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Copyright © 2021 A. E.

Gabriel
CAPA
Ellen Ferreira
DIAGRAMAÇÃO
A. E. Gabriel
REVISÃO E COPIDESQUE
Patrícia Suellen

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos, são produtos de imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

ERROS DO PASSADO
1° Edição digital ǀ Criado no Brasil.
Todos os direitos reservados. São proibidos o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios ㅡ tangível ou intangível ㅡ sem o
consentimento escrito da autora. A violação de direitos autorais é
crime estabelecido pela lei nº 9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
“Viver sem Catarina Santiago não é uma opção, ela é os
meus oito segundos, meus fodidos oito segundos.”
Catarina Santiago está de volta a pequena cidade do interior
de São Paulo com sua Brasília amarela, mais conhecida como
Madimbum, e seu gato gordo Costela, uma mulher decidida, forte,
cheia de garra e com uma língua afiada que está disposta a
recomeçar, mesmo que seja no lugar que ela prometeu a si mesma
jamais voltar. Uma mulher marcada pelo passado e por suas
escolhas, que se vê diante do homem que ela mais amou na vida, o
homem que a destruiu e que ela prometeu jamais revê-lo.
Zé Vicente Ferreira deixou de viver a vida há muitos anos e a
única coisa que o faz se sentir vivo são os únicos oito segundos que
sua vida passa diante dos seus olhos. Um peão amargurado, bruto,
rústico e xucro que se tornou o segundo maior fazendeiro do país
após a mulher da sua vida ir embora. E agora esse amor está de
volta, e ele ainda é capaz de fazer a adrenalina correr por suas
veias, deixando-o vivo novamente. Um peão bruto que está disposto
a tudo para ter a mulher que sempre amou de volta, mesmo que
isso signifique ir a fundo em erros que ambos cometeram por
desencontros e mal-entendidos do passado. Uma mulher que agarra
boi na unha se vê diante do seu passado e do seu futuro.
Quando a paixão explode entre eles, Zé Vicente fará de tudo
para criar raízes no coração de Catita novamente.
Em um enlace do destino eles descobrirão o verdadeiro
significado da palavra família.
Uma nova chance.
Um novo começo.
Olá docinho, #EDP é um livro ficcional baseado em fatos
consoantes a realidade, estudos, pesquisas e lugares, Cerrado Azul
é totalmente ficcional baseado em minha cidade Itararé-SP que faz
divisa com o Paraná, os acontecimentos que envolvem nossa
personagem portadora de PCD[AEG1], são fictícios, mas que
condizem com a realidade extrema do acidente. Todos os assuntos
aqui tratados no livro foram escritos com o máximo de
responsabilidade e pesquisa.
Lembrando que este livro foi escrito com o intuito de ser
totalmente ficcional, o livro contém expressões chulas, memes,
referências regionalismo do interior, trechos de músicas, gírias,
enfim a linguagem coloquial, bem como falas infantis, crendices
regionais do interior e conselhos de pessoas mais velhas que se
dispuseram a ajudar a compor as crendices regionais do livro, então
leia amabilidade e mente aberta e lembre-se que essa é uma obra
de ficção, sem qualquer objetivo de ser semelhante à realidade ou
ser formal, mesmo contendo conteúdo ligado a realidade e que faz
parte da vida de muitos brasileiros.
Ela também faz menção a algumas religiões como a
umbanda, então leia de coração aberto aos conselhos do livro e
com respeito, tudo aqui citado referente a religião teve autorização
dos membros da religião que convivem com a autora, no caso eu. E
foram lhe dados com muito carinho e amor, embora esse seja um
romance com conteúdo erótico, ele traz coisas que eu espero que
sejam capazes de chegar ao seu coração de uma forma positiva.
Espero que a família Santiga Ferreira aqueça seu coração e
faça você se apaixonar por um peão bruto e de coração mole e por
uma doutora que agarra boi na unha.
Com amor, Dri.

Este é um romance erótico/hot e pode conter gatilhos e


temáticas delicadas como violência contra mulher, violência
doméstica e racismo. A autora não apoia e nem tolera o
comportamento de alguns personagens retratados neste livro. Está
é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
Docinho, o peão e a nossa Catita já estão entre nós, de
antemão, se você procura um enemies for lovers, esse livro não é
pra você, mas se você procura um peão casca grossa, espaçoso
que não tem vergonha nenhuma de roubar corações e uma mocinha
gorda dona de uma Brasília amarela que aprendeu a viver de novo
passando por vários obstáculos, você está no lugar certo, #EDP foi
um grande sucesso meu no laranjinha da promiscuidade, vulgo
Wattpad em 2017 e 2018 com quase 150 mil leituras e hoje ele está
em uma nova versão, totalmente diferente e prontinha para aquecer
seu coração, aqui você vai encontrar um peão arrependido, rendido
e apaixonado e vai viajar para o interior de São Paulo comigo, um
livro para aquecer seu coração e despertar um fogo do diacho em
vocês.
Talvez isso seja muito diferente de toda ação e criminosos
pecaminosos que você esteja acostumada a ler em meus livros,
mas não deixa de ser menos quente e muito promiscuo.
Faça uma boa viagem a Cerrado Azul, meu docinho!
Com amor, Dri.
O texto segue as normas vigentes da Língua Portuguesa,
entretanto, características do vocabulário informal foram utilizadas
para deixar a leitura mais leve e fluida.
A autora usou da linguagem informal em vários momentos,
sendo assim, é possível encontrar palavras ou frases que não estão
em conformidade com a Gramática Normativa.
Os trechos em itálico se referem a termos técnicos,
estrangeirismo, gírias, regionalismo e termos coloquiais.
Ainda pode haver alguns erros no texto, porém, já estão
sendo retificados.
Portanto, peço que deixem a opção de atualização
automática ligada — ícone na página dispositivos e conteúdo, no
site da Amazon.
Assim vocês sempre terão a versão atualizada dos meus
livros.
E qualquer dúvida, podem me chamar nas redes sociais,
estou à disposição de vocês, meus doces ou se acharem algum,
pode reportar à Amazon para que eles me avisem ou printar e
mandar por direct no Instagram ou entrar em contato comigo pelo e-
mail: autoraaegabriel@gmail.com
Quer curtir a playlist de #EDP, Docinho? Use o botão da câmera à
direita da barra de pesquisa no aplicativo Spotify. Toque em "Scan",
aceite as permissões para Spotify para acessar sua câmera e direcione
ao nosso Spotify Code:

Você vai ser redirecionado ao Spotify, a playlist está disponível


para usuários da versão grátis e premium, agora é só curtir as músicas do
nosso Zé cavalão e da nossa Catita.
Bom, eu sempre dedico meus livros a dona Amélia, minha
mãe e dessa vez não seria diferente, mas hoje eu dedico também a
uma grande mulher, a Dona Lili. Em 2021 eu ganhei um anjo da
guarda, com um coração enorme, foi ela que me disse que esse
livro iria sair ainda esse ano, me apoiou e insistiu, ela assim como
Dona Amélia, vibra a cada conquista minha, e me abriu os braços
quando eu mais precisei, me consola, ri comigo e me abraça. Dona
Lili, esse romance é para senhora.
E para minha irmãzinha Conça, que é meu Norte e meu Sul,
meu freio, que me segura quando eu estou prestes a disparar coices
para todos os lados. Eu te amo, garota brilhante!
Obrigada, a Patrícia e Leticia por todo apoio, vocês são a
melhor equipe, obrigada pelas opiniões, puxões de orelha, risadas e
inúmeras conversas que melhoram meus dias. Obrigada Pat e Let,
vocês são incríveis.
E docinhos da laranjinha da promiscuidade? Zé Vicente e
Catita são para vocês que esperaram por tantos anos por esse livro.
São Paulo
Algumas semanas antes...
Caminho para dentro da clínica veterinária esticando minhas
pernas, a maldita viagem acabou comigo, mesmo parando diversas
vezes no caminho, odeio viajar por longas distâncias, minhas mãos
suam, meu bucho[AEG2] revira, que diacho[AEG3]. Não preciso
mais fazer isso, sair do meu Cerrado, não mais, apenas quando
participo de rodeios anuais, de resto o abeia[AEG4] do meu irmão
consegue segurar as rédeas de tudo até mesmo quando eu o
mando para fora do país. Quando eu coloco meus olhos na mulher
que se inclina e ri sobre um enorme balcão, toda a porra do meu
sangue corre mais rápido e por um instante eu saio de órbita. Foram
malditos dez anos, malditos dez anos, longe dela.
Ela consegue estar ainda mais linda do que na foto do
celular. Meus olhos varrem o espaço luxuoso para animais, ela
conseguiu. Ela se tornou a porra de uma linda mulher bem-
sucedida.
— Tarde! — Minha voz arrasta e toda a porra do meu mundo
para quando os olhos de jabuticaba [AEG5]encontram os meus, o
sorriso doce morre aos poucos, ela arregala os olhos levemente, a
respiração fica entrecortada.
Mas ela se recompõe em segundos, quando os olhos de
jabuticaba me fitam um arrepio percorre minha espinha de forma
gostosa, ela se endireita e meus olhos vagueiam pelo corpo cheio
de curvas, o jaleco branco está aberto, mostrando um macacão
florido, agarrado ao corpo cheio, meus olhos descem para os seios
volumosos, o lindo decote chama a minha atenção, engulo em seco
e desço meus olhos, a barriguinha macia marca o macacão e
quando ela se endireita o corpo fica ainda mais delicioso, o rosto
dela ganha uma tonalidade de vermelho, meu moranguinho...
Quando meus olhos passeiam para suas pernas, engulo em seco.
Está lá a marca dos meus erros com ela. Ela leva a mão delicada a
perna e engole em seco.
— Em que posso ajudar? — A voz macia me ganha, trazendo
lembrança de nós dois juntos, eu quase fecho os olhos, meus ossos
doem de saudades.
— Sabe o que eu vim fazer aqui, já que ignorou meus e-mails
— declaro, coloco a pasta de documentos em cima do balcão caro
de mármore e tiro meu chapéu, a moça da recepção suspira e me
olha dando um sorriso amarelo de forma constrangida.
— Meu advogado foi notificado pela sua advogada, senhor
Ferreira. — Meu sobrenome dança em seus lábios me irritando.
— Acho que você não vai querer que as pessoas escutem
nossa conversa, não é, Catita? — Ela nota o sorriso em meus lábios
e deixa um suspiro sair, vejo o suor brotar em seu lindo rosto, ela
retira o jaleco, mostrando ainda mais o corpo perfeito. Coloco meu
chapéu em minha cabeça e dou a ela um sorriso.
— Me acompanhe. — Ela me indica um corredor e quando
caminha em minha frente, é a porra do céu, sequer consigo
raciocinar direito, o leve pender da bunda dela me faz duro, feito
uma maldita pedra, antes de ela abrir a porta ajeito minha calça. O
mancar da perna dela é nítido e isso me dilacera. Ela me dá
passagem e respira fundo. — O que quer, Ferreira? — A voz dura
me bate.
— Não vai me convidar para me sentar? — Sem que ela
mande, puxo sua cadeira de luxo e me sento, tiro meu chapéu o
colocando em meu joelho e analiso a sala dela. Ela bufa. — A placa
de vende-se lá fora me deixou intrigado, problemas no paraíso? —
questiono, já sabendo o motivo da placa, dou um sorriso e ela me
ignora com força, me fazendo desejá-la ainda mais.
— Já assinei a documentação — diz sem rodeios, ignorando-
me.
Há duas semanas um maldito e-mail dela chegou, quando
seu pai e sua mãe morreram ela passou a ser a única herdeira das
terras que seu pai e meu pai compraram juntos, depois que meu pai
me deu o comando da fazenda ele abriu mão de tudo passando
para mim e para meu irmão todas as terras dos Ferreiras, inclusive
as terras que ele mantinha com Alberto, pai de Catarina, quando
comprei a parte de meu irmão José Manoel, eu e ela passamos a
ser os donos legítimos das terras que cortam o rio Cerrado Azul.
Mas Catarina conseguiu fazer da minha vida miserável ainda mais
infernal, o maldito protocolo dizia que ela estava abrindo mão da
única coisa que ainda me fazia ter esperanças de vê-la um dia. Eu a
procurei com o maldito diabo procura uma alma, mas ela sequer
respondeu meus e-mails, o arreio[AEG6] que me mantinha na
cidade se soltou, e aqui estou eu em frente a única mulher que me
tem amarrado pelas bolas sem sequer querer.
Já faz três fodidos anos que ela não paga o ITR[AEG7], e
como isso as terras podem ir a leilão, mas quitei a dívida e com isso
ela resolveu abrir mão de tudo, me deixando ainda mais puto. Ela
está se desfazendo do que havia restado dos pais dela?
— E por que acha que estou aqui? Apenas por alguns
alqueires[AEG8] de terra? — retruco, meus olhos vão para a maldita
aliança de ouro em seu dedo, ela brilha, ao perceber meu olhar ela
recolhe a mão a escondendo atrás da mesa. Por que ela ainda usa
essa merda? — Você já foi mais esperta, moranguinho.
— Qual o motivo da visita? Veio ver o quão fracassado é meu
casamento? E me oferecer consolo? Que precisou pagar dívidas
que não eram suas? Não me diga que viajou quilômetros apenas
para me dizer que eu realmente já fui mais esperta. Sem rodeios,
Ferreira, o que quer? — A voz dura ao invés de me irritar me fez
desejá-la ainda mais.
— Você. — Ela apenas arqueia uma sobrancelha e deixa um
maldito sorriso frio escorrer de seus lábios carnudos e cheios.
Fazendo um arrepio percorrer meu corpo, os lábios cheios e úmidos
tremem levemente e eu os imagino em volta do meu pau, enquanto
seguro firme seu cabelo cheio e macio. Mesmo o sorriso frio
dançando em sua boquinha linda, seus olhos entregam, nada
mudou. O desejo, a paixão que ela sentia, a porra do amor que ela
jurou que ia esquecer ainda está lá no fundo, fazendo de mim dono
dos seus pensamentos. — Volte para casa, eu fico com as terras.
— Por que não estou surpresa? Eu sou casada. — Ela leva a
mão bem-cuidada e balança em minha direção, mas lá no fundo eu
noto a porra de um desgosto fodido, ela disse apenas para me ferir.
— Era casada. Se isso fosse a porra de um problema eu não
estaria aqui e você não estaria me olhando com desejo. — Cruzo
meus braços, olhos dela vagam por meu corpo. — Não me diga que
agora está considerando manter os chifres que seu marido lhe deu?
Ou manter um fodido merda que arrancou todo seu dinheiro, Catita?
— Uma leve sombra passa por seus olhos, eu ainda a afeto e vou
usar isso contra ela. — Me diga, até quando ia manter uma
sócia[AEG9] com o abeia do seu ex-marido? — Enfatizo o ex. O
olhar dela se torna frio e qualquer leveza que ela mantinha em seu
rosto vai embora. — Aceito as terras e já quitei as dívidas que elas
possuíam, mas você sabe meus termos.
— Se era isso que tinha para dizer, sabe onde fica a saída,
Vicente. — Eu me levanto jogando a pasta em cima da mesa, as
fotos caem sobre a mesa e ela ofega, a mágoa em seu olhar é
instantânea, os olhos marejam, mas ela se mantém firme e forte.
— Foram malditos dez anos e não pode negar que não pensa
em mim. Ou já esqueceu que era em meus braços que você foi
mulher, esqueceu que o primeiro sim que disse foi para mim? —
questiono, fazendo-a ofegar e me olhar com tristeza. O
arrependimento me bate todos os dias, a culpa e a saudade me
fazem miserável. — Eu vou aceitar suas terras, saldei tudo que
devia junto ao banco, mas você não pertence mais a esse lugar,
sabe disso. Não tem mais nada aqui e quanto mais cedo aceitar isso
mais fáceis as coisas serão, Catita.
— Mulher eu sempre fui, mas fui uma mulher burra em
acreditar em um moleque como você. — A voz dela me bate como
um canivete afiado. — As coisas nunca foram fáceis para mim, por
que diabos a essa altura do campeonato você achou que ia ser?
Sem querer insultar sua inteligência escassa, peão, mas eu já vi
essa novela uma vez e te garanto que o final eu sei decor.
— Eu era um moleque inconsequente — brado, e ela ri em
escárnio. — Não sabia o que queria da porra da minha vida, eu
errei.
— Não me diga que saiu de Cerrado Azul apenas para me
dizer que se tornou um homem, peão? Acredite, se você se tornou
homem ou não, isso pouco me importa, importou um dia, agora já
não importa mais. — A mágoa cortante me faz fechar os olhos,
minha mandíbula trava.
— Você me tirou da sua vida sem aviso prévio. — Minha voz
sai entredentes.
A risada cheia de deboche enche a sala.
— Deus, queria que eu mandasse flores e um cartão de
agradecimento? — Ela me olha, os olhos dela cheios de
ressentimento e lágrimas não derramadas me fazem ainda mais
miserável, a fisgada em meu peito me faz olhar para longe dos
olhos cor de chocolate.
— Jamais vai me perdoar, não é? — pergunto e sinto minha
garganta amarga.
Ela se levanta, e caminha com a mão sobre a perna, e vai até
à porta. Me levanto e faço o mesmo, mas antes que ela a abra eu
espalmo minha mão na madeira e ela ofega, sou capaz de afetar
tudo nela, mesmo depois de tantos anos.
— Já o fiz. Mas prometi a mim mesma que jamais confiaria
em você. Se era meu perdão que queria poder dormir em paz. —
Sorrio desgostoso de suas palavras, a necessidade ardente de tê-la
em meus braços, me faz dar um passo em sua direção ficando entre
ela e a porta.
— Você levou minha maldita paz quando me deixou. — Ela
me olha.
— Eu lhe deixei? Quer que eu refresque sua memória? Eu
estava lá e a história não é bem essa. — Ela cospe as palavras e
isso me bate com força, a voz de veludo dela fica por um fio
miserável.
— Eu cometi um erro. Muitos erros — admito, envergonhado.
— E um deles quase te tirou de mim. Eu não ia ser capaz de viver
na porra dessa terra se você não tivesse resistido — revelo,
fechando meus olhos.
— Eu jamais ia imaginar que o único lugar que eu me sentia
segura quase ia causar minha morte, ninguém é culpado do que
aconteceu. Você me prometeu flores, mas eu não imaginei que
quase seriam para o meu caixão — a fala dela me gela a alma, o
riso frio e sem emoção faz um maldito calafrio percorrer minha
espinha. — Caso você se sinta culpado pelo acidente, eu nunca te
culpei, peão. — Catita fala as palavras de merda pra mim, o tom
arrastado me faz ainda mais ligado nela.
— Eu tentei te pedir perdão — digo, e ela me olha
balançando a cabeça.
— Eu te perdoei, mas isso não significa que vai entrar em
minha vida como um boi desgovernado e levar com você o resto
que sobrou, eu errei duas vezes, confiei demais e me deixei levar,
primeiro; por um amor bobo que eu sentia por você e depois por um
cara que me ofereceu uma segurança que eu nunca precisei.
Demorei demais para perceber que não preciso ser amada por
ninguém além de mim, Vicente.
— Diga que não sente mais nada por mim, jamais vai poder
dizer que ele te fode como eu fazia e quero fazer — rosno em sua
direção, meus olhos vão para os lábios dela. A pele arrepiada ao
meu toque confirma minha teoria. — Eu não sou o mesmo de dez
anos, Catarina. Eu fiquei na maldita sombra de um abeia da cidade,
vi ele ter o que era pra ser meu. A maldita culpa é minha, eu nos
coloquei nessa maldita posição.
Seguro seu queixo com firmeza, fazendo-a me olhar. Meus
dedos calejados acariciam a pele macia e fria dela. O cheiro de
morango me bate em cheio, o mesmo cheiro de anos atrás, meu
cheiro doce, que sempre me deixou louco por ela.
— Voltei para sua vida e vou ficar. Você não vive com ele há
meses por que ainda usa essa maldita aliança?
— Não é da sua maldita conta, foi um erro ter recebido você
aqui. — Ela se afasta indo para longe do meu toque.
— Te vejo em breve, doutora. — Toco meu chapéu e abro a
porta. — Muito em breve.
Saio da sala dela sem olhar para trás, quando chego à
calçada o ganido vem da caminhonete, quando abro a porta Bisteca
sai da caminhonete com um maldito boi desgovernado, vai correndo
em direção à clínica.
— Porra, Bisteca? — Entro na clínica, mas paro com tudo ao
notá-lo cheirando a bunda de um gato preto, o bichano me olha com
uma cara diabólica, Catarina se abaixa com uma facilidade enorme
e acaricia o pelo de Bisteca. Sorrio orgulhoso, mesmo com o peito
doendo, ela se adaptou e recomeçou. Aprendeu tudo novamente.
— Ei? De onde você veio, garoto? — Bisteca dá uma
mordiscada no pelo do gato preto e o gato ronrona, ele começa a
cheirar Catita e faz algo que já não é mais surpresa, cheira a bunda
de Catarina fazendo ela quase se desequilibrar, ela ri de forma doce
e o meu vira-lata continua a inspeção na minha doutora.
— Porra, ele é meu. — Ela se vira, provavelmente não tinha
notado a minha presença, o sorriso dela morre, Catita se levanta e
noto o leve estremecer do corpo dela, caminha até uma das
prateleiras da loja da clínica e pega um saco de petisco e o abre,
Bisteca serpenteia pulando e ganindo, o gato cheira o petisco e faz
cara de nojo. Porra, ela vai pensar que eu deixei o esganiçado
passar fome. Ela pega uma garrafa de água e oferece para ele. O
gato vem em minha direção, me abaixo e ele me cheira com nojo.
Mas me olha de forma profunda e simplesmente se joga em meus
pés de barriga para cima.
— Costela, odeia frango — ela fala, sem me olhar. Porra, o
nome do gato é Costela? Só pode ser brincadeira. Bisteca e
Costela.
Acaricio o pelo dele, e ele embola em minha mão, me
mordendo de forma leve e me chutando com as patinhas traseiras,
de forma engraçada.
— Nunca acredite quando Costelinha lhe oferecer a barriga.
— Ela ri, mas não me olha, a paixão dela pelos animais sempre foi
seu maior fraco e porra eu amo isso nela. Sua bondade, seu espírito
altruísta. Sempre pensando em todos antes dela.
Ela suspira e quando ela se levanta meus olhos se fixam para
sua perna, ela suspira e dá um passo para trás. Balanço minha
cabeça e assovio. Eu fodi com dez anos da nossa vida e vou
consertar a merda que eu fiz.
— Hora de ir, Bisteca. — Ele pula e se remexe aos pés da
minha doutora e vem em minha direção. Toco meu chapéu e ela me
olha de forma firme.
Até breve, moranguinho.
Viver sem Catarina Santiago não é uma opção, ela é os meus
oito segundos[AEG10], meus fodidos oito segundos.
Cerrado Azul
Dias atuais...
Engulo em seco, a amargura presa em minha garganta
aperta conforme o verde começa a dominar minhas vistas, o fundo
do poço não é um lugar bonito, e eu já estive tantas vezes lá que eu
prometi a mim mesma que essa seria última vez, eu não pretendo
voltar, cansei de ir para lá e me reerguer cheia de dores e novas
feridas que talvez jamais cicatrizarão novamente.
Tudo se tornou com um joelho ferido, e existe sempre uma
merda nova para arrancar a casca quando ele está prestes a
cicatrizar, e aí uma ferida nova se abre e depois outra e mais outras,
que droga eu fiz da minha vida? O que eu me tornei além de ser
uma trintona dona de uma Brasília amarela e de um gato gordo com
o espírito de herói?
A chuva bate no para-brisa, tornando quase impossível de
ver a estrada de barro, Costela que está deitado no painel se
espreguiça, ele sempre sai comigo e anda ao meu lado, viajar no
painel, é sua forma favorita de curtir a viagem. Minha mão aperta o
volante ainda mais forte, meus dedos ficam brancos. Eu sinto
minhas costelas doerem e a dor fantasma [AEG11]em minha perna
fisgar, tento enviar sinais ao meu cérebro que está tudo bem e que
não tem dor alguma.
Por puro reflexo eu olho para trás, a chuva bate com força na
lona da Brasília, me sinto esgotada, desconfiada, magoada e triste.
Respirando fundo eu engulo a vontade de chorar. O medo me
invade, minha vida mudou de direção diversas vezes com o passar
dos anos, fui e voltei ao começo diversas vezes, já recomecei tantas
vezes que agora me questiono se recomeços realmente valem a
pena, eu sempre continuei de onde parei, mas nunca parti assim
sem nada.
Eu já tive tudo e hoje o que me resta é senhor Madimbum
minha velha Brasília amarela, Costela e caixas cheias de histórias e
malas. Agora nada mais tem valor, os carros, meu antigo
apartamento, minha clínica, agora só passam de coisas que
passaram por minha vida. Talvez eu nunca tenha nada que
realmente permaneceu em minha vida.
Meu pai nasceu em São Paulo e em uma viagem a negócios
com meu tio conheceu minha mãe, na pequena cidade de Cerrado
Azul. Sua amizade com meu padrinho veio bem antes. Quando ele
resolveu patrocinar meu padrinho em um rodeio em Barretos. Já
que mesmo meu padrinho tendo dinheiro não era suficiente, ele
precisava de um nome. Meu pai e meu tio já estavam no mercado
de laticínios desde quando meu avô era menino. Afinal, o nome
Ferreira era naquela época conhecido só em Cerrado Azul, diferente
de hoje que é conhecido em grande parte da América Latina e
alguns países, são conhecidos pelos prêmios em rodeios e pelo
grande negócio de exportar gado nelore e leiteiro para vários
lugares como México e Argentina. E por seu maior feito a venda de
sêmen de diversos equinos e bovinos de raça. O que os deixou
ainda mais ricos.
Quando eu vim para São Paulo morar com meu tio e minha
tia há dez anos. Demorei dois anos pra aceitar minha nova
condição. Mas nada foi fácil, conciliar a faculdade com as
fisioterapias, com as consultas e cirurgias. A partir daquele
momento percebi que nada seria igual, eu teria limitações.
Dificuldades.
Quando deixei Cerrado Azul há dez anos eu nunca me
imaginei como uma pessoa de cidade grande. Com o passar do
tempo aquele sotaque puxado desapareceu. Mostrando-se apenas
em momentos de muita raiva. O que é raro.
Tive que me adaptar não só a minha nova condição, mas
também a uma nova família. Que tinha manias. Gostos totalmente
diferentes de mim.
Não é fácil ter limitações causadas pelo meu acidente. Mas
mesmo assim a ferida em meu coração foi maior que qualquer
sequela deixada pelo acidente. Eu jamais queria ter perdido tudo
que perdi.
Eu agradeço a Deus por não ter tido nenhum dano, eu
acordei seis dias depois do meu acidente. Mas eu já não era mais a
mesma. Perdi minha perna esquerda do joelho para baixo. Se eu
fechar os olhos eu consigo sentir a dor da picada da jararaca contra
minha perna, eu posso vê-la se enrolando em minha perna. Meu
padrinho costumava dizer que era um em um milhão que jararaca
derrubava e eu fui esse um. Eu fui aqueles 10% que a ciência
geralmente não registra casos, foram duas picadas, a primeira em
meu tornozelo e a segunda na panturrilha. E quase oito horas
agonizando até ser encontrada, eu tinha picos de consciência, mas
não o suficiente para me fazer gritar ou tentar descer as escadas do
celeiro.
Quando eu acordava via ela esmagada ao meu lado e eu
sequer tinha força para pedir ajuda, ouvia meu nome sendo
chamado, mas não conseguia pedir socorro, suava frio e gemia de
dor, minha perna pegava fogo e com o passar do tempo ali caída, eu
sentia minha perna encolher e retesar, era como se eu estivesse
colocando-a em água quente.
Minha madrinha ficou comigo o tempo todo quando fui para o
hospital. Me neguei a ver Zé Vicente depois que eu acordei, mesmo
ele tentando entrar no meu quarto a todo custo, eu nunca o odiei,
jamais seria capaz, mas aquele amor puro e inocente que eu sentia,
esfriou, no entanto, nunca morreu, ele sempre martela em meu
peito, como um prego sem ponta.
Com o passar dos dias minha madrinha revezava com minha
tia. Foram quase três meses na UTI no hospital de São Paulo
lutando contra a morte, naquela época não havia nada que podia
ser feito, mesmo eu tomando o soro antiofídico[AEG12] eu já não
sentia mais minha perna do joelho para baixo, tudo ficou preto, a
necrose [AEG13]foi tão rápida e meu atendimento foi tão demorado
que eu quase não resisti.
Foi tanto tempo naquele hospital, foi tanto tempo sentindo
dores insuportáveis. Que eu me via pedindo para Deus me levar,
parar com a dor, não havia mais nada nessa terra a que eu pudesse
me agarrar, minha fé por muitas vezes titubeou.
Eu virei notícia em todos os canais de televisão.
Jovem do interior tem perna amputada após picada de
serpente venenosa.
Jovem quase morre por conta de picada de Jararaca no
interior de São Paulo.
Afilhada de Aparecido Ferreira é encontrada e luta pela
vida em hospital da capital de São Paulo.
Eu me lembro de cada uma delas, de cada palavra. Elas são
como uma tatuagem em minha alma.
Foi quando eu resolvi nunca mais voltar. Eu nunca consegui
odiar ninguém, apenas não confiava mais em Ferreira. Foram anos
até eu aceitar minha nova condição. Me adaptar. Fazer tudo sozinha
novamente. Me sentir completa. Aprender tudo novamente. Eu virei
uma criança descobrindo o mundo, eu precisei aprender a andar
novamente, mas dessa vez era diferente, eu não me sentia mais
inteira.
E pela segunda vez eu fui uma idiota, me vi casando com
Daniel, ele não me deixou no altar como Ferreira fez, ele fez pior,
me levou até lá e quando eu já não o satisfazia mais ele, decidiu
que meu dinheiro era útil, eu me vi perdendo tudo, todos os meus
investimentos, ele desviou todo meu dinheiro e conseguiu manobrar
a justiça me deixando sem nada.
Deus, ele limpou minhas contas bancárias e me deixou mais
lisa feito óleo e quando tentei provar o que ele fez, ele quase me
colocou em numa maldita clínica psiquiátrica, tive que me desfazer
de tudo que me restou, a clínica que eu construí do zero, minhas
terras, a única coisa que me restou foram as terras que meus pais
me deixaram em Cerrado Azul, terras que ficaram cheias de dívidas,
pois eu achava que anualmente Daniel pagava os impostos, mas
até isso aquele merda desviou, e o que me restou foi Bisteca e trinta
mil reais em uma conta com o nome de minha madrinha Esperança
e meu velho Madimbum.
Eu vendi tudo, meus dois carros, o apartamento, ficando
apenas com a antiga Brasília amarela dos meus pais. Me lembro
quando eu a trouxe para São Paulo ela sequer dava partida, depois
de aceitar minha nova condição de amputada, o que me restou para
preencher o vazio em meu peito foi a faculdade de veterinária e
reformar meu velho Madimbum. Mas aí tudo mudou, eu me formei e
decidi investir meu dinheiro em uma clínica de última geração, que
se tornaria referência em São Paulo.
Conheci Daniel quando dei início ao meu projeto da clínica,
ele nunca conseguiu tirar Ferreira do meu sistema, mas ele me deu
uma segurança momentânea que eu pensava precisar, eu queria
filhos e ele também. O arquiteto de sorriso fácil e amável começou a
fazer meu coração bater mais rápido.
Respiro com dificuldade, minha costela lateja.
Filho da puta, ele não foi homem o suficiente para assinar os
malditos papéis do divórcio, mas foi um homem de merda para me
jogar no chão e me chutar depois do juiz assinar por ele, em menos
de quinze minutos da decisão do juiz ele estava em meu
apartamento, levando o inferno fora de mim. Eu fiquei sem nada,
mas fui até o fim, e em menos três meses eu fiquei livre o maldito
nome Bragança.
Olhei para Costela, seu rosto ficou inchado, ele avançou em
Daniel, ele devolveu uma bicuda em seu rostinho peludo, os
vizinhos escutaram, e quando conseguiram me ajudar, Daniel já
estava longe. Deus, eu nunca desejei tanto que ele fosse pego e
fosse colocado atrás das grades. E pela primeira vez, o juiz
acreditou em mim, expedindo um mandado de prisão. Já faz dois
dias que ele levou o inferno fora de mim.
Quando a polícia e os paramédicos chegaram, eu estava
caída no chão, sendo amparada por dois vizinhos que eu nunca
pude fazer amizade e por Costela que avançava em quem tentasse
chegar perto de mim. Daniel tirou minha prótese e a destruiu.
Quebrando com ela tudo que ele via pela frente, móveis e o que ele
pudesse achar. Ele gritava me chamando de vadia aleijada, gorda e
como tinha feito um favor em se casar comigo.
Droga, sinto as lágrimas descerem nublando ainda mais
minha visão, o barulho do trovão corta e céu me fazendo pular no
banco. Eu duvidei que meu velho Madimbum pudesse aguentar
tantas horas de viagens e tão cheio.
Tudo foi uma grande merda, desde o início, perder meus pais
e depois ser deixada por Ferreira no altar, o acidente com a maldita
cobra, meu casamento fracassado com um agressor de merda.
Tudo uma grande fodida merda, sequer sou capaz de
imaginar por qual motivo eu ainda sonho em ser mãe, ter uma
família. Já que a vida tem deixado claro que esses não são os
planos dela para mim.
Me mantenho firme, respiro fundo. Nossa viagem foi
tranquila, no caminho para cá eu liguei para meus padrinhos. A
chuva forte virou apenas uma garoa fina quando entro na cidade. As
ruas da cidade é boa parte de terra e de lajotas. As casas são
pequenas e antigas. Algumas de madeiras outras de material de
alvenaria. No final da rua há um pequeno cemitério. E na frente uma
pequena praça. A única da cidade. Cheias de flores de vários tipos.
Plantadas pelos moradores. É aqui que eu vou me estabelecer,
começar uma nova vida. Sei que serei útil como veterinária, poderei
recomeçar e quem sabe ter minha clínica de volta, aqui nessa
cidade.
Abaixo a janela, e o cheiro de terra molhada vem com tudo,
sorrio sentindo a garoa em meu rosto, Deus, tudo me puxa de volta
para casa, meu coração dispara, quando o tucano pousa na árvore
da praça, ele se mexe fazendo as lindas penas brilharem, a garoa
começa a ficar mais fina e de repente o Sol brilha entre as
montanhas, uma revoada de andorinhas passa pelo céu na fina
garoa, fecho meus olhos e sorrio. Deus, casa, lar. Meus olhos
marejam e Costela pula em meu colo, colocando a cabeça na
janela.
Sorrio quando ele coloca a língua áspera para fora e lambe a
garoa fina no ar, eu sequer noto que estou rindo entre lágrimas,
jamais imaginei que me sentiria livre no único lugar que um dia eu
jamais jurei pisar novamente, Deus!
Ainda rindo, sintonizo a estação de rádio e a música enche
senhor Madimbum. Depois da minha reabilitação, eu me dividia
entre estudar e acompanhar sua reforma eu queria viajar o interior
nele, assim como meu pai e minha mãe fizeram comigo, nem que
seja apenas com Costela e uma churrasqueira portátil, mordo os
lábios, Costela pula no banco e eu manobro na rua, virando em
direção a nossa rua. Ela sequer faz barulho, Daniel nunca gostou
que eu saísse com ela, pois tinha vergonha já que somos motivo de
olhos curiosos por onde passamos.
Quando paro em frente a pequena casa, sorrio. Foi aqui que
meus pais começaram, aqui que eu nasci, foi aqui meus pais foram
felizes o quanto puderam e agora é minha vez. Meu pai mesmo
tendo dinheiro e terras nunca gostou do luxo e minha mãe sempre
foi humilde demais e o dinheiro do meu pai nunca a deslumbrou, e
agora eu percebo o quão valioso isso é. O amor pela vida e pelas
chances de tentar novamente que ela nos da, hoje talvez eu só
fosse mais uma vítima de feminicídio como tantas outras mulheres,
mas eu tenho outra chance e não vou desperdiçá-la. Posso ter trinta
anos, mas ainda tenho muito tempo para ser feliz e realmente me
encontrar em mim.

Olho para Madimbum cheio de caixas e mais caixas, rio de


desespero, meu padrinho costumava dizer que Fuscas e Brasílias
são abençoadas por Nossa Senhora, pois pode não ter espaço, mas
sempre vai caber mais um, nunca tive vergonha da minha Brasília,
já me ofereceram muito dinheiro nela, mas ela sempre vai ser
minha, meu padrinho brincava que eu havia sido feita no capô dela
em uma noite estrelada atrás da igreja de Cerrado Azul. E talvez por
esse motivo eu ame meu velho Madimbum, algo que fizeram meus
pais felizes, mesmo com todo dinheiro que meu pai deixou.
Costelinha serpenteia seu corpo gordo pela calçada
verificando as poças de água. Rio quando ele cheira uma das flores
do canteiro e espirra. Tomando cuidado para não ter uma avalanche
de caixas puxo o banco do carona, ela veio pesada, além disso
aguentou cinco horas de viagem firme e forte na estrada, eu não
deixei nada meu para trás. Eu perdi tanta coisa e não deixaria para
trás o que me restou.
Puxo uma das minhas malas, e assovio chamando Costela,
ele corre balançando suas banhas em minha direção, empurro o
portão e noto algumas pessoas na rua me olhando. Quando abro a
porta, eu respiro o ar aliviada, o cheiro de mofo impregna o
ambiente, móveis antigos, terei muito trabalho pela frente, mas tudo
vai se ajeitar. Ando pela casa, seguida por Costela, sigo em direção
ao antigo quarto dos meus pais e abro a porta, a saudade me bate,
eu não me lembro deles, a casa está parada no tempo, como há dez
anos. Tudo no mesmo lugar. Antes de abrir as janelas testo a luz e
sorrio ao perceber que tudo está funcionando, menos o chuveiro.
Jogo a mala na cama empoeirada. Faço algo que eu nunca faço,
visto um short, minha prótese brilha. Vou até à janela e escancaro
tudo.
Faço o mesmo com as demais janelas e vou até Madimbum,
a rua agora tem algumas pessoas, que ao me notarem na rua
arregalam os olhos, nunca tive vergonha da minha prótese e agora
não seria diferente. Ligo o som de Madimbum e deixo a música
tocando enquanto tiro as caixas e malas. Quando termino, meu
amarelinho fica até mais alta, rindo eu começo a olhar o tanto de
coisa que coube dentro da minha abençoada.
Coloco tudo no chão e com cuidado levo tudo pra dentro,
tomo cuidado com a minha prótese de praia, colocando-a no chão,
Costela sobe no muro baixo de lá pula para o teto da Brasília e
deita, enquanto eu levo todas as caixas para dentro. Quando ajeito
tudo na sala, chamo Costela colocando sua coleira, pego as chaves
suando feito uma porca, tranco a casa e vou em direção à minha
companheira de guerra, perdi as contas de quantas vezes os carros
de luxo que eu tive me deixaram na mão, mas meu velho
Madimbum sempre está comigo.

Quando entro na estrada Ferreira eu canto, deixando meus


gritos invadirem Madimbum, Costela mia e se desespera me
fazendo rir. Vejo alguns peões nos olharem, curiosos quando eu
desço e abro a porteira. As várias cabeças de gado pelo enorme
pasto me fazem sorrir. A estrada é cercada. Dividindo os dois
pastos. E cheia de lindos animais.
Manobro o Madimbum em frente à sede da fazenda, e alguns
vira-latas vêm em nossa direção. Costela apenas olha os diversos
cães, mas um que vem correndo ao longe latindo eu reconheço,
Bisteca.
— Santo Deus! — Vejo a senhora que ajudou a nos criar
colocar a mão nos lábios largando a cesta de roupa, ela larga as
roupas molhadas provavelmente pela chuva e vem em minha
direção.
— Conça... — Sinto abraços ao meu redor e vários gritos.
Conça me ergue e rodopia comigo, os cachorros latem e Conça os
toca. De longe vejo Manoel em cima de um manga-larga, ele grita e
eu aceno.
— Bença, madrinha. — Abraço minha madrinha, e ela
soluça.
— Oh, meu anjo, Deus! — Começo a rir pela forma alta e
gritada que eles sempre falaram e sempre vão falar. — Vem, vem.
Santo Antônio. Quem é essa belezura? — Me viro e sorrio
chamando Costela, ele pula do banco e antes que eu possa pegá-lo
no colo, Bisteca, o cachorrinho caramelo de Ferreira, se joga em
cima dele cheirando sua bunda de forma desesperada.
— Esse é Costelinha. — Pego-o e o cachorro de Vicente
pula em mim me cheirando e ganindo. Dou um giro sentindo o
cheiro de mato, meus olhos varrem tudo pela fazenda, cobre mais
de 100 mil hectares, hoje possivelmente bem mais, esse lugar
sempre foi apaixonante, a grama em frente ao típico casarão antigo
faz jus a todo o nome da família Ferreira.
A casa sempre em tons de branco e azul parece que foi
recentemente pintada, quartos e mais quartos todos diferentes. Me
lembro que esse casarão foi dos avós de meu padrinho. E se
mantém assim, intacto. Parado no tempo. Meus padrinhos sempre
foram humildes, mas quando se trata do casarão e da família. Eles
dão o melhor. Sempre o melhor.
— Vamos se acheguem! — Minha madrinha nos manda
entrar. Entramos na sala e tudo permanece igual. Tudo antigo, bem
trabalhado. A sala não está mais do mesmo jeito. Os móveis com
fotos da família. Minhas com todos eles e assim como os demais
filhos algumas sozinhas.
A porta da frente sempre dá na sala de visitas. Um lugar
aconchegante, o piso de madeira, os móveis, as cores. Tudo do
mesmo jeitinho. Um cheirinho familiar, de saudade invade minhas
narinas.
— Sentimos sua falta. — Sinto os braços de minha
madrinha em minha volta. — Nunca aceitei te deixar na capital,
deixar minha bebê. — Minha madrinha nunca se conformou pela
minha nova condição. Ela e a Conça olham para minha prótese
exposta e eu sorrio.
— Vamos levar ela pra ver o Cido. — Me levam até o fim do
corredor. Há várias fotos nossas de quando éramos crianças. Fotos
dos meus padrinhos quando eram jovens. — Ele está fazendo um
quilo. [AEG14]
— Padrinho? — Chamo sentindo as lágrimas em meus
olhos. O bolo na garganta. A vontade de chorar.
— Fia? — Meu padrinho tenta levantar e eu meio sem jeito
corro em sua direção. Abraço-o.
— Ah, padrinho... — Abraço-o. — P-pad-drinho... — Soluço
e sorri. As emoções que eu escondi por anos caem por terra.
— Você tá aqui, é isso que importa — responde.
— Padrinho... Por favor. — Meu padrinho agora tem cabelos
brancos. — Como o senhor está? — Faço uma varredura por seu
corpo, Deus, como eu senti falta desse homem.
— Agora? Bem, como jamais estive. — Abraço-o com força.
Sentindo mais que saudades. Sentindo-me em casa. — Pensei que
nunca fosse voltar pra casa.
— Me perdoa. — Beijo seu rosto. — Droga, eu fui uma
ingrata. — Ri entre lágrimas e ele as afasta do meu rosto.
— Veio pra ficar? Cadê suas malas? Esperança já te pôs no
seu quarto? — Me bombardeia com perguntas.
— Não, padrinho, eu já me instalei. — Pisco tentando passar
confiança.
— Vamos lhe ajudar com aquela casa velha. — Sorrio diante
a ordem, o abraço novamente, a calma dele, a bondade no olhar,
me transmitem uma paz. Ele segura minhas mãos. Me puxando,
pouso um beijo em seu rosto, Deus, ele sempre foi o pai que eu
jamais tive, eu não sabia que sentia tanta falta dele assim.
Minha perna bate na cama fazendo um barulho. Ele me olha
com os olhos tristes e marejados, é diferente agora, não existe uma
Catarina lisa feito óleo que sobe em qualquer árvore ou a Catarina
que doma cavalos, sei que todos sabem sobre minha nova vida,
mas não dizem nada por achar que talvez vá me magoar.
— Padrinho? — Sinto minha respiração acelerar e me
levanto. — Não se preocupe, eu estou bem. — Pisco. Ele passou a
mão sobre a prótese. Olho para ele e coloco minhas mãos sobre a
dele.
— Vamos lá, menina. — Ele me olha a contragosto e se
levanta me abraçando, juntos saímos do quarto.
Não quero a pena de mais ninguém. Quero apenas viver
minha vida. Tentar esquecer o passado. Mudo de assunto e ele ri,
beijando meus cabelos, quando chegamos ao corredor uma voz
familiar enche meus ouvidos.
— Catarina? — A voz rouca me chama.
— Manoel? — Me viro dando de cara com um homem alto e
musculoso. Vou em sua direção e me jogo em seus braços. —
Droga, de onde saíram esses músculos e esse cabelo?
— Anjo. — Sinto o beijo em meus cabelos. E sorrio contra
seu peito musculoso. — Você tá bem, irmãzinha? — pergunta de
forma doce, meu padrinho cruza os braços e sorri.
— Senti tanta sua falta, vou ficar bem, peão. — Pisco, me
afastando dele. Ele torce o nariz.
— Também senti sua falta, irmãzinha. — Ele me puxa para
seus braços e vamos em direção à sala de visitas. Meu padrinho ri.
— Quem diria que meus bebês iam crescer — minha
madrinha diz, entre risos. — Olhe eles tão lindos juntos. — Aponta
para mim e Manoel, que ri rouco e deixa um beijo em meu rosto.
Meu padrinho se senta no sofá e puxa minha madrinha que sorri.
Deus, como eu desejo ter algo assim, ter uma paixão que me varra
os pés e me leve ao limite, que me faça feliz.
— Onde está Costelinha? — questiono, rindo pelo meu gato
sem-vergonha.
— Ele e Bisteca foram atrás de Conça, ela foi preparar um
café quentinho e uns bolinhos de chuva. — Antes que eu possa
responder ouço um barulho alto. E me viro com tudo a tempo de ver
um corpo grande e musculoso bater à porta com força, fazendo o
chão tremer. Meu corpo estremece e sinto meu coração bater como
louco. Olho de volta encarando meus padrinhos, sinto meu rosto
corar ao perceber que Manoel me olha sem entender.
Mas o ar me foge ao ouvir a voz rouca, faz todo meu corpo
estremecer. Meu coração erra uma batida.
— Merda. — A porta bate com força novamente, me viro e
encarro todos que estão de boca aberta. Mas que diabos há com
esse playboy caipira?
Me afasto de Manoel, e vou em direção a porta com o sangue
fervendo em minhas veias, empurro a porta do pátio com força e ele
para na metade do caminho, sem camisa de costas pra mim, desço
as escadas e o chamo.
— Falou comigo, Ferreira? — Ele cerra os punhos. Perdi a
mão, eu sequer devia ter vindo atrás dele. Ele se vira de forma lenta
e me mede de cima a baixo. Um arrepio percorre todo meu corpo,
mas dou um passo à frente, ergo minha cabeça e o encarro, de
igual para igual, como sempre fiz. Meu sangue ferve ainda mais,
quando ele ergue a cabeça, o chapéu me impede de ver seu rosto.
Eu quase ofego ao notar que o adolescente inconsequente,
se tornou um homem, que porra de homem bonito e cheio de
tatuagens. Ele tira o chapéu de forma lenta, meu coração dispara,
os olhos dele cravam nos meus, meu mundo roda, a Catarina
menina de anos atrás, volta à tona com força, ele dá um passo em
minha direção ficando a dois passos de mim, o cheiro de Malbec me
bate em cheio, e quando ele sorri fazendo a covinha aparecer vou
ao inferno e volto sentindo meu coração palpitar, o desejo que eu
sinto por ele me irrita profundamente, encaro-o e estalo a língua de
forma lenta e sensual.
— É bom você estar de volta, moranguinho. — Sinto meu
rosto corar, confirmando a ele que a droga de apelido ainda me
afeta.
Eu dou outro passo, ficando a centímetros do peito dele, olho
para seus olhos e encaro sua boca, eu não sou a menininha que ele
magoou e largou no altar, eu sou a mulher que ele perdeu. Sorrio,
de forma lenta e vejo pela primeira vez ele perder a pose, arrasto
meu sorriso, arqueio a sobrancelha, seu pomo de Adão desce com
força. Você não é o único que tem truques, peão.
— Sabia que ia voltar, moranguinho. — Ele dá um sorriso
presunçoso dizendo as palavras de forma grossa e rouca, fazendo
meu coração palpitar.
— Você não sabe o como é bom estar de volta, peão. — Os
olhos dele descem por meu corpo, ele engole em seco e encara
meus seios. — Meus olhos estão aqui em cima, peão. — Faço um
sinal com a mão. — Caso o seu problema ainda seja eu, vou
continuar sendo. Não voltei por sua causa, não se ache especial.
Assim que passo pela porta do escritório da sede, tiro meu chapéu,
meu pai dá um leve aceno com a cabeça, me sento no sofá ao lado do
meu irmão e ele chuta meu pé em cumprimento.
Coloco meu chapéu em meu joelho e cruzo meus braços em frente
ao peito, o silêncio cortante da sala faz meu irmão se mexer inquieto ao
meu lado. Minha mãe se ajeita no colo do meu pai, passando o braço por
seu pescoço, o olhar temeroso dela chama minha atenção.
— O que tem de tão importante? Tenho gado pra vacinar. — Corto
o silêncio da sala, desde que eu assumi a fazenda, jamais me sentei no
lugar do meu pai e jamais vou fazer, eu sou o patrão da sede para fora.
Faz cinco anos que todas as terras dos Ferreiras têm agora minha voz
como ordem, meu irmão fez sua escolha, permaneci no meu Cerrado
velho quando ele decidiu fazer faculdade em Ponta Grossa.
Eu tenho tudo que preciso nas minhas terras. Raramente vou à
cidade. Prefiro a calmaria do meu rancho... Desde que eu assumi minhas
rédeas, eu decidi me afastar da casa grande. Meu casebre fica a uns
quinze minutos a cavalo ou carro da casa grande. Eu tenho paz, mesmo
meu telefone tocando a todo instante e sempre tenho tendo algum peão
na minha porta.
Fiz tudo pensando nela... Os quartos, a cozinha enorme, a sala...
Tudo, o que era pra ser meu casebre no meio do mato, ficou quase do
mesmo tamanho da sede.
O terraço que dá para os enormes pastos de gado. Tudo pensando
nela.
Pensando em Catarina e nas coisas que imaginamos juntos.
Cada detalhe. Cada coisa. Conça me ajudou a ir para cidade
grande e escolher tudo, já que em Cerrado não tem nada. Até os tapetes
e cortinas. Tudo do jeito que ela sonhava quando era menina.
Dia após dia eu me deitava na rede e esperava por ela. E Catarina
jamais voltou.
Fiquei horas olhando a entrada da fazenda, mas ela nunca
apareceu.
Se eu fechar os olhos ainda posso ver seu rosto magoado, nosso
maldito encontro na clínica me deixou ligado, eu jamais pensei amar outra
mulher que não seja ela. Desde aquela maldita noite do acidente ela
nunca quis me receber, mesmo eu gritando. E quando ela faz dez anos
depois, porque eu simplesmente invadi seu espaço e deixei claro que
estou de volta a sua vida.
Uma grande porra.
Quando a levaram para o hospital Sírio-Libanês em São Paulo, eu
esperei dias a fio sentado na estrada. Meus pais voltaram sem ela. Ela
nunca mais voltou.
As poucas vezes que ligou foi para minha mãe e mandou abraços e
beijos pra todos. Menos pra mim. Mandava mensagens de Natal e Ano
Novo pra todos, menos pra mim. Depois que alguns anos se passaram eu
decidi manter meu casebre só pra mim, ninguém entra lá. A não ser uma
única vez quando eu fiquei doente. Após uma chuva. Nunca mais fui o
mesmo quando Catarina não voltou eu quase enlouqueci, de culpa, medo
e saudades, passei por diversos momentos de raiva, bebidas, mulheres,
tatuagens e me encontrei, passei meses indo de cidade em cidade
competindo para rodeios, vencendo e fazendo dinheiro como água, a
cada novo prêmio era um cavalo novo, de todas as raças, investi o
dinheiro em máquinas para fazenda, com a boa lábia e com a ajuda da
minha advogada do diabo fui comprando terras e mais terras, enchendo
os pastos com gado de corte e dando um rumo na minha vida, foi quando
comecei a comercializar sêmen dos meus melhores cavalos, um litro de
sêmen de um dos meus manga-larga chegou a me render quase
novecentos mil reais.
Com meu irmão a frente ele começou a ir a eventos e expor nossos
melhores animais, enquanto eu apenas de longe investia o dinheiro na
fazenda. Quando a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Manga-
larga Marchador criou quatro núcleos internacionais a fim de mostrar o
potencial dos cavalos brasileiros eu fui o primeiro nome da lista de
associados, representado sempre pelo meu irmão e por ninguém menos
que a advogada do diabo, minha amiga Isabel, que junto ao meu irmão
fizeram meu nome e meus cavalos viajarem o Brasil. Hoje, digamos que
eu tenho netos saudáveis em alguns países e realmente fiz do nome dos
Ferreira referência no agro, sem sequer sair do meu Cerrado Azul.
Meu pai apenas assiste tudo de longe e toca o berrante, mas eu
conduzo tudo com meu irmão, pesquisas e vendas. Fazendo do nosso
nome conhecido, ficado atrás apenas da Fazenda Nova
Piratininga[AEG15], hoje com meus 130 mil hectares eu possuo terras em
Cerrado Azul, em Itararé ainda aqui no estado de São Paulo e possuo a
divisa com o Paraná, sendo a segunda maior fazenda brasileira de gado
de corte e leiteiro do país, além de tudo, agora é referência em sêmen de
diversas raças de equinos e bovinos como Aberdeen Angus[AEG16], um
dos nossos bovinos reprodutores e equinos manga-larga marchador, puro-
sangue inglês, quarto de milha, crioulo, appaloosa e agora minha recente
aquisição em um leilão um Shire que me custou quase oitocentos mil,
Isabel e Manoel ainda estão lidando com os documentos dele e ele será o
segundo cavalo da raça no Brasil, ele já tem 1 ano de idade, já possuí
1,63m de cernelha e um pouco mais 500 kg. Uma Nelore durante o leilão
da fazenda São Parati, a vaca nelore matriz me custou R$ 3,18 milhões e
será o meu grande forte da temporada assim que ela começar a
reproduzir. Hoje eu tenho mais de duzentos peões, diversas casas de
caseiros com suas famílias, espalhados pela fazenda com porte de armas
regularizado pelo governo, armados até os dentes.
Eu não parei mais, continuei expandindo e trazendo para a fazenda
maquinários agrícolas, animais e o mais importante, o soro para a maldita
picada de jararaca, temos o antibotrópico[AEG17] em estoque, pois ele é
usado para picadas de jararacas, e desde o acidente de Catarina eu me
certifiquei que a cidade tenha a Pentavalente, [AEG18]já que o prefeito
não prioriza o soro porque que Cerrado não possuiu mais de 25 mil
habitantes.
Depois do acidente de Catarina todos os dias eram encontradas
cinco ou seis pela fazenda, picando gado e atacando meus peões.
Perdemos diversos animais, e quase perdemos um peão também, mas
que foi socorrido a tempo e não teve sequelas tão graves quanto as de
Catita. Em conjunto com o IBAMA foram capturadas centenas das
malditas, que se multiplicaram e volta e meia aparecem. E assim eu
continuei levando minha vida, mas...
Há malditos cinco anos o convite chegou, a porra de um convite do
casamento dela. Eu sequer sabia quem era o lazarento, afinal nem
convidado eu fui. Mas isso não me impediu de ir, eu fiquei lá vendo ela se
casar com outro, colocar outro em meu lugar, dizer sim para um maldito
abeia da cidade grande. Tudo que eu imaginei construir com ela, Catita
estava construindo com outro, e estava feliz. E isso foi minha maldita
culpa.
— Catarina está voltando para a cidade. — A informação me bate
em cheio, meu irmão ofega ao meu lado. Me mantenho firme olhando para
o meu pai, os olhos duros dele em minha direção são a prova de que ele
sabe o que eu fiz. — Ela ficará na casa dela, na cidade.
— Ela vai morar naquela merda caindo aos pedaços? — questiono,
soltando um riso pelo nariz, nem morta ela vai morar naquele lugar.
— Fique quieto, vocês me escutem. — Meu pai me cala no seco. —
Ela e o marido não estão mais juntos, o divórcio está correndo já tem
meses, e ontem ela finalmente ficou livre.
Meu peito bate de forma ansiosa, aperto com força meu joelho, os
olhos do meu pai direto em mim, duros, o sorriso escorre por meus lábios
e pelo olhar do meu pai ele sabe que tem dedo meu nessa merda.
— O senhor sabe há quanto tempo? — questiono, falso, fazendo-o
bufar.
— Desde que ela tomou a decisão, ela comunicou a mim e a
Esperança. — A verdade dura me bate, ela está livre. Livre do maldito Dr.
da cidade grande. — Ela pediu que eu e nem a mãe de vocês falasse
ainda, afinal ela não sabia como ia ser e se ela realmente ia voltar pra
casa.
— Por quê? — pergunto, direto, fazendo os olhos do meu pai se
fecharem, ele sabe a porra do motivo.
— Catarina não me disse, mas eu tenho minhas suspeitas, não foi
um divórcio tranquilo, o abeia negou até o fim o divórcio a ela. Ela saiu do
casamento sem nada, gastou rios de dinheiro com advogados. Ela vai
recomeçar, aqui e vai precisar do nosso apoio. Inclusive do seu Vicente.
— Meu pai me olha duro — ela precisa de nós.
Fico em silêncio, meu irmão boca aberta faz suas perguntas, e
quando todos saem deixando só eu e meu pai no escritório, eu o encaro
cruzando os braços.
— Deveria ter me dito o que planejava, eu teria ajudado a Catarina.
— A voz do meu pai corta a sala. Meu peito sobe e desce, meu pai me
encarra. — Se mexeu na porra da bosta e largou Catarina sozinha para
fazer esterco, ela saiu desse casamento sem nada, nem sequer a clínica
ela possui mais.
A lembrança da placa me bate em cheio, ela precisou vender a
porra da clínica apenas para pagar os advogados, por que ela não pediu
ajuda porra? Agora toda a maldita merda faz sentido, ela abrindo mão das
terras dela.
— Ele tocou nela? — Meu pai se mantém impassível. — Ele tocou
nela, pai?
— Ele quase a matou, Vicente. Ele bateu nela.
Meu sangue gela, o ódio invade meu peito, fecho meus olhos. A
imagem dela me invade a mente, a última imagem dela, o sorriso dela
enquanto falava com Bisteca. Meu peito dói, quando eu encaro meu pai,
ele deve ter percebido a dor e a culpa em meus olhos. O caralho da dor
me pega e eu simplesmente não sou capaz de raciocinar direito.
Eu ainda tenho o gosto dela gravado em minha mente de quando
ainda éramos jovens, ainda tenho a porra do cheiro dela, o doce cheiro de
morango, a voz doce que sempre enfrentou tudo se repete em minha
cabeça.
— Deveria ter me dito que contratou alguém para vigiar Daniel. —
O nome do maldito invadiu duro em meu peito me fazendo olhar sério
para meu pai.
— Ela não vai embora novamente. — Minha voz sai grossa
desviando do assunto. A culpa me bateu como uma cadela. — Eu nunca
devia ter feito ela ir embora.
Eu segui cada passo que Daniel Bragança deu nos últimos meses,
cada maldito passo. E deixei ele saber o que eu estava fazendo, eu estive
a um passo de socar o maldito, as mulheres entravam e saíam de seu
escritório de arquitetura, todas prostitutas camufladas de modelos. Ele
sequer se importava em esconder.
— Precisa ir devagar — meu pai me alerta.
— Dez anos da minha vida foram devagar, não espere que eu vá
ser gentil com ela agora e esperar outro maldito assumir meu lugar.
— Fio... — Solto um riso pelo nariz. — As coisas não são mais as
mesmas, você não é mais o mesmo. Seja sincero, se a ama ou se sente
culpado? — A pergunta dele faz meu peito fisgar, dou um sorriso fraco.
— Catarina está em meu sistema como uma droga, eu a amo pai.
Eu errei naquele maldito dia que a deixei esperando por mim no altar. Eu
achei que estava cometendo um erro me casando com ela, mas, na
verdade, eu estava cometendo um erro em não casar com ela.
— Foi um jovem inconsequente — diz o óbvio, algo que eu estou
careca de saber.
A lembrança dela me esperando está em meu sistema, eu sequer
sabia o que estava fazendo, ela sonhava em fazer faculdade e eu estava
prendendo-a a mim, nunca foi justo, mas meu maior erro foi fazê-la
acreditar que eu a traí.
Ela jamais ia aceitar que eu estava desistindo de nós apenas por
que eu queria que ela voasse. Eu nunca cursei faculdade, nunca sai das
minhas terras, mas ela queria, queria que eu fosse com ela e eu não
podia fazer isso.
Eu abri mão de tudo, inclusive dela, quando a fiz acreditar que eu a
traí, eu era um maldito moleque inconsequente, eu não tive coragem de
dizer a ela o quão merda eu era. Ela não pensou duas vezes em me tirar
da sua vida, quando Catita descobriu que eu tinha desistido dos nossos
planos. Em menos de meia hora a cidade toda sabia que eu estava no
Gata Dourada no dia do meu casamento. Eu jamais toquei em outra
mulher, não até ela sair da minha vida de forma definitiva, apenas fiquei lá
e bebi, mas quando eu me virei lá estava ela na porta, meu coração se
quebrou em mil pedaços, a dor nos olhos dela me fez levantar, foi naquele
momento meio trôpego, sendo apalpado pelas putas do Gata que eu
percebi a merda que eu fiz. Naquele momento entendi a merda que havia
feito, eu destruí seu coração e meu por tabela. Quando ela saiu correndo,
sequer fui capaz de ir atrás dela, cambaleante tentei ir atrás dela, mas
quando tentei chegar até ela a porra do álcool me impediu.
Foi ali que eu fodi com toda sua vida, foi ali que percebi o maldito
erro que eu cometi. Catarina perdeu a perna por minha causa.

