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PASSIVO NA FALÊNCIA 1
1. O Sistema Anterior.
Vale ressaltar que entre os citados períodos, a lei possibilitava ao
devedor a oportunidade de restabelecer sua atividade comercial, que havia
sido interrompida (art. 40 do DL 7.661/45), mediante a utilização da extinta
concordata suspensiva (art. 177 do DL 7.661/45). Com a concessão judicial
deste benefício legal, o devedor podia continuar na administração e no
exercício de sua atividade comercial, sendo obstada a venda (realização) do
ativo de sua empresa (art. 183 do DL 7.661/45). Ao revés, se o requerimento
de concordata suspensiva fosse indeferido pelo juiz da falência, prosseguiase
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MARCUS VINICIUS TEIXEIRA DA COSTA. Monitor Acadêmico de Direito Empresarial da
EMERJ; Advogado, Diretor do Escritório de advocacia MARCUS TEIXEIRA Advogados
Associados, especializado na área empresarial.
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no procedimento falimentar e, conseqüentemente, na realização dos bens
arrecadados para pagamento do passivo falencial (art. 184 do DL 7.661/45).
2. O Atual Sistema.
O sistema de realização do ativo e pagamento do passivo sofreu
grande transformação com o advento da Lei nº 11.101/05. Não se distinguem
mais, de forma nítida, aquelas duas fases do processo falimentar que existiam
sob a égide do DL 7.661/45. Na sistemática implementada pela nova lei de
falência, a realização do ativo tem início tão logo arrecadados os bens do
falido, com a juntada do auto de arrecadação, pelo administrador judicial (que
substituiu a figura do Síndico), aos autos do processo de falência (art. 139 da
LF). De acordo com a nova sistemática, a venda dos bens do falido tem início
independentemente da consolidação e publicação do quadrogeral de credores
(§2º, do art. 140 da LF).
Essa grande alteração engendrada pela Lei nº 11.101/05, no que
diz respeito à realização do ativo, devese a duas razões principais: a primeira
delas diz respeito à extinção da concordata suspensiva. Ora, como vimos
anteriormente, o deferimento da concordata suspensiva, como se depreende
do próprio nome do instituto, suspendia o processo falimentar, impedindo a
venda dos bens arrecadados, e permitia, ao falido, continuar na administração
destes, com o escopo de dar continuidade às suas atividades comerciais.
Assim, com a extinção deste benefício legal, não é mais prevista hipótese de
suspensão do processo falimentar (com a finalidade de recuperar o devedor.
Há, contudo, a possibilidade de continuação da atividade do falido, com o
escopo de maximizar o ativo – art. 99, inciso XI da LF). Em outras palavras, o
procedimento falimentar, nos moldes traçados pela atual legislação, é contínuo,
não sofrendo solução de continuidade e, assim, tão logo sejam arrecadados os
bens do falido estes devem ser alienados, para melhor atender aos interesses
da massa falida subjetiva. A segunda razão está no fato de que a imediata
alienação dos bens arrecadados propicia a obtenção de maiores recursos para
o pagamento dos credores do falido, já que, a venda, assim realizada, poderá
atingir preços mais elevados. Isto porque, os bens alienados estarão mais
conservados e, conseqüentemente, serão melhor recepcionados pelos
interessados em comprálos, que por eles pagarão um valor que esteja mais de
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acordo com seu preço de mercado. Outrossim, a venda imediata dos bens do
falido é mais vantajosa, pois, evita o dispendioso gasto com a guarda e
conservação dos bens arrecadados.
3. A Venda dos Bens do Falido (Realização do Ativo).
3.1. Alienação Comum ou Ordinária.
Consoante afirmado alhures, na alienação comum ou ordinária, a
venda dos bens do falido se faz em observância às formas (art. 140 da LF) e às
modalidades (art. 142) previstas na lei.
Quanto às formas de alienação, previstas no art. 140 da LF, o
legislador estabeleceu uma ordem de preferência entre elas. Em primeiro lugar,
estabeleceu a alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos
em bloco (art. 140, I da LF). Em segundo, determinou a alienação da empresa,
com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente (art. 140, II da
LF). Em terceiro, na ordem de preferência estabelecida pelo legislador, está a
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alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do
devedor (art. 140, III da LF). Por último, a lei prevê a alienação dos bens do
falido individualmente considerados (art. 140, IV da LF).
