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A NORMALISTA, DE ADOLFO CAMINHA

RESUMO e ANÁLISES: prof. Raul Castro


EXERCÍCIOS E REVISÃO: prof. Paulo Saymon e Raul Castro

“O romance de estreia da Adolfo Caminha é bem o romance de uma cidade inteira essa
Fortaleza de 1888 que ele pôs em suas páginas.”
Saboia Ribeiro NB1

A NORMALISTA

“Queria ser professora e, um dia, voltar para sua cidadezinha. Por ora, só as letras dos
jornais, lidas na cozinha, escondido da patroa ignorante.
Fez o Supletivo, mostrou-se inteligente; mais dois anos, e estava na Escola Normal.
Formou-se, pediu as contas e pegou o lotação. De volta para casa. Desceu e rumou,
por uma vereda, para os sítios dos pais.
No caminho, o estupro, despetalando a rosa de sonho da professora. Chorou,
concluindo que o estupro dos sonhos, naquelas bandas, era coisa normal.
Fez-se normalista da vida.”
Clauder ArcanjoNB2
Elementos da narrativa

Foco Narrativo
O narrador é heterodiegético, não participando o narrador das cenas do livro, assim o foco narrativo é em
3º pessoa com narrador onisciente.

Tempo
O tempo é cronológico, mas se usa de flashback para preencher o enredo, a história se passa em 1889.
Sabemos disso no capítulo II ao lermos que Maria do Carmo tem 6 anos em 1877, ou seja, nasceu em 1871, assim
como ela inicia a trama com 15 anos, estamos em 1886, também no último capítulo diz o narrador: “Liam-se na
secção telegráfica da Província as primeiras notícias sobre a proclamação da República brasileira.” Portanto a época
da narrativa focaliza a segunda metade da década de 80 no século XIX.

Espaço
O lugar onde se passa a história é Fortaleza, ambientado no século XIX, o autor aproveita para tecer
críticas à sociedade Fortalezense, ao estilo de vida dos ricos, à miséria dos pobres e aos costumes sociais que se
deixavam levar pelas fofocas do Matraca, a igreja da Sé é constantemente citada, como as missas aos domingos,
bem como a estrada de Messejana a qual a família de Maria do Carmo chega a Fortaleza.
Outro ponto a se mencionar seria o Passeio Público da Caio Prado, restaurantes, fazendo assim um legado
histórico da cidade de Fortaleza do século XIX.

Temáticas
A temática central do romance gira em torno da relação abusiva de João da Mata e Maria do Carmo, mas
sem a questão incestuosa, pois Maria é afilhada dele, bem como a explora a questão naturalista da história.

Outras temáticas também são muito exploradas, como:


- Crítica à sociedade fortalezense (comportamentos e hábitos);
- Denuncia os maus tratos à mulher e critica o machismo;
- Crítica à política e aos políticos da cidade;
- Crítica ao jornalismo;
- Crítica ao Romantismo;
- Crítica ao desprezo social;
- Explora a miséria da seca;
- Crítica ao sistema escolar e de ensino do século XIX;
- Tematiza a depressão e o suicídio;

Personagens
João Maciel da Mata Gadelha (João da Mata) – é o padrasto de Maria do Carmo e esposo [amigado] de D.
Terezinha, é descrito como “sujeito esgrouvinhado, esguio e alto, carão magro de tísico, com uma cor hepática
denunciando vícios de sangue, pouco cabelo, óculos escuros através dos quais buliam dois olhos miúdos e vesgos.”
Maria do Carmo – moça nova afilhada de João da Mata, com um belo arzinho de noviça, moreno-clara, olhos cor de
azeitonas e belo corpo. Na infância é assim descrita: “A cor, os olhos, os dentes, o cabelo – tudo nela era um
encanto: “olhos puxando para negros, dentes miudinhos e de uma brancura de algodão em rama, cabelos negros e
luzidios como a asa da graúna morena-clara. Crescia sem outra educação a não ser a que lhe davam os pais, de
modo que, naquela idade, mal soletrava a Doutrina Cristã.” p. 22
Zuza [Sousa Nunes] – filho do coronel Sousa Nunes, herdeiro de uma herança de 100 contos de réis, rapaz rico que
tem certa “paixão” por Maria do Carmo.
Bernardino de Mendonça – é pai de Maria do Carmo. Chegou a Fortaleza em 1877 quando Maria tinha seis anos, no
dia seguinte a sua chegada perdera a esposa e deixou a filha com o padrasto João da Mata, foi para o Pará com os
filhos e não aparece mais na obra. É descrito como homem trabalhador e de boa índole, mas vê no Ceará um poço
de miséria e fome.
D. Eulália de Mendonça Furtado – prima colateral de Bernardino da Mendonça, morre um dia depois de chegar à
Fortaleza de uma síncope cardíaca.
Casimiro e Lourenço – irmãos de Maria do Carmo, Casimiro era vaqueiro e Lourenço foi recrutado para o exército,
vão embora com o pai para o Norte e não reaparecem mais.
Lídia Soares – amiga do colégio, um pouco mais velha (20 anos) é mais entendida do mundo e não tem a mesma
inocência de Maria do Carmo, está de namoro engatado com Loureiro. É ela quem empresta o livro de Eça de
Queiroz para a amiga. Era alta fausse-maigre e bem feita de corpo. Depois de algum tempo casa-se com o contador
e passa a morar no Benfica e também engravida.
D. Amanda – mãe de Lídia, era mulher falada na sociedade por andar de envolvimento com outro homem
Loureiro – contador e noivo de Lídia, ama perdidamente seus beijos.
Dr. Mendes – juiz municipal, casado com D. Amélia que o chamava de “mosca-morta, desleixado, doido e
alcóolatra”, apesar de o marido ter boa posição social, viviam endividados.
Perneta – amigo de bar de João da Mata, conversa sobre política e poesia e vive a falar mal de Zuza, o que alimenta
o ódio de João pelo rapaz.

Outros personagens
Dr. Castro – é o presidente de Fortaleza, descrito como homem que representa a essência política, muito amigo de
Zuza a qual estava sempre em sua companhia. Morre de um ataque cardíaco, seu enterro gera uma comoção muito
grande na cidade.
Alferes Coutinho – quartel-mestre do batalhão, um moreno, de costeletas, cabelo penteado em pastinhas, certo ar
arrogante de pelintra acostumado a todas as festas, desde os sambas do Outeiro aos bailes do Clube Iracema,
magricela, olhos cavados. Era nascido no Rio Grande do Sul. Fica sendo o homem a noivar com Maria depois de seu
aborto às escondidas.
Guedes – redator do jornal Matraca, vulgo Pombinha. Ele quem escreve sobre o namoro do Trilho de Ferro.
Berredo – Professor de Geografia da escola Normal.
José Pereira – redator do jornal da Província. Fora um dia flagrado em adultério com D. Amélia, esposa do juiz
municipal e fora alvo de muita fofoca. É assim descrito: “Esse José Pereira fisicamente dir-se-ia irmão gêmeo do
Berredo da Escola Normal. Alto, cheio de corpo, trigueiro, a mesma barba espessa e negra cobrindo quase todo o
corpo, os mesmíssimos olhinhos vivos e concupiscentes.” p. 73
Castrinho – outro jornalista, amigo de José Pereira, aparece na obra reclamando de ser acusado de plágio literário,
homem de pouco conhecimento, mas sempre elogiado pelos colegas como gênio.
Elesbão – outro redator, um sujeito muito pálido, faces encovadas, olhar triste, tossindo sempre devagar e
escarrando muito.
Negro Romão – homem sujo que ficava a limpar os dejetos e levá-los ao rio, aparece em alguns capítulo e nos
sonhos de Maria do Carmo.
Mariana – empregada da casa de João da Mata, era copeira e cozinheira, vivia a brigar com João da Mata, mas era
também acostumada com a vida sofrida de dentro da casa. É descrita como pacata.
D. Sofia – mãe de Zuza, não se envolvia na briga dos homens, tivera problemas no parto de Zuza e andava pela casa
muito doente, segundo o filho era um dos poucos motivos que o mantinha no Ceará.
Tia Joaquina e Cosme – casal de pobres que moravam na Aldeota, abrigam Maria do Carmo durante seu estado de
gravidez.
Joana Pataca – parteira de Maria do Carmo morava no Outeiro e chamada às pressas quando Maria sente as dores
do parto. É bastante inexperiente e por seu erro o bebê de Maria morre.
Justina Proença – vizinha fofoqueira de João da Mata.
Tomázia – empregada da casa de Lídia após seu casamento.

RESUMO

I
A narrativa inicia com um grupo de pessoas jogando víspora¹ em uma sala sem teto e chão de tijolos. Ali
nesse grupo está João Maciel da Mata Gadelha, chamado pela esposa de Janjão, mais conhecido em Fortaleza por
João da Mata; sua mulher por sinal é dona Terezinha, que constantemente se gabava de ser mulher de boa índole.
O jogo segue acirrado com brincadeiras e risos, ou pé de D. Terezinha está Maria do Carmo. As outras que
estavam na sala são: o Loureiro, guarda-livros da firma Carvalho & Cia., o Dr. Mendes, juiz municipal, mais a sua
senhora; a Lídia Campelo, e o estudante Zuza, quintanista de direito e filho do coronel Sousa Nunes e sempre
recebendo os olhares da afilhada do João da Mata, Maria do Carmo.
O narrador depois descreve João da Mata (ver personagens) como um homem de façanhas, fora professor,
carrasco, depois em 1877 na seca, já tendo se mudado para a capital, fora nomeado socorrista, o narrador já faz
questão de explorar seus “feitos” na sociedade, note:

“De uma feita escapou milagrosamente de ser preso por crime de defloramento numa menor, criada do
Dr. Moraes e Silva; de outra feita apanhou de rebenque na cara por haver caluniado um capitão de infantaria
propalando uma infâmia. Toda a gente o conhecia muitíssimo bem, por sinal tinha uma cicatriz oblonga e funda
na têmpora esquerda, e não largava o mau vezo de roer o canto das unhas.” p. 11

Depois da seca engajou-se na política, todos os políticos o admiravam, mas não era um idealista, sabia que o
lance da política era o dinheiro, a mamata, e pouco se importava com o espírito patriótico, exaltava-se, gritava,
arranjava votos e de tudo fazia, mas desde que recebesse compensações, isso lhe rendera o papel de amanuense²,
mas era pouco, tanto esforço para nada.
Nesses tempos de agora andava mais retraído, pois herdara vários inimigos, o homem de agora vivia para si,
sem ambições, mas também sem dívidas.
O ponto fraco era Maria do Carmo, amava perdidamente sua afilhava a quem criara desde pequena, fazia-
lhe carícias e às vezes trocavam selinhos na boca, quando ela voltava da escola sentava-se na rede com o padrinho e
mal notava que o desejo crescia e fixava ainda mais o olhar naquela morena cearense que tomava corpo e já estava
com quinze anos.
Andava enciumado da amizade com o Zuza, ficava louco de imaginar alguém fazer mal à sua pequena. Sabia
que já acontecia entre eles algumas paqueras, mas via o padrasto certa maldade no rapaz e não gostava daquela
amizade colorida.
Quando dera nove horas na Sé João se levantou dando fim ao jogo e todos pediram mais uma partida; até
Maria do Carmo, e Zuza, mas seu humor mudou e todos saíram.
João culpa a afilhada e diz que o rapaz só queria arrumar confusão e que não iria admitir isso de ficar
paquerando e seduzindo a moça, mas não era bem o que se passava por dentro dele:
“Não era precisamente receio de que o Zuza pudesse iludir a rapariga desonrando-a e atirando-a por aí ao
desprezo; era como revolta do instinto, uma espécie de egoísmo animal que o torturava, acendendo-lhe todas as
cóleras, dominando-o, como se Maria fosse propriedade sua, exclusivamente sua por direito inalienável. Via-a
caída pelo acadêmico, toda voltada para ele, amando-o talvez, preferindo-o a todos os outros homens,
entregando-se-lhe. E o que seria dele, João, depois? Nem mais uma beijoca na boquinha rubra e pequenina, nem
mais um abraço ao voltar da escola, cansadinha, o rosto afogueado pelo calor; nem mais uns cafunés, nem um
sorriso daqueles que ela sempre tinha para o padrinho... Isto é que o desesperava!” p. 16

Maria do Carmo frequentava o colégio Normal, ele não confiava na educação de freiras e padres, a qual,
segundo João, tinham necessidades sexuais e poderiam se aproveitar de sua afilhada.
Tinha receios com o tal Zuza, conhecera-o em um baile do Dr. Castro, enquanto pousava de rico e se
entediava da cidade parada se Fortaleza, sempre a depreciando em relação a Pernambuco.
Ela chorava no canto da sala e ele foi até Maria pedindo a carta que havia visto passar por debaixo de uma
mesa, mas ela negou, o padrasto sentia um desejo louco por ela:

João da Mata sentiu atear-se-lhe o fogo da concupiscência³. Teve ímpetos de tomar entre as mãos a
cabeça da afilhada e beijá-la, beijá-la sofregamente, com a fúria de um selvagem, no pescoço, na boca, nos
olhos... ímpetos de beijá-la toda inteira, como um doido. Maria dominava-o, fazia-lhe perder a tramontana 4. p. 20

Fora se deitar sem obter sucesso, deitado ao lado de D. Terezinha reclamou novamente de Zuza, mas a
esposa defendeu o rapaz e mandou o marido cuidar de suas hemorroidas.

Notas do capítulo
¹ Víspora era também conhecido como Loto, resumo de Loteria, era um jogo de azar que utilizava pequenas peças
numeradas de um a 90 (pedras), colocadas em um saco opaco, cartões com três fileiras de cinco números, não sequenciados,
entre um e 90, e grãos (de feijão, milho etc.) para marcar, e que se procede sorteando uma pedra de cada vez, cujo número é
cantado, e o jogador que o possui em seu cartão marca-o com um grão, ganhando o que primeiro completar uma fileira ou a
cartela toda, de acordo com combinação prévia.
² amanuense é um substantivo de dois gêneros é aquele que escreve textos à mão; escrevente, copista, secretário.
³ desejo de prazeres sensuais.
4
direção, rumo.

