse infectá-lo.
— Eu tive alguém. Não espero que você entenda — Collin revelou,
com a voz rasgando em dor, embargada com a crueza da emoção.
Emme se encolheu, sentindo-se mal e com raiva.
— Não se preocupe com cobranças, Collin. Somos adultos — ela
pontuou, com falso desinteresse. — Eu também tenho alguém.
Ele ficou ereto, a postura agressiva e furiosa, a expressão
escurecendo. Ele bateu em retirada para o banheiro, deixando suas palavras
no ar.
— Volte para o chalé.

xXx
Caleb puxou a cadeira na frente da cela onde Lucius estava.
Desde que o macho reapareceu na reserva depois de anos, tantos
anos que ele perdera as contas. Mais vivo do que nunca. Embora estivesse
moribundo como se tivesse passado todo esse tempo no inferno e usado suas
últimas forças para fugir. Havia uma inquietação em seu peito, seu lobo
estava igual.
Sempre que pensava em Lucius, seu lobo se punha em alerta.
No início, pensou ser cautela, mas Lucius não tinha forças para
nada.
Não poderia feri-lo, muito menos lutar pelo domínio do bando.
Mesmo antes, em plena posse de suas forças, Lucius não tinha sido pálio
para ele. Caleb não era jovem mais, era um macho experiente, ainda mais
forte e astuto.
No entanto, ele sabia não se tratar disso.
Havia algo lá, um mistério sobre Lucius, que ele não gostava.
Collin e Embry compartilhavam suas aflições. Eles mantiveram
suas preocupações e desconfianças somente entre eles. E, em comum acordo,
decidiram dobrar as rondas. Não iria criar alardeios a troco de nada.
Esperava, apesar de sua descrença, que o macho fosse honesto.
— Qual é o lance?
Lucius estreitou as grossas sobrancelhas escuras.
— Não roubei o doce de nenhuma criança.
— Isso não vai te ajudar, Lucius.
— Há algo que possa me ajudar?
— Depende de você.
— Solte-me.
— Isso não está acontecendo ainda.
— Não pode me manter aqui para sempre — Lucius grunhiu, com
raiva.
— Não é você quem decide — Caleb disse, cáustico. — De
qualquer forma, o julgamento está marcado. Em breve terá sua liberdade.
— Por que isso soa mais como uma maldição do que uma benção?
— Diga-me você.
Houve um cumprido silêncio.
Lucius se aproximou da grade, a expressão ilegível, muito sério.
— Eu preciso ver Maya, Caleb. — Ele rogou.
— Isso não vai acontecer.
O macho pressionou a testa contra as grades, os nódulos dos dedos
brancos, as pontas das garras saindo. O lampejo vermelho cruzou seu olhar.
Isso era o que acontecia quando alguém se interpunha entre um macho
acasalado e sua fêmea. O ímpeto de fúria era colossal. Primal. Caleb sentia
a raiva dele escorrendo, atingindo seu nariz com o cheiro ácido.
Seu próprio poder aumentou, criando uma atmosfera pesada.
— Ela tem minha permissão, Lucius — Caleb continuou.
Instantaneamente, o macho recuou, desolado.
— Ela não quer me ver — constatou ele, com a voz fraca, como se
de repente suas forças e disposição tivessem sido sugadas dele.
Lucius se afastou para o colchão, afundando nele. A cabeça baixa,
as mãos entrelaçadas na parte detrás de seu crânio. O cabelo escuro, maior
do que normalmente o macho usava, caiu para frente cobrindo seu rosto.
Caleb não queria sentir pena do macho. Mas esse tipo de dor... Ele
não poderia ser indiferente. Mesmo para Lucius era demais.
— Ela me odeia.
— E você pode culpá-la?
Ele se empurrou para trás, as costas apoiadas na parede.
— Você abandonou a sua fêmea. Não sei como foi capaz de fazer
isso..., se bem que você tinha se distanciado outras vezes. — Caleb sentiu as
emoções do macho mudarem. — Feriu sua prometida, deixando-a
desamparada.
— Não foi exatamente um passeio no céu. — Riu com amargor.
— Para ela, eu sei que não foi.
— Eu errei com Maya, Caleb — Lucius murmurou depois de um
momento, arrependimento contornando suas palavras, sem esperança. —
Éramos jovens. Eu era imaturo e arrogante. Orgulhoso demais. Estava
deslumbrado com minha posição. Tentando provar para mim mesmo, para
ela, para o meu pai e todo o bando que merecia a posição. Eu fiz o que
pensei que fosse correto, o que me foi ensinado. Não justifica.
— Você poderia ter parado, Lucius. O bando não estava feliz, nada
estava bem, todos tentaram te avisar e você simplesmente os ignorou.
— Sim, eu poderia. Mas não fiz.
— E é isso?
— O que quer que diga? Conheço os meus erros. — Ele soltou uma
risada amarga, longe de ser divertida. — Confie em mim, eu tive tempo
suficiente para pensar em meus erros e perceber o quanto fui estúpido e
mesquinho.
Lucius olhou para cima.
— Maya me odeia pelo que ela acha que eu fiz.
— É só isso que te importa?
— Maya é tudo para mim, Caleb. Nada nunca será mais importante
do que ela.
— E o bando, Lucius?
— Eu não tenho ambições com o bando, Caleb, nem espero que me
perdoem pelo que fiz e pelo que eles acham que fiz — ele disse,
consternado. — Eu sei o que fiz, e por mais que ame o bando e deseje fazer
parte dele, novamente. Sei que não mereço.
Caleb endureceu, concentrado no prisioneiro. Ele cheirou o ar, as
emoções do macho, muito fraco para mascarar qualquer sentimento. E ele
sentiu nada além de franqueza e honestidade envolvidas em remorso e
vergonha.
Lucius continuou:
— Eu nunca abandonaria minha companheira.
— Você é uma ameaça?
— Não.
— Seu retorno traz ameaça a Snowville?
— Talvez.
— Você não mudou, não é?
— Eu não sou o perigo. Não pensei em ficar. Só queria encontrar
minha fêmea, e depois partir. Era a coisa certa para fazer.
— Então me explique, Lucius, porque a conta não está batendo.

xXx
O que ele tinha feito?
Como pôde sucumbir dessa forma?
Trair sua companheira morta?
Sua promessa?
Collin sempre fora um macho coerente e controlado. Mas quando se
tratava dessa fêmea humana, ele se tornava imprudente, contraditório e
impulsivo. Ele esquecia tudo. Ela preenchia todo espaço em sua mente.
Emmanuelle rapidamente se transformou em sua fraqueza.
Não era culpa dela que ele fosse fraco e desonrado. Que não
pudesse pensar direito, porque tudo que podia sentir era o pulso violento de
desejo e uma réstia de resistência, que sua petulância feminina quebrava
facilmente.
Ele a subestimou, a influência sobre ele e o seu próprio controle.
Ela o dominava. Suas vontades. Seu desejo. Seus pensamentos. Seu querer. E
agora, restava uma enorme culpa alimentando sua raiva.
Raiva dele e dela por ser irresistível. Principalmente, dele por
ceder. Por ansiar ceder e ter o que queria e se negava, pois não devia querer.
Isso era o mais assustador.
Esse querer desesperado nunca sentido antes. Não se tratava de
sexo. Era ela. Emmanuelle. Ele morria para estar com ela. Beijar sua boca.
Segurá-la em seus braços. Ouvir sua risada escandalosa. Ele só queria olhar
para ela. Zelar seu sono porque quando a olhava, enredado em seu encanto e
no quanto ela lhe fazia se sentir bem, a imagem dela calava os seus
demônios.
Ela era certa. Fazia parecer certo.
Mas não devia ser.
De frente para pia do banheiro, o aperto fez a porcelana rachar sob
seus dedos. Tinha se lavado tão rápido, esfregando com força, que a pele
estava vermelha. Odioso do que tinha feito com Emmanuelle, com Maria.
Collin olhou para si mesmo no espelho, cheio de horror e remorso.
Ele estava despedaçado.
Furioso tal qual seu felino.
O leão rugia em seu peito, batendo as patas, as garras letais
cravando em seu núcleo. Exigindo libertação. Mas o homem estava
determinado a mantê-lo para baixo, o que irritava ainda mais o animal.
Collin não podia dar rédeas soltas ao leão, não quando ele próprio estava
lutando para manter o controle.
Tinha sentindo o odor forte da confusão e do choque em
Emmanuelle, um emaranhado de sentimentos que o nocauteou.
Não havia outra forma de fazer isso.
Não podia voltar atrás e ser suave com ela, não quando estava
fervendo em fúria. Sua própria confusão comendo seu juízo.
Nada disso era culpa dela.
Collin pensou ter feito as pazes com ele mesmo quando se tratava
de seu não merecimento a Maria, de não ser digno. Porém, Emmanuelle, o
que ela despertava e como o fazia queimar, as coisas que queria, que
começou a desejar, dominando seus pensamentos, levantou dentro dele uma
revolta sem igual.
Ele traiu Maria outra vez.
Ele feriu a fêmea humana e sofria absurdamente por ela.
Collin puxou respirações fundas.
Endireitando a postura, ele saiu do banheiro sabendo que não a
encontraria lá. Sua mandíbula apertou, os dentes cerrados que rangiam.
O cheiro do sexo compartilhado, a luxúria incendiária ainda no ar.
O que ele tinha sentido quando esteve dentro dela...
O desejo insano para tomá-la. Marcá-la. Fazê-la dele.
O leão eufórico e pronto para acasalar. E se fosse franco, ele
próprio sentiu a urgência cantar em seu sangue. A alegria desenfreada
quando a mordeu no último minuto. As presas cravadas ao redor do mamilo
delicado.
Ele travou, o rugindo nascendo em seu peito.
Quando o orgasmo a tomou, a vagina apertada sugando seu pênis,
seu controle se perdeu. O impulso tinha sido primal. Suas presas desceram
enquanto chupava o mamilo rígido enchendo sua boca. Ele a mordeu, o gosto
rico e inebriante do sangue dela se derramou em sua boca. Ele gozou tão
forte que seu cérebro explodiu, transcendendo. Ele se viu, ele a viu. Ele
sentiu tanto, que a agonia, quando desceu da névoa de prazer, quase o
engoliu vivo. Perplexo. Apanhando numa urgência completamente nova.
Nunca experimentada.
Isso não era certo, não podia...
Como algo tão errado podia se sentir tão certo?
Sacudindo a cabeça com força, rosnando, Collin jogou a toalha na
cadeira, buscou um par de jeans e camiseta no baú aos pés da cama.
Seus olhos pousaram no pote de bolo — agora no chão — ainda
fechado, salvando a guloseima. Seu olhar suavizou com lágrimas não
derramadas, o peito doendo e ele fechou o punho, esfregando lá.
Collin se sentiu miserável.
Ele não machucava fêmeas — sua mente evocou Emmanuelle, e ele
tragou duro, aterrado com suas ações, — não propositalmente.
Uma batida na porta lhe levou até ela.
— Caleb?
— Collin precisamos conversar sobre Lucius — Caleb disse,
seriamente. Ele parou e cheirou. — E sobre você e a fêmea humana.
18
PROVOCAÇÕES

— No fim das contas, era impossível manter distância.


O macho ficou muito quieto, completamente imóvel.
— O que quer com ela, Collin?
Collin rosnou baixo em sua garganta, uma advertência do leão.
Caleb pareceu entediado, os olhos iluminados com o dourado real,
o alfa no comando, demonstrando que não recuaria. Que lutaria se
precisasse.
— Eu não a procuro.
— E não se afasta, tampouco — disse Caleb, deixando claro que
ele estava atento. — E eu começo a me perguntar o porquê, você não?
Collin deu um passo à frente, olhos em fendas.
— O que quer com ela? Por que se incomoda se estamos fodendo?
— Relaxe, Collin. Não quero nada dessa fêmea, exceto sua
segurança. Preocupo-me com os dois, com o que está acontecendo aqui.
— Não fiz nada para ela.
— Vocês foderam.
— Isso não é da sua conta! — rugiu ele, e depois pausou, pensativo,
seus olhos estreitaram ainda mais em aborrecimento. — Esteve me
espreitando?
— Cheguei agora porque há algo importante para discutir, mas pelo
jeito há outras coisas tão urgentes quanto.
Collin não parecia acreditar.
Caleb, respirou fundo, orando por paciência.
— Tem estado arredio e inquieto desde que Emme chegou à reserva
— Caleb disse. — E não sou o único que percebeu isso.
Collin grunhiu baixo, passando pelo alfa sem se preocupar em
fechar a porta, e desceu os degraus do alpendre, maluco para mudar de
forma e correr.
Caleb girou e deu dois passos, parando no topo da escadinha.
Assistindo Collin se afastar. O alfa arqueou a sobrancelha com um ar
despreocupado.
— Nunca te tomei por covarde.
Collin parou, o corpo enorme vibrando com violência.
Caleb sorriu, o lobo atento enquanto o homem se divertia sabendo
que cutucou o leão onde doía, preparado para a mudança quando o ar inchou
com agressividade. Foi tudo muito rápido. Collin girou, a neblina escura o
envolvendo. Uma mudança rápida e fluída. O lobo explodiu no ar com a
mesma fluidez. Numa fração, os machos tinham se tornado bestas, com
dentes rilhando, presas expostas, rosnados e rugidos. O leão atacou subindo
em suas patas, e eles rolaram, as unhas afiadas causando arranhões na pele.
Caleb rosnou de raiva, girando no último instante e usou as patas para jogar
o leão longe.
“Pare, Collin, agora mesmo!” Caleb ordenou na mente do leão.
Eles se afastaram, andando em círculo, encarando-se, analisando.
Caleb sabia que o outro macho não estava lutando pelo poder, senão
porque precisava extravasar. Eles ganiram, sons bestiais.
“Não se meta no meu negócio”.
“Quando deixar de ser um covarde cego e encarar o que está
acontecendo, eu ficarei feliz em deixar as coisas seguirem seu curso
natural”.
“Não há nada acontecendo”.
“Não?”
“Ela não é nada”.
“E por que se irrita tanto quando peço para manter distância?”
“Não sou seu subordinado”.
“Deu-me sua lealdade”.
“Não o controle da minha vida”.
“Vê? É sobre isso, Collin. Está sendo irracional. Fazendo coisas
que nunca fez desde que Emme chegou” disse Caleb, calmo. “Você nunca
questionou uma ordem, nunca desobedeceu. E, de repente, você está
lutando comigo”.
Não houve resposta do leão.
O enorme animal, com uma juba exuberante, mais escura que seu
pelo dourado, continuava observando, os azuis elétricos concentrados.
Caleb se xingou mentalmente.
“Pedirei para que Keegan cuide dela”.
Caleb se preparou, ainda assim, foi um baque quando o leão rugiu,
saltando nele com tudo que tinha. Caleb foi rápido, saltando para esquerda
quando o leão veio em sua direita, mas não rápido o bastante para fugir da
patada do animal, as unhas letais rasgando a carne e o sangue fluiu. Ele
rosnou raivoso, o corpo ondulando com agressão, o poder emergindo em
uma onda poderosa de fúria. O lobo fez um giro rápido, as presas cravando
na lateral do leão, provando o sangue. Eles brigaram, saltando um no outro,
sons horríveis, machucando-se, até que Caleb decidiu que estava bom.
“Mude, Collin!” Caleb ordenou ferozmente no tom dual, respirando
pesado com o esforço da luta. “É uma ordem. Mude agora!”
O corpo nu de Collin caiu no chão numa explosão, encolhendo-se,
rangendo os dentes de dor. Não era nada gentil quando o alfa forçava a
mudança. Era doloroso e debilitante. Caleb mudou, batendo a sujeira do
corpo esguio.
De pé, nu, o olhar no outro homem, nunca perdendo de vista.
Havia diversos arranhões em seu corpo, a maioria já estava
cicatrizada, as manchas de sangue faziam parecer que era pior do que
realmente era.
— Qual o cheiro em sua cabana, Collin?
— Foda-se — amaldiçoou ele, entredentes, ficando de quatro na
neve, ainda se recuperando da mudança forçada. — Você sabe o quê. Sexo.
— Não é só sexo — Caleb descartou.
Ele se aproximou, estendendo a mão. Collin olhou desconfiado, mas
aceitou, colocando-se em pé também. Ele fixou Caleb.
— O que mais, Collin?
— Nada.
— Tem certeza?
— O que quer, Caleb?
— Você me perguntou qual o meu interesse em Emme.
Collin endureceu, o rugido chiando em seu peito. A possessividade
brilhando em seu olhar. Caleb rosnou baixo em sua garganta.
— Eu tenho uma fêmea prometida. E a amo com loucura. Não há
ninguém para mim além de Trish. Mesmo esse filhote não pode competir com
esse amor. Meu corpo, minha mente, tudo que há em mim e que faz de mim
quem sou, rejeita qualquer outra fêmea que não seja Trish. — Ele pausou
com uma carranca de desgosto e puro nojo. — Aliás, essa sugestão de
merda, me ofende. Deixarei passar desta vez, porque você não está no seu
normal. Faça isso, novamente. E nós teremos um problema sério que irá
além de arranhões.
Collin baixou a cabeça, envergonhado.
Caleb continuou:
— Depois que achamos nossa prometida, é como achar um encaixe
perfeito de um quebra-cabeça. Eu sou dela e ela é minha. Nada, nem
ninguém, irá interferir nisso.
O outro macho ergueu o olhar.
— Posso usar seu chuveiro? — Caleb perguntou, repentinamente.
Collin hesitou, ponderando, antes de anuir.
Ele podia entender a relutância do macho, só não sabia se por
ciúmes do cheiro da fêmea, que ainda permeava no ambiente, ou porque
queria ocultar algo.
Caleb se lavou, e depois agarrou as peças que Collin lhe ofereceu,
indo para fora. Em parte, porque o cheiro de sexo dentro da cabana o fazia
pensar em sua própria fêmea, e ele precisava estar concentrado nesse
problema.
Caleb se sentou nos degraus da varanda e esperou.
Dentro da cabana, Collin não resistiu a cheirar o ar, trincando os
dentes com o disparo de excitação na base de sua coluna, inchando suas
bolas e seu pênis. De repente, ele estava ofegante e morrendo de saudade de
Emmanuelle.
O leão despertou miserável e ansioso, sussurrando ideias
enviesadas. Ele se moveu irritado, ajeitando o pau mais confortável. E
depois se juntou a Caleb.
— Desculpe pelo que disse sobre suas intenções e seu
acasalamento. Não duvido de seu amor e honra por sua fêmea. Eu assumo
meu erro.
— Desculpas aceitas. — Caleb assentiu, e depois puxou uma
respiração funda, deixando o outro macho tenso. — Você sente a diferença,
Collin? Há algo mais no ar que não posso discernir. É como se houvesse
uma barreira, algo distorcendo o odor real.
— Por que está me enchendo com isso?
— Há sussurros por aí.
— Não te imaginei como um macho que dá ouvidos paras as
fofocas.
— Pode ser útil, sobretudo, na minha posição.
Houve um momento de silêncio.
— Eu falei com Sue e Alik — Caleb comentou distraído. — Eles
acham que o Criador pode estar te dando uma nova chance.
Collin lhe deu olhar gelado no mais absoluto silêncio.
— Eu não quero te ofender, Collin. Ou a memória de sua fêmea,
mas há de admitir que algo está ocorrendo. Em circunstâncias normais, eu
jamais me meteria em seus assuntos, sabe disso. Mas esta é uma situação
diferente.
— Ela é irritante — ele rosnou. — Isso não é minha culpa.
— E por que ela te afeta tanto? No pub, você recusou uma ordem
direta — Caleb apontou. — Pelo amor de Deus, Collin, você foi a um pub. E
não diga que queria uma cerveja e que não foi lá por ela. Percebe o que
aconteceu agora?
Silêncio.
— Não quero me intrometer em seus negócios...
— Você continua dizendo isso.
—... Mas sempre há uma exceção, principalmente quando o que está
ocorrendo pode afetar o bando e nos dar novas perspectivas sobre
prometidos.
— Não sou uma ameaça.
— É o chefe-executor. Tem um papel importante em Snowville...
Collin, se ela for sua prometida e não se acasalar no tempo certo...
— Eu já tive uma prometida.
— E, no entanto, está aqui. Não conheço um macho que tenha
sobrevivido a perda de sua prometida. É um milagre.
Os olhos do macho se iluminaram, o leão olhando diretamente para
Caleb.
— Eu não sou digno.
— Um macho indigno teria ajudado a salvar aquelas fêmeas e
filhotes indefesos? Eu te escolhi como chefe-executor, Collin. Teria eu
falhado em minha avaliação quando o julguei digno de proteger Snowville
ao meu lado? O que aconteceu com sua fêmea foi uma fatalidade, Collin.
Nós queremos protegê-las de tudo, mas sejamos honestos, há coisas que
estão fora de nosso alcance. E essa, com Maria, foi uma delas.
— Eu transei com outra fêmea que não é minha prometida. Não fui
forçado. Eu quis isso, Caleb. Isso faz de mim o que?
— Estou certo que há algo confuso aqui, mas precisamos de você
para esclarecer.
Collin riu com desgosto e amargura.
— Está mirando na pessoa errada.
— Besteira. — Caleb bufou. — Por que acha que sobreviveu a
perda de sua fêmea?
— Sou um exemplo de desonra.
— Não acredita mesmo nessa besteira.
— Nós dois sabemos o que houve aqui. Um macho honrado jamais
faria o que fiz, mesmo que sua companheira esteja morta.
Collin sacudiu a cabeça, os olhos baixos.
— Leão teimoso — grunhiu. — Se o Criador está lhe dando uma
segunda chance e você continuar em negação, recusando-se a ver o que está
acontecendo, terá de lidar com as consequências da rejeição de um presente
como esse.
— Maria era minha.
— Não uma prometida.
Collin se lançou nele, trocando de forma tão rápido que mesmo
Caleb se surpreendeu. Eles rolaram os degraus, e depois pararam. Caleb
estava de costas, com o leão parado em cima dele, rugindo em seu rosto. O
lobo em seu interior enlouqueceu, enfurecido, os dentes batendo e
arranhando para sair.
“Não ouse manchar a memória da minha companheira”.
Caleb lutou para manter o controle e o animal na coleira.
— Peço perdão se pareceu assim — ele disse solene. — Não foi
minha intenção. Maria tem todo o meu respeito. Agora tire suas fodidas patas
de cima de mim antes que eu me irrite e chute algum respeito em seu traseiro.
O leão se afastou, lentamente.
Caleb esperou que ele mudasse. O macho não fez nada para colocar
novas roupas já que as de antes estavam arruinadas pela mudança.
Collin se sentou nos degraus.
Ele nem estremeceu, parecia ser feito de pedra, gelo e aço.
— Eu sei que não gosta de falar de sua companheira morta, que isso
te machuca. E, foda-se se conheço os demônios com os quais convive.
Ocorre que você está agindo com Emme de maneira totalmente anormal para
um macho enlutado por uma prometida. Isso deixa nossa gente apreensiva, os
casais acasalados estão inquietos. Como líder do bando, seu alfa e amigo,
quero garantir que não esteja cometendo um erro. As coisas podem parecer
confusas dado a situação. Não quero perdê-lo, Collin. Ninguém do bando
quer.
— Maria era minha prometida.
— E você fodeu Emme. E eu posso jurar que não será a última vez.
Collin cerrou a mandíbula.
— Havia casais prometidos em seu bando?
Collin olhou, negando.
— Collin...
O macho ficou em pé.
— Ela era minha!
Caleb cruzou os braços sobre o peito.
— Como sabe então? Quais indícios te fizeram ter certeza que ela
era sua companheira prometida? — E acrescentou, apaziguando. — Não
estou dizendo que o que viveu e sentiu por Maria não tenha sido legítimo.
— Eu amei Maria no instante em que a vi e ela também me amou.
Nossa conexão não é nada que posso explicar.
— Maria ficou prenha durante o acasalamento?
— Não.
— Como evitaram?
Collin olhou para Caleb por um momento, então o enfrentou.
— Eu respeito você e o bando, Caleb. E sou grato pelo que me
ofereceu aqui. Mas, se continuar metendo seu nariz em meus negócios,
iremos ter problemas. Eu não me meto em sua vida e não o quero metido na
minha.
— Pensa que não sinto sua irritação? A confusão? Seja razoável.
Vamos lá, Collin. Fale comigo.
— Você desrespeitou o meu acasalamento, minha prometida, meu
julgamento, e eu posso entender sua preocupação e desculpá-lo — disse
Collin, em voz baixa e enganosamente calma, tão sério, tão severamente, que
suas palavras caíram pesadas entre eles. — Mas Caleb, faça isso de novo, e
eu o desafiarei.
Caleb entrou na cara dele.
— Não me ameace, leão.
Collin trincou os dentes, os punhos cerrados para não se curvar
diante do poder e da intensidade do alfa. Ele resistiu e, finalmente, desistiu,
desviando o olhar e dando um passo atrás. Com a respiração desregulada.
— Não precisa me responder, mas pense nisso — disse Caleb. —
Rejeitaria o presente do Criador se ela for sua segunda chance?

xXx
Sentada na poltrona de frente para a janela, Emme tinha o olhar
vago, a caneca fumegante de café nas mãos ainda cheia. Na segurança e
conforto do chalé, ela não se moveu. Tinha ido direto para o chuveiro
quando chegou. Odiando lavar os vestígios dele e do que compartilharam.
Mas a ideia de que pudessem cheirar o que ela tinha feito, o que eles
fizeram, era demais. Entristeceu-se, não sabendo exatamente o porquê.
Na verdade, sabia, só não queria admitir ainda.
Não era apenas seu orgulho que tinha rachado com o rechaço dele.
Havia esse incomodo lá no fundo do peito, espezinhando e a deixando
doente pela forma que ele tinha se comportado depois. Não esperava
floreios e cuidado. Mas queria, Deus, como ela queria. Emme quis o abraço,
o beijo suave, a gentileza depois do sexo alucinante que tiveram. Qualquer
consideração.
Collin parecer arrependido e enojado a fez sangrar. O desprezo em
sua voz, a postura, como se tivesse feito a coisa mais desprezível do mundo.
Ela tinha engolido o nó na garganta, o choque de sua reação fazendo
seus membros moverem. Emme mal notou o caminho de volta ao chalé.
A queimação estranhamente deliciosa no seio agredido era uma
lembrança agridoce. Colocou nós em sua garganta e o brilho de lágrimas em
seus olhos.
Emme não era uma sonhadora. Há muito tempo tinha aprendido que
essas besteiras fofas e doces não lhe pertenciam e tratou de sepultar as
fantasias de menina, antes que as tolices românticas cobrassem seu preço.
Racionalizar era seguro e eficaz em qualquer relação, sobretudo, amorosa.
Não que eles tivessem um romance. Collin, no entanto, tinha algo. Uma força
gravitacional que lhe atraia para perto, fazendo-a querer mais e ter o doce
romance, onde era envolvida por seu amor e zelo. Onde era abraçada depois
do sexo, com palavras suaves sendo derramadas em sua orelha. Onde a
leveza do pós-sexo a deixava risonha e divertida. Mesmo na loucura do sexo
rápido e feroz, impressionante, que compartilharam, amou o breve
sentimento de pertencimento, de encaixe.
Emme nunca antes se sentiu pertencer a alguém.
Nunca antes o sexo teve uma conexão tão forte, tão única.
O que sentiu, o que viu; não era nada que já tivera experimentado
antes.
Collin era único. E assim era a ligação que eles tinham. Não
importava se isso a fazia parecer louca. Eles tinham... algo.
Estar com Collin provou ser inigualável.
Era como flutuar para fora do corpo, uma dança de almas.
Recordou-se do brilho sobrenatural, da sensação de plenitude agarrando
seus ossos.
Emme se perdeu e se encontrou... com ele.
O prazer arrebatador, tão brilhante, a fez alucinar, tocando-o na
alma.
E eles transcenderam.
Por algo assim, corações eram quebrados, almas dilaceradas, vidas
aniquiladas.
Ela sacudiu a cabeça, fechando os olhos com força.
O riso subiu pela garganta, meio debochado meio nervoso.
O vazio, a sensação súbita de deslocamento. Sentia-se fora de
órbita, sem gravitação, como se ele fosse a força suprema que a mantinha em
rotação.
Emme não era assim. Não fantasiava com o conto de fadas, cheia de
expectativas. Não mesmo. Só estava assim pelo sexo gostoso.
Ela não era sexualmente ativa, pelo menos com namorado... ex...
Tão estranho era chamar Josh de ex, era também perceber quão frustrante
tinha sido sua vida sexual nos quase quatro anos de relacionamento. Sexo
com hora marcada, quinzenal. Ele alegava estar sempre cansado e cheio de
preocupações com o trabalho. Também não era como se ele fosse um amante
profissional. Josh era preguiçoso e mesquinho, de uma foda só. Se não fosse
por seus brinquedinhos eróticos, sua vida sexual seria digna de pena.
Deu-se conta que facilmente esqueceu de sua vida em Nova York.
Não havia urgência em retornar, só uma vontade imensa de estender seus
dias em Snowville. Tão envolvida como estava na particularidade do lugar.
Esqueceu-se de tudo.
Esqueceu-se de Josh.
Não deveria esquecê-lo tão facilmente.
Recordou-se da discussão que tiveram antes de ela ir ao aeroporto.
Josh tinha aparecido em seu apartamento. Exigindo que parrasse
com o que ele julgava ser uma loucura. Ela foi direta e até um pouco áspera
em sua determinação. E ele lhe deu um ultimato.
“Se sair, Emme, não estarei aqui quando voltar”.
Emme saiu sem olhar para trás.
Não deveria ser tão fácil, mesmo que estivesse morta de
preocupação com Trish. Ele estava puto e ela não estava dando a mínima.
Ela precisava ir.
Inquieta pela dúvida corroendo-a por dentro, ela saltou em pé.
Não demorou para que estivesse na casa de Trish.
— Posso usar seu computador? Preciso enviar um e-mail.
— Claro. Está tudo bem?
— Tudo perfeito.
— Está no escritório. — Trish liderou o caminho. — Fique à
vontade. E quando terminar, me encontre na cozinha. Estou fazendo tacos.
Uma vez sozinha, Emme sentou atrás da mesa, ignorando a própria
autorrecriminação. Poderia ligar ou esperar até que retornasse a Nova York
e fazer isso de forma correta. Tinha odiado as histórias de amigas sobre
términos por telefone e por e-mail, também jurou nunca fazer nem um nem
outro. Mas, então, as circunstâncias eram diferentes. E outra, ele tinha
terminado com ela. Ela só estava se fazendo ouvir e cravando seu “okay” no
ponto final.
Depois que terminou, ela saiu da conta e foi atrás de Trish.
— Sempre que precisar, pode vir. Estranhei que não o fizesse antes.
— Estou de férias, moreninha. Me permitindo antes de voltar para a
loucura de Nova York. — Ela sorriu, roubando uma colher de guacamole.
Não precisava revelar que seu esquecimento do próprio mundo
tinha a ver com um homem que a desprezava com a mesma intensidade que
ela o desejava.
Trish parou de misturar o pico de gallo.
— Já sabe quando vai?
— Está enjoada de mim?
— Nunca. — E acrescentou. — Lee quer fazer o chá de bebê em
dois dias. Eu adoraria que estivesse aqui..., se o trabalho permitir, claro.
— Não perderia isso por nada no mundo, moreninha.
— Não quero te causar problemas.
— Não irá. Tenho trabalhado por quase cinco anos, acumulando
minhas férias e enchendo os bolsos da empresa a custo das minhas noites em
claro. — Emme começou a montar seu próprio taco com os ingredientes
dispostos sobre a ilha. — Onde será?
— Aqui em casa mesmo. Caleb não quer que fique por aí quando o
bebê está prestes a nascer. E, para falar a verdade, concordo com ele. O
pensamento de entrar em trabalho de parto fora de casa me aterroriza um
pouco.
— Grávida e descalça — Emme brincou.
— Por escolha.
— Não tem medo de ter o bebê em casa?
— Se disser que não estou com um pouquinho de medo, estarei
mentindo. Estou fazendo o pré-natal certinho e me preparando para esse
parto. Raina estará presente, assim como, Sue.
— A parteira.
— Ei, não me dê esse olhar — recriminou Trish, com um sorriso.
— Eu só aceitei só porque Raina irá me acompanhar, também. Confio em
Sue, tenho um enorme carinho e respeito por ela, mas preciso estar 100%
segura de que terei um médico de prontidão, caso haja alguma eventualidade.
Emme se concentrou em seu taco.
E, aos risos, tranquilizou Trish, dispondo-se a falar com Lee e
ajudar na preparação para o chá de bebê para garantir que não haveria
loucuras.
— Eu queria te fazer uma pergunta — ela murmurou,
demoradamente.
— O que é?
— Collin tem problemas financeiros?
Trish espalmou as mãos na superfície do mármore e a fitou.
— Por que diz isso?
— Sua cabana destoa do resto.
— Todos são bem remunerados por sua contribuição. Há, claro,
quem ganhe mais devido a hierarquia no bando. Sobre Collin, até onde sei,
ele recusou a oferta de ajuda para construir uma casa mais confortável.
— Ele é mão de vaca.
— Não faço ideia. Terá que perguntar a ele.
Como se ele fosse responder.
Ela comeu seu taco devagar, ponderando.
— O que aconteceria se um humano comum transasse com um
shifter?
— Por comum você quer dizer não prometido?
Assentiu.
— Em geral, eles preferem não buscar parceiras sexuais humanas
por terem que se controlar. Shifters são mais resistentes.
— E por causa daquelas coisas que Caleb disse?
— Não é o mesmo, Emme. É comprovado que a troca que ocorre
entre Caleb e eu, Embry e Lee, só ocorre por sermos prometidos. Caleb teve
uma audiência com shifters que fizeram sexo casual com humanas
regularmente, são poucos, mas não houve alteração alguma.
— E sobre doenças?
Trish cerrou o olhar com desconfiança.
— Essa é uma pergunta específica.
Bufou.
— Curiosidade. Ou vai dizer que se nossos lugares estivessem
trocados, você não estaria morta de curiosidade.
— Bem, sim.
— Então?
— Eles são imunes a doenças humanas e não há ISTs entre shifters.
Emme disfarçou, o alívio foi colossal.
Ela deveria se preocupar com uma gravidez, mas desde que estava
no controle de natalidade, nenhuma preocupação.
Ela fez mais um taco e comeu em poucas mordidas.
— Delicioso, moreninha — disse, indo até Trish e lhe estralou um
beijo na bochecha. — Obrigada. Agora eu vou ver o que Lee está aprontando
e se ela precisa de ajuda.
Girando para sair, ela deu de cara com Caleb entrando na cozinha.
Ele fez uma pausa, e depois cheirou. Ele amaldiçoou sob sua respiração e se
afastou tão rápido, que ela ficou atordoada. Uma careta torceu as feições
dele.
— Jesus Cristo, fêmea! Tomou banho de perfume?
— O quê? — Ela puxou a gola alta da blusa e cheirou. — Não. Só
dei duas esborrifadas. — Se fosse honesta, mesmo para ela parecia demais.
Trish lhe deu um olhar compassivo.
— Talvez seja melhor que passe no chalé antes de ir até Lee.
— Não estou fedendo.
— Esqueceu que eles têm um nariz intrometido?
Emme pensou em Collin, não queria, mas era automático.
Ele não tinha reclamado, ao contrário, deixou-a bem consciente do
quanto seu cheiro o excitava. Mas, então, recordou que não tinha usado
perfume.
19
REVIRAVOLTAS

Emme sentiu o coração saltar quando as batidas soaram.


