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DANI MEDINA

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ou banco de dados sem permissão escrita da autora.
A violação de direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Capa: Fox Assessoria
Revisão: Carina Barreira
Diagramação: Carina Barreira
Leitura Sensível: Letícia Guimarães
Juliana Mangi e Ana Luiza Tinoco (@duasrevisando)

Leitura Crítica: Letícia Guimarães


Juliana Mangi e Ana Luiza Tinoco (@duasrevisando)

Conteúdo adulto.
Proibido para menores de dezoito anos.
Sumário
DEDICATÓRIA

AVISO

SINOPSE

PRÓLOGO

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 35

CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 37

CAPÍTULO 38

CAPÍTULO 39

CAPÍTULO 40

CAPÍTULO 41

CAPÍTULO 42

CAPÍTULO 43

CAPÍTULO 44

CAPÍTULO 45

CAPÍTULO 46

CAPÍTULO 47

CAPÍTULO 48

CAPÍTULO 49

CAPÍTULO 50

CAPÍTULO 51

CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53

CAPÍTULO 54

CAPÍTULO 55

CAPÍTULO 56

EPÍLOGO

BÔNUS

AGRADECIMENTOS

SOBRE A AUTORA

OUTRAS OBRAS
DEDICATÓRIA

Dedico esse livro a todos aqueles que são livres em suas mentes, em
suas almas e em seus espíritos.
AVISO

Chegamos ao segundo livro da série Anjos da Escuridão, preciso


informar, esse livro se passa TRÊS anos antes da cronologia do livro de
Dusham, o Anjo da Morte. O Anjo do Caos como o próprio nome diz não é
sensível e muito menos se preocupa com o que pensam sobre si, é o rei do
seu próprio inferno e sua opinião sobre ele nunca será validada.
Percorreremos caminhos obscuros demais, duvidosos e cruéis, mas isso é
apenas mais um dia em sua vida, o que Damian chamaria de normal.
Se temas como:
Homofobia;
Estupro masculino;
Doma de pessoas;
Tráfico humano;
Violência, verbal, física e psicológica;
Terror psicológico;
Assassinato;
Tortura;
Tentativa de suicídio;
Sexo de consentimento duvidoso e
Caos
São sensíveis demais para você, NÃO LEIA ESTE LIVRO, essa
história não tem mocinhos que salvarão o dia, pelo contrário, iremos
encontrar o vilão, ele é sombrio, frio e pouco se importa com sua redenção.
Agora se é dos malvados que você gosta mais, fique à vontade, o nosso
malvado é intenso e costuma sorrir pela escuridão.
Desejo a você uma boa viagem, e que os anjos te encontrem.
SINOPSE

Esse é um Dark Romance LGBTQIAPN+, homoafetivo.


Damian Dothraki nasceu para ser um monstro.
Ele era o segundo filho, aquele que serviu de cobaia para a maldade
do seu progenitor, saber que sua vida era diferente apenas por sua
orientação sexual o deixava ainda mais furioso. Damian não nasceu para ser
contido, domado ou até mesmo moldado segundo as vontades dos seus
algozes, ele seria enviado ao inferno, mas voltaria de lá tocando a música
que faria os demônios dançarem. Ele era O Anjo do Caos, sua alcunha
representava o que era por dentro, caótico, devastado e turbulento. Sua
escuridão fez com que todos recuassem enquanto ele passava abandonando
um rastro de corpos decapitados e muito, muito sangue. Até que ele
apareceu deixando tudo um pouco mais doentio e sombrio.

Ícaro Parlattore, a peça que se encaixa no quebra-cabeças


macabro de Damian.
Um italiano que foi atraído a Belgrado por uma proposta irrecusável
de emprego e acabou sendo vendido para o tráfico humano. O fotógrafo
jamais experimentou tamanho terror, estava em pânico, mas nada o havia
preparado para encarar o olhar morto e frio do Anjo do Caos.
Damian desejava ter algo que sempre lhe havia sido negado, agora
ele o queria e ninguém ousaria atravessar seu caminho.
Em meio ao terror do desconhecido e o pavor do escuro, dois
corações quebrados encontrariam no outro o desejo inesgotável de caminhar
pelo fogo, nem mesmo os rios de lava do inferno conseguiriam afastar
aqueles que nasceram para se pertencer.
Mas lembre-se, nem tudo que parece é, e às vezes os monstros não
estão escondidos nas sombras, eles caminham entre nós.
PRÓLOGO

Aos vinte anos...


Olho em volta e a imagem é a de sempre, eu e meus irmãos sendo
treinados incansavelmente para conseguirmos atingir seu nível de
satisfação. Bratslav arrancou nacos de carne dos nossos corpos por toda
nossa vida, mas meu corpo, esse ele triturou. Minha mandíbula está tão
travada que já ouvi um estalo, com toda maldita certeza um dos meus
dentes havia trincado. Dusham como sempre não hesita em explodir em
fúria e isso deixa o desgraçado do Bratslav excitado, ele gosta quando nos
vê derramar sangue, meu desejo é que em breve o dele seja aquele que irá
escorrer banhando o solo e matando tudo que tocar.
Dimitri continua domando[1], a vadia no começo acreditou que teria
chance com ele, mas sorrio ao ver seu pescoço se quebrar com o
movimento que ele faz. Darko me olha como sempre analisando, sinto seu
ódio chegar em ondas até mim, meu irmão se odeia, e não seria por menos,
de nós quatro ele é o único que tem os olhos da cor dos do demônio à nossa
frente.
O desgraçado é padrão: loiro, alto, olhos azuis, segundo ele um anjo.
Cuspo no chão com esse pensamento, tudo continua acontecendo e eu me
mantenho a margem, hoje irei lhe mostrar que sua mão não irá tocar meu
corpo novamente, nunca mais. Um a um vejo meus irmãos saírem da sala
após finalizarem seus treinamentos, eu continuo encostado na mesma
parede desde que cheguei, meu pau ficou duro como uma rocha ao ouvir os
gritos e pedidos de socorro, mas estou ainda mais excitado com o que está
por vir.
— Damian! — Sua voz repugnante chama a minha atenção. — Sua
joia[2] o aguarda, seus irmãos já fizeram o trabalho deles, mas você está aí
como uma estátua, parado e inútil.
Olho para a mulher jogada no canto, nua, machucada e sangrando,
sua imagem me excita, não nego, não como imagina, gosto de ver o
sofrimento, a dor, a angústia e o medo no olhar das pessoas, mas não irei
tocá-la, não hoje, não dessa vez, não da forma com que ele deseja. Hoje
tomo em minhas mãos o meu destino, nunca mais serei como um escravo
em suas mãos, eu sou livre dentro do meu próprio mundo.
— Não farei.
Vamos, pai, me desafie, penso alucinado.
— Como? — Seu olhar é assassino.
— Isso que ouviu, ou depois de velho ficou surdo?
Ele caminha em minha direção e quando sua mão levanta para me
tocar, seguro seu punho girando-o com força, tirando uma faca da bota e
colando-a em sua garganta.
— Hoje vou te contar um segredo. — Seus olhos estão fixos nos
meus, seu corpo está sendo prensado contra a parede onde estava. — De
hoje em diante não ouse levantar sua mão asquerosa para mim, nunca mais
irá me tocar, os estupros encerraram, nem mais um pedaço de carne meu
será arrancado, porque ouça bem o que vou te falar, Bratslav, posso não te
matar como gostaria, mas com toda certeza enxerga em mim o demônio que
criou. — Ele engole seco minhas palavras. — Serei eu a domar as joias
masculinas, eu, seu filho viado que jamais será o homem que deseja, porque
eu gosto de foder rabos quentes e apertados.
— Você me dá nojo. — Seu olho azul me causa asco, sua voz me dá
raiva.
— Goste do que te dou, porque meu desejo é esquartejá-lo depois de
foder seu rabo imundo com um bastão de baseball. Mantenha seus olhos
abertos enquanto dorme, fui muito bem treinado por você.
Continuamos a nos olhar, seu medo pode ser sentido e visto em suas
íris, acabo de assinar minha pena de morte, mas para me matar ele precisa
conseguir me pegar, ninguém doma como nós, e perder um dos seus Anjos
preciosos o desfalcaria, com certeza o Sinistro[3] não irá permitir, mas isso
não significa que não vou sofrer uma retaliação, algo pelo qual vou esperar
ansioso.
CAPÍTULO 1

Quatorze anos depois...


A minha vida é como uma ciranda de demônios, sou aquele que toca
a música e todos dançam, sempre acreditei que meu fim seria como o meu
começo, no inferno, até que ele chegou. Sim, eu o comprei e preciso
confessar, esse foi o meu melhor investimento.
CAPÍTULO 2

Estou caminhando dentro da sala de espera, preciso sair logo daqui e


ir escolher quem vou usar e libertar meus demônios que rugem e arranham
com suas garras nas rochas duras em que construí suas prisões. Minha
mente é um fervilhar macabro que costuma deixar rastro de sangue por
onde passa, só se aquieta quando estou trabalhando na doma de alguma joia
e por não serem meus para brincar acaba sendo um trabalho monótono,
porém muito sério. Sou responsável no que diz respeito à máfia e nunca,
nunca falho quando o assunto são as domas.
Quer saber, para mim já deu, todos sabem que me controlar não é
uma opção e se atravessarem meu caminho correm o risco de ter suas
cabeças arrancadas pelas mãos do demônio. Preciso esquecer o que aquele
desgraçado fez há dias, eu vacilei e ele conseguiu me localizar em um dos
buracos em que me enfiei para foder algum rabo que não me recordo, e
colocou suas mãos imundas em mim usando aquela cadela para me tocar e
isso não acontecia desde que me libertei o fazendo me temer, só em me
lembrar quero assassinar o maldito, talvez tenha descontado minha fúria em
um ou cinco escravos.
— Saindo? — Dimitri, meu irmão, me questiona assim que me
direciono a porta.
— Vou encontrar minha diversão.
— Não deixe rastros, Damian, não quero ser aquele que limpa a sua
bagunça. — Seu tom de ameaça não me afeta.
— Nada que não consiga contornar, Dimi. — Pisco, o chamar pelo
apelido ridículo que odeia o faz explodir como sempre.
— Cinco corpos neste mês! — Seu copo de bebida explode no vidro
de observação.
— Seis, se continuar me ameaçando.
— Está me desafiando?
— Sim, o que vai fazer a respeito?
— Calma. — A voz de Darko freia seu impulso de voar sobre mim.
— Já que não fará nada, vou foder um rabo quente e apertado —
informo. — E acredito que estejam aqui pelo mesmo motivo, já que
aguardam ansiosos pelas novas aquisições da casa.
— Eles nos recebem aqui por saberem quem somos — Dimitri
rebate.
— E porque poderíamos facilmente destruir todo esse antro nos
subterrâneos de Belgrado[4], sabem bem quem controla o tráfico humano e
se não fosse apenas para alimentar os demônios em homens como nós, já o
teríamos fechado.
Antes de sair ainda ouço seus rosnados e Darko tentando impedi-lo
de me seguir.
Preciso focar apenas no meu alvo, hoje necessito me enterrar em um
buraco quente ou juro que os corpos irão continuar se espalhando por aí. O
pulsar do meu sangue bate em meus ouvidos, sinto asco das minhas
memórias, preciso resolver isso o quanto antes.
Desço as escadas indo ainda mais para o fundo do subterrâneo, os
soldados me conhecem, sabem bem o que sou capaz de fazer se caso
tentarem me impedir.
— Abra! — ordeno e mesmo temendo morrer por me desobedecer
ou morrer por fazer o que mando, não hesita em me dar passagem.
Começo a caminhar pelos aquários incrustados nas rochas, grandes
vitrines que me mostra cada um dos escravos que posso alugar por uma
hora ou por vários dias. Caso deseje ceifar suas vidas o preço é um pouco
maior, e não, dinheiro não compra isso aqui, favores sim.
— Anjo do Caos. — Klinger o homem responsável por toda essa
estrutura se aproxima de mim. — Veio atrás de mais uma diversão? — Seu
arquear de sobrancelha me avisa o quanto está se divertindo pelos corpos
que estou amontoando, enquanto isso minha dívida de honra com ele
apenas cresce.
— Problemas? — indago caminhando, observando cada corpo
precioso e deliciosamente quente que vejo, alguns deles seduzem, se
oferecem enquanto passo, mesmo que em seus rostos o pavor esteja
estampado.
As luzes seguem se acendendo enquanto caminho e nada do que
vejo me chama atenção, é tudo mais do mesmo.
— Nenhum, na verdade estou muito feliz com os negócios, tem sido
dias prósperos. — Segue ao meu lado, olhando com orgulho cada um dos
seus escravos. — Nada que te agrade até agora?
— Não.
Ficamos em silêncio enquanto apenas nossos passos e meu olhar
observador continuam, quando ouço uma movimentação, ao me virar vejo
seus homens jogando um escravo no aquário.
— O que ele faz aqui? — Klinger questiona.
— Estamos apenas abastecendo os aquários, senhor — o soldado
responde, mas meu olhar já está preso no belo exemplar, mais ou menos
1,75 de altura, corpo bem definido, pelos aparados, algumas tatuagens
intrigantes, barba serrada e o que me chama mais atenção, ele chora.
— Não viu a marca dele, seu idiota? Esse escravo vai para o leilão
— Klinger brada furioso e isso liga meu alerta.
— Eu o quero! — Bato a mão no vidro fazendo meu alvo paralisar,
ele nem mesmo pisca, seu olhar vermelho e suas lágrimas incontidas
causam o frenesi em mim.
— Não, ele é peça do leilão. — Todas as peças do leilão são os
escravos intocados, virgens, homens e mulheres que foram de alguma forma
estudados por meses para serem coletados e vendidos pelo maior valor.
— Não mais, traga-o para mim. — Começo a me irritar com ele por
tentar se colocar entre mim e meu objeto de desejo.
— Não!
— Vai me negar algo, Klinger? — Tento controlar minhas palavras,
mas sua negativa faz borbulhar o ódio em mim.
— Recue, tem comigo cinco fichas de favores, Anjo do Caos. —
Quando ouço isso dou um passo para trás.
Malditos escravos que matei, meu ódio está quase me fazendo
perder o controle, eu quero enfiar as fichas de favor no seu rabo.
— Acaba de usar as cinco para se manter vivo. — Inverto a jogada.
— Não funciona assim, Damian, sabe muito bem. — Num
movimento o imprenso contra a parede de vidro e lhe mostro quem tem o
poder nas mãos.
— Agora funciona. — Colo minha faca em seu pescoço. — Por
cinco vezes irá recorrer as fichas, só que elas irão acabar, então quando isso
ocorrer cortarei sua garganta e pegarei o escravo — digo sendo bem
didático para que entenda, enquanto seu olhar vai de mim para o brilho da
lâmina, e inverto essa situação negociando. — Ou você aceita eliminar meu
débito enquanto te poupo a vida e eu recuo indo até o leilão de amanhã, ou
pode morrer aqui e agora, juro que o próximo responsável por esse buraco
me enviará um intocado a cada nova carga. — Precisava eliminar essas
malditas fichas, odeio ficar preso a cordas invisíveis.
— Feito. — Retiro a faca do seu pescoço assim que concordamos,
ele limpa a pele que com certeza arde já que minha lâmina é sempre muito
afiada.
— Nos vemos amanhã no salão de lotes — digo arrumando minha
postura, olhando mais uma vez para o aquário, ele não está mais lá, mas vou
adorar ter uma joia só minha, um ratinho para que eu possa me divertir.
Caminho em direção à saída, com certeza preciso providenciar tudo,
já que meus planos são interessantes, mas tudo precisa ser calculado com
muita presteza, se o Sinistro descobre que um de nós quatro reivindicou
uma joia para si, todos nós pagaremos pela insubordinação.
— Aonde está indo? — A voz de Darko me alcança.
— Para casa — falo entre dentes sem nem ao menos encará-lo.
— Saindo de mãos vazias? — Neste momento travo meus passos,
virando-me para ele, com a mesma agilidade seguro seu colarinho e o jogo
contra a parede.
— Escute bem o que vou te falar, irmãozinho. — Ele não está
surpreso com o que fiz, com toda certeza já imaginava que romper a linha
tênue poderia lhe fazer sangrar, esse é o problema conosco, não temos
medo. — Nós não somos próximos, não seremos confidentes, somos
assassinos e apenas caminhamos juntos por sermos os únicos demônios que
fazem exatamente o que nós fazemos. O sangue jamais será o motivo para
uma proximidade, não tomaremos café da tarde na mesma mesa, não iremos
nos reunir em frente à lareira para tomar uma bebida quente em dias frios
enquanto compartilhamos histórias, então aproveite e repasse a informação
a Dimitri, ele não tem poder sobre mim, muito menos sobre minhas
atitudes, eu quero que vocês se reúnam e sigam juntos para o inferno.
— Tão trovejante, Anjo do Caos, sinto tudo isso que disse e desejo o
mesmo, porém, existe uma ligação entre nós, Dimitri deseja apenas que
sejamos discretos.
— E quem o intitulou líder de alguma coisa? Por que não fazem
como Dusham e desaparecem? Podem apenas aparecer quando a Triglav
necessitar dos seus assassinos em alguma incursão — falo soltando-o.
— Para quem tem controle sobre tudo, um rastro de corpos não é o
que diríamos ser algo exemplar vindo de uma pessoa tão poderosa quanto
você.
— Talvez essa seja minha intenção, mandar um recado para alguém.
— Ou talvez seja apenas incontido demais e tenha explodido por
algo que ainda não sei, mas te garanto que vou descobrir.
— Enfie seu nariz onde lhe é pertinente, não seja como todo maldito
irmão mais novo, intrometido.
— O que sabe sobre irmãos mais novos? — Olho-o neste momento,
até mesmo encará-lo me causa fúria, porque ele é a imagem de Bratslav. —
Hein? Responda! Sempre excluído, deixado de lado, acha que não sei os
motivos de me odiarem? Acredite em mim, eu também me odeio por eles.
Vejo-o colocar o capuz na cabeça e desaparecer, nós nunca fomos
unidos, não somos dados a sentimentos, não podíamos nos ajudar quando
estávamos machucados, não interferíamos quando estávamos sendo
espancados, aprendemos que isso nos trazia castigo dobrado, após alguns
ossos quebrados por nos metermos onde não éramos chamados.
Decido me livrar desses pensamentos, saindo do buraco onde estou
direto para minha casa.
CAPÍTULO 3

Ofegante, me encontro completamente perdido, estou rodando há


duas horas desde que entrei no táxi, simplesmente tudo se apagou, sei que
tenho um pano preto na minha cabeça, só posso estar no porta-malas de um
carro, já que estou deitado com mãos e pés amarrados, esse lapso de
memória entre aquele momento e agora com toda certeza estava apagado.
Tento não entrar em pânico, já passei por isso quando trabalhei
cobrindo os atentados em Paris[5], porém em outra situação, o grupo
terrorista que assumiu os atentados só aceitava conversar com a equipe
jornalística se fossemos transportados segundo suas exigências, e claro por
um furo de reportagem aceitamos, mas agora, agora é outro momento. Vim
assumir o cargo de fotógrafo em um programa animal, outro universo, com
vinte e três anos havia passado tempo demais em zonas de tensão, logo
renunciei a tudo pela tranquilidade de um trabalho mais leve.
Imaginar que possa estar sendo levado para um lugar de onde não
tenha condições de sair faz com que eu repense minha vida, mesmo
apavorado. Nunca tive relacionamentos, sempre estudando e trabalhando
para me manter, depois de formado passei dois anos trabalhando cobrindo o
caos no mundo, e quando depois de um ataque de pânico em meio à
cobertura dos ataques que estão acontecendo pela Europa, decidi aceitar
algo tranquilo e vejam bem onde vim parar. Mesmo sem saber para onde
vou com certeza boa coisa não deve ser.
Deveria ter aproveitado todas as noitadas para as quais havia sido
convidado, ido para cama com cada homem lindo que me abordou, mas
não, decidi ser alguém que acredita no amor, vou morrer sem nunca ter
amado e virgem.
Sinto que o carro para em meio aos meus devaneios.
— Vamos — fala em sérvio. Logo um braço me puxa com força
retirando-me de forma nada educada do carro, após ter meus pés
desamarrados.
— Vai com calma, porra! — respondo no mesmo idioma já que sou
fluente, quando meus pés batem no chão.
Não sou um homem musculoso, mas não sou pequeno, tenho 1,80
de altura, sempre malhei, mas neste momento esse cara parece ser muito
maior que eu. Sou arrastado, ouço o barulho de portas se abrirem enquanto
sou levado sem enxergar muita coisa.
— Escadas. — Sou informado quando meu pé segue para o primeiro
degrau e com certeza se não estivesse sendo segurado rolaria escada abaixo.
Descemos mais alguns lances até que sinto um calor diferente, como
se o local fosse abafado. Continuamos andando até que sou jogado, caindo
sobre o que me parece ser um sofá.
— Esse é o último — informa enquanto ouço alguns murmúrios.
— Pode sair. — A ordem vem da minha diagonal, quando
novamente a porta se fecha e os murmúrios continuam, como choramingos,
logo descubro que tem cinco de nós assim que o capuz é retirado. — Vocês
foram selecionados para servir, mas não servir a quaisquer pessoas, servirão
a clientes vips e especiais. — O cara que fala isso usa um terno preto e seu
olhar é morto como o olhar de um tubarão.
Ele nos marca com um tipo de carimbo no ombro, pelo que posso
ver é um selo, mas não consigo saber do que se trata.
Ninguém diz nada, estamos todos amordaçados, com toda certeza
devo estar dormindo na poltrona do avião, isso não pode estar acontecendo.
Continuo tentando pensar friamente, mas o choro dos outros me angustia.
— Amanhã irá acontecer um leilão e seus novos donos os levarão.
— Meu coração bate forte no peito com o que diz. — Não tentem fugir, é
impossível. Não tentem lutar, é impossível, e vou odiar ter que colocá-los à
venda com os rostos machucados, isso pode desvalorizar o produto.
Cessando sua fala ele vai até a porta e chama seus funcionários,
cada um de nós é arrastado de lá, seguindo por corredores amarelados e
levados a vestiários. Ao entrarmos somos soltos e nos tiram a mordaça, não
temos condições de fazer nada, todos estão armados e com cara de poucos
amigos.
— Vou matar cada um de vocês — um dos homens presos junto
comigo ameaça.
O sorriso de escárnio aparece em suas faces.
— Tirem suas roupas e fiquem apenas de cueca — diz não dando a
mínima para a ameaça.
Tentando absorver o ambiente percebo que não tem janelas e a única
saída é exatamente por onde entramos. Começamos a nos despir, meu ódio
está gritando, com toda certeza quando a ficha cair meu corpo inteiro vai
doer. Estava retirando a camisa quando um dos homens que foram
sequestrados junto comigo parte para o ataque, mas antes que
conseguíssemos fazer algo a cabeça dele explode com um tiro certeiro no
meio da testa.
— Mais alguém querendo bancar o herói? — Paralisados, nos
mantemos estáticos enquanto seu olhar furioso passa por nós.
— Colw, isso vai ser uma merda das grandes, Klinger vai nos
esfolar.
— Cala a boca, Alixy. — O tal Colw está muito furioso agora. —
Se mexam!
Seu grito faz com que todos nós nos movimentemos ficando
conforme ele nos disse, logo começamos a sair e somos arrastados pelos
corredores.
— Damian está na observação — um dos homens fala e o tal Cowl
sorri e um burburinho se instala entre os soldados, é como se tivessem
soltado um tubarão em um aquário cheio de peixes e todos precisassem
lutar pelas suas vidas.
— Você não, você vem por aqui — o tal Colw fala com uma voz
que me deixa em estado de alerta.
— Por que estou sendo separado? — Ouso perguntar.
— Porque quero que alguém te veja, os últimos não foram bem
aproveitados.
— O quê?
Pânico se instala dentro de mim enquanto caminho.
Logo paramos em frente a uma porta que se abre em um barulho
ensurdecedor, assim que ela abre rangendo, entro em um lugar
completamente branco, como uma cela, porém com um grande paredão de
vidro.
— Por que estou aqui? — indago curioso, mas parece que minha
adrenalina está abaixando e o medo toma conta de mim.
— Espero que o demônio te encontre. — Sussurrando em meu
ouvido, sua fala me causa um gelo na espinha.
O choro contido até agora cai e foda-se essa ideia de que homem
não chora, quando uma pancada no vidro me faz pular e paralisar na mesma
hora. Não consigo ouvir o que é dito, mas eles parecem estar mostrando
quem tem mais poder, porém o olhar do homem está cravado em mim, se
estava com medo até agora, neste momento apenas anseio pela morte. É
como se um animal feroz tivesse acabado de encontrar sua presa sangrando
e deseja se alimentar.
Vejo-o pegar uma faca encostando-a na garganta do outro homem,
ele diz muita coisa e seu olhar vai de mim para o seu alvo, o tempo parece
estar em suspenso. Vejo que o soldado que se aproximou antes agora se
afasta, e logo sou retirado do lugar.
— Vamos, amanhã seu dia será muito agitado, e confie em mim,
pelo olhar que deu, o Anjo do Caos amou o desafio.
Sou arrastado da mesma forma como vim, entro em um tipo de
quarto com cinco camas que apenas três estão sendo usadas. Com uma arma
apontada para minha cabeça sou forçado a caminhar até a cama indicada,
sinto uma picada em meu braço então tudo se torna escuridão.

Acordo sem nenhuma condição de abrir meus olhos, meu corpo


inteiro está paralisado, ouço apenas vozes que parecem estar bem longe de
mim.
— Acordou, príncipe? — A voz de Colw invade meus ouvidos e
sinto uma picada no braço, só que dessa vez o líquido queima. — Em dois
minutos vai se sentir ótimo. — Segura meu rosto com força. — Levante-se
e fique alerta, em alguns minutos voltaremos para buscá-los.
Como se meu sistema acabasse de ser ligado, começo a ficar
desperto e como disse, em alerta.
— O que será que vai acontecer? — um dos homens que chegou
junto comigo pergunta para o nada.
— Seremos vendidos a demônios — respondo.
— Somos homens adultos e fortes, o menor aqui sou eu, e tenho
1,75 de altura, podemos lutar.
— E ganhar um tiro na cabeça? Não, obrigado. — Estou incrédulo,
só podem estar loucos. — Acredito que teremos mais chances de nos livrar
disso quando estivermos em posse dos nossos compradores, teremos que
lidar apenas com um deles, e não com vários como é aqui — digo
caminhando no pequeno espaço entre uma cama e outra.
— Parece tranquilo demais, como se desejasse tudo que está
acontecendo até aqui — um deles fala comigo e com toda certeza minha
raiva agora é das grandes.
— Sim, tem razão, desejei ser levado, humilhado e descobrir que a
minha nova oportunidade de emprego nunca existiu — rebato. — Porque é
muito divertido ansiar por ser comprado pelo demônio.
Ficamos nos encarando, sou maior que ele uns centímetros, posso
contemplar a sua fúria, mas a minha meta no momento é sair vivo desse
inferno. A porta é aberta nos assustando.
— Parece que estão bem mais dispostos, gosto de como se parecem
agora. Levem-nos. — Assim que sua ordem é dada seus homens entram no
quarto nos algemando e nos direcionando para fora.
Seguimos pelos corredores, não faço ideia se é dia ou noite e muito
menos o que vamos encontrar, poucos minutos depois sendo arrastados
chegamos ao que parece ser uma antessala.
— Fiquem aqui! — ordena. — Você vem comigo. — Puxando um
dos homens pelas algemas. — Mantenham todos eles aqui, deixem o
italiano para o final, o Anjo do Caos está inquieto e Klinger está louco para
irritá-lo um pouco mais.
Depois disso ficamos em silêncio e a expectativa do que está por vir
me consome.
CAPÍTULO 4

Por algum motivo desconhecido saí do subterrâneo de mãos vazias,


mas o desejo de sangue não diminui, ao contrário, ele só aumentou. Passei o
dia como um maldito animal enjaulado, inquieto e ansiando a cabeça de
Klinger numa bandeja de prata.
Termino de dar um nó em minha gravata, olho-me no espelho e
visualizo como estou, são quase 23:00hs, pego o convite do leilão e saio em
direção à garagem quando meu telefone toca.
— Damian.
— Stefan precisa que vá até a Grécia.
— Peça a outro, no momento estou ocupado.
— Damian, seu chefe ordenou que busque as novas joias.
— Estou te dizendo que não vou.
— Que porra está acontecendo com você?
— Não te interessa, mantenha-se focado no rabo de Stefan e deixe o
meu em paz, acho que Dimitri pode fazer isso, já que adora atravessar o
caminho dos outros.
— O que está acontecendo, Damian? Obedeça a ordem e não encha
meu saco.
— Dusham, você ficou surdo ou está com sérias dificuldades de
compreensão? EU. NÃO. VOU. Escutou?
— Damian... — Encerro a ligação antes mesmo que consiga rebater.
Entro no meu carro seguindo em direção aquele antro dos infernos,
ou saio de lá com meu produto ou mato todos os malditos que tentarem me
impedir.
Estaciono no subterrâneo e percebo que tudo está muito
movimentado por aqui. Desço do carro abotoando meu terno preto,
caminhando em direção à entrada.
— Damian, o que faz o Anjo do Caos descer do pedestal e vir a um
leilão? — Olho para Nikkolay Pormov de cima a baixo, sua sorte é que aqui
é local proibido, não podemos derramar sangue em solo neutro, ao menos
sangue dos membros da máfia.
— A pergunta é: o que faz uma barata imunda como você acreditar
que pode me dirigir a palavra? Acredita mesmo que solo neutro me
impediria de ir até o esgoto onde mora e meter uma bala no meio da sua
testa?
— Como sempre muito cortês. — Seu sorriso cínico me causa fúria.
— Cuidado, posso te enviar para o buraco, posso começar
explodindo aqueles pardieiros que chama de boate, iria adorar vê-las
queimar.
Nikkolay é um rato imundo que rasteja por aí como uma grande
estrela da prostituição, mas ainda está de pé por ordem do Sinistro, com
certeza o maldito chefe da Máfia Sérvia Triglav tem o rabo preso com esse
porco.
— Konstantin deveria manter os cães dele na coleira. — Sua voz me
faz querer matá-lo, mas sua fala apenas concretiza o desejo, então voo em
seu pescoço travando seu corpo contra a parede, meu polegar pressiona seu
pomo de adão que com apenas um aperto faria um belo estrago.
— Konstantin živadinović deveria andar com pessoas melhores que
você.
— Está me ameaçando, Anjo?
— Nikkolay, você já está morto, só não percebeu isso.
Vejo um relance de entendimento brilhar em seus olhos, quando
uma mão trava meu pulso.
— Solte-o! — Dimitri sempre atrapalhando meus planos. — Sabe
que não pode trazer a morte de um membro para solo neutro, assinaria sua
sentença de morte.
Isso me frustra, posso matar qualquer pessoa aqui, menos os
malditos membros.
— Ouça a voz da razão, Anjo. — O desdém de Nikkolay e seu
sorriso vitorioso me causam fúria.
— Durma com os olhos abertos, costumo caminhar pelas sombras e
ser muito silencioso, nos vemos em breve. — Solto seu pescoço e o vejo
arrumar o terno, saindo sem nem ao menos olhar para trás.
Olho para o lado e vejo meus irmãos, eles não vêm aqui, assim
como eu.
— O que fazem aqui? — sondo entrando no local.
— Soubemos que viria, Dusham deseja descobrir o motivo de negar
uma ordem direta de Stefan.
— Primeiro: Stefan não é meu chefe, nem minha responsabilidade
até porque ainda não assumiu, apesar de ter minha lealdade. Segundo: tem
algo que quero e só saio daqui com isso.
— Damian, Klinger me disse sobre o escravo, não podemos ter
joias, sabe disso.
— Quero que as malditas regras vão à merda, aquele ratinho é meu
e ninguém irá atravessar meu caminho. — Darko sorri, é raro que façamos
isso, mas com certeza ele sabe a merda que estou me enfiando. — Ninguém
o toca antes de mim, se preciso for o alugo para Klinger, podemos ser
sócios.
Não espero pelas suas respostas, caminho pelo lugar me
direcionando as últimas poltronas, tem muito empresário aqui, sento-me
estalando meu pescoço e percebo meus irmãos analisando tudo encostados
na parede atrás de mim. O leilão começa e a cada novo produto apresentado
o burburinho aumenta, os lances são cada vez maiores, olho as horas, já
passa das duas da manhã e finalmente o último lance é dado, por quarenta
minutos ficaram disputando até que um deles desistiu.
— Agora nossa última peça da noite — o leiloeiro fala, e quando
olho para Klinger ele sorri.
Vejo finalmente meu objeto de desejo e perversão, apenas sua visão
faz meu pau pulsar, as imagens dele gritando e implorando para que eu pare
rodam na minha cabeça como cenas de um filme.
— Italiano, 23 anos, virgem, fala cinco idiomas, 1,80 de altura,
olhos castanhos escuros e dentes brancos.
As descrições me atiçam ainda mais, olho para trás e vejo Dimitri
arquear a sobrancelha.
— O lance inicial é de um milhão e meio de dólares. — Posso ver o
pavor em seu olhar, isso me causa um frenesi ainda maior.
— Dois! — grito levantando a placa.
— Quem dá mais? Eu ouvi dois e meio?
— Aqui. — Um dos malditos empresários atravessa o meu caminho.
— Três! — outro grita.
— Quem dá mais? Faz tempo que não temos italianos tão bonitos
assim, com certeza são dignos da fama que tem.
— Cinco! — outro grita.
— Seis! — respondo começando a me irritar.
Neste momento meus irmãos já se encontram ao meu lado.
— Isso é uma grande merda — Dimitri fala.
— Ainda bem que os membros recuaram — Darko pontua.
— Não acho que um exemplar deste valha apenas seis milhões. —
O leiloeiro continua.
— Dez milhões! — o maldito grita.
— Doze! — O outro o encara para que recue.
— Quinze! — rebato.
— Damian! — Dimitri me repreende.
— Não se meta — rosno para ele.
— Isso está ficando muito interessante. — Posso sentir a
antecipação de Darko pelo que está por vir.
O ódio flui líquido e quente em minhas veias, enquanto os
desgraçados continuam disputando como cães raivosos o meu pedaço de
carne.
— Vinte milhões para o senhor de gravata vermelha. — O leiloeiro
está em polvorosa, quando o outro filho da puta rebate com vinte e um
milhões.
— Vinte e cinco! — grito furioso.
Posso ver todo o local se agitar, tiro minha arma do coldre com o
silenciador.
— Damian. — O rosnado de Dimitri não me incomoda.
— Vinte e seis! — o maldito empresário grita e me olha em desafio.
— Vinte sete milhões! — brado entre dentes e em um tom de
tamanha ameaça fazendo com que todos que me conhecem se encolham um
pouco em seu lugar.
Foi apenas o ponto de ignição para o inferno explodir, o primeiro
tiro que dou acerta entre os seus olhos e o segundo na lateral da cabeça, os
dois empresários caem como sacos de estopa no chão.
— Mais alguém a fim de disputar o leilão contra mim? — grito em
questionamento, ninguém ousa me responder. — Ótimo, o ratinho é meu,
tragam ele até aqui.
Dois soldados que riem da situação o trazem, ele reluta tentando não
se aproximar.
— Vamos! — Seguro em seu braço olhando para Dimitri que apenas
concorda com a cabeça.
Com toda certeza ele irá efetuar o pagamento da minha mais nova
aquisição, enquanto eu, no momento, decido apenas me divertir.
Caminho com ele até o meu carro.
— Entre.
— Você é maluco? Matou aquelas pessoas. — Sua voz rouca eriça
meus pelos, a pronúncia do meu idioma por ele sai a perfeição, sem
sotaques.
— Sente-se. — Forço-o para dentro, fechando a porta assim que se
senta.
— Quem é você? — Sou questionado enquanto me sento no banco
do motorista, seu olhar apavorado me deixa excitado.
— Sou seu dono, agora você me pertence e preciso confessar, vou
amar domar você.
— O quê? — Seu olhar assustado e corpo quase se fundindo à porta
do carro me animam.
— Exatamente isso que ouviu, Ratinho, sua vida agora está nas
minhas mãos, se não estiver a fim de terminar como aqueles dois idiotas é
muito bom que apenas faça o que eu mandar.
Saio do estacionamento cantando pneus, nossa próxima parada é na
minha casa, e lá com toda certeza terei uma noite regada a prazer e muita
dor.
CAPÍTULO 5

Estamos próximos à minha casa quando percebo sua mão tentando


abrir a porta, sorrio de lado, com toda certeza ele pularia, mas não sou tão
idiota assim.
— Não gaste sua energia dessa forma — aviso. — Poderia ter te
colocado no porta-malas, mas não fiz, estou te tratando como nunca tratei
ninguém, acho que milhões de dólares me dão o direito de fazer com você o
que desejo, mas não vou começar sendo muito duro, quero que viva mais
que um ano.
— Por favor, me deixa ir embora, eu só vim a trabalho.
Atravesso os portões da minha casa sem dizer nada, estacionando
em frente à porta.
— Não tente fugir, não pode ver, mas existem soldados caminhando
pelas sombras, um tiro nas pernas não irá matá-lo, mas com certeza fará um
belo estrago. — Ele engole seco e posso sentir seu tremor.
Desço do carro dando a volta, abrindo sua porta para que saia.
— Seja bem-vindo à sua nova morada. — Puxo-o do carro já que
ele decidiu ficar parado, sentado como uma maldita estátua. — Quando o
vi pela primeira vez acreditei que fosse menor, mas gosto de saber que tem
quase a minha altura.
— Você é doente.
— Ratinho, eu sou muitas coisas, doente é apenas um elogio da sua
parte. — Puxo-o para perto, gosto de como o medo em seu olhar se mistura
a raiva que borbulha na superfície, mas existe algo mais, algo que não sei
decifrar. Ele é alto, seu corpo é quente mesmo estando apenas de cueca, o
que me deixa com uma vontade louca de marcá-lo. Uma das minhas mãos
segura seu braço, a outra está em suas costas, bem na lombar, odeio que me
toquem, mas gosto muito de sentir minhas mãos sobre peles quentes. —
Sou um sádico, me alimento do medo em seus olhos, me excito quando me
desafiam, com certeza já imaginou monstros debaixo da sua cama ou no
armário mais próximo. Sim, sou eu, sempre estive a espreita e agora que me
revelei irá aprender como é meu jogo macabro de prazer.
— Nunca irei facilitar sua vida, vou lutar até o fim nem que eu
morra tentando. — O desafio me deixa ensandecido.
— Não seja tão perfeito, estou quase gozando. — Esfrego meu pau
contra seu corpo, seguro seu rosto com força, puxando-o para o lado, desejo
ter acesso ao seu pescoço, quando tenho, deslizo minha língua quente por
ele, sentindo o gosto do seu medo enquanto atiço meus demônios. — Agora
vamos, não desejo que morra aqui fora no frio.
Arrasto-o abrindo a porta com a senha, ele reluta, mas tem medo,
com certeza se recorda do que fiz no leilão. Atravessamos a sala e subimos
as escadas. Tenho cinco suítes lá em cima, uma delas vai servir direitinho
ao meu propósito. Assim que abro a porta o quarto se apresenta e ele
estanca no lugar.
— Esse é o seu lugar. — O quarto completamente preto, com
lençóis vermelhos na cama, uma janela que não se abre, um closet apenas
com toalhas e roupões. — Tem produtos de higiene no banheiro e nos
armários, espero que fique à vontade.
Então faz o que previ, tenta me atacar. Desvio do seu soco batendo
com a base da mão em seu peito.
— Recue! — grito porque estou começando a me irritar.
— Vou te matar. — Está furioso, com certeza sua ficha acabou de
cair e sorrio de suas palavras.
— Ratinho, precisa entender uma coisa, eu já estou morto.
Parto em sua direção e ele desvia, com certeza sabe lutar, mas não
parece ser cruel. Chuto sua coxa o fazendo gritar, essa interação está me
deixando eufórico, ele tem espírito forte, mesmo com a pancada que recebe
não desiste, deixo com que continue, logo desvio dos seus socos recuando
alguns passos, então avanço sobre ele novamente fazendo-o cair no chão.
— Entenda, seu lugar é aqui, juro que minha vontade agora é de te
foder com força, castigando-o por ser um insolente, mas vou deixá-lo se
consumir um pouco mais pelo que está por vir, e acredite em mim, não é
algo que vá amar logo de cara.
— Nunca irei desistir. — Ouço-o falar quando tropeço em algo
caindo um pouco antes da porta, é impossível não sorrir da sua persistência.
Ele tenta passar por mim, mas agora sou eu quem o impede, seguro
seu pé e ouço apenas o baque no chão.
— Haaaa! — Seu grito de dor me deixa excitado.
Puxo seu corpo para perto do meu, pairando meu corpo sobre o seu
obtendo o controle necessário.
— Me diga seu nome.
— O quê?
— Seu nome, agora! — Soco o chão próximo ao seu rosto.
— Tomasso Pionteri
— Não, de hoje em diante não se chama mais assim. — Estamos
muito próximos, meu corpo está entre suas pernas e caralho, eu poderia
muitas coisas agora, mas esse misto de pavor, medo e fúria me deixa muito
perdido. — De agora em diante se chamará Ícaro.
— Saia de cima de mim. — Pressiono seu pescoço com força para
que sua crista se quebre, já estou me cansando dos seus rompantes, suas
mãos agarram meu pulso, apenas seu toque me faz querer matá-lo, mas me
controlo travando minha mandíbula tão forte que posso quebrá-la.
— Nunca me toque — falo vendo tudo nublar, logo suas mãos me
soltam.
Ele ainda se debate furioso e minha paciência desaparece.
— Já chega! Olhe dentro dos meus olhos e entenda de uma vez por
todas: você me pertence. Eu te comprei e irei te usar como bem entender. —
Vejo-o ofegante, seu peito subindo e descendo. — Irá se chamar Ícaro e
assim vai atender quando te chamar, porque meu caro brinquedo é como o
verdadeiro Ícaro[6], está preso no meu labirinto sombrio, irá buscar a
liberdade e só a encontrará após a morte.
Solto-o me levantando, saindo do seu quarto e trancando a porta
atrás de mim. Atravesso o corredor direto para a minha suíte, tiro toda
minha roupa indo direto para o banho, a água fria que cai arrepia minha
pele, as lembranças do que aquele maldito fez povoam minha mente como
gatilhos que disparam dor a todo momento em minhas entranhas, quando
um grito de fúria rasga minha garganta ansiando por matá-lo.
— Haaaaaaaaaaaaaaaa! — a água caindo sobre meu corpo é como
se tentasse de forma impossível controlar o borbulhar do ódio em mim.
Saio do box sem me secar, caminhando molhado até a cama, não é a
primeira vez que durmo assim e nem será a última, cubro meu rosto com o
braço lutando contra as lembranças.
Não percebo o momento em que apago, mas sinto algo ardendo no
meu braço, assustado e ofegante tento me mexer, mas estou amarrado com
os braços e as pernas abertas, vejo três tiras largas atravessarem meu
abdômen, estou de volta ao inferno.
(...)
— Oi, Damian. — A voz do demônio ecoa pelo quarto e só então
percebo que ele está aqui.
— Bratslav, quando eu colocar minhas mãos em você... — Estou
transtornado, mas também estou imobilizado e com certeza de pau duro.
O desgraçado só pode ter administrado a maldita droga em mim.
— Não vai, como nunca foi, sou o pêndulo que mantém tudo isso em
equilíbrio, e agora chegamos a mais uma tentativa de te transformar em um
homem. — Minha respiração fica entrecortada, meu membro dói e a
maldita excitação me causa ânsia, com certeza ele vai iniciar o ciclo de
estupros. — Tragam a joia.
— Não! Se ela me tocar vou esquartejá-la e espalhar seus pedaços
por toda Belgrado.
— Hahahah! Ver o nojo e o desespero em suas palavras e atitudes
me anima, filho.
— Não sou seu filho!
— Vamos. — Ele a segura com força pelo braço jogando-a em cima
da cama.
— Não me toque sua cadela imunda! — grito furioso, mas é em vão.
Meu corpo inteiro anseia por orgasmos, sinto que meu pau pode se
partir a qualquer momento.
— Por favor, não me mate. — A mulher chora implorando enquanto
sobe em mim.
— Faça parecer delicioso, sua vadia imunda, ou juro que coloco
todos os meus homens para foderem você até a morte.
Fecho meus olhos enquanto ela se senta em mim, seus gemidos
misturados ao choro, no momento em que as risadas de Bratslav e seus
homens ecoam pelo quarto, penso em todo o ódio que ele incutiu em mim,
nas surras que rasgavam meu corpo e tiravam pedaços de pele e carne,
penso enquanto gozo por prazer e pelos gritos de dor. Lembro-me de como
é a sensação de ouvir os gritos deles que imploram para que pare, quando
explodo em um orgasmo, o primeiro de muitos naquela noite, eu gozava e
ela também, quando não fazia Bratslav a eletrocutava, eu sentia a dor dos
choques, e cada vez que acontecia gozava novamente, porque ela gritava
de dor e isso me excitava mais, mesmo tendo nojo do que ele fazia comigo,
mesmo odiando ele e a vadia que estava sendo obrigada a montar em mim.
Suas mãos estavam em minha barriga e eu só desejava decepá-las com
requintes de crueldade enquanto me banhava em seu sangue.
Não me recordo quanto tempo ficamos nisso, o maldito com certeza
me deu uma dose cavalar do estimulante, a última coisa que me recordo é
de ouvi-lo dizer que nos encontraríamos em breve, então tudo escureceu.
(***)

Abro meus olhos assustado num misto de desespero e ódio, foi um


maldito sonho, sonho não, uma lembrança exata do que aquele desgraçado
fez comigo há alguns dias.
Sento-me na cama esfregando meu rosto com as mãos, saindo nu até
a cozinha.
— Bom dia, senhor. — Uma funcionária me cumprimenta.
Não respondo, pego meu café caminhando até a sacada da sala,
observo os funcionários organizando a casa e alguns seguranças fazendo a
ronda, lembro-me do Ícaro, decido malhar antes de ir até ele.
CAPÍTULO 6

Passei a noite encolhido no canto do quarto, ouvi com nitidez seu


grito furioso, com certeza fui eu quem o deixou dessa forma, estou muito
morto, muito fodido.
— O que eu fiz da minha vida? Como vim parar aqui? — Esfrego
meus olhos.
Estou com fome e com sono, mas não consigo sair do lugar, porém a
claridade lá fora avisa que já amanheceu e que com certeza ele logo irá
aparecer. Tirando forças não sei de onde, pulo do chão e sigo para o
banheiro, tomo um banho quente e assim que finalizo me envolvo em um
roupão.
Volto para o quarto e tento abrir a porta, mas como imaginei está
fechada, sigo até a janela, a casa onde estamos é afastada, não tem vizinhos
próximos. Logo a porta se abre e ao me virar vejo um Damian nu abri-la,
enquanto uma funcionária que pouco parece se importar com o fato de ele
não estar usando roupas, deixa a comida e sai.
— Dormiu bem? — Suas palavras contêm algo que não consigo
desvendar.
— Sim — minto olhando para ele.
— Ratinho, não me decepcione. — Ele caminha em minha direção.
— Sinto o cheiro da mentira. — Seu nariz percorre meu pescoço, enquanto
começa a abrir meu roupão. — Não dormiu e tentou despertar do cansaço
com um banho.
— Descreve bem o que fiz, com certeza usa do mesmo artifício. —
O roupão cai sobre meus pés.
— Sim, dormir é estar vulnerável, me mantenho sempre alerta.
Seu olhar é como o pecado que vasculha meu corpo, ele me enxerga,
mas deseja muito mais do que demonstra.
— O que soube sobre você é que era um Anjo, o Anjo do Caos, não
me parece tão caótico quanto dizem.
— Não se atente ao que seus olhos vêem. — Ele está próximo,
posso ver as ondulações em seu corpo, como buracos cobertos de tinta
preta.
— O que quer de mim?
— Você.
— Não sou seu.
— Isso é o que você acredita, mas vou te dizer, eu te comprei, você
me pertence. — Sua mão sobe pelo meu abdômen enquanto meus olhos
estão fixos nos seus. — Existem duas formas de jogar esse jogo, uma é
comigo sendo um demônio, te violando, pegando a força enquanto grita e
implora para que pare, e a segunda é com você implorando para que eu te
pegue para que te use como desejo.
— Nunca irei implorar por um demônio como você. — Coloco
minha mão em seu peito para que não se aproxime.
Sua mão neste exato momento vai até minha garganta apertando
com força.
— Nunca me toque, nem mesmo quando estiver na cama com você,
ninguém tem permissão para isso. E mesmo que esteja adorando esse
joguinho de gato e rato, deixei um rastro de cinco corpos nas ruas de
Belgrado apenas por este motivo. Eu te garanto uma coisa, eles morreram
implorando pela morte, porque a dor que lhes causei quase os levou à
loucura. — O aperto em meu pescoço quase me deixa sem ar, então no
mesmo rompante em que o agarrou, o solta. — Não o quero vestido, andará
nu, assim como eu, sei que seu corpo deseja o meu, sei que anseia que eu
seja o demônio que demonstro, sei que busca por isso de alguma forma, e
seu corpo não nega. — Ele pega uma maçã na bandeja de café e aponta para
o meu pau. — Por sinal, você tem um ótimo material, agora coma.
Então percebo o que diz, meu membro está duro e maldição, não
posso ter me excitado com o medo que estava sentindo dele.
Com fome, sento-me na mesa começando a comer sob seu olhar
atento, ele continua comendo sua maçã escorado na porta, é perturbador na
mesma intensidade que é estranhamente diferente. Seu olhar é morto e frio,
parece alguém disposto a qualquer coisa pelo que deseja, e imagino que
neste momento eu seja o seu alvo.
Quando finalmente finalizo o café sua voz volta a quebrar o
silêncio.
— Venha, preciso te mostrar algo. — Com sua mão acena para a
porta que agora está aberta.
Faço o que ordena caminhando nu ao seu lado, a casa está cheia de
funcionários e nenhum deles parece se importar com o fato de estarmos
pelados. Atravessamos o saguão e logo entramos numa sala, ele liga uma
grande tv e fica olhando para o relógio quando minha foto aparece grande
na tela, justamente na rede de tv em que eu trabalharia, a matéria diz:
“Fotógrafo é encontrado morto em hotel que estava hospedado,
Tomasso Pionteri teve um mal súbito e morreu dormindo, segundo a polícia
o fotógrafo tinha problemas cardíacos e havia aceitado o emprego em
Belgrado para se afastar da loucura de seus últimos trabalhos. Os amigos
em Roma lamentam a morte de Tomasso e dizem que a fotografia acaba de
perder um grande nome.
Apesar de jovem, Tomasso cobriu grandes eventos e suas imagens
percorreram o mundo mostrando os horrores da guerra e dos atentados aos
quais acompanhou de perto nos últimos dois anos. Para todos da sua área
ele seria muito maior do que já era e chegaria a grandes conquistas, todos
lamentam o ocorrido. Sua família aguarda a chegada do seu corpo para
que possa ser sepultado.”
Estou tremendo quando a reportagem acaba, olhando para Damian
incrédulo e sem condições de emitir algum som.
— É isso, Tomasso acaba de morrer. — Seu sorriso é demoníaco,
demoníaco não, revela quem ele é, o próprio demônio. — Restando apenas
você Ícaro, não existe mais nada em sua vida além de mim, e posso
confessar, tudo está apenas começando.
— Você é o próprio demônio! — grito indo em sua direção.
— Não dê o próximo passo, se me tocar farei com você o que
costumo fazer com todos aqueles que domo, meus demônios anseiam por
um deslize. — Seu alerta me causa medo, seus olhos negros como sempre
mortos dizem bem que não está blefando.
— Você é um maldito sádico!
— Sua voz grossa dizendo isso para mim me dá um tesão do
caralho. — Posso confirmar isso porque vejo seu pau endurecer. — Mas,
Ratinho, nada vai se comparar ao sadismo quando eu estiver te causando
dor. — O frio percorre minha espinha.
— Por que me comprou? O que queria comigo? Eu vi seu olhar, vi
como ficou furioso porque não teve o que quis quando ordenou e não foi
obedecido.
— Verdade. — Sua mão neste momento vai para o seu membro
começando um vai e vem, seu olhar me come por completo, sua mente não
está em suas palavras, isso eu tenho certeza. — O fato de não te ter quando
eu desejei me enfureceu, mas olhe pelo lado bom, se é que existe um lado
assim na vida de pessoas como nós, foi por isso, exatamente por esse
motivo que está vivo, a fúria daquele momento passou.
— Durma com o olho aberto, Anjo do Caos, é assim que te chamam,
não é? No momento certo eu irei te matar.
— Hahahahaha! Seria apenas mais um tentando matar o que já está
morto, entre na fila e aguarde a sua vez. — Ele umedece seus lábios com a
língua, e digamos que a porra da visão é sexy.
Aperto minhas mãos em punhos para não permitir que meu corpo
siga por esse caminho, chacoalho minha mente para mudar meu foco.
— Me parece bem vivo.
— Está se excitando comigo? Enquanto me masturbo pensando que
seu rabo virgem me aperta, enquanto vou cada vez mais forte e mais fundo.
— Seus movimentos aumentam.
— Você é pervertido. — Dou um passo para trás quando o vejo se
aproximar da porta, apoiando uma de suas pernas no batente.
— Imagine, meu Ícaro, ele entrando e saindo de você. — Daqui
posso ver, ele tem vários piercings na parte de baixo do seu pau.
Todo seu corpo é tatuado, apenas seu membro que não, enquanto ele
se toca indo cada vez mais rápido, decido não focar nisso.
— Por que apenas seu pau não tem tatuagens?
— Ah, isso? De tudo que estou fazendo só prestou atenção nisso?
Imagine, Ícaro, imagine quando for você gemendo e pedindo por mais.
Ele é grande, cheio de piercings e veias, posso visualizar melhor
quando para de se tocar começando a se exibir, então conto cinco deles
brilhando, o vejo ofegante, não está diferente de mim.
— Sim, já que tem tatuagem por todos os lados, por que não aí?
— Meu trabalho, não posso tatuar e ficar sem fazer minhas domas, e
digamos que foi um inferno ficar algum tempo sem foder depois que
coloquei os piercings, mas para que agulhas toquem meu pau a tatuagem
deve ser apenas por um motivo muito nobre. — Sorri sacana.
— Você é doente!
— Conte uma novidade, Ratinho, você já me disse isso, não gosto
de pessoas repetitivas. — Ele morde os lábios e faço o mesmo, porque pelo
inferno, ele é quente e nunca me senti tão interessado em nada quanto na
visão que tenho agora. — Sabe qual é a minha vontade?
— Não — respondo tentando não parecer afetado.
— Ouvi-lo gozar, senti-lo pulsar. Como é, Ícaro? Conte, como se
sente me vendo fazer com a mão o que desejo que seja com você. — Meu
pau pulsa com suas palavras, seus movimentos aumentam. — Vamos, Ícaro,
use sua voz gostosa para me guiar.
— Não sinto nada, é a mesma coisa que olhar um pornô ruim.
— Sério? — Seu olhar vai direto para onde pulsa e dói, anseio por
me tocar, mas fazer isso é o mesmo que assinar minha sentença de morte.
— Então vou te contar como é para mim. — Seu polegar desliza
pela sua glande molhada. — Intenso, minha mão se aperta quase a ponto de
machucar, porque seu cuzinho virgem fará isso comigo. — Seus
movimentos aumentam e ele está com a fala acelerada, seus músculos se
contraem a cada batida forte que dá com sua mão. — Vou socar tão forte e
tão rápido em seu rabo quente. — Ele bate uma com uma mão e a outra
agora segura o batente, é a visão mais louca que já vi. — Quando meu gozo
melar minha mão e o prazer me consumir, vou me ajoelhar na sua frente e
resolver esse problema grande, grosso e duro que tem no meio das pernas.
— Não vai me tocar.
— Vou, e suas mãos terão a autorização de se apoiarem em meus
cabelos, porque isso é tudo que o manterá de pé quando eu tomar todo seu
leite.
— N-ão... — gaguejo.
Não saio do lugar porque estou paralisado com a visão, ele não me
olha, está apenas apoiado na porta com os olhos fechados enquanto seus
gemidos roucos arrepiam minha pele e sua promessa quase me faz bater os
joelhos no chão. Continuo sem me tocar, mas a visão é malditamente
fodida.
— Sim, meu Ícaro, rebola com mais vontade no meu pau, assim seus
gritos me atiçam, vou cortá-lo, surrá-lo, mordê-lo, pendurá-lo em ganchos
no teto, e o foder enquanto o sangue escorre pelas lesões que causarei em
você.
Apavoro-me com o que diz, mas ele não para por aí.
— Posso marcá-lo a ferro como meu, como gado, como se marca os
escravos que domo, seus pensamentos me pertencem e seu prazer será
liberado apenas por mim.
— Não — sussurro para ninguém.
— Ohh!! — Seu corpo sofre espasmos, parece que só consegue
chegar ao prazer causando dor ou neste caso imaginando me causar dor. No
momento em que o primeiro espasmo acontece, seu olhar se crava no meu e
ele diz exatamente o que deseja fazer comigo.
Ele me machucará e nada irá me livrar dele.
CAPÍTULO 7

Minha mente agora está nublada pela descarga de prazer que acabo
de receber, enquanto o primeiro jato voa longe, meu olhar está cravado ao
dele, seu pau pulsa contra seu abdômen. Imaginar meu corpo colado ao seu
me deixa em estado de alerta e meu corpo não descansa, meu membro ainda
está duro como uma rocha. Ícaro me olha com olhos assustados, um
pequeno ratinho indefeso que agora não sabe se corre ou se fica, o medo o
paralisa e o cheiro que sinto é de enlouquecer, é intenso, quente e sei que
tem funcionários olhando, mas não será a primeira vez que eles verão
minha perversão, todavia será a primeira vez que irão me contemplar de
joelhos.
Movido pelo carnal, quase animal, caminho até ele sem deixar de
encará-lo, no momento em que ficamos frente a frente, suas mãos
automaticamente vão para trás, ele sabe, sei que ele sabe.
— Agora, Ícaro, vou me ajoelhar na sua frente, engolir todo seu
comprimento, chuparei suas bolas e o farei gozar o levando completamente
até o fundo da minha garganta. — Sussurrar em seu ouvido o arrepia, sinto
quando solta o ar em busca de controle. — Se puder gritar eu agradeço,
caso não grite, não se preocupe, irei fazer com que isso aconteça.
— Não me toque. — Seu peito sobe e desce e a incerteza de suas
palavras me faz sorrir.
— Vamos brincar assim, depois que minha boca estiver em você se
disser não eu paro, agora se apenas ouvir seus gemidos é muito bom que
esteja gritando por mim.
— Não sabe aceitar um não.
— Meu Ícaro, não sou um homem de pedidos, se eu quero eu pego,
mas estranhamente com você estou sendo cortês, agora a escolha é sua.
Quer matar minha curiosidade ou deseja que tome a força o que me
pertence? Porque preciso te confessar, as domas são feitas com o pet se
debatendo, implorando que eu pare, eu os amarro, os chicoteio, os privo de
ar, limito seus movimentos por dias, é tão deliciosamente cruel e tão
completamente excitante.
— Demônio. — Ele ofega, sei que deseja que lhe cause tudo que
acabei de dizer.
— Gosta do que disse, não é? Imagine, Ratinho, a dor, o prazer, a
raiva, o caos convergindo em seu corpo e mente enquanto implora por mais.
— Minha mão neste momento segura seu pau que está duro como uma
rocha, assim como o meu.
Um grunhido escapa e não vem de mim, seus olhos se fecham ao
meu toque, colo nossos corpos, suas mãos se mantêm ainda nas costas,
mordo seu pescoço deixando a marca dos meus dentes, sinto o pulsar em
minha mão, continuo tocando, quando mordo seu mamilo e sua cabeça
pende para trás, seu corpo inteiro se arrepia, faço o mesmo com o outro
puxando-o com meus dentes.
Com minha mão sigo descendo pela sua barriga definida, ele não me
diz nada, mas seu corpo gosta do que sente. Ajoelho-me em sua frente,
engolindo seu pau antes que consiga pensar, o filho da puta tem um gosto
delicioso.
— Figlio di puttana[7]! — Xinga em italiano, sorrio porque acho
sexy a forma com que fala, apesar de achar sua pronúncia do meu idioma
perfeita. E como disse para fazê-lo, segura meus cabelos tentando não cair,
já que senti o solavanco do seu corpo assim que o engoli.
Seguro suas bolas, não sou delicado, sei quando um homem está
próximo do orgasmo, e ele ficou assim não só com o que viu, mas com o
que falei, e para testar minha teoria continuo chupando quando sinto a
primeira ondulação de seu membro em minha boca e percebo que seu
quadril busca mais de mim. Como disse que faria seus gemidos são
realmente gritos, aperto suas bolas e o grito de dor é seguido pelo esguicho
do seu gozo em minha garganta.
Continuo devorando e milhares de pensamentos perversos invadem
minha cabeça, o imagino pendurado por ganchos, seu sangue deslizando
pela sua pele, a euforia toma conta de mim, mas paro tudo que estou
fazendo no exato momento em que me vejo quebrando seu pescoço.
Num rompante, o solto fazendo bater os joelhos no chão, me levanto
sem olhar para trás e sigo para o meu quarto, vou me vestir. Já pronto ouço
meu telefone tocar.
— Fala, Dusham. — Atendo sem nenhuma paciência, ele vem
querendo se colocar na posição de nosso dono, mas tem ciência de que
somos livres.
— Chegou uma carga, precisa de doma, cachorro obediente,
submisso que implora por atenção, sem marcas, sem dor, sem caos,
Damian.
— Esses são os piores — falo, mas vou domar como for preciso,
que esse desgraçado enfie as marcas no rabo. — Por que uma entrega em
plena luz do dia?
— A outra carga já havia saído, chegou há dois dias, ele foi enviado
logo depois, pegue-o, dome-o e o entregue. Tem um mês.
— Por que tão rápido?
— Essa é a ordem.
— Estarei lá.
— Damian, esconda bem a sua joia, se eu o encontrar irei arrancar
sua cabeça para que entenda quais são as nossas leis.
— Quero que você e o Bratislav sigam de mãos dadas para o
inferno.
— Está me desafiando? — Sua voz não é das mais amistosas.
— Não se preocupe, usei e descartei, procure se achar que não é
verdade Tomasso Pionteri está morto, e preciso dizer, foi delicioso destruí-
lo antes de matá-lo.
— Mais um corpo jogado por Belgrado e o Sinistro irá te corrigir,
siga as regras ou eu o farei seguir.
— Anjo da Morte, suas ameaças metem medo apenas nos seus
inimigos, então me poupe de tentar demonstrar sua força.
— Anda insubordinado e inquieto, com toda certeza seus demônios
estão no controle, juro que te coloco no lugar, Damian.
— Não tenho medo de escuro como antes, nada que relembre o que
ele fazia comigo me causa medo agora, me colocar num poço, no sótão,
amarrado na floresta à noite, passando a madrugada na água gelada, nada
disso me causa pânico. Mas me diga, se eu te jogar no quarto branco você
fica menos arredio? — A ligação se encerra sem que ele responda.
Sorrio porque alguns demônios são muito medrosos.
Saio do meu quarto, abro a porta do quarto de Ícaro, o vejo deitado,
ele não se move quando ouve o barulho da porta. Fecho dessa vez sem a
trava, vamos ver o quão curioso o ratinho consegue ser.
Com isso em mente vou em direção à saída, passando pelos
soldados foco apenas no meu trabalho, nada neste momento realmente
importa.
Assim que me aproximo abro o carro e sigo até o porto, com toda
certeza essa doma será interessante apenas no começo, depois todos eles
sempre ficam tediosos e sem graça.

Desço do carro, indo em direção aos soldados.