II
“Foi numa tarde infinitamente calma de dezembro de 1877 que o capitão Bernardino de Mendonça chegou
a Fortaleza, pela estrada de Messejana, depois de penosíssima viagem.”
Assim inicia a saga do pai de Maria do Carmo, descrito como homem de bem e trabalhador, sadio, vigoroso
e dedicado, casou-se com sua prima D. Eulália de Mendonça Furtado. Até então tivera três filhos, um era Lourenço,
hoje militar, Casimiro, rude, mas obediente e bom vaqueiro e a caçula Maria do Carmo, que em 1877 já completava
seis anos e era o querer da casa.
A seca do sertão era grande, vinham as promessas de chuva e nada... Decidido resolveu sair de Campo
Alegre, daí sua ideia de ir para Fortaleza.¹
Pouco tempo depois a mãe de Maria morre de uma síncope cardíaca deixando-o viúvo, Maria ainda criança
chegou a ver a mãe morta, viu-a depois em sonho se despedindo indo para o céu.
Chegava a rememorar a viagem, as dificuldades. Nesse trajeto viu uma imagem que lhe ficou na mente:

Nunca mais lhe saíra da cabeça um retirante que ela vira estendido no meio do caminho, sobre o areal
quente, ao meio-dia em ponto, morto, e completamente nu, com os olhos já comidos pelos urubus, os intestinos
fora, devorados pelas varejeiras... Que feio aquilo! p. 25

Bernardino pensava em sair do Ceará, aquilo não era vida, pensa na filha que iria deixar para trás e resolve
apelar para João da Mata, padrinho de sua caçula, que em troca de uma mesada que ele enviaria garantiria a boa
educação dela.
Assim partiu para o Norte, para o Pará², e deixou para trás sua linda filha com o padrasto.
O capitão se sentia aliviado em deixar a filha com um homem de bem, sabia que a cidade grande era cheia
de homens ordinários e que os tornavam pessoas más³.
Antes de partir com os seus filhos, Lourenço e Casimiro, o pai comprou-lhe tecidos e roupas e pediu
obediência aos padrastos e que ira voltar, mas nunca retornou, os irmãos nunca deram notícias e Maria ficou
sozinha.
Após sair da Imaculada Conceição a vida não lhe era toda má. Tinha uma grande amiga a Lídia Soares, amiga
da escola, e que lhe emprestou um livro de Eça de Queiroz, O Primo Basílio4, ela leu-o escondido e quando chegou a
parte da primeira entrevista de Basílio com Luiza sentiu-se superexcitada, sentiu formigamentos nas pernas e
vibrava seus bicos dos seios e o coração batia acelerado, terminando essa parte pensava em Zuza, se pudesse ter
uma entrevista com ele...
Alguns dias depois, tendo terminado a leitura inteira do livro foi tirar algumas dúvidas com a amiga Lídia, a
qual em um ambiente bem natural, entram no banheiro e ela lê um trecho sobre Basílio ensinar a Luiza a “tomar
champanhe” ao beber e depois beijá-la na boca, Lídia para lhe explicar exemplifica em ações e beija a colega, mas
Maria não vê maldade e chega a perguntar onde estava o prazer nisso.
Depois Maria pergunta se estava mesmo interessado no Loureiro, o guarda-livros, ela diz que sim e que a
mãe, D. Amanda, além de não ligar, estava tendo um caso com Batista da Feira Nova, um negociante, e que já até
havia pegado os dois em flagrante.
Nisso falam de seus amores e como tinham seus interesses, foi a amizade de Lídia que foi fazendo com que
Maria perdesse um pouco mais a timidez que trazia do Colégio Imaculada Conceição.
Todos falavam mal de Lídia e sua mãe, muitos alegavam que ela, aos 20, não era mais moça, só Loureiro
protestava e defendia a honradez de sua amada e de sua mãe.
- Tal mãe, tal filha!

Notas do capítulo
¹ o motivo de sua ida para a capital seria a presença de correligionários políticos.
² a concepção de Bernardino sobre o Ceará é de uma terra de miséria, mas que o Pará seria mais farto nos seringais pois
lá havia fartura e ele era homem trabalhador, tal postura reflete bem a voz do narrador, em que aproveita para tecer críticas a
sociedade fortalezense da época bem ao estilo dos Naturalistas:
E o Ceará? Fome e miséria somente. Num mês morriam três mil pessoas, eram mortos a dar com o pé, morria gente até
defronte do palácio do governo, uma lástima!
E acrescentou que o Ceará era boa terra para os políticos e ricaços, que o pobre em Fortaleza, ainda que pesasse
quilogramas de honradez era sempre o pobre, maltratado, espezinhado, ridicularizado, perseguido, enquanto que o indivíduo
mais ou menos endinheirado podia contar amplamente, largamente (e abria os braços) com a simpatia geral: tinha ingresso em
todos os salões, em toda a parte, até no santuário da família fosse ele, embora, um patife, um grandíssimo canalha. p. 26
³ aqui o narrador aproveita para tecer críticas a capital confrontando a pureza da vida no sertão com os vícios da vida na
cidade, quando diz:
[...]a vida ruidosa e dissoluta das capitais, esse tumultuar quotidiano de virtudes fingidas e vícios inconfessáveis, esse
tropel de paixões desencontradas, isso que constitui, por assim dizer, a maior felicidade do gênero humano, esse acervo de
mentiras galantes e torpezas dissimuladas, esse cortiço de vespas que se denomina — sociedade, desconhecia-o ele e nem
sequer imaginava. Lá, no seu tranqüilo recanto de Campo Alegre, onde só de longe em longe chegava o eco da vida elegante,
ouvira falar em mulheres que traíam os maridos, filhos que assassinavam os pais, incestos de irmãos, homens que negociavam
com a própria honra... p. 27
4
não esqueça desse detalhe, pois a UVA gosta de perguntar coisas do tipo: “qual desses autores naturalistas é citado no
livro?” inclusive ele eleva o estilo naturalista em frente ao estilo romântico quando usa a voz de Lídia quando Maria pergunta se
ela gostou:
- Mas muito! Que linguagem, que observação, que rigor de crítica!... Tem um defeito – é escabroso demais. p. 29
Mas a frente o narrador diz:
Até aquela data só lera romances de José de Alencar, por uma espécie de bairrismo mal-entendido, e a Consciência, de
Heitor Malot publicada em folhetins na Província. A leitura do Primo Basílio despertou-lhe um interesse extraordinário —
Aquilo é que é um romance. A gente parece que está vendo as coisas, que está sentindo... p. 29

III
Maria do Carmo está a pensar em Zuza, que conseguira passar uma cartinha para ela por debaixo da mesa
quando jogavam víspora, viu a cólera do padrinho e pensou em pedir desculpas, mas isso seria confessar o erro,
decidiu sustentar o crime oculto, escondeu a cartinha em uma caixinha de fitas e depois leu às escondidas, a carta
dizia:

Minha senhora, dizia o futuro bacharel, muito respeitoso. Tomo a liberdade de me dirigir a V. Exa.
confiado na sua infinita bondade, nessa bondade que se revela em seus esplêndidos olhos de madona ¹ e na
brandura meiga de sua voz cujo timbre faz-me lembrar toda a melodia duma harpa eólia tangida por mãos de
serafins... Tomo esta liberdade para dizer-lhe simplesmente que a amo! e que este amor só podia ser inspirado
pela incomparável luz de seu olhar e pela música sentimental de sua voz... Amo-a deveras... Só me resta esperar
que V. Exa. aceite este amor como tributo sincero de um coração avassalado por sua beleza encantadora, e então
serei o mais feliz dos homens.
D. V. Exa. adm. e escravo
José de Souza Nunes
p. 35

Maria ficava a pensar como responderia, ficava a imaginar como seria estar casada com um homem, feliz
sem filhos, entretanto também se pega pensando em como seria ruim casar-se com um advogado cheio de
trabalho, sendo mãe e arrebatada de responsabilidades.
Agora achava a carta dengosa demais chegando a achar aquilo coisa de gente besta. Depois ficava a ver a
carta com carícias.
O dia seguinte era domingo e havia missa cantada na Sé. Aqui nos é apresentado o Matraca, um jornal
imundo que trazia fofocas da vida dos outros e por vezes falara de João da Mata.²
O padrinho não gostava obviamente desses jornais, pois ali só entrava o Província, o rapaz que anunciava a
venda do jornal e gritava: O namoro do trilho de ferro! Logo ela deduzia estarem a falar dela, comprou o jornal e
pagou o rapaz para gritar em outro lugar. Fora correndo mostrar para a Lídia os versos que falavam do namoro do
Zuza:

A normalista do Trilho,
ex-irmã de caridade,
está caída pelo filho
dum titular da cidade.

O rapazola é galante
e usa flor na botoeira:
D. Juan feito estudante
a namorar uma freira...

Eis por que, caros leitores,


eu digo como o Bahia:
— Falem baixo, minhas flores,
Senão... a chibata chia!...
p. 36 e 37

Lídia mandou rasgar e não ligar para isso, ela mesma já fora vítima, dizia ser culpa do Guedes rapaz do
Correio que tentava namorá-la sem sucesso e agora era redator do Matraca, e talvez por vingança estivesse a
perseguir Maria.
Passa o Zuza a cavalo a cumprimentá-las, como Lídia queria ser a predileta do Zuza, pois via nele um rico
superior, andava como príncipe, e claro, passa a incentivar Maria a responder a carta e até a marcar a data do
casamento.
Nisso está chegando um conselheiro importante na cidade, e João da Mata vai lá para vê-lo, mas o calor,
aquele excessivo calor o irrita, tira-lhe a paciência, e ele retorna para casa, mais desejoso ainda de pela afilhada, a
moça não lhe saia da cabeça e até D. Terezinha já desconfiava do comportamento dele, mas seu desejo é cada vez
mais intenso, sendo ela “a razão de sua libido”, note:

Achava a Teté uma mulher gasta: queria uma rapariga nova e fresca, cheirando a leite, sem pecados
torpes, a quem ele pudesse ensinar certos segredos do amor, [...] Estava farto do “amor conjugal”. Nunca
experimentara o contato aveludado de um corpo de mulher educada, virgem das impurezas do século. E quem
melhor que Maria do Carmo, uma normalista exemplar e recatada, poderia satisfazer os caprichos de
temperamento impetuoso? p. 42

Começa então a perceber que podia manter em segredo, e que teria de conquistar o coração da moça, o
que precisava era de oportunidade.

Notas do capítulo
¹ representação de Nossa Senhora em desenho: pintura, escultura ou pintura.
² como já vistos em livros como Recordação do Escrivão Isaías Caminha, era muito comum esses tipos de jornais, eram
chamados de Pasquim, jornais ou folheto com o objetivo de satirizar a sociedade. No Rio de Janeiro, início do século XX, esses
jornais eram caçados e desmontados, no livro de Lima Barreto o jornal de lá era chamado de Azeite.

IV
O coronel Souza Nunes estava incomodado com o namoro do trilho de ferro anunciado pelo Matraca, não
estava ele criando o filho para se misturar com gente de pouco crédito social, aprendera com seu pai que não se
descia do cavalo para apertar mão de gente de menos importância, mas precisava esperar o filho chegar.
Fazia ele questão que o filho andasse alinhado e fosse amigo de presidente do Ceará o Dr. Castro, que esse
era o tipo de gente que ele devia se misturar.
Zuza chegou para se trocar dizendo que ia passar uns dias no Baturité com o presidente e o pai disse que
fazia bem, e então lhe conta a fofoca que rolava por ali.
O filho negou dizendo ser perseguição e querendo saber quem escrevera tal matéria, saiu encolerizado e o
pai aliviado, pois o filho sairia para viagem e esqueceria essa conversa.
O jornal na manhã seguinte anunciou sua partida e Maria leu e ficou zangada, dizendo acabar com um
relacionamento que nem havia começado. Lídia diz que era porque ela não tinha respondido a carta, mas mostrou-
lhe uma poesia dele no final do jornal com o título Adeus! Era para ela a poesia.
A moça foi para a cama pensando em Zuza, se ele estivesse ali no quarto com o calor do corpo, tinha medo
que o trem desencarrilhasse e se ferissem, mas logo pensava que estaria tudo bem.
No outro dia ela não foi à escola Normal, dizia estar de enxaqueca, o padrinho a consultou pegando em seu
pulso e pedindo para ver sua boca, e permitiu que ela ficasse, Lídia que quase não ia para a aula e fazia o que
queria, ficou com a amiga em casa. Tinham muito que conversar.
Conversam sobre o Zuza, claro, Maria temia que ele só a seduzisse, e Lídia diz que não, vai dar casamento.
Em seguida, chega D. Amélia e conversa com D. Terezinha, a esposa do Dr. Mendes passa a falar mal do
marido, toca a Juanita no piano e Maria diz querer aprender, ao término da visita pede 10 mil réis emprestados,
pois em casa tudo parecia faltar. D. Terezinha empresta apenas a metade de um dinheiro quase se esfarelando
guardado em uma caixa.
D. Amélia saiu agradecida e Maria tentava tocar piano, o padrinho, tendo bebido umas no bar do Zé Gato,
viu-a e beijou o rosto. Era a primeira vez que amanuense lhe tocara assim, tão indiscretamente, tão promíscuo, ela
ficou séria e limpou o beijo com a mão, pensou em repreendê-lo, mas não pôde. Dentro de sua alma sobreveio-lhe
um ódio imenso, uma vontade de batê-lo na cara.
Mas o que poderia fazer? Era ele seu padrinho, quase pai e lembrava-se da orientação do pai de respeitá-lo.
Depois ela passou a manusear o livro disfarçando para que o padrinho saísse, mas a se ver sozinho com ela
ele a agarrou por trás e lhe deu um beijo na boca, “um beijo úmido, selvagem, babando-a como um alucinado.”
Maria quis gritar, mas o padrinho prendeu-lhe a boca com as mãos e disse:

“- Nada de gritos, hein! Nada de gritos... Eu sou seu padrinho, posso lhe beijar onde e quando quiser, está
ouvindo? Nada de gritos!” p. 55

O narrador volta um pouco no tempo e fala da bebedeira que tivera no bar do Zé Gato, falava com o
Perneta de como não tinham poetas, apenas Barbosa de Freitas era grande poeta ao lado de Álvarez de Azevedo.
João pergunta se Zuza era poeta, e Perneta diz que só estragava papel, falam mal da política e da Mata
admite estar cansado de trabalhar de graça para tanta gente e que só queria saber de ter dinheiro para construir
sua casa.
Saindo ambos embriagados, Perneta pergunta se Maria está de namoro com o Zuza e diz que era bom ela se
casar com gente daquele calibre, João se ascende de fúria. Ao caminho vê o enterro de alguém e pergunta quem
teria morrido. Do outro lado Romão, um varredor de rua passava muito bêbado fazendo curvas.