Inexplicavelmente, ela sabia que Collin estava do outro lado da
porta.
Ela tinha ido a casa de Lee e conversado sobre os arranjos para o
chá de bebê de Trish. Estar às claras ajudava muito. Lee era divertidíssima e
muito aberta. Tinham acertado todos os detalhes e garantido que não haveria
nada louco. Tinha estado tranquila, bebendo algumas cervejas e conversando
com Lee e outras mulheres da reserva até que um chiado de urgência se
levantou, tranformando-a numa carga de ansiedade.
Emme tinha uma inquietação queimando nas veias...
Outra batida mais forte retumbou em seus ossos, em sua própria
alma.
... e agora ela sabia o motivo.
Collin viria para ela.
Emme fez de tudo para se acalmar antes de abrir a porta para o
homem que vinha sendo o objeto de desejo de seus sonhos eróticos.
Ela fechou os dedos na maçaneta.
Ela era forte.
Poderosa.
Uma rocha firme e inflexível.
Uma vez que abriu a porta e fitou o homem mais belo e sexy que já
colocou os olhos, ela era um caso perdido. Suas sinapses trabalharam a
favor dele. Cada célula, cada molécula parecia magnetizada por ele.
Collin. Collin. Collin.
O ar ficou retido em seus pulmões.
Emme não falou, não podia.
Havia um mundo de palavras sufocando sua voz.
Com o coração batendo forte contra suas costelas, a pele
hipersensível e o estômago agitado, ela soltou o ar devagar e puxou uma
respiração profunda, e esperou que ele fizesse o primeiro movimento.
A forma como ele a olhou, sua estrutura enorme, a presença
esmagadora.
Emme sentiu tudo. Sua boceta molhou, o pulso de necessidade
quase a fazendo se curvar enquanto lutava com a vontade de saltar nele.
Ela travou a mandíbula, os dentes apertados.
A dor em seu sexo era puro tormento. Ela queria se tocar. Morria
pelo pau grosso dele a enchendo como fez horas atrás.
Collin cheirou o ar. E ela soube que ele captou o aroma feminino de
sua necessidade escaldante. Ela quis, mas lutou contra o impulso de conferir
o quanto o afetou. O rosto dele estava apertado numa careta de luxúria.
Os azuis etéreos luziam com um brilho perigoso e sexual.
Ela deu um passo atrás, afundando em seu chalé, ao mesmo tempo
que ele se lançou para frente, e bateu à porta fechada atrás dele sem quebrar
a conexão visual.
Ele começou a puxar as botas, chocando-a.
— Eu ainda acho tudo isso um erro — Collin grunhiu com fúria.
— Okay — ela sussurrou trêmula e excitada, as mãos suando pelo
nervosismo.
— Você tem alguém.
Ela ouviu a acusação em sua voz e uma picada de ciúmes.
— Não — Emme assegurou, dando outro passo para trás quando ele
endireitou a postura, tão alto, tão amplo..., tão tudo.
Ele fez menção de avançar, mas parou.
Os olhos exigindo.
— Explique.
— Eu menti. Está bem? Estava magoada com você. Quero dizer, não
exatamente menti. É complicado. Josh terminou comigo primeiro. Ele não
queria que viesse. E me fez escolher, ele ou Trish. E aqui estou... Além do
mais, mesmo que ainda estivéssemos juntos, e não estou dizendo que acho
isso certo. Eu terminaria com ele. Não posso ficar com um quando... — Ela
se calou.
— Quando? — ele exigiu, com um olhar analítico.
— Quando desejo outro.
O olhar que ele lhe deu fez seu corpo cantar, a boceta mais quente.
Descalço, o tipo a fitou sem interrupção.
— Eu te desejo, Emmanuelle. Te desejo tanto que estou com raiva
de mim mesmo por não conseguir me controlar — ele rosnou, aceitando a
derrota.
Emme amou a declaração e seu corpo derreteu em paixão líquida.
Cada terminação nervosa pulsava. Seus mamilos duros exigindo atenção de
seus lábios assassinos; a marca em seu seio ardendo. Sua boceta doía de
desejo.
— Não faça. Não se controle — ela disse baixinho.
— Não sabe o que diz.
— Eu sei. Nós dois sabemos — ela argumentou, com a respiração
pesada, como se estivesse apanhada em um feitiço voluptuoso. — Eu te
desejo com loucura, Collin. Não sei como isso aconteceu, quando aconteceu.
E para ser franca, não me importo. Tudo que importa é você. Eu não parei de
pensar em você nem um minuto sequer. Em como me fodeu e me beijou. Eu
quero isso, Collin. Quero que me foda. Que me marque. Eu odiei lavar você
de mim.
— Emmanuelle, você está me matando.
— Eu não estou pensando se isso é certo ou não, e não quero pensar
nisso. Eu só consigo me concentrar na fome que sinto. Fome por você.
Satisfação brilhou no olhar dele, antes de seus olhos ficarem
escuros e autoritários, fazendo um pulso de desejo disparar por seu corpo
ansioso.
— Tire tudo, Emmanuelle. — Collin ordenou, com a voz mais
profunda do que ela já tinha ouvido. — Fique nua para mim. Me mostre o
que é meu.
Ela hesitou por dois segundos e obedeceu.
Ele silenciosamente a assistiu se despir, o olhar lascivo tendo cada
polegada. Em seguida, Collin se aproximou e parou. O azul de seus olhos
intensificados com o desejo ardente deslizou por seu corpo e se fixou na
marca.
Houve um lampejo de arrependimento, que rapidamente foi
substituído por admiração masculina. E posse instintual.
— Eu não deveria ter feito isso — ele gemeu, com um rosnado
sexual.
— Eu não me importo, Collin. É seu para marcar. — Emme se viu
sussurrando, arrebatada pelo olhar incendiário que ele lhe deu.
Sua entrega deveria assustá-la, mas ela não só queria sua marca,
como também queria marcá-lo. Meu. Meu. Meu.
Ele esticou a mão, o contato da ponta do indicador contra sua pele
quase fez Emme se dobrar. Seus joelhos fraquejaram, e ela se segurou nele
temendo cair enquanto um som baixo, desavergonhado, subia pela garganta.
— Eu não deveria, mas amo minha marca em você.
Ele agarrou o seio, envolvendo-o com a mão enorme para que a
ponta se projetasse em oferecimento. Collin não deu tempo para que ela
pensasse. Inclinando a cabeça, ele cobriu o mamilo pequeno com a boca, a
língua contornando ao redor, antes de chupar forte. Ela o amamentou. Pura
tortura.
Ele chupava e lambia, acalmando com a língua.
O contraste áspero e suave fez seus olhos rolarem. Emme cravou as
unhas no ombro e na nuca dele, a cabeça jogada para trás.
Ela gemeu, com a sensação cortante de prazer.
Ele tocou seu rosto, e ela se inclinou como um gatinho carente. Sob
seu olhar luxurioso, assistiu o quanto ele se deliciou com sua entrega.
— Seu corpo é uma poesia, Emmanuelle.
— Você vai fazer amor comigo?
Collin baixou a cabeça. Emme segurou a respiração, antecipando o
toque de sua boca. Ele roçou os lábios nos seus, rastreando para baixo. Ele
pressionou a boca macia em sua pele, causando todo tipo de arrepios e
sensações vertiginosas, a saliva deixando um rastro febril.
Ela o queria. E ela queria agora.
— Você me confunde. Me bagunça. É tudo que eu não deveria
querer, mas, Deus, eu quero você, fêmea.
— Isso não significa nada — ela choramingou, maluca por seu
beijo.
— É sexo.
Collin não pareceu satisfeito com a própria resolução. E
transformou seu desagrado em um ato de posse furiosa quando cobriu seus
lábios com os dele. Ele possuiu sua boca e não foi nada menos que uma
aquisição. Um beijo duro, quente e delicioso. Ele roubou e incendiou.
Exigente. Dominante.
Ele ficou mais duro, seu desejo mais quente.
Ele gemeu. Ela ofegou, gemendo contra os lábios dele.
Braços apertaram, os corpos entrelaçados de tal maneira que não
sabia onde um começava e o outro terminava. Entrelaçados como se
pertencessem. Loucos e frenéticos. O calor e o desejo criando uma fusão
explosiva.
Ele deslizou a boca abaixo por sua mandíbula, pescoço, o monte
generoso de seus seios fartos, e voltou dominando sua boca aveludada.
Seu beijo era possessivo. Exigente. Em chamas. Crua tentação e
deleite.
Collin empurrou até que ela caiu para trás na cama.
Emme se arrastou nos cotovelos sem tirar os olhos dele.
Ele era como um grande felino selvagem morto de fome. Ela era seu
banquete. Os olhos dele brilhavam com a profundidade do desejo esculpido
em seu rosto, tornando seus traços mais duros e afiados.
O homem exalava sensualidade, sexo.
Collin tirou a jaqueta e puxou a camiseta sobre a cabeça da forma
mais erótica que um homem podia fazer, os músculos poderosos flexionando
com sua força, as veias salientadas. Sua frente era magnífica, ampla, atlética.
O abdômen sarado sombreado por pelos loiros escuros, os oblíquos sexy em
forma de V.
Emme enrolou o lábio inferior entre os dentes, observando se
desfazer do jeans. Ele não usava cueca. Nenhuma inibição.
Cristo, ele era lindo e muito gostoso.
A boca encheu d’água.
A vagina encharcada com o tesão fervendo em seu sangue.
Os olhos dela deslizaram do tórax até a virilha dele. E ela empurrou
a língua para fora, correndo pelos lábios com o súbito desejo de colocar a
boca nele e chupar cada gota de prazer de seu belo corpo pela cabeça gorda
de seu pau.
O pênis dele projetava para fora do ninho de pelos aparados,
apontando diretamente para ela. Longo. Grosso. Duro. E pulsante, as veias
inchadas.
Emme subiu o olhar para o rosto masculino.
Ela abriu as pernas se sentindo deliciosamente sexy e ousada.
Ele baixou o olhar. E rosnou, um estrondo profundo.
Sua boceta contraiu com a força de seu olhar, encharcada, brilhante
com a excitação líquida minando e manchando os lençóis abaixo. Em outro
momento, Emme teria se envergonhado por sua necessidade. Seus mamilos
nunca tinham ficado tão duros, a boceta tão carente que pensou que morreria
se não tivesse o pênis grosso bombeando dentro dela. Esticando-a a ponto de
dor.
Ela somente queria se entregar a ele, a tudo que sentia.
Depois. Depois, ela pensaria.
— Collin — ela chamou, sua voz quebrou o transe dele. Escorando-
se em um antebraço, ela desceu a outra mão, cobrindo a barriga, o triângulo
escuro de pelos pubianos em sua vulva. — Eu preciso de você dentro de
mim.
Ele capturou seu olhar, não parecia mais como ele, ainda era ele,
mas havia mais.
Um rápido sorriso brilhou em suas belas feições. Predatório.
Emme estremeceu, e depois tremeu.
De repente, uma onda de poder emanava dele, exigindo sua
submissão. E não havia nada mais que ela quisesse lhe dar do que isso. Sua
rendição. Collin era pura tentação, feroz. O poder caótico que atraia a este
estranho enigmático, que atava seus nervos, era maior do que qualquer coisa
que já experimentara antes.
Ele se lançou para ela, e ela abriu as pernas mais amplo.
Collin se sentou de joelhos de frente para as suas pernas, parecendo
preso num dilema enquanto focava novamente sua vagina pulsante.
Ela não podia suportar, estar tão perto, sentindo seu cheiro, seu
calor, seu anseio. E ele a desejava. Mesmo que a recusasse agora com as
desculpas mais esfarrapadas do mundo. Ela sabia da verdade. Collin Del
Rey a desejava loucamente. Desesperadamente. Perversamente.
Emme plantou os pés na cama, o lábio preso entre os dentes, suas
mãos alcançaram os seios apertando e amassando. Ela balançou os quadris.
Convidando.
Implorando com seu corpo.
Apanhada na sensação intensa de acariciar o seio marcado.
Deus, ela ia morrer se ele não a tocasse. Se não colocasse o pênis
em sua vagina e se movesse exatamente da forma que ela precisava. Forte.
Duro. Implacável.
Ele deslizou a grande mão pela sua barriga. Agarrando o seio
ferido, ela segurou o pulso grosso e puxou, chupando dois de seus dedos
com fome sexual.
Um pequeno rugido chiou no peito do macho.
Collin respirou fundo, o peito se movendo, a expressão escura.
— Fêmea, você é tão linda — ele grunhiu numa voz animalesca,
lançando uma onda de selvageria através de seu corpo. Ele a tocou com a
mão livre, seus dedos esfregando na fenda. — Essa boceta gostosa está
pingando.
Ela quase teve um orgasmo quando ele agarrou a dobra de seus
joelhos e empurrou antes dele descer nela, a boca aberta em sua boceta.
Ela saltou com o assalto feroz.
Suas mãos ficaram impulsivas, o corpo pegando fogo.
Ele a segurou firme, a língua bordeando sua vagina.
Collin beijou suas partes femininas como se fosse os lábios de sua
boca.
Emme suspirou, deslizando uma perna até sua panturrilha descansar
nas costas dele à medida em que enfiava os dedos nos cabelos de Collin. Ela
esfregou, frenética com a necessidade. Banhada em um tesão vicioso.
A primeira explosão a pegou desprevenida em um orgasmo que
tirou suas costas do colchão, as pernas apertando a cabeça dele.
Ela relaxou, mas ele continuou seu assalto.
Deus, o homem era um perito, um amante perfeito.
Ele lhe deu mais um orgasmo, fazendo-a gritar e suplicar, então
deslizou para cima em seu corpo, as coxas masculinas espalhando-a ainda
mais e a ponta grossa encaixou em sua abertura. Ele pairou sobre ela,
olhando em seus olhos, suas respirações altas e pesadas, esperando...
Emme odiou, porém não podia deixar de corar.
Tudo que ela queria era empurrar de volta, fazê-lo preencher o
vazio. Mas se via presa no fascínio dele. Seu olhar exigente, a demanda em
sua expressão.
Seus lábios e a barba estavam úmidos com seu desejo.
Ela não resistiu a levantar o rosto e colher em sua língua a prova de
si mesma. Ela sentiu o corpo tencionar, o peito chiando com o rosnado
baixinho.
Era sexy como o inferno.
Ela o encarou com um olhar sonhador.
— Me pergunte de novo, fêmea.
— O quê?
— Me pergunte se farei amor com você.
Emme engoliu, de repente, e lambeu os lábios.
— Você... você fará amor comigo, Collin?
Ele arrastou a coxa para cima, o movimento deixando-a
impossivelmente mais aberta e vulnerável ao ataque dele, o pênis dele
deslizou para dentro. Centímetro a centímetro. Até o fundo. Esticando-a,
antes que os músculos o agarrassem de volta. Enquanto a olhava nos olhos.
Luxúria. Pura luxúria.
— Eu vou te comer, Emmanuelle — ele rasgou, o barítono profundo
ecoando dentro dela, onde ele a enchia. — Vou te foder tão forte que minha
marca em você será permanente. Irá se lembrar de mim a cada passo que
der..., essa boceta apertada vai pingar com a minha lembrança, doer para ter
minha atenção. Eu vou te arruinar.
Ela engasgou quando ele pressionou as bolas nela.
Ele saiu e voltou com um impulso brutal.
— Nenhum amor, apenas foda.
— Então me foda, Collin. Me foda com tudo que tem.
Ele a segurou com a mão na cabeça, para suas apunhaladas bruscas.
Emme lutava para respirar, o peso do corpo dele sobre o dela, o peito duro
esfregando contra seus seios macios a cada dura investida. Estava
sufocando. Mas não era louca de parar, talvez desmaiasse por insuficiência
de ar, e ela não podia estar mais feliz. Precisava mais dele do que o oxigênio
em seus pulmões. Ela queria isso, sua fúria, seu tesão. Queria Collin. E se
sexo fosse a única coisa que ele pudesse lhe dar, ela estava feliz. Nada nem
ninguém nunca a tomou assim, de tal forma, que a fez se sentir numa
tormenta, se perdendo e se encontrando ao mesmo tempo. Suas pernas
trançaram sobre as costas masculinas, as mãos em sua pele, as unhas
deixando marcas.
Ela sentia cada parte dele, sua força, seu poder, os músculos firmes.
Ele estava por toda a parte, ao redor dela, dentro dela.
Collin se moveu mais frenético não dando descanso, sua boca
buscando os mamilos tensos, mordendo-os e puxando com chupadas fortes.
Eles se tornaram uma confusão sombria, desesperada e suarenta.
Emme gritou quando o orgasmo rasgou seu corpo, deixando-a fora
de si.
Ela mal tinha descido de seu prazer, da fantasia orgástica brincando
com sua razão, somente para ser pega num movimento brusco quando ele a
girou, puxando seus quadris para o alto. E meteu com força e rapidez.
— Oh, meu Deus....
Ele grunhia, ela gemia.
A estrutura da cama rangendo com os movimentos.
Sons de sexo, crescentes, o cheiro da luxúria impregnou o ar.
Collin se dobrou sobre ela, com apunhaladas rasas, a cabeça
enfiada na curva de seu ombro direito, régio de atitude. A respiração trôpega
enviando rajadas em sua pele aquecida, os corpos escorregadios com o
esforço.
Em outro movimento brusco, ela se viu de costas na cama mais uma
vez, as pernas nos ombros largos, o pênis dele enterrado profundamente em
seu sexo. Ele meteu, pegando ritmo.
Emme sentiu, novamente. Ela estava subindo, entregue a ele, o
prazer tão grande e intenso que se sentiu drogada, apanhada numa névoa de
êxtase. Sobrenatural. A luz brilhante bonita atraindo, um fio de ouro
enlaçando-os juntos... apertando..., até que ela o sentiu, a presença pesada e
sua resistência. A neblina, como uma barreira, impedindo de vê-lo
completamente. Ela choramingou querendo alcançá-lo enquanto ele próprio
impulsionava seus esforços, batendo mais rápido, mais forte, até que algo
picou seu útero. E ele gozou enchendo-a com seu esperma. O ápice dele
desencadeou outro orgasmo.
Uma vez que relaxou, ela sorriu ainda enredada pelo prazer, dando-
se conta da boca dele em seu seio. Ele a mordeu, novamente.
— Você é um mordedor, não é? — Ela sorriu, puxando uma
respiração funda para se acalmar enquanto afagava o cabelo dele. — Isso é
uma espécie de tara?
Ele a olhou e soltou o seio.
— Sinto muito — ele disse, parecendo aborrecido com ele mesmo.
— Tudo bem. Não dói. É — lambeu os lábios — bom. O latejar me
fez pensar em você o dia todo, fantasiar com a sua boca. Eu pensei que fosse
morrer se não transasse com você mais uma vez... É perigoso, Collin.
Collin baixou a boca sobre marca, lambendo com suavidade.
Seus músculos puxaram e ela se arqueou com o contato, manhosa.
Enquanto a mão dele deslizava pelos seus flancos contornando a curva de
sua bunda. Os dedos dele se fecharam, amassando a carne tenra.
Seu corpo cantou para vida como se não tivesse acabado de ter uma
sessão de orgasmos. O pau dele não estava menos duro, também.
Ele puxou para fora e se levantou, sentando, e depois saiu da cama.
— Não fuja.
Ele parou de costas para ela, a visão de sua bunda era tentadora.
— Eu acho que mereço uma resposta sobre suas mordidas de amor,
não?
Collin virou. Emme não podia se controlar, o pau dele era uma
visão do paraíso. Ela olhou fixamente, ignorando o olhar dele.

Collin fechou e abriu os punhos.


Ele deveria ir, pedir desculpas e acabar com aquilo.
No entanto...
Emme tinha fome no olhar.
Deus, a mulher o matava olhando com aquela carência, tão sensual.
O leão podia cheirar sua fome, e ronronou de prazer.
Era tão deliciosa que tudo que ele queria era se banquetear em suas
delícias, as curvas generosas perfeitas para suas mãos. A boceta doce era
ambrosia dos deuses em sua boca. Queria beber dela. Encher sua boceta com
seu pau e seu esperma. Porra, se ele não fez isso. Ele sentiu... ela.
Collin cortou qualquer pensamento analítico sobre suas emoções.
Não ia pensar sobre a mordida e necessidade insana de marcá-la,
sobre o sangue dela em sua boca, que tinha explodido a sua mente.
Essa fêmea humana estava levando sua sanidade.
E ele estava tentado demais para resistir.
Talvez fosse... Foda-se.
Collin estava nu na frente dela, seu pênis grosso estendido diante
dele. O olhar dela cresceu com gula. Uma fome crua. Cabal. A língua rosa
correu pelo lábio cheio, inchado dos beijos violentos, que ele teve que
travar a mandíbula para não rugir. A necessidade de satisfazê-la rugiu em
seu sangue. Ele acariciou sua ereção desde as bolas até a cabeça, o olhar
estreito nos seios dela... naquele seio, onde sua boca fechou e as presas
cravaram, bebendo dela.
A ponta grossa estava vermelha púrpura e brilhava com os fluídos.
Collin se aproximou da cama, e Emme engatinhou para ele.
Esticando a mão livre, emaranhou os dedos nos cabelos dela,
bagunçados de uma forma sexy ao redor do rosto bonito, e puxou, até que
seus olhos se encontraram.
— Você quer me saborear, Emmanuelle?
Ela assentiu e abaixou, lançou a língua e pegou a ponta, o gosto
salgado do prazer compartilhado explodindo em sua boca. O ar pulsava com
a luxúria.
Ela agarrou a cabeça bulbosa em seus lábios, e olhou para acima.
Lentamente, Collin sorriu.
Ela sorriu em torno de seu pau e começou a chupá-lo pra valer.
Não demorou para se perderem no prazer, novamente.

Emme soube que estava sozinha antes mesmo de abrir os olhos.


Uma sensação de tristeza encontrou o caminho para o seu coração,
projetando sombras em seu humor. As mãos buscaram no automático só para
comprovar o que ela já sabia, encontrando…
Ela abriu os olhos, e depois sentou para olhar em volta e para a
cama.
… um ramalhete simples de flores brancas pequenas e delicadas.
Collin não estava lá, porém, em seu lugar, havia deixado algo.
Sua presença transformada num gesto lindo que inchou seu coração.
Ele não tinha fugido e ignorado o que fizeram. Collin tinha tido a
delicadeza de lhe deixar um mimo, uma consideração. Ele se preocupou com
ela.
Não havia cartão, mas ela não precisava de um.
20
GUERRA FRIA

Emme observou Trish depois que os convidados saíram. As


mulheres da reserva tinham comparecido em peso, com presentes e mimos
para Trish e seu bebê. Tinha sido uma tarde agradável, com música, comida
boa e risadas.
Ainda se surpreendia com a beleza das mulheres da reserva. Mesmo
as mais velhas estavam em seu melhor momento, brilhando e irradiando
força e vitalidade. Os olhares de respeito e de carinho das mulheres para
Trish, calaram os resquícios de preocupação que ainda permanecia em seu
coração.
— Estou tão ansiosa para o nascimento. Amo que meu bebê esteja
seguro aqui, mas quero tanto pegá-lo nos braços, sentir o cheirinho, o
pesinho. — E acrescentou. — Eu tive medo no início, sabe, depois do furor
da descoberta.
— Da gravidez ou do mundo fantástico de Caleb?
— A gravidez. Estava em novo mundo, sozinha. Tinha Caleb, mas...
antes dele quando eu realmente tive alguém? Não era como se tivesse
pessoas concretas, além de papai e você. Fiquei com medo por meu bebê, se
poderia dar a ele o que precisava.
— Você será uma mãe maravilhosa, Trish.
— E eu tenho Caleb.
— E, pelo pouco que vi, esse homem daria a vida por ti.
— Ele é incrível assim.
Emme rolou os olhos enquanto Trish ria.
— Você está feliz, moreninha?
— Muito. Ficou tudo tão incrível. Obrigada.
— Lee e eu formamos uma grande dupla.
— A melhor.
Trish riu.
— É bom saber que, além de Caleb, você está rodeada de pessoas
boas.
— Eu sei que tenho sido uma anfitriã péssima. — Trish suspirou,
correndo a mão pela barriga enorme. — Gostaria de estar em estado
melhor...
— Você está grávida e prestes a dar à luz, precisa se cuidar. Não
vim aqui para te prejudicar. E outra, sou uma garota grande, sei me virar.
— Obrigada por estar aqui — disse Trish, segurando sua mão.
— Sempre que precisar — Emme assegurou, o semblante
suavizando. — Bem, nem sempre em corpo, mas de coração e a uma ligação
de distância.
— Será difícil não te ter aqui.
Emme pensou em Collin.
Nunca gostou de despedidas. Contudo, surpreendeu-lhe ao perceber
que ficaria mais arrasada por Collin do que por Trish.
Isso fazia dela uma péssima amiga?
Uma vez que Caleb apareceu, Emme os deixou sozinhos.
No caminho para o chalé, nada a afetou, exceto pela sensação de
estar sendo vigiada, do aumento de sua frequência cardíaca e calor corporal,
e o aquecimento libidinoso entre suas pernas.
Ele estava à espreita?
Estava louca por achar que estava sendo seguida por ele?
Provavelmente.
Ela tomou banho. Escovou os dentes e prendeu o cabelo num coque
frouxo no alto da cabeça, deixando alguns fios soltos, que davam um ar
despojado. Ligou a cafeteira. Iria enfiar a cabeça num livro. Pelo menos, seu
kindle funcionava. Estava com a biblioteca cheia de livros que prometeu ler
antes de morrer. E alguns tinham sido baixados em momentos anteriores.
Mal entrou na T-shirt, que usava para dormir, quando bateram na
porta.
Emme paralisou, sobressaltada.
O coração, de repente, acelerado.
Collin. Collin. Collin.
Seu nome era música, uma melodia sensual ecoando seu corpo.
Levantou uma urgência dentro dela, o frêmito de necessidade
derramando paixão vulcânica em sua corrente sanguínea. Seu sexo apertou
em antecipação.
Emme cogitou ignorar o chamado seduzindo seus sentidos. Sabendo
que era impossível, pois, contra toda a prudência, ela queria dar tudo a ele.
Na frente da porta, Emme encostou a testa contra a madeira,
puxando profundas respirações para se acalmar. Se ficasse imóvel, talvez o
desejo enfraquecesse e ela tivesse uma chance justa de lutar contra ele.
Não aconteceu.

