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FACULDADE CENECISTA DE JOINVILLE

CURSO DE DIREITO

BACHAREL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O CERCEAMENTO DE DEFESA NO INDEFERIMENTO DA PROVA PERICIAL


NOS PROCESSOS DE CONCESSÃO DE BENEFÍCO PREVIDENCIÁRIO POR
INCAPACIDADE LABORATIVA

MOACIR DE FREITAS TOLEDO

JOINVILLE

2014
MOACIR DE FREITAS TOLEDO

O CERCEAMENTO DE DEFESA NO INDEFERIMENTO DA PROVA PERICIAL


NOS PROCESSOS DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO POR
INCAPACIDADE LABORATIVA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


curso de Graduação em Direito da Faculdade
Cenecista de Joinville – FCJ, como requisito parcial
à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador(a): Guilherme Machado Casali. MSc.

JOINVILLE

2014
Diretor Geral:
Prof. Felix José Negherbon

Diretora Pedagógica:
a
Prof. Maria Salete Panza Gonçalves da Silva

Gestora de Graduação e Pós-Graduação


a
Prof. MSc. Fabiane Maria Sapucaia de Amarante

Coordenador do Curso de Direito


Prof.ª MSc. Maria de Lourdes Bello Zimath

Banca Avaliadora composta por:


Prof. Msc. Guilherme Machado Casali

Prof. Esp. Leandro Campos Barrocas

Prof.ª Esp. Luara Cachuite Queiroz da Mota

Endereço:
Faculdade Cenecista de Joinville
Rua Coronel Francisco Gomes, 1290
89202-250 – Joinville - SC

Ficha catalográfica elaborada por Jakeline Farias Souza- Bibliotecária CRB 14/749

TOLEDO, Moacir de Freitas

T649c O cerceamento de defesa no indeferimento da prova pericial


nos processos de concessão de benefício previdenciário por
incapacidade laborativa/ Moacir de Freitas Toledo. –
Joinville, 2014.
86p.

Orientado por. Guilherme Machado Casali.

Trabalho de conclusão de curso - (Graduação em Direito).


Faculdade Cenecista de Joinville, 2014.

1.Perícia médica. 2.Cerceamento de defesa. 3. Benefício


previdenciário.
I. Casali, Guilherme Machado. I. Título.
CDD 344.93
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

DECLARO, para os devidos fins de direito, que assumo total


responsabilidade pela autoria e opiniões emitidas no presente trabalho,
isentando a Faculdade Cenecista de Joinville (FCJ), a Coordenação do Curso de
Direito, a Banca Examinadora, o Orientador e a Coordenação da Disciplina de TCC
de toda e qualquer responsabilidade civil acerca do mesmo.

Joinville (SC), _____ de ________________de 2014.

________________________________________________

Moacir de Freitas Toledo


TERMO DE APROVAÇÃO

O(a) acadêmico(a) Moacir de Freitas Toledo, apresentou e defendeu o Trabalho


de Conclusão de Curso intitulado O Cerceamento de Defesa no Indeferimento da
Prova Pericial nos Processos de Concessão de Benefício Previdenciário por
Incapacidade Laborativa, para a obtenção do Título de Bacharel em Direto sendo
julgado adequado e aprovado em sua forma final pela Banca Examinadora do Curso
de Direito.

Joinville, 05 de dezembro de 2014.

_______________________________________

Maria de Lourdes Bello Zimath, MSc.


Coordenadora do Curso de Direito

Apresentado à Comissão Examinadora, integrada pelos professores:

______________________________________________
Prof. Guilherme Machado Casali, MSc.
Orientador

_____________________________________________
Prof.ª Luara Cachuite Queiroz da Mota, Esp.
Examinador

______________________________________________
Prof. Leandro Campos Barrocas, Esp.
Examinador
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos


trabalhadores rurais em
especial aos meus antigos
colegas, peões campeiros,
que entregues ao trabalho
nos fundões do nosso
interior, tem prejudicado
acesso aos seus direitos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela vida e saúde.

Ao meu pai, que mesmo analfabeto, permitiu-me estudar e ficar ausente das lidas
rurais durante o ano letivo e propiciar revigorantes férias no cabo da enxada.

À minha falecida mãe pelas varadas (surras) para fazer-me vencer o medo do
chamado “bullying”, na atualidade, e prosseguir para a escola.

Ao meu irmão Nilton de Freitas Toledo por lutar e me reconduzir à escola aos 12
anos quando havia parado de estudar para ajudar no campo.

Ao meu irmão Adburgo de Freitas Toledo (in memoriam) por ter sido exemplo.

A todos na Escola Agrotécnica Federal de Alegrete (atual Instituto Federal


Farroupilha), pela convivência no internato e formação, em especial ao Professor
Gaspar Paines Guterres.

Ao Exército Brasileiro que me oportunizou sair do interior e viver numa capital onde
pude cursar Medicina numa Universidade Pública.

Ao meu irmão Jairo de Freitas Toledo pelos conselhos e repreensões sempre


sensatas e serenas e à cunhada Dione Tebaldi Toledo (in memoriam) pelo carinho.

À Medicina que me deu liberdade.

A todas as pessoas que me estenderam a mão, que por excessiva a quantidade,


impossível listá-las aqui, mas cada uma sabe o quanto foi importante.

Agradeço a Profª. Maria de Lourdes Bello Zimath por trazer-me para a FCJ, a Profª.
Anir Gava por compreender minha desistência no trabalho anterior, a Profª. Milena
Furghestti Machado e especialmente meu orientador Prof. Guilherme Casali por
aceitar conduzir este estudo nessa área de convergência de ramos científicos.

Agradeço à minha prenda, Iana Borguezan.

MEUS AGRADECIMENTOS
Nasci no meio do campo
Na costa do banhadal
Dentro dum rancho barreado
De chão duro e desigual
Meu berço foi um pelego
Sobre um couro de bagual.

Bebi leite na mangueira


Numa guampa remanchada
E à cavalo num tição
Me aquentei de madrugada
Enquanto o vento assobiava
Nos campos brancos de geada.

Brinquei com gado de osso


Na sombra do velho umbu
E "ansim" volteando um amargo
E o churrasco meio cru,
Fui crescendo e me orgulhando
De ter nascido um xirú.

Depois de andar gauderiando


Por muita querência estranha
Hoje vivo no meu rancho
Na humildade da campanha
Junto à chinoca querida
E o cusco que me acompanha.

Meu Rancho de Noel Guarany (1941 – 1998)


RESUMO

Neste trabalho se estudou a necessidade da produção de prova pericial em


processos previdenciários de natureza médica. Área de contato entre o Direito e a
Medicina, fez-se necessária uma abordagem detalhada do trabalho médico em
auxílio dos Poderes Públicos, pontuando particularidades e diferenças entre a
atividade assistencial do médico e as atividades periciais, administrativa e judicial.
Como perito do juízo, o médico atua como auxiliar da justiça, buscando a verdade
em defesa da sociedade, não podendo defender os interesses individuais da pessoa
periciada, restando afastados os consagrados deveres de sigilo e confidencialidade.
Os direitos previdenciários têm natureza social e alimentar, intimamente
relacionados e dependentes do modelo social-democrata do Estado Brasileiro,
positivado nos direitos e garantias constitucionais do devido processo legal que
abarca outros princípios como do contraditório e ampla defesa e da inafastabilidade
da jurisdição. Estes princípios são apontados como os garantidores da fruição, pelos
segurados, de direitos que não encontram guarida suficiente no disciplinamento
processual civil. Assim os julgadores vêm se fundamentando nas garantias
constitucionais, para através de construções jurisprudenciais, entregarem os direitos
sociais por vezes negados a quem mais precisa (os enfermos). Observou-se que a
normatização processual geral, possibilitaria o indeferimento da produção de prova
pericial, quando existentes provas técnicas suficientes ao convencimento do juízo,
sem ofender o devido processo legal e sem incorrer em cerceamento de defesa,
mas a pesquisa doutrinária, jurisprudencial, legal e de casos concretos, revelou que
o entendimento majoritário é que no ramo previdenciário, o indeferimento de perícia
não contemplaria a obtenção destes direitos sociais, por isso tem sido oportunizada
a ampla defesa, ao polo mais frágil da tríade processual, através de avaliação
pericial dotada de imparcialidade, para um equilibrado e justo processo. Sem isso,
as decisões singulares desfavoráveis ao segurado, quando recorridas, terminam
anuladas por cerceamento de defesa.

Palavras-chave: Perícia Médica, Cerceamento de Defesa, Benefício Previdenciário.

Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas

Setor de aplicação: Direito Civil, Direito Previdenciário, Direito Constitucional,


Direito Administrativo, Medicina Legal e Perícia Médica.
RESUMEN

En este trabajo se estudió la necesidad de producción de prueba pericial en los


procesos previsionales de naturaleza médica. Área de contacto entre el Derecho y la
Medicina, se hizo necesario un aborde detallado del médico a auxilio de los Poderes
Públicos, apuntando particularidades y diferencias entre la actividad asistencial del
médico y las actividades periciales, administrativa y judicial. Como experto del juicio
el médico actúa como auxiliar de la justicia, en búsqueda de la verdad en defensa de
la sociedad, no pudiendo defender a los intereses individuales de la persona
probada, restando apartados los consagrados deberes de sigilo y confidencialidad.
Los derechos previsionales tienen naturaleza social y alimentar, estrechamente
vinculados y dependientes del modelo socialdemócrata del Estado Brasileño,
positivado en los derechos y garantías constitucionales del debido proceso legal que
incluye otros principios como contradictorio y amplia defensa y del no alejamiento de
jurisdicción. Estos principios son señalados como garantes de fruición, por los
asegurados, de derechos que no encuentran suficiente refugio en la disciplina
procesal civil. Así, los juzgadores vienen fundamentándose en las garantías
constitucionales, para a través de construcciones jurisprudenciales, entregaren los
derechos sociales a veces que se niegan a aquellos que más necesitan (los
enfermos). Se observó que la estandarización procesal general permitiría el rechazo
de la producción de prueba pericial cuando hay suficientes pruebas para convencer
al juicio, sin ofender al debido proceso legal e sin incurrir en cercenamiento de
defensa, pero la pesquisa doctrinal, jurisprudencial, legal y de casos concretos,
reveló que la comprensión de la mayoría es que en la rama previsional, el rechazo
de la pericia no contemplaría a la obtención de estos derechos sociales, por eso ha
sido permitida la amplia defensa al polo más frágil de la tríada procesal, a través de
evaluación pericial con imparcialidad, para un equilibrado y justo proceso. Sin él, las
decisiones singulares desfavorables al asegurado, cuándo recorridas, terminan
anuladas por cercenamiento de defensa.

Palabras clave: Pericia Médica. Cercenamiento de Defensa. Beneficio Previsional.

Área del Conocimiento: Ciencias Sociales Aplicadas.

Sector de aplicación: Derecho Civil. Derecho Previsional. Derecho Constitucional.


Derecho Administrativo. Medicina Legal y Pericia Médica.
ROL DE SIGLAS

ART: ARTIGO
ASO: ATESTADO DE SAÚDE OCUPACIONAL
CAT: COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO
CEM/2009: CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA EDIÇÃO DE 2009
CID: CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS
CFM: CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
CPC: CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
CRFB/88: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
CREMESC: CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
CRM: CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA
INSS: INSTITUTO NACIONAL DE SEGURIDADE SOCIAL
MT: MEDICINA DO TRABALHO
Nº: NÚMERO
P: PÁGINA
PAD: PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
PM: PERÍCIA MÉDICA
STF: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
STJ: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
TFR: TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS
TJBA: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA BAHIA
TJRS: TRIBUNAL DE JUSIÇA DO RIO GRANDE DO SUL
TJSC: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA
TNU: TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO
TRF1, 2, 3, 4 E 5: TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª, 2ª, 3ª, 4ª E 5ª
REGIÃO RESPECTIVAMENTE.
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Entendimento da diferenciação entre atividade assistencial e pericial.


.................................................................................................................................. 21

Gráfico 2: Entendimento da liberdade profissional do médico perito.


.................................................................................................................................. 24

Gráfico 3: Entendimento da liberdade profissional do médico assistente.


.................................................................................................................................. 24

Gráfico 4: Percentual de peritos que aumentaram a não constatação de


incapacidade. ............................................................................................................ 33

Gráfico 5: Determinação patronal sobre a conduta técnica dos peritos


administrativos. ......................................................................................................... 43

Gráfico 6: Auto-consideração de (im)parcialidade entre peritos.


.................................................................................................................................. 61

Gráfico 7: Avaliação da parcialidade dos peritos previdenciários pelos peritos


judiciais. .................................................................................................................... 62

Gráfico 8: Visão médica sobre o perfil necessário ao médico perito.


.................................................................................................................................. 64
SUMÁRIO

1 CONCEITO DE PROVA..................................................................................... 16
1.1 PERÍCIA COMO MEIO DE PROVA ............................................................. 16
1.1.1 Perícia Médica e Medicina Legal ........................................................... 17
1.2 ATIVIDADE PERICIAL E ASSISTENCIAL DO MÉDICO ................................. 18
1.2.1 Um Paralelo entre Médico Perito e Médico Assistente.............................. 18
1.2.2 O Código de Ética e a Liberdade Profissional do Médico ......................... 21
1.2.3 A Responsabilidade Jurídica do Médico Perito ......................................... 25
1.3 AVALIAÇÃO PERICIAL DA INCAPACIDADE LABORAL ................................ 27
1.3.1 Conceito de Incapacidade e Invalidez ....................................................... 28
1.3.2 Da Modificação da Invalidez ..................................................................... 29
1.3.3 Da subjetividade da Perícia Médica como Prova Objetiva no Processo ... 30
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS ÀS LIDES
PREVIDENCIÁRIAS ................................................................................................. 34
2.1 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ................................................ 34
2.2 PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DE JURIDIÇÃO.................................... 39
2.2.1 Da Revisão pelo Poder Judiciário das Decisões Administrativas .............. 45
2.3 PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA ......................... 46
2.3.1 Da Aplicação dos Princípios Fundamentais aos Processos Administrativos
........................................................................................................................... 50
2.3.2 Da Revisão dos Atos Administrativos........................................................ 51
3 REVISÃO JUDICIAL DA NÃO CONCESSÃO ADMINISTRATIVA DO
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO POR INCAPACIDADE LABORATIVA ................. 53
3.1 DAS PROVAS NAS LIDES PREVIDENCIÁRIAS ............................................ 55
3.1.1 As Provas Documentais Juntadas pelas Partes ........................................ 56
3.1.2 Parcialidade das Provas Técnicas Juntadas nos Autos ............................ 57
3.1.3 Da Produção de Prova Técnica: Perícia Médica Judicial nas Lides
Previdenciárias ................................................................................................... 63
3.1.4 O Perito Avaliando as Provas Técnicas nos Autos ................................... 68
3.2 INDEFERIMENTO DA PERÍCIA JUDICIAL E CERCEAMENTO DE DEFESA
NOS PROCESSOS SOBRE INCAPACIDADE LABORATIVA............................... 68
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 76
ANEXO 1....................................................................................................................82
ANEXO 2....................................................................................................................84
13

INTRODUÇÃO

Este trabalho traz como tema a produção em juízo da prova pericial nos
processos previdenciários por benefício de natureza médica, demonstrando sua
importância na aferição da capacidade laboral do segurado que pleiteia o
recebimento de benefício previdenciário por incapacidade laborativa.
No estudo sobre a perícia médica foram avaliadas as particularidades da
atividade médica assistencial e pericial, traçando-se um paralelo entre estas,
buscando pontuar suas principais diferenças, que não são bem claras ao público em
geral e aos operadores do Direito, envolvidos no contexto das lides previdenciárias,
atualmente com crescente demanda junto ao Poder Judiciário.
Sobre a aferição da incapacidade laboral como objetivo principal da
atividade pericial, buscou-se demonstrar sua singular subjetividade, mesmo sendo
considerada uma prova objetiva dentro do direito processual, além de apontar as
variações que podem ocorrer no transcorrer do tempo modificando sua presença e
intensidade.
Apontou-se o componente volitivo que pode estar envolvido, por ser o
objeto a ser periciado, o ser humano, sujeito detentor de capacidade de
entendimento e atuação em defesa dos seus interesses, diferente de um objeto
inerte como as edificações, automóveis, bens semoventes, etc., que frequentemente
são objetos de perícia em outras áreas do conhecimento científico.
A relevância deste trabalho se agiganta frente ao crescente número de
processos previdenciários sob a alegação de perpetuação da incapacidade, antes
constatada administrativamente, a despeito do tratamento médico e não constatação
de incapacidade na perícia oficial, mas que também tem revelado crescimento do
percentual de improcedência destes pedidos. Tal fato gera a indagação de qual seria
o motivo da instalação destas lides, se por indevida cessação dos benefícios ou por
previsível interesse e vontade do segurado em atitude inteligente e humanamente
aceitável.
No presente trabalho tentar-se-á responder por que, nos processos
previdenciários, mesmo devidamente instruídos na inicial e na contestação com farta
documentação técnica bilateral que poderia em conformidade ao disciplinamento
processual civil, ser considerada prova suficiente ao convencimento do juízo. Ainda
14

assim, de rotina é deferida ou determinada de ofício a produção de prova pericial,


enquanto que, em processos onde vigora o Direito do Consumidor ou mesmo a
obrigação do Estado entregar medicamentos receitados pelo médico assistente, se
indefere a produção de perícia judicial, motivando o magistrado, que seu
convencimento baseou-se na prova técnica unilateral juntada aos autos, acatando e
deferindo o pleito do sujeito de direito.
O objetivo geral deste trabalho é compreender em que situações o
cerceamento de defesa se caracteriza diante do indeferimento de perícia judicial nos
processos previdenciários de natureza médica. Para isso, fez-se necessário estudar
a instrução probatória destes processos, caracterizar a atividade médica pericial,
conceituar a incapacidade e invalidez para o trabalho, demonstrar a aplicação das
garantias constitucionais implicadas no direito previdenciário e buscar julgados na
área previdenciária que demonstrassem a necessidade da realização de perícia
médica judicial para evitar a ocorrência de cerceamento de defesa.
A metodologia empregada neste trabalho foi a dedutiva, através de
pesquisa bibliográfica em livros e artigos sobre direito constitucional, administrativo,
trabalhista e previdenciário dirigidos à obtenção de benefícios por incapacidade para
o trabalho, além de uma pesquisa de campo feita através de questionário fechado
aplicado aos médicos peritos, judiciais e administrativos, no intuito de ilustrar os
conteúdos, lecionados por autores médicos, que divergem das teses defendidas por
operadores do direito, bem como confirmar ou afastar entendimentos entre os
médicos a respeito do tema, mas ainda não positivado na literatura.
O trabalho está dividido em três capítulos, sendo que o primeiro capítulo
se ateve ao estudo da prova pericial, principalmente, sobre a perícia médica, área
alheia ao Direito fez-se necessária uma abordagem mais detalhada da atividade
médica, conceituando e diferenciando a atividade assistencial e a atividade pericial
do médico, demonstrando que ambas as atividades são de importância ao Direito
Previdenciário, de um lado a medicina assistencial instruindo os processos com
provas técnicas em favor do segurado, e de outro, os laudos periciais oficiais,
instruindo tecnicamente a contestação e finalmente a laudo pericial judicial em busca
de verdade com sua imparcialidade.
Ainda no primeiro capítulo são apresentadas as considerações sobre a
incapacidade ou a invalidez para o trabalho e os critérios para sua constatação, bem
como suas modificações e a subjetividade de sua avaliação, sendo o objeto de
15

pericia, o ser humano, além de contextualizar com a normatização legal e ética


adstrita ao ato médico.
O segundo capítulo discorre sobre as garantias constitucionais de
interesse aos direitos sociais, principalmente sobre os princípios processuais do
devido processo legal, princípio do contraditório e da ampla defesa e o princípio da
inafastabilidade da jurisdição, aplicados aos processos administrativos e judiciais.
Neste contexto, os princípios constitucionais assumem uma particular influência nos
processos previdenciários que não estão especificamente disciplinados no direito
processual geral, o que torna possível e necessária uma construção jurisprudencial
por parte dos julgadores, que por desuniforme, gera interpretações divergentes.
Finalizando, no terceiro capítulo se estudou as possibilidades de
indeferimento da perícia judicial com seus desdobramentos causando ou não
nulidades por ofensa aos princípios constitucionais, principalmente quanto à
caracterização do cerceamento de defesa. No âmbito das lides previdenciária, a
prestação jurisdicional assumindo a proteção de direitos de natureza social e
alimentar, existe doutrinadores que defendem a prevalência das garantias
constitucionais em detrimento do disciplinamento processual geral, através de
construções jurisprudenciais inovadoras.
16

1 CONCEITO DE PROVA

Para Didier Jr. (2012) a palavra prova em sentido comum seria a


comprovação de algum fato, enquanto que em sentido jurídico o vocábulo se
desdobra em três acepções, podendo significar o ato de provar, meio de prova e o
resultado obtido do que foi produzido para convencer o juízo.
O Artigo 332, do Código de Processo Civil (CPC), determina que as
provas são os meios legais, bem como moralmente legítimos, ainda que não
especificados naquele Código, hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se
funda a ação ou a defesa, portanto é o meio que comprova a alegação das partes.
Na mesma vertente Wambier (2010, p.475) conceitua a prova como o “[...]
instrumento processual adequado a permitir que o juiz forme convencimento sobre
os fatos que envolvam a relação jurídica objeto da atuação jurisdicional.”
Para Didier Jr (2012), quanto à forma a prova pode ser testemunhal,
documental e material, nesta última se enquadra a perícia, que será abordada a
seguir.