— Senhor.
— Onde? — Estou sem paciência, o fato de ser uma doma de
cachorro não me agrada.
— No último container, dopado.
— Vou com meu carro até lá, coloque-o no porta-malas assim que o
abrir, não estou com tempo, nem com paciência hoje.
— Sim, senhor.
Volto para o carro indo em direção ao último container, estaciono de
ré, deixando o porta-malas aberto, as joias que chegam geralmente estão
dopadas demais, com certeza ele só irá acordar à noite.
Volto para casa, estacionando na garagem subterrânea, desço do
carro abrindo o porta-malas, o olhar assustado da joia me faz ciente que ele
acordou, esse medo me causa um frenesi, é como receber descargas que só
os orgasmos furiosos e as marcas que causo me traz. Jogo-o nos ombros o
levando até o quarto, tenho tudo aqui, desde uma cama enorme e
confortável a instrumentos de tortura.
— Quem é você? — Sua voz é baixa, cheia de pavor. Ele fala
mandarim, digamos que para um chinês o homem à minha frente é alto e
muito bonito. Analisando bem, consigo entender o motivo de o pegarem.
— Seu dono temporário. — Começo a tirar meu terno, folgando
minha gravata, levantando as mangas da minha camisa até os cotovelos.
— Do que está falando?
Sorrio porque esse começo me deixa completamente enlouquecido.
— Esqueça tudo que sabe sobre você e sua vida, a partir de hoje ela
deixa de existir, vou te explicar como as coisas funcionam. Você é uma
encomenda para um cliente muito exigente, ele precisa de um pet, um
cãozinho adestrado que seja submisso, leal, e muito, muito safado, e eu,
bem, eu serei o homem que vai garantir que você faça o que ele deseja.
Vejo a confusão em seus olhos, nada de novo no meu trabalho.
— Por favor, me deixe ir.
— Não entendeu o que disse? — Seguro seu rosto com as mãos.
— Não. — Seu choro antes contido agora escapa.
— Eu sou o demônio que irá te moldar, você tem duas escolhas,
fazer tudo que eu mando ou tentar fugir, ser arredio, confesso que vou amar
que seja um maldito rebelde, isso deixa tudo excitante. — Com meu
canivete começo a soltá-lo, sei que os jogos irão começar assim que se ver
livre.
Não dá outra, assim que se vê sem as amarras tenta fugir, o
intercepto lançando seu corpo contra a parede.
— Haaaa!
— Não tente fugir.
— Você é doente ou o quê?
— Ah, criança, eu sou o demônio e a partir de hoje você vai
conhecer minha melhor versão.
Caminho até a gaveta pegando um chicote de couro longo, então a
sua primeira surra começa, seus gritos me atiçam como se atiça uma cobra
peçonhenta. Cada marca que deixo em seu corpo me leva mais para o
fundo, ele grita desesperado, tentando por vezes fugir, mas onde ele vai meu
chicote o alcança, é prazeroso, intenso e deliciosamente quente a visão do
seu medo, do seu desespero e de como meu corpo reage aos seus gritos de
dor.
Não sei quanto tempo se passa, até que ele desmaia, estou molhado
de suor e com um maldito tesão. Seu corpo marcado é como um toque
quente em meu membro, começo a abrir minha calça observando o que
causei nele, então um rosnado alto sai de mim assim que toco meu pau,
começo a me masturbar de forma furiosa vendo as micro lesões que o
chicote lhe causou, em muitas delas existem pequenos pontinhos de sangue
é insano o quanto isso me faz urrar de prazer, é tão delicioso que sinto o
gosto do sangue na ponta da minha língua. Logo gozo lançando jatos de
esperma quente sobre seu corpo inerte, minhas pernas quase cedem, mas me
mantenho firme, só quando meu corpo se acalma paro de me tocar.
Fecho minha calça e saio de lá, já é noite e pela primeira vez em
alguns dias desejo dormir.
CAPÍTULO 8

É madrugada quando abro meus olhos, uma sensação sombria me


toma, meu corpo anseia por algo que não sei o que é. Olho em volta
percebendo que estou em casa, no meu quarto, longe dele e de suas garras
que costumavam cravar profundamente em minha carne.
Olho para o meu braço e observo pela claridade da lua que reflete
sobre mim que existe um pedaço do meu antebraço ainda não tatuado, isso
me incomoda, é como um furo na minha armadura, é como se estivesse
vulnerável exatamente ali, pego meu telefone.
— Preciso de uma tatuagem.
— Eu preciso que se foda.
Sua voz com certeza é de quem acordou no susto.
— Não ouse desligar.
— Damian, não sou seu empregado.
— Preciso, Dimitri, juro que assassino dois ou três e deixo os corpos
com todos os indícios de que a Triglav anda fazendo uma festa em
Belgrado.
— Chegue em meia hora ou juro que volto a dormir.
Encerrando a ligação pulo para fora da cama, vou me vestir, e após
colocar apenas um moletom e um tênis, pego meu celular e minha chave
indo em direção ao meu carro. Assim que me sento no banco do motorista
pego minha arma no porta luvas colocando-a debaixo da minha coxa, só
então ligo o carro e sigo para sua casa.
As ruas de Belgrado estão vazias enquanto me movimento por elas
seguindo até a casa de Dimitri, desde que tudo começou os buracos em meu
corpo me incomodam, meu irmão, assim que fiz quinze anos, após me
recuperar de mais uma sessão de estupro e espancamento disse que me
ajudaria a apagar as marcas, não entendi como, mas ele me mostrou,
tatuando minha canela, único lugar naquele momento que não tinha
machucados. E assim começou minha jornada para esconder o que aquele
filho da puta fazia comigo. Hoje sou completamente tatuado, porém vez ou
outra vejo pequenos espaços que precisam ser bloqueados, minhas
tatuagens são minha armadura e Dimitri sabe bem disso.
Meus irmãos e eu sempre fomos mantidos longe um do outro,
éramos espancados até quase a morte, andávamos nus, dormíamos sobre as
feridas das surras que ele nos causava, muitas vezes nossas cobertas eram
arrancadas levando junto as cascas das feridas que iniciavam seu processo
de cicatrização com o tecido sobre ela.
Com vinte anos, o dia que me libertei das torturas e dos estupros, já
estava com meu corpo setenta por cento coberto, hoje, aos trinta e quatro
anos noventa e cinco por cento de mim é tinta negra e desenhos sombrios.
Recordo-me enquanto as luzes amarelas dos postes clareiam as ruas,
das pontas curvadas de prata e ossos de seu chicote, que ao bater em minha
carne se cravavam, e quando o maldito puxava levava consigo nacos da
minha carne. Havia sido amarrado, drogado e violentado por horas, mais de
doze mulheres sentaram em mim. A cena me fazia vomitar, muitas delas
sorriam, muitas delas choravam como eu, porque eram obrigadas e
drogadas, seus gritos de libertação quase me faziam afogar no meu próprio
vômito que vinha pela fúria de estar passando por aquilo. Quando meu pau
enfim cedia era pendurado pelos punhos ficando suspenso como um
pêndulo e as doze chicotadas habituais começavam.
— Te farei homem, Damian, nem que para isso eu precise te
desossar.
— Eu sou homem!
— Não, você é uma maldita aberração.
— Eu te odeio, seu verme asqueroso e maldito.
— Todos me odeiam, mas todos são homens, em algo aquela cadela
imunda deve ter errado com você, inútil dos infernos, nem para fazer
machos completos ela prestava.
— Seu momento vai chegar, Bratslav!
Essa foi minha última ameaça antes dos gritos de dor e agonia, doze
malditas chicotadas nas pernas e costas, quando me tiravam de lá, alguns
pedaços da minha carne estavam no chão. Eu o odiava, desejava sua morte
todos os dias, mas matar um membro da Triglav é determinar a morte a
todos os seus descendentes, ainda que a morte fosse algo que ansiávamos
todos os dias, nunca demos esse passo.
Quando minha mente volta à realidade, estou na frente do portão da
casa de Dimitri, digito a senha de acesso e sigo para dentro, estaciono meu
carro e olho as horas, passaram vinte e nove minutos. Subo as escadas
acessando a porta liberando minha entrada pela senha da fechadura.
— Acreditei que se atrasaria. — Olha-me com cara de poucos
amigos.
Não somos amigos, não sentimos nada além de lealdade um pelo
outro, conhecemos os medos e a fúria que borbulha em nossas veias, cada
um de nós tem demônios e pontos fracos que apenas nós conhecemos.
— Cale a boca. — Atravesso sua sala enorme e caminho ao seu
estúdio de tatuagem.
— Onde quer que feche? — Sua pergunta me diz que não tocará no
assunto de o porquê estou assim.
— Aqui. — Mostro-lhe no antebraço o pequeno espaço entre uma
tatuagem e outra.
— O que tem em mente.
— Apenas cubra com preto, acabe com esse maldito buraco.
Não falamos mais nada, ele já havia preparado tudo, então o barulho
da máquina começa a me acalmar, o raspar das agulhas cobrindo o maldito
buraco injetando tinta sob minha pele começa a me tranquilizar, essa é uma
dor bem-vinda, odeio sentir dor, odeio ser tocado, odeio ficar vulnerável.
Os minutos se passam, as memórias tentam me alcançar, mas logo a
voz dele me tira dos meus pensamentos turbulentos.
— Pronto, mais algum lugar que deseje? — Olho confirmando que
não estou mais exposto.
— Não.
— Seu pau quem sabe, já tatuei seu corpo inteiro, até seu cu passou
pelas minhas mãos, suas bolas receberam um blackout[8], mas seu pau nada.
— Não, já foi o maldito inferno me recuperar dos cinco piercings
que coloquei nele.
— Vamos, Damian, o Anjo do Caos nunca foi tão bundão.
— Já disse que não, porra!
— No rosto? Darko está com algumas bem maneiras no rosto.
— Eu pintaria tudo de preto e com certeza até o branco dos olhos
não ficariam de fora, se me olhasse no espelho e me deparasse com aquele
demônio como ele, eu mesmo meteria uma bala na minha testa.
— Concordo, também não suportaria me parecer com a pessoa que
mais odeio.
— Quer fazer alguma? — pergunto olhando para ele.
— Tem tempo?
— Está me vendo sair sem olhar para trás? — Arqueia sua
sobrancelha me analisando.
— Pode ser que demore.
— Tenho algumas horas.
— Ótimo, aqui está o esboço. — Ele coloca o desenho na minha
frente.
— Estava esperando por isso, esse foi o motivo de não me negar.
— Tudo tem um preço.
— Foda-se! Deite-se aí, com certeza esse desenho ficará perfeito em
suas costelas, Dimi. — Pisco e o vejo ficar furioso.
— Se for começar pode ir, juro que estou com um mau humor do
cão.
— Retiro o que disse, já que vou castigá-lo com essa belezinha. —
Mostro-lhe a máquina de tatuar enquanto arrumo a bancada para começar a
marcá-lo.
As horas se passam e por algum motivo minha concentração está no
desenho que faço, não penso em nada além de fazer tudo da melhor forma.
Dimitri está dormindo, não sei como consegue, com certeza nada o abala,
nem mesmo a dor, apenas o apelido que mais odeia no mundo, só não morri
porque ele não conseguiria me matar facilmente, mas já vi algumas cadelas
terem seus pescoços quebrados após chamá-lo assim no meio do sexo, ele
nem se prendeu pelo orgasmo, apenas parou tudo e girou a cabeça da vadia.
Quando termino de colocar o branco na sua tatuagem percebo que já
amanheceu.
— Acorda. — Dou um tapa em seu ombro.
— Já acabou?
— Sim. — Pulando da maca segue até o espelho.
— Caralho, Damian, está ficando cada vez melhor nisso.
— Digamos que a tatuagem ajuda, essa máscara de demônio
recebeu toda minha atenção.
— São quase dez da manhã, quer tomar café?
— Por que não?
— Vamos, com certeza já estamos atrasados.
Seguimos juntos até a cozinha.
— Pelo visto não estamos não. — Olho e não vejo nada.
— Estou tomando café próximo à piscina.
— Depois eu que sou o viado.
Caminhamos até lá enquanto sorri de canto, ao chegarmos
encontramos Darko vindo em nossa direção, tento ao máximo não projetar
nele meu ódio, mas fica difícil, seus olhos tão azuis quanto os de Bratislav,
me inquieta, é como acordar no meio da noite e ter meus demônios me
olhando, meu corpo inteiro tensiona.
— Não precisa me fuzilar com os olhos, estou de saída, vim apenas
informar que estou indo buscar algumas joias na Grécia.
— E precisa vir até aqui para isso? — Sondo, é quase automático
repeli-lo.
— Damian, meu dia está sendo um maldito inferno, juro que rasgo
sua garganta se continuar com essa porra, não precisa se aproximar, nem me
olhar, continue me odiando pela imagem que tenho, mas antes de testar
minha paciência, saiba que posso te meter uma bala na porra da testa.
— Sempre cheio de ameaças, me conte, Darko, como costuma se
arrumar? É por isso que raspa a cabeça, para não precisar se olhar no
espelho?
A mão de Dimitri segura meu pulso, mas é tarde demais, Darko voa
em minha direção colando a faca em minha garganta.
— Faça! Vamos, continue, você sempre foi um demônio, siga seus
instintos. — Ofegante ele pressiona mais a lâmina em minha pele, sinto o
ardor do corte e com certeza deve estar sangrando.
— Preste atenção em uma coisa, Damian, e espero que Dimitri
escute, nada do que me digam é pior que ser como sou.
— Nem mesmo tatuando sua cara pode mudar isso.
— Parem! — Um estrondo alcança nossos ouvidos.
— Chegou quem faltava. — Sorrio quando a lâmina desgruda da
minha pele.
— Parecem cães de briga. — Dusham não parece nada animado de
estar próximo de nós, como sempre não sabemos como ainda nos
suportamos.
— Preciso ir, tenho uma doma para dar andamento.
— Damian, você vai ficar.
— E quem vai me obrigar? — Olho para Dusham que se acha o
maldito chefe aqui.
— Damian! — A voz de Dimitri tenta me conter.
— Volte ao Brasil, Dusham, tem algumas bolas para lamber.
Saio sem olhar para trás, vê-los, tê-los por perto é reviver o inferno,
então decido que todos eles se fodam, saindo sem olhar para trás, enquanto
ouço meu nome ser chamado por Dusham que acredita piamente que manda
em alguém além do próprio rabo.
CAPÍTULO 9

Ouço batidas na porta, quando estou saindo do banheiro enrolado no


roupão sigo até lá, enquanto a vejo ser destravada.
— Bom dia, senhor, vim informar que seu café o aguarda — uma
mulher negra informa.
— Estou indo. — Começo a me movimentar.
— Senhor, precisa tirar a roupa, nada de usá-las, é uma ordem.
— Não posso andar nu.
— Desculpe, mas são as ordens, a casa é climatizada.
— Ele é doente.
— Senhor, por favor, não fale isso, irritá-lo é ainda pior, não se dura
muito aqui quando ele se irrita.
— Que tipo de demônio é esse que domina vocês? — questiono
começando a ficar furioso.
— Do tipo que deseja que a minha maldita ordem seja cumprida e
você não use a porra da sua roupa. — Sua voz reverbera poderosamente
grossa e furiosa. — Vá, Gluka! — Vejo a mulher sair como um foguete. —
Vou dizer apenas essa vez, você aqui é um objeto de valor, ainda não te
quebrei por ter sido caro demais, mas ouse desobedecer as minhas ordens
que posso te mostrar como domo as minhas joias.
— Do que está falando?
— Não queira descobrir, então desça, você será meu pet, um ratinho
que caminha pela casa, caro demais para ser morto, se eu ordeno que faça
algo, você faz, porque eu odeio ser contrariado, Ícaro. — Sua mão segura
meu rosto com força. — Entendeu? — O cintilar do ódio em seus olhos me
faz ser exatamente da forma que ele deseja.
— Sim.
— Ótimo. — Sua mão desaparece e o vejo caminhar para fora, nu.
Esfrego meu rosto, inquieto, meu desejo é fugir, mas como escapar
do demônio? Como correr sem saber por onde está caminhando? Ficar é
buscar pela morte, fugir é realmente encontrá-la. Preciso me manter calmo
com a mente aqui, esse homem é um poço de escuridão, posso senti-la
reverberar pelo meu corpo quando estou próximo a ele.
Ontem, quando me deixou caído no chão após sugar minha alma
depois do primeiro oral da minha vida eu soube que poderia estar muito
fodido, apesar do medo descomunal que sinto ao encará-lo, tudo que se
aprende sobre os demônios durante a vida e o quanto eles são nocivos,
envolventes e te levam pelos caminhos tortuosos é balela. Estar realmente
em frente a um é causticante e quase faz seu coração parar. Sua voz é
grossa, furiosa, porém muito sedutora, ou devo ser um completo lunático
por me excitar com isso, ou seu poder de causar luxúria em mim está
ativado.
Decidido a não o irritar ainda mais, tiro o roupão e sigo nu como
ordenado, minha única certeza quanto a essa ordem é que ele possa ver se
está seguindo pelos caminhos que me atiçam como um maldito pervertido e
faz meu corpo acender. Ele quer me ver, ver as minhas reações, só pode ser
isso, é humilhante, vergonhoso e quero me socar quando reajo como ontem.
A porta que sempre fica trancada está aberta, sigo pelo corredor descendo
as escadas, os seguranças que estão espalhados pela casa me olham, mas
logo viram o rosto, estou me aproximando da cozinha quando o vejo
atravessar completamente sem roupa a área da piscina aquecida, apesar do
frio lá fora posso ver a fumaça sobre a água. Paralisado, encaro a cena à
minha frente, com ele pegando a toalha começando a se secar, seu corpo é
perfeito, suas tatuagens são intrigantes.
— Vamos, a partir de hoje me acompanha em todas as refeições. —
Terminando de se secar ele segue até a mesa já posta do café. — Existirá
uma rotina, café, almoço e jantar, também decidi te dar liberdade dentro dos
muros da propriedade.
— E o motivo de estar fazendo isso é? — sondo o terreno, não
parece o mesmo homem, não aquele que atirou em duas pessoas dias atrás.
— Ratinho, nunca tive um bichinho de estimação, quero ver o que
fará com sua liberdade ainda que limitada.
— Isso é um jogo para você?
— Sim.
— Por que não faz o que pensa e me mata depois?
— Investimento alto demais para jogar no lixo. — Vejo-o se sentar,
logo apontando para o lugar que devo fazer o mesmo, uma cadeira
exatamente ao seu lado.
— Você parecia um demônio no dia que me comprou, por que
parece controlado agora?
— Não estava nem perto de estar com raiva aquele dia, no dia que te
vi talvez. — Seu semblante é despreocupado, nem parece que existe uma
relação doentia aqui, em que eu sou comprado pelo homem à minha frente
em um leilão de humanos.
— O que quer de mim?
— No momento brincar, por hora estou sem paciência para muita
conversa, coma e desapareça.
— Você é instável.
— Mais que porra! — seu grito ecoa enquanto ele crava a faca que
estava na sua mão na madeira da mesa, fazendo-me assustar. — Cale a
maldita boca! — A faca cravada na mesa agora está em minha garganta. —
Siga as regras que irei ditar, faça o que eu mandar, mas acima de tudo,
como um maldito rato não emita sons.
Meu coração acelerado bate furioso no peito, seu olhar morto está
lá, junto a um sorriso demoníaco no rosto. Ele me observa deslizando a faca
pelo meu peito que desce e sobe furioso.
— Posso te marcar, escrever com a faca meu nome em sua carne
para que todos saibam que me pertence. — Engulo o bolo de pavor que se
forma em minha garganta. — Posso te comprar uma coleira e andar com
você enquanto a seguro, posso desejar que te deem banho como fazem com
os cães, posso transformá-lo num ser submisso e incapaz de pensar por si
só. — Tudo que ele diz reverbera em verdade, minha mente roda e é como
gritar sem emitir sons. — Eu posso tudo, mas neste momento, meu Ícaro, a
única coisa que farei é com que mantenha sua língua dentro da boca, caso
contrário, posso pensar em arrancá-la.
Seu olhar é mortal e a lâmina fria percorre meu corpo chegando ao
meu umbigo, então a funcionária interrompe.
— Senhor, seus ovos mexidos, como pediu. — Isso o faz sair do
estado vidrado em que se encontrava, ele não diz nada, apenas acena com a
cabeça e ela se vai.
Observo quando se posiciona novamente em sua cadeira, colocando
a lâmina da faca na frente dos lábios pedindo silêncio.
— Agora coma.
Obedeço a sua ordem, sem encará-lo já que a vontade de voar sobre
ele e socar sua cara neste momento é enorme, porém isso me levaria à
morte e eu volto aquele pensamento: corro para a morte ou a aguardo
chegar até mim?
Seguimos quietos, em momento algum me olha, seu olhar muitas
vezes parece perdido, sua mente com certeza é o lugar mais perturbado que
existe, percebo os sinais. Inquieto, arqueia os lábios sem sorrir como se
revivesse algo que gostasse, às vezes pressiona as mãos contra os talheres
como se sentisse dor, tudo isso de forma involuntária, pois ele continua se
alimentando como se estivesse correndo tudo da forma mais normal
possível.
O tempo passa lentamente enquanto engulo tudo sem sentir sabor de
nada, saio do meu estado de torpor e observação quando ele pega o
guardanapo limpando a boca e quebrando o silêncio.
— Fique à vontade, preciso trabalhar, logo as ordens que deve
seguir estarão em seu quarto, esteja pontualmente no horário das refeições,
ainda que eu não esteja em casa ela será servida a você. Se souber que se
atrasou em alguma delas eu mesmo irei castigá-lo. Entendeu?
— Sim.
— Ótimo, gosto quando me faço entender.
Saindo sem mais nada dizer ele desaparece pela casa, então solto o
ar que nem sabia estar prendendo, olho para o lado e vejo Gukla me
observando, é como se ela soubesse de algo, mas com toda certeza não iria
me contar.
Levanto-me acenando com a cabeça para ela que esboça um sorriso
tímido, decido fazer como me foi ordenado ter liberdade de explorar, apesar
do frio que faz, a casa deve ter vários locais como a piscina interna e
aquecida, não existe decoração, é tudo preto e neutro, paredes
extremamente brancas e móveis completamente pretos, não há um subtom,
algo que oscile, é preto e branco, fim.
Sigo entrando em um escritório, não existem computadores pelos
corredores que passei, caminho por tudo, decido puxar um dos livros da
estante, afinal contemplo milhares deles do chão ao teto, para minha
surpresa é decoração. Sigo para outros lados e como no começo, decoração,
são réplicas perfeitas de lombadas de livros, todos eles. Como alguém vive
dessa forma? É tudo, completamente tudo falso.
Não existe nada aqui, nenhum livro, nenhuma folha, nada, é apenas
um espaço decorado para parecer com uma biblioteca, saio de lá seguindo
para as outras portas, encontro lavabo, quartos, salas de tv, lareira e uma
sala de luta.
Continuo caminhando, agora percebo que estou sendo vigiado de
perto, olho para o homem me espreitando pelo canto dos olhos e me sinto
pela primeira vez sendo invadido, ridículo, eu sei, já que meu dono — bufo
apenas em pensar nisso —, é quem me mantém da forma que estou.
— Onde está indo? — Sou parado pelo tal homem.
— Conhecendo o lugar.
— Não pode seguir por aí.
— Hum, e por quê? — questiono quase lhe mostrando o dedo do
meio.
— Ordens.
— Não recebi tal restrição.
— Se tivesse ido ao seu quarto encontraria o mapa da mansão e
veria que exatamente esta parte é proibida. — Seus olhos percorrem meu
corpo e um arrepio ruim me toma.
Decidido a não continuar perto dele, saio de lá seguindo em direção
ao quarto entregue a mim como local de estadia.
CAPÍTULO 10

Faz algumas horas que estou no quarto, vejo o tal mapa e a rotina
que terei que seguir pelo resto da minha vida neste lugar. Como o homem
havia dito existe sim o grande X, exatamente na parte da casa onde eu
estava. Fico caminhando pelo quarto e vejo a neve se amontoar lá fora,
entendo completamente a mente perversa de Damian, ele me dá liberdade,
mas é algo bem limitado, onde no inferno conseguiria ir nu na neve,
ninguém em sã consciência tentaria fugir, não consigo nem atravessar as
portas que levam aos pátios externos.
O desgraçado nem precisa pôr uma coleira em mim para limitar
meus movimentos, enquanto estou no inferno vou descobrir uma forma de
ludibriar o capeta. Continuo observando a planta da casa, relendo a lista de
horários e o que estará funcionando e quais são seus horários, isso aqui
parece algo que um hotel de luxo faria, tem até spa, só preciso pedir.
Tento me concentrar e imaginar o que se passa em sua cabeça.
Quando ouço o barulho do seu carro vou a até a janela e ele não está
chegando, está saindo. Por onde andou todo esse tempo?
Ouço a porta ser destrancada e Gukla aparece ao ser aberta.
— Estamos na hora do almoço.
— Vai me contar o que está acontecendo aqui?
— Senhor, por favor, ele anda muito instável nos últimos dias, não
desobedeça, não faça isso, terei que relatar seu dia a ele e não quero ser eu a
culpada caso algo te aconteça.
— Ele pode me matar, não é? — Não preciso de sua confirmação
para algo que os seus olhos dizem. — Já entendi, farei segundo ordenado,
não quero trazer dor e sofrimento a mim, muito menos a vocês.
Sigo o cronograma, almoço, volto para o quarto, sou chamado para
o jantar, todas as refeições faço sozinho. O frio parece não dar trégua lá fora
e uma nevasca parece começar a nos atingir. É quase uma da manhã, minha
porta não foi fechada, não consigo dormir imaginando que ninguém deva
estar pela casa a essa hora, pego o roupão indo em direção à cozinha, toda a
casa está a meia luz. Caminho devagar até chegar ao meu destino, Gukla
havia feito alguns bolos após nossa conversa ao final da tarde, então meu
pensamento é comer um deles. Assim que me sirvo de um pedaço generoso
de bolo e um copo de leite, sento-me à mesa começando a comer,
recordando-me do olhar de Damian, o prazer percorre meu corpo a cada
garfada que levo à boca fazendo-me gemer pelo sabor do chocolate.
— Cada gemido que dá me faz ansiar pelo grito. — Pulo da cadeira
com o susto que levo. — Assustado?
— Não esperava encontrar ninguém aqui.
— É minha casa, pode ser que me encontre caminhando por ela.
— Não sabia que havia chegado.
— Estava esperando por mim?
— Não.
Ele começa a cheirar o ar em busca de algo, como se fosse um cão
farejando e sentindo cheiros que para nós são imperceptíveis.
— Sinto o cheiro da mentira de longe. — Aproximando-se de mim,
que neste momento me encontro de pé, o vejo dar a volta na cadeira
enquanto tento me manter longe, mas não alcanço meu objetivo já que meu
corpo encontra os armários atrás de mim. — Ratinho, vou te dizer o que vai
acontecer agora. — Engulo seco, suas palavras são como ameaças veladas
de que estou muito fodido. — Hoje vou foder seu rabo virgem, seu corpo
vai ficar à minha disposição, mas veja pelo lado bom, vou te tratar como
uma joia já domada, se for obediente e permitir que tudo aconteça, te darei
uma primeira vez digna de filmes, gemidos, prazer e muito relaxamento,
apesar de achar tudo isso muito tedioso e broxante. Agora se não aceitar
minha proposta, será à força, com violência e muita dor.
— Não quero que me toque.
— Não é a resposta que precisa me dar. Mas novamente por ser caro
demais para que eu te mate, vou outra vez te dar a opção de escolher, diga
não e irei te chicotear até que desmaie de dor, depois vou amarrá-lo
empinando sua bunda para o alto e me enterrarei em você sem prepará-lo,
vai sangrar e seu sangue será o lubrificante que fará meu pau deslizar ainda
mais fácil dentro de você. É sua escolha, e maldição, eu nem sei o motivo
de estar te dando.
Meu corpo inteiro sente que ele não mente quando diz isso.
— Por favor!
— Pelo que implora?
— Não me machuque.
— Gosto quando você é assim, submisso, continue, pela sua
integridade física. — Ele se controla, de alguma forma parece tentar se
manter calmo e com uma frieza que gela meus ossos. — Vá para o seu
quarto e fique em pé próximo a cama, estarei logo atrás de você.
— Por que faz isso?
— Precisa parar com todos os seus questionamentos, eles me
irritam, não vai desejar me ver fora de mim. — Por segundos parece que
enxergo vulnerabilidade em seus olhos, mas com toda certeza deve ser
minha mente pregando peças. — Suba, Ratinho. — Antes que me mova,
sua língua quente lambe o canto da minha boca fazendo um grunhido
escarpar de sua garganta. — Tinha chocolate aqui.
Meu coração está tão acelerado que parece que acabei de subir
milhões de lances de escada, o vejo sair da minha frente me dando
passagem. Sem que precise novamente me ordenar, saio em disparada de
volta para o quarto, ansiedade e inquietação me tomam, sou homem porra!
Sempre quis sexo, sempre desejei, mas gostaria de fazer amor, não assim
sem sentimento algum, algo carnal. Tive muitas oportunidades para isso e
agora todo meu tempo de espera não adiantou de nada. Não confio naqueles
olhos mortos e frios ele não será cuidadoso, muito menos carinhoso, nem
beijo deve acontecer, não poderei tocá-lo. Soco-me mentalmente, no alto
dos meus 1,80 de altura me sinto uma criança indefesa, não posso negar que
existe algo que nos liga, uma química dos infernos, mas não era isso que
imaginava para mim.
— Gosto de ser obedecido. — Sua voz grossa me tira dos meus
pensamentos e só então percebo que estou na posição que me ordenou,
parado em pé, nu, no meio do quarto, próximo à cama.
Não digo nada, observo que traz algo nas mãos, é impossível piscar
quando se está hipnotizado pela visão, existe algo nele, algo que me motiva
a olhar. Observo tudo sem emitir nenhum som, Damian está relaxado, tem
convicção em seus olhos, imaginar tudo daqui para frente é impossível, não
faço ideia de como será.

Sou um homem muito estranho, ando sempre furioso, inquieto e


com sede de sangue, mas não posso destruir um investimento tão alto,
dinheiro nunca foi problema e nunca será. Tenho por toda minha vida e se
houvesse a possibilidade de ter muitas gerações com toda certeza umas dez
delas seria abastada esbanjando e muito tudo que tenho e nada lhes
faltariam. Minha imaginação já rodou por tantos caminhos tortuosos no que
diz respeito ao meu Ícaro, que em todos eles seu corpo acaba estendido no
chão ensanguentado e inerte.
Quando o encontrei na cozinha havia acabado de tomar banho, a
doma hoje foi sangrenta e acabou com o chinês sendo surrado duramente
por sua insubordinação. Os próximos quinze dias serão assim, caso ele seja
muito rebelde, depois tudo começa a se tornar monótono e maçante, vou lhe
entregar o que precisa, pois começa a obedecer. Por isso minhas domas são
rápidas, fico logo entediado, gosto do medo, do pavor, do desespero, do
pânico que se instala quando estou caçando, é assim que me sinto enquanto
domo, eles são a caça e eu o monstro à espreita.
Agora aqui com algemas e lubrificante olhando fixamente para o
homem à minha frente acabo por me sentir como um idiota, lhe oferecer
uma primeira vez prazerosa será torturante, onde estava com a maldita
cabeça? Talvez essa forma de adestrá-lo pode fazer com que eu percorra o
caminho inverso, e ele comece a gostar da dor e de tudo que eu gosto. Já
que o terei por muitos anos, preciso mantê-lo vivo e transformá-lo num
masoquista é meu maior desejo, Ícaro precisa ansiar pela dor, pela minha
raiva, precisa ser ele a minha joia, aquela que implora pela surra, que goza
enquanto lhe faço agonizar e com o intuito de ter o que jamais tive vou
começar a minha doma, a doma da minha joia.
Sorrio internamente, imagino Bratislav sonhando com isso, aquele
velho maldito faria de tudo para me arrancar tiras de pele, nós não podemos
ter nada, nenhuma pessoa ao nosso lado, segundo as ordens da Triglav nós
os pertencemos, não temos direitos, apenas o dever de servir, esse foi o
pacto que aquele desgraçado fez com Konstantin. Mas vejam só, eu nunca
sigo as regras, terei a minha joia e a domarei segundo a minha vontade,
terei todo tempo do mundo, ninguém jamais sonhará que ele existe.
— Não quero ser machucado. — Sua voz grossa é um deleite aos
meus ouvidos, imaginá-lo gritar arrepia meus pelos.
— Então deseja uma primeira vez prazerosa?
— Sim.
— Hum, interessante, apesar de decepcionante, intimamente desejei
que fosse rebelde, meu Ícaro.
Caminho até ele colando nossos corpos, esse contato não me irrita
nem me causa asco, tenho problemas com toques, com o desejo da pessoa
em ter suas mãos em mim, isso me causa nojo e fúria. Jogo o lubrificante na
cama e abro as algemas.
— Não me prenda, por favor — pede rouco. — Não será prazeroso
assim.
— Posso matá-lo se me tocar, já disse que foi caro demais.
— Sei que não estou em posição de pedir, mas, por favor, só dessa
vez.
Não sei por que diabos tenho desejo de atender seus pedidos.
— Se me tocar perde sua opção de escolha, serei cruel e impiedoso.
— Sinto que essa porra de escolha vai ser uma maldita merda, não ter o
controle sobre ele me deixa inquieto.
— Eu prometo, apenas dessa vez.
Solto as algemas no chão, puxando-o para um beijo, reivindico sua
língua, o beijo é bruto e forte, o seguro com possessão e força, sinto seu
corpo reagir quando deslizo minha mão pelas suas costas parando em sua
bunda, um grunhido escapa de sua garganta quando pressiono nossos
quadris sentindo sua ereção em minha coxa. Vejo suas mãos erguidas como
se fosse me tocar, então rosno em alerta, segundos depois cessando o beijo.
— Seja obediente, não desejo perder você, não tão rápido.
CAPÍTULO 11

Não sei de onde vem a coragem para lhe pedir que não me prenda,
com nossas línguas duelando furiosas em um beijo que machuca sinto sua
mão deslizar pelas minhas costas e parar em minha bunda colando mais
nossos corpos como se fossemos nos fundir, a vontade de o tocar formiga
minhas mãos. Levanto meus braços quase cedendo a vontade de fazer
quando um rosnado me alerta do que pode me acontecer.
— Seja obediente, não desejo perder você, não tão rápido. —
Automaticamente coloco minhas mãos para trás, fazendo meu cérebro
entender o que preciso fazer.
Não digo nada, apenas preso nos seus olhos negros como a noite,
escuros como se a vida houvesse abandonado seu corpo há muito tempo.
Sua boca volta a minha, então logo ele começa a deslizar sua língua pelo
meu pescoço e, maldição isso arrepia minha pele e deixa um rastro de fogo
por onde passa.
— Céus! — clamo a algo superior no momento em que sua mão
pressiona meu pau começando a me masturbar.
— Suba na cama, meu Ícaro.
Como um cão adestrado, faço o que me manda, colocando-me ao
centro dela. Ofegante o vejo subir pegando o lubrificante trazendo consigo
colocando-o próximo a nós, sem dizer nada volta a me tocar suspendendo
meus braços acima da minha cabeça.
— Os mantenha aí, como da outra vez pode segurar meus cabelos,
nada além disso, seus dedos não podem tocar nenhum milímetro da minha
pele, você entendeu? — Suas palavras contêm algo desconhecido, todas as
vezes foram como ameaças, dessa vez parece cuidado.
— Sim. — Só posso estar louco idealizando coisas, talvez por ser
minha primeira vez esteja sonhando com o maldito último romântico, mas
aqui comigo tenho apenas um demônio tentando se controlar.
Sua boca volta ao meu corpo, alcançando meus mamilos, e porra!
Meu grito alcança meus ouvidos é um prazer lascivo, o desgraçado sabe o
que faz, como faz e porque faz, eu venderia minha alma se me pedisse,
entregaria de bom grado apenas para ter a sensação da sua boca em meu
corpo por todo o tempo. Ele segue descendo, meu pau segue pulsando, tão
duro que dói, muito pior que da vez que o vi se tocando. Até seu cheiro é
enlouquecedor, meu corpo inteiro vibra como se as tiras de músculos se
partissem tamanha excitação e ele ainda nem começou de fato, seria isso as
preliminares?? Pense, Tomasso, pense, ele é um cara que te comprou que
segundo disse matou pessoas por tocá-lo, acha mesmo que não seria o
próprio demônio na cama?
— Ohh, porra! — Arqueio meu corpo quase levando minhas mãos a
tocá-lo quando sou engolido por completo.
Ouço apenas seus gemidos, seu toque é experiente, sua boca é
quente e sinto que deslizo até sua garganta, não somos homens pequenos, se
eu fizesse isso estaria sufocando, mas ele parece dominar tudo que faz. Seus
ombros largos afastam bem minhas pernas dando a ele o acesso que
necessita, logo minhas bolas estão em sua boca, meu corpo inteiro queima e
fica cada vez mais impossível não gritar, estou quase chegando ao orgasmo
quando de forma abrupta ele me vira de bruços arrancando de mim um grito
surpresa.
— Como gostaria de não ter te oferecido uma primeira vez como
nos malditos filmes. — Sua voz é um rosnado contido.
Eu sou puro gemidos e sensações, quando sinto seu corpo deslizar
sobre o meu, é quente como se Damian pegasse fogo, como se sua
temperatura fosse maior que o normal, seu corpo inteiro cobre o meu, sinto
seu membro duro pressionado contra minha bunda, suas mãos deslizam
pelos meus braços levando-os para cima.
— Está excitado? — A rouquidão eriça os pelos de minha nuca.
— Sim.
— O que imaginou para sua primeira vez, Ratinho? Exclusivamente
hoje estou disposto a realizar desejos.
— Melhor não falar.
— Vamos, prometo que seja o que for será feito.
Acredito em suas palavras, mesmo que isso seja o meu maior erro.
— Imaginei olhos nos olhos, sentimentos, movimentos lentos que
vão aumentando a intensidade até explodir gozando enquanto clamo por
mais.
— Posso te dar isso tudo, menos os sentimentos, eu não os tenho,
aprecie o quanto posso ser bom no que faço, sexo é minha especialidade.
Sua boca próxima ao meu ouvido me enlouquece, maldito corpo
traidor dos infernos, logo perco seu calor e quase resmungo alto, quando
uma ordem vem dele.
— Vou te preparar, erga seus quadris. — Movimento-me como me
pede, logo alguns travesseiros são colocados sob mim. — Assim terei
melhor acesso a você.
Então nada mais importa, sua boca mergulha em mim num beijo
grego que quase me faz repensar sobre a vida. Sua língua anseia por espaço
mantenho-me o mais relaxado que consigo, quando seus dedos substituem-
na, com certeza o que escorre por mim é o lubrificante, sinto a pressão de
seus dedos pedindo passagem, sinto meu pau ser puxado para trás, o calor
úmido de sua boca na minha glande, ele me chupa como um pirulito e dou
acesso sem resistência. Um segundo dedo entra na equação, seus
movimentos de abrir e fechar são sentidos, impossível não rebolar em busca
de mais. Outro dedo aparece, fazendo-me agarrar os lençóis com força, seus
movimentos não cessam e unidos à sucção gostosa de sua boca logo a dor
da invasão desaparece. Meu corpo começa a se entregar as sensações
quando beirando o orgasmo ele para, então é como se o tempo ficasse em
suspenso.
— Te darei os olhos nos olhos que pediu.
Os travesseiros desaparecem e novamente sou colocado de costas
sobre a cama, seu corpo paira sobre o meu, não sem antes ter seu pau
completamente lambuzado de lubrificante, minha respiração está
entrecortada, seu olhar está direcionado a mim, mas seus olhos são mortos,
é como se ele estivesse no automático, como se fosse uma coisa mecânica,
robótica. Minhas mãos ainda estão à cima da minha cabeça, quando ele
começa a se posicionar entre minhas pernas, o cintilar de algo desconhecido
em seus olhos me inquieta, mas estranhamente me excita ainda mais. Meu
pau está muito duro e meu desejo agora é tocá-lo, como se lesse mentes sua
mão segue até meu membro começando um vai e vem delicioso enquanto
pede passagem em meu cu, começando a forçar a entrada, sinto queimar
lançando arrepios de dor pelo meu corpo, é torturante cada milímetro que
entra em mim, faz com que minha excitação acabe, sinto que estou
perdendo minha ereção, fecho meus olhos tentando não sentir a dor, mas é
impossível.
— Abra os olhos! — ordena trovejante.
Faço o que me pede, afinal fui eu quem pediu olhos nos olhos, na
minha cabeça parecia romântico, mas de fato a dor não ajuda, sua boca
toma a minha voltando a me beijar, sinto seus grunhidos até que um
rosnado alto escapa dele. Meu coração parece que vai sair pela boca ele está
completamente enterrado em mim, seus movimentos cessam ficando apenas
o beijo quente e devasso, Damian parece um animal contido esperando
apenas o momento certo de atacar, meu corpo volta a acender, a excitação
que havia desaparecido com a dor começa a percorrer cada célula existente
em mim, fazendo com que minha ereção volte. Com o corpo novamente
pegando fogo começo a me mexer, rebolando sem nenhuma vergonha para
que ele entenda que pode continuar, ganho uma mordida nos lábios que faz
emanar uma dor fina nublando minha cabeça, então ele parece despertar
fazendo com que tudo seja uma loucura insana, seus movimentos de vai e
vem começam lentos, seus olhos agora voltam aos meus, ele não demonstra
nada, mas posso notar o desejo que revela ao fechar os olhos a cada
arremetida, entrando e saindo de mim com uma intensidade incrível. Logo
nossos corpos começam a ter vida própria, somos uma mistura deliciosa de
gemidos grossos e grunhidos de prazer, por vezes ele acerta num ponto
exato dentro de mim que me faz gritar desesperado.
— Isso! Seus gritos enquanto fodo esse rabo apertado me deixa com
ainda mais vontade de marcá-lo. — Sua voz é carregada de maldade e por
segundos parece que ele não está aqui.
— Damian, isso é... — Minha frase é interrompida quando suas
arremetidas se tornam cada vez mais furiosas.
Sem condições de me segurar, envolvo minhas pernas em sua
cintura, trazendo-o para mais perto de mim, ele nada diz, mas parece
começar a se enfurecer, não posso negar que isso me deixa ainda mais
ensandecido, é como tentar controlar o que não tem controle. Damian é um
trem desgovernado que vai explodir a qualquer momento quando bater em
alta velocidade em qualquer coisa que o impeça de prosseguir.
— Gostaria muito de gozar urrando nessa posição, Ratinho, mas
tenho algo em mente e espero que consigamos continuar sem que me toque.
— O que deseja? — Neste momento ele pode me pedir qualquer
coisa.
— Você montado em mim, rebolando com vontade em meu pau.
Saindo de mim o vejo se levantar indo em direção a uma poltrona
que com certeza é usada para sexo.
— Venha.
Seu pau pulsa contra sua barriga, a visão do seu corpo
completamente tatuado me faz salivar.
— Como faremos com as mãos?
— Coloque seus cotovelos em meus ombros e mantenha suas mãos
em meus cabelos, apenas ali, Ratinho, se mantenha assim enquanto rebola.
Faço o que me pede, já em seu colo começo a deslizar enquanto sou
empalado por ele que rosna furioso com a sensação de se enterrar em mim.
— Agora rebola. — Um tapa forte atinge minha bunda e ao invés de
reclamar anseio que faça novamente.
Começo a rebolar como ordenou, a sensação é deliciosa, ainda sinto
um pouco de dor, mas nada que ultrapasse o prazer, suas mãos estão presas
em minha cintura como garras fortes que machucam, meu membro se
esfrega entre nossos corpos e ele dita o ritmo de tudo com as mãos, seus
braços fortes começam a me levantar e descer entre as reboladas e a loucura
insana de tudo que acontece parece começar a expandir tudo à nossa volta,
estamos prestes a explodir num orgasmo que com toda certeza me levará ao
cansaço extremo.
— Damian, não aguento mais. — Puxo seus cabelos com mais
força.
— Goza no pau do seu dono, Ratinho. — Uma mordida forte é dada
em meu peito fazendo-me gozar longos jatos entre nós, melando todo o
abdômen definido dele.
— Isso, seu cuzinho mordendo meu pau com tanta força me deixa
perdido.
Quando menos espero sua mão segue para o meu pescoço
começando a apertar com força, começo a ser privado de ar, Damian agora
se perdeu completamente e não está mais aqui, suas arremetidas furiosas de
baixo para cima me mostra o quanto ele está descontrolado. O ar começa a
faltar, penso em colocar minhas mãos contra seu pulso, mas isso pode
realmente me levar à morte, então ele me solta levando suas mãos às
minhas costas gozando enquanto me arranha com força fazendo-me urrar de
dor.
Seus rosnados me assustam, a força com que continua enquanto
goza em mim machuca, até que ele para tudo completamente, olhando-me
furioso, como se desejasse fazer jorrar meu sangue pelo chão do quarto,
ficando assim por alguns segundos, perdido em sua mente doentia, o vejo
piscar algumas vezes.
— Saia! — Sua ordem me assusta.
— Damian... — Tento falar.
— Saia agora de cima de mim, Ícaro! — Ele está realmente me
ameaçando.
Faço como manda me colocando em pé quando o vejo se levantar.
— Acho que isso foi mais que suficiente para sua primeira vez, as
próximas vezes que vier aqui foder você será à minha maneira, espero que
se lembre do quanto fui benevolente como desejado.
Tudo isso é dito enquanto ele caminha até a porta sem ao menos me
olhar, observo enquanto ele sai batendo-a atrás de si e travando-a,
mantendo-me preso.
Suspiro resignado, tudo foi perfeito até o momento em que ele se
perdeu, sigo para o banho precisando me lavar para tentar dormir.
CAPÍTULO 12

Acordo percebendo que dormi apenas três horas, cubro meus olhos
com o braço lembrando-me de horas atrás, nunca em toda minha existência
precisei me conter tanto, era isso ou matar meu brinquedo. Com toda
certeza Ícaro será uma linda joia, seus gritos e grunhidos eram sempre altos
e furiosos, então quando começar a acrescentar a dor no meio disso ele será
como eu sempre desejei que todas as joias fossem.
Sigo para o closet, vestindo meu terno preto de três peças, penso na
joia, é claro que deve estar dormindo ainda, a surra que lhe dei ontem quase
a matou, gozei como há muito não havia feito, depois de foder seu rabo
enquanto estava sangrando quase desmaiado. Ele irá se curvar, todos se
curvam nem que precise usar os ganchos.
Saio do meu quarto chegando ao corredor, no momento em que
passo pela porta do quarto de Ícaro decido vê-lo, abro-a e ele ainda está
dormindo, aproximo-me da cama vendo as marcas que causei em suas
costas, ele tem uma pele branca e o vermelho está quase vivo. A marca do
tapa que lhe dei também enfeita a lateral da sua bunda, imaginá-lo suspenso
enquanto implora para que eu pare faz meu pau pulsar, tenho que apertá-lo,
minha boca saliva para chupá-lo novamente, começo a repensar se devo
mesmo ir naquela maldita reunião, posso começar sua doma hoje mesmo,
mas sou interrompido pelo meu telefone que vibra no bolso.
Saio do seu quarto dessa vez deixando sua porta destrancada, ainda
tem algum tempo para que precise cumprir o cronograma que estabeleci.
— Damian.
— Estamos prontos. — Dimitri acredita que tenho cinco anos e que
precisa me lembrar das minhas obrigações.
— O que eu tenho a ver com isso?
— Apenas me certificando de que não se atrase.
— Se me disser em que momento fui irresponsável quanto ao meu
trabalho, pode ser que eu me interesse em melhorar.
— Damian...
— Vai se foder, Dimi, estarei aí no momento que preciso estar.
— Filho da puta!
— Era mesmo, uma cadela imunda que ao invés de nos manter
salvos ajudava o demônio a nos destruir a cada dia.
— Porra! Fica cada vez mais difícil, Damian.
— O que você quer de mim, Dimitri?
— Nada.
— Então enfie seu nada no meio do cu e me deixe em paz, não
somos próximos, não somos íntimos, não é porque descobriu como me
manter controlado ao me cobrir de tatuagens que isso significa que somos
melhores amigos, você só me toca porque precisa me tatuar, fora isso não
somos nada, essa porra de lealdade só existe pelo sangue do demônio que
carregamos. Escute bem, não temos nada além de trabalhos juntos.
— Ela deveria ter feito muito pior com você.
— Acredite, foi ruim o suficiente.
— Maldita cadela!
— Ligou para me controlar, está encaminhando a conversa a uma
sessão de terapia, quero que você, nossos irmãos, Bratslav e a imunda da
cadela que nos colocou no mundo sigam de mãos dadas para o maldito
inferno, e então, quando eu for para lá, podemos resolver todas as
pendências que temos nessa terra. Serei o primeiro a quebrar o pescoço da
vagabunda e socar um bastão de baseball no rabo dele, quanto a vocês, para
mim não faz diferença.
— Não se atrase.
Encerra a ligação e neste momento minha única vontade é de matar
qualquer um que atravesse meu caminho, observo que estou próximo à
mesa de café e que Gukla me olha como se esperasse minhas ordens.
— Traga meu café. — Sento-me sem dizer mais nada.
Todos que estão trabalhando aqui comigo tem uma dívida de
lealdade, Gukla eu comprei num lote de escravos, ela e suas irmãs estavam
sendo vendidas como cadelas para um inimigo, para irritar o desgraçado as
peguei para mim, são quinze delas trabalhando aqui, livres de estupros e
violência. Sorrio internamente ao me lembrar da joia, o desgraçado chinês
não está tendo a mesma sorte que elas, quanto aos meus soldados todos têm
suas famílias sobre minha mira, eles me são leais e eu os mantenho sob
proteção, não confio em nenhum deles, na verdade não confio em ninguém,
caso precise não hesito em meter uma bala em suas testas e mandá-los ao
inferno.
— Seu café, senhor. — Aceno com a cabeça.
Como enquanto a imagem da próxima reunião faz quase me jogar o
café para fora, encarar Bratislav e Konstantin na mesma sala é um nojo,
preferia beber meu próprio vômito, os dois doentes desgraçados que
criaram monstros como eu, o primeiro treinando e destruindo, e o segundo
permitindo, sei que não serei eu a matá-los, mas com certeza estarei na
plateia enquanto o caos se instalar.
Largo meu café sem nem ao menos conseguir continuar, pego
minhas chaves atravessando a sala quando vejo Ícaro descer as escadas, seu
olhar imediatamente segue até seus pés quando me vê, não lhe direciono a
palavra e sigo até meu carro saindo enquanto os pneus derrapam no gelo
fino existente em algumas partes. Gosto de carros e de alta velocidade,
busco pela adrenalina da quase morte, de como a linha tênue entre viver e
morrer pode ser rompida com apenas um deslize.
— Damian. — Ouço uma voz suave feminina me chamar como um
sussurro, então olho dentro do carro e não vejo nada.
As lembranças decidem me tomar, luto bravamente para mantê-las
enterradas no mais profundo abismo, por muitas vezes essa luta é vencida
por elas exatamente como agora, meus olhos seguem pelo trajeto, minha
mente neste momento volta até lá.

(...)
— Acordem seus imprestáveis do inferno, demônios malditos!
Ainda com a mente embaralhada pelo sono a vejo puxar os
cobertores dos meus irmãos, então o meu desaparece levando consigo as
cascas das feridas que Blatslav nos causou ontem, vejo Darko levar um
chute que o lança da cama, ele tem apenas seis anos.
Sigo em sua direção quando um tapa atinge meu rosto. — Deixe-o!
Esse lerdo nunca consegue acordar como se deve.
— Ele está cansado de ontem — Dusham rosna furioso.
— E você, seu maldito demônio, não se meta — ela fala com ele,
mas não se aproxima, parece temê-lo.
Dimitri pouco se importa com os chutes e pontapés que levamos e
vai até Darko que tenta controlar o choro, mas não consegue, os tapas dela
o atinge enquanto ele o protege com seu corpo, Dusham me olha parecendo
decidido a seguir comigo até Darko.
— Vocês são imundos, mas você, Darko, nasceu com os olhos do
diabo. — Ela pega Darko pelo pescoço após arrancar Dimitri de cima dele.
— Solte-o! — Dimitri ainda tenta soltá-lo, mas ela parece possuída
como todos os dias, sempre rasgada e sangrando.
— Diga-me, Dimi, como é lá? — Vejo seu corpo tensionar e meu
irmão ficar branco como um papel.
— Pare! — grito. Ela não pode fazer isso com ele.
— Ouçam bem cada um de vocês, eu os quero mortos, todos os
quatro mortos servindo de comida aos corvos, pertencem ao inferno, é lá
que é o lugar de vocês.
Ela sai e a imagem de Bratslav aparece quando abre a porta, seu
olhar se crava exatamente ao meu trazendo um medo descomunal que
quase me paralisa quando o vejo sorrir demoníaco.
Observo meus irmãos e eu, nossos corpos nus, marcados e agora
sangrando por algumas feridas. Dimitri continua branco como se desejasse
se fundir a parede. Darko chora abraçado ao seu corpo pequeno. Dusham
parece querer assassinar todos, suas mãos estão fechadas em punho e seu
olhar fixo na porta, uma fúria assassina me faz prometer que seria um dos
piores de todos, arrancaria esse medo de mim, essa vontade de me encolher
a cada vez que o olho. Vai chegar o dia que ele irá me temer.
(...)
— Damian! — Alguém me chama então presto atenção onde estou,
em frente à mansão de Konstantin e Dusham bate contra o vidro do meu
carro. — Vai ficar aí travando nossos carros por mais quanto tempo? —
questiona assim que abaixo o vidro.
— Estou saindo. — Seu arquear de sobrancelha parece duvidar das
minhas palavras, enquanto ele desaparece da minha vista voltando para o
seu carro.
Percebo que meus dedos estão brancos pela força desumana que
faço enquanto seguro o volante, respiro fundo seguindo com meu carro até
a frente da casa, os Anjos descem de seus carros, apenas nos
cumprimentamos com um acenar de cabeça seguindo para dentro, meu
olhar está fixo em Dusham, as recordações das lembranças que me
arrebataram no carro percorrem meu sistema, enquanto chegamos ao
escritório, Konstantin fuma um charuto enquanto o desgraçado do Bratslav
o olha sorrindo de algo que com certeza comentaram antes mesmo de
chegarmos aqui.
— Stefan — Konstantin fala e só então percebo que o futuro chefe
da Triglav está aqui, como se fosse possível Dusham estar longe dele, existe
um plano para destronar Konstantin e nós trabalhamos nele esperando
ansiosamente o momento de ir às forras com esses desgraçados. O que
precisamos é de uma aliança com outras máfias, algo que não acontece e
isso tem me inquietado porque ainda que goste muito do que me tornei,
estar com uma corrente que amarra meu pé a esses dois me causa um ódio
causticante.
— Sim.
— Teremos um carregamento vip, em duas semanas, serão quatro
domas para cada um, e preciso que sejam rápidos, os Anjos ficarão aqui e
você irá aprender com Dusham algumas técnicas. Damian está na doma de
uma joia preciosa, ele será encaminhado a um príncipe, é um presente do
sultão, então não pode se dividir com ninguém.
Meus pensamentos vagueiam imaginando o que faço aqui nesse
caralho de reunião se não serei domador de mais nada, olho para Bratslav
que me encara como se ansiasse que demonstrasse alguma coisa, logo ele
sorri e minha vontade é de rasgar sua garganta.
— Teremos homens na carga?
— Sim.
— Então por que Damian não entra na soma? Dividiríamos três para
cada — Stefan questiona com coerência.
— Todas as domas precisam ser felinas, Damian está no meio de
uma doma canina, não quero que misture as coisas.
— Quando foi que misturei algo? — questiono sem ter sido
chamado a conversa sabendo que não devo fazer isso.
— Ousa interromper o chefe, seu imundo? — Bratslav se ergue, eu
sabia, ele quer me ver descontrolado.
— Sinto muito, senhor. — Minhas palavras saem amargas, mas nada
é mais prazeroso que sua cara de bunda, surpreso por não acreditar que
recuei, eu gargalho mentalmente a cada vez que faço Bratislav de idiota.
— É isso, a verdade é que não sei por que Damian está aqui —
Konstantin avisa. — Deveria estar em sua doma. Escute bem, Anjo do
Caos, aquela joia foi escolhida a dedo, pode marcar seu corpo, mas não
pode matá-la, eu mesmo o matarei se algo acontecer com ele. — Intrigante,
já que essa parte não foi informada por Dusham, neste momento olho para
ele que com seu olhar me diz que apenas estava tentando me controlar e eu
o odeio por isso.
— Sim, senhor, farei o meu melhor.
Passamos mais algumas horas enquanto discutimos sobre as boates
que precisamos vasculhar e percebo que eles não sabem do que fiz no
leilão, Klinger não me entregaria dessa forma, sabe bem que morreria
apenas por ser um maldito cagueta. A reunião se encerra com as novas
ordens sobre as domas e algumas cobranças que deveríamos fazer após
entregarmos os novos pets aos seus donos.
CAPÍTULO 13

É madrugada e estou com a joia, odeio essa parte onde preciso


conversar, fazer com que se renda logo para que não o machuque mais.
Tratei das suas feridas após lhe dar banho, gosto de usar medicações que
ardem, é delicioso ouvi-los gemer de dor, já que a parte enfadonha está
próxima, continuo sendo cruel.
— Então, Lulu. — Sigo, porque esse é seu nome, o nome que está
em sua coleira que seu dono irá usar. — Pode ter uma vida bem tranquila e
livre de sofrimento, basta apenas ficar de quatro, rebolar o rabo, esse que
está socado em seu cu — falo do plug anal que ele tem usado com um
longo rabo fofo que o deixa ainda mais parecido com um cão — e implorar
por carinho, lamber seu dono e lhe dar prazer.
— Maldito demônio.
— Ah, isso eu sou, mas digamos que estamos apenas no começo.
— Quero que todos vocês morram!
— Todos querem, mas deixe-me contar um segredo, a morte me
teme, ela não faz nada aqui porque não tem esse poder, apenas caminha da
porta para fora.
— Doente maldito, nunca me prestarei ao papel doentio que tenta
me impor.
— Sempre a mesma coisa, não farei, nunca serei, jamais irei me
curvar, poupe-me de suas palavras vãs, não só fará como irá implorar que
eu soque meu pau nesse seu rabo todas as vezes que desejar sexo, sabe por
quê? Porque vou levá-lo ao limite, vou fazê-lo implorar para que te torne
um maldito pet que fode por água, comida e por carinho. Vai esfregar seu
cu no chão em busca de orgasmos quando te privar do plug que se encontra
em você agora, se prenderá na minha perna como os cães fazem com o pau
tão duro que irá gozar apenas assim. Vai gritar por orgasmos e ouça bem,
não os terá, irá encontrar apenas dor, uma dor descomunal que parece que
vai partir seu pau, enquanto seu cu pisca por ter algo socado nele.
— Foi assim que ficou quando te domaram? Como uma cadela?
Um soco o atinge em cheio o rosto, maldito tormento, não era para
lhe foder hoje, mas não tenho opção, levanto-me indo até a cômoda
pegando um estimulante que o fará gritar por orgasmos.
— Veremos quanto tempo consegue resistir sem implorar — digo
inserindo a agulha em seu pescoço.
Deixo minha dose ao lado e cronometro seu estado de excitação,
trinta segundos com seus olhos tentando entender o que está acontecendo,
seu corpo começa a ficar quente e sua respiração ofegante, com um minuto
seu pau está ficando duro.
— O que fez comigo? — Ele rola na cama pet em que dorme.
— Veremos se não implora.
— Desgraçado!
Seu corpo começa a serpentear pelo chão aos dois minutos em que o
estimulante foi aplicado, ele não pode se tocar, está algemado com as mãos
para trás, sua agonia me excita e começo a me tocar com seu desespero.
— Meu pau pulsa só de vê-lo assim.
— Faça parar! — Seu choro começa.
— Vamos, Lulu, implore. — Sorrio demoníaco da sua situação.
Ele se vira de bruços tentando friccionar seu pau contra a caminha
pet.
— Não! — Seus movimentos aumentam, seus gritos de prazer e
agonia se misturam e quando percebo que está prestes a gozar o viro de
costas.
— Implore, não vai gozar sem implorar.
Seu corpo serpenteia como se estivesse fodendo, mas sem contato
algum ele não irá conseguir nada. Ele chora, grita e faz de tudo para
conseguir voltar à posição em que seu pau tenha contato com a cama, mas
meu pé prende seu peito.
— Haaaa!!! Me ajude, eu preciso, meu pau vai se partir.
— Vamos, Lulu, isso não é nem perto do que treinamos.
— Meu corpo queima, meu senhor, por favor, me fode, eu imploro!
— Vamos, Lulu, está chegando lá.
— Haaaa!! — Seus gritos começam a ser de agonia.
Estamos há cinco minutos nisso, com dez ele irá chegar à beira da
loucura. Tiro meu pé do seu peito pegando a seringa com estimulante e
aplicando direto em minha veia, ele conseguiu virar de bruços novamente
voltando a foder a sua caminha, solto suas algemas.
— Lulu, de quatro agora! — ordeno retirando de uma vez o plug de
seu cu.
Logo ele começa a latir e rebolar sua bunda, a imagem é deliciosa e
quando ele põe a língua para fora em um sorriso, sei que ele entendeu quem
comanda. Esfregando sua cabeça em minhas pernas enquanto agoniza, ele
implora e eu urro ensandecido, ele está de quatro e meto em apenas uma
arremetida, e assim por quase três horas ficamos nos libertando, liberando
todos os orgasmos que o estimulante nos cobra. Sempre que gozamos temos
um fôlego para voltar e recomeçar, na primeira vez ele tenta se rebelar,
porém entende que é apenas o começo. Ainda não tinha usado nele o
estimulante, depois disso ele se comporta como Lulu, latindo por atenção
em busca de carinho. Minha mente perde todo o tesão com a situação, é
enervante quando se entregam de forma rápida, ainda mais para mim que
costumo desejar pelo medo, estou quase com o pau esfolado quando caio
exausto no chão e Lulu se encontra desmaiado. Reúno a pouca força que
tenho seguindo para o meu quarto, tomo banho, passo uma pomada
anestésica no pau e me jogo na cama com todas as minhas forças esgotadas.
Acordo faltando pouco tempo para estar na mesa para o café, o
relógio na parede me diz isso. Após o sexo que tive com Damian não o vi
mais, a informação que recebi foi que saiu. Passei o dia caminhando sob o
olhar atento dos soldados que tem acesso à parte interna da casa, segui o
cronograma e voltei para o quarto, ouvi o barulho do seu carro perto da
meia-noite, dessa vez me mantive no quarto, agora estou descendo as
escadas contemplando apenas o silêncio, tomo meu café sob o olhar atento
de Gukla, toda via não direciono conversa a ela.
— Ele está no quarto.
— Por que está me falando isso?
— Só a nível de informação.
— Hum...
Termino meu café e volto para o meu quarto, olhando a neve cair do
lado de fora através da janela, percebo que se passaram algumas horas e ele
não apareceu.
Sigo para fora, está próximo ao almoço, decido descer e esperar na
cozinha enquanto ouço a conversa delas que segue e ele não aparece.
Caminho de forma despretensiosa e quando percebo me dou conta de onde
estou, olho para o corredor até encontrar sua porta, movido pela curiosidade
e as lembranças da nossa primeira vez que foi extremamente prazerosa,
apesar de o final ter sido muito distante do que imaginei. Toco a maçaneta e
vejo que está destrancada, entro em seu quarto devagar sem fazer barulho o
vendo deitado na cama, nu com o rosto coberto pelo braço. Observo seu
corpo musculoso e completamente tatuado, seu membro está mole e ainda
sim é impressionante pelo tamanho, com certeza tem mais de vinte três
centímetros, eu não sou pequeno e ele consegue ser ainda maior. Pareço um
idiota babando na perfeição à minha frente.
Precisa parar de imaginar coisas que jamais irão acontecer,
Tomasso. Penso sem conseguir forçar meu cérebro a me obedecer.
Continuo observando os detalhes de suas tatuagens, em uma canela
tem uma caveira, na outra uma coruja. Continuo analisando tudo, o medo de
ser pego me toma, mas a curiosidade é maior, sigo subindo pelo seu corpo
chegando até as coxas musculosas e grossas, todos os desenhos parecem
distintos, porém juntos fazem parte de uma obra ainda mais perfeita. Partes
pretas unificam todas elas, tem até uma santa chorando na lateral da sua
barriga, o conjunto da obra é realmente tentador e os piercings em seus
mamilos parecem que nasceram para estar ali.
— Sua insubordinação lhe causará um castigo, Ratinho. — Sua voz
rouca me assusta.
— Como sabe? — gaguejo assustado por ter sido pego.
— Senti que estava sendo observado. — Ele continua na mesma
posição.
— Não fiz barulho nenhum.
— Como um exímio rato.
Seus olhos negros agora estão em mim, neste momento o medo me
toma por completo.
— O que tanto observava? Estava pensando em como me matar
como prometeu fazer?
— Não.
— Sua curiosidade pode levá-lo a lugares que com toda certeza me
deixarão muito excitado e lhe trarão uma dor descomunal.
— Por que sempre ameaça?
— Meu Ícaro, eu faço o que os demônios fazem.
— Por que se intitula assim?
— O que vê quando me olha?
— Nada.
— Vamos, fale, não irá sofrer represálias, não por isso. — Sua
ameaça velada sobre eu ter entrado aqui sem autorização continua.
— Parece alguém que não tem alma, seus olhos estão sempre
mortos, não parece ter esperança, é como se apenas estivesse existindo,
aguardando ansioso pela morte que o trará descanso — falo e minha voz
vacila em alguns momentos, mas talvez fosse pior se o desobedecesse.
— Gosto de como é observador, realmente acertou, não conheço o
sentimento de esperança, muito menos o de estar vivo, com certeza de
alguma forma anseio pelo inferno, o real, não o que vivo desde que nasci.
— Por que me fala isso?
— Sinceramente não sei, talvez goste da ideia de saber que sabe
bem com quem está lidando quando começarmos a evoluir.
— O que tem em mente? — Meus pensamentos andam focados
demais no homem à minha frente, ele nunca sorri, não um sorriso que não
seja sarcástico ou demoníaco.
— Crueldade, perversão e sadismo.
— É para servir a esse propósito que estou aqui?
— Sim, a priori seria para fodê-lo com força até a morte, mas o ódio
passou, agora com a mente limpa do inferno em que vivo constantemente o
quero como objeto de prazer.
— Consegue prazer causando dor?
— Sim, muita dor.
— Como foi ontem?
— Hahahaha! — Uma gargalhada sombria estoura no quarto. —
Um maldito inferno, mas se digo que farei algo eu mantenho minha palavra,
não se consegue o que conquistei voltando atrás em suas decisões.
Engulo suas palavras, lembrando do quanto senti quando suas unhas
rasgaram minhas costas, fico paralisado imaginando o quão cruel ele
consegue ser, sempre fala sobre joias, domas e causar dor, mas o Damian
que vejo é contido, não parece chegar no ponto que diz alcançar. Vejo-o se
colocar de pé e caminhar em minha direção, recuo alguns passos para trás,
com certeza ele tem uns quinze centímetros a mais que eu, bem mais
encorpado também, minhas costas batem contra a parede.
— Sabe, meu Ícaro, sua curiosidade estranhamente não me irrita,
com certeza me pega nos meus melhores momentos, onde meus demônios
parecem estar dormindo, mas enfie uma coisa em sua cabeça, eu sou muito,
muito cruel, muito sádico e muito mau, da próxima vez que entrar onde não
deve, como fez agora, te darei uma surra que o deixará desmaiado, depois
gozarei sobre seu corpo ensanguentado e irei dormir sem nenhum peso na
consciência. — Suas mãos agarram meu rosto pela barba, que apesar de
feita está grande, fazendo-me sentir a pressão de tê-la sido puxada por ele.
— Você entendeu? — Lá está aquele olhar morto e sombrio.
— Sim.
Com suas mãos desaparecendo do meu rosto o vejo me dar as costas
e seguir em direção ao banheiro, agarro a oportunidade que ganho
desaparecendo das suas vistas.
CAPÍTULO 14

Embaixo da água quente e sentindo meus músculos reclamarem pelo


efeito colateral do estimulante, passo sabão líquido em meu corpo e lavar
meu pau sensível é uma maldição, odeio sentir dor, odeio sentir a maldita
dor. Após retirar todo o sabão aumento a temperatura da água e deixo que
ela caia sobre mim, é quente, incômodo, mas parece me ajudar a não me
perder. Sorrio de canto ao me lembrar de Ícaro, preciso pensar em como
castigá-lo por entrar aqui sem ser convidado, apenas Gukla tem essa
autorização e ele com toda certeza sabia que não poderia vir já que tem a
planta da casa e existe um grande X onde fica meu quarto.
Quem sabe começar a lhe causar dor, imaginá-lo gritando meu nome
implorando para que pare, as imagens da sua primeira vez permeiam minha
mente e sinto meu pau endurecer e doer.
— Droga! — Soco a parede com força.
Por que diabos está revivendo isso, Damian? Assusto-me por isso,
nunca me recordo com riqueza de detalhes qualquer que seja a foda que
tenha, só os gritos me acompanham, nunca as imagens.
Sinto uma sensação estranha nunca vivida por mim ondular pelo
meu corpo e não é prazer, é estranho, confuso e me incomoda. Irritado saio
do box molhado, secando-me curioso com isso que se instalou e parece não
querer me deixar.
— Está ficando louco — falo para que eu ouça.
Seco-me indo em direção ao meu notebook, começo a vistoriar
algumas coisas, tenho todos os meus inimigos sob total vigilância.
Konstantin e Bratslav agora estão no escritório do chefe, não tenho
imagens, mas os pontos do GPS me mostram isso, Darko está na Grécia,
Dimitri nos subterrâneos de Belgrado, Dusham no Rio de Janeiro com
Stefan, como sempre.
— Lambe bolas. — Bufo para o nada.
Manter minha lealdade a eles é primordial para derrubar esses dois
escrotos no poder, estou em busca de pontos fracos de Bratslav e Konstantin
para fechar meu círculo de provas, todos os outros conheço seus pontos
fracos, apenas esses dois não deixam pontas soltas, no momento certo irei
encontrar algo que os derrube, ou que me liberte, às vezes carta branca é
muito melhor de se conquistar que ser realmente livre, pressionar onde dói
nas pessoas é tão prazeroso quanto estar urrando de prazer.
Tenho olhos em tudo, no momento abro as câmeras escondidas na
minha mansão, o pet dorme em sua caminha, vejo que se alimentou da
ração que deixei antes de sair.
— Bom garoto. — Mas só de imaginar que de agora em diante
preciso treiná-lo sem lhe causar danos me entedia, minha certeza é de que
ele irá sair daqui como um lindo cãozinho.
Na outra aba acesso o quarto de Ícaro e ele não está, olho no closet,
no banheiro, nada, acesso a imagem debaixo de sua cama, ele também não
se esconde lá, acesso seu GPS para que descubra por onde anda — sim ele
tem um, no pescoço próximo à sua nuca, um nano chip de localização — e
o encontro na biblioteca. Vistorio toda a casa antes de desligar meu
notebook, vejo meu telefone se acender quando recebo uma mensagem de
Klinger.

Idiota, com uma joia só minha não tenho necessidade de ir até o


antro que ele comanda, isso significa que não lhe deverei nenhuma ficha de
favores, com certeza esse é o motivo da sua mensagem.
Penso em sair como estou, mas sinto a porra da sensibilidade no
meu pau e visto uma cueca, não sei o que é pior, com ou sem.
Desço as escadas e encontro Gukla com uma de suas irmãs que
assim que me vê desaparece apavorada.
— Ele está enlouquecido com o que chegou — Gukla fala
parecendo desejar saber minha reação sobre isso.
— Como sabe? — sondo.
— Seu sorriso está de rasgar o rosto.
— Ao menos isso pode entretê-lo.
— Sim, eu sempre disse que aquele lugar precisava de vida.
— Continue enfiando esse pequeno nariz empinado apenas onde for
chamada, Gukla. — Seu olhar se assusta.
— Pode não perceber o quanto ele te faz bem, mas já vejo
mudanças.
— Ele é um escravo assim como você — rosno para ela.
— Pelo visto gosta de tratar bem seus pertences, já que comprou
cinco caixas de romances para distraí-lo.
— Porque disse que ele queria livros, é apenas alisar com uma mão
enquanto com certeza baterei com a outra.
— Faz muito bem isso, senhor.
— Suma das minhas vistas ou prometo que a levarei lá para baixo e
começarei a domá-la enviando-a para o pior comprador que encontrar —
ameaço vendo-a evaporar da minha frente como fumaça.
Não sei por qual motivo fui ouvi-la, caminho em direção à
biblioteca, assim que entro vejo que ele está abrindo a segunda caixa de
livros.
— Damian! — Assusta-se ao me ver entrar.
— Está devendo algo?
— Desculpe, não sei se era para abrir, mas Gukla me pediu para
arrumá-los.
— Obedeça a ordem.
— Posso saber por que comprou tantos romances assim?
— Gukla disse que isso precisava de vida.
— Ela tinha razão.
— O que sabe sobre isso?
— Nada, apenas repassei a informação. — Vejo seu olhar brilhar
assim que pega um exemplar nas mãos. — Damian?
— Sim.
— Posso ler alguns? — Olho para ele e seu olhar pidão não me
passa despercebido.
— Não! — respondo vendo seu semblante murchar. — Esse é seu
castigo por andar onde não devia e entrar no meu quarto sem autorização,
sabe que não pode ir aonde é proibido.
— Mas não tinha nada que me proibisse de ir até seu quarto, é área
livre no mapa — fala me olhando e não o vejo vacilar.
— Eu estava no quarto, não havia te convidado, então era área
proibida. Continue obedecendo e pode ser que o libere para ler como tanto
parece desejar. — Volta a aguardar os livros arrancando-os do plástico e
colocando nos espaços já abertos na estante. — Ícaro, não tente burlar
minhas ordens, existem câmeras por toda a mansão, posso castigá-lo por
sua insubordinação.
Saio da biblioteca sem entender o motivo de proibi-lo, já que foi
exatamente para que ele se distraia que comprei os malditos romances que
Gukla pediu.