A lâmina do machado afunda na madeira e eu amaldiçoo, a porra


do machado está ficando cego e brocado[AEG19], ficando cada vez pior a
cada excesso de fúria que eu despejo sobre a porra das madeiras. Solto o
machado, pegando o tronco com as mãos. Separo-o batendo-o com força
contra meu joelho e jogo os pedaços no chão, depois pego o machado
mais uma vez.
Respiro fundo, quando eu era pequeno, com uns três pra quatro
anos minha mãe e meu pai chegaram em casa com um pacotinho rosa.
A cidade inteira caiu de amores pela mais nova Ferreira. E eu e
meu irmão sempre íamos aonde a mãe ia com ela.
— Ah, moranguinho. — O apelido que eu lhe dei sai fraco dos
meus lábios. Éramos melhores amigos, os três. Sempre juntos. Catarina
sempre foi meiga, sempre foi fofa demais, linda demais. Sempre tinha com
quem brincar. Era doce mais que tudo.
Com o passar dos anos eu não queria dividi-la com ninguém, ela
sempre tinha tempo pra brincar com Manoel, ir à quermesse com minha
mãe, mas nunca tinha tempo pra mim, e se tinha ficava vermelha não
falava nada e fugia.
Sempre.
Eu e Manoel sempre nos demos bem, é claro que sem envolver
Catita. Ela sempre foi nosso fio desencapado. Nosso motivo de inúmeras
brigas. Quando eu admiti que era arriado [AEG20]por ela, ela ficou
molinha em meus braços e se entregou pra mim, foi aí que tudo começou,
nós descobrimos tudo juntos, eu não era mais virgem quando a fiz minha,
mas eu aprendi com ela o que é fazer amor.
Senti o coração disparar quando começamos a fazer planos juntos.
Eu a queria a todo o instante, desejava entrar em sua calcinha e fazê-la
se sentir nas estrelas, ela ofegava, estremecia e se entregava em meus
braços, em qualquer hora ou em qualquer lugar. Quando eu a pedi em
casamento, eu a abracei e ela ofegou dizendo sim. Nossa família foi as
nuvens e tudo que eu queria era fazê-la feliz. Duas semanas antes do
nosso casamento, um e-mail chamou minha atenção em seu computador,
enquanto ela tomava banho e eu o abri. Ela havia sido aceita na USP, em
primeiro lugar para cursar medicina veterinária. Que porra eu estava
fazendo ela se casar comigo? Eu mal consegui terminar o ensino médio
naquela época. Meu negócio era aguentar os oito segundos, estar nos
rodeios, mas e ela, foi quando eu olhei para a parede do quarto dela,
naquela época havia diversas anotações, livros e mais livros de veterinária
e sobre o vestibular, por vezes eu acordava de madrugada e lá estava ela
em sua mesa estudando, meus pais jamais se importaram para o fato de
todas as noites eu estar em seus lençóis, a única advertência era; não
botar um filho nela antes do casamento.
As duas semanas que se seguiram antes do casamento foram
infernais, eu mal conseguia tocar nela, quando ela dizia que me amava,
apenas ficava em silêncio, ciente de tudo que ela estava abrindo mão. Eu
não tive coragem de pôr um fim em nosso casamento, não aparecer nele
foi a única opção que me restou.
Eu jamais imaginei que eu podia feri-la tanto, o álcool estava em
meu sistema quando ela me pegou no Gata Dourada, mas ela sumiu,
foram malditas oito horas infernais a procurando, foi quando eu lembrei,
nosso lugar, ela só podia estar lá, foi quando entrei na porra do celeiro e
subi as escadas que levavam aos fenos, ela estava caída entre os fenos,
roxa, sua perna estava toda escura e havia enormes cumes[PSS21] de
pus em sua perna, e havia a porra de uma jararaca morta ao seu lado. Eu
não conseguia pensar, a não ser tirá-la dali, ela mal respirava quando
consegui tirá-la daquele celeiro, meu irmão pegou a porra da cobra e
quando chegamos ao hospital não havia soro ou assistência suficiente
para ela, a ida para capital foi infernal, e quando ela proibiu a minha
entrada no momento que acordou semanas depois de um maldito coma
na UTI. Tudo ficou ainda pior.
Lembro que Catarina proibiu minha entrada no quarto, eu gritei,
esperei e ela nunca me deixou entrar. Lembro que eu voltei para Cerrado
fiquei dias sentado na estrada esperando-a voltar boa da capital de São
Paulo, meu pai garantiu que o hospital Sírio-Libanês era o melhor. E que
ela ficaria boa logo.
Foi em um dia de chuva, que eu vi meus pais descerem do carro
sem ela.
Ela não tinha voltado.
Meus pais disseram que se ela não fosse hospitalizada na capital
ela teria morrido. O ar fugiu dos meus pulmões quando eu soube que ela
passou pela terceira cirurgia. Sem sucesso. Não havia nada que pudesse
ser feito, a perna dela já não respondia mais, o sangue havia coagulado e
ela perdeu a circulação do joelho para baixo, e mesmo que não houvesse
a amputação, ela jamais ia poder se apoiar na perna novamente sem
ajuda de uma muleta. Ela teve Síndrome Compartimental com
Compressão dos Nervos da Panturrilha[AEG22]. Mesmo com a cirurgia
para tratar a perda da circulação ela não obteve sucesso e a amputação
precisou ser feita antes que a necrose se espalhasse por mais partes da
perna.
Semanas depois vivendo no automático seu tio ligou, dizendo que
ela estava bem, que estava estabilizada e sem dores. Um dia tentei a todo
custo falar com ela, vê-la, mas Catita nunca quis me ver. E depois disso
eu passei a ser apenas uma sombra, meu irmão representa meu nome, eu
nunca dou as caras fora das minhas terras, não é à toa que sempre há
uma reportagem com meu irmão nos canais rurais fechados, no Youtube o
nos programas pecuários da Globo, eu apenas assino e ele e Mabel,
minha advogada, fazem todo o resto, lido com a terra, pois se eu pegar
em um papel eu vou sujá-lo ou rasurá-lo, eles só precisam da minha
assinatura e meu pai? Apenas vive sua vida, com minha mãe, viajando
quando eles têm vontade, cuidando da fazenda e dos funcionários e
vivendo uma vida boa o suficiente para que sejam felizes até o final da
vida, às vezes eles viajam para o Mato Grosso pescar ou vão à
exposições comprar mais animais, mas eu? Meu lugar é aqui.
Suspiro e me levanto, enfincando o machado na madeira no chão,
olho o pôr do sol, ciente do maldito calor da gota, as andorinhas voam em
direção ao Parque da Barreira. Subo as escadas do meu casebre, assovio
e Bisteca sai do meio do mato com um osso de boi na boca, ele larga o
osso e vem correndo em minha direção, o cheiro insuportável de carniça
que vem dele me faz torcer o nariz.
— Rolou na carniça de novo, seu merda? — Sorrio, ele late
desesperado e dá um pulo em meu colo, eu o pego e ele lambe meu
rosto, me fazendo feder com ele. — Vá para o tanque, seu filho da puta.
— Rio, afagando sua cabeça.
Vou com ele em direção ao tanque de água e ele late animado
demais, vira-lata filho da puta, esse pulguento vai aonde eu vou, ele era
só um filhote quando eu o achei na estrada, porra não hesitei de tirá-lo da
caixa, ele estava cheio de picão [AEG23]e com um maldito berne
[AEG24]gigante em seu pescoço fino e desnutrido. O bicho em seu
pescoço era do tamanho do seu zóio lombrigado, lembro que depois que
dei banho nele e tirei o bicho, ele bebeu quase dois litros de água e
comeu quase três potes de ração, ele não devia ter mais que três meses.
— Seu merda, eu deveria te deixar para fora! — Ele lambe meu
rosto enquanto ligo a água. — Você gostou dela, não é? — questiono
como um louco, e ele late, Catarina ganhou até meu vira-lata.
Sempre quando eu fecho os olhos a voz dela me vem à cabeça.
Ela caída quase sem vida. Eu devia ter dito a ela meus medos, minhas
inseguranças.
Eu quase a matei. Se eu não tivesse feito a maldita merda que eu
fiz, eu não teria destruído tudo. Abro porta entrando com ele enrolado em
uma toalha, eu o solto e ele espalha água por toda minha sala, acendendo
a luz, é tudo tão vazio, mesmo tão cheio, de fotos dela.
Subo a escada de madeira abrindo a primeira porta com meu vira-
lata ao meu enlaço.
Eu fiz de tudo pra me lembrar dela. As cores que ela gosta, tudo é
como um dia eu a ouvi contar pra minha mãe. Meu amor por ela está em
cada canto dessa casa, no jardim lá fora onde eu fiz questão de plantar
cada flor que ela gosta. A amoreira lá atrás da casa faz companhia a
velha jabuticabeira do mato, que já estava aqui quando eu decidi fazer a o
casebre.
Tiro minha roupa e me encosto na pia do banheiro, as tatuagens
em meus braços me fazem fechar os olhos, quando ela não voltou, eu
surtei, bebi, fumei até maconha, as tatuagens hoje me causam vergonha,
cobrem tudo, não há um lugar em meus braços que não tenha tinta.
Suspiro cansado, sozinho. Diacho. O pior de tudo e eu ter feito tudo
do gosto dela. Ela me atormenta, eu não quero esquecê-la, não quero que
ela tenha outro homem em sua vida. Mesmo sabendo que ela teve.
Meu sangue ferve, lembro de quando éramos menores e eu quase
matei o Paulo no murro por achar que ela estava bonita por demais na
quermesse, ninguém nunca soube o motivo pelo qual eu deixei o nariz do
Pauleta quase quebrado. Fiz ele jurar por Santo Antônio que jamais
contaria. Na época éramos coroinhas da igreja. Hoje ele é um dos meus
melhores peões e um bom amigo.
— Moranguinho... — entro no chuveiro quente deixando o cheiro de
carniça de Bisteca sair do meu corpo. Fecho os olhos, imaginando-a
comigo aqui, sozinhos nesse banheiro. Nós dois juntos.
Imaginei por tantas e tantas vezes me afundando nela. Me
enterrando fundo, fazendo-a gritar e pedir por mais. Me derramar dentro
dela, várias e várias vezes até que não ter mais espaço para os
bezerrinhos.
Um filho meu, porra, vê-la inchada de um filho meu, somente a
imagem em minha cabeça é capaz de me tornar duro feito rocha. Sinto
meu pau duro, olho pra baixo e suspiro. Sempre imaginamos que teríamos
filhos, eu sempre disse que ela sempre estaria grávida se quisesse, ela
sonhava em ser mãe e porra eu sonhava em ter nossos bezerrinhos,
lindos e fortes, rolando pela grama.
— Hoje não, peão. — Rio, mais uma vez ao perceber que estou
prestes a me tocar por ela, por uma mulher que me assombra há dez
anos, que está em meu sistema. Fazendo de mim, um miserável.
As putas do Gata Dourada não me satisfazem mais. É como se eu
estivesse apenas forçando, por muitas vezes gritei o nome de Catarina
enquanto eu me afundava em alguma puta. Elas achavam ruim?
Achavam, mas eu dava o dinheiro e era apenas isso.
Saio do banheiro enrolado na toalha. Vou em direção à cama e
pego o notebook. Reviro os olhos, há uns comentários em uma foto
minha, não entendo como alguém pode gostar de uma foto que tem uma
cara sem camisa e com cara de bosta. Não entendo como alguém pode
passar horas olhando isso, olhando minhas fotos e as fotos de Bisteca.
Saio da tela de perfil, entrando em várias fotos de amigos,
empresários parceiros, da minha família. Entro no perfil de Catarina. Há
umas fotos, mas essa é nova, ignoro os comentários. Sorrio pro vazio.
Diacho, ela é linda por demais.

Com um golpe só a madeira se despedaça. Sinto minhas mãos


arderem, olho pro monte de lenha picada. Limpo o suor da testa e tiro
minha camisa. Entro na cozinha da minha mãe sentindo o cheiro de feijão
fresco. Dois fodidos dias e eu sequer tive uma notícia dela, eu já cortei
lenha o suficiente para quase três meses, minhas mãos estão em carne
viva. Me levanto pegando meu chapéu da cerca, colocando-o na cabeça e
vou em direção à cozinha de minha mãe.
— Se porta peste. Vá lavar essa mão. — Tiro a mão do tacho de
doce e puxo Conça pela cintura.
— Mas é gostosa por demais, muié. [AEG25] — Aperto beijando
sua bochecha, ela bufa e me bate com um pano.
— Se não toma liberdade comigo, menino, se guarda essa
machadinha nas calças. Que comigo não. — Ri, beijo seu rosto, puxo uma
cadeira me sentando e encosto os ombros na mesa. — Teu pai foi fazer
um quilo, comeu um tacho[AEG26] de virado. E você está aí sentado por
quê? Por que perdeu a comida? — Ratia [AEG27]feito fusca velho.
— Tive que corta lenha, ué. — Tiro o chapéu da cabeça.
— Te conheço, mula veia. — Bufo. — Se não bufa pra mim. Aponta
a colher cheia de doce de leite pra mim... — Ocê não ia contar esse tanto
de lenha à toa não, seu cavalo.
— Não implica, Conçinha — reclamo, passando a mão por meu
rosto.
— Eu ainda vou te dar uns cascudos no lombo, ocê vê se aprende
a falar direito comigo, bezerro lambido. Vou te fazer um prato, bicho da
couve. — Aperta minhas bochechas.
— Tô sem fome, minha linda — digo, sorrindo, me levanto e saio
fechando a porta vendo o sol cobrir o céu, meu peito chia de calor, cortar
lenha na chuva foi a porra de uma ideia de jerico. Coloco meu chapéu na
cabeça e antes que eu dê um passo empurro alguém.
— Que porra, Pauleta. — Ele tromba comigo e tira o chapéu da
cabeça e se apoia nos joelhos.
— Num vai acreditar. Santo Antônio, que se prepare. — Puxo-o
pela regata sem entender porra nenhuma que ele disse. Molhado feito um
cachorro pela chuva, ele respira com dificuldade, solto-o ao ver Conça sair
parta recolher a roupa que ela não conseguiu apanhar antes.
— Que merda, desembucha diacho. — Me apoio na cerca rindo
dele.
— Ela está na cidade. — Arqueio a sobrancelha.
—E eu lá tenho cara de adivinho, laranja podre? — Pauleta passa
a mão no cabelo.
— Ah, Catarina está na cidade. Potranca que só ela. Peitão assim,
oh, parecendo urbe de vaca. A Brasília velha funciona, patrão, brilha igual
banana madura de longe. Tinha um gato com ela, esquisito que só. — Eu
não consigo raciocinar direito, apenas o fato de que ele falou da porra dos
seios dela me tira do lugar. Meu punho acerta seu nariz, ele cambaleia, o
pego pela camisa.
— Você respeita ela, porra, e... O quê? — A realidade me bate. —
Ela chegou?
— Ela voltou, patrão. Sua mulher está de volta. — Ele ri e limpa o
nariz, cambaleio e bato na cerca, o ar me falta por um segundo. — Tua
mulher tá de volta.
Cerrado Azul
10 anos antes...
Passei meu corpo pela cerca, meu irmão olhava minha
mulher admirado, meu pai tinha o sorriso arrogante e orgulhoso no
rosto, ela parecia uma deusa na terra, ela respirou ofegante, o sol
reluzindo na pele dourada, queimada pelo som me deixou ligado
nela, o suor escorreu por sua pele, Catita voltou a se aproximar do
garanhão, ergueu a mão rendida mostrando a ele as cordas, o
animal bufou e marchou em direção a ela.
Com cuidado ela amarrou o cabrestro[AEG28] de cordas de
forma ágil, me fazendo sorrir, Catita andou na direção do garanhão,
quando ele foi em direção contraria ela jogou a corda sobre ele e o
deixou andar com a corda nas costas, ela se aproximou dele e
falhou na primeira tentativa de colocar o cabrestro nele, Catita
acariciou o pelo dele, e ele deu uma leve afetada quando ela
colocou o cabrestro nele sem fazer pressão, o cavalo voltou a andar
e ela passou as cordas pela barriga dele, puxando-o fazendo ir em
direção a ela, meus olhos foram para o corpo dela. A calça jeans
larga se ajustava nas coxas grossas dela a cada passo que dava,
fiquei preso na visão dela, domando o garanhão como se fosse a
coisa mais simples do mundo, meu pai tentou ensinar a mim e meu
irmão, mas o que resultou foram apenas palavrões e inúmeros
coices que eu e Manoel levamos, no entanto, com ela não foi assim,
era como se cada animal que ela doma fosse algo único entre ela e
o animal, Catita prendeu a respiração, seu rosto corou e seu corpo
ficou rígido, ela pisou firme e não desviou o olhar do animal um
minuto sequer.
Catita continuou passando a corda, o garanhão mesmo bravo
obedeceu a cada passo dela, fazendo-a dar um pequeno sorriso
vitorioso, o corpo dela estava suado, fazendo a camiseta grudar em
seu corpo, meus olhos foram para a cerca, todos os peões pararam
para ver minha mulher. Era a porra de um show à parte, voltei meus
olhos para ela, quando deslizava a cela pelas costas dele e ele deu
um coice leve no ar, ela se afastou um pouco sem demonstrar medo
e acariciou o rosto dele, quando olhou para meu irmão ele sorriu,
tirou o chapéu e arrancou a camisa, jogando em minha direção. Ele
veio na direção do animal e com agilidade subiu em cima do bicho
que tentou desviar, mas minha Catita o puxou e o guiou, ela nunca
foi a favor da doma tradicional, usando a força ou violência, quando
passou a usar a doma racional, meu pai ficou cabreiro com a ideia,
mas vê-la ali com a animal e o que ela pôde fazer em algumas
horas, fez meu pai mudar de ideia, as domas dela são sempre um
show, os peões paravam, minha mãe e Conça largavam tudo e
vinham até a cerca assistir o que minha pequena mulher era capaz
de fazer.
Enquanto ela guiou o cavalo, meu irmão assoviou de forma
irritante. Quando ela soltou o garanhão ele deu um coice no ar, mas
obedeceu aos comandos do meu irmão, ela se apoiou nos joelhos e
respirou fundo, inclinado a bunda em minha direção, o sorriso
cansado que ela me deu quando veio até à cerca me fez sorrir.
— Oi, peão. — Ela ofegou baixinho, suada com um lindo
sorriso no rosto.
— Oi, minha linda. — Ela se apoiou em minhas coxas e
descansou a cabeça contra minha barriga, me abraçando, abri um
pouco as pernas e ela se ajeitou. — Tem algo que não faça, moça?
— brinquei, tocando seu rosto suado e ela sorriu.
Olhei para o meu irmão que me deu um sorriso de merda, ele
sabia o que eu faria hoje, e como a boa biscate fofoqueira que ele
era, todos já deviam saber que eu ia pedi-la em casamento, eu mal
consegui dormir à noite, meu bucho revirou de medo, ela poderia
dizer não e porra, eu não sei o que faria ela me dissesse não.
Minha mãe veio em nossa direção e jogou uma garrafa de
água para ela que pegou bebendo desesperada de sede, fazendo
sua camiseta molhar. O rosto corado e suado dela fez meu coração
disparar, nem fodendo que há outra mulher como ela.

Ela riu e eu revirei os olhos, espalmei minhas mãos na bunda


dela, empurrando-a para cima. Ela reclamou ofegante quando eu
passei as mãos entre suas coxas antes de ela alcançar o topo do
estábulo.
— Nossa Senhora. — Ela ofegou quando acendi a lamparina,
aqui de cima podemos ver todos os cavalos tranquilos, fui até à
janela da baia e abri, fazendo a luz da lua entrar, ela se sentou no
enorme cobertor que eu coloquei no chão, nossa comida estava em
cima de um fardo enorme de feno. — Fez tudo isso sozinho? —
questionou, sentando em posição de índio fazendo o vestidinho
florido subir e embolar em suas coxas.
Sacudindo a poeira que nem existe fora da minha calça
jeans, eu nunca estive tão limpo, porra, eu sempre estava fedendo e
cheio de sujeira, mas naquele momento porra até gel eu coloquei
em meu cabelo, minha calça nova me apertava um pouco e a
camisa polo ainda cheirava a nova, nunca me vesti tão bem assim.
Eu me sentei ao lado dela no feno e a puxei para meu colo, com as
mãos trêmulas eu toquei seu rosto. Eu tranquei meus lábios nos
dela, lambendo os lábios e sentindo-a se abrir para mim, passando
as mãos por meus ombros e descendo as unhas por minha nuca.
Eu senti um gosto de morango, sobre ela, e eu gemi no sabor. Tão
doce e tão bom.
Os lábios doces estavam sempre brilhosos e porra era o
paraíso quando meus lábios tocaram os dela, fui ao céu e depois
lançado ao inferno, tudo esquentou e a única coisa que eu queria
fazer, era tê-la em meus braços.
— Casa comigo, moça bonita. — Eu pedi baixinho,
arrastando meus lábios no dela, ela suspirou, mas ao notar o que eu
disse estremeceu em meus braços me fazendo sorrir.
— Zé... — Encostei minha testa na dela, fazendo-a sorrir, ela
tremeu e suspirou fechando os olhos, quando os abriu, jurei por tudo
que era mais sagrado que seus lindos olhos brilhavam mais que as
estrelas, o chocolate reluzia.
— Casa comigo, moça bonita — disse novamente, e ela
mordeu os lábios.
— Sim. — Puxei-a contra mim, meus lábios tomaram os dela
com fome, com medo que mudasse de ideia, com medo de não ser
suficiente.
— Vou te fazer feliz — afirmei, sentindo meu peito bater
desesperado no peito. — Ou morrer tentando, moça bonita.

Semanas Depois...
Ela pulou da cama, nua e foi em direção ao seu banheiro, me
virei de bruços, sem forças para ir atrás dela, minhas pernas
estavam moles e ainda estava duro querendo mais e mais dela, a
aliança de noivado brilhava em meu dedo, me dando um motivo
mais que suficiente para levantar e ir atrás dela, o galo cantou de
longe, ouvi meu pai tocar o berrante, chamando o gado, não eram
nem quatro e meia, mas meu pai estava na lida e ainda nem tinha
dormido, ia precisar levantar em menos de meia hora, e porra nem
fodendo que eu iria usar esse tempo para dormir.
Me levantei, peguei meu boné do chão, jogando-o em cima
da escrivaninha dela, meu boné bateu no teclado e acendeu o
computador, uma foto minha e dela apareceu e depois várias
páginas se abriram, ouvi o chuveiro ser ligado, mas ignorei e senti
uma dor estranha no peito ao notar um arquivo, uma lista anexada a
um e-mail, com o nome dela em primeiro lugar.
Catarina Alípio Santiago
Mais e mais páginas abriram, fotos da faculdade na cidade
grande, e-mails convocando-a para fazer a inscrição na faculdade,
e-mails de pessoas parabenizando-a, foi como tomar um soco no
estômago. Ele recebeu essa porra há uma semana e não disse
nada? Ela passou em primeiro lugar e não me disse?
Eu bati no botão e a tela ficou escura, cambaleei para trás,
porra ela quer casar comigo e depois me largar aqui? Um soco no
bucho teria doido menos, ela aceitou casar comigo sabendo que
tinha passado na universidade? Ela vai fazer o que me largar aqui e
ir para cidade grande? Meus olhos foram para a parede cheia de
anotações, livros e mais livros, cadernos e folhas na mesa dela e
meu coração se apertou.
Que porra eu to fazendo? Prendendo-a comigo? Eu repeti
dois anos na escola por falta, nunca tirei um 10 na minha vida,
nunca fui bom em matemática ou ciências, sempre odiei português e
até hoje não descobri para que porra serve a crase, era assim, eu
nunca gostei de estudar, na nossa cidade sempre só teve a escola
das freiras e porra entre mim e o diabo aquelas mulheres iam
preferir o diabo a me ter como aluno de novo, quantas vezes eu não
fugi para apenas tocar gado com meu pai ou dirigir as máquinas na
colheita de milho, ou soja?
Peguei minhas roupas no chão, apressado, diacho, eu nunca
me senti assim, ela iria para cidade grande, me deixaria ao perceber
a porra que fez casando comigo. Ela conheceria gente nova, o
mundo e eu? O que eu tinha pra oferecer? Eu abri a porta do quarto
vestindo minha calça e pegando a cueca que caiu, senti o ar me
faltar, quando cheguei ao meu quarto entrei fechando a porta,
fazendo os quadros da parede tremerem.
Olhei para o saco pendurado na porta do meu guarda-roupa,
o terno que minha mãe pediu para trazerem da cidade grande, que
porra eu estava fazendo conosco?
Dou um passo para trás ao sentir ele tocar meu rosto, ouvi
um limpar de garganta e me viro vendo meu padrinho com um
sorriso no rosto.
— Sabia que voltaria, moranguinho. Mas não que correria
para mim na primeira oportunidade. Precisamos conversar. — Deus,
eu me odeio, como pude sair feito uma idiota na primeira
oportunidade atrás dele. A voz rouca e baixa dele bate contra minha
nuca, respirando fundo, me afasto dele, ignorando a voz.
Não eu não vou por esse caminho, essa é merda do caminho
que eu falei que evitaria e na primeira oportunidade vou em direção
a ele, mas que merda há comigo? Eu preciso me manter longe dele,
que diabos há de errado? Ele fodeu comigo e na primeira
oportunidade eu me vejo desejando-o?
Me afasto dele, e subo as escadas novamente. Sinto meu
peito apertar, droga. Passo por meu padrinho e por Manoel, respiro
fundo fingindo que nada disso acabou de acontecer.
— Tentem não se matar, irmãzinha — Manoel ironiza, me
abraçando, rio amarga.
— A não ser que ela queira me matar de amor, eu estou
disposto. — Bingo, Zé Ferreira está de volta. Respiro fundo e me
viro, em menos de meia hora aqui, ele já prova meu ponto, ele será
meu diabo particular.
— Por que isso agora? — questiono, fazendo-o sorrir, mas o
sorriso não chega ao olhar duro e xucro como o de um cavalo.
— Porque você sempre foi minha alma gêmea, neném, eu
era a merda de um inconsequente. — Respiro fundo, notando
apenas nós dois na sala. Droga, eles me deixaram aqui sozinha
com ele? Ele dá um passo à frente, acabando com o espaço entre
nós.
— Fique longe, não faça isso. — Minha voz sai fraca, Deus,
por que eu insisti em voltar? Burra achei que ele não ia mexer
comigo, como está fazendo agora, meu estômago revira e eu dou
um passo para trás.
— Ele te machucou? — Abro meus olhos, ofegando, ele está
a centímetros de mim.
— Fique fora dessa merda, peão — alerto, recuperando
minha linha firme, a risada rouca e baixa me faz engolir em seco.
— Se eu voltar a perguntar sobre essa merda e eu não tiver a
porra da resposta, eu vou descobrir por meus meios onde esse
fodido se enfiou e os advogados dele vão receber o couro dele em
uma linda bota texana. — A voz perigosa se arrasta.
— Quando eu disse que estava de volta a sua vida, eu não
joguei palavras ao ventou, moranguinho. — O apelido se arrasta de
forma doce, mas firme e perigosa.
— Não importa, eu e Costela estamos bem. Essa merda já
está resolvida. Quero deixar isso no passado. Como fiz com muitas
coisas em minha vida. — Ele me olha e seus olhos claros vacilam
por um instante, mas um sorriso se curva em sua boca, o cheiro
amadeirado está em meu sistema novamente, me fazendo uma
idiota na frente do homem que eu devo odiar, mas não consigo.
— Se sempre foi uma péssima mentirosa, moranguinho, e eu
não me importo de descobrir por meus meios. — Pisca e se afasta.
— Não saia das minhas vistas.
Sorrio, sim eu rio da maldita cara de babaca dele.
— Você não tem posição alguma em minha vida para me
dizer até onde eu devo estar. Eu te coloquei no topo das minhas
prioridades, coloquei nossos sonhos, a família que planejamos
juntos, mas eu não passava de uma garota burra de vinte anos que
se deslumbrou por um sorriso bonito e uma transa gostosa. — Ele
trava a mandíbula. Meus olhos lacrimejam, mas me mantenho firme.
— Era isso que queria ouvir? Não finja que não me deixou
esperando por você, não me diga que não fez a cidade toda ter
pena de uma idiota que te esperou no altar. Foi sua escolha não
estar lá. Há quanto tempo estava me traindo com aquelas
mulheres? — questiono sentindo meu peito doer, ofego e fecho os
olhos.
— Eu não te traí. — A voz dele está serrada, dura, gargalho e
afasto as lágrimas que descem.
— Deus, não me diga que foi uma alucinação minha? Ver
você sentado com várias putas bebendo no dia do nosso
casamento, por Deus, não me diga que assim como Daniel tentará
me pôr como louca? Vá à merda. — Antes que eu possa me virar,
ele me puxa contra ele.
— Jamais me compare a esse maldito novamente. — Puxo
meu braço e cambaleio um pouco me sentindo uma idiota.
— O quão difícil é para você entender, que a única coisa que
os separa nessa merda toda é que Daniel me deixou machucados
físicos e você fodeu com meu coração, agora adivinhe qual doeu
mais, peão? — O rosto dele se transforma em uma máscara de
mágoa e culpa. — Isso mesmo, sabe por quê? Por que te amei,
como jamais vou ser capaz de amar alguém novamente. Você foi
um maldito amor inocente que se transformou em uma paixão
avassaladora que me varreu os pés, que me levou tudo, jamais
amei Daniel, era isso que queria ouvir? Eu estou te dizendo. Agora
me deixe em paz, siga sua vida, José Vicente, não há mais nada
aqui para você pisotear, não restou nada. Meu acidente não foi sua
culpa, eu quis ver com os meus próprios olhos o que as fofoqueiras
falavam, que você estava em um maldito puteiro rodeado de putas.
Saio da sala deixando-o sozinho, meu corpo treme de cima a
baixo, o soluço rompe meus lábios, quando abro a primeira porta
que vejo, desço as escadas da frente e abro Madimbum e me jogo
no banco, travo a porta e me quebro, Deus o quão burra eu sou? A
ponto de achar que eu seria forte o suficiente?
Ofego entre soluços, minha costela dói, me faltando o ar. Meu
coração palpita, não consigo abrir a porta quando Manoel bate no
vidro, me chamando, me mantenho aqui quieta, me sentindo
miserável e minúscula.
Abaixo o vidro e respiro fundo, Costela mia no colo dele, ele
dá a volta na frente do carro e eu abro a porta pra ele.
— Chega para lá. — Ele me empurra, antes que ele feche a
porta e solte Costela, Bisteca corre em nossa direção latindo.
Entra no carro com tudo, me fazendo rir e soluçar, Costela
pula para o banco de trás e eu ajudo o vira-lata caramelo a ir para o
banco de trás também, Costelinha morde a pata do vira-lata e ele
puxa a orelha dele com os dentes, rio e fecho meus olhos.
Qual é a possibilidade dos nossos bichos se tornarem
melhores amigos? Deus.
— Como diacho cabe aqui dentro, irmãzinha? — Olho para
ele e sua cabeça quase encosta o teto, ele está todo espremido no
banco, rio. Uma coisa idiota passa por minha cabeça, Zé Vicente
sentado ali, espremido no banco, se é que ele vai conseguir. — Eu
ainda sou seu irmãozinho, me diga por que não nos contou? — Ele
me olha magoado me estendendo um pedaço de doce, mordo e
engulo em a seco.
— Não queria que pensassem que eu queria dinheiro ou algo
assim, que eu não sou capaz de ajustar minhas próprias merdas. —
Dou de ombros.
— O rabo seco te machucou, não é? — Levanto minha
camiseta, e ele ofega. — Deus, isso está preto. — Dou um riso sem
graça.
— Não se preocupe. Tudo vai melhorar agora, eu acho —
digo, desanimada. Ele me abraça.
— Eu sinto tanto — ele lamenta. Ofego. — Zé não sabe
explicar, mas ele deve ter uma boa explicação. — Apoio minha
cabeça contra o banco.
— Eu só queria entender o porquê ele me fez tantas
promessas e depois fez questão de quebrar todas — confidencio,
mordendo o doce. — E de quebra pisotear meu coração.
— Catita... — Ele usa meu apelido antigo de forma doce.
— É hora de esquecer isso, implorar por um prato de arroz e
feijão. — Pisco. — Há algum lugar lá fora que foi feito para mim, tem
que ter. — Rio da minha própria desgraça. — Seja sozinha ou não.
— Ainda quer ser mãe? — Ele ri e desce, abro a porta
traseira e Costelinha e Bisteca saem, já está escuro, ambos se
embolam na grama de forma engraçada.
— Inseminação artificial está na lista e a adoção também,
mas não por agora, eu ainda não tenho o suficiente para
proporcionar ao meu filho tudo que eu tive.
— Se tentou com o abeia? — afirmo, talvez Deus tivesse me
dado a chance de perceber o erro que eu estava cometendo,
nossas diversas tentativas foram falhas. Isso nos frustrou e aí as
traições dele começaram. Passei por tantas tentativas e tantos
médicos, mas nada me fazia ter meu bebê. Mesmo eu sendo uma
pessoa deficiente agora, eu sou saudável e os médicos nunca
entenderam por qual motivo nossas tentativas nunca deram certo.
— Graças a Deus não deu certo. — Rio, me sentindo leve, o
quão infernal seria? Ele tocou minha prótese e me olha curioso.
— Você sabe que eu vou ser padrinho, né? — Sorrio
concordando. — Como é... você sabe. — Ele constrangido se
embola nas palavras.
— Ter uma perna mecânica? — Eu rio e o abraço. — Posso
te matar com um chute bem-dado. — Ele gargalha com minhas
palavras.
Olho para Manoel e sorrio, ele me abraça.
— É bom te ter de volta, irmãzinha, e você realmente fez
essa lata velha andar.
— Coloca isso no beiço.[AEG29] — Jogo a sacola com gelo
na direção do Pauleta e ele resmunga, lavo a mão na pia da minha
cozinha. Pauleta reclama igual a um burro veio, seu nariz começa a
inchar.
— Seu puto dos infernos, porra, patrão, olha o que você fez!
— Aponta para própria cara, bufo.
— Para de resmungar que ainda tem muito gado pra vacinar
hoje. — Aponto pra caminhonete pela porta de tela da minha
cozinha.
— Se me bate e ainda quer que eu trabalhe? — Me olha com
cara de piedade.
— Se é pago pra o que então, diacho? Não pago à toa não —
reclamo, me sentando à sua frente.
Vejo ele me ignorar e seus olhos correm pela minha cozinha.
Minha cozinha é bem planejada, do jeitinho que eu sempre quis, a
geladeira tem algumas fotos do meu moranguinho.
— Se não tem o tino no lugar não. — Aponta pra minha
geladeira.
É primeira vez que alguém sem ser minha mãe ou Conça
entra aqui. Depois que eu soquei ele, joguei-o na caminhonete da
fazenda e o trouxe pra cá. Não queria problemas ou falação na
minha cabeça. Manoel ia perguntar e não ia sair da porra da minha
bunda até eu lhe dizer a verdade.
— Não provoca, diacho. — Me levanto — Vá, arreda
[AEG30]o pé daqui.
— Você quer é ir ficar de butuca [AEG31]lá na casa grande.
— Empurro-o pra fora, pela porta da minha cozinha. E jogo o saco
de gelo em sua direção.
— Você tá inventando moda. — Passo a mão em meus
cabelos nervoso, na cidade não é novidade meu amor pela
Catarina, as mulheres da Gata Dourada sabem que jamais me terão
por completo ou vou assumir uma puta daquele lugar. Quero
Catarina e isso não é novidade para ninguém.
Subo no meu cavalo, deixando Pauleta rindo atrás de mim,
vou a galope em direção à casa grande. O mato no meu caminho já
começa a pintar sinal que eu tenho trabalho. Odeio mato. Grande.
Sinal de bicho peçonhento.
Avisto a casa grande, galopo até o estabulo. Desço do cavalo
e o levo até a baia, os cavalos do meu pai se agitam ao me ver
puxar o meu garanhão. Ajeito meu chapéu e vou em direção à casa
grande, ouço risos e o povo falando tudo alto. Ando mais rápido e
vou pelo fundo da casa.
— Mas se é um desgramado, se achegando por trás. —
Conça dá um pulo e coloca o cesto de roupa na mesa.
— Tá devendo pro mascate[AEG32]? — Ela me mostra o
dedo do meio. — Ela veio? — Sou direto, curto e grosso.
— Olha lá, hein, não vai monta o porco[AEG33], seu
azoretado. — Beijo o rosto da Conça e vou em direção à porta da
sala. Quando chego à porta, é como levar um soco, essa é primeira
vez que vejo sua perna, a perna mecânica colorida chama atenção
de longe, o short curto gruda em suas coxas grossas marcando tudo
nela, engulo em seco.
Me afasto da porta sinto como se tivesse levado um soco na
boca do estômago. Me viro disposto a sair daqui, as risadas deles
me chamam a atenção. Eu não ouço nada certo. Vê-la ali me liga,
como um fio desencapado, meu corpo reage na hora.
Eu terei Catarina na fazenda. A manterei aqui, nós temos
trabalho suficiente pra ela aqui. Farei ela ficar de qualquer jeito.
O meu sangue corre rápido, ela está aqui, a pouco metros, e
eu não consigo pensar em nada inteligente para dizer a ela. Minha,
só minha, minha mente traiçoeira me acusa de forma dura.
— Merda. — Saio da casa e chuto o nada. A vida é tão larga
e fodida quanto as vadias do Gata Dourada. — Diacho de coisa.
Ciente que Catarina está a alguns cômodos longe de mim e
livre, me faz bufar, quando a voz dela entra em meus ouvidos, eu
me viro devagar. Sou jogado ao inferno e volto.
Ela está aqui, linda, pequena e cheia de curvas. Tudo que eu
planejei para quando ela voltasse, cai por terra. Ela me enfrenta
como sempre faz de forma gostosa a única coisa que tenho vontade
de fazer, é pegá-la em meus braços, fazê-la me perdoar e jamais
soltá-la.

As palavras dela me batem duro, eu não sou capaz de ir


atrás dela de imediato. Pego meu chapéu, saio da casa grande em
direção ao carro dela, mas paro ao ver meu irmão entrando no
banco do passageiro e meu vira-lata traidor indo junto, ele e o gato
pulam no banco de trás, até meu vira-lata essa pequena mulher
conquistou.
Sigo em direção ao nosso pátio e jogo um fósforo na fogueira
que eu fiz mais cedo, sem saber o que fazer, eu a quero perto até
que não sobre espaço entre nós dois, mas diacho, eu sei lá como
fazer isso.
Começo a jogar gravetos finos na fogueira, sinto a mão
pesada bater em meu ombro. Meu irmão se senta ao meu lado.
— Ela já foi — avisa, estendendo-me uma lata de Brahma. —
Irmãozinho? Por que porra você fez essa merda toda? — A cerveja
desce no seco, respiro fundo.
— Eu a amo demais, e não queria ela presa comigo — digo.
— Eu nunca pensei em estudar, mas olhe para ela, uma veterinária
incrível.
— Mas por que diacho, você fez ela acreditar que botou
gaia[AEG34] na cabeça dela, porra? — Olho para meu irmão. Nós
nunca tocamos nesse assunto antes.
— Você acha que ela ia me deixar e aceitar? Não, ela não ia,
e eu não ia ter forças para negar meu amor por ela, ela pensando o
pior de mim, a faria enxergar os sonhos dela.
— Porra já passou pela merda da sua cabeça, que ela podia
ter conquistado os sonhos dela ao seu lado, diacho? Irmão, o sonho
dela era os dois. Você acha que ela casou com o abeia por quê? Ela
quer filhos, irmãozinho, ela quer casar, ser amada e amar. Ela quer
viver o que os pais dela viveram, quer viver o que nossos pais têm.
Ela sonha como uma menina num corpo de mulher. Ela quer
recomeçar, o abeia não conseguiu matar os sonhos dela, entenda,
irmãozinho, os meus sonhos só cabem a mim, minha botina jamais
vai servir no seu pé de pato, pois somos diferentes, Catita cresceu,
amadureceu e viveu uma porra de um inferno e acha que está
sozinha, ela vai realizar os sonhos dela. Ela quer ter uma família,
irmãozinho.
Engulo a Brahma, a maldita desce amarga.
— Faça acontecer, irmãozinho, e me dê sobrinhos, diacho.
Desço da minha caminhonete e escuto o galo cantar de
longe, abro o pequeno portão seguido por Bisteca e bato à porta,
meu sangue corre mais rápido. Vejo a Brasília dela de longe,
amarela e brilhante. Ela fez um bom trabalho arrumando o carro
velho.
Minha noite foi infernal, suei feito um maldito porco e passei a
noite acordado pensando em Catita. Achei que tê-la na cidade ia
aplacar a dor em meu peito, mas tudo ficou pior, ela está tão perto,
mas tão longe.
Continuo batendo na porta com força, Bisteca late ao ouvir o
miado do gato gordo de Catarina, sorrio. Quando a porta abre todo
meu sangue gela e dou um passo para frente, porra. A porra do
chão parece tremer embaixo dos meus pés. Recupero meu tino e
limpo a garganta.
Ela coça os olhos com o gato gordo no colo, ela sequer me
olha. Passeio meus olhos pelo corpo delicioso, os seios cheios
quase escapam de um baby-doll transparente, mordo meus lábios
ao notar que o shortinho está agarrado ao corpo curvilíneo
marcando tudo, contornando sua boceta, e porra ela está sem
calcinha.
— Deus, me faça um café. — Ela pede e se vira, com uma
facilidade enorme ela se move para dentro sem sua prótese,
fazendo sua bunda deliciosa pender, ela solta o gato e eu gemo,
quando ela pula de forma suave o short se enfia ainda mais nela,
me deixando duro. Ela se equilibra de forma incrível, e porra isso é
fantástico.
— Ainda gosta de café sem açúcar? — questiono, e ela para.
Bisteca late e entra dentro da casa dela sem ser convidado.
— Puta merda — ela diz, ainda de costas, como se não
quisesse acreditar que eu estou realmente aqui. — O que faz aqui?
— especula, dou um sorriso ao vê-la virar lentamente e respirar
fundo, a cara amassada de sono a deixa ainda mais linda, o rosto
cheio de sardinhas se ilumina de forma incrivelmente linda, limpo
minha garganta enquanto meu sangue ruge em minhas veias.
— Achei que tinha me pedido um café, moranguinho — digo
de forma lenta, fazendo-a me olhar com os olhos pegando fogo, a
cara de sono sumiu, Bisteca cheira a bunda do gato gordo dela, que
vira e lhe agarra pela perna de forma engraçada.
— Não pensei que fosse você — diz entredentes, a forma
incrível como ela se equilibra sem sequer se mover, sem a prótese
me impressiona, me deixa orgulhoso, mas suas palavras escorrem
de forma lenta. Me deixando puto.
— Quem você estava esperando? — indago direto, fazendo-a
suspirar pesado. Dou um passo em sua direção.
— Fique parado onde está, peão. — Ela gesticula em minha
direção com desdém, o gato dela corre atrás de Bisteca, e ambos se
jogam no tapete cheio de poeira, levantando uma nevoa marrom na
sala dela, ela tosse. — Manoel me prometeu me ajudar com o
chuveiro e com o encanamento da cozinha — explica, tossindo, e
dou meu melhor sorriso.
— Manoel precisou verificar algumas cercas e não pode vir.
— A linda carranca se forma em seu rosto diante da minha mentira.
— E aquele abeia dos infernos achou que ia ser uma boa
ideia mandar você, porra? Deus, por que cargas d’água [AEG35]se
precisou vir tão cedo? — ela esbraveja, o sotaque gostosinho
carregado me faz sorrir ainda mais, meu moranguinho está de volta
brava feito vaca e pronta para agarrar boi na unha.
O que ela fará se descobrir se o fodido do meu irmão ficou
dormindo? Ela boceja brava sem notar que está falando como a
minha Catita e não a doutora da cidade grande.
Ela vira e vai em direção ao quarto, me sento no sofá
empoeirado e respiro fundo. Olho o lugar, a casa antiga me traz
lembranças, de nós dois aqui juntos, fazendo planos, deitados
nesse tapete, porra, quantas vezes eu não trepei com ela nesse
tapete? Prometendo a ela o céu?
Porra, ela amadureceu, está ainda mais linda e gostosa, e
parece que a cada vez que eu a vejo se torna ainda mais minha.
Porra, esse é porra de um pensamento de merda, já que eu preciso
explicar toda a porra que eu fiz, ela não quis me ouvir e creio que
não vá querer agora, mas mesmo assim eu vou fazê-la me ouvir,
porra. Ela não vai se livrar de mim, nem fodendo.
Quando ela volta, usando a prótese, meu pau protesta em
minhas calças, o short jeans agora agarra as coxas dela de forma
firme, porra será que ela colocou calcinha? Os seios cheios estão
nus contra a camiseta branca e fina, porra.
— O que faz aqui? — pergunta, ríspida, dou de ombros.
— A não ser que você saiba mexer em um encanamento e
em um chuveiro, meu amor. Estou aqui pra te ajudar, queira você ou
não, moranguinho... — Ela dá de ombros e vai em direção à
cozinha, o gato gordo dá um pulo e vai atrás dela, Bisteca faz o
mesmo, e eu como o bom puto que sou a sigo como um cachorro
quando eu passo pelo corredor, o enorme buraco no forro leva a
telha quebrada, minha mandíbula trava. Ela precisa de espaço,
precisa ter um canto para ela... Tento me convencer...
— Essa merda vai desabar em sua cabeça. — As palavras
voam da minha boca, ela finge não me ouvir.
Ela passa um café de forma simples, apoiando a perna na
prótese de forma engraçada, eu me apoio na pia velha.
— Que caralho é esse? — Antes que eu possa me equilibrar
meu corpo vai com tudo para cima da pia velha, o estrondo enorme
da pia faz ela gritar. — Porra, Catarina. — Gargalhei, sentindo a
madeira velha em minha bunda.
— Você quebrou minha pia, seu idiota. — Ela vem em minha
direção.
— Mas que diacho, caralho de asas. — Ela começa a rir e
porra eu fui ao céu, o som doce entra no meu coração, me
aquecendo, porra. Foram fodidos dez anos sem ouvir sua risada.
— Você está bem? — Ela se inclina em minha direção e me
estende a mão. Eu tento levantar, mas ela sequer tem forças para
me puxar, ela se desequilibra. — Merda. — O corpo dela cai em
cima do meu.
Antes que eu possa pensar sobre tê-la tão perto, um barulho
alto ecoa. A água enferrujada voa por toda cozinha, seguro sua
cintura de forma firme e ela treme em meus braços, o barro
esguicha de um dos canos, fazendo-a gemer de desgosto.
— Te queria em meus braços, mas não era a ideia que eu
tinha em mente, amor — digo em seu ouvido, baixinho, ela
estremece em meus braços e solta um palavrão.
— Cale a porra da boca, Vicente. Só cale a boca.
O que eu fiz para merecer isso? Eu sou caridosa, visito o
asilo mensalmente, ou visitava, amo crianças e animais, que
caralho. Jamais soneguei imposto e porra, sou a favor da
democracia e defendo os direitos humanos. Então, por que eu estou
engolindo barro e água enferrujada nos braços desse homem
irritante, mentiroso e insuportável? Eu quero odiá-lo, mas como
caralhos vou fazer isso? Os braços dele se apertam em minha
cintura, ele ri, Costela sobe no armário e Bisteca começa a correr e
latir no enorme chafariz de barro que sai do cano enferrujado.
— Que droga — reclamo sentindo minha roupa toda
molhada, engulo em seco, quando meus olhos cruzam com os dele,
eu me arrependo amargamente, os olhos verdes cheios de brilho se
dilatam, engulo em seco tentando entender o que diabos está
acontecendo meu peito pula feito um boi desgovernado em meu
peito, ofego, ao sentir o aperto dele aumentar, os olhos dele
deslizam pelos meus lábios.
Foram dez anos, e eu nunca fui capaz de tirá-lo do meu
coração, quando ele entrou em meu coração, entrou pela porta da
frente e éramos jovens, agora ele está simplesmente entrando pela
janela. Deus, os olhos dele deslizam pelo meu corpo, engulo em
seco.
Merda.
Eu o empurro, com toda minha força.
— Merda, merda. — Tento sair da água o mais rápido que
posso, aos tropeços sentindo a água escorrer para minha prótese.
— Não, não.
Ele ao perceber meu desespero se coloca em pé rápido
demais para meu raciocínio, e me levanta em seus braços.
— Para onde? — ele questiona saindo comigo nos braços de
todo o aguaceiro do chão. Sinto meus olhos se encherem de
lágrimas, eu jamais vou ter dinheiro para comprar outra prótese,
jamais vou ter.
— Q-quarto — gaguejo. Rápido ele chuta a porta do quarto e
me coloca sobre a cama, mais que depressa eu retiro minha
prótese. Solto o ar que eu não tinha notado que prendia. Ele pega
uma toalha que estava em minha cadeira, seco o máximo que
consigo, e respiro aliviada ao perceber que ela pouco molhou. Mas
se eu não secar o suficiente, ela pode parar de funcionar. — Pode
m-me pega-ar o secador? — Ele faz o que pedi, para um homem
monstruoso ele é rápido e silencioso, quando eu passo o secador
sobre a prótese, ele a pega da minha mão e começa a secar, tirei
meu liner do meu coto[AEG36], agradecendo ao vácuo, por não ter
molhando ainda mais.
— Sinto muito, linda. — Ele desliga o secador e se ajoelha à
minha frente. — Porra, eu sinto muito.
Respiro fundo e olho para ele.
— Obrigada — agradeço, quando ele caiu eu sequer lembrei
da minha prótese, eu apenas me aproximei dele e com uma
péssima ideia eu tentei levantar um homem de quase dois metros
que com toda certeza pesa mais de duzentos quilos. Ele levanta
rápido e sai do quarto, com todo cuidado do mundo, vou até à caixa
da minha prótese de água, e a coloco, respiro fundo e me levanto.
— Desliguei o registro de água — avisa, me assustando,
coloco minha prótese na cama e conecto o carregador dela, ela
volta a carregar e eu solto o ar aliviada. Pego o secador e volto a
secar a customização com cuidado, minha prótese tem um pano
colorido sobre ela, faz meses que eu o mantenho, afinal todas as
customizações que antes eu sempre fazia agora já não cabem mais
no meu bolso.
— Sinto muito, moranguinho.
— Não se preocupe, peão — digo sem olhá-lo.
Ele tira a camiseta molhada, e respiro fundo, meus olhos vão
para o corpo dele, o bronzeado queimado do sol marca a pele dos
seus braços cheios de tatuagens e rabiscos. O tempo simplesmente
para, devia estar preocupada com minha prótese, mas não, eu
simplesmente estou aqui frente a frente com o único homem que foi
capaz de fazer meu mundo ter cor.
— Acho que eu só faço merda, não é? — Respiro fundo.
Quando os olhos dele descem por meu corpo. — Que porra é essa?
— Ele vem em minha direção, ele para em minha frente, os punhos
cerrados ao lado do corpo me fazem engolir em seco. — Arranca o
caralho da camiseta.
— Acho que... — Ele me puxa pela cintura, me fazendo
quase perder o equilíbrio.
— Você acha um caralho, ou você arranca o caralho da
camiseta, ou eu vou fazer, Catarina. — Engulo em seco e nego. —
Não há nada que eu já não tenha visto aí. Então tira o caralho da
blusa.
Trêmula eu me afasto dele, tiro a camiseta devagar, sentindo
meu rosto corar e meu ar fugir. Fecho meus olhos, e me afasto dele
ao sentir ele tocar minha costela, ela dói com o simples toque dele,
me afasto me virando de costas rápido demais quase caindo. Ele
agarra minha cintura e me vira, sinto minhas costas encostar de
forma leve na parede do quarto.
— Me solte, peão — mando, seca, sentindo o ar me faltar.
Ele me olha de forma tensa, sua mandíbula treme levemente.
— Me diga um bom motivo para que eu não saia daqui e
revire a porra desse país atrás desse filho da puta. — Respiro
fundo.
— Ele já deve estar fora do país. — Dou de ombros, os
dedos dele traçam o ferimento, de forma involuntária cubro meus
seios com o braço, mas ele não se importa. Ele me puxa para a
cama se sentando ele me coloca no colo dele e mesmo eu sendo
uma mulher enorme, fico minúscula no colo dele. Aperto meus
braços contra meus seios.
— Isso é pra me confortar? — pergunta. — Isso aqui tá preto.
— Olho para o enorme hematoma na minha costela, a pele está
muito machucada, aquele fodido realmente me deu mais chutes do
que eu pude contar.
— Mas eu estou viva. — Quando ele vacila, eu me levanto e
ele olha para minha prótese.
— Você me leva ao limite, princesa. O que eu vou precisar
fazer para acreditar que eu não te botei chifre? — Isso me pega de
surpresa.
Respiro fundo, os olhos dele dizem que ele não vai desistir
tão fácil e vai levar isso adiante. O mais longe que ele puder.
— Não vamos falar disso, peão. — Ele olha para meus seios
e para minha tentativa falha de me cobrir e lambe os lábios, o que
eu mais faço perto dele tem sido respirar fundo e tentar não deixar
tudo que ele me causou vir à tona, o fato é que eu odeio Daniel,
mas eu não consigo fazer isso com Zé Vicente, eu sempre quis
acreditar que tudo não passou de uma mentira, que ele me amou
um dia como disse, que eu fui a única mulher que ele amou um dia,
mas eu não consigo acreditar, eu quero, mas a imagem dele
naquele bar rodeado de mulheres querendo sentar em seu colo me
assombra há dez anos, destruiu a confiança que eu tinha nele, se
ele me amava por que fez aquilo? Doeria se ele disse que não
queria casar comigo? Doeria, mas não tanto como a imagem dele,
com aquelas mulheres doeu.
— Vamos sim, cacete. — Ele se levanta, pego um dos meus
tops de caminhada e dou as costas para ele, coloco rápido e respiro
fundo. — Pode ao menos tentar me ouvir?
— Preciso consertar meu chuveiro. — Mudo de assunto. — E
preciso arrumar a bagunça da cozinha.
— Vai molhar sua perna — diz, bravo.
— Não se preocupe. — Bato em minha perna. — Essa foi
feita para molhar — digo, saindo do quarto.
— Você é independente demais pro meu tino[AEG37], porra.
— Olho para ele e dou um sorriso triste.
— Precisei aprender a ser. — Quando chego à cozinha olho
para tudo cheio de água suja e ferrugem, ele assovia no meu ouvido
de forma irritante.
— Vou arrumar qualquer coisa pra colocar essas merdas
para fora. — Ele sai da cozinha com um boi desgovernado, fico
olhando pela janela da cozinha, Zé vai em direção a sua
caminhonete e abre a porta do passageiro, rio ao notar ele erguer
Costela e empurrar sua bunda gorda para dentro, e depois faz o
mesmo com seu vira-lata cheio de barro, ele está levando meu gato
sei lá para onde, mordo meus lábios e olho para toda a sujeira,
Deus o que mais esse homem vai quebrar até o final do dia?
Olho para toda a bagunça, o que mais esse peão vai
bagunçar em minha vida? Se ele entrar em meu coração dessa vez,
eu não vou ser capaz de mantê-lo longe.