1.1 PERÍCIA COMO MEIO DE PROVA

Entre os vários meios de prova, a perícia é uma prova material que se


destaca por ser produzida por pessoa estranha à lide, tendo por finalidade
esclarecer com imparcialidade fatos complexos sobre conhecimentos técnicos que o
juiz não tem obrigação de possuir. Realizada por profissional de nível superior na
área relativa aos fatos conflituosos que irá os descrever para afastar dúvidas sobre
tema não dominado pelo juízo e partes (WAMBIER, 2010).
O Direito para Coêlho (WEB, 2010), não é um campo de estudo auto-
suficiente, e para atingir seus objetivos, poderá necessitar da perícia nos processos
para elucidar completamente os fatos complexos em litígio, porém deverá o jurista
ter conhecimentos pelo menos superficiais acerca da matéria.
Segundo Didier Jr (2012), se o magistrado possuir conhecimento técnico
na matéria sob sua jurisdição, mesmo assim não poderá dispensar a produção de
17

perícia, para não acumular a função de perito e julgador, pois não se espera que o
saber do juiz seja superior ao esperado para o homus medius.

1.1.1 Perícia Médica e Medicina Legal

A relação entre a Medicina e a Justiça tem seus indícios desde a


Antiguidade e naqueles tempos as funções de legislador, julgador e médicos eram
acumuladas na pessoa dos sacerdotes que exerciam o governo baseados na força e
divindade (COÊLHO, WEB, 2010). Com o transcorrer do tempo foi reconhecida a
importância da opinião do médico nos julgamentos, principalmente em casos
criminais. O primeiro registro escrito encontrado é datado de 44 a.c., uma descrição
da necropsia apontando a causa da morte do Imperador Júlio César (SILVEIRA,
WEB, 2009).
Ainda segundo Silveira (WEB, 2009), a Medicina Legal é especialidade
médica de prática antiga, desde que médicos eram chamados esporadicamente
para esclarecer determinados fatos. Seu desenvolvimento pode ser dividido em três
períodos: o primeiro da época primitiva até o Império Romano, o segundo com
alguma legislação a partir de obras dos jurisconsultos romanos e o terceiro e atual
período denominado positivo com início no século XVIII.
No Brasil o desenvolvimento da Medicina Legal foi influenciado pela
Europa, denominada de fase Estrangeira, caracterizando sua primeira fase até 1877,
com escassas obras nacionais, exceto na área da toxicologia. Já na segunda fase,
chamada Nacionalista ocorreu à implantação de ensino de Medicina Legal nas
Faculdades, além da grande produção científica. Por último, a terceira fase
destacou-se Raymundo Nina Rodrigues, considerado o maior professor de Medicina
Legal do século XIX reconhecido internacionalmente. Posteriormente, Afrânio
Peixoto inspirado na Alemanha, propôs avanços na legislação da época (SILVEIRA,
WEB, 2009).
A atuação mais lembrada da Medicina Legal é na área criminal, exercida
principalmente por médicos peritos oficiais, mas paralelamente tornou-se frequente a
atuação de médicos especialistas em diversas áreas, realizando perícias médicas
cíveis e até abandonando a atividade assistencial em detrimento da atuação
18

forense. Criou-se então a Área de Atuação em Perícias Médicas que na Resolução


do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1.973/2011 passou a integrar a
especialidade já existente de Medicina Legal, que atualmente denomina-se Medicina
Legal e Perícias Médicas (CFM, WEB, 2011).
Perícia Médica é definida por Alcântara (2012, p.3) como “[...] ato
propedêutico ou exame, feito por médico, com a finalidade de colaborar com as
autoridades administrativas, policiais ou judiciárias na formação de juízo [...].” Na
mesma obra, este autor (2012) aponta que a atividade pericial médica ocorre não
somente em juízo, mas desde a esfera administrativa nos exames para o Atestado
de Saúde Ocupacional (ASO) dos trabalhadores, na avaliação da incapacidade
laboral previdenciária, nos exames de corpo de delito nos Institutos Médico Legais
em pessoas vivas ou cadáveres, para instruir inquéritos policiais.

1.2 ATIVIDADE PERICIAL E ASSISTENCIAL DO MÉDICO

Antes de seguir adiante no estudo da perícia médica e suas


características, será preciso distinguir as formas de atuação que modificam a relação
do médico com o enfermo, quais sejam, assistencial e pericial. Estudando as
diferenças da relação médico-paciente da relação perito-periciado, para se visualizar
as peculiaridades de cada uma e entender as fragilidades geradas frente à
imparcialidade, não confidencialidade e sigilo médico modificado, necessários na
última relação.

1.2.1 Um Paralelo entre Médico Perito e Médico Assistente

A atividade assistencial da Medicina é diferente da atividade pericial, está


última não tem compromisso ou parcialidade, e nem pode, atuar em benefício do
interesse individual da pessoa do periciado, mas do coletivo, conforme afirma Barros
Júnior (2010, p.57): “É a medicina em atividade em benefício da sociedade e do
interesse público.”
19

Quanto à relação médico-paciente (atividade assistencial), o Conselho


Regional de Medicina de Santa Catarina (CREMESC) em seu Manual de Orientação
Ética e Disciplinar, assevera (SANTA CATARINA, 2013, p.78):

O relacionamento médico-paciente impõe compromissos de parte a parte


entre médico e paciente. O médico se propõe a fazer o melhor possível pelo
paciente e este se compromete informar corretamente seu médico sobre
seus problemas e a seguir as prescrições e recomendações profissionais
que lhe forem feitas.

Adiante nesse mesmo manual, Santa Catarina (2013, p.79) se esclarece


que: “Os médicos devem lembrar que ‘doente é todo e qualquer indivíduo que pede
atenção para sua saúde’ [...], a todos eles, deve o médico o melhor relacionamento
possível em nome da excelência e da dignidade da medicina.”
Para Barros Júnior (2010) a relação perito-periciado não guarda
semelhança com a relação médico-paciente tradicional, considerando a única
similaridade o fato de serem os mesmos sujeitos, médico e enfermo. Esclarecendo
que na relação do assistente com seu paciente (cliente) existe uma relação de
confiança e compromisso de atuarem em benefício um do outro, enquanto que, na
relação entre perito e periciado, de regra se instala a desconfiança por não existir
parcialidade do médico com os interesses do enfermo e tampouco se espera
colaboração do periciado na condução propedêutica do médico auxiliar do Juízo.
Fazendo um paralelo entre a atividade assistencial e pericial se nota que
na primeira impera o bom relacionamento baseado na confiança, para se chegar ao
diagnóstico que nessa relação é essencial ao tratamento ou cuidados, enquanto
que, na segunda não existe aliança ou confiança, ao invés disso o periciado vê o
perito como alguém que pode descobrir uma simulação ou tomar medidas
potencialmente prejudiciais ao seu interesse na lide. Nessa relação é natural que o
examinado tente omitir ou exagerar o que lhe convier (BARROS JÚNIOR, 2010).
A investigação médica do diagnóstico ou apontar a Classificação
Internacional de Doenças (CID) na atividade pericial é objetivo secundário (BARROS
JÚNIOR, 2010, p.56):

O perito, que não exerce, neste momento, atividade assistencialista, utiliza-


se de verdadeiras manobras investigatórias para separar aquilo que é
informação verdadeira daquela que é falsa. O médico investiga a existência
de simulações. [...] Avalia e sabe que também está sendo avaliado. Sabe
que, de regra, não contará com a colaboração do paciente. Nessa relação,
o diagnóstico da enfermidade é mero acidente, posto que não é o objetivo.
20

Nesta mesma acepção Barros Júnior (2010, p.57) mais adiante confirma
que nas perícias previdenciárias o diagnóstico não é importante ou necessário ao
escrever “no caso de perícias administrativas e judiciais, aqui se inclui o INSS, não
interessa o diagnóstico. A ênfase da perícia se dirige sempre a incapacidade [...],
correlacionando-se esses dados com a profissão habitualmente exercida.”
Frequente discussão existe acerca da perícia médica é o sigilo do médico
a que estão habituados os doentes. Quando um laudo pericial lhe é desfavorável (no
adjetivo dos procuradores, o laudo é imprestável), o periciado se sente traído,
esquecendo que no âmbito do processo o sigilo e a confidencialidade são diferentes
da atividade assistencial, porém, deve o perito manter o sigilo profissional não
divulgando informações do periciado além do âmbito do processo. Sobre isto, o
Manual de Orientação Ética e Disciplinar do Conselho Regional de Medicina de
Santa Catarina assevera (SANTA CATARINA, 2013, p.41): “O médico-perito não
quebra sigilo profissional, pois não foi, e não é, médico assistente do periciado.”
O Código de Ética se aplica às atividades assistenciais e periciais, porém
existe uma parte especial dentro do novo Código de Ética Médica editado em 2009
(CEM/2009), o Capítulo XI, sobre a Auditoria e a Perícia Médica, tem cinco artigos
de interesse para a perícia médica e por serem especiais, derrogam certas
obrigações gerais exigidas ao médico assistente, como o sigilo. Também existem
vários pareceres e resoluções do CFM que versam sobre a atividade pericial médica.
(BARROS JÚNIOR, 2011).
Sobre os pontos de interesse para a prova pericial médica no CEM/2009,
Barros Júnior (2011), aponta que nos artigos 92 ao 98 existe a vedação ao médico
ser, perito ou auditor, de paciente seu ou de empresa que tenha trabalhado, proíbe
que o perito ou auditor modifique condutas do assistente ou faça apreciações na
presença do examinado, reservando suas observações para o relatório.
Dando especial lisura ao ato do perito judicial ou do assistente técnico, o
artigo 96 proíbe remuneração vinculada ao sucesso da causa. E em proteção ao
bem maior do ser humano, a vida, o artigo 97 exclui a vedação do perito em intervir
na conduta do assistente nos casos de risco de morte. (BARROS JÚNIOR, 2011).
O artigo 98 determina atuação com absoluta isenção do médico perito ou
auditor e ainda veda ir além de suas atribuições e competência. Competência aqui
no sentido da extensão do saber médico e legislativo a cerca do tema controvertido.
(BARROS JÚNIOR, 2011).
21

Para ilustrar se entre os médicos atuantes em atividade pericial,


administrativa ou judicial, existe o entendimento das diferenças éticas e jurídicas do
seu trabalho pericial em comparação ao trabalho assistencial, foi realizada uma
pesquisa de campo durante o II Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Perícias
Médicas, de 3 a 6 de setembro de 2014, em Florianópolis, com 47 médicos peritos,
sendo 20 peritos administrativos e 27 peritos judiciais, onde preencheram 10
questionamentos fechados, a respeito da relação perito-periciado, médico-paciente,
do médico com o Poder Judiciário ou com seu empregador.
Segue o gráfico apontando os resultados quanto ao entendimento da
diferenciação entre atividade assistencial e pericial.

Gráfico 1- Entendimento da diferenciação entre atividade assistencial e pericial.


Quanto ao entendimento, se diferenciavam a atividade de perito da sua
atividade assistencial, 41 dos 47 médicos pesquisados preencheram sim, que
entendem ser diferente, sendo que três responderam que não entendem ser
diferente e três não opinaram (Gráfico 1). Este resultado demonstra que existe
expressivo entendimento sobre o tema entre os médicos.

1.2.2 O Código de Ética e a Liberdade Profissional do Médico

A liberdade profissional do médico será estudada para embasar


discussão adiante quanto à parcialidade das provas produzidas pelas partes e a
necessidade de imparcialidade do perito, seja ele judicial ou administrativo. Apesar
da obediência à integralidade do CEM/2009, o perito médico tem outros pontos
específicos para atentar, que modificam sua relação com o examinado que neste
22

momento, apesar de doente, não foi e não poderá ser paciente seu. (SANTA
CATARINA, 2013).
No Preâmbulo do CEM/2009, o inciso III, tem a única exigência legal para
o exercício da Medicina, e por conseqüência da atividade pericial médica também
(CFM/2010): “Para o exercício da Medicina, impõe-se a inscrição no Conselho
Regional de Medicina do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal.” Tal
dispositivo, segundo Barros Júnior (2011) reafirma o que já estava posto na Lei nº
3.268/57 em seu artigo 17, que os médicos podem exercer a medicina, em qualquer
de seus ramos ou especialidades, após sua inscrição no respectivo conselho de sua
circunscrição.
Sobre esta questão tem-se que a Perícia Médica feita por médico não
especialista na área da doença do periciado é possível e perfeitamente legal, uma
vez que o médico tendo atendido a exigência de inscrição no respectivo conselho,
poderá atuar em todas as áreas da medicina. O que é vedado ao médico, é anunciar
especialidade não comprovada, conforme assevera Barros Júnior (2010, p.57):
“Oportuno se ressaltar que tentar tolher o exercício profissional do médico, limitando
sua área de atuação, caracteriza crime de abuso de autoridade.”
O CFM confirma a assertiva de que todo o médico pode exercer a
medicina em qualquer de suas áreas desde que regularmente inscrito no Conselho
Regional de Medicina (CRM) de sua circunscrição, independente de possuir ou não
especialização, conforme aponta o Parecer nº 18/12, do CFM (CFM, 2012):

EMENTA: O médico devidamente inscrito no CRM está apto ao exercício de


sua profissão em qualquer dos seus ramos ou especialidades. Aos médicos
responsáveis pelas direções ou supervisões dos serviços assistenciais
especializados devem ser exigidos os títulos de especialistas, emitidos de
acordo com as normas do CFM.

Nos tribunais existem decisões diversas, algumas entendendo que a


perícia pode ser feita por qualquer médico inscrito no conselho profissional e outras
considerando cerceamento de defesa por insuficiência de prova técnica essa prática,
dessa forma defende-se que, existindo médico especialista na área da doença do
segurado cadastrado naquela subseção, por bom senso e uma aplicação mais
adequada da lei, este deve ser nomeado (FONTOLAN, WEB, 2013).
O CEM/2009 traz no capítulo dos Princípios Fundamentais, vinte e cinco
incisos, entre os quais, os incisos VII e VIII determinam que o médico deva trabalhar
com liberdade, no primeiro exigindo autonomia para prestar seus serviços e no
23

segundo expressamente veda ao médico renunciar sua liberdade profissional


permitindo limitações ao seu trabalho. Sobre isto escreve Barros Júnior (2011, p.61):

Com base na sua liberdade profissional, assegurada na Constituição e nas


normas infraconstitucionais, deve o médico e os Conselhos
responsabilizarem com rigor qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, independente de sua autoridade, que ameacem ou atentem contra
a liberdade médica.

Em seguida o mesmo autor (2011, p.61) novamente confirma a


independência e aponta as únicas limitações legais da atividade profissional do
médico:

A liberdade e a autonomia profissional do médico são muito amplas, mas


não são absolutas. Podem ser limitadas apenas através da Constituição
Federal ou por leis em sentido estrito (leis emanadas do Congresso
Nacional) ou Resoluções dos conselhos médicos, não sendo possível
nenhum outro tipo de restrição.

O inciso XI, dos Princípios Fundamentais, somado aos artigos 73 a 79, do


CEM/2009, obrigam o médico ao sigilo profissional e prevê os casos de exceção que
são taxativamente três: dever legal, justa causa e autorização expressa do paciente
ou representante legal. Por motivo justo se entende como meio para o médico se
defender de perigo injusto para si ou para terceiros e dever legal seria a obrigação
de divulgar um segredo por determinação legal (BARROS JÚNIOR, 2011). Sobre
este assunto o Desembargador Carioca Sérgio Cavalieri Filho (2010 apud Barros
Júnior, 2011, p.68) escreve:

Não se trata, é verdade, de sigilo absoluto, [...] pode o médico ser levado a
quebrá-lo, mormente quando estiver em jogo outro interesse relevante –
salvar a vida do próprio paciente ou de outra pessoa a ele ligada, notificar a
doença infectocontagiosa; apurar fato delituoso; realização de perícias
médico-legais e outras requisições da Justiça. Mesmo nesses casos a
revelação deve circunscrever-se ao limite do estritamente necessário.

Continuando na análise dos Princípios Fundamentais do CEM/2009, o


inciso XVI reafirma a liberdade do profissional ao proibir qualquer limitação das
escolhas técnicas do médico, desde que coerentes com a ciência e sua consciência,
oferecidas por determinações da entidade onde trabalhe o médico.

Muito mais do que simples dever ou direito, respeitar os ditames da ética


médica reflete um princípio de independência e imparcialidade nos atos
médicos. Tem o médico dever de defender sua autonomia profissional e não
se sujeitar a limites arbitrários ou a interferência indevida nas suas
atribuições e condutas, destacando ainda o seu dever de denunciar
imediatamente esses fatos ao Conselho de Medicina. (BARROS JÚNIOR,
2011, p.80)
24

Segundo Barros Júnior (2011) ao comentar o Art. 20, do CEM/2009,


afirma que o presente artigo seria o paradigma ético da tríade isenção-liberdade-
autonomia do médico, também aplicada na defesa dos interesses da sociedade e
não somente individual do paciente e considera que o CEM/2009 tem redundância
desta previsão em outros pontos, o que demonstra zelo do Conselho Profissional, e
consequentemente, torna desnecessária a continuação do estudo pormenorizado de
cada ponto relativo à imparcialidade do médico.
A pesquisa de campo, apontada anteriormente, na questão que indagava
sobre a liberdade profissional do médico perito, 45 dos 47 peritos pesquisados
responderam que entendem ter liberdade e isenção em sua atuação como perito,
conforme determinam os incisos VII e VIII, do CEM/2009 (Gráfico 2).

Gráfico 2: Entendimento da liberdade profissional do médico perito.


A pesquisa não foi realizada entre médicos que atuassem somente na
atividade assistencial, mas lembremos que são raros os médicos peritos que não
exerçam atividade assistencial em paralelo.
Para 39 dos 47 peritos pesquisados, os médicos assistentes expressam
parcialidade nos atestados (interesse do paciente ou clientelismo no consultório),
portando este resultado pode demonstrar comprometimento da liberdade e isenção
do médico na atividade assistencial (Gráfico 3).

Liberdade profissional do médico assistente


9% Porcentagem de peritos que consideram
8% os assistentes PARCIAIS
Porcentagem de peritos que consideram
os assistentes IMPARCIAIS
Não opinaram
83%

Gráfico 3: Entendimento da liberdade profissional do médico assistente.


25

1.2.3 A Responsabilidade Jurídica do Médico Perito

A responsabilidade jurídica do perito médico e alvo de discussões tanto


nas áreas de atuação administrativa ou judicial, em processos criminais ou cíveis
(trabalhistas e previdenciários), sendo necessário o conhecimento da teoria geral da
responsabilidade civil, sobretudo, aplicada às perícias médicas, para entender o
risco profissional, nessa atuação, quanto aos processos indenizatórios (BERLINI,
2012).
Ainda segundo Berlini (2012), a possibilidade desses processos
indenizatórios nasce da responsabilidade civil do profissional médico que, em regra,
é subjetiva. Em síntese, a responsabilidade seria a obrigação de recompor o dano
causado pelo descumprimento de um dever jurídico, não bastando a ocorrência do
dano e nexo de causalidade, mas também a aferição da culpa. A responsabilização
civil difere da responsabilidade penal, que tem regras próprias aos peritos judiciais
previstas no artigo 342, do Código Penal.
A responsabilidade criminal presume a ocorrência de um crime e a
correspondente punição do agente com privação da liberdade, restrição de direitos
ou multa, enquanto que, na responsabilidade civil basta a ocorrência de um dano,
material ou moral, para gerar obrigação de reparação da vítima pelo agente
(BERLINI, 2012).
Berlini (2012) também destaca que a responsabilidade civil e criminal são
independentes, não cabendo se discutir a ocorrência e autoria do fato quando já
provados na esfera penal, mas a absolvição penal, não livra o agente de
condenação civil, pois nesta última se busca a verdade formal, enquanto que, na
esfera criminal, a verdade real.
A responsabilidade civil do perito médico na esfera administrativa,
segundo Campos (2013), é subjetiva, precisando da comprovação de dolo ou culpa,
enquanto que, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), responde
objetivamente pelos danos materiais e morais causados aos beneficiários por vícios
nos processos e atos administrativos. Por isso, são mais frequentes as ações contra
a Autarquia, em regra sendo mais fácil a condenação por independer da culpa.
26

O risco de responsabilização do agente perito médico, ficaria reservada


para o caso de Ação Regressiva do INSS contra o servidor, depois de suportada a
reparação do dano causado por ação ou omissão dolosa ou culposa do seu agente.
Sobre a responsabilização objetiva do Estado e subjetiva dos seus
servidores ou agentes públicos, a mesma autora discorre que (CAMPOS, 2013,
p.99):

[...] o Estado responde perante um terceiro objetivamente, bastando à vítima


provar o fato ou ato lesivo, o dano e o nexo causal, prescindindo da prova
de culpa ou dolo. O servidor ou agente público responde perante o Estado
subjetivamente de acordo com a sua culpa ou dolo, em ação judicial
regressiva.