Passo meu dia em casa administrando alguns empreendimentos que


tenho pelo mundo, desci apenas para jantar, agora estou jogado na cama
com sono e sem vontade alguma de fechar meus olhos. Os malditos
pesadelos estão à espreita e todas as vezes que fico assim, é a precedência
de um assassinato que irei cometer. Fecho meus olhos ainda muito alerta
quando vejo os primeiros olhos focados em mim, todas as malditas cadelas
parecem ter se reunido para me tocar.
(...)
— Me soltem!
— Vamos, Damian, ele nos paga para tocá-lo.
— Eu sou gay, porra! Suas imundas malditas.
— Damian, você não provou direito, vou esfregar minha boceta em
sua boca, com certeza meu gosto vai fazê-lo mudar de ideia.
— Juro que se me tocar eu vou rasgar sua garganta enquanto puxo
sua traqueia com as próprias mãos.
Todas começam a gargalhar.
(....)

Abro meus olhos assustado quando ouço batidas na porta, com meu
coração esmurrando meu peito como se fosse explodir a qualquer momento
caminho até a porta, abrindo-a.
— Reporte — digo assim que vejo um dos soldados que tem
autorização de caminhar pela parte interna da casa.
— A joia, senhor, está queimando em febre, delirando em agonia.
— Chamou o Dr. Miscaro?
— Está em outro país numa convenção.
— Desgraçado! — rosno furioso por saber. — Deixe comigo, sei
exatamente quem pode nos ajudar neste momento, continue sua observação
até que a médica chegue.
— Sim, senhor.
Assim que sai corro até meu telefone e disco o número dela, por
acompanhá-la vi que está em Berlim.
— Damian. — A voz de Monike invade a linha ainda sonolenta.
— Preciso da sua ajuda.
— O que está acontecendo?
— Uma joia está queimando em febre e o médico responsável por
ela está em uma convenção.
— Damian, não quero me envolver nisso.
— Bem, você está envolvida no inferno tanto quanto nós, mas
gostaria mesmo de saber o motivo de estar na casa do Dimitri enquanto ele
fode vadias nos subterrâneos de Belgrado.
— Chego em sua casa em alguns minutos.
— Imaginei.
CAPÍTULO 15

Recebo Monike na porta enquanto ela caminha até mim.


— Onde ele está?
— No quarto de doma.
— Me leve até lá.
Seu olhar me diz o quanto me teme, mas neste momento não posso
pensar nisso, ela teme a todos nós, sempre temeu mesmo sendo alvo da
nossa proteção, já que isso é uma ordem expressa e sagrada de Dusham, e
não costumamos quebrar algumas leis.
Abro a porta vendo-a seguir até a joia que treme, começando a abrir
sua bolsa ela mede a temperatura e afere a pressão, ouvimos algumas coisas
desconexas que ele solta enquanto ela o avalia.
— 40º de febre, precisamos colocá-lo na água fria para baixar sua
temperatura, com toda certeza seus ferimentos estão infeccionando.
— Mas tão rápido?
— Não sei quanto o levou ao limite.
— Usei o estimulante.
— Está explicado, por imaginar isso trouxe um contra-efeito, isso é
o corpo dele em colapso por usá-lo pela primeira vez. — Seu olhar segue
para o meu. — Não me olhe com cara de estou bem, ele nunca usou.
Não digo nada, pego nos braços levando-o até o chuveiro frio.
— Molhe sua cabeça — avisa entrando no box comigo.
— Ele pode morrer?
— Todos podem.
— Inferno, isso é um maldito tormento!
Ficamos com ele por algum tempo, quando ela diz já estar bom o
suficiente, o secamos juntos, em todos os momentos ela se policia para não
me tocar, Monike conhece algumas coisas sobre nós e sabe que ser tocado é
algo que não concedo a ninguém, nem mesmo nessa situação.
Pego-o novamente nos braços, levando-o para o quarto.
— Não o coloque aí — ordena com veemência, esse diabo de
mulher quando está sendo médica acredita que pode mandar em mim.
— Não.
— Faça o que te peço, Damian, não estou tentando controlar seu
território, só preciso que ele fique acomodado para ajudá-lo a sobreviver.
Furioso, faço o que me pede, colocando-o na cama. Por mais algum
tempo administra alguns remédios que segundo ela em algum tempo irão
bloquear os efeitos do estimulante, prescreve algo em uma receita que agora
está sendo esticada em minha direção.
— Aqui, administre tudo de oito em oito horas, logo o efeito irá
passar e a febre cessar. — Pego a receita olhando para ela. — Não precisa
agradecer, Damian, apesar de odiar esse inferno em que nasci sinto que
vocês são como meus irmãos, e nunca irei me esquecer que ainda que sejam
distantes uns dos outros, me protegeram para que eu conseguisse chegar até
aqui. Só estou na casa de Dimitri porque precisei operar um soldado às
pressas.
— Saiu da sua casa só para isso? — sondo.
— Sim, Dimitri mandou me buscar, pelo visto agora ele está
acertando as contas nos subterrâneos já que encontrei um papel de ameaça
na boca do soldado.
— Como diabos não estou sabendo disso?
— Não sei, mas com certeza aquele não era seu setor de supervisão,
e eu estou sendo a médica das joias que Dimitri doma.
— Interessante.
— O quê? — questiona enquanto desce as escadas.
— Nada.
Acompanho-a com os olhos enquanto entra no seu carro e segue
para os portões de saída, estou exausto, já é madrugada e preciso apenas da
minha cama. Abro a porta jogando-me sobre o colchão, sinto o cheiro de
Ícaro, com certeza ficou impregnado aqui desde que entrou mais cedo,
fecho os olhos e estou cansado demais para ter pesadelos.
Estou saindo do banheiro quando me deparo com Damian
esparramado no meu quarto sobre a cama, paraliso meu corpo imaginando o
que diabos faz aqui, não existe a mera possibilidade de eu dormir lá, não
com ele ali. Vou até o closet pegando dois cobertores, sei que posso estar
fazendo uma grande merda agora, mas o cubro e ele nem ao menos se
mexe, com outro cobertor sigo até a poltrona que já descobri ser reclinável,
ajeito-me nela da forma mais aconchegante que consigo.
Por que o cobri? Pergunto-me sem entender esse movimento.
Continuo de olho aberto sem entender minhas reações quando
novamente as imagens da nossa primeira vez voltam à minha cabeça, e
apesar de agora estar desejando sua morte por ter me proibido de ler os
livros novos que estão na estante não consigo odiá-lo de fato.
Eu vi e ouvi o que ele pode fazer, sei que pelo terror que as
funcionárias têm dele não deve ser uma pessoa amistosa, mas algo ainda me
intriga nele e isso está me matando aos poucos, eu deveria desprezá-lo e
manter minha promessa de matá-lo, e não estar aqui como um idiota
babando sobre ele, cuidando e velando seu sono.
Exausto de pensar fecho meus olhos entregando-me ao cansaço.

Desperto quando o que parece ser o início dos raios solares adentra
o quarto, por estar no canto eles começam por aqui até chegar à cama, me
estico um pouco já que sou enorme e dormi encolhido, observo que Damian
continua na mesma posição que o encontrei. Olho no grande relógio da
parede, dormi pouco mais de quatro horas, faltando algumas para que eu
precise me levantar. Sigo observando-o quando finalmente se mexe, se
colocando de barriga para cima, a claridade deve incomodá-lo porque já
vira com o braço cobrindo seus olhos, vejo seu corpo tensionar quando
começa a bater suas mãos sobre o cobertor, então seu olhar assassino e frio
repousa sobre mim.
— O que faz aqui? — Sua pergunta é furiosa enquanto ele lança
longe o cobertor com o qual o cobri.
— Eu fui colocado aqui?
— Quem no inferno te colocaria no meu quarto sem ser eu? — Ele
está em pé caminhando em minha direção.
— Desculpe, mas está no meu quarto. — Minhas palavras parecem
despertá-lo.
Seu olhar vaga pelo local, então volta a me olhar com o mesmo ódio
contido de antes.
— Você quem me cobriu?
— Sim.
— Nunca mais faça isso, entendeu? — Meu coração parece que vai
parar de bater no peito, Damian parece transtornado, mas contido, é confuso
e me perco com todos os sinais que ele emite sem que eu os entenda.
— Sim.
Olhando para o grande relógio da parede sai furioso batendo a porta
com força.
— O que foi isso? — Esfrego meu rosto com as mãos.
Com o corpo tenso pelo que acabou de acontecer, continuo onde
estou sem me mexer, até que finalmente chega a hora de cumprir o
cronograma estipulado por ele, com toda certeza irritá-lo mais seria meu
fim.
Pronto, desço para o café, Gukla sorri assim que me vê.
— Bom dia! — Cumprimento sentando-me.
Olho para o lugar de Damian e ele não está. Começo a me servir,
olho para fora imaginando que posso dar um mergulho na piscina aquecida
ou posso usar a piscina natural termal[9] que existe lá fora, pelo que Gukla
me disse, foi construído exatamente para esses períodos. Os caminhos estão
sempre limpos e a temperatura segue sempre ideal.
— Onde posso pegar os chinelos e as toalhas para ir lá fora? —
Aponto para onde quero ir.
— Vou pedir para colocarem no banco próximo à porta de saída.
Agradeço com um acenar de cabeça enquanto imagino algumas
coisas da minha vida, tudo que aconteceu para chegar até aqui. Lembro-me
de Antonella, seu sorriso infantil e a saudade me agarra trazendo uma dor
insana no peito. Levanto-me seguindo até a porta de saída, calço os chinelos
me envolvendo num roupão extremamente grosso que tem um capuz que
ajuda e muito a encarar a neve lá fora. O frio me atinge assim que abro a
porta, fechando-a atrás de mim e seguindo para a água quente, se não fosse
pelo grosso roupão com certeza estaria tremendo de frio.
Rápido retiro o roupão seguindo diretamente para a água quente e
gostosa, mergulho minha cabeça rapidamente e saio, meus cílios começam
a congelar, minha barba tem gelo então eu sorrio.
Sorrio genuinamente quando ouço a voz de Antonella me
chamando.
— Vamos, Tomasso, só mais uma vez.
Suas pequenas mãozinhas estendidas para mim, enquanto nos
encaminhávamos pelos corredores do lugar, fico assim em estado de
contemplação, não vejo o tempo passar, neste momento não me encontro
preso a lugar algum, sou livre, livre na minha mente, livre no meu coração.
CAPÍTULO 16

Ainda estou sentado na minha cama tentando entender como no


inferno fui parar no quarto dele, no momento em que senti o cobertor sobre
mim voltei ao meu quarto na casa do demônio, meu corpo inteiro paralisou
e quase tive uma parada cardíaca, não podia estar lá, eu não era mais aquele
garotinho, então senti o cheiro do Ícaro que jamais estaria naquele lugar e
isso me forçou a abrir meus olhos e encontrá-lo me encarando.
Nunca me cubro, por isso a casa é completamente climatizada,
quando me disse que não estava no meu quarto e sim no dele, fiquei sem
reação, não tinha como explicar, e mesmo que a porra da casa fosse minha
me senti vulnerável, com toda certeza foi o fato de acordar coberto.
Sigo até o espelho, um enorme que tenho aqui onde consigo
enxergar todo meu corpo, já que um fica em frente ao outro. Começo a
procurar de forma incessante algum centímetro de pele sem tinta, um
mísero que seja que me deixe vulnerável, após um tempo percebo que meu
rosto, meu pau e meus pés ainda são os únicos lugares que não existe tinta e
que no momento irão continuar assim.
Saio de lá seguindo até o café da manhã, ao me aproximar percebo
que ele não está mais aqui. Gukla me serve sem nada me dizer, apenas com
um acenar de cabeça me cumprimenta, ela parece saber quando as coisas
não andam boas comigo. Meus olhos seguem para o lado de fora o
encontrando dentro da piscina externa, lugar que construí ao descobrir que
tínhamos água muito quente brotando das rochas no chão da propriedade, é
um lago pequeno, mas com toda estrutura para que se fique confortável, é
fundo para cobrir o corpo de um homem do meu tamanho caso eu deseje
ficar em pé. Todo o chão é feito de madeira e tem vários níveis de
profundidade.
Continuo comendo quando observo que uma das funcionárias vai
até ele e volta cochichando algo a Gukla que confirma com a cabeça. Vejo-a
seguir em direção ao aparelho telefônico que usamos para nos comunicar
com todos os setores da casa, continuo meu momento de observação
quando Vitchem chega, ele é meu fisioterapeuta, por treinar sempre preciso
de cuidados, foi um maldito inferno conseguir ser tratado por ele já que não
suporto toques ou dor, ele consegue tratar do meu corpo apenas com
aparelhos, mas uma vez quase o assassinei.
Ele monta uma maca com alguns óleos do lado de dentro próximo à
piscina aquecida, quando vejo Ícaro sair de lá no momento em que é
chamado pela mesma funcionária, com toda certeza lhe informando que
Vitchem já está à sua disposição.
Sorrindo ele sai da água seguindo em direção à parte da piscina, não
consigo ouvir a conversa, mas logo Ícaro se deita na maca, espero que
Vitchem pegue seus aparelhos, mas isso não acontece, então suas mãos
cheias de óleo começam a deslizar sobre as panturrilhas de Ícaro, meus
olhos se cravam na cena, suas mãos sobem pelas suas pernas, e viro minha
cabeça de lado para entender o que diabos está acontecendo. Estou
paralisado com a visão e sentindo um aperto estranho no peito, algo que
jamais senti. Sinto meus dedos fervilharem, mas não consigo me mexer, a
maldita massagem segue, vejo as mãos dele alisarem a bunda de Ícaro e
uma fúria explode em mim. Levanto-me sem cuidado algum batendo na
mesa que chacoalha com o impacto, porém pouco me importa, abro a porta
que dá acesso onde eles estão e ouço os gemidos de Ícaro a cada deslizar
das mãos do desgraçado que o toca.
— Solte-o! — brado furioso.
— Senhor. — Vitchem paralisa com as mãos para cima.
— Saia! Saia agora antes que eu arranque sua cabeça.
Sem nem ao menos pestanejar ele desaparece das minhas vistas.
— O que houve? — Ícaro pergunta com a cara mais sínica do
mundo enquanto se senta na maca e isso me causa ainda mais raiva.
— Venha! — Puxo-o pelo braço, quase o derrubando no chão.
— Damian, o que houve?
— Vou te ensinar a nunca mais deixar alguém além de mim tocá-lo.
Arrasto-o pela casa subindo as escadas até meu quarto, abro a porta
enfiando seu corpo para dentro, batendo-a com força e travando.
— Nunca mais, ouviu bem? Nunca mais permita que alguém te
toque além de mim! — Seguro seu pescoço e seu olhar de pavor me encara.
— Eu te comprei, você é meu! — grito para que ele entenda.
— Sim.
— Sim o quê, Ícaro? — Minha mente está nublada pela névoa da
raiva, o ódio me consumindo e a maldita sensação no peito que desconheço
estão se cravando ainda mais fundo em mim.
— Nunca mais, eu prometo. Por favor, me solte, está me
machucando.
— Ainda nem comecei a machucá-lo, Ratinho.
Puxo-o para um beijo furioso, segurando-o pela sua barba, seus
gemidos são de dor porque sei que isso dói e o prazer percorre meu corpo,
saber que lhe causo dor me excita. Caminho com ele até que bate suas
costas contra a parede e um arfar sai dele, estamos excitados, nossos paus
estão duros e é impossível não os pressionar um contra o outro.
— Damian... — Seu gemido clamando meu nome me torna ainda
mais insano.
— Continue clamando meu nome, Ratinho, seu dono gosta muito
disso. — Mordo seu peito marcando-o.
— Haaa!
— Não vou ser cuidadoso, vai conhecer a forma que gosto de foder,
não me peça para parar, não vou fazê-lo, não vai ser devagar, nem
romântico, muito menos prazeroso para você caso não goste da dor. Deveria
ter te domado de outra forma, mas estive calmo demais nos últimos dias, o
que não é o caso agora.
Aperto seu pau com força o fazendo lançar a cabeça para trás.
— Por quê?
— Porque eu desejo assim.
Viro-o de frente para a parede, esfregando meu corpo no seu e a
cena de que as mãos de Vitchem estavam sobre ele me volta à mente e me
causa ainda mais ódio, um grunhido furioso ecoa pelo quarto e sou eu que o
libero.
— Não se mexa! — ordeno seguindo em direção as gavetas pegando
uma coleira de couro que tem uma tira longa, uma algema de couro nas
pontas e um chicote de montaria. — Volto encontrando-o na mesma
posição. —Jogue sua cabeça um pouco para trás e junte seus braços nas
costas.
Obedecendo minhas ordens, afivelo a coleira em seu pescoço e
prendo seus braços cruzados nas costas, aperto as fivelas da tira longa para
que ele não se mova.
— Damian, não consigo respirar — fala por ter mexido o pescoço
tentando curvá-lo para frente.
— Está com os movimentos limitados, Ratinho, jogar a cabeça para
frente vai privá-lo de ar.
— O que vai fazer comigo? — Ele está ofegante.
— Iniciá-lo, tudo que acontecer hoje será apenas o início das suas
dores, mas eu garanto orgasmos exaustivos.
Seu corpo inteiro se arrepia, o viro de frente, seu pau está ereto e
nada do que fiz até agora baixou sua ereção, seu olhar passou de pavor a
expectativa. Deslizo a ponta macia do chicote pelo seu peito até chegar ao
seu pau.
— Ajoelha! — ordeno batendo a ponta do chicote em seu membro
duro.
— Haaa! — Seus joelhos batem no chão com força.
— Hoje vou ensiná-lo sobre dor, cada grito que dá me excita, vou
marcar seu corpo, fazê-lo queimar, você entende isso?
— Sim.
Com a mão livre começo a me masturbar, enquanto o chicote
continua percorrendo seu peito.
— Me chupa, quero que me leve à sua garganta. — O movimento de
engolir em sua garganta quase me faz salivar, está excitado, nem a
chicotada que levou em seu pau o desestimula.
Sua boca se abre para me receber, acomodo meu pau nela e vou
introduzindo até que ele me receba por completo, sinto o fundo de sua
garganta, ele se engasga um pouco.
— Respire pelo nariz, Ratinho — ordeno acertando uma chicotada
na lateral da sua coxa.
— Haaa! — Seu grito me dá o acesso que desejo.
— Assim, mantenha aberta.
Com meu corpo vou pressionando contra seu rosto até que ele esteja
inclinado para trás com a cabeça colada na parede, apoio meus antebraços
nela observando a cena de cima, seu olhar está cravado no meu, e vejo a
primeira lágrima escorrer de seus olhos. Começo a foder sua boca o mais
fundo que consigo ir aumentando meus movimentos, vejo lacrimejar
enquanto enlouqueço, me deixa ainda mais excitado.
Entro e saio em movimentos cada vez mais fortes, ele se engasga,
baba e implora com os olhos para que pare, mas não é nem o começo,
quando o orgasmo chega arrebatador e Ícaro está quase sufocando, retiro
meu pau gozando em seu rosto. Ele puxa o ar com força, enquanto jatos da
minha porra são lançados em meio aos meus gritos de prazer.
Ele ainda está duro, o filho da puta está excitado com tudo. Puxo
pelos cabelos para que se coloque em pé.
— Quer gozar, Ícaro?
— Damian... — Ofegante ele fala meu nome.
— Responda! — Acerto uma chicotada em sua perna.
— Sim! — grita em resposta.
Viro-o de costas para mim e a imagem da sua bunda redonda e
branca me faz urrar, quando acerto outra chicotada marcando-a, fazendo-o
lançar sua cabeça para trás enquanto fica na ponta dos pés. Movido por um
instinto cruel continuo marcando-o, a cada vez que o chicote corta o ar
fazendo um barulho que antecede a dor ele tensiona seu corpo em
expectativa. As imagens das mãos de Vitchem sobre sua carne voltam com
tudo e as chicotadas continuam lambendo sua pele, seus gritos eriçam meus
pelos fazendo o desejo de marcá-lo ainda mais borbulhar em mim, seu
choro acontece, logo o viro para encará-lo, seu pau não cede e sei que ele
aguenta muito mais do que imaginei.
A imagem à minha frente me torna um ser demoníaco, doente e
louco, Ícaro ativou um lado sádico em mim que ainda não havia encontrado
e que desejo libertar com ele.
CAPÍTULO 17

O inferno só pode ter congelado, a voz furiosa de Damian e seu


ofegar odioso misturado a um olhar assassino me excita, meu pau não cede
e a cada chicotada que recebo estou indo mais perto do orgasmo. Maldição,
meu corpo reage completamente diferente da minha mente que deseja
desesperadamente que ele pare, mas meu corpo clama por mais para que eu
goze, é tão malditamente contraditório que me confunde.
Minha pele queima como se estivesse rolando sobre brasas, meu pau
pulsa, lateja da chicotada que levou e isso não diminui em nada do que
desejo neste momento. O olhar de Damian que estava negro parece ganhar
um brilho sádico que não tinha visto ainda, o medo percorre minha alma,
mas a expectativa do que está por vir fervilha em mim. Maldição, sou um
doente!
— Gosto do desafio que enxergo em seus olhos — fala ofegante.
Posso ver o brilho do suor em seu corpo depois da surra que acabou
de me dar.
— Por favor! — imploro para que me faça gozar, sinto que vou
morrer se não o fizer.
— Pelo que implora? — A ponta macia do chicote desliza sobre a
minha pele.
— Eu preciso gozar.
— Gosta da dor? — pergunta com o olhar curioso.
— Damian...
— Responda!
— Meu corpo reage se excitando.
— O que há em você, Ratinho?
— Não sei, mas se precisar implorar eu imploro, apenas me faça
gozar.
Ele se coloca atrás de mim, começando a me soltar, já livre de tudo
sou jogado contra a cama.
— Mãos para cima.
— Damian, por favor!
Ele cobre meu corpo com o seu, quando começo a ganhar mordidas
que doem como picadas de vespas, meus gritos ecoam pelo quarto e meu
pau pulsa novamente. Maldição, eu sou doente, um maldito doente, mas
desejo que ele continue a me causar dor, isso está me levando ao limite.
Envolvido pela dor e pelo prazer, sua boca me engole por completo
quando minhas bolas são apertadas tão fortes como ele fez da outra vez, que
gozo urrando como nunca fiz, meu corpo inteiro sofre espasmos tão
violentos que faz com que o tire do colchão enquanto tensiona pelo prazer.
— Como?
Sua pergunta me confunde, eu não entendo, minha mente está
embaralhada, uma bagunça desesperadora, sou virado de bruços e sentir seu
corpo sobre o meu que está queimando dói. Ele abre minhas pernas, mas
logo seu toque desaparece, e quando volta tem algo gelado em seus dedos,
que é passado em mim.
— Vou foder seu rabo, vou me enterrar em você, mas continuo
desejando castigá-lo, entende como me deixa confuso? — Sua voz rouca
sussurrada em meu ouvido me arrepia completamente.
— Preciso de tudo que deseja me dar. — Agarro os lençóis da cama
como se fossem meu bote salva-vidas.
— Maldita joia completa, vou fazê-lo ansiar pela dor. — Seu pau
lubrificado deslizando por minhas bandas me enlouquece.
Sem preparação alguma ele começa a deslizar em meu cu, invadindo
sem pedir licença, queima e tento abafar meus gritos de dor contra o
colchão, quando minha cabeça é puxada pelos cabelos.
— Não os esconda de mim — fala dos meus gritos, da minha forma
de demonstrar dor.
— Damian, não aguento a dor.
— Então estamos no caminho certo, Ratinho, porque eu amo saber
disso.
Malditamente contraditório a dor que sinto meu pau acorda, quando
sou completamente empalado por Damian meu urro ecoa pelo quarto, tem
dor e muito prazer.
— Assim, agora faça ecoar o quanto ser montado por mim te excita.
— Seu braço envolve meu pescoço, quase em um mata-leão, ele não vai me
permitir abafar os gemidos.
Cada arremetida que dá me acende, é forte, bruto e perfeito, sim,
perfeito, as pancadas que ganho no impacto dos nossos corpos friccionam
meu pau contra o colchão, seu agarre aumenta, Damian parece desesperado,
mas quem o julgaria, eu também estou. Desejo mais, muito mais e nem ao
menos me lembro da dor, com toda certeza nada depois disso fará sentido
para mim, o romantismo desapareceu, o desejo de lento e com olhos nos
olhos agora parece idiota, quero bruto, quero forte e quero dor. Sinto seu
corpo sobre mim tensionar, minhas bolas pesam, com certeza ele está
prestes a gozar, assim como eu e para um total de zero pessoas surpresas,
ele crava seus dentes no músculo do meu ombro levando-me ao orgasmo
mais intenso que o anterior.
— Damian!!!!
Gemo gritando e clamando por ele que não para de socar com força,
até que seus movimentos começam a diminuir me liberando do seu agarre,
desabando sobre meu corpo, estamos ofegantes, sinto minha barriga
molhada pelo meu esperma quente, ele não me solta, pressionando-me de
forma deliciosa com seu peso. Seu coração bate furioso contra minhas
costas, ainda sinto o pulsar dele dentro de mim, sua respiração é pesada,
como se buscasse ar, não estou diferente dele, mas agora que meu sangue
esfria sinto o latejar da dor que queima e maldição, fica impossível não
gemer pela dor.
— Diga.
— Meu corpo lateja de dor, arde, queima, tudo na mesma proporção.
— Saber disso me deixa alucinado.
— O quê?
— Sim, desejo lamber cada uma das marcas que causei, com certeza
rompi alguns vasos sanguíneos e ficarão roxos, meu Ícaro. — Beija meu
ombro e é tudo tão contraditório.
— Faz parar, Damian — imploro, porque quando tudo está
acontecendo é deliciosamente prazeroso, mas agora não.
— Vai permitir que alguém coloque as mãos no que me pertence
novamente?
— Não.
— Poderia facilmente deixá-lo agonizar um pouco, mas se cuido das
joias de qualquer pessoa, não seria displicente com a minha.
— Essa é a doma que faz? É isso que faz quando usa as joias?
— Não, é muito pior, não existe prazer para a joia, apenas para mim.
— E saber que sinto prazer te deixa excitado?
— Meu Ícaro, sou um demônio que se excita com a dor, mas quando
vi que isso lhe deixa em estado de extasie meu desejo é causar ainda mais
dor.
Suas palavras condizem com a mudança em seus olhos.
— Nunca houve?
— Como?
— Alguém como eu?
— Comigo não— responde apenas isso se levantando de cima de
mim, e suas palavras de alguma forma me afetam, nunca teve alguém que
ansiasse pela dor. Que tipo de doma é essa que ele tanto fala?
Saio da cama e assim como faço com as joias dos outros farei com a
minha, o Ratinho é alto e forte, mas sou maior.
— Vou pegá-lo no colo, não me toque de forma alguma, você
entendeu?
— Sim — responde olhando-me nos olhos.
Pego-o nos braços o levando até meu banheiro, coloco-o sobre o
banco de mármore e ligo o chuveiro quente, esfrego seu corpo inteiro sob
seu olhar atento e o pensamento do que senti quando o vi com as mãos de
Vitchem sobre ele volta a esmagar meu peito, minhas entranhas se
contorcem e esse maldito sentimento estranho e inominável parece querer
me dominar. Meus demônios anseiam pelo sangue de Vitchem escoando
pelo ralo, mas respiro fundo engolindo a bile que sobe pela minha garganta.
Ouço suas vozes dizendo que ele nos pertence e pelo inferno, eu já
sei disso, eu o comprei e não foi barato.
— O que houve?
— Do que está falando? — respondo sem nenhum cuidado.
— Parou de me lavar e seu olhar está fixo no nada.
Só então percebo o que ele diz.
— Nada. Levante-se!
Lavo todo seu corpo e seus gemidos de dor quando passo minhas
mãos pelos seus machucados, apesar de baixos causam um frenesi em mim,
meu pau não endurece, mas algo acontece e não existe explicação em mim
para isso.
Enrolo-o numa toalha tomando banho em seguida sob seu olhar
atento, ele nada diz, mas tomo todo o banho o encarando. Assim que
finalizo me seco pegando um óleo de massagem que guardo aqui.
— Suba na cama, vou cuidar dos seus machucados.
Obedecendo minha ordem ele se deita de bruços, cuido de cada
parte do seu corpo, com certeza isso irá acalmar sua pele e aliviar a dor.
— Vire-se — ordeno novamente.
Voltando a passar o óleo pela sua pele, quando chego ao seu pau
agora mole, vejo o vergão vermelho que causei com o chicote, com as mãos
cheias de óleo passo ali e ele arqueia o corpo.
— Damian...
— Pelo que clama? — sondo curioso, Ícaro tem reações prazerosas
que me confundem, não sei por que isso acontece, nunca houve ninguém
que estivesse comigo que não desejasse que tudo acabasse logo e que eu me
fosse, primeiro porque poderia matá-lo, segundo porque eu nunca os fiz
sentir prazer e isso me deixa perdido.
— Nada, apenas impossível ser indiferente às suas mãos quentes.
A maldita sensação contorce minhas vísceras novamente, então saio
da cama como se ele queimasse.
— Acho que agora precisa descansar, assim que acordar saia do meu
quarto.
Ele apenas resmunga algo incompreensível, vou para o closet, visto
uma roupa, preciso tirar essa sensação estranha, com certeza é falta de
derramar sangue.
CAPÍTULO 18

Alguns dias se passaram desde o dia que castiguei Ícaro por permitir
que Vitchem o tocasse, não me aproximei mais dele. Novamente dirigindo
por Belgrado com o sol a pino, não sei para onde vou, desejo apenas me
afastar dele por sentir coisas que não sei o que são, Ícaro parece estar se
infiltrando em minha pele, quando vou à doma quero apenas que tudo
acabe, não consigo olhar apenas o adestro e fodo como deve ser feito, mas
meu pau precisa de estímulo, uso uma dose baixa do estimulante, a joia está
melhor, amanhã vou entregá-la, não a quero mais na minha casa.
A claridade da rua embaralha minhas vistas, estou novamente me
perdendo em lembranças, o inferno costuma querer se abrir e permitir que
seus demônios saiam para me atacar.
(***)
Estou rastejando ensanguentado pelo chão molhado, meu corpo
inteiro dói, mais uma vez Bratslav me surrou após me pegar desprevenido e
usar aquelas imundas para montar em mim. Minha cabeça lateja e meu
olho direito está fechado, o puro ódio líquido percorre minhas veias,
ninguém pode me ajudar, meus irmãos estão aqui, ninguém se move em
minha direção, bando de covardes malditos, quero que todos vivam no
inferno como vermes.
Meu corpo raspa no chão grosso, meu pau segue sendo esfolado um
pouco mais, fazendo com que meu grito de dor ecoe pelo maldito lugar,
recordo-me de cada rosto, vou matar todas, arrancarei suas gargantas após
trucidar suas bocetas, elas irão adorar sentar no que prepararei para elas.
O nojo que sinto de suas mãos me tocando, a dor de ser rasgado depois de
desmaiar pela exaustão e acordar com as chicotadas que me levavam
pedaços de carne, tudo isso me estimula, cada uma delas irá sofrer.
Ao atravessar a porta do inferno consigo me levantar, meus
músculos não parecem suportar, mas movido pela raiva caminho a passos
lentos até meu quarto, meu coração parece que irá parar a qualquer
momento, com toda certeza efeito da droga. Consigo chegar ao quarto
seguindo diretamente para o chuveiro, quando enfim a água cai sobre mim
grito de dor, as feridas abertas são as causadoras da ardência infernal,
mesmo sabendo que irá piorar quando precisar passar sabão e desinfetar
tudo.
Como imaginei foi um maldito martírio, ainda ouço a voz dele
sorrindo, dizendo que seria homem a qualquer custo, que me faria gostar
de bocetas e nunca mais tocaria um macho.
— Juro por tudo que existe em mim, por todo o caos que irei foder
todos os rabos que desejar, e que no momento certo serei eu a lhes causar
toda a dor que uma joia masculina precisa.
Os dias foram se passando, hoje completo vinte anos, minha
vingança está montada, todas as vadias estão presas e irão receber a minha
fúria, gostaria muito que fosse Bratslav no lugar delas, mas isso ainda não
está em meu alcance, o que não quer dizer que não chegará a sua hora
comigo, nem que seja para lhe dar uma surra.
No momento em que o relógio marca meia-noite, levanto-me
caminhando em direção ao subterrâneo, olho para Klinger que sorri
demoníaco.
— Tem certeza?
— Sim, depois disso tem passe livre para montar seu maldito
buraco.
— Anjo do Caos, adoro fazer negócios com você.
— Lembrarei disso quando estiver usufruindo dos meus direitos vips
na sua casa.
Ele apenas concorda com a cabeça, entro no lugar e temos doze
mulheres em duas fileiras de seis, abertas o suficiente para fazermos com
elas tudo que eu desejar, claro que jamais irei tocá-las, porém existem
homens dispostos a isso, eles se chamam Obscuros e eu neste momento sou
o seu senhor, servos da Triglav que seriam assassinados por Konstantin por
serem instáveis e descontrolados, estupradores violentos que causavam
destruição por onde passavam, eu os reivindiquei, ganhei sua lealdade
quando Bratslav começou a eliminá-los após criá-los um a um, hoje eles
me seguem, muitos morreram no processo enquanto Bratslav e Konstantin
acreditavam que estava eliminando-os e não sabiam que eu os domava
tornando-os ainda piores. Todos usam máscaras de demônios, estão nus e
com seus paus duros, posso sentir daqui a inquietação, alguns já se tocam
loucos pela minha ordem de destroçar cada uma das cadelas que me
tocaram, não me importa se estavam sendo obrigadas ou não, elas sabiam
que se Bratslav não as matasse eu as mataria.
— Boa noite, senhoras! — O choro explode assim que ouvem minha
voz. — Que feio, sejam cadelas mais fortes, lembram-se como era
prazeroso montar em mim?
— Ele nos obrigou.
— Não haverá misericórdia para nenhuma de vocês. Comecem! —
ordeno vendo os Obscuros caminharem como demônios sedentos de sangue
em direção a elas e o Caos se instala, são trinta homens sedentos por uma
foda, e doze mulheres gritando de dor, algumas delas recebem três deles,
nenhum buraco é privado de um pau. Os gritos se misturam aos urros de
prazer que meus demônios liberam, caminho até a mesa pegando um
chicote idêntico ao que Bartslav usa para me esfolar, sentindo em minha
mão o peso dele, quando me aproximo da primeira delas chicoteando-a,
arrancando pedaços de pele e carne de seu corpo, o spray de sangue voa
em mim e no Obscuro que gargalha enquanto continua fodendo seu rabo
como um animal.
Não sei quanto tempo fico aqui, surrando-as e permitindo que meus
demônios as estuprem com força, a imagem não me excita, mas o sangue
espirrando me deixa ensandecido e endurece meu pau. Uma a uma vou
chicoteando, arrancando partes dos seus corpos, nem mesmo os rostos são
privados do meu chicote. Algumas delas estão sangrando como porcos
jogando sangue de suas artérias, isso não causa nenhuma reação nos meus
demônios, eles continuam urrando e gozando, trocando de mulher quando
bem entendem. Estamos no inferno, no meu inferno e aqui a ciranda de
demônios acontece conforme a música que eu toco.
Gargalho como um louco perdido em meio ao caos, quando Klinger
decide me chamar.
— Damian. — Olho para ele decidindo se vou ou não matá-lo.
— Seus homens estão exaustos, vai matar todos eles se continuar
aqui.
Após suas palavras observo meus demônios, alguns sangram por
terem recebido minhas chicotadas, um deles está morto sem um pedaço do
pescoço, as mulheres já estão mortas mesmo que alguns deles ainda
continuem fodendo seus buracos.
— Está amanhecendo. — Pisco aturdido. — Sim, são quase sete da
manhã.
— Parem!
No momento em que ordeno meus demônios caem no chão como
sacos de batatas, perdi cinco deles, eu os matei e nem ao menos havia
percebido.
— Suas roupas estão no vestiário, creio que precise delas para sair.
Sem dizer nada caminho em direção aos vestiários, estou banhado
em sangue, quando me olho no espelho sorrio do monstro que me tornei,
acredito que Bratslav vai amar essa minha nova versão, eu não sinto mais
medo, não sinto mais nada.
(***)

— Damian. — Alguém bate na janela do meu carro, assim que olho


vejo o rosto de Monike — Entre.
Como eu vim parar aqui não me lembro, mas obedeço sem
questionar, dirigindo meu carro até sua casa nas colinas, estacionando na
frente de sua casa.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não.
— E dirigiu por uma hora até aqui para nada?
— Não sei como cheguei.
— Outro lapso de lembranças?
— Sim, estava há muito tempo aqui?
— Não sei, tinha acabado de chegar e seu carro bloqueava a entrada.
— Quem está na sua casa? — pergunto quando vejo movimento lá
dentro.
— Runnir, Dusham o mandou para ficar comigo e ainda não sei o
motivo.
— Esse eunuco imundo.
— Não o toque, Damian, está na minha casa, não quero nenhum
problema de vocês sendo trazido até aqui. — Concordo com um acenar de
cabeça. — Vamos, te farei um café forte e podemos conversar.
— Não quero conversar.
— Tudo bem, ao menos tome o maldito café.
— Suas palavras não condizem com seu olhar de medo.
— Não é porque os temo que vou ficar de boca fechada, se
quisessem me matar teriam feito quando tiveram a oportunidade e não me
protegeriam como fazem há anos.
— Língua afiada.
— Vamos, Anjo do Caos, acabei de chegar de um plantão dos
infernos, não posso ficar aqui discutindo com você.
Monike é nossa protegida, Dusham a salvou quando era ainda um
bebê e preciso confessar, não entendi nada, mas seu castigo foi dos infernos,
Bratslav quase o matou e nos fez olhar para que aprendêssemos, não
adiantou muito, aos quinze ela foi salva novamente e desde então somos
como seus guardiões.
Olho para o maldito eunuco, por mim ele já estaria morto, não
confio nesse demônio, mas Dusham acredita piamente que precisa dos seus
trabalhos, a última vez que estivemos a sós o surrei para aprender a deixar
de ouvir as conversas atrás da porta. Assim que me vê desaparece das
minhas vistas como o diabo corre da cruz.
— Por que faz isso?
— Não confio nele.
— Dusham o quer vivo, então se mantenha longe.
— Qualquer coisa que acontecer me ligue, irei corrigi-lo.
— Dimitri e Darko falaram a mesma coisa.
— Viu, não sou apenas eu que odeia esse párea.
— Entendi, Anjo do Caos, vamos ao que interessa, o que quer
comer?
— Nem sei como cheguei aqui. — Olho as horas e é quase uma da
tarde.
— Não sabe, mas já que está aqui me fará companhia.
Ela começa a mexer em tudo e vejo que não prepara almoço, é
realmente café, médicos e seus vícios.
A máquina mói os grãos, com toda certeza isso é coisa do Dusham,
depois de alguns anos morando no Brasil ele enfia alguns dos seus vícios
goela abaixo de Monike que sempre viaja em suas loucuras.
— Pegue. — Entrega-me a xícara. — Agora desembucha, o que
veio fazer aqui, ou melhor, o que anda te incomodando para chegar até
aqui?
— Não force a merda, Monike.
— Sou terreno neutro, Damian, nada do que me contar vai sair
daqui.
Esfrego meu rosto cansado, olho em seus olhos e decido tentar.
CAPÍTULO 19

Estou deitado na cama olhando para o teto muito interessante acima


de mim, depois do que aconteceu Damian simplesmente sumiu, o vejo
apenas entrar e sair, geralmente sai muito cedo e volta muito tarde, sempre
estou acordado vendo sua movimentação. Algo em mim fervilha, eu deveria
odiá-lo, mas nada disso acontece. No começo existia curiosidade, pensei
que minha vida era estranha demais e acabei achando loucura ser comprado
em um leilão por um assassino que diz domar pessoas, mas depois a
curiosidade deu lugar ao prazer e o prazer deu lugar à luxúria, e neste exato
momento acho que estou me apaixonando.
— Inferno! — Coloco o travesseiro em meu rosto para abafar o
grito que liberto.
— Você só pode ser maluco, Tomasso, é isso, bateu a cabeça muito
forte quando criança — constato para ninguém.
Quando falo isso me lembro dela, minha pitica, Antonella, penso em
como ela está, em como está reagindo a tudo e uma dor lancinante atravessa
meu peito, com certeza deve estar chorando por saber que jamais voltarei,
todos crêem que estou morto, e não imaginam que estou em uma prisão de
luxo com um homem sádico que me faz gozar como se minha vida passasse
a ter sentido apenas depois dele.
— Com licença. — A voz de Gukla invade o local, nem ao menos
ouvi a porta se abrir.
— Bom dia!
— Trouxe seu almoço, ordens de Damian. — Olho estranho. —
Acho que tem algo que vai te agradar.
Pulo da cama indo em direção a ela que sorri ao deixar a bandeja
com meu almoço sobre a mesa, em cima dela um exemplar de A Bela e a
Fera, abro o livro novinho e um bilhete cai dele.
Fico paralisado com esse ato, porque ele quer que eu entenda o que
esconde, Damian consegue ser complexo e romântico sem nem ao menos
perceber, sorrio segurando o livro quando percebo outro bilhete embaixo do
copo.

Almoço imaginando seu cuidado. Meu Deus, isso está se tornando a


maior loucura da minha vida! Finalizo o almoço e sigo para a poltrona perto
da janela, começando a minha leitura, não vejo o tempo passar, estou
entretido a cada palavra e imaginando uma versão sombria da Fera, aquela
que Damian conseguiu enfiar em minha cabeça.
São duas da manhã quando chego em casa, Monike me drogou,
aquela demônia me drogou e eu nem vi, segundo ela eu precisava
descansar, não nego que dormir duas horas por noite não tenha sido o
suficiente, mas aquela filha da mãe não tinha esse direito. Acordei com um
bilhete ao lado da cama me desejando uma ótima viagem de volta.
Pensei em tudo que conversamos e em como ela tem uma facilidade
filha da puta de arrancar tudo de mim, mesmo que seus olhos vibrem de
medo, por muitas vezes ela consegue se manter firme.
Chego em casa sentindo meu telefone vibrar no bolso, juro que se
for ela eu volto lá e a surro.
— O que foi? — Atendo sem nem ao menos ver de quem se trata.
— Uau! Furioso às duas da manhã?
— Vai para o inferno, demônio.
— Damian, meu filho, sabe tão bem quanto eu que somos como a
sombra e a escuridão.
— O nojo que sinto disso me faz desejar trocar todo meu DNA.
— Como está a joia especial?
— Não me ligou para saber da joia, seu cretino.
— Gosto de saber como estão meus Anjos.
O borbulhar do ódio cresce, um formigamento estranho percorre
meu peito por imaginar que ele possa saber algo sobre Ícaro. De onde vem
esse pensamento maldito?
— Como demônios dispostos a tudo para derramar sangue, rasteje
de volta ao inferno e não enche a porra do meu saco. — Sua gargalhada
sombria ecoa pela ligação.
— Espero que a doma esteja sendo feita de forma correta.
— Muito por sinal, a joia está pronta, enviarei amanhã.
— Melhor que a encomenda, está superando Dusham.
— Quero que você e ele se fodam.
Encerro a ligação sentindo a raiva mortal atravessar meu corpo,
então decido me livrar logo da maldita joia ao amanhecer, sigo para o
porão, já arrancando minha gravata e retirando meu terno, quando aciono a
porta já estou com as mangas da minha camisa enroladas até os pulsos.
Como um cão a joia está sempre alerta, dormindo com os ouvidos
bem abertos, assim que me vê se espreguiça e segue saltitante em minha
direção, se esfregando em mim, lhe dou um petisco por ser um bom cão
alerta.
— Lulu, gosto de como se porta, seu dono irá se excitar por esse seu
temperamento dócil. — Esfrego sua cabeça como um bom garoto quando
sua mão pousa na minha perna.
Respiro segurando o vômito que vem até a garganta, esse é um dos
tipos de doma que me faz querer assassinar a joia, eles precisam me tocar e
eu sinto dor a cada toque, lhe entrego o petisco.
— Deite-se. — Ele obedece. — Muito bem. — Aliso sua cabeça.
— Rola. — Novamente sou obedecido e novamente garanto seu
agrado.
Aliso sua barriga coçando e ele movimenta sua perna como os cães
fazem e o vejo sorrir, o próximo passo será pedir por sexo, então sigo para a
gaveta e pego o estimulante, não vou conseguir foder sem ele, imaginar
tocando-o, fazendo com ele o que desejo fazer apenas com Ícaro não me
excita, não posso surrá-lo, nem lhe causar dor, sinto nojo de tocá-lo, é
sempre assim quando as domas seguem para o fim. Odeio isso, odeio o que
me causa, odeio ser como aquele desgraçado me moldou, mas sou Damian,
o Anjo do Caos, eu faço o que precisa ser feito.
— Senta! — ordeno e faz o que mando, ele sabe o próximo passo,
então feliz segue até sua tigela de água e bebe um pouco voltando para onde
estava.
Pego a seringa e antes que consiga aplicar ouço um arfar surpreso,
quando olho para a porta vejo Ícaro com olhar aterrorizado e as mãos na
boca, como se saísse do seu transe ele corre desaparecendo das minhas
vistas.
A forma como minhas entranhas se contorcem por ter visto aquele
olhar me faz correr atrás dele.
— Lulu, volte a dormir. — Antes de fechar a porta o vejo virar a
cabeça sem entender nada do que está acontecendo.
Corro em sua direção, o vendo subir as escadas.
— Ícaro! Volte aqui! — grito subindo atrás dele, ele tranca a porta,
mas não sabe a senha, quando entro em seu quarto ouço a porta do banheiro
bater.
Sigo para lá.
— Ícaro, abra a porta.
— Vá embora! — Sua voz é grossa e assustada.
— Abra a maldita porta, juro que se precisar arrombá-la irei surrá-lo
por sua insubordinação.
— Volte para o inferno, demônio maldito. — Ouvi-lo me chamar
assim faz com que uma dor lancinante atravesse meu peito, mas a raiva é
muito maior.
— Foi você quem pediu.
Começo a chutar a porta que na primeira pancada vibra como se
fosse se desprender do batente, no segundo ela abre batendo forte contra a
parede, Ícaro está grudado na parede do outro lado com o olhar de pavor, o
mesmo que me deu quando me viu no porão.
— O que é você? — grita furioso.
— O monstro que não tem sua história revelada na história que te
deixei hoje.
— Aquilo que eu vi, é daquela forma que vai me deixar?
— Ícaro...
— Responda! É aquela doma que diz que fará?
— Sim.
— Me quer como um cão? Você transformou um ser humano em um
cachorro!
— Esse sou eu! Eu assassino, estupro, violento, destroço, desosso,
mato, devasto tudo aquilo que eu toco.
Revelar isso a ele não é como sempre foi, seu medo não me causa
prazer, ele se encolhe com minhas palavras.
Um homem grande como ele neste momento parece uma criança
indefesa que teme o escuro, que teme o monstro que enxerga, eu não queria
que ele me visse assim e eu nem ao menos sei o motivo disso.
CAPÍTULO 20

Vejo o momento que Damian chega, quero contar sobre o livro que
estava todo marcado por ele com frases sobre os momentos em que a Fera
estava fazendo atrocidades e gerando o caos nas sombras, segundo ele a
morte o seguia. Apesar de estar parecendo me evitar e me deixar inquieto, é
impossível continuar longe depois de todas as suas anotações que me
fizeram sorrir durante a leitura, preciso vê-lo, ficar próximo e mesmo que
ele rosne para mim, nada vai importar.
Não consigo enxergá-lo como o monstro que relatou, com toda
certeza deve ser sua forma de me manter distante, agora fala isso para o
meu coração burro e masoquista. Quando chego na escada ele está
colocando o telefone no bolso seguindo para a ala proibida, não ouve
quando o chamo então decido segui-lo.
Vou sorrindo por vê-lo ir tirando algumas peças de roupas pelo
caminho, coisa que com certeza dará trabalho às funcionárias, mas tudo
desmorona como um castelo de cartas quando meus olhos se deparam com
a cena à minha frente, um homem nu, usando uma coleira, agindo como um
cão. Damian lhe dá petiscos e o faz rolar, sinto um frio percorrer minha
espinha e então entendo tudo que ele quis mostrar a mim, sim, ele é o
monstro que tentava me alertar. Continuo paralisado vendo tudo que se
passa à minha frente, seu olhar é morto e sombrio, sua face carrega uma
expressão de dor, como se ele estivesse em agonia. No momento em que
vejo o homem que tem vergões vermelhos como cicatrizes recém-
cicatrizadas andar parecendo feliz até sua tigela de água, um arfar escapa e
sou descoberto.
Quando seu olhar escuro se crava no meu saio correndo desesperado
para me esconder, minha mente roda sem conseguir entender nada, ele é um
monstro, eu me apaixonei pelo próprio demônio.
— Ícaro, volte aqui! — Sinto um solavanco no peito quando ouço
sua voz me chamar, mas isso não me para.
Entro no meu quarto atravessando-o, indo direto ao banheiro.
— Ícaro, abra a porta! — As batidas são tão fortes que fazem a
madeira branca tremer.
— Vá embora! — grito uma ordem sabendo que ele jamais irá
obedecê-la.
— Abra a maldita porta, juro que se precisar arrombá-la irei surrá-lo
pela sua insubordinação!
— Volte para o inferno, demônio maldito. — A dor percorre meu
peito ao proferir essas palavras, lembrando-me da sua caligrafia no livro, de
cada marcação e pontos de vista que ainda que sombrios me fizeram ter a
certeza de que me apaixonava a cada nova versão apresentada.
— Foi você quem pediu. — Então o primeiro baque quase arranca a
porta da soleira.
No segundo chute a porta explode contra a parede me fazendo quase
grudar contra a parede em que estou.
— O que é você? — brado para que me ouça, eu não quero vê-lo,
mas desejo saber.
Seu olhar é feral, quase assassino, ele está ofegante e o medo
percorre minha espinha como um veneno devastando tudo.
— O monstro que não tem sua história revelada na história que te
deixei hoje. — Isso me destrói, porque ainda que tenha visto o que vi, ele
acredita no que é.
— Aquilo que eu vi, é daquela forma que vai me deixar? —
pergunto com medo da sua resposta, porque eu posso suportar a dor e as
surras, elas me excitam, mas aquilo é demais.
— Ícaro... — sei que tenta dar voltas, tentando escapar da minha
pergunta.
— Responda! É aquela doma que diz que fará? — ordeno com uma
coragem que não sei de onde vem.
— Sim.
— Me quer como um cão? Você transformou um ser humano em um
cachorro!
— Esse sou eu! Eu assassino, estupro, violento, destroço, desosso,
mato, devasto tudo aquilo que eu toco. — Engulo suas palavras que descem
como uma grande bola de fogo em minha garganta.
— Me mate! — grito furioso.
— O quê? — Vejo confusão em seu olhar.
— Isso que ouviu, me mate, prefiro a morte a ser tratado como um
cão pelo homem que eu me apaixonei. — Vejo que minha língua grande
revela o que não deveria e ele me olha diferente.
— Não sou dado a sentimentalismos, Ícaro, nem mesmo sei por que
ainda não te surrei por sua revolta.
— Eu quero aquele homem! Aquele que me mostrou a sua versão, a
versão do monstro, não o que eu vi naquele porão.
— Aquilo que viu sou eu. — Ele aponta para o próprio peito. — E
pelo inferno, eu não desejo ser nada além do demônio que nasci para ser.
— Por que me entregou aquele livro? — indago curioso.
— Não importa, vá dormir, amanhã começo sua doma, será o que eu
desejo, não se esqueça que você me pertence, eu te comprei e farei com
você o que eu desejar fazer. — Suas palavras doem como se minha pele
fosse cortada com lâminas quentes.
— Não me faça odiá-lo, Damian. — Ele caminha em minha direção,
me encarando como se ansiasse me causar uma dor descomunal.
— Não será nenhuma novidade para mim, a verdade é que esse é
um dos poucos sentimentos que conheço bem, ódio. — Algo passa em seu
olhar, não consigo distinguir o que seja.
— Não faça isso comigo, por favor! — O final da frase sai como um
sussurro de dor, a mesma que sinto em meu peito sendo dilacerado pelas
suas palavras frias.
Suas mãos seguram meu rosto pela barba, me fazendo gemer de dor
e aflição enquanto seu olhar vasculha algo em mim.
— Acha que te comprei pelo seu rostinho bonito, Tomasso? —
Ouvi-lo me chamar pelo nome dói como um tiro. — Acha que sinto algo
além de desejo em vê-lo gritar pela dor que te causo? Sente que tem algum
tipo de importância real para mim? — Olha-me como se aguardasse uma
resposta. — Responda!
— Não.
— Seja uma boa joia e não me faça te mostrar o quão monstruoso
posso ser, castigando-o enquanto implora pela maldita morte. — Uma
lágrima escorre do meu rosto, estou em agonia.
Ele me solta fazendo-me encostar na parede, ficamos nos encarando,
então ele sai sem nem ao menos olhar para trás, levando consigo o único
resquício de esperança que existia em meu peito.

Saio do seu quarto sem conseguir continuar lhe dizendo as palavras


que disse, cada uma delas foi como atirar contra meu próprio peito, e por
Lúcifer, o que diabos está acontecendo comigo?
Quando os livros chegaram abri as caixas novas e havia
encomendado mais da lista interminável que Gukla havia me dado, no
momento em que vi a capa de A Bela e a Fera senti um desejo estranho e
sombrio de lhe revelar como eu sou, criando uma história paralela sempre
na minha visão monstruosa de mim mesmo, cheguei em casa para finalizar
a maldita doma e voltar para ele, para saber o que havia achado da leitura,
já que havia sido informado por Gukla que Ícaro estava lendo. Quando suas
palavras me atingiram como um trem desgovernado, pela primeira vez
gostaria de não ter tanto ódio destinado a mim.
— Maldição! — grito jogando uma bola de decoração no grande
espelho do meu quarto. — Haaaaaa!! — Meu grito furioso rasga minha
garganta.
Começo a arrancar minhas roupas como se junto com elas a dor que
rasga meu peito saísse, minha cabeça começa a rodar por não entender o
que diabos está acontecendo comigo, por quê? Por que ele disse que está
apaixonado por mim, o que diabos é isso? O que é ter alguém apaixonado
por você? Não reconheço esse sentimento, não que nunca tenha ouvido
falar dessa sensação, mas isso não existe, não no meu mundo. Eu conheço
tudo que diz respeito à escuridão, conheço cada espinho maldito que se
crava em nós quando sofremos, mas por que ele disse ser apaixonado por
mim se eu só lhe causo dor?
Caminho como um demônio enjaulado rodando em círculos no meio
do meu quarto, pego o telefone decidido a tirar a joia de perto de mim,
porque minha vontade é descer e arrancar sua cabeça maldita com as
próprias mãos.
— Oh, mania desgraçada de me ligar de madrugada. — Dimitri
atende com a fúria de sempre.
— Venha buscar a joia.
— O quê?
— Isso que ouviu, tire-a da minha casa.
— Por que você mesmo não a envia?
— Porque se a encontrar agora arranco sua cabeça depois de esfolar
todo o seu corpo.
— Damian, o que está acontecendo?
— TIRE A JOIA, DIMITRI, AGORA!
— Estou indo.
— Tem as senhas.
Encerro a ligação sentando-me no chão, deitando-me em posição
fetal, nu, cobrindo meu corpo com meus braços, logo os espasmos
começam a acontecer, sinto o chicote arrancando minha carne, ouço os
gemidos que elas dão enquanto rebolam sobre mim, as palavras de Ícaro
dizendo que se apaixonou por mim, seu olhar cheio de lágrimas que nunca
me causaram nada e que agora devastam tudo, me açoitam junto com as
chicotadas que recebo.
Seu olhar acusador volta à minha mente, por que ele me odeia? Não
me odeie, suplico, não sei o motivo disso, do que sinto, mas pela primeira
vez receber ódio me causa dor e eu odeio sentir dor.
CAPÍTULO 21

Ouço batidas fortes na porta, minha cabeça dói como um inferno,


pulsando, meu corpo está dolorido então percebo que estou na mesma
posição de que me lembro.
— Damian, senhor, abra a porta! — A voz de Gukla parece urgente.
— Vamos, senhor, ele precisa de você!
Levanto-me num pulo com sua urgência.
— O que é inferno?
— Ele precisa do senhor. Ele... ele... — Ela gagueja nervosa.
— Fale, porra!
— Ele se matou. — Um punhal atravessa meu peito com a força de
suas palavras.
Não espero mais nada, a tiro da minha frente sem nenhum cuidado
indo direto para o quarto de Ícaro, algumas funcionárias já estão aqui.
— Saiam! — grito furioso quando o encontro deitado no chão sobre
uma poça de sangue e cacos do espelho, jogo-me sobre ele precisando saber
se ainda vive, me cortando no processo.
— Chamem a porra do médico!
— Já chamamos — Gukla avisa, ele deve estar chegando.
— Não dá tempo de esperar, avisem o piloto que preciso estar no ar
AGORA!
Corro até o closet rasgando tiras de pano, enrolando-as em seus
pulsos para estancar o sangue, não tem muito tempo que fez isso, seu corpo
ainda está quente.
— Por que fez isso, joia burra? Por que quer ir, mesmo quando
ninguém jamais teve vontade de ficar?
Visto-me com um roupão e faço o mesmo com ele, o pego nos
braços fazendo uma força descomunal para arrancar um homem quase do
meu tamanho do chão, segurando-o firme caminho com ele até o heliponto,
já posso ouvir o barulho das hélices. O mais rápido que consigo subo na
aeronave com a ajuda do meu soldado que o recebe das minhas mãos e logo
me entrega.
— Vamos! — grito quando a porta se fecha.
Seu corpo continua inerte, o envolvo em meus braços, a dor
lancinante volta a atravessar meu peito como se tudo em mim se
transformasse em dor, em agonia. Por que fez isso? Por que fez? Não faria
com você o que faço com eles, não faria, precisa acreditar em mim.
— Chegamos, senhor.
Uma equipe médica já nos aguarda e posso ver Monike aqui.
— Solte-o, precisamos cuidar dele. — Ouço sua ordem, mas meu
olhar diz que não vai acontecer.
— Damian, solte-o!
— Ninguém pode saber dele, Monike — falo colocando-o na maca.
— Precisaremos de documentos.
— Vou providenciar.
Vejo quando todos correm com ele para dentro e então sigo até a
sala de espera, Monike não contaria sobre ele para ninguém, mas preciso de
Darko.
— Senhor? — Viro-me encarando meu piloto. — Gukla me
entregou isso. — Estende para mim o meu celular e a muda de roupa extra
que fica na aeronave.
Apenas aceno com a cabeça assim que pego de suas mãos o que me
entrega, sigo para o banheiro para me trocar.
Pronto jogo o roupão cheio de sangue respirando fundo e discando o
número do Anjo da Atrocidade.
— A que devo a honra de receber uma ligação do todo poderoso
Damian?
— Preciso de documentos, uma nova vida, tudo dentro da lei.
— Pensando em fugir?
— Não é para mim.
— Hum, e o que tenho a ver com suas necessidades?
— É o maior falsificador que conheço, preciso disso, mande seu
preço.
— Não farei, pouco me importa seu dinheiro, desejo apenas que se
foda.
— Darko, o que precisa para fazer o que peço?
— Dar um tiro na própria cabeça seria um ótimo pagamento.
— Dê-me os documentos que realizo seu desejo.
Não sei o que diabos se passa em minha cabeça, mas é insuportável
imaginar que Ícaro não saia dessa, e pelo inferno, não quero imaginar um
dia sem ele ao meu lado e nem ao menos sei nominar que porra está
acontecendo comigo.
— Damian, o que está acontecendo?
— Nunca tive nada, Darko, pela primeira vez desejo algo, se para
que ele viva eu precise morrer, me mato, apenas preciso ir embora dessa
terra devolvendo uma vida nova para ele.
— Do que está falando?
— Estou no hospital, preciso de documentos, transfira alguns
milhões de dólares para a conta dessa pessoa, vou te mandar os dados,
apenas faça e terá seu desejo realizado.
— Você só pode estar brincando.
— Tem duas horas.
Sigo até a máquina de café enchendo um copo generoso, voltando
até as poltronas confortáveis que existem nesse setor. Olhando para o nada,
as imagens dele no chão ensanguentado voltam à minha mente e me faz
desejar trocar de lugar com ele.
— Senhor. — Ergo meus olhos e vejo uma enfermeira vir falar
comigo.
— Sim.
— A Dra. Monike pediu para te buscar para levar pontos.
— Não estou sangrando — falo e seu olhar vai para o chão onde
tem o início de uma poça de sangue. — Droga! — Então me lembro que
havia me cortado no momento em que caí sobre os cacos do espelho
enquanto ajudava Ícaro.
— Ela pediu apenas para te encaminhar, disse que ela mesma fará a
sutura.
Não digo nada apenas sigo a mulher imaginando a dor causticante
que será ter alguém me tocando.
— Entre e fique à vontade, ela vem logo. Aqui estão alguns
chumaços de gaze, disse que poderia precisar. — Deixa o material em cima
da mesa e sai sem nem ao menos olhar para trás.
Começo a tirar minha roupa e só então percebo que essa porra dói,
cubro com a gaze que recebi e sinto uma fisgada de dor, com toda maldita
certeza tem algo aí dentro.
Não demora muito e a vejo atravessar a porta.
— Imaginei que não teria notado seu corte.
— Como ele está?
— Precisou tomar sangue, mas não corre risco de vida. — Seu olhar
é escrutinador, existe a pergunta, ela só não a faz.
— Vamos, pergunte o que deseja?
— Como sabe que quero perguntar algo?
— Te conheço desde que nasceu. Vamos, fale.
— Por que ele fez aquilo, Damian? Ele acordou algumas vezes
dizendo que precisava fugir. — Engulo seco suas palavras enquanto ela
prepara tudo para a sutura. — Conversamos, disse que estava confuso que
não sabia o que fazer, o que estava sentindo, mas não imaginei que o faria
passar por isso.
— Ele me viu finalizando uma doma, estava no final onde a Doma
buscaria por sexo.
— Por Deus!
— Ele não sabe, mas me salvou do estimulante.
— Como?
— Eu iria usá-lo em mim para realizar o desejo de sexo do pet.
— O que está acontecendo, Damian? — Ela veste suas luvas me
indicando a maca.
— Eu não sei, mas ele me disse coisas Monike, coisas que foram
como açoites, eu me senti no buraco quando elas rastejavam para cima de
mim.
Seu olhar assustado está lá, como sempre.
— Vou precisar tocá-lo. — Fecho meus olhos com força. —
Damian, eu entendo sua aversão ao toque e a dor, mas não existe como
fazer isso de outro jeito.
— Ter aversão a dor não significa que não a suporte, significa que
eu a odeio.
— Pense em Ícaro e nos seus lindos olhos castanhos.
— Você os viu?
— Sim, ele é lindo!
— Seja rápida, talvez não consiga me controlar por muito tempo.
— Feche os olhos, eu continuarei falando enquanto aplico a
anestesia.
Então ela começa, como imaginei tinha um pedaço de espelho na
minha perna, sinto a picada da anestesia, penso em Ícaro me dizendo que
era apaixonado por mim, que queria o monstro que relatei no livro e não o
que ele viu. Aperto a maca com força sentindo meus dedos doerem por não
entender o que diabos essa reviravolta em meu peito significa, quando ouço
a voz de Monike novamente.
— Pronto, levou seis pontos, tinha um pedaço de espelho aí dentro,
em duas semanas precisa retirar os pontos, não digo para vir porque sei que
você mesmo cuidará disso.
— Quando posso vê-lo?
— Assim que puder eu mesmo venho te avisar.
Ela sai da sala e eu me visto, saindo de lá indo em direção as
poltronas da sala de espera.
CAPÍTULO 22

Estou aqui a quase uma hora e a impaciência começa a me tomar,


meu telefone toca algumas vezes e vejo que são mensagens de domas, não
respondo, não estou com esse maldito pensamento agora.
— O engraçado é que nunca gostei de hospitais — Dimitri fala.
Ao levantar minha cabeça vejo que Darko o acompanha.
— Pegue. — Entrega-me a pasta. — Tudo conforme solicitado.
— Assim que tudo se resolver efetuo o pagamento. — Seus grandes
olhos azuis se arregalam.
— Não quero seu pagamento, não desejei de verdade recebê-lo.
— Não estou te entendendo. — Arqueio minha sobrancelha.
— Eu não te odeio, Damian, nunca odiei, sei que me olham com
repúdio por conta do que vêem, mas me recordo de todas as surras que
levaram por mim, por ser fraco demais para suportar.
Olho para ele pela primeira vez em anos além da imagem que ele
me lembra, Dimitri não entende nada do que falamos no começo, mas com
certeza entende o final.
— Quer nos contar o que houve?
— Peguei uma joia.
— Sim, a mesma do leilão que apareceu morta no outro dia.
— Não o matei, apenas forjei sua morte — informo o pegando de
surpresa.
— Interessante — Dimitri diz sentando-se ao meu lado e Darko do
outro.
— E o que te faz desejar morrer? — Darko questiona fazendo o
olhar ferino do Dimitri se estreitar.
— Não sei, sinto coisas que jamais senti, não sei nominar nada do
que ele me causa, ele se disse apaixonado por mim, eu o tratei como um
qualquer, o fodi com raiva, o surrei marcando seu corpo, mas quando disse
que sentia algo que eu não consigo compreender acabei lhe prometendo
uma doma como a que ele viu.
— Fiiiiiiiiu! — O assobio surpreso de Darko me faz encará-lo.
— Suas palavras continham ódio e bem sei lidar com isso, mas
quando veio dele parecia que minha alma se rasgava e fazia meu peito se
espremer como se existissem milhões de demônios sentados nele, a dor foi
causticante, desejei implorar que não me odiasse, que suportaria isso de
todos, mas dele não, dele não. — Respiro fundo porque disse tudo isso a
Monike o quanto era confuso estar perto dele e sentir coisas que jamais
senti, em como Ícaro mexia comigo de uma forma que eu não sabia
entender e muito menos explicar e agora estava revelando a eles.
— Não faço ideia do que esteja acontecendo com você, mas se ele te
puxa como a um ímã talvez precise se aproximar — Dimitri fala olhando
para a parede.
— Quando o vi ensanguentado eu quis trocar de lugar com ele. —
Imaginar a cena me faz querer gritar.
— Ele é seu — Darko fala.
— Eu sei, eu o comprei.
— Não dessa forma, é seu aqui. — Ele aponta para o meu peito.
— O que você sabe sobre isso?
— Nada, mas preciso que me prometam uma coisa, com certeza
prometerei o mesmo, quando a minha pessoa chegar, aquela que me fará
desejar a morte para mantê-la com vida, vocês a protegerão com suas vidas,
ela sempre será a prioridade, se nós estivermos morrendo salvem-na
primeiro. — Seu olhar azul brilha com algo que jamais vi na minha vida. —
Eu farei o mesmo pela pessoa de vocês.
— Está dizendo que salvaria Ícaro caso eu pedisse?
— Sim, mesmo que não entendamos nada sobre sentimentos que
mantêm as pessoas unidas e sorrindo como idiotas, sua pessoa agora tem a
minha proteção, daria minha vida por ela. — As palavras de Darko causam
uma sensação de lealdade sem tamanho.
— Dou a minha palavra. — Dimitri se levanta.
— Tem a minha também — digo.
Não precisamos de mais nada para saber que essa promessa jamais
será quebrada.
— Isso sim é uma surpresa. — A voz de Monike nos tira desse
momento.
— Já posso vê-lo? — pergunto inquieto.
— Não sei se ele deseja falar com você. — Seu rosto carrega a
certeza de que não quer me ver.
— Mas não existe a mera possibilidade de isso não acontecer —
rosno começando a ficar furioso.
— Damian, ele está com medo.
— Vou falar com ele.
— Damian...
— Mostre o caminho, doutora, ou eu mesmo vou abrir todas as
portas até chegar lá.
— Ajude-o, Monike — Dimitri pede baixinho.
Vejo a troca de olhares que eles dão, não sei o que está acontecendo,
mas acredito que no momento certo teremos uma conversa.
— Tudo bem, venha por aqui. — Confirma ainda mantendo os olhos
nos dele, meu irmão engole seco meio desconcertado, eles encerram o
contato visual quando Dimitri se afasta virando-se de costas.
Caminhamos pelos corredores até pararmos numa porta, antes de
atravessá-la ela segura meu pulso, um grunhido furioso atravessa minha
garganta.
— Solte antes que gire sua cabeça no próprio eixo. — Meu coração
acelera com pancadas violentas.
— Se não suporta toque como quer tê-lo?
— Solte! — rosno ficando ainda mais furioso.
— Deixe-o, Damian, ele precisa de alguém que cuide dele, não de
um demônio que o ameaça e o surra, todos viram as marcas, e sabe o que é
pior? Ele disse que foi consentido e tentou livrar sua pele. — Saber disso
me deixa inquieto.
— Foi consentido. — Fecho meus olhos, a sensação da sua mão me
causa dor, tento me lembrar de quem ela é, mas me mantenho ofegante,
meu coração parece que vai sair pela boca.
— No meio do sexo? Levando o corpo dele a implorar por
orgasmos? Eu conheço as técnicas, Damian, imploramos por qualquer coisa
no meio do que nos fazem. — Olho para ela tentando entender aonde quer
chegar.
— Monike, seu toque... — Meu corpo está tensionando, mas ela
continua insistindo em manter a maldita mão.
— Tenha cuidado com ele.
— Ele é meu, eu paguei por ele e o levarei daqui. — Explodo
segurando sua garganta batendo seu corpo com tanta força contra a parede
que a faz arfar perdendo o ar.
— Damian... — Vê-la sufocar me causa um frenesi de prazer.
— Tão frágil e vulnerável. — Meus dedos envolta do seu pescoço
fino formigam e desejo ver sua vida se esvair como castigo por me tocar,
suas pernas começam a se debater, seu ar está privado e seu olhar é de
pavor e medo, quando num estalo a solto fazendo seu corpo cair no chão
como um fardo de nada.
Ouço quando puxa o ar com força, imagino que seus pulmões
devem estar queimando, só não está morta porque um flash de sanidade me
tocou.
— Tem meia hora, se ele te mandar sair você sai, se for de sua
vontade de que fique com ele podemos permitir. — Ela esfrega seu pescoço
tossindo enquanto o toca.
Não olho para ela, muito provavelmente a mataria se o fizesse,
respiro fundo entrando no quarto o encontrando virado de costas para onde
estou, aproximo-me com um misto de fúria porque ainda tento me controlar
e a expectativa de algo que não sei o que é, desejo ouvir sua voz.
— Ícaro. — Assim que ouve minha voz seu corpo tensiona. — Olhe
para mim, Ratinho. — Preciso ter a maldita certeza de que ele está mesmo
vivo e bem.
Devagar seu corpo começa a se virar, ele veste uma camisola
hospitalar, seus pulsos estão enfaixados, e seu olhar morto, não existe o
brilho que tinha nos últimos dias.
— Como está?
— Vivo. — Parece que isso é um fardo muito maior, como se fosse
uma maldição não ter conseguido seguir em frente com seu plano de
morrer.
— Achei que não daria tempo — digo paralisado sem saber como
me aproximar.
Não posso dar o que ele deseja, não consigo retribuir, mas quero
aquele olhar, o cheio de vida e lascivo que estava lá sempre que me
aproximava, mesmo que o medo existisse neles.
— Deveria ter me deixado lá.
— Não! — brado furioso. — Não pode se livrar de mim.
— Disse que só sairia de lá como o verdadeiro Ícaro, morto, então
por que não cumpriu sua promessa e me deixou ir? — Algo afunda em meu
peito, queria lhe dizer coisas que o fizessem querer ficar, mas minha cabeça
é muito confusa, então ajo como sei.
— Porque eu tenho poder sobre sua vida e sua morte, enquanto eu
desejar tê-lo com vida não irei permitir que morra.
— Não vou voltar para lá, não vou voltar para o inferno e conviver
com o demônio que é você.
— Vai!
— Não!
— Eu te comprei, você é meu!
— Na próxima oportunidade que tiver não serão meus pulsos que
irei cortar, será minha garganta.
— Não terá essa chance novamente. — Meu coração bate tão
violentamente, porque não era assim que havia pensado, mas agora estou
ainda mais furioso e se ele pensa que vai se livrar de mim tão fácil está
muito enganado.
— Veremos.
— Não fará isso de novo — ordeno.
— E o que acha que pode me impedir? — Seu olhar me desafia.
— Antonella.
No momento em que falo esse nome o vejo empalidecer e ficar
branco como um papel.
CAPÍTULO 23

Meu coração bate nos ouvidos quando ouço seu nome. Não, ele não
pode tocar nela, não na minha bebê.
— Acho que esse olhar diz muito. — Sua voz tem um tom vitorioso,
como se houvesse feito a jogada e me dado um xeque-mate.
— Não pode tocá-la.
— Não? Vamos deixar algumas coisas bem claras aqui, meu Ícaro.
— Ele enfatiza o meu, sei que pertenço ao demônio, e pelo inferno, eu só
quero me afastar dele agora. Vasculho em sua face algum resquício do
homem que me escreveu todos aqueles pontos de vista, solto o ar
exasperado, porque com toda certeza ele foi uma criação da minha cabeça.
— Damian — falo seu nome em súplica.
— Vou te contar como as coisas vão acontecer, você não vai falar
nada com ninguém, ficaremos aqui até que receba alta, irá se comportar
como a pessoa mais agradecida do mundo por tê-lo salvo, caso contrário,
matarei toda sua família: pai, mãe, irmãos, tios, primos, até a maldita
décima geração. A pequena Antonella viverá sozinha, doente, sem recursos,
irei garantir que rode por todos os orfanatos e casas de acolhimento pelo
mundo até que morra depois de uma vida longa de sofrimento, isso se o
câncer não a matar antes. — As promessas em suas palavras me fazem
chorar.
Antonella tem apenas três aninhos e leucemia linfoide aguda[10]
(LLA), descobrimos há pouco mais de um ano, choro por imaginá-la passar
por tanto sozinha desde que fui tirado de casa, sua doença foi um dos
motivos de aceitar o emprego que pagava tão bem, poderia ajudar mais e
teria mais dias disponíveis. No momento fecho meus olhos sentindo a dor
de suas palavras e ameaças, quando aqueles olhos amendoados vêm à
minha mente e posso sentir o toque de suas mãozinhas se grudando à minha
barba me chamando de irmãozão.
— Prometo que não farei novamente. — Continuo com meus olhos
fechados, perdido em dor e nos sorrisos do meu bebê.
— Uma escolha muito inteligente. — Sua voz vitoriosa me causa
raiva.
Esse misto de sentimentos que meu peito insiste em sentir me faz ter
o poder de arrancar qualquer tipo de imagem idealizada de um Damian que
por mim mudaria ou seria diferente do que insistia em me mostrar, saber
que ele é muito pior do que eu já imaginava é cruel.
Volto a me deitar de costas para ele, enquanto ouço meu coração se
espatifar no chão como uma bola de vidro. Sei que continua no quarto, não
ouvi o barulho da porta, apenas alguns passos e nada mais. Fecho meus
olhos tentando me esquecer de como ele pode ir além, de como seu jogo é
sujo e as suas formas de tratar as coisas que deseja são sombrias. Damian
não tem noção de como sua atitude me destruiu, mas quem sou eu para
achar algo, ele é meu dono, apenas preciso parar de imaginar que tudo que
aconteceu até agora foi o início de uma história que teria final feliz. Sorrio
sem graça, o final da minha história com certeza será no fundo de uma cova
fria, após passar minha vida vivendo como um pet nas mãos do diabo.

