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A NOVA SISTEMÁTICA DE REALIZAÇÃO DO ATIVO E PAGAMENTO DO 

PASSIVO NA FALÊNCIA 1 

1.  O Sistema Anterior. 

No  regime  do  Decreto­Lei  7.661/45  detectavam­se  duas  fases 


bem  distintas  no  processo  falimentar:  a  primeira  fase  consistia  na  fase  de 
apuração ou “fase de informação”, como a doutrina costumava chamar. Nesta 
fase  eram  realizados  os  procedimentos  de  apuração  do  ativo  (formação  da 
massa  objetiva),  mediante  a  arrecadação  dos  bens  do  falido  e  cobrança  de 
seus  devedores,  e  de  fixação  do  passivo  (formação  da  massa  subjetiva), 
mediante definição dos credores do falido. Já na segunda fase, denominada de 
“fase de liquidação”, que se iniciava somente após a arrecadação dos bens do 
falido e a consolidação do quadro­geral de credores (art. 114 c/c 69, XIX do DL 
7.661/45),  procedia­se  à  venda  dos  bens  arrecadados  para  que,  com  os 
valores obtidos com esta alienação, fossem pagos os credores falenciais. 

Vale ressaltar que entre os citados períodos, a lei possibilitava ao 
devedor  a  oportunidade  de  restabelecer  sua  atividade  comercial,  que  havia 
sido  interrompida  (art.  40  do  DL  7.661/45),  mediante  a  utilização  da  extinta 
concordata  suspensiva  (art.  177  do  DL  7.661/45).  Com  a  concessão  judicial 
deste  benefício  legal,  o  devedor  podia  continuar  na  administração  e  no 
exercício  de  sua  atividade  comercial,  sendo  obstada  a  venda  (realização)  do 
ativo  de sua empresa  (art. 183 do  DL  7.661/45). Ao  revés, se  o requerimento 
de concordata suspensiva fosse indeferido pelo juiz da falência, prosseguia­se 


MARCUS  VINICIUS  TEIXEIRA  DA  COSTA.  Monitor  Acadêmico  de  Direito  Empresarial  da 
EMERJ;  Advogado,  Diretor  do  Escritório  de  advocacia  MARCUS  TEIXEIRA  Advogados 
Associados, especializado na área empresarial.


no  procedimento  falimentar  e,  conseqüentemente,  na  realização  dos  bens 
arrecadados para pagamento do passivo falencial (art. 184 do DL 7.661/45). 

2.  O Atual Sistema. 
O sistema de realização do ativo e pagamento do passivo sofreu 
grande  transformação com  o advento da Lei  nº 11.101/05.  Não se  distinguem 
mais, de forma nítida, aquelas duas fases do processo falimentar que existiam 
sob  a  égide  do  DL  7.661/45.  Na  sistemática  implementada  pela  nova  lei  de 
falência,  a  realização  do  ativo  tem  início  tão  logo  arrecadados  os  bens  do 
falido, com a  juntada do auto de arrecadação, pelo administrador judicial (que 
substituiu a figura do Síndico), aos autos do processo de falência (art. 139 da 
LF). De acordo com a nova sistemática, a venda dos bens do falido tem início 
independentemente da consolidação e publicação do quadro­geral de credores 
(§2º, do art. 140 da LF). 
Essa grande alteração engendrada pela Lei nº 11.101/05, no que 
diz respeito à realização do ativo, deve­se a duas razões principais: a primeira 
delas  diz  respeito  à  extinção  da  concordata  suspensiva.  Ora,  como  vimos 
anteriormente,  o  deferimento  da  concordata  suspensiva,  como  se  depreende 
do  próprio  nome  do  instituto,  suspendia  o  processo  falimentar,  impedindo  a 
venda dos bens arrecadados, e permitia, ao falido, continuar na administração 
destes,  com  o  escopo  de  dar  continuidade  às  suas  atividades  comerciais. 
Assim,  com  a  extinção  deste  benefício  legal,  não  é  mais  prevista  hipótese  de 
suspensão  do  processo  falimentar  (com  a  finalidade  de  recuperar  o  devedor. 
Há,  contudo,  a  possibilidade  de  continuação  da  atividade  do  falido,  com  o 
escopo de maximizar o ativo – art. 99, inciso XI da LF). Em outras palavras, o 
procedimento falimentar, nos moldes traçados pela atual legislação, é contínuo, 
não sofrendo solução de continuidade e, assim, tão logo sejam arrecadados os 
bens do falido estes devem ser alienados, para melhor atender aos interesses 
da  massa  falida  subjetiva.  A  segunda  razão  está  no  fato  de  que  a  imediata 
alienação dos bens arrecadados propicia a obtenção de maiores recursos para 
o pagamento dos credores do falido, já que, a venda, assim realizada, poderá 
atingir  preços  mais  elevados.  Isto  porque,  os  bens  alienados  estarão  mais 
conservados  e,  conseqüentemente,  serão  melhor  recepcionados  pelos 
interessados em comprá­los, que por eles pagarão um valor que esteja mais de


acordo com seu preço de mercado. Outrossim, a venda imediata dos bens do 
falido  é  mais  vantajosa,  pois,  evita  o  dispendioso  gasto  com  a  guarda  e 
conservação dos bens arrecadados. 
3.  A Venda dos Bens do Falido (Realização do Ativo). 

A  venda  dos  bens  arrecadados  do  falido  pode  ser  Ordinária, 


Extraordinária ou Sumária, adotando­se, sempre, aquela que mais interessar à 
massa.  Por  Alienação  Ordinária  entende­se  aquela  realizada  em  estrita 
obediência  às  formas  (art.  140  da  LF)  e  às  modalidades  (art.  142  da  LF) 
previstas  na  lei  de  falência.  Alienação  Extraordinária  é  aquela  realizada  sem 
observância  a  esses  parâmetros  legais  de  forma  e  modalidade.  Seu 
fundamento legal está nos artigos 144 e 145 da LF. Já a Alienação Sumária ou 
Antecipada ocorre sempre que o valor dos bens a serem vendidos não justificar 
o custo dos procedimentos de uma ou outra modalidade de venda (art. 111 da 
LF). 

Importante  ressaltar  que,  segundo  entendimento  pacífico  da 


doutrina,  o  instrumento  da  impugnação  (art.  143  da  LF)  poderá  ser  utilizado, 
pelos  seus  legitimados  (credores,  Ministério  Público  e  devedor),  em  qualquer 
modalidade  de  alienação  do  ativo  (ordinária,  extraordinária  e  sumária), 
malgrado  o  dispositivo  mencionado  referir­se  apenas  às  modalidades 
ordinárias. Fundamenta­se tal entendimento na aplicação analógica do instituto 
às demais hipóteses de alienação. 