xXx
Collin estava em igual batalha.
As mãos apoiadas nos batentes da porta e a testa pressionada contra
a madeira. Ele duelou com ele mesmo. E perdeu.
Emmanuelle estava do outro lado.
Ele cheirou sua hesitação e sua necessidade viciante.
Mais um motivo para deixá-la em paz e manter distância. Ele
deveria fugir enquanto podia. Longe de seus encantos femininos.
Emmanuelle, embora preenchesse sua mente, ele ainda podia ter algum
controle, pelo menos, foi o que disse a si mesmo. O que queria acreditar.
Mas perto, era um caso perdido. Presa fácil de seu feitiço. Ocorre que, o
controle precário que tinha quando se tratava da fêmea humana, tornou-se pó
depois de ter provado as delícias dela. Não havia luta quando o felino subia
em exigência por algo que o homem não deveria querer. Mas queria. Queria
seu corpo, provar sua entrega até que a limpasse de seu sistema. Mais que
isso, Collin queria passar um tempo com ela. Horas. A noite toda. Observá-
la. Ser o objeto da atenção daqueles lindos olhos castanhos muito grandes,
olhando para ele com fome e carência, quase desesperada. Muito sensual.
Louca de desejo. Escurecendo ainda mais com a paixão.
Collin queria descobrir os seus segredos, seus gostos, seus sonhos e
medos.
Sua obsessão por Emmanuelle tinha ganhado uma proporção
assustadora igualando-se a culpa. Ele resistiu a marcá-la como um macho
acasalado. Em vez disso, tinha cravado as presas no seio dela. Duas vezes.
Provou seu sangue, sua entrega doce.
Não a reivindicou de maneira tradicional. Todavia, o leão
encontrou sua forma de marcar a fêmea com suas presas letal e o ferrão em
seu pênis.
Uma reivindicação que horrorizou homem.
Seu ferrão nunca tinha saído.
Ele não tinha se dado conta na primeira vez. Mas, desta vez, sem o
furor da paixão e o desespero para montá-la. Um pouco mais racional. Ele
sentiu. O leão colocou sua marca nela e se regozijava. Ignorando a
perplexidade do homem.
Collin era um macho inteligente, então desistiu de lutar.
Ele não deveria desejar Emmanuelle. Mas era, aparentemente, um
macho perdido. Completamente rendido aos seus encantos.
Ele não podia compreender os sentimentos que ela despertava, a
necessidade que tinha dela. Ele precisava estar com ela. Para ela. Para o que
ela precisasse. Pensar que ela passou o dia todo pensando nele, querendo-o,
precisando dele. Necessitada. O fez sentir raiva de si mesmo. Então ele,
enfim, entendeu. Não era apenas o apelo sexual. Era ela. Estar com ela.
Olhar para ela. Sentir seu cheiro. Seu gosto. Seu calor. Ele tinha a
necessidade de se colocar à disposição dela porque sentia que era o que
devia fazer. Era certo.
Mas como poderia ser certo se ele já tinha tido sua prometida?
Segunda chance; segunda prometida, as palavras de Caleb
ecoavam em sua mente. Esta era uma possibilidade inimaginável.
Dentre todos os machos, ele seria digno de uma segunda chance? Ou
era uma espécie de brincadeira? Uma punição? Sentir o gosto de céu antes
de ser lançado ao inferno por não ter sido capaz de proteger um presente tão
precioso?
Estar com ela, inexplicavelmente, trazia paz a sua tormenta.
Ele ouviu o coração dela batendo no mesmo compasso do seu.
Sua mandíbula cerrou, capturando a demanda.
Em seu lugar, o sussurro de seu nome saiu. Ele não quis reconhecer
o suplício. Sua atenção era dela, uma vez que a porta se abriu. Ele desistiu.
Rendido. Completamente. Inteiramente inclinado a servi-la.
Se a sensualidade fosse uma pessoa, seria Emmanuelle.
Ela cheirava a limpo, o odor natural de sua feminilidade. Enviou
labaredas de fogo para a sua virilha. Inchou seu pau. As bochechas dela com
um rubor cativante. Absolutamente charmosa e feminina. Encantadora.
Emmanuelle parecia doméstica, totalmente sexy.
Não era a mulher mais exuberante que já viu, nem perto. Ela não
tinha uma beleza que alcançava o pênis de um homem, senão o coração.
Eles não disseram nada. Ela deu um passo para o lado, um
consentimento mudo que ele pegou sem pestanejar. Ele ainda podia cheirá-
los no ar. Não havia passado nem 24h que estiveram juntos, ainda assim, se
parecia como se tivesse sido há muito tempo. E ele já se encontrava em
abstinência.
Ele a assistiu, fechando a porta e voltando-se para ele.
Ela estava nervosa, podia cheirar sua dúvida e hesitação.
Ela chupou o lábio carnudo para dentro da boca. Ele quase gemeu.
Eles se encararam por um cumprido silêncio. Incapaz de falar, de se
mover. Essa fêmea humana sugava suas forças, limpava sua mente.
— Você está bem?
Lá dentro com o cheiro dela o intoxicando, a luxúria bateu forte. O
feitiço sexual fez sua ereção mais dura, as bolas contraindo. O desejo de
quebrar a distância entre eles e montá-la no chão corroendo-o até os ossos.
Com os punhos fechados, ele assentiu lentamente.
Ela lambeu os lábios sedutores, as pupilas dilatando.
Ele suprimiu um rugido. Ainda era recente a memória de seus lábios
em seu pau, de como lambeu e chupou, atraindo a cabeça para a garganta.
Ela tinha tocado a boceta, esfregando o feixe de nervos, enquanto lhe dava
um boquete. Ele podia se lembrar de quão dócil, obediente, quase ansiosa
demais para lhe agradar quando ele segurou o cabelo dela, enredando no
punho, e a manteve imóvel enquanto fodia sua boca. Ela o levou sem
reclamar, com lágrimas nos olhos.
— Collin?
— Estou bem.
Ela esfregou a testa.
— Eu estava fazendo um pouco de café pra me acompanhar na
leitura antes de você aparecer. Aceita um pouco?
Ele devia usar isso para se afastar.
Saia, vá.
Emmanuelle passou por ele, deixando um rastro de seu cheiro atrás
dela. Enraizou-o no lugar. Não havia uma maldita chance de ele sair agora.
O odor de sua excitação bombardeou sua necessidade de saciá-la.
Ela estava de costa para ele, de frente para a bancada. Ele olhou
para sua estatura baixa, as formas voluptuosas. A camiseta, que deveria ser
dois números maior que o dela, marcou a curva deliciosa de sua bunda.
Pegue. Monte. Possua.
Seus punhos fecharam e abriram.
Collin estremeceu com antecipação e fome.
Moveu-se antes que pudesse se deter, parando atrás dela.
Encostando a testa no topo da cabeça dela, a única parte sua que tocava nela.
Ele inalou o odor da cabeleira castanha, cheirava frutas. Collin adorou. O
aroma rico de excitação feminina ainda mais forte atirou eletricidade direito
para sua virilha, e seu pênis pulsou pressionando contra o material grosso da
calça. Sua temperatura corporal subiu. Ele ronronou, assustando-se com o
próprio som, que tinha se familiarizado desde que estava próximo a ela. Ele
puxou uma respiração.
— O que há em você que não posso me afastar? — ele sussurrou,
tão baixo, a voz tinha um vibrato sexual e de rogo. — O que me fez,
Emmanuelle?
— Talvez o mesmo que me fez — ela balbuciou, com um leve
tremor.
— Nem perto, fêmea. Nem perto.
Ele soltou o coque e o cabelo dela caiu ao redor como uma cortina.
Ele baixou a cabeça, esfregando o nariz e cheirando. Íntimo, uma carícia.
Ela relaxou contra seu corpo, e ele agarrou o quadril dela.
— Por que não posso ficar longe? Eu tento, Deus, eu tento, mas
quando percebo já estou me rasgando de vontade de estar com você, de tocar
seu corpo, beijar seus lábios — ele fez uma pausa, raspando a boca em sua
orelha, o reflexo de ambos na janela, a luz do dia impedindo-os de disfarçar
o desejo furtivo, sobrecarregando seus corpos. Ergueu a mão, o polegar
traçou o lábio inferior. Ele fez um som estrangulado no fundo de sua garganta
quando a língua tímida o tocou. — Esses lábios, — a outra mão desceu,
infiltrando-se sob a camiseta, alcançando sua virilha e puxou a calcinha de
lado, — e esses.
Emmanuelle arfou, os lábios se movendo sem nenhum som.
Ele esfregou os dedos pela fenda molhada, as pontas incitando a
entrada estreita, e depois voltou, provocando seu clitóris com círculos
preguiçosos. Ela abriu as pernas simultâneo a pressão que fez para baixo,
pedindo mais.
— É minha obsessão, Emmanuelle. Minha única necessidade. Eu
poderia me alimentar de você. Respirar você. E não seria suficiente.
Sua língua áspera traçou um caminho em seu pescoço, e ela dobrou
a cabeça para o lado dando-lhe mais espaço.
— O mesmo aqui, Collin — ela sussurrou, mordendo o lábio e
fechando os olhos, se deliciando com a carícia sensual de sua mão.
— Me quer, fêmea?
— Com cada respiração. — Ela abriu os olhos, encarando pelo
reflexo na janela. — Nunca quis tanto um homem como quero você. Isso não
pode ser normal… esse desejo. A ansiedade. Eu sinto você, Collin. Mesmo
quando não estamos juntos, eu sinto você por toda a parte. Eu poderia fazer
de seu colo a minha morada. Me hidratar com seus beijos e me alimentar de
você. — Ela subiu a mão, segurando sua nuca. — Vê? Você me quer? Acha
que é o único maluco, mas, não é. Também não entendo o que estamos
vivendo. Estamos aqui agora e eu não quero bancar a boba e me iludir. Mas
acho que é um pouco tarde pra isso. Esse trem já saiu. Seja lá o que estamos
fazendo aqui, eu quero viver isso pelo tempo que tivermos.
— Você merece mais que uma foda.
— Eu mereço o que eu quiser. E eu quero você, Collin. Seus beijos
e seus carinhos. Sua loucura e sua luxúria. Só você.
— Não sabe o que diz… As coisas que quero fazer contigo.
— Faça.
Ele beijou a pele abaixo da orelha e mordiscou o lóbulo. A voz
rouca, gutural, carregada de sensualidade e erotismo se derramou no ouvido
dela.
— Eu quero possuir você, Emmanuelle. Cada parte sua. Eu quero
que pingue pra mim, quero ver sua nata escorrendo pelas coxas. E eu quero
lamber cada rastro... Eu quero te encher com meu esperma. Sua boca. Sua
boceta. Seu rabo. Seus seios. Eu quero cobrir todo o seu corpo com minha
essência. E você vai cheirar a mim. Toda minha.
Ela empurrou contra ele, e ele segurou, ainda com a mão em seu
sexo.
Ele rosnou para ela, advertindo. Seu pênis estava tentando
estrangulá-lo. Se não a tomasse em breve, iria ter um sério caso de bolas
azuis.
— Collin, por favor.
— Shhhh...
— Não é justo. Dói. Por favor. Eu preciso...
— Você não é justa comigo, Emmanuelle. Está fodendo com a minha
cabeça. E eu não te dei permissão pra me foder, para me fazer desejá-la
como um louco.
— Collin, eu vou morrer se não me comer — ela chorou.
Ele puxou a mão, amando seu lamento, e depois a girou.
Com um impulso, içou-a e as pernas dela se trancaram ao seu redor
num aperto de morte. O desejo furioso incendiando as bochechas num tom
cativante. Injetou calor e necessidade em seus olhos brilhantes. Erotismo e
sensualidade. Olhando para ele como se Collin possuísse o cálice da vida.
Cobrindo a boca dela com a sua, ele a beijou, duro e
possessivamente.
De pé, ele caminhou às cegas, deixando-se guiar pelos instintos do
felino rugindo de felicidade, até que as costas dela pressionaram contra a
parede. Usando o pouco de controle que ainda restava, ele tomou cuidado
para que as garras não saíssem acidentalmente. E, em seguida, ele rasgou a
calcinha dela. E depois, livrou a ereção pulsante. Ele angulou a ponta na
entrada escorregadia e meteu para dentro todo o caminho até as bolas. E
parou.
O grito surpreso dela se transformou em gemido sensual.
Ele gemeu com a sensação afiada cortando sua coluna até as bolas.
Agora que a tinha, Collin se forçou a relaxar e acalmar o instinto
selvagem. Ela o abraçava, suas pernas e braços, sua vagina agarrando como
um torno. Tão apertada. Muito gostosa e molhada. Veludo quente.
Pressionou a testa contra a dela, respirando fundo para se acalmar.
— Eu digo que não virei. Luto todos os dias dizendo que não me
importo, que não quero vê-la. Eu minto pra mim e me rendo. Ou enlouqueço.
— Não fuja — ela disse, passando as unhas em seu couro cabeludo,
deixando pequenos beijos em sua boca. — Fique comigo, Collin. Me faça
sua.
Ele gemeu de prazer, puxando para trás e meteu num golpe punitivo.
— Não sabe o que me pede — ele rosnou, atormentado.
— Nós podemos negar até a morte, mas nós dois sabemos da
verdade — ela gemeu. — Quero você assim, Collin.
— Sexo?
— Se for tudo que puder me dar, então é o que quero.
— Não é tudo. Mas é tudo que consigo te dar...
—... por enquanto.
— Isso vai acabar — ele grunhiu com raiva, não sabendo se para
ela ou para ele próprio quando começou a estocar dentro dela.
— Então me deixe sonhar porque, francamente, não sei se posso
parar de fantasiar sobre você, sobre nós, mesmo que queira — ela implorou
entre beijos, segurando seu rosto. — Me dê a ilusão, pelo menos. Não me
tire isso. Se sonhar é a única coisa que posso ter de você, então sonhe
comigo.
A consternação dela o pegou nas bolas, e o fez ferver irritado.
Ele espalmou a parede ao lado do corpo feminino, a obrigando a
soltá-lo e esparramar suas pernas mais amplo, penduradas em seus braços
poderosos. O novo ângulo permitindo ir mais fundo dentro dela.
Ele meteu mais forte e áspero.
— Você me irrita e me endoida... Eu não deveria te querer. Não
deveria ser tão bom ter meu pênis cercado pelo calor da sua boceta perfeita.
O sexo dela se contraiu com força, e ela o beijou com paixão
incendiária.
— Somos adultos, Collin. Eu quero isso. Sua porra dentro de mim,
em meu corpo, marcando minha pele. Quero você... do jeito que for.
Ele puxou e bateu de volta, com força, e ela arqueou, sem fôlego.
— Não deveria me querer, cariño.
— Mas quero. Enquanto estiver aqui, eu quero tudo que puder me
dar... Eu partirei em alguns dias, então irá se livrar de mim pra sempre. Mas
até lá, perverta-me. Goze em mim, Collin. Me foda de todas as formas que
puder imaginar. Eu quero dormir com sua essência dentro de mim. Quero
senti-lo no dia seguinte. Beber de você. Me corrompa. Dê-me uma
lembrança doce para levar comigo... — Ela sorriu em deslumbramento
sexual. —... porque você, homem amargo, tem os beijos mais doces que já
provei, o seu toque é pura felicidade, e quando está assim, dentro de mim, é
o paraíso, onde sempre quero estar.
O pequeno pedaço de informação o enfureceu.
Ele parou, olhando em seus olhos, o azul etéreo envolto de um fino
contorno de ouro. Em posse. Contrariedade.
O leão olhava-a de perto, absorvendo as palavras.
21
MAIS BEIJOS, POR FAVOR

Emme não podia desviar os olhos, presa no magnetismo feral do


homem que a mantinha cativa contra a parede, o pênis dele empalando sua
vagina, os músculos moldando-se ao redor dele num aperto de morte.
Uma pausa agonizante.
Ele era sexy. Surpreendente belo. Deliciosamente atraente.
O olhar de Collin tão intenso e exigente, visceral até, que a colocou
inquieta em sua pele. Ela também não estava feliz por ter que retornar a vida
real. E ela não queria desperdiçar o tempo juntos com discussões inúteis.
Num ímpeto, Emme aterrissou a boca na dele, a língua passando
pela costura em demanda, implorando por mais. Cavando dentro, enroscou a
língua na dele. Ela o beijou forte, duro. Chupou o lábio carnudo, descendo
beijos e mordidas, tendo toda a intenção de percorrer sua mandíbula
barbuda, mas ele tinha outros planos. O som baixo e bestial, que ele fez em
sua garganta, contraiu seus músculos vaginais ao redor de seu pau ainda
muito duro.
Ele a enchia completamente. Pulsante. Rasgando sua boceta.
Collin a tomou num beijo arrasador ao passo que voltava a balançar
o quadril, pegando ritmo e velocidade. Indo mais fundo, mais rápido.
Cada empurrão duro provocou seu clitóris, a fricção agonizante.
Ela se contorceu, sem ar pelo beijo punitivo.
Ela provou sua raiva, a luta tempestiva. Ela estava lá,
acrescentando ainda mais calor. Entregando-se ao erotismo abrasivo e fome
intensa. A paixão escura irrompeu nela. Emme ficou zonza, delirante na pilha
de sensações que se transformou.
Ele enfiou a cabeça no convexo entre ombro e pescoço, e seu
sangue cantou, seu corpo entrando em êxtase pela expectativa de algo... Ela
tremeu em seus braços, consciente demais de seu corpo, das suas unhas na
pele dele. Sua marca. Sua posse. E quando o orgasmo passou por ela, foi um
vendaval enérgico, um show completo de luzes e prazeres. Sentia-se ligada a
Collin, mesmo com a resistência dele, com o corpo masculino batendo
contra o dela com fúria, fazendo tremer a cada golpe duro. Ela explodiu em
seus braços, a mente em frangalhos com a conexão celestial. Transcendeu
sua mente, seu espírito.
Ele gozou com ela, mas não parou de bater nela até que ela relaxou.
Estava mole, desossada, cheia dele.
— Deus, Collin — ela assoprou, tentando recuperar o fôlego. —
Você sabe mesmo foder os miolos de uma garota... Isso foi... maravilhoso.
Collin se moveu. E, no outro minuto, ela se viu de bruços na cama,
com ele atrás dela, usando as mãos para empurrar separadas as bochechas
de sua bunda, a boca dele a pegou por trás, balançando a língua para frente e
para trás. Surpreendendo-lhe com sua ousadia. Ele não parecia enojado de
se experimentar nela. Sua boca era faminta, voraz. Imoral. Explorando seu
sexo e a parte proibida, que ela só tinha experimentado duas vezes com seu
ex, mas tinha sido um desastre completo, então desistiu. Porém, Collin
tocando em seu ânus, ele era diferente. Mais intenso, feroz, quase um vício.
O homem usava a língua do jeito certo, seduzindo seu corpo, despertando
partes misteriosas nela. Nunca tinha estado tão encharcada antes, tão faminta.
Com ele, um olhar bastava para suas partes femininas ficarem sensíveis e
minando excitação. Sua boceta estava inchada com a atenção, os bicos dos
seios doendo com a sensibilidade.
Collin endureceu a língua, enquanto a sondava, fodendo. Ela arfou,
os olhos entrecerrados. E soltou os lençóis para segurar na cabeceira,
empurrou para trás contra os lábios dele. Rogando. Os gemidos abafados no
travesseiro.
Ele aliviou a pressão da boca e lambeu sua bunda.
Ela quis se levantar.
Um rosnado suave de advertência saiu dele.
A frustração aumentou quando ela olhou para trás. Ela baixou o
olhar em seu corpo surpreendendo-se. Seu impressionante pau estava duro.
O erotismo transformou seus gemidos em soluços de fome.
— Eu preciso de você dentro de mim mais uma vez, Collin — ela
se viu implorando. — Eu amo sua boca e sua língua gostosa. É perfeito,
baby. Mas preciso do seu pênis enchendo minha boceta.
Collin fez um som sensual, parecia que ele estava ronronando.
Ele subiu nela, a boca percorreu de sua coluna até a nuca, onde
mordiscou. Brincando com ela. Ele passou as pernas por fora das dela e
alinhou o pênis em sua abertura. Emme o sentiu empurrar contra sua boceta
ainda molhada e acolhedora da rodada anterior. O corpo dele pressionou
contra o seu. Cobrindo-a. Ele tinha a pele quente. Estava com o corpo duro,
mas sua pele era surpreendentemente suave. Ela virou o rosto para olhar.
— Eu ainda não terminei com você — ele rosnou, mergulhando
nela.
— Deus, oh, sim... hummm... tão bom...
Ele não parou de bombear, sua bunda amortecendo a pélvis dele a
cada mergulho, até que ela gozou mais três vezes e ele se derramou dentro
dela.
Desta vez, as alucinações de prazer estavam ainda mais potentes e
brilhantes. O fio de ouro, que sempre estivera lá, mais sólido, apertado.
Collin era um desconhecido, ainda assim, era como estar em casa.
Ele os puxou de lado, e ela gostou que ele não se afastasse. O calor
de seu corpo, sua presença poderosa fazendo-a se sentir delicada, feminina e
protegida.
Seu pênis ainda em seu sexo, inchada e melada. Ela não se importou
e ele não parecia se importar, tampouco. Ele a abraçou e ela relaxou mais,
derretendo dentro dos braços poderosos. Era a melhor sensação do mundo.
Encheu seu coração e inundou seus sentidos.
Emme acordou, espreguiçando-se com um sorriso bobo, que morreu
no segundo que descobriu a cama vazia. Então viu. Collin estava sentado
numa das poltronas de frente para a janela, a única que a cortina blackout
não estava acionada. Era difícil dizer se havia amanhecido dado a
peculiaridade do lugar.
Instantaneamente, ela ficou contente e despreocupada.
Devido ao dia infinito em Inuvik, ela costumava deixar quase todos
os blackouts baixados para ter maior privacidade, sobretudo, pelos turistas
perambulando por aí. Não havia muitos deles, mas o suficiente para que não
quisesse correr o risco de ser surpreendida dentro de seu próprio chalé.
Emme sentou, coçando os olhos, olhando para o perfil do homem.
Algo na postura dele não agradava. Tinha a leve impressão, como
um sentimento de inquietude lá no fundo, que queria nada mais que se
aproximar e tirar a sombra tenaz de tristeza sombreando o rosto dele.
Collin era lindo, mesmo em sua dor.
Emme se esticou e saiu da cama, nua. Não iria bancar a tímida
envergonhada quando ele conhecia suas partes mais íntimas.
Fosse o que fosse, enfrentaria de frente, com um bom café.
Ele não se moveu. Muito quieto.
Ela escovou os dentes e voltou. Ela sentiu os olhos dele nela
enquanto preparava café na cafeteira. Depois de pronto, ofereceu uma xícara
para ele e pegou uma para si mesma, então se encostou no balcão.
— Não conseguiu dormir? — perguntou sobre a borda da xícara,
bebendo um grande gole e cuspiu, xingando ao queimar a boca com o líquido
fumegante.
Lágrimas espreitaram seus olhos, a boca ardendo e doendo.
Emme virou para a pia, deixando a xícara lá e abriu a torneira, mas
antes que levasse água a boca, ela teve o rosto capturado. Suas bochechas
estavam coradas, não sabia se pelo embraço ou pela dor. Collin inspecionou
seu rosto com cuidado, e depois inclinou a cabeça. Emme estreitou o olhar,
imóvel, surpreendendo-se com a lambida molhada em seus lábios, tão gentil,
tão cuidadoso. Ela focou em seus olhos, e ele olhou para ela, fazendo o
movimento mais uma vez. Hipnotizada como estava, ela não fez objeção
quando ele pediu passagem, persuadindo. Ela fechou os olhos e partiu os
lábios à mercê de seu ataque, e deixou a língua dele percorrer sua boca com
o melhor sabor.
Ele a beijou lento, até que ela derreteu nos braços dele, as mãos
espalmadas no peito, entregue ao beijo, a delicadeza dando outro tom ao ato.
Ela permaneceu com os olhos fechados quando ele se afastou.
Ela teve dificuldade para se recuperar, zonza com sua ternura.
Ela abriu os olhos e encontrou os dele, e sorriu.
— Melhor?
— Eu posso ter mais.
Ele riu e o azul profundo de seus olhos iluminou, menos sérios.
Espantou Emme quão expressivo era seu olhar. O sobrenatural pairava neles.
E, Deus, se ela não caiu de amores por ele bem ali.
Collin era lindo de morrer, um colírio para os olhos, mesmo com
aquela carranca usual, sempre parecendo muito irritado com o mundo.
Sorrindo para ela, Collin acariciou sua bochecha.
— Gananciosa você.
— Culpa sua por ser tão bom. Sua boca deveria ser ilegal, Collin
Del Rey. Seus beijos banidos. Ninguém deveria beijar assim.
Ele corou levemente, com um sorriso de canto matador.
— Como está sua boca?
— Pronta para mais beijos.
Desta vez, ele riu às gargalhadas.
Ela não se ofendeu, pelo contrário, se encontrou ainda mais
encantada em como ele parecia jovem e mais vivo, mais leve, enquanto se
divertia.
— Queimou a boca com o café.
— Oh!
Ela franziu o cenho, notando que não sentia o ardor da queimação.
— Como? — Ela tocou os próprios lábios com os dedos. — Fez
isso?
— Minha saliva possui substâncias curativas.
— Daquela vez, quando machuquei o tornozelo, também fez algo,
não fez? — Ele assentiu. — Não doía tanto depois que me tocou.
— Eu posso acalmá-la através do meu toque, não tira a dor
completamente, mas lhe dá conforto.
— Era você, não era? Naquele dia na floresta.
Collin pareceu genuinamente envergonhado.
— Estava irritado com você e fui estúpido e infantil querendo te dar
uma lição. Eu errei. Sinto muito. Me perdoe.
— Eu te perdoo, Collin.
Ele olhou surpreso para o sorriso dela.
— Não me detesta?
— Não foi legal o que fez, mas não vou guardar rancor.
Principalmente porque você pode se desculpar me dando orgasmos e
fazendo um bom uso dessa língua mágica.
Ele encostou a testa na dela, respirando fundo.
— É mais do que mereço.
Ela puxou para trás.
— Todos podem fazer esse lance da cura?
— Não, só fazemos isso com nossos...
— O quê? Collin?
Ele piscou, olhando muito sério por um instante que pareceu eterno.
— Precisa ser mais cuidadosa, Emmanuelle.
— Sou cuidadosa.
A sobrancelha negra masculina ergueu.
Ela rolou os olhos e bufou.
— Acidentes acontece com todo mundo, inclusive com você,
sabichão.
Ele se afastou, puxando-a com ele, de volta a poltrona.
Ela se sentiu eufórica por ele mantê-la, mas não quis demonstrar
isso. Lutando com o sorriso, sobretudo, porque, apesar de ele querer segurá-
la, ainda havia uma resistência nele que ela não queria empurrar.
— O que a deixou nervosa?
— Não estou nervosa.
— Não foi isso o que eu perguntei.
Ela bufou, recusando-se a responder.
Ela também era muito consciente da inquisição de seu olhar.
Exigindo.
Esperando.
— Eu estar aqui depois de foder te deixa desconfortável?
Emme não olhou para ele e continuou traçando padrões no peito nu
com as pontas dos dedos. Surpreendeu-lhe quão à vontade ele pareceu com
sua nudez. Com eles tão íntimos de maneira não sexual.
— Sim... não.
— Olhe para mim, Emmanuelle. — Sua voz era baixa e suave,
ordenando. Um pouco mandão. Ela levantou as pálpebras. — Explique.
— Encontrar você aqui me deixa nervosa.
— Eu deveria ter partido? — Ele parecia chocado, quase magoado,
a exigência em sua voz dura era como um açoite.
— Não!
— Então?
— Você me enlouquece, Collin.
— Eu te enlouqueço?
— Sim, sua culpa.
— Como é isso? — O sorriso em sua voz denunciou sua diversão, a
malícia espreitando o olhar hipnotizante era só um detalhe.
Ela bufou, novamente.
— Você. — Gesticulou para ele.
— Eu?
— Sério, baby. Você sabe tem que saber o efeito que causa nas
mulheres. Eu não sou imune. Você é um viagra feminino. Eu te vejo e me
torno uma pervertida.
Ele apertou sua coxa, enviando reações para seu corpo.
— Sua marra era tesão — disse ele arrogante.
— Estamos no mesmo barco, não?
— Que tipo de perversão?
— O tipo sujo que faz de mim uma garota má — ela disse, sensual.
— Me deixa com a boceta encharcada e a boca cheia d’água, Collin. Basta
uma olhada para que eu te queira..., cada pedacinho. Eu posso ser bem
criativa.
Ela não percebeu que ele tinha tencionado, até que ele relaxou.
Tornando-se intenso, intoxicante à medida que os dedos dele acariciou seu
sexo.
— Eu quero tudo com você, Emmanuelle. Te foder em cada canto,
reivindicar cada buraco. A ideia de cobri-la com meu esperma me deixa
doido.
A outra mão em sua lateral, subiu, contornando, resvalando os
dedos dele em seu seio marcado. Ela estremeceu. E se remexeu em seu colo,
consciente da ereção engrossando contra sua bunda. Sentia-se disposta, a
boceta inchada pelo sexo que fizeram, mas não havia dor. Só anseio por
mais.
— Você pode ser pervertida comigo, Emmanuelle.
— De verdade?
Ele inclinou a cabeça, e ela deixou cair a sua no ombro dele. Collin
plantou um beijo em sua garganta e deslizou acima até a orelha. A
combinação de estímulo a deixou mole e submissa.
— Você dúvida?
Ela agarrou seu braço, abrindo as pernas para dar mais espaço.
— Eu quero ficar perto de você, Collin. Não entende, né? Você me
disse quando abri a porta que não sabe como me deseja tanto. Eu também
não sei. Eu quero estar com você. Eu, caramba! Eu te busco o tempo todo...
Vi você quando acordei e tudo que eu queria era sentar em seu colo e me
aninhar, bem assim... Bom, não exatamente assim, mas não estou reclamando.
— Ela deu uma risada nervosa. — Isso é estranho. E eu não estou
questionando.
Emme o encarou. Collin estava muito quieto, imóvel, a expressão
divertida dando lugar ao aprofundamento severo que lhe era usual.
Ela continuou:
— Mas, então, eu fico com receio de que me empurre para longe. E
voltemos ao início quando não podíamos trocar duas palavras sem nos
estranhar. E temo que agora nossas farpas vão me afetar mais do antes.
— Eu não iria rejeitá-la, Emmanuelle. Eu sinto muito por ter te
ferido com meu comportamento grosseiro.
— Quer dizer que não pode — constatou ela, estranhando as
próprias palavras. — É isso que te irrita né? Me quer tanto quanto eu te
quero que não consegue me rejeitar. Seu desejo é maior que seu querer.
Eles se olharam em silêncio.
Sorriu consternada.
— Pode não me empurrar fisicamente, mas sempre há essa
barragem, como agora. Você se distancia, criando uma barreira invisível e
impenetrável.
Ele abriu a boca e ela pousou o dedo em seu lábio.
Ela o encarou. Realmente olhou para ele. Estudando sua face com
os dedos, bebendo da visão dele, traçando os detalhes.
— Você é formidável, Collin. Eu juro que meu coração dói toda vez
que eu olho para você. — Respirou fundo. — Eu sei que concordamos que é
só sexo com prazo de validade, eu topo isso. Qualquer momento com você,
desde que não esteja sendo rude, é maravilhoso. Mas não posso evitar de
ficar nervosa e com receio quando sinto que você levanta uma muralha
contra mim, quando... às vezes, parece que o que fizemos foi um crime.
— Acha que eu não gosto de estar com você?
— Eu acho que você não consegue não me querer — ela disse, com
cuidado, tentando não parecer afetada. — Você não precisa estar se não
quiser.
Irritação lampejou em seu olhar, dando-lhe um ar ameaçador.
— E o que pensa que estou fazendo?
— Collin, você se culpa. Eu vejo isso em sua expressão. Está lá,
escondido nas camadas de sua rudeza, na máscara impassível que usa, mas
eu te enxergo, baby. Estar comigo te deixa em conflito. Eu só não entendo o
porquê.
Não houve resposta.
— É por causa dela? Sua ex-mulher?
Ele se levantou tão rápido que ela se sentiu desnorteada em seus
pés.
Chocada, ela se deparou com sua carranca dura.
— Não traga Maria para isso — ele rosnou, com raiva, a voz
doente.
Ela se encolheu como se ele tivesse lhe dado uma bofetada.
— Vê? É justamente isso. É como se estar comigo fosse algo
imundo, sujo. É difícil minha autoestima se manter reluzente quando a
espanca desse jeito.
Collin deu a volta e saiu, deixando-a ainda mais em choque.
22
CONVERSA INDIGESTA

Collin freou sua corrida e mudou de rota.


Ir para o covil só o deixaria mais irritado. Ele precisava correr e
gastar toda aquela fúria. No caminho, deparou-se com Brad, o shifter-lobo
que fazia a ronda do perímetro. Ele não perdeu o choque do outro macho ao
sentir o cheiro de Emmanuelle e sexo nele. Ele quis rugir para o outro macho
por inúmeras razões. E nenhuma delas era algo do qual ele estava pronto
para refletir.
Ainda mais irritado, ele deixou o macho para trás.
Collin correu rápido, desviando de um e outro tronco, as pedras
escondidas, os galhos baixos dos pinheiros raspando na lateral de seu corpo.
Forçando o corpo a exaustão. E depois dirigiu-se, enfim, para o covil, onde
usou a ducha fria para resfriar a temperatura corporal. O alívio durou até que
seus passos traiçoeiros o levaram para a rua de chalés, indo para ela.
Forçando seus pés mais do que gostaria de admitir para si mesmo,
Collin deu a volta e fez o caminho para a casa do ômega.

xXx

— Eu devo ser muito sortudo para que o chefe-executor compartilhe


seu jantar comigo — Lucius disse, curioso, do outro lado da sala,
observando o macho a sua frente comer sua própria comida, com uma
elegância invejável.
O shifter era grande em estrutura. Não havia sutilezas quando se
tratava desse macho, mas ao observá-lo comer, o pensamento não perdurou.
Ele era paciente, meticuloso, seus gestos graciosos.
Não tinha dito nada desde que desceu entregando o jantar. E, para
sua surpresa, sentou-se, comendo o punhado que tinha trazido para si.
Lucius ficou em alerta, o lobo com as orelhas erguidas e
incomodado.
O macho não o olhou, continuou em sua tarefa.
Ele também focou na comida. Precisava de todas as suas forças se
quisesse sobreviver ao julgamento. Não tinha um bom pressentimento. Não
que esperasse flores, mas saber sobre o pedido de Maya o tinha abalado.
Ela o odiava tanto assim?
Bufou em mente, furioso.
Ela não tinha motivos para lhe querer; todos os motivos estavam
contra ele. Não importava. Ele lutaria por ela, por ele e por um futuro juntos.
Ele tinha aprendido sua lição. Maya o odiava em seu direito. Entretanto,
havia coisas que ela não sabia. Ele só precisava fazê-la parar e escutar. E
torcer para que entendesse e perdoasse.
Nunca mais Lucius seria o motivo de seu sofrimento.
O movimento do outro lado o situou para fora de seus pensamentos.
Collin colocou-se de pé. Tinha terminado a refeição. E ele deu-se
conta de que também terminou a sua e, em seguida, empurrou a bandeja vazia
através do vão abaixo das grades. O macho saiu e voltou, entregando-lhe
uma cerveja.
Com cautela, Lucius assistiu o macho se afastar, derrubando o
traseiro na cadeira. Ele próprio se afastou da grade e sentou no colchão atrás
dele.
Esse não era um tipo para se brincar.
A agressividade e a crueldade era um peso permanente da presença
do macho, apesar de sua gentileza. Ele tinha um certo tipo de poder opressor,
a vibração perigosa, que somente alfas possuíam. E este era forte.
Um alfa. O pensamento criou raízes em sua mente. Chocou-se num
misto de desconfiança, desconforto e curiosidade.
Collin tinha aberto a garrafa e tomado um gole. Lucius o imitou.
— Não é um shifter-lobo. — Era praticamente impossível que dois
shifter-lobos alfas, com poder e força similares, convivessem em harmonia.
Os olhos de Collin brilharam, o azul etéreo faiscando, suas feições
mudando, tornando-se mais animal que humano. Foi rápido e suficiente para
passar a mensagem.
— Leão — murmurou Lucius, com descrença. — Não vi muitos de
vocês por essas bandas. Eu sei que Caleb fez mudanças e aceitou shifters de
outras espécies aqui, mas... — Ele parou, ainda cético do que via.
Felinos e caninos eram inimigos naturais. O instinto era severo e
implacável, impulsionando-os a lutar até as últimas consequências, se
necessário. Muitas vezes a morte era o único meio.
E, no entanto...
Lucius lançou um olhar para Collin.
Que Caleb tenha conseguido a façanha de misturar a matilha e a
submissão de machos como Collin, era só mais uma prova de que o macho
era o alfa correto para Snowville. Algo que ele próprio nunca foi capaz de
ser. Em outro momento, isto teria sido um duro golpe em seu ego. Porém,
Lucius tinha tido tempo suficiente para acertar as contas com os próprios
demônios.
E, principalmente, a verdade sobre si mesmo.
— Como é possível? — Era uma retórica. — Vamos lá, leão. Dê-
me algo aqui. É tedioso ficarmos nessa competição de quem encara mais.
— Não estou competindo.
— Não, não está — recusou, Lucius. — Mas está aqui por algo.

xXx

Collin terminou a cerveja, o controle agarrado nos punhos. O macho


tinha razão. Ele estava lá por algo, lutando contra, não querendo pensar.
Ainda assim, impossível conter sua mente — e agora — na presença do
macho, lançou luz ao que ele se negava. O emaranhado conflitante fez dele
um refém.
— Como convive com Caleb sem tentar tirar-lhe o poder.
— Alguns de nós tem honra e lealdade — dispensou ele.
— Você sabe que não foi isso que quis dizer. Nossos instintos
gritam pela luta e pelo domínio. Eu estou curioso que um alfa com o poder
que tem não tenha tentado disputar a liderança. Mais ainda que Caleb esteja
bem com isso.
Lucius parecia genuinamente curioso.
— Não tenho intenção de ser alfa de um bando. Sirvo a Snowville.
— E acrescentou, estudando o impacto no outro macho. — Eu o ajudei
quando você fodeu tudo e fugiu como um covarde deixando seu povo na
merda.
— Não fale o que não sabe. — Por um instante o lobo brilhou no
olhar vermelho do tipo, mostrando-os dentes, agarrado as grades que os
separava.
Collin torceu o nariz para o cheiro cáustico de sua ira.
— Eu sei o que preciso saber. Isso ainda não apaga seus erros.
Lucius se afastou da grade, a expressão carrancuda, os olhos ainda
brilhando com agressão. Ele não parecia mais como se quisesse ir para a
jugular do outro macho. Ela parecia consternado, a derrota alojada em seus
ombros.
— Pensa que não sei? — Lucius rosnou, resignado.
— Como suportou?
Lucius olhou sem entender.
— É um macho acasalado com uma prometida — explicou Collin.
— Se fosse qualquer outra fêmea, eu entenderia. Maya é sua prometida.
— Eu vou te responder se você responder a minha pergunta.
— Isso não é uma negociação.
— Não é assim que vejo — Lucius articulou. — Você não está aqui
na condição de chefe-executor. Senão de macho, que está cheio de dúvidas, e
acha que posso saná-las. É justo que me dê algo em troca.
— Claro. Você não responderia qualquer coisa pela bondade em
seu coração.
— Não é minha culpa que despertou minha curiosidade, leão.
— Não te darei nada — Collin desprezou.
— Não tenho nada para falar com você.
— Faça — Collin cedeu, entredentes.
Lucius o olhou pelo que pareceu horas, estudando.
— Está acasalado com uma prometida?
— Não mais. Ela me foi tirada.
— Sinto muito.
Houve um momento de silêncio.
— É por isso, não é? Por isso se irrita tanto comigo? Me olhar te
lembra o que perdeu? O que tenho e você não? Te irrita que mesmo que
tenha sido um filho da puta, ainda tenho uma chance com minha prometida?
— Você não a merece.
— Discurso velho — ele desprezou. — Essa é a frase que mais
tenho escutado. Mas sabe o quê? Isso não sou eu, nem você quem decide. —
Ele se levantou, indo até a grade, o interesse indisfarçável. — Como
suporta?
Collin estreitou os olhos fendas, desconcertado.
— O quê?
— Você quer saber como suportei ficar longe da minha prometida
todo esse tempo, você sabe a resposta... Olhe para nós dois, leão.
— O que está dizendo? — Collin deu um passo mais perto.
— Você sofre pela fêmea que perdeu — disse Lucius, com cautela.
— No entanto, exala uma força imbatível, seu corpo parece de um atleta.
Collin ficou muito quieto, os punhos cerrados com força.
— O que está dizendo? — repetiu o shifter-leão.
— Sabe por que não mudo e me recupero completamente? Estar
longe da minha fêmea me matou todos os dias, mas eu não podia morrer,
exceto se fosse ferido mortalmente. Maya precisava de mim. Não
abandonamos nossos companheiros, nunca. Não importa o quão desonrado
seja. Ou morremos ou somos forçados. Sem a troca definhamos. Chegamos a
um ponto em que nem toda a comida e remédio do mundo irá nos manter
fortes e saudáveis. Nos recuperar. No máximo, nos dará uma melhor
condição somente para definharmos, novamente. E eu sei que a fêmea vive
da mesma forma.
Lucius fez uma pausa, como se as palavras tivessem exigido muito
dele.
— Não há mais cor, prazer. Nenhum sorriso. Nada. Exceto o vazio e
uma necessidade insana comendo nossa mente. É nela, em nossa prometida,
que nossa força vital está — ele disse quando se recuperou, depois de um
momento. — Eu usei as últimas forças que tinha para completar a mudança e
chegar até aqui. Caleb me forçou a mudar. E, bem, o resto eu não preciso
explicar.
Collin caiu num silêncio sepulcral.
— Não há formas de nos livrar do destino. Se algo letal tivesse
ocorrido com Maya, eu não estaria aqui. Cumprimentos do Criador.
— Eu ainda estou aqui. — A voz de Collin era baixa e
extremamente mortal.
— Obviamente, você sofreu uma grande perda. Mas se enganou. É
impossível que sobreviva a isso. Ainda que fosse possível, leão, você não
estaria em sua melhor forma. Nosso acasalamento é especial, a troca é uma
necessidade.
Collin se moveu e mesmo Lucius se espantou com a rapidez do
shifter-leão. A mão surgiu do nada, dedos cruéis se fecharam ao redor da
garganta do outro macho. Ele podia sentir as garras saindo, perfurando a
pele.
Lucius não se moveu ou perderia a traqueia na mão de Collin.
Calando os próprios instintos para não provocar o leão ainda mais.
— Maria era minha — Collin rugiu, os olhos eletrizantes.
— Não me pergunte se você não quer a resposta que já sabe, mas se
recusa a aceitar — Lucius devolveu com a voz abafada pelo
estrangulamento, o vermelho trocando para o roxo rapidamente.
— Collin, — Caleb rosnou, a ordem feral do alfa reverberando. —
Solte.
23
TENTAÇÕES IRRESISTÍVEIS

— O que você está fazendo, Collin?