Vi a decepção em seus olhos, quis recuar da minha ameaça, mas não


encontrava nada em que pudesse me agarrar, sempre tive tudo que desejei,
não seria Ícaro quem teria o privilégio de ser o meu primeiro não. A dor em
seus olhos me deixou animado, soube que seu ponto fraco seria esse, não
hesitaria em cumprir minha promessa caso ele fosse teimoso, Ícaro precisa
saber que apenas minhas vontades prevalecem, não as dele.
As horas se passam, vejo a noite chegar, os médicos passam por
aqui, meu Ícaro pede que eu fique com ele, que só assim se sentirá seguro,
mesmo que em momento algum seu olhar encontre o meu. Ouvir suas
palavras criam em mim um borbulhar estranho no peito, não entendo
metade do que se passa comigo, mas me recordo das palavras de Darko, ele
é a minha pessoa, não mediria esforços para tê-lo comigo, ainda que para
isso eu precise matar todos como prometi.
Meu telefone continua vibrando com mensagens de doma, passo
todas elas aos meus irmãos, com toda maldita certeza terei que prestar
contas disso ao desgraçado do Konstantin, mas as coisas não serão como
eles imaginam, toda essa loucura que passa pela minha cabeça agora, essas
sensações me fazem desejar matar todas as malditas joias que olharem para
mim, não tocarei nelas, tenho a minha e preciso apenas encontrar um ponto
vulnerável em sua armadura para cravar minha faca, então eles nunca mais
terão poder sobre mim.
Posso cuidar da coleta, mas domar? Isso não, esse privilégio é
apenas do meu Ratinho, imaginá-lo furioso, sendo uma joia que se rebela e
me mantém inquieto é tudo que anseio. Apesar de a doma ser o único
momento em que fico realmente calmo e controlado é entediante todas
aquelas aceitações, os quero arredios e não submissos, não me causa prazer,
quando seus gemidos são suprimidos e contidos. Ícaro grita, urra rouco e
grosso e sinto como se o poder percorresse minhas veias, como se a cada
rodada de dor ele se infiltrasse sob minha pele, imaginá-lo assim, marcado e
ansiando pelas minhas marcas em seu corpo. Meu pau parece que vai se
partir, mesmo entregue ele me desafia com o olhar, me deixa inquieto e me
instiga, nunca tive nada comparado a isso, com certeza nunca irá se curvar,
mas não quero que faça, quero que continue me desafiando para que possa
lhe causar mais dor, mais gritos e mais fúria, porque depois da sua
tempestade os gemidos de prazer que ele dá me deixam relaxados e com
vontade de começar tudo outra vez.
A desgraça do meu telefone volta a tocar, é Dusham, decido sair
para atendê-lo, Ícaro dorme e não quero acordá-lo.
— Pronto.
— Estamos com um lote de joias, nós três não daremos conta,
precisamos de você.
— Não.
— Damian, são dezesseis mulheres.
— Dusham, se lembra quando estraguei todo um lote feminino
porque elas insistiam em me tocar e eu estava descontrolado? — Um
suspiro furioso pode ser ouvido.
— Sim.
— É exatamente como me encontro agora, nem homens, nem
mulheres escapariam da minha fúria.
— Konstantin não vai deixar passar.
— Sei que irá me proteger como um irmão mais velho faria.
— Onde está o Damian que me manda para o inferno e que costuma
enfiar o dedo em minhas feridas?
— No mesmo lugar, só preciso de um tempo afastado, juro que
quando voltar serei o segundo cavaleiro do apocalipse mais sanguinário e
sombrio que você já viu, mas no momento se me enviar alguma doma irei
devolver os corpos aos pedaços distribuindo todos eles pelos locais mais
luxuosos de Belgrado.
— Você não pode se descontrolar.
— Então não force a merda para fora, Anjo da Morte.
— Mantenha-se escondido, direi que está fazendo um trabalho
específico para mim, mas saia de Belgrado, vai esfriar a cabeça na porra
da Groelândia[11] se precisar, todavia não fique na Sérvia, se o encontrar
irá domar com todos nós, mas não sem antes eu te surrar quebrando alguns
de seus ossos, porque, Damian, estou com muita sede de sangue e você tem
sido meu alvo desde então.
— Não vejo a hora de Stefan assumir essa porra.
— Sua lealdade é dele.
— Eu sei, mas irei desaparecer no momento em que os filhos da
puta caírem.
— Desapareça agora, tem vinte e quatro horas para deixar a
Sérvia, se meus pés pisarem no mesmo solo que os seus, não terá como
escapar. — Desliga sem que possa mandá-lo a merda.
Olho para o meu ratinho que dorme e começo a imaginar para onde
poderia levá-lo sem que nos encontrem. Ligo para o meu piloto organizando
algumas coisas, inclusive o deslocamento dos meus soldados e minhas
funcionárias, preciso que ele tenha conforto e não tenha condições nenhuma
de fugir, mesmo imaginando que não faria isso, não depois do que lhe
prometi. Mas Ícaro não é idiota, com toda certeza já deve ter desconfiado
que o mantenho nu como gosto de ficar, porque fugir em meio as baixas
temperaturas o levaria a morte.
Ligo para Monike, preciso de sua alta o quanto antes.
— Achei que me quisesse morta — fala assim que atende.
— Se desejasse não estava falando comigo neste momento. — Ouço
quando ela bufa do outro lado.
— Vamos, Damian, o que precisa?
— Da alta do Ícaro.
— Não, ele precisa de tratamento psicológico, as coisas não são
assim.
— Se não são, serão, tenho que estar com ele fora de Belgrado em
três horas.
— Damian, isso é impossível.
— Desconheço essa palavra, faça o que peço, não deseje que a
force.
Encerro a ligação, Monike pode ser o que for, mas não é idiota, ela
não deseja ficar em meu caminho, não quando posso devastar todo e
qualquer empecilho que existir para que minha vontade seja realizada.
Envio mensagens para Gukla, ela precisa organizar tudo me
enviando roupas para Ícaro, para que possamos sair daqui como planejo.
Em uma hora meu soldado chega com as roupas que pedi, ao seu
lado, como que de forma simultânea, Monike aparece.
— Aqui está. — Entrega-me o papel da alta de Ícaro.
— Como sempre uma garota esperta sabendo escolher bem as
batalhas que enfrenta.
— Como médica acho uma decisão estúpida o que está fazendo,
como a pessoa que praticamente o tem como a um irmão, eu quero mais é
que se foda.
— Hahahaha! — gargalho alto. — Esse é o espírito que habita em
você, gosto muito mais de lidar com ele.
Ela não me responde nada, apenas me olha mostrando o dedo do
meio com olhar furioso saindo sem nem ao menos olhar para trás, pude ver
as marcas em seu pescoço, com toda maldita certeza eu apertei mais do que
imaginei que fazia.
— Senhor, estamos com duas aeronaves neste momento se
deslocando com os soldados e os funcionários que pediu.
— Konan, nos aguarde no heliponto, logo chegaremos lá.
Com um acenar de cabeça o vejo sair enquanto entro com as roupas
para tirar meu Ícaro daqui, não quero estar no radar do Anjo da Morte, não
quando ele sempre cumpre o que promete.
CAPÍTULO 24

Meus pensamentos estão nublados como se estivesse tentando me


livrar de um sonho ruim, um em que enterrava Antonella e minhas lágrimas
caiam em seu pequeno caixão.
— Ícaro. — Sinto o toque de Damian que me acorda arrancando-me
do inferno dos meus sonhos e caindo em seu inferno particular.
— Sim.
— Precisamos ir, se vista. — Encaro-o sem entender, os médicos
haviam dito que ficaria aqui por alguns dias. — Vamos, não temos tempo.
— O que houve?
— Precisamos sair, vá ao banheiro vista as roupas, não tenho tempo
de te explicar, estarei esperando aqui.
Pensando em sua ameaça não resisto à sua ordem, faço o que me
pede, é impossível me manter indiferente a forma como ele usa de sua
maldade para punir aqueles que por algum motivo deseja fazer sofrer. Pego
a roupa em suas mãos seguindo para o banheiro, tiro a camisola hospitalar e
vestindo um moletom preto, meias e um tênis, olho-me no espelho e não me
enxergo como sempre me vi. Respiro fundo quando imagens da noite
anterior me tomam e pressionam meu peito. Como posso ter vendido minha
alma assim tão fácil?
Saio do banheiro e ele me espera com cara de pouquíssimos amigos.
— Estou pronto.
— Venha, a aeronave já nos aguarda. — Caminha comigo ao seu
lado, não me toca, não me força, ele aprisionou minha mente, não preciso
de correntes para ser forçado a fazer tudo que ordena.
Seguimos para o heliponto, abaixa minha cabeça em um cuidado
que não parece ser dele, ajudando-me a subir, travando meu cinto de
segurança assim que fecha a porta e sentando-se ao meu lado.
— Coma. — Entrega-me uma garrafinha de suco e um sanduíche.
Pego o encarando como se não estivesse entendendo os seus
motivos, mas como disse, preciso fazer o que me manda. Começo a comer
quando alçamos voo, ele coloca os fones de ouvido em mim e nele
começando a se comunicar com o piloto, retiro os meus, não quero saber o
que fala, pouco me importa. Seu olhar escrutinador aparece como se eu o
estivesse desafiando, mas eu tive coragem de cortar meus pulsos, arrancar
esses malditos fones de comunicação é o mínimo. A comida desce sem
nenhum sabor, suas palavras ainda rondam minha cabeça.
— Descanse, temos uma hora até o aeroporto.
Apenas aceno confirmando, não questiono o que vamos fazer em
um aeroporto e não voltar para sua casa, mas pouco me importo,
acomodando-me melhor na poltrona, quando minha mente decide me fazer
lembrar do momento que jamais acreditaria chegar um dia.
Damian consegue arrancar o pior de cada um ao seu redor, e o medo
é algo que domina a maioria das pessoas aqui, todos eles o temem.

(***)
Momento da tentativa de suicídio
Meu coração aperta a ponto de parecer faltar o ar, nunca imaginei
que alguém poderia ser tratado daquela forma, é monstruoso, horrendo.
Meu corpo inteiro se mantém encolhido e desde o momento em que Damian
saiu sem olhar para trás desejo desaparecer. Olho em volta e a sensação de
estar sendo engolido pelo lugar me toma, é como se as paredes se
apertassem contra mim, fazendo com que eu tentasse diminuir de tamanho
devido ao desespero, não sei quanto tempo se passa, não tenho noção do
tempo, apenas sinto meu corpo inteiro doer.
Estou paralisado, sem condição nenhuma de raciocinar de forma
coerente, mas tenho uma certeza, ele jamais me transformaria naquilo que
eu vi, nunca serei como ele deseja, nem que para isso eu precise morrer
como o maldito Ícaro fez.
Então essa ideia me parece interessante, não foi o que disse, que só
sairia daqui morto. Isso me anima, esse pensamento me busca como um
grande demônio que sorri, posso ouvi-lo me incentivar. “Vamos, Tomasso,
seja corajoso, se livre da dor e da angústia.” “Vamos, coragem, mostre a
ele como é livre.” “Corte os pulsos, ele não tem poder sobre você”
Tomado pelo encorajamento levanto-me em busca de algo, mas não
encontro nada que corte, reviro tudo, nada, até que uma ideia aparece.
Corro até o quarto pegando uma peça de decoração pesada o suficiente
para quebrar o grande espelho à minha frente, sem hesitar lanço-o contra
o espelho que se espatifa no chão. Meu coração esmurra no peito, parece
que meu estado catatônico e letárgico deu lugar a uma dinâmica diferente,
quero lhe mostrar que não tem poder sobre mim, nunca teve e jamais terá.
Lembro-me da minha família, eles jamais sofrerão, afinal de contas
eu já estou morto e imaginar isso me conforta na mesma proporção que me
assusta. Pego um pedaço pontiagudo de vidro nas mãos vendo meu reflexo
refletindo nele, as vozes voltam à minha cabeça me incentivando, quando o
deslizar ardente do caco afiado sobre meu pulso faz o sangue vivo brotar.
— Vamos lá, Tomasso, falta apenas o outro — digo a mim mesmo
me encorajando, logo estaria livre, livre de todo esse inferno em que me
meti.
Faço mesmo com o outro pulso, sentindo o mesmo ardor que agora
é bem-vindo, deito-me no chão frio enquanto meu sangue escorre, não sinto
nada, nem desespero, nem medo, exatamente nada. Antes pensar na morte
me fazia tremer, não agora, quando ela irá me libertar da dor, da angustia
e da inquietação, levará de mim a dor de ver que me apaixonei pelo diabo,
talvez nem mesmo Lúcifer seja tão cruel quanto Damian, espero lentamente
as coisas começarem a acontecer, a tal luz que todos falam, a minha vida
passar como um filme na minha frente, mas nada disso acontece, não existe
consolo ou conforto, apenas eu e minha mente que começa a ficar lenta e
turva. Meu corpo está se entregando ao cansaço, ao sono, algo parecido
com um relaxamento depois de um dia exaustivo de trabalho e nos deitamos
na cama sucumbindo ao desejo de apenas dormir. Fecho meus olhos
entregando-me à escuridão e ao silêncio, e nada mais parece existir.
Morrer é apenas um fechar de olhos eterno, a vida é inquietante,
mas a morte, a morte é um descanso as almas cansadas e sobrecarregadas.
(***)
— Ícaro. — A voz longe de Damian parece me despertar, não
acredito que ele veio até o pós-morte me buscar, ele não tem esse direito. —
Acorde, nós chegamos.
Então olho em volta, estou sendo observado pelo seu olhar morto e
sombrio, observo e me recordo de que não estou morto, nunca estive, não
da forma que desejei.
Sem nada dizer me levanto seguindo-o até um jatinho que nos
aguarda, o frio nos recebe e sem condições nenhuma de suportar encará-lo
não questiono, apenas sigo o fluxo. Não faço ideia de onde estamos indo,
mas isso pouco importa, em breve serei como um cão que não terá
vontades, apenas irá se ajoelhar e esperar por petiscos e carinho, irei beber
água em tigelas e comer ração, aquela imagem será meu futuro. Respiro
profundamente enquanto atravesso a pista até a aeronave.
— Por aqui. — Vejo-o me indicar o caminho enquanto sua mão
pousa em minha lombar, subo as escadas sendo direcionado por um
comissário de bordo para a poltrona mais próxima.
— Deseja beber ou comer algo, senhor?
— Não, obrigado.
Sento-me afivelando os cintos como pedido pela tripulação, Damian
não se senta ao meu lado, ele fica na poltrona mais afastada. Fecho meus
olhos quando ouço o piloto nos cumprimentar informando que teremos
mais de dezesseis horas de voo até Bali, na Indonésia[12], fico chocado, não
imaginei que iríamos para um lugar tão longe e minha curiosidade para
saber do motivo queima por dentro, mas não me movo, sigo quieto,
sentindo apenas que seu olhar queima minhas costas. Peço ao comissário
um cobertor e logo que recebo me cubro, aquecendo-me do frio do ar
condicionado. Alçamos voo e logo que o aviso de desatar cinto aparece
reclino a poltrona utilizando a que está vazia ao meu lado como cama.
Ícaro está em um silêncio ensurdecedor, decido lhe dar espaço,
ficaremos tempo suficiente juntos para que eu lhe mostre o que gosto de
fazer. Suas palavras continuam rodando minha cabeça, tenho a certeza
agora de que me odeia, nem mesmo tentando lhe mostrar que não era bom e
que existia em mim um monstro que rugia como um animal faminto em
busca de sangue, mesmo assim ele não se importou.
Konan se senta nas poltronas de trás deixando-me quieto, mas estou
inquieto, gostaria que ele brigasse, me enfrentasse, esse Ícaro letárgico e
apático só pode estar assim pela quantidade de sangue que perdeu. Monike
disse que com certeza essa melhora se daria com alguns dias.
Vamos chegar na minha casa em Bali por volta de duas horas após
todos os meus funcionários, isso é prazo mais que suficiente para se
acomodarem e que possam oferecer o conforto que precisamos.
A viagem é inquietante e longa, por várias vezes quis me levantar e
sentar-me ao seu lado, mas volta e meia aquele olhar rodava minha mente,
me causando sensações que doíam, eu não gosto de me sentir assim, não
gosto de ter meu peito sendo esmagado por uma maldita bigorna e não
saber como
resolver.
Meus demônios seguem inquietos como se
desejassem que eu fosse o Damian de sempre e o surrasse para que reagisse,
mas não faço, ao contrário disso, mesmo a contra gosto abro meu notebook
fazendo as vistorias que preciso. Com toda certeza conseguirei meu plano
de me manter afastado com ele, o levaria para minha cama, montaria nele e
o foderia com força. Existem muitas coisas que ainda não sabe sobre mim e
uma delas é que eu não desisto do que eu quero, nunca.
CAPÍTULO 25

Apesar de uma longa viagem me mantive focado em traçar meus


planos contra aquele verme maldito, tudo isso sem deixar de prestar atenção
em Ícaro. Por duas vezes tive que acordá-lo para que tomasse seus
remédios, por muitas vezes de forma involuntária o vi tentando coçar os
pulsos que estavam protegidos pelos curativos, mas não fui até ele, nem
mesmo quando as duas refeições foram servidas e eu quase cortei a
garganta do maldito comissário de bordo por estar babando sobre Ícaro
como um grande cão.
Meus músculos se tensionaram por ele lhe oferecer sorrisos que não
seriam entregues a mim de bom grado, talvez nunca os ganhasse, meu
corpo inteiro formigava me impelindo a forçá-lo a ir para a suíte e me
enterrar nele, marcando-o com minha porra para que todos pudessem sentir
meu cheiro nele. Por vezes me mexi inquieto na poltrona, nem mesmo as
informações que estava coletando me trazia quietude, eu queria tomá-lo.
Vencido pelo cansaço e inquietação levanto-me furioso por vê-lo
mais uma vez sorrindo para o maldito homem que com certeza irá engolir a
própria língua assim que a arrancar de sua boca por sua voz cortês demais
com o meu Ícaro.
— Tem um minuto para ir até a suíte no fundo do avião? — Minha
voz é baixa e tento conter a fúria nela.
— O quê? — questiona surpreso com aquele olhar que me faz rugir
de raiva por dentro, o maldito sorriso sumiu.
— Vá agora!
Volto a minha poltrona, observando seus movimentos, seus olhos
me encaram mais de uma vez enquanto arqueio minha sobrancelha
esperando que me obedeça e é bom que faça, caso contrário será na frente
de todos.
Observando quando se levanta e o maldito comissário o segue com
sua educação irritante, segundos depois ele volta aproximando-se de mim.
— Senhor, deseja algo? — Olho profundamente em seus olhos.
E a minha mente vem várias formas de fazê-lo agonizar, por hora
não é o momento, tenho algo mais importante a fazer, mas seus toques
excessivos no meu ratinho não passarão sem uma punição.
Levanto-me da poltrona indo até a suíte.
— Konan, avise-me quando estivermos próximo do pouso.
— Sim, senhor.
Abro a porta e Ícaro está sentado na cama olhando-me com
curiosidade. Bem, isso é muito melhor que nada.
— Deseja me irritar? — falo fechando a porta atrás de mim.
— Do que está falando? — Coloca-se em pé com uma atitude bem
desafiadora e posso sentir meu corpo vibrar com seu desafio.
— “Toques”, “sorrisos”, “obrigado”. “Deseja algo?” “Em que posso
melhorar sua viagem?” — rosno as palavras. — Quer que te mostre como
deve se portar?
— Damian, do que está falando? — Seu olhar está fixo ao meu,
seguro seus cabelos, que tem um tamanho perfeito para que o puxe fazendo-
o com que me olhe nos olhos.
— Você me pertence! Tem noção disso não tem? — O grunhido
baixo de dor que solta faz meu pau ganhar vida.
— Sim, você deixou claro.
— Então por que não se porta como alguém que tem um dono? —
Viro-o furioso batendo suas costas contra a parede atrás de nós.
— Estava sendo educado com seu funcionário.
— Sabe o que vai acontecer com ele quando pousarmos? —
Pressiono meu pau contra o seu, meu agarre ainda está firme e não, ele não
é imune a mim, está tão excitado quanto eu.
— Não. — Vejo-o engolir seco.
— Eu o arrancarei a língua, cortarei suas mãos por tocá-lo e com
meus dedos arrancarei seus olhos por olhá-lo com desejo. — Continuo
esfregando-me nele, o medo se instala em seu olhar, mas seus gemidos não
passam despercebidos.
— Por favor, não faça. — Puxo seus cabelos com mais força.
— Deveria pensar mais antes de flertar na minha frente.
— Não estava, juro que não.
— O que deseja que faça com você meu Ícaro, para que acalme
meus demônios e não esquarteje aquele maldito ainda no avião?
— Não sei. — Seu corpo busca o meu, assim que me afasto dele um
gemido de desagrado pode ser ouvido.
— Posso tantas coisas com a raiva que estou, posso fazer seu corpo
implorar como está fazendo agora ansiando pelo meu toque, mas sabe o que
farei?
— Damian, por favor.
— Responda!
— Não, não sei.
Ele afinal não é tão imune a mim, parece o Ícaro de dias atrás,
aquele que deseja o Damian que sou.
— Diga-me o que seu corpo anseia. — Minha mão segue direto para
o seu membro duro fazendo com que ele pouse a cabeça em meu ombro, o
que me assusta, mas não me faz afastá-lo.
— Continue.
— Ratinho, posso ser o que desejar que seja, mas quando me pede
para ser mau é tão excitante. — Deslizo minha mão por dentro de sua calça
e seu pau duro é envolvido por ela.
Num rompante de atitude ele segura meu rosto puxando-me para um
beijo, seu toque formiga minha pele e faz com que os pensamentos
atormentados batam com violência contra as portas que tento manter
fechadas. Empurro-o contra a parede novamente, seu olhar é desafiador, o
viro deixando-o de costas para mim enquanto abaixo sua calça afastando
suas pernas.
— Tire a blusa! — ordeno pressionando meu corpo contra o seu.
Sendo obedecido ele fica sem nada quando mordo seu ombro com
força, ele é poucos centímetros menor que eu e essa diferença ainda que
mínima me faz querer dominá-lo.
— Minha vontade é de castigá-lo, me enterrando em você sem
nenhuma preparação, mas não farei. Porém, Ratinho, quero que grite como
sabe fazer enquanto te faço gozar e encho esse rabo com minha porra
quente.
Um tapa forte marca sua bunda e seu grito ecoa pelo lugar, com toda
certeza até o piloto fechado na cabine irá ouvi-lo. Faço algo que só esse
depravado e teimoso consegue de mim, ajoelho-me atrás dele, abrindo sua
bunda mergulhando minha língua em seu cuzinho gostoso, ele rebola
excitado gemendo alto, chupo dois dos meus dedos deixando-os bem
babados e começo a introduzi-los em seu buraquinho, ele parece desejar
subir pelas paredes enquanto tenta se agarrar a algo que não encontra. Puxo
seu pau para trás enfiando tudo que consigo alcançar em minha boca, porém
preciso de mais espaço, mais acesso.
— Empine mais a bunda, Ratinho — ordeno com um tapa.
— Dam... — Joga a cabeça para trás e me chama por um apelido.
Não, chacoalho a cabeça, com certeza é apenas falta de ar, por isso
não completa meu nome. Com meu pau se esfregando contra os tecidos que
o aprisionam não suporto mais sentir com três dedos socados em Ícaro, abro
de forma desajeitada minha calça libertando meu membro que baba
desesperado.
— Abra-se para mim — peço retirando meus dedos enquanto ele
continua gemendo alto como ordenei.
Ver seu corpo nu me faz querer sentir seu calor, sentir sua pele
contra a minha, arranco toda a minha roupa ficando apenas de meias,
fazendo o mesmo com ele. Colo meu corpo no seu, arrepiando-me
completamente e aquela sensação desconhecida retorna me acertando como
uma onda furiosa. Tento afastar esses pensamentos, preciso apenas castigá-
lo enquanto me dou prazer. Numa arremetida forte o empalo me enterrando
totalmente, fazendo seu grito reverberar. Deslizo minhas mãos pelas suas
costas fazendo-o abrir os braços, colando meu corpo completamente contra
o seu, começo a me movimentar no momento em que ele começa a rebolar
em meu pau que anseia por libertação, pela primeira vez ofego sentindo
cada um dos meus piercings em seu rabo. Saio quase completamente para
voltar com força, solto seus braços, mas ele continua na posição que o
deixo, quando levo minhas mãos até seus joelhos cravando minhas unhas
nas laterais de sua perna e arrasto arranhando sua pele fazendo-o urrar de
dor, suas unhas buscam se cravar na funilaria do avião, mas não tem
sucesso.
— Nunca mais me desafie, com ou sem intenção de fazê-lo.
— Dam, por favor, meu pau. — O maldito apelido está lá, e meu
corpo ferve num misto estranho de sensações.
Decido esquecer tudo, saindo dele que está com as mãos apoiadas
no colchão e o rabo empinado para cima, em pé volto a me enterrar nele
segurando sua cintura com força, cravando minhas mãos em sua carne,
então nada mais existe. Urramos, gritamos e fervemos juntos, Ícaro grita e
eu meto forte, ele busca contato arremessando-se contra meu pau numa
sincronia descabida de perfeita. Eu quero marcá-lo, machucá-lo e pela
primeira vez essa sensação dói, arfo com isso enquanto minhas bolas pesam
se contraindo, no momento em que sinto as mordidas do seu cu em mim,
me sinto num emaranhado de fios desencapados que disparam choques em
todos os lugares que tocam, gozando com ele que grita meu nome junto
comigo que faço o mesmo. Minhas pernas quase sedem e nos levam ao
chão, mas eu envolvo seu corpo como apoio tanto para que ele não caia,
como para me aproximar num desejo descomunal de senti-lo.
Saio dele puxando seu corpo contra o meu e jogando-nos na cama,
não sei por que faço o que faço, mas o envolvo com meu corpo, enquanto
ele se encolhe buscando mais de mim.
— Por quê?
— O quê?
— Por que está fazendo isso? Deitando-se comigo envolvendo-me
como se eu fosse sua pessoa no mundo.
— Não faça perguntas para as quais não tenho respostas, apenas não
me toque, vamos permitir que nossos corpos se acalmem.
— Queria que tudo fosse diferente do que será, que não existisse
aquele momento em que enxerguei o que faz, que voltasse apenas ao
momento em que eu descia as escadas louco para compartilhar com você o
quanto sua visão sobre a Fera era excitante e obscura, e o quanto ela me
fazia conhecê-lo mais.
— Era apenas uma história — minto, pela primeira vez na minha
vida eu minto.
— Uma história que eu gostaria que fosse real e que fosse a minha.
— Sinto seu coração bater desacelerando, já que minhas mãos por um
motivo incompreendido por mim estão abertas em seu peito.
— Talvez eu jamais possa te dar um final feliz. — Suspiro baixo.
Não há resposta, nada, apenas o silêncio, seu corpo quente se
aconchega mais contra o meu e sinto um fecho de luz ultrapassando a
completa escuridão em mim, como se Ícaro tivesse o poder de enxergar
sobre as camadas de raiva e ódio que sinto desde que me entendo por gente.
CAPÍTULO 26

Ícaro me traz muitas primeiras vezes, dormir com ele é algo que
nunca fiz, não foi algo profundo, mas um cochilo que me trouxe uma
sensação boa e que me faz desejar continuar por aqui. Lembro de suas
palavras e penso no que Darko disse sobre ele ser a minha pessoa.
— Sim, você é a minha pessoa. — Beijo sua nuca assim que
sussurro as palavras.
Por estar dormindo ele não se mexe, a sensação prazerosa que sinto
reverberar por mim, logo se esvai quando Konan informa que estamos
próximos ao pouso.
— Ratinho, precisamos nos levantar. — Passo a mão sobre seus
cabelos, contemplando seu despertar, de forma involuntária ele se vira, me
abraçando e meu corpo inteiro congela quando ele enfia seu rosto contra
meu peito, sinto o disparar do meu coração e o gelo percorre minhas veias.
— Podemos ficar mais? — questiona fazendo o vibrar de suas
palavras rasparem a pele do meu peito.
— Ícaro, me solte — peço ofegante e de forma bruta.
Logo ele pula longe de mim indo para a ponta da cama com um
olhar assustado e temendo minha reação.
— Desculpe, não estava acordado o suficiente.
Tento controlar meu corpo e meus pensamentos, ainda estou
congelado e apertando minhas mãos em punhos para conter a explosão de
ódio que sinto dentro de mim.
— Vista-se e vá para fora. — Não o olho, fecho meus olhos numa
tentativa desesperada de não fazer o que desejo, porque seus sorrisos e suas
risadas misturadas aos choros explodem em minha cabeça, não sei se está
fazendo o que peço, mas minutos depois tenho essa certeza quando a porta
se abre e logo se fecha.
Tento me acalmar e enterrar as malditas lembranças, finalmente
quando meu corpo já não mais formiga de ódio eu levanto-me da cama,
vestindo minha roupa e seguindo para a poltrona, dessa vez não me sento
afastado, pelo contrário, se não tivesse aversão ao toque o colocaria no meu
colo, saber que sou fodidamente quebrado e sem nenhuma chance de
conserto me faz afundar um pouco na poltrona. Ele me olha com um olhar
de quem deseja dizer muito mais, o comissário nos olha surpreso e as
imagens de tudo que farei com ele roda pela minha cabeça, fazendo-me lhe
dar um sorriso de canto para que ele entenda quem está no comando aqui e
a quem meu Ícaro pertence.
Minutos depois estamos em solo indonésio, os procedimentos de
taxiar se iniciam enquanto a equipe de bordo começa a falar algumas coisas
sobre o clima e a temperatura em Bali. As portas são abertas e tem dois
carros aguardando nossa chegada.
Desço com Ícaro à minha frente enquanto o olhar de medo do
homem que descobri por Koan se chamar Vlonich não me passa
despercebido, sigo caminhando com Ícaro e Konan até o carro, o desejo de
tocá-lo aumenta e minha mão segue em sua lombar.
— Meu Ícaro — chamo quando ele se vira para me olhar e sou
atingido por uma mistura desconhecida de sentimentos, mas dessa vez isso
parte dele.
— Sim, Dam. — Existe um esboço de sorriso, e o apelido está ali.
— Por que me chama assim?
— Na minha mente é assim que te chamo, desculpe Damian, diga o
que deseja.
— Vá com Konan.
— Damian, não faça o que penso que fará.
— Não sou conhecido como Anjo do caos por promessas vazias,
Ratinho.
— Ele não fez nada.
— E esse será o único motivo que lhe garantirá uma morte rápida.
— Seu olhar muda e ele parece decepcionado, o mesmo olhar que ganho
quando atinjo meus irmãos com todos os ataques que dou. — Agora vá. —
Abro a porta e o vejo entrar, assim que a fecho vejo o piloto, o copiloto e o
comissário de dedos leves e sorriso flertador.
— Vlonich.
— Sim, senhor. — Ele me olha surpreso, enquanto todos os outros
seguem se despedindo.
— Vi que gosta de homens — falo observando-o de cima a baixo.
— Sim, senhor.
— Isso muito me interessa.
— Se soubesse que o senhor viria até mim, teria mudado meu foco,
mas o que seu marido vai achar?
— Ele não é meu marido, apenas alguém que está comigo, ele sabe
bem as regras do jogo.
— Sexo sem compromisso? — Pelo visto o medo que existia nele
era de qualquer coisa, menos de mim.
— Quente e depravado.
— Prometo gritar como ele fez durante o voo.
— Não vejo a hora disso acontecer — respondo o direcionando ao
carro.
O motorista que nos aguarda pega sua mala, colocando no porta-
malas, enfio as mãos no meu bolso sentindo o fio de nylon grosso e
resistente, permito que entre sendo cortês abrindo-lhe a porta, nunca foi tão
fácil abater um cordeiro, o carro entra em movimento, fecho todos os
acessos do carro com um digitar de senhas, deixando-nos isolados ao fundo,
ele se vira para mim com um sorriso que quase lhe rasga o rosto e que me
causa ânsia. O que demoraria um pouco para acontecer é acelerado por ele
que enfia suas mãos sob meu terno tocando meu corpo e ouriçando meus
demônios, com o fio de nylon em uma das mãos, movimento-me rápido
girando seu corpo nojento dando duas voltas do fio em seu pescoço
começando a puxar.
— Nunca mais tocará em algo que pertence apenas ao demônio.
— Socorro! — grita se debatendo, mas corto sua voz quando aperto
ainda mais forte o fio.
Vlonich se debate chutando e tentando arrancar o fio das minhas
mãos, ele não tem como escapar, gargalho do cheiro de urina que invade o
carro, não leva muito para que esteja inerte e morto. Solto o fio do seu
pescoço enrolando em minhas mãos e enfiando-o no bolso, seus olhos estão
num vermelho vivo, sua expressão aterrorizada me excita, quando um
tempo depois o carro para.
— Senhor, temos um penhasco profundo a nossa lateral, apenas abra
a porta — Boris informa enquanto o ouço sair do carro.
Abro a porta e como me informou o penhasco se apresenta a mim,
empurrando com meus pés jogo o corpo imundo de Vlonich pela porta o
vendo cair como um boneco de pano que vai batendo em tudo pela frente,
tanto pedras como galhos, logo Boris lança sua mala que o segue para as
profundezas do inferno. Ambos desaparecem no fundo se perdendo na mata
fechada que tem ao final do penhasco.
— Vamos, Boris, tenho pressa de chegar em casa.
— Sim, senhor.
Saímos de lá em direção à nossa morada pelos próximos tempos.

Desço do carro assim que estacionamos, Gukla me recebe e posso


ver Konan pela minha visão periférica, ele e Boris são os mais próximos de
mim. Conosco vieram mais quinze homens, entre eles cinco Obscuros que
sempre ficam onde estou, eles são os mais controlados, porém não menos
cruéis.
— Boa noite, senhor, tudo está como planejado, as garotas estão
finalizando os livros que vieram conosco segundo seu pedido. — Confirmo
com o olhar.
— Onde ele está?
— No segundo quarto.
Não digo mais nada seguindo até ele, assim que abro a porta o vejo
pular da cama, assustado.
— Desculpe, ainda não consegui tirar a roupa.
— Não precisa ficar nu aqui.
— Então meus pensamentos sobre o motivo disso eram reais.
— Do que está falando? — digo tirando minha roupa.
— Ficava nu em Belgrado porque seria impossível fugir com toda
aquela neve, não duraria muito.
— Gosto de como é inteligente e observador.
— Você fazia o mesmo para mascarar isso. — Estou tirando minha
calça quando entendo o que quer dizer.
— Não, meu Ícaro, eu vivo nu porque fui obrigado por toda minha
vida a viver assim, até os meus vinte anos, quando finalmente exigi minha
liberdade ao meu demônio. — Ele engole seco me olhando como se
estivesse nascendo um chifre na minha testa.
— Desculpe, não quis ser invasivo.
— Seja o que quiser ser, pergunte o que desejar, é minha escolha se
conto ou não, se permito ou não.
— Matou aquele homem?
— Sim, não da forma como gostaria, mas foi o suficiente para mim.
— Como consegue?
— Entenda uma coisa, Ratinho, nossas vidas são distintas em tudo,
você deseja toque e eu tenho aversão, você tem sonhos e eu só pesadelos,
você anseia por um final feliz e eu desejo apenas um final, no meio disso
sigo meus dias como um demônio sedento por sangue devastando tudo que
ousa atravessar meu caminho, nunca serei alguém comum, se pode
acostumar-se com isso, faça, se não pode, continue inquieto, nada vai
mudar.
— Gostaria de tocá-lo. — Sua afirmação me confunde.
— O que deu em você?
— Eu não sei! — Sua resposta é furiosa e sobe um tom. — Meu
desejo é matá-lo, me livrar de você e desaparecer, mas por algum motivo
masoquista demais eu quero ficar, quero ser a porra da sua pessoa. — Seus
olhos cravados nos meus, me dizem que ele ouviu quando disse.
— Não sei ser o que deseja, não sei como ser diferente do monstro
que viu, faço isso desde que nasci, estuprei minha primeira joia com doze,
ela tinha nove. — O pavor em seu olhar o faz recuar um passo. — Matei a
primeira vez com sete, minha primeira doma completa eu tinha quinze, e
ela apenas treze, uma gata que miava e dormia chupando dedo.
— Não — sussurra aterrorizado.
— Sim, você não conhece nada sobre mim, quanto mais eu te
revelar mais irá me odiar, não serei o cara que faz sexo romântico, que olha
nos olhos e fala palavras bonitas, porque eu não sei ser assim. — Falar isso
em voz alta é como dar voz à minha escuridão.
— Eu sinto, Damian, sinto como se contorce quando não entende
tudo que acontece ao seu redor, a confusão em seus olhos é nítida, mas sabe
o que eu descobri também? Que não importa o que precise fazer para ter o
que deseja, você não se preocupa em quantos corpos vai empilhar para
alcançar seu objetivo.
— Muito bom em ler as pessoas, Ratinho, exatamente dessa forma,
o que eu quero será sempre meu, você é a prova disso.
— Que prazer é esse em prender?
— Talvez seja fácil falar qualquer coisa sobre direitos e deveres,
sabe o que eu sei sobre isso? — Não espero que me responda. — Meu
único direito é obedecer às ordens que me dão, Damian, você mata, você
doma, não pode ter uma joia, não existe sua vontade sempre a nossa. É
como rastejar na lama esperando que as migalhas caiam para que eu coma,
odeio quando as joias que domo são obedientes, gosto delas sentindo dor,
pois foi isso que ganhei desde que nasci, mas sabe quanto tempo isso dura?
No máximo uma ou duas semanas, depois é desesperador, causticante,
preferia milhares de vezes rolar com meu corpo nu em ácido a continuar
tocando-as.
— Por que faz?
— Porque nunca me deram a maldita escolha!
— Se não pode ter ninguém o que faço com você?
— É meu segredo sujo, Ícaro, meu pecado, aquele que com toda
certeza quando descobrirem serei condenado à morte. — Sorrio em
escárnio. — Mas sabe o que é engraçado? Eu não me importo, deixei de me
importar há muito tempo.
— Só queria a minha vida de volta — sussurra e isso me causa uma
dor desgraçada.
Vejo o quanto ele anseia pela liberdade, mas sou seu algoz, aquele
que corta suas asas para que jamais volte a voar, porque eu prefiro ouvir seu
canto sofrido e agonizante, que não o ver em sua gaiola sob meu poder.
Ícaro é meu, não existe no mundo algo que me tire ele.
CAPÍTULO 27

Continuamos imóveis depois do que digo, Damian é muito difícil de


ler, se não pegar as entrelinhas ou ouvir seus sussurros fica realmente difícil
de entender, ele oscila entre o que conhece bem e o desconhecido, sua
forma de agir controversa poderia causar engano em qualquer desavisado,
porém eu caí antes de descobrir, me apaixonei antes de entender que ele
jamais mudaria.
— Vamos, não ficará neste quarto — Damian informa me deixando
confuso.
— Não?
— Não, dividirá o quarto comigo.
— Como se não consegue ser tocado?
— Foda-se! Durmo no chão, mas ficaremos no mesmo local.
— Você é o ser humano mais confuso que eu conheço, bipolar se
encaixa muito melhor.
— Ícaro, pare de pensar tanto, não adianta tentar me desvendar, nem
eu mesmo me entendo.
— Parece relaxado.
— Isso acontece quando envio uma alma ao inferno.
Suas palavras já nem me surpreendem mais. Atravessamos o
corredor direto para a outra suíte, ele continua nu, assim que chegamos ao
quarto fecha a porta.
— Tem roupas no closet, vou tomar banho e depois vou cuidar dos
seus curativos.
— Posso fazer sozinho, aviso tocando meus pulsos.
— Mas não fará, não discuta comigo.
Vendo-o desaparecer começo a tirar minha roupa procurando por
algo no closet, quando encontro uma sunga, acho que isso irá servir ao meu
propósito de mergulhar na piscina gigantesca que tem aqui. Pego um roupão
e sigo o meu destino, já que sou prisioneiro num lugar onde tenho tudo, por
que não usufruir disso já que venho fazendo desde o começo?
Desço as escadas dando de cara com Gukla e suas funcionárias.
— Precisa de algo?
— Não, vou apenas nadar.
— Boa noite, senhor.
Atravesso a casa deixando o roupão e os chinelos ao lado de uma
espreguiçadeira, minha curiosidade anda aguçada desde que cheguei, estou
inquieto para descobrir como é tudo isso aqui a luz do dia, mas enquanto o
momento não chega, pulo na água começando a nadar, tento esquecer tudo,
deixar minha mente limpa, daqui posso ver o mar que segue iluminado pela
luz da lua. A casa é em um lugar alto, mas tem caminhos que levam direto à
praia e são completamente iluminados, esqueço-me até disso, dando
braçadas fortes até o outro extremo da piscina, faço a volta batendo meus
pés na borda para voltar a nadar, me perco na quantidade de voltas que dou,
parei de contar na décima, quando bato em algo que não é a parede já que
são cinquenta braçadas até chegar lá e não estou nem na metade.
Subo assustado quando me deparo com um Damian com cara de não
muitos amigos, mas isso é meio que seu normal.
— Parece que não entende algumas coisas.
— O que está dizendo? — Coloco-me em pé, ofegante pelo esforço.
— Digo que fica comigo e você sai. — Cruza seus braços.
— Inclusive me disse também que não gosta de toque, não me
chamou para seu banho, queria que eu adivinhasse ou ficasse plantado no
meio do quarto esperando sua ordem?
— Ícaro, sua língua anda muito afiada.
— Sempre fui.
— Acha que não notei o que deseja?
— O quê?
— Me beijou no avião puxando-me, tocando em mim como já havia
dito que não era para fazer, agora entra na piscina com os curativos, depois
que eu disse que cuidaria deles. — Droga! — Está desejando que eu te mate
quando me toca, ou pegar uma infecção quando se joga na piscina com os
pulsos cheios de pontos?
— Acho que deseja o mesmo que eu, já que tem pontos na perna e
está aqui dentro comigo.
— Não me provoque. — Tenho meus cabelos seguros.
— Ou fará o quê?
— Isso não vai funcionar comigo.
Ele acredita mesmo que o segurei para que ele me matasse? Só pode
estar maluco, mas também não vou desmentir, talvez ele se controle caso
por um descuido o toque sem intenção alguma após um pico alucinado de
tesão.
— Por que não me fode? Já que não pode me matar como acredita
que desejo, e não pode permitir que te toque, faça algo de útil, gosto quando
rosna me beijando e não quando quer me dominar. Você já mostrou seu
ponto, sou seu, então me usa logo porra! — Meu corpo traidor realmente
ferve quando faz o que está fazendo agora, me segurando pelos meus
cabelos e esfregando seu corpo contra o meu.
— Por que precisa ser assim?
— Porque já que não sabe ser de outro jeito, decido ser do meu jeito
também, sou assim, Damian, na minha cabeça, na hora do sexo, eu te
mordo e marco seu corpo, me esfrego nele, passando minhas mãos em
todos os lugares que consigo, até que abocanho seu pau com minhas mãos
em suas coxas, mas isso só acontece aqui. — Aponto para minha cabeça,
mas ele não vê, já que quando comecei a falar o que faria com seu corpo ele
se tensiona e fecha os olhos. — Então, você me domina com o seu olhar e
diz que deseja fazer ou me surra por insubordinação, garanto que qualquer
que seja meu castigo ficarei muito excitado.
— Um ratinho valente. — Ele caminha comigo até me imprensar
contra a borda.
— Não, só burro mesmo.
— Deseja saber por que não permito que me toquem?
— Sim — respondo de pronto e ele sorri sem graça.
— Curioso demais, meu Ícaro. Quando meu progenitor descobriu
que era gay, que amava montar em homens com tanto tesão que os deixava
desmaiados ou mortos, ele decidiu que me faria homem de verdade.
— Você é homem de verdade.
— Sempre gostou dos meninos, Ícaro?
— Sim.
— Quantas pessoas o surraram por isso?
— Nenhuma.
— Quantas mulheres montaram você após ser drogado por algo que
deixava seu pau tão duro a ponto de se partir e tudo só passava depois de ter
tantos orgasmos num rodízio interminável de bocetas sobre você enquanto
engolia o próprio vômito tamanho sua raiva?
— Nenhuma.
— Elas arranhavam, mordiam, rebolavam, sorriam, algumas
choravam porque estavam sendo obrigadas a me fazer homem, talvez a
surra de boceta fosse minha única salvação.
— Damian... — Meu coração se parte ao ouvi-lo revelar essas
atrocidades.
— Quando disse que não tocaria mais mulheres foi a primeira vez
que ele me chicoteou arrancando meus pedaços, eu mal tinha feito quinze
anos. — Estou aterrorizado com suas palavras. — Cada chicotada pele e
carne eram arrancados, se pudesse me tocar veria os enormes buracos que
hoje estão cheios de tinta preta para camuflar as cicatrizes.
— Desgraçado, eu odeio seu pai, odeio com tudo que existe em
mim. — Num rompante de fúria rosno as palavras e o faço paralisar.
— Por que isso te importa? Por que vejo essa raiva borbulhar em
seus olhos?
— Porque preciso matá-lo, filho da puta dos infernos.
— Nunca ninguém se importou. — A dor cortante em sua voz me
mata um pouco mais.
— Mas eu me importo, você é um demônio maldito, um monstro
dos infernos, mas é meu, apenas meu, entende? — falo o encarando que
tem a expressão mais descrente que já vi em alguém.
— Ícaro. — Existe algo em sua voz.
— Seu pai é um demônio desgraçado que deveria estar ao lado de
Hitler recebendo abacaxis no próprio rabo enfiados pelo próprio Lúcifer.
— Não sei como ser a sua pessoa.
— Sabe, você já é a minha pessoa, Damian, e eu sou a sua, só
precisa aprender a ceder.
— Nunca!
— Não tô querendo que mude quem é, que... Droga! Como queria
abraçá-lo, para que pudesse sentir o que quero dizer, queria puxá-lo agora.
Ficamos nos olhando, não sei o que dizer ainda me sinto quebrado
com suas revelações e nem mesmo sei por que elas vieram, mas me fazem
querer protegê-lo.

Estou atônito com a reação de Ícaro, queria lhe causar pavor, mas
ele parece sentir a dor que vem de mim, a dor que só eu sinto há muito
tempo. É confusa a sensação de vê-lo sofrer já que eu lhe faço sofrer desde
o momento em que o comprei, o aprisionei, privei sua liberdade, o trato
como a um objeto caro demais para deixá-lo ir, e quando lhe revelo isso ele
parece querer me proteger.
— Gostaria de poder sentir — aviso sem condições nenhuma de
manter minhas muralhas erguidas, não estou na defensiva aqui, não existe
isto agora, e sim o desejo desesperado de sentir seu toque é algo que sinto
pela primeira vez na vida.
— Segure minha cintura, Dam, por favor, prometo não o tocar, mas
não posso não me aproximar. — Faço o que me pede, seus braços flutuam
na água. — Coloque sua testa na minha. — Novamente pede com uma voz
rouca e novamente obedeço.
Nossos tamanhos não fazem a posição desconfortável, já tentei por
mil vezes entender como não sinto nada quando meu corpo toca qualquer
outro que seja, mesmo que agora deseje apenas o dele, mas quando o
assunto é ter mãos em mim não consigo, meu coração está prestes a
explodir no peito. Mergulho na escuridão dos seus olhos, quando sua voz
rouca novamente ecoa invadindo meus ouvidos.
— Gostaria de estar lá por você, de protegê-lo com meu corpo
contra os chicotes que lhe atingiram.
— Não. — Imaginar isso me rasga ao meio. — Não é a visão que
gostaria de ter, Ícaro.
— Eu sinto sua dor, Damian, sinto tanto por tudo que precisou
suportar, e pelos céus, Deus sabe como queria alisar seu rosto com meus
dedos e te mostrar que a vida não é só dor e sofrimento.
— É tudo que eu conheço. — Engulo seco um nó maior que minha
garganta. — Nunca houve algo diferente.
— Me deixa te ensinar.
— Por que gostaria? Não valho à pena, Ícaro, eu te comprei,
mantenho você preso a mim, gostaria de ser essa pessoa que você acredita.
— Me deixa te mostrar que pode, que posso te amar e que receber
carinho é bom.
— Meu peito parece estar sendo esmagado e minha garganta dói,
não gosto de me sentir assim, é como voltar a ser criança, como se a
qualquer momento fosse acordado sendo lançado no chão sob gritos de que
era nojento e sujo. — Tento respirar e não consigo. — Você não pode.
— Posso, posso me compadecer, posso desejar tomar sua dor, posso
querer que seu sofrimento suma, não se escolhe o que sente, Damian.
— O que sente, Ícaro? Me explica, não sei do que fala, não sei como
é.
Pela primeira vez desejo o toque, a sensação de ser tocado com
carinho como ele fala, nossos olhos se mantêm fixos e minhas mãos alisam
suas costas fazendo por muitas vezes ele fechar os olhos. Seu corpo treme,
mas seu rosto desliza pelo meu. Fecho meus olhos, é uma sensação
diferente, não é toque em meu corpo, seu nariz percorre o meu, ele beija
meus olhos, um de cada vez, não consigo explicar como me sinto, meu
corpo parece em agonia, mas imaginar que isso pode acabar é ainda pior. A
sensação é deliciosa e ele se aventura um pouco mais, quando beija vários
pedaços do meu rosto, me mantenho com a mente focada, não gostaria que
nada se infiltrasse nela neste momento.
Os gemidos roucos que ouço são meus, puxo ainda mais para perto
seu corpo, quando num impulso o faço rodear minha cintura com suas
pernas.
Suas mãos ainda estão longe e meu coração parece bater na
garganta.
— Que tal subirmos, Ícaro? — Preciso trocar seus curativos.
— Não quero ir.
— Prometo que poderemos continuar na cama.
— Será um martírio, Dam, já está sendo, não o tocar está me
matando.
— Resolveremos isso em algum momento. — Esfrego meu rosto
contra o seu como ele fez. — Segure-se em mim, braços nos meus ombros
caso precise de apoio agarre meus cabelos, vou levá-lo para dentro.
Ele faz como peço então sigo com ele em meus braços direto para o
nosso quarto.
CAPÍTULO 28

Algum neurônio importante da minha cabeça deve ter queimado,


não existe explicação para sentir o que sinto de alguém que não sente nada.
Era isso que eu pensava até algum tempo atrás, pude sentir sua dor, desejei
arrancá-la do seu peito, mas não tenho esse poder.
Como me pediu, caminhamos, suas mãos estão em minhas coxas e
as minhas em sua cabeça como apoio, subimos as escadas e não sei como
ele consegue, temos quase a mesma estrutura, assim que chegamos sou
colocado no chão.
— Erga seus pulsos. — Faço como pede, a voz de Damian parece
algo completamente diferente de tudo que foi até aqui. — Mantenha suas
mãos fechadas.
Confirmo com um acenar de cabeça, pergunto-me que tipo de
trauma leva alguém a ter aversão ao toque, com certeza o que ele me contou
foi o mais superficial possível. Vejo-o desamarrar com cuidado as ataduras
molhadas, minhas mãos estão fechadas viradas para cima e pela primeira
vez vejo os pontos, engulo seco por me lembrar o motivo de estarem aí.
— Dam — chamo e ele sorri, um sorriso que parece genuíno. — Por
que ri?
— Nunca tive um apelido.
— Se te incomodar posso parar.
— Não, continue, sinto-me diferente, mas não de um jeito ruim.
— Não me faça uma joia — peço olhando em seus olhos.
— Não sei ser diferente, Ícaro. — Seu olhar cai diretamente para os
meus pulsos.
— Não preciso ser uma para fazer o que deseja, só não me
transforme em um cão, isso me mataria. — Seu olhar focado em mim é
indecifrável.
— Não sou bom com coisas diferentes do que aprendi.
— Podemos aprender juntos como é um relacionamento.
— Sabe que isso não funcionaria, primeiro que nem está aqui por
vontade própria, isso já deve com certeza quebrar todas as regras de algo
que o mundo vê como normal.
— Faremos encaixar, como chegamos a esse ponto não importa, o
que importa é como seguiremos daqui para frente.
— Falar é tão fácil, ainda sou o mesmo Ícaro, desejo te fazer sofrer
apenas pelo meu prazer.
— Faça-me sofrer por nosso prazer, só não quero ser como aquele
homem.
— Vamos, não pense nisso, vou cuidar de você, te dar banho e
depois falaremos sobre o que me pede.
Decido não questionar mais, acho que chegamos longe o suficiente
por hoje. Como prometido ele me banha com cuidado e minhas mãos
coçam por apenas um toque, por qualquer mísero toque que seja. Após o
curativo seu olhar está em mim, logo ele se levanta deixando-me sozinho no
quarto que segundo ele seria nosso, nem ao menos olha para trás.

Não consigo lidar com o olhar que recebo, sinto-me vulnerável,


preciso me afastar, já atravessei muitos limites hoje, me expus ainda que de
forma superficial, Ícaro teve de mim mais do que qualquer outra pessoa
existente. Quis continuar com ele envolto a mim, porém sou fodido demais
e quando ele me pede para não transformá-lo em pet sinto como se meu
coração fosse envolto em arame farpado. Não o quero como um cão
adestrado, mas não posso negar que desejo transformá-lo em um demônio
descontrolado, que precise apanhar enquanto é domado, que seja incansável
em negar enquanto sou incansável em quebrá-lo. Meus pensamentos para
ele são os piores e em todos eles Ícaro apenas enlouquece. Nunca estive
controlado quando as joias são arredias, muitas vezes me excedi, então
imagino seguindo os caminhos contrários, com toda certeza ele morreria e
isso me levaria junto.
As coisas não são como imagino, queria que ele fosse alguém por
quem eu não sentisse nada, nem um pouco desse incômodo no peito, mas
imaginar que não teria o momento que tivemos a pouco me parte um pouco
mais. Sinto as estruturas que criei à minha volta racharem e novamente
outro fecho de luz atravessa minha escuridão.
Preciso novamente me proteger, mesmo que minha vontade seja
continuar me despindo, me desnudando, me revelando a ele. Por quanto
tempo aguentei uma tortura? Mudo meus pensamentos e me recordo dos
piores meses da minha vida, nada daquilo parece pior do que não ter aquele
momento em que ele beijava meus olhos.
Chacoalho minha cabeça livrando-me dos pensamentos que me
perturbam e abro o computador, com toda certeza tenho muito que fazer,
preciso continuar a juntar as peças do quebra-cabeça que irá me libertar do
inferno em que vivo. Decido pegar meu telefone quando percebo que tenho
milhares de mensagens de Dimitri, nem as leio, apenas ligo para ele.
— Quando o encontrar irei arrancar sua cabeça. — Sua ameaça
não me atinge e na verdade nem sei o motivo de recebê-la.
— Se me der um motivo plausível para que tente, posso até mesmo
te dar uma oportunidade.
— Não viu as marcas no pescoço dela? Farei milhões de vezes pior,
Damian, seu demônio maldito e carniceiro.
— De quem?
— Da Monike, porra!
— Ela me tocou — respondo porque eu sabia que não deveria tê-la
machucado, mas algumas coisas são incontroláveis comigo. — Poderia
estar morta, as marcas são a lembrança de que eu parei a tempo.
— Damian Dothraki, o farei se arrepender de tê-la machucado.
— É ela, não é?
— Do que está falando?
— A sua pessoa, Dimitri.
— Não! Mas eu sempre a protegi, faço isso desde sempre, desde que
Dusham a salvou.
— Não se engane, irmão, posso não entender muito bem de
sentimentos, mas esse eu reconheço, você deseja vingança, e sim eu penso
igual.
— Não temos nada!
— Se continuar assim pode ser que não demore muito.
— Vai se foder!
— Não vai resolver seu problema, pense na aproximação que ambos
tem tido, você fez dela sua médica, o que houve com Miroslav? —
Miroslav é o médico mais antigo que trabalha para a Triglav e quando
setorizamos Belgrado, Dimitri desafiou todos nós a impedir de mantê-lo, e
agora simplesmente tudo muda.
— Nos desentendemos.
— Se você diz. Agora preciso ir, estou fechando o cerco de
Konstantin e Bratslav, em breve esses desgraçados vão cair como nada, e
Stefan irá assumir seu lugar nos dando tudo que sempre desejamos.
— Nunca imaginei que em breve demorasse tanto, anseio por isso
desde que recebi o primeiro soco.
— Vá para a sua pessoa, Dimitri, não a deixe conhecer ninguém
melhor que você, ou pode roubá-la, algo parecido com o que fiz.
— Vivi para ver um demônio como você me dar conselhos. — O
desejo de apertar sua ferida vem, mas decido recuar.
— Se gostasse de mulher não teria chance quanto a ela.
— Não estaria vivo para tentar.
Encerro a ligação vendo muito mais que ele consegue enxergar.
Foco em trabalhar e abrir os caminhos para que a Triglav tenha uma
nova direção, sei que tudo vai mudar, mas quem sabe agora que tenho meu
Ícaro eu deseje realmente isso.