Os segurados ou dependentes tem a opção de ajuizamento de ação


contra o médico perito ou contra o INSS, conforme previsão do § 6º do Art. 37, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) e Informativo 532
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) – REsp 1.325.862-PR (STJ, WEB, 2013):

Na hipótese de dano causado a particular por agente público no exercício


de sua função, há de se conceder ao lesado a possibilidade de ajuizar ação
diretamente contra o agente, contra o Estado ou contra ambos. [...] não há
previsão de que a demanda tenha curso forçado em face da administração
pública [...] tampouco há imunidade do agente público de não ser
demandado diretamente por seus atos, o qual, se ficar comprovado dolo ou
culpa, responderá de qualquer forma, em regresso, perante a
Administração. [...] o servidor público possui legitimidade passiva para
responder, diretamente, pelo dano gerado por atos praticados no exercício
de sua função pública [...].

Ainda sobre a reparação por dano moral Campos (2013, p.135) afirma
que “os julgados que se referem a danos morais no Direito Previdenciário crescem
significativamente apresentando uma variedade maior de situações, casos e
decisões.” Sobre a ocorrência de danos aos beneficiários da previdência social e
necessidade de reparação, leciona a mesma autora (CAMPOS, 2013, p.94):

[...] não se podem banalizar as práticas ilícitas reiteradamente praticadas


pelo INSS como se fossem do cotidiano, como o atraso injustificado na
concessão de benefícios previdenciários, a não concessão do reajuste nos
proventos e não concessão injustificada [...], pois o costume antijurídico
deve ser coibido e não incentivado.

Quanto à responsabilização do Estado e seus agentes de forma


diferenciada, mas necessária para reparação dos danos causados a terceiros,
assevera ainda a autora (CAMPOS, 2013, p.99):

[...] O Estado deverá reparar ou indenizar o dano, sem saber por que motivo
foi a conduta danosa do agente, se errou ou não, se agiu com o devido
cuidado ou não, a não ser para acioná-lo regressivamente, mas tais
27

circunstâncias não podem ser oponíveis às vítimas. [...] após indenizar ou


reparar a vítima, o Estado poderá ajuizar uma ação de regresso contra o
agente público.

Gouveia (2012) afirma que a responsabilização do médico perito do INSS


pelos segurados insatisfeitos com a avaliação pericial e conteúdo do Laudo Pericial
apresentado em Juízo pela autarquia, deverão no mesmo processo ou em peça
autônoma requerer expedição de ofícios ao Conselho Regional de Medicina para
instauração de processo ético profissional contra o médico perito, sem prejuízo de
uma posterior ação reparatória por imperícia, imprudência ou negligência, com base
nos artigos 52 e 98, do Código de Ética Médica. E, ainda, sugere que se constatada
incapacidade laboral do segurado pelo perito judicial ou provas nos autos, o perito
da autarquia poderá responder pelo ilícito criminal de falsa perícia nos termos do art.
342, do Código Penal.
Assim, verifica-se que o médico perito, servidor público da autarquia está
submetido ao risco de responsabilização civil direta ou indireta, via ação judicial
regressiva, mas não foram encontrados processos neste sentido, enquanto que, o
perito judicial tem se submetido apenas à responsabilização direta em ações
indenizatórias dos periciados insatisfeitos com a conclusão do Laudo Pericial, pois
não foram encontradas ações contra o Poder Judiciário ou contra o Juiz, pois apesar
de não adstrito ao laudo pericial, em regra as pessoas acreditam que seria o perito
judicial que concede ou não benefício pleiteado, enquanto que, na verdade apenas
avalia a presença de (in)capacidade.

1.3 AVALIAÇÃO PERICIAL DA INCAPACIDADE LABORAL

A concessão dos benefícios e serviços previdenciários de natureza


médica, como o auxílio-doença previdenciário, o auxílio-doença acidentário, auxílio-
acidente, aposentadoria por invalidez e o benefício de prestação continuada da
assistência social dependem da avaliação pericial médica confirmar ou não a
presença de incapacidade e não apenas da presença de doença, enfermidade ou
acidente, sobre isto Barros Junior (2010, p.101) escreve:

[...] o termo auxílio-doença é extremamente equivocado. O benefício não é


nem nunca foi pela doença, mas exclusivamente pela incapacidade
28

laborativa por esta ocasionada, independente da doença ou do diagnóstico.


Por essa razão, acreditamos que a nomenclatura adequada seria auxílio-
incapacidade e não auxílio-doença.

A perícia médica é competência privativa dos médicos do INSS ou


médicos credenciados e tem por objetivo fundamental a emissão de laudos periciais
conclusivos sobre a capacidade laboral, tanto para benefícios previdenciários ou
para assistenciais por incapacidade. Estes pereceres, quanto à parte técnica, devem
prevalecer para efeitos da concessão ou manutenção dos benefícios (GOUVEIA,
2012).
Ainda sobre a concessão dos benefícios de natureza médica com
necessidade de avaliação pericial médica é preciso considerar que os critérios legais
devem ser atendidos, como o período de carência legal, pois pode que o segurado
seja avaliado como incapaz para o trabalho do ponto de vista médico (técnico) e ter
o benefício indeferido administrativamente por motivos burocráticos. Sobre este
tema aplicado ao contexto judicial Barros Júnior (2010, p.102) leciona:

[...] o Magistrado deve ter cautela, pois o caso concreto, implicará no


julgamento de matéria meramente de direito e não fática, ensejando a
extinção do processo com julgamento do mérito por falta da possibilidade
jurídica do pedido. Em inúmeros casos [...] vislumbramos o
desconhecimento dessa peculiaridade legal tanto pelas partes, como pelos
advogados, procuradores autárquicos e inclusive membros do Ministério
Público e Magistrados.

Dessa forma, fica demonstrado que a avaliação da incapacidade


laborativa é apenas um dos critérios para a percepção do benefício previdenciário de
natureza médica, pois antes da avaliação pericial médica, precisa o segurado
preencher outros critérios administrativos como a qualidade de segurado, carência,
etc. Sobre a conceituação e classificação da incapacidade e sua avaliação discorrer-
se-á a seguir.

1.3.1 Conceito de Incapacidade e Invalidez

Para Gouveia (2012) a incapacidade laborativa é a impossibilidade


temporária de o segurado desempenhar as funções específicas de sua atividade ou
ocupação por modificações físicas ou psicológicas provocadas por acidente ou
29

doença, enquanto que, invalidez será esta mesma incapacidade, mas definitiva ou
permanente.
O grau de incapacidade pode ser total ou parcial. Será parcial quando
ainda permitir o desempenho de atividade que lhe permita rendimento aproximado
ao que auferia antes do evento gerador da incapacidade. Quando tiver previsão do
prazo para recuperação, a incapacidade será temporária. Indefinida quando não for
imprevisível o prazo para recuperação ou não existam recursos terapêuticos
disponíveis à época (GOUVEIA, 2012).
Desta forma, para Barros Júnior (2010) e Gouveia (2012), em auxílio-
doença será colocado o segurado que estiver total e temporariamente incapaz para
o trabalho que lhe garanta a subsistência. O segurado total e permanentemente
incapaz será considerado inválido e, por consequência, fará jus à aposentadoria por
invalidez e ao segurado em auxílio-doença acidentário quando estabilizadas suas
sequelas, restar incapacidade parcial e permanente, receberá auxílio acidentário.

1.3.2 Da Modificação da Invalidez

O pagamento da aposentadoria por invalidez, como qualquer outro


benefício previdenciário de natureza médica, não é definitivo, portanto, a qualquer
tempo, mediante avaliação da Perícia Médica Administrativa da Previdência Social
que conclua pela recuperação da capacidade laboral, mesmo que parcial, o
benefício poderá ser cessado (BARROS JÚNIOR, 2010).
Na dependência do tempo transcorrido em recebimento da aposentadoria
por invalidez e grau de recuperação da capacidade, Gouveia (2012), afirma que o
benefício será cessado desde imediatamente, em meses ou gradualmente com
redução percentual dos valores, tendo ainda o trabalhador direito de retornar ao seu
emprego, mesmo já rescindido ou ser indenizado pelo empregador.
30

1.3.3 Da subjetividade da Perícia Médica como Prova Objetiva no Processo

Autores advogados, como Gouveia (2012) e Campos (2013), que


defendem que uma vez incapacitado, o segurado poderá ser novamente
considerado capaz ou reabilitado somente quando recuperado em níveis funcionais
ótimos de satisfação e desempenho, sem considerar que mesmo pessoas saudáveis
por vezes têm produção laboral abaixo da média ou que existam disposições legais
que visam possibilitar a independência e dignidade das pessoas portadoras de
deficiência através de sua inclusão ao mercado de trabalho.
Com entendimento diverso, autores médicos atuantes na área forense e
médicos advogados, afirmam que precisam ser respeitadas as diferenças e
limitações pessoais dos trabalhadores e que a subjetividade do sintoma referido
pelos segurados, precisa da avaliação técnica do médico, para que da forma mais
objetiva possível, possa separar o que é real ou verdadeiro, do que é falso ou
parcial, para que se preserve a dignidade do ser humano, o direito de acesso ao
trabalho e respeito ao princípio da solidariedade da Previdência Social
(ALCÂNTARA, 2011; BARROS JÚNIOR, 2010; SANTA CATARINA, 2013;
VASCONCELLOS, 2011).
Sobre a subjetividade na produção do Laudo Pericial, considerado prova
objetiva nos processos, leciona Vasconcellos (2011, p.65):

Se a Perícia Médica é prova objetiva na lide, ela nem sempre é construída


somente com observações objetivas, pois esse convencimento pericial
estará apoiado em interpretações subjetivas do Médico Perito, que nem por
isso têm menor valor de raciocínio.

Quanto à valoração pelo médico perito, dos dados observados durante a


perícia e documentos médicos juntados aos autos, temos que:

Com frequência se lê denúncias iniciais baseadas e motivadas pela


simples transcrição de achados de imagem [...] extemporâneos à
linguagem jurídica, como se estes tivessem o condão de expressar
sintoma, incapacidade laborativa, nexo ocupacional e as culpas
subsequentes. [...]
Estão aí os numerosos trabalhos científicos de revisões acerca dos
achados ditos “anatomicamente anormais”, porém em indivíduos
assintomáticos, sem queixas específicas. [...]
Portanto, não se deve valorizar em demasia os exames
complementares e testes ditos objetivos, em detrimento da cautelosa e
sistemática montagem do raciocínio pericial, pois mesmo esses exames
dependem de interpretação também subjetiva de quem os emitiu e de quem
os interpreta. [...]
31

É opinião geral dos colegas Médicos Peritos e também de Advogados que


justamente são os documentos médicos (atestados, declarações e
exames complementares) que mais desencadeiam ações absurdas e
suas variantes simulatórias, servindo de boa munição reivindicatória. [...]
Quanto mais subjetiva for a queixa (vertigens, zumbidos, diminuição
da visão, dores difusas), menos valor se deve dar às informações do
próprio examinando. (VASCONCELLOS, 2011, p.65 - 66). (grifo nosso).

As doutrinas escritas por médicos atuantes na área forense apontam uma


substancial frequência de simulações nas lides previdenciárias, enquanto que, as
teses apregoadas por aqueles operadores do direito que militam na área
previdenciária que precisam defender seus clientes e os honorários, dependentes do
sucesso da causa, sequer cogitam esta possibilidade. É preciso considerar que os
médicos peritos judiciais ou mesmo peritos previdenciários tem obrigação ética de
atuarem com imparcialidade e suas opiniões podem ser mais realistas e
independentes, posto que seus honorários independam do resultado das lides.
(BARROS JÚNIOR, 2011; GOUVEIA, 2012; VASCONCELLOS, 2011).
A obstinada defesa dos advogados aos “direitos” dos seus clientes pode
ser desencadeada pela prática, não rara, dos procuradores se submeterem aos
chamados “contratos de risco”, com litigantes carentes que contam com gratuidade
da Justiça que os isenta das custas, mas na falta de Defensores Públicos, não
podem previamente remunerar seus procuradores. Sobre a dependência do sucesso
da causa dos honorários do patrono, Taborda, Abdalla-Filho e Chalub (2012, p.62)
afirmam que o causídico “[...] ao final, se vencer, receberá seus honorários; se
perder, terá gasto tempo e trabalho.”
O CEM/2009 trouxe um artigo inédito, sobre tema que antes era omisso o
código anterior, mas que atualmente veda ao médico, ganhos vinculados ao
resultado da causa (VIEIRA, 2014, p.31):

É vedado ao médico:
Art. 96. Receber remuneração ou gratificação por valores vinculados à glosa
ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou de auditor.

Sobre a obrigatoriedade da não vinculação dos honorários ao resultado


da causa, previsto no artigo 96, do CEM/2009, Barros Júnior (2011, p.345) escreve:

Se a obrigação médica é de meios, o esculápio não pode se comprometer


com nenhum tipo de resultado [...] como condição para que o médico possa
receber seus justos honorários profissionais. O valor a ser pago se relaciona
com o trabalho despendido e nunca com um resultado almejado (no caso, o
sucesso da causa).
32

Adiante Barros Júnior (2011) esclarece e adverte os médicos para não se


sujeitarem ao procedimento ilegal adotado por alguns tribunais, notadamente
trabalhistas, que nos processos onde existe a gratuidade da justiça, o perito será
remunerado pelo Poder Público somente ao final de toda a demanda, depois de
anos ou décadas e com valores insuficientes. Deve previamente estimar o valor e
solicitar o depósito dos honorários periciais, se considerado elevado pelas partes ou
pelo magistrado, que seja designado outro profissional que aceite trabalhar por
valores inferiores. Nesse sentido Taborda; Abdalla-Filho e Chalub (2012, p.63)
recomendam:

[...] o perito designado deverá estimar seu honorários e solicitar seu prévio
depósito. Se o Juiz não quiser fixá-los previamente ou se fixá-los em valores
que o profissional considere insatisfatórios, ou se não determinar o prévio
depósito (o que é comum em casos de Assistência Judiciária Gratuita),
caberá ao perito designado declinar do encargo por “motivo legítimo”, eis
que não pode trabalhar na incerteza de quando virá receber ou por valores
que considere vis ou insuficientes.

O Parecer nº 34/2010, do CFM, embasa as orientações acima e dos


comentários a este parecer feitos por Taborda, Abdalla-Filho e Chalub (2012, p.63),
transcreve-se:

[...] ao ser designado perito judicial em processo de Assistência Judiciária


Gratuita ou custeado pelas partes, o médico aceita o encargo desde que
[...]:
Caso as partes não desejem arcar com esse custo ou o magistrado
estabeleça parâmetros diversos, entende-se que se fará presente o “motivo
legítimo” para recusa do encargo pericial.

Taborda, Abdalla-Filho e Chalub (2012) ainda lecionam que o médico não


aperfeiçoado na prática forense por vezes sente-se obrigado a aceitar o encargo de
perito nomeado nos autos, termina por aceitar o mumus publico, assumindo o risco
de não bem exercer seu ofício e sofrer as consequentes punições previstas. Para
escusar-se bastaria em cinco dias peticionar ao Magistrado sua insuficiência técnica,
impedimento, suspeição ou motivo legítimo, este último podendo em variados casos,
desde cunho íntimo até a insuficiência dos honorários, mas terá de ser aceito como
tal pelo juiz diante de sua discricionariedade.

A propósito da arguição de “motivo legítimo”, por insuficiência de


honorários, para exonerar-se de perícia, veja que a remuneração do
trabalho é um direito constitucional e a remuneração do profissional liberal é
estabelecida tão somente por ele e pelas regras do mercado e da livre
concorrência, desde que haja acerto antecipado com quem deverá pagar.
(TABORDA, ABDALLA-FILHO e CHALUB, 2012, p.63).
33

Ilustrando a subjetividade em se constatar a incapacidade no ato pericial,


a pesquisa de campo demonstrou que existe variação dos percentuais de
constatação de (in)capacidade laboral pelos médicos peritos, na pesquisa de campo,
28 dos 47 peritos pesquisados, informaram que o percentual de não constatação de
incapacidade aumentou com o transcorrer do tempo em suas atuações periciais, oito
apontaram que diminuiu a porcentagem de não constatação de incapacidade e 11
não opinaram (Gráfico 4).

Gráfico 4: Percentual de peritos que aumentaram a não constatação de incapacidade.


Na interpretação deste resultado surgem diversas questionamentos ainda
sem resposta, como se houve modificação no perfil dos periciados ou se mudou a
conduta conclusiva do perito com o ganho de experiência forense, ou ainda se o
perito sofre influência frente às impugnações e pressões que tem sofrido.
Discorrido até aqui sobre as provas técnicas, consubstanciadas nos
atestados médicos dos assistentes do segurado e o laudo pericial do perito
previdenciário, ambos considerados parciais, adiante se estudará mais sobre a
perícia médica judicial, que nos processos previdenciários que pleiteiam benefícios
de natureza médica, assume fundamental importância por ser uma forma de
preservar as garantias constitucionais, obrigatoriamente aplicadas aos processos
previdenciários, sejam administrativos ou judiciais.
34

2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICADOS ÀS LIDES PREVIDENCIÁRIAS

A Constituição Federal está no topo no ordenamento jurídico pátrio, de


onde, interpretada em conjunto com as normas infraconstitucionais em todos os
ramos do Direito, regem os processos no Estado Democrático de Direito. Suas
normas e princípios aplicados em consonância com o Código Civil, Código de
Processo Civil e legislação processual civil extravagante regem o processo civil
(WAMBIER, 2010).
Toda lógica do processo é orientada pelos princípios constitucionais.
Tradicionalmente são chamados de princípios fundamentais, entre eles cita-se o
princípio do devido processo Legal, do contraditório, da ampla defesa, da
inafastabilidade da jurisdição, do juiz natural, da igualdade ou paridade de armas, da
publicidade, da vedação de provas ilícitas, das decisões fundamentadas, da
assistência jurídica gratuita, da efetividade processual e da razoável duração do
processo (WAMBIER, 2010).
Segundo Wambier (2010), vários dos princípios fundamentais, já estão
expressos na Constituição Federal e balizam o legislador na elaboração das normas
processuais e, além disso, redirecionam a interpretação das leis já existentes. Em
seguida, se discorrerá sobre o devido processo legal, do contraditório, ampla defesa
e do acesso à Justiça, por serem estes, particularmente importantes ao ramo
previdenciário.

2.1 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

O princípio do devido processo legal está positivado na CRFB/88, no


inciso LIV, do art. 5º, e é fundamental a todo o sistema processual, pois determina
que a privação da liberdade ou dos bens de alguém poderá ocorrer somente através
do processo legal (WAMBIER, 2010, p.64) e assim leciona o autor:

Isso quer dizer que toda e qualquer consequência processual que as partes
possam sofrer, tanto na esfera da liberdade pessoal quando no âmbito de
seu patrimônio, deve necessariamente decorrer de decisão prolatada num
processo que tenha tramitado de conformidade com antecedente previsão
35

legal e em consonância com o conjunto de garantias constitucionais


fundamentais.

O princípio do devido processo legal é abrangente, e para cumpri-lo


deverão ser observados outros subprincípios além de todo ordenamento jurídico.
Para Mendes (2011), esta garantia se configura uma das mais amplas e relevantes
garantias do direito constitucional, abrangendo o direito do contraditório e à ampla
defesa, do direito ao juiz natural, da nulidade da prova ilícita e direito a não privação
da liberdade a não ser por determinação de autoridade competente e na forma legal.
Sobre o devido processo legal escreve Mendes (2010, p.593):

De fato, é muito comum entre nós fazer-se referência a uma garantia


específica, como a do contraditório e da ampla defesa, do juiz natural e do
devido processo legal. Ou, ainda, costuma-se fazer referência direta ao
devido processo legal em lugar de referir-se a uma das garantias
específicas.

Em seu artigo sobre o devido processo legal, Souza (WEB, 2012),


concluiu que:

De fato, o devido processo legal abarca uma série de normas ou princípios


constitucionais, que são considerados corolários daquele sobreprincípio, os
quais asseguram o direito de ação e o direito de defesa judicial aos
indivíduos, a saber: ampla defesa, contraditório, juiz natural, publicidade dos
atos processuais, duração razoável do processo, motivação das decisões,
tratamento paritário conferido às partes envolvidas no processo, etc.

No mesmo artigo, Souza (2012) destaca que o devido processo legal é


uma das garantias constitucionais mais prestigiadas, dele decorrendo outros
princípios e garantias, sendo base legal para os demais princípios, tanto no âmbito
judicial como no administrativo, entre eles o contraditório que é o direito conferido as
partes de serem ouvidas, através da dialética processual e a ampla defesa que
confere o direito de defender-se com eficácia, inclusive através de defesa técnica.
As garantias constitucionais do sistema jurídico brasileiro existem para
conceder ao cidadão a efetividade de seus direitos, nesse sentido, o devido
processo legal é a obediência às normas processuais para dar aos jurisdicionados
e/ou administrados uma decisão justa e igualitária devidamente motivada.
Savaris (WEB, 2012), Juiz Federal da 3ª Turma Recursal do Paraná, em
seu artigo sobre a coisa julgada previdenciária, expõe sua tese de que a
abrangência do devido processo legal dá subsídios ao julgador defender os direitos
sociais pretendidos, suprindo a omissão legislativa em criar um direito processual
36

previdenciário que melhor assista a singularidade das lides previdenciárias. Assim


ele assevera:

Eis o ponto fundamental da teoria do direito processual previdenciário: A


lide previdenciária apresenta singular configuração e, por isso, deve
orientar-se pela eficácia normativa do devido processo legal, o qual, mercê
de sua dignidade constitucional, prevalece sobre as disposições
processuais civis que ofereçam resposta inadequada ao processo
previdenciário, tanto quanto pode suprir eventual ausência ou insuficiência
de disciplina legal (SAVARIS, WEB, 2012).

