Você está na página 1de 304

Copyright © 2019 S. K.

Meins
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, ou qualquer
outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de
informação sem autorização por escrito da autora.
Todos os direitos reservados.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.
Sinopse
Leah Diaz é uma mulher de espírito livre, de riso fácil e
uma amiga terrivelmente protetora. É também uma mulher
com uma missão: encontrar Bonita e espancar seu traseiro
por deixá-la louca de preocupação. Sua tentativa de
resgate, no entanto, lhe dá mais do que ela pode imaginar
quando se depara com um homem capaz de fazer seu
sangue cantar e seu coração inchar de amor. Um delicioso
desconhecido que, depois de uma noite tórrida e
apaixonada, faz seu mundo virar de cabeça para baixo.
Embry Warden, beta da matilha de Snowville, é um amante
da liberdade e das caçadas. Fêmeas e sexo fazem parte
de sua rotina diária. Acasalar-se passa longe de seus
planos até que seu alfa encontra sua Companheira
Prometida e se acasala com ela.
Embry não buscou pela sua, sequer cogitou se
comprometer, mas aqui estava ela, sua Companheira
Prometida, e ele tem toda intenção de mantê-la.
Nota da autora
Caro leitor,
Talvez você estranhe o pseudônimo desse livro,
caso já o tenha lido. Ocorre que eu, Daya Engler, em 2020,
passo a assinar todos os meus trabalhos, inclusos os
anteriormente publicados com o pseudônimo Daya Engler,
como S. K. Meins.
Desde já agradeço a compreensão.

Atenciosamente,
S. K. Meins
Para você
Sinopse
Nota da autora
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Epilogo
Um gostinho de SEDUTORA RENDIÇÃO
Contato
1

CAPTURADA

Inuvik, Canadá
Montanha Blakestood, Snowville

Assombroso.
Não havia outra palavra para definir as últimas...
horas.
Oh, espere um momento. Havia sim!
Luxúria. Seca. Carência. Desespero. Muita loucura.
Tesão.
Louco e quente.
Estas também eram boas palavras, se não as que
melhor se encaixavam ao seu comportamento dado às
coisas sujas e profanas que tinha feito com...
Qual era mesmo o nome dele?
Lee não podia dizer. Também não era como se seu
amante tivesse oferecido seu batismo. Ou que tivesse tido
a chance de se lembrar de perguntar esse pequeno detalhe
quando o rosto bonito do homem mais espetacular, que ela
teve a chance de pôr as unhas, estava descansando
deliciosamente no berço entre as suas coxas nuas.
Tinha sido insano. Explosivo. Glorioso. Devastador.
Libertador.
Lee ainda podia sentir... seja lá o que fosse aquela
sensação, pulsando através dela, crescente e persuasiva.
A necessidade ardente. A fusão indômita de abalos
eróticos. A emoção chiava percorrendo em suas veias,
crepitando em seu crânio. Eletrizante. Febril. Encorpado
como cera quente encapuzando seus sentidos, enredando-
a tão fundo, colando-os juntos com cola, que ela se sentiu
apanhada por algo sobrenatural e poderoso. Foi surreal e
delicioso. Algo tão bom que ela tinha querido ficar para
sempre. Mesmo o frio balançando seus cabelos e
ressecando seus lábios inchados não podia impedi-la de se
sentir quente. Estava tenra e ainda melecada entre as
coxas, os músculos internos doloridos da melhor forma. O
calor era um zumbido em seu corpo febril.
O aroma dele estava por toda parte, dentro dela.
Lee cheirava a ele.
Sentia-se como ele, como se ainda estivesse lá,
como se fosse uma parte dele.
Mesmo seu gosto... Oh, Deus, seu gosto era tão, tão
bom, inebriante. Chocolate derretido atacando todo o seu
sistema. Lee adorava chocolate.
O tipo foi uma bomba sexual no seu cérebro no
momento que colocou seus olhos nele. Seus neurônios
entraram em choque. Ele a tinha envolvido com o olhar.
Corrompido com seu magnetismo animal. Profanado com
sua voz grossa, profunda e íntima.
A voz... aquela voz extremamente grave e forte,
como o aço coberto de veludo negro, iluminou seu coração
e reverberou em seu âmago, atando sua alma quando
chamou por ela. Não. Seu amante tinha ordenado, um
comando suave e autoritário ao mesmo tempo então, Lee
estava lá, toda mole e entregue, a mercê daquele homem.
Nos braços dele, a boca na sua, mãos por todas as partes,
seus corpos unidos. Juntos eles foram prazer e felicidade
em sua mais pura essência.
A coisa toda foi realmente muito insana, que mesmo
ela em toda sua vasta loucura jamais poderia compreender
o que ocorrera para que agisse de tal maneira.
Nunca havia se sentido de tal forma.
Louca. Sem controle. Submissa.
Mas, então, nunca nenhum homem a havia atraído
com essa crueza.
Os caras como àquele não costumavam flertá-la e
destilar esse açúcar, quem dirá fazê-la entrar em curto-
circuito. Caras assim sequer cruzavam a mesma rua que
ela.
Contudo, seu cara quente não era como qualquer
outro que já tivera conhecido. O homem era cheio de si,
muito seguro e decidido do tipo que beirava a arrogância
suprema, ainda assim era amável e atencioso. Austero e
áspero, porém macio.
Ele tinha sido seu por algumas horas e por aquele
tempo a fez cogitar o para sempre.
A sensação das pontas do cabelo dele roçando em
sua virilha ainda fazia um arrepio tentador ondular sob sua
espinha e aquecer seu sangue. Até os pelos de suas coxas
esfregando contra as dela quando ele a montou por trás
fazia seu corpo florescer para a vida e nascer dentro dela
um anseio de nunca mais separar-se dele. Lee tinha
adorado o cabelo. Era sedoso, muito macio, seus dedos
não tinham podido ficar longe dele. Os fios eram ondulados
e longos na altura dos ombros massivos. Seu amante era
alto e maciço por todos os lados. Honestamente, seu corpo
era a melhor coisa que já tivera visto alguma vez. Os olhos
eram como olhar para o céu tempestuoso, acinzentado e
profundo, brilhante. E eles tinham dançado para ela com
possessividade e adoração. Os lábios firmes mais macios e
doces que ela já tinha provado, e tão malditamente hábeis
que apenas a lembrança a fazia querer refazer o caminho
para a casa dele.
Deus, o homem a tinha tirado do eixo e abalado seu
mundo num flash.
Quantos homens eram capazes de fazer isso?
Lee tinha feito um achado. A exceção.
Ela gostou... Humpf! Gostar não chegava nem perto
do que sentiu. Queria se ajoelhar na frente dele e fazer
uma prece. Oh, espere! Ela fez exatamente isso! Está
certo, não era o tipo de prece que Deus iria apreciar
sorrindo quando ela tinha o grosso pênis de um homem
rude e viril tentando chegar a sua garganta, mas o diabo
poderia aplaudi-la de pé pelo feito extraordinário. Lee tinha
tomado umas boas polegadas dele, saboreando o gosto
salgado de seu pré-sêmen, antes de engasgar. Lee soltou
uma risadinha baixa e tremula, e depois ficou séria,
correndo o olhar pelo breu. Bem, talvez pensar no diabo
quando se estava no meio do nada, no escuro, com o
vento uivando através das copas das árvores, o farfalhar
de galhos secos e folhas se batendo, e apenas a frágil
chama de uma vela para iluminar o seu caminho não fosse
lá a melhor das ideias.
Lee quase se arrependeu por ter deixado seu
amante à surdina.
O conforto e a segurança dos braços poderosos
dele, sua pele aquecida passando seu calor para ela, a
sensação de seus corpos juntos, mesmo o som forte de
seu coração batendo em suas orelhas quando ele a
aninhou em seu peito, agora a fazia se sentir meio
estranha, quase como se estivesse um pouco doente.
Queria ficar, mas não queria dar-lhe a chance de
escorraçá-la quando acordasse e percebesse que ela
ainda estava lá, como uma boba carente de seu conto de
fadas.
Essa coisa toda não existia.
Ele tinha tido o que queria dela, ela idem.
Lee decidiu que podia sentir uma pontinha de falta
dele, afinal.
Eles tinham fodido de maneira gloriosa durante tanto
tempo que ela não podia contar, e então, ele a alimentou,
banhou e fodeu, novamente. Logo eles tinham caído
exaustos no sono justo dos amantes. Ele tinha se enrolado
nela, pernas e braços entrelaçados, que foi um milagre Lee
ter sido capaz de fugir de sua posse sem tê-lo despertado
no processo. O que era totalmente justificável. O homem
tinha feito tudo sozinho, um árduo trabalho de girar e moer
a pélvis tantas vezes que o esgotou. Ele deveria estar
morto, sua alma dormindo em outra dimensão depois de
todo esforço. Não era como se ela fosse uma amante
preguiçosa, Lee tinha dado sua contribuição na dança
erótica deles, mas em algum momento tudo que ela pôde
fazer foi aceitar seu prazer e se deleitar. Ele pareceu gostar
disso. Ela não achou nenhum pouco ruim.
Ser servida com um derrame de prazer vertiginoso
lhe soava como o céu.
Um suspiro baixo acompanhou o curvar sonhador de
seus lábios.
Lee tinha dado algum real, excitante e suado
trabalho a sua menina solitária, agora era hora de retornar
a sua maçante realidade, que a aguardava de braços
abertos, fria e vazia, onde caras como seu sexy amante
não voltavam para ter outro pedaço de bunda fácil.
Mas antes, ela tinha de dar uma passadinha na nova
residência de Bonita.
Não era como se realmente se importasse com a
opinião alheia. Isto tinha ficado para trás, em Charlotte,
com seus fãs e seu ex-babaca-namorado. Contudo, Bonita
não era uma pessoa qualquer. Era sua amiga. E, bem,
agora tinha seu companheiro.
Uma explicação não cairia mal e, pelo sim e pelo
não, não custaria nada trocar umas palavrinhas. Ademais,
de qualquer maneira, tinha que se despedir da amiga.
Eventualmente, retornaria para uma visita.
Talvez um fim de semana inteiro?
Poderia até encontrá-lo novamente...
Lee exalou um sopro forte de ar e, em seguida,
xingou-se por quase apagar sua única luz. Isto era outra
coisa. Sua lanterna foi esquecida na casa de Trish quando
seu cara quente a arrebatou, e ela não tinha achado outra
quando pulou para fora da cama dele. Mas, em
compensação, tinha achado um punhado de velas e caixas
de fósforos.
Agora, ela caminhava pelo breu gélido numa
procissão solo.
Deveria ter trazido uma caixa fechada, a ele não
faria falta mesmo, e Lee duvidava que seu amante desse
por falta de uma caixa quando tinha um estoque generoso
delas.
— Precisa de ajuda para encontrar o seu caminho?
Lee saltou girando, o movimento abrupto quase fez
a vela se apagar, mas a chama tornou a perseverar
bravamente. O coração batia nas costelas quando ela
ralhou.
— De onde diabos você saiu, cacete?
O vulto na sua frente não se moveu. Lee tratou de
se recompor e balançou a luz em torno da silhueta
sombreada até muito, muito acima, inclinando a cabeça
para trás.
E, oh, Deus do Santo Céu...
Que líquido mágico esses homens tomavam?
Ele era enorme. ENORME. Mesmo. O sombreado
perverso beijando um lado de sua face revelava uma barba
severa e linhas duras, quase cruéis. Um rosto feral.
Selvagem. Lee podia apostar que numa batida contra ele,
ela se desfaria como vidro se chocando contra uma parede
sólida de cimento. Era um tipo atraente e impressionante.
Não tanto quanto seu amante, mas, definitivamente, quente
e sensual. Talvez um pouquinho intimidador,
principalmente, quando ele permanecia imóvel e quieto na
sua frente, e ela tinha a impressão de seus cruéis olhos
frios lhe perfurarem duramente.
Os nervos começaram a estalar, e Lee se agitou. —
Escute aqui, meu amigo, não se faz isso com as pessoas,
sabia? Chegar assim, do nada, sorrateiro como um
bandido ruim e os bons também, se é que existe algum...
Quer dizer, tirando aquele que me roubou o celular uma
vez, quando ainda morava em Charlotte. Ele me deixou
ligar para o meu pai antes, sabe? Eu acho que ele foi legal,
tirando, é claro, a parte do roubo..., Mas, escute, voltando a
nossa conversa, você não deve fazer isso, este tipo de
comportamento pode causar um ataque cardíaco em
alguém. Como você sabe que eu não tenho o coração
fraco e doente? Eu poderia ter um. E então, você teria me
matado porque não sabe se anunciar com sutileza. Porque
vou dizer, meu camarada, você aparecer de repente e falar
atrás de uma pessoa no meio do nada e nesse breu do
caralho é a treva. Qualquer outro pensaria que é o capeta
buscando sua alma para levar ao inferno... Não que você
se pareça com o capeta, quero dizer, falam por aí que ele
anda na forma de um homem muito quente. E pensando
bem, você não é de se jogar fora, é um bom pedaço...
O tipo fez um som parecido com um grunhido, que
disparou seu alarme, cortando-a, seus traços muito
chateados, e Lee percebeu que divagava como uma
perfeita louca.
Grande. Realmente grande, garota.
Ela sorriu embaraçada e esticou a mão.
— Leah Diaz. Lee para os amigos.
Ele continuou perscrutando-a, insondável.
— Essa é a hora que você, sabe, oferece sua graça
de volta, uh? Que tal?
Ele se inclinou para frente e, merda, era maior do
que ela pensava então, a coisa mais estranha aconteceu, o
grandalhão começou a cheirar. Narinas se movendo e tudo
isso. De repente, voltou-se para trás, completamente ereto
e mais rígido, se possível.
Será que ela estava fedendo sêmen? Sexo?
Promiscuidade?
Jesus Cristo...
Lee quis dar uma boa cheirada em si mesma, mas
parou ao som da voz do estranho soando um pouco mais
dura e enferrujada também, como se ele não tivesse o
costume de falar. O que era uma tristeza, pois a voz do tipo
era muito bonita, quase hipnótica, a pesar da rigidez.
— A casa de Embry fica na direção contrária.
Lee plissou o cenho em estranheza, e depois deu
uma risadinha.
— Espere! Como...?
— Eu a levarei de volta para ele.
— NÃO! Uh... Espere aí! Eu não... Olha, não vou
voltar. Eu estou indo pra casa da minha amiga, Trish
Mitchell. Bom, pelo menos penso que seja a casa dela
também já que agora ela está morando com Conan, quero
dizer, Caleb... Caleb Black.
— Eu a acompanho.
— Eu... ah, obrigada. Eu aprecio isso, mas não
precisa...
— Vamos.
Ele passou em sua frente enquanto ela, boquiaberta,
encarava suas costas.
Ele não perguntou, não sugeriu.
Só ordenou, como se estivesse acostumado a não
ser contrariado.
Lee queria fazer justamente isso. Olhando ao redor,
bem... Dado à situação, bater o pé e discutir a questão
talvez não fosse uma decisão inteligente.
— Está frio essa noite — ela comentou, após alguns
passos, e depois riu de sua estupidez. Que dia não era frio
quando o lugar era feito de camadas de gelo?
Lee se apressou atrás dele enquanto cuidava para a
chama não se apagar, embora o homem parecesse não
precisar de qualquer luz para encontrar o seu caminho.
Ele estava tão silencioso quanto um mudo.
Era inquietante!
— Então..., essa coisa sobre o seu nome, ele, ah, é
algo muito ruim? Eu sei que há mães que amam castigar
seus filhos antes mesmo de nascer. De fato, tive uma
prima, coitadinha, minha tia a chamou de Agripina
Sebastiana. Pense isso na escola.
— Collin Del Rey.
— Eu sei que... Collin? Agora isso não foi difícil,
hein? Collin é...
Ele parou abruptamente quase a fazendo bater o
nariz em suas costas. Tudo no tipo era enooooooorme. Se
isso era parâmetro para alguma coisa... Lee se freou,
amaldiçoando. Embora o tipo fosse uma sobremesa de
encher a boca d’água e fazer outras partes encharcadas, o
pensamento não caiu bem.
Collin girou inclinando a cabeça para baixo para ela,
fuzilando-a com os olhos azuis brilhantes, sobrenaturais. —
Mantenha a língua para si mesma.
Lee assentiu sem palavras, só não sabia se pelo
ranger de dentes do Mr. Bean ou pelo resplendor brutal de
seus olhos. Eles tinham brilhado com o que ela pensou ser
um fino contorno de dourado. Lindos e ferozes. Olhos
capazes de congelar a alma. Mortais.
Ele tinha uma aura perigosa que fazia todos os seus
instintos gritarem, mas esta não era uma opção. Não iria
correr do grande lobo mau para ser capturada e devorada
por ele. Se bem que o grandalhão mais se parecia com um
leão, com essa atitude, todo altivo e prepotente.
Eles recomeçaram a caminhada.
Um minuto inteiro de silêncio foi seu máximo.
— Hispânico, hein? E o que faz um hispânico por
essas bandas?
Silêncio.
— Você mora por aqui, certo? Ou só tá de
passagem? Algum parente?
Silêncio.
— Eu sei, foram perguntas um tanto óbvias e
estúpidas. Você parece conhecer bem o lugar e para onde
estamos indo e, — ela pausou repentina quando ele se
moveu com desconcertante rapidez, puxando-a para o lado
enquanto murmurava o que parecia ser xingamentos em
um idioma que ela não podia compreender. Seu olhar
atordoado ficou nele então, caiu para baixo levando a
claridade da vela para o chão, onde havia uma pedra que a
faria amaldiçoar a mãe, se batesse o pé. Dor e frio não era
uma combinação agradável. Fixou Collin. — Obrigada. Isso
foi muito gentil.
— Preste atenção por onde anda — ele rugiu,
dando-lhe as costas.
— Ei! Eu não tenho culpa da pedra estar ali. E outra,
eu não sei se percebeu, mas está muito escuro aqui e essa
velinha mal dá pra iluminar minha cara, caramba!
— Não deveria ter deixado Embry, se não pode
cuidar de si mesma.
Ela empertigou ofendida, pisando duro atrás dele.
— Quem disse que eu não posso, hein?
Lee pisou em falso, um castigo pela mentira, mas se
equilibrou a tempo, porém não foi rápida suficiente para o
Mr. Bean não ver. Ela deu os ombros e bufou. — Tinha um
buraco ali. Como supõe que eu veja o maldito se tudo está
coberto de neve?
O som esquisito, o rosnado, veio novamente.
O seu cara quente também tinha feito muito desses
sons exóticos e selvagens, mas ao contrário do Mr. Bean
que lhe causava arrepios aterradores e intimidantes, o seu
amante fazia seu sangue cantar enquanto aquele som
viajava dentro dela. Atraindo. Acendendo a luxúria.
Lee suspirou baixinho, enrolando um braço ao seu
redor.
Humanos não grunhiam ou rosnavam, pelo menos
ela achava que não, exceto esses daqui. Uma
característica particular do pessoal do vilarejo. Deus sabe
que eles se mantinham reclusos, muito selvagens, ainda
que abrissem uma exceção na primavera. Talvez fosse
algo na água ou no ar. Quem sabe?
Bonita alertou antes, quando ainda tinha dúvidas
sobre Caleb.
Collin diminuiu o passo.
— Não vou lhe tocar outra vez, assim, mantenha os
olhos bem abertos.
— Que diabos você quis dizer com isso de “não vou
lhe tocar outra vez”?
Lee teve a ligeira impressão que ele tornava a
murmurar maldições e por algum tempo conseguiu frear
sua língua enquanto cuidava de suas passadas no chão
traiçoeiro.
Mr. Bean não a tinha insultado, verdade?
Seus olhos se afunilaram nas costas dele com
periculosidade.
Era bom ele não ter feito isso, do contrário, chutaria
o seu gordo traseiro.
— Estamos longe?
— Não.
— Quanto falta?
Nada.
Porcaria.
Ela tinha de ter prestado atenção ao caminho
quando seu cara quente a roubou, mas ao invés disso,
estava mais preocupada com o quanto poderia ter dele em
sua boca. O gosto da pele dele, a forma que ele
endureceu, gemendo e fazendo aquele grunhido sexy
enquanto sua língua corria pela coluna forte do pescoço
indo até ao pé da orelha. Eles quase rolaram na neve, um
ou dois troncos conheceram suas costas. Isso era mais
distração que uma mulher poderia lidar.
Uma onda de prazer passou por todo seu corpo.
Lee estremeceu, e depois respirou fundo, afogando
o desejo.
— E agora?
Silêncio.
— Você não é um bom falador, hein?
Collin lhe deu um olhar intenso sobre o ombro. Era
impossível não ver. O azul estava luzindo como um farol. O
aviso muito claro para não ser lido naquela efêmera
olhada.
Certo. Calar a boca agora.
Minutos de tédio mórbido depois, eles, enfim,
alcançaram a casa de Trish e Caleb. Estavam na frente da
larga escada de sete degraus dando acesso ao alpendre
quando Lee se preparou para agradecer a Collin, no
entanto, ele deu a volta ficando de frente para ela. As luzes
acesas da varanda lhe ofertaram uma melhor olhada no Mr.
Bean. E, Cristo, o que o homem tinha de mau-humor ele
tinha de bonito. E ele era a pessoa mais mal-humorada que
ela já conheceu. Collin também não parecia nenhum pouco
feliz, se é que conhecia o conceito. Então, ele fez a coisa
esquisita, novamente.
Lee fechou a cara e puxou para trás.
— Ei! Pare com isso! Ninguém te disse que é rude
cheirar as pessoas?
Collin se endireitou com uma careta de desagrado,
as linhas de sua expressão marcando duramente, ainda
assim, ele seguia sendo bom aos olhos.
Todo grande e impressionante.
Um predador, ela teve de admitir.
— Embry não vai gostar que eu tenha te tocado, —
ele rosnou em desagrado.
— O quê?
Collin fixou o olhar no seu, a seriedade dele a fez
engolir duro. — Não gostamos que outro macho toque
nossas fêmeas.
Os olhos de Lee doeram enquanto as sobrancelhas
só faltavam atingir a linha do cabelo, e então, eles se
estreitaram irritados. Ele a insultou duas vezes agora.
— Escute aqui, Senhor-não-me-toque, isso é uma
boa coisa de se dizer, porque eu não sou nenhum animal,
caso não tenha percebido. E, para a sua informação, eu
não sou fêmea, nem mulher de ninguém. Mando em meu
nariz. Fim de história.
Povo doido do caralho.
Collin só fez olhá-la por um rápido instante, como se
ela tivesse enlouquecido.
— Está entregue — ele resmungou, deu um aceno
duro e ofereceu suas costas.
O tipo simplesmente começou a andar para longe.
— Oh, certo, agora me deixou falando sozinha,
também... Muito prazer, Collin Del Rey. Bom dia para você,
também. Ou boa noite, seja lá que diabos de horas são.
Mr. Bean sumiu na escuridão, sorrateiro como tinha
chegado, feito um gato.
Lee apagou a chama da vela no gelo do chão, e
depois foi para a porta.
Trish, no sofá, girou a cabeça para ver quem estava
entrando, os olhos crescendo surpresos quando
enquadraram à amiga. Lee sorriu encabulada, dando um
aceno com a mão e fechou a porta atrás dela com a outra.
Caleb despontou na sala.
Excelente.
— Olá.
— Lee? O que está fazendo aqui? Cadê Embry?
Ela estava corando? Realmente? Desde quando ela
corava, Jesus?
E por que, diabos, todos ficavam perguntando por
Embry?
— Ah, isso... — ela pigarreou, o sorriso
embaraçado. — Eu queria me explicar, antes de ir para
casa. Você sabe. Sobre o que aconteceu quando o
bonitão... eu...
Trish foi até ela, colocando a mão em seu braço.
— Não precisa explicar nada, Lee. Está tudo bem.
Ela colheu os ombros e lambeu os lábios. — É, mas
eu quero. Eu juro, eu não, — seu olhar balançou para
Caleb e voltou para Bonita. — Não costumo agir daquela
maneira. Sei que pode parecer difícil de acreditar quando
estive lá toda orangotango no cio, mas aquele homem...
uh... Meu Deus... — pausou, dando uma risadinha
desconfortável e baixa. Depois esfregou as mãos na calça.
— Bem... Fico muito feliz por você, quero dizer, por vocês
dois. Parabéns pelo bebê. Espero poder ser a madrinha.
Caleb, que se mantivera quieto até então, se
aproximou.
— Embry sabe que você está aqui? Que está indo
embora?
Sua testa plissou.
— O quê?
— Ele sabe que você está indo para a cidade? Não
creio que ele tenha te deixado ir, e mesmo que o fizesse,
ele estaria aqui contigo. Mas visto que Embry não está em
nenhum lugar por aqui, concluo que saiu escondida. O que
é surpreendente, devo dizer.
— Caleb — Trish censurou.
Ele e Bonita trocaram um olhar cheio de
significados.
— Ela não pode ir sem falar com ele, sabe o que vai
acontecer se fizer isso.
— Oras essa! Eu não preciso da autorização de
Embry pra ir para qualquer lugar! Não é porque trepamos
que me tornei sua propriedade.
— Pertence a ele — Caleb disse, simplesmente.
Ele passou um braço sobre os ombros de Bonita e
inclinou para Lee, cheirando, cortando qualquer resposta
mal criada engatada na ponta de sua língua.
— Collin estava com você. Ele te tocou?
— Mr. Bean me trouxe...
— Mr. Bean?
— Chamou Collin de Mr. Bean?
Bonita parecia tão espantada quanto Conan. Podia
jurar que era uma centelha de diversão e deboche no olhar
do homem, embora ele lutasse para se manter firme.
Lee bufou e rolou os olhos. — Não disse a ele. Mr...
Collin não é bem um tipo tagarela. Ele me acompanhou e
me tocou, não da maneira que pensa. Eu ia enfiar o pé
numa pedra e ele me puxou para o lado... Ei, espere, como
sabe que Collin me tocou?
Caleb suspirou, ignorando a pergunta. — Embry não
vai gostar disso.
— Por favor! Seu amigo e eu só passamos um bom
momento juntos. Não é como se isso fizesse de nós um
casal... Deus, só eu que estou achando isso tudo
estranho?
No outro instante, três coisas aconteceram
simultaneamente.
Um grunhido irritado encheu o ar e a engolfou no
fundo da barriga, pungindo seu sexo e seus mamilos duros.
A porta principal bateu fechada e aquela voz grave, soando
com um quê de repreensão e sadismo a fez derreter em
uma poça de sensações.
— Fêmea, você ia embora sem me dizer nada?
Empurrando a paixão para baixo, Lee jogou uma
olhada para o lado e, Deus, se suas pernas não ficaram
fracas. Embry a estava fincando com o olhar, com
promessas escuras e libidinosas. Uma onda de
necessidade excruciante correu dentro dela.
Lee tremeu e tragou.
Ela adorou a emoção, mas também não iria dar
nada tão fácil assim.
Tinha ido facilmente na primeira vez, porém, naquele
momento por alguma razão ela não podia raciocinar direito.
Mas agora, embora houvesse o desejo crescendo em seu
íntimo, ela podia pensar e ter um pouco de controle sobre
si mesma.
— Responda-me — ele trovejou, apesar do tom
manso quase adulador, o som era um vicio revestindo seus
sentidos, fazendo-a pulsar em resposta.
Lee lutou, agressiva. — Desculpe, chefe. Não sabia
que tinha de te informar qualquer coisa. Nós tivemos uma
noite quente e só. Obrigada, mas acabou.
Choque pintou as feições dele, antes de seus lábios
repuxarem com um grunhido.
— Está me dispensando?
Lee se aproximou e falou só para ele. — Olhe só,
Embry, eu realmente gostei daquilo tudo... você sabe ao
que me refiro, certo? Você é... uh... Meu Deus... Nós até
podemos repetir, eu gostaria disso. Mesmo. Mas isto não te
dá direitos sobre mim.
Os olhos dele estreitaram, o rosto muito sério então,
ele fez a mesma coisa que Mr. Bean e Conan, ele cheirou.
Jesus, eles tinham sérios problemas com seus narizes
intrometidos, não tinham? O mais estranho veio depois.
Embry endureceu, os músculos enrijecendo severamente
sob a pele enquanto aquele som saia dos lábios dele, mas
não havia nada de sexy neste, era profundo e brutal,
aterrador e feio. Num piscar Embry exalava agressividade,
sua expressão quase animal. Ela engoliu duro, chocada.
A tensão repentina pesou no ar.
— Collin — ele rosnou no fundo de sua garganta, a
voz rude e deformada.
— Vá cuidar da sua fêmea. Não é um pedido,
Embry.
Embry olhou acima dela — Ele a tocou.
O músculo de seu pescoço pulsando.
— Não foi porque ele quis, Embry, — Caleb
apaziguou, a voz ainda que baixa, era poderosa, uma
ordem que ela própria não podia objetar. — Lee iria se
machucar chutando uma pedra, Collin a tirou do caminho.
Pegue sua fêmea e vá. Agora mesmo você não está
pensando direito então, me ouça, Embry. Não me obrigue.
Pegue-a e vá.
Lee girou sob os calcanhares, os olhos, descrentes
e irritados, fixos em Caleb.
— Como assim “pegue-a e vá”? Perdeu a mente?
Eu não sou nada dele, tampouco, sou mercadoria de
alguém, caramba! E quer saber de uma coisa? Não estou
gostando mais de você, Conan. De nenhum dos dois! São
dois bárbaros!
Lee olhou rapidamente para o braço, onde a mão de
Embry se fechou com gentileza, porém firme. Faíscas
viajaram num rastro ardente partindo daquela parte, o
prazer do contato enrodilhando dentro dela em um volume
espesso. Ergueu o olhar para o seu rosto. Um selvagem
sorriso desenhou os lábios dele. Sua barriga ficou agitada.
— O que está fazendo?
Embry esticou a mão tocando seu rosto, e ela
resistiu à tentação de fechar os olhos.
— Doçura, não pode desafiar seu macho e achar
que vai sair impune.
A palavra carinhosa ecoou em seu coração como
um poema de amor.
— D-Desafiar? Impune? Que loucura é essa? — Ela
bateu na mão dele e ele não fez mais que comê-la com o
olhar. Lee mal pôde recusar o aperto em seu baixo ventre,
a adrenalina fazendo-a mais excitada. — Me solte agora
mesmo e fique longe de mim!
— Sim, doçura — Embry disse sedutor, puxando-a
firmemente contra ele. — E como uma boa fêmea irá
aprender que nunca deve desafiar seu macho.
Ele olhou para Caleb por cima da sua cabeça.
— Perdoe minha fêmea. Ela está um pouco...
acalorada.
Seu coração mal teve tempo para absorver as
palavras, pois, no outro instante, estava ocupado
trovejando quando Embry a agarrou, jogando-a em seu
ombro.
Seu mundo virou de cabeça para baixo, literalmente.
A inquietude explodiu na boca de seu estômago e
fez as pontas de seus nervos estalarem com algum tipo de
comoção aguda que ela não podia entender. Isto a pôs
mais nervosa. Uma pilha de nervos, de inquietação... e, por
Deus, de luxúria.
Lee gritou e esperneou, batendo nas costas e no
traseiro dele com os punhos cerrados, contudo, Embry não
cedeu, e então, começou a caminhar para a porta. O mais
preocupante era que ninguém parecia estar fazendo um
movimento para ajudá-la.
Numa última tentativa, Lee levantou a cabeça,
procurando Trish com o olhar.
— Bonita, me ajude! Esse troglodita está me
sequestrando!
2