Cabe ao Administrador Judicial, como responsável pela prática
dos atos necessários à realização do ativo (art. 22, inciso III, alínea “i” da LF), a
escolha de um plano de venda que melhor atenda aos interesses da massa
falida. Assim, facultalhe, a lei, adotar mais de uma forma de alienação,
podendo livremente conjugálas (§1º, art. 140 da LF), desde que esta
conjugação seja mais vantajosa aos credores. O administrador judicial deverá
submeter seu plano de venda ao Comitê de Credores, caso este tenha sido
criado, para que o mesmo dê seu parecer a respeito. Em todo caso, a decisão
final sobre o plano de venda será proferida pelo juiz da falência, que
determinará qual forma e modalidade serão adotadas na venda do ativo.
No que tange às modalidades ordinárias de alienação do ativo, o
art. 142 da LF faz referência a três hipóteses: a) Leilão, por lances orais (inciso
I); b) Propostas fechadas (inciso II); c) Pregão (inciso III). Assim, ouvido o
Administrador Judicial e atendida a orientação do Comitê, se houver, o juiz
deverá determinar por qual das modalidades ordinárias implementarseá a
forma ordinária escolhida para alienação do ativo (art. 142 da LF).
Insta salientar que, no que se refere ao procedimento para a
escolha da modalidade ordinária de alienação, surge, na doutrina, controvérsia
sobre a obrigatoriedade, ou não, da manifestação da Assembléia de Credores
a respeito. Um primeiro posicionamento, defendido por Sérgio Campinho,
sustenta a desnecessidade da convocação e deliberação, pela Assembléia de
Credores, para a escolha da modalidade ordinária de alienação do ativo.
Fundamenta seu entendimento na falta de exigência expressa do art. 142,
caput, da LF. Ademais, invoca o art. 35, inciso II, alínea “c” c/c art. 145 da LF,
para afirmar que a assembléiageral de credores só deve ser convocada a
deliberar no caso de adoção de modalidade extraordinária de alienação. Ao
revés, para a segunda corrente, sustentada por Fábio Ulhoa Coelho, é
obrigatória a convocação e deliberação da assembléiageral de credores sobre
a escolha de qualquer modalidade de alienação do ativo do falido, seja ela
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ordinária ou extraordinária, pois, em qualquer caso, estarão em jogo os
interesses dos credores do falido (art. 35, inciso II, alínea “d”).
a) Leilão, por lances orais (art. 142, inciso I c/c seu §3º): considerase
leilão a venda realizada em hasta pública judicial, no transcurso da qual os
interessados em adquirir a empresa ou os bens do falido apresentam, de viva
voz, o preço que estão dispostos a pagar por eles, sagrandose vencedor
aquele que maior lance (lanço) apresentar, ou seja, aquele que maior preço
pagar. Nesta modalidade de alienação ordinária destacamse alguns pontos
relevantes, que devem ser analisados. Inicialmente, devese ressaltar que no
leilão por lances orais, aplicamse, no que couber, e no que não contrariar as
normas especiais da lei de falência, as regras do CPC sobre o assunto. Neste
diapasão, não se aplicam, por exemplo, as normas do CPC relativas à
publicação e aos prazos no leilão, já que tais assuntos gozam de disciplina
específica e diferenciada na lei de falência (§1º, art. 142 da LF). Não se
aplicam, ademais, as normas do CPC que distinguem a hasta pública em razão
da natureza do bem vendido, chamando a de bens imóveis de “praça” (art. 697
do CPC) e dos bens móveis, de “leilão público” (art. 704 do CPC). Seja uma ou
outra categoria de bens a alienar no juízo da falência, a Lei nº 11.101/05
chama a hasta pública realizada com lances de viva voz sempre de “leilão”
(FÁBIO ULHOA). Outrossim, não se aplicam ao leilão, de que trata a lei
falimentar, aquelas normas do CPC que determinam que os bens, na primeira
licitação, sejam vendidos pelo preço mínimo da avaliação e, em segunda, a
quem mais der (arts. 691 e 692 do CPC). Desde a primeira licitação, a
alienação darseá pelo maior valor oferecido, ainda que este seja inferior ao
valor de avaliação (§2º, art. 142 da LF). Por fim, outra questão relevante sobre
o leilão diz respeito à escolha do leiloeiro. Na sistemática do DL 7.661/45, o
leiloeiro era escolhido diretamente pelo síndico, sendo o referido diploma claro
nesse sentido (§1º, art. 117 do DL 7.661/45). Na nova sistemática
implementada pela Lei nº 11.101/05, o legislador quedouse silente sobre o
assunto. Assim, a doutrina sustenta que, por força da aplicação da regra do
CPC que regula o assunto, a qual determina que o leiloeiro será escolhido pelo
credor exeqüente, sem intervenção do magistrado (art. 706 do CPC), na
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falência, fazendose as devidas adaptações, a nomeação do leiloeiro deverá
ser feita pelo administrador da falência, sem que nessa decisão intervenha o
juiz falimentar (CAMPINHO). Isto porque é ele responsável pela prática dos
atos destinados à realização do ativo (art. 22, inciso III, alínea “i” da LF).