V
Maria do Carmo está ansiosa pelo retorno de seu amado, havia se passado seis dias de sua partida, e andava
de mau humor e perdido peso, um jornal anunciara que ele em breve voltaria, oito dias longe dela, estava agora
feliz, tão feliz que até tratava bem o padrinho que outrora se esquivava, o padrinho se aproveitando, logo após o
víspora foi para o corredor e lhe pediu um selinho na boca.

Maria ofereceu-lhe os lábios com uma passividade de escrava, sem a menor resistência, pondo-se nos
bicos dos pés, porque João era muito alto, e deixou que ele sugasse-os em dois tempos, às pressas, antes que
viesse D. Terezinha.
Grande foi a admiração e luxúria do amanuense. Maria entregara-se-lhe sem um grito, sem um esforço! E
suspendendo-a pela cintura, num ímpeto de carnalidade indomável, apertou-a contra si, com força, rilhando os
dentes, nervoso, bambas as pernas, o coração aos pulos[...] p. 61

Mas logo a soltou, D. Terezinha vinha arrastando sua chinela, ao vê-los desconfiou de tal comportamento e
perguntou depois para ela, mas ela apenas baixou a cabeça, Terezinha já vinha desconfiando até que enfrentou o
marido dizendo que ele queria molestá-la e engravidá-la, João da Mata deu-lhe um soco na cara e disse que ela era
amasiada dele, uma fêmea qualquer.¹ Maria sabia agora que o padrinho estava louco.
Na escola, todas as alunas davam-lhe “parabéns” de forma irônica pelo retorno anunciado nos jornais do
Zuza, somente Lídia a defendia, depois tiveram aula de Geografia com o professor Berredo, e passou a dar aula
sobre Oceania e das tribos antropófagas a qual Maria respondera corretamente a uma pergunta.²
Depois o professor fala sobre comportamento e diz que as boas leituras devem ser feitas por meio de Júlio
Verne e Vitor Hugo aproveitando para alfinetar novamente o Romantismo:

- “Eu estou certo, - dizia o Berredo, convicto, - de que as senhoras não leem livros obscenos, mas refiro-
me a esses romances sentimentais que as moças geralmente gostam de ler, umas historiazinhas fúteis de amores
galantes, que não significam absolutamente cousa alguma e só servem de transtornar os espíritos as incautas³...
Aposto em como quase todas as senhoras conhecem Dama das camélias, a Lucíola...” p. 68
Foi quando na sala entrou o presidente da província com o Zuza e cumprimentou o professor, Maria ficou
muito nervosa, mas se conteve.
O presidente foi com o diretor e Zuza ver a aula do professor, estavam todas nervosas, o professor fez uma
chamada para responder a perguntas, a primeira foi uma aluna chamada Sofia de Oliveira, mas ela errou uma
pergunta sobre quantos polos tinham a terra. Maria do Carmo foi a próxima, mas teve uma crise de nervosismo e
chorou, Lídia soube responder.
Ela ficou indignada com sua incompetência, sabia que o Zuza não a quereria mais, estava decepcionada e
revoltada contra o mundo sem nem querer mais voltar para o colégio. Sentia-se mal.

Notas do capítulo
¹ note como o fato de João da Mata ser amigado não o impede de viver e ser aceito na sociedade, fazendo o autor mais
uma crítica aos costumes da sociedade hipócrita de Fortaleza.
² é incrível notar como é feito uma crítica ao modelo de ensino a qual não possuía dinâmica didática bem como aulas
cansativas e expositivas, principalmente de Humanas, como se o conhecimento fosse apenas científico com materiais expostos,
mas que nem usados eram, note:
Era ali que funcionavam as aulas de ciências físicas e naturais, em horas diferentes das de geografia. Não se via um só
mapa, uma só carta geográfica nas paredes, onde punham sombras escuras, peles de animais selvagens colocadas por cima de
vidraças que guardavam, intactos, aparelhos de química e física, redomas de vidro bojudas e reluzentes, velhas máquinas
pneumáticas nunca servidas, pilhas elétricas de Bunsen, incompletas, sem amálgamas de zinco, os condutores pendentes num
abandono glacial; coleções de minerais, numerados, em caixinhas, no fundo da sala, em prateleiras volantes... Nenhum indício,
porém, de esfera terrestre. p. 65
³ descuidadas, ingênuas.

VI
Zuza quer se vingar de quem dissera aquelas asneiras no jornal, queria bater e socar, José Pereira, redator
do jornal diz que o insulto era comum, afinal, em Fortaleza, todos de fato era Matracas, mas isso não ia ficar assim,
sabia que o insulto falava dele, pois sabia que era o único da cidade que andava com flor na lapela.
José Pereira era redator do jornal, fora do Correio, mas escrevia romances piegas e Literatura rasteira, mas
se achava a luz e a referência da intelectualidade cearense, no entanto, era julgado pela sociedade apenas pelo seu
trajar, não se admitia que um homem dito daquele calibre fosse com a mesma roupa toda vez aos eventos,
aproveita então o narrador para tecer mais críticas:

Oh! a respeitável sociedade cearense exigia primeiro que tudo decência no trajar, e aquilo assim, aquela
sobrecasaca sórdida escandalizava-a como se escandaliza uma donzela diante duma estátua nua. Pois o Sr. José
Pereira não podia, sem grandes sacrifícios, comprar um fato novo? Então, que diabo! não aparecesse entre
pessoas de certa ordem, ficasse em casa, fosse mais modesto. Sim, porque todo o homem de talento, na opinião
da sociedade cearense, deve acompanhar a moda em todas as suas nuances, em todos os seus requintes, deve
ter sempre uma casaca à última moda, uma calça à última moda, e um chapéu à última moda, conforme os
figurinos, para os momentos solenes, deve ser enfim um sujeito correto na acepção mais lata da palavra.
O Sr. Pereira sabia dar um laço na gravata, lá isto sabia, e também não ignorava como se calça uma luva;
mas (e isto é que preocupava a sociedade cearense) o Sr. José Pereira, quer fosse a um baile de primeira ordem,
quer fosse a uma festa inaugural, quer fosse ao teatro, levava sempre invariavelmente a mesma sobrecasaca
surrada e o mesmo chapéu ruço! Um homem de talento sem gosto é o que não se admite. A sociedade cearense,
porém, ignorava que o Sr. José Pereira era casado, tinha filhos e ganhava apenas o essencial para o seu sustento e
o da família, cento e cinqüenta mil-réis por mês, uma ninharia. p. 74

Alguns amigos até queriam que ele abrisse crédito e comprasse roupas novas, mas ele com consciência
financeira negava.
Todos o admiram, passava na rua e era visto como gênio, teve como seu primeiro mestre Alexandre Dumas
pai e venerava como deus Vitor Hugo, com o tempo passou a seduzir as mulheres da sociedade mesmo sendo
casado, sua fama permanecera inalterada, inclusive recebendo apoios de mulheres viúvas e até de mulheres
casadas.
Nisso José Pereira, percebendo que Zuza está imutável em sua decisão de tirar satisfação diz ser o Guedes,
vulgo Pombinha, o autor dos versos e Zuza anota e pede a publicação do poema chamado A volta e diz ser dedicado
a mesma pessoa a quem escrevera Adeus quando partira.
José chega a perguntar se a coisa com Maria do Carmo era sério ou só diversão, quando Zuza diz ser sério o
amigo o repreende dizendo ser ela moça de baixo calão para ele, mas Zuza tinha outra concepção:

Então o Zuza, acendendo um cigarro, disse que estava aborrecido de mulheres que se entregavam
facilmente.
[...]
Maria do Carmo parecia-lhe uma criatura simples, sem essa tendência fatal das mulheres modernas para
o adultério, uma menina que até chorava na aula simplesmente por não ter respondido a uma pergunta do
professor! Uma rapariga assim era um caso esporádico, uma verdadeira exceção no meio de uma sociedade roída
por quanto vício há no mundo. Ia concluir o curso, e, quando voltasse ao Ceará, pensaria seriamente no caso. A
Maria do Carmo estava mesmo a calhar: pobrezinha, mas inocente... p. 77

Depois da partida do filho do coronel chegou o Castrinho, outro jornalista, descrito com os mesmos
sintomas de pseudo genialidade de José Pereira, estava indignado, pois fora acusado de plágio, havia escrito um
texto chamado Flores Agrestes, muito bem recebido pela crítica indígena. Um jornal O Cearense havia-o chamado
de plagiador de obras alheias.
Castrinho pede para ser publicado na segunda página um artigo de resposta provando que sua obra era
autoral. José o apoia e diz que era com essa ferocidade que nasciam os Byron, os Victo Hugo...
Zuza desiste da ideia de ir tirar satisfações com o Guedes, sabia que não valia a pena o esforço, mas disse
que dá próxima não escapava, estava com nojo do Ceará, e é porque era chamada de terra da luz!
Essa indignação lhe provoca reflexões, passa a ter saudades de Olinda... Pernambuco é que era terra boa,
passa a se lembrar de Rosita, moça boa que sabendo quem ele era se entregou sem mais demora, começou a
perceber como era tola a Maria do Carmo, e que Rosita era mulher boa, sabia lidar com homens educados, Zuzinha
para lá, e para cá.¹
Pensava nas prostitutas de lá, até aqui no Ceará as prostitutas são lembradas como uma legião de
meretrizes imundas, carregada de sífilis até aos olhos. Seus amigos viviam se reclamando de doenças secretas.
Zuza estava no quarto pequeno, mas arranjado, herdara do seu pai o amor à ordem.²
Passara a ler o livro Casa de Pensão de Aluísio de Azevedo, gostava dos romances brasileiros e desprezava
os lusitanos.
Nisso se perde na leitura e se lembra de ter marcado jantar com o Presidente às cinco horas, lembra
também que a Maria do Carmo não o respondera, ele de alta classe dava bola demais a ela, mas a tal Normalista
haveria de cair por ele. Era questão de tempo.

Notas do capítulo
¹ aqui o narrador fica onisciente no pensamento de Zuza para despertar-lhe também o espírito naturalista e afastá-lo de
uma visão romântica, antes dada a impressão ao José Pereira de um rapaz desejoso de casar com mulher inocente, vê ele agora
como sinal de tolice.
² aqui há um indireta ao posicionamento Positivista de Auguste Comte: Amor ao progresso e a Ordem (1830).

VII
O casamento de Lídia Campelo está quase no ponto, e claro, tal proximidade aproximou ainda mais o casal,
o Loureiro não ligava para as injúrias que diziam de D. Amanda e defendia a filosofia de S. Tomé: ver para crer.
Até o João da Mata espalhava a fofoca de que a mãe se encontrava às escondidas, mas o noivo negava e
defendia a pureza da mãe e da filha.
Até que a intimidade vai aumentando, ele indo cada vez mais à casa dela, começou a tocá-la mais
indecorosamente, sexualmente, tocando suas partes íntimas, Lídia resiste, mas Loureiro argumenta que eram
noivos, que em breve cederia.
Ela cede:

“- Oh! Não... suplicou a Campelinho sentindo o contato da mão grossa do guarda-livros. Deixa...
Houve um fru-fru de vestidos machucados e o baque de uma cadeira.” p. 86

Com o tempo ele passou a ir todos os dias, assumiu as contas de casa e vivia como chefe da casa, via as
mulheres como pobres coitadas e sabia que precisavam de dinheiro, tanto que com o tempo nem sequer mais ia
para o HOTEL DRAGOT, compensava mais estar na casa da namorada.
Era mês de novembro. O mês dos cajus e das ventanias, com as manhãs friorentas e claras. Zuza não tinha
pressa em se formar. Agora o Ceará não lhe era inteiramente uma terra má, ia se habituado a pacata cidade, mas
sempre via-a inferior às outras.
Maria aguardava para lhe entregar outra carta, estava ansiosa, nervosa, e Lídia tentava acalmá-la, foi
quando apareceu junto de José de Oliveira, foram para o Passeio Público¹ na Avenida Carapini, também conhecida
como avenida dos charutos², era muita música e Zuza não gostava, achava aquilo um absurdo e novamente
inferioriza Fortaleza em relação a outras cidades como Rio de Janeiro e Pernambuco.
Foram passeando e Lídia foi de mão com o José e Zuza foi de mãos dadas com a Maria, entraram em um bar
de quinta categoria, e pediram cerveja Carls Bergs.
Lídia bebia com ferocidade e Maria ia aos poucos se soltando, até que ao final aceitou alguns goles de
cerveja. Lídia já estivera lá, bebendo cerveja com o alferes Coutinho, do batalhão.
Maria ficou um pouco zonza e saiu apoiada no Zuza, ao fim do encontro ele roubou-lhe um grande beijo.
Depois saíram e foram no Restaurante Tristão.
Notas do capítulo
¹ O Passeio Público, inaugurado em 1880, era um dos lugares mais frequentados pela população de Fortaleza.
Anteriormente este local era denominado de Praça dos Martíres em virtude da execução de alguns participantes da Confederação
do Equador ter ocorrido em tal praça.
Ao ser remodelado, esta área de lazer tornou-se um ponto de referência urbana na cidade: Localizado no perímetro
central e com ampla vista para o mar, o Passeio Público tornou-se de pronto a principal área de lazer e sociabilidade, até que
despontassem outras tentadoras opções a partir do século XX, como o Theatro José de Alencar (1910) e os cines Majestic e
Moderno.