DELICIOSA TORTURA

Lee xingou e se contorceu na chocante onda ígnea


de prazer, deslocando-se do ponto onde os dentes dele
agarraram, enchendo-a de desejo e cremosidade feminina.
— Não acredito que me mordeu de verdade —
resmungou aborrecida, de cabeça para baixo, muito
tentada a fechar os dedos na bunda firme dele, de novo.
Quis acreditar que era por retaliação, mas maldita
fosse se mentisse para si mesma, estava com raiva, porém
queria tocar-lhe pelo puro prazer de ter as mãos nele.
Nunca tivera dado atenção às bundas masculinas, quer
dizer, vamos lá, a alegria estava na frente, todavia, Embry
tinha um arraso de bunda impossível de não reparar. Dura,
volumosa e musculosa. Grande como ele todo. O tipo
perfeito para ela se agarrar enquanto faziam amor,
enterrando-se profundo em seu sexo. Ela queria beijar
aquela parte dele. Morder. Definitivamente, morder, como
ele tinha lhe feito.
— Não belisque meu traseiro que eu não morderei o
seu — ele talhou ríspido, mas ela apanhou a sugestão
divertida contornando suas palavras.
O bastardo zombava!
Embry subiu degraus e só parou antes de passar
pela moldura da porta. Enquanto continuava levando-a sem
qualquer esforço, Lee ergueu um pouco a cabeça e com
uma mão segurou a massa vermelha de fios longe dos
olhos. Seu olhar correu em volta e, imediatamente,
reconheceu o lugar ainda pouco iluminado.
Estavam de volta a casa dele.
Lee não teve tempo para outro pensamento ao
alcançarem o quarto, e depois a grande cama, que ainda
tinha os lençóis bagunçados. Embry a teve deitada sobre
suas coxas de barriga para baixo, com tamanha rapidez
que deveria alarmá-la.
Choque inundou a boca de seu estômago.
Muito perplexa para falar.
Riiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiip. Riiiiiiiiiip.
Os trapos, do que um dia foi uma calça jeans,
caíram no chão então, o calor da palma áspera estava
percorrendo seu traseiro com posse. O pulso acelerou. A
antecipação queimando no fundo de sua barriga enquanto
sua respiração começava a pesar nos pulmões. Seus olhos
ficaram um pouco selvagens quando ela girou a cabeça,
olhando sobre o ombro. Lee só não podia dizer se era pela
premonição, pela irritação que isso a causava ou pelo
pulso sexual apertando sua vagina pelo que viria.
Ele não se atreveria, certo?
— Não faça isso!
— É minha, baby — ele grunhiu baixo em sua
garganta. — Está marcada desde que a tomei na primeira
vez, e eu vou estapear seu bonito traseiro até admiti-lo, e
depois eu vou te saborear com meu pau metido
profundamente dentro de ti.
— Não vai me foder de novo.
— Está certa — ele concordou solene, e ela
subitamente se arrependeu de suas palavras. — Não irei
fodê-la, irei fazer amor contigo. Lento e gostoso.
Lee tentou sair, mas Embry facilmente a manteve
para baixo e deu um tapa fraco advertindo, depois correu a
palma, deixando que as pontas de seus dedos longos
roçassem a fenda sensível. Provocando-a de uma maneira
obscena. Sua pele tremeu viva com a fusão de sensações
repentinas explodindo dentro dela. Tanta sensualidade.
Lee respirou fundo, cerrando os dentes.
Não faça nenhum som.
Não se atreva.
Não...
Os dedos não pararam de conquistar suas dobras,
lançando faíscas de desejo para cada extremidade de seu
corpo. O rastro ardente deixado para trás balançava seu
controle e desfortalecia sua resistência. O toque dele era
muito persuasivo, difícil de resistir.
— Entre meu povo nós temos regras e leis que
devem ser cumpridas — a voz profunda enviou tremores
abaixo de sua espinha.
— E o que eu tenho a ver com isso?
— Tudo.
— Eu não entendo. Não fiz nada.
— Não?
Ela fez beicinho, fechando os dedos nos lençóis. O
cheiro inebriante deles era forte lá. Lee tentou ignorar o
quanto aquilo a excitava, o quanto desejava reproduzir
aqueles momentos. Não apenas isso. Ansiava os
sentimentos e as sensações que estar com ele traziam a
borda. Queria se sentir especial, desejada. Esperada.
A mão de Embry acariciava com adoração resoluta.
Lee voltou a mirá-lo por cima do ombro, a respiração
superficial. — Eu não sei do que está falando. Aliás,
nenhuma dessas coisas faz-me sentido.
A voz era áspera e continha àquela baixa vibração
erótica, punitiva. — Você me deixou. Depois de tudo que
compartilhamos aqui, você ainda assim me deixou.
— Eu... eu pensei que nós... você sabe... tínhamos
terminado.
— O que te fez pensar que eu tinha terminado com
você?
— Uh. Eu só pensei. Os caras geralmente não
gostam da manhã seguinte...
— Eu não sou os caras — Embry a cortou
agressivo, a mão firmemente fechada em uma bochecha
do seu traseiro. — E, para sua informação, nós nem sequer
começamos, doçura.
Ele não poderia estar com ciúmes, nem ela poderia
estar gostando disso.
— Desculpe, não quis te ofender.
— Eu adoro as manhãs — Embry articulou, dando
uma palmada forte em seu traseiro sem aviso prévio. Lee
saltou, gritou e tentou sair, mas ele a manteve facilmente.
— Você terá muitas oportunidades de comprovar o quanto
eu as amo.
— Não quero comprovar nada.
— Mentirosa.
— Eu não minto.
Mas mentia.
Deus, a mera insinuação de passar as manhãs com
ele, deixava-a em êxtase.
— Outro desafio? Querida, está mordendo mais do
que pode mastigar, mas eu vou ajudá-la a dirigir tudo que
tenho de lhe dar por ter me desrespeitado e sido uma
garota má. Deixando-me sem nenhuma palavra de
consideração, como se tudo que compartilhamos não fosse
nada, como se eu não fosse nada.
À medida que ele falava, a palma caía espalhando
rubor em seu traseiro, esfregando com cuidado requintado,
criando respostas absurdas em seu corpo. Isto não deveria
fermentar sua luxúria. Não deveria gostar. Não deveria
haver qualquer sugestão de que ele estava em seu direito
e que ela tinha de suportá-lo.
Contudo...
— Você também estava indo embora e me
confrontou na frente dos meus.
— Desculpe por ferir seu orgulho, oh, grande, chefe!
Outra palmada, desta vez, mais forte.
Grande boca!
A ponta do dedo grosso correu interminavelmente e
com extrema sensualidade por suas dobras até o clitóris,
foi um choque. Onda atrás de onda se quebrou através
dela, enfurecendo sua luxúria. Lee pressionou a testa
contra o colchão, resistindo ao impulso de empurrar para
trás. Apertou os dedos no lençol até que os nódulos
estavam brancos.
Sua respiração engatou. O pulso bateu apressado.
Nenhum barulho. Não ouse.
— Feriu meu coração, não meu orgulho, doçura.
— Sinto muito.
— Bom. Isto abrandará as coisas, ainda assim, não
posso deixar isso ir assim e fingir que nada aconteceu. Que
tipo de macho eu seria se fizesse isso? Eu sou um homem
de palavra e honra. Não posso ignorar meu... instinto.
Precisa ser castigada.
— Você não é um cara justo, Embry — ela
choramingou, no limite de perder o controle de seus
movimentos. O desejo de se esfregar nele quase
insuportável.
— Sou muito justo, companheira — ele disse,
solene, sua sinceridade não podia ser negada. — Primeiro,
vou te castigar por me abandonar na calada da noite como
se eu fosse nada mais que um cara qualquer. Depois, vou
cuidar bem de você e me certificar para que saiba que não
pode me abandonar. É minha, Lee. E eu vou mantê-la até
meu último suspiro. Esteja você bem com isso ou não.
Então, doçura, acostume-se.
A declaração laçou seu coração e fez do órgão uma
poça.
— Novamente, não está sendo muito justo.
— Mas você gosta da minha justiça injusta, não?
— Talvez.
Ele beliscou seu clitóris.
— Sem talvez.
— Eu adoro — rendeu-se sem fôlego.
Não adiantava mentir, ambos sabiam da verdade.
Ela o queria mais do que chocolate, mais do que
qualquer coisa que já quis na vida, mais do que queria
respirar. Nada poderia se comparar com o seu desejo por
ele. A necessidade costurando através de seus sentidos,
embaralhando sua mente com uma névoa adocicada de
prazer encorpado, polvilhando prazer em suas entranhas.
Embry deu um grunhido animalesco.
Em meio a tantas sensações deliciosas e picantes,
era capaz de sentir sua nata escorrer molhando o jeans
dele. O pensamento sujo agitou um tremor em sua vagina
e mais fluídos vazaram.
Lee vaiou entre os dentes quando ele fez a pressão
certa contra seu clitóris, o abalo delirante rasgando através
dela com disparos de prazer.
Embry cuidou para que ela descesse ao inferno,
alternando bofetadas e carícias em sua bunda. Ora e outra,
acariciando e esfregando sua vagina, deslizando dois
dedos dentro dela com facilidade, curvando-os para que as
pontas esfregassem em um ponto maravilhoso, que fazia
seus olhos rodarem e a fome crua consumi-la.
A princípio, Lee tentou fugir, mas era difícil lutar
contra ele, contra o prazer.
A verdade é que não adiantava tentar, ela só teria
êxito se ele quisesse assim. E não era como se ela
quisesse mesmo, nem Embry parecia pronto para deixá-la
ir.
Sentir o pau dele duro, como uma rocha, era muito
tentador. Autoconsciente de como era delicioso ser
preenchida, gostosamente acariciada a cada vai-e-vem,
apenas a fez desviar o foco de sua bravata. Lee girou os
quadris para esfregar seu centro dolorido contra o cume
duro. Embry fez aquele som sexy cada vez que ela
conseguiu algum avanço real. Até mesmo com o jeans
grosso os separando, ele se sentia tão bom.
As palmas correram subindo pela parte interna de
suas coxas. Estremecimentos a colocou instável sobre ele.
O tesão apertando-a por dentro, provocando a dor mais
grave.
O toque de Embry estava levando-a a loucura, e
quando Lee pensou que não poderia piorar, aconteceu.
Embry a empurrou de costas na cama, não lhe
dando tempo para sequer puxar um novo fôlego quando
ele caiu entre suas pernas e começou a lamber e chupá-la,
cruelmente.
Ele, novamente, penetrou os dedos em seu núcleo
gotejante e a comeu.
Ele a devorou, deliciando-se em seu sexo.
O arfar se perdeu no seu gemido.
Suas costas curvaram com o frenesi sensual
enquanto suas mãos moídas contra o lençol voavam para
os cabelos do macho, mantendo-o lá.
— Embry! — Lee cantou o nome dele, tantas e
tantas vezes.
O orgasmo estava em construção, aferrando-se ao
seu âmago, se expandindo, volumoso, quase lá, mas ela
não podia gozar. Embry, de alguma maneira, a controlava,
segurando-a na beira com os golpes de seus longos dedos
e da boca pecaminosa cercando seu clitóris. O prazer
agudo a fez lutar contra ele. Pernas e braços se movendo,
corpos contorcidos, rosnados e choramingos. Ela se voltou
uma confusão, tentou puxar para longe engatinhando para
a borda quando conseguiu uma folga, mas Embry agarrou
suas pernas, firmando as grandes mãos em suas coxas,
ela sentiu a picada em sua pele, o rosnado explodindo alto
entre eles.
Um aviso feral estalando em seus nervos.
O controle dele sobre ela.
— Não fuja de mim — ele exigiu, beliscando-a com
as presas, delicadamente.
A reação foi instantânea. Uma das longas pernas
subiu, flexionando, abrindo-se mais, o gesto de rendição
voluntária. Ela empurrou o quadril empinando. Oferecendo
um banquete ensopado e febril, uma bela vista de seu sexo
inchado de desejo. Seu sangue corria mais rápido e seus
membros em agonia oscilavam de necessidade.
— Por favor, Embry — ela chorou, olhando-o sobre
o ombro.
— Minha!
— Deus, Embry, sim! Sou sua. Toda sua.
Lee pescou através da névoa luxuriosa pesando em
seus olhos a visão indômita do rosto dele, a expressão, o
cabelo bagunçado, o queixo molhado com seu tesão.
Não havia nada de suave sobre ele.
Intenso era a palavra de ordem.
Ela quis mordê-lo tão duro, que marcaria.
O pensamento veio do nada, porém a mera
ilustração da marca de seus dentes na pele dele – seu
olhar moveu para o ombro, – marcá-lo como seu seria
felicidade pura. Isto era algo selvagem, uma parte dela
reconheceu. Mas Lee não dava à mínima. Queria ser toda
felina com ele. Arranhar, morder, chupar e beijar. Ele era
dela.
Meu. Todo meu.
Embry rosnou no fundo da sua garganta em
reconhecimento.
— Minha. Toda minha.
Tremendo de desejo, o observou lamber os lábios e
meter a boca entre sua bunda. Lee gritou. Suas costas
curvadas, os dedos enrolando-se no lençol.
Os corpos estavam suados, escorregadios e
ofegantes, fios vermelhos aderidos a sua pele cremosa. As
pontas de seus seios eram como diamantes e doíam tanto.
OH, deuses, ela só precisava dele.
Poderia haver lágrimas em seus olhos.
— Por favor, por favor. Deus, Embry! Por favor!
— O quê? O que quer, doçura?
— Me deixe gozar. Não posso suportá-lo mais. Dói.
Lee não podia reconhecer sua voz tremula,
arrulhada de necessidade.
As feições do tipo se apertaram, e ela quase
desfaleceu para gritar no momento seguinte.
Embry não aliviou, chupando-a com fome crua,
jogando com seu orgasmo, os tapas ardidos intensificando
a comoção calorosa. Despejando fogo líquido e luxurioso
em suas veias.
Ela estava mendigando.
Pronta para explodir e se fragmentar no prazer
cortante.
Era tortura o que ele lhe fazia e ao mesmo tempo
era incrível.
Embry parecia conhecer todos os segredos de seu
corpo, como se possuísse os códigos nas pontas dos
dedos e em seus lábios mágicos. Seu corpo trabalhava
com ele e para ele. Revelando-se sem muita resistência.
Ela deveria temer sua entrega, era a coisa certa a fazer,
mas não fez. De alguma forma, ele a possuía.
— Por que está sendo castigada, companheira?
A voz dele cravou dentro dela, com força e domínio.
Lee soluçou, encolhendo-se quando ele deu um
chupão forte.
Ela precisava dele tanto, tanto.
Mal registrou o corte no lábio ao cavar os dentes
nele com extrema força.
Embry ia matá-la. Ela estava morrendo. Ainda
assim, tudo que podia pensar era em alavancar para trás,
pressionando a buceta contra os lábios profanos, fazendo
esses pequenos e sexies barulhos enquanto a lambia e
chupava gostoso.
— Eu quero te dar isso, querida, mas enquanto se
mantiver quieta e não me deixar saber que aprendeu a
lição, eu não vou poder te dar o que nós dois queremos.
Dê-me isso, doçura. Diga e eu vou te fazer amor tantas
vezes quanto possa aguentar.
Lee lutou pelas palavras emaranhadas em seu
cérebro.
— Eu... eu... o deixei.
— Bom. O que mais?
— Por favor, Embry. Por favor.
— Sua buceta está muito inchada e receptiva.
Nunca vi uma fêmea ficar tão molhada assim, Lee. Toda
vermelha e cremosa. E você cheira malditamente bem.
Isso me deixa maluco de desejo, que quando entrar em
você e tê-la me rodeando, com esse aperto firme que eu
sei que sua buceta tem, eu não vou durar muito. Vai ser
uma explosão, doçura. Mas faremos isso muitas vezes.
Agora, continue.
Dois dedos deslizaram dentro, de repente, levando-a
ao limite.
— Embry!
— Diga — ele bradou em aço, o som baixo vibrando
em seus ossos.
— E-Eu ia deixá-lo, mas não foi porque queria... eu
só achei que... não... Quis fazer as coisas fáceis pra ti.
Sinto muito, Embry. Por favor, me foda agora. Qualquer
coisa.
— Ainda não. Continue, doçura. Faça isso rápido.
Lee gemeu frustrada, afundando a cabeça no
colchão. — Eu menti. Fiz parecer que nós dois não
importávamos e o desrespeitei... Eu sinto muito mesmo.
— Está arrependida?
— Deus, sim!
— Vai fazer de novo?
— Não.
Ele rosnou.
— Não minta pra mim.
— Não estou, Embry. Não vou fazer, agora, por
favor. Me foda. Preciso do seu pau... preciso de você me
fodendo gostoso daquele jeito...
— Tire o casaco e a blusa — ele comandou. —
Fique sobre seus joelhos e mãos.
Lee fez isso no que devia ser um tempo recorde
para alguém que oscilava tanto.
Ela ofegou e gemeu. Totalmente acessível.
Vulnerável. Tremendo com o desejo de ser tomada por um
homem que mal conhecia. Ela não se importava. Ela só
queria ser dele.
— Minha!
Lábios quentes e uma dura língua encontraram seu
calor molhado. Foi como se uma bomba de prazer
percorresse seu corpo. Lee gritou e curvou-se, o orgasmo
foi rápido e forte. Quebrou-a. Consumindo-a por inteira. Ele
grunhiu e a tocou novamente, lambendo-a com severidade,
e outro choque de prazer sacudiu seu núcleo.
Embry a deixou por um momento quando esteve à
beira de outro orgasmo.
Lee girou a cabeça e paixão a engolfou ao vê-lo.
Seus olhos acinzentados queimavam com uma
emoção forte e feroz. E um pouco assustadora.
Hipnotizante. Foi rápido, mas eterno.
Seu olhar desceu e tudo nela se apertou, latejando.
O longo eixo saltava duro e quente além da manta
rala de pelos escuros, todo orgulho em uma rocha
resistente apontando furiosa em sua direção, a ponta
grossa molhada com pré-sêmen provocou sua língua por
entre os lábios querendo prová-lo, beber dele. Coxas
grossas como vigas, o peito magro era construído com
força e aspereza. Um pacote de seis ondulações estava
gravado em seu abdômen poderoso.
Ela iria lamber cada curva dele, cada tracinho.
Mordê-lo.
Marcá-lo.
Mas agora, iria ser possuída por ele.
Embry se moveu, colocando-se atrás dela,
empurrando suas coxas mais abertas. Segurou a lateral de
seu quadril com uma das mãos e a emoção correu através
dela, galopando loucamente. Seu canal contraiu num pulso
de dor. Logo a cabeça larga do pênis dele estava
pincelando entre as fatias molhadas de seu sexo.
Lee sorriu com demente satisfação e empurrou
contra ele, ansiosamente.
Embry grunhiu em aprovação. — Enlouqueceu-me
acordar sem você em meus braços e perceber que tinha
fugido de mim.
A ponta inchada angulou em sua abertura, e então,
ele dirigiu todo o caminho para dentro, bem devagar.
Empalando-a centímetro por centímetro. Seus músculos
tentaram resistir à invasão arrasadora, até que seu corpo
cedeu abrindo-se para então, agarrar cada pedacinho
dentro.
Deus, ele era grande, grosso e cheio, mais até do
que se lembrava.
Puxou, retorcendo e voltou, entrando até que as
bolas pressionaram contra sua vagina. O impulso
plantando toda sua parte superior contra o colchão. Embry
estava tão fundo dentro dela, que não podia distingui-los.
Lee gemeu. Embry uivou.
Não houve mais palavras, pedidos de clemência ou
rogos. Apenas gemidos, grunhidos e rosnados misturando-
se ao ranger da cama e aos barulhos sexuais de suas
carnes úmidas se encontrando com ferocidade tantas e
tantas vezes, que Lee se transformou numa pilha de
sensações. A composição poderosa de erotismo rasgando
o silêncio a fez mais necessitada, mais excitada e
ambiciosa. Embry bateu mais firme e fundo enquanto a
cobria com seu corpo maior, uma manta quente de pele
esfregando contra suas costas a cada investida. Suas
estocadas eram vigoras e animalescas.
De quatro, Lee agarrou os lençóis que tinha debaixo,
os lábios separados deixando os gritos fluírem através do
quarto enquanto ele a torcia em um ângulo diferente,
atingindo um ponto que não sabia que tinha. Bem ali, onde
o prazer a fez sorrir e chorar.
O suor cobria seu corpo, seus seios balançando no
tormento.
Embry apanhou um chumaço de seu cabelo no
punho puxando para trás e para o lado, e depois os lábios
firmes reivindicaram os seus. Lee suspirou amortecida em
sua língua. Com impaciência, bebeu dele, chupando
aquele pequeno pedaço de carne com estalos
apaixonados. Ele rasgou a boca para o seu pescoço, os
dentes beliscaram a curva, o mesmo lugar que ele a tinha
mordido antes. A língua resvalou.
Lee se contorceu pega desprevenida no disparo
aquecido.
Ele grunhindo e rosnando.
Ela gemendo murmúrios desconexos de prazer.
Ele soltou seu cabelo, ancorou os braços
firmemente dos lados dela e começou a comê-la
severamente, batendo fundo, fazendo seus olhos girar a
cada duro impulso.
Mais forte. Mais rápido. Mais fundo.
Seu pênis estava inchando, expandindo e a fazendo
muito consciente.
Algo rasgou debaixo deles.
O prazer tão surreal. Alguma parte dela reconheceu,
aquilo não era nem perto do normal então, algo
extraordinário aconteceu. Ela tinha sentido a luz de um
longo e firme fio de ouro os ligando da primeira vez. Agora,
no entanto, era mais nítido e estava vindo para ela. A
loucura de Embry a apanhou quando o fio os apertou
juntos, cegando-a. Lee o sentiu, moveu-se com ele no
exato momento em que ele a mordeu inesperadamente,
cravando os dentes em sua pele, perfurando-a, até que a
mandíbula travou, mantendo-a segura enquanto o orgasmo
explodia dentro dela numa conflagração completa.
Lee gritou tão alto que seu cérebro zumbiu.
Embry a fodeu com força e velocidade.
Selvagemente. Então, ele gozou. Duro.
Um baque vibrou no ar, tudo tremeu abaixo dela e
balançou.
Mal tinha consciência de Embry, de seu pênis
inchado preso em seu canal e ele seguir gozando com
jorros regulares, de algo nas pontas dos dedos pinicando
sua pele.
O prazer a transportou para um mundo de cores e
ondulações inebriantes.
Ela se perdeu, porém o encontrou no caminho. A luz
brilhante entre eles, envolvendo-os em um invisível
cobertor quente, algo lindo, sobrenatural, balançando em
torno e os unindo de uma maneira que a emocionou.
Nunca se sentiu assim com ninguém. Essa conexão
visceral. Era como se eles tivessem se ligado um ao outro
em algum ponto neste espaço de tempo, penetrado na
pele, no coração, na própria alma.
Arrebatou-a em níveis inimagináveis então, soltou.
Todo seu corpo desabou, tensa e desossada, seus
músculos crepitavam. Caiu sobre sua frente, ofegando em
um esforço para que o ar chegasse a seus pulmões.
O coração trovejava.
O perfume da união flutuando entre eles não era
nada como o cheiro peculiar pós-sexo. Era um aroma
delicioso e calmante, um almíscar de chocolate e
especiarias escuras.
Ele ainda pulsava em seu interior, gozando com
esguichos curtos.
— Isso é desconcertante, mas estranhamente bom
— ela balbuciou quando recuperou o fôlego, ainda sentindo
os pequenos espasmos de resposta de sua vagina.
Embry respirava forte em sua nuca. Ele tinha
tombado para frente, tomando o cuidado para que ela não
absorvesse todo o peso dele e rolou para o lado,
mantendo-os unidos. A lambeu, fazendo-a estremecer num
ofego trêmulo e beijou a parte detrás.
— O quê?
— Seu pênis.
— Meu pênis é desconcertante?
Ela riu.
— Também. Tem um grande pau aí, sabe?
Lee poderia jurar que sentiu o tipo se armar de puro
orgulho masculino.
— Doçura, se ficar lisonjeando-me desta maneira,
ele nunca mais amolecerá.
— OH! Eu meio que posso gostar disso — ela
brincou maliciosa. — Mas falo sobre essa coisa de você...
oh-uh... ficar preso em mim e continuar ejaculando. Isso
não me parece muito normal, mas visto que você não está
preocupado, acho que não tem problema.
Lee olhou para trás para ele buscando uma
confirmação.
— Não, não tem — ele disse, roçando seus lábios
enquanto a cheirava, num gesto de afeto e carinho antes
de beijá-la com calma. — Sou muito saudável. Nunca
poderia passar nenhuma doença para ti, nem você para
mim. Sou imune.
— Imune? Não entendo. Você fala como se...
— Eu irei explicar depois. Por agora apenas tenha a
certeza que nunca, jamais, te prejudicaria. Sou saudável e
você está segura comigo. Para sempre.
Ela acreditou, porque ele falava desse jeito lindo e
fofo, que a fazia querer sorrir e sair dançando como uma
boba apaixonada pelo seu primeiro amor. Não era somente
isso. Lee meio que confiava nele para não causar-lhe
danos de nenhuma forma.
— Eu gosto que fique assim dentro de mim. É...
bom. — E acrescentou com uma nota sensual. — Isto
atualiza o conceito de dormir de conchinha.
— É uma coisa boa que pense assim, porque meu
pau ama ficar preso em ti.
Lee apertou os lábios, sorrindo com diversão e
lisonjeio ao mesmo tempo. Sua vagina nunca antes tinha
recebido uma declaração de amor.
Lee girou o suficiente para poder olhá-lo. Só então
ela se deu conta da inclinação e da grande bagunça que
fizeram. O colchão sob eles não estava nivelado mais.
Sua mente clicou.
O riso a fez sacolejar, e ele agarrou seu quadril
mantendo a união.
— O que foi?
— A cama — ela disse entre risos.
A confusão na face dele a fez rir mais.
— O que tem?
— Nós quebramos — ela conseguiu dizer. — Oh,
Deus, nós quebramos a cama.
Embry olhou em volta como se também só se desse
conta naquele momento. Ele também tinha rasgado o
colchão em alguns pontos quando suas garras saíram. Ele
soltou uma risada estrondosa, capturando a atenção de
Lee para seu rosto formoso.
Ela o mirou com fascínio. — Eu gosto desse som
bonito. — Ele parou de rir, o olhar intenso reuniu-se ao seu.
— Você não se parece com um cara que costuma rir.
Deveria fazê-lo, no entanto. Tem uma bela risada.
— Estar com você me faz feliz.
Oh, droga, ela não estava se derretendo toda, nem
corando.
— Como soube onde me encontrar?
— Segui seu cheiro — ele disse, simplesmente.
— Isso é uma boa coisa? Ou má?
— Baby, você cheira a guloseimas, toda deliciosa.
Me deixa duro.
Embry balançou os quadris para provar seu ponto.
Lee suspirou. Ele esfregou o nariz em sua bochecha rubra
e ela o imitou. Não sabia o motivo. Ela apenas fez e
gostou. Gostou da sensação, da textura, sobretudo, da
intimidade se firmando entre eles... Dele.
Embry a beijou, devagar e suavemente.
O eixo desinchou o suficiente para se destravar
dela, mas ele não a deixou. Lee esticou a mão agarrando o
cabelo do tipo e puxou para baixo para ter mais de sua
boca. Ela deslocou o quadril, o movimento fazendo o pênis
ainda duro deslizar um pouco para fora. Lee gemeu e se
deu conta, com assombro, de que não estava saciada.
Embora se sentisse dolorida, precisava de mais dele. Sua
buceta ainda pulsava ao redor da vara endurecida, ansiosa
por mais um pouco de ação. Lee não tinha certeza se
verbalizou o pensamento ou se ele a leu. Não importava,
na verdade. Pois Embry se moveu com espantosa rapidez,
puxando para fora dela e mudando suas posições para que
ela estivesse esparramada em cima dele, montando sua
ereção poderosa.
Lee desceu e o pegou com os lábios, beijando forte.
A urgência cresceu entre eles, o desejo reavivando
os sentidos.
— Chocolate — ela gemeu contra os lábios
masculinos, rodando os quadris no processo, adorando a
sensação cheia de agonia. — Você tem gosto de
chocolate. Eu amo chocolate.
O rosnado dele bateu diretamente em sua carne
molhada, fazendo-a se contrair em torno de seu
comprimento com espasmos contínuos. Embry amassou
seus seios, agarrou suas coxas, tomando cuidado com as
garras, e então, começou a empurrar dentro dela,
ajudando-a na cavalgada.
Seu cara quente se certificou de que ela não fugisse
novamente quando, enfim, caíram esgotados horas depois.
Ele não sabia, mas ela não fugiria. Deveria. Porém, não
queria. A tinha exaurido de uma maneira deliciosa e
criminosa, dando-lhe mais orgasmos do que ela poderia
contar, mais do que teve na vida inteira antes dele, tão
intensos e violentos, que quando acabou, ela duvidava que
houvesse ossos sólidos em seu corpo. Era uma massa
mole de inabalável satisfação feminina. Mesmo dormindo
tinha sorrido.
Lee disse a si mesma que não era nada demais
quando acordou com ele com o rosto entre suas coxas lhe
mostrando o quanto gostava das manhãs. Ela podia
desfrutar dele e do momento compartilhado sem reservas.
Uma só vida. Viva!
E, bem, agora ela também amava as manhãs.
Não estava dolorida como tinha esperado depois da
maratona de sexo, embora se sentisse inchada e usada de
uma maneira muito boa. O que era estranho e bom. Podia
lembrar-se da língua dele entre suas pernas causando uma
sensação agradável que a fez toda relaxada. Seu pescoço,
assim como seu lábio, que ela se lembrava de ter cortado,
também estavam perfeitos. Talvez tivesse imaginado,
embora a marca amarelada na curva de seu pescoço lhe
dissesse o contrário. Havia uma forte sensibilidade, tocar lá
era como tocar-se intimamente.
Estava emotiva e com a sensibilidade aflorada, era
só isso, decidiu.
Mas, então, Embry também não mostrava nenhuma
marca, e ela podia se recordar de mordê-lo pra valer. De
fato, tivera um grande sexo de foder os miolos. E pensar
que semanas atrás invejou Bonita pela sorte que teve.
Agora Lee tinha seu próprio cara quente para chamar de
seu. Embry a fazia querer ajoelhar e rezar aos céus.
Deus abençoe Snowville e seus homens!
Lee olhou para o jeans e fez uma careta
desgostosa, usar calças sem calcinha não era a coisa mais
confortável do mundo. Era isso ou sair sem nada. Balançar
o traseiro enquanto o vento batia em lugares que o sol
jamais tinha tocado não era uma boa ideia.
Embry conseguiu algumas roupas com Bonita, uma
vez que tinha rasgado as suas na noite passada. As peças
estavam em trapos. O homem era mesmo animal.
Agarrando o jeans, Lee puxou acima pelas suas
coxas e, em seguida, vestiu a blusa e o casaco pesado. E
depois calçou as botas. Pelo menos, tinha meias.
— Não quero que vá.
Lee levantou o olhar das botas para a porta do
quarto, onde Embry estava enchendo o espaço de uma
forma que fazia tudo ali parecer pequeno para acomodá-lo.
Ele vestia jeans escuros, camiseta branca e por cima uma
camisa xadrez cinza de flanela de mangas longas. A
sombra severa marcando seu rosto. As pontas de seu
sedoso cabelo raspavam em seus ombros massivos.
Embry era um homem muito formoso, e ele tinha essa
sensualidade primitiva, que ela não queria fazer nada mais
que olhar para ele e beijá-lo sem pressa. Só rezava para
que não parecesse uma tonta enquanto o fitava. O que de
antemão ela sabia ser impossível. Ele a deslumbrava em
muitos níveis.
Os cinzentos olhos estavam devorando-a de volta,
testando seu coração fraco.
Puxando uma respiração profunda, Lee curvou os
lábios de leve e se levantou.
— Eu preciso ir. Minha folga foi ontem. Não posso
falta e dar chance para a Megera me dispensar por justa
causa. — Ele fez uma careta. — Ela faria isso, acredite.
— Maya não fará.
A certeza esculpida na voz grave dele fez seus
olhos estreitarem.
— O que quer dizer? E como sabe o nome dela?
O sorriso dele era pura arrogância.
— Ciumenta? — O sorriso dele diminuiu, embora a
diversão contornasse o tom adulador. — É uma cidade
pequena, doçura, aqui todo mundo conhece todo mundo.
Lee não parecia convencida, mas ela não queria
debater a questão e soar como uma psicótica ciumenta. —
Eu não te conhecia. — Foi mais forte do que ela.
— Isso é verdade. Se me conhecesse, não ficaria
ciumenta, embora goste disso. Saberia que sou seu antes
mesmo de colocar meus olhos em ti.
Desconcertada, Lee trocou o peso da perna, mas
não desmentiu.
— Não me respondeu.
— Há quantos dias crê que está aqui?
— Desde ontem à noite?
— Tente anteontem.
Seu olhar cresceu em choque.
— O quê? Não. Isso... Isso não é possível. —
Enquanto falava soando um pouco histérica, Lee andou as
pressas para o banheiro. — Minha Nossa! Ela vai me
escaldar viva! Como não percebi o tempo passando? Isso
é culpa desse tempo bizarro! Inferno, eu vou ter muita sorte
se ela me pagar...
Embry veio atrás dela e a chacoalhou de leve pelos
ombros, até que teve sua atenção. — Calma, doçura. Está
tudo bem. Trish ligou para Maya.
Lee respirou a onda de alívio e relaxou os ombros.
— Oh, se é assim, está bem... eu acho. — Ela deu a
volta para ficar de frente para o espelho, estranhamente
tranquila sobre o ocorrido. — Ainda assim, preciso ir. Já
faltei ontem e não quero bobear. O salário não é lá grande
coisa, para dizer a verdade, mas, você sabe, dá pra pagar
as contas e eu gosto de trabalhar lá com as minhas
meninas.
Como diabo ela não tinha percebido o tempo
passar?
Flashes repentinos dispararam em sua mente.
Oh, sim! O pênis do tipo era uma distração a parte.
Quase um crime.
Mãos pousaram em seus quadris, o fôlego dele era
uma carícia em sua têmpora. Lee respirou fundo quando
um estremecimento aquecido rodopiou sob sua espinha
quando os lábios baixaram para sua orelha, a língua
arrastando ao longo da concha delicada, até sugar o lóbulo
na boca. Em sua bunda, a ereção pesada fazia pressão
pungindo sua vagina, que não hesitou a respondê-lo com
desejo requintado vindo de forma crescente, com aquela
dor funda, que a fazia querer esfregar as coxas juntas.
Com fluídos quentes, que o faria deslizar em seu interior
com facilidade.
Era muita loucura que uma parte dela não quisesse
nada mais que fazê-lo seu?
Que quisesse os lábios dele nos seus?
Seu toque? Mesmo sua voz ao pé da orelha? Sua
respiração pesada?
Em qual nível de carência ela se encaixava ao
pensar que ele queria o mesmo?
Havia uma grossa ereção tentando-a, e ele parecia
muito pronto para lhe dar mais um pouco de ação suada.
Ela tinha amado estar com ele. Ele idem.
Sua respiração engatou enquanto seus dedos
cerravam em punhos.
— Você pode ficar mais — Embry persuadiu,
cativando-a com sua voz.
— Eu gostaria disso, mas preciso ir.
Lee não resistiu a pressionar para trás e rebolar,
recebendo um gemido rosnado dele. Estava disposta a
levá-lo numa rapidinha antes que se despedissem.
— Tudo bem — ele disse, desapontado.
— Ei, não é nada contigo, é só que...
Ela se calou buscando as palavras certas, não
querendo chateá-lo.
— Eu entendo, doçura. — Embry deslizou as mãos
para frente e abriu sua calça enquanto lhe falava num tom
cálido e arrastado. — Você precisa de um tempo para si
mesma para digerir o que aconteceu conosco. Está tudo
bem.
— Obrigada. Isso é doce.
— Você é doce. — Os lábios escovaram a coluna de
seu pescoço ao mesmo tempo em que a mão dele infiltrou
em seu jeans, cavando sua umidade então, arrastou de
volta, fazendo círculos lentos sobre o feixe de sensível de
nervos. — Poderia passar a vida te lambendo. — O toque
dos dedos e dos lábios criou ondas de calor dentro dela.
Lee ofegou.
— Embry... O quê...?
Ele moeu a ereção contra sua bunda.
— Eu não a impedirei de ir por mais que queira fazer
exatamente isso.
— Isso foi meio profundo, uh?
Ele não respondeu, puxando os dedos e, em
seguida, os chupou.
Ela não perguntou, trocando um olhar com ele pelo
reflexo então, agiram em sincronia. Lee desceu o jeans,
acumulando-o nas coxas enquanto Embry abria o zíper e
liberava o eixo quente e duro. Ele bombou a mão sobre si
mesmo.
— Levante a blusa, doçura. Me mostre esses peitos
bonitos. — A voz e a expressão dele estavam revestidas
de excitação. — Curve-se e se segure. Agora eu vou te
comer.
— Sim, por favor.
Uma mão segurou uma banda de seu traseiro,
abrindo-a enquanto ele usava a outra para guiar o pênis
em sua racha molhada, esfregando a ponta, revestindo-a
com sua excitação antes de encaixá-la em sua abertura.
Não houve aviso, nem pausa. Embry a penetrou num golpe
único.
Bruto. Duro. Implacável. Glorioso.
As bolas pressionadas contra sua pele, seu pênis
tão profundamente que ela de repente sentiu como se
estivesse sendo dividida ao meio, o fôlego foi arrancado de
seus pulmões. Lee gritou alto, a cabeça lançada para trás,
o lábio preso entre os dentes, moendo os dedos na borda
da pia, mal registrando o rosnado feral dele.
O rasgo de prazer era doloroso, atordoante.
Então, Embry começou a bater nela. Dentro e fora.
Rápido e rude. Seus peitos balançavam com força e logo
tiveram a atenção das mãos masculinas, beliscando os
mamilos rijos. Enviando disparos de sensações cada vez
que as unhas arranhavam os brotos rígidos, a picada de
dor era ardente. A boca fez uma festa em seu pescoço,
orelha e bochecha quando ela ergueu uma mão agarrando
um punhado de cabelo dele. Virando o rosto, buscou sua
boca. O beijo de Embry era pura alegria. Ela só queria
flutuar na sensação embriagadora de seus lábios doces e
de ser levada por seu pênis.
Ele grunhiu uma e outra vez, os joelhos flexionaram
para meter nela em um novo ângulo mais profundo,
acertando o ponto exato que fazia tudo girar em sua
cabeça e existir apenas eles dois.
Ele era tão bom, e ela o queria tanto.
Seus ofegos se transformaram em gemidos, os
gemidos em gritos.
Embry rosnou, escondeu o rosto na curva do seu
pescoço e chupou. Martelando cada vez mais rápido e
fundo dentro da sua buceta, levando-os ao prazer final. O
pênis dele inchou enquanto transava com ela, frenética e
ferozmente, a fricção tenra e intensa ao mesmo tempo.
Seu pau, os dedos ásperos em seu broto inchado. Ele
moveu-se mais e mais. Ela só pôde se segurar e desfrutar.
O clímax queimou através dela minutos depois e Lee
chorou, fechando os olhos. Ele veio logo atrás, rosnando,
antes de mordê-la no ombro, guiando-a em outra onda
poderosa de prazer. Bateu em uma última longa estocada,
cravando-se profundamente em seu núcleo acetinado e
travou dentro dela enquanto lançava jorros de sua semente
cremosa e rosnava sobre sua pele.
Encheu-a ao limite... seu pênis, seu esperma...
Embry estava nela, dentro e fora.
Lee experimentou a mesma conexão estrondosa,
aquele mesmo fio que os atava em um caminho sem volta
e impermeável. Ela se perdeu e ele a encontrou então, eles
estavam em torno um do outro. Sentindo-se. Vivendo-se.
Saboreando-se.
Quando abriu os olhos, ainda ofegando, Lee mirou o
reflexo deles no espelho e o viu lamber o convexo de seu
pescoço. O deslizar morno e úmido incitando tremores
aquecidos em sua espinha não apenas sexuais, era
carinho, afeto. Sua buceta ainda dava pequenos
espasmos, apertando-o, em resposta as suas lambidas.
Ela desejou cristalizar o momento para sempre.
Deus, o homem era afrodisíaco!
Ela poderia engarrafá-lo e fazer um bom dinheiro...
O pensamento de dividi-lo amargou-a, foi inesperado e tão
rápido que ele a olhou. Ela olhou de volta, perdida.
O dourado em seu olhar desvaneceu diante de seus
olhos, voltando a sua cor natural, aos incríveis olhos
acinzentados. Havia muita força naquelas esferas, muita
profundidade e mistério. Quanto mais olhava, mais ela o
queria, mais se sentia presa a ele, mais queria da sua
boca, do seu toque... seus sentimentos... Lee se sentiu
acolhida e amparada. Intrigada. Olhos inteligentes, que
prometiam uma devoção absoluta se ela se atrevesse.
Nada poderia atingi-la. Ele a protegeria com a sua vida se
fosse preciso.
O momento foi efêmero, mas eternizou em sua
mente com centenas de anos de promessas inquebráveis.
Lee não compreendia, mas sabia ser real.
Sua intensidade a pegou e enrolou fortemente em
uma teia de sentimentos, de algo que parecia brotar em
seu peito. Não podia conter, nem mesmo sabia se queria.
Uma vez que pôde liberá-la, Embry cuidou dela
como se fosse uma joia milenar. Limpos e vestidos, ele
segurou seu rosto nas mãos, o olhar preso ao seu.
— Nada que diz respeito a nós dois é brincadeira
para mim. Então sim, eu estou um pouco mais que
profundo aqui, companheira — disse ele, seu tom firme,
mas gentil.
Lee lambeu os lábios, nervosa.
Eles estavam intensos, e ela estava corando sem
jeito e, como sempre acontecia, sua grande boca bastarda
tirou o melhor dela antes que pudesse ajudar a si mesma.
— Não diga que me ama?
— Não, ainda não. Mas tenho sentimentos
profundos por ti.
— Oh, graças a Deus... uh, quero dizer, não me leve
a mal, mas isso de amor a primeira vista é um tanto piegas
e sonhador demais. Bom, eu sou sonhadora, talvez um
pouco entusiasmada, mas não acredito muito nessa coisa
de conto de fadas. Quero dizer, até acredito, porém eu não
sou uma simpatizante dos príncipes encantados.
Embry lhe deu um olhar cheio de significados
ocultos.
— É uma coisa boa que estamos sendo honestos
um com o outro.
— Nem me diga.
Lee sorriu aliviada que sua boca grande não tivesse
tocado o único cara decente que ela já tinha tido a chance
de pôr as mãos e que parecia querê-la, igualmente.
Virando-se para a pia para amarrar o cabelo, ela
prosseguiu:
— É um alívio saber que estamos às claras aqui, os
caras normalmente...
O rosnado dele cortou suas palavras ao mesmo
tempo em que Embry a girava de volta. Ela encabeçou
para trás, surpreendida, enquanto ele inclinava a cabeça
para baixo, seus traços severos, os lábios sensuais
repuxados. Ele fez aquele som animal, realmente
grunhindo.
Era sexy como o diabo.
— É minha, Leah! Só minha. Eu não sou como
qualquer outro cara que já tenha conhecido, assim, deixe
de falar deles. Há apenas eu aqui e, no que depender de
mim, serei o último macho que terá em sua vida.
Grande. Agora ela tinha ferido os sentimentos dele.
Lee não gostou disso. Sentiu-se estranhamente culpada, o
humor morrendo, cobrindo o bem-estar de há pouco.
— Desculpa, eu não quis dizer dessa forma.
A expressão dele suavizou, bem como, seu próprio
animo.
— Não gosto de ser comparado nem de
compartilhar. — A voz era macia, os olhos firmes como
aço. — Não irei compartilhá-la. Eu sou seu e você é minha.
Lee engasgou na declaração e sorriu nervosa,
novamente.
— Uh, estamos ambiciosos aqui.
— Estamos?
O olhar dele a desafiava a negar, porém ela não
podia.
A ideia de ser dele, de ser tomada e amada apenas
por ele era... confortável.
— Sabe o quê? Eu ainda não sei quem você é.
Digo, sei seu nome, não o seu sobrenome. Não que isso
faça muita diferença depois do que aconteceu entre nós,
quero dizer, ficamos juntos e tudo mais... Deus, deve estar
pensando que sou uma promiscua, hein? Pode ser difícil
de acreditar, mas juro que não costumo agir assim... É só
que você... — ela tentou, mas tudo que saiu de sua boca
foi um sopro de ar.
— Eu não estou pensando nada além de que você é
uma mulher linda, divertida e muito desejável, com quem
quero estar. — Seu rosto aqueceu, e ele colocou uma
mecha ruiva detrás da sua orelha enquanto acrescentava.
— Embry Warden.
Ela estalou com uma risadinha. — Leah Diaz. Lee.
Sua língua deslizou pelos lábios e o olhar dele
pescou isso, e, em seguida, Embry estava estirando seu
lábio inferior entre os dentes dele, o som sexy que ele fazia
explodindo na boca dela. Ao recuar, Lee estava mole por
todas as partes.
O tipo era uma droga em seu sistema, apenas o
toque tinha a capacidade de embriagar seus sentidos. Lee
não sabia se a coisa certa a fazer era temer, na dúvida, ela
desfrutou disso, sobretudo, por ela parecer ter o mesmo
efeito sobre ele.
Eles compartilharam um olhar e um sorriso, até que
sua mente estalou repentina.
— Oh, Minha Nossa!
Ele a mirou em alerta.
— O que foi, doçura?
— Nós não usamos camisinha e eu não estou no
controle — ela murmurou atormentada, batendo a mão na
testa. — Puta merda! Como pude dar uma falha dessas?
Embry agarrou seus braços.
— Ei, eu te disse que está tudo bem. Juro a você,
não tenho nada.
Uma careta corrompeu seu rosto bonito.
— Você sabe. Preservativos não previnem somente
doenças.
Ele enrijeceu e ela deu um olhar compreensivo.
Eles estavam tendo um bom momento aqui, um que
não precisava ter consequências. Bebês precisavam de
estabilidade, de um casal apaixonado e dispostos a
construírem uma bonita família. E eles... Bom, eles
estavam indo bem, curtindo um ao outro, mas a verdade é
que mal se conheciam para chegarem a tais extremos.
— Você não está grávida.
Ele parecia muito certo do que dizia, e ela acreditou
nele.
— Oh, uh... Isso... isso é bom.
Embry ainda estava rígido, o semblante confuso e
um pouco apagado. Isso afundou nela própria de uma
maneira desconcertante. Era como se, de repente, ela
também se sentisse apagada.
— Não quer bebês?
— Quero, claro que quero! Só não quero agora. Não
me entenda mal, nós estamos tendo um lance legal aqui,
Embry, mas não acho que há espaço para bebês agora.
Não é hora, não acha? Quero dizer, bebês são legais, só
não agora. Você...?
— Eu quero. — E acrescentou. — Não me
incomodaria se fosse com você. Em verdade, eu somente
os terei se for contigo, querida.
— Não pode dizer isso nem afirmá-lo. É loucura.
O olhar dele era decidido. — Sim, eu posso. Não há
nenhuma loucura nisso. É como é. Minha semente não
vingará em nenhuma outra fêmea que não seja você.
Lee não podia se decidir o que espantava mais se
era sua expressão amolecendo com alívio pela declaração
verossímil enchendo seu peito com uma comoção
aduladora, ou o fato dele ser um cara e estar falando
tranquilamente sobre ter bebês com uma desconhecida.
Também havia aquela pontada de lisonjeio por um homem
como ele querer ter bebês com ela.
Teríamos incríveis bebês. Robustos e lindos.
— Obrigada, eu acho.
Lee retornou ao quarto e ele a seguiu, pensativo.
— Que horas acaba seu turno?
— Às dez.
— Eu estarei lá cinco minutos antes.
Uma onda de felicidade se derramou sobre ela e um
tímido sorriso curvou seus lábios, antes que os dentes
cavassem o lábio inferior. Mal podendo conter a excitação.
Embry não a estava deixando, e ela poderia exibi-lo
como seu.
Ela poderia voltar para os seus braços depois de um
dia cansativo, poderia lhe beijar e tocar, novamente. Fazer
amor... O calor ondulou entre suas pernas.
Lee tragou, espanando os pensamentos que
começavam a se formar.
— Tem certeza?
Embry juntou um casaco e agarrou as chaves da
camionete.
— Não quer que eu vá?
— Eu quero... muito. Eu só, sei lá, pensei que talvez
quisesse seu tempo.
Os olhos cinzentos pousaram dentro de seu olhar.
— Eu terei meu tempo enquanto estivermos afastados e
este será o pior maldito tempo em toda minha vida que
terei longe de ti. E, acostume-se, doçura, eu irei te buscar
todos os dias. E quando não estiver trabalhando, estará
aqui comigo ou poderemos ficar em sua cabana.
— Você tem tudo arrumado, uh?
— Não tem porque fazermos jogos. Eu te quero e
você me quer. Por que faríamos jogos quando podemos
usar esse tempo para desfrutar da companhia um do
outro?
O sorriso foi lento e sapeca quando ela bateu os
cílios para ele.
— Coisa Quente, eu gosto do seu raciocínio.
— Bom.
Ele a beijou, selando o acordo mudo.
— Vamos, eu te levo — ele disse, guiando-os para
porta.
— Está tudo bem, Embry. Eu posso ir sozinha. Você
deve ter coisas para fazer.
— Não perguntei se pode, vou levá-la. Você é
prioridade. Eu não vi nenhum carro ou snowmobile na casa
de Caleb. O que me faz questionar, como chegou aqui?
— Eu teria vindo com um auxilio motorizado, mas
meu carro morreu e o snowmobile também me deixou na
mão. — Ele a olhou aborrecido. — Eu precisava ver como
Bonita estava.
A carranca dele se aprofundou com chateação.
— Subiu a estrada a pé?
— Eu já disse, precisava ver como Bonita estava.
— Doçura, você é uma boa amiga para enfrentar
todo aquele caminho no tempo que temos aqui, mas foi
imprudente da sua parte. Não quero que faça isso de novo.
Ela estava tocada. Nunca nenhum cara antes tinha
demonstrado um terço da preocupação que os olhos dele
demonstravam. E Embry não estava fingindo.
— Eu não vou — prometeu, querendo agradá-lo.
— Mantenha esse pensamento, do contrário, haverá
consequências se voltar a se colocar em risco sem
necessidade.
O tom de sua voz a fez estremecer enquanto se
recordava sua punição. Não era uma ameaça nula, senão
uma declaração de algo certo. Ele não iria hesitar em
castigá-la. Lee não soube bem o que pensar, exceto que
uma parte dela gostava. Não do castigo, mas dele, de
Embry. Gostava que ele se preocupasse, que se
importasse.
Embry continuou em tom casual, como se não
tivesse acabado de dizer que surraria sua bunda. — Hoje
eu vou levá-la, assim podemos aproveitar para irmos juntos
à loja de móveis para comprar uma cama nova, antes que
entre no trabalho.
O shifter rosnou, com os punhos cerrados em cima
da mesa de interrogatório.
— Eu não estou aqui para prejudicar ninguém.
Collin, o Executor-chefe, manteve sua face
imperturbável em um silêncio mordaz. Os olhos azuis frios
como gelo eram letais, atentos ao menor movimento do
outro macho sentado na sua frente, agressividade
ondulando suas células.
Lucius ainda não estava dando nada, exceto repetir
a mesma frase suspeita. Ele também não tinha esboçado
qualquer indício agressivo de que queria lhe quebrar um
membro ou rasgar a sua garganta para tentar fugir – não
que fosse conseguir um ou outro, – desde que começara a
ser interrogado nas últimas duas horas depois de dias de
isolamento que teria enlouquecido qualquer um. Collin
estava disposto a rasgar a garganta dele, caso o macho
desonrado fizesse algo estúpido em qualquer direção. E o
Executor não fez disso um segredo. Em verdade, Collin
duvidava até que o macho tivesse força para levantar o
punho. Lucius estava sendo alimentado regularmente e
monitorado de perto desde que fora capturado há poucas
semanas. Ainda levariam algumas outras para que ele se
recuperasse por completo. Mas sua força vital não poderia
ser recuperada com tanta facilidade nem totalmente sem a
ajuda de sua companheira. O macho estava magro, algo
bem próximo da exaustão, e demorando a se curar dos
ferimentos causados na luta com o Alfa, uma vez que tinha
voltado à forma humana e não possuía forças suficientes
para a mudança em sua forma lupina. O que aceleraria sua
recuperação. Grandes e profundas olheiras ao redor dos
atormentados olhos de rubis quando o lobo danificado
raspou na borda, querendo sair.
Havia poucas coisas no mundo que podiam ferir
gravemente um shifter a ponto de substituir a pureza
dourada pela agonia vermelha. Este era um terrível
destino, que fazia todo shifter correr de medo, exceto este
bastardo. Ele tinha chamado o inferno sobre si por puro
egoísmo e vaidade. E levado sua fêmea prometida com
ele.
Collin se inclinou para frente, os olhos fixos, sua voz
profunda e assustadora.
— Não? — A sobrancelha fez uma curva
desdenhosa. — Eu não tenho tanta certeza disso,
considerando seu histórico e suas rondas em nosso
perímetro sem se anunciar. Para um civil que não quer
prejudicar ninguém você foi bem precavido, não?
O macho empurrou para trás, a sombra arrogante
deslizando em sua face.
— Eu não estava fazendo nada que não estivesse
em meu direito fazer. Não fui banido do bando até onde sei.
O que diz que eu posso caminhar livremente pelo
perímetro sem ser considerado uma ameaça, a não ser
que as regras tenham mudado. Sei que Caleb fez algumas
mudanças aqui. Mas, então, você terá de me dar essa
vantagem, pois eu não estava aqui para pegar o
memorando.
— Verdade, você não foi banido — Collin murmurou
em uma calma perigosa, seu tom de voz era baixo e plano.
— Isso, no entanto, não faz de Snowville seu lar. Não mais.
Um traço de fúria rastejou sobre o semblante de
Lucius quebrando sua arrogância.
— Isso não é você quem decide, nem mesmo Caleb.
— Atacou a fêmea dele. Isso dá a ele o direito de lhe
matar sem que haja consequências, mesmo você sabe
disso. — O nojo permeado em um quinhão de fúria contida
não podia ser ocultado da voz de Collin. — Atacar a fêmea
de outro macho, uma prometida, é uma desonra paga com
a sentença de morte.
Antes que ele pudesse responder, Caleb se
aproximou saindo das sombras, mantendo o olhar dourado
brilhante fixo no prisioneiro. O poder fluía dele em ondas
densas de perigo e tensão, a violência silenciosa implícita
em cada movimento. E quando ele falou, sua voz era
assustadoramente calma e controlada no tom barítono.
— Você já causou muitos estragos aqui, Lucius. Não
permitirei que faça qualquer coisa para prejudicar esse
bando novamente enquanto eu estiver vivo e no comando.
E eu pretendo morrer no comando e não será logo. Assim,
pense bem na resposta da pergunta que farei. Esta pode
ser sua última palavra. O que quer?
— Tenho algo meu aqui.
Os traços de Caleb se apertaram, mas ele não se
moveu.
— Você não tem nada aqui.
— Ela é minha!
Lucius rosnou em uma explosão completa...
... Caleb atacou.
3