Enquanto ele tira toda a sujeira da cozinha, eu tento impedir


que ele amaldiçoe todo o barro no chão, puxo tudo ignorando suas
cantorias e seus palavrões, meu estômago ronca de fome, sequer
tomei meu café, enquanto ele arrumava o carrinho, eu apenas comi
um resto do misto quente de ontem e tomei meu sagrado café, mas
ele sequer cogita a possibilidade de parar, quando ele finalmente
para, eu pego um pacote de biscoito e me sento na calçada da
frente, a dupla dinâmica vem em minha direção, pedindo biscoito,
ofereço um para Bisteca que come sem sequer mastigar, ofereço
para Costela que faz cara de nojo e lambe as patas, Vicente se
senta ao meu lado e sem pedir toma o pacote da minha mão, o
braço nu dele roça o meu, fazendo um arrepio percorrer minha pele,
ele percebendo ri de forma faceira me irritando.
Eu olho para o horizonte e os pastos na saída da cidade
estão tão verdes que parecem até de mentira.
— Sentiu falta de casa? — ele pergunta, puxando assunto.
— Você realmente vai insistir, nisso, não é? — pergunto, já
sabendo minha resposta, ele me olha pelo canto do olho e
resmungou.
— Foram dez anos, não dez dias ou meses. Vou insistir
enquanto você e eu tivermos chance — ele diz, arrogante e
presunçoso, me fazendo tremer de raiva. — Do que adianta negar?
Eu errei, e passei meus últimos dez anos comendo o pão que o
diabo amassou e fez farinha, querendo invadir sua vida te levar nos
braços pra porra de um buraco e fazer você me ouvir.
— E quem disse que temos uma chance? — digo tentando
não levar as palavras mandonas e intensas para meu coração, ele ri
ao meu lado.
— Sabe que temos, e está louquinha para cair em meus
braços de novo. Se ainda usa o mesmo perfume, moranguinho —
ele comenta, fungando o ar de forma engraçada, ignorando minha
fala, enfia dois biscoitos na boca, mas mesmo o fato de ele ainda
lembrar do meu perfume, mexe com meu coração, mas do que
deveria.
— Qual é a das tatuagens? — É minha vez de ignorar ele
questionando os rabiscos em sua pele queimada do sol, seus
braços são cobertos por tinta e por manchas do trabalho árduo no
sol provavelmente que ele faz sem camisa.
— Rebeldia. — Dá de ombros de forma quase infantil. —
Queria fazer algo que doesse o suficiente para tirar a dor do meu
peito, para tentar aplacar a saudades. Oito segundos não eram o
suficiente — comenta, se referindo aos rodeios — além de que eu
não sou anta o suficiente para testar quanta dor meia tonelada de
banha pode me causar. — Pisca. A sinceridade nunca me assustou,
ele jamais escondeu seus sentimentos, exceto uma vez, e essa
única vez o suficiente para não acreditar nele.
— E o que elas significam? — questiono, algumas senhoras
passam e acenam para nós dois, sorrindo demais, merda... As
fofoqueiras da cidade.
— Até o final do dia elas vão falar que eu te engravidei —
caçoa com cara de deboche. — Nada, só queria desenhos grandes
os suficientes para me fazer doer. — Respiro fundo. — Só que no
fim eu tinha o cu mamado na cachaça e dormia na mesa do cara e
não sentia porra nenhuma. — Não sou capaz de dizer nada, mordo
meus lábios.
Nós dois ficamos em silêncio, Costela atravessa a rua
correndo seguido por Bisteca e ambos rolam na grama do canteiro
de flores da rua.
— Foi difícil? — Olho para ele confusa. — A perna nova? —
pergunta, olhando na direção dos pastos, sem me encarrar, ele fica
tenso.
— Eu pensei que jamais ia andar de novo — admito, sem
vergonha alguma. — Depois de quase dois anos de fisioterapia eu
finalmente consegui ficar de pé, andei meses com duas muletas, a
dor era insuportável, o coto doía tanto que eu pensei que nunca
mais ia poder andar novamente. Eu caí tantas vezes que já perdi as
contas. Juro que se eu ficasse quieta eu podia sentir a cobra
enrolada em minha perna, mas eu sequer tinha uma perna mais. —
Aponto para meu joelho, ele passou os dedos calejados em meus
joelhos cheios de cicatrizes.
— Porra, se... — O telefone dele começa a tocar, a
contragosto ele atende puto. — O que é porra?
Ele se levantou em um pulo, faço o mesmo.
— Porra. Segura ele, que eu chego logo. — Ele desliga o
telefone. — Volto mais tarde e terminamos tudo.
— O que aconteceu? — questiono, seguindo-o para dentro
da casa. Ele pega o chapéu e as chaves da caminhonete.
— Bezerro bravo enrolado em arame farpado, ele caiu na
porra de uma vala e está virado no diabo dentro do buraco —
reclama, o rosto bonito dele se contorce em uma máscara de
desgosto.
— Vou com você — digo, me colocando em sua frente, ele
me olha de cima baixo.
— Você fica, tá é louca achando que eu vou te levar —
protesta, paro em sua frente.
— Eu vou, peão, posso não ser completamente normal, mas
não inútil, me espere, vou trocar de roupa e pegar meus
equipamentos — aviso saindo sem dar chance de ele retrucar em
minha cara, mas mesmo assim ele relincha alto do corredor.
— Porra, de mulher difícil.
Aperto o volante com força, meus olhos se fixam nas coxas
grossas e firmes sentadas ao meu lado, ela colocou uma calça
legging que marca tudo. A camisa polo preta aperta os seios, me
fazendo engolir em seco, conforme mexe na maleta ela suspira.
Bisteca late no banco de trás, o gato gordo dela me olha com cara
de desgosto.
— Você... Não vai mexer com um bicho virado no diabo —
brado, apertando o volante com força.
— Não começa. Eu posso ajudar. — A voz doce parece um
pouco decepcionada, eu não engoli o papo de dela falar que não é
normal, ela é perfeita, mas no inferno ela não vai mexer com um
bicho que pode quebrar ela ao meio com um coice.
— Para de atentar meu tino. — Sim, desde que saímos essa
maldita vem me provocando, o maldito perfume. Tudo o jeito como
juntou o cabelo em um rabo de cavalo mostrando o pescoço
cheiroso e macio, que porra pede uns beijos molhados e umas
mordidas. Me deixando ainda mais ligado nela, se ela faz isso de
propósito ou não, porra eu não sei, mas tê-la vestida de doutora ao
meu lado está fodendo comigo.
— Foi você que abriu a boca, peão. — Em nenhum segundo
sequer ela olha pra mim, se mantém com o olhar firme na janela,
porra a pele dela está arrepiada, Catita está sentindo o mesmo que
eu, sei que está.
— Por que você não fala que nem eu mais? — questiono,
fazendo-a suspirar.
— Não falo porque passei dez anos longe e você fala a
maioria das palavras errado, peão, aliás, mesmo depois de dez
anos, você continua relinchando ordens e dando coices no ar. — Me
provoca, me fazendo rir.
Paro o carro longe do cercado. Vejo os peões em volta do
buraco.
— Quero ver você reclamar quando eu tiver com a boca
aberta na sua boceta — digo baixo, bato a porta rindo, o rosto
ganha aquela deliciosa cor de morango, delícia. Ela me ouviu.
Deixo uma fresta na janela, o suficiente para entrar ar, para
os dois lá dentro, Bisteca com toda certeza vai querer ecoar o
demônio da vaca, e o gato gordo, só Deus sabe como vai reagir.
Bisteca uiva de dentro da caminhonete e o gato gordo apenas se
deita no painel, onde bate o sol. Pego as cordas e enrolo no braço,
ela me olha e morde os lábios. Ela passa na minha frente e vai em
direção ao buraco.
— O bicho tá virado no Saci, patrão — um dos meus peões
diz, se aproximando.
— Saci é manso e só assovia, esse bicho tá com o diabo no
couro, ninguém que entrou lá conseguiu segurar o bicho, patrão. —
Outro reclama limpando o rosto cheio de barro, mascando um ramo
de trigo.
— Você não vai caber aí dentro, peão, eu faço isso — Catita
avisa.
— Nem fodendo — digo, chegando perto do bicho que bufa.
O rosto do bicho está que só terra, de branco ele está marrom e
todo ensanguentado, a mãe dele bufa amarrada tentando avançar
em Manoel, vejo meu irmão pular para longe assim que ela avança
nele. E passar por trás da árvore. Meu irmão é um pouco menor que
eu, mas mesmo assim é troncudo igual. — Você me joga as cordas
e eu passo nele. — Dou as instruções ao Pauleta. — Vocês se
preparem pra puxá-lo para fora.
— Não. — Olho pra trás e minha moranguinho aponta o
alicate em minha direção.
— Volta pra caminhonete — ordeno.
— Não, ele está ferido, olha lá, seu ignorante. — Aponta
para o bezerro que berra no buraco fazendo os arames entrarem
ainda mais em sua pele. — Se você usar as cordas vai lacerar o
ferimento. Eu vou entrar lá e soltá-lo.
— Se é pequena demais porra, ele vai te machucar. — Bufo e
vou em direção ao meu irmão. Que pulou a cerca derrubada vindo
até a gente com luvas. — Mas nem fodendo, que você entra lá.
— Por isso mesmo, peão, se vocês puxarem ele vai se ferir
mais, e se um de vocês entrar lá não vai ter espaço para nenhum de
vocês se mexer. Deu certo quando tentaram? — Meus peões
negam olhando admirados para ela.
— Olha, pode uma vez na vida acreditar que eu sou capaz
de fazer algo? Assim que eu soltar o último arame você vai sedá-lo
— Meu moranguinho dá ao meu irmão uma espécie de pistola. —
Um tiro no flanco é o suficiente.
— Traga o caminhão. — Mando um dos peões pegar um dos
nossos caminhões.
Meu irmão estende as luvas para ela, mas ela nega.
— As luvas vão me atrapalhar, não são do meu tamanho e
são grossas demais. — Seus olhos cor de chocolate brilham, suas
pupilas dilatam, ela se inclina e deixa o corpo gostoso deslizar pelo
buraco, o bicho tenta avançar nela, mas ela o acalma levantando as
mãos, desviando de forma rápida.
— Alicate. — Ela pede e eu jogo o alicate pra ela, quando o
primeiro arame saiu, o bezerro quase acerta um coice nela, ela
desvia rápido, engulo em seco, porra.
— Se continuarem olhando para bunda dela, vou enfiar a
porra do arame em um lugar que vocês não vão gostar. — Os dois
peões disfarçam e eu cubro a visão deles do buraco, ela solta um
palavrão e limpa a testa, e porra, ela segura o bezerro com força,
literalmente agarrando o couro do bicho na unha. Sorrio safado.
Mordo os lábios.
É sexy pra diabo vê-la fazer isso com uma maestria enorme,
ela solta mais meia dúzia de palavrões e se afasta do bezerro
quando ele quase acerta a prótese dela.
Quando ela solta o último arame, pulo dentro do buraco,
entrando na frente dela, o bezerro acerta minha coxa com a porra
de um coice bem-dado. Me fazendo gemer de dor.
— Porra. — Ele cabeceia minhas costas com força, me
inclino contra meu moranguinho. O buraco que já era pequeno fica
ainda menor, me tornando alvo de toda a raiva dele.
— O que você está fazendo? — Sinto outra cabeçada
quando ela pergunta ofegando, com o rosto corado e suado, porra
ela parece que acabou de ser fodida.
— Ele ia te acertar. — O bicho fica ainda mais puto quando
meu irmão o acerta, ele começa a cambalear, mas mesmo assim
continua vindo contra minhas costas, forço meu corpo contra o dela.
Quando ele finalmente cai, olho para ela, o rosto corado, a pele
suave, a boquinha linda respirando com força e entreaberta, me faz
respirar ainda mais rápido contra ela, que morde os lábios ao
perceber o quão duro eu estou contra ela, fecho os olhos e força o
corpo contra o meu, me fazendo roçar ainda mais nela.
Quando meus olhos se fixam nos lábios dela, meu mundo
para. Meus lábios roçam contra os dela, meu coração está batendo
acelerado quando não deveria estar. Eu sou capaz de aguentar os
malditos oito segundos, mas isso é demais porra. Pressiono minha
testa na dela, mas ainda consigo sentir seu corpo tenso tentando
me rejeitar, sua boquinha ligeira pode negar o quanto quiser, mas o
corpo dela responde a mim, como um comando delicioso.
— Você ainda cheira... — Fico fraco.
— Morango — ela diz molinha contra mim. — Meu perfume,
peão.
— Hmm. — Eu me inclino contra ela, ainda mais perto. —
Ainda vai me enlouquecer, moça. — Ela ofega. O limpar de garganta
chama nossa atenção, eu olho para cima e meu irmão tem um
sorriso idiota no rosto.
— Sem querer atrapalhar meus pombinhos, mas vem vindo
chuva brava e a gente precisa tirar o bicho daí antes que a mãe dele
resolva entrar e fazer o serviço. — Me afasto dela, que arregala os
olhos de chocolate em minha direção.
— Ah — ela diz, se afastando, meu corpo reclama pela
perca do calor, tê-la tão perto merda me fode. Ela desvia o corpo do
meu e vai até o bicho machucado no chão. Ela se abaixa com uma
facilidade enorme, se apoiando em sua prótese ela suspira e olha
para o céu que começa a escurecer. — Ele vai precisar de uma
antitetânica, mesmo os arranhões sendo superficiais vou querer
olhar mais tarde, a pata dianteira parece estar fora do lugar, não vou
poder dizer nada concreto sem que ele esteja em um lugar amplo.
— Meu irmão se aproxima do buraco me dando a mão, Pauleta joga
a corda, quando saio do buraco ele pula, mas não olha para
Catarina, ela instrui a ele como passar a corda no bicho dos
infernos, porra, esse pedaço de bife vai me dar trabalho quando
ficar maior. Ela vem até a beira do buraco, e eu a ajudo a sair, ela
apoia a mão no meu peito.
— Porra — praguejo, puxando sua mão. — O demônio aí não
precisa de pontos, mas sua mão sim porra. — Olho para a minha
mão. Foi um erro estúpido, o caralho de uma merda, ela deveria ter
colocado as luvas. Ela está cheia de lama, o rosto todo sujo, quando
ela sorri pra mim, alívio minha cara de merda.
— Quanto mais ele tentava lutar, mais apertado ficava, tive
que puxar com força, acabou plantando em minhas mãos. Um dos
fios escapou, quando ele quase me deu um coice, e pegou na
minha mão, não é nada, peão.
— Vem, moça bonita, eu vou te levar pra casa — digo, e ela
nega. Passo a mão na nuca, encabulado.
— Vou com o encrenqueiro ali. — Aponta para o bezerro
sendo colocado no caminhão, a vaca sai em disparada, entrando
com tudo no caminhão fazendo tudo tremer, inclusive o chão.
— Nem fodendo. Entra na caminhonete diacho. — Quando
ela pensa em reclamar, um toró de água cai em cima de nós dois,
ela arregala os olhos, eu a pego no colo e corro em direção à
caminhonete.
— Eu ia com o bezerro. — Quando eu a coloco no carro, ela
tira a camisa ficando apenas de top, e se apressa em passar a
camisa sobre a legging. — Inferno, eu realmente não tenho dinheiro
para outra prótese agora, senhor — ela reclama, olhando para o teto
da caminhonete. Bisteca lambe o braço molhado dela, com alguns
respingos de água. O gato apenas boceja.
— Não, você não vai. — Bufo, não dando chances a ela de
reclamar.
— Preciso olhá-lo — diz o óbvio.
— Vai fazer, mas nem fodendo que você vai em um caminhão
cheio de macho fedendo a esterco, perdeu o tino? — Ela me olha
com desdém.
— Você fede a esterco e eu não reclamo, peão. — Ela dá um
pulo quando o raio corta o céu, se encolhendo no banco. Viro na
estrada. Sigo o caminhão com bezerro. Ela treme, e meus olhos vão
para os seios, com alguns pingos de água. — Droga.
— Se essa parar de funcionar, te dou umas dez dessa —
digo, vendo o olhar triste dela, quando ela reclama da prótese, porra
é isso que eu vou fazer, vou descobrir onde diabos ela mandou
fazer a perna e pedir quantas ela quiser, iguais a essa.
— Você tem dinheiro, eu não. — Dá de ombros desviando os
olhos dos meus.
— E o que diabos tem isso? Se você precisa de uma perna
nova, eu compro outra, ué. — O olhar dela muda, ela respira.
— Não preciso do seu dinheiro — esbraveja, e fica quieta,
respiro fundo, devagar porra, preciso ir devagar.
— Se sua perna não funcionar a culpa será minha, eu
quebrei sua pia e te trouxe para uma vala com um demônio cheio de
arame — digo, tentando amenizar minha fala anterior. Vira para
janela. Com o rosto corado feito um suculento morango. Suspiro.
Quando chego ao barracão, a chuva desce feito uma filha da
puta, um dos meus peões abre a porta, meu pai já espera lá dentro
com doutor Lazico, o veio barrigudo que indica Lepecid[AEG38] e
Ivermectina [AEG39]para qualquer caralho que os bichos tenham.
— Doutor Lazico ainda é vivo? — A voz divertida ao meu lado
me chama atenção.
— Vivo e bucho [AEG40]igual manga verde. Mandei esse
abeia embora tem duas semanas, estamos sem veterinário, chefe
— reclamo, deixando a sugestão no ar, ela tenta disfarçar, mas eu
vejo seus olhos brilharem, olhando para o gato gordo de Catarina.
— Mantenha a bola de banha aqui dentro, ou aquele velho vai
querer indicar Ivermectina para que seu gato gordo perca peso. —
Gargalho e ela me olha feio, mas ri.
— Deus, você é insuportável, peão. — Quando desço, sou
rápido para ajudá-la a descer, mas paro na frente dela.
— Coloca a camiseta — ordeno, impedindo todos de verem
as tetas dela quase saltando do top, ela arregala os olhos, e se vira
pegando a camisa molhada do banco e veste, não fica muito melhor
já que ela marca ainda mais o corpo gostoso e cheio de dobrinhas
deliciosas. — Bem melhor. — Porra, minha voz grossa, ela me olha
e eu dou espaço para ela, bato a porta antes que os bichos desçam,
não quero esse veio gordo, se metendo na criação dos nossos
bichos, falando que Bisteca está magro demais e cheio de vermes e
fale que o gato precisa de uma bariátrica.
— Tarde — digo, chamando atenção dos peões que olham
para Catarina como se ela fosse um pedaço de bife, meu pai limpa a
garganta, meu neném vai em direção do meu pai e ela a abraça, lhe
pedindo a benção, depois segue até o bezerro ignorando os olhares.
— Vou avaliar, o animal — Catita avisa, mas o berne de
pernas do Lazico entra na frente dela, meu sangue ferve, me coloco
em suas costas e ela fica tensa. — Eu o tirei do arame, sei
exatamente como tratá-lo. — A voz de Catarina para qualquer
conversa entre meus peões.
— Ele não precisa mais do que um Lepecid. — Catarina
retesa ficando tensa diante da indicação de Lazico.
— Ele tem uma das patas deslocadas, e cortes que precisam
de uma antitetânica e eu vou cauterizar os ferimentos maiores, para
evitar bicheiras — esclarece firme, peitando a porra do berne
barrigudo.
— Não há necessidade. — Ele volta a ficar na frente dela,
meu pai sinaliza para que eu não intervenha.
— Sim, tem. O quanto antes o senhor sair da minha frente eu
vou cuidar dele e aplicar o remédio para reversão do sedativo. —
Ela passa por ele, e ele fez questão de esbarrar no ombro dela.
— Desculpe a indelicadeza, mas quem lhe avisou, Lazico? —
Meu pai o questiona, a voz dura do meu pai faz o velho ficar branco,
isso vai ser divertido. Os olhos de cobra do doutor vão para o meu
pai e ele engole em seco.
— Fui informado pelo seu vizinho que vocês tinham um
problema com um bezerro e prontamente vim para cá, agora me
diga o que essa moça vai fazer por um animal que está bem? —
Catarina fica vermelha, ela está pronta para explodir na cara do
doutor, e porra isso vai ser interessante, me encosto em uma das
baias sentindo meu sangue ferver. — Aliás, quem é ela?
— Catarina Santiago, veterinária há dez anos, senhor Lazico.
— Quando os olhos dele vão para o corpo dela de forma lasciva e
nojenta, mas muda ao notar a prótese dela, dou um passo na
direção dele. Porra nem mesmo meu pai vai me impedir de socar
esse berne.
— E o que vocês acham que uma moça sem perna pode
fazer por um bezerro que está visivelmente bem? — Meu pai puxa
meu braço, Catarina se levanta.
— Muito se o senhor não estivesse tomando meu tempo,
creio que meu padrinho e Zé Vicente não necessitam mais dos seus
serviços já que eu estou de volta a cidade e pretendo assumir os
cuidados dos animais. — Ela se ajoelha se apoiando na prótese.
— Como vocês vão deixar os animais, nas mãos de uma
aleijada? — Antes que eu voe na direção dele, meu pai entra à
minha frente. Meus peões ficam em silêncio esperando minha
reação, vejo Catita tremer, quando meus olhos topam com os delas,
as lágrimas neles fazem meu sangue gelar.
— Eu e Manoel vamos acompanhar o doutor Lazico até a
porteira, e você ajuda Catita, Zé. — Puxo Manoel pelo braço.
— Arranque esse velho daqui, ou eu vou enfiar a porra da
mangueira no rabo dele e o entupir de Lepecid. — Meu irmão ri,
mas com os olhos cheios de raiva, vou em direção a minha Catita e
me ajoelho ao seu lado. — Se chorar por conta daquele berne de
porco, eu vou espancar sua maldita bunda até você saber que é
perfeita e sabe o que tá fazendo.
Engulo a vontade de chorar, eu nunca me abalei por
comentários assim, mas ele fazer isso na frente de Zé Vicente, me
traz uma insegurança que eu não deveria sentir. Eu sequer deveria
me importar.
Me concentro no trabalho, volto analisar o bezerro, o ombro
dele está deslocado, e fazer isso com ele acordado não será uma
boa ideia.
— Preciso que me ajude a colocar o ombro dele no lugar —
digo e Zé sorri.
Eu o instruo e ele me ajuda a colocar o ombro do bezerro no
lugar. Cauterizo todas as feridas, dando graças a Deus por ter
trazido todo meu equipamento portátil, meu corpo transpira de
nervoso, quando termino de injetar o medicamento, ele volta a ficar
em pé cambaleando e berrando de dor e raiva.
— Preciso desses medicamentos. — Dou a Manoel uma
receita, sequer os vi voltar, quando eu me dou conta, uma roda de
peões se formou à minha volta. Meu rosto suado cora, Zé Vicente
olha para mim com os olhos brilhando, engulo em seco, me olho
vendo que estou suja e descabelada. Quando eu volto meus olhos,
todos eles gritam e assobiam batendo palma, meu padrinho me
abraça com força me girando.
Quando descobri a verdade sobre minha perna, eu surtei,
queria voltar a andar a todo custo, queria ser normal, ser inteira de
novo. Eu não queria aceitar. Eu me perdi dentro de mim mesma. Eu
culpava o amor que eu tinha dentro do peito. Culpava a mim, por
tudo que aconteceu na minha, a morte dos meus pais, meu noivado
fracassado e o acidente.
Por obra do destino Deus me deu uma segunda chance, eu
me empenhei ao máximo para fazer valer a pena. Dar orgulho aos
meus pais onde eles estivessem, por anos eu usei a prótese
comum, me adaptei, eu ficava horas andando dentro do quarto para
conseguir me manter firme sem mancar com evidência, por anos eu
usei muleta. Um apoio extra pra não ir de cara no chão.
Hoje eu uso uma prótese abaixo do joelho revestida com o
que seria "minha perna", uma réplica mecânica de titânio revestida
de um material parecido com silicone, que sempre que posso mudo
de cor, e outra simples para fazer minhas atividades dentro de casa
e para entrar na água. Minha perna réplica, foi um algo que foram
meses de adaptação, pesada ela me derrubava o tempo todo. Eu
lutei de forma desesperada para conseguir me colocar em pé, meu
coto doía como o inferno, queimava, mas mesmo assim eu usava a
prótese o tempo todo, no auge do meu desespero eu cheguei a
dormir com ela, para conseguir me colocar de pé.
Deus, como eu queria enfiar a mão na cara do maldito berne,
homem nojento. Ele me resumiu apenas a uma aleijada, apenas a
isso. Quando meu tio me coloca no chão, Zé Vicente me abraça,
com o peito nu suada, esmagando meu corpo no dele.
— Já pode me soltar. — Ofego baixinho me sentindo suja
demais, mesmo que ele também esteja.
— Mas eu não quero soltar, minha Catita... — A voz dele me
faz arrepiar.
— Vamos entrar que tem janta pronta. — Meu padrinho
chama, me afasto dele.
Antes que eu possa responder meu padrinho, ele me joga
sem jeito algum em seus ombros passando a mão em minhas
cochas.
— Não sou sua, Ca.. Que caralho você está fazendo? —
reclamo me sentindo tonta, soco suas costas, mas ele me ignora. —
Me coloque no chão merda — brado, mordaz, ele caminha em
passo largos até à caminhonete
— Quieta. — Ele realmente, bateu em minha bunda? Ele
ainda aperta, sovando minha pele, me fazendo arrepiar. Ele segura
em minhas coxas e quando me coloca no chão, minha mão voa
direto em seu rosto, de forma involuntária eu me afasto dele,
balançando minha mão. Ele leva os próprios dedos a bochecha e dá
a porra de um sorriso sacana, massageado o rosto másculo.
— Nunca mais fácil isso — brado, e aponto meu dedo em
riste em sua direção, alguns peões seguram o riso. — Cavalo.
— Pode me bater o quanto quiser, minha Catita, pois eu vou
devolver cada tapa e você vai gostar — ele retruca me deixando
ainda mais puta, sinto meu rosto queimar de raiva, o que mais esse
peão vai me fazer passar, em menos de vinte quatro horas eu já
tenho o suficiente dele por mais fodidos dez anos.
Os peões se afastam deixando nós dois sozinhos, engulo em
seco, quando ele se coloca à minha frente, me fazendo ofegar, ele
ainda está sem camisa e não parece se importar nenhum pouco,
meus olhos caem por seu corpo descendo para o peito bronzeado e
tatuado, engulo em seco, meus olhos param em sua cintura, o peito
levemente coberto por uma camada fina de pelos fica tenso. A trilha
de pelos desce para o jeans surrado preso a uma fivela na cinta
grossa, engulo em seco, olhando a nossa volta. Deus, todos
sumiram.
— Você sabe, se deseja que eu coma esta pequena boceta
tudo que tem que fazer é pedir. Não precisa apenas me olhar como
se quisesse me comer, pequena. — Ofego, sôfrega. — Quanto mais
me bater, mas duro eu vou ficar. — Meus olhos vão direto para
virilha dele, e me arrependo no mesmo instante, Deus, que merda.
Ele está duro contra o jeans, minha boca se enche de água da
forma mais suja e cretina possível, engulo em seco.
— Não estou interessada — digo, tentando fugir dos braços
dele.
— Quero que me escute. — Ele pede tocando meu rosto. —
Quero que você apenas me escute uma vez, deixe eu tentar te
explicar as coisas, depois caso ainda não sinta nada, eu prometo
que eu saio do seu caminho, mesmo que isso custe meu coração,
que quero dizer as coisas mais sujas que você pode imaginar. Meu
tino só pensa em você e em coisas pra te dizer e te deixar molhada,
mas eu só vou fazer isso se me ouvir, ouvir meu lado e entender o
quão burro eu fui em errar e me dar a porra de uma chance.
Engulo em seco concordando.

Sigo atrás dele desconfiada. Eu não podia me esconder a


vida toda. E talvez essa seja a hora. Saímos da trilha e entramos da
caminhonete, dando de cara com o chalé mais lindo que eu já vi.
Mesmo estando escuro consigo ver o quanto ele é lindo, suspiro,
pegando Costela no colo, sigo pelo caminho de pedra.
— É lindo. — Passo a mão pelo corrimão de madeira. Ele
bate a mão na luz, e tudo se ilumina, inclusive o caminho por onde
viemos, ofego. A casa de madeira de dois andares parece ser de
mentira —, você quem fez! — declaro, encantada com tudo à nossa
volta, Deus a madeira envernizada brilha a luz da varanda, o chão
se encaixa de forma impecável. A varada tem diversas flores, os
bancos com almofadas fofas chamam atenção de longe.
— Como você sabe? — Se vira sorrindo bobo.
— Construir um casebre juntos lembra? — digo um de
nossos planos, que eu deixei no passado e ele foi lá e fez sozinho.
— Eu ainda lembro que tínhamos planos, Vicente.
— Se casar e ter uma festa na fazenda também — diz baixo,
suspiro. Tínhamos uma enorme lista de coisas que queríamos fazer.
Tínhamos a mania de quer desvendar o mundo juntos. E de repente
ele trocou tudo isso por nada.
— Ficou linda. — Entramos na sala rústica. Paro brutalmente
engolindo em seco. Deus, isso realmente parece ter saído dos
nossos sonhos, dos nossos planos.
— Meu Deus. — Solto Costela e ele e Bisteca pulam no
tapete felpudo.
— Gostou, minha linda? — questiona em um sussurro, se
sentando no sofá. — Fiz tudo igual você e eu queríamos. — Zé é
direto, sem rodeios, entro e encosto a porta quando a rajada de
vento bate em minha bunda.
Engulo em seco sem saber o que dizer. Ele vai em direção a
um corredor e volta, parando em minha frente com uma bolsinha, ao
abri-la tira um kit de primeiros socorros e se ajoelha à minha frente,
pegando minha mão com cuidado Zé vira a palma o corte não foi
fundo, mas doí ainda mais quando joga água oxigenada para
ferimento minha pele arde, mesmo tentando ser delicado, ele ainda
é um coice de mula de tão doce, esse peão não é delicado, mas
tenta, seus dedos mal tocam minha pele, as mãos dele são grossas
cheias de calos e cortes recentes, pela grossura da palma da mão
ele nem deve sentir mais quando se corta.
Ele repete a limpeza várias vezes até que o ferimento parar
de borbulhar. Zé coloca uma gaze e tira uma faixa do saquinho
passando por minha mão com cuidado, quando termina corta um
pedaço de esparadrapo com os dentes e coloca na faixa,
prendendo-a, sem nenhum jeito ou delicadeza, ele cospe um fiapo
da fita que fica preso em seus lábios, sinto vontade de rir. Mesmo
ele sendo do tamanho da porta, robusto, xucro e sem qualquer
delicadeza, ainda consegue ter algo diferente dele, uma bondade,
algo que me faz ver o Zé que eu amei um dia e talvez ainda ame...
— Se queria fazer tudo isso, por que me traiu? — pergunto
tirando minha mão da sua, tê-lo tão próximo me deixa vulnerável e
porra eu não quero me sentir assim, ele fecha os olhos e suspira.
— Eu não te traí, nunca consegui, fiquei com algumas
mulheres, mas depois que você casou, mas eu jamais fui capaz de
te trair. — Solto um riso angustiado, é a minha vez de fechar os
olhos. Sinto ele se afastar, mas não sou corajosa o suficiente para
abrir meus olhos.
— Então por quê? Por que você fez aquilo? — Quando eu
abro meus olhos, ele está de joelhos entre minhas pernas, mas não
me toca, engulo em seco, ele separa minhas coxas ficando entre
elas.
Ele é tão alto que mesmo de joelhos ele fica cara a cara
comigo, o rosto másculo tenso sempre foi lindo, os olhos de gato,
verdes e cristalinos são intensos, duros, mas a tristeza neles se
sobressai quando ele pisca, fazendo os cílios cheios e grossos
dançarem devagar, um olhar intenso que eu nunca vi em ninguém.
Eu sempre quis acreditar que havia um motivo para ter ele desistido
de nós, para ele ter jogado todos os nossos planos ao vento.
— Eu queria que você voasse, o que se ia ganhar casando
comigo? Se queria estudar fora e eu nunca quis sair, você vivia pra
estudar, seus olhos brilhavam enquanto lia aqueles livros, todos
cheios de ensinamentos. — A voz dele me atinge em cheio, um
soco teria doido bem menos.
— E você decidiu por nós dois que minha vida seria melhor
sem você? — questiono, me sentindo tonta, meu estômago revira.
Quando olho nos olhos dele eu só vejo uma coisa; arrependimento.
Minha boca fica amarga. — Decidiu por mim sobre minha vida? E
ainda fez isso da pior forma possível. Eu me entreguei a você, meu
coração.
— Você jamais ia aceitar mudar de ideia, se eu apenas
dissesse que não podia casar, não podia te prender a mim, eu era
moleque e achava que não ia suportar a distância, descobri da pior
forma que eu era um egoísta, devia ter largado mão de tudo, por
você. Eu não queria perder a fazenda e nem você, mas eu fiz minha
escolha. — Isso me dói, o toque dele em minha perna queima, ele
sempre amou a fazenda, sempre, eu sabia que ele jamais iria sair
da fazenda e nem queria que ele fizesse.
Quando passei no vestibular, eu fiz minha escolha e sequer
fiquei feliz, na verdade, minha vontade era preencher um vazio
dentro de mim, provar algo que eu nem precisava provar.
Ficar com ele, era o que meu coração pedia, eu pensava na
época que teria todos os anos pela frente para estudar.
— Deixar você pensar que eu te traí foi o modo que imaginei
que você deixaria de me amar, assim você ia embora e conseguiria
estudar. — Ele continua a dizer, me fazendo ainda mais miserável.
— Deus, você acha mesmo que eu seria uma cadela pedindo
que fosse embora comigo? — balanço a cabeça, incrédula. — Você
realmente não me conhecia e conhece muito menos agora. Eu ia
estudar, teria uma vida para estudar, nós dois éramos mais
importantes, nós dois. Mas você achou mais fácil me magoar do que
me dizer? Eu abri mão de um diploma por nós dois, porque naquela
época ter uma família era mais importante. E vejo o quão errada eu
estava, jamais quis competir com suas terras, quis tirar você delas.
— Você recebeu um e-mail da faculdade, passou em primeiro
lugar e não disse nada. — A confissão dele me deixa aturdida. —
Eu vi o e-mail. — Ele aperta minha coxa. — Eu não queria estudar,
mas você sim.
— Como você pode apenas deduzir o que eu queria apenas
por um e-mail?! — digo o óbvio, me afastando dele, me levanto e
passo a mão pelo rosto, ele continua na mesma posição.
— Você fodeu com nossa vida, apenas por que eu recebi um
e-mail? — Rio com desgosto. — Você apenas podia ter me dito, e
eu te diria que escolheria ficar com você, que sim eu queria fazer
faculdade, queria ser veterinária, mas que ter uma família e construir
tudo que sonhamos juntos era mais importante, que preferia ter uma
família, ter apoio, segurança era mais importante. Eu queria você lá
quando eu me formasse um dia. Você me tirou o direto da escolha
sobre minha própria vida — digo, sentindo as lágrimas em meu
rosto, dou um passo para trás me sentindo minúscula. — Você não
queria dividir sua vida comigo, era só ter me dito. — Ele se levanta.
— Eu passei dez anos da minha vida imaginando por que você me
traiu, mas agora, eu realmente preferia ter levado um par de chifres
do que ter sido feita de idiota sobre minha própria vida. Eu escolhi
você e nossos planos. Nossos planos, eu abri mão deles para ficar
com você na fazenda. Mas você sequer cogitou a possibilidade de
abrir mãos dos seus planos por nós, e Deus eu não te culpo, eu
apenas era uma jovem idiota e apaixonada o suficiente para quer
ser amada. Como eu fui burra! Eu abri mão de tudo, mas você não
era capaz de abrir mão de nada. A fazenda sempre foi mais
importante, isso é indiscutível. Mas mesmo assim, você não tinha
esse direito de manipular minha vida, nossa vida assim.
Deus, como eu fui uma idiota, abri mão de tudo e ele sequer
colocou isso na balança.
— Seja sincero, Deus, uma vez na vida, seja sincero, se não
fosse a maldita cobra... — Eu sequer tenho tempo de completar
minha fala, pois ele me interrompe vindo em minha direção como
um boi bravo, engulo em seco quando as mãos calejadas e firme
me seguram com força, quebrando o espaço entre nós dois.
— Me arrependi no momento que me viu no meio daquelas
putas, eu não toquei em nenhuma delas, a pinga fodeu meu sistema
naquele dia, eu queria ir atrás, foi seu olhar, a porra desse olhar
magoado que me fez perceber a burrada que eu fiz. O maldito erro
que eu cometi, quando eu sai e você tinha sumido que eu passei a
enfrentar o inferno na terra por meus erros, não passou um dia
fodido sequer que eu não tenha me arrependido. — Tento me
afastar dele, para raciocinar direito, mas é impossível.
Ele ainda é capaz de varrer o mundo dos meus pés, com
apenas um olhar.
Cerrado Azul
10 anos antes...
Senti beijos molhados por minhas costas, a barba deslizou
contra minha pele me fazendo arrepiar, senti a risada baixa contra
minha pele, a mão calejada resvalou por meu quadril, o corpo duro
pressionou o meu. Olhei para o relógio na minha escrivaninha e
gemi cheia de sono.
— Você gemeu meu nome... — ele falou, deslizando a língua
sobre a pele do meu pescoço. Mordi meus lábios, meu quadril foi ao
encontro dele, roçando contra sua cueca. — Me pedindo para ir
mais fundo nessa bocetinha.
— Falei de novo? — Ofeguei baixinho quando eu o percebi
se afastar, senti ele deslizar seu membro entre minhas pernas,
quente e duro, muito duro.
— Enquanto eu for o dono dos seus sonhos, serei um homem
feliz — rosnou, baixinho, contra a pele suada do meu pescoço, ele
segurou minha perna de forma firme eu me esfreguei contra ele,
mordi os lábios quando ele deslizou os dedos entre minhas pernas,
me tocando, me fazendo ainda mais úmida.
— Vou ter que pular da cama em uma hora linda e nem
fodendo eu vou sair daqui sem te foder gostoso. — Beijou meus
ombros, mordiscando me fazendo arrepiar. — Quero que sinta
minha porra quando eu sair e te deixar aqui molinha querendo que
eu volte e te foda novamente. — Mordi meus lábios e senti meu
rosto corar, eu jamais vou me acostumar com todas as coisas que
ele diz, mesmo antes de termos nossa primeira vez meses atrás ele
já dizia essas coisas, me fazendo corar e me sentir quente entre as
pernas, meus dedos trêmulos deslizaram por seu comprimento
grosso e duro, quando o levei a minha entrada, ele riu rouco de
forma lenta.
Mas ele me parou, rindo, ele afastou minha mão e entrelaçou
meus dedos nos seus, calejados e ásperos, a mão firme cobriu a
minha e as veias grossas saltaram. Meus padrinhos não sabem que
ele se esgueirava para meu quarto todas as noites, ou fingem que
não sabem, eu já tentei mantê-lo fora, mas ele sequer me ouvia, não
tirava as mãos de mim.
— Você é minha Catita, diz que é minha. — Deslizou em
minha entrada de forma possessiva, me fazendo gemer baixinho.
— Precisa parar de se esgueirar pra cá — disse, ele rosnou
contra meu ouvido e me apertou, provocá-lo era uma passagem de
ida para tê-lo bravo, com o rosto vermelho, dito e feito ele se
afastou, caí de costas contra a cama e o corpo dele cobriu o meu, o
rosto amassado pelo sono, a barba por fazer, os olhos verdes e
quentes me faziam suspirar.
— Minha, minha mulher. — Quando os dedos dele
deslizaram entre minhas dobras eu ofeguei. Os lábios dele
brincaram com minha pele descendo cada vez mais, meu rosto
corou e ele riu, talvez eu nunca fosse capaz de não corar de
vergonha quando ele colocava a boca lá embaixo e me levava em
seus lábios e dedos.
— Ah. — Suspirei. Ele empurrou minhas coxas e se colocou
entre elas, nu, ele me olhou e deu um sorriso muito sujo, lambeu os
lábios separando meus lábios gordos com os dedos, meu rosto
queimou e gemi quando ele arrastou a língua sobre mim, meu corpo
tremeu e ele subiu a mão áspera até meu seio e o apertou,
pressionando o polegar. Ele gemeu rouco em mim, enquanto
apertava a boca entre meu ponto sensível, então o mundo girou de
forma lenta e muito gostosa, senti ele deslizar o dedo em um vai e
vem devagar, meus olhos foram pra ele e eu gemi, os olhos estão
escuros, dilatados e brilhantes, ele sempre achava uma maneira
para ter a língua lá entre minhas pernas, tremi quando ele deslizou
sua língua sobre o meu broto dolorido, quando ele chupava
suavemente entre seus lábios vermelhos e cheios, eu quebrava em
pedaços.
Ele girava a língua de forma rápida e, de repente, eu o senti
vindo. Foi apenas alguns minutos com a boca dele em mim, e não
consegui ver mais que um borrão. Suas mãos calejadas e firmes me
prenderam na cama de forma firme, e sua língua continuava
deslizando lá, de forma dura como um chicote. Mordi minha própria
mão para conter o gemido alto meu corpo tremeu e eu solucei como
se estivesse chorando, meus olhos se encheram de lágrimas,
quando eu consegui respirar ele se afastou puxando meu ponto
duro entre os dentes, tremi, ele se afastou, deixando-me respirar. Zé
subiu dando beijos por meu corpo trêmulo, esmagando meus lábios
nos dele. Ele tem o meu gosto e minha excitação estava molhada
em seus lábios, mas eu não me importava. Eu sentia o gosto de
seus lábios, e eu meio que gosto também, mas meu rosto corou e
ele riu em meus lábios.
— Você é minha, moça. — Ele beijou meus lábios devagar,
escondi meu rosto em seu peito suado, eu o senti duro entre minhas
coxas. — Eu judiei, né? — brincou tocando meu rosto, ri fraquinho e
concordei, ele tinha a força e disposição de um touro, aja força para
o acompanhar, fiquei ardida, mas mesmo assim o queria dentro de
mim, me levando, fazendo tudo que ele podia me dar, eu amo o que
eu e ele fazemos quando estamos sozinhos — Te amo, moça. —
Ele piscou beijando minha testa de forma doce, rolando me levou
junto ao seu peito, bocejei e beijei seu peito, fazendo-o rir de forma
baixa aquecendo meu peito.
— Te amo, peão. — Eu nem sei se ele ouviu, mas eu disse
com todo meu coração.

Tirei as roupas do varal sentindo a garoa começar a cair, vi


de longe Zé Vicente subir no garanhão, sorri para ele que me
devolveu com assovio tirando o chapéu para mim, meu coração
pulou no peito, quando o enorme animal virou e saiu em disparada
em direção ao pasto, com o berrante nas costas. Os cachorros e
alguns peões foram atrás dele, ri feito uma boba vendo-o tão lindo
em cima do garanhão, sem camisa todo vermelho do sol quente,
suado, suas costas largas tencionam em cima do cavalo, e eu ficava
observando-o até sumir de vista no enorme pasto.
Quando recolhi a última peça de roupa o pé d’água caiu me
fazendo correr, em direção à cozinha com o cesto, coloquei-o na
mesa e corri para fora para pegar os pregadores, Conça vai me
bater com espada de São Jorge se eu deixar os pregadores
novamente na chuva, antes que eu pudesse pegar o baldinho, o
cavalo parou em minha frente e relinchou forte, o gritinho fino saiu
da minha garganta quando o braço forte me puxou para cima do
animal.
— Zé, eu sou pesada, — Tirei meus cabelos molhados do
rosto, rindo, fazendo-o me abraçar apertando, ele me ajeitou como
se eu fosse um trapo velho. Minhas costas tocaram seu peito duro e
ele atiçou o garanhão fazendo-o disparar pela chuva de forma
desgovernada.
— Pesado tá meu pau querendo seu mel doce entre suas
pernas, meu amor. — Ele gargalhou quando meu rosto corou, ele
me beijou de forma rápida.
— Vão cair seus sem juízo! — A voz de Conça gritou de
longe, Zé gargalhou disparando pela chuva, a gargalhada gostosa
dele encheu meu peito me fazendo rir, o braço forte dele me
prendeu como ferro, minhas mãos prenderam em seu braço em
minha cintura, ofeguei quando ele foi em direção à cerca.
— Nem pense nisso. — Olhei para porteira fechada, ele
instigou o cavalo a ir mais rápido. — Zé a cerca tá... — Minha voz
morreu quando o garanhão impulsionou o corpo e saltou sobre a
cerca, me agarrei a Zé e ele me segurou contra ele, todo meu corpo
tremeu de cima a baixo, quando o cavalo aterrissou no chão, senti o
animal bater no chão o tranco não o fez parar, Zé continuou o
instigando a ir mais e mais rápido, meu sangue correu, meu coração
parecia que ia sair pela boca. A chuva bateu forte em nós dois, me
fazendo tremer, mas quando ele finalmente parou, eu olhei para o
enorme açude onde o arco-íris saía.
— Não tem ouro no fim do arco-íris, moranguinho, mas tem o
meu amor. — Ofeguei sem saber o que dizer, deslizei do garanhão e
ele desceu soltando. O garanhão foi em direção ao açude beber
água, a chuva começou a afinar e o cheiro delicioso de terra subiu.
Fechei meus olhos e girei sentido as gotas de água contra meu
rosto.
— Ah... Casamento da raposa[AEG41]... — murmurei quando
senti os braços fortes me pegarem e me girarem, a risada dele
encheu meu coração, quando abri meus olhos, dei de cara com o
olhar mais lindo que eu já vi, verdes, intensos, amorosos, meu
coração errou a batida quando ele sorriu, mesmo com a barba por
fazer conseguia ver suas lindas covinhas o sorriso dele ficou perfeito
depois de tantos anos reclamando do aparelho dental, quando
piscou afugentando as gotas de chuva, beijei seus lábios passando
meus braços por seu pescoço, quente, sempre quente meu Zé
devolveu o beijo apertando minha cintura, minhas pernas foram para
sua cintura, mesmo eu sendo assim, cheia de dobrinhas e com
vários quilos a mais, ele me levou com o se eu fosse uma pena, eu
mal chegava ao seu peito, mas mesmo assim nós dois nos
encaixamos de forma perfeita, Zé tirou o chapéu da cabeça e
colocou na minha me fazendo suspirar, ofeguei quando ele
murmurou um, minha, puxando meus lábios entre seus dentes, me
fazendo gemer.
— Sou seu e você é minha, moça bonita. — Ele se afastou, o
rosto todo molhado é tão lindo que eu fechei meus olhos.
— Pra sempre? — questionei, sentindo um medo sem base
[AEG42]invadir meu corpo, me agarrei a ele, que intensificou o
aperto em mim, os olhos dele foram para os meus de forma doce, o
atrevimento estava lá, o homem bronco e xucro estava lá, mas tudo
isso faziam dele o meu Zé.
— Pra sempre! — A voz grossa dele reverberou em meu
coração, tocou seu rosto e o abracei firme, ele retribuiu rindo comigo
na chuva, ele rodopiou mais algumas vezes comigo agarrada a ele,
mordi meus lábios rindo quando ele se jogou comigo na grama
rolando. — Amo demais seu sorriso, moça bonita. — Senti meu
rosto corar ele virou nós dois me colocando em cima dele, senti
vontade de reclamar sobre meu peso, mas da última vez que eu fiz,
ele bateu em minha bunda com força, me deixando muito molhada
entre as coxas.
— O seu é mais — disse, chegando bem pertinho dele.
Arregalei meus olhos ao senti-lo duro contra minha coxa, mesmo ele
usando um jeans velho e muito grosso de lida. [AEG43]
— Está duro — disse baixinho, sem jeito sentindo meu rosto
corar, ele riu de forma gostosa me fazendo ter ainda mais vergonha.
— Sempre duro, só preciso pensar em nós dois. Que eu te
quero — Zé disse, rouco, passando o polegar sobre meu rosto. —
Se não fosse os comprimidos eu já tinha te metido uma cria linda,
linda igual você. — Piscou me fazendo ofegar, ele prendeu minha
coxa ao lado da perna dele, me impedindo de fechar quando eu
senti o fogo entre elas, já estava úmida. — Depois que eu te botar
uma aliança, vamos ter o nosso potrinho. — Ele riu, me fazendo
suspirar.
— Tá me chamando de égua? — reclamei, brincando,
fazendo ele me olhar de forma assanhada, ele nos girou me
cobrindo com o corpo bronzeado, a chuva fina molhava nós dois,
passei a mão por seu rosto, tirando os respingos e a terra.
— Se é minha potranca, moça, e to louco pra montar em
você. — Beijou meus lábios de forma intensa, me tirando da terra
me levando com ela para um mundo que só existe em seus braços,
como uma boba apaixonada eu me entreguei ao beijo ainda mais
quando as mãos calejadas e grossas separavam minhas coxas. —
Amo você, moça bonita.
— Te amo, peão.
Não consigo desviar meus olhos dela, é como estar no
inferno e ver o paraíso, eu o sinto, mas não posso estar lá minha
moça doce não existe mais, os olhos de cor de chocolate são
desconfiados, ela não é mais a minha Catita, o olhar ferido me bate
duro, só a ideia do ex-marido a ferindo faz o bicho ruim dentro de
mim balançar. Eu dou um passo em sua direção, mas ela não recua,
se mantém com os olhos nos meus. As memórias de nós dois juntos
vem com força, tudo, os sorrisos, os beijos, os toques e as nossas
fodas.
Balanço minha cabeça, diacho.
— Eu me arrependo e pago pelos meus erros até hoje. —
Volto a falar. — Tentei te esquecer, mas eu te via em cada mulher
que sorria, não foi seu acidente que fez com que eu me
arrependesse, foi seu olhar, eu podia estar com o cu cheio de álcool,
mas não conseguia sequer pensar em outra pessoa a não ser você.
— Minha mão formiga para tocá-la, mas me mantenho no lugar. —
Fala pra mim hoje, que você quer viver na cidade grande, eu vendo
tudo. Na cidade grande deve ter mato, fala que quer ir pro Alasca
que eu crio porco e galinha lá também, levo porco de barco, pra
onde você quiser ir eu vou. Eu devia ter ido com você e sentado na
cadeira.
— Deus, o quão burro você é para entender que eu escolhi
você? Que optei pela família que construiríamos, decidi pelos filhos
que planejamos, escolhi crescer ao seu lado? Qual a parte do
caralho que você não entendeu, eu não ia para faculdade, na
verdade, estudava porque queria ter algo, ocupar o vazio dentro de
mim, queria viver um amor, o nosso amor! Nunca houve uma dúvida
sequer, era você, peão, foi você. — A verdade das palavras dela me
batem duro, engulo em seco, meu irmão sempre falou o quão burro
eu fui por apenas levar em consideração a porra de um e-mail, mas
isso agora não importa mais.
— Pode me dar uma carona? — Ela pede cortando o
assunto, os olhos dela magoados demais.
Talvez seja sempre assim, fugir do que lhe machuca. Afirmo
com a cabeça, ela caminha em direção à porta e esfrega os braços,
a chuva já passou, mas o vento assopra forte, pego minha jaqueta
de couro pendurada no prego perto da porta e estendo em sua
direção, ela pondera por um instante, mas aceita, quando a coloca
porra ela fica tão linda que me faz sorrir. A jaqueta de couro com a
logo da fazenda passa de sua canela, ela sempre foi pequena, toda
cheia de dobrinhas deliciosas e quentes como o inferno, ela faz um
som estranho e o gato dela que lambe as bolas sentado no meu
sofá pula e vem até nós sendo seguido por Bisteca. Bisteca cheira a
bunda do gato que treme de forma engraçada.
— Bons amigos? — digo e afago a cabeça do meu vira-lata
fuçador de carniça, Catita dá um sorriso abre a porta com o gato no
colo, pego Bisteca e o jogo em meu ombro, fazendo ele lamber meu
rosto.
Quando ela passa por mim o cheiro de morango me invade,
agora ela não é mais uma lembrança.
Coloco a caminhonete na estrada, ela suspira e olha para o
céu limpo, abaixando o vidro.
— Tinha esquecido o quão lindo é o céu — ela diz tão
baixinho que duvido que está falando comigo. — Lá era tudo tão
cinza. — Pelo toco[AEG44] dos olhos eu vejo seu sorriso. Diacho,
quero sorrir, mas disfarço o que dá, pois sei que se eu chamar sua
atenção seu sorriso doce vai morrer e o brilho nos olhos dela vai
desaparecer.
Orgulhoso dela, eu olho para sua mão ferida enfaixada, porra
ela fez algo que eu jamais a imaginei fazendo, minhas costas doem
e devem estar pretas pelas cabeçadas do novilho, mas porra ela
entrou lá suou e não demonstrou medo, depois peitou a porra
bezerro ainda cuidou dele, quando Catita colocou o ombro dele no
lugar o estalo do osso voltando fez alguns dos meus peões
cochicharem e nunca em nenhum dos meus sonhos eu imaginei que
ela faria o que fez.
Catita está um pouco suja, seu rosto tem terra, mas ela não
se importa, o gato gordo dela a cheira e depois pula para o painel da
minha caminhonete, eu ligo o rádio, vou devagar, além da porra do
barro, eu não quero deixá-la, ela ergue a prótese e a puxa contra o
corpo colocando o pé no banco, não me importo se sua botina vai
sujar meu banco, quando ela se encosta, ela fecha os olhos e
suspira cansada, os ombros dela estão tensos e sua mão parece
doer. A força dela me impressionou, ela não pensou duas vezes em
entrar na porra da vala com aquele bicho e o ajudar, mesmo ele
estando com o diabo no couro.
Orgulhoso, eu tiro os olhos da estrada e a fito, ela cochila
com os lábios entreabertos, toco seu rosto, tirando a terra. Fazendo-
a suspirar, ela balbucia algo, eu sorrio ao perceber que ela ainda
fala dormindo, não consigo entender, pois sua voz está baixinha
junto ao som da música me impede de ouvi-la.
— Moranguinho? — Chamo. Olho no relógio da caminhonete,
uma hora de estrada, já é quase meia-noite, ela resmunga, meus
olhos vão para casa em frente a dela, que se acende ao ouvir o
barulho da minha caminhonete. Bando de fofoqueiros, os malditos
têm a língua maior que o corpo, a cidade toda já sabe que Catita
está de volta e que eu estou em cima dela, porra não quero nenhum
caboclo em cima dela.
— Catita? — Toco o rosto dela, que se sobressalta.
— Droga, eu cochilei — resmunga, seu rosto ganha uma
tonalidade linda de vermelho, me fazendo sorrir feito um idiota.
— Ainda ronca feito uma porca — provoco, ela vira rápido e
crispa os olhos em minha direção.
— Sabe que eu não ronco — esbraveja, me fazendo sorrir,
desço da caminhonete e olho para o céu estrelado, claro sinal que
não vamos ter mais chuva. Ela desce com o gato no colo e Bisteca
vai atrás dele no canteiro de flores.
— Sei bem até demais — digo, cruzando os braços. — Quero
agradecer, pelo que você fez, Catita — comento sem jeito, ela sorri,
a base do seu pescoço começa a ficar vermelha, vermelho vivo.
— Não tem motivos para me agradecer, eu fiz o que estudei
para fazer — ela fala com um leve tom amargo. Respiro fundo.
— Amanhã vai ter um chuveiro decente e uma pia nova, tem
minha palavra, moça bonita. — Me apoio na caminhonete e ela
concorda. — Preciso subir lá em cima e ver esse telhado.
— E me deixar sem teto? Olha seu tamanho, pesa o quê?
Cem quilos? — Ela ri.
— Cento e trinta e nove. — Ela arregala os olhos e me
confere meu corpo em uma olhada rápida. Me fazendo olhar
convencido pra ela, porra eu não tenho a cara mais mansa, sou
duro demais, quebro qualquer porra com facilidade, e não sei pegar
um papel sem amassar ou sujar, mas porra eu ainda sei que posso
fazer ela me desejar, usei isso ao meu favor por anos, nunca
precisei sorrir para conseguir uma mulher em minha cama, elas
apenas vinham, sei que meu sorriso a encanta ela e os olhos de
chocolate brilharem, sei que meu toque de cavalo arrepia a pele
macia e cheirosa, eu sempre estou sujo demais, com calças
remendadas, Conça diz que eu tenho o pau de ferro, já que todas as
porras das calças rasgam no mesmo lugar, eu sei que meu dinheiro
a incomoda, sempre a incomodou, os pais dela deixaram terras para
ela, dinheiro e com isso ela construiu tudo que tinha, até aquela
perereca do brejo simplesmente levar tudo, talvez se eu oferecer
dinheiro para ela, bem provável que ela queira me engolir.
Sua Brasília, sua casa velha e as terras que ela divide
comigo são as únicas coisas de valor que ela ainda tem e isso não
parece deslumbrar ela, minha RAM não a fez ofegar como a maioria
das mulheres, ela mal olhou. Quando éramos jovens, o sonho dela
era fazer Madimbum funcionar, eu ria dos seus sorrisos bobos das
suas vontades, querendo realizar todas elas. Querendo consertar a
Brasília velha com ela.
— Por que essa cara? — questiona, bocejando, e cruza os
braços em frente ao corpo e muda o peso do corpo para prótese.
— Pensando em nós dois. — Pisco, fazendo-a revirar os
olhos. — Essa é a hora que as moças convidam os cavaleiros pra
entrar nos filmes.
— Você no máximo é o sapato do cavaleiro, peão. — Ela
boceja, cansada demais. — E nós não estamos em um filme —
comenta, levando a mãos aos lábios. — Eu podia dizer a você, nós
nos vemos por aí, mas sei que vai estar socando minha porta
amanhã, mesmo antes do galo cantar. — Ela chama o gato gordo
que mastiga mato com o Bisteca do outro lado da rua e ele vem,
seguido por meu vira-lata. — Boa noite, peão.
— Boa noite, moça bonita. — Ela abre o portão e antes
mesmo que eu possa falar algo de novo ela já está dentro da casa
velha acendendo as luzes. — Boa noite, moça... Bora, Bisteca. —
Chamo meu vira-carniça, ele cospe o capim, olho para o céu
estrelado, sentido a fresca da madrugada, eu não vou dormir nada,
mas só de estar com ela um pouco mais, já aqueceu meu coração.
Eu nunca passo das nove, to sempre cansado demais, durmo com
as galinhas e levanto com os galos, e pela primeira vez em dez
anos, vou dormir com o sorriso da mulher que tem meu coração.

Levanto cedo com uma dor de cabeça de partir o chifre, antes


do galo cantar eu e o Bisteca já estamos pegando café na cozinha
da casa grande, Bisteca lambe os beiços quando Conça lhe estende
uma orelha de padre frita.[AEG45] Pego um e mordo sentindo o
sono ir embora aos poucos, eu não consegui dormir depois que
cheguei, fiquei pensando em Catita, em sua força, seu sorriso e
quando peguei no sono já deveria estar de pé.
— Deus abençoe, Conça — resmungo e ela sai da cozinha e
volta com um galhinho de arruda. Ela bate em meu peito me
fazendo abaixar em sua altura.
— Vou te benzer assim que virar a lua — ela diz, colocando o
galhinho em minha orelha, concordo. E ela se afasta, Conça sempre
nos benzeu curando zóio gordo, [AEG46] nós pegávamos quebrante
fácil[AEG47], quaieira virada [AEG48]era comigo mesmo, sempre
virava o bucho e Conça sempre sabia o que fazer. Manoel sempre
foi lombriguento, Conça sempre fazia esfregação nas juntas dele,
com hortelã e mel, açúcar ou melado, qualquer coisa doce. Com
essa esfregação as lombrigas saíam pela boca dele. Ele gritava,
mas logo já vinha brincar comigo e com Catita. Era dar quebrante
em Catita que ela a benzia, era ir até à cidade e as mulheres a
achavam bonita demais aí ela voltava tudo amortecidinha, molinha,
sem brincar com os olhos murchos. Aí Conça benzia, falava
estranho e logo depois ela já correndo comigo e com meu irmão.
Aceito o galhinho de arruda colocando meu boné na cabeça
virando o restinho do café.
— Até, veia. — Beijo sua testa e ela riu.
— Traga minha Catita para o almoço. — Me bate com o pano
me tocando da cozinha. Quando saio na porta meu irmão toca o
berrante e assovio para ele que grita de volta, fazendo nossos
cachorros latirem. Balanço a cabeça.
Assovio para Bisteca que entra no fervo dos cachorros, ele
vem correndo. Abro a porta do passageiro e ele entra. Faço o
mesmo e deixo a janela dele aberta para que ele possa olhar a
estrada.
Um caminho que ontem eu fiz em uma hora hoje eu fiz em
menos de dez minutos, quando chego à frente da casa da minha
Catita, ela já está do lado de fora usando um roupão maior que ela e
com o gato gordo em seu colo.
Quando desço ela vem em minha direção, o sorriso em meu
rosto morre ao ver seu olhar de medo, ela treme soltando o gato, ele
corre em direção à rua com Bisteca e ela puxa minha camisa. Antes
que eu fale algo, ela coloca a mão em minha boca, a mão dela
parece uma taquara no vento de tanto que treme.
— Tem alguém lá dentro. — Um arrepio percorre minha
espinha. — Eu ouvi ruídos e alguém mexeu na minha comida.
— Pode ter sido o Costela — digo o óbvio afagando suas
costas, me sentindo mais aliviado.
— Costela ainda não aprendeu a dar descargas, José
Vicente.
Eu tomei um banho frio de madrugada, mas nem mesmo isso
me fez o sono e cansaço sumir, eu apenas desabei na cama e
dormi, quando eu acordei a primeira coisa que fiz foi carregar minha
prótese e me levantar. Saí do quarto seguida por Costela que parou
na minha frente e seu pelo todo se arrepiou. Eu dei um passo para
trás ao ouvir a descarga do banheiro, engoli em seco e o mais
rápido que pude eu fui para fora, quando eu passei pela cozinha vi
toda minha comida roída e revirada. O medo me bateu forte.
Daniel... Deus, e se aquele merda veio terminar o que
começou comigo e com Costela? Eu comecei a sentir náuseas,
quando abri a porta da frente disposta a ir para o mais longe o
possível eu dei de cara com José Vicente e nunca em toda minha
vida agradeci tanto por vê-lo.
Despejo as palavras nele, me agarrando a sua camisa,
engulo em seco tremendo, quanto mais ele justifica o intrusivo mais
medo eu sinto.
— Pode se-er el-le... — gaguejo com medo, meus olhos
encontram os de Zé e a postura dele muda totalmente, eu ofego, o
sigo pra dentro mesmo sob seus protestos.
Mostro de onde vem o barulho e o sigo, quando ele chega em
um dos quartos, de onde vem um leve ronco Zé abre a porta com
tudo, um ofego sai dos meus lábios.
— Que merda é essa? — ele sussurra e aponta para o
pequeno menino todo sujo e cheio de machucados deitado na
cama.
— Jesus. Ele está ferido — digo tentando me aproximar, mas
Zé me para com a mão. Quando Zé muda o passo na direção do
menino o taco de madeira do chão estala e o menino acorda
assustado, ele grita alto e pula da cama agarrando uma mochila
velha, ele treme dos pés à cabeça e os olhos se enchem de
lágrimas.
— Como é seu nome, menino? — A voz grossa de Zé o
assusta ainda mais, e eu lhe dou uma cotovelada.
— Oi — digo, me aproximando, ele se encolhe no canto e
solta um som que parece ser dor, o cabelo crespo não me deixa ver
seu rosto, ele tem o olho inchado, parece ter apanhado, há cortes e
bolhas em seus braços e quando meus olhos param em seus pés
magros, eu não consigo acreditar no que vejo, os pés dele magros
parecem estar em carne viva, cheios de calos e bolhas.
— Sou Catarina, nós não vamos te machucar — afirmo,
fazendo-o tremer mais ainda de medo, Deus ele não deve pesar
nem trinta quilos. Magro e cheio de feridas, o menino não cheira
nada bem, quando eu me aproximo ele aperta a mochila contra o
corpo magro.
— Quem fez isso com você, querido? — questiono, me
abaixando na altura dele, não me importo se ele roubou minha
comida, a dor nos olhos do pequeno é tamanha que me corta o
coração, sinto os passos atrás de mim, e Zé se abaixa também.
— Oi — diz com a voz rouca e chorosa, sorrio e ele arregala
os olhos e fecha os olhos quando Bisteca invade o quarto e voa em
cima dele lambendo e ganindo, Costela entra no quarto em uma
corrida desesperada derrapando no chão e batendo nas pernas do
pequeno menino, o peso de Costela não combina em nada com
corridas em pisos de madeira velha. Ele treme tanto que lágrimas
escorrem por seu rostinho magro.
— Porra, saia daí seu porra doido, e você também monte de
banha desastrada. — Zé ralha com os dois que param de imediato,
o menino soluça baixinho, ele nem se deu conta que são apenas
dois desmiolados de quatro patas.
— Ei, querido? — Chamo. — Abra os olhos. — Peço.
Ele abre os olhos devagarinho e treme como bambu, eu dou
um sorriso e Zé faz o mesmo.
— Ainda está com fome, pequeno? — pergunto e ele afirma,
Zé se levanta e sai do quarto, Bisteca senta ao lado do menino e
olha curioso para ele, o cheirando de longe, Costela faz o mesmo.
— Eles não vão te machucar — digo, e ele respira aliviado. Zé volta
com um pacote de biscoito e uma garrafa de água e outra de Coca-
Cola. Quando se se abaixa e oferece a ele, ele aceita com receio e
bebe a água com vontade tomando toda a garrafa em um piscar de
olhos. Ele ofega e nega quando Zé oferece a Coca-Cola, ele pega
aceita os biscoitos e come esfomeado. Engulo em seco e olho pra
Zé, os olhos dele estão tempestuosos, ele olha para o pequeno
menino e suspira.
— Pode me dizer seu nome? Eu me chamo Catarina, mas
pode me chamar de Catita, esse é o Zé e os dois ali são Bisteca e
Costela. — Ele engole o biscoito e me olha desconfiado.
— Goiaba. — A voz dele é um fio. Eu concordo.
— De onde você veio, querido? — Ele se afasta quando eu
me mexo, meu coto dói um pouco pela pressão de estar abaixada,
os olhos dele vão para minha prótese. Ele arregala os olhos e
depois olha para mim.
Ele larga o pacote de biscoito e pega a mochila velha tirando
um papel amassado dela. Tremendo-o me entrega uma certidão de
nascimento toda suja e quase se despedaçando.
— Nelson Santos. — Zé lê em voz alta. Deus é impossível
esse pequeno menino ter oito anos, impossível. Olho para ele, o
nome da mãe está borrado e no lugar do pai está escrito
desconhecido.
— Zé? — Chamo e ele me olha e respira fundo.
— Vou chamar o delegado e... — Antes que Zé termine o
menino se levanta e se atrapalha caindo e gemendo no chão, ele
começa a chorar e tenta se levantar. Eu me levanto e Zé o pega. —
Devagar, menino.
Ele se debate tentando se soltar dos braços de Zé, eu o pego
e ele esperneia chorando.
— De-eixa e-eu ir. — Ele pede entre soluços cortando meu
coração, eu me sento na cama com ele em meu colo, Deus se não
fosse por seu documento eu diria que ele não tem mais que cinco
anos.
— Nelsinho? — Chamo me sentindo de mãos atadas. —
Ninguém vai chamar o delegado. Só me diga quem te machucou e
prometo que isso nunca mais vai acontecer.
— Nã-ão acredito em promessa. — A vozinha dele me deixa
de mãos atadas. — Ele vai m-me prender de novo. — Ele soluça e
pra minha surpresa os braços finos dele apertam meu corpo, ele me
abraça, retribuo com toda minha força, meus olhos se encheram de
lágrimas e Zé toca meu joelho.
— Não posso deixá-lo ir — digo, sentindo uma lágrima
escorrer por meu rosto, os olhos do peão bruto marejam, Zé me
olha e minha alma parece se encontrar na dele. Meu peito se
aperta, algo que eu nunca senti antes bate duro em meu peito.
— Vamos cuidar dele — ele sentencia com a voz grossa e
bruta embargada.
— Quem é você, Nelsinho? — digo mais para mim do que
pra ele, e ele me aperta ainda mais.
Eu o afasto de mim e ele me olha com o rostinho todo ferido.
— Eu peguei a banana e ele me amarrou — revela,
soluçando. — Meu estômago doía, eu não queria pegar sua comida,
mas eu tava com tanta fome, antes não doía, mas parece ter bicho
aqui dentro comendo todo eu por dentro. — Ele soluça embolando
as palavras, e Deus como me isso dói.
— Quem te amarrou, menino? — Zé Vicente questiona,
segurando a mãozinha cheia de feridas, os dedos parecem ter sido
espancados, há cortes profundos. O pequeno olha para minha mão
ferida, e fecha os olhos.
— Se eu te contar o que houve com minha mão, você pode
me contar o que houve com você? — Concorda. — Eu me cortei
ontem, ajudando um bezerrinho em uma vala, preso a arames. —
Por um instante os olhos dele brilham e noto um menino incrível
apenas com o pequeno brilho lá.
— Eu estava pegando banana, mas o moço da delegacia
disse que o que fiz foi roubo. Mas o pé estava na estrada. Ele me
prendeu lá. Disse que lugar de macaco era na bananeira e me bateu
com um pau. Ele tirou minhas bananas e pisou nelas. Disse que
podia me bater porque eu sou preto e ele tinha uma arma, eu não
gosto de armas. — Ele chora baixo, se embolando nas palavras, se
agarrando a mim. Olho para Zé e o rosto dele fica vermelho.
— Escute, menino. — A voz de Zé engrossa e a mandíbula
dele trava. — Nada vai te machucar mais. Acredite você ou não. —
A voz soa como um trovão. — Você se ajeite, Catarina, que quando
eu voltar vamos para fazenda. — Concordo sentindo sua raiva. Ele
vai atrás do delegado.
Ele se coloca em pé, Costela e Bisteca ameaçam segui-lo,
mas com apenas um olhar ele os para, fazendo um arrepio correr
por minha espinha.
Ele sai pisando duro e o menino fica imóvel ao meu lado.
— Ei? Quer me contar onde está sua mãe? — Seu olhar
vaga para longe e ele nega, mas começa a falar de força triste, a
voz por um fio me corta o coração mais do que eu acho ser
possível.
— Ela disse que meu pai ia estar aqui me esperando —
responde, sem me olhar, e o coloco sentado na cama e peguei suas
mãos.
— Há quanto tempo você está andando, Nelsinho? —
questiono, ele se afasta e ele vai até a mochila tirando uma
passagem amassada. A data diz que ele chegou à cidade vizinha
tem dois meses. Meu Deus, ele sequer tem um sapato. — De onde
você veio? — Ele suspira, parecendo estar em uma briga interna,
tentado confiar em mim, de repente Bisteca sobe na cama e coloca
a cabeça no colo do menino, Costelinha faz o mesmo, deitando nas
pernas dele, Nelson fica imóvel, sem se mexer. Mas ao notar um
barulho alto, ele olha para mim e dá um pequeno sorriso.
— Ele peidou? — pergunta, passando a mão no vira-lata de
Zé. Afirmo rindo, nesse momento ele começa a coçar a cabeça, ele
deve ter piolhos, o cabelo crespo está cheio de nós com uma
aparência horrível, ele deve ficar lindo, com os cachinhos hidratados
e penteados. — Minha mãe não me queria mais — confidencia,
baixo. — Eu morava no viaduto, eu não queria mais vender bala, eu
vendia, mas nunca podia comer uma. Quando as moças do centro
me davam pão, ela pegava meu pão e dava para os homens ruins
por causa das drogas que ela gosta de usar.
Pego a passagem e olho o local onde ele embarcou. A
passagem diz que ele saiu da Barra Funda em São Paulo, como
diabos aceitaram um menino desse tamanho, nessas condições em
um ônibus de linha? Que provavelmente ia para o Paraná?
Pego em suas mãos, meu coração bate descompassado,
respiro fundo. Esse pequeno menino não tem ninguém, no máximo
uma mãe drogada e um pai que deve estar preso ou morto, se é que
sua mãe sabe quem ele é.
Vejo nele uma força e uma inocência enorme, por um minuto
minha vida passou por um flash por meus olhos, questionando tudo
que eu passei, tudo que eu suportei, olhando para ele é como se eu
pudesse me ver na tristeza dos olhos amedrontados.
Aperto meu nariz tentando respirar fundo, minhas mãos suam
de raiva, os olhos lombrigados do menino estão em minha mente,
paro em frente à delegacia e sequer consigo descer, se eu não
lesse o documento nem fodendo eu diria que ele está quase
fazendo nove anos, ele não deve pesar nem trinta quilos, as feridas
cobrem o corpo dele, ele está tão sujo e cheira tão mal que porra,
me dói o coração vê-lo nessa situação, ele não deve nem saber
escrever o próprio nome, as unhas das mãos estão ruídas pela fome
que deve sentir.
Ele me chamou de macaco... Amassou minhas bananas... as
palavras dele me cortaram como um maldito facão cego, minha
Catita olhava para ele com tanta compaixão e amor sem ao menos
o conhecer que meu peito perdeu a batida, nem fodendo que eu vou
deixar aquele menino, ela não notou, mas o cabelo dele está
infestado de piolhos e sujeira, ela o pegou no colo e o abraçou como
se sua vida dependesse daquilo, os olhos doces dela para ele, me
deram a certeza da mulher incrível que eu tenho ao meu lado, ela
não se importou, apenas quis pegá-lo no colo e dar a ele uma
segurança que ele nunca deve ter tido na vida. Eu sou um fodido
orgulhoso dela, diacho.
A Hilux SR encosta na minha frente, a mulher de pijama
desce com uma cara de poucos amigos. Ela vem até minha janela e
olha para mim.
— Mabel. — Minha voz grossa e irritada faz ela suspirar. Os
olhos claros dela me fitam com ódio. — Precisava de alguém são o
suficiente para me impedir de enfiar um pau no rabo desse maldito.
— Onde está o menino, Ferreira? — Enquanto eu vinha para
cá liguei para meu ponto de equilíbrio jurídico, Isabel Queiroz
assumiu o lugar do pai, Jurandir Queiroz, o melhor advogado chave
de cadeia de toda a região, o velho era capaz de convencer o juiz
que quem cometeu o crime foi o promotor de tão liso que ele era e a
filha nasceu igual, sem tirar nem por. As minhas terras estão em
suas mãos, a mulher realmente é o diabo quando quer.
Ela já tirou minha bunda da cadeia duas vezes quando eu me
meti em confusões na Gata Dourada quando eu tentava tirar Catita
do meu sistema, a mulher sabe me manter nos trilhos e quando eu
ou a fazenda precisamos dos seus serviços ela está pronta para
advogar para o diabo como ela mesmo diz. E ela ainda tem o rabo
preso com o meu irmão os dois jamais vão assumir que trepam,
Mabel tem aversão a casamento e meu irmão tem chifres demais na
cabeça para querer casar, mas mesmo assim ele ainda é arriado por
ela.
— Com Catita. — O rosto dela se suaviza e ela sorri de
canto, Mabel sabe da minha história com minha Catita e realmente
prefere Catarina a mim.
— Desça daí, sabe que eu continuo cobrando por hora — ela
diz. — Cuidado com essa maldita boca de javali, ele odeia sua
maldita bunda e não vai ter fiança se você realmente enfiar a mão
no esterco.
Empurro a porta da delegacia e dou passagem para Mabel
que passa por mim, ela gira a chave da Hilux entre os dedos me
irritando, meus olhos vão o maldito sentado com os pés na mesa
cheios de papéis, ele estica o corpo colocando a mão atrás da
cabeça ao me ver, a sujeira cai em cima dos papéis e Mabel torce o
nariz.
— Tarde — digo, fazendo o delegado metido a boi bravo se
sobressaltar, o filha da puta breca[AEG49] ao me ver.
— Boa tarde, senhor Ferreira, Dra. Mabel. — A voz dele dá
uma tremida, puxo a cadeira de ferro velha, fazendo um barulho, e
me sento, Mabel olha para a cadeira velha e suja e permanece em
pé, cruzo meus braços em meu peito, ele me olha e arregala os
olhos engolindo a seco.
— Em que posso ajudar? — Ele limpa a garganta e se senta
tirando os pés da mesa, fazendo mais sujeira voar sobre a mesa.
— Acho que deixar um ladrãozinho solto na cidade não foi
uma boa ideia, delegado — digo, Mabel me olha e os olhos dela
brilham em entendimento, ela sabe que eu vou jogar verde com
esse filho da puta. Ele se sobressalta, ciente do assunto.
— O macaquinho ligeiro invadiu suas terras? — Meu sangue
ferve, forço meus braços para me manter firme na cadeira, Mabel
fica tensa ao meu lado, ela aperta o aparelho celular com força.
— O que acha? — respondo, vou dar corda o suficiente para
que ele se enforque sem precisar que eu puxe.
— Porra, onde ele está? Vou dar um jeito naquele maca... —
É como se uma porteira arrebentasse, meu punho atinge a mesa
fazendo diversos papéis voarem, engulo em seco.
— Cuidado com a porra da boca, delegado — digo, fazendo-
o engolir em seco de novo.
— Segure o menino em suas terras, a assiten...
— Não se preocupe quanto a isso, eu já entrei em contato
com o juizado de menores da cidade vizinha e eles vão estar aqui
em algumas horas, já o senhor creio que seja a hora de se
aposentar, senhor Praxedes. — Mabel toma à frente, um sorriso
presunçoso toma conta dos meus lábios, fazendo-o me olhar com
ódio.
— É mais digno ter uma aposentadoria gorda do que toda
uma carreira manchada — Mabel continua, o pescoço do velho
começa a ficar vermelho.
— Acha mesmo que a palavra de um ladrãozinho ainda por
cima preto, contra mim, senhorita, vale de alguma coisa, não insulte
minha inteligência. — O rosto dele se suaviza, mas ele cruza os
braços em frente ao peito ainda em sinal defensivo.
— A minha palavra contra a sua Praxedes e caso não
adiante, será o meu dinheiro. — Ele perde a cor e me olha com
ódio, inclino a cabeça para o lado e arqueio as sobrancelhas. —
Qual vai ser? As más línguas da cidade me disseram que o senhor
tem família no Paraná acho que é hora de se aposentar e fazer a
eles uma bela visita permanente não acha?
— Eu não vou a lugar nenhum, vou recolher o menor e dar a
ele o destino adequado. — Sinto o ódio na voz dele.
— Não, não vai recolhê-lo. Você não vai querer me testar,
Praxedes — digo, o tom de ameaça em minha voz o faz dar um
passo para trás batendo em um móvel cheio de tralhas velhas.
— O que vai fazer co-om e-ele? — Pela primeira vez ele
titubeia.
— Não é da sua fodida conta. Esteja fora dessa merda,
Praxedes, e eu espero não precisar mandar de novo. O menino é
meu e da minha mulher, é minha responsabilidade.
Saio da delegacia batendo a porta, queria voltar lá e quebrar
o maldito filho da puta, nem fodendo isso vai ficar assim. Puxo o ar
pelos meus pulmões tentando controlar minha raiva, Mabel vem
logo atrás de mim.
— Sem sermão porra — brado antes que ela comece com
seu discurso moralista.
— Seja lá o que pretende fazer, faça e não deixe rastros. —
Ela inicia uma ligação falando em termos pomposos demais para
mim, fecho os meus olhos sentindo a adrenalina descer aos poucos.
— Sabe que para adotar o menino com Catarina terão exigências de
pelo menos uma união estável, ou apenas você poderá dar seu
nome a ele, não é?
— Eu nunca deixei antes, por que deixaria agora? Arrume os
papéis e eu assino.
— Deixe Daniel Bragança para a justiça e o delegado
também, se concentre em fazer a sua moranguinho querer dividir o
mesmo espaço que você sem querer te matar — diz de maneira
ríspida. Arqueio a sobrancelhas. — Já colocou homens atrás dele,
não é?
— O que você acha? — digo, ela joga as mãos para o alto.
— Deus, por isso papai disse que eu ia advogar para o
estagiário do diabo já que seu pai tirou férias — protesta, e reviro os
olhos abrindo a porta. — Sabe que o menino não vai poder estar
aqui quando o conselho tutelar vier verificar a situação e dar um
parecer, não é?
— E o você acha que eu não sei, eu já queria tirar Catita
desse lugar, nem fodendo eu vou deixá-la com o menino, essa porra
pode desabar na cabeça deles. Ela vai se juntar comigo pelo
menino não tenha dúvidas, arrume os papéis e eu penso em
casamento depois.
Enquanto volto para casa da minha Catita, minha cabeça
parece um balaio de emoções, tudo misturado, o que porra vamos
fazer com o menino? Não faço ideia nenhuma, mas nem fodendo
ele vai para um Lar de Menores. Ele provavelmente nem vai passar
dos 14 anos se continuar nessa merda de vida. E nem fodendo eu
vou deixar isso acontecer com ele, mesmo tendo uma vida fodida o
menino ainda possui inocência nos olhos, pois bondade mesmo
cheio de medos e incertezas ele ainda é uma criança inocente, por
algum motivo eu imaginei, ele comigo e com minha Catita,
Bistequinha e o gato gordo. Porra, uma família, a família que eu e
ela queríamos, o filho que queríamos. Porra. Como diabos eu irei
convencer ela a ter uma união estável comigo? Se ela sequer
consegue olhar muito em minha cara e me acusar pelas merdas que
eu fiz?
Quando paro a caminhonete em frente à casa da minha
Catita, ela sonda pela janela e disfarça.
— Terá trabalho, Ferreira. — Mabel dá dois tapinhas em
minhas costas. — Boa sorte para domar essa potranca e fazê-la
usar alianças — brinca.
— Quem foi domado fui eu, diacho — digo com um sorriso
bobo nos lábios devolvendo o abraço e empurrando o portão,
fazendo-a rir de forma debochada. — Boto um quilo de ouro no
dedo dela se for preciso, porra ela vai me odiar ainda mais.
— Não esperava menos de uma mulher que agarra boi na
unha, agarrar boi mocho pelas orelhas [AEG50]— ela provoca e fica
mais séria. — Não estrague tudo dessa vez. Você sabe que ela
sozinha não tem condições jurídicas para ficar com o menino, ela
ainda enfrenta um processo de merda que eu pretendo assumir
assim que você autorizar.
— Já era pra ter assumido — brado, e ela me olha, Mabel
não se abala com meus coices. — Aquela potranca é minha e não
me escapa. — Pisco dando passagem para Mabel entrar. — Dê um
jeito nessa merda, Maria Isabel — zombo, a chamando pelo nome
da avó que fundou o nosso famoso Gata Dourada.
— Maria Isabel Queiroz se revira no caixão ao saber que eu
não honrei minha vagina e virei puta — ela fala, desgostosa. — Ela
e seu irmão são duas pessoas que ainda acham que eu vou usar a
vagina ao invés de o cérebro para fazer dinheiro, ela do inferno e o
asno do seu irmão daqui da terra — comenta, desconcertada, sobre
Manoel, eles devem ter tido outro arranca-rabo que não terminou e
provavelmente não acabou com os dois trepando como geralmente
acontece. — Agora pare de me encher e tente convencer essa
mulher a te suportar pelo resto da vida dele, eu só posso desejar
sorte, pois ela é guerreira e você um cavalo insuportável.
Catita é minha mulher, só ainda não aceitou que eu estou de
volta a sua vida e não vou sair. Mabel me dá um sorriso jocoso e eu
entro na casa, vendo minha Catita lendo um livro, Bisteca dispara
em nossa direção, pulando em Mabel, ele a rodeia e cheira, ela ri,
meu vira-lata cheirador de bundas confere Mabel e volta correndo
para o lado do menino que dorme no sofá, o menino abraça o gato
gordo de forma inconsciente, o menino geme e suspira.
Quando minha Catita olha em meus olhos, os olhos dela
brilham e ela morde os lábios de forma doce, porra, tudo nessa
mulher é doce e sensual, eu não consigo prestar atenção no que ela
e Isabel falam, apenas admiro a beleza da minha mulher.
A única coisa que eu sou capaz de ouvir é algo sobre ser
advogada do estagiário diabo, que provavelmente sou eu.
Que diabo de papel eu deveria fazer minha Catita assinar,
mesmo?
Eu olho desconfiada a proximidade dos dois, a mulher sorri
para ele tocando seu braço, ele a abraça, engulo em seco, algo que
eu nunca senti antes passa por minha garganta me mordendo como
uma vespa, desvio meus olhos. Volto para o sofá me sentindo uma
idiota, por estar espionando Zé Vicente. Uma grande idiota com
ciúmes de um peão ainda mais idiota.
A porta se abre e eu continuo sentada fingindo ler o livro,
minha garganta seca e meus olhos vão para o pequeno Nelson
enrolado em uma manta ressonando tranquilo no sofá. Zé demorou
tanto que eu acabei fazendo ovos fritos com arroz para mim e para
Nelson, ele comeu tanto que eu achei que fosse passar mal. O
medo de talvez não ter o que comer daqui para frente fez com que
ele comesse quatro ovos e três pratos de arroz, um bocado não
alcançava o outro e isso acabou comigo, não foi a melhor refeição
que eu poderia oferecer, mas com toda a certeza talvez seja a
melhor que ele tenha comido em toda sua vida.
— Catita? — A voz rouca me chama, tiro meus olhos da
leitura e olho para Zé, a linda mulher sorri e eu me levanto fazendo
o mesmo, dando meu melhor sorriso.
— Olá — digo, estendendo minha mão, ela aperta de forma
firme e um sorriso dança em seu rosto, ela usa um pijama da Minnie
Mouse, mas mesmo assim ostenta uma postura impecável.
— Sou Isabel Queiroz, mas pode me chamar de Mabel. —
Ela desvia os olhos dos meus e engole em seco ao ver Nelson
dormindo em meu sofá. — A advogada do diabo — ela diz, e o
nome vem com tudo em minha mente, eu li todos os e-mails que ele
me mandou, todos, desde os dizendo que sentia minha falta até os
que ele falava de forma formal em relação às terras e sempre havia
uma assinatura embaixo.
Isabel Queiroz
— Catita. — Mesmo sentindo o ciúme me corroer, eu sorrio e
devolvo o aperto de mão que vira um abraço.
— Bem-vinda de volta, Catita. Ouvi muito sobre você — diz,
se afastando, ela olha para Nelson e eu engulo em seco. — Sabe
que não poderá ficar com ele nessas condições, não é? — Olha em
volta, ela tem razão, aqui não é lugar para um menino como ele
ficar.
— Não posso deixá-lo ir para um abrigo, sabe se Deus onde
— brado, fazendo ela sorrir. — Ele veio da Barra Funda em São
Paulo — digo, fazendo ela me olhar supressa. — Ele ainda tem o
bilhete do ônibus.
— E como permitiram um menino do tamanho dele, quase
atravessar o estado? — Mabel questiona, indignada, assim como eu
fiquei, ela se senta no sofá ao meu lado sem se importar com a
poeira.
— Segundo ele a mãe o colocou no ônibus com a promessa
de que o pai estaria esperando-o na cidade vizinha. Mas acho que
nunca houve um pai, pois, o documento que está com ele diz que o
pai é desconhecido e o nome da mãe é quase uma rasura — digo,
me sentindo frustrada.
— Você o tem? Tem o documento? — Me levanto sem se
importar que ela me veja sem prótese e vou até minha bolsa dando
pulinhos com a facilidade que adquiri com o tempo, pego a certidão
de nascimento dele e dou a ela.
— Encontre a mãe dele, Mabel, e garanta que ela não vá
procurar por ele. — A voz de Zé corta o breve silêncio como um
trovão.
— Talvez seja impossível, Zé, o pouco que ele me disse foi
sobre como a mãe o fazia vender coisas por drogas, ele disse que
vivia em um viaduto — revelo, sentindo meu coração apertar, olho
para o Nelson dormindo tranquilo. — Fiz o melhor que pude, um
prato de arroz com ovo frito, e talvez essa tenha sido a melhor
refeição que ele viu em toda sua vida. — Sem que eu esperasse Zé
se senta ao meu lado e pega minha mão.
— Fez o melhor que pôde, meu amor. Junte suas tranqueiras
e vamos para fazenda — diz, me fazendo respirar fundo.
— Acharei um lugar para mim e para Nelson assim que for
possível e vamos começar a reforma da casa. — Zé fica tenso,
Mabel suspira e pega minha mão.
— Catita? Vou ser sincera, se você fizer isso sozinha,
nenhum juiz dará a guarda dele a você, acabou de sair de um
divórcio instável de uma relação abusiva onde qualquer conselheira
tutelar não vai considerar você apta a ficar com ele nem mesmo que
seja provisório.
— Ela não está sozinha, Isabel. — A voz de Zé me
surpreende.
— O quê? Você não pode fazer isso... — digo, atônita, minha
garganta seca, os olhos de Zé me fitam como brasa, sem dar
brecha. — Zé... Ele é meu problema agora, Zé.
— Não importa, você e ele vem comigo, você sempre foi um
probrema meu, moça, e agora ele é também.
Problema, peão, problema. Corrijo ele mentalmente para
evitar ainda mais desgaste.
Mabel se despede e sai prometendo ligar com notícias sobre
a visita do juizado, Zé volta com uma enorme cara de bunda. Nelson
realmente embalou no sono.
— Não pode fazer isso — digo, baixo, assim que ele entra.
— Fazer o que, moça? — O deboche escorre na cara dele,
coloco minha prótese e me levanto ficando de frente pra ele.
— Nelson e eu não somos sua responsabilidade — insisto, e
ele me olha de forma tranquila, o que me irrita profundamente, a
cara faceira, falta apenas o ramo de trigo na boca para ficar ainda
mais irritante.
— Agora são — diz como se não fosse simplesmente nada.
— Uma ova, diacho — Minha voz sai pesada, o sorriso dele
aumenta.
— Amo quando você fica toda arisca, não pode ficar com ele
aqui, a fazenda é grande e meu casebre vai ser seguro até ele se
acostumar com várias pessoas. — Bufo.
— É isso, não é? Me obrigar a conviver com você — digo, e
vejo o sorriso presunçoso no olhar dele.
— Você não tem sorte com a justiça, moça, e nem dinheiro
para levar isso a frente. — Me sentindo humilhada, dou um passo
para trás. — Comigo as coisas são mais fáceis, uai — fala, grosso,
engulo em seco meu orgulho, eu vou ficar com Nelson, e a tiracolo
ter Zé no meu enlaço. Engulo meu orgulho, mas não concordo,
apenas fico em silêncio.
— Vou arrumar minhas coisas.
— Pegue o necessário, moça, depois voltamos, esse menino
está catinguento. — Ri, mas vejo tristeza nos olhos dele.
— E o delegado? — questiono com medo da resposta.
— Eu disse que jamais iria mentir de novo, ele vai provar do
próprio veneno. — Ofego, um arrepio ruim corre por minha espinha.
— Mas el-le é o delegado — digo o óbvio, trêmula.
— Era, linda, era.