De acordo com o memorialista Otacílio de Azevedo:

“O Passeio Público era uma ampla praça dividida em três partes iguais. A primeira era a Caio Prado, onde fervilhava a fina
sociedade local; a parte do meio era a chamada Carapinima, destinada ao pessoal da classe media e onde a Banda da Polícia
Militar executava operetas e valsas vienenses. ²A terceira era a avenida Padre Mororó, frequentada pela ralé – as mulheres da
vida, os rufiões e os operários pobres.
Nesta divisão identificamos uma cidade marcada por um desenvolvimento urbano, e ao mesmo tempo pelo aumento de
pobreza, o que leva a elite a buscar elementos de diferenciação e separação dos demais grupos sociais. Os locais de passeio e
lazer, as moradias fora do centro em bairros como Jacarecanga, são exemplos desta diferenciação social da elite fortalezense.” NB3

FOTOS: Passeio Público, Caio Prado, Fortaleza, sec. XIX. Arquivo Ninaz NB4

VIII
Maria do Carmo chegou tonta da “bebedeira” que tomou, cheirava a cerveja, logo João da Mata queria
brigar com a moça, mas ela o tratou com carinhos e afagos e até lhe deu um beijo na testa.
O padrinho soube da boca dela que havia tomado cerveja, que o Zuza tinha pago, mas não conseguiu brigar,
afinal, estava a receber carinhos dela.
Maria foi para o quarto e nem sequer se despiu ou libertou os cabelos, acordara no meio da noite com um
pesadelo, sonhara com Romão, que limpava a cidade¹, caindo e depois a beijando com força.
Ela acordou pálida, pensou em pedir remédio a Mariana (ver personagens), mas relutou, a dor haveria de
passar. Pensou em ir para a cozinha, mas teria que passar pela sala onde dormia o padrasto. Desde a briga com D.
Terezinha estava a dormir lá.
Por sinal as brigas frequentes de João da Mata e D. Terezinha lhe rendeu descréditos na rua de tal forma
que nem o víspora era jogado, ninguém mais ia. Até o Loureiro pedia para a Lídia não ir mais lá, chamava-os de
gente “sem-vergonha”.
Teté já sabia das intenções de João da Mata, mas ela é que não serviria de alcoviteira, a afilhada é vista por
ela como sonsa e preferia dormir sozinha na cama.
O amanuense via Teté com desprezo e repugnância mórbida, mas Maria o atiçava, João se lembrava da seca
de 77 quando pegou e deflorou muita retirante passando fome, mas nenhuma era como a Normalista.
Aquilo gerava um encanto, um deleite pecaminoso, criava planos fantásticos para ganhá-la sem fomentar
escândalos na cidade.
Maria cedia às carícias do padrasto como uma escrava, até que João da Mata ultrapassa mais uma vez o
limite:

Consentia, pudera não! Sem a menor resistência, que o amanuense afagasse-lhe o bico dos seios virgens e
lhe passasse a mão pelas coxas tenras e polpudas... p. 105

Maria tinha vontade de repulsá-lo, de brigar, mas ela achava que em breve o Zuza a tiraria dali e que se ela
aguentasse mais um pouco tudo daria certo, afinal, ele era padrinho.

Muitas vezes, ah! quase sempre, vinham-lhe ímpetos de reagir com toda a força do seu pudor revoltado,
mas ao mesmo tempo lembrava-se que era só no mundo, porque já não tinha pai nem mãe, e podia ser muito
desgraçada depois... Sim, era preciso paciência para suportar tudo até que o Zuza se decidisse a ampará-la sob a
sua proteção de rapaz rico. Vivia agora, sabe Deus como, entre a indiferença cruel de D. Terezinha e a vontade
soberana do amanuense, por assim dizer sozinha naquela casa onde tudo tinha o aspecto sombrio e desolado da
pobreza desonesta. Ah! mas aquilo havia de acabar fosse como fosse... p. 105

A própria Lídia já não a procurava mais. O Zuza não andava mais por lá e se comunicava com cartas
entregues no colégio, as fofocas eram grandes, muitos diziam que ele casava com ela e que geraria grande
descontento ao pai, outros alegavam que ela estava grávida dele, outros afirmavam que ele queria deflorá-la para
depois partir.
O fato é que eles viram de novo capa do Matraca, Zuza enfurecido dá tapas no menino que fazia a venda do
jornal.
Zuza, estando com o José Pereira e o presidente Dr. Castro, aconselham que a indiferença é melhor e diz
que quando falam mal dele (o presidente da Província) demitia dez funcionários da oposição, Zuza fica
impressionado e se sentindo mal por ter batido no vendedor de jornal, pois sabia que muitas famílias dependiam de
empregos públicos.

— Pois bem, vou mandar lavrar a demissão de alguns empregados públicos que se dizem miúdos, coma
data de hoje. Eis aí está como se resolvem questões desta ordem. Insultam-me, não é assim? injuriam-me, acham
que sou mau, que não tenho juízo, que sou indiferente à sorte do Ceará... Pois bem, hoje mesmo muita gente vai
pagar pelos diretores do tal partido. Nada mais simples, não achas?
Ante a resolução pronta e decisiva do presidente o Zuza ficou perplexo. Decididamente era um grande
homem aquele!
— Mas olha que vais reduzir à miséria muitas famílias...
O presidente teve um sorriso de suprema indiferença àquelas palavras do estudante e dirigiu-se para a
secretaria com o passo firme de quem caminha para uma ação nobre com o seu belo porte de diplomata. p. 109

Em casa o pai tentava convencer o Zuza a retornar para Pernambuco, pois temia o casamento com a moça
pobre, a mãe de Zuza, D. Sofia, estava mal e velha e não ligava para as contendas de pai e filho, a mãe era para Zuza
o reduto de felicidade e obediência incondicional.
O velho Sousa Nunes via que o filho se perdia ali, estava a demorar muito em Fortaleza, acostumando-se a
pacata cidade, deixando a vida de futuro advogado para escanteio.
Nisso Zuza fica mais decidido a engatar o namoro e investir em Maria do Carmo mesmo que rendesse
desgosto ao pai.

Notas do capítulo
¹ naquela época não havia sistemas de esgoto, de tal forma que havia pessoas que pegavam lixo ou os dejetos fecais e
levava em barris para jogar no rio, acontecia geralmente à noite, então quando se derrubava tal barril já se imagina como
amanhecia a rua.

IX
O capítulo narra o casamento de Lídia Campelo e Loureiro, a missa foi na igreja do Patrocínio e o noivo
chegara vermelho do calor e da raiva, pois antes de sair recebera uma carta anônima falando mal de sua amada,
mas ele diz não ligar, eram asneiras.
D. Amanda faz de tudo para agradar seu genro, o narrador aproveita para estabelecer a forma como
Loureiro tratara sua nova casa localizada no Bairro Benfica, uma casa bem ornada, montada, com piano e móveis
chiques, e claro a noiva fica impressionada.

Lídia pasmou diante daquele novo mundo que se lhe oferecia à vista. Nunca pensara que o guarda-livros
soubesse preparar uma casa com tanta graça. Pela primeira vez na sua vida o Loureiro revelara-se um homem
moderno e civilizado. Estava encantada! Já agora não invejava a sorte de Maria do Carmo: o Loureiro podia
competir com o Zuza em bom gosto! Quem diria? Supunha o guarda-livros mais tolo, mais ignorante e
sensaborão. Agora estava convencida de que o seu homem era capaz de fazer figura em qualquer sociedade.¹ p.
115

No desfile para a igreja, durante o trajeto o Guedes bebia do Zé Gato e entrara no cortejo fazendo
escândalo, gritava que já havia beijado a noiva e que ela não valia nada.
Guedes fora contido pelo dono do bar e o cortejo seguira normal, os falatórios ficavam para depois, afinal
muita moça danada depois de casada viraram boas mães da sociedade.²
Durante a festa era um pandemônio de pessoas, gente bebendo vinho e cerveja, o Castrinho deu um
discurso falando
— ...Não erguesse a minha fraca voz para... para saudar... para saudar o himeneu³ destas duas criaturas
(apontando para os noivos) nascidas no mesmo galho, da mesma gota de orvalho... como diria o nosso Casimiro
de Abreu...4 p. 120

Depois do discurso o Alferes Coutinho declamou versos belíssimos e todos ouviram com atenção bem maior
ao de Castrinho.
Maria do Carmo sentia ciúme da amiga, ficava de cara ruim acuada pelo canto, Zuza tinha a proibido de sair
com outro, e lá só estava com o padrinho, queria se libertar daquelas amarras.
A festa ia se acabando e todos foram se retirando, ao final D. Terezinha pede obediência de Lídia ao marido,
e o casal parte para o Benfica e D. Amanda agora sozinha recebia o Batista da Feira Nova.

Notas do capítulo
¹ note como Lídia se interessa pelos bens que agora passa a possuir e dá valor à posição social de seu marido.
² note a hipocrisia social, não importa como era a vida, o que importa é casar e estabelecer relação de aparências.
³ casamento, enlace matrimonial.
4
esses versos não são de Casimiro de Abreu, mas de Castro Alves, o que indica a pouca cultura do jornalista que sempre é
elogiado pelos amigos como grande escritor e poeta.

X
Esse capítulo ocorre um dos pontos alto da obra, Maria está ainda com inveja de Lídia, perguntava-se
quando seria sua vez, pensava em Zuza e recobrava a confiança no estudante, pôs-se a dormir e novamente sonhou
com o Romão, caindo pela rua cheia de dejetos e acordo no quarto com calor.
Nisso viu que alguém se aproximava do quarto, quis gritar, mas João da Mata a impediu tampando lhe a
boca pedindo silêncio, ela estava nervosa, João deitou-se na rede com ela, alegando que estava com frio, e Maria
estava calada, com medo, queria gritar, mas não podia, João da Mata prendeu Maria nos braços e fala ao seu
ouvido que sabia que ela amava o Zuza e que não aprovava aquele enlace, que falavam que ele casaria com ela, mas
diz que ele poderia consentir e só dependia dela, somente dela...
Maria sente-se envolvida em um clima erótico bem ao modelo Naturalista:

Seu instinto de mulher nova acordara agora obscurecendo-lhe todas as outras faculdades, ao cheiro
almiscarado¹ que transudava dos sovacos de João da Mata. Coisa extraordinária! aquele fartum de suor e sarro
de cachimbo produzia-lhe um efeito singular nos sentidos, como uma mistura de essências sutis e deliciosas,
desconcertando-lhe as idéias. Uma coisa impelia-a para o padrinho, sem que ela compreendesse exatamente
essa força oculta e misteriosa. p. 133

Ao mais falando do Zuza em que ela teve até tremores de excitação, começa a cogitar ceder para obter a
aprovação do padrinho para tal namoro.

Toda ela vibrava como uma lâmina de aço ao contato daquele homem que comunicava-lhe ao corpo um
fluido misterioso, transformando-a numa criatura inconsciente atraída por um poder extraordinário como o da
cobra sobre o rato. p. 134

As palavras “paternas” do padrinho e o nome de Zuza, a excitação que lhe ocorreu fez com que Maria visse
João como o mais “coitado” dos homens e que só estava a lhe prestar um favor, então cedeu ao ato sexual, ainda
de madrugada Maria estava de joelhos a pedir perdão frente a imagem de Cristo arrependida.

Notas do capítulo
¹ substância e odor penetrante e persistente obtida a partir de uma bolsa situada no abdômen do almiscareiro macho e
usado como fixador de perfumes.

XI
Maria passou oito dias sem ir para a escola, entrara em uma forte depressão, pouco comia e passava a
rememorar as cenas, sentia-se tola por ter se entregue ao padrinho, achava-se imunda, pecaminosa, o Zuza não lhe
dera mais notícias e isso a magoava ainda mais.
João da Mata todos os dias chegava às quatro horas da repartição trazendo coisas e mimos para ela, pedia
mil cuidados de Mariana e Terezinha, por sinal a madrinha andava pela casa como se ela não existisse e isso a
magoava, tinha vontade de falar para ela, pedir perdão, mas isso seria acusar o erro e seu nome cair em desgraça.
João tentava alegrá-la, mas sem êxito, pedia que deixasse de besteira e superasse a dor, que aquilo que eles
tiveram não era motivo para ficar triste.
Lídia passou a lhe escrever, dizia sentir sua falta, pedia pela visita da amiga que não mais lhe dera notícias,
sentia-se ela sozinha naquele lugar distante que era o Benfica.
Maria mostrou a carta da amiga e João disse que iria com ela, afinal era longe e distante do setor urbano¹.
Foram visitar a Lídia e o padrinho, a casa bem arruma à fidalga arrancou a admiração de ambos e João ficou
sozinho na sala a esperar a volta do Loureiro e Lídia foi mostrar a casa para a amiga, os móveis, a cama, os
presentes e os mimos do marido e de amigos despertavam uma imensa inveja, e a dor de Maria aumentava.
Foi apenas quando Lídia falou do Zuza, de que ele havia partido, que Maria pôs-se a chorar em seu colo, a
amiga tentou animá-la, levou-a ao piano.
Enquanto isso João admirava a natureza esplêndida do lugar e Loureiro, que havia chegado, dizia que
gostava de estar longe da cidade, a amanuense se reclamava de dores e Loureiro recomendava bons remédios e
fala mal dos médicos do Ceará.
Maria diz para a Lídia que não está mais a ir à escola e a amiga a apoia, diz que agora ela estando casada
não tinha mais que aguentar aqueles professores daquele colégio, mas que se sentia sozinha sendo visitada apenas
por José Pereira.²
Vieram as festas, o Natal e Ano Novo.
Foi quando a normalista percebeu que estava grávida, ainda mais quando a Lídia anunciou que também
estava, e tendo o Loureiro comprado um livro de Debay intitulado Fisiologia do Matrimônio foi que Maria percebeu
que os sintomas que sentia: enjoo, ausência da menstruação e até algo se mexendo dentro dela davam com o
resultado nefasto, estava grávida.
Entrou em grande desespero, pensou em suicídio, note:

Sim, preferia matar-se a assistir às exéquias¹ de sua honra na praça pública, em todas as ruas da cidade,
em todas as bocas. Estava irremediavelmente perdida, não tinha pai nem mãe, nem alguém que lhe fosse sincero
no mundo, pois bem, acabar-se-ia de uma vez, sem ter que dar satisfação a ninguém por isso. Era um pecado,
mas não era uma vergonha, porque não teria que corar nunca diante da sociedade, como uma criminosa, como
uma culpada. Não, mil vezes não! Outra, que não ela, preferisse arrastar uma existência vergonhosa, a morrer
fosse como fosse. p. 147

Em uma ocasião pegou um frasco de veneno e pensou em tomá-lo, pensou no enterro, e desistiu, depois
pensou em matar a criança, abortá-lo, mas percebia que seria um crime maior, afinal era seu filho, sangue de seu
sangue e seria ainda aumentar seu pecado para com Deus.
Apegou-se mais com a religião, dizia que depois que tivesse a criança iria viver como santa em alguma casa
de Misericórdia ajudando os enfermos. E Maria agonizava-se, fazendo essas considerações absurdas sem paciência
para o desenlace final.
Lídia de uma lado grávida, recebendo as honras da sociedade que há meses a mal dizia, e Maria estava
prestes e ver seu nome jogado na lama, futuramente sem amigas e quem a quisesse, “sem honra, sem pai nem
mãe, mísera cadela que a gente enxota a pontapés de casa por safada e indecente.”