PROPOSTA

Lee o seguiu com os olhos encantados.


Embry se encontrava particularmente atraente nesta
noite enquanto deslizava com graciosidade predatória
através da sala, vestindo jeans e um peito muito nu, com
os grandes pés descalços. E você sabe o que dizem sobre
pés grandes.
Lee suspirou afetada e engoliu.
Essa era uma visão sólida de um sonho molhado
tornando-se realidade.
Estavam na casa dele após mais um fim de turno,
como virou rotina. A iluminação suave se derramava pelo
ambiente, cobrindo um espaço maior conforme Embry ia
acendendo o restante das velas espalhadas pelo cômodo.
Havia eletricidade, claro!
Embry, porém, parecia ter uma preferência pelas
chamas.
E a Lee encantava.
Toda aquela iluminação bruxuleante criava um clima
erótico propício aos amantes apaixonados, potencializando
suas reações e sensações a ele.
Embry era afrodisíaco.
Assistir os poderosos músculos de suas costas na
luz dançante era seu novo hobby favorito. Aqueles
músculos duros se moviam embaixo da pele ao mínimo
esforço, de uma forma sensual e hipnótica, lhe arrancando
curtos e débeis suspiros em um rápido intervalo de tempo.
Uma sutil demonstração de força e de virilidade. Ele era
letal. Criava reações nela, pequenos estremecimentos
aquecidos correndo por sua coluna e irradiando nas pontas
maduras de seus seios. Lee queria beijar aquela parte
dele, trilhar cada ondulação muscular perfeita com as
pontas dos dedos. Mordiscar também parecia bom.
Lee tinha se tornado uma grande mordedora. Embry
fazer amor com mais vigor e selvageria indo tão profundo,
que ela não podia discernir entre eles, toda vez que lhe
dava uma dentada de amor. Isto só alimentava seu mau
hábito.
Ele gostava de seus dentes nele. Ela também
gostava disso.
Lee o desejou desde o primeiro momento. Esta
atração não estava parando nem diminuindo. Talvez fosse
sua carência acima do nível da normalidade, mas olhando-
o se mover a hipótese caiu por Terra.
Embry era um cara grande, implacável e sexy.
Bastava olhá-lo para tê-la molhada e dolorida. Se isso não
o fazia especial, fazia dela uma tremenda tarada.
Uma risadinha baixa escapou, e os olhos
acinzentados a buscou sobre o ombro.
— Divertindo-se?
— Muito. — Sua língua correu pelos lábios ao
digitalizá-lo da cabeça aos pés para encontrar seus olhos e
esse comichão arranhando sob a pele. Ela não fez nada
para ocultar a malícia de sua expressão e sua voz. — É
uma visão e tanto daí.
Ele assentiu bruscamente, acendeu a última vela
então, foi abrir a garrafa de vinho.
Lee exalou num sopro e, em seguida, lambeu os
dedos sujos de chocolate.
A suave luz das velas combinada ao crepitar
ininterrupto da lenha queimando na lareira fez o ambiente
cair em uma atmosfera misteriosa, envolvente e sedutora.
Tinha uma grande tempestade de neve se formando
lá fora, o uivo do vento era uma sinfonia constante
cortando o ar gélido com rápidas e afiadas passadas. Essa
era uma daquelas noites excepcionais de Inuvik, onde uma
lareira acesa e um bom sistema de arrefecimento não eram
o bastante. Necessitaria estar embrulhada com roupas
quentes e enrolada em grossos cobertores em uma cama
quentinha e macia. Todavia, o frio não tinha permeado o
ambiente. Estava agradável dentro, talvez até um pouco
mais que agradável. Lee sabia que seu aquecimento tinha
a ver com Embry, de alguma forma que ela não podia
compreender. Não se tratava de atração... Era mais...
Embry tinha se desfeito da camisa e do casaco logo
que entraram, e ela deu o mesmo fim as suas botas, meias
e casaco. Estava quente e olhar para ele a fazia se
aquecer em novos níveis.
Ele trazia calor para sua vida.
Lee gostava do calor.
Seu olhar disparou para o canto onde ele estava
manuseando o saca-rolha.
Ela gostava dele. Gostava muitíssimo. E cada vez
que o olhava, ela gostava um pouco mais. Era como ser
preenchida por um sentimento delicioso, que a fazia sorrir
sem o menor esforço e aquele sentimento de alegria
borbulhar dentro dela.
Embry respondeu ao seu olhar como se o
pensamento tivesse ecoado em ondas sonoras, o que ela
sabia não ser possível. O intenso olhar dele fez queimar
suas bochechas e seu coração inchado de encanto. Seu
pulso se apressou. Tremores repentinos brotaram em sua
pele, deixando um rastro erótico de antecipação.
Lee respirou fundo.
Controle-se!
Tinha passado muito tempo sem se envolver
emocional e sexualmente com alguém, não por opção, mas
por falta dela. Os homens que conhecera em Inuvik eram
combatentes fora de ação. Entre os caras com mais 50
anos, os casados e os forasteiros que estavam somente de
passagem, zelar de sua solteirice soava como o paraíso.
Então Embry tropeçou em seu caminho e a devastou num
par de horas.
Lee nunca antes tivera um homem que a fizesse se
sentir como se fosse sua.
Era fácil estar com ele.
Era fácil ser dele.
Os olhos cinzentos de Embry a fixou quando ele
atravessou a sala. Sua ereção acampando o jeans com
orgulho. Fez saltar seu coração, novamente.
Não era só sobre o desejo carnal, havia mais que
essa comoção feminina por ser desejável para ele. Embry
a fazia bem em tantas maneiras distintas. Ele não estava
detendo esforços para isso. Ele a fazia se sentir viva,
mulher em sua mais pura essência, como ela nunca
pensou ser possível além das páginas dos romances
melosos.
Lee já estava muito envolvida, decidiu, e não se
importava o mínimo.
Embry lhe ofereceu uma das taças com vinho tinto,
e depois se sentou na frente dela. Lee sorveu um gole
generoso acalmando a própria luxúria. Ele a imitou.
— Qual é o lance das velas?
Curiosidade agitou a sobrancelha dele.
— Não gosta?
— Gosto. — Ela encolheu os ombros, comendo
mais um pequeno bocado da torta de avelã, que ele tinha
trazido quando a pegou no trabalho. — É só que tenho
reparado que as prefere a eletricidade, pelo menos no
quarto. Desde que me raptou a primeira vez sempre tem
um punhado delas espalhadas pela casa.
O sorriso dele surgiu lendo e preguiçoso.
— Raptei, hein? — Ele flertou, segurando seu
queixo antes de se inclinar para frente e lamber os lábios
sujos com o rastro do creme saboroso. Lee ofegou e
lambeu os próprios lábios, em seguida. — Você gostou de
ser raptada, doçura?
Ele estava brincando com ela, seduzindo-a de
maneira eficaz, deixando derretida e necessitada muito
rápido. O zumbido erótico entre eles a fez querê-lo mais
próximo. Conectada a ele em todos os níveis. Subir em seu
colo e tê-lo rodeando-a por todos os lados. Lee gostava
quando Embry colocava as coisas assim, quando o sentia
dominá-la com um simples olhar e venerá-la ao mesmo
tempo. Ela estava altamente inclinada a se submeter ao
poder dele, ao seu romantismo, aquela poderosa força
invisível de luxúria, de bem-querer, de ser cuidada, de
pertencer. Lee adorava o último pensamento.
Ela o olhou sob as pestanas pesadas.
— Você sabe que sim — Lee concedeu baixinho,
recebendo o beijo experimental.
Os lábios dele roçavam com suavidade molhada, a
língua era só uma insinuação, instigando-a a querer mais
quando ele a empurrava para ela somente para um gosto,
mas não a permitindo ter totalmente.
Sua vagina apertou com entusiasmo. Lee gemeu.
Ela queria mais de seus lábios, da língua
brincalhona.
Embry controlou.
— Raptá-la foi a coisa mais acertada que já fiz na
minha vida.
Lee quis gritar para ele fazer uso do cartão de boas-
vindas, que ele tinha ganho, para ir direto para sua
calcinha. E, novamente, ela cedeu ao comando mudo dele.
Embry sugou a agitação frenética de seu coração
em seus lábios, chupando o inferior demoradamente com
um estalido prazeroso quando a soltou. Ele se afastou e
bebeu mais vinho de sua própria taça. Lee o imitou,
bebendo um pouco mais. Não era fraca para bebida, mas
disse a si mesma para ir devagar sem realmente se ouvir.
Embry a desconcertava com suas palavras, sua
intensidade, as sensações e sentimentos. Constantemente,
bombardeada por tudo que ele desencadeava em seu
íntimo. Pensar, quando ele estava em causa, era um
esforço inútil.
Ela era fraca por ele.
Ele a arrastou para que estivesse entre suas pernas,
com as costas apoiadas em sua frente e um dos braços
contornando-a enquanto a palma quente acariciava sua
barriga sob a blusa, acalmando. Como ele fazia isso com
ela, era um mistério.
Embry prosseguiu. — Há algo especial sobre a
perspectiva dessa iluminação. Gosto do clima acolhedor e
intimista que a chama produz, sempre me acalma e relaxa
quando preciso. — Ele perseguiu a coluna de seu pescoço
indo para a marca, com os lábios e a língua, plantando um
beijo, e acrescentou num tom sexual profundo e
enrouquecido. — E eu gosto de vê-la nua sob essa luz. É a
coisa mais sexy e linda que já vi.
Lee estremeceu, com um exalar arrastado.
— Você não economiza elogios, hein? Eu gosto.
— Me fale sobre você, — ele pediu, de repente.
— Sobre mim?
— Por favor.
— Certo. Não morra de tédio.
Ele deu uma risada profunda.
— Nunca poderia. Me fascina, Leah.
Cara, ele estava tentando lhe dar um enfarte.
Ignorando os calafrios contínuos, a sensação
tentadora da ereção contra a parte baixa de suas costas e
a vontade que tinha de se esfregar nele, Lee respirou fundo
e tentou se concentrar.
— Eu vivia em Charlotte, Carolina do Norte, antes
de vir pra cá. Na verdade, vivi lá desde que nasci. Mamãe
morreu de câncer quando eu tinha 10 anos.
O polegar dele parou de varrer seu estômago.
— Sinto muito. Deve ter sido difícil.
— Obrigada. — Ela olhou para trás e sorriu de leve.
— Eu sei que parece horrível dizer isso, ainda mais sendo
filha, mas foi o melhor para ela. Me conforta saber que
mamãe já não sofre mais, que está num lugar melhor e em
paz.
— Tenho certeza que sim.
Embry voltou a mover o polegar e lhe deu um beijo
na têmpora. O conforto dele se afundou nela. Seu amparo
a fazia querer sorrir de ponta a ponta.
Ele era tão bom para ela.
— Papai é músico e vive viajando desde sempre.
George é um boêmio. Quando era menina, ele me levava
para os shows de Jazz com sua banda e me dava um
montão de diversão com boa música, e um pacote grande
de amendoim M&Ms.
— Deve ter sido uma boa infância.
— A maneira desprendida dele pode deturpar um
pouco as coisas, e, de fato, fazia isso entre nossos vizinhos
mais tradicionais. Papai é um grande homem.
Ela aceitou o bocado de torta que ele ofereceu de
seus dedos.
— Eu cresci e trilhei meus próprios caminhos por aí.
Lee o escutou chupar os próprios dedos. Ela queria
vê-lo, olhar para ele, estar acessível para monitorar seus
olhos e sua boca. Certo. Ela queria mais que isso.
— Sempre foi garçonete?
— Oh, não! — riu. — Eu era/sou jornalista.
— Jornalista?
A surpresa na voz dele a fez sorrir e, em seguida,
dissimular uma aborrecida seriedade quando deu a volta
sentando-se escarranchada no colo dele.
Assim está melhor. Muito melhor.
— O quê? Sou muito desenvolta. Não permita que
minha bela aparência te engane. Há muita inteligência por
detrás deste rosto bonito e esse vermelho ardente.
A cabeça dele balançou, diversão lampejando em
seus olhos.
— Sei, doçura. É só que nunca imaginaria uma
jornalista.
A mão que antes acariciava sua barriga moveu-se
para suas costas, assentando e incendiando ao mesmo
tempo, o calor percorrendo seu corpo. Era tão bom, a
sensação muito prazerosa de estar assim com ele, que Lee
não queria nada mais que abraçá-lo e sentir a pressão
gostosa de seus corpos.
— Eu sei, eu sou um kinder ovo. Uma casca bonita
e atraente... e deeeliciosa, recheada de surpresa, hein? —
ela piscou sedutora.
— Há um pequeno jornal aqui.
Lee dispensou com um gesto de mão.
— E reportar o quê? “Hoje está mais frio que ontem
e amanhã estará mais que hoje. Sra. Bloom continua
saindo com seu casaco horrível da Era dos dinossauros,
com o gato enrolado no pescoço.” Nah! E outra, eu gosto
muito do meu emprego.
Ela se moveu mais para cima, num gesto
involuntário, buscando um contado maior com a virilha
dele. As mãos de Embry desceram agarrando sua bunda
com firmeza, puxou e forçou para baixo onde ela queria.
Os dois exalaram num sopro audível.
Porcaria. Ela tinha que ter tirado a calça também. O
atrito da costura do jeans contra seu clitóris inchado era
prazeroso e doloroso ao mesmo tempo.
Lee quis se mover, provocar o atrito gostoso, mas
Embry a manteve segura.
Ele relaxou visivelmente diante de seus olhos, com
as costas apoiadas contra o sofá, porém Lee podia sentir a
tensão de suas mãos, domando-a.
— Não gostava do seu antigo emprego?
Irritada pelo freio, ela olhou.
— Gostar eu gostava, meu chefe é quem não
gostava de mim.
Lee deu a ele sua trágica e cômica história no
jornalismo, por um momento distraindo-se da luxúria
engrossando entre eles. Ela não poderia dizer se ele queria
rir. Embry parecia muito surpreso para demonstrar qualquer
outra reação.
— Vai me mostrar um desses vídeos?
Ela deu de ombros.
— Se quiser.
— Quero.
— É só me mostrar um computador.
Lee se inclinou, espalmando o peito espetacular
correndo as mãos para os ombros, sua cabeça pendeu, e
então, ela arrastou o nariz pela coluna forte de seu
pescoço. O tato e seu aroma fizeram maravilhas para
distraí-la. Lee lambeu a pele abaixo da orelha e capturou o
lóbulo, rolando-o entre os dentes. Embry assobiou. Ela
sorriu.
— Isso te incomoda?
— O quê? Te provocar? Beijar você? Eu amo.
Ele gemeu. — Os vídeos te incomodam? Poderia
entrar com uma ação...
Lee encabeçou para trás. — Não mais. Não vale a
pena. Mundo globalizado. Bem-vindo! Na verdade, acho
graça e me divirto. Me incomodou de início porque isso me
tirou algumas coisas e me privou de outras, mas papai me
ensinou desde pequena que, se me dessem um limão, eu
tenho a obrigação de fazer uma gostosa limonada.
— Ele é um homem sábio.
— É o que todos dizem — ela ronronou, dobrando-
se para beijá-lo.
— Eu gostaria de conhecê-lo.
Lee parou no meio do caminho.
— Sério?
Embry não parecia brincar, havia muita seriedade
em seus olhos bonitos.
— Ele é seu pai e parece ser um cara incrível.
— Tudo bem.
Mais perto...
— Você deixou alguém lá?
... Uma pausa.
— Você quer dizer um namorado?
Embry anuiu, tenso, de repente. Ela poderia jurar
que também havia uma ligeira sombra ciumenta em seus
olhos especulativos.
Lee empurrou para trás e buscou a taça de vinho ao
lado.
Por que seus malditos seios estavam doendo tanto?
E, doce Jesus, ela se sentia tão molhada, tão
necessitada e terrivelmente pronta, que deveria ter
manchado seu jeans. Estava vazando. Doendo. Pulsando.
— Eu tive um namorado. Um babaca completo. Eu
não sabia que ele era um babaca, ele escondeu bem
durante dois anos e meio, até que fiquei famosa na web.
A expressão de Embry endureceu com severidade.
— O que aconteceu?
— Ele queria se dar bem em cima disso, aliás, em
cima de mim, foi quando soube que ele era um total e
completo babaca então, o deixei com um belo ponta pé na
bunda. Eu podia não ligar, mas não queria mexer no
vespeiro. — Lee serviu Embry com o último gole de sua
própria taça. — As pessoas não me levavam a sério por
causa dos meus 15 minutinhos de fama, tinha tudo isso de
não poder alavancar no departamento que eu queria,
porque meu chefe me ferrou, meu ex-idiota. Meu pai estava
indo bem com a banda e suas próprias coisas. Então, eu
decidi tentar algo novo em outro lugar.
Embry pegou um bocado da torta para si mesmo.
— Teve outros lugares em mente?
— Não, — Lee murmurou sem emprestar muita
atenção, tinha o ibope voltado para os dedos dele, e
quando ele fez o movimento para limpá-los, ela segurou
sua mão e a puxou para sua boca. Lee sugou todos os três
dedos sujos de creme de avelã sob o olhar ardente de
Embry. Ele fez aquele som sexy e se moveu embaixo dela,
sujeitando o quadril para cima, pressionando contra sua
vagina. Um movimento breve, que teve sua feminilidade
latejando lá no fundo e mais empapada, se possível.
Embry gemeu. Lee arfou soltando o terceiro dedo
com um pop.
Ela se sentia ainda mais quente, mais ligada.
Talvez o calor todo se devesse à lareira, as chamas
estavam em seu auge e eles estavam perto do fogo. Isto,
no entanto, não explicava a sensibilidade em seus
mamilos.
Ela precisava de Embry... e estava facilmente
chegando ao seu limite.
— Por que Inuvik?
Lee guiou a mão dele por debaixo da sua blusa,
empurrando a taça do sutiã, a mão dele cobriu seu seio. O
contato da palma quente contra o mamilo a fez se esticar
com o disparo de prazer requintado. Ela gemeu e buscou
mais, manipulando a mão corpulenta. Esfregando mais
duro. A fome luxuriosa agitou a boca de seu estômago.
Embry a deixou manusear por alguns segundos,
grunhindo baixinho.
— Lee, querida, me responda.
Ela fechou os olhos e esfregou mais forte enquanto
movia o quadril.
Embry a chamava, porém Lee não quis abrir os
olhos. Desta forma, poderia desfrutar melhor do prazer, do
toque áspero e macio, mas Embry tinha planos próprios.
Lee abriu os olhos, brava, e o fixou por debaixo das
pálpebras.
Ela sabia como se parecia quando viu o olhar dele
incendiando sobre ela e a dureza de sua mandíbula. Uma
mulher necessitada, faminta pelo que somente seu homem
poderia lhe dar. Embry era esse homem. Nenhum segredo.
— Por favor, — ela se viu rogar.
Ele rosnou baixo e ameaçador.
— Quero conversar.
— Podemos fazer os dois — ela disse num fôlego
só, soltando-o para agarrar a bainha da blusa e a puxou
sobre a cabeça, jogando-a de lado.
Ele rosnou de novo e praguejou.
Ele se inclinou ao mesmo tempo em que ela se
curvou em oferecimento. A respiração dele pressionou
sobre sua pele quente então, a umidade morna cobriu seu
mamilo quando Embry fechou os lábios sobre o broto. A
língua balançou em volta, esfregando em cima e ele
chupou forte, fazendo-o mais sensível.
Embry trabalhou em seus mamilos a sua maneira.
Correntes de prazer saiam daqueles pontos
percorrendo todo seu corpo e alojando-se no interior de
suas pernas. Lee se voltou queixosa.
Ela estava morrendo de desejo.
Seu corpo começou a tremer, a necessidade
arrancando respostas involuntárias de seus membros.
Precisava se mover contra ele. Precisava beijá-lo, senti-lo
intimamente. Precisava das mãos dele, de sua boca, de
seu pênis. Fazer deles um só.
Precisava de Embry. Só ele.
Ele rosnou fundo em sua garganta, o som
tremulando em um torvelinho de sensações através das
pontas madura até atingir seu sexo e se espalhar.
Ela segurou a respiração.
Ele chupou uma última vez com um estalido forte.
Lee ofegou e se contorceu, mordendo o lábio.
Ele olhou para ela com olhos estreitos, de escuridão
e cobiça.
Uma energia sobrenatural passou pelo lugar, o ar
inchado com o erotismo.
— Mmmm... Mais!
Lee empurrou os seios para ele, mas Embry parecia
decidido a torturá-la.
Ele estava tentando esfriar as coisas, mantê-la na
espera e tornar tudo mais intenso. Ocorre que, se ficasse
mais intenso, ela iria derreter em uma poça sob seus pés.
Ele a fez olhá-lo nos olhos.
— Você terá mais — prometeu, dando um último
chupão no outro seio, deixando a ponta inchada e
vermelha. — Agora, me responda. Por que Inuvik?
— Não sei, Embry. Eu só olhei no mapa e Inuvik
brilhou. Isso faz sentido?
— Absolutamente.
O sorriso dele estendeu amplo e brilhante, muito
sedutor, queimou seu coração e a fez arder loucamente.
Ele a puxou pela nuca e a beijou com intensidade,
enrolando a língua na dela, chupando-a com estalos
molhados e grunhidos sensuais.
O beijo cresceu e cresceu.
Nutrindo seu desejo.
Roubando seu ar.
Embry a soltou muito cedo. Lee fez bico.
— Você é mau — ela resmungou, ofegante.
— Você é impaciente — ele devolveu com uma nota
sutil de repreensão.
Lee lambeu os lábios, olhando para os dele e depois
em seus olhos. Ela quase podia saborear a sensualidade
rastejando em torno deles.
— Você me deixa impaciente.
— Eu quero que a gente se conheça, Leah. Pode
me dar isso? — ele adulou, esfregando suas costas, quase
que instantaneamente Lee se acalmou. O desejo
rastejando para zonas mais cômodas, esperando, como se
obedecesse a uma lei maior.
Com um suspiro, ela se rendeu. — Certo. Sua vez.
O que faz para viver?
— Eu ajudo Caleb.
Suas mãos espalmaram nas coxas quando o olhou
com atenção.
— E o que Caleb faz?
Embry coçou o queixo, pensativo.
— Ele administra Snowville. Eu sou seu braço
direito.
— Assim ele é o rei do pedaço por aqui, certo?
— É uma maneira de ver isso. — Ele segurou a
lateral de seu rosto com carinho, e Lee não resistiu a
inclinar a cabeça, pressionando mais contra a palma. —
Nós somos diferentes, doçura. Nossa sociedade possui
tradições, regras e costumes próprios.
Lee fechou as mãos nos grossos pulsos dele.
— E você vai me dizer isso?
— Pense em Snowville como uma grande matilha.
Sua testa plissou com estranheza e diversão.
— Como os lobos?
— Já ouviu algo a respeito?
Lee puxou suas memórias do NetGeo.
— Eles formam uma hierarquia com alfas, betas e o
ômega. O casal dominante é o alfa, o outro, beta, fica no
comando secundário. O ômega está em uma posição mais
baixa, se não estiver falando abobrinhas — ela disse meio
incerta.
— Correto. Nesta matilha, Caleb é o alfa, o que faz
de Trish sua Prima. É Caleb quem toma as decisões por
aqui porque ele é superior em força, habilidade e
inteligência aos demais. Trish, como sua companheira,
comanda as fêmeas do nosso bando, e é sua vice-líder. Na
ausência de Caleb, o beta comanda, mas precisa do aval
dela.
— Será que Trish sabe disso?
Lee podia se lembrar da amiga não querendo
problemas nem complicações, e para alguém que queria
uma vida leve, Trish estava com as mãos cheias.
— Creio que sim. Caleb não a deixaria às escuras
quando a sobrevivência e prosperidade de nosso povo
dependem da sabedoria e liderança deles.
Lee riu. — Wow! Você fala de um jeito.
— É como é. E tem funcionado por séculos.
— E você é o que nesse bando feliz?
— O que somos — ele corrigiu.
— Certo. Então, o que somos? — Lee repetiu,
sorrindo.
— Eu sou o beta e você minha beta-fêmea. Se
Caleb morrer ou se aposentar, o comando passa pra mim.
Isto se não houver outro macho para disputar o posto.
— Disputam, como em uma...?
— Lutamos.
— Não brinca?!
— Eu disse, temos regras próprias e isso funciona
pra nós. Nosso líder precisa ser forte não apenas mental e
emocionalmente controlado, força física é fundamental.
— Não preciso dizer o quanto acho isso arcaico.
Homens adultos lutando, como selvagens, pela liderança
do povo... isso é... Sexy, ainda assim arcaico — ela
murmurou pensativa. — Sobre nós, você sabe, aquela
coisa que disse sobre o casal beta, quer dizer que somos
uma espécie de reserva?
— Mais ou menos. Eu poderia desafiá-lo pelo
comando, mas não tenho nenhuma intenção nessa
direção. Caleb é um bom líder. A função de Trish é para
com as fêmeas do bando. Minha função permite Caleb pôr
sua atenção nos assuntos mais importantes enquanto eu
cuido das coisas menores. Desta maneira, podemos
conduzir melhor os problemas que surgem e garantir a
harmonia e a prosperidade do bando.
— E qual a função da beta-fêmea nisso?
— Sua função é ser babá dos filhotes.
— Filhotes?
— Filhotes. Bebês. É só modo de dizer, apesar de
preferirmos o termo filhotes. Esta é uma grande honra e
uma valiosa contribuição para nossa... gente.
— Interessante — ela disse demoradamente.
— Nós somos muito civilizados e reservados,
também.
— Percebi. Não há muitos de vocês na cidade.
— Prezamos nossa privacidade.
— Sempre viveu aqui?
— Minha vida toda.
Ela suspirou dramaticamente.
— Sinto muito. Deve ter sido entediante.
Ele riu. — Um pouco. Inuvik era bem menor do que
é hoje, assim as opções de diversão eram bem limitadas.
— Inexistente você quer dizer?
— Doçura, você apenas tem de saber o que quer e
onde procurar.
— Como assim?
— Inuvik não é a capital do entretenimento, mas
Snowville possui muitos atrativos interessantes — ele disse
em tom misterioso.
Lee sorriu provocante, jogando os braços ao redor
do pescoço dele
— Você vai me mostrar algum deles?
— Todos que quiser — sua voz era funda e rica
como um veludo negro. O sussurro de respiração
esquentou seu pescoço sobre a marca, e depois a beijou.
— Pode começar me mostrando seus atrativos.
Lee puxou para trás e cercou os lábios masculinos,
com forte demanda.
A conversa tinha acabado dando lugar à outra, onde
seus corpos se comunicavam com exímio conhecimento
um do outro, seduzindo-se, amando.
Embry soltou as rédeas, e Lee sentiu como se ele
tivesse estourado um champanhe. A luxúria rasgou através
deles. Lee gemeu. Embry rosnou.
Ela mal podia respirar tão incríveis eram as
sensações.
Lee não queria pensar sobre o que estavam
fazendo. Em certos momentos colocar em perspectiva
funcionava como um balde de água fria quando devia só
desfrutar. E foi o que fez quando a demanda entre eles
atingiu picos épicos.
Em um movimento muito rápido para sua mente
acompanhar, Embry rasgou a roupa de ambos e lhe fez
amor com selvageria até que a brilhante luz dançou ao
redor deles, brotando de dentro para fora quando o prazer
culminou.