3.1.  Alienação Comum ou Ordinária. 
Consoante afirmado alhures, na alienação comum ou ordinária, a 
venda dos bens do falido se faz em observância às formas (art. 140 da LF) e às 
modalidades (art. 142) previstas na lei. 

Quanto  às  formas  de  alienação,  previstas  no  art.  140  da  LF,  o 
legislador estabeleceu uma ordem de preferência entre elas. Em primeiro lugar, 
estabeleceu a  alienação da empresa, com  a venda de seus  estabelecimentos 
em bloco (art. 140, I da LF). Em segundo, determinou a alienação da empresa, 
com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente (art. 140, II da 
LF). Em terceiro, na ordem de preferência estabelecida pelo legislador, está a


alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do 
devedor  (art.  140,  III  da  LF).  Por  último,  a  lei  prevê  a  alienação  dos  bens  do 
falido individualmente considerados (art. 140, IV da LF). 
Cabe  ao  Administrador  Judicial,  como  responsável  pela  prática 
dos atos necessários à realização do ativo (art. 22, inciso III, alínea “i” da LF), a 
escolha  de  um  plano  de  venda  que  melhor  atenda  aos  interesses  da  massa 
falida.  Assim,  faculta­lhe,  a  lei,  adotar  mais  de  uma  forma  de  alienação, 
podendo  livremente  conjugá­las  (§1º,  art.  140  da  LF),  desde  que  esta 
conjugação seja  mais vantajosa aos credores. O  administrador  judicial  deverá 
submeter  seu  plano  de  venda  ao  Comitê  de  Credores,  caso  este  tenha  sido 
criado, para que o mesmo dê seu parecer a respeito. Em todo caso, a decisão 
final  sobre  o  plano  de  venda  será  proferida  pelo  juiz  da  falência,  que 
determinará qual forma e modalidade serão adotadas na venda do ativo. 

No que tange às modalidades ordinárias de alienação do ativo, o 
art. 142 da LF faz referência a três hipóteses: a) Leilão, por lances orais (inciso 
I);  b)  Propostas  fechadas  (inciso  II);  c)  Pregão  (inciso  III).  Assim,  ouvido  o 
Administrador  Judicial  e  atendida  a  orientação  do  Comitê,  se  houver,  o  juiz 
deverá  determinar  por  qual  das  modalidades  ordinárias  implementar­se­á  a 
forma ordinária escolhida para alienação do ativo (art. 142 da LF). 

Insta  salientar  que,  no  que  se  refere  ao  procedimento  para  a 
escolha da modalidade ordinária de alienação, surge, na doutrina, controvérsia 
sobre a obrigatoriedade, ou não, da manifestação da Assembléia de Credores 
a  respeito.  Um  primeiro  posicionamento,  defendido  por  Sérgio  Campinho, 
sustenta a desnecessidade da convocação e deliberação, pela Assembléia de 
Credores,  para  a  escolha  da  modalidade  ordinária  de  alienação  do  ativo. 
Fundamenta  seu  entendimento  na  falta  de  exigência  expressa  do  art.  142, 
caput, da LF. Ademais, invoca o art. 35, inciso II, alínea “c” c/c art. 145 da LF, 
para  afirmar  que  a  assembléia­geral  de  credores  só  deve  ser  convocada  a 
deliberar  no  caso  de  adoção  de  modalidade  extraordinária  de  alienação.  Ao 
revés,  para  a  segunda  corrente,  sustentada  por  Fábio  Ulhoa  Coelho,  é 
obrigatória a convocação e deliberação da assembléia­geral de credores sobre 
a  escolha  de  qualquer  modalidade  de  alienação  do  ativo  do  falido,  seja  ela


ordinária  ou  extraordinária,  pois,  em  qualquer  caso,  estarão  em  jogo  os 
interesses dos credores do falido (art. 35, inciso II, alínea “d”). 

a)  Leilão,  por  lances  orais  (art.  142,  inciso  I c/c  seu  §3º):  considera­se 
leilão  a  venda  realizada  em  hasta  pública  judicial,  no  transcurso  da  qual  os 
interessados em adquirir a empresa ou os bens do falido apresentam, de viva 
voz,  o  preço  que  estão  dispostos  a  pagar  por  eles,  sagrando­se  vencedor 
aquele  que  maior  lance  (lanço)  apresentar,  ou  seja,  aquele  que  maior  preço 
pagar.  Nesta  modalidade  de  alienação  ordinária  destacam­se  alguns  pontos 
relevantes,  que  devem  ser  analisados.  Inicialmente,  deve­se  ressaltar  que  no 
leilão por lances orais, aplicam­se, no que couber, e no que não contrariar as 
normas especiais da lei de falência, as regras do CPC sobre o assunto. Neste 
diapasão,  não  se  aplicam,  por  exemplo,  as  normas  do  CPC  relativas  à 
publicação  e  aos  prazos  no  leilão,  já  que  tais  assuntos  gozam  de  disciplina 
específica  e  diferenciada  na  lei  de  falência  (§1º,  art.  142  da  LF).  Não  se 
aplicam, ademais, as normas do CPC que distinguem a hasta pública em razão 
da natureza do bem vendido, chamando a de bens imóveis de “praça” (art. 697 
do CPC) e dos bens móveis, de “leilão público” (art. 704 do CPC). Seja uma ou 
outra  categoria  de  bens  a  alienar  no  juízo  da  falência,  a  Lei  nº  11.101/05 
chama  a  hasta  pública  realizada  com  lances  de  viva  voz  sempre  de  “leilão” 
(FÁBIO  ULHOA).  Outrossim,  não  se  aplicam  ao  leilão,  de  que  trata  a  lei 
falimentar, aquelas normas do CPC que determinam que os bens, na primeira 
licitação,  sejam  vendidos  pelo  preço  mínimo  da  avaliação  e,  em  segunda,  a 
quem  mais  der  (arts.  691  e  692  do  CPC).  Desde  a  primeira  licitação,  a 
alienação  dar­se­á  pelo  maior  valor  oferecido,  ainda  que  este  seja  inferior  ao 
valor de avaliação (§2º, art. 142 da LF). Por fim, outra questão relevante sobre 
o  leilão  diz  respeito  à  escolha  do  leiloeiro.  Na  sistemática  do  DL  7.661/45,  o 
leiloeiro era escolhido diretamente pelo síndico, sendo o referido diploma claro 
nesse  sentido  (§1º,  art.  117  do  DL  7.661/45).  Na  nova  sistemática 
implementada  pela  Lei  nº  11.101/05,  o  legislador  quedou­se  silente  sobre  o 
assunto.  Assim,  a  doutrina  sustenta  que,  por  força  da  aplicação  da  regra  do 
CPC que regula o assunto, a qual determina que o leiloeiro será escolhido pelo 
credor  exeqüente,  sem  intervenção  do  magistrado  (art.  706  do  CPC),  na


