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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - INSTITUTO

DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS.

Aluna: Sarah Silva Affonso

Matéria: Ciência Política e Teoria Geral do Estado

Atividade 4: Questionário Rousseau

1. O Estado de Natureza, descrito no Discurso sobre a Desigualdade, divide-se


em dois momentos. Quais são eles e como se caracterizam?

O primeiro dos momentos seria o estado original, no qual a felicidade humana se


constituiria plenamente. Nesse primeiro momento do estado de natureza, os
homens teriam vivido isoladamente, segundo seus instintos de autopreservação,
sem qualquer necessidade de seus semelhantes, bem como qualquer desejo de
prejudicá-lo, talvez sem sequer reconhecer alguns deles individualmente, sujeito a
poucas paixões e bastando-se a si mesmo, não possuía senão os sentimentos e as
luzes próprias desse estado, no qual só sentia suas verdadeiras necessidades, só
olhava aquilo que acreditava ter interesse de ver, não fazendo da sua inteligência
maiores progressos que a vaidade.
Em segundo plano, há as chamadas sociedades históricas, onde surgiria o homem
moral, juntamente com o desenvolvimento das relações sociais, religiosas, éticas,
afetivas, familiares ou quaisquer outras.

2. O homem natural é dotado de duas paixões. Quais são elas e que efeito
geram sobre o comportamento do “bom selvagem”?

A primeira paixão refere-se à autopreservação e está relacionada ao “amor de si”


que remete ao egoísmo, buscando conservar-se a si mesmo. A segunda trata-se da
piedade; o homem natural, nessa perspectiva, jamais fará mal a um outro homem,
nem mesmo a um ser sensível, exceto no caso legítimo em que, encontrando-se em
jogo sua conservação, é obrigado a dar preferência a si mesmo.

Portanto, da conservação com a piedade decorrem as regras do direito natural,


ressaltando-se que a piedade equilibra e compensa o instinto de conservação.
A piedade representa um sentimento natural que, moderando em cada indivíduo a
ação do amor de si mesmo, concorre para a conservação mútua de toda a espécie.
Ela os faz, sem reflexão, socorrer aqueles que vêem sofrer; ela, no estado de
natureza, ocupa o lugar das leis, dos costumes e das virtudes.

3. Para Rousseau, além da racionalidade, a natureza humana tem uma outra


característica. Qual é ela e qual o seu impacto na teoria do autor?

A segunda característica em questão trata-se da perfectibilidade, e refere-se à


capacidade de adaptação e aperfeiçoamento do homem para resolver o problema
aparentemente insolúvel da vida em sociedade.

O primeiro impacto ocorre a partir do momento que o homem deixa o estado de


natureza e passa a desenvolver habilidades. Tal característica, enquanto
capacidade de progresso social, permite que o homem tenha competência moral
para construir um contrato social que funde um estado republicano e, a partir disso,
atribuir valores dignos para os seres humanos, diante da perspectiva de Rousseau.

A perfectibilidade característica da natureza humana é o que difere o homem dos


demais animais e, por isso, desenvolver as habilidades humanas não seria, para
Rousseau, um problema. O ponto de reflexão de Rousseau consistia na maneira
pela qual o desenvolvimento ocorreu: a perfectibilidade deveria ter conduzido os
homens a se dedicarem ao bem geral, e não às paixões que cultivam as
desigualdades sociais.

4. Qual é a importância da linguagem e da propriedade no pensamento de


Rousseau?

De acordo com Rousseau, a linguagem permitiu a aproximação entre os homens. E


da proximidade surgiu a necessidade de delimitar os espaços. A noção de
propriedade deriva, portanto, da linguagem e como a delimitação de espaços
importa na obediência a fatores exógenos à natureza, surgem também as
convenções. Neste momento, diria Rousseau, em que a linguagem foi usada pela
primeira vez, fundaram-se a propriedade e a sociedade – ambas baseadas na
desigualdade: “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo
cercado um terreno, lembrou-se de dizer “isto é meu” e encontrou pessoas
suficientemente simples para acreditá-lo”.