Minha. Minha companheira.


Embry sempre teve uma predileção pelo vermelho.
Havia algo sobre essa cor, algo quente e fascinante, que
despertava seu sangue e sua natureza selvagem. Agora
ele entendia o porquê. Não era a cor em si, mas quem ela
traria para a sua vida.
Sua companheira de vida.
Sua Prometida.
Nossa!
Em seus 307 anos de vida, Embry já tinha visto sua
porção de belezas deslumbrantes, coisas inimagináveis
para os olhos humanos, coisas que os faria mudar seu
conceito sobre o que é belo. No entanto, nada poderia se
igualar a imagem da massa de fios ruivos espalhada no
branco de seu travesseiro, o suave corpo feminino
parcialmente nu e o rosto formoso depois que fizeram amor
à exaustão.
As velas queimavam em seus últimos instantes de
vida, a luz dançava sobre a forma exuberante de sua
companheira em sua nova cama, reverenciando-a.
Lee era malditamente perfeita.
Muito charmosa.
Inteligente.
Brilhante.
Tão fantástica.
Tão dele.
Embry tinha estado lá, parado, por um longo tempo
olhando sua Prometida dormir e, Deus, se ele não podia
ficar lá a vida toda contemplando-a em silêncio.
Seu lobo já a amava profundamente, encantado e
orgulhoso pela fêmea com quem dividiria a vida. O animal
não queria nada mais que jogar a cabeça para trás e uivar
de felicidade.
Observá-la descansar, após terem feito amor e
experimentado a conexão única dos Prometidos, tinha se
tornado um hábito que fazia seu coração trotar em festa. A
fêmea humana trazia serenidade e beleza para a sua vida.
O frescor, a vivacidade e a simplicidade dela era uma graça
a parte. Sua Companheira Prometida enchia seus olhos e
seu coração, e ela era adoravelmente bem-humorada.
Lee o fazia sorrir apenas com a menção de seu
nome.
O que tinha feito para merecer um presente tão
precioso, não sabia, mas seria eternamente grato ao
Criador por conceder-lhe uma companheira como Lee.
Não fazia nem uma semana inteira desde que a
encontrou, todavia, se parecia como se tivesse passado
décadas com ela, ainda assim, era como na primeira vez. A
ligação entre eles já era forte e se solidificava a cada dia,
tornando-se inquebrável.
Eles se encaixavam maravilhosamente bem.
Estavam tão bem encaixados, suas almas
entrelaçadas de tal forma.
Embry não podia se lembrar das outras fêmeas que
teve, era como se elas tivessem deixado de existir no
momento em que pegou o cheiro de Lee na casa do casal
Alfa e colocou os olhos nela. Sequer podia se lembrar da
sua vida sem ela, e ele tinha acreditado que sua vida de
antes era boa, porém agora podia ver claramente que era
apenas uma existência oca e sem cor em busca de uma
falta que Lee completou.
Lee estava em tudo agora, preenchendo as lacunas
desconhecidas dentro de si.
Ela era tudo para ele. Seu lar. Sua própria vida.
Tudo era para ela e por ela.
Seu amor.
Quem ele era.
Seu desejo.
Seus pensamentos.
Seus sentimentos.
Suas emoções.
Quando despertou sem ela, seu lobo tinha jogado a
cabeça para trás e uivado em fúria, desespero, humilhação
e dor. Uma bolha de agonia tinha apertado seu coração.
Foi rápido e insano. A explosão violenta o deixou
remotamente cego. Ela o tinha deixado. Entristeceu o lobo
e o homem. O lobo, claro, quis caçá-la de imediato e
castigá-la pelo abandono, e o homem nele não fez objeção,
saboreando cada minuto disso.
Embry nunca tinha procurado por sua prometida,
nem pensado em se comprometer, mas aqui estava ela.
Um presente especial do Criador feita sob medida para ele.
Eles apenas tinha se separado quando ela estava
trabalhando. O que o irritou infinitamente, porém não
estava se opondo ao seu trabalho. Lição aprendida com a
fêmea humana do alfa. Sua própria fêmea, embora
possuísse um espírito leve e descomplicado, era também
uma geniosa. Lee tinha aceitado seu cuidado e sua
proteção, mas prezava sua independência. Embry podia
lidar com isso desde que ela continuasse voltando para os
seus braços, permitindo amá-la, como fazia todo fim de
turno quando ele estava lá para pegá-la e trazê-la de volta
para sua casa, onde ela pertencia.
Na casa deles, na nova e velha cama.
Um sorriso orgulhoso esticou seus lábios.
Eles precisavam de uma cama nova. Esta era a
segunda em menos de uma semana, seria bom manter um
estoque, pois, ao que parecia, eles possuíam a incrível
habilidade de quebrar camas. Isso não parecia perto de
parar. Lee o deixava louco, com a virilha em chamas e
ardendo de desejo. Era olhá-la para estar babando como
um lobo faminto e com uma dolorosa ereção, que sempre
tentava sufocá-lo para chegar nela. Ele estava no cio ao
redor dela. Isso se devia a febre do acasalamento e ao
drukāt, que ainda assopravam os últimos resquícios de sua
força. A magia poderosa, que vinha somente a fêmea
prometida, atingiu sua companheira com estrondosa força
no primeiro instante em que se olharam, no entanto, ela
tinha sido de curta duração. O que devia ser um bom sinal.
O drukāt moldava-se a necessidade do casal, quanto mais
resistente à fêmea era, mais forte a magia. Embry tinha
sido sortudo e sabia disso. Sua Prometida tinha vindo para
ele e permanecido sem fazer grandes interrogações,
mesmo quando o drukāt já não exercia força suficiente
sobre ela. Eventualmente, a febre e a magia sumiriam por
completo restando apenas o desejo natural, que sempre
teria por sua companheira... e o sentimento pleno de amor
abrangendo seu coração.
Ele tinha que contar a verdade para ela o mais
rápido possível.
Lee tinha visto e sentindo algumas coisas, que
fariam outra mulher correr para longe, não ela. Sua fêmea
estava ficando e desfrutando, entregando-se. Marcando-o
de volta e exigindo sua marca nela, mesmo que ainda não
entendesse o significado disso. O que não impedia ele
próprio de se sentir um pouco temeroso quando, enfim, lhe
desse a verdade sobre quem realmente era e o que
significavam um para o outro.
Embry não queria ser pessimista, nem otimista
demais.
Era só que as coisas estavam indo bem entre eles, e
ele queria tudo às claras com ela. E, bem, não havia
porque adiar o inevitável.
Caleb estava lhe dando uma folga, pois conhecia os
efeitos colaterais do acasalamento entre prometidos. Toda
atenção do macho estava em se acasalar e prover sua
companheira, suprindo todas às necessidades dela. Isto
fazia dele uma carta fora do baralho, até que o
acasalamento estivesse completo.
O bando precisava do Beta focado.
Sua fêmea precisava dele.
Estava decidido. Ele não esperaria muito mais para
dizer a verdade a Lee, assim, eles poderiam concluir o
acasalamento. Garantido isso, ele então poderia fazer seu
trabalho, sobretudo, agora com o surgimento de uma
ameaça em potencial.
Trish poderia ajudá-lo.
Exalando forte, Embry se endireitou.
Deixaria Lee dormir por mais algum tempo enquanto
preparava o café.
Dando a volta, ele se dirigiu a cozinha, e poucos
minutos depois, estava quebrando alguns ovos ao lado do
bacon na frigideira, e depois virando as panquecas.
Com o café quase pronto, Embry não precisou olhar
para saber que sua fêmea estava observando. Ele a tinha
escutado acordar e se mover com alguns bons
xingamentos. Ela era tão estabanada quanto ele era
organizado, e Embry era o rei da organização. Eles eram
os opostos mais combináveis que poderia existir.
Os pelos de sua nuca eriçaram quando o odor dela
sobrepôs o da comida, invadindo seus pulmões com o
doce e rico aroma feminino.
Uma corrente de contentamento correu dentro dele.
Ergueu a vista e seu pau inchou dentro do jeans
com a imagem.
Tome-a. Marque-a. Reivindique.
Lee estava parada sob o arco da porta, usando uma
de suas camisetas alcançando seus joelhos. Ele amou
isso, que ela estivesse usando suas roupas, coberta dele,
de sua essência. Os cabelos eram uma bagunça sexy
vermelha. O rosto inchado.
Maldição, ela era bonita o bastante para parar seu
coração.
Sua virilha sugou todo o sangue de seu cérebro, as
palavras eram mingau em sua mente enquanto ele seguia
bebendo da sua figura esbelta, olhando-o com uma timidez
atrativa que fazia seu lobo gemer de prazer e caçá-la só
para depois montá-la duramente enquanto a marcava com
seus dentes e sêmen. As suaves sardas em seu nariz
derramadas em degradê por suas bochechas sempre
estavam em evidência quando ela acordava. Era adorável.
Sua companheira era muito feminina e delicada.
Ela parecia tão afetada pela imagem dele quanto ele
estava pela dela.
Lee o mirava como se custasse respirar, como se
não quisesse nada mais que beber da visão dele até ter
uma overdose. Como se ela tivesse tirado a sorte grande e
precisasse olhar para ele pelo maior tempo possível para
garantir que era real. Como se Embry fosse o seu mundo.
Nunca ninguém o tinha olhado assim. Com profusa
admiração, excitação e uma comoção de sentimentos
verossímeis.
Querendo ele, somente ele.
Não o seu status dentro do bando ou dinheiro.
Ele tinha deixado seu quinhão de corações partidos
por aí, e outra leva de alpinistas sociais. Não era santo,
nem burro. Mas tudo isso era passado agora.
Monte-a.
Embry não tinha palavras, exceto a vontade
repentina de derrubar sua Prometida no chão e montá-la
até que os dois não pudessem se mover, seu lobo salivava
pela oportunidade de saltar livre. Isto seria por muito,
muito, tempo.
Lee lambeu os lábios doces. Ele cerrou os dentes
para não gemer.
— Ei, você — ela cantarolou, sua voz enrouquecida
pelo sono.
Respirando fundo, ele empurrou sua besta para
baixo e forçou o desejo a recuar.
— Olá, doçura. Dormiu bem?
— Maravilhosamente bem, até perceber que não
estava lá. E você?
— Eu sempre durmo bem quando está na cama
comigo.
— Por falar nisso, acho que precisamos de uma
nova ou um colchão de ar.
Ele riu. — Iremos à cidade mais tarde. Hoje não é
seu dia de folga?
Lee tinha trocado os turnos da noite pelos da
manhã, assim ambos poderiam cuidar de seus afazeres
durante o dia e ter a noite para desfrutarem um do outro.
Ela foi até ele, e ele a pegou e beijou.
O beijo foi uma lenta exploração sensual de bocas,
desfrutando do roçar molhado e fresco de suas línguas,
como se naquele momento somente existissem eles no
mundo.
— Eu sou toda sua — ela respondeu ainda sobre
seus lábios, sorrindo.
Embry rosnou baixinho, arrancando um risinho dela
e a beijou, novamente.
— Bom. Podemos ir até o engenheiro depois que
tomarmos café.
— Por quê?
Aqui vamos nós!
— Vou aumentar a casa e quero sua opinião sobre
isso.
Uma onda de alívio viajou dentro dele. Embry não
estava mentindo para ela, nem omitindo. Bem, talvez um
pouquinho de omissão, mas ele não lhe mentia em tudo.
Lee se afastou para se sentar à mesa.
— Eu gosto dela assim.
— É pequena.
— É aconchegante.
— Para um cara sozinho.
Embry a monitorou quando sentiu seu nervosismo, o
sangue correndo mais quente, bombeando seu coração
mais rápido. Os lindos e expressivos olhos castanhos
cresceram um pouco.
O misto de emoções dela o apanhou, deixando-o
ansioso também.
— Um cara sozinho, hein? Planos para se casar em
vista?
— Eu quero uma família. — Com você, completou
em mente. — Não pretendo ser solteiro até a morte. Quero
me assentar. — Um sorriso, lento e sedutor, curvou seus
lábios. — Uma família é o que todos querem em algum
momento da vida, não acha?
— Bem, sim.
Ela sorveu um gole do chá de ervas, que ele lhe
empurrou.
Sua sobrancelha subiu com diversão.
— Mas você não acha que sou um cara para casar.
— Não, não é isso! Digo, — pausou, — você não é
um cara normal, sabia? E, por favor, não entenda isso
como uma ofensa. É só que... você é o primeiro cara que
vejo falar sobre bebês e casamento sem suar frio ou sair
correndo para as colinas.
Lee deu uma risadinha, parecia realmente
surpreendida.
— Em outro momento eu poderia fazer isso — ele
revelou.
— Agora não?
Sua cabeça deu um balanço suave, negando.
— Eu não tinha antes o que tenho agora.
— Otimista, hein?
Ele segurou o olhar dela, não a permitindo desviar.
— Eu já me importo com você, Leah. — Ele confessou sem
reservas, apenas uma profunda e doce honestidade que
afundou nela. — Você não sente algo crescendo entre
nós? Algo só nosso?
Havia um derretimento afetado em seus olhos, um
reconhecimento que ele era autoconsciente de que ela não
sabia existir, porém aceitava e queria. Estava lá, escrito em
seu olhar sonhador para ele, o desejo de permanecerem
juntos.
Sua alma dançava para ele, a razão hesitava.
— Eu sinto — ela admitiu num só fôlego.
Ela respirou fundo.
Embry esperou.
Lee o encarou com os olhos brilhantes cheios de
emoção. — Mas tenho medo. Nunca tive nada assim com
ninguém, nem mesmo perto... Nunca me senti dessa
forma... É louco, intenso... puro e tão bom. Não quero
estragar o que temos.
Ele agarrou sua mão, e beijou os nódulos tensos
enquanto lhe devotava um olhar amoroso. — Eu também
não, doçura. Iremos aprender juntos.
Embry controlou a própria euforia, deixando que sua
calma se afundasse em sua companheira, antes que ela
tivesse um ataque cardíaco.
Terminou o preparo da refeição e a levou para a
mesa, sentando-se ao lado dela.
— Mmmm... Isso está cheirando muito bem, Embry.
Seu estômago roncando alto, concordou.
Ele a serviu, e depois se serviu, uma pequena
montanha em seu prato.
— Nunca ninguém cozinhou pra mim antes — Lee
sussurrou baixinho.
Embry parou o garfo na metade do caminho para a
sua boca e olhou para sua fêmea. Ela parecia emocionada
enquanto encarava a comida na frente dela. Ele quis se
chutar por não ter feito isso antes. Eles sempre estavam
atrasados pela manhã, assim tomavam café na P&C e
acabavam jantando lá ou trazendo a comida quando Lee
saía.
Deixando o garfo no prato, ele alcançou a mão dela,
chamando a atenção dela. O olhar apaixonado cravou-se
ao de Lee. — Eu nunca antes tive alguém para quem
cozinhar, estou feliz que agora tenha. No que depender de
mim, irei alimentá-la todos os dias da minha vida, doçura...
em mais de uma forma.
O sorriso de sua companheira foi deslumbrante,
laçou seu coração.
— Eu poderia facilmente me acostumar com isso.
— Eu também. — A voz. A expressão. Não deram
margens para dúvidas ou ocultações. No entanto, Embry
deixou que ela absorvesse sua declaração e desse o passo
seguinte.
Ele soltou sua mão e voltaram a comer, até que Lee
quebrou o silêncio.
— Isso foi um convite?
— Não sei. Foi? — Ela lambeu os lábios e comeu
um bocado enquanto ele a assistia, a ansiedade
crescendo. — Eu seria muito ambicioso se a quisesse aqui
todos os dias, com seus pertences aqui, fazendo minha
casa a sua casa, doçura?
Ela bateu os cílios para ele, de forma graciosa.
— Eu gosto de pessoas ambiciosas.
— Então?
4

RETICÊNCIAS

O lábio superior subiu deixando os dentes a mostra


então, Caleb rosnou, um som alto e feio, fluindo pelo
ambiente. Explodiu em uma onda de poder absoluto.
No instante em que saltou sobre Lucius, ele mudou
para sua forma hibrida. Ele tinha dobrado de tamanho,
pelos se espalharam por seu corpo, as garras e as presas
cresceram assim como sua cabeça, que se alongou mais
animal do que humano.
Caleb era uma locomotiva, um peso de aço e
concreto, sobre o peito do outro macho. Sua força, seu
poder fazendo o outro macho se dobrar, apertando,
espremendo duramente. Lucius não estava indo a qualquer
lugar, mal podia respirar. Ambos sabiam. Lucius não estava
sequer piscando se quisesse continuar respirando.
Caleb estava dando duro para conter a fúria
embalando seu corpo poderoso, alimentando o desejo de
vingança queimando em suas veias. Não vingança,
punição.
Isso não era ele, era o alfa.
O alfa estava na frente do macho, sem piedade.
Exigindo retratação.
Exigindo submissão do outro macho.
Nenhuma salvação viria.
Nenhuma clemência para ele.
Seus traços humanos quase inexistentes diante da
grandeza do animal dominador, puro instinto, lealdade.
Letal. Sua honra. Um macho tão puro que a honra dele
pesava, era esmagadora, insuportável em sua magnitude.
Isto o tornava uma fera perigosa.
Caleb rosnou outra vez e o som reverberou por todo
cômodo. O macho embaixo de si, estremeceu. Era um alfa
também, ainda que tivesse perdido o direito ao posto,
sangue alfa corria por suas veias, mas mesmo ele
reconheceu a força superior do outro macho. Os olhos
eram ouro puro. Esse era um macho honrado. Leal aos
seus princípios.
Caleb exalou num bufo, sua cólera pingando das
presas afiadas.
Uma bocada, a jugular tão perto, e ele teria feito um
favor a humanidade.
Ele queria isso.
Queria descer o inferno sobre o macho desonrado.
Por sua fêmea. Por ele. Pela matilha.
Por Maya.
Ele não merecia sua misericórdia, o alfa concordava.
Ainda assim, ele tinha.
Não por ele. Lucius tinha atacado ou perto disso,
sua fêmea. Ele poderia tirar sua vida sem um julgamento.
Poderia lhe devolver a dureza com que o macho conduziu
o bando, sem qualquer clemência, apenas seu punho de
ferro que não perdoava os fracos e piedosos. Ele tinha
esse direito. Mas não podia causar ainda mais dor.
No entanto...
— Eu devia te matar. Atacou minha fêmea — o alfa
rosnou, cruelmente.
— Eu provavelmente mereço, — Lucius relaxou, o
peso do alfa espremendo seus pulmões, ele adicionou sem
fôlego. — Mas não por atacá-la, eu não ataquei sua fêmea.
Caleb rosnou, suas garras no peito do macho
arranharam, deixando rastro de sangue. Ele quis mais.
Quis enfiar as garras ali e arrancar o coração do macho.
O macho embaixo dele, tencionou, estremecendo de
dor.
— Está me chamando de mentiroso?
— Sinto se pareceu assim. Ela é humana e estava
marcada com o cheiro de lobo. Fiquei curioso. Não
identifiquei seu cheiro de imediato, por isso me aproximei.
Não ia atacá-la. Nunca atacaria uma fêmea indefesa.
Nenhuma fêmea. Juro pela minha vida.
Nenhum deles relaxou.
Collin, embora parecesse tranquilo, estava atento ao
mínimo movimento. Um movimento em falso do macho, e
ele estaria morto.
Caleb não queria acreditar em Lucius, mas fez.
Seu lobo reconheceria a mentira, e Lucius não
cheirava a mentira. Só curiosidade e arrependimento. E ele
não estava explicando qualquer coisa para o verme.
A mente de Caleb viajou, fez a raiva endurecer seus
músculos, fogo puro queimando em suas veias, corroendo
seus ossos.
— Eu deveria te matar — ele repetiu.
Respirou profundamente e saltou para longe. Lucius,
enfim, pôde respirar. Ele tossiu, puxando o fôlego, sem
forças para se mover da posição que estava.
Caleb estreitou os olhos lupinos. A cólera ameaçava
dominá-lo a cada segundo a mais que passava na
presença daquele macho. Ainda em seu tom de voz mais
profundo, feroz, ele grunhiu para Collin sem tirar os olhos
de Lucius. — Jogue-o na cela, nem pão nem água. Tanta
arrogância pode aguentar alguns dias sem uma boa
refeição.
O maxilar de Lucius cerrou, mas ele não disse nada.
Caleb saiu.
Ele não podia matar o macho... ainda. Mas podia
jogar com ele só um pouquinho. Isso não era nem perto do
que seu lobo queria. O alfa queria sangue.

Os lábios dele eram sensacionais.


Lee sempre queria mais. A textura. O calor. O gosto.
Lábios macios, cheios e perfeitos, pressionando contra os
dela. Lee queria as torções molhadas. A língua gostosa
chupando a sua daquela maneira que a deixava louca...
Como na outra noite que ele deixou sua língua pra fora
para o seu completo deleite enquanto seu pau grosso
martelava em sua buceta, entrando e saindo, numa
deliciosa penetração lenta...
Oh, sim!
Isso a fazia pensar que tinham roupas demais. Ela
queria ficar pelada para ele e repetir todas as coisas
gostosas que eles fizeram por horas, dias... semanas...
meses...
Humpf! Nunca teria o bastante dele.
Lee queria tragá-lo para dentro de si, beber dele, tê-
lo em cada parte.
— Mais tarde, doçura. Mais tarde, eu vou chupar
essa doce bucetinha, deixá-la montar meu pau e depois
vou montá-la, duro, até que grite por misericórdia...
Oh, Deus... Ela estava pronta para mendigar agora.
—... Mas até lá, comporte-se — Embry acrescentou,
a promessa sussurrada, afastando a boca, puxando-a da
névoa sexual ascendendo dentro dela.
Lee respirou fundo e pesado, rendendo-se a
sensação de seu toque apaziguador.
Ela sempre fazia isso, induzia calma e tantas outras
sensações, como se a sentisse, como se compartilhasse
essas emoções e pudesse manipulá-las. Não sabia como
ele conseguia fazer isso ou se era mesmo possível, ainda
assim, agradecia. Do contrário, não poderia suportar estar
longe dele por mais de uma hora.
Era difícil pensar com coerência quando ela estava
apanhada pelo deslumbramento que Embry era. Ela tinha
um sino de alerta apitando em algum lugar inalcançável de
sua mente. Lee nem sequer deu uma segunda olhada.
Ela estava vivendo seu sonho molhado.
Não. Ela estava vivendo seu próprio conto de fadas,
mas sem o príncipe.
Embry dobrou a cabeça e beijou a marca no
convexo entre seu pescoço e ombro. Bem ali, onde ela
estremecia de prazer. Antes que ele se afastasse, ela
agarrou sua cabeleira, mantendo-o, e para seu próprio
espanto roçou o nariz em seu pescoço, o rosto na lateral
do dele. Era um gesto que não compreendia, só tinha a
necessidade de fazê-lo.
Embry endureceu. Aquele som vibrando sem eu
peito.
— Depois — Embry soou mais forte, dando-lhe um
último beijo.
Lee tremeu e suspirou desapontada, fazendo
beicinho, e depois forçou seu cérebro a trabalhar,
ignorando o rubor em suas bochechas.
Não importava se eles tinham plateia, ela só
queria... ele.
— Separo o jantar?
— Não. Eu vou cozinhar.
— Tudo bem.
— Eu já estou com saudade.
Ela engoliu e assentiu.
Embry abriu a porta, Lee passou antes que algo
mais fosse dito.
Lee queria dizer que também ficaria com saudade.
Por mais louco que fosse, ela sentiu saudade no momento
em que saíram da casa dele. Embry também parecia sentir
falta dela na mesma proporção que ela sentia dele.
Estava sendo retribuída.
Um pouco de reciprocidade, hein?
Não podia fazer mal. Na verdade, fazia tão bem que
ela não queria nada mais que ficar esparrada entre os
lençóis, deitada na proteção de seus braços. Ter seus
beijos, todos aqueles sons exóticos enquanto seu grosso
pau enchia sua buceta. Talvez isso fizesse dela uma
mulher carente. Lee nunca foi uma mulher carente, mas
estava carente naquele fim de mundo esquecido por Deus.
Ela nunca quis viver só. Não se imaginava no clichê
sofrível da solteirona rodeada por gatos. Entretanto, era
preferível viver só a estar com qualquer um. Embry não era
qualquer um. Ele despertava coisas nela, e a fazia querer
outras. Coisas que a fazia sonhar, coisas que assustavam
pra caramba.
Ela ouviu os risinhos e as piadinhas sujas das
colegas.
Lee sorriu e brincou de volta.
Impossível disfarçar seu desejo, sua necessidade de
Embry.
Ele era um espécime impar.
Sua necessidade.
O único capaz de aplacar as fomes que sentia.
De se beijo.
De seu calor.
De seus braços.
De sua voz e risada deliciosa.
De seu sorriso derretedor de calcinhas.
Fome dele.
O pensamento a fez recordar da conversa estranha
que tiveram. Embry falava como se eles realmente
vivessem em uma matilha. Talvez fosse algo da religião
deles. Um ritual. As pessoas ao redor do mundo tinham
crenças absurdas. Era até comum, e desde que Trish, a
pessoa mais sistemática e organizada que conhecera ali,
não estava pirando, muito pelo contrário, ela estava
vivendo bem na grande comunidade feliz que Embry
desenhou, então Lee também estava bem e segura.
Seria loucura querer fazer parte dela também?
O questionamento a fez sorrir para si mesma
enquanto balançava a cabeça.
Bem, na realidade, Snowville era ímpar.
5

IMPLICAÇÕES

Era difícil manter a máscara incorruptível quando a


fêmea na sua frente insistia em fazer sua cabeça doer e
seu lobo rosnar irritado, batendo as patas, as garras
arranhando.
No momento em que ele a viu entrando em sua sala,
Caleb soube, teria de orar por paciência.
Ocorre que, a fêmea, outrora sua melhor amiga,
queria respostas que não podia dar. Respostas que ele
temia que ela não estivesse preparada para ouvir... ainda.
Ou, possivelmente, nunca.
Ele queria acreditar que estava fazendo um imenso
favor ao poupá-la da verdade, e ainda que uma parte dele
acreditasse nisso, Caleb não ousava se apegar a esta doce
ilusão. Era isso que o irritava mais, pois, mais cedo ou mais
tarde, teria de fazê-la saber.
Ele tinha sido incapaz uma vez; tinha sido capaz de
protegê-la fisicamente, mas as feridas internas, aquelas do
coração que marcavam a alma, estavam além de seu
alcance, e pelo caminhar das coisas, falharia com ela,
novamente.
— Seja lá o que for, eu sei que diz respeito a mim —
ela grunhiu, colocando-se de pé, com os punhos cerrados
ao lado do corpo delicado. — Eu tenho o direito de saber.
Caleb não escondeu o aborrecimento.
— Este é um assunto que não diz respeito aos civis
do bando.
— Então há algo? Não acha que temos de saber?
Que eu tenho de saber?
Com a mandíbula apertada, ele levantou uma
sobrancelha, inibindo sua surpresa ao se dar conta do
próprio deslize. Ela, no entanto, não perdeu o olhar
obstinado.
— Desde quando se interessa pelo que acontece
aqui, Maya? Se me lembro bem, você se afastou de todos,
me afastou. E agora, entra aqui e acha que pode exigir
algo?
Houve um vacilo surpreendido, rápido, depois ela
endureceu.
A tensão cresceu como uma nuvem espessa e
escura ondulando em torno deles.
— Eu ainda pertenço a este bando — ela mordeu
com os dentes cerrados, seu lobo raspando na borda.
— Não há nada acontecendo aqui, Maya. — Caleb
disse demoradamente. — Vá para a casa e descanse.
Você parece cansada. Uma boa noite de sono lhe fará
bem.
Ela o olhou com incredulidade.
— Você quer que eu ignore os meus instintos?
— O que você acha que estou escondendo?
O maxilar dela apertou, parecia atormentada, como
se quisesse dizer algo e lutasse contra. Era quase doloroso
assistir. Caleb se doeu por ela. Ele tinha se doído por ela
durante muito tempo.
— Eu... eu...
— Maya?
Ambos olharam para porta, por onde Trish acabava
de passar, com algumas sacolas de compra seguras em
seus punhos. Uma parte de Caleb suspirou com alívio pela
conversa interrompida, a outra, a maior comandada por
seu lobo, se irritou e preocupou-se ao mesmo tempo ao ver
sua companheira grávida carregando peso. Ele correu para
ela pegando as sacolas e beijou seus lábios.
— Por que não me disse que ia ao mercado? — Sua
voz não escondia a repreensão. — Eu teria te
acompanhado. Sabe que não pode carregar peso, querida.
Trish recusou, com uma risadinha e um balanço
fugaz de mão.
— Não seja bobo, Caleb. Eu não estou doente, nem
mesmo pareço estar grávida ainda. Posso carregar
algumas sacolas inofensivas. Eu não ia ao mercado,
lembrei no caminho que faltavam algumas coisas aqui em
casa e não achei ruim pegá-las já que estava por perto. —
O olhar dela viajou para Maya e voltou para ele. — Eu
atrapalhei algo? Desculpem, se estiverem em um assunto
particular, eu posso sair. De qualquer forma, tenho que
guardar as compras.
— Nós já acabamos aqui — Caleb assinalou.
Maya não parecia convencida, mas não brigou por
isso.
— Se me dão licença — ela disse numa voz
endurecida, parecendo tão miserável que Trish se
entristeceu, caminhando para a porta.
— Maya espere, por favor.
A fêmea parou, fitando Trish por cima do ombro.
Gratidão tingiu a expressão de Trish. — Não tivemos
tempo para falar desde a última vez que conversamos. Eu
realmente não tenho palavras para lhe dizer o quanto sou
grata pelo que fez por mim e por Caleb. Foi extremamente
gentil de sua parte. Obrigada por tudo. Se houver algo que
possa fazer por você, qualquer coisa, claro que, dentro de
minhas limitações humanas, não hesite em me deixar
saber, okay?
A shifter vacilou, os olhos arregalados. Surpresa e
um toque de timidez lampejando em seu olhar, todavia, ela
rapidamente se recompôs, deu um aceno respeitoso e
saiu.
Caleb suspirou com pesar, e então, caminhou para a
cozinha. Trish foi atrás.
— A visita dela tem algo a ver com nosso shifter
misterioso?
Trish sondou enquanto ele guardava as compras.
Não era segredo para ela que Caleb tinha o macho em
custódia, embora mantivesse as minúcias em segredo.
Coisas do bando. Humpf!
— Não é tão simples como parece. — Ele se
aproximou, os ombros tensos e alinhados quando pousou
os punhos fechados sobre o balcão da ilhota. — Seu
companheiro a abandonou poucos anos depois que eles
tinham se acasalado.
— Você quer dizer, companheiros ou...
— Prometidos.
— Pensei que prometidos não pudessem ficar longe
de seus pares.
— Não podem, — ele disse —, entretanto, para tudo
há uma exceção. Eles já estavam acasalados quando
Lucius partiu, mas antes disso ele foi um miserável com
ela. Um prometido é uma benção, porém, em algumas
raras ocasiões, pode ser uma maldição. Você sabe como
nós somos possessivos com nossos companheiros. Lucius,
no entanto, sempre passou dos limites. Acho que o posto
de Alfa fez mais que lhe dar poder. Talvez pela imaturidade
e pouca experiência, não sei, ele ainda era muito jovem
quando se tornou o Alfa. Maya e eu estivemos juntos
desde filhotes, éramos melhores amigos, tínhamos uma
forte ligação que poucos entendiam. Ele não estava entre
esses poucos. Lucius se foi pouco depois de eu o ter
desafiado e ganhado o domínio do bando.
— Ele tinha ciúmes — Trish meditou, pegando um
dos bolinhos da caixa de muffins. — Acho que pra uma
raça tão possessiva e territorial isso é compreensível.
— Ele sempre passou dos limites, querida. — Caleb
fez uma breve pausa indo até a geladeira e voltou,
despejando um pouco de leite em um copo para ela. — Eu
já te contei sobre nossos tempos sombrios, acredite-me ele
foi um grande colaborador. Lucius não é confiável. Que
espécie de macho abandona sua prometida? Não posso
sequer pensar na possibilidade.
Trish lambeu o bigode de leite e bateu os cílios para
ele, sorrindo. — Você é um bom homem, Caleb, e sabe
que vou te caçar no inferno se atrever a me deixar.
Caleb riu, colhendo seu rosto entre as mãos e de
leve roçou os lábios nos seus enquanto a cheirava. Beijou
a marca, e depois beijou sua boca de forma doce.
Cativando seus sentidos, até que Trish estava mole,
derretida até os ossos.
— Amo você — ele sussurrou enrouquecido sobre
os lábios dela.
— Eu também te amo, amor — ela murmurou, com
a respiração pesada.
O desejo rastejava sob suas peles, furtivamente,
como um amante na calada da noite. Trish fazia seu
coração apressado, o deixava todo mole por dentro num
estado de pura e hipnótica felicidade. Ela o tinha na palma
da mão e ele não poderia estar mais feliz por isso.
Encostou a testa na dela, fechou os olhos e respirou fundo.
— Eu gostaria que Maya pudesse viver algo assim.
Se eu... se eu pudesse colher um pouco que seja do que
temos aqui em nossa união, eu daria esse pouco a ela.
— Eu acho que te amo um pouco mais agora. —
Trish segurou seu rosto, o olhar brilhando cheio de amor
para ele. — Você se preocupa com ela, amor. Isso é muito
digno e honrado. Não poderia ter melhor e mais perfeito
companheiro.
O sorriso de Caleb não chegou aos olhos.
— Ela não pensa assim.
— Baby, ela só está chateada por algo que sente
que deve saber e você não está contando. Eu, no lugar
dela e com todos esses malditos sentidos aguçados,
também não estaria feliz.
Todo dia Trish lhe dava uma amostra do porque o
Criador nunca errava. Não havia melhor companheira para
ele do que ela. Ela era compreensiva e sempre estava
conectada a ele num mesmo nível, uma frequência única.
Ela também era paciente, amorosa e muito inteligente.
Trish não era apenas sua companheira, ela era sua Prima
e se preocupava com o bando. Ela estava se esforçando
para aprender sobre a sociedade deles e suas tradições. E
também estava fazendo um grande trabalho usando seus
dotes profissionais para que a matilha prosperasse ainda
mais.
O bando, exceto os mais próximos a eles, estava
receoso e alguns curiosos com ela sendo uma humana,
mas logo que a apresentasse formalmente, eles iriam amá-
la assim como ele a amava.
Caleb segurou a mão delicada e beijou a palma.
— Depois que ele partiu, ela se afastou de mim e de
todos da manada. De alguma forma, sua vinda para cá
trouxe mais que felicidade para a minha vida. É como se
você tivesse desencadeado algo, que está fazendo tudo
girar em um eixo diferente. É mais especial do que pensa,
bebê.
— Talvez eu possa conversar com ela?
— Obrigado, querida, mas prefiro que fique fora
disso. Ainda é cedo.
Apesar da suavidade da voz e expressão dele, Trish
reconheceu a sutil sugestão de ordem por detrás da
maciez controlada. Caleb sempre evitava dar comandos a
ela de forma direta. Ela podia entender isso e apreciava
seu cuidado.
— Alguma hora ela terá de saber — advertiu.
Ele se afastou, voltando a guardar o restante das
compras.
— Acredite-me, ela não está pronta.
— Não seria ela quem teria de decidir?
— Não comigo sendo o Alfa deste bando. Maya tem
a palavra, mas eu também tenho e ela vale um pouco mais.
Ele te atacou. Nossas leis são muito severas neste caso.
— Mas...
Três toques na moldura do arco seguidos por uma
voz masculina cortou sua argumentação.
— Perdoem-me pela interrupção, Caleb. — Embry
disse em tom solene, mas a inquietude subjacente teve a
atenção do alfa. — Eu gostaria de falar com a Prima, se
você me permitir.
— Trish. Grata — ela apontou entediada.
O tipo grande realmente corou.
— Desculpe, Trish.
— Lee veio com você?
— Não, eu acabei de deixá-la no trabalho.
— O que quer falar com minha companheira?
Trish rolou os olhos e saltou da banqueta, agarrando
a caixa de muffins.
— Não ligue para ele, Embry. — Caleb rosnou em
advertência atrás dela enquanto a fêmea seguia para a
sala balançando os quadris tentadores. — E eu acho que já
sei qual é o assunto.
Quando se acomodaram na sala, com Trish
empoleirada no colo do Alfa, Embry, no outro sofá, suspirou
e se inclinou para frente, e então, pareceu tomar a decisão
de sua vida.
— Eu vou dizer a ela.
Caleb se esticou, surpreso.
— Tudo?
— Tudo.
— E a história de que despejar tudo pode não ser
um bom negócio?
Trish lhe deu uma olhada feia, ele a olhou de volta e
colheu os ombros.
Ela disse a si mesma que só não iria ficar brava
porque ele parecia muito bonitinho e fofo com aquela
expressão de inocência. Era falsa, ainda assim linda!
— Pedi para ela venha morar comigo — Embry
disse. — Lee ainda não me deu a resposta, mas sei que
fará isso muito em breve. E eu não quero esse segredo
entre nós.
— Excesso de confiança?
Seu olhar ponderado perdurou sobre o amigo. — Na
verdade, não. É só que não vejo motivo para esperar mais.
Em outras circunstâncias, eu realmente acho que despejar
tudo pode não ser a melhor ideia. Mas Lee não é qualquer
pessoa. Ela é minha Prometida. Eu a amo e não há nada
mais no mundo que queira do que estar com ela sem ter de
esconder ou conter-me. Mesmo omitir para ela faz-me mal.
A declaração fluiu com tal naturalidade, que mesmo
Embry pareceu não notar o que tinha dito.
Trish mal disfarçou seu sorriso emocionado, feliz
pelo beta e por sua amiga.
Caleb deu um aceno em compreensão e ponderou.
— Como estão indo as coisas entre vocês?
— Nós estamos bem, muito bem, para falar a
verdade. A magia drukāt não a afeta mais, foi até muito
rápida em comparação com sua fêmea. Isto deve ser um
bom sinal.
— Ainda assim, acha prudente fazer esse
movimento sem uma preparação? Você ainda tem tempo.
Embry balançou a cabeça. — Não há como prepará-
la para algo assim, Caleb. Eu posso arrastar isso ou ser
rápido. Essas são minhas reais opções aqui. Então, se
tenho de fazer, que seja logo. Eu não quero que
comecemos nossa vida juntos sob omissões. Quero que
Lee saiba quem eu sou realmente e o que somos um para
o outro. Quero que ela venha viver comigo consciente do
que está barganhando. Eu posso esperar, mas quero-a
agora. Também não é como se a verdade aqui fosse
opcional.
A rapidez de seu beta não era novidade, mesmo
assim era admirável. Embry não era conhecido pela
demora na tomada de decisões, e agora, com sua
prometida não seria diferente.
— Eu acho muito bom que você queira dar a ela
uma escolha, Embry.
Caleb bufou.
— Ela não tem uma escolha, querida. Não
realmente.
— Eu não penso assim — Trish refutou, com uma
pontada de desconfiança. — Lee tem uma escolha, aliás,
ela tem o direito de saber que tem uma escolha no
acasalamento.
— A única escolha dela é decidir se quer ser feliz ou
fazer dos dois miseráveis o resto da vida. Optar pelo último
não pode ser considerado uma escolha, é loucura.
Trish lhe devotou um olhar incrédulo. — E você não
acha que ela merece saber o que está levando, Caleb?
Como, por exemplo, as mudanças que os encontros entre
eles estão trazendo sobre ela? Que ela está sendo forçada
a entrar em seu ciclo para engravidar? Não acha certo que
Lee tenha uma opinião a respeito? Se quer ou não ter um
bebê agora? Ou se ela até mesmo quer ter um bebê?
— O que estou dizendo é que o Criador não erra.
Nunca — ele disse sem alterar sua voz, que era aduladora
e segura, enquanto distraído afagava o ventre plano.
Trish apertou os olhos.
— E isso justifica tudo? Qualquer erro? Qualquer
desrespeito que isto implica ao não levar sua companheira
em conta e seus sentimentos? O que ela quer?
— Não. Claro que não, Trish.
— Tem certeza? Pelo jeito que fala, é o que parece.
Mas, Caleb, o Criador pode não errar, e eu acredito nisso.
Mas vocês, machos prepotentes, sim.
— Lee tem uma escolha, e ela se restringe a opção
de fazê-los feliz ou sofrer.
Trish bateu o pé. — Ainda assim, ela precisa saber.
Caleb suspirou, desviando o olhar para seu beta. —
Não sei se contar tudo seja uma boa estratégia. Você não
precisa contar tudo agora, somente o essencial para que
possam concluir o acasalamento, sem maiores transtornos
desnecessários.
Trish exalou num bufo.
— Você apenas está sendo arrogante sobre esta
questão.
Caleb lhe deu um olhar impaciente. — Sua amiga foi
criada para Embry, e ele para ela. Cada desejo dela, cada
sentimento, cada instinto e impulso são direcionados a ele,
e o mesmo se dá com ela. Isto é mais do que desejo. É
uma necessidade de almas, de estarem juntos física e
emocionalmente. Você experimentou isso, querida. Sempre
sentiremos a necessidade. Não é magia, é como tem de
ser. Os prometidos são compelidos a ficarem juntos. Por
que recusar a peça perfeita do seu quebra-cabeça?
Trish suavizou, emocionada. — Não se trata apenas
sobre dar a ela a chance de escolha, se trata de respeitar
sua futura companheira. De levá-la em consideração como
sendo uma parte igual aqui, Caleb. Descobrir o que e quem
você era me deixou transtornada, porque temos de convir,
saber que o faz-de-conta é real é pra colocar qualquer um
fora da pele, mesmo vocês sabem disso. Porém, o que
mais me assustou e machucou foi você ter omitido. Me
enganado.
— Trish, você sabe por que eu fiz isso. Enganá-la
não estava em minha lista de prioridade — ele defendeu, e
acalmou-se ao senti-la, sua tranquilidade e compreensão.
— Eu sei, amor. Não estou te culpando. Isto, porém,
não muda o que eu senti. Para mim foi traição, enganação
mesmo. Não importa o quão louco sua realidade parecia. E
não pense que isso é uma exclusividade minha. Lee pode
ser de fácil trato, mas ela é mulher assim como eu, e
nenhuma mulher gosta da sensação de ser traída, de ser
desconsiderada.
— Está dizendo que teria aceitado melhor se eu
tivesse contado a verdade de cara?
— Não acho que este fosse o caso, mas não nego
que teria sido levado em conta e talvez amenizado o
impacto. Lee é uma boa garota, eu sei que ela tirará isso
melhor do que eu fiz.
— Tudo bem — Caleb se rendeu.
Embry pigarreou atraindo a atenção deles.
— Minha companheira não quer filhotes agora e eu
concordo com ela.
Caleb ficou sério. Diferente do amigo que parecia
feliz em esperar mantendo a fêmea só para si, ele próprio
mal podia esperar para encher a casa com seus filhotes.
— Está dando hendrix para ela?
Embry assentiu. — Depois que me certifiquei de que
ela não tinha sido fecundada, e desde então estou
garantindo que ela tenha a porção certa diariamente.
O chá de hendrix era a única mistura de ervas capaz
de impedir a fecundação da fêmea na febre do
acasalamento, quando o esperma do macho forçava a
fêmea a entrar no período fértil.
— Quando pretende contar? — Trish perguntou com
interesse.
— Antes que ela me dê à resposta, que suponho ser
logo.
— E você quer minha ajuda?
— Sim. Por isso vim aqui. Eu não quero ser muito
otimista, digo, Lee é incrível. Mas não sou tolo, sei que
nossa realidade pode fazê-la correr para longe. Penso que
se puder estar por perto para que ela veja que não há o
que temer, poderá ser mais fácil para Lee aceitar... me
aceitar.
— Bom. Quando estiver pronto, traga-a aqui. Se
houver qualquer dificuldade, eu ficarei feliz em te ajudar.
Embora Lee seja tranquila, eu sei, com conhecimento de
causa, que toda essa descoberta pode ser um tanto
perturbadora. Ter um amigo para se apoiar poderá fazer as
coisas mais fáceis para ela.
— Obrigado, Trish.
6