Ainda segundo Savaris (WEB, 2012), a obrigação de se dar um processo


justo, vem consagrando na seara previdenciária o princípio da fungibilidade,
podendo o Juiz dar um direito que não foi cogitado anteriormente na via
administrativa ou na inicial, sem incorrer em julgamento extra petita, mitigando assim
o princípio da adstrição da sentença ao pedido do autor, isso por entender o
demandante por benefício previdenciário, em regra, pessoa hipossuficiente em
conhecimento e recursos econômicos.
Também em obediência ao justo processo, a relativização da coisa
julgada se opera, pois o Magistrado não aceita que a segurança jurídica sepulte o
direito de proteção social, defendendo a não-preclusão do direito previdenciário
negado por insuficiência de provas.

Uma vez admitido o caráter único da lide previdenciária, a eficácia


normativa dos princípios constitucionais que consagram o devido processo
legal e, particularmente, o direito fundamental a uma ordem jurídica justa,
exige uma disciplina processual adequada ao bem da vida que se encontra
em discussão. Essa processualidade tipicamente previdenciária tem como
uma de suas exigências mais flagrantes a acomodação dos efeitos da coisa
julgada que se opera em processos que chegam ao seu termo final com a
denegação da proteção social por insuficiência de provas. (SAVARIS, WEB,
2012).

Em seu artigo, “A Produção Probatória no Processo Judicial


Previdenciário”, Almeida (WEB, 2014), escreve que o direito fundamental de
produção de provas lícitas é direito assegurado pelo devido processo legal,
conforme segue:

O princípio do devido processo legal se manifesta em todos os campos


processuais do direito, do qual derivam, praticamente, todos os demais
princípios constitucionais do processo, dentre eles o contraditório e a ampla
defesa, os quais devem restar observados inclusive na esfera
administrativa, sobretudo, segundo o magistério do professor José Antônio
Savaris, quando ocorre o cancelamento de benefícios previdenciários do
segurado, constituindo corolário lógico do devido processo legal no direito
processual previdenciário. (ALMEIDA, WEB, 2014).
37

Ainda que o segurado tenha juntado suas provas na inicial, deve ser
oferecida oportunidade de apresentar contraprova ao que foi alegado pelo réu:

O direito do segurado, como parte no processo judicial, de produzir provas


no sentido de comprovar as suas alegações, bem como em fazer a
contraprova do alegado pelo INSS, enseja a manifestação do princípio do
contraditório, garantia constitucional insculpida no art. 5º da Constituição
Federal de 1988, sempre observadas as peculiaridades do processo
previdenciário. Neste sentido, nos termos do art. 125, inciso I, do Código de
Processo Civil, cabe ao juiz garantir aos litigantes a igualdade de tratamento
e, por consequência, o contraditório. (ALMEIDA, WEB, 2014).

O devido processo legal garante uma proteção formal e material na


condução justa dos processos previdenciários:

O Devido processo legal assegura à pessoa proteção tanto no âmbito


material como formal, sendo que neste, dentre outras garantias, a
Constituição Federal assegura aos litigantes a ampla produção de provas,
ensejando, portanto, o princípio do devido processo legal, um direito
fundamental da pessoa. (ALMEIDA, WEB, 2014).

Para Tavares (WEB, 2014), o devido processo legal aplicado aos


processos previdenciários coloca em discussão outros dois princípios, a busca de
verdade real e a supremacia do interesse público sobre o particular contraposto ao
adágio do in dubio pro misero e assim escreve:

O devido processo legal previdenciário deve ser compreendido como a


garantia, no procedimento judicial previdenciário, da mais ampla
possibilidade de manifestação e de produção de prova pelas partes, de
modo a compor uma lide justa e a decidir, com o mais alto grau de
segurança e no menor espaço de tempo possível, a respeito da entrega ou
não do bem da vida de natureza fundamental que é o benefício
previdenciário, de acordo com o sistema de seguro público instituído.
(TAVARES, WEB, 2014, p.14)

Sobre a busca de verdade, ele afirma que o juiz além de buscar a


verdade formal, não deve se acomodar em sua inércia, mas ativamente buscar a
verdade real, para isso, a produção de prova técnica se faz necessária, defendendo,
inclusive, que existindo fatos não esclarecidos, poderá pedir uma segunda perícia:

No que se refere à perícia, que é entendida como testemunho de natureza


especial ou técnica, o devido processo legal previdenciário exige que o juiz
escolha, dentre os profissionais de sua confiança, aquele que é mais apto a
examinar especificamente determinada patologia, impondo-lhe que consiga
esclarecer, em linguagem mais clara possível, a questão da incapacidade e
suas características. É fundamental que se dê vista às partes da conclusão
pericial antes da prolação da sentença, para que eventuais respostas aos
quesitos possam ser impugnadas se não tiverem restado devidamente
esclarecidas, com a complementação do laudo e, até mesmo, para a
realização de outra perícia. (TAVARES, WEB, 2014, p.19)
38

Quanto à predominância do interesse público sobre o particular, Tavares


(WEB, 2014), defende que no Direito Previdenciário, não se aplica plenamente,
senão, por exemplo, estaria inviabilizando que o Juiz deferisse uma tutela
antecipada ao segurado que teve sua aposentadoria por invalidez cancelada, não
podendo se valer dos atestados médicos particulares, tendo de acatar somente os
laudos do médico perito da Autarquia. Ele acredita necessário buscar influência do
Direito do Trabalho onde se aplica o in dúbio pro trabalhador e utilizar o in dubio pro
misero, assim escreve:

O in dubio pro misero, assim, vai exigir que o juiz esteja em estado de
dúvida, antes de mais nada. Como se propõe que o magistrado assuma, no
processo previdenciário, uma postura ativa na busca pela prova que levará
ao conhecimento do justo, o estado de dúvida não deve surgir da aceitação
passiva da dificuldade do processamento ou da busca por uma celeridade
indevida. Somente quando o juiz envida todos os esforços para que haja a
correta instrução do processo e, após reflexão a respeito da credibilidade
dos grupos de prova, encontra-se em verdadeiro equilíbrio de
convencimento, é que seria possível o uso da presunção da ocorrência dos
fatos em favor do hipossuficiente. (TAVARES, WEB, 2014, p.24)

Adiante Tavares (WEB, 2014), defende que nas perícias previdenciárias,


onde o perito judicial não afirme categoricamente que clinicamente ocorreu melhora
do segurado com recuperação da capacidade laboral nos períodos que
intercaladamente o INSS não tenha pagado o benefício, existiria dúvida suficiente
para se conceder o benefício ao trabalhador, e exemplifica:

Quanto à perícia, a presunção in dubio pro misero pode convencer o juiz,


por exemplo, da continuidade de uma incapacidade, em caso em que o
INSS tenha concedido benefício por algumas vezes, pelo mesmo motivo, de
maneira intercalada, se o perito judicial, ao responder aos quesitos
formulados, afirmar não poder informar, clinicamente, que tenha ocorrido a
recuperação do segurado nos períodos de alta. (TAVARES, WEB, 2014,
p.25)

Finalizando seu artigo, Tavares (WEB, 2014), adverte que o in dubio pro
misero deve servir para entregar uma sentença que pacifique a questão e que tenha
compromisso com a busca da verdade real, mas que não se generalize a dúvida e a
adoção como regra, da indevida presunção em favor do segurado de modo a facilitar
e acelerar os trabalhos processuais, que acabaria penalizando o grupo por onerar
indevidamente a previdência, que é solidária.
Contudo, existe quem defenda que existindo contradições no laudo
pericial deverá prevalecer a tese mais favorável ao segurado, exatamente por
invocar o in dubio pro misero, conforme dá seu parecer o Procurador de Justiça do
39

Estado do Rio Grande do Sul, Francisco Werner Bergmann, em processo onde o


perito categoricamente declarou inexistência de incapacidade, mas que em outro
ponto, no mesmo laudo, escreveu que existia, segundo Tabela da Superintendência
de Seguros Privados (SUSEP), redução da capacidade em 6% (seis por cento).
Seguem seus transcritos da Apelação Cível nº 70040945461 do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul (TJRS):

No mérito, é de ser provido.


Versa a presente demanda sobre pedido de concessão de auxílio-acidente
em decorrência de amputação parcial do 4º quirodáctilo da mão esquerda
ocasionada por acidente de trabalho.
Na perícia médica realizada pelo perito vinculado ao Juízo (fls. 98/104)
restou consignado que o autor não apresenta restrições para desenvolver
suas atividades laborativas, tampouco incapacidade para o trabalho. No
entanto, em resposta ao quesito 7.4 formulado pelo INSS, o expert afirmou
que a sequela apresentada “produz mínima limitação para a atividade
habitual” (fl. 103).
Assim, havendo evidente contradição no corpo do laudo pericial no que diz
respeito à existência ou não de restrição ao exercício da atividade laborativa
habitual em razão da sequela apresentada, há de se acolher aquela mais
favorável ao segurado, em observância ao princípio do “in dubio pro misero”
que rege as ações acidentárias. (TJRS, WEB, 2011)

Estudado o abrangente sobreprincípio do devido processo legal, adiante


se passará a estudar outros dois princípios de interesse ao tema previdenciário, a
inafastabilidade da jurisdição que gerou discussões acerca do momento correto para
propositura da ação previdenciária e o princípio do contraditório e ampla defesa,
este último importante na produção e valoração das provas pelo juízo, em especial
sobre as provas técnicas, compostas por atestado, exames, laudos periciais
administrativos e judiciais.

2.2 PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DE JURIDIÇÃO

Também chamado de princípio de livre acesso à justiça, reside aqui um


dos pontos de maior controvérsia na atualidade, entre os nossos tribunais quanto à
admissibilidade das lides previdenciárias, existindo enormidade de recursos
sobrestados aguardando o julgamento dos recursos especiais e extraordinários que
estão no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF)
respectivamente.
40

A conceituação proposta por Dantas (2012, p.367) afirma que a


inafastabilidade da jurisdição seria o “princípio que garante às pessoas, tanto
naturais como jurídicas, quer de direito público, quer de direito privado, o acesso à
jurisdição, e que é exercido por meio do direito de ação.”
Para Dantas (2012, p.368) as decisões de órgãos administrativos do
Estado sempre poderão ser revisadas pelo Poder Judiciário em seu entendimento
não existiria a controvérsia de interpretação do inciso XXXV, do art. 5º, da
Constituição Federal, pois escreve categoricamente que:

A obtenção de tutela jurisdicional, por meio do exercício do direito de ação,


sequer depende de anterior utilização da instância administrativa, ou seja,
dos órgãos administrativos que tenha função de julgamento. Poderá a
pessoa, portanto, valer-se do Poder Judiciário sem sequer valer-se
anteriormente de um processo administrativo, para tentar solucionar seu
caso.

Ao contrário de Dantas (2012), Castro e Lazzari (2010, p.770) entendem


ser necessária a prévia manifestação do Poder Público para que se busque a
prestação jurisdicional, sem incidir em lesão ao direto de ação, pois somente dessa
forma se comprovaria o legítimo interesse exigido pelo art. 3º do Código de
Processo Civil (CPC) e afirmam que: “Sem a demonstração da existência de um
conflito de interesses, não há como ser invocada a prestação jurisdicional”.
Contudo, Castro e Lazzari (2010) no mesmo trabalho reconhecem que o
não é necessário o exaurimento da via administrativa como condição para uma ação
previdenciária e ainda admitem que não se exija a prévia provocação da via
administrativa nos casos cediços em que a Autarquia tem entendimento divergente
de interpretação de normas referente às postulações dos segurados. Entendem que
o não preenchimento dessas condições deverá gerar indeferimento da petição inicial
por falta de interesse de agir, mas registram a existência de entendimentos em
contrario, inclusive do STJ.
O Procurador Federal, Silva Neto (WEB, 2013) em seu artigo, também
defende que seria necessário o prévio requerimento administrativo, entendendo que
sem a negativa da Autarquia não existiria o interesse de agir ou interesse processual
exigido no artigo 267, VI, do CPC, e assim leciona:

Assim, a falta de postulação administrativa de benefício previdenciário


resulta em ausência de interesse processual dos que litigam diretamente no
Poder Judiciário, pois a pretensão, nestes casos, carece de qualquer
elemento configurador de resistência pela autarquia previdenciária. Não há
conflito. Não há lide. Não há, por conseguinte, interesse de agir nessas
situações.
41

São divergentes as decisões em diferentes Tribunais, mas está


ocorrendo uma mudança de posicionamento, alguns dispensam a exigência do
prévio requerimento administrativo do benefício e outros decidem pela exigibilidade
na maioria dos casos, mas aceitam diretamente a ação judicial em algumas
situações específicas onde é cediça a negativa da autarquia por interpretação
restritiva da lei ou quando o requerimento sequer é acolhido (RIBEIRO, 2013; SILVA
NETO, WEB, 2013).
O posicionamento do Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF4) se
revela no voto da Desembargadora Federal Cecilia Mello, relatora do Agrava de
Instrumento: AI Nº 171 SP 0000171-44.2014.4.03.0000 do Tribunal Regional Federal
de 3ª Região (TRF3, WEB, 2014):

PROCESSO CIVIL: AGRAVO LEGAL. ARTIGO 557 DO CPC. DECISÃO


TERMINATIVA. REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
APOSENTADORIA. INTERESSE DE AGIR (ARTS. 3º E 267, VI, DO CPC).
PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. SÚMULA Nº 9 DO TRF3.
SÚMULA Nº 213 DO STJ. ART. 5º, INCISO XXXV DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. [...]
VI - O prévio requerimento do benefício na via administrativa caracteriza o
interesse de agir, devendo, em regra, ser exigido como condição para o
ajuizamento da ação. Não se pode olvidar, no entanto, que há casos em
que o pedido administrativo nem mesmo é admitido, e outros, ainda, em que
o indeferimento é evidente, visto que o seu embasamento jurídico é
contrário ao posicionamento adotado pelo INSS. É o que ocorre, por
exemplo, nos pleitos de aposentadoria rural por idade e de benefício
assistencial: no primeiro, porque o INSS não aceita outros documentos além
daqueles contidos na lei, cujo rol é meramente exemplificativo e não
taxativo; no segundo, porque exige a comprovação da renda familiar "per
capita" inferior a ¼ do salário mínimo.
VII - Nesses casos, excepcionalmente, não se pode exigir o prévio ingresso
na esfera administrativa, pois é certo, pelos documentos apresentados e
pelos argumentos expostos na petição inicial, que eventual pedido
administrativo seria negado pela Autarquia. A esse respeito, destaca-se,
mais uma vez, o entendimento esposado pelo Eminente Ministro Herman
Benjamin, no voto proferido quando do julgamento do Agravo Regimental no
Agravo em Recurso Especial nº 152.247/PE, em 17/05/2012: "A regra geral
aqui fixada é a de que o interesse processual do segurado se configura nas
hipóteses de negativa do recebimento do requerimento ou de resistência na
concessão do benefício previdenciário, seja pelo concreto indeferimento,
seja pela notória oposição da autarquia à tese jurídica esposada. Nesse
último caso, seria inútil impor ao segurado a prévia protocolização de
requerimento administrativo quando o próprio INSS adota posicionamento
contrário ao embasamento jurídico do pleito." Sobre o tema, confiram-se os
seguintes julgados: (AgRg no AREsp nº 152.247/PE, 2ª Turma, Relator p/
acórdão Ministro Herman Benjamin, DJe 08/02/2013); e (AC nº 0005908-
38.2013.4.03.9999, 8ª Turma, Relatora Desembargadora Federal
Therezinha Cazerta, e-DJF3 Judicial 1 18/07/2013).

O entendimento de que seria desnecessário a provocação do Poder


Executivo na via administrativa em demandas de natureza previdenciária, é regulado
42

também pela Súmula 213, do extinto Tribunal Federal de Recursos (TFR) e Súmula
9, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3). As referidas súmulas dispõem:

Súmula 213, TFR: o exaurimento da via administrativa não é condição para


a propositura de ação de natureza previdenciária. (CASTRO e LAZZARI
2010, p.868)

Súmula 9, TRF 3ª Região: em matéria previdenciária, torna-se


desnecessário o prévio exaurimento da via administrativa, como condição
de ajuizamento da ação. (CASTRO e LAZZARI 2010, p.886)

A leitura atenta destas súmulas revela uma interpretação potencialmente


tendenciosa por aqueles que defendem diretamente o ingresso judicial, pois ambas
as súmulas não se referem à desnecessidade de prévio ingresso na via
administrativa, mas afirmam que é desnecessário seu esgotamento. É notório que
não fazem previsão de uma completa exclusão da atuação do INSS com a
substituição pelo Poder Judiciário, mas categoricamente afirmam que não é
necessária a persecução de todas as instâncias recursais da Autarquia,
subtendendo-se que para não exaurir, foi necessário adentrar na primeira instância
da via administrativa, ao menos ingressou nesta e teve seu pleito indeferido
(GOMIDE, WEB, 2012).
O posicionamento que antes era mais prevalente se baseava na
obediência fiel ao inciso XXXV, do art. 5º, da CRFB/88, que comanda que “a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (WEB, 2014)
entendendo que tal regramento visasse não postergar para um segundo momento,
depois de concretamente ocorrida a lesão ao direito com o indeferimento
administrativo “indevido” que segundo o senso comum seria a regra, mas com isso
foi se percebendo uma substituição do Poder Executivo pelo Poder Judiciário. Silva
Neto (2013) lembra que o recurso extraordinário que tramita no STF também está se
questionando a violação do art. 2º, da CRFB/88, que determina a separação e
harmonia dos Poderes da União, para ilustrar ele escreve:

Em regra, não se materializa a resistência do INSS à pretensão de


concessão de benefício previdenciário não requerido previamente na
esfera administrativa.
A questão que considero relevante nessa análise é que o Poder
Judiciário está assumindo, ao afastar a obrigatoriedade de prévio
requerimento administrativo, atividades de natureza administrativa,
transformando-se, metaforicamente é claro, em agência do INSS.
Conforme consta no site do INSS (http://www.inss.gov.br em Estatísticas),
nos Boletins Estatísticos da Previdência Social de 2011, foram requeridos,
no citado ano, 8.046.153 benefícios e indeferidos 3.250.290 pedidos. Isso
significa, numa estimativa, um índice de indeferimento de benefícios,
naquele ano, de 40,40%.
43

Seguindo o referido índice, significa, em termos gerais, que, de cada 10


requerimentos, 6 são deferidos e 4 são indeferidos.
Nesse ponto convém mencionar importante consequência que a adoção da
corrente da desnecessidade de prévia postulação administrativa acarreta ao
Poder Judiciário. Levando-se em conta a proporção acima constatada, em
tese a cada 10 processos apresentados no Poder Judiciário sem submissão
anterior ao INSS, 6 poderiam ter sido concedidos administrativamente. [...]
[...]em 2010, de todas a concessões de benefícios, 8,51% foram por
força de decisão judicial. Ou seja, em linhas gerais, de cada 10
concessões, 9 são feitas pelo INSS e 1 é feita pelo Poder Judiciário.
(SILVA NETO, WEB, 2013). (grifos do autor).

Sobre o senso comum, que justificaria os segurados buscarem


diretamente a via judicial, sem mesmo antes tentar administrativamente, seria que a
autarquia reiteradamente nega os direitos dos segurados que acabam por obter
suas pretensões somente judicialmente, Silva Neto (2013), demonstrou que a
maioria dos benefícios solicitados são concedidos, enquanto que, menos de 10%
(dez por cento) dos benefícios pagos foram determinados judicialmente no período
pesquisado.
A transcrição feita acima demonstrou os números sobre o deferimento
administrativo dos pedidos de benefício previdenciário e a pesquisa de campo
revelou na questão que indagava se o empregador (INSS ou outro instituto de
previdência) lhe “influenciava ou determinava” no sentido de indevidamente negar a
incapacidade existente, apenas três dos 20 peritos administrativos pesquisados
marcaram que o empregador “sugestiona”, nenhum assinalou que lhe fosse
“determinada” conduta nesse sentido, os restantes 17 (dezessete) assinalaram que
o empregador não sugestiona ou não determina, ou assinalaram ambas as opções
(Gráfico 5).

Autonomia técnica dos peritos administrativos


15%
O Instituto Previdenciário não sugestiona a conduta
dos peritos quanto a avaliação técnica da
(in)capacidade
O Instituto Previdenciário sugestiona a conduta dos
85% peritos quanto a avaliação técnica da (in)capacidade

Gráfico 5: Determinação patronal sobre a conduta técnica dos peritos administrativos.


