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ZILDA RIBEIRO HOFFMANN BORGES

TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL:


ANÁLISE A RESPEITO DA TENTATIVA DE ERRADICAÇÃO

SORRISO
2020
ZILDA RIBEIRO HOFFMANN BORGES

TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL:


ANÁLISE A RESPEITO DA TENTATIVA DE ERRADICAÇÃO

Projeto apresentado ao Curso de Direito da


Instituição Unic - Campos de Sorriso.

Orientador: (Nome do Tutor)

SORRISO
2020

Sorriso
2021
ZILDA RIBEIRO HOFFMANN BORGES

TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO NO BRASIL:


ANÁLISE A RESPEITO DA TENTATIVA DE ERRADICAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Unic de Sorriso, como requisito parcial para a
obtenção do título de graduado em Direito.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

______________________________________
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

_____________________________________
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Sorriso/MT, 29 de março de 2021.


AGRADECIMENTOS

A minha mãe Nilda pela dedicação e cuidados para com os meus filhos, para
que fosse possível chegar até a esse momento, ao meu esposo Valdinei pelo
companheirismo.
RIBEIRO HOFFMANN BORGES, ZILDA. Trabalho escravo contemporâneo no
Brasil: análise a respeito da tentativa de erradicação: 2021. 37. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Unic, Sorriso, 2021.

RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso aborda os aspectos do trabalho escravo nos


dias de hoje, as formas de escravidão existentes, o seu conceito atual, suas possíveis
causas, as suas mudanças e os desafios ao seu combate. Tem como justificativa os
interesses profissionais e pessoais do autor em aprofundar o estudo da questão, sem
deixar de mencionar o caráter atual e instigante do problema. Pois, trata-se não só de
um assunto de extrema importância, mas também de uma abordagem juridicamente
interessante, qual seja, a aplicação de normas mais rigorosas e com maior efetividade
no seu cumprimento para contornar a situação de trabalho análogo ao de escravo e
ao seu combate no Brasil atualmente. O objetivo é relatar uma prática comum no
país, realizada de forma dissimulada e quase imperceptível, com a finalidade de
conscientizar a sociedade sobre o problema, destacar a importância da assistência
aos trabalhadores resgatados e analisar o que ainda pode ser feito para combater a
submissão de um cidadão a condições sub humanas. De uma forma geral, temos a
intenção de analisar as leis e as normas que regem o trabalho escravo, com intuito de
buscar a possível solução para assunto em questão. Será utilizado o método
dedutível que de uma forma é utilizado para a pesquisa documental e bibliográfica
com base na legislação Brasileira e as respetivas convenções.
Palavras-chave: Trabalho. Contemporâneo. Erradicar. Escravo. Política.
RIBEIRO HOFFMANN BORGES, ZILDA. Trabalho escravo contemporâneo no
Brasil: análise a respeito da tentativa de erradicação: 2021. 37. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Unic, Sorriso, 2021.

RESUMO

This Course Conclusion Work addresses the aspects of slave labor today, the existing
forms of slavery, its current concept, its possible causes, its changes and the
challenges to combat it. It is justified by the professional and personal interests of the
author in deepening the study of the issue, while mentioning the current and instigating
nature of the problem. For, it is not only a subject of extreme importance, but also a
legally interesting approach, that is, the application of stricter standards and with
greater effectiveness in their compliance to circumvent the work situation analogous to
that of slave and its combat in Brazil today. The objective is to report a common
practice in the country, carried out in a disguised and almost imperceptible way, with
the purpose of raising society's awareness of the problem, highlighting the importance
of assistance to rescued workers and analyzing what can still be done to combat a
citizen's submission to subhuman conditions. In general, we intend to analyze the laws
and norms that govern slave labor, in order to seek the possible solution to the subject
in question. The deductible method will be used, which is used in a way for
documentary and bibliographic research based on Brazilian legislation and its
conventions.
Keywords: Work. Contemporary. Eradicate. Slave. Politics.
LISTA DE TABELAS (UTILIZADA SOMENTE QUANDO HÁ TABELAS NO TCC –
INDEPENDENTE DO NÚMERO DE TABELAS)

Tabela 1 – Índices área rural.....................................................................................00


Tabela 2 – Índices área urbana.................................................................................00
Tabela 3 – Índices por Estado...................................................................................00
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CF Constituição Federal
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CNIG Resolução Normativa Conselho Nacional de Imigração
CONAETE Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo
CONATRAE Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo
MPF Ministério Público Federal,
MPT Ministério Público do Trabalho,
MT Ministério de Trabalho
OIT Organização Internacional de Trabalho
ONGs Organização Não Governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
SNE Sistema Nacional de Emprego
SRTE Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego
TEM Ministério de Trabalho e Emprego
TST Tribunal Superior do Trabalho
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………………...09
2 DIREITO DO TRABALHO...................................................................................11
2.1 CONCEITO....................................................................................................11
2.2 PRINCÍPIOS...............................................................................................12
3 CONCEITO DE TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO………………....18
3.1 FORMAS DE TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO E OS
PRINCÍPIOS
APLICADOS............................................................................................................19
3.2 ÍNDICES DE OCORRÊNCIAS POR ÁREA..................................................20
3.2 CONVENÇÕES E TRATADOS……………………………………………….....21
3.3 CONSTITUIÇÃO FEDERAL E CLT……………………………………………..22
3.3.1 CLT - Consolidação das Leis do Trabalho……………………………....23
4 O TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO................................................25
4.1 DAS MEDIDAS ADOTADAS NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO.30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................33
REFERÊNCIA.........................................................................................................34
1 INTRODUÇÃO