b) Propostas Fechadas (art. 142, inciso II c/c seu § 4º): a venda por
propostas fechadas realizase mediante a entrega em cartório e sob recibo, de
envelopes lacrados, a serem abertos pelo juiz, no dia, hora e local designados
no edital, lavrando o escrivão o auto respectivo, assinado pelos presentes, e
juntando as propostas aos autos da falência. O juiz é quem decidirá, se não
houver maiores complexidades, qual é a proposta mais vantajosa para a
massa. Havendo complexidade, o juiz poderá determinar o encerramento da
audiência de abertura dos envelopes, determinar a juntada dos envelopes aos
autos do processo e colher a manifestação do administrador judicial e, se
houver, do Comitê de Credores, antes de decidir. Em qualquer caso, o
parâmetro a ser adotado para a escolha da melhor proposta é aquele previsto
no §2º, art. 142 da LF, ou seja, o do maior valor ofertado, ainda que este seja
inferior ao valor de avaliação do bem. Isto porque esta regra se aplica a todas
as modalidades ordinárias de alienação.
c) Pregão (art. 142, inciso III c/c seus §§ 5º e 6º): esta modalidade de
alienação ordinária consiste na combinação das duas modalidades anteriores
e, por esta razão, é chamada pela lei de “modalidade híbrida”. Possui duas
fases distintas: a do recebimento das propostas, na forma do § 4º do art. 142 (a
lei, erroneamente, faz alusão ao § 3º); e a do leilão por lances orais, da qual
participarão apenas aqueles que apresentarem propostas não inferiores a
noventa por cento da maior proposta ofertada (na primeira fase). Considerase
como a maior proposta aquela de maior valor oferecido, ainda que seja inferior
ao valor de avaliação do bem (§2º, art. 142 da LF). As regras do pregão estão
previstas nos incisos do § 6º, art. 142 da LF.
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intimação pessoal do membro do parquet, porém, o seu não comparecimento,
após devidamente intimado, não acarretará a nulidade do processo de falência.
Por fim, devese ressaltar que o direito de impugnação da venda,
previsto no art. 143 da LF, e do qual são legitimados os credores, o devedor e
o Ministério Público, a despeito do que dispõe o mencionado dispositivo legal,
poderá ser manejado em qualquer das modalidades de alienação do ativo, seja
ela ordinária, extraordinária ou sumária. A doutrina sustenta que devese fazer
uma interpretação analógica do instituto, para que este alcance também as
modalidades extraordinária e sumária de venda, pois, não há lógica defender
entendimento diverso, já que tal instrumento foi engendrado com o escopo de
beneficiar os interesses da coletividade de credores do falido. De qualquer
modo, a impugnação é apenas um dos meios processuais adequados para
questionar a regularidade da venda dos bens na falência. Assim, por outros
ações próprias (de conhecimento, mandado de segurança, etc.) podem os
prejudicados buscarem a tutela de seus direitos, independentemente do
manejo da impugnação (FÁBIO ULHOA).
3.2. Alienação Extraordinária.
Tratase de modalidade de alienação em que a venda dos bens
da sociedade falida é feita por meios não previstos especificamente na lei de
falência. Em outras palavras, sempre que a alienação dos bens da falida se der
por modalidade diversa daquelas previstas no art. 142 da LF (as chamadas
modalidades ordinárias de alienação), estaremos diante da denominada
Alienação Extraordinária. A alienação extraordinária pode ser autorizada por
decisão judicial (art. 144 da LF), mediante requerimento fundamentado do
administrador judicial ou do comitê de credores, se este existir. Igualmente,
poderá ser autorizada pela assembléiageral de credores, pelo voto de 2/3
(dois terços) dos credores presentes à sessão de julgamento (art. 46 da LF),
cabendo, ao juiz, neste caso, apenas homologar a decisão assemblear (art.