Cabe destacar que os mesmos três pesquisados que assinalaram que o
empregador lhe sugestiona, em seguida na mesma pesquisa nos quesitos que
indagavam sobre sua tomada de decisão, se livre e isenta, responderam que sim e
na pergunta se seus laudos produzidos eram parciais ou imparciais, assinalaram
44

que seriam imparciais trazendo inconsistência para esta reposta sobre uma
“sugestão” da Autarquia em negar benefícios. Este dado gerado na pesquisa pode
apontar contra o mito de que existiria uma determinação superior, aos médicos
peritos, para “negar” benefícios aos segurados, por uma “vontade” do instituto
previdenciário.
Tem servido de alerta aos Tribunais para a mudança no seu
posicionamento, em passar a exigir o prévio pleito administrativo, talvez resida no
receio em tornar mais abarrotado de demandas o Poder Judiciário com problemas
que seriam resolvidos na esfera administrativa, assim o autor escreve:

Mantendo-se o entendimento da prescindibilidade do prévio


requerimento administrativo para demandar judicialmente, esse
percentual tende a aumentar, por óbvio. [...]
O grande volume de processos envolvendo prestações previdenciárias que
assolam o Judiciário, bem como as mazelas existentes na Autarquia
Previdenciária (falta de estrutura adequada, escassez de servidores, etc.),
podem dar a falsa impressão que grande parte das postulações formuladas
administrativamente são injustamente indeferidas.
No entanto, a situação não se apresenta dessa forma. A grande maioria das
concessões de benefícios previdenciários são oriundas da atuação
administrativa propriamente dita e não decorrentes de demandas
judiciais.
É certo que existem situações em que as decisões administrativas
encontram-se eivadas de vícios das mais variadas ordens. É justamente
nesses casos que o Judiciário deve atuar – corrigindo as ilegalidades
porventura cometidas pela Administração em detrimento do cidadão –, e
não substituir a Administração, fazendo as vezes de agência do INSS, no
desempenho de atividades puramente administrativas. (SILVA NETO, WEB,
2013) (grifos do autor).

Os posicionamentos dos Tribunais são divergentes e vem se modificando


no sentido de exigir a prévia manifestação administrativa, o que é demonstrado no
estudo jurisprudencial de Ribeiro (WEB, 2012) onde ele constata que os Tribunais
Regionais Federais da 1ª e 3ª Região (TRF1 e TRF3) e o STF estão na banda que
consideram dispensável o uso prévio da via administrativa, enquanto que os
Tribunais Regionais Federais da 2ª, 4ª e 5ª Região (TRF2, TRF4 e TRF5) e a Turma
Nacional de Uniformização (TNU) exigem o prévio requerimento administrativo sem,
porém, precisar esgotar os recursos no Poder Executivo, mas reconhecem situações
especiais onde sabidamente serão infrutíferos os pedidos dos segurados, quando
admitem o ajuizamento direto. O STJ é internamente ainda mais divergente, se
posicionando de ambas as formas.
As divergências sobre requerimento prévio dos benefícios previdenciários
na via administrativa, como requisito para a admissibilidade das ações que buscam
45

tais benefícios, serão pacificadas com o respectivo julgamento pelo STJ e o STF, do
Recurso Especial n° 1.369.834/SP2 e o Recurso Extraordinário n° 631.240/MG,
conforme as previsões dos Arts. 543-C e 543-B, do CPC, dada a reconhecida
repercussão geral frente à controvérsia jurídica aqui explanada (RIBEIRO, WEB,
2013).
Recentemente foi julgado o Recurso Extraordinário n° 631.240/MG, em
27/08/2014, onde o STF confirmou o enunciado da Súmula 213, do TFR, e Súmula 9
do TRF3, reafirmando que é necessário a prévia provocação do INSS, mas sem a
necessidade de se esgotar a via administrativa, antes de se propor ação judicial,
senão estaria o Poder Judiciário substituindo o Poder Executivo. Este julgado de
repercussão geral irá dar andamento aos processos sobrestados e já contestados
pela autarquia e nos processos ainda sem contestação, a parte autora será intimada
para em 30 dias fazer o requerimento administrativo, tendo o INSS 90 dias para se
pronunciar (STF, WEB, 2014).
Estudada a inafastabilidade da jurisdição, adiante, brevemente se
discorrerá sobre os atos administrativos, que também precisam obedecer aos
princípios constitucionais, mas por ser fruto de relação bilateral e decidida por uma
das partes, são passíveis de reavaliação pelo Poder Judiciário que é dotado de
imparcialidade.

2.2.1 Da Revisão pelo Poder Judiciário das Decisões Administrativas

Seguindo o pensamento que somente as decisões emanadas do Poder


Judiciário é que tem força de coisa julgada, aliada ao mandamento do inciso XXXV,
do art. 5º, da CRFB/88, de que nada escapará de apreciação judicial, é que se
entende que não se está negando o direito de ação ou a inafastabilidade da
jurisdição, o fato de postergar o processo judicial para quando efetivamente houver
uma lide, ou seja, a pretensão de direito resistida (GOMIDE, 2012; RIBEIRO, 2013;
SILVA NETO, 2013).
Para Di Pietro (2010), no Brasil se adotou o sistema de jurisdição no qual
o Poder Judiciário tem o monopólio para apreciar a lesão ou ameaça de lesão a
46

direitos individuais e coletivos, sendo que somente suas decisões teriam força de
coisa julgada.
O controle judicial dos atos administrativos, aliado ao princípio da
legalidade fundamenta o Estado de Direito. Assim, Di Pietro escreve (2010, p.747):
“De nada adiantaria sujeitar-se a Administração Pública à lei se seus atos não
pudessem ser controlados por um órgão dotado de garantias de imparcialidade que
permitam apreciar e invalidar os atos ilícitos por ela praticados.”
Existiriam limites ao Poder Judiciário na apreciação dos atos
administrativos, os quais devem ser avaliados quanto ao aspecto da legalidade e da
moralidade, mas quanto ao mérito seria questionável a invasão do Judiciário nessa
apreciação, mas Di Pietro (2010) considera que ao avaliar os motivos ou fatos, que
ausentes ou falsos, que precederam a elaboração do ato, caracteriza ilegalidade,
assim suscetível de anulação judicial.
Quanto à revisão pelo Poder Judiciário das decisões administrativas do
INSS, Castro e Lazzari (2010, p.763) entendem que é necessário o prévio ingresso
na via administrativa, exceto nos casos de notório entendimento normativo contrário
da Autarquia, pois, segundo os autores “O Judiciário não pode substituir a
administração nas atividades que lhe são afetas, entre elas, a concessão do
benefício previdenciário.”
Sobre o controle judicial dos atos administrativos, sobretudo dos
processos para concessão de benéfico por incapacidade para o trabalho, adiante
neste trabalho se abordará mais detalhadamente.

2.3 PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA

O princípio do contraditório está assegurado na CRFB/88, em seu art. 5º,


inciso LV, que determina que as partes tenham ciência do que lhe é atribuído para
que assim possa reagir adequadamente, com ampla defesa, tendo acesso a tudo
que é alegado e documentos produzidos pela parte contrária ou mesmo do que é
produzido de ofício pelo Juiz. Modernamente, se concebe que o Juiz tem de
promover o dialogo entre as partes, incentivando as composições. Para se alcançar
47

tal princípio existe a necessidade de tratamento igualitário das partes (DANTAS,


2012).
Já a ampla defesa e a possibilidade das partes em um processo, poderem
trazer aos autos a totalidade de suas alegações e provas para sua plena defesa em
proteção aos seus direitos. Alguns juristas entendem que a ampla defesa se
materializa através da efetiva defesa técnica tornando obrigatória a presença do
advogado, mesmo nos processos administrativos. A Súmula nº 343, do STJ, coloca
como obrigatória a presença de advogado nos Processos Administrativos
Disciplinares (PADs), mas existe a Súmula Vinculante nº 5, do STF, que em sentido
contrário ao STJ, entende que a falta de advogado nos PADs não ofende
constituição (NIEMANN, WEB, 2009).
Especificamente, por ser tema de interesse neste trabalho, a perícia
judicial, será abordada sob os aspectos do contraditório e da ampla defesa, sendo
prova produzida com imparcialidade e por profissional de confiança do juiz, é
reconhecida “como rainha das provas, pois, esta se baseia em conhecimentos
técnicos e científicos para chegar a suas conclusões, [...] expressas através de
Laudo Técnico Pericial.” (GOUVEIA, 2012, p.153).
A perícia judicial está prevista no CPC, nos art. 420 e seguintes, e deverá
ser escolhido entre profissionais de nível superior nos termos do art. 145, também
do CPC. Sendo o perito, pessoa de confiança do juiz, se aplicam a ele, as mesmas
regras quanto ao impedimento e suspeição do inciso III, do art. 138, do CPC,
devendo ser imparcial como o juiz, diferenciando-se dos assistentes técnicos, que a
Lei nº 8.455/1992, muito bem esclareceu estes últimos como auxiliares das partes e
não sujeitos aos impedimentos ou suspeições. (WAMBIER, 2010).
Com o condão de se prestigiar o princípio do contraditório e da ampla
defesa nas lides previdenciárias, é que mesmo quando existe farta documentação
técnica, de ambas as partes, rotineiramente a produção de perícia judicial é acatada
a solicitação da parte ou mesmo de ofício determinada pelo juiz, conforme escreve
Gouveia (2012, p.153):

Normalmente, o magistrado, no que tange aos benefícios por incapacidade


previdenciários e assistenciais, necessita de um perito médico, pois não
detém conhecimentos técnico-científicos para entender os nuances médicas
da incapacidade para o labor.
48

Mesmo no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, para contemplar o


contraditório e da ampla defesa se admite a produção de prova pericial. “O
procedimento da perícia é, sem dúvida, mais simples, consistindo na inquirição
direta do profissional, mas isso não significa que não se admite a perícia.” (DIDIER
JR, 2012, p.247)
Para Didier Jr (2012) a perícia é a prova feita por um perito que elucida
fatos técnicos em auxílio ou substituição, ao juízo. Auxílio se daria porque o perito
não teria o papel de dizer o Direito, mas apenas colaborar com o juiz, mas ele
considera que o estudo pelo perito, das provas técnicas (atestados, pareceres e
laudos oficiais) parciais contidas nos autos, empresta um caráter substitutivo da
perícia, no sentido de que não bastaria a inspeção pessoal do juiz-médio que não
detém conhecimentos técnicos e científicos, senão poderia ser indeferida a perícia
judicial com base na desnecessidade frente às provas já existentes nos autos, em
conformidade com inciso II do art. 420, do CPC.
Neste sentido, tem se visto que algumas das provas da parte que são
submetidas ao ato pericial, não são vistas pelo juiz ou pela parte contrária, pois são
apresentadas somente durante a perícia e não são juntadas aos autos, conforme se
verifica nos atos judiciais intimando a parte autora para a perícia e determinando que
leve todos os documentos de interesse para a lide, inclusive os já juntados, portanto
implicitamente o juiz não está aplicando a preclusão e o contraditório nessas provas
que não foram juntadas e serão vistas somente pelo perito, conforme extraído do
Processo nº 5003824-86.2013.404.7206/SC:

Fica a parte intimada a apresentar, na ocasião da perícia, todos os


documentos que disponha relacionados à patologia e incapacidade,
ainda que anexados ao processo eletrônico e/ou administrativo. Inclui-
se no conceito de documentos: atestados, receitas de medicamentos,
exames, prontuários, laudos e fichas médicas, assim como, quando for o
caso, os filmes (chapas) de radiografias de que disponha. (JUIZADO
ESPECIAL FEDERAL, WEB, 2014). (grifo nosso).

Em outras Subseções da Justiça Federal, os atos do juiz determinam o


estudo e avaliação das provas documentais pelo perito, mas preservam o princípio
do contraditório e da preclusão, determinando prazo para que a parte autora junte os
documentos, que deseja que façam parte do processo e ainda frisa ao perito para
que o laudo deva se pautar unicamente no exame da parte e nos documentos
tempestivamente juntados. Como segue no transcrito do Processo nº 5004726-
20.2014.404.7201/SC:
49

Fica ciente a parte autora de que:


[...] todos os documentos deverão ser anexados ao processo
eletrônico juntamente com a petição inicial, sendo que novos
documentos somente poderão ser anexados até 5 (cinco) dias antes da
perícia médica, sob pena de serem desconsiderados [...].
O perito nomeado deverá elaborar o laudo exclusivamente com base
nos documentos previamente anexados ao processo eletrônico,
devendo ser desconsiderados os documentos apresentados no
momento da perícia [...]. (JUIZADO ESPECIAL FEDERAL, WEB, 2014).
(grifos do autor).

Como a prova pericial é onerosa, deve ser admitida quando


absolutamente necessária para elucidação de fatores técnicos, mas quando a
verdade dos fatos puder ser verificada de forma mais simples, a perícia deve ser
dispensada como regulamenta o art. 420 e art. 427, do CPC, que respectivamente
determinam que o juiz, mediante decisão fundamentada, não deve admitir a perícia
quando esta for desnecessária ou impraticável. Entende o autor como
desnecessária a perícia, “quando autor e réu – na petição inicial e na contestação,
respectivamente – já tiverem trazido pareceres técnicos ou documentos suficientes
para verificação dos fatos.” (DIDIER JR, 2012, p.245 - 246).
Segundo Gonçalves e Brasileiro (WEB, 2008), o CPC acolhe a prova
pericial como forma lícita e hábil de fazer prova do que é alegado nos autos e que
precisem de esclarecimento técnico, científico ou especializado. Contudo, o juiz não
está adstrito ao laudo pericial, podendo apreciar racionalmente todo o conjunto
probatório e motivadamente pode, inclusive, rechaçar as conclusões do perito,
demonstrando as razões desse entendimento.
Ainda segundo Gonçalves e Brasileiro (WEB, 2008), o juiz pode indeferir
a produção de perícia judicial somente nos casos previstos no art. 420,
precisamente nos incisos I, II e III do seu parágrafo único, quais sejam as hipóteses:
o fato não depende de prova técnica ou conhecimento especial, desnecessária nova
prova frente as já existentes nos autos e quando o for impraticável. Contudo, mesmo
podendo o juiz indeferir nestas hipóteses, os autores adiante advertem que todo
cuidado deve ser tomado quando se optar pelo indeferimento, para que se evite o
cerceamento processual e futura nulidade e escreve:

No próprio texto da Constituição da República, [...], encontra-se assegurado


aos litigantes o contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a
ela inerentes, o que equivale dizer, a garantia do direito à prova, devendo
ser cabalmente fundamentada a decisão de indeferimento. (GONÇALVES,
BRASILEIRO, WEB, 2008, p.177)
50

Finalmente os doutrinadores encerram enfatizando que o indeferimento


deve se pautar no devido processo legal, no contraditório e da ampla defesa e
jamais em busca de economia ou celeridade processual:

A finalidade do processo judicial não é contar pontos em olimpíadas de


celeridade e economia processual. É preparar o provimento judicial que
responda à demanda das partes, com garantia de sua participação e
respeito a seus direitos, em todos os atos que a lei coloca à sua disposição.
(GONÇALVES, BRASILEIRO, WEB, 2008, p.178).

Ainda sobre o contraditório, Didier Jr (2012), aponta que a introdução do


art. 431-A, da Lei nº 10.358/2001, se corrigiu grave falha legislativa imposta ao
procedimento da perícia judicial, que ocorria sem a ciência das partes ou do
oponente que não se submetia ao ato pericial. Atualmente, além dos assistentes
técnicos poderem se manifestar a respeito do resultado da perícia (o laudo), também
podem presenciar os trabalhos e assim os criticar e fiscalizar o perito, dando eficácia
ao contraditório.

2.3.1 Da Aplicação dos Princípios Fundamentais aos Processos Administrativos

Ensina Di Pietro (2010, p.621) que processo significa a forma e o modo


de proceder para se chegar aos objetivos, sendo o instrumento que se utilizam os
três Poderes do Estado. Estando os processos sujeitos aos princípios que lhe
couberem especificamente, mas todos estariam sujeitos pelo menos ao “princípio da
competência, da formalidade, da predominância do interesse público sobre o
particular [...].”
O processo seria a série de atos coordenados para se chegar aos fins
estatais, dividindo-se principalmente em processo legislativo no qual o Estado
elabora a lei e os processos, judiciais e administrativos, nos quais se aplica a lei.
Segundo Di Pietro (2010), o processo administrativo se dá através de uma relação
bilateral, entre a Administração e o administrado, enquanto que, no processo judicial,
o Estado-Juiz dotado de imparcialidade aplica a lei ao caso concreto materializado
no interesse em conflito entre autor e réu numa relação tríplice.
Do fato da Administração atuar como parte interessada no processo
administrativo, decorre a obrigatoriedade de gratuidade destes e a impossibilidade
51

de suas decisões fazerem coisa julgada, pois conforme afirma Di Pietro (2010,
p.622), “ninguém pode ser juiz em causa própria.”
Segundo Di Pietro (2010, p.627) os processos administrativos obedecem,
na medida do possível, aos mesmos princípios do processo judicial, como:

[...] os princípios da publicidade, da ampla defesa, do contraditório, do


impulso oficial, da obediência à forma e aos procedimentos estabelecidos
em lei. E existem outros princípios que são próprios do direito
administrativo, como o da oficialidade, o da gratuidade, o da atipicidade.

Assim, conforme os ensinamentos de Di Pietro (2010), os atos


administrativos, em especial os processos administrativos, apesar de
necessariamente obedecerem aos princípios processuais e garantia constitucionais,
são finalizados com a decisão da própria administração, que é parte interessada,
não fazem coisa julgada, assim tais decisões são perfeitamente suscetíveis de
apreciação judicial, o que será abordado adiante.

2.3.2 Da Revisão dos Atos Administrativos

Para Di Pietro (2010), os atos administrativos do Poder Executivo estão


sujeitos ao controle pelos Poderes Legislativo e Judiciário, além dele mesmo ter o
poder-dever de avaliar seus próprios atos e não somente o Poder Executivo tem de
ser controlado, mas também os demais Poderes quando exercem função
administrativa, dessa forma, a Administração Pública aqui é referida em sentido
amplo.
Este Controle mesmo sendo uma atribuição estatal, se possibilita ao
administrado dele participar, provocando os procedimentos de controle em defesa
dos interesses individuais ou coletivos, configurando o controle popular. Também o
Ministério Público atua nesse controle denunciando autoridades públicas ou como
autor de ações civis públicas contra a improbidade administrativa ou em defesa dos
interesses da sociedade (DI PIETRO, 2010).
Este controle da Administração Pública, segundo Di Pietro (2010), pode
ser administrativo, legislativo ou judicial, ocorrendo de forma prévia, concomitante ou
posterior ao ato, sendo interno quando exercido sobre seus próprios atos e externo
quando um Poder exerce controle sobre os atos de outro. Este controle pode ser
52

dirigido à legalidade ou o mérito dos atos, este último é competência da própria


Administração, enquanto que o primeiro é exercido pelos três Poderes.
Os recursos administrativos são os meios pelos quais os administrados
podem provocar a revisão dos atos pela própria administração, numa relação
bilateral, se materializando no direito de petição, onde tem de ser assegurado o
contraditório e a ampla defesa.
Entre as várias modalidades de recursos, pode-se citar a representação,
reclamação administrativa, recursos hierárquicos, revisão e o pedido de
reconsideração, este último de interesse ao presente trabalho, por ser o praticado
quando o segurado pede a reconsideração quanto ao indeferimento do seu pedido
de benefício, que será revisado ainda pelo próprio órgão que realizou o ato
administrativo (DI PIETRO, 2010).
Não se estudará os procedimentos dos recursos administrativos
previdenciários, por alheio aos objetivos deste trabalho, eis que, mesmo a doutrina
sendo divergente, o STF já decidiu e com repercussão geral, que é necessário a
prévia provocação administrativa, mas que não é necessário se exaurir as vias
recursais administrativas antes de buscar o direito na via judicial, logo se passará a
estudar as particularidades das lides previdenciárias, principalmente quanto à
produção da prova de interesse aos benefícios por incapacidade para o trabalho, a
perícia médica.
53

3 REVISÃO JUDICIAL DA NÃO CONCESSÃO ADMINISTRATIVA DO


BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO POR INCAPACIDADE LABORATIVA

O benefício auxílio-doença, como legislativamente foi chamado, é devido


ao segurado, que restar incapacitado para seu trabalho habitual depois dos 15
(quinze) dias iniciais de afastamento remunerados ainda pelo empregador. Fazendo
jus ao benefício, aquele que estiver efetivamente incapacitado e não apenas doente,
entende-se que a nomenclatura do benefício é inadequada, por isso cabe esta
advertência de que mesmo doente, o segurado que não apresentar incapacidade,
não preencherá todos os requisitos para seu recebimento, mesmo que cumpridas as
carências. (GOUVEIA, 2012).
O benefício deverá ser requerido pelo segurado diretamente nas agências
do INSS, não sendo de ofício pago ao trabalhador incapacitado, com exceção dos
casos previstos no Decreto nº 3.048/99, em que a empresa comunicará à Autarquia
do ocorrido através da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). (CASTRO e
LAZZARI, 2010; GOUVEIA, 2012).
Este benefício é devido ao segurado incapacitado para o trabalho em
decorrência de doenças naturais, acidentais e inclusive decorrentes do trabalho
(acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais equiparadas ao acidente de
trabalho), sendo necessária avaliação por perito médico previdenciário, legalmente
investido dessa competência, para em laudo técnico pericial, exarar a conclusão
quanto à capacidade laboral do segurado. (GOUVEIA, 2012).
Os segurados em gozo de auxílio-doença estão obrigados a se submeter
periodicamente ao exame médico feito por médico perito do INSS, sob pena de
suspensão do benefício, além de manter os tratamentos clínicos e de reabilitação
gratuitamente oferecidos, sendo facultativos os tratamentos cirúrgicos e de
hemotransfusão (GOUVEIA, 2012).
Na perícia médica da Autarquia, quando constatada a recuperação da
capacidade para o trabalho, o benefício será cessado e o trabalhador deverá voltar
ao trabalho, logo que se submeter ao Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) feito
pelo médico do trabalho e/ou médico examinador no serviço de Medicina
Ocupacional do empregador. (BARROS JÚNIOR, 2010).
54

Se a perícia concluir por incapacidade total e permanente, também


deverá cessar o auxílio-doença e sobrevir a aposentaria por invalidez. Nos casos em
que o trabalhador em auxílio-doença acidentário recuperar parcialmente a
capacidade para o trabalho, mas com alguma redução permanente, também termina
o auxílio-doença e começa a receber o auxílio-acidente, podendo o trabalhador
voltar ao trabalho e auferir remuneração além do beneficio (GOUVEIA, 2012).
A Autarquia Previdenciária desde 2005 vem adotando a alta médica
programada, baseando-se na evolução natural das doenças sob tratamento e
estabelece, mediante avaliação do médico perito, um prazo que entende suficiente
para a recuperação da capacidade de trabalho do segurado, dispensando a
realização de uma nova perícia, a menos, que o segurado por não sentir-se apto
para voltar ao trabalho, solicite novo exame pericial nos últimos quinze dias do
período de gozo do benefício, o que é advertido na carta que recebe fixando a data
da alta (GOUVEIA, 2012).
Apesar de Barros Júnior (2011), entender ser perfeitamente possível e
aceitável o procedimento acima, inclusive porque o trabalhador passará pelo médico
do trabalho para verificação da aptidão no ASO de retorno ao trabalho, Gouveia
(2012, p.73), como defensor dos direitos dos segurados, discorda:

Tal procedimento, é odioso e perverso, posto que fere por completo o


devido processo legal previsto no art. 5º, inc. LV da Constituição Federal, o
qual determina que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes. E como tal preceito encontra-se
gravado dentro do rol dos direitos e garantias fundamentais, este possui
uma força coercitiva enorme, posto que o mesmo se destina a assegurar
direitos intransponíveis do cidadão.