A análise da questão do trabalho em condições análoga à de escravos é uma


temática de suma importância, tendo em vista os reflexos e as consequências que a
prática da submissão ao trabalho escravo acarreta à sociedade. Trata-se de um
problema mundial e não é difícil confrontar-se diariamente como inúmeros exemplos
de práticas de trabalho em condições análogas á de escravo, muitas vezes, bem
mais próximos do que se possa imaginar.
Uma pesquisa entre a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da
Fundação Walk Free em parceria com a Organização Internacional para as
Migrações (OIM) divulgou que em 2016 mais de 40 milhões de pessoas em todo o
mundo foram vítimas da escravidão moderna. No Brasil, conforme a organização
não-governamental Walk Free, o número de pessoas submetidas ao trabalho
escravo se aproxima a 155 mil.
É sabido que no Brasil a questão do trabalho de escravo é tema de muita
importância e ao mesmo tempo é problematizado no que tange as suas mutações e
os desafios ao seu combate. No Brasil a questão de trabalho análogo ao de escravo
deve ser tratado com mais importância pelos órgãos competentes, razão pela qual,
suscita a necessidade de criação de normas mais rigorosas e maior efetividade no
seu comprimento para contornar essa situação.
Destarte, a relevância do presente estudo consiste justamente em contribuir
com a reflexão e produção acadêmica a respeito do tema. O estudo é igualmente
importante para as instituições brasileiras, em função dos vínculos históricos,
culturais e da relação que Brasil mantém hoje com organismos internacionais e as
suas respectivas convenções. O Brasil é um agente internacional influenciador dos
Estados em relação aos tratados e as convenções, visto que deveria ter um
engajamento com maior eficácia
A razão da importância do assunto é porque ele está atrelado à uma das
maiores crueldades praticadas pela humanidade, que foi a escravidão e que, de
certa forma, pode-se considerar o trabalho em condições análogas à de escravo
como à própria evolução da escravidão. Não obstante, o trabalho escravo não se
resume apenas a uma violação à legislação trabalhista, mas principalmente a uma
grave ofensa à dignidade da pessoa humana, um dos maiores princípios
empunhados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Assembleia das
Nações Unidas de 1948, bem como promulgado em nossa Constituição no seu art.
5ª.
Dessa forma, o trabalho degradante, aquele que possui condições mínimas
de saúde, higiene e segurança, passou a ser caracterizado como trabalho análogo à
condição de escravo, pois fere os princípios constitucionais e trabalhistas. Assim,
conforme o direito positivado, não é preciso que o trabalhador sofra restrição da sua
liberdade para que seja considerado vítima dessa prática ilegal. Possuir um
ambiente de trabalho em péssimas condições, como não ter saneamento básico e
água potável também caracteriza a exploração ilegal do trabalho com fins
econômicos.
Atualmente, devido a uma economia de mercado altamente competitiva,
alguns empregadores usam-se dessas práticas para que possam ter uma
rentabilidade maior, revestem-se de uma regularidade ilusória, que passa ao olhos
da maioria das pessoas como uma atividade que está sendo praticada em total
normalidade, são exemplo os trabalhadores em lavouras, indústrias têxteis,
construção civil, caminhoneiros, carvoaria, madeireiras e inúmeras outras que
utilizam mão de obra de adultos e crianças.
Tendo em vista que esse problema vai de encontro aos tratados e
convenções internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e
diversos princípios, dentre eles a dignidade da pessoa humana e a valorização do
trabalho, a escravidão é atualmente, considerada um dos mais importantes temas
abordados nas pautas de encontros nacionais e internacionais.
A informação e conscientização da sociedade sobre o combate ao trabalho
escravo contemporâneo é uma importante ferramenta para libertar às vítimas desse
trabalho indigno e abolir de vez essa prática ilegal que persiste no nosso país.
2 DIREITO DO TRABALHO

2.1 CONCEITO

É o conjunto de normas e princípios que regulamentam o relacionamento entre


empregado e empregadores, visando assegurar melhores condições de trabalho e
sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhe são
destinadas, conforme conceito exposto por Sergio Pinto Martins (2015, p. 18):

Direito do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições


atinentes à relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando
assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de
acordo com as medidas de proteção que lhes são destinadas.

O Direito do Trabalho também serve para equilibrar as relações existentes


entre empregados e empregadores, que claramente são desiguais sob vários
aspectos, além de possuir função tutelar e social, estabelecendo regras mínimas e
garantindo a condição social dos trabalhadores, respectivamente.
Este ramo do direito tem por finalidade adequar as condições de trabalho de
tal forma que possa garantir melhores condições de labor e sociais ao trabalhador.
Vez que, pretende sempre corrigir os defeitos encontrados no âmbito das
empresas, tanto as condições de trabalho quanto a remuneração condizente ao
serviço prestado, garantindo ao empregado a possibilidade de suprir suas
necessidades e de sua família, o que consequentemente mantém a economia do
país em constante movimento.
Destarte, o Direito do Trabalho não é apenas norteado por princípios e
regras, mas inclusive por instituições, de entidades, que proporcionam todas as
peculiaridades do referido ramo do Direito, bem como vai de encontro aos tratados
e convenções internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O artigo 7o da Constituição Federal prevê a proteção aos trabalhadores de
todas as categorias, estipulando as seguintes garantias: direito ao salário mínimo,
direito ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), direito a duração do
trabalho normal não superior a oito horas diárias e 44 semanais, direito a receber
horas extras se a jornada de trabalho ultrapassar oito horas diárias, direito a férias e
13o salário, repouso semanal remunerado, seguro desemprego, aviso prévio,
assistência médica, irredutibilidade do salário, licença maternidade e paternidade.

2.2 PRINCÍPIOS

São normas básicas e indispensáveis, que estão ligadas ao início de


algo. Fora do ordenamento jurídico os princípios poderiam ser exemplificados como
pertencentes a ética, no entanto, os princípios do Direito têm características jurídicas
que os diferem, pois inspiram e orientam o legislador e o aplicador do Direito.
Princípio origina-se do latim principium, princippi, que significa origem e base.
Dentro do ordenamento jurídico, os princípios não podem ser unicamente
morais, pois dessa forma perdem a força jurídica vinculante e para que tenham
essa força devem ser também normas jurídicas, que é adquirida com a eficácia
normativa. Dessa forma, no ordenamento jurídico, os princípios estão
caracterizados como valores que o Direito reconhece, sendo que deles as regras
jurídicas não podem se afastar, para que seu fim seja cumprido.
Assim, Amauri Mascaro Nascimento fala sobre o tema:

Os princípios não têm força normativa, não podem ser aplicados na solução
dos casos concretos e é evidente a necessidade da sua aplicação, que não
deve limitar-se aos casos de lacunas. A necessidade de atuação dos
princípios é um imperativo de efetividade do ordenamento jurídico, razão
pela qual não é razoável retirar o caráter normativo da sua estrutura
molecular. (2017).

Outrossim, apresentamos os princípios como normas jurídicas que atuam no


ordenamento como as demais normas e com hierarquia superior, salvo quando pelo
teor da sua proposição for impossível a sua aplicação ou quando a sua origem for
meramente doutrinária de hipótese interpretativa.
No âmbito doutrinário, à vários preceitos a respeitos dos princípios que estão
elencados no direito do trabalho, entre eles os que estão em maior destaques na
doutrina, são: Princípio da Proteção, Princípio da Irrenunciabilidade de Direitos,
Princípio da Continuidade da Relação de Emprego, Princípio da Primazia da
Realidade, Princípio da Razoabilidade, Princípio da Intangibilidade Salarial, Princípio
da Inalterabilidade Contratual Lesiva.
Os quais serão explanados a seguir:

 Princípio da Proteção: O Princípio da Proteção é o princípio mais importante


do Direito do Trabalho, sendo que é considerado por alguns doutrinadores, como
sendo o único princípio, do qual os demais derivariam. O princípio da proteção está
ligado ao principal critério do Direito do Trabalho, que é o estabelecimento de
amparo preferencial ao trabalhador, alicerçado no art. 7º da CF.
Assim explana, Renato Saraiva:

O princípio da proteção, sem dúvida o de maior amplitude e importância no


Direito do Trabalho, consiste em conferir ao polo mais fraco da relação
laboral - o empregado - uma superioridade jurídica capaz de lhe garantir
mecanismos destinados a tutelar os direitos mínimos estampados na
legislação laboral vigente. (SARAIVA, 2010).