— Ei, mocinho? — Chamo e o pequeno se sobressalta e se


afasta com medo, mas relaxou ao notar que sou eu e Zé. — Nós
não vamos fazer nada que você não queira, tudo bem? — digo e me
sento no sofá.
Zé se abaixa e pega na mão dele, ele olha na enorme mão
tatuada e aperta.
— Vou ser sincero, piá. Você não tem para aonde ir, e se tiver
vai para um lugar que provavelmente vai estar melhor na rua, você
pode ficar. — Mesmo calmo e tentando ser doce, Zé é bruto feito
coice de mula velha.
— Nós não vamos te machucar, vamos cuidar de você e lhe
dar um lugar seguro. — digo, tentando contornar a dureza de Zé.
— Vocês querem ficar com eu? — ele fala errado, baixo e
tímido, toco seu rosto.
— Nós queremos ficar com você, tente dizer vocês querem
ficar comigo... — explico, ele me olha de forma engraçada.
— Vocês querer ficar com eu? — Sorrio diante das suas
palavras erradas e o abraço.
— Nós vamos chegar lá, querido. — Beijo seu rosto e ele me
olha estranho. — O que foi?
— Eu cheiro ruim e você cheira doce e é boa de coração,
você não pode gostar de gente que nem eu. — Ele volta a falar
errado e eu olho para Zé.
— Gosto de você como é — digo.
Zé se levanta e começa a fechar as janelas, trancando tudo.
— Vamos onde? — ele questiona.
— Vamos para casa, lindo. Uma fazenda grande cheia de
bichos, árvores para você subir — respondo.
— Por quê?
— Por que o que, lindo? — questiono, vendo sua carinha de
confusão.
— Vão ficar com eu? — Volta a falar errado, me fazendo
sorrir.
— Por que às vezes o destino nos dá chances únicas, que
podem valer por uma vida. — O abraço sentido meus olhos
marejarem. — A dor acabou, querido.
Ele se levanta e pega o Costela no colo e tenta pegar
Bisteca.
Dou um beijo em sua testa e não aguenta segurar Costelinha
e o solta olho para José Vicente, ciente de que nada será o mesmo
daqui em diante.
— Logo vai estar forte, e poderá carregar os dois, menino. —
A voz de Zé chama sua atenção e mesmo com receio Nelson
segura firme a mão de Zé.
— Eu vou mesmo com vocês? — Zé afaga sua cabeça e dá
um sorriso.
— Ainda tem dúvidas, menino? — Até pode ser doce, mas é
duro feito rapadura velha da Conça.
Saímos para fora com e os vizinhos nos olham atentos.
— Ignore eles — Zé fala rouco, colocando minhas duas
malas na caminhonete, e a caixa com minha prótese.
— Que carro grandão — Nelson fala, baixinho, e ri, Zé dá um
sorriso arrogante em minha direção, mas o que chama atenção do
meu pequeno é o meu bom e velho Madimbum, os olhos dele
brilham e devagarinho ele se aproxima de Madimbum e coloca as
mãos para trás, olhando tudo, cutuco o peão.
— Parece que meu velho amigo é mais atrativo que sua
RAM, peão playboy. — Ele ri, e me dando conta da proximidade me
afasto, fazendo-o bufar. Costela passa entre as pernas de Nelson
que o pega no colo de forma engraçada, Bisteca pula desenfreado,
querendo atenção. — Você não precisa fazer isso, José Vicente —
digo enquanto Nelson encosta o rosto no vidro de Madimbum
olhando dentro.
— Você teima demais — diz, me fazendo suspirar.
— Isso não significa que estamos em bons termos, peão.
Odeio quando foge com meias-palavras — digo em tom de
repreensão.
— Pois não? — Zé cruza os braços no peito de forma firme,
me olhando com os intensos demais. — Quero você moça, mas
quero dar a ele — Aponta para o menino. — Uma chance de viver,
quero poder tirar a ferida da alma dele, ali tem um monte de
bicheiras. [AEG51]Fazer algo de bom e fazer isso ao seu lado é um
bônus. — Pisca. — Não estou fazendo isso por nós dois, mas por
isso também. Mas se você vai entrar nessa eu vou junto. Quando eu
disse que estava na sua vida não falei pra papagaio ouvir, minha
Catita. — A afirmação dele me faz estremecer, ele se aproxima de
mim. — Tô com um orgulho do diacho d'ocê, moça. Se ele é teu, é
meu. — Engulo em seco.
— Nelsinho? — Chamo, ignorando as sensações que Zé me
causa. — Hora de ir. — Ele olha para caminhonete do Zé e depois
para Madimbum e coça a cabeça. — Podemos ir no Madimbum se
quiser — ele afirma, e vem até mim, falando baixinho.
— Ele tem um nome? — Aponta para minha Brasília.
— Pode chamá-lo de Madimbum. — Pisco e abro a porta —
que tal você Costela e Bisteca pularem no banco de trás. — antes
que eu termine de falar, os três já estavam dentro de Madimbum,
com Nelsinho no meio, Costela de um lado e Bisteca de outro.
— E eu vou sozinho? — Zé relincha com um beiço de
feijoada enorme, me fazendo dar de ombros e sorrir.
— Faça boa viagem, peão.
Sorrio ao ouvir o som da Brasília velha, na minha frente
Catita e o trio seguem pela estrada, vejo quando o pequeno coloca
o rosto na janela olhando para os pastos verdes cheios de gado, por
um segundo achei que minha caminhonete faria ele se deslumbrar,
mas errei a curiosidade, admiração e os olhos brilhantes foram para
o velho Madimbum.
Não sei que porra eu estou fazendo, saí cedo para consertar
a porra da pia que eu quebrei e fazer um gato num chuveiro velho e
estou voltando com uma criança, com um filho. Porra, isso faz de
mim e Catita pais, certo? Diacho, nem de mim eu cuido, mas nem
fodendo eu vejo Catarina saindo da minha vida e levando o menino,
ele vai comer muito feijão com farinha e doce de leite, ele precisa
engordar e crescer.
Esse menino nunca deve ter chupado um caroço de manga,
tomado banho de açude ou comido couve na horta, vejo quando ele
vira para trás e olha pra mim, tiro a mão pela janela e aceno, ele dá
um leve sorriso, vou conquistar esse piá na marra. Vejo quando um
dos meus peões abre a porteira e o menino se encolhe no banco.
Quando eu passo pela porteira eu paro.
— Reúna os caboclos no terreiro mais tarde — digo, olhando
para o peão que me olha sem entender. — Montem a fogueira e
arrumem a roda.
— Noite de viola, patrão? — afirmo e subo a janela. Quando
eu paro em frente à sede, vejo Catita e os dois pamonhas
descerem, mas o menino se mantém lá, desço no exato momento
em que meu pai aparece todo sujo a cavalo, minha mãe passa pela
porta da frente com Conça, meu irmão larga um fardo de feno no
chão e vai na direção deles, desço rápido.
— Ele não quer descer, Zé — minha Catita diz, ela suspira
com os olhos marejados. Tiro meu boné o colocando em cima da
Brasília e apoio minha mão nela e inclino para dentro.
— Mas que djanho[AEG52] — resmungo, batendo minha
cabeça na Brasília. — Oh, piazinho? — Chamo e ele me olha com
os olhos cheios de lágrimas e treme. — Eu disse pra você que
ninguém mais vai te machucar, tá um calor do djanho, se vai
cozinhar se ficar aí dentro, me dê mão e vem porque eu não vou
soltar.
Quando ele sai, ele treme e se joga contra minhas pernas me
agarrando com força, me afasto dele e abaixo em sua altura.
— Aqui todo mundo é seu amigo, se vai ficar por aqui agora,
menino, ninguém vai relar um dedo em você. Me viro de cócoras
mesmo e aponto para meu pai. — Aquele ali é meu pai, pode
chamar ele de Cido, aquela é minha mãe, Esperança, e aquela
velha doida ali é a Conça.
Ele dá um passo à frente e todos começam a falar com ele de
uma única vez.
Ele abraça as pernas de Catita e dá um sorriso para meu pai,
minha mãe se abaixa na altura dele falando com ele, Conça corre
para dentro e não demora muito e volta com uma tigela cheia de pé
de moleque, Nelson nega, mas Conça insiste e ele acaba pegando,
eles se sentam na escada da casa grande e eu me encosto na
cerca, meu pai e meu irmão se aproximam.
— Foi consertar o chuveiro e voltou com um menino? — meu
irmão brinca.
— Ele não tem ninguém. — Começo a contar a merda para
eles, vendo o menino dividir o doce com Bisteca, Costela rola na
grama. Ele olha tudo, quando minha mãe senta no degrau de baixo,
ele se encolhe, mas relaxa quando ela sorri.
— O que você vai fazer com ele? — meu pai questiona, sério.
— Ele é nosso — digo, fazendo meu irmão arquear a
sobrancelhas.
— Nosso? — meu pai retruca.
— Meu e da minha mulher — digo, presunçoso, arrancando
um capim enroscado na cerca e colocando na boca.
— Sua mulher? — Meu irmão ri alto, e elas nos olham, mas
voltam a cercar Nelson.
— Sim, minha mulher, ela só não sabe ainda. — Pisco e me
aproximo das senhoras enchendo o menino de doce.
— Goiaba, meu nome. — A voz dele ainda soa baixa. Por
algum motivo o apelido me irrita.
— Seu nome é Nelson, piá. — Catita me olha feio, dou de
ombros. — Se gostar podemos te chamar de Nelsinho, mas não
vamos te chamar de Goiaba.
— Ele precisa de um ovo de pata com mel — Conça diz,
torço o nariz. Ela já vai enfiar vitamina nele.
— Que subir no meu cangote, piá? — ele me olha sem
entender aponto para meu ombro e ele concorda tímido.
— Vamos pra casa, voltamos à noite pra roda — digo, meu
pai dá um sorriso e concorda.
O menino sobe em minhas costas e porra um saco de milho
pesa mais que ele, começo a me distanciar com ele no cangote, e
ele olha tudo, Bisteca e o gato gordo disparam na nossa frente, paro
com ele em frente ao lago de carpas da minha mãe.
— O senhor vai mesmo ficar com eu? — ele fala errado,
sorrio fazendo ele me olhar com os olhos brilhantes, Nelsinho morde
o doce e me oferece. Eu pego dando uma mordida. — Por que não
tem nojo de mim? Tô cheirando ruim. — Engulo em seco me
sentindo um aperto no peito.
— Deixe-me te dizer um negócio, gurizinho, eu também
cheiro ruim. Não se preocupe. — Pisco. — Vai tomar um banho e
dormir em uma cama quentinha. — Tiro meu boné da cabeça,
mesmo ciente que ele está com piolhos coloco na cabeça dele e ele
sorri.
— Vou mesmo ficar? — questiona com receio, mordendo o
doce.
— Não precisa duvidar, tem minha palavra e meu cuspe. —
Cuspo na mão e estendo pra ele, ele faz o mesmo e aperta a mão
com firmeza.
— Vamos, garotos? — Minha Catita chama e eu olho, ela tem
algumas tigelas, e umas sacolas. — Conça arrumou uma roupa pra
ele com um dos filhos de um dos peões até podermos dar um jeito
de ir ter roupas novas e brinquedos para ele — ela diz, dando um
sorriso bonito.
Nelson me cutuca.
— O que eu vou fazer? — Olho para ele sem entender. — Sei
carpir quintal. — Engulo em seco.
— Por que você acha que eu vou te fazer carpir, fio? —
Seguro sua mão. — Vai aprender muita coisa comigo. Se eu pegar
na inchada, você apenas vai ficar olhando.
— Você não está aqui por que queremos que trabalhe,
querido — minha Catita diz, fazendo ele chutar algumas pedrinhas.
— Aqui você é livre, pode andar a cavalo, correr, brincar com
Costela e Bisteca. Nadar no rio.
Concordo, e ele ainda desconfiado olha tudo. Como se
realmente não acreditasse que está aqui. É que o queremos bem.
Porra, isso vai ser difícil.

— Tem certeza? — A voz da minha Catita ecoa no banheiro.


Tiro minha camisa e minha Catita fica vermelha desviando os olhos.
Nelson cobre com as mãos entre as pernas, nu em meu box,
arranco a calça.
Ela me olha como se eu fosse um prato cheio, e porra não é
hora para isso. Ela abre a porta quando percebe o choro dos dois
meliantes que ficaram do lado de fora.
Eu a quero, ela é uma coisinha determinada a não
demonstrar nada, inclusive que meu corpo é atrativo os olhos dela,
sou burro, mas não a ponto de não saber que eu sou a porra de
uma bela visão, mesmo queimado do sol, com pintas nas costas e
as tatuagens, eu ainda sou um prato cheio aos olhos das mulheres
inclusive aos dela, e ela vai negar isso enquanto puder, não posso ir
pelo coração? Vou pela boceta.
Eu a afeto e vou usar isso a meu favor, ela está sensível por
conta do pequeno menino, mas mesmo assim eu vou levar essa
pequena coisa cheia de curvas ao limite, ao extremo até que ela
esteja cavalgando em meu pau cheia de tesão me pedindo para
gozar.
Tirando a nevoa de luxúria da minha mente eu entro no box e
abro o chuveiro, Costela sobe no vaso e Bisteca deita no tapete,
segurando a toalha minha pequena Catita sorri, abro o chuveiro e o
menino entra e fecha os olhos, ele sorri sem perceber, ligo os outros
jatos de água e ele abre os olhos assustado.
— Quanta água — ele fala, fazendo uma concha com a mão
e jogando no rosto, pego meu shampoo e me aproximo dele,
começo a esfregar seu cabelo. — Podemos cortar? — Pede
baixinho quando os cabelos caem em seus olhos. — Igual ao seu?
— Claro, sou eu que corto meu cabelo, quer que eu corte o
seu? — Me ofereço e olho para minha Catita que tem um sorriso no
rosto, ela vem mais perto e me estende um shampoo. Enquanto
estávamos vindo para fazenda paramos na farmácia da cidade,
minha Catita pegou diversas coisas infantis, remédios para feridas.
Inclusive shampoo de piolho, derramo na cabeça dele e ele começa
a esfregar, a água suja começa a sair, o corpo dele realmente são
apenas ossos e feridas, suas costas têm as malditas marcas de
Praxedes. Filho da puta, ele ainda terá uma bela surpresinha.
Ele se esfrega com a bucha, devagar, ajudo ele a limpar o
corpo magro, esfrego bem os pés feridos dele com o máximo de
cuidado e ele se mantém quietinho apoiando a mão em meu ombro,
porra eu realmente posso sentir os ossos dele, ele ergue o bracinho
e esfrega o sovaco, começa a assoviar e se remexer embaixo da
água, esfrego mais seu cabelinho, tentando tirar os nós, o cabelo
que antes estava um bolo em sua cabecinha agora escorre caindo
em suas costas, enorme.
— Tem uma tesoura e minha maquinha está na primeira
gaveta, amor. — Peço terminando de tirar o sabão dele, desligo o
chuveiro e pego a tesoura, com cuidado as madeixas molhadas vão
caindo no chão com piolhos, que já estão atordoados com o cheiro
do shampoo, quando eu termino, pego a máquina e inclino a
cabecinha dele, ele treme de frio, eu corto o cabelo dele e quando
ele se vira, parece que estamos diante de outra criança.
— Termine com o banho dele que eu limpo tudo depois, Zé —
minha Catita diz, e eu empurro cabelo com o pé em um canto,
termino de lavar e ele me olha como olhos brilhantes. O cheiro de
banho enche o banheiro, Catita me dá uma toalha e eu enrolo nele,
Catita mesmo com a mão ferida o pega no colo e o coloca sentado
na pia. Me abaixo juntando o cabelo do chão, saio do box pego o
saco de lixo e jogo tudo, ligo o jato quente do chuveiro e bato em
todo o box, fazendo tudo ir ralo abaixo. Ela sai com ele do banheiro
seguido pela dupla dinâmica e tomei um banho rápido, ouço-a rir de
algo e ele também, com toda a porra da certeza do mundo hoje à
noite eu vou ter dela pelo menos um gosto de seus lábios.
Vou arrancar o tino dessa mulher do lugar até ela aceitar que
eu a amo e que quero criar uma penca[AEG53] de filhos com ela. Já
temos um mesmo. Porra, sim, esse menino agora é nosso filho, e eu
vou levar essa merda até o fim para que ele tenha o meu nome e o
da minha Catita. Que seja um verdadeiro Santiago Ferreira e deixo
para trás tudo que o nome Santos trouxe a ele.
Coloco Nelsinho sentado na cama e ele se seca. E me dá um
sorriso, Bisteca e Costela pulam na cama, Bisteca lambe o rostinho
dele e ele ri. Ele passa a mão no próprio cabelo, e me dá um
sorriso, seus dentinhos amarelados precisam urgentemente de um
dentista.
— Isso é bom — ele diz, eu me ajoelho à sua frente.
— O que é bom, querido?
— A água quentinha, agora eu não coço mais. — Ele ri e
passa a mão pelos bracinhos finos.
— Você ficou um menino ainda mais lindo. — Pisco e ajudo
ele a se secar, seu bumbum ainda tem feridas, eu as seco com
cuidado e passo pomada, visto a roupa que Conça arrumou com
uma mulher de um dos peões de Zé, passo pomada nas feridas de
suas pernas e limpo os cortes como o farmacêutico indicou. Quando
eu termino de colocar a camisa nele ele se joga em minhas pernas e
me abraça, sinto meus olhos marejarem. — Vai ficar tudo bem a
partir de agora, querido.
Quando a porta do banheiro se abre eu engulo em seco, Zé
sai usando uma cueca preta com o corpo todo molhado, as gotas
escorrem pelo corpo definido e eu desvio os olhos e engulo em
seco. Ele passa por nós secando os cabelos e entra em seu closet,
peguei as toalhas e uma cueca para Zé, fiquei chocada com a
quantia de botinas de marca, chapéus, bonés e texanas luxuosas
que ele tem, as camisas todas de marcas exclusivas e de luxo,
mesmo estando tudo uma bagunça enorme, ele realmente tem um
gosto caro.
Mesmo andando todo sujo na maior parte do tempo que
estive com ele. O cheiro caro do perfume dele invade o quarto e ele
sai usando uma calça jeans apertada, uma camisa preta e uma
botina que provavelmente deve custar mais carro utilitário.
— Vamos descer, Nelsinho, e deixar Catita se arrumar —
fala, me dando um sorriso de canto, desvio meus olhos mais uma
vez, sem saber o porquê de repente eu pareço uma adolescente
boba.
— Vamos sair? — questiono, firme.
— Noite de viola, ele precisa conhecer os peões. E ter uma
boa refeição de Conça. — Nelsinho se levanta.
— Podemos levar eles? — Aponta para Costela e Bisteca.
— Eles vão onde você for, Nelsinho — Zé diz grosso, embora
ele esteja sendo cuidadoso e amoroso ele continua sendo bruto
como coice de mula velha, seco e sem jeito. — Agora vamos descer
e deixar moça bonita se arrumar.
Pisca e meu rosto cora. Ele faz isso de propósito, eu queira
ser uma cretina, dizer que não vejo verdade nele, mas mesmo
assim, eu vejo, não existe mais o Zé que me magoou, mentiu e
enganou, e eu nem sei mais se quero resistir a esse Zé.
Deus, ele ainda é capaz de balançar meu coração e molhar
minha calcinha, como nenhum homem já foi capaz, e o que ele fez
por Nelson, fez meu coração bobo se encher de amor e orgulho. Ele
não precisava fazer nada disso, mas mesmo assim o fez. E isso me
amoleceu um pouco mais, ele pode ser bruto feito uma mula velha,
mas consegue ser suave, a amor em suas palavras fortes. Ele é
imponente e quente como o inferno e faz minha cabeça querer
tomar decisões que nem deveriam existir.
Eu tiro a roupa e minha prótese, me apoiando vou até o
banheiro tomo um banho gostoso, tirando todo a energia ruim e
pesada do dia, lavo meu cabelo com o shampoo de piolhos como o
farmacêutico indicou e que eu e fizesse e depois usei o shampoo de
Zé, eu preciso arrumar aquela casa, não podemos ficar aqui, a
quem eu quero enganar? Eu quero ficar, mas minha razão me diz
para tomar cuidado, pois estar com José Vicente ainda é como pisar
em ovos e isso pode custar o que restou do meu coração calejado.
Agora não é sou eu que estou em jogo, não é mais só minha vida,
eu sou responsável por Nelson.
Isso faz de mim uma mãe? Jogo água no meu rosto, isso
realmente faz de mim uma mãe! Mesmo que não haja um futuro
para mim e para José Vicente, haverá um para Nelsinho conosco
presente em sua vida.
Eu fui o primeiro amor de José Vicente e mesmo eu não
querendo acreditar, eu ainda continuo sendo, e isso acaba comigo.
Pois foi por erros nossos que chegamos onde estamos, ele errou,
mas eu também, não dizer que havia passado na faculdade e que
não queria ir, não naquele momento. Eu cometi erros assim como
ele, por anos eu coloquei a culpa em uma traição que nunca existiu,
ele errou mentindo e manipulando nossas vidas assim, mas eu errei
em não ter sido verdadeira com ele e dito.
Se existe um culpado nessa história, sou eu, por achar que
não devia dividir com ele a verdade sobre a faculdade e ele, por ter
me magoado e ter me feito perder a fé e confiança nele. Nós dois
somos culpados pelos nossos erros, e isso é um grande monte de
esterco mole.
Me seco com cuidado e coloco minha roupa íntima, passo
hidratante em meu coto e visto o line, coloco minha prótese e me
levanto, escolho um vestido florido que vai até minhas coxas, calço
minhas meias e coloco minha bota que há muitos anos eu não uso,
mesmo velha ela continua sendo linda e foi um presente de Conça
que eu usei apenas uma vez, quando José Vicente me pediu em
casamento, e ela continua intacta e muito bem conservada.
Passo apenas meu perfume e um creme no rosto já me
sentindo suada, pego minha jaqueta jeans e me olho no espelho, já
são seis da tarde, pois os galos cantaram, desço as escadas
devagar sempre levo muito tempo para descer e subir escadas.
Ainda é uma grande merda, menos de quando eu comecei.
Chego à sala e Zé está cortando as unhas do pé de Nelson,
que está chupando uma mexerica, ele come um gomo e dá outro
para Bisteca, eu paro no pé da escada e fico vendo os quatro,
mordo os lábios sentindo uma sensação estranha no peito, um
conforto que eu nunca imaginei sentir de novo. Eu limpo a garganta
e eles me olham, vou em direção a eles e dizer que Zé Vicente está
me comendo com os olhos pegando fogo seria eufemismo, ele varre
meu corpo, e isso faz minha pele se arrepiar todo meu corpo reage
ao dele da forma mais suja, nem se eu tentar controlar o calor entre
minhas pernas eu serei capaz. Nelsinho levanta e calça a havaianas
que pegamos emprestada. Ele pega Costela no colo fazendo força.
Me aproximo dele.
— É só chamar, que eu tenho certeza de que eles vão onde
você for, querido — Afago seu rosto, e olho para Zé que coloca o
chapéu preto na cabeça, ficando ainda mais intimidante, juro que se
não conhecesse essa peça, ele seria capaz de me intimidar, mas
não passa de uma mula velha.
Uma mula velha que está arrebentando as porteiras do meu
coração.
Quando chegamos à sede o sol já está indo embora, o céu
pintado de laranja me faz sorrir, as andorinhas passam no céu em
uma linda revoada, com Nelson no cangote de Zé e Bisteca e
Costela a tiracolo seguimos em direção à roda de peões, a enorme
mesa de Conça está cheia de comida, as mulheres dos peões
conversam animadas e vêm em minha direção me abraçar e nos
cumprimentar, meu padrinho continua tocando o violão animado, Zé
desce Nelson, mas fica com ele no colo.
— Boa noite — A voz grossa de Zé corta o barulho e todos
viram em nossa direção, Nelson treme.
— Noite, patrão — respondem em uníssono, mordo meus
lábios enquanto todos nos cumprimentam falando com Nelson que
tenta se esconder, Costela o empurra com o focinho e ele dá um
passo à frente, meu padrinho estende a mão para ele e quando
Nelsinho aperta firme, meu padrinho o puxa para um abraço o
carregando de forma fácil, tímido ele cumprimenta a todos com um
sorriso no rosto, mas ele para ao olhar a enorme mesa que está
posta cheia de comidas, alguns peões assam carne e ao nos ver
acenam. Conça se aproxima com minha madrinha e Nelson dá um
sorriso para Conça.
— Oi, fio, ocê trata de comer bem que amanhã vai alimentar
as emas comigo — Conça fala, e os olhos do meu pequeno brilham,
mas cedo ela contou a ele sobre todos os animais que José Vicente
e José Manoel adquiriram com o tempo, búfalos, emas e diversas
raças de cavalos caras.
Ao que parece Zé está esperando sua maior aquisição um
Shire inglês [AEG54]que custou seiscentos mil reais, Zé tem em sua
coleção nove Mangas-largas Marchadores[AEG55], e um casal teve
um potro que logo vai começar a ser domado. José Vicente
realmente se tornou um peão milionário, mas mantém isso pra si, e
preserva a mesma essência humilde, mesmo ostentando
caminhonetes e maquinários de luxo e marcas caras, ele sempre
será o Zé, ele mantém tudo em ordem, tudo novo, as cercas, pintura
da fazenda, os equipamentos, os materiais dos peões e o celeiro
que ele fez de pouso [AEG56]com beliches para os peões solteiros,
minha madrinha me disse que hoje são mais de oitenta peões para
manter a fazenda funcionando. São 130 mil hectares, a fazenda
Ferreira fica apenas atrás da fazenda Nova Piratininga, [AEG57]Zé
Vicente possui 100 mil cabeças de gado, ele tem mais de mil touros
em reprodução, mais de vinte mil gêmeas em reprodução e mais de
vinte bezerros nascidos nos últimos dois anos. Ele despediu Lazico,
mas tem mais veterinários à sua disposição, mas que são
chamados apenas em casos extremos já que a fazenda sempre
está sobre o controle das mãos de ferro de José Vicente e José
Manoel, sempre tive dimensão da riqueza deles, mas vendo tudo
que eles levantaram sob a administração deles não tenho dúvida
que eles realmente mandam na região, fora as diversas matérias
sobre a fazenda nos canais do agro e nos canais da Globo, as
matérias sobre eles e suas conquistas em rodeios.
Meu peão enriqueceu amando o interior e nada vai mudar
isso, meu peão? Que diabos? Eu afasto o pensamento dando bença
ao meu padrinho, minha madrinha desce as escadas com duas
enormes travessas de salada de maionese, vou ao seu encontro e a
ajudo a colocar na enorme mesa. Nelson passa de mão em mão
cumprimentando os senhores mais velhos com um respeito e
educação enorme, me fazendo sorrir, Bisteca cheira a bunda de um
peão e Zé ralha com ele, Costela vai até um dos tocos de madeira e
se senta, a conversa alta me faz sorrir, e Deus quanto eu senti falta
disso, dessa gente, do calor, desse amor todo, o crepitar da
fogueira, Zé Manoel acendeu a fogueira e todos os peões gritam e
começam a cantar, sei que isso logo vai piorar, pois a safra de milho
está chegando e isso aqui será frequente, esse amor todo, essa
simplicidade, tantas pessoas, rindo, se abraçando me aquece de
uma maneira que eu não sentia há tempo,
Me sinto em casa, como há dez anos eu não me sentia. Pego
uma Brahma do enorme isopor cheio de gelo, quando abro a latinha
e viro o primeiro gole e olho para o tanto de gente ali, me encosto na
mesa e sorrio olhando para os filhos dos peões correndo, e Nelson
olhando com os olhos brilhando, aqui é nosso lugar, queira ou não,
eu nunca escutei minha razão, sempre agi pelo coração e isso não
vai mudar agora.
Sempre escutei meu coração e isso sempre foi um caralho de
asas, mas dessa vez talvez o caralho não tenha asas e sim quase
dois metros, cheio de tatuagens que está me olhando mastigando
um capim, deveria odiar esse homem, mas o calor entre minhas
pernas por ele me faz burra. O verdadeiro fogo no rabo.
A droga do fogo no rabo por um peão com olhos doces e
mãos calejadas.
Todos os olhos vão para minha mulher, e porra meu peito
broca[AEG58] de ciúmes, ela está linda, radiante e gostosa, e
inferno ela é minha.
Eu viro a Brahma em um último gole, aperto a garrafa de
vidro com força, encostado na cerca eu assisto ela sorrir para um
dos meus peões, ele diz algo e ela sorri ainda mais, meu sangue
ferve de ciúmes, sempre fui rídico, [AEG59]odeio dividir e agora não
será diferente.
Nelsinho se enturmou, está sentado no pé do meu irmão com
um enorme prato de salada de batata com maionese e carne
assada, ele pega uma coxa de frango dá uma mordida e oferece a
Bisteca que tira um pedaço, oferece a Costela e o gato faz cara de
nojo, meu irmão segura sua Brahma e o copo de refrigerante do
menino. Meu pai volta a cantar e ser acompanhado pelos peões, a
fogueira sobe crepitando e conforme a comida vai acabando Conça,
minha mãe e as mulheres dos peões vão abastecendo mais e mais,
vejo Nelson olhar para minha Catita e depois pra mim. Ajeito meu
chapéu na cabeça e vou em direção a minha mulher, porra.
— Patrão.
— Fora — digo entredentes e o sorriso de Catarina morre, ela
se vira para sair, mas seguro seu pulso, todos se divertem alheios a
nós dois, o cheiro dela misturado com o álcool bate em mim e porra,
eu vou explodir a merda fora se eu não tirá-la daqui. — O que ele
disse pra você? — pergunto, fazendo-a revirar os olhos e me
encarar.
— Educação mandou lembranças, peão — rebate, me
peitando. — Não que seja da sua conta, mas não ele não se
ofereceu para me levar para cama e me fazer gozar, apenas me
parabenizou pelo bezerro que está melhorando e que gostou de
Nelson, nem todo homem é bronco e pensa com o pau igual você —
responde, arisca, fazendo meu corpo se arrepiar, olho-a de cima a
baixo, comendo seus seios com os olhos, eles são a porra de um
prato cheio. — E você o que diabos pensa que está fazendo?
— E eu estou te lembrando que essa boceta tem dono —
rosno, me inclinando em sua direção puxando seu corpo contra o
meu, ela crispa os olhos e ofega.
— Não é meu dono — revida, entredentes. — Nada mudou
entre nós dois, peão — diz, e eu fito seu rosto, mesmo que seu
pequeno queixo insolente me desafie, os olhos dela estão em uma
luta entre razão e desejo. Porra, eu quero virá-la e bater em sua
bunda até avermelhar, fazê-la admitir que me deseja. Estou
morrendo de fome por ela, são fodidos dez anos apenas com o
gosto dela como uma lembrança, meus lábios vão para os lábios
dela, foda-se.
Minha boca vai contra a dela, quando toco meus lábios nos
dela, é como se eu fosse levado de volta para nós dois juntos, há
fodidos dez anos. Minha boca saqueia a dela com confiante e não
há um pingo de hesitação, minhas mãos puxam seu corpo gostoso
contra o meu, seguro sua cintura com força desfruto da sensação
dos seus lábios suaves conforme ela abre para mim. Eu a provo o
gosto de morango dos lábios macios misturado com a cerveja, e
isso me deixa duro, porra, meus lábios brigam com os delas e
quando as mãos dela vão para minha nuca, porra é o céu, quente
pra caralho, mas é o céu, diacho. Meus lábios nos dela, lambendo
os lábios e sentindo-a se abrir para mim, o corpo tenso dela
amolece em meus braços, e eu viajo como um filme, tudo que
passamos passa em minha mente, como no telão do juízo final. Eu
sinto um gosto de morango dela e gemo no sabor. Tão doce e tão
bom. Tudo que eu quero fazer, é nunca soltá-la, nunca a deixar ir
novamente.
Quando eu solto seu corpo devagar, meus lábios relam nos
seus, inchados, ela leva os dedos aos lábios e fecha os olhos, eu
dou um sorriso ainda segurando sua cintura, mas a voz do meu
irmão corta o clima.
— Vocês vão procurar uma moita, caralho de asas. — Meus
olhos vão para todos que olham para nós dois sorrindo, minha mãe
dá um tapa em meu irmão e ele ri, cobrindo os olhos de Nelson.
— Nenhuma palavra, Ferreira — ela diz, ofegante, e me olha,
a névoa de desejo que a deixou molinha passa e minha Catita
arisca feito gato do mato está de volta.
— Se você soubesse que me chamar de Ferreira nesse tom
arisco, faz comigo não fazia de novo — provoco, faceiro, e ajeito
minha calça, ela engole em seco e sai me dando as costas, o
vestido marca a bunda dela, me fazendo sorrir, pego uma Brahma
do isopor cheio de gelo e dou um sorriso, até o final dessa noite vou
ter minha mão na calcinha dessa potranca ou eu não me chamo
José Vicente Ferreira Neto.

— Vai mesmo ficar com o menino? — Meu pai questiona e eu


afirmo, sentado ao seu lado em um toco mais afastado, vejo Nelson
segurar as patas de Bisteca e fazer algo parecido como uma dança
com ele. Catita gira com seu gato gordo, aos poucos os peões vão
se despedindo de Nelson e ele começa a sorrir e como um menino
grande aperta as mãos de todos que o cumprimentam afagando sua
cabeça.
— Não vou deixá-lo voltar as ruas, se eu fizer isso vou
carregar essa maldita culpa pelo resto da minha vida, nessa porra
se deixá-lo ir ele tem apenas dois caminhos, o final da rua São
Pedro [AEG60]ou ver o sol quadrado[AEG61] — digo, sentindo, um
arrepio frio percorrer minha espinha.
— E Catita? — ele sonda, matreiro, esse veio safado não dá
ponto sem nó. Dou um sorriso. — Arraste ela para o pomar. — Olho
para ele.
— O senhor não disse pra eu levar de arrasto? — Rio,
tomando o resto da Brahma geladinha.
— Depois do beijão que vocês derem? Ali foi tudo menos ir
de arrasto. Vamos, fio, o menino vocês já têm, falta o casamento e
eu quero mais netos. — Meu pai bate em meu ombro. — É a sua
oportunidade. — Aponta para Catita que vira a cerveja e olha para
mim. — Vá, piá, tá esperando o quê?
Me levanto e vou em direção a ela e vejo de longe o rosto
corado pela cerveja, ela não é fraca pra bebida, mas fica vermelha
com facilidade.
— Vamos dar uma volta, moça — digo, chegando perto dela,
ela me mede de cima a baixo e me dá um sorriso descrente.
— Mais insistente do que quem maceta prego sem ponta. —
Estala a língua de um jeito sexy, me fazendo sorrir de lado, tiro meu
chapéu e coloco na cabeça dela.
— Não quero que meus peões vejam sua boceta caso eu
preciso te levar nos ombros, moranguinho. — Os olhos dela ficam
em chamas, de ódio, vergonha e desejo. Ela sabe do que eu sou
capaz, aponto a caminho de pedra e ela vai, sem antes parar e falar
com Nelson.
— Tudo bem se eu e Zé formos dar uma volta? — Nelson
assopra uma pamonha de milho-verde e concorda, meu irmão senta
do lado dele no chão, e eles voltam a prestar atenção em seu
Nonato que toca a sua antiga viola, seu Nonato é o funcionário mais
antigo do meu pai, está aqui quando meu avô decidiu se estabelecer
em Céu Azul.
Tento pegar sua mão, mas arisca feito gata brava ela desvia,
dou um sorriso. A lua já está tão alta que tudo está claro, quando
paramos perto das árvores de amora, ela tira uma fruta e coloca nos
lábios, mesmo escuro consigo ver seus lábios pintarem de um
delicioso roxo.
— Desembucha, peão. — Ela se apoia na árvore e eu cruzo
os braços. Depois de um segundo de hesitação da minha parte,
passo a mão em meu rosto nervoso.
— Como nóis fica? — Sou direto e ela arqueia a
sobrancelhas.
— Não sei se notou, mas não existem nós, peão. — Sinto ela
me corrigir e bufo me aproximando dela, que se apoia na árvore. O
rosto corado pela cerveja deixa ela ainda mais linda, Catita ofega
quando eu apoio as mãos na árvore e me inclino para baixo, ficando
cara a cara com ela, meu corpo está a centímetros do dela.
— A moça acha que eu vou deixar meus peões te cercarem?
Você é minha, moça — digo, e ela fecha os olhos, meu polegar
calejado passa sobre o lábio cheio. Quando ela abre os olhos cor de
chocolate eles parecem mais límpidos, eu espero que ela me
retruque e bata de frente comigo, mas ela apenas respira de forma
suave e me olha com os olhos brilhante. — E eu nunca dividi nada
que é meu, eu errei uma vez, não espere que se repita, pode negar
o quanto quiser, mas está ciente que sou eu que faço essa boceta
pingar de tesão.
Agarrando-a pela cintura eu tiro o espaço entre nós dois e o
corpo cheio de curvas bate contra a árvore, ela morde os lábios e os
olhos dela brilham de desejo, suor brota de sua testa e ela ofega,
quando me sente duro contra seu corpo, a porra da calça ainda me
aperta ainda mais, o álcool das seis Brahmas nubla minha mente.
— Brahma e você são uma combinação perigosa, peão —
ela diz tocando meu peito, que treme com a risada rouca e cheia de
tesão que me escapa, porra essa mulher me tem pelas bolas. — Eu
querer você e você me ter são verbos diferentes, peão — Catita
debocha, fazendo meu corpo erriçar ainda mais de tesão por ela.
— Eu vou te fazer gozar em cada canto dessa fazenda,
moça. E você vai pedir por mais e ficar assada quando eu acabar.
— Passo minha língua pelos meus lábios, o tesão escorre em
minhas veias, fazendo minha voz soar rouca e ela dá um leve
sorrisinho.
Minha boca encontra a dela e o calor de seus lábios macios
me faz gemer de tesão. Eu sinto sua pequena língua provocar
minha boca, como se estivesse em meu pau em seus lábios macios
e isso faz meu corpo estremecer. De repente, nossas mãos estão
nos explorando, e é como se não pudéssemos chegar perto o
suficiente e ter o suficiente, o tesão domina nós dois.
Puxo-a para mim ainda mais enquanto ela está arrastando
as unhas bem-feitas em meu peito fazendo um arrepio de tesão
percorrer minha espinha e ir direto para meu pau, minhas mãos
deslizam pelo corpo gostoso e cheio de dobrinhas deliciosas,
apalpando tudo que eu posso, fazendo-a gemer, sinto sua boceta
coberta com uma fina calcinha quando minhas mãos invadem seu
vestido saqueando a pequena boceta que molha a renda, ela geme
começando a moer contra mim, e eu quebro o beijo para olhar para
ela, porra, foram fodidos dez anos sem o gosto dela, meus dedos
deslizam pela renda que molha ainda mais, ela fecha os olhos e
noto que solta o peso do corpo na prótese e dou apoio ao seu
corpo.
Me sentindo um saranga [AEG62]por levá-la assim, mas eu
não consigo parar, meus dedos vão para a calcinha e eu brinco com
o elástico, desço os dedos pelo elástico fino e puxo fazendo-o
estalar na pele dela.
Ela ofega cravando as unhas em meu braço, meus dedos
descem e sobem pela calcinha ficando melados dela, meu tesão
corre desgovernado em minhas veias, a ideia de estar dentro dela
fode com meu pensamento. Por puro impulso eu afasto a calcinha
dela e mergulho meu dedo no paraíso e nós dois gememos juntos,
porra, quente, escorrendo de tesão e minha.
Ela se apoia em mim, enquanto meus dedos brincam com a
pequena boceta melada de tesão, ela ofega e eu gemo quando meu
dedo desliza afoito para dentro dela. Não posso ir devagar. É um
calor intenso e latejante. A pequena boceta dela aperta meu dedo e
ela abaixa a cabeça e os cabelos dela caem atrapalhando minha
visão do seu rostinho cheio de tesão, dizendo meu nome em um
canto que enche minha mente, ela gemendo parece a porra de uma
música. Eu quero possui-la. Quero que sempre diga meu nome,
diga que me ama e ainda me quer. Deslizo um segundo dedo, de
longe eu ouço a canção e canto baixinho, suando e acelerando
meus dedos para dentro dela.
— É preciso amor, pra poder pulsar, é preciso paz pra poder
sorrir, é preciso a chuva para florir... — Canto em seu ouvido baixo e
ela geme enfincando as unhas em meu braço ela aperta meus
dedos e me mela. — Goza, me dá teu tesão, minha moça. — Ela
geme e estremece contra mim, ofegante, ela treme ainda e depois
relaxa, balançando embaixo de mim. Eu deixo ir empurrando meus
dedos outra vez, e quando meus dedos saem ela mela minha mão,
seu tesão escorre por meu pulso melando meu relógio, apoiando
seu corpo suado, mole e ofegante eu trago meus dedos aos lábios e
provo do gosto dela. Eu dou um grunhido.
— Porra, você ainda é doce, moça, doce como morango...
Meu morango.
Meus dedos voltam para entre suas pernas e ela nem
protesta ajeito sua calcinha e ela ofega, quando eu toco seu
pequeno clitóris afoito que quer mais, eu sei do que ela gosta, e eu
tenho absoluta certeza de que não relar no pequeno nó duro foi uma
tortura para ela.
Ela me olha e quando pensa em falar e eu a corto com um
beijo, tento ciência de que ela vai me provar em seus lábios, ela
geme.
— Se for dizer que isso foi um erro, saiba que foi o erro mais
bem errado e gostoso que eu já cometi.
Ofegante e sem raciocinar direto eu me encosto na árvore,
minha cabeça pende para trás e eu fecho os olhos.
— Não ia dizer que isso foi um erro, apenas que não vai se
repetir. Tire a porra da ideia da cabeça que eu sou sua, peão. — A
risada dele ecoa pelo pomar, atingindo em cheio o meio das minhas
pernas que pulsa ardido, meu sangue ainda corre rápido, ele foi
capaz de me dar o melhor orgasmo dos meus últimos dez anos, a
sensação que ainda corre pelo meu corpo é deliciosa e por mais
que eu não queira admitir só ele tem esse maldito poder e isso é um
inferno, eu jamais direi em voz alta isso e elevar seu ego de cavalo.
— Sua calcinha melada é o que então? — Abro meus olhos e
encontro os dele escuros, cheios de desejo.
— Disse bem, minha calcinha melada, não sua. — Tento
controlar minha respiração e colocar meu pensamento em ordem,
tentando tirar a sensação de seus dedos de dentro de mim.
— Mas quem a melou fui eu. — Dá de ombros mesmo a voz
grossa cheia de tesão soa irritante e pirracenta, um maldito cavalo
arrogante e convencido. — Aceita que sempre foi minha, moça, errei
e estou arrependido quero ser o homem da sua vida, quero fazer
seu sol brilhar por mim, quero teu coração, nosso passado não vai
se apagar, sempre vai estar lá apenas para me lembrar de que eu
terei que ser seu por inteiro e verdadeiro, meu coração jamais vai
bater por outra mulher, você é minha e eu sou seu, não sou de outra
mulher não. Estou aqui na sua frente com o gosto da sua boceta na
boca e com o coração batendo por você, apenas você faz meus
pelo se arrepiar, minha boca secar e minha mão suar, só você é
capaz de me deixar como a porra de um garanhão no cio, cheio de
tesão.
Sem resposta e trêmula, saio do pomar, quando eu me sento
no toco, Zé faz o mesmo, mas do outro lado pegando o violão ele
me olha com os olhos cheios de sentimentos e promessas e isso me
assusta. Nelson vem seguido pela sua dupla de pelos e se senta no
chão na minha frente, ele me oferece um pedaço de bolo e eu
aceito, ele começa a prestar atenção em Zé e sem se dar conta se
encosta em minhas pernas, mas se afasta ao sentir minha prótese.
— Pode se encostar, querido — digo e ele relaxa, os peões
param quando a voz rouca rasga a noite estrelada, os dedos
dedilham o violão e meu coração erra a batida. Eu ainda estou suja
entre as pernas, aposto que meu rosto está ainda mais vermelho,
mas ninguém parece se importar. É tanto peão espalhado pelo chão
com suas mulheres, as crianças menores dormem nos colos das
mães e minha madrinha está sentada no colo do meu padrinho,
José Manoel com a mão cheia de doce de leite se joga no chão ao
meu lado e oferece para Nelson, eles parecem ter a mesma idade.
Conça que mexe com as comidas na mesa para ao ouvir a voz, tudo
parece parar quando a voz dele vai direto para o meu coração em
um recado claro e certeiro.
— Foi Deus que me entregou de presente você, eu que
sonhava um dia viver um grande amor assim, foi Deus, numa
oração que um dia eu pedi. Acorrentado em teus olhos me vi.— A
música me bate em cheio e fecho meus olhos sentindo meu coração
traiçoeiro querer me fazer chorar, tudo podia ser diferente, eu só
consigo me lamentar, meu coração dói, e como um flash nossa vida
passa diante dos meus olhos como uma lembrança que dói. Eu
achei que meu coração calejado estava cicatrizado, mas ao ouvir
sua voz e sentir ela adentrar minha alma sem permissão eu me
sinto ainda mais estúpida e fraca diante de sentimentos tão vivos,
intensos que me levam ao limite.
— Foi Deus que me entregou de presente você, no teu
sorriso hoje eu quero viver, no teu abraço encontrei minha paz,
valeu ter esperado o tempo passar pra de uma vez meu amor
entregar e não sentir solidão nunca mais. Foi Deus que me entregou
de presente você, eu que sonhava um dia viver, no teu abraço
encontrei minha paz, valeu ter esperado o tempo passar pra de uma
vez meu amor entregar e não sentir solidão nunca mais. — Com
uma salva de palmas, gritos e assovios o peão termina e eu abro os
olhos, uma lágrima boba e solitária rola por meu rosto e apenas a
afugento com as costas da mão.
Ele continua cantando as músicas que pedem, mas eu não
presto mais atenção, eu penso apenas que dez anos de comodismo
foram para o ralo em menos de uma semana ao lado do peão que
quebrou meu coração no passado, mas que parece estar disposto a
tê-lo de volta mesmo quebrado.
Eu errei tanto quanto eles, eu poderia ter dito a ele, que eu
passei na faculdade, mas não o fiz, escondi e por um erro que
também foi meu, nosso amor foi destruído e mesmo querendo e
sabendo a verdade depois de tudo que passei com Daniel há um
medo dentro de mim que eu não sei explicar, não é um medo de
José o peão casca-grossa, é um medo por mim, de mim e de não
ser o suficiente como não fui para Daniel, as palavras de Daniel
ainda me assombram, ele ainda me amedronta e deixou em mim
uma marca, a marca de talvez jamais ser suficiente novamente.
— É impressão minha ou o sol brilhou mais forte quando
olhou pra mim? O brilho desceu das estrelas e no meu olhar ficou
até o fim. É impressão minha ou metade do meu peito mora em
você? Se o mal chegar, entro na frente pra te proteger, eu te amarei
por mil e um motivos, vou perguntar baixinho ao pé do ouvido,
promete que vai ser só minha? Que vai me entender num olhar?
Promete que vai visitar os meus sonhos de noite a luz do luar?
Promete ler meus pensamentos? Decifrar o meu coração? Por que
só assim vai saber que minha vida inteira está em suas mãos. — Eu
ofego quando ele termina e passa o violão a um dos peões, os olhos
dele queimam os meus como brasa e eu desvio, ele me marca e
sabe disso.
Toco a cabeça de Nelson a lua está alta no seu, está na hora
de irmos e desse mocinho dormir.
— Que tal irmos, Nelsinho? — Ele abre a boca de sono e
esse é o sinal que precisamos para ir.
Nós começamos a nos despedir, Nelson sobe nos ombros de
Zé e eu abraço todos que nos cumprimentam, eles sorriem e fazem
elogios ao meu pequeno comilão. Zé assovia e Bisteca e Costela
saem de um pequeno capão de mato. [AEG63]
— Amanhã eu estou de volta ao escritório, padrinho, vou
verificar todos os animais — digo ao meu padrinho e o abraço.
— Eu ia pedir isso, fia, Zé só anda com a cabeça na bunda,
precisamos verificar as vacas prenhas e logo vamos começar a
coletar o sêmen do Sargento. — Concordo, José Vicente e José
Manoel trouxeram para a fazenda logo que eu fui embora algo que
os deixou ainda mais conhecidos, a exportação do sêmen de seus
cavalos e bois, ele enriqueceu ainda mais quando começou a
exportar sêmen para países como Uruguai, Peru, Holanda e
Bélgica. A Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Manga-
larga Marchador criou quatro núcleos internacionais para valorizar e
divulgar o animal e José Vicente está presente nela como
colaborador, mas quem o representa e Manoel que viaja sempre
que necessário para as feiras com os cavalos. Hoje, os filhos dos
cavalos dos Ferreiras estão presentes nos Estados Unidos,
Alemanha, Itália e Argentina. Zé possui uma tecnologia na fazenda
que faz dele conhecido no Brasil todo sem sequer sair de Cerrado
Azul. Por isso os peões que vigiam a fazenda estão armados até os
dentes, prontos para atirar em qualquer um que não seja
identificado.
— Eu estarei aqui, sabe que sou sua mais nova funcionária,
não é? — Antes que meu padrinho fale algo a voz do cavalão atrás
de mim, relincha.
— Seu patrão sou eu. — Reviro os olhos.
— Boa noite, padrinho, vou me despedir de Conça e da
madrinha. — Ignoro-o.
— Ela vai me deixar de cabelo branco e louco, Nelsinho. —
Ele relincha.
— Mas o senhor tem uns fios brancos aqui. — Me viro e vejo
Nelsinho passando a mão nos fios brancos de cabelo do peão, que
o deixa ainda mais charmoso.
— E também já é louco — completo, e saio sem esperar um
coice dele.