falência,  fazendo­se  as  devidas  adaptações,  a  nomeação  do  leiloeiro  deverá 
ser  feita  pelo  administrador  da  falência,  sem  que  nessa  decisão  intervenha  o 
juiz  falimentar  (CAMPINHO).  Isto  porque  é  ele  responsável  pela  prática  dos 
atos destinados à realização do ativo (art. 22, inciso III, alínea “i” da LF). 
b)  Propostas  Fechadas  (art.  142,  inciso  II  c/c  seu  §  4º):  a  venda  por 
propostas fechadas realiza­se mediante a entrega em cartório e sob recibo, de 
envelopes lacrados, a serem abertos pelo juiz, no dia, hora e local designados 
no  edital,  lavrando  o  escrivão  o  auto  respectivo,  assinado  pelos  presentes,  e 
juntando  as  propostas  aos  autos  da  falência.  O  juiz  é  quem  decidirá,  se  não 
houver  maiores  complexidades,  qual  é  a  proposta  mais  vantajosa  para  a 
massa.  Havendo  complexidade,  o  juiz  poderá  determinar  o  encerramento  da 
audiência de abertura dos envelopes, determinar a juntada dos envelopes aos 
autos  do  processo  e  colher  a  manifestação  do  administrador  judicial  e,  se 
houver,  do  Comitê  de  Credores,  antes  de  decidir.  Em  qualquer  caso,  o 
parâmetro a ser adotado para a escolha da melhor proposta é aquele previsto 
no §2º, art. 142 da LF, ou seja, o do maior valor ofertado, ainda que este seja 
inferior ao valor de avaliação do bem. Isto porque esta regra se aplica a todas 
as modalidades ordinárias de alienação. 

c)  Pregão  (art.  142,  inciso  III  c/c  seus  §§  5º  e  6º):  esta  modalidade  de 
alienação  ordinária  consiste  na  combinação  das  duas  modalidades  anteriores 
e,  por  esta  razão,  é  chamada  pela  lei  de  “modalidade  híbrida”.  Possui  duas 
fases distintas: a do recebimento das propostas, na forma do § 4º do art. 142 (a 
lei,  erroneamente, faz  alusão  ao §  3º);  e  a  do  leilão  por  lances  orais,  da qual 
participarão  apenas  aqueles  que  apresentarem  propostas  não  inferiores  a 
noventa por cento da maior proposta ofertada (na primeira fase). Considera­se 
como a maior proposta aquela de maior valor oferecido, ainda que seja inferior 
ao valor de avaliação do bem (§2º, art. 142 da LF). As regras do pregão estão 
previstas nos incisos do § 6º, art. 142 da LF. 

Insta  salientar  que,  em  qualquer  das  modalidades  ordinárias  de 


alienação do ativo, o Ministério Público deverá ser intimado pessoalmente, sob 
pena de nulidade (§ 7º, art. 142 da LF). A lei impõe a obrigatoriedade quanto à


intimação pessoal do membro do parquet, porém, o seu não comparecimento, 
após devidamente intimado, não acarretará a nulidade do processo de falência. 

Por fim, deve­se ressaltar que o direito de impugnação da venda, 
previsto no art. 143 da LF, e do qual são legitimados os credores, o devedor e 
o Ministério Público, a despeito do que dispõe o mencionado dispositivo legal, 
poderá ser manejado em qualquer das modalidades de alienação do ativo, seja 
ela ordinária, extraordinária ou sumária. A doutrina sustenta que deve­se fazer 
uma  interpretação  analógica  do  instituto,  para  que  este  alcance  também  as 
modalidades  extraordinária  e  sumária  de  venda,  pois,  não  há  lógica  defender 
entendimento diverso, já que tal instrumento foi engendrado com o escopo de 
beneficiar  os  interesses  da  coletividade  de  credores  do  falido.  De  qualquer 
modo,  a  impugnação  é  apenas  um  dos  meios  processuais  adequados  para 
questionar  a  regularidade  da  venda  dos  bens  na  falência.  Assim,  por  outros 
ações  próprias  (de  conhecimento,  mandado  de  segurança,  etc.)  podem  os 
prejudicados  buscarem  a  tutela  de  seus  direitos,  independentemente  do 
manejo da impugnação (FÁBIO ULHOA). 

3.2.  Alienação Extraordinária. 

Trata­se  de  modalidade  de  alienação  em  que  a venda  dos  bens 
da sociedade  falida é  feita  por  meios  não  previstos  especificamente  na  lei  de 
falência. Em outras palavras, sempre que a alienação dos bens da falida se der 
por  modalidade  diversa  daquelas  previstas  no  art.  142  da  LF  (as  chamadas 
modalidades  ordinárias  de  alienação),  estaremos  diante  da  denominada 
Alienação  Extraordinária.  A  alienação  extraordinária  pode  ser  autorizada  por 
decisão  judicial  (art.  144  da  LF),  mediante  requerimento  fundamentado  do 
administrador  judicial  ou  do  comitê  de  credores,  se  este  existir.  Igualmente, 
poderá  ser  autorizada  pela  assembléia­geral  de  credores,  pelo  voto  de  2/3 
(dois  terços)  dos  credores  presentes  à  sessão  de  julgamento  (art.  46  da  LF), 
cabendo,  ao  juiz,  neste  caso,  apenas  homologar  a  decisão  assemblear  (art. 
145 da LF). A lei traz como exemplo de alienação extraordinária a constituição 
de sociedade de credores ou dos empregados do devedor, na qual os créditos


serão  convertidos  em  cotas  ou  ações,  conforme  a  forma  societária  adotada 
(§2º,  art.  145  da  LF).  Ademais,  possibilita  a  participação,  nestas  sociedades, 
dos próprios sócios da falida ou de terceiros interessados (art. 145, 2ª parte, da 
LF). Em todos os casos, a alienação extraordinária será adotada quando esta 
se apresentar como a modalidade mais apta a otimizar os recursos da massa, 
isto  é,  o  meio  mais  eficaz  e  mais  vantajoso,  para  os  credores  da  massa,  de 
realização do ativo falimentar. 