Notas do capítulo
¹ nessa época o Benfica, assim como Bairros como Aldeota eram bem distantes do centro.
² Fica sugestionado, pelo autor, nas palavras das personagens, que o Sr. José Pereira ao deixar de "visitar" a D. Amélia
para passar o tempo no Benfica, na casa da Lídia Campelo, mantinha um caso amoroso com ambas. Lídia e D. Amélia.

XII
O Zuza tinha ido mesmo embora sexta-feira, dias depois do casamento da Lídia. Por conta dos comentários
populares do namoro escandaloso o pai exigiu que o filho partisse.
Chateava-se não poder se despedir da Maria, mas logo depois, vendo e analisando aquela sociedade
mesquinha e torpe, muda de postura:

— Ora sabem que mais? Há males que vêm para bem. A cidade está cheia do meu nome e do nome da
rapariga, o verdadeiro é ir-me embora mesmo, sem dar satisfação a ninguém. Meu pai é um homem de juízo. Eu
podia muito bem engraçar-me deveras com a menina para casar e depois... sabe Deus as conseqüências. Já se foi
o tempo de um homem sacrificar posição e futuro por uma mulher pobre. Concluo o meu curso e sigo para a
Europa, é o verdadeiro, ora adeus! p. 151

Só magoava agora de fato a saudade de sua mãe, não podia negar o Ceará, a terra de sua amada mãe. A
partida do estudante deu o que falar nos jornais, a oposição dizia que a ida do rapaz após estar de namoro com a
normalista era um disparate e atentado contra a boa fé da família cearense. Alguns jornais chamavam o presidente
da província de negro Romão.
Zuza já estava ansioso para deixar o Ceará, não aguentava tanta sujidade.
Revoltava-se de novo contra o Ceará, contra os costumes cearenses, contra a política, essa política sem
ideal e sem patriotismo, que só servia para nos rebaixar, obrigando o indivíduo a vender-se por amor de sua
mulher e de seus filhos. p. 152

Depois José Pereira lamentava a partida do amigo, mas sabia que ele se formaria, que estaria de novo em
breve a fazer figura por aquelas terras e sabia que assim não tinha riscos de avançar mais seu relacionamento com
Maria do Carmo, chegou até mesmo a perguntar se não desonrara a moça, mas Zuza afirmou apenas ter-lhe dado
beijos e nada mais.
Na escola Maria do Carmo não era mais vista como a mesma mulher altiva, vivaz, diziam que ela teria até
visto um fantasma, outras diziam que era por causa da partida do Zuza.
Um dia desenharam uma obscenidade na lousa quando o diretor viu, acusaram Maria e o professor mandou
que ela viesse ao quadro e apagasse a imagem, mas ela se negou e foi expulsa da sala.
Nisso ia crescendo ainda mais o desgosto de Maria, o João da Mata bebia cada vez mais e D. Terezinha
passou a ser a chefe da casa. O homem, o chefe, o amanuense havia de fato perdido o controle de sua autoridade,
de tal forma que agora era D. Teté que mandava.

Como os tempos mudam! Há poucos dias era ele forte, o mandachuva naquela casa; bastava um olhar
seu, por cima dos óculos escuros, para que todos, D. Terezinha, Maria do Carmo e a Mariana, estremecessem
com medo, porque sabiam de quanto ele era capaz nos momentos de cólera; agora não, tinham-se trocado os
papéis: bastava um olhar de D. Terezinha para que ele lhe desse as costas disfarçadamente para evitar barulho. p.
161

João agora estava mais velho, sentido dores em todas as partes e pensando em aposentadoria, mas era
impossível aquilo na altura do campeonato.
Maria lhe falou de sua gravidez e ele de modo indiferente pediu que fosse para uma fazenda, parisse o filho
e voltasse para a santa vida dela, e que aquilo era comum, isso dava mais desgosto em sua alma, vontade de matá-
lo.
Depois o João da Mata chegou para D. Mendes e sua esposa que passeavam pelo Trilho do Ferro anunciou
que o presidente tivera um infarto, caíra aos braços da mulher e estava muito mal.
Todos estavam aterrados com a notícia, até a oposição estava condolentes, Maria do Carmo se lembra de
como o presidente exalava saúde, que havia dado costumes parisienses aos fortalezenses, e o autor aproveita para
tecer críticas aludindo ao Panis et Circensis.

Coitado! uma alma boa. É verdade que tinha demitido o Pinheirão mais os filhos, deixando-os na miséria,
mas no dia seguinte mandara-lhes um envelope com cinqüenta mil-réis. Tudo por causa da política; a política é
que o fazia mau. p. 164

As duas da madruga o presidente morrera, toda a cidade entrara em luto, o cortejo fúnebre passou pelo
Trilho de Ferro e uma chuva fina caía em Fortaleza, Maria teve um desmaiou e foi socorrida por Teté que depois lhe
sugeriu um médico, tendo Maria negado a vinda do médico a madrinha passou a vigiá-la, medir semana a semana
sua barriga, pensando: “isso não vai acabar bem.”

XIII
Agora João da Mata se preocupava com o estado de Maria do Carmo, e tratou de arranjar uma casa longe,
em sítio distante para que a rapariga pudesse lá parir, foi questão de tempo seu corpo tornar-se prematuramente
adulta tomando aquela forma de mulher. Era seu quarto mês de gravidez.
Teté vivia a espreitar a menina com o intuito de descobrir algo, acoradava no meio da noite querendo saber
se havia alguma nódoa de roupa, João começou a temer ser descoberto e que a mulher o acusasse de tamanho
crime.
Ainda mais porque Terezinha estava ganhando uma boa grana com rendas e não mais dependia de João da
Mata, quando um dia ele chegara muito feliz, cantarolando para a vida, o narrador nos explica que durante a seca
de 1877 a amanuense ajudara um casal de pobres que moravam atualmente na Aldeota, era tia Joaquina e Cosme.
Cosme vivia de vender lenha com uma jumenta inseparável de nome Coruja, um dia João pediu que a
afilhada ficasse lá por um tempo para ter novos ares, pois tinha um imenso fastio.
O velho disse que não havia problema e que lhe devia a vida quando na seca de 1877 muita gente morrera,
ele sobrevivera graças a João da Mata.
Então estava tudo arranjado, no dia seguinte ele fora deixá-la na casa dos velhos, passara pelo colégio
Imaculada Conceição, ainda de madrugada, e viram a cidade florescer pelos primeiros raios de sol.
Logo na chegada, os velhos a trataram bem, e logo ela fez amizade, aquele clima vegetativo de natureza
exuberante despertou-lhe o vigor, lembrava Campo Alegre quando esperava por seu pai vindo da vazante.
E a menina ganhou corpo e viu a barriga crescer, os velhos de nada reclamavam e Maria dizia que era por
causa do leite bom do curral que tomava, João todo domingo ia visitá-la e se falavam impressionava com a
procriação humana em tom bem machista.

— É, pensava ele, roendo o canto das unhas. Um bom útero é tudo na mulher: equivale a um bom
cérebro! E esquecia-se a filosofar na vida intra-uterina, admirando-se muito de que uma simples gota de esperma
pudesse gerar um homem! p. 177

XIV
Claro que esse sumiço não saía de graça na boca do povo fortalezense, uns diziam que ela tinha ido tomar
ares em Maracanaú, afirmavam com tom irônico, outros diziam que estava com pneumonia, outros diziam que
estava proibido de sair de casa.
Até o José Pereira andava espalhando por aí que ela tinha sido raptada por um paranaense e que se achava
para as bandas do Cocó, na casa de uma tal Joaquim Xenxém.
Na escola na era diferente as fofocas e suposições a respeito do sumiço da moça.
Foi então em um dia de bebedeira que Guedes, redator do Matraca, ficou perguntando e deixando que João
ficasse cada vez bêbado, na saída do Zé Gato perguntou-lhe, e João, mesmo bêbado mentiu, dizendo que estava no
Cocó, mas que não tinha tido a criança.
Guedes estava diante de um grande furo ao dizer o próprio João da Mata que o filho era do Zuza.
Rapidinho a notícia se espalhou, José Pereira não crê, pois Zuza tinha deixado o Ceará dizendo não ter
“mexido” com a moça, no jornal um tal de Elesbão, outro redator, fazendo duras críticas ao ensino do colégio
Normal e que a educação feminina “é um mito ainda não compreendido” que quiseram inserir a educação europeia
em uma cidade extremamente católica, que Fortaleza era terra de verdadeiro sentimento religioso, sem hipocrisia e
sem preconceitos.
Pereira e Castrinho defendem o ensino inclusive a figura do professor Berredo e do diretor, Elesbão afirma
que não era contra as pessoas, mas sim contra o ensino que eles davam, no fundo alega que não tínhamos
educadores.
Depois falam de Maria do Carmo, alegam que era moça boa e não era o que falavam por aí, mas Elesbão
garante que não, pois moça prendada não se entregaria mesmo sendo um figurão como Zuza.
Na cidade a fofoca ganhava mais peso, D. Amélia foi até Teté para saber mais, mas confirmou a história do
padrasto e não o desmentiu, afinal estava mesmo indiferente ao caso.
No Benfica Lídia se lamentava pela má sorte da amiga, estando ela de oito meses ficava a imaginar suas
angústias e tristezas, enquanto ela estava agora na felicidade de esperar um bebê que seria Romeu se fosse homem
e Julieta se mulher.
Em uma noite João da Mata sentiu um desejo sexual forte pela esposa, pois só ela tinha, Mariana era tão
nojenta que não valia a pena, queria a mulher.

Tremiam-lhe as carnes como ao contato de um condutor elétrico, uma formidável ereção a distender-lhe
os nervos, escabujando na rede em espreguiçamentos lúbricos, vergando, como um vencido, ao poder irresistível
da animalidade humana. O sangue pulava-lhe nas artérias numa hipernésia que lhe atordoava os sentidos, que
lhe tirava a respiração, impelindo-o para a mulher. p. 187

Mas incrivelmente quando foi para a cama para possuí-la, não a viu lá, deparou-se apenas com os lençóis,
brochou e foi embora do quarto sem sucesso.

XIV
Eis o último capítulo, o derradeiro. Cosme chegou a casa de João da Mata para avisar que Maria sentia as
dores. Correram e Cosme avisou que Joana Pataca estava a cuidar dela. Se era boa não sabia, mas era o que
tinham.
Ao chegarem à casa do velho Maria gemia muito, mas não tivera ainda o bebê. João pergunta à parteira se
ela tinha licença, mas no Ceará para ser parteira só precisava ser gente de confiança.
Às sete horas da noite, ao acender-se a primeira vela, Maria teve um sobressalto e ergueu-se bruscamente
com uma fortíssima dor no baixo-ventre, muito branca, o olhar desvairado e os cabelos em desordem.
Quando todos tentavam pô-la na cama, foi tarde demais:

E em pé, entre as duas mulheres, com a cabeça arqueada para trás, contorcendo-se numa aflição
suprema, a rapariga soltava gemidos estrangulados, cortada de dores, agarrando-se como uma louca ao pescoço
das velhas, no bico dos pés, em camisa.
Houve uma confusão extrema.
— Sente-se, comadre, sente-se, por amor de Deus! suplicava a parteira, agarrando-a com jeito.
— Sente-se, minha filha, repetia a outra.
João da Mata acudiu gelado.
— Calma! calma! bradou estacando à porta do quarto.
Mas era tarde. Ouviu-se uma pancada surda no chão, como a queda de um bolão de barro úmido e,
imediatamente, rios de sangue jorraram aos pés da parteira, e no linho branco da camisa de Maria do Carmo
desenhou-se larga faixa rubra, de alto a baixo, como uma bandeira de guerra desdobrada. p. 191

O clima era de terror entre todos, João estava revoltado, pois perdera o filho, mas talvez fosse melhor
assim, pois isso não geraria desconfianças dos outros e podiam no futuro descobrir.
Maria dormiu e ao acordar soube da morte do filho, chorou muito e pediu para vê-lo:

E ao mirar o rosto lívido da criança, os bracinhos rechonchudos, o filete de sangue escorrendo do nariz
como um veio de rubi, a rapariga sentiu um calafrio e um grande vácuo no peito, como se lhe tivessem arrancado
um pedaço do corpo. E entrou a soluçar outra vez de um modo tão penoso e comovente que João da Mata não
pôde recalcar duas lágrimas, as primeiras de sua vida, que rolaram vagarosas nas suas faces magras, como duas
linfas cristalinas na aspereza tosca duma rocha. p. 193

O filho fora enterrado ao pé de um cajueiro, meses depois Maria retornou à sua escola, estava corada, boa
como antes, fora recebida com beijos e vivas das “amigas” e até o colégio estava mudado com novas matérias,
horários e até pintura nova.
E se esqueceram de tudo, pois o Brasil entrava na república, era 1889 e todos estavam a discutir sobre isso,
nada queriam saber quem sumiu e porque sumiu, se teve filho ou deixou de ter.
“E Maria do Carmo, agora noiva do alferes Coutinho da polícia, via diante de si um futuro largo,
imensamente luminoso, como um grande mar tranquilo e dormente.”
Vocábulos

Durante a leitura de uma obra tem-se o costume de nossos alunos se depararem sempre com palavras
estranhas que não fazem parte do nosso léxico, algumas arcaizadas pelo tempo, pensando nisso separamos para
você algumas palavras que o próprio vestibular da UVA pode lhe perguntar, exceto aqueles que já estão nas notas
de capítulos, tais vocábulos não foram postos em ordem alfabética, mas na disposição com que aparecem nos
capítulos do livro para que nas frases separadas e pela história do resumo narrada, você seja capaz de entender o
contexto da frase, então aí vão elas:

I
Alcouce – “Estavam fazendo de sua casa um alcouce!” - casa de prostituição; prostíbulo, alcoice, alcoceifa.
Atrabílis – “as voltas com sua atrabílis crônica,” – 1. estado de irritação; irascibilidade, cólera. 2. suposto
humor (a bílis negra) a que os antigos atribuíam o temperamento melancólico, a irascibilidade, a hipocondria etc.
Guisa – “Isso de colégio interno à guisa de conventos[...]” - maneira, modo.
Safardana – “com modos de safardana” - indivíduo sem escrúpulos; safado, canalha, pulha.
Traquejo – “[...] mas um colégio onde ela pudesse aprender o “traquejo social” - muita prática ou
experiência em qualquer atividade.