145 da LF). A lei traz como exemplo de alienação extraordinária a constituição
de sociedade de credores ou dos empregados do devedor, na qual os créditos
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serão convertidos em cotas ou ações, conforme a forma societária adotada
(§2º, art. 145 da LF). Ademais, possibilita a participação, nestas sociedades,
dos próprios sócios da falida ou de terceiros interessados (art. 145, 2ª parte, da
LF). Em todos os casos, a alienação extraordinária será adotada quando esta
se apresentar como a modalidade mais apta a otimizar os recursos da massa,
isto é, o meio mais eficaz e mais vantajoso, para os credores da massa, de
realização do ativo falimentar.
Ainda no que diz respeito a esta modalidade de alienação, insta
ressaltar que, com fulcro no §3º, art. 145 da LF, desde que convencido de sua
adequação e proficiência e, uma vez ouvidos o administrador judicial e o comitê
de credores, se este existir, poderá o juiz adotar a modalidade extraordinária de
alienação que tenha sido apresentada e rejeitada pela assembléia de credores.
Em outros termos, o juiz da falência não está vinculado à decisão da
assembléia de credores que denegou proposta de alienação extraordinária do
ativo. Malgrado a decisão denegatória daquele órgão da falência, o magistrado
poderá, a bem da massa, decidir pela adoção da proposta alternativa para a
realização do ativo falimentar.
3.3. Alienação Sumária ou Antecipada.
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avaliação, atendida a regra de classificação e preferência prevista nos arts. 83
e seguintes.
3.4. Sucessão nas obrigações do falido.
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A sucessão nas obrigações do falido apenas acontecerá nas
hipóteses excepcionais previstas pela legislação falimentar. Tais hipóteses se
referem aos casos em que o arrematante seja: I – Sócio da sociedade falida,
ou sociedade controlada pelo falido (inciso I, § 1º, art. 141 da LF); II – Parente,
em linha reta ou colateral até o quarto grau, consangüíneo ou afim, do falido ou
de sócio da sociedade falida (inciso II, § 1º, art. 141 da LF); III – Identificado
como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão (inciso III, § 1º, art.
141 da LF). Tais exceções visam impedir a prática de fraude, que a expressa
desoneração nas obrigações do falido pode incentivar. Assim, por exemplo, o
controlador de sociedade falida pode, por interpostas pessoas, adquirir a
mesma empresa que anteriormente explorava, liberandose da obrigação de
pagar o passivo.
Há dois entendimentos sobre o tema: um primeiro entendimento,
sustentado pelo professor Sérgio Campinho, admite a aplicação irrestrita da
referida norma a todas as modalidades de alienação na falência (não apenas
às ordinárias). Fundamenta seu entendimento na falta de expressa restrição,
no art. 141 da LF, à sua aplicação à alienação extraordinária. O caput do
dispositivo retromencionado reza que as normas previstas nos seus incisos
serão aplicadas a qualquer das modalidades de que trata este artigo. Ocorre
que o art. 141 não dispõe sobre modalidade alguma de alienação. Na
realidade, houve equívoco do legislador, pois as modalidades de alienação
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estão previstas nos arts. 142, 144, 145 e 111 da LF. Destarte, a referência feita
pelo dispositivo deve ser interpretada como qualquer modalidade de venda
judicial, porquanto toda norma de restrição deve ser expressa e inconfundível.
Outrossim, alega que o § 1º, do art. 145 da LF, determina a aplicação do art.