Ainda  no  que  diz  respeito  a  esta  modalidade  de  alienação,  insta 
ressaltar que, com fulcro no §3º, art. 145 da LF, desde que convencido de sua 
adequação e proficiência e, uma vez ouvidos o administrador judicial e o comitê 
de credores, se este existir, poderá o juiz adotar a modalidade extraordinária de 
alienação que tenha sido apresentada e rejeitada pela assembléia de credores. 
Em  outros  termos,  o  juiz  da  falência  não  está  vinculado  à  decisão  da 
assembléia de credores que denegou proposta de alienação extraordinária do 
ativo. Malgrado a decisão denegatória daquele órgão da falência, o magistrado 
poderá,  a  bem  da  massa,  decidir  pela  adoção  da  proposta  alternativa  para  a 
realização do ativo falimentar. 

3.3.  Alienação Sumária ou Antecipada. 

Trata­se  de  modalidade  de  venda  do  ativo  falimentar  aplicável 


sempre que não existirem bens no ativo da sociedade falida de valor suficiente 
a  compensar  os  custos  da venda  ordinária  ou  extraordinária  (art.  111  da  LF). 
Conforme lição de Fábio Ulhoa Coelho, “pode ocorrer, e a situação não é rara, 
de  os  bens  encontrados  pelo  administrador  judicial  no  estabelecimento 
empresarial  da  sociedade  falida,  quando  da  arrecadação,  serem  de  valor 
irrisório,  não  se  justificando  a  adoção  dos  relativamente  custosos 
procedimentos de leilão, proposta ou pregão”. 

Sendo  esta  a  situação  encontrada,  o  juiz,  ouvido  o  Comitê  de 


Credores, se  houver,  poderá autorizar  os credores a  adquirir  ou adjudicar,  de 
imediato e de forma individual ou coletiva, os bens arrecadados, pelo valor de


avaliação, atendida a regra de classificação e preferência prevista nos arts. 83 
e seguintes. 

3.4.  Sucessão nas obrigações do falido. 

A  sucessão  do  adquirente  nas  obrigações  do  falido  sempre  se 


apresentou como uma das questões mais desafiadoras do direito falimentar. 

Antes  do  advento  da  Lei  nº  11.101/05,  a  doutrina  controvertia 


sobre o assunto. Rubens Requião, apoiado em doutrina de Miranda Valverde, 
sustentava que o adquirente do ativo falimentar não sucedia nas obrigações do 
falido. Argumentava que, a alienação “seja por leilão público ou por propostas, 
seja  pela  constituição  de  nova  sociedade  pelos  credores,  ou  cessão,  não 
importa a transferência de seus ônus para o adquirente. Surgirá sempre novo 
empresário  que  encetará,  pela  sua  atividade,  nova  empresa”.  Ao  revés, 
Waldemar Ferreira sustentava que “a sociedade, que os credores organizarem, 
será continuadora do negócio do falido e, então, se terá a sucessão comercial, 
de  tal  arte  que  a  sociedade  se  sub­rogará  no  ativo  e  no  passivo  da  massa 
falida, assumindo­lhe as obrigações e investindo­se nos direitos, que lhe eram 
pertinentes ”. 

A  nova  lei de  falência,  no  entanto, espancou  a  dúvida  que  antes 


atormentava  a  doutrina.  Trouxe,  no  art.  141,  inciso  II,  norma  clara  sobre  o 
assunto,  que  determina  que  “o  objeto  da  alienação  estará  livre  de  qualquer 
ônus  e  não  haverá  sucessão  do  arrematante  nas  obrigações  do  devedor, 
inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as 
decorrentes de acidentes do trabalho”. Assim, de acordo com a nova legislação 
falimentar,  pode­se afirmar, com  tranqüilidade, que o  adquirente  da  falida não 
sucede  em  suas  obrigações,  sejam  elas  de  que  natureza  jurídica  forem.  Tal 
norma  vem  apoiada  e  referendada  pelos  §§  1º  e  3º,  art.  133  do  CTN,  com  a 
nova redação que lhe foi dada pela Lei Complementar nº 118/05. Ademais, tem 
como corolário, diversas outras normas da lei falimentar, a saber: § 2º, art. 141; 
§ 1º, art. 145 e art. 146, todas da LF.


A  sucessão  nas  obrigações  do  falido  apenas  acontecerá  nas 
hipóteses  excepcionais  previstas  pela  legislação  falimentar.  Tais  hipóteses  se 
referem  aos casos  em  que  o  arrematante seja:  I –  Sócio  da sociedade falida, 
ou sociedade controlada pelo falido (inciso I, § 1º, art. 141 da LF); II – Parente, 
em linha reta ou colateral até o quarto grau, consangüíneo ou afim, do falido ou 
de sócio  da sociedade  falida  (inciso  II,  §  1º,  art.  141  da  LF);  III  –  Identificado 
como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão (inciso III, § 1º, art. 
141 da LF). Tais exceções visam impedir a  prática de fraude,  que a expressa 
desoneração nas obrigações do  falido pode incentivar.  Assim,  por exemplo,  o 
controlador  de  sociedade  falida  pode,  por  interpostas  pessoas,  adquirir  a 
mesma  empresa  que  anteriormente  explorava,  liberando­se  da  obrigação  de 
pagar o passivo. 

Interessante  questão  é  trazida  a  lume  pela  doutrina,  no  que  diz 


respeito  à  sucessão  nas  obrigações  do  falido.  Origina­se  de  dúvida  sobre  a 
interpretação da norma  insculpida no caput  do art.  141 da  lei  de falência.  Em 
suma, a controvérsia diz respeito ao alcance das normas previstas no art. 141, 
mormente aquela prevista no seu inciso II. Em outras palavras, indaga­se se a 
expressa negativa  de sucessão  nas  obrigações  do falido  se  aplica  apenas  às 
modalidades  ordinárias  de  alienação  do  ativo,  ou  também  se  aplica  às 
extraordinárias.