Dessa forma, este Princípio tem a função de igualar as relações entre


empregador e empregado.
Tal princípio vem colocar o trabalhador em situação de vantagem sob o
patrão, podendo ser dividido em outros princípios, quais sejam: O In dubio Pró
Operário; traduz-se por aplicar a interpretação que melhor atenda ao trabalhador,
diante de uma regra que tenha mais de um entendimento. Já o Princípio da
Aplicação da Norma Mais Favorável ao Trabalhador está disposto no artigo 7º da
Constituição Federal e consiste em existindo duas ou mais normas para se aplicar
ao caso, deve-se utilizar aquela que mais beneficie o empregado. E por último o
Princípio da Aplicação da Condição Mais Benéfica ao Trabalhador dispõe que as
vantagens já conquistadas pelo trabalhador, não podem ser modificadas para pior,
alicerçado no art. 7º da CF.
 Princípio da Irrenunciabilidade de Direito: A lei dispõe que os direitos do
trabalhador são irrenunciáveis. Sendo que se de fato ocorrer de um trabalhador
assim os renunciar, tal renúncia não terá validade, podendo o obreiro reclamar os
direitos renunciados na justiça. Consiste na impossibilidade jurídica de o trabalhador
privar-se voluntariamente de vantagens a ele conferidas pela lei trabalhista. Este
princípio encontra assento constitucional no art. 9º da CF e amparo legal no art. 444
da CLT.
Amauri Mascaro Nascimento leciona que:

O princípio da irrenunciabilidade dos direitos pelo trabalhador tem a função


de fortalecer a manutenção dos seus direitos com a substituição da vontade
do trabalhador, exposta às fragilidades da sua posição perante o
empregador, pela lei, impeditiva e invalidante da sua alienação. (2011).

O princípio da irrenunciabilidade é a impossibilidade jurídica de privar o


empregado de uma ou mais vantagens concedidas pelo Direito do Trabalho. Isto
significa que as partes não podem renunciar a direitos de ordem pública os quais,
para protegerem o empregado, foram criados como um conteúdo mínimo a ser
estabelecido no contrato.
 Princípio da Continuidade da Relação de Emprego: Com exceção dos
contratos por prazo determinado, o contrato de trabalho tem validade por tempo
indeterminado, ou seja, haverá continuidade da relação de emprego, ancorada no
inciso I, do art. 7º da CF.
Sobre o tema, leciona Maurício Godinho Delgado:

Informa tal princípio que é de interesse do Direito do Trabalho a


permanência do vínculo empregatício, com a integração do trabalhador na
estrutura e dinâmica empresariais. Apenas mediante tal permanência e
integração é que a ordem jus-trabalhista poderia cumprir satisfatoriamente o
objetivo teleológico do Direito do Trabalho, de assegurar melhores
condições, sob a ótica obreira, de pactuação e gerenciamento da força de
trabalho em determinada sociedade. (DELGADO, 2017).

Outra norma relacionada ao princípio em questão é o artigo 448. O dispositivo


define que a mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afeta
os contratos de trabalho dos respectivos empregados. Ou seja, a relação de
emprego continua vigente mesmo que haja alteração na propriedade da empresa. 
Por fim, o princípio da continuidade pode ser verificado na Súmula 212 do
Tribunal Superior do Trabalho. Pela jurisprudência do TST, o ônus de provar o
término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o
despedimento, é do empregador. Assim, o princípio da continuidade da relação de
emprego constitui presunção favorável ao empregado.
 Princípio da Primazia da Realidade: O Princípio da Primazia da Realidade
destaca que a realidade dos fatos prevalece sobre cláusulas contratuais ou
documentos. Esse princípio pode ser aplicado a favor ou contra o empregado, isso
porque, nesse caso é analisada a realidade dos fatos e não a versão apresentada
pelo trabalhador. Tal princípio se ancora no art. 6º da CF, como garantia de acesso
ao direito social do trabalho.
Todavia em uma relação de trabalho o que realmente importa são os fatos
que ocorrem, mesmo que algum documento formalmente indique o contrário. Assim,
vale mais a realidade, do que o que está formalizado no contrato.
 Princípio da Intangibilidade Salarial: O Princípio da Intangibilidade Salarial
não está somente ligado ao Direito do Trabalho, mas também nas relações que
mantém com o plano externo do universo jurídico. De fato, esse Princípio é de
grande relevância para todo o Direito, com sede na Constituição: o princípio da
dignidade da pessoa humana, ancorado no art. 7º . VI , CF e art. 468 da CLT.
Assim diz Maurício Godinho Delgado:

Realmente, considera este princípio jurídico maior e mais abrangente que o


trabalho é importante meio de realização e afirmação do ser humano, sendo
o salário a contrapartida econômica dessa afirmação e realização. É claro
que o reconhecimento social pelo trabalho não se resume ao salário, já que
envolve dimensões muito amplas, ligadas à ética, à cultura, às múltiplas
faces do poder, ao prestígio comunitário etc.; mas é o salário, sem dúvida, a
mais relevante contrapartida econômica pelo trabalho empregatício. Nesse
quadro, garantir-se juridicamente o salário em contextos de contraposição
de outros interesses e valores é harmonizar o Direito do Trabalho à
realização do próprio princípio da dignidade do ser humano. (DELGADO,
2016).

Dispõe ao trabalhador o direito de perceber a contraprestação a que faz jus


por seu trabalho, de maneira estável e segura, não sujeita às oscilações inerentes
ao ramo da atividade econômica explorada ou à mera vontade do empregador.
Confere ao salário diversas garantias jurídicas, visto que este possui
natureza alimentar. Assim, a intangibilidade salaria abrange não apenas a
irredutibilidade nominal do seu valor, mas também vedação da aplicação de
descontos indevidos, tempestividade no pagamento etc.
Nesses ótica o inciso VI, do artigo 7º da CF/88 define:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
(...)
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;

No mesmo sentido também e a CLT em seus artigos 459, 462 e 465:

CLT, art. 459 - O pagamento do salário, qualquer que seja a modalidade


do trabalho, não deve ser estipulado por período superior a 1 (um) mês,
salvo no que concerne a comissões, percentagens e gratificações.
CLT, art. 462 - Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto
nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos,
de dispositivos de lei ou de contrato coletivo.
CLT, art. 465. O pagamento dos salários será efetuado em dia útil e
no local do trabalho, dentro do horário do serviço ou imediatamente após o
encerramento deste, salvo quando efetuado por depósito em conta
bancária, observado o disposto no artigo anterior.

Antes da reforma trabalhista o princípio da irredutibilidade salarial não era


absolto, como a própria Constituição Federal preconiza excerto na hipótese de
norma coletiva onde o salário pode ser reduzido temporariamente.
Desta forma, depois da reforma trabalhista houve alteração no § 3º do art.
611-A, regulamento a jurisprudência já existente, estabelecendo a possiblidade de
redução salarial com a redução da jornada de trabalhado e impondo uma
instabilidade provisória durante a vigência das alterações:

§ 3º Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a


convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever
a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de
vigência do instrumento coletivo .