Zé para a caminhonete com a logo dos Ferreiras em frente ao


que agora será meu lar, suspiro. Abro a porta, Nelson desce com
um prato com bolo e doces, coçando os olhos e bocejando sendo
seguido pela dupla dinâmica Bisteca e Costela, já vai dar meia-noite
e nós ainda estamos aqui.
Quando entramos Zé acende as luzes e eu vou pego o
pratinho de Nelson e vou para cozinha guardando suas delícias na
geladeira, subo as escadas devagar, levo uns dez minutos, e
quando chego Zé já está com ele debaixo do chuveiro, ele se lava
como Zé ensinou, o peão está usando sua boxer ajudando ele,
quando ele sai eu o enrolo na toalha e ele boceja, Costela já está
dormindo na poltrona do quarto de Zé e Bisteca boceja do tapete.
Eu seco ele e visto uma camisa do zé e uma cueca que pegamos
emprestada, amanhã antes de eu verificar minhas funções, vou dar
um jeito em roupas e brinquedos para ele.
Quando Zé sai do banheiro eu e Nelson já estamos indo para
o quarto em que ele vai ficar, abro a porta e ele entra olhando tudo,
antes que eu diga algo os dois meliantes entram no quarto e já vão
para cama, com Nelson sentado no tapete cheio de sono
acariciando a dupla dinâmica, eu troco a roupa de cama e arrumo
tudo, quando deita na cama ele suspira, cubro-o e me sento ao seu
lado, Costela deita em seus pés e Bisteca ao seu lado.
— Quando eu acordar amanhã, você vai tá aqui, Catita? —
ele pergunta, bocejando.
— Vou, meu amor, depois vamos comprar coisas para você,
conhecer a fazenda e você vai poder fazer o que quiser. — Os olhos
sonolentos dele brilham.
— Podemos conhecer a fazenda antes de comprar as
coisas? — Sorrio, para ele isso tudo é mais importante do que
qualquer outra coisa.
— Primeiro, vamos arrumar roupas e botas iguais as minhas
e as do Zé, não queremos que você se machuque explorando a
fazenda e aí assim você vai poder conhecer tudo.
Sem que eu espere ele se levanta de supetão e me abraça,
retribuo o abraço apertado sem dizer nada e apenas me afasto
sorrindo, há um grande caminho a percorrer com ele, mas vamos
chegar lá e ser uma família, à nossa maneira, mas seremos.
Saio do quarto deixando a luz do corredor acesa e quando
entro no quarto de Zé Vicente ele está deitado de toalha na cama.
— Onde será meu quarto, José?
— Já está nele, princesa, sabe que me chamar de José me
deixa de pau duro, né? — ele fala sem pudor algum, tendo me
concentrar para não corar, mas meu rosto esquenta.
— Não vou dividir o mesmo quarto que você, sabe disso, há
outros quatro — digo o óbvio.
Ele estala a língua em um ato irritante e sorri de lado.
— Acredita que nenhum deles tem cama mais? — diz me
irritando ainda mais. — Você não se importa, né, moça? É que eu
durmo sem cueca, aperta o pau, sabe como é?
Pego minha toalha e bufo, maldito peão insuportável, ele quer
brincar? Ótimo, pois eu nunca entro em brincadeira nenhuma se não
for para ganhar. Vou até o banheiro e paro na porta, antes de entrar
eu me viro e digo.
— Sem problemas, peão, há dez anos durmo sem calcinha.
Me enfio nu por baixo do lençol e coloco meu braço atrás da
cabeça, ela demora alguns minutos e volta cheirando a morango e
usando uma camiseta de universidade velha que deve caber uma
duas dela dentro sem a prótese, ela é ágil usando apenas uma
perna, a perna está envolvida em uma bandagem bege que já a vi
usando aquele dia.
— Como consegue se equilibrar sem a prótese? —
questiono, ela olha para a perna amputada.
— Equilíbrio, com o tempo o pulo se torna suave e não gera
tanto incômodo, meus seios nem pulam mais. — Meus olhos vão
direto para as tetas deliciosamente cobertas pela camisa broxante
que ao invés de me broxar me deixa ainda mais duro, o lençol
levanta e ela ignora vindo até a sua bolsa, ela tira um livro e óculos.
Ela se deita ao meu lado por cima do lençol. — Sabe que esse
negócio de só ter uma cama só funciona em livros e filmes, peão?
Ela abre o livro.
— Vai ficar aqui, mas se quiser sair, o quarto da frente está
limpo, linda — digo me dando por vencido. Ela sequer me olha.
— Estou confortável. — Dá de ombro dizendo e eu tomo o
livro de suas mãos.
— L. M. Mayer, autora best-seller USA Today e New York
Times. É sobre o quê? — questiono ao ver o cara pelado na capa.
— Casal que faz sexo em todas as posições possíveis e que
ficam juntos e trepam até o fim. — Ela toma o livro de volta, me
fazendo revirar os olhos.
— Se quiser trepar na realidade estou aqui de pau duro,
moça — instigo, e ela me ignora, mas noto ela aproximar a perna.
— José... — adverte, me deixando ainda mais arriado por ela,
tiro o livro das mãos dela e coloco na mesa ao lado da cama.
Meu corpo se inclina sobre o dela, e ela fica tensa.
— Isso de dormir juntos não vai dar certo. — Ela ofega se
fazendo de boa menina.
— Tenho os quatro pneus arriados em você, moça, e ainda to
com o gosto da tua boceta na boca, me diz o que eu preciso fazer
pra que seja minha por inteiro, que eu já sou teu, não faço cu doce
não, não sou difícil não, sou mais fácil que puta de beira de estrada
querendo carona. — E pela primeira vez ela gargalha cobrindo a
boca com as mãos, me fazendo rir junto, meu coração se aquece e
eu toco seu rosto com o polegar.
— Meu Deus — Ela fica vermelha e puxa o ar. — Você
realmente existe? Você é insano, peão, saia de cima de mim.
— Você é minha, vai doer admitir? — questiono, sorrindo, e
na mesma hora o olhar dela muda, uma sombra passa por seus
olhos. A simples palavra dela, pequena, com três letras me gela a
alma e faz o pelo do meu rego[AEG64] se arrepiar.
— Vai.
Quando eu pego no sono, ela já dorme há um tempo, fico
pensativo, se realmente algum dia eu vou voltar a ter minha Catita
de volta.

Eu acordo e olho no relógio, vai dar quatro da manhã, me


levanto pegando minha roupa de lida, nesse momento eu noto
Catarina sentada dormido na poltrona perto da janela meio aberta,
quando eu chego perto dela eu noto que ela não está dormindo e
sim que está chorando baixinho, visto minha calça sem cueca
mesmo e me abaixo ao seu lado.
— Que diacho que aconteceu, mulher? — pergunto, e ela
pula se assustando, porra.
— Pesadelos ruins, Zé — ela diz com a voz fraca, mas sem
soluçar. Mas ela sorri. — Você sempre vai ser um cavalo doce, não
é?
— Se ser cavalo é se preocupar, vou ser sempre seu cavalo,
moça. — Eu a pego no colo sem sua permissão e a levo para cama.
— Diz que bicho te mordeu, diacho.
— As coisas estão indo rápidas demais, José, eu mal consigo
me imaginar daqui a uma semana, eu voltei não tem uma semana e
você já virou minha vida de cabeça para baixo, e isso me deixa com
medo e se Daniel voltar? Eu não deveria ter medo dele, mas tenho e
isso me machuca. Eu fui uma cadela com você quando voltei, nós
dois erramos, afundamos o barco da nossa vida e não é só sua
culpa, eu deveria ter te contado sobre a faculdade e que eu não iria
fazer, eu me formei, José, porque queria ocupar a cabeça, esquecer
que eu passei por um acidente, por um descuido meu, eu queria
esquecer você, peão, mas foi impossível. — Quando ela termina
minha boca está saqueando a dela em um beijo intenso e cheio de
tesão e saudades.
— Você não brinca comigo, porra — rosno em seus lábios
doces e trêmulos para não dar chance que ela fuja.
Ela admitiu algo que meu coração já sabia, mas ouvir isso
dos seus lábios me faz ter a certeza de que ela sempre foi minha,
pode ser presunção, mas essa mulher é minha e nada será capaz
de tirá-la dos meus braços a partir de agora.
Ela geme e envolve sua mão em volta da minha nuca
arrastando a unhas me fazendo gemer em sua boca, me puxando
para ela. Seus lábios batem contra os meus em uma mistura de
suspiros e gemidos.
Nem nas minhas melhores fantasias eu imaginei minha
pequena mulher em meu colo, ela abre as pernas e seu seguro
firme sua coxa amputada e ela suspira, porra eu posso sentir sua
boceta contra meu jeans.
Meu pau dói de tesão por ela. Eu agarro a ponta da camisa
velha e a puxo sobre a cabeça, mostrando seus seios cheios e
perfeitos.
Antes que ela possa ter tempo para ser dizer algo, eu a puxo
e meus lábios descem para seu pescoço, planto os pés no chão,
ciente que vamos foder e porra eu quero isso.
Ela geme e ofega, minhas mãos descem explorando seu
corpo nu em cima do meu, sinto os dedos dela no meu peito
descendo e se arrastando, quando ela encontra minha calça a abre
sem reservas e libera meu pau, minha boca desce para seus seios
cheios, dou atenção a eles e pego o que posso em minha boca, ela
geme e rebola, a ponta do meu pau encosta em sua boceta e ela
suspira, Catita se arqueia em mim, suas unham enfincam em meus
ombros, meus dedos encontram a pequena boceta e porra está
pingado de tesão, ela geme e ofega quando meu dedo resvala pelo
nó entre suas pernas.
— Zé... — Meu nome escapa dos seus lábios e eu me
levanto com ela em meu colo, me viro e a jogo na cama, nua, minha
calça de lida cai e eu vejo o sol nascer de longe, entrando no quarto,
a fazenda pode esperar, nu eu vou até à porta me certificando de
trancá-la, não estamos mais sós.
Catita olha para meu pau e lambe os lábios, meus olhos
varem o corpo cheio de curvas, ela abre as pernas de forma sutil,
seu rosto está corado o cabelo uma bagunça, os lábios vermelhos
por conta da minha brutalidade, e a boceta brilhante e deliciosa está
pegajosa e gostosa, linda, meu pau pesado babado na ponta, de
desejo por ela, essa mulher não é como as outras, sua bocetinha
depilada tem um tom marrom, as coxas escuras me deixam insano,
minha boca saliva e ela ofega quando eu subo meu corpo pelo seu.
Meu sangue queima em minhas veias, e porra é um tesão do
diacho.
Cara a cara com sua boceta, eu me coloco entre suas coxas.
Ela ofega e agarra os lençóis, meu corpo treme de tesão por ela.
Catita geme quando eu me afundo em sua doce boceta. Minha
língua brinca com o pequeno nó de prazer dela e meus dedos
escorrem para dentro dela em um vai e vem gostoso, ela junta as
coxas, passando a mão por meu cabelo de forma arisca, arrepiando
meu corpo, minha língua mela com seu prazer e eu gemo, meu pau
pulsa contra o colchão, em meus lábios parecem queimar na boceta
dela, doce e minha, meus dedos vão a invadindo, sinto-a me apertar
e porra quando eu deslizo o terceiro dedo é o paraíso, ela ofega,
mas cobre a boca com as mãos.
— Silêncio — rosno e faço pressão em seu nozinho de
prazer, é demais pra mim, eu me afasto com o gosto da sua boceta
e me coloco entre suas pernas, suas coxas doces se abrem e eu
trago sua perna amputada contra meu quadril e ela ofega. Eu gemo
pegando em meu pau e minha respiração tranca quando os dedos
dela tocam meu pau duro e quente, cheio de tesão ele baba, o dedo
desliza pela ponta e porra, esse diacho é bom demais.
Ela ofega me puxando, fazendo meu pau grosso rolar por seu
clitóris, ofega quando senti minha cabeça grossa contra sua pele.
Gemo, meu pau pulsando contra sua pele. Aquele olhar em seus
olhos, aquele olhar era fome. Ela quer isso tanto quanto eu quero
dar a ela, e só isso faz minhas bolas doerem e porra eu quero pôr
um filho nela, mal acabei de virar pai e já quero outro, quero dar a
Nelson irmãos, quero criar uma penca de bebês com essa potranca
deliciosa e arisca.
— Eu estou limpo e vou te levar sem camisinha, se não
quiser a hora é agora, nunca houve nada entre mim e você, não é
agora que vai começar a ter — digo, segurando firme em sua
cintura, meu pau desliza em sua abertura e ela empurra.
— Faça, peão, e não me faça mudar d... ah! — Deslizo para
dentro dela e porra ela me aperta firme me fazendo gemer, rouco,
meus lábios descem para seu pescoço.
— Minha — sentencio, estocando firme contra o corpo
gostoso, as mãos dela arranham minhas costas e ela diminui o
espaço entre nós, me fazendo ir ainda mais fundo dentro dela.
Ela geme quando a beijo, indo ainda mais fundo dando
prazer a nós dois, não preciso dizer nada sujo, não consigo sequer
pensar direto, apenas quero que ela sinta que eu sou único que
pode levá-la ao limite. Eu ainda posso saborear sua doce boceta,
pau dói por libertação a cada estocada. Meu coração pula
desgovernado quando ela geme meu nome de forma quase celestial
me apertando e me dando seu tesão, empurro fundo e me derramo
dentro dela, minha cabeça gira e meu corpo fica tenso, suado e
melado junto ao dela, porra.
Cerro os dentes com força, sentindo minhas pernas
fraquejarem enquanto o corpo cheio de curva treme embaixo do
meu, o corpo dela relaxa e eu permaneço dentro dela, torcendo para
criar raízes. Ela quer isso tanto quanto eu, já vamos criar um filho,
por que não outro? Meus lábios descem nos seus ofegantes e ela
choraminga quando eu saio de dentro dela, dando uma leve estoca.
Meu corpo cai ao lado do seu e ela ofega, estamos suados,
fedendo ao melhor sexo de toda minha vida, porra. O sexo de
reconciliação.
— Isso foi um erro. — Minha voz quase falha, mas e diversão
nela é evidente, eu mal termino de dizer e ouço o cantar do galo e o
berrante do meu pai.
Ela soca meu braço levemente e cola o corpo no meu e
respira fundo, o corpo está suado, vermelho e bem fodido.
— Idiota. — Ela ofega.
— Sabe, que podemos fazer as coisas que você lê nesses
livros, né? — Ela revira os olhos e bate na perna amputada. — E eu
com isso? É dois palitos [AEG65]e eu tenho sua boceta na minha
cara. — Olho para ela sugestivo. — Fodemos até no teto se quiser.
Dou de ombros.
— Mas me diga, moça, essa trepada faz de nós dois o quê?
— questiono, levando meus dedos para sua boceta melada da
minha porra.
— Que tivemos uma trepada sacana e somos pais do Nelson.
— Me provoca, eu viro meu corpo, fazendo-a dar um gritinho baixo.
— Não deixei essa boceta ardida o suficiente para entender
que é minha, potranca? — inquiro, passando meu pau em sua
entrada ela geme e eu sinto minha porra escorrer de dentro dela.
— Você sabe que sim, mas não vai me ter dizendo isso, não
vou em hipótese alguma amaciar esse seu ego de cavalo
insuportável.
Ah! Mas ela vai dizer com todas as letras e ainda vai ficar
ardida e andar torta por isso.
Meu corpo pega fogo, embaixo do chuveiro, as mãos dele
deslizam por meu corpo, ele me apoia, e quer fazer disso algo sujo
e melado.
— Não vai funcionar, peão — digo, ofegante, enquanto ele
beija meu pescoço.
— Eu sempre vou fazer funcionar, meu amor. Eu já devia
estar na lida, mas estou aqui onde é meu lugar. Se quiser nós
fodemos até em cima do Severo.
— Assim fica difícil não te querer, peão. — Ofego. Eu não sei
que guinada minha vida deu, mas em menos de uma semana eu me
encontro nos braços do único homem que desgraçou os últimos dez
anos da vida, me enlouqueceu e virou minha vida do avesso a ponto
de me fazer viver em poucos dias o que não vivi em anos.
De repente, bruscamente ele levanta e me gira. Choramingo
quando o sinto ficar atrás de mim e sustentar meu corpo sem a
prótese, me pressionando contra a parede fria do banheiro. Eu
posso sentir ele quente, latejante e duro contra minha bunda, e eu
resfôlego quando suas mãos deslizam sobre meu quadril me
mantendo firme contra a parede.
Ele me puxa fazendo meu corpo encostar no seu, e sua mão
calejada se move até meus seios nus, os dedos provocando e
beliscando, enquanto o sinto muito duro e pulsante contra minha
pele. Ele desce os beijos molhados pelo meu pescoço e ele desliza
entre minhas pernas me fazendo ofegar, mesmo sem a prótese ele
tem tanta força que consegue me manter parada à sua disposição,
talvez mais tarde eu entre em parafusos e enlouqueça, mas agora
eu só quero que ele me faça gozar, eu ainda estou ardida, ele não
foi suave e se fosse não seria o José Vicente Ferreira, o meu cavalo
doce.
Droga, do que vai adiantar eu negar que esse homem duro
feito coice é meu? E que eu ainda sou sua? Eu jamais vou admitir
isso em voz alta, e elevar ainda mais o ego desse cavalo.
Doce e sedutor à sua maneira.
— Quero foder de novo. — Ele ri, em minha orelha, fazendo
um arrepio percorrer minha espinha. — Mas estamos sem tempo,
minha potranca arisca.
Suspiro quando o sinto passar um dedo sobre os meus
lábios, me sentindo ainda mais encharcada, ofegante mordo meus
lábios encostando minha testa na parede fria, o dedo desliza para
dentro de mim, a mão grande se apoia em minha barriga meu corpo
contra o dele e seu membro duro e pegajoso acomodado contra
minha bunda, a cada investida dos dedos dele o orgasmo começa a
dar sinais, me fazendo tremer e gemer, firme, forte e muito mais
muito sensual, o ar no banheiro parece espesso e eu quero apenas
vir, a cada investida do dedo dele eu me sinto ainda mais
encharcada e ardida, tremo em seus braços.
Seus dedos brincam com meu clitóris, e ele sabe que isso
acaba comigo, a cada toque dos seus dedos eu sinto meu corpo
tremer e ansiar para que ele me faça gozar.
— Peã-ão. — Minha voz se quebra gaguejante quando gozo
melando sua mão, ele geme e investe o corpo no meu, parece
insano ele me manter em pé à sua mercê sem a prótese, mas ele
consegue, pareço uma boneca em suas mãos, meu corpo treme e
eu amoleço em seus braços, quando me vira Zé me ergue e me faz
passar a perna em sua cintura, segurando minha perna amputada.
— Eu sempre vou dar um jeito de foder, moça, você é perfeita
e juntos vamos fazer isso funcionar. Mas eu vou colocar um banco
nesse banheiro — ele brinca rindo rouco.
— Sou pesada — confesso, ofegante, ainda com o orgasmo
correndo em minhas veias e tudo fica ainda pior quando eu sinto
seu membro duro contra mim.
— E eu não seria caboclo bão [AEG66]se não aguentasse
segurar minha muié[AEG67]. — O sotaque dele carrega e eu ofego.
— Ainda queria poder ficar de joelhos e fazer, você sabe o
que, peão. — Meu rosto queima e eu escondo meu rosto em seu
pescoço, sua risada rouca ecoa pelo banheiro e eu ofego.
— Mas pra ter meu pau na boca é dois palitos, é só falar. —
Ele gargalha. — Deixe-me te lavar, linda, ou se quer andar por aí
com a minha porra? — A fala suja dele mesmo sendo absurda me
excita, soco seu braço. — Diz pra mim que estamos bem e que se
não vai ficar arisca de novo, moça. — A voz dele muda, ficando
apenas um fio rouco e medroso, meus olhos vão para os dele,
respiro fundo e os olhos de gato cautelosos dele brilham, eu sempre
amei essa cor, esse brilho e esse homem é capaz de me desmontar
por inteira. Com apenas esse olhar. Meu cavalo doce.
— Estamos bem, peão.
Pelo menos eu espero que sim.

Meu rosto cora, sentados todos na mesa da casa grande a


mão do Zé está apoiada em minha prótese e ele fala sobre o gado
com o irmão sem se importar, ele bebe o café e meu padrinho entra
na conversa trazendo em pauta valores absurdos que eles vão
investir como se não fosse nada.
Nelson está sentado ao meu lado e ao lado de minha
madrinha, ele desvia o pedaço de bolo para Bisteca por debaixo da
toalha da mesa e eu sorrio, minha madrinha conversa com ele e eu
me mantenho em silêncio, pensativa, sem saber o que dizer.
— O que acha, fia? — A voz do meu padrinho me corta, me
tirando dos meus pensamentos, Zé me olha e eu respiro fundo.
— Perdão, padrinho.
— Está avoada, fia? — Minha madrinha ri e olha sugestiva
para José que tem um sorriso arrogante no rosto.
— O amor deixa meio abeia mesmo. — Manoel me provoca
mordendo uma orelha de padre, arqueio a sobrancelha, mas antes
que eu fale algo Zé me corta.
— Tem visto Isabel, irmãozinho? — Digo e Manoel fica
vermelho igual ao um pimentão e engasga.
— Falando no diabo. — Zé termina de dizer e Mabel a
advogada entra na sala, acompanhada de uma mulher com uma
camiseta escrito Casa Lar São Vicente, município de Itapeva.
— Bom dia. — A voz de Mabel faz Manoel ficar rígido na
cadeira e se levantar, ele pega o chapéu que estava em cima do
móvel atrás dele e se vira.
— Bença mãe, pai, senhoritas se vocês me dão licença a lida
me espera. — Ele sequer olha para a moça que usa um vestido
florido que vai até os pês e tem um sorriso vitorioso no rosto, há
algo entre os dois, olho para Zé e pela sua cara ele sabe de algo
que eu não sei.
Ele dá as costas para as moças e sai feito um boi
desgovernado, mordo os lábios e olho para as moças, respiro fundo,
mesmo meu padrinho sentado na ponta da mesa como o patriarca é
o peão tenso ao meu lado que tem voz aqui.
— O que traz as moças aqui? — Zé questiona sem um pingo
de simpatia, e Nelson segura minha mão com firmeza e treme.
— Tamires veio fazer a verificação e a visita de intervenção, e
eu vim formalizar a união estável de vocês e trazer a documentação.
Zé tenso ao meu lado se levanta e eu faço o mesmo.
— Continue tomando seu café, querido — digo, soltando a
mão de Nelson. — Voltamos em breve. Meus olhos vão para José
Vicente e eu tenho a plena certeza pela cara de idiota que ele faz e
o desespero em seus olhos ele deveria ter me dito algo.
Ele devia ter me dito algo importante, e não disse, merda,
que a história não se repita.

— União estável? — Engulo em seco e fecho meus olhos,


enquanto a assistente conhece as instalações da fazenda e fala
com Nelson, eu olho incrédula para tudo que a advogada de José
Vicente acabou de falar. José Vicente está me oferecendo uma
união estável. Eu vou precisar me casar com ele para conseguir dar
meu nome a Nelsinho? — Eu acabei de sair de um divórcio e eu...
— Ou você regulariza sua relação com José, ou apenas ele
poderá adotar o menino — explica, categórica. — Ele não te disse,
não é?
— Que relação porra? Eu cheguei à cidade tem menos de
uma semana. — O palavrão me escapa me deixando ainda mais
nervosa.
— Eu entendo, Catarina, mas com apenas uma ligação eu
descobri que a mãe dele deu entrada no IML de São Paulo tem
quinze dias por overdose, ela foi identificada recentemente por uma
tia que foi clara dizendo que não quer o menino. O pouco que o
delegado da DP da Barra Funda me disse, a mãe dele era
conhecida por inúmeros furtos e venda de drogas, mas em
pequenas quantidades que ela sempre alegava que era pra
consumo, infelizmente Nelson nasceu na Fundação Casa
[AEG68]em São Paulo e ela foi presa novamente e enviada ao CPP
[AEG69]após a maioridade penal. Nelson foi criado pela avó que
faleceu no mesmo ano que a mãe foi solta com 22 anos, reuni
algumas informações sobre Rosângela dos Santos Neves, a mãe
dele tinha apenas 23 anos completos, usuária de drogas e
participava efetivamente do tráfico na região e morreu com uma
suposta overdose, mas as circunstâncias que ela foi encontrada não
descartam retaliação de alguma facção criminosa. — Quando ela
diz isso uma dura realidade me bate, engulo em seco sentindo meu
corpo estremecer, ela foi mãe aos quatorze e agora ele poderia ter o
mesmo destino que o dele caso eu e Zé não o achássemos.
— Ela entrou e saiu da Fundação Casa mais de dez vezes
até a maioridade, quando foi presa por assalto a mão armada com
uma vítima que sobreviveu. — Ela continua. — A decisão é sua,
Catarina, eu visitei a Casa Lar da cidade vizinha ao mencionar o
nome de Zé e tive a leve impressão que o que vi é apenas uma
maquiagem bonita para a dura realidade daquele lugar,
independentemente da sua decisão sei que Zé vai dar o nome
Ferreira a ele, mas basta você decidir se está disposta a incluir o
Santiago a isso.
— Nós já trepamos, Catarina, isso é apenas um papel, o
casamento e o anel você pega meu cartão e providência depois. —
A naturalidade da voz xucra de aço me assusta, meu rosto cora e eu
ofego.
— União estável? — repito sem acreditar, engolindo em seco.
Em menos de uma semana eu realmente estou indo para isso? Uma
espécie de um casamento com o homem que me abandonou no
altar? E pela cara arrogante ele está mais que feliz com esse
arranjo, a cara radiante dele me irrita e se eu não estivesse tão
cheia de informações sobre a vida passada de Nelson eu
provavelmente diria não de imediato a esse quase casamento por
contrato. Deus, união estável?
— Posso falar com ela, Mabel? — Nem noto Mabel sair, eu
me levanto do sofá e ando de um lado para o outro. — Eu ia te dizer
porra, mas acabou que sua boceta nublou meu tino e eu esqueci,
você e eu queremos o menino e eu posso ter te engravidado e
poder ter outro filho nosso dentro de você agora, então por que
diabos caralhos de asas não quer assinar o papel? — A verdade me
bate, eu posso estar grávida. Deus que merda eu fiz? Sem pensar
nas consequências.
— Eu cheguei não tem uma semana e você já quer nos enfiar
nisso, isso é loucura, o processo de adoção é lento, José Vicente.
— E acha que eu tenho a conta gorda no branco pra que,
apenas para gerar imposto? — Ele é grosso, Zé Vicente à sua
maneira.
— Você comprou a adoção dele?
— Agilizei — rosna. — O piá é meu e teu, e pode ter outro aí
dentro agora, eu sempre sou bão em tudo que faço e não ia
pestanejar para colocar um aí dentro. — Respiro fundo, pois quando
mais irritada eu ficar mais irritante ele será, eu conheço esse jogo.
— E você acha que é simples assim? Apenas me unir a
você?
— Da primeira vez não deu certo, assina o papel, assamos
um boi, marcamos com o padre, você se veste de noiva e eu vou lá
digo o que já te digo que eu sou seu e casamos. Mas não precisa
ser agora, por ora só assine o papel e assamos um boi, aí o menino
é nosso filho. — Olho abismada para forma com que ele elenca os
pontos e lida com os fatos me fazendo rir, ele me olha sério.
— Deus isso é loucura. — É a única coisa que eu sou capaz
de dizer a ele.
— Quem tá querendo fugir dessa vez é você, quer que eu me
ajoelhe?
— Isso é baixo da sua parte, peão, muito baixo.
Estou suando, todos na sala estão em silêncio, Nelson
sentado nas pernas do meu pai rói as unhas, minha Catita lê papel
por papel, e suspira, a cada suspiro dela meu coração para pôr um
segundo, eu tento me manter firme, mas me remexo impaciente na
cadeira sentindo meus pés formigarem, ela lê cada linha, mas para
e respira fundo sei lá quantas vezes ela já fez isso, minha mãe tem
um sorriso no rosto, meu irmão não tira os olhos de Mabel, meu pai
se diverte com meu inferno, Conça parece fazer alguma prece
baixinho.
Eu esqueci dessa merda, que deveria dizer a ela, e porra eu
tinha a intenção de dizer, ela parece chateada, quando eu bato
minha assinatura na folha o papel quase rasga, caralho de asas,
meu corpo todo está suando, estamos casando — união estável —
na sede da fazenda comigo usando uma calça velha e ela com uma
cara de desgosto que se pudesse me batia e me virava do avesso,
não era isso que eu tinha em mente, mas vai ter que servir, até que
eu arrume as alianças e a convença a se casar comigo.
Meus pais assinam como testemunhas e a conselheira olha
tudo abismada, mas com um brilho nos olhos, direto ela me encara
como se eu fosse um nelore de exposição, meu corpo reseta, mas
meus olhos vão para a única mulher na sala capaz de fazer do meu
coração um bolo de agonia.
— Então você está casando. — Meu irmão fuxica baixo só
para que eu ouça, mas pela voz trêmula que corta sala ele não falou
baixo o suficiente.
— União estável. — A voz da minha Catita soa fria e ela
suspira. — Tire a comunhão total de bens [AEG70]e terá minha
assinatura.
— Nem fodendo — brado, nervoso. Ela me olha e olha para
Nelson e perante a advogada do diabo ela assina o papel que diz
que estamos oficialmente juntos. Mabel ostenta um sorriso.
— Reconhecerei firma ainda pela manhã e poderemos
formalizar a adoção de Nelson Santiago Ferreira. — O menino me
olha e pula do colo do meu pai e se joga em minhas pernas.
— Não vai me mandar embora, Zé? — ele questiona e os
olhos dele se enchem de lágrimas eu me abaixo na sua altura e
engulo em seco.
— Você é nosso primeiro filho — Aponto para minha Catita
que tem os olhos marejados. — Nosso primeiro herdeiro e primeiro
neto. Somos sua família, fio, e eu vou te ensinar tudo para que um
dia você e seus irmãos possam fazer igual a mim e a Manoel,
toquem tudo e nos deem orgulho, você agora é um Santiago
Ferreira. — Eu o abraço sentindo meus olhos me traírem e as
lágrimas descerem, sinto as mãos à minha volta e minha Catita
aperta nós dois molhando minha camisa com as lágrimas dela, ele
se afasta e abraça Catita.
— Não tenho sua cor, mas eu vou ser igual se tivesse — ele
diz em um soluço e minha Catita o pega no colo. Eu vou tirar dele
esse maldito preconceito que colocaram nele.
— Você é lindo, querido, tem uma cor linda, somos
diferentes, vê — ela mostra a prótese —, mas iguais e você pode
me chamar do que quiser agora. Sou sua mãe. E jamais vou dizer
alguém dizer o contrário e falar da sua cor, você é nosso agora e
nada vai te machucar daqui em diante, eu os abraço no chão
mesmo, ciente dos olhares chorosos em nossa direção.
A vida demorou dez anos para me dar a chance de reparar
meus erros e menos de uma semana para provar que eu posso
fazer isso acontecer. Foda-se se isso foi em uma semana, eu perdi
tempo demais esperando e porra eles não vão sair das minhas
vistas nem fodendo.
Todos aos poucos saem da sala, e só ficamos eu, minha
mulher e meus pais. Os olhos do meu pai, idêntico aos meus me
olham com dureza.
— Embora, não haja o nome de Deus nesse acordo de gente
da cidade, sabem que continuam sendo sagrados ainda mais por
que ambos estão fazendo isso pelo Nelsinho, não é? — Antes que
eu possa pensar em algo minha mãe completa se levantando e
tirando uma caixa do bolso do avental.
— Quando seu pai me deu isso, eu sonhei em dar para vocês
dois no dia que infelizmente os desencontros da vida fizeram vocês
se separaram, foram erros que mesmo bobos tiraram 10 anos de
vocês, Conça sempre diz que quando seu coração é de alguém e
você tenta colocar outro homem ou mulher no lugar, interfere-se em
seis destinos, o de vocês, o das pessoas que vocês cruzam
destinos e o das pessoas que deveriam cruzar destinos com os
delas, não deixem erros do passado, mal-entendidos imperarem na
vida de vocês, a vida nos dá chances, agora há três destinos sendo
juntados, a propósito na vida de vocês cinco, você, minha afilhada
querida, na sua meu filho amado, na do nosso pequeno Nelson, e
na dupla que antes os acompanhava separados agora, se juntaram
para acompanhar aquele menino calejado pela vida, usem essa
fraqueza e transformem em força. — Ela vem em minha direção e
coloca a caixinha em minha mão.
Eu me levanto e abro ficando de cara a cara com a mulher
que me desgraçou paras as outras e eu não acho isso nenhum
pouco ruim, amar Catita é o que me completa, quero o que meus
pais têm e vou lutar por isso.
— Eu queria poder ter feito diferente antes, mas agora eu
vou. Eu prometo te amar a cada batida do meu coração, eu prometo
te amar a cada novo sol, prometo amar a cada novo cantar do galo,
a cada nova gota de chuva, a cada nova lua que encher o céu. Eu
prometo simplesmente te amar — confesso, e abro a caixinha, meus
olhos se enchem de lágrimas, mas eu não sou capaz de olhar para
ela, pois o medo de não ver correspondência em seus olhos me
dilacera, isso é por nós dois e pelo nosso filho, mas eu quero que
ela saiba que eu a amo.
Eu deslizo a aliança da minha mãe pelo dedo dela e ela
brilha, Catita faz o mesmo com a do meu pai, as alianças cabem
perfeitamente, como se tivessem feitas para nós dois, e quando eu
penso em apenas me afastar me sentindo igual ao joio [AEG71]no
meio das mãos trêmulas, suadas e frias tocam meu rosto, meus
olhos vão para os dela e de repente eu me perco no chocolate, as
lágrimas escorrem livres, significando mais do que qualquer palavra,
ela me puxa pela gola da camisa e seus lábios macios tocam os
meus, estou duro que quase dói, quando o sangue corre para o meu
pau, meu corpo roça no dela.
Minha boca devora a dela, e ela devolve na mesma
intensidade, não preciso de palavras, pelo menos não por enquanto,
ela é o suficiente para mim, os lábios e corpo cheio, gostoso e meu
me dá a resposta que eu preciso, que ela é minha e que sabe disso.

Catita está quieta e pensativa demais para meu gosto, vejo


de longe Nelson ir em direção a uma das baias de confinamento
com meu irmão na caminhonete, com Bisteca e Costela na traseira
com ele que assovia alto e me dá um tchau, meu irmão
provavelmente vai mostrar a ele o gado e eu vou arrancar o silêncio
dessa gata arisca que acabou de casar comigo.
— Tá boa, esposa? — pergunto, e ela bufa e respira fundo,
coisa que ela tem feito muito nas últimas horas e isso me irrita,
prefiro que ela fale, dê coice, deboche e tire com minha cara, mas
não, ela apenas bufa e suspira feito uma égua brava no cio.
— União estável, peão — ela diz, se apoiando na cerca
vendo os cavalos correrem soltos, sua voz provocativa me faz sorrir.
— Eu devia ter explicado como essa bosta ia funcionar, linda,
mas esqueci. Estava ocupado demais tentando convencer você a
respirar o mesmo ar que eu para lembrar que eu e você tínhamos
que estar casados para adotar o Nelsinho.
— União estável não significa casamento, José Vicente —
Catita insiste, e se vira para mim com o olhar provocativo.
— Já entendi, entendi. Mas significa que podemos trepar
gostoso, linda! — Levanto as mãos rendidos e antes que ela possa
tomar uma atitude eu a puxo pela cintura calando sua boca
inteligente com um beijo, angustiado e com medo, medo de ela
esquecer o que sente por mim e um dia não me querer mais, eu já a
deixei ir uma vez e se ela disser que não me quer eu vou nesse
rodeio até o final, mas se eu não aguentar os oito segundos, ela vai
ficar livre novamente. Quero ela por amor não por dor ou obrigação.
A conselheira pareceu aliviada em não ter que levar Nelson,
afinal seria mais um para ela se responsabilizar, embora o governo
se responsabilize a coisa é tão precária que provavelmente ele ia
chegar à Fundação Casa antes de a mãe e provavelmente ser
morto também, enquanto Mabel falava tudo da mãe dele as minhas
tripas doeram, algo me diz que a mulher sabia que ia morrer e que
mandar o filho à própria sorte foi a melhor opção que ela achou.
— Eu amo você, moça. Nada mudou. — Ela faz menção para
falar algo, mas eu a calo deslizando meu polegar por seu lábio
cheio, o beijo dela já me deixa erriçado querendo mais dela. — Não
precisa dizer nada, moça, eu quero ouvir, mas apenas quando você
quiser dizer, se ajeita que eu, você e o trio vamos para a cidade. —
Vou mandar fazer um escritório no nosso casebre com uma mesa
reforçada, quero te foder nela e nem fodendo vou usar a mesa do
meu pai. Ele diz que eu fui feito na porra daquela mesa — brinca, e
ela ri com o rosto corado. — Teu beijo é igual brasa quente e me
acende, e só você é capaz de apagar o fogo do braseiro[AEG72]
que você me causa.
— Podemos continuar a tradição. — Gargalho e fazendo cara
de nojo, tiro meu chapéu e coloco na cabeça dela, linda demais.
— Prefiro usar o capô do Madimbum — comento, fazendo ela
me socar.
— Isso soa machista — ela diz, suspirando. — Precisamos
fazer isso funcionar, peão, ou eu vou realmente acertar sua cabeça
dura de cavalo. — Meu corpo cola no dela. E eu a empurro contra a
cerca, nossas alianças brilham e meu coração dispara.
— Você pode bater na minha cabeça quando quiser, moça.
— Ela suspira e ofega em meus braços me fazendo sorrir sacana.
— Precisa parar de dizer coisas sujas quando estamos perto
de outras pessoas. — Ela volta a suspirar em meus braços e os
olhos preocupados chamam minha atenção.
— Que diacho se tem, muié? — pergunto, apertando-a em
meus braços, vejo alguns peões de longe.
— E se quem fez isso com a mãe dele vier atrás dele? Todos
podem achar que foi uma overdose, mas eu sinto aqui. — Ela
aponta para o peito de forma angustiante. — Que não foi. E que ela
não fez isso à toa, acha mesmo que ela ia mandar para longe algo
que lhe dava dinheiro? Ela era uma drogada, Zé, mas, ainda assim,
uma mãe. Deus. — Ela treme em meus braços.
— Está vendo aqueles peões, moranguinho? — Aponto para
meus homens que estão indo em direção ao pasto de confinamento.
— Tem ordens para pipocar na bala ninguém que não seja
identificado E melhor, eu não serei responsabilizado por isso, por
que invasão é crime e legítima defesa não condena ninguém.
— Deus, o quão fácil você faz parecer as coisas, peão?
— A única coisa difícil na minha vida é você, muié, é você,
moça arisca — digo, tomando seus lábios nos meus mais uma vez,
ela se derrete em meus braços e eu desço minhas mãos sovando
gostoso sua bunda cheia e redonda, a porra do jeans marca tudo
que tem nela e eu amo isso, mas só de saber que outros estão
vendo o que eu vi nu e cru faz meu peito brocar de ciúmes. — Você
é minha moça.
Antes que ela responda um peão a cavalo vem em nossa
disse disparado, o chapéu no pescoço.
— Patrão? Patrão?
— Que diacho? — rosno na direção dele, fazendo-o me olhar
ainda mais assustado.
— Jararaca pegou uma pô,[AEG73] patrão. — Minha Catita
fica tensa e treme ao meu lado.
— Nem adianta, peão. Vamos. Vamos trabalhar comigo,
esposo.
Essa pequena coisa gostosa e geniosa nasceu para ser
minha e de quebra tirar meu tino do lugar.

Quando chegamos ao pasto minha Catita desce da


caminhonete sem me esperar levando consigo sua caixa com soro e
medicamentos, o animal está separado das demais, o animal bufa, o
pescoço dela sangra e o rosto também, mas de antes iniciar
qualquer coisa ela vai até à cerca e assovia chamando atenção dos
cinco peões que falam sem parar.
— Preciso que os senhores verifiquem cada animal e os
separem dos demais, ela pode não ter sido a única, pode haver
outro de outra hora ou dias. Procurem por lesões aparentes, preciso
que verifiquem se animais com apatia, temperatura retal acima 39.8º
C, ou pele com sinais evidentes de necrose, há na caminhonete
termômetros e luvas, separem esses animais, você por favor, —
aponta para um peão que tira o chapéu em sinal de respeito —
preciso de um caminhão o quanto antes tirarmos ela do sol mais
fácil será evitar a dissolução do couro dela daqui a alguns dias. —
Meus peões olham abismados para ela em cima da cerca dando
ordens e porra eu fico orgulhoso e duro feito pedra, disfarçando
ajeito meu pau. — Acho que vou fazer algo que você não vai gostar,
peão, e vou precisar da sua ajuda, pegue as cordas, ela está
sentindo como se estivesse no inferno e o quanto mais rápido
aplicarmos a polivalente mais rápido isso vai melhorar.
Por que eu tenho a sensação que ela vai levar minha alma
com o que ela pretende fazer?

— Porra, Catarina. — Desvio do coice no exato momento que


ela agarra o couro da vaca e aplica o soro. — Ela dá um grito de
felicidade e eu breco o animal. Puxando as cordas e me afastando
— Precisa parar com essa porra de mania de agarrar boi na unha,
caralho — reclamo suado, vejo o caminhão da fazenda se
aproximar, olho para os peões que conferem os outros animais, se
fosse Lazico provavelmente me mandaria matar a vaca e dar
Ivermectina aos outros, velho filho da puta.
A porra da cobra foi esmagada provavelmente por outros
animais na hora que ela deve ter sido picada, a filha da puta deve
ter uns dois metros brincando. Catarina vai até a cobra e a pega,
com uma das pás que estavam na caminhonete da fazenda, vejo-a
estremecer, mas se mantém firme, isso deve estar sendo infernal
para ela e porra eu só quero tirar essa mulher daqui e abraçá-la.
Acabamos de casar e ela está agarrando boi na unha e
pegando cobra com uma pá. Porra, o quão geniosa minha pequena
doutora da língua afiada precisa ser? Meus homens a obedeceram
com um respeito que eles não têm nem comigo, firmes, sem
pestanejar enquanto ela ditava as ordens da cerca.
— Ela vai precisar de fluidoterapia[AEG74], mas por
enquanto a Dexametasona[AEG75] vai servir precisamos isolá-la e
começar a terapia com Mercepton[AEG76], a polivalente já vai
começar agir — ela fala, ofegante e suando, vindo em minha
direção toda suada e suja, os peões apartam a vaca e a colocam no
caminhão. Ela para e apoia a mão em meu peito. — O quão louco
vão ser os meus dias ao seu lado, peão?
Antes que eu responda um assovio chama minha atenção,
meu filho na caminhonete com meu irmão.
— Minha deixa, vou isolar essa linda e você fique e coloque
ordem nesses homens, vou pegar uma carona com eles. — Pisca
para mim e passa na mão na perna.
— Está com dor? — questiono e pego seu corpo, trazendo
até o meu ela suspira, a prótese dela ficou a noite toda carregando
no banheiro e eu descobri que essa linda mulher é capaz até de
correr e provavelmente me matar com um chute.
— O coto está pedindo alívio — ela diz, molinha em meus
braços, se referindo a perna. Quando meu irmão desce, dou a ele
as ordens e olho para ela.
— Vamos pra casa — digo, e ela suspira, Nelson sobe na
cerca e eu vou até à caminhonete pego meu boné e coloco na
cabeça dele, Bisteca e Costela vão em direção à árvore, mas eu os
chamo e eles vão para perto de Nelson.
— O quão mandão você é, peão? — ela questiona ao entrar
na caminhonete a primeira coisa que faz e tirar a prótese e respirar
aliviada, quando retira o silicone que sempre coloca; a pele está
vermelha e com marcas de esforço. — Nem comece, é meu
trabalho e você entraria em colapso se soubesse o que eu já fiz.
— Eu não ia dizer nada, moça, eu não ia dizer nada.
Lavo meus braços no tanque com os olhares do peão em
cima de mim, mordo meus lábios, provavelmente daqui para frente
nem dos nossos dias vão ser calmos, o medo ainda está em mim,
meu coto dói como uma dor fantasma e eu quero chorar, mas me
mantenho firme.
As lembranças são claras, e parece que eu posso sentir tudo,
posso reviver tudo em minha cabeça, subindo as escadas chorando,
me jogando contra os montes de feno e sentindo minha perna arder,
foi como fogo, queimando tudo, aos poucos eu fiquei mole, mas
consegui tirá-la da minha perna, com um dos ferros de amparar
feno, eu ainda consigo ouvir os ossos da cabeça dela sendo
esmagados e minha perna que sequer existe mais queima, queima
como fogo, jogo água em meu rosto, o verão está chegado forte e
as andorinhas cortam o céu, em uma linda revoada.
— Sabe que os acidentes botrópicos[AEG77] vão aumentar,
não é, peão? — digo e ele concorda sem dizer uma palavra, tiro
minha camisa e jogo água em meus seios. Os olhos dele descem
para meu sutiã rendados.
— Então estamos casados, moça? — Ele muda de assunto.
Desisto de dizer a ele que essa coisa é apenas uma união estável,
mas a quem eu quero enganar, meu coração disparou enquanto eu
assinava o papel, eu queria correr para o mais longe possível. O
que diabos eu estava fazendo, eu queria me convencer que
assinava o papel apenas por Nelson, mas estava claro que ali era
eu, a Catarina.
— É o que parece, peão. E ao invés de uma festa ganhei de
presente a maior cagada imensa da minha vida, precisei pegar com
uma pá o mesmo animal que arrancou minha perna, o quão filha da
puta é o destino, peão? — digo e tomo água da torneira, ele faz o
mesmo e tira a camisa, vem em minha direção e me empurra
pegando um pouco de água do tanque, ele joga água no peito
suado e vermelho pelo esforço, me fazendo morder os lábios.
Ele molhado como eu, me puxa para ele fazendo meu corpo
bater no dele, já são quase meio-dia e eu não fiz metade do que
prometi a Nelson que faria estou tentada a ceder aos encantos das
mãos calejadas desse peão.
A boca dele vem na minha e todo meu corpo estremece de
necessidade, o medo que eu sentia parece que se vai num piscar de
olhos eu estou como manteiga derretida em seus braços.
Sinto minha calcinha molhar ainda mais quando ele força a
mão em meu jeans, me fazendo suspirar.
— Lua de mel ao meio-dia, linda. — Ele abre o botão do meu
jeans e antes que eu possa raciocinar ele está de joelhos no chão,
olhos para lados com medo que alguém veja, mas tudo que eu
posso ouvir é vento fraco e os animais, me fazendo esquecer a dor
que eu sentia.
— José... — advirto tentando me afastar, mas ele me
empurra contra o tanque e me faz suspirar, olho em seus olhos e
eles estão escuros. Ele desce meus jeans e beija minha coxa e
desce a mão pela prótese me fazendo suspirar.
— Quero você desde a hora que assinou a porra dos papéis.
Você está molhada. — Ele traça os dedos pela renda fina da minha
calcinha. E ele ri ao perceber isso passando a língua nos lábios,
sem que eu espere ele desce a calcinha e ergue minha prótese me
deixando nua e exposta para ele. Meu rosto cora de desejo e
vergonha, mas aperto firme a beirada do tanque.
Minha respiração falha, fecho os olhos e minha cabeça pende
para trás um gemido escapa dos meus lábios. Posso sentir ele
brincar com minha pele me fazendo ainda mais molhada, ofego
gemendo alto quando a língua do meu peão gira em torno do meu
clitóris enquanto ele me chupa de forma bruta eu apenas geme e
me derreto ao meu Zé, meu peão, minhas unhas se arrastam pelos
cabelos dele, que rosna a mão dele segura minha prótese com mais
firmeza e eu resfôlego.
— Goza, minha potranca. — Quanto mais ele brinca com
meu clitóris mais meu corpo se derrete, ele sabe aonde ir, ele me
conhece e sabe como me fazer sentir tudo isso, meu corpo é levado
apenas pelo prazer e eu só consigo chamar seu nome. Meu corpo
inteiro fica tenso e eu grito de prazer, segurando os ombros de Zé
quando o clímax troveja pelo meu corpo e a língua dele brinca na
minha entrada me fazendo gemer e me desfazer, levando o que
restou, ele me limpa me levando em sua língua, meu rosto cora e
minha pele queima.
Quando ele me solta minha perna treme, e eu me apoio no
tanque, ele deposita um beijo em meu quadril e a barba melada rela
em minha pele. Ele sobe, subindo minha calcinha e o jeans no
processo, gemo quando o material toca a pele ardida que quer mais
dele, porque diabos ele tem tanto poder sobre mim?
Quando ele fica cara a cara comigo ele geme e envolve sua
mão em volta da minha nuca, me puxando para ele à sua maneira,
bruta, suja e Zé Vicente de ser. Seus lábios batem contra os meus
em uma frenética e desesperada esperança de dar mais prazer a
mim, sinto meu gosto agridoce em seus lábios, provando de mim
mesma e me derreto em seus braços.
— Você é uma perdição, peão — digo, ofegante, ele puxa
meus lábios com os dentes e me dá um sorriso sujo.
— Você que tem o gosto doce, moça. — Ele pisca e toca meu
rosto. — Eu tenho um orgulho de você que não faz ideia, eu quero
espancar essa sua bunda toda vez que se mete a agarrar boi na
unha. — Meus dedos vão para fivela da cinta, e descem apertando
o jeans duro e cheio dele, ele fecha os olhos e geme.
— Se eu agarrar aqui, ainda vai querer espancar minha
bunda? — provoco, sentindo meu rosto corar. Ele pega em minha
bunda e sova me fazendo gemer. — Precisamos ir à cidade, peão.
— E depois que eu voltar e nosso fio dormir eu não vou sair
tão cedo de dentro de você, moça bonita. — Ela olha para mim e
sorri.
— Nosso filho — Eu digo, molinha em meus braços.
— Nosso fio.

— José — advirto. Ele me olha com o maldito olhar de gato e


me provoca. A mão dele desliza pela pele da minha coxa, eu sabia
que quando ele pediu para que eu colocasse um vestido não seria
para nada puro. Engulo em seco e Nelson me oferece seu sorvete.
Aceito e lhe dou o meu, ele volta a negar, ele pediu um picolé de
morango e uma casquinha de chocolate, sentados na praça ele
divide o picolé entre Costela e Bisteca, uma lambida para cada um,
estamos sendo alvo dos olhares das fofoqueiras, depois que a RAM
parou foi o prazo de cinco minutos e a praça lotou de velhas e de
fofoqueiras sem serviço útil.
— Estou dando um motivo para elas falarem — ele diz ao
meu lado, lambendo meu sorvete e fazendo careta, ele odeia
chocolate, o único sorvete que ele gosta é o picolé de milho-verde, e
ele já está no quarto enquanto eu ainda não cheguei na metade da
casquinha. José Vicente realmente comprou todo a loja infantil da
cidade, agora nosso menino usa uma regata branca com a logo de
um cavalo, uma bermuda e uma sandália de couro, sentado na
grama e tenta chupar o sorvete e decifrar o cubo mágico, de todos
os brinquedos da pequena loja ele pediu apenas uma bola e um
cubo magico, mesmo José querendo trazer todo o resto.
— Menino José, não acreditei quando disseram que ocês
tinham casado. — Uma senhora que eu não me lembro nome para à
nossa frente, mas olha com cara de nojo para Nelson. — A cidade
toda está comentando que ocês modi[AEG78] adotaram um menino
de cor e que anda roubando por aí?
— Só uma pergunta, dona? — A voz dele engrossa, merda lá
vem coice. — A senhora já lavou atrás das oreia hoje? — Mordo os
lábios tentando não rir. A senhora nos olha com ódio segurando um
terço.
— Que Deus o abençoe. — Ela tem a audácia de fazer o
sinal da cruz em nossa frente, olho para Zé que junta as mãos em
forma de bença.
— Amém, a senhora também. — Ele dá um sorriso tão
cretino que eu não aguento e começo a rir. A senhora sai pisando
duro indo em direção a um grupo de senhoras que começam a nos
olhar escandalizadas.
— Oreia, José? — questiono, rindo, olhando para meu
menino que sequer nota a velha, está deitado na grama e lida com o
cubo mágico, Costela está deitado em suas pernas e Bisteca
esticado de barriga para cima, tiro meu celular do bolso e registro a
foto. Ele toma o celular da minha mão vira a câmera morde meu
rosto e bate a foto antes que eu possa impedir.
— Precisa lavar bem lavado, o radar da cidade precisa ficar
atualizo, meu amor. — Ele beija meus lábios e começa a mexer em
meu celular. — Achei que seria movimentado — ele provoca, se
referindo ao meu celular.
— Não me diga que está procurando chifre em cabeça de
cavalo? — Rio e passo a mão em sua barba.
— Você sente falta da cidade grande? — Nesse exato
momento uma revoada de andorinhas passa por nós em direção à
barreira, sorrio e nego. — Do movimento, dos barulhos?
— Não tem como sentir falta de um lugar que nunca me fez
feliz, mesmo que a felicidade seja feita de momentos, e esses eu
tive momentos felizes? Não posso negar, faltaram pessoas, faltou
propósito, faltou eu viver minha história e não tentar procurar em
outros lugares o que eu só pude encontrar aqui. — Ele passa a mão
por meus ombros e me abraça, ele me puxa colocando minha
prótese sobre sua coxa. — A vida me ensinou que erros só vão
doer se permitimos, Zé. Deixe isso pra trás, peão, deixe esse medo
de lado.
— E se você pegar os três e for embora? Acha que esse vira-
lata vai querer ficar em uma casa fria comigo e com uma lata de
Brahma como companhia? — A voz bruta soa pequena diante do
trovão que sempre é.
— Mas quem disse que eu quero ir, José Vicente? Juntamos
as coisas e agora temos um filho para criar, isso deve significar algo
— digo, e coloco minha cabeça em seu ombro e balanço o dedo
com a linda aliança, dentro a data de casamento dos meus
padrinhos e eles querem que gravemos o dia de hoje nela.
— Significa mais do que você pode imaginar, moça. Teu lugar
é na fazenda, Catita, mandando nos meus peões e no meu coração.

As semanas se passaram tão rápido que quando vemos


finalmente os papéis ficaram prontos e Nelson agora oficialmente
tem nosso nome, mas infelizmente ele não poderá iniciar os estudos
ainda, pois estamos ainda no meio das férias de julho, mas Zé quer
que ele vá assim que o novo ano começar, ele está animado com a
ideia, de poder ler, ele sempre me ajuda a separar os papéis e
prontuários dos animais, está comigo ou com alguém o tempo todo,
ontem Nelson, Bisteca, Costela e José passaram o dia todo dentro
da colheitadeira, a colheita de milho já começou e logo a festa do
milho-verde chega.
Apareceram mais duas jararacas e com isso meu medo
triplicou, mas firme eu e Manoel as capturamos e chamamos o
IBAMA, mesmo com alguns peões querendo abater as cobras, isso
não é justo, elas atacam apenas quando se sentem ameaçadas e
nós estamos no espaço delas, e não o contrário, Nelson sempre que
está lá fora usa um par de perneiras[AEG79], que Zé fez questão de
pedir várias do tamanho dele e do meu tamanho também, na casa
do agricultor em Cerrado.
Zé está distante e cansado, saí cedo e volta tarde e ele tem
trabalhado dobrado, suspiro terminado de tomar o café de Conça,
tem algo errado e eu pretendo descobrir o que é.
Mas agora ele passa mais tempo no escritório da sede do
que fora, com a colheita chegando ao fim, agora meu peão virou um
homem de negócios, assinando papéis e fazendo telefonemas, não
vou mentir, mas ouvir ele dar ordens no telefone me faz excitada e
doente para que ele me toque. Volto a realidade com a voz de
Nelson.
— Não vou tomar isso não — Meu filho reclama, e eu ri.
— Ah, mas trate de se portar, peste, e vai virar tudo, ande,
numa golada. Vamos. — Conça volta a lhe dar o enorme copo.
Nelsinho torce o nariz cheirando vitamina de ovo de pata com
biotônico e leite condensado[AEG80] que Conça mesmo fez da
primeira tirada de leite do dia, eu rio ela me olha feio, ele cheira o
copo duas vezes, ela tira um pregador do bolso e coloca no nariz
dele, Zé entra pela porta da cozinha com seu perfume, por um
milagre meu peão está limpo e com uma carranca enorme, ele odeia
os papéis e com Manoel na cidade resolvendo as pendências da
fazenda no cartório, ele que assume o lugar do irmão. Ele para na
soleira da porta tirando o chapéu em sinal de respeito e começa rir
ao notar a saia justa em que estamos, Nelson em meu colo, se
negando a tomar a vitamina, que eu quando criança tomei várias e
José Vicente e José Manoel também.
— Ocê precisa de sustância, fio. — Ontem ela lhe deu alho
com hortelã para as lombrigas e hoje a vitamina, na segunda-feira
eu e Zé, recebemos o doutor e ele já fez os exames em Nelson lhe
indicando vitaminas, além do baixo peso ele está com desnutrição,
mas pelo andar da carruagem logo ele estará bem, já que Conça
está usando suas receitas nele, inclusive seus benzimentos, pois
segundo ela ele estava com o bucho virado.
Zé me olha e dá um sorriso de lado pegando um copo e
virando uma dose de café preto.
— Dia — ele diz com sua voz xucra e grossa, e vem em
minha direção deixando um beijo em minha testa.
Eu não o vi sair da cama, o semblante cansado dele chama
minha atenção, seu cavalo Shire chega até o final do mês após
todos os tramites serem acertados e eu e mais dois veterinários
estaremos prontos na baia para recebê-lo, infelizmente Manoel
precisou ir ao cartório comprovar mais alguns documentos com
Mabel e pelo andar da carruagem, ela quer passar com a carruagem
por cima dele, e eu irei verificar uma ovelha que está próxima de
parir, e começar a doma do novo cavalo, as semanas se passaram
tão rápidas que eu e Zé mal tivemos tempo para ficarmos juntos, ele
sempre tem a mão em minha calcinha, mas eu nunca consigo fazer
nada por ele. Mas já que ele realmente quer levar esse negócio de
casamento a sério, eu tive uma ideia. Ele não precisa fazer nada do
que faz, mas mesmo assim o faz. Essa estranheza dele está me
deixando com um pé atrás, e eu não quero levar isso adiante se
houver mentiras entre nós dois.
Não há muitos lugares para se ir além do Gata Dourada em
Cerrado, mas eu tive uma ideia idiota o suficiente para tirar esse
peão dos trilhos hoje à noite, começando tudo começa com uma
garrafa de Velho Barreiro [AEG81]e ele e eu no Madimbum.
— Dia, moço. — Me levanto, meu coto tem doído mais nos
últimos dias, mas eu não disse nada, afinal todo o esforço de
verificar o gado não está sendo fácil, são muitos animais e porra. Eu
estou amando isso e ficar apenas no escritório enquanto há outros
lá fora fazendo meu trabalho nunca foi minha intenção.
Eu me levanto e mordo os lábios passando por Zé.
— Pelo visto acordou virado no diabo, peão de escritório? —
provoco.
— Ainda vai me tirar o tino do lugar, moça — ele rosna e
seus olhos descem por meu corpo.
— Essa é a ideia, meu peão — digo a última parte baixinho, e
ele dá um sorriso.
Odeio fazer a porra do trabalho no escritório, meu lugar é lá
fora, olho da janela do grande escritório da sede e viro a dose de
conhaque num gole, os papéis em minha mesa precisam ser
assinados, pedidos precisam ser feitos e a compra do maquinário
está demorando e toda a colheita começou e tivemos uma safra
com mais de mil e quinhentas sacas de milho, os preços baixaram
quando plantamos, foram dezenove hectares plantados, e cada
hectare pode comportar de 60 a 83 sacas em uma boa safra. A saca
agora está chegando a quase $150,00 e meu irmão estamos quase
tomando banho de milho, e eu me orgulho disso, do quão bom
somos no que fazemos, seja no que for eu e ele estamos
enriquecendo nosso nome e juntos vamos deixar nossa marca.
Somos bons no que fazemos e o abeia do meu irmão sabe disso.
Me sentindo sufocado, eu abro a janela, mas paro ao ver o
trio sentado perto do pomar chupando mexerica, Nelson mudou
muito, mas pouco fala, é educado, abraça e agradece, pede com
educação e fala baixo, mas ele ainda não é o menino aventureiro
que eu quero que ele seja. Saio do escritório e vou cumprimentando
as empregadas que ajudam Conça pelo caminho, apenas com um
aceno de cabeça, chego à cozinha e pego nos ombros de Conça.
— Mas é um bicho custoso, menino. — Eu a abraço e olho
para o doce no tacho.
— Você é linda por demais, Concinha. — Beijo seu rosto e
vou em direção ao pomar, cumprimentando os peões pelo caminho,
pelo visto minha mulher deve estar metida com algum bicho, pois
desde cedo eu não a vi.
— Eu sempre acreditei em Deus, mas teve uma vez, eu ainda
era piá de nada [AEG82][AEG83]quando eu ouvi essa história, gosta
de histórias? — Eu digo e me sento no toco ao lado de Nelson. —
Foi uma mulher que me contou, estava de passagem e pediu pouso
na fazenda e eu nem era nascido, mas me diga já ouviu falar em
preto veio? [AEG84]
Ele sempre está comigo ou com meu irmão, ou atrás do meu
pai, de olho em que fazemos, ele termina de descascar a mexerica
e me olha e nega, o semblante dele já mudou, mas, ainda assim, há
uma tristeza lá no fundo dos seus olhos. Ele me oferece e eu pego
um gomo. Mas ele pouco fala.
— Ela me disse que um dia um menino, do seu tamanho, do
tamanho que eu já fui um dia encontrou um velho, um velho que
vestia branco e pitava um cachimbo, e a cada sorriso do velho o sol
parecia que brilhava mais forte na cabeça do menino. — Ele me
olha com os olhos brilhando, e eu forço a memória para lembrar a
história. — O menino estava cansado de tanto andar, pois já não
tinha mais para aonde ir, ele rodou o mundo e não achou a paz. Ai o
preto velho a ele perguntou “Suncê já viu o mar, fio?” o menino
negou, e o velho a ele descreveu o mar e com essas palavras disse:
“Suncê já ouviu aquela frase: Mar calmo nunca fez bom navegador?
E é isso mesmo, fio. Nada é por acaso, toda situação difícil é para
nos deixar mais fortes, porque Deus nos prepara a todo instante,
mesmo que muitas das vezes não possamos entender. Seja forte,
lute, lute pelo que suncê acredita e lute por suncê, porque suncê
merece ser feliz e suncê vai chegar lá na frente, olhar para trás e
perceber que o caminho só te fortaleceu. Porque mesmo que a
tempestade seja forte, ela é apenas para te fazer florescer."
Quando eu termino de contar a história Conça se senta ao
lado de Nelson e pega as mãos dele. Como um dia ela fez comigo,
aquilo me marcou eu tinha sete anos, a idade dele, e lembro disso
até hoje e agora olhando pra ele, tem algo lá dentro que está
machucando-o e ele não quer dizer.
— Tem uma história assim, fio: você precisa ser forte igual ao
bambu, o bambu é uma das plantas mais fortes que existe no
mundo inteiro porque ela cresce sete metros abaixo da terra e
depois sete metros acima da terra, por isso quando vem
tempestades tão fortes, mas tão fortes ela enverga até o chão, mas
ela volta com toda firmeza para cima, esse é você, Nelson, é o
bambu porque veio muitas tempestades e você tá firme e forte e
esse é o grande conselho de um preto velho. [AEG85]— Nelson
arregala os olhos e se levanta chamando atenção de Bisteca e
Costela que estão deitados a sombra da mexeriqueira. [AEG86]
— É a senhora que pediu pouso[AEG87] e contou a história
do menino — ele diz com os olhos brilhando e se mexe inquieto com
um sorriso no rosto. — Quem era o menino que andava pelo mundo,
Conça? — ele pergunta, e a abraça que devolve o afago com os
olhos cheios de lágrimas. Ela dá uma risada, a risada da Conça é
cheia de ensinamentos.
— Meu bisavô, fio.

