qualificada nos autos da Ação Penal em epígrafe, por meio de sua advogada, nomeada por este Douto Juízo (seq.194), ao final assinado, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar:
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS
Trata-se de ação penal pública movida pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO em face de ALICIA DOMINGOS JACINTO, dando-a como incursa nas sanções dos arts. 35, caput, e 33, caput, da Lei n. 11.343/06, na forma do art. 69 do Código Penal, pelos supostos crimes abaixo descritos:
-FATO 01
Durante o ano de 2019 até a data de 22 de julho de 2019,
em uma residência situada na Rua Salvador Moreno de Souza, nº 236, no Bairro Glorinha Rech, no Município de Jardim Alegre/PR, os denunciados EDUARDO PEREIRA RODRIGUES e ALICIA DOMINGOS JACINTO, dolosamente e ciente da ilicitude de suas condutas, associaram-se a fim de praticar venda de entorpecentes, bem como outros delitos previstos no artigo 33 da Lei n.11.343/2006, tendo como ponto central da traficância o endereço supracitado, residência dos denunciados.
-FATO 02
No dia 22 de julho de 2019, por volta das 11h40min, nas
imediações de uma residência na Rua Salvador Moreno de Souza, nº 236, no Bairro Glorinha Rech, no Município de Jardim Alegre/PR, os denunciados EDUARDO PEREIRA RODRIGUES e ALICIA DOMINGOS JACINTO, dolosamente e ciente da ilicitude de suas condutas, um aderindo a vontade do outro, tinham em depósito para fins de traficância aproximadamente 916 gramas da substância entorpecente Cannabis Sativa L., popularmente conhecida como Maconha, conforme Auto de Exibição e Apreensão de mov. 1.10 e Laudo Definitivo de Substância Entorpecente de mov. 76.1. Segundo restou apurado, a equipe policial recebeu inúmeras denúncias da atividade de traficância na residência e que devido à presença das viaturas no bairro os denunciados haviam dispensado uma sacola de drogas em um terreno baldio ao lado da casa. Nesse foco, os policiais retornaram ao local e encontraram o denunciado EDUARDO deixando o terreno supracitado. Realizada a abordagem este demonstrou excesso de nervosismo e, porém, franqueou a entrada nos policiais em sua residência, onde foi encontrada parte da droga. No terreno baldio a equipe também localizou uma sacola contendo 01 (um) tijolo e mais alguns pedaços de Maconha e 01 (uma) balança de precisão. Segundo consta, foi apreendido na residência além das substâncias entorpecentes, 02 (dois) aparelhos telefones, a quantidade de R$ 190,50 (cento e noventa reais e cinquenta centavos) em cédulas e moedas diversas sendo que em sua maioria eram notas de dez reais, videogames e outros eletrônicos, bem como outra balança de precisão e ainda 02 (duas) identidades RG em nome de Nivaldo Bento de Oliveira e Valdinei de Lara, possivelmente deixadas em garantia de pagamento por dívidas de drogas (Auto de Exibição e Apreensão de mov. 1.10).
DA INCERTEZA NAS PROVAS DA ACUSAÇÃO
Tendo em vista que o testemunho do policial militar
Cristiano Gomes da Fonte (mov. 244.2), um dos policiais presente na operação policial realizada no local, por si só não tem a força de ensejar uma condenação, uma vez que em respeito ao contraditório e a ampla defesa, a prova testemunhal e até mesmo uma eventual confissão devem ser aferidas em consonância com outros elementos presentes aos autos, como assim se encontra disposto no artigo 155 do Código de processo Penal:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre
apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
A acusada nega com eloquência que se preste ao tráfico
de drogas através de suas declarações contidas em audiência (mov. 249.3), ao categoricamente afirmar "Que nem nesses quatro meses não ajudou EDUARDO. Que era EDUARDO quem mexia com as drogas. Nesses quatro meses EDUARDO guardava a droga pro lado de fora de casa, não sabia onde, um dia ele guardava em um lugar e outro dia outro.”