Certamente, diminuir os valores de natureza salarial é agir em prejuízo direto


do trabalhador, e não pode ser executado pelo empregador em contrato individual.
Entretanto, a redução salarial é possível via convenção ou acordo coletivo de
trabalho, como permite a parte final do inciso VI do art. 7º da Constituição. Trata-se
de mecanismo de flexibilização do Direito do Trabalho.
 Princípio da Inalterabilidade Contratual Lesiva: A origem no
princípio geral do direito civil da inalterabilidade dos contratos. Entretanto este
princípio não impede alterações contratuais trabalhistas, que são comuns na prática.
Ao passo que as alterações favoráveis ao trabalhador são amplamente
permitidas, no que toca a alterações desfavoráveis há clara vedação, mesmo que
provenientes de "mútuo consenso". O princípio da inalterabilidade contratual lesiva
está consagrado na CLT - art. 468. As alterações contratuais só serão lícitas se
feitas por mútuo consenso e desde que não causem prejuízo direto ou indireto ao
trabalhador.
Trata-se de um princípio expresso no artigo 468 da CLT:

Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das


respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que
não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena
de nulidade da cláusula infringente desta garantia.

Este princípio tem origem no princípio geral do direito civil da inalterabilidade


dos contratos (pacta sunt servanda). Este princípio não impede alterações
contratuais trabalhistas, que são comuns na prática. O que se restringe são as
alterações lesivas onde o empregado é prejudicado.
Os princípios estão reconhecidos hoje como primordiais para a elaboração e
aplicação das regras dentro do Direito do Trabalho, sendo que a maioria dos
doutrinadores entendem como sendo os Princípios de grande valia para aplicação
do Direito. Os Princípios têm função informadora, normativa e interpretativa. E é
dessa forma que eles atuam, sendo utilizados como critério de interpretação e
integração do direito. Destarte, o Direito do Trabalho está firmado sobre princípios
jurídicos que consolidam os fins do próprio eixo jurídico trabalhista, especialmente a
busca pela justiça. Vez que, verifica-se a importância dos princípios como forma de
se manter os direitos conquistados pelos trabalhadores no decorrer dos anos.
3 CONCEITO DE TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO

Trabalho escravo contemporâneo é o trabalho forçado que envolve restrições


à liberdade do trabalhador, onde ele é obrigado a prestar um serviço, sem receber
um pagamento ou receber um valor insuficiente para suas necessidades e as
relações de trabalho costumam ser ilegais
Com o advento da Lei n° 10.803 de 11 de dezembro de 2003, o Código Penal
Brasileiro passou a prever o crime como redução do trabalhador à condição análoga
à de escravo.
A exploração do homem pelo homem ainda continua nos dias atuais, porém
apresenta algumas características que a difere da vivida no Brasil até 1888 e, por
não ser a mesma, em regra, o termo escravidão é acompanhado por expressões
que fazem referência à atualidade, como por exemplo, “semi”, “branca”,
“contemporânea” ou “análoga”. Esta última encontrada na legislação brasileira
O homem escravizado atualmente está tão suscetível à exploração quanto
antes, sendo tratado como objeto, como coisa. Por isso, o tema será aqui abordado
como Trabalho Escravo Contemporâneo, conceituando-o, em poucas palavras,
como ato violador dos Direitos Humanos.
Desta forma, afirma Evanna Soares:

Considerando tal essência do trabalho, ou melhor, do trabalho em


condições análogas à escravidão – expressão mais apropriada aos dias
atuais em que a escravidão é proibida pelos povos civilizados – tem-se
como exploração de mão de obra em tais condições todos os casos em que
a dignidade humana é aviltada, notadamente quando o trabalhador é iludido
com promessas de bons salários e transportado sem obediência aos
requisitos legais, ou impedido de sair do local de trabalho pela vigilância
armada ou preso a dívidas impagáveis contraídas perante o empregador,
ou, ainda, explorado sem atenção aos direitos trabalhistas elementares, tais
o salário mínima, jornada de trabalho normal, pagamento de adicionais,
repouso remunerado e boas condições de higiene, saúde e segurança do
trabalho. (Revista do Ministério Público do Trabalho, v.26, p.34).
No Brasil, o trabalho em condições análogas à de escravo é recorrente, os
trabalhadores recebem salários muito abaixo do que está estipulado na Lei ou
nenhum, com locais de trabalho humilhantes onde há restrições à liberdade do
trabalhador, bem como em trabalhos feitos por períodos pré-determinados como
acontece em fazendas de cultivos de soja/milho em temporada de safra, vez que em
algumas situações o alojamento precário cedido pela fazenda é degradante, sem a
higiene adequada, bem como sem horário para descanso, com jornadas exaustivas,
tendo que continuar o trabalho por até 24 horas por dia e alimentação inadequada,
são algumas formas que é definidas dentro do tema.
Atualmente, o trabalhador submetido ao trabalho escravo não está preso ao
local de trabalho por grilhões e correntes, mas há outros mecanismos que são
usados para impedir que deixe o serviço. O isolamento geográfico é um exemplo,
assim como a cobrança de dívida ilegal. Nessa última situação, o trabalhador não
pode deixar o trabalho porque se compromete a pagar uma dívida que cresce
exponencialmente a cada dia com os gastos com a alimentação e, muitas vezes,
com a moradia

3.1 FORMAS DE TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO E OS PRINCÍPIOS


APLICADOS

O trabalho em condições degradantes é aquele em que não são respeitados


os direitos mínimos dos trabalhadores, que prestam serviços em péssimas
condições, sem direito a saúde, higiene, justa remuneração, segurança ou moradia
digna. Sobre o tema, entende NUCCI:

(...) degradação significa rebaixamento, indignidade ou aviltamento de algo.


No sentido do texto, é preciso que o trabalhador seja submetido a um
cenário humilhante de trabalho, mais compatível a um escravo do que a um
ser humano livre e digno. Logo, apesar de se tratar de tipo aberto, depende,
pois, da interpretação do juiz, o bom-senso está a indicar o caminho a ser
percorrido, inclusive se valendo o magistrado da legislação trabalhista, que
preserva as condições mínimas apropriadas do trabalho humano. ( NUCCI,
2010, pp. 706)
O trabalho é o meio para subsistência do trabalhador, que garante a nossa
sobrevivência e faz parte da nossa identidade, que está relacionada à dignidade,
satisfação e realização pessoal. Aceitar um trabalho árduo e longe do seu lar, muitas
vezes, parece ser a única opção para as pessoas que estão sem nenhum recurso
para sustentar a si e a sua família. A situação de vulnerabilidade socioeconômica do
trabalhador é uma das principais razões para ele acreditar em uma proposta
enganosa de emprego e aceitá-la.
A jornada exaustiva além de fugir das regras da CLT, limitação de até duas
horas extras por dia, ou em caso de necessidade imperiosa, força maior, ou
conclusão de serviços inadiáveis, até quatro horas extras ao dia, também é a
jornada exercida sem remuneração, compensação ou intervalos para refeição,
descanso e higiene pessoal. Ou seja, para a caracterização do crime, tão importante
quanto as horas efetivamente trabalhadas, é a verificação das condições em que o
trabalho foi prestado.
No Brasil, é comum a prática do trabalho escravo quando o trabalhador fica
preso a dívidas, geralmente alocado numa região isolada, dificultando sua
locomoção ou até mesmo sendo impedido de fugir por segurança armado. Muitas
das vezes seus documentos são retidos, o que lhes obrigam a permanecer no local.
As denúncias de casos de trabalho escravo são o principal instrumento para
orientar as ações de fiscalização e descobrir situações de trabalho escravo. O
empregador que utiliza trabalho escravo busca produzir ou beneficiar um produto
com o mínimo ou ausência total de custos trabalhista, ou seja, a motivação para
explorar o trabalhador é principalmente econômica. Isto posto, além das punições
judiciais, algumas ações de combate incidem no aspecto econômico para que o uso
de trabalho escravo deixe de ser rentável ao empregador.
Segundo dados do Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) da
Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, em 111
dos 267 estabelecimentos fiscalizados em 2019, houve a caracterização da
existência dessa prática.
Ainda segundo o balanço, outras operações de destaque ocorreram em
Roraima, tendo em vista o grande número de imigrantes venezuelanos que têm
atravessado a fronteira para o Brasil em situação de extrema vulnerabilidade. Em
três operações realizadas no estado, 16 trabalhadores foram resgatados, sendo três
venezuelanos; e  94 tiveram os contratos de trabalho formalizados durante as
fiscalizações.