A tensão não abandonou os ombros do macho, que lutava contra a
própria cólera. Ele mal podia crer no que fez. Estava pronto para arrancar a
traqueia de Lucius se não fosse Caleb, que agora o encarava furioso. Linhas
escuras marcadas pela determinação. Exigindo respostas. Enganosamente
calmo.
Eles tinham deixado o porão e se reunido do lado de fora, na
varanda.
Ele estava pronto para se afastar, mas Caleb não o deixaria fugir
disso.
— Que porra você estava fazendo?
— Eu precisava falar com ele — rangeu ele.
Caleb inclinou a cabeça para lado e o estudou, friamente.
— Conte-me.
Collin comprimiu os lábios, o temperamento subindo.
O alfa não recuou, o lobo ainda na borda dando-lhe um aspecto
mais animal do que humano, os olhos brilhando em ouro. Caleb e lobo
fundidos a perfeição, encarando-o severamente, atento e pronto para
derrubá-lo. Desta vez, sem desculpas.
Seu leão ficou inquieto, andando de um lado para o outro. Não
furioso com o outro macho, mas com ele mesmo.
— Collin. — A advertência em tom dual reverberou, enviando uma
rajada gélida entre eles, o ar de repente estava mais denso e pesado.
Ele respirou, forçando uma calma que não sentia.
Realinhando os ombros, Collin cedeu, embora os punhos estivessem
cerrados com tanta força, que os nódulos dos dedos estavam brancos, sangue
pingando de suas mãos continuamente feridas pelas garras, uma
demonstração de seu descontrole e de sua luta interna.
— Eu precisava saber.
— Saber o quê, Collin?
— Você está me empurrando, Caleb.
Caleb entrou em sua cara.
— Depois de flagrá-lo a ponto de arrancar a traqueia de Lucius com
as mãos, você pode apostar sua bunda fodida que eu estou — Caleb rosnou,
numa explosão de poder, impiedosamente.
Os machos estavam nariz a nariz, exalando agressividade.
Collin, por fim, deixou os ombros caírem, dando um passo para
longe e desviando o olhar. A dureza dando lugar a angústia. Ele enroscou os
dedos no cabelo e deixou os braços caírem ao lado do corpo, as mãos em
punhos.
— Precisava saber como ele suportou ficar longe dela.
— E agora você sabe — supôs Caleb, estudando o macho. Ele não
esperava que Collin respondesse. — Isso será um problema?
— Eu errei em vir aqui — ele disse. — Peço desculpas. Não irá se
repetir.
— Não pode sair por aí perdendo a cabeça porque estamos
preocupados com você e você se recusa a ver que há algo acontecendo.
— Não há nada.
— É por isso que não a deixa fora de seu radar? Que age como
macho acasalado? Seu cheiro mudou, leão.
Collin estava de costas, tenso e abalado.
Ele podia cheirar a mudança.
Ele podia sentir.
E, ainda assim, nada fazia sentido.
— Por que estava com a mão na garganta dele?
— Ele disse que ela não é minha prometida — ele rosnou
entredentes.
— E se ela realmente não for? Maria e seu acasalamento valerá
menos se ela tiver sido uma fêmea comum por quem se apaixonou?
Confusão e sofrimento atormentaram as feições do macho.
Ele balançou a cabeça com força.
— Maria não ser sua prometida não a torna menos especial, Collin.
Ele olhou com lágrimas. Em silêncio.
— E se Maria era, de fato, sua prometida e o Criador estiver te
dando mais uma chance, não foda isso.

xXx
Emme sabia quem era antes mesmo de abrir a porta.
Ela cogitou ignorá-lo, mas Collin era insistente. Não iria conseguir
fazer nada com ele golpeando sua porta. Não era covarde. Ela podia dizer na
cara dele que não iria mais aceitar aquela situação. Ele não podia ir e vir
quando e como bem entendesse. E esperar ser aceito de braços abertos.
Ele não podia morder e assoprar.
Estava decidida a não se render aos seus encantos, ainda que seu
corpo tivesse ideias mais interessantes, a tentação estava mordendo sua
bunda.
Mas, caramba, tinha algum orgulho e amor próprio. Podia fazer
isso. Ela o mandaria á merda batendo a porta na cara dele. Não importava se
ele continuava sendo gentil, deixando em sua porta, quando não em sua
cama, um arranjo fofo de flores brancas exóticas, tão belas e delicadas,
todos os dias.
Ela pensou que poderia fazer isso, mas não podia.
Ele a afetava muito, mais do que qualquer outra pessoa.
Collin estava chegando ao seu coração, se estabelecendo em zonas
profundas, espreitando pelas bordas da razão. Infiltrando-se sorrateiramente.
Basta, resmungou para si mesma.
Ela terminaria com isso.
Não importava o quanto ele era bom. Nem seu beijo arrasador ou a
sensação maravilhosa de estar em seus braços, de fazer amor com ele.
Emme olhou para a porta como se olhasse para um inimigo.
Puxando uma respiração funda, reuniu a coragem em punhos. Ela
colocou no lugar uma máscara de indiferença e ergueu o queixo, decidida.
— Maria era minha companheira, o meu mundo inteiro. Ela me foi
tirada. E eu não pude fazer nada para salvá-la.
Emme encarou Collin, estática.
A explosão de palavras a desarmou, limpando sua mente, no
momento em que escancarou a porta aberta pronta para mandá-lo dar a volta
e partir.
Ele continuou, como se não pudesse se parar:
— Eu fiz tudo que estava ao meu alcance para fazê-la feliz, para
honrá-la, para mostrar que era digno dela e do que construímos quando nos
acasalamos. Ela não era uma fêmea ambiciosa. Não desejava mais do que
podia ter, e eu amava isso nela. Maria não estava farejando minha posição
social no bando. Ela quis amor. E eu dei tudo que tinha. Ela era doce e
bondosa. Nada era mais bonito que ela, mais brilhante que seu sorriso; nada
possuía mais vida que o pulsar doce do coração dela ou era mais melodioso
que o som de sua voz...
Emme olhou para Collin, as mãos agarradas a lateral da porta, os
braços tensos com as veias saltadas. Ele estava curvado em sua direção. Os
olhos mais tristes, que ela já vira, brilhando com lágrimas derramadas.
Seu coração doeu por ele.
—… Nada até você, Emmanuelle. Era suposto eu não querer
nenhuma fêmea mais porque ela devia ser única para mim. Eu não deveria
sentir o que sinto por você. Querer as coisas que quero com você. Essa
loucura de estar contigo. A necessidade de te satisfazer dentro e fora da
cama. Eu quero saber sobre o seu dia, sobre seu sono, se você se alimentou.
E eu amo que você não coma como um passarinho — ele riu triste. — Nada
disso deveria estar acontecendo. É tão bom estar com você que a culpa está
me matando.
Ele ofegava, como se tivesse custado toda sua força dizer as
palavras.
Ela não podia dizer o que chocava mais.
Nunca tinha visto esse homem parecer tão miserável, tão derrotado.
Collin era força e intensidade. Uma rocha firme. E lá estava ele,
parecendo exausto, devastado de uma forma que a fez sangrar.
Engolindo o nó na garganta, ela ignorou a queimação nos próprios
olhos, sentindo-se arrasada por ele. Emme reagiu, sua bravata caindo por
terra.
— Entre, Collin.
Ele a encarou, expondo sua fragilidade.
— Por favor.
A vulnerabilidade em seu olhar, a incerteza pairando lá com
suspeita, atraiu o choro para sua garganta, o nó maior. E ela teve que forçar
um sorriso.
— Nós não precisamos fazer nada — assegurou baixinho.
Ela fechou a porta atrás de si, pressionando-se nela para se
recompor.
Ele parou no meio do seu chalé, sua presença preenchendo o lugar
de maneira única, enquanto ela ficava lá sem saber o que fazer.
Havia um clima de espera entre eles, o receio de que a menor
palavra errada pudesse arruinar algo importante, precioso.
Emme se moveu para a cafeteira, agarrou um pouco de café e
empurrou para ele. Collin hesitou, mas aceitou. Ela fechou as mãos entorno
de sua própria caneca, o calor era reconfortante. Ela bebeu um gole. Ele
olhou para a caneca e depois para ela, e de volta a caneca, bebeu um gole e
a baixou para o balcão.
Percebendo que ele daria a volta e sairia, ela tomou uma decisão.
— Desculpe por ter tocado nesse assunto e te ferido no processo.
Não foi minha intenção, Collin. Não é meu direito e, por isso, eu sinto muito
mesmo.
— Eu reagi mal — disse ele, depois de um tempo. — Esse
assunto...
— É delicado pra você — ela assumiu quando ele teve dificuldade
para continuar. — Eu compreendo.
— Compreende?
— E todos nós não temos questões dolorosas?
Ele continuou encarando. Ela bufou, deixando o corpo arriar numa
das poltronas e puxou os pés para cima.
— Não perdi minha... uh, alma gêmea. Mas, de alguma forma, perdi
minha mãe. Bem, pelo menos, a idealização que tinha dela.
— Sinto por sua perda.
— Obrigada. — Ela sorriu por cima da borda da caneca. — Eu
também sinto, mas aprendi a conviver com isso. Lucy é uma boa pessoa, só
não para ser mãe. Por ela, estava presa em seus sonhos, vivendo como uma
extensão e não como alguém que tem vida própria. Tive de cortar o cordão,
endurecer, e trabalhar minha culpa e frustração se quisesse ter uma vida
decente.
Emme tinha aprendido desde cedo que se não lutasse por seus
ideais ninguém lutaria por ela. Era ela por ela. Jurou sempre lutar. Não havia
espaço para o ego e o orgulho quando seu coração e sua felicidade estavam
em jogo.
— Os pais podem ser difíceis.
— Alguns mais do que outros — disse ela, consternada. — Não dá
pra exigir de ninguém, incluso nossos pais, o que eles não podem ou não
querem nos dar.
— Você tem um coração bonito, gentil e sensível, Emmanuelle.
— Eu me libertei, Collin. Talvez seja isso que você precise.
Isso pareceu lembrá-lo da própria angústia.
O semblante dele escureceu ainda mais, as mãos fechando e
abrindo.
Emme ficou em pé se aproximando dele, quando ele se virou de
costas para sair. Ela tocou no braço, os músculos inchados com tensão.
— Fique. Se quer conversar, podemos fazer isso.
— Não quero conversar.
— Talvez não se trate de querer, senão de precisar.
Collin girou para enfrentá-la.
— Isso não vai acontecer.
— Você precisa falar, pôr para fora o que te atormenta. Eu estou
aqui, Collin, se precisa de mim. Fale comigo. Por favor. — E acrescentou
paciente. — Não vou te julgar. Eu acho que você já faz isso muito bem
sozinho.
Ele se afastou, as mãos na cabeça. O ar pareceu ficar mais espesso,
confuso, como uma tormenta sombria e retorcida.
— Collin, por favor, não faça isso. Não me empurre para longe.
— É você. — Ele não gritou, sua voz estava baixa como sempre, o
que a tornou ainda mais pesada, era um pulso de dor berrante. Ecoou dentro
dela.
— Está tudo bem, Collin. — Ela fez uma pausa, e respirou fundo
reunindo coragem. — Estar comigo te machuca porque acha que a está
traindo.
Ele não disse nada, os olhos afiados e implacáveis sobre ela.
Não esperava que o Sr. Silêncio começasse a ser tagarela agora.
— Se estar comigo te machuca, é melhor não nos vermos mais —
ela disse, a voz estrangulada. — Retornarei a Nova York dentro de 4 dias.
A informação pareceu atingir algo nele dado a forma que o tipo
ficou rígido. O olhar, de repente, estreito, cheio de fúria e possessão cravado
nela.
Ela podia jurar que ele odiou a ideia.
Mas não queria iludir o coração. Inútil. Essa corrida era perdida.
Ela pegou tudo que podia, cada reação, cada sentimento e emoção
provocada. Lá, diante dele, ela estava tremendo, o coração a mil, suspensa.
Ele não a queria.
Ele não a desejava.
Ele a achava irritante.
Escandalosa.
No entanto, ele queria todas essas coisas.
Sua presença.
Seu beijo.
Seu abraço.
Seu calor.
Seu cheiro.
Pele a pele.
Seu coração afundou em alívio quando ele sentou na poltrona ao
lado da que ela tinha se sentado. Ela se moveu silenciosa, sentando-se na
outra.
— Maria era de um bando próximo — disse ele. — Eu a conheci
quando ela foi visitar uma tia. No momento em que a vi, eu soube que era
ela. Ela era especial e sempre faria parte da minha vida. Estar com Maria,
desde o primeiro momento, foi como estar com alguém que conhecia há anos
e para além.
— Ela era o amor da sua vida — Emme sussurrou num fio de voz,
simpatizando por ele simultâneo ao rasgo de dor por sua própria má sorte.
Collin a encarou, muito quieto.
E, novamente, ele parecia pronto para se levantar e ir embora, sua
expressão tensa e culpada, a cautela espreitando os olhos azuis.
— Eu não deveria estar falando disso com você.
— E eu disse para não me empurrar para longe, fale comigo. Se é o
que precisa, eu estou aqui... — eu posso te dar qualquer coisa, apenas
peça.
— Não quero te machucar, Emmanuelle.
Ela assoprou uma risada curta.
— Você é o único que me chama assim.
— É o seu nome — ele disse, como se ela não fizesse sentido.
— É, mas só duas pessoas no mundo me chamam assim. Você e
Lucy. Nunca gostei, porque na boca dela sempre pareceu um castigo. Com
você, no entanto, é diferente. É sempre... agradável, como uma carícia. Eu
amo.
— Você me endoida, Emmanuelle — ele disse, com uma
exasperação e a atraiu para ele, alojando-a em seu colo. — Não acho que o
que fazemos é sujo, isso ainda não torna certo. Não quero te machucar e eu
estou fazendo isso.
— Collin não me machuca que fale dela. Eu acho lindo, é tão
incrível que um homem ame dessa forma apaixonada. Eu invejo Maria e não
me orgulho disso. Mas não posso evitar. Enquanto viveu, ela teve mais amor
do que uma dezena de milhares, talvez, milhões de mulheres jamais irão
experimentar. Inclusive eu.
Seu peito estava torcido, o coração tão apertado que sangrava.
Ela admirava, mas também sofria por sua devoção a outra mulher.
Ela não podia ter atravessado as barreiras do casual, podia? Era
sexo. Sexo alucinante. Todavia, ainda que negasse, ela sabia que tinha feito.
Emme somente não queria pensar nisso.
Olhar para o homem carrancudo, extraordinário, que fazia seu
coração falhar as batidas. Ouvi-lo derramar declarações de amor para
alguém que não fosse ela, encheu-a de tristeza. Estava numa contradição. Em
dor, mas também havia o desafio se erguendo em seu sangue, o pensamento
se tornando mais alto para fazer Collin enxergá-la. Querê-la
desesperadamente.
Meu Deus, ela não podia estar se apaixonando.
Emme temia estar em um ponto além do reparo.
— Falar sempre ajuda — disse ela, depois de um tempo.
— Não nesse caso.
— Você só saberá se tentar.
— Não preciso tentar, Emmanuelle, eu sei.
Cristo, que homem teimoso!
— Como?
— Porque você, Emmanuelle, é a causa da minha angústia. É como
um vício. Eu sempre quero mais. É tão bom que me culpo.
Emme o olhou sem saber o que falar, pensar.
— Maria está morta — ele disse devagar, a confissão gotejava dor
e amargura em cada palavra. — Mas ela ainda vive em mim. Sempre viverá.
— Eu não quero substitui-la, Collin. Não estou tentando competir.
— Você não pode.
— Eu sei.
— Não, não sabe
— Então me diga.
— Perdão. Eu sinto muito por te magoar. Eu não quero te ferir com
minha bagunça e acabo fazendo exatamente isso.
— Nada há nada para perdoar. Eu sei que seu coração foi tomado e
eu não tenho a menor chance. Maria foi uma companheira incrível. E não
acho que alguém assim gostaria que você vivesse isolado e se privando da
vida. — Fez uma breve pausa, um pensamento lhe ocorreu. — É por isso,
não é?
— É por isso o quê?
— Você vive com o mínimo, Collin, a precariedade de sua cabana,
escura e gelada, sem nenhum conforto. Você não se acha digno nem disso,
não é?
— Eu fui culpado pela morte dela.
— Collin, não...
— Escolhi viver isolado com ela. Maria era reservada como eu.
Ela foi pega numa encruzilhada com machos perversos que a mataram
acidentalmente. Eu os cacei e matei. Eu a vinguei, mas não pude protegê-la,
como um macho honrado deveria fazer com sua fêmea. Por que deveria
usufruir de qualquer conforto que torne minha vida mais fácil e prazerosa
quando ela está morta?
Emme olhava chocada com o derrame de informação.
Collin se corroía até os ossos de culpa e remorso. Ela nunca tinha
visto nada parecido, a vergonha e a humilhação, tanta culpa, exalava dele.
— E aqui estou eu, me deleitando de seus prazeres.
— Collin o que aconteceu não foi sua culpa. Acidentes acontecem.
O mundo está cheio de gente ruim. Entendo o senso de dever que tem, mas,
querido, não dá para nos proteger e ao outro de tudo. Não é justo com você.
— Eu não espero que você entenda — desprezou ele.
Ela bufou, rolando os olhos e não caiu na sua clara provocação.
— E, ainda assim, eu entendo.
— O que você entende? Eu sou um homem condenado, e você, de
alguma forma, torna isso pior. — Sua voz era severa, cortante, destinada a
machucá-la.
— Isso não é sobre mim, Collin. É sobre você.
Ele olhou surpreso, e depois endureceu mais.
— Eu posso entender porque amou tanto essa fêmea, a forma como
se sente. Mas, baby, você fez o que podia por ela. Não é justo que se
escravize dessa forma a uma vida miserável, sem felicidade, sem prazer.
Ele se levantou, colocando-a de lado.
— Collin, eu não estou pedindo para que me faça sua assim ou para
que me coloque no lugar dela. Sejamos sinceros, eu não estou aqui para
viver um romance. Caramba, você me atraia muito, e quero passar os dias
que me restam aqui com você. Mas, Collin, é isso.
Ela colocou tanta convicção na mentira que quase acreditou.
— Não é simples assim, sabe disso, Emmanuelle. Estamos nos
enganando.
Em mais de uma maneira.
— Sim, é. Eu tenho uma vida em Nova York, um emprego que amo e
uma carreira em ascensão. No entanto, se estar comigo te fere tanto assim,
podemos nos afastar... Eu posso adiantar minha partida.
— Você é uma fêmea única, Emmanuelle. E eu estou fodendo tudo.
Está certa. Não é você. Ou mesmo Maria. Sou eu. Mas não acho que estou
preparado para lidar com isso ainda.
— Maria sempre terá um lugar especial em sua vida, um lugar
insubstituível. E está tudo bem. Ela parece uma mulher que merece cada
parte bonita de um homem. E você também merece um pouco de alívio.
— É o que está me oferecendo?
— Estou te oferecendo o que você quiser pegar.
Não havia razão para fingimentos e joguinhos. Ela o queria e
pegaria o que ele estivesse disposto a dar, mesmo que fosse somente
algumas horas de prazer.
Ela enrolaria isso em uma boa lembrança.
Emme se viu envolvida por ele, os joelhos fraquejando quando ele
segurou seu rosto com as mãos enormes e quentes, pousando a testa contra a
sua.
— Você merece mais...
Ela abriu a boca, mas ele a calou.
—... e eu não posso te dar mais. Eu quero, mas não posso.
— Dê-me o que quer dar, o que pode dar.
— Emmanuelle...
Ela lambeu os lábios e fechou os dedos ao redor dos pulsos
grossos.
— Não estou pedindo muito. De fato, não estou pedindo nada. —
Pausa. — Sem cobranças, Collin. Sem exigências e expectativas. Só eu e
você.
Ele soltou um pequeno barulho, um lamento, um baixo vibrato de
seu peito que a atingiu em cheio. Fez a atmosfera entre eles mais encorpada.
Não houve hesitação.
Nenhum interlúdio.
Collin aterrissou a boca na dela num beijo avassalador.
Fome os consumiu por horas.
24
CONFISSÕES

— Eu preciso te contar uma coisa.


Trish baixou o tablet lentamente e olhou para Emme.
— E isso seria?
— Collin e eu estamos nos encontrando. — E acrescentou ante o
arco inquisidor da sobrancelha feminina. — Sexo. Muito sexo.
— Ooookay.
— Por que você parece tão perplexa?
Trish abriu a boca, hesitando, como se não soubesse o que dizer.
Emme balançou a mão, o sorriso nervoso repuxando os lábios.
— Não responda. Eu sei, tudo isso é bem inusitado. Não nos demos
bem quando nos conhecemos. Mas depois, não sei, essa irritabilidade, não
que ele ainda não me irrite, acredite, vez e outra quero bater na cabeça
dele..., posso querer arranhar seus olhos também quando ele é teimoso.
— Eu pensei que você não gostasse dele.
— Não gostar é algo muito forte.
— Tudo bem, ele te irrita.
— Ele faz.
— Como isso aconteceu?
— Não faço ideia. Em um momento, estávamos nos irritando, e no
outro, estávamos nos beijando e fodendo loucamente.
— Eu preciso de detalhes, Emme.
— Não sei quando ele deixou de ser irritante para um flerte
potencial. Na verdade, ele não deixou de ser irritante. Ele é, mas também é
gostoso e adorável.
Diante do olhar de Trish, ela deu os ombros.
— O quê? O homem pode ser uma dor no traseiro quando quer, mas
o que tem de mau humor tem de lindo e gostoso. Muito gostoso. E, Deus,
caramba, ele é maravilhoso na cama, o beijo e os sons...
— Ele faz sons?
— Vários.
— Que tipos de sons?
— Ele tem esses pequenos estremecimentos no peito, que podem
ser agressivos e eróticos ao mesmo tempo. Como pode isso? E ele ronrona!
— E você não ficou com medo?
— Medo? — Emme riu. — Eu fiquei com tesão. Esses malditos
sons são afrodisíacos. Collin me deixa acesa, mesmo quando ele está sendo
irritante e eu quero bater nele. Nunca estive tão quente e necessitada por um
homem antes.
— Você está aceitando tudo isso tão bem que minha mente está
sobrecarregada.
— Correr pela minha vida não faz sentido quando te olho.
— É... inusitado.
— Que eu queira bater nele?
— Tudo, Emme.
— Você não parece aprovar.
— Não é isso... Sério, Emme. Me preocupo com você e não quero
que se machuque.
— Relaxe, moreninha. Não é nada sério. Não estou planejando um
casamento. Você bem sabe que tenho uma vida em Nova York.
Trish parecia ter dúvidas.
Emme acrescentou:
— É só um romance de férias.
— Emme...
Diante da expressão e voz séria de Trish, Emme não a deixou falar.
— Você acha que devo parar de vê-lo?
— Você conseguiria?
— Por que não?
— Ele te falou da ex-companheira dele?
Emme assentiu não querendo entrar em detalhes.
— Por que isso parece ser tão chocante?
— Porque é. Desculpe, querida, sei que tudo é novo pra você. —
Trish disse, amável. — Collin não é o macho mais tagarela da reserva.
Emme bufou.
— Me conte uma novidade.
— Ele ter falado dela com você é uma surpresa.
— Não acho que ele teve alternativa, Trish.
— O que quer dizer?
— Essa nossa situação meio que o obrigou a falar. Ele fala pouco,
mas quando fala, ele pode ser bem pontual nas palavras. Num momento nos
irritávamos até a morte, e para ser franca, nem mesmo sei o porquê. Eu só,
não sei, odiava ser indesejável para ele... E, de repente, evoluiu para uma
forte tensão sexual, e depois tivemos encontros inusitados. As coisas foram
acontecendo. E quando dei por mim, já estávamos nos beijando e arrancando
a roupa um do outro. Mas estarmos juntos e sua resistência, de alguma forma,
o fez transbordar. Ele tenta e se frustra, culpando-se, porque não consegue
resistir a atração que sentimos. Ele acha que está maculando a imagem da
mulher e o relacionamento que tiveram. Às vezes, tenho a impressão que ele
pensa estar em um pesadelo e ainda espera acordar e encontrá-la. É difícil
de assistir.
— Emme, se ainda conseguir se afastar...
— E por que não conseguiria? — Ela plissou o cenho na defensiva.
— Não estou apaixonada por ele, moreninha. Não há a menor possibilidade.
Somos bons na cama, mas fora dela somos um completo desastre.
— Eu não sei o que dizer.
— Também não precisa agir como se fosse o fim do mundo. Estão
tudo bem. Nós dois somos adultos, estamos cientes do que está acontecendo
e aceitando os termos. Logo estarei voando para casa. E isso tudo será uma
boa lembrança.
— E por que você parece tão miserável?
— Minhas férias estão no fim e eu estou deixando minha melhor
amiga e seu bebezinho para trás — ela disse com um muxoxo. — Não vou
poder mimá-lo, ensinar umas coisas erradas pra te deixar louca e Caleb
preferir ver ao diabo a minha pessoa.
— Você poderia ficar — Trish sugeriu.
— Ficar? Eu? E o que diabos eu faria aqui?
Emme bem que tentou ignorar, mas as palavras de Trish se
assentaram em seu coração polvilhadas de esperança e de um querer sem
igual.
Ela poderia ficar?
Estar com ele?
Ele iria querer isso?
— Emme, Collin não é como os homens que conheceu.
— Eu sei, Trish. Isso ficou bem claro.
— Querida, não estou falando somente das melhorias deles. Eles
possuem uma ligação especial com as fêmeas com quem se acasalam. E se
ela for prometida, como sou de Caleb, não há espaço para mais ninguém.
Nunca. — Trish lançou um olhar de compaixão. — Pelo menos, não deveria
haver.
Emme forçou um sorriso, lutando contra as lágrimas e o nó na
garganta.
— Isso é encantador — ela disse, dissimulando, como se as
palavras não a afetassem. — Você deve estar nas nuvens por ter Caleb.
— Eu estou, mas estou com medo por você.
— Desnecessário. Garanto.
— Há algo mais?
Ela lembrou da mordida no seio, a marca sensível. Ela não podia
falar sobre isso para Trish, a mulher já estava preocupada o suficiente.
— Não que eu saiba.
— Eu estou aqui para você.
— Eu sei, Trish. Não preocupe essa cabecinha com coisas bobas.
— Seu bem-estar não é coisa boba.
— Não, não é. E eu estou ótima. Obrigada.
Trish deu um sorriso, deixando passar a esquiva da amiga.
— Collin não é um lobo.
— Não pensei que fosse. Então, o que ele é?
— Peça para ele te mostrar.
— Oh, garota, pode apostar que eu vou.

xXx

Collin sentiu a diferença na fêmea no segundo que ficou de costas


para ela. Foi tão abrupto, uma queda na temperatura, que ele girou para
encará-la na cama bagunçada das últimas horas que se entregaram a paixão.
Ele cheirou o ar, o odor da tristeza fazendo seu nariz pinicar.
— Qual o problema? — ele perguntou com cautela, tentando lê-la,
mas tudo que podia sentir era um desanimo pesado que o estava fazendo mal.
Ela sorriu, mas não chegou aos olhos.
Collin observou a fêmea se mover até a beirada da cama, sentada
em suas pernas, o shifter não perdeu o balanço sensual dos seios cheios e os
bicos irritados de seus chupões e mordidinhas de amor.
Sua língua coçava para balançar sobre os cumes e aliviar o castigo
que tinha imposto enquanto a tomava de todas as formas possíveis. Ela tinha
estado estranha, no início quando abriu a porta para ele. Por um segundo,
antes de bater sua boca na dela, ele sentiu a diferença em seu humor, algo
não estava normal, o leão alertou. Mas no momento em que a beijou, a língua
entrelaçada na dela, o gosto delicioso, seus sentidos foram bombardeados,
reféns do erotismo flamejante. Ele não podia parar e pensar em nada mais,
salvo devorar cada centímetro dela.
Emme tinha lhe dado tudo, surpreendendo-o com sua entrega
absoluta e o honrando com sua confiança. O sentimento incólume. Ele tinha
baixado a guarda e a possuído como se fosse sua fêmea. Ele a fez dele.
Namorou seu corpo. Fez amor com ela. Não se sentiu culpado. Ele a tomou
como ela merecia, levando seu tempo para fazê-la se contorcer em seus
braços e derreter em uma poça de sensualidade e satisfação sexual,
marcando-o com as unhas, ainda que as marcas levassem minutos para sumir.
Ela, no entanto, estava determinada a deixar sua marca nele.
Homem e animal se banquetearam.
Quando, enfim, satisfeitos, ele esperou que a culpa viesse.
Ele ainda estava esperando.
Ela tinha se enroscado nele, o corpo relaxado contra o seu. Era
bom. Ele a queria tanto. Sonhar com ela era fácil. E, ainda assim, tão difícil.
Incomodado com falta do sentimento tão costumeiro, ele se forçou a
se afastar. Não iria partiria. Só precisava colocar alguma distância entre eles
para lidar com seus próprios sentimentos e temores. Foi quando ele sentiu a
mudança nela. O relaxamento tinha dado lugar a tensão e uma sensação que
não gostava.
Prescrutando a fêmea humana, mais uma vez.
Ela parecia adorável com seu cabelo longo tão escuro, como as
noites longas de Snowville. Descabelada. Belamente nua. Ela era magnífica.
Os lençóis estavam bagunçados ao redor, as roupas espalhadas no
chão.
O olhar dela lembrava uma gatinha desprotegida, acendeu seu
protecionismo. Ele se aproximou, querendo aninhá-la, mas sua fala o parou.
— Me mostre.
25
TUDO DE MIM

Emme lambeu os lábios, indiferente a própria nudez.