Há dois entendimentos sobre o tema: um primeiro entendimento, 
sustentado  pelo  professor  Sérgio  Campinho,  admite  a  aplicação  irrestrita  da 
referida norma  a  todas as  modalidades  de alienação na  falência (não apenas 
às  ordinárias).  Fundamenta  seu  entendimento  na  falta  de  expressa  restrição, 
no  art.  141  da  LF,  à  sua  aplicação  à  alienação  extraordinária.  O  caput  do 
dispositivo  retro­mencionado  reza  que  as  normas  previstas  nos  seus  incisos 
serão  aplicadas  a  qualquer  das  modalidades  de  que  trata  este  artigo.  Ocorre 
que  o  art.  141  não  dispõe  sobre  modalidade  alguma  de  alienação.  Na 
realidade,  houve  equívoco  do  legislador,  pois  as  modalidades  de  alienação

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estão previstas nos arts. 142, 144, 145 e 111 da LF. Destarte, a referência feita 
pelo  dispositivo  deve  ser  interpretada  como  qualquer  modalidade  de  venda 
judicial, porquanto toda norma de restrição deve ser expressa e inconfundível. 
Outrossim,  alega  que  o  §  1º,  do  art.  145  da LF,  determina  a  aplicação  do art. 
141 a uma das hipóteses que o diploma falencial exemplifica como modalidade 
extraordinária  de  alienação,  que  é  a  aquisição  do  ativo  por  sociedade 
constituída  pelos  credores  ou  empregados  do  próprio  devedor,  com  o  fito  de 
dar  prosseguimento  ao negócio  do  falido  (art.  145, caput, 2ª parte,  da LF). Já 
um  segundo  entendimento,  capitaneado  pelo  professor  Fábio  Ulhoa  Coelho, 
fundamentado  em  uma  interpretação  mais  literal  e  restrita  da  lei  de  falência, 
sustenta  que,  no  que  tange  à  modalidade  extraordinária  de  alienação,  a 
desoneração do  adquirente na sucessão das  obrigações  do  falido se  aplica  a 
apenas uma hipótese, que é aquela prevista no art. 145, caput, 2ª parte, da LF, 
por  força  do  que  dispõe  o  §1º,  do  art.  145  da  LF.  Para  o  mencionado 
doutrinador,  em  qualquer  outra  hipótese  de  alienação  extraordinária,  a 
sucessão  nas  obrigações  do  falido  deve  ser  reconhecida,  já  que  nesta 
modalidade  de  alienação  não  há  obrigatoriedade  de  disputa  entre  os 
adquirentes  interessados,  como  há  nas  modalidades  ordinárias  (isto  é,  leilão, 
apresentação de proposta e pregão), o que facilita a prática de fraudes. Então, 
para evitar fraudes, o adquirente, que não concorreu com outros interessados, 
deve suceder também nas obrigações do falido. 

3.5.  Cobrança dos Devedores. 

Não basta, para a formação da massa falida objetiva, a alienação 
dos  bens  arrecadados.  É  necessário,  ainda,  que  o  administrador  judicial 
proceda à cobrança, amigável ou judicial, dos créditos que o falido possui em 
face  de  terceiros.  No  caso  de  não  lograr  êxito  na  cobrança  amigável,  o 
administrador  judicial  deverá  contratar,  em  nome  e  por  conta  do  falido, 
advogado para o ajuizamento das ações e execuções necessárias.

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4.  Pagamento do Passivo. 

Uma vez convertidos em valores os bens arrecadados e cobrados 
os devedores  do  falido, todo  dinheiro  auferido  no  procedimento  de  realização 
do  ativo  deverá  ser  imediatamente  depositado  em  conta  remunerada  de 
instituição  financeira,  atendidos  os  requisitos  da  lei  ou  das  normas  de 
organização judiciária (art. 147 da LF). 

O  pagamento  do  passivo,  que  terá  início  somente  após  a 


consolidação do  quadro­geral de  credores  (art.  149 da  LF), será efetuado  em 
obediência  às  regras  legais  que  determinam  o  procedimento  desta  fase 
processual  e  que  fixam  a  ordem  de  prioridade  entre  os  credores  da  falência 
(arts. 83 e 84 c/c arts. 149 a 153, todos da LF). 

Assim,  na  ordem  de  preferência  de  pagamento  dos  credores, 


primeiro  deverão  ser  pagos  os  denominados  “credores  extraconcursais”. 
Dentro dessa classe de credores  há uma subclasse denominada de “credores 
da massa”, a qual subdivide­se em “encargos da massa” e “dívidas da massa”. 

A denominação “credores da massa” se deve ao fato de que essa 
classe não é constituída de credores do falido, mas, sim, de titulares de crédito 
em  face  da  massa  falida,  créditos  esses  originados  após  a  declaração  da 
falência, contraídos diretamente pelo administrador Judicial. 

Os  credores  extraconcursais  (art.  84  da  LF)  não  se  sujeitam  ao 
concurso de credores e não se sujeitam à habilitação na falência. Eles devem 
receber  seus  créditos  com  preferência  absoluta  em  relação  aos  demais 
créditos  falimentares  (art.  84  c/c  149  c/c  150  da  LF).  Trata­se  de  créditos 
relacionados  à  administração  da  falência,  tais  como:  remuneração  do 
administrador  judicial,  remuneração  dos  auxiliares  do  administrador  judicial  e

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despesas  de  administração  dos  bens  da  massa  (v.  art.  84  e  seus  incisos  da 
LF). 

Após  os  credores  extraconcursais,  devem  ser  pagos  os  titulares 


de  direito  à  restituição  de  valores  em  dinheiro,  ressalvada  a  preferência  dos 
créditos de que trata o art. 151 da LF (art. 86 c/c 149 c/c 151 da LF). Proceder­ 
se­á à restituição em dinheiro nas hipóteses elencadas nos três incisos do art. 
86 do diploma falimentar. 

Importante  ressaltar  que,  para  Sérgio  Campinho,  os  titulares  de 


direito à restituição em dinheiro têm preferência em relação a todos os credores 
da  falência,  inclusive,  aos  extraconcursais.  Assim,  o  doutrinador  sustenta  que 
“as  restituições  em  dinheiro  devem  ser  pagas,  prioritariamente,  aos  créditos 
extraconcursais”. Invocando uma interpretação sistemática dos preceitos legais 
e a natureza da restituição, sustenta que “o art. 149, com efeito, deixa entrever 
uma ordem de prioridades. Alinha, em sequência, a realização das restituições, 
pagamento dos credores extraconcursais e, por fim, o pagamento dos credores 
concorrentes, atendido o sistema legal de classificação. A idéia que emerge do 
preceito  vem  referendada  pelo  art.  84  e  pelo  parágrafo  único  do  art.  86.  No 
primeiro,  tem­se  assegurada  a  precedência  dos  créditos  extraconcursais  tão­ 
somente  em  relação  aos créditos  concorrentes.  No  segundo,  fica  patenteado 
que o atendimento das restituições em dinheiro somente tem como condição a 
antecipação dos créditos trabalhistas de natureza puramente salarial, naqueles 
limites  já  explicitados,  constantes  do  art.  151,  não  se  lhe  condicionando  ao 
prévio  pagamento  dos  créditos  concursais.  Esse  sistema,  que  resulta  da 
conjugação  dos  preceitos  legais,  racionalmente  encontra­se  justificado  na 
natureza  das  restituições.  Não  são  os  valores  devidos  a  título  de  restituição, 
como regra, propriamente créditos, mas sim dinheiro de terceiros em poder do 
falido.  Por  isso, se  justificam sejam  atendidos com  prioridade  em relação  aos 
credores da massa (créditos extraconcursais) e aos credores do falido”.