TABELA 1 – ÍNDICES ÁREA RURAL

Área rural Números de casos


Produção de carvão vegetal 121
Cultivo de café 106
Criação de bovinos para corte 95
Comércio varejista 79
Cultivo de milho 67
FONTE: SIT – MINISTÉRIO DA ECONOMIA (2019)

TABELA 2 – ÍNDICES ÁREA URBANA

Área urbana Números de casos


Confecção de roupas 35
Construção civil 18
Serviços domésticos 14
Construção de rodovias 12
Serviços ambulantes 11
FONTE: SIT – MINISTÉRIO DA ECONOMIA (2019)

A Lei nº10.803/2003, alterou o art. 149 do Código Penal Brasileiro, para


caracterizar o crime de redução a condição análoga à de escravo:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer


submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-
o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou
preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
correspondente à violência § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I –
cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com
o fim de retê-lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no
local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho § 2o A pena é
aumentada de metade, se o crime é cometido: I – contra criança ou
adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
origem.

O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Instrução Normativa


SIT/MTE nº 139/2018 estabeleceu a caracterização administrativa da figura da
redução do trabalhador a condições análogas à de escravo, ampliando em relação
ao que dispõem o art. 149 do Código Penal.
De acordo com Filho (2004) trabalho em condições análogas à condição de
escravo é a submissão do homem a um trabalho em que há restrição à liberdade ou
quando há o 16 desrespeito às garantias da dignidade do trabalhador. É a violação
da dignidade da pessoa humana. É a negação ao trabalhador dos direitos básicos
que os diferem dos outros seres vivos. A redução do trabalhador ao trabalho escravo
é a coisificação do ser humano; colocando preço no homem, o menor preço
possível.

3.2 CONVENÇÕES E TRATADOS

A Organização Internacional do Trabalho foi fundada em 1919 como parte do


Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. É a única agência das
Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual representantes de governos, de
organizações de empregadores e de trabalhadores de 187 Estados-membros
participam em situação de igualdade das diversas instâncias da Organização. A OIT
tem como objetivo promover a justiça social.
É responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do
trabalho (Convenções e Recomendações) As Convenções, uma vez ratificadas por
decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. O
Brasil está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência
Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião.
A missão da OIT é promover oportunidades para que homens e mulheres
possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade,
equidade, segurança e dignidade. Para a OIT, o trabalho decente é condição
fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a
garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) desenvolve o seu trabalho no
âmbito da redução da pobreza, de uma globalização justa e na melhoria das
oportunidades para que mulheres e homens possam ter acesso a trabalho digno e
produtivo em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana.
Outra importante Convenção é a 105 da Organização Internacional do
Trabalho, sendo considerada, juntamente com a Convenção 29, as mais importantes
sobre trabalho forçado, sendo ratificada pelo Brasil em 1966, por meio do decreto n.
58.822. O seu primeiro artigo dispõe que Todo o Membro da Organização
Internacional do Trabalho que ratifique a presente convenção compromete-se a
suprimir o trabalho forçado ou obrigatório e a não o utilizar sob qualquer forma.
A Organização dos Estados Americanos, em 1969, consolidou no continente a
Declaração de San José da Costa Rica, reafirmando a liberdade pessoal e a justiça
social, assegurando, em seu artigo 6°, a vedação da prática da escravidão,
afirmando:

Artigo 6º - Proibição da escravidão e da servidão 1. Ninguém poderá ser


submetido a escravidão ou servidão e tanto estas como o tráfico de
escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas. 2.
Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório.
Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa de
liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode
ser interpretada no sentido de proibir o cumprimento da dita pena, imposta
por um juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não deve afetar a
dignidade, nem a capacidade física e intelectual do recluso.

Através do Pacto de São José da Costa Rica, os países se comprometeram a


não apenas erradicar o trabalho escravo, mas também assumiram o compromisso
de garantir o gozo dos direitos elencados na Declaração, por meio de medidas
legislativas que não permitam a supressão dos direitos essenciais.
O trabalho escravo contemporâneo desrespeita às normas legais, os direitos
sociais previstos na Constituição e Tratados Internacionais e desconsidera a própria
vítima como ser humano detentor de direitos assegurados. O escravo vive em
condições de descaso com a saúde, que degradam o labor e o expõe a situações de
tortura.

3.3 CONSTITUIÇÃO E CLT

A Constituição brasileira sempre defendeu os direitos aos cidadãos


independentes de cada período da história. Com a redemocratização a CF/98
passou a prever detalhadamente e com grande número de dispositivos os direitos e
garantias fundamentais.
Sobre a nova Constituição e a conquista de diversas garantias constitucionais,
preceitua BARROSO:

Sob a Constituição de 1988, aumentou de maneira significativa a demanda


por justiça social na sociedade brasileira. Em primeiro lugar, pela
redescoberta da cidadania e pela conscientização das pessoas em relação
aos próprios direitos. Em seguida, pela circunstância de haver o texto
constitucional criado novos direitos, introduzindo novas ações e ampliando a
legitimação ativa para tutela de interesses, mediante representação ou
substituição processual. (BARROSO, 2003, p. 303).

Importante salientar que essas garantias não são aplicadas somente dentro
Constituição Federal, mas também é dever do Estado a exigência de efetiva
prestação da garantia dos direitos tutelados, que possuem eficácia e aplicabilidade
imediata, devendo o Poder Público assegurar o pleno exercício das garantias
constitucionais e indenizar o cidadão quando houver desrespeito às normas.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1°, incisos III e IV, preceitua
que seus fundamentos são, dentre outros, a dignidade da pessoa humana e os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Apenas em um artigo da
Constituição, a prática de escravizar outro ser humano já é caracterizada como
ilegal, pois fere o direito do homem por ser cidadão, constituidor de direitos e dever
perante a sociedade e viola, também, o valor social do trabalho, que se justifica por
garantir ao homem sustento e melhoria de vida.
O artigo 5° elenca os direitos e deveres individuais e coletivos garantidos pelo
Estado a todos os brasileiros e residentes no país, dentre eles, vida, liberdade,
segurança, igualdade e propriedade.
A constituição Federal também traz, em seu artigo 170 que a ordem
econômica está fundada na valorização do trabalho humano, e no artigo 193 que a
ordem social tem como base o primado do trabalho.