No exato momento em que, ficticiamente, os homens se encontram e esboçam a


comunicação, a linguagem surge como meio de apropriação do mundo até então
não pensado pelo homem. Após a “invenção” da linguagem, os homens passaram a
definir o mundo e criar, em relação a ele e aos outros homens, laços e vínculos que
acabaram por se traduzir em relações sociais, políticas, econômicas, religiosas,
legais, entre outros.

5. Como Rousseau conceitua a natureza humana?

Segundo Rousseau, os seres humanos são, por natureza, dotados de dois


instintos: a autopreservação e a piedade, e, além disso, possuem outras
características, entre elas: a racionalidade, a liberdade e a perfectibilidade.

Dependendo das versões que os seres humanos constituem, haverão muitas


versões deles em diferentes tipos de sociedade, inclusive as desiguais. Apesar
disso, o homem é dotado da capacidade de progredir moralmente e é capaz de
transformar a sociedade.

6. O que é desnaturação?

A desnaturação é um conceito essencial na obra de Rousseau, pois é a partir dele


que se constitui a teoria social do pensador. Rousseau concebe a ordem social
pós-pacto como aquela em que os papéis sociais são definidos em torno de
responsabilidades e compromissos com o bem comum. Como os homens naturais
foram corrompidos, restou a Rousseau apostar na criação do cidadão, homem
natural reformado e desnaturado.

Os cidadãos seriam capazes de identificar seu papel social e de perceber a


liberdade e a igualdade de maneira positiva, assim como o sentimento do amor em
si. Ao transformar-se o amor de si, o amor próprio, dele derivado, desapareceria,
restando apenas o amor de grupo.

A desnaturação significaria, portanto, a reforma do homem natural privado e


mutável, de maneira a bloquear nele a influência do amor-próprio. Somente com a
mudança da natureza humana poderia Rousseau assentar a ideia de formação de
um povo.

7. Explique a relação cidadão, povo, Estado e Soberano na teoria de


Rousseau.
O cidadão, que pode participar do processo de elaboração de leis numa assembleia
popular se relaciona com povo, que, juntos podem auxiliar na decisão de como vai
ser a lei, o Estado, que executa as leis e o Soberano que é uma assembleia popular
seriam, então, tratados como sinônimos, e, a partir dessa tese, surgiram novas
percepções sociais, políticas e jurídicas: a teoria constitucional assim como a
elaboração das constituições passaram a ter, como parâmetro, a construção da
sociedade política, a vontade geral e a tarefa especial do legislador. O governo,
outrora nas mãos de um soberano corporificado na figura do rei, passou a ser o
empregado do povo, este sim, um corpo moral e político, seria o verdadeiro
soberano que constitui o Estado.

8. Para que o Contrato aconteça, quais são as reformas necessárias? Por


quê?

As reformas eram necessárias para a preservação da sociedade constituída. São


elas: a reforma política, que visava a igualdade de direitos de participação política
entre os cidadãos, e estaria ligada à outra reforma, a da igualdade econômica, que
consiste na distribuição igualitária de riqueza. Baseado nas duas reformas, o
cidadão educado estaria apto a encontrar uma forma de associação que defenda e
proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual
cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim
livre.

9. Governo e Soberano são sinônimos? Por quê?

Não. Rousseau distingue Governo e Soberano a fim de resguardar a legitimidade do


poder, ao governo, então, caberia a função de executar, submetendo-se à
assembleia popular e, portanto, não pode pretender-se soberano; é apenas
executor fiel da vontade geral. O Soberano surge da obediência de todos ao corpo
político e o Governo é o depositário da confiança do povo, o Governo,
diferentemente do soberano, não surge do contrato, mas da obediência.

10. Vontade geral é a mesma coisa que vontade de todos? Por quê?

Não, a vontade geral não é a mesma coisa que vontade de todos, pois refere-se aos
assuntos relacionados ao bem comum,e, portanto, não pode se fixar a partir da
vontade particular - que se expressa a partir da vontade de todos -.

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