Havia uma familiaridade naquela situação que fez seu coração
apertar numa torção dolorosa. Ela tinha lutado contra. Mas, enfim, teve de
admitir.
Ela tinha mentido para Trish.
Ela se importava com Collin mais que um pouco.
As ressalvas da amiga a deixou depressiva, à deriva. Ela tinha feito
todo o caminho para chalé com a garganta fechada, prendendo o choro que
ela recusou a dar vazão, mesmo depois de fechar a porta e se encostar nela.
Nem ela própria se entendia.
Não era como se Trish tivesse dito algo para magoar. A resolução
subtendida de que não haveria possibilidade para ela e Collin era só... ruim.
Ela queria algo?
Afinal, o que esperava?
Não poderia estar se apaixonando pelo bruto, poderia?
Poderia. Ela percebeu com horror.
Tinha caído de amor assim, às cegas, e a admissão não era doce.
Ela então começou a dizer que era apenas uma paixão de férias.
Nada sério. Nada que a tornasse miserável porque milhares de quilômetros
os separavam. E não apenas porque viviam em países diferentes. Collin era
inalcançável para os floreios de seu coração.
Emme até cogitou ficar.
Os pensamentos de estar longe de Collin a faziam meio doente.
Ela olhou para ele lá, em pé, parado em sua glória nua. O corpo
dele era de um guerreiro. Esculpido em mármore e delícias masculinas.
Ela espalmou as mãos nas coxas.
— Mude para mim, Collin. Por favor.
— Te assusta o que eu possa ser?
Ela viu o receio nos olhos dele, e sorriu docemente.
— Não me assusta.
— Se não foi isso, o que foi, Emmanuelle?
— Não quero conversar agora, Collin. Quero te ver. Por favor,
mude.
Ele hesitou, mas cedeu.
Emme não tirou os olhos do macho, o coração aumentando a
frequência quando a névoa densa o rodeou e ondulou, até ser impossível vê-
lo. Ela ouviu os estalos, fazendo seu sangue correr mais rápido, hipnotizada.
E quando a névoa se dissipou, um enorme leão de olhos azuis claros
apareceu na frente dela.
Ela encarou os olhos felinos com crua admiração.
Em sua frente, estava o grande felino; nos olhos, ela reconheceu
Collin e algo mais. O dourado ao redor da íris parecia se espalhar, mais
forte.
Emme desceu da cama e se aproximou.
O leão empurrou a cabeça contra ela, esfregando em um ato de
confiança e carinho. Um reconhecimento. Ela deveria estar tremendo,
sentindo algum resquício de pânico, mas tudo que sentia era
deslumbramento.
Ela esticou a mão, tocando a juba cheia, escura, que apesar de
bagunçada, era sedosa contra seus dedos, os pelos grossos. Ela correu os
dedos, acariciando, massageando... Ele ronronou.
Ela sorriu, emocionada, com lágrimas não derramadas.
— Você é lindo, Collin. Incrível.
Emme caiu de joelhos, abraçando o pescoço grosso do leão, a
cabeça enfiada na juba espessa. Ela não disse nada, só ficou lá, com o
coração batendo forte.
Ele cheirava como Collin e um quê de selvageria.
O choro, que segurou naquela tarde, veio com força.
Quando ela não parou, o animal empurrou a cabeça. E ela se
afastou, ainda sentada em seus joelhos. Ela correu a mão pela face do
animal. Olhos inteligentes e humanos exigiam que ela falasse, mas ela não
podia, a garganta estava obstruída. Ela lutou para recobrar o controle. Sem
sucesso.
Emme cobriu o rosto com as mãos, e só as tirou quando o toque
dele afastou suas mãos. Ela encarou o homem nu ajoelhado na frente dela.
— Emmanuelle, o que está acontecendo?
— Nada.
— Eu não deveria ter mudado.
— Não me assustou. Eu te achei lindo e surpreendente.
Provavelmente, foi a coisa mais legal e impressionante que já vi. Nunca vou
esquecer.
— Por que está assim? Será que te machuquei? Eu sei que posso ser
um pouco áspero as vezes. Eu perco o controle quando estamos juntos.
Deixe-me vê-la. Eu vou consertar — ele disse, tentando puxá-la para si para
que levantasse.
Emme segurou o rosto do macho, impressionada com a beleza, com
o sentimento dentro de si avolumando-se quando pensava nele. Ela o
desejava, queria tanto e de tantas formas, muitas que ela não deveria querer.
— Eu amo estar com você, mesmo quando me dá nos nervos. Não
sei como aconteceu, mas não posso parar de pensar em você, de querer
você.
— Emmanuelle... — Ela pousou o indicar contra os lábios
masculinos.
— Eu sei. Eu quero que saiba como me sinto em relação a você.
Não estou fazendo cobranças. Eu só quero ser honesta.
Ele aceitou seu beijo doce e lento.
— Você me faz sentir vivo, novamente — ele disse, surpreendendo-
lhe. — Isso me assusta e me confunde. Este não é um sentimento que pensei
que fosse sentir mais, nem perto. E eu sei que não deveria me sentir assim.
Mas, também sinto que ao me privar..., nos privar de uma chance, é a coisa
mais errada do mundo. Eu sinto felicidade, Emmanuelle... com você.
Ela sorriu e algumas lágrimas grossas escaparam.
— Mesmo quando partir, Collin, eu vou levar você comigo. Vai ser
a memória mais doce que guardarei daqui. A melhor.
Ele fechou o semblante e ela tentou amenizar.
— Não diga a Trish, se não ela chutará minha bunda.
— Ela eu não deixaria.
— Ia me proteger?
— Sempre.
— Collin Del Rey, você torna impossível não gostar de você. —
Ela riu, quebrando a seriedade de sua declaração, e cobriu a boca dele.
Seu coração dava cambalhotas, a sensação borbulhante crescendo.
— Minhas melhores horas são com você.
— Minhas melhores horas são com você, também.
— Você me quer, Collin? — ela indagou contra os lábios dele. —
Pensa em mim quando estamos longe? Sente saudades? Não vê a hora de
correr de volta pra mim e nos afastar de tudo, bem aqui, em nosso ninho.
— As horas que passo longe de você, dos seus beijos e do seu
corpo, são um tormento, Emmanuelle. Eu penso em você o tempo todo.
Quero-a sob o meu olhar, ter certeza que está bem e não se aventurando por
aí.
— Ei, eu aprendi minha lição.
— Bom.
Eles se olharam em silêncio.
— Isso é perigoso, Emmanuelle.
— Eu tenho você para me proteger.
Ele pareceu satisfeito com a confiança dela.
— Você tem.
Emme segurou os bíceps musculosos.
— Não me machucou, Collin.
— Tem certeza?
— Só tem o incomodo, mas você sempre me faz sentir melhor.
— Diga-me o que é.
— Eu não sei, eu fiquei emocionada. Você é lindo, um enorme e
incrível leão... Eu devo estar entrando na minha TPM. Ou algo assim.
— Isso te faz chorar?
— Às vezes posso me tornar um demônio também.
Ele segurou seu rosto, os polegares limpando debaixo dos olhos.
— Não gosto de te ver chorar.
— Não posso controlar.
— Eu vou te fazer sentir melhor.
Ela sorriu com derretimento.
— Você vai?
Collin a encarou, a mão indo para seu cabelo, juntando em seu
punho, quando a segurou para seu beijo forte, erótico e cheio de paixão.
— Não quero você chorando. Não permito.
— Mandão. — Riu. — Eu posso chorar de prazer.
Ele empurrou para trás, fitando com ferocidade.
— Eu prefiro você desbocada, me irritando, do que aquilo que
senti.
— Está tudo bem — ela apaziguou.
— Não está — ele disse, com raiva.
— Collin...
— Não minta pra mim. Caleb não disse que sentimos isso?
— Sobre seus narizes ingeridos? Claro — ela zombou, os olhos
rolando. — Não posso esquecer que me deixou com tesão na frente dos seus
amigos.
— Não minta pra mim. Nunca. — Ele lhe deu um olhar, que a fez
engolir à seco e o coração disparar desgovernado com a intensidade do
sentimento.
A mão em seu cabelo forçou a cabeça dela para trás, o movimento
empurrou os peitos para frente. Collin dobrou-se, pegou um na boca e depois
o outro.
— E não importa o que seja — ele disse, sua voz era profunda e
masculina. — Farei você esquecer.
— E como fará isso?
Ela encontrou o olhar escurecido pelo tesão e, em seguida, ele
olhou para o seu sexo exposto. Fome crua. Ela sentiu sua boceta derreter.
Ele a puxou em seu colo. E quando ela desceu, a cabeça inchada do
pênis grosso espalhou os lábios vaginais. Ela desceu devagar, impressionada
e envolvida pelo prazer de levá-lo mais uma vez.
Sua boceta estava inchada e dolorida, ainda tão faminta.
Engoliu cada polegada, contraindo ao redor, enquanto ele pulsava.
Foi maravilhoso quando cada centímetro de grossura dele trouxe as
sensíveis terminações nervosas rugindo para a vida. Inundada pelo erotismo
e sensualidade, Emme se moveu, pegando ritmo. Ela cavalgou sem parar.
Os braços dele eram como uma cobra ao seu redor, ajudando a
montá-lo. Estava tão deliciosamente molhada, que sentia a lubrificação
escapar de seu corpo, cobrindo as bolas estapeando sua bunda com cada
arremetida forte dos quadris dele empurrando para cima encontrando sua
descida forte.
Ela gemia, sufocada, o ar espesso e quente.
Os sons bestiais dele eram como chicotes de sensações em seu
corpo.
Collin enfiou a mão em uma massa de fios castanhos assumindo o
controle e a atraiu para sua boca. Choque rasgou Emme quando Collin a
beijou. Lábios, língua e dentes, a devastaram. A maneira como ele
reivindicou sua boca enquanto sua boceta engolia seu pau, enviou disparos
de excitação por suas terminações nervosas, suas células, cada molécula do
seu corpo. Explodindo de felicidade. Puro prazer. Ela estava em chamas.
Nunca tinha sentindo tanto tesão, estado tão excitada. Era diferente de tudo
que já tinha sentido, mesmo com ele.
Seus lábios se separaram e ela viu as presas enquanto ele respirava
com dificuldade. E ela também sentiu a picada, onde ele a segurava.
Assustou um pouco e excitou no mesmo grau.
Ela precisava de mais, mais dele, mais da sua reivindicação.
Ela o montava com movimentos desconexos e quebrados.
A fricção deliciosa provocou seu clitóris levando a um orgasmo
que a fez mordê-lo no ombro. Isso, de alguma forma misteriosa, o fez perder
completamente o controle. O som que ele fez causou espasmos em seu útero.
Ela mal desceu da nuvem de enlevo quando foi manobrada no chão sobre o
tapete felpudo. Em suas mãos e joelhos. Ele se distanciou e voltou. Em
seguida, ela sentiu o líquido gelado cair na fenda de sua bunda e espreitar
seu ânus.
Ele a tinha sondado antes, mas nunca penetrado.
Ela nem mesmo sabia se era possível levar um pênis daquele
tamanho sem implorar por piedade. Ele, no entanto, parecia certo do que
fazia.
Ela confiou nele.
Confiaria sua vida a ele.
Sentiu a urgência de Collin em possuí-la lá, uma necessidade
viciosa. Que se transformou na dela própria. E, de repente, tudo que pensava
era nele rasgando sua bunda. Pegando-a duro. Enchendo com sua semente.
A mão dele passou pelas suas costas, acalmando, e ela relaxou.
Mesmo quando sentiu a cabeça do pau se alinhar em seu ânus, ela se
forçou a relaxar e o deixou entrar até que as bolas encostaram em sua bunda.
Tomá-lo lá era um nível diferente, uma intimidade sem igual.
Ele parecia maior, mais grosso, mais selvagem e primitivo.
Ele rosnou baixinho para ela. Puxou o quadril e bateu de volta
contra seu traseiro, tantas e tantas vezes. Fodendo-a furiosamente enquanto a
mantinha dominada. O som de suas respirações erráticas, dos gemidos e
rosnados. Incitou um frisson. Ela empurrou de volta, seus músculos
apertados ao redor dele. Era uma necessidade irracional, um agarre
doloroso, angustiante e obsessivo para transar com ele, ser possuída e
reivindicada, que limpou sua mente.
Ele manteve o ritmo furioso, empurrando profundamente. Ela
balançou de volta. Êxtase a encheu a cada movimento. A conexão, aquele fio
sobrenatural ligando-os, queimou mais violento e brilhante enquanto eles
transavam, os movimentos crescendo em um frenesi arrasador.
Collin a fodia com um desespero nascido da luxúria.
Completamente refém do desejo.
Ele estava reivindicando seu corpo e cada polegada de prazer que
havia nela, drenando isso. Dominando seus sentidos até que ela era uma bola
de sensações. Enlouquecida. Gritando seu prazer. Totalmente arrebatada
pela magia brilhante entre eles. Cada vez mais forte, mais tenaz. Imutável.
Ele seduziu seu corpo, tomou posse, a fez dele.
E ela amou cada segundo.
Ela o amou.
26
VOCÊ É MINHA

Emme observava Collin através do reflexo do espelho do banheiro.


Eles tinham tomado banho juntos ou quase isso. Foi estranho,
desajeitado. Não tinha planejado. Mas depois do sexo primitivo, eles
precisavam de um banho. Eles se moveram incertos. Cada roçar enviou
correntes elétricas para seu corpo. Pequenos estremecimentos de prazer.
Como se obedecesse a uma lei maior. Como se sua missão de vida fosse lhe
satisfazer. Era mais que isso, a intimidade que, apesar da hesitação inicial,
estabelecia uma familiaridade entre eles que somente anos de convivência
poderia oferecer. Mas nada sobre eles, sobre o relacionamento, era normal.
Regras comuns não se aplicavam.
Ele a ajudou. Os toques dele não eram sexuais. Havia zelo, carinho
e gentileza. Ainda assim, seu corpo vibrava estremecendo conforme as mãos
ensaboadas a lavou, percorrendo sua pele. Era a resposta tanto natural
quanto sedutor pelos cuidados de Collin. Ele era suave e cortês. O toque
insidioso, sua polidez, como se ela fosse inestimável. Especial. E ele estava
adorando-a.
Ela sempre estava excitada e necessitada ao redor dele.
Emme terminou primeiro, tirando o excesso de água do cabelo e
enrolando uma toalha ao redor do corpo. Limpa e refrescante.
Ela olhou para si mesma no espelho.
O olhar, a expressão, exatamente tudo gritava satisfação.
Ela se recusou a reconhecer o brilho apaixonado em seu olhar.
Pegando o vislumbre do macho delicioso dentro do box em um ato
íntimo, fez seu coração inchar. Ela respirou fundo, soltando o ar lentamente.
Emme não sabia o que era pior; quando ele ainda lutava contra o
desejo, irritando até a morte depois de fazerem amor. Largando-a sempre
com uma sensação indigesta e sentimentos conflitantes. Ou agora, que ele
ficava, não mais lutando. Sendo atencioso, segurando-a como se ela fosse
tudo para ele.
Seus carinhos. O olhar amoroso observando-a com encanto e puro
deleite, fazendo-a se sentir única e bela. Os pequenos sorrisos comedidos.
Seria melhor para seu coração que ele continuasse resistindo e se
afastando. Ela, no entanto, sabia que isso não resolveria nada. Estava se
enganando. O que pareceu ser um hábito odioso quando se tratava de Collin.
Seu desejo por ele não diminuiu, tornando-a ainda mais obstinada de uma
forma ridícula pelo prazer perverso de vê-lo cair. Até que ponto isso era
masoquista ou meramente um reparo em seu orgulho feminino, ela não sabia.
Só era certa de sua necessidade dele, de provar que não era a única atraída
ali. Mas, pelo menos, ela não sonhava. Não dava margens para floreios.
Agora, porém, a presença dele só reafirmavam como era bom ser dele. Que
dividir o café, sentar em seu colo para conversas breves alimentava as
fantasias secretas, que não queria tirar da caixinha. Não se atrevia a olhar
para dentro com medo do que iria ver.
Deus, o homem era irresistível.
E seu tempo com ele estava acabando.
Não devia doer assim.
Não devia fazê-la cogitar coisas impossíveis.
E ela nem queria, certo?
O aperto no peito e as fantasias disseram outra coisa.
Emme piscou, voltando a realidade com o peso da presença dele
atrás dela. As mãos dele se fechando em seus braços a fez respirar fundo.
— Não pense.
— É isso que está fazendo?
— Nada de bom virá se começar a pensar no que estou fazendo.
O olhar desolado no rosto de Emme teve efeito nele.
Ele dobrou a cabeça, os lábios macios pousaram na marca entre o
ombro e pescoço, onde ele havia mordido e segurado durante o sexo quando
o ápice do prazer bateu neles. A marca no seio também formigava. Isto era
outra coisa. Ele a mordeu, novamente. Ela sabia que deviam conversar sobre
isso, ela estava perdendo algo importante lá. A suavidade do toque e maciez
de seus lábios a fez suspirar, relaxando contra seu peito. A mente em branco.
Suas mãos pousaram sobre as dele em sua barriga. Ela fechou os olhos,
apreciando a sensação dos lábios raspando em sua pele. Ele provocou com
uma mordidinha na orelha.
— Collin — ela chamou, incerta.
— Você está com dor, Emmanuelle?
— Me usou tão bem que vou precisar de um descanso — ela
sussurrou, movendo a cabeça para o lado para dar mais espaço para ele.
Collin a girou, manipulando seu corpo até que ela estava sentada na
pia, o movimento repentino a assustou. Ele ficou entre suas pernas abertas.
Ela o fitou, a paixão flamejou em seus olhos sensuais, observando sob os
longos cílios.
— Me diga. — Um comando. Forte. Nada menos que uma ordem
que exigia obediência. Mandão e possessivo.
— Não é bem uma dor, é só um desconforto.
Ele puxou sua toalha, que caiu para os lados, revelando o corpo nu.
Ela sabia como se parecia. Seu corpo era um quadro de satisfação,
com os mamilos vermelhos e inchados das carícias ousadas, a vagina igual
do uso, que a tinha deixado terrivelmente apertada, seu ânus dilatado de
quando ele a pegou por trás, abrindo e penetrando até seu gozo a encher.
Dominou-a sem ressalvas.
— Collin o que você...? — ela interrompeu a frase com arfar
quando ele lambeu um mamilo e depois o outro. — Oh! Isso é bom.
Caramba, Collin.
A magia da boca desse homem, a deixava delirante.
Fascinava em um nível surreal.
Seus toques não eram destinados a serem sensuais. E lá estava ela,
novamente. Entregue. À mercê de qualquer coisa que ele quisesse dar.
Ele puxou para trás. Fome crua irradiava de seu olhar escurecido,
agora trancado em seus seios. Ela se sentia melhor, mas a carícia acendeu
outro tipo de queimação nas pontas intumescidas, úmidas com a saliva
grossa dele.
O rosnado baixo lhe garantiu que ele gostava da visão.
Ele lambeu seus mamilos com paciência e muita delicadeza. E
depois ele caiu de joelhos, a cabeça alinhada com seu sexo pronto para ele.
— Eu fui muito severo com você, cariño — ele disse, olhando-a de
perto, as mãos enormes segurando suas coxas, erguendo e abrindo-a ainda
mais.
— Eu não reclamei, mas não acho que posso ter mais por enquanto.
Não que eu não queira. Você aí, ajoelhado na minha frente, me dá ideias.
— Por mais tentadora que seja e eu ame estar dentro de você, não
vou tomá-la de novo... ainda. Precisa descansar e se recuperar.
— E você?
— Eu também, me esgotou.
— Você não parece esgotado.
— Recuperação rápida.
— Oh.
— Não importa quantas vezes transo com você — ele disse,
fazendo um som estrangulado no fundo da garganta. — Basta um olhar e eu
quero mais.
Ela derreteu numa pilha de sensações, a declaração e o sopro
morno de respiração dele contra suas partes íntimas a fez estremecer,
ansiosa.
— Tranquilo, cariño, me deixe cuidar de você. Irá se sentir melhor.
Ele a lambeu. Só lambeu devagar, como se fosse a melhor
sobremesa. Mesmo esgotada, seu corpo se abriu para ele, deliciando-se.
Muito consciente de seu corpo, da língua gostosa e áspera.
Seus mamilos não ardiam mais. Não havia mais o rastro de
incomodo e de queimação pela fricção constante de seu pau martelando nela.
Collin era uma bomba em seu sistema nervoso; o veneno e o
antídoto.
Erotismo líquido se derramou dela, e ele bebeu até que ela gritou
em um inesperado orgasmo. Ela liberou os dedos do cabelo dele, que nem
sequer tinha percebido que agarrou. Ele se levantou, com os lábios úmidos
de seu tesão.
Era a visão do pecado encarnado.
Ela agarrou sua nuca e puxou, dando-lhe um beijo apaixonado.
— Como está?
— Deliciosamente bem.
— Sua boceta?
— Não dói mais.
— Bom.
— Deixe-me retribuir a gentileza — ela sussurrou, encarando o pau
duro como rocha, em toda sua glória masculina apontando para ela.
— Não, estou bem.
Ela olhou incomodada com a rejeição.
Ele segurou seu rosto.
— Isso foi para você, Emmanuelle, para se sentir melhor. Eu te fodi
muito duro e esqueci que não é uma shifter, que se recupera rapidamente.
— Você transa com mulheres shifter?
— Eu não transei com ninguém depois de Maria.
— Isso é muito tempo. Você nem, você sabe, bateu uma?
— Eu estava morto até você chegar, Emmanuelle.
O coração chutou em seu peito.
— Eu também quero te fazer se sentir melhor, Collin.
— Te agradar me faz bem, cariño. — O polegar dele esfregou seu
lábio inferior, o rosto perto, a voz mansa e erótica. — Isso foi para você.
Ele beijou seus lábios.
Ela desceu da pia e se virou triste, a emoção agarrada a sua
garganta.
— O que é?
— Eu estou pensando que temos só mais dois dias... — ela deixou a
voz morrer, engolida, de repente, pela devassidão da separação.
A perspectiva futura sem Collin era impensável. Inexistente.
A mudança nele foi estrondosa, causando um reboliço dentro dela.
Mesmo o ar pesou. A tensão e a intensidade podiam ser cortadas com uma
faca.
O puxão foi inesperado. Os olhares se cruzaram pelo espelho.
Choque e desejo pesado. Determinação brilhava nos olhos dele, com
autoridade e posse. Enquanto a mantinha cativa, a massa espessa de fios num
punho firme.
— Você é minha — ele grunhiu, olhando para ela como se fosse a
primeira vez. — Eu não sei como isso é possível ou se é mesmo possível —
ele rosnou, esfregando o rosto na lateral do seu, cheirando. — Você. É.
Minha.
— Eu sou sua.
Ela puxou uma respiração funda, trêmula, a garganta seca.
Ela se moveu ao redor, as mãos em conchas na nuca dele e
empurrou a cabeça para trás. O coração batia forte, o ar pesado, de repente.
— Você é meu?
— Com cada parte que tenho e sou, eu sou seu, cariño. Eu sei que
não deveria me sentir assim, querer as coisas que quero com você. Tive uma
prometida e eu deveria ser dela. Completamente. E eu fui, até te ver. Então
tudo mudou. Isso provavelmente me torna o pior macho de todos os tempos.
— Me querer é tão ruim assim?
Ele encostou a testa na sua e exalou forte.
Se toque acalmando, tão fácil se entregar e esquecer todo o resto.
— Se eu apenas quisesse, Emmanuelle... Não entende e eu não
espero que faça. Prometidos pertencem aos seus pares. Eu sempre estarei
ligado a Maria pelo compromisso de honra, mesmo que tenha falhado. Mas
não a pertenço mais no coração. Eu não sei o que fazer, mas sei o que eu
quero. E eu quero você.
— Você quer? Quer mesmo? — ela perguntou com espanto e
alegria.
— Não quero te perder. Não quero te ver partir, porque isso vai me
enlouquecer e me matar. Eu posso suportar tudo. Enfrentar qualquer coisa.
Eu atravessaria o inferno por você, mas não vou suportar ficar longe de você
— ele confessou enquanto segurava o seu rosto com a mão enorme, roçando
o nariz no dela numa carícia íntima. Ele puxou para trás, sua intensidade
roubando-lhe o ar dos pulmões. — Mas antes preciso que entenda. Isso tudo,
não por você, sou eu... Faz de mim o pior dos machos. Minha honra está
manchada, Emmanuelle. E se mesmo assim decidir que quer tentar, saiba que
eu quero também. E que, apesar de não merecer, eu farei o meu melhor para
ser digno de você.
— Collin, eu, nós...
— Agora não, cariño. Eu preciso ir. Pense. — Ele lhe deu um beijo
longo e demorado. — Descanse. Conversaremos quando eu voltar.
27
HÁ UMA CHANCE?

Não iria largar tudo por um homem...


... Mas por amor, pela felicidade de dividir a vida com ele,
construir uma família com alguém que era tão louco por ela quanto ela era
por ele. Ela faria.
Ela estava tão focada na resistência dele que não percebeu a sua
própria.
Collin surgiu em sua vida de forma avassaladora.
Emme deveria saber que a estranheza e irritação súbita quando se
conheceram era algo para se importar. Como eles se comportavam. Quão
tentada ela se sentia quando se tratava dele. Como ela não podia resistir
mesmo que sua razão clamasse por isso. O desejo de estar com ele e se
perder nele. Ansiosa e desesperada para tomar o que ele quisesse dar;
momentos preciosos que ela estava etiquetando e guardando em uma parte de
si. Um reservado especial feito apenas para ele. Ela devia saber que era
mais que uma irritação normal. A nascente da paixão dos apaixonados. Era
tudo. Era Collin.
Ela não queria só seu corpo e seu prazer, desejava que ele a
desejasse.
Que quisesse estar com ela para além do sexo.
Queria marcar-se nele, em seus ossos, em sua alma, tão
profundamente, que ela sempre estaria com ele mesmo quando não estivem
juntos. Uma lembrança constante dela em seu corpo e mente; de quem era, de
como eram quando estavam juntos. Só para que ele se apressasse para voltar
para ela, como ela ansiava com ganas de estar junto dele.
Collin preenchia tudo, estava em tudo.
O sentimento era devastador.
Em todos os momentos em que estiveram juntos, ela tentou alcançá-
lo.
Lá, naquele momento de quase ápice, que de uma forma misteriosa e
sobrenatural, ela o enxergava, mas não podia tocar. Ela chegou bem perto de
agarrá-lo e dançar com ele. E selar seus destinos. O sexo era maravilhoso,
mas ela sempre estava obstinada por mais.
Nunca foi pelo prazer em si, senão pela conexão.
Algo estava errado.
Incompleto.
Ela não podia alcançá-lo se ele não quisesse, não poderia fazer isso
sozinha. Ela precisava de Collin, que ele também quisesse, que se rendesse.
Emme repassou pela enésima vez a última conversa que tiveram. As
palavras pulsando pelo seu corpo davam margem para as possibilidades,
que a fazia terrivelmente ansiosa para estar com ele, novamente.
Tantas possibilidades, mas também tantas incertezas.
Eles podiam ficar juntos, não podiam?
Encarando a entrada da casa de Trish e Caleb. Emme respirou
fundo, hesitando. Não havia muito o que avaliar, se fosse honesta.
A porta se abriu, revelando Trish.
— Emme? O que está fazendo parada aí?
— Eu... — Ela fechou a boca, incerta sobre o que dizer.
Caleb surgiu atrás da mulher, beijou a testa de Trish, disse algo
entre eles mesmos, que fez sua amiga bufar. Ao passar por ela, ele fez uma
pausa.
Emme quis se encolher diante do olhar afiado.
Olhos formidáveis, o lampejo dourado deixou seus nervos à flor da
pele. Ela teve a vontade súbita de baixar a cabeça e desviar o olhar.
— Emme. — Era uma saudação, uma entonação grave e estrondosa,
que ela nunca antes o tinha ouvido usar. Profunda. Cheia de poder.
Ela assentiu, incapaz de falar.
Ele partiu, e quando se recuperou, ela se mudou para um dos sofás
na varanda. Trish se deixou cair na outra cadeira próxima.
— Caleb está bem?
— Claro. Por quê?
— Ele estava diferente.
— Hoje acontecerá o julgamento do antigo alfa. Todos estão com os
nervos à flor da pele e um pouco mais intensos do que de costume.
— Isso parece grande.
— E é. — Trish bufou.
— Você não deveria estar lá também como companheira de Caleb?
— Por que acha que estávamos discutindo? Eu amo esse homem,
Deus sabe que sou maluca por ele. Nós ainda estamos nos ajustando, mas
tem horas, como agora, que o quero estrangular por ser tão difícil.
— Caleb será o juiz?
— E o carrasco — assinalou Trish.
— Caleb só está sendo cuidadoso, moreninha.
— Ele está sendo irritante, Emme.
— Não vejo como um julgamento, com seres sobrenaturais
exalando testosterona, pode ser bom para você. Ele talvez tenha razão em te
proteger.
— A questão não é essa — Trish retorquiu. — Não quero ir
somente porque estou em meu direito. Eu tenho que estar lá. Caleb pode dar
as cartas como chefe do bando, mas como Prima é meu dever cuidar das
fêmeas.
— Então vá.
— Estou pensando sobre isso.
— Não sei como não surta.
— Olha só quem fala — Trish zombou.
— Eu já disse, culpa sua por parecer tão feliz e realizada.
— É por isso que está aqui?
— Eu preciso conversar com você.
— Quer entrar?
Emme balançou a cabeça, negando.
O pensamento de estar em um lugar fechado a sufocava, por isso
tinha sentado ali, e também porque as pernas estavam meio moles.
— Por que você parece tão angustiada?
— Eu não sei, quero dizer, eu sei, mas não é só isso.
— Vamos começar com o que sabe — sugeriu Trish. — E depois
partimos daí.
— É um bom plano. — Emme riu um pouco.
— Você vai dizer ou esperar eu congelar até a morte?
— Sinto muito. Se quiser entrar, podemos conversar lá dentro. Nem
sequer pensei que o frio pudesse estar te fazendo mal. — Ela foi se
levantando.
— Emme, pare. O clima gelado não me faz mal, aliás, faz mais mal
a você do que a mim. Estou bem, agasalhada o suficiente... e preocupada.
— Não queria te preocupar.
— Bobagem! — Sacodiu a mão. — O que está acontecendo? Collin
tem algo a ver com isso?
— Eu menti.
— Sobre o quê?
— Ele. Nós. Eu posso estar um pouco mais que envolvida.
— Quanto mais?
— O bastante para considerar um futuro..., uma mudança.
— Está apaixonada — Trish sussurrou.
— Mais como amor.
— Você não parece particularmente feliz com isso.
— Eu estou feliz, mas é complicado.
— Explique.
— Collin me pediu para ficar, para tentar. Ele está, obviamente, em
uma bagunça que não entende, mas ele me quer, moreninha. Realmente me
quer.
— O quê?
— Não pareça tão chocada — dispensou ela, com uma careta
estragando seu rosto. — Faz parecer que é uma loucura.
— Desculpe, é um choque. Ele esteve resistindo esse tempo todo.
Caleb tentou falar com ele, mas Collin o ignorou todas às vezes.
Emme olhou boquiaberta.
— Estavam nos monitorando?
— Não fique brava. Era necessário.
— Não estou brava, só surpresa. Não sabia que nossa relação
estava na boca do povo.
— Não é assim — refutou Trish. — Ninguém está julgando. Collin
se interessar por você e ir as vias de fato é…
— Uma anomalia.
— Para o que eles têm como certo. — E continuou. — Collin se
recusava a ser racional sobre seu interesse por você. Em outras
circunstâncias, ninguém diria uma palavra. No entanto, Collin, supostamente
teve uma prometida.
— Maria.
— Sim, Maria. Veja, Collin não deveria estar vivo. O enlace dos
prometidos é muito forte, único. Eles não sobrevivem a perda de seus pares,
mas Collin, por alguma razão, sobreviveu por mais de dois séculos.
— Está dizendo que ele é centenário?
— Ele está bem conservado, uh? — Piscou e riu.
Emme se empurrou para trás no sofá, expirando com força.
— Eu posso ser a prometida dele?
— É uma possibilidade. Na verdade, pensamos que é a única e ele
se enganou. Nunca antes houve uma segunda prometida. Pode ser que
estejamos errados e ele seja diferente.
— É possível que ele se engane?
— Eu achava que não, agora não sei mais.
Houve um cumprido silêncio.
— Como é quando vocês estão juntos?
— Maravilhoso — ela se derreteu. — Ele tem uma resistência que
faz o Viagra parecer uma balinha sem graça. Juro por Deus, o homem pode
me foder por horas e ejacular grosso todas as vezes. Aliás, não sei como é
possível que ele continue gozando. Ele adora lamber, se é que me entende.
Emme deslanchou a falar de sua experiência com o shifter-leão.
— Eles podem ser peculiares — Trish comentou depois de uns
minutos.
— Melhor que a encomenda.
— Houve algo diferente?
— Depende do que considera diferente.
Trish rolou os olhos com impaciência.
— Para nós, Emme, humanas. A resistência é uma melhora
considerável, mas eles também podem ficar presos e morder, nada que...
— Ele é um mordedor.
— Collin te mordeu?
— Todas as vezes que ficamos juntos. Primeiro, no peito, e dias
atrás no meu ombro quando ele me montou. — A voz de Emme foi morrendo
ao observar Trish levar a mão até o próprio convexo entre ombro e pescoço.
— Ele ficou maluco com isso, depois só aceitou. Acho que tem a ver com
uma daquelas situações inevitáveis que não podem ser evitadas, então lutar...
—... É desperdício de tempo.
— Espere, você disse que eles podem ficar presos?
— Ele não fica?
— Como cachorro?
— O pênis deles podem inchar, dobrando de tamanho e dar um nó, e
continuar ejaculando por segundos pausados — Trish revelou, o rosto
vermelho.
— Isso parece...
— Estranho.
— Eu ia dizer gostoso, sexy. Estranho também, não nego.
Trish riu.
— Não dói?
— Não é exatamente uma dor. É gostoso. Eu acabo tendo mini
orgasmos.
— Collin não fica inchado. Mas... toda vez que ele goza, há uma
picada incomoda, a sensação dele dentro e gozando é tão boa que me
distraio.
Emme não podia entender porque Trish parecia tão receosa, mesmo
que tentasse disfarçar. Mas ela não era boa em esconder seus sentimentos.
Emme podia sentir o medo dela, a cautela no tom baixo.
— Percebeu algo mais?
— Eu o quero. Não simplesmente quero. Eu queimo por ele. Eu
ainda podia controlar antes de beijá-lo e transar com ele, mas depois..., eu
estava ardendo o tempo todo por ele. — E fez um acréscimo. — O orgasmo
é de outro mundo. Realmente alucinante, moreninha. É como se pudesse vê-
lo. Como se houvesse um fio de ouro nos atando. Eu sei, parece louco.
— Não é.
— Não?
— Não.
— Isso ocorre quando fazemos amor com o companheiro
prometido.
Emme demorou um minuto para entender.
— Sou companheira prometida dele?
— É o que parece — ela disse. — Mas preciso ser honesta.
Num segundo, Emme foi ao céu, e no outro, desceu ao inferno. Ela
sentiu o coração bater na garganta, o medo bordeando suas emoções.
— Não sei se a regra aplica a Collin, uma vez que ele parece agir
diferente do que se espera. Mas se, em parte, ele agir de forma natural...
Collin nunca esquecerá Maria. Ela será uma marca imutável, sempre terá
uma parte dele. É assim que é entre prometidos. Ele pode estar recebendo
uma dádiva. Uma segunda oportunidade ou pode ser apenas uma anomalia...
Há ainda especulações que lhe falei. O que me contou são sinais de
companheiros prometidos. Mas não podemos ter certeza. Isso só Collin
poderá te dizer. Em último caso, o Conselho de Raça. No entanto, nem os
humanos nem os civis do bando têm acesso a eles. Somente o alfa pode
encontrá-los.
Emme escutou com atenção.
— Caleb irá até eles. Ele, na verdade, já teria ido se não fosse o
estágio final da minha gravidez. Ele, como bem pode imaginar, não quer me
deixar.
— Ele está certo — Emme disse. — Nós temos uma escolha nisso?
— A magia drukāt é diferente para cada casal, pois serem únicos.
Ela se adapta as necessidades do casal, e pensando bem, faz sentido.
Ela não deveria estar tão eufórica com a possibilidade de ser
realmente a companheira prometida de Collin, porém Emme já tinha saltado
dessa ponte.
— E o que acontece se somos companheiros prometidos?
— Vocês se acasalam antes que o prazo acabe.
— O que isso significa?
— Significa que terá de se acasalar com ele ou ele deixará de ser o
Collin que conhece. Não há retorno. É definitivo. Collin mudará e nunca
mais trocará de forma. O leão tomará o controle completo. Esta também é
uma chance, mesmo que ínfima, do shifter sobreviver a rejeição do
companheiro.
— Isso é... terrível — ela disse, num fio de voz.
— Emme, Collin é um macho honrado e inteligente. Ele nunca a
machucaria propositalmente. Ele não correria o risco se sabe que é dele.
— Talvez eu seja um alívio enviado dos céus. Ou um castigo.
— Collin é o único com as respostas que precisa.
Emme sentiu uma agitação estranha, a necessidade nascendo lá no
fundo. Felicidade e confusão. Em conflito com ela mesma.
— Você o quer, Emme? Realmente cogitaria largar tudo e viver
aqui?
— Vai surtar se eu disser que sim?
28

COMO VOCÊ SE DECLARA?