— Vai chorar toda vez que Conça contar essa história? —


Meu moranguinho passa a mão em meu rosto, deixei Conça e
Nelson e fui em direção à casa grande, mas parei ao notar que
minha mulher estava encostada na cerca com a camisa suja de
barro e o short curto também sujo, ela devia estar lidando com
algum bezerro. Ela limpa meu rosto e afugenta as lágrimas grossas
dos meus olhos. — Que tal darmos uma volta e me contar o que
está te atormentando, meu peão?
Ela anda em minha frente e minhas mãos queimam para
tocá-la, diacho eu não consigo pensar em nada que não seja foder
essa pequena mulher, eu mal tenho tempo para tocá-la, está saindo
lida[AEG88] da beira do meu cu, ou sempre há alguém por perto me
trazendo problemas para resolver, quando entramos no estábulo a
primeira coisa que eu faço e agarrar essa coisinha arisca que tem
me deixado louco. Vejo os dois cavalos selados e olho para ela.
— Apenas um cavalo — sentencio, e ela estremece quando
meus dedos seguram seu pescoço trazendo sua boquinha para
minha, foda, eu amo essa mulher em meus braços, ronrono em sua
boca puxando os lábios com os dentes, minha boca brinca com a
dela e ela geme, para garantir que minhas palavras sejam a última
coisa a ser dita, eu sei o que ela quer.
Geme choraminga, mas ela também não diz nada, apenas
morde os lábios e ofega quando minhas mãos até a sua bunda,
meus olhos correm para a prótese, diferente da outra essa pode ser
molhada, e essa coisinha gostosa em minha frente tem ideias sujas
e eu tenho certeza quando ela sobe no cavalo e eu vejo a porra da
calcinha minúscula aparecer quando o short preto desce um pouco,
o pano rendado mal deve cobrir sua boceta.
Quando subo atrás dela, a bunda cheia se encaixa em minha,
estou duro e cheiro de desejo por ela, a ideia suja brilha em minha
mente, assumo as rédeas do ganharão e saímos do estábulo.
— Nem pense nisso, peão. — Antes que ela processe minha
ideia suja, instigo o garanhão em direção à cerca e ele salta,
fazendo-a me xingar e rir, e como há malditos dez anos me sinto um
rapaz de novo, mas agora eu tenho certeza do que quero e cabelos
brancos, eu amo essa potranca e ela está me dando tudo que eu
desisti de ter.
Quero pôr um filho nela, quero dar a ela tudo que ela quiser,
quantas crianças quiser, quero pôr em seu rosto quantos sorrisos eu
puder.
Quero amar essa mulher, até o final dos meus dias, deixar
meu legado nesse lugar ao lado dela, como minha patroa, eles
podem me chamar de patrão, mas a única que manda em minha é
essa pequena mulher cheia de curvas que se encaixa em meu
corpo grande e desajeitado, ela é minha, nasceu para ser, se foi
Deus ou o destino, eu não sei, mas eu amo essa pequena mulher
que tem cuidado da fazenda, ela ama os animais.
E porra, ela é o que faltava na minha vida, foram meus
malditos erros que a afastaram, meus enganos, minha ignorância e
minha cabeça dura e orgulhosa. Tudo isso ainda existe, mas agora
não há mais espaço para meias-verdades ou mentiras, há espaço
para nós dois e a família que vamos ter.
Quando eu já estou longe o suficiente da sede, eu vejo
alguns peões separando o gado, disfarço e dou com a mão para
eles.
— Segure as rédeas e nos leve para a cachoeira, moça. Tô
morto de saudades de você. — Quando ela o faz minhas mãos vão
para o botão do short dela, e ela ofega.
— Peão... — A voz pode até soar uma advertência, mas eu
sei que vou encontrar ela molhada pronta pra mim assim que meus
dedos tocarem a porra da renda que ela chama de calcinha.
— Aquieta, moça — digo e deslizo meus dedos para dentro
do short, o galope do marchador faz tudo ficar ainda mais fodido.
Porra, ela fala meu nome de forma brusca, rouca, já cheia de
tesão. O calor úmido atinge meus dedos quando encontro a renda
úmida, escorrendo pelos meus dedos, porra muito molhada.
— Quer que eu te toque, moça? — Pergunto e brinco com
seu mel enquanto ela assente com um leve pender da cabeça em
meu ombro, eu sorrio e faço meus dedos irem para o paraíso. Estou
morrendo de vontade de fazê-la gozar desde que botei os pés fora
da cama hoje cedo, eu quero essa pequena doutora durona, e estou
morrendo de vontade de provar o que ela faz, enquanto guia o
animal em um ritmo firme brinco com sua boceta, provocando-a
cada vez mais alto, até que eu a sinto começar a tremer por mim.
Meu dedo resvala sobre o pequeno nó duro e ela suspira.
— Não quero que goze, linda, apenas sinta, só vai vir em
minha boca, pequena gata arisca — digo, e ela coloca a cabeça em
meu ombro, planto beijos molhados ali e deixo meus dedos
brincarem, ela treme e força o corpo no meu, o garanhão galopa
firme pela mata e ela ofega quando entramos em uma das trilhas
particulares que eu mandei fazer, essa cachoeira está em minhas
terras, mas é raro ver alguém aqui, muito raro, já que todos nunca
testaram a paciência que eu não tenho, o lugar é lindo, não há um
lixo e eu não vou permitir que ciclistas ou bêbados venham
perturbar essas águas.
Mesmo tendo leis que dizem que elas são públicas, ninguém
é louco o suficiente para cortar meus pastos cheio de gado nelore
para chegar até aqui, depois que ela passa divisa do Paraná ela já
não é mais minha responsabilidade, mas enquanto eu for dono ele
lugar será preservado e intocado.
Ela para o cavalo perto de uma árvore, rapidamente desço e
a ajudo a fazer o mesmo, amarro o garanhão na árvore, Catita
desce o short e quando retira a blusa os seios pulam nus, ela tira as
botas e apenas com a minúscula calcinha enfiada na funda grande
vai até à água.
— Vai apenas ficar me olhando, peão de escritório? — Tiro
minha roupa o mais rápido que posso, ficando apenas de cueca,
vou em direção a parte mais rasa e que não há pedras e me jogo na
água, fazendo-a dar um gritinho, mergulho e quando volto a
superfície agarro sua cintura e ela suspira, minha boca captura a
dela em um beijo doce, às vezes ainda duvido que ela está aqui
comigo e me deu um filho e pode ter outro na barriga agora.
— Para com essa de peão de escritório, moça arisca —
reclamo, contra sua boca, trazendo seu corpo ainda para mais perto
do meu, ela ofega e geme quando me sente duro em sua coxa.
— Meu fazendeiro de escritório? — brinca, e passa as mãos
pelo meu pescoço.
— Você é incrível, moça, e minha — digo e pressiono meus
lábios contra os dela, que corresponde na mesma intensidade, tomo
conta da sua boquinha esperta e minha língua brinca com a sua
fazendo uma onda de calor subir pelo meu corpo. Minha boca
devora a sua, mas com essa mulher até um simples beijo me leva
ao limite.
Nosso primeiro beijo há mais de quinze anos foi o suficiente
para me fazer ficar apaixonado, mas é sempre como se fosse a
primeira vez, meu coração dispara desgovernado no peito, sentindo
seu corpo quente contra o meu, quero tudo dela, sempre mais do
seu gosto, então movo minha boca para baixo, deixando meus
dentes marcarem a pele marcada do sol, ela ofega em meus braços
jogando a cabeça para trás, a água da cachoeira bate em nós e
porra isso é o paraíso, meus dedos se movem para calcinha dela e
a afasto. Brinco com seu clitóris e saqueio a pele molhada dos seus
seios pegando tudo que posso no caminho.
Ela geme e entra na água que fica cada vez mais quente, a
perna dela cruza minha cintura fazendo sua boceta roçar meu pau e
antes que eu possa racionar estou saindo com ela da água, pego
minha camisa e a jogo no chão.
Meu corpo molhado cobre o dela, ela ofega, mas ela empurra
meu peito e eu me afasto.
Tento respirar, deslizo as mãos pelo tatuado e queimado pela
lida no sol sem camisa, meu peão me olha confuso e rosna.
— Você é minha, ainda vai negar isso? — Rio e toco seu
rosto, ele roça a barba em minha mão e fecha os olhos notando que
eu não estou o rejeitando.
— Sou sua, peão, mas que tal me contar o que está deixando
esses olhos de trovão ainda mais tempestuosos?
Ele cai na grama e eu me levanto, ajeito minha prótese e a
brisa da cachoeira bate em meus seios nus, tento deixar a vergonha
de lado, mas os olhos dele me comem, o que se torna impossível
não corar. A revoada de andorinhas passa sobre nós dois e se
esconde atrás da cachoeira, me fazendo sorrir.
— Com você desse jeito é difícil pensar no que realmente
está tirando meu sono, moça. — Inclino meu corpo no seu deitando
a cabeça em seu peito, ele puxa a prótese e coloca ela em cima de
sua coxa, ela logo vai estar seca e isso tem virado um hábito dele,
sempre que se senta perto de mim coloca minha prótese sobre sua
coxa e se o lugar não permite me coloca em seu colo. — Queria
poder saber o que se passa na cabeça do nosso menino, ele está
sempre quieto demais, tenho medo de ele não me querer como pai
dele.
— Zé, vai fazer um mês daqui a alguns dias que o mundo
todo dele virou de ponta cabeça assim como o nosso, ele saiu de
uma vida de miséria para uma vida de fartura, ele vai se abrir aos
poucos, Zé, ele é como um cavalo selvagem que foi lhe imposto
doma tradicional, ele pode até confiar em nós dois e em todos ao
seu redor, mas ele ainda está ferido demais, palavras que foram
ditas a ele e mesmo que tenhamos dado amor a ele diariamente,
ainda vão feri-lo, pois infelizmente para uma criança como ele
palavras duras agora valem mais do palavras doces e de confiança,
você é pai dele desde o dia que topou essa loucura comigo, peão, e
isso só mostra o quão grande é esse coração, pode dar uma de boi
bravo ou cavalo coiceiro, mas eu sei o valor desse coração e é isso
que eu sempre amei e amo em você, José Vicente.
Pela cara dele, de tudo que eu disse ele apenas assimilou o
eu te amo. Para que diabos eu vou negar que amo esse cavalo
doce em minha frente? Quem o vê de fora, o chama de xucro, há
matérias na internet que mencionam sua dureza e seu jeito
arrogante como ele o colocam, mas não há nada disso.
— Você disse o que disse, ou meu ouvido tá com água? —
Ele se levanta e me leva junto, bate na cabeça para conferir se
realmente não tem água em seus ouvidos e antes que eu possa tirar
com a cara dele a boca dele está na minha em um beijo quente,
cheio de amor e necessidade.
O desejo entre nós dois se acende e eu me entrego a ele, ele
me puxa fazendo com que eu meu corpo se encaixe no seu, mas
esse peão ainda não vai me ter, é hora de ele ter um presente
atrasado de casamento, me afasto e ele rosna.
— Para de me negar, porra. — Dou um sorriso e o empurro
contra a grama, sei que jamais terei forças para empurrar um
homem como ele, mas ela cai fazendo minha vontade.
— Quietinho, peão — digo, meus lábios traçam sua
mandíbula tensa, seus suspiros se intensificam.
E quando minha boca roça a dele de leve, mudo de direção e
ele resmunga, mas mesmo assim curte o carinho, ele geme vou
dando beijos molhados na pele quente e úmida do seu pescoço, Zé
sempre foi o meu Zé, o gemido rouco dele escapa me deixando
mais excitada, meu interior pulsa, mas isso agora é para esse peão
tenso, meus beijos descem para os ombros tenso e nervosos,
quando olho pra cima ele está com uma cara de prazer revolta e os
olhos fechados.
Meus lábios marcam o peito queimado de sol, sei que meus
beijos e mordidas vão deixar marca e pelo gemido baixo dele ele
não parece se importar.
Seu tanquinho duro e cheio de gominho estremece e ele
geme meu nome baixinho, faço algo que há muito tempo quero
fazer, desço a cueca do meu peão com os dentes e ele abre os
olhos se dando conta do que eu vou fazer.
— Catarina. — A advertência soa como um trovão, a voz
grossa cheia de tesão, o desejo queima seus olhos perigosos de
gato, meu sorriso faz o corpo tenso relaxar.
— Que tal eu aliviar essa tensão, peão? — ele geme em
resposta, seu membro quente, duro e grande, pulsa em minha mão
e os dedos de Zé afundam na grama. Meus dedos enrolam em torno
dele e ele geme rouco, ajeito minha prótese contra a grama, e
quando eu me inclino, ele está lá bem na frente do meu rosto, seu
pau pulsa e molha levemente minha mão me fazendo salivar.
Abro meus lábios, deslizo-os sobre ele, que geme, Zé rosna e
pega meus cabelos, minha língua traça as veias grossas dele como
um mapa e ele respira com dificuldade, eu gemo ao redor, sentindo-
o tremer e pulsar contra a minha língua, a ponta da minha língua
desliza sobre a pequena fenda que já está úmida com o pré-gozo e
ele geme, me inclino mais e o levo em minha boca, tomando tudo
que posso.
— Vai me fazer gozar se continuar com isso porra — ele
rosna rouco, e se afunda ainda mais em meus lábios, me afasto um
pouco e o levo subindo e descendo minha mão.
— Deixe vir, peão, estou morta de sede. — Antes que ele
retruque minha boca está de volta nele, ele geme suspirando meu
nome, juntando meu cabelo em um rabo de cavalo Zé me faz olhar
em sua direção, bruto, choramingo contra ele me sentindo ainda
mais molhada e pronta pra ele.
— Engole, então porra. — Ele estreme sua perna forte
também, ele vem cítrico em meus lábios, quente eu engulo tudo e o
limpo, seu prazer ainda tem o mesmo gosto cítrico como eu me
lembrava, como as frutas do pomar no verão, quando eu termino
tenho a plena certeza de que meu rosto está corado, Zé me puxa
para cima fazendo minha prótese bater em sua perna, eu tento me
afastar com medo de machucá-lo, mas ele me impede me levando
em um beijo com o gosto dele, sinto os dedos dele invadirem minha
calcinha, que já secou pelo sol, no entanto, está encharca por ele.
— Minha vez, moça.
Meu peão volta a me beijar, seus beijos sempre são intensos
como ele mesmo diz, brasa quente, muito quente, Zé desce os
beijos para meu queixo e me atormenta como eu fiz com ele. Ele
devora meus seios de forma única, meu corpo quer mais e mais
dele, tremo de antecipação.
Quando os dedos dele arrebentam minha fina calcinha eu
ofego, mas sequer consigo brigar o que ele mais tem feito é
arrebentar minhas calcinhas como se não fossem nada, às vezes
puxando e marcando minha pele.
Antes que eu possa pensar direito, sua língua bruta brinca
entre minhas pernas separando minhas dobras meladas, eu coro
profundamente, meu rosto queima quando ele brinca com meu
ponto sensível ele sabe exatamente aonde ir e vai, e Deus, ele
realmente me come como se eu fosse sua comida favorita. Sua
língua brinca com meu clitóris antes de deslizar dois dedos para
dentro de mim.
Ele chupa no ritmo em que seus dedos calejados me levam
como se fosse ele, todo enterrado entre minhas coxas, sinto o dedo
dele brincar comigo, lá em meu pequeno buraco, ele é único que já
esteve lá e quero que ele me leve por trás como fez muitas vezes,
ofegando e implorando por mais, chamo seu nome. Eu sinto o
prazer se construir e ele vai levar cada gota, sei que ele quer isso,
enquanto ele me leva.
— Deixe vir, linda. Não seria justo me deixar com sede — ele
diz, usando minhas próprias palavras contra mim me fazendo
gemer, quando o prazer atravessa meu corpo, meu corpo fica
trêmulo e choramingo alto, sem me importar, Zé me lambe levando
tudo de forma bruta, ele me segura mantendo minha coxa e minha
prótese no lugar à sua mercê.
Suada eu tento respirar quando ele se afasta com um sorriso
arrogante no rosto seu corpo cobre o meu, ofego quando ele me
beija me deixando sem ar, sentindo meu próprio gosto em seus
lábios, ele se afasta e nu me ajuda a ficar em pé, quando outra
revoada de andorinhas passam ele sorri.
— Que tal eu dar um banho de cachoeira nessa bocetinha
arisca e irmos para o nosso menino? — Sem esperar por ele, eu
vou em direção a cachoeira.
— Está esperando o que para vir me lavar, peão do mato. —
Passo a língua por meus lábios e ele geme, sem pudor algum se
acaricia ainda semiduro e corre em minha direção me pegando no
colo.
— Eu já sou enorme e com a prótese fico o dobro me coloca
no chão, peão. — Ele solta um palavrão e pula na água na parte
funda comigo em seus braços. Quando voltamos à superfície ele me
pega nos braços me prendendo.
— Diz que me ama, moça tinhosa. — Pede fazendo um beiço
enorme, passo meus braços por seu pescoço e pego seus lábios em
meus dentes.
— Te amo, peão. — Solto seus lábios e ele me abraça. — Te
amo tanto que dói, se errarmos vamos consertar, quero que você
seja meu norte e que eu possa ser sul e que assim como Nelson, se
você me embuchar. — Rio e ele me olha sacana. — Eles se tornem
nosso leste e o oeste, a bússola sempre aponta para o norte, mas
ainda há cantos que a completam. — Pisco e ele me olha cheio de
si, mergulho e me afasto dele, nadando com certa dificuldade para
longe dele, e quando ressurjo ele está longe sentado nu em uma
pedra, duro e com certeza querendo terminar o que começamos. Eu
tento flutuar e nado em sua direção saindo da água ele me ajuda e
me beija me colocando sentada em seu colo eu gemo ao sentir ele
duro.
— Uma trepada rapidinha, minha moça. — Apenas concordo
tomando seus lábios nos meus, e antes que eu pense ele já está me
levando para grama e está dentro de mim me fazendo sua.

Quando chegamos a sede, meu peão me desce e vai em


direção aos estábulos, meu menino corre em minha direção
esbaforido com Costela nos braços sendo seguido por Bisteca. Que
late e balança o rabo, meu gato gordo sendo carregado feito um
saco de batatas sequer reclama, pois não precisa nem correr.
— Mamãe? Mãe? — Ele grita alegre e meu coração dispara,
quando ele solta Costela e me abraça meu joelho cede e a prótese
dobra, então o abraço. — Onde você estava? Por que você está
chorando? Eu não te chamo mais de mãe, eu juro e... você sumiu e
senti saudades e...
— Lógico que eu sou sua mãe, filho, lógico que eu sou sua
mãe. — Choro e rio feito uma boba trazendo a atenção de alguns
peões para mim no chão com Nelson em meus braços, Bisteca late
e abana o rabo em cima de nós dois, Costela se esfrega, eles
parecem saber que isso é mais do que eu poderia esperar. Deus,
sou sua mãe.
— Que diacho aconteceu porra? — A voz do Zé corta como
um trovão as vozes e os latidos de Bisteca, eu agarro meu menino e
olho para meu peão chorando feito uma doida, ele vem até nós dois
e se ajoelha. — Ele está machucando, o que aconteceu, diacho?
— Ele me chamou de mãe, ele me chamou de mãe, peão. —
Zé nos abraça e Nelson olha para o Zé pegando o rosto dele com as
pequenas mãos.
— Você vai ser meu pai também, né, Zé? — Eu olho para o
meu enorme peão, que fica vermelho, os olhos dele se enchem de
lágrimas, esse homem é apenas tamanho e aspereza, pois é uma
manteiga, ele pega o menino no colo, me fazendo rir entre lágrimas.
— Já tinha você pra mexer com meu coração, agora tem
esse piá. Se é meu herdeiro, menino. Meu primeiro herdeiro. — As
grossas lágrimas escorrem dos olhos de Zé e ele balança a cabeça.
— To ficando velho para essas coisas, qualquer coisa eu choro. —
Eu rio e beijo seus lábios.
— Já tem cabelos brancos, meu peão. — Nelson o abraça e
deixa um beijo em seu rosto.
— E a barba também, pai. — Os olhos do meu peão brilham
e ele me dá um sorriso arrogante, cheio de si e muito convencido,
ao estilo Zé Vicente Ferreira, o meu peão.
Agora esse menino desmontou esse peão de vez. Olho para
os meus meninos e para tudo à nossa volta, uma sensação de estar
completa de verdade parece mais real agora, pois meus meninos e
a dupla de meliantes de pelo são as minhas prioridades. Minha
família.
Vejo meu padrinho de longe chegando com minha madrinha
e Conça a tiracolo com uma das caminhonetes das fazendas cheias
de compras. Olho para Zé e sorrio, olho para minha Brasília, esse
peão vai ter que caber nela essa noite, com uma garrafa de Velho
Barreiro.
Tiro minha faca do bolso e sob os olhos atentos do Nelson
começo a entalhar a madeira.
— Nada de acertar passarinho, piá — oriento, e amarro os
elásticos e ele abraça minhas pernas, ele reúne algumas pedras do
chão e me olha.
— Se eu pedir a Conça me faz uma bolsinha? — Dou um
sorriso.
— Peça a ela um picuá, [AEG89] fio. — Ensino a ele mirando
em uma manga bem madura no alto da mangueira e a acerto,
derrubando-a no chão.
Ele tenta, mas erra e não desiste, me sento no chão e
descasco a manga para nós dois, vejo de longe Costela e Bisteca
correndo em nossa direção, ambos saíram de um pequeno capão
de mato, e ao me ver com a manga na mão se desesperam por um
pedaço.
— O senhor sempre quis ser fazendeiro? — questiona,
chupando o caroço da manga, vejo de longe minha mulher vir em
nossa direção com um lindo sorriso no rosto, ela está toda suja de
terra.
— Nunca pensei em outra coisa e o você o quer ser? —
pergunto, e quando minha mulher chega perto de nós dois eu coloco
a faca na bainha e jogo a faca na grama e a puxo, colocando-a em
meu colo.
— Quero ser doutor, igual minha mãe Catita. — Ele se joga
em cima de nós dois e abraça a mãe, que ri dele e beija seu rosto.
— Vocês quatro sumiram, por onde meus meninos andaram?
— ela pergunta e pega as mãos de Nelson.
— Fomos com os peões buscar cana, moça. Mas esse rapaz
decidiu que queria chupar cana e ver o gado do outro lado do rio —
explico, e Nelsinho ri, ele já consegue andar a cavalo sozinho, mas
para atravessarmos ele se foi comigo.
— E vocês dois perderam o jantar de Conça, estava uma
delícia. — Ainda em cima de nós dois, Nelsinho olha pra própria
barriguinha e ri.
— To cheio, oh, comi milho, chupei cana e tomei café na
dona Lazarina, mulher do seu Santino — meu filho explica por onde
passamos. — Ganhei um pedaço de bolo na casa da dona
Filomena, tinha goiaba. Trouxe para senhora num potinho de
margarina. — Ele ri e aponta para a caminhonete saveiro da
fazenda. — Ganhei queijo, mas não vou dizer a Conça senão ela vai
ficar triste. — Ele desembesta a falar e eu e minha mulher olhamos
abismados para ele. — Daí nóis fumo...
— Nós fomos, querido. — Minha Catita corrige e ele ri.
— Daí, mãe, nós fomos... — Ele tenta devagar. — Em um
montão de casas de gente que mora aqui na fazenda, Dona
Aparecida me deu um pé de galinha frito para comer e mandou mais
em um potinho também, disse que quer ver a senhora, a senhora
precisa ir para aquelas bandas, [AEG90]seu Chico falou que quando
voltarmos lá ele vai fazer torresmo [AEG91]da lata de banha.
Ele continua falando, sobre todos os lugares que fomos agora
à tarde, minha Catita presta atenção nele e eu também, apenas
olhando os dois, os sorrisos e risadas, quando a noite começa a
cair.
— Meu vô Cido, me deixou chamar ele de vô, igual minha vó
Esperança, meu tio Manoel, e meu vô disse que hoje eu ia ficar com
ele lá na casa grande porque ele vai me contar as histórias do Saci
e do Lobisomem.
— Ah, é? — quando eu me levanto, pego-o pelas pernas e o
viro de ponta cabeça, ele gargalha e se balança, me fazendo rir,
minha Catita revira os olhos e pega nosso gato gordo e chama
Bisteca que cheira um buraco, solto Nelson, pego a faca do chão e
vou em direção ao buraco, mas não há nada, apenas uma casca
velha de tatupeba. [AEG92]
Nelsinho sai correndo na frente, gritando por Conça.
— O que tem em mente pra essa noite, linda? — pergunto,
pegando-a pela cintura e lhe dando um beijo gostoso.
— Eu, você, Madimbum e um garrafa de Velho Barreiro, meu
peão.
— Isso envolve meu pau e sua boceta, caso contrário vou
declinar o convite — digo fazendo graça, usando umas das palavras
que Mabel já usou para descartar meu irmão. Ela me olha com a
cara cheia de deboche e ri.
— E desde quando você usa a palavra declinar, peão
abusado? — Ela aperta minha bunda no jeans e faz uma careta.
— Sua perna tem doido, não é? — resmungo, ela sorri e beija
meus lábios.
— Estou bem, peão.
— Vou fingir que acredito, minha doutora.
Viro um gole do Velho Barreiro e olho para ela, o rosto
corado, sequer consigo me mexer nessa Brasília, mas estou aqui
sentado no banco do carona indo sei lá pra onde. Quando ela pega
o meio do mato já está tudo escuro, ela manobra e entra na roça de
milho que começa a ser colhida amanhã e eu começo a gargalhar.
— É aquelas coisas de fetiche que eu li na internet sobre
trepar no meio do mato como dois selvagens? Terei que te puxar
pelo cabelo e gritar uga-uga? — Ela me olha e começa.
— De onde diabos você tirou a palavra, uga-uga? —
Gargalho quando ela toma a garrafa da minha mão e vira, me
fazendo rir, ela usa a porra de um microvestido e está sem calcinha,
como eu sei disso ela me mostro a porra da boceta dela antes de
sairmos do nosso casebre.
— Daquele programa, sei lá como diacho chama, largados no
mato? — Minha mão desliza pela prótese mudando o foco da
conversa. Ela abre a porta, mas antes de sair liga o som do velho
carro.
— Largados e pelados[AEG93]? — fala, e eu afirmo, saio da
Brasília e estico minhas pernas, a música enche meus ouvidos e ela
se senta em cima da Brasília e me chama para fazer o mesmo, mas
eu a puxo, agarrando-a pela cintura e olhando para o céu, as
estrelas brilham e por um segundo nós dois parecemos estar aos
pés de Deus.
— Quando estiver no dia triste basta um sorriso dela pra você
ficar feliz, quando se sentir realizado e dizer que encontrou o bem
que você sempre quis, quando chorar de saudades e quando morrer
de ciúmes e quando sua sensibilidade identificar o perfume, isso é
amor, tá rolando amor, é o encontro de metades a rosa e o beija-flor
isso é amor, tá rolando amor. É o encontro de metades a rosa e o
beija-flor. — Canto a música baixinho em seu ouvido e ela sorri
enfiando as mãos por baixo da minha camisa, arrastando as unhas
por meu peito.
— Não sei se prefiro o cavalo ou o boi mocho — brinca, mas
eu não dou tempo de ela fazer outra gracinha, pego-a pela coxa,
minha doutora dá um gritinho gostoso e eu a coloco sentada em
cima do carro velho, Catita passa os braços por meu pescoço e me
puxa para um beijo, nós dois com gosto de Velho Barreiro deixa
tudo mais gostoso, ela ofega em minha boca passando a perna por
minha cintura, afasto a prótese e ela geme, meus dedos descem
entre nós dois e a sinto esfregar seu corpo macio no meu, os seios
cheios roçam meu peito me deixando ainda mais duro por ela. O
microvestido se enrola em sua cintura e ela geme gostoso quando
meus dedos encontram sua bocetinha melada, porra sempre está
pronta. Mas antes que eu possa me abaixar ela me empurra.
— Vá lá e vira aquela merda, José Vicente Ferreira Neto. —
Ela aponta para algo atrás de mim, me viro e olho para Daniel
Bragança, conhecido pelos meus peões como Pitchulo, nós não
precisamos de um espantalho, mas os peões mais velhos insistem
em espalhar esses negócios pelo milharal e eu respeito a decisão
deles.
— Tua sorte, potranca, é que meu pau não amolece pra
qualquer coisa. — Aponto para meu jeans, e ela ri abrindo a perna
ainda mais, com os faróis da Brasília ligados eu posso ver sua
boceta brilhar, ligeiro eu viro a porra do espantalho e caio de frente
pra ela, na terra e ela ofega.
— É um pedido de casamento oficial, peão? — ela pergunta,
inclinando o corpo em minha direção, minhas mãos deslizam por
suas pernas e eu afasto um pouco mais a prótese.
— Se chupar sua boceta, for, então sim. — Rio e me enfio
entre suas coxas sedosas. Ela diz meu nome e olha para o céu
estrelado quando passo um dedo sobre os lábios, sentindo como
incrivelmente melada e encharcada ela está para mim.
Continuo a passar um dedo para cima e para baixo de sua
boceta, com um puxão o vestido desce me dando a visão
sombreada dos seus peitos cheios e muito perfeitos, a porra da falta
da luz a deixa ainda mais gostosa, apenas a luz baixa do farol faz
essa coisa toda ficar ainda mais gostosa, quando saímos de casa
nem cinto coloquei, pois sabia das suas intenções.
Seus seios cheios ficam duros contra o vento batendo na
pele bronzeada e cremosa, sob meus olhos, deslizo meu dedo para
dentro dela e ela geme sentindo as mordidas e beijos que eu deixo
em suas coxas cremosas e cheias, ela é perfeita, grande, gostosa
de apertar e porra minhas mãos marcam a pele macia, as linhas
sombreadas das coxas cremosas brilham com meus beijos, as
estrias se transformam em linhas brilhantes, deixando-a ainda mais
sexy e gostosa, ela está alheia a tudo, sua cabeça está caída para
trás apoiando as mãos na lataria do carro Madimbum à minha
mercê.
Vou traçando sua pele até chegar à sua bocetinha, minha
língua desliza pelas dobras doces e ela ofega deslizando as unhas
por meu cabelo, meu nome e alguns palavrões escapam de seus
lábios quando chego ao seu nozinho doce, dando a ele o que ele
quer; atenção, giro minha língua diversas vezes e ela ofega,
chamando meu nome alto, porra estamos no meio de nada e nem o
diabo no inferno é capaz de ouvir se ela gritar mais alto, ela foi tão
longe pelo milharal, que antes de sairmos me certifiquei de colocar
uma 36[AEG94] no banco de trás, nessa época as pintadas ficam
ainda mais irritadas e saem, nós nunca abatemos uma
parda[AEG95] em minha fazenda, quando vemos rastros delas
apenas atiramos para cima e elas saem para longe, nem fodendo eu
ia sair com ela sem estar armado.
Giro minha língua em seu nozinho e ela estremece, porra, eu
sei aonde ir e porra eu vou até o fim, para fazer essa coisinha linda
gozar em minha boca. Meu dedo melado desliza para fora dela e vai
até o pequeno buraco enredado que eu estive por tantas vezes.
— Me quer fodendo esse rabão gostoso, não é? Diz pro teu
peão, moça — rosno contra sua boceta, ela se contorce e a
mantenho no lugar, meus dedos voltam para dentro dela numa
brincadeira gostosa e ela geme.
— S-sim... — ela choraminga gostoso e goza em minha
língua.
O gosto dela explode em minha boca e eu continuo
brincando, subindo beijos por suas coxas, quando minha boca
encontra suas mãos ligeiras abrem meu jeans, empurrando minhas
calças para fora do nosso caminho. Com cuidado viro seu corpo
gostoso e ela bate contra o carro velho. Ela espalma as mãos no
carro e geme empinando a porra da bunda gostosa em minha
direção. Gemo gostoso deslizando para dentro dela, ela ofega meu
nome e empina mais a bunda me fazendo ir mais fundo em sua
doce bocetinha quente. Agarro seu quadril largo e a seguro
firmemente, e porra vou ao céu.
— Gosta, não é? — Vou com força contra sua boceta
gostosa e ela geme, confirmando, saio devagar e entro com força,
ela ofega empurrando de volta contra mim querendo mais. — Gosta
quando eu fodo sua boceta com força, não é?
Deslizo minhas mãos por seus calos macios e cheios e ela
geme, segurando-os enquanto vou para ela, áspero e duro, cada
impulso poderoso forçando um gemido delicioso dela.
— Peã-ão...
— Goza, minha potranca, deixe vir. — Ela começa a gozar
me apertando e me levando com ela, o tesão me balança e porra
vou ao inferno quando sinto o fogo se alastrar entre nós dois.
— Nã-ão sou sua potran-nca — geme, trêmula e suada, mas
rebola o rabo gostoso contra mim, indo contra as palavras que saem
da sua boquinha.
Os meus dedos escorregam e encontram seu nozinho duro,
meus dedos rolam e ela empina mais em minha direção. Invisto
gostoso contra ela e o impulso duro me faz gozar dentro dela
Se isso não pôr um filho nela eu tenho até o amanhecer para
fazer isso acontecer. Foda-se ela quer isso e eu também. Porra
trepar com ela é o diacho de insano, o corpo dela está mole contra o
capô do carro velho, Catita está suada, vermelha e suspira entre
gemidos quando saio dela.
— Goza gostoso no meu pau e ainda diz que não é minha
mulher, quer usar meu pau de microfone e anunciar a Cerrado que é
meu pau que te fode — digo, grosso, forçando meu pau em sua
abertura melada, ela rebola querendo me receber de novo.
— Sabe que eu sou sua, peão — confessa, baixinho, e eu me
inclino beijando suas costas suas, subindo os beijos e deixando uma
mordida gostosa em seu pescoço.
— Claro, que é — afirmo, arrogante, e ofego contra sua pele,
meus dedos brincam em sua boceta molhada e ela suspira. — Que
tal montar esse peão, minha potranca arisca? — pergunto, puxando
seu corpo gostoso contra o meu e apertando seus seios cheios e
suados, ela está toda vermelhinha e pelos seus suspiros, nossa
noite nesse milharal vai ser longa.
Sua língua bruta arrasta sobre meu clitóris novamente,
separando minhas dobras macias enquanto ele se aprofunda
profundamente limpando os resquícios do meu último orgasmo, sua
língua gira sobre o meu clitóris antes de empurrar contra a minha
abertura, ele é incansável e a risada arrogante é a prova disso.
— Vai ter uma bocetinha vermelha e ardida pelos próximos
dias, meu amor. — Ele se levanta e beija meus lábios, trêmula
retribuo sentido nossos gostos misturados, ele me leva em todas as
posições que consegue em cima do capô de Madimbum, olho para
o céu estrelado e ofegando mordo seus lábios inchados e
vermelhos.
— E se eu quise-er mais, peão? — pergunto, trêmula e
minhas palavras saem entre um fôlego e outro. Ele dá uma risada
gostosa e roça a barba em meu pescoço.
— Com a boceta desse jeito, só se me levar no rabão
gostoso. — Ele aperta minha bunda e eu gemo.
— Sabe que quem pedirá água será você, não é, peão —
respondo, e o puxo para um abraço.
— Quer testar o quanto esse peão aguenta essa potranca?
— Reviro os olhos, ele pega a camisa do chão e passa pelo meu
corpo. — Hora de ir, moça.
— Hora de ir, peão.
Ao me ver andar levemente torta ele solta uma gargalhada
estrondosa que ecoa pelo milharal, me sinto ardida e manco levante
ao sentir minha pele pegar fogo, ele realmente me fodeu incontáveis
vezes, se certificando em vir dentro de mim todas as vezes.
Deus, eu sei o que esse peão está fazendo e eu não sou
capaz de impedir, outro filho, mas dentro de mim a ideia passa por
minha cabeça e me faz corar, meu coração dispara e eu lanço um
sorriso para meu peão que fecha a calça.
— Você é minha perdição, homem bruto. Minha perdição.
— Se você se perder nesse peão gostoso, aqui moça. — Ele
passa a mão pelo peito de forma suja. — Não se preocupe eu te
acho e te como. — Pisca cretino, entramos em Madimbum e meu
coto dói.
— Seu ego é pior do que égua no cio, peão insuportável.

— Nem fodendo — ele fala pelo escuro e fecha o capô do


meu xodó e eu ilumino para ele com o celular, Madimbum se
recusou a ligar e eu? Estou rindo, matando o restinho de velho
barreiro da garrafa.
— Nós fodemos e ele que tá fodido, meu peão. — Gargalho e
ele me olha puto, mas acaba rindo e vem em minha direção.
— Tá engraçada assim do nada diacho? — Ele se irrita e
entra batendo a cabeça no teto, rio mais e me jogo em cima dele,
tiro minha prótese e coloco no banco da frente junto com a
espingarda.
— Esse seu diacho, erriça os pelinhos — provoco, rindo, e
ele boceja, por reflexo bocejo também e ele me puxa para seu peito,
mal há espaço para ele, quem dirá para mim, sinto os dedos dele
apertarem minha cintura e ele beija meus lábios e depois minha
testa.
— Dorme, moça, alguém vai ter que dar falta de nós dois
amanhã. — Ele ri e balança a cabeça indignado. — Nunca confiei
nessa aberração amarela, minha RAM jamais me deixou na mão.
— Quem vê que com sua altura teríamos fodido o tanto que
fodemos. Deixa de ser playboy, peão. — Bocejo e beijo seu peito nu
e quente, mesmo estando calor lá fora, olho para o relógio, já são
quase quatro da manhã e eu ainda tenho um pouco mais de tempo
antes de poder voltar a realidade.

— Dia, patrão, patroa? — Eu me sobressalto no peito de Zé


com a voz grossa e divertida que me tira do sono gostoso e bato
minha cabeça no teto.
— Argh! — resmungo, massageando o topo da minha cabeça
e antes que eu possa raciocinar José está gritando.
— Fecha os olhos, porra! — Zé grita e eu me afasto dele,
caindo de bunda no banco, diminuindo ainda mais o espaço entre
nós dois, ele puxa a camisa dele, que já está enorme em mim.
— Não grita as essas horas que eu não sou surda não, peão.
Argh! — reclamo, sentindo uma puta dor de cabeça, ele sai do
Madimbum e eu me ajeito, puxo minha prótese e a coloco rápido,
ela está ficando sem carga, e vai ficar mais difícil de usá-la.
— Você não é nem louco, vira de costas e fecha os olhos, e
se olhar para minha mulher, furos seus olhos com sabugo de milho
seco, diacho. — Rio e balanço a cabeça quando saio de Madimbum,
a camisa passa meus joelhos. — To pegando a caminhonete.
— E eu vou ficar aqui no mei [AEG96]da roça, patrão? — O
peão pergunta, divertido, ainda de costas. Eu olho para Zé que me
puxa para a saveiro da fazenda.
— Se fica aqui que eu mando algum caboclo te buscar, e
vocês levam o carro da minha mulher de volta, continua de costas,
porra.
— Tá certo, Tá certo, patrão — o peão fala, rindo, e ergue as
mãos para cima, entro no carona da caminhonete. Quando Zé entra
e acelera para longe eu olho para ele e reviro os olhos.
— Bom dia, José Vicente — provoco, e ele bufa. — Certo,
tem alguém de mau humor.
— Ele quase viu tua boceta, porra. — Gargalho e dou de
ombros.
— Sem exageros. Sem ciúmes, peão, quem me deixou
ardida foi você, então aquieta. — Aperto sua calça jeans e o sinto
duro. Mordo os lábios e desabotoo a calça, ele rosna e me olha,
tirando o olho da estrada.
— Bom dia, meu peão? — digo antes de inclinar e o levo
duro em meus lábios a fim de tirar toda a tensão desse cavalo
xucro.
— Bom dia, diacho. — E dali até a fazenda só escuto seus
gemidos.

Depois que chegamos ao casebre tomamos um banho juntos


e com o bucho cheio de cachaça saímos em direção à casa grande.
Ajeito minha calça jeans e minha camisa com a logo da fazenda,
jogo meu macacão na traseira da caminhonete, quando dá seis e
meia entramos pela cozinha de Conça, eu e ele com a maior cara
lavada do mundo. Ela se vira em nossa direção e crispa os olhos.
— Vai acabar prenha desse jeito — Conça diz, abusada, e
me puxa para um abraço, Zé ciumento me puxa de volta.
— Essa é a ideia, veia fuxiqueira. — Zé me larga e abraça
Conça com um beijo estalado no rosto.
— Se abusa comigo que eu amarro seus ovos murchos, piá
— fala, e bate nele.
— Pergunta pra dona ali se meus ovos são murchos. — Zé
aponta para mim e ri arrogante me mandando um olhar quente.
— Me mantenham fora disso, onde está meu filhote? —
questiono.
— Sua cria, já se embrenhou[AEG97] antes do amanhecer
com seu padrinho, foram atrás das taquaras,[AEG98] Cido quer
ensiná-lo a fazer vara de pescar. — Conça ri e aponta para fora e
volta a fritar mais bolinhos.
— Assim, antes do raiar do dia? — pergunto, bicuda.
— Dia, meus fios. — Minha madrinha entra na cozinha e me
abraça. — Antes que essa mula te puxe para algum mato, os
exames de Jurema chegaram, fia, e ela parece ainda mais abatida?
— Olho para ela, e afirmo, a égua mais velha da fazenda, que
chegou tem apenas dois meses, pois o antigo dono queria sacrificar
devido à falta de mobilidade, está há alguns dias mancando mais e
ontem eu fiquei um bom tempo com ela na baia e agora posso
realmente trabalhar nela com base nos exames.
— Será a primeira coisa, que eu irei verificar, madrinha. —
Pisco para ela dizendo.
Tomamos café, rindo, comigo no colo de Zé, quando alguns
peões entram na cozinha e nem sequer me olham ou respondem
meu cumprimento, o ar na cozinha muda e eu respiro fundo.
Quando eu saio do colo do Zé engulo meu café a seco e saio
da cozinha com ele em meu enlaço.
— O que diacho te mordeu, muié? — Eu paro no seco e levo
a mão na minha prótese.
— Eu é que pergunto, Ferreira, que bicho mordeu seus peões
que mal me olham e uns nem sequer respondem um bom-dia meu?
— Ele cruza os braços no peito, a carranca fica enorme e a voz
grossa soa como um trovão.
— Eles sabem o lugar deles, já basta o que aconteceu hoje
— responde, ríspido, e eu respiro fundo e solto um riso pelo nariz.
— Eles sabem o lugar deles ou você os colocou, peão?
Quero o respeito deles se vou trabalhar com eles aqui, não o medo
imposto por um ignorante que acha que é meu dono, sou sua
mulher não sua posse, ou um alqueire de terra e muito menos uma
égua para você me demarcar.

— É laminite. — O pus vaza do casco do animal assim que


eu faço a incisão, [AEG99]com os exames em mãos, o diagnóstico
fica claro e já sei o que fazer. — Após isso tudo vazar, vamos
suspender essa moça e aliviar as dores dela com gelo, arrume um
balde e coloque gelo e água até aqui.
— A patroa é certeira, patrão. — Eu sequer olho para trás,
pois sei que Zé está de olho em mim, sinto o cheiro do perfume dele
de longe.
— Oh, se é — acrescenta, mal-humorado. Me levanto e
acaricio o pelo dela.
— Vamos resolver isso e lhe dar um alívio, vovó — digo, e
olho para ela. Um dos olhos apresenta cegueira, devido à idade. —
Vamos dar um final confortável para você, vovó. — Pisco pra ela e
ignoro o homem xucro atrás de mim.
Assim que eu termino de cortar os cascos dela, coloco a pata
mais debilitada na água, e com ajuda de um peão chamado Tobias,
a suspendo e faço os curativos e em breve poderemos colocar uma
ferradura especial, que dará a ela um fim menos doloroso.
— Vou tratar com Fenilbutazona [AEG100]e vamos suprir
essa vovó via intravenosa com vitaminas e daqui a alguns dias ela
poderá ir lá fora. Ela vai precisar de repouso, já sabe como trocar as
ataduras, não é, Tobias?
— Oh, se sei, patroa, vi como a senhora fez, mas caso eu
precise eu chamo a senhora sim. — Ele me dá um sorriso lindo e
tira o chapéu em sinal de respiro.
Saio da baia suando, com os olhos de Zé Vicente brilhando
em minha direção, me sento em um dos bancos e tiro minha prótese
para aliviar meu coto, mas antes que eu tire o liner, o peão ciumento
já está de joelhos no chão, fazendo o trabalho. Ele massageia meu
coto com cuidado e eu respiro fundo, me encosto na parede e fecho
os olhos.
— Perdão, moça. — Seu tom é firme, permaneço em silêncio,
eu fui idiota o suficiente de não notar que esse homem tem afastado
os funcionários de mim e isso realmente me incomoda. A falta de
confiança em mim me dilacera e, bem, no momento eu não estou a
fim de ouvir suas justificativas.
— Você se arrependeu de ter feito o que fez? — questiono,
colocando a prótese de volta. Ele nega, xucro e arrogante.
— Então tem sua resposta. Eu não saí de uma gaiola de
madeira para entrar em uma de ouro, eu respeito seus homens, e
eles fazem o mesmo comigo, e se não fizerem você será o primeiro
a saber.
— Tenho medo de te perder, diacho. — Olho para ele e
esboço um sorriso magoado.
— Não é me tratando como posse que vai me manter como
você, tudo que fizemos até agora, parece não significar nada para
você. — Dou de ombros falando magoada, posso estar exagerando,
mas isso realmente me magoou, pois achei que eu poderia ter feito
algum comentário que tivesse ofendido seus peões, mas não só foi
ele, mijando feito um garanhão na cerca.
— Te vejo no almoço? — questiona, saio do estábulo sem dar
a ele uma resposta. — Responde, diacho.
E o silêncio que ele me deu quando eu perguntei sobre o
arrependimento, eu lhe devolvo.

Vejo de longe meu menino e a dupla de meliantes molhados


ajudando meu padrinho a trazer algumas varas de pesca. Me
encosto na cerca e quando ele me vê larga tudo no chão e corre em
minha direção.
— Mãe. — Molhado ele pula a cerca e se joga em mim, me
abraçando.
— Oi, moço — digo e me inclino sem me importar e beijo seu
rosto. Ele começa a falar sobre as aventuras no rio, mas meus olhos
vão para o peão, sem camisa e de chapéu em cima do garanhão
negro, ele se exibe em cima do cavalo ciente dos meus olhos nele,
eu desvio os olhos e olho para Nelsinho.
— Que tal você entrar e nós dois almoçarmos lá debaixo do
pé de laranja?
Ele grita e chama Zé que devolve o aceno.
Sentados na grama eu descasco uma laranja para Bisteca,
Nelsinho deita ao lado do prato vazio e está acariciando a própria
barriga, ele chupou três laranjas, Costela deita em seus pés e ele
suspira, vejo o peão com um enorme prato em nossa direção. E
pela sua cara, ele não está nada contente. E eu sequer ligo para
isso. Meu olhar vare o peito com alguns arranhões, mas disfarço.
Quando ele se senta no chão ao meu lado, eu me levanto.
Diacho.
Vejo ela caminhar para longe, deixando eu e meu filho para
trás, ela leva os pratos dele e eu engulo a comida a seco.
Nelson cochila na grama após comer, e Bisteca e Costela o
acompanham, quando termino de comer, coloco o prato no chão e
me deito ao lado do meu filho e coloco o chapéu na cara.
Diacho de mulher, difícil.

— Patrão? Patrão? Tem jararaca lá no pasto. — Eu me


levanto meio desnorteado e percebo que estou dormindo sozinho,
me levanto e o peão abre a porta da caminhonete e eu entro. — A
patroa disse que vai pegar o bicho na mão.
— Mas que porra de mulher dos infernos eu fui casar? —
esbravejo, passando a mão no rosto, e ele ri, tirando o sono do meu
sistema ele mal para e eu já desço, Catarina está com uma luva
segurando a cabeça da bicha e Pauleta com um saco, quando ela
coloca o animal dentro, do saco e o tecido molha de veneno.
— Essa é das boas, patrão, não vá largá-la porque ela faz o
que nenhum caboclo aqui tem coragem — meu peão diz o óbvio.
Catita coloca o bicho em uma caixa de plástico e meus peões se
juntam em volta dela, cumprimentando-a, que prontamente devolve
os abraços e cumprimentos.
Cruzo os braços no peito e seguro o palavrão, encostando na
cerca eu assisto ela receber os cumprimentos dos meus peões, sem
interferir, meu ciúme me morde, e o medo também. Mas ela sorri
suando, corada e porra é o melhor sorriso do mundo, Catita vai até
um dos meus peões mais velhos e o abraça.
— O senhor está realmente bem? — pergunta, e ele aponta
pra bota de proteção.
— Essa é das boas, fia, não se preocupe, patroa, vá fazer
seu serviço. — Ele sem jeito devolve o abraço dela. Quando ela
coloca os olhos em mim, os desvia e sobe no cavalo e some sem
sequer falar comigo.
— Andou aprontando, patrão? — um peão pergunta, e bufo.
— Essa daí é um diacho de ruim quando quer. Mas vou curar
a braveza dela, oh, se vou.
E vou curar no pau.

— Convidei sua mulher para tomar uma aguardente[AEG101]


hoje à noite comigo no Gata Dourada e ela aceitou. — A porta do
escritório se abre e a advogada do diabo entra pela porta com uma
maldita cara de quem sabe de mais.
— Nem fodendo que você vai levar minha mulher em um
puteiro — brado, afastando a cadeira da mesa.
— Sem foder mesmo, porque aguentar você e o banana do
seu irmão é um sacrilégio, dois ignorantes que pensam com o pau,
o teu deve ser bom pra ela te suportar, e nem que o pau do teu
irmão fosse de ouro eu aguentaria merda dele — ela reclama e se
senta na cadeira à minha frete, meu irmão entra no escritório com
uma cara de merda.
— Que bom que gosta de falar do meu pau, Jezabel.
[AEG102]— Meu irmão se senta ao lado dela sem olhar para ela.
— Quer que eu fale ao seu irmão, que um palito de fosforo é
mais grosso que seu pau quando está duro?
— Chega, Chega, parou — esbravejo, e meu irmão fica
vermelho como pimenta e Mabel faz sua cara de satisfação, na
maioria das vezas a palavra dela é sempre a última ou ela deixa
meu irmão vermelho de vergonha e sem fala, ou alguém cala a boca
dos dois. — Desembuchem.
— Problemas. — Meu irmão se endireita e fala.
— Que tipo de problemas? — questiono.
— Dos grandes — Mabel completa. — E que envolvem eu e
o Palito — diz, desgostosa, se referindo ao meu irmão que fica
vermelho e me olha puto. — Quero esganá-lo com minhas próprias
mãos. — Ela faz o gesto no ar como se meu irmão não estivesse
conosco. Meu irmão me olha puto e vermelho.
— A recíproca é verdadeira, bruxa — ele rosna, e eu
gargalho.
— Você nem sabe o que significa recíproca, caipira de
faculdade. — É como eu disse, a última palavra é sempre da
advogada do diabo.
Ouço tudo com atenção e respiro devagar, engolindo a seco
a raiva.
— Vocês dois estão me dizendo que Lazico atestou que meu
Shire não está em boas condições para sair do haras na capital de
São Paulo? Estão me dizendo que ele viajou daqui a São Paulo em
meu nome e atestou que o cavalo não é apto aos meus gostos e o
cavalo está voltando aos Estados Unidos?
— Sim — meu irmão diz apenas, Mabel estende os papéis e
olho folha por folha e confiro.
— Eu não assinei essa merda, porra — brado, e Mabel
respira fundo.
— Eu sei, reconheci a assinatura falsa, sua sorte é que o
haras aceitou manter o animal por mais 72 horas em solo brasileiro,
antes do consulado se meter, mas eu terei que ir pessoalmente
aprovar o animal — Mabel avisa, passando a mão pelo rosto. — E o
palito vai comigo.
— O jatinho já está pronto para nós dois. Saímos às nove da
manhã e só voltamos com seu Shire.
Quando saímos quase duas horas depois do escritório da
sede, eu respiro fundo, sentindo minha sanidade ir embora, minha
mulher está usando um short minúsculo e uma camisa branca e
molha Nelson, Costela e Bisteca, até o gato gordo que deveria odiar
água rola na grama molhada, meus olhos comem o corpo dela e
porra, Catita parece ainda mais gostosa e meu tesão parece
aumentar ainda mais com ela arisca desse jeito. Mabel se afasta e
vai em direção a minha mulher, ela joga mangueira no varal de
Conça e os três continuam a brincar na água
Mabel e minha mulher conversam de longe, ela olha animada
para Isabel e sorri. Engulo em seco.
— Estamos fodidos, irmão. — Meu irmão me abraça pelos
ombros. Olho para ele e devolvo o abraço.
— Pelo menos eu estou casado. — Dou de ombros e engulo
em seco. — Então nós temos um encontro marcado no Gata hoje à
noite? O quê? Nem fodendo eu vou deixar minha mulher ir sozinha
com a sua diaba em um puteiro. Nem fodendo — digo, e ele me
olha arqueando as sobrancelhas.
— Eu viajo amanhã, irmão. — Mas ele olha para Mabel e
seus olhos brilham. — Estamos fodidos — ele admite, e eu dou um
sorriso, vou me desculpar com essa potranca arisca e de quebra
fodê-la gostoso. — Me espere, que eu irei com você.

— Aonde vão? — questiono meu pai, ao vê-lo com o


equipamento de pesca. Nelson ajeita a mochila nas costas e segura
uma caixa térmica. E pelo visto o gato gordo na mochila e meu
cachorro com um colete vão juntos.
— Durval da Anastácia, nos convidou para pegar alguns
peixes no rio e vamos assar uma linguiça à noite, e Nelsinho vai
comigo — meu pai avisa, e meu filho fica em posição ereta,
passando confiança, eu rio. — Né, fio?
— Nada de barco à noite, pai — aviso, e ele sorri
concordando.
— Vamos fazer pouso na casa do Durval e saímos ao
amanhecer. — Concordo, eles saem da sala e meu filho se despede
da mãe que ajuda Conça na horta, já está tarde e nada dessa
mulher arisca dizer algo, to me corroendo por dentro. — Conserte o
que ocê fez a Catita.
— Até o senhor, porra, vou arrumar essa merda — digo, e
passo a mão pelo rosto voltando para os papéis que me esperam na
mesa, porra. Estando tudo em meu nome, os sabugos sempre quem
engole sou eu, nem fodendo aquele cavalo volta para os Estados
Unidos e essa gata arisca sai sem mim.
Já é tarde quando eu termino a porra dos papéis, vejo pela
janela Catarina pegar algumas amoras e colocar em um pote. Mas
ela para de repente e atende ao telefone, ela fica tensa por um
instante, mas relaxa, leva a mão ao peito e respira fundo. Parece
que Catita sabe que eu estou de olho, quando ela se vira juro que
vejo lágrimas em seus olhos, mas se vira e vai em direção a uma
das caminhonetes da fazenda.
E eu vou descobrir que diabos ela ouviu ao telefone.

Quando chego ao nosso casebre e abro a porta, vejo as


roupas dela no chão, e sigo o rastro subindo as escadas e a vejo
sentada no chão encostada na cama abraçada aos joelhos, apenas
de calcinha, ela me olha e o olhar me gela a alma, eu já vi esse
maldito olhar frio antes, o olhar que ela me deu quando falou do ex-
marido.
Tiro minha camiseta e me sento ao seu lado no chão, ela
tirou a prótese e passa a mão sobre o coto.
— Daniel Bragança, está morto — ela diz, baixinho, mas a
mágoa, dor em sua voz. Me mantenho em silêncio, só vou ouvir o
que ela disser. — E eu estou aliviada? Sou ruim por isso? Deus, sou
uma cadela sem causa, meu ser já era errante e sem salvação
antes, imagine agora?
— Sabe que não — digo apenas, mas me sinto aliviado, o
ciúme que ameaçou brotar em meu peito se acalma.
— Ele atirou contra a Polícia Federal em Ponta Porã, Deus,
ele tinha uma arma, e se fosse eu? E se ele me matasse? — Ela
parece não fazer as perguntas a ninguém em particular, eu não sinto
nada, afinal a PF fez o que queria fazer desde eu soube que ele
colocou a mão nela.
Eu sei que o delegado Praxedes saiu da cidade antes dos
meus peões o pegarem, mas não colocarei minhas mãos nele, mas
a vida vai dar um jeito. Assim como foi com o maldito Daniel. Aquele
racista de merda ainda vai ter o que merece assim como Daniel.
— Não foi você, moça — afirmo, e ela me olha. — Me perdoe
pela merda que eu fiz porra.
Meus lábios tomam os seus em um beijo gostoso, um gemido
escapa de seus lábios e ela corresponde com fome, puxo seus
lábios com os dentes e ela geme. E quando minha boca roça a dela,
são os lábios dela que encontram os meus. Solto um som rouco
quando ela me beija com fome, minhas mãos deslizam sobre seu
quadril cheio e porra como eu quero que um filho nosso cresça aqui,
a ideia de ter colocado um filho nela enche meu peito de orgulho e
porra, ela fode meu sistema e sequer consigo raciocinar direto. Eu
posso sentir as mãos unhas arranhando levemente nos meus
braços, reivindico sua boca. Ela se inclina e vem para meu colo
fazendo a pequena boceta se acomodar finalmente em meu pau e
minha boca cola na sua, querendo mais e mais.
— Não me faça implorar, porra — digo, quando minha mulher
se afasta e morde os lábios, antes que ela proteste eu tomo seu
seio cheio em meus lábios e dou uma atenção especial ao outro
com meus dedos calejados.
— Não podemos — Catita diz, abraçando meu pescoço e
rebolando gostoso em meu colo, ela ofega quando eu arrasto meus
dentes pela pele bronzeada.
— Um caralho de asas que não podemos.
— Tenho um encontro — avisa, baixinho, e roça ainda mais a
boceta em meu pau, me fazendo rosnar em sua pele macia e
delgada.
— Um encontro com meu pau.
— Um encontro com Mabel no Gata Dourada.
Porra, ela vai mesmo na merda do puteiro.
— Você quer é foder comigo, moça — reclamo, puxando sua
calcinha e arrebentando a renda fraca e fina, isso nem deveria ser
considerado calcinha, está sempre enfiado em sua bunda e mal
cobre sua boceta gostosa.
Tomo sua boca na minha novamente e meu sangue corre
mais rápido, o ciúme eleva a porra do pensamento ao inferno. Minha
língua trava uma batalha com a sua, saboreando seu calor. Eu a
devoro como o ciúme correndo forte em minhas veias, me fazendo
rosnar em seus lábios, e é o suficiente para fazer meu pau doer por
ela, saboreando-a, sentindo seu corpo quente contra o meu. Há
uma porra de uma necessidade animal em mim, e agora está ainda
pior. Querendo provar que ela é minha.
Ela se afasta e ofegante, vermelha e pronta para ser fodida
termina de foder com minha mente.
— Me quer, peão? — Ela ofega e passa os dedos sobre
próprios lábios inchados.
— Meu pau duro na sua boceta é o quê? — rebato, perdendo
a porra da paciência, fazendo uma risada sexy ecoar no banheiro,
tesão e ciúme são a porra de uma bomba juntos em mim, e eu só
quero acalmar o maldito animal dentro de mim que tem medo de
perdê-la. E ela termina de me abater apenas com meia dúzia de
palavras.
— Nem sempre querer é poder. — Pisca e com uma
agilidade que nem eu tenho ela está fora do meu colo.
— Querida, ocê fez em semanas o que aquele banana do
Lazico não fez em anos. Temos estoque de Ivermectina — minha
madrinha diz, rindo, e me ajuda a terminar de separar alguns
documentos. Ela sorri, madrinha está procurando algo para fazer ou
bordando. — Há algo que queira me dizer, querida?
— Nem como dizer, madrinha, Zé voltou para minha vida com
um boi desgovernado e está me levando ao limite — confesso, ela
vem em minha direção e pega minhas mãos.
— Zé viu dez anos da vida dele passar diante dos olhos por
um erro bobo, por falta de diálogo e mal-entendidos da vida, não
deixe que isso se repita, fale para ele, aponte os erros dele, mostre
o que mágoa, onde dói, ele é meu filho, mas não é esperto o
suficiente para decifrar ações, com ele é na raça, nas palavras. E
você também o ouça, mesmo que escute por esse e solte por esse.
— Aponta para um ouvido e depois para o outro. — Mas não deixe
meias-palavras ou a falta delas levar vocês dois por esse caminho.
— Ele é tinhoso[AEG103] e rídico[AEG104] por natureza, então não
deixe isso imperar no relacionamento de vocês. Coloca um
cabestro[AEG105] nesse cavalo, minha menina.
Ela me abraça e eu devolvo o abraço, me sentindo cansada
demais, talvez eu durma um ou dois dias seguidos assim que tiver a
oportunidade. Me afasto de minha madrinha ao ouvir a porta bater.
— Tarde, estava aberto Conça me mandou entrar e eu entrei.
— Mabel, entra pelo escritório da sede, com um sorriso no rosto,
antes de ela fechar a porta vejo Manoel ficar para trás bufando feito
boi bravo.
— Venha, fia, se achegue e sente. — Mabel se senta no sofá
e me olha com um olhar matreiro.
— Que cara é essa? Já sei se chama José Cavalo Ferreira —
ela me questiona rindo, e eu bufo rindo também. — Deus, tia eu lhe
amo com a alma, mas seus filhos são insuportáveis.
— E insanos — completo, rindo.
— Mas as bonitas acham que meu Cido é calmo assim? Zé
Vicente e Zé Manoel são trovoadas, o pai é tempestade que
destelha o que vê pela frente. — Olho abismada.
— Mentira? — Mabel fala por mim.
— Aquela cara de pamonha. É só a cara — diz e faz uma
carreta. — Aquele homem ainda é pior que boi no pasto. O segredo
é colocar o cabresto e deixá-los pensarem que manda.
— No caso, José Vicente, tia. Deus, que me perdoe, mas do
seu palito quero distância, vai saber onde ele enfia o pau? —
Gargalhamos e Mabel me olha. — Hoje eu te levo na putada.
Olho para ela sem entender.
— O Gata Dourada ainda é meu, Maria Isabel se revira no
túmulo, afinal puta eu não virei, para o terror das gerações
passadas, mas isso não significa que não podemos tomar uma
aguardente de graça. — Pisca e me olha maldosa. — Eu viajo
amanhã com o palito do seu cunhado, ande me dê um pouco de
diversão, ficar horas com ele em uma coisa que é mais pesada que
o ar, movida a explosão, não tem atrito e voa na cagada é realmente
um teste para os campos do Senhor, se é que eu ainda tenho
alguma chance de ir para lá. — Rimos e ela faz o sinal da cruz e dá
de ombros, gargalho e olho para ela.
— Vamos, menina, aceite e agite o coração desse peão —
minha madrinha aconselha.