13 
Controvérsia  interessante  surge,  na  doutrina,  sobre  a  ordem  de 
preferência no pagamento das restituições em dinheiro e do crédito aludido no 
art. 151 da LF. O parágrafo único do art. 86 determina que “as restituições de 
que  trata este artigo somente serão  efetuadas após o pagamento previsto  no 
art.  151 da Lei” (grifamos).  Por sua vez,  o  art.  151 da LF  estatui:  “os créditos 
trabalhistas  de  natureza  estritamente  salarial  vencidos  nos  três  meses 
anteriores à decretação da falência, até o limite de cento e cinqüenta salários 
mínimos  por  trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa” 
(grifamos).  Analisando  ambas  as  normas,  indaga­se:  qual  a  ordem  de 
preferência  entre  essas  duas  classes  de  credores?  Devem  ser  pagos, 
prioritariamente, os titulares de direito à restituição em dinheiro (art. 86 da LF), 
ou  os  titulares  de  créditos  de  natureza  estritamente  salarial  que  tenham 
vencido  nos  três  meses  anteriores  à  decretação  da  falência  e  até  o  limite  de 
150 salários­mínimos por trabalhador (art. 151 da LF)? 

Parte  da  doutrina,  capitaneada  por  Sérgio  Campinho,  sustenta 


que, como o pagamento desses salários em atraso, no limite de 150 salários­ 
mínimos, representa mera antecipação, e não uma preferência, o administrador 
judicial, podendo calcular que os recursos da massa não serão suficientes para 
o  atendimento  dos  créditos  prioritários  (extraconcursais  e  restituições  em 
dinheiro), não deverá atender ao comando legal previsto no art. 151 da LF. Em 
outros  termos,  a  antecipação  de  que  trata  o  art.  151  estará  sempre 
condicionada  à  existência  de  recursos  na  massa  para  o  pagamento  das 
restituições em  dinheiro  e dos créditos  extraconcursais, sob  pena  de se  estar 
violando o sistema de pagamentos estatuído no art. 149 da LF. Já para outros 
doutrinadores,  como  Fábio  Ulhoa  Coelho  e  Amador  Paes  de  Almeida,  as 
restituições em dinheiro situam­se na pirâmide dos créditos, como deixa claro o 
art. 149 da LF, só cedendo lugar ao crédito estritamente salarial previsto no art. 
151  da  LF.  Assim,  para  essa  corrente,  que  na  nossa  modesta  opinião  se 
apresenta  mais  acertada,  por  estar  em  consonância  com  a  interpretação

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sistemática  dos  dispositivos  em  comento, o  crédito  de  que trata  o art.  151  da 
LF deve ser priorizado em relação às restituições em dinheiro. 

Uma  vez  satisfeitos  os  créditos  extraconcursais,  os  créditos 


previstos  no  art.  151  e  as  restituições  em  dinheiro,  nesta  ordem, 
respectivamente,  o  administrador  judicial  passará  ao  pagamento  dos 
nominados  “créditos  concursais”,  também  chamados  de  “credores  do  falido”. 
São  assim  denominados,  pois,  já  anteriormente  à  decretação  da  falência, 
portanto,  pré  à  quebra  do  empresário,  já  estavam  constituídos.  Os  credores 
concursais  concorrerão  entre  si  no recebimento  de  seus créditos,  conforme  a 
ordem de preferência estabelecida no art. 83 da LF. 

Sendo  assim,  observada  a  ordem  legal,  os  credores  concursais 


serão pagos na seguinte ordem de preferência: a) Empregados e equiparados; 
b) Credores com garantia real; c) Fisco; d) Credores com privilégio especial; e) 
Credores  com  privilégio  geral;  f)  Credores  quirografários;  g)  Credores 
subquirografários;  h)  Credores  subordinados.  Passaremos  a  desenvolver  os 
pontos mais relevantes atinentes a cada uma dessas classes. 

a)  Empregados  e  Equiparados:  em  primeiro  lugar,  na  ordem  legal  de 
preferência  entre  os  credores  concursais,  está  o  crédito  trabalhista  e 
equiparados e aqueles oriundos de acidente de trabalho, ocorrido antes 
da quebra do empresário. No que diz respeito ao crédito decorrente de 
acidente de trabalho, deve­se ressaltar que esse não se confunde com o 
benefício a  que  o  trabalhador faz  jus em  face  do  INSS.  Cuida­se,  aqui, 
do  direito  que  o  empregado  tem  à  indenização  pelo  acidente  causado 
por dolo ou culpa do empregador, direito, aliás, de índole constitucional 
(art. 7º, inciso XXVIII, in fine, da CRFB). Também nessa classe estão os 
créditos  trabalhistas  de  qualquer  natureza  (art.  449,  §  1º  da  CLT). 
Quanto  a  estes,  a  lei  de  falência  estabeleceu  o  limite  de  cento  e 
cinqüenta  salários­mínimos.  Assim,  o  que  sobejar  a  este  teto  legal 
concorrerá na classe dos créditos quirografários (art. 83, inciso VI, alínea

15 
“c”). O objetivo da limitação é impedir que se consumam os recursos da 
massa  com  o  atendimento  a  altos  salários  dos  administradores  da 
sociedade  falida,  bem  como  visa  tutelar  o  interesse  do  pequeno 
assalariado.  Por  fim,  deve­se  atentar  ao  fato  de  que  concorrem, 
também, nessa classe, como credores equiparados aos trabalhistas, os 
Representantes Comerciais Autônomos, pelas comissões e indenização 
devidas pela representada falida (Lei nº 4.886/65, art. 44, acrescido pela 
Lei  nº  8.420/92),  e  a  Caixa  Econômica  Federal,  pelo  FGTS  (Lei  nº 
8.844/94, art. 2º, § 3º). 