Em consequência do posicionamento desfavorável de vários tribunais, ao


cancelamento do benefício sem a realização de nova perícia médica, o INSS através
da Resolução nº 97, de 19/07/2010, determinou que uma vez apresentado o pedido
de prorrogação do benefício, se mantenha o pagamento até que seja julgado o
pedido após a realização de nova perícia, dando além de efeito devolutivo do
recurso administrativo, também um efeito suspensivo, não lesando o direito do
segurado e por consequência, enquanto a autarquia não se pronunciar depois de
nova perícia, fica impossibilitada a propositura de ação judicial por falta do interesse
de agir (DI PIETRO, 2010; GOUVEIA, 2012).
55

Não vislumbrando que o empregador prefere onerar a previdência a


manter em suas fileiras um empregado contumaz nas abstenções ao trabalho, e por
isso, indevidamente não permite seu retorno ao trabalho através da falsa
constatação de inaptidão pelo médico do trabalho, Gouveia (2012, p.79), descreve o
que chama de emparedamento do trabalhador que “não está encostado no INSS,
nem trabalhando de forma efetiva, assim, o segurado fica sem remuneração.”
Em sua obra, Gouveia (2012), demonstra acreditar que o INSS, através
das indevidas altas com cessação do benefício auxílio-doença, seria o culpado do
crescente número de ações previdenciárias que abarrotam o Poder Judiciário.
Conforme o que foi estudado até aqui, restando o benefício cessado ou
indeferido na via administrativa e não voltando ao trabalho, por estar realmente
incapacitado ou impedido de voltar ao trabalho pelo chamando emparedamento, o
segurado, por fim buscará na via judicial sua pretensão de direito, através de uma
ação previdenciária, sobre a qual se discorrerá adiante quanto ao aspecto da prova
da incapacidade.

3.1 DAS PROVAS NAS LIDES PREVIDENCIÁRIAS

Nos processos previdenciários para concessão de benefícios por


incapacidade, além de o autor demonstrar o preenchimento dos requisitos legais, ele
terá de comprovar a incapacidade para o trabalho.
Gouveia (2012) lista as provas que servirão para este fim, apontando que
na instrução probatória no CPC elenca-se o depoimento pessoal, exibição de
documentos ou coisas, prova documental, confissão, prova testemunhal, inspeção
judicial e a prova pericial, sendo, em sua opinião, as mais importantes nas lides
previdenciárias, a prova documental (atestados dos médicos, pareceres técnicos,
relatórios dos serviços de saúde, exames complementares, CAT) e a prova pericial.
Considerando que a prova testemunhal tem admissibilidade como regra,
mas que o art. 55, da Lei nº 8.2013/91, veda a concessão de benefício
previdenciário frente à prova exclusivamente testemunhal, sem indício de prova
documental, deixa em segundo plano sua utilização para fins de comprovação de
incapacidade laboral, que necessitará de conhecimento técnico, o que torna as
56

declarações ou afirmações médicas, como as de maior valor no âmbito


previdenciário, materializando-se nos atestados médicos, como provas parciais e no
laudo pericial, como prova equidistante das partes e desinteressada no resultado do
litígio. Sobre a obrigatoriedade de perícia médica nas lides que onde se discuta a
presença de incapacidade laboral, Gouveia escreve (2012, p.181):

Tais situações só podem ser comprovadas através de perícia devido à sua


própria natureza, pois a apuração do fato gerador demanda conhecimentos
técnicos específicos.
Contudo, se ao conceder, cancelar ou alterar um benefício que tenha no
seu bojo a necessidade de perícia, sem fazê-la, tal procedimento promoverá
um ataque a garantia constitucional do devido processo legal, por falta do
direito pleno ao contraditório dentre outros.

Tendo em vista que, principalmente as provas documentais juntadas aos


autos e a perícia médica é que irão dar subsídio ao livre convencimento do juiz em
sua apreciação das provas, adiante se passará a dar ênfase nestes meios de prova.

3.1.1 As Provas Documentais Juntadas pelas Partes

As provas documentais de valia para comprovação da incapacidade


laborativa do segurado nos processos previdenciários se constituem nos atestados
médicos, pareceres técnicos, exames complementares e documentos que
comprovem o tratamento, como receitas, frequência aos serviços de saúde e
prontuário clínico individual. Para Gouveia (2012, p.179) a prova documental é a que
“se faz inserir validamente nos autos do processo um documento para que este
passe a integrar aqueles, como força probatória.”
Ainda sobre documentos parciais que devem fazer parte do processo
previdenciário, Gouveia (2012) afirma que sempre deverá ser peticionada a juntada
do Laudo Médico Pericial do INSS, onde o servidor da área de perícia médica da
Autarquia tem de registrar os dados que embasaram a conclusão, asseverando
ainda que a recusa imotivada em juntar tal documento, convalidaria como
verdadeiros os documentos médicos juntados pelo segurado que atestam sua
incapacidade, anulando a decisão administrativa.
Contudo, Gouveia (2012), admite que, quando juntado o Laudo Médico
Pericial do INSS, ele tem presunção de legitimidade, prevalecendo seu conteúdo,
57

mesmo que divergente do atestado médico assistente do autor, até que seja
realizada perícia judicial, dotada de imparcialidade.

3.1.2 Parcialidade das Provas Técnicas Juntadas nos Autos

Do ponto de vista da ética médica, Barros Júnior (2011) entende que, o


perito médico administrativo ou judicial, ambos tem a obrigação de atuar com
imparcialidade, em obediência a sua liberdade profissional e isenção, mas a
conclusão do perito do INSS é vista aos olhos do judiciário, como sendo emanadas
por parte interessada, contudo, se reconhece sua presunção de legitimidade e
veracidade em comparação ao atestado do médico assistente, até que seja
realizada perícia por médico de confiança do juízo.
Sobre a presunção de legitimidade se depreende o indeferimento de
antecipação de tutela nas lides por benéfico previdenciário por incapacidade onde
alguns tribunais reconhecem a presunção de legitimidade do laudo do perito
previdenciário, como segue a ementa (TJBA, WEB, 2014):

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO.


AUXÍLIO-DOENÇA. RESTABELECIMENTO. PERÍCIA MÉDICA DO INSS.
CAPACIDADE LABORAL ATESTADA. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE.
RECURSO PROVIDO. O auxílio-doença é devido aos segurados
incapacitados temporariamente para o trabalho em decorrência de lesão ou
doença e que preencham o requisito da carência (arts. 59 a 63 da Lei nº
8.213/91). As perícias do INSS gozam de presunção de legitimidade, não
podendo, assim, ser questionadas perante o Judiciário, a menos que fique
comprovada qualquer ilegalidade na realização do referido exame, o que
não ocorreu nos autos. Há que se dar provimento ao presente agravo e
cassar a decisão do MM. Juízo a quo que determinou o restabelecimento do
pagamento de auxílio-doença ao Agravado, vez que após perícia médica
realizada pelo ora Agravante, o Recorrido foi considerado apto a retornar as
suas atividades laborativas. RECURSO PROVIDO.
(TJ-BA - AI: 00150803820138050000 BA 0015080-38.2013.8.05.0000, Data
de Julgamento: 28/01/2014, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação:
30/01/2014).

Outros tribunais com entendimento contrário, quando os litígios que


pleiteiam antecipação de tutela do benefício por incapacidade laboral, esta é
acolhida, pondo o autor em recebimento do benefício, sob a fundamentação que o
caráter alimentar deste suplantaria o direito patrimonial da Autarquia, não podendo o
segurado esperar a instrução probatória em juízo.
58

Neste sentindo o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), não


adotada a tese da presunção de legitimidade dos laudos oficiais com fundamento na
prevalência do interesse público. É o que se extrai do julgado do Agravo de
Instrumento n. 2013.084995-2, de Tubarão, Relator: Des. Jaime Ramos que não
acolhe o recurso do INSS:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - INSS - DECISÃO QUE NEGOU TUTELA


ANTECIPADA - AUXÍLIO-DOENÇA ACIDENTÁRIO - PRESENÇA DOS
REQUISITOS AUTORIZADORES DA MEDIDA - ATESTADOS MÉDICOS
QUE INFORMAM SOBRE A INCAPACIDADE LABORAL ATUAL - PLEITO
DEFERIDO - INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA
DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. É possível a concessão de tutela
antecipada quando se trata de caso urgente como aquele em que o
segurado tem suprimido, sem que possa voltar ao trabalho, por estar ainda
incapacitado, seu direito ao auxílio-doença acidentário, verba de caráter
sabidamente alimentar e inadiável. O contraditório e a ampla defesa, nesses
casos, ficam apenas diferidos para o momento oportuno, garantindo-se o
direito à subsistência e à vida em detrimento do mero direito patrimonial da
autarquia previdenciária. "Admitir que o juiz não pode antecipar a tutela,
quando a antecipação é imprescindível para evitar um prejuízo irreversível
ao direito do autor, é o mesmo que afirmar que o legislador obrigou o juiz a
correr o risco de provocar um dano irreversível ao direito que justamente lhe
parece mais provável" (Luiz Guilherme Marinoni). (TJ-SC, Relator: Jaime
Ramos, Data de Julgamento: 12/03/2014, Quarta Câmara de Direito Público
Julgado). (TJSC, WEB, 2014).

Além da presunção de legitimidade que reveste o Laudo Médico Pericial


da Autarquia por ser um ato administrativo, sua preponderância também está
prevista na legislação específica que determina uma hierarquização dos atestados
médicos, onde o médico do INSS ocupa o topo, conforme segue:

Art. 6° [...]
§2° - A doença será comprovada mediante atestado de médico da
instituição da previdência social a que estiver filiado o empregado, e, na
falta deste e sucessivamente, de médico do Serviço Social do Comércio
ou da Indústria; de médico da empresa ou por ela designado; de
médico a serviço de representação federal, estadual ou municipal
incumbido de assuntos de higiene ou de saúde pública; ou não existindo
estes, na localidade em que trabalhar, de médico de sua escolha.
(BRASIL, LEI N° 605/1949, WEB, 2014). (grifo nosso)

Ainda sobre a legitimidade para se questionar o conteúdo dos atestados


emitidos por outros médicos, desde que, se realize o reexame do estado mórbido,
no Manual de Orientação Ética e Disciplinar do CREMESC se extrai: “Os atestados
médicos são documentos oficiosos, isto é, são documentos que podem ser
contestados.” (SANTA CATARINA, 2013, p.125).
Cabe salientar que o médico assistente tem obrigação de defender os
interesses do seu paciente, o que lhe confere parcialidade, mas lhe é vedado sugerir
59

ou indicar qual tipo de benefício, conforme se extrai da Resolução do CFM Nº


1.851/2008:

Parágrafo único. Quando o atestado for solicitado pelo paciente ou seu


representante legal para fins de perícia médica deverá observar:
[...]
VI - o provável tempo de repouso estimado necessário para a sua
recuperação, que complementará o parecer fundamentado do médico
perito, a quem cabe legalmente a decisão do benefício previdenciário, tais
como: aposentadoria, invalidez definitiva, readaptação. (VIEIRA, 2014,
p.128 - 129)

Na exposição de motivos da Resolução apontada acima, Martins (WEB,


2008 apud Morana, 2009) afirma que “Acentua-se forçosamente, que não se pode
conferir ao médico assistente a prerrogativa de indicar o benefício previdenciário,
conduta inerente à função do médico perito” e em seguida Morana (WEB, 2009)
sintetiza:

Ou seja, cabe ao médico assistente apenas atestar o provável tempo de


repouso estimado necessário para a sua recuperação e ao médico perito a
decisão do benefício previdenciário, tais como: aposentadoria, invalidez
definitiva, readaptação.

Recolhe-se da prática forense nas lides previdenciárias que além dos


laudos do perito oficial, os laudos do perito do juízo, são atacados e considerados
imprestáveis pelos patronos, quando não são consoantes com a tese favorável à
obtenção do benefício e consequente rendimento em honorários, mas
invariavelmente, quando tecnicamente embasados e imparciais, os julgadores
mantêm estes laudos e refutam as esmeradas impugnações e pedidos de outra
perícia, como segue a decisão do Juiz Federal Selmar Saraiva da Silva Filho na
sentença do Processo n° 5012510-70.2013.404.7205/SC:

A parte-autora impugnou a perícia judicial, por ir de encontro aos exames e


atestados médicos constantes dos autos.[...]
Não vislumbro, entrementes, nenhuma conduta, por parte do perito, que
retire a credibilidade das informações por ele prestadas no laudo.
Ademais, relativamente aos atestados particulares, já decidiu o e. Tribunal
Regional Federal da 4ª Região que tais documentos consubstanciam mero
indício de incapacidade, dada a parcialidade existente na relação entre o
médico e seu paciente. A propósito, entende-se que a perícia médica
realizada pelo INSS é presumidamente legítima, dado o seu caráter
público, e só pode ser afastada por vigorosa prova em sentido
contrário, o que não ocorre quando a incapacidade é comprovada,
apenas, por atestados médicos particulares ou por informações da
parte demandante. Ou seja, neste contexto, prevalece a conclusão
administrativa, pelo menos, até a realização de perícia judicial (TRF4, AG
2008.04.00.004400-2, Turma Suplementar, Relator Luís Alberto D'Azevedo
Aurvalle, DE 02.09.2008).
Ainda, oportuno mencionar a existência de pacífica orientação no sentido de
que, 'havendo divergência entre o laudo oficial e o do assistente técnico,
60

deve prevalecer o do perito oficial, tendo em vista guardar equidistância dos


interesses das partes' (TRF4, APELREEX 0001423-02.2012.404.9999,
Quinta Turma, Relator Roger Raupp Rios, DE 13.09.2012). Ora, conforme
dito alhures, o assistente técnico é sabidamente comprometido com o
interesse da parte assistida. [...]
Desta forma, afasto a impugnação. (JUIZADO ESPECIAL FEDERAL, WEB,
2104) (grifo nosso)

Contrariando o entendimento que os pareceres médicos podem ser


questionados por perito judicial, mesmo os hierarquicamente superiores, Laudos
Médico Periciais do INSS, em processos contra seguradoras privadas, onde se
aplica o Código de Defesa do Consumidor, o autor aposentado por invalidez, se vale
do laudo do perito oficial para obter a procedência do seu pedido de indenização
contratual, em julgamentos antecipados da lide.
Quando estas sentenças são atacadas, sob a alegação cerceamento de
defesa, frente ao indeferimento do pedido de perícia judicial, os Tribunais tem
sistematicamente desprovido estes recursos, afirmando que nos autos já havia
prova técnica suficiente da incapacidade, considerando irretocável a decisão do
médico da Autarquia. Neste contexto, escreve o Desembargador Luiz Fernando
Boller:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA EM


GRUPO. AFIRMAÇÃO DE QUE O JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE
RESULTOU EM CERCEAMENTO DE DEFESA. ACERVO PROBATÓRIO
JÁ ENCARTADO NOS AUTOS, QUE SE MOSTRA EFICIENTE PARA A
DISSOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA. PRINCÍPIO DO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO. ART. 130 DO CPC. PREJUDICIAL
AFASTADA. RECUSA DE PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO
SECURITÁRIA, SOB O ARGUMENTO DE QUE A INVALIDEZ QUE
INCAPACITOU O SEGURADO É APENAS PARCIAL. APOSENTADORIA
CONCEDIDA PELO INSS. BENESSE PRECEDIDA DE MINUCIOSA
PERÍCIA, DESTINADA A COM CAUTELA AFERIR SE HÁ, DE FATO,
GRAVE DEBILIDADE INCAPACITANTE. EFICIENTE SUBSTRATO
PROBATÓRIO. OBRIGAÇÃO DA SEGURADORA EM HONRAR A
COBERTURA CONTRATADA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO.
"Por se revestir de juridicidade e legalidade, não merece censura o
julgamento antecipado da lide quando o Magistrado, ao verificar que
existem provas suficientes nos autos para o seu convencimento, desatende
pleito de produção de provas (pericial, testemunhal), quando a parte não
apresenta a mais tênue justificativa, e sobretudo, quando não se verifica a
sua conveniência e a sua imprescindibilidade. Sua Excelência, na verdade,
prestigia os princípios da persuasão racional, da economia, da
instrumentalidade e da celeridade processual.
A concessão de aposentadoria por invalidez ao segurado pelo órgão
previdenciário oficial gera a presunção juris tantum de veracidade da
alegada ocorrência do fato motivador do pagamento da indenização
securitária por incapacidade laborativa. (TJSC, WEB, 2014). (grifo nosso).
61

Depreende-se dos julgados acima que nos casos previdenciários se


defere a perícia judicial porque os julgadores entendem ser parcial a perícia
administrativa, por ser emanada de médico preposto do INSS, enquanto que, nas
lides indenizatórias contra seguradoras privadas, a contrário senso, se valora o
laudo da Autarquia como irretocável e inquestionável, servindo de convencimento
suficiente ao juízo, que indefere novas provas pleiteadas pela parte prejudicada.
Em consulta aos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais, não
foi encontrado nenhum julgamento antecipado da lide em processos previdenciários
onde se discute a incapacidade laboral, ao contrário disso, é frequente o pleito dos
litigantes por outra perícia, quando a primeira perícia judicial lhes foi desfavorável,
nesse ponto instalando-se a discussão acerca de cerceamento ou não da defesa
quando indeferida uma segunda perícia judicial.
Sobre a parcialidade dos documentos médicos, como apontado
anteriormente no Gráfico 3 da pesquisa de campo, verificou-se que 83% (oitenta e
três por cento) dos peritos pesquisados entendem os atestados dos médicos
assistentes como documentos parciais (Gráfico 3), enquanto que, entre os mesmos
47 peritos pesquisados (peritos judiciais e administrativos), quando indagados sobre
a parcialidade dos laudos, 43 assinalaram (92%) que entendem seus laudos como
imparciais, três não opinaram (6%) e um assinalou que seu laudo é parcial, mas em
favor do pleito do segurado (Gráfico 6).

Gráfico 6: Auto-consideração de (im)parcialidade entre peritos.


Contudo, existe diferença neste entendimento, quando se separou
apenas os 27 (vinte e sete) peritos judiciais, verifica-se que 11 (onze) destes (41%)
assinalaram que entendem os laudos dos peritos do INSS como parciais em favor
da “vontade” da Autarquia em negar indevidamente benefícios, 13 (treze)
62

assinalaram (48%) que entendem os peritos oficiais como imparciais e três não
opinaram (11%).

Gráfico 7: Avaliação da parcialidade dos peritos previdenciários pelos peritos judiciais.