II
Abantesmas – “e noite no areal incandescente dos caminhos – abantesmas da desgraça.” - alma do outro
mundo, fantasma, espectro; aparição terrificante. O contexto é a chegada dos imigrantes vindos de vários cantos,
assim o sentido pode ser mais figurado, vindo a significar “indivíduo ou coisa que causa susto ou que, por seu
aspecto, é desagradável ou mesmo repugnante.” Tal palavra vem do grego phántasma,atos pelo latim
phantasma,ătis 'ser imaginário, espectro'.
Imberbe – “Casara muito novo, imberbe ainda[...]” - que ou o que não tem barba, ou seja, muito novo.
Pujante - “e a rama brotando verde e pujante da “fornalha”. - bem desenvolvido; viçoso, exuberante,
frondoso. Dentro do contexto pode significar também “que produz muito; fértil, fecundo, produtivo.” Pois
Bernardino, pai de Maria do Carmo está ansioso com a perspectiva de um inverno que os retire da seca onde estão,
no caso, ainda Campo Alegre.
Tépidas – “As manhãs sucediam cada vez mais tépidas, sem pinga d’água,” - pouca força ou intensidade;
frouxidão, fraqueza. No contexto, está relacionado a “quente, morno.”

Gretados/ Juritis/ Escandeadas/ Espapaçar – “Os açudes estorricavam mostrando os


leitos gretados¹ pelo sol, duros como pedra; juritis² escandeadas³ iam espapaçar4
ofegantes no chão.” ¹ provido de greta(s), de rachadura(s); ² ave (ver imagem ao lado)
(Leptotila verreauxi ) que ocorre do Sul dos Estados Unidos até a Argentina e quase
todo o Brasil, em matas, capoeiras, cerrados e pomares; também chamado de juriti-
pupu.; ³ Formar uma cadeia ou uma corrente. 4 tornar(-se) frouxo, mole, indolente.

Lúgubre – “e todas as coisas tinham um aspecto desolado e lúgubre[...]” - tristeza, mas pode também ter o
sentido de morte. Do latim lugŭbris,e 'que indica dor; triste, sinistro, fúnebre'.
Ciciou – “D. Eulália ciciou uma oração,” - dizer em voz baixa; sussurrar, murmurar.
Ninharias/ Minudências – “, ninharias¹ e minudências² de sua vida naqueles tempos em que ela,” - ¹ coisa
muito pequena, geralmente insignificante; ² “pouco”, mas pode também ter o sentido de “detalhes”.
Padiola – “[...] fora para o cemitério na padiola da Santa Casa de Misericórdia,” - cama de lona portátil em
que se transportam doentes ou feridos; maca.
Esquife – “[...] mãos cruzadas sobre o peito, dentro do esquife...” - caixão de defunto; ataúde, féretro.
Espezinhado – “[...]era sempre o pobre, maltratado, espezinhado, ridicularizado[...]” - pisoteado, pisado,
amassado, em sentido figurado pode também ser humilhado, aviltado, ofendido.
Renque – “com ateira e um renque de manjericões ao fundo” - série de objetos ou de pessoas dispostos
numa mesma linha; fileira.

III
Sarapintada – “branca e sarapintada de encarnado.” – com pequenas pintas.
Refratário a pagoderias – “incapaz de seduzir uma moça honesta, de costumes irrepreensíveis, refratário a
pagoderias.” Refratário remete a “resistente, imune a, não propenso a”; pagoderias é expressão do século XIX que
remetia a pessoas que se encontravam em rodas de samba para tocar pagode, na época um estilo musical
desprestigiado e dado como uso de pessoas de baixo calão.
Cretone/chambre – “Imaginava-se ao lado do Zuza, numa casinha muito bem mobiliada, com cortinas de
cretone¹ na sala de jantar [...] ele, de chambre² e gorro.” - ¹ material leve; ² roupão de dormir.
Besuntada/Azáfama – “Ela, por outro lado, a cuidar dos filhos, muito besuntada¹, da sala para a cozinha
numa azáfama² de burguesinha reles.” ¹ suja, lambuzada; ²pressa, correria.
Alambicada – “Aquela linguagem alambicada e dengosa[...]” – de gente bêbada.
Girândolas – “E os sinos a repicarem na Sé e girândolas de foguetes[...]” – peça em que se encaixam
foguetes a fim de que explodam juntos.
Postigo – “Maria ocultou-se envergonhada atrás do postigo olhando por entre as gretas.” – pequena janela
que se abre em porta.
Lufa-Lufa – “No porto havia grande lufa-lufa de gente[...]” – grande quantidade; empurra empurra, sim, eu
sei que nessa hora deu vontade de dizer: “uma das casas de Hogwarts” a qual Scamander foi ex-aluno.
Canhoneira – “Apenas quatro navios mercantes fundeados e uma canhoneira argentina.” – navio pequeno
armado de canhões.
Ancho/escaler – “muito ancho¹, seguiu a tomar o escaler² D’Alfândega.” - ¹ amplo, espaçoso; ² barco movido
a remo, vela ou motor.
Préstito – “O conselheiro tinha chegado ao Trapiche com o seu préstito oficioso de seus amigos.” – cortejo;
desfile.

IV
Vergôntea – “O Zuza, dizia ele, não era mais do que uma vergôntea digna[...]” – marca, linhagem.
Pulha – “[...] a afilhada de João da Mata estava com um namoro pulha mais o estudante.” – mentiroso.
Percucientes – “[...] conceitos que chegavam até aos ouvidos do coronel Sousa Nunes, percucientes,
incisivos[...]” – que percute, ferino, maldosos.
Ananases/cimalha – “[...]e dois ananases¹ de louça no alto da cimalha²[...] ” - ¹ planta tropical que gera o
abacaxi. ² moldura saliente que arremata a fachada de um edifício em que são assentado os beirais.
Estroinice pueril – “Talvez o filho tivesse mesmo a estroinice pueril de desfrutar a rapariga.” –
irresponsabilidade infantil.
Bugiar – “Estava tudo acabado, não falaria mais no Zuza, não lhe escrevia: que fosse bugiar!” – reclamar
que nem macaco. Pode-se considerar aqui pela atribuição do termo um zoomorfismo.
Irisão – “[...] e fagulhas que pareciam uma irisão aos olhos na normalista.” –
Taboca – “- Eu estive pensando[...] caso o Zuza me pregue um taboca...” – armadilha. Como taboca é uma
casa de bambu, lê-se que quando Maria do Carmo diz isso do Zuza, ela teme prometer algo, um casamento, mas lhe
dar uma taboca, ou seja, fazer menos do que lhe prometera.
Venetas/erisipela – “D. Amélia queixou-se do marido [...] muito desleixado, com venetas¹ de ódio.[...] Sofria
de uma erisipela² da perna direita que o proibia de trabalhar meses inteiros....” - ¹ acesso de loucura. ² inflamação;
inchaço.
Ror – “- [...] Essas pobres mulheres fazem um ror de sacrifícios...” – grande quantidade de.
Estouvado – “[...] o Mendes me espera, aquilo é um estouvado.” – imprudente, age sem pensar.
Estola/sobrepeliz – “Na frente caminhava um padre, de estola¹ e sobrepeliz², olhando para os lados[...]” - ¹
faixa larga de lã ou seda que fica sobre as vestes do padre. ² veste branca que em clérigo usa sobre a batina.

V
Arrelias – “Esses sobressaltos, essas arrelias...” – inquietações.
Embarafustaram – “Houve uma debandada: umas embarafustaram pela sala de música[...]” – saíram de
modo desordeiro.
Espadaúdo – “[...] a figura antipática do diretor, um sujeito baixo, espadaúdo, cara larga[...]” – de ombros
largos.
Copito de aluá – “[...] outra desejava apenas um copito de aluá[...]” – refresco feito com cascas de frutas,
em alguns casos, eram fermentadas a alcoólicas.

VI
Diatribe – “Estava claro, claríssimo, que a diatribe, o insulto, a infâmia[..]” - crítica severa e mordaz.
Prosápia – “Daí certo ar autoritário, certa prosápia, que ele afetava em toda a parte[...]” - palavreado
enfático.
Apoteose – “Os Miseráveis são a apoteose de todas as misérias humanas.” - o ápice de um acontecimento.
Assaz – “[...] o que afinal de contas não o prejudicava assaz no conceito do mulherio.” – suficientemente.
Profligavam – “- Mas é homem casado, profligavam outras.” - tentar destruir com argumentos; atacar com
palavras; criticar duramente.
Abstrusas – “Entre as que adotavam a prática destas teorias tão abstrusas quanto originais[...]” - Que não
possui lógica; ilógico.
Verrinista – “Quem quer que fosse o verrinista havia de ficar sabendo de quantos paus se faz uma jangada.”
- que ou aquele que faz verrinas, ou seja, qualquer exprobração ou crítica violenta.
Biltre – “Saber que é o biltre?” - que ou quem age de forma vil; canalha, infame.
Borla/capelo/debuxar/falo – “Então as tais normalistas, benza-as Deus, são verdadeiras doutoras de borla¹
e capelo² em negócio de namoros. Sei de uma que foi encontrada pelo professor de história natural a debuxar³ um
grandíssimo falo4 com todos os seus petrechos...” - ¹ barrete dos doutores e magistrados, por ser adornado com
borla. ² pequena capa ou murça usadas sobre os ombros pelos doutores em cerimônias acadêmicas e solenidades.³
riscar com estilete sobre uma tábua de buxo, ou seja, desenhar na carteira. 4pênis.

VII
Montepio – “[...] vivendo modestamente do minguado montepio de seu finado marido[...]” - instituto de
previdência estatal destinado a amparar a família do servidor público que tenha falecido ou que esteja
impossibilitado de trabalhar.
Palanfrórios – “O mais eram palanfrórios, e ele no caráter de futuro genro da viúva” – em algumas versões
encontra-se o termo palanfrório cujo significado é o mesmo, palavreado, fofoca.
Cosido à parede – “vira muitas vezes, com os próprios olhos, o negociante entrar cosido à parede[...]” –
junto à parede, furtivamente.
Velas de libra – “Tratava-o a velas de libra, fazia-lhe todas as vontades” - Tratamento excelente, com
privilégios; ser tratado muito bem.
Faina – “E a faina começava.” - qualquer trabalho árduo que se estende por muito tempo.
Lacônica – “[...] cartinha lacônica[...]” - Característica de quem é breve, conciso.

Macadame – “Senhoras de braço dado, em toaletes garridas, iam e vinham ao macadame,


arrastando os pés, ao compasso da música” - processo de revestimento de ruas e estradas
que consiste numa mistura de pedras britadas, breu e areia, submetida à forte
compressão. (ver imagem)

Plenilúnio/anverso – “O plenilúnio¹ muito alto dir-se-ia uma grande medalha de prata reluzente com o
anverso² para a terra.” - ¹ lua cheia. ² face de moeda ou de medalha em que aparece a efígie ou emblema
Ademanes/Insulsas - “[...]com ademanes característicos, perseguidas por uma troça de sujeitos pulhas que
se punham a lhes dizer gracinhas insulsas.” - ¹ gesto, sinal; ² sem sal; insosso, no texto está mais para o sentido de
“sem graça”.
Aleia – “[...] não podia acertar com o verdadeiro nome da sombria aleia,[...]” – alameda.
Frêmito – “[...]com um frêmito de pálpebras[...]” - movimento agitado, ondulação, balanço.

Tresandando ixora (ver imagem) – “Rapazes impacientes, de chapéu caído para a nuca,
tresandando¹ ixora², muito arrebitados [...]” - ¹ mover para trás, no texto o valor metafórico fica
sendo como exalando. ²comum aos arbustos e árvores do gênero Ixora, da família das rubiáceas, que
reúne cerca de 300 espécies nativas de regiões tropicais, algumas cultivadas como ornamentais.

Alferes – “[...]por sinal o alferes Coutinho do batalhão[...]” - patente de oficial abaixo de tenente (no Brasil, a
designação foi substituída pela de segundo-tenente).

VIII
Atoleimado – “E afagava os cabelos de Maria, passava-lhe a mão nas faces, atoleimado, imbecil[...]” – de
maneira tola, tipo sem querer querendo como diria Chaves.
Cáfila – “Perseguido por uma cáfila de cães[...]” – fileira ou grande quantidade desordenada. Exemplo em
outra frase: “Uma cáfila de alunos compram fichas na cantina.”
Pérfida – “[...] ouvia com risinhos de pérfida satisfação[...]” – traiçoeiro, enganador.
Frinchas da rótula – “[...] olhando cheios de curiosidade pelas frinchas¹ da rótula².” -¹ fenda ² grade de ripas
Estopada – “[...]e mesmo era uma estopada ir ao Trilho de Ferro[...]” – idiotice, tolice.
Fuisset – “Uns asseguravam que o Zuza estava desfrutando a rapariga para depois fuisset!” – expressão
latina que ao pé da letra significa “foi”, ou seja, para alguns Zuza queria a Maria do Carmo para depois “ir para
outra”, ou seja, “foi”, “já era”.
Pílulas – “[...]resolvera nunca mais pôr os pés naquela casa que ele honrara durante quase um mês com a
sua presença. Pílulas! – tal expressão é usada quatro vezes na obra e aqui funciona como interjeição para expressar
aborrecimento ou reprovação, seria equivalente ao nosso “foda-se”.