3.3.1 CLT - Consolidação das Leis Trabalhista

Analisaremos os diversos dispositivos previstos na CLT que coíbem o


trabalho escravo. A mera violação dos direitos trabalhistas não caracteriza, por si
só, o trabalho escravo. É preciso que estejam presentes os elementos ensejadores
do crime. A prisão por dívida e a condição degradante, dentre outros, devem estar
presentes, em conjunto ou isoladamente, no ambiente da prestação de serviço.
O trabalho rural é onde encontra-se os maiores casos de trabalho análogo ao
de escravo, com a apreensão dos documentos e a notificação da dívida gerada pelo
transporte e comida utilizados, impedindo os trabalhadores de deixarem o local e já
os tornando prisioneiros.
O artigo 13 da CLT, afirma que:

A Carteira de Trabalho e Previdência Social é obrigatória para o exercício


de qualquer emprego, inclusive de natureza rural, ainda que em caráter
temporário, e para o exercício por conta própria de atividade profissional
remunerada.

No Ordenamento Jurídico brasileiro, a jornada do trabalho comum de trabalho


consiste em oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais conforme o artigo
7º, XIII, da CF e o artigo 58 caput, da CLT, sendo que é permitida a prorrogação e a
compensação da jornada (art. 58 da CLT e 7, XIII, da CF), mas em números que não
exceda as duas horas diárias.
Na legislação trabalhista, a escravidão é coibida em diversos dispositivos,
como pela ausência de registro em carteira de trabalho, com violação aos
dispositivos da CLT: artigo 41, caput; artigos 13 e 29, caput. Assim, o capítulo V da
CLT, no seu artigo 145, seguinte e assim como as Normas Regulamentada da
Portaria nº. 3.214-78 do Ministério de Trabalho.
O Ministério do Trabalho e Emprego publicou a Portaria nº 1293/2017, a qual
trouxe os conceitos de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análogas à
de escravo com a finalidade de concessão de seguro-desemprego ao trabalhador
que vier a ser resgatado na fiscalização feito pelo Ministério do Trabalho, conforme o
artigo 2-C da Lei nº 7998-1990. Também do Ministério do Trabalho, a Instrução
Normativa SIT nº 139/2018 - Dispõe sobre a fiscalização para a erradicação do
trabalho em condição análoga à de escravo e dá outras providências.
4 O TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO

O termo “trabalho escravo” deveria ser usado somente para designar um


estatuto. termo “escravidão” é contestado por alguns juristas, vez que alegam que a
ideia de escravidão deva necessariamente existir o uso de chicotes, grilhões e de
mecanismo capazes de deter de fato, a saída das pessoas de seus ambientes de
trabalho, considerando apenas o aspecto da sujeição absoluta.
O termo escravidão tornou-se uma categoria política. Neste conceito, podem
estar se manifestando sentimentos de repúdio e de recusa a situações que excedem
as fronteiras culturalmente aceitas da desigualdade entre os homens (Esterci, 2003).
O Brasil, apesar de ter sido, em 1995, uma das primeiras nações do mundo a
reconhecer oficialmente a ocorrência do problema da escravidão em seu território,
assumindo esse fato perante a Organização Internacional 236 Repocs, v.15, n.29,
jan./jul. 2018 do Trabalho (OIT), ainda possui um grande contingente de
trabalhadores escravizados. Conforme dados do projeto “Escravos nem pensar”, de
1995 até 2014, mais de 47 mil trabalhadores foram libertos de situações análogas à
de escravidão.
Do ponto de vista jurídico, o tema esbarra em duas dimensões: a trabalhista e
a penal. No Brasil, significativos avanços se deram, a partir da promulgação da Lei
nº 10.803, de 11 de dezembro de 2003, que alterou o artigo 149 do Código Penal.
Na redação anterior desse artigo, constava: “reduzir alguém à condição
análoga à de escravo. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos”. Com a
alteração, passou a se apresentar da seguinte forma:

Artigo 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer


submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-
o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou
preposto:
Pena- reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente
à violência.
§ 1º. Nas mesmas penas incorre quem: I- cerceia o uso de qualquer meio
de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera
de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no
local de trabalho. § 2º. A pena é aumentada de metade, se o crime é
cometido: I – contra a criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito
de raça, cor, etnia, religião ou origem.

O que se procura combater é o estado de sujeição da vítima que está sob o


domínio de alguém. Sendo assim, a liberdade e a autonomia da vontade são
elementos essenciais a serem considerados numa relação de trabalho. Identifica-se
que a escravidão contemporânea não é caracterizada por meras infrações de cunho
trabalhista, mas é, na verdade, um crime contra os direitos humanos e fundamentais
que norteiam o Estado democrático de Direito.
Nas relações contemporâneas de escravidão, esses fundamentos são
desrespeitados, pois o trabalhador, muitas vezes, ignora o real conteúdo do acordo
e as verdadeiras intenções do empregador.
Na concepção de Livia Mendes Moreira Miraglia:

“Nessa esteira, pode-se inferir que o trabalho escravo contemporâneo é


aquele que se realiza mediante a redução do trabalhador a simples objeto
de lucro do empregador. O obreiro é subjugado, humilhado e submetido a
condições degradantes de trabalho e, em regra, embora não seja elemento
essencial do tipo, sem o direito de rescindir o contrato ou de deixar o local
de labor a qualquer tempo”. (MIRAGLIA, 2015, p. 132 e 133).

O conceito de trabalho em situação análoga à de escravo apreendido pelo


Direito do Trabalho deve abarcar todo aquele labor que desrespeite a dignidade da
pessoa humana, pois é esse o bem jurídico a ser tutelado no combate à prática do
trabalho escravo contemporâneo.
O objetivo geral deste estudo é estabelecer o conceito de trabalho escravo à
luz do princípio da dignidade da pessoa humana, com base, principalmente, na
concepção de trabalho digno.
Para tanto, é necessário executar uma análise mais detalhada acerca do
papel dos princípios no direito contemporâneo e, em especial, dos princípios do
trabalho no ordenamento jurídico constitucional brasileiro.
Ademais, aduz-se que é somente por meio do trabalho digno, que se
promove a verdadeira cidadania e a dignidade plena da pessoa humana. Destarte, a
valorização do trabalho é elemento imprescindível para a valorização do próprio ser
humano.
A escravidão contemporânea manifesta-se em todas as regiões do mundo e
se caracteriza por situações que levam à violação da dignidade do trabalhador. No
Brasil, a utilização de mão de obra análoga a de escravo é considerada crime, pois
constitui uma grave afronta a direitos humanos e trabalhistas.
Determina-se o conceito de trabalho digno, alicerçado em teses doutrinárias
sobre o tema, de maneira a permitir a conclusão de que o trabalho só é digno se
realizado com a observância dos direitos fundamentais trabalhistas, assecuratórios
do patamar mínimo existencial, sem o qual não há vivência digna.
A partir do conceito de trabalho digno, examina-se o trabalho em condições
análogas à de escravo, sob a perspectiva do ramo jus-trabalhista. Por fim, cumpre
destacar a importância da adequação do conceito de trabalho escravo para coibir
práticas degradantes e aviltantes da mão de obra, com o intuito de realizar
efetivamente os propósitos do Estado Democrático de Direito Brasileiro, fundado no
respeito à dignidade da pessoa humana.
O artigo 5ª da C F, afirma que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante.