CONVERSAS

No canto mais afastado das grades, encostado a


parede, Collin observava o macho dentro da cela enquanto
ele se alimentava como se não houvesse amanhã. Isso
deveria cair mal em algum momento. Collin não estava
dando qualquer colher chá para este macho. Por dois dias
ele tinha ficado sem nada. Dois dias que eram muito
mesmo para ele. E agora, o macho comia rápido a comida
que fora trazida. Alguns bifes praticamente crus, batatas
assadas e massa. Um pack de água foi oferecido. Lucius
se esbaldava, sem quaisquer modos. Não que shifters
reparassem nisso, mas, bem, também não era como se
fossem completos animais quando estavam à mesa.
Não havia nenhuma emoção nele, apenas dureza,
uma que ele cultivou e cimentou durante anos até que toda
dor estivesse contida rigidamente.
Olhando para Lucius, Collin sabia que nem todos os
machos mereciam a sorte que tinham. Ele também era um
alfa, mas não aqui. Em Snowville sua lealdade era de
Caleb e ao bando, cabia ao alfa decidir o que fazer com o
verme imprestável.
Caleb era um alfa bom para sua alcateia, e um
macho de muito valor.
Se esse macho imprestável tivesse só sequer
chegado perto de sua fêmea...
O pensamento fez Collin trincar a mandíbula, o leão
rugindo dentro dele.
... Ele teria... Não, ele tinha dado um destino cruel a
outro macho. Ele tinha feito as piores coisas, uma punição,
uma vingança, que não sanou sua dor, que não honrou sua
perda, que não fez nada melhor, porque nada mais seria
bom, não sem ela.
Mas ele não era Caleb.
Ainda assim, mesmo que recusasse o sentimento,
mesmo que o macho não merecesse, em algum nível
estava aliviado por Caleb não ter dado fim a vida do filho
da puta. Ele conhecia essa dor. A dor que a fêmea sentia, e
que seria triplicada se a vida de seu companheiro fosse
ceifada. Impossivelmente mais dura, mais profunda.
Incurável. Pulsante e infectuosa. Nada mais teria cor,
brilho, sabor, calor. Este era um destino cruel mesmo para
os inimigos. Collin não desejava para ninguém.
Sua companheira deveria ser mimada e cuidada.
Nunca machucada.
Nunca prejudicada.
Fêmeas prometidas eram ainda mais preciosas e
raras. Um presente raro do Criador, a qual poucos tinham a
sorte grande de encontrá-las.
— Não preciso ser um leitor de mentes para saber o
que está pensando — Lucius disse, o desuso da voz
evidente em seu tom áspero. — Não posso dizer que não
concordo. — Empurrou a bandeja de comida para o lado,
abriu uma das garrafas de água e bebeu tudo então, pegou
outra, mas não bebeu de imediato. — Não estamos em
conexões diferentes, apesar de tudo.
— Então sabe que não tem nenhum direto.
— É verdade, não tenho. Isto, porém, não me
impede de sentir como eu me sinto.
Houve um cumprido silêncio.
— Acha que não sei o que fiz? O dano que causei?
Que não me amaldiçoo todo santo dia pelo mal que
causei? Que não sei que não tenho o direito de voltar aqui,
de estar na presença dela? Eu sei. Não a mereço. Nunca
fiz. Não sei que tipo de acerto eu fiz na vida para merecê-la
e não importa. Ela é minha. De todas as formas, ela é
minha.
Ficando em pé, Lucius se aproximou da grade.
— Tem uma fêmea? Uma prometida?
O rugido baixo de Collin levou terror aos quatro
cantos da cela, mesmo assim, Lucius não desistiu. O
macho parecia convencido, humilde.
— Sabe então que não posso desistir — confessou,
humildemente.
Collin sabia, mas não estava dizendo isso ao
macho.
— Eu a amo. Todos esses anos não fiz nada mais
que sofrer por ela, desejá-la, me amaldiçoar e culpar... a
dor nunca passa, ainda que eu tentasse ser nobre e dizer
que o que sentia era merecido, e, ainda assim, era pouco.
Eu precisava dela, da sentença dela. Não voltei porque
quis, foi mais forte do que eu. Não a mereço, de nenhuma
forma. Tampouco mereço qualquer misericórdia do bando
que um dia foi meu, mas... bem, aqui estou — Lucius
murmurou baixo, sua sinceridade não abalando em nada o
outro macho.
— Você foi desleal. Não honrou seu bando, sua
própria gente, sua descendência, não honrou o bem mais
precioso que tinha. Sua fêmea prometida.
— Eu me arrependo — ele disse de cabeça baixa.
Collin rugiu com desprezo, a raiva borbulhando. —
Dizer que se arrepende não mudará o resultado. O que
está feito, está feito. Não pode mudar isso.
— Boa coisa que vivemos por séculos, hein? —
Lucius zombou com amargura, se empurrando para trás
para o colchão, onde se sentou com as costas contra a
parede, fechou os olhos. De repente, parecendo acabado.
Lucius, por mais que ele próprio quisesse não
acreditar, sofria e era mais do que ele próprio podia lidar.
Collin não queria admitir, estava irado, revolta cobrindo
seus ossos com inveja do macho pela oportunidade que
ele jamais teria.
Tão fodidamente indigno.

Trish colocou uma grande xícara de chocolate


quente com chantili na frente de Lee. Ela precisava disso.
Talvez uma só caneca não fosse o bastante, pensou,
tomando um pequeno sorvo. A quentura embaixo de seus
dedos era agradável e reconfortante.
Bonita sentou na sua frente com uma xícara para si
mesma.
Lee tinha enraizado no assento desde que chegara
a casa da amiga, dez minutos atrás. Embry a tinha deixado
lá para ter um momento com Bonita enquanto ele saia com
Conan para resolver seja lá o que tinha de fazer com o
companheiro de sua amiga.
Elas beberam mais um gole em silêncio, antes de
Trish quebrá-lo.
— Desculpe. Você deve estar pensando que sou
uma amiga terrível e eu sei que fui, mas não podia me
intrometer entre vocês.
— Tudo bem. Eu posso ter sido um pouco infantil
com aquele drama todo.
— Estava no seu direito.
— Sei.
O silêncio caiu entre elas por um minuto inteiro.
A barriga de Bonita era apenas uma insinuação
encantadora.
— Você está indo bem aqui, uh? — comentou ela,
alegre.
O sorriso de Bonita iluminou o cômodo, os olhos
cheios de amor.
— Caleb é maravilhoso, e está me deixando muito
mimada. É engraçado, eu costumava achar que esse lugar
era o fim de linha, mas estou no lugar certo, onde pertenço,
sabe, o lugar onde eu deveria estar. Você não se sente
assim?
— Sim. — Lee sorveu mais um generoso gole. — É
bom ter um tempo para nós duas. Podíamos, sei lá, pegar
um dia de folga, digo, meu e das meninas da P&C, já que
você não trabalha mais lá, e fazer um dia das meninas.
— Eu gostaria disso. Seria legal.
— Ótimo. Eu vou falar com elas. Mas me diga, como
está levando a vida de casada, dona de casa, futura mãe e
empreendedora independente?
— Para ser honesta, eu achei que seria mais difícil,
mas estamos indo bem. Caleb me ajuda muito, você sabe,
com a gravidez. Ele realmente levou a sério o papel de
protetor e não me deixa fazer quase nada. Tenho que bater
o pé às vezes, é frustrante. Fofo, mas frustrante — elas
riram. — Uma das mulheres da reserva vem uma vez por
semana para limpar a casa. Caleb é um cozinheiro e eu
uma comilona.
— Boa combinação.
— Não é? Ele cozinha e eu como. Minhas roupas
estão lavadas e passadas, e eu tenho alguém para
carregar minhas compras e para esquentar meus pés à
noite.
— Parece que arrumou um grande negócio aqui.
Trish suspirou.
— É. E você, como vai indo?
— Bem. — Lee ergueu a xícara. — Tem mais?
— No fogão.
— Não, por favor. Sente-se. Eu pego.
Trish acompanhou os movimentos da amiga. Ela
bebeu mais um gole, compartilharam outro momento, até
que abaixou a xícara para mesa.
— Certo. Diga.
Lee a olhou.
— Eu não...
Trish menosprezou com um balanço de mão. —
Desembuche!
Os ombros de Lee caíram rendidos e ela
rapidamente se aproximou, sentando-se à mesa, a
expressão ansiosa. — Ele quer que eu venha morar com
ele.
Embry tinha sido muito territorial e ciumento
também. Ele a queria tanto quanto ela o queria. Sentiu.
Isso a fez dar uma pausa.
Sentiu?
Sim, tinha sentido. E gostou muito.
— E como você se sente sobre isso?
— Seria loucura que, — pausou, mensurando,
então, por fim, disse —, que eu esteja tentada? Estar com
ele o máximo de tempo possível, dormindo e acordando
junto, comendo, ou só assistindo televisão, é algo que
posso realmente me acostumar.
— Sente-se louca por isso?
— Eu... Ah, Bonita! Embry é incrível. Incrível mesmo
— ela cochichou em tom de cumplicidade, e suspirou com
um ar sonhador. — Eu nunca pensei que encontraria aqui
um homem como ele. Embry me faz sentir coisas...
bonitas... E tem todo esse desejo. Eu o olho e quero rasgar
a roupa fora de seu corpo e secá-lo, se é que me entende.
Trish corou, concordando, com um risinho feminino.
— Embry é muito amoroso. E... Bem, eu não sei
como, mas sinto que ele é o meu cara, entende? Nunca me
senti assim com ninguém. Quando estou com ele é como
se estivesse completa de uma forma que não consigo
explicar.
— Acho que alguém foi picado pelo bichinho do
amor.
— Eu fui, né? — Lee nem pestanejou. Bebeu mais
um pouco de chocolate e deu um olhar firme para Trish. —
Acha que sou louca por estar me sentindo assim?
— Se você me perguntasse isso há mais de mês, eu
diria que sim. Mas agora? Eu gostaria de ter sido menos
tonta e agarrado meu homem mais cedo.
— Isso é... feroz.
— O amor é assim, minha amiga. Não se explica.
Não há garantias, calendários, e tampouco há porque se
negar se existe uma chance de ser feliz.
Lee absorveu as mesmas palavras que tinha
cantado a Bonita. — Ele até me levou para ver o
engenheiro pra fazer as mudanças na casa, embora eu
canse de dizer que a prefira como ela é. Mas Embry
continua dizendo que é pequena, que ele precisa de um
escritório e eu preciso do meu espaço para ler meus livros
e ver meus filmes — ela fez uma pausa e riu. — Quem me
vê falando parece que nos conhecemos há meses, anos,
quando, na verdade, só o conheci há um par de dias. Isso
não parece rápido? Estranho que eu me sinta íntima dele,
que nós estejamos íntimos como se fossemos um casal de
longa data?
Trish ensaiou uma careta horrorizada.
— Sério? Onde está a Lee que conheço? É uma
usurpadora!
— Bonita! — repreendeu, rindo.
— Você sendo contida não se parece com você —
Trish disse, ainda rindo.
Lee sorriu faceira. — Eu esperava que você
pudesse me colocar um pouco de juízo na cachola, antes
que eu cedesse aos meus delírios.
— Nós não já tivemos essa conversa, só que em
posições diferentes?
Lee encolheu os ombros. — Pode ser que eu esteja
em um nível épico de carência. E esteja me agarrando a
ele como garantias, com medo de que não apareça mais
nenhum homem decente nesse fim de mundo, e eu perca a
chance por uma bobagem.
— É assim que se sente em relação a ele?
Lee bufou, choramingando quando recostou na
cadeira.
— Não. Eu o adoro. É fácil estar com ele. Tão fácil
como respirar. Quando estamos juntos é como se nada,
nem ninguém mais existisse. Só nós. Embry e Leah. Eu
acho que estou um pouquinho mais que apaixonada por
ele.
— Desconfio que Embry está no mesmo barco.
— Você sabe de algo que eu, sei lá, precise saber?
— Não é difícil ver que o homem está de quatro por
você.
— Não, Bonita. Estou falando sobre Snowville.
Trish a olhou, sobressaltada, sua expressão
assustada. Ela colocou a própria xícara para baixo com
cautela, Lee não perdeu isso.
Estranho.
— Tipo?
— Não sei. É você quem estava interessada na
cultura deles.
— E?
— Embry me deu um pouco disso.
Quando Bonita continuou olhando, Lee deslanchou
a falar, dando a Trish toda informação que lembrava que
Embry tinha lhe passado.
Terminado, ela olhou para a amiga, ansiosa.
— Está com medo dele? De Snowville?
— Há motivos para eu estar?
— Não, Lee. Eu te disse uma vez que eles eram
diferentes e que isto pode, a princípio, causar alguma
estranheza, mas juro que não há nada para temer.
Lee assentiu. — Não nego que acho um pouco
estranho essa crença animalesca, se é que posso chamar
assim. Mas não tenho medo. Acho até que me fascina em
algum ponto. Embry me deu o grosso, né? Não tivemos
muito tempo para entrar em detalhes.
— E você quer que eu faça às honras?
— Informação vale ouro — piscou.
— Eu não posso te dar mais do que ele fez. Só a
garantia de que essa gente é como uma grande família,
eles cuidam uns dos outros, se respeitam e valorizam.
Esses... homens dariam tudo de si por suas mulheres.
Ninguém aqui lhe fará mal.
Trish estava sendo limitada. Lee sabia que a outra
mulher não gostava de fofocar sobre os demais, nem de
meter o nariz onde não era chamada.
Ela não poderia ter arrumado uma amiga menos
reservada?
— Ele faz aquelas coisas — Lee confessou com um
cochicho.
— Que coisas?
— Você sabe. Tudo aquilo que você me disse uma
vez que Caleb fazia com você. Há todos os sons
animalescos que não posso compreender como ele faz.
Não vou dizer que não gosto, me derreto toda, minhas
calcinhas vivem molhadas. Mas tem aquela coisa com os
olhos também, e quando ele goza, nós meio que não
podemos...
— Entendo.
— Eu sei que disse a você que talvez estivesse
imaginando, podemos ficar um pouco selvagens enquanto
estamos fazendo amor, mas é real.
Bonita não parecia surpresa, sua expressão era
serena e tranquila com uma sugestão divertida. Isto
tranquilizou o coração desesperado de Lee.
Ela então, falou mais calma.
— Ele me morde. — Seu olhar disparou para o
pescoço da amiga, a mesma marca amarelada no mesmo
ponto marcava o pescoço de Trish, que esticou a mão e
tocou lá com afeto. — Tenho certeza que o mordi de volta
algumas vezes, mas não há nada lá... E... Jesus Cristo! Sei
como isso irá parecer, mas... eu tenho essa vontade de me
esfregar nele, não é sexual em tudo, pelo menos, não no
começo... há esse ímpeto de esfregar meu nariz em seu
pescoço, minha bochecha na dele e outras partes... Embry
sempre faz isso. Na maioria das vezes, acabamos fodendo.
Ele disse que são como preliminares.
— Eles são um pouco peculiares, hein?
— Peculiares é eufemismo, né, Bonita?
Lee terminou com sua caneca, pensando em tomar
outra, mas decidiu não fazer e, em seguida, focou Trish e
soltou a pergunta entalada em sua garganta.
— Isso não te preocupa? Nenhum pouquinho?
— Não. Caleb tem suas particularidades, assim
como sua gente e Snowville como um todo. Aceitei isso.
Não foi fácil. E te adianto, não será fácil. Mas Lee, eu estou
aqui pra você. Algumas coisas são novas e um pouquinho
estranhas, pode ser difícil... aceitar, se aclimar, mas eu não
nasci para o comum. E acredito que você, tampouco.
— Sempre soube que era especial — brincou, rindo,
e depois ficou séria. — Você também sente isso, né? Esse
pertencimento, como se Embry, esse lugar...
— Fosse casa. Nosso lugar. Meu lugar — Trish
terminou com um sussurro.
— Sempre tive essa sensação de que algo maior me
esperava. E agora...
Trish buscou sua mão através da mesa e apertou,
acalmando-a.
— É normal se sentir receosa. É um grande passo
que está prestes a dar.
— E bota grande isso. Mas acho que não seria
diferente. Grande homem. Grande tesão. Grande amor.
Grande pau. E as bolas então?
— Lee!
As mulheres caíram na risada.

— Poderia matá-lo.
Caleb assentiu. — Poderia.
— Acha que ele está tramando?
O alfa queria acreditar nisso. Também não era como
se Lucius fosse grande coisa. Mesmo fazendo o bem o
macho faria mal. Não o tipo que o faria tomar uma decisão
drástica, ainda. No entanto, um bom líder nunca deveria
subestimar seu oponente.
— Ele não é burro, e não apareceu por caso. Ele só
quer uma coisa.
Embry assentiu com um grunhido enquanto seguiam
para o próximo chalé. Ele e Caleb fiscalizaram cada canto,
observando os entalhes feitos à mão.
— Seja como for, o dano que ele causou terá de ser
julgado pelo conselho.
— Permitirá que ele fique?
— É cedo para qualquer decisão, Embry. Veremos
isso quando a hora chegar. Esta não é uma situação
comum e não deve ser tratada com tal.
— Quando?
— Lucius terá um julgamento adequado quando
estiver forte o bastante.
— Isso é generoso, meu amigo.
— É o protocolo — disse simplesmente.
— Ele atacou Trish.
Caleb focou o beta, sua voz calma e baixa, apesar
da dureza. — Não estou amolecendo. Amo Trish e nossa
criança. Não há nada que eu não faça para protegê-las. O
que Lucius fez, quase matar Trish de medo, merece uma
punição severa... Ele está pagando um preço alto demais
que mesmo os mais fortes fraquejariam. Odeio o macho,
mas não posso ser injusto. Minha fêmea e nossa criança
estão bem. Ele não era um risco. Nós ficamos possessivos
e loucos com qualquer mínima ameaça.
— Ele poderia estar mentindo.
Caleb sabia que não, e entendia a desconfiança do
amigo.
— Não estou baixando a guarda.
Caleb parou, respirou fundo, e girou ficando de
frente para o outro macho.
— Olhe, não estou sendo leviano aqui. Honro minha
fêmea. Honro meu bando. Minha posição. Sei da minha
obrigação como alfa do bando, e como companheiro da
minha fêmea. Lucius não quis matá-la. Ele sentiu o cheiro
de shifter nela, sabia que estava marcada. Ficou curioso.
Ele não sabia que humanos e shifters podiam se acasalar,
mesmo ele não cogitou isso. Não posso culpar o infeliz por
ser curioso.
Embry assentiu. Caleb não era alfa por deixar suas
emoções controlarem suas ações, ele era racional,
controlado e inteligente, e justo. Tudo que o bando
precisava.
Os machos dirigiram seus olhos para o acabamento
do chalé.
— O que acha? — Embry perguntou.
Caleb olhou ao redor com aprovação. — Ficou muito
bom. Peça para o Arik tirar fotos novas para o site. Iremos
atrair uma gama de turistas para a próxima temporada. Em
um lugar como este, o rústico precisa oferecer conforto.
— O empreiteiro teve que refazer o orçamento outra
vez para adequá-lo ao que pediu e para trabalharem sem
estourar o orçamento.
— Ele conseguirá terminar os outros antes da
primavera?
— Creio que sim. Mais machos se despuseram a
ajudar.
Depois que fiscalizaram os chalés que estavam
prontos, os machos pegaram o caminho de volta para
casa. Caleb riu ao sentir a mudança no beta.
— Ansioso?
— Sempre.
— É, eu ainda sinto.
— É estranho, mas bom pra caralho. Melhor do que
jamais ousei imaginar. Só o pensamento de me afastar
dela me faz mal — confidenciou.
— Sinto o mesmo, embora esteja mais controlado.
— Diminuiu pra você?
— Ainda somos recém-acasalados, porém aquela
ânsia insana de montá-la a cada minuto não sinto mais.
Desejo Trish, mas nada que não possa trabalhar.
Uns passos depois, Caleb perguntou:
— Irá mesmo contar a ela?
— Preciso fazer isso. Tenho notado algumas coisas,
também não é como se pudesse evitar. Lee está
deslumbrada, mas ela não é boba, já percebeu que tenho
hábitos e comportamento diferente dos humanos. Ela não
parece ligar, contudo, sei que isso está cutucando lá dentro
— Embry bateu o dedo na própria cabeça.
Caleb riu. — Fomos agraciados com fêmeas
geniosas.
— Devemos começar um clubinho?
— Desde que você é minha melhor aposta, e eu a
sua, podemos montar essa porra.
Os shifters riram e seguiram caminho.
— Quer mudar?
Estavam a uns bons quilômetros de casa.
— Nah. Prefiro usar esse tempo pra falarmos.
— Compartilhe — demandou, Caleb.
— Notou alguma diferença em Trish quanto ao
tempo?
— De que tipo?
— O clima não parece afetar Lee como antes, e ela
parece não perceber que usa menos roupas para se
agasalhar, também. E eu posso jurar que a ouvi emitir um
som muito similar a um grunhido quando estamos íntimos.
Ela também teve comportamentos parecidos com nossas
fêmeas quando querem aproximação de seus machos.
Caleb assentiu.
— Algo mais?
— Nada que possa afirmar.
— O Conselho me chamou. Suas respostas não
foram novidades em tudo, mas eles disseram algumas
coisas interessantes. O drukāt, como sabemos, não é igual
para todos os casais. Em comparação a sua companheira
e Trish, na minha fêmea foi mais forte e duradouro. Mas
Trish, diferente de Lee, não queria nenhum macho. Sem a
magia forçando-a ao que ela se recusava, o resultado hoje
seria diferente.
— Fico feliz que ela o aceitou.
— Eu também, meu amigo. Eu também.
— Algo mais?
— Trish também não sente mais frio como antes.
Raina a examinou e a tem monitorado. Sua temperatura
corporal subiu, mas Trish não tem febre. Ela parece ótima,
está mais disposta e resistente, isso é outra coisa que
pareceu ter mudado. São mudanças lentas, porém
perceptivas. Cogitamos a gravidez. Ela tem comido mais
do que o normal, mas não tem mudado o peso, exceto pelo
inchaço normal dos seios. Trish não se comporta como
uma fêmea humana grávida normal se comportaria. Ela
está grávida de um híbrido. É claro que há questões
pendentes, e respostas que teremos ao longo de sua
gravidez, e outras que só poderemos ter certeza após ela
parir ou até que nossa criança faça os 5 anos quando a
primeira mudança deverá ocorrer.
Ainda que não acreditasse e a questão soasse
absurda, Embry fez a pergunta. — Acha possível nossas
trocas de fluídos e mordida forçá-las a se transformar?
— Não. Shifter nascem. Esta é uma verdade
incontestável. O conselho trouxe a questão. Uma vez que a
troca de fluídos e mordida mexe com a fisiologia de nossas
fêmeas para emprenhá-las, a troca também libera seus
instintos, deixando-as mais selvagens. Sabemos que
precisamos, que aguentamos. Trish disse que quando
concluímos nosso acasalamento, ela teve um impulso.
— Que tipo de impulso?
— Ela disse que sentia a necessidade de me
desafiar, de ser submetida, de me fazer provar ser digno.
Isso se parece muito com o instinto em nossas fêmeas.
— O Criador nunca erra.
— Ele não nos daria uma fêmea que pudesse se
quebrar com facilidade, que não pudéssemos manter
devido à nossa natureza.
— Estou contando com isso — sussurrou Embry,
apreensivo.
— Preocupa-se com o tempo de vida dela em
comparação ao nosso?
— Não. Isso não me preocupa. Qualquer tempo com
ela será perfeito. E depois, bem, não é como se
suportássemos por muito tempo o luto de nossa fêmea.
— Há exceções.
Embry olhou para Caleb, a expressão mais séria
então, assentiu.
— Sim, há.
7

SHIFTER? QUE RELIGIÃO É ESSA?

