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Resumo do Livro 4 – Do Contrato Social, Rousseau

As causas de quaisquer ações movidas pelo Estado são vigorosas e simples, não existem
interesses confusos e contraditórios, o bem-comum mostra-se com evidência e não exige
senão bom-senso para ser percebido. As vontades são reconhecidas universalmente e nem
mesmo cabem discussões nem eloqüência para converter em lei o que cada um já resolveu
fazer.
Algumas pessoas visualizam Estados mal constituídos desde suas origens e, então,
chocam-se com a impossibilidade de dispor seu Estado como órgão segundo tal imagem.
Quando os interesses particulares começam a se fazer sentir, o interesse comum se altera e
encontra oponentes. Assim, levantam-se contradições, debates, e o melhor parecer não é
admitido sem disputas.
A vontade geral é sempre constante, inalterável e pura, mas está subordinada a outras
que a sobrepujam. Excetuado esse bem particular, cada qual deseja o bem geral em seu
próprio interesse e com o mesmo vigor que qualquer outro. Quanto mais a opiniões
aproximam-se da unanimidade, tanto mais prevalece a vontade geral.
Há somente uma lei que, por sua natureza, exige um consentimento unânime: é o pacto
social, pois a associação civil é o mais voluntário de todos os atos do mundo; cada homem
tendo nascido livre, ninguém pode sujeitá-lo sem seu consentimento. Os opositores serão
estrangeiros entre os cidadãos.
O cidadão consente todas as leis, mesmo as que são aprovadas contra sua vontade.
Trata-se da vontade geral. Quando se propõe uma lei na assembléia do povo, o que se lhe
pergunta não é se aprovam a proposta ou se rejeitam, mas se ela está de acordo com a
vontade geral que é a deles.
As eleições do príncipe e dos magistrados são realizadas de duas maneiras: a escolha e o
sorteio. As eleições por sorteio apresentariam poucos inconvenientes numa verdadeira
democracia, onde, sendo todos iguais quer pelos costumes e talentos, quer pelos preceitos e
pela fortuna, a escolha se tornaria quase indiferente. Mas não existe verdadeira democracia.
Quando a escolha e o sorteio se combinam, a primeira deve preencher os postos que exigem
talentos apropriados, o segundo convém aos postos que requerem apenas bom senso, justiça
e integridade.
Sobre Roma, não possuímos nenhum monumento fidedigno dos seus primeiros tempos.
Assim, em geral, a parte mais instrutiva, dos anais do povo, que é a história de
estabelecimento, é a que mais nos falta.
Conhece-se o gosto dos primeiros romanos pela vida campestre. Relegou-se à cidade as
artes, os ofícios, a intriga, a fortuna e a escravidão. Assim, como tudo o que Roma tinha de
ilustre vivia nos campos e cultivava as terras, tornou-se costume buscar só ali os esteios da
República. Só os costumes simples dos primeiros romanos, seu desinteresse, seu gosto pela
agricultura, seu desprezo pelo comércio e pela febre do ganho puderam torná-lo praticável.
Nenhum cidadão era excluído do direito de sufrágio e o povo romano era verdadeiramente
soberano de direito e de fato.
Quanto à maneira de recolher os sufrágios, entre os primeiros romanos, tão simples
quanto seus costumes, cada um dava o seu em voz alta, enquanto um escrivão o anotava.
Esse uso foi bom enquanto reinava a honestidade entre os cidadãos e enquanto cada um tinha
vergonha de dar publicamente seu sufrágio a um projeto injusto ou a súdito indigno. Quando,
porém, o povo se corrompeu e se passou a comprar os votos, tornou-se mais conveniente dá-
los em segrego para conter os compradores pela suspeita e fornecer aos velhacos um meio de
não se tornarem traidores.
Por não se ter feito bastantes mudanças no Estado de Roma, acelerou-se sua ruína.
Como o regime das pessoas sãs não é apropriado aos doentes, não se deve querer governar
um povo corrompido pelas mesmas leis que convêm a um povo bom.
Ao tribunato destaca-se o seu papel de conservar as leis e o poder legislativo. Ele não
deve ser parte constitutiva da cidade e não deve dispor de nenhuma parcela do poder
legislativo nem do executivo, mas é justamente aí que reside sua maior força, pois, nada
podendo fazer, tudo pode impedir. Sabiamente equilibrado, pode ser o mais firme apoio a
uma boa constituição. A melhor forma de prevenir sua usurpação seria não tornar esse corpo
permanente, regulamentando os intervalos durante os quais ficaria suprimido, pois, dessa
forma, um magistrado novamente reintegrado em suas funções não parte do mesmo poder de
seu antecessor, mas apenas do que a lei lhe concede.
Em relação à ditadura, a inflexibilidade das leis, que as impede se adaptarem aos
acontecimentos pode, em certos casos, torná-las perniciosas. Saber que não se pode prever
tudo é uma previdência muito necessária. Não se deve, portanto, querer consolidar as
instituições políticas a ponto de retirar-se o poder de suspender-lhes o efeito. De qualquer
maneira que seja conferida essa importante comissão, importa fixar-lhe a duração num prazo
muito breve e que jamais possa ser prorrogado. Nas crises que determinam o seu
estabelecimento, o Estado é logo destruído ou salvo e, passada a necessidade premente, a
ditadura torna-se tirânica ou vã. Em Roma, só havendo ditadores por seis meses, só havia
tempo para prover à necessidade que provocara sua eleição, não o de pensar em outros
projetos.
A declaração do julgamento público se faz através da censura. É inútil distinguir os
costumes de uma nação dos objetos de sua estima. A censura, então, pode ser útil para
conservar os costumes.
É necessária uma longa alteração de sentimentos e idéias para que se possa resolver a
tomar um semelhante como senhor e persuadir-se de que isso se constitui um bem. Conclui-se
que houve tantos deuses quantos foram os povos. Das divisões nacionais resultou o
politeísmo, e deste a intolerância teológica e civil. Cada religião ligada unicamente às leis do
Estado que a prescrevia, não havia outra forma de converter um povo a não ser subjugando-o.
Jesus, então, veio para estabelecer na Terra um reino espiritual, separando o sistema
teológico do sistema político, o que nunca pôde entrar na cabeça dos pagãos. A religião, em
relação à sociedade, divide-se em espécies: a religião do homem, limitada unicamente ao culto
interior do deus supremo e aos deveres eternos da moral; A religião do cidadão, inscrita num
único país, tem seus dogmas, seus ritos, seu culto exterior prescrito por leis e, afora a única
nação que a segue, todas sãos consideradas por ela infiéis; Há um terceiro tipo: dando aos
homens duas legislações, dois chefes, submete-os a deveres contraditórios e os impede de
serem ao mesmo tempo devotos e cidadãos.
Engana-se se aludir a uma república cristã: cada um desses termos exclui o outro. Ao
Estado importa que cada cidadão tenha uma religião que o faça amar seus deveres. Há, pois,
uma profissão de fé meramente civil. Já não há nem pode haver religião nacional exclusiva,
deve-se tolerar todas as que se mostram tolerantes com as outras, desde que seus dogmas
nada tenham de contrário aos deveres do cidadão.
Assim, foram expostos os verdadeiros princípios do direito político. Procurado, ainda,
fundar o Estado em sua base.

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