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FICHAMENTO DO LIVRO “A ERA DOS DIREITOS”

Aluna: Thais Kétura Borges de Lima

Bobbio escreve num momento pós Segunda Guerra Mundial. O autor avança
de um conceito individualista do direito que visava resguardar as liberdades
individuais para o um direito voltado a garantia de direitos sociais onde o
Estado ao invés de se abster de certa conduta (um não fazer), porta-se como
um agente ativo na implementação de direitos sociais.

Passamos de um Estado que mantinha apenas a segurança e serviços


básicos, para um Estado que prevê em sua constituição os direitos a educação,
trabalho e saúde. Liberdades, direitos que exigem uma atuação estatal, o
direito se compromete com a interferência na sociedade.

Bobbio refuta a existência de um fundamento absoluto para os Direitos do


Homem, por serem esses direitos mutáveis e variáveis é indispensável que se
busquem fundamentos vários embasados em diferentes valores para preservá-
los. Um fundamento irresistível carrega em si mesmo um perigo incalculável.
Até porque um argumento irresistível nada seria mais do que abstrato, o
homem precisa mesmo é dedicar-se às garantias, da realização do direito na
prática e não apenas uma perseguição intelectual, mas uma luta prática. O
fundamento absoluto é uma ilusão.

“O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de


justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas
político.” (Pág 16)

Bobbio aponta o consenso universal como sendo o principal indicador histórico de que
os Direitos do Homem possuem um fundamento e protegem um sistema de valores.
“...os valores consiste em mostrar que são apoiados no consenso, o que significa que um
valor é tanto mais fundado quanto mais é aceito. Com o argumento do consenso,
substitui-se pela prova da intersubjetividade a prova da objetividade, considerada
impossível ou extremamente incerta.” (Pág 18)

“Somente depois da Declaração Universal é que podemos ter a certeza histórica de que
a humanidade — toda a humanidade — partilha alguns valores comuns; e podemos,
finalmente, crer na universalidade dos valores, no único sentido em que tal crença é
historicamente legítima, ou seja, no sentido em que universal significa não algo dado
objetivamente, mas algo subjetivamente acolhido pelo universo dos homens.” (Pág 18)

Claro que não se chegou do dia para a noite nessa universalização dos Direitos do
Homem e Bobbio faz um apanhado geral da trajetória histórica até as declarações de
direitos humanos. Essa universalização é ainda questionável porque as organizações
internacionais não possuem mecanismos que adentrem nas soberanias nacionais a fim
de garantir os Direitos do Homem e punir as violações a esses Direitos. Ainda assim a
existência dessas organizações é importante, representa um avanço e se articula através
da promoção, controle e garantia de direitos.
“Mesmo o mais liberal dos Estados se encontra na necessidade de suspender alguns
direitos de liberdade em tempos de guerra; do mesmo modo, o mais socialista dos
Estados não terá condições de garantir o direito a uma retribuição justa em épocas de
carestia. Sabe-se que o tremendo problema diante do qual estão hoje os países em
desenvolvimento é o de se encontrarem em condições econômicas que, apesar dos
programas ideais, não permitem desenvolver a proteção da maioria dos direitos sociais.”
(Pág 25)

Bobbio prossegue utilizando a filosofia histórica para fazer uma análise sobre o
desenvolvimento do discurso dos direitos humanos. Ele se posiciona não como um
otimista cego e nem como um pessimista desesperado, mas acredita num progresso
humano, que a humanidade anda rumo a um progresso para o melhor. O autor aponta
para a universalização do direito do homem, para o avanço nas esferas tuteladas por
esse direito que passa a reconhecer indivíduos considerados particularmente, como as
mulheres, os idosos, os deficientes e etc. O Direito do Homem nasce como um direito
natural, evolui para um direito individual até atingir o direito universal.

“... a doutrina dos direitos do homem já evoluiu muito, ainda que entre contradições,
refutações, limitações. Embora a meta final de uma sociedade de livres e iguais, que
reproduza na realidade o hipotético estado de natureza, precisamente por ser utópica,
não tenha sido alcançada, foram percorridas várias etapas, das quais não se poderá
facilmente voltar atrás.” (Pág 31).

Os direitos humanos se qualificaram com o decurso do tempo passando a tutelar mais


bens jurídicos, titularidade ampliada e o homem é considerado não genericamente, mas
objetivamente. Os direitos de liberdade avançaram para os direitos políticos e sociais e
do genérico para o específico. Há que se confessar que a teoria e a prática andaram em
velocidades desiguais. Existe uma ligação entre a mudança social e o nascimento de
novos direitos. Uma verdadeira proliferação dos direitos e é preciso efetivamente
proteger tais direitos.

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