141 a uma das hipóteses que o diploma falencial exemplifica como modalidade
extraordinária de alienação, que é a aquisição do ativo por sociedade
constituída pelos credores ou empregados do próprio devedor, com o fito de
dar prosseguimento ao negócio do falido (art. 145, caput, 2ª parte, da LF). Já
um segundo entendimento, capitaneado pelo professor Fábio Ulhoa Coelho,
fundamentado em uma interpretação mais literal e restrita da lei de falência,
sustenta que, no que tange à modalidade extraordinária de alienação, a
desoneração do adquirente na sucessão das obrigações do falido se aplica a
apenas uma hipótese, que é aquela prevista no art. 145, caput, 2ª parte, da LF,
por força do que dispõe o §1º, do art. 145 da LF. Para o mencionado
doutrinador, em qualquer outra hipótese de alienação extraordinária, a
sucessão nas obrigações do falido deve ser reconhecida, já que nesta
modalidade de alienação não há obrigatoriedade de disputa entre os
adquirentes interessados, como há nas modalidades ordinárias (isto é, leilão,
apresentação de proposta e pregão), o que facilita a prática de fraudes. Então,
para evitar fraudes, o adquirente, que não concorreu com outros interessados,
deve suceder também nas obrigações do falido.
3.5. Cobrança dos Devedores.
Não basta, para a formação da massa falida objetiva, a alienação
dos bens arrecadados. É necessário, ainda, que o administrador judicial
proceda à cobrança, amigável ou judicial, dos créditos que o falido possui em
face de terceiros. No caso de não lograr êxito na cobrança amigável, o
administrador judicial deverá contratar, em nome e por conta do falido,
advogado para o ajuizamento das ações e execuções necessárias.
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4. Pagamento do Passivo.
Uma vez convertidos em valores os bens arrecadados e cobrados
os devedores do falido, todo dinheiro auferido no procedimento de realização
do ativo deverá ser imediatamente depositado em conta remunerada de
instituição financeira, atendidos os requisitos da lei ou das normas de
organização judiciária (art. 147 da LF).
A denominação “credores da massa” se deve ao fato de que essa
classe não é constituída de credores do falido, mas, sim, de titulares de crédito
em face da massa falida, créditos esses originados após a declaração da
falência, contraídos diretamente pelo administrador Judicial.
Os credores extraconcursais (art. 84 da LF) não se sujeitam ao
concurso de credores e não se sujeitam à habilitação na falência. Eles devem
receber seus créditos com preferência absoluta em relação aos demais
créditos falimentares (art. 84 c/c 149 c/c 150 da LF). Tratase de créditos
relacionados à administração da falência, tais como: remuneração do
administrador judicial, remuneração dos auxiliares do administrador judicial e
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despesas de administração dos bens da massa (v. art. 84 e seus incisos da
LF).
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Controvérsia interessante surge, na doutrina, sobre a ordem de
preferência no pagamento das restituições em dinheiro e do crédito aludido no
art. 151 da LF. O parágrafo único do art. 86 determina que “as restituições de
que trata este artigo somente serão efetuadas após o pagamento previsto no
art. 151 da Lei” (grifamos). Por sua vez, o art. 151 da LF estatui: “os créditos
trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses
anteriores à decretação da falência, até o limite de cento e cinqüenta salários
mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa”
(grifamos). Analisando ambas as normas, indagase: qual a ordem de
preferência entre essas duas classes de credores? Devem ser pagos,
prioritariamente, os titulares de direito à restituição em dinheiro (art. 86 da LF),
ou os titulares de créditos de natureza estritamente salarial que tenham
vencido nos três meses anteriores à decretação da falência e até o limite de
150 saláriosmínimos por trabalhador (art. 151 da LF)?
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sistemática dos dispositivos em comento, o crédito de que trata o art. 151 da
LF deve ser priorizado em relação às restituições em dinheiro.
a) Empregados e Equiparados: em primeiro lugar, na ordem legal de
preferência entre os credores concursais, está o crédito trabalhista e
equiparados e aqueles oriundos de acidente de trabalho, ocorrido antes
da quebra do empresário. No que diz respeito ao crédito decorrente de
acidente de trabalho, devese ressaltar que esse não se confunde com o
benefício a que o trabalhador faz jus em face do INSS. Cuidase, aqui,
do direito que o empregado tem à indenização pelo acidente causado
por dolo ou culpa do empregador, direito, aliás, de índole constitucional
(art. 7º, inciso XXVIII, in fine, da CRFB). Também nessa classe estão os
créditos trabalhistas de qualquer natureza (art. 449, § 1º da CLT).