Estou perdido em trabalho e descobertas, tentando não ser pego


pelos hackers de Konstantin, quando ouço o barulho da porta.
— Acho que está amanhecendo. — Olho para as grandes janelas e
vejo o sol clareando o mar no horizonte.
— Acabei me perdendo em trabalho. — Tiro o notebook do meu
colo.
— Trouxe café. — A bandeja em sua mão faz novamente algo
estranho acontecer em mim, isso é ser a pessoa de alguém?
— Por quê?
— Porque Gukla me disse que estava aqui. — Nem a notei, com
certeza entrou e saiu como uma gatuna de patas silenciosas.
— Não, Ícaro, por que se importou em trazer o café, já que não é
pago para que faça?
— Porque é isso que fazemos quando gostamos de alguém, nós
cuidamos da pessoa com detalhes, não precisamos de coisas grandiosas,
apenas de estar lá, sendo atencioso e zelando seu bem-estar.
Continuo olhando para ele, Ícaro faz coisas que nunca recebi de
bom grado e isso me confunde.
— Venha, sente-se, podemos comer juntos e depois caminhar na
praia, apesar de achar que está cansado demais por ter virado a noite.
— Posso passar cinco dias sem dormir e isso não me afeta. — Seu
olhar curioso pelo que digo aparece.
— Então vou ser abusado e levá-lo na minha caminhada.
— Posso fazer isso por você.
— Só depois de comer.
Vejo-o puxar a cadeira, um instinto acende em mim, como se uma
luz de emergência estivesse tentando me mostrar que de alguma forma isso
pode ser uma armadilha, mas conheço mentirosos à distância e tudo que
Ícaro me disse com certeza é real.
CAPÍTULO 29

Estamos caminhando na praia há quase uma hora, apenas o barulho


das ondas que morrem na areia, o som dos pássaros e o desejo desenfreado
de tocar sua mão para que andemos como os casais apaixonados. Sorrio
mentalmente de mim, Damian não sabe nada sobre sentimentos, então se
existe algo que ele não está é apaixonado.
Alguns soldados nos acompanham de longe e ele está em total
alerta, mas nem isso estraga o momento, lembro de Antonella, ela ama o
mar, com certeza estaria batendo suas mãozinhas e sorrindo enquanto corre
fugindo da água.
— Precisa relaxar — digo quebrando o silêncio.
— Nunca, alguém como eu precisa estar sempre pronto para que
algo aconteça.
— Por isso está com uma arma na bermuda?
— Sim.
— Entendo, com certeza as gaivotas seriam inimigas em potencial.
— Fica difícil não sorrir dos meus pensamentos idiotas.
Ele balança a cabeça em um esboço de sorriso.
— Espera! Isso é um sorriso? — Paro à sua frente para que me olhe.
— Parece que essa vontade aparece quando estou ao seu lado.
— Gostei, fica ainda mais bonito quando o faz.
— Nunca acreditei que o céu existisse, mas hoje tenho dúvidas
quanto a isso, vivi no inferno por tantos anos que isso que você me traz só
pode ser um pedaço do paraíso.
— Não seja romântico.
— Não estou sendo, nem sei como ser, mas é verdade, um instinto
primitivo de estar ao seu lado, de escutar essas frases que me fazem querer
sorrir ou ter pensamentos de que posso mesmo ser a sua pessoa.
— Dam... — Não tenho palavras.
— Só estou aproveitando esse tempo, Ícaro, quando descobrirem
que um demônio como eu caminha por esses lados, me expulsarão de forma
instantânea.
— Ou pode ser que seja essa sua nova morada e apenas precise ir ao
inferno apenas a trabalho.
Ficamos nos encarando, Damian tem uma intensidade sombria no
olhar que causam tantas sensações em mim, suas mãos vão para o meu
rosto fazendo-me fechar os olhos, sinto seus polegares deslizarem pelo meu
rosto, a sensação de suas mãos grandes e calejadas em mim não é nada
suave, mas a forma como me toca é com carinho, isso porque ele nem sabe
o que é, imagina se soubesse.
— Quero poder ser tocado.
— Não quero que sinta dor.
— Não consigo imaginar como seja, mas com você anseio por isso.
É como ter entre nós uma parede de vidro, não quero permanecer assim
distante.
— Podemos tentar aos poucos, mas não agora.
— Por quê?
— Não gosto de estar tão exposto na frente de todos.
— Eles não ligam.
— Mas não me sinto confortável.
— Foi assim que se sentiu quando te deixei nu?
— Sim.
— Então sem exposições.
Seu beijo é urgente e duro, suas mãos deslizam pelos meus cabelos
com força reivindicando algo que já lhe pertence. Fecho minhas mãos para
não o tocar, é uma maldita tormenta que me angustia causando uma
sensação na minha língua tão inquietante e estranha que apenas seu beijo
possessivo pode me livrar. Um grunhido escapa da sua garganta, nossos
membros estão duros e pressionados, o calor escaldante dos nossos corpos
misturados ao calor do sol eleva a temperatura tornando tudo quase
insuportável.
— Damian, me leva daqui.
— Vamos.
O fogo me consome com toda facilidade, imaginar que possamos
estar seguindo por um caminho sem volta me faz pensar em tudo que
aconteceu para chegar até aqui.
Chegamos no quarto e assim que a porta se fecha Damian se
transforma exatamente na minha frente, deixa de ser aquele que busca por
sentimentos que não conhece, que anseia pelo toque e que busca algo que
eu talvez lhe possa entregar.
Encolho-me um pouco, porque sua postura é tão poderosa que quase
me faz sentir insignificante.
— Tire sua roupa! — ordena enquanto faz o mesmo.
Enquanto obedeço salivo de forma deliciosa, seu pau enorme, cheio
de piercings e veias faz um conjunto maravilhoso com a cabeça
avermelhada e molhada.
— Ratinho, meus pensamentos são tão perversos. — Suas mãos
tocam meu corpo deixando um rastro de fogo por onde passam. — Seu
pescoço ficaria lindo ornamentado com uma corda específica. — Arfo por
imaginar que deseje me sufocar.
— O que essa corda tem a ver com a dor que anseia me fazer sentir?
— Tudo, é a linha tênue entre a vida e a morte, posso ultrapassá-la e
perdê-lo, posso apenas causar dor e orgasmos, posso te causar dor sem
prazer, tudo isso percorre pela minha mente doente e que deseja realizar
essa loucura.
Sei exatamente o que ele anseia, anseia pela minha negativa, quer
meu medo, minha luta contra tudo.
— Não faça.
— Quem disse que tem esse poder aqui?
Ele rodeia meu corpo tocando cada pedaço dele.
— Não seja o monstro, Damian.
— Posso ser o que eu quiser. — Sua mão vai para o meu pescoço.
— Aqui sou apenas o seu dono.
Meus movimentos podem ser arriscados, mas preciso ser o que ele
anseia e quem sabe assim não seja o cão que vi.
— Não! — Desvencilho-me dele de forma brusca atiçando seu
instinto demoníaco.
— Está querendo me desafiar? — Ele não pisca enquanto me
encara, começando a ficar furioso.
— Não vai me colocar na porra da linha tênue entre a vida e a
morte. — Seu olhar agora é confuso e eu posso estar muito fodido.
— Vou te mostrar quem manda. — Com um ataque furtivo, ele me
prende pelo pescoço, enquanto trava meu braço atrás das minhas costas. —
Fiz isso apenas uma vez e a joia morreu, ela lutou como você está tentando
fazer, Ícaro, não tenho medo de matá-lo.
— Me solta inferno! Posso te odiar por isso Damian, posso voltar a
desejar sua morte.
Por um reflexo seu corpo tensiona, mas logo passa, acerto sua
costela com uma cotovelada me desvencilhando dele, essa loucura está me
excitando e porra, seu instinto animal parece ativado quando me olha com
raiva.
— Acaba de ser contemplado com a forca de Judas. — Ódio líquido
ferve em seus olhos.
— Do que está falando?
Sem entender nada ele bate a mão em um interruptor na parede
fazendo todo o quarto cair no mais profundo breu, logo uma luz negra se
acende e o branco do quarto reluz.
— Bem-vindo ao inferno, Ícaro. — Seu sorriso demoníaco aparece.
Para mim isso é um jogo de prazer, mas não sei se Damian percebeu
isso.
— Não faça isso. — Agora peço e estou realmente com medo,
imploro mesmo sem saber do que se trata.
— É você quem vai me impedir? — estamos próximos agora e ele
me olha esperando que reaja.
Sem que espere minha resposta o vejo sair, ouço um som de teclado
digital como se fosse um cofre que se abre, curioso e com medo o sigo,
antes que eu chegue a tal porta que nem sabia existir ele sai sem nada dizer
me arrastando com ele pelo braço, e o que vejo me paralisa. É um quarto de
terror, as paredes são pretas com escritas brancas, verdes e laranjas
fluorescentes que estão em total destaque, isso foi grafitado por um
profissional, só isso já me causa um gelo na espinha, tudo que tem aqui me
aterroriza, mas uma forca presa por roldanas no teto me paralisa.
— Sabe, Ícaro, quando você luta me atiça, ganhar uma pancada
vindo de você quase me fez gozar, mas eu odeio a dor, queria apenas te
surrar, mas foi você quem pediu.
— Não foi isso que pedi.
Tento andar de costas, mas bato na parede, a porta foi fechada e o
som de um sistema de circulação de ar inicia.
— Hahaha! — sua gargalhada mortal explode. — Mas é isso que
estou disposto a te entregar.
— Damian, não consigo respirar.
— Comece a se acostumar, porque vou fazer com você o que se
costumava fazer com os traidores na época da inquisição, eles eram
chicoteados, depois enforcados em praça pública. Colocarei você na forca
de Judas, tensionarei seu corpo para que fique na ponta dos pés enquanto é
castigado. — Suas palavras me fazem chorar. — Depois o foderei, mas não
sem antes suspendê-lo pelo pescoço, seu apoio será suas pernas em volta da
minha cintura, fará como eu mandar, irá gritar, gemer, e sentirá prazer. Não
me toque tentando se livrar de mim, posso soltá-lo e na queda a corda
envolta do seu pescoço fazer todo o trabalho quebrando-o.
— Não! — Corro em direção
à
porta.
A maldita excitação passou, não existe mais e o medo percorre meu
corpo como lâminas afiadas.
Ele me agarra forçando-me a ir até onde a forca está, meu coração
está tão acelerado que não consigo respirar, mas numa velocidade
descomunal ele coloca a corda em meu pescoço tencionando-a, então meu
corpo paralisa. Não sei o que acontece, mas ele se afasta com certeza para
acionar as travas que fazem tudo funcionar, ofegante, sinto quando ela me
puxa parando exatamente como ele falou, apenas com a ponta dos meus pés
apoiados no chão.
— Não imagina o quanto me excita vê-lo assim, estava lutando para
tentar ser diferente, mas decidiu me enfrentar, por que faz isso, Ratinho?
— Não pode ser o homem que estava comigo minutos atrás.
— Não, esse é o verdadeiro Damian, foi por esse monstro que se
apaixonou.
Engulo seco, perdido, tentando imaginar que com apenas um
descuido meu pescoço se quebra e a maldita linha tênue se rompe.
CAPÍTULO 30

A loucura acaba de ser instaurada em mim, estava lutando com tudo


que tenho para não ser o que sou, não com ele que me causa tantas
sensações desconhecidas e me dão pavor, mas quando ele decidiu me
enfrentar abriu as portas onde meus demônios ficam trancafiados e agora
eles me dominam completamente.
Vê-lo em uma aposição tão a minha mercê faz meu pau doer em
excitação, a corda da forca de Judas está tensionada e seu corpo segue o
mesmo padrão, em algum tempo seus pés estariam queimando, mas não só
eles, suas costas também. Dou algumas voltas analisando a sua situação,
será que ele vai ficar duro se minha boca o chupar?
Não digo nada, apenas me coloco à sua frente passando a mão em
suas coxas grossas e torneadas, sentindo quando ele se tensiona ainda mais
ao meu toque. Seu membro mole é grande mesmo inerte, imaginá-lo em
minha boca me faz grunhir. Inquieto e sem condições de esperar começo a
chupar, lambendo suas bolas e massageando seu pau, suplicando como um
doente que ele endureça. As sugadas fortes começam e mesmo entre
sufocar e respirar ele começa a reagir, não paro porque ele geme alto, como
sabe que gosto, ele geme alto.
Quase urro em prazer por ouvi-lo, vou sentindo seu corpo reagir a
mim, sentindo o quanto ele não resiste, nunca chupei homem algum, mas
Ícaro me faz ter essa vontade, é delicioso. Agora seu pau está duro como
uma rocha e suas bolas pesam em minha mão, o levo até o fundo sentindo-o
em minha garganta, não me importa como e em que posição está, quero
beber seu esperma, deixá-lo exausto e estou apenas começando.
Aumento a intensidade dos meus movimentos, forte e rápido, engulo
seu pau sentindo em minha garganta, continuando a fazer esses movimentos
de deglutição quando sinto o vibrar de seu corpo e aperto com força suas
bolas. O grito ecoa pelo lugar quando os jatos fortes de seu gozo invadem
minha boca, seu corpo inteiro tensiona ondulando pelas descargas de prazer.
Meu gozo quase vem apenas com seu sabor, mais isso é apenas o
início. Ergo-me ficando em pé, sei que está cansado, desejando sair da
posição que está, mas não me importo, vou realizar com ele tudo que disse
que faria. Vou até a parede arrancando um chicote como o que Bratslav
usava em mim, só de me lembrar as garras nas pontas faz o ódio percorrer
meu sistema. No caso de Ícaro são apenas as tiras de couro um pouco mais
duras, não vai lhe arrancar pedaços, mas irá marcar seu corpo e queimar
malditamente sua pele. Pode ser que sangre, pode ser que não, isso vai
depender da força que usar.
— Vamos ver o quanto suporta, Ratinho.
— Damian, eu te odeio, eu te odeio. — Ele não para de repetir, mas
veja bem, eu também me odeio.
— Neste momento seu ódio me alimenta.
— Não estou suportando, Damian, vou sufocar.
— Espero que esteja apenas blefando.
Desligo-me dos pensamentos que tenho de tirá-lo daqui, pois meu
corpo inteiro deseja gozar e isso me mantém dentro das minhas vontades.
Então começo a castigá-lo por me enfrentar, os gritos ecoam no
espaço reduzido, vou surrando, o chicote espalha suas tiras pelo seu corpo
enquanto ele tensiona a cada açoite, seus gritos são cada vez mais altos,
cada vez mais roucos.
Continuo marcando-o, não faço ideia de como está sua pele, não
enxergo isso sob a luz negra, minha mente se perde um pouco como se
flashes de luz explodissem em meus olhos, entrei em ume estado de frenesi.
— Grita! Implora para que eu pare! — ordeno o ouvindo executar
minha ordem.
Meu corpo começa a se cansar, Ícaro por vezes tenta se agarrar a
corda, quando seu corpo exausto não consegue o manter na ponta dos pés,
quando começo a gritar junto com ele sem perceber os motivos, mas a dor
logo me faz cair na real e sou trazido à realidade por ela, todas as vezes que
puxo o chicote do seu corpo o lanço em minhas costas, minha mente não
entende, mas parece que castigá-lo é o mesmo que me castigar. E com os
lombos queimando caio de joelhos, lançando o maldito chicote longe,
minha mente parece voltar a mim, dei mais de cinquenta chicotadas em
Ícaro e em todas elas eu me puni depois.
Ofegante e com dor, sentindo o queimor na minha pele, sou tirado
dessa posição quando começo a ouvir seus pedidos de socorro, ergo-me do
chão e Ícaro sufoca, está ficando com a boca roxa, subo suas pernas
envolvendo-as em minha cintura, quando o vejo puxar o ar com força, ele
não nota, mas suas mãos estão em meu corpo, travo meus dentes, voltando
a perder minha mente.
— Tire suas mãos!
— Damian... — Meu nome sai quase como um sussurro.
— Ainda não acabamos aqui, agora vou fodê-lo, não me toque, se
eu gozar com raiva soltarei seu corpo e romperei a linha tênue entre te ter e
te perder.
— Me solte!
— Não! Esta é sua doma, e eu sou o seu dono.
Sem suportar mais, sem nenhuma preparação, começo a forçar a
entrada em seu rabo quente e apertado, a única coisa que o lubrifica é meu
pré-sêmen que está abundante. Paro esfregando minha glande em sua
entrada logo voltando a me enterrar nele, ambos gritamos juntos, gemendo
e urrando, a corda está frouxa e seu grito agora o faz lançar a cabeça para
trás, suas mãos seguram a corda da forca, quando o empalo completamente,
mordo seu mamilo o fazendo gritar, sentindo seu pau endurecer entre nós,
Ícaro reage à dor, ele se excita com minha crueldade isso pode ser um
maldito problema, mas quase me faz gozar.
Começo a meter com força, e mesmo que ele segure a corda começa
a rebolar sobre mim. Esfrego minha cara em seu peito entre mordidas e
lambidas, vou metendo mais forte e mais rápido, perdido completamente
em minhas sensações. Cada estocada ecoa se misturando ao barulho que
fazemos, minhas bolas começam a doer, minhas pernas quase cedem, estou
sendo pressionado com tanta força pelo seu cuzinho que sou levado à lona
no momento em que seu grito orgástico me atinge. Ícaro goza no mesmo
instante que o marco com mais uma mordida, o calor do seu gozo molhado
entre nós é ainda mais alucinante, fazendo-me clamar pelo seu nome
exatamente quando sinto o pulsar do seu cuzinho em meu pau.
Estou ofegando junto com ele, meu coração pulsa nos ouvidos, mas
preciso soltá-lo, minha mente está completamente focada aqui, preciso
cuidar da minha pessoa.
— Ícaro, preciso que fique de pé.
— Não tenho forças, Dam — diz num fio de voz.
— Não tem como soltá-lo, preciso cuidar de você. — Seus olhos se
fixam aos meus, surpreso.
Quando ele me chama de Dam me mostra o quão não o mereço, não
depois do que lhe causo.
— Tudo bem.
Devagar o coloco de pé me fazendo praticamente correr até o botão
que solta a engrenagem da forca, quando faço ouço o barulho do seu corpo
batendo no chão, exausto. Volto até ele retirando a corda do seu pescoço
que com toda certeza ficará marcado por algum tempo. Reunindo toda a
força que ainda existe em mim, o pego nos braços levando-o diretamente
para o banheiro, seu corpo recosta cansado contra o meu e sua cabeça está
contra meu peito.
— Vou colocá-lo aqui, enquanto encho a banheira — falo deixando-
o sobre a pia de mármore.
Ele se encosta na parede, acendo as luzes e o vermelho vivo de suas
costas aperta algo em mim, é como se alguém esmagasse meu coração em
sua mão, é contraditório tudo isso, mas anseio por falar algo.
— Me perdoe. — Seu olhar assustado com minhas palavras faz com
que erga seu tronco. — Por favor, nunca pedi isso a ninguém, nunca desejei
me desculpar por algo, mas vê-lo assim me destrói, Ícaro.
— Não achei que sairia de si. — Olho sem entender. — Quando o
desafiei, achei que se excitaria não que sairia de si.
— Estava lutando contra mim mesmo para não fazer, quando me
desafiou e lutou comigo tudo desapareceu.
— Me perdoe por forçar, Dam.
— Não sou eu em quem precisa te desculpar, é você, Ícaro.
— Foi culpa minha.
— Não!
— Sim.
Por que ele me olha assim? Por que ele acredita que foi sua culpa?
— Não quero ser quem sou.
— Eu amo você, quero que seja exatamente quem é.
— Não posso dizer que amo você, não sei como isso é.
— Amor é quando nada mais importa, apenas a pessoa que você
ama se torna todo seu mundo.
— Não posso ser todo seu mundo, Ícaro, eu destruí sua vida.
— Posso ver o desespero em seus olhos, Dam, você também sente
amor, só não sabe que é isso que aquece seu peito e o faz perturbado, você
só não entende.
Sua voz grossa carrega sabedoria e nem parece que ele tem apenas
vinte e três anos.
Decido não dizer nada, mas suas palavras rondam minha cabeça,
com tudo pronto o coloco na banheira.
— Relaxe um pouco, logo eu volto para cuidar de você.
— Não me deixe aqui sozinho.
Não escuto seu pedido, sigo para o outro lado do banheiro entrando
no box ligando o chuveiro e permitindo que a água quente caia sobre mim.
Amor? Isso não existe, existe? Não posso amar, demônios não têm
sentimentos bons, mas se amar é ser todo o mundo de alguém, talvez eu
ame, porque é exatamente isso que Ícaro tem sido para mim, todo meu
mundo.
Não sei por quanto tempo fico na água, mas é o suficiente para que
ele descanse um pouco com os sais relaxantes que coloquei em seu banho.
Saio sem nem ao menos me secar.
— Ícaro, preciso levá-lo.
— Posso ir sozinho. — Já que acredita que possa, apenas o vejo sair
da água lhe entregando um roupão para que se seque, fazendo o mesmo
comigo, no momento em que o tecido felpudo encosta em mim rosno de dor
e olho para Ícaro sem ter o ouvido reclamar.
Nu, ele se deita na cama e sei que está exausto, não reclama, não
resmunga, nada, apenas se deita de bruços, eu cuido de cada parte do seu
corpo virando-o para acessar todos os lugares onde o chicote pegou,
passando uma loção calmante por todos os lados, inclusive em seu pescoço.
Pego água e remédio para dor e um relaxante muscular que com
certeza o manterá apagado por algum tempo.
— Beba. — Movimento-o vendo seus olhos se abrirem lentamente.
Fazendo o que peço sem reclamar volta a se deitar sem falar nada,
guardo o copo e tento alcançar em minhas costas os lugares onde me açoitei
com óleo também, não alcanço tudo, mas é melhor que nada. Olhando para
o corpo quente dele em nossa cama decido tentar ficar ao seu lado, fecho
tudo, deito-me ao seu lado e apago sem nenhuma condição de me manter de
olhos abertos por mais tempo.
CAPÍTULO 31

(***)
Abro meus olhos e sinto a dor lancinante percorrer meu corpo,
procuro algo vasculhando tudo ao meu redor, tudo que consigo ver, já que
estou em uma posição não muito confortável. Vejo as roldanas no teto, vejo
os ganchos em mim, então a voz dele.
— Anjo do Caos, estou há algum tempo aguardando que acorde.
— Desgraçado! — rosno sem me mexer, conheço essa merda e ter
um desses ganchos rasgando minha pele vai desestabilizar tudo e me fazer
cair, serei novamente colocado aqui com os ganchos enfiados mais
profundamente em outro local para que suporte meu peso dessa vez.
Bratslav tem uma forma doentia de tratar seus Anjos, suspender
seus corpos em roldanas no teto com ganchos presos às nossas carnes é
uma delas. Não presto atenção nele e analiso como estou, estou de barriga
para cima, com ganchos cravados nos meus tornozelos, na carne acima dos
joelhos, esses aguentam pressão maior, um no topo das coxas e em cada
lado do quadril, seis deles em minha barriga que vão até meu peito, um em
cada lado do braço e quatro menores distribuídos nos antebraços e pulsos.
É isso, estou na treliça, uma haste de ferro que sustenta a cama de
ganchos em que estou no momento.
— Faz algum tempo que está aqui, só aí tem dois dias, fico
imaginando quando vai passar a gostar de bocetas.
— Nunca, eu amo comer um cu, montar um macho.
Tenho dezessete anos, cada dia que passa desejo ainda mais
destruir meu progenitor.
— Acho que posso cuidar disso, quem sabe invertendo as posições.
Do que diabos ele está falando?
— Tragam. — Sua ordem acontece quando um homem mascarado
com uma máscara de demônio chega, nu, com pau duro e ofegante, com
toda certeza foi estimulado.
— Esse é um Obscuro, um demônio adestrado, eles fazem apenas o
que mando, sou eu que comando as cordas que os movimenta, já que não
quer ser homem, pode ser um viado, gosta de dar o rabo, Damian? —
Medo percorre meu corpo, nunca permiti que me tocassem, não dessa
forma, não é isso que faço, tento me mexer, mas estou sendo lembrado a
cada fisgada dos meus músculos onde estou.
— Não ouse continuar — ameaço o demônio mascarado.
Sua gargalhada sombria abafada traz um gelo à minha espinha.
— Damian, Damian, preciso te contar, apenas o líder deles, no caso
eu, pode lhe fazer parar, sua lealdade é minha, nem mesmo a Triglav os
pararia.
— Bratslav, escreva o que estou dizendo, farei com você o mesmo
que possa vir a fazer comigo.
— Terá que me pegar antes, Damian — fala com soberba sentando-
se como numa maldita plateia. — Faça!
Sob gritos desesperados tento me debater, mas dessa vez os ganchos
parecem não ceder, sinto as mãos me tocarem, segurando-me, estou
exatamente aberto na altura dos eu pau, quando minha cintura é presa por
seus braços e sinto a dor lancinante que a força de sua arremetida me
causa, meu grito de dor e ódio ecoa pelo lugar que se mistura à gargalhada
de Bratislav.
Antes que consiga entender, vejo contra o grande espelho, não sou
eu quem está preso aos ganchos é Ícaro, ele está rodeado de Obscuros.
Bato na parede de vidro com força precisando salvá-lo, tirá-lo de lá, a dor
de vê-lo daquela forma me rasga o peito. Sou contido por vários soldados
enquanto tento me soltar, eles começam a estuprá-lo, quero que seja
comigo, que continue sendo eu, não ele.
Não adianta me debater, socá-los ou tentar afastá-los, são muitos e
não tenho condições nenhuma de continuar, os gritos de dor que Ícaro solta
me mata a cada vez que ouço e meu ódio me consome ainda mais.
(***)
Abro meus olhos sentindo o colchão sob mim balançar com força,
quando sinto uma pancada nas costas que me faz arfar, pulando para o lado
oposto vejo Damian se debater, como se lutasse ferozmente contra algo que
o perturba.
— Damian, Damian, acorde! — chamo, gritando inquieto por não
conseguir acordá-lo, lembrando de forma dolorida que não posso tocá-lo.
Seus dedos arranham, cansado de vê-lo se machucar faço algo que
com certeza pode me levar à morte, monto sobre sua cintura, segurando
seus braços lutando contra ele e seus pesadelos.
— Damian, acorde, não está lá! Acorde! — Seus olhos negros estão
assassinos no momento em que me olham, fazendo-me congelar
instantaneamente.
— Ícaro. — Ofegante chama meu nome.
Enquanto ele não percebe o que fiz, começo a tentar me afastar, mas
então em um rompante ele me abraça, envolvendo-me em seus braços,
enfiando seu rosto na curva do meu pescoço, o choro explode e não entendo
nada do que está acontecendo, mas deixo que continue, permito que se
liberte, já que estamos como estamos permito-me devolver o abraço. Não
sei como irá reagir, mas não consigo mais ser indiferente, não suporto mais
não o tocar com o amor que merece.
Minhas mãos deslizam pelas suas costas, sentindo alguns vergões
como se houvesse sido chicoteado, não entendo como isso aconteceu, em
que momento ocorreu, Damian não suporta dor, no momento não importa,
seu corpo sofre espasmos dos soluços do seu choro, enquanto uma das
minhas mãos sai para sua cabeça fazendo carinho em seus cabelos, ele está
suado, parece exausto, mas o choro não cessa.
— Não está mais lá, Damian, não está, sou eu aqui com você.
— Ele o tirou de mim, enquanto te machucavam, Ícaro, não podia
fazer nada.
— Foi só um pesadelo, não aconteceu nada — sussurro baixo para
que não se assuste.
Aproveito-me do momento já que não entende que o toco, com
certeza sua ficha não caiu, os minutos se passam, quando finalmente se
acalma, seu choro vai cessando, continuo com meus movimentos, ele
precisa de mim e dos meus braços para o protegerem.
Afastando meu corpo do seu, vejo seu rosto molhado pelas lágrimas,
então decido enxugá-las. Seus olhos estão vermelhos e fixos aos meus
como se realmente não estivesse acreditando no que vêem, meus dedos
livram seu rosto das lágrimas, seu olhar segue para minha mão, então
rapidamente as retiro.
— Desculpe, não consegui não o tocar.
— Faça de novo — pede desconfiado.
— Dam, é melhor não.
— Faça, por favor! — Seu pedido contém surpresa, mas existe algo
carinhoso.
Tremendo, aliso seu rosto, Damian fecha os olhos sentindo meus
dedos ainda trêmulos passar pela sua pele.
— É diferente de tudo que já senti. — Suspira emocionado — Não
sinto ódio, eu estava lá, eu vi tudo, não sei se suportaria se fosse real.
— Estava aonde? No seu sonho?
— Eles o haviam pegado, fiz de tudo para salvá-lo, mas não
consegui. Eu senti medo, Ícaro, pela primeira vez senti medo de perder,
perder a única pessoa que mesmo sem merecer disse me amar.
— Não sente nada quanto toco você? — indago curioso.
O que diabos esse homem estava sonhando que acordou sem sentir
ódio do meu toque?
— Uma sensação prazerosa, algo que quero ter todo o tempo.
— Meu Deus, Dam, nem acredito que irei conseguir tocá-lo quando
quiser.
— Talvez seja apenas um gatilho quebrado, algo que faz com que
apenas você consiga, ainda fervo imaginando que outra pessoa me toque.
— Como isso acontece?
— Não sei, mas pode continuar.
Ficamos assim por algum tempo em silêncio sentindo meus dedos
em sua pele quente, que agora se arrepia de uma forma gostosa.
— Posso beijá-lo? — peço, Damian ainda mantém seus olhos
fechados.
Beijo seu peito, depois o outro, lentamente ele se deita, seu pau
antes mole agora parece se animar, claro que não aguentaria uma rodada de
sexo, faz pouco tempo que quase me matou. Seu corpo tatuado é
completamente definido, minhas mãos percorrem cada parte dele e como
havia dito sinto em alguns lugares buracos pintados de tinta preta que me
fazem chorar por ele. Em meio as lágrimas de dor e a sensação maravilhosa
de poder tocá-lo vou beijando toda e cada parte que encontro pelo caminho,
até mesmo seu pé, venerando, dando a ele o carinho que jamais recebeu,
sendo para Damian a sua pessoa.
— Suba em minha cintura.
Não entendo seu pedido, quando faço seu corpo tensiona.
— O que houve?
— Talvez não consiga tudo de uma vez, por favor, saia. — Faço
como me pede, no momento em que subi ele fechou as mãos em punho.
Observo-o se sentar como estávamos antes, e ele estende sua mão,
entendo seu pedido silencioso, Damian está testando seus limites, sento-me
em seu colo observando que ele ainda está relaxado.
— O que acontecia quando estava deitado, Damian? — pergunto
sabendo que caso me revele, a história será tenebrosa.
— Era amarrado por cordas. — Tiro minha mão do seu corpo neste
momento.
— Coloque-as novamente, Ícaro, preciso que seja suportável falar e
seu toque parece ter esse poder sobre mim agora.
É tão intensa a forma com que me olha que se ele desejasse me
enfiar naquela maldita sala secreta novamente eu iria de bom grado,
precisaria apenas me pedir.
CAPÍTULO 32

Ainda não consigo entender como após um pesadelo onde ele


passou a ser o alvo de Bratslav quebrou o gatilho que me faz ter aversão ao
toque, acordar e vê-lo vivo foi como submergir de um afogamento. No
momento não pensei quando o abracei, quando senti suas mãos em minha
pele nada aconteceu, nunca fui abraçado, nunca me senti tão bem e tão em
paz, tudo isso foi tão rápido que chorei, chorar, a última vez que isso
aconteceu eu tinha seis anos, tive meus braços quebrados por fazê-lo.
Sinto seus toques e parece que crio uma coragem de reviver tudo
que passei, Ícaro foi meu erro mais certo, contemplar o amor que vem dele
me deixa extasiado por imaginar como pessoas como eu vivem num mundo
sem ao menos sentir? Estou descobrindo com ele tudo isso, e neste
momento preciso que entenda que não nasci assim, fui moldado dessa
forma à força e não conheço outra forma de ser.
— Quando tinha dez anos encontrei um garoto caído no chão,
existia algo nele, queria ser seu amigo, não podíamos ter amigos, nem
mesmo meus irmãos podiam se aproximar uns dos outros, sonhava com
uma voz feminina que dizia para cuidar das mulheres e crianças, era uma
voz doce, suave, que fazia o tremor do meu corpo parar, não sempre, mas
em alguns momentos sentia meus cabelos sendo alisados, um toque suave e
distante que só existia em meus sonhos. — Respiro porque sinto um
desconforto grande na garganta. — O garoto chorava e era um daqueles que
não se aproximavam de nós, ninguém podia, mas eles riam e corriam
parecendo divertido tudo que faziam, enquanto nós éramos treinados para
não sentir nada.
As mãos de Ícaro deslizam pelo meu rosto fazendo-me fechar os
olhos. Como posso ter vivido sem isso por tantos anos?
— Morávamos num subúrbio imundo no interior, nossa casa era tida
como amaldiçoada e Bratslav nem sempre ficava por lá depois que nos
surrava ao ponto de quase nos matar, passávamos o processo de cura apenas
com ela, a mulher que nos pariu. — Pensar nela me causa asco. — Naquela
manhã havia fugido para fora, nu, magricela e imundo, então pelo buraco
do portão o vi caído, chorando, as palavras dos meus sonhos rodavam
minha cabeça, então munido dessa coragem o ajudei a se levantar, o puxei
pela mão, que a princípio ele recusou, mas estava ralado e com dificuldade
para conseguir sozinho.
— Damian, seu coração é bom. — Sorrio incrédulo, ele não sabe de
nada.
— O garoto me deu um beijo no rosto naquele dia, mas Bratslav viu,
o garoto nunca mais falou comigo e nunca mais conseguimos a permissão
de olhar pelo buraco novamente. Treinávamos incansavelmente,
acordávamos apanhando e dormíamos sangrando, as cobertas secavam
sobre nossas feridas e como um ato macabro elas eram puxadas de nós
fazendo sangue escorrer. — Respiro e vejo que Ícaro chora. — Com doze
anos tudo começou, domas, estupros, violência, assassinatos, tudo foi sendo
enfiado em nós, era matar ou morrer. Não me excitava com mulheres,
tomava minúsculas doses de estimulantes roubadas de Bratslav sem que
percebesse, mas ele percebeu, forjou com um dos soldados para que desse
em cima de mim após uma luta onde ele passou a mão em mim, me
excitando, estávamos a sós, assim eu pensava. Esse soldado já vinha
demonstrando coisas e após a luta se encerrar com o pau duro como uma
tora fui puxado para um beijo, ele tinha vinte cinco anos, era impossível não
desejá-lo já que era lindo e másculo. Começamos a rolar no chão quando
estava prestes a gozar com sua boca que me sugava, no momento em que
proferi isso, que gozaria todas as luzes se acenderam, ele se levantou
dizendo ao chefe que tinha sim um filho viado imundo, cuspindo no chão
em seguida, naquele momento fui munido de raiva, uma raiva visceral.
— Eu o odeio.
— Ele está morto, meu Ícaro, o matei na primeira oportunidade.
— O que houve? Depois, o que houve depois? — Sua voz
demonstra muito de sua agonia e seus olhos, esses olhos castanhos são tudo
que desejo ver para sempre.
— Fui para a treliça de ganchos. — Pego suas mãos e deslizo seus
dedos pelos pontos onde os ganchos atravessavam enquanto o explico como
era ter o corpo perfurado e suspenso. — Comecei a ser chicoteado tendo
meu corpo dilacerado e mutilado, pedaços de pele e carne sempre voando,
ele não tocava meu pau, segundo ele era meu instrumento de trabalho. Por
anos e anos acordava preso a uma cama por cordas com mulheres já
montadas em meu pau, elas me violentavam até desmaiar.
Os dedos de Ícaro passeiam pela minha pele, me acalmando.
— Até meus vinte anos domei mulheres, mas fui crescendo, ficando
maior e mais assassino, ao ponto de ameaçar Bratslav e ele me temer.
— Tudo acabou, Dam, passou, não existe mais.
— Existe aqui. — Aponto para minha testa. — A forma como
aquela mulher nos espancava após sermos brutalmente espancados, ela
vivia sempre rasgada e ensanguentada quando ele estava lá, ouvíamos seus
gritos, ela ria e gemia alto como uma cadela, depois nos surrava. Ele
arrancou sua cabeça e eu, eu desejo a cabeça de ambos empalhada na minha
parede, infelizmente não terei esse prazer com ela, mas um dia a dele será a
decoração da minha lareira.
— Damian, tudo isso que me conta é tão cruel e impensável. —
Puxo-o para os meus braços, e suas pernas agora estão em volta de mim,
sinto quando seu corpo tensiona, sei que é por causa dos açoites que lhe
causei.
— Está com dor?
— Não.
— Ícaro, não minta para mim. Está com dor?
— Sim, ainda queima e está dolorido, mas melhor do que antes de
você passar o óleo em mim.
— Vou pegá-lo, espere aqui. — Faço menção de sair, mas ele me
segura.
— Não sou de vidro, temos quase a mesma estrutura e tamanho, não
é isso que irá me fazer soltá-lo.
Ele cola nossas testas, e meu corpo se arrepia com o deslizar dos
seus dedos, fecho meus olhos pensando em sempre tê-lo.
Ouvir as atrocidades que Damian passou me causa uma raiva
descomunal e o desejo de estar agarrado a ele é como uma necessidade no
momento. Desejo protegê-lo e mantê-lo envolto em meus braços, como
uma barreira que impede que a dor o alcance, ele fala da mãe, mas algo me
chama atenção, ela estava sempre rasgada e ensanguentada, ele fala das
palavras dos seus sonhos onde uma voz feminina o mandava cuidar das
mulheres e crianças, isso me parece coisa que uma mãe faria.
— Dam. — Decido expor essa minha linha de raciocínio.
— Hum. — Ainda está com seus olhos fechados.
— A voz que ouvia, não existe a possibilidade de ser dela?
— De quem, meu Ícaro?
— Da sua mãe.
— Não, aquela víbora maldita era tão ruim quanto ele.
— Eles eram casados e ela era como ele?
— Não, ele a roubou com doze anos para criar essa ideia insana de
Anjos domadores de pessoas, ela foi seu instrumento macabro para colocar
monstros no mundo.
— Damian, isso não pode ser verdade.
— É, Bratslav descobriu que ela era um demônio como ele, com
certeza amava nos causar dor.
— Como ela se chamava?
— Não sei, era apenas ela, vagabunda, imunda, imprestável. — Ele
respira fundo. — Ela era a encarnação do mal, meu Ícaro, como poderíamos
ser diferentes? Um dia a vi de joelhos implorando por perdão por eu ser
gay, por ter me feito com defeito, ela gostava do que nos causava e do que
ele causava a ela.
Como ele não enxerga? Ela era apenas uma criança que fazia as
vontades do demônio do seu pai, meu Deus a história fica cada vez pior.
— Damian, já passou pela sua cabeça que ela era apenas uma
criança, alguém que foi moldada por um demônio e que faria de tudo para
sobreviver?
— Não tente dar uma boa imagem a ela, não tente chegar agora,
ouvir uma minúscula parte do que foi minha vida e acreditar que aquela
vagabunda dos infernos estava fazendo apenas os desejos dele, ela gostava,
entendeu? Gostava e ria de nós. — Sua raiva é como brasa neste momento,
minhas palavras sopraram sobre ela como o vento e acendeu a ira dele, não
o farei pegar fogo.
— Tudo bem, não iremos falar mais disso. — Seu respirar fundo me
diz que ele não tem mesmo condições de ser forçado agora.
Por alguns anos sendo fotógrafo do caos conversei com muitas
pessoas, todas elas revidavam como ele quando tentava lhes mostrar tudo
de uma outra perspectiva.
— Com certeza estamos no final da tarde, perdemos o almoço,
preciso confessar que estou com fome.
— Vamos, vou pedir a Gukla para providenciar algo.
— Gostaria de cozinhar
— Você cozinha, Ratinho?
— Sim, filho de italianos, costumamos fazer milhões de coisas
enquanto todos falam ao mesmo tempo.
— Diga-me qual é a sua especialidade.
— Molhos, a Nona[13] era especialista e me ensinou, cada neto teve a
oportunidade de aprender algo com ela, segundo ela para que todos
pudessem se reunir com seus dotes e manter a família unida — digo sendo
invadido pelas lembranças e pela saudade que sinto de tudo aquilo. — Mas
sempre fui teimoso e aprendi a fazer massas.
— Posso dizer que conheço um pouco de sua teimosia, Ícaro. Por
que não me mostra o que deseja comer? Com toda certeza temos tudo aqui
à sua disposição. — Uma sensação me causa desconforto, atravessando
meu corpo de forma estranha, com toda certeza esse pequeno momento
onde tudo está sendo bom demais não será eterno e a certeza disso me causa
calafrios. — O que houve? — Sondo porque posso ver em seus olhos que
algo mudou.
— Apenas sentindo esse momento com você, com medo de que seja
um sonho e ele acabe e voltemos ao início.
— Ícaro, não existe essa possibilidade, você sente mesmo o que diz?
— Sim, Dam, e maldição, se minha mãe me ouvisse dizendo isso
me surraria. — Um grunhido escapa de sua garganta.
— Mato qualquer um que imaginar tocá-lo além de mim. — Suas
palavras são tão frias que abaixam a temperatura do quarto. — Até mesmo
sua mãe.
— Isso me machucaria.
— Defendê-lo te machuca? — Arqueia sua sobrancelha, confuso.
— Por que me defenderia da minha mãe? — Assim que faço o
questionamento me arrependo amargamente. — Esquece! Vamos, preciso
alimentá-lo e usar esses braços para sovar a massa.
— Eu não vou pôr minhas mãos na comida.
— Vai, se quer comer precisa trabalhar.
Pulo da cama, estou seguindo em direção à porta.
CAPÍTULO 33

Vejo-o pular da cama, nu, saindo como se ninguém o fosse ver.


— Ícaro!
— Sim. — Vira-se para mim como se não estivesse faltando roupas.
— Vista algo.
— Por quê?
— Não quero que ande nu. — Um sentimento horrível e assassino
crescendo no peito ao imaginar que podem o ver, algo que com toda maldita
certeza não estava aqui até segundos atrás.
— Mas eu ando assim desde que cheguei.
— Não mais.
— Damian, você está sendo bem confuso agora.
— Quer que eu mate todos os malditos soldados que te virem nu? —
Seu olhar é surpreso com minha revelação.
— Claro que não!
— Então vista a porra da roupa! — Há surpresa em seus olhos, logo
após me vistoria.
— A regra é clara, se eu uso roupas você também usa. — Desafia-
me.
— Está me desafiando? — Não gosto de receber ordens, nunca, em
momento algum.
— Nunca, mas também não sinto algo gostoso ao ver que eles te
olham como um pedaço de carne, posso não ser assassino, Damian, mas o
ciúme é uma cadela e morde nossas bundas. Já que sou seu, posso pegar
uma arma e meter uma bala na cabeça de qualquer um que ousar babar por
você. — Sua ameaça me deixa surpreso e com o coração batendo forte no
peito.
— Mataria por mim?
— Sim, da mesma forma que sei que faria por mim.
— Certo, vamos pegar algo para vestir — digo o puxando pelo
pescoço para que nossos corpos se colem e possa beijar sua boca
dominando essa sua língua afiada.
Sentir suas mãos segurando meu pescoço, puxando-me ainda mais
para ele é uma experiência nova e intensa, meu corpo reage, mesmo que
também sinta a dor das chibatadas que eu mesmo me dei, desço minhas
mãos pela sua bunda quando um gemido de prazer e dor pode ser ouvido,
fazendo-me parar.
— Precisamos mesmo comer.
— Mas antes vou passar algo em seus machucados — aviso indo em
direção à mesa de canto. — Vire-se — peço ao me aproximar novamente.
Fazendo como ordenei passo o óleo calmante em suas costas
descendo até sua bunda, o corpo de Ícaro tem pelos baixos, diferente do
meu que é completamente liso. Vou para a sua frente e vejo que seu pau
começa a reagir sob meu toque, é grande e grosso como o meu, o que me
faz salivar. Apesar de a visão me deixar duro como uma rocha, precisamos
comer, não sem antes pegar um pouco de uma pomada anestésica passando
no meu dedo e começando a deslizar dentro dele, ele geme e rebola um
pouco, mas não sigo meus instintos. Finalizo os cuidados com ele quando
estende sua mão me vendo questioná-lo com o olhar.
— Minha vez de cuidar de você. — Essa frase é algo novo, algo que
jamais ouvi, ninguém nunca cuidou de mim.
Sem reação pego e lhe entrego o frasco virando-me para que faça o
que deseja, é tão maravilhosa a sensação de cuidado e dos seus toques, só
posso ter feito em algum momento do qual não me recordo algo que me
tornasse merecedor de sentir coisas como a que sinto, ser tocado por ele é
tão perfeito que me intriga.
— Pronto, agora vamos nos vestir. — Ele sorri, um sorriso genuíno
que me atinge em cheio.
Como imaginei temos tudo aqui, Gukla se ofereceu para ajudar, mas
a proibi, quero esse momento, nunca em minha vida estive nessa posição, é
novo e desconhecido.
— Bem, para começarmos iremos precisar disso. — Ele coloca um
avental de tecido preto em mim e outro nele. — Suas tatuagens e esses
músculos se destacam com o avental já que não usa camisa.
— Digamos que a visão daqui é muito sexy também.
— Sente-se, Dam, logo irei passar sua função.
Fico observando sua desenvoltura mexendo em tudo como se aqui
fosse seu lugar, como se estivesse habituado a tudo, inclusive a esse
momento em que compartilhamos o tempo. Ícaro é alguém que faz com que
as coisas se tornem leves e fáceis, o que para mim, como já se imagina, é
algo novo. Não existe a tensão contínua de que uma desgraça irá acontecer
a qualquer momento, seus olhos volta e meia caem em mim e seu sorriso
me desconcerta. Por vezes tentei me aproximar, mas segundo ele atrapalho
sua atenção, talvez isso seja gostar, ou como ele diz, estar apaixonado por
alguém.
Enquanto o observo deixando a panela de molho fervendo no fogão,
ele começa a fazer a massa do espaguete, seus braços se movendo e
flexionando os músculos é uma visão bem quente que faz meu pau pulsar,
um desejo sempre constante como animais no cio. Nossos corpos reagem de
uma forma incontida, não é uma obrigação ou apenas algo para descarregar
a tensão, é prazer puro e simples. Minhas mãos ficam inquietas enquanto
ele explica o ponto certo da massa, Gukla antes de ir deixou uma máquina
para fatiar macarrão que nem sabia que existia, isso deixou Ícaro animado.
Seus braços são polvilhados com farinha enquanto ele prepara tudo,
há um pouco dela em sua testa, a agilidade de seus movimentos é
impressionante.
— O que tanto olha? — Seu questionamento vem.
— Sua agilidade.
— São alguns anos de prática, logo te darei a massa para cilindrar e
depois cortar.
— Isso não vai dar certo.
— Vai, se eu que tenho duas mãos esquerdas consigo você consegue
também. — Sorrio porque é impossível não achar graça em algo
completamente fora de padrão. — Não sorria.
— Fica difícil, já que imagino algum dos meus inimigos vendo isso
e destruindo minha reputação.
— Sabemos que ninguém seria capaz de destruir a reputação do
Anjo do Caos. — Como se nada se encaixasse ser chamado por ele pela
minha alcunha pesa no meu estômago, não quero ser isso, não para ele. —
O que foi? Disse algo errado? — Esfrega sua testa com o antebraço
sujando-a ainda mais de farinha.
— Não — digo, e mesmo que não acredite em minha resposta finge
que está tudo bem.
— Pronto, chegou a hora de pôr a mão na massa. — Ele traz a
massa até mim, explicando que deveria descansar, mas que não temos
tempo já que ele está com fome.
— Agora ligamos aqui, e você passa a massa assim. — Neste
momento ele está posicionado atrás de mim, segundo ele para que aprenda e
faça sozinho. — Coloque sua mão aqui. — Posiciona onde quer que fique.
— Agora espere.
A massa passa entre os cilindros afinando aos poucos, mas nada
disso me causa uma sensação intensa do que meu corpo reconhecendo o seu
atrás de mim. Passamos algum tempo nisso, por vezes ele beija meu ombro
arrepiando meus pelos e me fazendo ofegar, ainda não me acostumei com
atitudes carinhosas e despretensiosas como as dele, é novo e confuso,
sempre me deixando ainda com mais tesão.
A quantidade de massa não é grande, logo ele troca os encaixes e
começamos a cortar as tiras, meu corpo ainda é todo atento a ele, sigo suas
ordens quando ele vai olhar o molho, finalizo o que me pede, agora sou eu
que tenho farinha em tudo, e mesmo que não imaginasse que poderia, fiz de
acordo com o que me disse e deu certo.
— Mais dez minutos podemos finalizar o molho e então cozinhar a
massa — fala polvilhando a mesa enquanto envolve a massa fresca para não
grudar.
É tudo muito envolvente, meu desejo agora é me enterrar nele
gozando em seu cu enquanto estamos envoltos em farinha, vejo que coloca
a massa em dois escorredores porcionadores que irão para a água em breve,
caminho até ele antes que limpe a mesa, soltando o nó do seu avental
enquanto beijo seu pescoço.
— O que está fazendo? — Sua voz rouca com meus beijos indaga
enquanto ele não demonstra nenhuma resistência.
— Vou foder você nessa mesa, enquanto o molho fica pronto, vai ser
rápido e forte, mas gostoso e intenso.
— Damian, maldição!
— Gosta do que tenho para você?
— Muito.
Neste momento meu avental desaparece enquanto sou deixado nu
fazendo o mesmo com ele, o coloco deitado sobre a mesa enfarinhada, suas
pernas vão para os meus ombros e minha boca mergulha em sua bunda
gostosa, seu grito surpreso me enlouquece fazendo com que me empenhe
ainda mais no que faço. Com minha mão livre seguro seu pau começando a
massageá-lo, sentindo quando seu corpo se arqueia pela pressão que faço.
— Damian, pelos céus, isso não é lugar.
— Qualquer lugar é propício e te ver cheio de farinha me deixou
louco. — Dou a volta na mesa aproximando-me da sua boca. — Chupa,
deixa bem molhado para facilitar a passagem.
Sua boca vai direto até meu membro levando-o completamente, sou
chupado com intensidade, sinto os meus piercings ondulando pelos seus
dentes, já percebi que ele faz isso de propósito, é como se estivesse
forçando meu corpo a vibrar ainda mais, como se fosse impossível não
vibrar de outra forma.
Meus dedos apertam seus mamilos com força, e ele grunhe
engasgado com meu pau, o desejo desesperado de gozar vem forte, mas
quero fazer isso só depois de deixá-lo desmaiado, estranhamente neste
momento não desejo seus gritos de dor, todavia seus gemidos altos causam
o mesmo prazer que sinto apenas com ele.
— Chega! — falo puxando meu pau da sua boca.
— Damian, porra, juro que se não me foder com força eu mesmo
vou surrá-lo. — Suas palavras me fazem rugir quase como um demônio.
— Ratinho, se existe algo que farei é te foder com força.
Então arremeto em seu rabo quente encontrando resistência que a
falta do lubrificante faz, recuo voltando novamente, flexiono um pouco as
pernas para nos desnivelar apenas para que sinta os piercings.
— Damian! — Seus braços se prendem na pedra da mesa que é uma
pequena parte extensiva da bancada, enquanto ele busca apoio.
— Vamos, Ícaro, você pode muito mais que isso — falo voltando
mais algumas vezes até que estou completamente enterrado nele.
— Rápido, estou no meu limite aqui.
— Porra!
Então começo com alguns movimentos, deslizo ainda mais fácil
dentro dele, começo a bombear forte e duro, rápido e sem cuidado. Nossos
gemidos começam a ecoar pela cozinha, me apoio em suas pernas para
continuar como sei que gosta, impossível controlar o desejo de gozar com
seu corpo quente e cheio de farinha. Minha boca saliva louca para mordê-
lo, minhas bolas pesam e preciso que ele siga comigo, seu pau baba louco
pelo ápice do gozo, quando minha mão o segura, bombeando.
— Vamos, meu Ícaro, goza comigo.
Apenas essa ordem nos leva a explodirmos juntos, a sensação de ser
atingido por um raio que conduz toda sua energia diretamente onde nos
ligamos.
— Caralho!!!! — Ofegante caio sobre ele.
Com meu ouvido sobre seu peito, ouvindo seu coração furioso
batendo contra a caixa torácica, não quero sair, não quero precisar me
levantar, mas tudo foi tão forte e intenso que meu pau está mole e começa a
deslizar de dentro dele, nos fazendo gemer juntos.
CAPÍTULO 34

Finalmente estamos comendo, já é noite, após ser devorado por


Damian sobre a mesa da cozinha estamos sentados na biblioteca finalizando
o macarrão com um bom vinho.
— O que te fez comprar livros reais e tirar as lombadas decorativas?
— Limpo minha boca antes de beber um pouco mais de vinho.
— Gukla disse que gostava de ler — fala como se essa não fosse
uma atitude fofa.
— E você decidiu fazer uma vontade minha assim, sem mais nem
menos?
— Não, apenas desejei que ela parasse de repetir isso como uma
chata do caralho.
— Hahaha! Achei que falaria algo romântico.
— Não vou mentir para agradá-lo, Ícaro.
Não que esperasse isso dele, mas algo em mim tensiona com suas
palavras, ficamos nos olhando quando ele se levanta, dando a volta na mesa
virando minha cadeira comigo nela sentando-se em minhas pernas.
— Sempre vou falar a verdade para você, ainda que não entenda
metade das coisas que sinto, já sei que isso é uma coisa que jamais farei. —
Seus dedos percorrem meus cabelos, para alguém que não curtia toque
Damian agora é quase touch screen[14]. — Preciso cuidar de algumas coisas
antes de ir para o quarto. — Sua testa se cola na minha.
— Posso ficar? — indago curioso, já que não quero me afastar. —
Prometo não fazer barulho e nem atrapalhar.
— Claro! — Beija minha testa indo em direção ao sofá com seu
notebook na mão.
Vou até a prateleira escolhendo um livro de suspense também
caminhando em sua direção, jogo uma almofada usando suas coxas grossas
e tatuadas como apoio e me deito com o livro nas mãos. Perdido nas
páginas da história, sinto vez ou outra dedos alisarem meus cabelos, olho
para cima e vejo que ele nem ao menos nota o que faz, e sorrio por imaginar
que o homem cruel que conheci neste momento está muito longe daqui.
Passo algumas horas vasculhando nos lugares mais obscuros da dark
web[15] as informações que preciso para no momento certo dar o bote em
Konstantin, abrindo assim os caminhos de Stefan até sua ascensão, fato este
que irá nos libertar completamente das garras afiadas de Bratslav. Penso em
Ícaro e o que de fato aconteceria com ele se por um descuido eu o perdesse,
sei que meus irmãos me ajudariam a resgatá-lo, mas imaginar que
poderíamos encontrá-lo sem vida apenas pelo prazer do meu progenitor em
me destruir poderia me matar.
Aliso seus cabelos enquanto as informações não aparecem e o
programa espião tenta rodar as imagens que consegui do escritório de
Konstantin, estou com essas câmeras lá há algum tempo, mas os hackers da
Triglav operam em um sinal bloqueador muito mais criptografado e cheio
de camadas de segurança dos quais estou acostumado a invadir, porém mais
trabalho não significa que não consiga o que desejo. Linhas e linhas de
códigos digitados e finalmente consigo o que desejava, acesso a todas as
câmeras e tudo que eu vejo é uma casa vazia e silenciosa, mesmo depois de
ter acionado os microfones. Visualizo o quarto cofre de Konstantin e o vejo
dormir como um bebê, não sabendo ele que agora meus olhos e ouvidos
estão instalados em suas costas me deixando um passo à frente dele.
Fecho o computador cansado e decido que está na hora de levar
Ícaro para a cama, retiro o livro de suas mãos, marcando onde seus dedos
estavam para que não perca a página colocando o exemplar na mesa.
Envolvo seu corpo levantando-o com certa força ajeitando-o em meus
braços, parecendo sentir que estava sendo levado a algum lugar, sua cabeça
repousa em meu peito. Assim que chego no quarto o coloco na cama
deitando-me ao seu lado após me certificar de que tudo está seguro.
Por motivos que não me recordo quais, lembro-me de suas palavras
quando questionou sobre minha progenitora, raiva percorre minhas veias ao
me lembrar. Decidido a esquecer puxo o corpo de Ícaro para perto do meu
fechando meus olhos.
(***)
Ouço vozes alteradas como sempre acontece quando ele está aqui,
meus irmãos dormem e eu, movido pela minha inquietação, descido ver o
que está acontecendo. Minha mão está quebrada e foi engessada no
hospital que ele sempre nos leva. Devagar abro a porta atravessando o
pequeno corredor quando paro com meu corpo grudado na parede.
— Por favor, meu senhor, eu imploro, não os machuque mais, faça
comigo. — Ela está nua, rasgada e ensanguentada como sempre.
— Sua cadela imunda, acredita mesmo que meus soldados não
serão moldados porque uma cadela como você decidiu implorar de joelhos
por eles?
— São apenas crianças. — Suas lágrimas correm fartas e posso ver
de onde estou que ele começa a tirar seu cinto das calças.
Ela agora está ajoelhada, beijando seus pés, a cama apoiada em
tijolos não tem lençóis e está revirada.
— Vou primeiro surrá-la por acreditar que pode falar comigo
quando bem entender, depois vou descarregar em você a raiva que sinto
por precisar de você para cuidar deles enquanto preciso cuidar dos meus
negócios.
— Não, por favor! — A súplica sendo um fio de voz não o impede de
começar a espancá-la.
Não sei por quanto tempo vejo isso, sentindo uma dor descomunal
no peito, ofegante a voz vem à minha cabeça, “proteja as mulheres e
crianças, meu pequeno, não deixe que a escuridão daquele demônio os leve
por esses caminhos.”
Então quando se cansa, a joga na cama sem que haja algum tipo de
reação de sua parte, ele monta sobre ela, fazendo-a gritar com dor, eu sei o
que ele faz, ele a violenta como nos ensina a fazer. O pouco que sei é que
seremos nós a fazermos isso em breve, para isso estamos sendo treinados.
Seus rosnados mudam bruscamente, então ele se levanta ainda mais
furioso jogando seu corpo contra a parede, seu pau está mole enquanto o
vejo colocar novamente dentro da calça.
— Sua imunda, não sei como consegui fazer filhos com você, não
me deixa excitado, não consigo nem um maldito orgasmo com você, está
tão folgada que meu pau não encontra atrito nenhum. — Ele cospe em seu
rosto que se encolhe acreditando que irá ganhar outra surra. — Não vale
nem apena te bater, porque com toda certeza a mataria.
Vejo que caminha para fora, então corro para minha cama antes
que ele me descubra fora dela. Meu coração bate acelerado contra o peito
e sinto a dor de ter me jogado no fino colchão e caído sobre a mão, que não
se machuca como minhas costelas que com certeza ficarão marcadas, uma
nova marca das muitas que carregamos.
Bratslav se vai e escuto o barulho da porta batendo violentamente,
logo após o motor do carro, finalmente consigo respirar aliviado, pois essa
é uma das raras vezes que não somos acordados como animais quando ele
está aqui. Ouço passos em nosso quarto e aperto meus olhos, ouço
sussurros, com medo de apanhar abro meus olhos em linhas finas podendo
ver entre meus cílios ela sentando-se na cama de Dusham alisando seus
cabelos e o cobrindo, ela beija sua cabeça e essa imagem me deixa
confuso. Ela caminha até a cama dos meus irmãos, daqui não consigo ver,
mas logo ela está sentada em minha cama, a coberta cobre meu corpo, seus
dedos alisam meus cabelos e tento não tensionar meu corpo com o que está
por vir, com certeza um tapa irá estourar em meu rosto, mas aguardo e não
o recebo, ela se aproxima do meu ouvido e diz.
— Proteja as mulheres e crianças desses demônios, não seja como
eles, não permita que a escuridão os tome. Eu amo você, meu filho.”
(***)
— NÃO! — Pulo da cama desesperado sentindo minha cabeça
explodir, a dor lancinante me atinge como se houvesse ganhado uma
pancada violenta.
Encolho-me no canto em que caio com a imagem nítida do sonho
que acabo de ter, meus olhos ainda estão no escuro e só entendo que estão
fechados quando a voz de Ícaro me alcança.
— Dam, acorde, foi um pesadelo, apenas um pesadelo. — Seus
braços me envolvem e ainda estou paralisado.
Não consigo abrir meus olhos, não consigo imaginar que aquilo foi
real, mas como seria? Minha cabeça parece rodar e algumas lembranças
ainda que raras aparecem como flashes, ela nunca foi aquilo que parecia,
ela não era o demônio, era ele, apenas ele a obrigando. Roupas sempre
rasgadas, ensanguentadas, olhar de medo direcionado à porta enquanto ele
aprovava tudo com a cabeça e um sorriso demoníaco.
— Do que está falando Damian? Abra seus olhos, olhe para mim. —
Então percebo que estou falando o que penso em voz alta.
Não quero abrir, o medo de ainda estar lá me toma, a voz dele só
pode ser um sonho e todo o resto realidade. Puxo-o para os meus braços
sentindo quando ele se acomoda em meu colo e enterro meu rosto na curva
do seu pescoço, sinto suas mãos alisarem minhas costas, meu corpo está
tenso, minha mente continua me mostrando cenas dela sorrindo para nós,
nunca na nossa frente, mas de longe, mas logo seu corpo tensionava
olhando para fora, existia alguém lá, um homem que tinha a sobrancelha
arqueada como se espreitasse tudo que ela fazia.
— Dam, está me deixando nervoso, fala comigo, está sussurrando
coisas que não entendo. — Sua voz parece ficar mais real a cada minuto
assim como seu toque, então crio coragem para abrir meus olhos.
Está claro, alguma luz passa pelas frestas da cortina, olho para Ícaro
e seu olhar assustado me deixa alerta.
— Dam, está molhado de suor, o que houve?
— Tive sonhos, Ícaro, lembranças que mudam tudo, mas estava
paralisado por acreditar estar aqui como sendo um sonho e lá a minha
realidade.
— Não está mais lá, estamos em Bali, você me pegou gostoso na
mesa da cozinha enquanto estávamos cheios de farinha, depois tomamos
banho juntos, comemos na biblioteca e terminamos a noite comigo deitado
no sofá lendo e você trabalhando, com certeza para que esteja aqui você me
trouxe.
— Sim. — Respiro fundo repousando a testa em seus ombros.
— Quer contar o que sonhou?
— Ela sofreu, Ícaro.
— Quem é ela, Damian?
— A minha mãe.
CAPÍTULO 35

O pavor que vejo nos olhos de Damian me gela a espinha, é como se


sua mente acabasse de sofrer um download[16] trazendo informações
desconhecidas por ele, o medo que vejo é algo aterrorizante.
— A culpa sempre foi dele, a tratamos como lixo, nunca buscamos
saber sobre seu nome, ou onde havia sido enterrada, ele apenas a decapitou,
jogando seu corpo sabe-se lá onde e nós nunca tentamos encontrá-la, Ícaro.
— Damian, eram crianças.
— Ela era a voz.
— Que voz?
— A voz sussurrada, aquela que me recordo implorando para
protegermos as mulheres e as crianças. — Sua angústia me mata um pouco
por dentro.
— Fica calmo.
— Meus irmãos, eles precisam saber, precisam saber que ela não era
como ele, não era culpa dela.
— Ei, calma, que tal primeiro entender e deixar tudo que descobriu
assentar e então com calma ir conversar com eles? — Tento acalmá-lo, mas
nem mesmo eu estou calmo neste momento, porque à minha frente está um
garoto tremendo de medo e o seu olhar é assustado.
— Tem razão. — Vejo-o esfregar seu rosto.
— Vamos comer alguma coisa, amanheceu, depois com calma me
conta tudo e nós podemos pensar em algo.
Levantamos e o levo para o banho, seu corpo gruda pelo suor que
secou, ficamos um tempo em silêncio quando ele decide quebrá-lo me
contando tudo que descobriu, a riqueza dos detalhes que dá me destroem,
decido não desmoronar, neste momento é ele quem precisa de mim, então
me torno seu suporte enquanto por algum tempo ele me relata tudo. Gukla
traz o café que pedi aqui mesmo no quarto e passo a manhã com Damian
deitado com sua cabeça em meu colo, ele liga a tv, mas nós não assistimos
nada, apenas ficamos assim, quem nos vê jamais enxergaria a forma
obscura com que ele chegou até mim.