Em uma clareira longe dos humanos, o bando se reuniu num círculo,


a seriedade gravada nas expressões. Os anciões estavam à direita do alfa. O
beta e o chefe-executor ladeavam o líder de Snowville, outros executores
estavam mais atrás. O silêncio sepulcral vibrando com a agressividade dos
machos e a raiva do bando. O vento sussurrando a iminência dos
acontecimentos.
No centro, estava Lucius Wolfe.
O macho, outrora, foi o temido alfa do mesmo bando, que o
encarava pronto para decidir o destino de sua existência. Ele — agora —
era uma sombra do que o bando se lembrava. Estava magro e apático. Ele
tinha perdido um pouco da arrogância e do orgulho característicos de sua
presença sempre marcada com severidade; a altivez ainda estava lá
esculpida nas suas feições masculinas dividindo espaço com a aceitação e a
vergonha de seu olhar vermelho. Ele ainda não podia mudar de forma. Esta
era apenas mais uma representação da força do alfa. Diante de Caleb, o alfa
na superfície, resplandecendo no olhar dourado que pareciam dois sóis, ele
fez o outro macho se curvar na sua presença e o animal subir para a
superfície sem mudar. Olhos vermelhos da corrupção, de uma alma maculada
pela arrogância e ignorância banhadas com soberba.
Homem e animal seriam julgados por suas más ações.
Lucius caiu pelo poder de Caleb, pela vergonha, pelos erros e pela
desonra.
O bando abaixou a cabeça em respeito e se afundaram num
profundo silêncio.
Dois executores, que estavam atrás de Lucius, se moveram mais
próximos, precavendo os riscos. Todos no bando estavam interessados.
Era a primeira vez que ficavam cara a cara com Lucius.
Alguns ainda carregavam marcas profundas, perdas de entes
queridos devido à ineficiência e erros do antigo alfa. Eles estavam
enfurecidos, a raiva pulsava no ar como uma ferida aberta, que tinha voltado
a sangrar. Uma palavra errada, um movimento equivocado, deixariam as
coisas fora de controle.
Caleb deu um passo à frente, sua voz reverberando através da
matilha.
A força de seu poder deixou a maior parte de joelhos.
— Lucius Wolfe, filho de Horus Wolfe, você está aqui hoje para ser
julgado pelos crimes contra este bando, contra seu alfa e sua própria
companheira.
Caleb assistiu o macho ficar tenso e ranger os dentes.
— Alguém irá interceder por esse macho? — Sua voz profunda
crescendo, dura e implacável. O rosnado ameaçador bordeando as palavras.
Um silêncio, estranho e desconcertante, se estabeleceu atrás da
floresta, até os pássaros ficaram quietos. O vento parou e, sucessivamente, o
farfalhar das copas das árvores. A neve cessou.
— E-Eu... Eu irei, Caleb.
Todos olharam na direção da voz.
Maya surgiu no círculo, os shifters abriram espaço, mas ela não se
aproximou.
O macho no centro girou tão rápido, que os executores deslizaram
ainda mais perto. Ele a encarou com surpresa e lágrimas nos olhos, que
rapidamente escorreram pelas bochechas. Ela o encarou de volta por um
longo tempo, uma conexão que ninguém ousou quebrar, até que Maya voltou
a olhar para o alfa.
— Lucius não deve ser julgado pelo nosso acasalamento.
Houve um burburinho.
Ela engoliu, baixando a cabeça em submissão, a voz respeitosa.
— Caleb, eu não tenho demonstrado minha gratidão pelo que fez
por mim nesse tempo — ela olhou ao redor, — todo o bando... Mas estou
fazendo isso agora. Eu sou grata a cada um, mais do que posso pôr em
palavras. — Ela se dirigiu ao alfa. — Sou grata pelo cuidado e proteção
que me estendeu, antes mesmo de ser meu alfa. Eu sei que as ações de meu
macho quando ainda era o alfa atingiu todos e trouxe graves consequências
para alguns de nós. E é justo que ele seja julgado pelos atos cometidos
contra o bando. Contudo, no que concerne o nosso acasalamento, ele somente
deve responder a mim.
— Ela está certa — Alik disse. — Não devemos interferir no
acasalamento.
— No entanto, — começou Kaenna, a segunda anciã mais velha do
bando. — Suas ações colocaram a vida de sua companheira prometida em
risco.
— Você é uma fêmea de valor, Maya — disse Sue, compassiva. —
É honrado o que faz por seu macho. Não cabe a nós duvidar do presente do
Criador. Se Ele os ligou, há de ter uma razão. Contudo, mesmo você deve
saber que as fêmeas são valorizadas e honradas nessa matilha.
— Eu sei — Maya respondeu, consternada.
— Não interferimos no acasalamento, até que seja necessário —
Sue assinalou, a voz uniforme em sua calma usual.
— Nossas fêmeas não são objetos de machos gananciosos — outro
ancião explanou, o que era conhecimento de todos. — Elas devem ser
valorizadas, e quando não são, cabe ao alfa interferir e fazer justiça pela
fêmea.
Caleb assentiu, e depois lançou a Lucius um olhar severo.
— Você a desonra.
— Eu sei — o macho disse, com a cabeça baixa, os olhos pingando.
— Por que retornou? — Kaenna questionou.
— É onde minha companheira está.
Embry cerrou os punhos, a voz era um rosnado agressivo.
— Percebe que está aqui por ser um pária?
— Serei julgado por errar quando fiz o que acreditava ser certo?
— Não será julgado por errar, Lucius. Mas pelas consequências de
suas ações, por seu orgulho e ambição. Que levou luto e sofrimento gratuito
para as portas dos membros de seu próprio bando, fazendo dele miserável
quando seu dever era protegê-los — Caleb rosnou, com um grunhido
animalesco.
— Eu errei com todos quando me deixei guiar pela ambição,
almejando que nosso bando fosse o maior forte e mais próspero. Eu sinto
muito pela dor que minhas ações trouxeram. Eu me envergonhei com a
derrota e corri para lidar com isso. Não imaginei que o bando Howk iria nos
emboscar. Estava cego e todos pagaram pelos meus erros, inclusive eu
próprio e minha companheira.
— Você esteve espreitando o bando por semanas, suas caças
estavam jogadas — Collin rugiu. — Sabe qual a punição para a caça
desenfreada?
A princípio, o shifter acusado era deposto de sua função e isolado
dos outros. Após comprovada a culpa, ele era desterrado do bando. O que
era quase como uma sentença de morte. Shifters eram familiares e
dependentes do vínculo com seu bando. O veredicto era passado para os
bandos próximos e assim sucessivamente, até que todos os bandos e
espécies de shifters soubessem de sua vergonha. Desta forma, garantia-se a
aplicação da lei em seu rigor.
Com sua honra manchada e somente com seus pertences pessoais
em mãos, o desterrado não era aceito em nenhum bando.
Em alguns pontos as leis eram extremamente severas. No entanto,
essa rigorosidade era importante para o controle e sobrevivência da espécie.
Impossibilitado de caçar e desterrado, o shifter não era bem visto
por ninguém. Deste modo, a única alternativa que lhe restava era viver entre
os humanos. E as consequências podiam ser terríveis e irreversíveis, pois o
lado animal enjaulado necessitava de contato com a vida selvagem.
— Guardei minhas caças, mas elas continuavam sumindo.
— Por que não se revelou em vez de nos espreitar como o inimigo?
— Eu não sabia como seria recebido — disse ele, humildemente.
— Estava fraco. Por isso, achei melhor me fortalecer antes de me revelar e
lidar com o que me esperava. Eu quis ter a chance de me explicar. Não
pretendia forçar minha presença. Queria falar com a minha companheira e
depois com alfa e o bando, se possível. E se não pudesse ficar, partiria com
ela.
— Encurralou minha companheira — o alfa rosnou, terrivelmente.
— Não tive intenção de causar dano a ela.
— Cara, na boa, está cego pelo ódio. Desculpe se não tive acesso
ao memorando das mudanças. Não pode me culpar por ser curioso ao sentir
o cheiro de um shifter em uma humana quando não nos relacionamos com
eles.
— Sua aproximação é injustificável, Lucius.
— Por querer me punir? — debochou o macho. — Está buscando
desculpas, Caleb. Faça o que tem de fazer... O que quer fazer.
29
A SENTENÇA

Caleb mudou de forma numa explosão de poder, caindo nas quatro


patas e caminhou até Lucius, rodeando o macho despojado de qualquer
proteção.
O alfa não admitia desrespeito, misericórdia, aos culpados.
Rilhando os dentes à mostra, os olhos iluminados com severidade,
agressão pulsando pelo corpo lupino, ele circulou o macho, os pelos
eriçados com a fúria. Lucius tinha o corpo tenso, o animal preso, os punhos
cerrados. Ele sabia que não havia defesa. O que estava por vir era parte de
sua sentença e era dever de Caleb, como alfa, como macho acasalado, ser o
carrasco na frente do bando.
Eles eram civilizados; violentos e impiedosos quando necessário.
Ele deliberadamente o provocou. Caleb estava em sua razão.
Mesmo que não tivesse intenções perversas com a fêmea, ele sabia que era
proibido se aproximar de humanos na forma animal. Ele foi imprudente,
curioso.
A mordida na coxa veio do nada, as presas afiadas entraram na
carne rasgando, o sangue fluiu. Ele fez um som de dor em sua garganta.
A mordida foi rápida, o efeito dela não.
Mais mordidas vieram enquanto o alfa o circulava, deixando o
macho numa confusão ensanguentada e de dor dilacerando. A matilha assistiu
imóvel.
Lucius travou os dentes, tão forte, que poderia ter quebrado tamanha
dor ensurdecedora rasgando seu corpo, seu lobo rosnando de raiva. Ele não
tinha forças para ficar em pé, o sofrimento pungente. Seu sangue pingava no
chão coberto de neve, agora, manchado tal qual seus olhos vermelhos. Ele
caiu de joelhos. O lobo avermelhado circulou o macho mais uma vez, e
então, parou em sua frente, o sangue em sua boca, com a baba escorrendo
pelos cantos. Ele rosnou na cara do macho. Não havia piedade para ele,
nenhuma redenção.
Os civis olhavam com medo e ao mesmo tempo com respeito pelo
alfa. Eles evitaram olhar para a fêmea trêmula, chorando silenciosamente.
Dois machos executores a ladeava, cada um de lado, mantendo por
precaução.
Fosse como fosse, acasalados protegiam seus pares.
Fêmeas se tornavam violentas e agressivas.
O macho estava tendo o castigo merecido, a fêmea não.
O alfa diante dele era honrado, leal até a medula. Ele também era
um carrasco, impiedoso com os traidores. Sua justiçava nunca falhava.
— Caleb. — A voz da Prima infiltrou no ar e congelou a todos.
O alfa pegou seu olhar como um raio.
Houve uma troca silenciosa entre eles. Ela inclinou a cabeça, os
olhos suplicantes úmidos quando rogou por cima dos sussurros de
burburinho.
— Por favor. Permita-me.
Ninguém ousou falar, o tempo pareceu congelar esperando quando a
companheira grávida do alfa deu outro passo à frente, segurando a barriga.
O olhar dourado do lobo seguiu o movimento da mão dela.
A posição do macho na frente dele, a cabeça caída em total
submissão liberou um pouco de sua agressividade. Ele mudou. Caleb estava
de volta.
Ele não queria nada mais que rasgar a garganta do shifter
presunçoso por ter colocado sua fêmea em perigo. O alfa tinha o controle nas
garras, ponderando, interessado no que sua fêmea desobediente diria. Muito
disso por que ali não era somente sua fêmea na sua frente. Era seu par, sua
Prima.
Ele tinha tentado protegê-la disso e do que viria depois.
Mas, como sempre, ela tinha planos diferentes.
Ele não se importou com o que ela presenciou. Ele tinha alertado. E
como parecia estar se tornando um mau hábito, ela o desobedeceu. Ele a
respeitou pela valentia e pela coragem por tomar posse de seu lugar, não que
ele lhe diria isso.
Trish ainda teria de lidar com as consequências.
— Estou sendo injusto, companheira? — A voz dele era
enganosamente calma depois de voltar a forma humana.
— É meu companheiro, Caleb. É seu direito me proteger, cuidar e
vingar. Bem como, é meu direito, como sua companheira e Prima, de estar
aqui.
Houve mais burburinho.
Ela foi até ele, com o queixo erguido. Orgulhosa. E com toda
elegância que sua condição permitia, ela cruzou o espaço indo direto para os
braços do alfa.
Caleb olhou fixo, o olhar ardendo de tal forma que ela sentiu o
coração acelerar. Os olhos dele cheio de promessas e punições.
Ele entrelaçou seus dedos juntos, como uma frente implacável
ladeada pelos machos mais fortes do bando. Caleb então encarou a frente.
A mudança no ar a deixou tensa, seus joelhos querendo dobrar. De
uma forma que não podia compreender, Caleb através de suas mãos, a
mantinha.
O ar pareceu rarefeito, vibrando com uma energia que secou sua
boca.
Ela olhou para frente onde Lucius estava.
Ela então viu Maya sair da posição onde estava e caminhar para o
macho, caindo de joelhos ao seu lado. Ela buscou a mão dele. E Trish viu, a
mesma familiaridade que ela experimentava com Caleb. O contato pareceu
surtir efeito no macho. Maya não o olhou, mantendo os dedos entrelaçados.
Trish não tinha um bom pressentimento.
— Lucius Wolfe — Caleb disse, a voz pesada, muito séria e severa
com o perigo. — Eu o declaro culpado pelos crimes de conspiração com o
inimigo e pelo crime de negligência com sua companheira prometida.
Embry?
— Culpado.
— Collin?
— Culpado
— Jace?
— Culpado.
— Conselho?
— Culpado.
— Sua ambição maculou sua alma, causou danos irreversíveis e
incalculáveis para este bando. Dor e sangue foram derramados pelas suas
ações hediondas. — Ele olhou para Trish; homem e lobo, macho e alfa. —
Um macho honra sua fêmea, a protege de tudo, inclusive dele mesmo e dela,
se precisar. — Desviou sua atenção para o réu. — O que fez ainda reverbera
em Snowville.
Os machos pareciam guerreiros, olhavam fixo e sem sorrir.
Seriedade gotejando de seus poros. Impressionantes. Perigosos.
Mesmo as mulheres se tornaram mortalmente silenciosas.
A tensa sensação no ar aumentou.
Houve ainda pesar e também reconhecimento e aceitação.
Decisões precisavam ser tomadas sem adiamentos.
As sentenças eram inevitáveis.
— Lucius Wolfe eu o declaro desterrado. Tudo que tem no bando,
suas terras e ativos, ficam para Snowville.
A energia passou por todo o bando. Ondulou. Pulsou. A dureza
implacável de suas palavras inexoráveis tal qual o olhar endurecido, puro
poder.
— Não é mais permitido em nossas terras, em nossas florestas.
— Caleb, por favor, — Lucius rogou. — Ela não.
Trish olhou sem entender.
O bando tinha olhares enlutados, mas firmes. Estavam com o alfa;
Caleb não era mais o vestígio do que ela conhecia. Somente o alfa, uma
energia poderosa e perigosa flutuando no ar. Cada palavra dele era como um
chicote.
Os pelos de seus braços arrepiaram, o coração disparado.
— Suas ações roubaram sua honra e merecimento.
Porque todos estavam vibrando?
Por que ninguém dizia nada?
Por que parecia um luto?
— Está banido e desterrado até que seja perdoado pelo Criador.
Pegue sua companheira e vá. — O decreto caiu como uma bomba.
O ar pareceu expandir. Violento. O calor abrasou sua carne, onde
eles tocavam. Sua respiração pesada. O ar mais denso. O bando se uniu,
transformando-se em uma entidade poderosa, então sentiu outra coisa.
Outro lobo...
Caleb.
Trish resfolegou, desconcertada com o puxão que sentiu, a energia
passou por todo o bando concentrando-se em Caleb.
E, de repente, com força bruta, Lucius se curvou, a cabeça lançada
para trás, ele gritou tão alto, agonizando, ferindo seus tímpanos.
Houve uma quebra.
Um rompimento.
Os olhares, antes de raiva e pesar, estavam tristes e com medo.
Maya foi a primeira a levantar, ela, com a ajuda de dois shifters,
ajudou seu companheiro a levantar e saíram.
Caleb lançou uma olhada para o ancião Alik.
— Leve-a — ordenou, entregando sua fêmea para o macho mais
velho.
Trish olhou, querendo discutir, mas pareceu pensar melhor.
Girando para o resto do bando, Caleb disse:
— Podem correr.
Uivos rasgaram a floresta e os machos começaram a ficar
diferentes. E gradualmente a raiva e a letargia se dissiparam. Eles
começaram a se despir e se transformar. Névoa por toda parte, enrodilhando
e ondulando.
Lobos, dois ursos e três leopardos surgiram.
Caleb mudou e rosnou tão alto, que ela tremeu com o som perverso.
Então ele correu com o bando. A união através da conexão
permitindo que lamentassem e confortassem uns aos outros pela perda do
membro.

xXx

Emme decidiu no último segundo ir até a cabana de Collin. Ele


sempre a encontrava em seu chalé, mas hoje seria diferente. Ela iria até ele.
Ela daria esse passo. Tinha feito uma promessa a si mesma há muito tempo.
Nunca desistir sem antes lutar. Ela estava disposta a se lançar nessa aventura
com ele.
Emme não encontrou problemas para achar a cabana.
Lá, acendeu a lareira e esperou.
Ela tentou se acalmar, ser racional e reorganizar os pensamentos.
Mas a antecipação estava comendo o seu cérebro.
Eles podiam ter um futuro, não podiam?
Um para sempre?
Era possível, não era?
Emme não queria fantasiar, mas esta era uma batalha perdida.
Se as declarações de Collin e a expectativa de uma conversa sobre
o futuro deles juntos tinha feito sua ilusão pintar quadros felizes. Depois de
sua conversa com Trish, ela estava exultante. Pensado em todas as
alternativas sobre eles, seu trabalho, sua vida em Nova York. Não porque
era emocionada, disse a si mesma. Mas porque era prática e gostava de estar
preparada. Ela, provavelmente, teria que voar para Nova York e acertar sua
mudança. Ou...
Collin aceitaria viver lá?
Não importava.
Lá ou aqui, o que importava era estar com ele.
Companheiros prometidos.
Ela fez uma pausa, afetada com as duas palavras, que soavam boas
demais para ser real. Fez irromper nela um rastro de felicidade incomum.
O sorriso veio fácil acompanhado por um disparo de adrenalina.
Inquieta, ela perambulou pela cabana.
Não havia muito para ver ou descobrir. E foi então que viu próximo
a cama, sobre um banquinho, Emme se deparou com algo que destoava do
lugar.
Ela não deveria, porém a curiosidade ganhou.
Ela segurou a caixa, que era de madeira clara entalhada a mão. O
olhar correu pelos desenhos intrincados acompanhando as pontas dos dedos.
Era um trabalho primoroso, de horas, semanas, possivelmente.
Uma floresta, com pedras e um casal de felinos. Suas expressões
pareciam vivas, tamanha a sensibilidade esculpida na madeira. Havia uma
leoa na pedra, sentada em sua altivez. Um grande leão observava, com
admiração.
Encantada, ela abriu a caixa e a melodia encheu o ar. Emme encarou
a delicadeza e o primor da peça, a música doce.
— O que você está fazendo aqui?
O estrondo chocalhando a madeira velha das paredes a fez pular
estabanada. E, em seguida, olhar para o chão... para a caixinha.
Não havia mais som, só horror.
30
SINTO MUITO

Trish tirou a caneca dos lábios e baixou, lentamente.


Caleb estava na porta. Ele anuiu para o ancião, que insistiu em lhe
fazer companhia, sem quebrar o contato visual com ela. Ele podia não estar
mais no modo alfa, mas não era mais suave. Sua expressão, o olhar
prometendo retaliação, a fez estremecer. Não medo. Nunca medo quando se
tratava de Caleb. Ela confiava nele. Sabia que seu companheiro se mataria
antes de lhe fazer mal. Ele estava puto. Podiam trocar farpas e ter uma
discussão acalorada, mas ele nunca seria um perigo para ela. Isso não
significava que ele não podia ficar chateado ou que ela gostasse do clima
ruim e da culpa por magoá-lo.
Rapidamente, as explicações e desculpas se acumularam em sua
garganta.
Trish sorriu, docemente.
Caleb estreitou o olhar escuro, as mãos aferradas nos quadris.
— Trish, Trish..., o que eu vou fazer com você?
— Eu posso pensar em algumas coisas se estiver se sentindo
limitado e pouco criativo — ela disse, inocentemente, tentando suavizar.
Ele não aliviou. Nenhum sorriso.
— Será que terei que colocar guardas em seu rabo quando lhe der
uma ordem?
— Não se atreva! — Pôs a caneca para o lado e lutou para se
levantar, conseguindo uma reação mais amena de Caleb. — Eu falo sério,
Caleb. Não se atreva!
— Eu também falo sério. — Ele foi até ela, apoiando as mãos nos
braços da poltrona, alinhando seus olhares quando ele pairou sobre ela. —
Quando o seu alfa dá uma ordem, é esperado obediência.
— Sou sua igual. Sua Prima. Sua companheira.
— Lembre-se disso antes de me desobedecer, principalmente, na
frente do bando. Ou serei obrigado a lhe dar uma amostra do que Lee
experimentou. Não será bonito, companheira. Não punimos nossas fêmeas
com agressão, nós a montamos até que ela se submeta. E não duvide, eu a
montaria.
— Você não faria — ela disse, com horror.
— Se isso a fizer ser racional e me obedecer quando peço que
confie em mim; se isso significa que você não se colocará em perigo, eu
farei. Não brinco com sua segurança e do nosso filhote. — E acrescentou,
suavizando. — Você tem que confiar em mim. Eu preciso que confie em mim
e faça o que eu disser quando o momento surgir. Não posso estar dividido
entre você e minha obrigação quando preciso estar focado nas questões da
matilha para manter todos seguros.
— Eu confio, Caleb. Desculpe. Eu disse a você que precisava estar
lá. Era meu direito como Prima — defendeu-se, bravamente.
Ele segurou o queixo dela nos dedos, e a beijou na boca.
— Nós somos civilizados, Trish. Mas não se engane. Nossa
natureza é diferente, resolvemos as coisas de nossa própria maneira. E, às
vezes, as coisas podem ficar um pouco selvagens — ele disse, analisando
sua reação.
— É cruel.
— É como é. Se não sou capaz de proteger os meus, de aplicar a lei
e seguir as regras que mantém todos nós seguros, então eu não deveria ser o
alfa.
— Não posso pensar em ninguém melhor para Snowville do que
você.
Ele sorriu, a borda dura de sua boca suavizando.
Ele deu pequenos beijos delicados em sua boca enquanto segurava
seu rosto com ambas as mãos. E esfregou o nariz no dela, deixando que o
cheiro dela levasse os últimos resquícios de seu temperamento agressivo.
— Você me honra com suas palavras, companheira — disse Caleb,
engolindo o gemido feminino em sua boca. — Endoida-me na mesma
proporção.
Ela riu. Ele se afastou, sentando-se na mesinha de centro atrás dele.
— Vai me dizer agora o que foi aquilo?
— Eu o desterrei. Fiz de forma que ele não possa se conectar com
seu lobo e ter acesso as suas habilidades de shifter.
— E Maya?
— Maya não cometeu nenhum crime.
— Ela não foi banida?
— Isso não significa que ela se sentirá bem-vinda no bando que
desterrou seu companheiro. Então veja, eu não precisava bani-la, ela já seria
castigada o suficiente com a sentença de Lucius. É o karma dos acasalados.
— Isso é horrível.
— Se sentiria confortável de vir aqui sabendo que fui desterrado?
— Eu ia odiá-los — ela disse, chorosa. — Maya nos odeia.
— Maya não nos odeia. Ela conhece as regras e sabe que a justiça
foi feita. Viramos essa página. — Ele então ficou muito sério, os olhos e as
linhas de seu rosto escurecendo. — Não me desobedeça, novamente. Pode
discordar de mim o quanto queira. Não iremos concordar com tudo. E eu
amo seus desafios e contrariedade. Mas nunca me desautorize na frente do
bando. Não me faça perder a confiança em você, Trish. Eu preciso que
minha fêmea trabalhe comigo, que confie em mim para assegurar sua
segurança e de nossos filhotes.
— Sinto muito, Caleb. Eu precisava estar lá.
— Não, — ele refutou, friamente, asperamente. — Você precisava
ficar com o rabo em casa como o seu alfa ordenou.
— Não é meu alfa, Caleb. Pare com isso.
— Pare de se enganar, companheira.
— E o quê? Vai me punir?
— Você quer isso, não quer?
— Talvez.
Ele balançou a cabeça, como se pedisse misericórdia.
— Quando meu filhote estiver fora, companheira, e você
recuperada, é bom se preparar.
— É uma ameaça?
— É uma promessa. Vai me rogar.
— Eu já não faço?
— Há punições mais duras, Trish.
O olhar sardônico e o sorriso malicioso de canto a fez tremer.
— E se Maya precisar de nós? Aqueles ferimentos pareciam
graves. Se eles infeccionarem e as coisas se complicarem... — Trish se
calou, engolindo o nó.
A conclusão a inundou com tristeza.
Caleb rosnou com raiva, se levantando.
— Sente isso, não sente? O luto. É assim que funciona para nós,
mas não podemos deixar de executar uma sentença. É como a morte de um
membro. A sensação é muito forte, visceral. Não queria que presenciasse
isso.
— Não pode evitar, Caleb. — Ela ficou em pé também, encarando-
o com um olhar feroz que prometia um mundo de inferno. — Sou sua igual.
Serei ativa em minhas funções, incluso nas formalidades do bando.
A última oração mal saiu e, em seguida, ela gritou e depois se
encolheu.
Caleb se moveu rápido, amparando em seus braços.
— Foda-se. Porra.
— Oh, Deus! — Trish choramingou, os olhos arregalados, uma das
mãos aferradas no ombro de Caleb e a outra segurando a barriga, o líquido
desceu por suas pernas empoçando em seus pés. — O bebê.
Ele passou os braços por debaixo dela e a içou, levando para o
quarto.
— Juro pelo Criador, fêmea, ainda vai me deixar louco.
— Não brigue comigo agora — ela ralhou, com uma careta sofrida,
o rosto pressionado no ombro dele e uma mão segurando a barriga.
— Depois.
Ela forçou uma risada, mas o gemido de dor tomou conta.
— Ai, caramba! Isso dói.
Ele a colocou na cama, dando-lhe um olhar.
— Eu sei, eu sei... — balbuciou ela. — Você tinha razão, satisfeito?
— Nenhum pouco — ele disse, pegando o telefone.
— Estou parindo seu bebê, Caleb, não pode me recriminar agora.

xXx

Collin e Emme encararam a peça quebrada.


O tempo tinha congelado, paralisados. Em choque.
O macho foi o primeiro a se mover quando o tempo pareceu
acelerar, novamente. Caindo de joelhos, o baque surdo fazendo-a estremecer.
Ele apanhou a caixinha como se fosse um bebê, embalando contra o peito.
— Collin, baby, me perdoe. Eu não quis... E-Eu me assustei...
Ele não disse nada, os olhos ainda fechados, a cabeça baixa. O
ambiente pareceu inchar e desinflar com a respiração dele. Muito quieto.
— Eu sinto muito... Collin, por favor, baby, fale comigo. — Ela
tentou ir para ele, a mão estendida na direção do macho, querendo confortá-
lo.
O rugido dele a parou, enfraqueceu seus joelhos. O coração deu um
solavanco, afundando no peito com dor e tristeza. Cheia de medo. Não dele.
Nunca dele. Ela temia ter arruinado qualquer chance de um futuro juntos.
— Por favor, Collin — implorou. — Eu posso consertar.
Ele ainda embalava o objeto no peito, engrossando sua culpa.
— Entalhei essa caixa para Maria — ele murmurou em voz baixa,
sem vida, depois de um momento. — Dei-lhe no dia do nosso acasalamento,
e depois ela me foi tirada, essa foi a única coisa que me restou dela.
— Eu sinto tanto, Collin. Não deveria ter mexido nas suas coisas,
foi tão errado. Não tive intenção de quebrar nada. Se deixar, eu... — ela se
calou.
Collin se levantou devagar, raiva apertando suas feições, a
agressividade nele saindo em ondas, e depois nada. Ele olhou para ela em
um silêncio horrível. Desolado. Completamente desolado. O brilho de
lágrimas em seus olhos.
Collin girou e saiu.
Emme se afundou em culpa, sufocada com o sentimento de luto. Seu
coração chutou duro e começou a rachar.
Collin nunca a perdoaria.
As lágrimas começaram rolar copiosamente. Não havia nada que
pudesse fazer. Nada, nem ninguém que pudesse se segurar. À deriva.
Ela se desligou com o peso da perda que sentia.
Ela estava paralisada e fria. Oca por dentro.
Emme experimentou um momento de epifania. E quando se religou,
novamente. Ela, enfim, entendeu o que se negava a ver.
De alguma forma, eles se pertenciam, mas não podiam ficar juntos.
31

ORDENS DO ALFA

O grito, que veio do primeiro andar, a puxou do torpor.