Quanto a estes, a lei de falência estabeleceu o limite de cento e
cinqüenta saláriosmínimos. Assim, o que sobejar a este teto legal
concorrerá na classe dos créditos quirografários (art. 83, inciso VI, alínea
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“c”). O objetivo da limitação é impedir que se consumam os recursos da
massa com o atendimento a altos salários dos administradores da
sociedade falida, bem como visa tutelar o interesse do pequeno
assalariado. Por fim, devese atentar ao fato de que concorrem,
também, nessa classe, como credores equiparados aos trabalhistas, os
Representantes Comerciais Autônomos, pelas comissões e indenização
devidas pela representada falida (Lei nº 4.886/65, art. 44, acrescido pela
Lei nº 8.420/92), e a Caixa Econômica Federal, pelo FGTS (Lei nº
8.844/94, art. 2º, § 3º).
b) Credores com Garantia Real: nessa classe, o titular do direito
creditório goza de uma garantia quanto ao pagamento do seu crédito,
que consiste no direito real dado em garantia pelo pagamento da dívida.
Assim, a coisa dada em garantia fica sujeita ao cumprimento da
obrigação. Imperioso ressaltar a importante modificação trazida pela Lei
11.101/05 no que diz respeito à classificação desse crédito na ordem de
preferência entre os credores concursais: o crédito com garantia real
passou a ter prioridade em relação aos créditos fiscais, que, no sistema
de classificação dos créditos previsto no revogado DL 7.661/45, ocupava
a segunda posição na ordem de preferência e, atualmente, cedeu essa
posição para o crédito com garantia real e passou a ocupar a terceira
posição na escala de preferência. Vale salientar que, o crédito com
garantia real não está sujeito a rateio, pois ele é pago com o produto da
venda do bem dado em garantia. Desta forma, se com a venda do bem
dado em garantia obtémse valor maior do que o crédito garantido, a
parcela que sobejar será utilizada para atender os demais credores,
segundo a ordem de preferência. Por outro lado, se é obtido valor menor
que o valor do crédito garantido, o saldo credor será reclassificado como
crédito quirografário (art. 83, inciso VI, alínea “b” da LF). São exemplos
de credores com garantia real os credores hipotecários, os pignoratícios
e os caucionados, além das instituições financeiras titulares de cédulas
de crédito (rural, industrial, comercial) e dos debenturistas titulares de
debêntures com garantia real (art. 58 da LSA).
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c) Fisco: como já ressaltado no item anterior, o fisco perdeu a preferência
sobre o crédito com garantia real na nova sistemática implementada
pela atual lei de falência. Nessa classe estão os “créditos públicos”,
assim denominados porque disciplinados pelo Direito Público. Os
créditos públicos compreendem os “créditos parafiscais”, que são os
créditos dos entes aos quais foram estendidas a garantias e
prerrogativas do Estado (ex.: SESC, SENAI, etc.), e os “créditos fiscais”,
que são os créditos do Estado e seus desmembramentos. Os créditos
fiscais subdividemse em “créditos tributários” (ex.: Impostos, Taxas e
Contribuições), obrigatoriamente inscritos na dívida ativa, e “créditos
nãotributários” (ex.: obrigações contratuais e extracontratuais), que
tiverem sido inscritos na dívida ativa. Se o crédito fiscal nãotributário
não foi inscrito na dívida ativa, ele será classificado como crédito
quirografário e concorrerá com os credores dessa classe. O CTN, art.
187, parágrafo único e a LEF, art. 29, parágrafo único, estabelecem uma
ordem interna de pagamento entre os titulares de créditos fiscais e
parafiscais. Assim, primeiramente, receberão a União e suas Autarquias.
Posteriormente, os Estados, Distrito Federal, Territórios e suas
Autarquias. Por último, os Municípios e suas Autarquias. Há quem
sustente a inconstitucionalidade dessas normas legais que estabelecem
essa ordem interna, invocando a paridade constitucional dos entes da
Federação (CARVALHO DE MENDONÇA). Insta salientar que os
créditos tributários não se sujeitam à habilitação na falência (art. 187 do
CTN). Significa dizer que o fisco poderá prosseguir com a execução
fiscal ajuizada antes da quebra, mesmo após a decretação da falência
do devedor, não se sujeitando à regra geral do art. 6º da LF (exceção ao
Princípio do Juízo Universal da Falência). Assim, uma vez finda a
execução fiscal, o fisco não precisará habilitarse para receber seu
crédito na falência, porém, deverá observar a ordem de preferência
entres os credores da falida (art. 186 do CTN c/c art. 83, inciso III da LF).