É final da tarde e o alaranjado do sol reflete do céu, estou


caminhando pela praia sentindo a fina lâmina de água do mar molhar meus
pés, Damian dormiu e por mais de uma vez acordou aos gritos. Faz mais ou
menos uma hora que o deixei na cama, após Gukla lhe trazer um chá, ele
não quis comer e muito menos que me afastasse dele, mas a minha mente
roda por lugares que não desejo ir. Apesar de estarmos num relacionamento
diferente, parece que as coisas começaram a se encaminhar para o que seria
normal.
Percebo que estou longe da casa quando olho em volta e não vejo
mais nada, decido voltar quando meus pensamentos voam para Antonella e
seu sorriso infantil, tinha vinte anos quando meus pais descobriram uma
gravidez não planejada e com eles já velhos, sempre soube que cuidaria
dela, que seria minha. Quando descobrimos sua doença foi devastador,
lutamos com tudo que tínhamos, ela não podia morrer. Foi um longo ano
entrando em estado de total melhora e saindo, nunca desistimos, nunca
deixamos de acreditar que ela seria curada, e a dor da saudade agora
esmaga meu peito.
— Caminhando sozinho, Ratinho? — A voz do homem à minha
frente me causa arrepios.
— Pensando. — Não paro de caminhar, ele é o mesmo que se
esgueira pela casa olhando-me como se esperasse por algo, quando o vi
aqui meu sangue gelou como da primeira vez, mas ele desapareceu, agora
volta com um sorriso diabólico.
— Longe demais de casa.
— Estou voltando, acabei perdendo a noção do tempo.
— Gosto de saber que está longe. — Sua mão segura meu pulso.
— Me solta! — Puxo meu braço batendo as duas mãos em seu peito
fazendo recuar dois passos.
— Suspeitei que fosse arredio, seus gritos não negam.
— Vai se foder! — digo caminhando novamente
— Não tão rápido. — Sou puxado pela camisa caindo no chão.
Seu corpo trava o meu enquanto me debato, acerto um soco em seu
rosto quando ele me devolve outro, e pelo inferno isso dói.
— Estou ansioso por vê-lo ser descartado, ele sempre nos deixa
foder os brinquedinhos que descarta.
— Ele vai matá-lo.
— Não, não vai, porque você não vai contar nada, ou posso
provocar um acidente fazendo com que a querida Gukla apareça com o
pescoço quebrado.
— Você é doente! — Tento forçar a saída.
Seu corpo está se esfregando no meu, ainda me debato, sinto como
ele faz movimento de ir e vir, enquanto luto e tenho meu corpo prensado
contra o seu, ele está excitado buscando alívio.
— Desgraçado!
— Calma, amor, vou gozar imaginando que é em seu rabo quente
que estou entrando, vamos, goza comigo.
A bile sobe quase me fazendo vomitar, não consigo me desvencilhar
dele, com toda certeza deve ter mais de dois metros.
— Filho da puta! — Mordo seu pescoço com força no momento em
que ele abaixa a cabeça gozando, ele está gozando por se esfregar em mim.
— Haaaaa!!! Viado maldito! — Ele rola para o lado.
— Vou assistir sua morte. — Chuto seu rosto o fazendo encolher-se.
— Antes disso Gukla morre, lembre-se de minha ameaça.
Saio correndo, o sol já se pôs completamente, minha mente roda,
contar ou não, a sensação dele se esfregando em mim me causa asco. Subo
as escadas correndo em direção ao interior da casa, estou cheio de areia.
— O que houve? — Gukla pergunta com olhar assustado.
— Caí — digo.
— Tropeçou nesse tamanho todo. — Sorri e pela primeira vez a vejo
sorrir, um sorriso de verdade.
— Sim, às vezes parece que tenho dois pés esquerdos.
— Tome um banho, logo o jantar vai ficar pronto.
Aceno com a cabeça indo em direção ao quarto, assim que entro
devagar tentando não fazer barulho vejo que Damian ainda dorme. Sigo
direto para o banheiro desejando me livrar da sensação ruim e de toda a
areia em meu corpo. Debaixo da água quente tento fazer com que meu
corpo relaxe, preciso aprender a me defender, no lugar que me encontro isso
é primordial, não será sempre que Damian estará à minha disposição.
Pensar nele me faz querer contar o que aconteceu, mas imaginar que ele não
consiga salvar Gukla me faz recuar deste pensamento, vou manter a história
de que caí na praia caso ele pergunte.
Saio do banho secando meus cabelos, depois de secar meu corpo
visto uma cueca e um short, volto ao quarto e ele ainda dorme, sento-me na
poltrona velando seu sono, quando o vejo se mexer. Quando cheguei ele
ainda estava na mesma posição que o havia deixado, apoio meus cotovelos
nos joelhos, apoiando meu rosto com as mãos.
— Está aí há muito tempo?
— Um pouco, acabei de sair do banho.
— Me deu algo para dormir.
— De que tipo?
— Do tipo remédio.
— Não, apenas o chá que Gukla trouxe.
— Hum!
Damian volta seu corpo para o colchão olhando para o teto por
algum tempo, ficamos assim em silêncio, meu coração bate furioso no
peito, mas tento me manter aparentemente calmo.
— Por que não vem aqui? — Olha-me novamente.
— O que ganho com isso? — Tento descontrair, ele parece leve e
sem preocupações.
— Se não vir posso surrá-lo por sua insubordinação, o que com toda
certeza vou amar fazer, mas se vier quem sabe não chupe você até que goze
gritando meu nome como uma prece.
— Uau! Isso é que eu chamo de proposta indecente, as duas são
maravilhosamente tentadoras.
— Ícaro, não seja esse tipo de pessoa.
— Que tipo?
— Do tipo que me desafia.
— Gosta de ser desafiado, senhor?
— Não por você.
— E posso saber o motivo?
— Ratinho... — fala meu apelido como um sinal de alerta.
— Gosto disso, de como você entra em conflito quando deseja me
machucar e ao mesmo tempo se repreende por desejá-lo.
— Você me deixa em constante alerta, quero ser o homem que te
marca, mas o homem que te ama me força a recuar.
— Você disse que me ama?
— Sim.
— Como sabe? — Sigo até a cama, subindo nela e sentando-me
sobre ele para testar. — Por que sentou aí?
— Estou testando se o amor já me permite ir mais longe.
— Entendi. Toque minha barriga — pede com o olhar focado em
minhas mãos.
Damian está relaxado e suas mãos agora estão entrelaçadas atrás da
cabeça, ele está sorrindo com o meu toque.
— Amo seu sorriso, amo quando ele é apenas meu — falo
continuando com o deslizar dos meus dedos.
— Não faço isso com mais ninguém.
— É uma exclusividade?
— Sim.
— Me diga, Dam, como sabe que me ama?
— Tudo que penso antes de dormir são em seus olhos castanhos, são
os que procuro quando abro os meus, à noite o puxo para meu corpo
desejando que não desapareça, é o único que pode me tocar.
— Como sabe que sou o único?
— Porque só de imaginar as mãos de qualquer outra pessoa sobre
mim sinto o gosto do sangue na boca, o desejo de assassinar pessoas
começa assim. — Novamente seus dentes brancos e alinhados aparecem,
seu olhar é divertido como nunca tinha visto.
Minhas mãos continuam a explorar, me perco um pouco em suas
tatuagens, gostaria de descobrir o motivo de cada uma delas. Seu pau pulsa
sob mim quase me fazendo gemer, não falamos nada por um bom tempo
quando saímos do nosso momento por Gukla batendo na porta para que
possamos ir jantar.
CAPÍTULO 36

Sentir o toque de Ícaro no meu corpo faz com que ele entre em
ebulição, seus dedos passeiam pelas minhas tatuagens como se tentasse
decifrá-las e eu não digo nada, sigo com meus olhos suas mãos que
deslizam pelas linhas e seguem aos meus mamilos rodeando os piercings
que tenho ali, não existe nada que gostaria mais que estar aqui e agora,
quando a voz de Gukla seguida de batidas na porta nos tira do nosso
momento.
— Acho que precisamos ir. — Seu corpo cobre o meu lentamente
quando suas mãos seguram meu rosto, fazendo com que feche meus olhos.
— Sim. — Tiro minhas mãos da cabeça, segurando seu rosto e lhe
dando um beijo na testa. — Vamos.
Pulamos da cama seguindo em direção à porta, assim que Gukla nos
vê, sorri, ela nunca esboça reações perto de mim, mas parece que até isso
Ícaro mudou nos meus funcionários. Caminhamos lado a lado com ela à
nossa frente.
— Como vi que gostam de massas e aquele molho divino que
fizeram ainda sobrou, fizemos um pequeno rodízio de pizza, espero que
apreciem — orgulhosa ela fala continuando sorrindo.
— Com certeza vou amar, Gukla. — Sua voz grossa é agradecida e
observá-lo me acalma.
Por uma fração de segundos vejo que Ícaro olha para o lado e seu
corpo tensiona, quando meu olhar segue na direção vejo Gtchin passar, ele é
enorme, um dos seguranças mais novos que temos, foi escolhido a dedo por
mim depois de uma seleção exaustiva.
— O que houve? — pergunto curioso e sentindo que algo não está
certo.
— Do que está falando? — Quando ele me olha nos olhos percebo
algo que não estava ali.
— O que é isso em seu rosto? — Seguro-o pela barba furioso
porque neste momento quero assassinar a porra do mundo.
— Não estou entendendo.
— Não!? Que porra de marca é essa em seu rosto, Ícaro? Quem
tocou em você?
— Ninguém me tocou, eu caí enquanto corria na praia. — Espremo
meus olhos sentindo o cheiro de sua mentira, dando tudo de mim para não
virar a mesa tamanha a minha raiva.
— Ícaro, eu conheço a diferença entre um murro e um ralado, não
minta para mim! — Soco a mesa fazendo algumas coisas caírem dela. —
Vou te perguntar novamente e espero que não minta, porque juro que o que
fiz com você naquele quarto secreto não será nem próximo da desgraça que
farei para corrigi-lo, então me diga, quem machucou você?
Tento me controlar, seu olhar neste momento contém pavor, ele
sente medo, porra! Mas se existe algo que ele deveria sentir de mim neste
momento é medo, não me diz nada, então seu corpo tensionando vem à
minha memória.
— Foi Gtchin? Foi aquele maldito que te tocou? Fale porra! — Seu
suspiro o entrega.
— Sim.
— Como? — O coração em meu peito esmurra com tanta força que
sei que pode ser ouvido, meus olhos estão cravados nele.
— Estava na praia, fui longe demais, ele me agarrou na volta.
— Agarrou? Como? Vamos, Ícaro, estou dando um inferno aqui,
juro que posso causar o maldito apocalipse. Como ele te agarrou? — Estou
arfando furioso, aperto a madeira da mesa com tanta força que posso partí-
la.
Então ele me conta tudo, desgraçado gozou se esfregando em meu
homem, vou assassiná-lo, não, vou entregá-lo aos meus demônios.
— Dam, por favor, não faça nada. — Viro minha cabeça como se na
dele houvesse nascido um olho na sua testa.
— O quê? O que há com você, Ícaro, o que mais não me contou?
Acha que sou o maldito Anjo do Caos por ser misericordioso com aqueles
que atravessam meu caminho? Por que está defendendo aquele verme,
caralho?!!!
— Ele disse que mataria Gukla, tive medo, Dam. — Um rosnado
tenebroso estoura de mim e Ícaro se encolhe na mesa.
Saio furioso em direção aos meus Obscuros, ouço os gritos de Ícaro
me chamando, mas no momento apenas a imagem de Gtchin sendo
estripado após ser violentado como uma cadela imunda roda minha mente.
Caminho pelo gramado, não vejo o filho da puta em lugar nenhum, mas sei
que hoje seu lugar é no posto de observação na parte da frente. Abro o
apartamento onde os Obscuros ficam.
— Senhor. — O primeiro que me vê cumprimenta-me abaixando as
vistas em sinal de respeito.
— Quero Gtchin no subterrâneo em meia hora, ele ousou tocar no
que me pertence, gozando sobre ele, quero que sejam os piores desgraçados
que consigam ser, só preciso dele respirando.
— Estaremos prontos, senhor. — Outro se aproxima de mim,
pegando sua máscara demoníaca da parede, pronto para caminhar pelo fogo
do inferno.
Saio marchando como um lunático, meus demônios clamam por
sangue, minha mente roda perturbada com a fala de Ícaro, como? Como
tive esse descuido, como permiti que ele fosse tocado debaixo do meu
nariz? Chego à cozinha encontrando Gukla e algumas funcionárias
retirando a mesa.
— Onde ele está? — pergunto com ódio borbulhando na superfície.
— Voltou para o quarto.
Não respondo, caminho como um touro alucinado até ele, abro a
porto e o vejo em pé olhando pela janela.
— O que faz aí? — Vou até ele puxando-o até mim, preciso tocá-lo,
não o perdi, não foi como no meu sonho.
— Desculpe, não deveria ter escondido, mas temi por Gukla.
— Ele não tocaria nela, só não entendo como foi burro por tocar em
você.
— Segundo ele você sempre entrega as sobras aos soldados.
— Desgraçado!
— Dam, o que vai fazer?
— Destroçá-lo, enviar uma mensagem clara de quem é você na
minha vida, Ícaro, vim até aqui para tentar me acalmar, se o pego agora o
mato muito rápido, preciso do seu toque, preciso antes que faça uma
desgraça, meu desejo é de surrá-lo por ocultar, mas pensar em machucá-lo
me tira o ar, é como autoflagelo.
— Olhe para mim, eu não quis nada do que ele fez, acredita em
mim. — Do que diabos ele está falando?
— Por que acha que não acreditaria?
— Não sei, ele é perverso, pode falar que fui eu quem ...
Não deixo que termine, colo minha boca na sua, preciso me acalmar
e só ele tem esse poder. Meu corpo está fervilhando e o ódio é tamanho que
não me traz uma ereção com meu corpo colado ao de Ícaro, mas seus dedos
em mim têm o poder de trazer a calmaria à minha tempestade.
— Nunca me esconda nada, Ícaro, nunca tente amenizar alguma
coisa por medo, eu sou um demônio e nada acontece com você que eu não
precise saber, seus pensamentos, seus malditos pensamentos me pertencem,
nunca mais vá por esse caminho, nunca mais pense que pode poupar vidas
escondendo-me alguma coisa, porque confie em mim, não pode, eu tenho
olhos em tudo, eu vejo tudo, sinto o cheiro da mentira, e pelo inferno,
espero de qualquer pessoa, mas isso vindo de você me mataria. Seja o que
for, Ícaro, desde uma dor de cabeça ou o fim do mundo, me conte, o que
sinto por você me fará resolver tudo. — Encosto minha cabeça em seu
ombro, preciso me manter calmo, Gtchin não pode morrer tão cedo. —
Nem que para isso precise da ajuda dos meus irmãos, e eles conseguem ser
ainda mais desgraçados que eu.
— Não quero que se perca. — Seus dedos em meus cabelos levam
uma sensação de tranquilidade ao meu corpo, menos à minha mente.
— Não posso me encontrar sem você.
— Sempre estarei aqui.
— É tudo que eu realmente desejo.
Ficamos assim agarrados até que minha mente é a única
ensandecida e meu corpo está calmo como o mar que antecede o caos.
Respiro algumas vezes o cheiro dele, o maldito cheiro que lhe permite fazer
tudo comigo, tudo que me controla, tudo que me acalma.
— Preciso ir. — Beijo sua testa.
— Volte para mim.
— Logo.
Saio novamente com meu corpo tranquilo em direção ao
subterrâneo, toda casa que tenho tem um desse equipado com o melhor para
uma tortura. Bato a mão no botão que faz a porta do elevador se abrir e que
irá me levar até ele, assim que atravesso a porta estou no inferno, no meu
inferno particular. A raiva dá lugar ao frenesi, no momento em que abro a
porta meu alvo está lá, os Obscuros já estão excitados, nus e mascarados.
— Ora, ora se não é o cara que espera pelas minhas sobras. — Entro
caminhando lentamente indo em sua direção.
— Senhor, o que está acontecendo? O que houve? Por que me
trouxeram aqui? — Suas palavras são desesperadas, em seu lugar estaria
também, porque o que vamos lhe causar não é nem de perto o que ele possa
imaginar de pior.
— Não vá por esse caminho, Gtchin, eu já sei de tudo, tentou foder
meu Ícaro, mas o máximo que conseguiu foi gozar nas calças como um
imprestável que não consegue ao menos atingir seus objetivos.
— Não, senhor, não aconteceu nada, o que aquele imundo disse? —
O soco que o atinge é tão forte que um de seus dentes voa longe.
— Chame-o de imundo novamente que irá clamar pelo fogo do
inferno.
— O quê? Não, senhor.
— Aquele homem é meu, minha pessoa da vida, e sabe quando
alguém irá colocar a mão sobre ele? Nunca! O desgraçado que tentar saberá
da sua história.
— Suspendam-no!
Os Obscuros começam a se mexer, um botão é acionado assim que
suas amarras são liberadas, seus gritos e pedidos de misericórdia são
ouvidos, mas neste momento meus ouvidos são abafados pela raiva, um dos
meus demônios prende os pés dele no chão e uma sinta de couro com uma
corrente presa à parede ergue seu quadril deixando sua bunda empinada e
exposta.
Caminho até a mesa pensando no chicote com ganchos e ossos nas
pontas, o que não quero ver será arrancado e vamos começar pela sua cara
cínica e mentirosa. O chicote é lançado em sua direção quando todos os
ganchos se cravam em seu rosto e alguns deles em seus braços.
— Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! — O grito de dor que ele dá é seguido
de mijo e fezes.
E a inquietação dos Obscuros começa, quando arrasto o chicote seu
rosto se desfigura, trago com ele carne, músculos e um dos seus olhos, é
lindo de ver uma parte dos seus dentes sem carne.
— Comecem!
Um jato de água gelada lava sua imundície e é tão forte que causa
microfissuras que sangram, seus gritos fazem uma sensação de
formigamento começar em minha língua, uma dose cavalar de estimulante
lhe é aplicada fazendo seu pau endurecer como uma rocha, quando o
primeiro Obscuro o empala, seu rabo é fodido sem nenhuma cautela, ele é
punhetado com uma luva áspera que arranha a cabeça do seu membro
deixando-o em carne viva.
O rodízio interminável começa e só vai parar quando eu ordenar, ele
está cuspindo sangue, com certeza mordeu a língua. Seu rosto desfigurado
me deixa alucinado gargalhando como um demônio e fazendo meus
Obscuros rirem juntos. Estamos nisso há quase duas horas já administrando
adrenalina o suficiente para fazer seu coração parar, mas o desgraçado é
forte, a linha tênue entre a vida e a morte precisa ser ultrapassada.
— Finalizem! — Dou a ordem e vejo um dos meus demônios
vestirem uma cinta peniana, que encaixa seu pau duro e excitado em um
pênis de espinhos, por dentro é como se enterrar em um rabo quente macio
e lubrificado, por fora é como trepar com um cacto.
Sentindo o peso do chicote em minhas mãos começo a açoitá-lo no
mesmo momento em que seu rabo é invadido, pedaços de pele e carne
voando enquanto meu obscuro urra gozando, suas pernas estão se esvaindo
em sangue já posso ver suas costelas, em algumas delas a fissura dos
ganchos está marcada. Ouço em meio ao caos que fazemos seu último
suspiro de vida então o filho da puta morre, estou cansado, banhado em
sangue e pedaços de carne, meus homens estão da mesma forma.
— Chamem o pessoal da limpeza e avisem que é isso que acontece
com aquele que ousar olhar para o meu homem.
Saio seguindo direto para os vestiários, jogando o chicote no canto
que cai em qualquer lugar, debaixo da água quente me livro do sangue, meu
pau está duro sem nem ao menos ter usado o estimulante, não vou
conseguir chegar até Ícaro, então me masturbo imaginando que seu cuzinho
me suga até o talo, estou num ponto tão orgástico que gozo clamando por
ele quase caindo no chão por ser devastado pelo prazer que só aqueles olhos
castanhos e aquele corpo quente me causam.
CAPÍTULO 37

Fico por todo tempo inquieto, Damian estava possuído como ainda
não havia visto, nem mesmo quando me apresentou à forca de Judas.
Contemplei sua agonia enquanto falava, meu coração parecia que sairia pela
boca tamanho desespero de vê-lo daquela forma e por minha culpa. Ando
de um lado para o outro até que desisto de ficar em pé e me deito na cama.
— Senhor. — A voz de Gukla me chama enquanto bate à porta.
— Entre — digo curioso.
— Pensei que poderia querer comer. — Ela traz uma bandeja com o
jantar. — Pode ser que demore a voltar.
— Obrigado, quando ele vir pode trazer mais, com certeza estará
com fome.
— Trago sim, apesar de ter o suficiente para ambos aqui, caso ele
chegue — informa.
— Mais uma vez obrigado pelo cuidado.
— Sinto muito pelo ocorrido — diz segurando seus dedos. — Não
deveria ter tentado esconder isso dele para me poupar, é a segunda pessoa
que faz algo por mim sem eu ter nada para dar em troca. — Olho e vejo
algo em seu olhar, gratidão. — O senhor Damian nos livrou sem pedirmos,
nos deu emprego, nos paga mensalmente e nos dá folga, sempre com
alguém para nos proteger.
Saber disso me faz ter certeza de que existe algo bom nele.
— Não se preocupe, Gukla, sempre a protegeremos, isso é uma
promessa.
— Coma antes que esfrie, não se preocupe, assim que o ver entrar
trago para ele também.
Ela sai com um esboço tímido de sorriso, vou até a mesa, sentando-
me para comer, quando a porta se abre novamente e um Damian com
cabelos lavados e cheiro de banho tomado atravessa por ela.
Levanto-me indo em sua direção, envolvendo-me em seus braços,
não dizemos nada, apenas sou pressionado contra seu corpo, que agora nem
lembra o que era horas atrás.
— Gukla acabou de trazer nosso jantar — digo olhando em seus
olhos.
— Então vamos comer antes que esfrie.
Por mais algum tempo comemos e conversamos como se nada do
que eu sei que ele fez existisse, Damian deseja me levar a uma ilha amanhã,
segundo ele os corais são lindos, onde foi uma vez sendo obrigado por
Dusham, o irmão mais próximo a ele, e o que ele mais briga, é bem
contraditório como ele expressa isso.
— Como pode ser o mais próximo e o que mais briga? — Mordo
um pedaço da pizza e pelos céus, gemo de prazer pelo sabor.
— Éramos os mais velhos e protegíamos os mais novos, Dimitri e
Darko são mais próximos, Dusham e eu também, mas quando ele decidiu
que seguiria Stefan para o Brasil ele me abandonou, então começamos a nos
desentender.
— Estava com ciúmes?
— Não, apenas com raiva, Dusham era tudo que eu tinha, era minha
linha de defesa e decidiu me deixar aqui à mercê daquele demônio, ter
alguém que guarda suas costas é muito interessante quando se tem um
progenitor como o meu.
— Sinto muito pelo que viveu.
— Não sinta, eu sou assim, eu não sei ser de outra forma, esse
Damian que te mostro agora só existe para você.
Ficamos em silêncio finalizando o jantar, Damian fica pensativo, seu
olhar tem tanta coisa indecifrável, não sou alguém com facilidade de ler
outras como ele, que sente o cheiro de mentira e consegue entender cada e
qualquer reflexo das pessoas.
— Por que seu pau é o único que não tem tatuagem? — Uma
pergunta aleatória, mas que me deixa extremamente curioso e seu olhar é
surpreso e ele sorri.
— Não esperava por essa, mas vou te falar, não encontrei nada para
colocar aqui, nada parece me instigar a passar pela tortura de ter o pau
esfolado por agulhas.
— Para quem não suporta a dor ter o corpo completamente tatuado é
estranho.
— Não sou alguém que se possa entender, tenho minhas neuras e
todas elas vieram depois de um momento de dor.
— Apenas emendou uma dor na outra.
— Gosto como me entende fácil.
Sorrio dele e seguindo para a cama, Damian parece desejar apenas o
momento, nada de castigo por esconder o que me ocorreu, seus braços me
envolvem e então tudo desaparece, não existe nada além de nós nesta cama.

Não consigo imaginar um castigo para Ícaro, não agora, então


apenas o envolvo em meus braços, talvez por já ter dormido, penso que
podemos ir até a ilha dos corais e me lembro quando comprei isso aqui e
Dusham me obrigou a ir até lá, a luz vermelha de alerta se acende forte
dentro do quarto e o primeiro estrondo treme toda a casa.
— Ícaro, levanta! Levanta agora! — grito ficando em pé.
— Damian, o que está acontecendo?
— Estamos sendo atacados.
— Como?
— Atacados, não sei como, mas estamos.
Novamente outra explosão acontece e dessa vez próxima demais a
nós.
— Precisamos sair daqui.
Corro até o closet pegando duas mochilas que deixo de reserva com
dinheiro e armas, por sorte deixei o helicóptero pronto para a nossa viagem
a ilha amanhã. Com a arma em punho abro a porta vendo meus soldados
lutarem como loucos.
— Pegue aqui, está travada, aqui destravada, não importa quem
atravesse seu caminho, mire e atire primeiro, eles não vão poupar nossas
vidas, você entendeu? — Visto um colete nele enquanto falo.
— Sim. Não vai usar um colete também?
— Não, tenho apenas esse aqui, vamos, se mantenha atrás de mim.
Seguimos pela casa onde o inferno parece ter subido à terra, mais
explosões acontecem fazendo a terra sob nossos pés tremerem, atiro em
dois que atravessam a sala, eles buscam algo, quando olho a marca em seus
pulsos.
— Desgraçado! — rosno entre dentes.
Mantenho meu foco olhando para Ícaro a cada segundo, sua mão
está em meu ombro enquanto a outra está segurando a arma, vejo que ele
atira e à minha frente não tem nada, quando olho para trás um outro soldado
do filho da puta do Bratslav, ele ainda está montando um exército, claro que
estaria fazendo isso.
Atravessando o pátio em direção à aeronave que fica nos fundos,
pela primeira vez estar sentindo tudo que sinto me traz medo, pensar em
Ícaro machucado me deixa inquieto e assassino na mesma proporção.
— Vamos correr até ali, seguiremos de helicóptero até a ilha e de lá
conseguiremos ser resgatados pelos meus irmãos. — Começo a lhe
informar assim que paramos, vejo seu olhar vidrado, seu pico de adrenalina
está nas alturas e com certeza quando passar ele vai colapsar. — Olhe para
mim, Ícaro. — Seus olhos castanhos me encaram. — Consegue suportar só
mais um pouco? Só até chegarmos na aeronave?
— Sim.
— Seja forte por mim, ok? — Apenas acena com sua cabeça, ele
está no automático e eu só preciso tirá-lo daqui. — Vamos correr, agora!
Começamos a correr quando uma explosão acontece jogando
destroços sobre nós, caímos no chão e sinto as pedras rasgarem minha pele,
o corpo de Ícaro está sendo protegido pelo meu, mas não posso verificar
nada agora, preciso chegar com ele até nosso meio de fuga.
— Levante, não sinta agora, foque em mim e em sairmos daqui.
A explosão serviu para paralisar os ataques, então não temos tempo
de verificar nada além de manter nosso foco, correndo abrimos as portas da
aeronave e entramos, começo a fazer os procedimentos ligando os motores,
Ícaro continua em alerta, abraçando com força agora as duas mochilas já
que lhe joguei a minha quando entrei. Começamos a alçar voo quando, de
cima vejo uma explosão maior que implode completamente a casa.
— Maldição! — rosno sem ter como ficar ou fazer algo, morto não
sirvo ao meu propósito.
Seguindo até a ilha por quase meia hora voamos em silêncio, a fúria
de imaginar que Bratslav teve a ousadia de ser um filho da puta, ele só pode
ter descoberto sobre Ícaro, e vou esquartejá-lo por isso.
Ver meu Ícaro neste estado acaba com minha sanidade, mas tenho
que me manter focado. Pouso na pequena faixa de terra na ilha sentindo a
aeronave afundar na areia, desço vendo que ele não me segue, dou a volta
abrindo sua porta.
— Ícaro, precisa sair. — Seu olhar não vem até mim. — Ícaro! —
Subo no degrau, ficando ao seu lado e puxando seu rosto para mim. —
Precisamos sair, estamos seguros aqui, logo estaremos em casa.
— Elas morreram, precisamos voltar, Damian, Gukla e as irmãs,
elas confiam em nós para isso.
— Ícaro, primeiro nos salvamos depois resgatamos.
— Elas estão mortas! — A dor em sua voz atravessa meu peito e me
quebra vê-lo quebrado.
— Não! O quarto delas é um quarto cofre, sempre fechado por
dentro, preste atenção nas minhas palavras, Gukla ficará lá até que volte
para resgatá-la, é tipo um bunker[17], é assim em todas as minhas casas para
protegê-las.
— Fez isso? Fez isso por elas?
— Sim.
Jogando-se em meus braços ele agradece de forma desesperada,
preciso levá-lo para dentro, verificar seus machucados e ligar para os meus
irmãos. Bratslav abriu as portas do inferno, agora meus demônios precisam
se alimentar.
Saio com ele nos direcionando até o pequeno chalé que acomoda até
seis pessoas muito bem, a ilha não é grande, mas tudo é confortável e está
abastecida para alguns dias, ainda bem que ninguém sabe sobre esse lugar
além de mim e dos meus irmãos. Pego das mãos dele as bolsas, uma delas
contém um telefone via satélite com o qual irei pedir ajuda a Dimitri.
CAPÍTULO 38

Sinto meu corpo inteiro tenso, minha respiração está pesada, parece
que a qualquer momento eu vou morrer, meu coração vai parar isso é uma
certeza que tenho. Imaginar que Gukla e suas irmãs morreram é como levar
um tiro, e eu nunca levei um, saber que ele se preocupou com elas fazendo
quartos cofres me faz amá-lo ainda mais.
Quando as mãos de Damian me tocam tentando me trazer para a
realidade, seus olhos são mortais agora, tem um machucado que sangra em
sua cabeça.
— Está machucado — digo tocando sua testa.
— Primeiro vamos cuidar de você, está quase colapsando com tudo
que viu, depois posso cuidar de mim. — Confirmo com a cabeça.
Sua mão segura a minha e sou direcionado a um banheiro no
corredor, tenho meu colete retirado, a vistoria começa no momento em que
fico nu, suas mãos vão para minha cabeça seus dedos se enfiam em meus
cabelos, sinto alguns pedacinhos de pedra, mas não sinto dor além de
muscular, sou quase virado do avesso.
— Apenas alguns arranhões superficiais, vamos para o banho.
— Preciso verificar você — falo fazendo-o sorrir balançando a
cabeça. Verifico cada pedaço dele que tem escoriações e um corte na
cabeça. — Acho que precisamos de um ponto aqui.
— Podemos fazer depois, agora banho. — Sou levado para debaixo
do chuveiro quente e meu corpo sente o poder da água sobre ele.
Não falamos nada, sou lavado com cuidado e sinto algumas partes
arderem, com certeza ele também, mas diferente de mim não esboça nada, é
o mesmo Damian de sempre. No meio disso minha ficha começa a cair e
me lembro de como ele me protegeu, como usou o único colete que tinha
em mim, então o puxo para um beijo possessivo e intenso, não tenho
cuidado é duro e bruto, ele reage da mesma forma, preciso dele dentro de
mim, preciso sentir que estamos vivos e bem.
— Calma, não quero machucá-lo. — Sua voz carrega preocupação,
mas se existe algo que neste momento eu não preciso é de cautela.
— Damian, eu preciso da dor, da dor que só você me dá, aquela que
ao final vai me fazer gozar gritando como louco.
— Ícaro, vamos descansar, depois te dou tudo que quiser.
— Não, Dam, preciso que essa tensão passe, que meu corpo relaxe,
mas eu preciso da dor, eu imploro se precisar, só me fode com força e me
marca como seu.
Um grunhido rouco ecoa pelo banheiro e sou virado contra a parede
sem nenhum cuidado, tenho minhas pernas afastadas e pelos céus, ele nem
começou e já estou perdido.
Fica difícil tentar cuidar dele com ele implorando pela dor, não vou
lhe dar algo pesado demais, não agora, mas Ícaro precisa de mim e eu darei
tudo que ele pedir.
— Fique nesta posição — ordeno saindo do box seguindo para as
gavetas do banheiro.
Pego lubrificante e cinco elásticos, volto com a porra do meu pau
tão duro que se Ícaro roçar nele eu gozo como um adolescente inexperiente.
— Vire-se! — Dou um tapa forte em sua perna fazendo com que me
obedeça.
Assim que faz o que mando ele visualiza os elásticos, todos eles
enfiados em meus dedos.
— Me pediu dor, Ratinho, vou te dar o que suplica.
Puxo seu pau duro, passando com ele pelos elásticos, tenho um
pouco de dificuldade para passar por suas bolas e dois elásticos se soltam
batendo machucando-as o fazendo gemer. Sorrio porque ele lança sua
cabeça para trás, o filho da puta é um masoquista completo, se o colocasse
como desejava teria a função de anel peniano, mas Ícaro quer dor e sei o
quanto soltar cada um dos elásticos em suas bolas vai queimar e doer, a
cada um dele que bate ele urra pela dor que lhe causo.
— Damian! — Vejo seus dedos dos pés se contorcerem.
Enfiando-o completamente na boca seu gemido instiga, chupo com
vontade enquanto sei que suas bolas latejam, mas não dou continuidade,
paro virando-o novamente contra a parede fria do box.
— Ícaro, vou ser rápido porque preciso cuidar de você, mas da
próxima vez que me pedir dor, a forca de Judas será um passeio no parque
em um domingo à tarde.
— Só me faça gozar, inferno, minhas bolas ardem.
Suas pernas estão abertas, sua bunda empinada, lubrifico meu pau
começando a forçar minha passagem, ele está relaxado, Ícaro fica cada vez
mais perfeito para mim. Quando estou completamente dentro dele, travo
seu pescoço com meu braço e lhe privo o ar, então começo a foder seu rabo
com força, ele crava suas unhas em meu antebraço, o que me faz urrar pela
dor.
— Ratinho perverso. — Mordo seu pescoço.
— Ah!
A água volta a cair sobre nós e só então percebo que ele se segura
no registro do chuveiro, sinto minha cabeça doer, uma pontada forte e fina
que me faz quase perder os sentidos, continuo a fodê-lo, as coisas perdem
um pouco o foco, mas não me importo, ele precisa de mim e tudo que diz
respeito a ele é prioridade. Mantenho o ritmo e o agarre, seus gemidos
ficam mais fortes, mais altos e se misturam aos meus e aos barulhos que
nossos corpos fazem sob a água quente, a sensação de que logo vou gozar
me percorre, minhas bolas pesam.
— Vou gozar — digo perdido e entendo pouco de o porquê estou
oscilando tanto.
— Dam. — Seu corpo tensiona no momento em que minha mão
começa a masturbá-lo.
Estamos queimando, sinto nossos corpos pegando fogo, então seu cu
começa a morder meu pau, Ícaro acaba de gozar e me leva junto com ele,
logo tudo vira escuridão.

Minha alma parece que vai sair do corpo quando gozo lançando
meus jatos quentes na parede, mas há algo de errado, Damian está ofegando
diferente e seu aperto fica frouxo rápido depois que gozamos.
Seu corpo se descola do meu e ele cai com tudo no chão.
— Damian! — Passo a mão pelo seu rosto. Inferno, ele não me
responde.
Olho para todos os lados e sinto uma fisgada de dor em meu pau,
droga! Arranco os elásticos dele o que faz uma maldita dor atravessar meu
corpo, mas isso não importa agora.
— Damian, acorda! Damian! — Vou dando tapas em seu rosto,
chacoalhando seu corpo e nada.
Saio do banheiro procurando algo forte para que ele acorde, mas não
encontro nada, então vejo o telefone via satélite, não sei para quem ligo,
assim que o pego peço aos céus que exista algum contato gravado, assim
que o abro vejo que tem três nomes, Dusham, Dimitri e Darko, recordo-me
dele dizendo que Dusham o deixou, então escolho o próximo. A linha
começa a chamar sendo atendida no terceiro toque.
— Damian, o que está acontecendo? Porra! — Sua voz furiosa
explode do outro lado da linha
— Não é o Damian — digo tentando não pensar que ele está
desacordado no chão.
— Quem é você e o que fez com meu irmão? Vou arrancar suas
tripas na primeira oportunidade, seu escroto maldito.
— Sou Tomasso, não! Ícaro, esse é meu nome, estamos numa ilha,
fomos atacados e agora ele está desmaiado no banheiro e eu não consigo
acordá-lo.
— Ícaro, onde estão? — Sua voz parece controlada agora enquanto
escuto outra voz ao fundo.
— Fomos atacados, Damian me trouxe para uma ilha, não sei onde,
fica a meia hora da casa em que estávamos, estávamos no banho e ele caiu
desacordado.
— Ele está machucado?
— Apenas um corte na cabeça, algo que talvez leve três pontos e
algumas escoriações.
— Achei! — a voz fala do outro lado.
— Estamos a caminho.
— Como estão a caminho? Estamos em Bali, não em Belgrado.
— Estamos em Bali também logo chegaremos e explicamos.
— Certo.
— Ícaro. — Sua voz tenta me puxar de volta a ligação. — Apenas
cuide dele, por favor!
— Cuidarei.
Volto para o banheiro, o arrastando do chão molhado começando a
secar seu corpo, visto um roupão, coloco sua cabeça em meu colo depois de
cobri-lo com algumas toalhas.
— Por que tinha que ter feito minha vontade? Por que não foi
apenas você Damian? Por que não me mandou à merda e fez a sua vontade
e não a minha?
Percebo que estou chorando, quando vejo minhas lágrimas caírem
sobre seu rosto. Como posso amá-lo? Como posso sentir tanto pela sua
vida, ainda mais depois de tudo que aconteceu para que ele me tivesse?
Pensar nisso me causa sensações conflitantes, eu fui comprado, não devia
ter sentimentos por ele e sim raiva, muita raiva, mas Damian me envolveu
com sua escuridão levando a caminhar por lugares que eu desconhecia e
que jamais sonhei conhecer.
Estou perdido e pensamentos de que ele não vai acordar me deixa
inquieto, podemos ter quase o mesmo tamanho, mas não consigo carregá-lo
como ele faz comigo e isso me deixa muito frustrado.
— Onde vocês estão? — pergunto para as paredes, após verificar
seus batimentos pela milésima vez.
Então finalmente meu corpo relaxa e meu coração acelera quando
ouço ao longe o barulho de hélices, com certeza seus irmãos chegaram,
pouco tempo depois escuto vozes o chamar.
— Damian! Damian, onde vocês estão? — Não é a voz que ouvi no
telefone.
— Aqui! — grito em resposta.
Logo um homem enorme que parece ser maior que Damian e com o
rosto tatuado aparece, cravando seus olhos azuis assassinos em mim.
CAPÍTULO 39

Ficamos nos encarando por algum tempo quando o segundo irmão


chega.
— Precisamos tirá-lo daqui. — É tudo que falo dando pouca
importância do quanto medo eu sinto agora com os dois dentro do banheiro
vistoriando Damian que se encontra nos meus braços.
— Precisa soltá-lo para que possamos levá-lo a um dos quartos — o
outro que acredito ser Dimitri fala, reconheço sua voz.
— Não quero que ele mexa a cabeça — pontuo minha preocupação.
— Pegue a toalha, Darko — fala e logo volta sua atenção a mim. —
Ícaro, vamos enrolar uma toalha no pescoço dele, como um colar cervical,
enquanto Darko e eu o movimentamos você mantém a toalha fixa, tudo
bem?
— Sim.
Não dizemos mais nada quando o corpo de Damian é içado, eu me
levanto junto tentando sustentar sua cabeça, agora me repreendo por não ter
pensado nisso quando o movi, mas não me martirizo, não agora. Ele é
colocado sobre a cama do primeiro quarto, logo me afasto então seus
irmãos vasculham por todo seu corpo, eles pegaram uma maleta de
primeiros socorros, Darko dá os pontos em sua cabeça e logo depois Dimitri
lhe passa algo forte em um algodão que arrepia meus pelos pelo cheiro
daqui de onde estou.
— Acorde, seu filho da puta maldito — Darko rosna ao seu lado.
— Enfia esse algodão com formol no rabo. — A voz de Damian sai
grossa e faz meu corpo relaxar. — Onde ele está?
— De quem está falando? — Dimitri fala enquanto me mantenho
longe.
— Porra, cadê o Ícaro? — Ergue sua cabeça me procurando, mas
estou sendo bloqueado pelo corpo de Darko.
— Estou aqui, Dam. — Então ele solta sua cabeça novamente no
travesseiro.
— Saiam, deixe que ele se aproxime.
— Calma, Dam, viemos apenas ajudar — Dimitri fala e o vejo
rosnar como um alerta.
— Vamos preparar tudo para irmos embora. — Darko se afasta
sendo seguido por Dimitri enquanto saem do quarto.
— Como você está? — pergunto sentando-me ao seu lado e tendo
meu corpo puxado para perto dele.
— Fiquei preocupado, acabei me desesperando e ligando para os
seus irmãos, caiu como um saco de ração no chão sem nenhum cuidado.
— Há quantos dias?
— O quê?
— Há quantos dias fiquei desacordado?
— Algumas horas — informo e me olha sem entender.
— Como chegaram tão rápido? — Aliso seu rosto enquanto fecha os
olhos.
— Estávamos no seu encalço, Darko soube do ataque, mas não
conseguimos contato com você, enfiou o telefone no rabo?
— Vai se foder, Dimitri!
— Ele te toca? — Darko questiona surpreso.
— Sim, e nem tente se aproximar é apenas ele.
O olhar surpreso dos seus irmãos está estampado em seus rostos,
Damian se ajeita na cama ficando sentado e me puxando como se estivesse
me protegendo do mundo.
— Bem, temos que nos apressar, precisamos voltar para Belgrado
— Dimitri fala parecendo inquieto.
— Vamos dormir aqui, amanhã retornamos, temos algumas coisas
para conversar, algumas descobertas que precisamos resolver.
— Não é melhor Dusham também estar a par disso? — Darko
indaga com seu olhar em minha mão sobre a de Damian.
— Não, ainda quero manter aquele demônio longe de Ícaro.
— Damian, não pode escondê-lo por tanto tempo, Dusham não é
burro. — Dimitri parece tentar colocar juízo na cabeça de Damian e sinto
seu corpo tensionar.
— Você conhece as regras e para mim ainda são dois agravantes,
ninguém toca nele. — Sua ameaça faz algo ruim me atingir. — Vou mantê-
lo escondido pelo tempo que achar necessário e isso não vai ser negociado.
— Vai ser uma grande merda, já que Bratslav sabe sobre ele. —
Olho para Darko e o medo potente se instala.
— Foi ele não foi, quem fez essa merda?
— Sim — Dimitri confirma.
— Desculpe me enfiar na conversa de vocês, mas precisamos voltar
na casa antes de irmos, Gukla e suas irmãs precisam de resgate.
— Não se preocupe com elas, já foram resgatadas e estão bem, neste
momento a caminho de Belgrado — Darko informa.
— Como?
— Meu Ícaro, meus irmãos sempre estão a par de tudo, Dusham só
não sabe de você, mas todos são informados sobre os quartos cofres. — A
voz de Damian é suave e tenta me tranquilizar.
Acho que vou preparar algo para comer, já que passaremos a noite
aqui. Levanto-me deixando-os a sós, com certeza eles vão conversar sobre
sua mãe e não é o momento de me enfiar nisso, sigo até a cozinha
analisando minhas possibilidades e desejo fazer um macarrão a carbonara.

Acompanho com os olhos enquanto Ícaro sai do quarto pouco me


importando com os dois pares de olhos que me encaram sem entender nada.
— Qual é?
— Vai explicar ou quer que entendamos que está quase babando
como um cão sobre ele? — Darko senta-se na poltrona próxima à cama.
— Ele é a minha pessoa, acho que posso dizer que aprendi sobre
amor e essas coisas que ninguém jamais ousou nos ensinar.
O olhar incrédulo de Darko me faz entender que ele não entende,
porém não me passa despercebido que Dimitri não parece surpreso, deixo
tudo para depois começando a contar a eles sobre tudo que minha mente
desbloqueou, sobre as surras, os sussurros e todo o inferno que passamos.
— Damian, isso só pode ser um delírio, jamais aquela vagabunda
faria isso. — Dimitri se ergue furioso.
— Não foi, eu me lembro, Dimitri, me recordo de tudo, existia um
homem, seus olhos eram de um verde desproporcional, vocês devem se
lembrar, na verdade precisam.
— Olhos verdes desproporcional? — Dimitri parece não acreditar
enquanto Darko arqueia a sobrancelha, desconfiado.
— Sim, era ele quem a mantinha na corrente invisível que o
desgraçado do Bratslav amarrou nela. — Ouço Darko bufar inconformado
quando diz. — Me lembro, terno preto esgueirando-se pelos cantos.
— Como se lembra? — Dimitri questiona.
— Eu tentava fugir pelos fundos, uma vez ele me enfiou de volta
pelo buraco após me chutar com força.
— Isso não pode ser real. — Dimitri se levanta enquanto esfrega os
cabelos bagunçando-os.
— Se lembra dele também, não é? — Sondo por sua inquietação é
quase uma certeza o que questiono.
— Sim.
— Então é verdade, sempre a julgamos uma vadia, mas ela tentava
com tudo que podia, quero saber onde estão seus restos mortais, lhe dar um
lugar para descansar e um túmulo onde eu possa lhe pedir perdão por odiá-
la com tudo de mim. — Meus irmãos não esboçam surpresa com minhas
palavras eles já estão atônitos com a minha revelação. — Quero saber seu
nome, sua idade e sua origem, porque o pouco que sabemos pode ser
inventado por Bratslav.
— Farei essa busca — Darko informa.
— Mas vamos voltar ao assunto principal, não pode ter uma joia e
não pode se relacionar com homens e ser aceito pela Triglav por isso, sabe
que jamais poderá se casar com ele, jamais serão aceitos. — Dimitri joga a
realidade na minha cara. — Ainda que fiquem juntos terão que se manterem
escondidos.
— Sim, ele tem razão, terá a lealdade apenas dos seus homens e dos
seus irmãos, se Konstantin imaginar poderá caçá-los. — Pela primeira vez
sinto o impacto das palavras de Darko, porque parece existir uma diferença
entre eu ter a certeza de tudo que eles me dizem e ouvi-las em voz alta.
— Bratslav já sabe, se ele está fazendo tudo isso para pegar Ícaro é
porque já entendeu a importância dele em sua vida. — Algo passa pela
minha cabeça então me lembro de Gtchin.
— Desgraçado! Tinha um infiltrado. — Lanço minha cabeça para
trás apoiando-a na cabeceira acolchoada na cama.
— Como?
— Gtchin, ele quase violentou Ícaro, com toda certeza ele era o
informante de Bratslav.
— Diga que está morto. — Darko não mede a forma que fala, ele
está furioso.
— Sim, e foi bonito de fazer e ver.
— Ótimo, amanhã retornaremos a Belgrado e então seguimos daí —
Dimitri informa levantando-se.
— Eu concordo, e concordo também em ir comer qualquer que seja
a comida que está invadindo esse lugar com o cheiro mais delicioso dos
últimos tempos. — Sorrio da forma que Darko fala.
— Está sorrindo, Anjo do Caos? — Arqueia sua sobrancelha,
desconfiado.
— Parece que quando achamos a nossa pessoa essas coisas passam a
acontecer. — Levanto-me.
— Volte para a cama. — A voz de Ícaro aparece.
— Estou bem. — Pisco para ele.
— Vim chamar para comerem, acredito que todos estão com fome.
— Sim, estou devastado de fome, cunhado. — Darko passa por ele
tocando em seu ombro.
E isso me causa um ciúme visceral.
CAPÍTULO 40

No momento em que Darko passa por mim tocando meu ombro


ouço um rosnado vindo de Damian que acaba me paralisando.
— Não toque nele! — Dimitri segura Damian pelo pulso tentando
conter um ataque ao seu irmão, — Não toque em mim! — Vejo quando seu
pulso é solto e seu irmão ergue as mãos em rendição.
— Ok, não vamos brigar por isso, certo? — Darko também ergue
suas mãos e logo pede desculpas.
Dimitri sai do quarto nos deixando a sós.
— Dam, tire esse olhar assassino daqui eu achei que tivesse te
perdido, entrei em desespero e foram eles que te salvaram, eu não saberia
como agir, então nada de querer assassinar algum deles.
— Está defendendo eles? Ele te tocou.
— Sim, e ainda estou com meu braço no lugar, não arrancou pedaço
algum.
— Não gosto disso.
— Por favor, só vamos comer, é quase madrugada e preciso muito
dormir — peço ganhando um beijo na testa.
Caminhamos até a cozinha, eles nos aguardam então nos sentamos
começando a comer, logo que finalizamos tudo sob um silêncio confortável,
Damian coloca sobre eles a responsabilidade de limpar tudo e me arrasta
direto para a suíte.

Após horas de voo chegamos a Belgrado, segundo Damian neste


momento sua casa é o lugar mais seguro, mesmo que seja perto de Bratslav.
Seus irmãos por toda a viagem pareciam outras pessoas, tipo o Damian
quando está tomado pelo ódio e eu não sei o que aconteceu, ele só me pediu
para confiar nele e ficar na suíte do jatinho.
Estamos estacionando o carro, é início de noite quando começamos
a entrar em casa, no momento em que vejo Gukla é impossível não agarrá-
la pegando-a de surpresa e a fazendo sumir envolta em meus braços, ela é
mignon, mas sinto seu sorriso vibrar contra mim.
— Saber que estão bem me acalma.
— Obrigada pela preocupação, senhor Ícaro. — Sorri um pouco
envergonhada. — Precisam de algo antes do jantar? — indaga sob o olhar
atento de Damian.
— No momento apenas um banho, Gukla, nos vemos logo.
— Se desejarem posso levar o jantar para o quarto.
— Leve para a biblioteca — Damian informa.
— Sim, senhor — diz desaparecendo pelos corredores da casa.
Caminhamos em direção ao quarto e momentos depois estamos
seguindo em direção à biblioteca.
— O que está acontecendo, Damian, está tenso, não pense em negar
dizendo que não é nada que com toda certeza não sou idiota.
— Preciso organizar algumas coisas, ando trabalhando em descobrir
um ponto fraco de Bratslav, mas não encontrei nada até o momento. — Ele
se senta no sofá apoiando seus cotovelos nas pernas e esfregando seu rosto
como se estivesse cansado.
Caminho até ele devagar, levando seu notebook comigo, coloco-o ao
seu lado, então retiro suas mãos do rosto fazendo com que ele se erga um
pouco e me dê acesso para que me sente em seu colo.
— Dam, não sei o que busca, mas vai encontrar algo, não sei bem o
que tenta me esconder, mas precisamos manter a verdade aqui, lembra-se
quando disse que não podia lhe esconder nada que no mais tudo você
resolveria? — ele balança a cabeça em confirmação. — Então, não precisa
carregar nada sozinho, pode me contar o que anda te deixando assim, desde
que seus irmãos chegaram eu vi que algo havia mudado.
Damian respira fundo abraçando meu corpo contra o seu ficando
calado e eu lhe dou o tempo que necessita.
— Ser gay não é algo fácil dentro de uma máfia, Ícaro, na verdade
algumas delas abominam isso, e a Triglav se encaixa bem nesse papel. Ao
longo dos anos eu matei todos aqueles que ousaram discordar das minhas
práticas e só aceitaram que a doma masculina acontecesse por ordem de
Konstantin.
— E por que ele faria isso, já que em sua máfia é abominável?
— Eu não sei, mas a ordem veio depois que fiz Bratslav me temer,
as joias masculinas acabam sendo mais raras, a doma delas existia antes,
porém era mantido debaixo dos panos por Bratslav, mesmo abominando
minha orientação dinheiro sempre é bem-vindo, acredito que tenha sido isso
que fez Konstantin aceitar, elas têm o quíntuplo do valor, isso foi algo que
Konstantin usou para acalmar os ânimos dos membros da máfia, inclusive
do conselho, mas isso é o mais próximo que se consegue. Meus soldados
foram treinados por mim e meus Obscuros pouco se importam qual rabo
estão fodendo, eles querem apenas causar dor e gozar loucamente.
— Isso parece pesado. O que são esses Obscuros?
— São a escória, se acreditamos que eu e meus irmãos somos
demônios que domam, aqueles homens foram criados para serem os
carniceiros, um pouco abaixo de nós, um projeto ainda mais macabro de
Bratslav para destruir os inimigos da Triglav. Foram pegos ainda crianças e
tiveram suas mentes distorcidas e dominadas pela perversão sádica do seu
criador, já os vi esfregarem seus paus na parede em busca de orgasmos, por
não terem a autorização de tocar ninguém como um castigo.
— Meu Deus!
— Sim, quando ameacei Brastalv um dia depois salvei o líder deles
de ser esquartejado.
— Por que o salvou?
— Porque a lealdade dos Obscuros vale mais do que qualquer que
seja a pessoa que os criou, eu precisava de aliados que mantivessem
Bratslav longe enquanto eu seguia minha vida domando e encontrando
coisas que os destruíssem — fala. — Então a lealdade deles mudou, e
quando Bratslav questionou todos eles estavam emparelhados ao meu favor
e meu progenitor recuou. Só existe duas formas de se obter a lealdade dos
Obscuros, conquistando-a com poder, ou comigo agora, seu senhor,
passando-a para alguém. Hoje tenho vinte e cinco deles entre doze e trinta e
cinco anos, sete deles tem doze anos e são como carniceiros, suas mentes já
estão perdidas.
— Damian, são crianças. — A surpresa em minha voz não passa
despercebida.
— Nunca te disse que era um Anjo, Ícaro, sou um demônio, mas
preciso manter minha linha de guarda entre Bratslav e eu, primeiro que ele
não me mata porque sou um objeto de valor para a máfia, meus irmãos
domam mulheres e homens, as mulheres eu só domo caso precise, mas
todos os homens que domo valem cinco vezes mais.
— Não dome mais, imaginar que seu corpo toca o de outra pessoa
me causa ânsia de vômito e ódio.
— Por isso preciso descobrir como me desvencilhar deles, Ícaro,
mas não será fácil, estamos em completo alerta, você é o alvo e eu não
confio em ninguém para protegê-lo. — O medo me toma, preciso saber me
defender.
— Pode me ensinar a atirar e lutar, preciso me proteger de tudo isso.
— Quer mesmo aprender?
— Sim, preciso cuidar de mim e dos meus filhos quando os tiver.
— Filhos?
— Sim, não pensa?
— Ícaro, eu só penso em você, não gosto de crianças. — Suas
palavras me partem o coração, sempre ansiei por uma família, mas saber
que ele não deseja o mesmo que eu, me faz voltar à estaca zero.
— Damian, sempre serei seu escravo sexual? — pergunto engolindo
o nó que se formou em minha garganta.
— Não é meu escravo, Ícaro, é a minha pessoa.
— Então posso ir embora quando eu quiser? — indago com medo
de sua resposta.
— Deseja ir? Deseja me deixar? É isso? — A dor atravessa seu
rosto e esmaga meu coração.
— Não desejo, mas gostaria de saber sobre minha liberdade,
gostaria de visitar minha família, rever Antonella, mesmo que seja de longe.
— Não entendo o porquê, achei que quando descobriu que me
amava nada mais passasse a importar, assim como aconteceu comigo. —
Aliso seu rosto porque mesmo confuso e sem entender ele consegue dizer
as coisas mais bonitas mesmo sem querer.
— Relacionamentos não são gaiolas, claro que tem meu amor, mas
eu também os amo. — Suas mãos seguram meu rosto.
— Prometo tentar aprender sobre isso, mas agora preciso mantê-lo
seguro e escondido se Bratslav te pegar não me perdoaria.
— Prometo ser obediente. — Um beijo gostoso começa, mas me
recordo que ele precisa trabalhar.
— Descubra algo sobre esse desgraçado, porque não conseguiria
sobreviver sabendo que precisa voltar a tocar o corpo de outra pessoa.
— Mataria qualquer um de quem precisasse me aproximar, Ícaro, eu
desejo apenas você, e saber que deseja ficar comigo mesmo sabendo como
eu sou, faz minha mente se perder em caos e fúria por imaginar perdê-lo.
Suas palavras fazem meus sentimentos crescerem ainda mais do que
imaginei um dia ser possível, deito-me sobre sua perna quando ele coloca
os fones e digita freneticamente no computador. Gukla um tempo depois
aparece com o jantar, comemos em silêncio, ele olhando a tela e eu entre
uma frase e outra do meu livro, as coisas parecem no lugar.
Voltamos novamente para o sofá, quando sinto o corpo dele
tensionar.
— Descobriu algo? — indago curioso.
— Algo que talvez possa usar, mas preciso me aprofundar um pouco
mais sobre o assunto.
— Não pode contar, não é?
— Melhor não, não sem antes eu ter a certeza de que é algo maior,
preciso continuar investigando.
Deixo como está, ele volta a digitar e eu volto à minha leitura, assim
ficamos até que meus olhos ardem e decidimos ir para a cama.
CAPÍTULO 41

Os dias foram se passando e a cada descoberta que tinha me davam


ainda mais certeza de que finalmente conseguiríamos a nossa liberdade, não
da máfia, pois isso é quem somos, mas de algumas coisas que nos privam,
como o fato de sermos homens que não podem escolher ninguém para estar
ao lado. Antes eu pensava querer uma joia, aquela que domaria apenas para
mim, hoje preciso apenas dele, Ícaro, minha única fonte de desejo e
obsessão. Ele tem tentado me fazer perder a cabeça, ele sabe o quanto posso
ser ruim, mas tenho segurado por que creio piamente que dessa vez posso
matá-lo. Tenho me esquivado e feito apenas sexo com uma pegada mais
bruta, mas eu sei que ele quer me acalmar e por me conhecer sei que isso
não vai funcionar sem que ele corra risco de vida, a forca de Judas foi um
ótimo exemplo disso, eu me descontrolei.
Ando inquieto e quase incontido, tenho tentado não causar uma
guerra antes de tudo, Dimitri e Darko ainda não sabem de nada, mas quanto
mais me aprofundo mais descubro que esse filho da puta não faz o que faz
de forma recente, maldito doente dos infernos.
A raiva começa a pinicar, não posso ter Ícaro atravessando meu
caminho no momento, não agora, mas como se o invocasse ele aparece na
biblioteca.
— Algo?
— Vá embora!
— O que houve?
— Não questione minhas ordens, apenas vá embora.
— Dam...
— Vai me desafiar? Vai ousar me desobedecer? — Parto para cima
dele tentando me controlar, minha mente clama pelo caos, enquanto meu
coração, a porra do meu coração me manda recuar.
— Vou! Está a fim de descontar dias de angústia sobre mim? Faça!
Porque existe algo, Damian, existe algo aí que está forçando a merda para
fora e você está como um demônio enjaulado.
— Posso te matar. — Seguro seu pescoço ansiando por apertar um
pouco mais.
— Mate, o quanto de dor vai te causar Damian? O quanto de dor
será me ver morto após não ter se controlado?
Não penso no que me diz, não consigo pensar com tanto veneno de
vingança percorrendo meu sistema.
— Vai ter o demônio, Ícaro.
— E quando é que não o tenho?
Minha sanidade explode de uma vez e me perco em fúria.
— Venha.
Caminho sabendo exatamente para onde ir e tendo a certeza de que
me segue, Ícaro não teme me desafiar, mas vou lhe mostrar o quão cruel
posso ser, o quão desgraçado e destruído é o homem que ele acredita amar.
Lembro-me do sonho, lembro-me dele sobre os ganchos, lembro-me do
medo, mas hoje penso apenas no meu pau duro e furioso entre as pernas.
Ícaro vai gritar, vai agonizar e eu vou alimentar meus malditos demônios.
— Entre — ordeno assim que abro a porta.
Vejo seu olhar de pavor, ele acabou de ver a treliça com mais de
vinte ganchos suspensos afiados e prontos para perfurar sua carne.
— Damian...
— Não vai recuar agora, Ícaro! — rosno. — Foi você quem me
desafiou, e eu vou te mostrar o quão demoníaco sou, como disse estou
guardando a merda há alguns dias, mas você insiste em fazê-la sair, esse vai
ser seu castigo. Agora tire sua roupa.
Não falo mais nada enquanto ficamos nus, ele está ofegante, mas o
filho da puta está excitado.
— Vou te contar como funciona. Vou passar ganchos pela sua carne,
vou começar com você deitado, depois de todos eles estarem cravados em
você, vou içá-lo, como é iniciante vou permitir que tenha apoio na cintura e
um lugar onde colocará suas mãos, me desafie e eu arranco os suportes, não
me obedeça e te mostro como foi ser violentado de forma furiosa enquanto
um maldito obscuro me fodia tensionando os ganchos em minha carne.
— Dam...
— Não é o Damian quem está aqui com você, Ratinho, eu sou o
Anjo do Caos.
Engulo seco porque não é Damian quem vejo dentro desses olhos, é
o mesmo olhar que quase me matou e agora não tenho escapatória. Eu amo
a dor, amo quando ele me leva ao limite, quase me fazendo perder a cabeça,
mas isso, isso nunca foi cogitado por mim.
— Deite-se na marca — ordena sem nenhum resquício de
sentimento na voz.
Faço como me ordena, existe uma marca que me mostra exatamente
como devo ficar pintada no chão, meu coração bate no peito de forma
descontrolada, quando ouço um fio correr nas roldanas do teto e uma dor
me atinge, ele está começando pelas pernas. Ador pulsa em mim quando o
segundo gancho atravessa minha carne, grito pela dor que continua subindo.
— Por favor! — imploro para que pare, mas não serei ouvido, isso
eu tenho certeza.
— Não implore, apenas o Damian costuma se compadecer de seus
apelos, eu venho há algum tempo louco para reencontrá-lo, ainda sinto
meus braços queimarem da surra que lhe dei na última vez.
— Haaa! — Os ganchos agora estão sendo colocados em minhas
costas.
Cada correr dos fios de aço que prendem os ganchos à treliça arrepia
minha alma, é desesperador a dor de cada um deles percorrendo meu corpo,
mas sou um homem grande, não sei se minha pele vai suportar meu peso
quando for hasteado. Sigo em pânico e excitado, eu sou um lunático,
quando o último gancho se crava pouco acima do meu cotovelo.
— Não sabe como é vê-lo assim. — Olho para cima e o vejo
massagear o pau. — Estou quase gozando e ainda nem comecei com você.
Certamente a mente de Damian não está aqui, com certeza estou
muito ferrado.
— Erga sua cintura. — Sua ordem vem e faço o que manda e uma
cinta de couro é passada pela minha barriga, obviamente é o tal apoio.
Logo ele traz um tipo de banco alto que fica na altura de sua pelve,
as luzes agora se apagam, meu coração dispara novamente quando começo
a ser içado, meus gritos começam devido à pressão e me debato um pouco.
— Se continuar se debatendo vai ter a pele rasgada.
— Haaaa! — Meu corpo inteiro é tomado pela dor, pelas fisgadas de
dor que sinto por todo ele, não me importo se me mexo, não consigo não o
fazer, é como se estivesse tendo meus músculos forçados ao limite, queima
como o inferno.
— Hahahaha! Seus gritos me excitam, continue, nosso jogo está
começando a me divertir.
Tento respirar, meu coração está batendo ainda mais forte, parece
que vai parar a qualquer momento, quando finalmente o movimento de
subir para e fico na mesma altura do banco à minha frente.
— Coloque suas mãos aqui. — Mostra-me a parte acolchoada do
banco. — Vou lavar seu corpo com cera de vela quente, depois disso vou
chicoteá-lo até que não exista mais nenhum resquício dela sobre você, e
quando estiver excitado com seu pau pronto para explodir sem nem ao
menos ser tocado, vou separar suas pernas e fodê-lo. Vai ser prazeroso,
Ícaro, mas antes vai ser torturante.
Então o inferno começa, meu corpo sente a cera cair, não chega ao
ponto de queimar de forma insuportável, mas sei que está acontecendo, e
porra! Seus gemidos se misturando aos meus gritos implorando para que
pare me deixa a ponto de gozar como ele disse. Tenho cera derramada nos
meus pés e ele continua subindo, o fato de não ver causa uma expectativa
ainda maior. Tudo vai acontecendo de forma alucinante, meu coração
continua esmurrando contra meu peito, às vezes parece que perco a
respiração, e já nem sei por quanto tempo estou aqui, quando a primeira
chicotada atinge minhas costas, não tenho dúvidas que é entre os espaços
dos ganchos. Tensiono meu corpo, gritando e desejando mais, já não me
lembro dos ganchos, apenas da sensação de não ter nada sob mim. É
malditamente enlouquecedor, meu cérebro está em total alerta de que posso
cair e muito ciente da dor, porque ela parece estar no ápice, meu corpo
queima em todas as partes, meu pau pulsa.
Ciente de cada milímetro de pele que queima, as chicotadas param e
ele se coloca à minha frente arrastando o apoio, ativando ainda mais meus
sensores de dor.
— Chupa! Vou levar até o fundo, espero que não se engasgue,
chacoalhar o corpo pode causar ainda mais dor.
Então sinto seu gosto, meu gemido agora é de prazer, chupo como
se estivesse sido privado de alimento por dias, ele tem o sabor que jamais
irei enjoar. Respirando pelo nariz como aprendi, o levo até a garganta, sinto
meu pau pingar, suas mãos me seguram pelos cabelos, e seus movimentos
são fortes e ritmados, a mistura de sensações me deixa ensandecido, mas
novamente meu coração parece não aguentar, o medo está envolvido, o
medo que quase me paralisa querendo roubar de mim o prazer e amplificar
a dor, mas tudo que desejo é o orgasmo que com toda certeza será o meu
fim e irá me pedir para passar por tudo isso novamente.
CAPÍTULO 42

A perversão e seus gritos de dor me causam tantas sensações que me


fazem desejar ser um pouco mais cruel, sua boca envolta do meu pau
sugando como um pequeno bezerro esfomeado me enlouquece. Quero mais
dos seus gritos então arranco meu pau da sua boca chutando o seu apoio
fazendo-me ir até a treliça e tirar seu apoio da cintura, o que faz seu corpo
dá um solavanco.
— Haaa! — Seu grito é de surpresa e dor.
— Está quase gozando?
— Sim — diz ofegante.
Vejo seu corpo ofegante, preciso gozar. Pego o lubrificante me
enfiando entre suas pernas e começando a prepará-lo, imaginar que o terei
assim é perverso e me faz lembrar do sonho, ainda que meu coração doa,
quero testar seus limites. Após o terceiro dedo entrar e sair dele, seus
gemidos começam, minha mão bombeia seu pau, ele precisa estar no limite
quando eu me enterrar nele.
Seu gemido frustrado quando me afasto o deixa louco, mas logo me
enterro nele, o vai e vem o faz gritar, seguro no espaço livre em sua cintura
e começo a foder com vontade. A cada vez que meto as fisgadas com
certeza o atingem, conheço seu corpo, ele está no limite e eu estou da
mesma forma. Por todo tempo sua cabeça se mantém elevada, ele está se
controlando, mas meus demônios querem mais que ver os sinais.
Meu pau sendo esmagado pelo seu rabo quente, seus gemidos de
prazer e dor que agora se tornaram gritos. Entro e saio num deslizar
delicioso quando minhas bolas pesam e sofro com os espasmos de seu
cuzinho que me morde a cada pulsar, o sinto tensionar o corpo levantando
sua cabeça enquanto goza junto comigo, tento me recuperar o mais rápido
que consigo saindo dele acendendo a luz, seu corpo está vermelho quase
sangue e por todos os lados existem marcas, em alguns lugares sai sangue
dos buracos causados pelos ganchos e a visão perversa me faz contemplar o
caos que acabei de causar, quando um suspiro diferente me chama atenção.
Então seu corpo começa a se debater e Ícaro espuma pela boca,
tento não me desesperar pela imagem, desço seu corpo o mais rápido que
consigo arrancando os ganchos numa velocidade angustiante, isso é uma
convulsão. Não termino de tirar seus ganchos das pernas quando corro até a
mesa pegando uma toalha, abrindo sua boca para que não morda sua língua,
ele está de barriga para cima. Seguro sua cabeça e a deixo virada de lado
enquanto meu Ícaro se debate, medo, o mais puro medo e uma voz grita na
minha mente que a culpa foi minha, minha maldita mente doente o levou a
isso. Ouço os fios de aço se chacoalharem por alguns minutos que parecem
ser uma eternidade, então seu corpo para me fazendo voltar a respirar.
Retiro a toalha de sua boca, sei que fui eu que o levei ao limite, ele
só pode ter tido um pico de medo ou ansiedade, ou os dois juntos, o limpo,
ele está mole. Retiro os últimos ganchos das panturrilhas, o pego nos braços
levando-o para o nosso quarto, letárgico o coloco de lado na cama enquanto
ligo para Monike.
— Preciso de você aqui.
— Estou ocupada.
— Monike, é o Ícaro, por favor, venha, ele convulsionou.
— Estou a caminho.
Corro até o banheiro, com uma toalha úmida limpo o sangue dos
seus ferimentos, após fazer isso o seco com uma toalha seca, sento-me na
cama, colocando sua cabeça em minhas pernas, com uma dor de culpa
descomunal pressionando meu peito.
— Dam — sussurra meu apelido.
— Fique calmo, amor, a médica está a caminho.
— O que houve? — Sua voz é um fio cansado.
— Teve uma convulsão, mas a médica já chega.
Aliso seus cabelos sentindo uma lágrima quente rolar pelo meu
rosto, então prometo a mim mesmo que nunca mais o colocarei nesse tipo
de situação, nunca mais colocarei sua vida em risco, nem que precise meter
uma bala em minha cabeça se preciso for.
Algum tempo depois a porta é aberta e Monike atravessa por ela.
— O que houve? — pergunta baixo enquanto aliso os cabelos de
Ícaro.
— Ele convulsionou, havia acabado de transar.
— De que tipo?
— Do tipo que seu corpo fica suspenso por ganchos enquanto o
demônio em mim se alimenta de medo e dor. — Um suspiro de decepção e
um balançar de cabeça me mostra o quanto fui um desgraçado.
— Preciso examiná-lo, ele conversou ou só dormiu?
— Conversamos um pouco, mas ele parece exausto.
Afasto-me dela quando começa a examiná-lo, por quase uma hora
ela fica ali, pois ele acorda e ambos conversam, seu olhar me alcança
algumas vezes e meu coração afunda no peito. Ícaro com certeza sabe que
me culpo e mesmo quase o matando tenta me dizer que está tudo bem.
— É isso, ele sabe de tudo que precisa, apenas pare, Damian, vai
matá-lo, você é muito mais do que fizeram de você. — Sua voz é fria e
furiosa, então ela sai sem que eu consiga responder.
Sua mão se estende a mim fazendo com que me aproxime, seu corpo
se agarra ao meu e ficamos assim por algum tempo até que ambos
dormimos.