Deste modo, o trabalho, inserido como direito social fundamental da


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, deve, a partir de então, ser
interpretado sob o principio da dignadade da pessoa humana, pois o ser humano é o
centro do ordenamento jurídico.
Outrossim, a escravidão contemporânea no Brasil, modernizou-se juntamente
com o desenvolvimento urbano e do campo com o passar dos anos. Podemos dizer
que o campo se modernizou de forma contínua, e da mesma forma, por outro lado
as formas explorações também tiveram um tipo de reprodução, principalmente a
negação ao reconhecimento dos direitos dos trabalhadores rurais. E, mais do que
isso, difundiram-se e reproduziram-se, de certo modo, concepções que tinham em
vista tornar invisíveis essas formas de exploração, numa tentativa de naturalização
de sua ocorrência.
Grandes fazendas, beneficiadas por incentivos fiscais fornecidos pelo
governo militar brasileiro, ocuparam cada vez mais a região Amazônica,
desestruturando organizações sociais e produtivas já existentes, além de
proporcionar um fluxo migratório para a região.
Seguindo nesse sentindo, destacamos que o local com maior abrangência de
trabalho escravo contemporâneo é em fazendas agrícolas, vez que de uns anos
para cá houve uma demanda bem maior nas produções por exemplo de soja, milho,
algodão, dentre outras produções. Razão pela qual houve a necessidade de uma
mão de obra em grande quantidade, sendo essas pessoas, na maioria das vezes
vindas de outras cidades ou estados.
Isto posto, com a grande demanda de funcionários, os empregadores tiveram
que adaptar em suas fazendas, locais de moradia, vez que com a permanência dos
funcionários no ambiente de trabalho faz com que eles trabalhem até o horário que o
empregador estabelece, sendo inviável que residem em outros locais.
De acordo com a OIT:

Mais de 40 milhões de pessoas foram vítimas da escravidão moderna em


2016, sendo que 71% eram mulheres e meninas. Desse total, cerca de 25
milhões de pessoas foram submetidas a trabalho forçado e 15,4 milhões
foram forçadas a se casar. Das 24,9 milhões de pessoas submetidas a
trabalho forçado, 16 milhões foram exploradas no setor privado (por ex.
trabalho doméstico, construção ou agricultura), 4,8 milhões sofreram
exploração sexual forçada e 4 milhões estavam em situação de trabalho
forçado imposto por autoridades de governos. As mulheres representam
99% das vítimas do trabalho forçado na indústria comercial do sexo e 84%
dos casamentos forçados. Uma em cada quatro vítimas da escravidão
moderna são
crianças.<https://www.ilo.org/brasilia/temas/trabalhoescravo/langpt/
index.htm#:~:text=Fatos%20e%20n%C3%BAmeros%20globais,foram
%20for%C3%A7adas%20a%20se%20casar> (Acessado em 27/10/20).

A OIT, em sua obra publicada Trabalho escravo no Brasil do século XXI,


apresenta quadro de denúncias de trabalhadores em situação de escravidão em
cada estado federativo do Brasil, contudo, o número crescente de trabalhadores em
regime de escravidão observado em mencionada tabela não se deve ao aumento da
exploração do trabalho escravo propriamente dito, mas à intensificação do registro,
da fiscalização e do combate entre os órgãos governamentais, o que conduz a
dados mais aproximados da realidade.
O artigo 2º da Convenção nº 29 da OIT, no seu item 1, diz que:

Artigo 2º - (...) para fins desta Convenção, a expressão ‘trabalho forçado


ou obrigatório’ compreenderá todo trabalho ou serviço exigido de uma
pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido
espontaneamente.

O Brasil tem uma característica interessante que tem se apresentado se


refere à capacidade que a OIT tem desenvolvido de divulgar a temática do trabalho
decente para outras instituições importantes do poder público, como o Ministério do
Trabalho e o Ministério Público do Trabalho.
Destarte estas instituições são tidas como parceiras desse projeto e várias
iniciativas têm sido tomadas nesse sentido. Uma delas foi a elaboração do Plano
Nacional de Emprego e Trabalho Decente (PNETD), em 2009, sendo coordenado
pelo Ministério do Trabalho e Emprego cabendo à OIT a função de assessoria
técnica.
O trabalho em condições degradantes é aquele exercido com supressão das
garantias mínimas de saúde e segurança, além de ausência de condições que
assegurem a dignidade do trabalhador, tais como: moradia, higiene, imagem,
respeito, transporte seguro e alimentação.
A degradação vai desde o constrangimento físico e/ou moral a que é
submetido o trabalhador – seja na deturpação das formas de contratação e do
consentimento do trabalhador ao celebrar o vínculo com o empregador, seja na
impossibilidade desse trabalhador extinguir o vínculo conforme sua vontade, no
momento e pelas razões que entender apropriadas – até péssimas condições de
trabalho e de remuneração: alojamentos sem condições de permanência, falta de
instalações sanitárias e elétricas, problemas no fornecimento de água e de
alimentação apropriadas para o consumo humano, falta de fornecimento gratuito de
equipamentos de proteção individual, transporte inseguro de trabalhadores e
precariedade nas condições de higiene, saúde e segurança no trabalho.
Não obstante, as pessoas que se deixam submeter ao estado de escravidão,
não fazem por gostam, as vezes elas nem sabem que estão sendo exploradas, a
única coisa que elas sabem é que o trabalho que estão prestando é a única forma
de sustentar suas famílias.
Entende-se que Direito ao Trabalho é a base sobre a qual se assentam
todos os demais, e deve ser analisado de diversas formas, sobretudo como
obrigação do Estado de criar condições para que o trabalhador possa exercer uma
ocupação que lhe permita e à sua família subsistir.
Chamamos a atenção para a formação de redes de combate ao trabalho
escravo no Brasil que ultrapassam os limites dos representantes formais do estado.
OIT, ONGs, instituições várias, órgãos públicos, universidades e diversos segmentos
da sociedade civil, têm se mobilizado para a erradicação efetiva dessa situação de
exploração.