— Falei com papai. Ele virá no natal. — Lee disse,


uma vez que a caminhonete parou. Embry desligou o motor
e olhou para ela, esperando. — Espero que não se
importe, mas eu contei sobre nós, ele ficou animado para
te conhecer.
— Não me importo, doçura. Quero muito conhecê-lo.
— Eu achei que devia fazer antes de te dar a
resposta.
— E você já tem uma?
Lee assentiu.
— Embry, eu...
Os dedos dele pressionaram de leve os lábios dela.
— Anseio por essa resposta como anseio todos os
dias que volte para os meus braços quando está longe de
mim, mas posso esperar uns minutos mais. Há algo tão
importante quanto para fazer. Não podemos adiar mais.
Lee respirou mais tranquila, ainda assim, havia
aquela sensação, uma vibração estranha que não a
permitia relaxar. Isto se devia ao mistério que o envolvia e
a Snowville, embora ela própria não pudesse afirmar o que
era. Só havia algo.
Embry abriu a porta para ela, e ao descer, Lee olhou
para casa a sua frente, dando-se conta de que estavam na
frente da casa de Trish e Caleb.
— O que estamos fazendo aqui? Pensei que íamos
pra casa.
Embry tocou seu rosto, e ela se inclinou para o
carinho.
— Iremos depois. Eu te trouxe aqui porque te devo
algumas respostas, sei que tem algumas dúvidas aqui
perturbando seu sono — ele cutucou de leve sua cabeça.
— Não seria melhor fazer isso em casa?
— Pensei que seria melhor aqui, Trish pode ajudá-la
a compreender algumas coisas que talvez eu não consiga.
Lee ficou tensa.
— Embry, eu não estou entendendo. Que coisas são
essas?
Ele pegou sua mão, entrelaçando seus dedos. Seu
sorriso confiante. — Não há com o que se preocupar.
Nunca te machucaria. Você confia em mim?
— Eu confio.
Ao entrar, se depararam com Conan e Bonita
sentados na sala de uma forma familiar casual, um casal
que parecia se conhecer a vida toda. Logo que seus
olhares se cruzaram, Caleb deu um aceno e continuou
massageando os pés de sua companheira.
Trish sorriu para ela.
— Não fiquem aí parados, entrem.
— Como você está? E esse bebezinho?
— Estamos bem, ainda que ele me faça comer um
boi por dia.
— Que comilão!
— Ou uma gulosinha — Caleb disse.
— Ei, Conan... Ops! Quero dizer, Caleb.
Lee não sabia o motivo, mas, de repente, Embry
fechando a porta atrás deles foi uma sensação muito
sentida, só não mais que a tensão pesando a atmosfera.
Lee tinha uma sensação, algo lá, ameaçando domá-
la, algo que ela rejeitou.
Embry cumprimentou seus amigos de forma rápida e
sucinta. Isto não passou despercebido por Lee. Ele se
sentou ao seu lado, a mão na sua. Sua reação foi
instantânea. Ela relaxou, recostando-se nele, buscando o
contato de seu corpo, era mais que isso. Lee buscava a
proteção que somente Embry podia dar, o conforto bom de
seu corpo forte mantendo-a como se fosse uma
preciosidade.
Lee olhou de um para o outro, tentando manter a
calma, porém algo estranho a fez se sentir agitada, mas
antes que pronunciasse, Embry se levantou, marchando na
frente dela, sua expressão se aprofundou, olhando-a com
cautela quando parou.
— Embry?
— Eu tenho algo pra te falar.
Trish bufou. — Apenas diga, Embry. Não há outra
forma de fazer isso, acredite.
— Querida, deixe que Embry faça isso do seu jeito.
Lee deveria prestar atenção neste pequeno pedaço
de informação, era importante, ela sabia, mesmo assim, ela
esperou, sua própria inquietude crescendo rapidamente.
— Embry, baby, o que foi?
Ele não voltou a se sentar. Ele se aproximou,
ajoelhando-se em sua frente com reverência. O coração de
Lee trotou forte no peito, mirando-o curiosa.
Expectativa e outro tipo de emoção rolaram através
dela.
Seu olhar determinado fixou-a, atingindo no
intestino.
— Sei que tem notado que há algumas coisas aqui
que são diferentes do que conhece, que eu não sou como
os outros homens. Eu sou diferente.
— Está falando sobre como fica quando... estamos
íntimos?
— Também.
Lee levantou o olhar para Trish e Caleb, e depois
voltou a olhar Embry. — Não acha melhor conversarmos
sobre isso em casa? Só nós dois?
— Não, baby. — pausou, respirou. — Antes de
qualquer coisa, preciso que saiba e confie em mim. Eu te
amo, Lee. Não há nada que eu não faria por você. É tudo
que quero desde que acordo até o momento que vou
dormir, mesmo nos meus sonhos você está lá. Eu prometo
que sempre a manterei segura e te farei feliz. É meu lar.
O coração de Lee inchou com amor, os lábios
contraindo com um sorriso enorme que doía, seus olhos
lacrimejaram. E por um momento, ela se esqueceu da
plateia e se atirou nele, agarrando seu pescoço enquanto o
beijava profundamente.
— Eu também te amo, Embry. Sei como isso se
parece e não dou à mínima. Loucura ou não, cedo ou não,
eu amo. Nunca me senti assim por ninguém. Eu quero
tentar... quero estar aqui com você, trabalhar nosso
relacionamento e ver no que dá.
Embry riu. — Graças a Deus.
Ele se curvou, beijando suas mãos e, em seguida,
puxou uma respiração funda, preparando-se enquanto a
olhava, com uma expressão séria e cautelosa.
— Há uma razão para todas aquelas coisas
ocorrerem quando estamos íntimos, para a forma em que
me refiro a certas coisas... Deus, isso é difícil.
— Embry, solte de uma vez — Trish incentivou,
encorajando, mas parecia apreensiva também. — Será
como arrancar um band-aid.
— Eu não tenho mais tanta certeza.
— Bobagem! Lee tem o direito de saber.
— Trish — Caleb disse, advertindo.
O temor de Lee, de repente, começou a ganhar
forma e rapidamente se transformou num monstro. Ela
segurou a inquietação com punhos firmes. Embry sempre a
adulava com palavras doces e bonitas, não poupando
elogios, sempre a fazendo se sentir única e especial. Lee
se sentia assim quando Embry estava em causa.
Mas olhando agora...
Embry se afastou, tomando distância dela,
parecendo perturbado, com medo. Lee começou a sentir
medo, também. Seu castelo, repentinamente, estava
começando a ruir, os cacos afiados se acumulando em
seus pés.
O pensamento foi rápido, mas durou o bastante para
dilacerar seu peito e latejar em sua mente, desfazendo
suas fantasias, incutindo tristeza em suas veias.
Era bom demais pra ser verdade.
Bom demais para ela.
Para ser dela.
Então era agora... Ah, Deus! Que tola era! Este era
o momento em que ele revelava que era casado e tinha
uma penca de filhos. Que tudo não passou de uma ilusão,
a brincadeira tinha acabado, tinham de colocar os pés no
chão e voltar para sua família. Sua garganta queimou, os
olhos arderam enquanto o coração ficava doente de
tristeza, uma angústia sem igual obstruindo sua garganta,
quando Lee soluçou então, uma lágrima caiu. Ela
rapidamente secou. E depois, se xingou por sua fraqueza.
Deveria poupar a ambos do constrangimento, levantar-se
e... O quê? Xingá-lo? Bater nele?
— Ei, baby, por que está chorando?
— Você... você é casado, não é? Por isso me
chamou aqui e Bonita e Conan estão aqui... E-Eu sabia
que isso era bom demais pra ser verdade...
Lee chorou copiosa.
Jesus, ela não dava uma dentro mesmo!
— Eu não sou casado e, tampouco, tenho filhos.
Lee piscou. — Não?
— Não.
Ela limpou as lágrimas e sorriu, mas não chegou aos
olhos.
— Uh-oh... Bem, se é assim, por que estamos aqui?
O que está acontecendo?
— Eu não sei uma forma melhor de fazer isso sem
ser direto. Eu sou um shifter.
Lee ficou imóvel por um curto período, olhando-o
fixamente, e depois sorriu tão largo que o rosto doeu. Ela
quase desfaleceu de alívio.
— Oh, Graças a Deus, digo, tudo bem. Eu não me
importo.
— Não se importa?
Lee sentia os três pares de olhos nela,
aparentemente aliviados e confusos ao mesmo tempo, mas
só um interessava. Ela balançou a cabeça, achando graça
da aflição de Embry. — Claro. Não precisava me trazer
aqui para dizer isso. Poderíamos ter tido essa conversa em
casa.
Embry a olhou com cuidado, a voz cheia de cautela.
— Baby, você entende o que quero dizer?
Lee sacudiu a mão no ar. — Escuta, Embry, eu não
tenho uma religião. Na verdade, hoje mesmo não sou
praticante de nada, embora acredite em Deus. De qualquer
forma, ficarei feliz em conhecer sua religião. Shifter é...
diferente. Nunca ouvi falar.
— Shifter não quer dizer...
— Não? É o que então?
— Caleb é meu Alfa, e Trish minha Prima. Agora,
nosso Alfa e nossa Prima. Eu sou o beta, isso faz de você
minha beta fêmea. Tenho 307 anos. Shifter quer dizer que
sou um lobo. Na verdade, tenho a habilidade de trocar para
a forma lupina. Nasci assim e vou morrer assim. É quem
sou. Snowville é mais que uma reserva, é nossa matilha.
Lee olhou preocupada. — Você está precisando de
um médico?
— É verdade, baby — disse Embry — Lembra o que
te contei sobre Snowville ser uma grande alcateia? É real.
Somos reais. Tudo é real.
— Isso é impossível, Embry — zombou, bufando
uma risada, só não tinha certeza se era de diversão ou
nervosismo. — Essas coisas não existem.
— Existem.
— Não, isso... — ela se calou.
A voz, seus olhos, a expressão, tudo nele era muito
sério. Ninguém estava rindo. Bonita olhava, ansiosa. Caleb
apenas estava lá, do lado de sua amiga, abraçando de
forma despretensiosa. Nenhum sorriso de zombaria,
nenhuma sombra de piada.
— Embry não está mentido, Lee. Ele e Caleb, assim
como todos em Snowville são shifters. Eles são lobos, mas
há outras espécies também e outras raças. Eu sou a
companheira prometida de Caleb, e você é a companheira
prometida de Embry. Nossa maçã não caiu tão longe, afinal
— Trish tentou brincar.
— Companheira de um lobo?
— Prometida. — Trish pontuou. — Somos um tipo
especial.
Bem, foda-se, deveria ter cedido aos seus impulsos
investigativos, mas estava muito presa na teia de fascínio
erótico que Embry suscitava. E agora, todos estavam
loucos ou bem perto disso.
— Não sou tão diferente de um humano, mas, ainda
assim sou diferente. Eu nasci shifter. Um shifter lobo. —
Embry pausou, e depois deu um passo em sua direção.
Lee estava congelada, os olhos fixos nele, a mente em
branco. — Em meu mundo, todas as espécies de shifter
tem seu par ideal, o que vocês humanos chamam de alma
gêmeas, nós chamamos de companheiros prometidos.
Eles não são comuns, e quando encontramos a nossa, é
uma grande benção. Nunca antes tivemos entre nossa
espécie um prometido humano. Trish foi a primeira. Você é
a segunda.
— O que está dizendo exatamente?
— É minha prometida, Lee.
— Sou?
— É.
— Como pode saber disso?
— A magia drukāt não a apanharia, se você não
fosse.
— Fez macumba pra mim?
— O quê? Não, porra!
— Então o que é isso? Magia o quê? Não entendo.
— Drukāt é uma magia especial que recai sobre a
fêmea prometida quando a encontramos. No minuto em
que nos vemos, ela a pegou, me acertou em cheio
também, ambos sentimos. Um bônus do Drukāt, os
companheiros podem sentir as emoções um d outro e
induzi-las também. É mais fácil para nós, shifters,
detectarmos essas emoções e sentimentos devido aos
nossos sentidos aguçados, mas você também pode sentir,
ainda que em menor grau. Não podia pensar em nada que
não fosse estar em meus braços, ter minhas mãos, minha
boca, meu pênis e minha semente em você, certo?
Lee ficou vermelha da cabeça aos pés.
— Muito engraçadinho.
— Lembra-se como se sentiu quando nos vimos
pela primeira vez? Se sentiu atraída por mim como jamais
esteve antes por qualquer outro macho, não é? De alguma
forma, você soube naquele momento que me pertencia, por
isso não lutou e veio quando a chamei, não foi? Desde
então, sente-me, sente-me seu, e você se sente minha.
Era verdade, ainda assim...
— Uh-uh. Certo. Okay. Você já se divertiu. Agora
pode...
— Merda — ele resmungou, chegando atrás dele
para agarrar sua camisa e puxá-la pra fora de seu corpo.
— Eu não pensei que tivesse de fazer isso.
Embry não tinha nenhuma vergonha.
Caleb não parecia se importar que outro homem,
seu amigo, estivesse se despindo na sua frente, na frente
de Bonita. Sua amiga, tampouco. Embora estivesse com o
rosto escarlate, Trish não estava surtando como era de seu
feitio diante de algo tão explícito.
Os olhos dela aumentaram em choque. — O que
você tá fazendo? Embry, pelo amor de Deus! Coloque essa
roupa, homem! — ela meio que ganiu, em parte por
vergonha, em parte porque não queria que seus atributos
ficassem amostra. — Tudo bem. Eu acredito em você. Não
precisa tirar nada... Oh, meu Deus... Ele tá tirando...
Embry não parou.
Mortificada, Lee o assistiu ficar nu então, a coisa
mais bizarra e surreal aconteceu, assim, do nada, de
repente... uma névoa escura surgiu, rondando-o, e quando
ela desapareceu, Embry já não era mais Embry. O homem
adorável que a fazia se sentir maravilhosa e todos esses
sentimentos apaixonados... ele era.... um lobo.
Um enorme lobo marrom com pés e barriga brancos.
Incapaz de falar, Lee o assistiu se aproximar. Ele
cutucou seu joelho com o focinho gelado, lambeu,
balançou o rabo e se sentou, olhando pra ela. Não animal
em tudo, ela reconheceu. O medo ameaçou consumi-la.
Não, não medo. Incredulidade.
— Está tudo bem, Lee. — Trish disse, a voz se
aproximando como se ela estivesse ao seu lado. Lee não
foi capaz de olhar para conferir, estava com o olhar
cravado no grande lobo. — Ele não vai machucá-la. Ainda
é Embry ali. Pode tocá-lo se quiser.
Tocar?
Correntes invisíveis ataram seus nervos, Lee
empalideceu, a boca se abrindo em estado de choque
enquanto o coração só faltava explodir.
— Um cachorro — ela balbuciou.
— Lobo — Caleb corrigiu.
Lee olhou com ferocidade então, num rompante, ela
saltou, e depois se afastou indo para trás, para longe do
lobo, que grunhiu em resposta e deu um passo para ela.
Lee lutou contra o instinto de correr pela sua vida, a
respiração rápida.
A voz entalada pela perplexidade.
Um tremor peculiar percorreu sua coluna.
— Cachorro, lobo. Que diferença faz? São todos
animais.
— Mude, Embry.
A mesma névoa o rondou, e o lobo voltou a se
parecer com seu amante.
— Ai, caramba...
Embry não fez nenhum movimento para se vestir,
indiferente a sua nudez. Ele deu um passo para ela, mas
Lee esticou as mãos em defesa, lívida, dando outro passo
para trás.
— Não se aproxime!
— Doçura...
Lee olhou desesperada para Trish.
— Eu fodi com um animal, Bonita.
— Lee, não é assim.
— Por diversas vezes eu... eu... eu dormi com ele —
choramingou, entrando em pânico, balançando as mãos
para a forma de Embry sem olhá-lo.
— Eu não sou um animal. Sou um shifter.
— Um animal — ela disse, assustando-se com sua
própria voz. Lágrimas se acumularam em seus olhos, um
pedaço de dor fez pesar seu coração e irradiou por seu
tórax. — Todo esse tempo, estive... com você.
— Nada mudou, baby, ainda sou eu.
— Você tá maluco? Tudo mudou! — ela gritou
histérica.
— É minha e eu sou seu.
— E pensar que... que... ai, Jesus!
Embry se encolheu, a expressão apertando com dor.
Ela quis tocá-lo.
Ela quis unhá-lo.
— Lee, eu sei que é difícil entender, eu mesma
quase enlouqueci quando Caleb me contou. Mas não é o
fim do mundo. Se só dar um tempo pra se acalmar.
Seu olhar afiado caiu em Caleb e de volta para
Trish. — Me acalmar? Você sabia disso o tempo todo e não
me disse nada. Eu fui sua amiga, confiei em você, Trish.
Trish se encolheu nos braços de Caleb, que não
parecia nenhum pouco feliz.
— Não era minha história pra contar.
— Eu vou dar o fora daqui — ralhou, a mente a mil
por hora.
Haveria bichos lá fora. Seu povo? Eles tentariam?
Trish se aproximou dela. — Eu juro que entendo.
Mas, minha amiga, Embry é um bom cara. Nada mudou.
Eles têm um adicional, ainda assim são homens
maravilhosos...
— Ele é um bicho! — bradou Lee, com uma
explosão de gestos, a vontade de correr aumentando a
ponto dela não ser capaz de ignorar mais.
— Não sou um bicho, — Embry grunhiu mordaz.
Perdendo a mente, ela fuzilou o tipo. — Humanos
não grunhem nem rosnam, meu amigo. Tente essa depois
que se olhar no espelho e estiver daquele jeito. E pensar
que... que... Oh, meu deus! Deixou... deixou... filhotes em
mim? Também me mordeu... Vou me transformar também
como um maldito Power Ranger animal?
Cada palavra que saía de sua boca era mais alta, a
histeria intensificando.
Embry se encolheu, sofrendo, dor lampejando em
seu olhar.
— Está me machucando, baby.
— E o que acha que fez pra mim, Embry?
— Eu nunca...
— Não? — ela desafiou, não escondendo a própria
mágoa. Esticando as mãos na frente, ela murmurou. — Eu
preciso ir embora.
— É minha companheira, Lee.
Ela deslizou mais perto da porta.
Lee só queria ir para casa e esquecer o que
aconteceu.
Por favor, Deus. Isso não podia estar acontecendo.
— Eu estou caindo fora.
Embry se moveu para ela. — Não! É minha.
Ela estapeou sua mão para longe quando ele tentou
agarrá-la.
— Não tem o direito de me manter aqui contra a
minha vontade! — Lee gritou, a ponto de perder o pouco de
razão que restava. — Não pode decidir por mim.
— É minha mulher. Minha fêmea. Minha
companheira. Isso me dá todos os direitos e
responsabilidade sobre você, suas necessidades e sua
proteção, ainda que não concorde em como eu lido com as
coisas. Então, companheira, é melhor aceitar.
Lee arregalou os olhos então, endureceu com raiva.
Embry soube que as palavras foram uma escolha
errada, ainda que fossem verdadeiras. Era assim como as
coisas funcionavam, mesmo que ele estivesse disposto a
não ser um tirano com ela, ainda que ele quisesse ser seu
parceiro, não seu dono.
Ira crua embrulhou os punhos de Lee, seu peito
expandindo. — É melhor aceitar? Eu não sou obrigada,
lobo! Está louco se acha que serei sua posse. Eu vou
embora, e é melhor que não tente me impedir ou vai se
arrepender, juro que vai.
Lee olhou para os lados, tremendo, chorando. Não
sabendo pra onde ir.
Trish se aproximou, novamente.
— Deixe-me levá-la.
Lee olhou desconfiava, odiando que sua
desconfiança machucasse Trish.
— Eu só vou levá-la — Trish reforçou.
Com uma última olhada em Embry, Lee tropeçou
para fora, ignorando o rosnado bestial, sabendo que partiu
dele. Ela não olhou pra trás.
Seu coração estava apertado, a mente um caos.
Lee não esperou que Bonita dissesse qualquer coisa
quando parou o carro em frente à cabana.
Destrambelhada, ela abriu a trava e saltou, andando a
passos rápidos até a cabana e bateu a porta fechada, com
o peito quase arrebentando o peito.

Cace-a. Monte. Reivindique.


Embry olhou desolado para a estrada na direção
que o carro tinha partido. Sentou-se nos degraus com a
cabeça baixa por um longo tempo. Os olhos fixos no chão,
a alma sangrando. As palavras e rejeição de Lee tinham
ferido profundamente. Ele lutou contra a vontade de
persegui-la. Seu lobo arranhava, uivando enfurecido, com a
cabeça jogada para trás, querendo caçá-la, fazê-la
entender que eles se pertenciam... castigá-la pela rejeição.
O homem, no entanto, sabia que isso só pioraria as coisas.
E, embora rompesse o coração, temendo que fosse para
sempre, ele a deixou partir... talvez, para sempre.
Caleb se sentou ao seu lado.
— Ela cairá em si. Com Trish não foi diferente.
— Eu pensei que ela levaria em conta a minha
honestidade.
— Sei, amigo. Nada disso é real pra elas.
Quando Trish voltou, olhou para ele com pesar.
— Eu sinto muito, Embry. Ela saltou do carro antes
que eu tivesse a chance de falar. Dê-lhe tempo. Sei que
quando estiver mais calma, Lee cairá em si.
Embry respirou, lutando contra a fúria do lobo e a
sua própria, quando suas garras cresceram, ele enrolou as
mãos em punhos firmes, cortando a carne que teimava em
se curar em seguida, o rosnado foi involuntário.
Ele era um bom homem, porém, tinha seu quinhão
de orgulho.
Ele não tinha feito nada mais que adorá-la, adulá-la,
mimá-la, dar prazer e amor, ser honesto com ela. Tudo que
um macho honrado faria por sua fêmea.
Pondo-se de pé, ele deu um aceno duro para o
casal alfa.
Embry daria a sua fêmea exatamente o que ela
queria, ainda que isso rasgasse seu coração ferido. Seria
um condenado se a forçasse ficar com ele.
Se Lee o quisesse, sabia onde encontrá-lo.
8

DECISÕES IMPULSIVAS

Dois dias tinham se passado, e o turbilhão em sua


mente ainda era gritante enquanto ela dizia a si mesma
que não estava se escondendo. Lee não pensou. Pensar a
levava somente a um caminho... Embry... Era
simplesmente demais para sua mente e seu coração
naquele momento. Estava em modo automático. O
ceticismo levando o melhor sobre ela. Ainda muito
impressionada para crer no que tinha visto.
Embry não era um animal. Não de verdade.
Nem animal, nem humano.
Um shifter.
Ele tinha sido um sonho, ofertou grandes e
maravilhosas coisas então, tudo se desfez com a realidade
absurda. Todo conto de horrores estava à solta.
Ele foi honesto com ela, mas isso não a impediu de
se sentiu enganada.
Sacudiu a cabeça, o peito doendo ainda mais.
Lee agarrou a bolsa e saiu, decidida.
Chegando à P&C, ela foi direto até Jojo, não
fazendo caso dos olhares curiosos e preocupados de suas
colegas. Ela sabia que se parecia como a merda. Olhos
inchados, nariz vermelho e ranhoso. O rosto pálido e
derrotado. O peso da infelicidade nos ombros.
— O que aconteceu? Está bem?
— Preciso falar com a Srta. Crawford — disse,
ignorando a pergunta da idosa.
— Ela está no mesmo lugar de sempre, criança.
Lee girou os calcanhares indo para os fundos da
loja. Teve a impressão de Jojo dizer algo mais, mas não
emprestou atenção. Ela tinha uma missão.
Bateu na porta e entrou, decidida.

Maya estava farta de rever as faturas de gastos da


loja, precisava de uma pausa, quando a porta se abriu. Ela
ergueu o olhar da tela do computador para a fêmea se
aproximando, o cheiro de sua tristeza e outros sentimentos
amargos, fizeram seu lobo erguer as orelhas, atento, e
queimou o seu nariz. O odor de Embry também estava lá.
Curiosa, ela esperou que sua atendente falastrona
falasse, mas Lee simplesmente ficou lá, com a cabeça
baixa, os olhos cheios de lágrimas, fungando.
— Senhorita Diaz, o que posso fazer por você?
Ela teve a impressão que a mulher iria se
desmanchar. Mas, então, Lee tomou fôlego, enchendo o
peito. — E-Eu... eu... — começou a chorar.
Maya não podia se lembrar de um só dia que a
tivesse encontrado em humor diferente que não fosse de
genuína felicidade. Isso aumentou quando ela encontrou
Embry, seu companheiro prometido. O que para Maya era
algo ainda a ser digerido.
Trish tinha sido a primeira companheira prometida
humana.
Então, veio Leah.
Era inédito, para não dizer espantoso.
Podia se lembrar da felicidade insuportável de sua
funcionária, irritava porque fazia sua própria dor maior.
Lembrando-lhe o que teve, o que nunca mais poderia ter,
novamente. Pelo menos, não inteiramente. Não tão puro.
Não, ela teve o lado negro, a parte obscura da plenitude.
Reavivando seu passado, suas dores, os rancores. Todas
aquelas feridas que ainda estavam sangrando. Não queria
ser uma cadela ciumenta e rancorosa. Mas não podia
mudar certas coisas. Em alguma parte de sua alma doente,
estava feliz por Embry, pelos machos honrados terem
encontrado o presente do Criador. Embora para ela, isso
fosse mais uma maldição.
Balançando a cabeça para espantar os
pensamentos indesejados, Maya voltou seu foco para Lee.
Somente uma coisa poderia ter deixado a fêmea humana
daquela forma.
Maya se consternou por ela.
Maya tinha achado que com Lee seria mais fácil do
que tinha sido com Trish. Também não era como se
pudesse culpá-las por surtarem.
Humanas, tolas, não sabem o que tem em mãos.
Não poderiam ter melhores machos do que seus
companheiros.
— Quer que chame alguém?
Maya não sabia exatamente o que fazer.
Deveria acionar Caleb?
Embry? Trish?
Nah!
Lee limpou o rosto com as mãos, alarmada, chupou
uma respiração como se isso doesse, como se sua vida
estivesse por um fio e dependesse única e exclusivamente
dessa ingestão de ar. — Não! — ela quase gritou então,
pigarreou clareando a garganta para que a voz saísse mais
clara. — Vim entregar minha carta de demissão.
Maya ignorou o papel estendido, focada no rosto da
fêmea.
— Desculpe? Sua demissão? Por que quer se
demitir?
— Estou indo embora.
— Por quê?
Lee se mexeu desconfortável. — Isto é meio
pessoal.
— Pensei que estivesse bem com o macho que vem
trazê-la e buscá-la todos os dias — ela deixou escapar,
mas não podia voltar atrás. — Sei tudo que ocorre aqui e
com meus funcionários, já deveria saber disso.
Lee assentiu não dando importância.
— Nós terminamos.
— Entendo. Ele sabe que está partindo? Trish?
— Isso realmente não vem ao caso, Srta. Crawford.
— Olha, Srta. Diaz, você, embora fale pelos
cotovelos e sempre esteja testando meus nervos, é uma
boa funcionária e não gostaria de perdê-la por uma
briguinha boba de casal. Não deixe que isso mude o curso
de sua vida, nem aja pelo impulso. Isto pode ser
desastroso e trazer consequências, talvez, irreversíveis.
Teimosia torceu os lábios de Lee.
— Sei o que estou fazendo. Não estou sendo
imprudente.
— Não?

Lee olhou para sua chefe pelo que pareceu ser


décadas.
— Não tem que sair porque um namorico não deu
certo.
— Não é isso.
— Tem certeza?
Quando ela não disse nada, Maya prosseguiu.
— Nunca pensei que fosse covarde.
Lee empederniu. — Não sou.
A sobrancelha escura arqueou com zombaria,
desafiando.
— Ele não é quem dizia ser — confessou, soltando
o fôlego e se deixando arriar na cadeira. Os olhos voltaram
a se inundar. — Ficar aqui não me ajuda.
— Talvez você só precise de um tempo. — E
acrescentou com um abano de mão. — Tire alguns dias de
folga para colocar a cabeça no lugar, e depois volte.
Lee olhou para Maya através de suas lágrimas, não
escondendo o espanto, mas a tristeza logo engolfou isso.
Maya estava sendo solicita e suave.
— Nada vai mudar, acredite — disse, aceitando o
lenço oferecido.
Assoou o nariz, e depois respirou, tentando se
acalmar.
Ela não podia acreditar que estava chorando as
pitangas para sua chefe demônia.
Levantando-se, Lee juntou toda a sua coragem. Sua
voz soou firme, apesar do aperto na garganta. — Se puder
agilizar minha demissão, eu agradeço. Não posso trabalhar
hoje e eu realmente não me importo se tirar esse dia do
meu acerto de contas. Sei que deveria te dar um mês de
aviso prévio, mas não dá... Sinto muito... Quer saber? Não
precisa acertar nada, eu tenho algum dinheiro guardado...
eu... eu... só... Obrigada.
Lee estava pronta para dar o fora de lá e se
adiantou para porta. Ela tinha agarrado a maçaneta quando
ouviu o bufo de Maya seguido de sua voz desdenhosa.
— Deus, como são tontas! Eu começo a pensar se o
Criador queria mesmo dar um presente a esses machos ou
um castigo!
Lee parou, com a mão na maçaneta, deu a volta.
— O que disse?
— É boa demais pra ele?
Lee continuou olhando.
Maya recostou na cadeira, parecendo ainda mais
entediada que sua voz.
— Embry. Acha que é boa demais pra ele?
— Eu... eu... eu...
— Ainda não entendo porque o Criador deu a esses
machos honrados, que conheço desde filhote, fêmeas
humanas tão tolas, impulsivas, ingratas e teimosas, como
você e Trish. Tem ideia do presente que tem nas mãos?
— Do que está falando?
Maya continuou olhando.
Lee engoliu, gelada, pálida e muito chocada.
— Você...?
— Eu deveria dizer ”surpresa”?
— É como eles — Lee sussurrou, perplexa.
— Sem tirar, nem pôr. Shifter-lobo. Uma versão
melhorada. Minha audição é maravilhosa, e você deve dar
graças a Deus que não levo a sério metade das besteiras
que diz. E que saiba que nossos clientes têm um carinho
especial por ti.
Lee corou, envergonhada.
— Sinto muito. Eu nunca quis...
Maya balançou a cabeça, ela estava zombando.
— Já passamos por isso, certo?
Lee assentiu, sem fala.
— Quer ir embora porque descobriu o que Embry é?
— Maya não esperou que Lee respondesse, não que ela
tivesse uma resposta mesmo. — Pensa que longe irá
diminuir o que sente por ele? Que lhe fará bem? E a ele?
Não vai passar, Srta. Diaz. Nunca irá. Esse vazio só vai
crescer e crescer, até que tudo que sinta seja um vazio tão
opressor que nada preenche, exceto seu macho.
Enlouquecer será o menor dos seus problemas.
— Ele é um lobo — teimou, como uma criança.
— E você uma humana frágil, mas aposto que ele
não teve preconceito com isso, muito pelo contrário,
aceitou-te assim como é, cheia de falhas. E eu aposto que
já comprovou que ele não é tão diferente dos outros caras,
aliás, é melhor.
— Não vou falar disso com você — Lee resmungou,
contrariada.
— É seu direito.
Lee girou, mas não saiu antes de escutar Maya pela
última vez.
— Não haverá volta, Stra. Diaz. Pense bem antes de
tomar uma decisão. O Criador não erra, mas algumas
oportunidades não passam duas vezes pela mesma ponte.
9

UMA MÃO LAVA A OUTRA

Trish sabia que não deveria estar fazendo aquilo.


Poderia ainda não estar tão bem familiarizada com as
regras e as tradições de Snowville, embora, Deus sabe, ela
estava se empenhando pra valer dado a proximidade de
sua apresentação como companheira e Prima de Caleb.
Era muita coisa para assimilar. Ainda assim, sabia que
Caleb não iria gostar disso. Poderia estar se metendo onde
mulheres... fêmeas... não deveriam meter o nariz. Negócios
do bando, em nível de segurança, numa comunidade
machista, dizem respeito somente aos machos
excessivamente protetores. Ela e Caleb tinham um trato,
algumas coisas podiam ser melhoradas e, de fato, tinham
sido enquanto outras ainda demorariam algum tempo. No
entanto, era proibido interferir no funcionamento da matilha.
Dava certo para eles, e todos, machos e fêmeas, estavam
bem com isso. Com suas posições e papeis na hierarquia.
Machos eram honrados. Fêmeas valorizadas.
Em todo caso, ela era a Prima, sua alfa-fêmea. O
que lhe dava uma posição igualitária com seu homem, ou
quase isso, certo?
Ademais, se Trish estivesse na posição da outra
mulher, gostaria que alguém tivesse a decência de alertá-la
e dar-lhe a opção de escolha.
Liberdade de escolha era algo imprescindível para
Trish, sobretudo quando se era mulher, ainda mais quando
se tratava de algo tão primordial.
Podia não ser direito de Trish se meter nesta
questão, mas era direito de Maya saber. E, bem, como
Prima, ela tinha de zelar pelas mulheres do bando.
Ela apenas estava cumprindo seu papel, disse a si
mesma.
Depois resolveria as coisas com seu macho.
Estava consciente de estar arrumando todos os
tipos de desculpas para fazer o que considerava certo,
ainda que no fundo houvesse um conflito regado de
dúvidas em relação às suas ações. Deus, mas não podia
deixar a outra mulher no escuro.
— Duas prometidas num só dia — Maya murmurou
baixinho, a sobrancelha escura curvou quando ela se
aproximou. — Deve ser meu dia de sorte.
Trish tentou um sorriso não dando trela ao mau
humor habitual da outra mulher. Estava preparada e não
esperava que a cordialidade recém adquirida entre elas
mudasse seu humor. Maya tinha todos os motivos para se
sentir como se sentia. Ao seu modo, aos trancos e
barrancos, ela estava levando as coisas.
Sua força era admirável e dolorosa, ao mesmo
tempo.
A fêmea não tinha sucumbido, mas só Deus sabia
como eram as coisas de verdade, que tipo de cicatrizes a
catástrofe em sua vida tinha deixado.
— Olá, Maya.
A outra mulher assentiu e esperou.
— Posso me sentar?
— Claro. Por que não?
Trish quase fez, mas pensou melhor e negou.
— Quer saber? Não preciso me sentar. O que tenho
pra falar será rápido.
Maya apoiou os cotovelos na mesa, os dedos
entrelaçados formando um punho rente ao rosto, os olhos
astutos estudando-a com interesse. — Estou curiosa.
— Recorda-se do meu ataque?
O semblante impassível de Maya não se alterou,
nenhum movimento, exceto pelo aceno sutil de cabeça,
que se Trish não estivesse prestando atenção, não teria
visto.
— Lembrei-me de algumas coisas, pensei que
gostaria se eu compartilhasse.
— Diga.
— Lobo negro, olhos vermelhos, shifter.
Trish teve a impressão que Maya nem respirava, a
mulher empalideceu só um pouco. Ela sequer piscou, era
uma pedra entalhada.
— Lucius. Esse é o nome do macho. O nome te diz
algo? — Trish esperou por uma reação, mas quando Maya
só fez olhá-la, ela decidiu ser mais clara. Talvez Maya não
tivesse compreendido. — Ele está sob custódia, você sabe,
por me atacar. E por, bem, não sei toda história, mas
imagino que você saiba melhor do que eu.
O silêncio abriu um túnel entre elas.
Maya descongelou um momento depois, o olhar
imperturbável.
— Era só isso?
Trish piscou. — Bem, sim.
Trish ajeitou a bolsa no ombro, pronta para sair. Ela
tinha feito o que sua consciência pedia. Era escolha de
Maya o que fazer com aquele pedaço de informação.
— Caleb te mandou aqui?
— Não. Ele, na verdade, não sabe que estou aqui.
— Força e astúcia em uma matilha de lobos são
fundamentais. Uma determina sua classificação na
hierarquia e a outra a sua capacidade de mantê-la. Os
machos admiram a força das fêmeas, é algo que eles
realmente apreciam. Isto significa filhotes fortes. Uma
fêmea capaz de se proteger e a sua prole.
Trish estreitou o olhar, tentando entender onde Maya
queria chegar.
— Vejo isso.
— Como você se sente sobre homens fracos?
— Desculpe?
— Você sabe, homens que você não pode dominar.
Trish demorou alguns preciosos segundos para
compreender o que Maya estava dizendo. Ela estremeceu,
e depois engoliu. Se um homem era mais fraco que ela,
não poderia respeitá-lo, confiar. Ela sequer lhe daria uma
segunda olhada.
— Entendo o que quer dizer.
— Caleb e você, assim como outros casais, podem
se igualar na intimidade, funcionarem da forma que
queiram, tudo isso sobre direitos iguais. Podemos ser
razoáveis, mesmo nós fêmeas-shifters somos altamente
orgulhosas, nossos machos precisam provar que são
dignos se quiserem uma segunda olhada. Nos tornamos
ainda mais rígidas e seletivas quando se trata dos machos
que querem se acasalar conosco e gerar filhotes.
Prezamos os fortes que podem nos manter seguras e aos
nossos filhotes, e desprezamos os fracos e subjugados.
Mas nunca nos esquecemos de quem somos... Nunca se
esqueça da onde está. Nossa cultura. Nossas tradições.
Nossas regras. Isto funciona bem para nós. Em nossa
espécie é importante que o macho seja mais forte que a
fêmea, é como a coisa é, ou que pelo menos se equipare
com ela em poder. Se o lobo não puder respeitar seu
companheiro, ele tem o mau hábito de matá-los.
— Isso é horrível.
— É como é, Trish. Podemos nos assemelhar aos
humanos, mas não somos humanos, somos shifter e nos
orgulhamos disso. Nunca se esqueça, por mais civilizados
que parecemos ser, nossa parte animal tem algo a dizer. —
E fez um adendo. — Caleb não apenas é o alfa do bando,
ele é seu alfa também.
— Terei isso em mente — disse ela. — Obrigada.
— Sua amiga esteve aqui.
— Quem?
— Leah.
Trish não se lembrava de vê-la no salão, tinha
esperado encontrá-la, mas Lee não tinha ido trabalhar. O
que era compreensível e preocupante. Trish tinha a
intenção de dar-lhe alguns dias para se acalmar, antes de
tentar uma conversa.
— Ela pediu demissão.
Ela gritou, espantada. — O quê?
— Leah pretende ir embora.
— Deus, isso... não... Não pensei que chegaríamos
a isso... — Trish olhou para Maya. — Obrigada por me
avisar. — Ela estava girando, mas parou. — Sabe, Maya?
Você não é uma megera, não sei porque se apresenta
assim, quer dizer... Perdoe-me. Eu entendo. De verdade,
eu realmente entendo que tenha seus motivos para ser
como é, e respeito isso. Se precisar de mim, não hesite em
me chamar.
— Não tem nenhuma divida comigo — Maya disse,
com alguma nota de emoção subjacente na voz que ela
tentava soar indiferente.
— Tenho.
Maya não ia discutir. Trish sabia.
Com um maneio de cabeça, ela se adiantou para
porta.
— Trish?
— Sim?
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que me contou? Passou por cima da ordem
de Caleb, e não se dê ao trabalho de desmentir. Sei que
ele a proibiu.
— Nós, garotas, temos que nos unir se não
quisermos ser engolidas por esses machos prepotentes.
Além do mais, se estivesse em seu lugar, eu gostaria que
alguém tivesse a mesma atitude por mim. Não é justo que
te tirem a opção de escolha, principalmente, quando se
trata de algo tão importante e de tanta estima.
— Obrigada.
Assentindo, ela deixou Maya e a P&C para trás, sua
mente em Leah.
Bem, ao que parece, Trish tinha outra missão.
10