Emme mirou ao redor tomando consciência das outras pessoas. Eles
não eram tímidos. Olhos curiosos a sondavam. Ela não precisava ser um
gênio para descobrir que eles cheiravam seu humor e sua desgraça. Não
havia como disfarçar sua tristeza. E quando a cacofonia de gritos, lamentos e
choro da amiga cresceu, ela se sentiu terrível aliviada por Trish distrair
todos.
Ela tinha se dirigido para a casa da amiga, decidida. Iria se
despedir e dar adeus aquele lugar, que entre tantos prazeres, também era
capaz de destroçar seu coração. Tinha destruído suas únicas chances com o
homem que amava.
Ela se aproximou de Lee, dispersa por instante da própria dor.
— Trish está...?
— O grande momento — ela sussurrou, a voz assustada.
Um grito mais forte rasgou as paredes da casa.
— Isso parece violento.
— E doloroso. — Lee se encolheu nos braços de Embry, os olhos
aterrorizados, a careta aprofundando. — Nunca irei passar por isso.
O homem riu, confortando Lee e lhe deu um beijo de lado.
— No momento certo, doçura.
— Nenhum momento é certo para esse horror, companheiro.
Emme afundou numa poltrona vazia ao lado do casal.
— Há quanto tempo ela está assim? Caleb?
— Quatro horas — Embry respondeu. — Caleb está com ela.
Raina, a irmã dele, que é médica, e Sue, nossa parteira, estão com eles.
— Relaxe e curta o passeio — uma mulher disse, a sua esquerda,
com um sorriso amável. — Somente estamos começando.
— O Criador tem um jeito de fazer as coisas — o homem, que ela
conheceu como Alik, murmurou. E depois explicou. — Perdemos um
membro hoje..., bom, dois membros. Mas estamos ganhando outro membro
valioso.
— Um presente para um recomeço — outra mulher disse.
— Eu sinto muito por suas perdas — Emme se viu dizendo.
Os olhares ao redor suavizaram em agradecimento.
Não havia o que fazer, sua amiga estava parindo no modo antigo.
Poderia levar horas. Ela se acomodou da melhor forma possível. E, apesar
da apreensão no rosto de todos, tudo parecia ocorrer de acordo. Trish estava
em boas mãos, mas isso não a isentava do calvário do parto.
Os gritos e burburinho dos presentes mantiveram sua atenção.
Perto do amanhecer, os rostos tensos ganharam sorrisos pouco antes
do choro agudo explodir no ar. Ela sorriu emocionada e lembrou de Collin
num misto de tristeza, saudade e alegria. Exclamações de graças se
espalharam.
Caleb desceu com o recém-nascido numa rápida apresentação.
— Conheçam Ava. Minha filha — ele anunciou, a voz carregada de
orgulho e veneração direcionada ao pacotinho em seus braços. Ele olhou
para cima, seu olhar passando por todos. — Ontem nos entristecemos pela
perda de dois de nossos membros. E hoje fomos abençoados pelo Criador
com o nascimento da vida que minha prometida e eu geramos em nosso
acasalamento.
Novas exaltações explodiram no ar, enchendo a atmosfera com
leveza e esperança. E depois todos partiram, deixando regalos para trás.
Na primeira noite da recém-nascida, ela permaneceu.
Na segunda, precisava fazer algo.
Em algum momento, Emme começou a se sentir sufocada, afogando-
se no próprio sofrimento causado por seu coração partido. Ela nem sabia
que doía tanto, até que era uma massa confusa de sentimentos e emoções
descontroladas.
O choro agarrado em sua garganta como uma condição permanente.
Reunindo forças, ela respirou fundo e bateu na porta da suíte do
casal.
— Será que posso entrar? — Ela sorriu para Caleb.
Ele deu passagem, mas não disse nada.
Ela se aproximou da cama, olhando para a amiga, que parecia
exausta com o bebê em seu colo, amamentando. Completamente satisfeita e
feliz.
Emme se sentou na beirada da cama.
— Como você está, moreninha?
— Pensando que posso dormir por uma semana inteirinha, mas
incapaz de fechar os olhos. Ela é tão linda, tão incrível, Emme. Não posso
parar de olhar para a minha bebezinha. — O olhar dela se iluminou com
amor para filha.
— Eu também não iria querer dormir se ela fosse minha.
— Foram horas exaustivas — Trish suspirou.
— Eu ouvi isso — ela disse, mantendo o sorriso polido. — Ava é
uma bebezinha perfeita. Uma obra prima. Parabéns... aos dois.
Caleb não parecia disposto a se afastar de sua prole e da mulher.
Emme olhou para Ava agarrada ao bico do peito da mãe.
— Você fez um excelente trabalho.
— Doloroso.
— Nada menos que a perfeição, moreninha.
— Ava é tão linda — disse Trish, a voz banhada em devoção. —
Mal posso acreditar que fui capaz de fazer algo tão precioso assim.
— Uma menina, hein?
— Eu disse. — Caleb orgulhou-se.
Trish rolou os olhos e sorriu.
Emme se inclinou, pousando um beijo na testa da nova mãe.
— Sua filha é linda, Trish. E muito abençoada por tê-la como mãe.
Você também, Caleb. Ava não poderia ter melhores pais. Serão
excepcionais. Eu desejo de todo o meu coração que vocês sejam felizes pelo
resto da vida.
— Por que isso soa como uma despedida?
— Porque é.
— Aconteceu algo? Você tem mais alguns dias, não tem?
— Não aconteceu nada. A verdade é que está na minha hora.
Estendi demais meus dias por aqui e... Quero ficar uns dois dias de folga em
Nova York, antes de voltar ao trabalho — ela disse, evasiva. — Estou
partindo pela tarde.
— Emme...
— Não me olhe assim que vou me sentir culpada — ela interrompeu
a outra mulher, dissimulando. — Preciso ir. Retornar para a minha realidade.
— Irá voltar?
— Claro. Não vou te abandonar. Agora que sei onde está posso vir
sem preocupação e você também pode me visitar quando quiser.
— Tem certeza que não pode ficar mais?
— Absoluta.
Emme olhou para a bebê sentindo um aperto forte no peito. Ela
forçou um sorriso que saiu todo errado. Depois se despediram com
choradeira. Feliz que Trish estivesse tão encantada com sua adição, que não
notasse mais nada.
Ela, ao contrário, estava pronta para desabar.
Ainda não.
Horas mais tarde, com as malas prontas, o som na porta fez seu
coração pesar com tristeza. Não é ele. Tinha estado à espera do membro
masculino da reserva, que a levaria para o aeroporto. Estava na hora de ir.
— Caleb? Aconteceu alguma coisa?
Ele olhou por cima da cabeça dela e de volta para ela.
— Não posso deixar que se vá.
— O que disse?
— Não farei rodeios. Sabe o que somos, o que sou. E como alfa
preciso cuidar dos meus. Não sei o que aconteceu entre você e Collin para
que queira fugir. E não se incomode em mentir. Está fugindo.
Ela olhou boquiaberta, tão chocada, que as palavras sumiram.
— Se nossas suspeitas forem verdadeiras — ele continuou, — eu
não irei arriscar um membro do meu bando. Sobretudo, Collin.
— Não sou a prometida dele, Caleb.
— Então não se importará de ficar e esperar que o prazo termine.
Pelas minhas contas, ainda tem alguns dias.
— Neste caso, ele pode ir até Nova York se quiser conversar.
— Eu acho que você não entendeu, Emme.
A intensidade de Caleb a pegou desprevenida.
— Irá me forçar?
— Será necessário?
Ela apertou os olhos para ele.
— Trish sabe que é tão arrogante e mandão?
— Trish sabe tudo de mim, inclusive quão sério sou sobre meus
deveres e proteção da minha família. E não se engane, o bando é a minha
família.
Ela ficou boquiaberta, realmente chateada.
— Não pode me forçar. — Caleb não recuou. — Ele nem me quer.
Pelo amor de Deus! — Ela se afastou da porta, chorosa e indignada.
— Collin está lutando com ele mesmo, mas isso terá de parar.
— Ele pode lutar bem longe de mim — ela disparou num acesso de
raiva.
— Não fala sério — ele disse, categoricamente.
— Talvez não. Mas não vou me humilhar pra ele. Não mais. Eu já
estive lá, estava muito disposta a engolir seus desaforos, e não foi legal.
— Collin te tratou mal enquanto esteve com ele?
— Não exatamente.
— Você o ama?
— Você é direto.
— Não há motivos para jogos.
— Eu... sim. Eu amo, mas...
— Onde Collin está?
— Eu não sei. — E acrescentou, a admissão cobrando um preço
doloroso, rasgando-a por dentro. — Collin não me quer, Caleb. Não de
forma permanente. E agora, acho que de nenhuma maneira.
— Ele te disse isso?
— Ele não precisou verbalizar o que sempre foi explicito entre nós.
— Ela não estava orgulhosa de si mesma, foi difícil não derramar as
lágrimas que rapidamente encheram seus olhos.
— Collin está passando por algo inédito que mesmo nós não
compreendemos. — Caleb fez uma pausa, inclinando-se e cheirou.
— Ei, sem nariz intrometido aqui — ela ralhou, indo para trás.
Ele se endireitou, muito sério, e a mirou nos olhos.
— Não está indo a lugar nenhum, Emme.
— Não é meu chefe — protestou ela, com raiva.
— É a companheira prometida de Collin. Resta saber se é a única
ou é sua segunda chance. Mas isso só saberemos quando ele voltar, não é?
A certeza na voz dele rachou ainda mais seu coração. Lágrimas
quentes se derramaram, e ela não se importava mais se Caleb assistia sua
queda.
32
ENCONTRO INUSITADO

Collin correu a esmo pelo que pareceu horas, dias, semanas...


Ele mal sentiu as patas tocando o chão. Cada vez que o cansaço
ameaçava a pesar, ele forçava mais, até que tudo era um borrão. Até que a
exaustão sugasse suas forças. Tudo pesou; o luto pelo membro desterrado e
por sua companheira, a culpa colossal, a caixa de música quebrada.
Emmanuelle.
Há tanto tempo se contendo, em negação, porque era covarde e
estava com muito medo de reconhecer a verdade. Um segundo bastou para
lançá-lo de joelhos. A barragem ilusória, que continha sua confusão, veio ao
chão. E ele foi engolfado pela intensidade de seus sentimentos, de seu
querer. Sua honra.
Ele não viu a floresta, os desafios no caminho.
Ele não viu nada.
Seu coração estava pesado, batendo forte, a respiração aos trancos.
Ele não podia parar.
Então correu, mais e mais...
O homem era um borrão quando o animal dominou.
Sua raiva escoou e a dor tomou seu lugar. Entorpecendo.
Em alguma parte de sua mente, uma voz doce e melodiosa ecoou um
chamado. Muito paciente. Tornando-se cada vez mais forte, mais alta.
“Collin?”
Suas pálpebras tremeram, a consciência voltando. Ele não estava
morto, mas se sentia letárgico, apagado. Estava morto?
“Collin?”
Ele sentia a maciez embaixo dele, talvez da relva onde caiu exausto
depois de forçar seu corpo ao limite. Não podia recordar se cruzou o
território de Snowville, somente que correu como se sua vida dependesse
disso.
Seus membros doíam pelo esforço, a cabeça latejava.
Em um esforço sobre humano para abrir os olhos e se situar, suas
pálpebras tremularam. Estava escuro. Isso lhe deu a certeza de que cruzou a
fronteira e estava em terras estranhas. Ele ficou em alerta, o animal acordou
em posição, mas Collin não se levantou. Os membros pesavam como
chumbo.
“Collin, querido, acorde”.
A voz, aparentemente, familiar o arrancou de sua mente. Desta vez,
o som musical, que trazia uma sensação de saudade, soou acima dele.
Piscando para limpar os olhos, ele olhou ao redor. Não reconheceu.
A luz bruxuleante jogava sombras dançantes no lugar, mergulhado numa
atmosfera sobrenatural. E quando olhou para cima, ele teria caído se não
estivesse deitado.
“Maria” ele sussurrou, descrente para o rosto sorridente, que o
olhava de volta com paciência, o sorriso amoroso que ele nunca esqueceu.
“Olá, dorminhoco”.
“É você mesmo? Como?”
Ele tentou levantar, o esforço enfraquecendo, então desistiu.
“Não se esforce. Logo passará”.
“Estou morrendo”. Ele ficou desolado, ainda mais doente, o nó
firme estrangulando-o ao pensar em Emmanuelle. Eles mal tiveram tempo.
Ele deveria ter ficado, dito todas as coisas que queria dizer.
Ela deu uma risadinha divertida.
“Oh, não!” ela disse. “Terá uma vida longa, Collin”.
“Não entendo, Maria. Por que...? Você morreu. Eu vi seu corpo... o
que... o que eles fizeram... Eu te sepultei”.
Ela se aproximou, agachando na frente dele, a mão veio em sua
testa, chocando-o com a quentura, a maciez aveludada era familiar. Ele
relaxou.
“Por que é tão teimoso, leão?”
Ele engoliu, os olhos úmidos com lágrimas rolando pelos cantos.
“Me perdoe, Maria. Eu sinto muito”.
“Eu sei que sente, e eu sinto por ter partido daquela forma”.
“Não foi culpa sua” ele rosnou, atormentado com a culpa. “Eu
deveria ter te protegido como prometi, falhei com você”.
“Numa coisa você tem razão” disse ela, enérgica. “Não foi minha
culpa, mas também não foi culpa sua, Collin. Esse peso pertence somente
aos shifters que me fizeram isso, e eles pagaram por sua desonra”. Ele
balançou a cabeça. Ela continuou com a voz macia. “Você me protegeu, fez o
seu melhor para me manter segura e me prover como qualquer macho
honrado faria, leão. Eu não poderia ter tido melhor companheiro. Mais leal.
Mais honrado. E generoso”.
“Não foi o bastante”.
“Foi para mim e isso basta” ela assegurou. “Você se cobra demais,
Collin. Sempre foi assim. E se torna o seu próprio carrasco por coisas que
estão além de seu controle... O que lhe cabia você fez muito bem. Mas há
coisas que nem você, nem ninguém é capaz de evitar. É assim que a vida é”.
“Nós merecíamos mais...”.
“Collin, você precisa deixar isso ir. Me honrou em vida com seu
amor e lealdade. Continuou honrando-me depois, e eu estou tão orgulhosa de
você”.
Ele negou com raiva.
“Eu a desonrei. Eu sabia, mas não podia parar...”.
Ela riu, o som fluído desconcertou o macho.
“Por se permitiu a viver?”
“Eu não deveria... Falhei com você”.
“Collin, não... Você não tinha escolha sobre isso. E mesmo que
tivesse, acha que eu iria querer esse tipo de vida condenada para você?”
“É a sina do macho prometido” ele disse entredentes, com raiva e
desprezo por si mesmo, do que queria, do que tinha feito.
“É, mas não é a sua sina, ainda não”.
Houve um extenso silêncio.
“Não disse que me ama” Maria comentou distraída. “A primeira
coisa que sempre fez quando acordava, antes até de me olhar, era dizer que
me amava”.
“Eu amei, Maria, com todo o meu coração”.
“Eu sei. Senti e vivi esse amor. Eu também te amei, Collin. E como
não poderia quando sempre esteve lá por mim? Deu-me um pedacinho de céu
no pouco tempo que estivemos juntos. Nossa união era genuína, especial”.
Houve outro cumprido silêncio.
Maria não estava triste, nenhum pouco magoada ou ressentida. Ela
parecia plácida, feliz. Mas, então, era assim que ele se lembrava dela.
“Ela é uma boa fêmea, Collin”.
“Emmanuelle nunca terá seu lugar”.
“Nem eu o dela. Simplesmente porque ocupamos espaços
diferentes. E, querido, não se engane mais. Você a quer. Quer mais do que
quis qualquer coisa; quer mais do que quis a mim. E é isso que o atormenta,
não é?”.
Ele fechou os olhos, respirando fundo.
“Isso não me machuca, Collin” garantiu com veemência. “Vê-lo se
machucar por um equívoco, por minha causa, isso sim me entristece”.
“Você era minha”.
“De certa forma. Mas sabemos da verdade, não? Emmanuelle, não
me tirou nada. Ela nunca poderia. Se alguém fez isso, essa sou eu”.
Ele fechou os olhos e sentiu o desespero se agarrar em sua garganta.
Ele tinha se enganado tanto por orgulho, por estupidez, por equívocos.
“Está apaixonado por ela, tão louco de amor que está se
autoflagelando. Seu leão é mais inteligente e aceitou o que o homem teima
em não ver. Ele a ama, Collin, e não vai perdoá-lo se a deixar ir. Seu
orgulho e sua honra não o salvarão da irá do seu felino. Ele irá atrás de você
e não será bonito” ela alertou, pausou e acrescentou. “Emmanuelle sempre
foi sua para amar”.
Collin se afundou no silêncio, sentindo o peito apertar infinitamente.
O nó na garganta era como uma cobra, até que seus olhos queimaram.
Vazando.
Lutando contra o alívio e a felicidade espreitando.
“Você não é um macho de uma noite, Collin. Você quer amor, o
romance, alguém para quem voltar e compartilhar. E você se fechou para
tudo isso, que agora parece não reconhecer o amor mesmo que ele te
estapeie na cara”.
“Eu me comportei de forma horrível, Maria. Não a mereço”.
“Então faça por onde merecer, e faça rápido”.
“E nós, Maria, o que fomos?”
“Fomos jovens e imaturos, perdidos de amor. Fomos o que tínhamos
que ser, no tempo exato. O que tivemos foi lindo e incólume. Me honrou em
vida e em morte, mas está na hora de se libertar de si mesmo, Collin. Limpar
seu coração da culpa e do que acha que fez de errado para que o amor possa
florescer livremente.” E continuou. “Sempre serei uma doce lembrança,
porque, antes de tudo, nós éramos amigos, cúmplices... E eu estou honrada
de, apesar da pouca vida, ter tido tempo para me acasalar com um macho
como você. Foi o mais próximo que eu poderia ter de um companheiro
prometido.” Ela ficou em pé. “Essa fêmea humana, Emmanuelle, é especial
tal qual o macho na minha frente”.
“Eu estou com medo” ele admitiu por fim.
“Ela também tem medo, Collin. Não é o único com cicatrizes”.
Pausou, e suspirou. “Se a perder, eu vou te assombrar pela eternidade”.
Ele queria rir, mas estava aterrorizado ao pensar em Emmanuelle.
Maria se distanciou, e fez uma pausa. Sua presença, de repente,
enchia o lugar. Ele encontrou seu olhar, e estremeceu com o que ele já sabia.
“Ela não é sua segunda chance, Collin”. Maria disse, pausadamente.
“Ela sempre foi a única”. O sorriso da fêmea foi gentil e adorável. “E eu,
isso aqui, é um presente para um macho teimoso e muito estimado pelo
Criador”.
Ela deslizou para ele, colocou algo em sua mão e ele apagou.
Quando acordou novamente, Collin se sentou de supetão, a vertigem
o tomou, mas rapidamente ele se controlou.
Não tinha sido um sonho, tinha?
Ele olhou ao redor, procurando por vestígios dela. Era o mesmo
lugar onde Maria estivera. Ele estava, enfim, enlouquecendo. Ele apertou os
dedos e parou, com a sensação firme, o olhar entrecerrado caindo em sua
mão.
Seu coração deu um salto.
O brilho de lágrimas encheu seu olhar fixado na caixinha de música
— agora — em perfeito estado. Emoção esticou os cantos de seus lábios.
Então, de repente, inesperadamente, ele murchou como um balão
desinflando.
Emmanuelle nunca iria perdoá-lo.
— Ainda um tolo, vejo.
Collin saltou em pé, o rugido vibrando em seu peito largo. O olhar
correu até parar no ancião sentado na cadeira de canto. O leão reconheceu o
outro leão, recuando. Milhares de anos pesando em sua expressão
inteligente.
— Guarde as garras, leão. Não há inimigos aqui.
— Quem é você?
Collin estudou as feições do macho.
— Sou Esdras, o ancião leão mais velho da nossa espécie.
— Esse é o Conselho de Raça? Por que estou aqui? Pense que
somente os alfas poderiam vir até aqui. Como cheguei?
— Não é um alfa?
— Não em atividade.
— Oh, engano nosso, guerreiro.
Collin estreitou os olhos, com a diversão do ancião.
— Está zombando de mim?
— Tenho motivos?
Esdras levantou e se dirigiu a porta, Collin o acompanhou.
Densas árvores eram como sentinelas ladeando as choupanas, mais
anciões — machos e fêmeas — espalhados ao redor. Eles não estavam
afetados por sua presença, continuando seus afazeres. Era como se não
estivesse lá.
Ele respirou fundo e sentiu pela primeira vez, estranhando, a leveza
no peito, onde antes havia uma rocha pesada sufocando-o com culpa.
— Eu a vi — ele disse, depois de um momento, andando ao lado de
Esdras na rua principal do que parecia ser uma aldeia.
— Quem, jovem guerreiro?
— Maria, minha companheira morta.
— Ah!
— É isso?
— O que espera?
— Como é possível?
O ancião deu uns passos, parou e girou, encarando-o. A sabedoria
perpetuada em seu rosto, nas feições tranquilas.
— É especial, Collin Del Rey. Sempre foi.
— Meu erro quase custou minha prometida.
— Não foi por nossa culpa, garanto.
Collin controlou a vontade de esganar o ancião.
— Tudo aconteceu como tinha que acontecer, nem para mais nem
para menos — assegurou Esdras, voltando a caminhar.
— Maria morrer de forma brutal foi o destino? — ele rosnou,
furioso.
— Maria é uma alma bondosa, que desfrutou do amor enquanto
viveu. É uma lástima o que aconteceu com ela. Todavia, há coisa que nem
mesmo nós, nem mesmo o Criador, pode interferir.
— E o que me diz de hoje?
— Para alguém tão reservado você até que fala um bocado.
Collin rugiu.
O ancião somente o olhou com desprezo.
— Sua alma, suas ações e seu coração, caíram nas graças do
Criador. Isso foi um presente. E não se esqueça, seu tempo está sendo
contado.
Collin baixou a cabeça consternado. Pura indignação.
— Como pude me enganar assim?
— Você cresceu com céticos. No entanto, sua alma sempre esteve
alinhada aos desejos do Criador. Você nunca debochou ou duvidou. Machos
podem se apaixonar por fêmeas que não são suas prometidas, se acasalar
com elas e viver uma boa vida juntos, cheia de amor. A preservação da raça
é importante.
Isso o fez pensar em Maria. Se ela não tivesse morrido daquela
forma, ele poderia nunca ter encontrado Emmanuelle.
— Decerto. Ou não — Esdras disse, espantando o macho ao seu
lado. —Prometidos tendem a se atrair, de um modo ou de outro.
— E por que são poucos?
— Nem todos são merecedores.
— Eu sou?
— Não é?
Houve uma pausa, uma hesitação.
E por fim, a rendição.
— Eu sou — ele disse, a voz grossa, respeitosa, testando o peso
das duas palavras, derramando-se em gratidão e reconhecimento.
— Sim, meu jovem. Você é merecedor. Um tanto teimoso, afinal,
algo de ruim tinha que ter. É também um bom macho, fiel aos seus valores,
honra seu bando, seu alfa. Mesmo tendo a capacidade de lutar pelo domínio.
Você compartilha o seu poder, protege inocentes, tem um coração gigantesco.
Não pede nada em troca. Não reconhecer isso, isto sim seria uma lástima.
— Obrigado. Me sinto honrado por permitirem minha presença. —
Ele olhou para o céu, sentindo-se emocionado. — Obrigado.
A gratidão lavou sua alma, uma purificação. Ele entendeu que não
se tratava de uma competição, senão de amores diferentes.
Maria era alguém especial, sempre seria.
Emmanuelle era uma parte dele, de sua alma, o presente e o futuro.
O presente inesperado.
O amor desejado que o espreitou com um disfarce irritante.
Oh, Deus, Emmanuelle...
Tanto cuidado, tanta resistência para não desrespeitar sua
prometida, para no fim fazer justamente o que evitava fazer.
Ele precisava voltar.
Uma onda de urgência borbulhou em suas veias.
Collin mudou numa explosão de euforia, o leão e o homem
conectados, alinhados em seus desejos sem a sombra do pesar ofuscando o
alerta do leão.
Ele correu de volta para Emmanuelle.
33
OS PINGOS NOS IS

Emme suspirou retardando seu temperamento enquanto a voz do


outro lado da linha derramava exigências a torto e a direita.
Ela estava um caco, à beira do desespero mesmo.
Tão miserável que nem as moscas queriam ficar perto dela.
Tão farta que só queria se enrolar em posição fetal e ficar assim.
Todas as suas intenções motivadoras caíram por Terra depois de
Caleb aparecer em sua porta. Ele não estava brincando. Havia um guarda à
espreita cuidando para que ela não fugisse. Não era uma fujona, mas tinha de
reconhecer, apesar da vergonha, que tinha sérias intenções de fugir para
Nova York, onde iria enfiar a cara no trabalho para esquecer-se do mundo.
Inútil. Tudo que podia fazer era chorar e lamentar por Collin. Se sentia
enlutada.
Ela tinha tentado, mas estava depressiva. Repassar seu último
encontro, a proposta dele, antes que tudo desandasse por ser enxerida, não
ajudava.
Ela entendeu, estava arruinada.
Não havia retorno, não havia como voltar a ser a mesma de antes.
Não quando Collin coloriu seu mundo de sua maneira peculiar, quando
encheu seu coração e sua alma com o mais puro prazer de pertencimento.
Depois de tudo, ela ainda o queria.
Ainda sentia saudades de um modo insano.
Não havia nada mais que queria, exceto que tudo tivesse sido
diferente.
Ela entendeu, com peso no coração, que nunca, por mais que se
reorganizasse, seria a mesma. Sempre haveria um buraco oco e negro, que
somente uma pessoa poderia preencher. E ela temia que não se recuperasse
nem mesmo para fazer o mínimo. No momento, suas chances não pareciam
animadoras. Se tornaria a tia dos gatos e depressiva até os ossos.
Sempre à espera de algo que nunca viria.
Ela não parecia ser capaz de superar o vendaval chamado Collin.
Ele tinha se tornado seu tudo, seu nada...
... seu mundo.
Um homem capaz de torná-la um fantoche, e ela nem estava zangada
desde que ele a tirasse da miséria. Mas, então, não era suficiente.
Ele acordou da fantasia e notou que ela não era boa o bastante.
— Você não pode fazer isso, Emmanuelle!
— Mãe, agora não é o momento — ela resmungou de volta,
perguntando-se porque diabos tinha ligado para a casa dos pais.
Ela tinha ido a cada de Trish, tentada a delatar Caleb a amiga sobre
seu convite estendido. Mas não ia arriscar a felicidade e bem-estar da nova
mamãe, mesmo que seu companheiro merecesse uns chutes no rabo.
Caleb parecia um grande pai.
Isto a fez lembrar de seu próprio. Era por isso que ela ligou para a
casa dos pais. Precisava falar com o pai, ter o conforto de suas palavras.
Não tinha tido sorte de escapar de Lucy, a mulher tinha pego o telefone no
último minuto.
— É inadmissível que você faça isso com uma mãe, Emmanuelle.
Ela é a mãe de Trish e tem todo o direito de saber onde a filha está.
— Há coisas que a senhora não sabe. Por favor, não se meta.
— Não me meter? É claro que vou me meter. Ela é minha amiga.
Seja lá o que houve entre elas, Doratella tem o direito de tentar se redimir. E
nem você, nem ninguém pode lhe tirar disso.
Sua mãe continuou soltando os cachorros, nutrindo sua irritação.
— Você não se importa, não é mesmo? Não é de se estranhar. Partiu
e nos deixou aqui, mal atende uma ligação minha ou de seu pai. Nos deixou
para morrer, Emmanuelle. Para morrer!
— Chega, mãe! — ela gritou se descontrolando.
— Como ousa?
— Como ousa? Como a senhora ousa me encher de exigências
sobre um assunto que não é da minha conta e, definitivamente, não é da sua?
Você, mãe? Por favor! A senhora nem conhece o conceito. Nem sequer
perguntou como estou. Nunca fez. Nunca se preocupou verdadeiramente,
exceto se eu estava fazendo o que a senhora queria. Isso, para sua nota, não é
ser mãe, porra.
— Emmanuelle.
— Pare, somente pare! Pare de me cobrar, de me espezinhar. Eu
nunca fiz nada para merecer isso, ainda assim, você nem se dignou a pensar
em como suas ações me feriram. E quer saber? Eu terminei com você de uma
vez por todas. A partir de hoje se quiser falar comigo, por favor, seja gentil,
se preocupe real. Não ligue para me cobrar de coisas das quais não tenho
controle.
— Você é uma filha ingrata.
— E farta. Nem lembro a última vez que disse que me ama. A
senhora só ligou para tirar satisfação sobre algo que não é da nossa conta. E
quer saber o que mais? Trish está ótima! Diga isso a filha da puta da sua
amiga, que foi pega na cama da própria filha fodendo o seu noivo. Adivinha,
mãe? Doratella não é santa! Trish encontrou alguém bom, honesto e leal, que
a ama profundamente. E isso não é da conta de Doratella, aliás, se quer dizer
algo a essa cobra, diga para ela cuidar própria vida e esquecer de Trish, se
ela sabe o que é bom para ela.
— Isso é uma ameaça, Emmanuelle?
— Entenda como quiser. Eu tenho que desligar. E por favor, quando
falar comigo guarde as cobranças para si mesma. Ou não iria atendê-la mais.
Ela não esperou uma resposta, não precisava.
Sua mãe não mudaria, nem ela.