Meses se passaram desde o episódio convulsivo, mas ando vendo


que Ícaro anda arredio e cabisbaixo, não sei o que ele tem, e parece que os
caminhos que me levam à minha liberdade podem me afastar dele. Há
algum tempo o ouvi conversar com Gukla, ele deseja mais do que posso lhe
dar, ele deseja uma família, deseja seus pais, sua irmã, deseja filhos, não
penso em adotar quem quer que seja e privá-la de viver uma vida normal e
vir morar com um demônio que jamais irá mudar. Pensar nisso me machuca
porque machuca Ícaro. Sinto meu telefone vibrar no bolso.
— Por que ainda insiste em sair do buraco e continuar aparecendo?
— Porque existe algo que precisa saber.
— Vindo de você nada me interessa.
— Não? Sei que está com uma joia, aliás, está com alguém, um
homem que é tão nojento quanto você, seu viado de merda.
— Conte-me, essa sua raiva é vontade de dar a bunda também?
Porque apenas um gay enrustido teria tanta raiva de alguém como eu que
fode outros homens sem medo do que pensam de mim.
— Deixe-o!
— Hahahaha! Nunca! E ainda te digo mais, não ouse atravessar meu
caminho, farei meus Obscuros foder com tamanha força seu rabo que vai se
arrepender do dia que nasceu. Bratslav, não posso matá-lo, ainda, mas posso
ser bem divertido quanto às minhas torturas.
— Vamos ver por quanto tempo vai manter essa sua ideia, preste
bem atenção na foto, nos documentos e na mensagem que te mando, é um
pelo outro, envie seu brinquedinho para longe e mantenha seu filho vivo. —
Ouvir isso faz meu corpo sentir algo que me paralisa.
— Filho? Hahahaaah! Nunca tive.
— Não? Leia os papeis e minhas imposições, se recorde da última
vez que lhe amarrei e fiz a cadela montá-lo, Damian, quase se afogou no
próprio vômito com ela gemendo com a boceta em volta do seu pau. —
Lembro-me do vacilo que dei naquela noite, algumas noites antes do dia em
que vi Ícaro.
— Isso é impossível!
— Impossível é que continue com ele, posso colocar os pedaços do
seu pequeno bebê numa caixa e te enviar o parabenizando. Faça, seu Anjo
maldito, ou arque com as consequências! Tem algumas horas, neste
momento um dos meus homens deve estar chegando aí, nada mais que isso,
pode ser que ele não sobreviva, Damian, é tão pequeno e indefeso... —
Sinto o gosto de sangue na língua.
A ligação se encerra, então milhares de coisas se passam em minha
mente, quando abro a foto um bebê nu com a mão de Bratslav ao lado dele
segurando um charuto aceso, imaginar a dor que aquilo causa tensiona meu
corpo, recordo-me de quando eu era seu cinzeiro, tanto eu quanto meus
irmãos passamos por isso.
CAPÍTULO 43

O tempo passou e vejo minha vida definhando, amar Damian é algo


que me deixa extremamente feliz, mas a sensação de ser seu brinquedo de
sexo é enorme, nunca seremos uma família que se reúne como a minha faz.
Não posso ter notícias dos meus pais e muito menos de Antonella, nunca
teremos filhos já que odeia crianças, e por mais que tenha tentado entrar
nesse assunto com ele é como tentar furar uma rocha com as mãos,
impossível, ele está sempre na defensiva.
Meu corpo ainda clama pelo seu, mas nunca mais chegamos a algo
que pareça com o que passei no quarto secreto ou na treliça, não posso
reclamar, meu corpo clama pela dor e ele me dá sem quase me matar.
Tem algumas horas que ele não me olha nem fala comigo, as coisas
parecem realmente distantes e frias, acho que o fato de não ter nada de
concreto contra seu pai e Konstantin só pode ser o causador do motivo, as
coisas precisam ser como são, penso apenas nisso.
— Ícaro. — A voz de Gukla me alcança retirando-me dos meus
pensamentos.
— Sim. — Olho para ela percebendo que algo não está bem.
— Por favor. — Ela se agarra a mim e meu coração murcha.
— Diga o que ouve, Gukla.
— Ele trouxe outra joia e está te chamando.
— O quê?
— Isso que ouviu. — Saber disso faz meu corpo dilacerar.
Caminho até a sala quando o vejo agarrado a um homem negro com
olhos assustados completamente machucado sendo preso por uma mão e na
outra uma arma.
— Olhe ali, Gatinho, aquele é meu Ratinho. — O homem à minha
frente é um desconhecido.
— Damian, o que houve? — Ele precisa me contar o porquê está
assim.
— Este gatinho é minha próxima doma, sabe, cansei de brincar de
casinha, de tentar algo que jamais gostaria de ter, filhos, cachorros e finais
de semana conversando com toda sua família italiana gritando em volta da
mesa não é para mim. — Suas palavras são lançadas como tiros à queima
roupa e preciso me segurar um pouco para não cair.
— Damian... — Tento trazê-lo de volta a mim já que está analisando
o homem ao seu lado.
— Está livre! Acho que tudo que aconteceu nesse tempo em que
estivemos juntos pagou pelos milhões que perdi com você. Pegue sua bunda
e saia da minha casa, o carro te espera, vá o quanto antes, porque posso usá-
lo em uma doma e isso será prazeroso apenas para mim.
— Pare de falar isso! Volte a ser o homem que amo.
— Hahahaha! Nunca foi amor, posse sim, era obcecado, mas as
últimas vezes em que estivemos juntos me mostraram que nada em você me
excita, voltei a tomar o estimulante. — Não, esse não é o meu amor, o
homem que amo não é esse que está à minha frente.
— Mentira! — Dou um passo em sua direção quando ele levanta
sua arma para mim, apontando-a contra a minha cabeça.
— Mais um passo e te mostro o quão insignificante é, Tomasso. —
Sinto meu corpo ser dilacerado, esse olhar assassino diz que não vai recuar
caso tente seguir em sua direção.
Ele se vira arrastando o corpo quase inerte do homem e Gukla me
olha com lágrimas nos olhos, respiro fundo, despedindo-me dela. Corro até
o quarto pegando meus documentos e minha bolsa sentindo o ardor
lancinante atravessar meu peito, a pego porque há alguns meses ele havia
me entregue com meus pertences, até minha câmera estava nela, vinha
usando há algum tempo, mas agora parece que preciso sair daqui, é o nosso
fim.
Correndo sigo para o carro sem ter para onde ir.
— Para onde, senhor?
— Pode me levar a algum hotel no centro?
— Sim, senhor.
Abro a bolsa e tenho dinheiro para uma semana, depois disso vou
precisar de ajuda. Sinto meu corpo se arrepiar no momento em que
atravessamos os portões da mansão, sentir cada uma das palavras de
Damian doeu, ele me tirou tudo, me matou, levou meu coração e agora
matou minha alma, decido não chorar, descido não enlouquecer.
A dor que vi em seus olhos quase me matou, no momento em que
jogo o corpo massacrado do mensageiro do meu pai no chão, apontar-lhe
uma arma foi quase meu fim. Suas lágrimas rolando me fazem desejar
assassinar Bratslav e o farei assim que colocar minhas mãos nele.
— É isso, avise ao desgraçado do seu chefe que quero meu filho no
local marcado em meia hora — O homem mal se mexe e me olha com
pavor.
Jogo para ele seu aparelho que estava comigo e o vejo ligar para o
verme, o que Bratslav não sabe é que todos esses meses me levaram a
adquirir muito material, e ele vai sucumbir. Vejo o imundo com todas as
confirmações.
— Tudo certo — diz assim que desliga o telefone.
— Ótimo! — Meto uma bala em sua testa para logo libertá-lo do seu
dono, e por ter machucado meu Ícaro por sua causa.
Caminho em direção à saída quando encontro o olhar de Gukla que
não é dos melhores para mim, não existe o medo habitual, existe raiva.
— O que fez? — pergunta sendo afrontosa.
— O que deveria ser feito. — Atravesso a sala quando me paraliso
com as suas palavras.
— Acreditei que havia mudado, Damian, mas nem mesmo um anjo
como Ícaro conseguiria te tirar do lodo. Eu tenho pena de você. — Viro
para ela encarando-a.
— Está disposta a morrer para manter o que disse? — Caminho em
sua direção.
— Sim. — Mesmo com medo ela se mantém.
— Não esperava menos de vocês. — Seguro seu ombro deixando-a
de boca aberta sem entender nada.
Saio da sala indo para o meu carro, darei a Ícaro a família que
merece, a família que não tive, lhe causar dor foi o mesmo que me flagelar,
mas não tinha tempo para conversar com ele, minha casa está sendo vigiada
com câmeras e microfones, não podia explicar nada, não antes de agir.
Assim que estiver com Romeu em meus braços buscarei Ícaro.
Foi tudo muito rápido, enquanto abria as mensagens e verificava
tudo até o maldito teste de DNA que com toda certeza irei refazer, o homem
de Konstantin já me aguardava, o surrei para aprender a parar de ser fraco já
que paralisou quando me viu, então tive a ideia daquele teatro maldito que
quase me fez desistir.
No caminho ligo para Dimitri que atende no segundo toque.
— Fala, Anjo do Caos.
— Dimitri, preciso que vá buscar Ícaro, ele está indo em direção a
um hotel no centro.
— O que está acontecendo, Damian?
— Apenas proteja-o, logo irei até vocês.
— Para onde o levo?
— Para sua casa.
— Considere feito.
Sigo o caminho escolhido por Bratslav, pode ser uma emboscada,
estou sendo irresponsável, mas não tem como criar um plano assim, em
cima da hora. Chego estacionando no grande pátio da pedreira, deixo a
porta aberta, o motor ligado e caminho com uma arma na mão
aproximando-me dele que está com Romeu nos braços.
— Uau! Foi linda a cena, achei que tinha sentimentos pelo viado, já
que estão comendo o cu do outro há tanto tempo. — Encarando-o mantenho
meu olhar no seu rosto imundo.
— Me dê meu filho.
— Que pressa é essa? Fique um pouco mais com seu velho e sua
cria, imagine como será prazeroso criá-lo sozinho — Arqueia sua
sobrancelha.
— Bratslav — repreendo-o em tom de ameaça, ele me conhece sabe
bem o monstro que criou.
— Acha mesmo que irá salvar seu macho depois daqui, neste
momento ele está muito perto dos meus homens. — Um frio percorre minha
espinha, fui juvenil e descuidado, mas preciso confiar que Dimitri vai
conseguir alcançá-lo.
— Não me importo, passe meu filho e siga de volta para o esgoto.
— Hahahaha! — Sua gargalhada faz Romeu chorar, eu apenas quero
matá-lo.
Penso que logo ele teria seus pais e tudo seria diferente.
— Me passe ele. — Dou mais um passo pegando-o nos braços.
— Há! Não se esqueça dos termos, nada de tirar o nome de Crieva
dos documentos, a vadia morreu, mas tenho acesso a tudo, ainda é meu para
manipular, não se esqueça disso, Damian. Uma ligação e o conselho decreta
sua morte.
— Será como desejar, pai — respondo como ele insiste em ser
chamado quando quer que nos submetamos e a ânsia de vômito vem forte.
Viro-me sem olhar para trás, colocando Romeu na cadeirinha que o
mensageiro trouxe como sinal de escárnio, prendo-o nela.
— Agora, campeão, vamos buscar seu pai e o amor da minha vida,
ele pode querer me matar depois do que lhe causei, então, por favor, sorria.
Romeu tem apenas três meses, o encaro pensando em quem ele é,
analisando seus olhos verdes intensos, mas não sinto nada, a única coisa
que posso imaginar é que ele é exatamente a família que Ícaro tanto deseja.
CAPÍTULO 44

Estou me direcionando para a casa de Dimitri, já tentei por vezes


falar com ele no telefone que só cai na caixa postal, algo ruim pesa sobre
mim, no fundo sei que deveria ter me preparado para essa merda vindo. As
palavras de Bratslav de que Ícaro estava com ele me mataram um pouco
mais, então decido falar com Monike, seu telefone também chama até cair,
quando Darko me liga.
— Me diga que estão com Ícaro.
— Não.
— Onde está Dimitri?
— Com Monike, ele levou um tiro no ombro, segundo ele está bem,
mas ela quer vê-lo, tive que tirar o telefone dele para ficar quieto.
— Estou atravessando o portão.
Minutos depois estaciono na frente da casa, descendo do carro e
pegando Romeu no banco de trás.
— O que é isso?
— Um bebê.
— Disso eu sei, mas o que um bebê faz com você, Damian?
— É meu filho. — Nenhum sentimento se revela quando profiro tais
palavras, nem bons nem ruins.
— Hahaha! Nem fodendo.
— Foi fodendo, todavia não digo que a foda foi consentida, não da
minha parte.
Ele paralisa no mesmo momento, enquanto caminhamos com
Romeu até a sala da lareira, que é onde eles estão.
— Damian, quando cheguei eles estavam levando o Ícaro, matei
dois deles no meio da rua, e pelo inferno isso vai ser o caos, mas tinha três
deles aguardando.
— Imaginei.
— O quê?
— Que Bratslav não deixaria as coisas tão fáceis assim. — Suspiro
cansado. — Bem, preciso contar tudo a vocês, esse é Romeu, meu filho...
Então começo contando a eles tudo o que soube em algumas horas,
o que fiz com Ícaro e como com toda certeza ele pode desejar me matar.
Conto tudo que descobri sobre Bratslav e isso os anima, Darko está furioso
com cada revelação que faço e Dimitri parece congelado.
— Isso é tudo — falo após contar tudo por algum tempo.
— Não acredito em toda essa merda. — Dimitri explode fazendo
Romeu chorar.
— Acho que para nós já deu não é mesmo, garotão — ela fala
seguindo com Romeu nos braços. — Não se preocupe, cuidarei de tudo no
que diz respeito a roupas, alimentação e produtos de limpeza.
— Monike — chamo. — Não conte nada a Dusham, quero resolver
toda essa merda primeiro e ser eu a pessoa que senta a bunda na cadeira e
lhe informa tudo.
— Então que seja logo porque se ele desconfiar e me questionar eu
não vou mentir. — Ela sai sem nem ao menos esperar que rebata suas
palavras.
Suspiro cansado, eu preciso de Ícaro e preciso agora.
— Sou a favor de começarmos a vasculhar. Aonde aquele demônio
iria? — Darko indaga mexendo em alguns livros na parede abrindo uma
porta que nos dá acesso a uma sala de armas.
— Nós não vamos a lugar nenhum, preciso apenas de um notebook
— falo recebendo o aparelho e assim que ligo acesso o sistema onde vejo o
GPS que Ícaro tem no pescoço ativo, faço isso porque não sei como no
inferno o sistema decidiu não funcionar no meu telefone. — Vocês ficam
aqui, com dois de vocês posso me concentrar em ir buscar Ícaro, meus
soldados são suspeitos, não confio em ninguém além dos Obscuros, então
tragam Gukla e suas irmãs para cá e as protejam.
— Damian sozinho não cobrirá muito — Dimitri rebate.
— Vá por mim, Dimitri, eu farei Bratslav vir até mim, seja por
vontade própria ou por ordem de Konstantin.
— Como pretende fazer isso? — Ambos agora desejam saber após o
questionamento mútuo.
— Fazendo o que faço de melhor, criando o caos, Belgrado vai
amanhecer em chamas, eu pego a minha pessoa de volta ou não me chamo
Damian Dothraki, o Anjo do Caos.
— Romeu está seguro conosco — Darko fala com olhar assassino,
com toda certeza ninguém irá se aproximar do meu filho sem sua
autorização.
— Buscarei Gukla e suas irmãs. — Dimitri assume a
responsabilidade.
— Neste momento eu vou atrás de uma das pessoas que precisa
saber a que lugar pertence.
Dimitri me leva até a sala de armas e começamos a escolher
granadas e explosivos, prontos para por fogo em tudo.
— Acho que essa belezinha aqui fará um estrago necessário. —
Pego um lançador de mísseis FGM-148 Javelin[18].
— Com certeza será uma grande bagunça. — Um esboço de sorriso
aparece em seu rosto.
— Pegue-a para você, Dimitri, antes que alguém faça — digo
colocando a mão em seu ombro.
— Como se fosse fácil.
— Eu comprei um cara que me ama e me arrependo amargamente
de tê-lo feito, mas foi o meu melhor investimento, Ícaro seria meu de
qualquer forma, mesmo que da pior maneira, hoje não vivo sem ele.
— Você é um homem de sorte, Damian, precisa apenas ir e pegar o
homem que ama, estaremos aqui, seremos aqueles que irão proteger seu
filho enquanto vai atrás do pai dele.
Balanço a cabeça em negativa, Dimitri precisa ser mais corajoso, só
não tenho tempo agora de esfregar sua cara sobre a verdade que está na sua
frente, existe alguém que precisa de mim para ser resgatado.
Caminho com sua ajuda carregando as sacolas de armas até o carro,
abro o porta-malas, quando o fecho vejo Monike se aproximando com
Romeu nos braços.
— Vai se despedir? — pergunta entregando-me Romeu.
— Ei, carinha. Vou lá buscar o pai mais incrível que terá, fique aqui
com sua família, logo estaremos todos juntos — sussurro para ele ainda
procurando em mim algo que possa nos ligar em algum momento além do
sangue e quando vou devolvê-lo para Monike ele chora.
— Sua família é linda, Damian!
— Eu sei.
CAPÍTULO 45

Entro no carro saindo dali cantando pneus, meu primeiro alvo é


alguém bem específico, vou usar todos esses acontecimentos para enviar o
maldito Nikkolay Pormov para o inferno.
— Ligar para Obscuros. — Dou o comando de voz enquanto estou
dirigindo ultrapassando carros pelas ruas de Belgrado.
— Senhor.
— Preciso de informações, soldado, localize Nikkolay Pormov,
preciso saber exatamente onde aquele verme rasteja.
— Um momento, senhor.
Sigo pelas ruas cortando os carros e atravessando todos os sinais
vermelhos de que encontro pouco me fodendo para tudo, tenho gravado na
memória todas as rotas que levam a cada um dos pulgueiros que aquele
nojento tem em Belgrado, até mesmo suas cargas no porto irão pelos ares.
— Senhor, Nikkolay Pormov neste momento se encontra em sua
casa, no centro de Belgrado.
— Continue a monitorar, ele vai me seguir e quando chegar ao porto
ele irá me encontrar.
— Sim, senhor, enviaremos cada localização em tempo real.
Encerro a ligação parando na rua de trás da primeira boate, pego o
lança mísseis e caminho com ele nas costas subindo as escadas do prédio
abandonado que me colocará em posição de explodir o primeiro antro dele.
Saio pela porta no terraço, apoiando um joelho no chão carregando a
arma, no momento em que finalizo, miro enviando a morte na ponta do
míssil.
— Bem-vindo ao meu jogo, Nikkolay Pormov.
A explosão acontece levantando escombros e uma bola de fogo
junto com ela, com certeza acertei os canos de gás pelo caminho, saio dali
seguindo para o meu próximo alvo.
A noite vai avançando e todas as boates de Nikkolay Pormov indo
pelos ares, pela TV do meu carro começo a ver as reportagens sobre os
ataques terroristas que começaram a acontecer na capital, mas não é esse
tipo de informação que quero que seja repassada. No meu caminho existem
dois postos de combustível e nada melhor que fazê-los queimar, com toda
certeza a polícia e os bombeiros estão como baratas tontas sem pessoal e
tentando entender o que está acontecendo. Quando o segundo posto vai
pelos ares, paro, apenas paro analisando a cena do meu caos, pessoas
correndo enquanto pegam fogo, mulheres, crianças, animais de estimação
todos que passam na rua são afetados, seus gritos desesperados ecoando
pela noite alimentando meus demônios que sorriem ensandecidos pelo que
causo, eles não podem pegar o que me pertence e acreditar que eu não faria
nada.
Os gritos começam a fazer vibrar algo em meu peito, não podem me
tirar o homem que amo e acreditar que a Triglav não irá sofrer com isso,
enquanto continuo alimentando meus demônios com os gritos do caos
instaurado. Recebo a informação que Nikkolay está seguindo os meus
rastros, então continuo seguindo até o porto, devastando tudo e todos
fazendo a maldita Belgrado queimar enquanto a Triglav a essa hora está em
total alerta.
No momento em que chego ao porto recebo uma ligação de
Konstantin.
— Está descontrolado, Anjo? — Sua voz é regada de raiva.
— Olha, olha, o sinistro, aquele temido chefe.
— Vou matá-lo, seu demônio maldito, com certeza Bratslav não
sabe controlá-lo.
— Hahahahaha! Seu macho é um incompetente, como é foder o
rabo velho dele por mais de trinta anos, Konstantin? Como é a sensação de
ser uma bicha velha que precisa parecer homem comedor de bocetas
enquanto monta seu macho em todos os cantos da sua casa?
A linha fica muda, e minha risada explode tão alta que temo ter sido
ouvida na maldita lua.
— Damian, o que você precisa?
— Olha, deixei de ser um maldito demônio, vamos lá bicha velha
enrustida, quero Bratslav com meu homem nos galpões em uma hora, se
Ícaro estiver machucado de alguma forma que seja, vou enviar para todos
os seus ilustríssimos amigos de charuto, aqueles que junto com você fode
bocetas à custa de muito estimulante para mostrar masculinidade, vai ser
lindo o que o conselho irá fazer.
— Considere feito.
— Tem mais. — Decido jogar todas as minhas jogadas agora.
— Diga, peça e será atendido.
— De hoje em diante se um Anjo decidir, ele terá uma joia,
sairemos quando bem entendermos, nada de privar nossos direitos.
— Feito.
— Uau! Isso que é negociação facilitada — gargalho.
— Mais alguma coisa?
— Sim, quero que o casamento entre homens seja aceito.
— Não existe essa possibilidade, o conselho é conservador e não irá
passar nenhuma lei que seja contrária a isso. — Decido no momento
recuar, posso pensar nisso depois que Stefan assumir.
— Pensando bem, pouco me importa, mantenha seus cães longe de
mim e do meu marido, ou vou adorar difundir tudo que tenho por todo o
planeta.
— Damian, estamos concordando, mantenha sua palavra.
— Antes, só uma coisa, como é dar o rabo? Pelo que vi gostam de
ser versáteis.
Minha gargalhada explode quase me deixando sem ar, os filhos da
mãe se mostram machos, abominam o homossexualismo, mas adoram
chupar uma rola.

Tenho ainda uma hora e meia até que encontre Bratslav e pegue meu
Ícaro, mas não sem antes enviar o desgraçado do Nikkolay Pormov para
abraçar Lúcifer. Estou no porto, onde suas cargas de drogas estão
abastecidas e serão enviadas em três dias, paro assobiando uma canção
italiana daquelas que Ícaro insiste em cantar de forma desafinada, a paz
entrando em meu sistema, aquela que conheci depois que aqueles olhos
castanhos entraram em minha vida mudando tudo.
Com a arma pronta miro nos containers explodindo mais de quinze
deles, carregados ou não de hoje em diante ele não irá mais precisar deles,
já que vai virar comida de peixe, se ele acreditou que seria um maldito
escroto que montaria em mim e me foderia pendurado pelos ganchos como
um Obscuro e ficaria assim, está muito enganado. O desgraçado recebeu
anistia de Konstantin por descobrir o mesmo que eu, agora ele morre e
Konstantin que se foda.
Cinco mísseis depois e com o porto completamente em chamas,
recebo a informação que Nikkolay Pormov está chegando, encosto-me no
carro quando o vejo estacionar sozinho e desesperado.
— É tão lindo de ver — digo aplaudindo-o todo largado passando a
mãos nos cabelos.
— Por que fez isso, seu demônio? Konstantin vai amar saber disso.
— Tenta me ameaçar, só que ele não sabe que eu já sei de tudo e que
descobri ser ele o Obscuro de anos atrás.
— Porque não costumo dar meu cu de graça, ou achou que me
foderia e não descobriria? Hoje vim arrancar de você todos os sorrisos de
escárnio que me deu enquanto não sabia.
— Hahahaah! Foi delicioso, se quiser podemos ter outra vez.
— Vai ficar para próxima, tenho algo melhor para você, e quanto a
Konstantin acha mesmo que aquela bicha velha que fode o enrustido do
Bratslav tem poder sobre mim agora?
— Então descobriu.
— Uma ótima jogada sua por sinal, conseguir tudo isso apenas com
ameaças, mas seu reinado acabou.
— E quem vai me impedir? Você?
— Não, eles — digo quando ele se vira e o Obscuro o acerta com
um taco de baseball.
O que não se sabe sobre um Obscuro é que não se quebra um pacto
de lealdade, e todos eles fizeram quando foram enfiados no inferno,
Nikkolay Pormov agora precisa pagar por ser um desertor.
Então sigo para os galpões, vou buscar Ícaro e acabar logo com isso.

Percorrendo as estradas secundárias até os galpões sinto uma paz


descomunal, meu Ícaro chegou para desmistificar a premissa que demônios
não amam, eu o desejei quando vi, queria destruí-lo, mas por um acaso, um
que me torna alguém muito feliz como só um homem como eu consegue
ser. Foi ele quem me destruiu, para qualquer que seja o homem que
atravesse meu caminho, ele jamais será como meu Ícaro, sua estrutura não
condiz com seu coração, ter 1,80 de altura, mais de 90 quilos de um corpo
musculoso e definido com algumas tatuagens espalhadas pelo corpo, só de
imaginá-lo sob mim me faz salivar. Aquele maldito escorpião em seu
abdômen me diz muito sobre ele, intenso e voraz, com uma personalidade
forte, mas com um coração doce, ele não imagina como me deixou de
joelhos, que existe uma maldita coleira no meu pescoço, e que eu sou a sua
joia, o seu pet. Sou um demônio acorrentado e sou capaz de assassinar
qualquer um que ouse tentar me livrar dessas correntes.
Estou próximo do local marcado, ainda faltam alguns minutos até
que o filho da mãe dê o sinal de que possa entrar.
CAPÍTULO 46

Olho para o homem à minha frente, sinto nojo do que ele e aquele
demônio são, homens que fazem o mundo ser um lugar muito pior, imundos
que se deitam juntos, não, sob minha autoridade os Anjos nunca terão um
par, são terminantemente proibidos, eles serão sempre sozinhos, assim
como eu, o mundo precisa de mãos firmes e autoridade, e tudo que fiz com
eles não pode ser destruído.
A merda da jogada que fiz acreditando que destruiria Damian deu
errado, esse verme acabou se infiltrando sob a pele daquele filho da puta.
Lembrar-me de Charlize me causa ainda mais ânsia, aquela cadela não
conseguiu me dar todos os filhos que precisava, no parto de Darko ela
perdeu o útero, e ainda me entregou um deles com defeito, um viado
imundo que faz o que é abominável aos olhos da sociedade, não esconde
suas preferências nojentas de ninguém, faz tudo às claras como se fosse a
coisa mais normal do mundo, mas irei quebrá-lo, hoje o destruirei.
— Seu momento está chegando, Tomasso.
— Damian vai destruí-lo.
— Talvez sim, mas imagine, pense na cena, enquanto ele entra aqui
todo poderoso, acreditando que irá resgatar você, então contarei todo meu
plano, e todo esse sentimento irá escorrer pelo ralo.
— Filho da puta! Damian me ama, eu sei. — Vejo o Ratinho se
contorcer na cadeira a qual está amarrado.
— Teremos um lindo jantar em família, eu você e ele, contarei como
tudo aconteceu, como foi escolhido e levado diretamente a ele.
— Vá para o inferno!
Não o respondo, olhando a mesa de jantar à nossa frente com velas e
um bom vinho, isso será um evento, ver um demônio incontido se partindo
em pedaços bem à minha frente. Tomasso chora, mas devo confessar, ele
chora de raiva, sim eu vou desmascará-lo, no seu lugar também estaria
chorando.
Olho no relógio e estamos a segundos da permissão de Damian,
olho para os meus soldados e aceno com a cabeça, ele caminha até o grande
portão abrindo o galpão para que a grande estrela da noite apareça. Com
uma lanterna ele pisca algumas vezes até que podemos ver os faróis do
carro de Damian acenderem e se encaminhar até aqui, não podemos nos
matar, nem eu a ele, nem ele a mim, nenhum de nós iremos assinar nossos
atestados de morte dessa forma, mas isso não significa que não podemos
jogar.
Ele abre a porta mantendo o carro ligado.
— Desligue o carro, não será rápido — grito e seu olhar assassino
por me obedecer está lá.
Fazendo o que ordeno desliga o carro fechando a porta, olhando em
volta, tem um telefone na mão e uma arma na outra, enquanto caminha até
aqui analisa o local como um bom assassino faria, e isso enche meu peito de
orgulho, eu os ensinei muito bem.
— Sente-se, Anjo do Caos. — Seu olhar vai para Tomasso,
enquanto se senta parece querer confortá-lo, mas não tão rápido assim.
— Vou levá-lo daqui — diz ao meu infiltrado, a peça do meu jogo
de xadrez, ouvir suas palavras faz Tomasso abaixar a cabeça, desolado.
A cena é tão intensa que me faz sorrir.
— Posso saber para que esse teatro, Bratslav? — O telefone e a
arma são colocados sobre a mesa.
— Ah, meu filho, hoje é um dia especial, temos revelações a fazer,
um presente meu para você.
— Interessante, já que eu também tenho revelações a fazer, meu
presente para você, pai. — Quando me chama assim meu corpo inteiro
reage tensionando.
— Quer começar? — digo sorrindo.
— Não, imagina, tudo aqui foi preparado por você, faça as honras,
tenho todo o tempo do mundo para passar esse momento agradável ao seu
lado e ao lado do meu homem. — Ouvi-lo falar isso me causa nojo.
— Ele não é seu homem! — Soco a mesa, furioso.
— Não? E o que te faz pensar isso? — arqueia a sobrancelha cheio
de soberba. — Eu o fodo, ele me toca como ninguém jamais pôde, faz tudo
que eu desejo, meu pau fica tão duro quando sinto seu cheiro que posso
gozar apenas com seu olhar sobre mim. — Vejo-o juntar as mãos sobre a
mesa. — Sim, ele é meu homem. — Tomasso soluça e sei que está sofrendo
por ser um maldito mentiroso traidor.
A soberba com que Damian fala me faz quase pular da cadeira.
— Dam... — Tomasso o chama focando seu olhar nele.
— Oh, meu querido, não chore, estamos apenas começando.
Damian começa a observá-lo e estou pronto para tirar essa soberba
asquerosa do seu olhar.
— Vamos ao que importa.
— Pare! — Tomasso tenta começar a me impedir.
— Vamos, o que tem para me dizer? Vamos trocar confidências,
Anjo da Transfiguração.
— Eu começo. — Limpo minha garganta. — Mas antes, como está
meu neto, o pequeno Romeu?
— Muito bem, no momento sob a proteção dos meus irmãos. —
Essa informação deixa Tomasso em alerta.
— Filho?
— Sim, não é maravilhoso? Damian teve um filho com uma mulher,
ah, claro que seria com uma mulher, você jamais poderia gerar um filho.
— É verdade? — pergunta curioso a Damian.
— Sim, logo você irá conhecê-lo.
— Tá, vamos acabar logo com esse momento, lhe apresento —
Tomasso Pionteri, fotógrafo, 23 anos, italiano e o mais importante, meu
presente para você.
— Como? — O olhar surpreso de Damian me deixa animado.
— Sim, acreditou mesmo que ele caiu de paraquedas em sua vida?
Oh, não, não, não, eu lhe dei, o paguei para chegar até você, ficar ao seu
lado, ele precisava se infiltrar sob sua pele. Conte a ele, Tomasso, que
aceitou vir de lá até aqui quando ofereci todo o tratamento da sua irmã. —
Eles ficam se olhando e posso ver a dor nos olhos de Damian, com certeza a
traição dói. — Sim, meu querido, a ideia era lhe apresentar ele, os homens
de Klinger fizeram um ótimo trabalho, e negar a você o que desejava o faria
desejar ainda mais, e não é que deu certo.
Eles continuam se encarando, Tomasso chora e Damian encosta na
cadeira como se buscasse ar.
— Continuando, ele foi obediente, fez todas as suas vontades, e veja
bem, até a primeira vez dele foi romântica como ele pediu. Meu filho estava
mesmo sendo um gentleman, apesar de abominável o quanto cada ato seu
seja.
O silêncio se instala, os dois se encaram, com certeza a qualquer
momento Damian vai explodir e estarei aqui como o melhor expectador.
— Era isso?
— Sim, está feliz?
— Da mesma forma que o senhor irá ficar quando te apresentar a
minha história. — Olho-o tentando entender o que quer dizer.
— Vamos, diga meu filho, acho que nada supera meu presente.
— Sabe, Bratslav, passei anos no seu rastro, você deveria ter uma
rachadura na armadura de todo poderoso segundo no comando, agora me
conte, passou a ter esse cargo antes ou depois de dar e comer o rabo de
Konstantin? — Meu corpo paralisa com suas palavras, não, ele não pode
saber disso, ninguém pode, ninguém sabe.
— Mentira! — Soco a mesa, furioso, jogando-a para cima.
— Tenho todas as imagens, e muitas informações, um
relacionamento de trinta anos, são muitos anos comendo e dando o rabo
para quem tem tanto nojo. Era isso que o fazia um brocha com a mulher que
nos pariu?
— Nunca fui broxa! — grito com ódio lhe mostrando a arma
apontada para a sua cabeça.
— Hahahaha! Se esfregava nela e seu pau não subia, faltava o quê, a
bunda de Konstantin? Um viado enrustido, tanta coisa para você odiar, mas
me odeia porque eu tenho coragem de não esconder que amo comer um
rabo, agora você deve se odiar porque ama comer e dar a bunda sendo o
maldito verme que tanto odeia o que faz. Ou é abominável apenas quando
não é com você?
— Cale a boca! — Ele aponta a arma para mim.
— Agora vamos encerrar isso, solte Ícaro e o envie até mim, depois
você e eu vamos dar uma voltinha.
— Nunca! Ele só sai daqui morto.
— Então aconselho a atender seu telefone. — No momento em que
ele fala, meu celular toca, é Konstantin.
— Sim. — Atendo no segundo toque.
— Amor, deixe-o ir com seu homem.
— Não, Tin, ele não sairá daqui ao menos que seja morto.
— Amor, não seja insubordinado, venho limpando suas merdas e
seus rompantes de cavaleiro apocalíptico há anos, estamos próximos de
achar a cadela da Adrijana, então solte Tomasso, já deu a Damian um
ponto de vista muito bom, ele irá arcar com o peso de ter um mentiroso ao
seu lado, conseguiu o que queria, apenas solte-o.
— Tem certeza, tem certeza de que vai encontrar aquela vagabunda
e a matará?
— Sim, então as sombras do passado nos deixarão, eu passarei o
poder a Stefan e seremos apenas nós.
— Você promete?
— Sim.
Encerro a ligação e sigo para desamarrar esse viado imundo e
traiçoeiro para Damian cuidar do seu destino, quando Dimitri e Darko
aparecem no galpão trazendo alguns homens.
CAPÍTULO 47

Enquanto vejo Bratslav sendo uma cadela falando manso com


Konstantin, olho para Ícaro, ele não tira os olhos de mim e sinto sua dor se
misturando à minha quando a voz de Dimitri invade o lugar.
— Acho que chegamos no momento certo.
— Acredito que sim — respondo vendo Bratslav desamarrá-lo.
— Vamos ter uma festinha? — Darko quem questiona.
— Infelizmente ela será particular — informo. — Preciso que levem
Ícaro, nós iremos conversar em momento oportuno.
— Damian... — Dimitri tenta chamar minha atenção, mas eu tenho
um foco agora, alguém que precisa ter minha raiva, toda ela e não será ele
que irá mudar o meu foco.
Darko segue para o lado de Ícaro quando eu caminho em direção a
Bratslav.
— Agora você vai comigo — aponto a arma para a sua cabeça.
— Não vou. — Vira-se para mim enquanto pela minha visão
periférica vejo Ícaro me olhando no momento em que Darko o puxa para
longe daqui.
— Vai, e vou te dar uma pequena amostra de como foram os anos
que passei com você no inferno. — Dou uma coronhada em sua cabeça,
fazendo-o cair no chão.
Olho em volta, não encontro mais Darko e muito menos Ícaro,
pensar nele dói, traz algo ruim ao meu peito, mas teremos nosso momento e
com toda certeza farei essa dor sumir.
Todos os homens de Bratslav são executados pelos soldados de
Dimitri.
— Posso não participar, mas estarei lá com você para apreciar — diz
Dimitri.
— Posso lidar com isso.
Ele segura Bratslav por uma mão e eu pela outra, então o arrastamos
até meu carro, abro o porta-malas e jogamos o viado velho enrustido nele,
damos a volta e entramos no carro saindo de lá.
— Quem diria, Konstantin o chama de amor — Dimitri fala
enquanto põe o cinto.
— O quê?
— Exatamente, Darko grampeou o telefone de Konstantin.
— Como?
— Pergunte a ele, o Tin deve ter dado mole em algum momento.
Gargalhamos juntos pelo apelido ridículo que nosso progenitor deu
a um dos homens mais cruéis que conhecemos. Saímos seguindo em
direção aos subterrâneos, minha casa vai acolher muito bem esse verme.
Dirigindo por algum tempo em silêncio quando Dimitri o quebra.
— Quanto a Ícaro, o que vai fazer com o que descobriu?
— Eu sempre soube.
— Como?
— Não mentimos um para o outro, Dimitri — informo lhe contando
como tudo aconteceu.

(...)
Estou inquieto com as revelações que tenho tido de Bratslav, aquele
velho imundo sempre homofóbico e doente é um viado velho que dá e come
o rabo de Konstantin.
— Dam, o que o deixa inquieto? — Aliso seus cabelos, algo que
amo fazer quando estou nervoso.
— O cerco contra Bratslav está se fechando, empolgação e
inquietação me tomam, Ratinho.
— Hum!
— Hum? — sondo porque ele parece ter tensionado o corpo, sei de
toda e qualquer mudança que Ícaro tem.
— Lembra quando me pediu para nunca te esconder nada? —
Levanta colocando-se sentado à minha frente com as pernas cruzadas como
os índios se sentam.
— Sim.
— Preciso te contar algo.
— Sou todo ouvidos.
— Bratslav me trouxe para Belgrado, me enfiou naquele antro e fez
o segurança me mostrar a você. — Sua revelação me pega desprevenido.
— Como?
— Antonella tem leucemia, estávamos fazendo tudo que podíamos,
mas o tratamento é caríssimo e estávamos com todos os nossos bens
penhorados, iríamos para a rua já que não tínhamos como bancar as
prestações. — Ele respira fundo e abaixa a cabeça. — Um dia, um homem
me parou e disse que alguém queria conversar comigo, eu não sabia quem
era e tentei me esquivar, mas ele falou que isso cobriria todas as despesas
de Antonella e deixaria meus pais em uma situação confortável.
Ficamos nos olhando, não tenho reação e ele me teme neste
momento, saber que ele sente medo de mim me mata, decido não dizer nada
até que ele acabe com tudo.
— Eu só precisava aceitar uma proposta de emprego aqui e o resto
seria com o meu contratante, a princípio não confiei, mas eles sabiam tudo
sobre mim e depositaram na conta dos meus pais alguns milhares de euros.
Ver aquilo me fez não recuar, meus pais estavam muito felizes e era uma
chance de Antonella lutar pela vida. O informado foi que eu ganhei na
loteria e que o dinheiro foi para a conta deles, todo o resto era
desconhecido por mim, eu não sabia o que iria acontecer dali em diante,
até que você me viu e tudo aconteceu.
— Não sabia que teria que estar comigo?
— Não, o soldado estava me levando e disse que me colocaria em
um lugar para que alguém me visse, quando você apareceu.
— Não se recorda de mais nada, ninguém te disse nada?
— Depois que saiu, enquanto estávamos voltando para outro lugar,
o telefone dele tocou e ele disse que já tinha apresentado a joia a você e
que estava inquieto querendo-a. — Respiro profundamente com a mente
doentia daquele demônio. — Eu juro, Dam, nada do que sinto é mentira,
nada, eu amo você e não gostaria que descobrisse isso dele, ele pode
distorcer as coisas, mentir e te afastar de mim, fazê-lo me matar, e eu quero
uma família com você, quero filhos ainda que não os queira, e tudo bem
por enquanto, sei que vai chegar o momento em que irá desejar tê-los.
— Como tem tanta certeza?
— Seu coração é bom, sei que deseja uma família.
— Não serei um bom pai, posso ser como ele, posso ser um
demônio, não quero um filho enfiado na máfia.
— Podemos mantê-lo longe, eu sei que podemos, ele pode ser uma
pessoa normal, eu só preciso que acredite nisso.
Respiro fundo e me lembro de João Pedro, irmão de Stefan, ele é da
máfia, mas vive uma vida longe de tudo no Brasil, talvez possamos fazer
com que nosso filho ou filha tenha uma vida normal longe de Belgrado.
— Só não quero que acredite que não sinto o que sinto, imaginar
isso me rasga no meio. Eu venho tentando te contar há algum tempo, mas
nunca parecia ser o momento, e a cada vez que ouço que está descobrindo
coisas sobre ele, meu coração se aperta, não posso esperar que descubra
tudo sozinho e que acredite que a versão dele é a real.
— Ícaro, eu conheço a mentira de longe, não a vejo em seus olhos,
sua confiança em mim, em me contar antes que eu descobrisse o torna
ainda mais confiável. — Coloco meu notebook do lado e o puxo para os
meus braços.
(...)

— Depois disso fizemos um sexo louco, mas não vou te dar


detalhes.
— Por favor, não estou disposto a ouvir como Ícaro fode gostoso.
— Hahahaha! — Não me aguento com a forma com que fala.
— Ele te trouxe algo bom, sorrisos que jamais deu.
— Sim, e mesmo Bratslav mentindo, tentando dizer que ele sabia de
tudo desde o começo, enquanto ele falava tudo que eu pensava era que
Ícaro precisava me perdoar por não ter lhe contado nada sobre Romeu, e ter
feito uma cena na sua frente fazendo aquilo que ele mais temia se tornar
real, voltar a domar. No momento em que soube de Romeu eu sabia que
poderia ter uma família, então daria isso a Ícaro, foi apenas por ele que
busquei a criança, porque se ele ousasse sonhar que não me importei seria
um cara sem pau. Sabia que Ícaro e eu começaríamos de alguma forma,
agora só desejo que aquele carinha sorria sem dentes para Ícaro e ele não
deseje me deixar.
— Usando uma criança indefesa para isso?
— Nesse jogo, meu irmão, todas as armas são válidas, não vou dizer
que amo Romeu, não sou dado a crianças, mas vou me esforçar para sentir
por ele o mesmo que sinto por Ícaro, e posso garantir, o que sinto pelo meu
ratinho me faria explodir a porra do mundo. E mesmo sem a certeza do que
ter Romeu perto de mim me causou, acredito que para protegê-los eu
mataria quem quer que fosse.
— Bem, disso não tenho dúvidas, já que Belgrado está em chamas.
— Não se pode mexer com a pessoa do Anjo do Caos, não sem que
o caos seja instaurado.
Começamos a ouvir os murmúrios de Bratslav no porta-malas e
Dimitri agora é quem sorri, ele sabe que não pode tocá-lo, mas com toda
certeza será meu auxiliar com o maior prazer do mundo.
CAPÍTULO 48

Não foi difícil chegar com esse verme até aqui, vê-lo pendurado
pelos pulsos e nu é extasiante, o brilho no olhar de Dimitri é impagável,
como se uma criança acabasse de ganhar um doce. Nunca ganhamos um,
então com certeza a empolgação é enorme.
— Quanto tempo esperando por isso — Dimitri fala limpando cada
uma das pontas curvadas do chicote que irei usar em Bratslav, sim esse é o
mesmo que ele usava para me bater, foi guardado por todos esses anos para
que pudesse ir às forras.
— Tempo suficiente para desejar matá-lo, mas infelizmente para nós
ainda não é chegado seu momento, sei que todos nós teremos nosso
momento com ele, até que Dusham o mate, precisamos que Stefan chegue
ao poder e ainda não é chegado sua hora.
— Odeio o quanto estamos perto de eliminá-lo e teremos que parar
antes que morra.
— E é exatamente por isso que está aqui, se eu me perder me faça
voltar.
— Quer mesmo seguir o plano?
— Sim, vai ser lindo.
— Ele vai retaliar.
— Terei tempo para me preparar enquanto ele se recupera, porque se
existe algo que hoje irá acontecer aqui, é que veremos a morte alisando o
rosto do desgraçado do nosso progenitor.
— Estou animado para contemplar a beleza disso.
Pego um balde de água gelada para acordá-lo depois de ter lhe
apagado novamente para tirá-lo do carro.
— Vamos, princesa, desperte do seu sono de beleza.
— Haaaa! — Seu grito assustado nos faz gargalhar.
Olho em volta e alguns Obscuros observam dos grandes vidros, sei
que estão babando de vontade de se vingarem, mas se permitir que entrem
aqui nós o mataríamos.
— Seja bem-vindo à minha casa, pai, veja como é o lugar que mais
gosto de estar, completinho como nos ensinou — digo abrindo os braços lhe
mostrando o lugar, Dimitri está sentado na mesa de objetos de tortura.
— Muito homem da sua parte, conte-me como foi a sensação de ser
traído por aquele italiano imundo?
— Hahaha! — Soco sua cara para que nunca mais o chame assim.
— Meça suas palavras para falar do seu genro, Ícaro merece respeito.
— Sim, tanto respeito que lhe arrancou até a identidade, apesar de
não achar Tomasso um nome bonito, Ícaro é pavoroso. — Sim suas palavras
me afetam e isso me deixa inquieto, até porque me arrependo do que fiz,
tirei a oportunidade dele de voltar à sua família.
— Confesso que gosto muito mais do atual. — Soco sua costela.
— Haa! Seu filho duma cadela.
— Sim, uma muito devastada por sinal, mas estou aqui primeiro
para surrá-lo, o dia da forra chegou. E segundo, nome completo, idade e
onde estão os restos mortais dela.
— Acha mesmo que vai mudar algo achar os ossos daquela imunda?
— Outro soco o atinge nas costelas.
— Não mudará sua morte, mas não se preocupe, o conceito que
temos dela mudou. Sabe, Bratslav, me recordo bem de que tudo que ela fez
foi por sua ordem, mas o que não sabe é que ela nos deu motivos para
mudar em algum momento com frases certeiras e hoje preciso te confessar,
foram por causa dessas frases que rastejei do buraco em que me enfiou,
então seja a porra do homem que arrota por aí e me fale o que preciso.
— Sabe, Damian, existem algumas coisas que deveriam ter sido
pulverizadas junto com aquela cadela, uma delas era você, um verme
imundo que monta em machos e grita por aí o quanto é assassino e como
isso é sobre você.
— Sabe, Bratslav, eu sei porque me odeia, porque eu faço o que
você não tem coragem, eu fodo homens e falo que os fodo, não preciso me
esconder como uma barata como você e Konstantin que ficam sentados em
seus pedestais de macho e são duas gazelas velhas. Minha curiosidade é,
quem deu a bunda para quem primeiro? — A gargalhada de Dimitri ecoa e
se pudesse ouvi-los com certeza escutaria os Obscuros.
— Você é uma aberração!
— Sim e seu pai achava o mesmo de você enquanto distribuía corpo
de mulheres por aí, era por isso, agora as peças se encaixam. Você tinha
nojo delas, então criou demônios que as submetessem e fossem vendidas a
outros demônios que estavam dispostos a mantê-las em suas coleiras e as
dividindo por aí. Queria ter uma boceta no meio das pernas e não teve,
deixe-me ver, apaixonou-se por Konstantin e ele amava Adrijana, você o
manipulou até que pudesse ver que ele poderia ser bissexual, daí você deu a
bunda primeiro e depois com o passar dos anos ele deu para você, mas
querido, Konstantin sempre vai amar Adrijana e você é apenas uma bicha
velha que ele come, até porque não consegue foder mulher nenhuma por se
lembrar da boceta quente e apertada da mulher que ama — digo tudo isso
chegando até a mesa pegando o chicote das mãos de Dimitri que me entrega
de bom grado com um olhar tão assassino que sinto que ele pode gozar. —
Está com o pau duro, Anjo das Sombras — sussurro em seu ouvido.
— A ponto de gozar, Anjo do Caos — sussurra de volta.
— Mentira!!! O Tin me ama, sempre me amou e sempre vai me
amar. — O grito de Bratslav me faz voltar à atenção para ele enquanto sinto
o peso do chicote que é mais pesado que a réplica que tenho.
— Hahahaha! Seu desespero é patético, espero que seu Tin chegue a
tempo de salvá-lo de mim.
— Damian, no momento em que sairmos daqui você é um homem
morto.
— Entenda uma coisa, Anjo da Transfiguração, eu era uma criança
ingênua e que desejava amor, mas você me transfigurou e se existe algo que
eu não temo é a morte.
— Vocês sempre foram demônios, Dusham nasceu morto e acredite
se quiser reviveu, todos vocês estariam mortos se não fosse por mim e pelo
meu dinheiro, aquele que inclusive vocês herdaram, aquele velho demente
me privou da minha herança.
— Você se preocupa com tudo, acha que gostamos do título de
condes? Acha que Dusham ama aquela burguesia falida que baba ovo dele
como barão? Todos nós queremos que os títulos e a realeza medíocre se
fodam!
— São o que são e tem o que tem apenas por mim. — Cospe suas
palavras como se achássemos grande coisa.
— Chega de conversa, vamos ao que importa.
— Identidade completa da nossa mãe.
— Nunca!
— Foi você quem pediu.
Estou próximo a ele quando lanço o chicote em suas costas,
puxando lançando sobre mim um spray de sangue.
— Haaaaaaaaaaaaaaaaa! — Seu grito ecoa e me lembra os meus,
mas o prazer percorre meu corpo.
— Nome!
— Enfie esse chicote até no meu rabo, mas não vou te falar nada.
— Não se preocupe, tenho algo para o seu rabo e ele vai ser o
grande final.
Lanço novamente o chicote em suas costas agora do outro lado e
arrasto com tudo, seus gritos agora são seguidos de urina e fezes que
descem com facilidade. Dimitri continua gargalhando quando o acerto
novamente nas pernas, a cena é como realizar um sonho, mais cinco
chicotadas e o tronco de Bratslav está em carne viva, suas costelas
aparecem um pouco, ele não vai durar muito se continuar assim.
Dimitri urra gargalhando como se estivesse assistindo uma cena de
comédia, tenho que me controlar, mas algo será tirado dele, o dedo
orgulhoso que carrega o anel que descobri ter sido Konstantin que o deu, o
mesmo que o chefe da máfia sérvia Triglav ostenta com orgulho.
Largo o chicote no chão, indo até a mesa e pegando um alicate de
corte.
— Dimitri, segure a mão de nosso pai, o anel que ele ama beijar será
arrancado.
— Damian, tudo isso está muito melhor que ter orgasmos múltiplos.
— Então continue gozando, irmão, temos alguns momentos com ele
até que seu salvador chegue.
Caminhamos juntos até ele, que balbucia maldições contra mim,
quando Dimitri segura sua mão esquerda e eu lanço fora seu dedo anelar
que cai com o anel do seu amor.
— Desgraçado!!! Naãaaaao! Vou te matar, seu imundo.
— Agora o outro — ordeno com Dimitri fazendo o mesmo com o
outro que cai no chão ao lado do primeiro.
— Essa sua ceninha de beijar o anel agora entendida por mim como
um código de amor com Konstantin terá que ser feita de outra forma.
— Maldito, Damian, vou matá-lo! Vou destruir tudo à sua volta, não
sobrará nada, nada, ouviu bem? — Suas ameaças não são vazias, mas não
serei eu quem irá abaixar a aguarda, não depois de atiçar o enxame de
abelhas.
— Nome da minha mãe — ordeno entre dentes quando aperto o
bico do seu peito com o alicate girando com força até arrancá-lo.
— Haaaaaa!!!
O desgraçado está em agonia, mas não cede.
— Vamos para o final, com certeza agora irá falar.
Vou até a mesa com Dimitri caminhando ao meu lado e pego um
bastão de baseball, a parte de segurá-lo foi lixada e está poroso, vai causar
um estrago, tenho que me controlar para não matá-lo, mesmo que já sinta o
gosto doce da morte na ponta da minha língua.
— Curve-o — aviso a Dimitri.
— Dez minutos, Damian, ele já está próximo.
— Será mais que suficiente.
— Bratslav, será sua última chance, nome da nossa mãe.
— Hahahahaha! — o demônio sorri enquanto é colocado curvado
tendo sua cintura travada por uma cadeira. — Nunca!
Então começo a enfiar o bastão em seu rabo, ele grita e tenta se
mexer, gostaria de enfiá-lo até sair em sua garganta, mas preciso conter-me
e paro quando atinjo a marca dos 30 cm que havia marcado.
Seus gritos são tão altos que podem estourar suas cordas vocais,
quando Konstantin chega e seu olhar é de pavor.
— Pare!
— Não! Ele só sai daqui quando eu tiver o que preciso, todas as
informações sobre nossa mãe. — Seu olhar passeia entre mim e Bratslav e
sim, ele parece realmente amá-lo.
— É só isso que precisa?
— Sim.
— Não entregue a eles, Tin.
Parecendo não o ouvir ele se direciona a Dimitri pegando seu
telefone e digitando por algum tempo, logo devolve o aparelho e volta até
mim.
— Pronto, toda a informação que precisa está ali.
— Pode levá-lo.
— Sabe que ele vai caçá-lo — diz enquanto puxo o bastão do rabo
de Bratslav de uma só vez ouvindo seu grito feral sem nem ao menos tirar
meus olhos dos de Konstantin.
— Estou ansiando por isso.
— Mantenha sua palavra, não temos mais nada a conversar.
— Tudo que eu tenho é a minha palavra.
Vejo os homens de Konstantin entrarem, soltar Bratslav e arrastá-lo
agonizando para fora da minha casa.
CAPÍTULO 49

Estou a meia hora olhando Damian parado dentro do carro, depois


que Darko me tirou de lá me trouxe a casa de Dimitri. Conheço Romeu,
imaginar que aquele pedacinho de gente é parte de Damian me deixa
imensamente feliz, no fundo sabia que ele conseguiria a família que tanto
deseja sem nem ao menos ter ciência disso.
— Dê tempo a ele — Dimitri fala.
— Quero ir lá, quero tirá-lo de lá e trazê-lo para mim, falar a ele que
o que Bratslav disse não é verdade, que apenas o que eu confessei é. —
Meu coração bate forte contra o peito, ansiando que ele acredite em mim.
— Ele sabe disso, Ícaro.
— Então por que não entra?
— Digamos que o que ele passou nas últimas horas não foi fácil.
— Não posso ficar aqui enquanto ele sofre sozinho.
— O que seu coração manda?
— Que vá até ele e mostre todo amor que sinto. — O olhar de
Dimitri parece não entender.
— Então siga, tudo que ele fez até aqui foi por sentir o mesmo.
Saio de perto dele abrindo a porta e seguindo pelo frio em direção a
Damian, bato no vidro algumas vezes até que seus olhos me vêem.
— Abra a porta, vamos — digo alto. — Está frio aqui.
A porta se abre, seu olhar não é fácil de ler, mas não existe raiva,
somos enormes, mas seu carro também é, ele empurra o seu banco para trás,
e eu subo em seu colo entrando no carro fechando a porta atrás de mim.
— Oi! — digo olhando em seus olhos.
— Oi! — responde e meu corpo vibra apenas por ouvir sua voz.
— Não aguentei esperar pela sua indecisão e vim aqui.
— Não sabia como encará-lo.
— Da forma que está fazendo agora. Do que tem medo?
— Ícaro, eu fiz coisas que te magoaram, seu olhar quando me viu
dizer aquelas palavras, eu apontei uma arma para a sua cara. — Falar isso
faz doer, eu sei, porque esse rascunho de homem na minha frente demonstra
o quanto sente pelo que ele fez.
— Por isso está aqui, protelando o que de alguma maneira teria que
acontecer?
— Vê-lo chorar enquanto Bratslav mentia me partiu, mas sei porque
chorava, eram as lembranças do que fiz, sei que deveria ter sentado com
você e conversado como fez, mas não tive muito tempo, precisava salvar
Romeu, ele iria esquartejá-lo. — Seguro seu rosto fazendo com que erga
sua cabeça enquanto fala.
— Dam, eu o odiaria se me escolhesse, não seria o homem que amo
se permitisse que aquele pedacinho de você morresse, eu suportaria tudo de
novo para ver aquele sorriso banguela. — Enxugo uma lágrima teimosa do
seu rosto.
— Não sei como fazer, Ícaro, eu não sinto nada por ele, foi egoísta
da minha parte, mas pensei apenas em você, que te daria algo, que realizaria
seu sonho, mesmo depois de ter destruído sua vida.
Como não amar esse homem? Até no pior momento ele pensa em
mim.
— Saber que ele veio da forma que veio não te causa raiva? —
Preocupo-me com isso.
— Não, mas preciso confessar que quase esquartejei a cadela,
porém me lembrei de você, e a libertei de Bratslav a enviando para longe
com uma vida nova e uma identidade nova, disse que se ela pensasse em
pegar nosso filho de nós, eu a mataria, ela disse que não só quer fugir do
inferno e que odiou cada minuto em que carregou o feto.
Beijo sua boca e ele me recebe como sempre, intenso e cheio de
tesão, porque sim, a testosterona entre dois homens do nosso tamanho é nas
alturas, suas mãos seguem para debaixo daminha blusa, enquanto me
esfrego nele em busca de mais, não preciso de mais nenhuma resposta,
preciso apenas do seu corpo no meu.
— Estamos no carro, no pátio do meu irmão — fala ofegante.
— Uma rapidinha, Dam, não consigo esperar e com toda certeza
seus irmãos fodem por aí como coelhos.
— O que eu faço com você, Ratinho?
— Pode começar me fodendo para que o perdoe por partir meu
coração, mesmo que por um motivo tão nobre.
— Se esse for meu castigo, será pago agora.
Começamos a tirar nossas roupas de qualquer jeito, então volto ao
seu colo, junto nossos paus fazendo uma massagem gostosa então começo a
nos masturbar, Damian ajuda a fechar nossas mãos e é impossível não
gemer, continuo rebolando quando ele para.
— Preciso gozar dentro de você.
— Então vem.
Esticando-se um pouco ele pega um tubinho de lubrificante ao lado
do carro enquanto o olho surpreso.
— Precaução, isso acabaria acontecendo conosco em algum
momento da vida.
Babo um pouco mais quando o vejo lambuzar seu pau e cada um
daqueles piercings geladinhos que irão estar dentro de mim logo que ele
acabar, me faz gemer em antecipação. Seu braço forte e tatuado me ergue
um pouco me colocando exatamente onde deseja, então sinto-o deslizar
dentro de mim, queima no começo, mas é delicioso o prazer que só
encontro com ele. Um grunhido grosso e alto ecoa pelo carro fechado
enquanto ele lança sua cabeça para trás, não quero perder nenhuma de suas
reações, meu membro está duro como uma rocha, e ele com a mão
lubrificada começa a me masturbar.
— Vamos lá, Ratinho, começa a descer e subir com força no meu
pau, estou por um fio.
Sigo sua ordem rebolando gostoso enquanto gememos em busca de
libertação, ganho mordidas no peito e beijos, a sensação de suas mãos
parecem me fazer sentir que ele tem mais que duas delas sobre mim.
Engulo a tensão que começa a se formar, Damian me deixa perdido em mim
quando seu corpo está dentro do meu, sinto seus piercings que começaram
gelados e agora estão fazendo algo que não sei explicar dentro de mim.
Começo a sentir o ardor das marcas que ele me causa, a pressão em meu
pau aumenta, Damian não está disposto a demorar e eu muito menos,
gememos a cada vez que subo e desço.
— Isso, vamos, amor, goza no pau do teu dono. — Choro com suas
palavras, nunca havia me chamado assim.
Então sinto o aperto que me leva sempre ao orgasmo, a dor fina que
percorre meu corpo que vem das minhas bolas faz com que lance jatos
quentes do meu gozo em seu peito e um grunhido seguido de uma mordida
no peito me faz ter a certeza de que ele chegou lá comigo.
Estamos ofegantes, eu ainda choro perdido nas suas palavras e
quando seus olhos se abrem ele me encara confuso.
— Te machuquei além do que costumo fazer? — Sua mão grande
vem ao meu rosto secando minhas lágrimas.
— Não.
— Então por que está chorando?
— Porque me chamou de amor, sei que é bobo, mas não suportei
ouvir sem me emocionar — digo fechando meus olhos com o toque de sua
mão quente.
— Ícaro, abra seus olhos. — Faço o que me pede. — Eu aprendi,
aprendi o que você me mostrou por todo o tempo que estamos juntos,
aprendi sobre amor e sobre amar, aprendi sobre escolhas difíceis sejam elas
quais forem, se ao final elas sejam tomadas para te fazer feliz, então sim, eu
te amo, como não poderia? É fácil quando é com você, seu coração é algo
puro, mesmo que todos vejam apenas o homem alto, forte, de olhar sério, eu
Ícaro, eu vejo você, que acredita que posso ser mais do que eu imaginei,
que tem fé em mim, nem eu tenho fé, quem dirá em mim. Mas sua fé é
suficiente para que eu possa ser segundo a vontade do seu coração. —
Agora é que choro mesmo, como posso ouvir tanto, Damian ainda tem um
longo caminho pela frente, um longo caminho para enxergar em si o que
meus olhos vêem. — Eu lamento por tê-lo tirado da sua família, por ter te
privado dos dias em família envolta da mesa, gostaria de voltar no tempo e
não ter feito essa jogada estúpida.
— Eu também te amo, Dam. — Sorrio, porque dessa vez sou eu que
ganho beijos nos olhos, e apenas essa sua atitude me mostra o quão
grandioso ele é. — Estou feliz por saber que eles estão bem, agora teremos
a nossa e farei de tudo para que Romeu tenha lembranças tão boas quanto
as minhas.
Colo nossas testas quando ele quebra novamente o silêncio
confortável entre nós.
— Agora precisamos ir, sei que Bratslav vai em busca de vingança,
temos tempo até que ele se recupere do que lhe causei, mas gostaria de
dificultar um pouco a sua caçada.
Começamos a nos arrumar e assim que estamos vestidos e
apresentáveis dentro do possível, saímos do carro seguindo em direção à
casa. Muita coisa parece que ainda vai acontecer, mas eu não temo
nenhuma delas, sei que Damian estará conosco então tudo ficará bem.
CAPÍTULO 50

Seis meses depois...


Sinto meu corpo aquecido, com um calor confortável, então puxo
Ícaro para mais perto de mim, seu corpo gostoso se acomoda entre meus
braços, não durmo bem há alguns dias, estou inquieto e isso o tem deixado
inquieto também. O desejo desenfreado de proteger a ele e ao Romeu me
devastou então os trouxe para a mansão de Bucareste[19]. Com o passar dos
dias vendo a interação dele com nosso filho fui me aproximando, Romeu é
grudado com Ícaro, mas quando está comigo parece que sou todo seu
mundo. Ícaro por vezes pediu para pegá-lo, mas tinha medo, receio e o
repelia até que por um descuido de Ícaro, Romeu engatinhou até a porta
onde existe uma grande escadaria, sentindo que algo não estava certo, saí
do escritório e fui exatamente onde ele estava quase rolando escada abaixo.
Algo que já aquecia em meu coração naquele momento passou a queimar,
Romeu era meu para proteger e amar, sim, amar, nosso filho é tudo que
temos de mais valioso.
Ainda uso a roupa que estava ontem, no meu bolso tem um par de
alianças que carrego comigo há três meses e nunca encontro o momento
oportuno de lhe pedir em casamento, talvez por saber que meu desejo não
possa se realizar. Anseio reviver a Aliança de Sangue, algo sagrado dentro
da Máfia Sérvia Triglav, tornar Ícaro meu elo, alguém que não pode ser
tocado por ninguém além daqueles que realmente dermos tal autorização, o
que se resume a pessoas da família. Uma cerimônia há muito esquecida,
mas que por estudar muito sobre os fundamentos da Triglav descobri.
Nunca seremos aceitos como deveríamos, matarei todo e qualquer um que
ousar se aproximar com desrespeito em nossa direção, mas ainda assim
anseio por isso.
— Posso ouvir daqui suas engrenagens trabalhando em algo. — Sua
voz rouca de quem acabou de acordar me alcança arrepiando todos os pelos
do meu corpo.
— Posso viver de ouvi-lo pela manhã — digo beijando seu pescoço.
— Sua voz é sexy e quente, seu corpo no meu me acende de forma que não
sei explicar.
— Pode usar meu corpo e ouvir minha voz todas as vezes que ansiar
por isso, mas agora preciso saber o que está te deixando assim.
— Como sabe?
— Corpo tenso, não dorme há alguns dias..., sou observador,
Damian.
— Ando pensando na forma de como fazer algumas coisas
acontecerem — digo enquanto ele se vira para mim.
— Faça de forma simples.
— Por que as coisas com você são sempre tão fáceis?
— Porque não costumo desejar nada muito mirabolante para os
meus dias, apenas você e Romeu, receber todas as informações sobre minha
família tem me deixado feliz e saber que Antonella está bem e foi para casa
me deixa radiante. A vida não precisa ser sempre uma festa, ela pode ser
simples ao lado das pessoas que amo.
— Ícaro — digo seu nome puxando a caixinha das alianças do meu
bolso. — Quer viver uma vida simples e cheia de amor comigo, se tornando
meu marido e pai do nosso filho? — Mostro-lhe as alianças e num pulo ele
se senta me fazendo fazer o mesmo.
— Sim!!! — Com ele se jogando em meus braços o pressiono ainda
mais forte contra mim.
Coloco a aliança grossa dourada que comprei em seu dedo e ele faz
o mesmo comigo, a beijo em sua mão seguindo seu gesto, quando meu
telefone toca no mesmo momento em que Romeu chora através de sua babá
eletrônica.
— Como um reloginho. — Ícaro pula da cama indo em direção ao
quarto que com toda certeza já deve ter ou Gukla ou uma de suas irmãs de
prontidão.
— Damian. — Atendo o telefone sem olhar.
— Bratslav acabou de receber alta de tudo — Dimitri informa com
uma voz amarga.
— Estava pensando sobre isso, tenho acompanhado seus últimos
passos.
— Reforce a segurança — avisa. — Farei o mesmo aqui.
— Fique em alerta, não deixe que ele desconfie dos seus
sentimentos por Monike.
— Damian, não força a barra, estou apenas protegendo-a.
— Sei, sabe que ela tem vinte quatro anos é linda, e convenhamos,
parece gostar do babaca que é você.
— Chupa meu pau, Damian.
— Hahahahah! Quando chega?
— Logo estarei aí, quer mesmo seguir com isso?
— Sim.
— É um puta presente de casamento, por falar nisso, já fez o
pedido?
— Acabei de fazer.
— Então atrapalhei algo?
— Não, Romeu acordou no exato momento de todos os dias.
— Aquele carinha é um reloginho.
— Ícaro diz a mesma coisa.
— Chego em alguns minutos, esteja preparado.
Saio da cama direto para o banheiro, tomo um banho quente e tomo
um comprimido de estimulante, preciso estar aceso para tatuar o nome do
Ícaro no meu pau, imaginar que todo meu corpo pertence a ele me esquenta,
mas descobrir a sua reação ao ser a tatuagem escolhida para um dos poucos
lugares em meu corpo que ainda não viram tinta vai ser foda.
Saio do quarto encontrando Gukla que me olha e sorri.
— Gukla, assim que Dimitri chegar peça que vá a sala dos fundos,
tenho uma reunião importante não quero ninguém lá — informo.
— Sim, senhor.
Vou até o quarto do Romeu e vejo que Ícaro está lhe dando seu leite.
— Ele se perde entre seus braços enormes. — Assim que ouve
minha voz meu filho para de mamar e me busca com o olhar.
Beijo sua cabeça e seguro seus dedinhos, logo ele volta a mamar.
— Tenho uma reunião com Dimitri, assim que acabar volto até
você.
— Algo importante?
— Bratslav acabou de receber alta.
— Temos problemas então?
— Não, só ficaremos alerta — aviso. — Mantenha sua arma por
perto, não se sabe quando poderemos precisar revidar.
Beijo sua testa e a do nosso filho e saio, meu pau começa a dar
sinais e não quero ter que explicar o motivo de estar indo em direção
contrária enquanto meu pau está duro feito rocha.
Seguindo em direção à sala onde serei tatuado recordo-me dos dias
de treinamento que tivemos, Ícaro aprendeu a atirar e preciso confessar, ele
nasceu para isso. Chego à sala que vai virar estúdio e organizo as coisas
para facilitar assim que ele chegar. E como disse, não demora mais que
alguns minutos.
— Dusham deseja te encontrar. — Sorrio porque essa é a ladainha
que venho ouvindo nos últimos dias.
— Quando ele não quer?
— Algo sobre um dos Anjos ter desaparecido com o pretexto de
trabalho exclusivo para Bratslav, acredita mesmo que esconderá isso dele
por muito tempo?
— O máximo que conseguir.
— Se é o que deseja...
— Sim, vamos ao que interessa.
— Pelo que vejo já está pronto.
— Mais trabalho e menos falação.
— Vai ficar umas duas semanas sem sexo.
— Nem no inferno, a caixa de camisinhas já está preparada, ficar
sem meu lugar favorito do mundo é impossível.
— Vai doer.
— Quem disse que nosso sexo não tem dor?
— Filho da puta pervertido.
Deito-me na maca enquanto ele começa a trabalhar, sinto asco de
sentir outra mão que não seja a do meu homem em meu corpo, mas este é
Dimitri, a única pessoa que ainda consegue me tocar além de Ícaro e isso se
resume apenas a estes momentos de tatuagem.
CAPÍTULO 51

É final da tarde quando novamente vejo Damian, Romeu ainda


dorme e Gukla se prontificou a cuidar dele enquanto eu ia para a academia.
Estou saindo enxugando minha cabeça quando mãos fortes me seguram
puxando-me para perto.
— Dam, estou molhado de suor. — Sorrio porque ele nunca se
importa.
— Esse é o seu melhor perfume, Amor, não sabe a vontade que
estou de me enterrar em seu rabo gostoso.
— Uau! Eu posso imaginar, já que tem algo pressionando a minha
bunda.
— Gosto do quão safado é, mas será privado do meu pau por uma
semana.
— O quê? — Se existe uma informação que não gostaria de ouvir
neste momento seria essa, já que apenas com o esfregar do seu corpo no
meu estou animado e duro.
— Meu presente de casamento.
— Está maluco? Presente de casamento é privar o noivo de sexo
duro e selvagem?
— Neste caso sim.
— Damian Dothraki, posso fazê-lo pagar por isso.
— Não seja cruel, Ratinho, preciso te mostrar o motivo.
— Então pode começar a mostrar, e tem que ser um dos bons,
porque juro que faço greve.
— Venha.
Ele me puxa de volta para a academia que acabei de fechar, assim
que atravessamos a porta ela se fecha atrás de mim, quando me viro ele
abaixa a calça de moletom que veste e posso ver seu pau delicioso com meu
nome escrito.
— Você é maluco? — Ajoelho-me à sua frente desejando ver mais
de perto.
— Porra! Vê-lo de joelhos na minha frente é tortura demais. — Um
grunhido escapa quando sem o tocar passo a língua na cabeça vermelha e
molhada.
— Está com tesão? — pergunto salivando.
— Muito.
Sabe que não podemos por uns dias.
— Tenho camisinhas, algumas caixas dela.
— Pensou em tudo?
— Sim.
— No momento vou apenas aliviar esse tesão, depois podemos ver
como continuamos isso.
Seguro suas bolas, ele está a ponto de gozar, então envolvo com a
boca apenas sua glande começando a chupar apenas ali.
— Ícaro, eu preciso de mais que isso, vamos me leve até o fundo.
— Ou se contenta com isso ou fica sem — digo tirando minha boca
dele.
— Ok, tudo bem, continua.
Massageio suas bolas e continuo chupando, suas mãos se enfiam em
meus cabelos, quando ele goza urrando desejando se enterrar
completamente em minha boca, tomo tudo que ele me dá até que não sobre
nada, seu corpo sofre espasmos quando me levanto o vendo ainda de olhos
fechados.
— Isso deve garantir que eu não meta a minha mão nele e me
masturbe até essa maldita reação passar.
— Tomou alguma coisa?
— Sim, um pequeno comprimido, não iria conseguir ficar duro com
a mão de Dimitri em mim.
— Dimitri está aqui?
— Estava, já foi, ele veio apenas para o seu presente.
— Não sei o que pensar.
— Você é meu mundo, Ícaro, essa tatuagem é a prova disso, se
preciso for fico semanas sem sexo, mas saber que meu pau tem seu nome
não tem preço.
— Acredito que pode me mostrar o tamanho desse desejo levando-
me até o fundo de sua garganta, ia adorar.
— Seus desejos sempre serão uma ordem.
Tenho meu corpo lançado no chão, minhas roupas somem, então
nada mais precisa existir quando sinto o calor de sua boca envolta em meu
pau, Damian sabe exatamente como me fazer enlouquecer.
Algumas semanas se passaram desde o dia que vi sua tatuagem, mas
dois dias depois do que fizemos na academia Damian se transformou, ele
está inquieto e explosivo, matou alguns soldados segundo ele por
insubordinação e isso tem me deixado louco, louco por não saber como
ajudá-lo e por não saber o motivo. Nossa última rodada de sexo ele se
perdeu, e fazia algum tempo que não o fazia, seu agarre em meu pescoço
foi tão forte que desmaiei.
Ele agora está na biblioteca que virou um centro de comando, todos
os passos de Bratslav são monitorados e nem mesmo com Konstantin
informando que nada nos aconteceria ele não sai do estado de alerta. Estou
pensando há alguns dias em como acalmá-lo, mas a única coisa que me vem
à mente é a doma, pelo que me explicou esse era o único momento em que
tinha o controle de tudo nas mãos, não importando o que existisse ao redor
ele sempre ficaria calmo.
— É isso!
Caminho até a biblioteca e quando entro ele me olha, mas não me
vê, está perdido em três telas enormes de computador das quais agora
nenhuma tem informação já que acabei de tirá-las da tomada.
— Que porra você fez? — vocifera louco e isso não me causa medo
algum.
— Chega! Chega dessa merda! Eles não virão atrás de nós, não
chegarão até nós, preciso do meu homem de volta e preciso agora! —
imponho minhas vontades sobre seu olhar atento e desconfiado.
— Desligar as telas não vai resolver o problema — rosna esfregando
os cabelos com força.
— Então me diga o que fazer para que o meu Damian volte, porque
estou cansado de conviver com o Anjo do Caos, ele não se aproxima de nós,
quase me matou na última vez em que fodemos e Romeu sente a falta do
pai — digo tudo de uma vez. — Ele teme você, Damian, você emana fúria,
ele sente isso.
— Ícaro...
— Diga! Diga quando foi a última vez que tocou seu filho? Quando
foi a última vez que se aproximou dele sem que o fizesse chorar? — Ele
não me olha. — Responda!
— Nada me fará mudar enquanto ele não for morto!
Bato meus joelhos no chão, colocando minhas mãos sobre as pernas.
— O que está fazendo?
— Preciso que me dome.
— O quê? Você se ouve?
— Vamos, Damian, seja o demônio que nasceu para ser e me dome.
Gato? Cão? Serpente? Qual é a sua especialidade? Qual é a especialidade
que permite que se mantenha no controle?
— Ícaro, levante-se!
— Não, me doma ou não saio desta posição até que essa seja a sua
vontade.
— Por que depois de tanto tempo deseja que faça com você o que
mais abomina em mim?
— Porque um dia me disse que apenas assim você tinha o controle
de tudo, estou entregando o controle nas suas mãos, Damian, ou você me
doma ou chamo um de seus irmãos para fazer. Me diga, qual deles,
Dusham, Dimitri ou Darko? Qual deles será um domador mais controlado.
— Nunca irei permitir!
— Então seja você o homem que controla minha mente, já que meu
corpo e minha alma te pertencem.
Ficamos nos olhando de forma intensa e posso ver em seus olhos
que ele deseja isso tanto quanto eu.
CAPÍTULO 52

Olho para Ícaro ajoelhado em minha frente e não acredito no que me


oferece, metade de mim deseja surrá-lo por desejar esse lado doentio, mas a
outra metade, aquela que tem sede de controle saliva como um cão raivoso
por esse momento.
Saber que Bratslav está tramando algo me deixa angustiado a ponto
de quase enlouquecer, as palavras de Ícaro são as mesmas de Dimitri, Darko
e até mesmo de Konstantin, Bratslav não virá até nós, mas não existe no
inferno algo que me faça crer nisso, eu sei que teremos algo, sinto isso em
cada célula do meu corpo.
— Levante! — ordeno, não posso transformar o homem que amo
em uma joia.
— Faça! Seja a porra de um domador e me dome. Vamos, Damian,
faça isso até que meu amor volte, até que ele esteja novamente no controle
de tudo e seja o que eu e seu filho precisamos.
— Ícaro, eu costumo subjugar, punir e violentar uma joia, não farei
isso com você.
— Não será estupro se estou consentindo, faça. Eu suporto, não
existe prazer, não é? Não para mim, mas se existir para você, faça, apenas
faça, porra!
Minha mente grita para recuar e deixar isso de lado, minha espinha
gela porque a minha certeza de que o inferno se aproxima me deixa como
um louco, eu preciso encontrar o maldito equilíbrio senão vou enlouquecer,
mas não sem antes perdê-los.
Ajoelho à sua frente, sinto um nó na garganta que dói e queima, não
consigo colocá-lo para baixo, seguro o rosto de Ícaro com minhas mãos
pedindo a qualquer ser superior que traga minha sanidade de volta e que me
permita voltar a ser o que ele precisa, quando ele dá a cartada final.
— Eu tenho nojo de você, nojo do monstro imundo que se tornou,
eu odeio cada célula existente em você, porque você o levou de mim,
porque ele não está aqui comigo e com nosso filho, você é um demônio
maldito e eu quero que você morra. — Contemplo o desprezo em suas
palavras e o ódio em seus olhos, quando minha mão segue direto para o seu
pescoço.
— Vou te mostrar como trato todos aqueles que domo, eu sou o que
sou, e não me tornei isso que abomina por permitir que seja uma joia que
me desafia.
Estou incorporando o Anjo do Caos e irei buscar por sua submissão.
Foram longos dias até que ele se foi, Romeu não via os pais, eu era
domado conforme os dias iam passando, passei por todo o processo,
Damian desejou que eu fosse seu ratinho, me domou para segui-lo, algo nos
mantinha dentro dos quartos abaixo da casa principal. Perdemos a noção do
tempo, até que minutos atrás seus joelhos bateram no chão implorando por
perdão. Ele demonstrava em seu olhar o quanto lutava para não ser o que eu
o forcei, mas não recuei até que este momento chegasse. Com o passar dos
dias foi ficando fácil, era apenas obedecer, mas por outro lado o desprezo
que ele me dava matava-me um pouco a cada dia, não sei se suportaria mais
tempo dessa forma, estava desesperado quando comecei isso, mas foi minha
única saída, eu não sabia mais como trazê-lo de volta para nós.
— Não podia ter feito isso com você. — Suas mãos envolvem
minha cintura e seu rosto está pressionado contra minha barriga.
— Shii! Acabou, tudo vai ficar bem. — A última vez que o vi
chorar assim foi quando me contou sobre seus sonhos e nós pudemos nos
tocar.
— Não posso mais, Ícaro, não posso mais ser esse demônio.
— Você foi o que precisou ser, Dam, agora seja apenas o homem
que amo, o pai do nosso filho, nós estamos com saudades.
— Olha o que eu fiz com você, não mereço seu amor, Ícaro, não
mereço.
— Damian, olhe para mim. — Seu rosto se descola do meu corpo e
quando me vê a fúria borbulha, suas mãos agarram a coleira em meu
pescoço tirando-a, furioso, enquanto a joga longe. — Não vamos a lugar
nenhum.
— Eu juro, Ícaro, pela vida do nosso filho que nunca mais irá
encontrar esse monstro novamente. — Suas mãos seguram-me pelo rosto.
— Você acredita em mim?
— Sim.
Ele se senta no chão, estamos nus, mas não me importo em ficar
aqui mais uns minutos ganhando o amor desse homem tão destroçado à
minha frente. Sento-me em seu colo e ficamos assim por algum tempo,
apenas apreciando nossos corpos colados que há tantos dias não se
aquietavam, que clamavam um pelo outro.
Seu coração assim como o meu bate no mesmo ritmo frenético,
estamos nos reconectando, ansiamos por isso.