DECISÕES

Lee estava mais calma, embora sua mente ainda


estivesse uma confusão. Sobravam-lhe questionamentos e
dúvidas, cortesia de Maya. Outra baita surpresa. Se Inuvik
não era o recanto das esquisitices mais bizarras... Havia,
reconheceu ela, hesitante, certo encantamento em todas
essas loucuras. Não que ela fosse a personificação da
sanidade. Balançando a cabeça, o suspiro abandonou seus
lábios enquanto ela abraçava os joelhos, acomodada na
poltrona ao lado da lareira. Sua mente desprendeu,
viajando montanha acima. Por mais que Lee se negasse,
estava se corroendo de curiosidade e irritada, talvez, um
pouco magoada. Para alguém que disse que não poderia
viver sem ela, ele deveria estar indo muito bem.
Ela era mesmo companheira de um ser mítico?
Embry era um lobo, shifter, o que seja.
Um ser mitológico com três séculos de vida.
Um novo conceito de daddy sugar.
Uma batida soou. Lee assou o nariz pela enésima
vez. Tinha gastado quase todo seu estoque de Kleenex. O
nariz ardia, doendo, vermelho. Outra batida. Sem animo,
ela se dirigiu para porta, e ao abri-la, Lee apenas ficou lá,
encarando a outra mulher.
— Deus, você está horrível! Desculpe, isso foi rude.
Ela se sentia assim, não tinha porque esconder o
óbvio.
— Posso entrar?
Lee deu um passo para o lado, escancarando a
porta. Trish passou por ela. Lee fechou a porta, e no
instante que elas se encararam, ela começou a chorar.
Trish hesitou, e depois se aproximou e puxou Lee
num abraço.
Foi automático.
Lee a abraçou de volta, soluçando.
— Eu sinto muito, querida. Sei que está ferida por
mim, por Embry. Não quero medir sua dor com minha
própria régua... Sei que pode ser aterrorizante. Eu
realmente gostaria de ter dito algo, mas não era meu
direito.
Lee a soltou e se afastou, limpando o rosto.
— Tudo bem.
Trish lhe deu um olhar.
— Tão bem que pretende fugir?
— Eu não... Isso é muita coisa pra digerir, Bonita.
Não sei como pode estar calma. Eu estou pirando. E, para
ser franca, não sei bem como aconteceu.
— Não sei se recorda, mas estive aí. E alguém me
disse que não era pra tanto, que eu deveria me jogar de
cabeça e não me preocupar.
— Eu não sabia o que ele era — se defendeu.
— Teria feito diferença? Realmente?
Lee não respondeu.
— Não pode ter mudado sua forma de pensar da
noite para o dia.
— Não mudei.
— Deus seja louvado.
— Ele é...
— Um shifter. Um homem que é capaz de mudar de
forma. Um homem cheio de melhorias, e eu posso garantir
que são as melhores. Tenho o meu próprio para provar. —
Esticando a mão para o rosto de Lee, limpando as
lágrimas, Trish acrescentou com um sorriso terno. — Um
homem que te ama com a vida dele, talvez, até mais.
Alguém para estar com você, compartilhar, te amar e te
proteger até o último suspiro.
— Falando assim, soa fácil.
— Não é. Somos crescidinhas para saber disso. É
um novo mundo que se abre para nós, uma nova realidade
que teremos de nos adaptar, se formos capazes de aceitar
tal presente. Essa é uma barganha fácil de levar. O prêmio
final vale o preço.
— Você fala como se pertencesse lá.
— Eu pertenço a Caleb, e ele a mim. Então, sim,
pertenço a Snowville e sua realidade sobrenatural. Bem
como, você. Mas esta é sua decisão para tomar.
— Como isso vai funcionar, Bonita? Ele é a mitologia
em pessoa, tem... quantos anos mesmo? Três séculos de
vida? Quanto mais eles podem viver? E nós?
— Eles têm uma duração muito maior que nós. Pode
acreditar que ambos têm três séculos de vida com aqueles
corpos e rostos lindos?
— E nós, Bonita?
— Não sabemos, querida. Ainda estamos
descobrindo. Mas será que isso realmente importa, toda
essa baboseira de números quando podemos usar e tempo
para viver uma vida plena e feliz com eles? Ter nosso
próprio conto de fadas?
Lee se deixou cair na poltrona.
— Vê-lo daquela forma... Não que ele não fosse
bonito...
— Embry continua sendo um homem bom, honesto
e honrado. Um homem que te ama loucamente. Ele te deu
mais do que Caleb estava disposto a me dar, pelo menos
até eu estar devidamente amarrada a ele... Embry me
procurou quando te propôs para viverem juntos. Ele não
queria uma mentira ou mesmo uma omissão sobre suas
cabeças quando, enfim, lhe desse a resposta.
— Ele não me procurou.
— Embry te ama, mas é um homem orgulhoso —
Trish cedeu. — Você o magoou profundamente. Feriu seus
sentimentos. Ele está sofrendo para respeitar seu pedido.
Lee sentiu o coração apertar, terrivelmente.
— Sinto muito, eu não queria...
Trish se sentou no outro sofá.
— O ama?
Quando Lee olhou, engolindo, ela abanou a mão e
rolou os olhos.
— Não vou te achar louca se disser que sim.
— Eu amo.
— Quer estar com ele?
— Com cada respiração, mas...
— Uma vez você me disse que precisamos deixar
de nos preocupar tanto e aproveitar as oportunidades que
a vida oferece. O que tiver de ser, será. Tinha algo mais...
Como era mesmo? Lembrei! Os sentimentos não existem
para serem entendidos, senão sentidos. Não temos
controle sobre determinadas coisas, nem todas as
respostas e tudo bem. Há coisas que precisam ser sentidas
apenas com o coração.
Lee vacilou, pega desprevenida com o assalto de
Trish.
— Só não valerá a pena, se seu medo for maior que
seus sentimentos por ele.
— Não sei se posso fazer isso.
— Se eu pude então, você pode.
Elas se encararam por um bocado de tempo.
Lee exalou com força. — É tudo tão confuso, a
princípio, não liguei porque nós conversamos. E não me
leve a mal, você é a pessoa mais paranoica que conheço
e, embora tivéssemos tido aquela conversa semanas atrás,
você não estava surtando por todas aquelas coisas que
conversamos então, achei que era normal também, não
liguei.
— Quem está sendo paranoica agora?
— Nós não usamos proteção, Bonita — disse,
corando.
— Não está grávida.
— Eles não podem nos engravidar?
Trish sorriu, acariciando a barriga. — Ah! Eles
podem. O esperma deles força a fêmea a entrar no período
fértil mesmo que esteja no controle, foi assim que
engravidei. Caleb me contou depois.
— Meu Deus!
— É!
— Será que eu? — Lee engasgou, as mãos na
barriga. Não sabendo distinguir seus próprios sentimentos.
Ela poderia...?
— Não! Embry cuidou para que não engravidasse
sem seu consentimento.
— Não entendo como isso é possível, ele sempre...
Bem...
— Tomava um chá todos os dias, certo?
— Sim. Tinha um gosto esquisito, não ruim em tudo.
Bebia porque Embry sempre me empurrava, e eu não
queria magoá-lo, depois só me acostumei.
— É hendrix, um chá especial, único capaz de
impedir que as fêmeas engravidem. Embry, pelo que me
disse, tinha sondado com você sobre terem filhos.
Era verdade. Lee podia se lembrar de ter essa
conversa com seu macho.
Seu macho?
— Tome seu tempo. — Trish pausou. — Eu irei te
dizer algo que deveriam ter me dito. Se não fosse por
Maya, hoje, certamente, eu seria a mulher mais infeliz do
planeta.
Lee endireitou a coluna, não tendo um bom
pressentimento.
— Eu sei que há muito para digerir, mas leve isso a
sério. Quando o macho encontra sua prometida, a magia
sexual, drukāt, vem sobre ela, e então, a contagem
regressiva começa para que o shifter reclame sua
companheira. Este não é um acasalamento comum, que
eles podem usar o tempo para cortejar a fêmea que
desejam. Para prometidos funciona de maneira diferente.
Ele tem um mês para fazer isso.
Apreensão agarrou o peito dela quando sua cabeça
girou com os números.
— E se ele não fizer?
— Embry será condenado a uma vida de miséria e
você também. Eu não sei por que as coisas são como são,
elas apenas são. Ainda estou aprendendo e assimilando.
Prometidos são raros e especiais. Se você não pode tomar
e zelar pelo presente que lhe foi dado então, o Criador
pega isso de volta. Embry mudará de forma e não voltará
mais. Essa é a única maneira dele ser capaz de sobreviver
à rejeição de sua companheira, ainda assim será um
milagre se ele conseguir atravessar um ano. O rechaço de
um prometido mata ou te faz sem alma. O que dá no
mesmo. Seus sentimentos por ele não irão parar, não há
superação. É um caminho sem volta. Sua própria
necessidade dele nunca desaparecerá ou será suprida por
nada nem ninguém, exceto seu par.
Lee deixou de respirar enquanto o impacto daquelas,
espantosas e horríveis, palavras abria passagem em sua
mente. Ela respirou fundo quando começou a se sentir
tonta. De novo e de novo. Sua voz era um fio ruidoso no
escuro.
— Por que ele não me disse isso?
— Embry, assim como Caleb, são homens de valor.
Machos honrados. Eles preferem correr o risco, a nos
forçar a aceitá-los pelo medo ou pena. Embora ache isso
uma bobagem sem igual, sem falar na gravidade, mesmo
eu tenho que reconhecer a nobreza da atitude deles.
Lee estava pálida, incapaz de falar.
Trish se aproximou. — Não estou dizendo essas
coisas para que se sinta compelida a aceitá-lo se não for
isso que quer. É só que não é justo que não estejamos às
claras aqui. Caleb tem o mau hábito de esconder certas
coisas e, embora eu possa compreender suas razões, não
compartilho delas. Pelo menos, não no que se refere a algo
tão importante assim, que irá atingir a todos de forma
permanente. Não é certo.
— Obrigada por compartilhar — ela conseguiu
sussurrar.
Trish assentiu.
— Eu preciso ir. Tenho que me preparar para hoje à
noite. Me sinto como se fosse entrar na igreja... Bem, não
deixa de ser uma versão do casamento — ela riu.
— Desculpe?
— Hoje Caleb me apresentará a matilha como sua
companheira e sua Prima, alfa-fêmea. Um título de nobreza
sobrenatural, por assim dizer. Será uma grande
celebração, com direito a dança e comida... e corridas.
Coisa deles. — Ela deu os ombros, sorrindo, e depois ficou
séria. — Eu apreciaria se estivesse lá. Será bom ter um
rosto amigo.
Lee não respondeu, nem Trish insistiu.
Com um forte abraço, elas despediram.
Quando sozinha, Lee deixou o corpo arriar na
poltrona e trouxe as pernas para cima, apoiando o queixo
em cima dos joelhos. Não era uma grande pensadora, nem
gostava de perder tempo divagando. No entanto, aqui
estava ela, paralisada, a mente sem direcionamento,
porque Embry ocupava tudo. Não tinha nem um mês que
se conheceram. Três semanas agora. E ela não poderia
estar mais apaixonada.
Perdidamente.
Inegavelmente.
Lee admitia. Havia algo sobre seu amante, algo que a
atraia infinitamente, mesmo agora enquanto ainda estava
impressionada, quase surtando.
Lee queria ficar com raiva dele por não ter dito de
cara, mas mesmo ela reconheceu o quanto aquilo soava
louco. Ela própria não teria feito esta loucura em seus
melhores dias. Ela nem lutou quando duas emoções
distintas a tomaram. Excitação, pois tudo que Trish disse, e
ela podia lembrar-se das últimas declarações dele, a
fizeram imaginá-los juntos, tentando uma vida,
compartilhando. Respeito, por Embry ter tido a coragem de
enfrentá-la quando poderia não ter dito nada até ser tarde
demais.
Deus!
Como iria funcionar? Poderia?
Ela sempre soube que estava destinada a coisas
grandes, mas ser a companheira prometida de um ser
mitológico tinha superado até sua crença em Deus.
Ela pensou em todas as esquisitices de seu amante e
de Snowville.
Embry a marcava de volta naquele mesmo local,
entre o ombro e pescoço, toda vez que estava dentro dela,
e quando não, ele sempre estava mimando-a lá com beijos,
lambidas e mordiscadas leves. Não era de se estranhar a
mancha amarelada nunca sumir, nem da alta sensibilidade
que sentia. Toda vez que ele tocava ali, deixava-a mole e
disposta. Embry a chamava de sua mulher, muitas vezes
sua fêmea. Dizia que ela era dele, e ele era dela. Lee
gostava disso. Dessa sensação de pertencer. De lar. Ele
até tinha levado ao engenheiro para que fizesse as
modificações na casa ao seu gosto, a fez se sentir em
casa, sua casa. Tudo que fazia era agradá-la. Ele estava a
sério.
Embry também era muito eficaz e organizado. E,
embora fosse uma bagunceira, ele não ficava lhe
derramando ordens e críticas. Ao contrário, sorria e dizia
que ela era linda toda estabanada. Ele a fazia se sentir
única. Linda. Amada.
Admirava sua força, seu sorriso sensual, os músculos
sedutores e aquele olhar de quem queria lhe dar o mundo;
ela sempre tinha lutado com seu desejo interno enquanto o
observava se mover, ou apenas lá, espalhado
deliciosamente sobre a cama deles.
Não deles. Ou era?
Seus pensamentos ganharam vida própria, indo para
uma zona de erotismo que a pegou de surpresa quando
assistiu em sua mente à imagem dele tocando-a, sua
cabeça criando cenários, onde Embry rastreava seu corpo
com a boca.
Abruptamente, Lee parou seus pensamentos.
De repente, sentindo saudades dele, terrivelmente.
Ela não podia negar a conexão profunda que sentia
ter com ele, era tão intensa, que chegava a ser palpável.
Apesar de negar esses sentimentos e do forte receio
enrodilhando suas entranhas, estava disposta a renunciar
sua vida pacata e normal, se fosse necessário, pela
possibilidade de conhecê-lo melhor, de dar a eles uma
chance que ela esperava que ele ainda quisesse tanto
quanto ela queria.
Lee tinha seu próprio conto de fadas aqui.
Um conto de fadas, sem o príncipe.
Ele era o lobo mau.
Seu.
11

FORMALIDADES

Lee recordou a última vez que estivera com Embry.


Primeiro, ela pensou que o estava perdendo, todo
seu sonho bonito desfeito porque, na verdade, seu cara
perfeito era só um pilantra, e depois descobriu que ele fazia
parte do faz-de-conta. Em seguida, ela estava perdendo a
mente... e, provavelmente, ele também.
Seu coração adoeceu.
Estúpida. Estúpida.
Descobrir sobre Embry a fez ter uma introspecção
sobre sua própria vida, todos os acontecimentos que a
trouxeram até este momento, a decisão da mudança, como
Inuvik apareceu no radar e ela não podia esquecer-se da
cidadezinha cauterizada em sua mente. Lee sonhou com a
cidade por dias. O desejo de mudança cresceu
insuportável. Não houve atrasos, nem imprevistos quando
se decidiu. Era como se tudo conspirasse para que ela
fosse viver ali. Tinha sentido suas esperanças de dias
melhores se ascenderem e ganharem vida. Um sopro
gostoso e enriquecedor que inchou sua vontade, sua
própria vida. De alguma forma, Lee sabia, disse a seu pai
quando questionada se tinha certeza daquilo, que Inuvik
era seu lugar no mundo, o lar que sempre desejou. O pai
lhe abraçou e deu todo apoio. Ele sempre dava. Motivando
a ir atrás de sua felicidade.
Em pouco tempo, Inuvik a conquistou, a fez se sentir
em casa como ela nunca se sentiu em nenhum outro lugar,
mesmo quando criança, vivendo com seus pais.
Lee estava em casa.
A vida estava boa.
Havia algo lá para ela, algo que estava esperando...
Ela não podia adivinhar o que era.
Então Bonita apareceu e deu-lhe um agito.
Lee podia se recordar, sem muito orgulho de si,
como assistiu Bonita encontrar seu cara perfeito e se
esbaldar em todo aquele quente, sexy e bonito, amor.
Lee queria fazer parte disso.
Não com eles. Ménage à tróis não estava em seus
planos.
Era possessiva o bastante para querer seu próprio
homem, para que o desejo de compartilhá-lo fosse
inexistente. Impensável.
Sentia que isso também lhe pertencia, esse tipo de
amor arrebatador. Na época, recusou, não poderia invejar
Bonita. Mas invejou. Não queria o homem da amiga.
Invejava a felicidade, sua sorte, queria também seu amor.
Ela pensou em Embry...
Lee suspirou, orando.
... Ela tinha seu próprio amor arrebatador.
— Estamos quase lá — Mr. Bean ralhou, sem olhá-
la.
Novamente, Collin, o homem bonito que não sabia
sorrir, colocou-se a disposição para ser seu guia quando
ela se aventurou pela trilha até Snowville. Desta vez, Lee
tinha conseguido fazer o percurso com seu snowbile, mas
teve de fazer a outra parte a pé quando chegou à casa de
Bonita e Caleb. Ela não sabia para onde ir, estava rezando
para que a cerimônia não tivesse terminado. Não queria
ser uma amiga terrível e perder um momento tão
importante como aquele. Collin se materializou na sua
frente como da outra vez, um gato que deslizava sorrateiro
por aí, e, se ofereceu para levá-la até o lugar da cerimônia,
uma clareira próxima dali. Era uma comemoração, mas não
havia nenhuma tocha iluminando o caminho... Lee então se
lembrou dos sentidos apurados. Para seres que
enxergavam na escuridão como se estivessem em plena
luz do dia, tochas eram completamente inúteis. Mas ei, ela
era humana. Trish, idem. Nenhuma super visão para elas.
Collin e ela não tinham melhorado a comunicação, o
macho parecia ter um pau permanente socado na bunda. E
ela, agora consciente do que eles eram, era inteligente o
bastante para não provocá-lo. Nada de mordidas grátis.
Lee até tinha conseguido ficar em silêncio. Claro que,
grande parte se devia ao nervosismo e ansiedade surreal
de reencontrar Embry. Podia sentir seu estômago se agitar
a menção do nome dele, o peito apertando infinitamente de
saudade enquanto só faltava sair pela garganta.
Uma olhada para cima, e seu peito expandiu, o
corpo que estivera quase morto durante os dias de
separação desde que Lee o vira pela última vez, ganhou
vida, reagindo à visão dele quando procurou entre as
pessoas, achando-o num canto.
Ele parecia miserável.
Seu peito apertou com tristeza, batendo forte.
Ele olhou na direção dela, o rosto apagado, os olhos
sem vida surpresos.
Lee tinha o súbito desejo de correr até ele e pedir
perdão, limpar de seu espírito o sentimento entristecedor
manchando seu belo rosto. Injetar paixão em seus olhos
opacos de calor através de seus beijos. Ela queria dizer-lhe
coisas bonitas e sensuais.
Dançar para ele.
Fazer amor de muitas maneiras.
Qualquer coisa só para tê-lo feliz como antes.
Ela não tinha entendido e nem se preocupado em
entender a reação desproporcional de seu corpo a esse
garanhão. Lee bem sabia que era inteligente não tentar
desvendar algo que estava além de seu controle.
Sentimentos deviam ser sentidos, não explicados. E ela
estava sentindo... sentindo muito e tudo por Embry.
Todas as bizarrices não importavam em tudo.
Embry importava.
O amor que sentiam.
O que eles tinham.
Como ele a fazia se sentir.
Estas eram coisas que importavam.
Por que não viver isso?
Por que deveria se importar com sua natureza
quando Embry a fazia feliz? Quando ele foi a melhor coisa
que já lhe aconteceu desde que se entendera por gente?
Ele a fazia se sentir feminina e delicada. Ela não era
delicada. Mas Embry a fazia se sentir assim, quase uma
preciosidade milenar que ele amava com sua vida.
Olhando para ele agora, todo lindo, másculo e sexy,
ao redor da fogueira, Lee queria de volta o que eles tinham,
as carícias, as palavras doces que a fazia se sentir bela e
única, as safadezas sussurradas que aqueciam seu núcleo
com erotismo. Mesmo de seus sons animalescos, ela
sentia falta. Dele todo. Lee sentia falta de ser dele.
Ela fez uma parada, os olhos estreitando quando a
fêmea ao lado dele escorregou a mão pelo braço
musculoso de seu macho. Lee, a princípio, não entendeu o
sentimento borbulhando em suas veias, depois descobriu
ser possessividade. Agressividade infectou suas veias,
fazendo-a travar os dentes com raiva. Tudo em que podia
se concentrar enquanto se aproximava do circulo ao redor
da fogueira, onde se encontrava um punhado de pessoas, -
muitos olhos estavam nela - era na fêmea ao lado de seu
macho e que Embry, filho da puta, não estava fazendo
nada para afastar a cadela...
Trish sorriu largo ao ver a amiga se aproximar.
Ter um rosto amigo a fez relaxar ainda mais. Era
importante que Lee estivesse lá. Eram amigas... ela a
sentia quase da família. Ter Caleb, uma massa sólida de
testosterona e força ao seu lado, sabendo o quanto era
amada e apreciada por ele.
Ele a protegeria de tudo.
Não havia o que temer, não quando Caleb estava lá
para ela.
Trish podia sentir os olhos nela. Alguns hostis. Mas
a maioria olhava com curiosidade, alguns com amabilidade.
Mulheres e homens, machos e fêmeas, que ela conheceu
esporadicamente. Caleb tinha alertado sobre isso, sua
apresentação formal era um mal necessário que acalmaria
os ânimos de todos, pelo menos daqueles que importavam.
Não era nada extravagante, nenhuma demonstração
sexual, embora o sexo estivesse na pauta da corrida.
Shifters vivenciavam sua sexualidade de forma plena e
natural, logo não tinham pudores quanto a estar nu na
frente de outras pessoas ou mesmo fazerem sexo. Caleb
prometeu que não a reivindicaria desta forma, e Trish não
poderia estar mais de acordo. Ter um casal alfa era
importante, eles serem prometidos somente facilitaria as
coisas, cristalizando a confiança do bando.

Um movimento ao lado, fez Lee quebrar o contato


com Embry.
Ele não se aproximou, quase dobrando-a com a
força de seu olhar. A respiração pesou em seus pulmões.
Ela sentiu o desafio, a luxúria queimando lá no fundo.
Havia uma força maior atraindo-a para ele.
Engolindo duro, punhos cerrados quando ela cruzou
os braços, Lee resistiu. Não era hora, se forçou a dizer a si
mesma, ia bem. Não era de negar seus desejos, mas aqui
estava ela se comportando bem, sendo a boa amiga que
deveria ser.
Seus olhos buscaram Bonita.
Elas trocaram um olhar afetuoso e um sorriso.
Caleb tinha Trish colada em seu peito de costas
para ele, os braços a sua volta eram tanto protetores
quanto possessivos. Ele fez um som, calando a todos
então, falou em uma voz diferente de tudo que ela já tinha
ouvido. Grave, dual, poderosa o bastante para fazê-la se
curvar se ele assim pedisse, quase não pôde conter a
contração de seu corpo.
— Hoje apresento-lhes minha companheira
prometida, sua alfa-fêmea, Trish Mitchell!
Houve um burburinho.
Lee correu o olhar. Embry e Collin tinham margeado
o casal, outros três tipos enormes e lindos de doer também
estavam alinhados, como se estivessem preparados para
tudo. Havia pessoas de todas as idades, nenhuma criança,
casais jovens e mais velhos. Sorrisos hesitantes. Aplausos.
Olhares curiosos, outros gentis, mas também havia uns
pares hostis, enciumados e invejosos, de fêmeas
exuberantes que fizeram seu queixo cair, não apenas pela
beleza das mulheres, mas pelos seus corpos fortes e
altura. Como elas conseguiam parecer femininas com toda
aquela força e tamanho era um mistério.
— Uma prometida — uma anciã disse, com um ar
encantado, sorrindo para Trish.
— Somos honrados em conhecer sua fêmea, alfa —
outro ancião falou.
— Uma humana não pode ser uma companheira
prometida. Nem sabemos se prometidos são reais mesmo.
Quantos deles há aqui?
O clima de festividade cessou com a voz irritada da
mulher, que estivera ao lado de Embry. Outras duas
fêmeas se juntaram a ela, olhando para Trish com desdém.
— Oh, pare de ser uma cadela invejosa — Raina
cuspiu com escárnio. — Todos aqui sabem bem que Paul e
eu somos companheiros prometidos.
— Está insinuando que minto? — Caleb cortou
qualquer resposta que a morena peituda tinha na ponta da
língua. — Trish é minha prometida. — Houve uma pausa
então, uma corrente elétrica, uma sensação inexplicável
atravessou-a, os presentes ofegaram como se algo
sobrenatural tivesse ocorrido. — Todos sabem da verdade.
— Com todo respeito alfa, ainda que seja uma
prometida, uma humana não pode ser nossa alfa-fêmea —
havia certo temor na voz da loira, apesar do claro
desrespeito a Trish.
— Ela não é digna de ser sua companheira — a
peituda voltou a falar.
— Ousa me desafiar, Kira? — Caleb inquiriu em um
tom mortal.
— Temos regras, Caleb.
Caleb deu um passo à frente, colocando Trish atrás
de si, uns bons centímetros mais alto que a fêmea. — Eu
sou o alfa. Seu alfa. Esta é a minha matilha. Eu faço as
regras. Da mesma forma que deleguei papeis aos
membros do bando, aplacando a necessidade de todos,
posso tirar-lhes. Lembre-se disso antes de bancar uma
cadela ingrata.
— Isso não a fará ganhar nosso respeito — Kira
insistiu.
Lee estreitou os olhos, irritada.
Se Trish não fizesse nada, ela própria daria um
safanão na idiota.
— E você terá algum respeito em querer lutar com
uma mulher grávida que você sabe que não pode se
equiparar a sua força dado sua natureza?
Trish perguntou, a voz em gelo como Lee nunca
tinha ouvido.
Bonita tinha saído detrás de Caleb, ela parecia toda
altiva, feroz, com o queixo erguido, o rosto pétreo, mais
sério do que vira alguma vez, a coluna reta.
Ela parecia a senhora do lugar.
A fêmea vacilou, mas ainda não desistiu. — Se não
pode demonstrar sua força, ser mais forte que as demais,
não serve para ser nossa alfa-fêmea.
Trish deu um passo à frente, Caleb foi junto.
Ela parou, na cara da outra mulher.
— Força não se limita a um punhado de músculos,
Kira, tampouco fará prosperar nosso povo. Há outras
formas de demonstrar força... com inteligência, o que
parece lhe faltar. Posso tomar meu lugar no bando e cuidar
de nossas necessidades.
— É mesmo? E como fará isso?
— Não sendo uma valentona e cuidando do que é
importante para a nossa gente. Caleb é meu homem, meu
companheiro, e eu o aceito. Aceitei tudo que vem com ele,
incluso a função que me cabe que é zelar pelo bando e de
cadelas como você.
Os traços de Kira se apertaram com raiva.
Caleb tomou a palavra. — Nossa comunidade nunca
prosperou tanto como tem feito em tão pouco tempo desde
que deixei minha companheira administrar parte de nossos
negócios. Trish é uma investidora e está fazendo um bom
lucro com o nosso dinheiro. — Ele continuou, cheio de
orgulho, derramando as glórias que Trish estava fazendo
pela matilha. Pelo pouco que Lee entendeu ao observá-los,
Trish, embora tivesse sua parcela de fãs e aceitação,
levaria um longo caminho até se provar digna para aquelas
fêmeas. Elas, depois do discurso acalorado de Caleb,
pareciam dispostas a dar uma chance a Trish, exceto pelas
outras duas fêmeas que ainda olhavam torto.
— Ela ainda não é digna do meu respeito — a
mulher teimou.
— É bom que comece a ser. Trish é minha
companheira prometida, dada pelo Criador, ela carrega o
meu filhote. Se eu souber que você desrespeitou a minha
fêmea, sua líder, as consequências serão graves. Se não
pode lidar com isso, é livre pra ir.
Kira só faltou soltar fogo pelas ventas. — Não
pode...!
— Cale-se, criança — outro ancião ordenou.
A mulher parecia pronta para debater, mas recuou
ante o olhar duro do velho.
— É uma honra conhecer sua companheira, Alfa
Black. Nós, e acredito que posso dizer por todos do
conselho, reconhecemos sua companheira como nossa
Prima.
Caleb e Bonita receberam os cumprimentos dos
anciões e as bênçãos que foram lançadas para o seu bebê
e o enlace dos pais. Uivos cortaram o ar. Chocada e
deslumbrada, Lee observou parte dos presentes, homens e
mulheres, tomando forma de lobos e, em seguida,
correram. Embry, Collin e os outros homens saudaram o
casal.
Embry se afastou.
Lee limpou uma sujeira imaginária da calça, fingindo
não ver o escrutino persistente do homem, secando-a,
quando se aproximou para felicitar o casal.
— Estou tão feliz que esteja aqui — Bonita disse
quando a abraçou.
— Não perderia isso por nada. Foi um show! Nunca
pensei que pudesse ser tão feroz assim. Colocou as
cadelas no devido lugar. Foi tipo... uau!
Trish sorriu, parecendo orgulhosa de si mesma.
— Leah — Caleb disse. — Obrigado por ter vindo.
Honra-nos com sua presença.
Lee ensaiou uma reverência. — Não tem de que,
Conan.
Caleb riu, balançando a cabeça, o braço circulando
a cintura de Trish.
— O que era aquela coisa da voz?
— Que voz? — ele disse em tom dual, os olhos
brilharam em ouro.
— Exibido — Trish disse, com uma risadinha,
batendo no peito do macho.
— Uau! Conan, você é de outro mundo, não é? —
Ela corou, envergonhada, enquanto ele a olhava intrigado.
— Sinto muito, você sabe, por ter te chamado de animal.
— Desculpas aceitas. Fique tranquila, fêmea.
Nenhum dano. Sei o quanto pode ser duro essa
descoberta. Acho que já não pensa em nós como animais,
estou certo?
Ela ia responder, mas seu olhar a traiu, levando-a
diretamente para Embry. A fêmea que tinha espezinhado
Trish estava lá, toda sorrisos, tocando...
Lee não sabia de onde tinha vindo. Fúria a inundou.
Ela não podia acreditar na ousadia dele!
Num segundo, Lee estava na frente de Embry, e
com um forte empurrão, tirou a mulher do lado dele. —
Fique longe dele, porra!
A fêmea mostrou os dentes. — Quem é você?
Embry?
Lee cerrou o olhar, irada, quando a mulher esticou a
mão para o seu homem.
— Cadela, se você tocá-lo novamente, eu vou
quebrar sua maldita mão.
Embry interferiu, olhando irritado para sua
prometida, enquanto rosnava para outra fêmea. — Cai fora,
Kira. Não me toque outra vez sem minha autorização.
Isso de alguma forma enfureceu ainda mais Lee.
Ela deu um passo à frente, batendo no peito dele,
alheia a plateia.
— Seu maldito! Então é isso? É assim que sente a
minha falta? Deixando a cadela encostar em você? Eu
deveria te castrar pra largar mão de ser um mentiroso.
Melhor, deveria alisar todos esses outros homens
gostosos. Você ia gostar disso, uh?
— Terá a morte deles em suas mãos se tocá-los.
— Como você se atreve?
— Não vai tocar em nenhum macho que não seja
eu.
— Você, seu babaca, é um grande filho da mãe!
— Fêmea...
Embry estava cada vez mais irritado.
— O quê? Não acredito que vim aqui para... Porra,
você é um idiota!
Embry deu um passo para ela, tão próximo, que o
nariz dela relava em seu peito forte. Lee jurou a si mesma
que não iria se derreter. Deus, ele cheirava bem.
Chocolate. Seu preferido. A voz dele era pura força e
poder, fluindo através dela.
— Vamos pra casa.
Lee estreitou os olhos, perdendo a advertência
cruel. — Não vou a lugar nenhum com você. Nunca mais
quero olhar nessa sua cara, idiota. Aliás, vou aproveitar a
festa com outro que não tenha uma bunda tão arrogante
quanto a sua.
Ela deu a volta.
O rosnado feral de Embry colocou fogo em seu
estômago.
Ela não ia admitir, mas seu sexo palpitou, molhando-
se.
A tensão enrodilhando seus sentidos fez as coisas
mais difíceis quando a antecipação tomou seu corpo diante
dos olhares ansiosos que eles estavam recebendo dos
presentes, que pareciam aguardar pelo acontecimento do
ano. Lee estreitou o olhar e lambeu os lábios, a boca, de
repente, estava seca. Não sendo capaz de afastar a
sensação de que ela tinha mordido mais do que poderia
mastigar.
Embry interrompeu sua saída, seu olhar fazendo-a
mais inquieta.
O burburinho ao redor deles não cessou, risinhos
vibravam ao redor.
— De joelhos.
Ela arregalou os olhos.
— De joelhos — ele mastigou as palavras, o rosto
feroz.
As pessoas ao redor seguraram a respiração,
esperando pelo seu próximo movimento. Lee tentou
respirar fundo. Mas, novamente, ficou presa na força bruta
de sua presença. Sentiu os joelhos amolecerem, ela não
queria obedecer, mas já estava lá.
Luxúria levando-a através da vergonha.
— Não vai me desobedecer, porque eu sou seu
macho. Diga isso.
Ela lambeu os lábios, os olhos irados, prometendo
retribuição.
— Diga!
— É... meu macho — disse, após uma hesitação.
Embry tocou seu rosto, acariciando. — Diga as
palavras, companheira.
Seu ventre se contraiu, e enviou um novo fluxo de
excitação através de sua vagina quando sua voz trovejou
sobre ela, pulverizando suas defesas.
— Não vou te desobedecer, porque é meu macho,
Embry.
Os olhos dele faiscaram.
Lee engoliu, as bochechas escarlates.
— Chupe-me.
Presa no olhar dele, na comoção gritante os
envolvendo, Lee obedeceu. A plateia ao seu redor suspirou
quando ela o enfiou na boca.
Alguém amaldiçoou.
Outro poderia ter gemido. Não importava, não
quando o gosto salgado dele explodiu em seus sentidos,
carregando-os com sensualidade.
Trish estava boquiaberta, vermelha da cabeça aos
pés.
Caleb a puxou para o peito e murmurou algo em seu
ouvido.
Lee sabia que deveria estar morta de vergonha e
mordendo o pau daquele macho arrogante, mas tudo que
podia fazer quando o gosto dele encheu sua boca, ela
sugar mais e mais dele. Deus, como ela o amava em sua
boca. Sua textura, o contraste da dureza e da maciez. Era
terrível admitir, estava com a buceta encharcada com a
exibição. Contraindo-se, dolorida, cheia de tesão. Tão
vazia. Tão perversa. Tão dele.
Antes que ela fosse mais longe, Embry agarrou seu
cabelo na parte detrás de sua cabeça e puxou, levantando-
a, e a beijou com posse e domínio.
Lee reconheceu, dobrando-se a ele.
Ele a puniu.
Ela deveria estar com vergonha, mas estava morta
de excitação.
Necessitada dele.
— É minha — ele grunhiu suavemente quando a
soltou.
— Sou sua — ela disse, num fôlego.
Com Lee em seu regaço, Embry se virou para a
matilha, assistindo.
— Está é minha companheira prometida, sua beta-
fêmea, Leah Diaz!
Ele não esperou que alguém dissesse algo,
arrastando-a para longe com ele, mas bem pôde ouvir os
risos, aplausos, assovios... e uivos de comemoração.

Collin se afastou sorrateiramente depois das devidas


apresentações.
Ele poderia ficar e comemorar com os demais.
Haveria mais corrida, comida, bebidas e fodas. Nada disso
interessava. Tudo em sua vida tinha perdido a cor. Ele era
apenas um homem vazio, respirando, por alguma razão
sádica do Criador.
Chegando à sua casa, Collin agarrou a pequena
caixa e a trouxe consigo para os degraus na varanda, onde
gostava de se sentar. Era seguro. Ninguém se atreveria a
se aproximar, salvo algumas exceções. Mas hoje, hoje ele
estava só e vazio como sempre esteve desde que a
perdera, exceto pela dor. Abrindo a caixa, o mecanismo
rodou, trazendo em pé a minúscula bailarina então, ela
girou quando o som suave fluiu no ar.
Minha culpa.
Ele estava sendo castigado.
Essa era a única coisa que fazia pulsar emoções
através dele, a única que ainda tinha cor, a única que ainda
o fazia se sentir alguém... e Collin odiava.
Seu castigo era demasiado.
Nenhuma dor a traria de volta.
Nenhuma dor diminuiria a carga de culpa e de
remorso.
Nenhuma dor amenizaria qualquer coisa.
Ainda assim, ele merecia cada pedaço de
sofrimento.
12