IX
Espermacete – “[...] iluminada a vela de espermacete.” – óleo de baleia.
Maçada – “achava uma formidável maçada.” – aborrecimento.
Sensaborão – “Supunha o guarda-livros mais tolo, mais ignorante e sensaborão.” – sem graça, sem sabor.
Imiscuir/espaventosas – “[...]imiscuindo-se no tumulto de gente como se fossem amigos velhos, de paletó-
saco e gravatas de cores espaventosas.” - ¹ ligar-se intimamente; confundir-se, misturar-se. ² que chama a atenção;
ostentatório, espalhafatoso.
Prelibando – “Os noivos tinham-se sentado no sofá, defronte da janela, aconchegados, prelibando as
delícias do matrimônio na casinha de Benfica.” - sentir prazer antecipadamente ao pensar em (algo); antegozar,
antefruir.
Demostênica – “[...]Castrinho disposto já a brindar os noivos num grande rasgo de eloqüência
demostênica.” – ao modo de Demostenes, tal personagem foi um preeminente orador e político grego de Atenas.
Sua oratória constitui uma importante expressão da capacidade intelectual da Atenas antiga e providenciam um
olhar sobre a política e a cultura da Grécia antiga durante o século IV a.C. Demóstenes aprendeu retórica estudando
os discursos dos grandes oradores antigos.
Apartista/cava – “— Bravo! murmurou o mesmo apartista¹ dos não apoiado numa voz cava², com a boca
cheia.” - ¹ aquele que pede para tecer comentário. ² baixa.
Atrabiliário/despótico – “sem ter que obedecer aos caprichos de um padrinho atrabiliário e despótico como
João da Mata.” - ¹ que muda constantemente de humor ² que ou o que revela caráter autoritário e tirânico.
Bisonha – “[...]permanecia muda e bisonha[...]” - que não tem ou não sente confiança, segurança, firmeza
quanto a si mesmo; tímido, acanhado, assustadiço.
De chofre – “Todas as vistas caíram de chofre sobre o militar[...]” – repentinamente.
Inolvidável – “[...] dedicar aos donos dessa festa inolvidável...” – impossível de esquecer.
Botelhas – “Esgotaram-se as botelhas de vinho[...]” – garrafa.
Festim Sardanapelesco – “[...] abandonados ali como resto de um festim sardanapalesco.” – uma festa ao
estilo de Sardanápalo. Segundo Diodoro, Sardanápalo ultrapassou todos os seu antecessores em ociosidade e
luxúria, tendo passado toda a sua vida em autoindulgência. Vestia roupa feminina e usava maquilhagem. Tinha
muitas concubinas, não só mulheres, mas também homens. Escreveu o próprio epitáfio, onde dizia que o prazer
físico é o único propósito na vida.
Alcaide – “[...] era o paliteiro de prata representando um alcaide com chapéu[...]” - objeto velho ou sem
utilidade, imprestável.
Comensais – “O troço dos comensais, homens e senhoras[...]” – parasitas; indivíduo que vive à custa alheia.
Palrava/heliotrópio – “e palrava¹ agora desembaraçadamente numa atmosfera pesada de fumaça e
heliotrópio²[...]” - ¹trocar palavras, ideias; conversar. ² perfume conhecido hoje como bunilha-dos-jardins.

Fichus (ver imagem) – “As senhoras agasalhavam-se no fichus, defronte do espelho.” - espécie de
abrigo, de tecido leve e formato triangular, com que as mulheres cobrem a cabeça, pescoço e
ombros.

X
Biraia – “[...]como se estivesse tratando com uma biraia qualquer!” - prostituta.
Frioleiras – “e ela ainda velava, sem um bocadinho de sono, a matutar na vida, a pensar em frioleiras.” -
coisas sem importância; futilidade, ninharia, frivolidade.
Pachorra – “[...] com a pachorra de quem procura gente[...]” - calma excessiva, paciência embotada.
Lagalhé – “[...]ela somente se deixara ficar esquecida como qualquer lagalhé[...]” - indivíduo sem
importância; joão-ninguém.
Lauto – “[...] música e um banquete lauto” - que é feito ou apresentado de forma abundante.
Carapinha – “[...]sacudiam-lhe punhados de farinha-do-reino na carapinha, por detrás, no meio de gritos e
assobios.” - cabelo semelhante à lã, muito crespo e denso, próprio da gente de raça negra; cabelo agastado,
carrapicho, lã, pixaim.
Sezões/embiocada – “Tremia como um doente de sezões¹ embiocada² que nem caracol.” - ¹febre; ²enrolada,
contida, escondida.
Inextricável – “Fez-se uma confusão inextricável, caótica, no seu espírito[...]” - constituído de elementos
entrelaçados, entrecruzados a ponto de não se poder reconhecê-los, dissociá-los, elucidá-los.

XI
Iniludível – “Em uma semana sua fisionomia adquirira uma expressão iniludível de dor concentrada.” – que
não pode ser iludido; que não se pode induzir em erro ou engano; que não se pode burlar ou lograr.
Moscardo – “[...] em que se ouve o voar do moscardo impertinente e cantos de galo ao longe, nos quintais.”
– mosca gigante.
Ramerrão – “Todos os dias, invariavelmente, era a mesma quietação, a mesma sonolência, o mesmo
ramerrão[...]” – modo de vida caracterizado pela invariabilidade de ocorrências, que se repetem tediosamente dia a
dia; rotina.
Cabeção/tisnada – “Mariana apareceu à porta do quarto, sem casaco, os seios moles dentro do cabeção¹ da
camisa tisnada²[...]” – ¹ camisa de mulher, inteira e com mangas, usado como roupa íntima. ²meio queimado,
tostado.
Faniquitos – “Que fosse para lá com os seus faniquitos, não tinha obrigação de criar filhos de ninguém.” –
chiliques.
Debicando – “- Qual paraíso! Está nos debicando?” – beliscar, provar.
Resedás (ver imagem) – “Depois chegou à janela por onde entrava um arzinho puro impregnado de essência de
resedás.” – planta nativa da Europa e do Mediterrâneo à Ásia central, cultivada como ornamentais, para extração
de óleo essencial e de tintura amarela.

Copiar um balanço – “Bom para se copiar um balanço, isto aqui, costumava dizer o ingênuo
guarda-livros.” – essa expressão é dada por Loureiro ao se referir ao ambiente do Benfica, e
faz alusão a tela O Baloiço (ver imagem), também conhecido por Os Acidentes Felizes do
Baloiço, é uma pintura do século XVIII a óleo sobre tela do pintor francês Jean-Honoré
Fragonard. Encontra-se exposta no museu Coleção Wallace, em Londres. É considerada uma
das obras-primas do rococó, e trata-se da pintura mais conhecida de Fragonard.

Depurativo – “citando casos de curas assombrosas produzidas pelo uso quotidiano desse depurativo.” –
desembaraço.
Dartro – “Ele mesmo, Loureiro, tinha-se curado radicalmente de um dartro na perna esquerda.” – impigem.
Magarefes – “Uns ignorantes, seu João, uns magarefes da humanidade é o que eles são.” – mau médico, em
especial cirurgião inábil; hoje chamamos de “médico açougueiro.”
Láudano – “Uma ocasião esteve prestes a ingerir uma dose de láudano[...]” – tintura de ópio que possui
efeito sedativo, em grandes quantidades leva à óbito.
Regras/antojos/dores na madre – “Lídia explicou tudo minuciosamente: a suspensão das regras¹, os
antojos², as dores na madre³” - ¹menstruação; ² desejos; ³ dores no útero.
Calipedia – “Da Calipedia ou Arte de Procriar Filhos” – são preceitos do grego kállos, beleza + grego paideía,
criação de uma criança, educação.
Inapetente – “[...]cruzando o talher logo no primeiro prato, inapetente.” – sem fome, sem apetite.
Vagidos – “[...] ouvir os vagidos de bebê.” - choro da criança recém-nascida; lamento ou gemido.

XII
Redingote/atabalhoado – “Enfiou a manga do redingote¹, atabalhoado², e saiu a despedir-se dos amigos.” -
¹sobrecasaca; ²às pressas.
Bisca – “Aquele tipo sempre me pareceu uma bisca.” - indivíduo ruim, de mau caráter, às vezes dissimulado;
patife, tratante.
Sunga-neném – “Todo o nosso mal é recebermos em nossas casas qualquer sunga-neném que chegue a esta
terra.” – termo pejorativo para filho de gente rica, hoje usa-se a expressão “filhinho de papai.”
Dissolutos - “[...]costumes dissolutos[...]” - que se decompôs; decomposto, desfeito.
Phaeton – “Tal outro afirmava que S. Exª sabia manobrar perfeitamente um phaeteon” carruagem leve,
sem cobertura, de quatro rodas. Tal nome deriva do mito de Faetonte, filho do sol, fulminado por Júpiter quando
pretendia dirigir o carro do pai.
Irisada – “poeira tenuíssima irisada pelo sol”. – seria irada, em um valor metafórico pode-se ler como se o
autor dissesse: poeira fraca consequência da ira [quentura, alta temperatura] do sol.
Espicaçar – “Sentia agora uma ponta de saudade espicaçar-lhe o coração.” – furar; infligir mágoa, magoar.
Singrava – “Depois, enquanto o vapor singrava em direção ao Mucuripe[...]” – navegava.
Vetustas – “[...] torres vetustas[...]” - antigas, velhas.
Espúrio – “para ser mãe de um filho espúrio” - bastardo, resumindo, um snow.
Albardeira – “Maria do Carmo, albardeira e insociável” - desastrada; atrapalhada, maljeitosa.
Dissensões – “Daí as dissensões, os conflitos, em casa[...]” – discussões.

XIII
Alijar – “alijar a carga[...]” – tornar menos pesado; aliviar, tirando parte da carga.
Alacridade - “[...]alacriadade de cores[...]” – grande alegria, animação intensa; vivacidade, jovialidade.
Estiolando – “[...] estiolando ali assim entre as paredes daquela casa[...]” – enfraquecer-se, debilitar-se.
Ádito – “[...] no ádito misterioso[...]” – aquilo que não se revela; mistério, segredo.
Alhada – “[...] evadir-se da alhada em que se metera[...] ” – situação difícil ou embaraçosa.
Rusga – “Queria ter um pesinho para rusga, isso queria.” – pequena briga ou desentendimento.
Estafermo – “- Como vai isto, ó estafermo!” - pessoa parada e apalermada; lesada.
Ancas – “[...]ancas da rapariga.” – nádegas, bunda.
Camapus/mata-pasto – “Era aí que viviam, há anos, desde a seca de 77 entre brenhas de camapus¹ e mata-
pasto²[...]” - ¹ plantas do gênero Physalis, com cálice frutífero acrescente, intumescido e vesiculoso, que envolve
completamente o fruto, de distribuição cosmopolita e muito cultivadas pelos frutos e por usos medicinais; bate-
testa, camaru, físalis, juá. ² comum a algumas plantas da família das compostas e a várias da família das
leguminosas, espécie do gênero Senna, são invasoras dos pastos, muitas vezes tomando toda sua superfície e
matando as gramíneas de que se alimenta o gado.
(Camapu) (mata-pasto)

Bilros – “Tia Joaquina ficava trocando os bilros na almofada.” – a renda feita por esse processo.
Caligem – “O amanuense começou a ver claro na espessa caligem de seu espírito.” – obscuridade, escuridão,
trevas.
Esfarripavam – “nuvens esfarripavam-se numa soberba apoteose de púrpura e violeta” – dividiam-se de
modo ralo e curto.
Mise-em-scène – “Ia-se fazendo gradativamente a majestosa mise-em-scène do dia:[...]” – encenação.

XIV
Prurido – “[...] não lhe fazia o prurido de entrar pela vida [...]” - forte desejo; tentação, impaciência,
inquietação.
Perfídia – “com uma ponta de perfídia[...]” - deslealdade.
Consentânea – “[...]pretendia fundar um escola mais consentânea[...]” – de acordo com.
Fortiori – “Queríamos introduzir no Ceará os dissolventes costumes parisienses, a fortiori[...]” - argumento
com o qual se tira a conclusão mais clara, embora partindo-se do que era menos evidente.
Sinecura – “Aquilo é uma sinecura , não temos educadores, é o que é.” - emprego ou cargo rendoso que
exige pouco trabalho.
Morigerada – “— E além disto, acrescentou José Pereira, uma rapariga até morigerada...” - que denota bons
costumes.
Labéus – “cada vez mais submisso à mulher que o cobria de injúrias e labéus.” - mancha infamante na
reputação de alguém; desdouro, desonra.

Exercícios – questões de conhecimento geral

1. Assinale uma das características da escola a qual pertence a obra A Normalista?


a) Idealização feminina b) Comportamento patológico
c) Valorização do amor d) Valorização do herói.