xXx
Collin encontrou Caleb no topo da escada do alpendre. Não
encontrar Emmanuelle no chalé quase rasgou sua razão.
Ela tinha partido?
O pensamento horrendo o levou de joelhos, rugindo em uma agonia
nunca sentida. O leão o colocou em pé. Ela não tinha partido, ainda estava
lá. Podia senti-la. A sensação era um pulso violento de urgência. Queimava.
Obrigando o coração a bombear seu sangue mais rápido, incitando a ir até
ela.
Ele então tinha dado a volta e corrido para a casa do alfa.
Collin parou nos pés dos degraus, mas não fez menção de subir.
— Ela está com Trish. Minha filha nasceu. Ava.
— Quando?
— Depois do julgamento.
— Parabéns. Que o Criador despeje bençãos em sua cria.
Caleb anuiu.
— Onde esteve?
— No Conselho de Raças.
— Como?
Collin limpou a garganta e suspirou, deixando transparecer o
cansaço agora que a adrenalina não estava mais o mantendo ligado no 220w.
Ele explicou a Caleb que depois de seu encontro com Emmanuelle e
o ocorrido com a caixa de música, ele tinha corrido a exaustão, até ser
levado pela inconsciência. E acordou no Conselho de Raças. Contou-lhe
então, tudo que se sucedeu depois. O alfa escutou sem se alterar, em silêncio
ponderado.
— Estava certo, Caleb, Emmanuelle é minha prometida.
— Ela é sua segunda chance?
— Ela é a única — confessou ele. — Sempre foi ela.
Caleb coçou o queixo, pensativo.
— Como pôde se enganar assim? Seu leão não o alertou?
Collin elucidou sobre o ceticismo de seu bando em relação aos
prometidos. Nunca tivera um desses no bando. Quando filhote, ele tinha
ouvido sussurros aqui e ali, e ansiou por esse amor. E uma vez que conheceu
Maria, a paixão avassaladora que sentiu por ela, facilmente o fez acreditar
que a fêmea era única. E de certa forma, para ele, naquela época, ela era
única.
— Meu leão fez de tudo para me abrir os olhos. Eu não podia estar
longe dela por mais que resistisse. Eu quis... desafiá-lo para estar com ela.
Surpreendeu Caleb. Não a franqueza do macho, mas a força da
atração que o drukāt exerceu para que o leão de Collin cogitasse o desafio.
— Ela sempre foi minha — Collin repetiu, pausadamente,
experimentando a declaração na língua. — Eu estava chafurdado na culpa e
na confusão que sentia. O orgulho e a honra guiam minha espécie. Eu não
podia suportar não ter protegido Maria, a quem acreditei ser minha
prometida. E depois estar emocionalmente envolvido e ligado a outra fêmea,
sentindo mais do que jamais senti.
— Collin...
— Eu sei — ele engoliu o nó. — Não foi minha culpa.
— Posso entender porque negou-se tanto. É um macho nobre,
Collin. Que pensou que estava desonrando sua prometida. Mas vê? Não dá
para negar nossa prometida, sobretudo, quando o drukāt está agindo na
fêmea. Faz sentido que o cheiro estivesse mascarado. A magia é diferente
para cada casal, adaptando-se as necessidades, principalmente, as
dificuldades.
— Fui tolo.
— Não tolo, honrado. Talvez um pouco teimoso.
— Eu a magoei em nosso último encontro. — Fez uma pausa e
lançou um olhar para cima na casa do alfa. — Ela não vai me perdoar.
— Ela irá. Não há alternativa.
— Não vou forçá-la, Caleb, mesmo que tenha de lidar com as
consequências da rejeição. Ela tem uma vida na cidade grande.
— Não vai deixá-la ir.
— Eu... — Collin parou, estreitando os olhos. — O que é? Diga.
Caleb mudou-se, encostando com o ombro na coluna de madeira.
— Como era quando faziam sexo? Quando gozava?
— Onde quer chegar com isso?
— Eu nunca tinha dado nó com outra fêmea, até Trish. Ela estava no
controle de natalidade. Ainda assim, meu esperma provocou sua ovulação.
Choque pintou as feições de Collin.
Caleb sorriu de canto, a sobrancelha escura arqueada.
— Você nunca se preocupou com uma gravidez, não é?
— Não era uma possibilidade — Collin sussurrou, cético.
— Não cheirou a ovulação nela?
— Meu leão — ele rosnou depois de um tempo.
Deu-se conta que enquanto resistia, o animal cuidou para que ele
entrasse nos trilhos. O leão não estava lutando contra ele, mas com ele.
Collin tinha pensado que estava em desequilíbrio com seu animal
quando, na verdade, estavam se alinhando. O leão, sentindo suas reticências
e luta, o manipulou. Preparando. Escondeu o odor dela, deixando às cegas
porque sabia o que iria acontecer. Era inevitável. Deu-lhe pequenos gostos.
Marcou-a, primeiro no seio. E depois, mais enredado pela fêmea, ele a
marcou no ombro.
Em algum momento, em segredo até de si mesmo, ele reconheceu
que com Emmanuelle era diferente. Que ela era especial para ele. Ele a
queria tanto. Falava sério quando lhe propôs tentarem algo mais firme. E,
ainda assim, ele se negava porque admitir o que achava que era sua culpa e
desonra, o envergonhava profundamente. E lhe amedrontava, pois não queria
perdê-la. Não queria parecer fraco e infame para Emmanuelle. Ele queria
merecê-la. Estar com ela. Mostrar-lhe que era confiável. Ele não iria falhar
com ela.
Ele buscou razões para estar com ela, mesmo quando fazia o
contrário.
O homem tinha sido tão tolo.
— Eu a mordi. Não podia controlar o impulso de marcá-la. Por um
tempo só marquei seu peito, mas quando a montei, não pude me controlar.
— Nada mais?
— Meu ferrão saiu... — Sua voz foi morrendo.
Collin encarou Caleb, com desconfiança.
— Sabia que isso podia acontecer?
— Não sabia sobre o ferrão, obrigado por compartilhar. — Caleb,
deliberadamente, ignorou seu rosnado. — A gravidez era inevitável.
— Besteira! — grunhiu, zangado.
Caleb deu de ombros e enfiou uma mão no bolso da frente da calça.
— Eu tentei falar com você, Collin. Não é minha culpa que nunca
me ouviu. A gravidez te forçaria a ver a razão.
Collin rosnou.
— Você vai entrar?
O shifter-leão lhe lançou um olhar de cara fechada. E depois,
encarou a porta por um longo, muito longo, tempo. E de volta ao alfa.
Ele mudou para a forma animal, dando a Caleb uma encarada.
Surpreendendo-lhe ao ver o dourado quase cobrindo todo o azul etéreo.
O alfa sorriu, satisfeito com o que via, e anuiu.
O leão fez um sutil maneio com a cabeça e, em seguida, partiu.
Horas mais tarde, Collin fixou o olhar na porta. O coração
retumbando tão forte que parecia que a coisa iria atravessar a pele.
34
SEJA MINHA
Batidas insistentes arrancaram Emme dos lençóis.
Ela tinha passado dias miseráveis enrolada na cama em posição
fetal, depressiva e sem vontade para nada, exceto chorar de tristeza. Os
lábios e o rosto estavam inchados. Marcados pelos dias horríveis, sugando
sua vida.
Ela esperou, com ânsias, que Collin aparecesse.
Ela esperou abrir a porta e se jogar em seus braços.
Ela esperou e esperou, esperou...
E cada segundo foi angustiante, roubando a alegria que as palavras
de Caleb injetou nela. Era a companheira prometida de Collin...
Ela tinha alguém especial só para ela. Único.
... E ele não a queria.
Indo até a porta, ela abruptamente ficou em alerta, a adrenalina
queimando em seu sangue fez seu coração bombear mais rápido. A sensação
tão forte, tão desesperada, que a deixou sem fôlego. Uma urgência
descomunal se avolumou dentro dela. A antecipação crepitando em seus
ossos.
Sua temperatura corporal aumentou, as mãos suando frio.
— Emmanuelle, por favor, abra.
Ela travou, paralisada.
Era ele mesmo?
Collin estava em sua porta?
— Emmanuelle, eu sei que está aí — ele rosnou, numa misto de
apelo e de irritação, que fez seus olhos estreitarem. — Abra, cariño.
Ela se aproximou lentamente encostando na porta como se fosse seu
bote salva-vidas. Ela fechou os olhos e respirou profundamente.
— Eu sinto você.
Era ele mesmo.
— Eu vivo você.
O timbre, a rouquidão em sua voz, expandiu seu coração.
— Por favor, Emmanuelle, me deixe entrar.
Ela puxou para trás e encarou a porta, ponderando.
Sempre uma porta. Atrás dela, Collin, pedindo para entrar. Risque
isso. Ele não pedia. Ele estava lá, e ela se entregava sem reservas porque
não importava o quanto negasse ou estivesse brava com ele; quanto sua razão
a advertisse sobre os perigos de continuar abrindo a porta para ele,
engolfada em seu prazer. Enganando-se. A paixão sempre ganhava.
Emme o queria tanto.
Era um querer tão fundo e violento quanto sua vontade de viver.
E ela sentia saudades de tudo.
Do toque incendiador.
Do beijo fantástico.
Do quanto era reativa com ele.
Da loucura deles.
Do furor alucinante.
Da conexão quando faziam amor e fodiam a exaustão.
Estava louca e perdidamente apaixonada por um homem que
compartilhava tudo com ela, exceto o coração.
E mais uma vez, ele pedia para entrar.
Emme, enfim, entendeu. Ela sempre permitiu sua entrada na
esperança de que ele devolvesse a gentileza. Ela queria morar nele, criar
raízes em seu coração, usar sua alma de atmosfera e respirar ele.
Agarrou a maçaneta e abriu a porta.
A visão para sempre estaria gravada em seu coração.
A expressão determinada, os olhos azuis iluminados com lágrimas e
afogueados com um querer que ela nunca viu nele antes. Não mais
eletrizantes. Eram olhos quentes e apaixonados. Livres. Brilhando com
amor... para ela.
Ele era o pecado e a perdição encarnados.
A imagem do amor.
Do que ela mais queria.
Ele estendeu um objeto para ela. A caixa de música. Ela hesitou,
mas, enfim, pegou com cuidado, avaliando com atenção.
Ela encrespou as sobrancelhas.
— Não está... quebrado — ela disse a última parte olhando para
ele.
— Maria me deu — ele disse baixinho. — Eu a vi. Falei com ela.
Emme engoliu à seco, tentada, mas com medo de perguntar.
— E agora está aqui... Ela te mandou aqui?
— De certa forma.
— Entendi. — Ela assentiu, enrolando os lábios para dentro da
boca, o nó na garganta mais apertado. — Então só está aqui porque ela
pediu.
— Estou aqui porque quero, porque é onde devo estar.
— De verdade?
— Eu não vou mentir para você, Emmanuelle — ele disse sério. —
Ver Maria me trouxe paz e alívio. Eu não pude me despedir, precisávamos...
O que estou dizendo? Eu precisava de um encerramento adequado.
— E você teve isso?
— Sim, eu tive. Ela foi minha amiga antes de ser minha
companheira, e saber que ela está bem e que torce por nós, tirou um peso do
meu coração.
Eles se encararam, estendendo o momento.
— O que está fazendo aqui, Collin? O que está pedindo?
— Estou pedindo para entrar, cariño.
— Eu sempre deixei. Então, seja específico.
Emme engoliu, inquieta com a intensidade e deu um passo para trás
conforme ele se adiantava para ela, fechando a porta atrás de si sem encostar
nela.
Ele a prendeu em seu olhar, as mãos em seu rosto.
— Eu estou pedindo para entrar e bagunçar sua vida, Emmanuelle.
Estou pedindo para entrar e mudar a sua vida. Levá-la comigo e construir um
lar. — Os polegares dele limparam abaixo de seus olhos. — Estou pedindo
para entrar onde sempre quis estar, onde sempre pertenci. Com a minha
prometida. Mas antes, estou pedindo..., implorando, ainda que não mereça,
que me perdoe por ter sido desprezível com você e te machucar com a minha
covardia.
— Está falando sério? Por quê? Por que agora?
— Não é agora. Sabe disso. Eu falei sério quando disse que te
quero.
— Você correu e me deixou sozinha — ela disse magoada. — Eu
pensei que nunca mais iria vê-lo, que me odiava por ter quebrado seu
presente.
— Tente amor, não ódio. Tente aquela parte que te querer da forma
que faço, me assustou porque é maior do que tudo que já senti na vida..., do
que senti por Maria. Não há comparação. E quando a provei e a fiz minha,
comprovando o que meu leão e eu próprio sabia, mas me negava a acreditar.
Não porque você não valesse a pena, porque você valia, Emmanuelle, você
vale tudo. Minha crença contava uma história diferente. Isso me fez sentir um
pária, pois, supostamente, eu não devia amar ninguém além da minha
prometida... além de você.
Ela lhe devotou um olhar cheio de brilho e expectativa.
— Tente o eu te amo, porque eu amo, Emmanuelle. Amo tanto que
não posso respirar longe de você — ele disse numa explosão apaixonada.
— Isso é uma... confusão.
— Não foi pela caixinha, Emmanuelle. Eu estava vulnerável com a
perda do bando. E quando vi a caixinha quebrada, eu desabei. Não corri de
você, cariño. Corri de mim mesmo, da bagunça que me tornei. E que, para
ser honesto, não sabia como arrumar porque estive cego por muito tempo.
— Cego com o que, Collin?
— Eu sou um leão. Minha vaidade é meu orgulho. E o meu orgulho
é a minha honra. Minha honra é o meu dever. Isso, às vezes, pode ser mais
forte do que eu mesmo. Eu preciso acreditar que sou capaz, que posso
proteger quem amo. Eu pensei que tinha falhado com Maria. E falhar com ela
significava...
—... Falhar com você.
— Mais precisamente com a minha honra e dignidade.
— Baby, não dá para salvar o mundo.
— Eu sei, cariño. E eu espero que tenha paciência comigo porque,
apesar de ser um centenário, ainda estou aprendendo a lidar com isso.
— Você sabia que éramos companheiros prometidos?
Ele assentiu e atraiu, levando-a para cama e manobrou até que ela
estava em seu colo, de frente para ele. A proximidade acalmando o leão de
Collin.
Emme deixou a caixinha ao lado sobre os cobertores bagunçados.
— Nós não éramos, nós somos.
— Não entendo, baby — ela murmurou, confusa. — Se sabia que
somos prometidos, então por que tentou me afastar de você?
— Eu estava cego, Emmanuelle. E me custava acreditar que tinha
me equivocado tanto sobre minha companheira prometida. Não apenas isso,
eu estava chafurdado na culpa que sentia pela morte de Maria. E só me
restava honrar suas memórias. Não podia entender como tinha sobrevivido a
perda dela, principalmente depois que conheci os casais de companheiros
prometidos do bando daqui. Neste ponto, eu estava crente que era um
exemplo de desonra. Isso me matou.
— É o chefe-executor... Não me olhe assim. Eu fiz a tarefa de casa.
Caleb me explicou que sua principal função é a proteção de Snowville.
— Isso está certo.
— Um macho desonrado teria esse trabalho?
— Eu fui tolo e teimoso.
— É muito duro com você mesmo, Collin.
— Sei disso, cariño. — E continuou. — Estive morto, até que você
surgiu naquela estrada bagunçando aqui dentro. Eu renasci com você, e isso
me endoidou. Eu não me achava digno de nada bom e você parecia tão
brilhante.
“No momento em que te vi, você foi cauterizada em meu cérebro,
em meus ossos. Você estava comigo o tempo todo. Eu estava irritado, não
com você, mas comigo mesmo, por te desejar mais do que quis aquela que
acreditei que era única para mim. E não estou dizendo que Maria não foi
especial, porque ela foi e ela sempre será. Mas você, Emmanuelle, é única.
É tudo que queria em segredo, mas acreditava que não podia ter. Um macho
desonrado como eu não deveria ter acesso aos prazeres de uma fêmea. Não
podia arriscá-la”.
— Collin, você nunca me machucaria.
Ele sorriu triste.
— Eu fiz, não fiz? Nós dois sabemos que sim.
Ele encostou a testa na dela, os olhos fechados quando respirou
fundo.
Ela envolveu a cabeça dele nas mãos, chorando baixinho.
— Eu me enganei tanto, Emmanuelle.
Collin beijou seus lábios. Beijos molhados e barulhentos, que se
transformaram num único beijo, longo, apaixonado e paciente. Incendiando
seu corpo. O coração tão inchado, tão grande, que não cabia no peito.
— Quero amor, Emmanuelle. O para sempre. Alguém para
compartilhar a vida comigo. Para ser meu lar e eu o dela. — Ele capturou
seu olhar, deixando transparecer sua natureza singular; homem e leão
alinhados, olhando-a com entrega e devoção. — Esse é o tipo de cara que
sou, Emmanuelle.
— O meu tipo favorito. — Ela sorriu de orelha a orelha, a
felicidade limpando as sombras de seu coração. E depois ficou séria. —
Esses quatro dias longe de você foram os piores dias da minha vida, Collin.
Eu posso não te negar, mas isso não significa que não estou com raiva e
magoada. E eu estou muito dos dois.
— Eu sei, cariño. Eu posso ser estúpido às vezes... Perdoe-me. Eu
nunca quero te ver triste por minha causa outra vez.
— Eu sou sua prometida — ela disparou.
— Você é — ele confirmou, emocionado, os olhos cintilando com
lágrimas derramadas. — E eu vou honrá-la cada dia de nossas vidas.
— E eu vou honrá-lo de volta e chutar seu rabo quando me
aborrecer.
Collin riu, apertando os braços ao redor dela e a beijou.
— Sou louca por você, bruto.
Ela se agarrou a ele, bombardeada pela emoção, se arrastando para
cima dele. Esfregando a boceta no cume duro de sua virilha. Ela gemeu
contra os lábios masculinos. Ele ronronou, agarrando sua bunda, colocando
ainda mais pressão na fricção deliciosa. Urgência queimou em seu sangue.
Ela se afastou para recuperar o fôlego, apanhada pela intensidade faminta de
seu corpo.
Ele a colocou em pé, e depois se levantou em sua altura na frente
dela.
Ele rasgou a camisa, e depois a calça se juntou a pilha de trapos.
Não usava cueca. Seu pênis impressionante pulsou livre. Uma onda de calor
se quebrou nela, ondulando por suas veias e pulsou em clitóris latejante. Ela
percebeu então quão molhada estava por ele. Sempre quente. Sempre
escorregadia.
Emme começou a puxar a camiseta, e depois a calcinha.
Diante do brilho predatório no olhar dele quando ficou nua, ela se
encheu de determinação e outro sentimento que não podia distinguir.
Sentiu-se poderosa, no controle... e desafiadora.
— Se eu fosse mais jovem e imatura, deixaria minha dor e raiva
tirar o melhor de mim. Posso ser muito rancorosa, Collin.
— Vou lembrar disso, companheira — ele murmurou, com diversão.
Ele a içou, e suas pernas enrolaram na cintura dele.
— Eu ainda estou magoada.
— Eu sei, cariño, vou resolver isso também.
Ele se moveu para a cama, a urgência dele espelhando a sua
própria.
— Mas agora. — Suas costas pousaram no colchão. — Eu preciso
de você, Emmanuelle. Preciso sentir sua boceta me apertar, gozar gostoso
pra mim.
— Você nem sequer cogitou que eu te negaria?
— Prometidos são o que são, por que iria me recusar se sou seu?
Ele perguntou, mas não parecia interessado na resposta já que os
lábios dele começaram a explorar sua pele. A respiração dele pegou em sua
garganta, os beijos se derramaram por seu pescoço, a curva do topo dos
seios antes de pegar os mamilos. As costas de Emme curvaram, e ela gemeu.
— Porque... porque eu estou... Oh, Deus... brava...
Ele sorriu em sua pele.
— Brava o bastante para recusar isso?
Os dentes mordiscaram de leve a marca que ele deixara em seu seio
e a língua acalmou. Os músculos de seu estômago se apertaram e suas coxas
estremeceram quando ela convulsionou na cama.
Gritando. Abandonada no prazer.
Ela não podia ter acabado de ter um orgasmo só porque ele brincou
com seus seios, certo? Sua boceta encharca e pulsante disse outra coisa.
— Oh, por favor, cale a boca e me foda. — Ela encontrou fôlego
para resmungar de brincadeira, ante o olhar convencido dele.
Ele desceu a boca e todo o resto sumiu.
A luxúria fez o sangue de Collin ferver. Seus testículos contraírem e
seu pênis se expandiu endurecendo ainda mais. Ela era tão responsiva, tão
dele.
A urgência de se acasalar disparou através de sua espinha.
Ele precisava tomá-la.
Fazê-la dele inteiramente. Completamente. Verdadeiramente dele.
O leão rugiu de felicidade, seu corpo cantando com prazer.
Com o reconhecimento dela, sua aceitação.
Tome-a. Submeta.
Collin cerrou os dentes, controlando-se. Ele queria mais que um
sexo rápido. Primeiro, queria acariciar, beijar cada centímetro, fazer com
que ela derretesse em seus braços. Refém da sensualidade e necessidade
ardente.
Ela estava só um pouco inchada, mas molhada. Muito, muito
molhada. A nata escorrendo da abertura até o ânus, revestiu os lábios
vaginais.
Seu pau repuxou. Ele precisava ser tocado.
Rosnou em frustração.
Se Emmanuelle colocasse as mãos nele, ele perderia o controle.
Suas mãos apertaram o traseiro dela. Ela gemeu como uma gatinha
dengosa e esparramou as pernas ainda mais. Convidando.
O odor irresistível dela se espalhou ao redor dele e o seu próprio
aumentou. Envolvendo-os. Especiarias escuras. O cheiro deles.
Minha. Todinha minha. Nossos.
Collin tinha que prová-la.
Ele beliscou o clitóris dela. Ela gritou e apertou as coxas contra o
rosto dele. Mais uma vez, ela gozaria. E ele estava ansioso para beber dela.
Ele encaixou os lábios em volta do feixe de nervos sensíveis e
trabalhou sua língua, seus lábios, a pressão certa das chupadas.

O corpo dela estava tão quente, tão necessitado para chegar ao


clímax. E quando quebrou em outro orgasmo, as costas saindo do colchão,
ela sorriu.
Pequenos espasmos percorriam as extremidades de seus membros.
Collin seguia lambendo sua vagina, seu prazer, como se fosse o
doce favorito dele. Sob a respiração errática, o coração ainda batendo com
violência, ela o encarou. Ele levantou o olhar sensual de seu sexo para os
seus olhos.
— Vem aqui, leão — ela pediu com dengo.
Ele ronronou, o som excitante alargando seu sorriso.
Ele se moveu como o gato que era, as coxas abrindo as suas, que as
espalhou mais abertas para a acomodá-lo. O brilho de alegria em seus
ardentes olhos azuis era inconfundível. O contorno dourado mais acentuado.
A ponta grossa encontrou a abertura de sua boceta e ele empurrou
para dentro enquanto a beijava profundamente. Bebendo seu gemido.
Collin rosnou em sua garganta. O som excitante batendo dentro dela,
disparando sensações para as suas veias, tocando as pontas de seus nervos.
Deixando um rastro erótico de puro desejo. Ele rasgou a boca para o lado.
— Minha — ele rosnou na orelha. — Você é minha.
O beliscão em seu pescoço a tirou da neblina sexual em que estava.
Um segundo beliscão, mais forte, a obrigou a agir. Emme impulsionou, e ele
a deixou ir, girando para que ela o montasse. Ela olhou para baixo, as mãos
espalmadas no peito forte, unhas cravadas na pele como um castigo.
Ela estava selvagem, desinibida, tomada pela lasciva e o desejo
agressivo de tomar aquele homem e marcá-lo para sempre.
Os olhos dele estavam escuros, o azul naquele tom profundo,
mudando rapidamente para uma intensidade dourada, que deveria ter
assustado, mas a deixou com mais tesão. Inundou seu núcleo de necessidade.
Ela agarrou uma das mãos em seu quadril, recusando a picada suave
em sua pele, e trouxe a mão dele por seu corpo. Usando a sua própria como
guia, deslizando pela barriga até o seio inchado, para a marca latejante. Ela
mostrou o que queria, e deixou a cabeça cair para o lado, deliciando-se com
a sensação do aperto possessivo da mão dele. Ele esfregou a palma e
beliscou o mamilo.
Ela balançou para frente para trás, alternando os movimentos, com
cavalgadas. Girando os quadris com um rebolar lento e sensual.
Gemidos se derramaram de seus lábios.
— Tão bom, Collin... Você é tão perfeito, baby.
A mão masculina, inesperadamente, envolveu seu pescoço e a
trouxe para baixo, aproximando seus rostos. Ela abriu os olhos pesados com
o tesão.
— Submeta-se.
Faíscas douradas dominaram os olhos tempestuosos dele.
Ela o encarou, recusando-se. Ele ficou puto, a briga no olhar, mas
ela sabia que ele não a dominaria a força. Ele rosnou para ela.
Emme se sentiu estranhamente travessa.
— Submeta-se você, companheiro — ela disse, a voz rouca e
erótica como nunca ouviu. — Eu vou te montar, drenar esse pau grosso e
gostoso em minha boceta e te fazer meu... Ou talvez, eu o faça implorar um
pouco.
Puxando-a, Collin cobriu sua boca com a dele em um beijo duro,
exigente e delicioso. Era possessivo. Dominante. E tirou uma resposta
bestial de sua alma, que ela nunca soube que existia. Ela separou a boca
dele. Malícia iluminou seu olhar e, em seguida, seus lábios desceram, a boca
aberta quando ela fez o impensável, afundando os dentes no ombro dele com
toda a força. O leve gosto de cobre inundou sua boca. Ela ficou mais afoita,
possessiva.
Meu. Meu. Meu. Todinho meu. Só meu.
— Minha! — Ouviu-o rosnar, mas não tinha certeza, enredada pela
sensação sufocante, uma combustão completa e incendiária.
Emme se sentia sexy, muito selvagem, e adorou.
Provou seu sangue, o aperto poderoso das mãos dele segurando as
bandas de sua bunda para as apunhaladas fortes, até que ele explodiu dentro
dela.
Prazer rolou sobre ela, os olhos revirando, com a sensação do
esperma quente jorrando dentro de sua boceta, a picada em seu útero. A luz
ofuscante brilhando com densidade, o fio dourado mais forte do que nunca.
Foi rápido, um vislumbre. Collin estava lá, então a estava beijando.
O ar pesou entre eles.
A atmosfera era puro erotismo.
O cheiro de sexo, suor e paixão enchendo o ar.
Ele os girou, ficando em cima dela e meteu dentro outra vez.
Suor escorria de seus corpos, ajudando-os a se mover juntos, a
fricção da pele deslizando onde se tocavam. Quando ela pensou que
morreria, porque não importava o que fizesse, ele sempre a deixava na
borda. Ele desacelerou, erguendo-se nos braços. E os mudou de posição
novamente, colocando-a de quatro na frente dele. Seu pênis mergulhado até
as bolas. Emme ficou tonta.
— Collin... Oh, meu Deus! — ela gritou, a mão balançando
cegamente para trás, até que ela encontrou seu braço, fincando as unhas nele.
Collin pegou um punhado de seu cabelo e puxou, fazendo-a se
curvar. A boca raspou sensualmente pelo pescoço, beliscando o mesmo
ponto nela onde ela o havia mordido. Enviou disparos de sensações que
eram como correntes elétricas deixando a beira do colapso. Sussurrando
palavras quentes, tudo que ia fazer com ela, prometendo alturas que ela
nunca tinha sonhado.
Emme dobrou a cabeça para o lado e fitou os olhos dele; homem e
leão a fitou de volta com apreciação, devoção... e amor.
Ela sentiu a promessa de para sempre se agarrar aos seus ossos.
— Sua — ela se viu sussurrando.
Um prazer descomunal tomou seu corpo, e o pênis dele pulsou em
sua vagina. Collin a olhava com pesada luxúria queimando em seu olhar.
Possessivo. Primal. Ele era perigoso. Intenso. Altamente excitante.
— A quem você pertence, Emmanuelle?
— A você, Collin. Só você.
Ele puxou e bateu forte, novamente.
Ela gritou, as unhas tirando sangue dos braços dele.
— Me aceita como seu companheiro para honrá-la e cuidá-la? —
Ele aproximou a boca da orelha. — Para amá-la e fodê-la sempre que
desejar? Em qualquer lugar? Em qualquer hora?
— Sim! Meu Deus, Collin, eu aceito. Agora, faça...
— O quê?
— Qualquer coisa — ela chorou, não entendendo o próprio
desespero.
— É minha, Emmanuelle. Me pertence. Sempre será minha. —
Estocada. — Eu vou mantê-la. — Estocada. — Cuidar de você e nossa
prole. — Estocada. — Sempre.
Emme estremeceu quando ele a estirou e encheu ao limite. Ela
arqueou e ele deslizou mais fundo. Metendo forte, rápido. O aperto final de
seus músculos internos foi demais. As presas dele se afundaram em sua pele,
travando a mordida, quando ambos foram arrebatados num orgasmo atômico.
Arfante, com lágrimas escorrendo pelas bochechas coradas, Emme
relaxou contra o corpo masculino poderoso vibrando contra ela.
Desta vez, o ápice foi diferente. A tensão cresceu a tal ponto, que a
luz a cegou. Ela, de repente, estava caindo num mar de sensações com ele.
Ela não precisava ver com os olhos.
Ela enxergou com a alma, com o próprio coração.
Collin estava lá, mantendo-a, segurando.
E algo mais que espetacular ocorreu, a linha, como um fio de ouro,
os enlaçou juntos num nó que ela sabia que nunca poderia ser desfeito.
Ela se vinculou a ele e ele se vinculou a ela para todo o sempre.
E além.
Epílogo
7 ANOS DEPOIS

Emme atravessou a sala e sondou através da janela. Lá fora, a


primavera reinava soberana. Não nevava. O sol da meia-noite brilhando no
céu limpo.
Nada de seus filhos ou de seu homem.
Não bastasse três filhos lhe dando cabelos brancos e rugas
imaginárias. Ela podia não estar mudando muito fisicamente, seu envelhecer
retardado graças ao seu acasalamento com seu prometido, mas mentalmente
os trigêmeos estavam roubando um pedaço de sua mente. Eles estavam
terríveis. O rugido de Collin sempre os colocavam na linha. Se bem que
quando ela berrava em seu limite, as crianças corriam para a proteção do
pai. Ela não era uma shifter, mas podia ser uma leoa feroz quando estava
aborrecida. Fato que divertia Collin.
Eles tinham tido dois meninos e uma menina.
Callum, Nix e Zara.
Não bastasse a fase louca, eles também alcançaram a fase da
primeira mudança. Seu alívio era saber que Collin estava lá para eles.
Se lhe dissessem anos atrás que teria filhos com um ser
sobrenatural, e que seus filhos também fariam parte do conto de fadas, com a
habilidade de mudar de forma para pequenos leões peraltas, ela teria rido.
A gravidez a tinha pego de surpresa. Bem verdade que ela quase
tinha hiperventilado enquanto Collin borbulhava de felicidade.
Ele tinha sido terrivelmente presente.
Tinha então entendido Trish quando reclamou de Caleb e sua
proteção. Collin era pior. Mas dado a situação, tudo que ele tinha passado,
os equívocos que o fizeram caminhar pelo inferno por mais de duas décadas,
o que eles tinham vivido. Ela lhe deu essa colher de chá. Ela não iria se
rebelar porque Collin ainda estava aprendendo a lidar com seus equívocos.
Se a felicidade estava batendo na sua porta, Emme iria abrir a danada, com
um sorriso nos lábios.
Ele tinha viajado com ela para Nova York.
Não foi difícil entregar seu apartamento e pedir demissão.
David, na época, tinha tentado dissuadi-la a ficar, trabalhar em
home office, e por um tempo funcionou. Mas dado as novas condições e
incertezas no caminho, tinha decidido que seria melhor não haver um vínculo
empregatício.
Ela então tinha começado um novo emprego, como escritora de
fantasia, independente. Era o emprego perfeito. Não que ela esperasse ter
tempo de sobra com três crianças. Mas Emme não estava sozinha, Collin
estava lá.
Ela fizera trocas que couberam em suas escolhas.
Não havia sentido recusar seu próprio conto de fadas.
Saindo da varanda, Emme andou ao redor da casa, seguindo o
caminho do jardim, que ela tinha tentado fazer, antes de ceder a oferta de
Collin para construir uma estufa, onde poderia jardinagem e ter um espaço
zen só para ela. E para Collin quando queriam fazer suas próprias
traquinagens e escapar dos trigêmeos.
Mais à frente, depois da garagem e arbustos, ela os viu. Collin
estava em sua forma animal, deitado de lado na neve. Enquanto os filhos —
pequenos filhotes —, pulavam ao redor e em cima dele, fazendo os pequenos
sons adoráveis.
A visão sempre a impactava enchendo de amor.
Sua família era peculiar, para dizer o mínimo. Única tal qual ela
era. Ela não poderia imaginar melhor e mais deliciosa existência do que
essa.
Era possível se apaixonar todos os dias pela mesma pessoa?
Querer tanto essa pessoa que estar com ela era uma necessidade
maior do que qualquer outra necessidade básica de sobrevivência?
Collin supria tudo.
Collin era tudo.
Seu. Todinho seu.
— Callum, Nix e Zara, já pra casa!
Os filhotes correram até ela, pulando em volta, brincando.
— Nada de brincar agora — repreendeu. — E sem arranhar, Nix.
Mamãe tem a pele sensível... Callum... — Ela abaixou para pegá-lo quando
ele cravou as presas na sua perna. Emme o segurou na linha de seus olhos.
— Eu não sou o seu jantar, rapazinho. E se morder de novo, ficará de
castigo. Os três.
Ela colocou o filhote no chão e aferrou as mãos nos quadris.
— Para dentro e para o banho. Agora — ela disse, usando o tom
baixo, mas autoritário, que não aceitava recusas e birras.
Eles rosnaram chateados, e depois correram em direção a log
house.
Ela descobriu anos atrás, quando se acasalaram e decidiu viver em
Snowville, que Collin não mentiu. Ele não tinha problemas com dinheiro.
Era rico, muito rico. Ocorre que Collin tinha economizado ao longo de seus
séculos quase a totalidade de seus ganhos, aplicando os ativos em
investimentos rentáveis. Que faziam dele um homem muito, muito rico. Ele
não tinha precisado de muito para viver quando se fustigava pela culpa,
proibindo-se de pequenos prazeres.
E quando decidiram construir seu lar no mesmo lugar em que sua
antiga cabana ficava, Collin não poupou. Emme não se importou de estar
mais afastada, preferia assim. Era uma construção opulenta de dois andares.
Os membros do bando tinham ajudado para que a casa ficasse
pronta antes que os bebês nascessem na noite mais longa do inverno.
Um mês antes dos trigêmeos nascerem, eles tinham se mudado.
Seu homem tinha se privado de muita coisa por acreditar na besteira
de não ser digno. E ela, desde que se acasalaram, tinha feito de tudo para
mimá-lo, e fazê-lo se sentir especial simplesmente porque podia. Porque
queria.
Emme olhou para Collin, cruzou os braços contra os seios e
esperou.
O leão levantou e caminhou para ela. No meio do caminho, a névoa
o ondulou, dissipando, quando se aproximou dela e o homem surgiu nu.
— Você deveria ter levado as crianças para caçar e de volta para
casa.
Collin lhe deu um sorriso sedutor.
— Eles estão em casa, cariño.
— Não lembro de a mudança ter sido tão dura para Trish como é
das crianças pra mim — ela resmungou, com um bufou.
— Você não viu direito — disse Collin, segurando seu rosto para o
beijo dele, deixando-a derretida e sensível. — Ela tem Lee.
— Oh, sim. — Emme riu. — Graças a Deus construímos longe.
— Os filhotes a adoram.
— É claro que eles amam. Ela é maravilhosa... e louca. Ela pensa
que tem um mini zoo. Viu o que ela fez com Ava? A garota parecia a porra
de um unicórnio. Qualquer dia desses ela pega os trigêmeos e os apresenta
como Simba.
Collin riu às gargalhadas.
— Eu não poderia ter melhor fêmea, poderia?
— Eu também te amo, Collin Del Rey — ela disse extremamente
séria. — Mas se colocar mais três bebês em mim, eu posso te matar.
— Posso colocar mais um, pelo menos?
O olhar sugestivo dele a fez engolir à seco quando a onda de calor
quebrou em seu corpo. Não importava a situação, suas condições, ela
sempre o queria.
— Não sei — ela dissimulou, provocando. — Podemos pensar
nisso e fazer algum treino, depois que Caleb pegar os trigêmeos.
Emme deu-lhe um beijo, virou e andou de volta para a casa.
Collin olhou, hipnotizado, com o balanço sensual de seu traseiro.
— Oh, sim, cariño, definitivamente, nós vamos treinar.
Ela parou, olhando para trás
— Você disse algo?
— Eu te amo, Emmanuelle.

FIM
Agradecimentos
Aos leitores dessa série que, pacientemente, aguardaram a publicação deste
livro. Vocês são tão sensacionais, tão incríveis, que não tenho palavras
suficientes para expressar o meu amor e gratidão por não desistirem de mim
e de Forever Mine. Meu muito, muitoooooo, obrigada!
Um obrigada mais que especial para as minhas quengas Elza, Luciana, e
claro, Martinha, que sempre topam qualquer parada minha e não tem medo
de mandar a real, que eu AMO LOUCAMENTE.
Um gigantesco obrigada aos bookstans que sempre apoiam e incentivam a
literatura nacional.
E obrigada a você pela leitura!
Contato
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E, por favor, não deixe de avaliar este livro.
Beijos e até a próxima!
Sobre a Autora
Para os interessados de plantão, S. K. MEINS, nasceu em 1986 em
Palotina/PR e cresceu no interior paulista, onde vive até hoje.
Graduada em Psicologia e nas trombadas da vida, entregou-se ao
universo da literatura depois de ler A Saga Crepúsculo, a qual alimentou seu
vício pela leitura e, posteriormente, pela escrita. Atualmente, seus delírios
literários estão publicados na Amazon de forma independente.

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