Por fim, as multas tributárias e as penas pecuniárias por infração
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administrativa ou desrespeito à lei penal, ainda que inscritas na dívida
ativa, não poderão ser cobradas nessa classe de credores. Serão objeto
de cobrança na classe dos créditos subquirografários (art. 83, inciso VII
da LF).
d) Credores com Privilégio Especial: Crédito com privilégio especial são
aqueles que, por disposição legal, recaem sobre determinados bens.
Nesse aspecto se distinguem dos créditos com garantia real, pois
nesses, o crédito recai sobre determinado bem por disposição das
partes contratantes, e não por força de lei. Assim como os créditos com
garantia real, os com privilégio especial não estão sujeitos a rateio, o
que significa dizer que serão pagos com o produto da venda do bem que
o garante. Vendido o bem sobre o qual recai o privilégio, o produto será
destinado prioritariamente ao atendimento desse crédito. É claro que se
os credores preferenciais que o antecedem (extraconcursais,
empregados e equiparados, com garantia real e fiscais) consumirem
todos os recursos da massa, os credores com privilégio especial não
terão seus direitos satisfeitos (essa regra, mutatis mutandi, também vale
para os credores com garantia real). Por outro lado, se com o produto da
venda do bem não é possível pagar, integralmente, o credor com
privilégio especial, este deverá concorrer, pelo saldo credor, na classe
dos credores quirografários. São exemplos de créditos com privilégio
especial: Art. 83, inciso IV, alíneas “a”, “b” e “c”; art. 43, inciso III da Lei
4.591/64; art. 17 do DL 413/69; art. 475 do C.Com.; art. 707 do CC/02;
art. 86 do DL 73/66.
e) Credores com Privilégio Geral: Enquanto alguns créditos estabelecem
privilégio especial sobre determinados bens, outros atribuem a seus
respectivos titulares um privilégio geral, não sobre bens definidos, mas
sobre todos os bens da massa, respeitados, obviamente, os créditos
preferenciais que o antecedem (AMADOR PAES DE ALMEIDA). Essa
classe de credores está disciplinada no art. 83, inciso V da LF. São
exemplos de crédito com privilégio geral, além daqueles expressos nos
incisos do retrocitado dispositivo, o que titulariza o advogado em
relação aos seus honorários (art. 24 da Lei 8.906/94) e os titulares de
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debêntures com garantia flutuante, na falência da sociedade anônima
emissora (art. 58, § 1º da LSA).
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quirografário e a multa (R$ 1.000,00) será paga na classe dos créditos
subquirografários).
h) Credores Subordinados: Abrange os créditos cujo pagamento somente
pode ser feito após a satisfação integral dos credores do falido.
Pertencem a essa categoria de credores os debenturistas titulares de
debêntures subordinadas, na falência da S/A emissora (art. 58, § 4º da
LSA), os diretores ou administradores da sociedade falida sem vínculo
empregatício (art. 83, inciso VIII, alínea “b” da LF), bem como os sócios
da sociedade falida por créditos de qualquer natureza, excluído o direito
à partilha do remanescente (art. 153 da LF).
No que tange aos direitos dos sócios da sociedade falida na
partilha do remanescente, depois de pagos integralmente todos os credores,
surge controvérsia, na doutrina, sobre a natureza desse crédito. Para Amador
Paes de Almeida tratase de crédito subordinado e é nessa categoria de
credores que devem ser enquadrados seus titulares (art. 83, inciso VIII, alínea
“b” da LF). Ao revés, Fábio Ulhoa Coelho sustenta que a partilha entre os
sócios e acionistas da falida não se confunde com o crédito subordinado a que
sócios e acionistas fazem jus, mas decorre do fato da falência ser espécie de
dissolução da sociedade. Assim, para o doutrinador, “não se confunde o devido
aos sócios e acionistas em função de sua participação societária na falida com
eventual crédito subordinado que titularizam. Este último integra o passivo da
sociedade falida, enquanto o devido em função da participação societária
corresponde ao seu patrimônio líquido”. Assim, finaliza afirmando que o
pagamento do crédito subordinado “não guarda relação nenhuma com a
proporção da participação de cada sócio no capital social” (art. 153 da LF).
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5. Encerramento da Falência.
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BIBLIOGRAFIA:
1. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e recuperação de
empresa: de acordo com a Lei n. 11.101/2005 24ª ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2008.
3. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 3:
direito de empresa – 8ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.
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