Sobre a alegação de falta de autonomia decisória do médico perito
vinculado diretamente ao INSS gerando parcialidade e as dificuldades do Poder
Judiciário em encontrar médicos que aceitem o encargo de perito, a Associação
Nacional dos Peritos Médicos da Previdência Social, têm proposta para amenizar
estas dificuldades. Seria por regulamentação em lei, de uma Perícia Médica Oficial
da União, a exemplo da Advocacia Geral da União, com médicos em regime de
dedicação exclusiva. Sobre isso escrevem:

A sociedade e o governo precisam entender da importância e necessidade


de uma Perícia Médica assim constituída que atuaria no atendimento de
todos os servidores federais, segurados da Previdência Social, clientela do
BCP/LOAS, Receita Federal, SFH, Detran e, não poderia deixar de frisar,
Poder Judiciário.
[...] quem melhor que um Perito Médico Oficial da União para subsidiar a
Justiça [...] a analisar matéria médica. Sem vínculo direto com o INSS,
seríamos os Peritos Judiciais por excelência em todos os casos [...].
(FIRMINO, WEB, 2010).

Conforme tudo que já foi estudado até aqui, verifica-se que ao processo
serão juntados documentos que farão prova técnica em favor da autarquia,
materializado no Laudo Médico Pericial do INSS e também em favor do segurado,
composto principalmente por atestados dos médicos assistentes, particulares ou do
serviço público, portanto, parciais. Assim, diante do inconformismo do administrado
com a decisão embasada no parecer do perito oficial, de regra o juiz acata seu
pedido ou determina de ofício a produção de nova prova técnica, legalmente
considerada imparcial.
63

3.1.3 Da Produção de Prova Técnica: Perícia Médica Judicial nas Lides


Previdenciárias

Nos processos onde é pleiteado um benefício previdenciário por


incapacidade laboral, para o convencimento do juiz, a perícia médica é considerada
a rainha das provas, sendo baseada em saber técnico que no Laudo Pericial
apresentará as conclusões não eivadas de parcialidade (GOUVEIA, 2012).
Para Almeida (2014, WEB), somente a perícia médica feita por
profissional de confiança do juízo é que possibilitará a produção probatória quanto a
presença ou ausência de incapacidade laboral, por requerer conhecimento técnico
na matéria, para através da emissão de laudo pericial, depois de examinado o
segurado e os documentos médicos apresentados, dando ao julgador
fundamentação técnica imparcial, contudo, lembra que o art. 436, do CPC, dispõe
que o juiz não está obrigado a decidir em conformidade com o laudo, desde que
fundamentadamente justifique sua convicção em outras provas válidas. Sobre as
características necessárias ao laudo pericial para afastar sua nulidade numa lide
previdenciária o mesmo autor escreve:

A prova pericial, como as demais, também está submetida ao crivo do


contraditório e da ampla defesa, de maneira que deve preencher os
pressupostos mínimos de idoneidade da prova técnica, sob pena de restar
inútil ao fim que se destina.
[...] devido a relevância da perícia para o segurado, o laudo pericial para
atingir a sua finalidade deve referir a história ocupacional do trabalhador, a
história clínica e exame clínico, os resultados e provas diagnósticas, o
provável diagnóstico, o significado dos exames complementares que
amparou as suas convicções e as consequências do desempenho de
atividade profissional à saúde do periciando, sob pena de prejudicar a
decisão do juiz a qual muitas vezes depende do trabalho produzido no laudo
pericial, pois, dependendo da situação, carecem os autos de outros
elementos de prova consistentes no sentido de sustentar uma decisão justa.
O médico perito nomeado pelo juiz tem por dever, nos processos judiciais
previdenciários por incapacidade, prestar todos os esclarecimentos técnicos
de forma racional, permitindo, sobretudo, o debate sobre a prova pericial.
(ALMEIDA, WEB, 2014).

O entendimento dos médicos quanto à especialização do perito na


doença do periciado, contraria o pensamento majoritário entre os operadores do
direito. Ao longo da obra de Barros Júnior (2011) e do Manual de Orientação Ética e
Disciplinar do CREMESC, se extrai que fundamental é a especialização médica no
ramo da doença do paciente e não do periciado, pois ao assistente, que cuida do
paciente, é importante conhecimento apurado na área para se chegar ao diagnóstico
64

correto e tratamento mais adequado, enquanto que, para o perito não é de grande
importância a certeza diagnóstica ou conhecimento da área da doença alegada
como incapacitante.
Em se tratando de avaliação de incapacidade para o labor, de maior
valia, seria o conhecimento em Medicina do Trabalho (MT) e Perícia Médica (PM),
claro que embasada no conhecimento médico geral, adquirido na graduação, além
de conhecimento jurídico que em geral é pouco lecionado na formação geral do
médico, mas que é melhor abordado nas pós-graduações de MT e PM. (EPIPHANIO
e VILELA, 2013; SANTA CATARINA, 2013).
Tal entendimento se deve ao fato de que o médico perito não necessita e,
inclusive, não pode tratar do periciado. Somando a esta regra, a realidade brasileira
de parcos recursos especializados e incentivo governamental em favor da medicina
geral comunitária, a grande maioria dos doentes são tratados por médicos de família
(não especialistas), os poucos especialistas não estarão disponíveis ao judiciário,
mas dedicados a sua atividade precípua de cuidar dos enfermos mais graves
encaminhados pelos generalistas e portando impedidos de periciá-los (BARROS
JÚNIOR, 2011).
Para ilustrar e demonstrar a predominância deste entendimento entre os
médicos, dos 47 (quarenta e sete) médicos peritos pesquisados, 33 assinalaram que
mais importante seria o conhecimento em Perícia Médica (PM) ou Medicina do
Trabalho (MT) do que na especialidade médica que atende a enfermidade do
segurado, 12 apontaram que seria importante conhecimento nas duas e apenas um
perito assinalou que o mais importante seria o esperto, ter a especialidade médica
na área da doença que estaria causando incapacidade (Gráfico 8).

Qualificação do perito médico


2%

26% Mais importante conhecimento em PM e MT

Mais importante conhecimento na


Especialidade
2% Importante seria o conhecimento nas duas
opções anteriores
70%
Não opinaram

Gráfico 8: Visão médica sobre o perfil necessário ao médico perito.


65

Além disso, diferente do médico assistente que conta com a colaboração


do paciente, o médico perito em regra não usufrui dessa benesse, não raro,
qualquer atividade aparentemente colaborativa do periciado, ao final se revela
sedutora na tentativa de provocar empatia e parcialidade do perito. Sobre isso
Epiphanio e Vilela (2013, p.4) escrevem:

[...] ao contrário do que ocorre na maioria das outras áreas de saber


especializado, na área médica não basta um bom técnico para ser um bom
perito. É necessário que esse médico seja submetido a um treinamento
específico em técnicas de exame desenvolvidas com a finalidade de
obter as informações de que necessita, de um objeto de perícia (a
pessoa do periciado) que vai a todo tempo interferir no exame, procurando
garantir o acesso ao bem ou direito do qual se considera merecedor (ou
mesmo que saiba que não o é). [...]
Assim, pode-se dizer que o ato médico pericial envolve uma
complexidade que não é aprendida nas escolas de medicina ou nas
residências médicas das especialidades. (grifo nosso).

Sobre a atuação do periciado, o médico perito deve ter em mente sempre


qual a intenção do examinando frente aos seus objetivos na lide, pois ele pode
tentar parecer doente quando quer obter um benefício por incapacidade ou tentar
esconder problemas quando deseja, por exemplo, conseguir uma vaga de emprego
quando desempregado ou levantar uma interdição, assim escrevem os autores:

[...] no caso da perícia médica, o objeto de perícia, que é uma pessoa, não
só se transforma no tempo como possui capacidade para interferir de forma
ativa em sua relação com o perito. E, como o periciando sabe que do
resultado da perícia depende o usufruto do bem ou direito que imagina ser
merecedor, ele tende a interferir de forma ativa em todo o processo da
perícia, conduzindo a historia clínica de acordo com alguma instrução (por
exemplo, de advogado) ou da forma que imagina seria a melhor para
descrever os fatos de uma maneira mais favorável para atingir os seus
objetivos, omitindo informações que imagina possam prejudicá-lo, falseando
queixas, simulando sintomas, criando sinais físicos que imagina possam
ajudar na formação de convicção do perito, etc. [...]
Para isso [...] observar se um periciando “cego” acerta a maçaneta da porta
ao sair da perícia, ou faz um exame do pulmão em uma pericia de “surdez”
apenas para observar as respostas do periciando de costas (portanto, sem
poder fazer leitura labial) às ordens do perito etc. Sem falar nas
modificações nas manobras na semiotécnica dos aparelhos, com a
finalidade de contornar o aprendizado que o periciado faz da resposta
“adequada” a certas manobras, após ter passado por inúmeros exames de
especialistas. (EPIPHANIO e VILELA, 2013, p.4).

Quando é pleiteada nova perícia por especialista na área correspondente


à doença do periciado, os julgadores tem sistematicamente indeferido e os tribunais
mantido a decisão do juízo singular, exceto quando no laudo se verificar
inconsistência, ambiguidade ou contradição nas respostas aos quesitos, também é
deferida a realização de nova perícia quando o próprio perito sugerir avaliação por
66

especialista ou for caso complexo ou doença rara. Neste sentido se extrai do julgado
da Turma Regional de Uniformização da 4ª Região:

"PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE. PERÍCIA COM


MÉDICO ESPECIALISTA. DESNECESSIDADE. 1. A perícia para aferição
da incapacidade para o trabalho não precisa ser realizada por médico
especialista na área da patologia alegada, podendo ser realizada por
médico do trabalho, clínico geral ou médico de qualquer outra
especialidade, desde que este se considere apto para a avaliação da
moléstia, inclusive no caso de doença psiquiátrica. 2. Dessa forma, a
nomeação de outros profissionais somente se faz necessária no caso de o
especialista hesitar nas respostas ou expressamente referir que não tem
habilitação para avaliar a incapacidade decorrente de determinada moléstia,
ou ainda, nos casos complexos ou de doenças raras. 3. A análise de
diferentes moléstias, ainda que por um mesmo perito, somente é de ser
feita quando a parte comprova que submeteu para análise prévia do INSS
essa patologia, o que pode ser feito com a juntada do HISTÓRICO DE
PERÍCIA MÉDICA (HISMED) constante no sistema da Previdência. 4.
Pedido de uniformização improvido." (5000967-62.2012.404.7122, Turma
Regional de Uniformização da 4ª Região, Relator p/ Acórdão Paulo Paim da
Silva, D.E. em 28/03/2012). (TURMA REGIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA
4ª REGIÃO, WEB, 2012).

Contudo, mesmo existindo precedentes no sentido de negar a realização


de outra perícia judicial quando o perito responder satisfatoriamente aos quesitos
sem demonstrar hesitação ou sugerir avaliação por outro especialista se encontra
decisões que acolhem o pleito por uma segunda perícia judicial com especialista na
área correspondente à doença do periciado, como segue abaixo o voto do Relator
Juiz Federal Antonio Fernando Schenkel do Amaral e Silva, no Recurso Cível nº
5002068-21.2013.404.7213/SC, sobre o caso onde o perito foi conclusivo sobre o
estado mental estável da periciada e ausência de incapacidade:

Para a comprovação da condição de incapacidade, foi designada perícia


médica por profissional de confiança do Juízo (médico do trabalho). Do
laudo pericial (LAUDPERÍ1 - evento 14) se extrai que a parte
autora, atualmente com 29 anos de idade, é portadora de transtorno
depressivo recorrente, moléstia que não a incapacita para o exercício de
sua atividade habitual (auxiliar de escritório).
Entretanto, verifico que há nos autos atestados médicos indicando a
incapacidade da parte autora emitidos por especialista em psiquiatria
(OUT8, evento 1), bem como indicação da moléstia no pedido inicial.
Assim, entendo que a instrução processual merece ser elastecida, a fim de
se analisar eventual incapacidade da parte autora em razão de doença
psiquiátrica.
Destarte, voto por anular a sentença e devolver os autos ao juízo de
origem para a realização de nova perícia judicial, com especialista em
psiquiatria. (TRF4, WEB, 2014) (grifos do autor)

Observados os julgados, feitos por juízes, auxiliados por seus peritos


médicos de confiança, os conteúdos estão mais consoantes com o pensamento
médico majoritário de que o médico está técnico e legalmente habilitado para atuar
67

em qualquer área da medicina. De outro lado, verifica-se que doutrinadores que


militam na área previdenciária defendem que a perícia teria que ser sempre
realizada por especialista na área médica da doença alegada nos autos. É o que se
afere nos ensinamentos de Gouveia (2012, p.158): “Caso seja necessário [...] que
este seja examinado por médico especialista, tal perícia não poderá ser negada, sob
pena de afronta ao devido processo legal.” E adiante o mesmo autor assevera que:

[...] é mais que necessário que o perito-médico ao avaliar a condição de


(in)capacidade seja especialista na matéria. [...] deve o patrono dos autos
se dirigira a secretaria da Vara Judicial, [...] peticionar requerendo ao Juízo
que informe a especialidade médica do mesmo, sob pena de nulidade de
prestação jurisdicional, pois sem saber a especialidade do perito, não é
possível saber se este é ou não especialista na matéria a ser periciada.
Pois bem. Caso o mesmo não seja especialista, o patrono deverá impugnar
o perito com base no art. 424, I do CPC, por lhe faltar conhecimento técnico
ou científico para realizar a contento a perícia.
[...] caso seja necessário, deverá ser impugnado antes da realização da
perícia, pois, se assim não for, ocorrerá a preclusão consumativa.
(GOUVEIA, 2012, p.159)

Ainda sobre o tema Gouveia (2012) defende que de acordo com o art.
437, do CPC, o procurador deverá requerer ao juízo a realização de nova perícia
alegando omissão ou inexatidão dos resultados da primeira, quando a conclusão
expressa no laudo pericial não for favorável aos interesses do periciado e faz a
ressalva que uma segunda perícia terá por objeto os mesmo fatos e ser regida pelas
mesmas regras da primeira e o juiz irá valorar livremente as duas.
A tese defendida por Fontolan (2013), de que existindo especialista na
área da doença do periciado, este deverá ser nomeado, encontra amparo no CPC,
onde no parágrafo 3º, do artigo 145, se prevê que nas localidades onde não existir
profissional na especialidade correspondente à causa da incapacidade, o juiz poderá
livremente indicar o perito, mas como visto até aqui, existe a discussão e não há
uniformidade das decisões judiciais, de modo que não é possível uma segurança
jurídica quanto ao deferimento de outra perícia ou perícia por especialidade médica,
cada caso será avaliado em suas particularidades.
68

3.1.4 O Perito Avaliando as Provas Técnicas nos Autos

Anteriormente neste trabalho, se esboçou qual seria o papel do perito, se


apenas de auxílio ao juízo ou auxílio e substituição, em parte, do papel do julgador,
em conformidade a doutrina de Didier Jr (2012) se entendeu que o perito não julga
ou decide a lide, mas tão somente esclarece matéria técnica controvertida ao
julgador, mas que ao analisar os documentos médicos juntados aos autos ou
mesmo os apresentados no momento do ato pericial e que não farão parte do
processo, nesse ponto estaria substituindo o papel do juiz, pois apenas o perito
estará avaliando estas provas quanto ao ponto de vista técnico e pontuando sua
congruência com as alegações e achados no exame objetivo da parte, para a
posterior apreciação do magistrado que por carecer de conhecimento técnico não
bastaria sua avaliação.
De acordo com o que se apresentou até aqui fica a indagação de como se
poderia dispensar a realização de prova pericial numa lide em que se discute a
presença de incapacidade, enquanto que, o juiz pode se utilizar apenas do saber
inerente ao homem médio, assim não estaria apto a avaliar quais documentos
corresponderiam à verdade (realidade), se os laudos do perito oficial ou os
atestados (pareceres ou relatórios) do médico da parte são discordantes entre si
(DIDIER JR, 2012).
Adiante se passará ao estudo da caracterização do cerceamento de
defesa no indeferimento de pericia.

3.2 INDEFERIMENTO DA PERÍCIA JUDICIAL E CERCEAMENTO DE DEFESA


NOS PROCESSOS SOBRE INCAPACIDADE LABORATIVA.

Os incisos LIV e LV, do art. 5º, da CRFB/88, garantem os direitos


fundamentais do devido processo legal e o direito ao contraditório e a ampla defesa
aos litigantes, seja na via administrativa ou judicial, estando compreendidos nestes o
direito de produzirem as provas necessárias e lícitas.
No cancelamento do benefício previdenciário, o segurado deverá contar
com a possibilidade de exercitar plenamente seu direito ao contraditório e ampla
69

defesa. Em um processo judicial para que se garantir igualdade de tratamento, o juiz


deverá oportunizar a produção de provas no sentindo de se comprovar as alegações
do segurado e fazer contraprova às provas levadas pelo INSS (ALMEIDA, WEB,
2014).
A direção do processo é incumbência do juiz, nos termos dos artigos 130
e 13, do CPC, e sendo ele o destinatário das provas, pode inclusive dispensar a
prova pericial quando ambas as partes trouxerem aos autos, na inicial e na
contestação, provas técnicas sobre as questões fáticas que considerar
suficientemente elucidativas, conforme previsão do art. 427, do CPC, e ocorrendo tal
hipótese, deverá o juiz considerar o processo maduro e proceder ao julgamento no
estado em que encontrar. Poderá inclusive fazer o julgamento antecipado da lide,
conforme dispõe o CPC (BRASIL, WEB, 1973):

“Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença:


I – quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de
direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência;
II – quando ocorrer a revelia (art. 319).”

Em sendo indeferida a perícia judicial nas circunstâncias apontadas nos


artigos 130, 330 e 427, do CPC, ou se a parte abrir mão da perícia, não haverá
ofensa ao contraditório e ampla defesa, não ocorrendo o cerceamento de defesa
porque os atos desnecessários somente seriam protelatórios e prejudicariam a
economia processual e a duração razoável do processo. Contudo, se na sentença, o
juiz não fundamentar adequadamente seu convencimento ou motivar a
improcedência da pretensão da parte alegando falta de provas, cairá em óbvia
contradição e causará nulidade dos atos quando revisados em instância superior
(MAIA, 2013, WEB).
Ainda sobre indeferimento de perícia judicial, o inciso II, do art. 420, do
CPC, traz a previsão que ao destinatário das provas, o juiz, deverá de plano
dispensar a perícia quando ela for desnecessária frente a outras provas produzidas.
Nota-se que a previsão legal diz que o juiz indeferirá, não sendo uma faculdade do
magistrado, mas uma obrigação. Contudo, terá de ser fundamentado e motivado o
indeferimento da produção de perícia, com se afere no voto do Desembargador
Francisco José Moesch, nos autos da Apelação Civil Nº 70053125720 de Porto
Alegre/RS:

Logo, havendo nos autos provas idôneas da necessidade do apelado em


receber o medicamento postulado, a perícia, que se destina ao
70

convencimento do juízo, pode ser dispensada, conforme dispõe o art. 420,


II, do CPC, não havendo, portanto, o alegado cerceamento de defesa.
Saliente-se, que restou comprovada a necessidade da autora na obtenção
da alimentação especial, conforme atestados firmados por médico
devidamente inscrito no CREMERS. (TJRS, WEB, 2013).

Destacando que a matéria em apreciação apontada acima não versa


sobre benefício por incapacidade, mas sim obrigação do Estado em entregar o que
foi receitado pelo médico assistente, entendendo o Poder Judiciário, como prova
suficiente, o receituário do médico assistente regularmente inscrito no conselho
profissional.
Contudo, mesmo a legislação processual determinando ao juiz o
indeferimento da produção de prova pericial quando suficientes as provas técnicas
nos autos, não se encontram julgamentos antecipados da lide quando é discutida a
incapacidade laboral para fins de recebimento de benefício previdenciário. Segundo
Savaris (2012) e Almeida (2014), tal fato se deve à necessidade de se privilegiar as
garantias constitucionais, sobretudo, do devido processo legal, em detrimento das
normas gerais processuais que não atendem as particularidades do direito
previdenciário e das necessidades sociais dos segurados.
Estes autores defendem que ativamente o Poder Judiciário tem de
através de construção jurisprudencial, suprir as omissões legislativas na área
previdenciária e caminhar para a criação de um novo ramo do direito processual, o
previdenciário e assim leciona Savaris (WEB, 2012):

Se o legislador ordinário desconsidera ao menos em parte a necessidade


de disciplina específica para o processo previdenciário, o aplicador do
direito tem o dever de suprir a inadequação ou insuficiência do processo
civil comum, orientando-se pelo devido processo legal e, mais
especificamente, pelo direito fundamental a um processo justo.
Já é hora de serem indicadas as particularidades que conformam a
singularidade da lide previdenciária, as quais são percebidas
fundamentalmente nos sujeitos da relação processual e na natureza do
objeto do litígio:
a) a fundamentalidade de um bem jurídico previdenciário, isto é, sua
natureza alimentar correspondendo a um direito de relevância social
fundamental
b) a presumível hipossuficiência econômica e informacional da pessoa que
reivindica uma prestação da previdência social
c) uma suposta contingência que ameaça a sobrevivência digna da pessoa
que pretende a prestação previdenciária
d) o caráter público do instituto de previdência que assume o pólo passivo
da demanda.