Com relação as declarações da segunda testemunha
Valdinei de Lara (mov. 244.3), nota-se que ao tempo dos fatos, encontrava-se totalmente dependente de drogas, o que lhe causava confusões e reiterou que não se recorda com certeza do que ocorreu na residência dos acusados, vindo seu depoimento ser totalmente contraditório e sem forças probatórias. Conforme informações dos autos percebe-se a ausência de qualquer prova que a denunciada tinha a intenção de vender a droga apreendida no local do crime. Em seu interrogatório, a denunciada é contundente ao afirmar que é apenas usuária frequente e que nesse caso não se envolveu na traficância de qualquer entorpecente. DA NÃO CONFIGURAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO O tipo penal imputado a acusada encontra respaldo nos termos do artigo 35 da lei 11.343/2006 "Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei" No entanto, apesar da acusada não ter praticado dita conduta criminosa, cabe explanar sobre a impossibilidade de se configurar a associação para o tráfico no presente julgado, por não se encontrarem presentes os requisitos típicos subjetivos do artigo 35 da lei 11.343/2006. Segundo lição de Guilherme Nucci:
Elemento subjetivo: é o dolo. Exige-se elemento
subjetivo do tipo específico, consistente no ânimo de associação, de caráter duradouro e estável. Do contrário, seria um mero concurso de agentes para a prática do crime de tráfico. Para a configuração do delito do art. 35 (antigo 14 da Lei 6.368/76) é fundamental que os sujeitos se reúnam com o propósito de manter uma meta comum. (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. São Paulo: Editora RT, 2006, p. 785).
Dessa maneira, não resta provada a associação dos réus
para a pratica do delito de tráfico de drogas, pois não se tem provas suficientes que demonstrem a pratica de tal ato.
DA AUSÊNCIA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO. ENTEDIMENTO
DA JURISPRUDÊNCIA
Emérito Julgador, a bem da verdade, a prova
judicializada, é completamente estéril e infecunda, no sentido de corroborar com a exordial acusatória, haja vista, que o Titular da Ação, não conseguiu arregimentar uma única voz, isenta e confiável, que depusesse contra a acusada, no intuito de incriminá-la do delito que lhe é graciosamente capitulado. Assim, ante a manifesta anemia probatória hospedada na presente demanda, impossível é sazonar-se reprimenda penal contra a acusada. Assinale, que para referendar-se uma condenação na esfera penal, mister que a autoria e a culpabilidade resultem incontroversas. Contrário senso, a absolvição se impõe por critério de justiça, visto que, o ônus da acusação recai sobre o artífice da peça acusatória. Ademais, o Direito Penal não opera com conjecturas ou probabilidades. Sem a certeza total e plena da autoria, e da culpabilidade, não podendo o Juízo criminal proferir condenação”. Nesse norte, é de se afirmar que o ônus de acusar recai ao Ministério Público, o qual foi infeliz ao apresentar denúncia com base em argumentos falhos, baseados única e exclusivamente em “ouviu dizer”. Em verdade, não consta dos autos nenhuma testemunha que solidifica a afirmação de que ouve a participação da acusada no referido crime, devendo à ora denunciada, prevalecer o princípio do in dubio pro reo. Portanto Excelência, não existe prova, que de alguma forma a Denunciada tenha participado do delito, devendo a mesma ser absolvida nos termos do art. 386, do CPP. A prova judiciária, sabe-se, tem um claro objetivo, qual seja “a reconstrução dos fatos investigados no processo, buscando a maior coincidência possível com a realidade histórica, isto é, com a verdade dos fatos”. Essa tarefa de reconstruir a verdade dos fatos, não é fácil de ser cumprida, resultando, não raro, que, pese as várias provas produzidas, não se consegue a reconstrução histórica dos fatos, assomando dos autos, muitas vezes, apenas a verdade processual. O processo, não raro, produz apenas uma certeza do tipo jurídica, mas que pode, sim, não corresponder à verdade da realidade histórica. É truísmo afirmar, mas devo fazê-lo, que “para que o juiz declare a existência da responsabilidade criminal e imponha sanção penal a uma determinada pessoa, é necessário que adquira a certeza de que foi cometido um ilícito penal e que seja ela a autoria”. O magistrado só estará convicto de que o fato ocorreu e de que seja determinada pessoa a autora do ilícito, “quando a ideia que forma em sua mente se ajusta perfeitamente com a realidade dos fatos. Se o Ministério Público denunciou uma determinada