b)  Credores  com  Garantia  Real:  nessa  classe,  o  titular  do  direito 
creditório  goza  de  uma  garantia  quanto  ao  pagamento  do  seu  crédito, 
que consiste no direito real dado em garantia pelo pagamento da dívida. 
Assim,  a  coisa  dada  em  garantia  fica  sujeita  ao  cumprimento  da 
obrigação. Imperioso ressaltar a importante modificação trazida pela Lei 
11.101/05 no que diz respeito à classificação desse crédito na ordem de 
preferência  entre  os  credores  concursais:  o  crédito  com  garantia  real 
passou a ter prioridade em relação aos créditos fiscais, que, no sistema 
de classificação dos créditos previsto no revogado DL 7.661/45, ocupava 
a segunda posição na ordem de preferência e, atualmente, cedeu essa 
posição  para  o  crédito  com  garantia  real  e  passou  a  ocupar  a  terceira 
posição  na  escala  de  preferência.  Vale  salientar  que,  o  crédito  com 
garantia real não está sujeito a rateio, pois ele é pago com o produto da 
venda do bem dado em garantia. Desta forma, se com a venda do bem 
dado  em  garantia  obtém­se  valor  maior  do  que  o  crédito  garantido,  a 
parcela  que  sobejar  será  utilizada  para  atender  os  demais  credores, 
segundo a ordem de preferência. Por outro lado, se é obtido valor menor 
que o valor do crédito garantido, o saldo credor será reclassificado como 
crédito quirografário (art. 83, inciso VI, alínea “b” da LF). São exemplos 
de credores com garantia real os credores hipotecários, os pignoratícios 
e os caucionados, além das instituições financeiras titulares de cédulas 
de  crédito  (rural,  industrial,  comercial)  e  dos  debenturistas  titulares  de 
debêntures com garantia real (art. 58 da LSA).

16 
c)  Fisco: como já ressaltado no item anterior, o fisco perdeu a preferência 
sobre  o  crédito  com  garantia  real  na  nova  sistemática  implementada 
pela  atual  lei  de  falência.  Nessa  classe  estão  os  “créditos  públicos”, 
assim  denominados  porque  disciplinados  pelo  Direito  Público.  Os 
créditos  públicos  compreendem  os  “créditos  parafiscais”,  que  são  os 
créditos  dos  entes  aos  quais  foram  estendidas  a  garantias  e 
prerrogativas do Estado (ex.: SESC, SENAI, etc.), e os “créditos fiscais”, 
que  são  os  créditos  do  Estado  e  seus  desmembramentos.  Os  créditos 
fiscais  subdividem­se  em  “créditos  tributários”  (ex.:  Impostos,  Taxas  e 
Contribuições),  obrigatoriamente  inscritos  na  dívida  ativa,  e  “créditos 
não­tributários”  (ex.:  obrigações  contratuais  e  extracontratuais),  que 
tiverem  sido  inscritos  na  dívida  ativa.  Se  o  crédito  fiscal  não­tributário 
não  foi  inscrito  na  dívida  ativa,  ele  será  classificado  como  crédito 
quirografário  e  concorrerá  com  os  credores  dessa  classe.  O  CTN,  art. 
187, parágrafo único e a LEF, art. 29, parágrafo único, estabelecem uma 
ordem  interna  de  pagamento  entre  os  titulares  de  créditos  fiscais  e 
parafiscais. Assim, primeiramente, receberão a União e suas Autarquias. 
Posteriormente,  os  Estados,  Distrito  Federal,  Territórios  e  suas 
Autarquias.  Por  último,  os  Municípios  e  suas  Autarquias.  Há  quem 
sustente a inconstitucionalidade dessas normas legais que estabelecem 
essa  ordem  interna,  invocando  a  paridade  constitucional  dos  entes  da 
Federação  (CARVALHO  DE  MENDONÇA).  Insta  salientar  que  os 
créditos tributários não se sujeitam à habilitação na falência (art. 187 do 
CTN).  Significa  dizer  que  o  fisco  poderá  prosseguir  com  a  execução 
fiscal  ajuizada  antes  da quebra,  mesmo  após  a  decretação da  falência 
do devedor, não se sujeitando à regra geral do art. 6º da LF (exceção ao 
Princípio  do  Juízo  Universal  da  Falência).  Assim,  uma  vez  finda  a 
execução  fiscal,  o  fisco  não  precisará  habilitar­se  para  receber  seu 
crédito  na  falência,  porém,  deverá  observar  a  ordem  de  preferência 
entres os credores da falida (art. 186 do CTN c/c art. 83, inciso III da LF). 
Por  fim,  as  multas  tributárias  e  as  penas  pecuniárias  por  infração

17 
administrativa  ou  desrespeito  à  lei  penal,  ainda  que  inscritas  na  dívida 
ativa, não poderão ser cobradas nessa classe de credores. Serão objeto 
de cobrança na classe dos créditos subquirografários (art. 83, inciso VII 
da LF). 

d)  Credores com Privilégio Especial: Crédito com privilégio especial são 
aqueles  que,  por  disposição  legal,  recaem  sobre  determinados  bens. 
Nesse  aspecto  se  distinguem  dos  créditos  com  garantia  real,  pois 
nesses,  o  crédito  recai  sobre  determinado  bem  por  disposição  das 
partes contratantes, e não por força de lei. Assim como os créditos com 
garantia  real,  os  com  privilégio  especial  não  estão  sujeitos  a  rateio,  o 
que significa dizer que serão pagos com o produto da venda do bem que 
o garante. Vendido o bem sobre o qual recai o privilégio, o produto será 
destinado prioritariamente ao atendimento desse crédito. É claro que se 
os  credores  preferenciais  que  o  antecedem  (extraconcursais, 
empregados  e  equiparados,  com  garantia  real  e  fiscais)  consumirem 
todos  os  recursos  da  massa,  os  credores  com  privilégio  especial  não 
terão seus direitos satisfeitos (essa regra, mutatis mutandi, também vale 
para os credores com garantia real). Por outro lado, se com o produto da 
venda  do  bem  não  é  possível  pagar,  integralmente,  o  credor  com 
privilégio  especial,  este  deverá  concorrer,  pelo  saldo  credor,  na  classe 
dos  credores  quirografários.  São  exemplos  de  créditos  com  privilégio 
especial: Art. 83, inciso IV, alíneas “a”, “b” e “c”; art. 43, inciso III da Lei 
4.591/64; art. 17 do DL 413/69; art. 475 do C.Com.; art. 707 do CC/02; 
art. 86 do DL 73/66. 

e)  Credores com Privilégio Geral: Enquanto alguns créditos estabelecem 
privilégio  especial  sobre  determinados  bens,  outros  atribuem  a  seus 
respectivos  titulares  um  privilégio  geral,  não  sobre  bens  definidos,  mas 
sobre  todos  os  bens  da  massa,  respeitados,  obviamente,  os  créditos 
preferenciais  que  o  antecedem  (AMADOR  PAES  DE  ALMEIDA).  Essa 
classe  de  credores  está  disciplinada  no  art.  83,  inciso  V  da  LF.  São 
exemplos de crédito com privilégio geral, além daqueles expressos nos 
incisos  do  retro­citado  dispositivo,  o  que  titulariza  o  advogado  em 
relação  aos  seus  honorários  (art.  24  da  Lei  8.906/94)  e  os  titulares  de