4.1 DAS MEDIDAS ADOTADAS NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO

No Brasil, pode-se afirmar que a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17)


aprovada pelo Congresso Nacional em julho de 2017, diz respeito principalmente às
prováveis consequências trazidas para o combate ao trabalho escravo
contemporâneo.
O Estado detém o poder e o dever para que adotarem medidas eficazes para
a erradicação do trabalho escravo, vez que é obrigação do Estado a fornecer a
população todos os meios para que possam ter uma vida digna.
O combate ao trabalho escravo deve ser feito por meio de ações
governamentais e da sociedade civil em três linhas principais: a prevenção, a
assistência à vítima e a repressão, como prevê o 1o e o 2o Plano Nacional para a
Erradicação do Trabalho Escravo, uma avaliação qualitativa dos resultados
alcançados com o plano inaugural.
Num balanço geral, constata-se que o Brasil caminhou de forma mais
palpável no que se refere à fiscalização e capacitação de atores para o combate ao
trabalho escravo, bem como na conscientização dos trabalhadores sobre os seus
direitos. Mas avançou menos no que diz respeito às medidas para a diminuição da
impunidade e para garantir emprego e reforma agrária nas regiões fornecedoras de
mão-de-obra escrava. Consequentemente, o novo plano concentra esforços nessas
duas áreas.
A prevenção acontece por meio da educação, e qualificação profissional para
aquelas pessoas que são retiradas de o estado de escravidão não voltarem a
submeter-se aquelas condições. Da mesma forma é indispensável que haja a
punição, a fim de coibir essa violação de Direitos Humanos.
A repressão acontece por meio da compensação financeira das vítimas; de
indenizações e pagamentos de direitos; e da punição dos criminosos, que pode
incluir pena, sob regime de reclusão.
É necessário conhecer os indivíduos aliciados e estudar o perfil socio
geográfico para dedicar-se à criação de programas específicos, que atuem na
prevenção ao crime.
Evidentemente, o fortalecimento dos órgãos de embate e fiscalização é
necessário, mas não se pode perder de vista que as ações aí desempenhadas
tratam apenas de reparar minimamente o dano que já existe.
Destarte, importantes medidas institucionais têm sido efetivadas desde então,
como a criação da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo
(CONATRAE), o Grupo Especial Móvel de Fiscalização do MTE, e as denominadas
“listas sujas” que visam a divulgar os nomes das empresas que têm o trabalho
escravo em alguma fase de sua cadeia produtiva. Seu objetivo é integrar as
Procuradorias Regionais do Trabalho no combate ao trabalho escravo.
Outrossim, propõe incentivar a criação de planos estaduais e municipais
tocantes à erradicação do trabalho escravo, alcançando maior contingente
populacional, contando com o auxílio da Administração de estados e municípios,
além de movimentos organizados da sociedade civil.
Nesse sentido:

Nas palavras de Brito Filho, não obstante todo o esforço desenvolvido e os


sucessos alcançados na luta pela erradicação do trabalho escravo, é
forçoso reconhecer que essa erradicação ainda está longe de ocorrer. É
preciso adotar políticas públicas realmente eficazes no sentido de fixar,
nos seus locais de origem, os trabalhadores que são submetidos à prática
do trabalho escravo, assim como, a adoção de programa de inclusão dos
trabalhadores escravizados e resgatados em atividades produtivas. (2015,
p. 10).

A erradicação do trabalho análogo ao escravo pressupõe a intensificação de


medidas que reconheçam e assegurem de forma efetiva a cidadania a esses
obreiros, permitindo amplo acesso à saúde, à assistência social, à alimentação, à
educação e ao trabalho. Por conta disso, devemos todos lutar contra essas
práticas, consideradas crimes e que violam, gravemente, os direitos humanos,
nossa Constituição Federativa e a lei penal vigente. Onde esses elementos
escapam ao Poder Público predomina a ganância em materializar pessoas e a
perpetuação de ciclos de exploração, o que não deve ser tolerado em pleno século
XXI.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise das informações na pesquisa é inegável que submeter alguém


à condição análoga à de escravo ainda é uma prática existente no país, apesar de
todos os movimentos realizados pelas ONGS, pelos tratos, até mesmo com a
intervenção da ONU, esta prática está longe de acabar. Todavia, estes trabalhos
não perdidos, vez que a partir destas intervenções conseguem passar para as
pessoas que elas têm deveres, mas além de tudo tem o seu direito resguardado
pasta apenas que elas procurem.
Sabemos que para algumas pessoas o acesso a informação é escasso, razão
pela qual que a políticas públicas devem ser mais efetivas, para levar a toda a
população as informações claras. Destarte, devem ser observados que no contexto
geral, as pessoas não fazem ideia de que estão trabalhando em condições análogas
a de escravo, o ato de escravizar é retirar do trabalho seus direitos. Dentre os
principais entraves à erradicação do trabalho análogo ao de escravo contemporâneo
encontram-se a ausência de conceito preciso do fenômeno e a dificuldade de sua
caracterização mesmo diante dos avanços da legislação nacional e internacional.
A pesquisa procura definir trabalho análogo ao de escravo e indicar suas
principais características, na esperança de contribuir para sua eliminação, a
importância da questão, a atuação contra o trabalho escravo é dificultada devido a
grandes burocracias, a lentidão da justiça, a extensão territorial e a desigualdade
socioeconômica.
Com uma maior conscientização através de políticas públicas realizadas com
os trabalhadores acerca de seus direitos, uma maior eficácia da reinserção dos
escravizados na sociedade e uma aplicação de penalidades aos empregadores com
maior rigidez, o Brasil poderá oferecer não apenas a liberdade física, mas sim a
liberdade de escolha entre trabalhos decentes e dignos aos trabalhadores do país,
acabando de vez com uma prática que já teve seu fim decretado há séculos.
Por todo o exposto, o caminho para a erradicação do trabalho escravo
contemporâneo, está em cada um de nós denunciar e levar a informações as
pessoas que estão sofrendo essa exploração, e, lhe fornecer o caminho para que
possam ter uma vida digna.
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, da Silva João Luiz. O Trabalho Escravo Contemporâneo. Disponível


em: <https://pos.direito.ufmg.br/wp-content/uploads/colecao-ppgd-ufmg-2018/
Trabalho%20Escravo%20Contempor%C3%A2neo-L%C3%ADvia%20Miraglia-
EB.pdf> (Acessado em 12 de março de 2020).

AMBITO-JURIDICO. Uma Análise Do Trabalho Escravo Contemporâneo Em


Âmbito Nacional. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-
156/uma-analise-do-trabalho-escravo-contemporaneo-em-ambito-nacional/>
(Acessado em 14 de maio de 2020).

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de


outubro de 1988. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> (Acessando em
10 de março de 2020).

BRASIL. Decreto nº. 5.452, de 01 de maio de 1943. Regulamenta a Lei nº.


13.467, de 13 de julho de 2017, que consolidou as leis do trabalho. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm> (Acessando
em 10 de março de 2020).

BRASIL. Decreto nº 9.887, de 27 de junho de 2019. Comissão Nacional para a


Erradicação do Trabalho Escravo. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-022/2019/Decreto/D9887.htm#art11>
(Acessando em 14 de maio de 2020).

BRASIL-ESCOLA. Escravidão nos dias de hoje. Disponível em:


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