2. Assinale a alternativa correta que traz o apelido de Guedes, o redator do jornal Matraca.
a) Mundico b) Pombinha
c) Zuza d) Juca

3. Assinale a opção que traz a temática central do romance "A normalista", de Adolfo Caminha.
a) Homossexualidade dentro das forças armadas
b) Adultério por parte do protagonista
c) A seca de 1877
d) A relação abusiva de João da Mata com a afilhada

4. O vocábulo amanuense preserva o mesmo sentido quando trocado por:


a) Amasiado b) Amigado
c) Secretário d) Alforriado

5. Personagem que aparece nos sonhos de Maria do Carmo:


a) João da Mata b) Zuza
c) Lauro d) Negro Romão

6. A obra "A normalista" pertence ao movimento literário:


a) Romântico b) Modernista de 30
c) Pré-modernista d) Naturalista

7. A personagem José Pereira é muito amigo de:


a) Castrinho e João da Mata b) Elesbão e Castrinho
c) João da Mata e Coutinho d) Zuza e Castrinho

8. O romance se passa em Fortaleza, qual espaço urbano não aparece na obra?


a) Bezerra de Menezes b) Aldeota.
c) Caio Prado d) Benfica.
9. Apelido que João da Mata recebe por sua esposa:
a) Janjão b) Zuza
c) Mundico d) Joãozinho

10. Professor de Geografia dentro do romance "A normalista", de Adolfo Caminha:


a) Maria do Carmo b) Berredo
c) Zuza d) Castrinho

11. Leia o trecho a seguir e responda:


“Os noivos tinham-se sentado no sofá, defronte da janela, aconchegados, prelibando as delícias do matrimônio na
casinha de Benfica.”
Pode-se dizer que o termo prelibando tem o mesmo sentido que
a) Antecipando b) Afirmando
c) Imaginando d) Falando

12. Assinale a alternativa correta que apresenta o guarda-livros da firma Carvalho & Cia.
a) Maria do Carmo b) João da Mata
c) Loureiro d) Mauro

13. O víspora está diretamente ligado a:


a) Doença comum no século XIX
b) Jogo de azar
c) Documento importante para liberdade do negro
d) Arma de fogo

14. Mãe de Maria do Carmo morre por conta de um (a):


a) Tuberculose b) Síncope cardíaca
c) Pneumonia d) Acidente no trabalho

15. Bernadino, pai de Maria do Carmo, deixa a filha com o padrinho e vai embora. Assinale a alternativa correta que
traz o destino correto da personagem.
a) Fortaleza b) Sobral
c) Pará d) Paraná

16. Jornal que fala da vida das pessoas e apresenta fofocas da vida de João da Mata:
a) O Globo b) Marmota fluminense
c) Matraca d) Correio da manhã

17. O coronel Sousa Nunes não fica satisfeito com o namoro do trilho de ferro e prefere que seu filho tenha mais
contato com pessoas importantes, como:
a) Maria do Carmo b) João da Mata
c) Negro Romão d) Dr. Castro

18. Título do poema de Zuza escreve para Maria do Carmo?


a) Adeus b) Primavera
c) Despedida d) Treviata

19. Qual o livro que Lídia Soares empresta para Maria do Carmo?
a) Primo Basílio b) Dom Casmurro
c) O bom-crioulo d) O crime do padre Amaro

20. Outros autores são mencionados dentro do romance. Assinale a alternativa correta sobre os autores.
a) Machado de Assis e José Lins do Rego b) Júlio Verne e Victor Hugo
c) Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz d) Machado de Assis e Tomás Antônio Gonzaga

21. O livro que Zuza começa a ler é:


a) Casa de pensão b) O cortiço
c) A mão e a luva d) O mulato

22. Nome da personagem que Zuza conhece em Pernambuco e com quem teve um relacionamento:
a) Maria do Carmo b) D. Amanda
c) Lídia d) Rosita
23. Em “Esses sobressaltos, essas arrelias...”, o vocábulo “arrelias” pode ser trocado por qual palavra sem perder o
seu sentido?
a) Inquietações b) Amores
c) Fome d) Doenças

24. A palavra em destaque pode ser substituída por qual expressão sem perder o sentido?
[...] Essas pobres mulheres fazem um ror de sacrifícios...”
a) Mesmo que b) Quantidade de
c) Apesar de d) Talvez que

25. D. Terezinha recebe um apelido. Assinale a alternativa correta que traz o apelido da mulher de João da Mata.
a) Campelinho b) Normalista
c) Teté d) Minha filha

26. Zuza era filho do coronel Souza Nunes e da:


a) Lídia b) Maria do Carmo
c) D. Amanda d) D. Sofia

27. Personagem que termina o romance noivo de Maria do Carmo?


a) João da Mata b) Zuza
c) Alferes Coutinho d) Negro Romão

28. Nome do animal de Cosme?


a) Coruja b) Marisca
c) Baleia d) Ana

29. Em “com ateira e um renque de manjericões ao fundo” temos o substantivo coletivo destacado. Assinale a
alternativa correta que mostra o sentido verdadeiro do vocábulo.
a) Grupo de coisas ou pessoas em fila b) Grupo desordenado de pessoas
c) Aglomeração de bandidos d) Grupo de obras literárias

30. Em “Todo o nosso mal é recebermos em nossas casas qualquer sunga-neném que chegue a esta terra”, o termo
destacado se refere a:
a) Pessoas pobres b) Vítimas da seca de 1877
c) Dono de livraria d) Pessoas ricas

Exercícios – questões de conhecimento específico

Oh! a respeitável sociedade cearense exigia primeiro que tudo decência no trajar, e aquilo assim, aquela
sobrecasaca sórdida escandalizava-a como se escandaliza uma donzela diante duma estátua nua. Pois o Sr. José
Pereira não podia, sem grandes sacrifícios, comprar um fato novo? Então, que diabo! não aparecesse entre pessoas
de certa ordem, ficasse em casa, fosse mais modesto. Sim, porque todo o homem de talento, na opinião da
sociedade cearense, deve acompanhar a moda em todas as suas nuances, em todos os seus requintes, deve ter
sempre uma casaca à última moda, uma calça à última moda, e um chapéu à última moda, conforme os figurinos,
para os momentos solenes, deve ser enfim um sujeito correto na acepção mais lata da palavra.
O Sr. Pereira sabia dar um laço na gravata, lá isto sabia, e também não ignorava como se calça uma luva;
mas (e isto é que preocupava a sociedade cearense) o Sr. José Pereira, quer fosse a um baile de primeira ordem,
quer fosse a uma festa inaugural, quer fosse ao teatro, levava sempre invariavelmente a mesma sobrecasaca
surrada e o mesmo chapéu ruço! Um homem de talento sem gosto é o que não se admite. A sociedade cearense,
porém, ignorava que o Sr. José Pereira era casado, tinha filhos e ganhava apenas o essencial para o seu sustento e o
da família, cento e cinqüenta mil-réis por mês, uma ninharia.
CAMINHA, Adolfo, 1867-1897. A Normalista; apresentação: Sânzio de Azevedo. Diário do Nordeste. 202 p. 1997. p. 74

01. Sobre o fragmento é correto afirmar que a temática central do texto é:


a) A crítica aos valores da sociedade brasileira da época.
b) A crítica ao mal modo como alguns se vestiam na sociedade.
c) A crítica à maneira como José Pereira é visto pela sociedade.
d) A crítica de como a sociedade era fútil..

02. Com base no texto, pode-se inferir que José Pereira


a) era indiferente a essa concepção da sociedade.
b) gostava de sempre usar as mesmas roupas.
c) reconhecia o limite de seu poder de compras.
d) sabia que era mais importante manter a família.

03. A sociedade cearense, segundo o texto, em relação a personagem central:


a) ignorava sua posição social.
b) queria o seu bem social ao exigir que se vestisse bem.
c) queria apenas que não usasse a mesma roupa.
d) não tolerava ele ser jornalista usando sempre a mesma roupa.

04. Na sociedade, a melhor palavra que a resume no texto é:


a) hipócrita. b) superficial.
c) mascarada. d) defensora dos bons costumes.

05. A expressão: “aquela sobrecasaca sórdida escandalizava-a como se escandaliza uma donzela diante duma
estátua nua.” Temos uma figura de linguagem denominada:
a) metáfora b) símile
c) eufemismo d) ironia

Exercícios – UVA 2006.2 – Literatura.

TEXTO
Por sua vez a mulher do juiz municipal correu logo à casa de João da Mata numa ânsia de saber como as
coisas tinham se passado. Era da escola de S. Tomé — ver para crer. Vestiu-se às pressas, atabalhoadamente, e
voou para o Trilho de Ferro, como uma seta, atirando-se nos braços de D. Terezinha, esfalfada, sem fôlego, o rosto
quente do mormaço.
A mulher do amanuense saudou-a com o seu invariável — salvou-se uma alma! proferido entre beijos.
Sem esperar oportunidade, D. Amélia foi direito ao móvel da sua inesperada visita. — Então era mesmo
certo o que se dizia na rua?
— De quê?
— Da Maria...
— Se era? Tão certo como dois com dois são quatro. Jurava sobre os Santos Evangelhos.
O demônio metera-se-lhe em casa com a rapariga, e por tal modo que, de certo tempo àquela parte, nem
fazia gosto a gente viver.
A Amélia não fazia idéia — uma vergonha! criatura, uma vergonha! Ela, Terezinha, estava cansada de sofrer
desapontamentos, nem sequer saía à rua para não ser olhada com maus olhos. Haviam de pensar que ela era
outra...
— E onde está a Maria?
— Sei lá, menina, sei lá... No Cocó, na Aldeota, no inferno. Tomara que aquela peste não me entre mais em
casa.
— E tu não viste logo se ela estava grávida?
— Vi lá o quê! Andava aqui toda espremida com um arzinho de mosca morta, metida no quarto que nem
uma freira. Uma sonsa, Amélia, uma sonsa é o que ela é.
— O tal do Sr. Zuza, hein?!
— Qual Zuza, mulher, elas é que são as culpadas, porque não se dão ao respeito, não têm vergonha.
— E o que diz a isso o Sr. Joãozinho? Furioso, hein?
— É o que tu pensas, indiferente como se não fosse com gente dele...
E o diálogo continuou animado, sem que D. Terezinha revelasse à amiga as suas suspeitas acerca de João da
Mata e Maria do Carmo.
Amélia falou sobre o José Pereira, queixando-se de que ele há muitos dias não aparecia em sua casa, todo
embebido com a outra, com a Lídia. O redator da Província não tirava os pés do Benfica, e, às vezes, voltava depois
das nove, no último bonde.
A Teté não achava feio isso, um homem ir diariamente, às mesmas horas, à casa duma senhora casada!
Era feíssimo! Já andavam até dizendo coisas... E então o José Pereira que não era tolo e tinha fama...
— Queira Deus que a tal Sra. D. Lídia não vá se arrepender... É verdade, a mãe, a viúva Campelo, como vai?
— Naquilo mesmo, respondeu D. Terezinha com um sorriso de malícia, piscando um olho.
Riram baixinho e a conversa recaiu sobre D. Amanda àquela hora entregue ao seu delicioso far-niente de
mulher solteira que dispõe do tempo a seu bel-prazer e da algibeira de um capitalista generoso.
(CAMINHA, Adolfo. A normalista. 14. ed.São Paulo: Ática, 1999. p. 166 – 167)

Da leitura de “A normalista”, responda as questões de 01 a 09:

01. Podemos dizer que a temática da obra em questão é:


A. o amor entre Zuza e Maria do Carmo.
B. a oposição da família de Zuza e esse amor.
C. um amor adulterino
D. um amor “incestuoso” entre um padrinho / pai adotivo e sua afilhada / filha adotiva.

02. Tal temática é bem ao gosto do:


A. Romantismo B. Barroco
C. Naturalismo D. Modernismo

03. Os principais filósofos que influenciaram essa Escola foram:


A. Comte, Marx-Engels, Darwin.
B. Sócrates, Platão, Aristóteles.
C. Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Santo Ambrósio.
D. Comte, Saussure, Sartre.

04. A Escola em questão tem como uma de suas características:


A. a exaltação da natureza. B. a valorização da burguesia.
C. a análise social. D. a idealização do amor.

05. Zuza, cearense, via sua terra natal como:


A. a terra da liberdade B. o lugar das oportunidades
C. a mais desenvolvida das Províncias D. N.D.A.

06. As personagens, de modo geral, são:


A. pessoas com princípios morais inabaláveis B. pessoas interesseiras e sem escrúpulos
C. pessoas marcadas por uma profunda religiosidade D. pessoas polidas e bem-educadas

07. A educação das mulheres é vista como:


A. obrigação do Estado B. necessária às mulheres
C. prejudicial à moral D. indispensável para o mundo do trabalho

08. A trama se desenvolve no Ceará, em:


A. Fortaleza B. Quixadá
C. Sobral D. Aracati

09. A família é vista como:


A. uma instituição divina B. uma instituição em decadência
C. o esteio dos valores morais D. a célula-mãe de toda a sociedade

Da leitura do texto acima, responda as questões de 10 a 13:

10. As personagens do texto são:


A. João da Mata e D. Terezinha B. D. terezinha e Maria
C. D. Amélia e D. Terezinha D. D. Lídia e a viúva Campelo

11. O redator da Província tinha fama de:


A. excelente jornalista. B. ótimo chefe de família.
C. bom político D. grande conquistador

12. O tema da conversa entre as personagens do texto versa sobre:


A. a gravidez de Maria do Carmo. B. um caso de amor entre pessoas casadas.
C. a vida da viúva Campelo. D. todas as alternativas estão corretas.

13. O José Pereira era amante:


A. de D. Amélia B. de Lídia
C. das duas: D. Amélia e Lídia D. de nenhuma delas.
Gabarito oficial:

CONHECIMENTO GERAL

01. B 02. B 03. A 04. C 05. D 06. D 07. D 08. A 09. A 10. B

11. A 12. C 13. B 14. B 15. C 16. C 17. D 18. A 19. A 20. B

21. A 22. D 23. A 24. B 25. C 26. D 27. C 28. A 29. A 30. D

CONHECIMENTO ESPECÍFICO

01. D 02. C 03. D 04. A 05. B

UVA 2006.2 Literatura e Gramática

01. D 02. C 03. A 04. C 05. D 06. B 07. C 08. A 09. C 10. C

11. D 12. A 13. C

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

Trechos do romance:
CAMINHA, Adolfo, 1867-1897. A Normalista; apresentação: Sânzio de Azevedo. Diário do Nordeste. 202 p. 1997.

Citações de autores:
NB1
RIBEIRO, Sabóia. O Romancista Adolfo Caminha. Rio de Janeiro, Pongetti, 1967, p.56.
NB2
ARCANJO, Clauder. Lápis na veia. Mossoró-RN: Sarau das Letras, 2009. p. 27
NB3
AZEVEDO, Otacilio de. Fortaleza Descalça: reminiscências. Edições UFC, 1980, p 50.
NB4
LEILA NOBRE. Fortaleza Nobre. Disponível: http://www.fortalezanobre.com.br/2012/08/o-passeio-publico-e-os-
clubes-na.html. Acesso em: 17 de junho de 2019.

Vocábulos:
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013. Disponível em: https://dicionario.priberam.org
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1982.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001).Rio de Janeiro: Editora Objetiva.

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