A vida pode ter sido uma vaca comigo, mas ter o gosto de
saber que Daniel Bragança não vai mais machucar alguém, me
deixa aliviada, eu deveria ter medo, me sentir culpada, ou até
mesmo com pena, mas nem isso eu consigo sentir, é como se um
peso fosse retirado das minhas costas.
— O processo já está sendo extinto e arquivado, quis eu
mesmo dar a notícia, senhorita Santiago. — A voz do promotor de
justiça me traz um alívio e um sensação ruim que eu não sentia
desde que conheci Nelson e me envolvi com Ferreira. — Vi que foi
protocolado um contrato de união estável e uma formalização de
adoção, fico feliz que a senhorita, agora senhora tenha seguido em
frente depois da brutalidade que foi lhe causada e os danos que eu
sei que ele deixou, sei que está longe, mas o Ministério Público
ainda mantém em pé a proposta de tratamento do CDCM[AEG106].
— Fico grata, Vossa Excelência, mas eu estou recebendo
todo apoio que preciso e fico ainda mais agradecida por ter sido o
senhor a me comunicar. — Me viro para trás e de longe eu vejo o
peão parado na janela me olhando com um olhar aflito e cansado,
ele está no modo peão de escritório, e eu o amo demais.
— Sou eu quem agradeço, seu advogado deve entrar em
contato ainda hoje, senhorita, pelo que ele me disse há pouco.
— Grata, Vossa Excelência. — Quando ele encerra a ligação,
eu sinto meu rosto molhado em lágrimas, engulo o choro e respiro
fundo.
Me dando conta que nas últimas semanas eu sequer
consegui pensar direito, Nelson e o peão preencheram minha vida
de uma maneira que não houve espaço para que meu casamento
com Daniel ter forças para me assombrar.
Ele me deixou uma marca, a marca da violência, mas ela se
tornou tão insignificante que acabou ficando no fundo da minha
alma, paro em frente ao lago de carpas de minha madrinha e me
abaixo, meu reflexo na água faz com que uma enxurrada de
lembranças venham em minha cabeça.
A voz clara, rouca, grossa e pesada de Zé me atinge como
um raio em lembranças dolorosas.
“Sou seu e você é minha, moça bonita.”
“Casa comigo, moça bonita.”
“Vou te fazer feliz”
As manchetes de jornal invadem minha mente.
“Jovem do interior tem perna amputada após picada de
serpente venosa.”
“Jovem quase morre por conta de picada de Jararaca no
interior de São Paulo.
“Afilhada de Aparecido Ferreira é encontra e luta pela vida
em hospital da capital de São Paulo.”
É como uma maldita linha do tempo, uma maldita linha do
tempo de erros do passado.
Zé Vicente bêbado entre aquelas mulheres, meus últimos
momentos sendo uma pessoa sem uma deficiência, a dor da picada
da jararaca.
É como uma maldita linha do tempo, parece como um filme,
onde eu ainda não cheguei ao final, mas dói.
“Sim, eu aceito ser sua esposa, Daniel Bragança.”
De repente tudo se desmorona, e eu me vejo perdendo tudo.
“Vadia, gorda, aleijada.”
As palavras de Daniel me cortam, mas de repente eu vejo Zé,
ofego entre as lágrimas me querendo em frente ao lago de carpas.
“Você não sabe o como é bom estar de volta, peão.”
Rio entre lágrimas, minhas mãos se afundam na grama.
“O pequeno menino todo sujo e cheio de machucados
deitado na cama.”
Zé entrando nessa comigo, dando sentido a minha vida e não
largando minhas mãos.
“Escute, menino. Nada vai te machucar mais. Acredite você
ou não”
Depois a voz dele admitindo algo que fez e isso faz meu
coração queimar como fogo, como um braseiro em uma noite
estrela de lua cheia, ar tranquilo e apenas com o barulho das
cigarras.
“Eu prometo te amar a cada batida do meu coração, eu
prometo te amar a cada novo sol, prometo amar a cada novo cantar
do galo, a cada nova gota de chuva, a cada nova lua que encher o
céu. Eu prometo simplesmente te amar.”
A voz de Conça invade minha mente, um conselho que ela
me deu há anos. Que seu avô ouviu de seu bisavô após ter ouvido
de um sábio preto velho.
“O tempo que você gasta em sua vida derramando lágrimas é
o mesmo tempo que você gastaria construindo algo de bom em sua
vida, fia, joelho ferido se cura, cicatrizes não doem, pois são um
lembrete do quão fortes são as pelejas[AEG107] que vencemos.”
É hora de viver, Catarina.
Hora de viver!
Puxo meu vestido para baixo e mordo os lábios, o barulho
alto da música dá pra se ouvir de longe, depois da tarde de hoje,
decidi que faria algo para colocar na cabeça desse peão que eu sou
dele, quando ele se sentou ao meu lado mais certeza eu tive ao
olhar nos olhos dele que ele é o meu peão e sempre vai ser, meu
cavalo xucro e ignorante, precisamos nós acertar, amar e fazer isso
dar certo, é hora de viver, construir uma família e deixar nosso
legado, ter um amor como meus pais tiveram, quente como verão e
que quando chega o inverno é capaz de aquecer, respeito, amor,
companheirismo e acima de tudo confiança.
Quero um amor como o dos meus padrinhos, quero o nosso
amor, ele não diz nada quando eu desci as escadas devagar
puxando o vestido e com uma jaqueta sua de couro nas mãos, ele
com uma carranca enorme, apenas bufa e cruza os braços. Ele está
usando uma camisa preta, uma calça jeans justa e botinas que eu
nunca o vi usar desde que cheguei, ele está banhado em perfume e
um dos seus caríssimos chapéus descansa em seu joelho, Zé me
come com o olhar, mas nada diz, ele parece plantado no sofá, vou
em direção à porta, a cada nova buzinada da advogada do diabo,
ele fica um tom mais vermelho, prestes a explodir, com um leve
aceno de cabeça e um sorriso eu saio, escuto um grito de ódio vir
da casa assim que eu fecho a porta, nós caímos na gargalhada, e a
advogada fatal do diabo me olha com satisfação. Mas assim que
chegamos à cidade a diversão vai embora e o nervosismo me toma.
— Quer parar de tremer, mulher? — Mabel brinca. — Aqui
eles sabem quem eu sou, não se preocupe, se nossos homens
vierem, as meninas já estão cientes que devem ficar longe — ela
diz, arrogante, e eu entro no lugar.
— Nossos homens? O que houve com o Palito desprezível?
— Rio nervosa, por um minuto penso em meu menino se
aventurando pelas matas com meu padrinho, pescando e fazendo
memórias.
— Deus, jamais direi algo assim em voz alta novamente. —
Ela faz uma cara de desgosto e me olha.
Quando eu entro dentro do bar que um dia me causou
tamanha dor, é como voltar no tempo e avançar anos-luz, pois o
lugar está totalmente reformado, mas é escuro, as paredes de
madeira, o cheiro forte de bebida, as músicas antigas, as máquinas
de jogos, as mesas dispostas, e Mabel me indica uma mesa no
canto quando sentamos uma moça praticamente nua vem em nossa
direção, engulo em seco, mas sei que assim que o touro bravo
entrar aqui, ele terá olhares apenas para mim, ainda mais quando
descobrir que eu estou sem calcinha. Eu sei o quão puto por ser
rejeitado ele está, e se eu começar a dançar, ele fará o inferno na
terra quando colocar as mãos em mim.
Quando a moça coloca a aguardente em nossa mesa, eu viro
em um gole e ela desce queimando, como fogo, me remexo e já
estou pronta para outra dose. A moça ri, Mabel pega a garrafa da
bandeja dela e ri.
— Deixa a garrafa que hoje é pras manguaceiras[AEG108]
darem trabalho amanhã — Mabel fala e nosso sotaque puxa forte
nela.
— Tá certo, patroa. — A moça diz e Mabel faz uma carreta.
— Então a Jezabel é dona de um puteiro? — Gargalho, e
vejo alguns homens subirem com algumas mulheres para cima e
virando outra dose mordo os lábios pensando seriamente em levar
José Vicente lá para cima, somos casados mesmo, mas eu tenho
outra ideia em mente.
Antes que ela me responda a porta do inferno é aberta e o
diabo e seu assistente entram pela porta do bar, parando tudo,
absolutamente tudo, e quando meus olhos vão para o peão tatuado
meu coração para também, os olhos dele são certeiros em mim, Zé
não desvia em nenhum momento enquanto ele e o irmão se sentam
do outro lado do Gata com a mesa de frente à nossa. Faço algo que
sei que só ele vai ver pela posição que está, olho dos lados e afasto
minhas pernas sutilmente e me inclino virando outra dose, e as
fecho.
E o homem literalmente fica pior que pedra no lugar, mesmo
sendo tudo escuro, eu posso vê-lo esticar as pernas e afastá-las,
engulo em seco e sinto o suor brotar por meu corpo, mordo os
lábios e me inclino um pouco mais e deixo meus seios à mostra,
vejo-o levar a mão ao jeans e dar um leve apertão, o sorriso sujo
que passa por seus lábios me faz engolir em seco. Quando a
música começa tocar eu sei exatamente o que fazer.
— Que tal fazermos uma visitinha a pista de dança, Jezabel?
— Ela vira outra dose e olha de forma intensa para Manoel com o
olhar cheio de desejo, ele está puto, braços cruzados e
provavelmente querendo esganar a advogada do diabo.
Me levanto e ajeito meu vestido, olho para meu peão e passo
a língua pelos lábios.
A visão dela descendo as escadas fode minha cabeça, eu
não consigo pensar direito, e porra o vestido aperta tudo que eu
quero apertar, quanto mais a Jezabel infernal do meu irmão buzina
do lado de fora, mais me irrita, eu me arrumei antes dela, tomei
banho e me garanti colocando a melhor roupa que eu tenho e
usando quase toda a porra do vidro de perfume.
Ela me come com os olhos, porque diabos não enchemos o
cu de pinga em casa e eu a fodo aqui mesmo, mas não ela quer ter
o gosto de sair e que eu enfiar a boca na sua boceta na primeira
oportunidade que eu tiver, eu estou irritado, puto é pouco, mas essa
mulher é minha e essa noite se eu ainda não coloquei vou botar
uma cria nossa nela, os olhos dela brilham toda vez que minha
madrinha menciona filhos nossos, e se ela quer ser mãe vou dar a
ela quantos filhos pudermos fazer, infelizmente eu não tive mais
irmãos, pois na gravidez de Manoel minha mãe teve problemas e
seu útero foi retirado, mas eu vou dar aos meus pais todos os netos
possíveis, já comecei com meu Nelsinho agora falta o resto, e pelo
andar da carruagem, meu irmão também quer botar um filho na
Jezabel, porra eu sequer consigo chamar ela de Mabel mais, meu
irmão também está querendo botar netos para dona Esperança da
advogada do diabo.
Eu errei agindo daquela maneira, enquanto eu estou
enfurnado assinando papéis ela está lá fora sendo respeitada pelos
meus homens, eles a tratam como se fossem um deles, e pelas
conversas que eu andei ouvindo eles dariam a vida por ela, por
Nelson e pela dupla dinâmica que está sempre com eles. Todas as
noites os dois dormem com Nelsinho e ela dorme em meus braços,
mesmo quando estamos trocando farpas ela sempre acaba em
meus braços e eu não quero mudar isso de forma alguma isso é
nossa família, eu os amo, inclusive amo o gato gordo, que parece
ter entrado em forma de tantos se embrenhar nos matos com
Nelson e Costela. Logo ele vai pra escola, e não há nada de
diferente no mundo que eu vá querer que não seja eles.
Nelson me olha com admiração, com curiosidade, com amor,
segundo Conça com mesmo olhar que eu e meu irmão olhávamos e
ainda olhamos para ele, Catarina me olha como minha mãe olha
para meu pai, e eu sei pelas histórias que ele contou, que eu sou
louco igual a ele e José Manoel com aquela cara de pamonha olha
do mesmo jeito para Jezabel. Somos diferentes deles, mas estamos
tendo, construindo o que eles fizeram, o legado Ferreira vai
caminhar por diversas gerações. E pelo andar da carruagem, meu
irmão está nessa empreitada comigo.

Enquanto meu irmão tagarela o quanto ele odeia minha


advogada, eu seguro firme o volante, meu sangue está rugindo em
minhas veias direto para meu pau e porra eu nem fodendo aquela
mulher naquela porra de vestido, naquele salto, volta sem mim, eu
nem sabia que ela conseguia usar salto, porra. Engulo em seco,
linda, a maquiagem estava sutil, mas o batom vermelho? Porra, a
porra do batom vermelho fodeu com tudo, eu imaginei a boca
pintada em volta do meu pau, me chupando, ela de joelhos e eu
segurando firme em seus cabelos.
Ela subindo em meu colo, e me montando como a potranca
que é, porra.
— Por que diacho você está rosnando? — A boca de égua do
meu irmão questiona, e tiro os olhos da estrada e olha para ele.
— Se quer chegar inteiro na porra do puteiro, cale a boca —
brado e ele bufa, cruza os pés e joga em cima do painel da minha
RAM, com um empurrão meu ele tira os pés. — Tira as patas, égua
veia, olha a cor da tua botina porra. Catarina apoia a prótese dela aí
porra.
— Deus, você realmente é um garanhão domado a ferro
quente. — Ele me provoca.
— Eu pelo menos sou domado na boceta que eu como e
você que foi domado e nem o cheiro da boceta da Jezabel sentiu?
— Ele dá um grito de ódio e soca meu ombro.
Catarina me bateria se ouvisse as palavras machistas e
nojentas que eu disse, mas ela não está aqui e como estou no
inferno meu irmão vai queimar comigo.
— É hoje que eu dou jeito na Mãe de Pantanha[AEG109]. —
Olho para meu irmão, e eu tenho certeza de que será o contrário.

Quando eu entro no bar a primeira coisa que meus olhos


procuram é ela, e eu a acho, em um canto escuro virando um gole
de pinga pura e fazendo uma careta, o vestido subiu e mostra as
coxas dela, porra essa mulher vai me enlouquecer, quando eu me
sento com meu irmão, eu tenho uma visão dela que ninguém mais
tem. Parece que as duas mulheres planejaram isso.
Quando a garçonete coloca a garrafa de Brahma à minha
frente, eu viro em um gole só, ela deixa duas garrafas de cerveja,
uma Brahma e uma Stella Artois, pois o vagabundo fresco do meu
irmão decidiu que não vai mais tomar Brahma, pois não quer ter
mais ressacas e dores de cabeça, fodido fresco, antes que eu possa
virar a garrafa outra vez, eu vou ao inferno e volto, ela está sem a
porra da calcinha.
Ela está sem calcinha.
Ela está sem calcinha.
Quando ela afasta as pernas e se inclina eu vejo de longe
sua boceta brilhar e chamar minha atenção, porra ela está
mostrando a porra da minha boceta?
Ela fecha as pernas tão rápido quanto as abriu, ela se inclina
e os seios fartos pedem para serem chupados, porra, eu quero por
um filho nessa mulher do diacho.
Quando ela se levanta, o meu mundo para.
— Que porra de música é essa? — Meu irmão questiona, o
sertanejo mudou de repente para uma música estranha.
— Coisa da cidade grande, abeia — digo sem tirar os olhos
da mulher que começa a dançar para mim, dentre todas as outras,
as mulheres que trabalham aqui, ela é a única que me tem pelas
bolas não consigo ver nada além dela usando a porra daquele
vestido sem calcinha em saltos que eu nem sabia que ela podia
usar.
Sabe que pode confiar
Seu colo é trono pra sentar
Seus braços me enrolam todinha
No movimento me sinto quentinha
Gosto de quando me toca
Gosto de quando me ajeita
Se eu tô de costas, me abraça
Me encaixa nas pernas e me beija
Me trato feito uma princesa
Ou não existe ou não vale nada
Safado e nem tá na cara[AEG110]
A porra da música que eu sei lá de que diacho saiu entra em
meu sistema, e porra a cada movimento do corpo gostoso, meu pau
pulsa em minha calça babando por ela, engulo em seco, quando ela
desliza as mãos pelo corpo dela e me faz ainda mais duro, pela
porra do escuro que está eu levo a mão ao meu pau e essa porra
dói, dói por ela o dia inteiro e ela é minha, minha mulher.
Mas quando ela vira em minha direção, porra. Eu sinto o
gosto dela em minha boca, e como se minha mente quisesse me
castigar e engulo em seco.
Tô doida pra dar pra você.
— Tô doida pra dar pra você — ela repete a porra da música
pra mim, e morde os lábios vermelhos.
Tá, tá merecendo demais
— Tá, tá merecendo demais — ela diz, e rebola, porra, eu
estico inda mais minhas pernas, meu pau dói. To tão duro que dói, o
sangue corre para meu pau, e eu sinto a porra da adrenalina, é a
mesma coisa que estar em um touro bravo, pelejando pelos oito
segundos.
Roubou a cena toda pro cê
— Roubou a cena toda pro cê. — Ela desce as mãos pelos
lábios vermelhos e os suja marcando os seios dela, eu não consigo
ver nada à minha volta, eu estou em transe, não ligo se outros estão
vendo, ela está fazendo isso pra mim.
Ele carrega minha bolsa
Ele abre a porta do carro
Ele me chupa todinha de quatro
Não tira a calcinha, só arreda de lado
— Você carrega minha bolsa, você abre a porta do carro,
você me chupa todinha de quatro, não tira a calcinha e só arreda de
lado. — Explodo e me levanto indo em sua direção, empurrando
tudo que está em minha frente.
Não existe uma calcinha para eu arredar de lado, mas no
final da noite ela vai ter uma boceta ardida e vai pedir por mais.
Meus olhos gulosos comem seu corpo, porra ela é perfeita, o
acidente não mudou nada, apenas fez dela mais forte, a porra da
minha mulher que agarra boi na unha, minha Catita, e eu amo isso.
Meu corpo bate no dela e ela ofega, se virando para mim, eu
a puxo pela cintura e antes que ela sequer pense em alguma
gracinha para me dizer minha boca está na dela, dando início a tudo
que eu quero fazer com ela até o amanhecer.
— Oi, meu peão. Me tire daqui me leve pra nossa casa. — É
a primeira coisa que ela diz quando minha boca se afasta da dela,
ela ofega molinha em meus braços, suas palavras me arrepiam,
mesmo eu querendo dizer uma porrada de coisa a essa potranca
arisca, as únicas coisas que saem são sujas e a fazem gemer.
— Não antes de ter sua boceta na minha língua. — Procuro
meu irmão e ele está aos beijos com Mabel, passamos por eles e eu
bato nele, os afastando.
— Dê um jeito de levar a Jezabel para casa, palito.
Não espero uma responda e apenas puxo a pequena coisa
em direção à minha RAM, vamos marcar a porra do banco de trás
antes de irmos.
Eu brinco com os lábios doces dela, lambendo os lábios e
sentindo-a se abrir para mim. É loucura o que estamos fazendo,
mas eu sei que é isso que ela queria quando eu parei minha RAM
atrás do Gata Dourada. Ela está com a mão sobre os lábios
tentando ser silenciosa, coisa que ela nunca foi e nunca vai ser, um
riso rouco escapa dos meus lábios, sou eu que estou de joelhos
para ela, mas ela que está à minha mercê.
Meu dedo a invade e ela ofega, gemendo e tremendo, ela
segura firme na borda da caçamba da RAM, minha boca explode
em sabores, a porra da boceta dela, a pinga que ela bebeu que
ficou nos lábios dela e a porra da Brahma que fecha o pacote me
deixando ainda mais duro por ela, sobre ela, e eu gemo no sabor.
Tudo que eu quero fazer é minha mulher gozar e porra dar a ela a
melhor sensação do mundo.
Ela geme enquanto meu dedo fode sua boceta e minha
língua brinca com ela, é como se meu sangue se transformasse em
pinga pura em minhas veias me deixando ainda mais fodido por ela,
porra.
Meus lábios moem duro seu clitóris e ela geme, de joelhos no
chão, com sua prótese em meu ombro, eu apenas quero que ela
mulher goze. Ela ofega chamando meu nome quando o orgasmo
explode através dela, vindo em minha língua, picante fechando a
porra da minha noite com chave de ouro, minha língua desliza em
sua boceta e invade o suficiente para ela agarrar meus cabelos, me
pedindo para continuar. Ela treme querendo mais, quando os
tremores explodem através dela novamente ela geme meu nome.
— Vicent-e. — Ela puxa meu cabelo com força, lentamente
me afasto meus lábios percorrem a sua coxa enquanto todo o meu
sangue ruge dentro de mim, mordo a pele macia do interior da sua
coxa, e deixo um beijo na outra perna em cima da prótese e ela
suspira.
É hora de terminar o que eu e essa pequena pinguça
começamos na nossa cama. Comigo dentro dela, se essa noite eu
não pôr um filho nela, desistir eu não vou, mas que eu vou colocar
eu vou.
— N-não pa-are-e... — Peço implorando, quando ele entra
dentre de mim em um ritmo forte, bruto, gostoso.
— Nem que eu quisesse, porra — ele brada em meu
pescoço, mordendo e literalmente me fodendo, mordo os lábios
impedindo o grito de sair, quanto mais fundo ele vai mais cheia de
nós dois eu me sinto, minhas mãos cravam em suas costas suadas
e ele me, estocando brutalmente, me fazendo ofegar e querendo
mais, sem que eu possa impedir ele nos vira, me coloca em cima
dele, ele dobra minha prótese.
— Não consigo — digo, fechando os olhos, sentindo meu
rosto corar e meu corpo querer esfriar. Ele rosna e move os quadris,
minha prótese se move junto e eu ofego, não é igual a como se eu
tivesse duas, mas a sensação é gostosa e quando eu abro os olhos,
os dedos dele estão indo na direção ao meu clitóris e a outra está
ajudando a me levantar. Ofego e rebolo.
— Cavalga porra, da próxima testaremos sem a prótese. —
Sua voz é quase um rugido, eu ofego quando os dedos dele pegam
meu nó duro, ele eleva meu quadril e ele acelera o ritmo me
mantendo no lugar eu gemo alto, sua boca vem para os meus seios,
eles os chupam de forma suja — Sou seu, porra. E vamos trepar na
posição que você quiser linda, daremos um jeito. — Ele bate fundo,
me fazendo gemer, suada e melada em cima dele. Ofego deixando
a fumaça de prazer tirar os pensamentos bobos da minha cabeça.
— Sou sua, peão. — Subo e desço a minha maneira,
fazendo-o gemer, o sinto fundo, Deus, a sensação de ser queimada
pelo prazer que se alastra entre nós dois é enorme, o cheiro de sexo
no quarto deixa tudo mais intenso, ele suado e vermelho, meu, me
faz sentir como se eu fosse a única mulher na terra, percebo que
minha condição jamais vai ser um problema para nós, pois ele me
deseja e me ama.
— Deixe vir, moça, me dê teu mel — fala rouco, grosso,
moendo meu clitóris entre os dedos, apoio minhas mãos em seu
peito e meu cabelo caem entre nós, meus olhos se fixam nele e
ofego ao vê-lo brincar comigo como quer, à sua maneira bruta,
gosta que me tira dos trilhos.
Deus, eu queria encontrar alguém que me tirasse o fôlego,
mas sempre foi ele, sempre foi. Ele me puxa tomando meus lábios
com seus levando tudo de mim, me fazendo sua, eu ofego sentindo
meu corpo tremer, querendo mais, querendo que ele me dê tudo.
Minhas unhas cravam em sua pele enquanto grito, o orgasmo
quebra em mim, avassalando todo meu corpo, me fazendo dele,
junto comigo eu o sinto estocar firme e se derramar dentro de mim,
o ar me falta quando eu caio sobre seu peito, ele geme me puxando
para seu peito, me abraçando ainda dentro de mim.
— Amo você, peão — declaro, baixinho, ofegante beijando
seu peito duro e vermelho, suado e cheirando a nós dois.
— Amo você, moça. — A voz dele grosa, ofegante e gostosa
soa em meus ouvidos, ele beija meu rosto e barba por fazer roça
minha pele. — Se continuar me apertando assim, vai me ter solando
essa bocetinha de novo.
— Por favor? — choramingo, quando ele nos vira e sai de
dentro de mim, sim minhas coxas melaram, ele sorri cretino, meu
rosto queima e sinto o dedo dele brincar comigo sem pudor algum
melando minhas coxas ainda mais, o dedo dele desliza um pouco
mais e brinca comigo, num lugar onde só ele esteve.
Deus, eu o quero de novo, sinto a pinga em meu sistema
potencializar tudo, inclusive a vontade de estar de quatro para ele, e
suas mãos deixando marcas vermelhas em minha bunda.
— Eu quero saber o que se passa nessa cabeça suja, moça,
quero realizar cada sujeira que sua mente fértil puder criar. — Eu
mordo os lábios e passo meus braços por seu pescoço suado, o
puxando para mim.
— Realmente? — questiono quase sem fôlego, os olhos de
gato dele me encantam, me chamam para ele, eles brilham, lindos e
escuros de desejo.
— Ainda duvida, moça? — rosna, me puxando com tanta
força que eu ofego ao senti-lo contra minha coxa, semiduro, mordo
os lábios. Ele me beija com força, as mãos dele me prendem, eu
estou em sua gaiola, antes eu me sentia presa, mas com ele, com
esse José eu sei que posso voar o quão longe eu for ele irá comigo.
As mãos dele deslizam por meus cabelos úmidos de suor, me
afasto de seus lábios duros e exigentes sem ar. Sinto sua mão
descer pelo meu corpo, fecho meus olhos para a carícia lenta entre
minhas pernas.
— Trepar com amor, patroa? — sussurra, e eu sinto meu
corpo todo se arrepiar e se entregar a ele.
— Trepar com amor, meu peão.
E da forma que quisermos. Me entrego a ele mais uma vez,
sabendo que ainda iremos longe, tão longe o quanto pudermos.
Acordo sentindo beijos em minhas costas nuas, abro meus
olhos devagar e vejo meu peão vestido, sentado na cama me
olhando.
— Dia, minha esposa — diz rouco e grosso.
— Dia, moço — ele rosna, — dia meu marido. — Reviro os
olhos e ele bufa. Mas sorri traçando o vale dos meus seios com os
dedos, engulo em seco, e me sento.
— Preciso trabalhar, que tal me dar uma carona, peão? —
Peço quando ele vem me dar um beijo e eu desvio e ele protesta.
— Bafo de cachaça com você sabe o quê? Nem fodendo —
digo imitando a frase que ele mais diz, nem fodendo, sentindo meu
rosto corar, olho para o canto da cama e minha prótese está
carregando, ele colocou minha prótese para carregar.
— Minha porra? — ele gargalha, quando faço cara de nojo,
me levanto e ele me pega pela cintura.
— Como consegue se mover sem a prótese, moça? —
questiona, e beija minha barriga nua.
— Equilíbrio, treino, constância e não desistir, insistência,
foram muitos tombos — digo e nua, sem minha prótese, sigo para o
banheiro com os olhos dele em mim, tenho medo de cair, mas me
mantenho firme.
Quando entro no banheiro e olho no espelho, vejo meu corpo
cheio de marcas, arranhões e roxos, mordo os lábios.
— Trepamos meia dúzia de vezes, está ardida, e ainda quer
mais? — Olho pelo espelho e ele está pronto para sair, mas muda
de ideia quando desafivela o cinto e abre o jeans. Vem e minha
direção colocando o corpo no meu.
Fecho meus olhos e antes que eu possa pensar direto, sinto
os beijos molhados em minha coluna, a vergonha que eu tinha de
não usar prótese não existe mais, ele faz com que me sinta uma
mulher inteira, isso fica claro quando ele me vira, e toma meus
lábios nos seus e me coloca na pia, me dando a certeza de que não
sairemos desse banheiro antes que nós dois tenhamos ao menos
acalmado a fome que sentimos um pelo outro.

Dois meses depois...


Aliso o lindo pelo do garanhão Shire de Zé, ele relincha
levemente e Nelson sobe na baia e os olhos dele brilham quando o
garanhão dócil vem em nossa direção. Magnus chegou já tem
algum tempo, mas ele chegou arisco e desconfiado, Zé quer ser o
primeiro a montá-lo, mas quer que eu verifique se ele realmente já
confia o suficiente para fazer isso, passo a cela nele com ajuda do
meu novo assistente Nelson, nós o levamos para fora, ele marcha
como um lorde e eu vejo meu peão de longe em sua Ram com uma
cara de poucos amigos, vido na nossa direção, quando ele para o
rosto bruto se suaviza e ele sorri. Ele vem em minha direção e deixa
um beijo doce em meus lábios, beija o topo da cabeça de Nelson e
acaricia o pelo de Magnus.
— Onde está Manoel? — pergunta duro, e eu suspiro.
— O tio tá na fossa — Nelson diz, sério. — Ele disse que ia
pescar, mas eu não podia ir com ele, mamãe me pediu ajuda —
Nelsinho comenta, ao me olhar e eu confirmo.
— Pescar? No final da porra da safra, esse filho da... —
Antes que Zé termine eu olho para ele. — Mabel tem razão quando
o chama de Lombroso, Torado no Grosso[AEG111].
— Ele foi pescar no Mato Grosso, amor — digo, meu marido
berra de raiva e vira nos pés, eu e Nelson caímos na risada. E ele
me abraça, vejo de longe Costela e Bisteca saírem do meio de um
capão de mato, pulando cheio de picão. Rio e guio Magnus.
— Já que seu pai não está aqui, que tal você me ajudar com
esse lindo? — Ele me olha cheio de medo. — Eu jamais te deixarei
cair, meu anjo. — Pisco e ajudo ele, com cuidado vamos andando e
eu vou direcionando nosso Magnus, os peões se juntam para nos
assistir, quando descido subir em cima do garanhão os peões
cochicham e forçando minha prótese eu o faço, o garanhão bate as
patas no chão e eu o guio, segurando firme as rédeas, quando ele
marcha Nelson segura firme.
— Pronto, amor? — Quando o peão abre a porteira eu instigo
Magnus e de repente estamos eles e eu correndo na direção do
pasto oeste, Nelson ri com o vento, Bisteca late, nos
acompanhando, olho para trás e vejo o meu peão ao longe montar
em um manga-larga e o instigar.
— Que tal dispararmos o coração do seu pai? — Nelson ri, e
eu instigo o cavalo, na direção do rio, quanto mais rápido eu vou
mais Zé grita comigo, gargalho e entro em uma das plantações de
trigo que levam ao riacho.
— Mãe, ele vai nos alcançar. — Nelson ri e assovia, Bisteca
nos alcança e deixa Zé para trás, quando chegamos ao riacho,
Bisteca vai direto para água, desço e ajudo meu menino a fazer o
mesmo, Nelsinho arranca a camisa e se joga na água, antes que eu
possa terminar de amarrar o cavalo, Zé para ao meu lado, e desce
como um raio, a bolsa preza no ganhão se abre, e de repente
Costelinha pula, indo na direção da água também.
— Esqueci, Costelinha. — Gargalho e Zé bufa e antes que eu
possa raciocinar, sua boca exigente está na minha. Beijo-a com
força e aprofundo rapidamente, e de repente o medo que eu já senti
antes passa por meu coração, beijo-o com força e o abraço sentindo
uma angústia sem tamanho em meu peito. Mas Nelson chama o pai,
e como eu não vim preparada apenas me sento na grama e vejo os
quatro brincarem na água, sorrio, e por um momento peço a Deus
que essa seja apenas uma sensação ruim.
Quando o sol finalmente abaixa, estamos de volta a casa
grande, meu peito continua apertado, mas eu não digo nada, Nelson
começará na escola, Zé está tocando a fazenda tão bem, mesmo
sem a ajuda de Manoel que vive sumindo, viajando ficando mais
longe possível que pode da fazenda. Eu não sei o que rolou na
viagem dos dois, mas quando eles voltaram no dia seguinte ele
tinha um olho roxo, e ela sequer veio falar comigo, apenas
mensagens, ou ligações, Mabel ficou tão estranha que de repente
ela parou de retornar minhas mensagens de WhatsApp e apenas
responde os e-mails de Zé.
Eu já tentei tantas vezes falar com ela, com medo de que eu
tivesse feito algo, mas, na verdade, ela sempre deixa claro que o
problema é ela, e não eu. Que ela quer distância de Manoel, e pelo
visto ele não quer insistir nisso, pois sempre está emprenhado no
mato, fazendo do meu peão um peão de escritório, isso o deixa
puto, mas eu sei como amansar a fera.
Eu coço meu vira-lata desalinhado atrás das orelhas. Seus
olhos castanhos brilham em desânimo, o Costela abre a boca
bocejando também com os olhos tristes, ambos atentos a qualquer
sinal de meu filho esteja de volta.
Abro a porta do nosso casebre sentindo o cheiro gostoso de
feijão, tiro minha botina suja de barro e coloco meu chapéu na
soleira da porta, arranco minha camisa sentindo meu ombro doer.
— Catita? — Chamo, Nelson sai da escola ao meio-dia e
meia. As férias dele acabaram muito rápido, porra eu sinto que meu
filho está crescendo cada vez mais, ele parece mais interessado na
fazenda, os olhos dele brilham, sempre disposto a me ajudar, se
tornou meu rabo e o rabo do meu irmão, meu pai vai levá-lo na
próxima Expo Agro em San Nicolás na Argentina[AEG112], ele só
fala nisso e nunca está cansado para nada, suas notas no começo
foram difíceis, mas agora ele quer sempre ser o primeiro em tudo, o
que eu não fiz quando era moleque estou fazendo com ele, Nelsinho
sempre tem um trabalho na cartolina ou arruma um tempo para
enfiar a cara nos livros de ciência.
Porra, eu e Catita jamais imaginamos que ele poderia
aprender tudo tão rápido e se tornar nosso garoto de ouro. Tudo
isso um dia será dele, já que meu irmão se recusa a dar um neto a
minha mãe, meu irmão e Nelson se tornaram inseparáveis, porra às
vezes isso breca em meu peito, o ciúme, mas quando ele me chama
de pai, meu peito estufa de orgulho por esse garoto. Não sei o que
houve entre meu irmão e Isabel e também ele disse para que eu
não me meter, então fiquei calado, mas tô louco pra pegar ele na
curva.
Não são nem onze horas e meu estômago já ronca pela
comida dessa mulher. Ela fez o parto de uma ovelha ontem, e
quando deitamos na cama ela caiu dormindo em meus braços.
Nelson teve pesadelos e veio para cama, ele abraçou o
travesseiro, mas eu o puxei contra meu peito, ficando no meio com
os dois em meus braços, ele pode ter sete anos[PSS113], mas
ainda é um menino inocente e carinhoso demais, a porra toda que
ele viveu não foi capaz de tirar dele a inocência e o brilho que ele
tem, sou orgulhoso do meu filho, ele me ajuda sempre disposto a
aprender, insiste em aprender a montar, mas eu ainda não acho que
seja a hora mesmo ficando horas e horas no touro mecânico que
meu irmão deu pra ele, Nelsinho já consegue ficar cinco segundos,
mas não é o suficiente. Não ainda. Mesmo ele e a mãe dele quase
tirando meu tino do lugar.
Vou direto para cozinha, mas paro quando chego à porta.
— Que porra é essa? — É instantâneo, meu corpo enrijece e
meu pau breca em minhas calças, ela se inclina abrindo o fogão, e
quando ela faz isso a porra do short jeans atola entre as coxas dela,
fazendo os lábios da boceta dela escaparem, que diabos é essa
porra?
Nem fodendo isso é um short, meu olhar sobe pelo corpo
cheio de curvas, parando nos seios cheios cobertos apenas com
uma faixa preta, quando ela se vira em minha direção vejo os seios
dela saindo da porra da faixa, ela olha para mim e sorri, a porra do
maldito sorriso. O meu sorriso. Quando ela coloca o frango em cima
do fogão e tira as luvas, ela sorri e o rosto cora.
— Oi, peão. Está muito calor. — Acabo com o espaço entre
nós dois, pegando-a pela cintura.
— Nem fodendo você coloca os pés pra fora de casa com
essa coisa — rosno, e ela morde os lábios. Ela passa os braços por
meus ombros e eu forço seu corpo contra o meu, ela suspira, suor
escorre pela pele macia e cheirosa. Desço minhas mãos pela coxa
dela, agarro a prótese, erguendo-a e ela abre a perna. — Posso ver
sua boceta, porra.
— Eu sei, nem sequer pensei em sair assim, queria que só
você visse, peão. — Quando ela morde os lábios meu sangue corre
mais rápido, mas o animal dentro de mim se acalma. — Eu tranquei
a porta assim que você saiu, só abri quando ouvi o barulho da
caminhonete e sondei pela janela. Só você me vê assim, peão. —
Eu juro por tudo que é mais sagrado que eu posso sentir sua boceta
contra meu jeans.
— Me esperou assim? — Minha mão desliza entre nós dois e
inclino meu corpo fazendo ela ofegar contra a bancada, quando
meus dedos encontram o jeans eu noto o quão folgado ele é na
boceta dela, meus dedos acham os lábios melados com facilidade, e
porra é o paraíso mais quente que eu já provei, melado, apertada
com o inferno. E minha.
— O que acha? — Os dedos dela vêm para meu jeans sujo.
Me afasto dela. — Já almocei, perdão não lhe esperar. A fome foi
maior.
— Tô sujo, linda, vim só pra comer comida, não sua boceta
— minto como um covarde filho da puta. Eu sempre quero fodê-la,
sempre. — E pelo visto, a dona não está só com fome de comida.
— Tem certeza? — Ela ofega quando pega meu pau quase
explodindo o zíper do jeans, ela abre a fivela do meu cinto e abre o
botão, meus dedos deslizam pelos lábios molhados até encontrar
seu nózinho, quando meu dedo pressiona o ponto de prazer dela,
ela ofega, mas continua na missão de soltar meu pau.
— Se vai acabar emprenhada se continuar assim, porra —
rosno entredentes, porra fodemos feitos os coelhos do meu irmão, e
mesmo assim nunca é suficiente para botar um filho nela. E porra,
eu sei quanto ela quer isso, a ideia de ter outro filho, porra tira meu
tino do lugar.
— Acho que você já conseguiu esse feito, peão. — Meus
olhos vão para os olhos dela marejados, mas cheios de desejo. —
Parabéns, vai ser papai de novo, Nelson agora é nosso mais velho.
— O choque que passa por meu corpo me tirando da terra, meu
coração bate em meu peito.
— Tô com a mão na sua boceta, não fala um trem desse. —
Ela me dá um soco no ombro e se joga contra mim, me fazendo
gemer quando meus dedos dançam na boceta melada.
Porra, vou ser pai de novo. Porra.
— Parabéns, papai.
— Foi na porra da Brasília. Eu tenho certeza — afirmo,
fodemos tem duas semanas no capô de Madimbum e ela cora,
como sempre. Meus dedos deslizam pra dentro dela. — Esse era
seu plano, me contar que tá buchada com a minha mão fodendo sua
bocetinha? — questiono, e ela geme rebolando em meus dedos,
solto a prótese dela com cuidado e ela geme quando meus dedos
saem dela. Me viro jogando um pano em cima do frango verifico se
há algo no fogo e ela dá um gritinho quando eu a pego nos braços.
— Amor? — Ela ri, beijando meu pescoço. Eu não vou subir
pra cima, vou ficar aqui mesmo no sofá. Me sento com ela no colo e
ela geme quando minha boca desce na dela com fome. Perdi a
porra da fome por comida.
— Falta mais quatro — digo, moendo meu pau nela, ela abre
as pernas, apoiando-as no meu sofá.
— Filhos? Deus quer criar uma boiada? — Ela ofega quando
eu encontro sua boceta, e afirmo rosnando contra sua boquinha,
puxo seus lábios em meus dentes e ela geme se esfregando ainda
mais em.
— Se tá pingando, porra. — Eu me afasto dela vendo meu
jeans melado também, ela cora, me fazendo rir. — Tetas maiores,
tua boceta tá mais doce e mais melada do que já é. Se tá querendo
me dar sempre que eu tô perto. — Olho para barriguinha dela e
porra não vejo a hora dela se esticar com nosso filho.
— Descobri ontem, mas com todo a loucura do parto de
Linda, não consegui pensar em nada elaborado para te dizer. — Ela
morde os lábios. Nas últimas semanas ou ela tinha meu pau
fodendo sua boceta, ou o tinha na boca. Sem me dar trégua, é ela
colocar a mão em mim e já quer foder, quando a minha mão desliza
por seu rosto, minha aliança grossa de ouro brilha, em minha mão,
porra, nem fodendo eu tiro.
— E se queria me contar comigo na sua boceta? — Sorrio,
falando sujo com ela, quando ela nega, mas mesmo assim se
esfrega em mim.
— Eu ainda não tinha pensado em como contar, eu realmente
senti muito calor durante a manhã e toda vez que eu sinto calor eu...
— Ela cora e ofega apoiando as mãos no meu peito. — Penso em
você. — Fecha os olhos rebolando em meu colo. Meus dedos
acariciaram sua barriguinha.
— Tô aqui sempre que quiser aliviar o calor — digo, beijando
seus lábios de leve e sorrindo. Tô sempre aqui, moça, e sou todo
seu.
— Mas e se for a qualquer hora? — Ela ri, mordendo os
lábios.
— Achar ruim é que eu não vou — brinco, abrindo o botão do
short. Revelando sua bocetinha, ela se afasta e tira o short com
cuidado ainda apoiando a mão em meu peito, dou firmeza a sua
cintura quando ela desce o short pela prótese, ela o empurra pra
longe e volta nua para meu colo. Ela termina de abrir minha calça e
eu ergo os quadris com ela em meu colo, fazendo meu jeans e
cueca descerem. Meu pau salta duro e babando se acomodando
entre suas coxas, ela desliza o dedo pela cabeça espalhando minha
porra que vaza, não fodê-la ontem e nem hoje quando eu saí cedo
me fez miserável.
Ela leva o dedo melado aos lábios e chupa com vontade
gemendo.
— Amo quando chupa laranja. — Porra, ela sabe que isso me
desmonta. Eu, meu filho, meu pai e meu irmão fomos pescar ontem
e porra eu chupei laranja-do-mato a tarde toda.
— Se vai acabar comigo, minha linda — balbucio, moendo o
corpinho dela contra meu pau, segurando firme em sua cintura, meu
pau desliza pelos lábios melados e vermelhos de necessidade. Meu
pau desliza se melado nela, Catita geme e fecha os olhos colocando
as mãos em meus ombros. Ela está mais sensível e porra eu devia
ter notado, quão melada ela fica, porra isso me deixa fodido,
somente minha voz e capaz de fazê-la pingar e só eu posso fazer
isso.
Ela ri quando eu mordo seu pescoço sensível se contorcendo
em meu colo e para de repente, pegando meu rosto entre as mãos
pequenas e delicadas, minha barba roça na mão macia e pequena.
Os olhos dela marejam e eu aperto sua cintura, fazendo-a fechar os
olhos, porra, ela vai ficar mais louquinha do que já é cheia de
hormônios.
— Te amo, peão — diz e uma lágrima escorre por seu rosto
lindo. O sorriso que brinca em minha cara é de orgulho de nós dois,
da nossa família, eu ainda tenho a merda dos últimos meses em
meu sistema. Porra, ter ela e meu filho aqui, agora é tudo que eu
poderia pedir. Tudo.
— Você é minha, mulher. E nem fodendo é capaz de mudar
isso, você é mãe dos meus filhos, minha mulher, minha amante,
minha companheira, minha doutora — reafirmo, fazendo-a sorrir
entre lágrimas, ela ofega quando ergo seu corpo e deslizo para
dentro dela, ela geme e morde os lábios, minha cabeça pende para
trás se apoiando no sofá, gemo quando os lábios dela atacam meu
pescoço de forma lenta, ela desliza, devagar, me levando todo pra
dentro dela. — Amo você moça custosa — digo enquanto os lábios
dela exploram meu pescoço, porra os dentes dela vão deixar
marcas, e só de pensar eu me afundo dentro dela com mais força,
fazendo-a gemer e suspirar meu nome engasgando.
Porra, eu vou ser pai, pai pela segunda, vez, meus dedos
descem para barriguinha macia, amar essa mulher e tudo que ela
me deu é um caminho sem volta, que eu jamais pensei em voltar
atrás, eles são minha base, ela me deixa louco e porra se eu não
sou o cara mais louco desse mundão.
Trêmula sem acreditar eu agarro o teste de gravidez e minha
madrinha segura meus ombros de forma firme, Conça me oferece
água com açúcar e eu bebo ainda com meu corpo trêmulo, meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Eu estou grávida, madrinha. — Levou meus dedos a
minha barriga e aperto o teste com força, engulo em seco sentindo o
mundo parar para mim, por um segundo o mundo inteiro parece ser
meu, parece caber dentro do meu peito e sorrio tentando prender as
lágrimas em meus olhos. Conça me olha e me puxa para um longo
abraço.
— Faça nascer a segunda geração desses homi custoso do
diacho. — Mordo meus lábios e abraço Conça.
— Se ele for grande, como nossos meninos foram, que
Nossa Senhora do Bom Parto nos ajude, fia. — Minha madrinha me
abraça.
— Deus, eu estou grávida. — Antes que elas possam falar
algo um peão entra na cozinha esbaforido pedindo licença — digo,
no exato momento que meu padrinho entra na cozinha, ele dá um
grito e coloca a mão no peito.
— Eu to veio, repete porque às vezes eu to surdo. — Eu rio,
ele me pega nos braços e me gira, me deixando levemente tonta. —
Agora que se mata o Zé de vez, de nervoso.
— Licença, patroa? — Ele me chama e eu me viro, ele tira o
chapéu, seu olhar angustiado me deixa em alerta. — Linda entrou
em trabalho de parto e o bicho está brecado[AEG114] lá, dentro e
não sai, o patrão está xingando pra tudo que é lado.
— O dever me chama. — Pisco para ela e as abraço.
— Sem esforço demais, menina. — Conça ralha e eu pisco.
— E sem pegar peso. — Madrinha emenda e eu sorrio para
duas, meu padrinho nada diz e eu juro que vejo ele limpar as
lágrimas do rosto.
Se elas souberem que eu rolei duas vacas ontem com
deslocamento de abomaso, e costurei seus estômagos, elas
provavelmente não me deixaram mais para fora, Zé está sempre
presente quando eu faço manejo pesado, o medo de que eu me
machuque e seus ciúmes o fazem me rondar como garanhão no cio.
[AEG115] Pego meu macacão e minha botas de borracha e hora
desse pequeno e da mamãe trabalharem.

— Estão surdos ou o que, porra? — Zé grita, assim que entro


na baia eu escuto o relincho alto do meu marido.
— Eles não são surdos, e você vai pedir desculpas, se
acalmar e me ajudar a colocar esse lindinho ao mundo. — Ele se
vira num rompante, sem camisa, suando, vermelho como pimenta,
sujo, e extremamente irritado, o rosto dele se suaviza.
— Mas eu não falei para não chamarem ela porra. — Ele
troveja, se virando para os peões que estão em um misto de alívio e
diversão.
— José — advirto apenas usando seu nome de forma firme,
o corpo dele retesa.
— Desculpem — ele quase rosna, puto e me olha.
— Meninos? Água morna, feno fresco e uma baia limpa e
fechada por favor. — Dou as ordens e eles mais que depressa vão
cumprir meus pedidos, aponto o dedo para o meu peão. — E você
pegue as correntes, vamos ajudar essa mamãe.
Duas horas depois, eu me jogo no feno sujo e limpo o
pequeno.
— Vamos, respire. Respire, Não ouse fazer isso comigo. —
Quando ele mostra sinais de vida, eu respiro aliviada, Zé tira as
correntes das patinhas dele e eu o limpo com água morna, a mãe
fraca demais apenas levanta a cabeça. — Vamos cuidar de vocês
dois — digo e me levanto, sendo seguida por meu peão, meu corpo
amolece levemente e ele me ampara.
— Cansou, moça? — afirmo, mas ignoro a leve tontura.
— Acho que sim. — Rio e beijo seus lábios, passo a mão por
seu rosto suado, e saímos deixando o resto para os peões.
Depois de um banho quente, eu sequer consigo ir à casa
grande para jantar, caio na cama como um saco de batas, agarrada
a Zé, que reclama por não jantarmos, durante a madrugada eu
escutei ele batendo panelas na cozinha, um homem do tamanho
dele come um boi se deixar, não seria diferente.
Deixo o sono me levar pensando como vou contar a esse
peão, que ele realmente realizou sua maior tarefa, colocar um filho
em mim, levo a mão a minha barriga, devemos ter apenas três
meses ou menos. E Deus, algo me veio à mente, mordo os lábios
me sentindo, suja, minha mente adormeceu com uma ideia muito
suja, que envolve a mim e o peão sem roupas.
Acordo e olho para o relógio na mesa, já são quase nove da
manhã e pelo silêncio nenhum dos meus meninos estão em casa.
Olho para o closet e mordo os lábios.
Eu sei como tirar esse peão dos trilhos. Mas antes eu e esse
pingo de gente vamos comer tudo que não comemos nos últimos
tempos e se que Deus permita que eu não jogue tudo para fora
depois.

— Mas nem fodendo você vai sair de casa, com nosso fio na
barriga e agarrar boi na unha, tá ficando louca, mulher? — Eu
desabo no peito suado do meu peão, sem conseguir respirar,
sentindo-o dentro de mim pulsar, mordo os lábios e ofego sem
fôlego, mas ele não está apenas suado e vermelho, olhos brilhando
escuros, cheios de desejo.
— M-ma-as eu n-nem disse nada. — Consigo dizer, e me
apoio no peito dele, descobrimos juntos que cavalgar nele sem a
prótese é bem mais confortável e Deus, ele vai tão fundo, que eu o
quero sempre assim. — Mas estou grávida e não doente, você vai
ter que agarrar boi na unha por mim de agora em diante, peão.
Digo e beijo seus lábios, os olhos dele escorrem para meus
seios nus.
— Porra, eles estão ficando enorme, e porra não vou
reclamar nenhum momento se você me deixar colocar meu pau aí,
só pra fazer um teste. — Ao invés de ralhar com ele, eu gemo com a
ideia suja, de ter ele meus seios e minha língua deslizando por ele,
ele vindo em meus lábios. — Imaginou, né, safada.
— Sim — digo, mas mesmo assim sinto meu rosto corar.
— Se até esse menino sair daí eu ainda tiver um pau e você
não me esfolar, eu boto outro logo em seguida apenas pra testar a
potência da dona — brinca, ele perdeu aos poucos a mania de me
chamar de moça e começou com a dona dele, arrasto, sujo e nada
inocente.
— Amo sua boca suja, peão — comento, aproveitando um
pouquinho mais desse homem, intenso e meu.
— Eu amo, você por inteira, minha dona.

Nelson beija minha barriga e riu, ele me ajuda com alguns


galões de vitaminas, e se senta num banquinho passando a mão na
testinha suada, hábito igual ao do avô e do pai, idêntico.
A ideia de ter outro irmão o deixou eufórico, ele gritou, pulou,
dançou com Bisteca, Costela e a única coisa que ele queria saber é
quando nasce. Já marcamos nossa primeira consulta na cidade
vizinha, eu não estou sentido nada além de fome e sono a mais, e
uma vontade louca um desejo insano por um peão casca-grossa
que está mais arisco do que antes, vejo de longe ele apartar o gado,
sem camisa, chapéu na cabeça.
Ele jamais vai parecer um fazendeiro cheiro de luxo vai
sempre ser esse Zé, o Zé bronco, ciumento, territorialista e simples.
Tem apenas três dias que esse peão sabe da gravidez e já quer me
pôr louca.
Quando Zé com sua cara de cavalo e meu padrinho se
afastam para longe do curral com as vacas, eu me apoio na cerca.
Respirando fundo, logo começam os nascimentos dos bezerros,
decidi apartar as meninas prenhas em pastos mais planos, pois elas
sempre vão se afastar ir o mais longe possível e claro, nos lugares
mais difíceis. Zé concordou e conseguimos apartar quase mil
mamães que terão bebês logo.
Umas das cercas de contenção do gado arrebentou e agora
eu tenho um peão parecendo um boi bravo em cima do garanhão,
indo para longe, Nelson me ajuda com a porta do barracão e ele
empurra,
De repente Bisteca late e começa a rosnar, Nelson se levanta
e eu me viro dando de cara com dois homens. E um terceiro se
aproxima... Praxedes, delegado filho da puta.
— Posso ajudar os senhores? — Os homens sorriem, e
olharam para Nelson e eu vejo ódio e nojo nos olhos deles, puxo
meu filho pelo braço e antes que eu possa assimilar ele é puxado
para longe de mim. Meu corpo é empurrado e eu vou contra a cerca
pegando o balde de ferro e lançando contra o maldito homem, ele
tenta me pegar, mas eu rolo e ele e cai direto na lama e na cerca de
arames farpados.
— Mãe! — Eu me levanto, mas paro quando vejo Praxedes
puxar meu filho.
— Só queremos o ladrãozinho e nada mais, senhora — ele
diz, o nó se forma em minha garganta e antes que eu possa
raciocinar eu estou avançado nele, mas paro quando ele puxa a
arma em minha direção. Mas nem fodendo, assovio tão alto, mas
tão alto que vejo Bisteca voar na direção dele, meu gato assim
como fez com Daniel Bragança sai de trás das latas de ferro e voa
em Praxedes, ele puxa o gatilho e antes que eu pense muito eu uso
minha prótese e chuto sua perna, eu puxo meu filho e me jogo no
chão, sinto os chutes em minhas costas e grito.
— Vagabunda, quer defender preto vai apanhar porra. Vadia
gosta de apanhar, deem a essa vadia uma lição e peguem esse
neguinho lazarento antes que... — Eu não penso em nada, apenas
quero ter forças para me levar.
A Nossa Senhora, mãe eu te faço um pedido, rogue por meus
filhos, guia-os a segurança e protege-os, mãezinha doce eu só te
faço esse pedido.
Com força eu chuto um dos homens, eles tentam puxar
Nelson, mas Bisteca e Costela se embolam com eles, quando
alguns peões percebem a movimentação eles correm em nossa
direção. Quando Praxedes tenta correr eu pego um dos baldes de
ferro e jogo conta ele, quando ele tenta se levantar chuto seu rosto,
com força.
Nelson que sempre está com seu estilingue no bolso
começar a puxar na direção dos dois que tentam correr, mas Bisteca
e Costela não deixam, eu grito por ajuda, o mais alto que posso,
chuto Praxedes, fazendo o nariz dele sangrar, quanto mais meu coto
dói mais eu sinto ódio dele, o chutando com minha prótese, Nelson
continua jogando pedra nos outros dois e quando os peões os
derrubam no mato eu sinto mãos fortes me puxando para longe do
maldito porco sujo.
— Chega, patroa. — Mal consigo ouvir a voz de Pauleta, meu
sangue ferve e eu continuo tentando chutá-lo. — Chama o patrão
pelo rádio — ele diz a alguém, e eu me solto dele me apoiando na
cerca, quando Praxedes tenta levantar Pauleta chuta seu rosto e ele
apaga. Meu filho corre em minha direção soluçando e chorando, me
jogo no chão e o abraço. Apertado.
— Ninguém, jamais nesse mundo vai te tirar de mim. —
Nunca senti uma força tão grande invadir meu peito, eu o abraço, eu
não o gerei, mas o amo e ele é meu filho e não tem ninguém no
inferno desse mundo para contestar isso.
Eu nunca me senti tão sufocada, mas dessa vez é diferente
eu pareço ter uma força que jamais tive antes, foi como se tudo que
eu vivi até hoje passasse novamente diante dos meus olhos, mais
uma vez eu me vi perdendo algo, perdendo em meu menino.
Os olhos amedrontados dele me partem a alma, vejo os
peões juntando os homens, que tentam resistir, meus olhos vão
para longe, para o pasto, é como ver o inferno se abrir, o garanhão
vem em nossa direção, meu peão parece não ver nada, fecho meus
olhos, e me apoio na cerca, aí que eu sinto o gosto de sangue em
meus lábios. Quando eu abro os olhos, o meu peão está pulando a
cerca e caindo na nossa frente.
— Porra, no caralho vocês nunca mais ficarão sozinhos. —
Os lábios duros dele vem nos meus, e quando ele se afasta
ofegante. — Vocês estão bem, porra, Nelsinho?
— Nós três estamos bem — digo e Nelson soluça em meus
braços, sem que eu espere o meu peão puxa meu menino e me
abraça, Nelson abraça o pai firme e soluça e eu toco minha barriga,
meus filhos estão bem!
— Mas corajoso que vocês, não tem — meu peão diz ao meu
menino e o abraça, Bisteca lambe Nelson, e Costela lava as patas
perto de nós.
— O que vamos fazer com eles, patrão? — um dos peões
questiona, empurrando um dos homens.
— Vou cuidar da minha família e depois eu vejo, amarrem
eles — ele diz e eu fico em pé, tonta Zé me ampara e eu ofego
levando a mão em minha barriga.
— Se você não me segurar firme, tonta, eu vou lá e termino o
que comecei com esse racista de merda. — Ofego de dor, Zé pega
nosso filho nos braços, ele se agarra ao pai como um carrapato.
Tento chutar Praxedes, mas ele desvia da minha prótese. —
Desgraçado.
— Calma, minha dona. Dele cuido eu depois — Zé tenta me
acalmar e me puxa para longe. — E eu vou cuidar bem cuidado.
Eu olho os três dormindo na cama e me levanto, eu deixei
essa merda passar antes, e não vou deixar passar agora, com
cuidado eu me levanto, coloco a prótese da minha mulher para
carregar e quando eu me viro, Nelson, Bisteca e Costela me olham
eu os chamo com a mão e ele saem da cama, os três em silêncio
me seguem, meu filho carrega o Costela e Bisteca cheira minha
bunda. Volto para o quarto e vou até meu closet, procuro a caixinha
entre minhas coisas e acho a velha caixinha, lá no fundo, respiro
fundo, isso está aqui há dez anos, e pertenceram aos seus pais,
eles nunca usaram alianças, ambos usavam medalhas de ouro no
pescoço, ela uma Nossa Senhora da Conceição e ele uma medalha
de São Pedro, os padroeiros de nossa cidade. E pego meu violão.
O medo invadiu minha alma, quando eu os vi naquela maldita
situação, eu me vi perdendo minha família, meus filhos, quando
chegamos à sede, minha mãe já estava esperando com o doutor,
minha Catita estava mais preocupada em chutar Praxedes, ela
agarrou nosso filho e não largou mais, e com ultrassom improvisado
ouvimos o coração do nosso pequeno ou pequena. Eu abri a boca a
chorar e quando finalmente chegamos em casa depois de Conça
nos empanturrar de comida, decidi que já não é um contrato, essa
porra nunca foi apenas um contrato para adotar nosso filho. É sobre
nossa família.
Eu botei um filho nela, criaremos raízes juntos, plantando
nossas sementes que deram frutos e levarão o nome Santiago
Ferreira por todo esse Brasil afora.
Nossos erros nos trouxeram até aqui, e daqui vamos seguir,
juntos. Coloco Nelson sentado na ilha da nossa cozinha e ele
boceja.
— O que vamos fazer, pai? — questiona, coçando os olhos.
É possível ver as marcas roxas na pele dele, em seus bracinhos,
tento controlar a porra da minha raiva, Praxedes é assunto para
depois.
— Café amanhã para sua mãe e seu irmão. — Seus brilham
e ele boceja, enquanto coloco o café da manhã dos dois folgados,
dou a ele um Danone conto meus planos, Nelsinho fica todo feliz e
bate palmas.
— Vou separar as garrafas de tubaína. [AEG116]— Ele
esfrega uma mão na outra e sorri, o abraço forte. Beijando sua
testa, eu olho para cozinha sem saber o que fazer.
Porra, e se eu fizer um ovo frito?

Quando eu termino de passar o café, Nelson cheio de farinha


estica a massa das nossas oreias de padre. Ele ri e me olha
desolado.
— Isso não vai dar certo, pai — reclama. — Tá salgado
demais. — Coloca um pedacinho de massa na boca, gargalho me
sentindo, meu peito tá cheio de farinha, eu e ele de cueca na
cozinha, cheio de farinha, Costela e Bisteca rolando na farinha do
chão como se fosse carniça, pior que o diacho não deu certo. Mas
pelo menos é de coração.
— Que cheiro de morte é esse? — A voz cheia de sono
chama nossa atenção, engulo em seco, o óleo queimou
acidentalmente, mas mesmo faltando açúcar meu café ficou bão
demais.
— Nós resolvemos fazer uma surpresa para você e para o
bebê, mãe. — Todo sujo de farinha meu filho a abraça, que dá um
sorriso lindo, mordo os lábios vendo o robe de seda cair como uma
luva pra ela, logo a fina seda não vai mais fechar e porra como eu
estou pronto para que isso aconteça.
Quando ela se serve e pega um bolinho eu pego o violão e
Nelson uma panela, em menos de quinze minutos meu menino
decorou a música e disse que vai me ajudar. Quando ela se vira e
pega a xícara de café, minha voz invade a cozinha seguida por uma
panela, latidos e miados, ela se vira devagar coloca a xícara na pia.
Minha voz sai engasgada, deveria soar esquisito uma criança
trepada em uma cadeira de madeira batendo no ritmo da música ou
tentando, um cachorro latindo e um gato miando. Mas porra, mais
nada no mundo é certo que isso.
— Fui feito pra você, você nasceu pra mim. É o coração que
diz assim. Amor, não tem mais jeito te tatuei no peito pra sempre tá
grudado em mim. Tem magia o teu sorriso encantador com você
tudo é tão bom. — Nelson balança de forma lenta, me fazendo sorrir
entre lágrimas, minha pequena grande mulher coloca a mão nos
lábios e chora. — Não tenho medo de dizer que é amor. Fui feito pra
você, você nasceu pra mim é o coração que diz assim. Amo até os
seus defeitos, imagine os beijos já tomou conta de mim. Fui feito pra
você, você nasceu pra mim é o coração que diz assim. Amor, não
tem mais jeito, te tatuei no peito pra sempre tá grudado em mim. —
Quando eu termino mais cantando do que chorando, encosto o
violão na bancada, pegando a caixinha e me ajoelho.
— Eu n-não te tatuei no peito, porque eu te tatuei no coração,
dona — gaguejo, afastando as lágrimas dos meus olhos. — Casa
comigo, dona, de vestido branco, buquê de flor e eu de terno? —
imploro, engasgado, Nelson pega Costela no braço e Bisteca no
outro, tortos eles nos assistem, ela treme entre lágrimas e fecha os
olhos.
— José... — Sua voz é apenas um fio.
— Aceita, mãe, que vamos levar as alianças, a senhora e o
pai tira do dedo e finge que é a primeira vez que vocês estão vendo.
— Nelson simplifica tudo e eu rio entre lágrimas, e me levanto. Ela
se aproxima e toca meu rosto.
— São deles, não são? — questiona, quando toca as
medalhas dos santos de seus pais.
— Aceita, dona? Ser a única dona desse coração enquanto
ele bater? Pois vai bater por vocês até o fim.
— Eu já sou a dona do seu coração, meu peão. E o meu é
seu. — Quando ela diz isso, meu peito parecer um boi
desgovernado, meus dedos tremem quando eu coloco a medalha
em seu pescoço quando ela se vira, ela descansa entre seus seios
cheios. Engulo em seco. E deixo um beijo na medalha tocando sua
pele. Quando eu me viro e me abaixo, ela faz o mesmo que eu,
deixando um beijo na medalha.
— Já podemos ir falar com o padre? — questiono,
desesperado, e ela ofega rindo quando eu a pego nos braços e beijo
seus lábios, meu guri tenta nos abraçar, mas a carga dupla e
folgada em seus braços não deixa. O pego no colo e sorriso quando
ela beija meus lábios em um beijo simples, doce e diz devagarinho,
tirando meu coração fora do lugar e rodando meu mundo.
— Fui feito pra você, você nasceu pra mim.
Instigo o cavalo a ir mais longe, adentro a mata, o sol das três
caleja a terra, o cheiro de terra invade meu peito, indicando que vem
vindo garoa, a fazenda vai ficando para trás, sinto a medalha de São
Pedro bater em meu peito. Quando eu chego à beira da clareira,
dois dos meus peões se levantam do chão tiram o chapéu.
— Tarde, patrão — Mirto diz, Leonardo apenas balança a
cabeça, em respeito a mata, tiro meu chapéu e sigo na direção das
bananeiras, Conça me ensinou que jamais deve se entrar de
chapéu na mata.
Quando eu chego perto dos homens amarrados e sem
camisa, eu me sento no chão, mas antes tiro meu chicote da fivela
da cinta.
Eles me olham assustados, mas nada dizem, os olhos de
Praxedes flamejam ódio.
— Eu era guri, quando eu ouvi essa história. Havia um
menino conversando com o preto velho, um senhor sábio, fumando
cachimbo e tomando café preto, quando o menino lhe perguntou:
“Mas senhor, eu tenho muito medo.” E o Preto velho lhe disse: “Não
temas, se desviasse do caminho mesmo sabendo onde chegar,
você chega. Quem sabe andar na mata, ela lhe guiará.” — digo e
me levanto. — Eu nunca entendi direito o que isso queria dizer, mas
quando eu encontrei aquele menino, aquele mesmo menino que
matava a fome em um pé de bananeira como esse, que um dos
senhores judiou, entendi que eu jamais deveria deixá-lo sozinho,
porque eu José Vicente Ferreira Neto é a mata que guia e vai guiar
aquele menino, pois quando eu estiver de barba branca e ele me
dar netos, vou dizer a eles que um eu entendi o valor dos meus
erros, e o valor da vida. Mas eu nunca deixei de ser o bicho ruim
que fui criado pra ser, agora depois dessa reflexão para não dizerem
que eu sou todo maldade, quem vai ser o primeiro? Os senhores
amam ser racistas, mas vamos ver o quanto os senhores aguentam
em bananeira, como aquele menino aguentou, sem derramar uma
lágrima, me diga Praxedes, ele chorou enquanto você batia nele?
— Não. — Foi seco, curto e grosso.
— Ótimo, pois quem chorar eu vou curar o couro na
aguardente.