CASA

Lee gritou, os dedos fechados em punho contra o


lençol.
— Não pode fazer isso quando você é o errado.
Você deveria ter o rabo açoitado, maldito! — a mulher
amaldiçoou, contorcendo-se na onda de prazer ígneo.
— Como isso aconteceu?
— Deixou aquela cadela tocar em você.
Embry riu, esfregando a bochecha nua de sua
bunda, prolongando o momento, enchendo-a de
antecipação mesmo que ela jurasse que não estava
ansiosa por seu assalto.
— Estamos um pouco possessivos aqui, uh?
— Não te quero mais!
— O que eu disse sobre mentir pra mim?
— Eu não... Pooooooorra!
O tapa ardeu mais que os outros.
Uma série de palavrões encheu o ambiente.
Embry rosnou, impiedoso. — Não é só da sua
excitação que sinto o cheiro, companheira. Somos
prometidos, eu te sinto em mais de um nível. Lembre-se
disso. Não estava deixando Kira me tocar. Ela tentou, não
nego, mas eu estava mandando-a se afastar quando
decidiu mostrar a todos que tenho uma companheira.
Fiquei orgulhoso. Meu peito inchou de felicidade e amor
por você, até me desrespeitar...
Lee grunhiu, tentando se levantar.
Zap! Zap!
— Eu vou matá-lo! Melhor, vou castrar essa sua
bunda arrogante!
— Só está aumentando seu castigo — ele grunhiu
de volta, os dedos escorregando entre sua bunda,
esfregando-a por trás.
Ela lutou contra o relaxamento, contra a vontade de
empurrar de volta.
— O que eu disse?
— O quê?
— Sobre me desafiar?
— Pensei que me fazer dar um boquete no meio de
todos tivesse pago.
— Não fale como se não tivesse gostado da
exibição. Cheirei isso. Você poderia ter negado. Nunca ia te
obrigar, Lee. Mas você fez. Poderia ter sido pior.
— Pior?
— Eu poderia ter te montado.
Lee arregalou os olhos.
O sorriso dele se aprofundou
— Querida, somos shifters, é uma coisa a mais para
aprender sobre nós, somos sexuais. Não temos problema
com nossa sexualidade, e com certeza não temos
problema com nudez. Além disso, trocamos de forma, nem
sempre há roupas por perto.
— Uh! Então são uma grande matilha de tarados.
— Não compartilhamos.
— Você disse...
— Eu te puni. Submeti-a. Provei meu domínio. Você
me desafiou e eu te disse que não aturamos isso. Não é da
nossa natureza recuar e fazer vistas grossas. Nosso lobo
morreria de desgosto, sem contar que iríamos parecer
fracos diante da matilha. Esta é uma fraqueza que não
podemos permitir. Não é o ato sexual, é meu domínio, sua
submissão ao me reconhecer como seu macho e protetor.
— Que romântico!
— Não é. Eu poderia ser mais duro.
— Oh, grande chefe, obrigada pela sua misericórdia!
Sua bunda ardeu, novamente.
Lee se contorceu, mal segurando o gemido quando
o movimento provocou seu baixo ventre roçando ao longo
da ereção dele.
— Pare com isso! Já paguei meu castigo.
— Não está sendo punida por seu desrespeito a
mim e meus sentimentos na frente do bando. Está sendo
punida por não valorizar minha honestidade.
— Não pode me punir por isso!
— Não posso?
— Eu estava surtada — ela falou, indignada. — Não
pode realmente achar que me contaria que é um ser
mitológico e que eu ficaria saltitante com isso.
— Fugiu de mim. Zombou de nós. Feriu meus
sentimentos.
— E você não fez o mesmo? Enganou-me.
Ele rosnou, o som áspero e profundo reverberando
pelo cômodo. — Fui honesto com você. Queria que
estivéssemos às claras antes que decidisse viver comigo.
Eu poderia ter esperado, ter me acasalado com você e
depois contado a verdade sobre quem sou. Quis ser
honesto, e o que ganhei? A porra de um coração quebrado.
— Sinto muito — sussurrou, arrependida.
— Vamos ver o quanto.
A palma dele caiu em sua bunda incontáveis vezes,
a picada sexy espalhando ardor e calor em sua pele,
irradiando por todo seu ventre.
Lee lutou com ele e fugiu, indo para o outro lado da
cama, saltando em pé. Não que rodear a cama, que ele
facilmente alcançaria se quisesse, fizesse grande coisa
para mantê-lo longe. Embry estava permitindo esse
distanciamento... por enquanto.
O bastardo gostoso.
Lee ainda podia sentir o corpo zumbir de desejo e
fúria.
Seu coração trovejando pela emoção.
Embry tinha rasgado suas roupas no segundo que
entraram na casa. E agora, ele estava se desfazendo da
sua própria, com uma paciência que a fez querer gritar.
Lee estreitou os olhos.
Embry ofereceu um sorriso pecaminoso, predatório.
— Por que sempre tem que me castigar?
— Força isso a si mesma quando me desafia na
frente da matilha. Pode brigar comigo na privacidade de
nossa casa, pode me xingar e tentar me bater — Lee
ergueu a sobrancelha para ele, desafiando, e bufou
sabendo da verdade. Ela ainda chutaria o rabo do grande
lobo petulante. — Pode até me desafiar como está fazendo
agora. Me deixa de pau duro. Eu vou te castigar de um jeito
gostoso que a fará implorar por minha boca e meu pau,
mas se fizer isso na frente da nossa gente, eu terei de
seguir às regras.
Lee bateu o pé, os braços cruzados na frente do
peito, fazendo beicinho. — Nunca mais serei capaz de
olhá-los na cara. Nunca sairei daqui.
— Não estou reclamando.
Ela colocou as mãos nos quadris, projetando os
peitos para frente, com uma carranca no rosto. — Idiota, eu
estou falando sério.
Embry endureceu, grunhindo. — Não permitirei que
volte para a cabana. Pertence aqui. A mim. Quanto ao
boquete que me deu na frente da matilha, irá superar.
Ninguém a tratará de forma desrespeitosa. Você se
comportou mal e foi punida.
— Se você se atrever a fazer isso novamente...
— Comporte-se e não será castigada.
— Oh, você, seu bastardo...
Ele rosnou baixo, ameaçador, o som vibrando baixo
em sua garganta quando, novamente, ela balançou um pé
mais distante, uma rápida fuga para ver se assim seu
cérebro tornava a trabalhar no ritmo certo. Não aconteceu.
Embry estava lá, seu olhar queimando nela, o cheiro
almiscarado dele repentinamente se sentia por todos os
cantos, dentro dela, enchendo-a com fome. Consumindo-a
devagar.
Santa Mãe, ela precisava de um pouco de ar fresco!
Mais um, e Embry começou a se mover para ela e
rosnou mais uma vez. O som animal, forte e gutural, ainda
assim baixo, apenas uma advertência que ela achou sexy
como o inferno. Lee olhou para ele, confusa, antecipação
disparando por suas veias.
Ele estava... caçando.
Caçando ela!
Um belo exemplar de macho predador indo para
atacá-la ao menor sinal de fraqueza e não era de uma
maneira ruim. Ele queria comê-la. Sujo. Obsceno.
Oh, Deus...
— Me quer?
— Não estou te adorando no momento.
— Não perguntei isso.
Lee resmungou entredentes. — Quero.
— Me aceita, Lee? Me aceita como sou? Um
shifter? Seu macho?
Ela engoliu a seco, presa no olhar escaldante dele,
mas não havia só desejo. Havia amor também, um tipo
febril, revigorante, brilhante. O tipo que infla e consome.
— Deus, Embry, sim!
Ele não deu mais nenhum passo, esperando.
Lee correu o olhar sobre Embry, mordendo o lábio
com a sensação cortante de sensualidade atravessando
seu corpo, seus mamilos rijos. As partes masculinas dele
estavam falando com suas partes femininas. Suas mãos
suavam, coçando para tocá-lo, a boca salivava para um
gosto seu. Levou o olhar para cima. Lee tomou a decisão.
Ela colocou o joelho na cama, os peitos sacudindo, e subiu
se arrastando até a beirada onde Embry estava, com os
punhos cerrados, tenso. Ela esticou a mão, tocando seu
rosto.
— Sinto muito por te machucar. Nunca tive a
intenção de feri-lo. Eu... Eu me assustei, talvez tenha
exagerado... Mas nunca, nunca mesmo, quis magoá-lo.
Ele pressionou a testa contra dela, soltando um
fôlego brusco.
— Deus, eu senti sua falta, doçura.
— Eu também senti a sua, Embry.
Segurando seu rosto nas mãos, Embry fez um som
de dor, a voz gutural reverberando numa suplica. — Nunca
mais se afaste de mim.
— Não vou, Embry. Eu prometo. Eu te amo.
Sua boca desceu sobre a dela e todas as questões
foram esquecidas, só existiam os dois, a atração poderosa
entre eles, o amor bombeando seus corações.
Embry a soltou. Lee se afastou, girando.
Ela se colocou na posição, submetendo-se a ele,
seu amor, sua reinvindicação.
Era uma entrega completa. Corpo, alma e coração.
Em suas mãos e seus joelhos, Lee olhou para trás,
mendigando e balançou o traseiro, seu sexo nu exposto,
escorrendo excitação líquida.
Foi como acenar com uma bandeira vermelha.
Embry rosnou profundo em seu peito, o som fez
vibrar sua buceta necessitada. Ela gemeu, implorando,
com seu olhar, seu corpo, sua expressão.
Ele lhe deu um olhar tão selvagem que enrolou seus
dedos do pé.
Então, Embry estava lá, atrás dela, segurando seus
quadris.
Embry se abaixou, cheirando-a e grunhiu alto.
— Não posso esperar, porra — ele disse,
atormentado, arrastando a língua em sua vagina. —
Preciso tê-la. Marcá-la com meu cheiro, meus dentes, meu
sêmen.
— Faça isso, baby. Morro por você.
Lee estava se perdendo, doente por ele. Seu vício
por Embry rugiu como um incêndio, raspando sob a pele,
invadindo os lugares escondidos de seu corpo. Ela tremeu
com espontâneo alívio. Ela queria agradá-lo, ser dele de
todas as formas.
Lee ofegou quando sentiu a cabeça larga do pênis
dele pressionar contra sua abertura. Ela estava pingando,
escorrendo pelas coxas. Com um forte impulso, ele a
penetrou até o fundo, pressionando as bolas contra sua
vagina.
Embry uivou.
Lee gritou, arranhando, chorando.
Suas costas curvadas, enquanto ele a segurava, sua
buceta se ajustando a largura de seu pênis. Encheu-a por
completo. Ele puxou, quase saindo, então empurrou de
novo.
Embry não demorou a alcançar um ritmo regular.
Ele batia nos lugares certos, levando deleite para
cada ponto.
Ela estava morrendo!
Montando-a, Embry a pegou mais duro.
Então, parou.
Ele se dobrou em cima dela, enterrando o rosto na
curva de seu pescoço enquanto estocava seu canal tantas
e tantas vezes. Ele segurou seu queixo e a beijou. Duro.
Ela resistiu a princípio, e não entendeu, tudo que queria era
Embry, ainda assim, havia a necessidade de fazê-lo lutar
por ela. Então, ela se entregou quando ele persistiu. Lee
derreteu sob seu comando, dando total acesso a ele, sua
buceta apertando-o com fortes contrações que fazia ambos
gemerem. Embry soltou, o olhar febril dentro do dela.
Ele não estava exigindo, ele estava persuadindo
com suavidade e firmeza.
Um estremecimento de desejo a atravessou por
completo.
Embry era magnético. Poderoso. Devastador.
— Quem é seu companheiro? — ele exigiu.
Lee se negou a falar. Ele manteve o aperto,
bombeando nela algumas vezes, forte o bastante para que
seus olhos girassem no limite entre a dor e o prazer.
— Quem é seu companheiro?
Ela lutou, institivamente. Excitando-se mais quando
os dedos de Embry se enredaram em seus cabelos,
segurando-a no lugar, enquanto a língua saqueava a sua
boca mais uma vez, exigindo sua submissão.
— A quem você pertence? — ele repetiu.
Ela olhou para cima, seu corpo gritando pela posse.
— Embry.
— Diga alto. — Ele demandou com uma voz
poderosa, que retumbou por seu corpo e saltou
diretamente para sua vagina molhada, precisando que ele
martelasse mais e mais fundo, mais e mais rápido,
enchendo-a com seu grosso pênis e sua semente.
— Oh, Deus! Por favor, Embry, me foda rápido.
Duro.
— Quem é seu companheiro?
— Você, Embry, você é meu companheiro.
— Vai me obedecer? Se submeter a mim?
— Sim! Sim! Sim!
— A quem pertence seu coração?
— Você!
Ele beijou suas costas, seu pescoço, a lateral de seu
rosto, esfregando a bochecha na dela. — Minha para
cuidar, minha para segurar, minha para amar.
Lee relaxou, entregue, reconhecendo-o.
Ela era dele. Irremediavelmente dele.
Sua companheira.
Sua mulher.
Sua amante.
Sua beta-fêmea.
O que ele quisesse.
— Dê-me mais. Eu preciso de mais — ela
choramingou, tentando empurrar para trás, mas Embry a
tinha presa.
— É minha, Leah.
— Sou sua, Embry. Pertenço só a você.
— Pra sempre.
— Pra sempre.
Ele subiu, agarrando forte seus quadris. O corpo
escorregadio pelo suor que cobria sua pele dourada como
uma capa fina. Seu coração quase explodiu de alegria. A
cama balançava embaixo deles acompanhando a dança
erótica que eles protagonizavam. Ela podia sentir Embry
tentando conter sua agressividade e possessividade,
quando a boca dele veio para o convexo de seu pescoço e
ombro, todo o seu corpo tencionou em expectativa. Embry
afundou seus caninos na carne tenra, perfurando e travou
a mandíbula no minuto que seu pênis inchado travou
dentro dela e começou a gozar.
Lee gozou com ele, gritando.
Não podia pensar, a vontade veio do nada.
Ela girou a cabeça, seus dentes travaram no braço
dele, perfurando a pele. Ela sentiu o gosto do sangue e não
era nada que pudesse se comparar.
Outra onda de enlevo passou por ela, devastando.
Embry seguiu ejaculando dentro dela, preenchendo-
a, enquanto ela gozava de novo com a sensação
estrondosa. O fio brilhante a ofuscou, ligou-os de forma
única e inquebrável. Ela não só viu Embry, ela o sentiu.
Suas emoções. Seus sentimentos. Seus desejos mais
profundos... os sonhos... os pesadelos... E ela sabia, ele
também a via.
Mesma frequência.
Mesmo coração.
Almas que se somavam.
Seu corpo convulsionou pela última vez, e um prazer
ainda mais intenso a varreu de sua consciência. Embry
caiu na cama, puxando-a com ele, apertado.
Eles respiravam forte, o coração quase
arrebentando a caixa torácica.
Suados.
Ofegantes.
Saciados.
Minutos se passaram.
— E agora? — Lee perguntou, ainda grogue pelo
arrebatamento do clímax, quando ele desinchou o
suficiente para se retirar dela e a girá-la, colocando-a em
seu peito.
— Compramos uma cama nova — sugeriu, risonho.
Lee riu, correndo as unhas pelo peito dele.
— Isso também.
Embry escovou seu cabelo para trás com tamanha
reverência que ela quis chorar, emocionada. — É minha,
Lee. Para cuidar, amar e proteger. Só minha. Pertence a
mim, ao bando. Esta é sua casa, doçura. Não vai mais
voltar para a cabana.
— Eu não tenho uma palavra nisso?
— Tem. Ela se resume em sim.
Ela tocou o rosto dele. — Eu te amo, Embry.
— Eu também te amo.
— Será sempre assim? — perguntou ela, após um
momento, correndo a mão pelo peito dele, mal podendo
conter seu corpo de se esfregar nele.
— Tende a diminuir. Mas sempre estaremos atraídos
e desejando um ao outro.
— E seu pênis?
— O que tem meu pênis?
— Incha e ficamos presos.
— Só com você.
— É estranho, mas gosto.
Eles experimentaram um silêncio agradável.
— Não quero bebês agora.
— Não posso dizer que isso não me deixa feliz.
Quero quantos puder e querer me dar, mas agora me sinto
muito possessivo para dividi-la mesmo que seja com
nossos filhotes.
Ela riu, e ele a olhou com adoração.
Embry suspirou, passando a mão no rosto, cabelo.
— O que foi?
— É bom não ter que me esconder de você.
— Se te faz feliz saber, também não gosto de
mentiras.
— Não menti. Em nenhum momento menti. Omiti
algumas coisas, e isso me custou muito. Mas não menti.
Não posso. Não pra você.
Lee anotou essa informação.
— Nunca?
— Nunca. Posso decidir não te contar algumas
coisas. — Lee bufou. — Coisas que não diz respeito aos
civis, mas nunca mentirei pra você.
— Posso lidar com isso.
Embry a atraiu para um beijo longo e molhado.
— Encontrei meu lar quando senti seu cheiro pela
primeira vez.
— Eu cheirava a que?
— Casa.
Ele a beijou mais uma vez, apaixonadamente,
profundamente.
Segurando seu olhar, as bocas próximas. — Eu te vi
então, soube onde eu pertencia, onde eu sempre quero
estar. Com você. Só com você, amor.
13

TRÉGUA?

Caleb encostou-se à camionete velha e esperou.


Ele ainda estava zangado com sua companheira por
ter passado por cima de uma ordem direta. Grávida ou não,
Trish estava sendo punida. E maldita fosse se não estava
punindo a si mesmo, ainda que ele gozasse todas as vezes
que a levou ao limite, indo a seu próprio ápice por vê-la tão
arrebatada pelo desejo de tê-lo. Ainda não. Logo.
Irritava e achava lindo na mesma proporção quando
Trish foi até ele confessar sua peraltice, como se estivesse
confessando um pecado e ele fosse um maldito padre. Ela
não parecia arrependida em tudo, embora as desculpas
escapulissem de seus lábios deliciosos. Ela o enfrentou,
defendeu as mulheres, agora, suas fêmeas, como se fosse
uma grande mamãe loba cuidando de seus filhotinhos.
Encheu-o de orgulho. Enfureceu pela audácia.
Deus, ela o deixava louco.
Estava morrendo desde que sua punição começou.
Mais uns dias, e ele deslizaria no acetinado de suas
coxas, em casa.
Agora, Caleb tinha que tentar controlar os danos.
Maya não tinha aparecido na reserva mais.
Nenhuma vez. Silêncio total. Ele tinha esperado ela
aparecer pela porta enfurecida pelo segredo. Não
aconteceu.
Caleb levantou o olhar assim que a porta dos fundos
da P&C se abriu. Maya passou. Ela parou abruptamente,
encarando com cara de poucos amigos. Lábios apertados,
corpo tenso, uma carranca endurecendo suas feições
formosas.
Maya sempre tinha sido uma beleza da natureza, o
ar jovial fazendo-a parecer mais nova do que realmente
era. Frágil e delicada. Agora, o peso do sofrimento estava
lá, trazendo suas consequências, fazendo-a parecer mais
velha e cansada.
Nenhum brilho.
Nenhuma leveza.
Só um vazio. Uma solidão esmagadora que o fazia
querer matar coisas... alguém.
Caleb desencostou do carro e deslizou para perto.
— O que está fazendo aqui? — ela rosnou,
agressivamente.
Ele parou, dando espaço a ela, e ergueu as mãos.
— Vim conversar.
A sobrancelha escura levantou, era um contraste
gritante com a tonalidade de cabelo que ela usava agora. O
cheiro da química provocando seus sentidos, antes que ele
neutralizasse. Isso doeu. Ela se machucava para se
esconder, para fingir.
Os punhos de Caleb enrolaram, e ele lutou contra a
onda de violência.
Neste ritmo, mataria o bastardo antes que ele
tivesse a chance de se recuperar.
— Não temos nada para falar. Saia.
— Quando nos tornamos tão estranhos, Maya? —
Caleb perguntou, a voz pesando com dor, sabendo que
nenhuma resposta viria.
Eles sabiam as respostas, respostas dolorosas que
nenhum queria tocar, remexer naquelas feridas parecia
cruel demais. Mas Caleb sabia também que chegaria a
hora em que não poderiam correr mais. Tudo isso
precisaria ser remexido antes de se assentar.
— Sei que Trish te procurou.
Maya olhou com cuidado.
— Minha fêmea desenvolveu uma espécie de
possessão com as fêmeas do bando, toda essa coisa de
igualdade e tals. Embora eu siga dizendo a ela que nossas
fêmeas estão longe de serem manipuladas, ainda que
saibam seu lugar no bando assim como qualquer outro
membro.
Maya bufou um riso, mas não havia diversão em sua
face.
— Eu tenho que admitir, você tem bolas.
— Me escute.
— Não! Me escute você!
Ela estava nele num minuto, o dedo magro
cutucando o peito amplo, o olhar ferido acalmou seu lobo
quando ele abriu a conexão para acalmá-la, e quase se
dobrou, pego desprevenido com a intensidade de sua dor,
antes que pudesse influenciá-la.
Maya grunhiu, com lágrimas. — Eu tinha que saber!
Não tinha o direito de me esconder, mesmo você não tinha
esse direito. Nenhum de vocês.
— Não tinha! Não ainda. Não se tratava só de você.
Eu, como alfa, tinha que me certificar que Lucius não
oferecia risco. Não vou deixar os meus vulneráveis.
— Por que ainda não o puniu?
— Ele será punido. Um julgamento é mais do que
ele merece pelas suas ações.
Ela se encolheu, afastando o olhar.
— Não cabe a você decidir.
— Foi minha companheira que ele atacou e quase
matou de medo. Ela já estava grávida do meu filhote.
Poderia ter perdido os dois.
Maya se afastou dele, o rosto torcido em dor, tanta
dor que mesmo ele tinha a voz estrangulada. Caleb quis se
aproximar, puxá-la em seu regaço como fazia quando eram
mais novos, melhores amigos, mas sabia que ela não iria
permitir.
— Irá matá-lo? — ela sussurrou.
Caleb se limitou. — Ele pagará pelos danos
causados, Maya.
Ela assentiu, lutando para manter a compostura.
— Se era só isso, pode ir.
— Eu vou te avisar quando marcar a data do
julgamento.
— Não quero saber.
— Ainda assim, avisarei. Pode visitá-lo se quiser.
Maya riu, debochada, sacudindo a cabeça.
— Eu sinto muito, amendoim. — Maya endureceu,
tensa da cabeça aos pés, os punhos cerrados. — Nunca
quis te causar mais dor. Minhas ações você pode não
aprovar, fiz o que fiz para protegê-la. Infelizmente, eu
pareço nunca ser capaz disso.
Maya respirou fundo, os ombros caindo com tristeza.
— Você não tem culpa, Caleb. Ninguém tem — ela
disse sem olhá-lo, em seguida, voltou para o interior do
estabelecimento. Dor e angústia pulsando através dela.
Caleb esfregou o rosto em frustração.
Impotência atava seus músculos, enfurecia o animal
em um nível épico.
Entrando no carro, ele dirigiu para a reserva.
Em casa, Caleb deu de cara com sua irmã, que
estava prestes a parir a qualquer momento, e sua
companheira, entretidas em uma conversa no sofá. Elas
pararam quando ele entrou. Trish olhou, ansiosa. Caleb foi
até elas, cumprimentando a irmã rapidamente e Trish com
um beijo leve nos lábios. Então, se endireitou, recusando a
mendicância no olhar de sua companheira. Ela não estava
arrependida em tudo, ele sabia.
— Vou tomar banho, e depois desço para fazer o
jantar. — Ele encarou a irmã, olhando-o com diversão mal
disfarçada. — Janta com a gente?
— Não. Paul está a caminho. Temos um jantar
romântico antes que esse filhotinho aqui resolva dar as
caras e nos deixar loucos.
Caleb assentiu e saiu.
Ele estava na escada quando ouviu elas
cochicharem.
— O que foi isso?
— Ele ainda está bravo.
— Machos! — zombou Raina. — Diria pra você não
deixar que ele a sufoque, mas vejo que está se saindo
muito bem sozinha.
Elas riram e ele grunhiu, pisando duro através do
corredor.

Lee estava vivendo seu próprio conto de fadas.


Não havia um príncipe, mas um delicioso lobo mau
que ela não podia afastar as mãos. Ele a comia da forma
mais deliciosa. Ele lhe dava prazer, um montão.
Embry lhe dava amor, apreciação, cuidado.
Deus, nunca pensou que algo tão bom assim
poderia ser seu.
Mas cá estava, acasalada com o melhor cara de
todos. Macho. Homem. Humano. Shifter. Não importava a
nomenclatura. Embry era seu, somente seu.
A febre do acasalamento tinha se esvaído, o drukāt
já não surtia efeito mais, segundo Embry. Lee o amava
cada dia mais. Desejava loucamente. Queria tudo com ele.
Estava nas nuvens e aproveitando cada segundo.
Eles tinham conversado muito depois que o furor do
acasalamento diminuiu, conversas de travesseiro que ela
nunca gostou, todavia, amou tê-las com ele.
Embry lhe deu muitas explicações.
Trish tinha razão, era muita coisa para assimilar.
Eles não sabiam e, em segredo, ela temia seu
tempo com Embry, não por ela, mas por ele, o que
aconteceria com ele depois que ela partisse. Se os
pequenos efeitos que a constante troca de fluídos entre
eles fosse indicativo de algo, então suas esperanças
podiam crescer. Não era somente sua temperatura corporal
que tinha aumentado, fazendo-a mais resistente ao frio, ela
também estava com o metabolismo acelerado, e não
engordando um grama. Trish mesmo estava comendo
como se não houvesse amanhã, bifes quase crus estavam
no cardápio – Lee jurou que iria demorar a engravidar –
mas ela não estava engordando nadinha, exceto pelo
pequeno bolinho sagrado em seu ventre. Lee também se
sentia mais disposta como nunca estivera.
Embry, Caleb, Trish e ela tiveram uma tarde de
discussão, onde estudaram cada aspecto, mesmo as mais
íntimas. Ela tinha ficado um pouco envergonhada enquanto
Trish ficava da cor do protesto comunista. Mas o que era
isso perto da cena que protagonizou com seu homem na
frente de toda matilha. A imagem de si mesma ajoelhada
dando um boquete em Embry ainda queimava através de
sua mente, e se fosse honesta, admitiria que excitava. Os
homens estavam a sério na pesquisa, cada informação que
pudessem dissecar era importante para eles mesmos e
eventuais casais como eles. Embora a troca melhorasse a
biologia e fisiologia das fêmeas, elas não estavam se
transformando. Shifters, inegavelmente, nasciam. Era
impossível transformar-se em um. No entanto, seus
companheiros estimulavam seus aspectos mais primitivos,
a parte instintiva e selvagem que era silenciada pela
civilização e racionalidade. Tanto Trish quanto Lee tinham
se sentido mais possessivas e selvagens com seus
homens. Tinham necessitado que eles ganhassem seus
respeitos, e também feito pequenos sons.
Snowville era um prato cheio.
Embry fez uma pausa antes deles entrarem na casa
do casal alfa.
— Não vai me mostrar mesmo?
Desde que saíram de casa, ele estava tentando abrir
o casaco dela para ver o que tinha por baixo. Lee estapeou
a mão do seu macho e tentou parecer séria.
— Não. Pare com isso.
— Eu poderia rasgar de você num segundo.
Sua sobrancelha curvou, o olhar venenoso. — Você
também poderia dormir no sofá o resto da semana e não
ter meus lábios deliciosos.
— Droga!
— Seja rápido, coisa quente — ela segurou seu
queixo, subiu nas pontas pés, amando quando ele a
circulou com seus braços poderosos, e o beijou na boca. —
Estarei indefesa e precisarei da proteção do meu homem.
Embry rosnou, puxando-a para ele, apertando firme.
Seu pênis fez seu ponto pressionando contra a
barriga dela. Lee ficou instantaneamente molhada. O
centro começando a doer, os mamilos rijos.
— Comporte-se, lobo. Ou não terá seu jantar —
piscou, escapulindo dele e rebolando em direção à porta
enquanto o rosnado sexy explodia atrás dela.
Embry se juntou a Caleb no escritório.
Trish e Lee se acomodaram na cozinha, cada uma
com uma grande caneca de chocolate quente.
Conversaram por quase meia hora até que Lee se
levantou.
— Está na minha hora.
Sua ansiedade não poderia ser mascarada.
— Embry ainda está com Caleb.
— Ele estará saindo em um minuto e eu preciso
estar longe.
Trish veio para ela, preocupada. — O que está
dizendo, Lee? Pensei que vocês estavam bem, que você
estava feliz.
Lee riu e abanou a mão.
— Ah, não, Bonita! Não é nada disso. Estamos bem.
Meu homem me faz muito feliz.
— Me ilumine.
Com uma expressão maliciosa, Lee desamarrou seu
trench coat vermelho e deu a Trish uma visão. Por baixo,
ela levava um conjunto sexy.
Trish olhou boquiaberta, os olhos enormes, só então
dando-se conta do tipo de casaco que a amiga usava. Ela
não precisou de muito mais para fazer a associação.
Lee fez uma expressão e voltou a fechar a peça com
um nó.
— O que é isso? — sussurrou Trish.
— Uma fantasia.
— E você está andando por aí assim?
Lee bufou, revirando os olhos.
— Conan não te falou como eles se acasalam?
— Dã! Estamos acasalados.
— Não, Bonita. Eles, os shifters, se acasalam.
Trish tinha uma expressão incerta.
— Imagino que não deve ser tão diferente do que
fizemos.
— Eles caçam.
Lee pensou que os olhos de Bonita saltariam.
— Uhum! As fêmeas correm na floresta e seus
potenciais pretendentes caçam elas. E quando as
encontram, eles duelam. Se o macho é capaz de vencê-la
então, ela permite ser montada com direito a mordida no
pescoço, uivos e tudo isso.
— Isto é... selvagem — Trish resmungou, pensativa.
— É, se pensarmos que eles fazem isso
transformados e só depois mudam para a forma humana.
— Jesus Cristo, Lee! Nunca mais serei capaz de
esquecer isso.
Lee sorriu, brincalhona.
— É claro que, Embry e eu faremos isso como
humanos.
O olhar de Trish brilhou com interesse.
— Eu pensei... quero dizer, Caleb disse que
estamos acasalados.
Lee riu mais. — Estão. Eu também. Não é que
precisamos disso. Quero fazer. Achei que seria divertido ter
Embry me caçando. Só de pensar nisso minha pressão
sobe e outras partes... uh... Uma calcinha extra não seria
nada mal — piscou, divertida.
Lee se adiantou para a porta.
— Diga a Embry que chapeuzinho saiu para
passear.
Trish fez uma careta, negando.
— Não vou dizer isso a ele.
— Não seja tão puritana! Embry sabe onde estou.
Ele me cheira, sabia? Diz que cheiro a guloseimas. Pode
acreditar nisso? Sempre soube que sou uma delícia.
— Você é louca!
— Chapeuzinho Vermelho sempre foi meu conto
favorito. Se puder fazê-lo real, não vou desperdiçar a
chance — Lee disse, animada, com um sorriso que faria
inveja ao gato de Cheshire, antes de bater a porta fechada
atrás dela.
— Nunca mais serei capaz de ver esse conto de
forma inocente — Trish lamentou, arriando o corpo no sofá
depois que Lee saiu.
Epilogo
Nova York, EUA.
Quase sete meses depois...

Emme Muller desfilava por sua sala, como um


furacão prestes a entrar em erupção. O som distinto de
seus vermelhos saltos agulha de dar inveja a qualquer top
model golpeava o chão sem dó, quebrando o desagradável
silêncio que havia se instalado em sua sala desde que
adentrou a mesma às 8h da manhã.
Olhos impacientes conferiram o visor do iPhone.
Nada AINDA.
Nenhuma chamada.
Nem sequer uma mísera mensagem.
Bufando em descontentamento, Emme parou por
um instante na frente da janela de seu escritório e deixou
seu olhar vagar pelo Central Parque. O dia lá fora estava
ensolarado, digno de uma caminhada sem pressa pelo
parque. Mas paciência era o que ela menos possuía
naquele momento, a propósito, a falta desta era seu cartão
de apresentação. Sua mão livre pousou no quadril
avantajado e seus lábios torceram contrariados, enquanto
o olhar desinteressado descia para o engarrafamento que
havia se formado no cruzamento da Rua 58 com a 5th
Avenida. Deu Graças por estar no quinquagésimo nono
andar e sua sala ser a prova de som. A última coisa que
precisava era ouvir o barulho infernal de buzinas, que
provavelmente se sucedia abaixo.
Por que diabos aquele idiota não liga?
Uma batida na porta. — Emme?
— Caí fora! — ela ladrou, sem olhar para o intruso.
O rapaz, que estava com a cabeça enfiada na fresta
da porta, não insistiu, tampouco esperou uma segunda
ordem, sabendo que era melhor manter-se afastado.
Emme não era conhecida por sua sutileza, não que
fosse uma bárbara, mas em certos momentos como este,
por exemplo, em que estava ansiosa demais ou sob muita
pressão, ela usava e abusava de seu lado negro sem ao
menos pestanejar.
“Tolerância zero” era um bom lema.
Não era ruim em tudo, apenas não fingia nem
estava disposta a agradar. Sua má fama não a impediu de
ser adorada pelos colegas e amigos, provando a si mesma
que tinha um bom coração, apesar de tudo. Era pau para
toda obra. Uma amiga feroz. Gostava de bajular os seus,
mas, principalmente, adorava ser bajulada por todos.
Emme era uma camaleoa.
Adaptava-se facilmente, não importa a situação.
Seus traços femininos e delicados, conferindo-lhe um ar
dócil, poderiam enganar o mais santo dos homens.
A jovem se sentou em sua cadeira e jogou os pés
sobre mesa, cruzando os tornozelos. O som de uma nova
chamada quase a derrubou da cadeira.
Emme atendeu, soltando fogo pelas ventas. — Eu
espero que você tenha uma boa desculpa pra me fazer
esperar a porra do dia todo, Tony!
— Que isso, gata? É assim que você trata seu mais
fiel escravo? Assim magoa — o tipo zombou. — E eu não
te fiz esperar tanto, ainda nem é meio-dia.
— Tem o que eu te pedi? Diz que conseguiu, por
favor.
Sua voz que começara severa, estava quase
chorosa.
— Quando é que não consigo o que você me pede?
— Então, diz logo, caralho!
— O nome da cidade é Inuvik...
— Inu... quê? Onde diabos é isso?! Na puta que
pariu?!
— Se você fechar essa linda boquinha, eu digo. —
Controlando a vontade de mandá-lo a merda, Emme se
calou, ao passo que seus dedos tamborilavam sobre a
superfície de sua mesa. — Aqui diz que fica no Canadá,
nos Territórios do Noroeste...
Apoiando o iPhone entre o ombro e a cabeça,
Emme digitou no Google, rapidamente o mapa apareceu
fazendo seus olhos quase saltarem.
— Puta merda! Essa porra é no subártico.
— Praticamente — Tony respondeu. — Eu rastreei o
IP da mensagem que você me pediu e descobri que ela
veio de uma reserva que fica nesta cidade. Eu marquei o
nome em algum lugar aqui... Só um segundo...
Que merda aquela cadela foi fazer lá?
— Qual é o nome, Tony?
— Calma aí, gata. Estou procurando... aqui... achei.
— Então?
— Snowville. Essa reserva fica ao pé de uma
montanha, pera aí... Montanha Blakestood. Foi de um
computador deste lugar que a mensagem saiu.
— Tem certeza?
— Absoluta. Fiz uma rápida pesquisa e descobri que
eles são um povo reservado, abrem para visitação apenas
na temporada de primavera e inverno quando o sol
finalmente surge. Se liga, gata. O lugar fica no escuro total
durante seis malditos meses, e nos outros seis meses terá
suas noites aquecidas pelo sol. Dá pra acreditar nessa
porra?
Não, não dava. Emme comprovaria com seus
próprios olhos, no entanto.
— A propósito, você ainda não me disse por que
quer tanto essa informação.
— É coisa minha. Não é da sua conta — ela
murmurou absorta enquanto agendava sua passagem no
site da companhia aérea.
— Sua doçura me excita.
— Bom pra você. Eu tenho que ir.
— Ei, espera aí!
— O quê?
— Não está pensando em ir pra esse lugar, não é,
Emme?
— Não só pensando. Tenho um voo marcado para
daqui umas poucas horas — ela assinalou. — Valeu pela
informação! Quando voltar te pago um café. Bye, bye.
Emme desligou o celular.
Rapidamente, ela recolheu seus pertences sobre a
mesa, colocando-os dentro da bolsa e se deslocou até a
sala de seu chefe, o qual já estivera de sobreaviso.
— Emme, minha querida, tem certeza que quer ir
para este lugar?
Seu chefe perguntou pela terceira vez.
— Absoluta, David. Vou hoje ainda, se você me
liberar.
O homem suspirou cansado e abaixou os ombros.
Ele sabia que ela só havia lhe informado porque ele era o
chefe, uma questão de formalidade, pois a jovem quando
punha algo na cabeça ia até o fim e não tinha Cristo que a
fizesse mudar de ideia.
Sua amiga era obstinada demais para o seu gosto.
Mas o que podia fazer, além de tentar persuadi-la a ficar?
Talvez desse um golpe de sorte. Porém, no fundo sabia
que Emme não desistiria. Chantagem não surtiria efeito,
tampouco.
— Eu só estou preocupado com você. Tem ideia de
onde fica isso? Nem mesmo eu sabia que esse lugar
existia! Por que não espera mais um pouco? Fique até
lançarmos o produto novo. Vamos colher os louros, e
depois eu mesmo a ajudo nesta loucura, ou melhor, eu vou
com você para este fim de mundo ou qualquer outro lugar
que queira ir.
Emme bateu o pé, a voz firme. — David, você
prometeu. E, você, mais do que ninguém, sabe há quanto
tempo eu estou esperando por esta informação. Não pode
me impedir agora. Desfrute do lançamento, sabe que não
gosto dessas coletivas. Quanto aos louros, bem, eles
cairão em minha conta, né? — Desta vez, David teve que
sorrir. — E outra, eu adiantei meu serviço para dois meses.
Não há com o quê se preocupar. Steve ficará no meu lugar.
Ele é bom e ama o trabalho tanto quanto eu.
— Você não vai desistir, não é?
— Você sabe que não. Eu preciso ir.
— Avise-me quando chegar lá.
Emme contornou a mesa e abraçou o amigo. —
Valeu, David. Volto assim que puder. Você sabe que não
precisa se preocupar, não é? Sei me cuidar muito bem.
Ele sabia, e como sabia!
FIM
Um gostinho de

SEDUTORA RENDIÇÃO
Emme Muller jogou seu olhar trilha acima. A boca
seca escancarou e os delicados ombros desabaram
tragicamente enquanto sua mente tentava calcular quantos
metros ainda faltavam percorrer para, enfim, chegar ao fim
do mundo.
Talvez, vinte? Cinquenta? Cem?
Provavelmente, era uma eternidade de metros, que
faziam suas pernas tremerem e os pés clamarem por
descanso. Nunca desejou tanto possuir a velocidade
supersônica de Sonic.
Logo ali. Rá!
Tinha dito um morador local quando ela esteve na
lanchonete P&C atrás de um café quente e de
coordenadas para encontrar a maldita reserva, logo que
chegou ao que parecia ser onde o vento fez a curva. O fim
do mundo era mais adiante. O maldito morador só
esqueceu-se de avisar que a trilha era terrivelmente
íngreme e que ao fim dela necessitaria de um médico para
costurar seus joelhos. Mas, principalmente, que era um
caraaaaaaaaaaaalho de longe. Já havia perdido a noção
de quanto tempo estivera subindo a maldita trilha sem
nunca chegar. Uma vida?
Emme lutou contra a vontade de refazer o caminho
e dar um murro nas fuças do mentiroso. Entretanto, descer
o caminho, que subiu com sacrifício, não parecia a ideia
mais atraente do mundo, ainda mais quando ela teria de
refazer o caminho. Emme não precisaria estar
peregrinando, como se quisesse alcançar uma graça
divina, se os habitantes daquele deserto de gelo tivessem
um pingo de amor ao próximo.
Ocorria que, a tal vilarejo, Snowville – tão criativo,
uh? –, onde sua amiga se escondeu, como Tony tinha
informado, era algum tipo de colônia muito reservada às
visitações, abrindo exceções apenas na primavera e no
verão. Nem mesmo os moradores poderiam dar as caras
sem uma autorização prévia. Pelo menos, fora isso que os
moradores, com os quais falou, alegaram quando se
negaram a levá-la até lá.
Besteira! Esta devia ser a desculpa que eles davam
para a falta de cordialidade.
Pelo menos, não estou mais tocando castanholas
com os dentes.
Estava bem agasalhada, claro! Entretanto, roupa
nenhuma no mundo era capaz de impedir com eficiência o
frio de permear seu corpo. Andar como um camelo tinha
ajudado sua mente a se distrair do ar gélido perfurando seu
corpo com agulhas, as roupas (uma loja inteira embrulhada
em seu corpo) pesavam, o que fazia a caminhada mais
árdua. A atividade aquecia seu corpo e consumia muitas
calorias, o que a estava tornando faminta. E alguns gramas
mais magra. Novamente, Emme estava mais cansada. Ah,
claro, não podia se esquecer de que era noite, embora
fosse dia. Um truque zombeteiro do universo. Se não fosse
pelo lugar ser praticamente inóspito, Emme teria dado
pulos de felicidade por haver um lugar como esse no
mundo, onde durante seis meses do ano só havia noite.
Mas, então, aonde raios estava a diversão? No meio
da floresta com os animais selvagens tocando batuques
enquanto todos dançavam em volta da fogueira?
De repente, em sua imaginação pintou uma cena
cômica de uma balada no meio da densa floresta
margeando a sua volta. Ela riu com diversão... e medo.
Animais selvagens. Noite. Frio. Vento. Barulhos da
noite.
Um arrepiou gélido cortou sua espinha e Emme
estremeceu. Seus olhos debilitados varreram ao redor
enquanto sua mente dizia para ela não seguir por aquele
caminho. Emme tinha um caralho de situação ali. E, se não
quisesse descer aos gritos o caminho já percorrido, tinha
de manter a mente longe de más possibilidades.
Emme respirou profundo, refugiando os
pensamentos indesejados e colocou sua raiva no caminho
que ainda tinha pela frente quando agarrou a alça da mala,
recomeçando o calvário de passos. Dando graças por estar
em dia com a academia. Não era uma modelo anoréxica e,
para os padrões da sociedade, estava acima do peso. No
entanto, tinha orgulho de ser mais curvilínea do que os
esqueletos dos anúncios na tevê. Definitivamente, tinha um
montão de carne sensual para fazer um homem babar nela
enquanto eles tinham um momento de diversão suada.
Sobretudo, era saudável.
Algum tempo depois, seu olhar arriscou uma olhada
para cima.
Quase lá. Porra dos infernos.
Cara, quando chegasse ao maldito lugar iria
desmaiar na primeira cama que encontrasse pela frente.
Não. Primeiro iria espancar o traseiro de Trish, e depois
abraçar a cama por uma semana. Isso! Aquela ingrata
merecia umas boas palmadas por tê-la obrigado a passar
por esse calvário quando Emme poderia estar no
aconchego de seu apartamento, em sua cama king size
confortável assistindo alguma merda na Netflix.
Trish não podia esperar que ela se contentasse com
meras palavras de “estou bem e encontrei alguém para
aquecer meus pés” num e-mail depois que a cadela tinha
sumido sem dizer uma palavra sequer. Mesmo não
merecendo, Emme precisava vê-la com seus próprios
olhos e falar com ela. Sabia que Trish tinha enfrentado o
inferno antes de desaparecer e, Deus sabia que, ela
entendia os motivos da amiga para tomar uma atitude tão
drástica e escolher aquele lugar. Não tirava sua razão,
pois, embora aparentasse ser feita de ferro aos olhos dos
demais, Emme reconheceu que não teria tido a mesma
valentia. Teria chutado o rabo de Stephan, talvez, cortado
suas bolas e feito uma sopa, mas, em seguida, teria
desabado porque no fundo era uma chorona de primeira.
Sua meditação se interrompeu quando, finalmente,
avistou algumas casas ao longe. Seu suspiro de alívio foi
longo e emocionado. E, por um momento, Emme se
permitiu parar para tomar fôlego. Largou a mala e inclinou-
se para frente, apoiando as mãos nos joelhos rijos e
trementes do frio enquanto respirava ofegante.
— Quem é você?

Até lá...
Contato
Espero que você tenha gostado de ler
SEDUTORA SUBMISSÃO.
Foi uma longa espera, admito. Senti com vocês,
também estava doente de ansiedade para voltar a Inuvik e
passar uns bons momentos no universo de FM.
Eu amei escrever a história de Embry&Lee. A
leveza, a objetividade e a maneira descomplicada de
levarem a vida, focando no que é essencial para ser feliz, é
invejável. A vida PODE SIM ser levada de forma leve,
basta ser corajoso o bastante para se permitir.
Embry&Lee, como citado acima, são um casal
descomplicado, desta forma, sua história não poderia ser
diferente. É rápido e focal. Sedutora Submissão é também
um livro de transição, onde os eventos que constroem as
próximas histórias estão se desenrolando enquanto nosso
casal trabalha em seu acasalamento, bem como outros
personagens ganham voz e assim podemos conhecer um
pouco mais de Forever Mine.
Em minha página no Facebook deixei um post com
mais explicações.
Outra coisa, eu gostaria de perguntar se você pode
avaliar este livro. Avaliações são essenciais para a carreira
de um escritor. Não só para promover os nossos livros,
elas nos incentivam a continuar escrevendo, além do mais,
seu feedback é importante para mim. Então, desde já,
muito obrigada se você me deu uma avaliação.
Abaixo estão minhas redes sociais, onde você
poderá me encontrar.

Instagram | Facebook | Wattpad

Você também pode gostar