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debêntures  com  garantia  flutuante,  na  falência  da  sociedade  anônima 
emissora (art. 58, § 1º da LSA). 

f)  Credores  Quirografários:  Trata­se  da  instância  residual  dos  credores 


do  falido.  Quer  dizer,  se  o  credor  não  se  enquadra,  por  expressa 
disposição  de  lei,  em  nenhuma  das  outras  classes,  ele  é  quirografário 
(art.  83,  inciso  VI,  alínea  “a”  da  LF).  Disputarão  as  sobras,  uma  vez 
satisfeitos  os  demais  credores  que  os  antecedem.  Nessa  classe  estão 
aqueles  credores  que,  por  exemplo,  têm  seu  direito  documentado  em 
título de crédito (nota promissória, letra de câmbio, cheque ou duplicata), 
em debênture sem garantia (art. 58, caput, da LSA). Também se acham 
aqui  inseridos  os  credores  por  obrigação  extracontratual,  assim  os 
titulares  de  indenização  por  ato  ilícito  (que  não  se  confundem  com  as 
penas  pecuniárias  decorrentes  dos  ilícitos  penal  e  administrativo,  que 
são créditos subquirografários).  Por  fim,  se  encontram  nessa classe  as 
reclassificações (alíneas “b” e “c” do inciso VI, art. 83 da LF), os créditos 
públicos não inscritos na dívida ativa  e os créditos trabalhistas cedidos, 
gratuita ou onerosamente, a terceiros (§ 4º, art. 83 da LF). 

g)  Credores  Subquirografários:  Uma  vez  satisfeitos  todos  os  credores 


anteriores,  inclusive  os  quirografários,  serão  pagos  os  credores  dessa 
classe.  São  as hipóteses previstas  no  inciso  VII, art.  83 da  LF. No que 
diz  respeito  à  multa  contratual (cláusula  penal,  que  tem  a  finalidade  de 
pré­fixar as perdas e danos), esta será cobrada nessa classe de crédito. 
Ela deve ser destacada do valor principal da dívida, o qual, conforme o 
caso,  será  pago  em  uma  das  classes  antecedentes  (exemplo: 
determinada revendedora de automóveis de luxo contrata com a fábrica 
produtora a compra de uma Ferrari e emite notas promissórias em favor 
da  fábrica,  estabelecendo­se  no  contrato  que  no  caso  de  atraso  no 
pagamento da promissória será devida multa moratória de 10% sobre o 
valor da mesma. Assim, considerando que as notas promissórias foram 
todas emitidas com valor de R$ 10.000,00 e que a revendedora atrasou 
o  pagamento  da  última,  uma  vez  declarada  a  sua  falência,  a  fábrica 
titularizará,  em face  da revendedora,  um  crédito  total  de  R$  11.000,00, 
sendo  que  o  principal  (R$  10.000,00)  será  pago  como  crédito

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quirografário  e a  multa  (R$  1.000,00) será  paga na classe  dos créditos 
subquirografários). 

h)  Credores Subordinados: Abrange os créditos cujo pagamento somente 
pode  ser  feito  após  a  satisfação  integral  dos  credores  do  falido. 
Pertencem  a  essa  categoria  de  credores  os  debenturistas  titulares  de 
debêntures subordinadas, na falência da S/A emissora (art. 58, § 4º da 
LSA),  os  diretores  ou  administradores  da sociedade  falida  sem  vínculo 
empregatício (art. 83, inciso VIII, alínea “b” da LF), bem como os sócios 
da sociedade falida por créditos de qualquer natureza, excluído o direito 
à partilha do remanescente (art. 153 da LF). 

No  que  tange  aos  direitos  dos  sócios  da  sociedade  falida  na 
partilha  do  remanescente,  depois  de  pagos  integralmente  todos  os  credores, 
surge controvérsia, na doutrina, sobre a natureza desse crédito. Para Amador 
Paes  de  Almeida  trata­se  de  crédito  subordinado  e  é  nessa  categoria  de 
credores que devem ser enquadrados seus titulares (art. 83, inciso VIII, alínea 
“b”  da  LF).  Ao  revés,  Fábio  Ulhoa  Coelho  sustenta  que  a  partilha  entre  os 
sócios e acionistas da falida não se confunde com o crédito subordinado a que 
sócios e acionistas fazem jus,  mas decorre do fato da falência ser espécie de 
dissolução da sociedade. Assim, para o doutrinador, “não se confunde o devido 
aos sócios e acionistas em função de sua participação societária na falida com 
eventual crédito subordinado que titularizam. Este último integra  o passivo da 
sociedade  falida,  enquanto  o  devido  em  função  da  participação  societária 
corresponde  ao  seu  patrimônio  líquido”.  Assim,  finaliza  afirmando  que  o 
pagamento  do  crédito  subordinado  “não  guarda  relação  nenhuma  com  a 
proporção da participação de cada sócio no capital social” (art. 153 da LF).

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5.  Encerramento da Falência. 

Após  realizar  o  último  pagamento,  o  administrador  judicial  deve 


apresentar  suas  contas  ao  juiz  no  prazo  de  trinta  dias  (art.  154  da  LF).  O 
Ministério  Público  deve  ser  intimado  para  se  manifestar  sobre  as  contas 
apresentadas  (§  3º,  art.  154  da  LF).  Processadas  e  julgadas  as  contas,  o 
administrador judicial terá dez dias para apresentar o relatório final (art. 155 da 
LF).  Apresentado  o  relatório  final,  não  havendo  mais  nenhuma  outra 
pendência,  o  juiz  encerrará  a  falência  por  sentença  (art.  156  da  LF).  Contra 
essa sentença cabe apelação (art. 156, in fine da LF).

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BIBLIOGRAFIA: 

1.  ALMEIDA,  Amador  Paes  de.  Curso  de  falência  e  recuperação  de 
empresa: de acordo com a Lei n. 11.101/2005 ­ 24ª ed. rev. e atual. 
São Paulo: Saraiva, 2008. 

2.  CAMPINHO,  Sérgio.  Falência  e  recuperação  de  empresa:  O  novo 


regime da insolvência empresarial – 3ª ed. Rio de Janeiro: Renivar, 
2008. 

3.  COELHO,  Fábio  Ulhoa.  Curso  de  direito  comercial,  volume  3: 
direito de empresa – 8ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.

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