— O que fazemos com eles, patrão? — Leonardo pergunta e


eu jogo o chicote cheio de sangue no chão.
— A patroa é boa na briga, patrão. Desculpa falar, mas com
todo respeito, a mulher do senhor é bruta e acho que agarra até o
bicho pelos chifres se for preciso. — Eu apenas sorrio orgulhoso, e
assovio, subo em cima do cavalo me inclinando na direção da mata.
— Chamem o novo delegado, ele sabe o que fazer — digo, e
saio a galope me sentindo sujo, podre, os gemidos deles estão na
minha cabeça, mas a cada chicotada eu descontava tudo, tudo que
meu filho passou, três caipiras do interior mais misturados que tripa
de carneiro se achando puro-sangue, racistas de merda, milhares
de ideias passaram por minha cabeça, mas quando eu olhei nos
olhos de Praxedes e não vi arrependimento algum, diferente dos
outros dois, eu vi ali o ser humano podre, sem conserto que o
maldito se tornou. Ele vai apodrecer na cadeia.
E eu pretendo garantir que ele tenha a melhor estadia na
capital, ele realmente vai sentir no couro o que é beber aguardente
no seco e comer poeira de boi bravo. Eu dou uma semana, antes
que o boato se espalhe e ele viva o inferno na terra. Quando eu
paro em frente o açude e tiro minha roupa, eu finalmente me dou
conta que não sinto nada além de satisfação. Foda-se se eu me
tornei sujo ou pior, mas ele vai pensar duas vezes antes de abrir a
boca novamente e dizer algo.
Me jogo no açude vendo o sol ir embora, minhas mãos doem,
mas minha alma está leve, minha mulher sabe o que eu vim fazer
aqui e se eu deixasse ela mesmo viria e arrancaria o couro daquele
filho da puta, eu não o desejo a morte, mas não capaz de desejar a
vida para alguém que odeia o outro apenas pela cor da pele.
Não me arrependo do que fiz, mas sei que nada mudou
dentro daquele maldito sujo, e pelo céu que começa a ficar laranja,
e pela coisa que Conça nos ensinou, que ele apodreça e que a terra
o leve de volta. Mesmo sem merecer.

Quando chego em casa já está escuro, minha mulher está na


rede lendo algo para Nelson, a rede quase toca o chão e mal
balança, afinal não é só minha Catita e meu filho que estão na rede,
vendo o pôr do sol, meus dois bichos sequer olham para mim
quando eu passo direto para um banho.
Quando eu saio minha mulher está na porta do banheiro com
uma toalha na mão e um sorriso no rosto, ela fica na ponta dos pés
e beija meus lábios.
— Jantar na casa grande, meu peão — ela diz e se inclina, o
vestido entra nas bandas da bunda dela.
— Sem calcinha? — rosno.
— Não, mas ela é tão pequena que você terá que usar os
dentes, meu peão.
Mulher gostosa, diacho.
Ela é minha paz, maldita piada desgraçada do inferno.
E o melhor erro que eu cometi na minha vida.
É como da primeira vez, as famílias em volta da roda, a
comida, todos me abraçam e comemoram nosso bebê, o fruto do
nosso amor. Quando meu padrinho e minha madrinha me abraçam
apertado, tenho certeza de que o amor deles transborda. Meu peão
caminha entre seus funcionários, sorrindo, a carranca não existe
mais, ele devolve os abraços, e quando uma das caseiras lhe
oferece um bebezinho, seus olhos vêm para mim e ele pega o
pequeno pacotinho. Os olhos dele brilham e lhe dou um sorriso.
Vou em direção à mesa, minha boca se enche de água ao ver
o frango assado, quando eu me sento em um toco com meu
pratinho, meu filho faz como da primeira vez, se senta em minhas
pernas, e eu acaricio minha barriga, meu bebê, nosso bebê.
É como da primeira vez, mas, dessa vez, não há medo no
olhar do peão, não há dúvidas em meu coração apenas amor e
esperança, o ar calmo, fresco me faz sorrir, a lua sobe e a fogueira é
acessa, e eu? Só como, sorrindo e cumprimentando todo mundo,
aqui é meu lugar, minha terra.
Se um dia havia dúvidas de que esse era meu lugar, eu o
achei, eu precisei voar, quebrar as asas e me encontrar, admitir para
mim que minha história com esse peão não foram apenas erros,
mas sim acertos, juntos, com dois filhos, um gato gordo e um vira-
lata caramelo cheirador de bundas alheiras. Mordo meus lábios
quando meu peão começa a cantar.

Seguro a medalha entre meus dedos, as lágrimas molham


meus olhos, querendo ter meus pais aqui, mas sei que seja onde
eles estiverem, que estejam me vendo, vendo onde eu fui capaz de
chegar, sinto um nó na garganta e mordo os lábios, me sentindo
emocionada e grávida demais para segurar as lágrimas. Sinto mãos
fortes em minha cintura. E eu relaxo meu corpo, contra meu peão,
seu cheiro me acalma, sorrio para lua cheia, engulo as lágrimas e
me viro, as mãos vêm diretamente para meu rosto.
— Ainda vai se casar comigo, não é, dona? — A voz dele tem
uma leve angústia no fim, mas eu sorrio e o puxo pela gola da
camisa polo.
— Ainda tem dúvidas que eu te amo, peão? A eternidade vai
ser pequena para todo o nosso amor — digo e o puxo para um
beijo, a mão calejada e forte desliza por minha barriga, e eu o sinto
sorrir contra o beijo.
— E no fim, eu botei um fio mesmo em você, dona. — Ele ri
em meus lábios e me puxa para o pomar.
— E olhe que eu acho que ainda demorou, meu peão.
Os olhos do meu peão, brilham olhando para mim, querendo
me devorar inteira. Como se estivesse fazendo um esforço para não
me agarrar, ele toca meu rosto e respira fundo, mordo os lábios e
deslizo minhas mãos pela camisa. Isso faz com que me sinta
poderosa. Sinto que estou no controle, como se pudesse fazer
qualquer coisa.
Movo minhas mãos para as suas costas e lentamente
tocando a pele quente. Ele enfia a mão debaixo do meu vestido e
me dá um sorriso cretino, que mesmo apenas com a luz da lua é
sujo, seu olhar cheio de promessas me faz suspirar e me sentir
desejada e amada por ele. Quando as mãos dele encontram minha
calcinha de renda, eu ofego, sorrindo.
— Foi aqui não é peão, que me tocou aquele dia? — brinco
com minhas unhas em suas costas, e quando ele afasta minha
calcinha e os dedos calejados tocam meus lábios molhados,
desejos e prontos para ele.
— Eu lembro em cada canto, com cada detalhe que eu já
trepei com você nesses matos, dona. — Ofego e ele ri, com seu
jeito bruto. — Não vou te foder aqui. Vem comigo. — Antes que eu
possa andar, ele caminha comigo para longe, e quando ele entra no
celeiro e me coloca no chão e eu perco o clima. Ele acende uma luz
que ilumina tudo.
— Não, Zé.
— E eu e você, amor. Sem erros do passado, sem cobras,
sem enganos ou desencontros. Sobe nas escadas, potranca, ou eu
vou te levar lá pra cima.
Subo degrau por degrau, com dificuldade por conta da
prótese, quando eu chego lá em cima não há vários sacos de fenos.
Mas sim uma cama.
— Você não fez seus peões trazerem uma cama aqui pra
cima, não é, José? — pergunto quando ele sobe, Zé me ignora e se
joga na cama. — O que eles vão pensar de nós dois? — protesto, e
minha cara queima de vergonha.
Ele gargalha e me olha de forma cretina.
— E a dona acha que eles não sabem que foi trepando
gostoso que eu coloquei esse potrinho aí, tira a roupa e vem aqui
para eu te amar, dona.
Faço o que ele pede, tiro o vestido e me sento na cama
antiga de madeira, ele beija minhas costas, enquanto tiro minha
prótese, quando eu me viro, ele já está sem roupa, e eu sequer
notei que ele fez isso.
— Tô com desejo, Zé — digo e olho para ele, duro me
querendo.
— Diacho? Agora? Porra, fio, se quer comer o que, mulher?
— pergunta e ameaça sentar, mas eu o empurro de volta na cama,
minhas mãos deslizam por seu peito duro e ele estremece, ofego,
me sentindo molhada a calcinha minúscula me aperta e roça em
mim, deixando tudo ainda pior, deslizo meu corpo dando beijos e
leves mordidas no corpo gostoso do meu peão.
— Não é o que eu quero comer, meu peão, é o que quero
chupar — sussurro, e passo a língua pelos meus lábios, de longe eu
escuto a música vindo da casa grande e canto para ele. — E o sabiá
cantou. Quantas noites dorme o nosso amor. Passa o tempo
devagar, nasceu o sol, curte a preguiça antes de acordar...
— Porra, se você ficar dengosa assim até... — Antes que ele
termine de dizer minha boca está nele, o levo nos lábios, matando
meu desejo e sua vontade. Meus dedos brincam com ele, que geme
acariciando suavemente seu comprimento latejante. E antes que ele
possa dizer uma palavra, aperto meus lábios e ele geme mais,
tocando meus cabelos e os juntando em um rabo de cavalo grosso.
Meu peão geme, olho e ele me encarra como uma fera,
vermelho, suando, rígido e os olhos agora escuros querendo apenas
uma coisa, que eu o faça vir em meus lábios. Eu empurro minha
língua, sabor agridoce enche minha boca e eu fico ainda mais
molhada, ofego quando o material da calcinha de renda roça mais e
mais contra mim me fazendo gemer devagar enquanto pressiono
meus lábios molhados nele. E desta vez, eu continuo duro, áspero e
cru, meu. Quando ele vem em meus lábios eu estremeço e ofego
pegando tudo dele, ele tenta me afastar, mas o levo em meus
lábios, chupando e lambendo.
Quando eu me afasto, passando a língua nos lábios ele me
puxa contra ele, ofego, possuída, desejada, dele.
— Minha vez de matar o meu desejo, dona — diz sujo, rouco
e cheio de promessas em sua voz.
— Não esperava menos que isso, meu peão.

Meses depois...
Trêmula eu seguro o buquê de flores, e aperto o braço do
meu padrinho.
— Fia, se você demorar um pouco mais, vai enfartar o
homem. — A voz de Conça fala, engulo em seco, minha barriga de
nove meses está enorme, nosso bebê chuta a todo o instante, e
juntos, decidimos que só vamos descobrir o que ele é quando
finalmente tivermos ele ou ela nos braços e juntos também
decidimos casar antes... Respiro fundo e mordo os lábios
— Pronta, fia? — Meu padrinho pergunta e mordo os lábios,
confirmando a ele.
— Estamos. — Acaricio minha barriga.
Quando a música começa, e a cada passo que eu dou, vendo
nosso filho e nossa dupla dinâmica no altar com o homem da minha
vida, meu coração dispara, mordo os lábios quando vejo meu peão
chorão limpar os olhos, Mabel de um lado, Manoel do outro, sem se
olharem e isso corta meu coração, não quero que eles deixem os
erros do coração os separarem.
Antes que eu chegue ao altar no centro da fazenda, meu
peão está vindo na minha direção, ele tira o chapéu da cabeça e o
coloca na minha, pega a mão do pai, todos os funcionários riem, e a
beija me puxando para ele.
— Tá demorando demais, veio. — Ele me puxa, e termina de
me levar até o altar, Bisteca e Costela deitam em meu vestido e
Nelson segura uma caixinha com toda a força do mundo. — Seu
padre, perdão, já estamos casados é só o senhor abençoar. —
Todos gargalham, e eu o belisco, rindo.
Não há declarações bonitas, apenas meu peão bruto dizendo
sim, me apressando e me beijando, como se eu fosse fugir, rio,
quando eu me afasto sem fôlego, todos aplaudem e coro, mas a voz
de Manoel me para.
— Porra o Bisteca mijou no seu vestido — Manoel diz e toca
nosso vira-lata que olha sem entender. Quando eu olho para baixo
há uma poça em meus pés.
— Nossa Senhora do Bom Parto, vai nascer. — A voz de
Conça me faz levar a mão na barriga e sorrir quando a fisgada me
atinge, meu peão me ampara. E me olha vermelho.
— Respire, José — digo calma e desço. Ele fica plantado e
eu me viro, olhando para ele com todo amor do mundo, todos riem e
tentam se afastar — Vai ficar aí parado e perder nosso maior acerto,
meu peão?

— O doutor está vindo e...


— Cale a boca, peão — brado e engulo a dor. — Me dê a
mão, e respire amor. — Respire, tento respirar com ele, na verdade,
acho que é ele que vai trazer esse bebê ao mundo.
— To sem ar — ele diz vermelho, perdendo toda sua pose e
gemo de dor.
— Pois ache seu ar, ou eu vou te botar para fora, peão! —
ameaço, e respiro fundo, Conça me toca mais uma vez e eu ofego
de dor. — Ou me ajuda a colocar seu bezerro para fora, ou não
colocará outro bezerro em mim tão fácil. — Ele rosna e respira
fundo, fecha os olhos e quando os abre eu vejo o meu cavalo de
volta.
— Ah. — Ofego. — Deus, não vai colocar outro bebê em mim
tão cedo, José... — A dor me consome, mas eu não consigo parar
de rir da cara de desespero do meu peão.
— Não me chama de José, porra — ele diz ainda mais
nervoso.
— É hora de fazer força e colocar esse bebê no mundo, fia —
Conça diz, minha madrinha entra no quarto e eu grito quando a dor
atravessa meu corpo, aperto a mão e sinto José passar o pano
molhado em minha testa.
— À moda antiga, fia, traga essa bênção ao mundo — minha
madrinha diz, não temos tempo de esperar o doutor voltar.
Quando o chorinho forte agudo invade o quarto, resfôlego,
sem ar, a dor parece ir embora, tudo vira em câmera lenta, como se
dissesse estou aqui e cheguei. Quando eu vejo o pequeno rostinho,
todo sujo e meu peão, chorando feito criança, as lágrimas vêm com
força, uma felicidade, uma alegria que mesmo esgotadas depois de
horas de força me invade sem pedir, licença.
Meu peão trêmulo se senta ao meu lado o rosto dele está
banhado em lágrimas, ele diz algo baixinho e o chorinho cessa,
aquele ser pequenininho, nosso bebê é perfeito.
— É menina, amor. — Ele chora, trêmulo com o pequeno
pacotinho nos braços, nosso pacotinho, a bebê em seus braços é
como ele suas feições são de um pequeno anjo, nosso anjo.
— Lua Madalena — digo, e meu peão repete baixinho.
— Nossa Lua Madalena.
Quando a porta se abre, três coisinhas sem jeito entram, meu
menino seguido de seus fiéis companheiros, se aproximam, e com a
pequena irmã ainda suja ele se senta na cama, quando eu o chamo
e olho para ele tem os olhos cheios de lágrimas, ele pega a
mãozinha dela e aperta forte.
Mesmo suja, acabando de vir ao mundo, ela segura o dedo
do irmão, e eu choro, baixinho, me dando conta de que meu maior
sonho não só se realizou como se completou à sua maneira.
— Vocês ainda vão sair no Madimbum em lua de mel? Já
coloquei todas as garrafas e escrevi recém-casados, como meu pai
pediu. — Olho para a cara de cachorro com dona do meu marido e
ele ri entre lágrimas. Meu marido coloca nossa filha em meus braços
e pega Nelsinho no colo e beija sua testa.
— Com toda certeza, filho, com toda certeza.

FIM
Um ano e meio depois...
A bolinha gorda se apoia na cerca e ri quando a vaca lambe
sua cara, meu filho atende a pequena irmã, minha doutora sai de
dentro da baia suada e com um lindo sorriso no rosto.
— Bom dia, meu peão. — Ela vem em minha direção, doce,
cansada e suando, minha mulher beija meus lábios. — Teremos
mais Shires, no próximo verão, amor, espalhados pelo Brasil. — Ela
sorri, respiro fundo.
— Que tal a doutora encerrar por hoje. Lua? — Antes que os
dois deem de cara na bosta de vaca puxo a pequena coisinha
pelada, apenas de fralda e short, e sorrio, quando meu rapaz limpa
a mão suja de esterco em minha calça.
— Quanta merda, pai — reclama e ri, beijo a coisinha gorda
que coloca as mãos sujas em meu rosto. Nelson pega a irmã do
meu colo, a coloca junto com Bisteca e Costela no carrinho de mão
e sai em disparada, em direção à casa grande.
Antes que minha mulher grite eles já estão longe, a risada
gostosa da minha Lua chama atenção de vários peões, Nelson tem
todo cuidado do mundo com a irmã, onde ela está ele está atrás,
mesmo com um adulto sempre perto é o nosso quarteto. Tiro o
chapéu da cabeça e coloco na cabeça da minha esposa, ela ofega
quando eu a puxo e a beijo.
— Mabel ligou, dona. — Digo e respiro fundo. — Os
Bragança querem falar com você, amor — digo e ela ofega é
estremece em meus braços. — Ela já está a caminho.
Depois da merda toda que rolou entre Mabel e meu irmão
mesmo eles sendo padrinhos de Lua, Mabel jamais olhou na cara
do meu irmão novamente. E ele seguiu em frente mais fora da
cidade o quanto pôde, afastado, mas meus filhos ainda são seus
pontos fracos, basta a pequena chamar titio Mamo e ele volta de
onde estiver, assim como Isabel que ama meus filhos loucamente.
— O quê? — Ela me olha sem acreditar. — Depois de tanto
tempo? Eu... Não... Adalto Bragança está vindo para fazenda. Eu só
não vou lhe meter bala porque o que ele tem a dizer é necessário e
você merece ouvir — informo, e ela suspira.

Olho para o velho sentado em minha cadeira do escritório,


minha mulher está sentada em minha cadeira e eu em pé atrás dela,
Mabel lê folha por folha atentamente, e quando ela termina o velho
nos olhos, há algo lá que eu não consigo decifrar, ele olha para
minha esposa com admiração, isso é inegável, desde que chegou
em sua cadeira de rodas motorizada, ele apenas entregou os papéis
a Mabel e nada disse, juro que se não fosse o oi que ele deu a
minha filha quando ela empurrou a porta e entrou como um boi
desgovernado em meu escritório, acharia que o caralho do velho é
mudo, ele nada diz, vestido como se estivesse em mil novecentos e
os caralhos a quatro, ele mantém os olhos firmes em minha esposa,
que agora alimenta a pequena bezerra em seu seio de forma ávida.
— Diga se eu estou correta, senhor Bragança. — A voz de
Mabel corta a sala silenciosa, já que o único barulho que era
possível se ouvir é minha filha matando sua fome. — Está
devolvendo a minha cliente tudo que seu filho roubou? 3,7 milhões
de reais? Corrija-me se eu estiver errada. — Minha mulher ofega e
eu olho para o velho, sem entender.
— Vou morrer em alguns meses, e não tenho herdeiros para
o dinheiro, meu filho lhe tirou muito mais que isso, senhorita, e eu
estou devolvendo apenas o que posso em espécie. Meu filho,
perdeu a dignidade ao tocar em você, jovem, eu vi você ser a única
mulher que o fez sorrir de verdade, mas ele se perdeu em meio ao
poder que você trouxe consigo, já que poder eu nunca dei a Daniel,
mas dei condições de que meu filho pudesse conseguir construir
seu império e não ruir o seu legado e o legado dos Santiago, e a
você minha jovem, achei que poderia seguir em frente após a morte
da mãe dele, mas eu errei com meu filho e o perdi também, e estou
perdendo a batalha contra o câncer. — Ele tosse levemente, e leva
um lenço a boca, rapidamente ele limpa, mas eu vejo a tempo o
carmesim manchar o pano. — Você seguiu em frente, voou
novamente e realizou seu sonho — diz, e olha para minha filha. —
Os dois tem dois filhos lindos, e eu os invejo, pois não são meus
netos, como eu achei que Daniel me daria.
— E-eu não posso aceitar, senhor... — Minha esposa
estremece quando eu noto minha filha sugar seu seio com mais
força
— Um último pedido de um velho prestes a dedicar a morte
aos vermes que primeiro roerão as frias carnes do meu
cadáver[AEG117] — ele diz, minha esposa sorri para a fala estranha
do velho maluco com a porra dos dois pés na cova.
Quando minha mulher assina o papel, e o velho se vai, eu
olho para minha mulher, ela se levanta e eu a pego nos braços.
Nossa filha dorme tranquila, alheia a todo esse diacho de papelada.
— Que caralhos de asas é esse negócio de verme? — ela ri
e beija meus lábios.
— Referências às aulas de história que você faltou, meu
peão. — Minha mulher pisca rindo da minha cara de idiota.
Continuo sem entender, feito um idiota, o velho realmente já
está é dentro da cova, pensando em verme, estremeço, porra de
velho maluco.

Coloco minha filha no berço e vou em direção ao quarto do


meu filho, Nelson está sentado perto da janela, em seu baú de
brinquedos, quando me dá um sorriso, eu entro no quarto dele, e me
sento no chão ao seu lado, mesmo com as costas doendo, pela lida
do dia.
— Pensando em que, fio? — questiono e ele olha para o céu
e fecha os olhos.
— Fiz uma promessa e não cumpri, pai — diz e quando abre
os olhos inocentes há lágrimas, nesse tempo eu aprendi muito com
ele, ele é quieto, risonho e observador, vejo Bisteca pular na cama
dele e cheirar a bunda de Costela, de lei ele sempre conferir a
traseira do nosso gato ranzinza e companheiro.
— E que promessa foi essa, meu menino? — especulo, e
passo a mão por seu cabelo baixinho. E ele fecha os olhos.
— Prometi proteger ela e a deixei lá, pai. — Quando ele me
diz aquilo meu coração dispara. — Ela é minha amiga ou era —
revela, e olha para o céu.
— Fio, há coisas nessa vida que não está em nossas mãos,
você é apenas um menino, meu menino forte, você é como bambu
se lembra? O destino às vezes tem peças que só vamos
compreender quando a vida nos mostra nesse nosso mundão
grande, fio.
— E se eu nunca mais a ver? — questiona, e eu vejo a dor
em seus olhos inocentes.
— Isso só o tempo vai nos dizer, meu filho.
Só o tempo vai ser capaz de dizer, meu peito se aperta e
quando eu o coloco na cama, ele me abraça e sinto seu cheiro de
criança e o medo se acalma dentro de mim, o medo de perdê-lo,
jamais imaginei ser capaz de amar alguém que eu sequer gerei,
mas que meu coração diz que é meu.
Ele ainda é novo para entender o sentido da vida, mas já é
calejado o suficiente para saber que a vida é dura e dói, e eu farei o
possível e o impossível para que ele nunca mais perca nada na
vida, só ganhe, cresça íntegro, honesto com o coração bom, mesmo
que o tempo tenha deixado feridas nesse pequeno menino eu, sua
mãe, sua irmã e seus companheiros Costela e Bisteca estarão aqui
para tudo.
O tempo é curto demais, a vida é rápida, não há tempo mais
para se apegar a erros ou apenas deixá-los de lado sem consertá-
los.
O tempo é abençoado, mas rápido demais. Demorou demais
para eu ter minha família em meus braços, e não há tempo para
colocar eles em outro lugar que não seja o centro da minha vida.
Ansiosa vejo Lua andar toda tortinha na direção do avô, ele a
coloca no cangote e como sempre meu filho coloca seus
companheiros dessa vez em dois baldes e eles caminham para
longe em direção à sede, Lua tem apenas um ano e seis meses,
mordo meus lábios e olhos para o teste simples, a cidade toda deve
saber que eu comprei um teste de gravidez na farmácia ontem, mas
com a loucura que foram meus últimos dias, eu realmente entendi
tudo, mordi meus lábios. Garanti que meu peão não fosse até a
cidade e fosse parabenizado por um alarme falso, que agora não é
falso mais, ouço ele entrar em casa e gritar um cacete,
provavelmente bateu o dedinho mindinho em algum brinquedo de
madeira de Lua.
Infelizmente Adalto Bragança faleceu três dias após deixar
todo aquele dinheiro em minhas mãos, eu senti pena, do fundo do
coração, não havia nada além dele e de seu caixão no cemitério da
família Bragança em São Paulo, eu e Zé mandamos uma coroa de
flores. Eu não sei o que fazer, Mabel prometeu me auxiliar, Zé
reformou a casa dos meus pais, e como presente de um ano de
casados passamos a noite lá, como meu marido diz, trepando em
tudo que é canto. Eu chorei ao ver tudo exatamente como era,
quando éramos crianças, e depois dois adolescentes descobrindo a
vida, a casa virou parada obrigatória aos turistas e eu decidi junto
com Zé dar a casa de meus pais como patrimônio histórico cultural
de Cerrado Azul ao prefeito.
— Catita? — ele grita, jamais perdeu seu jeitão xucro e
espaçoso, mas ele é o meu peão e vai ser papai novamente.
— Aqui em cima, peão. — Devolvo com um grito e rio saindo
do banheiro, ajeito o short e o top já conhecidos por meu peão ainda
me cabem, talvez vire nossa tradição fazer filhos em Madimbum e
usar essa roupa para anunciar um novo bebê.
Quando ele entra no quarto feito um boi bravo ele para na
soleira da porta do quarto e me come com o olhar, a gestação de
Lua me deixou marcas, mas ele as ama, e eu me amo como sou,
sendo Catarina Alípio Santiago Ferreira, mãe dos seus filhos e sua
mulher.
— Porra, eu sabia. — Ele já foi arrancando a camisa e
puxando o cinto desesperado. — Te botei outro filho não é, prenha
de novo, não é, dona? — Ele ri safado com os olhos marejados,
nem emocionado ele perde o jeito chulo e sujo. — Sua boceta tinha
um sabor mais doce quando você estava esperando Lua. Eu não
seria eu se não conhece esse gosto gostoso de mel. Foi na porra da
Brasília, não é. — Rio quando ele me pega no colo e vai comigo em
direção à cama. — Foi por isso que meu pai estava levando nossos
filhos, ele já sabe. — Nego.
— Só você meu peão. Há quanto tempo sabe? — Mordisco
seus lábios e ele geme.
— Percebi essa semana, sua boceta está mais molhada e
você está no meu pau sempre que pode trepar comigo em qualquer
lugar, dona. — Gargalho quando ele ataca meu pescoço.
— Te amo, peão.
— Te amo, dona.
É o suficiente para que meu coração dispare é que eu lembro
de algo que ouvi uma vez... Na vida é preciso ter raiz, não âncora.
A raiz te alimenta, a âncora te imobiliza, minhas raízes estão aqui e
antes que posso pensar em chorar de emoção, meu peão está entre
minhas pernas me fazendo chorar por outro lugar.
Meu peão jamais vai mudar seu jeitão e eu nem quero que
mude, ele amadureceu por ele, por mim e por nossa família, e agora
Costela não é apenas meu gato gordo é nosso gato gordo. E
Bisteca? Continuará cheirando bundas em quanto puder, e meu
Nelson talvez tenha sido obra do destino, mas eu ainda acredito no
amor e nas segundas chances.
Nas chances de errar e consertar nossos erros!
— Virgem? Você é virgem porra? — A voz dele não me
abala, pelo contrário, só prova o quão errado isso é, já cometi o erro
de dar meu coração a ele uma vez, e ele o quebrou de todas as
formas possíveis, e Deus que me perdoe, mas quando Sabrina o
colocou chifres, eu quase aplaudi de pé como uma verdadeira puta
do Gata Dourada, quantos mais homens passavam na vida da
minha prima ao mesmo tempo que estava com ele mais meu
coração se sentia vingado, ele roubou meu primeiro beijo para
depois simplesmente assumir minha prima. Eu fugi dessa maldita
cidade, mas voltei e não me arrependo.
Me afasto das mãos dele ofegante, percebendo o quão longe
esse orgasmo e a merda da pinga me levou. O orgasmo que ele me
deu, realmente foi melhor do que eu imaginei, em um beco, no meu
beco, onde provavelmente toda a cidade já trepou, meu corpo
treme, minhas pernas estão moles, por ele, por tudo que ele me fez
sentir, meus lábios estão inchados por seus beijos, sujos, brutos
cheios de desejos e promessas que eu não quero levar até o fim,
pois eu sei onde isso vai dar, e meu coração não está em jogo,
jamais envolverei meu coração nisso novamente, maldita pinga,
maldita ideia de provocar esse homem.
Quero um homem que me ame, me venere, eu não mereço
menos que isso, quero alguém que mereça meu amor e eu não
aceito menos que isso, não aceito ser apenas a neta da velha puta
Maria Isabel Queiroz Pinto, que o diabo a tenha, como ela mesmo
dizia, preferia ir para o inferno e queimar no fogo ardente, pois sabia
que era uma puta velha, eu amei minha avô, mas sou tudo que ela
não queria que eu fosse, sou tudo que meu pai queria e com
orgulho.
— Por que o espanto, Lombroso, Torado no
Grosso[AEG118]? Deus, homem, você é desprezível, a que papel
eu me prestei. O que acha mesmo que eu vou dar minha virgindade
a você? — questiono, fazendo o frenesi, o álcool e o tesão se
dissiparem, me afasto dele, que me olha com sua cara de pamonha
e eu dou de ombros ajeito meu vestido o melhor que posso, mas ele
ainda me tem em seus braços, sentindo a ardência entre minhas
pernas eu me afasto dele.
Valeu a pena gozar? Valeu, mas não para esse homem
cretino, que nos meus sonhos idiotas já foram meus, na vida real de
todas as putas do bar e mulheres da região. E eu não vou entregar
a ele algo que ainda é especial para mim, pode ser um pensamento
idiota, essa ideia foi idiota, mas isso de mim ele jamais vai ter.
Em nossa família, puta jamais foi xingamento, afinal para a
família da minha mãe é o que nos fez viver, o que alimentou minha
mãe e meus tio, a arte da putaria, a arte do sexo, a arte de foder e
trepar sem se envolver, mas eu sempre fui igual ao meu pai, quero
um amor que varra meus pés, quero um amor como é o dos
Ferreira, como foi o dos Santiago, não como o dos meus pais, meu
pai tirou minha do puteiro, para ela apenas voltar para lá após meu
nascimento e continuar fazendo o que ela sabia fazer de melhor,
foder e trepar por dinheiro, pensem o que quiser, mas ela me amou,
à sua maneira, mas amou. A arte milenar da putaria está em nossa
família há anos, mas eu não vou por esse caminho, meu pai ainda
sonha em achar sua metade, já que minha mãe sempre foi inteira
por si só.
Existem pessoas que são completas por si só, mas outras
querem se completar e construir uma família, e eu sou a segunda
opção, e logicamente não é com o pálido à minha frente, ele já
trepou com todas as mulheres da região, e eu não serei uma delas.
— Não está esperando que eu fique vermelha como uma
moça virginal inocente ou simplesmente dê para você em um beco
decadente, não é, Ferreira? Deus, você é tão previsível e patético.
— Dou de ombros e arrumo meu vestido, sentindo o espírito
zombeteiro de Maria Isabel encostar em mim.
— Maria Isabel... — E pela primeira vez depois de anos, ele
me chama pelo meu verdadeiro nome, sem ser um apelido ou uma
ofensa ao meu intelecto. A voz dele é grossa, xucra, os cabelos
loiros caem em seu rosto, que realmente é perfeito, ele o irmão são
a mistura perfeita dos pais, mas ele é Esperança em tudo, inclusive
no sorriso. Ele é rústico, sempre carrancudo, mas é apenas uma
fachada, pois ele vive sorrindo e sempre tem uma gracinha esperta
nos lábios, ele sempre tem algo para dizer como provocação.
A cara dele é impagável, como sempre eu o deixo sem
palavras, eu já fui assim um dia com ele, ele me fazia engolir o
silêncio, eu ficava muda à mercê dos seus encantos, hoje eu tenho
o prazer de ver esse homem simplesmente ficar vermelho de ódio e
sem palavras.
Isso já me afetou um dia, e algo me diz que a velha Maria
Isabel, a matriarca da família realmente deixou a marca de puta em
mim, uma puta desprezível que não consegue confiar em homem
algum para amar novamente.
— Onde pensa que vai? — A voz rouca soa irritada, e eu dou
de ombros, ainda sobre o efeito do álcool, merda.
— Para minha casa. Eu ainda sou uma puta com
compromissos oficias, afinal era isso que você pensava e dizia, não
é? Que eu jamais seria mulher para casar, e você tem razão, não
sou mulher para casar com você, pois em algum lugar há um
homem foda pra caralho que vai ser meu da mesma forma que eu
serei dele. E esse homem nunca foi e nunca será você.
Minto, afinal ele já foi esse homem um dia, muito antes deu
perceber que pra ele, eu jamais passarei da neta da falecida puta
velha da cidade.
E como sempre, eu Maria Isabel Queiroz Pinto — merda, é
uma péssima analogia ter Pinto no nome e ser dona de um puteiro.
— O deixo sem palavras.
Essa merda toda seria cômica, se não fosse trágica.
Continuo a caminhar pela estrada, fui largado pelo meu irmão
e pela mulher que eu jurava que eu teria um gosto, eu precisava
provar Maria Isabel apenas uma vez, que a merda toda do tesão
que eu tenho por ela iria embora, mas quando ela gozou em meus
dedos, e senti seu gosto, percebi era o fim da linha, de uma estrada
que por anos tentei não andar. O escuro não me assusta, o que me
assusta é o turbilhão desgovernado em meu peito, o ar me falta,
mas não é pela caminhada, é pelo olhar duro, frio, sem sentimentos
que eu já vi muito quando era menino nos olhos de uma mulher. Eu
já vi aquele olhar no rosto velho e cansado de Maria Isabel Pinto. E
agora anos depois eu posso vê-lo no rosto da mulher que
provavelmente eu mais errei em minha vida. Vi o olhar no rosto de
Isabel, minha Mabel, a advogada do diabo, a Jezabel do Egito.
Virgem, ela é a porra de uma mulher virgem, sinto meu peito
se apertar por todas as vezes que fiz piadas sujas que eu sabia que
iam magoá-la, mas mesmo assim eu as fazia, mas quando ela
começou a devolver tudo, algo dentro de mim, acordou, um animal
que quer aquela mulher curvilínea a todo custo, uma mulher que
porra até o diabo deve temer.
Maria Isabel é o orgulho do pai, ela é sua única herdeira e ela
jamais errou, desde que se formou e assumiu o lugar do pai na
fazenda, uma mulher forte que com o passar do tempo não mexia
apenas com meu tesão, começou a mexer com meu coração, com a
porra do meu coração, sei lá onde essa merda vai me levar, mas
ouvir que eu não sou homem para ela feriu meu ego, afinal eu não
sei que cor ela gosta, sua comida preferida, seu filme de terror que
mais a deixa com medo, se ela tem medo de arranhas ou baratas.
Sua cerveja favorita é Stella Artois, mas é única coisa que eu sei
sobre ela, pois eu mudei e adquiri o mesmo gosto pela cerveja, sei
também que ela defende o patrimônio Ferreira com unhas e dentes,
e foi até o fim para fazer de Nelsinho parte da nossa família.
Ela é a mulher perfeita. Perfeita para mim, mas eu não sou
um homem para ela, sei disso e não me orgulho, eu queria a levar
em um beco como um animal. E provavelmente se ela não tivesse
me parado, agora eu estaria me sentindo pior do que já estou, um
lixo. Trepar sempre foi fácil, sempre foi apenas estalar os dedos, e a
sempre uma mulher disposta a me dar prazer, mas Mabel...
Quando eu me envolvi na teia de sedução de sua prima
Sabrina, eu me vi envolto em tudo que Mabel não podia me dar,
porque ela queria estudar, seguir os seus sonhos, ser como seu pai
e não apenas a herdeira de um putero. Mas ai vieram os chifres,
Sabrina queria me dar tudo, mas não apenas para mim, mas sim e
para o resto da cidade, mas aí Maria Isabel foi para cidade grande e
voltou anos depois como doutora, além de assumir o lugar da avó
dona do bar Maria Isabel assumiu o lugar do pai em nossas terras,
assim como eu e Zé assumimos o do meu pai.
E os nossos arranca-rabos começaram, ela sempre tinha
uma resposta para tudo, me deixando mudo, puto de ódio, por não
conseguir bater mais de frente com ela, aos poucos eu percebi que
Maria Isabel, não era apenas uma advogada boa demais no que faz.
Ela sempre é boa em tudo, inclusive em me deixar duro de tesão
por ela. Porra de mulher do diacho.
E esse homem nunca foi e nunca será você, as palavras dela
me batem quando eu finalmente chego à porteira da fazenda, os
peões que vigiam a entrada se aproximaram.
— Dia, patrão. — Eu apenas meneio a cabeça em
concordância quando um deles me cumprimenta.
Eu entro, me sentindo vazio, burro por tanto tempo ter
colocado Maria Isabel em um lugar na minha vida que não era dele,
um lugar passageiro, ela merece mais que isso, mais do que eu sou
capaz de oferecer agora, quero oferecer a ela o que meu irmão dá a
Catita, quero poder ser o homem dela, que vai tirar seu ar, não por
um segundo, mas por toda uma vida, eu sempre pensei que meu
irmão é quem deveria ter filhos, mas olhando agora, pensando no
brilho na garra que eu vi nos olhos daquela mulher ao falar que quer
uma família, me dá uma única certeza de que eu quero ser o único a
dar isso para ela, as flores, chocolates que aparecem nos filmes, ao
cinema, sendo que nessa porra de cidade nem cinema tem.
Ela não é a Maria Isabel, sua avó, ela não é sua mãe, ou sua
prima Sabrina.
Ela é a Maria Isabel, que quer tudo que ela acha que eu não
posso dar, quero provar a ela, consertar os erros que cometi com
ela, e provar que eu serei o único homem capaz de ir à lua por ela,
mesmo que eu ache que ela me atiraria da lua sem pensar duas
vezes, sem paraquedas e pior sem remorso algum.
Pois ela é quem é, a doutora Maria Isabel Queiroz Pinto,
dona de um puteiro e do meu coração. Eu demorei demais para
perceber que talvez essa mulher seja a única capaz de fazer minha
vida ter propósito. E diacho que se eu não for o homem dela, não
vai ser outro que vai fazê-la tremer do jeito que eu fiz.
Pensei que domaria aquela potranca, mas o domado fui eu.
Sou realmente apaixonada por Catita e Zé,
mas me digam vocês o que acharam?
Quem escrever uma avaliação do livro na
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vocês, meus docinhos.
Beijos doces e até aproxima!
Com amor, Dri.
A. E. Gabriel é uma escritora de 20 anos, apaixonada pelo
mundo dos romances, principalmente os de época, começou a
escrever no Wattpad em 2015, tendo mais de 26 mil seguidores nas
redes sociais.
Autora em ascensão na Amazon Kindle, vem conquistado
cada vez mais leitores, seus livros já ultrapassaram a marca dos 13
milhões de leituras on-line, se tornou best-seller da Amazon
recentemente, ficando entre os mais vendidos em romance erótico
por semanas.
A. E. Gabriel é formada pela ETEC, em Serviços Jurídicos, a
menina dos gatos, cachorros e do café. Apaixonada por animais.
Mora atualmente com a família numa cidadezinha do interior
de São Paulo, uma menina sonhadora, que adora viajar em cada
linha que escreve.
Confira minhas outras obras:
SÉRIE REDENÇÃO

GAEL
A redenção do monstro
Era uma vez...
Sabe por quantos pesadelos somos capazes de passar sem acordar? Ou
quantos demônios carregamos em nossos sonhos? Gabriel Morgan Mitchell,
Major Mitchell, mais conhecido como Gael, veterano da intervenção militar na
Líbia em 2011, se refugiou em seu castelo em Herefordshire na Inglaterra. Aos 38
anos, carrega consigo memórias que o perseguem, um homem quebrado, frio
como a mais branca neve do inverno, traz marcas que gostaria de esquecer, após
ser vítima de uma granada, Mitchell ficou conhecido como "O Monstro". Isolado e
sozinho, apenas com a companhia de seus fiéis empregados, Gael conta com
uma incontável lista de empregadas demitidas aos longos dos anos. Ninguém o
suporta.
Gustave, seu irmão mais novo decidido a mudar essa história, vem de
Londres disposto a encontrar a "criada" perfeita.
Annie Aiken Lavely, é digamos que a personificação da palavra azar, aos
28 anos, mãe solo e sem expectativas para a sua vida, já tão fadada a desgraças,
se muda de Londres para a pequena e inóspita Hereford, morando em uma
quitinete com uma pequena coisinha chamada Holly, sua filha de quatro anos,
Annie se candidata à vaga de emprego, no castelo do temido Monstro. Vejam só...
casa e comida de graça, ou nem tanto.
Annie tem a difícil tarefa de se adaptar aos caprichos do monstro, que não
esconde seu desejo de colocá-la na rua. Disposta a tudo, para conseguir manter
Holly segura, ela decide acatar a cada pedido incabível do seu querido patrão.
O que Annie não contava era que seu adorável patrão repararia em seu
avantajado corpo. Loira e com incríveis olhos claros e vestindo bem mais que 58,
Annie não sabe, mas o maior desejo do seu patrão é marcar sua imaculada pele
de porcelana. E Gael nem imagina, entretanto, o maior desejo de Annie é velo
rodando lindamente na privada.
Porém, nem todo monstro vira príncipe. O maior medo do ser humano é o
próprio medo! Por medo e inseguranças passadas, Gael se vê perdendo tudo que
um dia sonhou, que com o passar do tempo desacreditou que pudesse ser
possível, Gael perdeu sua pequena e desajeitada família.
Meses depois de ter a felicidade em suas mãos, Gael tem agora o que
mais desejou, a solidão, no entanto, a solidão não é a mesma de antes, até
porque agora Gael não quer mais o isolamento que tanto impôs, e sim sua família
de volta, disposto a ser insuportável, inconveniente e ainda mais gostoso, vai
fazer de tudo para ter a sua megerinha de volta.
Afinal, quando os Mitchell querem, eles vão lá e pegam.
DOMINIC
Sabotagem do amor
Dominic Maldonado passou os últimos cinco anos sabotando a vida da
nada convencional Boonie Portman, impedindo que ela tivesse encontros
amorosos e amizades masculinas, Dom como é chamado por todos, tem uma
forte habilidade de estragar as tentativas frustradas de Boo de desencalhar, afinal
aos dezoito anos nunca havia beijado ninguém. Dom aos vinte anos colecionava
uma grande lista de garotas que já tinham passado por sua cama, e várias
mulheres atrás dele, o qual se orgulha.
Diferente das meninas que Mac transava, Boo sempre vestiu vários
números a mais que elas, ou as garotas da sua idade, sempre chamou a atenção
dos garotos mais velhos, para o total desespero de Dom. Após uma tragédia Boo
se muda de Parnoveil, uma pequena cidade no interior Nevada para Nova York,
fazendo com que Dom se sinta abandonado e ao sair do exército, acaba entrando
para a gangue provavelmente mais conhecida de motoqueiros americanos, Os
Anjos do Inferno ou Hell’s Angels, com o passar do tempo, Dom acaba se
tornando o presidente do mais perigoso clube de motoqueiros da América,
enquanto Boo se forma em gastronomia e realiza seu sonho de se tornar uma
Chef Pâtisserie, agora de volta à Parnoveil, Boo quer começar do zero abrindo
sua confeitaria gourmet, e quem sabe encontrar o verdadeiro amor, ou vara
abençoada como sua abuela Carmem diz, porém, Dom ao saber que seu docinho
está de volta não facilitará em nada a vida do seu bombom. Afinal é de perigo que
elas gostam, ou ele acha que gostam.
IVAN
O preço da vingança
O gênio da lâmpada pode conceder apenas três desejos, mas Ivan Sarnov
tem apenas um, concretizar sua tão sonhada vingança. Não importa qual seja o
preço. O russo é apenas um vazio sem nada que precisa ser preenchido, o
lutador clandestino teve sua vida forjada no submundo da máfia russa. Entretanto,
o que ele menos esperava acontece, ele se vê completo quando conhece Solange
Esposito, uma mexicana diferente de tudo que já viu. Sol, a menina-mulher que vê
o mundo de outra forma, totalmente diferente, mãe solo e dedicada, se vê presa
na teia do inconveniente russo Ivan. Mas ela não pode se dar ao luxo de se
envolver, não mais. Rosita precisa dela e ela da pequena menininha especial,
como ar para respirar. Ivan se vê perdido em uma vida que não é sua, mas que
deseja profundamente que seja.
De longe ele observa tudo o que nunca teve e o pouco que teve foi lhe
tirado da maneira mais vil possível. O frio Ivan se vê realizado com o amor da
pequena Rosita, ou florzinha como ele a chama Sol... Ivan consegue ver a luz
emanando do seu lindo raio de sol. Solange, não tem ideia do quão perigoso é
para o seu coração se apaixonar por um russo problemático e recluso, que entra
em sua vida sem pedir licença. Fogo e gasolina, Ivan e Sol são como vinho e
vinagre, distintos. Ele não sabe nada sobre ela, só que Sol tem a bunda mais
deliciosa que ele já teve o prazer de pôr seus olhos e que faz o melhor café do
mundo todo. Ivan se vê preso, entre o que sempre sonhou e o que perdeu.
Deixando o seu monstro interior tomar conta das suas atitudes, Ivan se vê
abandonando tudo que sempre quis, pois em sua vida só existe espaço para uma
única coisa, a sua tão desejada vingança. Mas a que preço? Quanto vale um
amor estilhaçado e um coração partido? Será tarde demais para perceber que a
sua vingança terá um preço alto?
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[AEG1] A sigla PcD significa pessoa com deficiência. Identifica as pessoas que
tenham algum tipo de deficiência, que pode ser de nascimento ou adquirida
durante a vida. ... Antes disso, usava-se a expressão“portador de deficiência”, que
não é considerada adequada, pois destacava mais a deficiência do que a
condição humana.
[AEG2]Regionalismo, usando para se referir ao estomago ou a barriga no geral.
[AEG3]Regionalismo, Puxa; expressão de raiva, descontentamento,
aborrecimento, indignação, Diabo;

[AEG4]Regionalismo, termo usado para uma pessoa boba, idiota.


[AEG5]Regionalismo, se refere aos olhos escuros
[AEG6]Regionalismo, Arreio, ou arnês, é a designação de toda a estrutura que
se veste em um cavalo para permitir uma cavalgada, um hipismo ou utilizar o
cavalo para tração animal, mas que se refere ao estar prezo.
[AEG7]O imposto sobre a propriedade territorial rural é um imposto brasileiro
federal, previsto no artigo 153, VI, da Constituição Federal.
[AEG8]Alqueire é uma medida agrária utilizada para sólidos, como capacidade
de armazenamento de cereais, ou para superfícies, como para medir a extensão
de uma fazenda.
[AEG9]Regionalismo, amante
[AEG10]Regionalismo, se refere a rodeios.
[AEG11]A dor fantasma é uma dor muito real (não tem nada de imaginação) que
acomete cerca de 90% dos indivíduos que passam pela amputação de alguma
parte do corpo. Queimação, formigamento, pontadas e até cócegas são alguns
dos desconfortos que os pacientes relatam sentir.
[AEG12]O soro antiofídico faz parte do tratamento contra acidentes por serpente
e é realizado em hospitais de todo o Brasil, salvando milhares de pessoas todos
os anos. Dependendo do tipo de cobra que causou o acidente, existe um tipo de
soro - afinal, são muitas espécies de cobras.
[AEG13]Necrose indica morte celular ou de tecidos no organismo. Sabe-se que
o processo de necrose envolve também o processo inflamatório no local. Várias
são as causas de necrose, entre elas, diminuição do aporte de sangue ou falta de
oxigenação com a presença de toxinas e enzimas que levam à morte celular.
[AEG14]Tirar um cochilo.
[AEG15]São 135 mil hectares, a Fazenda Nova Piratininga, área equivalente a
ocupadas por metrópoles como o Rio de Janeiro ou Nova York, registrados em
uma única matrícula, no cartório de imóveis local, coisa rara no País. Em geral,
grandes fazendas são o resultado da compra e concentração de várias
propriedades.
[AEG16]Angus é uma raça de bovinos, destinada à produção de carne de
qualidade superior. Tem as suas origens no nordeste da Escócia, onde o seu
aperfeiçoamento começou há cerca de duzentos anos. É encontrada nas
variedades Aberdeen Angus e Red Angus.
[AEG17]O soro antibotrópico (pentavalente) purificado, quando injetado no
paciente picado por espécies de serpentes do gênero Bothrops (jararaca,
jararacuçu, cotiara, urutú, caiçaca e outras) age neutralizando o veneno em
circulação.
[AEG18]Este produto é destinado ao tratamento de pacientes picados por
jararaca, jararacuçu, urutu, jararaca pintada, caiçaca e demais serpentes do
gênero Bothrops. Em casos de acidentes provocados por serpentes de outros
gêneros como Crotalus (cascavel), Micrurus (corais verdadeiras) e Lachesis
(surucucu pico-de-jaca), o soro antibotrópico (Pentavalente) não é indicado.
Também não é indicado para o tratamento de envenenamentos por aranhas ou
escorpiões.
[AEG19]Brocado vem do verbo brocar. O mesmo que: furado, perfurado,
broqueado, cortado, foiçado, limpado, abanado, joeirado, cariado.
Regionalismo, com falhas no corte.
[AEG20]Regionalismo, mesmo que apaixonado.
[PSS21]Elevações, bolhas.
[AEG22]A síndrome compartimental consiste na pressão aumentada do tecido
dentro de um compartimento fascial apertado, o que resulta em isquemia do
tecido. O primeiro sintoma consiste em dor exagerada, proporcional ao grau da
lesão. O diagnóstico é clínico, sendo geralmente confirmado pela aferição da
pressão compartimental. O tratamento consiste em fasciotomia.

[AEG23]
O picão-preto é uma planta medicinal, também conhecida popularmente por
Picão.
[AEG24]Berne, tapuru ou dermatobiose é uma infecção produzida por um
estágio larval, tipo de doença conhecida da mosca Dermatobia hominis,
popularmente conhecida no Brasil como mosca-berneira, que infecta diversos
animais, principalmente bovinos.
[AEG25]Regionalismo, mulher.

[AEG26]
Vasilha grande, de cobre ou ferro, us. nos engenhos para cozimento e
transformação do caldo de cana em açúcar.
[AEG27]Regionalismo, reclamar.

[AEG28]
O cabresto é uma espécie de arreio feito de corda ou couro, mas que, no entanto,
não possui freio ou embocadura, servindo para controlar a marcha de animais
como o cavalo, por exemplo.
[AEG29]Regionalismo, boca.
[AEG30]Regionalismo, saia daqui.
[AEG31]Regionalismo, ato de sondar, ficar de olho, ficar a espreita.
[AEG32]Regionalismo, viajante, mascate, vendedor de bugigangas.
[AEG33]Regionalismo, fazer algo de errado.
[AEG34]Regionalismo, ato de trair traição.
[AEG35]Regionalismo, usado para entonar perguntas.
[AEG36]Um Liner é como um revestimento produzido especialmente para o coto
amputado. Funciona de forma parecida a uma meia.
Coto é como se refere ao que se restou de uma amputação.
[AEG37]Minha cabeça
[AEG38]Lepecid é indicado como auxiliar no controle às miíases cutâneas
(bicheiras) de bovinos.
[AEG39]A ivermectina é um remédio antiparasitário capaz de paralisar e
promover a eliminação de vários tipos de parasitas, sendo principalmente indicado
para o tratamento da oncocercose, elefantíase, pediculose (piolhos), ascaridíase
(lombriga) e escabiose.
[AEG40]Regionalismo, chato.
[AEG41]É chamado no interior casamento da raposa a chuva coronal que é
formada por gigantescas precipitações de plasma, ou gás eletrificado, que
gotejam da atmosfera externa do Sol de volta à sua superfície. O famoso, chuva
com sol. Ou chuva com sol casamento de viúva.
[AEG42]Sem tamanho
[AEG43]Roupa de lida, roupas que são usadas apenas no campo enquanto os
peões trabalham.
[AEG44]Regionalismo, canto do olho.
[AEG45]A orelha de padre, também conhecida como orelha de pau ou bruaca, é
um bolinho de massa fina frito.
[AEG46]Referência a mau-olhado.
[AEG47]Referência a mau-olhado, mas geralmente se dá por alguém cobiçar
demais a criança, diferente do mal olhando que geralmente vem acompanhado de
raiva e outras coisas.
[AEG48]Geralmente se refere ao fato da criança virar de ponta cabeça.
[AEG49]Regionalismo, para.
[AEG50]A maioria é da raça girolando e todos os animais são mochos, ou seja,
não têm chifres. O criador explicou para o Nosso Campo que, quando o gado tem
chifres, o manejo fica mais difícil. ... Para interromper o crescimento dos chifres, o
pecuarista tem que queimá-los quando o animal é ainda bezerro.
[AEG51]Referência a feridas.
[AEG52]Djanho: geralmente é utilizado para representar descontentamento com
algo ou alguém.
Essa é uma gíria muito popular no Paraná e possui muitas aplicações. Pode ser
considerado um xingamento, sinônimo de diabo. Porém a gente prefere
considerar um advérbio de intensidade, até porque se você ouvir alguém falar que
está um “frio do djanho“, provavelmente você já saiba que está muito frio.
[AEG53]Regionalismo, expressão habitual, o significado remete a uma
quantidade vultosa, significativa de pessoas.
[AEG54]A Shire é uma raça de cavalos de tração originária da Inglaterra. É
reconhecida como a maior dentre todas as raças de cavalo.
[AEG55]Manga-larga marchador, também conhecido apenas como manga-larga,
é uma raça de cavalos brasileira. É descendente dos cavalos Alter-Real (uma
estirpe do cavalo lusitano), que chegaram ao Brasil no início do século XIX por
meio da Corte portuguesa e que, depois, foram cruzados com cavalos comuns
marchadores formados pelos fazendeiros da região sul de Minas Gerais e do
estado de São Paulo.
[AEG56]Barracão, celeiro ou casebre.
[AEG57]A Fazenda Nova Piratininga é um mundaréu de terras concentradas no
noroeste de Goiás, no município de São Miguel do Araguaia onde o estado faz
divisa com o TO e MT.

[AEG58]reclama
[AEG59]Ser avarento; não partilhar; não oferecer o que possui; negar a alguém
alguma coisa: ela ridicava as verduras do seu quintal. Ser muito apegado ao
dinheiro: sempre ridicava. Etimologia (origem da palavra ridicar). Ridico + ar.
[AEG60]Referência a rua principal da cidade da autora, que acaba no cemitério
municipal.
[AEG61]Referência a cadeia
[AEG62][Regionalismo: Goiás, São Paulo e Minas Gerais] Simplório, pacóvio,
toleirão.
[AEG63]Porção de mato isolado que se difere da vegetação que o rodeia.
Bosque em pequenas dimensões. Etimologia (origem da palavra capão).
[AEG64]Referência à parte superior da bunda o vale entre as bandas da bunda
abaixo do cóccix
[AEG65]Expressão regional, rápido, rapidinho.
[AEG66]Regionalismo, pessoa boa
[AEG67]Regionalismo, termo para mulher.
[AEG68]O atendimento aos jovens autores de ato infracional sentenciados com
medidas socioeducativas de privação e restrição de liberdade, no Estado de São
Paulo
[AEG69]Centro de Progressão Penitenciária Feminino de São Miguel Paulista -
CPP
[AEG70]No regime de comunhão total de bens todos os bens serão do casal.
Dessa forma, quando os cônjuges se casam, os bens que eles já possuíam
passam a fazer parte do patrimônio do casal. E tudo que adquirirem também
passará a fazer parte do patrimônio do casal.
[AEG71]Joio significa coisa daninha que surge entre as boas e as tentam
corromper.
[AEG72]Grande quantidade de lenha, carvões ou objetos incendiados; braseira,
brasido.
[AEG73]Boi ou vaca PO significa bovino de pura origem. De acordo com a
Embrapa, essa classificação indica que existe um mapeamento de todos os
ancestrais do bovino em questão registrados no livro genealógico da raça.
[AEG74]
A fluidoterapia é considerada um tratamento de suporte, tendo como principais
objetivos expandir a volemia, corrigir desequilíbrios hídricos e eletrolíticos,
suplementar calorias e nutrientes, auxiliar no tratamento da doença primária.
[AEG75]Dexametasona é um esteroide. É utilizado no tratamento de diversas
doenças e condições (como reações alérgicas graves, asma, distúrbio reumático,
distúrbios da pele e distúrbios oculares) que requerem a redução da inflamação
ou supressão do sistema imunológico.
[AEG76]Indicado como adjuvante nas intoxicações causadas pela ingestão de
alimentos deteriorados, plantas tóxicas e medicamentos. Nas degenerações das
células hepáticas e infiltrações gordurosas.
[AEG77]Acidente relacionado a serpentes com jararaca são classificados
Botrópico (jararacas), Crotálico (cascavéis), Laquético (surucucus-pico-de-jaca) e
Elapídico (corais-verdadeiras).
[AEG78]Regionalismo se refere à “que”

[AEG79]

Tira de pano, peça de couro ou qualquer outra vestimenta usada para proteger as
pernas.
[AEG80]O ovo de pata é muito usado na medicina popular como remédio para
anemia. A receita sugere a mistura de um ovo, um vidro de biotônico Fontoura e
uma lata de leite condensado. No entanto, a nutricionista afirma que a utilização
do ''remédio'' para combater a anemia é crendice popular.

[AEG81]
A cachaça Velho Barreiro foi lançada na década de 60 pela família Höffer em
Itapetininga, São Paulo. O nome seria uma homenagem a um ancestral da família
Höffer, que teria um pássaro joão-de-barro a quem ele chamava de “Velho
Barreiro”.
[AEG82]Regionalismo, criança pequena
[AEG83]
[AEG84]Os Pretos-Velhos são uma linha de trabalho de entidades dessa religião
de matriz africana; são espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos
africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, que
morreram no tronco ou de velhice, e que adoram contar as histórias do tempo do
cativeiro.
[AEG85]Esse é um conselho de um preto velho, deixado para autora por Zaeli
Painço, dona Lili.
[AEG86]Regionalismo, como é chamada a arvore de mexerica no interior.
[AEG87]Regionalismo, pedir abrigo.
[AEG88]Regionalismo, serviço
[AEG89]
Bolsa com alça de ombro para carregar tralha de pesca, comida, sementes,
pequenos objetos. Sacola simples, rudimentar. Embornal, bornal.
[AEG90]Regionalismo, Aquelas direções
[AEG91]Carne na lata é feita com Pernil suíno, gordura suína e temperos alho e
sal. Autêntico torresmo pururuca feito no fogão a lenha, com porco caipira.

[AEG92]
O tatupeba, também conhecido como papa-defunto, peba, peludo, tatu-cascudo,
tatu-de-mão-amarela, tatu-peludo, tatupeva e tatupoiú é um tatu da América do
Sul encontrado em grande parte do Brasil, norte da Argentina, Paraguai, Uruguai,
Bolívia e Suriname.
[AEG93]Programa de TV onde duas pessoas passam 21 dias em um ambiente
selvagem, sem comida, sem água e sem roupas. Eles precisam sobreviver da
maneira que vieram ao mundo, buscando comida, lutando contra o clima e as
adversidades.

[AEG94]
MINI-ESPINGARDA B-300 cal. 28,32 e 36 (300 mm) - Com Coronha Longa em
Madeira.
[AEG95]

Suçuarana também conhecida como Puma (Puma concolor, anteriormente Felis


concolor) onça-parda, onça-Vermelha, cougar, jaguaruna, leão-baio, leão-da-
montanha, dependendo da região, é um mamífero da família Felidae nativo das
Américas. Típico da divisa de São Paulo com Paraná
[AEG96]Regionalismo, meio.
[AEG97]Meter-se na manta: 1 esconder, internar, abrenhar, aprofundar, adentrar,
entranhar, entrar, introduzir-se, meter, penetrar.

[AEG98]
Taquara é a denominação comum a várias espécies de gramíneas nativas da
América do Sul, a maioria com caules ocos e segmentados em gomos, em cujas
intersecções se prendem as folhas.
[AEG99]A laminite, chamada popularmente de aguento, é uma das doenças
locomotoras mais conhecidas de equinos por aparecer com frequência nas
propriedades. Essa enfermidade é caracterizada pela inflamação aguda ou
crônica das lâminas do casco, causando dor intensa e desconforto aos animais
acometidos.
[AEG100]A fenilbutazona é um remédio antirreumático, anti-inflamatório,
analgésico e antipirético muito utilizado no tratamento de reumatismos, como
espondilite, gota ou artrite reumatoide, por exemplo.
[AEG101]Aguardente é uma bebida espirituosa destilada de elevado teor
alcoólico resultante da destilação de vinhos, licores ou produtos vegetais como os
cereais ou tubérculos. Exemplos de aguardentes são a bagaceira, a aguardente
vínica, o brandy e o conhaque, a vodca, a tequila, o rum, a grappa, o gim, a
cachaça.
[AEG102]Jezabel ou Izebel, também conhecida como Jezebel foi uma princesa
fenícia e esposa de Acabe, rei de Israel. Conhecida por ser feiticeira e teorias que
a ligam a bruxaria antiga. Suprimindo os rituais mosaicos, Jezabel passou a
cultuar Baal de forma ostensiva e dominadora, sacrificando crianças em nome da
santidade e inocência. Sua atuação mística superava as expectativas dos
Israelitas que aceitavam tudo de forma normal.
[AEG103]substantivo masculino Aquele que é teimoso, obstinado, persistente.
[AEG104]Ser avarento; não partilhar; não oferecer o que possui; negar a
alguém alguma coisa.
[AEG105]O cabresto é uma espécie de arreio feito de corda ou couro, mas que
no entanto não possui freio ou embocadura, servindo para controlar a marcha de
animais como o cavalo, por exemplo.
[AEG106]O Centro de Defesa e de Convivência da Mulher (CDCM) oferece
proteção e apoio a mulheres em razão da violência doméstica e familiar,
causadora de lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano moral. A rede
socioassistencial conta com 15 CDCMs que possuem 1.610 vagas para mulheres,
proporcionando atendimento social, orientação psicológica e encaminhamento
jurídico. Com o funcionamento de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h, o objetivo
do serviço é contribuir para o fortalecimento da mulher e o resgate de sua
cidadania.
[AEG107]Luta; combate realizado com ou sem armamentos.
Trabalho; tarefa árdua e cansativa: estava na peleja para viver.
[AEG108]
Gíria usada para se referir a uma mulher que bebe muito. Tenho um pouco de
medo de sair com ela, ela é muito manguaceira e sempre dá trabalho.

[AEG109]
Referência a personagem do filme O homem que desafiou o diabo. Mãe de
Pantanha é uma bruxa do folclore nordestino que oferece aos homens duas noites
de prazer. Na primeira, ela materializa a mulher dos nossos sonhos eróticos e
segunda noite o homem “fica” com ela mesma. A personagem possui dentes na
vagina.
[AEG110]Sofá, Breja e Netflix
Mac Julia part. Pejota

[AEG111]
Referência ao personagem do filme o homem que desafiou o diabo.
[AEG112]Maior feira do agronegócio do Argentina, que acontece de 10 a 13 de
março, em San Nicolás
[PSS113]Não era oito para nove anos?
[AEG114]Regionalismo, preso.
[AEG115]Deslocamento de abomaso em vacas leiteiras. ... É o distúrbio
abomasal mais frequentemente detectado e é a principal causa de cirurgia
abdominal em bovinos leiteiros. Trata-se de uma doença multifatorial, que
acomete principalmente vacas leiteiras de alta produção durante o período pós-
parto.

[AEG116]
A preferida das famílias paulistas. A Tuiubaina é produzida há mais de seis
décadas e mantém o mesmo sabor e tradição. Título de melhor tubaína do Brasil
conquistado na Confrebras 2015-2016 (“Os Melhores Sabores do Brasil”).
Reconhecida como a “tubaína da florzinha”, por manter seu rótulo tradicional com
flores, a Tuiubaina foge ao banalizado sabor de “chiclete” e é o refrigerante mais
conhecido na microrregião de Tatuí, cidade-sede de sua produção. Os aromas
exclusivos da Tuiubaina, obtidos a partir de um especial mix de essências, dão ao
refrigerante de tutti-frutti sabor mais refrescante e menos adocicado, tornando-o o
preferido das famílias paulistas. A Tuiubaina é distribuída em todo o Estado de
São Paulo, com ênfase na capital, grande São Paulo e interior até a divisa com
o Paraná.
[AEG117]Referência a dedicatória do trecho do livro 'Memórias Póstumas de
Brás Cubas' de Machado de Assis

[AEG118]
Referência ao personagem do filme o homem que desafiou o diabo.

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