Para Savaris (2012) é evidente que o modelo social-democrata do Estado


Brasileiro, adotado pela CRFB/88, proporciona o ativismo judicial no sentido de
71

equilibrar as partes, que são desiguais, para um justo processo e que por isso
sempre deverá ofertar maiores oportunidades de produção de provas em favor do
suprimento dos direitos sociais em detrimento do direito patrimonial, por isso é
cabível o deferimento de tutela antecipada em favor do pólo mais frágil, sem incidir
em cerceamento de defesa ou mesmo o indeferimento da produção de prova pericial
pleiteado pelo Estado ou pelo INSS no intuito de produzir prova contra os direitos
sociais.
O indeferimento de perícia solicitada pelo segurado, baseado nas regras
processuais gerais, segundo Savaris (2012) seria uma “denegação da proteção
social por insuficiência de provas”, por isso ele defende que o magistrado tem de
propiciar sempre a produção de prova pericial, sob pena de anulação do feito,
quando a sentença não atender o pleito do segurado, considerando que a
fundamentação da decisum ocorreria por insuficiência de provas em favor do
segurado, embora não seja esta a motivação do convencimento, expressa pelo
magistrado.
72

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de prova pericial tem valor destacado no convencimento do


juízo, sobretudo, quando a decisão demandar conhecimento científico que não é de
domínio do magistrado e que legalmente não pode acumular as funções de julgador
e perito, mesmo que detenha saber técnico na matéria. No contexto previdenciário, a
perícia médica é tida como a rainha das provas nas demandas por benefício de
natureza médica, ou seja, onde precisa ser aferida a (in)capacidade para o trabalho.
Na atuação em auxílio ao Poder Judiciário (forense), o médico trabalha
em defesa dos interesses coletivos, mais precisamente em busca da verdade
necessária à administração da justiça, deixando em segundo plano, princípios éticos
consagrados da relação médico-paciente, como o sigilo médico e confidencialidade,
sem incorrer em delito ético, constatando-se que em muito difere a atividade pericial
da assistencial, onde o médico atua em defesa do interesse individual do seu
cliente/paciente.
Demonstrou-se que o médico tem o dever de trabalhar com liberdade e
isenção, contudo, em decorrência da confidencialidade e obrigações da relação
médico-paciente como a confiança e de credibilidade às informações do cliente,
além do interesse orçamentário do consultório, sua opinião enquanto assistente fica
comprometida, atribuindo certa parcialidade. Assim somente o médico, imbuído da
atividade de perito (administrativo ou judicial), conta com a presunção de
imparcialidade, visto que está submetido aos mandamentos da relação perito-
periciado, diferente da relação médico-paciente e, inclusive, sujeito aos mesmos
impedimentos e suspeições do juiz, quando atua como auxiliar de confiança deste.
A avaliação da incapacidade laborativa, é atividade privativa de médico
perito, sendo o perito oficial legalmente o único profissional que pode indicar o
benefício cabível ao segurado que tenha cumprido o preenchimento dos requisitos
burocráticos e constada a presença de incapacidade para o trabalho. O CFM veda
ao médico assistente indicar ou sugerir em seus atestados ou pareceres, a natureza
do benefício a receber, devendo este se ater a descrever o quadro da doença, o
diagnóstico, tratamento, prognóstico e indicar o tempo de afastamento da ocupação,
para subsidiar e embasar a decisão do perito oficial que pode acatar ou não, depois
do exame da condição mórbida atestada.
73

Estudadas as características da atividade pericial médica, passou-se ao


estudo dos princípios constitucionais implicados no Direito Previdenciário, sobretudo
o princípio do devido processo legal, que garante aos cidadãos o contraditório e a
ampla defesa nas esferas administrativas e judiciais. A inafastabilidade da jurisdição
que não deixa escapar da apreciação judicial, os atos administrativos, que mesmo
presumidamente legais e corretos, emanam decisão de uma das partes da relação
bilateral, da administração pública, não fazendo coisa julgada, necessitando da
revisão por órgão dotado de independência e imparcialidade, neste caso o Poder
Judiciário, formando uma relação processual triangular.
No contexto onde somente crescem as demandas pleiteando a
concessão de benefício previdenciário, chegou-se a cogitar, se o Poder Judiciário
acabaria por substituir uma função do Poder Executivo, ferindo a separação dos
Poderes da República, mas restou decidido pelo STF que não cabe ao Judiciário se
pronunciar sobre fato que administração pública não tenha se manifestado por falta
de prévia provocação, sendo o benefício previdenciário um direito não concedido de
ofício, mas vinculado ao pedido do segurado. Contudo, em questões onde é cediço
o entendimento restritivo da Autarquia ao dispositivo legal, deverá ser admitido o
ingresso diretamente na via judicial.
Especificamente ao tema deste trabalho, verificou-se que existe previsão
legal para o indeferimento do pedido de perícia judicial, aplicável a todas as áreas
científicas do conhecimento humano, sem incorrer o magistrado em cerceamento de
defesa, desde que a decisum desfavorável ao pleito de quem a requereu não seja
fundamentada e motivada por insuficiência de provas, dessa forma nota-se que
invariavelmente, estas sentenças são anuladas pelos órgãos colegiados, quando
atacadas em sede de recursos sob a alegação de cerceamento de defesa ou
prejuízo ao contraditório.
Ocorre que quando existe farta ou suficiente prova técnica juntada aos
autos por ambas às partes, para o livre convencimento motivado do juiz, em
conformidade com a disciplina legal, o indeferimento de perícia judicial seria cabível
e sem ofensa aos princípios do devido processo legal. Contudo, nas lides de
natureza médica e previdenciária, os doutrinadores defendem que o direito
processual civil não supre as garantias sociais constitucionais pretendidas nas lides
previdenciárias e que por isso, os julgadores precisam fazer construções
jurisprudenciais que visem suprir a omissão legislativa, inovando em busca de um
74

novo ramo do direito, a exemplo do Direito Trabalhista, criando um disciplinamento


processual previdenciário.
Verificou-se no presente trabalho, que é pacífico o entendimento de que a
perícia médica judicial é necessária nos processos previdenciários onde é pleiteado
um benefício por incapacidade, seja ele auxílio-doença (temporário) ou
aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidentário (permanentes). Contudo,
discussão existe quanto ao deferimento do pedido de outra perícia com médico
especialista na área médica da doença do segurado. Esta nova perícia geralmente é
pleiteada quando a parte periciada obtém laudo desfavorável na primeira perícia
judicial e alega cerceamento de defesa ou insuficiência de prova técnica.
Existem, em maioria, decisões que indeferem o pedido de nova perícia
judicial, reservando-se o deferimento deste pedido para uma minoria, principalmente
em casos de doenças complexas, raras, doenças psiquiátricas ou quando o perito
hesitar em firmar sua conclusão ou tiver sugerido ao juízo que o periciado seja
submetido à outra avaliação pericial, declinando em avaliar uma condição
evidenciada ao exame e que considere não ter conhecimento técnico suficiente. Em
regra, quando o auxiliar do juízo firma sua convicção sobre o tema e o patrono
peticiona por nova perícia, os julgadores têm decidido conforme sua convicção
pessoal, pois não existe uniformização, sobre o tema.
Tem se verificado que será crescente a necessidade do Poder Judiciário
valer-se do conhecimento técnico na área médica para elucidação de lides de
natureza médico-previdenciária. Frente a isso, a classe médica vem se organizando
e recentemente o CFM acrescentou à Medicina Legal, especialidade já consagrada
na atuação forense, a área de atuação em Perícia Médica, criando a especialidade
de Medicina Legal e Perícias Médicas, que já tem produzido doutrina, além de
buscar mais aproximação com o Poder Judiciário, procurando se legitimar como a
especialidade mais adequada ao auxílio da jurisdição.
Demonstrou-se que o Médico do Trabalho e/ou o Médico Especialista em
Perícias Médicas, é o profissional mais preparado e adequado ao auxílio da
administração da Justiça avaliando a (in)capacidade laboral. Além disso, a
realização de várias perícias, uma para cada doença apresentada pelo segurado é
prática notoriamente contrária à economia e celeridade processual, além de inviável
faticamente, pois geralmente várias nomeações judiciais terminam com o declínio ao
encargo por parte dos especialistas dedicados à assistência.
75

A criação de uma carreira de Peritos Médicos Oficiais da União, onde


uma das atribuições seria a realização dos exames dos segurados do INSS, poderia
sanar a parcialidade indevidamente atribuída aos peritos oficiais (atualmente
servidores vinculados ao INSS) e disponibilizaria ao Poder Judiciário, peritos mais
habilitados (servidores da União) para atuarem apenas nos casos onde o julgador
encontrasse falhas na formalidade no ato administrativo da Autarquia.
Quanto à importância do tema estudado ao Direito pode ser apontada a
necessidade de se buscar uma melhor compreensão aos operadores do Direito que
atualmente têm entendimento dissociado do conhecimento dos profissionais de
saúde, quanto à evolução das doenças e suas repercussões nas capacidades
humanas.
Verifica-se nas doutrinas de Direito Previdenciário, produzidas por
advogados e magistrados, que estes estão mais atrelados ao senso comum que as
enfermidades não teriam tratamento curativo ou controle satisfatório e que
necessariamente evoluiriam com incapacidade duradoura ou permanente (invalidez),
além de acreditarem ser “proibido” ao médico valorar uma queixa, mesmo que
subjetiva.
Ao contrário disso, é cediço entre os profissionais de saúde, que em regra
as pessoas não atingem 100% (cem por cento) de suas capacidades (somente
atletas de alto desempenho se aproximam de fruir da totalidade de sua capacidade)
e que as enfermidades raramente causam incapacidade duradoura ou invalidez, o
que torna o componente volitivo (vontade) do ser humano, um dos mais importantes
determinantes da formação da lide e não a real existência de incapacidade
associada à negação de direitos.
Entre os médicos, acredita-se que o INSS muito mais concede benefícios
indevidamente do que cessa arbitrariamente, sendo os deferimentos de benefícios
concedidos pela perícia médica oficial, em consequência de atestados graciosos, um
dos determinantes do senso comum, entre os segurados, que o fato de ser portador
de um diagnóstico, mesmo que não incapacitante, já lhe assistiria direito ao
recebimento do auxílio-doença, prestação equivocadamente nomeada pelo
legislador, enquanto que, mais adequado seria denominá-lo de auxílio-incapacidade.
76

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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. Recurso Cível nº 5002068-


21.2013.404.7213/SC, Voto. Relator: Juiz Federal Antonio Fernando Schenkel do
Amaral e Silva. Porto Alegre, RS, 24 de abril de 2014. Disponível em:
<https://eproc.jfsc.jus.br/eprocV2>. Acesso em: 10 out. 2014.

TURMA REGIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA 4ª REGIÃO. Acórdão nº 5000967-


62.2012.404.7122. Relator: Paulo Paim da Silva. Porto Alegre, RS, 28 de março de
2012. D.E.: Pedido de Uniformização. Porto Alegre. Disponível em:
<http://jurisprudencia.trf4.jus.br>. Acesso em: 09 out. 2014.
81

VASCONCELLOS, Luiz Philiippe Westin Cabral de. A simulação na perícia


médica: a arte e a ciência de investigar a verdade pericial. 2. ed. São Paulo: LTr,
2011.

VIEIRA, Jair Lot (Org.). Código de ética médica e normas


complementares: código de ética médica: resolução CFM nº 1931 de 17 de
setembro de 2009 - código de processo ético-profissional: resolução CFM nº 2023
de 20 de agosto de 2013. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Edipro, 2014. 223 p.

WAMBIER, Luiz Roberto; Talamini, Eduardo. Curso avançado de processo civil:


teoria geral do processo e processo de conhecimento, vol 1. 11. ed. rev. e atual. e
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.
82

ANEXO 1:

Resultados do Questionário com os Médicos Peritos Judiciais


(Total de 27 peritos judiciais responderam este questionário)
Primeiramente quero me apresentar: sou Moacir Toledo, Psiquiatra com
RQE 5718 e CRM/SC 9302 e graduando em Direito pela FCJ em Joinville e
conduzindo esta pesquisa para ilustrar Monografia de Conclusão do Curso sobre a
Perícia Médica e Direito Previdenciário e conto com sua colaboração em responder
este questionário e a ficha cadastral em separado, se quiser receber os resultados,
não precisa identificar-se.

1 - Você atua como perito judicial nomeado regularmente há:


( ) Menos que 3 anos ou – 05 assinalaram
( ) Mais que 3 anos ou ---- 19 assinalaram
( ) Atua esporadicamente ou não tem interesse nesta atividade. – 3.

2 - De alguma forma, o tratamento que o Juiz lhe dispensa, se modificou


desfavoravelmente (menos amigável e reticente) ou favoravelmente (mais confiante
e amigável) em conseqüência das impugnações aos seus laudos pelos procuradores
dos periciados? (marque somente uma opção)
( ) Favorável e confiante ou –------------------ 19 assinalaram
( ) Reticente e Desfavorável –------------------ 01 assinalou
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 12 assinalaram

3 - Com o transcorrer do tempo de atuação como perito judicial a


porcentagem de NÃO constatação de incapacidade (e conseqüente improcedência
do pedido)?
( ) Diminuiu ou –------------------------------------ 04 assinalaram
( ) Aumentou ---------------------------------------- 16 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 07 assinalaram

4 - O Juiz, de alguma forma lhe influencia/sugestiona em favor da


constatação de incapacidade nos litigantes que já tiveram a indeferimento
administrativo?
( ) Sim, influencia em favor do Ativismo Judicial. Ou – 02 assinalaram
( ) Sim, influencia em favor Justo Processo e entende perfeitamente a
parcialidade dos assistente e a imparcialidade pericial, seja administrativa ou judicial.
– 01 assinalou
( ) Não influência, dando total liberdade ao perito opinar sobre todos os
documentos dos autos. – 22 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada. – 02 assinalaram

5 - Você entende que tem LIBERDADE E ISENÇÃO em sua tomada de


decisão em seu trabalho como Perito Judicial, conforme determinam os incisos VII e
VIII dos Princípios Fundamentais do Código de Ética Médica?
( ) Sim ou –------------------------------------------- 26 assinalaram
( ) Não ou –------------------------------------------- nenhum assinalou esta
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 01 assinalou esta
83

6 - Você entende que sua opinião/decisão expressa do Laudo Pericial é


IMPARCIAL (obrigação inerente a todo perito, seja administrativo ou judicial) ou de
alguma forma é PARCIAL (se influencia nos interesses do periciado ou do instituto
de previdência ou do Judiciário? (marque apenas uma)
( ) Parcial por influência do instituto de previdência ou - 00 assinalado
( ) Parcial por influência do pleito do segurado (periciado) ou - 00
( ) Parcial por influência do Judiciário que em tese prefere a consideração
de incapacidade que gera acordo com sentença irrecorrível, assim o Juiz não tem
risco de revisão colegiada de sua sentença ou - 00
( ) Imparcial ou –------------------------------------ 24 assinalaram.
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 03 assinalaram

7 - Você entende que a opinião/parecer do Médico Assistente no Atestado


é IMPARCIAL (não se influência no pedido do paciente) ou PARCIAL (obedece aos
interesses do paciente ou geração de clientela no consultório)?
( ) Parcial ou –--------------------------------------- 22 assinalaram
( ) Imparcial –---------------------------------------- 02 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 03 assinalaram

8 - Entende como mais importante ao ato pericial, o conhecimento em


Perícia Médica e Medicina do trabalho ou ser Especialista na área da doença do
segurado (periciado)? (marque somente uma opção)
( ) em Perícia Médica e Medicina do Trabalho ---- 16 assinalaram
( ) na Especialidade da doença do segurado ou – 01 assinalou
( ) as duas opções acima ou ---------------------------- 09 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada –-------- 01 assinalou

9 - Você entende que a atividade de Médico Perito é diferente da


atividade de Médico Assistente (no sentido de que o perito não está atrelado à
relação de médico-paciente com confidencialidade, cooperação e defesa dos
interesses do doente, mas atua em Defesa da Sociedade, do Coletivo e da
Solidariedade Previdenciária)?
( ) Sim ou –------------------------------------------- 23 assinalaram
( ) Não ou –------------------------------------------- 02 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 02 assinalaram

10 - Você entende ou acredita que os Médicos Peritos Previdenciários


são PARCIAIS em favor da “vontade” do INSS ou outro instituto de previdência em
negar os benefícios aos segurados? (marque somente uma opção)
( ) Sim, as vezes ou –----------------------------- 08 assinalaram
( ) Sim, quase sempre ou –---------------------- 03 assinalaram
( ) Não, as vezes ou –----------------------------- 03 assinalaram
( ) Não, quase sempre –-------------------------- 10 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 03 assinalaram
84

ANEXO 2

Resultados do Questionário com médicos peritos administrativos


(INSS e outros). (Total de 20 peritos responderam o questionário)
Primeiramente quero me apresentar: sou Moacir Toledo, Psiquiatra RQE
5718 e CRM/SC 9302 e graduando em Direito pela FCJ em Joinville e
conduzindo esta pesquisa para ilustrar Monografia de Conclusão do Curso
sobre a Perícia Médica e Direito Previdenciário e conto com sua colaboração
em responder o questionário e se quiser receber os resultados, preencher a
ficha cadastral em separado (não precisa se identificar).

1 - Você é funcionário público concursado (médico perito do INSS ou


outro) há:
( ) Menos que 3 anos (ainda do estágio probatório) – 08 assinalaram
( ) Mais que 3 anos. –----------------------------------------- 12 assinalaram

2 - De alguma forma, o tratamento que a empregadora (INSS ou outras)


lhe dispensa, foi modificado depois de ultrapassado o estágio probatório
(responder somente os profissionais com mais de 3 anos)?
( ) Sim ou –------------------------------------------- 01 assinalaram
( ) Não ou –------------------------------------------- 11 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – (08 com < 3 anos)

3 - Com o transcorrer do tempo de atuação como perito previdenciário a


porcentagem de NÃO constatação de incapacidade (e conseqüente não
concessão do benefício)?
( ) Diminuiu ou –------------------------------------ 04 assinalaram
( ) Aumentou ou –---------------------------------- 12 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 04 assinalaram

4 - Complete: o Instituto de previdência sendo seu empregador, de


alguma forma lhe __________no sentido de negar benefícios aos segurados
através da indevida NÃO constatação de incapacidade (marque uma ou duas
opções)?
( ) Sugestiona –------ 03 assinalaram (inconsistência entre 4, 5 e 6)
( ) Determina –-------- 00 assinalaram
( ) Não Sugestiona – 14 assinalaram (marcaram 2 opções)
( ) Não Determina –-- 13 assinalaram (marcaram 2 opções)

5 - Você entende que tem LIBERDADE E ISENÇÃO em sua tomada de


decisão em seu trabalho de perito previdenciário, conforme determinam os
incisos VII e VIII dos Princípios Fundamentais do Código de Ética
Médica(marque somente uma)?
( ) Sim ou – 19 assinalaram
( ) Não ou – 01 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 00 assinalaram
85

6 - Você entende que sua opinião/decisão expressa do Laudo Pericial é


IMPARCIAL (obrigação inerente a todo perito, seja administrativo ou judicial) ou
PARCIAL (se influencia nos interesses do periciado ou do Instituto
Previdenciário (marque somente uma)?
( ) Parcial por influência do seu empregador ou – 00 assinalaram
( ) Parcial por influência do pleito do segurado (periciado) ou – 01
( ) Imparcial ou – 19 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 00 assinalaram

7 - Você entende que a opinião/parecer do Médico Assistente no


Atestado é IMPARCIAL (não se influência no pedido do paciente) ou PARCIAL
(obedece aos interesses do paciente ou geração de clientela no consultório)?
(marque somente uma)
( ) Parcial ou –--------------------------------------- 17 assinalaram
( ) Imparcial ou –------------------------------------ 02 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 01 assinalaram

8 - Entende como mais importante para o ato pericial, o conhecimento


em Perícia Médica e Medicina do Trabalho ou ser Especialista na área da
doença do segurado (periciado)? (marque somente uma)
( ) em Perícia Médica e Medicina do Trabalho ---- 17 assinalaram
( ) na Especialidade da doença do segurado ou – 00 assinalaram
( ) as duas coisas ou –------------------------------------ 03 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada –-------- 00 assinalaram

9 - Você entende que a atividade de Médico Perito é diferente da


atividade de Médico Assistente (no sentido de que o perito não está atrelado à
relação de médico-paciente com confidencialidade, cooperação e defesa dos
interesses do doente, mas que atua em Defesa da Sociedade, do Coletivo e da
Solidariedade Previdenciária)?
( ) Sim ou –------------------------------------------ 18 assinalaram
( ) Não ou –----------------------------------------- 01 assinalaram
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 01 assinalaram

10 - Você entende que os Médicos Peritos Judiciais distinguem


Periciados de Pacientes?
( ) Sim, as vezes ou –--------- 05 assinalaram
( ) Sim, quase sempre ou –-- 07 assinalaram
( ) Não distinguem periciados de pacientes, as vezes ou --------- 03
( ) Não distinguem periciados de pacientes, quase sempre ou –- 04
( ) Não opina ou não tem opinião formada – 01 assinalaram

Moacir de Freitas Toledo – CRM 9302


Psiquiatra – 5718 - Perito Judicial
Formando no Curso de Direito da FCJ
Contato: Clinica Saúde Integral, Rua Rodeio, 53, Saguaçú. Joinville/SC.
Tel: (47) 3026-2139 e clinicasaudeintegral@hotmail.com
Professor Orientador: Guilherme Casali (Advogado do IMPREVILLE)
Se quiser escreva a vontade no verso

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