Tudo finalmente parece ter voltado ao normal, ao que podemos


chamar de normal, Damian ainda está tenso pelo medo do que Bratslav
possa vir a fazer, mas novamente Konstantin nos deu a certeza de que nada
irá acontecer, segundo ele sua palavra é tudo que ele tem, e ela havia sido
dada a Damian.
Observo daqui ele com nosso filho nos braços, Romeu já tem dez
meses e está começando a dar os primeiros passinhos, com minha máquina
tiro uma foto eternizando esse momento. Damian construiu um quarto para
que eu revele minhas fotos, e pela casa tenho vários momentos deles juntos,
ou sozinhos, até algumas fotos minhas que ele mesmo tirou.
— Senhor, está tudo pronto para o almoço — Gukla me informa.
— Logo estaremos lá, Gukla, vou chamá-los.
Saio de onde estou indo chamá-los, assim que Romeu me vê seus
bracinhos gordinhos são lançados em minha direção e eu o pego dos braços
do pai.
— Vim buscar os homens da minha vida para o almoço. — Ganho o
beijo de Damian enquanto Romeu puxa minha barba.
— Ei, garoto, isso dói. — Tiro seus dedos do meu rosto, enquanto
Damian gargalha como um grande idiota.
— Eu te amo! — Ganho um beijo no pescoço enquanto entramos
em casa.
— Eu acho muito bom isso, porque não existe a mera possibilidade
de estar ao seu lado e não o amar.
— Vocês dois são minha vida, amar vocês é o que há de melhor em
mim.
Sorrio de suas palavras, a cada momento que ele pode proclamar seu
amor por nós ele o faz, passamos momentos muito turbulentos para
chegarmos até aqui, confesso que passaria por tudo novamente apenas para
ganhar esse sorriso, é tão puro e o faz tão lindo, e é apenas direcionado a
mim e ao nosso filho.
CAPÍTULO 53

Eu realmente precisava de uma intervenção, estava deixando o


medo tomar conta de mim e estava me transformando no Damian que
sempre bateu antes de apanhar, Ícaro tinha tudo para ir, e mais uma vez
decidiu que valia a pena ficar, lutar e conseguir me arrancar do inferno em
que estava com suas próprias mãos.
Se me arrependo? Muito! Agora tudo que quero é apenas lamber o
chão que ele pisa e pedir seu perdão por todos os dias da minha vida.
Meu telefone toca e as muralhas que construí à nossa volta parecem
sentir a vibração do terremoto que iremos enfrentar.
— O que houve?
— O foco de Bratslav é a família de Ícaro, acabei de ser informado
que o jatinho dele foi direcionado para a Itália, se sair agora chegarão
juntos, seu plano de voo saiu em alguns minutos.
— Não pode ser.
— Confie em mim, ele vai devastar Ícaro, mas de uma outra forma.
— Antonella.
— Quem é essa?
— A irmãzinha de Ícaro.
— Darko está a caminho, vou enviar mensagens.
— Tente salvar seus pais e sua irmã, Dimitri, estou a caminho, só
espero que não estejamos nos direcionando ao olho do furacão sem que
consigamos retirar da sua direção a família de Ícaro.
Saio correndo da biblioteca sem pensar em nada.
— Ícaro! Ícaro, onde você está?
— Aqui, Dam, estou aqui. — Corro em direção à sua voz que dá
direto na sala de brinquedos de Romeu, onde eles treinam alguns
movimentos de karatê.
— Amor, vou precisar fazer uma viagem de urgência.
— O que houve, Damian?
— Ainda não posso te dizer, pois não sei, mas preciso que confie em
mim, não vou permitir que aquele demônio toque em vocês.
— É ele, o que aquele desgraçado está tentando?
— Ícaro, vou resolver o que for, agora não posso explicar, vou
colocar a casa em estado de alerta, no momento em que passar por aquela
porta, todas as portas e janelas serão lacradas, aqui dentro apenas Gukla e
suas irmãs, você e Romeu.
— Damian, está me assustando.
— Preciso realmente ir.
— Eu amo você!
— Eu também te amo!
Saio não sem antes beijar meu amor e nosso filho, na sala encontro
o chefe dos Obscuros.
— Mantenha todos ao redor da casa, estou fechando a casa agora.
— Ele apenas confirma com a cabeça, começando a ordenar a todos os
seguranças para saírem da casa deixando apenas as mulheres e minha
família.
— Pronto, senhor.
Com o aplicativo do meu telefone aciono o sistema de segurança e
tudo começa a ser selado, apenas eu e Ícaro podemos abri-la e ele só o fará
com minha autorização.
Daqui já posso ouvir o som das hélices do helicóptero se
movimentarem, logo alçamos voo em direção ao aeroporto. Preciso manter
a calma, Ícaro já sofre tanto pela falta dos pais, mas saber que perdeu todos
eles será seu fim.
Serão quase seis horas de voo até Roma, preciso realmente me
manter frio, meu celular toca novamente.
— Diga.
— Ontem Antonella foi levada ao hospital para uma bateria de
exames, está isolada e não pode receber visitas, os pais de Ícaro estão em
casa e irão voltar apenas amanhã.
— Que inferno!
— Damian, precisa escolher para onde ir, não pode salvar a todos.
— Vou para o hospital, diga a Darko que vá para lá, preciso de
retaguarda caso ele pense o mesmo que nós.
— Será feito. Damian, tenha cuidado, chegarão praticamente
juntos, precisa estar atento.
— Estou pronto para ele, Dimitri.
Pouso no aeroporto onde o jatinho já me aguarda, Dimitri sabia que
sairia prontamente então deixou tudo pronto para que chegasse sem atrasos,
só preciso me concentrar e focar em Antonella, depois nos pais de Ícaro,
então todo esse inferno vai acabar.

Pouso em Roma e do outro lado está Darko com cara de quem


deseja devastar tudo.
— Ele vai chegar em cinco minutos, esta é a previsão de que seu
jatinho esteja em solo italiano — informa assim que me aproximo.
— Como vamos retirar Antonella do hospital? — questiono
enquanto entramos no carro.
— O plano é o seguinte: uma enfermeira irá nos colocar no andar
onde ela está, quando estivermos no quarto vestidos como médicos a
retiramos após um alerta de incêndio, o protocolo é retirar todos, estaremos
no meio do caos e perto dela.
— Ela não corre risco, Darko, ela pode morrer?
— Sim, pode, mas pelo que fui informado está apenas em
isolamento porque foi avaliada e precisa descansar, ela está em remissão,
tem apenas 4 anos.
— Por que seus pais não estão lá? Isso não bate.
— Porque existe uma prima com ela. Calma que são muitas
informações chegando, ela está lá para cuidar dela até que seus pais voltem,
eles precisavam descansar.
— Certo, então traremos a prima?
— Sim, se ela tentar impedir não.
— Darko. — Tento lembrá-lo que é a família de Ícaro, mas ele
corta.
— Damian, meu foco é a criança, ela é minha missão, não terei
piedade de quem quer que seja e ouse atravessar meu caminho, tenho uma
tarefa e a cumprirei com ou sem prima, você entendeu?
— Sim. — Quando ele entra no modo rastreio e caça tudo que
Darko faz é localizar seu alvo e abatê-lo, neste caso salvá-lo, espero
piamente que essa mulher não atravesse nosso caminho.
Estacionamos na entrada lateral do hospital onde já tem uma mulher
nos aguardando com jalecos brancos, vamos trocando algumas peças de
roupa enquanto ouvimos o que ela diz.
— Darko, eles estão no setor oncológico, Antonella não está em
risco algum, é apenas uma bateria de exames, ela precisa de um transplante
de medula, não encontramos uma ainda, mas ela irá se manter bem e segue
sendo acompanhada, no que se espera de uma criança com leucemia,
transportá-la hoje não será de todo perigoso, mantê-la longe de
acompanhamento sim.
— Certo — digo enquanto atravessamos um corredor. — Apenas
nos leve até ela, o resto fica sob nossa responsabilidade.
Seguimos até o quinto andar, existe uma mulher com ela no quarto.
— Tire-a de lá, diga que precisa conversar com ela, não sei, invente
algo — Darko fala com a mulher e seguimos atrás dela.
Esperamos alguns segundos para que entremos no quarto.
— Como vai fazer?
— Tenho a foto de Ícaro, ela vai confiar em mim.
— Ou gritar como uma louca para dois tatuados enormes.
— Isso precisamos ver.
Quando as duas mulheres passam por nós seguimos até o quarto.
— Bom dia! — falo em italiano.
— Bom dia! — ela responde feliz, Antonella lembra muito Ícaro,
seus grandes olhos castanhos são idênticos aos do irmão.
— Você é a princesa Antonella? — questiono me aproximando.
— Sim. — Sorri segurando as bochechas.
— Eu sou Damian e este é meu irmão Darko. — Apresento e ela
continua sorrindo. — Uma pessoa muito importante para nós nos pediu para
buscá-la.
— Papà[20], mammina[21] ou pomodoro[22]? — seu questionamento
me faz sorri.
— Quem é pomodoro? — pergunto sentando-me ao seu lado.
— Ah! — ela bate a mãozinha na testa. — Desculpe, é Tomasso,
meu irmaozão, mammina disse que ele está viajando.
— Sim, ele mesmo. — Tiro a foto de Ícaro com Romeu que tenho
no telefone e o mostro.
— Quem é esse neném?
— Romeu, ele e Tomasso estão esperando por você.
— Sério? — Seus olhos crescem e sua voz infantil fica ainda mais
doce.
— Damian. — Darko me chama entre dentes, sei que deseja nos
tirar daqui o quanto antes.
— Sim, muito sério, você gostaria de ir conosco?
— Sim. — Ela se joga em meus braços e meu instinto protetor ruge
como um demônio.
— Vamos. — Pego-a nos braços quando o primeiro barulho
acontece.
— Eles estão aqui — Darko informa.
— Antonella, preciso cobrir sua cabeça, tudo bem? — Tento não
parecer demoníaco demais. — Ela apenas confirma acenando quando jogo
um cobertor sobre seu pequeno corpinho cobrindo tudo.
— Vamos sair no três — Darko informa enquanto vejo seus dedos
contarem de forma silenciosa, e no momento em que abrimos a porta o
elevador se abre vazio e eu entendo sua cautela.
No caminho do quarto ao elevador a troca de tiros começa e uma
gritaria se instala, Antonella me agarra com força e eu a mantenho
protegida com meu corpo, antes de a porta se fechar Darko se joga dentro
do elevador, mas não sem antes eu ver que a prima de Ícaro é atingida na
cabeça.
CAPÍTULO 54

Antonella está agarrada em mim como um gato se prende em uma


blusa de lã, ou como Romeu fez a primeira vez que o coloquei na piscina.
— Porra, porra, porra! — Darko chuta a porta com força enquanto
segura o braço.
— Darko! Você a está assustando. — Rosno baixo, mas letal.
— Levei um tiro — fala colocando-se em pé.
— É grave?
— Não importa, vamos levá-la daqui e então iremos descobrir.
Sentimos uma vibração que com toda certeza vem de uma explosão,
então as luzes piscam e Antonella grita em meus braços pela vibração e
com certeza o barulho, a porra do medo de despencarmos no poço me toma,
mas a porta se abre exatamente no lugar que entramos.
Corremos para fora e entramos no carro que sai em disparada
passando por carros da polícia e dos bombeiros sem ser notado.
— Seguiremos para a casa de apoio, vamos ficar por três dias e
depois iremos embora.
— Por quê? Está ficando louco? Ela precisa de cuidados médicos,
acompanhamento, não pode simplesmente manter-nos presos nisso.
— Sabe o que precisa, Damian, esquecer seus sentimentos por
alguns minutos e se lembrar de quem eu sou. — Meu olhar agora deve estar
assassino. — Tenho uma UTI[23] montada com médicos especializados e
consegui tudo isso e menos de 24 horas porque eu sou o estrategista aqui,
não posso levá-la da Itália sem que estejamos resguardados com
documentos, então melhor te contar meus planos quando chegarmos lá, não
quero que ela ouça todas as coisas que fiz e farei para sairmos daqui.
Respiro fundo e quando o carro entra no mais profundo silêncio tiro
a coberta de sua cabeça.
— Achou! — ela fala sorrindo e com grandes olhos castanhos e meu
coração se entrega um pouco mais a ela.
Sinto o mesmo que sinto por Ícaro e por Romeu, mas com ela foi
instantâneo, por todos os demônios do inferno, ela é minha filha e ninguém
conseguirá dizer o contrário disso.
Quase uma hora depois onde Antonella dormiu após muitas
perguntas e questionamentos, chegamos na casa, sou recebido por uma
junta médica especializada e fico chocado como Darko tem esse poder de
movimentação.
— Como?
— Tenho um amigo que é um dos braços fortes da Máfia Italiana.
— Os Espossittos?
— Sim, como acha que estamos aqui vivos sem que Ettore
Espossitto permitisse?
— Darko, não somos aliados, pelo contrário, eles nos abominam
porque nossa máfia trafica mulheres.
— Sim, mas tivemos um momento em que nossos caminhos se
cruzaram, concordamos em ambos deverem um favor crucial ao outro e
nunca mais teríamos essa dívida após pago. Ou seja, é bom que saiamos
daqui no tempo esperado ou estamos muito ferrados, o Don da Espossitto
não tem a alcunha de Mietitrice[24] à toa.
— Certo.
Caminhamos com Antonella diretamente para a ala médica que foi
criada, sento-a na maca sob olhar atento de todos, contemplo os olhos
medrosos que nos encaram e como ela está avessa a tudo.
— Antonella, essas são as pessoas que irão cuidar de você por
alguns dias até irmos ao encontro do pomodoro, tudo bem?
— Vai demorar?
— Não, logo estaremos todos juntos.
— Tudo bem.
— Oi, princesa, eu sou a Marina, sua nova enfermeira, que tal
deitarmos aqui e começarmos algumas avaliações? — a enfermeira fala
com a voz suave e em sua mão tem um coelho de pelúcia, o que faz
Antonella sorrir.
— Venha! — chamo Darko para que possa me explicar tudo e
sairmos daqui.
Antes de sair pego algumas coisas para limpar e costurar se preciso
o braço de Darko que sangra.
Darko está no telefone enquanto termino de costurar seu braço que
precisou de pontos, logo que finalizo ele fica mais um tempo falando sobre
documentações e recebendo algumas informações.
— Diga! — ordeno assim que me olha com cara de que muita merda
aconteceu.
— Temos duas notícias, a primeira é que estou tratando da
documentação de Antonella para que ela saia da Itália de forma legal. Nos
documentos ela irá se chamar Antonella Parlattore, filha de Ícaro Parlatorre
e Juliana Pionteri, que no caso acabou de morrer lá no hospital.
— A prima de Ícaro?
— Sim.
— Darko, onde estão os pais de Ícaro?
— Todos mortos, inclusive Antonella Pionteri.
— Como?
— Antonella e sua prima eram as últimas a serem pegas, Bratslav
chegou depois, mas seus homens chegaram um dia antes e reuniram todos e
mataram após explodirem o lugar. — Ele abaixa a cabeça e pela primeira
vez meu irmão faz algo que nunca o vi fazer, se desculpa. — Me desculpe,
não conseguimos todas as informações a tempo.
— Ícaro vai enlouquecer. — Soco a parede com força imaginando
que poderia ter feito algo caso não estivesse perdido em meu inferno por
tanto tempo.
— Damian, não foi sua culpa.
— Ele não vai suportar.
— Dê a ele um motivo para conseguir, vocês têm o Romeu e agora
Antonella também precisa de vocês.
— Isso vai ser um maldito inferno. — Suspiro cansado.
— Mas olha que coisa boa, você comanda o local. — Soco seu
braço exatamente onde acabo de costurar e ele cai no sofá segurando o
braço e me xingando como um marinheiro.

Estamos no último dia do prazo de nos mantermos aqui, Darko está


tomando conta de tudo enquanto caminho em direção à Antonella, fui
informado que ela começou a chorar, eu havia acabado de sair do quarto.
— Oi, Princesa, o que houve?
— Quando o pomodoro vem? — Ela limpa seu pequeno rosto com o
dorso da mão, seu nariz está vermelho e vê-la assim me dói. Como posso
sentir algo tão intenso por alguém que acabei de conhecer?
— Quer vê-lo? Falar com ele antes de irmos? — pergunto deitando-
me ao seu lado na cama enquanto ela confirma com a cabeça. — Que tal
ligarmos para ele?
— Podemos? — Soluça tentando se acalmar.
— Sim.
Pego meu telefone e faço uma chamada de vídeo para ele, no
segundo toque Ícaro atende e seu sorriso se abre.
— Amor, preciso que se acalme e fale com alguém, não chore,
apenas diga que está tudo bem e que logo vocês vão se ver — falo em
sérvio para que ela não entenda.
— O que houve, Dam?
— Apenas faça, tudo bem?
— Sim.
— Aqui, princesa, seu pomodoro — falo virando o telefone em sua
direção e Ícaro paralisa.
— Pomodoro!!!
— Antonella, meu bebê, que saudade de você! — Sinto que ele
pode desmoronar a qualquer momento. — Por que está chorando?
— Tio Damian disse que iríamos nos ver, mas está demorando.
— Ah, sim, mas logo estaremos juntos.
— Logo é quando?
— Amanhã. — Eu atravesso a conversa e os olhos de Ícaro se
arregalam como os de Antonella fazem.
— Sim, amanhã.
— É longe?
— O quê, meu bebê?
— O amanhã, Pomodoro?
— Não, basta você dormir e quando abrir os olhos ele chegou.
— Então acho que vou dormir.
— Sim, durma, logo estaremos juntos.
Ficamos por um tempo em silêncio enquanto ela se enfia entre meus
braços, o olhar de Ícaro está chocado e não entendo.
— Ela o toca? — Seu questionamento me faz entender o que
acontece.
Antonella está com sua mão sobre meu peito e isso não me afeta de
forma alguma.
— Estou prestando atenção nisso agora, Ícaro, e não sinto nada além
de um desejo descomunal de protegê-la. — Seus olhos se enchem de água,
e ele começa a chorar.
— Por que ela está com você?
— Eu sinto muito, Ícaro, não consegui salvar todos. — Falar isso
dói, dói como o maldito inferno, e tudo que eu queria agora era estar ao seu
lado.
— Meu Deus! Não pode se verdade, não pode! — Vejo-o tentar se
controlar enquanto olha para trás, só então percebo que está no quarto de
Romeu. — Ela não tem ninguém no mundo, Damian, e eu, eu estou morto.
— Não, ela tem a mim, a você e ao Romeu, ela é nossa, Ícaro, e
ninguém dirá o contrário. — Ele está surpreso com o poder das minhas
palavras.
— Quando chegam?
— Sairemos em algumas horas, Darko está resolvendo tudo, logo
estaremos aí.
Ícaro ainda chora, ficamos conversando por algum tempo até que eu
durmo sem me despedir dele.

Começamos a movimentação, quando Darko me entrega o que lhe


pedi, temos apenas duas horas para estarmos longe de solo italiano, pego o
pequeno colete a prova de balas que mandei buscar para Antonella usar,
Darko chama de loucura, eu chamo de proteção. Coloco um boné rosa em
sua cabeça e seguimos até o aeroporto, sem condições de esperar, vamos de
helicóptero.
Alçamos voo e minutos depois estamos na pista caminhando até o
jatinho que nos aguarda.
As informações que saíram na mídia são que a família de Ícaro
estava numa festa e uma explosão de gás matou todos eles, não houve
sobreviventes, Ettore Espossitto manipulou a notícia sobre o hospital
alegando que tudo que aconteceu foi um princípio de incêndio, e que
infelizmente alguns funcionários haviam morrido. Antonella e Juliana
nunca estiveram lá e faleceram junto com toda a família Pionteri.
— É isso, irmão, daqui para Bucareste — Darko avisa sentando-se
ao meu lado.
— Até Bucareste — respondo.
Antonella está grudada em mim como um coala e quando Darko se
senta ao nosso lado ela põe sua mãozinha no peito dele o paralisando, meu
irmão não tem aversão a toques como eu, mas não costumamos receber
nenhum tipo de afeto e isso não o assusta.
— Acabei de colocá-la na minha lista de intocados, ninguém jamais
irá se aproximar. — Sinto que de sua forma infantil ela acaba de ganhar a
lealdade de mais um Anjo sem que eu precise pedir.
— Protetor, irmão? — indago sorrindo.
— Você não imagina o quanto. — Sua grande mão tatuada cobre a
dela sobre o peito em uma promessa velada de que ele jamais recuaria.
CAPÍTULO 55

Não sei como me sentir em relação as últimas informações, após a


ligação de Damian dormi agarrado a Romeu como se sem ele eu não
conseguisse respirar, eu agora havia perdido tudo, não só eu, mas Antonella
também. Acredito que tive uma péssima noite quando caí da cama de
Romeu no chão, duas horas depois de ter desligado a chamada e desde
então caminho como uma barata tonta pelo quarto do meu filho.
Recordo-me dela me chamando de pomodoro, ela quem me deu esse
apelido ridículo que a família inteira passou a usar como meu nome, já que
era eu quem cuidava dos molhos.
Olho as horas mais uma vez nos últimos segundos, faltam alguns
minutos para que eles cheguem, então ouço o barulho do helicóptero se
aproximando, angustiado e quase surtando sigo para a parte lateral da casa
onde eles irão entrar, quando a casa inteira começa a fazer barulho, com
certeza Damian está retirando as barreiras de proteção. Meu coração bate
aos murros no peito, quando finalmente tudo volta ao normal e o vejo
caminhando com ela agarrada a ele, ao lado de um Darko com cara de
poucos amigos.
— Ela está de colete à prova de balas? — questiono surpreso.
— Sim, a partir de hoje todos vocês irão usar, ninguém põe os pés
fora de casa sem eles.
— Dam, isso é sem precedentes.
— Eu acho mais que correto. — Olho para Darko surpreso, seu
olhar para Antonella diz bem que ele é um grande leão de chácara neste
momento.
— Depois conversamos sobre isso, agora precisamos colocá-la na
cama — Damian fala e apenas cheiro seu pescoço, o cheirinho de bebê me
atinge fazendo meu coração derreter.
— Pegue. — Darko me entrega uma pasta. — Preciso ir, nos vemos
em breve.
— Voltaremos para Belgrado ainda essa semana — Damian
informa.
— Pedirei para organizarem tudo.
— Obrigado.
Seguimos juntos com ela em seus braços, enquanto o direciono ao
quarto do Romeu.
— Por que aqui?
— Pedi que colocassem uma cama para ela, posso cuidar dos dois
— respondo.
— Certo.
Entramos e Romeu ainda dorme, ele acordou cedo, Gukla cuidou
dele enquanto tomava banho e ele voltou a dormir.
Pego Antonella do seu colo tirando o colete dela e deitando-a na
cama.
— Ela precisa de acompanhamento Damian — informo alisando sua
cabeça onde finos cabelos pretos já estão grandes.
— Estamos providenciando tudo isso, não se preocupe, saí de lá
com a certeza dos médicos que ela estaria bem por algum tempo.
Saímos do quarto seguindo em direção ao nosso, então eu
desmorono em seus braços, saber o que aquele demônio fez me faz urrar de
dor, ele eliminou todos os meus parentes, todo meu sangue, cada nova
informação que Damian me passa me faz sangrar.
— Não posso acreditar, não posso. — Minhas lágrimas caem.
Suportei toda a distância porque eles estavam bem e agora é uma
dor que me rasga ao meio saber que eu os perdi, que Antonella nunca mais
vai vê-los.
— Estaremos sempre juntos, Ícaro, nada vai faltar a ela, prometo
protegê-los com a minha vida e meus irmãos farão o mesmo.
Então ficamos assim, agarrados, enquanto minha dor me dilacera,
Damian vai colando os pedaços que caem com palavras de amor e
afirmando o quanto somos seus, o quanto teremos sua proteção para
sempre. Seu amor é a cola que me fortalece, que me regenera e que me
mantém focado a me consertar, porque agora eu tenho dois seres pequenos e
indefesos que dependem de mim e eu faria tudo que estivesse ao meu
alcance para protegê-los.
Como prometido, menos de uma semana depois chegamos a
Belgrado, e somos recebidos por Dimitri, Darko e Monike, ela é a médica
responsável pela saúde de Antonella, ainda que minha pequena precise de
uma equipe especializada, é com ela que eles terão que lidar. Damian
prometeu que encontraria uma medula para minha pequena nem que isso
lhe custasse sua vida, e eu jamais duvidaria dele.
Com o passar dos dias, Antonella e Romeu foram ficando ainda
mais próximos, Romeu no começo estranhou o grude dela comigo, mas
fomos com cuidado explicando quem ela era, apesar de no papel ela ser
minha filha eu trataria disso depois, explicaria a ela quando entendesse, eu
os trato como irmãos e eles foram se aproximando. Em menos de um mês
são a sombra um do outro, Gukla e suas irmãs parecem encantadas e fazem
tudo que eles desejam, como agora onde todos estão tentando fazer um bolo
de chocolate transformando a cozinha em um grande campo de batalha,
cheio de farinha e chocolate para todos os lados.
Meu olhar se cruza com o de Gukla e ela apenas acena, ela sabe que
preciso sair, estou ansiando por Damian há alguns dias e temos dormido no
chão do quarto das crianças desde que ela chegou, ou seja, sexo não tem
sido algo que acontece muito, apenas alguns amassos e orais entre um
banho e outro.
Atravessando a casa seguindo direto para a biblioteca, onde abro a
porta sem bater, o vejo digitando freneticamente no seu notebook, fecho a
porta atrás de mim.
— Dam.
— Oi, amor.
— Estou com saudade. — Ando em sua direção, virando-o em sua
cadeira e sentando-me em seu colo.
— Não faz ideia do quanto. — Sinto suas mordidas em meu
pescoço.
— Me fode, Dam, temos tempo, Gukla vai cuidar das crianças.
— Porra!
Ficamos em pé tirando nossas roupas quando sou levado até o sofá
ajoelhando sobre ele com as pernas bem abertas e usando o encosto de
apoio.
— Damian! — chamo porque não o sinto próximo a mim, então
logo ele volta com um lubrificante nas mãos.
— Calma, amor, vou te chupar, depois prepará-lo com toda
paciência do mundo, e só então vou me enterrar em você. Sabe o quanto
estou ansiando por mais que punhetas e chupadas rápidas? — Sua voz está
rouca e arrepia meus pelos por ser sussurrada próximo ao meu ouvido.
— Estamos da mesma forma. — Meu coração bate acelerado e meu
corpo inteiro está colapsando. — Preciso de você, e preciso agora, Dam.
Um grunhido escapa de sua garganta, então sinto sua boca em mim,
e pelos céus, sua língua quente é a porra da melhor sensação do mundo. Sua
mão vai para o meu pau e meu grito quase faz as paredes vibrarem. Um
tapa forte atinge minha bunda e me esfrego ainda mais.
— Gostoso do caralho! — Tenho meus cabelos puxados para um
beijo sentindo seu primeiro dedo me invadir, as sensações de calor
escaldante começam a cada dedo que me invade e me perco nas mordidas
que ganho. — Seu corpo está ainda mais definido, Ícaro, seus músculos
maiores, eu juro que vou escondê-lo, ninguém pode olhar e desejar o que é
meu.
— Ninguém é louco, Dam.
— Eu sou, eu mato qualquer infeliz que ousar imaginá-lo.
— Haaa! — Lanço minha cabeça para trás quando o terceiro dedo
aparece.
— Isso, grita para o único homem que vai foder esse rabo e marcar
esse corpo.
Damian parece perdido em si, eu amo quando isso acontece, então
seus dedos desaparecem e sinto seu pau exigir passagem, nossos gemidos se
misturam, e em busca de mais dele empurro de uma vez meu corpo contra o
seu.
— Ícaro, porra! Vou machucá-lo assim.
— Não quero cuidado, eu quero sexo bruto, porra! Quero mordidas
e tapas, quero sentir sua mão pesada contra mim, não seja cuidadoso, não
agora.
— Quer que te dê uma surra? — Novamente tenho meus cabelos
puxados.
— Sim!
E o que pedi acontece, ganho uma mordida no ombro e sinto seu
braço forte e tatuado envolta do meu pescoço, quando seus movimentos
começam. Suas palavras são baixas e a cada palavrão e humilhação que ele
diz me causa um tesão descomunal, me fazendo desejar uma surra, daquelas
que me deixa mole e largado no chão, mas isso eu consigo à noite, quando
com toda certeza ele estará incorporado no Anjo do Caos e eu vou garantir
isso.
As arremetidas são fortes e duras, meu corpo reclama pela dor que
ele me causa com tapas fortes e mordidas no mesmo lugar que queimam
como o maldito inferno, mas anseio por mais. Ele mete e vou de encontro,
os barulhos que nossos corpos fazem se misturam aos nossos gritos de
prazer, quando suas unhas se cravam em meus ombros e descem rasgando
minhas costas, assim como gosto e param em minha cintura, dói e queima,
mas ele começou a me foder com ainda mais força enquanto me segura.
— Grita, grita enquanto te parto ao meio.
— Vamos, Damian, eu preciso de mais.
— Caralho de homem que acha que pode me domar.
— Aii! — Um tapa atinge minha coxa.
— Sou eu quem mando aqui entendeu? Eu!
— Sim, você. — Suas mãos seguram meu cabelo com força usando
como cabresto enquanto me fode cada vez mais furioso.
Meu corpo se acende, sinto o pinicar do sangue em minhas veias, sei
que está tão perto quanto eu, seus grunhidos mudam, seu pau parece maior
dentro de mim, quando ele acerta minha próstata e me leva à lona. Após
tantas metidas certeiras urro gozando sendo seguido por ele que me segura
com tanta força que pode quebrar uma das minhas costelas.
Ofegando muito forte, sustento seu corpo sobre o meu que está
pesando uma tonelada, mas eu faria tudo novamente apenas para sentir seu
cheiro de homem que acaba de foder loucamente.
— Hoje à noite quero muito mais que isso.
— Ícaro... — Seu alerta sai como um aviso.
— Uma surra, Damian, daquelas que me deixam jogados no chão e
que precisa me carregar depois.
— Não vou machucá-lo.
— Vai, meu corpo anseia pela dor e você vai me proporcionar isso.
Começamos a nos ajeitar enquanto me sento no sofá, ele senta em
meu colo, colando nossas testas, Damian não é um homem que é versátil,
ele tem traumas quanto a isso, eu não me importo, não quero lhe causar
gatilhos oferecendo que troquemos de posição, ele tem bloqueios, eu sei
que jamais serão ultrapassados e ele um dia me disse sobre isso, se eu me
importava, claro que não, tudo que ele estiver disposto a me dar irei receber
de bom grado.
— Eu amo você!
— Eu também te amo, e irei esperar ansioso por mais tarde.
— Não vai mudar de ideia mesmo, não é?
— Não, eu quero tudo de você, até mesmo os seus demônios.
Um beijo começa, ele não é nada além de doce e tranquilo, como
Damian consegue ser apenas comigo e com nossos filhos, um homem cheio
de medos, porém com um coração que não cabe em seu peito.
CAPÍTULO 56

Três anos depois...


Estamos nos concentrando em proteger a mulher do meu irmão, sim
Dusham caiu, o último Anjo acaba de ser abatido, ele ainda não sabe disso,
mas Gaia se tornou nossa para proteger, como meu Ícaro, Monike e Kitana.
Há algum tempo nos reunimos e selamos esse acordo que Darko iniciou no
hospital, o problema é: eu mantenho a minha família escondida de Dusham,
não sei por que, talvez pelo fato de ele ser mais parecido comigo e não
gostar de crianças. Meus filhos são minha vida e agora ficará impossível
mantê-los afastados do meu irmão mais velho.
Aliás, acabei de saber por Dimitri que todos eles estão vindo para
cá.
— Está tudo bem, Dam? — Ícaro questiona abraçando-me por trás.
— Sim, mas digamos que Dusham acabou de saber sobre nós.
— Eu sempre achei essa sua ideia de nos esconder absurda.
— Ele é difícil, estamos a um triz de assumirmos a Triglav e
eliminar de vez aquelas bichas velhas.
— Não aguento quando os chama assim, em alguns anos seremos
nós, gays e velhos. — Sorrio de suas palavras, enquanto ele alisa meu rosto.
— Por que está tão tenso? — Suas mãos seguem para os meus ombros
massageando no lugar exato.
— Porque Dusham não é como Darko e Dimitri, ele é mais
explosivo e pode ser que um soco ou outro aconteça.
— Uau! Essa eu quero ver.
— Ícaro!
— O que é? Meu homem lutando com outro deve ser quente.
— Hahaha! Você pensa em sexo o tempo todo.
— Com um homem como você, impossível não pensar.
Puxo-o para um beijo quando ouço a campainha tocar.
— Eles chegaram.
— Quer que eu fique?
— Não, prefiro enfrentar essa sozinho, logo chamo vocês, ele vai
querer conhecê-los.
— Eu amo você — ele sussurra em meu ouvido saindo pela porta
que dá acesso aos quartos e não a que com certeza meus irmãos irão entrar.
A porta à minha frente se abre e um Dusham com cara de poucos
amigos atravessa por ela.
— Sabe o que é engraçado, acreditar que sou idiota e que jamais
descobriria sobre você e sua família. Toda aquela história de quando a
minha pessoa chegar, de proteger a sua pessoa... Que porra acha que sou
que me escondeu isso por tanto tempo? Tem um filho, Damian, um filho de
sangue, uma filha, um marido? Que monstro acredita que sou que não
precisaria ter essa informação? Eu não os mataria! — Posso sentir o
reverberar de sua fúria e decepção, realmente essa garota mudou meu
irmão.
— Do tipo que temia essa reação.
— Vou te socar!
— Uou! Calminha aí, grandão! — Dimitri o segura.
— Dusham, as coisas não estavam fáceis, estava longe, não podia
tirá-lo de lá para resolver minha vida aqui.
— Eu tinha o direito de saber, ele o estuprou, Damian, ele foi um
maldito demônio.
— Isso nunca foi novidade. — Tento parecer descontraído.
— Olha, eu faria tudo novamente, estamos próximos demais do fim,
Stefan tem coisas de mais para pensar, não poderia atravessar seu caminho.
— Todo esse tempo trabalhando se desdobrando entre a Triglav e
sua família, poderia ter minha ajuda também. — Olho para ele sentindo
agora sua decepção.
— Não somos aceitos, Dusham, dois homens que se amam não
facilitaria a vida de Stefan nessa transição, nunca poderei fazer uma Aliança
de Sangue com ele, nunca poderei receber a marca de um casamento real
como conde de Bucareste. Nunca poderemos andar com calma por aí sem
que os soldados desejem nos matar e eles têm autorização para isso, sabe
por quê? Porque somos abominações.
— Nem no inferno! Vocês são minha família e mato qualquer um
que ousar tocar em vocês. — Esse Dusham me deixa assustado, muito mais
que aquele que queria me socar segundos atrás.
Olho para Darko e Dimitri que parecem entender muito menos que
eu.
— Era sobre isso que falava sobre seu presente de Natal.
— Sim.
— Quero conhecê-los.
— Dusham...
— Traga-os, Damian, acabei de conhecer Kitana e descobrir que
Monike e Dimitri estão juntos, quero olhar nos olhos do homem que ama e
dos meus sobrinhos. — Darko acena com a cabeça e chamo Ícaro e nossos
filhos. — Posso ser um demônio incontido e desejar sangue todo o tempo,
mas nunca me esqueci de todas as vezes que apanharam por mim e que
apanhei por vocês, aquela cadela imunda foi cruel o suficiente para tornar
nossas vidas um inferno, mas ela não conseguiu tirar do meu peito o
instinto de lealdade que estava adormecido e que você com sua insistência
resolveu desenterrar.
Envio uma mensagem para Ícaro e volto a olhar para Dusham, ele
ainda não sabe nada sobre nossa mãe, foi difícil fazer com que Dimitri e
Darko enxergassem, sei que irá chegar o momento certo e isso foi acordado
entre mim e meus irmãos.
A porta lateral se abre e meu marido chega com Romeu em seus
braços e Antonella sendo segura pela mão.
— Olá! — Ícaro fala enquanto as crianças correm gritando por
Dimitri e Darko, e eu vejo que isso machuca Dusham de uma forma que
jamais imaginei.
Seu olhar é atravessado por uma dor que eu não sabia que ele
sentiria, uma decepção por ter sido deixado de fora, apesar de lutar com
todos os seus demônios e não estar pronto para entender muita coisa ele
luta, ele tenta e posso ver isso.
— Dusham, esse é Ícaro. — Apresento.
— Um prazer te conhecer. — Ícaro lhe estende a mão.
— É bom conhecer a pessoa do meu irmão. — Ele segura sua mão
em um aperto que me surpreende, Dusham é uma muralha e apesar do
conflito ele tenta ser cortês.
— Princesa. — Ouço a voz de Darko. — Preciso que conheçam o
seu outro tio, e você também Romeu, esse é o Tio Dusham — ele fala e
Antonella como sempre se joga nos braços de Dusham que paralisa, mas a
pega nos braços.
— Oi, titio! — fala em italiano, ela sempre mistura os idiomas já
que agora está aprendendo sérvio.
— Oi, pequena! — ele responde devolvendo o abraço ainda que de
forma desengonçada.
Vejo seu desconforto apesar de sua luta, então pego Antonella
pedindo que ela deixe que Romeu o conheça também. Mais desconfiado
Romeu o olha e Dusham se abaixa para ficar na sua altura, ele e Romeu
trocam algumas palavras até que meu filho se joga em seus braços.
Ficamos assim por alguns minutos com ele fazendo algumas
perguntas enquanto respondemos, logo ele pede para ficar a sós comigo,
Ícaro me olha e apenas aceno.
— Eu entendo você — fala quando finalmente estamos a sós.
— Como?
— Não sei, só entendo, eu travo uma batalha interna comigo
mesmo, Damian, preciso ter Gaia, lutar por ela, sinto algo me queimando,
me devastando e ela tenta me mostrar sentimentos desconhecidos. Quero
assassinar todos que ousam tentar me tirá-la, imagino o quanto deve ser
difícil para você, ainda mais com algo que é abominável em nossa máfia.
— Eu morreria por eles, tive que me casar com Ícaro apenas
assinando um papel e o mantendo escondido, ele e meus filhos só saem de
casa usando coletes à prova de balas, sempre dou prioridade a levá-los de
helicóptero aos lugares. Fecho parques e shoppings para que possam ao
menos tentar conhecer o mundo. Por algum tempo o hospital era nosso
passeio, mas tudo se resolveu, não durmo à noite imaginando que
Konstantin irá invadir minha casa e seremos todos assassinados apenas por
nos amarmos. — Suspiro exausto porque o que digo a ele não contei nem
para Ícaro.
— Damian, prometo que farei o possível para mudar isso. — Ele
sente, de alguma forma sei que meu irmão sente.
— Eu morreria por eles, arrancaria meu coração do peito para que
vivessem, é uma dor dilacerante, Dusham, um medo que não cabe no peito.
Espero que um dia tenha esse privilégio que nos foi arrancado, que tenha
uma família que seja todo o seu mundo, e que não precise se esconder e
nem os manter escondidos como faço com a minha. — Sento-me enfiando
meu rosto nas mãos. — Imagino que eles o tenham contado sobre a parte
burocrática de ter Romeu como meu filho com a sua progenitora e Antonela
como filha do Ícaro com outra pessoa, biologicamente e legalmente eles
não são irmãos, mas para nossa surpresa quando Antonella ficou muito
ruim, anos atrás, testamos Romeu e ela foi curada por causa da medula dele.
Não sabemos os motivos de todas as coisas, mas eles precisavam um do
outro, ela para viver e ele para ser corajoso e protetor.
— Não sei quanto tempo isso vai durar, Damian, mas farei de tudo
para que deixe de se esconder e que sua família tenha a liberdade controlada
que está disposto a dar para eles. Prometo que voltará a ter um sono
tranquilo, dentro do que podemos chamar de tranquilo com a vida que
levamos.
— Só o fato de estar disposto a isso me deixa satisfeito.
Nós não dizemos mais nada, Dusham sendo o homem que é apenas
sai da sala me deixando com a certeza de que ele não vai desistir enquanto
não conseguir.
EPÍLOGO

Três anos depois...


Estamos tomando sol quando ouço Damian reclamar por estar muito
quente.
— Damian, você reclama o tempo todo, se estamos fazendo
massagem reclama, se estamos descansando apenas tomando sol você
reclama, pelo amor de Deus, pare de ser um chato. — Sorrio porque Gaia e
Damian parecem cão e gato.
— Pequena grega encrenqueira, só Dusham para te suportar, nem sei
como te aturo na minha casa.
— Primeiro, meu Ángelos[25] me ama, segundo porque estamos no
quintal da minha casa, não da sua.
— Não sei por que vim.
— Já chega vocês dois. Dam, as crianças estão com Malina e Gaia
quis um pouco de nosso momento já que vai viajar com Dusham e não
tivemos nosso momento ontem.
— Espero que vá e que demore muito.
— Senhor, como podem ser assim?
— Não sinta minha falta, cunhado, voltarei o mais rápido que
conseguir. — Ela se levanta sorrindo, não mede nem 1,60 de altura e doma
um demônio como ninguém.
Começo a rir deles, temos algum tempo até o jantar que Malina
decidiu fazer, todos de branco segundo ela, na casa de vidro.

— Ícaro, onde estão Romeu e Antonella? — Ouço a voz de Damian


enquanto entra no nosso quarto, ele já está pronto com uma camisa e calça
branca.
— Estão com Malina e Stefan.
— Esses estão tentando roubar meus filhos.
— Como se não tivessem os deles.
— Não importa.
— Largue de ciúme. — Olho para ele que está lindo e sexy fazendo
meu corpo reagir.
— Acho que podemos deixar essa história de jantar para lá e ficar
em casa, seu corpo no meu, eu dentro de você, estou com saudade de
marcar sua pele.
— Quando voltarmos.
— Ícaro....
— Sim, não seja teimoso como seu filho, sem birra.
— Sou um assassino cruel.
— Lá fora, aqui dentro é meu marido e pai dos meus filhos. —
Puxo-o para um beijo quente com uma pegada intensa.
— E quer que eu saia depois de um beijo desse?
— Sim, vamos.
— Você me paga, Ícaro.
Saímos subindo nos carrinhos de golfe, moramos em uma das cinco
moradas que foram construídas aqui. Paramos em frente à casa de vidro,
está toda enfeitada com luzes e todos de branco, é perfeito.
— Eles chegaram! — A voz de Gaia sobressai e todos nos olham
— Pai!! — Nossos filhos correm em direção aos braços de Damian,
assim como ele, eles são alucinados um pelo outro.
— Meus ratinhos, passaram tempo demais longe do papai.
— Estamos com nossos gigantes. — É assim que eles chamam os
tios.
— Bem, já que chegaram nós precisamos conversar — Stefan fala e
posso ver a tensão ser sentida por Damian.
— Aconteceu algo?
— Nada ruim, mas algo aconteceu. — Agora até eu estou atento a
cada palavra de Stefan.
Todos nos encaram neste momento, fico sem reação e olho para
Ícaro que também parece não entender nada.
— Como sabem estou no comando da Triglav há alguns anos, me
uni à Malina em uma Aliança de Sangue, assim como seus irmãos fizeram,
mas precisávamos reparar algo, Damian, há algum tempo tudo foi
finalizado e hoje tudo irá iniciar.
— Do que está falando Stefan? — sondo segurando a mão de Ícaro.
— Aqui, esta é a nova lei da Triglav onde sentimentos como o seu e
o de Ícaro não são mais abomináveis.
— O quê?
— Isso que escutou, após mostrar a todos o quanto Konstantin e
Bratslav viviam intensamente, fiz todos entenderem que não nos
tornaríamos menos. Seu casamento com Ícaro foi reconhecido, todos os
olharão com respeito, e todos aqueles que foram contra não estão mais
respirando para atravessar o caminho de vocês.
— Como te prometi, Damian, estamos neste momento entregando a
você e a Ícaro a liberdade de se mostrarem, tanto vocês quanto sua família,
e por saber que uma Aliança de Sangue era tudo que mais desejava, este é o
momento que ela vai acontecer — Dusham fala. — Hoje todos vocês são
aceitos como membros da Máfia Sérvia Triglav, aqueles pelos quais todos
darão a vida para proteger, o local para onde podem sempre correr em busca
de proteção. Temos dois anciãos aqui, um fará sua Aliança de Sangue e o
outro irá firmar seu casamento com selo de conde como todos nós tivemos.
Olho para Ícaro sem acreditar que finalmente teremos o
reconhecimento que tanto desejei, que o tornarei meu elo sob o olhar de
todos e seremos um, não apenas para nós, mas que todos irão saber o que
sentimos e como vivemos sem medo de expor isso.

Assim como Damian, não me contenho chorando abraçado a ele, ele


sempre me contou seu sonho de nos ligarmos como seus irmãos fizeram,
podia ver em seus olhos o brilho e a tristeza quando as Alianças de Sangue
aconteciam e quando a cerimônia da realeza romena começava. Não tinha o
poder de mexer nisso e eu sempre deixei claro que nada disso valia a pena o
sofrimento dele, o que importava é que nos amávamos. Até cogitei que
fizéssemos a aliança apenas nós como ele sonhava, mas ele disse que não
teríamos o momento real, e que me machucar apenas para trazer a certeza
do que já era para ele não valia a minha dor.
Agora estamos aqui, e ainda que pareça insignificante para alguns
esse momento é especial para mim, porque é especial para ele.
Somos direcionados até a mesa que está separada e de mãos dadas
encaramos o ancião.
— Estamos aqui hoje para unir o Conde Damian Dothraki de
Bornemisza e Ícaro Parlattore, futuro conde de Bornemisza, quando a união
das estrelas ocorre uma chuva de meteoros acontece. Hoje, com o nascer do
sol nossa estrela maior que surge imponente aquecendo nossas peles nesta
manhã, se dá à união de duas almas destinadas. Damian, escolhido desde o
ventre para governar sua casa e Ícaro, seu auxiliador. Na nossa cultura os
soberanos precisam empregar cuidado e proteção aos seus escolhidos, e é
nesse intuito que questiono agora. Conde, esse se torna agora seu propósito
de vida?
— Sim, será. — A emoção em sua voz faz um arrepio percorrer meu
corpo, sinto o orgulho dele quando profere cada palavra.
— Ícaro Parlattore, seu papel nessa relação se dá em ser suporte e
auxílio, neste intuito lhe questiono agora. Como futuro conde esse se torna
agora seu propósito de vida?
— Sim — respondo sem tirar meus olhos dele, sinto-o vibrar, seu
amor emana até mim e eu quase não consigo me segurar, apertando sua mão
ainda com mais força.
— Na realeza antiga não usamos alianças e sim a marca, o
testemunho impresso de que seus corpos pertencem ao outro e que ninguém
poderá tocá-los.
Vejo um ferrão com o brasão da família de Damian sair do braseiro.
— Estenda. — Damian coloca seu braço sobre a mesa, tendo seu
antebraço marcado com o selo de casamento.
— Estenda. — Pelo que entendi, diferente das mulheres eu ganho a
marca no antebraço oposto de Damian, se fosse uma mulher ganharia no
ombro, mas segundo a explicação que recebemos após ser marcado, quando
déssemos nossas mãos nossas marcas estariam próximas e se uniriam.
— Estão agora ligados em casamento, serventia e submissão, seus
corpos não são mais seus, eles pertencem ao seu companheiro. Vida longa e
próspera aos condes de Bornemisza.
— Vida longa! — todos respondem em uníssono.
Ganhamos uma pomada de Gaia para que passemos no outro, e
fazemos isso enquanto a cerimônia segue.

Aliança de Sangue, cerimônia de casamento mais antiga da máfia Sérvia


Triglav...
Ainda sentindo meu corpo tremer por acreditar estar sonhando, vejo
o ancião romeno sair dando lugar ao ancião sérvio, ele fará a nossa Aliança
de Sangue e o quanto sonhei com esse momento, em ter Ícaro reconhecido
como meu elo, um intocado e respeitado por todos, não está nem escrito.
O ancião se posiciona ao lado de dois auxiliares e então inicia a
segunda cerimônia da noite.
— Pela lei mais antiga, uma Aliança de Sangue torna vocês dois
intocados, ninguém pode macular com o toque um elo, somente familiares e
apenas com a permissão de ambos os elos — começa a informar. — Após a
cerimônia, Ícaro receberá todos os cumprimentos do lado esquerdo já que
sabemos que Damian não é dado a toques.
Assim que suas palavras cessam, dois homens carregando um
punhal de ouro e um cálice de prata caminham até nós, podemos ouvir o
silêncio ecoando por todo ambiente, até que se aproximam e nos colocam
frente ao outro.
— Ao Anjo do Caos da Triglav consagro a lealdade e fidelidade do
seu homem tornando-o único aos seus olhos, ouvidos, corpo e alma, tudo
deixa de existir além das suas vontades e deveres, a Triglav se torna sua
nação para proteger e seu elo a sua razão para lutar.
As palavras dele serão sempre direcionadas a mim, como membro
nascido na máfia já que Ícaro está sendo aceito em nosso meio, se ele fosse
mulher isso se daria por ser do sexo feminino e seria visto apenas para
procriar e obedecer, o que ele não sabe é que é Ícaro quem tem poder sobre
mim.
Estendo minha mão assim que me é solicitada sem tirar os olhos da
minha pessoa, minha mão é cortada e o sangue que escorre é coletado no
cálice, quando o suficiente está no receptáculo tenho minha mão enrolada
por uma faixa branca, então o punhal é passado a mim, para que faça o
mesmo em Ícaro. Sem emitir nenhum som, ele tem o olhar fixo ao meu,
coleto seu sangue enrolando sua mão à outra ponta do pano branco.
Bebo do nosso sangue e entrego para que faça o mesmo, assim que
concluímos o ato estamos ligados perante todos.
Segurando as pontas do pano, Ícaro começa a ser cumprimentado,
me ajoelho para abraçar meus filhos, os únicos que conseguem tal
proximidade além do meu elo.
Vejo o sorriso enorme que Ícaro dá agradecendo a todos, me pego
sorrindo em sua direção como um bobo apaixonado, sentimento esse que só
descobri ao seu lado. Ficamos eu e meus filhos contemplando a face da
perfeição à nossa frente, enquanto emanamos amor em sua direção.
Após cumprimentar todos, ele se aproxima de nós, meu coração
jamais sentiu tamanho amor, é como se acabacemos de fechar todas as
brechas ainda abertas, a Triglav irá nos proteger e eu seguirei sendo o seu
guardião pelo resto da minha vida.
BÔNUS

Quinze anos depois ...


Sentado na varanda do meu quarto, vejo a neve cair em Belgrado,
amo os dias de inverno quando estamos na cidade. Em comum acordo com
Damian, criamos nossos filhos longe de tudo, foram educados aqui,
escondidos de todos. Há cinco anos nos mudamos para Roma com a
autorização dos Espossittos que agora são nossos aliados, ficando por lá
para criá-los como pessoas normais dentro do que se espera com o ciúme
desproporcional e superproteção de dois pais que assassinariam qualquer
um que se aproximasse deles.
Antonella se formou em fotografia, uma paixão que segundo ela
adquiriu de mim, ela sabe que sou seu irmão, e sabe tudo que aconteceu
com nossa família. Entendendo nossos motivos de o porquê toda sua
documentação constar o contrário, faço de tudo para que não nos
esqueçamos de onde viemos, e ainda temos muitas reuniões na cozinha
enquanto preparo molhos e massas nos domingos em família.
Romeu está no segundo ano de medicina, ele decidiu cumprir sua
promessa de se tornar o melhor médico de crianças com o mesmo problema
que sua irmã teve, eles viajam juntos e nada os afastam, moram juntos e
isso deixa Damian mais tranquilo, já que mesmo que não estão inseridos no
dia a dia da máfia ele foi treinado pelo pai com todo poder de destruição
que Damian e seus tios poderiam ensiná-lo. Porém, meu filho é um homem
carinhoso e muito cuidadoso.
Damian se divide entre nós, nossa vida normal e os afazeres da
Triglav, é um marido exemplar e em nada se parece com o Anjo do Caos
que um dia conheci.
— Longe de mim? — Sua voz aquece meu corpo quando se
aproxima.
— Estava olhando a paisagem branca de Belgrado.
— Gosta quando voltamos aqui, não é? — Senta-se atrás de mim e
faz meu corpo colar no seu.
— Muito. — Suas mãos percorrem meus braços.
— Acabei de falar com Romeu, ele e Antonella estão indo para
Paris.
— Fazer o que lá, Damian? E as aulas desse menino?
— Passear, Ícaro, eles são jovens tem a vida que jamais tive, deixe
que se divirtam, toda a segurança estará com eles — informa. — Antonella
quer tirar algumas fotos e com certeza vai usá-lo como modelo e pode
acompanhá-los através do GPS que como você e eu, eles também têm.
— Isso não tenho dúvidas — falo porque temos uma parede com
mais de seis metros de altura e quase vinte de cumprimento que liga os
cômodos de nossa casa em Roma com todas as imagens que ela capta da
nossa família.
— Eu amo como seu corpo se encaixa no meu. — Sua voz muda
para um tom safado muito conhecido por mim.
— Acho que preciso me encaixar ainda mais nele.
— Sério? E como isso seria?
— Comigo em seu colo e seu pau na minha bunda, eu rebolando
gostoso enquanto suas mãos fazem todo o trabalho que nos leva ao orgasmo
mais intenso que podemos atingir.
— Porra, Ícaro, você sabe como deixar meu pau duro.
— São anos, amor.
— Vem cá!
Sou puxado com intensidade e tudo aquilo que foi dito e imaginado
acontece, gozamos muito comigo rebolando sobre seu corpo tatuado e
gostoso.

Cinco anos depois...


Observo minha família reunida, vejo todos nós, os casais e nossos
filhos, tudo caminhando conforme dá. Desacelerei, hoje minha prioridade é
minha família, sim todos que estão aqui eu consigo abraçar, tocar e me
permitir ser tocado, não foi do dia para noite, mas foi necessário. Quando
um ou outro precisava do tio Damian eu estava lá, meus filhos foram
fundamentais para isso e agradeço.
Quando Atos completou vinte e cinco anos lhe passei o direito sob
os Obscuros, ele precisava de um motivo para existir, entreguei os últimos
sete, ainda eram jovens e cheios de fúria incontrolada. Romeu é apenas um
ano mais velho que ele, não são próximos por escolha deles mesmo,
segundo ele e Ângelo não queriam que nosso mundo chegasse aos meus
filhos que poderiam ter uma vida longe de tudo.
Ângelo conseguiu seguir em frente com Angel ainda que há pouco
tempo, Atos ainda luta com seus demônios de forma aguerrida, seu olhar
neste momento está em mim, eu os reconheço e sei que no momento
oportuno ele irá precisar de uma intervenção.
— Dam! — Meu Ícaro se aproxima.
Sorrio por imaginar que o chamava assim por acreditar ter poder
sobre ele, e hoje quando o faço é por saber que ele é todo meu mundo.
— Quer comer algo?
— Não, apenas analisando tudo e todos ao nosso redor.
— Suspeitaria se não o fizesse.
— Todos estão se divertindo, apenas você está analisando.
— Um costume antigo que jamais irá embora.
— Sei que será sempre assim, estamos sempre em alerta, mas só por
hoje vamos esquecer os alertas.
— É isso que quer? — indago como um cão adestrado pronto para
obedecê-lo.
— Sim. — Seus olhos castanhos me hipnotizam.
— Então será como deseja.
Levanto-me com ele, aproximando-nos da nossa família, um dia eu
decidi comprar uma joia com o intuito de transformá-lo em meu escravo, o
que não sabia é que Ícaro tinha o poder de me libertar, a chave que abriria a
porta que me transportaria para o universo desconhecido. E ainda que eu
ame estar com ele nesse novo lugar, sou eu quem sempre serei a sua joia,
ele me domou com o coração e não existe poder maior que a corrente que
neste momento me prende a ele, um demônio caótico que consegue controle
apenas ao lado do seu dono.
AGRADECIMENTOS

O que somos na vida além de seres gratos? E é assim que me sinto,


grata, grata por ter finalizado mais um dos meus anjos, por ter permitido
que esse casal contasse através de mim a sua história.
Como sempre não é fácil, confie em mim, nunca é, mas é mais que
gratificante saber que o amor novamente prevaleceu, arrancando da
escuridão mais um anjo sedento por sentir.
Gratidão às minhas betas, minhas leitoras críticas e sensível, minha
revisora e amigas que seguraram minha mão até aqui.
Como poderia não agradecer às minhas leitoras, que ainda mesmo
sem ler já se apaixonaram pelo pouco que mostrei em spoilers curtos,
nenhuma de vocês me permitiu desistir, dedico esse livro a vocês.
Em breve nossos próximos Anjos chegarão e espero ansiosa que
sejam tão amados quanto seus dois irmãos estão sendo.

Próximos livros
Dimitri o Anjo das Sombras
Darko o Anjo da Atrocidade
SOBRE A AUTORA

Dani Medina descobriu sua paixão pela escrita quando num


momento fora da curva sua vida deu um giro de 360º. Casada, mãe de pet,
hoje se sente realizada com o caminho que decidiu trilhar. Os obstáculos
existem, mas pela primeira vez em muitos anos os desafios são encarados
com euforia. Noites de sono perdidas enquanto seus personagens decidem
contar suas histórias fazem com que se mantenha firme no propósito de
continuar criando. Sua única expectativa é gerar em você, leitor, a
experiência de vivenciar paixões avassaladoras, amores intensos, e tudo isso
de várias formas diferentes, seja no dark romance, onde os anti-heróis que
amamos descobrem seus pontos fracos ou digamos o amor, e/ou nos
romances clichês que fazem nossos corações se aquecerem. Ao final, o seu
único intuito é fazer com que você se apaixone e viaje a cada página lida.

@danimedina_autora
OUTRAS OBRAS

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DUSHAM: o anjo da morte

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Nascido da Vingança
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Uma Virgem para o CEO Mafioso

MÁFIA ORGANIZATSIYA

Desejo Sombrio
CLICHÊ

Opostos (não) se atraem


Uma Publicitária para a o CEO

LGBT

Top Secret: Desejo Oculto


[1]
Ato de transformar o ser humano em um pet de exploração sexual, transformá-lo em
gato, cachorro ou serpente, é uma forma sombria e aterrorizante de desumanizar alguém, forçando-a
a acreditar que é exatamente o que o domador deseja.

[2]
Pessoas traficadas de ambos os sexos, aquela que será domada para submissão e
realização dos desejos dos seus compradores.

[3]
Sinistro, Alcunha de Konstantin, atual Chefe da Máfia Sérvia Triglav .

[4]
Belgrado é a capital da Sérvia, no sudeste da Europa .

[5]
Paris, a capital da França, é uma importante cidade européia e um centro mundial de arte,
moda, gastronomia e cultura .

[6]
Ícaro, na mitologia grega era o filho de Dédalo e é comumente conhecido pela sua
tentativa de deixar Creta voando — tentativa frustrada em uma queda que culminou na sua morte nas
águas do mar Egeu, mais propriamente na parte conhecida como mar Icário.

[7]
Filho da puta em italiano.

[8]
O Blackout consiste em um estilo de tatuagem que cobre a pele com blocos sólidos de
tinta preta.

[9]
Também conhecida como piscina termal, esse modelo é construído para receber a água
quente proveniente dos lençóis freáticos, localizados a mais de 500 metros abaixo da terra, onde
também passam pelo processo de aquecimento que caracteriza esse tipo de piscina.
[10]
Leucemia. As leucemias são os cânceres infantis mais comuns e acometem a medula
óssea e o sangue. Os tipos mais frequentes em crianças são a leucemia linfoide aguda (LLA) e a
leucemia mieloide aguda (LMA). A leucemia pode causar dor nos ossos e articulações, fadiga,
fraqueza, sangramento, febre, perda de peso entre outros sintomas.

[11]
A Groenlândia, cujo nome significa “terra verde”, é uma região autônoma do reino da Dinamarca
e a maior ilha do mundo. Fica na região ártica da América do Norte e perto do Polo Norte.

[12]
Bali é uma ilha da Indonésia mundialmente conhecida tanto pela sua beleza natural, com lindas
praias como pela sua diversidade cultural, que inclui templos incríveis, mas também dança, pintura,
artesanato e música.

[13]
Vó em italiano.

[14]
Touch screen ou tela sensível ao toque é um display que possibilita interagir com o
sistema operacional de um aparelho apenas ao tocar em na tela.

[15]
A internet tem três partes principais: a Surface Web, a Deep Web e a Dark Web. A Surface
Web representa cerca de 10% de toda a Internet e inclui tudo o que qualquer pessoa pode encontrar
inserindo termos em um mecanismo de pesquisa como Google ou Yahoo. A Deep Web (apesar do
nome obscuro) é simplesmente onde as informações são armazenadas e não são facilmente acessíveis
por ninguém. Isso inclui tudo o que é protegido por senha, de serviços de assinatura à conta bancária
e informações médicas. Essa seção representa a maior parte da Web. A Dark Web é algo que não é
acessível por navegadores padrão, como Google Chrome ou Firefox. Qualquer tipo de informação
pode ser encontrada na Dark Web; ela só é dark devido a sua acessibilidade mais limitada.

[16]
Download significa transferir (baixar) um ou mais arquivos de um servidor remoto
para um computador local.

[17]
Um búnquer (do alemão bunker, possivelmente de origem ânglica escocesa; pronúncia
em alemão: [búnkәr]) é uma estrutura ou reduto fortificado, parcialmente ou totalmente construído
embaixo da terra (subterrâneo), feito para resistir a projéteis de guerra. Alguns tipos de búnqueres
podem ser considerados sinônimos de casamata.
[18]
É um lançador de mísseis antitanque portátil produzido e desenvolvido pelos Estados
Unidos. O Javelin usa orientação automática por infravermelho que permite ao usuário buscar
cobertura imediatamente após o lançamento do míssil, em oposição aos sistemas guiados por fio, que
exigem que o utilizador guie a arma durante todo o engajamento.

[19]
Além de capital oficial, é também a capital cultural, industrial e financeira do país. Está
localizada na parte sudeste da Romênia.

[20]
Papai em italiano
[21]
Mamãe em italiano
[22]
Tomate em italiano.
[23]
22 UTI é a sigla para Unidade de Terapia Intensiva ou Unidade de Tratamento Intenso de um
hospital. São dotadas de sistema de monitorização contínua, que atende pacientes em estado
potencialmente grave ou com descompensação de um, ou mais sistemas orgânicos. A UTI surgiu
através da necessidade de oferecer um suporte maior para pacientes agudamente doentes, é um
ambiente reservado e único no ambiente hospitalar que oferece monitoria e vigilância 24 horas .

[24]
Ceifeiro em italiano

[25]
Anjo em grego

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