pessoa, acusando-a de ter infringido um comando normativo, mas não consegue demonstrar, quantum sufficti, ser verdadeira a imputação, não pode o julgador, validamente, editar um decreto de preceito condenatório baseado em supostas provas. O decreto condenatório precisa estar solidificado sobre os elementos carreados ao processo, e que ofereçam ao magistrado sentenciante a pacífica certeza da ocorrência dos fatos censurados e apontem sua autoria. Existindo fragilidade nas escoras probatórias, todo o juízo edificado padece de segurança, dando margem à arbitrariedade, pondo em risco o ideal de justiça preconizado pelas sociedades democráticas. Se a prova produzida no inquérito policial e na sede judicial, não for suficiente para expedição de uma condenação criminal, deve-se, por isso, absolver a acusada, nos termos art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal. Os Tribunais têm decidido, por óbvias razões que ante a insuficiência de conjunto probatório capaz de sustentar um decreto condenatório e não restando demonstrada a autoria do delito é de se conceder provimento ao recurso para, nos termos do art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal, absolver o acusado, pois existe serias dúvidas quanto à participação da denunciada. Assim, não se pode perder de vista que a condenação deve sempre resultar de provas tranquilas, convincentes e certas. Na dúvida é preferível a absolvição da acusada, visto que tal posicionamento é manifestação de um imperativo da justiça. Ao princípio do in dubio pro reo, cumpre analisar quem é o detentor do ônus probatório, nos termos do CPP. Paulo Rangel (2013, p.27) afirma que, em virtude do artigo 5º, LVII, da CRFB/88 (que preconiza que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória), do princípio da ampla defesa e do sistema acusatório, o ônus da prova é do Ministério Público. Deste modo, não é o réu que tem que provar sua defesa, mas sim o Ministério Público a sua acusação. Aury Lopes Jr. (2014, p.190), por sua vez, estatui: Gravíssimo erro é cometido por numerosa doutrina (e rançosa jurisprudência), ao afirmar que à defesa incumbe a prova de uma alegada excludente. Nada mais equivocado. A carga do acusador é de provar o alegado; logo, demonstrar que alguém (autoria) praticou um crime (fato típico, ilícito e culpável). Isso significa que incumbe ao acusador provar a presença de todos os elementos que integram a tipicidade, a ilicitude e culpabilidade e, logicamente, a inexistência das causas da jurisdição. Pois bem, quanto ao princípio do in dubio pro reo, Américo Bedê Júnior e Gustavo Senna (2012. p.96) afirmam que: […] a lógica do in dubio pro reo é que se o magistrado, ao analisar o conjunto probatório, permanecer em dúvida sobre a condenação ou absolvição do réu, deve optar pela absolvição, até porque entre duas hipóteses não ideais é menos traumático para o direito absolver um réu culpado do que admitir a condenação de um inocente. Ora, se o Magistrado ficou em dúvida quanto à autoria e materialidade do fato é por que o Ministério Público não logrou êxito em sua tese acusatória, de modo que o réu não pode ser prejudicado por não conseguir provar sua inocência. Ademais, provar algo que não se praticou é muito mais complexo do que provar algo que se praticou
Sendo assim, impõe-se a absolvição da acusada, em
respeito ao artigo 386, inciso V do Código de Processo Penal.
DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, pede e requer:
a) Que a pretensão punitiva veiculada por meio da
denúncia seja julgada improcedente, consequentemente a absolvição da acusada, tendo como fundamento o artigo 386, inciso V do Código de Processo Penal;
b) Que seja a defesa acolhida, reconhecendo as
circunstancias favoráveis a denunciada na aplicação da pena; c) Caso Vossa Excelência não entenda pela absolvição, a desclassificação do crime de tráfico imputado a acusada, para a condição de usuária, nos termos do artigo 28 da Lei 11.343/06, se comprometendo a comparecer a todos os atos em que for intimado;
d) Seja diminuído, no caso de condenação pelo crime
previsto no artigo 33 da Lei 11.343/06, o quantum da pena privativa de liberdade imposta, seguindo-se os rigorosos critérios estabelecidos no artigo 59 e 68 do Código Penal, bem como a do parágrafo 4º do artigo 33 da Lei 11.343/06, aplicando-se a pena mínima legal, substituindo-se a pena privativa de liberdade aplicada por penas restritivas de direito;
e) o arbitramento de honorários advocatícios para
advocacia dativa, considerando a nomeação da presente defensora conforme (seq.194).